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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 1

ISSN 0103-0779

NESTNESTNESTNESTNESTA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃO

S e ç õ e s

3 e 419 e 2032 a 3839 e 40

4956

Agribusiness ............................................................................Flashes ................................................................................Registro .................................................................................Novidades de Mercado ...............................................................Lançamentos Editoriais .................................................................Vida Rural - soluções caseiras .........................................................

T e c n o l o g i a

R e p o r t a g e m

Pesquisa participativa busca alternativas para os pequenos agricultoresReportagem de Paulo Sergio Tagliari ................................................................

Agricultores familiares produzem a maçã agroecológicaReportagem de Paulo Sergio Tagliari ................................................................

21 a 25

26 a 31

O p i n i ã o

O crescimento da Agroecologia em Santa CatarinaEditorial ................................................................................................................

Água potável – fator de desenvolvimentoArtigo de Carlos Luiz Gandin ................................................................................

Participação interativa – Uma análise crítica do processo na EpagriArtigo de Rose Mary Gerber .................................................................................

Produção agropecuária, risco alimentar emercado; algumas reflexões a partir da EuropaArtigo de Wilson Schmidt ....................................................................................

2

50

51

53

5

8

11

14

41

45

Alternativas para o manejo do ácaro-do-bronzeado da erva-mateArtigo de Luís Antônio Chiaradia .........................................................................

Análise da rentabilidade do cultivo de pínus(Pinus taeda) na região de Caçador, SCArtigo de Carlos Leomar Kreuz e Nelton Baú .......................................................

Controle de cancro cítrico na Região Oeste CatarinenseArtigo de Rui Pereira Leite Júnior, Luiz Augusto Verona eGiovanina Fontanezzi Huang .................................................................................

Incidência e fatores do abortamento degemas em pereira japonesaArtigo de José Luiz Petri, Gabriel Berenhauser Leite eYoshihiro Yasunobu .............................................................................................

A Agricultura Familiar do Oeste Catarinense: repensando novaspossibilidadesArtigo de Milton Luiz Silvestro, Márcio Antônio de Mello eClovis Dorigon ......................................................................................................

Escolha da cultivar adequada para produção de cebolaArtigo de Carlos Luiz Gandin, Djalma Rogério Guimarães,Lúcio Francisco Thomazelli e Guido Boeing ..........................................................

As matérias e artigos assinados nãoexpressam necessariamente a opinião da

revista e são de inteira responsabilidade

dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento,

mesmo que parcial, só será permitidamediante a citação da fonte e dos autores.

A revista Agropecuária Catarinense comparecemais uma vez junto ao seus leitores trazendo duasreportagens de grande interesse: pesquisa participativaque busca alternativas para os pequenos agricultores ea reportagem principal, que enfoca o importante temada produção agroecológica de maçã pelos agricultoresfamiliares no planalto catarinense.

Na parte técnica apresenta seis artigos, com desta-que para alternativas para o manejo do ácaro-do-bron-zeado da erva-mate e a agricultura familiar do oestecatarinense.

Além disso, apresenta as seções: agribusiness,flashes, registro, novidades de mercado, opiniões,conjuntura e vida rural, todas com importantes infor-mações para quem se dedica à agricultura ou admira avida no campo.

Boa leitura!

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2 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

Edi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia l

REVISTA QUADRIMESTRAL COMITÊ DE PUBLICAÇÕES TÉCNICAS :Presidente: Ainor Francisco Lotério, Secretário: Paulo SergioTagliari, Membros: Antônio Carlos Ferreira da Silva, CarlosLeomar Kreuz, Celso Augustinho Dalagnol,Gilson JoséMarcinichen Gallotti, Jean Pierre Rosier, Jefferson Araujo Flaresso,João Lari Félix Cordeiro, Roger Delmar Flesch, YoshinoriKatsurayama

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICOS NESTA EDIÇÃO:Ademar Brancher, Adilson José Pereira, Amador Thomazzelli,Armando Correa Pacheco, Enio Schuck, Hélio Holz, Hugo JoséBraga, José Maria Milanez, Milton Ramos, Valdemar Hercílio deFreitas, Valmor Luiz Dall´Agnol, Zenório Piana

JORNALISTA: Márcia Corrêa Sampaio (MTb 14.695/SP)

ARTE-FINAL: Janice da Silva Alves

DESENHISTA: Mariza T. Martins

CAPA: Vilton Jorge de Souza

PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, Janice da Silva Alves,Maria Teresinha Andrade da Silva, Marlete Maria da SilveiraSegalin, Rita de Cassia Philippi, Selma Rosângela Vieira, VâniaMaria Carpes

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira e Zulma MariaVasco Amorim - GMC/Epagri, C.P. 502, fones (048)239-5595 e 239-5536, fax (048) 239-5597, 88034-901 Flo-rianópolis, SC.Assinatura anual (3 edições): R$ 15,00 à vista.

PUBLICIDADE: Florianópolis: GMC/Epagri - fone (048) 239-5673, fax (048) 239-5597 Agropecuária Catarinense - v.1 (1988) - Florianópolis:

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 -1991)

Editada pela Epagri (1991 - )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou a ser

quadrimestral1. Agropecuária - Brasil - SC - Periódicos. I. Empresa Catari-

nense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC. II. Empresade Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC.

15 DE JULHO DE 2001

Impressão: Epagri CDD 630.5

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação da Empresade Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa CatarinaS.A. – Epagri – , Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi,Caixa Postal 502, fone (048) 239-5500, fax (048) 239-5597, 88034-901 Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, Internet:www.epagri.rct-sc.br, e-mail: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVA DA EPAGRI: Presidente: Dionisio BressanLemos, Diretores: Ainor Francisco Lotério, Antônio EugênioTerêncio, Eros Marion Mussoi, Gilmar Germano Jacobowski

EDITORAÇÃO: Editor: Paulo Henrique Simon, Editor-Assistente:Paulo Sergio Tagliari

CONSELHO EDITORIAL: Ainor Francisco Lotério, Celívio Holz,João Afonso Zanini Neto, Ludgero Lengert, Paulo HenriqueSimon, Paulo Sergio Tagliari

A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura.

ISSN 0103-0779

O crescimento da Agroecologia em Santa CatarinaO crescimento da Agroecologia em Santa CatarinaO crescimento da Agroecologia em Santa CatarinaO crescimento da Agroecologia em Santa CatarinaO crescimento da Agroecologia em Santa Catarina

Em setembro de 1994 a Agrope-cuária Catarinense apresentou umareportagem com o título “A agricul-tura que não envenena”, destacandoos trabalhos pioneiros no sul do paíssobre a agroecologia. Três anosmais tarde, em março de 1997, no-vamente a revista abordou o assun-to, desta vez destacando as expe-riências de produção orgânica de ali-mentos em território catarinense.Nesta ocasião já se notava o cresci-mento da agroecologia, com osurgimento dos primeiros grupos eassociações de produtores agroeco-lógicos. Em destaque, também, apesquisa pioneira da Epagri, na Es-tação Experimental de Ituporanga,que lançou a cebola agroecológica.Agora, na presente edição, a revistatraz mais um pioneirismo da Epagri,em parceria com prefeituras eassociações de agricultores. Trata-se da maçã agroecológica, queacaba de ser lançada no mercadocatari-nense.

Vale ressaltar o esforço pioneirode grupos de agricultores que, desdeas primeiras décadas do século pas-sado, na Europa, já davam os primei-

ros passos rumo a uma nova agricul-tura, mais saudável para o meio ambi-ente e para o homem. A agroecologiaé uma resposta aos anseios da huma-nidade por uma vida melhor, maissaudável, mais justa. Não é por acasoque nestes últimos cinco ou seis anoso número de associações de agriculto-res orgânicos, só em Santa Catarina,saltou de meia dúzia para quarenta, econtinua crescendo.

O mercado da produção orgânicaou agroecológica está em franca ex-pansão em praticamente todos os con-tinentes, indicando que a agroecologiapossui viabilidade econômica. Istoporque não só os consumidores estãodispostos a pagar um pouco mais porum produto considerado de alta quali-dade biológica, mas também os agri-cultores estão diminuindo seus custosem relação à produção convencionalcom agroquímicos. Quanto à viabili-dade técnica, afora o empirismo dosagricultores pioneiros, os númerossignificativos de aumento de área naEuropa, no Japão, na América doNorte, América Latina e as pesquisascientíficas em diversas regiões do glo-bo demonstram o grande potencial

desta nova agricultura. E que é bas-tante adequada à agricultura famili-ar, pois absorve mão-de-obra, gerarenda e emprego. Efetivamente esteé o modelo adequado a SantaCatarina. Neste momento deglobalização, a agroecologia vem aoencontro das necessidades econô-mico-sociais do Estado, que pelassuas características fundiárias pos-sui uma vantagem comparativa naluta por mercados cada vez maisexigentes. Sabedor disso, o própriogovernador Esperidião Amin, no fi-nal do ano passado, lançou umdesafio aos catarinenses, qual seja,de transformar Santa Catarina numEstado livre de agrotóxicos.

Atenta a esta realidade, a Epagriestá incrementando seus trabalhosna área ambiental e agroecológica,com incremento das pesquisas nes-tes campos, além de uma inten-sificação na capacitação de téc-nicos e agricultores. Este númeroda revista Agropecuária Catarinen-se traz reportagens e matérias so-bre o tema, com destaque para areportagem sobre a maçã agroeco-lógica.

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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 3

AGRIBUSINESS

Novo híbrido de milho da NK é idealNovo híbrido de milho da NK é idealNovo híbrido de milho da NK é idealNovo híbrido de milho da NK é idealNovo híbrido de milho da NK é idealpara mercado de alta tecnologiapara mercado de alta tecnologiapara mercado de alta tecnologiapara mercado de alta tecnologiapara mercado de alta tecnologia

de gado de corte.Ambos os produtos são

comercializados em frascos de1 litro.

A Virbac do Brasil coloca à

disposição a Central de Atendi-mento ao Cliente pelo fone 0800-136533 ou e-mail: [email protected] para maiores informa-ções.

Attack é o mais recente lan-çamento da NK, marca de se-mentes para grandes culturasda Syngenta Seeds.

Direcionado para a safra deverão da Região Sul, Attack éum híbrido simples modifica-do, de ciclo precoce, para omercado de alta tecnologia de

milho.O híbrido apresenta uma plan-

ta com excelente visual, com fo-lhas verde-escuras, grãos duros ealaranjados, além de ser altamen-te produtivo.

De acordo com o gerente deMercado da Syngenta Seeds,Wagner Piovan, outras qualida-des do Attack, como boa sanidadefoliar, bom padrão de espigas eótima qualidade de grãos, refor-çam o portfólio de alta tecnologiaem pesquisa e produção da com-panhia.

“Attack é recomendado aosprodutores tecnificados, fazendocomposição com outros híbridosde alta tecnologia da SyngentaSeeds, agregando maior compe-titividade aos produtos da linhaNK”, acrescenta.

Maiores informações com X--Press Assessoria em Comuni-cação, com Viviane Pereira, EdnaVairoletti e Sergio Ignacio, fone(011) 3044-4966, fax (011) 3845-8025, e-mail: [email protected].

Virbac lança mosquicida,Virbac lança mosquicida,Virbac lança mosquicida,Virbac lança mosquicida,Virbac lança mosquicida,carrapaticida e piolhicida paracarrapaticida e piolhicida paracarrapaticida e piolhicida paracarrapaticida e piolhicida paracarrapaticida e piolhicida para

bovinos, eqüinos, suínos e ovinosbovinos, eqüinos, suínos e ovinosbovinos, eqüinos, suínos e ovinosbovinos, eqüinos, suínos e ovinosbovinos, eqüinos, suínos e ovinos

Para complementar sua ofer-ta de produtos destinados à pe-cuária, a Virbac do Brasil –multinacional francesa espe-cializada em saúde animal – estálançando Cipercare – um produ-to com base em cipermetrinanas formulações pour-on e pul-verização, ambas destinadas aocombate da mosca-dos-chifres,dos carrapatos e piolhos sugado-res e mastigadores.

O Cipercare pour-on é indi-cado para o controle destes pa-rasitas externos em bovinos,eqüinos, suínos e ovinos. OCipercare pour-on é uma inova-ção em saúde eqüina, visto queé o primeiro ectoparasiticidapara eqüinos na forma pour-on,o que facilita a aplicação. Quan-do utilizado em bovinos,Cipercare pour-on não deixaresíduos na carne nem no leite.Este é um importante diferenci-

al, especialmente para rebanhosleiteiros, uma vez que não é pre-ciso descartar o leite após a aplica-ção do produto.

Já o Cipercare pulverização éum mosquicida, carrapaticida epiolhicida exclusivamente parabovinos. Diluído em água, oCipercare pulverização deve seraplicado com pulverizador manu-al, automático ou em corredor deaspersão. É uma alternativa efi-caz e econômica para o controledestes ectoparasitas em rebanhos

FMC do Brasil lança site paraFMC do Brasil lança site paraFMC do Brasil lança site paraFMC do Brasil lança site paraFMC do Brasil lança site paramercado agrícolamercado agrícolamercado agrícolamercado agrícolamercado agrícola

Site da FMC do Brasil permitea troca de experiências entre agri-cultores e fácil acesso aos repre-sentantes dos produtos por todo opaís.

A FMC do Brasil acaba decolocar no ar seu site www.fmcagricola.com.br estabelecen-do um novo canal para o públicointerno e externo, disponibilizando informações sobre aempresa, seus produtos e servi-ços.

Também estão disponíveis nosite informações referentes aomercado agrícola, previsõesmeteorológicas, instituições depesquisa, informações técnicassobre os produtos da FMC e suasrespectivas culturas (cana, algo-dão, arroz, soja, café e milho).

Os clientes da FMC aindapoderão utilizar o site paramonitorar seus pedidos, sua si-tuação de contas a pagar e oServiço de Atendimento ao Con-sumidor – SAC –, sendo umaferramenta útil no gerencia-mento dos clientes e das vendas.Além de permitir a comunicaçãocom os representantes da FMCpor todo o país.

Os programas de relaciona-mento da FMC, como o Clube daFibra e da Cana, também me-receram um lugar de destaqueno site assim como as informa-ções sobre a Associação Brasi-leira dos Produtores de Algodão– Abrapa –, formada a partir doClube da Fibra. “Os agricultorestêm procurado cada vez maisalternativas para informatizarseus negócios. Nesse aspecto, osite da FMC poderá ser utilizadocomo uma constante fonte deinformações”, conclui LuísFernando Felli, diretor deMarketing da FMC do Brasil.

Maiores informações no sitewww.fmcagricola.com.br.

Nuflor* Injetável, da Schering-PloughNuflor* Injetável, da Schering-PloughNuflor* Injetável, da Schering-PloughNuflor* Injetável, da Schering-PloughNuflor* Injetável, da Schering-PloughVVVVVeterinária, tem novas indicaçõeseterinária, tem novas indicaçõeseterinária, tem novas indicaçõeseterinária, tem novas indicaçõeseterinária, tem novas indicações

O antibiótico de última gera-ção Nuflor* Injetável, desenvol-vido pela Schering-Plough Vete-rinária, conta agora com novasindicações para bovinos e suínos.O Ministério da Agricultura e doAbastecimento aprovou o uso deNuflor* Injetável em suínos paratratamento de infecções uterinasinespecíficas de fêmeas bovinas etambém para o tratamento daqueratoconjuntivite infecciosabovina. Também foi aprovado ouso do produto em gado leiteiro,com período de descarte do leitede 120 horas após a aplicação.

As novas indicações de Nuflor*Injetável representam um gran-de avanço para o tratamento de

diversas patologias dos rebanhosbovinos e suínos.

Nuflor* Injetável é um po-tente antibiótico, com base emflorfenicol, e possui uma amplamargem de atuação em bacté-rias gram-positivas e gram-ne-gativas, sendo indicado primei-ramente para problemas respi-ratórios, intestinais e doença decasco de bovinos. O produto éextremamente eficaz e seguro,podendo ser aplicado em inje-ção única subcutânea, com odobro do volume, o que permi-te que o animal tratado mante-nha em seu organismo níveisterapêuticos de Nuflor* por 120horas, não necessitando de uma

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4 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

AgribusinessAgribusinessAgribusinessAgribusinessAgribusiness

segunda dose.Nuflor* Injetável possui

apresentações de 30ml e 10ml.O produto já havia sido lançadoem uma apresentação em pó,específica para suínos, o Nuflor*Premix.

Com as novas indicações deNuflor* Injetável a Schering--Plough Veterinária amplia cadavez mais sua participação nomercado veterinário, apresen-tando produtos com tecnologiade ponta nas linhas de antibióti-cos, antiparasitários, antiinfla-matórios e produtos para tera-pia de apoio.

Mais informações sobreNuflor* podem ser obtidas naCentral de AtendimentoSchering-Plough, pelo fone0800-117788.

Catálogo multimídia chega ao campoCatálogo multimídia chega ao campoCatálogo multimídia chega ao campoCatálogo multimídia chega ao campoCatálogo multimídia chega ao campoapostando no agronegócioapostando no agronegócioapostando no agronegócioapostando no agronegócioapostando no agronegócio

Montar um pequeno negó-cio no campo, desenvolver o quejá tem, ou desvendar novos co-nhecimentos por puro prazer.Tudo o que você sempre quissaber sobre o meio rural e nãotinha onde procurar está no Top2000 Rural (www.top2000.com.br), primeiro catálogo es-pecializado sobre o meio, queacaba de ser lançado em mídiaimpressa e eletrônica para todoo país.

Os assuntos são os mais di-versificados. Constam de livros,videocursos, CD-ROM esoftwares que abordam desdehidroponia (plantio sem solo),cultivo de pepino em estufa ecriação de serpentes para pro-dução de veneno, atébubalinocultura (criação de bú-falo) e ensinamentos de comoproduzir doces em barra, im-plantar o turismo rural na fa-

zenda ou cultivar orquídeas emcasa. Nem as 100 perguntas queum cão faria ao seu veterinárioforam esquecidas. E tem até his-tórias infanto-juvenis, despertan-do o interesse pela natureza e omeio rural. Trata-se de um mixcompleto das mais diferentesáreas de interesse, incluindo ain-da acessórios rurais, como artigospara montaria e decoração. Difícilo catálogo chegar às mãos de al-guém sem mexer diretamente comalgum foco de sua conveniência.

São mais de 1.000 itens, divi-didos em 34 áreas de interesse. Ogrande trunfo é que a maior partedesse cardápio não pode ser en-contrada com facilidade no co-mércio, seja em produtos, infor-mações ou serviços. Com o catálo-go, qualquer pessoa pode solicitarfacilmente o item que desejar,tanto pela internet quanto portelefone, fax ou correio. Para

agilizar as entregas foi montadauma distribuidora própria queopera por via aérea ou terrestre,de acordo com a necessidade.

Mais informações pelo fone

Agricultura tem nova tecnologia paraAgricultura tem nova tecnologia paraAgricultura tem nova tecnologia paraAgricultura tem nova tecnologia paraAgricultura tem nova tecnologia parairrigação e suprimento energéticoirrigação e suprimento energéticoirrigação e suprimento energéticoirrigação e suprimento energéticoirrigação e suprimento energético

confiabilidade.A Cummins Inc., ante a gran-

de importância representadapelo segmento de geração deenergia, decidiu participar des-se mercado, e para isso adquiriu100% do controle acionário daOnan Corporation, um dos mai-ores fabricantes de grupos gera-dores e sistemas de energia domundo, com sede nos EstadosUnidos. Mais recentemente aOnan Corporation passou a serdenominada Cummins PowerGeneration.

O segmento de PowerGeneration fatura por ano cer-ca de 1,5 bilhão de dólares emtodo o mundo. A América Lati-na, mais especialmente o Brasil,vem crescendo em importância,ano após ano, devendo ser hojeconsiderada um dos mercadosde maior potencial, no qual aCummins tem investido signifi-cativamente para ampliar e so-lidificar sua participação.

Hoje toda a rede de distribui-dores de Motores Cummins doBrasil está apta a atender àsnecessidades do setor agrícolanacional no segmento de gera-ção de energia, inclusive atra-vés do sistema de locação degrupos geradores, ampliandoainda mais o leque de produtose serviços.

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(011) 5103-0600, fax (011) 5103-0702, e-mail: [email protected], jornalista res-ponsável: Efigênia MennaBarreto.

A moderna agricultura brasi-leira conta, agora, com tecnologiade ponta para operar seus siste-mas de irrigação e suprimento deenergia elétrica.

A Cummins Power Gene-ration já está produzindo, no Bra-sil, avançados equipamentos detecnologia mundial que permitemoperar motobombas com eficiên-cia, confiabilidade e baixo custooperacional. A mesma empresatambém fornece equipamentospara geração de energia diesel,com variada potência e adequadaao tamanho e às necessidades dapropriedade agrícola.

A Cummins Power Gene-ration é um fornecedor global deequipamentos, sistemas degerenciamento e serviços de ener-gia elétrica. Seus produtos inclu-em geradores de energia movidosa diesel, gasolina e gás naturalcom potências que variam de 2kWa 4.000kW, para aplicações contí-nuas e de emergência, em umagama de usuários desde veículosde lazer (motor-homes) até mini--usinas de energia (termoelé-tricas).

Os equipamentos CumminsPower Generation foramprojetados, componente a compo-nente, para que o conjunto traba-lhe de maneira harmônica e efici-ente, já que a Cummins é fabri-cante de motores diesel, gasolinaou gás natural e de todos os de-mais componentes dos gruposgeradores e sistemas de energia,o que significa total qualidade e

Seu anúncio na revista Agropecuária

Catarinense atinge as principais lideranças agrícolas

do sul do Brasil.

Anuncie aqui e faça bons negócios.

o

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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 5

EntomologiaEntomologiaEntomologiaEntomologiaEntomologia

Alternativas para o manejo doAlternativas para o manejo doAlternativas para o manejo doAlternativas para o manejo doAlternativas para o manejo doácaro-do-bronzeado da erva-mateácaro-do-bronzeado da erva-mateácaro-do-bronzeado da erva-mateácaro-do-bronzeado da erva-mateácaro-do-bronzeado da erva-mate

Luís Antônio Chiaradia

erva-mate, espécie conhecidacientificamente pelo nome de

Ilex paraguariensis Saint Hilaire(Aquifoliaceae), é uma essência flo-restal nativa das regiões subtropicaise temperadas da América do Sul, ocor-rendo naturalmente entre ospararelos 21o e 30o de latitude Sul emeridianos 48o e 56o de longitude Oestee, principalmente, entre 500 e 1.000mde altitude (1).

As folhas e hastes da erva-matesão industrializadas para produzir aerva do chimarrão, chás, refrigeran-tes e outras bebidas destinadas aomercado interno e também à exporta-ção. Os principais Estados produtoressão Paraná, Santa Catarina e RioGrande do Sul, responsáveis por 42;37 e 21% da produção, respectivamen-te (2). O setor ervateiro concentra-seem 486 municípios, onde existem apro-ximadamente 725 indústrias debeneficiamento, que empregam dire-ta e indiretamente 710 mil pessoas,caracterizando-se num importantesegmento agroindustrial (1).

Por muitos anos a erva-mate foiextraída em matas nativas e de ervaisconsorciados com pastagens e cultu-ras anuais. Mais recentemente pas-sou a ser cultivada em reflorestamen-tos puros, sistema que facilita o ma-nejo e aumenta a produtividade, masque favorece o ataque de doenças epragas. Neste sentido, o ácaro-do--bronzeado Dichopelmus notus Keifer(Acari, Eriophyidae), praga conside-rada “secundária” até poucos anosatrás, tornou-se de importância eco-

nômica, infestando com freqüênciaervais situados na Região Sul do Bra-sil (3 e 4). Infestações deste ácaro sãoverificadas também em ervais da Ar-gentina, onde provocam danos ex-pressivos (5).

A importância socioeconômica daerva-mate, associada com a necessi-dade de aprimorar o processo produti-vo, exige conhecimentos capazes demanter a viabilidade da exploração e,ao mesmo tempo, permitir amaximização da produtividade doservais e rentabilidade da cultura.Neste sentido, este artigo conglome-ra algumas informações sobrebioecologia e danos do ácaro D. notus

e sugere algumas alternativas para omanejo desta praga.

Caracterização e danos doácaro-do-bronzeado

O ácaro-do-bronzeado caracteriza--se por ser uma praga específica daerva-mate. O ataque deste acarinoprovoca a paralisação de crescimentoe morte de folhas das brotações (Figura1) e o bronzeamento e queda de folhasmais velhas (Figura 2), fatoresresponsáveis pela redução da produçãodos ervais (3). O bronzeamentocaracteriza-se pelo aparecimento demanchas de coloração violácea nasfolhas, que são mais freqüentes nasregiões próximas da nervura principal,mas que podem cobrir toda a folha. Oataque de D. notus em ervais recém--implantados resulta na má formaçãodas copas e no retardamento do

crescimento das árvores (5).O exame microscópico de porções

de folhas com lesões de bronzeamentorevelou a presença de hifas entre ascélulas do tecido que, ao serem isola-das no meio de cultura BDA (batata--dextrose-ágar), permitiram recupe-rar e identificar fungos pertencentesaos gêneros Alternaria, Epicoccum,

Gleosporium , Cladosporium ePenicillium (6), levantando a hipótesede existir inter-relação entre estesfungos, o ácaro e a erva-mate. Assim,

A

Figura 1 – Sintoma de ataque do

ácaro-do-bronzeado em brotação

de erva-mate #

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6 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

EntomologiaEntomologiaEntomologiaEntomologiaEntomologia

as lesões provocadas pelos ácaros naepiderme das folhas poderiam facili-tar a penetração dos fungos. É impor-tante salientar que a manifestação desintomas ocorre somente com eleva-das populações do ácaro, embora ain-da não seja conhecida a infestaçãonecessária para induzir o aparecimen-to de sintomas. Estes sintomas po-dem surgir depois de ter ocorrido ainfestação do ácaro, mas uma obser-vação mais detalhada das porçõesescurecidas das folhas permitirávisualizar as exúvias do acarino, quepermanecem aderidas na superfície(Figura 3). Estas exúvias são de colo-ração branca e se constituem em par-tes dos exoesqueletos de ácaros, subs-tituídos no processo de crescimentodos indivíduos.

Nos ervais situados no Oeste deSanta Catarina foram observadosdanos expressivos e elevadasinfestações do ácaro-do-bronzeado,principalmente no período dedezembro a maio. Na Argentina, asinfestação geralmente iniciam nosúltimos meses do inverno, mantendo--se elevadas durante a primavera,para reduzirem-se nos meses maisquentes (5).

O ácaro D. notus possui coloraçãobranco-amarelada, tornando-se de corparda a marrom à medida queenvelhece (Figura 4). A localização doácaro na árvore também podeinfluenciar em sua coloração. Assim,indivíduos encontrados em folhasnovas e brotos são de cor branca,enquanto que indivíduos localizadosem folhas maduras são de coloraçãomais amarelada (7).

O formato do corpo deste ácaro ésemelhante ao de uma “vírgula”, sendomais largo na porção anterior, ondese localizam as peças bucais e os únicosdois pares de patas, característicamorfológica dos ácaros eriofídeos. Osespécimes adultos medem de 0,13 a0,20mm de comprimento por 0,05mmde largura, sendo necessário utilizarlentes de aumento para facilitar a suavisualização.

O ciclo biológico do ácaro-do--bronzeado, que compreende as fases

Figura 2 –Ramos

desfolhados e

folhas com

sintomas debronzeamento,

causados pelo

ataque do

ácaro-do-

-bronzeado

Figura 3 –Porção de folha

de erva-mate:

(A) exúvias

aderidas e (B)

espécimes doácaro-do-

-bronzeado

Figura 4 –Larvas,

ninfas e

adulto

(espécime

maior) doácaro-do-

-bronzeado

sobre porção

de folha de

erva-mate

AAAAABBBBB

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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 7

EntomologiaEntomologiaEntomologiaEntomologiaEntomologia

de ovo, larva, ninfa e adulto, podeocorrer em dez dias, quando ocorrerumidade relativa do ar elevada etemperaturas próximas de 25

oC. A

longevidade dos adultos pode alcançar20 dias, período em que as fêmeaspõem em média 2 ovos por dia (7).Estas características explicam por queocorrem rápidas infestações nos ervaisnas épocas favoráveis ao desenvol-vimento da praga.

Alternativas de manejo dapraga

Existem diferenças do ataque doácaro-do-bronzeado entre ervais eentre árvores de um mesmo erval.Este fato é atribuído à elevadavariabilidade genética da erva-mate,que se mantém porque as árvores sãoobtidas de sementes originadas defecundação cruzada, visto que a erva--mate apresenta flores masculinas efemininas em árvores separadas (1).A utilização de mudas obtidas pelométodo de estaquia, em quegeralmente ocorre menor variaçãogenética entre plantas, poderiafavorecer a adaptação e o aumentodas infestações desta praga.

A dispersão deste acarino entreplantas de um mesmo erval e entreervais ocorre principalmente peloauxílio de ventos (7). Assim, ainstalação de barreiras tipo “quebra--vento” é uma prática auxiliar paraprevenir a infestação e a dispersãodeste ácaro nos ervais.

A cobertura verde entre as filas deárvores, preferencialmente comespécies vegetais de porte baixo e queproduzam flores, é outra práticaimportante para reduzir a infestaçãodesta praga. Os ácaros predadores,com destaque para os da famíliaPhytoseiidae, são importantesinimigos naturais de ácaros fitófagos.Estes predadores alimentam-sealternativamente com pólen e presasexistentes na cobertura vegetalintercalar e geralmente combatem osácaros fitófagos no início de suasinfestações (8).

O nível de infestação do ácaro-

-do-bronzeado pode ser estimado pelacontagem do número de indivíduossituados próximos da nervuraprincipal, da face inferior de 3 folhas,que estejam inseridas na periferia eem porções inferiores e/ou médias dascopas, de 110 árvores por erval (9).Para facilitar a visualização dos ácarosnas avaliações é recomendada autilização de lupa, que tenha acapacidade mínima de aumento dedez vezes.

No caso da cultura dos citros, ondeocorre o ataque do ácaro da falsa--ferrugem Phyllocoptruta oleivora

(Ashmead) (Acari, Eriophyidae), cujosdanos e hábitos são semelhantes aosdo ácaro-do-bronzeado, o controle épreconizado quando 10% dos frutose/ou folhas apresentarem de 20 a 30ácaros/cm2 (8), nível de ação quepoderia ser preliminarmente utilizadono combate ao D. notus .

Até o momento não existemagrotóxicos registrados para o controleao D. notus, embora alguns acaricidascom base em enxofre sejam eficientesno controle de ácaros eriofídeos, demodo geral.

Literatura citada

01. DA CROCE, D.M.; FLOSS, P.A. Cultura

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Florianópolis: Epagri, 1999. 81p. (Epagri.

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02. ANUÁRIO BRASILEIRO DA ERVA-

-MATE 2000. Santa Cruz do Sul: Gazeta

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Erva-mate: biologia e cultura no Cone

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05. DE COLL, O.R.; CACERES, M.S.

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poblacional del “ácaro del bronceado” de la

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Sul. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 1995.

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06. CHIARADIA, L.A.; MILANEZ, J.M. Lo-

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2000, Caxambu, MG. Resumos...

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Luís Antônio Chiaradia, eng. agr., M.Sc.,

Cart. Prof. 11.485, Crea-SC, Epagri/Centro

de Pesquisa para Pequenas Propriedades,C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone (049)

323-4877, fax (049) 323-0600, e-mail:

[email protected]

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8 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

ReflorestamentoReflorestamentoReflorestamentoReflorestamentoReflorestamento

Análise da rentabilidade do cultivo de pínusAnálise da rentabilidade do cultivo de pínusAnálise da rentabilidade do cultivo de pínusAnálise da rentabilidade do cultivo de pínusAnálise da rentabilidade do cultivo de pínus(Pinus taeda)(Pinus taeda)(Pinus taeda)(Pinus taeda)(Pinus taeda) na região de Caçador na região de Caçador na região de Caçador na região de Caçador na região de Caçador, SC, SC, SC, SC, SC

Carlos Leomar Kreuz e Nelton Baú

silvicultura tem se apresentadocomo uma alternativa agrícola

para o Estado de Santa Catarina. Istoé decorrência do relevo excessiva-mente acidentado que predomina emboa parte do Estado e pelo fato de elaser altamente competitiva no merca-do (1). Para as pequenas propriedadesexistentes no Estado, ela é recomen-dada para as áreas que não são pró-prias para lavouras ou pastagens (2).

