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1 Roteiro de Nucleação e Iniciação da Pastoral Universitária

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A Pastoral Universitária é uma articulação de universitários que vivem o fascínio da busca. Busca de sí, busca do outro, busca do mundo e finalmente daquele que é radicalmente Outro e nos ama. Em última instância, é a experiência singular deste amor o que nos atrai e nos define. De que modo o espaço acadêmico é um lugar privilegiado para esta experiência?

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Roteiro de Nucleação e Iniciação da

Pastoral Universitária

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I. Apresentação

Brasília, 25 de junho de 1999-07-06 P n° 0527/99

“O Espírito do Senhor está sobre mim. Ele me escolheu para anunciar a Boa Nova aos pobres e me mandou anunciar a liberdade aos presos, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os que estão sendo maltratados e anunciar o ano que o Senhor vai salvar o seu povo. (Lc 4, 18-20)”.

Aos Universitários(as) Cristãos(ãs):

Apraz-me apresentar-lhes este Roteiro de Nucleação e Iniciação. Ele nasce do sonho do(a) universitário(a) que está preocupado com a evangelização do

mundo universitário e o compromisso deste com a construção de uma sociedade mais justa, ética e solidária.

É um esforço de várias mãos, como bem identifica a capa. Mãos que. na diversidade de idéias e projetos, se unem em torno de um projeto maior: a construção do Reino, tendo, na pedagogia de Jesus Cristo, o referencial por excelência.

Agradeço a todos os que se envolveram nesta construção coletiva, priorizando a Pastoral Universitária, como um dos ideais a serem assumidos pelo mundo da Universidade, para que o saber realmente possa ser colocado a serviço da opção preferencial pelos pobres.

Eu os convoco a serem os discípulos de Emaús: promovam o reino de Deus, anunciando a Boa Nova.

Que o espírito do Senhor esteja sempre convosco. Cordialmente,

Dom Jayme Henrique Chemello, Presidente da CNBB

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II. Introdução

“Como fazer para começar a PU em nossa diocese ou Universidade? Qual a melhor

maneira de iniciarmos um grupo de PU? Qual o material que vocês têm para nos ajudar a fazer PU?” Essas e outras perguntas nos chegam a cada momento. Elas traduzem uma demanda objetiva por PU. É verdade que, na CNBB, temos muitas publicações, temos até um “kit — PU” enviado para todos os que solicitam material. São relatórios, textos conceituando PU, o “Roteiro de Estudos”, etc. Mas falta alguma coisa!

Por outro lado, temos consciência de nosso tamanho. Para a PU, quantidade nunca foi questão fundamental. Nossos objetivos fundamentais e nossa metodologia implicam um “formato” de pastoral baseado em pequenas comunidades que se fazem instrumento para atingirmos o mundo universitário.

Todavia, tem crescido entre nós a consciência de que precisamos aumentar quantitativamente. Primeiro, porque vamos sentindo a acolhida que o ambiente universitário proporciona às mais diversas e variadas formas de religiosidade; segundo, porque o aumento quantitativo é, antes de tudo, a concretização de nossa missão, capacitando-nos à profética denúncia do individualismo (gritante no meio acadêmico) e da mercantilização, pela qual passa o ensino superior; terceiro, porque esse crescimento quantitativo é um elemento importante na evangelização, à medida que interfere diretamente na visibilidade de nossa experiência; e, finalmente, porque estamos certos de que tal opção pelo aumento da quantidade não exclui, nem se confronta com a afirmação de nossa identidade. E, para multiplicar o número de grupos/comunidades, procurando atingir uma percentagem mais significativa da população uni-versitária do país, precisamos de um bom instrumental.

Foi assim que surgiu a idéia de elaborarmos um roteiro para fazer NUCLEAÇÃO e INICIAÇÃO na PU. Numa oficina de trabalho que reuniu coordenadores, assessores e ex-militantes no I Encontro Inter-regional de Coordenações — Vinhedo/SP, 26 a 30/01/98 —, fizemos uma primeira versão para ser aplicada durante o ano de 98. Em janeiro de 99, no VII Encontro Nacional da PU, foi revisada a partir das observações e emendas vindas das experiências realizadas até aquela data.

O formato de roteiro quer ajudar os que nucleiam e iniciam um novo grupo, partindo de grupos já existentes ou do nada. Ele contém reflexões e conceitos, mas também instruções e dicas. Não queremos, contudo, que seja confundido com uma espécie de “receita de bolo”. Na verdade, sabemos que as diferenças entre cada realidade particular torna isso impossível. O seu papel é auxiliar, colaborar diretamente com um processo em que os protagonistas são pessoas e realidades bem contextualizadas que não podem, em hipótese nenhuma, ser substituídas por manuais.

O texto está assim estruturado: após a apresentação e a introdução, vem o capítulo O MODELO DE NOSSOS GRUPOS, que procura contextualizar nossa história e nossa experiência de Pastoral; segue uma conceituação dos processos de NUCLEAÇÃO e INICIAÇÃO, descrevendo o objeto central do texto; o capítulo seguinte resgata os condicionantes, FATORES EXTERNOS E INTERNOS, que incidem direta e/ou indiretamente sobre nossas iniciativas; depois, apresentamos as ATIVIDADES, maneiras como podem ser executados os processos; e, finalmente, os caminhos para a AVALIAÇÃO, destacando que, como empreitada necessária e contínua na missão da PU, os processos de NUNCLEAÇÃO e INICIAÇÃO precisam ser constantemente revistos e melhorados.

Enfim, ressaltamos que este ROTEIRO brotou da consciência de que, pela vocação, somos enviados para o anúncio, como colaboradores na ação salvífica de Deus. Por isso, ele é, sobretudo, um instrumento para a realização da vontade do Pai e para ele esperamos um acolhimento criativo e entusiasmado.

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III O modelo de nossos grupos 3.1 Síntese Histórica

Compreendemos a Pastoral Universitária de Linha Diocesana como uma presença eclesial no mundo universitário. Diocesana, porque a realidade da Igreja Particular é seu lugar vital, lugar de motivação e de ação primária; eclesial, porque se insere na iniciativa evangelizadora da diocese, sendo parte integrante de sua Pastoral de Conjunto.

Trata-se de uma experiência que nasce com a rearticulação dos Universitários católicos no Concílio de Jovens de Lins — SP, em 19771. Naquele momento, na busca de resgatar a experiência da Juventude Universitária Católica, os universitários presentes, que já estavam organizados em grupos nas Universidades, procuraram um rosto próprio.

Em seu primeiro período (entre 1977 e 1986), essa articulação procurou agrupar genericamente as várias experiências espalhadas pelo país. Com a caminhada, as diferenças foram se tornando cada vez mais fortes, inclusive com o surgimento de Movimentos em seu interior. Em 1986, o VI Encontro Nacional optou por constituir uma PU Nacional Pluralista, reconhecendo os diferentes carismas em seu interior. É nesse momento que surge o que chamamos, hoje, de Pastoral Universitária Diocesana. Fundamentalmente, essa experiência procurou retomar, com criatividade, a continuidade dos princípios da JUC, como, por exemplo, a metodologia (Ver - Julgar - Agir - Celebrar e a Revisão de Vida2) e a evangélica Opção Preferencial pelos Pobres.

Em 1987, a PU de Linha Diocesana fez seu primeiro Encontro Nacional. Nesses doze anos, as experiências foram se somando e sendo sistematizadas. Hoje, nós nos compreendemos como COMUNIDADES PROFÉTICAS NO MEIO UNIVERSITÁRIO3, presença da Igreja com um rosto fortemente laical, que procura viver os sinais do Reino através de pequenas comunidades e, como tal, existem em função da missão de anunciar profeticamente os seus valores (do Reino) no meio universitário.O objetivo fundamental é evangelizar o mundo universitário, buscando impregnar o ambiente acadêmico dos valores que nós, cristãos/ãs, professamos (ética, justiça, verdade, solidariedade, fraternidade), buscando propagação do Evangelho no cotidiano do ensino superior.

Marca-nos, ademais, o forte protagonismo laical e estudantil, o compromisso de evangelizar pessoas e estruturas, a busca de provocar uma presença cristã comprometida com os destinos da Universidade, para que ela assuma, determinadamente, seu papel de serviço à sociedade e, nesta, aos marginalizados e excluídos. Presença solidária com os que integram a comunidade universitária, compromisso com a formação integral dos estudantes para que sejam academicamente competentes, eticamente comprometidos e espiritualmente inspirados, tendo em vista seu futuro agir profissional. Marca-nos, enfim, a consciência da missão, de que somos, sobretudo, enviados para fazer com que todos os povos se tornem discípulos (Cf Mt 28,19).

Sabemos que não somos a única experiência de evangelização no meio universitário. Aí estão também a Pastoral da Universidade, uma iniciativa da própria instituição universitária (geralmente confessional), que oferece serviço de pastoral aos estudantes, professores e funcionários, e movimentos eclesiais como a RCC, Focares, Comunhão e Libertação, etc. (Uma reflexão mais aprofundada sobre esse assunto ejlcontra-se no caderno de estudos Pdu/Pu —n0

1).

1 Cf. CNBB. Evangelização e Pastoral da Universidade. Cadernos de Estudo 56. São Paulo — SP: Ed. Paulinas, 1988. 2 Não discorremos sobre o método neste capítulo, porque acreditamos haver vasta bihliografia a respeito

do assunto. 3 Ver Oliveira,, Alcivam P. “PU — Conceitos” - CNBB — Setor Pastoral Universitária. Brasília — DF, 1996.

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3.2 Aspectos referenciais A Pastoral Universitária procura concretizar a missão evangelizadora da Igreja na

Universidade, como apresentam os diversos documentos eclesiais,4 a partir da experiência que foi sendo acumulada e sistematizada ao longo dos anos e das demandas que a realidade nos apresenta. Para isso, temos como fundamento a constituição de pequenas comunidades, núcleos formados por estudantes (cujo número ideal é entre quatro a oito) acompanhados1 sempre que possível, por um assessor.

Marcados pelo amadurecimento5 pessoal e grupal, destacam-se quatro aspectos na vida do núcleo:

⇒ a vivência de uma dinâmica comunitária; ⇒ a tomada de consciência e explicitação da espiritualidade cristã, encarnada na cultura universitária;

⇒ a ação evangelizadora; ⇒ e, finalmente, o estabelecimento de relações privilegiadas com a Universidade.

A vivência comunitária de tais aspectos visa a dar unidade à nossa experiência, sem, no entanto, ter qualquer intenção de uniformizar os grupos. Para nós, é grande o valor do respeito ao espaço de liberdade para o aparecimento da diversidade no interior da Pastoral Universitária. 3.2.1 A dinâmica comunitária

Nossos grupos têm a vida comunitária como imperativo de Deus: o grupo que segue Jesus é comunidade que procura viver, antecipadamente, os sinais do Reino, no amor, que é solidariedade, partilha, atenção e carinho mútuos. E essa experiência que vai inspirar e alimentar os compromissos cotidianos, o processo exigente de seguir a Cristo incondicional e continuamente e as relações intersubjetivas para o amadurecimento pessoal e grupal.

