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Sistemas Integrais de Convivência com o Semiárido Territórios Cariri/PB e Apodi/RN 16 a 24 de março de 2013 ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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Sistemas Integrais de Convivência com o Semiárido

Territórios Cariri/PB e Apodi/RN 16 a 24 de março de 2013

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

SEMEAR

Programa de gestão do conhecimento em zonas semiáridas do Nordeste brasileiro

O Semear é um programa de gestão do conhecimento que visa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população rural e para o desenvolvimento sustentável e equitativo do Semiárido nordestino, por meio do fortalecimento de redes de colaboração e de aprendizagem e da disseminação de conhecimentos e práticas alinhadas para a convivência com a região.

Para cumprir seu objetivo, o Semear promove e articula iniciativas de gestão do conhecimento em suas áreas temáticas estratégicas - inovações produtivas e tecnológicas; recursos naturais e adaptação às mudanças cli-máticas; e negócios rurais. As atividades desenvolvidas em seu âmbito incluem a produção e a publicação de sistematizações de experiências e de estudos temáticos, assim como a realização de visitas de intercâmbio, estágios, oficinas, seminários, feiras de saberes e rotas estratégicas de aprendizagem.

Para subsidiar os processos de aprendizagem coletiva e social, bem como a disseminação de conhecimentos e experiências que possam ser adotadas e replicadas pela população rural, especialmente agricultores e agri-cultoras familiares, o Semear utiliza diferentes estratégias e ferramentas de gestão do conhecimento: gestão de portal web do programa; construção de Banco de Saberes e Atores do Semiárido; produção de materiais impressos e audiovisuais especializados; elaboração de catálogo eletrônico de associações e cooperativas; pro-dução de materiais metodológicos, dentre outros.

Implementado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola – FIDA e pelo Instituto Interameri-cano de Cooperação para a Agricultura – IICA, com o apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento – AECID, o Semear tem como área de abrangência os estados da Bahia, Ceará, Paraí-ba, Piauí, Pernambuco e Sergipe.

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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3ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

O QUE É A ROTA DE APRENDIZAGEM?As Rotas de Aprendizagem1 consistem em viagens e visitas planejadas com propósitos formativos a experiên-cias locais, desenhadas a partir de dois componentes centrais: i) as necessidades de conhecimento de agentes sociais que enfrentam desafios relacionados aos processos de desenvolvimento; ii) a identificação de expe-riências relevantes com resultados bem sucedidos e com saberes práticos potencialmente úteis para dissemi-nação, capazes de aproximar agentes e organizações - com problemáticas similares - de maneira inovadora para gerar novos aprendizados.

A preparação de uma Rota de Aprendizagem e a seleção das experiências incluem processos desenvolvidos de forma simultânea: i) sistematização das experiências, e ii) fortalecimento de talentos locais. Ambos se orien-tam para produzir informações sobre cada um dos casos, e ao mesmo tempo, incorporar os seus responsáveis no processo de intercâmbio e aprendizagem coletiva durante as Rotas, mediante uma revisão crítica da própria trajetória e do fortalecimento das capacidades dos agentes sociais envolvidos em cada um dos casos.

Nesse desenho pedagógico, a sistematização e o fortalecimento das experiências e talentos locais seleciona-dos significam: i) revelar e organizar o saber dos agentes sociais (sistematizar), identificando lições, aprendiza-dos e práticas, e ii) planejar estratégias para reforçar e comunicar o saber dos agentes sociais aos participantes da Rota, conforme os seus objetivos de aprendizagem. Ao sistematizar experiências, são identificados, valida-dos e compartilhados “ativos de conhecimento”, valiosos e significativos para a aprendizagem, para a inovação social e para sua possível replicação em outros ambientes.

A Rota é um processo pedagógico e de aprendizados que se concretiza em diversos espaços e momentos me-todológicos:

Feira de Experiências: cada participante da Rota socializa, de forma sucinta, a situação atual de sua organi-zação/instituição dentro da temática da Rota Sistemas Integrais de Convivência com o Semiárido, levando em conta os principais desafios e oportunidades para melhorar a situação inicial. Esta apresentação se realiza como uma “Feira de Experiências”, na qual, cada participante um organiza monta painéis ou estandes. É muito importante que os participantes façam uso de material gráfico, fotografias e outros para contextualizar refe-rente a sua experiência.

1 Ferramenta metodológica criada e validada pela organização Procasur, com apoio do FIDA e de outras instituições que, ao longo de sua aplicação em diferentes países da América Latina, Ásia e África, vem sendo aperfeiçoada e ajustada, segundo as particularidades de cada país e regiões rurais.

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Esse exercício permite aos participantes e facilitadores da Rota uma visão compartilhada sobre os diferentes agentes envolvidos na Rota e suas necessidades de aprendizagem específicas. Representa a 1ª passagem da aprendizagem individual para um processo coletivo de apropriação e utilização dos novos conhecimentos. Mo-tiva a colaboração e o intercâmbio entre os participantes.

Oficinas de Análises de Casos: têm como finalidade facilitar a compreensão e as análises das experiências vi-sitadas durante a Rota, promovendo a identificação de dos conhecimentos relevantes e sua apropriação pelos participantes. Estas As oficinas possibilitam a identificação de ideias inovadoras e a reflexão acerca das possi-bilidades de adequação e réplica das mesmas em outros contextos.

Em cada uma das oficinas de análise dos casos, é constituído um grupo de participantes com a responsabili-dade de elaborar insumos para a análise coletiva, provocar e sensibilizar os outros participantes ao diálogo e à reflexão em torno das experiências, os secretários de caso. A equipe metodológica da Procasur é responsável pelo acompanhamento do processo de aprendizagem, por meio de uma comunicação adequada, pela ani-mação das atividades, análises e debates em torno das ideias inovadoras articuladas com a temática da Rota.

Oficinas para Elaboração dos Planos Conjuntos de Gestão do Conhecimento: nessas oficinas, a equipe me-todológica da Rota apoia a elaboração de propostas de Planos de Gestão de Conhecimento pelos participantes, facilitando o intercâmbio e a socialização de ideias inspiradas na temática da Rota e nos casos anfitriões apre-sentados. É um espaço de articulação e de sintonia entre os participantes, de nivelamento e consensos acerca da concepção de Planos de Gestão de Conhecimento na perspectiva da construção de diálogos, na integração dos novos aprendizados em ações cotidianas de forma inovadora e adaptada culturalmente, e na disseminação e intercâmbio de conhecimentos entre os agentes e instituições da Rota. Os planos construídos durante essas oficinas serão acompanhados e poderão ser apoiados pelo Programa Semear.

A equipe metodológica, apóia os participantes na identificação e definição de suas propostas, promovendo a análise acerca da viabilidade e sustentabilidade e incentivando a articulação e coordenação com os demais agentes da Rota e casos anfitriões, em torno de ações concretas de gestão do conhecimento.

A expectativa é que durante a Feira de Experiências os participantes da Rota “encontrem” seus pares, e come-cem a se organizar para refletir sobre propostas de Planos de Gestão de Conhecimento.

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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5ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A Oficina de Análise Geral da Rota Estratégica de Aprendizagem se organiza em três momentos importantes:

• Principais lições aprendidas e conclusões da Rota: momento para a construção de um olhar coletivo em tor-no do tema Metodologias de Construção e Disseminação de Conhecimento, conduzido pelo coordenador temático, a partir do conjunto de análises e reflexões desenvolvidas ao longo da viagem.

• Feira de Planos de Gestão Conjunta do Conhecimento: momento para a socialização dos principais eixos de ação das propostas de Gestão de Conhecimento, para uma reflexão coletiva e feedback entre os participan-tes e a equipe metodológica. Esse exercício contribui para a apropriação das ideias de inovação pelos parti-cipantes da Rota e fortalece os compromissos para sua disseminação nos diferentes contextos de origem.

• Avaliação coletiva e individual dos diferentes aspectos da Rota (técnico, metodológico, de convivência, apoio logístico, etc.), compromissos e perspectivas de continuidade do trabalho.

A Rota de Aprendizagem, enquanto processo de construção coletiva do conhecimento, estimula e se alimenta da colaboração ativa e da interação do grupo. Ouvir, aprender e refletir; sensibilizar-se para as vivências da Rota. Os participantes devem dialogar com as lições e práticas das experiências visitadas, bem como construir de forma conjunta estratégias de ação e de aplicação dos aprendizados adquiridos.

A Rota de Aprendizagem se propõe a dar visibilidade e valorizar os saberes locais e práticas acumuladas pe-las populações e suas organizações para enfrentar os desafios do desenvolvimento. Aponta caminhos a para transformar esses conhecimentos em insumos para a ação, aperfeiçoando práticas concretas e propondo ou-tras alternativas viáveis para os contextos de origem dos participantes da Rota.

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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6ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

SISTEMAS INTEGRAIS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Objetivos de aprendizagem da rota:

• Aprofundar o conhecimento sobre o conceito da convivência com o semiárido a partir de uma perspectiva que integra as várias dimensões do desenvolvimento sustentável;

• Ampliar o conhecimento técnico e metodológico sobre estratégias de convivência com o semiárido que estão sendo levadas a cabo pelas famílias agricultoras e suas organizações representativas e de assessoria.

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7ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 1

MAPAROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Região NordesteBrasil

N

Cariri

Apodi

COOFAP COOPAPI

LAGE DO MEIO MOACI -LUCENA

SOMBRAS GRANDES / MILAGRESCACIMBA DO MEIO

CONSORCIOS ALIMENTARES

ZE MARCOLINO

COMUNIDADE TINGUI

CONSORCIOS ALIMENTARES COOAFAP

COOPAPI

COMUNIDADE TINGUI ZE MARCOLINO

MOACI LUCENA E LAGE DO MEIO CACIMBA DO MEIOSOMBRAS GRANDES E

MILAGRES

CASO 2 CASO 3 CASO 4

CASO 5 CASO 6 - 7 CASO 8 CASO 9

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8ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

PROGRAMAÇÃO ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Rota Estratégica de Aprendizagem Sistemas Integrais de Convivência com o SemiáridoTerritórios Cariri/PB e Apodi/RN, 16 a 24 de março de 2013

DIA HORÁRIO ATIVIDADE DESCRIÇÃO16 Sáb 09:00 – 13:00 Chegada e almoço em Recife-PE

13:00 – 18:00 Deslocamento de Recife e outras localidades para Monteiro no Terri-tório do Cariri-PB

Saída de Recife em direção a Monteiro/PB, re-cepção e acomodação na Pousada dos Poemas

19:00 – 21:00 Boas-vindas e introdução à Rota Estratégica de Aprendizagem no âmbito do Programa Semear

Apresentação da equipe e participantesAcordos de convivênciaJantar de confraternização

17Dom

08:00 – 11:00 Oficina de Introdução à Rota Estra-tégica de Aprendizagem

Introdução à Rota no âmbito do Semear: obje-tivos, metodologia e programação Introdução Temática: Sistemas Integrais de Convivência com o SemiáridoBreve resumo dos elementos e características específicas dos casos que serão visitadosFeira de experiências

11:00 – 12:30 Oficina de análises e introdução ao Território do Cariri

Roda de diálogo com agentes relevantes e membros do Comitê Territorial do Cariri/PB em Monteiro/PBLições e aprendizados da primeira etapa da Rota

12:30 – 14:30 Almoço com convidados em Mon-teiro

14:30 – 19:00 CASO 1: Fortalecimento da organi-zação da agricultura familiar para o acesso aos mercados local e insti-tucional (feira agroecológica, PAA e PNAE)

Visitas e interação com famílias nas áreas de produção agroecológica de hortaliças e frutas na comunidade de Tingui

19:00 – 21:00 Confraternização na comunidade18 Seg 08:00 – 12:00 CASO 2: A Experiência de educação

contextualizada no assentamento Zé Marcolino

Visitas e interação com lideranças, professores/as e alunos/as da escola do assentamento Zé Marcolino / Assent. Zé Marcolino (ver distância)

12:00 – 14:00 Almoço livre14:00 – 18:00 CASO 3: O itinerário técnico e me-

todológico da experiência dos Con-sórcios Alimentares Agroecológi-cos

Roda de diálogo: Apresentação do itinerário técnico e metodológico da experiência dos Con-sórcios Alimentares Agroecológicos / Salão em Monteiro.

