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No Limite do Corpo Humano. Roteiro Pedagógico | 2

Ficha Técnica Coordenação Geral Cassefaz Conteúdos e Supervisão Científica Mapa das Ideias Maria João Nunes Tiago Lopes Susana Freire

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Índice Limites do Corpo Humano 4

Plano de Montagem 5 Conheces-te? 6 Micro 9 O Corpo na História 11 Redefinir Limites 13 Uma máquina maravilhosa 15 Homem vs Animal 17 Cérebro 19

Actividades (Ponto de Partida) 21

21 3.ºCiclo do Ensino Básico - Educação Física Em busca da glória olímpica perdida...

Qual vais desafiar

22 3º Ciclo do Ensino Básico - Ciências da Natureza O cirurgião-inventor Eco-parlamento

22 3º Ciclo do Ensino Básico - Educação Visual O que dizem os espelhos?

22 3º Ciclo do Ensino Básico – História Pensar na História da Saúde e Bem-Estar

23 Ensino Secundário - Educação Física Eu (também) consigo

Os meus limites

23 Ensino Secundário – Biologia Explorar (em português) o cérebro Nos limites da sobrevivência

24 Ensino Secundário – Psicologia Saber quem sou

24 Ensino Secundário – Filosofia Para uma ética do corpo humano

Fontes de documentação 25

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No Limite do Corpo Humano Evoluir é uma capacidade natural, que não está limitada a espécie humana. Todavia, a evolução humana tem sido potenciada pela acção directa da espécie. Com a invenção da medicina, assumimos o papel de actores nos processos de redefinição de limites, tendo alargado as hipóteses de sobrevivência e passando a olhar o corpo de forma científica e analítica. O corpo humano é um tema muito presente na vida dos jovens adolescentes, quer seja em virtude das transformações físicas associadas à puberdade, quer por razões de ordem estética, ligadas à cultura visual e mediática da era contemporânea. Este tema adquire uma outra dimensão no Ano Internacional da Biodiversidade. Uma profusão de microrganismos interage com o corpo humano diariamente, quer garantindo o seu equilíbrio quer ameaçando-o. A evolução dos limites do corpo humano faz-se (também) no meio desta luta microscópica. Para melhor compreender a evolução dos limites Corpo Humano, decidiu-se olhar esta temática sob várias perspectivas. Como evoluiu o Corpo na História? Qual o papel da Ciência e da Medicina? Qual o papel do Homem na Natureza? Qual a importância do cérebro? A exposição No Limite do Corpo Humano consiste num conjunto de painéis que focam o corpo humano sobre diferentes ângulos, tendo como linha condutora a ideia de Limite. A Mapa das Ideias elaborou um elenco de 7 formas de olhar para o corpo humano exibidas em 8 painéis expositivos. O projecto integra também um filme multimédia, que poderá ser utilizado em sala de aula ou na própria exposição, e, para cada aluno que visite a exposição, será distribuído um desdobrável com um quiz. Para potenciar o envolvimento da comunidade escolar, preparou-se este roteiro pedagógico, que disponibiliza: o plano de montagem da exposição; textos sobre os Limites do Corpo Humano, desde a evolução de conceitos como Beleza e Saudável, ao combate às doenças e ao alargar da longevidade; propostas de actividades pedagógicas transdisciplinares, destinadas ao 3.º Ciclo do Ensino Básico e ao Ensino Secundário; e ainda fontes de documentação.

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Plano de montagem

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○ Conheces-te? “Os nossos corpos são, na realidade, apenas máquinas. Mas são mais complicados e mais bem arquitectados do que qualquer máquina que possamos criar.” Robert Winston

O esqueleto é composto por um conjunto de 206 ossos, que dão forma e servem de suporte aos restantes sistemas do corpo humano. Os ossos são o elemento mais resistente do corpo humano. São compostos por células envoltas em colagénio, que ajuda à fixação de minerais como o cálcio e o fósforo, responsáveis pela sua solidificação. A camada exterior do osso humano é composta por tecido ósseo compacto, duro, denso e pesado. A interior é composta por um tecido de tipo esponjoso, semelhante à estrutura de um favo de mel. Embora a camada interior seja leve, é altamente resistente. Unidos aos ossos, por cordões fibrosos (tendões), estão os 640 músculos que compõem o sistema muscular. Trabalha de forma interdependente com o sistema esquelético para garantir a manutenção da postura humana. As células musculares possuem a capacidade única de usar energia para se contraírem ou encurtarem, gerando uma força impulsionadora. Os músculos produzem dois tipos de contracção: a contracção isotónica ocorre sempre que o músculo responsável pelo movimento encurta, exercendo, de forma constante, uma força de tracção ou de pressão; a contracção isométrica, por seu lado, não gera movimento, mas mantém a posição dos sujeitos. Nestes casos, existe contracção muscular, sem que exista um encurtar do músculo. Para que os vários sistemas do corpo humano funcionem correctamente, é importante que os 100.000 km de vasos sanguíneos – que constituem o sistema sanguíneo – estejam em perfeitas condições. O motor do sistema sanguíneo é o coração que bombeia, de forma ininterrupta, cerca de 5 litros de sangue existentes no corpo. A divisão deste órgão em duas partes (lado direito e esquerdo) é feita por uma parede muscular chamada de septo. O coração divide-se ainda em quatro cavidades: 1. Ventrículo direito (bombeia sangue com pouco oxigénio para os pulmões); 2. Ventrículo esquerdo (bombeia ao longo da aorta o sangue rico em oxigénio para este ser distribuído pelo corpo); 3. Aurícula direita (transporta o oxigénio pobre em oxigénio bombeado pelo ventrículo direito); 4. Aurículo esquerdo recebe o sangue rico em oxigénio vindo dos pulmões). Se o sistema sanguíneo garante a vitalidade do corpo humano, o sistema respiratório garante que o oxigénio chegue a todas as células e que liberte a energia dos açúcares que geram energia cinética. Os pulmões, órgão central deste sistema, são compostos por dois brônquios primários (um no pulmão direito e outro no pulmão esquerdo), que se dividem em seis brônquios secundários (para cada brônquio primário existe uma ramificação em