Dos membros da comunidade requeremos uma atitude em que o referencial de conduta não é a posse da verdade, do definitivo, mas o desejo de construir, através do provisório, os pontos de encontro nos quais valores, motivações e objetivos, por vezes diferentes, possam ser explicitados. comparados, avaliados e “reelaborados”, continuamente, sem nunca termos a pretensão de chegar a uma síntese definitiva e sem perder a identidade própria. É preciso afirmar a subjetividade6 como capacidade de autocompreensão e autonomia, fatores decisivos para a compreensão e a convivência com o outro. No grupo, tal atitude se traduz na postura de diálogo permanente, em que a relação que se estabelece com o outro é de constante aprendizado. Mais cresce quem mais aprende. O desafio é, portanto, de aprender a aprender, sem nunca desperdiçar as oportunidades de aprendizado. O que equivale a dizer que a busca da maturidade implica um processo de afirmação do eu como realização comunitária.

Outro aspecto mantenedor da vida comunitária é o respeito ao outro diante das eventuais falhas, não com o intuito de ignorá-las, mas com o de que sejam tratadas no momento oportuno e da maneira adequada. O amadurecimento pessoal e coletivo se concretiza na criação de vínculos de intimidade e amizade, que proporcionem, não apenas a partilha das dores, alegrias, frustrações e felicidades, mas também do pão e da roupa, da passagem do ônibus e dos livros. Assim, responsabilizamo-nos pelos companheiros e companheiras e constituímos um espaço de discernimento e construção de um projeto de vida.

Essa experiência comunitária é movida, acima de tudo, pela gratuidade que pode gerar, 4 Entre eles, vale destacar a Constituição Apostólica “Ex—Corde Ecclesiae”, o documento “A Presença da Igreja

na Cultura Universitária”, “As linhas de Ação da Pastoral Universitária na América Latina”, no relatório do Seminário Taller de PU de Guadalajara — México, 1993. 5 Temos consciência da ambigüidade em que pode cair tal conceito. Para nós, significa, sobretudo, o momento de

reconhecimento da história pessoal e grupal experimentada, considerando as diversas dimensões do sujeito humano. 6 Não confundir com a tendência subjetivista atual, que pode levar a um protagonisrno de matriz econômica,

expresso no momento liberal e neoliberal como afirmação da iniciativa e desejo de possuir. Na verdade, trata-se de unia redução que ofende a própria autonomia humana.

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espontaneamente, atitudes e posturas. No grupo de PU, contudo, ela é marcada também pela metodologia (na prática da Revisão de Vida, através do método Ver—Julgar — Agir — Rever — Celebrar, vivida com sistematicidade). Para nós, é o aspecto comunitário vivido, como experiência da mística cristã, que marcará profundamente a vida do universitário. 3.2.2 Espiritualidade

Como afirma Dom Cândido Padim7, só existe uma espiritualidade cristã: a vivida por Jesus Cristo. Quando destacamos a espiritualidade como aspecto marcante no grupo de PU, enfatizamos atitudes e posturas que, na dimensão transcendente do ser humano, ganham características próprias. São espirituais no sentido de que são especialmente motivadas pelo Espírito de Deus, a exemplo do que aconteceu com Jesus de Nazaré.

Em primeiro lugar, vem a relação com o Criador. Os membros da comunidade são levados a amadurecer sua relação pessoal com Deus, através da oração (conversa intima com Deus), da leitura bíblica, que busca compreender a revelação para atualizá-la, e, no silêncio, para ouvi-lo através de sua criação. O mesmo se dá na vida do grupo, nos momentos celebrativos e nos de estudo e escuta da Palavra e na busca de uma referência para compreender melhor o mundo.

A vivência, segundo o Espírito, é cultivada para afirmar a abertura e o acolhimento da diferença, a radicalização da comunhão com Deus através dos irmãos/ãs e da natureza (também esta, criatura divina que precisa ser respeitada em sua existência ativa) e a resposta à proposta de Deus como fé existencial, encarnada na vida em todas as suas dimensões.

A espiritualidade vivida pelo grupo e pelos seus membros procura se encarnar, primariamente, em seu lugar vital: a Universidade. Isso implica uma fé celebrada e vivida a partir dos elementos próprios da vida universitária, experimentando-a como graça, como dom que se torna dívida no momento em que traz a exigência de ser partilhada (seus conhecimentos e frutos) com todos os irmãos/ãs. É preciso, contudo, dizer que ela é dinâmica, é processo que se aprofunda paulatinamente e, nas diversas situações e dimensões da vida, procura experienciar a presença mistérica e amorosa de Deus, revelada na vivência da mística espiritualidade do seguimento a Jesus. Enfim, nossa espiritualidade está sempre aberta à descoberta de quão belo e gostoso é sermos filhos e filhas de Deus. 3.2.3 Ação evangelizadora

A comunhão e a espiritualidade existem em função do anúncio e da missão evangelizadora, sem a qual a comunidade eclesial perde o sentido.

A missão do grupo de PU é evangelizar o mundo universitário. O amadurecimento pessoal e grupal cresce em direção à ação evangelizadora que será, ao mesmo tempo, caminho e critério para tal crescimento.

A primeira ação acontece com a própria constituição da comunidade: a dinâmica comunitária e a espiritualidade vivida são alimentos para a evangelização plena da comunidade, uma espécie de “auto-evangelização”. Mas não haverá sentido, caso paremos por aí. O maior sentido está na evangelização para fora do grupo, em direção ao mundo universitário.

Em comunhão com a Igreja do Brasil8, compreendemos a ação evangelizadora como propagação do evangelho na “cultura” universitária, realizada através:

⇒ do testemunho do serviço, ⇒ do diálogo, ⇒ do anúncio ⇒ e do testemunho comunitário.

7 PADIM, Dorri Cândido. “Espiritualidade e Pastoral”. In: Vida Pastoral. São Paulo —SP Ed. Paulus, jul/ago 1995, nº183. “Creio, portanto, como conclusão, não ser recomendável a preocupação em criar ‘espiritualidades’ especializadas para cada grupo na igreja ou para cada tipo de função. Não vejo necessidade de falar de espiritualidade preshiterai, laical ou religiosa. Melhor seria falar em distintos processos de formação espiritual, pois os processos têm vários modos de ordenamento, conforme sua destinação”. 8 CN BB — Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Paulinas, S. Paulo — SP, 1995.

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O grupo em conjunto e/ou cada membro tem como fundamento essas exigências. Como serviço, são desenvolvidas atividades de acolhimento a estudantes que estão longe

de suas famílias e não podem arcar com despesas muito grandes para sua hospedagem, como por exemplo, aqueles que saem de suas cidades para fazer vestibular. Mas é também atitude gratuita emprestar um livro, oferecer um caderno para aulas serem copiadas, assumir as lutas acadêmicas (através dos Diretórios e Centros Acadêmicos) como canal para a construção de uma universidade voltada para a formação integral da pessoa e comprometida com as demandas que vêm dos empobrecidos, marginalizados e excluídos, preferidos por Jesus de Nazaré, isto é, ser presença solidária.

Como diálogo, o testemunho é dado através da postura pessoal, do relacionamento com irmãos de outras confissões e na abertura para ouvir o que a ciência tem a dizer para a fé. E também ter o que apresentar, ter uma identidade que possa entrar em intercâmbio para o crescimento comum, promovendo debates, conferências e palestras que abram espaço para a comunidade universitária refletir e aprofundar temas importantes. E, enfim, a atitude de escutar o outro na atenção de captar a vontade de Deus através de suas criaturas. Esse, talvez, seja o testemunho mais requisitado de um cristão no ambiente universitário. Sem dúvidas, se há uma só característica tipicamente universitária, esta é o pluralismo de pensamento e expressões nos mais variados campos da cultura.

Acreditamos que tais testemunhos conseguem PROVOCAR nossos interlocutores, sensibilizá-los para os valores apresentados pela proposta de Jesus: a promoção da justiça, a construção da fraternidade e o cultivo da esperança. Deles podemos ver emergir uma ética que prioriza a vida e a solidariedade, uma política que prima pela participação democrática e um ‘fazer” técnico-científico que tem, na valorização de cada pessoa, sua motivação e seu horizonte.

Sabemos, entretanto, que a evangelização, em seu sentido pleno, exige mais. Exige um testemunho que anuncie explicitamente o nome de Jesus Cristo como Senhor. Com a consciência de que tal anúncio precisa ser como uma resposta a algo que procuramos, e não como imposição de um pensamento, o grupo de PU realiza, entre outras iniciativas, a preparação de universitários/as para o sacramento da crisma, celebrações nos campus universitários, divulgação da Campanha da Fraternidade; oportuniza aos estudantes o aprofundamento da fé através de retiros e de reflexões a respeito de temas religiosos.

Por último, é o testemunho da própria comunidade, que procura seduzir universitários e universitárias para se integrarem na “família”. O testemunho pessoal e grupal da vida comunitária é o primeiro caminho para o convite ao outro: VINDE E VEDE COMO VIVEMOS. Porém, isso não basta. É preciso que:

⇒ o convite seja feito de maneira explícita e direta; ⇒ a ação evangelizadora se plenifique, ao oferecer a oportunidade para que outros também possam experimentar o gostoso da vida comunitária de Pastoral Universitária; ⇒ os acadêmicos possam conhecer Jesus mais de perto e assim aprofundar sua fé;

⇒ possam, enfim, fazer de sua fé, uma maneira de existir, um vinho que mergulha no corpo e renova toda a vida em alegria.

E isso exige ter uma postura verdadeiramente profética, em que, ao sermos vocacionados/as e imersos/as na graça do Espírito, nos descubramos apaixonados/as pelo projeto do Reino. Assim, vamos formando novos grupos que começarão a caminhada para se tornarem comunidades. Nada disso, contudo, pode depender apenas da espontaneidade. Desfrutando dos dons do conhecimento e da racionalidade acadêmica que lhes foram dados, o grupo procura primar, ao máximo, pela sua organização. A ação evangelizadora precisa ser guiada pela gratuidade, mas não poderá esquecer o planejamento e a avaliação contínuos. Afinal, ser evangelizador é ser mediador de uma proposta de muito valor, que não pode ser apresentada de qualquer jeito. Para isso, o grupo possui uma rotina de trabalho, com reuniões periódicas e uma metodologia própria (Ver — Julgar — Agir Rever — Celebrar e a Revisão de Vida). Além disso, prepara-se através

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de estudos9, procurando a vivência de uma fé consciente e comprometida que visa à transformação da realidade na qual está inserido. Ademais, o grupo está sempre articulado, assumindo sua organicidade com a Igreja local e com os outros grupos de PU espalhados pelo país.

Finalmente, ressaltamos que, apesar da prioridade, o ambiente universitário não é o único espaço para nossa ação evangelizadora. O grupo ou alguns de seus membros desenvolvem atividades junto a comunidades carentes (como campanhas educativas e assistenciais) e procura estar presente na vida da Igreja, oferecendo seus dons de universitários para o crescimento de toda a comunidade eclesial. Muitos membros da PU são catequistas, acompanhando, por exemplo, a preparação dos sacramentos de iniciação cristã em paróquias. 3.2.4 A relação com a universidade

Esse destaque se deve, em primeiro plano, à importância sócio-cultural da Universidade. Ela abastece hoje todas as instâncias decisórias da sociedade com informações e pessoas, seja no campo político, no econômico ou no educacional. Nesses termos, é impossível não reconhecer a hegemonia da racionalidade e do conhecimento científico e tecnológico na cultura contemporânea. Assim, a Universidade ganha importância à medida que produz uma elite que tende a controlar os destinos da sociedade. Dela se esperam, também, alternativas tecnológicas para um desenvolvimento económico que não seja excludente.

