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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE DIREITO ROSÉLIA SAMPAIO ELIAS BRUNONI REFLEXÕES SOBRE O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO CURITIBA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁCENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

CURSO DE DIREITO

ROSÉLIA SAMPAIO ELIAS BRUNONI

REFLEXÕES SOBRE O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA NOORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

CURITIBA2010

ROSÉLIA SAMPAIO ELIAS BRUNONI

REFLEXÕES SOBRE O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA NOORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Monografia apresentada ao Curso de Direito doCentro de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiutido Paraná, como requisito parcial à obtenção do títulode Bacharel em Direito. Professor Orientador: DanielRibeiro Surdi de Avelar

CURITIBA2010

TERMO DE APROVAÇÃOROSÉLIA SAMPAIO ELIAS BRUNONI

REFLEXÕES SOBRE O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA NOORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Esta monografia foi julgada e apresentada ao Curso de Direito do Centro de Ciências Jurídicas daUniversidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.Professor Orientador: Daniel Ribeiro Surdi de Avelar

Curitiba,______ de____________________________________ 2010.

___________________________________________________________________Coordenador de monografias da Universidade Tuiuti do Paraná

ORIENTADOR:_______________________________________________________Professor Daniel Ribeiro Surdi de Avelar

Universidade Tuiuti do Paraná

__________________________________________________________________Prof. (a) 1º Examinador da Banca

Universidade Tuiuti do Paraná

__________________________________________________________________Prof. (a) 2º Examinador da Banca

Universidade Tuiuti do Paraná

À minha família, que sempre esteve ao meu lado.

Ao meu querido esposo, pela paciência e dedicação ao me

ensinar o Direito como ciência, nessa longa

tragetória de novas descobertas.

Ao meu filho, que sempre abaixou o som de suas músicas,

quando eu pedia, diante das

intermináveis horas de estudo.

E, ao grande Magistrado e Professor Daniel Ribeiro Surdi de

Avelar, que por toda minha vida não esquecerei dos preciosos

ensinamentos deixados durante o correr da cadeira de Direito

Processual Penal, por ele conduzida.

Obrigada!

REFLEXÕES SOBRE O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA NOORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Resumo:

Este trabalho de pesquisa acadêmica analisa o instituto da delação premiada no

direito brasileiro. Uma vez que, ainda não se tem um disciplinamento satisfatório

sobre inúmeras questões formais que são debatidas na doutrina a respeito do

instituto. Trata-se, aqui, portanto, da definição do conceito de delação premiada,

uma breve alusão ao Direito comparado, mais especificamente de onde a delação

foi importada, para uma maior compreensão do instituto; análise a natureza jurídica

do instituto; e as várias leis onde ela está prevista, os apectos axiológicos; os

requisitos da delação premiada; as posições dos doutrinadores que dizem ser o

instituto da delação premiada aético, utilitário e imoral; o “desrespeito” aos princípios

constitucionais. Ainda, comentários sobre o denominado “Direito Penal do Inimigo”,

desenvolvido na Alemanha por Jakobs, pois ele tem íntima conexão com a

criminalidade organizada. E por fim, um modelo de delação premiada empregada

para alugns casos na Justiça Federal.

Palavras-chave: Delação premiada. Conceito. Direito Comparado. Previsão

Normativa. Natureza Jurídica. Aspectos axiliológicos do instituto. Posicionamento

doutrinário.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 8

2. CONCEITO DE DELAÇÃO PREMIADA 9

3. ORIGENS DA DELAÇÃO PREMIADA 11

4. DELAÇÃO PREMIADA NO DIREITO COMPARADO 12

4.2. DIREITO ITALIANO 13

4.3. DIREITO ESPANHOL 14

4.4. DIREITO PÁTRIO 14

5. A DELAÇÃO PREMIADA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 16

5.1. CÓDIGO PENAL, ARTIGO 159, § 4º 16

5.2. LEI 7.492/86 17

5.3. LEI 8.072/90 17

5.4. LEI 8.137/90 19

5.5. LEI 8.884/94 19

5.6. LEI 9.034/95 21

5.7. LEI 9.613/98 22

5.8. LEI 9.807/99 23

5.9. LEI 11.343/06 25

6. DELAÇÃO EM INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR PONTÊNCIAL OFENSIVO ECONTRAVENÇÃO PENAL 27

7. NATUREZA JURÍDICA DA DELAÇÃO PREMIADA 27

8. CLASSIFICAÇÃO 29

9. ASPECTOS AXIOLÓGICOS DA DELAÇÃO PREMIADA 29

9.1 - VALOR PROBATÓRIO 29

9.2. DA VALORAÇÃO DAS DECLARAÇÕES DO CO-RÉU COLABORADOR 33

9.3. DIREITO DO AGENTE COLABORADOR? 34

10. DIREITO PENAL DO INIMIGO 36

11. LEGITIMIDADE PARA A PROPOSIÇÃO DO ACORDO 38

12. ASPECTOS MORAIS. INSTITUTO É ÉTICO OU AÉTICO? 39

13. POSICIONAMENTO FAVORÁVES E CONTRÁRIOS AO INSTITUTO DADELAÇÃO PREMIADA 42

13.1. OPINIÕES FAVORÁVEIS 42

13.2. OPINIÕES DESFAVORÁVEIS 44

13.3. POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS 45

14. DELAÇÃO PREMIADA NO PROJETO DE LEI 156 46

15. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE E CONSEQUÊNCIAS 47

15.1. REQUISITOS DA DELAÇÃO PREMIADA 47

15.2. CONSEQUÊNCIAS ADVINDAS DA DELAÇÃO. ASPECTOS NEGATIVOS EPOSITIVOS DO INSTITUTO 49

16. DO PROCEDIMENTO E DO MOMENTO EM QUE É CELEBRADO O ACORDO52

16.1. DO PROCEDIMENTO 52

16.2. DO MOMENTO DA DELAÇÃO 53

17. CONCLUSÕES 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 57

ANEXO 62

8

1. INTRODUÇÃO

A presente monografia tem por escopo analisar o instituto da delação

premiada no direito pátrio. Embora se tenham passados quase vinte anos desde a

sua primeira previsão (Lei 8.072/90), ainda não se tem um disciplinamento

satisfatório sobre inúmeras questões formais que são debatidas na doutrina a

respeito do instituto.

O trabalho tem inicio com a definição do conceito de delação premiada

conferida pela doutrina e alusão ao Direito comparado, mais especificamente de

onde a delação foi importada, para uma maior compreensão do instituto.

Em seguida se analisa a natureza jurídica do instituto e as várias leis onde

ela está prevista, principalmente a lei 9.807/99, que estendeu a beneficio a todo e

qualquer crime praticado em concurso de agentes.

Buscou-se, também, analisar os apectos axiológicos do instituto, como a

importantíssima questão de se a aplicação do instituto constitui um direito subjetivo

do acusado ou se ela é uma discricionariedade conferida aos operadores do Direito.

Pode o Promotor ou Juiz negar as consequencias do instituto ao agente que

confessa voluntariamente o crime e delata de forma eficaz os demais comparsas?

Outra questão que deve ser tratada diz respeito aos requisitos da delação

premiada, de modo a que fique patente quando é possível a sua aplicação e quando

deve ser o instituto refutado, por nao ter sido eficaz para a elucidação do crime.

Além disso, é preciso analisar se a delação feita por um agente pode aproveitar os

demais participantes e até que momento ela pode ser realizada. É possível cogitar-

se de delação premiada mesmo após o trânsito em julgado da sentença penal

condenatória?

Será objeto de análise, também, as posições do doutrinadores que dizem

ser o instituto da delação premiada aético, utilitário e imoral, além de desrespeitar

inúmeros principios constitucionais. Mas também serão considerados os pontos de

vistas favoráveis ao instituto, pois na prática ele vem sendo utilizado como

9

importante meio de prova, sem que se cogite de qualquer vício por parte da

jurisprudência.

Nesse diapasao, é interesse tecer comentários sobre o denominado “Direito

Penal do Inimigo”, desenvolvido na Alemanha por Jakobs, pois ele tem íntima

conexão com a criminalidade organizada, para a qual a delação premiada está

pensada de forma precípua.

Em suma, sem a pretensão de esgotar e tratar com profundidade o assunto,

se procurará realizar um panorama da delação premiada no ordenamento jurídico

pátrio, para uma melhor compreenão a respeito da indagação se ele constitui

realmente um mecanismo eficaz de combate à criminalidade e surte os efeitos

almejados pelo legislador, ou se nao passa simplesmente de um mecanismo imoral,

aético, utilitário e desrespeitoso às garantias constitucionais.

2. CONCEITO DE DELAÇÃO PREMIADA

A palavra delação vem do latim, delatione, que quer dizer ação de delatar

(delatio), denunciar, acusar. Premiar, por seu turno, é “dar prêmio ou galardão;

laurear; galardoar; pagar; recompensar; remunerar (MICHAELIS, 2010).

Antes de conceituar a delação premiada, é preciso uma advertência: Não se

pode confundir delação premiada com colaboração premiada. Esta é mais

abrangente. O colaborador da justiça pode assumir culpa, e não incriminar outras

pessoas (nesse caso, é só colaborador). Pode, de outro lado, assumir culpa

(confessar) e delatar outras pessoas (nessa hipótese é que se fala em delação

premiada) (GOMES, 2005, p. 18).

O conceito de delação premiada para José Alexandre Marson Guido, citando

Aranha, consiste:

A delação, ou chamamento de co-réu, consiste na afirmativa feita por um acusado, ao serinterrogado em juízo ou ouvido na polícia, e pela qual, além de confessar a autoria de umfato criminoso, igualmente atribuiu a um terceiro a participação como seu comparsa(GUIDO, 2006, p.97).

10

Para Guilherme de Souza Nucci a delação premiada pode ser conceituada

da seguinte forma:

Delação premiada é a possibilidade de se reduzir a pena do criminoso que entregar o (s)comparsa (s). É o “dedurismo” oficializado, que, apesar de moralmente criticável, deve serincentivado em face do aumento contínuo do crime organizado (2009, p. 755).

O conceito na visão de Damásio de Jesus:

Delação é a incriminação de terceiro, realizada por um suspeito, investigado, indiciado ouréu, no bojo de seu interrogatório (ou em outro ato). “Delação premiada” configura aquelaincentivada pelo legislador, que premia o delator, concedendo-lhe benefícios (redução depena, perdão judicial, aplicação de regime penitenciário brando, etc. (JESUS, 2010, p. 01).

Andreucci coloca o acento na “traição” para conceituar a delação premiada:

Delação premiada é empregada para indicar a denúncia ou acusação que é feita por umadas próprias pessoas que participaram da conspiração, revelando uma traição aos próprioscompanheiros. Consiste ainda na diminuição de pena ou perdão judicial do co-autor oupartícipe do crime (ANDREUCCI, 2009, p. 67)

Já segundo Heloísa Estellita o conceito de delação premiada é o seguinte:

A delação premiada consagrada na legislação brasileira configura instituto de direitomaterial a partir do qual, preenchidos determinados requisitos previstos em lei, poderá oimputado ser beneficiado pela autoridade judicial com redução de pena ou perdão judicial(2009, p. 2-4).

Ainda, nas palavras de Rodrigo Murad do Prado, a delação premiada é

definida da seguinte forma:

Delação é a responsabilização de terceiro, feita por um suspeito, investigado, indiciado ouréu, realizada no bojo de seu interrogatório ou outro ato. “Delação Premiada” é aincriminação incentivada pelo Legislador, que tem por objetivo premiar o delator,concedendo-lhe benefícios diversos no processo penal, tais como: redução de pena, perdãojudicial, aplicação de regime de cumprimento de pena de forma abrandada (PRADO, 1998,p.1).

E por fim a esse mesmo propósito nos ensina Juliana Conter Pereira

Kobren, citando Fernando Capez (2003, p. 298):

“Define a delação premiada como sendo a afirmativa feita por um acusado, ao serinterrogado em juízo ou ouvido na polícia. Além de confessar a autoria de um fatocriminoso, igualmente atribui a um terceiro a participação como comparsa” (KOBREN, 2006,p. 02).

11

3. ORIGENS DA DELAÇÃO PREMIADA

As origens da delação premiada remontam o sistema inquisitório, mais

precisamente na Idade Média, onde havia muito valor na confissão espontânea ou

mesmo confissão sob tortura (GUIDI, 2006, p. 101).

Porém o instituto vem sendo utilizado desde os tempos mais remotos da

civilização. Desde a era cristã, onde Judas traiu Cristo; a prática era comum na

época da inquisição da idade média/ trevas; quando na era ariana de Hitler também

se fez muito uso da delação premida.

Na história contemporânea também é bastante utilizada. Exemplo disso é a

fase da pós- guerra, tanto da 1ª como da 2º guerra mundial. Na Itália na denominada

Operação “Mãos Limpas” e nos Estados Unidos da América até nos dias atuais se

oferece milhões de dólares para quem delatar onde está Osama Bin Laden.

No Brasil temos notícia histórica de que Joaquim Silvério dos Reis

denunciou Tiradentes. Mas o golpe militar foi o exemplo mais claro da utilização da

delação, em que muitas vezes o prêmio era o direito de ficar vivo e nem se falava

em processo e diminuição da pena.

De qualquer sorte, a origem da delação premiada no Direito brasileiro

remonta às Ordenações Filipinas, cuja parte criminal, constante do Livro V, vigorou

de janeiro de 1603 até a entrada em vigor do Código Criminal de 1830. O Título VI

do “Código Filipino”, que definia o crime de “Lesa Majestade” (sic), tratava da

“delação premiada” no item 12; o Título CXVI, por sua vez, cuidava especificamente

do tema, sob a rubrica “Como se perdoará aos malfeitores que derem outros á

prisão” e tinha abrangência, inclusive, para premiar, com o perdão, criminosos

delatores de delitos alheios (JESUS, 2010, p.01).

De maneira que a delação premiada não é instituto novo na história da

Justiça, pois desde os primórdios, passando mais precisamente pela Antiguidade

12

Clássica (Roma/Grécia), pela idade Média, pelos movimentos industriais até a

modernidade, é possível identificar a delação em troca de uma vantagem qualquer.

4. DELAÇÃO PREMIADA NO DIREITO COMPARADO

4.1 - DIREITO NORTE AMERICANO1

No direito norte-americano usa-se o instituto delação premiada (plea

bargaining) na política criminal como prática a respostas aos anseios de zelar por

aquela sociedade.

Dá-se exclusividade a iniciativa para fins de colaboração pré-processual, ao

órgão responsável pela acusação. O representante do Ministério Público tem ampla

discricionariedade para negociar. O objetivo principal é a supressão do juízo. Cabe

ao juiz apenas homologar o acordo. No caso de impossibilidade da celebração da

plea bargaining, dará seguimento ao processo com a mantença da acusação formal

em juízo, submetendo o feito à apreciação do Júri (GUIDI, 2006, p. 106).