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três brônquios secundários) que, finalmente, se desdobram em vários brônquios terciários. Estes últimos subdividem-se em 30.000 bronquíolos minúsculos que, por sua vez, se desdobram em canais alveolares que ligam a uma rede de 600.000.000 alvéolos, nos quais ocorrem as trocas gasosas. Para funcionar, o corpo necessita de energia. O sistema digestivo é o responsável por transformar aquilo que é ingerido em energia, através de processos químicos nos quais uma equipa de mais de 12 enzimas actua sobre os três nutrientes básicos – proteínas, hidratos de carbono e gorduras – como se fossem pequenas tesouras. Uma das enzimas que actua sobre as proteínas é a pepsina, cuja função é decompor as moléculas proteicas em unidades mais pequenas: os peptídeos. A amílase e a maltase decompõem, faseadamente, as cadeias moleculares dos hidratos de carbono. A enzima lipase actua sobre os nutrientes gordos, após serem emersos em sais biliares, produzidos na bílis. O percurso da comida, que vai da boca até ao recto, pode demorar 30 horas a estar concluído. O sistema nervoso é o responsável pela sensibilidade e pela percepção dos estímulos externos. É coordenado pelo cérebro, que é composto por uma rede de células altamente especializadas: os neurónios. Estes transmitem os impulsos eléctricos enviados pelo cérebro – impulsos nervosos – através de fibras especiais (axónios) a uma velocidade de 400 km por hora. Os neurónios não se encontram verdadeiramente ligados, existindo entre eles um intervalo: a fenda sináptica. A transmissão de informação entre dois neurónios, ao nível da fenda sináptica, acontece por meio de processos químicos, que decorrem em menos de um milésimo de segundo. A rede neuronal não é estática, alterando-se ao longo dos anos. A regulação da velocidade dos impulsos nervosos é uma das funções do sistema endócrino. O hipotálamo – região do cérebro que controla a temperatura do corpo e a composição química do sangue – tem ligado a si uma glândula, a hipófise, que detém o controlo secundário do sistema endócrino. Pouco maior do que um bago de uva, esta glândula produz nove hormonas, que estimulam as várias glândulas endócrinas a produzirem as suas próprias hormonas. O sistema endócrino regula, num segundo momento, os fenómenos aos quais o sistema nervoso responde primariamente. As hormonas, ao contrário dos impulsos nervosos, actuam de modo mais lento, mas com efeitos mais duradouros ou mesmo permanentes. A primeira barreira de defesa do corpo humano é a pele. Constituiu o maior órgão do sistema tegumentar e pesa, num adulto de tamanho médio, cerca de 5 kg. Além de proteger o ser humano contra danos causados pela radiação solar ou pela infecção por microrganismos, é ainda um órgão sensorial que detecta pressão, calor, frio e dor. A pele é composta por duas camadas: epiderme e derme. Os cabelos, as unhas, os pêlos, as glândulas sudoríperas e as glândulas sebáceas também fazem parte do sistema tegumentar, ajudando a pele a defender o corpo humano de ameaças externas. Alargar limites... Teoria das Células A noção de que o corpo humano se compõe de células é relativamente recente. Durante vários séculos, a ciência europeia foi condicionada pela religião, no período conhecido como Idade das Trevas, em que o homem era considerado um fruto da vontade divina. O Iluminismo ajudou a quebrar alguns tabus, mas só no século XIX surgiram as primeiras teorias sobre a composição celular do corpo humano. Neste campo de investigação, a Alemanha foi pioneira. Em 1838, dois cientistas do Império Alemão, Jakob Schlieden (1804-1881) e Theodor Schwann (1810-1882), desenvolveram a Teoria das Células, segundo a qual os seres vivos eram compostos por milhões de partículas microscópicas: as células. Esta teoria revolucionou os paradigmas científicos da sua época, mas deixou uma série de perguntas em aberto...

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Vinte anos mais tarde, Rudolf Virchow, físico alemão, complementou a Teoria das Células, após ter descoberto os fundamentos da divisão celular. O físico ajudou a comunidade científica a compreender que só se podiam criar células, através de células já existentes. As conclusões de Virchow ajudaram a encerrar a ideia de que as células emergiam de forma espontânea, inclusive em material não-vivo.

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○ Micro “Embora não possamos fazer máquinas tão boas como os nossos corpos, temos sido capazes de construir máquinas que nos dizem cada vez mais sobre o nosso aspecto interior.” Robert Winston

Acontecem a todo o instante milhares de fenómenos microscópicos que garantem a vitalidade do corpo humano e a sua funcionalidade. Como uma metrópole frenética, os vários sistemas do corpo humano trabalham 24 horas por dia sem direito a interrupções. O suporte básico que garante a existência de qualquer tipo de organismo orgânico é o oxigénio. O modo como este é absorvido, filtrado e retido pelo corpo depende de espécie para espécie. Nos seres humanos, o fenómeno é conhecido como "troca gasosa" e ocorre ao nível dos alvéolos pulmonares. O sangue, rico em dióxido de carbono, entra numa extremidade da parede alveolar para ser enriquecido com oxigénio e para expelir parte do dióxido de carbono. Enquanto atravessa a parede alveolar, o sangue liberta o dióxido de carbono para o centro do alvéolo, de onde recebe o oxigénio inspirado. Depois de atravessar a parede alveolar, o sangue volta ao sistema circulatório enriquecido com oxigénio que irá garantir a exequibilidade de outras funções vitais. As células necessitam constantemente de oxigénio e, por isso, o ser humano realiza os movimentos respiratórios (inspirar e expirar) cerca de 20.000 vezes por dia. O processo das trocas gasosas ocorre a uma velocidade extraordinária. Esta deve-se a duas particularidades dos alvéolos: 1. As paredes alveolares só têm uma célula de espessura, algo como 0,0005 mm de largura, o que garante a fácil transposição do oxigénio contido no centro do alvéolo para o sangue com altos níveis de dióxido de carbono; 2. Existem 300 milhões de alvéolos em cada pulmão, que garantem uma extensão de 70 m2, na qual ocorre o enriquecimento do sangue. Os 206 ossos do corpo humano estão interligados entre si, através de um complexo esquema de articulações. A capacidade de realizar vários tipos de movimentos, como seja chutar, correr, agarrar um livro, está dependente das articulações existentes nos diferentes pontos do corpo humano. Existem seis tipos principais de articulações no corpo humano: 1. Articulação em pivô - o osso tem uma projecção que se encaixa na abertura do outro osso. As articulações em pivô garantem a exequibilidade dos movimentos de rotação. Pode ser encontrada no topo da coluna vertebral (entre a primeira e a segunda vértebras cervicais), sendo responsável pela capacidade de rodar a cabeça; ou no cotovelo.