O papel da Universidade dentro da sociedade já indica, por si, a importância que ela possui como um meio pelo qual a Igreja pode desenvolver, com sucesso, sua missão no mundo. Não obstante, vale ressaltar o destaque dado por Jesus ao saber intelectualizado. Se é certo que não podemos simplesmente fazer uma transposição histórica entre os legistas do século I na Palestina — que, tomando a chave da ciência, não entram e impedem a entrada dos outros (Cf Lc 11,52)— e os cientistas de nossa época, não é menos verdade que aqueles assumiam, à sua época, o papel que esses assumem hoje. De forma que a crítica de Jesus explicita, sobretudo, a responsabilidade que têm os “sábios” perante o mundo. Certamente, o mundo seria outro se a cultura científica moderna fosse melhor permeada pelos valores evangélicos.

Daí a necessidade de uma ação pastoral que objetive a evangelização da Universidade como estrutura de produção e difusão do saber científico e ambiente próprio das pessoas ligadas a essas atividades. Essa necessidade se torna maior, quando percebemos, ainda presente, uma tendência à dicotomização entre ciência e fé. Evangelizar o mundo da Universidade, nesse aspecto, significa buscar a superação dessa tendência, anunciando e testemunhando que ciência e fé podem e devem se relacionar através de uma mútua complementação. Por um lado, a fé precisa cada vez mais dos elementos de compreensão e transformação do mundo, oferecidos pela ciência e tecnologia para fazermos fé existencial; por outro, o fazer científico e tecnológico tem demonstrado sempre mais a necessidade de um direcionamento ético que pode e deve ser oferecido pela fé, pela esperança no projeto salvífico de Jesus Cristo.

Evangelizar a Universidade — pessoas e estruturas — deve ser, hoje, ponto fundamental para a comunidade eclesial que quer chegar até os confins do mundo. Prescindir desse meio, significa, pelo menos, abrir mão de um canal adequado para o diálogo com a cultura hegemônica

9 Na verdade, trata-se da formação permanente na PU. Ela é uma prioridade constante entre nós. A própria dinâmica de vida dos grupos sugere o aprimoramento intelectual dos participantes na construção coletiva do saber e na ação cotidiana. A avaliação constante desenvolve a autocrítica e a busca pelo aperfeiçoamento. A formação acontece, assim, em todas as atividades de articulação, nucleação e no proprio testemunho pessoal e/ou grupal; nos eventos (palestras, debates, entre outros); nos estudos individuais e em grupos; na leitura e produção de textos. Para incentivar essa busca pelo saber, produzimos cadernos de estudo com temas ligados ao mundo universitário; existem colunas nos boletins, escritas pelos participantes da Pastoral; seminários apresentados pelos mesmos; organizamos, ainda, eventos específicos para formar os militantes, corno seminários regionais de formação teológica e cursos de capacitação técnica. Uma de nossas últimas puhlicações foi o “Roteiro de Estudos”.Trata-se de um subsídio que indica áreas de conhecimento, temas e assuntos para serem aprofundados em grupos ou pessoalmente, acompanhado de sugestões de bibliografia e de metodologia para cada área.

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contemporânea. Isso implica que o grupo considere, em seu agir pastoral, os mais diversos aspectos da vida universitária, para que, no diálogo e no serviço, possa haver evangelização. Assim, é preciso que o grupo:

⇒ considere, em primeiro lugar, que ela (a Universidade) é uma instituição situada na sociedade e, como tal, estabelece relações de obrigações e de deveres. Assim, poderíamos dizer que, governada por cânones próprios, a Universidade exige que a presença e atuação junto a ela obedeçam as suas linguagens, aos seus ritmos, aos seus rituais, isto é, a sua própria dinâmica. Na busca de propagar o evangelho, é preciso estar atento aos sinais que vêm deste mundo, com abertura para reconhecer seus valores e estabelecer diálogo. E não qualquer diálogo, mas um que traduza a postura de respeito por este mundo como criação de Deus e como lugar de manifestação de Seu Espírito; ⇒ considere a Universidade como lugar próprio de pessoas que, na qualidade de jovens estudantes, estão decidindo seu futuro. Neste sentido, ela é uma realidade marcante, mas transitória e, como tal, intermediária. A ação do grupo está voltada, não só para frutos no presente, provocando o compromisso dos estudantes com a transformação da realidade em que vivem, mas também para frutos no futuro, provocando-os a buscarem uma formação que corresponda a seus compromissos como cristãos na vida profissional. Isso se traduz: ⇒ na compreensão da ciência e da tecnologia como dons de Deus, que precisam estar voltados para realizar Sua vontade; ⇒ no fato de assumir os estudos como atitude inspirada pelo mesmo Espírito que inspira o compromisso da solidariedade com o outro; ⇒ na convivência acadêmica como testemunho existencial de sua fé, contradizendo a competitividade selvagem que, muitas vezes, se apresenta até mesmo na sala de aula; ⇒ no engajamento nos diversos movimentos acadêmicos, políticos e culturais; ⇒_ enfim, na participação ativa em todos os momentos da vida universitária.

Essa compreensão e atitude são cultivadas no dia a dia com os colegas, nas ações do grupo e em seus momentos mais fortes de revisão de vida e celebração.

IV Nucleação e iniciação: A PU como processo

Chegar a um grupo/comunidade, com as características descritas no capítulo anterior, não é fácil. Na verdade, é preciso percorrer um caminho, desenvolver um processo que leve um grupo a afirmar sua decisão de ser comunidade cristã.

O ser cristão é, fundamentalmente, tomar uma decisão de seguir o MESTRE e, no caminho, ir aperfeiçoando a maneira de segui-lO. Os exemplos bíblicos dos seguidores de Jesus no Novo Testamento indicam que não basta tomar a decisão.

⇒ Como Pedro, somos tentados a negar (Cf Mc 14, 66-72); ⇒ como Tomé, somos tentados a não crer (Cf Jo 20, 24-29); ⇒⇒⇒⇒ e, como todos, temos dificuldades em compreender a mensagem de Jesus (Cf At 1, 1-6). Ao longo dos anos, fomos sistematizando nossa experiência, lançando mão dos dados da

realidade, da história e da herança que recebemos. Chegamos a algumas conclusões. Entre elas, a de que o processo é complexo, não é linear e está sempre intimamente ligado à realidade onde se insere o grupo e à realidade existencial de cada pessoa que dele participa. Sabemos, também, que nossa maneira de percorrer o caminho da experiência cristã não é única nem exclusiva, mas particular. Ela reflete nossas opções e nossos objetivos como estudantes universitários cristãos.

Hoje, compreendemos nosso processo como sendo constituído por três etapas: NUCLEAÇÃO, INICIAÇÃO e CONSOLIDAÇÃO. Numa analogia que temos usado bastante, falamos também dos três momentos, como ocorre na relação entre dois jovens: primeiramente,

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há a paquera, a troca de olhares, a busca de oportunidades de encontro, o encanto da sedução... Esse é o momento da NUCLEAÇÃO. Aceito o primeiro convite— ou paquera —, inicia-se o namoro, a descoberta do outro. E o momento de conhecer-se e dar-se. O momento do namoro, identifica-se com a INICIAÇÃO. A última etapa, que corresponde ao casamento, refere-se à CONSOLIDAÇÃO.

A partir de agora, abordaremos as duas primeiras. 4.1 Nucleação

O termo indica o ato de construir um núcleo, demarcando seus limites e seu formato. Para nós, significa os primeiros passos visando à estruturação do grupo/comunidade. 4.1.1 Motivação

A NUCLEAÇÃO é a partida para concretizar nossa ação evangelizadora em seu sentido mais pleno: fazer crescer a comunidade dos discípulos que confessam Jesus Cristo como Senhor.

⇒ A motivação inicial é a fé: a certeza de que a proposta de Jesus é algo que vale a pena ser vivido, algo que outras pessoas merecem conhecer. ⇒A nucleação motiva a experiência da vida comunitária: outras pessoas merecem

vivenciar a alegria de ter em quem confiar, com quem partilhar, de quem receber a alegria de experimentar, mesmo que fragilmente, os sinais do Reino, pois precisam disso.

⇒A nucleação motiva, ainda, a consciência de que o trabalho émuito e os operários são poucos e, por isso, precisamos de mais gente para anunciar a Boa Nova ao mundo.

É o encontro com Jesus Cristo, que se revela para nós na vida acadêmica e na partilha comunitária, experienciada no grupo e testemunhada no cotidiano, que nos leva a irradiar a proposta da PU aos universitários. 4.1.2 Sensibilizar e Provocar

Na etapa da NUCLEAÇÃO, agindo com ou sem intencionalidade declarada, queremos sensibilizar nossos colegas para o fato de que existe uma proposta de vida que possibilita uma vivência integradora do ser humano em todas as suas dimensões (inclusive a transcendente) em busca de felicidade, que tal proposta considera o caráter particular do ser universitário, além de ser vivida desde o ambiente acadêmico.

Através do testemunho pessoal, na conversa cotidiana, nas atitudes que cada membro do grupo/comunidade vai apresentando, os sinais são enviados. O objetivo é despertar a curiosidade para, quem sabe, chegar à formulação de perguntas: Que negócio é esse de PU? O que é que vocês fazem tanto em reuniões? Vocês acreditam mesmo em Deus? São católicos? ...À maneira de Jesus, nos deixamos ver no cotidiano da vida universitária. Esse é o grande espaço para a NUCLEAÇÂO.

Na etapa de NUCLEAÇÃO, buscamos provocar nossos colegas, chamá-los para fora de si mesmos, para estarem em nosso caminho. Diante da curiosidade demonstrada, respondemos: VINDE E VEDE. Trata-se do primeiro convite explícito e direto para as pessoas participarem da PU. 4.1.3 Espontaneidade e Estratégias

A NUCLEAÇAO tem como pressuposto a gratuidade evangélica do semeador que não escolhe o terreno (Cf Mc 4,3-20) e a capacidade de saber quando se encontram interlocutores com os quais caberia a comparação de Jesus à sua geração, “... semelhante a meninos que se assentam nas praças e gritam aos seus companheiros: Tocamo-vos flautas e não dançastes; cantamo—vos lamentações e não chorastes.”(Mt 11,16—17).

⇒ É preciso dedicar atenção aos que se sensibilizam gratuitamente, procurando responder aos questionamentos;

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⇒ é preciso saber não insistir, não “forçar a barra” de quem, muitas vezes, atende a um convite por pura educação;

⇒ é preciso ter consciência de que nossa proposta não corresponde ao desejo de todo mundo.

Além disso, a NUCLEAÇÃO precisa de posturas estratégicas. Num mundo com tantas “ofertas”, é fácil haver confusão. Nesse sentido, desde o primeiro momento, a identidade da PU precisa estar clara, bem delimitada. A forma também é importante. Numa época em que a comunicação se realiza intensamente através da imagem, não podemos dispensar os cuidados com o que vamos apresentar em nossos convites.