A expansão da silvicultura tem sidoexpressiva no Meio-Oeste Catari-nense. Atraídos pelos bons preços quea madeira tem apresentado, bem comopelos incentivos dados pelo Governodo Estado, empresários e agricultoresvêm ampliando a área plantada comespécies florestais. Na região de Ca-çador, SC, envolvendo os municípiosde Caçador, Matos Costa, Calmon,Macieira, Rio das Antas e Timbó Gran-de, estima-se que existam acima de 90mil hectares com floresta implanta-da.

Por ser uma atividade de longoprazo, envolvendo em torno de noveanos desde o plantio até surgirem asprimeiras receitas, a avaliação do re-sultado econômico da atividade flo-restal requer o uso de métodos deanálise de investimentos. A complexi-dade dos cálculos envolvidos faz comque a análise da atividade florestalcomo um investimento raramenteseja efetuada. Desta forma, ao menospara a situação existente na região deCaçador, não se tem a informação dequal é o retorno para cada unidademonetária que se investe nesta ativi-dade.

O presente estudo apresenta ummodelo de avaliação do resultado eco-nômico de se investir em florestaplantada na região de Caçador, SC.Estudar-se-ão as três situações en-contradas com maior freqüência naregião: floresta plantada por empre-sas instaladas na região, as quais re-florestam grandes extensões de ter-ras próprias, independentemente daclassificação do solo; o sistema dearrendamento de terra dos proprietá-rios de terras (agricultores e fazendei-ros) para as empresas; agricultoresplantando florestas em áreas impró-prias para cultivos anuais e pasta-gens. Para tanto, ter-se-ão como baseos dados da cultura de pínus (Pinustaeda) , de origem “clonal” (mudas pro-duzidas com sementes PCS – PomarClonal de Sementes), a qualcorresponde à principal espécie emuso na região.

Método

Os coeficientes técnicos usados nopresente estudo foram obtidos junto atrês técnicos que atuam em empresasinstaladas no município de Caçador,SC. Os coeficientes representam oque ocorre de forma mais freqüentenas florestas de Pinus taeda.

O modelo matemático de análiseusado foi o do cálculo da Taxa Internade Retorno (TIR), sendo (3):

inicial (ano zero do investimento), FCjrepresenta o fluxo de caixa no j-ésimoano do empreendimento, n represen-ta o último ano do empreendimento(corte final), i representa a Taxa In-terna de Retorno. Para fins opera-cionais, todos os desembolsos são re-presentados com o sinal negativo etodas as receitas o são com o sinalpositivo.

Os coeficientes deram origem aum modelo de análise, em planilhaeletrônica, que possibilita que se fa-çam simulações de resultado.

Resultados

Na Tabela 1 são apresentados oscoeficientes técnicos relativos à ex-ploração de 1ha de pínus. O espa-çamento hoje mais usado corres-ponde a 2,5m entre plantas e 2,5mentre filas, correspondendo a 1.600plantas/ha. O custo de implantação(R$ 698,00) corresponde ao somatóriodo custo das mudas, de uma roçada,do custo total de combate às formigas(mão-de-obra e formicida) e do custodo plantio propriamente dito. Parafins de investimento inicial, acrescen-ta-se o valor da terra (R$ 800,00/ha).Contudo, por ocasião do corte final, ovalor da terra retorna como uma re-ceita do empreendimento. Note-se queos coeficientes para implantaçãocorrespondem a uma área onde nãohá necessidade de destoca ou queima-da.

Com relação ao custo das manu-tenções anuais (Tabela 1), elascorrespondem:

nFC

0 - Σ FC

j /(1+i)j = 0 (01)

j=1

A

onde FC0 representa o fluxo de caixa

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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 9

• Ano 1 – coroamento das mudasacrescido do custo do combate às for-migas;

• Ano 2 – roçada (uma) acrescidado custo do combate às formigas;

• Ano 3 – roçada (uma) acrescidado custo da desgalha ou desrama e docusto de combate às formigas;

• Ano 4 – custo da desgalha(desrama);

• Ano 6 – custo da desgalha(desrama).

Os anos de existência da florestaimplantada que não estão especificadoscorrespondem aos anos onde os custosde manutenção são inexpressivos.

As receitas iniciam no 9o ano, quan-do 30% das plantas serão cortadas(Tabela 1). Estas árvores, por possuí-

rem valor comercial, serãocomercializadas junto a empresas in-dustriais produtoras de celulose. No14o existe nova fonte de receitas. Ametade das árvores existentes serãocomercializadas. O corte raso da flo-resta se dará no 18o ano da mesma,quando as árvores serão comercia-lizadas para fins de serraria.

A situação retratada com os coefi-cientes da Tabela 1 espelha a situaçãoda exploração comercial de florestasplantadas por parte de empresas (oude indivíduos), cuja principal caracte-rística é a de que todas as atividades,inclusive a terra, serão contratadas.Para esta situação, a TIR anual é de12,48%, o que equivale a uma remu-neração mensal de 0,98%. Esta remu-

neração é superior ao rendimento decadernetas de poupança (6% ao ano) esuperior aos rendimentos reais líqui-dos obtidos em aplicações financeirasde renda fixa. Dado que existe liquideznestes empreendimentos, ou seja,existem negócios para florestas queainda não estejam em idade de cortefinal ou raso, o investimento é viável.

Para os agricultores e fazendeirosnormalmente se apresentam duas si-tuações: a do arrendamento das ter-ras para terceiros implantarem a flo-resta e a da exploração por contaprópria, adquirindo os insumos ne-cessários (mudas, formicida) e nor-malmente contando com a mão-de--obra familiar.

No caso de arrendamento de ter-ras, os contratos têm sido firmadosconcedendo ao proprietário da terra25% de todas as receitas, estando omesmo isentado de todas as despesasdecorrentes da atividade. Nesta situ-ação, o proprietário usa os 25% dasreceitas para remunerar a terra. Aremuneração da terra passa a ser de11,27% ao ano ou 0,89% ao mês. Estaremuneração pode ser consideradarazoável, uma vez que ela garanteuma remuneração sobre o ativo imo-bilizado (terra) do agricultor. Já oarrendador passa a ter uma remune-ração levemente superior àquela queteria caso adquirisse a terra (Tabela2). Além disto, sua necessidade decapital é menor nesta opção.

A segunda opção (exploração peloagricultor) se torna mais interessan-te porque ele pode usar a mão-de-obraprópria da propriedade. A terra, porserem reflorestadas as áreas de mai-or declividade, tem seu valor reduzi-do. Assim sendo, considerando-se queo valor da terra se reduza em 50%, arentabilidade de 1ha reflorestado cres-ce para 13,82% ao ano ou 1,08% aomês. Esta rentabilidade torna-se maisrelevante quando se considera que oagricultor está, também, remuneran-do a mão-de-obra própria, a qual,muitas vezes, nem uso alternativopossui. É importante que se destaqueque esta remuneração é um poucoinferior à remuneração anual de 17%obtida em estudo realizado na Empre-sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária– Embrapa (4).

ReflorestamentoReflorestamentoReflorestamentoReflorestamentoReflorestamento

Tabela 1 – Coeficientes técnicos relativos à exploração de 1ha de pínus na região deCaçador, SC. Outubro de 2000

ValorDescrição Unidade Coeficiente

(R$/ha)

Valor da terra R$/ha - 800,00Custo de implantação

(A)R$/ha - 698,00

- Preço 1.000 mudas R$/1.000 130,00 -- Espaçamento entre plantas m 2,50 -- Espaçamento entre filas m 2,50 -- Densidade planta/ha 1.600,00 -- Custo mudas R$/ha 208,00 -- Roçada R$/ha 160,00 -- Plantio R$/ha 180,00 -- Combate formiga R$/ha 150,00 -Manutenção do 1

o ano R$/ha - 300,00

Manutenção do 2o ano R$/ha - 300,00

Manutenção do 3o ano R$/ha - 300,00

Manutenção do 4o ano R$/ha - 150,00

Manutenção do 6o ano R$/ha - 150,00

Receita 9o ano R$/ha - 480,00

- Raleio 9o ano % corte 30,00 -

- Raleio 9o ano N

o árvores 480,00 -

- Valor árvore 9o ano R$/planta 1,00 -

Receita 14o ano R$/ha - 2.240,00

- Raleio 14o ano % corte 50,00 -

- Raleio 14o ano N

o árvores 560,00 -

- Valor árvore 14o ano R$/planta 4,00 -

Receita 18o ano R$/ha - 14.000,00

- Corte 18o ano % corte 100,00 -

- Corte 18o ano N

o árvores 560,00 -

- Valor árvore 18o ano R$/planta 25,00 -

(A) Corresponde ao somatório do custo das mudas, da roçada, do plantio e do cambateà formiga.

#

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10 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

ReflorestamentoReflorestamentoReflorestamentoReflorestamentoReflorestamento

Conclusão

Com base nos resultados obtidosconclui-se que, na região de Caçador,

Tabela 2 – Fluxo de caixa anual e a Taxa Interna de Retorno (TIR) de 1ha de floresta

de pínus, na região de Caçador, SC, em três opções de exploração. Outubro de 2000

(Em R$/ha)

Fluxo de caixa

Ano Arrendamento

Agricultor Arrendatário

0 -1.498,00 -800,00 -698,00 -1.098,001 -300,00 - -300,00 -300,002 -300,00 - -300,00 -300,003 -300,00 - -300,00 -300,004 -150,00 - -150,00 -150,005 - - - -6 -150,00 - -150,00 -150,007 - - - -8 - - - -9 480,00 120,00 360,00 480,0010 - - - -11 - - - -12 - - - -13 - - - -14 2.240,00 560,00 1.680,00 2.240,0015 - - - -16 - - - -17 - - - -18 14.800,00 4.300,00 10.500,00 14.800,00TIR anual (%) 12,48 11,27 13,08 13,82TIR mensal (%) 0,98 0,89 1,03 1,08

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SC, a atividade florestal (floresta plan-tada de pínus) é viável economica-mente, tanto em termos de atividadeempresarial quanto para os agriculto-

res. Justificam-se, portanto, ações quevisem a estimular esta atividade.

Literatura citada

01. CHRISTMANN, A. Treinamento comu-

nitário de silvicultura: informações téc-

nicas. Florianópolis: Epagri, 2000. 26p.(Epagri. Boletim Didático, 35).

02. CHRISTMANN, A.; Ramos, M. G.; Cordini,

S.; Farias, J.A.C.; Fossati, L.C. Módulo I:

Plantio e manejo de florestas plantadas.Florianópolis: Epagri, 1997. 77p. (Epagri,

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-mate, eucalipto e pínus e as culturas do

feijão, milho, soja e trigo. Colombo:

EMBRAPA-CNPF, 1997. 36p. (EMBRA-PA-CNPF. Cicular Técnica, 260).

Carlos Leomar Kreuz, eng. agr., Dr., Cart.

Prof. 12.553-D, Crea-PR. Epagri/EstaçãoExperimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone (049) 663-0211, fax

(049) 663-3211, e-mail: [email protected] Nelton Baú, eng. agr., Crea-SC 33.580-0,

professor da Universidade do Contestado,Rua Itororó, 800, 89500-000 Caçador, SC,e-mail: [email protected].

o

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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 11

Cit rosCi t rosCi t rosCi t rosCi t ros

Controle de cancro cítrico naControle de cancro cítrico naControle de cancro cítrico naControle de cancro cítrico naControle de cancro cítrico naRegião Oeste CatarinenseRegião Oeste CatarinenseRegião Oeste CatarinenseRegião Oeste CatarinenseRegião Oeste Catarinense

Rui Pereira Leite Júnior, Luiz Augusto Verona eGiovanina Fontanezzi Huang

cancro cítrico é uma doençacausada pela bactéria

Xanthomonas axonopodis pv. citri,que tem causado danos aos pomaresde citros da Região Oeste Catarinense,principalmente devido a sua capacida-de de destruição e de contaminaçãodas plantas cítricas. A doença foi cons-tatada no Estado em 1986 e, atual-mente está espalhada por diversaslocalidades da região oeste catari-nense. O aumento da ocorrência dadoença se deve às condições climáti-cas favoráveis, à presença do patógenoe à falta de manejo adequado dospomares existentes na região.

Na América do Sul, a doença já foireportada na Argentina, Bolívia, noBrasil, Paraguai e Uruguai (1). NoBrasil, o cancro cítrico foi relatadopela primeira vez no município dePresidente Prudente, SP, em 1957. Abactéria foi introduzida, provavelmen-te, através de material propagativo decitros contaminado proveniente doJapão (2). A partir desta primeiraintrodução, a bactéria foi dissemina-da para diversas regiões de São Pauloe de outros Estados. Atualmente, ocancro cítrico já foi reportado nosEstados de São Paulo, Paraná, SantaCatarina, Rio Grande do Sul, MinasGerais, Goiás, Mato Grosso do Sul eMato Grosso (1).

Descrição da doença

O cancro cítrico é causado pelabactéria Xanthomonas axonopodis pv.citri e caracteriza-se pela presença delesões corticosas em folhas, ramos efrutos (Figura 1). Os sintomas inicial-mente se apresentam como pequenaspontuações levemente salientes e decoloração creme. Posteriormente, as

lesões aumentam em tamanho, tor-nando-se corticosas e circundadas porhalo de coloração amarela (Figura 1).As lesões em frutos normalmenteapresentam centro mais dilacerado easpecto esponjoso. As folhas e os fru-tos afetados caem precocemente, re-duzindo a produção.

O desenvolvimento da doença éfavorecido pela ocorrência de tempe-raturas elevadas, chuvas freqüentes eventos durante o verão, que normal-mente coincidem com intensabrotação das plantas e presença defrutos novos. O período crítico parainfecção das folhas é, normalmente,até seis semanas após o início dabrotação, e para os frutos, de seis aoito semanas após o florescimento (1).Em tecidos que já atingiram amaturação, a infecção somente ocor-re através de ferimentos.

Manejo de pomares comcancro cítrico

A aplicação de bactericidas cúpri-cos, uso de quebra-ventos arbóreos epoda de partes doentes da planta cí-trica estão entre as medidas recomen-dadas para prevenção e controle do

cancro cítrico. A aplicação debactericidas cúpricos visa basicamen-te reduzir a população do patógeno naplanta cítrica e proteger as brotaçõese os frutos novos de infecção pelabactéria (1). O emprego de quebra--ventos tem sido eficiente em reduzira incidência de cancro cítrico em po-mares, visto que reduz a ação dovento nas plantas cítricas e na disse-minação do patógeno (3). A poda departes doentes tem por finalidade re-duzir o potencial de inóculo presentena planta cítrica. Entretanto, aimplementação dessas medidas paramanejo do cancro cítrico requer umaavaliação criteriosa de sua eficiêncianas condições locais onde serão em-pregadas. O objetivo do presente tra-balho foi avaliar o efeito conjunto daaplicação de bactericidas cúpricos epráticas culturais para controle docancro cítrico nas condições da RegiãoOeste Catarinense.

Metodologia doexperimento

O trabalho experimental foi con-duzido no município de União do Oes-te, no oeste de Santa Catarina, a uma

O

Figura 1 – Sintomas de cancro cítrico em (A) folhas e (B) frutos

AAAAA BBBBB

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12 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

Cit rosCi t rosCi t rosCi t rosCi t ros

altitude de 430m, no período de feve-reiro de 1995 a janeiro de 1998. Osdados climáticos anuais médios são osseguintes: temperatura média, 18,8

oC;

umidade relativa, 73,4%; precipita-ção, 2.006,6mm. O estudo foi desen-volvido em três pomares comerciaisde citros que apresentavam ocorrên-cia natural de cancro cítrico, pomaresvizinhos, distanciados em aproxima-damente 50m entre um e outro, im-plantados em 1992. O porta-enxertoempregado foi o limão-cravo (Citruslimonia Osb.) e a cultivar de copalaranja Valência [Citrus sinensis (L.)Osb.]. O espaçamento de plantio dospomares foi de 3,5 x 3,5 m. Todas aspráticas de adubação e de controle depragas e doenças foram feitas de acor-do com as recomendações normaispara condução de pomares cítricos naRegião Oeste Catarinense (4).

Os tratamentos estudados foramos seguintes: 1- poda drástica + pulve-rização de oxicloreto de cobre, 2- podaleve + pulverização de oxicloreto decobre e 3- pulverização de oxicloretode cobre.

No tratamento com poda drástica,todas as plantas cítricas do pomarforam podadas de modo a reduzir aparte aérea da planta até as pernadasprincipais de formação. Na poda leve,foram eliminados somente os ramosque apresentavam sintomas de can-cro cítrico em todas as plantas cítri-cas. No terceiro pomar não foi realiza-da a prática de poda. Nos três poma-res foram feitas aplicações deoxicloreto de cobre (50% de cobremetálico) na dosagem de 1,6g do in-grediente ativo (i.a.) por litro de água,com pulverizador costal manual. Asaplicações foram feitas em intervalosde aproximadamente 30 dias, duranteo período mais favorável para desen-volvimento epidêmico de cancro cítri-co, entre setembro e março de cadaano. As aplicações foram iniciadas emfevereiro de 1995, tendo sido realiza-das seis pulverizações anualmente emcada pomar.

As avaliações de incidência de can-cro cítrico foram feitas mensalmenteem plantas escolhidas ao acaso paracada um dos pomares. Entretanto, onúmero de plantas cítricas avaliadas

foi variável para cada pomar. Nospomares com poda drástica + pulveri-zação de oxicloreto de cobre e compoda leve + pulverização de oxicloretode cobre foram avaliadas 15 plantas.No pomar com pulverização deoxicloreto de cobre foram avaliadas25 plantas cítricas. As avaliações dadoença foram feitas em 8 ramos daúltima brotação distribuídos na altu-ra média da planta cítrica. Em cadaramo, foram determinados o númerode folhas sadias, folhas doentes e fo-lhas caídas e a presença de cancrocítrico em ramos. A incidência decancro cítrico em frutos foi determi-nada em 50 frutos amostrados dasplantas previamente escolhidas aoacaso. A produção das plantas cítricastambém foi determinada pesando todaa produção no período de colheita. Asobservações de incidência de cancrocítrico foram realizadas no período defevereiro de 1995 a janeiro de 1998.

Resultados

No início do estudo, as plantasapresentavam incidência de cancrocítrico em folhas acima de 70% e emramos acima de 27% e desfolha entre5 e 26% (Tabela 1).

Na avaliação realizada 30 dias apóso início dos tratamentos, a incidênciade cancro cítrico nas plantas quereceberam somente cúprico, poda leve+ cúprico e poda drástica + cúprico foide 62, 1 e 0%, respectivamente (Figu-ra 2). No pomar que recebeu somenteaplicação de bactericida cúprico, aincidência de cancro cítrico em folhasfoi reduzida gradualmente paramenos de 1,5 %, dentro de seis meses,

após o início dos tratamentos(Figura 2). A partir do início de 1997houve nova reincidência de cancrocítrico nos pomares (Figura 2), emfunção da introdução da larvaminadora dos citros (Phyllocnistiscitrella), a qual não ocorria anterior-mente nesta região (5).

Em relação aos frutos, avaliaçõesrealizadas em dois pomares na safra1994/95, antes do início das aplicaçõesdos tratamentos, revelaram incidên-cia de cancro cítrico superior a 50%nos frutos (Tabela 2). A incidência decancro cítrico em frutos da safra1995/96 somente foi avaliada no po-mar que recebeu apenas pulverizaçãocom bactericida cúprico e apresentou3,20% de frutos com cancro cítrico. Osoutros dois pomares não produziramfrutos devido à poda. Já na safra1996/97, as avaliações de cancro cítri-co em frutos dos três pomares foi in-ferior a 12%, sendo que nos pomaresque além de bactericida cúprico tam-bém receberam poda, a incidência dadoença foi inferior a 2% (Tabela 2).

Considerações finais

Os resultados deste estudo vêmconfirmar informações obtidas ante-riormente (1,6) sobre a eficiência docontrole de cancro cítrico através daaplicação de bactericidas cúpricos e depráticas culturais como a poda. A apli-cação de bactericidas cúpricos sozi-nha ou em associação com outraspráticas culturais como a poda redu-ziu drasticamente a incidência de can-cro cítrico em plantas de laranjaValência.

O emprego da poda em combinação

Tabela 1 – Incidência de cancro cítrico em folhas e ramos e desfolha de plantas de

laranja Valência em pomares da Região Oeste Catarinense, em avaliação realizada

em fevereiro de 1995

Folhas doentes Folhas caídas Ramos com cancro

(%) (%) (%)

Somente cúprico 70,10 ± 2,22(A) 5,48 ± 1,12 27,00 ± 6,42Poda leve + cúprico 95,96 ± 1,01 26,09 ± 2,21 49,38 ± 8,08Poda drástica + cúprico 86,50 ± 2,34 17,35 ± 2,59 41,67 ± 9,27

(A) Média determinada com base na avaliação de 25 plantas para o pomar comtratamento somente cúprico e 15 plantas para os demais tratamentos.

Tratamento

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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 13

Cit rosCi t rosCi t rosCi t rosCi t ros

com a aplicação de cúpricos levou auma imediata redução da ocorrênciada doença no pomar, basicamenteatravés da redução do inóculo dopatógeno presente em partes doentesda planta cítrica. Entretanto, essaprática tem a desvantagem de reduzira área produtiva da planta cítrica queno presente caso representou umasafra sem qualquer produção. Na safraseguinte, as plantas podadasproduziram pouco menos da metadedas plantas não podadas (Tabela 2).Conseqüentemente, a adoção da podacomo prática de controle do cancrocítrico deve ser analisada

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Somente cúprico

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Poda drástica + cúprico

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as d

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Figura 2 – Efeito da poda e da aplicação de bactericida cúpricona incidência de cancro cítrico em plantas de laranja

Valência na Região Oeste Catarinense

Tabela 2 – Incidência de cancro cítrico em frutos e produção de plantas de laranja

Valência na Região Oeste Catarinense, no período de 1995 a 1998

Frutos com cancro cítrico Produção

(%) (kg/planta)

1994/95 1995/96 1996/97 1995/96 1996/97

Somente cúprico 51,17 3,20 11,44 51,57 66,39Poda leve + cúprico nd nd 1,70 0 24,14Poda drástica + cúprico 79,69 nd 0,68 0 22,25

Nota: nd – não determinado.

Tratamento

criteriosamente, visto que somente aaplicação de bactericidas cúpricos jáfoi suficiente para oferecer níveissemelhantes de controle da doença.

Cabe ressaltar que a laranjaValência é moderadamente resisten-te à doença. Cultivares que possuemesse nível de resistência ao cancrocítrico são aquelas que normalmenteapresentam maior resposta à aplica-ção de bactericidas cúpricos para con-trole da doença.

Fatores como o controle da larva--minadora dos citros e uso de quebra--vento nos pomares de citros, emboranão avaliados no trabalho, sem dúvi-

da, são indispensáveis no manejo depomares.

Com base nos resultados obtidos, aimplementação de um programa inte-grado de manejo de cancro através daadoção de medidas como a aplicaçãode bactericidas cúpricos e práticasculturais poderá possibilitar um efeti-vo controle da doença na Região Oes-te Catarinense.

Literatura citada

01. LEITE JÚNIOR., R.P. Cancro cítrico:prevenção e controle no Paraná.Londrina, Iapar, 1990. 51p. (Iapar. Circu-lar, 61).

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04. EMPRESA CATARINENSE DE PESQUI-SA AGROPECUÁRIA. Normas técnicaspara a cultura de citros em Santa Catarina.Florianópolis: Empasc/Acaresc, 1990. 66p.(Empasc/Acaresc. Sistemas de Produção,14).

05. CHIARADIA, L.A. & MILANEZ, J.M. “La-garta-minadora-dos-citros”, uma novapraga na citricultura catarinense.Agropecuária Catarinense, Florianópolis,v.10, n.3, p.20-21, set./nov. 1997.

06. HUANG, G.F. & LEITE JR., R.P. Avalia-ção de práticas de poda e aplicação debactericida cúprico para controle de can-cro cítrico na região Oeste de SantaCatarina. In: CONGRESSO BRASILEI-RO DE FRUTICULTURA, 14; REUNIÃOINTERAMERICANA DE HORTICUL-TURA TROPICAL, 42; SIMPÓSIO IN-TERNACIONAL DE MIRTÁCEAS, 1996,Curitiba, PR. Resumos... Londrina: Iapar,1996. p.145.

Rui Pereira Leite Júnior, eng. agr., Cart.Prof. 68.393-D, Crea-SP, Instituto Agronômicodo Paraná – Iapar, C.P. 481, 86001-970Londrina, PR, e-mail: [email protected],Luiz Augusto Verona, eng. agr., Cart. Prof.45.179-D, Crea-RS, Epagri/Centro dePesquisa para Pequenas Propriedades, C.P.791, 89801-970 Chapecó, SC, fone (049) 328-4277, fax (049) 328-6017, e-mail:[email protected] e GiovaninaFontanezzi Huang, enga agra, Cart. Prof.49.987-D, Crea-MG, Epagri/Centro dePesquisa para Pequenas Propriedades, C.P.791, 89801-970 Chapecó, SC, fone (049) 328-4277, fax (049) 328-6017, e-mail:[email protected].

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Data

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Incidência e fatores do abortamento deIncidência e fatores do abortamento deIncidência e fatores do abortamento deIncidência e fatores do abortamento deIncidência e fatores do abortamento degemas em gemas em gemas em gemas em gemas em pereira japonesa

José Luiz Petri, Gabriel Berenhauser Leite eYoshihiro Yasunobu

cultivo comercial da pereira ja-ponesa, originária da Pyrus

pyrifolia, está iniciando no Sul doBrasil. Nesta região as condições declima no outono e inverno são muitovariáveis, com grandes flutuações detemperatura no ano e de um ano paraoutro. É freqüente a ocorrência dedias frios com temperaturas próxi-mas a 0oC seguidos de temperaturasaltas, acima de 20oC. A produção deperas tem variado largamente de umano para outro, dependendo da ocor-rência de um problema fisiológico co-nhecido como abortamento de ge-mas.

O abortamento floral ocorre emtodo o Sul do Brasil, com maior oumenor intensidade, dependendo daregião, do ano e da cultivar. Similardesordem ocorre também na NovaZelândia, em todas as áreas de plan-tio, sendo conhecida popularmentepor “budjump” (1). Nas plantas afeta-das as gemas são normais até o iníciodo inverno, quando um grande núme-ro delas abortam e caem da planta oudesintegram-se quando tocadas (2).Em determinados anos, dependendoda cultivar, o abortamento podeatingir de 30 a 100% das gemasfloríferas (3). As gemas que se desen-volvem podem apresentar poucas flo-res por gema ou somente folhas ouflores. Também muitas flores podemnão estar completamente desenvolvi-das.

De todas as cultivares japonesas, aHousui é a mais afetada (1, 2). Nascondições do Sul do Brasil, tem-seobservado uma alta incidência doabortamento das gemas florais na

cultivar Nijisseiki. A incidência dadesordem é influenciada pela idade daplanta, sendo maior em plantas commenos de oito anos (1). Entre as cau-sas, estão relacionadas a quantidadede frio acumulado e a ocorrência deflutuação térmica (4). Uma forte asso-ciação entre abortamento de gemas efatores climáticos tem sido observa-da, bem como entre a época de quedadas folhas no outono e a época deflorescimento. A queda de folhas noinício do outono é geralmente seguidade uma baixa incidência da desordemna primavera.

O abortamento das gemas tem sidomenor nos anos em que oflorescimento ocorre mais cedo, ouquando se adianta artificialmente afloração com o uso de cianamidahidrogenada (2, 5). Também observa--se no Sul do Brasil uma menor inci-dência em locais com maior númerode horas de frio. Estes resultadosdirecionam para a hipótese de que ainsuficiência de frio no inverno podecontribuir para o abortamento dasgemas, porém, não é a única causa.Isto é observado em pêra européia,que, quando cultivada em situaçãode insuficiência de frio, tem asgemas florais abortadas irregular-mente e, muitas vezes, com aabscisão das mesmas (6). Todavia, aocorrência de abortamento de gemasem áreas onde ocorrem adequadascondições de frio para a pereira suge-re que a temperatura durante o in-verno possa não ser o único fatorenvolvido (2).

Observações na Nova Zelândia têmmostrado uma forte associação do

abortamento de gemas com fatoresclimáticos e, em alguns anos, entre aépoca de queda de folhas no outono ea época de florescimento (1). Segundoos mesmos autores, o abortamentodas gemas é menor em plantas poda-das no outono, quando o florescimentoocorre cedo. Adiantando-se artificial-mente a floração, pode-se diminuir oabortamento. Isto também pode ex-plicar o fato de que, nos locais commaior intensidade de frio no PlanaltoCatarinense, a incidência do aborta-mento de gemas é menor, sugerindoque o grau de abortamento poderiaser devido à quantidade de frio acu-mulada. Porém, a flutuação de altastemperaturas seguidas de baixas tem-peraturas pode causar, também,abortamento de gemas (7).

A literatura cita que há grandesvariações no abortamento de gemasentre plantas, cultivares, localizaçãoe ano e que a causa ainda não estáesclarecida (2, 5).

Este trabalho visa avaliar a inten-sidade do abortamento floral nas con-dições do Planalto Catarinense, bemcomo os fatores que podem influen-ciar o problema nessas condições.

Material e método

Plantas das cultivares Housui,Kousui, Suisei e Nijisseiki enxerta-das em Pyrus comunis, com oito anos,conduzidas no sistema em V e latada,foram avaliadas quanto ao aborta-mento de gemas e crescimento dosfrutos em Frei Rogério, SC.

Para cada cultivar e sistema decondução, foram selecionadas três

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plantas, sendo que em cada plantaforam marcados seis ramos de dois oumais anos e seis ramos de um ano.Nestes ramos, foi contado o númerototal de gemas, e, a partir do início dabrotação, semanalmente avaliou-se onúmero de gemas brotadas e o núme-ro de flores de cada gema. Foramtambém observadas possíveis anoma-lias visuais nas gemas florais. Emcada gema foi contado o número defrutos e calculada a frutificação efeti-va. Após a floração, foram marcados24 frutos por planta, divididos emramos de um ano e de dois ou maisanos, medindo-se quinzenalmente ocrescimento dos mesmos. As gemasdos frutos marcados foram classifica-das quanto ao tamanho e número defolhas, sendo consideradas gemas semfolhas, com até duas folhas pequenas,com até quatro folhas e com mais dequatro folhas.

Também foram avaliados oabortamento floral e o número deflores por gema em três locais comdiferentes condições climáticas: Ca-çador e Frei Rogério, com altitude emtorno de 1.000m, e São Joaquim, emtorno de 1.300m.

Em Caçador, SC, na cultivarHousui, foram avaliados a localizaçãodos frutos, considerando-se ramos deum ano, esporões e gemas terminais,e o crescimento dos frutos.

Plantas da cultivar Housui cultiva-das em vaso de 50 litros forammantidas à temperatura de 4oC porum período de 60 dias, e, após, levadasà temperatura ambiente, sendo avali-adas quanto ao abortamento floral,número de cachos florais e número deflores por gema.

Resultados e discussão

• Efeito do local e do anoO abortamento floral variou com o

ano e com o local, o que demonstraque as condições climáticas devemestar relacionadas ao problema.

As cultivares Nijisseiki e Suiseiforam as que apresentaram o maiorpercentual de abortamento de gemasflorais, atingindo valores superiores a70%. A cultivar Kousui sempre apre-sentou menor abortamento floral,

porém variando muito com o ano(Tabelas 1, 2, 3 e 4). Este aborta-mento em maior intensidade veioacompanhado de uma floração maistardia, que em 1997 ocorreu em 1 o/10na cultivar Nijisseiki e 10/9 e 19/9 nascultivares Housui e Kousui, respecti-vamente.

Quando se analisou o abortamentoem Caçador e São Joaquim (Tabela 4),observou-se que a intensidade eramuito maior em Caçador, onde a cul-tivar Nijisseiki atingiu 93,7%, enquan-

to que em São Joaquim foi de somente1,3%. Caçador apresenta um invernomais ameno que São Joaquim, sendoeste último com temperaturas maisconstantes. Destaca-se que a cultivarNijisseiki necessita uma maior quan-tidade de horas de frio.

• Influência do frioPlantas da cultivar Housui subme-

tidas a frio artificial reduziram signi-ficativamente o abortamento de ge-mas, mostrando que o problema estárelacionado a temperaturas durante

Tabela 1 – Abortamento de gemas florais em pereira japonesa.