Eduardo Araujo da Silva relata que nos Estados Unidos da América os

acordos entre acusação e acusado (plea bargaining) também estão incorporados na

cultura jurídica, o que facilita a obtenção da colaboração premiada. Essa sistemática

é resultante da tradição (Calvinista), na qual confessar publicamente a culpa

significa praticar um ato de contrição. Revelam uma atitude cristã que deve ser

valorizada pelo Direito. Isto acontece no início do julgamento: o juiz indaga ao

acusado quanto a sua pretensão de declarar-se publicamente culpado, pedir perdão

e aceitar livremente a punição de seu crime. Atualmente a admissão de culpa não se

destina à satisfação da moral pública, podendo resultar em eficaz estratégia do

Ministério Publico para obter a condenação dos chefes do crime organizado.

Aceitando a proposta do Procurador para “testemunhar” em favor da acusação, o

colaborador e incluído num witness profession program, no qual poderá usufruir de

uma nova identidade, alojamento, dinheiro e outra profissão (SILVA, 2003, p. 78).

1 SOUZA NETO, José Laurindo de, Lavagem de dinheiro: comentários à Lei 9.613/98. Ed. Juruá.Curitiba. 2001 p.108: “Nos Estados Unidos da América, a política chegou a tal estágio que a delaçãoé apenas um dos muitos institutos que visam à repressão e prevenção de delitos. Há décadas usa-sea “dedo-duragem” como forma de bargaining. Sendo certo que, a partir de 1968, o Instituto do pleabargaining foi adotado pelo sistema processual norte-americano consistindo na obtenção de umaconfissão em troca de benefícios”.

13

Segundo Granzinoli, no sistema do Common Law tem-se a ideia do

colaborador da Justiça (chamada plea bargaining). É imensamente utilizado desde o

século XIX um regular sistema lastreado na jurisprudência (system of jurisprudence).

Nesse sistema tanto a Polícia como o Ministério Público transacionam com o

investigado ou o réu, podendo haver até livre disposição da própria ação penal,

leniência total ou uma sentença mais favorável. A aplicação deste instituto tem

aplicação em vasto campo de persecução. Nos Estados Unidos, assim como na

Itália, há ainda um efetivo programa de proteção à testemunha e aos colaboradores

(Capítulo 224 do Criminal Procedure Code sections 3521-3528 – Protection of

Witnesses). A lei prevê a troca de identidade, remoção do colaborador para outro

local, pagamento de moradia, seguro saúde, capacitação profissional e busca de

colocação enquanto a testemunha não conseguir sustentar-se economicamente por

conta própria (GRANZINOLI , 2007, p. 145-167).

Ainda no sistema norte-americano, há recomendações a respeito, tais como,

a existência de um acordo escrito, com a previsão de perda de benefícios caso as

informações não sejam confirmadas (BALTAZAR, 2007, p. 431).

4.2. DIREITO ITALIANO

No Direito Italiano, segundo Eduardo Araujo da Silva, as origens históricas

do fenômeno dos "colaboradores da Justiça” são de difícil identificação, porém sua

adoção foi incentivada nos anos 70 para o combate aos atos de terrorismo,

sobretudo a extorsão mediante sequestro. Atingiu seu estágio atual de prestígio nos

anos 80, quando se mostrou extremamente eficaz nos processos instaurados para a

apuração da criminalidade praticada pela máfia.

O denominado pentitismo (arrependimento) do tipo mafioso permitiu às

autoridades uma visão concreta a respeito d a capacidade operativa das Máfias,

determinando a ampliação de sua previsão legislativa e a criação de uma estrutura

administrativa para sua gestão operativa e logística (Setor de Colaboradores da

Justiça). 0 sucesso do instituto ensejou até mesmo uma inflação de arrependidos em

busca dos benefícios legais, gerando o perigo de ser concedido a indivíduos que

14

não gozavam do papel apregoado perante as organizações criminosas (SILVA,

2003, p. 79).

Na Itália, por meio de várias leis2 criaram-se as figuras dos pentiti, dos

dissociati e dos colaboratori della giustizia (colaboradores da justiça são os co-

autores ou partícipes). Os pentiti (arrependidos) são os investigados que, antes da

prolação da sentença condenatória, colaboram efetivamente com informações e

“entregam” a organização criminosa. São beneficiados com redução de pena de até

um terço, entre outros benefícios como o programa de proteção, os quais incluem

mudança de domicílio, confecção de documento de identidade diferente para ser

usado em casos excepcionais (ESTELLITA, 2009 p.2).

De acordo com Jacinto Coutinho (2006, p.01), sabe-se, por ser um dado

histórico, sobre os resultados: com maciços investimentos, conseguiu-se um

resultado alentador contra a chamada “criminalidade romântica”, isto é, aquela de

índole terrorista. Foi assim que se debelaram as conhecidas Brigate Rosse. Em

relação à Máfia, contudo, não só não se conseguiu um resultado satisfatório, como

levou ao sacrifício das vidas de dezenas de parentes (totalmente inocentes), dos

chamados petiti.

4.3. DIREITO ESPANHOL

O Direito positivo espanhol também vem se utilizando do instituto da delação

premiada na forma coloquial de “delincuente arrepentido”. Está prevista no artigo

579 do novo texto do Código Penal espanhol, encartado na Seção segunda (de los

delitos de terrorismo) do Capítulo V, do Título XXII (delitos contra El orden público)

do Livro II (GUIDI, 2006 p. 110).

4.4. DIREITO PÁTRIO

O instituto estudado esteve presente na história política do país. Na

Conjuração Mineira de 1789, com vários episódios; na Conjuração Baiana de 1798

e, como não poderia deixar de ser pela própria conjuntura da época, no Golpe Militar

2 Lei 304/1982, artigos 1º e 2º, Lei 34/87, Lei 162/90, Decreto nº 309/90, Decreto 152/91, Decreto-Lei8/91.

15

de 1964, no qual se teve o uso reiterado da delação premiada para descobrir

supostos “criminosos” (GUIDI, 2006, p.111). Contudo o marco da delação premiada

foi quando Joaquim dos Reis, não obstante tenha participado da inconfidência

mineira, traiu “Tiradentes” e seus companheiros em troca de perdão (ANDREUCCI ,

2009, p. 67).

O ordenamento jurídico contemporâneo prevê em vários dispositivos o

instituto da delação premiada, quase sempre oriunda de “legislação de emergência”.

O que levou o legislador a introduzir a delação premiada entre nós foi o aumento

expressivo dos crimes de extorsão mediante sequestro, furtos, roubos, latrocínios e

homicídios. Entretanto, o marco inicial do instituto foi a Lei de Crimes Hediondos,

que previu expressamente a redução da pena para quem colabora com a Justiça

(ESTELLITA, 2009, p.2-3). Posteriormente muitas outras leis surgiram no

ordenamento jurídico prevendo efeitos jurídicos para a colaboração com a justiça.

Para Natalia Oliveira de Carvalho o Direito brasileiro importou pronta e

irrefletidamente figuras do plea bargaining e do pentitismo Americano e Italiano,

embora nossa sociedade não vivencie prática terrorista político-religiosa, nos moldes

da máfia Italiana. E assim foi inserido no ordenamento jurídico o instituto delação

premiada a partir da década de 90, por meio de diversas leis. No Código penal

especificamente firmou-se a ideologia pautada na concessão de recompensa ao

autor da infração penal pelo mérito da confissão ou arrependimento, reduzindo a

reprovação da culpabilidade e a medida da pena (CARVALHO, 2009, p. 85).

Na mesma linha da autora citada no parágrafo anterior está Carla Veríssimo

de Carli, quem relata que a delação premiada importada originariamente da

experiência estrangeira encontra dificuldades na Justiça brasileira uma vez que

poderia entrar em choque com alguns princípios constitucionais relativos ao

processo penal (CARLI, 2009, p.16).

16

5. A DELAÇÃO PREMIADA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Há quase vinte anos o cenário de pânico social em relação à criminalidade e

o subseqüente discurso do “algo precisa ser feito” a bem da segurança pública,

talvez em menor grau que nos dias de hoje (CARVALHO, 2009, p.99), ensejaram a

elaboração de muitas leis por meio das quais a deleção premiada foi introduzida

como inovação importada do direito estrangeiro para propiciar maior colaboração por

parte do acusado arrependido. Foi assim que se buscou disciplinar o instituto nas

leis que serão descrita na seqüência.

5.1. CÓDIGO PENAL, ARTIGO 159, § 4º

A Lei 9.269/96 deu nova redação ao § 4º ao artigo 159 do Código Penal –

extorsão mediante sequestro em crimes cometidos em concurso de agentes.

Estabelece, agora, que “se o crime for cometido em concurso, o concorrente que o

denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena

reduzida de um a dois terços”.

Justifica-se a adoção do instituto já que o bem maior protegido no caso do

crime de extorsão mediante sequestro é a própria vida da vítima. Está-se, pois,

diante de um delito em que deverá ter todas as medidas buscadas para o seu

deslinde. E na maioria dos casos somente o agente que participou do sequestro

pode revelar onde a vítima se encontra.

Não há necessidade que o delito tenha sido cometido por quadrilha ou

bando, como estava previsto originalmente3. Basta que o réu-colaborador tenha se

reunido com outra pessoa para caracterizar o concurso, sendo este um dos

requisitos para a concessão do prêmio. Ou seja, com a nova redação aplicada pela

Lei nº 9.269/96, é necessário apenas que o crime seja cometido em concurso de

3 O artigo 7º da Lei nº 8.072/90, que dispôs sobre os crimes hediondos, determinou o acréscimo deum § 4º do artigo 159 do Código Penal, com a seguinte redação: “Se o crime é cometido porquadrilha ou bando, o co-autor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado,terá sua pena reduzida de um a dois terços”.

17

agentes para que o concorrente que delatar o crime à autoridade e, bem entendido,

que facilite a libertação do sequestrado, faça jus ao benefício.

Aliás, mesmo quando da redação antiga, havia entendimento no sentido de

que a delação se aplicava não só aos integrantes de quadrilha ou bando. Neste

sentido posicionavam-se Mendes e Custódio (MENDES, 1995, p.01), para quem “o

legislador ao falar em quadrilha ou bando, não se restringiu ao preceito do artigo 288

do Código Penal e, pelo contrário, quis dizer que quando um grupo de delinquentes

se unir, ainda que ocasionalmente, para a prática de sequestro, a delação que

permite a prisão dos demais e a libertação do sequestrado, deve merecer o

benefício da redução da pena”.

5.2. LEI 7.492/86

A Lei 7.492, de 16 de junho de 1986, define os Crimes contra o Sistema

Financeiro Nacional. O § 2º do art. 25 dessa lei, introduzido pela Lei 9.080/95,

contempla a hipótese de diminuição especial da pena em caso de confissão

espontânea dos fatos, sempre que o crime for praticado por quadrilha ou qualquer

outra forma de co-autoria.

§ 2º do art. 25: Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial oujudicial toda a trama delituosa terá sua pena reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços).

5.3. LEI 8.072/90

Esta Lei dispõe sobre os Crimes Hediondos, nos termos do artigo 5º inciso

XLIII da Constituição Federal, e determinam outras providências. Ela trás no

parágrafo único do artigo 8º a possibilidade de redução da pena caso os

participantes ou associados delatarem outras participações, para o

desmantelamento da quadrilha4 ou bando:

4 Importante salientar a diferença de quadrilha e bando: Bando ou quadrilha genérica – ocorreráquando mais de três pessoas se associarem com a finalidade de praticar quaisquer crimes,executando-se os crimes hediondos e assemelhados. Nessa espécie, tanto a definição típica quantoà pena, que é de reclusão de um a três anos, são previstas no art. 288 do Código Pena.

18

Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou

quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.

A Lei 8.072, promulgada em 25 de julho de 1990, foi pioneira ao introduzir o

instituto da delação premiada no ordenamento jurídico pátrio, como inovação

importada do direito penal estrangeiro. Foi por meio da Lei dos Crimes Hediondos

que o legislador começou a traçar um novo paradigma para a colheita de provas no

processo criminal: a delação premiada.

Os crimes hediondos, do ponto de vista da criminologia sociológica, são os

crimes que estão no topo da pirâmide de desvaloração axiológica criminal, devendo,

portanto, ser entendidos como crimes mais graves, mais revoltantes, que causam

maior aversão à coletividade.

Contudo, o crime Hediondo pela legislação brasileira significa o contrário do

que se costuma pensar no senso comum. Juridicamente, crime hedidondo não é o

crime praticado com extrema violência e com requintes de crueldade e sem nenhum

senso de compaixão ou misericórdia por parte de seus autores, mas aqueles que no

Brasil se encontram expressamente previstos na Lei nº 8.072/90. Portanto, são

crimes que o legislador entendeu merecerem maior reprovação por parte do Estado.

Efetivamente, os crimes hediondos estão elencados de maneira taxativa no

artigo 1º da Lei 8.072/90, com redação determinada pela Lei 8.930/94, a qual

considerou como hediondos os seguintes delitos, tanto nas formas consumadas

quanto tentadas: a) Homicídio (art. 121 do CP), quando praticado em atividade

típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio

qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV e V, do CP); b) Latrocínio (art. 157, § 3º, do CP);

Bando ou quadrilha específica para prática de crimes hediondos ou assemelhados – ocorrerá quandomais de três pessoas se associarem com a finalidade específica de praticar crimes hediondos eassemelhados, salvo o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. Nessa espécie, a definiçãotípica e a prevista no art. 288 do Código Penal, enquanto a pena, que é de reclusão de três a seisanos, é prevista no art. 8º da Lei nº 8.072/90;

Bando ou quadrilha específica para prática de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins –ocorrerá quando duas ou mais pessoas se associarem com o fim específico de praticar os delitosprevistos nos arts. 12 e 13 da Lei nº 6368/76. Nessa espécie, a definição típica será prevista no art.14 da citada Lei nº 6368/76, enquanto a pena será prevista no art. 8º da Lei nº 8072/90, ou seja, trêsa seis anos. FARABULINI, Ricardo. Crimes Hediondos - Breves considerações sobre a Lei 8.072/90www.ibccrim.org.br, 03.12.2004.

19

c) Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º, do CP); d) Extorsão mediante

sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput e §§ 1º, 2º e 3º, do CP); e) Estupro

(art. 213 do CP); f) Epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1º, do CP), bem

como falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins

terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput, e § 1º, § 1º- A e § 1º-B, do CP).

O parágrafo único do art. 1º da Lei 8.072/90 considera também hediondo o

crime de genocídio previsto nos artigos 1º, 2º e 3º da Lei 2.889/56. Já a prática de

tortura, o tráfico de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo (ainda não previsto

na nossa legislação) não são considerados crimes hediondos, mas assemelhados,

com as mesmas conseqüências penais e processuais penais (art. 2º da Lei

8.072/90).

5.4. LEI 8.137/90

A Lei 8.137/90 define os crimes contra a ordem tributária e econômica e

contra as relações de consumo. A delação premiada foi prevista no parágrafo único

do artigo 16 da referida lei:

Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos crimesdescritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a autoria, bemcomo indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.

Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, oco-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial oujudicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.

5.5. LEI 8.884/94

A Lei 8.884/94 transforma o Conselho Administrativo de Defesa Econômica

(Cade) em Autarquia, dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a

ordem econômica e dá outras providências. O benefício encontra-se previsto nos

arts. 35-B e 35-C da referida Lei.

Art. 35-B. A União, por intermédio da SDE, poderá celebrar acordo de leniência, com aextinção da ação punitiva da administração pública ou a redução de um a dois terços dapenalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que foremautoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com asinvestigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte

20

I - a identificação dos demais co-autores da infração; e

II - a obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ousob investigação.

§ 1o O disposto neste artigo não se aplica às empresas ou pessoas físicas que tenhamestado à frente da conduta tida como inflacionária.

§ 2o O acordo de que trata o caput deste artigo somente poderá ser celebrado sepreenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos:

I - a empresa ou pessoa física seja a primeira a se qualificar com respeito à infraçãonoticiada ou sob investigação

II - a empresa ou pessoa física cesse completamente seu envolvimento na infraçãonoticiada ou sob investigação a partir da data de propositura do acordo

III - a SDE não disponha de provas suficientes para assegurar a condenação daempresa ou pessoa física quando da propositura do acordo; e

IV - a empresa ou pessoa física confesse sua participação no ilícito e coopere plena epermanentemente com as investigações e o processo administrativo, comparecendo, sobsuas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento

§ 3o O acordo de leniência firmado com a União, por intermédio da SDE, estipulará ascondições necessárias para assegurar a efetividade da colaboração e o resultado útil doprocesso

§ 4o A celebração de acordo de leniência não se sujeita à aprovação do CADE,competindo-lhe, no entanto, quando do julgamento do processo administrativo, verificado ocumprimento do acordo:

I - decretar a extinção da ação punitiva da administração pública em favor do infrator,nas hipóteses em que a proposta de acordo tiver sido apresentada à SDE sem que essativesse conhecimento prévio da infração noticiada; ou

II - nas demais hipóteses, reduzir de um a dois terços as penas aplicáveis observadoso disposto no art. 27 desta Lei, devendo ainda considerar na gradação da pena aefetividade da colaboração prestada e a boa-fé do infrator no cumprimento do acordo deleniência.

§ 5o Na hipótese do inciso II do parágrafo anterior, a pena sobre a qual incidirá o fatorredutor não será superior à menor das penas aplicadas aos demais co-autores da infração,relativamente aos percentuais fixados para a aplicação das multas de que trata o art. 23desta Lei.

§ 6o Serão estendidos os efeitos do acordo de leniência aos dirigentes eadministradores da empresa habilitada, envolvidos na infração, desde que firmem orespectivo instrumento em conjunto com a empresa, respeitados as condições impostas nosincisos II a IV do § 2o deste artigo.

§ 7o A empresa ou pessoa física que não obtiver, no curso de investigação ouprocesso administrativo, habilitação para a celebração do acordo de que trata este artigo,poderá celebrar com a SDE, até a remessa do processo para julgamento, acordo deleniência relacionado a uma outra infração, da qual não tenha qualquer conhecimento prévioa Secretaria.

21

§ 8o Na hipótese do parágrafo anterior, o infrator se beneficiará da redução de um terçoda pena que lhe for aplicável naquele processo, sem prejuízo da obtenção dos benefíciosde que trata o inciso I do § 4o deste artigo em relação à nova infração denunciada.

§ 9o Considera-se sigilosa a proposta de acordo de que trata este artigo, salvo nointeresse das investigações e do processo administrativo.

§ 10. Não importará em confissão quanto à matéria de fato, nem reconhecimento deilicitude da conduta analisada, a proposta de acordo de leniência rejeitada pelo Secretárioda SDE, da qual não se fará qualquer divulgação.

§ 11. A aplicação do disposto neste artigo observará a regulamentação a ser editadapelo Ministro de Estado da Justiça.

Art. 35-C. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de 27 denovembro de 1990, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina asuspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia.

Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-seautomaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo

5.6. LEI 9.034/95

A Lei 9.034/95 dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a

prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. O art. 6.º

dispõe sobre o benefício da delação premiada:

Art. 6º Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida de um a doisterços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento de infraçõespenais e sua autoria.

Nesta Lei o Juiz dispõe de enorme discricionariedade, uma vez que é quem

deverá avaliar o quanto foi efetiva a colaboração para o esclarecimento da infração

penal.

Entretanto, deverá levar em consideração todos os requisitos da delação

premiada, ou seja: a) crimes cometidos por organizações criminosas; b)

voluntariedade – a delação não pode partir de ameaças, constrangimentos ou de

qualquer outro tipo de prática ilícita; c) relevância das informações: é preciso provar

que a identificação dos demais membros somente foi possível pelas informações

prestadas pelo delator; d) eficácia da delação: se não possibilitar a identificação da

autoria e das infrações penais, não se aplica a redução de pena.

22

Este dispositivo deve ser aplicado nas situações em que o acusado, por

meio de sua colaboração, possibilita que as autoridades esclareçam infrações

penais praticadas por organização criminosa. Agora, fatos criminosos ainda não

esclarecidos na investigação ou no processo, ou outros fatos que tenham sido

praticados por organizações criminosas que o delator inclusive eventualmente tenha

participado.

5.7. LEI 9.613/98

A Lei 9.613/98 dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens,

direitos e valores. Além disso, dispõe sobre a prevenção da utilização do sistema

financeiro para os ilícitos nela previstos. É aplicada quando há mera ocultação de

rendas adquiridas por meio de crimes como tráfico de drogas e extorsão mediante

sequestro. A pena para este tipo de crime é de reclusão de três a dez anos e multa.

É que a criminalidade organizada vem quase sempre associada a vantagens

econômicas. E é por decorrência desses crimes que a Lei de lavagem de dinheiro foi

criada. Ela prevê no artigo 1º, § 5º, o benefício da delação premiada.

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação oupropriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:

§ 5º A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regimeaberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se oautor, co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestandoesclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou àlocalização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

A delação premiada aqui é só para os colaboradores em ações criminais

relacionadas à “lavagem” de dinheiro. O legislador contemplou-a aqui para o caso do

concorrente que colaborar espontaneamente com a Justiça com esclarecimentos

que possibilitem a localização de bens, direitos ou valores objetos do crime. O

colaborador poderá usufruir dos seguintes benefícios: a) redução da pena; b)

cumprimento em regime aberto; c) substituição da pena privativa de liberdade por

restritiva de direitos; d) o juiz pode deixar de aplicar à pena.

23

Nesta Lei, como nas outras, o benefício só será considerado se as

informações prestadas pelo delator conduzirem à apuração das infrações penais e

de sua autoria com real efetividade, senão a contraprestação (benefício legal) não

será devida.

5.8. LEI 9.807/99

A Lei 9.807/99 estabelece normas para a organização e a manutenção de

programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, institui o

Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e dispõe

sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado

efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal.

Os artigos 13 e 14 da Lei 9.807/99 tratam da proteção aos réus

colaboradores, concedendo-lhes os seguintes benefícios:

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, concederem o perdão judiciale a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenhacolaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde quedessa colaboração tenha resultado:

I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;

II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;

III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade dobeneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.

Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigaçãopolicial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime,na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, nocaso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.

Neste caso a proteção se dá para réus que decidam colaborar com a

investigação ou com o processo criminal – na identificação dos demais co-autores

ou partícipes da ação criminosa; na localização da vítima com a sua integridade

física preservada e na recuperação total ou parcial do produto o crime.

24

Ao contrário do que ocorre em relação à interpretação do instituto na Lei

9.034/95, tem seu âmbito de aplicação no tocante aos mesmos fatos, objetos da

investigação ou processo criminal. E, diferentemente daquela Lei, pode ser aplicável

ainda que inexista organização criminosa.

O Legislador, ao se referir no art. 13, inciso I, aos "demais co-autores ou

partícipes", considerou aqueles casos de concursos de pessoas que não envolvam

organização criminosa, mas que podem ser tratadas como quadrilha ou bando ou

mesmo concurso eventual de agentes.

Quanto ao perdão judicial, poderá concedido pelo juiz de ofício ou a

requerimento das partes ao acusado que for primário. Quando requerido pelas

partes, decorre do “principio do consenso”, tratado por alguns doutrinadores

estrangeiros, quando há múltipla colaboração, ou seja, quando as partes colaboram

mutuamente para que o resultado seja alcançado e do “acordo” resulte benefícios

para ambas as partes. Aqui, no entanto, o delator que se beneficia do “perdão

judicial” não sofre qualquer consequência social experimentada pela prática do fato

criminoso, mas tão-somente legal qual, seja aquela decorrente da colaboração

efetiva e voluntária à Justiça.

Há quem defenda que a delação somente pode ter alcance para as

situações do processo em trâmite, sem alcançar outros feitos (MENDRONI, 2009, p.

87). Suponha-se que uma pessoa que não integre bando ou quadrilha esteja sendo

processada pela prática de determinado delito. Ao ser interrogada, delate

quadrilheiros co-autores de outro crime, do qual não participara e que não se

relaciona com o ilícito por ela praticado. Sendo eficaz a colaboração, pode ser

beneficiada pela “delação premiada”? Damásio de Jesus é de opinião que não, “uma

vez que as normas relativas à matéria exigem que o sujeito ativo da delação seja

participante do delito questionado (co-autor ou partícipe)” (JESUS, 2010).

25

5.9. LEI 11.343/06

A Lei 11.343/06 estabelece normas para repressão à produção não

autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, definindo crimes e dando outras

providências. A delação premiada está prevista no art. 41 da referida lei, da seguinte

forma:

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial eo processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e narecuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá penareduzida de um terço a dois terços.

Aqui o legislador previu expressamente que a delação premiada pode se dar

na fase de investigação. Assim, o agente que colaborar eficazmente na identificação

dos demais comparsas e na recuperação total ou parcial do produto do crime, terá a

pena reduzida em um a dois terços. Não basta, portanto, identificar os demais

partícipes; é mister que a delação conduza também à recuperação do produto do

crime.

26

Quadro sinótico: 01

Lei Código

Penal

7.492/86

Sistemafinaceiro

8.072/90

Crimes

Hediondos

8.137/90

Ordemtributária

economica

8.884/94

Ordemeconômica

cade

9.034/95

Crimeorganizado

9.613/98

Lavagem dedinheiro

9.807/99

Proteção àsvítimas e

testemunhas

11.343/06

Drogas eafins

Artigo 159, §4º 25, §2º 8º paragrafoúnico

16,paragrafo

ínico

35,b e c 6º 1º, § 5º 13 e 14 41

Conduta do agente denúnciar Confissãoespontanea

Denuncia obandoouquadrilha

Confissãoespontânea

Colaboraçãocom as

investigaçõese processo

administrativo

Colaboraçãoespontânea

Colaboraçãoespontânea

Colaboraçãoefetiva e

voluntária

Colaboraçãovoluntária

com ainvestigaçãoe processo-

crime

Resultadoesperado

Fcilitar aliberação

dosequestrado

Revelaçãode toda a

tramadelituosa

Possibilidade dedesmantelamentoda quadrilha ou

bando

Revelaçãode toda a

tramadelituosa

Identificaçãodos demaiscoautores e

informações eDOCS.

Esclarecerinfrações

penais e suaautoria

Esclarecimentoque conduza àapuração das

infraçõespenais e suaautoria ou a

localização debens, direitos

ou valoresobjeto do

crime

Identificaçãode coautores

oupartícipes,localizaçãoda vítima

comintegridade

físicapreservada,recuperação

total ouparcial doproduto do

crime

Idenficaçãode coautores

oupartícepes erecuperação

total ouparcial doproduto do

crime

Beneficio previsto Redução dapena

Reduçãoda pena

Redução da pena Reduçãoda pena

Impede ooferecimentoda denúncia,extinção da

ação punitivada

administraçãopública,

extinção dapunibilidade

Redução dapena

Redução dapena e inícioem regime

aberto,substituição da

pena priv.Liberdade porrestritiva de

direito, perdãojudicial

Redução dapena, perdão

judicial

Extinção dapunibilidade

Redução dapena

Quantum 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3

27

6. DELAÇÃO EM INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR PONTÊNCIAL OFENSIVO ECONTRAVENÇÃO PENAL

Há quem defenda que a delação premiada se aplica a todo e qualquer tipo

de infração penal, inclusive nas contravenções penais. Neste sentido se posiciona

Fernando Capez, para quem, caso a delação refira-se a contravenções penais,

haverá a redução de pena, pois estão abrangidas pela lei as quadrilhas voltadas à

sua prática, sendo certo que determinadas leis no sentido latu, expressamente se

referem à colaboração espontânea que leve ao esclarecimento de “infrações penais”

e não de crime, sendo aquele termo mais abrangente, englobando também as

contravenções penais (CAPEZ, 2006, p. 116).

Um setor da doutrina, no entanto, é de opinião que o instituto da delação

premiada deve ter aplicada apenas em relação a crimes, e ainda assim os de maior

repercussão. Esta também é a opinião de Mendroni:

“O que não se pode conceber é a utilização da aplicação do benefício a casos de prática decrimes de baixa ou média potencialidade ofensiva, pois nada justifica a desproporção entreo alto grau do benefício concedido e a pequena equivalência de retorno para aadministração da Justiça. Mas a análise sempre dependerá do caso concreto.Exemplificamos para melhor especificar o alcance do espírito do dispositivo. Tomemos duassituações distintas relativas a “furto de veículo”: 1) Se no decorrer da investigação ou doprocesso constata-se que a prática do crime decorreu de parceria entre aquele que oexecuta, quebrando o vidro e fazendo a ligação direta, com apenas aquele que vigia e dácobertura, a princípio não se justificaria conceder o benefício ao primeiro para que delate osegundo; 2) Entretanto, se o ladrão pertence a uma organização criminosa voltada para ofurto de veículos, existindo como verdadeira empresa, que depois mantém estrutura deretaguarda para adulterações, desmanche e/ou revenda, desde que a justiça tenha algumadificuldade na identificação de co-autores ou fatos, pode justificar-se a concessão dobenefício” (MENDRONI, 2007, p. 87-88).

7. NATUREZA JURÍDICA DA DELAÇÃO PREMIADA

A respeito da natureza jurídica da delação premiada há entendimento no

sentido de que o instituto se caracteriza como meio de prova (inominada ou

anômala). Partidária desta opinião, Natália de Oliveira Carvalho observa que não

obstante carecer de previsão especifica no Código de Processo Penal, que arrola de

maneira não taxativa os tidos meios de prova nominados, a delação premiada,

fartamente tratada pela legislação extravagante, possuiria a mesma natureza

(CARVALHO, 2009, p. 98). Na mesma linha, Fabiana Greghi enfatiza que a delação

28

premiada é verdadeira prova anômala, por não se identificar com nenhuma outra

prevista no ordenamento jurídico brasileiro. Meio de prova porque sua modalidade é

instrumento por meio do que o magistrado forma a sua convicção a respeito da

ocorrência ou inocorrência dos fatos controvertidos no processo. Deste modo, a

delação premiada é uma espécie de prova, apesar de não estar enumerada entre as

demais previstas no Código de Processo Penal – arts. 158 a 250 (GREGHI, 2009, p.