19:00 Jantar livre

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9ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

PROGRAMAÇÃO ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

DIA HORÁRIO ATIVIDADE DESCRIÇÃO19 Ter 08:00 – 12:30 Oficina de análises território do Ca-

ririRoda de diálogo com agentes locais e talentos locais das experiências visitadas

Oficina sobre Plano de Inovação em Gestão do Conhecimento: pri-meiras ideias e parcerias

Lições e aprendizados da primeira etapa da Rota

12:30 – 13:30 Almoço livre Saída do Hotel13:30 – 19:00 Deslocamento para Território do

Apodi/RNViagem e hospedagem Hotel em Caraúbas/RN

19:00 Jantar no hotel20 Qua 08:00 – 11:00 Oficina sobre Plano de Inovação

em Gestão do Conhecimento (con-tinuação)

Reunião do grupo da Rota com facilitadores/es-pecialista temático

11:00 – 12:30 Oficina de análises e introdução ao Território do Apodi/RN

Roda de diálogo com agentes relevantes e membros do Comitê Territorial do Apodi/RNBreve apresentação das experiênciasLições e aprendizados da segunda etapa da Rota

12:30 – 14:30 Almoço com convidados no Hotel14:30 – 18:00 CASOS 4 e 5: O cooperativismo da

agricultura familiar no Território do Apodi/RN

Feira de experiências com representantes da COOPAPI e COOAFAPApresentação em stands de experiência das cooperativas: iniciativas produtivas, trajetória, êxitos da organização, lições aprendidas e de-safiosCirculação dos participantes nos stands, e re-flexão com exercícios de dialogo e interlocução

19:00 – 22:00 Confraternização no hotel com convidados

21 Qui 07:00 – 12:00 CASOS 6 e 7: Diversificando e be-neficiando a produção para con-viver melhor com o semiárido: os exemplos dos assentamentos Moa-ci Lucena e Lage do Meio

Divisão em 2 grupos para visitaVisitas e interação com a comunidade no assen-tamento Moaci LucenaVisitas e interação com a comunidade no assen-tamento Lage do Meio

12:00 – 14:00 Almoço livre em Apodi ou Caraúbas14:00 – 18:00 Oficina sobre Plano de Inovação

em Gestão do Conhecimento (con-tinuação)

Reunião do grupo da Rota com facilitadores/es-pecialista temático

19:00 Jantar livre

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10ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

PROGRAMAÇÃO ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

DIA HORÁRIO ATIVIDADE DESCRIÇÃO22 Sex 07:00 – 12:30 CASO 8: Experiência da comunida-

de de cacimba do meio com a con-vivência com o semiáridoCASO 9: Sistemas irrigados agro-ecológicos no semiárido

Divisão em 2 gruposVisitas e interação com a Comunidade de Ca-cimba do MeioVisitas e interação com a comunidade de Som-bras Grandes e Milagres

12:30 – 14:30 Almoço com convidados no Hotel14:30 – 18:30 Oficina de análise Território do

ApodiRoda de diálogo com agentes e talentos locais das experiências visitadasLições e aprendizados da segunda etapa da Rota

19:00 Jantar livre23 Sab 08:00 – 12:00 Oficina sobre Plano de Inovação

em Gestão do Conhecimento (con-tinuação)

Conclusões e lições aprendidas na Rota:Exercício coletivo de Lições aprendidas gerais da RotaApresentação do especialista técnico sobre as conclusões em torno da temática de convivên-cia integral com o semiárido

12:00 – 14:00 Almoço no hotel14:00 – 18:00 Oficina de Encerramento da Rota Preparação da apresentação dos Planos de Ino-

vação Feira de Planos de Inovação e retroali-mentaçãoAvaliação da Rota de aprendizagem

19:00 Confraternização24 Dom Retorno via aeroporto de Natal e

outros destinosAlmoço e jantar livre

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11ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE SOBRE A CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

Felipe Jalfim 1

INTRODUÇÃO

O presente texto complementa uma série de sistematizações de experiências sobre a convivência com o Se-miárido. Todos foram escritos com o objetivo pedagógico de apoiar os debates entre lideranças de organi-zações de agricultores/a, educadores/as e técnicos/as participantes da Rota de Aprendizagem Sobre Sistemas Integrais de Convivência com o Semiárido2, realizada nos territórios do Sertão do Apodi-RN e Sertão do Cari-ri-PB.

O efeito de complementação contido nesse texto se refere a sua finalidade específica de aportar elementos teóricos e de contexto que ajudem à configuração de uma visão integrada da noção da convivência com o Se-miárido, a partir dos aprendizados práticos, vivenciados durante a Rota.

Neste sentido, o olhar sobre as experiências visitadas deve estar municiado de uma visão holística, que ajude à percepção sobre as estratégias presentes (ou ainda ausentes) que estão sendo desenvolvidas pelas famílias anfitriãs, com o apoio de suas organizações de assessoria. Isso ajudará, com certeza, a entender a inserção da experiência numa proposta mais ampla de desenvolvimento rural sustentável com base na convivência.

Desse modo, o texto se inicia com elementos paradigmáticos importantes para o entendimento da noção de convivência com o Semiárido que vem sendo historicamente construída nesta região. A partir dessa visão do novo paradigma de desenvolvimento que se busca para o Semiárido, é apresentada uma reflexão sobre as-pectos técnicos e metodológicos, a luz da Agroecologia, que estão sendo enfatizados na busca de agroecos-sistemas sustentáveis. A essa busca se integra a formação de uma economia que coaduna com a perspectiva da convivência, que é brevemente tratada no texto. Ademais, o texto faz menção à dimensão sociopolítica da convivência, ressaltando os papeis estratégicos da organização social e da educação contextualizada para o processo de desenvolvimento rural sustentável baseado na convivência.

Por fim, o texto é trabalho a partir de referencial bibliográfico, especialmente selecionado, para servir como indicação de roteiro de consultas e estudos mais aprofundados sobre o tema da convivência.

1 Vice-Presidente Região Nordeste da Associação Brasileira de Agroecologia-ABA e Coordenador de planejamento do Projeto Dom Helder Camara (PDHC), vinculado à Secretaria de Desenvolvimen-to Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA), em colaboração com Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (FIDA) e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).2 Promovida pelo Programa Semear – Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste brasileiro, implementado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola – FIDA, com apoio da Agência Espanhola para a Cooperação Internacional – AECID. A referida Rota Estratégica conta a assistência técnica-metodológica da organização chilena Procasur e com o apoio do Programa Dom Helder Câmara (SDT/MDA) e da Diaconia.

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12ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

UMA APROXIMAÇÃO À NOÇÃO DA CONVIVÊNCIA

A noção da convivência entre o homem e o ambiente que o cerca é uma condição imperativa para a sustenta-bilidade dos recursos naturais, e, portanto, da própria existência do ser humano. É uma preocupação e dilema presentes nas civilizações do planeta desde os tempos mais remotos até os dias atuais.

A perspectiva da co-evolução dos sistemas sociais e ambientais, postulada por Norgaard e Sikor (2002), per-mite compreender que o sentido da convivência não se limita apenas aos sistemas agrícolas localizados em regiões com condições ambientais limitantes à agricultura, como no caso da região Semiárida brasileira. Com efeito, a busca da convivência homem / natureza nada mais é do que uma busca por um tipo de co-evolução que resulte em benefícios duradouros para os sistemas sociais e ambientais.

Quando a convivência não é perseguida, a intervenção humana provoca distúrbios ecológicos que agravam os limitantes ambientais e, consequentemente, os benefícios aos sistemas sociais. Como exemplo de um pro-cesso de co-evolução que não apresenta benefícios sociais e ambientais duradouros, estão as pragas da agri-cultura moderna, que co-evoluíram com o uso dos agrotóxicos, usados na ótica reducionista de que as pragas podem ser controladas de forma isolada do agroecossitema como um todo (NORGAARD & SIKOR, 2002). O tema da co-evolução dos sistemas sociais e ambientais fica mais patente, e até mesmo dramático, eviden-ciando claramente a necessidade de uma convivência entre a presença humana e o ambiente que o cerca, quando se trata de populações rurais que vivem sob fatores ambientais mais extremos, a exemplo do clima e da altitude, aliados a ecossistemas frágeis, que normalmente necessitam de um tempo mais longo de recupe-ração frente aos distúrbios ecológicos de origem natural ou antrópica.

Neste sentido, são inúmeros os exemplos de civilizações que conviveram com os ambientes extremos e neles desenvolveram uma fantástica co-evolução dos sistemas sociais e ambientais. Um caso muito emblemático, e que deixou um importante legado agrário para a humanidade, é o dos sistemas agrários pré-incaicos. Sobre es-tes sistemas, localizados em zonas bioclimáticas muito variadas e extremas, Mazoiyer e Roudart (2010), fazem uma descrição que muito ilustra o tema da convivência:

[...] os povos cultivadores disseminados nesse universo descontínuo se adaptaram às dificuldades particulares des-te ambiente. A fim de reduzir os riscos de colheitas fracas ou nulas, eles multiplicavam as parcelas cultivadas nas condições mais variadas e diversificavam os cultivos e as variedades em uma mesma parcela. [...] Exploravam vários territórios situados em diferentes níveis ecológicos de altitude de maneira a tirar partido de suas possibilida-des de produção complementares [...] (MAZOIYER e ROUDART , 2010, p. 229 e 230)

Por outro lado, a história também mostra que aquelas civilizações de base agrícola que desrespeitaram os limi-tes impostos por seus ambientes, desapareceram ou transformaram seus ambientes produtivos em desertos. A Mesopotâmia, região considerada como berço de várias civilizações - onde hoje se localizam Síria, Iraque e Irã -, desenvolveu uma agricultura baseada na irrigação onde antes era floresta. Gradativamente, esta região foi sendo desertificada até virar uma região coberta de areia. Outro exemplo é a civilização maia, na Guatema-la, que aparentemente entrou em colapso ao esgotar a capacidade produtiva de seus solos (REIJNTJES et al., 1994).

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13ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Mesmo no auge do paradigma dominante do “combate à seca”, havia vozes destoantes, que davam as pri-meiras contribuições para a noção da convivência com o Semiárido. Guimarães Duque é um exemplo, entre os vários estudiosos sobre a questão do semiárido brasileiro, que em meados do século passado lançou um novo olhar sobre os problemas socioeconômicos e ecológicos desta região. Sua obra, sistematizada em três livros 3, deu ênfase à adequação do homem e suas atividades produtivas às limitações e potencialidade inerentes ao clima e aos recursos naturais desta região. Já em 1949, na primeira edição do seu livro Solo e Água no Polígono das Secas (DUQUE, 2004), Guimarães Duque apontava para as bases da noção de convivência para além da so-lução hidráulica e da visão agronômica tradicional; ou seja, dava ênfase às bases ecológicas necessárias a uma produção sustentável no ambiente semiárido e a uma educação regionalizada (contextualizada), conforme pode ser visto a seguir:

Já era tempo de as escolas primárias, secundárias e superiores terem os seus programas calcados no clima da região, na aridez, no açude, na água subterrânea, nas plantas resistentes à seca, na irrigação, na conservação dos alimentos e na forragem, nos minérios da região, na piscicultura dos lagos internos, nas plantas valiosíssimas que dão safras com umidade escassa, no solo calcinado que produz safras milagrosas, nos alimentos fortes da rapadura, do feijão, da carne seca, do caju, da manga, do refresco de pega-pinto, da cajuína, do pequi, do grão do faveleiro, da ameixa do umbuzeiro, etc. (DUQUE, 2004, p. 312)

À frente do seu tempo, Guimarães Duque deu as primeiras contribuições teóricas para a construção da noção de convivência com o Semiárido com a cara da especificidade necessária da co-evolução dos sistemas sociais e ambientais desta região, enfatizando a necessidade do ser humano de adaptar ao meio, negando o paradigma vigente de artificialização do meio.

A partir da década de 1980, iniciou-se uma convergência entre iniciativas de diferentes partes do Semiárido que tentavam romper com o paradigma do “combate à seca”. Assim, gradativamente foi se constituindo uma rede de trocas de experiências e luta política na perspectiva da convivência com o Semiárido, as quais envol-viam diretamente agricultores/as, associações rurais, movimentos sindical e social do campo, ONGs, Igrejas e setores das universidades e centros de pesquisa.

Nesse mesmo período, o pensamento e a construção de uma cultura baseada na convivência com o Semiárido ganham força quando estabelecem sinergias com os conceitos e princípios da Agroecologia, recém-chegados ao Brasil. Isto porque a Agroecologia como paradigma científico recoloca as bases na relação entre os conheci-mentos científico-acadêmicos e os das populações rurais, reconhecendo e valorizando as racionalidades eco-lógicas nos modos camponeses de produção (PETERSEN et al., 2009). Ademais, a Agroecologia surge como ciência em resposta à crise zsocioambiental presente no meio rural, cujo paradigma científico atual não conse-gue encontrar saídas, à medida que as soluções buscadas seguem os mesmos princípios causadores da crise. Poucos anos após o seu surgimento, o enfoque agroecológico se incorpora e complementa os métodos e prin-cípios de atuação das redes sociotécnicas e movimentos sociais e sindicais, dando-lhes uma maior proximidade no pensamento e nas suas práxis rumo à construção da noção e das referências de convivência com o Semiári-do.

3 SoloeÁguanoPolígonodasSecas,ONordesteeaLavorasXerófilasePerspectivasNordestinas.

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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14ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

OS AGROECOSSISTEMAS E A CONVIVÊNCIA

Cultivos, criações e recursos naturais

Um princípio importante da Agroecologia é a busca do desenho e manejo de agroecossistemas de maneira que incorporem características semelhantes ao ecossistema natural (GLIESMAM, 2002). Ao tentar entender esse princípio a luz dos efeitos da atual seca sobre os agroecossistemas do Semiárido, é fácil entender a origem da dramática perda do rebanho bovino. No ecossistema natural, a caatinga, não existe mamífero com porte e exigência alimentar semelhante a este animal.

Por outro lado, os agroecossistemas que têm investido no manejo da caatinga para fins madeireiro, apícola e pastoris, com ênfase na criação de caprinos - que tem o veado como o seu equivalente no ecossistema -, conseguem um desempenho totalmente superior ao mencionado para o bovino. É claro que tal constatação não aponta na direção da substituição desse animal extremamente ligado à cultura sertaneja. No entanto, vem ficando cada vez mais evidente para a construção da cultura da convivência o desafio que representa a manutenção do bovino nas regiões mais secas do Semiárido. Especial atenção deve ser dada no que concerne à capacidade de suporte forrageiro que o agroecossistema apresenta para este animal.

A cultura de estoques para os períodos de seca é uma estratégia fundamental na convivência. Vem sendo ex-perimentada pelas famílias em relação aos alimentos, sementes, forragem e água (PETERSEN et al., 2002). Algumas experiências se destacam como merecedoras de maiores investimentos em pesquisa e disseminação, a exemplo dos bancos de sementes; das reservas de “forragens em pé” e em forma de silagem, com a utilização de plantas nativas e exóticas resistentes à estiagem.

Um grande empecilho para tornar a cultura de estoques numa realidade é o próprio fato de ser o Semiárido bra-sileiro um dos mais chuvosos do planeta. Esta caraterística é ao mesmo tempo um potencial e um problema, pois os anos chuvosos acabam por deixar cair no esquecimento as agruras das grandes secas (DUQUE, 2004).

Finalmente, a impossibilidade da prática do pousio no cultivo dos roçados e a falta de áreas livres de caatinga para a criação extensiva dos animais tem progressivamente desafiado as famílias e as organizações de pes-quisa e extensão a buscarem alternativas sustentáveis para a intensificação dos cultivos e criações. Algumas das alternativas que estão sendo desenvolvidas serão tratadas mais adiante no item sobre A economia sob a perspectiva da convivência.

A questão da água

Como fator limitante do ambiente semiárido, a água continua sendo o pilar principal na convivência com o Semiárido. Com efeito, a grande seca que atinge esta região demonstra que ainda há muitos desafios a superar até se alcançar níveis satisfatórios de segurança hídrica para as diferentes demandas das famílias por água, seja no consumo doméstico, seja no uso produtivo. Tal situação decorre de uma dívida histórica do Estado, que priorizou políticas para o Semiárido que levaram a uma concentração da água, através da implantação de grandes obras de infraestrutura hídrica, em detrimento das soluções simples, de baixo custo e apropriadas às diferentes realidades regionais e locais.