Frei Rogério, SC, 1997

Data

de

Ramos de Ramos de plena

ano 2 anos floração

Housui V 18,3 29,1 23,7 10/9Latada 9,6 8,8 9,2 10/9

Nijisseiki V - 55,6 - 1 o/10Latada - 88,2 - 1 o/10

Kousui V 13,6 8,6 11,1 19/9Suisei V - 78,3 - 1 o/10

Gemas abortadas(%)

Cultivar MédiaForma

de

condução

Tabela 2 – Incidência de abortamento de gemas e características da floração

da pereira japonesa. Frei Rogério, SC, 1997

Cultivar

Nijisseiki

Ramo Ramo Ramo Ramo Ramode de de de de

ano 2 anos ano 2 anos ano

Gemas abortadas (%) 13,1 21,2 13,2 8,6 71,9Número de flores/gema 4,6 4,2 6,2 7,0 2,2Frutificação efetiva 111,0 101,1 135,8 82,6 33,1Gemas com frutos (%) 72,0 60,5 59,0 44,0 25,0Densidade de floração 7,1 - 8,6 - -

Cultivar Housui Cultivar Kousui

Características

Tabela 3 – Abortamento floral e número de flores por gema em pereira japonesa.

Frei Rogério, SC, 1998

Abortamento Flores por gema

(%) (no)

Housui 52,2 3,4Kousui 31,5 6,8Nijisseiki 51,8 1,6

Cultivar

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o período de dormência (Tabela 5). Oabortamento floral foi influenciadopela variação da temperatura (4). Es-tes resultados foram confirmadosquando foi dado frio constante à culti-var Housui ou quando avaliada a inci-dência do abortamento floral em re-giões com diferentes condições climá-ticas (Tabela 4).

• Efeito da condução das plan-tas

A ocorrência do abortamento flo-ral não mostra evidências de ser influ-enciado pela forma de condução dasplantas (Tabela 1), pois na cultivarHousui foi maior no sistema de condu-ção em V, porém, na Nijisseiki, foi nosistema de latada. Tendência similarobserva-se ao analisar a incidência doabortamento floral em ramos de umano ou mais de um ano. No caso dacultivar Housui, ramos de ano apre-

Tabela 5 – Efeito do frio na floração e abortamento de gemas florais na pereirajaponesa cultivar Housui. Caçador, SC, 1999

Gemas Gemas Cachos Flores

Tratamento abortadas brotadas florais/planta por gema

(%) (%) (no) (no)

Condições ambientais 68,7 54,7 46,5 4,3

60 dias em temperatura

de 4oC 11,0 98,5 128,0 7,3

Tabela 4 – Abortamento de gemas florais e número de flores por cacho floral na

pereira japonesa em diferentes condições climáticas, 1999

Abortamento Flores por gema

(%) (no)

Housui Kousui Nijisseiki Housui Kousui Nijisseiki

Caçador 60,6 6,1 93,7 1,5 6,9 -

Frei Rogério 22,0 - 40,0 4,4 - 2,6

São Joaquim 0,0 0,0 1,3 - - -

Local

sentaram uma menor intensidade(Tabela 2), enquanto que na cultivarKousui, a menor incidência foi emramos de dois ou mais anos. Tem sidoobservada uma maior incidência nacultivar Housui em gemas axilares,que normalmente se desenvolvem emramos de ano (8). Porém, este resulta-do não foi constante em todos os anos.Os resultados mostram que as condi-ções meteorológicas do ano são maisimportantes que a localização e a ida-de dos ramos na incidência doabortamento floral.

• Efeito na floração e frutifi-cação

Com exceção do abortamento totalda gema, que não apresenta nenhumaflor, muitas gemas apresentaram umabortamento parcial, emitindo menosde três flores por gema (Tabela 4,Figuras 1, 2 e 3). O número de florespor gema foi menor na cultivarNijisseiki, o que pode estar relaciona-do às exigências em frio, pois dascultivares estudadas ela é a de maiorexigência. Nesta cultivar, o percentualde gemas com quatro ou mais floresfoi inferior a 10%, quando o normal écinco ou mais flores por gema. Já acultivar Kousui foi a única que apre-sentou um alto percentual com qua-tro ou mais flores por gema. O altonível de abortamento floral e o baixonúmero de flores por gema na culti-var Nijisseiki comprometeram a pro-dução desta cultivar. Também muitas

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Número de flores por gema

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(%)

Ramos 1 ano

Ramos 2 anos

Figura 1 – Percentagem do número de flores por gema na

cultivar Housui. Frei Rogério, SC, 1998

Figura 2 – Percentagem do número de flores por gema na

cultivar Kousui. Frei Rogério, SC, 1998

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17/out. 6/nov. 26/nov. 16/dez. 5/jan. 25/jan.

Avaliações

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Fo lhas pequenas

Fo lhas médias

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30/out. 19/dez. 7/fev . 29/mar.

Avaliações

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ruto

s

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Sem folhas

Fo lhas p equenas

Fo lhas médias

Fo lhas g rand es

gemas que floresceram apresentavamflores deformadas, com produção defrutas de baixa qualidade. A cultivarKousui foi a que apresentou maiornúmero de flores por gema, o quemostra que o problema de abortamen-to floral nesta cultivar ocorre commenor intensidade.

O baixo número de flores por gemamostra que mesmo as gemas quefloresceram apresentaram um certograu do problema, mostrando ser maisintenso nas cultivares com maior exi-gência em frio. Isto pode ser melhoridentificado na Tabela 5, ao analisarplantas da cultivar Housui que rece-beram frio artificial – as mesmas tive-ram um maior número de flores porgema.

A frutificação efetiva não é afetadapelo abortamento floral, pois as ge-mas que emitem flores apresentaramuma alta frutificação efetiva (Tabela2).

Afora o abortamento floral,ocorrem gemas que florescem, porém,não emitem folhas, ou quando asemitem, estas são de tamanhopequeno. Os frutos produzidos nestasgemas sem folhas ou com folhaspequenas apresentaram um cresci-mento normal (Figuras 4 e 5). Pode-seatribuir o crescimento normal destesfrutos à grande área foliar da plantaformada com o forte crescimentovegetativo, que distribui os fotoassi-milados aos frutos cujas gemastenham deficiência.

Conclusões

• O abortamento floral da pereirajaponesa é influenciado pelastemperaturas de outono e inverno.

• Cultivares com maior exigênciaem frio apresentam maior incidênciade abortamento floral nas condiçõesdo Planalto Catarinense.

• O maior número de horas de frioreduz o abortamento de gemas florais.

• O abortamento floral reduz onúmero de flores por gema, porémnão afeta o desenvolvimento dosfrutos.

Literatura citada

01. MOONEY, P.; KLINAC, D. Time ofPruning effects on ‘Budjump’ of

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Número de f lores por gema

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(%)

LATADA

SISTEMA V

Latada

Sistema VFigura 3 – Percentagem do número

de flores por gema na cultivar

Nijisseiki. Frei Rogério, SC, 1998

Figura 4 – Crescimento dos frutos

da cultivar Housui de acordo com

o enfolhamento das gemas. FreiRogério, SC, 1998

Figura 5 –Crescimento dos

frutos da cultivar

Nijisseiki de acordo

com o enfolhamento

das gemas. FreiRogério, SC, 1998

Nashi. The orchardist of New Zealand,Wellington, v.65, n.6, p.19-21, jun.1992.

02. KINGSTON, C.M.; KLINAC, D.J.;EPENHERIJSEN, C.W. van. Floral bud

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03. NAKASU, B.H.; LEITE, D.L. Pirus 9 –#

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18 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

Seleção de pereira para o Sul do Bra-sil. Horti-sul , Pelotas, v.2., n.3, p.19-20,1992.

04. HERTER, F.G.; RASEIRA, M.C.B.;NAKASU, B.H. Época de abortamento degemas florais em pereira e sua relaçãocom temperatura ambiente em Pelotas,RS. Revista Brasileira de Fruticultura ,v.16, n.4, p.308-312, 1994.

05. KLINAC, D.J.; ROHITHA, H.; PEVREAL,J.C. Use of hydrogen cyanamide to improveflowering and fruit set in nashi (Pyrus

serotina Rehd). New Zealand Journal of

crop and Horticulturae Science, v.19, n.2,p.87-94, 1991.

06. OVERCASH, J.P.; LOOMIS, N.H.Prolonged dormancy of pear varietiesfollowing mild winters in Mississippi.Procedings of the American Society

for Horticultural Science , v.73, p.91-98,1959.

07. NAKASU, B.H.; HERTER, F.G.; LEITE,D.L.; RASEIRA, M.C.B. Pear flower budabortion in Southern Brasil. Acta

Horticulturae, v.395, p.185-192, 1995.

08. KLINAC, D.J.; GELDES, B. Incidenceand severety of the floral bud disorder‘‘budjump” on nashi (Pyrus serotina )growth in the waikato region of NewZealand. New Zealand Journal of Crop

and Horticultural Science, v.23, n.2,p.185-190, 1995.

José Luiz Petri, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof.2.987-D, Crea-SC, Epagri/Estação Experi-mental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Ca-çador, SC, fone (049) 663-0211, fax (049) 663-3211, e-mail: [email protected], GabrielBerenhauser Leite, eng. agr., M.Sc., Cart.Prof. 7.445-D, Crea-SC, Epagri/Estação Ex-perimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000Caçador, SC, fone (049) 663-0211, fax (049)663-3211 e Yoshihiro Yasunobu, eng. agr.,Ph.D., convênio Jica, Epagri/Estação Experi-mental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Ca-çador, SC, fone (049) 663-0211, fax (049)663-3211.

A revista Agropecuária Catari-

nense aceita, para publicação, artigostécnicos ligados à agropecuária, desdeque se enquadrem nas seguintes nor-mas:1. Os artigos devem ser originais e en-

caminhados com exclusividade àAgropecuária Catarinense.

2. A linguagem deve ser fluente, evi-tando-se expressões científicas e téc-nicas de difícil compreensão. Reco-menda-se adotar um estilo técnico--jornalístico na apresentação da ma-téria.

3. Quando o autor se utilizar de infor-mações, dados ou depoimentos deoutros autores, há necessidade deque estes autores sejam referen-ciados no final do artigo, fazendo-seamarração no texto através de núme-ros, em ordem crescente, colocadosentre parênteses logo após a infor-mação que ensejou este fato. Reco-menda-se ao autor que utilize nomáximo cinco citações.

4. Tabelas deverão vir acompanhadasde título objetivo e auto-explicativo,bem como de informações sobre afonte, quando houver. Recomenda-selimitar o número de dados da tabela,a fim de torná-la de fácil manuseio ecompreensão. As tabelas deverão virnumeradas conforme a sua apresen-

tação no texto. Abreviaturas, quandoexistirem, deverão ser esclarecidas.

5. Gráficos e figuras devem ser acom-panhados de legendas claras e obje-tivas e conter todos os elementos quepermitam sua artefinalização pordesenhistas e sua compreensão pe-los leitores. Serão preparados empapel vegetal ou similar, emnanquim, e devem obedecer às pro-porções do texto impresso. Dessemodo a sua largura será de 5,7 centí-metros (uma coluna), 12,3 centíme-tros (duas colunas), ou 18,7 centíme-tro (três colunas). Legendas claras eobjetivas deverão acompanhar osgráficos ou figuras.

6. Fotografias em preto e branco de-vem ser reveladas em papel brilhan-te liso. Para ilustrações em cores,enviar diapositivos (eslaides), acom-panhados das respectivas legendas.

7. Artigos técnicos devem ser redigidosem até seis laudas de texto corrido (alauda é formada por 30 linhas com70 toques por linha, em espaço dois).Cada artigo deverá vir em duas vias,acompanhado de material visualilustrativo, como tabelas, fotografi-as, gráficos ou figuras, num montan-te de até 25% do tamanho do artigo.Todas as folhas devem vir numera-das, inclusive aquelas que contenham

gráficos ou figuras.8. O prazo para recebimento de arti-

gos, para um determinado númeroda revista, expira 120 dias antes dadata de edição.

9. Os artigos técnicos terão autoria, cons-tituindo portanto matéria assinada.Informações sobre os autores, quedevem acompanhar os artigos, são:títulos acadêmicos, instituições detrabalho, número de registro no con-selho da classe profissional (Crea,CRMV, etc.) e endereço. Na impres-são da revista os nomes dos autoresserão colocados logo abaixo do títuloe as demais informações no final dotexto.

10.Todos os artigos serão submetidos àrevisão técnica por, pelo menos, doisrevisores. Com base no parecer dosrevisores, o artigo será ou não aceitopara publicação, pelo Comitê de Pu-

blicações.11.Dúvidas porventura existentes po-

derão ser esclarecidas junto à Epagri,que também poderá fornecer apoiopara o preparo de desenhos e fotos,quando necessário, bem como na re-dação.

12.Situações imprevistas serão resolvi-das pela equipe de editoração da re-vista ou pelo Comitê de Publica-

ções.

Normas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária Catarinense

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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 19

FLASHES

tas e as principais ações necessá-rias para a implantação e desen-volvimento seguro e duradourodo sistema Plantio Direto.

A Plataforma PD ainda contacom referências tecnológicas dosistema, constituindo-se em umbanco de dados com mais de 900registros, incluindo-se projetos emandamento, teses, trabalhos eartigos publicados recentemente,etc. Dessa forma, os interessadosterão subsídios para a obtenção de

Plantio Direto ganha página naPlantio Direto ganha página naPlantio Direto ganha página naPlantio Direto ganha página naPlantio Direto ganha página naInternetInternetInternetInternetInternet

O sistema Plantio Direto –PD –, introduzido no Brasil nadécada de 70, é uma das alterna-tivas que viabilizam a susten-tabilidade da agricultura, comamplos benefícios para toda asociedade. Diante da importân-cia e do alcance social dessa téc-nica, a Federação Brasileira dePlantio Direto na Palha –FEBRAPDP – e a Empresa Bra-sileira de Pesquisa Agropecuária– Embrapa –, com apoio do Planode Apoio ao DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico/Conse-lho Nacional de Desenvolvimen-to Científico e Tecnológico –CNPq/Ministério da Ciência eTecnologia –, da Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado deGoiás – Funape/GO – e da Asso-ciação de Plantio Direto no Cer-rado – APDC –, criaram a Plata-forma Tecnológica Plantio Dire-to, viabilizando um banco de da-dos na Internet, com informa-ções sobre o sistema e os projetos

de pesquisa e desenvolvimentovinculados.

Na página da Internet http://www.embrapa.br/plantiodireto, ousuário terá a oportunidade deconhecer um pouco da históriadesse sistema, além de todas asetapas do processo de criação daPlataforma PD, como o levanta-mento de dados e as reuniões deconsolidação, além da participa-ção em diversos eventos.

Para a construção do banco dedados referente aos problemas esoluções existentes na segundageração do sistema Plantio Dire-to, foi importante a participaçãode mais de 1.300 produtores ru-rais e de 800 técnicos de institui-ções de pesquisa, assistência téc-nica e extensão rural e de organi-zações, públicas e privadas. Essesforam consultados por meio dediagnósticos rápidos partici-pativos, os quais tornaram possí-vel verificar os principais proble-mas, as soluções práticas propos-

informações inéditas ainda nasmãos de pesquisadores. A pági-na permite ampla interação comos usuários, para que haja per-manente atualização das infor-mações e de dados, com facilida-des para que cada um registreavanços tecnológicos, novos pro-jetos, novas publicações, etc.

Mais informações com Ale-xandre Campos, fone (061) 448-4247, e-mail: [email protected].

Boi VBoi VBoi VBoi VBoi Verde 2001erde 2001erde 2001erde 2001erde 2001

Além de criar o gado a pasto, alimentando-o de capim e sal mineral,a pecuária brasileira tem um novo desafio a vencer para tornar-seefetivamente reconhecida no mundo como fornecedora de carnenatural, sem aditivos e resíduos. A palavra de ordem do século 21 égestão ambiental. Em outras palavras, a produção de gado tambémprecisa considerar o respeito à natureza, preservando as matasnativas e as fontes de água, não agredindo o meio ambiente.

Esse é um dos temas mais importantes do 3o Encontro Nacional doBoi Verde, evento programado para os dias 23 a 25 de agosto de 2001,no Centro de Convenções Plaza Shopping Hotel, em Uberlândia, MG.

Além do manejo ambiental, a sempre atual administração econô-mica da propriedade pecuária, o estudo de casos de sucesso, a alimen-tação com base em pastagens e o indispensável cuidado com a saúdedo rebanho são temas programados para o Boi Verde 2001, que chegaà sua terceira edição este ano.

O 3o Encontro Nacional do Boi Verde é uma realização do SindicatoRural de Uberlândia em parceria com a Associação Brasileira dosCriadores de Zebu – ABCZ –, Federação da Agricultura de MinasGerais – Faemg – e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –Embrapa.

Informações sobre inscrições e hotéis credenciados em Uberlândiapodem ser obtidas na secretaria do evento, pelo telefone (011) 3237-3626.

Embrapa implanta laboratório paraEmbrapa implanta laboratório paraEmbrapa implanta laboratório paraEmbrapa implanta laboratório paraEmbrapa implanta laboratório paradiagnosticar doenças animaisdiagnosticar doenças animaisdiagnosticar doenças animaisdiagnosticar doenças animaisdiagnosticar doenças animais

A Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária – Embrapa–, vinculada ao Ministério da Agri-cultura e do Abastecimento, estáimplantando um laboratório dediagnóstico de doenças animaislocalizado em Campo Grande, MS,na Embrapa Gado de Corte, quevai atender à demanda por esseserviço existente nos Estados docentro-oeste, norte e nordeste doBrasil. Já foram assinadas em

maio duas cartas de intençãopara contrato de prestação deserviços: uma com a Fundaçãode Apoio à Pesquisa Agropecuáriae Ambiental – Fundapam – eoutra com o laboratório argenti-no de produtos farmacêuticos eveterinários, Biogenesis do Bra-sil, que tem sede em Curitiba,PR.

Para iniciar o funcionamen-to do seu laboratório de diagnós-

TTTTTriticale pode ser a alternativa para ariticale pode ser a alternativa para ariticale pode ser a alternativa para ariticale pode ser a alternativa para ariticale pode ser a alternativa para afalta de milho na entressafrafalta de milho na entressafrafalta de milho na entressafrafalta de milho na entressafrafalta de milho na entressafra

O agricultor que plantar triticale nesta safra de inverno podeconseguir bom preço na época da colheita, que acontece normalmenteno mês de novembro, no Rio Grande do Sul. O cereal, utilizadoprincipalmente para a fabricação de ração animal, é uma alternativapara a escassez de milho na entressafra, que ocorre próximo do fim doano. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa –,vinculada ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, estádisponibilizando semente da cultivar BRS 203, lançada no ano passado.A variedade destaca-se pelo potencial de rendimento de grãos e pelaresistência a doenças como fusariose e manchas foliares.

A cultivar BRS 203 é indicada para cultivo nos Estados do RioGrande do Sul (regiões tritícolas I, II, III, IV e V) e em Santa Catarina(todas as regiões). A cultivar é de ciclo precoce, resistente à debulhanatural e ao crestamento; moderadamente resistente ao acamamentoe moderadamente suscetível à germinação pré-colheita.

A lavoura de produção de semente básica da BRS 203 foi instaladano município de Seberi, RS, numa área de 65ha. De acordo com ogerente do Escritório de Negócios de Passo Fundo, Airton Lange, orendimento obtido foi de 3.576 quilos por hectare, equivalente a 59,6sacos por hectare, sendo superior aos materiais atualmente emcultivo.

Informações adicionais podem ser conseguidas no Escritório deNegócios de Passo Fundo da Embrapa Negócios Tecnológicos, pelofone (054) 311-3666.

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20 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

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tico de doenças animais, aEmbrapa recebeu a doação deuma leitora de Elisa e dez “kits”de diagnóstico do HLSVeterinary Biological ProductsInc., de Hillsdale, dos EstadosUnidos, avaliados em 30 milreais. Os principais labora-tórios de diagnóstico existentesno Brasil, hoje, estão concentra-dos nas Regiões Sul e Sudeste.No caso de febre aftosa, odiagnóstico pode ser feito, ain-da, em laboratório credenciadode Recife, PE, que recebe

parte dos exames do rebanho decorte sul-mato-grossense, estima-do em 25 milhões de cabeça degado. Os laboratórios da área desanidade animal da Embrapa Gadode Corte sempre realizaram diag-nóstico de doenças animais, masem seu próprio rebanho e paramuniciar de informações as suaspesquisas. Agora os exameslaboratoriais especializados serãodestinados à avaliação sanitárianas atividades de avicultura,ovinocultura, suinocultura ebovinocultura.

Cummins institui o “Disque Energia”Cummins institui o “Disque Energia”Cummins institui o “Disque Energia”Cummins institui o “Disque Energia”Cummins institui o “Disque Energia”para orientar compra ou aluguel depara orientar compra ou aluguel depara orientar compra ou aluguel depara orientar compra ou aluguel depara orientar compra ou aluguel de

geradores de eletricidadegeradores de eletricidadegeradores de eletricidadegeradores de eletricidadegeradores de eletricidade

Os empresários, administradores de hotéis e hospitais, síndicos,agricultores e outros públicos que necessitem comprar ou alugar umconjunto gerador de energia alternativa, podem acessar o “DisqueEnergia”, serviço instituído pela Cummins Latin America através desua divisão “Power Generation”, que tem por finalidade prestarorientação gratuita para uma aquisição segura e adequada a cadanecessidade específica, bem como sobre preços de mercado, sistemasde financiamento, custo/benefício e outros tipos de informação queajudem o usuário a se decidir pela negociação.

A Cummins tradicionalmente atende ao mercado de geração deenergia alternativa com equipamentos importados que variam de 6 a2.500kVA movidos a diesel, gás natural ou gasolina. Recentemente,a empresa passou a fabricar no Brasil conjuntos geradores na faixade 40 a 500kVA, gerenciados eletronicamente e atendendo a normas

Prêmio internacional para o PDPrêmio internacional para o PDPrêmio internacional para o PDPrêmio internacional para o PDPrêmio internacional para o PDnacionalnacionalnacionalnacionalnacional

O produtor rural ManoelHenrique Pereira, fundador eprimeiro presidente da FederaçãoBrasileira de Plantio Direto naPalha – FEBRAPDP –, hoje vice--presidente/Paraná e presidenteda Confederacion de Asociacio-nes Americanas para laAgropecuária Sustenible – Caapas–, acaba de receber prêmio inter-nacional. Trata-se do primeiroprêmio “Abulac” de AgriculturaConservacionista, promovidopela Asociacion Burgalesa de

Agricultura Conservacionista –Abulac –, que tem como obje-tivo a premiação dos difusoresde resultados da agriculturacompatível com a preser-vação do meio ambiente e aconservação da natureza nomundo. O prêmio foi entre-gue em 30 de abril de 2001,durante a Feira de Lerma,em Burgos, na Espanha, pelodiretor geral de Agricultura daUnião Européia, Francisco Sil-va.

internacionais de controle ambiental. Tem fornecido para grandes,médias e pequenas empresas, além de condomínios, hospitais, redeshoteleiras, CPDs, segurança pública e outros segmentos que nãopodem prescindir de energia de emergência. Conforme o caso, atendea pedidos num prazo mínimo de dez dias para equipamentos deaté 500kVA, pelo sistema de venda ou locação, incluindo serviços desuprimento móvel de energia para shows, espetáculos esportivos,congressos, feiras, etc.

Os equipamentos de geração de energia alternativa podem seradquiridos através de financiamentos de mercado (CDC) ou especiaiscomo Finame, Vendor, além de leasing e outras modalidades.

O “Disque Energia” atende pelo 0800-701-4701.Mais informações com Mecânica de Comunicação S/C Ltda., fones

(011) 259-6688/1719, fax (011) 256-4312, e-mail: [email protected].

FundagroFundação de Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável do Estado de Santa Catarina

Uma organização não-governamental para apoiar o setor agrícola público e privado do Estado de Santa Catarina.

• Diagnósticos rápidos.

• Pesquisas de opiniões e de necessidades do setor agrícola.

• Consultorias.

• Realizações de cursos especiais.

• Projetos para captação de recursos.

• Produção de vídeos e filmes ligados ao setor agrícola.

• Projetos de financiamento do Pronaf e outros.

• Serviços de previsão de tempo.

Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, C.P. 1.391, fone (048) 234-0711, fax (048) 239-5597, e-mail:

[email protected], 88010-970 Florianópolis, SC.

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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 21

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Pesquisa participativa busca alternativas paraPesquisa participativa busca alternativas paraPesquisa participativa busca alternativas paraPesquisa participativa busca alternativas paraPesquisa participativa busca alternativas paraos pequenos agricultoresos pequenos agricultoresos pequenos agricultoresos pequenos agricultoresos pequenos agricultores

Uma nova metodologia de

pesquisa está sendodesenvolvida pela Empresa de

Pesquisa Agropecuária e

Extensão Rural de SantaCatarina S.A. – Epagri – com

grupos de pequenosagricultores familiares da

Região do Planalto

Catarinense. Baseada numprocesso em que os

agricultores têm participaçãoe opinião ativas, ela propõe

testar tecnologias de baixo

custo e impacto ambiental,adotando sistemas

agroecológicos de produção.A meta é obter produtos de

qualidade, com melhor renda

para os agricultores.

Reportagem de Paulo Sergio Tagliari

as últimas décadas, os solos dosul do país têm perdido sua ca-

pacidade de suporte para a produçãoagrícola. O processo erosivo por faltade proteção superficial, principalmen-te, tem os levado a não dar os retornosesperados, sobretudo pela perda damatéria orgânica, bem como pela per-da das condições físicas naturais, de-vido ao mau uso e manejo dos mes-

mos. Some-se a isto a crescentedescapitalização dos agricultores, quepagam os insumos a preços dolarizadose recebem pelos seus produtos valo-res abaixo da inflação. Esta realidadetem levado à desagregação de milha-res de famílias e comunidades agríco-las, acelerando o empobrecimento doagricultor e o êxodo rural.

As comunidades rurais, em geral,

não têm elaborado e construído pro-postas para o seu desenvolvimento. Émuito importante para o Brasil queelas e os municípios desenvolvam es-tratégias de desenvolvimento pró-prias, que lhes permitam gerar em-prego e renda e que não fiquem atre-ladas a processos e estruturas técni-co-econômicos externos, que lhes li-mitam a independência criativa e lhes

Preparo de composto orgânico: uma das técnicas mais utilizadas pelos produtores

agroecológicos no Sul do Brasil

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22 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

impõem condições financeiras inexe-qüíveis.

Construir uma proposta respalda-da na vontade, na consciência e nacompreensão das famílias rurais, an-coradas em alternativas próprias enos recursos naturais disponíveis naspropriedades, dentro de um verdadei-ro desenvolvimento rural sustentá-vel, é o objetivo do projeto de pesquisaDesenvolvimento de Sistemas Agroe-cológicos em Interação com Comuni-dades Rurais. Este projeto é coorde-nado por pesquisadores e extensio-nistas da Epagri/Estação Experi-mental de Canoinhas, no PlanaltoNorte Catarinense, e está sendo de-senvolvido em quatro municípios daregião.

Modelo convencional estáesgotado

Extensionista e pesquisador daEpagri, o engenheiro agrônomo JoséFonseca, responsável pelo projeto ecom larga experiência em trabalhoscom os agricultores da região, explicaque esta pesquisa tem um enfoquediferente daquelas normalmente de-senvolvidas pelos serviços de pesqui-sa para a extensão rural brasileira eos agricultores. Ela busca uma visãomais social, mais participativa, procu-rando ouvir os agricultores e, junto aeles, construir um modelo de desen-volvimento mais justo e sustentável.“Nosso objetivo é gerar, no decorrerdo desenvolvimento deste projeto,

tecnologias alternati-vas sustentáveis, prin-cipalmente para manu-tenção da capacidadeprodutiva dos solos,além de estratégias emetodologias para tra-balho em comunidadesrurais”, observa Fon-seca.

Das 25 mil famí-lias rurais do PlanaltoNorte, cerca de 70%estão em condições deelevado comprometi-mento de sua viabili-dade técnica e econô-mica. As propriedadestêm área média inferi-or a 50ha e a sua escalade competição deixoude ser competitiva.José Fonseca ponderaque o modelo conven-cional de agriculturabaseado no uso dos“insumos modernos”resultou num dese-quilíbrio na nutriçãodas plantas cultivadaspelos agricultores,numa diminuição dasqualidades físicas, quí-micas e biológicas dossolos e na redução daremuneração do traba-

lho, este último o principal fator deprodução dos pequenos produtores ru-rais catarinenses, como de resto nosul do Brasil. O técnico analisa que“esta política de valorização dosinsumos modernos – sementes híbri-das, adubos químicos sintéticos,agrotóxicos, grande mecanização, cré-dito rural a juros incompatíveis àrealidade do pequeno agricultor –alijou a agricultura familiar de umdesenvolvimento equilibrado, ao mes-mo tempo que não considerou as dife-rentes culturas e os níveis educacio-nais existentes no país. A partir daí,os que não responderam àquelastecnologias foram marginalizados”.José Fonseca conclui o pensamentodizendo que “essa política induziu auma cultura de não-valorização dosinsumos e fatores de produção exis-tentes nas propriedades que perduraainda hoje”.

“É um modelo econômico perversoque está vigente em escala global”,comenta o técnico da Epagri e, aomesmo tempo, apresenta algunsnúmeros surpreendentes. Por exem-plo, a fortuna das 358 famílias maisricas do planeta equivale a 40% darenda anual dos seus habitantes. NaAmérica Latina, nas últimas déca-das, a população rural em estado depobreza passou de 61 para 68% dapopulação (80 milhões de pessoas). Onúmero de minifúndios cresceu nessemesmo período de 7,9 para 11,7 mi-lhões, que representam 70% do conti-nente e ocupam somente 3,3% da suasuperfície.

Alguns problemas já conhecidostêm impedido os agricultores familia-res brasileiros de se desenvolverem.A rotina anual de ida aos agentesfinanceiros em busca de capital, emmuitos casos vinculados, tem contidoo espírito criativo dos pequenos pro-dutores rurais, impedindo a evoluçãode qualquer modelo alternativo quepossa libertá-los. Os recursoscreditícios são, via de regra, extrema-mente burocratizados e direcionadospara custeio de produtos industriais,quando propostas alternativas quevisem um desenvolvimento sustentá-

José Fonseca mostra a mucuna, adubo verde com grande

produção de matéria vegetal, que melhora o terreno para as

hortaliças

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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 23

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Produção com qualidade,sem riscos

Estas situações descritas não res-pondem mais aos anseios dos agricul-tores familiares. Já existem modelostecnológicos alternativos que buscamgerar/adaptar tecnologias apropriadasàs realidades socioeconômicas dospequenos e médios agricultores dospaíses em desenvolvimento. Para seter uma idéia, em Santa Catarina,estes produtores rurais perfazem qua-se 90% do total. Segundo muitos soció-logos e agrônomos que se dedicam aestudos da pequena produção familiarno mundo afora, as tecnologias emetodologias apropriadas para a evo-lução sólida de grupos de pequenosempreendedores têm as seguintescaracterísticas: baixo custo dos inves-timentos por local de trabalho, baixoinvestimento de capital por unidadede produto, simplicidade organi-zacional, pequena escala de produção,alta adaptabilidade ao meio social ecultural, poupadoras de recursos na-turais e, finalmente, baixo custo finaldo produto. Essa premissa ilustra comclareza a necessidade de que as pró-prias comunidades rurais problema-tizem suas propostas e a partir daíprotagonizem o seu desenvolvimentosustentável.

“É isso o que pretendemos fazer nonosso projeto”, confirma o agrônomoda Epagri José Fonseca e comple-menta “queremos viabilizar um tra-balho integrado entre pesquisa, ex-tensão rural e comunidades rurais,baseado em propostas de desenvolvi-mento rural sustentável, destacandoa agroecologia”.

O projeto é desencadeado com gru-pos de famílias de produtores ruraisdos municípios de Canoinhas,Irineópolis, Itaiópolis e Major Vieira.A primeira fase do trabalho consta docontato inicial com o grupo para aproposição do trabalho. Somente apósesta fase, se houver concordância,passar-se-á à segunda fase, quandosão feitos a discussão da situação e oreconhecimento da realidade comu-nitária. O objetivo é saber em que pé

Pesquisadores Fonseca e Gallotti no terreno experimental onde serão cultivados cereais

orgânicos em rotação com adubos verdes

vel dos ambientes produtivos exigemrecursos para investimentos planeja-dos adequadamente.

O estresse, a prorrogação de dívi-das, os altos riscos inerentes à ativi-dade agrícola, entre outras causas,têm determinado uma baixa qualida-de de vida às famílias rurais, causan-do, não raras vezes, a desagregaçãofamiliar.

Atualmente o empobrecimento dospequenos produtores rurais é espan-toso. Dados do Instituto de Planeja-mento e Economia Agrícola de SantaCatarina – Instituto Cepa/SC –, mos-tram que 22,97% do número totalde estabelecimentos do PlanaltoCatarinense (centro e norte) encon-tram-se em situação econômica bas-tante crítica: apresentam uma áreatotal média de 8,2ha e um Valor Brutoda Produção de somente 667 dólares.Assim encontram-se 8.946 estabeleci-mentos nestas condições.

