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Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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FICHA TÉCNICA
Entidade Contratante
SEDES Associação para o Desenvolvimento Económico e Social
Autores
Joaquim Azevedo (Coord.) António Fonseca Francisco Jacinto Jorge Pinto José Matias Alves
Composição
Adelaide Almeida
Local e Data
Porto, Março de 2003
Patrocinaram este estudo Ministério da Educação Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento – FLAD Fundação Calouste Gulbenkian
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 6-7
SUMÁRIO EXECUTIVO 8-14
I PARTE - NÍVEL SECUNDÁRIO DE ENSINO E DE FORMAÇÃO: UMA APRESENTAÇÃO GERAL 15
A configuração do nível secundário (anos 80 e 90) 16
Continuidades e rupturas 21
Uma procura crescente, mas longe da universalização 24
Um ensino de elites a caminho de um ensino universal 29
Uma missão em revisão 30
II PARTE - EVOLUÇÃO DA OFERTA E DA PROCURA DO NÍVEL SECUNDÁRIO 34
A oferta de formação de nível secundário 37
A distribuição por áreas de formação 45
Evolução da procura de formação 51
III PARTE - A QUALIDADE DO NÍVEL SECUNDÁRIO: ESCOLAS DE SOBREVIVENTES? 59
Níveis de sucesso escolar e de abandono 60
Resultados dos exames nacionais do 12º ano 65
Os níveis de eficiência, por escola e por tipo de cursos 68
Inserção sócio-profissional e o acesso ao mercado de trabalho 73
O caso dos diplomados pelos cursos tecnológicos 74
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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IV PARTE - A PRIORIDADE À QUALIFICAÇÃO DE TÉCNICOS
INTERMÉDIOS 78
A procura do mercado de trabalho 79
Situação profissional um ano após a obtenção do diploma 79
Meios de obtenção do primeiro emprego 81
Obstáculos à empregabilidade 83
As prioridades de formação 85
Departamento de Estatísticas do Trabalho, Emprego e
Formação Profissional do Ministério do Trabalho e Solidariedade 86
Programa Integrado de Apoio à Inovação – Prioridade para os Recursos Humanos em Portugal (PROINOV) 88
Estudo sobre as tendências de evolução da procura e da oferta de mão-de-obra qualificada em Portugal 91
A orientação escolar e profissional como estratégia de mediação entre a oferta e a procura de formação 93
O papel da escola e dos profissionais de orientação durante o ensino de cariz profissionalizante 99
V PARTE - BALANÇO GERAL E PRINCIPAIS LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA PARA O FUTURO DO ENSINO E FORMAÇÃO TECNOLÓGICA E PROFISSIONAL 101
Um balanço genérico 102
Algumas linhas de orientação estratégica 105
Definir os tempos e os modos da universalização do acesso da população jovem ao nível secundário 105
Definir, com rigor e igual dignidade normativa, as cinco modalidades de educação 106
É crucial prosseguir o processo de credibilização social das formações tecnológicas e profissionais 107
Tornar socialmente muito mais legível o que é e para que serve o nível secundário de ensino e formação 108
Melhorar drasticamente a orientação escolar e profissional no 3º ciclo do ensino básico 109
Introduzir um novo tipo de flexibilidade na oferta de formação tecnológica e profissional no nível secundário 110
Melhorar drasticamente a eficiência das formações tecnológicas e profissionais 111
Aumentar a oferta e procura das formações técnicas e profissionais nos próximos anos 112
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Investir na formação de uma elite dirigente deste tipo de formação e deste tipo de instituições 113
Rever e reordenar as quatros modalidades profissionalizantes
1. Cursos tecnológicos 114
2. Cursos profissionais 116
3. Cursos de formação em alternância 117
4. Cursos de formação artística especializada 118
BIBLIOGRAFIA 120
ANEXO 123
RELAÇÃO DE GRÁFICOS, FIGURAS, MAPAS E QUADROS 143
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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INTRODUÇÃO
A proposta de estudo que a SEDES fez a este Grupo de Trabalho intitulava-se “Que
estratégias para os ensinos tecnológico e profissional? Evolução da oferta e da procura.”.
Esta enunciação tinha como pressupostos não só a necessidade de ampliar e melhorar a
oferta e a procura destas modalidades de ensino e formação, como também a perspectiva
de dar um contributo positivo para ultrapassar a actual situação crítica por que passa o
nível secundário de ensino e de formação.
É conhecida a difícil encruzilhada em que se encontra o nível secundário de ensino e
formação, aquele que se situa no pós-9º ano de escolaridade e que compreende as escolas
secundárias, as escolas profissionais, o ensino recorrente e o subsistema de formação em
alternância. Os níveis de insucesso e de abandono têm vindo a aumentar dramaticamente.
O nível secundário está doente. Há muito que padece de várias enfermidades, boa parte
das quais está identificada. Mas a acção tarda. Nenhuma medida de política correctiva foi
tomada desde 1995. Uma anunciada revisão curricular foi recentemente adiada. Uma
outra está em marcha. A inacção não pode senão gerar degradação, num sistema tão
centralizado e tão desresponsabilizante quanto ao agir localmente.
A oferta do nível secundário é muito dispersa, estende-se por várias redes sobrepostas, ao
longo do território nacional, redes estas centralmente geridas, tanto pelo Ministério da
Educação como pelo Ministério da Solidariedade Social e do Trabalho. Tantos anos
volvidos sobre 1974, continua a não estar claro o que é que o nosso país tem para
oferecer, como propostas educativas alternativas, aos jovens que terminam a sua
formação básica, o 9º ano. Sem projecto social visível e construído sobre perspectivas e
apostas partilhadas, dificilmente se poderão construir projectos familiares e pessoais.
Conforme foi inicialmente proposto, este estudo, realizado entre os meses de Setembro e
Dezembro de 2002, visa contribuir para elucidar as seguintes problemáticas:
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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1. A evolução da oferta e da procura do nível secundário, nas suas várias
modalidades, entre 1992 e 2002.
2. A evolução da qualidade do nível secundário. Sucesso e insucesso, rentabilidade
e eficiência das escolas secundárias e das escolas profissionais.
3. A prioridade à qualificação de técnicos intermédios: que enunciação, que
programas e linhas de acção para o futuro imediato?
4. Principais linhas de orientação estratégica para o futuro do ensino e da formação
tecnológica e profissional.
O estudo começa por facultar uma descrição genérica do nível secundário de ensino e de
formação, elemento que pode ser de grande utilidade, uma vez que os seus leitores não
estarão todos muito familiarizados com o que é hoje este nível de ensino e de formação.
O estudo foi realizado por uma equipa constituída por Joaquim Azevedo (Coord.),
António Fonseca, Francisco Jacinto, Jorge Pinto e José Matias Alves. Esperamos que
este contributo permita uma revalorização social do nível secundário de ensino e de
formação, em particular dos seus segmentos mais profissionalizantes, e favoreça uma
maior responsabilização de toda a sociedade portuguesa, da Assembleia da República e
do Governo, tendo em vista uma irrecusável e inadiável melhoria da sua qualidade.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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SUMÁRIO EXECUTIVO
O nível secundário de ensino e de formação O nível secundário de ensino e de formação, conceito a que se recorre neste estudo,
compreende actualmente: (i) as escolas secundárias, com a oferta de cursos gerais e de
cursos tecnológicos; (ii) as escolas profissionais, com a oferta de cursos profissionais;
(iii) o ensino artístico, oferecido em escolas especializadas; (iv) a formação em
alternância, de nível III, oferecida em centros de formação profissional e em empresas;
(v) o ensino recorrente, para maiores de 18 anos, oferecido nas escolas secundárias (não
considerado neste estudo, uma vez que não se destina ao público-alvo de referência, a
saber, a população que termina no 9º ano de escolaridade a sua formação básica).
Todos estes cursos têm três anos de duração e compreendem três componentes de
formação: sócio-cultural, específica ou científica, e técnica. Os diplomas a que conduzem
os diversos cursos são diferenciados, mas todos eles equivalem à conclusão do nível
secundário, para efeitos de prosseguimento de estudos.
O actual figurino do nível secundário remonta ao final dos anos oitenta. Nas décadas de
oitenta e de noventa as taxas de frequência deste nível cresceram velozmente. Por
exemplo, a taxa de escolarização do grupo etário dos 17 anos, no nível secundário,
duplicou entre 1989 e 1997, passando de 35% para 72%. Mas este aumento repentino das
taxas de escolarização, por ser tão recente, ainda não provocou efeitos assinaláveis sobre
os níveis de escolarização do conjunto dos portugueses. Portugal continua, de facto, na
cauda da Europa no que se refere à percentagem da sua população com o nível
secundário (20% da população dos 25 aos 64 anos, contra 40% em Espanha, 64% no
conjunto dos países da OCDE, 83% na Alemanha, ou 86% na República Checa).
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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De um ensino de elites, demasiado tempo fechado ao acesso de diferentes grupos sociais,
com culturas diversificadas, o nível secundário caminha agora para uma crescente
universalização, convivendo mal com a heterogeneidade que dentro dele se instalou. A
este facto não são estranhos os fracos níveis de rendimento escolar, as baixas médias
obtidas em exames nacionais e em estudos internacionais e os elevados níveis de
abandono escolar que actualmente se verificam. O momento requer uma enorme
ponderação acerca dos rumos a tomar e, ao mesmo tempo, medidas urgentes que
permitam travar um processo de degradação moral que se tende a instalar no sistema
educativo português.
Evolução da oferta e da procura
Damos especial atenção à evolução da oferta e da procura dos cursos tecnológicos, dos
cursos gerais e dos cursos profissionais. De um ciclo completamente unificado (após
1977), o nível secundário diversificou-se nos anos oitenta (criação do Ensino Técnico-
Profissional, em 1983; criação dos cursos de formação em alternância, em 1984; criação
das escolas profissionais, em 1989; revisão curricular de todo o sistema de ensino,
iniciada em 1989). A procura foi acompanhando esta nova oferta. Em 1997/98 foi
atingido o pico da frequência (que não o máximo da escolarização), com cerca de
350.000 jovens a frequentar estes três tipos de cursos. No ano de 2001/02 são já 302.000,
assim distribuídos: 71% nos cursos gerais, 19% nos cursos tecnológicos e 10% nos
cursos profissionais. Ou seja, 90% dos jovens continuam a encaminhar-se para as escolas
secundárias. Os cursos de formação em alternância de nível III envolvem, nesta data,
cerca de 15.000 jovens.
A procura, no caso das escolas profissionais, excede todos os anos a sua capacidade de
acolhimento. No ano de 2002/03, as escolas profissionais admitiram apenas 43% dos
candidatos, o que constitui um motivo de reflexão, pois estas recusas correspondem a
perto de 8.000 jovens por ano. Por exemplo, na área da Electricidade/ Electrónica, só
foram admitidos 37% dos candidatos e na área da Metalomecânica só foram admitidos
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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39%. Num país com tão graves carências de técnicos intermédios qualificados, esta
situação parece-nos preocupante.
Permanecem também fortes assimetrias regionais no acesso ao nível secundário. Há mais
de quarenta pontos percentuais de diferença entre os agrupamentos de concelhos com
maiores taxas de escolarização (Grande Lisboa e Coimbra) e os agrupamentos com
menores taxas (Tâmega e Douro Sul). Não tem havido qualquer política recente de
redução destas desigualdades.
Nível secundário: escolas de sobreviventes?
Em termos qualitativos, a situação do nível secundário é preocupante. O insucesso
escolar e o abandono são muito elevados. Neste momento, um em cada quatro jovens
abandona as escolas secundárias no 10º ano, seja porque reprova, seja porque procura e
encontra localmente trabalho, seja ainda porque as famílias têm poucos recursos
económicos e porque os cursos que frequentam não são os adequados às expectativas dos
jovens.
Por outro lado, os resultados dos exames nacionais do 12º ano apresentam médias muito
baixas a Matemática e a outras disciplinas das áreas científicas, como Química, Física e
Biologia. Estudos internacionais como o PISA (OCDE) revelam dificuldades muito
acentuadas na literacia em Leitura, Matemática e Ciências, nos jovens portugueses de 15
anos.
Um recente estudo sobre o rendimento escolar nas escolas secundárias e nas escolas
profissionais (dados referentes a 2001) conclui que há grandes níveis de ineficácia. Nas
escolas secundárias, apenas 46% dos jovens dos cursos gerais se diplomam nos três anos
previstos para a duração dos cursos. Nos cursos tecnológicos, apenas se diplomam 28%
dos jovens que se matriculam pela primeira vez e nas escolas profissionais diplomam-se
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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65%, quase vinte pontos percentuais mais do que nos cursos gerais das escolas
secundárias.
Esta situação reclama intervenções urgentes (e há muito conhecidas e exigidas),
sobretudo no caso dos cursos tecnológicos, no ensino-aprendizagem da Matemática e na
criação de condições para estancar o abandono escolar prematuro e desqualificado. Entre
os jovens do grupo etário 18-24 anos, na União Europeia, Portugal é o país que apresenta
a mais alta taxa de saída antes da conclusão do nível secundário, 45%. A Espanha
apresenta 29% e a média da União é de 19%.
Neste contexto, as escolas secundárias correm o risco de se transformarem em “escolas
de sobreviventes”, contribuindo para acentuar fortes desigualdades sociais e desistindo
de exercer um papel educativo e formativo crucial, junto da generalidade da população
portuguesa.
Prioridade à qualificação de técnicos intermédios
Propõe-se, em primeiro lugar, que seja atribuída prioridade à contratação de técnicos
intermédios, pois esta continua a ser uma exigência de muitos segmentos do mercado de
trabalho. Os estudos do Departamento do Ensino Secundário, do Ministério do Trabalho,
do PROINOV e do CEPCEP/Universidade Católica, evidenciam que as empresas
pretendem acolher cada vez mais estes técnicos. Eles são ainda escassos a entrar no
mercado de trabalho, contrariamente à abundância de quadros superiores que o país está
a formar.
Diversos estudos realizados nos últimos anos por diferentes organismos têm verificado
de forma sistemática que, entre os vários segmentos de cursos de nível secundário, os
jovens diplomados pelas escolas profissionais são os que encontram mais fácil acesso ao
emprego e são os que avaliam mais positivamente as escolas que os formaram.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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A orientação escolar e profissional é uma prioridade, tanto no termo do ensino básico
como no nível secundário. A sua ausência ou a falta de qualidade daquela que se pratica
é co-responsável pelo encaminhamento errado de muitos jovens para percursos escolares
que nada ou pouco lhes dizem.
Principais contributos para uma reorientação estratégica
As principais linhas de orientação para um novo fôlego para o nível secundário de ensino
e de formação são:
a) progressiva universalização do acesso dos portugueses a um percurso de ensino e
de formação de nível secundário, desde que o possam realizar em condições de
sucesso educativo;
b) dignificação de todos os percursos de ensino e de formação, tornando-os
atractivos e igualmente formativos;
c) correcção das assimetrias sociais e regionais no acesso a este nível de ensino e de
formação, criando condições de frequência e de sucesso educativo para jovens
oriundos de famílias mais desfavorecidas;
d) melhoria drástica da qualidade do ensino e das aprendizagens e do rendimento
das escolas;
e) criação de condições para que cada instituição de educação possa melhor servir
localmente a sua população-alvo, oferecendo mais do que um tipo de percurso,
nomeadamente onde não houver uma rede de instituições capaz de assegurar um
leque de opções aos jovens;
f) revisão urgente do modelo de ensino tecnológico que é desenvolvido nas escolas
secundárias, tornando-o uma alternativa positiva na formação dos jovens;
g) criar condições sócio-políticas para desenvolver um programa nacional que dê
prioridade à formação de técnicos intermédios, de nível III (T3);
h) melhorar drasticamente as condições de informação às famílias e as práticas de
orientação escolar e profissional dos jovens, desde o ensino básico;
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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i) envolver os empregadores neste incremento da formação de técnicos intermédios,
assegurando compromissos concretos por parte dos empresários.
Face as estas linhas de orientação, as principais actividades a desenvolver nos próximos
anos devem ser:
a) definir os tempos e os modos da universalização da população jovem ao nível
secundário, procedendo a uma identificação destes tempos e modos em cada
agrupamento de municípios;
b) cuidar de modo especial, em cada localidade, dos modos de acesso e de sucesso
de franjas da população muito desfavorecidas, cultural e economicamente, de
modo a facilitar o seu acesso e o seu sucesso em percursos formativos deste nível,
financiando de modo particular as famílias carenciadas;
c) definir localmente, em cada agrupamento de municípios, modos e tempos de
redução do abandono escolar no nível secundário e da saída desqualificada do
sistema de ensino e formação inicial dos jovens;
d) construir compromissos concretos, tanto no plano nacional como no plano local,
entre empresários, autarquias e agências de desenvolvimento, em ordem a levar
por diante a prioridade aos T3;
e) criar um programa nacional e negociado com os parceiros sociais - “Prioridade
aos T3”, podia ser o seu nome - onde o Governo, no seu conjunto (e não o ME
isoladamente) se comprometa, ao lado dos empregadores, num plano de
desenvolvimento a dez anos;
f) reordenar toda a rede escolar do nível secundário, em consonância com este plano
de desenvolvimento, de médio prazo;
g) criar um sistema de apoio à melhoria da eficácia e da eficiência das escolas de
nível secundário, premiando as melhores e ajudando as piores com programas de
emergência de capacitação das escolas;
h) desenvolver programas de esclarecimento das famílias e dos jovens acerca das
novas alternativas de formação após o 9º ano, evitando erros dramáticos nas
escolhas praticadas;
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i) melhorar as condições em que se realiza actualmente a orientação escolar e
profissional dos jovens, com especial cuidado no 9º ano de escolaridade;
j) criar dispositivos legais que criem condições para que cada instituição de ensino
e formação de nível secundário se afirme com qualidade e possa, caso se
justifique na rede local de oferta, oferecer vários tipos de percursos aos jovens;
k) introduzir já no próximo ano lectivo correcções nas trajectórias dos cursos
tecnológicos das escolas secundárias, dignificando estes cursos, revendo, entre
outros aspectos, a rede de escolas, os planos de estudo, a ligação às empresas, a
certificação escolar e profissional, os estágios e a formação dos professores;
l) criar as condições que permitam aumentar a capacidade de acolhimento dos
jovens nos percursos tecnológicos e profissionais, a começar pelas escolas
profissionais, onde a actual procura excede muito a capacidade das escolas;
m) dignificar e expandir a formação de jovens em alternância escola e empresa,
diminuindo para tal os meios financeiros nacionais e comunitários afectos à
formação avulsa de activos;
n) aumentar a oferta de formação artística especializada de nível secundário,
diversificando a rede de escolas estatais e privadas;
o) rever todo o sistema de financiamento das modalidades de ensino e formação de
nível secundário, criando condições para uma livre escolha dos jovens e das
famílias, onde quer que se encontrem no território nacional;
p) desenvolver, em articulação com as instituições de ensino superior, programas de
formação e requalificação de uma elite dirigente deste tipo de escolas,
especialmente as que oferecem formação tecnológica e profissional, criando uma
nova geração de gestores profissionais de escolas tecnológicas e profissionais.
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I PARTE
O NÍVEL SECUNDÁRIO DE ENSINO E DE FORMAÇÃO. UMA
APRESENTAÇÃO GERAL.
O ensino e a formação de nível secundário estão no primeiro plano da agenda política.
Antes de pensar sobre o que fazer de novo, importa saber o que existe, como se
configurou o actual nível secundário, como evoluiu nos últimos vinte anos, o que é hoje
a sua oferta, a sua procura, quais são os seus principais problemas.
Esta é uma reflexão que não se deve ultrapassar, pois apagar a memória é um erro e uma
ilusão, por mais urgência que haja em tomar medidas, e há e muita, pois há trajectórias
que devem ser corrigidas e erros que não devem ser novamente cometidos.
No momento em que se debate um possível alargamento “da escolaridade obrigatória até
ao 12º ano, até ao ano 2010” mais se afigura urgente conhecer o nível secundário de
ensino e de formação que existe em Portugal, e discernir qual a sua missão, nos dias de
hoje. É este o objectivo desta primeira parte.
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A configuração do nível secundário (anos 80 e 90)
A actual configuração do nível secundário no sistema educativo português resulta quer
da tradição histórica, na qual se destaca, durante muitas décadas, a importância do
“liceu”, e mais recentemente, no fim dos anos setenta, a unificação do ensino secundário,
quer de iniciativas políticas mais recentes, de entre as quais avultam a instituição da
formação em alternância, a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86 de 14/10),
os trabalhos empreendidos pela Comissão de Reforma do Sistema Educativo (1986-
1988) e os decretos-lei de criação das escolas profissionais (Decreto-Lei n.º 26/89, de
21/1) e de instituição do novo ordenamento curricular (Decreto-Lei n.º 286/89, de 29/9).
Actualmente, para um adolescente que termina a escolaridade básica de nove anos há
cinco opções de prosseguimento dos estudos:
− Numa escola secundária, num curso geral;
− Numa escola secundária, num curso tecnológico;
− Numa escola profissional;
− Numa escola especializada do ensino artístico;
− Na formação em alternância (aprendizagem, nível III, em centros de formação
ou em empresa).
As escolas secundárias oferecem, assim, dois tipos de cursos, com uma base comum: uns
orientados predominantemente para o prosseguimento de estudos no ensino superior,
outros predominantemente orientados para o ingresso imediato no mercado de emprego.
Por comodidade de comunicação, os primeiros são conhecidos por “gerais” e os
segundos por “tecnológicos”. Os cursos são quinze, sendo quatro gerais e onze
tecnológicos, agrupados por quatro grandes áreas do saber: científico-natural, artes,
económico-social e humanidades (Quadro 1) (ver descrição sobre estas escolas no ponto
2 do Anexo).
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Quadro 1
Cursos do ensino secundário
Nota: Estes cursos começaram a ser leccionados nas escolas secundárias no ano lectivo de 1993/94, apenas no 10º ano.
Encontra-se, desde fim de Novembro de 2002, em debate público, por iniciativa do ME,
um projecto de “revisão curricular”, integrado numa “reforma do ensino secundário”.
Este projecto, que mantém as cinco vias de ensino e de formação acima referidas, propõe
a alteração da composição da oferta das escolas secundárias, segundo o que se pode ver
de seguida (Quadro 2):
Quadro 2
Configuração da oferta das escolas secundárias, segundo o projecto de “revisão curricular” do Governo (Novembro de 2002)
Fonte: Ministério da Educação (projecto que esteve em debate público)
Agrupamento Cursos Gerais Cursos Tecnológicos
1 Científico- natural
Informática Construção civil Electrotecnia / electrónica Mecânica Química
2 Artes Design Artes e ofícios
3 Económico-social Serviços comerciais Administração
4 Humanidades Comunicação Animação social
Agrupamento Cientifico – Humanístico Agrupamento Tecnológico
1. Curso de ciências e tecnologias
2. Curso de ciências económico-sociais
3. Curso de ciências sociais e humanas
4. Curso de línguas e literaturas
5. Curso de artes
1. Curso tecnológico de construção civil e Edificação
2. Curso tecnológico de electrotecnia e electrónica
3. Curso tecnológico de informática
4. Curso tecnológico de ordenamento do território e ambiente
5. Curso tecnológico de design
6. Curso tecnológico de multimédia
7. Curso tecnológico de marketing
8. Curso tecnológico de administração
9. Curso tecnológico de acção social
10. Curso tecnológico de desporto
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As escolas profissionais (foram criadas em 1989 e existem actualmente cerca de 170,
dispersas pelo país) oferecem cursos que também têm três anos de duração, alternativos
aos anteriores, e visam predominantemente favorecer o ingresso imediato no mercado de
trabalho. Também permitem o acesso ao ensino superior aos jovens que pretenderem
prosseguir estudos (ver descrição no ponto 3 do Anexo). Os planos de estudo das escolas
profissionais contêm três componentes formativas: formação socio-cultural, formação
científica e formação técnica.
Os cursos de formação em alternância, a também chamada “aprendizagem”, estão
organizados segundo as mesmas três componentes de formação e, em geral, têm três ou
quatro anos de duração. A frequência com aproveitamento de qualquer um destes cursos
de tipo profissional faculta o acesso ao título de técnico qualificado de nível III (ver
descrição no ponto 4 do Anexo).
De fora deste ordenamento mantiveram-se o ensino complementar nocturno e o ensino
recorrente. Na realidade, continua por conceber um sistema de ensino e de formação de
segunda oportunidade, para maiores de dezoito anos, capaz de ultrapassar as debilidades
com que se debatem as várias modalidades em que actualmente se estrutura o ensino
recorrente.
Embora conscientes de que há que melhorar muito a “primeira oportunidade” educativa,
pois assim se evitaria o recurso à segunda, vários parceiros sociais têm manifestado o
interesse em vir a contar com uma iniciativa urgente por parte do Ministério da Educação
para colocar em marcha um processo que permita não só reorientar o ensino recorrente,
para que ele possa acolher e responder aos anseios de uma população tantas vezes ávida
de novos conhecimentos e de novas competências, e também travar o fracasso formativo
generalizado e colocar um travão aos enormes desperdícios financeiros que actualmente
ainda se verificam.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Desde o final dos anos oitenta e início dos anos noventa que a oferta de ensino e de
formação de nível secundário se inscreve numa matriz comum a todos os percursos e
modalidades, as escolas secundárias (cursos gerais e tecnológicos), as escolas
profissionais e a formação em alternância ou “aprendizagem”.
Quadro 3
Matriz comum aos percursos de formação sistemática pós-obrigatória em Portugal (1989 - 1992)
Características
Percursos
Escolaridade/ acesso
Duração Anos/Horas
COMPONENTES DA FORMAÇÃO
(% da carga horária total) Geral ou sócio-cultural
Específica ou científica
Técnica ou Tecnl. (teó- rica e prát.)
ENSINO SECUNDÁRIO
A. Cursos gerais (4)
B. CursosTecnológicos(11)
ESCOLAS PROFISSIONAIS
FORMAÇÃO EM ALTERNÂNCIA
(Nível III - UE)
9º ano
9º ano
9º ano
9º ano
3 a 4 anos (4.800h em média)
3 anos (3.600h)
3 anos (3.270h)
3 anos (3.270h)
34
34
25
45
30
25
21
36
50
19 19
62 (com práti- ca no posto de trabalho)
Notas:
1. O nível III que se refere é um nível de qualificação profissional, definido no âmbito da U.E. (decisão 85/368/EEC) e que corresponde ao que se chama habitualmente técnicos intermédios.
2. No regime de Aprendizagem, o peso da componente técnica inclui a "prática simulada no posto de trabalho" pois esta constitui um elemento característico intrínseco deste modelo de formação.
É esta matriz (Quadro 3), que compreende uma estrutura de componentes de formação
(geral/sociocultural, específica/científica e tecnológica), que sustenta a nova orientação
comum, em torno de um conjunto de eixos definidos, na altura, pelo Ministério da
Educação e de entre os quais se retomam os seguintes:
a. o que mais importa valorizar, qualquer que seja o percurso, é o seu carácter
educativo e formativo, a sua capacidade de fomentar o desenvolvimento de
aptidões e de capacidades, de saberes, saber-fazer e saber-ser e de promover
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uma adequada preparação para o desempenho de uma diversidade de papéis
sociais (entre eles o de trabalhador);
b. todos os percursos a criar devem ser, por isso, do ponto de vista educativo
globalmente equivalentes, independentemente dos diplomas e certificados a que
conduzam, além de proporcionarem sempre o prosseguimento de estudos, de
imediato ou mais tarde, e de constituírem os alicerces para uma formação ao
longo de toda a vida;
c. exactamente por estes motivos e ainda devido à incerteza que reina no mercado
de emprego e à rápida evolução do mundo do trabalho, todos os percursos
devem proporcionar uma formação sociocultural a todos os jovens, devem criar
condições para uma formação científica adequada e devem ainda abrir
oportunidades de formação tecnológica também a todos os estudantes;
d. qualquer um dos cursos que vier a ser instituído deve evitar uma qualificação
demasiado especializada em certos domínios do saber ou em certas actividades
profissionais. Mesmo no caso dos cursos profissionais deve procurar seguir-se
uma formação polivalente e multivalente, orientada para um determinado leque
de profissões e nunca para um posto de trabalho específico;
e. deve haver uma orientação política inequívoca de valorização dos segmentos
técnicos e profissionais a desenvolver, pois assim pode-se contribuir para
contrariar a persistência da sua desvalorização social;
f. é necessário construir uma matriz ou quadro referencial comum a todos os
percursos de formação inicial após o 9º ano, quaisquer que sejam os seus
promotores, que se desenvolva não só com base em um conjunto comum de
componentes de formação mas também de áreas e disciplinas, de práticas
pedagógicas e de recursos disponíveis;
g. todos os cursos devem promover o desenvolvimento de capacidades de reflexão
crítica, de observação e de curiosidade científica e cultural, de comunicação e
cooperação, dos hábitos de trabalho individual e em grupo, da iniciativa e
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 21
sentido de responsabilidade, da capacidade de empreendimento, consolidando
simultaneamente motivações e interesses próprios;
h. todos os cursos devem contribuir para o desenvolvimento de uma consciência
crítica dos valores da nossa sociedade, nomeadamente da liberdade, da
tolerância, da solidariedade e estimular o gosto pelo trabalho persistente e
criativo.
Por isso, todos os cursos das escolas secundárias, das escolas profissionais e do sistema
de formação profissional em alternância (designadamente, os de nível III) reúnem um
conjunto comum de características:
− requerem o 9º ano como nível de ingresso;
− têm três componentes de formação, sociocultural, científica e tecnológica, com
diferentes incidências em cada curso;
− têm três anos de duração (no caso da aprendizagem, a experiência prática no
posto de trabalho pode elevar a duração para quatro anos);
− permitem maleabilidade entre cursos e entre percursos de formação, facilitando,
assim, a correcção de trajectórias formativas;
− têm diplomas diferentes mas todos globalmente equivalentes ao 12º ano;
− permitem o acesso a estudos posteriores, nomeadamente no ensino superior.
