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Culturas de Escola e Lideranças Pedagógicas

Leonor L. TorresCIEd, Universidade do Minho

Roteiro pedagógico

IConceção de

cultura organizacional

IIComo nasce e desenvolve a

cultura organizacional

IIICultura e liderança escolar

IVOs Diretores

em ação

© Leonor L. Torres, 2019

I – Conceção de cultura organizacional

“Havia um grande lago onde vivia toda uma comunidade de peixes. O dia normal desta comunidade decorria sempre com calma, sem grandes sobressaltos.

Num dia, contudo, um novo peixe vermelho apareceu no lago. O peixe vermelho tentou por várias vezes abordar alguns peixes mas teve algumas dificuldades. Também não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos. Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si toda a alimentação e ocupavam, todos os lugares consagrados ao descanso.

O peixinho vermelho era visto, em correria constante, perseguido por outros peixes ou atormentado de fome.”

“Depois de muito tempo, à custa de longas horas sem que nada corresse bem, encontrou o peixe Frederico que ao vê-lo em apuros foi em seu auxílio e começou por explicar-lhe as melhores formas de conseguir alimento, como fugir dos peixes grandes e até lhe explicou as melhores maneiras de escapar a alguns pescadores.

Depois de vários dias a seguir as indicações do peixe Frederico começou a ver melhoras e até já era aceite por alguns peixes da comunidade. Ao fim de algum tempo já conseguia perceber todos os mecanismos e rotinas destes peixes e conseguiu assim inserir-se na comunidade muito mais facilmente acabando por ser aceite por todos.”

Cultura Organizacional

“ É um padrão de pressupostos inventado, descoberto ou desenvolvido por um dado grupo, à medida que foi aprendendo a lidar com os seus problemas de adaptação externa e de integração interna, que funcionou suficientemente bem para ser considerado como válido e, portanto, ser ensinado aos novos membros como o modo correcto de percepcionar, pensar e sentir, relativamente a esses problemas”

Edgar Schein (1985)

Elementos da cultura organizacional:

Manifestaçõesvisíveis Þ

Pressupostos invisíveis: Þ

valores, crenças, ideologias

CLIMA

CULTURA


BASES CONCEPTUAIS E PRESSUPOSTOS INVISÍVEIS

Valores, Crenças e Ideologias

MANIFESTAÇÕES VISUAIS E SIMBÓLICASArquitectura e equipamentos

Artefactos e logotiposLemas e divisas

UniformesImagem exterior

ELEMENTOS DA CULTURA ORGANIZACIONAL

MANIFESTAÇÕES VERBAIS E

CONCEPTUAISFins e objectivos

CurrículoLinguagemMetáforas

“Histórias”“herois”

Estruturas

MANIFESTAÇÕES COMPORTAMENTAIS

RituaisCerimónias

Ensino e aprendizagemNormas e regulamentos

Procedimentos operacionais

Interacção com a comunidade

Interacção com a comunidade

Retirado de António Nóvoa (Coord.) (1992). As Organizações Escolares em Análise. Lisboa: Publicações Dom Quixote, p. 30.

II - Como nasce e desenvolve a cultura organizacional?

Focalização 1

1) Cultura como variável externa e independente


Focalização 2 1) Cultura como variável interna e dependente


Focalização 31) Cultura como

metáfora


Espaços e tempos na construção da cultura organizacional da escola

Órgãos de gestão: AE, CE, CP, DC, … / Sala de aula

Sala dos professores, espaços de convívio e sociabilidade

Aprendizagens sociais desenvolvidas fora da escola (família, amigos, associações diversas)

Orientações Normativas: AC, AD, AL

Estrutura/formal

Acção/informal

Fact. EndógenosDentro/interior

Fact. ExógenosFora/exterior


Estrutura/Formal

Acção/Informal

Factores endógenosDentro/interior

CULTURA ORGANIZACIONAL

DA ESCOLA

Figura IV. 7Processo de construção da cultura organizacional da escola

Factores ExógenosFora/Exterior

variáveis sociais

1

23

4


Estrutura/Formal

Acção/Informal

Dentro/Interior

Fora/Exterior

Dim. organizacionais

Dim. de sociabilidade

Dim. políticas Dim.

profissionais

Dim. sociaisDim.

comunitárias

Estrutura/Formal

Acção/Informal

Dentro/Interior

Fora/Exterior



Dim. políticas Dim. profissionais

Dim. sociaisDim. comunitárias

Estrutura/Formal

Acção/Informal

Dentro/Interior

Fora/Exterior





Estrutura/Formal

Acção/Informal

Dentro/InteriorFora/

Exterior



Dim. políticas Dim.