Nos países em desenvolvimento,mais pessoas se dão conta de que atecnologia, que originalmente se de-senvolveu como um meio para livraro homem da pobreza, do esforço inútil

e das enfermidades, mostra o seuoutro lado, como a principal ameaçacontra a identidade e a sobrevi-vência do próprio homem. Assim,não tendo organização, nem re-presentatividade, os pequenos pro-dutores não conseguem priorizarsuas demandas adequadamente,nem colocá-las nos foros própriosde discussão. A conseqüência é onão-atendimento de suas reais ne-cessidades por parte da pesquisa eextensão rural. Segundo estudiososdo assunto, a maioria das tecno-logias desenvolvidas pela pesquisaagropecuária se caracteriza por serintensiva no uso do capital, buscaraumentos de produção, pouparmão-de-obra, aumentar custos de pro-dução (sementes híbridas, pestici-das), alterar a relação com o ambien-te, principalmente orientada amonocultivos, e ser transferida pormétodos convencionais de extensão,baseados em provas demonstrativas,conferências, folhetos, dias de campo,e, também, por sistemas de assistên-cia técnica individual para grandes epequenos produtores.

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24 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

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se situa a comunidade. A terceira faseabrirá um campo a discussão e conse-qüentes proposições, iniciando-se,então, um processo construtivo pro-priamente dito, que conduzirá o gru-po a eleger suas prioridades.

José Fonseca revela que já foramfeitas quatro reuniões com as comu-nidades e se descobriu que muitasdelas estão desesperançadas, semrumo definido, sem lideranças, masainda existe um fio de esperança. Jáse chegou a discutir alternativastecnológicas como a diversificaçãoagrícola e algumas linhas de ativida-des, como pecuária leiteira, fruticul-tura, hortaliças, tendo a agroecologiacomo viabilizadora das ações. Fonse-ca mostra que no fundo está se elabo-rando um verdadeiro plano de desen-volvimento local. Nestes municípiosa pesquisa está sendo desenvolvidapor uma equipe composta por pesqui-sadores e extensionistas da Epagri,visando uma integração concreta doscomponentes pesquisa-extensão-agri-cultor. E na estação experimental al-guns pesquisadores começam a seengajar no projeto. “Estamos todosnós técnicos cheios de serviço, não

damos conta de todo o trabalho, maspenso que esta pesquisa caminha norumo certo, é uma nova proposta, decunho social, com ênfase na participa-ção e construção solidárias do proces-so. Todos temos que nos engajar deuma forma ou outra”, comenta o pes-quisador Gilson Gallotti, especialistaem fitopatologia e que está entrandono projeto para apoiar uma possívelpesquisa em alternativa frutícula paraos pequenos produtores, provavelmen-te o cultivo de uva.

Para apoiar tecnologicamente osprodutores, o projeto propôs, em con-junto com os agricultores, inicialmen-te a realização de experimentos quevão testar o cultivo agroecológico dehortaliças, cereais e pastagem emcampo naturalizado, sobressemeadocom gramíneas e leguminosas. Todosos testes, os quais fazem uso demetodologia científica, utilizarão, namaioria das vezes, insumos naturais,recursos que podem ser obtidos nopróprio estabelecimento rural, comoesterco animal, caldas e extratos ve-getais. Alguns produtos como fosfatonatural e sementes são adquiridosfora, mas as próprias comunidades

podem emprestar ou trocar algumproduto.

Para se ter uma idéia da importân-cia da melhoria da pastagem dos cam-pos da região, e considerando que aprodução de leite é uma alternativabastante viável para os agricultoresfamiliares, com um incremento deapenas 5 litros/vaca/dia com a pasta-gem melhorada, a produção anualacrescida seria de 29,4 milhões delitros. Este volume a mais equivaleriaa R$ 7.350.000,00, gerando de ICMSR$ 882.000,00 anualmente, conformeregistram os documentos do projeto.Outro experimento com alternativasna área da fruticultura de clima tem-perado está para ser implantado, de-pendendo de algumas condições. NaEstação Experimental de Canoinhasestá em desenvolvimento o experi-mento de cultivo de feijão e milho emsistema de rotação de culturas, comadubos verdes, sem uso de agrotóxicose adubos químicos. Em uma área ce-dida pela Cooperativa de Canoinhasserá realizado um experimento paratestar hortaliças também no modoagroecológico ou orgânico de produ-ção. E em alguma propriedade aser escolhida de um pecuarista serádesenvolvida a pesquisa de pasta-gem orgânica. A idéia é que, apósimplantados os experimentos, osagricultores também irão iniciar tes-tes semelhantes em seus estabeleci-mentos, adequando-os às suas reali-dades.

“A nossa estratégia é cortar cus-tos”, enfatiza José Fonseca e comple-ta: “não estamos mais procurandoobter altas produtividades, com altosriscos, mas sim rendimentos adequa-dos e produtos com qualidade, semagrotóxicos, que possam agregar va-lor e fornecer renda adequada aosagricultores”.

Agroecologia incentiva acriatividade

E renda é o que não está faltandopara alguns agricultores orgânicos queparticipam da feira semanalagroecológica de Canoinhas. O Sr.

Agricultora e feirante Bernadete Grein: hortaliças orgânicas de qualidade e a preços

razoáveis, beneficiam consumidores

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Miguel Gurzinski, da Comunidade deSalto Água Verde, um dos feirantes,relata: “agora tenho mais vantagem,não dependo de outros para vendermeu produto, agora consigo um preçomais justo”. Outra feirante, a Sra.Bernadete Grein, atual coordenadorada feira, informa que atualmente sãoseis famílias do Salto Água Verde queparticipam, mas os feirantes pegamalguns produtos de outros pro-dutores da Agrupar, associação quereúne vários grupos agroecológicosda Região do Planalto Norte. A feirade Canoinhas movimenta cerca deR$ 1.300,00 nas duas vezes que ocorresemanalmente. Este valor é dividido

entre as seis famíli-as que atualmenteparticipam, mas háoutras que logo en-trarão. Os preçosdos produtos, ape-sar de orgânicos,não são exagerados.Por exemplo, arúcula, o rabanetee a cenoura estãopor R$ 0,50 o mo-lho; o kiwi, aR$ 1,50 o quilo; aerva-mate, a R$1,00 o meio quilo; osalsão, a R$ 0,40, eassim por diante.Para José Fonseca,a organização des-tes agricultorespode ser um bomexemplo a ser se-guido na propostado seu projeto depesquisa partici-pativa. A reportagem da

revista Agrope-cuária Catarinensevisitou outro exem-plo de produtoragroecológico naregião. Trata-se doSr. José Falgatter,de Canoinhas, que

em sua propriedade de 50ha cultivamilho e soja. Mas o Sr. José é conhe-cido na região pelo seu respeito ecuidado com a natureza. Ele preservauma área de mata nativa na proprie-dade e costuma alimentar pássaros ebichos do mato. Já há alguns anos elevem produzindo os cereais sem uso deagrotóxicos e adubos químicos. O ren-dimento das culturas não deixa a de-sejar. Na soja atinge 120 sacos poralqueire (cada alqueire equivale a2,42ha) e no milho, 300 sacos poralqueire. Para aumentar o nível dematéria orgânica ele adota a aduba-ção verde, utilizando a ervilhaca an-tes do milho e a aveia precedendo a

Agricultor José Falgatter e seu milho agroecológico: exportação

com selo de certificação orgânica

soja. Para as próximas safras preten-de diversificar a adubação verde, fa-zendo uso do chamado coquetel, queinclui várias espécies de leguminosase gramíneas e outros gêneros de plan-tas, que irão intensificar a quantidadee qualidade da matéria orgânica. Paracorrigir o solo faz uso do fosfato natu-ral e para aumentar atualmente aqualidade da matéria orgânica usa oEM (microrganismos eficazes), um pre-parado líquido com diversos tipos debactérias, leveduras, actinomicetos eque funciona como ativador biológicodo solo. Mas o agricultor aprendeuque a agroecologia incentiva o uso dacriatividade. Tendo em vista as inten-sas geadas ocorridas no inverno pas-sado, o crescimento do milho foi afeta-do, resultando numa grande infestaçãode ervas. Como o produtor, que seconsidera ecológico, não podia usarherbicidas, e o uso de cultivador ouenxada era fisicamente impeditivo,teve a idéia criativa de comprar nocomércio local um cortador de gramamovido a gasolina, o qual passou aolongo das fileiras de milho, roçando aservas.

Tal é a qualidade da terra do Sr.Falgatter e de seus cultivos, que ago-ra seus cereais produzidos agroe-cologicamente estão sendo cobiçadospor empresas exportadoras de ali-mentos orgânicos. A firma Terra Pre-servada, do Paraná, chegou na frentee está acertando a exportação de mi-lho e soja para o exterior. Só paracitar um exemplo, a soja orgânicachega a receber 14 dólares por saco,ao passo que a convencional está cota-da a 8 dólares. A certificação é feitapelo Instituto Biodinâmico de SãoPaulo.

Para o técnico José Fonseca, o Sr.Falgatter é outro bom exemplo a secopiar. “A custos baixos, com o míni-mo de dispêndio, usando ao máximorecursos de seu estabelecimento, ecom respeito à natureza, ele conse-gue provar que existem alternativasao modelo convencional”, finaliza oagrônomo.

o

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Agricultores familiares produzemAgricultores familiares produzemAgricultores familiares produzemAgricultores familiares produzemAgricultores familiares produzema maçã agroecológicaa maçã agroecológicaa maçã agroecológicaa maçã agroecológicaa maçã agroecológica

As constantes contaminações ambientais ocorridas em vários lugares do planeta nosúltimos 40 a 50 anos, decorrentes de uma industrialização desenfreada, têm levado os

consumidores a procurar alimentos de melhor qualidade, com o objetivo de preservara saúde de suas famílias. Ao mesmo tempo, os agricultores, cansados e

desestimulados por um modelo de produção agropecuário caro e descapitalizador,voltam-se a uma agricultura alternativa mais sustentável, tanto do ponto de vistasocial e econômico quanto sanitário e ambiental. Um exemplo disso é o cultivo da

maçã orgânica ou agroecológica, que está iniciando pioneiramente noPlanalto Serrano Catarinense e que é motivo desta reportagem.

Reportagem de Paulo Sergio Tagliari

Pedro de Sena Guimarães e família: fruticultor pioneirono cultivo da maçã orgânica

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Orgânicos crescem nomundo inteiro

No mundo inteiro os consumidoresestão preocupados com as constantescontaminações ambientais ocasio-nadas por indústrias poluentes e, maisrecentemente, com a intoxicação dosalimentos. O caso da vaca louca é umexemplo marcante da falta desensibilidade de muitos paíseseuropeus em relação ao tipo deprodução e manejo que vinhamtolerando com relação aos animais.Também com os vegetais, inúmerosestudos científicos mostram que acontaminação dos agrotóxicos temafetado a qualidade dos alimentosconsumidos pela população. Hoje sesabe que alguns tipos de câncer edeformações genéticas podem sercausados pelo uso exagerado ouinadequado de pesticidas, assim comoproblemas renais, hepáticos, cardíacose depressão aguda, entre outros. Ospróprios médicos confundem ossintomas de intoxicação por agrotó-xicos com doenças comuns, pois emmuitos casos são semelhantes,fazendo com que passe despercebida averdadeira causa do problema.Segundo dados da OrganizaçãoMundial da Saúde – OMS –, de cadacaso registrado de intoxicação poragrotóxico, 50 não são relatados.

Para se contrapor a esta situação,cresce vertiginosamente a produção eo consumo dos chamados produtosorgânicos ou agroecológicos, que nãoutilizam agrotóxicos e adubos quími-cos solúveis industriais. Além de nãoestarem contaminados por produtosquímicos, os alimentos orgânicos, con-forme demonstram estudos, possuemmaior teor de sais minerais e vitami-nas e tendem a apresentar melhorsabor, aroma, consistência e conser-vação. Não só os consumidores sebeneficiam, também os agricultoresestão tendo mais satisfação ao produ-zirem agroecologicamente. Um dosprincipais aspectos quanto a isso éque, geralmente, os custos de produ-ção são menores, pois utilizam bemmenos ou quase nenhum insumo quí-mico comprado de fora; ao contrário,recursos naturais encontrados no pró-

prio estabelecimento são aproveita-dos. Exemplo disso são os adubos or-gânicos, como estercos animais, oscompostos (mistura de esterco compalhas e restos vegetais que fermen-tam), as caldas e extratos vegetaisdiversos. Como estes materiais sãonaturais, ou seja, isentos de produtosquímicos tóxicos, a saúde do agricul-tor e de sua família vai estar assegu-rada, bem como haverá um baixo oupraticamente nenhum impactoambiental. De maneira geral, o pro-dutor ecológico tem mais satisfação eprazer na sua atividade, mesmo sa-bendo que precisa trabalhar com maisfreqüência no cultivo orgânico.

vada no país já atinge cerca de 100 milhectares, segundo dados atuais. Istorepresenta pouco mais de 2% da pro-dução agropecuária total nacional,sendo que 70% do produto orgânico éexportado, despontando a soja, a la-ranja, a banana, o açúcar mascavo e ocafé. Por sua vez, o mercado internoé ainda pequeno, com predominânciade hortigranjeiros. Todavia, o poten-cial de crescimento é enorme. A taxade crescimento no Brasil já chegaa 40 ou 50% ao ano, superior inclu-sive à da União Européia e dos Esta-dos Unidos, que gira em torno de 20 a30%.

Nos últimos anos, além de organi-zações não-governamentais – ONGs–, pioneiras no incentivo à produçãoorgânica, as universidades e o siste-ma de pesquisa e extensão rural tam-bém estão interessados neste impor-tante segmento econômico e social. AEpagri há 3 anos já tem oficialmenteuma linha de trabalho na produçãoagroecológica, com cerca de 10subprojetos de pesquisa e cursosprofissionalizantes para agricultores.Nos últimos 3 anos, foram treinados600 agricultores e 150 técnicos. Estáprevista para este ano a capacitaçãode mais 400 agricultores e 120 técni-cos. Em parceria com a Fundação deApoio ao Desenvolvimento Rural Sus-

É por isso que a produção agroe-cológica está crescendo no mundo, noBrasil e em Santa Catarina. Para seter uma idéia, o comércio nacionalatingiu, em 1999/2000, cerca de 150 a200 milhões de dólares. A área culti-

Além de não estarem

contaminados poragrotóxicos, os produtosorgânicos têm maior teor

de vitaminas e saisminerais.

A produção de alimentos orgânicos no Brasil já cresce a uma taxa de 50% ao ano#

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tentável – Fundagro –, no tocante àcertificação orgânica, a Epagri esperadar uma resposta aos anseios dosconsumidores que desejam ter a ga-rantia de um produto saudável, com o“selo verde”. Da mesma forma, asONGs que já trabalham com a produ-ção agroecológica em Santa Catarinadesenvolveram um "selo verde", ocertificado orgânico, que é concedidoaos agricultores associados da RedeEcoVida.

Hoje, Santa Catarina está se pre-parando para ser líder nacional naprodução de alimentos agroecológicos.Há quatro anos, a Epagri lançou emItuporanga, pioneiramente, a cebolaagroecológica, hortaliça que vem ga-nhando a confiança e preferência dasdonas-de-casa catarinenses. Seu cul-tivo não utiliza pesticidas, nem adu-bos químicos solúveis, diminuindo oscustos de produção dos agricultoresque poupam nas despesas comagroquímicos, e, de quebra, protege omeio ambiente, a saúde da famíliarural e do consumidor que compra ahortaliça.

Este ano, mais um projeto pionei-

ro está sendo lançado, numa parceriada Epagri, através de seus escritóriosmunicipais de extensão rural, com asPrefeituras de São Joaquim eUrupema e grupos organizados deagricultores. Trata-se do cultivo damaçã orgânica, que recém acaba deser colhida no Planalto SerranoCatarinense, a região mais fria doBrasil. Como se trata do primeiroano, os fruticultores enfrentaram al-guns problemas técnicos de manejo,como é o caso do ataque da popularmosca-das-frutas. Porém, isso nãoafetou o grosso da produção. Por ou-tro lado, as doenças tão temidas, cau-sadas por fungos, foram eficientemen-te controladas com o uso de caldascaseiras de baixo custo.

Epagri e da prefeitura local, e cansa-dos da crescente descapitalização naagricultura convencional, decidiramarrojar-se na produção da maçãagroecológica.

Um dos pomares visitados é o dapropriedade de Clóvis de Lis Camargo,que fica perto da sede do município epossui 2ha plantados com as cultiva-res Fuji e Gala. A primeira impressãoque se tem é que o pomar está sujo, ouseja, infestado de ervas daninhas.Todavia, o engenheiro agrônomoDonizete Cruz de Souza, extensionistalocal da Epagri, explica que na produ-ção orgânica as chamadas ervas resi-dentes ou espontâneas não são detodo daninhas, pelo contrário, elasajudam a melhorar a qualidade dosolo em termos de fertilidade, buscan-do nutrientes em camadas mais pro-fundas, protegendo a terra da erosãoe atraindo insetos benéficos ao po-mar, os predadores das pragas. “Aservas boas são o picão, o dente de leão,as leguminosas. Devemos, todavia,evitar as gramíneas ou macegas, asvassouras e as trepadeiras, como acorda-de-viola, que roubam muitosnutrientes”, observa o agrônomo. Aprática adotada é arrancar as ervasindesejadas e deixar as outras boas,roçando posteriormente na época dacolheita para formar uma coberturavegetal que vai aos poucos se desman-chando, formando matéria orgânicano solo.

Outra prática comum no cultivoagroecológico é a adubação com ester-co animal, substituindo a adubaçãoquímica tradicional. O ideal, diz otécnico, é utilizar o composto, que é oesterco fermentado por três meses,misturado com palhas e restos vege-tais, formando no final um adubo or-gânico enriquecido, o húmus, commacro e micronutrientes. Donizetediz que o composto ou esterco naturaladubam lentamente a planta, liberan-do os nutrientes na medida adequadaàs suas necessidades. Outra práticafundamental é a utilização de adubosverdes, como a ervilhaca, que propi-ciam uma verdadeira adubaçãonitrogenada natural. Com o passar dotempo, ao se desintoxicar e equilibraro solo, a tendência é de diminuir o uso

A Epagri espera dar umaresposta ao anseio dos

consumidores que queremgarantia de um produto

saudável, com o“selo verde”.

No pomar de macieira, as ervaschamadas de daninhas são consideradas

aliadas do fruticultor, observa oagrônomo Donizete, da Epagri

A reportagem da revista Agrope-cuária Catarinense visitou a regiãoonde se produz esta maçã agroe-cológica ou orgânica e conversou comfruticultores, lideranças e técnicosenvolvidos neste importante empre-endimento.

Pequenos pomares,grande qualidade

Urupema e São Joaquim são pe-quenos municípios que se situam nafaixa de 1.000 a 1.400m de altitude,em locais onde é comum no inverno aocorrência de neve. Esta região serra-na apresenta boas características cli-máticas para o plantio de fruteiras declima temperado, tais como maçã epêra. Em Urupema, a Associação deProdutores Orgânicos, a Apou, já vemcultivando e comercializando, há doisanos, produtos agroecológicos, inclu-indo hortaliças como batata, cebola,cenoura, morango, moranga, tomate,etc. Nestes dois anos, alguns agricul-tores, incentivados por técnicos da

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de esterco animal, esclarece o agrô-nomo da Epagri. Por sua vez, os adu-bos químicos, geralmente osnitrogenados e fosfatados, são muitosolúveis e liberam muito rápido osnutrientes, que muitas vezes são per-didos no solo ou absorvidos rapida-mente pela planta, causando umdesequilíbrio. “Isto predispõe a plantaa um maior ataque de insetos e doen-ças”, afirma o extensionista . No po-mar de Clóvis Camargo a colheitaatingiu mais de 30t/ha de frutas, umbom rendimento se considerarmosque se trata do primeiro ano que estásendo cultivado agroecologicamente.

Para o tratamento das doenças, osfruticultores orgânicos de Urupema ede São Joaquim estão adotando a cal-da bordalesa e a calda sulfocálcica,tradicionais preparados que foramdeixados de lado pela dita modernaagricultura. “Mas estamos vendo queeles são bastante eficientes e bemmais baratos e menos tóxicos que ospesticidas atualmente aplicados nospomares convencionais”, enfatiza oengenheiro Donizete. Um outro gran-de aliado da fruticultura agroecológicaé o biofertilizante ou preparado mine-ral denominado de supermagro, emhomenagem ao técnico agrícola gaú-cho Delvino Magro, que durante anosfez testes com este produto em seupróprio pomar com resultados muito

bons. O supermagro é um compostoorgano-mineral em que são adiciona-dos esterco animal, soro ou leite devaca, melado e uma série de saisminerais. Este produto, de fácil pre-paração e ao alcance de qualquer pe-queno produtor, tem servido para for-talecer a planta e ajudar na ação dacalda bordalesa e calda sulfocálcica.Como resultado, os pomares orgâni-cos da região serrana catarinense con-seguiram boa proteção contra fungos

os dois filhos pequenos, Antonio eAline, estão curiosos e esperançososcom o pomar orgânico. “Nesta área dopomar os resíduos tóxicos estão desa-parecendo. Dá mais segurança à saú-de de nossa família e dos consumido-res que vão consumir nossas frutas”,fala a mulher do produtor.

O extensionista Donizete esclare-ce ainda que neste primeiro ano umadas principais dificuldades na regiãode Urupema foi o ponto exato decolheita das frutas. “Se o fruticultordeixar passar do ponto certo dematuração, há um maior ataque damosca-das-frutas, que coloca no frutouma pequena larva que pode causarestragos mais adiante, do arma-zenamento até o consumo final. “Afruta pode estar bonita por fora, maspor dentro está atacada pelo inseto”,observa o técnico e informa que parao ano os fruticultores vão estar maistreinados e preparados para tratardesse problema. A tendência, no en-tanto, é que, com o passar das safras,os pomares orgânicos vão adquirindoum maior equilíbrio nutricional, desin-toxicando-se dos agroquímicos ante-riormente aplicados e tornando-semais fortes e resistentes às pragas,garantem os técnicos de Urupema eSão Joaquim.

Agroecologia aposta nohomem

Em São Joaquim, a exemplo deUrupema, os pequenos fruticultoresresolveram se unir e, com apoio daEpagri, formaram uma associação, aCooperativa Ecológica de Agriculto-res e Consumidores – Econeve –, fun-dada em fevereiro de 2001. Esta enti-dade surgiu a partir de encontrospromovidos pela Cooperativa de Cré-dito Rural de São Joaquim – Credineve–, pelo Centro Vianei de EducaçãoPopular, Movimento de MulheresAgricultoras, pelas ONGs que já tra-balhavam de forma diferente o desen-volvimento da agricultura e pecuáriae pela Epagri, através do seu Escritó-rio Municipal de São Joaquim e do seuCentro de Treinamento e Eventos deSão Joaquim – Cetrejo.

A realização do I Seminário Mu-

Um grande aliado dafruticultura

agroecológica é obiofertilizante supermagro.

causadores de doenças e também nãodeixaram que a mosca-das-frutas fi-zesse um maior estrago.

Que o diga o fruticultor NeltoAlmeida Rodrigues, também deUrupema, que testou este ano 0,3ha àmaneira orgânica de seu pomar de5ha convencional. Ele disse que gos-tou da nova alternativa e que gostariade ampliar a área. Nelto revela quecostuma pulverizar com agrotóxicoscerca de 20 a 30 vezes por safra,incluindo inseticidas, fungicidas eherbicidas. A esposa, Lílian Maria, e

Preparo do biofertilizante supermagro #

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nicipal de Agroecologia, em agosto de1999, foi a mola propulsora que serviupara entusiasmar técnicos e agricul-tores que resolveram investir no sis-tema orgânico de produção. Além doseminário, foram feitas visitas e ex-cursões a experiências agroecológicasjá existentes em Santa Catarina e noRio Grande do Sul, sem falar eminúmeras reuniões e treinamentostécnicos. Assim, hoje, em São Joa-quim, já existem agricultores produ-zindo agroecologicamente maçã, pêra,pêssego, ameixa e batata-inglesa. Se-gundo relata o engenheiro agrônomoÉlvio Antonio Peruchi, da Epagri deSão Joaquim, a Econeve já conta com34 sócios, dos quais 8 já produzemmaçã orgânica, totalizando 14ha, empomares com idade de 1 a 14 anos.“Estamos trabalhando prioritaria-mente com pequenos agricultores fa-miliares, que não têm condições desobreviver na agricultura convencio-nal, altamente dependente de insumoscaros”, defende Peruchi e acrescenta:“Santa Catarina é um Estado de pe-quenas unidades familiares, e por issopenso que a agroecologia, que visa apreservação da vida, da natureza e dasaúde do homem, é a maneira maisracional de se trabalhar na agrope-cuária”. O administrador do Cetrejo,

engenheiro agrônomo Nilton Nunesde Jesus, foi um dos que também sealiaram a esta proposta inovadora.Dentro do centro ele converteu umpequeno pomar convencional emagroecológico, que tem servido de apoiotécnico aos trabalhos de orientaçãoaos fruticultores orgânicos. E tam-bém as estações experimentais daEpagri em São Joaquim e Caçador,reconhecidas em nível nacional e in-ternacional pelos seus trabalhos deinvestigação científica em fruticultu-ra de clima temperado, estão aderin-do ao projeto de produção da maçãagroecológica. As estações pretendeminiciar um trabalho de pesquisa queenvolve uma parceria com a Embrapae colaboração direta de produtoresdas Cooperativas Econeve e Sanjo,em cujas propriedades serão desen-

volvidas ações experimentais e deacompanhamento de pomares.

Tanta gente trabalhando a favorda produção orgânica tem deixadocontente o presidente da Econeve,Manoel Nascimento Pereira. “Foi umgrande passo o que fizemos nestemunicípio. São poucos ainda os produ-tores envolvidos das 300 famílias compotencial para entrar no negócio, masesperamos que mais gente entenda aimportância econômica e social desteempreendimento”, salienta Manoel.Outro motivo de alegria para o presi-dente da Econeve é que o posto devendas da associação, no centro dacidade de São Joaquim, tem recebidoa visita intensa de consumidores cu-riosos em adquirir não só as maçãsagroecológicas, mas outras novidadescomo tomate, batata, abóbora, feijão,cebola, etc. Detalhe que chama aten-ção são os preços dos produtos, tudona média dos convencionais. “O nossoobjetivo é dar um preço justo ao nossoagricultor e não explorar o consumi-dor. Como o produtor rural tem umcusto mais baixo ao produzir o ali-mento agroecológico, não há necessi-dade de agregar exageradamente no

“Não há necessidade deagregar exageradamente

no preço, e assim tornamoso alimento orgânico maisacessível à população”,

diz o presidente daEconeve.

Centro de Treinamento e Eventos de São Joaquim, da Epagri, promove dia decampo sobre produção agroecológica de maçã

Técnicos da Epagri, Jorge Dotti Cesa eÉlvio Peruchi, e o presidente da Econeve,Manoel Pereira, apresentam a primeira

safra da maçã agroecológica

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preço, e assim tornamos o alimentoorgânico mais acessível à população”,ressalta Manoel Pereira.

A 35 quilômetros do centro da cida-de localiza-se a propriedade do fruti-cultor Pedro de Sena Guimarães, comuma área total de 20,4ha, adquiridaatravés de financiamento do Banco daTerra, em abril de 2000. O estabeleci-mento do Sr. Pedro de Sena fica numaárea muito bonita, ainda preservada,cercada de pinheirais de araucária,que fornece o tão saboroso pinhão.Nesta área de grande valor ambiental,ele resolveu transformar o pomarconvencional de 0,5ha em orgânico jánesta primeira safra de 2000/2001. Asvariedades plantadas são a Fuji (70%)e a Gala (30%), com os porta-enxertosMM-111 e Maruba. O pomar tem ida-de de treze anos.

Resultados ecológicos eeconômicos

O engenheiro agrônomo VelocinoSalvador Bolzani Neto, responsáveltécnico da Econeve e que junto com osextensionistas da Epagri orienta oprodutor, observa que já neste pri-meiro ano de produção (a reportagemesteve na propriedade no dia 6 de abrilde 2001, no final da colheita) o rendi-mento obtido estimado foi de 47t/ha, aum custo de R$ 0,16 por quilo produ-zido. O técnico comparou este custoao da maçã convencional, que é deR$ 0,18 por quilo, e, segundo os cálcu-los da equipe técnica da Epagri eEconeve, está previsto que para apróxima safra a despesa diminua paraR$ 0,14, ou seja, quatro centavos porquilo a menos que a fruta comagrotóxicos. Assim, considerando umrendimento médio entre os pequenosfruticultores agroecológicos de 40 milquilos por hectare, pode-se estimaruma economia de 40.000 x 0,04 = R$1.600,00 por hectare. “Isto é um valorque não se pode desprezar, além doque os produtos tóxicos normalmenteutilizados são substituídos por subs-tâncias com baixo índice de toxicidadeao homem e meio ambiente”, assegu-ra Bolzani Neto.

O controle principal das doenças epragas é através das caldas bordalesae sulfocálcica, aliadas em determina-dos períodos ao supermagro, todosproduzidos na propriedade. O técnico

da Econeve mostra que o pomar do Sr.Pedro de Sena, neste mês de abril,final de colheita, ainda está com bas-tantes folhas, provando que as caldasrealmente controlaram as doenças.

Mas o Sr. Pedro de Sena não sóestá satisfeito com seu pomar (ele vaiampliar a área com frutas) e tambéminvestir em hortaliças, porco orgânicoe galinha caipira. “Tenho a ajuda deum filho e espero que outro que estámorando longe, e com dificuldade deemprego, venha me ajudar”, diz espe-rançoso o agricultor. Um sonho do Sr.Pedro é agregar valor ao produto, ecom ajuda da esposa, a dona MariaAna, iniciar a produção de geléias econservas orgânicas.

entre outros tantos princípios,biodiversidade, interações entre opomar e outras espécies vegetais eanimais, além de mais mão-de-obra.Por isso, acreditamos num maior su-cesso por parte de pomares de agricul-tura familiar”, justifica o extensionistada Epagri.

Encerrada a primeira safra, oarmazenamento da maçã orgânica estásendo feito nas câmaras frigoríficasda Cooperativa Serrana de São Joa-quim, a Cooperserra, que emprestouprovisoriamente para a Econeve.“Com o apoio do Escritório Municipalda Epagri e da Credineve, a Econevepretende conseguir financiamentopara instalar uma câmara frigoríficaprópria, talvez com recursos do Pro-grama Nacional de Fortalecimentoda Agricultura Familiar – Pronaf – oudo próprio governo catarinense, queestá apostando na agroecologia”, agre-ga o técnico. Ele finaliza afirmandoque a maçã agroecológica, por termaior teor de sólidos solúveis – me-nos água e estrutura celular maisresistente –, tende a apresentar mai-or capacidade de armazenamento doque as maçãs convencionais, confor-me testes de prateleira já realizados.

A agroecologiapressupõe biodiversidade,interações entre o pomar e

outras espécies vegetaise animais.

O engenheiro agrônomo JorgeDotti Cesa, extensionista local daEpagri de São Joaquim, lembra que osresultados alcançados nesta primeirasafra foram surpreendentes. “Poucosacreditavam ser possível controlar asarna nos pomares de Gala e Fuji semo uso de fungicidas sintéticos”, afirmaJorge, que é também o articuladorregional da Epagri na área de fruticul-tura. “É claro que pomares novosdevem, sempre que possível, ser im-plantados com variedades resistentesa doenças ou pragas, como é o caso daCatarina, mas para os pequenos fruti-cultores familiares a conversão dospomares já se mostrou viável”,complementa o agrônomo. A Catarinaé uma variedade de maçã lançada pelaEpagri e sua grande vantagem é serresistente à sarna da macieira, exi-gindo menos tratamentos fitossani-tários mesmo em pomares convencio-nais. “Por isso muitos produtores emesmo empresas que desejam produ-zir no sistema orgânico já estão plan-tando esta variedade”, comenta Jor-ge. Segundo ele, a grande dúvida ésobre a viabilidade de se pensar emproduzir agroecologicamente em gran-des áreas. “A agroecologia pressupõe,

Técnico da Econeve mostra a grandepercentagem de folhas na macieira,apesar do período final de colheita

o

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32 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

REGISTRO

Avaliação de cultivaresAvaliação de cultivaresAvaliação de cultivaresAvaliação de cultivaresAvaliação de cultivarese híbridos de melanciae híbridos de melanciae híbridos de melanciae híbridos de melanciae híbridos de melancia

em solo arenoso, noem solo arenoso, noem solo arenoso, noem solo arenoso, noem solo arenoso, noLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul Catarinense

Augusto Carlos Pola, Antônio CarlosFerreira da Silva, Adroaldo Ramos e

João Voltolini

O cultivo de melancia tem sedestacado no Litoral Sul, Alto Valedo Itajaí e Oeste Catarinense, comouma atividade de expressão econô-mica em franca expansão. A produ-ção catarinense dobrou no períodode 1985 a 1995 (1,2) em função doaumento da área cultivada (48%) eda produtividade (41%). O últimocenso agropecuário revelou que fo-ram cultivados no Estado 1.981ha demelancia, que produziram 7,7 mi-lhões de frutos com um rendimentomédio de 3.901 frutos/ha (2).