7).

Para um setor da doutrina a natureza jurídica da delação decorre do

Princípio do Consenso, que é uma variante do Principio da Legalidade, o qual

permite às partes entrarem em consenso a respeito da imputação. Assim, quando o

acusado confessa e indica o terceiro envolvido, ocorre à colaboração com a Justiça

e disso decorre a atenuação da pena ou o perdão judicial. Na opinião de GUIDI, o

instituto não guarda qualquer semelhança com a prova nominada, nem como

confissão nem como testemunho. Na confissão exige-se que a afirmação

incriminadora atinja o próprio confitente e no testemunho, por seu turno, o

testemunhante é pessoa equidistante e sem interesse algum na solução do conflito

(GUIDI, 2006, p. 125). Segundo Mendroni, para quem também a natureza jurídica da

delação premiada decorre do chamado “Princípio do Consenso”, o instituto permite

que as partes entrem em consenso a respeito do destino da situação jurídica em

relação aquele que, por qualquer razão, concorda com a imputação e colabora

eficazmente com a Justiça (MENDRONI, 2009, p.85).

Já para Heloisa Estelita a delação premiada possui natureza jurídica

material, uma vez que todos os dispositivos legais em vigor a definem como causa

de diminuição da pena ou extinção da punibilidade pelo perdão judicial preenchido

os requisitos previstos em lei. Isto só vai acontecer logicamente se a sentença

aplicada for condenatória, depois de exaurida análise probatória (ESTELITA, 2009,

p. 02).

29

8. CLASSIFICAÇÃO

Sobre a classificação da delação premiada, entende-se que ela pode ser

“aberta” ou “fechada”. Na delação aberta o delator aparece e se identifica, sendo

favorecido pela redução da pena ou no perdão judicial. Já na delação tipo fechada o

delator se esconde anonimamente. A crítica doutrinária recai precisamente sobre

esta última, uma vez que a Constituição Federal veda o anonimato em seu art. 5º,

inciso IV, in fine (GUIDI, 2006, p.119).

Tem-se classificado também a delação como de tipo “preventiva” e

“repressiva”. Será se ela preventiva quando realizada na fase de investigação

criminal, ou seja, quando o co-réu, além de confessar sua participação no delito,

evita que outros crimes venham a se consumar. Repressiva aquela em que o delator

colabora concretamente com as autoridades responsáveis pela persecução penal

em suas atividades de agregar provas contra os demais co-autores, possibilitando a

responsabilização penal destes (GREGHI, 2009, p.2).

9. ASPECTOS AXIOLÓGICOS DA DELAÇÃO PREMIADA

9.1 - VALOR PROBATÓRIO

A respeito do valor probatório da delação premiada há sérias divergências,

uma vez que a colaboração pode se operar por múltiplas razões.

Há que se ter muito cuidado porque devido às condições em que se

encontram o delator pode este estar maculado por paixões como ódio,

ressentimento, vingança. Além disso, pode ser duvidoso seu estado de capacidade

mental/intelectual ou mesmo estar ele visando apenas receber os benefícios que a

lei lhe confere. Ou seja, o acusado pode ter interesse em mentir. Assim, a doutrina

diverge por achar temerário o Direito pátrio permitir que o instituto da delação

premiada possa ser incentivado/permitido como meio de se obter um prêmio ou um

favor jurídico (GUIDI, 2006, p. 136-137).

30

Ainda quanto à validade da prova obtida por meio da delação, argumenta-se

que ela deve ser verificada, de modo a poder ter alguma credibilidade. Para

Damásio de Jesus (2010, p.01) não se pode conceder à delação premiada valor

probatório absoluto, ainda que produzida em juízo. É mister que esteja em

consonância com as outras provas existentes nos autos para lastrear uma

condenação, de modo a se extrair do conjunto a convicção necessária para a

imposição de uma pena.

Além disso, tal prova constitui-se em meia-verdade, imposta pelo delator,

visto que este pode deixar de fora outros fatos e, principalmente, pessoas que não

interessa delatar, seja por seu próprio interesse ou de terceiros, restando ferida a

isonomia constitucional (COSTA, 2008, p. 01).

A respeito do valor probatório é importante tecer algumas considerações

sobre as provas dentro do processo penal. A prova, segundo Cintra, é o instrumento

por meio do qual se forma a convicção do juiz a respeito da ocorrência ou

inocorrência dos fatos controvertidos no processo (CINTRA, 2007, p. 371-375). O

juiz, por sua vez, apreciará a prova livremente, atendendo os princípios gerais do

processo penal e apoiado nos autos do processo. É o sistema da persuasão racional

ou do livre convencimento, acolhido no direito pátrio pelo artigo 131 do Código do

Processo Penal.

Quanto ao objeto da prova, seriam as alegações de fato e não os fatos

alegados. De modo que cabe na instrução probatória esclarecer os fatos não

evidentes, controversos, confessados, admitidos ou não admitidos, adequados

aquele caso em concreto. E o ônus da prova consiste na necessidade de provar por

quem alegou, podendo o juiz de ofício, no curso da instrução, ou antes, da sentença,

determinar diligências para elucidar alguns pontos que não ficaram claros, conforme

artigo 156 do CPP.

No caso da delação premiada e como já definida acima, segundo a maioria

dos doutrinadores, caracteriza-se por ser um meio de prova. Porém esse meio de

prova violaria alguns princípios Constitucionais e do Processo Penal.

31

A primeira violação se daria em relação ao princípio do contraditório. A lesão

deste princípio ocorreria quando o agente afirma um fato tido como crime a um

terceiro, que se dá em sede de investigação policial ou no momento do interrogatório

judicial, sem a possibilidade do exercício do contraditório por parte do suposto “co-

delinquente” (CARVALHO, 2009, 111).

Segundo Ferajoli, “para que a disputa se desenvolva lealmente e com

paridade de armas, é necessária a perfeita igualdade entre as partes, ou seja, que a

defesa seja dotada das mesmas capacidades e dos mesmos poderes da acusação;

como também que o papel do contraditor seja admitido em todo Estado e grau do

procedimento e em relação a cada ato probatório singular” (FERRAJOLI, 2006, p.

565).

Em face disso, para José Alexandre Marson Guidi, citando Antônio de

Barros, para a delação premiada ser aceita como prova, “será imperioso que se

propicie a efetividade do contraditório, devendo estar presentes ao ato o delatado e

seu defensor, que poderão fazer reperguntas” e que por esse motivo o interrogatório

de co-réu incriminando outro tem natureza de depoimento testemunhal, devendo,

por isso, admitirem-se perguntas (GUIDI, 2006, p. 134).

Neste mesmo sentido afirma Andreucci que “a delação, embora realizada

em sede de confissão, com relação a terceiros terá efeito de testemunho, razão pela

qual haverá contraditório, exercido através de perguntas no interrogatório do delator.

Outrossim, como qualquer outra, a delação premiada está sujeita ao princípio da

livre apreciação da prova (ANDREUCCI, 2009, p. 67).

Feriria o devido processo legal porque, em primeiro lugar, uma premissa

fundamental é equivocada: o sistema negocial estadunidense (e o Inglês) é fundado

numa perspectiva eminentemente privada, em face da regência do princípio da

oportunidade da ação penal e disponibilidade do conteúdo do processo. No sistema

brasileiro, contudo, os princípios regentes são exatamente opostos: obrigatoriedade

e indisponibilidade da ação penal. Ainda, porque seria possível a aplicação de pena

sem processo, ferindo o postulado básico nulla poena sine iudício, com o que se

32

tomba a inderrogabilidade da jurisdição (COUTINHO e CARVALHO, 2006, p. 08).

Haveria transgressão ao princípio da Jurisdição uma vez que esta é reservada ao

juiz para determinadas matérias, ao qual caberá a primeira ou a última palavra,

principalmente quando se trata de penas restritivas de liberdade, de natureza

criminal, monopólio exclusivo do processo penal. Em uma palavra, é o Estado-juiz a

que compete dizer o Direito em matéria criminal.

Outro ponto divergente diz respeito à discricionariedade do órgão do

Ministério Público na escolha de quem irá denunciar, quem deixa de acusar ou

mesmo com quem negocia. Tal discricionariedade o Ministério Público não possui,

porque onde não há juízo de oportunidade tampouco pode haver discricionariedade.

Como dito anteriormente, no ordenamento jurídico pátrio vige o princípio da

obrigatoriedade em relação à ação penal pública. Assim, os acordos, fundados num

suposto juízo de conveniência e oportunidade que o Ministério Público “se diz ter”,

depende de homologação judicial (COUTINHO e CARVALHO, 2006, p. 09).

Macularia, ainda, o princípio da moralidade, uma vez que os acordos, além

de serem secretos, prevêem: a) que o direito ao silêncio pode ser renunciado; b) que

a coisa julgada nunca fará efeito; c) que o acusado é obrigado a falar a verdade

(embora nele não se possa crer, ou seja, é um faz-de-conta que só serve contra os

outros réus); d) que se renuncia às impugnações contra os processos em que o

acusado for alvo; e) que a publicidade do acordo o invalidará; f) e, dentre outros, o

delator passa a ser imune à persecução penal pelos seus crimes cometidos. Dessa

forma a prova indireta (derivada) torna-se “ilegal”, esbarrando na Teoria americana

dos “Frutos da Árvore Envenenada”, adotada pela Constituição Federal e pelo

Supremo Tribunal Federal. É que em se tratando de provas a Constituição Federal

de 1988, em seu artigo, 5º, LVI, prevê que será inadmissível a prova obtida por

meios ilícitos (COUTINHO e CARVALHO, 2006, p. 13).

Conspurcaria também o princípio da imparcialidade do juiz, elementar para o

exercício da jurisdição. Ser imparcial no sistema acusatório (adotado pela CF)

significa dizer que o juiz deve estar em uma posição de absoluta neutralidade

psíquica. Isto seria impossível quando este mesmo juiz homologa a delação

33

premiada. O juiz ficaria “contaminado” pelo teor das alegações do delator, perdendo,

assim, a imparcialidade para posteriormente proferir uma sentença em relação ao

co-imputado delatado (ESTELLITA, 2009, p. 02/03).

A delação premiada, por fim, colocaria também em xeque o clássico

princípio da proporcionalidade. Segundo Cervin, referido princípio impõe que a pena

deve ser equivalente à culpabilidade de cada concorrente e de cada caso. Contudo,

não há dúvida que em decorrência da delação premiada crimes acabam sendo

punidos com penas flagrantemente diferentes (CERVIN, 1998, p. 348). Raphael

Boldt também é de opinião de que sob o aspecto jurídico a delação premiada

apresenta impropriedades, visto que rompe com o princípio da proporcionalidade da

pena, “pois se punirá com penas diferentes pessoas envolvidas no mesmo fato e

com idênticos graus de culpabilidade” (BOLDT, 2007, p.03).

9.2. DA VALORAÇÃO DAS DECLARAÇÕES DO CO-RÉU COLABORADOR

As informações obtidas pelas declarações do co-réu, por meio da delação

premiada, podem gerar dúvidas enquanto prova, uma vez que o acusado não presta

compromisso de dizer a verdade, pois se encontra na condição de beneficiário

processual.

O magistrado, a fim de minimizar essas dúvidas, deverá levar em

consideração alguns aspectos, como por exemplo: a) se o agente colaborador

possui condições intelectuais para produzir tais manifestações (saúde mental); b) se

gaza de liberdade para produzir a manifestação (ausência de coação moral ou

estímulos ilegais); c) manifestação perante órgão judicial, o que impede a valoração

da confissão feita exclusivamente aos órgãos da polícia (GUIDI, 2006, p. 181).

Ainda, para que seja possível a utilização das declarações como meio de

prova, deverá o magistrado levar em conta: a) a veracidade da confissão; b) a

inexistência de ódio em qualquer das manifestações; c) a homogeneidade e a

coerência de suas declarações; d) a inexistência da finalidade de atenuar ou mesmo

eliminar a própria responsabilidade penal; e) a confirmação da delação por outras

provas (GUIDI, 2006 p. 181). Com base nisso, poderá o magistrado conferir

34

credibilidade às declarações do colaborador, e, amparado nos fatos e nas demais

provas carreados aos autos, elaborar motivadamente a sua fundamentação.

Barros também é de opinião que ao juiz cabe sopesar: a) o desempenho

demonstrado pelo colaborador espontâneo para com as autoridades; b) a relevância

dos esclarecimentos que contribuam para a devida apuração das infrações penais e

de sua autoria, ou localização dos bens, direitos ou valores do crime e c) o grau de

participação do colaborador no crime; d) as conseqüências gravosas decorrentes do

crime (BARROS, 2009, p. 178).

Destarte, a delação de um concorrente do crime por outro, em sede policial

ou em juízo, denominada “chamada de co-réu” ou “confissão delatória”, embora não

tenha o condão de embasar, por si só, uma condenação, adquire força probante

suficiente desde que harmônica com as outras provas produzidas sob o crivo do

contraditório (STF, HC n. 75.226; STJ, HC n. 11.240 e n. 17.276).

Quanto à colaboração ineficaz, ou seja, que não auxiliou em nada no

desvendamento dos crimes, não terá nenhum efeito benéfico para o réu (CAPEZ,

2006, p.112).

9.3. DIREITO DO AGENTE COLABORADOR?

Uma das questões mais polêmicas em relação à delação premiada diz

respeito a se o instituto é um direito do réu ou consiste em discricionariedade

conferida à acusação ou ao juiz. Ou seja, se poderia o Ministério Público se recusar

a realizar a delação premiada ou mesmo o Juiz não lhe conferir os efeitos previstos

em lei, ainda que o agente tenha colabora eficazmente com Justiça.

Como uma das poucas vozes que se posicionam de forma contrária a ser a

delação premiada um direito subjetivo do investigado/réu, observa Mendroni que:

“As condições estabelecidas no caput e nos incisos do artigo 13 da Lei são objetivas, mas asua concessão é facultativa, pois, mesmo preenchidos aqueles requisitos, decreta a Lei:"Poderá o juiz"… Então, se o acusado colaborar voluntária e eficientemente,reconhecidamente pela Justiça, sendo primário e dentro dos parâmetros estabelecidos,poderá ser aplicado o perdão judicial. (MENDRONI, 2007, p. 88)”.

35

De forma geral, no entanto, tem-se entendido que a delação premiada é um

direito público subjetivo caso preenchidos os requisitos necessários básicos

(espontaneidade, relevância das declarações, efetividade, personalidade compatível

com os requisitos). O agente, pois, teria direito de receber os benefícios

proporcionalmente à sua colaboração, independente de acordo prévio5.

