s. muscular

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1. COMPOSIÇÃO MUSCULAR 1.1 – Tipos de músculos Os músculos são divididos em três tipos: esquelético, cardíaco e liso. Os músculos que mais interessam à atividade física em geral, os esqueléticos, que constituem a grande massa da musculatura somática, será o objetivo do nosso estudo. 1.2 – O músculo esquelético O músculo esquelético é constituído por fibras musculares individuais, que são as “unidades” do sistema muscular. A fibra muscular apresenta a forma cilíndrica com as extremidades afuniladas, apresentando numerosos núcleos. Cada fibra muscular é envolvida por uma delgada membrana chamada endomíssio. Um feixe de fibras musculares (primário) é envolto por uma delgada lâmina de tecido conjuntivo no qual chamamos de perimíssio. 1

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Sistema muscular

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1. COMPOSIÇÃO MUSCULAR

1.1 – Tipos de músculos

Os músculos são divididos em três tipos: esquelético, cardíaco e liso. Os

músculos que mais interessam à atividade física em geral, os esqueléticos, que

constituem a grande massa da musculatura somática, será o objetivo do nosso

estudo.

1.2 – O músculo esquelético

O músculo esquelético é constituído por fibras musculares individuais,

que são as “unidades” do sistema muscular.

A fibra muscular apresenta a forma cilíndrica com as extremidades

afuniladas, apresentando numerosos núcleos. Cada fibra muscular é envolvida

por uma delgada membrana chamada endomíssio. Um feixe de fibras

musculares (primário) é envolto por uma delgada lâmina de tecido conjuntivo

no qual chamamos de perimíssio.

Envolto todo o músculo (ou todos os feixes musculares). Existe outro

componente de tecido conjuntivo que chamamos de epimíssio.

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1.3 – Componentes químicos do músculo

Os componentes químicos são representados pela água, hidratos de

carbono, lipídeos, sais orgânicos, substâncias extrativas, pigmentos, enzimas,

etc. A água representa 75%, proteínas 20% e outras substâncias 5% (sais

inorgânicos, fosfato de alta energia, uréia, ácidos lácticos, minerais, etc.).

Alguns componentes do músculo participam da contração muscular,

outros correspondem às fontes de energia muscular, outros representam

metabólitos da própria atividade celular.

1.4 – Estrutura do músculo esquelético

1.4.1 – O Sarcolema

É uma membrana delgada, elástica com espessura inferior à 10mm.

Esta membrana rodeia a fibra muscular estriada. O sarcolema apresenta túneis

e invaginações. Representam manifestações morfológicas de mecanismos

ativos de transporte e incríveis propriedades elétricas.

1.4.2 – Miofibrilas

São filamentos de proteínas e representam as unidades contráteis do

músculo. As miofibrilas estão dispostas paralelamente entre si. Os filamentos

finos (actina) e os grossos (miosina), são filamentos protéicos que constituem

as miofibrilas.

Actina A actina consiste em moléculas globulares, encadeadas para

formar uma dupla hélice. A actina contém duas outras proteínas importantes, a

tropomiosina e a tropomina. A tropamiosina é uma molécula longa e fina, sendo

encontrada na superfície do filamento de actina.

Miosina É constituída por moléculas maiores do que as da actina. Os

filamentos de miosina têm pequenas projeções (pontes), em reação aos

filamentos de actina.

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1.4.3 – Organização geométrica dos filamentos – estrias (microscópica)

Da disposição dos miofilamentos finos e grossos resulta o aspecto

estriado do músculo esquelético. A faixa “A” (escura), contém os filamentos

grossos de miosina, dispostos paralelamente. A miosina apresenta-se nesses

filamentos com sua terminação globular dirigida para as extremidades do

filamento e sua porção em forma de bastonete para a parte central do filamento

no meio da faixa A existe uma zona mais clara, aonde os filamentos finos são

interrompidos e os grossos são menos densos, esta é a zona “H”.

A faixa “I” (clara) contém tão somente os filamentos finos de actina que,

a partir de uma densa e fina linha (linha “Z”), projeta-se em direções opostas.