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Cabe destacar, entretanto, que as obras de infraestrutura hídrica de médio e grande portes, quando construí-das a partir da participação cidadã da população e planejadas e executadas sob critérios técnicos bem defini-dos, têm sido importantes para o desenvolvimento do Semiárido, principalmente no aproveitamento de suas águas para os usos nas produções animal e agrícola e para o abastecimento de povoados, distritos e cidades.

No que concerne ao atendimento da demanda difusa por água, na última década tem se verificado um expres-sivo avanço em relação à geração de novos conhecimentos e no desenvolvimento de políticas e programas voltados para o fortalecimento da segurança hídrica das famílias no meio rural. Algumas destas propostas téc-nicas mais “visíveis” desenvolvidas ou experimentadas pelas famílias agricultoras já se transformaram em polí-ticas públicas, a exemplo do Programa Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC), gerenciado pela sociedade civil organizada, através da Articulação do Semiárido – ASA Brasil, com forte apoio financeiro do Governo Federal.

Dentre as propostas técnicas, algumas estão mais relacionadas ao manejo da água no agroecossistema, tais como: cisternas de placas para captação de água do telhado; cisternas de enxurrada e de calçadão (captam a água que escorre no nível do solo); sistemas de captação de água “in situ”; barragens sucessivas, barragens subterrâneas; barreiro de salvação; tecnologias de escavação, revestimento e uso de poços amazonas; técnicas de irrigação apropriada às condições edafo-climáticas e socioeconômicas do Semiárido e; o sistema de reuso da água cinza doméstica, chamado de Sistema Bioágua Familiar. As lições da atual seca mostram que é preciso valer-se de variadas estratégias de captação e armazenamento de água de chuva, bem como de uso sustentá-vel das águas contidas nos aquíferos.

A despeito das variadas alternativas apresentadas acima, a história do Semiárido tem mostrado que a obra hídrica, na maioria dos casos, por si só não representa a solução do problema do colapso do abastecimento hídrico nas grandes secas. As experiências de diversas organizações da sociedade civil têm demonstrado que o sucesso da introdução de uma obra hídrica está diretamente ligado ao processo educativo estabelecido. As-sim, é fundamental a participação cidadã no processo de identificação e implantação da obra hídrica; processo este traduzido pelo planejamento conjunto das atividades, pela introdução de novas técnicas e pelo reforço do conhecimento local existente sobre o gerenciamento da água no nível da comunidade e da própria família. Uma prova dessa observação é o fracasso quase generalizado dos programas governamentais de implantação de cisternas no passado, antes do P1MC, nos quais o processo de implantação foi abordado de forma vertical, na ótica da “solução hidráulica” do problema da água, com uma participação mínima da comunidade, que aca-bava vendo as cisternas “caindo de pára-quedas” nas suas casas.

Por fim, o elemento central do enfoque da convivência com o Semiárido não é a obra hídrica ou qualquer outra proposta técnica, mas sim as famílias do meio rural, inseridas num processo educativo de gestão da água, va-lorizando cada gota que circula dentro do agroecossistema.

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A ECONOMIA SOB A PERSPECTIVA DA CONVIVÊNCIA

O Semiárido no contexto global

O sistema agroalimentar globalizado tem suas bases fundadas no domínio dos setores não agrários (indústria, empresas e comércio) sobre os tipos de produção agrária (GUZMÁN, 2006). A sua expansão vem se dando com características próprias de um “império alimentar”, marcado por padrões de homogeneidade, garantidos por normas criadas pelo Estado; pela artificialização do meio, substituição dos hábitos alimentares locais por hábi-tos globalizados e pela concentração dos recursos gerados (PLOEG, 2008).

Em contraposição a este modelo, uma condição básica no sentido da convivência com o Semiárido é o des-envolvimento de atividades econômicas que sejam compatíveis com os aspectos culturais e as limitações e potencialidades do ambiente semiárido (SILVA, 2008).

Esse caminho alternativo vem sendo trilhado em várias partes do mundo, sobretudo em zonas rurais que re-agem aos efeitos do empobrecimento e estagnação social devido à perda dos mercados locais da sua base agrária para os produtos industrializados. No caso brasileiro, as contribuições de Sabourin (2009) apontam para o campesinato como opção de produção e comercialização ao modelo da agricultura moderna. Sobre esta opção, Sabourin (2009, p. 255) afirma: “Isto se deve à crise do atual modelo de desenvolvimento e à busca, de uma parte da sociedade, por outros valores além do acúmulo privado para consumo de produtos industrializa-dos à custa da degradação dos recursos naturais”. Outra explicação dada por Sabourin sobre o mesmo tema diz respeito ao questionamento dos movimentos sociais rurais sobre as condições de vida no campo nas gerações atual e futura.

A construção de novos caminhos

Fica claro que não se pode dissociar o contexto socioeconômico do Semiárido do contexto global. Mas as fa-mílias agricultoras do Semiárido têm seus desafios próprios, como a manutenção das atividades econômicas nas grandes secas, o elevado índice de pobreza, a falta de uma política pública específica para a região e a fra-gilidade das instituições locais.

Desta maneira, o caminho alternativo que vem sendo criado pelos diversos atores sociais no Semiárido tem estratégias, que variam muito de acordo com as peculiaridades de cada local desta região4. É possível, po-rém, identificar uma estratégia comum à busca da construção social de mercados locais. Esta consiste, basica-mente, na “reconquista” e “conquista” de espaços diferenciados nos mercados locais de alimentos, através de vários arranjos produtivos, organizacionais e sociais que vão além dos limites dos agroecossistemas de gestão familiar (SIDERSKY et al., 2010).

Sobre a construção social de mercados, em primeiro plano é importante mencionar as estratégias de diver-sificação dos tipos de alimentos que são produzidos na perspectiva da convivência, que se traduz no objetivo de compatibilizar a cultura alimentar local aos tipos de alimentos produzidos nos agroecossistemas de gestão familiar da região.

4 As evidencias mais gerais é que o Semiárido é uma região com pouca biodiversidade e uma uniformidade de paisagens naturais. Mas, pelo contrário, esta vasta região, correspondente a 64,2% do território nordestino, faz parte de um complexo de 20 unidades de paisagens e 172 unidades geoambientais presentes no Nordeste brasileiro. Disponível em < http://www.uep.cnps.embrapa.br/zoneamen-tos_zane.php > Acesso em 15 de fevereiro de 2013.

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Assim, além da melhoria dos processos envolvidos na produção dos alimentos tradicionalmente voltados para o consumo da família e/ou mercado, agora há uma preocupação com o cultivo de frutíferas nativas e exóticas adaptadas a semiaridez. Para que isso seja possível, há uma concentração de esforços no aproveitamento dos ambientes mais férteis dos agroecossistemas de gestão familiar, como os quintais e baixios. Existe também uma importante geração participativa de novos conhecimentos em relação ao melhor aproveitamento da pou-ca água disponível. O seu uso e reuso na irrigação de hortaliças, frutíferas, capins, grãos e tubérculos, a partir de princípios agroecológicos, tem garantido boas colheitas aliadas à ampliação e manutenção da biodiversidade e fertilidade dos solos (JALFIM et al., 2009).

Num segundo plano, tem-se o mercado propriamente dito. O nível básico é a própria comunidade. Neste es-paço está se retomando e/ou intensificando as relações de troca sem fins mercantis e a comercialização de ali-mentos produzidos pelo trabalho das famílias, especialmente das mulheres agricultoras, na própria comunida-de, como o exemplo dos ovos caipira, como alternativa à compra de ovos produzidos pelas indústrias avícolas (JALFIM, 2008).

Os níveis municipal e territorial são os mais desafiadores no processo de criação social de mercados. São nes-ses espaços onde se vêm estabelecendo distintos tipos de relações entre agricultores e consumidores que vão além dos interesses comerciais. Trata-se de relações diretas entre os/as agricultores/as e os consumidores na tentativa do desenvolvimento de elos de identidade cultural, de solidariedade e de projetos comuns de desen-volvimento para o município e/ou território. São nesses níveis em que se situam experiências inovadoras como as feiras agroecológicas, as feiras da agricultura familiar, as iniciativas de venda para o mercado institucional (PNAE e PAA) e as novas cooperativas gerenciadas pelos próprios agricultores familiares, entre outras.

O VIÉS SOCIOPOLÍTICO DA CONVIVÊNCIA

O paradigma que perdurou por centenas de anos no modelo de desenvolvimento preconizado pelo Estado para a região Semiárida se baseava no “combate à seca”. Evidentemente que este paradigma não estava ape-nas fundamentado numa visão técnica equivocada sobre a relação do homem com o clima desta região. Mais do que isso, trazia no seu bojo uma perversa forma de dominação sociopolítica das oligarquias regionais so-bre as populações locais, marcadamente sobre as famílias agricultoras. Tal dominação se efetivava através da dependência das famílias agricultoras a terra para produção, à água para todos os fins e ao acesso às poucas políticas públicas e ações emergenciais direcionadas para a região, geralmente de cunho assistencialista, clien-telista e com forte uso político-eleitoreiro (JALFIM, 2011).

Esse contexto particular do Semiárido brasileiro forjou uma conotação especial à dimensão sociopolítica na construção do pensamento e da prática da convivência com o Semiárido. Isso significa em um processo de construção do conhecimento socioambiental fortemente dependente de avanços na dimensão sociopolítica. Assim, a noção da convivência ganha um sentido amplo, tornando-se imprescindível, para a sua expressão e sustentabilidade conquistas políticas frente a ação do Estado (nos seus diferentes níveis) que atendam as pre-missas culturais, socioambientais e econômicas da cultura da convivência.Como ilustração de avanços neste sentido, é razoável se ater a dois casos nos quais as dimensões sociopolíticas e socioambientais andam de mãos entrelaçadas.

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O primeiro caso tem a ver com o crescente número e tipos de organizações sociais que atuam criando expe-riências na perspectiva da convivência e ao mesmo tempo a defendem nos espaços institucionais de política públicas. Estas organizações agem de forma autônoma, articulada e organizada no diálogo com a sociedade e os poderes públicos nos seus diferentes níveis. São expressões claras de um processo em que as populações historicamente oprimidas, excluídas dos mecanismos decisórios, começam a estabelecer novas correlações de forças políticas em torno de decisões de interesse público, das regras sociais e, sobretudo, da natureza e finali-dade dos investimentos públicos. Um exemplo emblemático é o caso de organizações locais de agricultores fa-miliares que se articulam em bloco para cobrar dos prefeitos o lançamento de editais públicos para a compra de produtos da agricultura familiar para a merenda escolar do município, de acordo com a lei que rege o PNAE. Ao mesmo tempo em que rompem com a velha tradição coronelista e privatista de gestão dos recursos públicos, também exercem o papel de preservar hábitos alimentares que coadunam com as estratégias de convivência que estão sendo levadas a cabo nos agroecossistemas locais.

O segundo caso diz respeito às experiências de educação contextualizada e seus desdobramentos através de articulações e lutas de professoras/es (de organizações governamentais e não governamentais), educadoras/es populares e diversos setores da sociedade civil organizada por mudanças no sistema educacional vigente no Semiárido. Sobre esse tema, Malvezzi (2007, p. 172) argumenta que “a convivência com o Semi-Árido precisa começar dentro das escolas, modificando-se o processo educacional, o currículo escolar, a metodologia educa-tiva e o próprio material didático”.

No bojo das experiências de educação contextualiza que vêm sendo experimentadas no Semiárido estão con-teúdos e metodologias que possibilitam, entre outros aspectos, a valorização de valores culturais de pertença à região, o conhecimento da ecologia do Semiárido, o entendimento da problemática local e possibilidades de soluções.

No sentido maior da convivência, a transformação da atual realidade socioambiental, política e econômica do Semiárido passa pela integração entre a educação formal contextualizada e o desenvolvimento de agroecos-sistemas ambientalmente equilibrados e com produções duradouras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A noção e prática da convivência com o Semiárido vem se construindo a partir de uma longa trajetória e num difícil contexto. Há um avanço no número de experiências organizacionais e produtivas bem-sucedidas, nas quais a agricultura familiar consegue reduzir a vulnerabilidade de seus agroecossistemas diante das secas, em bases sustentáveis. A maior parte dessas iniciativas é potencializada pela ação de organizações da sociedade civil, por setores do Estado e mais recentemente por políticas públicas que fortalecem as estratégias da convi-vência, a exemplo do PAA e PNAE.

Como elemento comum a estas experiências, há uma nova consciência para o desenvolvimento da região, substituindo a noção de “combate à seca” pela convivência com o Semiárido. As propostas técnicas, conduzi-das por famílias sertanejas, tendem a encontrar formas de interagir com o meio, minimizando assim os impac-tos ambientais, reduzindo os riscos de degradação irreversível das terras e, portanto, a desertificação. Estas iniciativas e propostas se referem a um grande leque de fatores que determinam a sustentabilidade dos agro-ecossistemas.

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O desafio colocado é, portanto, fortalecer e ampliar esses avanços no sentido da construção de uma política nacional voltada para a convivência com o Semiárido. Para isso é preciso um grande esforço de transformação da pesquisa e extensão rural, no sentido do enfoque agroecológico e de metodologias participativa; do ensino em todos os níveis (fundamental, médio e superior), visando formar as pessoas na perspectiva de uma melhor compreensão social, cultural, ecológica e econômica sobre o Semiárido.

Por fim, mas não menos importante, é fundamental estimular processos organizativos de produção e comer-cialização, aliados ao fortalecimento da capacidade dos atores sociais na ocupação dos espaços de controle e proposição de políticas pública voltadas para as reais necessidades da agricultura familiar do Semiárido.

REFERÊNCIAS

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• GLIESMAM, S.R. Agroecología: procesos ecológicos en agricultura sostenible. Turialba, C.R.: CATIE, 2002. 359p.

• GUZMÁN, E. S. Desde el Pensamiento Social Agrario. Universidad de Córdoba. Córdoba, Espanha, 2006. 285 p.

• JALFIM, F. T. Notas sobre a caminhada da Agroecologia no Semiárido Pernambucano. In: LIMA, J. R. T. de (Org.). Agroecologia e Movimentos Sociais. Recife: Bagaço, 2011, 272 p.