De acordo com Fabiana Greghi tanto a defesa como o Ministério Público

poderão se insurgir contra a decisão do magistrado que não acolher o pedido de

concessão dos benefícios da delação premiada quando esta foi concretamente

efetivada. Assim, tal decisão deverá ser rebatida através de recurso de apelação.

Isso se dá em virtude desses benefícios serem considerados, ao menos pela maior

parte da doutrina, como direito subjetivo do acusado delator, o que significa dizer

que, se houver o atendimento aos requisitos do texto legal, não há como afastar a

concessão da benesse cabível, pois ela não se subjuga ao arbítrio ou capricho do

juiz (GREGHI, 2009, p.1).

Na opinião de Diogo William Likes Pastre a partir do momento em que se

encontram preenchidos os requisitos do acordo e este é homologado pelo juiz, é um

direito do réu obter os benefícios dele decorrente. A seu ver, caem por terra as

alegações de que o magistrado estaria se atribuindo a função de combater o crime,

eis que este não participa das negociações, apenas aprecia o teor do acordo e

decide se as informações prestadas pelo delator forma indispensáveis para a

resolução do crime (PASTRE, 2009, p. 65).

Na jurisprudência, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que no caso de

diminuição da pena prevista no artigo 159, § 4º, do Código Penal, é de aplicação

obrigatória caso as informações sejam eficazes, ainda que não tenha havido acordo

prévio.

"PROCESSUAL PENAL. HC. EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO. ALEGAÇÃO DEOMISSÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA, REFERENTE AO ART. 159, § 4º DOCP. ACUSADO QUE DELATOU SEUS COMPARSAS, FACILITANDO A LIBERTAÇÃO DAVÍTIMA. A Lei nº 9.269/96 não traz como requisito a espontaneidade da denúncia para o fimde diminuir a pena. A causa de diminuição de pena prevista no artigo 159, § 4º, do CP, é deaplicação obrigatória quando, como no caso dos presentes autos, as informações são

5 Neste sentido: GUIDI, Op. Cit., p. 165; CAPEZ, Op. Cit., p.111.

36

eficazes, possibilitando ou facilitando a libertação da vítima. Ordem concedida para que sejaaplicada a causa de diminuição de pena prevista no § 4º do artigo 159 do Código Penal,com redação da Lei 9.269/96 (STJ - HABEAS CORPUS Nº 23.479 – RJ, 2002/0083604-9,DJU de 24.03.03, p. 251).

Também o Supremo Tribunal Federal já decidiu no sentido de o instituto da

delação primária ser de aplicação obrigatória quando preenchidos os requisitos

legais, em face do princípio da moralidade que norteia a Constituição Federal:

“A partir do momento que o Direito admite a figura da delação premiada (art. 14 da Lei9.807/99) como causa de diminuição de pena e como forma de buscar a eficácia doprocesso criminal, reconhece que o réu delator assume uma postura sobremodo incomum:afastar-se do seu próprio instinto de conservação ou de auto-acobertamento, tantoindividual quanto familiar, sujeito [o delator] que fica a retaliações de toda ordem. Por isso,ao negar ao delator o exame do grau de relevância de sua colaboração ou mesmo criaroutros injustificados embaraços para lhe sonegar sanção premial da causa de diminuição dapena, o estado-juiz assume perante ele, o delator, conduta que me parece desleal, acontrapasso do conteúdo do princípio que na cabeça do artigo 37 da Constituição toma onome de princípio da moralidade” (STF, HC 99.736, Relator Min. AYRES BRITTO).

10. DIREITO PENAL DO INIMIGO

O instituto da delação premiada é pensado principalmente para os casos

que envolvem organizações criminosas, por meio das quais são praticados crimes

de forma profissional e sofisticada. Os integrantes das organizações criminosas são

via de regra pessoas que se afastaram de forma definitiva do Direito, preferindo

trilhar o caminho da criminalidade. Com base em tal constatação, o penalista alemão

Günther Jakobs6 desenvolveu o que se passou a denominar “direito penal do

inimigo”.

Jakobs observa que o Direito penal oscila entre dois pólos ou tendências. Do

tratamento respeitoso dispensado ao cidadão até que exteriorize conduta que exija

intervenção da justiça, com o fim de confirmar a estrutura normativa da sociedade,

ao tratamento dispensado àquele previamente considerado inimigo a quem se

combate por sua periculosidade 7 .

6 JAKOBS, Günther; MELIÁ, Manuel Cancio. Direito Penal do Inimigo – Noções e Críticas. 2ª ed.Trad. André Luís Callegari e Nereu José Giacomolli. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 25e seguintes.7 Na visão de Jakobs, o Estado pode proceder de dois modos com os delinqüentes: pode vê-loscomo pessoas que delinqüem, pessoas que tenham cometido um erro, ou indivíduos que devem ser

37

Isso demonstra a necessidade de distinguir entre Direito Penal “do cidadão”

e Direito Penal “do inimigo”. A função manifesta da pena no Direito Penal do cidadão

é a “contradição”, já no Direito Penal do inimigo é a “eliminação” de um perigo;

aquele destinado a pessoas que não delinquem de modo persistente por princípio e

este a quem se desvia por princípio; aquele exclui e este deixa incólume o status de

pessoa. Ou seja, “o Direito Penal do cidadão é o Direito de todos, o Direito penal do

inimigo é daqueles que o constituem contra o inimigo: frente ao inimigo é só coação

física, até chegar à <guerra>”8.

Os inimigos se individualizam basicamente por dois aspectos: a) recusam

por princípio a legitimidade do ordenamento jurídico e perseguem sua destruição; b)

são especialmente perigosos para a ordem jurídica, uma vez que não oferecem

garantia de mínima seguridade cognitiva de um comportamento determinado por

direitos e deveres, isto é, de que possam ser motivados pelas expectativas

normativas do ordenamento jurídico vigente.

Em suma, o Direito Penal do inimigo se caracterizaria como legislação de

luta ou de guerra contra o inimigo com a única finalidade de excluir e neutralizar.

Sua meta é assegurar a exclusão da sociedade de ditos delinqüentes: o inimigo

deve ser neutralizado, uma vez que as reações penais não o intimidam

suficientemente, e tampouco a ressocialização funciona em relação a ele. Como não

satisfaz às garantias mínimas de comportamento de acordo com as exigências do

contrato social, somente seu isolamento oferece perspectiva de êxito.

As principais características do Direito Penal do inimigo seriam segundo

Jakobs9: a) ampla antecipação da proteção penal, isto é, troca de perspectiva do fato

impedidos de destruir o ordenamento jurídico mediante coação. Ambas as perspectivas têm, emdeterminados âmbitos seu lugar legítimo, o que significa, ao mesmo tempo, que também podem serusadas em lugar equivocado. Significa que na perspectiva do Estado de Direito é um mal aintrodução de linhas e fragmentos de Direito penal do inimigo no Direito penal geral. Assim, devehaver nítida separação entre ambos.8 Ibid., p. 30.9 De acordo com Jakobs, para fazer frente aos inimigos se recorre nas sociedades modernas aregulações de características tais que permitiriam identificá-las como típicas de um Direito Penal doinimigo. A primeira manifestação estaria representada pela criminalização de condutas em um“âmbito prévio”, ou seja, por meio de tipos penais que antecipam a punibilidade a atos que só têm

38

passado para o fato futuro; b) ausência de redução de pena em razão de tal

antecipação, tornando-a desproporcionalmente alta; c) trânsito da legislação jurídico-

penal à legislação de luta; d) relativização ou mesmo supressão de determinadas

garantias processuais.

Cumpre assentar que o Direito penal do inimigo conduz a uma questão

crucial: a identificação de seus destinatários. Os sujeitos considerados inimigos

teriam de estar previamente identificados como tais, pois, do contrário, não haveria

como saber a quem efetivamente a lei estaria sendo aplicada (se ao inimigo ou ao

cidadão). De acordo com Jakobs, como <inimigo> deve ser considerado o sujeito

que abandonou de forma duradoura o Direito, com habitual e reiterada dedicação à

comissão de infrações. O “trânsito” do cidadão que ocasionalmente comete um

delito à consideração de inimigo se produziria mediante reincidência, habitualidade,

profissionalidade e, finalmente, integração em organização criminosa.

11. LEGITIMIDADE PARA A PROPOSIÇÃO DO ACORDO

A delação premiada não possui um regramento único, uma vez que o

instituto encontra-se disciplinado em várias leis. E nenhuma delas estabeleceu a

forma como deve ser levada a efeito. Daí advir na doutrina e na jurisprudência vários

pontos divergentes sobre quem pode propor o acordo e em que momento pode ele

ocorrer.

As divergências decorrem basicamente do fato de o instituto da delação

premiada ter sido importado de experiências estrangeiras (países da common Law e

mesmo o da Civil Law europeus), os quais possuem justiça negociada de longa

data. Adaptada à Justiça brasileira, faltou previsão legislativa quanto à sua

formalidade específica.

características de fatos futuros. Outra manifestação seria a considerável restrição de garantias edireitos processuais dos imputados. Também a denominação de “lei de luta ou combate” seria,segundo Jakobs, um signo especialmente relevante e significativo para a identificação do DireitoPenal do inimigo.

39

Cumpre observar que não há celebração de acordo sem eficaz

contraprestação de informações a respeito de identificação e/ou apontamento de

fatos e agentes criminosos. É o Ministério Público que verificará o teor das

informações apresentadas e se elas merecem respaldos para propor o “acordo”.

Este ato se dá na fase da investigação criminal processual.

Mas, segundo Carla Veríssimo De Carli, o acordo pode ser proposto em

audiência, pelo próprio magistrado. Além disso, nem todos os juízes reconhecem ao

Ministério Púbico o poder de negociar os termos e condições, ficando, eles próprios,

distantes desse processo” (CARLI, 2010, p. 16). O certo, no entanto, é que não há

nenhum dispositivo legal que impeça a negociação entre Ministério Público e

investigado/acusado e sua defesa.

Quanto à homologação judicial, para a maioria da doutrina se faz necessária

em relação ao acordo realizado entre o Ministério Público e a parte, uma vez que

compete ao Juiz controlar a aplicação da lei e zelar pela regularidade do processo. E

caso o magistrado não concorde com os termos do acordo, há entendimento no

sentido de que não poderá indeferi-lo de plano ou elaborar outro; deverá

simplesmente aplicar analogicamente o artigo 28 do Código de Processo Penal10.

Além disso, a homologação do acordo firmado entre acusação e defesa dá mais

segurança e garantia ao réu, que não ficará apenas com uma expectativa de direito,

que, sem o acordo, poderia ou não ser reconhecida na sentença. No caso de

acordo, homologado pelo juiz, este dificilmente deixará de cumpri-lo se o réu e o MP

efetivamente cumprirem sua parte no pacto (GRANZIOLI, 2007, p. 157).

12. ASPECTOS MORAIS. INSTITUTO É ÉTICO OU AÉTICO?

O Estado em nome da justiça e na busca incessante pela “verdade real” ou

objetiva se utiliza muitas vezes da delação premiada para sua finalidade mediata: a

paz social.

10 Neste sentido, entre outros: GUIDI, Op. cit., p. 166/167; COUTINHO, 2006, p. 09.

40

A doutrina divide-se ao tratar dos aspectos éticos da delação premiada. O

principal argumento contrário alude que é perigoso o Direito permitir e incentivar os

indivíduos a praticar a “traição” como meio de se obter um prêmio ou um favor

jurídico. A delação, afirma-se, é sempre ato imoral e aético, já que a própria vida em

sociedade pressupõe o expurgo da traição das relações sociais e pessoais. A

quebra de confiança que se opera com a delação gera, necessariamente,

desagregação, e esta traz a desordem, que não se coaduna com a organização

visada pelo pacto social e com a ordem constitucional legitimamente instituída

(GARCIA, 2006, P. 01).

Segundo Luigi Ferrajoli:

“A prática de negociação entre confissão e delação de um lado e impunidade ou redução depena de outro sempre foi uma tentação recorrente na história do Direito Penal, seja dalegislação e mais ainda da Jurisdição, pela tendência dos juízes, e, sobretudo, dosinquiridores, de fazer uso de algum modo de seu poder de disposição par obter acolaboração dos imputados contra eles mesmos. A única maneira de erradicá-la seria aabsoluta vedação legal, o que a longo prazo acabaria por se tornar uma regra dedeontologia profissional dos magistrados, de negociar qualquer relevância penal aocomportamento processual do imputado, também aos fins da determinação judiciária dapena dentro dos limites legais” (2006, p. 561).

Para Marcão, muitos delatores acabam colaborando com as investigações e

depois não recebem os benefícios inicialmente apresentados na barganha que

envolve a pretensão punitiva, a revelar, mais uma vez, a condenável violação ética

patrocinada pelo Estado, um verdadeiro estelionato (2005, p.01).

Já no ponto de vista de Cervini a delação premiada assenta-se na traição.

Sendo assim a lei não é pedagógica, porque ensina que trair traz benefícios.

Portanto, é eticamente reprovável (ou, no mínimo, muito discutível), devendo o

instituto ser restringido o máximo possível, até porque pode haver incriminação

puramente vingativa. A seu ver, o Direito deve se assentar em vigas éticas firmes.

Ele existe em função de valores e princípios, hoje consagrados na Constituição

Federal. E colocar na lei que o traidor merece prêmio é difundir uma cultura

antivalorativa, ainda que o objetivo perseguido seja o de combater o crime (os fins

não justificam os meios). Cervini observa também que:

“Para o homem moderno, tido como racional, chegar ao ponto de estabelecer em “lei”prêmios a um criminoso traidor só existe uma explicação: é a prova mais contundente da

41

pública e notória ineficiência do Estado atual para investigar e punir os crimes e oscriminosos. Por falta de preparo técnico e de estrutura tecnológica, o Estado se vêcompelido a transigir com os mais elementares princípios éticos. A delação, disse-o comacerto Cervin, citando Roberto Romano, enterra o Direito e a Justiça” (CERVINI, 1998, p.347).

Segundo El Tasse, nos planos éticos e moral gera um desvirtuamento de

valores importantes para o fortalecimento da sociedade, fazendo crer que a traição,

a deslealdade, a mentira são condutas positivas e elogiáveis. Segundo o referido

autor, ainda, o emprego do instituto da delação premiada traz na esteira de uma

visão utilitarista de justiça, em que os fins justificam os meios, o abandono

relativamente tranquilo de barreiras éticas importantes, chegando mesmo a soar

estranho que se afirme o gravame ético-moral que a adoção de medidas de apoio à

delação promove (EL TASSE, 2006, p. 274 e 281).

Em sentido contrário é o pensamento de José Alexandre Marson Guido,

quem, após ponderar e sopesar todas as críticas de ordem ética de alguns

doutrinadores faz a seguinte indagação: existe ética no crime organizado? E

arremata: “Certamente a resposta será negativa, então é incorreto afirmar que se o

criminoso se arrepender e delatar seus comparsas estará agindo contra a ética, pois

ele assim estará agindo se não o fizer” (2006, p. 147).