É importante acentuar que o contato inicial da nucleação quer levar a despertar o interesse pela proposta da PU, motivando o acadêmico e conquistando-o, para a formação de novos grupos. O contato inicial precisa ser sensibilizador, provocativo, mas também, sedutor, apaixonante. Se, por um lado, ele é proposta, por outro, precisa aparecer como oportunidade e resposta aos anseios e desejos de quem o recebe. Não custa lembrar que a proposta de Jesus é acolhida pelo povo, à medida que responde aos anseios de liberdade (como todos que esperam o vinho antigo para a alegria voltar a uma festa triste, à maneira das bodas de Caná — Cf Jo 2, 1-12) e de felicidade10. Daí que a NUCLEAÇÃO necessita ser bem preparada, inclusive com um bom planejamento estratégico. 4.2 Iniciação

Depois de conhecer a PU a ponto de se sentir provocado/a, o/a universitário/a entra na segunda etapa: a INICIAÇÃO. Como no namoro, esta é a fase do conhecimento mais profundo, da conscientização e da experiência. Através dela, buscamos levar o/a interessado/a ao compro-misso e à vivência de PU, até que ele/a não fale em ser “da” PU ou participar da PU, mas em “SER” PU, criando-se uma identidade de PU.

Antes de tudo, devemos dizer que não se trata de uma iniciação ao modelo de discípulos que são introduzidos em ciências misteriosas por um mestre, que vai iluminando seu caminho. Tampouco, de um processo de puro aprendizado teórico. E, sobretudo, o caminhar com todos os riscos e prazeres que isso pressupõe, é fazer a “experiência” da iniciação cristã.

Como tal, trata-se de uma experiência pedagógica. Ela é um processo de aprendizado do qual faz parte:

⇒⇒⇒⇒ aprender a proposta da PU; ⇒ aprender a reconhecer-se como diferente dos demais;

⇒ aprender a reconhecer-se como grupo diferente de outros grupos; ⇒ descobrir valores; ⇒⇒⇒⇒ assumir compromissos.

Para tanto, necessitamos de: ⇒pessoas que assumam papéis; ⇒de instrumental pedagógico que facilite o aprendizado e as descobertas; ⇒de recursos físicos; ⇒ de metodologia. Na verdade, marca a passagem da 1° para a 2° etapa, a sistematicidade do trabalho: agora

serão reuniões com horários, pauta e frutos mensuráveis. Por outro lado, mesmo com sistematizações que procurem objetivar ao máximo o

processo, não conseguimos fugir de incertezas. O fato é que a INICIAÇÃO, na PU, está em

10 A moral cristã, baseada no Novo Testamento, é acentuadamente um convite para a felicidade. A palavra

“FELIZ” aparece 55 vezes, com as quais devemos somar expressões afins como alegria (chara), 140 vezes; júbilo (agalliasis), 16 vezes; alegrar—se (euphainein), 16 vezes; alegria irradiante (hilaros), 2 vezes; com prazer (asmenos), 2 vezes; ter prazer (oninasthai), 1 vez. Ao todo, a noção de felicidade é mencionada 231 vezes. Para um maior aprofundameinto consultar: PLÉ, A. “Por Dever ou Por Prazer?” S. Paulo: Ed. Paulinas, 1984.

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função do grupo ou pessoa que, tendo feito a NUCLEAÇÃO, trata de dar prosseguimento ao seu trabalho; do contexto em que se está inserida (universidade, cidade, curso ...) e da realidade existencial do iniciante (sua origem, seus projetos, sua postura ...). Quer dizer, são muitas as variáveis que devemos considerar. Soma-se a elas o caráter de intersubjetividade que tem o processo: o encontro de sujeitos que buscam amadurecer em comunidade. 4.2.1 Temas a serem abordados

Simultaneamente, vários temas que traduzem a proposta da PU irão sendo trabalhados. Além disso, esperamos que os novos integrantes da PU tragam consigo expectativas1 desejos, questionamentos e sugestões de temas. Esses não poderão ser desconsiderados, pois propor o projeto da PU supõe um diálogo, e não, uma imposição. Portanto, uma das atitudes básicas do processo é a da escuta das inquietudes do jovem universitário. 4.2.1.1 A identidade da PU

A identidade da PU consiste em apresentar, da maneira mais objetiva possível, o projeto da Pastoral Universitária. Se, no momento da NUCLEAÇÃO, houve “conversas” sobre o assunto, devemos falar da PU, sem atropelos, de maneira bem sistematizada, para que o iniciante possa saber com o que/quem está se encontrando. O mais importante, nesse momento, é a busca de equilíbrio entre a objetividade e o respeito aos iniciantes: nem o extremo de trabalharmos apenas exposições no estilo clássico de conferências, nem o outro, de conversas espontaneístas, sem nenhuma preparação ou roteiro.

Importa, ainda, que a proposta seja apresentada com segurança, indicando que ela traz consigo uma experiência acumulada e que tem algo a oferecer. Claro que sua encarnação na realidade do novo grupo precisará de uma atualização, de ser adaptada, o que pressupõe iniciativas e sugestões dos iniciantes. Isso, contudo, não pode significar um eterno retorno, um ter que recomeçar a PU a cada grupo novo que se inicia.

No tema identidade, estão subentendidos todos os outros que dão caráter à PU, entre eles o da história, da metodologia, da organização e organicidade e sua inserção no mundo universitário, etc. 4.2.1.2 Experiência da dinâmica comunitária

Mais que um tema de estudo, trata-se de proporcionar a vivência para aprofundar o inter-relacionamento pessoal. Significa organizar vivências e dinâmicas para que os membros do grupo possam ir se conhecendo, aprendendo a confiar um no outro, possam escutar-se mutuamente, enfim, possam ir criando laços afetivos mútuos. Nos primeiros momentos da vida do grupo, será essa afetividade que irá dar-lhe sustentação. Trabalhá-la significa construir um ambiente no grupo o qual seja acolhedor, gostoso, alegre e descontraído. E também iniciar todo o processo de amadurecimento das relações afetivas e dos laços de amizade. Isso será decisivo para o futuro do grupo, pois dará sustentação para toda a sua vida.

4.2.1.3 Aprofundamento da experiência religiosa O grupo/comunidade de PU não é apenas um grupo de estudo e reflexão, ou de amigos

que buscam acolher-se mutuamente. E um grupo que tem, na motivação religiosa, seu maior impulso. Isso precisa estar presente desde os primeiros momentos da INICIAÇÃO. É importante não cair em extremos. Um seria o esquecimento; o outro seria a insistência em modelos pré-estabelecidos de orações e liturgias. É verdade que nossa liturgia católica possui determinados limites. Não obstante, a atitude de respeito à caminhada dos iniciantes é fundamental: é preciso reconhecer o estágio em que eles se encontram e, a partir dai, começar com eles o profundamento e a sistematização de sua experiência religiosa. 4.2.1.4 O crescimento da consciência crítica e do compromisso diante da realidade

É estudo, análise, mas também engajamento, participação e experiência. Ajudarmos os estudantes a descobrirem no cotidiano da vida universitária (no estudo-pesquisa-extensão, na

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relação com os amigos, na relação com os professores, nas entidades políticas e/ou culturais de organização estudantil ...) um lugar de compromisso cristão é a nossa tarefa.

É inegável que a geração atual de universitários/as não se sente convocada para um compromisso maior através dos temas ligados à participação política. Isso, porém, não deve ser desculpa, e sim, desafio a ser enfrentado com coragem e criatividade.

Por outro lado, é importante que não seja um tema teórico. Não raro, há muito desejo de participação em algum tipo de atividade de caráter social (“concreta”, como se costuma dizer). É preciso acolhê-la e estimulá-la de maneira pedagógica. A tomada de consciência é processo, e o fundamental nele é o momento de avaliação: perguntar pelos frutos, procurando uma análise mais ampla da atividade desenvolvida, o mais importante é que possa ir se desenvolvendo, ao lado da consciência da realidade, o compromisso em transformá-la, a certeza de que se trata de vivência de fé e não de execução de projeto político. A ação transformadora da realidade na perspectiva da construção do Reino é uma exigência evangélica. 4.2.2 Pedagogia

Saber quais os temas que precisam ser abordados no processo de INICIAÇAO é difícil. Como fazê-lo é muito mais.

No capítulo V, apresentamos sugestões de metodologias, inclusive com dinâmicas a serem trabalhadas. Sabemos, porém, que o instrumental de nada valerá se não houver uma postura pedagógica coerente com ele: uma pedagogia libertadora só dá certo quando aplicada por pedagogos libertadores.

Pensando assim, apresentamos a seguir alguns critérios para uma postura pedagógica coerente com o que estamos propondo no processo de INICIAÇÃO. Eles não esgotam o tema; outros critérios poderão ser acrescentados 4.2.2.1 Abertura

Como em toda ação evangelizadora, é preciso que haja uma postura de escuta: ouvir e entender os que chegam e o que estão falando, quais são seus anseios, questionamentos, projetos, medos ...

É preciso uma postura de compreensão em relação ao outro ou, dito de outra maneira, não haver “pré-conceitos”. E não é fácil escaparmos dessa tentação: melhor que sejam nucleados os que se parecem mais conosco; que sigam na INICIAÇÃO os que facilmente entraram em nosso esquema ... Há uma grande demanda por “ouvidos” nos dias de hoje: muitos querem apenas ser ouvidos, precisam de atenção para se sentirem acolhidos. A postura de abertura, como o princípio pedagógico quer traduzir, desde o primeiro momento, é a determinação de que, no processo, a construção do conhecimento será coletiva. 4.2.2.2 Objetividade

Estar aberto e escutar, acolher e não ter “pré-conceitos” não é igual a não propor. É preciso que, no processo de INICIAÇÃO, haja objetividade para que os iniciantes possam reconhecer, com facilidade, que proposta está sendo apresentada. Por sua vez, a postura objetiva no processo pedagógico deixará claro os seus rumos: para onde estamos caminhando. Significa dizer que não podemos temer fazer propostas e exercer um papel de liderança.

O entrave talvez se dê exatamente neste campo: como compreendemos o papel da liderança em um grupo? Como compreendemos o significado de autoridade? Ao contrário do que diz o senso mais imediato dos termos, liderança e autoridade não significam somente poder de mandar, independente da vontade dos outros, ou poder delegado. Ser liderança é saber ajudar o grupo a caminhar, e caminhar com ele, ser AUTOR das coisas. Isso é concedido, não apenas por uma capacidade inata; isso é concedido pela experiência que acumula conhecimento e pela capacidade de comunicá-lo. 4.2.2.3 Respeito

Significa dialogar com os iniciantes, ter a postura de trocar conhecimentos com eles. No

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sentido evangélico, significa ter capacidade de reconhecer que a VERDADE que vem do Espírito de Deus não está apenas conosco, que temos uma maior intimidade com o projeto de Jesus. O Espírito também é dado ao mundo. Os iniciantes, como o mundo, têm consigo a manifestação de Deus.

Respeito significa, também, a postura de termos zelo pelo que estamos fazendo. É preciso que haja “PRE-OCUPAÇÃO” com o trabalho. É preciso que preparemos bem a reunião, a metodologia, os instrumentos. Talvez, para quem é responsável, em primeira instância, por uma reunião, ocorra o pensamento de que, quando uma palestra não é bem preparada (o que acontece), a improvisação não é percebida. Grande engano! Os participantes reconhecem, de longe, quando uma reunião foi organizada às pressas. 4.2.2.4 Coragem e criatividade

Não se trata de atitudes de coragem e rasgos de criatividade. Para o trabalho num campo difícil como o universitário, em que os questionamentos são intensos, em que a atividade pedagógica faz parte do dia-a-dia, em que o professor e os livros são personagens de cada hora, é preciso que haja muita criatividade, que haja determinação de inovar. Como não repetir, no processo de INICIAÇÃO, a pedagogia que se enfrenta na sala de aula? Como motivar para que se aprendam coisas que não dizem respeito ao mundo técnico? Como sensibilizar para experiências que não se traduzem em diplomas?