• JALFIM, F. T. Agroecologia e agricultura familiar em tempos de globalização: o caso dos sistemas tra-dicionais de criação de aves no Semi-árido brasileiro. Recife: Ed. do Autor, 2008. 160 p.

• JALFIM, F. T. ; SANTIAGO, F. S. dos ; AZEVEDO, M. A. ; BLACKBURN, R. M. Integração entre Criação Ani-mal, Cultivos de Sequeiro e Irrigado no Semiárido Nordestino. Revista Agriculturas: Experiências em Agroecologia, Rio de janeiro, p. 19 - 24, jul. 2009.

• MALVEZZI, R. Semiárido: uma visão holística. Brasília: Confea, 2007. 140 p.

• MAZOYER, M.; ROUDART L. História das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporânea. [Tradução de Cláudia F. Falluh Balduino Ferreira]. São Paulo: Editora UNESP; Brasília, DF: NEAD, 2010. 568 p.

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• NORGAARD R. B.; SIKOR T. O. Metodologia e prática da agroecologia. In: ALTIERI, M. (Org). Agroecolo-gia: Bases Científicas para uma Agricultura Sustentável. Guaíba, RS: Agropecuária, 2002. p. 53-83.

• PETERSEN, P.; DAL SOGLIO, F. K.; CAPORAL, F. R. A construção de uma Ciência a serviço do campesina-to. In: PETERSEN, P. Agricultura familiar camponesa na construção do futuro. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2009. p.85-103.

• PLOEG, Jan Douwe van der. Camponeses e impérios alimentares: lutas por autonomia e sustentabilida-de na era da globalização. Trad. Rita Pereira. Porto Alegre: UFRGS, 2008. 372 p.

• REIJNTJES, C.; HAVERKORT, B.; WATERS-BAYER, A. Agricultura para o futuro: uma introdução à agri-cultura sustentável e de baixo uso de insumos externos. Trad.: COMERFORD, J. C. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1994. 324 p.

• SABOURIN, E. Camponeses do Brasil: entre a troca mercantil e a reciprocidade. [Traduzido do francês por Leonardo Milani]. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. 336 p.

• SIDERSKY, P. R.; JALFIM, F. T.; ARAÚJO, E. R. A estratégia de assessoria técnica do Projeto Dom Hel-der Camara. 2 ed. Recife, PE: Projeto Dom Helder Camara, 2010, 166 p.

• SILVA, R. M. A. Entre o combate à seca e a convivência com o semi-árido: transições paradigmáticas e sustentabilidade do desenvolvimento. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2008. 276 p.

• SILVEIRA, L.; PETERSEN, P.; SABOURIN, E. Agricultura familiar e agroecologia no semi-árido: avanços a partir do Agreste da Paraíba. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2002. 356 p.

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FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR PARA ACESSO AOS MERCADOS LOCAIS: A EXPERIÊNCIA DE TINGUI.

CONTEXTUALIZANDO A EXPERIÊNCIA

A Comunidade de Tingui, está situada a cerca de 4 Km da sede do Município de Monteiro. Antigamente a Co-munidade era conhecida como Varzinha, pelo solo e pela região de baixos próximo ao Rio Paraíba, onde vários agricultores desenvolvem a horticultura, constituindo assim um excelente potencial para esta atividade.

A renda das famílias agricultoras do Sítio Tingui é baseada na agricultura, com cultivos de milho, mandioca e feijão, que são atividades desenvolvidas de sequeiro. Algumas dessas famílias produzem frutas e hortaliças. Essa produção de hortaliças e frutíferas passou por um processo de conversão de produção convencional para produção de base agroecológica.

Deu-se início a partir desse momento, a criação da Feira Agroecológica de Monteiro, que contribuiu para mel-horar a renda familiar. A feira agroecológica também se constituiu um espaço de educação popular, que contri-bui para a mudança de um hábito alimentar mais saudável dos seus consumidores. Para apoiar o processo de conversão agroecológica das famílias agricultoras, conta-se com uma organização das famílias agricultoras, a Associação dos Produtores Agroecológicos de Monteiro (APAM).

COMO SE INICIOU A EXPERIÊNCIA?

Esta experiência teve início na Comunidade de Tingui no ano de 2004, por meio de uma ação do Projeto Dom Helder Camara, que promoveu a sensibilização das famílias agricultoras para conversão agroecológicas de hor-tas e pomares. O foco dos debates e um dos fatores mobilizadores desta sensibilização foram a recente perda do cultivo de tomate, a época convencional, pela incidência de pragas; e a discussão sobre a comercialização dos produtos, que tinha como principal gargalo a ausência de um ponto de venda – no caso do tomate, por exemplo, havia constante mudança dos locais de vendas. Ainda nesta oportunidade de sensibilização, o grande debate se concentrava em responder como produzir sem o uso dos produtos químicos (fertilizantes e agrotó-xicos).

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Fábio Santiago

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CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Após o processo de sensibilização ocorrido em 2004 e coordenado pelo Projeto Dom Helder Camara- PDHC, a experiência começou a criar corpo em 2005, com a inserção das famílias agricultoras da Comunidade Tingui na reunião de planejamento da feira agroecológica do Município de Monteiro. Este planejamento foi uma ação estratégica apoiada pelo Projeto Dom Helder. Neste mesmo ano, foi elaborado um projeto que estruturava a participação das famílias na feira agroecológica do Município de Monteiro. As famílias foram contempladas por uma assessoria técnica permanente do Projeto Dom Helder Camara.

Na sequencia a experiência avançou tanto no campo produtivo melhorando a infraestrutura da produção, com projetos financiados pelo PDHC, como através de implantação de sistemas PAIS (produção Agroecológica Sus-tentável). Também avançaram na comercialização com a estruturação da feira agroecológica e acesso aos mer-cados institucionais PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Ainda avançaram no campo da organização social com organização da Associação dos Produtores Agroecológicos de Monteiro- APAM, constituição da Organização de Controle Social – OCS.

CONQUISTAS DA EXPERIÊNCIA

- consolidação de instância de organização e gestão da produção agroecológica: uma conquista rele-vante que a experiência deixa como legado foi a constituição de uma associação para congregar e apoiar as famílias agricultoras na produção agroecológica, o que resultou na criação em 2009 da Associação dos Produtores Agroecológicos de Monteiro (APAM).

- consolidação da Feira Agroecológica de Monteiro: melhorias que passaram pela reestruturação da Feira, em pontos significativos, tais como a definição de um local e data específicos para a mesma; a ampliação da quantidade de famílias envolvidas; e aumento e diversificação da produção;

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- constituição da Organização de Controle Social OCS: a formalização do registro das famílias junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) foi um grande marco na valorização dos produtos agroecológicos do município de Monteiro;

- melhoria de qualidade de vida: a experiência de hortas e pomares proporcionou maior oferta de ali-mentos para as famílias, geração de renda, maior autonomia e bem-estar das famílias;

- permanência no campo: a experiência forneceu condições favoráveis para as famílias agricultoras fortalecerem suas estratégias de convivência com o semiárido e, portanto, assegurar sua permanência no campo;

- sede própria: apesar da mobilização das famílias da Comunidade em torno de uma organização social, com a constituição de uma associação, pois não dispunham de um local para suas atividades de reunião e planejamento, o que se conseguiu por meio de financiamento durante o curso da presente experiência;

- cozinha experimental: esta conquista se reveste de grande importância para as famílias, pois permitiu incrementar as atividades de processamento dos produtos da horta e pomares;

- fé, esperança, amor, orgulho da agricultura: ocorreu uma significativa mudança no sentimento das

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famílias em relação à agricultura. Antes bas-tante desacreditada e desanimada por muitos, hoje é motivo de orgulho;

- aprendizado: as famílias relatam terem aprendido bastante com a experiência, apro-priaram-se das formas de produção sustentá-vel, e consideram que este aprendizado foi mui-to facilitado pelos instrumentos de formação utilizados, principalmente pela formação pela experiência e a Unidade Demonstrativa (UD). Registram ainda que esta apropriação de con-hecimento oferece a condição de desenvolve-rem bem suas ações, recorrendo a aportes da assessoria técnica praticamente apenas para a elaboração de projetos e as articulações insti-tucionais;

- fortalecimento do grupo e das pessoas: sen-timento de valorização e reconhecimento, os quais algumas famílias já vêm apresentando suas experiências em feiras e congressos. O grupo também tem muito orgulho com o cre-denciamento da Organização de controle So-cial (OCS) conseguido;

- ações afirmativas de gênero: com a expe-riência em desenvolvimento, incorporou-se ao grupo passou uma assessoria específica para mulheres, uma vez que grande parte do grupo é constituído por mulheres, com participação inclusive da Diretoria da APAM;

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- ampliação e troca de conhecimento de outras experiências – intercâmbios: as famílias conside-raram muito importantes conhecerem outra realidade, inclusive para identificar o estágio em que se encontram. Isso por que muitas vezes se tem a impressão de estarem em situação muito ruim, e o inter-câmbio fez perceber que também já avançaram muito. Os intercâmbios, segundo elas, também foram muito importantes por permitirem a assimilação de muitos conhecimentos com outros agricultores; e

- transportes próprios, as dificuldades iniciais de transporte para transporte dos produtos, que resumia a contar com bicicletas e carros de boi, foram praticamente supridas, pois todas as famílias agora dis-põem de veículos próprios, que vão desde motos, passando por carros de passeio e até utilitários.

LIÇÕES APRENDIDAS

• Aprender a conviver com as pragas

Algo que sempre foi assustador para as famílias nos seus cultivos convencionais, foi a ocorrência de pragas, sobretudo por fixarem sua produção muitas vezes em um único produto – como o tomate, que via de regra tem uma possibilidade de incidência maior de pragas. Então, controlar pragas sem a necessidade do uso de veneno, algo que parecia muito distante ou impossível de ocorrer, é uma lição extraordinária.

“Aprendemos a conviver com a praga sem o uso de venenos, fazemos mudança das culturas do lugar, usamos caldas, nim, e biofertilizantes. A praga tem o tempo certo para aparecer no ano, e quando ocorre não acaba com todas as culturas, por isso é importante diversificar as culturas, pois às vezes uma praga dá na alface, mas não na couve” Síntese fala das famílias agricultoras participantes da sistematização.

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• Respeitar o meio ambiente

As famílias se tornaram mais conscientes em relação aos cuidados ambientais do que anteriormente. As mesmas passaram a incorporar mudanças de práti-cas, eliminando aquelas que produzem prejuízos ao ambiente, tais como as queimadas e o uso de agro-químicos ou venenos, como os mesmo se referem ao mencionar estes produtos. Observa-se também uma maior preocupação com a produção e destinação do lixo na comunidade.

• A união faz a força

A compreensão do grupo é de que sozinhos não iriam alcançar os resultados que conseguiram trabalhando associados. Quando estavam trabalhando isolados, não passaram da condição de ter uma caixa de toma-te como ponto de venda, cuja localização se alterna-va, não dispondo nem de ponto fixo nem de estrutura. Essa união possibilitou acessar programas, diversificar a produção, organizar uma feira agroecológica e aces-sar outros mercados.

“Quando estávamos sozinhos não conse-guíamos nos desenvolver, o trabalho cole-tivo ajudou a melhorar o acesso ao merca-do e a tudo”. Verinha

CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

• Troca e intercâmbio gerado aprendizado

As famílias consideraram de muita importância a realização de intercâmbio, pois o mesmo possibilitou dialogar com outros agricultores que estão trabalhando alternativas; de modo que puderam ver na prática o funcio-namento de uma atividade que ainda se apresenta nova para o grupo. Desta forma, considera que os inter-câmbios foram muito valiosos para aprenderem uma nova prática, e também se definir conscientemente pela implantação em sua área.“Os intercâmbios foram muito importantes, pois se consegue olhar para sua experiência de forma diferente, comparando com as outras, se tiver intercâmbio eu paro tudo para poder participar”. Manoel Messias

• Sem planejamento e organização não funciona

O grupo extraiu como lição que para se alcançar a união e o trabalho coletivo, e o desenvolvimento das ativi-dades, faz-se necessário montar um planejamento e uma organização que permita a execução e avaliação do planejado.

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26ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

• Diversificar a produção e o mercado

Quando se trabalha a muito tempo de uma maneira, fica-se preso a esse jeito de fazer, que torna difícil incor-porar mudanças. No entanto, foi fundamental promover mudanças de ampliação da diversidade dos cultivos, e de articulação para acessar mais mercados.

• As relações e aprendizagem da experiência ficam para sempre

O trabalho em parceria e envolvendo diversas atividades coletivas proporcionaram maior união, solidariedade e vínculos de amizade, que ultrapassam as relações específicas para a condução do projeto.

“A relação entre as famílias e as parceiras nestas construções conjuntas o tempo todo, vão para muito além da experiência do projeto, cria-se um ciclo de relacionamento, de amizades, que geram vínculos para a vida”. Verinha

CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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27ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA DO ASSENTAMENTO ZÉ MARCOLINO

CONTEXTUALIZANDO A EXPERIÊNCIA

A microrregião do Cariri Paraibano situada no Platô da Borborema, caracteriza-se pelo clima semiárido, quente e seco, com vegetação predominantemente xerofítica. O clima é quente e seco com chuvas distribuídas irregu-larmente, média de 400 mm/ano.

O Assentamento Zé Marcolino – “Serrote Agudo” está localizado na antiga Fazenda Serrote Agudo1 que divi-sa com os Municípios de Sumé, Prata e Amparo, Estado da Paraíba. Foi desapropriado para fins de Reforma Agrária por meio do Decreto de 05 de julho de 2001, tendo como data de imissão de posse 06 de dezembro de 2001.

Encontra-se a uma distância de 38 km da Cidade de Sumé, 13 km da Cidade de Prata, e 5 km da Cidade de Amparo, e fica localizado na divisa dessas três cidades, com uma área desapropriada de 2.356,7200 ha. No presente momento, se encontram instaladas 86 famílias, divididas em quatro agrovilas (Lajinha, macacos, For-migueiro e Cumaru).