O espaço compreendido entre duas linhas Z, constitui o sarcômero,

unidade funcional do músculo. Na verdade, as miofibrilas, são “rosários” de

sarcômeros.

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1.4.4 – Sarcoplasma e retículo sarcoplasmático

Os filamentos estão depositados em um líquido composto de proteínas,

glicogênio, compostos de fosfato, moléculas e íons e outras substâncias a qual

recebe o nome de matriz sarcoplasmática. Também é encontrado no

sarcoplasma o retículo sarcoplasmático e os túbulos “T”, que formam uma

rede de fibrilas e vesículas. As vesículas externas armazenam o Ca++ e os

túbulos transversos vão propiciar a condução de impulsos nervosos para as

partes profundas das miofibilas. Chamamos de tríade ao conjunto de duas

vesículas externas e o túbulo transverso que as separam.

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2. FENÔMENOS ELÉTRICOS NOS MÚSCULOS

2.1 – Potencial de repouso

As células do corpo humano são envolvidas por uma membrana

lipoprotéica, semipermeável, cuja principal função é a permeabilidade seletiva,

ou seja, permite a passagem de algumas substâncias quando necessário e

outras, não.

No interior da célula há um predomínio de íons potássio (K+) e de grande

ânions protéicos. Fora da mesma, no líquido intersticial, encontramos mais íons

sódio (Na++) e cloro (Cl -) do que dentro da mesma.

Pela lei da difusão, a tendência do sódio seria de penetrar na célula,

mas, isto não ocorre porque (1) a permeabilidade para os íons de Na+ (em

condições de repouso) é aproximadamente 10 a 25 vezes menor do que para

os íons de K+, (2) os íons de Na+ que penetram são bombeados para fora da

célula. Os ânions protéicos, devido ao seu tamanho, não têm condições de

diálise.

Avaliando este fenômeno, verificamos que existe uma diferença de

potencial entre o interior da célula e sua superfície. Dentro da célula existe um

predomínio de cargas negativas (ânions) e fora dela um predomínio de cargas

positivas (cátions), e isto determina o potencial de repouso.

2.2 - Potencial de ação – repolarização

Um estímulo gera um impulso e consequentemente uma ação. Quando

a membrana é estimulada, elas tornam-se permeável aos íons de Na+, que pelo

processo de difusão, penetram no interior da célula. Com essa entrada maciça

de Na+, ocorre uma “despolarização”. Se o estímulo atua sobre a célula por um

tempo curto, verifica-se um retorno das condições iniciais (repolarização). O

termo “despolarização”, já consagrado, é incorreto, porque na verdade, ocorre

uma inversão da polaridade.

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2.3 – Período refratário

Quando um impulso nervoso atinge as terminações pré-sináticas há um

intervalo de pelo menos 0,5 ms para um outro. Se antes disso, ocorre um outro

impulso, não haverá resposta no neurônio pós-sináptico. Haverá um intervalo

mínimo entre um impulso e outro, sob pena do segundo não provocar resposta.

2.4 – Lei do tudo ou nada

Todo estímulo que estiver abaixo do limite (sub-limiar), não provocará

resposta. A partir do momento em que atinge o limite, ou o ultrapassa, haverá

uma resposta de mesma intensidade. Esta lei é verdadeira para as fibras

musculares e unidades motoras, mas não se aplica ao músculo como um todo.

Cada fibra muscular, em geral, recebe apenas uma fibra nervosa, porém

um nervo motor pode inervar muitas fibras musculares específicas o que,

constitui uma unidade motora. Esta é a unidade funcional do controle

neuromuscular. Todas as fibras na unidade motora específica possuem

propriedades metabólicas e contráteis semelhantes.

3. MEDIATORES E TRANSMISSORES QUÍMICOS

Os transmissores, tanto excitatórios quanto inibitórios, funcionam da

mesma maneira produzindo uma mudança na permeabilidade da membrana do

neurônio pós-simpático. Os transmissores excitatórios aumentam a

permeabilidade da membrana aos íons sódio (Na+) e os inibitórios, aumentam a

permeabilidade aos íons Potássio (K+) e Cloro (Cl -).