Na mesma linha, observa GUIDI, em relação à questão ética levantada por

inúmeros doutrinadores que combatem o instituto da delação premiada, ser possível

concluir que o arrependimento do indiciado ou acusado demonstra que ele queria

agir de modo diferente e por algum motivo qualquer não agiu, por isso gostaria de

voltar atrás no tempo e reparar seus erros. Assim, ele confessa o delito e delata

seus comparsas para que então sejam todos processados, julgados e ao final

condenados, prevalecendo, assim, a justiça (GUIDI, 2006, p. 192).

Por fim, a opinião favorável de Carlos Fernando dos Santos Lima:

“Primeiro ponto a ser superado é o da suposta imoralidade desse acordo, comparadomuitas vezes à traição. Amiúde seus detratores equiparam os investigados/réuscolaboradores a Judas Iscariotes ou a Joaquim Silvério dos Reis. Trata-se de imagem forte,mas destituída de qualquer razoabilidade. Nenhuma pessoa delatada é Jesus Cristo nemTiradentes. Não há regra moral na omertá, não se pode admitir como obrigação ética osilêncio entre criminosos. Na verdade, a obrigação é para com a sociedade. O que existe

42

realmente é o dever de colaborar para a elucidação do crime, pois esse é o interesse social”(LIMA, 2005, p. 30-31).

13. POSICIONAMENTO FAVORÁVES E CONTRÁRIOS AO INSTITUTO DADELAÇÃO PREMIADA

Segundo nos informa Baltazar Jr., a delação premiada sofre um influxo da

Lei de Proteção de Vítimas e Testemunhas, podendo a prova ser produzida

mediante uma medida cautelar de produção antecipada de provas. Embora seja

instrumento valioso, a matéria não é, ainda, tranquila, existindo dificuldades, por

exemplo, em relação aos efeitos, requisitos, etc. Há dificuldade, também, na

comprovação dos fatos relatados, ou regra de corroboração, uma vez que a

chamada de co-réu é uma prova frágil, que deve ser comprovada por outros

elementos de fato, como provas materiais, outras provas independentes ou provas

de convergências. A delação pressupõe que o acusado confesse, além de revelar,

pelo menos mais uma infração penal (BALTAZAR Jr., 2007, p. 431).

Em razão de tais dificuldades, a doutrina se divide acerca da aplicação do

instituto da delação premiada.

13.1. OPINIÕES FAVORÁVEIS

Em pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da

Justiça Federal11 sobre se é justificável que as autoridades tirem proveito da

chamada infidelidade criminal ou se ela é eticamente inaceitável, obteve-se o

seguinte resultado: a) em relação aos Delegados da Policia Federal, 94% disseram

que a delação premiada é justificável; b) Quanto aos Procuradores da República,

95% afirmaram que é justificável; c) para os Juízes Federais, 90% afirmaram ser

favoráveis ao instituto da delação premiada. Ou seja, para a maioria expressiva dos

11““ Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários. Uma analise critica da lei dos crimesde lavagem de dinheiro. Secretaria de Pesquisa e Informação Jurídicas. Brasília: CJF. 2002, p.188.

43

operadores do direito consultados a delação premiada se justifica e pode ser usada

como forma de reprimir a criminalidade organizada e violenta12.

Trata-se, efetivamente, de uma estratégia cuja utilização vem se

intensificando no meio forense. Para exemplificar a sua adoção na apuração de

delitos anota-se que até dezembro de 2006 pelos menos 19 acordos de delação

premiada tinham sido realizados com doleiros e demais envolvidos em 75 denúncias

que foram apresentadas à Justiça Federal do Paraná, (relativos aos crimes de

lavagem de dinheiro – “Caso Banestado/Força-tarefa/CC5” (BARROS, 2009 p. 176).

Outros exemplos de aplicação da delação premiada que tiveram ampla divulgação

nos meios de comunicação foram os casos dos doleiros do eixo São Paulo/Paraná e

dos empresários ligados ao escândalo do fornecimento de ambulâncias para as

prefeituras mediante recebimento de comissão ou propina (CPMI das Ambulâncias e

operação “Sanguessuga” da Policia Federal). Até estrangeiros como o ex-mafioso

Tommaso Buscetta (arrependido que decidiu colaborar com a Justiça), preso no

Brasil no ano de 1984 e que teve vários familiares mortos pela máfia depois de ter

aceitado colaborar com a justiça italiana (GOMES, 2009, p. 223).

Em favor do instituto da delação premiada posiciona-se Guilherme de

Souza Nucci. De acordo com referido autor, a delação premiada ou “dedurismo”

oficializado é um mal necessário, pois trata-se da forma mais eficaz de se quebrar a

espinha dorsal das quadrilhas, permitindo que um de seus membros possa se

arrepender, entregando a atividade dos demais e proporcionando ao Estado

resultados positivos no combate à criminalidade” (NUCCI, 2009, p. 755).

12 Contudo “os resultados obtidos na pesquisa contrariam autores como Zaffaroni apud Gomes (1998,p. 349) que defende que o Estado não pode se valer de meios imorais para evitar a impunidade, eGomes (1998, p. 347) que considera a delação premiada como eticamente reprovável, devendo serrestringida o Maximo possível. Só teria cabimento em situação muito especial e em nenhum outrodelito mais. 0 mesmo autor ainda defende que o Direito não pode basear em antivalores. 0 Direito seassenta em valores eticamente respeitados. Outros autores aprovam a delação premiada, comoRoberval C. Belinati, Direito & Justiça, Correio Brasiliense, de 5/6/1995, p. 6, e Michel Temer, emFolha de S. Paulo, de 12/11/1994, p. 1-3. Na Lei n. 9.613/98, o legislador buscou assim reduzir apena, substituí-la por outra ou mesmo deixar de aplicá-la com o objetivo de reprimir essacriminalidade organizada”. Uma analise critica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro. Conselho daJustiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, Secretaria de Pesquisa e Informação Jurídicas.Brasília: CJF. 2002, p.188.

44

Também GUIDI é de opinião que a delação premiada evidentemente é um

dos meios probatórios mais eficientes e, sem bem empregada, terá um papel de

suma importância no combate às organizações criminosas (GUIDI, 2006, p. 189).

Renato Marcão considera a delação premiada um “mal necessário”. Para o

autor o que se espera é o aprimoramento das estruturas normativas, tanto quanto

possível, buscando evitar resultados danosos à eficácia da justiça e proporcionar

benefícios verdadeiros à sociedade (MARCÃO, 2006, p. 163).

De acordo com Diogo Pastre, a delação premiada possui um papel

preponderante em benefício da sociedade, uma vez que surge como instrumento

processual capaz de desmantelar organizações criminosas e de promover justiça de

forma eficaz (PASTRE, 2009, p. 57).

13.2. OPINIÕES DESFAVORÁVEIS

Segundo uma estendida opinião, o instituto da delação premiada pode gerar

"acomodação" e apatia na autoridade incumbida da apuração, pois, passando ela a

contar com a possibilidade de delação poderá deixar de dedicar-se com mais afinco

na realização de seu ofício. É possível – afirma-se - que a delação proporcione de

forma proposital o desvio no rumo das investigações, ainda que temporário, porém,

com reflexos negativos à apuração da verdade (MARCÃO, 2005, p. 1).

Natália Oliveira de Carvalho é de opinião que ao preconizar que a tomada de

uma postura infame (trair) pode ser vantajosa para quem a pratica, o Estado premia

a falta de caráter do co-delinquente, convertendo-se em autêntico incentivador de

antivalores ínsitos à ordem social (CARVALHO, 2009, p. 131).

Para Silva Franco há um atrito entre a delação premiada e os princípios

básicos do Estado democrático de Direito. Não por acaso – observa - ela sempre se

prestou aos regimes totalitários, do nazi-fascismo ao comunismo soviético, ou aos

surtos autoritários como o do macarthismo nos EUA. “A delação premiada é a

proclamação pouco ética da traição”. Além disso, a delação, isolada de outros

45

indícios, é facilmente derrubada pela defesa, é ineficaz do ponto de vista processual.

E, do ponto de vista ético, “ela só deveria ser usada em casos extremos, como

quando por meio dela se possa descobrir o paradeiro de uma pessoa sequestrada”

(SILVA FRANCO, 2009, p. 02).

13.3. POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS

Nas normas de processo da mais alta Corte internacional na questão do

Direito Penal, que é o Tribunal Penal Internacional, não se encontram previstas

expressamente a negociação e o acordo entre a acusação e o acusado, mas

reconhecem implicitamente sua possibilidade, ao determinar que a fixação da pena

pela Corte considerará como minorantes a cooperação a ela prestada e os esforços

do acusado para compensar as vítimas (CARLI, 2009, P. 17).

No Brasil, os Tribunais têm entendido que nada há de imoral ou ilegal no

instituto da delação premiada, trazido ao cenário nacional pela Lei n.º 9.807/99, pois

o mesmo apenas é a efetivação legislativa do entendimento dos tribunais em relação

à aplicabilidade da atenuante prevista no art. 65, III, “d, do CP (TRF-2ªR., HC

3299/RJ, 1ª T., Relator Abel Gomes, DJU 06.10.04, p. 95).

Os Tribunais aplicam o instituto da delação premiada, observando, no

entanto, que “são válidas as delações feitas por corréus, desde que corroboradas

por outras provas constantes dos autos, não sendo o único fundamento a respaldar

a condenação” (TRF-3ªR., DJU de 19.03.2010). Além disso, a jurisprudência deixa

claro que os benefícios da delação não podem ser aplicados ao réu que pouco ou

nada traz de importante para desmantelar a associação criminosa (TJPR, AC

0282120-3, DJ de 07.04.2005) ou quando já existam elementos probantes

suficientes para sustentar a condenação dos demais envolvidos (TJRS, RC

70007742869, DJ de 23.09.2005). Por fim, deixa claro a impossibilidade de se

reconhecer os efeitos da delação ao réu que simplesmente confessa o crime sem

delatar ninguém, pois não se pode equiparar os institutos por analogia, devido às

suas disparidades (TJRS, AC 70013510060, DJ de 06.04.2006).

46

Em suma, é pacífico na jurisprudência que só faz jus aos benefícios em

decorrência da delação premiada o agente que não só confessa a prática de um fato

delituoso, como, ao mesmo tempo, em colaboração voluntária à investigação, atribui

a terceira pessoa participação ou co-autoria do crime.

De maneira geral, os Tribunais pátrios reconhecem o instituto de delação premiada,

desde que: a) esteja revestida de eficácia; b) não existam provas suficientes para

embasar uma condenação; c) quando as informações não sejam isoladas e estejam

em consonância com as demais provas colhidas; d) sejam previstos os requisitos

previstos em cada legislação específica; e) quando o agente, além de confessar a

prática delituosa, delate terceiros.

14. DELAÇÃO PREMIADA NO PROJETO DE LEI 156

Tramita no âmbito do Senado Federal o Projeto de Lei 156/09, o qual se

refere à reforma global do Processo Penal atual. Tal Projeto vem sendo alvo de

críticas e objeto vários debates, pois, inegavelmente é o momento oportuno para

corrigir e alterar falhas deixadas pelo legislador, a fim tornar o processo penal

“eficaz” e garantir ao acusado os direitos constitucionais mínimos de um Estado

Democrático.

No PL 156/90 o instituto da delação premiada não está previsto

expressamente. Somente nas entrelinhas de alguns artigos está previsto um instituto

de negociação similar a plea bargain norte-americana, que nos remete a algo similar

e que faz lembrar a atual delação premiada prevista no ordenamento jurídico.

Trata-se do procedimento no rito sumário, que possibilita às partes

processuais “consensualmente” disporem sobre o próprio processo criminal,

ensejando aplicação imediata de pena privativa de liberdade, sem necessidade de

dilação probatória e comprovação empírica da culpabilidade do acusado. Ou seja,

basta que haja confissão ou ato-incriminação para que se aplique imediatamente a

pena no patamar mínimo legal, desde que seja concretizado até o início da

audiência de instrução e julgamento (artigo 265, in fine e 271 do PL 156/09).

47

15. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE E CONSEQUÊNCIAS

15.1. REQUISITOS DA DELAÇÃO PREMIADA

O requisito básico para a admissão da delação premiada é que a pena

esteja relacionada a um crime e que haja indícios de autoria e materialidade.

Em segundo lugar, é mister que haja voluntariedade13. A voluntariedade da

iniciativa do colaborador é um dos pontos sensíveis no plano prático, ante a real

possibilidade de constrangimentos e possíveis ocorrências de excessos para a

extração da confissão (SILVA, 2004 p. 81). Chega-se ao ponto de defender que a

delação deve ser espontânea e não apenas voluntária. Vale dizer, que não basta

que o ato esteja na esfera de vontade do agente, exigindo-se também que dele

tenha partido a iniciativa de colaborar, sem anterior sugestão ou conselho de terceiro

(CAPEZ, 2006, p. 111). O Superior Tribunal de Justiça, no entanto, já decidiu “que a

Lei nº 9.269/96 não traz como requisito a espontaneidade da delação para o fim de

diminuir a pena” e que “a causa de diminuição de pena prevista no artigo 159, § 4º,

do CP, é de aplicação obrigatória quando as informações são eficazes” (STJ -

HABEAS CORPUS Nº 23.479 – RJ, 2002/0083604-9, DJU de 24.03.03, p. 251). De

acordo com Damásio de Jesus a legislação brasileira, lamentavelmente, não trata o

assunto com uniformidade. Assim, enquanto a Lei do Crime Organizado, a Lei de

Lavagem de Capitais e a Lei Antitóxicos expressamente exigem a espontaneidade, a

Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas (aplicável a qualquer delito), contenta-se

com a voluntariedade do ato. Desse modo, não faria jus ao prêmio quem, sugerido

por terceiros (autoridades públicas ou não), delatasse seus comparsas em crimes

praticados por organização criminosa ou lavagem de capitais. Ressalve-se, contudo,

a possibilidade de aplicação subsidiária da Lei n. 9.807/99 a esses crimes, dado o

seu caráter geral. Vale dizer: diante de uma colaboração voluntária, embora não

espontânea, torna-se possível o perdão judicial ou a redução da pena para delitos

13 “Voluntário é o ato produzido por vontade livre e consciente do sujeito, ainda que sugerido porterceiros, mas sem qualquer espécie de coação física ou psicológica. Ato espontâneo, por sua vez,constitui aquele resultante da mesma vontade livre e consciente, cuja iniciativa foi pessoal, isto é,sem qualquer tipo de sugestão por parte de outras pessoas” (JESUS, 2010).

48

tratados pelas Leis n. 9.034/95 e 9.613/98 somente com base na Lei de Proteção a

Vítimas e Testemunhas, desde que preenchidos os requisitos de seus arts. 13 e 14

(JESUS, 2010).