Criatividade é algo que se estimula, que se aprende. É importante lembrar que, via de regra, a escola formal trabalha no sentido oposto: as matérias já estão prontas para ser aprendidas, as provas perguntam apenas o que foi oferecido ... Furar este bloqueio é atitude que precisa de CORAGEM, não temer o novo, arriscar.

Em síntese, diríamos: é preciso ousar neste trabalho. E a ousadia é fruto da liberdade, somada à coragem e à criatividade. 4.2.3 Quem acompanha o grupo iniciante

A etapa da INICIAÇÃO é o momento quando toda a PU assume um novo grupo. Por isso, o processo é de responsabilidade, em primeiro plano, de todos os que já estão na Pastoral. É como a acolhida de um novo morador em nossa casa; se alguém da família não o recebe bem, ele nunca ficará à vontade. Uma maneira muito eficiente de iniciar alguém é a do “apadrinhamento”: para cada iniciante, o melhor é que haja um “padrinho”, que possa estabelecer com ele uma relação mais estreita, de maneira que ele possa concretizar, rapidamente, o sentimento de pertença à PU. Fundamental, entretanto, é o acompanhamento do grupo em seu cotidiano, desde os primeiros contatos, quando da NUCLEAÇÃO. Aí surgem duas figuras: o ACOMPANHANTE e o ASSESSOR. 4.2.3.1 O acompanhante

A Pastoral Universitária é construída pelos/as universitários/as com a colaboração dos assessores e em comunhão com toda a Igreja. Essa identidade é construída a partir da compreensão de que os/as universitários/as são os protagonistas fundamentais da evangelização em sua dimensão humana, até mesmo pela realidade antropológica que favorece a comunicação e a convivência entre os sujeitos que estão mais próximos num determinado contexto.

Em função disso, o grupo iniciante tem, como interlocutor principal na PU, um MILITANTE — ACOMPANHANTE com experiência, identidade e domínio de nosso método, suficiente para animar e coordenar o grupo em seus primeiros passos, fazendo-se o elo mais forte entre este e toda a história da PU. Seu papel é ser o coordenador nas primeiras atividades do grupo, sendo o principal agente pedagógico. A ele cabe:

⇒ apresentar a PU: estrutura, metodologia, mística ...; ⇒ tomar a iniciativa para 05 primeiros passos do grupo:

• organizando as primeiras reuniões, • sugerindo as metas iniciais,

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• sugerindo e aplicando dinâmicas, • estimulando e sistematizando a caminhada dos iniciantes...

Seu trabalho será tanto mais eficiente quanto maior for a velocidade com que o grupo vai criando autonomia para seguir em frente sem necessitar de agentes externos. 4.2.3.2 O assessor

O papel do ASSESSOR deve começar a ser inserido ainda no estágio da INICIAÇÃO. O ideal é que o CANDIDATO A ASSESSOR do grupo comece a acompanhar o grupo juntamente com o acompanhante, situando-se, porém, de modo mais tímido nesse começo. Seu papel é auxiliar o acompanhante e conseguir se inserir no grupo. À medida que o grupo vai construindo sua autonomia, seu papel irá se concretizando até o momento em que, consolidado o grupo, o acompanhante sai de cena e o assessor se configure como o único integrante com papel diferenciado.

Sabendo da necessária empatia que deve haver entre o ASSESSOR e o grupo, é fundamental que os seus integrantes possam indicar nomes, refletir sobre eles e escolher e convidar alguém para assumir a assessoria. Nisso diferem o acompanhante e o ASSESSOR. Enquanto o primeiro é preparado e indicado pela PU, obviamente, respeitando-se a realidade do grupo iniciante, o convite ao segundo é algo protagonizado pelos iniciantes, cabendo ao acompanhante, provocar o grupo a assumir tal tarefa, acentuando a necessidade e a importância de um ASSESSOR em sua vida do grupo. 4.2.4 Algumas dificuldades

Devemos alertar que três dificuldades tendem a surgir no processo de INICIAÇÃO. 4.2.4.1 A heterogeneidade do grupo nucleado

É comum que o grupo nucleado seja formado por pessoas de diferentes origens sociais, com diferentes histórias de relação com a Igreja ou com o mundo religioso, provenientes de diferentes cursos, quer dizer, o grupo de PU é composto por universitários/as que possuem diferentes realidades existenciais. É um desafio para os acompanhantes equacionar essa diversidade. Como eles provêm de diferentes cursos e até de diferentes instituições, não será fácil achar um horário de reunião conveniente para todos. Da mesma forma, será difícil pensar uma atividade que consiga reunir todos. Assim, na medida do possível, é aconselhável que o processo de nucleação possibilite o encontro de pessoas, pelo menos, da mesma instituição. Ser do mesmo curso implica uma facilidade: ter o horário mais harmonizado; e uma perda: a do pluralismo e interdisciplinaridade no grupo.

Talvez a dificuldade maior seja de outra ordem, mais subjetiva: quando há pessoas que vêm de outras experiências religiosas (em alguns casos, mesmo que sejam católicas), é preciso bastante objetividade e, ao mesmo tempo, respeito por parte de quem as acompanha para fazermos entender que a proposta da PU tem um quê de diferente, que, na Igreja, a pluralidade (e, portanto, a diferença) adiciona riqueza, quando vivida com o devido respeito. O maior cuidado é para que não arrisquemos nossa identidade em nome do crescimento da PU. 4.2.4.2 A incompreensão da estrutura de pequenos grupos

A experiência tem mostrado que, para quem é sensibilizado e provocado pelo testemunho da PU, que cresce em simpatia por nossa experiência, soa muito estranho não participar do mesmo grupo/comunidade dos antigos.

Para contornar tal dificuldade, é preciso que, desde o momento da NUCLEAÇÃO, esclareçamos a estrutura, enfatizando que os grupos não caminham isolados como se cada um fosse uma PU diferente. A articulação entre os grupos de uma mesma cidade e, depois, destes com os do regional e nacional, é fator, não apenas de organização, mas de organicidade. Além de haver uma estrutura que organize tarefas, o que buscamos com a articulação é que cada grupo se sinta como parte de um corpo integrante ativo de um sistema que não pode ser dispensado, nem pode dispensar os outros.

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É importante destacarmos que um grupo grande não poderá chegar às características de comunidade que são apresentadas em nossa proposta. 4.2.4.3 Quando não se pode formar um grupo novo

E quando conseguimos sensibilizar e provocar apenas duas ou três pessoas? Como fazer? Ou seja, quando o número de nucleados não dá para formar imediatamente um grupo? Devemos informar que deve ser evitada, ao máximo, a entrada de pessoas novas em grupos/comunidades que já possuam uma caminhada significativa, em que o conhecimento sobre a identidade da PU já esteja bem avançado e o inter-relacionamento pessoal já inspire confiança e afetividade. Uma pessoa que entra num grupo que já está caminhando, ou irá perder o que já passou (enfrentando o desconhecido), ou terá de fazer o grupo estacionar para poder alcançá-lo. Quem entra numa comunidade que já possui um inter-relacionamento afetivo significante, muito provavelmente, se sentirá deslocado. O grupo facilmente irá isolá-lo, mesmo que seja inconscientemente.

Para esses e outros desafios, valerá, como critério de superação, a realidade local: quais as peculiaridades que o grupo apresenta e como elas poderão ajudar na superação dos problemas?. Deixemos claro que nem tudo será tranqüilo, mas, para isso, podem ser criados subgrupos (grupos de estudos paralelos). Assim, o conhecimento da identidade da PU poderá ser levado aos nucleados, até que seja alcançado o equilíbrio ou o mínimo de conhecimento necessário para a caminhada em um só grupo.

V Fatores que condicionam o processo

A primeira atitude de quem quer executar uma proposta precisa ser sempre a de OLHAR o ambiente no qual agirá, e daí confrontá-lo com suas possibilidades e seus limites. Do contrário, correrá o risco de as boas intenções transformarem-se em péssimas ações.

Em todo processo que se inicia, é preciso um levantamento da realidade, desde a Universidade ou Faculdade em que se está inserido, até às macrotendências. Por exemplo, é preciso que, aos dados apresentados neste roteiro, somem-se outros da realidade local (como o nível de participação dos estudantes em organizações sociais e/ou eclesiais, aspectos relativos à ocupação do tempo livre, realidade e natureza da instituição onde estuda — pública, privada, confessional — gênero, faixa etária, meios de comunicação utilizados, etc.).

Apresentada nossa proposta, chamaremos a atenção para a realidade (nossa e do mundo) a fim de encontrar fatores que condicionam os processos de NUCLEAÇÃO e INICIAÇÃO.

Chamaremos de Fatores Externos algumas macrotendências que identificamos como fortemente incidentes na vida dos/as universitários/as e de Fatores Internos aquilo que é condição irrenunciável para que a PU possa nuclear e iniciar novos grupos. 5.1 Fatores externos

Nossa intenção é fazer um rápido sobrevôo sobre a macrorrealidade, identificando as

macrotendências e indicando o tipo de incidência sobre nosso trabalho. Primeiro, porque uma análise mais aprofundada (não obstante à sua extrema necessidade) demandaria o trabalho de especialistas em diversas áreas do conhecimento e um maior espaço do que o oferecido; segundo, porque sabemos que tais informações são de mais fácil acesso.

O fato é que devemos ter presente que o mundo universitário não está isento das dinâmicas sociais e participa delas num processo de mútua influência. Assim, no nosso esforço de compreender o universo dos estudantes, temas como globalização, políticas neoliberais, aumento da exclusão sócio-econômica, desemprego e flexibilização do mercado de trabalho necessariamente aparecerão.

Isso implica um perfil diversificado do universitário quanto à situação financeira, ao lazer, ao trabalho, à faixa etária, ao estado civil, ao interesse em freqüentar a universidade, à utilização

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do conhecimento aprendido e às concepções de mundo. Em muitos casos, alguns/algumas universitários/as trabalham, estudam e mantêm uma família, e sua disponibilidade em se engajar em algum movimento dentro da universidade é pequeno. Outros/as passam por um processo de crise de identidade, pulverização de valores, conflitos de idéias, incertezas quanto ao certo e ao errado, muita carência afetiva e falta de um referencial. E, a partir dessa vivência, desejam ter uma consciência critica de si, dos outros e da realidade social. Pessoas que querem “mudar o mundo”, mas, às vezes, não sabem por onde começar. A Pastoral Universitária deve estar atenta a esta realidade e ser um instrumento de acolhida e de discernimento, abrindo espaço para esses/as universitários/as poderem partilhar e expressar suas necessidades. 5.1.1 Tendência da globalização

Os meios de comunicação contemporâneos são a estrada para a globalização. Através da informática, dos satélites e cabos ópticos, deixa de haver lugar distante no mundo. Os vários processos histórico-sociais, políticos, econômicos e culturais passam a receber e enviar informações e a se influenciarem mutuamente (uns influenciando mais do que outros, claro).

E, assim, vamos tendo acesso a uma visão de mundo tão abrangente e imediata quanto nenhuma das antigas gerações puderam ter. Isso gera frutos como a facilidade de encontrarmos o diferente, de irmãos perdendo o medo da pluralidade, de poder haver influência à distância, de precisarmos afirmar a identidade particular ... Mas também gera outros: a capacidade de haver domínio à distância entre países economicamente diferentes, a possibilidade de uniformização da cultura (eliminação das mais “fracas”), a aceleração da troca de informações e, por conseguinte, a aceleração das mudanças.