3.1 – Transmissores excitatórios (principais)

3.1.1 – Acetilcolina

A acetilcolina é distribuída por todo sistema nervoso central, com as

mais altas concentrações no córtex motor e no tálamo. A distribuição da colina

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acetilase e da aceticolinesterase (inativa a acetilcolina) é paralela à da

acetilcolina. A acetilcolina é secretada nas seguintes regiões: junção mioneural,

terminações pré ganglionares autonômicos, terminações pós-ganglionares

parassimpáticas, terminações pós-ganglionares das glândulas sudoríparas e

vasodilatadoras musculares e muitas regiões cerebrais.

3.1.2 – Dopanina

A dopanina é secretada no núcleo caudado, putamem e hipotálamo.

Suspeita-se que ela também seja secretada na retina. A dopanina é inativada

pela monoaminoxidade e pela catecol-O-metiltransferase.

3.1.3 – Serotonina

A serotonina 5-hidroxitriptamina, 5-HT) se encontra, uma maior

concentração, mas plaquetas sangüíneas e no tracto gastrointestinal, onde é

encontrada nas células enterocromafins e no plexo mientérico. Menores

quantidades são encontradas no cérebro, particularmente no hipotálamo e na

retina.

3.2 – Transmissores inibitórios (principais)

3.2.1 – Ácido gama aminobutírico (GABA)

É o transmissor sináptico nas funções neuro musculares inibitórias.

3.3.2 – Glicina

É o mediador responsável pela inibição direta na medula espinhal.

4. PLACA MOTORA

4.1 – Conceito

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O ponto de conecção de um motoneurônio mielinizado e uma fibra

muscular são conhecidos como placa motora ou juncção neuromuscular. O

impulso nervoso é transmitido para o músculo através da placa motora.

A porção terminal do axônio abaixo da bainha de mielina, forma vários

ramos axônicos menores, cujas terminações são os terminais pré-sináptica,

possui muitos pregueamentos que aumentam sua área superficial e chama-se

de fenda sináptica a região entre a membrana pós-sináptica e o terminal pré-

sináptico do axônio, onde é feita a transmissão do impulso nervoso.

4.2 – Transmissão do impulso nervoso

Quando um impulso atinge uma função neuromuscular, a acetilcolina é

liberada (a partir de pequenas vesículas sacriformes dentro dos axônios

terminais), aumentando a permeabilidade da membrana pós sináptica aos íons

de sódio e potássio, que geram um potencial de ação na fibra muscular.

Imediatamente após a liberação da acetilcolina ela é destruída pela

colinesterase. Esta destruição permite a repolarização da membrana pós

sináptica.

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Substâncias anti-colimesterasicas, impedem a ação da colinesterase e

anticolinérgicas da acetilcolina.

A acetilcolina se decompõe em ácido acético e colina que não tem

propriedade transmissora.

5. MECANISMO FÍSICO-QUÍMICO DA CONTRAÇÃO E RELAXAMENTO

MUSCULAR

Em repouso, as pontes cruzadas dos filamentos de miosina (uma

molécula de ATP está ligada à extremidade da ponte cruzada) se estendem na

direção dos filamentos de actina, não interagindo, ou seja, ATP-pontes

cruzadas estão descarregadas e estendidas.

Quando um impulso de um motoneurônio chega na placa motora, ocorre

a liberação da acetilcolina, que vai gerar um potencial de ação na sarcolema da

fibra muscular, estes impulsos se propagam através dos túbulos T, o que vai

provocar a liberação do Ca++ pelas vesículas do retículo.

Na presença do Ca++ a troponina é saturada, ativando assim a actina,

agora temos ATP-ponte cruzada “carregada”. As moléculas de miosina

desencadeiam uma atividade atpásica, procedem como uma enzima capaz de

decompor o ATP, desprendendo um fósforo inorgânico acompanhado de

liberação de energia. Essa energia liberada permite a translocação da ponte

cruzada para um novo ângulo, de tal forma que o filamento de actina deslisa

sobre o filamento de miosina na direção dos centros dos sarcômeros. Os

sarcômeros se encurtam, consequentemente as miofibrilas também. Se as

miofibrilas se encurtam evidentemente as fibras também. Dessa forma o

músculo se contrai.