Continuidades e rupturas Na evolução do ensino e da formação de nível secundário, assistimos, nos últimos vinte
anos, à permanência de dinâmicas de continuidade e à emergência de dinâmicas de
ruptura. Entre as primeiras é de salientar a persistência do modelo liceal como modelo de
referência na construção do “corpus” curricular da oferta educativa de nível secundário.
Tal persistência não só é visível na nova proposta curricular (de 1989) do ensino
secundário, como no modo como o ensino superior se continua a constituir como o
referencial que regressivamente determina a organização, a avaliação, os conteúdos e os
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 22
métodos de ensino no nível secundário, abrangendo a própria oferta da formação
profissional inicial.
Entre as segundas destacam-se o lançamento do ensino técnico-profissional, em 1983, o
longo abandono e a posterior reposição dos exames nacionais do ensino secundário, em
1993, o lançamento da formação em alternância, em 1985, e a criação das escolas
profissionais, em 1989.
A perspectiva de política educativa, adoptada na sequência dos trabalhos desenvolvidos
pela Comissão de Reforma do Sistema Educativo, que consistiu em considerar com
idêntica validade educacional o conjunto de percursos de ensino e de formação de nível
secundário, independentemente da predominância da sua orientação, pode considerar-se,
passada uma década, como uma importante aquisição a que importa dar a necessária
sequência no campo social mais vasto.
A diversificação de oportunidades de formação, constituída em torno da equivalência de
percursos igualmente educativos para os jovens, reúne, para muitos deles, condições de
salvaguarda das diferentes aspirações e expectativas, evitando, ao mesmo tempo,
transformar essa diversificação na cristalização das desigualdades sociais. Persiste, no
entanto, a dificuldade do sistema escolar fazer face a estas desigualdades, tanto nos
troncos comuns de formação que oferece, como nos percursos diversificados que
constrói.
No ano 2000/2001, o Governo aprovou uma “revisão curricular do ensino secundário”,
exclusivamente direccionada às escolas secundárias, mas tal medida foi suspensa pelo
Governo seguinte, em Abril de 2002. No final de 2002, uma nova proposta de “revisão
curricular”, de iniciativa do novo Governo, foi submetida a debate público. Esta também
se direcciona exclusivamente às escolas secundárias, apesar de anunciar a intenção de se
vir a tornar numa “reforma do ensino secundário”.
Importa desde já sublinhar a persistência, ao longo de todos estes anos, de uma
imprecisão terminológica, reflexo de alguma confusão conceptual. Se, no anos setenta e
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 23
primeira metade dos anos oitenta, o “ ensino secundário” equivalia às “escolas
secundárias”, com a criação da formação em alternância e das escolas profissionais, o
termo “ensino secundário” passou a significar algo novo , mais amplo e diverso. Ao não
ter sido desenvolvido um novo conceito que melhor exprimisse esta nova realidade
multipolar e dada a relevância histórica das “escolas secundárias”, está instalada uma
confusão que interessaria evitar. De facto, do que se trata, em termos da formulação das
políticas educativas, é de elucidar os jovens e as suas famílias acerca da pluralidade de
opções que existem no termo da escolaridade básica e universal, no nível secundário de
ensino e formação.
Neste nível, após o 9º ano, as vias passam a ser como dissemos acima, cinco. Se
continuarmos a falar de “ensino secundário” para abarcar todas estas vias, corremos o
risco de lançar a confusão ou, as mais das vezes, estamos efectivamente a falar ou a fazer
entender que “ensino secundário” continua a ser equivalente a “escolas secundárias”.
Não será por acaso que os dois últimos projectos de reforma (de 2000 e de 2002) se
intitularam “do ensino secundário” e segmentaram e isolaram apenas as escolas
secundárias. Este isolamento reflecte uma eleição e, no quadro do presente estudo,
rejeitamos este caminho. Adoptamos sempre a designação “nível secundário de ensino e
formação”, quando falamos globalmente, e, de vez em quando, usamos a expressão,
“ensino secundário”, mas exclusivamente referida às escolas secundárias.
A tão falada dignificação dos percursos tecnológicos e profissionais é por aqui que
começa (ou não começa) e é bastante significativo que o Ministério da Educação seja a
primeira instância a eleger as “escolas secundárias” quando se refere ao nível secundário
de ensino e formação. A secundarização dos outros percursos deste nível continua a ser,
antes de mais, promovida pela administração educacional, com todas as consequências
que daí advêm.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 24
Uma procura crescente, mas longe da universalização Após longos anos de investimento na universalização do ensino básico e obrigatório de
nove anos, urgia, nas décadas de oitenta e de noventa, um esforço acentuado e persistente
de incentivo da procura social do nível secundário de ensino e de formação. Como o
Quadro 4 revela, a procura cresceu bastante, tendo duplicado entre 1985 e 1995. As taxas
de escolarização, no mesmo período, duplicaram. No ano lectivo de 1995/96, atingiu-se
o máximo da frequência, tendo vindo, desde essa data, a diminuir o número de jovens no
nível secundário.
Seria de toda a utilidade verificar a que se deve esta quebra, para além da conhecida
consequência da queda demográfica, pois a diminuição da frequência é superior ao ritmo
de descida da população residente do respectivo grupo etário, e as taxas de escolarização
ainda estão longe da universalização. Observando com mais pormenor a progressão das
taxas brutas e das taxas específicas de escolarização (Quadro 4), por idades, podemos
constatar não só a lentidão inerente a estes processos sociais, mas também a sua
aceleração na década de noventa. Na verdade, em 1989/90, apenas 29% dos jovens de 15
anos frequentava o nível secundário; em 1997/98, são já 53%. De modo idêntico, em
1989/90, apenas 29% dos jovens de 16 anos frequentava o nível secundário, mas em
1997/98 são 65%. No grupo dos 17 anos, a escolarização no nível secundário duplicou,
no mesmo período: de 35% passamos para 72%.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 25
Quadro 4 Taxas de escolarização do grupo etário 15-17 anos (1985/86 – 1997/98)
Idade Ano Nível
15 anos 16 anos 17 anos
Geral 57.2 41.6 38.4
Básico 82.5 22.9 13.8
Secundário 17.5 18.6 24.3 1985 / 86
Superior 0.0 0.1 0.3
Geral 66.1 52.0 48.3
Básico 70.7 23.5 13.3
Secundário 29.3 28.5 34.7 1989 / 90
Superior 0.0 0.0 0.3
Geral 86.5 78.4 72.6
Básico 54.5 25.2 14.6
Secundário 45.5 53.2 57.3 1994 / 95
Superior 0.0 0.0 0.7
Geral 93.6 85.4 84.3
Básico 46.7 20.8 8.9
Secundário 53.3 64.6 72.1 1997 / 98
Superior 0.0 0.0 3.3
Fonte: DAPP / ME
Havia, pois, que estudar melhor as resistências à universalização da escolarização no
nível secundário, pois elas são várias e de variados tipos. Sem qualquer pretensão de
exaustividade, alinhamos algumas hipóteses explicativas:
a) a difícil conclusão do ensino básico, que é uma formação uniforme para todos os
portugueses, aliada ao receio de uma penosa frequência do ensino secundário,
fazem com que muitos adolescentes abandonem a sua formação inicial e
procurem um novo rumo social, que não passa por prosseguir qualquer percurso
de escolarização;
b) a fraca atractividade de um ensino secundário geral de frequência maioritária,
muito académico, sem finalidade própria, apenas ordenado pelas exigências
formais do acesso aos cursos do ensino superior;
c) a igualmente débil atractividade de um nível secundário de ensino e formação
profissionalmente qualificante e verdadeiramente prático, o que conduz muitos
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 26
jovens e suas famílias a optarem por sair do sistema de ensino e demandar um
emprego;
d) a imposição do “crescimento zero” ao ensino profissional vai para dez anos,
uma via que se tem revelado adequada para assegurar o prolongamento de
estudos e a qualificação profissional inicial, apesar da procura ser superior à
oferta (como veremos adiante).
Ainda no que se refere às taxas de escolarização, é oportuna uma leitura em termos
comparativos internacionais. No fim dos anos noventa, Portugal ainda se encontra na
cauda da União Europeia e dos países da OCDE no que respeita à escolarização no nível
secundário (Quadro 5), o que denota, apesar da referida aceleração da oferta e da
procura, a persistência de um atraso estrutural assinalável, em termos comparativos.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Quadro 5
Percentagem da população que atingiu pelo menos o nível secundário de educação (12º ano) - Países da OCDE, segundo grupos etários, 2001
Idades Países 25-64 25-34 35-44 45-54 55-64
Austrália 59 71 60 55 44
Áustria * 76 83 80 72 63
Bélgica * 59 75 63 51 38
Canadá 82 89 85 81 67
República Checa 86 92 90 84 76
Dinamarca 80 86 80 80 72
Finlândia 74 87 84 70 51
França * 64 78 67 58 46
Alemanha 83 85 86 83 76
Grécia 51 73 60 43 28
Hungria 70 81 79 72 44
Islândia 57 61 60 56 46
Irlanda 58 73 62 48 35
Itália 43 57 49 39 22
Japão 83 94 94 81 63
Coreia 68 95 77 49 30
Luxemburgo 53 59 57 47 42
México 22 25 25 17 11
Holanda * 65 74 69 60 51
Nova Zelândia 76 82 80 75 60
Noruega * 85 93 90 82 70
Polónia 46 52 48 44 36
Portugal 20 32 20 14 9
República da Eslováquia 85 94 90 83 66
Espanha 40 57 45 29 17
Suécia 81 91 86 78 65
Suíça 87 92 90 85 81
Turquia 24 30 24 19 13
Reino Unido * 63 68 65 61 55
Estados Unidos da América 88 88 89 89 83
Média 64 74 68 60 49
*Ano de referência 2000.
Fonte: OCDE/CERI (Education at a Glance, 2002)
Esta situação coloca-nos numa posição frágil no cenário económico europeu e
internacional. Esta fragilidade tenderá a ser mais evidente e porventura fonte de
conflitos, até hoje inéditos, quando se verificar a entrada na União Europeia (em 2004)
dos dez novos países do Leste. Aliás, a mão-de-obra destes países que já está a trabalhar
em Portugal tem vindo a inserir-se não como mão-de-obra complementar, adstrita às
actividades que os trabalhadores portugueses não querem realizar ou em que não são
suficientes para o fazer, mas como mão-de-obra de substituição, tomando os lugares de
trabalhadores qualificados e altamente qualificados.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 28
Além disso, como se poderá ver pelo Quadro 6, é provável que as economias destes dez
países se tornem muito mais competitivas, uma vez beneficiárias do apoio directo da UE,
pois o seu rendimento per capita é mais baixo do que o português e o seu nível de
qualificação “assustadoramente” superior.
Quadro 6
Produtividade, PIB per capita e níveis de escolaridade da população em Portugal e nos países candidatos à adesão à EU em 2004
Produtividade, (1998)
PIB per capita, ppc (1998)
PIB per capita, ppc (2000)
Nível de escolaridade da pop. entre os 25 e os 64
anos (%, 2000) Países
EU 15 = 100 EU 15 = 100 EU 15 = 100 Secundário superior
Bulgária 25 23 24 67,1 Eslováquia 53 49 48 83,6 Eslovénia 71 69 71 74,8 Estónia 37 37 37 84,7 Hungria 58 49 52 69,2 Letónia 27 28 29 83,5 Lituânia 30 31 29 84,9 Polónia 38 38 39 79,7 R. Checa 58 60 58 86,1 Roménia 32 28 27 69,3 Portugal 65,2 73,3 73,3 21,6
Fonte: Eurostat
Ora, é precisamente neste contexto que o Governo português anunciou, em Novembro de
2002, que pretende “prolongar a escolaridade obrigatória até ao 12º ano, até ao ano
2010”. Tal desiderato, que requer uma enunciação bem mais precisa, centrada
necessariamente sobre o conceito de universalização e não de obrigatoriedade, implica
uma reformulação profunda do nível secundário de ensino e de formação, tornando-o
suficientemente “espaçoso” para que nele possam caber todos os portugueses, entre os 15
e os 17/18 anos.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Um ensino de elites a caminho de um ensino universal Na maior parte dos países da Europa, com destaque para a Europa do Sul, o ensino
secundário era, ainda no pós-guerra, um ensino elitista que girava em torno da matriz
liceal. Com a expansão escolar dos anos sessenta e setenta, este nível de ensino e de
formação foi-se diversificando e tanto as políticas públicas como a procura social
incentivaram o seu crescimento acelerado.
Em Portugal, embora com algum desfasamento temporal ocorreu um processo idêntico.
Como vimos, em 1980, havia apenas 137.000 jovens no ensino secundário, mas em
1997, talvez o ano que representa o pico mais elevado das frequências, o número de
estudantes neste nível já era cerca de 370.000.
Na procura da compreensão desta evolução do ensino e da formação de nível secundário,
pensamos ser oportuna e pertinente a aplicação do modelo construído por Martin Trow
(1978) para o caso norte-americano. Para este autor, após uma primeira fase em que o
ensino secundário cumpriu a função de preparar uma elite para estudos superiores,
através da frequência de um currículo geral académico, e de uma segunda fase em que,
por força da massificação da procura, o ensino secundário passou a combinar o exercício
da função propedêutica com uma função terminal, de que são exemplo as formações
técnicas e profissionais de tipo escolar, este ensino entrou numa terceira fase em que a
função propedêutica se tornou predominante e tendencialmente única, quaisquer que
sejam as vias e os percursos de ensino e de formação que nele estejam integrados. É a
época do ensino secundário de massas.
Ocorreram, assim, dois movimentos de sentido contrário, que se encontram no terreno do
secundário. Por um lado, o ensino secundário tradicional e liceal nasceu e desenvolveu-
se inicialmente como um ensino para elites, fortemente selectivo, e com uma finalidade
propedêutica. A sua relevância era-lhe atribuída pelo ensino superior, que ordenava
regressivamente o seu currículo, entendido aqui no seu sentido mais lato, o que levou
Eurico Lemos Pires a dizer que o ensino secundário tem o “estatuto de estudos menores
de preparação para o ensino superior” (1997:54). O outro movimento, mas agora de
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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baixo para cima, consistiu no prolongamento da escola básica de massas e na
democratização do acesso à educação escolar que, aliados ao adiamento sucessivo da
entrada no mercado de trabalho, provocaram uma inundação do nível secundário. No
cruzamento dos dois movimentos vamos encontrar um novo conteúdo que entra num
velho continente, como se um grande polígono multifacetado tivesse que caber num
pequeno cilindro, ou como se diz em Lisboa, como se pudéssemos meter o Rossio na
Rua da Betesga. Em vez de um malhete de madeira em que os dois movimentos
encaixam com perfeição, deparamos hoje com um enorme desajustamento que se reflecte
sobre a globalidade deste nível e que contribui também para que se lhe atribua uma
tonalidade de crise.
Muitas interrogações se levantam, como por exemplo: O ensino e a formação de nível
secundário afinal para que é que servem? Prolonga-se o ensino básico ou seleccionam-se
as elites? Qualquer que seja a organização do nível secundário, mais unificado ou mais
diversificado, com uma ou com dez vias alternativas de ensino e de formação, o que
importa é que seleccione uma pequena parte (que vai para o liceu, e dentro deste que fica
nas turmas A e B …) e que ocupe os restantes? A sua mais importante missão social,
ainda que encoberta, não será, para a maioria dos jovens, a de proceder a um
entretenimento ou parqueamento temporário? Mas, se o ensino superior já está
actualmente aberto a uma percentagem elevada do seu grupo etário de referência, o que
queremos dizer quando falamos de selecção, seleccionar com que critérios, seleccionar
para quê? Deverá ser esta actualmente a função social primordial deste nível de ensino e
de formação? E que importância relativa terão as funções de orientação, de
acompanhamento ao desenvolvimento pessoal, de instrução, de socialização e de
formação para o exercício profissional e da cidadania?
Uma missão em revisão Embora sem abandonar as suas funcionalidades tradicionais, entendemos que o ensino e
a formação de nível secundário se deverão reordenar em torno do primado do
desenvolvimento humano, o que requer necessariamente não só o fomento do
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 31
desabrochar de uma multiplicidade formas de inteligência e de modos activos de
aprendizagem, mas também um reordenamento institucional.
A UNESCO, neste dealbar do Séc. XXI, vem propor à comunidade internacional a
metáfora do tesouro e adverte-nos: “é preciso assinalar novos objectivos à educação e,
portanto, mudar a ideia que se tem da sua utilidade. Esta deveria assentar antes de mais
na concepção da educação como processo de revelação do tesouro escondido em cada
um de nós.” A educação deve preparar cada ser humano “para elaborar pensamentos
autónomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder
decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida”. Uma educação
pensada apenas em função da economia deveria ceder o lugar a escolas capazes de
“conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento,
sentimento e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e
permanecerem tanto quanto possível donos do seu destino.” (1996).
Comungamos destas novas perspectivas (ou da sua actualização, dado que o seu
enunciado tem muitos séculos) e, por isso, repetimos a pergunta: “se o tesouro está
dentro, porquê e para quê este frenesim em procurá-lo fora?” (Azevedo, 1998:12).
Sem perder de vista algumas missões que a sociedade atribui ao ensino e à formação de
nível secundário, antes tomando em consideração a sua pluralidade, deve reforçar-se a
sua autoreferenciação, ou seja, deve centrar-se a sua missão primordial em proporcionar
tempos e modos adequados ao desenvolvimento humano de cada jovem aluno,
fomentando em cada um o desenvolvimento de diversos tipos de inteligência, a
capacidade de se conhecer e reconhecer como sujeito social, em relação com os outros,
convivendo com eles, orientando-se no mundo em que vive, tornando-se cada vez mais
“sujeito activo da sua própria existência” (Fernandes, 1998:32), abrindo-se à
complexidade da sociedade que nos rodeia e crescendo em autonomia, responsabilidade
e solidariedade.
As escolas de nível secundário devem deixar de ser meros locais onde se ensina para
passarem a ser, todos os dias, ambientes de aprendizagem, lugares de trabalho, onde se
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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reúnem múltiplos esforços para fazer aprender, para desencadear a participação de cada
um nas actividades escolares, onde se pesquisam fontes de informação, onde se ouve, se
lê, se comunica e se escreve, onde se adquirem hábitos e métodos de estudo e de
realização de projectos, onde se alcança o gosto em aprender e se rejubila com a
descoberta intelectual, onde se aprende a avaliar, a corrigir os erros e a construir e
reconstruir projectos, onde se proporcionam actividades escolares de tipo teórico e de
tipo prático, de ordem artística e física, actividades lúdicas e de ligação à comunidade
local.
Ou seja, as escolas de nível secundário devem rejeitar a passividade, devem cultivar um
clima de maior exigência. Os alunos reclamam-no, um pouco por todo o mundo. Os
jovens estão, em geral, muito passivos e abandonados e, ao mesmo tempo, muito
disponíveis para um esforço acrescido, desde que os formadores sejam activos,
competentes e estimuladores. Mas, em geral, rejeitam quer a mediocridade, quer os
papéis de auditores passivos ou caixas receptoras de informação, quer a falta de
capacitação profissional dos professores e das instituições escolares para fomentarem
múltiplas vias e actividades de aprendizagem e de crescimento pessoal.
As escolas de nível secundário deveriam , por isso, deixar de ser consideradas meros
locais de passagem para o que quer que seja, espaços de consumo, em grande escala, de
aulas, testes e exames, mas instituições sociais que acolhem uma enorme diversidade de
jovens, durante um tempo precioso, que nenhuma outra instituição social consegue
actualmente igualar, e que devem ser motivados a adquirir conhecimentos e
competências nos domínios mais variados, em função de uma imensidão de projectos de
vida (e tendo sempre em conta algumas limitações que sempre existirão na oferta pública
ou privada de educação).
Tudo parece conduzir à necessidade dos planos de estudo dos diferentes percursos de
ensino e de formação de nível secundário valorizarem em simultâneo (qual Janus
bifronte) tanto uma base cultural comum, suficientemente sólida e alargada, aberta ao
desenvolvimento de várias facetas da personalidade humana de cada jovem, como uma
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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outra base mais especializada, também acessível a todos, construída em torno de um
amplo leque de orientações, de opções e de modos de organização.
Impõe-se evitar a proliferação de um ambiente de degradação moral, sem projectos, sem
objectivos, sem responsáveis, sem avaliação, sem prestação de contas, sem cooperação
entre parceiros. Só um clima institucional novo, recheado pelo tempero da
responsabilidade, poderá abrir novos horizontes e, sobretudo, incentivar novas práticas
educacionais.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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II PARTE
EVOLUÇÃO DA OFERTA E DA PROCURA DO NÍVEL SECUNDÁRIO
A evolução da oferta e da procura de ensino e formação de nível secundário estará
sempre fortemente condicionada pela evolução, simultânea, das políticas públicas de
educação e de formação e dos comportamentos sociais dos diversos grupos
populacionais.
De facto, em Portugal, este nível de ensino e formação é um segmento de escolarização
tardio, em termos de democratização de acesso. Como vimos, só na década de noventa é
que se verifica uma efectiva abertura das escolas secundárias e das escolas profissionais
a segmentos de população que até aí não alcançavam este nível. As taxas de
escolarização do grupo etário 15-17 anos progrediram admiravelmente, embora com
enormes atrasos em relação aos restantes países das União Europeia.
A oferta tem sido condicionada quase sempre pelo ritmo de evolução da procura, tendo-
se assistido, desde meados dos anos oitenta, a uma diversificação progressiva das vias de
formação, que se haviam afunilado no fim dos anos setenta.
Esta diversificação efectiva, com ritmos de evolução muito desencontrados, não
correspondeu a uma política pública claramente enunciada e consequente, que tivesse
sido seguida sequencialmente durante os anos noventa. Como se verá, houve avanços e
recuos, investimentos e desinvestimentos, tendo-se mantido, no entanto, até finais dos
anos noventa, um nível constante de aumento lento das taxas de escolarização.
Vejamos agora a evolução da oferta e da procura, anotando em particular as assimetrias
regionais, por modalidades e por áreas de formação. Na análise da oferta e da procura de
ensino e formação de nível secundário entendemos considerar três aspectos.
Em primeiro lugar, a adequação da oferta às características da procura. Antes de mais
esta adequação passa pela estruturação de uma oferta educativa capaz de ir ao encontro
das principais necessidades de desenvolvimento humano dos jovens do grupo etário 15-
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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17 anos (orientação, experimentação, edificação de uma vocação, de um projecto escolar
e profissional, etc.). Esta é uma questão sempre presente neste estudo, mas que não é tida
em conta numa análise mais restrita da relação oferta-procura de ensino e formação de
nível secundário.
Em segundo lugar, a oferta de formação deve proporcionar aos jovens as oportunidades
de receberem formação nas áreas que pretendam, sem que isso tenha de significar a
obrigação de se afastarem muito das suas áreas de residência. Isto é, a oferta deve conter
em si o máximo de condições de igualdade para que todos os que terminam a
escolaridade básica possam continuar estudos, nas várias modalidades, para além dos
nove anos de escolaridade universal e obrigatória.
Por outro lado, deve estar assegurada a pertinência das formações oferecidas, quer no
que respeita à adequação dos perfis formativos às realidades que futuramente esses
jovens vão encontrar na sociedade, quer através da resposta aos anseios de
desenvolvimento da mesma sociedade, nomeadamente, na resposta às necessidades de
formação de técnicos que possibilitem resolver as questões que se colocam ao
desenvolvimento socio-económico das diferentes regiões.
A década de setenta trouxe um aumento da taxa de escolarização até ao 6º ano de
escolaridade. A década de oitenta comportou o alargamento desta taxa até ao 9º ano. Na
década de noventa a procura social de educação arrastou um conjunto cada vez maior de
jovens portugueses para o 10º ano de escolaridade (Quadro 7), ao mesmo tempo que as
taxas de acesso ao ensino superior disparavam.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Quadro 7
Evolução das taxas reais de escolarização1*no nível secundário de ensino e formação em Portugal
Ano Lectivo Taxa de Escolarização
1985/86 17,6
1990/91 30,2
1991/92 40,3
1992/93 43,8
1993/94 49,1
1994/95 51,6
1995/96 59,2
1997/98 60,4
1998/99 62,5
Fonte: DAPP/ME
No entanto, para o desenvolvimento do País, não é suficiente que haja um aumento do
número de jovens que atinge o 10º ano de escolaridade. Coloca-se, também, a questão de
saber que tipo de formação deve e pode ser frequentada após a escolaridade básica de
nove anos e para que serve esta formação no futuro.
É tomando por base estas referências que se procurará apreciar a oferta das principais
formações de nível secundário: Cursos Gerais, Cursos Tecnológicos e Cursos das
Escolas Profissionais.
Foram deixados de fora, nesta análise, o Ensino Artístico Especializado, que possui uma
especificidade muito própria, e os Cursos (de formação em alternância) do Sistema de
Aprendizagem, já que a oferta de formação pode ser desencadeada por um grande leque
de instituições e porque o ciclo de três anos não coincide inteiramente com a lógica dos
anos escolares. No entanto, em diversos pontos do estudo entraremos em consideração
com esta modalidade que, apesar do carácter de supletividade que tem desempenhado,
1 A taxa real de escolarização obtém-se dividindo o número de alunos no ensino secundário, em determinado ano lectivo, pelo número de habitantes na faixa etária 15-17 anos.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 37
tem vindo a adquirir um peso considerável nas formações de nível III (ISCED3), como
se pode verificar no quadro que se segue (Quadro 8).
Quadro 8 Evolução do número de formandos inscritos, por níveis de qualificação,
no sistema de aprendizagem, de 1994 a 2000
Anos
Níveis de Qualificação
1994
1995 1996 1997 1998 1999 2000
Nível I 561 144 94 101 76 596 163
Nível II (ISCED 2) 1.237 7.070 6.775 5.865 6.890 9.003 8.381
Nível III (ISCED 3) 7.028 5.360 6.255 7.067 9.546 15.236 17.534
Total 18.826 12.574 13.124 13.033 16.512 24.835 26.078
Fonte: CNA
A oferta de formação de nível secundário
A oferta de formação é hoje, naturalmente, marcada pela evolução que o sistema de
ensino sofreu ao longo da última metade do século XX.
Até 1970, as escolas dividiam-se, segundo a formação que ministravam, em liceus e
escolas técnicas (industriais e comerciais). E se se dividiam segundo a formação que
ofereciam, dividiam-se também nas origens sociais e nas expectativas profissionais de
quem as frequentava. Por um lado, o ensino liceal, muito académico, produzia formações
que essencialmente alimentavam as universidades. Destas saíam os quadros técnicos
superiores e os profissionais liberais do País e, simultaneamente, satisfaziam-se as
necessidades de mão de obra do sector administrativo do Estado.
Por outro lado, o ensino técnico procurava, através de uma formação profissional e
prática, suprir as necessidades de operários qualificados manifestadas pelo sector
produtivo, e, ao mesmo tempo, formar os quadros técnicos médios, através da criação de
oportunidades para a frequência dos Institutos Industriais e Comerciais.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 38
A força da divisão entre ensino liceal e ensino técnico foi de tal forma socialmente forte,
que ainda hoje, após mais de trinta anos de ter terminado tal divisão, as designações de
Liceu e Escola Técnica (ou Escola Industrial e Comercial) se mantêm, usadas até pelas
gerações mais novas de estudantes, para designar cada escola secundária concreta,
conforme o tipo de ensino que nela tenha sido, em tempos, ministrado.
Esta divisão começou a esbater-se a partir de 1973, com o alargamento da escolaridade
obrigatória para seis anos e com a criação do ciclo preparatório unificado, o qual dava
acesso quer aos cursos liceais quer aos cursos técnicos. Posteriormente, em 1977-78, foi
unificado o 3º ciclo (entre o 7º e o 9º anos de escolaridade). Finalmente, em 1979-1980, é
unificado numa única via todo o ensino secundário, através da criação dos Cursos
Complementares.
Nesta altura foram unificadas as designações das escolas, passando todas elas a
chamarem-se Escolas Secundárias. No entanto, o que na prática foi assumido pela
sociedade não foi a fusão de dois tipos de estabelecimentos de ensino, mas o
aparecimento de uma terceira categoria de escolas, que deste modo se juntavam aos ex-
Liceus e às ex-Escolas Industriais e Comerciais, na oferta de formação de nível
secundário. Durante este período a licealização do ensino foi crescente. A orientação
política dominante assumiu que a formação profissional inicial não era da competência
do sistema de ensino. Esta orientação evidenciou-se na criação do 12º ano de
escolaridade, em 1980. Uma das vias, a de “ensino”, era obrigatória para ingresso no
ensino superior. A outra, designada por “via profissionalizante”, preparava para o
mercado de trabalho ou então conduzia ao nada, já que destinando-se também à
continuação de estudos no ensino politécnico, este ainda nem sequer existia.
Mas não foram só as designações que se mantiveram. Também a estrutura da oferta
actual de cursos e a sua distribuição geográfica é ainda influenciada pela estrutura então
existente (Quadro 9).
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 39
Até à década de setenta, o número de escolas secundárias (é importante não esquecermos
que a designação de “ensino secundário” abrangia, na época, desde o 5º ao 11º ano de
escolaridade) era extremamente limitado, centrava-se quase exclusivamente nas capitais
de distrito e apresentava uma grande concentração em Lisboa e no Porto. Por volta de
1950, das 83 escolas secundárias existentes no País, mais de 55% situava-se nos distritos
de Lisboa e do Porto. Em 1979, esta situação era já bem diferente, cifrando-se aquela
percentagem perto dos 30%.
Esta evolução permite-nos ter uma visão da alteração sofrida pelo ensino de nível
secundário ao longo da segunda metade do século XX. Só neste período começa a ser
efectiva uma aproximação progressiva do sistema escolar do nível secundário às
populações que habitam longe das duas principais cidades do País.