No mundo universitário, isso tem impacto intenso e imediato. Hoje, por exemplo, não podemos imaginar um bom profissional universitário que não tenha domínio (pelo menos instrumental) de uma língua estrangeira. Ademais, no campo da ciência e da tecnologia, intensifica-se a tendência da importação de modelos estrangeiros pré-estabelecidos.

Por outro lado, a massificação de informações tem gerado uma fragmentação da visão de mundo, pois não ajuda a compreender que os diversos problemas têm uma interligação global, sugerindo a idéia de que eles são simplesmente de ordem particular.

De pronto, precisamos considerarem nosso trabalho uma visão de mundo mais ampla, não podemos oferecer como perspectiva apenas o particular, o local. Os processos da PU precisam abrir horizontes, procurar integração com iniciativas internacionais até mesmo para propor um outro modo de integração. Em outra frente, necessitamos insistir numa visão do mundo (da sociedade e da cultura) como sistema, onde há uma interdependência e mútua influência de fatores que, à primeira vista, parecem estar isolados. 5.1.2 Tendência da fragmentação dos referenciais

A massificação da informação gera também a disseminação em massa de pensamentos e critérios. O que ocorre com as marcas de creme dental que se multiplicam, dificultando a escolha no supermercado, ocorre também com a oferta de “critérios” para o discernimento pessoal.

Mesmo no interior das ordens de conhecimento como a ciência ou a filosofia, as sínteses não são fáceis. Quantas correntes da Psicologia ou Psicanálise precisamos considerar para ter um conceito de pessoa? E o mesmo tende a acontecer com a religião: há uma grande fragmentação do religioso, o que leva a um enorme pluralismo de ofertas. Percebemos a emersão da subjetividade como subjetivismo e a valorização da espiritualidade desvinculada da experiência comunitária, mais voltada ao intimismo. O positivo de tal fenômeno é a valorização da autonomia. Viver numa época assim é ter que exercitar (mesmo sem querer) a capacidade de decidir, de escolher o que se quer.

Por outro lado, isso fragiliza o processo de amadurecimento da identidade pessoal, fragiliza o sujeito. Uma das grandes dificuldades que vivemos hoje: somos fragmentados em nós mesmos. Frágeis na vivência da nossa afetividade-sexualidade.

⇒ Quem somos? ⇒ Qual o nosso projeto de vida?

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⇒ Para onde caminhamos? ⇒ Qual o sentido profundo dos estudos? ⇒⇒⇒⇒ Para que serve este curso? São essas algumas das perguntas que muitos jovens não formulam, não só como pessoas,

que constroem relações interpessoais, mas como universitários/as na identidade. A época da Universidade, por sua vez, traz consigo mudanças: ⇒ muda a relação pedagógica com a escola — há uma maior liberdade e responsabilidade

sobre a forma de se estudar; ⇒ muda a relação como ciclo de amizade — vão aparecendo pessoas mais maduras

como amigos/as; ⇒ muda a relação como ambiente — já não é a escola com muros e funcionários cuidando da disciplina, etc.

Com a Universidade, chega o momento das decisões: a carreira profissional que o/a jovem vai seguir, o tipo de profissional que deseja ser, etc.

Nesse contexto, o/a universitário/a é atingido/a de cheio: dúvidas, inseguranças, vontade de arriscar ou reação de isolamento, de ensimesmamento; a procura de todas as experiências ou a busca da proteção sob algo muito sólido e fundamentado

A NUCLEAÇÃO e a INICIAÇÃO devem estar atentas a esses fenômenos. É preciso considerar que toda a proposta oferecida passará pelo crivo da realização pessoal. Importa descobrir o que oferecer aos estudantes para ajudá-los a superar tais dificuldades. Não considerar tal fenômeno, é correr o risco de, como Igreja, fechar as portas à cultura contemporânea, buscando, quem sabe, respostas fundamentalistas pelo simples fato de manter a segurança. 5.1.3 Tendência da exclusão econômica

Na verdade, estamos falando das tendências no mundo laboral. Aqui não é preciso de muito para lembrar que a tendência é a exclusão econômica de boa parte daquilo que se chama mercado (produtor e consumidor). Há, inclusive, teóricos que apontam como tendência, o fim do trabalho na forma como é conhecida hoje. O mundo profissional que se apresenta tende à excessiva competição pela limitação de vagas, excessivo rigor técnico, multicompetência profissional, relações regidas tão somente pelas leis do mercado e do controle de grandes corporações.

A incidência de tais tendências sobre o mundo da Universidade são arrasadoras. Incide sobre o modelo das instituições que tendem a oferecer uma formação quase que totalmente concentrada no conteúdo técnico (ensino puramente profissional), excluindo a formação integral dos estudantes. A Universidade — paradoxalmente — vai perdendo seu caráter de lugar do universal, da integração do conhecimento humano; percebemos até uma relativa perda da importância das instituições educativas no processo de socialização dos jovens.

O curso de graduação tende a perder o valor; já não possibilita o acesso ao aprendizado científico, mas puramente tecnológico. E já não oferece meios para ascensão sócio-econômica. Quem quiser tais privilégios, hoje, terá que, ou estudarem uma superuniversidade, ou se progra-mar para os cursos de pós-graduação. Sobre o estudante, as conseqüências são diretas. O meio universitário passa a ser um ponto para sua realização pessoal e estabilidade financeira. A luta maior é pela inclusão num mercado cada vez mais restrito, que invade a universidade, promo-vendo um clima de competição em sala de aula. Tudo isso gera uma enorme ansiedade no/a universitário/a, que busca soluções individuais na perspectiva de ser o/a melhor, pois já não pode contar com uma formação acadêmica que lhe possibilite encontrar o sentido totalizante da realidade (a sua e a que o cerca).

“Paira no ar” uma sensação de que os estudantes dedicam seu tempo, prioritariamente, à busca da qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho, sabendo que o mercado é cada dia mais exigente e excludente e que, nessa lógica, só os melhores sobreviverão. Junto com outras tendências, essa exacerba o individualismo, ao passo que tende a produzir gerações frustadas por se acharem incapazes de corresponder as expectativas do mercado. Com isso,

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movimentos universitários que, no passado, se destacavam pela consistência e esperança — como Movimento Estudantil e o Cultural Artístico — passam por graves crises.

Para nossos processos, apresenta-se o desafio de ler, em tal conjuntura, a presença de Deus.

⇒ Como encontrar os sinais de vida numa cultura com esses traços? ⇒ Como não cair no pessimismo diante da realidade? ⇒⇒⇒⇒ Como ajudar as pessoas a adquirirem a consciência da sua dignidade?

Fica ainda o desafio fundamental:

sermos capazes de construir esperança a partir de nosso referencial de fé.

5.2 Fatores internos No item anterior, indicamos temas que, se não considerados, poriam em risco nossa

chegada aos estudantes. No caso dos Fatores Internos, é preciso mais que consideração. Na realidade, são verdadeiros condicionantes para o processo de NUCLEAÇÃO E INICIAÇÃO. 5.2.1 Motivação e maturidade

A atitude de um grupo que deseja ampliar a PU precisa ser fruto de uma motivação consciente: o grupo QUER DETERMINADAMENTE plenificar sua ação evangelizadora. Significa que o grupo crê na proposta da PU, está seduzido por ela, a ponto de a paixão exigir ser comunicada a outros/as. Como seduzir (nuclear) e fazer com que o outro/a se apaixone (faça a INICIAÇÃO) se não estivermos apaixonados?

É preciso, também, que ele tenha: � maturidade suficiente; � consciência de sua caminhada histórica para melhor preparar o caminho dos outros; � um inter-relacionamento pessoal capaz de, naturalmente, testemunhar a vida comunitária; � uma boa compreensão da identidade de PU.

5.2.2. Recursos É difícil falar do tema porque recursos é o que menos existe na PU. Possuímos poucos recursos humanos. Faltam pessoas que nos ajudem no estudo de temas teológicos. Por outro lado, um estudante já tem tanto a fazer, mesmo quando não trabalha, que assumir mais uma responsabilidade que vai exigir dele tempo e atenção não é fácil. Lembramos que para o processo de NUCLEAÇÃO e INICIAÇÃO precisamos de, pelo menos, uma pessoa com bastante dedicação na tarefa de acompanhamento do grupo que, de preferência, seja sempre a mesma.

Recursos materiais também são precisos. Material escrito (subsídios), lugar para reuniões, telefones, material de escritório, etc. Sugerimos buscar ajuda junto à Igreja local ou à uma Universidade/faculdade mais próxima. As vezes, dá mais certo do que possamos esperar. A Coordenação Nacional da PU, pode oferecer publicações e apoio com visitas, assessoria ... enfim, o que lhe for possível. 5.2.3 Planejamento

Etimologicamente, a palavra planejamento significa o ato de tornar plano. Uma boa imagem é a construção de uma estrada que, vencendo acidentes geográficos, tenta ampliar a visão do horizonte. Numa palavra: evitar surpresas! E quanto menos recursos temos, mais precisamos planejar, porque não podemos desperdiçá-los ou desviá-los de onde poderiam render mais.

Quando falamos em planejamento, estamos falando em plano escrito. Planejar, todos nós planejamos sempre que não tomamos alguma atitude na vida por simples reflexo. Quando traçamos um plano, sentamo-nos e preocupamo-nos com o que queremos fazer; precisamos escrever as idéias, para que a memória não nos traia. E, afinal, procurar antever o futuro. Há

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sempre a ressalva de que um plano pode “amarrar a execução de um processo, ou tornar-se um modelo mais real que a realidade. Porém, a melhor característica de um plano é, justamente, a capacidade de ele ir se adaptando à realidade, de deixar acontecer com flexibilidade.

Não nos preocupamos em oferecer um método de planejamento porque sabemos que existe bibliografia em abundância sobre o assunto.

VI Atividades

Sugerimos algumas atividades para serem executadas nos processos de NUCLEAÇÃO e INICIAÇÃO. Propositalmente, há alternativas para um mesmo objetivo e há vazios. Esperamos que isso estimule a criatividade de vocês 6.1.Nucleação

O quê ? Para quê? Como? Quando? Critérios de avaliação

1.Promoção de eventos na

universidade (Debates /

Seminários sobre temas de interesse dos universitários

– ética, universidade e conhecimento,

aborto, afetividade e sexualidade, etc., jogos, atividades

culturais...)

• Despertar o interesse dos estudantes para a PU,

utilizando sua linguagem. • Sensibilizar os estudantes

para as questões da realidade universitária.

• Promover espaços de integração dos estudantes.

• Promover maior participação estudantil na

vida universitária • Dar a conhecer nossos interesses e propostas.

• Convidar as pessoas que se interessam pela PU para uma

reunião.

• Escolhendo o tema. • Formando equipe para estruturar o encontro /

atividade. • Buscando parcerias com outros atores / Instituições para a

promoção do evento (universidade, cáritas,

DCE’S, CA’S). • Elaborando o planejamento.

• Escolhendo os palestrantes.

• Providenciando infra-estrutura.

• Divulgando o encontro ? atividade.

• O planejamento do grupo

(semestral, anual, etc.) deverá

contemplar o período ideal de acordo com cada

realidade. • Em períodos

que sejam adequados ao

calendário universitário.

• Número de participantes do

evento. • Nível de

conhecimento da PU que se

provoca • A qualidade

do evento (palestras,

organização, dinâmica e

infra-estrutura).