O Litoral Sul Catarinense, maiorregião produtora do Estado, respon-de por 24 e 29% da área cultivada eprodução de frutos, respectivamen-te; Jaguaruna, o segundo municípiomaior produtor de melancia, contri-bui com 42% da área cultivada nestaregião, com 205ha (2). O cultivo demelancia neste município realiza--se, praticamente, em solo arenoso(Areias Quartzosas Distróficas), que-se caracteriza por ser de rápidapermeabilidade e excessivamentedrenado. Cabe ressaltar que exis-tem, aproximadamente, 100.000hade solo arenoso no Litoral SulCatarinense. Nesta região predomi-na o cultivo da Crimson Sweet (90%),cultivar que apresenta frutos redon-dos e casca de coloração verde-claracom listras verde-escuras.

Novas cultivares e híbridos demelancia têm sido lançados, anual-mente, no mercado. Os híbridos têmsido citados como superiores às cul-tivares quanto a resistência às doen-ças, em precocidade e produtividade,

com frutos mais uniformes namaturação e com alto teor de açúcar(3).

O presente trabalho visou avaliaras cultivares e híbridos de melanciamais promissores para o solo arenoso,utilizando-se a irrigação por gote-jamento, no Litoral Sul Catarinense.

Resultados obtidos

• Rendimento total e comercial defrutos

Todas as cultivares e os híbridostestados apresentaram altos rendi-mentos totais de frutos (48,4 a64,6t/ha), praticamente o dobro daprodutividade média do Estado, commais de 74% de frutos comerciais (Fi-gura 1). A cultivar Jubilee II, seguidada cultivar Crimson Sweet e dos híbri-dos Crimson Glory, Rubi AG-08 eJetstream, foram os mais produtivos,com 82 a 100% de frutos comerciais(> 8kg). O híbrido Madera, emboratenha alcançado a menor percenta-gem de frutos comerciais, foi o maisprecoce (em torno de 10 dias) emrelação aos demais híbridos e cultiva-res testados.

A irrigação foi o fator mais impor-tante para os altos rendimentos obti-dos em solo arenoso, tendo em vista abaixa precipitação ocorrida nos mesesde novembro e dezembro/96 (65 e81mm), inferior aos valores estima-dos da evapotranspiração para a re-gião (95 e 130mm, respectivamente).

• Aceitação comercial e qualidadedos frutos

No Brasil, há uma clara preferên-cia do mercado pelos frutos redondos,com casca verde com listras verde--escuras (3). No Litoral Sul Catarinenseesta preferência se confirma, pois em90% da área cultivada é utilizada acultivar Crimson Sweet, que possuiestas características. Dentre os híbri-dos testados, com exceção do Starbrite,que possui o formato oblongo, todos seassemelham ao formato da cultivarCrimson Sweet. Em relação a cor dacasca, todos os híbridos possuem pe-quenas variações, com exceção doCrimson Glory e Jetstream, que sãosemelhantes à Crimson Sweet. A cul-tivar Jubilee II, de ótimo desempenhoquanto a produtividade e percenta-gem de frutos comerciais, apresentamenor aceitação comercial devido aoformato alongado.

Em relação ao sabor, destacaram-se os híbridos Starbrite e Rubi AG-08.Quanto ao tamanho dos frutos produ-zidos, destacaram-se as cultivaresJubilee II e Crimson Sweet e o híbrido

Starbrite. Por outro lado, o híbridoMadera apresentou maior númerode frutos abaixo do padrão (< 8kg).Em relação ao peso médio dos frutoscomerciais, destacaram-se a culti-var Jubilee II e o híbrido Starbrite,que alcançaram 10,6 e 11,8kg,respectivamente.

Conclusões

Com base nos resultados obtidosconclui-se que:

• A cultivar Crimson Sweet, amais cultivada no Litoral SulCatarinense, além de apresentarmenor custo das sementes não deixanada a desejar em relação aos híbri-dos testados;

• A cultivar Jubilee II e o híbridoStarbrite são promissores para mer-cados pouco exigentes em relação aoformato do fruto;

• Os híbridos, com característi-cas semelhantes à cultivar CrimsonSweet, são promissores para siste-mas de produção conduzidos comirrigação;

• A irrigação por gotejamento éuma tecnologia essencial para au-mentar a produtividade e melhorara qualidade dos frutos de melancia,especialmente em solo arenoso.

Literatura citada

01. CENSO AGROPECUÁRIO – SantaCatarina. Rio de Janeiro: IBGE, 1985.p.482-485. (IBGE. Censos Econômicos –1985).

02. CENSO AGROPECUÁRIO – SantaCatarina. Rio de Janeiro: IBGE, 1996.286p. (IBGE. Censos Econômicos – 1995/96, n.21).

03. EPAGRI. Normas técnicas para a cultu-ra da melancia em Santa Catarina; 1a

revisão. Florianópolis, 1996. 35p.(Epagri. Sistemas de Produção, 24).

Augusto Carlos Pola, eng. agr., M.Sc.,Cart. Prof. 6.917-D, Crea-SC, Epagri/Esta-ção Experimental de Urussanga, C.P. 49,fone/fax (048) 465-1209, 88840-000Urussanga, SC; Antônio Carlos Ferreirada Silva, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. 9820-D, Crea-SC, Epagri/Estação Experimentalde Urussanga, C.P. 49, fone/fax (048) 465-1209, 88840-000 Urussanga, SC; AdroaldoRamos, eng. agr., Cart. Prof. 10.098-D,Crea-SC, Epagri, Escritório Local de Içara,C.P. 11, fone/fax (048) 432-3277, 88800-000Içara, SC e João Voltolini , eng. agr., Espe-cialista em Irrigação e Drenagem, Cart.Prof. 11.247-D, Crea-SC, Epagri/Centro deTreinamento de Araranguá, C.P. 408, fone(048) 522-0894, fax (048) 524-1677, 88900-000 Araranguá, SC.Cultivar Crimson Sweet

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Avaliação da qualidadeAvaliação da qualidadeAvaliação da qualidadeAvaliação da qualidadeAvaliação da qualidadeculinária de cultivaresculinária de cultivaresculinária de cultivaresculinária de cultivaresculinária de cultivares

de aipim, em solode aipim, em solode aipim, em solode aipim, em solode aipim, em soloarenoso, no Litoral Sularenoso, no Litoral Sularenoso, no Litoral Sularenoso, no Litoral Sularenoso, no Litoral Sul

de Santa Catarinade Santa Catarinade Santa Catarinade Santa Catarinade Santa Catarina

Augusto Carlos Pola, Antônio CarlosFerreira da Silva e Mauro Luiz Lavina

Tradicionalmente cultivado paraconsumo pessoal, no meio rural eurbano, o aipim pode constituir-senuma alternativa a mais de lucrodentro de uma propriedade ruraldiversificada. A possibilidade deescalonar a colheita de acordo com anecessidade, aliada à rusticidade eao baixo custo de produção, tornamo aipim uma cultura muito impor-

tante para a subsistência e até comofonte de renda.

A partir de setembro sua ofertadiminui, em razão de que muitas raízesnão mais cozinham devido a fatoresrelativos a cultivar, clima e solo(estresse hídrico), fatores fisioló-gicos (brotação), entre outros. Emconseqüência, o consumo diminuidrasticamente, devido à desconfiançado consumidor sobre a qualidade doproduto.

Com o objetivo de determinar ascultivares mais promissoras quanto aqualidade culinária, bem comoverificar o efeito do congelamento notempo de cozimento, avaliaram-se 22materiais cultivados em solo arenoso(Areias Quartzosas).

O local de plantio foi o CampoExperimental de Jaguaruna da Epagri,

em novembro de 1994, com colheitaem agosto de 1995. As avaliaçõesforam realizadas com quatro plantascolhidas por cultivar. Utilizou-se umaraiz de tamanho médio por planta dabase da maniva, retirando-se duasamostras da parte central, com pesosemelhante, sendo uma amostracongelada por 30 dias. As cultivaresestudadas, assim como algumascaracterísticas das raízes, sãoapresentadas na Tabela 1. Foramavaliados o aspecto das raízescolhidas, a facilidade de descasque, acoloração do córtex e do cilindro, otempo médio de cozimento in natura(no dia da colheita, em iguaisquantidades de água fervente) econgelado (aos 30 dias) e o padrão damassa cozida (Tabela 1).

Em relação ao tempo de cozimen-

Tabela 1 – Aspecto comercial das raízes, facilidade de descasque, coloração do córtex e do cilindro, tempo médio de cozimento deraízes in natura e congeladas e padrão de massa cozida de 22 cultivares de aipim, em solo arenoso. Epagri,

Estação Experimental de Urussanga, 2001

Tempo Tempocozimento (A) cozimento

in natura congeladas(min) (min)

Manteiga Muito Bom Regular Roxa Branca 21,7 12,5 5Pão da China Regular Boa Roxa Branca 20,5 9,5 8Mantiqueira Bom Regular/ruim Roxa Branca Não 21,1 5Pedras Grandes Bom Regular/boa Creme Branca 22,5 10,5 9Aipim Vermelho Bom Regular/boa Branca Branca 19,5 11,0 3Gaúcha Bom Regular/boa Creme Branca 22,0 11,5 3Mato Grosso Regular Regular/boa Creme Branca 16,7 8,0 10Timbó Ruim Regular/boa Creme Branca 23,5 14,0 3Taquari Bom Regular Branca Branca Não 16,7 5Amarelo Bom Regular/boa Creme Amarela 25,7 10,5 10IAC 14-18 Ruim Regular/boa Creme Branca 15,7 8,0 10IAC 287-70 Bom Boa Creme Amarela Não 11,0 9Amarelo I Regular Regular Branca Branca 21,7 12,5 2Pioneira Bom Regular Amarela Amarela 19,2 13,5 3Apronta Mesa Regular Regular/boa Creme Branca 27,5 11,7 9IAC 57670 Ótimo Boa Branca Amarela Não 10,2 3Vassourinha MG/94 Ótimo Ruim Branca Branca Não 12,2 9Pernambucana Regular Regular/ruim Creme Branca 27,7 18,7 3IAC 12829 Bom Boa Branca Branca 28,2 17,2 8Oriental Regular Ótima Branca Branca 20,0 13,0 10Cultura Regular Regular/boa Branca Branca 25,5 12,7 9Catarina Regular Boa Amarela Amarela 22,7 13,5 3

(A) Tempo de cozimento (minutos): 0 a 10 = Ótimo; 11 a 20 = Bom; 21 a 30 = Regular; > 30 = Ruim; Não = Não cozinhou.(B) Padrão de massa (in natura)

10 = Não-encaroçada, plástica, não-pegajosa9 = Pouco encaroçada, plástica, não-pegajosa8 = Não-encaroçada, ligeiramente plástica, não-pegajosa7 = Não-encaroçada, não-plástica, não-pegajosa6 = Não-encaroçada, não-plástica, pegajosa5 = Muito encaroçada, plástica, pegajosa4 = Muito encaroçada, não-plástica, pegajosa3 = Pouco encaroçada, plástica, pegajosa2 = Muito encaroçada, plástica, não-pegajosa.

Aspecto Facilidade Coloração Coloração PadrãoCultivares comercial de do do de massa

das raízes descasque córtex cilindro cozida(B)

#

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to destacaram-se as cultivares IAC14-18, Mato Grosso, Pioneira, AipimVermelho, Oriental e Pão da China,as quais cozinharam entre 15 e 21minutos. Estas mesmas cultivares,quando congeladas, diminuíramainda mais o tempo de cozimento,que variou de 8 a 13 minutos,considerado ótimo. Com relação aopadrão de massa cozida, destacaram--se as cultivares Mato Grosso,Oriental, IAC 14-18 e Amarelo, poisapresentaram uma massa não--encaroçada, plástica e não-pegajosa.O congelamento de raízes de aipim,

além de agregar valor ao produto,favorece o cozimento e possibilitamaior aproveitamento do produto naentressafra.

Augusto Carlos Pola , eng. agr., M.Sc.,Cart. Prof. 6.917-D, Crea-SC, Epagri/EstaçãoExperimental de Urussanga, C.P. 49, fone/fax (048) 465-1209, 88840-000 Urussanga,SC; Antônio Carlos Ferreira da Silva,eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. 9.820-D, Crea-SC,Epagri/Estação Experimental de Urussanga,C.P. 49, fone/fax (048) 465-1209, 88840-000Urussanga, SC e Mauro Luiz Lavina, eng.agr., Cart. Prof. 10.326, Epagri/Estação Expe-rimental de Urussanga, C.P. 49, fone/fax(048) 465-1209, 88840-000 Urussanga, SC.

8kg por pé, e a média nacional é de1,7kg). Enquanto os produtores con-vencionais (que utilizavam veneno eadubos químicos) conseguiram pre-ços de venda de R$ 15,00 por caixa, osprodutores agroecológicos consegui-ram até R$ 26,00 por caixa. “Comcustos de produção até 90% menorese produtividade pouco inferior, con-seguimos um preço quase 100% maiorna safra. Isso é mais uma prova deque a produção ecológica é viável evai crescer muito. Estamos produ-zindo mais vida e ao mesmo tempotendo um bom retorno financeiro naatividade”, declarou Lucinda.

(Produção ecológica de olerícolasganha impulso em Urubici. In:Agroecologia e agricultura familiar.Rede T.A. Sul e RedeEcovida deAgroecologia, ano III, no 3, nov. 2000.p.11-12.).

Resumo elaborado pela AS-PTA –Assessoria e Serviços a Projetos emAgricultura Alternativa. Rua daCandelaria, 9, 6o andar, 20091-020Rio de Janeiro, RJ, fone (021) 253-8317, fax (021) 233-8363, e-mail:[email protected].

Engenharia genéticaEngenharia genéticaEngenharia genéticaEngenharia genéticaEngenharia genética

O estudante do curso de Mestradoem Recursos Genéticos Vegetais, daUFSC, Adelar de Almeida Pinto con-cluiu no dia 6/3/2001 sua tese deMestrado obtendo o conceito A. Otema foi: “Análise exploratória douso da engenharia genética para ob-tenção de fruteiras resistentes a fun-gos”.

Adelar é natural de Videira, SC, eformado em Agronomia pela Uni-versidade Federal de Santa Catarina– UFSC. O trabalho de tese resultoude um projeto de cooperação entre aUFSC, Embrapa e Epagri. A orienta-ção esteve a cargo do prof. MiguelGuerra (UFSC). Parte do trabalhofoi realizada no Centro Nacional deRecursos Genéticos (Cenargen) daEmbrapa, Brasília, DF, sob orienta-ção do pesquisador Manoel T. Souza

Hortaliças agroecológicas em Urubici, SCHortaliças agroecológicas em Urubici, SCHortaliças agroecológicas em Urubici, SCHortaliças agroecológicas em Urubici, SCHortaliças agroecológicas em Urubici, SC

No município de Urubici, SC, cer-ca de 650 agricultores conferem àregião serrana de Santa Catarina acaracterística de maior produtora deolerícolas do Estado. Estes agricul-tores que trabalhavam de forma con-vencional, com a utilização intensi-va de adubos químicos e agrotóxicos,começaram a mudar essa realidadecultivando a partir do manejoagroecológico. Hoje eles abastecemo litoral e a Região Sul do estado comuma grande diversidade de hortali-ças como cenoura, beterraba, repo-lho, couve-flor, chicória, alface, ra-banete, vagem, pimentão e outras.

Incentivados pelo Centro Vianeide Educação Popular (ONG de asses-soria à produção agroecológica deLages, SC), os agricultores começa-ram a fazer cursos e a aprofundarseus conhecimentos sobre a produ-ção agroecológica, observando na prá-tica trabalhos bem sucedidos no RioGrande do Sul e em Santa Catarina.Alguns agricultores, em fase de con-versão de seus sistemas produtivos,começaram a produzir primeiro empequenas áreas da propriedade, vi-sando se adaptarem ao novo modeloprodutivo. Num segundo momento,essas famílias aumentaram suasáreas de produção agroecológica. Ape-sar de a produção apresentar exce-lente qualidade, os agricultores en-

frentaram problemas com acomercialização, que era feita junta-mente com as olerícolas produzidascom veneno e pelo mesmo preço. Noano seguinte este quadro começou amudar, pois mais famílias da comuni-dade se envolveram com a produçãoecológica, aumentando seu volume. Oaumento da oferta possibilitou que aprodução ecológica fosse comer-cializada separadamente. A agri-cultora Lucinda Beckhauser foi umadas pioneiras na produção agroe-cológica na região. Ela conta que, noprincípio, muitos agricultores acha-vam impossível produzir sem veneno,mas após verem que os resultados daprodução ecológica são tão bons quan-to os da produção convencional, comcustos menores e sem o risco de con-taminação, o número de agricultoresinteressados em entender como issoera possível aumentou bastante. Se-gundo ela, o objetivo é que cada vezmais gente esteja envolvida com aprodução agroecológica. O interessan-te não é apenas ganhar dinheiro, esim melhorar a qualidade de vida desuas famílias e dos consumidores. Noúltimo ano a família de Lucinda pro-duziu cerca de 1.500kg de tomateecológico, com apenas 300 pés de plan-tio (numa área de 0,2ha): uma médiade 5kg de tomate por pé (na produçãoconvencional consegue-se no máximo

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Jr. A Epagri também deu apoio fi-nanceiro e logístico para a sua reali-zação. Segundo o pesquisador Mar-co Antonio Dal Bó, da Estação Expe-rimental de Videira da Epagri, umdos idealizadores do projeto, o culti-vo de espécies frutíferas em climaúmido como o nosso é bastante di-ficultado pelo ataque de doenças. Emconseqüência, são realizadas váriasaplicações de produtos químicos quetrazem riscos à saúde e ao meioambiente. A criação de variedadesresistentes é a solução ideal paradiminuir esses riscos, mas para obtê--las é necessário o uso de técnicasmais modernas, das quais a enge-nharia genética é uma opção.

Adelar trabalhou com peptídeosantimicrobianos (magaininas edermaseptinas), que são pequenasproteínas que desestabilizam a mem-brana celular de microorganismos.Estes peptídeos são produzidos porvários organismos como forma dedefesa contra doenças. Os resulta-dos do projeto mostraram que al-

preservou e, ao contrário, por vezesreduziu a capacidade produtiva dossolos. Também não foi adequado àrealidade cultural da maioria dosagricultores, os quais são vistos comomais um item de produção. Então,no atual estágio é mais fácil abando-nar este modelo do que tentar corri-gi-lo, promovendo-se uma transiçãogradual e segura do sistema conven-cional para um alternativo. Porém,agora com níveis de conhecimento econsciência mais elevados.

Historicamente, segundo João F.Debarba, o aprendizado a respeito deconceitos ecológicos nas ciênciasagronômicas foi mais pela dor do quepelo amor. Na agricultura ecológicaprocura-se ter uma visão holística,ou seja, uma visão de todo o sistemaprodutivo. Não há padrão ideal paraseguir. Procura-se produzir com umamaior eficiência energética. Em vezda produtividade máxima, busca-sea produtividade ótima em cada siste-ma.

Observa-se que a agricultura con-vencional visa a máxima raciona-lidade econômica apenas e está base-ada em tecnologias de produtos. Di-ferentemente, a agricultura ecológi-ca se baseia em tecnologias de pro-cessos, onde se controlam mais ascausas dos problemas e menos ossintomas, tendo-se a natureza comoum modelo perfeito. Com o progres-so da ecologia determinou-se que nanatureza há predominância de maisinterações positivas entre os orga-nismos vivos do que negativas. Asinterações negativas predominam naagricultura convencional, enquantoque nos métodos alternativos de agri-cultura busca-se conhecer e incre-mentar interações positivas que be-neficiem a produção.

A agroecologia é centrada no serhumano e sua base de sustentação éa fertilidade do solo. Na prática deuma agricultura agroecológica apli-cam-se mais fundamentos do quefórmulas. O conhecimento autócto-ne (nativo) também é valorizado,pois se aplicam princípios universaisadequados às condições locais. Daí a

guns desses peptídeos são mais efici-entes contra fungos causadores dedoenças do que os fungicidas existen-tes. Dois genes, um natural e outrosintético derivado, foram inseridosem plantas de fumo que estão sendoestudadas.

O trabalho também buscou encon-trar construções de genes que nãodependem de patentes de empresasque dominam esta tecnologia, o quedá maior liberdade de aplicação. Ostestes foram feitos com videira, ma-moeiro e bananeira.

Segundo o pesquisador Marco An-tonio Dal Bó, o assunto ainda é polê-mico e há muito o que avançar até queos resultados possam ser usados pelosprodutores. Ressalta, porém, que hánecessidade de se criar em SantaCatarina um grupo de trabalho comcompetência na área para que não sefique à merce de iniciativas de fora. Obrilhante trabalho realizado por Adelare os trabalhos de cooperação estabele-cidos foram os primeiros passos nessesentido.

Os solos estão doentes. A utiliza-ção intensiva de uma mecanizaçãoinadequada e o uso indiscriminadode agrotóxicos, corretivos e adubosquímicos solúveis, somados aomonocultivo e à falta de práticasadequadas de combate à erosão, con-duziram a grande maioria dos solosdas lavouras a um processo de degra-dação de suas capacidades produti-vas. Processo caracterizado, entreoutras coisas, pela formação de umacamada subsuperficial compactada,perda do horizonte A e, por conse-qüência, uma redução da matériaorgânica e da atividade biológica dosolo, tornando estas lavouras cadavez mais exigentes em insumos e,em geral, menos produtivas. Os pro-

Agroecologia para todosAgroecologia para todosAgroecologia para todosAgroecologia para todosAgroecologia para todos

blemas de distúrbios nutricionais, ra-ros outrora, avolumam-se retratandoo desequilíbrio e a lenta degradaçãodos solos e do ambiente. Somada aisto, uma série de outras conseqüên-cias ecológicas, energéticas, econô-micas e sociais negativas e de polui-ção, que certamente levarão à insus-tentabilidade deste modelo produtivoconvencional.

A agricultura convencional é sin-tomática. Sempre repõe o que falta oucombate o sintoma. E vê cada fator deprodução isoladamente, sem conse-guir o domínio das interrelações exis-tentes, nem das relações causa-efeito.Tenta-se atingir padrões ideais, sóque estes nunca se repetem. O mode-lo de agricultura convencional não

Hernandes Werner

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36 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

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sua adequação à realidade culturaldo meio rural, onde a produção devefundamentar-se mais em conheci-mento e trabalho e menos no capital.

Para reverter conscientementeum processo de longo período dedestruição é preciso adotar-se ummodelo de agricultura que sejaregenerativo; que possa devolver emanter a capacidade produtiva dosolo. A verdadeira fertilidade é re-sultado da interação entre aspectosquímicos, físicos e biológicos, sendoque a intensa atividade biológica nosolo determinará melhorias dura-douras em suas qualidades químicase físicas. O parâmetro para estimara capacidade produtiva de um solodeve ser a atividade biológica deste.Aliás, deve-se considerar o solo comovolume e não apenas como área.

Tudo está ligado entre si como osórgãos de um corpo, por isso o solo,já na antigüidade, era visto como umorganismo vivo. É por não ter consi-derado este conceito milenar que aagricultura convencional, dita mo-derna, está sendo duramente questi-onada. As práticas de adubação quí-mica altamente solúvel, manejo ina-dequado do solo e a falta de reposiçãoda matéria orgânica, dentre outras,diminuíram ou quase eliminaram avida microbiana do solo, conduzindo,conseqüentemente, o solo das lavou-ras à esterilidade, sinônimo deinfertilidade. Aliás, fertilidade é umatributo de seres vivos. Em resumo,pode-se afirmar que as práticas con-vencionais foram e são responsáveispela “erosão biológica” dos solos agrí-colas. As causas da degradação dosolo, na maioria das vezes, estãorelacionadas aos prejuízos que cau-sam aos organismos do solo. A atua-ção conjunta de várias causas acele-ra ainda mais a degradação do solo.Enquanto adotarmos práticas demorte, mais afastamo-nos da vida.

Dentre as opções para a regene-ração da fertilidade do solo pode-secitar: a adubação verde, a orgânica(esterco, composto, chorume,biofertilizante), o cultivo de plantasde cobertura (viva ou morta), o ma-

nejo de restos culturais e ervas espon-tâneas, pousio, plantio de árvores,quebra-ventos, rotação e consorciaçãode culturas, suplementações mine-rais de baixa solubilidade (fosfato na-tural, calcário, pó-de-rochas, MB-4,etc.), introdução de organismos (mi-nhocas, microrganismos eficazes), ouseja, qualquer prática que contribuapara incrementar e/ou sustentar aatividade biológica do solo. O manejoagroecológico do solo visa buscar oequilíbrio do solo. Quanto maior onúmero de práticas adotadas em con-junto, menor será o tempo para que osolo entre em equilíbrio. O equilíbriodo solo se atinge quando a fertilidade(química, física e biológica) se tornamais resistente à mudança impostapor adversidades climáticas ou demanejo inadequado. Em vez de adu-bar a planta, a prioridade deve seradubar o solo.

As práticas de conservação do soloe da água surgiram para solucionaralguns dos problemas da agriculturaconvencional, mas agora também énecessária a adoção de práticas con-cretas de regeneração e manutençãoda atividade biológica do solo, melho-rando o enfoque conservacionista quedeverá se preocupar também com oacúmulo de energia orgânica no solo,base dos processos vitais. É precisoinvestir no solo; deve-se viver dosjuros do solo, não do seu capital.

É a ênfase na doença, em vez de nasaúde, que diferencia a prática agríco-la convencional da agroecológica.Embora a ciência agronômica tenhaalcançado grande sucesso no estudodos mecanismos subjacentes à doen-ça, só recentemente ela começou ainvestigar as razões pelas quais asplantas permanecem saudáveis. Umsolo sadio produz plantas, animais ehomens sadios.

É indiscutível a importância dosmacros e microrganismos do solo paraa liberação e reciclagem de nutrientesàs culturas. Atualmente sabe-setambém que muitas espécies de plan-tas apresentam associações com mi-crorganismos benéficos que são en-contrados na superfície de raízes ou

no interior destas ou do caule, osquais retiram do ar ou do solo quan-tidades de nutrientes que os vege-tais por si só não conseguem. Po-rém, as adubações químicas solúveise os agrotóxicos geralmente inibemo desenvolvimento destes microrga-nismos benéficos, fazendo com queas plantas sejam mais dependentesdestes insumos.

Os insetos, principalmente os su-gadores, os fungos, as bactérias, osvírus, etc., causadores de danos àsculturas, possuem baixa capacidadepara utilizar substâncias complexasno seu metabolismo. Necessitam ab-sorver substâncias mais simplespara seu crescimento e reprodução.Pela Teoria da Trofobiose, FrancisChaboussou, em 1969, concluiu queos adubos químicos solúveis (princi-palmente os nitrogenados) e osagrotóxicos promovem a formaçãode substâncias orgânicas simples naseiva das plantas, através do estímu-lo a um processo chamado proteólise,tornando-as mais vulneráveis e atra-tivas às pragas e doenças. Por outrolado, a resistência a estas é favorecidapor uma nutrição equilibrada, quereduz a concentração de compostossimples na seiva das plantas.

O sistema enzimático dos vege-tais, ao sofrer uma interrupção porcausa de desequilíbrios nutricionaisou estresse, conduz ao acúmulo dealguma substância do metabolismocelular que poderá alimentar pragase doenças especializadas na digestãodesta. O ponto-chave da sanidadedas lavouras passa pelo adequadosuprimento de nutrientes. As plan-tas necessitam de um pouco de cadanutriente (mais de 40 minerais dife-rentes) e não muito de alguns. Estavariedade de nutrientes bem como oadequado suprimento às plantas po-dem ser melhor obtidos através domanejo da matéria orgânica no solo.Plantas adaptadas ao solo de umaregião vão possuir um sistemaenzimático também adaptado à dis-ponibilidade natural de nutrientesdeste solo. A saúde das plantas de-pende do solo. Antes de curar as

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plantas devemos nos preocuparcom a saúde do solo. O conceitoreducionista de que a planta é forteporque não tem pragas ou doençasna agroecologia é entendido ao con-trário: a planta não tem pragas oudoenças porque é forte. A resistênciado hospedeiro é o controle biológicoideal e eficiente contra pragas epatógenos.

A diversidade é a base da estabi-lidade, tanto na produção quanto naeconomia de uma propriedade ouregião. A integração racional da ex-ploração animal com sistemasagrossilvícolas possibilita, além damaior diversificação, melhor equilí-brio energético da propriedade,otimizando a reciclagem de nutrien-tes e propiciando maior independên-cia do sistema em relação a insumosexternos. A estabilidade de umagroecossistema é tanto maior quan-to maior for o número e a diversida-de de seus componentes.

Há algumas décadas o pretextopara a continuidade de uma agricul-tura convencional era a falta de exem-plos práticos viáveis de uma agricul-tura sem adubos químicos solúveis eagrotóxicos. Hoje não há como ne-gar o número e a variedade de exem-plos bem consolidados de agricultu-ra alternativa, seja de qual for aescola (agroecológica, orgânica, na-tural, biológica, biodinâmica,permacultura, etc.) espalhados portodos os continentes. Estes exem-plos multiplicam-se cada vez mais.Existem órgãos de pesquisa e ensinovoltados exclusivamente para a agri-cultura alternativa, sendo que al-guns já existiam antes da RevoluçãoVerde, a qual marcou o início damodernização da agricultura, ou seja,a era da dependência. Salienta-seque neste texto nos referimos àagroecologia como ciência, incluin-do todas as escolas de agriculturaalternativa, as quais, através de pro-cessos agrícolas semelhantes, seempenham em produzir os alimen-tos denominados “orgânicos”, isen-tos de agrotóxicos e adubos químicossintéticos de alta solubilidade.

O aprofundamento técnico emagroecologia pode ser buscado tantona teoria, pois já existe uma vastabibliografia sobre o assunto, quantonas experiências práticas de produ-ção, consultorias técnicas e cursos.

Em menor escala, diversas organi-zações não-governamentais já traba-lham com agroecologia e com váriosanos de experiência, tratando-a muitomais como uma filosofia de vida doque simplesmente uma proposta téc-nica. A função destas ONGs foi provarque a produção agropecuária pode seragroecológica. Estão adiantadas algu-mas décadas em relação à atuaçãogovernamental.

Os dois setores que mais crescemna economia mundial atualmente sãoo de informática e o de alimentosorgânicos. Este cresce a uma taxa de20 a 30% ao ano no mundo e 40% aoano no Brasil. A Expansão daagroecologia é, portanto, umamegatendência e que revela novosparadigmas de manejo do solo e daprodução. Sua consolidação é questãode tempo somente, o qual poderá sermaior ou menor, dependendo do graude engajamento dos atores do proces-so de desenvolvimento agropecuário.

O movimento agroecológico nomundo já é bastante expressivo edesenvolve-se de forma organizada enão-caótica, integrando produtores,comerciantes e consumidores numjogo aberto, de regras claras, ondenão há perdedores ou explorados.Transparência é a palavra de ordem.Isto estimula a organização local einclusive modifica as relações huma-nas, substituindo a competitividadepela complementaridade, confiança ecolaboração mútua, melhorando osenso de eqüidade e, conseqüente-mente, de justiça. Segundo LaércioMeirelles, do Centro de AgriculturaEcológica de Ipê, RS, a organização doprodutor deve fazer com que os fato-res econômicos e sociais suplantem osfatores políticos-partidários. Em gru-pos os agricultores compartilham van-tagens materiais e simbólicas, alémde desenvolverem uma força deegrégora muito mais sólida em rela-

ção ao agricultor isolado.A evolução da consciência ecoló-

gica mundial desperta atualmente anecessidade da agropecuária ter seusprodutos e processos comprometi-dos com a qualidade ambiental. Quan-tidade não é qualidade. Os atuaissistemas intensivos de exploraçãode aves, suínos e bovinos devempassar por transformações que mui-to modificarão as técnicas e os con-ceitos da exploração animal, deven-do a atividade intensiva ser substitu-ída gradativamente por sistemasracionais, integrados e equilibrados,predominando conceitos agroecoló-gicos em toda a cadeia produtiva,que levem em consideração tambémo conforto, as necessidades fisiológi-cas e sociais dos animais. Um animalequilibrado é aquele que tem suasnecessidades instintivas básicas sa-tisfeitas. Somente um animal quecresce equilibrado pode ser um bomalimento para o homem.