O terceiro requisito exigido pelo legislador é a relevância das declarações do

colaborador. Significa que as declarações do agente devem guardar um nexo de

causalidade com os resultados positivos produzidos na investigação criminal em

curso. Declarações sobre fatos periféricos ou de importâncias secundária não são

qualificadas para autorizar a concessão do benefício14. A respeito, já decidiu o

Superior Tribunal de Justiça:

“No caso de extorsão mediante seqüestro (art. 159 do CP), não se consideradelação premiada (§ 4º do referido artigo) o fato de o paciente, depois de preso,apenas fornecer o número de telefone de seu comparsa, visto que, em nenhummomento, facilitou a resolução do crime ou influenciou a soltura da vítima” (STJ,HC 107.916-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, DJ de 7/10/2008).

O quarto requisito é a efetividade da colaboração. Consiste no dever de o

investigado colaborar de forma permanente com as autoridades, colocando-se

integralmente a sua disposição para a elucidação dos fatos investigados, o que

implica a necessidade de comparecer perante a autoridade policial ou judicial, todas

as vezes que for solicitada sua presença, ou ainda acompanhar atos de diligência,

quando necessário, conforme estipula o art. 13 da Lei 9.807/99 (SILVA, 2003, p. 82).

De observar, no entanto, que não há confundir “efetividade das declarações

prestadas” com “eficácia para fins probatórios”. É possível que o colaborador tenha

feito sua parte, porém não se chegue ao resultado almejado. Neste caso, em

atenção ao principio da lealdade processual, ficará a critério do juiz, na sentença

final, reduzir ou não a pena.

A quem entenda, porém, que só pode haver “prêmio” ou “bonificação” ao

colaborador caso a informação prestada por ele seja eficaz para desmantelamento

da quadrilha ou bando, isto é, se o Estado/sociedade obteve alguma vantagem das

respectivas informações (CORDEIRO, 2010).

14 SILVA, op. Cit., 82/83.

49

15.2. CONSEQUÊNCIAS ADVINDAS DA DELAÇÃO. ASPECTOS NEGATIVOS E

POSITIVOS DO INSTITUTO

O agente que colabora eficazmente para a investigação poderá obter os

benefícios previstos em lei, que são a redução da pena e até mesmo o perdão

judicial. É o magistrado que vai julgar o caso quem determina o “prêmio” legal pela

colaboração. Contudo, ao fazer a delação o investigado ou acusado não tem certeza

se receberá qualquer benefício, já que ficará a cargo do juiz analisar a importância

das informações prestadas. Isto porque, diante da inexistência de critério legal para

a opção judicial na escolha dos prêmios estabelecidos e a fim de atender o princípio

da proporcionalidade, o juiz deverá levar em consideração o grau da eficácia da

colaboração (SOUZA NETO, 200, p.109).

Há quem defenda a possibilidade de outra consequência em decorrência do

acordo: na fase pré-processual, o sobrestamento da investigação e o posterior

arquivamento do respectivo inquérito policial ou da investigação, rompendo-se com

o tradicional princípio da obrigatoriedade da ação penal pública para crimes

considerados graves. Mas se a colaboração possibilitou resultado apenas em parte,

o Ministério Público promoveria a ação penal com o compromisso de redução da

pena do “futuro condenado”. Caberia ao Juiz a faculdade de diminuir a pena ou de

substituí-la por restritiva de direito (SOUZA NETO, 200, p.109), conforme as

particularidades do caso concreto.

Ocorre que, conforme já decidiu o Tribunal Regional Federal da 4a Região15,

“não seguiu a legislação brasileira modelos do direito comparado de delação

premiada como negociação do direito de ação, tendo todos os normativos nacionais

tratado a colaboração como favor de pena”. Ou seja, não é possível acordo

estabelecendo que o agente não seja denunciado caso colabore com a Justiça, pois

isso não está previsto em lei. Como observam Coutinho e Carvalho, “não é demais

lembrar que a isenção é de pena; e nunca do processo, pois imunidades – quando

15 CORREIÇÃO PARCIAL Nº 2009.04.00.035046-4/Pr. Relator Desembargador Federal NéfiCordeiro, DJ de 03/11/2009).

50

existem – existem somente em casos raríssimos” (COUTINHO e CARVALHO, 2006,

p. 04).

De qualquer sorte, uma vez formulado o acordo ao arrepio da lei, vale dizer,

dando ao delator benefícios não previstos em lei, deve ele ser respeitado se

nenhuma das partes o impugna. “Embora criação extralegal, é ela mantida pela

inexistência de interesse recursal dos envolvidos - ressalvada hipótese de direito

indisponível -, não sendo moral e faltando legitimidade a terceiros em discutir

favores concedidos ao delator” 16.

Os benefícios da delação premiada aproveitam exclusivamente ao agente

delator, não alcançando os demais partícipes. Neste sentido já decidiu o Supremo

Tribunal Federal, ao afirmar taxativamente que “a delação premiada não se estende

aos co-réus em caso de concurso de pessoas” (STF, HC 85176/PE, DJ de

01.02.2005, p. 22).

Um importante benefício consiste na possibilidade de o condenado cumprir a

pena no regime aberto desde o início, evitando-se os nefastos malefícios do

encarceramento.

Outro consiste na preservação da segurança pública, uma vez que por meio

do instituto da delação premiada se possibilita o combate ao crime organizado. Em

inúmeras situações, sem a colaboração do agente arrependido, dificilmente se

conseguirá desmantelar organizações criminosas, sobretudo quando não se tem

uma polícia preparada e instrumentos eficazes para tal desiderato (BRAGA, 2006,

p.01).

Além disso, interessa pra o Estado a manutenção das instituições e da

ordem jurídica vigente (NOGUEIRA, 2010, p. 17). O Direito Penal se utiliza da

delação premiada como meio de cumprir a missão de pacificação social e a punição

de criminosos. Assim a utilização do instituto permite em sua real dimensão, da

persecução penal como um concreto instrumento para que se busque a redução da

16 TRF-4, CORREIÇÃO PARCIAL Nº 2009.04.00.035046-4/PR, Rel. Desembargador Federal NéfiCordeiro, DJ de 03/11/2009).

51

impunidade no país e efetivo combate à criminalidade organizada. Convém que ela

seja usada como ferramenta de promoção da segurança e da justiça, direitos estes

que, de acordo com o preâmbulo da Lei Maior, devem ser assegurados pelo Estado

de Direito Democrático (GREGHI, 2009, p.03).

Pode ser apontado como aspecto negativo da delação premiada o fato de o

legislador ter previsto tão-somente redução ou isenção de pena, sem oferecer

proteção ao colaborador nos moldes de onde o instituto foi importado (troca de

identidade, mudança de domicilio, etc.). E dar “prêmio penal” pela delação sem se

prever “proteção” ao delator é algo que se aproxima do nada, porque é sabido que o

delator, após incriminar outras pessoas, passa a ser alvo de vingança

imediatamente (CERVINI, 1998, p. 346).

Outro aspecto negativo, segundo El Tasse, é que a delação premiada gera

sério comprometimento à garantia de defesa do acusado, pois este se posiciona no

âmbito da cooperação com o Poder Judiciário, sem possibilidade, em consequencia,

de desenvolver efetivo trabalho de defesa. A seu ver, fica impedida não só a sua

defesa pessoal, mas até mesmo a defesa técnica, pois os interesses dos

colaboradores se chocam com as ações próprias de alguém que se defende e busca

a absolvição em um processo criminal. Defesa e acusação somam-se para

condenar, para ratificar a denúncia. O magistrado simplesmente espera o momento

oportuno de condenar o acusado na forma em que defesa e acusação, juntas,

somaram esforços, sem qualquer debate probatório (EL TASSE, 2006, p. 276-288).

Para Flávio Gomes, um aspecto negativo da delação premiada reside no

fato de ela poder dar ensejo a abusos e incriminações gratuitas ou infundadas. A

desgraça, segundo o penalista, é que tudo vem a público imediatamente, porque o

tempo da mídia não é o mesmo da justiça. O correto, portanto, seria o Estado se

aparelhar cada vez mais para não necessitar da delação. Quanto mais o Estado é

dotado de capacidade investigativa, menos necessita da delação de criminosos

(GOMES, 2005, p. 18-19).

52

16. DO PROCEDIMENTO E DO MOMENTO EM QUE É CELEBRADO O ACORDO

16.1. DO PROCEDIMENTO

A lei não estabelece o rito a ser seguido para a concessão do benefício da

delação premiada, aplicando-se as normas gerais do processo penal. Assim, o réu,

não em razão de ser delator, mas em razão de imperativo constitucional, durante o

processo deverá, entre outros direitos, estar assistido por defensor (ANDREUCCI,

2009, p. 68).

Não existe o requisito de um pré-acordo entre o Ministério Público e a defesa

do acusado para que haja a decisão do julgador reconhecendo seus efeitos.

Além disso, é válido e importantíssimo o parecer ministerial para aplicação

do instituto. Contudo, está disciplinado que cabe ao juiz conceder a redução da pena

ou o perdão judicial. Essa decisão poderá ser de ofício ou a requerimento das

partes.

Tanto a acusação como a defesa podem pedir ao juiz o perdão judicial ou a

redução da pena em troca da colaboração, embora se resuma somente a um

requerimento. Como o dispositivo usa o termo “a requerimento das partes” e

tratando-se de instituto relativo à colaboração, é lógico supor que as partes acordem

na colaboração e consequente delação. Sugere, a outro giro, formulação de petição

conjunta entre o Ministério Publico e a defesa do acusado, de molde a afastar a

possibilidade de requerimento de apenas uma das partes. De todo modo, nada

obsta que o pedido seja formulado apenas pela defesa do acusado e deferido pelo

magistrado, ainda que o Ministério Público se posicione de forma desfavorável, uma

vez preenchidos os requisitos do instituto.

Vale lembrar, ainda, que o acordo deve ser revestido de sigilo, para garantir

a vida e a segurança do delator. O acordo não deve constar dos autos principais

nem se tornar público, nem mesmo para os advogados dos demais acusados

delatados. A publicidade do depoimento deverá ocorrer apenas quando o réu

colaborador for formalmente ouvido no processo a que responda. Nesse caso os co-

53

autores e seus respectivos advogados estarão presentes, sendo efetivados aqui os

princípios do contraditório e da ampla defesa17. Neste sentido já se posicionou o

Supremo Tribunal Federal, que no julgamento do HC 90.688-5/PR enfatizou que “o

sigilo do acordo da delação não poderia ser quebrado, cabendo, contudo, à defesa

ter acesso aos nomes das autoridades judiciárias e do Ministério Público

responsáveis pela homologação do acordo”.

16.2. DO MOMENTO DA DELAÇÃO

A colheita da prova decorrente da delação poderá se dar tanto na fase

inquisitiva (inquérito policial) quanto na fase processual. Entretanto, a concessão do

benefício só poderá ocorrer em sede de sentença, momento em que o magistrado,

uma vez ouvido o Ministério Público, analisará a presença dos requisitos citados

anteriormente (ANDREUCCI, 2006, p. 68).

A colaboração pode ocorrer em qualquer fase da persecução penal, ou seja,

na investigação policial ou processo criminal (BRAGA, 2006, p.01). Defender-se,

inclusive, que ela possa ocorrer até mesmo após o trânsito em julgado, pois a lei não

estabeleceu qualquer limite temporal para o beneficio. Caso a delação seja feita

após a sentença definitiva, a redução será aplicada mediante revisão criminal

(CAPEZ, p. 111). De mesma opinião é Damásio de Jesus. De acordo com este

doutrinador, não se pode excluir a possibilidade de concessão do prêmio após o

trânsito em julgado, mediante revisão criminal, pois uma das hipóteses de rescisão

de coisa julgada no crime é a descoberta de nova prova de “inocência do condenado

ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial de pena” (art.

621, III, do CPP). Exigir-se-á, evidentemente, o preenchimento de todos os

requisitos legais, inclusive o de que o ato se refira à delação dos co-autores ou

partícipes do(s) crime(s) objeto da sentença rescindenda. Será preciso, ademais,

que esses concorrentes não tenham sido absolvidos definitivamente no processo

originário, uma vez que, nessa hipótese, formada a coisa julgada material, a

17 Comungam de tal entendimento: GRAZIOLI, Op. Cit., p. 157; TEOTONIO, Paulo José Freire;NICOLINO, Marcus Túlio Alves. Ministério Público e a delação premiada. Revista Síntese de DireitoPenal e Processual Penal, n.º 21, agosto-setembro , 2003, citados por GRAZIOLI, ibidem.

54

colaboração, ainda que sincera, jamais seria eficaz, diante da impossibilidade de

revisão criminal pro societate (JESUS, 2010).

17. CONCLUSÕES

A delação premiada foi introduzida no Brasil com a intenção de encontrar

meios de combater o crime organizado e a corrupção, sem ter, conduto, um

regramento único e coerente. Surge como mecanismo para suprir a deficiência

social do Estado, que quase sempre recorre a medidas legislativas no afã de

diminuir a criminalidade. Prevista hodiernamente em várias leis esparsas, o âmbito

de incidência do instituo foi alargado pela Lei 9.807/99 a ponto de ser aplicável a

todo delito que tenha certa repercussão, praticado em concurso de pessoas. Mas a

recomendação é no sentido de que seja utilizada somente em casos extremos,

quando não houver outros meios de prova mais eficientes.

A natureza jurídica da delação premiada decorre do denominado “Princípio

do Consenso”, sendo considerada pela doutrina especializada como meio de prova,

vale dizer, como instrumento por meio do qual o magistrado forma a sua convicção a

respeito da ocorrência ou inocorrência dos fatos controvertidos no processo.

Quanto à validade da prova obtida por meio da delação, ela deve ser

verificada e corroborada para poder ter credibilidade. Ou seja, não tem valor

absoluto, devendo estar em consonância com as outras provas existentes nos autos

para poder lastrear uma condenação. De acordo com o Supremo Tribunal Federal,

“a delação adquire força probante suficiente desde que harmônica com as outras

provas produzidas sob o crivo do contraditório”.

Os detratores da delação premiada sustentam que o instituto macularia

vários princípios, dentre os quais o do contraditório, da moralidade, da

imparcialidade do juiz e da proporcionalidade. Afirma-se, ainda, que é um

expediente aético e utilitário, já que é perigoso o Direito permitir e incentivar os

indivíduos a praticar a “traição” como meio de se obter um prêmio ou um favor

55

jurídico. Já o setor favorável ao instituto afirma que a criminalidade não tem ética e

que é salutar que o réu se arrependa e propicie a realização da Justiça.

Tem-se entendido que a delação premiada é um direito público subjetivo

caso preenchidos os requisitos necessários básicos (espontaneidade, relevância das

declarações, efetividade, personalidade compatível com os requisitos). Neste

sentido, inclusive, já se posicionaram o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo

Tribunal Federal. A discricionariedade do juiz fica restrita ao quanto da pena

diminuir ou em aplicar o perdão judicial, mas ainda assim de forma fundamentada.

A delação premiada está pensada precipuamente para os casos que

envolvam organizações criminosas, que têm relação com o denominado “Direito

Penal do Inimigo”, desenvolvido por Jakobs. O Direito Penal do inimigo se

caracterizaria como legislação de luta contra o criminoso que se afasta de forma

definitiva do Direito, com a única finalidade de excluir e neutralizar. Sua meta é

assegurar a exclusão da sociedade de ditos delinquentes (considerado inimigo e não

cidadão), uma vez que as reações penais não o intimidam suficientemente e

tampouco a ressocialização funciona em relação a ele.