Uma experiência que tem se destacado no assentamento é a luta das mulheres para manter uma escola infantil dentro do assentamento. Com o Apoio do Projeto Dom Helder Camara - PDHC2 construiu-se uma escola-cre-che para as crianças estudar, e conseguiram em parceria com o Governo do Estado, que professoras da comu-nidade fossem contratadas para dar aula no assentamento. As crianças são matriculadas na escola estadual ga-rantindo a validação do ano letivo. A escola-creche tem fundamental importância como um espaço de conforto e lazer para as crianças que não precisam se deslocar para a sede do município para estudar, assim como para assegurar que as mulheres consigam tempo para desenvolver outras atividades fora de casa.

1 Fazenda importante na história da região, com declínio contado em poesia de Zé Marcolino cantada na voz de Luiz Gonzaga.2 Projeto Dom Helder Camara (PDHC) – Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT)/Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em colaboração com o Fundo Internacional para o Desenvolvi-mento da Agricultura (FIDA) e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF)

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Ricardo Menezes Blackburn

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28ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

COMO SE INICIOU A EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA NO P. A. ZÉ MARCOLINO?

No ano de 2008, com o fechamento da escola rural que ficava próxima ao P. A. Zé Marcolino, as crianças do ensino fundamental 1 precisaram estudar na sede do município, a partir deste momento tiveram uma sequência de experiências ruins. Entre elas citamos: uma criança quase caiu do caminhão (transporte escolar) quando estavam indo para a escola; duas crianças foram esquecidas na cidade pelo motorista; crianças maiores começaram fazer brincadeiras im-próprias com as crianças menores. Esta experiência das crianças ao iniciar uma nova rotina de transporte escolar para a sede do município fez com que as mães se organizassem para discutir o que poderia ser feito em relação à segurança de seus filhos. Durante estas conversas também foi observada a queda na apren-dizagem das crianças, que estavam com dificuldades em se adaptar na nova escola. Neste contexto uma ação de desenvolvimento rural sustentável, fruto de cooperação entre PDHC/ ASSOCENE/ Centro coope-rativo Sueco, envolvendo pessoas do assentamento, apoiou o grupo na discussão e elaboração de um pro-jeto de construção de um prédio para funcionamen-to da escolinha no assentamento, e também ajudou na articulação para promover o que seria a primeira reunião com poderes públicos locais com objetivo de resolver este problema e implantar a escolinha de en-sino fundamental 1 no assentamento.

CONQUISTAS DA EXPERIÊNCIA

Situação de conforto e lazer- uma das frases que mais chamou a atenção de todos que participaram da sis-tematização foi a frase de um ex-aluno que deixou a escola, pois já estava no 6º ano do ensino fundamental. Ele com conhecimento de ter vivenciado as duas realidades de estudar na escolinha do assentamento e depois estudar na sede do município, classificou a escola como uma situação de conforto e de lazer. Isto trouxe um sentimento de que se confirmava o que as mães buscavam com este projeto, que era um espaço melhor para seus filhos estudar, que dessem a estas crianças uma melhor formação.

Fortalecimento da cultura- o grupo avaliou que a valorização da cultura local no calendário escolar, assim como a utilização de expressões culturais como a poesia e os versos nos trabalhos escolares, ajudam a criar uma identidade maior com a cultura da região.

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29ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Autoestima e empoderamento- todo este movimento em relação a lutar por um objetivo coletivo da comu-nidade, o fato de ter superado obstáculos considerados intransponíveis para muitos, a concretização de um sonho, são fatores que elevam a autoestima das famílias, que se tornaram donas do destino da educação de seus filhos e filhas, e hoje se veem e são vistas de uma forma diferente pela população local e regional.

Um modelo diferenciado para a região- refletiu-se também que esta experiência hoje já se apresenta para a região como um modelo diferente ou alternativo ao que está posto em relação a educação, que pode ser trabalhado em outros municípios, inclusive sendo objeto de estudos para pesquisadores, universidades e pro-fissionais da educação.

Envolvimento coletivo e Gestão participativa- a implantação da escola foi um processo que gerou uma con-quista importante para o assentamento, pois não foi uma ação onde uma pessoa ou um pequeno grupo estava puxando, e ficando a frente dos debates. Foi considerado pelos participantes da sistematização, um processo onde todos se envolveram, desde proporcionar as condições básicas para funcionamento da escola como, por exemplo, merenda e limpeza, até nas reuniões de planejamento e processos decisórios, onde muitas pessoas participaram da gestão do projeto. Maior presença dos pais na educação dos filhos- outra conquista que foi constatada, se refere a participação da família na educação dos filhos/as. Como fruto do processo de apropriação da educação das crianças, no sen-tido amplo, hoje se percebe que as famílias estão muito mais envolvidas diretamente na educação dos filhos e na vida da escola.

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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30ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Consolidação da escola- hoje existe um sentimento muito bom dentro do assentamento de concretização do sonho de implantação da escolinha. A conquista da escola simboliza uma luta contra vários tipos de opressão, o exercício da cidadania e uma prova de sonhos podem ser realizados. Junto a consolidação da escola se ava-lia que é muito importante a metodologia de ensino voltado para a realidade de vida das crianças, portanto a consolidação da escola associada a educação contextualizada voltada para o campo é uma grande conquista. União das mulheres- mesmo existindo um grupo de mulheres unidas anteriormente a experiência da escola, este grupo ganhou uma dimensão diferente e com sentimentos diferentes. Hoje se considera um grupo que envolve não só as mulheres do assentamento, mas também mulheres das comunidades vizinhas que se enga-jaram no projeto.

Interesse e participação das crianças – uma conquista que foi destacada na reflexão, é que neste período com tantas dificuldades nunca houve desistência, outro fator em relação aos alunos é que os mesmos demonstram um maior interesse e maior participação na sala de aula. Por fim destaca-se que os próprios alunos estão aju-dando a melhorar o meio ambiente do assentamento, o que demonstra um aumento da consciência dos alunos em relação ao meio ambiente.

LIÇÕES APRENDIDAS

• Só com união e organização é possível conquistar os sonhos- esta experiência demonstrou que os sonhos devem ser coletivos, um sonho compartilhado pode ser o combustível necessário para se conseguir alcançá-lo, entretanto, entre o sonho e a conquista tem vários obstáculos, estes só poderão ser vencidos com organização e união. Vários momentos pessoas pensaram em desistir, houve vários momentos de choro, mas o sentimento de união ajudou a superar os momentos mais críticos.

• Respeitar a opinião dos outros e aceitar as criticas, a importância do dialogo – uma das maiores lições do trabalho coletivo foi que todos aprenderam muito com a experiência de cooperação, os momentos de debates intensos ajudaram a perceber que a diversidade fortalece.

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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31ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

• As dificuldades valorizam a conquista- a experiência de doar e fazer a merenda, de cuidar da escola, de ajudar a construir a nova escola, acabaram influenciando mui-to no sentimento das famílias em relação a escola e a educação dos filhos.

• Vale a pena lutar por aquilo que você acredita- a luta não gera só uma conquis-ta, junto com ela tem muito ganho de con-hecimento e muita construção de relacio-namentos sociais.

• As políticas devem ser conquistadas- a experiência demonstrou que muitas vezes a política não está adequada para as ne-cessidades da população. No caso da edu-cação no campo as políticas estão na con-tramão do que as famílias sonham para seus filhos, portanto neste campo deve-se realmente conquistar as políticas, através de um exercício de cidadania.

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

• Crianças estudando próximo de casa melhora a vida e o aprendizado- esta lição dialoga dire-tamente com o objetivo central da experiência, as famílias ao constatar este fato constatam que estão alcançando os objetivos que tinham ao iniciar a caminhada para implantação da escolinha no assentamento.

• O aprendizado fica para sempre- todo o aprendizado gerado neste processo de implantação des-ta experiência se transforma em acúmulo de conhecimento para as famílias que vivenciaram esta experiência.

• Quando a agente quer agente pode- o funcionamento da escola traz uma lição não só para os assentados, mas também para todos os habitantes da região que conheceram a experiência, que é possível alcançar grandes coisas quando se organiza para tal.

SOBRE A SISTEMATIZAÇÃO

As atividades de campo da sistematização foram realizadas em 3 dias. As atividades coletivas foram feitas com uso de ferramentas de construção do conhecimento seguindo os princípios da sistematização participativa de experiências, ademais outras tarefas de complementação de informações e organização do material, mo-bilização e planejamento foram realizadas pelo sistematizador com apoio da equipe do Projeto Dom Helder Camara do território do Sertão do Cariri/PB. Participaram da sistematização Adeílza, Ana Paula, Anita Cristina, Edigleuma, Anselmo, Djair, Aldair, Dasdores, Adriana.

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32ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 3ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

O ITINERÁRIO METODOLÓGICO DA EXPERIÊNCIA DOS CONSÓRCIOS AGROECOLÓGICOS

CONTEXTUALIZANDO A EXPERIÊNCIA

A microrregião do Cariri Paraibano situada no Platô da Borborema, caracteriza-se pelo clima semiárido, quente e seco, com vegetação predominantemente xerofítica. O clima é quente e seco com chuvas distribuídas irregu-larmente, média de 400 mm/ano.

Na economia regional predominam as culturas agrícolas, a pecuária e a extração vegetal. A produção agrícola vem sendo prejudicada nas últimas décadas, em decorrência das baixas precipitações pluviométricas. Na pe-cuária, a bovinocultura vem sendo substituída pela criação de ovinos e caprinos, devido à baixa produtividade da criação de bovinos, diante das prolongadas estiagens.

O roçado de sequeiro é um subsistema muito importante dentro dos sistemas produtivos familiares da região semiárida nordestina. Nele são produzidos alimentos para a família, basicamente milho e feijão, e também para os animais, através da produção de grãos e forragens.

Dentro deste subsistema, até os anos 80, o algodão desempenhava um papel muito importante de geração de renda, através de sua venda com o caroço para as empresas que iniciavam o beneficiamento desta produção. Esta fonte de renda deixou de ser viável depois da chegada do bicudo e da mudança das condições de mercado para este produto, e até hoje o agricultor familiar não encontra substituto a altura com esta função de geração de renda dentro do subsistema roçado.

COMO SE INICIOU O ITINERÁRIO METODOLÓGICO DA EXPERIÊNCIA DOS CONSÓRCIOS AGROECOLÓGICOS?

A partir da experiência iniciada pela ONG Esplar no Ceará nos anos 90, o Projeto Dom Helder Camara (PDHC), da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em co-laboração com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Fundo Global para o Meio Am-biente (GEF), iniciou em 2008 uma experiência de revitalização da cultura do algodão com base em: 1) uma proposta técnica de base agroecológica com práticas de conservação e manejo da fertilidade dos solos, que permite conviver com o bicudo e outras pragas, aliada à 2) produção de alimentos para as famílias e animais, cumprindo uma estratégia importante da família na convivência com o semiárido; 3) a colocação do algodão em um mercado diferenciado que remunera melhor de acordo com a conformidade orgânica e as formas de

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Ricardo Menezes Blackburn

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33ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

produção (comércio justo e mercado orgânico); e 4) o fortalecimento da gestão social local sobre os processos de produção, certificação e comercialização da produção.

Segundo Sidesrky et al (2010)1, a parceria desenvolvida com o Esplar e a Embrapa Algodão para implemen-tação desta ação, junto com toda a estrutura de Assessoria Técnica Permanente do Projeto Dom Helder Ca-mara, oferece um arranjo institucional que permite um sistema complexo de formação pela experimentação, acompanhamento técnico e fortalecimento da gestão social para as famílias que se aderiram a esta ação de revitalização do algodão consorciado com alimentos e produzido em roçados agroecológicos.

COMO SE ORGANIZA A EXPERIÊNCIA?

A gestão coletiva de processos não é tarefa fácil, e é fundamental para o sucesso de uma ação que incentiva a produção orgânica direcionada para comércio justo e mercado orgânico. No “Algodão em Consórcios Alimen-tares Agroecológicos”, este processo de gestão coletiva vai desde o planejamento da produção, certificação orgânica e beneficiamento da produção, até a comercialização, envolvendo agricultores de vários grupos de municípios distintos de um mesmo território.

O exercício de participação coletiva nos processos de gestão ocorre de forma articulada, tanto nas comunida-des e assentamentos como no território. Para tornar isso possível, foi criado um espaço de articulação e gestão territorial chamado de GGT – Grupo de Gestão Territorial, o qual é formado por dois representantes de cada grupo, que se articulam e fazem gestão dos processos coletivos, além de técnicos que acompanham estes gru-pos que participam com função de assessoria.

Assessoria técnica, mobilização social, agricultores multiplicadores, Embrapa, PDHC.

1 Sidersky,P.R.;Jalfim,F.T.;Araújo,E.R.(2010)AestratégiadeassessoriatécnicadoProjetoDomHelderCamara.2aEd.ProjetoDomHelderCamara.Recife,Pernambuco,166p.

CASO 3ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Comunidades e Assentamentos Território Externo

Grupo 1

Grupo 2

Grupo 3

GGT – gestão dos processos coletivos de produção,

beneficiamento, certificação e comercialização

OPAC – responsável pela certificação, representa

os agricultores na comercialização.

AMUABAS – contratos com o PDHC (2013)

para fortalecimento da organização social no

territorio

MAPA

EmpresaCompradora

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34ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

O GGT é fundamentalmente um grupo que reúne os agricultores produtores de algodão em consórcios agroecológicos que estão se associando e cooperando para coordenar os processos coletivos da certificação orgânica participativa, processos de pós-colheita, e comercialização da produção para comércio justo e mercado orgânico. Desta maneira, ele difere de ou-tros espaços e fóruns de articulação de lideranças po-líticas que existem para debater o desenvolvimento territorial e políticas públicas.

Como desdobramentos desta ação no campo da or-ganização social, a experiência de gestão coletiva do consórcio agroecológico tem propiciado o surgimen-to de novas lideranças e um rico aprendizado com-partilhado. A participação efetiva das famílias - tanto na gestão dos processos que ocorrem na comunidade como no Grupo de Gestão Territorial, em todas as eta-pas da gestão da produção, certificação orgânica e co-mercialização da pluma -, tem sido fundamental para que as mesmas se apropriem do conhecimento dessa nova forma de organização social necessário para o êxito e sustentabilidade de produção e inserção nos mercados.

CASO 3ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

QUAL O ITINERÁRIO METODOLÓGICO DA EXPERIÊNCIA?2

a) Sensibilização e adesão.

b) A formação continuada

c) A produção dos consórcios agroecológicos

d) Certificação orgânica

e) Colheita, armazenamento, descaroçamento e comercialização.