Da mesma forma, outras ativida-des intensivas, tais como a hidroponiae o cultivo protegido (plasticultura)de hortaliças, deverão sofrer ajustesa fim de se adequarem a conceitosagroecológicos.

Atualmente a legislação que im-pede a livre produção e comer-cialização de sementes é um empeci-lho ao desenvolvimento da agroe-cologia. Justifica-se que é necessáriogarantir a pureza genética e sanitá-ria das sementes. Estas preocupa-ções são válidas para um sistemaagrícola convencional, mas não tan-to para um agroecológico que sefundamenta em base genética am-pla, biodiversidade e equilíbrioambiental. A heterogeneidade ge-nética do ponto de vista agroe-cológico é extremamente valiosa. Assementes oriundas de cultivosagroecológicos não atendem aos pa-drões estabelecidos para os unifor-mes campos de produção de semen-tes convencionais. Não se trata dedescartar o trabalho de décadas deorganização do setor sementeiro;trata-se apenas de adequá-lo tam-bém a novos processos de produção,#

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com a vantagem da incorporação deanos de experiência do setor no con-trole de qualidade, excluindo-se aí ostratamentos de sementes comagrotóxicos.

As mudanças deverão alcançartodo o “agribusiness” a médio e longoprazos. Neste contexto será neces-sário repensar a utilidade dastecnologias agropecuárias atualmen-te validadas para os atuais modelosde produção, bem como redirecionaro ensino, a pesquisa, a extensão e amídia, já que a nova ordem mundialpreconiza um baixo impacto ambien-tal.

A base tecnológica para uma agri-cultura sustentável passa pela

agroecologia. Se este é o caminhopara uma melhor qualidade de vida,então para se atingir uma escala mai-or e para que alimentos saudáveissejam um direito de todos e não privi-légio de poucos (atualmente a procurapor produtos orgânicos é muito maiorque a oferta, resultando em preçosmais elevados), bem como para rever-ter a degradação ambiental, a adoçãoda agroecologia deve ser ampliada aomáximo e, portanto, empregada comopolítica governamental.

Hernandes Werner , eng. agr., M.Sc., Cart.Prof. 21.883-D, Crea-SC, Epagri/EstaçãoExperimental de Ituporanga, C.P. 121, fone/fax (047) 533-1409, 88400-000 Ituporanga,SC, e-mail: [email protected].

-semente (básica), explica a obten-ção de 42,5t/ha, sendo 70% do tipograúdo, o que equivale a mais dequatro vezes o rendimento médioobtido no Estado. Mesmo em condi-ções anormais de clima, que favore-ceram a ocorrência da requeima, asdemais cultivares apresentaram bompotencial no sistema orgânico, poissuperaram em 2 a 2,5 vezes o rendi-mento médio do Estado.

Em relação ao aspecto dos tubér-culos produzidos, todas as cultivaresdestacaram-se, apresentando tubér-culos uniformes, lisos e sem danospor insetos. Em relação à qualidadedos tubérculos no que diz respeito apercentagem de matéria seca, verifi-cou-se que a Catucha, conhecida porter alta percentagem nos tubércu-los, apresentou 23,6%, valor nuncaalcançado no sistema convencional,onde a média tem sido de 21%. A altapercentagem de matéria seca é umdos pré-requisitos para o preparo defritas e “chips” de boa qualidade.

Convém destacar também o bai-xo custo de produção, pois foramfeitas quatro pulverizações com cal-da bordalesa associadas a urina devaca a 2%. Na adubação de base e decobertura foi aproveitado o estercode aves de postura, disponível napropriedade. Se considerarmos queno sistema convencional utilizadonesta região, relativamente tecni-ficado, normalmente são gastos emtorno de R$ 1.200,00 por hectare, sócom adubos e agrotóxicos, verificou--se uma economia de R$ 1.080,00(27% do custo total de produção deR$ 4.000,00) ao utilizar-se o sistemaorgânico.

No próximo cultivo (plantio deoutono), época normalmente maisfavorável às doenças da folhagem, otrabalho terá continuidade, sendoutilizado batata-semente orgânicaoriunda do plantio anterior.

Antonio Carlos Ferreira da Silva, eng.agr., M.Sc., Cart. Prof. 9.820-D, Crea-SC,Epagri/Estação Experimental de Urussanga,C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fones(048) 465-1766/1933, fax (048) 465-1209,e-mail: [email protected].

Produção orgânica de batata: produtoresProdução orgânica de batata: produtoresProdução orgânica de batata: produtoresProdução orgânica de batata: produtoresProdução orgânica de batata: produtoresreduzem o custo e melhoram a qualidadereduzem o custo e melhoram a qualidadereduzem o custo e melhoram a qualidadereduzem o custo e melhoram a qualidadereduzem o custo e melhoram a qualidade

Com o objetivo de verificar a via-bilidade de produção de batata-con-sumo no sistema orgânico, a Epagriconduziu uma unidade de observa-ção no município de Treze de Maio,localidade de Boa Vista, na proprie-dade do Sr. Augustinho Longo, como acompanhamento e avaliação dopesquisador Antônio Carlos Ferreirada Silva, da Estação Experimentalde Urussanga, e do técnico da Epagride Treze de Maio Natalício Nandi. Aunidade, instalada em 4/9/2000, cons-tou de duas cultivares de origemgaúcha (Macaca e Baronesa), umade origem catarinense (Epagri361-Catucha) e uma de origem ale-mã (Elvira). A adubação de base cons-tou de 1t/ha de esterco de aves depostura, no sulco de plantio, sendoaplicada mais 1t/ha por ocasião daamontoa aos 30 dias após o plantio.Os tratamentos fitossanitários cons-taram de 4 pulverizações com caldabordalesa associada a urina de vaca(2%).

Os dados climáticos obtidos naEstação Experimental de Urussangaindicam que, apesar do período ter

sido relativamente chuvoso, esta pre-cipitação foi mal distribuída, especial-mente nos meses de setembro e outu-bro. O mês de outubro, além de ser ode maior precipitação, apresentoumuita nebulosidade (praticamentequinze dias sem sol) que, associada àsbaixas temperaturas, favoreceu a re-queima, principal doença da folhagemem batata. A doença afetou drastica-mente especialmente as cultivaresElvira e Baronesa, as mais suscetí-veis. Os tratamentos fitossanitárioscom calda bordalesa não foram sufici-entes para controlar a requeima nes-tas cultivares, mas foram eficientespara o controle da doença na cultivarCatucha. Convém salientar, no en-tanto, que estas condições climáticas,consideradas atípicas para esta épocade plantio, prejudicaram sensivelmen-te as lavouras conduzidas no sistemaconvencional.

Os resultados obtidos, embora pre-liminares, foram altamente promis-sores, especialmente quando utilizou--se a cultivar Catucha. A maior resis-tência desta cultivar à requeima, as-sociada à ótima qualidade da batata-

o

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“Chapecó lança 30 produtos”“Chapecó lança 30 produtos”“Chapecó lança 30 produtos”“Chapecó lança 30 produtos”“Chapecó lança 30 produtos” país.Informações com: Máquina da Notícia – Assessoria de imprensa,

fone (011) 3147-7900, e-mail: renata@maquinadanotícia.com.br.

NOVIDADES

DE MERCADO

Com novo visual e novasembalagens, a Chapecó está lan-çando 30 produtos nos super-mercados e rede varejista detodo o Brasil. Entre os lan-çamentos destacam-se umafamília completa de lingüiçasem pacotinhos: calabresa “lon-guinha”, calabresa “rolinho”,calabresa “gominho”, e lingüiça“americana”. Estes produtosestão sendo apresentados emembalagens a vácuo, que asse-guram a sua qualidade e conser-vação.

Uma nova linha de fatiadosprontos, composta de presuntocozido, mortadela “Sapore”, lom-bo canadense e copa, e dossalames italiano e hamburguês,introduzem a Chapecó neste seg-mento que apresenta rápidocrescimento de mercado. As em-balagens de 100 a 200g são ideaispara o preparo de lanches rápi-dos e apresentam comodidade epraticidade para o consumidor.

Além destes dois segmen-

tos, a Chapecó está ingressandono mercado de salames em peças,com uma linha formada pelos ti-pos italiano, milano, hamburguêse salaminho.

Com os novos produtos, aChapecó completa sua linha commais de 200 itens, meta que vemsendo trabalhada desde que aempresa foi adquirida pelo grupoargentino Macri, em novembrode 1999.

Mais informações com Printeccomunicação. Jornalistas Vanessade Godoy e Betânia Lins, fone(011) 5182-1806, [email protected].

“Café orgânico rende de oito a dez“Café orgânico rende de oito a dez“Café orgânico rende de oito a dez“Café orgânico rende de oito a dez“Café orgânico rende de oito a dezvezes mais que o convencional”vezes mais que o convencional”vezes mais que o convencional”vezes mais que o convencional”vezes mais que o convencional”

O Native, sinônimo de açúcar orgânico no Brasil, lança o primeirocafé orgânico liofilizado do mercado nacional. Líder na exportação eprodução de açúcar orgânico, a Usina São Francisco, além de im-plantar lavouras próprias, pesquisou, selecionou e firmou parceriacom os melhores produtores orgânicos nacionais no sul de MinasGerais.

Os principais diferenciais do produto são sabor, qualidade erendimento. O Café Native rende de oito a dez vezes mais do que o cafécomum. Isso porque a empresa optou pelo processo de liofilização,desidratação a frio. Neste processo – liofilização ou “frezze dried” –, aágua contida no café é retirada pelo fenômeno induzido da sublimação.Ou seja, vai do estado sólido direto para o gasoso, sem passar por altastemperaturas, que prejudicam as qualidades nutricionais do café.

Além disso, o café é 100% Arábica, o grão mais nobre do café. Apósa escolha dos melhores grãos, o produto recebe uma torra acentuadaque preserva a sua verdadeira essência. “O sabor é mais pronunciado,consistente e com um maior rendimento”, afirma Leontino Balbo Jr.,diretor da Usina São Francisco.

O produto segue os rígidos princípios da agricultura orgânica.Desde o seu cultivo até o processo de torrefação e embalagem nãoforam utilizados defensivos, fertilizantes ou qualquer outro produtoquímico artificial. O Native é certificado pelo Instituto Biodinâmico deDesenvolvimento Rural – IBD –, de Botucatu, SP, credenciado peloInternational Federation of Organic Agriculture Moviment – Ijoam.

O liofilizado faz parte da linha de cafés orgânicos finos que contatambém com torrado e moído e em grãos. O lançamento da linha foiprecedido de uma ampla pesquisa de mercado. Foram realizados testesde degustação em vários supermercados de São Paulo. O resultadoconfirma a qualidade do produto: 57% das 700 pessoas ouvidasconsideraram a bebida ótima e 35% dos entrevistados, boa. A linha decafés Native pode ser encontrada nos principais supermercados do

3M lança o respirador 80233M lança o respirador 80233M lança o respirador 80233M lança o respirador 80233M lança o respirador 8023

Específico para ambientes compoeiras, névoas, fumos e vaporesorgânicos, o novo respirador estádisponível no mercado.

O mercado de respiradores noBrasil é carente de usuários. Osprofissionais que trabalham comprodutos que exigem a utilizaçãode EPIs, na maioria das vezes,abandonam o uso do equipamen-to principalmente pela falta deconforto dos aparelhos disponí-veis no mercado. A não-utilizaçãodeste material está vinculada aitens como dificuldade de respira-ção ou pressão no rosto e cabeçaem função do sistema de vedação.

Segundo pesquisa realizadapela 3M, a grande maioria dostrabalhadores rurais no Brasiltrabalha em contato direto comprodutos tóxicos e não utiliza equi-pamentos de proteção durante apreparação da calda (mistura doagrotóxico antes da aplicação) e oemprego de agrotóxicos no cam-

po. Outro dado revelado na pes-quisa é o de que, quando o traba-lhador utiliza algum tipo de EPI,este, na maioria das vezes, éinadequado para o trabalho querealiza. De acordo com o Depar-tamento de Segurança e Prote-ção da 3M, o maior problemadetectado neste segmento é afalta de conhecimento da impor-tância da utilização dos sistemasde proteção humana.

Buscando contribuir com oaumento da utilização dos EPIs,a 3M disponibiliza para o merca-do o respirador 8023, aprovadopela legislação brasileira, queestabelece a necessidade do pro-fissional que trabalha em ambi-entes contaminantes por agro-tóxico de utilizar um PFF2 VO –peça facial filtrante/vapor orgâ-nico. O novo respirador é con-feccionado com fibras que per-mitem a inspiração por toda amáscara e exalação exclusiva-mente feita pela válvula filtranteposicionada na região frontal dapeça, o que propicia uma maiorfacilidade no processo deexpiração. O novo respiradoroferece um maior conforto aousuário, principalmente pela re-dução do calor interno na más-cara por meio da válvula filtrante,que expulsa ar úmido e quentedo respirador, propiciandomaior conforto ao usuário.

Mais informações comCristina Camarena e Jaime So-ares: [email protected] [email protected], fone(011) 816-2344, ramais 203/241.

Novo Rilexine 200 e 500Novo Rilexine 200 e 500Novo Rilexine 200 e 500Novo Rilexine 200 e 500Novo Rilexine 200 e 500– praticidade e segurança no– praticidade e segurança no– praticidade e segurança no– praticidade e segurança no– praticidade e segurança no

tratamento e controle datratamento e controle datratamento e controle datratamento e controle datratamento e controle damastite bovinamastite bovinamastite bovinamastite bovinamastite bovina

Os antimastíticos Rilexine 200 e 500, produzidos pelo laboratórioVirbac, estão com nova embalagem. A grande novidade são asexclusivas seringas com Striflex, que permitem ser fechadas porultrassom, garantindo a esterilidade do produto, e, ainda, com duasopções de cânula (curta e longa).

Importados da França, o Rilexine 200, com base em cefalexina,sulfato de neomicina e prednisolona, é indicado para o tratamento damastite clínica e subclínica em vacas em lactação; e o Rilexine 500, comcefalexina e sulfato de neomicina, é indicado para prevenção e#

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40 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

Novidades de mercadoNovidades de mercadoNovidades de mercadoNovidades de mercadoNovidades de mercado

controle da mastite em vacassecas.

A nova seringa é econômica,

Dose Freqüência(ml/100 litros de água) de água

Viveiro de mudas 200 Semanalmente

Para aumentar aresistência das Semanalmenteplantas contra estresse 150 oue doenças causadas quinzenalmentepor bactérias e fungos

Para prolongar Mergulhar a partea vida de frutos e 100 a 150 a ser tratada porhortaliças 5 minutos

Aplicações

NK lança híbrido de milho para safraNK lança híbrido de milho para safraNK lança híbrido de milho para safraNK lança híbrido de milho para safraNK lança híbrido de milho para safrade verãode verãode verãode verãode verão

fácil de manusear e evitatraumatismos e contaminaçãodurante a administração dosprodutos. Os Rilexines 200 e500 são encontrados emdisplays com doze seringas de10ml.

A Virbac do Brasil coloca àdisposição a Central de Atendi-mento ao Cliente pelo telefone0800-136533 ou [email protected] para maio-res informações.

A NK, marca de sementes para grandes culturas da SyngentaSeeds, lança o FORT, híbrido simples para alta tecnologia em sequeiroou irrigado.

O FORT destaca-se por sua tolerância à Cercospora Zea maydise Phaeosphaeria maydis, sendo tolerante também a outras doençasfoliares e do colmo.

“Este lançamento oferece ao agricultor um excelente pacote debenefícios”, afirma Wagner Seara, gerente de Mercado da SyngentaSeeds. “O FORT destaca-se pela sanidade e produtividade nas RegiõesSudeste e Centro-Oeste nos plantios de verão”.

Direcionado especialmente para a safra de verão e segunda safra,o híbrido de milho veio fortalecer a linha NK. Com o lançamento, a NK

espera atingir 15% do marketshare na Região Centro-Oeste.

Nos próximos três meses, o novohíbrido será lançado oficialmen-te para os clientes NK e a campa-nha de lançamento será estendi-da a jornais, revistas e outdoors.

Para garantir o aumento daprodutividade da lavoura e a qua-lidade dos grãos, a NK faz eleva-dos investimentos em tecnologia,tanto no processo produtivo quan-

to no desenvolvimento de novos produtos.Mais informações com X-Press Assessoria em Comunicação, fone

(011) 3044-4966, fax (011) 3845-8025, e-mail: [email protected].

VVVVVela tem 100% de eficiência noela tem 100% de eficiência noela tem 100% de eficiência noela tem 100% de eficiência noela tem 100% de eficiência nocombate aos mosquitos da dengue ecombate aos mosquitos da dengue ecombate aos mosquitos da dengue ecombate aos mosquitos da dengue ecombate aos mosquitos da dengue e

da febre amarelada febre amarelada febre amarelada febre amarelada febre amarela

Um repelente baseado emtecnologia e matéria-prima brasi-leira pode ser considerado hoje amelhor e mais segura opção nocombate à dengue e à febre ama-rela. Trata-se da vela de Andiroba.Desenvolvida pelo Instituto Far--Manguinhos, da FundaçãoOswaldo Cruz – Fiocruz –, a velaé produzida a partir da semente dafruta da Andiroba, que é umaárvore encontrada no norte daAmazônia.

Em estudos há seis anos, avela, ao ser queimada, exala umagente ativo que inibe a fome domosquito Aedes aegypti, causa-dor da dengue e também vetorda febre amarela; conse-qüentemente, reduz a sua neces-sidade de picar as pessoas. Ostestes revelaram uma eficiênciade 100% na repelência do mos-quito, resultado jamais encon-trado em qualquer outro pro-duto existente no mercado desti-nado ao combate do Aedesaegypti. Além desta caracte-rística, a vela é totalmente atóxica,não produz fumaça e não contémperfume.

Pioneira mundialmente nouso sustentável de produtos da

Andiroba, a empresa Natu-Science é a responsável pelafabricação das velas, através dolicenciamento da Fiocruz. Alémda vela, a empresa fabrica ou-tros produtos como sabonetes,óleos “roll on” combinados, fa-mosos por suas aplicações tera-pêuticas, e tocha sólida,iluminadora e repelente paraáreas externas. Todos com basena fruta da Amazônia. Os pro-dutos NatuScience são encon-trados em supermercados e far-mácias. Também podem ser ad-quiridos pelo telefone 0800-253883 alerta.

Informações técnicas: Velade Andiroba. Produção:NatuScience. Características:100% eficiente, atóxica, sem per-fume, sem fumaça.

Ação: fagorrepelente, comefeitos sobre todos os mosquitoshematófagos responsáveis pelatransmissão também da febreamarela, filariose (elefantíase)e até malária.

Mais informações comAGPress, Distribuição de PressRelease Ambiental, fone (011)5054-2713, internet: www.agpress.com.br.Produto destaca-se na tolerância à Cercospora.

o

“Ecolife“Ecolife“Ecolife“Ecolife“Ecolife4040404040 estimula as plantas a estimula as plantas a estimula as plantas a estimula as plantas a estimula as plantas aproduzir suas próprias defesas”produzir suas próprias defesas”produzir suas próprias defesas”produzir suas próprias defesas”produzir suas próprias defesas”

Ecolife40 é um novo conceitona proteção das plantas, poisnão é fungicida nem bactericida;a ação do Ecolife 40 é sobre ometabolismo da própria planta,atuando na síntese de compos-tos fenólicos no vegetal, que pos-suem ação protetora contra oataque de patógenos.

Ecolife40 é constituído por:• Bioflavonóides Cítricos

(Vitamina P).• Ácido Ascórbico (Vitamina

C).• Fitoalexinas Cítricas (do

grupo das furocoumarinas).É um produto ecológico e

sua aplicação tem baixo impactoambiental, o que garante segu-rança no seu manuseio.

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plantas, pois sua ação está no ve-getal, equilibrando o metabolis-mo, que por fatores adversos estáem desordem, o que torna o vege-tal predisposto ao aparecimentode doenças.

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Agricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiar

A Agricultura Familiar do Oeste Catarinense:A Agricultura Familiar do Oeste Catarinense:A Agricultura Familiar do Oeste Catarinense:A Agricultura Familiar do Oeste Catarinense:A Agricultura Familiar do Oeste Catarinense:repensando novas possibilidadesrepensando novas possibilidadesrepensando novas possibilidadesrepensando novas possibilidadesrepensando novas possibilidades

Milton Luiz Silvestro, Márcio Antônio de Mello eClovis Dorigon

o Brasil, a chamada AgriculturaFamiliar é o maior segmento

em número de estabelecimentos agrí-colas e tem significativa importânciaeconômica em diversas cadeias pro-dutivas. Apesar disso, este segmentoainda não foi incluído de forma defini-tiva nas políticas de apoio ao desen-volvimento rural brasileiro. É preci-so, portanto, revisar a política agríco-la nacional, no sentido de reconhecera importância econômica e social des-ses agricultores no processo de desen-volvimento.

O presente texto discute algumasquestões relevantes para a Agricultu-ra Familiar do Oeste Catarinense.Faz-se inicialmente uma rápida dis-cussão sobre a conceituação e a im-portância desta forma de produção.Na seqüência é descrita sua trajetóriana região, a articulação com aagroindústria, o processo de exclusãoe suas conseqüências. Finalmente,são abordados os espaços que se con-figuram e são identificadas algumasoportunidades que se apresentam paraa Agricultura Familiar, bem como ascondições necessárias para o seu for-talecimento.

Conceituacão e importânciada agricultura familiar

A Agricultura Familiar é uma for-ma de produção presente no mundotodo. Estas unidades de produção apre-sentam alto grau de heterogeneidade,diferenciado-se entre si nas condiçõesobjetivas de produção (superfície, graude mecanização, nível técnico, capaci-

dade financeira, etc.), no grau de in-serção no mercado e nas políticas deapoio que lhes são destinadas. Exis-tem, assim, diferentes tipos de agri-cultores familiares (1 e 2).

Não é objetivo deste trabalhoaprofundar a discussão teórica sobre aconceituação e as especificidades daAgricultura Familiar. No Brasil, vá-rios autores tratam deste tema (1, 3).Para as análises deste texto, vamosconsiderar a unidade familiar de pro-dução como sendo aquela em quepropriedade e trabalho estão intima-mente ligados à família (2). Nestalógica, a classificação de uma unidadede produção agrícola como familiartem como principais critérios a predo-minância da mão-de-obra familiar e ogerenciamento por parte de um oumais membros da mesma família.Tanto em situações tipicamente cam-ponesas quanto naquelas com inser-ção total no mercado, existe um traçocomum entre os diferentes tipos deagricultores familiares: a interde-pendência entre as atividades agríco-las e a organização familiar. Essainterdependência envolve questõesmais complexas, como a transmissãodo patrimônio e a sucessão familiar,que em determinada etapa da trajetó-ria de vida destas unidades podemgerar conflitos capazes de colocar emrisco a sua reprodução econômica esocial.

O debate acerca das formas deprodução agrícola surgiu da crise domodelo produtivista, do fracasso dossistemas agrários coletivos e dos pro-blemas socioeconômicos dos países do

Terceiro Mundo (2). No Brasil, o temaé mais recente e enfocou o debate quecompara a agricultura até então con-siderada como “pequena produção” eque começou a ser denominada fami-liar, com a chamada agricultura pa-tronal , e levantou dois questio-namentos importantes. Primeiro, foiquestionado o modelo patronal comoforma de produção agrícola capaz degarantir a segurança alimentar e aeqüidade social. Segundo, introduziuna agenda de discussão a UnidadeFamiliar de Produção como alterna-tiva para a produção agrícola no país,retirando dela o estigma de segmentoque deveria ser tratado apenas compolíticas e programas sociais, reco-nhecendo finalmente sua importân-cia econômica.

A maior parte da produção agrícolamundial provém de estabelecimentosfamiliares (1). A forma familiar deprodução agrícola teve seu desenvol-vimento apoiado em todos os paísescapitalistas centrais e em alguns paí-ses capitalistas periféricos que tive-ram sucesso econômico. Ao reconhe-cer e estimular esta forma de produ-ção, os países capitalistas centrais,além de garantir a segurança alimen-tar, possibilitaram o nascimento en-tre os agricultores de uma classe médiaforte que contribuiu decisivamentepara criar um mercado interno dinâ-mico que ajudou a impulsionar o de-senvolvimento (3).

No Oeste Catarinense, projetan-do-se os dados dos censos municipais(4), estima-se que são cerca de 80 milos estabelecimentos familiares, que

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Agricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiar

têm sido o fundamento do desenvolvi-mento do setor agrícola, contribuindodecisivamente para a formação eco-nômica regional.

A Agricultura Familiar noOeste Catarinense

Desde seu início, esta forma deprodução tem-se caracterizado pelapequena propriedade, pelo trabalhofamiliar, pela diversificação agrícola,com renda advinda das lavouras demilho, feijão, trigo e da pecuária, so-bretudo da suinocultura. Do ponto devista do sistema produtivo, caracteri-zou-se um quadro de policultura hie-rarquicamente subordinada àsuinocultura. A suinocultura foi aâncora sobre a qual se estruturou osistema produtivo, constituindo-se naprincipal fonte de renda da maioriados agricultores familiares, que esta-beleceram relações de parceria comas agroindústrias surgidas na regiãoa partir da década de 40. No início dosanos 60, o Estado entrou com algu-mas políticas de apoio, principalmen-te com o crédito subsidiado, incenti-vando na região um modelo de produ-ção agrícola alicerçado no binômio(milho x suínos) com inserção dinâmi-ca no mercado. Dentro desta estrutu-ra produtiva, podemos dizer que oprocesso de integração não eliminouas formas tradicionais da organizaçãofamiliar diversificada. Passou a exis-tir uma convivência harmoniosa en-tre a atividade industrial, as ativida-des de comercialização tradicionais eatividades de subsistência, tudo den-tro de uma concepção ecologicamenteconsiderada correta (5).

A partir do início dos anos 80, aagricultura familiar da região passoua sofrer uma dupla ruptura – no cam-po econômico e no campo social – quedesencadeou um processo de profun-da crise. Por um lado, as possibilida-des objetivas de melhorar o desempe-nho econômico das unidades produti-vas encontram-se cada vez mais limi-tadas. Por outro, os jovens agriculto-res na sua grande maioria, não estãomais dispostos a continuar nas mes-mas condições, as atividades profis-sionais de seus pais.

No campo econômico, através depolíticas de favorecimento, começa asurgir um processo de especializaçãona suinocultura, com a introduçãode economias de escala mal dimen-sionadas que ultrapassaram os limi-tes da produção diversificada e quequebraram a lógica de funciona-mento da agricultura familiar. Exis-tem indicadores que este processotenha inclusive aumentado os custosde produção ao longo da cadeia produ-tiva.

Desta proposta de estrutura pro-dutiva, surgem dois reflexos queimpactam de forma negativa a re-gião: a exclusão de agricultores e aagressão ao meio ambiente pela utili-zação inadequada dos dejetos dos suí-nos. A crise que atualmente vive aregião permite afirmar que a políticade concentração da suinocultura foieconômica, social e ambientalmenteequivocada.

Ainda no aspecto econômico, ou-tros fatores além da exclusão, oumesmo por causa dela, contribuírampara agravar o quadro de crise vividoatualmente: diminuição do volume derecursos de crédito agrícola e aumen-to das taxas de juros; esgotamento dosrecursos naturais, explorados acimade sua capacidade; redução da renta-bilidade de alguns produtos tradicio-nais especialmente milho, suínos efeijão. Além destes fatoresconjunturais, contribuíram tambémpara a crise fatores estruturais, como:grande distância dos principais mer-cados consumidores; escassez de ter-ras aptas para culturas anuais, quesomam apenas um terço da área totalda região; esgotamento da fronteiraagrícola; estrutura fundiária excessi-vamente subdividida, onde, em geral,os menores estabelecimentos concen-tram os solos mais declivosos e pedre-gosos. A ação conjunta destes fatoresgerou um quadro de descapitalizaçãode significativa parcela dos estabeleci-mentos agrícolas, refletindo-se na di-ficuldade de criar oportunidades detrabalho e intensificando o êxodo ru-ral.

Quanto à questão social, o fenôme-no mais expressivo é o êxodo, queatinge hoje principalmente as popula-

ções jovens, que são as forças vitais derenovação desta forma de agricultu-ra. Ao envelhecimento, soma-se maisrecentemente um severo processo demasculinização, pois as moças estãodeixando o campo antes e numa pro-porção maior que os rapazes. O êxodoacentuado de jovens, faz emergir aqui-lo que podemos chamar de “questãosucessória” na agricultura: que é quan-do a formação de uma nova geração deagricultores perde a naturalidade queera vivida até então pelas famílias,pelos indivíduos envolvidos nos pro-cessos sucessórios. Pesquisa desen-volvida no Oeste Catarinense (6) mos-tra que 35% dos estabelecimentosagrícolas não sabem se terão um su-cessor. Uma propriedade nesta condi-ção certamente não realizará os in-vestimentos necessários para ter aces-so às novas oportunidades e enfrentaros novos desafios que lhes serão colo-cados. A chamada “questão sucessória”se constitui, portanto, na mais recen-te ameaça que pesa sobre a agricultu-ra familiar da região.

Todos os fatores acima menciona-dos contribuíram para que a agricul-tura familiar da região sofresse umintenso processo de diferenciaçãosocioeconômica, originando um uni-verso de agricultores altamente hete-rogêneo. Na Tabela 1 pode-se verifi-car este fenômeno da diferenciação,que é na verdade um dos reflexos dacrise.

Embora o nível de renda seja apenasum dos critérios para umaestratificação social das propriedades,ele se mostra adequado paracompreender a dinâmica defuncionamento, as potencialidades eos limites de cada segmento depropriedades. No box 1 fazemos umarápida caracterização de cada um dostrês estratos.

Proposições para oDesenvolvimentoSustentável com base naAgricultura Familiar

As propostas aqui apresentadas sãode natureza econômica, mas bus-cando a inclusão social e a susten-tabilidade. Baseiam-se fundamental-

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Agricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiar

do, e não de especialização.Outro caminho é o que estamos

chamando de reconversão espontâ-nea. Ele está sendo construído dentrodo processo produtivo atual, com osrecursos existentes, de conhecimen-tos tecnológicos e organizacionais jáacumulados e que não implicam por-tanto uma ruptura muito grande, tan-to em termos da organização da pro-dução, quanto da inserção no merca-do. A atividade a ser defendida, nestecaso, é a produção leiteira, que entracomo atividade principal dentro deum sistema diversificado de produçãojunto com as demais atividades tradi-cionais.

Um terceiro caminho está sendoconstruído através do apoio à forma-ção de uma rede de agroindústrias depequeno porte no meio rural, buscan-do mercado através de formasassociativas, não para concorrer comas maiores, mas para atuar numafaixa de mercado específica de produ-tos “coloniais” diferenciados dos obti-dos em grandes escalas. A construçãodesta estratégia autônoma deagroindustrialização e de agregaçãode valor é um processo complexo,porque traz junto a necessidade decriação de novas formas organi-zacionais de produção e de inserçãono mercado. Envolve complexas rela-ções de participação entre indivíduose o coletivo. É preciso também reali-zar a gestão de novos empreendimen-tos, lidar com novos mercados e comos organismos financiadores, experi-ências até então ainda não vividaspelo conjunto dos agricultores da re-gião.

Nesta proposta, está em jogo umcomplexo processo de aprendizado. Ogrande desafio que se coloca para aregião é desenvolver um ambienteinstitucional favorável a essas expe-rimentações como forma de obter umconjunto de informações necessáriaspara a consolidação de novas alterna-tivas econômicas dinamicamenteinseridas no mercado. Como se tratade um caminho de inovações e deaprendizado, nele também está implí-cita a possibilidade do fracasso. Nestesentido, os custos envolvidos nesteprocesso não devem ser absorvidos

Tabela 1 – Classificação socioeconômica dos agricultores familiares do OesteCatarinense segundo a capacidade geradora de renda

Presença(A) Renda mensal (B)

(%) (VA/P0)

Familiar consolidada 12 Mais de três salários mínimosFamiliar em transição 29 Um a três salários mínimosFamiliar periférica 42 Menos de um salário mínimo

(A) Os demais agricultores pertencem ao estrato “patronal” (1%) e “não-agrícola”(16%).