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2. Articulação em sela - a extremidade de cada osso tem a forma de uma sela, assentando uma na outra por sobreposição, como se encaixassem dois U-U. Esta articulação garante movimentos em dois planos (vertical e lateral) a 360º. Só se encontram articulações em sela no ponto em que o polegar liga à mão. 3. Articulação elipsoidal - um osso com extremidade oval encaixa num osso cavo. As rotações limitadas em dois planos (vertical e lateral) são garantidas pela articulação elipsoidal. Existem articulações deste tipo no pulso. 4. Articulação esfera-em-taça - semelhante à articulação elipsoidal, nesta a extremidade esférica de um osso encaixa na extremidade em forma de taça de outro osso. É a articulação que permite maior liberdade de movimentos e pode encontrar-se na anca e nos ombros. 5. Articulação em charneira - um osso cilíndrico encaixa na superfície curva de outro osso. Permite apenas movimentos condicionados num plano (vertical ou lateral), como flectir ou endireitar. Encontramos este género de articulação nos joelhos e nos cotovelos. 6. Articulação plana (ou deslizante) - dois ossos com superfícies quase lisas contactam um com o outro. Os ossos unidos através de articulações em charneira permitem movimentos deslizantes lentos. Os ossos do tornozelo no pé e os ossos do pulso na mão são dois dos sítios onde existem articulações planas. Alargar limites... A descoberta do oxigénio Só no século XVIII é que o oxigénio foi descoberto, mas as investigações que permitiram as conclusões de Lavoisier começaram um século antes. Intrigado com as teorias de William Harvey sobre a necessidade do ar na vida de todos os animais, o físico inglês Robert Boyle (1627-1691) usou uma bomba de vácuo para testar a capacidade de sobrevivência dos animais em espaços sem oxigénio. Boyle concluiu que Harvey estava certo sobre a necessidade do ar na manutenção da vida orgânica. Um médico inglês John Mayow (1640-1679) refinou a experiência ao fechar um rato numa sala sem, contudo, aspirar o ar existente na mesma. Mayow verificou que o rato morria antes de ter usado todo o ar presente na sala, o que o levou a concluir que só uma parte do ar garantia a vida. A essa porção do ar, utilizada pelos seres vivos, o médico inglês chamou de espírito nitroaéreo. O químico francês Antoine Lavoisier (1743-1794) renomeou o espírito nitroaéreo de oxigénio e explicou que o corpo humano consumia oxigénio na inspiração e expelia dióxido de carbono, um gás nefasto, na expiração. Lavoisier acreditava que a respiração celular ocorria somente nos pulmões, mas o italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799) provou que o fenómeno ocorria em todo o corpo.

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○ O Corpo na História “No Mundo Antigo, os doentes acreditavam que as doenças eram enviadas pelos Deuses para os castigar.” Richard Walker

Entre o misticismo e o sagrado A prática da medicina na Antiguidade estava intimamente ligada com as crenças religiosas. O peso do misticismo era tão grande que na Assíria (sociedade que se desenvolveu junto ao rio Tigre, situado no actual Iraque) os sacerdotes assumiam também a função de médicos. Os médicos do Antigo Egipto estiveram entre os melhores da sua época no exercício da medicina, porque aproveitavam para estudar o corpo humano durante a prática sagrada do embalsamamento. Os medicamentos e os tratamentos eram aplicados ao mesmo tempo que se recitavam orações e fórmulas mágicas. Os gregos da Antiguidade acreditavam que existia, dentro do corpo humano, uma chama vital, que aquecia o sangue e nos mantinha vivos. A inspiração servia para controlar a intensidade da chama. A medicina grega foi a primeira a realizar diagnósticos e a manter registos regulares de pacientes. Os cientistas gregos conseguiram ainda identificar uma série de veias e nervos, através do estudo do corpo, durante as autópsias. O desenvolvimento da medicina romana deve muito às campanhas do seu exército. Os médicos militares aproveitavam os ferimentos para estudarem o corpo humano, acreditando que estas "janelas" para o corpo eram uma dádiva dos deuses. De todos os médicos romanos, Cláudio Galeno (130-200 d.C.) foi sem dúvida o mais influente. Os seus estudos de anatomia, realizados em animais para não violar a sacralidade do corpo humano, influenciaram a forma como se realizou medicina na Europa por mais de 1500 anos. De sagrado a objecto científico Muito influenciada pelas ideias de Galeno, a Igreja Católica proibiu autópsias nos corpos humanos durante vários séculos. Considerados obras divinas, os corpos não podiam ser profanados no post-mortem. Os estudos científicos eram feitos através de autópsias em porcos, pois continuou a defender-se a ideia de que os humanos e estes animais eram biologicamente semelhantes. O italiano André Vesálio foi um dos primeiros cientistas a romper a barreira do sagrado, ao autopsiar criminosos condenados para provar que muitas das suposições de Galeno estavam erradas. Também o médico suíço Philipp von Hohenheim (1493-1541) criticou as teses do médico romano. Depois de viajar por toda a Europa concluiu que a dieta alimentar e o meio ambiente eram factores a ter em conta no tratamento das enfermidades. Para choque de muitos dos seus pares, o médico suíço, que adoptou o nome de