CONQUISTAS DA EXPERIÊNCIA

Agregação de valor- as famílias citaram a agregação de valor da agricultura do roçado como uma grande con-quista.

2 Ver versão completa da sistematização.

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35ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Reconhecimento- destacaram o reconhecimento da sociedade, agricultores, bancos, técnicos e gestores como uma grande conquista para os participantes da experiência.

Autonomia de gestão- outra conquista importante que foi citada é que já conseguem se organizar para ges-tão, embora tenham constatado que ainda precisam se fortalecer como grupo de gestão coletiva.Acesso a mercado diferenciado- esta é uma das questões chaves da experiência. O mercado conquistado ainda precisa ser consolidado e ampliado, mas sem dúvida é uma grande conquista.

Eliminou o atravessador- quase todo o lucro da lavoura fica na mão do atravessador, a venda direta é uma conquista e fortalece a experiência.

Aumento da consciência- com a certificação orgânica, as pessoas estão mais conscientes com o manejo da propriedade e estão cuidando melhor do meio ambiente.

Fundo rotativo- apesar de não conseguir ainda o capital de giro, o grupo tem se mobilizado para constituir um fundo rotativo. Este está crescendo e na última safra de 2011, ajudou a adiantar uma parte do dinheiro logo após a colheita.

Máquina de descaroçamento- a máquina de descaroçamento traz dois aspectos positivos: a facilidade de tirar a pluma sem precisar dos atravessadores, e o caroço que fica com o agricultor.

Conhecimento/aprendizado- esta experiência foi citada por todos os participantes da sistematização como uma experiência que traz muitos conhecimentos e aprendizados. “[...] foi onde eu mais aprendi coisas novas na minha vida...”, comentou Seu Anselmo.

CASO 3ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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36ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Fortalecimento- as formações, reuniões, conquistas e a união deixam os agricultores fortalecidos, inclusive em seus grupos locais.

Criação do OPAC- Dona Nazaré destacou que mesmo no ano mais seco, no qual não se colheu nada na agri-cultura, o grupo não parou de trabalhar e conseguiu uma das coisas mais importantes e inéditas no estado da Paraíba: a criação do OPAC – Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica.

LIÇÕES APRENDIDAS

• A confiança é a base do trabalho em grupo- sem confiança todos os processos de uso coletivo dos equipamentos, certificação participativa, comercialização entre outros, seriam fracassados. Todos concordaram que uma importante lição desta experiência nos mostra que para um trabalho em grupo poder funcionar, este tem que ser baseado em confiança.

• O trabalho coletivo fortalece e gera conhecimento- outra lição importante é referente ao trabal-ho coletivo e sua capacidade de fortalecer o grupo e os vários aprendizados que traz para as pes-soas, é possível perceber a diferença dos agricultores que participam na experiência em relação aos demais agricultores das comunidades.

• As conquistas com agricultores à frente aumentam a autoestima- um exemplo bem claro desta lição foi o dia de solicitar o credenciamento do OPAC na superintendência do MAPA no estado da Paraíba. O coordenador da CPOrg/PB fez 3 questionamentos em relação a documentação apre-sentada, e depois que os próprios agricultores responderam os questionamentos, o coordenador elogiou todo o trabalho, sentiu firmeza no grupo e falou que eram o primeiro da Paraíba a apresen-tar de forma qualificada uma proposta de credenciamento de OPAC. Além deste exemplo, várias conquistas fazem os agricultores se sentirem bem e com capacidade de fazer coisas importantes.

• Através das parcerias e organização se alcança autonomia- a caminhada ao longo destes anos da experiência tem mostrado que um grupo de agricultores com um objetivo definido, com parcei-ros que possam apoiar, e organizados com encontros frequentes, podem desenvolver uma organi-zação para gestão. A autonomia de gestão não dispensa a necessidade de assessoria, mas significa que os agricultores podem tocar seus próprios projetos.

SOBRE A SISTEMATIZAÇÃO

A sistematização teve como eixo principal o itinerário metodológico da experiência dos consórcios agroecoló-gicos no Cariri Paraibano. Várias outras questões importantes foram abordadas de forma superficial, podendo ser fruto de outras sistematizações no futuro. Esteve envolvida, na sistematização participativa, uma parte do Grupo de Gestão Territorial – GGT, contendo representantes de 5 comunidades/assentamentos diferentes. Fo-ram eles: Vital – comunidade Pitombeira/Sumé, Anselmo – PA Zé Marcolino/Prata, Manuel – PA Novo Mundo/Camalaú, Nazaré – PA Mandacarú/Sumé, Francisco – PA Dos Dez/ Monteiro. Além destes, contribuíram para a sistematização: Fontinele, Valéria, Aldo Belo e Ricardo.

CASO 3ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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37ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A EXPERIÊNCIA DO COOPERATIVISMO NO TERRITÓRIO SERTÃO DO APODI – COOAFAP

INTRODUÇÃO - O COOPERATIVISMO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO TERRITÓRIO DO APODI / RN

O documento a seguir apresenta a sistematização da experiência de cooperativismo solidário da COOAFAP e COOPAPI, situadas no Território Sertão do Apodi / RN. Ambas são gerenciadas diretamente pelos seus coo-perados, agricultores familiares, buscando sempre melhores rendimentos, o que tem contribuído para uma elevação do preço médio dos produtos da agricultura familiar e para o amplo reconhecimento e credibilidade das duas cooperativas.

Estas experiências se destacam pela importância que alcançaram na comercialização e no acesso a mercados locais (pontos de vendas direto ao consumidor), ao mercado nacional, comercializando seus produtos para grandes redes varejistas e aos mercados institucionais, o PAA em suas diversas modalidades e o PNAE, bem como a participação em feiras regionais e nacionais. No ano de 2011, a COOAPAF comercializou mais de R$ 1.000.000,00 e a COOPAPI quase R$ 498.000,00.

As cooperativas são reconhecidas também pelas ações inovadoras na temática de educação, tais como ele-vação de escolaridade e qualificação profissional, inclusão digital e ações de gênero e geração e pelo estímulo à adoção de praticas de agricultura orgânica e agroecológica.

Desta forma, os agricultores familiares cooperados aumentaram suas rendas e investiram em equipamentos, na melhoria de suas residências e na educação dos seus filhos, muitos deles com ensino médio e universitário.

A CHAPADA DE APODI: A IMPORTÂNCIA DA APICULTURA E DA CAJUCULTURA

Com o incentivo de programas governamentais, principalmente os destinados a projetos produtivos, outra dinâmica impacta nas unidades produtivas estimulando a organização dos agricultores/as familiares. Verifi-ca-se nesses anos uma proliferação de associações comunitárias de mini produtores e de agroindústrias coleti-vas, especialmente de beneficiamento do mel e da castanha.

A apicultura passa a se consolidar como atividade profissional e como uma alternativa econômica viável para o meio rural, contando com incentivos governamentais por meio de programas de apoio e de crédito no BNB e BB (via PRONAF), destinados ao custeio e investimentos.

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Claudio Gustavo Lasa

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38ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Em relação à cajucultura, a sua importância como atividade econômica remonta à década de 1970. A partir do ano de 2000, o governo estadual, em parceria com a FBB, a EMBRAPA e o SEBRAE passou a apoiar mais siste-maticamente a cadeia da cajucultura e o desenvolvimento de minifábricas de beneficiamento da castanha em vários municípios.

O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO DO COOPERATIVISMO EM APODI

No RN, a maioria das organizações associativas de agricultores familiares e trabalhadores rurais teve suas ori-gens no movimento sindical do campo e nas CEB’s. Práticas cotidianas de trabalho estruturadas ao longo das experiências de vida das populações rurais, historicamente excluídas da economia mercantil, contribuíram para estas experiências cooperativas: mutirões realizados nas fases de plantio, nos tratos culturais, captura de enxames e colheita de mel.

Neste contexto, foi fundamental o trabalho social da Igreja Católica voltado para as populações rurais, a for-mação de lideranças e sua organização em associações, sindicatos e cooperativas. Estas experiências coope-rativistas inovaram com práticas de gestão democráticas e participativas. Legitimadas pelos seus membros e apoiadas por instituições não governamentais, demonstram capacidade para resolver e/ou encaminhar as demandas dos seus associados (de produção, crédito, beneficiamento e comercialização), ganhando, assim, maior visibilidade e reconhecimento no espaço público.

CASO 4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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39ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A EXPERIÊNCIA DA COOAFAP

O que facilitou a experiência da COOAFAP?

O contexto de mobilização social no estado e na re-gião; a assessoria e a ajuda das organizações parcei-ras e dos movimentos sociais; o conjunto de políticas públicas para a agricultura familiar (PRONAF, PAA, PNAE).

O que dificultou a experiência da COOAFAP?

Pouco comprometimento inicial dos associados; descrédito no cooperativismo provocado por outras experiências de cooperativas “com dono”; falta de capital de giro; burocracia para regularização da coo-perativa; legislação tributaria e sanitária inadequada para a agricultura familiar; pouco acesso as políticas de convivência com a seca.

Êxitos

Credibilidade, reconhecimento e consolidação da cooperativa; empoderamento; aumento expressivo do volu-me de recursos envolvido na comercialização; crescimento econômico; aumento do nº de sócios; permanência com qualidade de vida dos agricultores no campo, refletida na segurança alimentar, no melhor acesso à saúde, na preservação e uso sustentável do meio ambiente, nas infraestruturas nas comunidades; a diversidade da produção familiar; o trabalho voluntário dos gestores; diminuição do papel do atravessador; o preço justo para os sócios; intervenção e regulação do mercado de produtos.

As Chaves do Sucesso

Espírito solidário; força de vontade e compromisso; motivação para aprender; presença ativa da cooperati-va nas comunidades; conhecimento (encontros, intercâmbios, feiras); fortalecimento das associações; trans-parência na gestão e controle por parte dos cooperados; trabalho em equipe; autonomia dos agricultores; des-centralização do poder.

Boas Práticas e Inovações

Rodízio de sócios e das comunidades na gestão / direção; os próprios agricultores gestores da organização; incentivo à participação de jovens e mulheres na cooperativa; formação de jovens para a gestão; formação na prática (processos de transição da direção); agricultores e lideranças idôneas para assumir a direção; adoção da produção orgânica e de práticas agroecológicas.

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40ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Lições Aprendidas

Modelo de gestão participativa e democrática; aprender “fazendo” a gestão; sensibilização dos alunos das es-colas na mudança dos padrões e hábitos culturais (gastronômicos); incentivo à participação de mulheres e jovens na gestão / direção da COOAFAP.

Desafios

A nova questão da terra (projeto do DNOCS para implantação do agronegócio de frutas); uma assessoria téc-nica continua e permanente no campo da produção e da comercialização; buscar a sustentabilidade social e econômica ganhando novos mercados; influenciar o marco legal da agricultura familiar: adequação à atual legislação de comercialização (SIF) e beneficiamento ou articular com outras organizações na busca de uma legislação para a agricultura familiar; formação continuada em cooperativismo.

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41ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 5ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A EXPERIÊNCIA DO COOPERATIVISMO NO TERRITÓRIO SERTÃO DE APODI – COOPAPI

A EXPERIÊNCIA DA COOPAPI

O que Facilitou a experiência da COOPAPI

O trabalho social da Igreja Católica; o grupo de jovens São Pedro; a luta pela terra como fonte de trabalho cole-tivo; os parceiros e a favorável conjuntura política que existe para a agricultura familiar desde 2003.

O que Dificultou a experiência da COOPAPI

Os atravessadores controlando todo o processo de comercialização dos produtores familiares, preços e merca-do, gerando grande dependência; conhecimento insuficiente sobre cooperativismo; falta de acesso aos mer-cados; o fator político da seca (controle e submissão do povo); legislação de comercialização e beneficiamento inadequada para a agricultura familiar.

Êxitos

A escolha da marca Terra Firme; a melhora da qualidade de vida dos cooperados (renda, educação); conscien-tização ambiental; selo orgânico; políticas públicas para a agricultura familiar (comercialização, educação); ex-portação de mel e algodão; aumento do n° de sócios; diversificação da produção familiar (castanha, algodão, cosméticos e artesanato); equipamentos para beneficiamento.

Chaves do Sucesso

Participação dos jovens filhos dos cooperados; união, trabalho coletivo e compromisso; organização, credibi-lidade e transparência.

Boas Práticas

Reconhecimento dos produtos da agricultura familiar; estação digital; produção orgânica consorciada; agre-gação de valor (sache); participação em feiras para comercialização; “aprender fazendo”; comunicação e divul-gação de todo o trabalho; intercâmbios, trocas de saberes; cooperação entre as cooperativas; predisposição para ser tema de teses e artigos acadêmicos (pesquisas).

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Claudio Gustavo Lasa

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CASO 5ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Inovações

Marca Terra Firme; selo orgânico, algodão orgânico, certificação participativa; projeto MIDEP.

Lições Aprendidas

A convivência com o semiárido; respeitar a natureza; adequação à legislação; organização cooperativa; deter-minação para buscar projetos e recursos.

Desafios

Necessidade de investir em formação em cooperativismo; conseguir o SIF; incorporar o mel no cardápio da me-renda escolar; continuar a tentativa de mudar hábitos e padrões de consumo; superar os entraves burocráticos e propor mudanças na legislação para a agricultura familiar.

CONCLUSÕES

É um avanço falar de educação na cooperativa porque é um tema abstrato, invisível. O mel tem as unidades de beneficiamento, a cajucultura, a Central de Comercialização, ainda há o algodão orgânico e a polpa de frutas... mas a educação não se vê nem se toca. Então ter conseguido esses projetos deixando a gestão dos mesmos nas mãos dos jovens, são, certamente, grandes avanços. Os projetos de educação e da estação digital estimulam o espírito inovador dos jovens e os aproximam da comunidade e da cooperativa.

A COOPAPI e a COOAFAP precisariam desenvolver mais sistematicamente a educação cooperativista e a for-mação de novas lideranças e se colocar como experiências que podem ser expandidas e adotadas, dentro das particularidades de cada situação, por outros grupos de agricultores/as familiares.