O quê ? Para quê? Como? Quando? Critérios de avaliação

2. Material informativo sobra a PU

(folders, vídeo, home-page,

faixas, cartazes, murais, boletins, panfletos, etc)

• Divulgar a “Boa Nova” do Senhor.

• Despertar o interesse pela

PU. • Apresentar

a PU.

• Formando equipes. • Utilizando os meios eficazes para se atingir os estudantes com uma

linguagem criativa na elaboração do material.

• Buscando locais estratégicos para divulgação do material (locais

freqúentados pelos universitários: bibliotecas, jornais de circulação no

meio universitário, secretarias de cursos, horários de rádios universitárias, paróquias

freqúentadas por universitários, etc.) • Definindo critérios e objetivos da

comunicação.

• No início do período letivo.

• Em datas siginificativas da vida

acadêmica (olinpíadas, semanas, universitárias, etc.) • Antecedendo as atividades da PU. • Percebendo o

interesse das pessoas pela PU.

• Receptividade pela comunidade. • Nível de diálogo que se consegue

gerar com os estudantes.

• Número de pessoas que se interessam pela

PU.

Page 23: Roteiro de Nucleação e Iniciação da PU

23

O quê? Para quê? Como? Quando? Critérios de avaliação

3. Participação nos eventos da vida universitária (jogos

universitários, noites culturais, corais, festas, celebrações,

debates).

• Buscar espaços de encontro e

diálogo entre os estudantes.

• Apresentar-se como uma nova maneira de se

Igreja.

• Divulgando o evento.

• Definindo com antecipação, o sentido da participação da PU

no evento. • Participando como

estudante universitário

• De acordo com os convites

oferecidos.

• Nível de participação no

evento. • Espaços de

mostrar a cara da PU(ser presença) • Testemunho.

O quê? Para quê? Como? Quando? Critérios de avaliação

4. Conversas informais.

• Estabelecer contato mais personalizado e contínuo com os estudantes, facilitando uma

comunicação mais fluida e a criação de laços. • Desenvolver um trabalho pedagógico de

encantamento dos estudantes pela PU. • Ouvir as motivações pessoais dos

estudantes.

• Através do bate-papo na sala de aula,

nos barzinhos, festas, etc.

• Aproveitando os momentos e

espaços adequados no

cotidiano.

• Interesse que a pessoa

demonstra pela PU.

• Diálogo com os estudantes.

O quê? Para quê? Como? Quando? Critérios de avaliação

5. Entrar em contato com as dioceses,

coordenadores de pastorais, paróquias e

PdU.

• Participar da Pastoral orgânica da Igraja local.

• Dialogar e trocar experiências. • Mostrar a

existência da PU. • Despertar

consciência sobre o meio

universitário. • Realizar

atividades em conjunto.

• Através de correspondência.

• Estando presente nas instâncias

representativas da Ig. Local.

• Divulgação de materiais da PU.

• Participando das atividades como DNJ,

CF...

• Ao ser convidado para as atividades.

• Buscando conhecer o

calendário dos outros organismos

pastorais.

• Número de pessoas que demonstrem

interesse pela PU. • Número de realizações de atividades em

conjunto.

O quê? Para quê? Como? Quando? Critérios de avaliação

6. Trabalho com vestibulandos e

calouros.

• Acolher e dar assistência ao universitário.

• Proporcionar um ponto de referência.

• Divulgar a PU.

• Organizando standers / painéis de informação sobre a PU.

• Divulgando nas salas de aula. • Criando espaços de

hospedagem para os estudantes.

• Início do semestre.

• Surgir o contato com a PU. • Nível de

conhecimento da proposta da PU.

O quê? Para quê? Como? Quando? Critérios de avaliação

7. EDUC/EUC

• Proporcionar espaços de

convivência e reflexão para os

estudantes. • Apresentar a PU como espaço de

vivência cristã da realidade acadêmica.

• Divulgando o encontro. • Viabilizando infra-estrutura.

• Trabalho em equipe. • Escolhendo palestrantes.

• Entrando em contato com as pessoas que já participaram desses

eventos ou já os assessoraram. • Leitura do Projeto dos EDUCs:

uma proprosta de trabalho

• De acordo com o

planejamento do grupo, o

calendário da Universidade e da Igreja.

• Qualidade do evento.

• Nível de participante e

aproveitamento. • Nível de

engajamento na PU. • Repercussão

externa.

Page 24: Roteiro de Nucleação e Iniciação da PU

24

• Preparar o pós-encontro

(seguimento).

O quê? Para quê? Como? Quando? Critérios de avaliação

8. ERPU/EBPU

• Proporcionar conhecimento da PU a partir de uma

vivência em um espaço orgânico e inter-cidades.

• Definindo critérios / espaços de

participação dos convidados.

• De acordo com o calendário da PU

regional. • De acordo com o nível de interesse

pela PU do convidado.

• Naqueles que não forem deliberativos.

• Nível de interesse do convidado

demonstrado depois do encontro.

• Nível d acolhimento ao convidado.

6.2 Iniciação 6.2.1 Uma proposta de itinerário

A proposta segue o esquema dos quatro aspectos referenciais para os grupos: dinâmica comunitária, espiritualidade, ação evangelizadora e relação com a Universidade. No total, são onze temas que podem ou não equivaler a onze reuniões. Ou seja, é melhor falarmos em onze momentos que precisam ser trabalhados de acordo com a realidade (tamanho, disponibilidade e necessidades) do grupo. Sugerimos uma dinâmica de trabalho para os quatro primeiros temas. Ressaltamos que a sua aplicação deve considerar sempre a realidade particular do grupo. 6.2.1.1 Dinâmica Comunitária

a) IDENTIDADE - QUEM SOMOS NÓS? Dinâmica: O coordenador distribui aos participantes um cartão de cartolina e pede que

cada um escreva seu nome completo. Depois, que conte a história do seu nome: como foi escolhido, que comente se gosta do nome, como gosta de ser chamado, se existe (ou existiu) algum fato interessante relacionado com o seu nome, se tem apelido, se gosta dele, que relembre alguma história de sua família...

Reflexão bíblica: Relembramos as seguintes leituras da Bíblia: ⇒ “Moisés, Moísés! Eis-me aqui, respondeu ele”. (Ex 3,4)

⇒ “Samuel! Samuel! — Falai, respondeu o menino, vosso servo escuta!” (I Sam 3,4) ⇒ “Passando ao mar da Catiléia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao

mar. Jesus disse-lhes: Vinde após mim, eu vos farei pescadores de homens. Eles, no mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no” (Mc 1, 16-18)

⇒ “Saulo, Saulo, por que me persegues? Saulo disse: Quem és, Senhor? Respondeu ele: Eu sou Jesus a quem tu persegues. Então, trêmulo e atônito, disse ele: Que queres que eu faça?

E agora? ⇒ E na universidade, você já prestou atenção no nome dos seus amigos e amigas? ⇒Você conhece a história deles? ⇒Que tal conversar com eles durante a semana?

b) INTEGRAÇÃO GRUPAL Dinâmica: Pedir a todos os participantes que façam um círculo. Em seguida, pedir para

que, dois a dois, fiquem de costas uns para os outros e dêem-se as mãos. Lançar o desafio para voltarem a estar de frente uns para os outros sem quebrar a corrente (as mãos devem permanecer seguras todo o tempo). Ao final da dinâmica, pedir para cada um narrar como se sentiu: se

Page 25: Roteiro de Nucleação e Iniciação da PU

25

participou da tomada de decisão ou deixou-se guiar pelos demais, se lhe pareceu difícil ou fácil a tarefa, como interagiu com as outras pessoas...

Reflexão bíblica: “Jesus reuniu seus doze discípulos. Conferiu-lhes poder de expulsar os espíritos imundos e de curar todo o mal e toda enfermidade. Eis o nome dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro, depois André, seu irmão. Felipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu e Judas Iscariotes, que foi o traidor” (Mt 10, 2-4).

E agora? Você gostaria de fazer parte de um grupo de cristãos? Quais são as suas expectativas?

c) INTEGRAÇÃO GRUPAL Dinâmica: Pedir para os participantes se reunirem em duplas e, em silêncio, responderem

ao questionário abaixo, tentando fazê-lo apenas através da observação. A seguir, pedir para as duplas analisarem as respostas buscando confrontar as imagens, que cada um formulou do/a companheiro/a, com a realidade. Ao final, discutir com todo o grupo sobre o tema das “imagens” tão presentes na sociedade e nos grupos de jovens (em que ajuda e em que dificulta o relacionamento humano).

Olha para a/o tua/teu companheira/o e adivinha: ⇒ Qual é o seu filme preferido? ⇒ Na sua opinião, qual é a sua comida preferida? ⇒ Qual é o seu tipo de música predileto? ⇒⇒⇒⇒ Você acha que ela/ele gostaria de:

SIM NÃO

Viajar. Ir à Igreja. Ter um carro próprio. Viver em outro país. Ver esportes. Ter filhos e filhas. Ler muitos livros.

⇒ Tua/teu companheira/o é de que cidade e estado? Reflexão bíblica: “Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.

Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis, que se arrastam sobre a terra. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher” (Gn 1, 26-27).

E agora? ⇒ Que atitudes devemos manter no nosso grupo? ⇒ É possível comprometermo-nos em apresentar a nossa verdadeira dimensão e também

de buscar conhecer o outro na sua essência? ⇒ É possível caminharmos juntos num processo comunitário que nos permite. ao mesmo

tempo, descobrirmo-nos e descobrir o/a outro/a, buscando complementarmo-nos uns aos outros e desenvolver ao máximo as nossas potencialidades?

d) VIDA COMUNITÁRIA: UMA PROPOSTA CRISTÃ Dinâmica: Uma pessoa se coloca como voluntária. Sua tarefa será tentar entrar no grupo.

Sem que ela saiba, pedir ao restante do grupo para não deixá-la entrar. Marcar um tempo de três minutos. Depois, os participantes partilham como se sentiu o que queria entrar e não podia, e os que não o deixaram entrar.

Reflexão bíblica: Preservavam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações. De todos eles se apoderou o temor, pois pelos apóstolos foram feitos

Page 26: Roteiro de Nucleação e Iniciação da PU

26

muitos prodígios e milagres em Jerusalém, e o temor estava em seus corações... E agora? ⇒ Por que Jesus elege um grupo para desenvolver junto com Ele a sua missão? ⇒ Para Deus é importante a vida em grupo? Por quê? ⇒ Existem muitos grupos em nossa sociedade? Quais? ⇒ Qual a diferença entre um grupo cristão e os demais grupos?

6.2.1.2 Espiritualidade

a) SIM AO CHAMADO DE DEUS Oração Inicial: Salmo 138. Dinâmica: Leitura da música Deus chama a gente pra um momento novo... Cada

integrante deve receber uma cópia da música e, depois, completar a seguinte frase DEUS CHAMA A GENTE PRA....

Reflexão bíblica: O chamado a Jeremias (Jr. 1,4-10). E agora?

b) VIVER SEGUNDO O ESPÍRITO ⇒Rm 12, 1ss; ⇒Texto base: Fiéis no cotidiano de Luís Roberto Benedetti, no documento: Dia de oração

Latino-Americano, X Comitê Latino-Americano do MIEC-JECI. c) A VIDA CRISTÃ COMO LUGAR DE SEGUIMENTO DE JESUS ⇒ At 2,42; d) A ESPIRITUALIDADE DO SABER ⇒ Ver texto de Luís Fernando Crespo no documento do Encontro Latino-Americano de

PU.