(B) VA – O valor agregado de cada propriedade rural foi definido como a diferençaentre o valor bruto da produção (VBP) e os custos variáveis da produção (despesas).Da forma como foi calculado, o valor agregado representa a Margem Bruta maiso consumo interno da propriedade. Isto significa que o valor agregado por pessoaocupada é um saldo disponível para remunerar a mão-de-obra familiar.PO – Pessoa efetivamente ocupada na propriedade.

Fonte: Epagri (1998)(4).

Tipo

Box 1

Agricultores consolidados – são representados por aquelas unidades cujaatividade agrícola tem possibilitado a reprodução da família e também umcerto nível de investimento e acumulação. No entanto, vale ressaltar que, emfunção da baixa renda da atividade agrícola verificada nos últimos anos, estesegmento de agricultores também não tem garantia da sua consolidaçãoeconômica.

Agricultores em transição – são aquelas propriedades que vivem daagricultura, mas não conseguem realizar investimentos. A idéia de transiçãomostra que a trajetória socioeconômica desses agricultores pode ser ascen-dente ou descendente, dependendo das políticas a eles direcionadas (crédito,assistência técnica, novas oportunidades de renda).

Agricultores periféricos – apesar de sua importância social, sua renda nãoé suficiente para que vivam das atividades realizadas no interior do próprioestabelecimento, tendo em vista as alternativas de produção e mercado aoalcance destes agricultores. Acredita-se que a maioria deles dificilmente seviabilizará economicamente somente na atividade agropecuária.

mente nos estudos desenvolvidos naEpagri/Centro de Pesquisa para Pe-quenas Propriedades – CPPP.

Para a busca de alternativasvisando construir espaços depermanência para a AgriculturaFamiliar, uma questão é central eprecisa ser considerada. Visto apenascomo a base física da produção agrícola,o meio rural dificilmente escapa àtragédia do esvaziamento social,econômico, político e cultural. O meiorural precisa agora ser consideradocomo a base de um conjuntodiversificado de atividades (7). Porisso as alternativas devem necessa-riamente incluir atividades agrícolas

e não-agrícolas.Verificando os impactos para o con-

junto da economia regional, fica claroque o padrão tradicional de integraçãoe de articulação com a grandeagroindústria vem provocandomarginalização e exclusão, além deagressão ao meio ambiente. Diantedisto, propõe-se a desconcentração dasuinocultura visando dar oportunida-des a um maior número possível deagricultores, atendendo às exigênciasdo mercado, dos consumidores, deprocessos produtivos e sem danos aomeio ambiente. Esta proposta consi-dera como premissa básica a defesa deum sistema de produção diversifica-

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Agricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiarAgricultura familiar

somente pelos agricultores. O Esta-do tem um importante papel nofornecimento dos meios, sobretudodos recursos econômicos necessá-rios.

O êxodo acentuado de jovens, re-mete para a questão da formação deuma nova geração de agricultores epara uma indagação absolutamentenecessária: Quem serão os responsá-veis pela gestão da agricultura e domeio rural do Oeste Catarinense da-qui para a frente? Deixar que as pró-prias unidades familiares de produçãorespondam a essa questão é perder aoportunidade de utilizar socialmentevocações e capacidades profissio-nais e sobretudo encarar como fata-lidade inelutável o esvaziamento so-cial, econômico e cultural queameaça a Região Oeste Catarinense etantas outras regiões brasileirasonde predomina a Agricultura Fami-liar (6).

A mobilidade espacial da popula-ção rural do Oeste Catarinense –especialmente dos jovens – não per-mite que se pense em qualquer formade “fixação do homem ao campo”. Apermanência da população local passapela revitalização do meio rural, am-pliando as chances de realização pro-fissional dos jovens. Para que issoaconteça, no mínimo quatro medidassão necessárias: conciliar o desejo demuitos agricultores aposentados devender suas propriedades com o pro-jeto de tantos jovens que ainda gosta-riam de construir seu futuro nocampo; valorizar as atividades ruraisnão-agrícolas como forma de ate-nuar o desinteresse das moças pelaagricultura tradicional; ampliar o es-paço de participação dos jovens nacomunidade, na família e nas decisõesda propriedade; oferecer aos jovensprogramas de capacitação e linhas decrédito que propiciem a base materialde sua afirmação como futuros agri-cultores.

Considerações finais

O apoio à Agricultura Familiar,tem-se constituído numa das principaisestratégias básicas para o sucessoeconômico de regiões e países em

várias partes do mundo. Tardiamente,no Brasil, a competitividade daAgricultura Familiar entrou napauta das discussões. O preconceitocomum em nosso país de queapoiar a Agricultura Familiar épaternalismo não se sustenta nosfatos. O Brasil, apenas nos últimosanos, acordou para essa realidadecriando o Programa Nacional deFortalecimento da AgriculturaFamiliar – Pronaf –, a primeiratentativa de apoio político específicopara a Agricultura Familiar da históriado país. O aperfeiçoamento do Pronaf,visando ampliar o seu acesso, poderáter grande e positiva repercussãoeconômica e social.

A Agricultura Familiar, de pro-dução diversificada e inserida nomercado, predominante no OesteCatarinense é economicamente com-petitiva, social e ambientalmentebenéfica, tem condição de absorveras melhores tecnologias e respondeadequadamente às políticas de apoio.A crise atual não é decorrente daforma de produção familiar na agri-cultura, mas da falta de compreensão,por parte dos responsáveis por deci-sões empresariais e políticas e dopotencial dessa forma de produção,desde que convenientemente apoia-da.

O desafio que se coloca para asociedade de forma geral e para oserviço público em particular, é bus-car a competitividade da produçãoagrícola familiar da região simulta-neamente com a eqüidade social e asustentabilidade ambiental.

As sugestões para viabilidade des-sa proposta de fortalecimento da Agri-cultura Familiar passam pelareadequação das atividades tradicio-nais, pela introdução de novas opções,agrícolas e não-agrícolas, e pela cria-ção de instrumentos de apoio à ins-talação de jovens agricultores. O mo-mento requer a busca de novas for-mas de aprendizagem, novas formasde organização da produção familiar enovas formas de inserção no mercado.Para que isso aconteça são necessá-rios arranjos institucionais compro-metidos com o desenvolvimento re-gional.

Literatura citada

01. ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capita-

lismo agrário em questão . Campinas:

Hucitec/Unicamp, 1992. 265p. (Estudos

Rurais, 12).

02. LAMARCHE, H. A agricultura familiar.

Campinas: Unicamp, 1993. 336p.

03. VEIGA, J.E. da. O desenvolvimento agrí-

cola: uma visão histórica. São Paulo: USP/

Hucitec, 1991. 219p. (Estudos rurais, 11).

04. EPAGRI. Censos municipais. Concórdia:

Epagri/Icepa, 1999. (mimeo).

05. WILKINSON, J. Cadeias produtivas para

a agricultura familiar. Palestra proferida

no III Encontro da Sociedade Brasileira de

Sistemas de Produção. Florianópolis, 1998.

06. ABRAMOVAY, R.; SILVESTRO, M.L.;

CORTINA, N.; BALDISSERA, I.T.;

FERRARI, D.; TESTA, V.M. Juventude e

agricultura familiar: desafios dos novos

padrões sucessórios . Brasília: Unesco,

1998. 101p.

07. ABRAMOVAY, R. Sete desafios para o

desenvolvimento territorial. São Paulo:

FEA/USP, 1999. 7p. (Mimeo).

Milton Luiz Silvestro, eng. agr., M.Sc.,

Cart. Prof. 5.472-D, Crea-SC, Epagri/Centro

de Pesquisa para Pequenas Propriedades,

C.P. 791, fone (049) 328-4277, fax (049) 328-

6017, 89801-970 Chapecó, SC, e-mail:

[email protected]; Márcio Antoniode Mello, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. 7.321-

D, Crea-SC, Epagri/Centro de Pesquisa para

Pequenas Propriedades, C.P. 791, fone (049)

328-4277, fax (049) 328-6017, 89801-970

Chapecó, SC, e-mail: [email protected];

Clovis Dorigon, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof.

7.293-D, Crea-SC, Epagri/Centro de Pesqui-

sa para Pequenas Propriedades, C.P. 791,

fone (049) 328-4277, fax (049) 328-6017, 89801-

970 Chapecó, SC, e-mail: [email protected]

sc.br.

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CebolaCebolaCebolaCebolaCebola

Escolha da cultivar adequada paraEscolha da cultivar adequada paraEscolha da cultivar adequada paraEscolha da cultivar adequada paraEscolha da cultivar adequada paraprodução de cebolaprodução de cebolaprodução de cebolaprodução de cebolaprodução de cebola

Carlos Luiz Gandin, Djalma Rogério Guimarães,Lúcio Francisco Thomazelli e Guido Boeing

cebola é uma hortaliça conheci-da desde a antigüidade. Vários

botânicos a coletaram em diferentesregiões da Ásia, com diversos nomes,sugerindo que tenha sido cultivadaindependentemente, em lugares dis-tintos daquele continente. Na descri-ção do centro de origem das plantascultivadas feita por Vavilov, a cebolaapresenta três centros de origem,sendo um primário, localizado na ÁsiaCentral, e dois secundários, localiza-dos no Oriente Próximo e nas áreasbanhadas pelo Mediterrâneo (1).

No continente americano foiintroduzida pelos navegadores e colo-nizadores a partir da época do desco-brimento, e no sul do Brasil foiintroduzida pelos imigrantes portu-gueses e açorianos que colonizaramas regiões litorâneas do país.

Atualmente, no Brasil, a cebolaestá situada entre as três principaishortaliças cultivadas (batata, cebola etomate), tanto pelo volume produzidoquanto pela renda gerada, sendo plan-tada comercialmente desde a RegiãoSul até o nordeste. Nesta distribuiçãogeográfica destacam-se como grandesprodutores: Santa Catarina, Rio Gran-de do Sul, São Paulo, Paraná, Bahia ePernambuco.

Em Santa Catarina, a ceboliculturadestaca-se como a principal atividadeolerícola do Estado, tanto em termosde área plantada quanto em volumeproduzido e em valor bruto da produ-ção. Envolve mais de 18 mil famíliasrurais que a tem como principal ativi-dade econômica nas propriedades agrí-colas e que fazem de Santa Catarina oprincipal produtor nacional. O valor

bruto da safra de 1998/99 foi de maisde 80 milhões de reais e o da safra de1999/2000 equivale a mais de 100 mi-lhões de reais, o que demonstra aimportância da atividade na economiaregional e estadual (2).

A cebola é cultivada em quase to-dos os municípios de Santa Catarina,concentrando-se, no entanto, no AltoVale do Itajaí, que representa aproxi-madamente 76% da área plantada eque responde por mais de 85% daprodução anual do Estado, impulsio-nando o desenvolvimento local e regi-onal. Na safra de 1998/99 foram culti-vados 21.806ha, que proporcionaramuma produção de 348.630t, resultan-do num rendimento de 15,9t/ha, supe-rior à média brasileira; na safra de1999/2000 foram cultivados 24.241 ha,que proporcionaram uma produção de455.836t, resultando num rendimen-to inédito de 18,8t/ha, novamente su-perior à média brasileira.

Para que a cebolicultura catari-nense possa continuar se desenvol-vendo e se torne destaque no âmbitonacional, faz-se necessária a adoçãode adequada tecnologia de produção,incluindo a utilização das cultivaresque apresentam alto potencial genéti-co para qualidade e produtividade.Além disso, a globalização da econo-mia, com a abertura dos mercados,provocou grandes alterações nos sis-temas de produção de cebola, inician-do pela escolha da cultivar. Como apreferência dos consumidores nos prin-cipais mercados nacionais e internaci-onais é pela cebola de formato arre-dondado e globular, este aspecto tam-bém passou a ser considerado para o

planejamento das safras (2).Diante desta situação, foi desen-

volvido este trabalho, para auxiliar ostécnicos e produtores na escolha damelhor cultivar para produção emSanta Catarina.

A cultivar ideal

Grande variação pode ser observa-da entre as cultivares de cebola co-nhecidas atualmente. Existem mui-tas diferenças entre elas, principal-mente em relação aos caracteres deciclo, cor, formato e tamanho dosbulbos, percentagem de matéria seca,pungência (sabor forte), doçura dosbulbos, índice de florescimento pre-maturo, resposta ao fotoperíodo, re-sistência a pragas e doenças, produti-vidade, capacidade de conservação noarmazenamento, retenção de esca-mas e outros.

A grande diversidade de cultivareshoje existente permite que o cultivoda cebola possa ser feito praticamenteem qualquer região onde existamáreas agricultáveis, e que outras tam-bém possam ser desenvolvidas paraatender a determinadas condições ouobjetivos específicos de cultivo.

O atributo qualidade é fundamen-tal quando se trata de competitividade,e em cebola normalmente está associ-ado a uniformidade dos bulbos emrelação a tamanho, formato, cor, sa-bor, firmeza e integridade dapelícula externa, sanidade, ausênciade brotação e de enraizamento e re-sistência ao armazenamento. Coma abertura dos mercados e interna-cionalização da economia, tem havido

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CebolaCebolaCebolaCebolaCebola

mudanças no comportamento dos con-sumidores, que passaram a exigirbulbos de melhor qualidade a preçosbaixos, o que tem levado a perdas decebola no setor produtivo catarinense,com prejuízos financeiros para os pro-dutores e para a economia regional eestadual.

Uma cultivar ideal de cebola deveser atrativa ao consumidor, resisten-te a doenças e pragas, de alto rendi-mento e qualidade, livre de flores-cimento prematuro e de bulbosgeminados, com uniformidade no ta-manho, forma, cor e maturidade, alémde propiciar boa produção de semen-tes nas condições de cultivo. Se forpara comercialização tardia, deve, ain-da, apresentar boa retenção de esca-mas e conservação por longo períodode armazenamento. Para a indústria,visando a desidratação, os bulbos de-vem apresentar alto conteúdo de sóli-dos solúveis, coloração branca e gostopungente. Para uso em saladas, asescamas devem ter sabor adocicado,ser suaves e ter aspecto cremoso.

Obviamente, todas estas caracte-rísticas não podem estar presentesnuma única cultivar, assim são neces-sárias cultivares específicas para osmais diversos propósitos e para adap-tação às diferentes épocas e regiõesde cultivo (3).

Além das características qualitati-vas e quantitativas do bulbo, visandoatender ao mercado consumidor, aescolha da cultivar ideal de cebolapara cada região deve levar em consi-deração principalmente o ciclo e arespectiva época de plantio, de formaa propiciar o escalonamento e a me-lhor distribuição das atividades detransplante e colheita, que exigemgrande quantidade de mão-de-obra napropriedade rural (2,3).

Classificação das cultivares

As cultivares disponíveis para cul-tivo em Santa Catarina podem seragrupadas em classes, de acordo comdiversos critérios, que podem ser co-loração, resposta ao fotoperíodo, ci-clo, formato dos bulbos e outros.

Quanto à coloração os bulbos po-dem ser brancos, amarelos, verme-

lhos ou roxos, todos em diversas tona-lidades. Os bulbos de coloração ver-melho-forte encontram maior aceita-ção comercial que os amarelos e ro-xos, e estes, por sua vez, são maisapreciados que os brancos, que porsua vez são mais usados na industria-lização.

De acordo com as exigências emtermos de fotoperíodo para abulbificação, as cultivares podem serclassificadas como sendo de dias cur-tos, intermediários e longos. As culti-vares designadas de dias curtos sim-plesmente satisfazem-se com 11 a 12horas diárias de luz para a bulbificação,as de dias intermediários necessitam13 a 14 horas diárias de luz e as de diaslongos exigem comprimento de diacom 14 horas ou mais de luz. Se umadeterminada cultivar é exposta a umadeterminada condição de fotoperíodomenor que o requerido parabulbificação, não há formação debulbos e as plantas ficam imatu-ras, vegetando indefinidamentee não se desenvolvendo, dandoformação aos “charutos”. Poroutro lado, se uma cultivar ésubmetida a um fotoperíodo aci-ma do requerido (cultivares dedia curto em fotoperíodo maiorque o nível crítico), a bulbificaçãoiniciará precocemente, sem quea planta tenha se desenvolvidocompletamente, podendo havera formação prematura e indese-jável de bulbos de tamanho re-duzido e sem valor comercial(4,5).

As cultivares podem aindaser agrupadas, quanto à duraçãodo período vegetativo, como sen-do de ciclo precoce, médio e tar-dio. As de ciclo precoce são pou-co exigentes quanto ao compri-mento do dia, apresentam pala-dar suave e não resistem aoarmazenamento prolongado; asde ciclo médio, por sua vez, ne-cessitam de dias mais longospara a bulbificação, apresentampaladar mais picante, amadure-cem em dias mais longos e resis-tem melhor ao armazenamentoque as precoces; as de ciclo tar-dio formam bulbos e amadure-

cem em dias mais longos que as ante-riores, têm sabor picante e resistembem ao armazenamento.

Quanto ao formato dos bulbos, ascultivares podem ser classificadas emdiversos tipos, tais como globular,globular achatada, globular alongada,alongada, arredondada, achatada, re-donda-achatada, cordiforme, perifor-me, conforme mostra a Figura 1, adap-tada de Acosta et al. (6). Além destesformatos, há muitos outros semelhan-tes, bem como os intermediários.

Outro critério de classificação dascultivares é quanto à reprodução, po-dendo ser híbrida ou de polinizaçãoaberta. Diversos tipos de híbrido po-dem ser desenvolvidos a partir docruzamento de dois genitores quais-quer, mas os mais utilizados são aque-les obtidos através do emprego delinhagens endogâmicas. As vantagens

Nota: 1 = globular achatada; 2 = globular;3 = globular alongada; 4 = alongada;5 = arredondada; 6 = achatada;7 = redonda-achatada; 8 = cordiforme;9 = periforme.

Figura 1 – Classificação das cultivares decebola quanto ao formato dos bulbos

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CebolaCebolaCebolaCebolaCebola

na utilização de cultivares híbridas naprodução de bulbos de cebola são altaprodutividade e uniformidade devidoà obtenção de genótipos superioresuniformes, com alto potencial genéti-co. No entanto, nas condições da re-gião ceboleira de Santa Catarina, asdesvantagens ainda superam as van-tagens e, dentre elas, destacam-se ascondições adversas de clima, que nãopermitem explorar todo o potencialgenético dos híbridos (as cultivares depolinização aberta, oriundas da re-gião, resistem melhor às condiçõeslocais); a produção precoce dos hí-bridos nem sempre é absorvida comfacilidade pelo mercado, devido à con-corrência da safra de outras regiõesdo país, no período de entressafra;parte da produção é perdida noarmazenamento, porque nem sempreos híbridos apresentam boa conserva-ção.

Cultivares recomendadaspara Santa Catarina

Diante da necessidade de se obte-rem cultivares adaptadas às condi-ções da região ceboleira catarinense,a Epagri desenvolveu, na EstaçãoExperimental de Ituporanga, pesqui-

Tabela 1 – Cultivares de cebola recomendadas para Santa Catarina, principais características e época de semeadura,transplante e colheita

Características Época

Coloração Formato Produtividadedos bulbos dos bulbos (t/ha)

EPAGRI 363-Superprecoce Amarelo-clara Alongada Precoce 25,0 Abril Junho Outubro/novembro

EMPASC 352-Bola Precoce Amarelo- Arredondada Precoce 32,2 Abril/maio Junho/julho Novembro-avermelhada

Baia Periforme Amarelo-clara Globular Precoce 28,8 Abril/maio Junho/julho NovembroBaia Dura Amarelada Arredondada Precoce 25,5 Abril/maio Junho/julho NovembroRégia Amarelada Globular Precoce 28,0 Abril/maio Junho/julho Outubro/

novembroEMPASC 355-Juporanga Amarelada Globular Médio/ 33,3 Maio Agosto Novembro/

precoce dezembroPetroline Amarelada Globular Médio/ 25,6 Maio Agosto Novembro/

precoce dezembroEPAGRI 362-Crioula Alto Vale Vermelha forte Arredondada Médio 37,0 Maio/junho Agosto/ Dezembro/

setembro janeiro

(A) Transplantes antecipados aumentam o índice de florescimento prematuro e a resistência ao estalo (tombamento da haste), enquanto queos tardios reduzem o tamanho dos bulbos.

CultivarCiclo Semeadura Transplante(A) Colheita

sas de melhoramento genético e deavaliação de cultivares para atenderàs demandas do setor.

As pesquisas na área de melhora-mento genético possibilitaram a ob-tenção de diversas cultivares adapta-das às condições de produção da re-gião ceboleira do Estado, com altopotencial produtivo, com característi-cas desejáveis ao mercado consumi-dor e com boa conservação pós-colhei-ta. O melhoramento genético destascultivares foi desenvolvido visandouniformizar a coloração dos bulbos,fixar o formato arredondado, reduziro florescimento prematuro e o perfi-lhamento, aumentar a capacidade deconservação no armazenamento, me-lhorar a retenção de escamas e afirmeza dos bulbos e definir o ciclo. Aampla variabilidade genética existen-te nas populações originais permitiuselecionar e fixar as principais carac-terísticas desejáveis. Assim, foramdesenvolvidas as cultivares EMPASC351-Seleção Crioula, EMPASC 352-Bola Precoce, EMPASC 353-Rosada,EMPASC 355-Juporanga, EPAGRI362-Crioula Alto Vale e EPAGRI 363-Superprecoce.

Além das cultivares desenvolvidasem Santa Catarina, outras também

poderão ser recomendadas para culti-vo, desde que apresentem adaptaçãoàs condições edafoclimáticas do Esta-do, proporcionando alto rendimentode bulbos e a qualidade requeridapelos mercados globalizados.

Atualmente, as cultivares reco-mendadas para cultivo no Estado sãoas apresentadas na Tabela 1 (2). Den-tre estas cultivares, duas destacam--se pela excelente qualidade dos bul-bos: a EPAGRI 362-Crioula Alto Vale,de ciclo médio, e a EMPASC 352-BolaPrecoce, de ciclo precoce (Figuras 2 e3). Por causa das características queapresentam, estas cultivares têmgrande aceitação junto aos produto-res e consumidores e, hoje, estãoamplamente difundidas nas diversasregiões produtoras.

Em Santa Catarina se cultiva cer-ca de 80% da área de cebola comcultivares de ciclo médio e 20% com asde ciclo precoce. As cultivares EPAGRI362-Crioula Alto Vale e EMPASC 352-Bola Precoce apresentam potencialpara preencher estes espaços e, àmedida que vai havendo disponibili-dade de sementes de qualidade com-provada, os produtores vão incremen-tando a participação destas na produ-ção estadual.

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Conclusões erecomendações

A cultivar ideal de cebola deve seratrativa ao consumidor, resistente adoenças e pragas, ter alto rendi-mento e boa qualidade, ser livre deflorescimento prematuro e de bulbosgeminados, apresentar uniformidadeno tamanho, na forma, cor e maturi-

dade, boa retenção de escamas e óti-ma conservação no armazenamentodurante o período de comercialização.

As melhores cultivares para a pro-dução de cebola são as que se obtêmna própria região de cultivo ou queprovêm de germoplasma origináriodessa região, pois estão adaptadas àscondições específicas de fotoperíodo ede temperatura requeridas para uma

adequada bulbificação. Assim, desta-cam-se as cultivares EPAGRI 362-Crioula Alto Vale, de ciclo médio, e aEMPASC 352-Bola Precoce, de cicloprecoce, pela excelente qualidade dosbulbos.

Como existem diferenças entre ascultivares quanto à resposta aofotoperíodo e temperatura para a pro-dução, recomenda-se utilizar a culti-var adequada para cada época de plan-tio, em cada região.

Literatura citada

01. JONES, H.A.; MANN, L.K. Onion andtheir allies. New York: Interscience, 1963.283p.

02. EPAGRI. Sistema de produção para acebola : Santa Catarina (3a revisão).Florianópolis, 2000. 91p. (Epagri. Siste-mas de Produção, 16).

03. BUSO, J.A. Melhoramento de cebola.Brasília: EMBRAPA-CNPH, 1982. 27p.(Curso intensivo de melhoramento ge-nético de hortaliças, Brasília, 1982.).

04. MELO, P.C.T.; RIBEIRO, A. Produçãode sementes de cebola: cultivares depolinização aberta e híbridos. Palestraapresentada na XVI Semana de Ciênciae Tecnologia Agropecuária, 8-12/05/89,na Fac. Ciências Agrárias e Veterinárias,UNESP-Campus de Jaboticabal, 41p.

05. CURRAH, L. Onion flowering andproduction. Scientific Horticulture, n.32,p.26-46, 1981.

06. ACOSTA, A.; GAVIOLA, J.C.;GALMARINI, C. Producción de semillade cebola . La Consulta, Argentina:Asociación Cooperadora EEA La Con-sulta, 1993. 83p.

Carlos Luiz Gandin – eng. agr., M.Sc.,Cart. Prof. 3.141-D, Crea-SC, Instituto Cepa/SC, Rodovia Admar Gonzaga, 1.486, C.P.1.587, fone (048) 334-5155, fax (048) 334-2311, 88034-000 Florianópolis, SC, e-mail:[email protected], Djalma Rogério Gui-marães – eng. agr., M.Sc., Cart. Prof.1.144-D, Crea-SC, Instituto Cepa/SC, Rodo-via Admar Gonzaga, 1.486, C.P. 1.587, fone(048) 334-5155, fax (048) 334-2311, 88034-000 Florianópolis, SC, e-mail: [email protected], Lúcio Francisco Thomazelli – eng.agr., M.Sc., Cart. Prof. 3.822-D, Crea-PR,Epagri/Estação Experimental de Ituporanga,C.P. 121, fone (047) 833-1409, 88400-000Ituporanga, SC, e-mail: [email protected] Guido Boeing – eng. agr., M.Sc., Cart. prof.878-D, Crea-SC, Instituto Cepa/SC, RodoviaAdmar Gonzaga, 1.486, C.P. 1.587, fone (048)334-5155, fax (048) 334-2311, 88034-000Florianópolis, SC, e-mail: [email protected].

Figura 2 –CultivarEPAGRI362-CrioulaAlto Vale

Figura 3 –CultivarEPAGRI352-BolaPrecoce

CebolaCebolaCebolaCebolaCebola

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LANÇAMENTOSEDITORIAIS

* Estas e outras publicações da Epagri podem ser adquiridas na sede da Empresa em Florianópolis, ou mediante solicitação ao seguinte endereço:GMC/Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone (048) 239-5500.

Avaliação de cultivarespara o Estado de SantaCatarina 2001/2002. Bole-tim Técnico no 117. 149p.

Na busca contínua de mai-or produtividade, melhor qua-lidade e competitividade dosprodutos agropecuários cata-rinenses, a Epagri editaanualmente a presente pu-blicação, que faz parte da sé-rie Boletim Técnico da Em-presa e que tem o objetivo demelhorar e facilitar as ativi-dades agropecuárias, de pla-nejamento, consultoria, as-sessoria e outros serviços per-tinentes à agropecuária.

Produção de alevinos II.Boletim Técnico no115. 29p.

O médido veterinário Jor-ge de Matos Casaca e o

Cultivo da palmeira-real--da-austrália para produçãode palmito. Boletim Didáti-co no 40. 32p.

Esta publicação, de autoriados engenheiros agrônomosMilton Geraldo Ramos eTeresinha Catarina Heck, émais um volume da série Bole-tim Didático, direcionado, des-ta vez, para a produção de pal-mito oriundo da palmeira-real--da-austrália.

A planta, já utilizada hávarias décadas em jardins ealamedas como planta orna-mental, destaca-se hoje na pro-dução de palmito em cultivosracionalmente conduzidos. Apublicação dá ênfase à descri-ção da espécie, tecnologia deprodução de mudas, tecnologiado cultivo e ao processamentoindividual.

rado pelos engenheiros agrôno-mos Euclides Mondardo,Mauro Luiz Lavina e RenatoCésar Dittrich, aborda os re-sultados alcançados no testede cinco cultivares de mandio-ca e dá recomendações.

Cadeias produtivas doEstado de Santa Catarina:Feijão. Boletim Técnico no

114. 42p.De autoria dos engenhei-

ros agrônomos Silmar Hemp,Eloi Erhard Scherer e RogérioGislon, o documento aborda

oceanógrafo Osmar TomazelliJúnior, autores do presente tra-balho, apresentam mais umacontribuição para a literaturaaqüícola, enfocando desta vez aprodução de alevinos.

Variação sazonal na pro-dução de mandioca em soloAreias Quartzosas Distrófi-cas, na Região Sul Catari-nense. Boletim Técnico no

116. 33p.O presente trabalho, elabo-

aspectos relacionados à ca-deia produtiva do feijão emSanta Catarina.

O feijão, especial culturada agricultura familiarcatarinense, destaca-se pelautilização de áreas pequenase mão-de-obra da própria fa-mília. Aspectos ambientaisna produção, demanda histó-rica, características de explo-ração, agregação de valor aoproduto, etc. estão entre osmuitos pontos abordados nodocumento.

Nashi, a pêra ja-ponesa. 341p.

A presente publica-ção reúne as informa-ções até aqui obtidassobre a cultura daNashi. Aborda aspec-tos com relação a his-tória, produção,morfologia, fisiologia,cultivares e classifica-ção, armazenamento,doenças e pragas dapereira. Excelente fon-te de consulta parapesquisadores, técni-cos de extensão rural eprodutores em geral.

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50 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

Água potável –Água potável –Água potável –Água potável –Água potável –fator defator defator defator defator de

desenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimento

Carlos Luiz Gandin

ênfase das políticas ambientais,objetivando a promoção do

desenvolvimento sustentável, temcomo base a correta exploração dosrecursos naturais e implica preservara natureza, articulando a questãoambiental com o desenvolvimentosustentável. O novo enfoque dodesenvolvimento rural, por sua vez,se apóia na compreensão de que énecessário levar em consideração,simultaneamente, a dimensãoeconômica, a social e a ambiental, eque todas tenham igual importâncianas decisões de políticas públicas eprivadas.

O modelo de agricultura praticadoem Santa Catarina em muitocontribuiu para o desenvolvimentoda economia estadual e até pro-jetou o Estado no cenário nacionale internacional, por reunir impor-tantes características potencial-mente favoráveis que o tornaramum grande produtor e exportador dealimentos. A estrutura fundiária, adiversidade climática, o relevo, adisponibilidade de mão-de-obrarural, a regularidade das chuvas e acapacidade de inovação dos pro-dutores e suas famílias são citadoscomo exemplos marcantes dascondições que permitiram a produçãode alimentos com produtividade equalidade. Entretanto, como nãohavia preocupação com o meioambiente, estas atividades levarama sérios problemas de contaminaçãoambiental, causando impactonegativo nos rios, interferindo,

inclusive, na biodiversidade dosecossistemas do território catari-nense.

Ironicamente, um dos fatoresprincipais desta contaminação é que,na maioria dos locais, as pessoasaprenderam a eliminar o lixo(removendo-o para longe dos olhos edo nariz) tão eficientemente que éfácil esquecer que a Terra é um sistemaecológico fechado, onde nadadesaparece permanentemente. Osmétodos normalmente utilizados paraesconder o lixo e outros resíduos –aterros, fossas e esgotos – setransformam nos principais condutosda poluição química da águasubterrânea e superficial.

Assim, a poluição de origemurbana, causada por resíduos deesgotos domésticos, complementa oquadro de degradação de águas.Tradicionalmente, sempre foiconveniente instalar cidades próximasaos rios. Por questões econômicas, desobrevivência e por desconhecimentoda dinâmica fluvial, os primeirosassentamentos urbanos foram feitosàs margens dos rios, tendo em vista afertilidade dos solos destes terrenos, atopografia favorável, a facilidade detransporte, a proximidade do comércio,

a facilidade de efetuar despejos deesgotos, etc. Em contrapartida, as

cidades que os margeavam eram, detempos em tempos, sujeitas a

enchentes, por vezes de grandesproporções, com resultados trági-

cos.À medida que nossa dependência

da água aumenta, a disponibilidadedeste recurso se torna cada vez mais

limitada. Analisando-se a históriacatarinense, percebe-se que os rios

apresentam uma considerávelalteração de uso ao longo dos tempos,

passando de simples meio detransporte e fonte esporádica de

proteína (pesca) para usos múltiplose conflitantes, tanto em termos dequantidade quanto de qualidade.Como exemplo, citam-se as captaçõespara abastecimento urbano eindustrial, severamente prejudicadaspor lançamentos de efluentes edejetos, que limitam expressi-vamente sua potabilidade.

Considerando a extensão dosdanos que a poluição inflige à saúdepública, ao ambiente e à economiaao penetrar na água, é essencial quese busque a prevenção, porque estaé a única estratégia confiável.