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Paracelso, recusou-se a utilizar complicadas poções que misturavam várias plantas, em favor de infusões simples administradas em pequenas doses no paciente. O corpo como um sistema No mundo árabe, as teses de Cláudio Galeno começaram a perder fulgor logo no século XI. Para isso, contribuíram os estudos de Avicena da Pérsia (980-1037), que escreve o Cânone de Medicina, aprofundado no século XIII pelas teses do médico sírio Ibn an-Nafis, (morreu em 1288) que defendia, entre outras coisas, a ideia de circulação sanguínea. A medicina europeia, por seu lado, continuou a olhar para o corpo humano de forma compartimentada até ao século XVIII. No começo do século XVII, William Harvey publica o estudo De Motu Cordis (1628), no qual teoriza sobre a possibilidade do coração bombear sangue por todo o corpo, contrariando as teses de Galeno e a ideia de que o corpo humano produzia e consumia diariamente uma certa quantidade de sangue (que esteve na origem da prática das sangrias para curar as doenças). Todavia, a Igreja rejeita a sua teoria e Harvey acaba por ser desacreditado pelos seus pares. Só no século seguinte, a teoria do corpo como um sistema seria aceite pelos estudiosos de medicina. Beleza? Isso é beleza? Os cânones de beleza estão em constante alteração. Durante vários séculos, os homens das cortes europeias tendiam a ser gordos e entroncados, como forma de ostentação – a gordura era sinal de poder económico. A magreza era, muitas vezes, associada à servidão e às classes baixas. Até ao final do século XIX, a mulher surge retratada com formas arredondadas, muito associada à ideia de fertilidade que vinha desde a Pré-História. Muito embora nas sociedades contemporâneas a beleza e o nu femininos sejam mais valorizados, nem sempre foi assim. Os antigos gregos e os artistas do Renascimento italiano devotavam uma adoração especial ao corpo masculino. Nas cortes nórdicas, a beleza masculina era tão valorizada que, em pleno século XVII, a Rainha Cristina da Suécia (1626-1689) surge sempre retratada com trajes e poses masculinas. Alargar limites... O Renascimento e a revolução na Anatomia Um dos primeiros estudiosos de anatomia na Europa foi o multifacetado Leonardo Da Vinci (1452-1519). Curioso por natureza, Da Vinci dissecava os corpos, registando com desenhos minuciosos tudo o que observava. A sua faceta anatomista só se tornou conhecida do grande público com a descoberta dos seus desenhos no século XIX. A publicação da obra De Humanis Corporis Fabrica do médico italiano André Vesálio (1514-1564), em 1543, seria o prólogo de uma verdadeira revolução científica. Os mais de 300 desenhos feitos por Jan Stefan van Kalkar, pupilo do mestre veneziano Ticiano, e comentados em detalhe por Vesálio, corrigiram muitas das suposições de Cláudio Galeno e deram o impulso para o arranque do estudo da Anatomia como ciência. Os estudos de Vesálio foram prosseguidos por vários outros cientistas como Gabriel Falópio (1523-1562), que se especializara no estudo do sistema reprodutor feminino e descobriria os tubos que ligam os ovários ao útero, baptizando-os com o seu nome: trompas de Falópio. Também Bartolomeu Estáquio (1520-1574) deu continuidade aos estudos na área da Anatomia. Com a sua investigação, descobriu a forma como se encontram ligados a garganta e o ouvido: trompa de Estáquio.

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○ Redefinir Limites “Por mais que investigue ou estude descubro sempre coisas novas" Richard Walker

A invenção do microscópio, a partir da lente ampliadora do holandês Zazharias Janssen (1580-1638), revolucionou a medicina europeia no século XVII. Graças a este instrumento, o cientista inglês Robert Hooke (1635-1703) iniciou o importante estudo das células; o holandês Antoni van Leeuwenhoek (1632-1723) descobriu os espermatozóides, os glóbulos vermelhos e as bactérias; e o médico italiano Marcello Malpighi (1628-1694) revelou a existência de capilares sanguíneos, que unem veias e artérias, abrindo a porta à validação das teses de Harvey. Apenas no século XVII, a prática helénica dos diagnósticos cuidadosos torna-se comum entre os médicos europeus. O médico inglês Thomas Sydenham (1624-1689) foi um dos primeiros entusiastas, tendo ganho fama pela forma rigorosa como descrevia as doenças e pela prescrição cuidada de remédios específicos, consoante o caso de cada paciente. Só nos finais do século XVII, princípios do século XVIII, a cirurgia se tornou uma ciência autónoma da anatomia. Um grande contributo para esse facto partiu do trabalho dos irmãos John Hunter (1728-1793) e William Hunter (1718-1783). No século XIX, Louis Pasteur (1822-1895) e Robert Koch (1843-1910) descobrem os micróbios. Pasteur começou por estudar o efeito dos micróbios no vinho e no leite, observando depois os seus efeitos nas doenças dos bichos-da-seda, animais domésticos, sendo que só no final aplicou as suas ideias aos seres humanos. Koch provou que cada doença infecciosa era causada por um microrganismo diferente. A utilização medicinal dos microrganismos causadores das doenças, tese defendida por Koch, permitiu que se encontrasse a cura de doenças como a tuberculose (1882), a cólera (1884) e a malária. Na Hungria, Ignaz Semmelweis (1818-1865) aumentou em mais de 50% a taxa de sucesso das cirurgias, ao tornar obrigatória a lavagem regular das mãos por todo o pessoal médico e ao introduzir a prática continuada do uso de anti-sépticos no decurso e no pós-operatório. Em 1865, Joseph Lister (1827-1912) começa a pulverizar os seus utensílios com ácido carbólico para matar os micróbios. Durante as cirurgias, encarregava um assistente de ir pulverizando o ar com este ácido, aumentando assim as hipóteses dos doentes sobreviverem. O médico dentista norte-americano William Morton (1819-1868) introduz, em 1846, a prática do uso de anestésicos. Em 1895, Wilhelm Roentgen (1845-1923) descobriu os raios X e defendeu a sua utilização para detectar objectos no interior do corpo humano de forma não invasiva. Estava dado o prólogo para um século de mudanças colossais. Nunca a medicina mundial evoluiu tão rapidamente como durante o século XX. Em 1910, Paul Ehrich

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(1845-1915) descobre o salvarsan, componente capaz de curar a perigosa sífilis, que na época matava milhares de pessoas por ano. A descoberta da penicilina, em 1928, por Alexander Fleming (1885-1955), salvaria milhões de vidas, sendo, por isso, considerada a descoberta química do século. Este antibiótico, derivado de um fungo do pão (penicillium chrysogenum), permitiu actuar ao nível da prevenção de doenças, através da criação de medicamentos mais eficazes. Nos dias de hoje, existem outras formas de tratamento não invasivo, direccionados ao tratamento de doenças específicas como a quimioterapia e a radioterapia. Quando a medicina preventiva não é suficiente, pode recorrer-se à medicina invasiva. O tratamento de certas doenças do corpo humano, através do recurso a transplantes, tem evoluído muito nos últimos anos. Actualmente, é possível viver com uma prótese artificial de um órgão vital, como seja o coração, até ser encontrado um dador compatível. Em Portugal, a primeira transplantação de órgãos em Portugal aconteceu a 20 de Julho de 1969, no Hospital da Universidade de Coimbra. A equipa médica realizou um transplante de rim com dador vivo. Alargar limites... Na rota dos micróbios Após as descobertas de Pasteur e Koch, começou uma vaga de investigações no campo da microbiologia. Os micróbios tornaram-se o centro das atenções de uma parte da comunidade científica, tendo-se descoberto os agentes responsáveis por doenças como difteria, lepra ou o tétano. O modo de transmissão das doenças também foi analisado, levando a concluir que cada micróbio tinha o seu modus operandis (transmissão via oral, transmissão via aérea, transmissão por contacto directo, entre outros). Neste período fértil em avanços científicos, o médico francês Charles Laveran (1845-1922) consegue identificar o organismo responsável pela malária: o plasmodium. Ronald Ross (1857-1932) descobre o agente responsável pela transmissão por esta mesma doença, em 1897: o mosquito Anopheles. Três anos mais tarde, James Carroll (1854-1907), membro de uma equipa de investigadores liderada pelo norte-americano Walter Reed (1851-1902), descobre, em Cuba, o mosquito responsável pela transmissão da febre-amarela, o Aëdes Aegypti.