profissionais

Dim. sociaisDim.

comunitárias

Período anterior ao 25 de Abril de 1974 Período revolucionário

Período da normalização Período da Reforma educativa

Estrutura/Formal

Acção/Informal

Dentro/InteriorFora/

Exterior





Período pós-reformista


III – Cultura e liderança escolar

Em síntese

• Cultura organizacional: Valores, ideologias, crenças e visões do mundo consideradas pelos membros de uma determinada organização como referenciais da sua acção quotidiana. A cultura é um processo de construção permanente (dinamismo) e simultaneamente um padrão estabilizado de regularidades (perenidade) que se vão sedimentando e depositando na memória identitária da organização.

• A cultura da organização reflecte as especificidades inerentes à própria natureza da organização. Logo, quando falamos de cultura organizacional empresarial, associativa, hospitalar, escolar..., é importante atender à natureza e tipo da organização.

• Os processos de liderança reflectem as especificidades culturais da organização e, simultaneamente, agem sobre as suas dinâmicas.


ADM. LOCALMunicípio

CMESede

Agrupamento

“Boas práticas” com vista à

produção de resultados

Sindicatos, associações

profissionais, centros de formação

ADM. REGIONALOrientações políticas de

âmbito regional e periférico

ADM. CENTRAL

Orientações Políticas de âmbito nacional e global

Relações com a comunidade

local

Relações com contextos de

educação não-formal

Relações com pais e

encarregados de educação

Relações com interesses

económicos, sociais e artísticos

Relações com a autarquia

Contexto social e cultural

FORA

POLÍTICO

FORA

COMUNITÁRIO

A escola como “entreposto cultural” (Torres, 2004)


Liderança sob três contingências

Administração Central

Contexto local

ESCOLA

Liderança por referência às orientações centrais

Liderança por referência às especificidades da comunidade local

Liderança por referência à cultura organizacional da escola


Como se manifesta a cultura nas organizações?

I – Cultura integradora:(Coesão, partilha, harmonia, identidade)

• Tipo de liderança

• Líder como gestor de sentidos• Líder como manipulador da cultura

• Liderança transformacional• Liderança carismática• Liderança visionária

• Líder = “profeta”, “poeta”, “negociador”, “encenador”, “herói” (Deal, 1992)

A B C D E

Base

Topo

Médio


• II – Cultura diferenciadora• (diferenciação, subculturas em conflito) • Tipo de liderança

• Liderança centrada nas equipas (culto do grupo)

• Lideranças intermédias como centros de contra-poder

• Lideranças incertas e conflituosas• Lideranças competitivas e performativas

A B C D E

Topo

Médio

Base


• III– Cultura fragmentadora• (ambiguidade, desconexão, confusão) • Tipo de liderança

• Liderança dispersa, incerta, irracional• Auto-liderança• Lideranças informais dissipadas pela

organização• Liderança ≠ gestão• Liderança ≠ autoridade• Lideranças e líderes (no plural)

A B C D E

Base

Topo

Médio


A liderança educativa e pedagógica

• A escola não é só:

• uma organização democrática, mas um espaço onde as práticas de democracia são objetivo da sua acção;

• uma escola justa, mas um espaço onde deve ocorrer uma pedagogia da justiça;• uma organização aprendente, mas um espaço onde se pratica uma pedagogia da

aprendizagem;• uma escola autónoma, mas um espaço onde se desenvolve uma pedagogia da

autonomia

• LIDERANÇAS PLURAIS EM ESCOLAS SINGULARES


Qual a missão estratégica da escola pública?

Tendo como quadro de fundo o paradigma de gestão dominante, interessa saber como é que cada escola em concreto define e prioriza a sua missão estratégica?Como resolve a tensão entre a dimensão democrática da instituição e a pressão para a produção de resultados?Como concilia e articula no quotidiano a matriz identitária da

escola com a matriz cultural do sistema?


Variantes da missão da escola

Prioridade: resultadosOferta formativa: restritaParticipação: pouco expressivaContrato de autonomia = contrato de performatividade

Prioridade: Igualdade de oportunidades de acesso e sucessoOferta formativa: diversificadaParticipação: activaContrato de autonomia = contrato de democraticidade