Quando cessa o impulso nervoso, o Ca++ é removido, pela bomba de

Ca++, de volta para as vesículas e o músculo retorna ao seu estado de repouso

(relaxamento).

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6. TIPOS DE FIBRAS

O músculo apresenta basicamente dois tipos de fibras, que se

encontram distribuídas em proporção variada de acordo com cada indivíduo.

O percentual de cada tipo de fibra é, portanto, um atributo genético de

cada indivíduo. Essa determinação é feita através da biópsia muscular.

A primeira a ser citada é do tipo aeróbica e recebe as segu8ntes

denominações: Tipo I, vermelhas, tônicas, de contração lenta (ST0 ou

oxidativas).

A Segunda é do tipo anaeróbica e recebe as seguintes denominações:

Tipo II, brancas fásicas, de contração rápida (FT) ou glicolíticas rápidas (GR).

Edward L. Fox, Donald K. Matews (1986 – p.74) escreveram as

características funcionais das fibras musculares de contração lenta (ST) e de

contração rápida no seguinte quadro abaixo:

Características Funcionais

Tipos de Fibra

ST

(Contração Lenta)

FT

(Contração Rápida)

Conteúdo de mioglobina Alta Baixa

Reserva de triglicerídeos Altas Baixas

Reserva de glicogênio Altas Baixas

Densidade de mitocôndrias Alta Baixas

Atividade enzimática oxidativa Alta Baixa

Densidade capilar Alta Baixa

Reserva de P.C. Baixas Altas

Tempo de relaxamento Lento Rápido

Tempo de contração Lento Rápido

Atividade enzimática glicolítica Baixa Alta

Fatigabilidade Baixa Alta

Quadro 1. Características funcionais das fibras musculares de contração

rápida e lenta.

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Hoje, admite-se a existência de um 3º tipo de fibra, com características

funcionais intermediárias. São variantes das FT. Assim as FT estão divididas

em Fta (intermediárias) e FTb. São consideradas intermediárias porque tem

características oxidativas inferiores a ST e superiores a FTb. Na população em

geral, as fibras estão em média, assim distribuídas: ST: (52%), Fta: 33% e FTb:

15%.

7. PROPRIOCEPTORES

7.1. Conceito

Proprioceptores são organelas terminais de fibras diferentes que captam

determinadas informações e levam para o sistema Nervoso Central.

7.2 – Tipos

7.2.1 – Fuso muscular

É um proprioceptor encontrado no músculo. Enviam informação ao

S.N.C. sobre o grau de distenção do músculo onde estão alojados. É uma

organela facilitadora da contração muscular, ou seja, informa o número exato

de unidades motoras que devem contrair a fim de vencer determinada

resistência.

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7.2.2 – Organela neurotendínea de Golgi

São proprioceptores encapsulados nas fibras tendinosas e localizados

perto da junção das fibras musculares e tendinosas. Informam ao S.N.C. o grau

de tensão que está sendo exercida sobre o tendão, quando o limite de tensão é

atingido, o S.N.C. envia uma ordem para inibir a contração muscular.

7.2.3 - Receptores articulares

São encontrados em tendões, ligamentos, periósteo, músculo e cápsulas

articulares. Os receptores articulares mandam informações ao S.N.C. acerca

do ângulo articular e da aceleração da articulação, da pressão exercida sobre

ela, etc.

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8. TONUS MUSCULAR

Designa-se com esse nome o especial estado de concentração parcial e

permanente em que se encontram os músculos, mesmo quando estão

relaxados. O tonus se manifesta como resistência à movimentação passiva do

segmento corporal. Mesmo nos músculos aparentemente relaxados, há um

estado de tensão constante, pelo qual são mantidos em uma determinada

posição, resistem a mudanças em seu comprimento, evitam mobilidade

indevida nas articulações e asseguram a conservação da postura. Estão

prontos para contrair ou relaxar rapidamente, quando ocorrem aumentos ou

diminuições significativas no número total de impulsos a eles enviados. Isso é

necessário para manter as diferentes partes do esqueleto em suas relações

adequadas nas várias e freqüentemente camiantes atitudes e postura do corpo,

sendo maior ainda nos músculos que mantém o corpo na posição erecta

(antigravitários), principalmente os flexores nas extremidades superiores e os

extensores nas inferiores.

Do ponto de vista fisiológico, o tonus muscular e à conseqüência de

reflexos miotáticos, controlados pela ação conjunta de várias vias e centros

nervosos.

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9. FADIGA MUSCULAR

A fadiga é caracterizada pela queda do desempenho muscular. Nos

exercícios intensos e de curta duração (anaeróbicos), o organismo requer uma

quantidade de energia que a via aeróbica não é capaz de atender, por isso,

lança mão das vias anaeróbicas. Quando menor for o VO2 máximo, maior será

o déficit de O2 e mais intensamente o organismo solicitará à anaerobiose que

como se sabe produz ácido láctico (glicose anaeróbica). Esta é sem dúvida um

dos mais importante causador da fadiga muscular. O segundo fator é a

depleção da reserva muscular de glicogênio.

Nos exercícios de pouca intensidade mais de longa duração (aeróbicos)

cujo principal exemplo é a maratona, a fadiga sobrevirá pela deplessão das

reservas energéticas, principalmente carboidratos e gorduras, pela grande

perda de água e eletrolitos (sudorese) e pela tensão emocional. Se após um

esforço desses, não houver um período de recuperação satisfatório o indivíuo

estará propenso ao esgotamento total (strain) e as lesões musculares. Nesses

aspectos, o supertreinamento ganha lugar de destaque, levando inclusive a

fadiga crônica. É importante, também lembrar que novos esforços muitos além

do período de recuperação não provocam nenhuma aquisição de

condicionamento físico.

No período de recuperação, deve-se fazer exercícios leves e dieta

hiperglicídica para favorecer a resíntese do glicogênio muscular.

10.LESÕES MUSCULARES DECORRENTES DA ATIVIDADE FÍSICA

10.1 – Considerações gerais

Os músculos muitas vezes desempenham tarefas difíceis, quer nas

atividades físicas profissionais, diárias, quer nas atividades desportivas em

geral.

Freqüentemente são submetidos a cargas para as quais não estão

preparados e se lesionam. Estas lesões levam a inatividade, mais, ou menos

prolongadas, causando sérios prejuízos a empregados e patrões a clubes e

atletas profissionais.

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As lesões musculares representam a patologia mais freqüente nos

esportes.

10.2 – Principais lesões

10.2.1 – Agudas

10.2.1.1 – Contusões

Ocupam, em ordem de freqüência o primeiro lugar, entre as lesões que

acontecem no esporte, principalmente nos coletivos.

É resultante da ação de traumas diretos sobre o músculo, como chutes,

pontapés, cabeçada, etc.

Didaticamente as contusões podem ser divididas em:

1º GRAU OU LEVE:

O comprometimento muscular é discreto. Afeta mais o tecido celular

subcutâneo. Caracteriza-se por “dor” e “equimose”. A dor se manifesta

espontaneamente ou por pressão da área afetada. A esquimose é resultado do

extravasamento sangüíneo por rotura capilar.

2º GRAU OU MODERADA

Constitui-se em contusões mais graves, com a presença de “dor” e

“hematoma”. O hematoma é uma coleção sangüínea em forma de tumor,

resultante da rotura de vasos sangüíneos. É facilmente identificáveis, a

inspeção e a palpação, e se manifesta como uma “Bolsa” mole e flutuante.

ESTUPOR MUSCULAR OU “TOSTÃO”

É um tipo de contusão do 1º ou 2º grau, resultante de um único e severo

golpe num músculo em contração. A lesão é seguida de fortíssima dor no local

da pancada e o indivíduo geralmente cai, impossibilitado de prosseguir o

esforço. Pode ocorrer rotura de vasos sangüíneos dentro da massa muscular

atingida, com formação imediata de hematoma; o que afasta as outras fibras

musculares ao seu redor, colocando-as sob pressão. Isto provoca ainda mais

dor e leva o músculo a entrar em espasmo. Os músculos da coxa são os mais

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atingidos e a lesão a mais freqüente no futebol. Se não houver hematoma a

recuperação é rápida.

3º GRAU OU GRAVE

São as grandes contusões resultantes de traumas intensos,

caracterizados por dor e rompimento traumático parcial ou total do músculo.

Mesmo que não haja abertura da pele, ela pode se necrosar, com possibilidade

de infeção secundária.

TRATAMENTO DAS CONTUSÕES

Em Esportes de “alto nível”, há exigências com relação ao tempo de

recuperação tanto por parte do atleta, como de outras pessoas como

treinadores, dirigentes, etc, entretanto as contusões devem ser tratadas de

forma correta para se evitar cronificações e impedir déficits funcionais

prolongados. Dependendo da gravidade da contusão o indivíduo deverá ser

retirado imediatamente da competição, mesmo contra a sua vontade.

Conduta:

1º) Aplicação imediata de gelo que será mantido nas primeiras 48h. A ação

vasoconstrictora do frio contém a hemorragia e diminui o isco de infeção.

2º) Aplicação adequada de calor após 48 h. Este provoca vasodilatação

periférica aumentando a circulação sangüínea no local, favorecendo a redução

do processo inflamatório.

3º) Repouso do membro lesado em posição conveniente.

4º) Administração de antiinflamatórios não-hormonais. Deve-se Ter o cuidado

de não usá-los por tempo muito prolongado porque muitos deles podem nesse

caso, levar a aplasia medular.

5º) O hematoma muito volumoso requer cirurgia, pois pode evoluir para miosite

ossificante.

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6º) Nas roturas musculares traumáticas abertas (feridas), deve-se fazer uma

boa assepsia, com escova e sabão, sob anestesia. Deve-se também verificar

as condições de vitalidade dos músculos através da sua coloração, contração e

sangramento.

Se o músculo não tiver boas condições de vitalidade deverá ser retirado.

As massagens estão, contra indicadas em todas as contusões

musculares. Podem provocar ou aumentar hematomas.

10.2.1.2 - Caimbras

É uma contração involuntária, súbita, mantida e dolorosa de um

determinado músculo. No momento em que algumas fibras musculares não

conseguem relaxar, surge a caimbra. Estas fibras entram em isquemia que

provoca dor e aciona um reflexo nervoso que contrai todas as outras fibras do

músculo, o que ocasiona mais dor, que ocasiona mais caimbra num círculo

vicioso.

A fadiga muscular, o frio e a desidratação são fatores desencadeantes.

O tratamento consiste em estender devagar o músculo acometido e

mantê-lo estendido.

10.2.1.2 – Roturas musculares

A lesão básica consiste em que algumas fibras musculares desprendem-

se de sua junção com o tendão, com o osso ou com outras fibras

musculares. O alongamento durante o relaxamento muscular ocorre por

um relaxamento de todas as fibras que constituem o músculo. Isto

significa que cada uma delas tem que relaxar quando o músculo é

estendido. Este relaxamento é muito mais rápido quando o músculo é

estendido com violência. Quando algumas fibras não relaxam com a

rapidez necessária, haverá uma falta de sincronismo e a textura do

tecido conjuntivo se rompem, podendo ocorrer o mesmo com os vasos

sangüíneos que correm no tecido conjuntivo. Cada modalidade esportiva

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tem seu músculo mais acometido. No futebolista, é o reto anterior da

coxa. Didaticamente podemos dividir as roturas em:

1º GRAU OU PARCIAL FIBRILAR (“ESTIRAMENTO”)

É vulgarmente e erroneamente chamada de “estiramento”.

Estiramento é uma propriedade comum aos músculos.

É caracterizada pelo rompimento de fibras curtas.

2º GRAU OU PARCIAL FASCICULAR (“DISTENSÃO”)

Esta denominação vulgar, também é improcedente, porque

distensão é sinônimo de estiramento e, portanto propriedade normal do

músculo.