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○ Uma Máquina Maravilhosa “Na sua arrogância, o homem considera-se a si próprio uma obra grandiosa, merecedora da intervenção de uma divindade. Outros mais humildes e eu julgamos ser verdade que ele foi criado a partir de animais.” Charles Darwin

Para lá de heróico… Os atletas paraolímpicos são o melhor exemplo de que o limite está na nossa vontade. Em determinadas situações, o corpo humano cria mecanismos de compensação, de forma a superar as limitações a que se vê sujeito. É por essa razão que um invisual apura os sentidos da audição e do tacto. A sobrevalorização que é dada ao sentido da visão leva, progressivamente, a uma redução na capacidade de interpretação de estímulos extra-visuais. Se taparmos os olhos e tentarmos sair de uma sala, serão sentidas dificuldades ao nível da orientação espacial e da noção de perto e longe. O corpo humano pode igualmente redefinir os seus limites, se treinarmos de forma persistente. Por exemplo, a rede neuronal é influenciada pela prática continuada de várias actividades, criando neurónios suplementares que ajudam a aprimorar a actividade em causa. É por isso que o treino leva ao aperfeiçoamento de capacidades. Prova da conjugação entre treino, força de vontade e vencer limites são os jogos paraolímpicos de 2008, em Pequim, nos quais foram batidos uns impressionantes 339 recordes. Podem competir nos jogos paraolímpicos atletas com deficiências físicas, mentais ou sensoriais. A primeira competição paraolímpica aconteceu em Roma, em 1960, na qual participaram 23 nações. Em 1976, na cidade sueca de Örnsköldsvik, teve lugar a primeira versão dos jogos paraolímpicos de inverno, com 16 nações em competição. Na última competição paraolímpica de Verão (Pequim, 2008), 146 países enviaram cerca de 4000 atletas para competirem pelas 472 medalhas de ouro possíveis. Portugal participou, pela primeira vez, em 1972, nos paraolímpicos de Heidelberg (Alemanha). A revolução do 25 de Abril forçou a um interregno de 12 anos. Portugal regressaria às competições paraolímpicas no Verão de 1984, em Nova Iorque, tendo conquistado 15 medalhas. Em 2008, foram conquistadas em Pequim 7 medalhas (1 de ouro, 4 de prata e 2 de bronze). Portugal nunca participou nos jogos paraolímpicos de Inverno.

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A capacidade de sobrevivência do ser humano é das mais extraordinárias. A 18 de Novembro de 2009, foram salvos pela marinha norte-americana, junto da ilha de Nauru, sete homens que estavam à deriva há dois meses. Nick Sales, um dos sobreviventes, explicou que bebiam água da chuva e comiam restos de madeira humedecida e cocos que encontravam à deriva. Em virtude da dieta dos náufragos, o suco gástrico tornou-se mais corrosivo. A sobrevivência dos náufragos deveu-se também ao facto de em situações de insuficiência alimentar, o corpo humano utilizar as reservas de gordura acumuladas como fonte de energia. Dois dos homens morreram antes de chegar ao hospital, poucas horas após terem sido resgatados. O ser humano pode aguentar, em média, entre 4 a 6 semanas sem comida, ainda que necessite de consumir água. Se não encontrar água, o corpo reduz a capacidade de sobrevivência para um máximo de 10 dias. Em situações extremas, apura os sentidos – através de um aumento exponencial dos níveis de adrenalina – de forma a garantir a sobrevivência. Para que os sentidos se mantenham aguçados, os estados de vigília são reduzidos o que, a médio prazo, conduz a estados de irritabilidade, stress e depressão. Rom Houben também desafiou os limites do corpo humano. Em 2006, o belga, que sofrera um acidente de carro em 1983, acordou de um coma de 23 anos. Segundo alguns especialistas, Houben terá estado consciente durante todos estes anos, incapaz de comunicar com o mundo. Três semanas após o violento tsunami de 2005, que devastou o sudeste asiático, Martunis foi resgatado pelas equipas de salvamento. O menino de 7 anos, que usava a camisa da selecção nacional portuguesa, conseguiu sobreviver sozinho durante três semanas, alimentando-se de tudo o que o mar ia deixando na costa e bebendo água de poças lamacentas. A exposição ao frio que Martunis sofreu nessas três semanas, levou o seu corpo a criar mecanismos de compensação. Quando sujeito a temperaturas frias a circulação sanguínea diminui e os vasos sanguíneos contraem-se, o que implica uma redução da quantidade de sangue em circulação. Assim, quando sujeito a temperaturas frias durante um longo período, sentirás mais vontade de urinar, de forma a reduzir a quantidade de fluidos a circularem no corpo. Alargar limites... A Fórmula Humana Os elementos que compõem o ser humano não são dissimilares dos que compõem outros seres vivos como pulgas, macacos, baleias, tigres. Existem 13 elementos químicos que estão presentes na composição humana: 1. 65% de oxigénio [equivalente a cerca de 33kg]; 2. 18% de carbono [equivalente a cerca de 9kg]; 3. 10% de hidrogénio [equivalente a cerca de 5kg]; 4. 3% de nitrogénio [equivalente a cerca de 1,5kg]; 5. 1,6% de cálcio [equivalente a cerca de 800g]; 6. 1% de fósforo [equivalente a cerca de 500g]; 7. 0,35% de potássio [equivalente a cerca de 180g]; 8. 0,25% de enxofre [equivalente a cerca de 130g]; 9. 0,15% de cloro [equivalente a cerca de 80g]; 10. 0,15% de sódio [equivalente a cerca de 80g]; 11. 0,05 de magnésio [equivalente a cerca de 25g]; 12. 0,008% de ferro [equivalente a cerca de 4g]; 13. 0,00004% de iodo [equivalente a cerca de 0,02g].