IndividualCliente

MercadoCompetiçãoEstratégias

ProcuraLearing to have

SocialCidadãoEstado

CooperaçãoPolíticasOferta

Learning to be

Horizontes de referência


Variantes da missão da escola

MELHOR ESCOLA MAIS ESCOLA

ResultadosExcelênciaMérito

InclusãoIgualdade

Participação


Da exclusão à inclusão, da igualdade à equidade


VARIANTES DA AÇÃO POLÍTICA DA ESCOLA

RESULTADOSExcelênciaMérito

INTEGRAÇÃOIgualdadeParticipação

Avaliação externa

Exames nacionais

Rituais de distinção

Lideranças unipessoais

Provas internacionais

Rankings

Gestão flexível do currículo

Perfil dos alunos à saída do secundário

Projeto Local de Educação

Gestão local da educação

Programa educação para

a cidadania


Liderança focada nos resultados

Avaliação e ResultadosControlo dos processos

Competências úteisParticipação formal e convergente

Cultura forte (integradora)Lógica da individualização

Gestão “cerebral”Liderança recetiva e reverencial

Liderança focada nos processos

Pedagogia (da autonomia)Negociação colectiva dos processos

Currículo construídoParticipação ativa

Culturas múltiplas (diferenciação)Lógica da subjetivação

Gestão “cultural”Lideranças críticas e emancipatórias


Estratégias de uma liderança performativa

Distinções académicas

Rankings

Colocações no Ensino Superior

Culto dos bem-sucedidos

Comunicação social

Presença institucional


BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL

INTERNACIONAL

• ALLAIRE, Yvan & FIRSIROTU, Mihaela E. (1984). Theories of Organizational Culture. Organizations Studies,V (3), 193-226.

• ALVESSON, Mats (2002). Understanding Organizational Culture. London: Sage Publications.• ALVESSON, Mats & BERG, Per Olof (1992). Corporate Culture and Organizational Symbolism. An Overview.

Berlin/New York: Walter de Gruyter.• BATES, Richard J. (1987). Corporate Culture, Schooling, and Educational Administration. Educational

Administration Quarterly, 23(4), 79-115.

• DEAL, Terence & KENNEDY, Allan A. (1988). Corporate Cultures. The Rites and Rituals of Corporate Life.London: Penguin Books (1ª edição em 1982).

• ERICKSON, Frederick (1987). Conceptions of School Culture: An Overview. Educational AdministrationQuarterly, 23(4),11-24.

• FROST, Peter J. e outros (Eds.) (1985). Organizational Culture. London: Sage Publications.• FROST, Peter J. e outros (Eds.) (1991). Reframing Organizational Culture. London: Sage Publications.• HOFSTEDE, Geert (1984). Culture's Consequences. Beverly Hills: Sage.

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INTERNACIONAL

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São Paulo: Nobel.• PARKER, Martin (2000). Organizational Culture and Identity. London: Sage Publications.• PETERS, Thomas J. & WATERMAN, Robert H. (1987). In Search of Excellence (Na Senda da

Excelência). Lisboa: Publicações Dom Quixote (1ª edição de 1982).• PETTIGREW, A. (1979). On Studying Organizational Culture. Administrative Science Quartely, 24,

570-581.• PROSSER, Jon (Ed.) (1999). School Culture. London: Sage Publications• SCHEIN, Edgar H. (1985). Organizational Culture and Leadership. São Francisco: Jossey-Bass

Publishers.• SMIRCICH, Linda (1983a). Concepts of Culture and Organizational analysis. Administrative

Science Quartely, 28, 339-358.

EM PORTUGAL

• GOMES, Rui (1993). Culturas de Escola e Identidades dos Professores. Lisboa: Educa.• SANCHES, Fátima C. (1992). Cultura Organizacional. Um Paradigma de Análise da Realidade Escolar. Lisboa:

Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Educação.• SARMENTO, Manuel J. (1994). A Vez e a Voz dos Professores: Contributo para o Estudo da Cultura

Organizacional da Escola Primária. Porto: Porto Editora.• TORRES, Leonor L. (1997). Cultura Organizacional Escolar: Representações dos Professores Numa Escola

Portuguesa. Oeiras: Celta Editora.• TORRES, Leonor L. (2004). Cultura organizacional em contexto educativo. Sedimentos culturais e processos de

construção do simbólico numa escola secundária. Braga: Centro de Investigação em Educação do Instituto deEducação e Psicologia da Universidade do Minho.

• TORRES, Leonor L. (2006). Liceu da Póvoa de Varzim. Os actores, as estruturas e a instituição. Um estudomonográfico por altura do centenário. Póvoa de Varzim: Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.

• TORRES, Leonor L. & PALHARES, J. Augusto (2014) (Orgs.). Entre mais e melhor escola em democracia. Ainclusão e a excelência no sistema educativo português. Lisboa: Mundos Sociais.

• TORRES, Leonor L. & PALHARES, José A. (Orgs.) (2017). A excelência académica na escola públicaportuguesa. Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão.

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