6.2.1.3 Ação Evangelizadora a) A MISSÃO DA PU É FORMAR COMUNIDADES ⇒ Música: Brincar de Viver (Guilherme Arantes).

h) CONHECENDO A PU: SUA HISTÓRIA, ESTRUTURA E METODOLOGIA ⇒ Subsídios da PU.

6.2.1.4 Relação com a Universidade

a) SER UNIVERSITÁRIO HOJE ⇒ Partilha: textos sobre a situação da universidade ou alguma dinâmica de análise da realidade.

b) A UNIVERSIDADE COMO TERRA DE MISSÃO ⇒ Elaborar um pequeno instrumento de pesquisa da realidade, com base nos indicadores

utilizados na pesquisa apresentada no EIRC.

c) CIDADANIA ESTUDANTIL ⇒ Fragmentos do texto do Boletim Internacional.

6.2.1.5 Dicas importantes

Ao final de todo o processo, sugerimos uma celebração em que, em conjunto com outros grupos e/ou convidados especiais, se façam:

⇒ Memória de momentos importantes; ⇒ Renovação do compromisso batismal;

Page 27: Roteiro de Nucleação e Iniciação da PU

27

⇒ Escolha do símbolo e do nome para o grupo.

É importante relembrar que nosso processo de formação prima pela relação teoria/prática. Para que se possa vivificar essa busca de práxis, recomendamos que, em seu decorrer, o grupo possa fazer algumas experiências educativas. Como exemplo, citamos:

Vida comunitária: os componentes saírem juntos para assistir a um filme, ou ir a um barzinho, ou para a casa de alguém, para um bate-papo informal, a fim de haver maior integração. O grupo não pode ficar limitado apenas ao espaço da reunião semanal ou quinzenal, é preciso criar uma dinâmica de grupo, de pessoas que se querem e que compartilham um mesmo ideal e uma mesma fé.

Espiritualidade: que o grupo possa fazer um dia de oração ou um retiro ou uma celebração. É preciso ir criando espaços comunitários de celebração da fé. É preciso ir educando os universitários na oração pessoal, cultivando o prazer do encontro com Deus.

Ação evangelizadora: é preciso criar espaços de ação para o grupo. Podem ser ações assistencialistas, mas é importante que sejam dotadas de um caráter pedagógico. O encontro pessoal com o pobre, o necessitado ajuda no encontro com Deus. Também, nesse momento, reconhecer a realidade eclesial e social em que o grupo está inserido.

Relação com a Universidade: podem ser gerados encontros com outros atores como o ME, grupos de culturas, conversas com professores que ajudem a descobrir a realidade da Universidade e a missão como cristãos.

VII Avaliação

Avaliar significa rever o caminho percorrido. A avaliação é uma etapa que propicia os avanços do grupo, porque nos permite lançar um olhar crítico, suscitando sugestões para corrigir os equívocos e reafirmar princípios e atividades positivas. Ela é fundamental na vida dos grupos; ela lembra a atitude de Deus diante da criação (“Deus viu as coisas que fez e disse que eram boas” Gn 1, 10). Assim, esse ato não deve estar relacionado com uma perspectiva de punição, exclusão ou a simples classificação.

A proposta de avaliação para a Pastoral Universitária precisa ser contínua, isto é, não nos restringirmos a determinados momentos de operacionalização de nossos projetos, do que decorreria uma visão fragmentada, parcializada de nossa ação no mundo da Universidade, além de que, para criarmos uma cultura avaliativa, é necessário que esta passe a ser uma prática cotidiana na caminhada. 7.1 Quem avalia

Devemos ter bastante consciência de que a eficiência da avaliação é proporcional à sua abrangência, tanto dos pontos a serem avaliados, quanto dos sujeitos que a protagonizam. Chamamos de avaliadores tanto os que elaboram e coordenam o processo, como aqueles que emitem juízo de valor sobre os temas propostos.

a) Nucleados/iniciantes — apesar de não serem os coordenadores do processo avaliativo, os nucleados/iniciantes têm importante papel. Como destinatários e/ou interlocutores diretos, eles serão os mais indicados para emitirem juízo de valor.

b) Nucleadores/acompanhantes — como coordenadores do processo, eles farão, na verdade, uma auto-avaliação das idéias propostas e executadas e do seu próprio comportamento.

c) Sujeitos externos — são os atingidos apenas indiretamente pelo processo: o público universitário em geral, o da diocese, os colegas mais próximos que não se envolvem... E importante considerar a opinião deles, mesmo que seu não-envolvimento prejudique o conhecimento sobre 05 detalhes do processo. Também como sujeitos externos, contamos com algum especialista de fora (da PU de outra cidade ou de outra Pastoral da mesma diocese) cuja análise é importante, à medida que conseguimos observar pequenos detalhes que podem ser encobertos por nossa proximidade extrema com o processo.

Page 28: Roteiro de Nucleação e Iniciação da PU

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7.2 Condicionantes para uma boa avaliação

Chamamos a atenção para a importância de alguns condicionantes essenciais para uma boa avaliação:

⇒É preciso que o processo avaliativo seja preparado, elaborando-se antecipadamente os critérios que irão confrontar-se com os resultados e um cronograma de aplicação da avaliação. ⇒ É preciso que tenhamos um bom instrumento de trabalho, indicando, por exemplo, quais os dados que vamos recolher (pontos a serem abordados) e de que maneira vamos fazê-lo. O instrumento de trabalho irá, inclusive, traduzir se nossa avaliação vai considerar dados objetivos e subjetivos e se queremos uma avaliação quantitativa e/ou qualitativa.

⇒É fundamental que se faça um bom registro do material captado e das análises feitas. A memória histórica servirá para o futuro imediato do grupo, o futuro de grupos que virão, grupos de outras cidades; enfim, para uma análise histórica da própria PU.

⇒ Uma condição mais subjetiva, porém, não menos importante, é a predisposição que temos ao iniciarmos um processo de avaliação. Pedimos apenas que não seja a de punição, correção ou outra coisa do gênero. Essa é a hora de lembrarmos que a avaliação é, na verdade, aquilo que está por trás de nossa dinâmica de crescimento cristão (a RdV), ou seja, que possui uma profunda inspiração na fé num Deus que é, sobretudo, misericordioso.

7.3 Sugestões de instrumentos de trabalho

Hoje, podemos encontrar uma bibliografia relativamente farta sobre avaliação. Há, inclusive, trabalhos de tese sobre o tema. Mesmo as cartilhas de dinâmicas para trabalhos em grupo trazem sugestões de fichas, etc. A intenção é oferecermos um exemplo de como isso pode ir se adaptando à PU. Observem, contudo, que os dois exemplos que apresentamos a seguir são incompletos e genéricos. Incompletos, porque ainda haverá outros itens que poderão ser pesquisados; genéricos, porque está dirigido a todas as realidades e a nenhuma em especial. É fundamental que, ao elaborarmos um projeto de NUCLEAÇÃO/INICIAÇÃO, elaboremos junto o instrumento para a avaliação. 7.3.1 Para o processo de NUCLEAÇÃO

A)Dados Objetivos: a) Data e local dos eventos que tiveram o objetivo direto de nuclear. b) Tema, pauta e metodologia. c) Número de inscritos/participantes. d) Custos financeiros (é importante incluirmos tudo o que gastamos, principalmente o que

vem da contribuição direta dos estudantes). e) Responsáveis diretos e indiretos pela organização.

B) Sobre a preparação do evento: a) Número e origem das pessoas envolvidas na preparação.

b) Como foi o trabalho de preparação? Houve planejamento e um plano escrito? Se, sim, como foi a execução do cronograma operacional ? Qual foi o envolvimento da Igreja local?

c) Como foi o processo de divulgação do evento? Quais os canais e linguagem utilizada? Que impacto esse processo teve sobre o público (quantos se inscreveram/participaram em função desse trabalho)?

d) Qual o nível de preocupação com a questão financeira?

C) Sobre o evento: a) Que avaliação fizeram os participantes em relação:

⇒ a tema(s) abordado(s); ⇒ a assessor(es)/Palestrante(s);

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⇒ à dinâmica e metodologia; ⇒ à infra-estrutura; ⇒ a presenças/ausências.

b) Quais as dificuldades encontradas pela equipe de organização em relação: ⇒ a envolvimento dos participantes; ⇒ à infra-estrutura; ⇒ à capacidade de coordenação das atividades.

D) Sobre o pós-evento:

a) Houve repercussão na cidade/universidade/diocese? b) Houve avaliação sistemática ou só a final? c) Quantas pessoas explicitaram o interesse pela PU após o evento? d) Quais as repercussões que houve no grupo de PU ou na equipe que preparou e

executou o evento? 7.3.2 Sobre o processo de INICIAÇÃO

O instrumento que segue poderá ser adaptado para servir como ficha de acompanhamento contínuo (avaliação durante) do processo, de maneira que, ao seu final, tenhamos uma visão evolutiva do mesmo.

A) Dados objetivos: a) Quantas pessoas começaram o processo de INICIAÇAO h) Quantas concluíram o processo? c) Quantas e quais as atividades desenvolvidas? d) Quantas pessoas se envolveram diretamente como acompanhantes?

B) Sobre o planejamento: a) Como se originou o processo (motivação)? b) Houve elaboração de um plano? Com que nível de detalhes? c) Houve preparação individual para o acompanhamento do processo? d) Foram indicados responsáveis diretos pelo acompanhamento do processo?

C) Sobre a execução: a) Houve co-responsabilidade do grupo no acompanhamento do processo? b) Qual o nível de preparação de cada atividade? c) Quais as dinâmicas mais utilizadas? Quais as que deram certo? E as que não deram? c) Que material (subsídio escrito) foi utilizado? d) Qual o nível de envolvimento dos iniciantes na preparação e execução das atividades? e) Houve processo de avaliação sistemática (no decorrer da INICIAÇÃO)? f) Que fatos podem ser aponados como indicativos concretos do avanço dos iniciantes? g) O que não foi feito no processo? h) Qual a manifestação dos iniciantes quanto ao trabalho realizado (atividades)? i) Qual a reação dos iniciantes diante da proposta da PU? j) Qual o grau de criatividade desenvolvida no processo? k) O que foi percebido de novo ou original no processo? l) Qual o momento ou fato que indicou o término do processo?

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VIII Conclusão

Esperamos que este ROTEIRO possa servir de inspiração a todos aqueles que quiserem fomentar grupos de Pastoral Universitária em sua Universidade seja ela federal, estadual, comunitária, confessional ou não.

Ele é fruto de muito trabalho, discussões, estudo, noites em claro, dedicação. Não citamos nomes, pois foram muitas as mãos que o escreveram, como bem exemplifica

a capa. A Pastoral Universitária tem possibilidade de existir mais claramente depois desse

ROTEIRO DE NUCLEAÇÃO E INICIAÇÃO, que é parte essencial do material que integra o KIT PU e pode ser solicitado para:

Secretaria Nacional da Pastoral Universitária Caixa Postal 02067 70259-970 — Brasília — DF Fone: 313-8300 E-mail: [email protected]

Sumário

I. Apresentação ...........................................................................................................2 II. Introdução ..............................................................................................................5 III O modelo de nossos grupos ....................................................................................6 IV Nucleação e iniciação: A PU como processo .......................................................11 V Fatores que condicionam o processo .....................................................................18 VI Atividades .............................................................................................................22 VII Avaliação.............................................................................................................27 VIII Conclusão...........................................................................................................30