Caracteriza-se pelo rompimento de fibras longas e, portanto mais

grave que a primeira.

Verifica-se uma dor aguda como se fosse uma “fisgada” ou

“chibatada”, seguida de edema, esquimose ou hematoma. Uma

depressão muscular (entalhe) pode ser observada e sentida.

3º GRAU OU ROTURA TOTAL

É a forma mais grave de rotura. É a conseqüência de rompimento

de todas as fibras do músculo.

Difere-se da contusão do 3º grau por não ser causada por

traumas mecânicos diretos e sempre ser fechada.

TRATAMENTO

1º) Elevação do músculo afetado acima do nível do coração.

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2º) Aplicação de gelo nas primeiras 48 h.

3º) Calor após 48 h através de banhos de parafina, toalhas quentes,

forno, etc.

4º) Uso de antinflamatórios não hormonais.

5º) Repouso.

6º) a rotura do 3º grau ou total é igual a tratamento cirúrgico.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: As massagens aqui pelos mesmos

motivos, estão contra-indicadas.

A infiltração local de cortisona também, porque atrasar a

cicatrização muscular.

Até pouco tempo admitia-se que a cicatrização muscular ocorria

somente através da formação de fibroblastos (tecido conjuntivo) que

substituíam as fibras lesadas. Hoje, sabe-se que isto ocorre apenas

quando houver repouso e tratamento adequados. Locatelle (Itália),

demonstrou que há uma primeira fase caracterizada por degeneração e

necrose das fibras, desfeita pelos macrofagos e em seguida

neoformação da fibramuscular. Enfatizamos, que este processo não

acontecerá se não houver repouso e tratamento adequados.

A presença de hematoma dificulta a cicatrização.

Fatores que interferem na cicatrização:

GERAIS: idade, fadiga, alimentação, distúrbios endócrinos e

toxiinfecção.

LOCAIS: vitalidade da fibra, extensão das lesões, presença de

hematomas.

COMPLICAÇÕES:

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As roturas musculares podem se complicar com:

- hemorragia

- miosite assificante

- lesões rescidivantes

- lesões crônicas

FATORES PREDISPONENTES DAS ROTURAS:

- Idade – os indivíduos mais velhos estão mais propícios.

- Treinamento escasso, mal dirigido ou muito intenso.

- Falta de aquecimento.

- Ambiente frio e úmido.

- Lesões anteriores.

- Tensão emocional.

- Modos vivendi (alimentação, sono, repouso, bebidas alcoólicas

em excesso, fumo, etc.).

- Material inadequado: chuteiras, tênis, etc.

- Solo inadequado: campos esburacados e irregulares, etc.

PROFILAXIA DAS ROTURAS

O primeiro e mais importante meio de prevenir roturas musculares é um

bom condicionamento muscular geral. Os músculos tornam-se mais fortes e

mais capazes de resistir à fadiga.

O “aquecimento”, preparação muscular imediatamente antes da partida.

Também é de vital importância. Este consta de 3 etapas:

1ª) alongamento muscular – não confundir com flexibilidade que é contra-

indicada.

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2ª) ativação do sistema cardiorespiratório, que visa melhorar a irrigação para

os músculos e elevar a temperatura interna.

3ª) execução de gestos esportivos, cabeçada, chute, cortada, etc.

Os hábitos higiênicos: são também fundamentais na profilaxia destas

lesões. Uma alimentação rica em todos os nutrientes é fundamental, o déficit

protéico favorece as lesões. O tempo de sono é fundamental. O atleta deverá

dormir pelo menos 8 h por dia. A ingestão excessiva de álcool é altamente

prejudicial. Todavia, as bebidas de baixos teores alcoólicos, como cerveja e

vinho, estão liberadas com moderação.

O aspecto psicológico é outro fator de grande importância. É bem

conhecido o fato de que a “tensão emocional” poderá levar o atleta a se

lesionar.

Finalmente gostaríamos de chamar a atenção para as drogas

estimulantes do S.N.C. que dão ao indivíduo uma sensação de poder que ele

não tem e perde a noção dos seus limites, o que poderá causar graves lesões.