Quadro 9
Estabelecimentos de ensino secundário existentes até 1993-1994
1947-48 1969-70 1979-80 1989-90 2000-01
L ET T L ET T ES ES ES
País 38 45 83 66 118 184 284 393 488
Lisboa-distrito 9 20 29 16 16 32 51 n/d 53
Porto-distrito 5 12 17 10 13 23 40 n/d 96
Outros -distritos 24 13 37 40 89 129 193 n/d 339
Nota: Apenas de consideram os estabelecimentos de ensino estatais
L-Liceus; ET –Escolas Técnicas; T-Total; ES – Escolas Secundárias
n/d: Não disponível
Fonte: Ministério da Educação Instituto Nacional de Estatística - Portugal
Mais tarde, em 1983, foi criado o “Ensino Técnico-Profissional”, o que fez de novo
centrar a oferta de ensino técnico nas antigas ”escolas técnicas”, sendo de certa forma
rejeitado pelas restantes. Constitui excepção a esta regra o conjunto de escolas
secundárias criadas de raiz, cuja construção foi apoiada pelo Banco Mundial, como
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 40
tentativa de ampliar a oferta de formações profissionalizantes em algumas regiões de
Portugal.
No “relançamento” do ensino técnico-profissional foram de início envolvidas 42 escolas
públicas, com 15 cursos ”técnico-profissionais” (cursos de três anos de duração) e 27
cursos “profissionais” (cursos de um ano apenas, após o 9º ano). Em 1990/91, a oferta
estava expandida por todo o País, abrangendo então 556 turmas dos diferentes cursos. No
entanto, os alunos que as frequentavam correspondiam apenas a 11% do alunos do
ensino secundário (26 483 num total de 240 026, segundo dados do Ministério da
Educação).
Em 1989, com o aparecimento das Escolas Profissionais, surgem na definição da oferta
de formação entidades das mais diversas proveniências e que nunca, até aí, tinham
participado de forma directa na oferta educativa e na definição da rede. A rede de oferta
deste segmento é definida em conjunto por órgãos autárquicos, cooperativas, empresas
produtivas, sindicatos, associações, instituições de solidariedade, e pelos Ministérios da
Educação e do Emprego. No que respeita a estas Escolas, a filosofia da sua criação, com
o envolvimento directo de parceiros interessados no desenvolvimento de cada região
(Quadro 10), veio corresponder a uma melhor distribuição da oferta de nível secundário
Quadro 10 Promotores de escolas profissionais entre 1989 e 1993
Associações Culturais e Humanitárias 79 24%
Câmaras Municipais 77 24%
Empresas Privadas 65 20%
Entidades da Administração Pública 34 10%
Associações Empresariais 42 13%
Sindicatos e Associações Sindicais 17 5%
Outros 12 4%
Total 326 100% Fonte: Departamento do Ensino Secundário
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 41
pelo País, sendo abrangidos concelhos que até então nunca tinham desenvolvido de
forma estruturada oferta de formação profissionalizante (Mapa 1). Deste modo foi
oferecida, pela primeira vez para muitos núcleos populacionais, a possibilidade de os
jovens continuarem estudos para além do ensino básico, sem necessidade de se
deslocarem da sua residência familiar. Isto correspondeu a um salto qualitativo
importante, mormente em meios rurais e do interior e traduziu-se, como poderemos
verificar mais à frente, num aumento significativo de jovens em formação técnico-
profissional de nível secundário.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 42
Mapa 1 Concelhos onde, com a criação das escolas profissionais surgiram pela primeira vez
formações profissionalizantes de nível secundário (1993)
Limite de NUT II Limite de NUT III Limite de Concelho
Fonte: GETAP – Ministério da Educação
NUT II - NORTE NUT III – Minho Lima
Caminha Vila Nova de Cerveira
NUT III – Cávado Esposende Vila Verde NUT III – Tâmega Paços de Ferreira Ribeira de Pena NUT III – Grande Porto Valongo NUT III – Alto-Trás os Montes
Boticas Macedo de Cavaleiros Montalegre Murça Valpaços
NUT III – Douro Sernancelhe NUT II – CENTRO NUT III – Baixo Vouga Mealhada NUT III – Baixo Mondego Montemor- o- Velho NUT III – Pinhal Litoral Batalha NUT III – Pinhal Interior Norte
Alvaiazere Ansião Pedrogão Grande Penela Tábua
NUT III – Dão Lafões Castro Daire Mortágua São Pedro do Sul Vouzela
NUT III – Beira Interior Norte Celorico da Beira Manteigas
Trancoso NUT II – LISBOA E VALE DO TEJO NUT III – Grande Lisboa Cascais NUT III – Médio Tejo
Ferreira do Zêzere Ourém
NUT III – Lezíria do Tejo Salvaterra de Magos NUT III – Península de Setúbal Palmela NUT II – ALENTEJO NUT III – Alentejo Litoral
Odemira Santiago do Cacém
Sines NUT III – Alto Alentejo Avis
Campo Maior Monforte Nisa
NUT III – Alentejo Central Borba Viana do Alentejo Vila Viçosa
NUT III – Baixo Alentejo Aljustrel Alvito Cuba Mértola
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 43
Quase em simultâneo, nas escolas secundárias, inicia-se a experimentação de novos
desenhos curriculares que conduziriam, em 1993, ao novo ensino secundário, dividindo-
o nos 4 Cursos Gerais e os 11 Cursos Tecnológicos já atrás referidos .
Porém, a ampliação da oferta de formação (considerando as várias possibilidades
doravante disponíveis) não criou ainda a possibilidade de cobertura completa do País.
Actualmente, existem ainda concelhos onde a oferta de ensino e formação de nível
secundário é reduzida ou, em casos pontuais, até inexistente.
Mas igualmente preocupante é o facto de existirem largas zonas do país, agrupando
conjuntos de concelhos, onde a oferta de formação se resume a Cursos Gerais (Mapa 2).
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Mapa 2 Concelhos onde não há oferta formativa de nível secundário ou onde se resume aos Cursos Gerais
(1998 / 99)
Fonte: DES – Ministério da Educação
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Aos alunos destes concelhos apenas se colocam três hipóteses: ou estudar num Curso
Geral, ou afastar-se da sua zona de residência, no imediato, para poder frequentar um
curso profissionalizante, ou, no caso mais comum, deixar de estudar.
Perante este último mapa é justo perguntar-nos sobre o que significa para estas
populações (adolescentes e suas famílias) de 58 concelhos, geralmente situados no
interior mais pobre do país, ter de optar por prosseguir estudos através dos “cursos
gerais”, sair do concelho e procurar outros cursos ou deixar simplesmente de estudar.
Trata-se, é evidente, de uma enorme fragilidade das oferta estatal e privada de ensino e
de formação de nível secundário. Os “cursos gerais” serão, em muitos dos casos, a oferta
menos adequada. Se olharmos os casos de escolas profissionais criadas em concelhos do
interior pobre do país e da sua enorme capacidade de atracção dos adolescentes e das
famílias com poucos recursos económicos, podemos aquilatar melhor quão débil pode
ser esta redução da oferta aos “cursos gerais”, muito mais académicos, desligados da
realidade local, profissionalmente não qualificantes e claramente conducentes ao
prosseguimento de estudos no ensino superior.
A distribuição por áreas de formação Uma outra perspectiva de análise da rede consiste em olhar para a oferta de formação e
verificar a sua distribuição por áreas de formação.
No ano 2000/2001, do conjunto de Cursos Gerais, Tecnológicos e Profissionais
oferecidos aos alunos, no País, os primeiros representavam 51% da oferta de locais2 de
formação, representando a oferta profissionalizante menos de metade.
2 Entende-se por local de formação, neste contexto, cada uma das oportunidades de frequência de um determinado curso. Isto significa que, numa escola, existem tantos locais de formação quantos os cursos diferentes que nela estão disponíveis. Este conceito permite ter uma noção mais exacta das oportunidades de formação que são colocadas à disposição dos jovens.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Quadro 11 Oferta de formação por NUT II em 2000/2001
Fonte: Ministério da Educação
A distribuição dos diferentes cursos pelas cinco regiões do Continente também não é
uniforme. A maior concentração relativa dos Cursos Gerais verifica-se no Algarve. Em
Lisboa e Vale do Tejo existe a maior concentração de Cursos Tecnológicos, e no Norte e
Alentejo a maior concentração de Cursos das Escolas Profissionais.
No que se refere à distribuição da rede formativa de cariz profissionalizante (Cursos
Tecnológicos + Cursos Profissionais) por áreas de formação, utilizaremos a Classificação
Nacional das Áreas de Formação, adoptada em Portugal a partir de Abril de 2001 (esta
nomenclatura foi adoptada através da Portaria n.º 316/2001 do Ministério do Trabalho e
da Solidariedade, publicada em 2 de Abril de 2001). Estes Grandes Grupos (que
designaremos por Grupos CITE) correspondem aos troncos comuns das diferentes
tecnologias:
0- Programas gerais
1- Educação
2- Artes e humanidades
3- Ciências sociais, comércio e direito
4- Ciências
5- Engenharia, indústrias transformadoras e construção
6- Agricultura
7- Saúde e protecção social
8- Serviços.
Geral Tecnológico EP Total %
Norte 464 31% 51% 257 28% 28% 190 40% 21% 911 31%
Centro 306 21% 50% 193 21% 31% 118 25% 19% 617 21%
Lisboa e Vale do Tejo 549 37% 52% 378 41% 36% 125 26% 12% 1052 36%
Alentejo 108 7% 51% 60 6% 29% 42 9% 20% 210 7%
Algarve 60 4% 56% 41 4% 38% 6 1% 6% 107 4%
Total 1487 100% 51% 929 100% 32% 481 100% 17% 2897 100%
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Deste modo, podemos considerar uma distribuição por sete dos Grandes Grupos, dos
nove que a Classificação comporta (Quadro 12). Nas formações de nível secundário não
são consideradas formações dos dois primeiros grupos (0 e 1).
Quadro 12 Oferta de formação conjunta, escolas profissionais e cursos tecnológicos
(número de locais de formação em 2000/2001)
Grandes Grupos CITE
NUT III 2 3 4 5 6 7 8 TOTAL
Minho - Lima 3 10 5 8 1 1 8
Cavado 4 18 7 12 0 4 1
Ave 9 27 7 12 2 5 2
Grande Porto 29 61 24 32 0 10 7
Tâmega 5 18 7 7 3 0 2
Entre Douro e Vouga 3 12 3 5 0 3
Douro 2 12 6 12 0 2 4
Alto Trás-os Montes 2 10 4 10 1 2 3
NORTE 57 168 63 98 7 27 27 447
13% 38% 14% 22% 2% 6% 6%
Baixo Vouga 5 24 12 11 1 2 1
Baixo Mondego 8 18 9 14 1 5 5
Pinhal Litoral 4 12 5 11 0 1 2
Pinhal Interior Norte 1 10 6 6 0 1 1
Dão Lafões 5 20 10 13 1 5 2
Pinhal Interior Sul 0 3 2 1 0 0 0
Serra da Estrela 1 5 2 4 0 0 1
Beira Interior Norte 2 6 3 5 0 2
Beira Interior Sul 4 8 2 4 0 2
Cova da Beira 5 7 3 3 2 1 1
CENTRO 35 113 54 72 5 15 17 311
11% 36% 17% 23% 2% 5% 5%
Oeste 7 17 9 8 4 2 1
Grande Lisboa 51 91 43 46 1 20 13
Península de Setúbal 13 42 18 22 0 7 3
Médio Tejo 4 14 9 17 2 2 4
Lezíria do Tejo 4 14 4 8 0 0 3
Lisboa e Vale do Tejo 79 178 83 101 7 31 24 503
16% 35% 17% 20% 1% 6% 5%
Alentejo Litoral 1 5 2 7 1 1 2
Alto Alentejo 3 6 7 7 1 5 1
Alentejo Central 5 11 4 7 2 1
Baixo Alentejo 3 9 2 5 1 2 1
Alentejo 12 31 15 26 3 10 5 102
12% 30% 15% 25% 3% 10% 5%
Algarve 5 18 11 8 0 4 1 47
11% 38% 23% 17% 0% 9% 2%
Continente 188 508 226 305 22 87 74 1410
13% 36% 16% 22% 2% 6% 5% Fonte: DES - Ministério da Educação
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O quadro anterior apresenta, em cada NUT III, o número de locais de formação onde é
possível prosseguir estudos em cursos incluídos em cada grande grupo CITE.
Analisando o quadro, verificamos que mais de 1/3 da oferta de formação (36%)
corresponde a cursos do Grupo 3- Ciências sociais, comércio e direito, seguindo-se-lhe
em ordem de importância os cursos dos Grupos 4- Ciências (16%) e 5- Engenharias,
indústrias transformadoras e construção (22%).
A oferta de formação nos Grupos 6- Agricultura (2%) , 7- Saúde e protecção social (6%)
e 8- Serviços (5%) é muito reduzida. Com valores intermédios, encontram-se os cursos
do Grupo 2 – Artes e humanidades (13%).
Poderá causar estranheza o facto do Grupo 8- Serviços, apresentar uma baixa oferta de
formação. Neste grupo apenas se incluem os serviços pessoais, os serviços de transporte,
protecção do ambiente e de segurança, enquanto as formações para os restantes sectores
de serviços (comércio, marketing e publicidade, finanças, banca e seguros, contabilidade,
secretariado, etc.), se enquadram no Grande Grupo 3. No entanto, mesmo incluindo
apenas os serviços referidos, o volume de oferta do Grande Grupo 8 deve ser
considerado limitado, se tivermos em conta os múltiplos estudos de previsão de evolução
das necessidades do mercado de trabalho no futuro próximo (ver capítulo seguinte). Por
outro lado, as áreas científico-naturais (Grandes Grupos 3 e 4) têm apenas um peso de
38% a nível nacional.
Se olharmos a distribuição da oferta por NUT III verificamos que existem distorções
significativas, quando a comparamos com a distribuição nacional, nas regiões de Lisboa
e Vale do Tejo e Alentejo e, de forma ainda mais acentuada, no Algarve.
Em Lisboa e Vale do Tejo está mais valorizada a oferta de cursos no Grupo das Artes e
Humanidades (16%), havendo um peso menor dos cursos do Grupo de Engenharia,
indústrias transformadoras e construção (20%).
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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No Alentejo, pelo contrário, os cursos deste último grupo estão valorizados em termos de
oferta (25%), bem como os Cursos do Grupo de Saúde e protecção social (10%). Em
contrapartida são desvalorizados, comparativamente, os cursos de Ciências Sociais,
comércio e direito (30%).
Finalmente, no Algarve, há um peso maior, que no todo nacional, nos cursos de Ciências
(23%) e Saúde e protecção social (9%) e um peso menor nos cursos de Engenharia,
indústrias transformadoras e construção (17%) e Serviços (2%).
A distribuição nas Regiões Norte e Centro tem praticamente a mesma configuração da
distribuição nacional.
Olhemos agora para a distribuição percentual dos Cursos Gerais (13), referindo-a aos 4
Agrupamentos pelos quais esses cursos se distribuem.
Nos Cursos Gerais, o Agrupamento 2- Artes, é o que tem menos preponderância a nível
nacional, correspondendo-lhe somente 15% da oferta total. Quanto aos restantes, tanto ao
Agrupamento 1- Científico-Natural, como ao Agrupamento 4-Humanidades,
corresponde 30% da oferta, ficando os restantes 25% para o Agrupamento 3-
Económico-Social.
A rede dos Cursos Gerais a nível das regiões segue quase sempre a distribuição nacional,
excepção feita ao Agrupamento 2- Artes, com oferta diminuta na Região Centro (apenas
10%), e superando a média nacional na Região de Lisboa e Vale do Tejo (com 20%). No
Agrupamento 3- Económico Social, assinale-se a menor incidência no Alentejo (apenas
22%) da oferta de cursos gerais na região.
Note-se a inexistência de oferta do Agrupamento 2- Artes nas NUT III, Pinhal Interior
Norte e Sul. Para além destas excepções, existe oferta de Cursos Gerais de todos os
agrupamentos em todos as NUT III do País.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Quadro 13
Distribuição da oferta de formação dos cursos gerais pelas NUT III (número de locais de formação em 2000/2001)
Agrupamentos
NUT III 1 2 3 4 TOTAL
Minho - Lima 15 4 13 15 Cavado 13 5 11 11 Ave 15 5 13 14 Grande Porto 41 25 40 39 Tâmega 18 7 13 18 Entre Douro e Vouga 9 4 8 8 Douro 18 4 13 17 Alto Trás-os Montes 17 4 11 16
NORTE 146 58 122 138 464
31% 13% 26% 30%
Baixo Vouga 16 6 16 19
Baixo Mondego 16 5 15 16
Pinhal Litoral 11 4 10 11
Pinhal Interior Norte 10 0 7 12
Dão Lafões 17 8 11 18
Pinhal Interior Sul 4 0 2 3
Serra da Estrela 3 1 3 3
Beira Interior Norte 10 3 8 8
Beira Interior Sul 6 1 4 5
Cova da Beira 4 2 4 4
CENTRO 97 30 80 99 306
32% 10% 26% 32%
Oeste 14 8 10 11
Grande Lisboa 79 62 72 80
Península de Setúbal 35 26 31 35
Médio Tejo 15 6 10 15
Lezíria do Tejo 12 6 10 12
Lisboa e Vale do Tejo 155 108 133 153 549
28% 20% 24% 28%
Alentejo Litoral 6 4 6 6
Alto Alentejo 8 2 4 8
Alentejo Central 11 5 9 11
Baixo Alentejo 10 3 5 10
Alentejo 35 14 24 35 108
32% 13% 22% 32%
Algarve 18 12 15 15 60
30% 20% 25% 25%
Continente 451 222 374 440 1487
30% 15% 25% 30%
Fonte: DES - Ministério da Educação
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Evolução da procura de formação Olhemos agora para o lado da procura de formação. Para isso analisemos o número de
alunos que frequenta o ensino secundário em cada um dos subsistemas, focando o olhar
de forma especial nos alunos que entram no 10º ano.
Entre 1984/85 e 1994/95, como dissemos, o número de alunos que frequentava o ensino
secundário duplicou. Aliás, este número foi crescendo consecutivamente até ao ano
lectivo 1997/98 (Quadro 14).
Quadro 14
Frequência nos diferentes segmentos do nível secundário de ensino
92/93 93/94 94/95 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02
Secundário 323.875 324.768 330.886 344.712 351.921 336.603 333.043 317.827 302.017
Geral 277.628 248.506 245.529 239.111 246.438 239.262 239.313 227.170 213.278
Tecnológicos 29.152 53.535 60.062 79.229 77.561 70.566 65.990 62.193 57.580
Profissional 17.095 22.727 25.275 26.372 27.922 26.775 27.740 28.464 31.159
Fonte: Ministério da Educação
Simultaneamente com o crescimento do número de alunos, a percentagem daqueles que
frequentava os Cursos Gerais foi diminuindo, primeiro pelo aumento de frequência nos
Cursos Técnico-Profissionais e, em seguida, com o aparecimento das Escolas
Profissionais. A frequência nas Escolas Profissionais aumentou de forma sensível até
1994/95, altura em que o número se manteve relativamente estável, até ao ano de 2000.
Esta procura corresponde a cerca de 8% dos número total de alunos do secundário. Esta
estabilização do número de alunos ocorreu não por diminuição ritmo de crescimento da
procura, mas sim devido à decisão política de não permitir o crescimento deste sector.
Um levantamento recentemente feito junto das Escolas Profissionais, relativamente às
inscrições e à aceitação de matrículas, para os últimos anos lectivos, mostra que a oferta
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 52
de formação feita por estas escolas não é suficiente para satisfazer a procura. De facto, se
já em 2000/2001 apenas puderam ser matriculados 54% dos alunos que pretendiam
frequentar os diferentes cursos das escolas profissionais, esta percentagem diminui em
2002/2003 para 43%. E esta impossibilidade das escolas aceitarem todos os alunos que
as procuram, provocada pelo “numerus clausus” que o financiamento do Estado impõe,
faz-se sentir em todas as áreas de formação3.
De um modo especial, o efeito de “numerus clausus” repercute-se em áreas de formação
que correspondem a áreas de actividade que denotam elevada carência de técnicos. São
exemplo as áreas de Comunicação, informação e documentação e Electrotecnia e
electrónica, onde, em cada uma delas, são aceites apenas 37% dos pré inscritos. Também
na Metalomecânica apenas se podem matricular 39% dos pré-inscritos e é ainda mais
evidente a carência de vagas do ensino profissional na área de formação Intervenção
Pessoal e Social, com 34% de matrículas aceites, e na área de Informática, que apenas
pode satisfazer 28% dos interessados em a frequentar (Quadro 15).
Quadro 15
Percentagem de candidatos admitidos nas escolas profissionais por área de formação
Admitidos
Áreas de Formação 2002 / 2003
Administração Serviços e Comércio 43 % Agro-Alimentar e Produção Aquática 90 % Ambiente e Recursos Naturais 58 % Artes do Espectáculo 44 % Artes Gráficas 41 % Construção Civil 68 % Design e Desenho Técnico 58 % Electricidade e Electrónica 37 % Hotelaria e Turismo 64 % Informação, Comunicação e Documentação 37 % Informática 28 % Intervenção Pessoal e Social 34 % Metalomecânica 39 % Património Cultural e Produção Artística 51 % Química 85 % Têxtil, Vestuário e Calçado 54 % Outras 53 %
Total 43 %
3 Fonte: Fundação Manuel Leão.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 53
Fonte: Fundação Manuel Leão (2002)
Mas vejamos globalmente a evolução da procura dos vários segmentos que compõem o
nível secundário de ensino e formação. O peso dos Cursos Gerais continua a ser o mais
elevado. Em 2000/2001, a frequência destes cursos correspondia a 71,5% de todo o nível
secundário de ensino. A distribuição pelos 4 agrupamentos mostra ainda que mais de
50% (56,3 %) da procura dos Cursos Gerais se referia ao Agrupamento 1, cabendo a
segunda fatia ao Agrupamento 4, com 23,6 % da frequência no 10º ano (Quadro 16).
Quadro 16 Distribuição percentual dos alunos pelos 4 agrupamentos dos cursos gerais 2000/2001
Cursos Gerais 2000/01
Agrupamento 1 Científico Natural 56,3 %
Agrupamento 2 Artes 7,8 %
Agrupamento 3 Económico Social 12,3 %
Agrupamento 4 Humanidades 23,6 % Fonte: Ministério da Educação
Será de notar que a elevada percentagem de alunos no Agrupamento 1 se deve ao facto
de ele dar acesso a um enorme leque de cursos universitários, continuando, no entanto,
por satisfazer as faltas de técnicos de nível III e IV nas áreas Cientifico-Tecnológicas.
Na análise da distribuição dos alunos pelos diversos Cursos Tecnológicos (Quadro 17)
verificamos um elevado peso do Cursos de Administração (30%). Este curso, a que
também corresponde a maior percentagem da oferta no País, 22,9%, constitui, muitas
vezes, a única hipótese de um jovem frequentar um Curso Tecnológico na sua Escola e
até no seu concelho de residência. As escolhas podem ser, nestes casos, condicionadas à
oferta e não escolhas livres. De qualquer modo, o peso da formação nesta área diminuiu
significativamente na última década, pois, em 1990/1991, os alunos que frequentavam
esta área no 10º ano representavam quase metade da totalidade dos alunos dos Cursos
Técnico- Profissionais, neste ano de escolaridade.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 54
Quadro 17 Distribuição da oferta de formação e da frequência dos cursos técnico-profissionais, em 1990/91,
e cursos tecnológicos, em 2000/01, pelas diferentes áreas de formação
1990 / 91 2000 / 01 Cursos
Oferta Frequência Oferta Frequência
Informática 12,6% 13,3% 18,0% 23,1%
Construção Civil 5,7% 4,1% 3,0% 1,3%
Electrotecnia/Electrónica 17,2% 14,7% 10,7% 9,3%
Mecânica 11,9% 6,3% 6,1% 3,6%
Química 3,3% 1,4% 2,9% 0,7%
Design - - 6,8% 7,1%
Artes e Ofícios 2,9% 3,9% 6,0% 4,4%
Serviços Comerciais - - 7,4% 2,6%
Administração 36,8% 47,9% 22,9% 30,0%
Comunicação 1,7% 1,2% 10,8% 12,2%
Animação Social - - 5,4% 5,6%
Outros 7,9% 7,2% - -
Nota: Neste quadro a percentagem da coluna Oferta é calculada dividindo o número de escolas que
oferecem cada um dos cursos pelo número total de cursos Técnico-profissionais (90/91) ou
Tecnológicos (00/01) nas diferentes escolas secundárias do País
Fonte: Ministério da Educação
Ao compararmos a evolução da frequência nos restantes cursos salienta-se, de forma
clara, o aumento de importância dos cursos da área da Informática, do Design, da
Comunicação e da Animação Social. Em contrapartida, será de salientar a diminuição de
influência dos cursos das áreas mais directamente ligadas às Engenharias (Construção
Civil, Electrotecnia/ Electrónica, Mecânica e Química) que, de um total 26,5% dos
alunos no 10º ano nos Cursos Técnico Profissionais em 1990/91, passaram a ocupar
apenas 14,9% dos alunos do mesmo ano de escolaridade, nos Cursos Tecnológicos, em
2000/2001. Este facto deve-se não só ao crescimento da importância dos cursos das
outras áreas, como ao aparecimento das Escolas Profissionais e também a uma
diminuição efectiva de oferta e procura.
Ao compararmos a distribuição percentual da oferta e da procura dos Cursos
Tecnológicos, verificamos que a procura é maior que a oferta nos cursos de maior
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 55
frequência: Informática, Comunicação e Administração. Aliás, o curso Tecnológico de
Informática é aquele em que frequência continua a crescer, traduzindo-se este acréscimo
em 1000 alunos (um acréscimo significativo no sistema, com 4,1%) entre 1998/1999 e
2000/2001. Para além deste curso, apenas os de Arte e Design, Comunicação e
Animação Social viram aumentar a frequência no 10º ano.
Olhemos agora para a frequência dos cursos das diferentes áreas das Escolas
Profissionais (Quadro 18).
Quadro 18
Evolução da frequência dos cursos das escolas profissionais por área de formação
Anos Áreas de Formação
1990/1991 1995/1996 2000/2001
Administração Serviços e Comércio 1844 31,1% 5965 22,9% 6097 20,8%Agro-Alimentar e Produção Aquática 500 8,4% 2000 7,7% 1865 6,4%Ambiente e Recursos Naturais 60 1,0% 1292 5,0% 845 2,9%Artes do Espectáculo 207 3,5% 1144 4,4% 1520 5,2%Artes Gráficas 172 2,9% 742 2,8% 697 2,4%Construção Civil 268 4,5% 1307 5,0% 1222 4,2%Design e Desenho Técnico 193 3,3% 789 3,0% 777 2,6%Electricidade e Electrónica 242 4,1% 1611 6,2% 2117 7,2%Hotelaria e Turismo 526 8,9% 3004 11,5% 3406 11,6%Informação, Comunicação e Documentação 427 7,2% 2073 7,9% 2087 7,1%Informática 741 12,5% 2361 9,0% 3154 10,8%Intervenção Pessoal e Social 160 2,7% 1549 5,9% 2669 9,1%Metalomecânica 78 1,3% 740 2,8% 871 3,0%Património Cultural e Produção Artística 295 5,0% 781 3,0% 686 2,3%Química 25 0,4% 334 1,3% 331 1,1%Têxtil, Vestuário e Calçado 179 3,0% 359 1,4% 534 1,8%Outras 17 0,3% 41 0,2% 455 1,6%
Total 5934 100,0% 26092 100,0% 29333 100,0% Fonte: DES - Ministério da Educação
No que respeita à frequência nas Escolas Profissionais, tem sido significativa a
diminuição do peso dos cursos nas seguintes áreas: Administração, serviços e comércio
(que passou de 31,1% do total dos alunos, em 1990/1991, para 20,8%, em 2000/2001),
Agro-alimentar e produção aquática (de 8,4% para 6,4%), Informática (de 12,5% para
10,8%), Património cultural e produção artística (de 5% para 2,3%), e Têxtil, vestuário
e calçado (de3% para 1,8%). No sentido contrário, verifica-se um aumento significativo
nas seguintes áreas: Artes do espectáculo (passa de 3,5% em 1990/1991 para 5,2% em
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 56
2000/2001), Electricidade e electrónica (de 4,1% para 7,2%), Hotelaria e turismo (de
8,9% para 11,6%), Intervenção pessoal e social (de 2,7 % para 9,1%), Metalomecânica
(de 1,3% para 3,0%), e Química (de 0,4% para 1,1%).
Será de notar, ainda, que os cursos nas áreas da Construção civil, Informação,
comunicação e documentação e Química, depois de uma tendência para subir a sua
influência no conjunto total entre os anos lectivos de 90/91 e 95/96, voltam a descer
entre 95/96 e 2000/01.
Se olharmos agora para a distribuição das frequência no nível secundário de ensino e
formação, nas diferentes regiões do País, verificamos que ela não é uniforme, sendo as
diferenças provocadas não só pelas distorções sociais locais, mas também pelos
desajustamentos da rede de formação. As disparidades regionais são, no entanto, muito
significativas apontando para uma efectiva desigualdade no acesso a este benefício social
(Quadro 19).