A lei não disciplinou quem tem legitimidade para proceder ao acordo de

delação premiada. Segundo a doutrina, tem legitimidade tanto o Ministério Público

como o próprio Juiz, este por ocasião do interrogatório do réu. Quando realizado

pelo Ministério Público e a defesa do acusado é importante a homologação do Juiz,

pois tal formalidade confere maior garantia de que os benefícios previstos em lei

serão observados por ocasião da sentença. Os benefícios, no entanto, aproveitam

exclusivamente ao agente delator, não se estendendo aos demais partícipes ou co-

autores que não colaboraram.

É importante frisar, no entanto, que as conseqüências do instituto estão

taxativamente previstas em Lei: causa de diminuição de pena, perdão judicial ou

substituição por pena restritiva de direitos. Não pode, portanto, o Ministério Público

pactuar o não oferecimento da denúncia em relação ao agente que colabora ou

outros benefícios não previstos em lei. Diferentemente de onde o instituto da

56

delação premiada foi importado, no ordenamento jurídico pátrio a delação é tida

como “favor de pena” e não como “isenção do processo”.

São requisitos da delação premiada: a) a voluntariedade, que não pode ser

confundida com “espontaneidade”. Assim, basta que decorra de vontade livre e

consciente do sujeito, ainda que sugerido por terceiros; b) relevância das

declarações do colaborador: as declarações do agente devem guardar um nexo de

causalidade com os resultados positivos produzidos na investigação criminal em

curso; c) efetividade da colaboração: o investigado deve colaborar de forma

permanente com as autoridades, colocando-se integralmente a sua disposição para

a elucidação dos fatos investigados.

No Projeto de Lei 156/09 não está previsto explicitamente a delação

premiada. Nele, entretanto, se possibilita que as partes processuais

“consensualmente” disponham sobre o próprio processo criminal, ensejando

aplicação imediata de pena privativa de liberdade, no mínimo legal, desde que seja

concretizado até o início da audiência de instrução e julgamento (artigo 265, in fine e

271 do PL 156/09).

57

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62

ANEXO

MODELO DE ACORDO DE DELAÇÃO PREMIADA REALIZADA NO AMBITO DA

JUSTIÇA FEDERAL18

O Ministério Público Federal – MPF, por intermédio dos Procuradores da

República abaixo-assinados, nos autos da ação penal pública nº.........., que tramita

perante a ................. Vara Criminal Federal.........., vem propor ao réu............... a

formalização de acordo de delação premiada nos termos que se seguem.

I - Base Jurídica

1. O presente acordo funda-se no artigo 129, inciso I, da Constituição Federal,

nos artigos 13 a 15 da Lei nº 9.807/99, bem como no artigo 32, §§2º e 3º, e no

artigo 37, inciso IV, da Lei nº 10.409/2002, e no artigo 265, inciso II, do CPC,

estes aplicados analogicamente, à luz do artigo 3º do CPP. Tais dispositivos

conferem ao Ministério Público o poder discricionário de propor ao indiciado

ou ao réu acordo de redução da pena privativa de liberdade de 1/3 a 2/3, ou o

perdão judicial.

2. O interesse público é atendido com a presente proposta tendo em vista a

necessidade de conferir efetividade à persecução criminal de outros suspeitos

e réus e ampliar e aprofundar, em todo o País, as investigação em torno de

crimes........... (por exemplo: crimes contra a Administração Pública contra o

sistema Financeiro Nacional, contra a ordem tributária, crimes de lavagem de

dinheiro...), inclusive no que diz respeito à repercussão desses ilícitos penais

na esfera cível (atos de improbidade administrativa), tributária e disciplinar.

II – Proposta do Ministério Público Federal

1. Fulano de tal, brasileiro, Identidade nº, CPF nº, doravante denominado

acusado, responde perante a.... Vara Federal Criminal de...... à (s) ação

(ões) penal (is) de nº..... O acusado está ainda sendo investigada em

18 GRANZINOLI, Op. Cit., p. 162-167.

63

diversos inquéritos policiais em trâmite na referida Vara (ou nas Varas...)

como os nº.......

2. Esses inquéritos estão relacionados à atividade do acusado como...... (ou

visam à apuração dos crimes, em tese cometidos, de......)

3. Em vista disto, salvaguarda a necessidade de homologação judicial deste

acordo, o Ministério Público Federal (MPF) oferece ao acusado os

seguintes benefícios legais:

a) Fixação da pena privativa de liberdade que vier a ser aplicada nos

autos da ação penal de nº....., de forma a que seja outorgado ao acusado

direito a regime inicial de cumprimento da pena semi-aberto (ou, sendo o

caso desde logo o regime aberto) e com recomendação para progressão a

partir do cumprimento de um sexto da pena;

b) Fixação de pena de multa no valor de ...., que deverá ser paga

parceladamente e voluntariamente pelo acusado;

c) Suspensão dos inquéritos policiais em relação ao acusado pelo prazo

prescricional com posterior concessão de perdão judicial ou extinção da

punibilidade.

§ 1º Os benefícios não abrangem fatos ilícitos posteriores à data do

acordo nem fatos anteriores que sejam estranhos aos crimes acima

citados aos quais o acusado responde ou sob apuração nos inquéritos

mencionados.

§ 2º Os benefícios propostos não eximem o acusado de obrigação ou

penalidades de cunho administrativo e tributário, eventualmente exigíveis.

§ 3º A eventual sanção privativa de liberdade aplicada ao acusado na ação

penal nº... ..... será executada em estabelecimento prisional que ofereça

segurança à incolumidade física do acusado, com direito de permanecer

preferencialmente em compartimento isolado de outros presos, ouvidos o

acusado e o MPF.

§ 4º Caso a pena mencionada seja aplicada sem qualquer redução, ficará

entendido que os benefícios legais foram concentrados nos outros

processos, ações penais ou inquéritos, aos quais responde o acusado.

§ 5º Se o acusado, por si ou por seu procurador, solicitar medidas para

garantia de sua segurança, a polícia Federal, o MPF e o Juízo Federal

64

adotarão as providências necessárias para sua inclusão imediata no

programa federal de proteção ao depoente especial, com as garantias dos

artigos 8º e 15 da Lei nº 9.807/99.

III – Condições da Proposta

Para que do acordo proposto pelo MPF possam derivar os benefícios

elencados na cláusula II, a colaboração do acusado........ deve ser voluntária, ampla,

efetiva, eficaz e conducente:

a) À identificação de todos os co-autores ou partícipes das ações

criminosas sob investigação no caso “X” (ou nos processos e inquéritos

nºs.....) e fatos conexos ou similares, que sejam ou que venham a ser do seu

conhecimento;

b) A recuperação total ou parcial dos produtos e/ou proveitos desses

crimes, tanto no Brasil, quanto no exterior.

Para tanto, o acusado obriga-se, sem malícia ou reservas mentais e

imediatamente, a:

a) Falar a verdade, incondicionalmente, em todas as ações penais

inclusive na de nº..... acima mencionada, e nos inquéritos policias, inquéritos

civis e ações cíveis e processos administrativos disciplinares, em que

doravante venha a ser chamado a depor na condição de testemunha ou

interrogado, nos limites deste acordo;

b) Indicar pessoas que possam prestar depoimento sobre os fatos em

investigação, nos limites deste acordo, propiciando as informações

necessárias à localização de tais depoentes;

c) Cooperar sempre que solicitado, mediante comparecimento pessoal a

qualquer das sedes do MPF ou da Polícia Federal, para analisar

documentos e provas, reconhecer pessoas, prestar depoimentos, e auxiliar

peritos no INC na análise pericial;

d) Entregar todos os documentos, papéis, escritos, fotográficos, bancos

de dados, arquivo eletrônicos etc., de que disponha, estejam em seu poder

65

ou sob a guarda de terceiros, e que possam contribuir, a juízo do MPF, para

a elucidação de crimes contra a......;

e) Cooperar com o MPF e com outras autoridades públicas por este

apontadas para detalhar o (s) crime (s) “X” (ou o fato ou operação “Y”)

especificamente...... (detalhar o caso e o tipo de cooperação);

f) Renunciar expressamente ao uso da instância recursal nos autos da

ação penal nº....., a partir da homologação judicial do acordo de delação

deixando de impugnar, por qualquer forma, a sentença prolatada nos

referidos autos, desde que sejam observados os parâmetros de pena aqui

acertados;

g) Não impugnar, por qualquer meio, o acordo de delação, em qualquer

dos inquéritos policiais ou ações penais nos quais esteja envolvido, no Brasil

ou no exterior, salvo por fato superveniente à homologação judicial, em

função de descumprimento do acordo pelo MPF ou pelo Juízo Federal;

h) Colaborar amplamente com o MPF e com outras autoridades públicas

por este apontadas em tudo mais que diga respeito ao (s) “X” (“Y”, “Z”....); e

i) Afastar-se de suas atividades em tese criminosas, especialmente........;

j) Pagar voluntariamente e parceladamente a multa que for fixada na

ação penal, oferecendo ainda garantia idônea ao cumprimento desta

obrigação.

Parágrafo único. A enumeração de casos específicos nos quais se reclama

a colaboração do acusado não tem caráter exaustivo, tendo ele o dever

genérico de cooperar, nas formas acima relacionadas, com o MPF ou com

outras autoridades públicas por este apontadas, para o esclarecimento de

quaisquer fatos relacionados às suas atividades...... ou de quaisquer fatos de

que tenha conhecimento em decorrência de tais atividades.

IV – Validade da Prova

A prova obtida mediante a presente avença de delação premiada poderá

ser utilizada, validamente, para a instrução de inquéritos policiais, procedimentos

administrativos criminais, ações penais, ações cíveis e de improbidade

administrativas e inquéritos civis, podendo ser emprestada também ao Ministério

66

Público dos Estados e à Receita Federal e à Procuradoria da Fazenda Nacional para

a instrução de procedimentos e ações fiscais, bem como a qualquer outro órgão

público para a instauração de processo administrativo disciplinar.

V – Garantia Contra a Auto-Incriminação

Ao assinar o acordo de delação premiada, o acusado....... está ciente do

direito constitucional ao silêncio e da garantia contra a auto-incriminação,

renunciando expressamente a ambos, estritamente no que tange aos depoimentos,

comparecimentos e atos necessários ao alcance dos fins da presente avença.

VI – Imprescindibilidade da Defesa Técnica

O acordo de delação somente terá validade se aceito, integralmente, sem

ressalvas, pelo acusado..... e por seu defensor, Dr.............., inscrito na OAB/XX, sob

nº...........

VII – Cláusula de Sigilo

1. Nos termos do artigo 5º, inciso XXXIII, e artigo 93, inciso IX, da

Constituição Federal, combinados com o artigo 7º, inciso VIII, da Lei nº

9.807/99, e com o artigo 20 do CPP, as partes comprometem-se a

preservar o sigilo sobre a presente proposta e o acordo dela

decorrente.

2. O acordo não será juntado em nenhum dos inquéritos civis, inquéritos

policias, ações penais, ações civis ou processos disciplinares em

que........ for chamado a depor ou colaborar.

3. Terceiros incriminados em virtude da cooperação de...... que vieram a

solicitar acesso ao teor do presente acordo poderão ter vista deste

documento em cartório, sem direito a cópia, mediante autorização

judicial fundamentada, com prévio pronunciamento do MPF.

67

VIII – Homologação Judicial

1. Para ter eficácia, a proposta será submetida a homologação judicial,

cabendo à autoridade judiciária preservar sigilo do acordo.

2. A avença será submetida a homologação tão logo seja assinada pelas

partes.

3. O ministério Público Estadual apresentará o presente acordo para

homologação nos Juízos estaduais competentes (sendo o caso)

IX – Controle Judicial

1. O presente acordo de delação premiada tramitará perante a...... Vara

Criminal Federal de....... como procedimento criminal diverso (PCD)

sigiloso, não apenso, sem referencia explícita nos autos principais e sem

menção de tema e partes no sistema informatizado.

2. O controle da efetividade da colaboração será feito mediante a

apresentação de relatórios circunstanciados e periódicos à autoridade

judicial, com prévio pronunciamento do MPF, ouvido o acusado.

3. Os relatórios deverão ser apresentados ao Juízo pelo Ministério

Público ou pela Polícia Federal e serão encartados no PCD.

4. A eficácia do acordo poderá ser sustada a qualquer tempo, com prévia

ouvida das partes, mediante ato judicial fundamentado, atendido o

interesse público.

X – Rescisão

1.O acordo perderá efeito, considerando-se rescindido, ipso facto:

a) Se o acusado descumprir, sem justificativa, qualquer das cláusulas

em relação às quais se obrigou;

b) Se o acusado sonegar a verdade ou mentir em relação a fatos em

apuração, em relação aos quais se obrigou a cooperar;

c) Se vier a recusar-se a prestar qualquer informação de que tenha

conhecimento;

68

d) Se recusar-se a entregar documentos ou provas que tenha em seu

poder ou sob a guarda de pessoa de suas reações ou sujeita a sua

autoridade ou influência;

e) Se ficar provado que o acusado sonegou adultero, destruiu ou

suprimiu provas que tinha em seu poder ou sob sua disponibilidade;

f) Se o acusado vier a praticar qualquer outro crime, após a homologação

judicial da avença;

g) Se o acusado fugir ou tentar furtar-se à ação da Justiça Criminal;

h) Se o MPF vier a oferecer denúncia contra o acusado tendo por base

fatos abrangidos pelo presente acordo;

i) Se, nos autos da ação penal nº.... for proferida sentença condenatória

ou lavrado acórdão que desconsidere o acordo homologado;

j) Se o sigilo a respeito deste acordo for quebrado por parte do acusado e

da Defesa; e

k) Se o acusado, direta ou indiretamente, impugnar os termos deste

acordo ou a sentença que for exarada nos limites acertados neste acordo.

2. Em caso de rescisão do acordo, o acusado.........perderá

automaticamente direito aos benefícios que lhe forem concedidos em

virtude da cooperação com o Ministério Público Federal (e/ou Ministério

Público Estadual).

3. Se a rescisão for imputável ao MPF, ao MPE, ou ao Juízo Federal, o

acusado poderá, a seu critério, cessar a cooperação, com a manutenção

os benefícios já concedidos e validade das provas já produzidas.

E, por estarem concordes, firmam as partes o presente acordo de delação premiada,

em três vias, de igual teor e forma.

69

Cidade, Estado e data.

Pelo MPF: -----------------------------------------------------------------

Procurador (es) da República

Pelo MPE: ----------------------------------------------------------------- Promotor (es) de Justiça

Pela defesa: ----------------------------------------------------------------

Advogado (s)

---------------------------------------------------------------

Acusado

Homologação Judicial: ----------------------------------------------------------------

Juiz Federal