10.2.1.4 – Hérnia Traumática

Deve-se a rotura traumática da aponeurose e conseqüente saída do

músculo. É importante que se faça o diagnóstico diferencial com rotura

muscular. Isto poderá ser feito através do SINAL DE FARABEUF: pede-se ao

indivíduo para contrair o músculo, se a tumoração aumentar, trata-se de rotura,

se desaparecer, é hérnia.

10.2.2 - Crônicas

10.2.2.1 – Hérnia congênita

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10.2.2.2 – Hérnia cirúrgica

É uma seqüela cirúrgica iatrogênica.

10.2.2.3 – Miosite ossificante

O músculo sofre um processo de calcificação e perde muito da sua

capacidade funcional. Na maioria das vezes é uma conseqüência de lesões

agudas mal tratadas.

10.2.2.4 – Fibrose muscular

Presença de grande quantidade de fibroblastos no músculo. Também é

devida a tratamento mal conduzido.

TRATAMENTO DAS LESÕES CRÔNICAS

Na maioria das vezes o tratamento dessas lesões é cirúrgico.

10.2.2 – Dor muscular

A dor muscular está classificada à parte porque não pode ser

considerada aguda, pois surge cerca de 24 h após o esforço e nem

crônica porque tende a desaparecer com o prosseguimento do esforço.

É muito freqüente nos reinícios de treinamento e quando sedentários

iniciam atividade física. É por muitos considerados como uma lesão

normal, mas outros acham que pode ser evitada.

O músculo mostra-se algo rígido pelo acúmulo de fluido entre

suas fibras. A dor admite-se que seja provocada pela compressão de

filetes nervosos por esse edema. A dor muscular reflete em última

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análise um despreparo do músculo para realizar o esforço que lhe foi

impingido. O treinamento deveria, portanto ser mais leve e gradativo.

Seus efeitos podem ser reduzidos pela observação de duas regras. Em

primeiro lugar, não fique de molho em banho quente; o calor provoca

vasodilatação e facilitar o extravasamento de fluido para o meio

intersticial. Em segundo lugar, não se sente desnecessariamente, faça

exercícios suaves ao final do esforço ou competição. O exercício suave

favorece a restauração de fluido nos vasos sangüíneos.

10.3 – Papel da Medicina Desportiva em relação às lesões musculares

10.3.1 – Profilaxia

Já vimos vários fatores que predispõem as lesões musculares. Cabe ao

médico desportivo conscientizar o seu grupo do perigo que eles representam e

como evitá-los. Lembrar que a prevenção é sempre mais “barata” em todos os

sentidos, do que a cura.

10.3.2 – Reduzir a incapacidade temporária

Muitas pessoas vivem profissionalmente do esporte. Quanto mais tempo

parado maior é o prejuízo. Para não provocar um descondicionamento geral, a

regra é continuar trabalhando os segmentos não lesados. O gesso deverá ser

evitado na medida do possível.

10.3.3 – Promover recuperação total

Quando um atleta retorna as suas atividades sem que esteja

completamente recuperado muito freqüente agrava a sua lesão e fica mais

tempo inativo do que normalmente precisaria.

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Em se tratando de esporte profissional, essa pressão é maior ainda,

tanto por parte do atleta, ansioso para retornar as atividades, como por parte

de técnicos e dirigentes preocupados com os desfalques.

Gostaríamos de destacar a importância da Fisioterapia na recuperação.

10.3.4 – Evitar incapacidade permanente

Muitas lesões graves quando mal conduzidas, inutilizam o atleta

definitivamente para a prática desportiva. O tratamento correto é fundamental.

Lesões graves requerem hospitalização e vigilância diária.

CONCLUSÃO

Concluímos de uma maneira bem clara, que nenhum profissional ligado

à área das ciências biológicas da atividade física, pode desconhecer a fisiologia

muscular e as principais lesões decorrentes da atividade física, afim de

preveni-las, principalmente, e tratá-las de uma maneira adequada, a fim de

evitar inatividades prolongadas e desgraça da incapacidade definitiva.

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