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43ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A troca de experiências, de informações e a possibilidade de fortalecer a comercialização em conjunto com a COOAFAP se configuram como mais um estímulo ao cooperativismo da região e à realização das demandas de comercialização e beneficiamento dos agricultores/as familiares, suplantando as experiências negativas ante-riores de cooperativismo na região.

Um dos grandes desafios da COOPAPI é a sustentabilidade ambiental, fazer com que os sócios percebam e entendam que fazem parte do meio ambiente, por isso é necessário insistir com a produção orgânica e agro-ecológica. A consciência ambiental, as práticas conservacionistas, isso é um desdobramento muito importante da apicultura.

Pensar o mel como alimento, com qualidades nutritivas e não como sobremesa, mudança no padrão de consu-mo da população.

Credibilidade e instrumento de regulação dos preços dos produtos da agricultura familiar em favor dos agri-cultores, informando e divulgando o preço dos produtos a nível nacional e estadual, porque historicamente os atravessadores ganhavam se aproveitando da falta de informação dos agricultores.

A COOPAPI sempre entendeu o cooperativismo como uma extensão do associativismo, buscando sócios que já tivessem uma experiência ou uma vivência de trabalho grupal, coletivo, com interesses comuns, tentando fugir daquela ideia muito divulgada pelos órgãos públicos dos “projetos a fundo perdido”.

Falta de uma articulação política eficiente para investimentos e projetos de infraestrutura para a agricultura familiar, enfrentar grandes empresários do setor de beneficiamento do mel, eles tem SIF, a agricultura familiar não. Falta força política e unidade com a COOAFAP, a UNICAFES e outras entidades pra enfrentar esses desa-fios.

CASO 5ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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44ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 6 E 7ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

DIVERSIFICANDO E BENEFICIANDO A PRODUÇÃO PARA CONVIVER MELHOR COM O SEMIÁRIDO:

OS EXEMPLOS DOS ASSENTAMENTOS MOACI LUCENA E LAGE DO MEIO EM APODI-RN

ONDE E EM QUE CONTEXTO SE DESENVOLVE A EXPERIÊNCIA?

A experiência dos Projetos de Assentamento Moaci Lucena e Laje do Meio desenvolvem-se no município de Apodi, na região do semiárido do Rio Grande do Norte. Pela observação destes assentamentos é possível situar a importância atribuída à convivência com o semiárido. Esta expressão equivale a um conjunto de práticas que dignificam os moradores e do semiárido e demonstra a capaciadade de promover soluções originais para as problemáticas da região, em especial considerando a escassez de água e a preservação ambiental. Os assen-tamentos Moaci Lucena e Laje do Meio representam exemplos de melhoria de qualidade de vida e acréscimo produtivo mediante a diversificação da produção e a utilização de práticas agroecológicas em suas cadeias produtivas. Tais práticas representam inovações tecnológicas que promovem equilíbrio ambiental através da recuperação de áreas de caatinga degradadas e preservação do solo e da água de modo, além de gerar renda para os pequenos produtores.

QUAL É O OBJETIVO DA EXPERIÊNCIA?

As famílias assentadas atualmente em Moaci Lucena e em Laje do Meio já residiam na localidade como mo-radores de fazendas que envolviam o território onde hoje se localizam os assentamentos. Nestas fazendas trabalhavam na agricultura em troca do pagamento de um arrendamento. Sem propriedade da terra, iniciaram uma organização com vistas à realização da reforma agrária. Com a desapropriação das fazendas e o estabe-lecimento dos assentamentos, várias conquistas foram alcançadas, com a realização de projetos e o apoio de assessorias com vistas à diversificação e beneficiamento da produção, agregação de maior renda e transição para um modo agroecológico de produção.

COMO OPERAM OS ASSENTAMENTOS?

Os assentamentos são organizados de modo que cada um deles possui uma associação de moradores, um gru-po de mulheres e um grupo de jovens. São nestes espaços que as decisões são tomadas através de processos coletivos, ou seja, a mobilização inicial que fundamentou o estabelecimento continua nos anos seguintes.

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Rosana Carvalho Paiva

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45ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

QUAIS GANHOS FORAM OBTIDOS?

O primeiro ganho reconhecido pelos dois assenta-mentos foi a conquista da terra, com a desapropriação das antigas fazendas e distribuição de lotes entre as famílias assentadas. Com esta mudança foi possível que os assentados garantiram um senso de autono-mia e independência, validada pelos processos orga-nizacionais locais, criando um contraponto em relação à situação anterior na qual pagavam renda ao ex-pro-prietário das terras. Além disso, passaram a realizar a transição para um modo agroecológico de produção, realizando o manejo da caatinga e não utilizando agrotóxicos e pesticidas. Outro ganho refere-se à di-versificação e beneficiamento da produção Passaram a ter maior acesso a água através de poços e cisternas. Com estas mudanças os moradores agregaram maior renda e qualidade de vida.

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA?

A experiência do Moaci Lucena e de Laje do Meio possibilitou que seus moradores desenvolvessem a capaci-dade de formular propostas, sugestões e efetivar ações em prol de cada comunidade através das organizações locais voltadas para este fim. O empoderamento das mulheres através da formação de grupos específicos de mulheres e realização de trabalhos capazes de gerar renda também são aspectos relevantes nas experiências. A lição mais central das experiências constitui o aprendizado de técnicas e práticas capazes de proporcionar a convivência com o semiárido. Deste modo, é possível contornar as dificuldades causadas pelos períodos de seca através da diversificação produtiva e agregação de valor aos itens produzidos através do beneficiamento deles.

As intervenções positivas que permitem a convivência com o semiárido são:

• Polpas de frutas

A fabricação de polpa de frutas é considerada uma atividade muito lucrativa que rende em média para os pro-dutores entre R$ 500,00 e R$ 600,00 reais por mês. Essa produção favorece especialmente às mulheres, pois através desta atividade elas tiveram meios de obter uma renda direta, fomentando a autonomia perante a esfera familiar e comunitária. As polpas eram vendidas para a COOAFAPI (Cooperativa da Agricultura Familiar de Apodi) e entravam no quadro da PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e da PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), ou seja, já tinham um destino fixo de comercialização. Entretanto, dada uma denún-cia que atribuem a possibilidade de ter sido realizada por alguma empresa concorrente na produção de polpas de frutas, as polpas foram apreendidas na cooperativa e os produtores impedidos de comercializar enquanto não tiverem uma unidade de polpas padronizada para produção.

CASO 6 E 7ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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• Manejo da caatinga

O manejo da caatinga refere-se a um conjunto de técnicas desenvolvidas de modo a propiciar a convivência com o semiárido através do uso sustentável da caatinga na produção agrícola e de forragem para animais de criação. Representam uma integração entre as produções de roçado e de caprino-ovinocultura. Além disso, por esta via, as queimadas para limpeza de terreno não são realizadas, bem como o uso de agrotóxicos além de que através do manejo é possível haver sustentabilidade para alimentação dos animais o ano todo. As duas principais ações do manejo da caatinga são o raleamento e o rebaixamento da vegetação.

• Apicultura

Em Moaci Lucena, a casa de mel está quase totalmente pronta para uso, faltando alguns ajustes no maquinário para que possam ter um entreposto ainda mais adequado ao padrão imposto para autorização de comerciali-zação. O mel é levado para a casa de Laje do Meio para poder “cifrar” (fazer o sachê) e ser levado pra COOAFA-PI. O entreposto de Laje do Meio está plenamente organizado e as atividades de apicultura estão estagnadas por causa da seca que motiva as abelhas abandonarem o local, migrando para outros lugares. O mel é vendido a entrepostos em outros estados que o embalam e conduzem para comercialização. Por outro lado, o mel em sachê é preferência do mercado interno.

• Agricultura de sequeiro e quintais

A agricultura de sequeiro é realizada em estreita relação com os períodos chuva. Os plantios principais são de feijão, milho, sorgo, melancia e jerimum. Uma das dificuldades para a realização dos plantios refere-se à ausên-cia de água encanada para os lotes de terra de trabalho. Com a utilização da água encanada disponível nos quintais encontram-se nestes a criação de galinhas, pomares com árvores frutíferas e o plantio de hortaliças e plantas medicinais.

CASO 6 E 7ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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• Caprino-ovinocultura

Com o manejo da caatinga os animais tem sido melhor alimentados. Por isso um cabrito pode ser abatido agora em quatro meses, quando antes se esperaria um ano. Os animais a serem abatidos são vendidos para a COOAFAPI e comercializados para o PAA.

• Cajucultura

No assentamento Moaci Lucena não havia plantio de cajueiros até que entre 2002 e 2003, quando estavam implantando o PRONAF em parceria com a COOPERVIDA foram questionados se tinham interesse de plantar cajueiro. A castanha é vendida pela cooperativa. Vendem in natura, não é beneficiada. As frutas são utilizadas para fabricação de polpas. Em 2004 começaram o projeto de plantio de cajueiros para realizar esta produção.

CASO 6 E 7ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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48ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 8ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

TECNOLOGIAS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO, ALTERNATIVAS VIÁVEIS PARA AGRICULTURA FAMILIAR

AGROECOLÓGICA NO POLO COMUNITÁRIO DE CACIMBA DO MEIO

CONTEXTUALIZANDO A EXPERIÊNCIA

O município de Caraúbas foi Distrito criado com a denominação de Caraúbas, pela lei provincial nº 408, de 0109-1858, subordinado ao município de Apodi. Elevado à categoria de vila com a denominação de Caraúbas, pela lei provincial nº 601, de 05-03-1868. Dista a 300 km de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte. Está localizado na Mesorregião do Oeste Potiguar, mais precisamente na Microrregião da chapada do Apodi. Com uma área territorial de 1.095 Km², equivalente a 2.074% do estado, 0.0705% da Região nordeste e 0.0129% de todo o território brasileiro. Conforme Censo do IBGE (2010), possui uma população de 19.576 habitantes e apresenta uma densidade demográfica de 17,88 pessoas / Km².

De clima considerado muito quente e semiárido, tem estação chuvosa normalmente entre março e maio, al-cançando uma média de 682,0 mm, temperatura média de 29,2°C e umidade relativa do ar de 69% na média anual.

A economia do município está voltada para a produção de petróleo e extração da palha de carnaúba, contando ainda com cadeias produtivas significativas oriundas da agricultura familiar, com destaque para a cajucultura, bovinocultura, caprinocultura, apicultura e cultura de hortaliças.

Há uma demanda crescente por assistência técnica decorrente de elevada quantidade de pequenos agriculto-res, organizados em cem associações, no município de Caraúbas

O município se organiza nas associações rurais pelo sistema de divisão de polos comunitários, somando-se, cinco, no total. O polo comunitário de Cacimba do Meio está situado as margens do rio Umari e na divisa entre Caraúbas e os municípios de Olho D’Água do Borges, Umarizal e Apodi. Está localizado a, aproximadamente, 26 km da sede do município. É neste local, onde a comunidade que deu nome ao polo se organiza.

A associação conta com 34 sócios que celebram conquistas relevantes no cenário municipal. Neste sentido, a família do Agricultor Antônio Iranildo Ferreira, tem ganhado notável destaque na comunidade. Casado com Lucivânia de Lima Alves Ferreira e pai de três filhos, Mardônio, Marcleide e Marcondes. Ele e sua família des-envolvem um trabalho com a agricultura familiar de base agroecológica que serve de exemplo para muitos agricultores da sua região e até de outros estados.

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Jonildo Pessoa de Morais

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49ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Em 2005, Iranildo produzia em terras arrendadas e trabalhava prestando serviços como vaqueiro em pro-priedades da região. Foi então que Iranildo conheceu o trabalho da Diaconia com produtores da região e começou a participar dos espaços de capacitação e formação, promovidos na comunidade, e despertar o interesse para produzir de forma agroecológica. Nes-te período, o agricultor recebeu o convite para plantar hortas no regime de sociedade. Daí em diante, Iranil-do contava com assessoria e também um local para produzir. Foi a concretização de sua vontade. Este tra-balho se estendeu por apenas um semestre, e a partir daí, Iranildo passou a cuidar e produzir em uma área no quintal de casa, área esta, cedida pelo seu sogro. “Não havia a menor condição de produzir, tive que construir tudo nesse pedaço de chão”, relata Iranil-do. Terra com muitas erosões, grande quantidade de pedras espalhadas no local e condições mínimas de produzir pela baixa qualidade que o solo apresentava. Foi necessário transportar toda a cobertura do solo dessa área para que ela pudesse começar a produzir. No quintal, o agricultor produzia frutas como: acerola, goiaba, pinha, graviola, e ainda, pimentão, tomate e quiabo, além dos canteiros com cheiro verde, cebolin-ha, alface, repolho, cenoura e beterraba.

CASO 8ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A partir daí tudo mudou e inicia a melhoria da qualidade de vida do casal e dos filhos. Com a melhor renda, Iranildo, comprou a primeira moto da família, pois antes, fazia o transporte de seus produtos em uma bicicleta ou em carro de mão. Depois, a família comprou um carro e com isso, as condições de transporte dos produtos e da família melhoraram, ainda mais. As conquistas foram-se ampliando e havia na área de Iranildo um fator li-mitante para desenvolver as suas atividades. Naquela terra a água era insuficiente para suportar estiagens mais longas. Em 2011, Iranildo consegue comprar um terreno que mede três hectares. Nesse local, a água é mais abundante e suporta períodos longos de estiagem. Mesmo com poucas condições de produção, pela erosão herdada do uso da terra pelos antigos proprietários, Iranildo conseguiu a recuperação dessa área.

EIXOS DA EXPERIÊNCIA

Organização Social

A organização formal aconteceu no ano de 1993 quando se criou a Associação Comunitária de Cacimba do Meio, a qual, Antonio Iranildo Ferreira é o atual Presidente. No processo de organização social, um forte incen-tivo foi à atuação do Fórum das Associações Rurais de Caraúbas que estimula a organização, as discussões e a tomada de decisão participativa.

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50ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 8ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Ciente do seu papel no fórum das associações, Iranildo atua como liderança no incentivo para que novas fa-mílias desenvolvam atividades semelhantes a sua. Esta representação comunitária conquistou muitas ações importantes para a comunidade. Como: Barragens sucessivas, barragens subterrâneas, cisternas de placas, cisternas de calçadão, banheiro redondo, biodigestor e sistemas de irrigação. Em busca de outros espaços, Ira-nildo, através da Diaconia, conhece o trabalho da Associação Agroecológica Oeste Verde – AAOEV, uma asso-ciação de agricultores familiares agroecológicos de atuação territorial. Se identificando com a proposta desta associação o agricultor passa a fazer parte do grupo de sócios desta entidade em 2006. Esse fator contribuiu para a inserção de Iranildo nas feiras agroecológicas, dos mercados de Caraúbas e Umarizal.