Para uso domiciliar, quase todasas grandes cidades dispõem defornecimento de água provenientedos rios. A qualidade da água juntoàs nascentes, em princípio, éexcelente, pois a topografia e o climafavorecem a constante formação dechuvas que alimentam os riosperenes, com altos teores de oxigênioe sais diversos, mas logo a seguir éprejudicada pela crescente poluiçãocausada pelas próprias comunidadesque neles se abastecem e lançamefluentes contaminados em seusleitos.

Além disso, o problema dasenchentes no Estado é também

agravado pelas agressões ao meioambiente, principalmente pelo

desmatamento, pela erosão, peloassoreamento dos leitos dos rios,

pela poluição industrial e doméstica,pela exploração irracional dos

recursos naturais e a ocupaçãoindevida das bacias hidrográficas,

além do uso desordenado do solourbano, que impõe um acentuado

processo de impermeabilização, coma construção de rodovias, avenidas,

calçadas, aterros, prédios comerciaise residenciais, que não levam em

conta a capacidade de absorção daágua pelo lençol subterrâneo.

OPINIÃO

A

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Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001 51

A crescente demanda dasociedade por um modelo dedesenvolvimento centrado nasustentabilidade ambiental, social eeconômica faz com que todos ossegmentos do setor primáriocatarinense busquem informações etecnologias adequadas à realidadeatual. Hoje não mais se admitemtecnologias poluidoras do meioambiente, nem resíduos tóxicos nosprodutos oferecidos à população.Além disso, a qualidade do ar e daágua está sob constante vigilânciados órgãos governamentais e dasorganizações não-governamentais –ONGs. Assim, o monitoramento dosrecursos ambientais se constitui empoderosa ferramenta para a sociedademelhorar a tão almejada qualidadede vida.

A necessidade de proteção daágua poderá proporcionar umincentivo mais imediato para amudança. Simplesmente poderánão ser possível conviver com rioscontaminados pelo tempo quepoderíamos suportar. Conter aexcessiva poluição exigirá respostasinovadoras não apenas dosagricultores e dos consumidores,mas também dos legisladores e

empresários. Além disso, para aadequação das propriedades rurais,

visando solucionar estes problemase efetivamente melhorar a qualidade

da água e reduzir o poder poluentedos dejetos a níveis aceitáveis, bem

como atender às exigências dalegislação, são necessários inves-

timentos significativos. Normal-mente, estes investimentos têm

custos acima da capacidade depagamento dos agricultores. Por

outro lado, o adequado manejo e autilização dos dejetos como

fertilizante para as lavouras e comoinstrumento de melhoria das

condições físicas, químicas e biológicasdo solo também exigem investimentosem captação, armazenagem,transporte e distribuição, nem sempredisponíveis nas pequenas e médiaspropriedades rurais.

O quadro desolador da atualsituação ambiental do meio ruralcatarinense pode ser revertidomediante a ação integrada dos diversosórgãos do governo de Santa Catarina,do governo federal, das prefeiturasmunicipais, das universidades públicase particulares, das ONGs e da iniciativaprivada, para salvaguardar a dignidadee a cidadania da população catarinense,proporcionando melhorias naqualidade de vida no meio rural, comreflexos diretos para toda a sociedade.Este processo dinâmico, com a parti-cipação de todos os agentes dasociedade na busca da gestão comvistas a incorporar mudanças e avançostecnológicos e socioeconômicos, deveser implantado em cada região doEstado, tendo como unidades básicasas bacias hidrográficas.

Um programa integrado dedesenvolvimento ambiental paraSanta Catarina, tendo como planobásico a redução da poluição ambiental,principalmente a provocada por dejetos

animais, esgotos domésticos, efluentesindustriais, resíduos de carvão

mineral, agrotóxicos e demaisresíduos, deve iniciar pela criação e

implantação de comitês de baciashidrográficas junto às principais bacias

do Estado, com o objetivo de envolverdiretamente a comunidade na

identificação dos problemas e naimplementação de medidas corretivas,

com relação à degradação dos recursoshídricos. Na seqüência, deverão ser

instaladas as agências de baciashidrográficas, responsáveis pela

execução das medidas propostas peloscomitês, efetuando, inclusive, o

monitoramento dos recursos hídri-cos, através de uma ação integradaentre os organismos públicos eprivados, juntamente com asuniversidades que atuam na áreaambiental. Finalmente, o programadeve providenciar a elaboração e aimplementação dos planos deproteção e recuperação ambiental,adaptados às peculiaridades de cadaregião.

Desta forma, será possívelsubsidiar a comunidade catari-nense no direcionamento de ações,atuais e futuras, que venham aconferir ao setor produtivo maioreficiência e à população melhorqualidade de vida, pois a susten-tabilidade do desenvolvimento inte-grado, através da organização dasociedade para o uso eficaz,econômico e equilibrado dos recursosnaturais, visa garantir o sustentodas gerações atuais e futuras.

Carlos Luiz Gandin, eng. agr., M.Sc. Cart.Prof. 3.141-D, Instituto Cepa/SC, RodoviaAdmar Gonzaga, 1.486, C.P. 1.587, 88034-000 Florianópolis, SC fone (048) 334-5155,fax (048) 334-2311, e-mail: [email protected].

ParticipaçãoParticipaçãoParticipaçãoParticipaçãoParticipaçãointerativa – Umainterativa – Umainterativa – Umainterativa – Umainterativa – Uma

análise crítica doanálise crítica doanálise crítica doanálise crítica doanálise crítica doprocesso na Epagriprocesso na Epagriprocesso na Epagriprocesso na Epagriprocesso na Epagri

Rose Mary Gerber

ma exigência do Banco Mun-dial traz para o centro das dis-

cussões tópicos como participação,pesquisa interativa, produtorexperimentador; termos conhecidosmas utilizados aquém do desejável

Opin iãoOpin iãoOpin iãoOpin iãoOpin ião

U

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52 Agropec. Catarin., v.14, n.2, jul. 2001

em nossa Empresa, nos trabalhos depesquisa e extensão como um todo.Termos que, de repente, entram nasrodas de debate e discussão de al-guns técnicos da Epagri, enquantooutros, no início do terceiro milênio,se questionam e buscam dar umaprecisão exata/científica a esses ter-mos. A expressão “de repente” éproposital porque entre assimilarum discurso e exercer a sua práticahá, sim, uma distância a ser percor-rida.

O Banco Mundial é enfático eexige – é uma exigência – essa novametodologia de trabalho para oMicrobacias II, e nos inquietamos.Primeiro porque não estamos sufici-entemente preparados para essa em-preitada e segundo porque o nossoconhecimento será posto à prova, jáque teremos, sim, que reconhecer einteragir com o saber do outro – doprodutor – e, assim sendo, teremosque descer do “nosso pedestal” decientistas que produzem “para” eestabelecer uma relação/postura dequem cria “com”.

O produtor, por sua vez, não maisdeverá esperar apenas “pelo”, masterá necessariamente que buscar,pesquisar, experimentar, participar

de forma integrada “com” o técnico –pesquisador e/ou extensionista.

Deveremos ser capacitados nes-ta área, discutir, rediscutir suas

particularidades e tentar esta-belecer uma sintonia entre os dife-

rentes técnicos da Epagri, pesquisa-dores e extensionistas, no que se

refere a esta metodologia de interaçãocom o “outro”.

É um desafio essa exigência doBanco Mundial! Estamos habitua-

dos, acomodados e, até certo ponto,satisfeitos com a dependência do

outro (fazendo “por”), sem receber,na maioria das vezes, maiores

questionamentos sobre o “porquê docomo fazemos”, justificativa emetodologia de trabalho.

É, portanto, desafiador abrir o es-paço que se exige, colocando o “o quê/como/por quê se faz em discussão,mas é também um passo para o desen-volvimento sustentável que se quer,visto pelo viés do exercício da cidada-nia, da condição sujeito/sujeito, dadivisão de papéis e espaços entre osdiferentes atores sociais.

Talvez seja o inicio do caminhoonde há espaços para saberes científi-cos e populares , para técnicos e produ-tores, mulheres, jovens, crianças, ido-sos, ou seja, atores sociais que sãocriadores de sua própria história. Nós– apenas facilitadores do processo,atores de nossa ciência/pesquisa/ex-tensão.

No final quem sai ganhando sãotodos e o resultado possível é a quali-dade que se quer na agropecuária epesca catarinense; produtos concor-rentes e colocados numa eraglobalizada que exige, cobra, optapelo competitivo e não aceita,critica, inviabiliza o seu oposto;pessoas capacitadas para esta novarealidade que se impõe de forma cres-cente e que exige, cada vez mais,

qualidade, competitividade, conheci-mento local com visão de uma realida-

de mais ampla, global. Ou seria oinverso?

A participação interativa implica aconsideração dos atores sociais en-

quanto sujeitos de sua história, ondeas diferentes formas de ver, sentir,

vivenciar o cotidiano possibilitam en-riquecer a relação de troca de expe-

riências, questionamentos, e permi-tem, para o técnico, a vivência de sua

praxis profissional onde, num movi-mento de ação-reflexão-ação, pode

avaliar/repensar/rever o que estárealizando junto ao público com o

Opin iãoOpin iãoOpin iãoOpin iãoOpin ião

qual interage.Para o produtor rural, há a aber-

tura de um espaço onde podeperceber-se como sujeito que temseu valor histórico e que, cultural-mente diferenciado, com seus valo-res, crenças, mitos, tabus, experiên-cias, torna mais rica a construção,com o “nós’’ da participação intera-tiva.

O técnico é, desta forma, umfacilitador e não um fazedor, indicapossibilidades e não aconselha-mentos, onde não há lugar para opronto, definido, predeterminado,já que o processo é de construção.O isolamento do mundo técnico--científico cede espaço para o criar/fazer em conjunto, pesquisadores,extensionistas, produtores, famí-lias, mulheres; e as diferentes cul-turas e as diferenças culturais mos-tram-se como parte de um pro-cesso que, longe de ser imediato,se dá a longo prazo, transformandoo pré-existente em co-existência.

Não há, desta forma, uma perdado poder (do cientista/técnico/pes-quisador),

mas um acréscimo com o

saber do outro (produtor, família,mulher), onde atores sociais se con-frontam, discutem, questionam ecrescem. É, pois, um grande desafioque temos à frente e não uma ater-radora ameaça. Desafio de transfor-mar uma visão especializada e pa-dronizada em uma não menos espe-cializada, porém com visão holística,aberta, que considera mais os atoressociais e menos as (desnecessárias)teorias abstratas, e onde os “objetos”de observação são de fato, e porprincipio, sujeitos, atores e autores,de sua história social.

Rose Mary Gerber, assistente social, M.Sc.,CRESS 0891, Epagri, C.P. 502, 88034-901Florianópolis, SC, fone (048) 239-5569, fax(048) 239-5597.

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ProduçãoProduçãoProduçãoProduçãoProduçãoagropecuária, riscoagropecuária, riscoagropecuária, riscoagropecuária, riscoagropecuária, risco

alimentar ealimentar ealimentar ealimentar ealimentar emercado; algumasmercado; algumasmercado; algumasmercado; algumasmercado; algumasreflexões a partirreflexões a partirreflexões a partirreflexões a partirreflexões a partir

da Europada Europada Europada Europada EuropaWilson Schmidt

“Febre aftosa, ‘vaca louca’, marésnegras, efeito estufa... A mão invisí-vel não tem mais condições de asse-gurar a regulação dos novos riscosresultantes da atividade do merca-do. Longo tempo colocado sob sus-peita pelo mercado – e contente de-mais de lhe transferir suas respon-sabilidades – o poder público é, hoje,fortemente solicitado a reabilitar anoção de interesse geral.”

Jornal Le Monde, 12 de março de2001

“Os consumidores europeus têm‘misturado’ a resistência que elestêm aos transgênicos com os seustemores com a febre aftosa e com a‘vaca louca’. Quem manda é o merca-do. Nesse momento, estamos nosbeneficiando das restrições aostransgênicos. Enquanto cresce a pa-ranóia, vamos enfiando nossofranguinho e nosso porquinho por lá.Os europeus estão ‘perplexos e aca-baram misturando tudo’.”

Márcio Fortes, secretário-execu-tivo do Ministério da Agricultura doBrasil, 9 de março de 2001

Paranóia, perplexidade, mistura,confusão. Estes são os termos quedominam as análises sobre o consu-midor europeu no Ministério da Agri-cultura do Brasil. Essa análise émais do que ilustrativa de um com-portamento do tipo “oportunista” e“mercado-cêntrico” e nos parece sero resultado de uma visão superficiale restrita ao curtíssimo prazo. É

verdade que ela é confortada pelasnotícias veiculadas por jornais brasi-leiros. Por exemplo, no primeirobimestre de 2001, as vendas de frangopara a Europa cresceram 161,90% emrelação ao mesmo período do anopassado. E, é claro, é correta a associ-ação que fazem os jornalistas destecrescimento com a doença da “vacalouca”. Mas o que está acontecendo naEuropa neste momento? Por que osprincipais jornais europeus falam deuma “crise da criação animal”? Porque os principais termos usados pelaimprensa européia são: pesadelo, es-cândalo, catástrofe, ciclone, sismo?

Quanto ao mercado, se é verdadeque, neste momento, os preços dacarne suína e de aves crescem bastan-te, a de bovinos decresce significativa-mente e, globalmente, o consumo geralde carne diminui. Como afirmou umatacadista francês, depois de mesescom imagens de abatedouros (erammostrados os abates de bovinos e ostestes para identificação da doença da“vaca louca”), expor as grandes foguei-ras de animais (em cada propriedadesuspeita da presença do vírus da febreaftosa, todos os animais são abatidose, logo em seguida, queimados) noJornal Nacional – na hora em que aspessoas estão jantando – era o quefaltava para, definitivamente, “tirar osabor da carne’’.

Mas o principal de tudo isso é que,na Europa, a visão de que “quemmanda é o mercado!”, que parece sero lema do Ministério da Agriculturabrasileiro, precisa ser bastanterelativizada. O que se discute, de for-ma mais profunda, são as perspecti-vas da Política Agrícola Comum (PAC)da Comunidade Européia (CE). E, porextensão, quais as condições de man-ter um sistema de produção do tipoprodutivista que, como é sabido (oudeveria ser...), sempre foi e continuasendo, em qualquer lugar do mundo,inclusive no Brasil, fortemente de-pendente dos subsídios públicos.

Lembremos que, na Europa, o

sistema de agricultura produtivistafoi implantado primeiramente naGrã-Bretanha e, depois, se generali-zou por outros países europeus. Quea “vaca louca” começou ali e, depois,se alastrou. E que, agora, a origemda epizotia de febre aftosa é a mes-ma. O editorial do jornal Le MondeDiplomatique, do mês de abril, des-taca que em nome da desregula-mentação, nos anos 80, os governosde Margareth Tatcher viraram ascostas para o princípio da precauçãoe chegaram à quase destruição darede nacional de veterinários. Maisdo que isso, desde 1991, para econo-mizar dois bilhões de reais e favore-cer as exportações, proibiu a vacina-ção dos animais. O próprio ministroda Agricultura da França, duranteuma entrevista coletiva realizada em11 de abril, após uma reunião dosministros europeus, afirmou que,hoje, o Reino-Unido não tem condi-ções para enfrentar a crise da febreaftosa porque “os ingleses, que que-braram com entusiasmo os serviçospúblicos durante os anos Tatcher,sofrem, hoje, as conseqüências”. As-sim, a propagação da febre aftosa sópode suscitar comentários contun-dentes.

Para alguns, a febre aftosa, logoapós a segunda crise da “vaca louca”(outubro 2000), indica o esgotamen-to de um sistema de produção (oprodutivista), o que vai exigir daEuropa uma reflexão profunda sobrea sua agricultura e a sua pecuária.Entre eles está o midiático José Bové.O que seria previsível, considerandoque ele é líder da Confederação Cam-ponesa da França, sindicato agrícolaque exerce forte oposição às polí-ticas produtivistas. Mas o próprioministro da Agricultura inglês, NickBrown, em uma entrevista coletiva,se perguntou: “a industrialização for-çada (da agricultura) não seria emparte responsável?” Analistas mos-tram que a Grã-Bretanha tem asmaiores unidades de produção agríco-

CONJUNTURA#

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la, as maiores indústrias alimenta-res e as maiores cadeias de distribui-ção da Europa. O número deabatedouros, por exemplo, passou de1.400, em 1990, para 400, em 1999. Aforte influência dessa concentraçãoextrema sobre a rapidez de propaga-ção da doença foi reconhecida pordiversos estudiosos (os animais per-correm distâncias importantes entrea fazenda e o abatedouro; mais elesviajam e mais eles se estressam,ficam mais frágeis, se expõem à do-ença e contaminam, na passagem,outros rebanhos). A própria rapidezde propagação é, aliás, indicada comoum testemunho da crise do sistemaagropecuário. Ressalte-se que a mai-or parte dos editorialistas da impren-sa inglesa têm conclamado o governoa conduzir a agricultura para méto-dos mais suaves e menos produti-vistas.

Mais longe foi o primeiro-minis-tro da Alemanha, G. Schroeder, que,após a detecção do primeiro caso de“vaca louca” naquele país, evocou os“50 anos de mau desenvolvimento naagricultura e na indústria alimen-tar” e manifestou o desejo de “repen-sar a agropecuária” e de acabar comas produções “industrializadas”. De-nunciando o discurso feroz dos repre-sentantes dos lobbies das grandesagroindústrias, transformou o Mi-nistério da Agricultura em Ministé-rio do Consumo, da Alimentação e daAgricultura (a ordem é importante!)e reorientou a política agrícola emfavor de “uma agricultura mais res-peitosa dos consumidores e do meioambiente”. A nova ministra, RenateKuenast, uma reconhecida liderança

do Partido Verde, fixou como seu prin-cipal objetivo assegurar que, em cincoanos, pelo menos 10% da produçãoagrícola alemã seja orgânica (hoje éde pouco mais de 2%). Para ela, “ofuturo econômico dos agricultores sóserá assegurado se produzirmos deforma mais natural”. Ora, a Alema-nha, que, desde o nascimento da PAC,faz uma espécie de arbitragem destapolítica (entre as posições da França,seguida pelos países do sul da Europae os outros países da CE), vai determi-nar uma espécie de reviravolta aoexigir uma mudança profunda da polí-tica conduzida pela União Européia.Como destacou um dos líderes doDBV, principal sindicato agrícola ale-mão: “Renate Kuenast não pediu areforma da PAC porque ela é ecologis-ta do Partido Verde, mas simplesmen-te porque é isso o que querem oseleitores”. O ponto que marcou oscidadãos-consumidores alemães foi apolítica de abate/destruição de bovi-nos sadios (!) com mais de 30 meses,para corrigir o mercado de carne (leia--se: sustentar os preços) na Europa1.Em suma, na política de abate/des-truição, os animais são conduzidos aoabatedouro e mortos. O criador é re-munerado pelo Estado, assim como oabatedouro. Depois, há a transforma-ção em farinha animal. Para isso, aindústria de farinha animal também éremunerada pelo Estado. Como o con-sumo deste produto não é mais permi-tido (para alimentação de bovinos há ainterdição desde 1990; para a de por-cos e aves, a partir de novembro de2000), estoques custosos se acumu-lam e há importantes subsídios públi-cos para que a indústria de cimento o

utilize como fonte de calor nas suascaldeiras. Neste primeiro semestrede 2001, a previsão é de um abate dequase 2 milhões de cabeças na Euro-pa seguindo este sistema2. É semdúvida eficaz para manter tudo comoestá, mas o rompimento da ligaçãoentre produção agropecuária ealimentação levanta fortes ques-tionamentos éticos e sobre o destinodado aos recursos arrecadados doscontribuintes3 . É preciso lembrar queo orçamento agrícola europeu foi fi-xado em aproximadamente 85 bi-lhões de reais para 2001, absorvendoa metade do orçamento total da CE.Ora, se até na crise da “vaca louca” oseuropeus aceitaram, sem grandesrecriminações, que os agricultoresabsorvessem todo este volume derecursos, a sucessão dos chamadosescândalos alimentares faz com queeles percebam o outro lado da moe-da. E, em 4 meses, o mecanismo bemlubrificado que a PAC levou 40 anospara construir começa a emperrar. O“Conselho agrícola europeu sobre adoença da ‘vaca louca’ ”, realizado emfinal de fevereiro último, foi um fra-casso. Chegando logo em seguida, acrise da febre aftosa veio representarum novo e rude golpe. O agravamen-to desta crise gerou pressões poruma nova onda de indenizações, comconseqüências econômicas difíceis deadministrar no quadro atual dos li-mites orçamentários, o que só faráagravar as divergências no seio daCE.

Por tudo isso, a situação atual dacriação animal européia é julgadacomo de “incêndio”. Para o presiden-te francês, de uma coalisão de parti-

1.Usando como exemplo a Alemanha, depois da revelação do primeiro caso de "vaca louca" no país, seguido de uma fortíssima queda do consumoda carne bovina (-60%), seus preços caíram 24% (na Europa como um todo a queda é de 30% no consumo e 40% no preço). Os agricultoresafirmam que com este novo preço perdem de 500 a 1.000 marcos por animal vendido. A menor queda dos preços na Alemanha pode ser explicadapelo crescimento de 60% das vendas de carne bovina resultante de produção orgânica, cujos preços permaneceram estáveis.

2.Estima-se que nos próximos cinco anos, apenas para a doença da “vaca louca”, serão gastos 3,4 bilhões de reais para melhor detectar os animaisdoentes, destruí-los, reciclar as farinhas proibidas e indenizar os agentes da cadeia produtiva.

3.A crise da febre aftosa, que leva à destruição dos animais, permite compensar parcialmente a superprodução de carne bovina ligada à “criseda vaca louca”. Ao mesmo tempo, a diminuição das exportações implica a baixa proporcional dos custos ligados aos subsídios. Já havia umforte debate sobre a racionalidade puramente econômica da CE, que leva a considerar que “queimar é mais rentável que congelar e estocar”.O argumento da medida sanitária atenuou, num primeiro momento, a resistência à política de destruição.

ConjunturaConjunturaConjunturaConjunturaConjuntura

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dos de direita, “não é no momento doincêndio que se vai refazer a casa. Épreciso salvar os móveis, e é isso oque fazemos”. “Salvar os móveis”,neste caso, significa, salvar os agri-cultores produtivistas 4. No caso daprodução vegetal, esses agriculto-res, frente às exigências da socieda-de, encontram uma saída – sem sairdo modelo produtivista – através daagricultura racional, integrada ou deprecisão. Trata-se da idéia de usar osmesmos insumos, mas os menosagressivos ou mais específicos, nadose certa, na hora certa, de forma aprejudicar menos a natureza. Nocaso da pecuária, no entanto, a saídase mostra bem mais difícil para eles.Depois de terem defendido, em nomeda produtividade e da competi-tividade, a utilização de farinhas ani-mais e a concentração da produção,é preciso realmente que alguém lhessalve os móveis.

É verdade que quando se fala emagricultura e, especialmente, em pe-cuária, é difícil pensar que as coisasse transformam no curto prazo. Masem termos de política agrícola, daparte da direção da CE, caminha-se,numa lógica de médio prazo, parauma reorientação da PAC, buscandouma agricultura de qualidade, me-nos produtivista. E sempre cortandodespesas. O próprio primeiro-minis-tro francês, o socialista LeonelJospin, reconhece que a França nãopoderá ser obstáculo à evolução dapolítica agrícola européia em dire-ção a uma agricultura menos inten-siva. Recentemente, como resultadode um conselho agrícola informal daComunidade Européia, realizado nosdias 9 e 10 de abril, na Suécia, foi

anunciado pela ministra sueca (comopresidente do conselho) que “os quin-ze” (países da CE) desejam que “oconsumidor esteja no centro da políti-ca agrícola de amanhã”.

Ora, os consumidores europeusfazem cada vez mais uma distinçãoentre a boa comida e o rango nocivo(uma tradução livre de “malbouffe”,como é chamada pelos franceses). Asnoções de segurança alimentar

5 e de

qualidade se fortalecem. E, ao contrá-rio do que pensa o secretário executi-vo do Ministério da Agricultura brasi-leiro, é impossível separar a opção deaderir ao uso de transgênicos, ou aouso de hormônios de crescimento nosrebanhos, ou ao uso de antibióticos naalimentação animal, das crises da “vacalouca”, da dioxina e da febre aftosa.Tudo isso é percebido pelo cidadão econsumidor europeu como conse-qüências de uma forma industrial deprodução agropecuária.

Pânico e psicose, ou até medo irra-cional, são expressões utilizadas pelostecnocratas tomadores de decisão,quando o cidadão comum adota umaposição de precaução. Trata-se muitomais de um descontentamento e deuma inquietação mais do que legíti-mos. Legitimidade que, aliás, é plena-mente reconhecida pela CE. Todos osproblemas de risco alimentar são ime-diatamente encaminhados às instân-cias européias para que sejam toma-das decisões que respeitem as normaseuropéias (e não as de um país especí-fico).

No caso da febre aftosa, em 1991,as autoridades da CE, por razões es-sencialmente comerciais, dividiram omundo em países limpos e países su-jos, procurando, é claro, ficar entre os

4. Este posicionamento precisa ser compreendido à luz da forte pressão que exerce sobre o governo da França a corrente majoritária dosindicalismo agrícola francês. Esta corrente (Federação Nacional dos Sindicatos de Produtores Agrícolas – FNSEA/Centro Nacional de JovensAgricultores – CNJA) se consolidou, dentro de uma relação estreita com o Estado francês, sob uma lógica hiperprodutivista, procurou semprenegar as derivas e os problemas da industrialização da agricultura e conseguiu constituir a categoria social (uma minoria entre os própriosagricultores) mais apoiada da Europa e o setor mais subsidiado da França.

5. Expressão usada na Europa como sinônimo de segurança dos alimentos (ou “food safety”) e não como no Brasil, ligada ao abastecimentoalimentar ou ao acesso da população aos alimentos (ou “food security”).

primeiros. Apenas dez anos depois,uma crise desta mesma febre lhesserve de indicador de que é todo omodelo produtivista de produção ve-getal e de criação animal que estáem xeque. E a CE se dá conta de queé necessária uma revisão profundadas políticas de desenvolvimento ru-ral.

Enquanto isso, no Ministério daAgricultura brasileiro, as posiçõessobre questões centrais e estratégi-cas – com grande peso, no longoprazo, para a agricultura e o desen-volvimento rural brasileiros –, comoa da moratória para os produtostransgênicos, oscilam segundo as pos-sibilidades de curto prazo de enfiarnosso porquinho ali, ou nossofranguinho acolá.

Parece uma simples decisão téc-nica e mais um ato de esperteza, semmaiores conseqüências. Mas, comodiz Lawrence Bush (sociólogo e dire-tor do Instituto de Normas Alimen-tares e Agrícolas da Universidade deMichigan, nos Estados Unidos), “hojeé precisamente nestes sujeitos téc-nicos que nós decidimos quem nóssomos e como nós iremos viver”.

Agradecimentos

O autor agradece aos professoresRenato Maluf (CPDA/UFRRJ) eAdemir Cazella (ZDR/UFSC), que fi-zeram uma primeira leitura crítica eapresentaram sugestões.

Wilson Schmidt, professor do Departa-mento de Zootecnia e DesenvolvimentoRural/UFSC, bolsista da Capes em pós-dou-torado junto ao Centre de Recherches sur leBrésil Contemporain/Ecole des HautesEtudes en Sciences Sociales – CRBC/EHESS, e-mail: [email protected].

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VIDA RURALSOLUÇÕES CASEIRAS

Dicas práticas para remoção de manchasDicas práticas para remoção de manchasDicas práticas para remoção de manchasDicas práticas para remoção de manchasDicas práticas para remoção de manchasnas roupasnas roupasnas roupasnas roupasnas roupas

grade protetora e use essa fórmulasempre que a pia ameaçar entupir.

Os ambientalistas lembram ain-da que ladrilhos e banheiros podemser limpos com bicarbonato de sódio,uma escova e uma esponja. Paralavar espelhos e janelas, aconselhamque se misture vinagre e água numabisnaga plástica de esguichar e umtrapo para esfregar. No lugar dosabão e detergente pode-se usar umamistura feita com uma colher debicarbonato, meia xícara de vinagree um litro de água. Essa mistura éeficiente em qualquer tipo de limpe-za. Para se conseguir um produtomais forte, basta dobrar a quantida-de de vinagre e bicarbonato na mes-ma quantidade de água.

Uma mistura de sal e vinagre éótima para limpar metais como bron-ze e cobre, mas é necessário enxaguarbem as peças depois de passar opolidor. Pratarias podem ser polidascom uma pasta feita de bicarbonato eágua. Os grandes vilões entre os pro-dutos usados pelas donas de casa sãoos detergentes. Eles freqüentementecontêm ingredientes que se decom-põem muito lentamente. Além disso,os detergentes costumam conterfosfatos que são poderosos fertilizan-tes. Pequenas quantidades de fosfatoprovocam um crescimento explosivodas algas em lagos e rios, o que acabaconsumindo todo o oxigênio e ma-tando os peixes. Para evitar isso,basta trocar o detergente pelo sabãocomum.

Aerossóis para perfumar a casatambém estão na mira dos ecologis-tas. Essas substâncias mascaram omau cheiro com substâncias quími-cas que cobrem as fossas nasais comuma película, ou simplesmenteanestesiam os nervos responsáveispelo olfato. Na verdade, basta colo-car um prato de bicarbonato de sódioperto do lixo para absorver os odo-res. Outra sugestão: espremer umlimão sobre a lata de lixo se elacomeçar a cheirar mal e esqueceraqueles produtos enlatados que pro-metem um cheiro de floresta para olar. “Eles vão entupir o seu nariz”,dizem os ecologistas. Nos EstadosUnidos, essas receitas e muitas ou-tras são distribuídas por grupos deação ambiental.

Fonte:Susan McGrath – Los AngelesTimes.

Às vezes nos surpreendemos comalgumas manchinhas desagradáveisnas roupas. Bate o desespero. O quefazer para não perder aquela peça quegostamos ou então que gastamos tan-to para comprá-la?

Não se preocupe. As manchas po-dem ser removidas com facilidade seo tecido for tratado o mais rapida-mente possível. O ideal é que a man-cha não seque ou fique por muitotempo em contato com as fibras dotecido.

Se você usar algum tipo de remo-vedor de manchas,, não esqueça defazer um teste antes em alguma partedo tecido, que esteja bemescondidinha, para não perder a peçatoda. A seguir,, veja algumas dicaspara retirar as manchas mais co-muns.

Mofo

Esta mancha pode ser removidase você aplicar leite sobre ela ou fazeruma lavagem com alvejante ou águaoxigenada. Em seguida, realize vá-rios enxágües para evitar que fiquealgum tipo de resíduo no tecido.

Gordura

Sobre a mancha, aplique talco oufarinha de trigo. Depois de algunsminutos, retire o excesso de pó. Faça

isso com cuidado usando uma escova.Em seguida, lave a peça normalmen-te.

Tinta de caneta esferográfica

Retire esta mancha com o uso deálcool. Antes de lavar a peça, aplique oálcool sobre a mancha. Com uma esco-va, faça movimentos de fora para den-tro no tecido. Por baixo da peça, colo-que um tecido absorvente. No final,lave a peça normalmente.

Ferrugem

Para retirar este tipo de manchavocê pode usar limão e sal ou algumoutro produto que seja específico pararemoção de ferrugem. Aplique a solu-ção sobre a mancha e deixe-a agir poralguns minutos. Na seqüência, faça alavagem da peça.

Batom

É só aplicar álcool sobre a mancha,deixando-o agir por alguns minutos.Depois disso, lave a peça normalmen-te.

Nota: Os bons resultados nem sem-pre aparecem na primeira tentativa.Se precisar, repita o procedimentomais algumas vezes, até que a manchaseja totalmente eliminada.

Casa pode ser limpa sem usoCasa pode ser limpa sem usoCasa pode ser limpa sem usoCasa pode ser limpa sem usoCasa pode ser limpa sem usode detergentesde detergentesde detergentesde detergentesde detergentes

É possível manter a casa limpasem usar detergentes e produtos pe-rigosos para o meio ambiente. Gru-pos ecologistas norte-americanos es-tão divulgando receitas para substi-tuir os produtos de limpezaindustrializados por uma série dereceitas caseiras, mais baratas e igual-mente eficientes. Segundo os ecolo-gistas, as receitas caseiras feitas combase em vinagre branco, bicarbonato

de sódio e sal apresentam a vantagemextra de não serem tóxicas nem polu-írem o ambiente. Por exemplo: é possí-vel até desentupir uma pia sem o usode substâncias cáusticas e corrosivas.Basta despejar meia xícara de vinagremisturado a meia xícara de bicarbo-nato de sódio pelo ralo. Cubra o ralo eespere 15 minutos, depois despeje umachaleira de água fervendo. Evite oentupimento usando uma pequena