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○ Homem vs Animal “Uma inteligência poderosa e a capacidade analisar, comunicar e registar conferem aos seres humanos uma posição única no mundo vivo.” Richard Walker

Comparar humanos e animais é uma boa forma de entendermos a capacidade de evolução permanente do corpo humano, mas é igualmente um exercício conceptual arriscado. O ser humano é seguramente um dos animais com maior capacidade de adaptação em todo o planeta, mas inegavelmente somos vencidos em muitas áreas pelas outras espécies com quem partilhamos o planeta Terra. A saudável competição entre o Homem e a Natureza permite vencer limites e redesenhar barreiras. Um pequeno grande salto 7,52 metros é o recorde mundial do salto em comprimento feminino. Esta marca, alcançada nos Jogos Olímpicos de Seoul (na Coreia do Sul), em 1988, por Galina Chistyakova (atleta da ex-URSS), não bate o recorde estabelecido pela pulga. Estes parasitas, que medem entre 1,5 a 3 mm, conseguem saltar até… 1 metro! Ora, se uma pulga fosse aumentada até ao tamanho de um ser humano seria capaz de atravessar um campo de futebol (105 metros!) num único salto. Vai um mergulho? O oxigénio é o componente básico da vida humana, sem o qual a capacidade de sobrevivência se reduz a escassos segundos. Embora exista oxigénio na água, os seres humanos, como todos os mamíferos marinhos, não são capazes de o filtrar, precisando por isso de respirar à superfície. A mulher que protagonizou o mergulho mais longo registado foi Karoline Meyer, com a marca de 18 minutos e 32 segundos, tempo mais do que suficiente para vencer os cerca de 10 minutos que os roazes-corvineiros (golfinho comum) aguentam sem vir à superfície. Apanha-me se conseguires Nunca um atleta levou o seu corpo tão ao extremo como o jamaicano Usain Bolt. O maior velocista de sempre (de acordo com os registos disponíveis) foi capaz de percorrer a distância de 100 metros em 9,58 segundos, no Campeonato Mundial de Atletismo de Berlim, em 2009. A impressionante velocidade de Bolt não chega, contudo, para bater a chita que, em apenas 2 segundos, percorre mais de 70 metros e em 3 segundos ultrapassa a velocidade de 100 km por hora.

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Serão as formigas são mais fortes que o ser humano? É verdade que a formiga pode levantar pesos com um volume cinco vezes superior ao peso do seu corpo e o que o homem apenas consegue levantar pesos correspondentes a 1,5 vezes o seu peso. Mas se a formiga fosse aumentada 350 vezes (para ficar com o tamanho e peso do ser humano), a força da gravidade diminuiria a sua força de 500% para 2%. Já o homem, se fosse reduzido ao tamanho da formiga, conseguiria levantar 175 vezes o seu próprio peso! Fazer (muito) barulho O osso hióide é um dos responsáveis pela capacidade humana de vocalizar. Além de comunicar e expressar o que pensa e sente, o ser humano sente, por vezes, a necessidade de gritar... A 6 de Setembro de 2009, o Livro de Records do Guiness registou o grupo mais barulhento numa exposição em Hong Kong, em que as máquinas de medição de som atingiram níveis superiores a 130 decibéis. Um nível impressionante, mas incapaz de vencer o grito de apenas uma baleia azul. O maior mamífero do planeta é capaz de gritar com uma intensidade de 188 decibéis, usando o grito como forma de comunicação e socialização. Avó das avós A esperança média de vida de um ser humano ronda, actualmente, os 67 anos, segundo dados de uma projecção da ONU para 2005-2010. Um ciclo de vida muito superior aos 25-30 dias que vivem as moscas domésticas (musca domestica). Só que neste capítulo, a rainha da longevidade é a tartaruga das Ilhas Galápagos que, em média, vive 150 anos. Há, inclusive, registo de uma tartaruga no jardim zoológico de Queensland (Austrália) ter vivido 170 anos. Alargar limites... No rasto da raça Humana Os seres humanos partilham a sua ascendência com várias espécies de macacos e com os lémures. A separação das espécies começou há cerca de 6 milhões de anos, com o aparecimento do Proconsul Africanus. A capacidade de andar sobre duas patas, todavia, surge apenas com os Australopitecos, cerca de 3 milhões de anos depois de surgir o Proconsul. Seria preciso passar mais 1 milhão de anos para surgir o Homo Habilis, considerado o primeiro "Homem". O seu nome científico significa homem habilidoso e deve-se à sua capacidade de criar e usar armas simples, utilizando os elementos naturais de que dispunha. O Homo Habilis evoluiu para Homo Erectus e expandiu-se de África para a Ásia e para a Europa. A partir desse momento, o homem começava o percurso para se tornar a espécie dominante no planeta.

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○ Cérebro “O teu cérebro é o órgão mais complexo do mundo vivo. Os seus biliões de neurónios interligados formam uma rede de processamento maciça que controla as actividades corporais e dá-te a capacidade de pensar.” Robert Winston

Capitão de Equipa Se pensarmos no corpo humano como uma equipa, então o cérebro será o capitão. O órgão mais complexo do corpo humano é o responsável pela coordenação profícua dos vários sistemas, pela recepção – descodificação – resposta a estímulos externos, pela formulação de necessidades e pela gestão do equilíbrio no funcionamento do corpo, utilizando uma rede composta por mais de 100 mil milhões de neurónios. O corpo e o cérebro interagem de duas formas: pelo sistema nervoso, através da rede sináptica (impulsos nervosos); e pelo sistema sanguíneo, através do envio de mensagens neuroquímicas no sangue para outros órgãos (hormonas). O cérebro humano é capaz de processar e arquivar quantidades de informação colossais. A memória funciona em três níveis: 1. Curto-prazo, armazenando estímulos que se repetem regularmente durante escassos minutos; 2. Médio-prazo, em que os estímulos ficam armazenados durante alguns dias; 3. Longo-prazo, em que ocorre um armazenamento de informação que pode permanecer durante anos. A memória de longo-prazo é divisível em três grupos distintos: 1. Memória processual - retém informação adquirida por processos de aprendizagem continuada (como seja, aprender a andar de patins); 2. Memória semântica - retém dados ligados ao domínio dos significados e da relação símbolo - sentido (relaciona as palavras com a paleta de possíveis sentidos); 3. Memória episódica - regista acontecimentos factuais (é a memória que regista a pergunta o que aconteceu?) O cérebro humano compõe 85% do encéfalo e, apesar de representar somente 2% do peso total do corpo, consome um quinto de todo o oxigénio inspirado diariamente. Pode ser dividido em dois hemisférios – o Direito, que domina o lado artístico e o emocional, e o Esquerdo, que domina a lógica e o racional - e em quatro lobos – Parietal, Occipital, Frontal e Temporal - com funções interdependentes e mutáveis ao longo dos anos.

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Pensar a máquina Pensante Um dos maiores neurologistas do mundo fala português. António Damásio defende a teoria de que o cérebro funciona de acordo com duas dinâmicas: especialização e interdependência. As várias regiões do cérebro especializam-se em funções concretas, não implicando uma independência na realização das funções, mas somente uma autonomia relativa. E porquê? Para Damásio, a resposta é simples: se o cérebro sofrer lesões numa região, o esquema de interdependência permite que as funções da região afectada sejam parcialmente assumidas por outras partes deste órgão. No estudo da potenciação do uso das ondas cerebrais para mover mecanismos artificiais, encontramos outro cientista português: José Carlos Príncipe. O cientista integra uma equipa da Universidade da Florida que tem desenvolvido próteses mecânicas que permitam devolver alguma autonomia a deficientes motores. Alargar limites... Sono Os cientistas ainda não chegaram a um consenso sobre a razão pela qual dormimos, mas a explicação que reúne maior aceitação na comunidade científica é a de que durante o sono o corpo pode levar a cabo uma série de tarefas de reparação e restauro interno, sem ser perturbada pela cadência constante de estímulos externos a que somos sujeitos durante as horas em que estamos acordados. Desta forma, o sono permite economizar energias e facilita a realização de tarefas como a de armazenamento da memória de longo-prazo no cérebro. O sono é divisível em cinco estágios: 1.º Sono profundo – o corpo está relaxado, mas a pessoa acorda com relativa facilidade; 2.º Sono profundo – o corpo relaxa mais e acordar torna-se mais complicado; 3.º Sono profundo – a principal alteração é a redução dos sinais vitais como a respiração, a temperatura e o ritmo cardíaco; 4.º Sono profundo - os sinais vitais reduzem-se todos ao mínimo e o despertar torna-se muito mais difícil; 5.º Sono leve - aumento dos sinais vitais, com a manutenção da inibição dos músculos esqueléticos. É neste estágio que podem ocorrer sonhos.

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Actividades (Ponto de Partida) Conhecer os limites do corpo é essencial para garantir uma maior qualidade de vida e para se aprender a respeitar os vários ecossistemas que rodeiam o ser humano. A evolução do Homem assentou numa relação de grande ambiguidade com a Natureza: umas vezes, potenciando os seus recursos; outras, (des)gastando-os de forma quase irremediável. Redesenhar limites – ou mesmo impor alguns – é, por isso, um dos grandes desafios que se têm levantado e para o qual têm sido propostas diversas soluções. Quais são então os limites do Corpo Humano? E o que são Limites? Utilize estas perguntas como o ponto de partida para a exploração e desenvolvimento das actividades em baixo propostas com os seus alunos. A resposta a estas questões poderá conduzir à formulação de muitas outras, tais como:

• Quais os meus limites? • Qual o papel do Homem no planeta Terra? E responsabilidade? • O que se entende por evolução? • O ser humano é melhor, pior, ou apenas diferente das outras espécies? • Porque evoluiu a forma de nos olharmos uns aos outros? • O que são fenómenos microscópicos? • Existem regras na forma como posso usar o meu corpo? • Qual o papel do cérebro na construção da Identidade?

3.ºCiclo - Educação física Em busca da glória olímpica perdida... Os Jogos Olímpicos são o espelho mais visível de como o ser humano bate recordes e redesenha barreiras a todo o instante. Mas os Jogos Olímpicos encontram-se também eles em constante mutação. Modalidades que hoje em dia merecem a glória mundial, transformam-se em meras memórias e outros desportos ascendem a novos patamares de reconhecimento global. ! Proponha aos seus alunos que realizem uma pesquisa e descubram três modalidades desportivas que já tenham sido olímpicas. Num pequeno texto deverão apresentar as principais razões que levaram ao término daquele desporto, enquanto modalidade olímpica, e quatro argumentos pelos quais a modalidade deveria voltar a ser promovida. Quem vais desafiar? A natureza oferece milhares de oportunidades para nos compararmos e para nos superarmos. Aprendemos pela observação científica, mas também pela capacidade de quereremos chegar mais longe. No Limite, não existe nada que não se consiga fazer. ! Proponha aos seus alunos que, em grupos, "desafiem" um animal há sua escolha e que mostrem que conseguem ser melhores (ou não) do que o animal seleccionado. Os alunos terão que realizar uma pesquisa inicial sobre as características do mesmo (nome, tamanho, peso, coloração, etc.), bem como das capacidades do animal em análise (velocidade que atinge, registo de salto em altura, níveis de força, entre outros). Deverão repetir este processo em relação a si próprios. Realizada a pesquisa, os alunos deverão apresentar as suas conclusões aos restantes colegas.

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3.ºCiclo - Ciências da Natureza O cirurgião-inventor A complexidade do corpo humano é extraordinária. Para que se tenha uma vida saudável é necessário que todos os órgãos e componentes dos vários sistemas funcionem proficuamente. Não raras vezes, o mau funcionamento de um órgão ameaça a integridade de todo o corpo humano... ! Tendo como base a informação sobre os vários sistemas do corpo humano, desafie os seus alunos a pesquisarem sobre as características e funções de três órgãos do corpo humano e a pensarem em objectos do quotidiano que os pudessem substituir, caso estes funcionassem deficitariamente. Por exemplo, com o que se parece o interior dos ossos? Favos de mel ou arame? E os pulmões? São mais parecidos com um saco de plástico ou com uma esponja? Eco-parlamento! O ser humano é a espécie dominante no planeta. Esse facto incute-nos uma grande responsabilidade: a preservação do planeta Terra, bem como o respeito pela biodiversidade. ! Tendo como ponto de partida o painel Homem vs Natureza, proponha aos seus alunos um debate sobre a relação do Homem com a Natureza. Para dar maior dinâmica à realização da actividade, simule um parlamento e divida a turma em três grupos: o Partido do Homem; o Partido da Natureza e o Partido dos Ainda-Sem-Opinião. Cada grupo deverá apresentar em quinze minutos o seu ponto de vista sobre o tema aos restantes colegas e, no final das apresentações, deverá existir espaço para debate e conclusões. 3.ºCiclo - Educação Visual O que dizem os espelhos? A beleza é uma das principais preocupações dos adolescentes. Mas a noção de beleza é mutável e tem sofrido alterações permanentes, que a Arte tem registado. A pintura é um dos arquivos históricos mais impressionantes da evolução do conceito de beleza. ! Tendo como base a informação sobre Beleza contida no painel O Corpo na História, desafie os seus alunos a pesquisarem sobre as diferentes referências estéticas encontradas na História de Arte. De seguida, divida a turma em grupos de dois e proponha que cada um crie um novo conceito do Belo. No final, deverão apresentar aos restantes colegas um desenho/pintura do conceito desenvolvido, bem como um pequeno texto que o justifique. 3.ºCiclo - História Pensar na História da Saúde e do Bem-Estar A evolução do corpo humano ao longo da História é o resultado directo das várias descobertas que têm sido feitas no campo da medicina. A curiosidade humana é o motor da constante redefinição dos limites da longevidade e da qualidade da vida humana. ! Tendo como ponto de partida o painel O Corpo na História, proponha aos seus alunos a concepção de uma exposição subordinada ao tema “ A História da Saúde e do Bem-Estar”. Para tal, divida a turma em três grupos, aos quais deverá atribuir a responsabilidade de pesquisa de informação sobre cada um dos seguintes períodos históricos: Pré-História; Idade Média; Idade Moderna. Cada grupo deverá apresentar o resultado da sua pesquisa em duas cartolinas, que deverão juntar às dos restantes colegas. No final, poderão exibir a sua exposição no átrio da escola.

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Secundário - Educação Física Eu (também) consigo! O corpo humano é capaz de se adaptar a inúmeros desafios. Uma limitação física não deve ser entendida como um problema, mas como uma oportunidade para explorar uma nova paleta de vivências. No Limite, está em nós a capacidade para nos superarmos diariamente. ! Partindo da informação sobre os jogos paraolímpicos contida no painel Uma Máquina Maravilhosa, proponha aos seus alunos a realização de um torneio de voleibol com uma regra diferente: os jogadores estarão sentados no chão e terão que se mover com recurso ao impulso dado pelos braços. Divida a turma em equipas de seis alunos e desconte 1 ponto de cada vez que algum jogador se levantar para ir em direcção à bola. Sugira que registem as suas conclusões num pequeno texto a apresentar a turma. Os meus Limites O ser humano regista as informações sobre a evolução da espécie em valores médios, mas, na verdade, existe uma grande diversidade de padrões de comportamento evolutivo. Nem todos corremos há mesmo velocidade e nem todos nadamos ao mesmo ritmo… Até que ponto nos conhecemos? ! Proponha aos seus alunos o seguinte desafio: numa folha de papel, deverão criar uma grelha, na qual registarão os valores (em tempo e proficuidade) do seu desempenho na realização de actividades físicas simples (resistência, velocidade, destreza motora, etc.). De seguida, divida a turma em grupos de dois. Cada aluno deverá realizar as actividades propostas, enquanto que o colega anotará o tempo dispendido, com o auxílio de um cronómetro, em cada uma. No final, deverão comparar os resultados obtidos e verificar se existem diferenças entre os valores inicialmente anotados e os que foram registados pelos colegas no desempenho real de cada uma das actividades. Secundário - Biologia Explorar (em português) o cérebro O cérebro é o órgão mais importante do corpo humano, pois garante o funcionamento de todos os outros. A sua impressionante complexidade tem sido um desafio para os cientistas, como António Damásio, que diariamente tentam perceber melhor como funciona o líder do corpo humano. ! Proponha aos seus alunos que, em grupos de quatro, investiguem sobre a teoria do cientista António Damásio sobre Interdependência e Espacialização das actividades cerebrais e que redigam um texto onde apresentem os prós e contras da teoria em causa. No final, poderão realizar um debate, no qual cada grupo apresenta as principais conclusões. Nos limites da sobrevivência Todos os animais em situações de perigo extremo activam uma série de mecanismos que garantem a sua sobrevivência e o homem não é excepção. ! Tendo como ponto de partida alguns dos relatos de sobrevivência do ser humano presentes na exposição, desafie os seus alunos a investigarem na Natureza mecanismos de sobrevivência da espécie animal. A pesquisa pode ser orientada por conceitos como:

• Adaptação; • Resistência; • Sobrevivência; • Astúcia.

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Secundário - Psicologia Saber quem sou O cérebro é o repositório de informações do corpo e, ao contrário do que se pensou durante séculos, o responsável pela fruição de sentimentos e formação da identidade. A formação da identidade é um processo complexo e fascinante, repleto de riscos e desafios. ! Proponha aos seus alunos que debatam o conceito de identidade e a sua evolução, através do uso das várias formas de memória. No decorrer do debate, introduza questões ligadas aos distúrbios de personalidade e problemas no armazenamento e descodificação de memórias. Secundário - Filosofia Para uma ética do corpo humano Em nome da Ciência, da Evolução, da Tradição ou simplesmente da Beleza, o corpo humano é usado de múltiplas formas – como meio, suporte ou instrumento – sem que, na maioria das vezes, pensemos no porquê desta utilização. ! Proponha aos seus alunos a realização de um fórum de debate, no qual serão discutidas questões relacionadas com a ética do corpo humano. No final das discussões, desafie os seus alunos a criarem um documento onde fiquem registados os princípios éticos ligados ao corpo humano defendidos pela turma.

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Fontes de Documentação Websites PT Anatomia Humana

http://www.anatomiaonline.com/

Webciência.com - Corpo Humano

http://www.webciencia.com/

Instituto Camões - Actividades sobre o corpo humano

http://cvc.instituto-camoes.pt/temas/corpohumano/corpohumano.html

ING Innerbody - Your Guide to Human Anatomy on-line

http://www.innerbody.com/htm/body.html

Kid Info

http://www.kidinfo.com/Health/Human_Body.html

BBC - Science and Nature - Human Body and Mind

http://www.bbc.co.uk/science/humanbody/

Livros Damásio, António (1995). O Erro de Descartes – Emoção, Razão e Cérebro Humano. Mem Martins: Publicações Europa-América. Eccles, John (1989). A Evolução do Cérebro – A criação do Eu. Traduzido do inglês por Manuela Cardoso. Lisboa: Instituto Piaget. Eco, Umberto (2009). História da Beleza (Trad. Maria Luísa Rodrigues de Freitas). Lisboa: Edições Difel. Edelman, Gerald (1992). Biologia da Consciência – As raízes do pensamento (Trad. Jorge Domingues Nogueira). Lisboa: Instituto Piaget. Walker, Richards (2002). Enciclopédia do Corpo Humano (Trad. Sofia Gomes). Porto: Civilização Editores. Winston, Robert (2005). Corpo Humano (Trad. Madalena Pina). Porto: Civilização Editores. Winston, Robert (2004). Porque sou o que sou? (Trad. Maria José Barbosa). Porto: Civilização Editores.