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 57
Quadro 19
Taxas brutas de escolarização no ensino secundário 1999-2000 (estimativas)
Área geográfica / CAE Taxa
Grande Lisboa 114,5
Coimbra 112,4
Algarve 107,8
Península de Setúbal 103,6
Castelo Branco 102,7
Leiria 100,8
Baixo Alentejo e Alentejo Litoral 98,9
Guarda 98,8
Alentejo Central 97,8
Bragança 97,4
Lezíria e Médio tejo 91,9
Viseu 91,7
Alto Alentejo 91,4
Oeste 87,9
Aveiro 87,9
Vila Real 86,1
Porto 84,2
Viana do Castelo 82,0
Entre-Douro-e-Vouga 73,4
Braga 69,5
Douro Sul 64,4
Tâmega 48,3
Algarve 107,8
Lisboa e Vale do Tejo 105,8
Centro 99,0
Alentejo 96,8
Continente 91,2
Norte 74,6
Nota: Taxas brutas ou “aparentes” de escolarização referem-se à percentagem de cidadãos entre os 15-17 anos que se encontra a estudar, embora uma grande parte não frequente, de facto, o ensino secundário (há muitos alunos desta idade a frequentar o 2º e 3º ciclos do ensino básico). Fonte: DAPP / ME
Embora se trate de uma taxa bruta de escolarização, que relaciona todas as frequências
do nível secundário, independentemente da idade e do local de proveniência dos jovens,
com os jovens que residem na mesma localidade (aqui, a área é a do Centro de Área
Educativa), são visíveis as disparidades existentes. Segundo estas projecções do DAPP
para o ano 1999/00, haverá cerca de trinta pontos a separar a média da Região Norte
(74,6) e a Região do Algarve (107,8) e entre a Sub-região do Tâmega (48,3) e a Grande
Lisboa (114,5) essa diferença chega aos 66 pontos. Estamos, de facto, diante de um leque
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 58
demasiado alargado de desigualdades no acesso ao nível secundário de educação e
formação, sem que haja qualquer notícia de qualquer tipo de orientação política tendente
a reduzir esta desigualdade social.
Em síntese, as taxas de escolarização no nível secundário progrediram
consideravelmente até meados dos anos noventa. A frequência das formações
profissionalizantes situa-se actualmente, considerando a formação em alternância, perto
dos 33% do total da frequência do nível secundário. A rede foi sendo construída ano a
ano, ao sabor de requisitos locais e administrativos, desarticuladamente entre ensino
tecnológico e ensino profissional, sem que as preocupações de programação integrada da
oferta de um serviço à sociedade tivessem estado sempre em primeiro lugar.
Predomina ainda a oferta e a procura de ensino “liceal” ou “geral” ou orientado para o
“prosseguimento de estudos”. Mas há uma procura do ensino profissional que não é
satisfeita. Mais de metade dos candidatos à frequência das escolas profissionais não se
pode matricular, por ausência de vagas. Este “numerus clausus” escondido, de que não
se fala, tem impedido muitos milhares de jovens de prosseguirem a formação
profissionalizante desejada (a sua primeira opção de continuação de estudos, após a
escolaridade obrigatória).
Persistem desigualdades regionais no acesso ao nível secundário. As assimetrias são
muito acentuadas, estando as sub-regiões do Tâmega e da Grande Lisboa nos extremos
(a primeira com 48% e a segunda com 114,5% de taxa bruta de escolarização). Estas
desigualdades confinam quer com processos sociais mais vastos e profundos de acesso
desigual à educação de nível secundário quer com dinâmicas sociais de pobreza, de
“pleno emprego” e de emprego precário, etc., dinâmicas estas que têm, por um lado,
forte incidência na evolução local da oferta e da procura e, por outro, fraca repercussão
nas políticas públicas definidas pelo governos.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 59
III PARTE
A QUALIDADE DO NÍVEL SECUNDÁRIO: ESCOLAS DE SOBREVIVENTES?
Há muitos modos de avaliar a qualidade de educação e da formação que é proporcionada
nas instituições educativas de nível secundário, uns de cariz mais qualitativo, outros de
cariz mais quantitativo. Na hora de proceder a um delineamento estratégico acerca do
futuro dos ensinos tecnológico e profissional, importa ter presentes alguns indicadores de
qualidade.
Estamos, como é sabido, muito limitados quanto a fontes de informação sobre o
funcionamento do sistema educativo português. Dentro dos condicionalismos existentes,
elegemos dois tipos de instrumentos de medida da qualidade, os que estão disponíveis
por parte do Ministério da Educação e os que nós próprios construímos:
Entre os primeiros estão:
− níveis de sucesso escolar (fonte DAPP e IGE);
− níveis de abandono escolar no 10º ano (fonte DAPP)
− níveis de empregabilidade (fonte OPES);
− resultados dos exames nacionais do 12º ano (fonte DES).
Entre os segundos estão:
− níveis de eficiência e rendimento, por escola e por tipo de modalidades de
ensino e formação.
Estes indicadores são bastante limitados, se considerarmos a panóplia de indicadores de
que se servem outros países ou organismos internacionais, mas facultam, apesar de tudo,
uma imagem muito objectiva da realidade. O seu principal inconveniente é o nível de
agregação da informação, em geral muito elevado (salvo o caso dos resultados dos
exames nacionais do 12º ano).
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 60
Níveis de sucesso escolar e de abandono Tomando primeiramente por base as informações dispersas do Ministério da Educação, é
possível constatar que há elevados níveis de reprovação no 10º ano de escolaridade.
Assim, segundo dados da DAPP, referentes ao ano 1998/99 e às disciplinas de Português
e de Matemática (que não cobrem todas as escolas do país4 ) e ainda à taxa de aprovação
no 10º ano, pode constatar-se um elevado nível de insucesso, ao longo de todo o país,
que ronda os 40%, neste mesmo ano de escolaridade (Quadro 20).
4 Estes dados referem-se apenas ao ensino público estatal e não compreendem os dados da Região Norte.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 61
Quadro 20
Distribuição geográfica das taxas de aprovação às disciplinas de Matemática e de Português e no 10º ano, em geral – 1998-1999
Matemática Português Geral
Média <55,89 [55,89- -80,00]
>80,00 Média <61,53 [61,53- -80,00]
>80,00 Média <59,30 [59,30- -80,00]
>80,00
Norte Minho-Lima n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d
Cávado n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d Ave n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d
Grande Porto n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d Tâmega n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d
Entre Douro e Vouga n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d Douro n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d
Alto Trás-os-Montes n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d n/d Centro
Baixo Vouga 58,81 53,8 46,2 0,0 68,32 33,3 46,7 20,0 60,82 43,8 56,3 0,0
Baixo Mondego 52,00 58,3 41,7 0,0 64,08 46,7 46,7 6,7 62,26 41,2 52,9 5,9
Pinhal Litoral 61,49 45,5 36,4 18,2 68,88 41,7 25,0 33,3 62,08 36,4 63,6 0,0
Pinhal Interior Norte 43,17 77,8 22,2 0,0 53,57 90,0 10,0 0,0 55,25 50,0 50,0 0,0
Dão-Lafões 52,04 66,7 13,3 20,0 62,10 47,1 41,2 11,8 63,32 41,2 52,9 5,9
Pinhal Interior Sul 39,93 75,0 25,0 0,0 66,42 33,3 66,7 0,0 63,87 25,0 75,0 0,0
Serra da Estrela 61,09 66,7 33,3 0,0 67,32 66,7 33,3 0,0 68,46 66,7 33,3 0,0
Beira Interior Norte 48,22 60,0 40,0 0,0 71,78 20,0 40,0 40,0 65,23 10,0 80,0 10,0
Beira Interior Sul 72,48 40,0 20,0 40,0 60,99 50,0 25,0 25,0 62,87 50,0 50,0 0,0
Cova da Beira 54,79 50,0 50,0 0,0 62,07 25,0 75,0 0,0 61,06 0,0 100,0 0,0
Lisboa e Vale do Tejo
Oeste 63,95 45,5 36,4 18,2 58,15 61,5 30,8 7,7 59,98 57,1 35,7 7,1
Grande Lisboa 53,21 61,8 25,0 13,2 57,73 57,3 32,0 10,7 58,12 63,4 31,7 4,9
Península de Setúbal 60,02 41,9 45,2 12,9 63,87 45,2 38,7 16,1 61,02 53,1 40,6 6,3
Médio Tejo 61,33 38,5 46,2 15,4 59,77 53,8 30,8 15,4 61,16 57,1 35,7 7,1
Lezíria do Tejo 51,12 83,3 8,3 8,3 62,83 41,7 50,0 8,3 54,99 75,0 8,3 16,7
Alentejo
Alentejo Litoral 57,68 50,0 50,0 0,0 56,05 100,0 0,0 0,0 66,03 25,0 75,0 0,0
Alto Alentejo 65,23 50,0 33,3 16,7 60,66 33,3 50,0 16,7 58,94 50,0 33,3 16,7
Alentejo Central 54,77 42,9 57,1 0,0 62,44 62,5 25,0 12,5 62,46 37,5 50,0 12,5
Baixo Alentejo 38,33 87,5 12,5 0,0 53,79 75,0 25,0 0,0 53,21 71,4 28,6 0,0
Algarve
Algarve 60,56 35,7 57,1 7,1 64,41 46,7 26,7 26,7 60,99 53,3 33,3 13,3
Nota 1: Ensino público estatal. Continente Nota 2: Para cada disciplina, Matemática e Português, e, em geral, no 10º ano, as colunas indicam: a) a média da NUT III; b) a percentagem de escolas da NUT III que apresenta valores abaixo da média de todas as escolas e regiões aqui consideradas; c) a percentagem de escolas da NUT III que apresenta valores entre esta média e os 80%; d) a percentagem de escolas da NUT III que apresenta valores superiores a 80% de aprovações. n/d : Não disponível
Fonte: DAPP / ME (dados directos, não validados)
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No que se refere ao abandono escolar, verifica-se igualmente uma enorme fuga à escola
secundária no 10º ano de escolaridade. Neste ano, o abandono atinge quase 1 em cada 4
jovens estudantes (Quadro 21).
Quadro 21
Taxas de abandono escolar no 10º ano de escolaridade (2000)
NUT III Taxa de abandono
Minho-Lima 29
Cávado 24
Ave 29
Grande Porto 24
Tâmega 23
Entre Douro e Vouga 18
Douro 17
Alto Trás-os-Montes 31
Baixo Vouga 18
Baixo Mondego 17
Pinhal Litoral 18
Pinhal Interior Norte 16
Dão-Lafões 22
Pinhal Interior Sul 26
Serra da Estrela 27
Beira Interior Norte 20
Beira Interior Sul 26
Cova da Beira 17
Oeste 20
Grande Lisboa 22
Península de Setúbal 24
Médio Tejo 19
Lezíria do Tejo 26
Alentejo Litoral 29
Alto Alentejo 33
Alentejo Central 29
Baixo Alentejo 19
Algarve 21
Continente 23
Fonte : DAPP / ME
As disparidades regionais são muito elevadas e a dispersão é enorme ( entre 16 e 33). As
sub-regiões onde se verifica maior abandono relativo são Alto Alentejo (33%), Alto
Trás-os-Montes (31%), Minho-Lima, Ave, Alentejo Litoral e Alentejo Central (com
29%).
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Mapa 3 Abandono Escolar no 10º ano de escolaridade – 2000
Fonte: DAPP / ME
Minho Lima
Dão-Lafões
OesteLezíria do Tejo Alto Alentejo
Alentejo Central
Baixo Alentejo
Algarve
Grande Lisboa
Médio Tejo
Serra daEstrela
BaixoVouga
BaixoMondego
PinhalLitoral
Cova daBeira
Beira InteriorNorte
Pinhal InteriorNorte
PinhalInterior
Sul
Beira InteriorSul
Penínsulade Setúbal
AlentejoLitoral
Entre Douro e Vouga
Douro
TâmegaGrande Porto
Ave
CávadoAlto Trás-os-Montes
16 – 19%
20 – 23%
24 – 27%
>28%
Minho Lima
Dão-Lafões
OesteLezíria do Tejo Alto Alentejo
Alentejo Central
Baixo Alentejo
Algarve
Grande Lisboa
Médio Tejo
Serra daEstrela
BaixoVouga
BaixoMondego
PinhalLitoral
Cova daBeira
Beira InteriorNorte
Pinhal InteriorNorte
PinhalInterior
Sul
Beira InteriorSul
Penínsulade Setúbal
AlentejoLitoral
Entre Douro e Vouga
Douro
TâmegaGrande Porto
Ave
CávadoAlto Trás-os-Montes
16 – 19%
20 – 23%
24 – 27%
>28%
16 – 19%
20 – 23%
24 – 27%
>28%
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Podemos concluir que o insucesso e o abandono nas escolas secundárias são muito
elevados, muito acima do que seria razoável. Se a este facto adicionarmos os abandonos
que existem entre os 6 e os 15 anos (2% em 2001)5, o facto de 25% dos indivíduos entre
os 18 e os 24 anos terem saído da escola antes de completarem a escolaridade obrigatória
de nove anos(dados de 20016 ) e ainda o facto de sermos o País da União Europeia em
que maior percentagem da população jovem (18 a 24 anos) obteve como escolaridade
máxima o 9º ano (46%, contra a média da UE de 21%, dados relativos a 19997, podemos
concluir também que as escolas secundárias ainda são (sobretudo a partir do 10º ano)
escolas de sobreviventes.
Através de um estudo realizado em torno de uma amostragem de escolas secundárias8 ,
as razões que as próprias escolas invocam para os elevados níveis de abandono e
insucesso são:
a. ineficiente articulação entre o 3º ciclo do ensino básico e o ensino secundário,
que leva muitos alunos a deixar a escola secundária logo no 10º ano, reprovando
por faltas;
b. elevada capacidade de absorção pelo mercado de trabalho local (pleno
emprego), o que, para muitos jovens, acaba por ser mais atractivo do que a
permanência na escola secundária (ex. sub-região do Ave);
c. níveis sócio-económicos e culturais populacionais bastante baixos e
desvalorização social da escolarização (ex. Porto, Vale do Sousa);
d. deficiente orientação vocacional e profissional, que faz com que haja muitos
alunos que só descobrem o que é o nível secundário e os seus vários percursos
depois de lá terem entrado (geralmente no 10º ano e nos cursos gerais das
escolas secundárias);
5 Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População de 1991 e 2001 6 idem 7 Fonte: Eurostat 8 In “Rendimento das escolas secundárias e das escolas profissionais. Resultados de uma amostragem”. Fundação Manuel Leão.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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e. deficiente preparação dos alunos na sua formação de base em Língua Materna e
em métodos de estudo, o que dificulta a progressão escolar, em geral;
f. anulação de matrícula para efeitos de transferência para estabelecimentos do
ensino particular.
Resultados dos exames nacionais do 12º ano Os resultados dos exames são, globalmente, bastante deficientes. Tendo em conta o
cuidado colocado na elaboração das provas e o número de anos de experiência já
acumulada na sua aplicação, é muito provável que estes resultados reflictam graves
deficiências no ensino e nas aprendizagens.
Quadro 22 Evolução das classificações médias de exame do 12º ano dos alunos internos e externos,
na 1ª fase (1ª chamada) – 1997-2001
1997 1998 1999 2000 2001
Cód. Descrição
CE Interno
s
CE Externos
CFD Internos
CFD Externos
CE Interno
s
CE Externos
CFD Internos
CFD Externos
CE Interno
s
CE Externos
CFD Internos
CFD Externos
CE Interno
s
CE Externos
CFD Internos
CFD Externos
CE Interno
s
CE Externos
CFD Internos
CFD Externos
102 Biologia 11,8 9,8 13,3 10,0 10,9 10,3 12,9 10,5 10,9 9,1 13,2 9,3 10,3 9,1 13,2 9,2 9,8 8,6 12,9 8,7
114 Filosofia 11,2 9,1 12,8 9,3 10,9 8,8 12,9 9,0 12,4 10,1 13,4 10,3 12,6 10,5 13,7 10,7 12,6 10,4 13,6 10,6
115 Física 8,9 3,3 11,8 3,4 10,7 5,4 12,5 5,5 8,8 4,5 11,9 4,6 9,0 4,8 12,1 4,9 9,7 5,2 12,2 5,3
123 História 10,2 8,1 12,3 8,3 11,0 9,5 12,5 9,7 10,5 8,7 12,4 8,9 11,2 9,2 12,8 9,4 11,0 9,1 12,7 9,3
128 IDES 9,7 8,6 12,3 8,8 9,8 8,6 12,2 8,8 11,0 9,3 12,6 9,5 11,2 9,8 12,8 10,0 11,1 9,6 12,8 9,9
135 Matemática 9,0 4,4 11,7 4,5 8,6 4,5 11,5 4,6 7,8 3,7 11,3 3,8 7,7 5,8 10,4 6,0 - 4,3 - 4,4
138 Português A 10,1 8,0 11,8 8,2 11,2 9,6 12,1 9,8 11,4 9,5 12,2 9,7 11,4 9,2 12,4 9,4 11,5 9,1 12,5 9,3
139 Português B 10,6 8,5 11,8 8,7 11,4 9,9 12,1 10,1 10,6 8,9 11,9 9,1 10,9 9,1 12,1 9,3 12,0 10,2 12,6 10,4
140 Psicologia 9,7 8,0 12,5 8,2 10,1 8,3 12,7 8,5 11,0 9,1 12,9 9,3 10,6 9,5 12,8 9,7 11,4 9,9 13,3 10,1
142 Química 12,6 8,4 13,2 8,5 10,7 8,6 12,8 8,8 10,7 8,8 12,7 9,0 10,0 8,7 12,7 8,9 10,9 9,9 12,9 10,1
144 Sociologia 10,9 9,0 12,8 9,2 12,1 10,7 13,2 10,9 12,2 10,8 13,4 11,0 12,0 10,4 13,3 10,6 12,5 10,9 13,6 11,0
417 Francês (Cont. LE II - 6 anos, 4 h)
9,3 6,6 11,5 6,8 10,3 8,1 11,8 8,2 10,4 8,2 11,9 8,4 10,8 8,7 12,2 8,9 10,1 7,7 12,1 7,9
435 Matemática - - - - - - - - - - - - 9,2 3,5 12,0 3,7 7,8 4,5 11,4 4,7
Fonte: DES / Ministério da Educação
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Durante estes cinco anos, os progressos não foram significativos. Se há disciplinas em
que se notam pequenas melhorias, como é o caso de Filosofia, História, IDES,
Português, Psicologia e Sociologia, há também disciplinas em que o desempenho piorou,
como na Biologia, na Química e na Matemática. Na disciplina de Física, constata-se uma
pequena melhoria, mas o nível médio mantém-se ainda negativo. Importaria perceber, no
futuro, se estas pequenas melhorias anuais se mantêm, ano após ano, o que já seria
louvável, e se há medidas e perspectivas de inversão da tendência, nos casos em que os
desempenhos estão a piorar. De facto, as três disciplinas em que esta circunstância ocorre
são disciplinas nucleares das áreas “científicas”, ou seja, o que está em questão é a falta
de qualidade do ensino e da aprendizagem das áreas das ciências “exactas” e naturais, no
sistema de ensino português, com todas as consequências que daí advêm.
Outros programas de avaliação externa ajudam a compreender e confirmam estes
resultados, como o Programme for International Student Assessment – PISA,
desenvolvido pela OCDE.
O projecto PISA envolveu 32 países (28 são da OCDE), foi realizado junto de alunos de
15 anos, no ano 2000, e avaliou a literacia em Leitura, Matemática e Ciências. Neste
ciclo do PISA, a ênfase foi posta no domínio da leitura e o conceito da literacia de leitura
foi definido como “a capacidade de compreender, usar e reflectir sobre textos escritos, de
forma a realizar os objectivos de cada um, de desenvolver o seu próprio conhecimento e
potencial e de participar efectivamente na sociedade”.
Enquanto que, no “espaço da OCDE”, 60% dos jovens de 15 anos são bem sucedidos na
realização de tarefas correspondentes aos níveis 3, 4, 5 (resultados positivos), em
Portugal, este valor atinge os 48%. A maioria dos nossos alunos apresenta um
desempenho negativo: 4% situa-se no nível 5 (o melhor desempenho), contra 9% de
média; 17% encontra-se no nível 1, contra 12% de média; e, abaixo do nível 1 (o pior),
situam-se 10% dos alunos portugueses, contra 6% de média, no “espaço da OCDE”. Os
resultados obtidos pelos nossos alunos situam-se abaixo da média da OCDE, no 26º.
lugar.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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O estudo procura evidenciar também as razões para o sucesso e para o insucesso,
comparando os percursos realizados pelos alunos com melhores resultados (nível 4 e 5
de proficiência) e com piores resultados (abaixo do nível 1 e nível 1). Como principais
contributos para o sucesso, apontam-se as “estratégias de estudo” utilizadas, o “esforço e
a perseverança” colocados no estudo e no percurso escolar, o sentido de “pertença à
escola”, “a motivação para estudar com vista a assegurar o próprio futuro”, os “recursos
educacionais existentes em casa” (dicionários, local sossegado para estudar, livros de
texto, calculadora, etc.) e os “bens culturais na família (literatura clássica, livros de
poesia, obras de arte)”, o interesse dos pais e a interacção destes com os filhos,
nomeadamente conversando com eles e debatendo sobre temas sociais, livros e filmes.
Em todas estas variáveis há uma distância significativa entre bons e maus desempenhos
escolares (tal como o PISA os mede).
O estudo refere ainda que estes resultados revelam quer a marca da heterogeneidade
geográfica nos desempenhos médios dos alunos, registando-se entre os alunos de Lisboa
e Vale do Tejo as melhores médias, por vezes superiores à média da OCDE, quer a
marca da reprovação e da repetência, pois entre os alunos de 15 anos que estudam no ano
de escolaridade “ideal” (10º. ano) os resultados são muito superiores aos dos que
estudam no 5º., 6º., 7º., 8º. e 9º. anos.
Em termos internacionais, o estudo da OCDE conclui também que, assim como os
contextos sócio-económicos escolares influenciam o desempenho dos alunos, também as
práticas e as políticas de cada escola podem produzir importantes diferenças e os bons
níveis de aprendizagem dependem do acesso dos estudantes a oportunidades de
aprendizagem de elevada qualidade (OCDE, 2001:180), criadas tanto na escola como
fora dela, na sua envolvente social. O desafio para as políticas públicas de educação é
enorme, criando um contexto favorável para o trabalho e o desenvolvimento de cada um
dos cidadãos.
Este estudo internacional conclui ainda que existe uma associação positiva entre recursos
económicos mais elevados, afectos à educação, e melhores resultados no PISA. No
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 68
entanto, verifica-se não só que aos mais avultados investimentos nacionais em educação
não correspondem linearmente os melhores desempenhos médios dos alunos, mas
também que, em Portugal, os resultados obtidos pelos alunos de 15 anos ficam abaixo do
que seria de esperar, tendo em conta a despesa por nós realizada em educação.
O PISA estabelece ainda duas grandes conclusões gerais, comuns aos vários países. Por
um lado, os factores que mais afectam o bom desempenho das escolas estão relacionados
com o estatuto socio-económico da escola (o nível socio-económico das famílias e as
características dos grupos sociais que a envolvem), o que significa que alguma da
iniquidade nos resultados está associada à iniquidade nas oportunidades. Por outro lado,
não existe nenhum factor que isoladamente explique porque é que alguns países e escolas
têm melhores resultados do que outros. Este bom desempenho está associado a uma
“constelação de factores”, que incluem os recursos, as práticas e as políticas da escola e
as práticas educativas dentro da sala de aula.
Os níveis de rendimento escolar, por escola e por modalidade de ensino e formação Através da análise dos resultados de um estudo sobre “Rendimento escolar nos cursos
das escolas secundárias e das escolas profissionais”9, realizado junto de uma amostragem
de escolas de todo o país, é possível constatar o que, pelo que vimos explicitando, seria
expectável: há elevadas margens de ineficácia, que arrastam níveis elevados de
ineficiência, nas nossas instituições educativas de nível secundário.
O conceito de rendimento escolar que aqui se emprega é o que resulta da determinação
do número de alunos que efectivamente conclui em três anos os seus cursos, que são de
três anos de duração, tanto nas escolas secundárias como nas escolas profissionais.
Isolados os alunos que se matriculam no ano 1 pela primeira vez, relaciona-se o resultado
desta operação com o número de alunos que conclui o seu curso no fim do ano lectivo 3.
No caso das escolas profissionais, como os estágios se prolongam geralmente pelos três
9 Rendimento escolar nos cursos das escolas secundárias e das escolas profissionais. Resultados de uma amostragem, Fundação Manuel Leão.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 69
meses subsequentes ao termo do ano lectivo (Julho do ano 3), a taxa de conclusão
considera estes três meses como fazendo parte integrante do percurso para efeitos de
análise do rendimento escolar.
O estudo compreende uma amostragem de 60 escolas secundárias e 57 escolas
profissionais, agrupados por concelhos (36), do norte ao sul e do litoral ao interior, e os
seus resultados são os que se apresentam no quadro seguinte. Analisou-se o ciclo de
estudos iniciado em 1998/1999 e concluído em 2000/2001.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 70
Quadro 23 Rendimento escolar do nível secundário por concelho nos cursos geraism tecnológicos e nos cursos
das escolas profissionais – Ciclo de formação B entre 1998/99 a 2000/2001
Matriculados pela 1ª Vez
Diplomados em 3 anos
Taxa de Diplomados em 3 anos
Matriculados pela 1ª Vez
Diplomados em 3 anos
Taxa de Diplomados em 3 anos
Matriculados pela 1ª Vez
Diplomados em 3 anos
Taxa de Diplomados em 3 anos
Almada 1 218 195 89% 29 23 79% 2 115 91 79%
Amadora 2 515 166 32% 145 47 32% 1 70 38 54%
Amarante 1 186 80 43% 109 26 24% 1 78 50 64%
Ansião 1 83 37 45% a) a) a) 1 104 78 75%
Barcelos 1 103 74 72% 30 2 7% 1 60 34 57%
Braga 2 645 245 38% 251 60 24% 1 102 60 59%
Caminha 1 81 19 23% a) a) a) 1 129 99 77%
Cantanhede 1 290 106 37% 110 6 5% 1 46 37 80%
Castelo Branco 2 366 150 41% 134 28 21% 1 36 33 92%
Cinfães 1 128 49 38% 41 13 32% 1 23 14 61%
Coimbra 3 746 462 62% 252 86 34% 1 91 62 68%
Esposende 1 242 76 31% 45 17 38% 1 44 24 55%
Estremoz 1 175 66 38% 19 2 11% 1 96 79 82%
Évora 2 386 201 52% 129 44 34% 1 122 93 76%
Felgueiras 1 244 183 75% 125 75 60% 1 44 16 36%
Figueira da Foz 2 276 220 80% 104 63 61% 1 50 44 88%
Fundão 1 188 82 44% 92 9 10% 1 95 44 46%
Guimarães 2 483 205 42% 97 20 21% 2 40 28 70%
Lisboa 8 1137 717 63% 263 132 50% 12 797 482 60%
Lousã 1 112 33 29% 17 2 12% 1 39 16 41%
Mealhada 1 114 47 41% 28 7 25% 1 70 54 77%
Melgaço 1 92 22 24% a) a) a) 1 45 32 71%
Murça 1 72 12 17% a) a) a) 1 27 17 63%
Nisa 1 41 16 39% a) a) a) 1 46 10 22%
Pedrógão Grande 1 17 4 24% a) a) a) 1 98 43 44%
Pombal 1 193 124 64% 122 35 29% 1 66 38 58%
Portimão 1 214 106 50% 290 97 33% 1 - - -
Porto 7 1335 528 40% 341 45 13% 6 349 240 69%
São João da Pesqueira 1 63 10 16% a) a) a) 1 58 26 45%
Seia 1 232 123 53% 92 29 32% 1 40 23 58%
Sintra 2 536 209 39% 94 23 24% 1 70 26 37%
Torres Novas 2 298 117 39% 111 14 13% 1 45 37 82%
Valongo 1 269 72 27% 135 12 9% 1 40 28 70%
Vila Nova de Famalicão 1 121 42 35% 102 37 36% 3 132 82 62%
Vila Nova de Gaia 1 395 86 22% 119 21 18% 2 207 159 77%
Viseu 2 761 285 37% 192 42 22% 1 96 67 70%
Totais e Médias 60 11357 5169 46% 3618 1017 28% 57 3570 2304 65%
a) Concelhos em cuja escola secundária inquirida não há, neste ciclo, alunos em cursos tecnológicos.
Nota: Foram consideradas apenas escolas secundárias e profissionais para as quais havia dados para os mesmos concelhos.
Fonte: Fundação Manuel Leão, 2003
Concelho
(Ordem alfabética)
Nº de Esciolas Secundárias
Cursos Gerais Cursos Tecnológicos
Nº de Esciolas Profissionais
Cursos Profissionais
Ciclo de Formação
1998/99 a 2000/2001
Ciclo de Formação
1998/99 a 2000/2001
Ciclo de Formação
1998/99 a 2000/2001
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Estes resultados evidenciam, conforme esperado, uma elevada ineficácia nos cursos
gerais e tecnológicos das escolas secundárias, sobretudo nestes últimos. Nos cursos
tecnológicos, no fim de cada ciclo de estudos, apenas se diplomam cerca de 28 alunos
em cada 100 matriculados pela primeira vez no início do ciclo (de três anos). Este valor
exprime bem a necessidade de rever profundamente o modelo, as condições a oferta e de
procura, as metodologias de ensino e aprendizagem e a rede existente.
Várias razões concorreram para este desfecho. Entre elas podemos salientar:
− a inadaptação de muitos ex-liceus a este tipo de oferta educacional, que
permanece como um corpo estranho na cultura destas escolas secundárias;
− a dificuldade de promover uma capacitação profissional em cursos onde é
deficiente a combinação entre a formação geral, científica e técnica;
− o desinvestimento na qualificação de professores, após um investimento que
tinha sido realizado durante o período experimental da “reforma do ensino
secundário”, a que acresce o facto de muitas escolas terem mobilizado para a
leccionação dos cursos tecnológicos os professores “sem horário lectivo”, fruto
da alteração global dos currículos do ensino secundário;
− o desinvestimento em equipamentos e instalações, que também ocorreu após o
período experimental, período durante o qual se fizeram os maiores
investimentos de sempre no ensino técnico-profissional (entre 1990, primeiro
ano de reinvestimento, e 1994, este investimento em apetrechamento do ensino
técnico público foi de mais de onze milhões de contos, segundo os dados do
DAPP, provenientes da análise à execução do PRODEP I e II);
− a deficiente articulação entre as escolas secundárias e o tecido socio-económico
local, o que é praticamente inevitável, caso não sejam desencadeadas acções
precisas para a favorecer e incrementar;
− uma deficiente actuação dos mecanismos de orientação escolar e profissional
durante os ensinos básico e secundário.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Apesar do insucesso e da ineficácia, há muito visíveis, nenhuma medida de correcção de
trajectória se tomou, entre 1995/96 (ano em que pela primeira vez se alargou a todas as
escolas e até ao 12º ano a generalização destes novos cursos) e o ano 2003.
Nos contextos escolares em que estes cursos são oferecidos, dominados por uma cultura
“liceal” de ensino e formação e em que a preparação para o prosseguimento de estudos
tende a ser a norma, oferecer um curso tecnológico pode acabar por representar, muitas
vezes, ter à disposição uma saída escolar (desqualificada) para os alunos com piores
resultados no fim do ensino básico e à entrada do ensino secundário (muitas escolas
oferecem o terceiro ciclo e o ensino secundário), uma via profissionalizante que assim se
desprestigia imediatamente e que acaba por funcionar de modo autista face ao mundo
profissional e empresarial.
No caso dos cursos “gerais”, estamos perante um valor médio global baixo, fruto
também de uma grande selectividade gerada nas escolas secundárias. Se atentarmos às
disparidades inter-escolas, verifica-se que há escolas com desempenhos muito positivos,
ao mesmo tempo que se constatam desempenhos muito mais negativos (a disparidade
oscila entre 16 e 89 pontos).
As escolas profissionais, com oscilações igualmente elevadas (entre 22 e 92 pontos)
apresentam em geral resultados mais positivos, apontando para uma maior eficiência no
seu desempenho. Entre as razões para explicar estes resultados podemos sugerir: a
dimensão das escolas, pequenas ou com poucas centenas de alunos, o acompanhamento
personalizado dos alunos, o regime modular de aprendizagem e de progressão, o que
facilita o alcance de metas, a recuperação de atrasos e o avanço contínuo, a adequação
dos planos de estudos ao tipo de ensino, a ligação das escolas e das actividades escolares
ao meio social local e às empresas.
Estes resultados carecem de leituras mais aprofundadas, mas é óbvio que se devem
divulgar e debater, tendo em vista constituírem fonte de informação para a tomada de
decisões no seio das políticas públicas de educação.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Inserção sócio-profissional e o acesso ao mercado de trabalho No nível secundário, incluindo cursos gerais, cursos tecnológicos e cursos profissionais
e excluindo o sistema de aprendizagem, para o qual não há o mesmo tipo de estudos, as
escolas profissionais são o segmento que melhor prepara os jovens para a inserção sócio-
profissional ( como se verá melhor no capítulo seguinte). Assim, segundo os estudos
mais recentes do OPES10, que inquirem todos os diplomados por aqueles cursos, no ano
de 1997, no nível secundário, estes jovens diplomados pelas escolas profissionais são os
que se dirigem em maior número para o mercado de trabalho após a conclusão dos seus
cursos (78%), são os que em maior número realizam estágios no termo da sua formação
(52% contra 28% nos cursos tecnológicos), são os que apresentam um menor volume de
desemprego, 15%, em Outubro de 1998), são os que se encontram melhor colocados em
termos de níveis de qualificação profissional (trabalhadores qualificados), são os que
auferem o melhor nível salarial (embora em todos os casos os salários sejam
relativamente baixos) e são aqueles que reconhecem que a sua formação mais lhes
facilitou a integração no mercado de trabalho.
Pode advogar-se, e digamos que de modo pertinente, que era mesmo isto que se esperava
que resultasse da frequência das escolas profissionais. Mas, o que é assinalável é o facto
do mesmo estudo nos revelar, ao mesmo tempo, que são os diplomados pelas escolas
profissionais os que avaliam mais positivamente (e muito positivamente) os cursos que
realizaram no nível secundário, são os que avaliam mais positivamente a “formação geral
e sociocultural” recebida na escola e, a “articulação entre a formação teórica e prática” e,
finalmente, são os que avaliam mais positivamente a “preparação escolar recebida”,
quando comparadas as suas opiniões com as dos diplomados pelos cursos gerais e pelos
cursos tecnológicos.
Estes estudos revelam também a precarização dos vínculos contratuais e os ziguezagues
profissionais de que falávamos acima. Assim, cerca de 70% dos jovens diplomados pelas
10 “A formação de nível secundário e a inserção profissional” (2002)
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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escolas profissionais ocupou já um emprego, cerca de 22% dois empregos e cerca de 8%
três ou mais empregos (dados de 1997, referentes ao período de um ano, Setembro de
1997 a Outubro de 1998). Por outro lado, mais de metade dos diplomados possui
contratos a termo ou de prestação de serviços.
Resulta destas análises empíricas que existe não só um elevado grau de consecução da
missão das escolas profissionais, como os jovens por elas diplomados proferem sobre as
suas escolas uma avaliação muito positiva. Ao longo deste estudo procuraremos indagar
as razões que sustentam este resultado global.
No caso específico da inserção social e profissional, as características das escolas
profissionais que melhor as posicionam para a obtenção destes resultados são, em nosso
entender:
− um currículo multidimensional e concebido para a preparação teórico-prática
em ordem a uma sucedida inserção sócio-profissional;
− em geral, as escolas profissionais nascem localmente, fruto da iniciativa de
promotores locais, o que as coloca de imediato dentro dos territórios onde estão
implantadas, ou seja, nas suas dinâmicas sociais, económicas e empresariais;
− as escolas profissionais qualificam os jovens em áreas e níveis em que o tecido
produtivo está muito carenciado.
O caso dos diplomados pelos cursos tecnológicos Os cursos tecnológicos, situados ao seio das escolas secundárias, cumprem o papel de
oferecer um percurso alternativo, dito tecnológico, de frequência do nível secundário,
com o objectivo principal de prossecução de estudos. Assim foram desenhados, em 1989.
Assim se verifica, analisadas as escolhas feitas no termo da frequência destes cursos. O
inquérito do OPES aos diplomados em 1997 confirma esta mesma tendência: 68% dos
diplomados pelos cursos tecnológicos prosseguiram estudos, 76% dos quais em escolas
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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públicas (contra 24% dos diplomados pelas escolas profissionais que prosseguem
estudos).
No entanto, os cursos tecnológicos, na sua maioria, não corresponderam a outras
expectativas neles depositadas: proporcionar uma real qualificação técnico-profissional,
preparar os jovens para o ingresso na “vida activa”.
Desde 1995/96 (ainda no decurso da generalização dos novos cursos do ensino
secundário) que o DES havia identificado uma série de “derrapagens” na evolução destes
cursos, tendo solicitado à tutela política uma série de medidas. Até hoje nunca foram
tomadas. A estratégia do adiamento e da não-decisão triunfou em pleno, alimentada por
auscultações, debates, encontros, relatórios, seminários e publicações.
É certo que se pretendeu fazer uma espécie de “quadratura do círculo” ao atribuir, ao
mesmo tempo, aos cursos tecnológicos finalidades sociais e educacionais tão díspares.
Mas, não foi apenas isto que sucedeu: muitas outras correcções de trajectória poderiam
(deveriam) e podem (devem) ser realizadas. Entre elas podemos destacar:
− investir fortemente, em termos de diálogo social, na definição de uma estratégia
para a valorização social e profissional dos ensinos técnicos e profissional, de
modo a estabelecer compromissos sociais concretos, de actores sociais
concretos;
− criar a função de professor coordenador do curso tecnológico, na expectativa de
criar um trabalho de equipa de docentes e de estabelecer articulações
permanentes com o mercado local de trabalho e o emprego;
− reforçar, apenas onde houvesse condições concretas para tal, as componentes
técnico-profissional dos cursos e a sua ligação ao tecido socio-económico local;
− impedir a criação de cursos tecnológicos só porque há professores sem horário
atribuído, como sucedeu em muitos casos, subvertendo a lógica instituinte;
− rever (e se necessário encerrar) a oferta de cursos tecnológicos em “ex-liceus”,
escolas onde não se fomentou qualquer cultura profissional de formação
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 76
profissional e onde estes cursos foram transformados, em muitos casos, numa
válvula de escape para casos de insucesso escolar;
− flexibilizar o modelo curricular destes cursos, possibilitando o desfasamento
entre titulações profissionais e académicas (para efeitos de prosseguimento de
estudos), de modo a permitir uma diversificação dos momentos de conclusão
dos cursos e dos seus diplomas.
Nas escolas que qualificam profissionalmente é muito importante que se criem culturas
profissionais e de trabalho e que se estabeleçam fortes articulações com o meio
económico envolvente. De outro modo, os cursos técnicos e profissionais tenderão a ser
sempre remendos. E como se criam e fomentam esses ambientes? De muitos modos,
como já se pode verificar em muitas escolas que o fazem, como por exemplo:
− forte ligação entre teoria e prática, sala de aula e oficina/contexto de trabalho;
− abertura das escolas não só à formação inicial de jovens, mas também à
formação contínua de adultos, profissionais que muito podem contribuir para
criar estes ambientes profissionais, realistas e positivos;
− interligação entre disciplina(s) e projecto profissional, combinando
aprendizagens escolares tradicionais com o desenvolvimento de projectos
profissionais multidisciplinares, a testar e defender perante júris compostos
também por profissionais;
− organização de visitas de estudo, estágios profissionais e contactos regulares
com empresários e profissionais dos diferentes ramos de actividade;
− revisão curricular contínua, realizada em diálogo social entre escolas,
empresários e profissionais do respectivo sector.
Em síntese, a qualidade do nível secundário é muito desigual e é, em geral, débil.
Sobressaem, pelos resultados positivos, as escolas profissionais e o rendimento escolar
dos seus cursos e a inserção sócio-profissional dos seus diplomados.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 77
Mas a situação das escolas secundárias apresenta-se, em geral, com características que
carecem de actuação urgente, sobretudo no que se refere aos cursos tecnológicos. Para a
agenda das políticas públicas de educação para o nível secundário saltam várias
problemáticas prioritárias tais como:
− a necessidade de rever o estatuto das escolas secundárias, o seu quadro de
autonomia e de ligação ao meio envolvente, a necessidade de estancar níveis
elevados de abandono escolar e de insucesso, o que requererá uma intervenção
articulada escola – comunidade;
− a revisão do modelo instituinte dos cursos tecnológicos reservando a sua oferta
às instituições educativas que os valorizem positivamente e apostem na
qualificação profissional dos jovens;
− a melhoria urgente dos níveis de desempenho dos alunos, não apenas nas
disciplinas de Português e de Matemática, mas também em todas as “áreas das
ciências”;
− a correcção das fortes assimetrias regionais que persistem e até se ampliam.
As escolas secundárias, sobretudo em algumas localidades do país, correm o risco de se
tornarem, mais e mais, escolas de sobreviventes, num tempo em que já se anuncia a
“escolaridade obrigatória até ao 12º ano”.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 78
IV PARTE
A PRIORIDADE À QUALIFICAÇÃO DE TÉCNICOS INTERMÉDIOS
Apesar da evolução ocorrida durante os anos ’90 no sector do ensino e formação de nível
secundário de cariz profissionalizante, a situação de carência de profissionais
qualificados e altamente qualificados de nível intermédio mantém-se. O mais recente
inquérito oficial às empresas sobre as suas necessidades de formação11 aponta
inequivocamente neste sentido: as maiores e mais urgentes necessidades de qualificação
situam-se exactamente a este nível profissional.
A procura crescente de técnicos intermédios radica no desenvolvimento de toda uma
série de funções e na emergência de novas modalidades de organização empresarial, em
que o caminho para uma cada vez maior especialização produtiva passa decisivamente
pelo reforço da posição ocupada por trabalhadores qualificados e altamente qualificados
de nível intermédio, cujo desempenho de funções atravessa a generalidade dos sectores
económicos. A prioridade à qualificação de técnicos intermédios pode, assim, ser
encarada como uma medida estratégica no quadro dos processos de modernização, tantas
vezes referenciados como essenciais no sentido da promoção da competitividade e do
desenvolvimento da economia nacional.
Vamos analisar o modo como se reflecte a prioridade à qualificação de técnicos
intermédios no quadro do nível secundário de ensino e formação, sob três pontos de
vista:
- primeiro, apresentando dados que confirmam a boa aceitação pelo mercado de
trabalho dos diplomados deste nível de formação que optaram por obter uma
qualificação de cariz profissionalizante (nomeadamente, através dos cursos
tecnológicos e sobretudo das escolas profissionais);
11 Vários. Inquérito às necessidades de formação profissional das empresas, 2000-2002. Lisboa: MTS/DETEFP.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 79
- segundo, perspectivando as necessidades de formação de nível intermédio para
os próximos anos em Portugal, de acordo com estudos e dados disponíveis neste
momento;
- terceiro, fundamentando a necessidade do reforço do papel da orientação escolar
e profissional como uma estratégia educativa de promoção das vias
profissionalmente qualificantes junto dos alunos e respectivos pais.
A procura do mercado de trabalho Concentremo-nos então, em primeiro lugar, sobre a inserção profissional dos alunos
diplomados com uma formação de nível secundário, procurando compreender qual a
receptividade do mercado de trabalho a este nível de formação. Uma análise desta
natureza é indispensável no quadro da definição de uma política educativa para este nível
de ensino e formação.
Um estudo recentemente publicado, da responsabilidade do Ministério da Educação /
Observatório Permanente do Ensino Secundário (ME/OPES)12, já referido, realizado em
Outubro de 1998, através da metodologia de envio postal, com porte pago, junto de 2521
alunos diplomados de Nível Secundário, em 1997, em diferentes regiões do país (984 de
Cursos de Carácter Geral, 748 de Cursos Tecnológicos, 709 de Cursos de Escolas
Profissionais, 80 de outras vias), dava conta dos resultados que passamos a apresentar.
Situação profissional um ano após a obtenção do diploma Um ano após a conclusão do Ensino Secundário, a grande maioria dos diplomados - que
não prosseguiu exclusivamente estudos de nível superior – exerce uma profissão,
denotando-se uma maior facilidade de ingresso no mercado de trabalho por parte dos
alunos dos Cursos Profissionais.
12 São Pedro, M.E., Rua, J., Neves, N., Neves, M. J. (2002). A formação de nível secundário e a inserção profissional. Lisboa: Ministério da Educação / Observatório Permanente do Ensino Secundário.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Quadro 24
Valores de empregabilidade dos diplomados do ensino secundário (em Outubro de 1998), um ano após a conclusão do curso
A exercer
uma profissão Desempregado Outra situação
Cursos Gerais 52% 18% 30%
Cursos Tecnológicos 68% 19% 13%
Cursos Profissionais 78% 15% 7% Fonte: ODES / Ministério da Educação
Conforme se constata pela consulta do Quadro 24, em Outubro de 1998, os valores de
empregabilidade dos alunos diplomados pelas Escolas Profissionais eram claramente
superiores aos dos diplomados pelas restantes vias do ensino de nível secundário.
Relativamente às profissões desempenhadas então pelos diplomados das Escolas
Profissionais, estes distribuem-se por um leque vasto de profissões (mais vasto do que os
diplomados dos Cursos Gerais e Tecnológicos), certamente devido à diversidade da
oferta formativa que usufruíram no Ensino Profissional.
Em termos globais, considerando o conjunto dos diplomados pelos três tipos de
formação – Geral, Tecnológica e Profissional -, predominam as profissões ligadas aos
serviços (correspondendo a 41% do total): “pessoal do serviço de restauração”,
“empregados dos serviços de contabilidade e dos serviços financeiros”, “secretárias”,
“empregados de escritório” “vendedores”. As pequenas empresas (menos de 20
trabalhadores) são as entidades empregadoras de cerca de metade dos diplomados, ao
passo que em grandes empresas (com 100 ou mais trabalhadores) trabalham 29% dos
inquiridos. Este resultado revela não só um maior dinamismo das pequenas empresas na
absorção destes jovens técnicos qualificados, como também uma maior adequação destes
perfis profissionais às necessidades deste tipo de empresas.
Uma vez inseridos no mercado de emprego, a grande maioria dos diplomados de nível
secundário não muda de emprego (um ano após a conclusão do Ensino Secundário, 72%
dos diplomados tinham permanecido num único emprego e apenas 6% tinham mudado
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 81
de emprego mais de duas vezes). Os diplomados dos Cursos Gerais são os que
apresentam maior dificuldade em conseguir emprego ou que menos diligências fazem
para o conseguir.
O que este estudo também mostra é que os níveis salariais mais elevados auferidos pelos
diplomados do Ensino Secundário correspondem aos diplomados dos Cursos
Tecnológicos e dos Cursos Profissionais, sobretudo a estes últimos. Estamos, porém,
perante níveis salariais de um valor relativamente baixo, apresentando a grande maioria
dos diplomados uma remuneração mensal inferior a 500 Euros.
Quanto à satisfação profissional, os diplomados dos Cursos Profissionais têm uma
imagem mais positiva da profissão desempenhada, comparativamente aos dos outros
tipos de curso.
Meios de obtenção do primeiro emprego Os dados seguintes, correspondentes aos meios de obtenção do primeiro emprego
associados a esta opção formativa, remetem-nos para algumas questões estratégicas em
termos de formação de tipo qualificante de base regional, como o papel desempenhado
pelas escolas de nível secundário na prospecção de oportunidades de trabalho e a
existência, ou não, de ajustamento entre as ofertas formativas das escolas e as
necessidades regionais dos mercados de trabalho.
Assim, reportando-nos novamente ao inquérito realizado em 1998 pelo Observatório
Permanente do Ensino Secundário, constatamos que os “conhecimentos pessoais” foram
o meio mais utilizado pelos diplomados de nível secundário para conseguirem o primeiro
emprego (39%), seguido do “anúncio” (15%) e do recurso aos “centros de emprego do
IEFP” (10%). Uma análise mais desagregada permite, no entanto, verificar diferenças
sensíveis de acordo com o tipo de curso realizado. Assim, salientamos as respostas dadas
pelos diplomados das Escolas Profissionais (Quadro 25), dado serem estes diplomados
os que mais sucesso evidenciam na transição escola-mercado de emprego.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 82
Quadro 25
Meios de obtenção do primeiro emprego pelos diplomados das escolas profissionais
Por meio de conhecimentos pessoais 36 %
Oferta de empresas/outras entidades junto da escola 12 %
Na empresa onde efectuou o estágio 11 %
Resposta a anúncios 11 %
Através da Escola Profissional 8 %
Através do Centro de Emprego/UNIVA 3 %
Outra situação/não responderam 19 % Fonte: ODES / Ministério da Educação
Sendo evidente o papel dos conhecimentos pessoais na obtenção do primeiro emprego,
algo que é confirmado por estudos realizados acerca da transição escola-trabalho, os
meios que envolvem as relações escola-emprego adquirem uma importância
determinante (o mesmo não se passa no caso dos Cursos Tecnológicos e dos Cursos
Gerais, onde essas relações são reduzidas ou mesmo nulas, respectivamente).
Este estudo demonstrou, ainda:
− que a facilidade de obtenção de emprego é maior para os diplomados dos cursos
profissionalmente qualificantes (Cursos Tecnológicos e Profissionais),
demorando os ex-alunos do ensino profissional menos tempo a obter o seu
emprego, quer se trate do primeiro emprego, quer se trate de mudança de
emprego;
− que, no caso dos diplomados das Escolas Profissionais, quando o emprego é
obtido por via da Escola Profissional ou na sequência de estágio, esta obtenção
ocorre num tempo significativamente inferior, quando comparada com os
restantes meios, e o tempo de permanência nos empregos regista valores
superiores; cumulativamente, a obtenção de emprego através da Escola
Profissional parece associar-se à estabilidade do vínculo com a entidade
empregadora.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 83
Com efeito, estes resultados reflectem bem a importância da ligação das Escolas
Profissionais à comunidade envolvente (recorde-se que, na maior parte dos casos, se trata
de escolas de iniciativa local, promovidas por instituições da sociedade civil de forte
representação no meio), ligação essa que facilita a concretização de estágios
profissionalizantes e que faz com que o processo de recrutamento seja menos baseado
em factores de circunstância e mais nas aptidões realmente manifestadas pelos alunos.
Para além disso, o facto de cerca de 30% dos alunos ter obtido o seu emprego por meio
de relações escola-comunidade (oferta de empresas; na empresa onde efectuou estágio;
através da Escola) adquire uma importância significativa, não apenas como via de
recrutamento profissional mas também como meio de reconhecimento intrínseco da
qualidade da formação ministrada, a isso devendo juntar-se a correspondente valorização
social dos diplomados das Escolas Profissionais.
Tais resultados evidenciam a necessidade de investimento junto das escolas de nível
secundário que oferecem formações tecnológicas e profissionais, no sentido de as
comprometer com o acompanhamento dos seus alunos no período de transição para a
vida profissional, potenciando, em benefício dos alunos, o reconhecimento que as
escolas e a sua oferta formativa possam ter na comunidade envolvente.
Para concluir, importante ainda parece-nos o facto de os diplomados dos Cursos Gerais e
dos Cursos Tecnológicos assinalarem a “única oportunidade de ter emprego” como a
razão mais importante para aceitar o primeiro emprego, enquanto os diplomados dos
Cursos Profissionais realçam como razão mais importante para aceitar o primeiro
emprego, “trabalhar nessa área profissional”. Note-se, ainda, que em qualquer tipo de
curso, a razão “única oportunidade de ter emprego” é relevante para cerca de um terço
das mulheres.
Obstáculos à empregabilidade Passemos, finalmente, a analisar o desemprego (minoritário) no âmbito dos diplomados
do ensino de nível secundário: Porque surge ele? Quais as razões que lhe estão
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 84
subjacentes? O estudo realizado pelo Observatório Permanente do Ensino Secundário em
1998 dá-nos conta, desde logo, que é significativa a percentagem de inquiridos que
indica não ter tido “nenhuma dificuldade” na obtenção do 1º emprego (23%), sendo
sobretudo os homens a assinalar esta resposta, o que indicia maiores dificuldades no
acesso ao emprego por parte das mulheres.
Entre as dificuldades reveladas pelos restantes diplomados, destacam-se:
− a “falta de experiência profissional” e a “falta de emprego na área de residência”
como as principais dificuldades sentidas na procura de emprego pelos
diplomados dos Cursos Gerais e dos Cursos Tecnológicos;
− a “falta de emprego na área do curso” e a ”falta de emprego na área de
residência” como as principais dificuldades sentidas na procura de emprego
pelos diplomados dos Cursos Profissionais.
A interpretação destes resultados sugere que um dos principais obstáculos à
empregabilidade no caso dos diplomados das Escolas Profissionais - falta de emprego na
área do curso – aponta para uma maior exigência destes diplomados na entrada para o
mercado de trabalho, provavelmente, devido às expectativas criadas em função da
realização e conclusão de um curso de natureza profissionalizante de nível intermédio.
Isto chama a atenção para a importância de fazer preceder o funcionamento dos cursos
das Escolas Profissionais de um levantamento prospectivo de oportunidades de trabalho
a nível regional. O problema é complexo, porque não se trata apenas de saber se há ou
não um desajustamento quantitativo (isto é, se o mercado de emprego tem a vitalidade
suficiente para absorver o volume de população diplomada com o Ensino Secundário,
nomeadamente, com Cursos Profissionais), mas também de equacionar a vertente
qualitativa desse mesmo desajustamento. Ou seja:
− por um lado, saber se as qualificações da população se encontram desfasadas
das necessidades reais da economia portuguesa (estará esta já completamente
receptiva a absorver e a valorizar diplomados com Cursos Profissionais,
correspondendo assim à tão falada necessidade de quadros intermédios ?);
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 85
− por outro lado, saber em que medida a carência de profissionais qualificados de
nível intermédio é generalizada ou unicamente circunscrita a determinados
sectores da actividade económica (sublinhando a importância de se efectuar uma
avaliação permanente das necessidades presentes e futuras de técnicos
qualificados).
Na realidade, verificam-se variações sensíveis seja dos valores de empregabilidade, seja
do tempo necessário para a obtenção do 1º emprego, consoante o tipo de curso e a região
do país onde essa obtenção é alcançada, o que acentua a necessidade de regular,
racionalizar e ajustar a oferta de formação às economias regionais e locais.
Diremos, então, que não basta por si só elevar o nível educativo da população. O
aumento do número de jovens diplomados com formações profissionalizantes,
nomeadamente, só terá correspondência numa efectiva melhoria do tecido empresarial e
produtivo desde que as escolas que os realizem proponham os cursos mais adequados
para cada região onde se inserem e ministrem currículos que permitam aos alunos
obterem conhecimentos e competências pertinentes para a sua futura inserção socio-
profissional.
Em suma, sintetizando os resultados mais importantes relativamente à procura de
técnicos intermédios, verifica-se uma clara preferência das empresas pelos diplomados
com Cursos Profissionais e Tecnológicos, sendo que os primeiros levam vantagem sobre
os segundos (e de forma ainda mais significativa sobre os diplomados com Cursos
Gerais) em praticamente todas as variáveis analisadas.
As prioridades de formação O aspecto que trataremos em seguida consiste numa análise às prioridades de formação
do País para os próximos anos, de acordo com estudos recentemente publicados neste
domínio. Com o objectivo de avaliar o potencial de procura, pelos empregadores, de
indivíduos diplomados com cursos de nível secundário (equivalendo aqui esse nível de
formação à qualificação de técnicos intermédios), procedemos à recolha e sistematização
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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de informação, de natureza quantitativa e qualitativa. Esta informação foi obtida a partir
das seguintes fontes:
− Departamento de Estatísticas do Trabalho, Emprego e Formação Profissional do
Ministério do Trabalho e Solidariedade (DETEFP/MTS),
− Programa Integrado de Apoio à Inovação – Prioridades para os Recursos
Humanos em Portugal (PROINOV),
− Estudo sobre as tendências de evolução da procura e da oferta de mão-de-obra
qualificada em Portugal (realizado pelo Centro de Estudos dos Povos e Culturas
de Expressão Portuguesa/Universidade Católica Portuguesa – CEPCEP/UCP –
para o Ministério do Trabalho e Solidariedade/Direcção Geral do Emprego e
Formação Profissional – MTS/DGEFP).
Desde logo, um traço comum a qualquer um destes estudos é a chamada de atenção para
as enormes carências de profissionais de nível intermédio, habilitados com os chamados
níveis III e IV de qualificação profissional. Vejamos mais detalhadamente o que cada um
deles destaca em termos dessas carências.
Departamento de Estatísticas do Trabalho, Emprego e Formação Profissional do
Ministério do Trabalho e Solidariedade (DETEFP/MTS)
Tendo em vista construir e generalizar o acesso a uma sociedade do conhecimento, o
presente estudo baseia a sua análise na necessidade de estimular todos os modos de
acesso ao conhecimento. Este novo modelo de crescimento, baseado na percepção do
valor do conhecimento, deverá assentar nas seguintes linhas de dinamização:
- Software / Comunicações / Audiovisual / Serviços informáticos (papel central e dinamizador)
- Lazer / Turismo (sobretudo animação do património histórico e actividades culturais e
artísticas)
- Mobilidade
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 87
(dinamização de tecido industrial de produção de componentes)
- Mecânica / Electromecânica / Automação (sobretudo electrónica industrial e de automatismos)
- Saúde Moda (melhoria da qualidade, inovação de produtos e modernização dos processos
produtivos)
- Embalagem / Papel / Artes gráficas
- Habitat / Ambiente (sobretudo criação de imagem e “marketing” e actividades terciárias da
construção civil – ambiente, gestão de infraestruturas e redes)
- Agricultura (sobretudo actividades de agrobiologia)
Segundo o estudo do DETEFP/MTS, o investimento na formação deverá reflectir estas
linhas de dinamização da economia, apostando seriamente na formação pós-básica para
todos os jovens e na formação de adultos.
No Inquérito realizado pelo DETEFP/MTS, as necessidades de formação profissional em
geral são muito sublinhadas pelas empresas. Perto de um milhão de trabalhadores carece,
ainda, de formação profissional, nas suas várias modalidades. No caso concreto da
formação inicial, assinalam-se necessidades da ordem dos 150.000 qualificados (contra
os cerca de 737.000 para a formação em serviço/aperfeiçoamento profissional).
Considerando apenas a formação inicial (quer de nível intermédio, quer de nível
superior), as principais necessidades de formação distribuem-se pelos seguintes
domínios:
- Indústrias transformadoras 38.000
- Comércio e reparação 26.000
- Actividades financeiras 22.400
- Actividades imobiliárias e prestação de serviços às empresas 16.600
- Construção 9.500
- Saúde e acção social 8.800
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Registe-se que a capacidade actual do país para diplomar técnicos de nível intermédio é
muito débil, não devendo exceder os 20.000 diplomados/ano, evidenciando desde logo a
necessidade de aumentar substancialmente a oferta educativa neste domínio. Aliás,
quanto aos locais previsíveis para a satisfação das necessidades de formação, as Escolas
Secundárias e as Escolas Profissionais foram referidas por, apenas, 7% das empresas
inquiridas. Este valor reflecte bem a necessidade de quer as Escolas Secundárias, quer as
Escolas Profissionais, se posicionarem de forma mais eficiente como estruturas capazes
de responder às necessidades de formação evidenciadas pelas empresas.
Programa Integrado de Apoio à Inovação – Prioridades para os Recursos Humanos
em Portugal (PROINOV)
O Programa Integrado de Apoio à Inovação – Prioridades para os Recursos Humanos em
Portugal (PROINOV) aborda as necessidades de qualificação segundo a evolução por
clusters. A proposta de análise das necessidades de formação com base na metodologia
de desenvolvimento de clusters – tomando por cluster um conjunto de empresas
relacionadas entre si e com entidades produtoras e difusoras de conhecimento, tendo por
objectivo a construção de novas competências e novos factores competitivos e o aumento
do valor acrescentado –, surge-nos como uma abordagem inovadora e carregada de
potencial.
A abordagem por clusters parece-nos ser potencialmente rica, uma vez que tomamos a
formação profissional inicial não só como um factor de realização pessoal dos jovens,
mas também como um instrumento decisivo para o desenvolvimento económico e social.
No caso do ajustamento entre a procura e a oferta de formação de nível intermédio, uma
visão dinâmica da evolução da oferta de formação deste nível deve estar subordinada a
uma nova perspectiva de desenvolvimento de clusters nacionais e regionais.
Para o nível intermédio, as principais necessidades de formação inicial identificadas pelo
PROINOV, a nível de megaclusters, são as seguintes:
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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MEGACLUSTERS PRINCIPAIS DÉFICES
ALIMENTAÇÃO Técnico de Produção Metalúrgica Técnico de Produção Metalomecânica Técnico de Qualidade Tecnologias Avançadas de Produção: CAD/CAM, CNC, Robótica
Técnico de Organização de Trabalho e do Processo Produtivo Técnico de Sistemas Integrados de Concepção e Fabrico Técnico HST Técnico de Ambiente Técnico de Manutenção Mecânica e Electróncia Técnico de Fundição Técnico de Desenho Técnico/Desenhador Projectista Técnico de Laboratório Técnico de Soldadura Técnico de Moldes
HABITAT Técnico Medidor/Orçamentista Técnico de Desenho e Construção Civil Técnico de Condução de Obra Técnico de Topografia Técnico de Transformação e preparação de madeiras Técnico de Acabamentos em Madeira Técnico de Desenho de Construção em Madeira Técnico de Cerâmica e Vidros Pintor/Decorador (cerâmica, vidro) Modelador/Formista Desenhador Projectista Programador Máquinas-Ferramentas Técnico de Produção Metalomecânica Técnico de Laboratório/Analista de Laboratório Tecnologias Avançadas de Produção: CAD(CAM, CNC, Robótica Técnico de Produção Metalúrgica Técnico de Debuxo Colorista Técnico de Soldadura
MODA Modelista (integração de colecções)
Colorista Designer Têxtil Designer de Vestuário Designer de Calçado Técnico de Curtumes Programador de Máquinas-Ferramentas Técnico de Produção Metalúrgica Técnico de Produção Metalomecânica Técnico de Desenho Técnico Técnico de Ambiente Técnico de HST Técnico de Laboratório Desenhador Projectista
MOBILIDADE Técnico de Moldes
Programador de Máquinas-Ferramentas Técnico de Mecânica e Automação Técnico de Electricidade/Electrónica Técnico de CAD/CAM, CNC, Robótica Técnico de Fundição Técnico de Desenho Técnico Técnico de Produção Metalúrgica Técnico de Produção Metalomecânica Técnico de Moldes Técnico de Laboratório Técnico de Soldadura
MATERIAL ELÉCTRICO Técnico de Moldes
Técnico de Mecânica e Automação Técnico de CAD/CAM, CNC, Robótica Técnico de Produção Metalúrgica Técnico de Produção Metalomecânica Programador de Máquinas-Ferramentas Técnico de Fundição Técnico de Laboratório Técnico de Soldadura Desenhador projectista Operador de Sistemas de Transportes
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Se atendermos às necessidades de técnicos atrás identificadas e cruzarmos estas
necessidades com as áreas de formação definidas na CITE, ou seja:
1. Educação
2. Artes e Humanidades
3. Ciências Sociais, Comércio e Direito
4. Ciências
5. Engenharia, Indústrias Transformadoras e Construção
6. Agricultura
7. Saúde e Protecção Social
8. Serviços
poderemos elaborar uma lista daquelas formações em que o País mais prementemente
deve apostar para a formação inicial de técnicos intermédios de nível III,
correspondendo, então, ao seguinte perfil de necessidades de formação de nível
intermédio:
Quadro 26
Necessidades de formação de nível intermédio
Grandes Grupos Áreas de Estudo Áreas de Formação
214 – Design 2 – Artes e Humanidades 21 – Artes
215 – Artesanato 340 – Ciências empresariais 341 – Comércio 342 – Marketing e publicidade
3 – Ciências Sociais, Comércio e Direito
34 – Ciências empresariais 347 – Enquadramento na
organização/empresa 4 – Ciências 48 – Informática 480 – Informática
521 – Metalurgia e metalomecânica
522 – Electricidade e energia 523 – Electrónica e Automação
52 – Engenharia e técnicas afins
529 – Engenharia - Outras 542 – Têxtil, vestuário, calçado e
couro 54 – Indústrias Transformadoras 543 – Materiais
5 – Engenharia, Indústrias Transformadoras e Construção
58 – Arquitectura e construção 582 – Construção civil 84 – Serviços de transportes 840 – Serviços de transportes 85 – Protecção do ambiente 850 – Protecção do ambiente
8 – Serviços 86 – Serviços de segurança
862 – Segurança e higiene no trabalho
Fonte: PROINOV
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Note-se que algumas destas áreas de formação não possuem, de momento, qualquer
oferta de formação inicial de nível III (como é o caso das Ciências Empresariais),
havendo outras em que a oferta é deficiente ou em que a procura tem diminuído.
A este mesmo nível de formação – Intermédio –, foram também identificadas pelo
PROINOV necessidades transversais de formação inicial nas seguintes áreas:
� Higiene e Segurança no Trabalho
� Qualidade
� Comercialização e Vendas
� Informática e TIC
� Comunicação e Publicidade
� CAD/CAM, Programação CNC e Robótica
� Programação e Planeamento de Produção
Estudo sobre as tendências de evolução da procura e da oferta de mão-de-obra
qualificada em Portugal (CEPCEP/UCP e MTS/DGEFP)
O estudo em causa13 parte de um modelo de simulação economia-educação-emprego
(M3E), construído para propiciar a análise de congruência entre segmentos institucionais
de oferta e procura de qualificações em Portugal. Para os seus autores, parte-se do
princípio que a oportunidade de acomodar criação de emprego em Portugal nos próximos
anos reside essencialmente no sector dos serviços. O potencial do terciário para fazer
crescer o emprego em Portugal tem uma dupla faceta:
− por um lado, verificar-se-á a criação de empregos de baixo ou médio valor
acrescentado na área dos novos serviços a pessoas e famílias: saúde, assistência,
apoio a idosos, cultura, ambiente, lazer, enquadramento infantil;
13 Uma síntese deste estudo pode ser consultada em CARNEIRO, R. (2001). Fundamentos da educação e da aprendizagem (pp. 328-344). V.N. Gaia: Fundação Manuel Leão.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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− por outro lado, a expansão de novos serviços com alto conteúdo de
conhecimento e de aplicações tecnológicas, resultante da terciarização da
indústria e do surgimento de um novo terciário (sobretudo ligado a indústrias e
serviços de informação e comunicação), incidirá predominantemente no eixo
dos serviços a empresas em domínios como outsourcing, conteúdos,
informação, multimedia, comunicação, marketing interactivo, comércio
electrónico e economia digital, gestão de redes, processamento de dados,
software, ligação entre mercados, serviços ao cliente e pós-vendas.
Qualquer que seja a preferência por um ou outro destes cenários, para os autores deste
estudo a oferta de emprego em Portugal nos próximos anos irá jogar-se decisivamente na
margem de manobra ainda permitida pelo sector terciário. Comparando a estrutura actual
do emprego em Portugal com a de países da União Europeia numa fase de maturidade
pós-industrial mais avançada, pode estimar-se uma margem de crescimento possível do
peso dos serviços da ordem dos 10 a 15 pontos percentuais.
Esta constatação para os próximos anos em Portugal não é muito diferente da panorama
registado na maioria dos países desenvolvidos. Em França, o Comissariado Geral do
Plano, baseado no estudo “Avenirs des métiers. Rapport du groupe Prospective des
métiers et qualifications”14, prevê que a evolução dos empregos se faça, nos próximos
dez anos, no sentido de um reforço bastante acentuado da “família de profissões” dos
serviços, situando-se à cabeça as actividades “assistantes maternelles” e “agents
d’entretien”.
Retomando o estudo desenvolvido pelo CEPCEP para o MTS/DGEFP, a consolidação de
uma sociedade da informação e do conhecimento passará, naturalmente, pela promoção
das tecnologias da informação e das competências de gestão do conhecimento no seio
dos serviços tradicionais. Esta nova realidade exigirá o “enriquecimento” dos postos de
trabalho, utilizando o domínio tecnológico para alargar desempenhos e multiplicar
competências pessoais, significando isto que o sistema educativo necessitará de
14 Cf. Liberation, Jeudi 5 Decembre 2002.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 93
incorporar valências de elevada competência cognitiva, mas também, de forma crescente,
novas competências sociais, estéticas, metacognitivas e “de vida”.
Para se alcançarem estes objectivos de natureza educativa e formativa, os saberes
profissionais e as competências de aplicação serão adquiridos por via eminentemente
experiencial, em ambientes de proximidade aos da vida económica e empresarial real,
através de partenariados activos que visarão uma multiplicidade de objectivos: formação
profissional, indução profissional ao primeiro emprego, experiências modulares de
trabalho, estágios, regimes alternados de formação, sistemas flexíveis de transição entre
formação-emprego e vice-versa.
Para os autores deste estudo, o futuro acabará por fazer sobressair, ainda mais, aquelas
experiências que já hoje, como vimos anteriormente, demonstram a sua eficácia em
termos da inserção profissional dos diplomados, nomeadamente, de nível secundário.
A orientação escolar e profissional como estratégia de mediação entre a oferta e a
procura de formação
Qualquer esforço inovador no sentido de promover a melhoria do ajustamento da oferta e
da procura de formação de nível secundário (correspondente a um nível intermédio de
formação) deverá incluir iniciativas de orientação escolar e profissional (a seguir
designadas por “processo de orientação” ou simplesmente por “orientação”) destinadas,
globalmente, ao desenvolvimento de conhecimentos, competências e atitudes que
permitam aos alunos fazer opções adequadas sobre:
− a educação/formação e a carreira profissional que pretendem,
− o(s) modo(s) como pretendem efectuar a inserção sócio-profissional.
A orientação pode ser proporcionada por diversos tipos de instituições (fazendo ou não
parte do sistema educativo), pode socorrer-se de diversos métodos (desde a mera
prestação de informações ao acompanhamento individual) e pode ser levada a cabo por
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 94
diversos tipos de especialistas (psicólogos, “peritos” de orientação, professores com
formação especializada, outros).
A escolha de uma carreira (escolar e profissional) e a inserção sócio-profissional não
constituem um passo único, mas sim um processo que começa com a realização das
primeiras opções educativas e só termina por ocasião da entrada no “mundo dos
adultos”, com ou sem um emprego estável. Durante este processo, o aluno tem de tomar
algumas decisões que, em grande medida, determinam a sua carreira no futuro e que,
frequentes vezes, não são reversíveis. O momento e a frequência em que tais decisões
têm de ser tomadas dependem muito da estrutura do sistema de educação e formação,
sendo que em Portugal o final do 9º ano de escolaridade (altura em que a maioria dos
alunos tem 14-15 anos de idade) coincide com o período mais crítico na realização de
opções educativas ao marcar a entrada no ensino de nível secundário e, com ela, “forçar”
o aluno a optar desde logo por uma via de concretização desse nível de formação.
Independentemente de se considerar adequado ou não o momento do ciclo de vida em
que o aluno necessita de realizar essa opção, há três aspectos genéricos que desde logo
merecem ser salientados:
− em primeiro lugar, tanto para os jovens alunos como para os seus pais, o
processo de realização de escolhas tem-se tornado cada vez mais problemático;
mesmo com as melhorias introduzidas nos últimos anos no sistema de
informação e orientação escolar e profissional, ao nível da escola e noutros
locais, é muito difícil para os alunos e respectivos pais conseguirem interpretar o
impacto das mudanças ao nível das formações e do mercado de trabalho em
termos de opções de formação e de carreira. Não se deve aqui ignorar que, por
vezes, são os próprios orientadores a desconhecer esse mesmo impacto, fazendo
assentar o processo de orientação unicamente na análise (ou “descoberta”) de
características psicológicas do aluno (interesses, capacidades, motivações) e no
respectivo ajustamento “características pessoais – formação/carreira”,
menosprezando uma visão ecológica do processo e desvalorizando a
consideração de opções que fujam às representações que pais e alunos
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 95
inevitavelmente transportam consigo acerca do que “é melhor” ou daquilo “para
que se tem jeito”;
− em segundo lugar, apesar de todas as campanhas que têm sido feitas para tornar
possível uma tomada de decisão mais bem informada, o padrão global de
escolha de carreiras continua a reflectir atitudes tradicionais; muito por causa do
que foi anteriormente referido, a maior parte dos jovens e seus pais continua a
estar interessada essencialmente em determinadas vias de estudos (de tradição
social mais prestigiada) e num número bastante limitado de empregos, alguns
dos quais podem perfeitamente desaparecer num futuro próximo, pelo que não
surpreende que muitos dos que escolhem carreiras mais populares - e a que
correspondem geralmente os chamados “empregos limpos” - acabem
desempregados ou a trabalhar noutras áreas. Como os números bem
demonstram, as consequências para os que seguem formações nas áreas das
Humanidade e das Ciências Sociais começam a ser bastante sérias,
comprometendo indefinidamente as perspectivas de um acesso estável ao
mundo profissional;
− em terceiro lugar, o processo de transição para a vida adulta tornou-se mais
longo, isto é, voluntária ou involuntariamente os jovens ficam mais tempo no
sistema de ensino e formação, significando isto que as escolas e o processo de
orientação têm de compensar a falta de familiarização dos jovens com o mundo
profissional, com as suas regras e convenções, bem como lidar adequadamente
com as expectativas dos alunos face a ele. Observe-se, porém, que também aqui
a experiência dos últimos anos em Portugal tem demonstrado que a permanência
mais longa no sistema de ensino e formação não aumenta, por si mesma, a
capacidade de obtenção de emprego, nem se revela capaz de eliminar a
instabilidade profissional que afecta tantos jovens na primeira fase da sua
carreira, levando-os frequentemente a ter que depender financeiramente das suas
famílias e a verem adiada a sua conquista plena de autonomia, condição
essencial para se fazer parte efectiva do mundo dos adultos.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 96
Em suma, a orientação tem de deixar de ser apenas um acto de informação e
aconselhamento por profissionais de orientação para passar a ser um processo catalisador
do desenvolvimento de perspectivas sobre a vida activa e de adulto e à tomada de
decisões sobre formação e carreiras. Isto não é compatível com uma visão da orientação
que tenta sobretudo garantir que os alunos sejam convenientemente dirigidos para a fase
seguinte do seu percurso educativo/formativo, pelo que é fundamental:
− que a orientação se torne parte do currículo pedagógico, integrando-a dentro
do percurso escolar já existente e que o aluno tem de efectuar, nomeadamente,
durante o tempo da escolaridade obrigatória,
− que comece cedo na vida do aluno, dando-lhe oportunidade para criar acerca
de si próprio uma maturidade vocacional adequada à realização consciente de
escolhas.
Estes desenvolvimentos potencializam um série de desafios para a orientação:
− a necessidade de que seja efectivamente um processo, de natureza contínua, não
se limitando à mera realização de umas quantas “sessões de orientação” na
passagem do 9º para o 10º ano de escolaridade,
− a sua inserção como parte do todo o processo de escolaridade, contribuindo para
o desenvolvimento pessoal e social do aluno, na medida em que promove a sua
socialização e a sua aproximação às realidades do mundo adulto,
− o seu valor potencial como apoio ao desenvolvimento curricular, ajudando à
identificação de necessidades de formação e contribuindo para a formatação de
respostas adequadas a essas necessidades,
− a utilização de “práticas de trabalho” e de outras formas de aprendizagem activa
como parte das actividades de orientação,
− a necessidade de valorização do papel dos profissionais de orientação para o
desenvolvimento de um processo de orientação eficaz, fazendo-a acompanhar
por iniciativas de formação permanente desses profissionais,
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 97
− o desenvolvimento da cooperação formal e informal entre escolas de diferentes
níveis de ensino/formação, a comunidade, as actividades produtivas e as
instâncias administrativas a nível local e regional.
Uma análise transversal dos modelos tradicionais de abordagem do processo de
orientação a nível de escola15 permite-nos visualizar cinco diferentes formas de conceber
e implementar a orientação ao nível da escola:
− a orientação como INFORMAÇÃO: distribuição aos alunos, de forma aleatória
ou sistemática, de material informativo sobre cursos e profissões, fornecido por
escolas e universidade, pelos serviços oficiais, por empresas, etc.;
− a orientação como EDUCAÇÃO PARA A CARREIRA: realização de palestras
e outras sessões formais ministradas por técnicos de orientação, profissionais e
especialistas externos à escola, sobre a realização de escolhas e as oportunidades
ao dispor dos alunos;
− a orientação como ACONSELHAMENTO: recolha de informações pessoais
dirigida por um técnico e relacionamento dessas informações com a estrutura de
oportunidades escolares e profissionais disponíveis;
− a orientação como AJUDA: através de uma abordagem essencialmente não
directiva, centrada no aluno, procurando ajudá-lo a conhecer-se melhor e a
tomar as suas próprias decisões vocacionais;
− a orientação como INTEGRAÇÃO: pressupõe que a orientação faz parte do
currículo e que, como componente específica do currículo ou através das
disciplinas, contribui para o desenvolvimento vocacional, pessoal e social dos
alunos.
Em Portugal, ao nível das escolas onde funciona o 3º ciclo do ensino básico e onde se
proporcionam actividades intencionais e sistemáticas de orientação aos alunos que
15 Watts, AG (1987). Serviços de orientação escolar e profissional para o grupo etário dos 14 aos 25 anos na Comunidade Europeia. Bruxelas: Comissão Europeia.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 98
frequentam o 9º ano de escolaridade (muito embora a frequência dessas actividades
pelos alunos seja facultativa), a via preferencialmente adoptada pelos profissionais de
orientação (psicólogos, na sua grande maioria) é um misto de “orientação como
aconselhamento” e de “orientação como ajuda”, sendo muito variáveis de escola para
escola todos os aspectos práticos ligados ao desenrolar dessas actividades.
Convém aqui recordar que os Serviços de Psicologia e Orientação existentes em escolas
com 3º ciclo são estruturas de alguma forma “isoladas” do exterior, que funcionam de
modo completamente independente da oferta educativa e profissional do meio onde as
escolas se situam. Isto faz com que o profissional de orientação não estabeleça, em regra,
qualquer tipo de ligação com as instituições exteriores à escola, focalizando o trabalho
de orientação na figura do aluno (estudo de características psicológicas), da respectiva
família (análise de expectativas) e das carreiras mais consentâneas com tais
características e expectativas, obedecendo ainda, muitas vezes, ao “interesse” da escola
secundária onde trabalha, por forma a viabilizar a manutenção ou a criação de uma
determinada opção educativa.
Muitos dos conhecimentos, competências e atitudes de que os profissionais de orientação
(e, eventualmente, os professores) necessitam para fazer face às suas novas
responsabilidades no domínio da orientação não podem ser ensinados/adquiridos durante
a formação académica ou mesmo através de palestras e seminários. Para fazer face às
carências de formação neste domínio, profissionais de orientação e professores
necessitam de conhecer e de contactar “na prática” com escolas profissionais, centros de
emprego e outras estruturas de formação profissional, empresas, serviços e instituições
regionais e locais, enfim, com todos os recursos de formação e emprego que poderão vir
a ser úteis para a implementação de actividades de orientação escolar e profissional junto
dos alunos que se encontram na fase terminal do ensino básico.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 99
O papel da escola e dos profissionais de orientação durante o ensino de cariz
profissionalizante
De uma forma global, o papel da orientação quando o aluno se encontra já inserido numa
via de ensino de cariz profissionalizante deverá ser o de contribuir para o
desenvolvimento de uma “educação para o trabalho”. Esta “educação para o trabalho”
comporta uma vasta gama de objectivos, que tanto podem ser mais genéricos, no sentido
do desenvolvimento daquilo que habitualmente se designa por “competências de
empregabilidade” (iniciativa, criatividade, trabalho em equipa, etc.), como mais
específicos, por exemplo, a promoção de competências de gestão da carreira profissional
(preparando os jovens quer para a procura e manutenção do emprego, quer para lidar
com as fases de desemprego) ou a promoção de competências específicas de criação da
própria empresa.
Em países onde a “educação para o trabalho” é já, desde há muito, incluída no currículo
escolar de formação dos alunos do ensino secundário (quer frequentem ou não vias de
formação profissionalizante)16, os modos de o fazer passam essencialmente pelas
seguintes estratégias:
− existência de um módulo de frequência obrigatória de introdução ao mundo do
trabalho e de informação sobre carreiras pós-formação inicial;
− incorporação de unidades/módulos flexíveis de orientação no currículo
(cobrindo o desenvolvimento de um perfil pessoal e o conhecimento do mundo
do trabalho);
− realização de um curso autónomo de orientação (para melhor compreensão dos
diversos tipos de “trabalho” e da vertente psicossocial do trabalho, incluindo por
vezes experiências de contacto com a vida profissional).
16 Cf. IFAPLAN (1987). A orientação e a escola. Bruxelas: IFAPLAN.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 100
Nos últimos anos, uma nova perspectiva de acção neste domínio tem sido concretizada
com bastante sucesso: trata-se do uso da “prática de trabalho” como apoio à orientação,
tendo por objectivo servir de complemento às funções tradicionais de promoção de
competências de empregabilidade e oferecendo aos alunos a possibilidade de
desenvolverem as suas próprias ideias e de testarem as suas capacidades relativamente à
vida profissional. Não se trata aqui de um “estágio” enquanto oportunidade de
aperfeiçoamento profissional mas, antes, de uma “prática” com uma função mais
específica, dando ao jovem aluno a possibilidade de experimentar vários ambientes de
trabalho dentro de uma determinada área de formação.
Finalmente, para que a orientação possa exceder largamente o fornecimento de
informações e se torne parte integrante da formação dos alunos que frequentam vias de
ensino de cariz profissionalizante, é necessário que, na prática, a orientação escolar e
profissional seja parte integrante do currículo de formação dessas vias de formação,
podendo adoptar-se uma de duas medidas:
− introdução da orientação como um módulo separado,
− introdução de dimensões de orientação em módulos já existentes.
Apesar desta segunda possibilidade parecer mais atraente, corre-se o risco de propiciar
um certo clima de dispersão e indefinição, sendo por isso preferível que a orientação
ocupe um lugar claramente definido e identificado no currículo do ensino de cariz
profissionalizante. Cada escola deverá, depois, conceber processos e abordagens
utilizados para implementar a orientação, o que passará também pela identificação do(s)
profissional(is) que considera mais adequado(s) para dirigir esse processo.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 101
V PARTE
BALANÇO GERAL E PRINCIPAIS LINHAS DE ORIENTAÇÃO
ESTRATÉGICA PARA O FUTURO DO ENSINO E FORMAÇÃO
TECNOLÓGICA E PROFISSIONAL.
Para concluir este estudo procedemos, em primeiro lugar, a um balanço geral e sintético
acerca do caminho percorrido nos últimos anos, dividido em três partes: os principais
ganhos alcançados, os principais problemas a que importa fazer face e solucionar e
alguns desafios genéricos – interrogações, dilemas, reptos – que temos diante de nós,
como portugueses.
Este capítulo reúne também um conjunto de linhas de orientação que, no nosso entender
e com base no estudo efectuado, podem constituir um trampolim para melhorar a
qualidade e a eficiência das ofertas tecnológicas e profissionais no nível secundário,
tendo em vista proporcionar aos jovens do nosso país um conjunto de alternativas de
formação e desenvolvimento que sejam ocasiões de crescimento pessoal, de
enriquecimento humano, de construção de um portfólio de competências culturais,
científicas e técnicas e de obtenção de cursos e diplomas reconhecidos e valorizados pela
sociedade portuguesa e, em particular, pelo mercado de trabalho.
Não pretendemos ser exaustivos nem demasiado pormenorizados. Trata-se, aqui, tão-só
de registar as linhas de orientação mais adequadas para se empreender uma urgente
mudança de rumo nas políticas de educação e formação inicial por que tantos
adolescentes e jovens anseiam e que tanto podem beneficiar a sua realização humana, a
melhoria da qualidade de vida do nosso quotidiano e a produtividade das empresas
portuguesas.
Adopta-se um discurso programático, uma vez que os enunciados enquadradores estão
realizados nos capítulos anteriores.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 102
Um balanço genérico
Quanto ao balanço geral e no que se relaciona com os principais ganhos, podemos
enunciar os seguintes:
− a taxa de escolarização do grupo etário 15-17 anos tem continuado a crescer,
reflectindo um acréscimo contínuo da procura social, com incidência nos 16 e
17 anos. Embora persistam enormes disparidades regionais e sociais, a
democratização do acesso ao nível secundário é uma realidade em construção:
entre 1985 e 1995 duplicaram as taxas de escolarização deste grupo etário;
− a diversificação de percursos de ensino e formação após o 9º ano veio facilitar e
promover este processo de democratização, visível sobretudo na criação das
escolas profissionais e da formação em alternância;
− um em cada três jovens que frequenta o nível secundário realiza uma formação
tecnológica e profissional, o que, parece corresponder a uma crescente procura
por parte dos jovens e das suas famílias;
− existe uma rede de oferta educativa de nível secundário muito vasta e distribuída
por todo o país (embora com evidentes fragilidades em vários dezenas de
concelhos, como vimos), composta por escolas secundárias, escolas básicas com
ensino secundário, escolas profissionais, escolas artísticas, centros de formação
profissional e centros de formação de empresas. Ou seja, a capacidade instalada
é boa e encontra-se capacitada, embora diversamente, para acolher um aumento
da procura;
− os níveis de empregabilidade dos jovens técnicos diplomados neste nível de
formação são razoáveis, com destaque para os que são oriundos dos cursos de
formação em alternância e das escolas profissionais. Persiste, no entanto, no
mercado de trabalho, um assinalável desconhecimento acerca do que são os
técnicos intermédios de nível III, sobretudo nos grandes centros populacionais.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 103
Entre os principais problemas que subsistem podemos enunciar:
− a elevada selectividade (baseada no encaminhamento de perto de 70% dos
jovens para cursos cujas propostas formativas pouco ou nada dizem a muitos
deles) que é operada no nível secundário acaba por destruir grande parte das
suas potencialidades sociais: a maioria dos jovens não conclui os seus cursos, os
abandonos são muito elevados, os níveis de insucesso são preocupantes. Este
quadro aplica-se mais aos cursos tecnológicos e aos cursos gerais do que às vias
restantes;
− a eficiência das escolas secundárias é reduzida, acarretando descontentamento e
frustração entre muitos professores, alunos e suas famílias, além de constituir
uma fonte de desperdício dos recursos públicos;
− as escolas manifestam a existência de muita desorientação entre os jovens que,
já depois de estarem a frequentar o nível secundário, revelam que se
equivocaram, que se encontram perdidos, que não sabem por onde e para onde
prosseguir a sua formação;
− é ainda muito precária a articulação entre o 3º ciclo do ensino básico e o ensino
secundário, o que não deixa também de explicar o forte abandono que se regista
no 10º ano de escolaridade;
− existe um claro insucesso dos cursos tecnológicos, seja por inadequação do seu
projecto educativo ao seu público-alvo seja por inadequação das escolas que os
promovem às características próprias dos cursos, seja por ausência de
informação e de orientação dos jovens que os frequentam;
− permanece um clima de desarticulação e até de concorrência entre as cinco vias
de prosseguimento da formação dos jovens, após o 9º ano. A rede não é pensada
em função dos jovens do 9º ano, da melhor acessibilidade de todos e de cada um
aos cursos que desejam frequentar, da sua melhor formação humana. Há jovens
privilegiados, sobretudo em Lisboa e no Porto, e jovens desprotegidos e,
efectivamente, incapacitados de prosseguir a formação que mais desejam e que
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 104
mais lhes convém. Por outro lado, existem sobreposições inconcebíveis na
oferta e lacunas inexplicáveis , em grande parte derivadas da justaposição
descoordenada de recursos públicos;
− permanece a difícil legibilidade social, por parte dos jovens e das suas famílias.
A oferta é multi-institucional e multipolar, repetem-se títulos e diplomas, não há
um projecto social definido para o nível secundário e mais especificamente, para
a formação de técnicos de nível III.
Diante deste quadro levantam-se várias interrogações pertinentes:
− queremos ou não universalizar o acesso dos jovens portugueses ao nível
secundário? Qual a via privilegiada para o fazer: pela via do decreto da
obrigatoriedade formal da sua frequência ou pela via da criação de um nível
secundário mais plural e aberto, muito atractivo e apto realmente a receber todos
os portugueses entre os 15 e os 17 anos? As escolas e centros de formação deste
nível devem ser modos de aprisionamento dos jovens ou modos de realização,
em alternativa ao trabalho?
− queremos dignificar todas as vias para realizar o nível secundário ou
continuamos a preferir a via “cursos gerais”, dando a todas as outras um estatuto
de menoridade e desprestígio? Como é que as vias de ETP podem deixar de ser
consideradas para os pobres, os insucedidos, os “jovens em risco”? Estaremos
disponíveis, em termos de concertação social, para lançar um verdadeiro
programa prioritário de inserção sócio-profissional dos “T3”, técnicos
intermédios de nível III?
− porque é que se mantém uma rigidez tão forte entre escolas e modalidades de
formação? Porque é que os cursos tecnológicos são para as escolas secundárias,
os cursos profissionais um exclusivo das escolas profissionais e os cursos de
formação em alternância para os centros de formação do IEFP e para as
empresas? Em que é que estes exclusivos servem os jovens portugueses? Não
servirão sobretudo os funcionários que neles trabalham?
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 105
− como vamos poder estancar os elevados índices de reprovação e de abandono
sem alterar a envolvente do ensino-aprendizagem, ultrapassando as meras
“revisões” que se vão introduzindo nos planos de estudo?
− a orientação escolar e profissional está a perder qualidade e dignidade num
momento em que a formação dos adolescentes e dos jovens precisa dela como
trave mestra do seu desenvolvimento, porque base para as suas escolhas
fundamentadas. Que medidas se deverão tomar?
− os níveis de eficiência e de eficácia nas escolas secundárias, altamente
preocupantes, não apelam para novos modelos de gestão, mais profissional, para
novos climas de trabalho nas escolas e para a celebração de contratos de
desenvolvimento e melhoria, entre o ME e as escolas secundárias?
Continuaremos a assistir passivamente à degradação da eficiência e do
rendimento escolar?
− os empregadores têm uma palavra central a pronunciar na procura dos
diplomados de nível III, mas será que vão permanecer fora da concepção da
oferta de formação ? Será que uma boa parte dos empregadores vai continuar a
ignorar a actual oferta e a preferir adoptar estratégias de recrutamento que
valorizam as baixas qualificações e atraem o abandono escolar precoce?
Algumas linhas de orientação estratégica Aqui chegados, registamos algumas linhas de orientação estratégica, tanto no plano geral
como no que se refere a cada uma das vias de ensino e formação aqui consideradas.
Definir os tempos e os modos da universalização do acesso da população jovem ao
nível secundário. Esta é uma prioridade central. Sem um rumo, para quê caminhar ? Sem
um projecto social claro em torno da oferta educativa do país para o nível secundário,
como e por onde escolher ?
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Sem modalidades e vias igualmente dignificadas, como e porquê esperar escolhas de
modalidades e cursos fechados em guetos e que não têm qualquer dignidade ou
prestígio?
Decretar a escolaridade obrigatória até ao 12º ano, ou seja, a frequência compulsiva do
nível secundário, talvez seja a mais fácil e a mais frágil das soluções.
A questão está em definir os tempos e os modos da universalização do acesso ao nível
secundário de ensino e formação. De encontros e debates, de diagnósticos e ideias, já
teremos o bastante. Falta definir um novo rumo, a curto e médio prazo, e implicar toda a
sociedade portuguesa na sua construção. O desafio é imenso, a sua construção é urgente,
o seu alcance requer uma participação alargada. O maior risco é o de deixarmos
ensimesmar no Ministério da Educação este desafio e fechar as escolas e os centros de
formação sobre si próprios.
Há segmentos pobres da população portuguesa que têm o mesmo direito que quaisquer
outros ao acesso e ao sucesso no nível secundário. Este também tem de ser atractivo e
acolhedor das suas expectativas, sem perder nunca a qualidade e o rigor, mas
fomentando diferentes modos de desenvolvimento humano e de excelência escolar.
Definir, com rigor e igual dignidade normativa, as cinco modalidades de educação que
cada adolescente português pode seguir, após conveniente informação e orientação com
o apoio decisional da sua família, após a conclusão do 3º ciclo do ensino básico (e
eventual futuro 1º ciclo do ensino secundário).
As vias são:
a) Cursos gerais ou científico - humanistas;
b) Cursos tecnológicos;
c) Cursos profissionais;
d) Cursos de ensino artístico especializado;
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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e) Cursos de formação em alternância
Consegue-se, assim, a diversificação do nível secundário. Mas enquanto não houver uma
coordenação única e eficaz entre ensino tecnológico e formação profissional inicial,
dificilmente estas vias estarão, em primeiro lugar, ao serviço dos jovens.
Importa acrescentar que outras vias e percursos poderão surgir, de iniciativa do Estado
ou da sociedade civil (ex. escolas de produção, programas formação-emprego, etc.), o
que deve ser acolhido e analisado, dentro de um espírito de liberdade de iniciativa e de
responsabilidade social.
Impõe-se, também, que se esbatam fortes disparidades regionais na oferta. Como vimos,
há jovens e famílias portuguesas que não têm qualquer possibilidade de aceder às
formações que mais desejam neste nível educativo. Simultaneamente, a concretização
desta diversidade deve ser de tal modo monitorizada e avaliada que seja possível, a cada
momento, evitar que a diversidade de vias se transforme em estigmatização social de
algumas dessas vias e na criação de canais de condenação ao insucesso. O não
endeusamento das modalidades de “prosseguimento de estudos” e a dignificação dos
outros percursos requer uma muito particular atenção da orientação política do Governo
e do Ministério da Educação e muito trabalho, persistente e continuado, anos a fio.
É crucial prosseguir o processo de credibilização social das formações tecnológicas e
profissionais. Este processo teve um forte ímpeto entre 1989 e 1994, com a criação das
escolas profissionais e com o lançamento dos cursos tecnológicos, momento em que a
frequência destes percursos atingiu mais de 30% do total da frequência do nível
secundário de ensino e de formação. No entanto, após 1994/95, verificou-se uma clara
estagnação e um retrocesso nesta dinâmica.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Por um lado, os problemas detectados aquando da generalização dos cursos tecnológicos
(1995/96) não foram corrigidos, nem na época em que foram elencados, nem nos anos
que se seguiram, até 2002.
Por outro lado, foi imposto um crescimento zero às escolas profissionais, desde 1994, e
houve um inequívoco desinvestimento político neste segmento da oferta pública de
educação. Esta desaceleração de um investimento que apenas dava os seus primeiros
passos estruturados, após trinta anos de desinvestimento, constituiu, mais uma vez, um
factor assinalável de descrédito das formações tecnológicas e profissionais.
Impõe-se, por isso, um novo esforço de credibilização deste tipo de formação, tanto junto
das famílias e dos jovens, como junto dos empregadores. Esta credibilização não pode,
todavia, basear-se na retórica, como é habitual. É importante que o discurso político
valorize séria e persistentemente estas formações, mas é igualmente imprescindível que a
credibilidade advenha sobretudo de uma valorização real e prática de toda a sociedade
portuguesa, em todos os municípios e nas empresas. Tal propósito deve traduzir-se na
criação de uma oferta de muita qualidade, com um forte apoio político, técnico e
financeiro, e com um efectivo controlo local e nacional.
Os empregadores podem desempenhar, aqui, um papel decisivo. Não se deveriam
continuar a contentar com o anúncio esporádico e inconsequente, de que “não há técnicos
intermédios no país”, antes se espera deles um forte apoio às iniciativas concretas e
locais, às escolas e aos seus responsáveis, aos cursos e aos seus diplomados. Esta é a
melhor valorização social que as escolas e os jovens podem esperar, o reconhecimento e
a valorização no e pelo mercado de trabalho.
Tornar socialmente muito mais legível o que é e para que serve o nível secundário de
ensino e formação. É preciso desocultar este nível de ensino e formação, sobretudo as
suas modalidades tecnológicas e profissionais, porque, além de tudo o mais, em nada nos
envergonham.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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A legibilidade dos percursos importa antes de mais às famílias e, logo de seguida, aos
empregadores. O grau de boa leitura do que se passa, diferentemente do que muitas vezes
se afirma, depende mais de quem oferece e como oferece a formação, do que de quem
procura, tanto essa formação como os seus diplomados.
Neste sentido, é muito importante tornar claro e perceptível a todos a oferta de formação
existente: a sua coerência dentro do sistema educativo, o tipo de cursos e diplomados
criados e suas articulações a montante e a jusante (já que não deve haver qualquer oferta
que não favoreça fileiras sequenciais individuais) e a própria designação de cada curso,
que deve ajudar os jovens e os empregadores a construir uma imagem correcta acerca da
sua utilidade social.
Concretizemos: os empresários portugueses, em geral, individualmente e através das
suas associações empresariais, só muito raramente sabem o que se passa no que respeita
às formações tecnológicas e profissionais. Este desconhecimento, que chega a atingir
características de escandalosa ignorância, deve-se antes de mais à (in)acção da
administração educacional. O sistema trabalha para dentro, não coloca no centro da sua
acção a eficácia social do que empreende, a inserção sócio-profissional dos jovens e o
envolvimento dos empresários e das associações empresariais.
Melhorar drasticamente a orientação escolar e profissional no 3º ciclo do ensino
básico, entre o 7º e o 9º anos, particularmente neste último. Por um lado, é preciso
informar e esclarecer bem o significado do conjunto dos percursos de ensino e formação
após o 9º ano. Na realidade, tal informação e tal esclarecimento estão longe de se
realizarem convenientemente. Muitos psicólogos e conselheiros de orientação há que não
conhecem as várias modalidades, que não as apresentam nem valorizam igualmente e
que enviesam, por essa via, as escolhas dos adolescentes e dos jovens.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Por outro, será necessário admitir que a incerteza e a imprevisibilidade que hoje rodeiam
estas escolhas as transformam em momentos de difícil superação por parte dos jovens.
Introduzir um novo tipo de flexibilidade na oferta de formação tecnológica e
profissional no nível secundário.
Até ao momento presente, a comunicação entre cursos tecnológicos, cursos profissionais
e cursos de formação em alternância é escassa ou nula. A desarticulação é medonha, a
concorrência entre modalidades existe, e as sobreposições entre ofertas chegam a ser, em
certos casos, escandalosas.
É urgente destruir esta concorrência e estes guetos sob o princípio do melhor serviço
público a prestar à população, e em particular aos jovens que terminam o 9º ano e suas
famílas. Várias são as vias para o vir a concretizar. Enunciamos apenas duas delas:
a) É possível acabar com a colagem total que se tem vindo a fazer até hoje entre
modalidades e instituições educativas Assim, só se oferecem cursos
tecnológicos em escolas secundárias, cursos profissionais em escolas
profissionais e cursos de formação em alternância em centros de formação
profissional e em empresas (e outras instituições autónomas, onde por vezes se
encontram escolas). Seguindo o exemplo do que já ocorre, embora muito
parcialmente, com os cursos de formação em alternância, qualquer modalidade
de ensino e formação deveria ser oferecida em instituições educativas de nível
secundário, desde que para tal devidamente vocacionadas e apetrechadas (como
veremos adiante). As escolas secundárias, as escolas profissionais e os centros
de formação profissional da rede já instalada (que atinge perto de mil unidades)
deveriam habilitar-se a alargar a sua oferta profissional, criando novas
oportunidades aos jovens dos seus concelhos;
b) A articulação entre os três tipos de instituições e de modalidades deveria
traduzir-se também na possibilidade dos jovens frequentarem parte dos seus
cursos em ambientes institucionais diferentes e / ou fazer os seus cursos
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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centrados num tipo de instituição, mas com o envolvimento de
docentes/formadores oriundos de diferentes tipos de escolas e centros de
formação que oferecem igualmente cursos nível III.
A orientação política global para o nível secundário de ensino e formação deve prever a
possibilidade de cada jovem poder transitar de uma para outra das modalidades referidas,
com o mínimo de “penalizações” no percurso formativo.
Melhorar drasticamente a eficiência das formações tecnológicas e profissionais. Os
níveis de ineficácia e ineficiência e de desperdício de energias humanas e de recursos
financeiros que lhes estão associados são, na actualidade e como vimos, escandalosos,
sobretudo nos cursos tecnológicos. Não se pretende instituir, importa deixá-lo claro,
qualquer clima de facilidade ou de menor exigência e rigor.
Estas escolas, como dissemos, têm de ser ambientes de trabalho, de muito trabalho, se
queremos obter níveis de eficiência e de rendimento escolar mais elevados. Esta
melhoria requer a implicação de todos, dos dirigentes das escolas, dos seus professores e
formadores, dos alunos e das suas famílias, do pessoal de apoio técnico e administrativo.
Mas requer, antes de mais, soluções educativas adequadas à diversidade de públicos que
procuram as diferentes modalidades, ou seja, planos de estudos, conteúdos e
metodologias, modelos de ensino e aprendizagem, práticas de avaliação e de certificação,
que sirvam o trabalho dedicado e o compromisso de todos, que não deixem ninguém para
trás, que fomentem em cada aluno e em cada professor / formador o gosto por aprender e
ensinar, a disponibilidade para o esforço, para a progressão, para a entre-ajuda em
equipa, para disfrutar a alegria do saber alcançado.
Importaria prevenir, em eventuais programas de melhoria da eficiência e do rendimento
escolar, quaisquer derivas de promoção ou de retenção administrativa dos alunos,
mormente aqueles que possam ser alimentados por modelos de financiamento “per
capita” ou dispositivos semelhantes.
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Professores e jovens estão disponíveis e gostam que as suas instituições educativas sejam
ambientes ricos de esforço, trabalho, descoberta, enriquecimento. Precisam é de um
quadro referencial que o viabilize, dirigentes à altura, formação adequada e condições de
trabalho que o fomentem.
Aumentar a oferta e procura das formações técnicas e profissionais nos próximos
anos. Este aumento deve ser gradual, mas poderia instituir-se uma meta: atingir os 50%
da frequência do nível secundário através das três modalidades aqui consideradas (cursos
tecnológicos e cursos de formação em alternância) e do ensino artístico especializado.
Esta meta poderia ser alcançada em 5 anos, o que implica um aumento médio, por ano,
de cerca de 3,4% da frequência, ou seja, de perto de 10.000 jovens.
“50% em 5 anos”, seria o slogan. Tal meta é susceptível de ser alcançada se
considerarmos os seguintes factores:
− há uma procura não satisfeita, nas escolas profissionais, que ascende a cerca de
8.000 jovens/ano e que está em crescimento;
− é possível acolher mais jovens nos cursos tecnológicos, se estes forem revistos
como projecto educativo, se passarem a ser oferecidos apenas em escolas que os
dignifiquem e valorizem, não só retoricamente mas sobretudo pelas condições
de dignidade que se lhes confere quotidianamente;
− os cursos de formação em alternância poderão ser oferecidos em maior número,
sobretudo em certos locais do país, em novos tipos de instituições educativas;
− todos os estudos consultados e os inquéritos realizados junto dos empregadores
são unânimes na conclusão de que as maiores carências de pessoal qualificado
continuam a situar-se, hoje, nos técnicos intermédios.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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PRIORIDADE AOS T3
Por vezes o melhor modo de fazer vingar um programa de acção, quando as suas
virtualidades ainda são conhecidas por poucos, é traduzir de modo facilmente apreensível
os seus principais objectivos. No caso da formação dos técnicos intermédios, propomos
que seja lançada uma vasta campanha junto das empresas intitulada “Prioridade aos T3”.
Ou seja, seriam criados dispositivos de informação e formação, bem como incentivos
junto das empresas, tendo em vista informar, suscitar a procura e incitar o recrutamento
de jovens técnicos intermédios (de nível III) pelas empresas e demais organizações
empregadoras.
Persiste hoje, vinte anos volvidos sobre a primeira tentativa de “relançar o ensino
técnico” e treze anos depois da criação de um novo sistema de qualificação de jovens
técnicos intermédios, um grande desconhecimento acerca da sua existência e das suas
virtualidades. É essa falha que importa colmatar, no exacto momento em que se coloca a
hipótese de “descongelar” as admissões e de deixar aumentar o caudal de jovens e
famílias que procuram estas formações.
Investir na formação de uma elite dirigente deste tipo de formação e deste tipo de
instituições. Este é um passo importante para virmos a criar nestas instituições culturas
apropriadas à sua natureza e às suas finalidades próprias.
Este investimento passa por desenvolver não só programas de formação pós-graduada
(ex. directores profissionalizados de escolas profissionais) como também programas de
formação em exercício (círculos de estudos, redes de projectos de formação-acção, etc.)
capazes de representarem oportunidades de melhoria progressiva do desempenho e de
correcção just-in-time de trajectórias erradas.
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Rever e reordenar as quatro modalidades profissionalizantes
1. Cursos tecnológicos
Impõe-se, há muito, uma decidida mudança. Ela pode passar, dentro do quadro geral já
traçado para o nível secundário, por:
− rever drasticamente a rede, reduzindo a oferta às escolas secundárias que
realmente desenvolvam projectos educativos em que os cursos tecnológicos
constituem alternativas dignificantes de formação, com uma cultura profissional
evidente e uma ligação estreita ao tecido socio-económico local;
− esta revisão implicará, por um lado, um abandono da oferta de cursos
tecnológicos, mas por outro, um acréscimo da sua oferta em escolas que
valorizam e dignificam os jovens que os frequentam e que por via da sua
frequência obtêm um diploma técnico;
− rever o plano de estudos, consagrando uma maior possibilidade de
desenvolvimento de uma melhor preparação técnico-profissional, sempre que
possível apoiada no desenvolvimento de projectos tecnológicos concretos, a
testar e defender perante júris externos, compostos por profissionais da área,
uma maior ligação ao contexto socio-económico local, através de visitas de
estudo a empresas, realização de estágios curtos, organização de sessões de
trabalho com profissionais e com empresários e a realização dos habituais
estágios profissionais, como termo da formação;
− cada escola secundária que ofereça cursos tecnológicos deve criar uma
coordenação específica para esta oferta, através da afectação de um docente da
área. Este docente seria responsabilizado por: liderar o projecto de formação
tecnológica e profissional, coordenar a equipa de docentes e contratar
formadores externos, estabelecer articulações permanentes com as outras
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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escolas tecnológicas e profissionais, com as empresas e o mercado de trabalho,
elaborar um relatório anual de actividades, a ser divulgado junto das empresas e
dos empregadores locais;
− nas escolas secundárias que queiram e estejam aptas a apostar no ensino
tecnológico deverá ser viável a oferta, em complementaridade, de cursos
profissionais e de cursos de formação em alternância, desde que, caso a caso,
seja criado um quadro que o viabilize (cultura profissional, dignificação das
modalidades formativas, docentes e formadores, equipamentos e instalações).
Importa, no entanto, salientar que não se deve esperar milagres da adopção do modelo
“escola profissional” dentro de uma escola secundária, se esta não adoptar uma nova
dinâmica institucional e não construir uma textura organizacional que permita que os
cursos profissionais singrem em toda a sua originalidade e pujança. Não é a oferta de
mais uma modalidade de formação que cria “culturas profissionais” em instituições
escolares que nunca a desenvolveram, embora possam contribuir , a posteriori, para
aprofundar esta cultura organizacional. Não se trata, pois de adoptar um outro, mais um,
plano de estudos. Haveria que evitar, por isso, tanto em cursos profissionais como nos
cursos de formação em alternância, os “transplantes anacrónicos” de modalidades, de
escola para escola, sem cuidar de mudar o contexto, o quadro de referência, o projecto
educativo, o modelo organizacional, as normas instituídas e os recursos, para que estas
outras modalidades possam obter o sucesso esperado.
Finalmente, a coordenação de todas estas modalidades formativas por parte do
Ministério da Educação pode facilitar uma transição gradual, lenta e avaliada caso a
caso, instituição a instituição, oferta a oferta, concelho a concelho e até em contextos
intra-concelhios.
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2. Cursos profissionais
Na década de noventa, apesar das vicissitudes por que passou, afirmou-se a modalidade
alternativa de ensino profissional, promovida em escolas específicas, para tal criadas, em
1989.
A sua afirmação e apreciação positiva, como vimos, deve-se ao seu modelo pedagógico,
que se revelou adequado à população que frequenta este tipo de formação (sistema
modular de progressão, escolas de pequena dimensão, etc), à sua iniciativa local e à sua
gestão autónoma e, em grande parte, privada, contratualizada com o Estado, ao facto de
as escolas profissionais terem sido criadas separadamente das escolas secundárias, com
outra matriz de concepção e de funcionamento, às elevadas taxas de empregabilidade dos
seus diplomados e ao facto de serem procuradas por um número crescente de jovens,
muito superior à sua capacidade de acolhimento.
No entanto, estas instituições e esta modalidade formativa carecem de melhorias e de um
reposicionamento estratégico no nível secundário. É no sentido de contribuir para esta
definição que se alinham os seguintes pontos:
a) as escolas profissionais não devem continuar a promover exclusivamente cursos
profissionais, podendo abrir a sua oferta à formação em alternância e aos cursos de
especialização tecnológica, neste caso em cooperação com instituições de ensino
superior. Estas escolas são, antes de mais e na sua maioria, instituições experientes e
eficientes na formação tecnológica e profissional inicial de jovens. Essa deve ser a
sua missão e não a de promover exclusivamente um tipo de cursos. Este salto
qualitativo é importante e é exigente, face às perspectivas de desenvolvimento que já
enunciámos;
b) por outro lado, é preciso criar um novo clima de confiança entre o Estado e as escolas
profissionais. O clima instalado é de desconfiança, o que em nada beneficia uma
aceleração do investimento na formação de técnicos intermédios. O facto de as
escolas profissionais serem, na sua grande maioria, não-estatais, embora prossigam
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fins públicos, tem constituído um entrave muito claro no relacionamento entre
Estado/Ministério da Educação e as escolas. Importaria esclarecer o serviço público
que estas escolas prestam e clarificar o modelo para o seu co-financiamento por parte
da comunidade nacional, através do Estado;
c) a certificação técnica pode vir a desligar-se da certificação escolar, para efeitos de
prosseguimento de estudos (diploma do ensino secundário), em condições a estudar e
desde que se assegure a formação global de cada jovem, sociocultural, científica e
técnica;
d) seria igualmente importante melhorar a articulação com as empresas e demais
organizações. As escolas profissionais deveriam contemplar períodos mais longos
(mesmo ao longo dos cursos) para a realização de estágios e experiências de trabalho,
pois este é um dos meios mais potenciadores de uma boa inserção sócio-profissional.
3. Cursos de formação em alternância
Os cursos de formação em alternância ou “cursos de aprendizagem”, como são
conhecidos vulgarmente, devido ao quadro legislativo que os criou, têm revelado um
elevado grau de adequação entre a oferta e a procura, com bons níveis de sucesso.
Apesar dos seus custos elevados, uma área a precisar de revisão, esta modalidade de
formação profissional em alternância contém muitas virtualidade que importaria
“desguetizar”. De facto, a alternância, como uma importante modalidade de formação,
deve estar acessível a todas as instituições de ensino e formação (e até outras instituições
com capacidades formativas instaladas, como empresas ou associações empresariais),
pois sabemos o quanto ela pode beneficiar a formação dos jovens. Tirar a alternância do
gueto em que foi encerrada implica ainda, para além de abertura institucional, a abertura
a novos públicos, tornando-a uma alternativa de formação de primeira oportunidade, no
termo do 9º ano.
Assim, no que respeita ao futuro desta modalidade sugerimos:
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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− a revisão do seu ordenamento jurídico, colocando-a ao lado da oferta
profissional inicial de jovens, após o 9º ano;
− a “desguetização” quer do seu enquadramento institucional quer dos seus
públicos-alvo;
− aumentar a sua oferta, nos próximos anos, em parcerias íntimas e coesas entre
instituições de formação e empresas.
4. Cursos de formação artística especializada Foi sobretudo através das escolas profissionais que cresceu a oferta e a procura dos
cursos de formação artística especializada. A música surge destacada, seguida do teatro,
da dança e das artes circenses. Os resultados destes investimentos têm sido positivos e
importaria melhorar a oferta, articulando-a melhor com a oferta das escolas secundárias
artísticas estatais. Por um lado, estas últimas poderiam crescer, por reconversão de
escolas secundárias com poucos alunos, o que ocorre sobretudo nos grandes centros. Por
outro lado, a rede de cursos de formação artística especializada poderia crescer em todos
os domínios das artes performativas, acabando com alguns guetos instalados em redor
das escolas “únicas”, seja através das escolas secundárias artísticas seja através das
escolas profissionais ou ainda através da reconfiguração de escolas já existentes e
privadas.
Há uma procura crescente destas áreas de formação e a universalização do acesso e
sucesso no nível secundário requer um salto qualitativo inadiável.
Em síntese, não estamos diante de uma situação inultrapassável, apesar de ser
efectivamente uma situação difícil aquela por que passa o nível secundário de ensino e de
formação. Dispomos de experiência, de perspectivas e de recursos. O que mais nos tem
faltado é sobretudo orientação política, é o compromisso dos dirigentes do País com um
desenvolvimento inequívoco dos ensinos tecnológico, profissional e artístico. Quando
falamos de dirigentes referimo-nos sobretudo aos políticos, aos empresários e aos
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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promotores e directores de escolas. Até quando vamos manter este clima de indefinição e
de adiamentos?
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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ANEXO
Descrição das modalidades de formação
1. Formação na modalidade “9º ano + 1”
2. Escolas secundárias e “cursos tecnológicos”
3. Escolas profissionais e “cursos profissionais”
4. Cursos de formação em alternância ou cursos de “aprendizagem” (nível III)
5. Cursos de especialização tecnológica (nível IV)
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1. Formação na modalidade “9º. ANO + 1”
A “formação 9º. ano + 1” constitui um dos tipos dos chamados “cursos de educação e
formação profissional inicial” ou, abreviadamente, “cursos de educação e formação”
previstos no Programa para a Integração dos Jovens na Vida Activa. Congruentemente
com a sua designação, visam proporcionar aos jovens, após a conclusão da escolaridade
básica e obrigatória, o 9º. ano, o acesso a 1 ano de formação profissional que garanta a
obtenção de um certificado de qualificação profissional de nível II. Os cursos foram
criados e regulamentados pelo Despacho Conjunto nº. 123/97, de 16 de Junho, dos
Ministérios da Educação e para a Qualificação e o Emprego.
O tipo de formação
A duração das formações 9º. ano + 1 é de entre 960 e 1 060 horas, com uma carga
horária semanal de 30 horas, em regime de frequência diurno Os cursos compreendem
três componentes de formação, geral (70-100 horas), sociocultural (70-100 horas) e
técnica (820-860 horas). A formação geral prossegue objectivos de reforço de
competências em língua portuguesa, matemática e língua estrangeira, numa lógica
transdisciplinar e em articulação com as componentes de formação sociocultural e de
formação técnica. A formação sociocultural visa a aproximação ao mundo do trabalho e
da empresa e a sensibilização às questões da cidadania, do ambiente, da saúde e da
higiene e segurança no trabalho. A formação técnica, teórica e prática, é especificamente
profissional e as suas exigências poderão determinar que, no mínimo, seja acrescida de
mais 120 horas, realizadas preferencialmente em contexto de trabalho real.
Os cursos podem ser oferecidos por estabelecimentos do ensino público nos quais seja
leccionado o 3º. ciclo do ensino básico e, preferencialmente, nesses onde aí se
verifiquem elevadas taxas de insucesso, desistência ou abandono escolares. Além disso,
a sua oferta deve ter em conta a existência, na escola ou na comunidade envolvente,
nomeadamente em centros de formação profissional do Instituto do Emprego e Formação
Profissional (IEFP), de recursos humanos e tecnológicos necessários à organização e
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funcionamento de formações qualificantes em áreas que compatibilizem os interesses dos
jovens destinatários dos cursos e a capacidade de acolhimento do mercado de emprego
local.
As áreas de formação e os cursos são definidos tomando em consideração, por um lado,
os interesses e as necessidades dos alunos, as disponibilidades de recursos educativos e
as características do contexto local, nomeadamente quanto a previsíveis possibilidades de
inserção profissional, e, por outro lado, os pareceres dos parceiros sociais locais,
designadamente, sempre que exequível, associações profissionais, empresariais e
sindicais. Os conteúdos específicos da formação, por seu turno, são determinados em
função dos resultados de uma avaliação diagnóstica dos potenciais de aprendizagem dos
jovens, das suas necessidades de reforço de competências e dos objectivos de uma
formação profissionalmente qualificante e certificada. Por um lado, os serviços de
psicologia e orientação das escolas devem intervir no processo de identificação dos
jovens a abranger pelos cursos e na organização destes. Por outro lado, as unidades de
inserção na vida activa (UNIVAS) devem promover iniciativas com vista à inserção
profissional dos jovens abrangidos pelos cursos.
Quem promove os cursos A proposta de desenvolvimento dos cursos e a sua organização são da competência das
escolas, no âmbito da respectiva autonomia pedagógica, mas, desejavelmente, em
articulação estreita com outros actores comunitariamente significativos, desde logo os
centros de formação profissional do IEFP. A autorização para o funcionamento dos
cursos é concedida pelo Departamento da Educação Básica (DEB), após parecer da
respectiva direcção regional de educação e, no que respeita à componente de formação
técnica, do IEFP. A cooperação entre os dois ministérios que tutelam os cursos é
reforçada pela existência de um conselho de acompanhamento, presidido pelo DEB,
onde ambos se encontram representados e que tem a faculdade de suscitar a colaboração
de representantes de associações profissionais, empresariais e sindicais.
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Acesso facilitado a outros grupos populacionais O Despacho Conjunto nº. 123/97 prevê igualmente que os objectivos prosseguidos pelas
formações 9º. ano + 1 — uma qualificação profissional certificada de nível II — possam
também ser alcançados por jovens que completem 15 anos de idade até 15 de Setembro e
que, havendo frequentado o 9º. de escolaridade, não o concluíram. Neste caso, o
desenvolvimento da formação deve ser adaptado, inclusive em termos de avaliação, de
modo a que, no seu termo, tais jovens possam obter o diploma de conclusão do 9º. ano de
escolaridade. O mesmo Despacho, porém, concede prioridade, para a frequência dos
cursos, aos jovens que já sejam titulares do 9º. ano de escolaridade.
Certamente por isso, um texto legal posterior — o Despacho Conjunto nº. 897/98, de 6
de Novembro, dos Ministérios da Educação e do Trabalho e da Solidariedade — cria um
dispositivo muito semelhante ao que acaba de ser descrito, inclusive na sua designação,
“cursos de educação e formação”, mas destinado, agora, a jovens e adultos que, havendo
frequentado o 9º. de escolaridade, não o concluíram e ainda aos que não chegaram sequer
a frequentar o 9º. ano, embora tenham completado o 2º. ciclo do ensino básico (6º. ano
de escolaridade). Os objectivos de obtenção de uma qualificação profissional certificada
de nível II e do diploma do 9º. ano de escolaridade são os mesmos, em ambos os casos,
mas a formação, com idêntica estrutura de componentes, é alongada, na formação geral e
na formação sócio-profissional, para os aprendentes que apenas possuam o 6º. ano de
escolaridade (mínimo de 400 e de 280 horas, respectivamente). Além disso, em ambos os
casos, a formação técnica é, no mínimo, de 820 horas (como nas formações 9º. ano + 1),
mas o estágio em contexto real de trabalho, com duração compreendida entre 2 e 4
meses, foi desta vez considerado obrigatório.
Enfim, enquanto os cursos de educação e formação regulados pelo Despacho Conjunto
nº. 123/97 são da iniciativa das escolas, com a colaboração dos centros de formação
profissional do IEFP, os regulados pelo Despacho Conjunto nº. 897/98 são da iniciativa
dos centros de formação profissional do IEFP, ou de outras entidades formadoras
acreditadas, com a colaboração das escolas.
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2. Escolas secundárias e “cursos tecnológicos”
O ensino secundário regular organiza-se segundo formas diferenciadas, em cursos de três
anos, contemplando a existência de cursos predominantemente orientados para a vida
activa ou para o prosseguimento de estudos, contendo todos eles componentes de
formação de sentido técnico, tecnológico e profissionalizante, e de língua e cultura
portuguesas adequadas à natureza dos diversos cursos.
Objectivos do ensino secundário Nos termos da Lei de Bases do Sistema Educativo, o ensino secundário tem os seguintes
objectivos:
− assegurar o desenvolvimento do raciocínio, da reflexão e da curiosidade
científica e o aprofundamento dos elementos fundamentais de uma cultura
humanística, artística, científica e técnica que constituam suporte cognitivo e
metodológico apropriado para o eventual prosseguimento de estudos e para a
inserção na vida activa;
− facultar aos jovens conhecimentos necessários à compreensão das manifestações
estéticas e culturais e possibilitar o aperfeiçoamento da sua expressão artística;
− fomentar a aquisição e aplicação de um saber cada vez mais aprofundado,
assente no estudo, na reflexão crítica, na observação e na experimentação;
− formar a partir da realidade concreta da vida regional e nacional, e no apreço
pelos valores permanentes da sociedade, em geral, e da cultura portuguesa, em
particular, jovens interessados na resolução dos problemas do país e
sensibilizados para os problemas da comunidade internacional;
− facultar contactos e experiências com o mundo do trabalho, fortalecendo
mecanismos de aproximação entre a escola, a vida activa e a comunidade, e
dinamizando a função inovadora e interventora da escola;
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 128
− favorecer a orientação e formação profissional dos jovens, através da preparação
técnica e tecnológica, com vista à entrada no mundo do trabalho;
− criar hábitos de trabalho, individual e em grupo, e favorecer o desenvolvimento
de atitudes de reflexão metódica de abertura de espírito, de sensibilidade e de
disponibilidade e adaptação à mudança.
Acesso ao ensino secundário O acesso de jovens ao ensino secundário está condicionado à prévia conclusão do ensino
básico e à obtenção do respectivo diploma. A idade mínima de acesso ao ensino
secundário é de 14 anos. O ensino secundário não está integrado na escolaridade
obrigatória pelo que a sua frequência é facultativa. O sistema educativo português
disponibiliza uma diversidade de ofertas formativas no âmbito do ensino secundário para
o aluno que tenha concluído o 9º ano de escolaridade e pretenda continuar os seus
estudos. Tais modalidades ocorrem quer no âmbito do ensino regular, quer no domínio
das modalidades especiais de educação escolar. No âmbito da educação escolar, o ensino
secundário oferece uma diversidade de vias e cursos, de que se salientam: ensino regular,
incluindo cursos gerais (cursos especialmente orientados para o prosseguimento de
estudos) e os cursos tecnológicos (cursos especialmente orientados para a integração na
vida activa); ensino recorrente; ensino profissional.
Organização curricular A organização curricular do ensino secundário foi aprovada pelo Decreto-Lei n.º 286/89,
de Agosto, o qual considera os seguintes princípios gerais:
− Valorização do ensino da língua portuguesa;
− Concepção do currículo segundo uma perspectiva interdisciplinar;
− Valorização do processo de avaliação numa óptica formativa e favorecedora da
autoconfiança dos alunos;
− Reforço das estruturas de apoio educativo e das formações transdisciplinares;
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 129
− Incentivo à iniciativa local, mediante a disponibilização de margens de
autonomia curricular na elaboração de projecto multidisciplinares e no
estabelecimento de parcerias da escola com instituições da comunidade;
− Organização das várias componentes curriculares nas suas dimensões
humanística, artística, científica, tecnológica, física e desportiva, com vista à
formação integral do educando e à sua capacitação, quer para a vida activa, quer
para o prosseguimento de estudos.
No desenvolvimento dos princípios consagrados na Lei de Bases do Sistema Educativo,
a organização curricular do ensino secundário aponta expressamente para um modelo
sequencial e articulado. No âmbito do ensino secundário regular, estão previstas duas
vias de formação: os cursos predominantemente orientados par ao prosseguimento de
estudos (CSPOPE) ou cursos gerais. Estes cursos têm por objectivo aprofundar a
formação adquirida no ensino básico e preparar os jovens para o prosseguimento de
estudos no ensino superior; os cursos predominantemente orientados para a vida activa
(CSPOVA) ou cursos tecnológicos. Estes cursos têm por objectivo preparar os jovens
para o ingresso no mundo do trabalho. No ensino secundário cada professor é
responsável, em princípio, por uma só disciplina. A conclusão com aproveitamento do
ensino secundário confere o direito à atribuição de um diploma que certificará a
formação adquirida e, nos casos dos cursos predominantemente orientados para a vida
activa, a qualificação obtida para efeitos do exercício de actividades profissionais
determinadas, sendo garantia a permeabilidade entre os cursos predominantemente
orientados para a vida activa e os cursos predominantemente orientados para o
prosseguimento de estudos. A lei consagra medidas que visam assegurar a
permeabilidade entre os cursos gerais e os cursos tecnológicos, nomeadamente no
sentido de permitir que os alunos concluam estes últimos cursos possam prosseguir
estudos de nível superior. Os cursos gerais e os cursos tecnológicos estão actualmente
organizados nos seguintes quatro agrupamentos disciplinares (ver quadro)
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 130
Cursos do ensino secundário regular em vigor, por agrupamentos
Cada agrupamento integra um curso geral e os respectivos cursos tecnológicos. A
organização curricular do ensino secundário foi aprovada pelo Decreto n.º. 286/89, de 29
de Agosto, consagrando a existência de três componentes, de formação, comuns a todos
os cursos do ensino secundário regular – componente geral, componente específica e
componente técnica, tecnológica ou artística, nos seguintes termos:
a) a componente de formação geral, comum a todos os cursos gerais e
tecnológicos, é de frequência obrigatória para todos os alunos. A carga horária
semanal desta componente nos cursos gerais pode variar entre as 12 e as 15
horas , nos 10º e 11º anos de escolaridade , e entre as 6 e as 9 horas, no 12º ano.
Nos cursos tecnológicos a carga horária desta componente curricular pode variar
entre as 12 e as 13 horas , nos 10º e 11º anos de escolaridade, e entre as 6 e 9
horas no 12º ano;
b) A componente de formação específica integra a totalidade dos cursos, sendo,
contudo, constituída por um conjunto de disciplinas em número variável, de
acordo com o curso. A carga horária semanal desta componente nos cursos
gerais pode variar entre as 10 e as 16 horas, nos 10º e 11º anos de escolaridade ,
e entre as 14 e as 20 horas, no 12º ano. Nos cursos tecnológicos, a carga horária
Agrupamentos Cursos
1º Científico-natural
Curso geral Curso tecnológico de química Curso tecnológico de construção civil Curso tecnológico de electrotecnia / electrónica Curso tecnológico de mecânica Curso tecnológico de informática
2º Artes Curso geral Curso tecnológico de design Curso tecnológico de artes e ofícios
3º Económico-social Curso geral Curso tecnológico de serviços comerciais Curso tecnológico de administração
4º Humanidades Curso geral Curso tecnológico de animação social Curso tecnológico de comunicação
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 131
desta componente curricular pode variar entre as 7 e as 8 horas, nos 10º e 11º
anos de escolaridade, e entre as 7 e as 9 horas , no 12º ano.
c) A componente de formação técnica abrange todos os cursos do ensino
secundário , sendo, contudo, diversificada em função da natureza dos cursos
(gerais ou tecnológicos), do agrupamento a que pertencem, da oferta de cada
escola e do interesse dos alunos. A carga horária semanal desta componente nos
cursos gerais é de 6 horas, nos 10 e 11º anos de escolaridade, e entre as 15 e as
17 horas, no 12º ano.
A organização curricular do ensino secundário prevê, ainda, a existência de uma área de
natureza interdisciplinar, de frequência obrigatória – Área-escola –, e de uma área
constituída por actividades de enriquecimento curricular, de frequência facultativa.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 132
3. Escolas profissionais e “cursos profissionais”
As escolas profissionais apresentam-se geralmente como o “ensino profissional” ou os
“cursos profissionais” e constituem uma modalidade especial de educação escolar
(formações sistemáticas mas não regulares). São, assim, parte da “formação profissional
inserida no sistema educativo”, sendo outra parte o “ensino (secundário) tecnológico” ou
“cursos (secundários) tecnológicos”, que constituem uma modalidade normal de
educação escolar (formações sistemáticas e regulares). Dito de outro modo: as escolas
profissionais representam uma alternativa, situada ao mesmo nível de formação (o nível
III), ao ensino secundário tecnológico17.
Uma nova rede de escolas ao serviço dos jovens A criação das escolas profissionais remonta a Janeiro de 1989, quando foi estabelecido o
seu regime jurídico, revisto em Março de 1993 e ainda em Janeiro de 1998. Esta última
revisão instituiu um novo regime de criação, organização e funcionamento das escolas e
cursos profissionais e reafirmou a natureza jurídica das escolas como estabelecimentos
privados de ensino, tendencialmente auto-sustentados, mas apoiados por fundos
públicos, e geridos autonomamente, embora sob tutela científica e pedagógica do
Ministério da Educação (ME). O anterior “contrato-programa” foi substituído por uma
autorização prévia de funcionamento dos cursos, separada da candidatura a
financiamento público, dependendo este do reconhecimento do interesse da oferta de
formação, articulado com a existência, no mesmo território, de cursos tecnológicos ou
profissionais com perfil semelhante.
Presentemente (ano lectivo de 2000/2001), encontram-se em funcionamento 171 escolas
profissionais (224 se se contar também com as delegações de algumas delas), das quais
apenas 18 públicas e, destas, 14 são escolas agrícolas. A sua distribuição regional é a
17 Residualmente, as escolas profissionais oferecem ainda formações de nível II. Além disso, à semelhança do ensino secundário tecnológico, que oferece igualmente segundas oportunidades educativas, através do ensino recorrente, as escolas profissionais, sobretudo mais recentemente, também oferecem formações em regime pós-laboral.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 133
seguinte: 72 no Norte, 37 no Centro, 42 em Lisboa e Vale do Tejo, 15 no Alentejo e 5 no
Algarve. Este número de escolas profissionais representa um crescimento razoável em
relação a 1999/2000 (quando eram 157), mas poderá significar que a rede se encontra
estabilizada: em 1989, quando começaram, foram criadas 50 escolas, que triplicaram até
1992 (153 escolas) e em 1997 eram 165. Muitas escolas fazem parte da Associação
Nacional de Escolas Profissionais (ANESPO), que tem sido um interlocutor do ME nas
questões respeitantes ao ensino profissional, o qual, originariamente, se pretendia uma
iniciativa predominantemente da “sociedade civil” — sê-lo-á, pelo menos a avaliar pelos
números antes apresentados.
No seu conjunto, as escolas profissionais oferecem formação nas seguintes dezasseis
áreas: administração / serviços / comércio, agro-alimentar / produção aquática, ambiente
/ recursos naturais, artes do espectáculo, artes gráficas, construção civil, design / desenho
técnico, electricidade / electrónica, hotelaria / turismo, informação / comunicação /
documentação, informática, intervenção pessoal e social, metalomecânica, património
cultural / produção artística, química e têxtil / vestuário / calçado. Estas áreas agrupam e
conferem inteligibilidade à oferta de mais de duzentos cursos, muitos deles com
designações muito próximas, uma dispersão sem dúvida excessiva, inclusive do ponto de
vista da capacidade de discriminação do mercado de emprego.
A oferta formativa das escolas profissionais Em contrapartida, os cursos de nível III das escolas profissionais possuem todos eles
uma mesma estrutura curricular modular, que compreende três componentes de
formação, sociocultural, científica e técnica, prática e tecnológica. A componente de
formação sociocultural, comum a todos os cursos, corresponde a 25 por cento da carga
horária. A componente de formação científica, comum a todos os cursos da mesma área
de formação, corresponde também a 25 por cento da carga horária. A componente de
formação técnica, com uma vertente prática e outra tecnológica (ou artística), é
específica de cada curso e corresponde a 50 por cento da carga horária. A duração total
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 134
da carga horária é de cerca de 3 600 horas, distribuídas por três anos, ou seja, 30 horas x
40 semanas = 1 200 horas por ano.
Acesso às escolas profissionais As condições de acesso (o 9º. ano de escolaridade), a duração e a estrutura curricular dos
cursos nível III das escolas profissionais conferem-lhes a capacidade para atribuir, além
da respectiva certificação da qualificação profissional, títulos de formação equivalente ao
ensino secundário que possibilitam a candidatura ao prosseguimento de estudos de nível
superior, politécnico ou universitário. O reforço dos objectivos de qualificação implica
que todos os cursos, por um lado, incluam períodos de formação em contexto real de
trabalho, desejavelmente também sob a forma de estágio final, mas sem excluir
experiências de trabalho durante a formação, e, por outro lado, compreendam, como
dispositivo essencial de avaliação, uma prova de aptidão profissional, cujo peso na
classificação final do curso é de 33 por cento. A prova de aptidão profissional consiste na
elaboração de um projecto pessoal em três fases, concepção, desenvolvimento e
avaliação, e que integra os diferentes saberes e competências adquiridos ao longo do
curso. A preparação para o acesso ao ensino superior, por seu turno, é sobretudo
contemplada nas componentes de formação sociocultural e científica, as quais, contudo,
também devem articular-se estreitamente com e assumir relevância particular face aos
conteúdos quer do curso quer da respectiva área de formação e profissional.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 135
4. Cursos de formação em alternância ou cursos de “aprendizagem” (nível III) A formação em alternância, envolvendo escolas e contextos de trabalho, é uma prática
muito antiga que, na maioria dos países, foi caindo em desuso. Quando, na actualidade,
se fala em formação em alternância surge sempre como principal referência o “sistema
dual” alemão. Este sistema tem sido “copiado” em muitas partes do mundo, incluindo
Portugal. Mas importa, aqui e agora, salientar os modelos e as vantagens da formação em
alternância.
A formação em alternância tem sido muito valorizada internacionalmente devido às suas
virtualidades: (a) coloca em contacto dois mundos, em geral separados, contribuindo
para uma formação mais completa do cidadão; (b) prepara cada formando para uma
inserção sócio-profissional habitualmente mais eficiente, uma vez que há um saber
profissional e uma experiência do que é uma empresa, antes de se disputar um emprego;
(c) permite articular uma formação mais teórica com uma formação prática e ministrada
através de uma experiência de trabalho. Finalmente, o facto de poder ser uma via de mais
fácil acesso ao emprego é que lhe tem atribuído maior reconhecimento social.
Interligar escola e local de trabalho Interligar formação escolar e formação em contexto de trabalho é um grande desiderato
que a generalidade dos sistemas educativos pretende alcançar. Uns enfatizam a formação
de base escolar, procurando estabelecer pontes com o mundo do trabalho. Outros dão
prevalência à formação baseada em contexto de trabalho, promovendo algumas pontes
com uma formação de tipo escolar, geralmente ministrada em escolas profissionais. São
tradições muito diferentes, a que estão ligados sistemas sociais e profissionais muito
distintos.
Portugal, sendo um país em que a formação profissional inicial é de base escolar,
promoveu também, desde 1984, um modelo de formação em alternância a que se chamou
“sistema de aprendizagem”. A formação em alternância tem ficado restringida a este
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 136
segmento do sistema nacional de formação, revelando bastante dificuldades em migrar
para outras modalidades de ensino e de formação profissional.
As várias alternâncias Em função dos seus principais objectivos, podemos considerar três tipos de alternâncias:
a alternância-inserção profissional, a alternância-orientação profissional e a alternância-
qualificação profissional. A primeira centra-se em processos formativos que ajudam
jovens com dificuldades de aprendizagem a transformarem a sua relação com o saber e a
ganhar capacidades de adaptação aos contextos de trabalho. A segunda facilita a
orientação profissional dos jovens ao facultar-lhes um primeiro contacto e uma
descoberta do mundo do trabalho e da empresa. A terceira, a mais comum, é a que
procura facultar a aquisição e o desenvolvimento de um leque de competências
profissionais adstritas a um dado perfil profissional.
Tradicionalmente, a formação em alternância é mais comum na formação profissional
para a indústria. No caso de Portugal, uma das maiores dificuldades com que este
modelo formativo se depara refere-se ao compromisso das empresas com as suas
exigências específicas. Na realidade, a empresa tem de dispor de monitores devidamente
habilitados e de um capital cultural suficiente para acolher aprendizes no seio do
processo produtivo, o que é reconhecido por todos os especialistas como práticas pouco
habituais no comum das PME portuguesas.
A aprendizagem em Portugal: públicos-alvo Os cursos do sistema de aprendizagem destinam-se, regra geral, a jovens maiores de 16
anos e o processo de admissão compreende uma sessão de orientação profissional, um
exame médico e uma avaliação diagnóstico. Os cursos mais frequentados são os de nível
II e de nível III; sendo estes últimos os que têm uma maior oferta e os que suscitam mais
procura.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 137
Há três grandes grupos de destinatários dos cursos de aprendizagem: os não diplomados
pelo ensino básico, os diplomados pelo ensino básico e os diplomados pelo ensino
secundário.
Para os não diplomados pelo ensino básico existem cursos de nível I, que conferem
equivalência ao 2º ciclo do ensino básico, e cursos de nível II, com uma duração entre
1.800 e 3.000 horas, que conferem uma equivalência ao 3º ciclo do ensino básico.
Para os diplomados pelo ensino básico existem os cursos de nível II, com uma duração
mínima de 1.500 horas, e os cursos de nível III, com uma duração que pode chegar às
4.000, no máximo, e que confere a equivalência ao ensino secundário.
Para os diplomados pelo ensino secundário e pelos cursos de nível III existem os cursos
de especialização tecnológica, que conferem certificação de nível IV, regulamentados
pela Portaria nº 989/99, de 3 de Novembro.
Cursos, equivalências e certificação Os cursos de nível II são os que facultam uma qualificação profissional inicial e
elementar e uma equivalência escolar ao 9º ano de escolaridade. Destinam-se a jovens
que tenham concluído a escolaridade obrigatória ou que, não a tendo concluído,
demonstrem interesse e aptidão por este tipo de formação. Com uma duração variável,
estes cursos conferem um certificado de aptidão profissional de nível II (ver níveis de
qualificação profissional).
Os cursos de nível III proporcionam uma qualificação técnico-profissional inicial e
destinam-se a jovens que tenham concluído a escolaridade obrigatória ou que tenham
concluído o ensino secundário, mas sem terem alcançado uma qualificação profissional.
Os cursos, de duração variável, mas que em geral se situa nos três anos, conferem um
certificado de aptidão profissional de nível III, com uma equivalência escolar ao 12º ano
de escolaridade. Esta equivalência permite, desde a reforma do ensino de 1989, o acesso
ao ensino superior, politécnico ou universitário.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 138
As componentes de formação Os cursos de aprendizagem integram uma formação polivalente, com base num processo
formativo integrado, assente em três componentes:
a) Formação sociocultural , visando a aquisição de competências, atitudes e
conhecimentos orientados para o desenvolvimento pessoal, profissional e social
dos jovens e para a sua integração na vida activa;
b) Formação científico-tecnológica e prática, visando a aquisição de
conhecimento necessários à compreensão das tecnologias e actividades
práticas, bem como à resolução dos problemas que integram o exercício
profissional;
c) Formação prática, integrando actividades de formação realizadas sob a forma
de ensaio ou experiência de processos, técnicas, equipamentos e materiais, sob
orientação de um formador ou de um tutor, quer se integrados em processos de
produção de bens ou de prestação de serviços, em situação de trabalho, quer
através da simulação desses processos.
Os cursos de aprendizagem assentam numa estrutura técnica, organizativa e financeira
apoiada pelo Instituto de Emprego e formação Profissional, com as seguintes
características:
a) celebração de um contrato de formação entre o formando e as entidades
formadoras;
b) atribuição de um certificado de formação profissional a que corresponde uma
equivalência escolar;
c) desenvolvimento de um processo formativo em alternância, entre a entidade
formadora, onde decorre a formação sociocultural, científico-tecnológica, e a
entidade de apoio à alternância, onde se realiza a formação prática em contexto
de trabalho.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
Pág. 139
As áreas de formação dos cursos de formação em alternância
1. Agro-alimentar (ex. Operador agrícola, cortador de carnes)
2. Pescas ( ex. Carpinteiro naval)
3. Automóvel (ex. Mecânico de veículos pesados)
4. Calçado (ex. Reparador de calçado, estilista de calçado)
5. Cerâmica e vidro (ex. Modelador cerâmico, lapidário)
6. Cortiça (ex. Técnico corticeiro)
7. Electrónica (ex. Técnico fabril de electrónica industrial)
8. Energia (ex. Técnico de gestão de energia)
9. Frio e Climatização (ex. Técnico de refrigeração)
10. Fundição (ex. Fundidor / Moldador)
11. Indústria extractiva (ex. Operador de tratamento de minérios e rochas)
12. Ourivesaria (ex. Ourives de ouro)
13. Metalurgia e metalomecânica ( ex. Torneiro mecânico)
14. Madeira e mobiliário (ex. Mecânico de madeiras)
15. Têxtil e vestuário (ex. Técnico de fiação)
16. Química (ex. Operador químico)
17. Hotelaria, restauração e turismo (ex. Cozinheiro)
18. Banca e seguros (ex. Técnico comercial de seguros)
19. Informática (ex. Analista de aplicações)
20. Serviços (ex. Empregado comercial)
21. Qualidade (ex. Técnico de controlo de qualidade)
22. Saúde, serviços pessoais à comunidade (ex. Técnico de colaborador de farmácia)
23. Transportes (ex. Motorista de pesados)
24. Electricidade (ex. Electricista auto)
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Comissão Nacional de Aprendizagem A Aprendizagem, formação profissional em alternância, tem um organismo de orientação
estratégica e de acompanhamento que a tutela, a Comissão Nacional de Aprendizagem
(CAN). A CAN é constituída por representantes do Estado (Ministérios e Regiões
Autónomas), das Associações Sindicais e das Associações Patronais, contando ainda
com a presença de duas individualidades de reconhecido mérito. Neste momento é
composta por 22 elementos, sendo respectivamente 10 pelo Estado, 5 pelos Sindicatos, 5
pelo Patronato e 2 individualidades.
É este organismo que prepara e propõe as portarias que criam os cursos de
aprendizagem, que acompanha todo o processo de criação de cursos e de financiamento
da actividade e que procede à avaliação do sistema, permitindo a sua regulação
permanente.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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5. Cursos de especialização tecnológica (nível IV)
As “escolas tecnológicas” e os “diplomas de especialização tecnológica” emergiram, no
final dos anos 80, como uma resposta de formação para dois problemas consensualmente
reconhecidos como tais. Por um lado, problema do sistema educativo, recenseavam-se
numerosos jovens com o ensino secundário, às vezes incompleto, e em compasso de
espera para ingressar no ensino superior, sem que lhes pudesse ser garantido que esse
ingresso se verificaria a curto prazo. Por outro lado, problema dos sistemas profissional e
de emprego, detectavam-se necessidades do tecido económico ao nível de quadros
intermédios. Os Cursos de Especialização Tecnológica
Os “cursos de especialização tecnológica” ou “artística” teriam uma duração
compreendida entre dois e quatro semestres e incluiriam sempre um estágio profissional
(o semestre final). As condições de acesso exigiriam uma qualificação profissional de
nível III, obtida num curso secundário tecnológico, numa escola profissional, no sistema
de aprendizagem ou em formações (secundárias) equivalentes, embora se considerasse a
possibilidade de o ingresso nos cursos se efectuar com défice em duas disciplinas, não
nucleares em relação ao curso a frequentar e que teriam de ser concluídas enquanto este
decorresse. Na organização e funcionamento dos cursos deveriam cooperar instituições
que oferecessem formações profissionalmente qualificantes de nível III, o ensino
superior politécnico (a fim de assegurar a concessão de créditos para o eventual
prosseguimento de estudos neste nível de ensino) e associações empresarias (ou
empresas), sindicais ou socioprofissionais (a fim de potenciar a pertinência e relevância
dos perfis de formação, garantir lugares de estágio e facilitar a futura inserção
profissional dos diplomados).
A solução a que se chegou encontra-se consignada na Portaria nº. 989/99, de 3 de
Novembro; (com alterações introduzidas pela Portaria nº 698/2001, de 11 de Julho) dos
Ministérios da Economia, da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, da
Educação e do Trabalho e da Solidariedade, que consagra os “cursos de especialização
tecnológica” (CET), cuja conclusão com aproveitamento confere um “diploma de
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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especialização tecnológica” (DET). Estas Portarias viriam a ser revistas em parte pela
Portaria nº 392/2002, de 12 de Abril, que é o normativo actualmente em vigor. Os Diplomas de Especialização Tecnológica (DET)
As instituições que podem promover os CET são as “que realizam formação profissional
de nível III ou formação escolar de nível secundário ou equivalente, [...] nomeadamente:
a) Estabelecimentos do ensino secundário públicos, privados e cooperativos com
autonomia ou paralelismo pedagógico; b) Escolas profissionais públicas ou privadas; c)
Centros de formação profissional de gestão directa ou participada”. Podem também
promover os CET as “escolas tecnológicas”, as instituições do ensino superior e outras
entidades para o efeito reconhecidas por despacho dos Ministros da Educação, do
Trabalho e da Solidariedade e da tutela do sector de actividade económica em que se
insere a formação proposta”.
A duração dos CET, por seu turno, compreende-se entre 1 200 e as 1 560 horas — daí o
12º. ano + 1 —, com componentes de formação sociocultural e científico-tecnológica,
entre 840 e 1 020 horas (correspondendo a cada uma delas, respectivamente, 15 e 85 por
cento da duração global), e formação em contexto de trabalho, com uma duração que
pode variar entre 360 e 720 horas. Os CET podem organizar-se segundo diferentes
modalidades de formação em alternância, salvaguardando, por certo, tal estrutura de
componentes de formação e a sua duração.
A conclusão com aproveitamento de um CET confere um DET e qualificação
profissional de nível IV e o CET poderá dar acesso a um certificado de aptidão
profissional (CAP) emitido no âmbito do Sistema Nacional de Certificação Profissional.
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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RELAÇÃO DE GRÁFICOS, FIGURAS, MAPAS E QUADROS
FIGURAS PÁG.
Figura 1 Megaclusters e clusters existentes e emergentes 89
MAPAS PÁG.
Mapa 1 Concelhos onde, com a criação das escolas profissionais surgiram pela primeira vez formações profissionalizantes de nível secundário (1993) 42
Mapa 2 Concelhos onde não há oferta formativa de nível secundário ou onde se resume aos Cursos Gerais (1998 / 99)
44
Mapa 3 Abandono Escolar no 10º ano de escolaridade – 2000 63
QUADROS PÁG.
Quadro 1 Cursos do ensino secundário 17
Quadro 2 Configuração da oferta das escolas secundárias, segundo o projecto de “revisão curricular” do Governo (Novembro de 2002) 17
Quadro 3 Matriz comum aos percursos de formação sistemática pós-obrigatória em Portugal (1989 – 1992)
19
Quadro 4 Taxas de escolarização do grupo etário 15-17 anos (1985/86 – 1997/98) 25
Quadro 5 Percentagem da população que atingiu pelo menos o nível secundário de educação (12º ano) - Países da OCDE, segundo grupos etários, 2001 27
Quadro 6 Produtividade, PIB per capita e níveis de escolaridade da população em Portugal e nos países candidatos à adesão à EU em 2004 28
Quadro 7 Evolução das taxas reais de escolarização*no nível secundário
de ensino e formação em Portugal 36
Quadro 8 Evolução do número de formandos inscritos, por níveis de qualificação, no sistema de aprendizagem, de 1994 a 2000
37
Quadro 9 Estabelecimentos de ensino secundário existentes até 1993-1994 39
Quadro 10 Promotores de escolas profissionais entre 1989 e 1993 40
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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Quadro 11 Oferta de formação por NUT II em 2000/2001 46
Quadro 12 Oferta de formação conjunta, escolas profissionais e cursos tecnológicos (número de locais de formação em 2000/2001) 47
Quadro 13 Distribuição da oferta de formação dos cursos gerais pelas NUT III
(número de locais de formação em 2000/2001) 50
Quadro 14 Frequência nos diferentes segmentos do nível secundário de ensino 51
Quadro 15 Percentagem de candidatos admitidos nas escolas profissionais por área de formação 52
Quadro 16 Distribuição percentual dos alunos pelos 4 agrupamentos dos cursos gerais 2000/2001 53
Quadro 17 Distribuição da oferta de formação e da frequência dos cursos técnico-profissionais, em 1990/91, e cursos tecnológicos, em 2000/01, pelas diferentes áreas de formação
54
Quadro 18 Evolução da frequência dos cursos das escolas profissionais por área de formação 49
Quadro 19 Taxas brutas de escolarização no ensino secundário 1999-2000 (estimativas) 55
Quadro 20 Distribuição geográfica das taxas de aprovação às disciplinas de Matemática e de Português e no 10º ano, em geral – 1998-1999
57
Quadro 21 Taxas de abandono escolar no 10º ano de escolaridade (2000) 61
Quadro 22 Evolução das classificações médias de exame do 12º ano dos alunos internos e externos, na 1ª fase (1ª chamada) – 1997-2001
62
Quadro 23 Rendimento escolar do nível secundário por concelho nos cursos gerais tecnológicos e nos cursos das escolas profissionais – Ciclo de formação B entre 1998/99 a 2000/2001
70
Quadro 24 Valores de empregabilidade dos diplomados do ensino secundário (em Outubro de 1998), um ano após a conclusão do curso
80
Quadro 25 Meios de obtenção do primeiro emprego pelos diplomados das escolas profissionais 82
Quadro 26 Necessidades de formação de nível intermédio 90
Evolução da oferta e da procura do nível secundário: Que estratégia para o ensino tecnológico e profissional em Portugal?
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