Integração das atividades na experiência

A experiência relatada agrega diversas tecnologias, barragem sucessiva, subterrânea, biodigestor, área de pro-dução agroecológica, fossa que possibilita a reutilização da água, cacimbão de anel, cisterna de placas, criação de pequenos animais e banheiro redondo. É importante ressaltar a integração entre as tecnologias e o resulta-do dessa aplicação metodológica no trabalho da experiência.

Um exemplo dessa interação é que o esterco utilizado para abastecer o biodigestor, consequentemente produz o biofertilizante utilizado na área produtiva como adubo natural, com este exemplo, demonstramos que várias outras tecnologias são possíveis de se integrarem na experiência.

Preservação e recuperação da área

Uma prática antiga da comunidade era a derrubada da caatinga para plantação de algodão. Derrubavam a mata, botavam fogo e plantavam na terra por anos seguidos, sem pousio, até levar à terra a exaustão. Outra prática era o plantio de fumo nas áreas possível de irrigar.

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CASO 8ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

O tempo e as práticas devastadoras ensinaram a co-munidade a mudar as formas de uso dos recursos na-turais. Essa transição foi facilitada pela assessoria téc-nica recebida na comunidade.

A propriedade do senhor Iranildo, nessa relação cons-titui-se uma verdadeira demonstração de ação de convivência com o semiárido brasileiro. Uma forma, pela qual, muitos começam a usar novas técnicas por influência desse agricultor. Enquanto muitos vizinhos de seu roçado adotavam as práticas de pulverização na plantação, ele substituía a pulverização com ve-neno por aplicação de urina de vaca nas plantações. “Nunca plantei um pé de nada usando veneno para manter ele limpo de pestes ou doenças,” relata, orgul-hosamente, Iranildo Ferreira.

Na propriedade que seu Iranildo comprou havia erosões profundas e marcas desastrosas da ação do tempo e falta de cuidado dos antigos proprietários, porém, tão logo se apropriou do local, Iranildo tratou de fazer contenções de pedras e construir pequenos barramentos nas áreas mais afetadas pelas corren-tezas das águas. Com essa atitude, grande parte das erosões foi corrigida, bem como, controlada a si-tuação de deslocamento da cobertura do solo. “Ainda tem muita coisa pra ser feita nesse pedaço de chão, mas já se percebe uma diferença grande daquilo que encontrei aqui”. São palavras de Iranildo fazendo re-ferência a seu terreno, e ainda completa dizendo: “Preciso cuidar, e muito bem, do lugar que me dar condições de viver melhor”.

Produção e Comercialização

Por não usar veneno, o agricultor tem credibilidade junto aos seus clientes. Na sua propriedade são produzido cheiro-verde, alface, cebolinha e pimentão. No início, para comercializar seus produtos Iranildo se deslocava 26 km numa bicicleta até a cidade de Caraúbas e 28 km para Umarizal. Depois conseguiu comprar uma moto o que facilitou o seu transporte. A média de produção da propriedade mesmo no período de estiagem é de cinco canteiros por mês entre cheiro verde e alface, cada canteiro de alface contém 400 unidades e o canteiro de cheiro verde contém 1.000 unidades cada. Um pé de alface é vendido a um real e no caso de cheiro verde são quatro molhos por um real. O agricultor comercializa ainda os outros produtos já relacionados.

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CASO 8ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA

A convivência com o semiárido está fazendo parte do cotidiano político-social do Brasil. Poucos são os que se referem ao combate à seca, prática comum nas políticas públicas para o Nordeste em décadas passadas. A experiência é exemplo para muitos produtores da região. A forma de trabalho aplicada nesta área e as tecnolo-gias implantadas neste local constituem um laboratório de inovações para o uso sustentável da terra. Evidencia para todos que a visitam ou para aqueles que estão iniciando o processo sustentável de produção que é possível conviver em harmonia com o ambiente e consequentemente com o semiárido.

Avanços

Influenciar três grupos de jovens e seis grupos familiares a estar produzindo de maneira agroecológica; perce-ber a maioria das pessoas da comunidade sensível à proposta de sustentabilidade cuidando dos recursos natu-rais; ver sinais evidentes de recuperação das matas ciliares do rio Umari; aprender a aplicar algumas técnicas de manejo da caatinga e do solo; identificar e corrigir pequenos danos ambientais na sua área de terra; recuperar e produzir numa terra pequena com êxito em suas intervenções e aplicação de tecnologias adaptadas...São resultados desse tipo que Iranildo considera como avanços importantes e que se destacam na sua comunidade em consonância com a sua experiência. Muitas visitas são recebidas na área de produção de Iranildo. Pessoas que escrevem sobre o semiárido e também instituições e grupos que trabalham na região já visitaram essa experiência.

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CASO 8ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Desafios

Conviver com o semiárido já se constitui um desafio, porém, entender as limitações e adaptar-se a estes fatores é o passo fundamental para harmonização da convivência. Iranildo identifica que alguns obstáculos na comuni-dade devem ser vencidos e isso favorecerá ao melhoramento da convivência com o clima. Entre os problemas a serem vencidos destacam-se: sensibilização de algumas poucas pessoas da comunidade na participação de associação e ou outros grupos sociais que debatam estratégias e convivência. Estas pessoas não colaboram com a preservação e conservação dos recursos naturais da comunidade e não se integram para incidirem em políticas públicas. Outro desafio é fazer com que exista uma instancia de fiscalização do uso da água do rio Umari neste período de estiagem prolongada. Já que enquanto alguns proprietários conscientes usam só o necessário de água para produzir, outros gastam excessivamente sem preocupação com a falta dela.

LIÇÕES APRENDIDAS

• Com organização social possível conquistar muitas ações para a comunidade, capazes de fazer a diferença na qualidade de vida dos moradores e até mesmo de uma região.

• A força de vontade de uma família é capaz de demonstra para um polo comunitário e, até mesmo, para lugares distantes que é possível conviver com o semiárido e proporcionar melhores condições de renda e qualidade de vida através da terra.

• A interação entre as tecnologias sociais aplicadas na experiência facilita o manejo e favorece a produção na propriedade. Os ciclos de interação entre as tecnologias são complementares, ou seja, cada tecnologia complementa a outra.

• A recuperação de áreas degradas é possível de acontecer com técnicas apropriadas e sem custos elevados para os produtores do semiárido.

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54ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 9ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

SISTEMAS IRRIGADOS AGROECOLÓGICOS NO SEMIÁRIDO: O CASO DE SOMBRAS GRANDES / MILAGRES

CONTEXTUALIZANDO A EXPERIÊNCIA

O município de Caraúbas– RN situa-se na mesorregião Oeste Potiguar e na microrregião Chapada do Apodi, ocupando uma área de 1.095 km². Foi desmembrado de Apodi em 1868 e possui altitude de 114 m, distando da capital Natal/RN cerca de 302 km. O censo de 2010 evidencia uma população de 19.576 habitantes. As princi-pais atividades econômicas do município são agropecuária, indústria de transformação, extração de petróleo, gás natural, extrativismo e comércio. A agricultura familiar possui quase a metade (47%) das terras e é respon-sável por 58% do valor bruto da produção agropecuária na região. Baseia-se na pecuária de ovinos e caprinos, associada à criação de galinha e apicultura. A produção agrícola principal é de milho e feijão, e em menor escala de mandioca, e algumas ações com hortas e pomares irrigados. Registram-se plantios de caju para produção de castanha, com baixo aproveitamento do pseudofruto, à exceção de ações comunitárias na produção de ração animal e de polpa de frutas.

O clima da região é tropical quente do tipo Semiárido. Precipitação média anual de 658,6 mm, período chuvoso concentrado entre os meses de fevereiro a maio e grande variabilidade no tempo e no espaço. Elevada taxa de evapotranspiração anual, bem maior que a precipitação, resultando na predominância de fluxos ascendentes de água no solo que propiciam processos de salinização.

A degradação do Bioma Caatinga vai além das áreas com remanescentes de mata, incluindo plantios em roça-dos, onde se tem identificado elevados estágios de degradação. A região apresenta porções de áreas enqua-dradas entre moderadas e graves suscetibilidades à desertificação.

COMO SE INICIOU A EXPERIÊNCIA DE SISTEMAS IRRIGADOS AGROECOLÓGICOS: O CASO DE SOMBRAS GRANDES E MILAGRES?

Em 1961, a maioria das casas era de taipa (construção de barro com alta infestação do inseto ‘barbeiro’ - vetor da doença de Chagas ou do ‘coração inchado’). O acesso à água para consumo humano e doméstico era difícil, de má qualidade e as famílias tinham que buscar a 6 km de jumento em chafariz. Não havia energia elétrica. As estradas vicinais de acesso à comunidade praticamente não existiam, o que dificultava o transporte para a sede do município, e a maioria das pessoas se deslocava de bicicleta. Os sistemas produtivos eram basicamente de sequeiro, com a predominância do algodão mocó e culturas intercalares de milho e feijão e integração com a pecuária. As famílias não realizavam práticas de conservação do solo e a queimada era bastante usada, princi-palmente na renovação das áreas de plantio e para a produção de carvão.

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Fábio Santiago

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CASO 9ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Em 2005, a Comunidade de Sombras e Milagres – Ca-raúbas – RN passa a ser assessorada pelo Projeto Dom Helder Camara (PDHC) através da Assessoria, Consul-toria, e Capacitação Técnica Orientada Sustentável (ATOS). O PDHC é convidado a participar do Comitê Estadual do Projeto Molhar a Terra/Programa Fome zero. Na oportunidade, o Fórum das Associações, as entidades de assessoria técnica e o Sindicato dos Tra-balhadores Rurais de Caraúbas – RN identificaram, nesta comunidade, dois poços artesianos desativa-dos com possibilidade de recuperação, sendo um em Sombras Grandes e outro em Milagres. A partir daí, o PDHC elaborou de forma participativa um projeto e, aprovado junto ao Projeto Molhar a Terra, foi firmada a parceria com o Programa Luz para Todos/Governo Federal para a questão da energia elétrica; a Prefei-tura Municipal de Caraúbas – RN se credenciou para substituir as casas de taipa por alvenaria e, juntamen-te com a Petrobras, efetuou a regularização das estra-das vicinais.

Em outubro de 2006, os projetos financiados pelo PDHC e pela Petrobras através do Projeto Molhar Te-rra/Programa Fome Zero começaram a ser implanta-dos na Comunidade de Sombras Grandes e Milagres. A integração de ações foi composta de grupos de interesse por famílias de agricultoras a partir das afi-nidades produtivas. Foram constituídos os grupos de

galinha caipira, mel, hortas e pomares, banco de proteínas, manejo da caatinga para criação de caprinos. Além disso, as famílias se organizaram para a gestão de implantação das cisternas de placas nas residências rurais; implantação da adutora para levar água para as casas; construção da sede da associação, minhocário e unidade de beneficiamento de hortaliças; compra de veículo e insumos agroecológicos para início das atividades pro-dutivas etc.

A estruturação da produção agroecológica levou à mudança na qualidade de vida das famílias agricultoras, principalmente pela inserção de novos hábitos alimentares e do processo de comercialização. A organização da produção foi estrategicamente organizada para ser comercializada na Feira Agroecológica de Caraúbas – RN, que acontece todos os sábados, nas comunidades vizinhas e na própria comunidade; ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do Governo Federal; e no comércio local de Caraúbas-RN. Em 2012, o valor bruto da produção foi na ordem de R$ 44.388,50, incluindo o consumo de alimentos pelas famílias.

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CASO 9ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CONQUISTAS DA EXPERIÊNCIA

Autoestima e empoderamento – Antes do início do projeto, praticamente todas as famílias estavam sem autoestima. As condições de vida não ofereciam ci-dadania. Os conhecimentos gerados com mudança alimentar e a geração de renda fizeram estimular o empoderamento das famílias para seguirem como projeto de vida e não dos parceiros. Além disso, hou-ve aproximação das famílias com as políticas públicas destinadas à agricultura familiar.

Um sistema produtivo com base agroecológica – A produção limpa de alimentos sem qualquer uso de produto químico manufaturado pelo homem é um ganho de vida para as famílias. Além de preservar a saúde, consegue manter a sustentabilidade econômi-ca com ambiental.

Gestão participativa – O exercício de gestão é uma estratégia de fortalecimento do grupo, pois o coloca na linha de frente dos desafios e a assessoria técnica como facilitador de processo.

Saúde um ganho sem igual – É consenso das famílias que a saúde das pessoas, principalmente, das crianças melhoram. O consumo diversificado rotineiro de hor-taliças agroecológicas foi responsável em reduzir a desnutrição e anemia.

LIÇÕES APRENDIDAS

• Com organização social é possível conquistar os sonhos.• No debate coletivo de superação dos desafios, respeitar a opinião dos outros, estimular o diálogo e ouvir

críticas fortalece o grupo.• As dificuldades valorizam a conquista.• As políticas públicas para agricultura familiar existem e as famílias precisam se aproximar delas.• O aprendizado fica para sempre – Aquilo que não se tira da vida é a apropriação de novos conhecimentos,

aliando os já existentes.

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CASO 9ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

SOBRE A SISTEMATIZAÇÃO

Foi realizada na sede da associação de Sombras Grandes e Milagres – Caraúbas-RN as oficinas que resulta-ram a sistematização. As ferramentas utilizadas nas oficinas de sistematização foram:

• Linha do tempo - Utilizada para reconstrução participativa da experiência. Foi positivo o uso da ferra-menta, pois permitiu organizar cronologicamente os acontecimentos, assim como identificar obstácu-los, meios de superação, conquistas e desafios.

• Valores - Outro exercício interessante foi o de fazer um “mapa” dos valores• Ficha técnica – A ficha técnica ajudou a organizar a apresentação que será feita na rota de aprendizagem. • Ficha de talentos - Foi preenchida no final para descrever melhor os talentos que ficaram responsáveis

para apresentação na rota de aprendizagem.

Fotos deste documento: Programa Semear/Manuela Cavadas. 57ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM