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Banco do Brasil apresenta e patrocina A CESSIBILIDADE CCBB EDUCATIVO 2011

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Cartilha sobre acessibilidade do CCBB

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Page 1: Praticas reflexoes acessibilidade_af

Banco do Brasil apresenta e patrocina

A C E S S I B I L I D A D E

CCBB EDUCATIVO 2011

Page 2: Praticas reflexoes acessibilidade_af

Centro Cultural Banco do Brasil

02 :: ACESSÍVEL PARA QUEM?

08 :: EDUCAÇÃO E MULTISSENSORIALIDADE

12 :: ALTERIDADE E EXPERIMENTAÇÃO

14 :: ARTE, ACESSO, PARTICIPAÇÃO

18 :: A MÚSICA NA PELE

20 :: DINAMISMO

08 12

18

140

2

20

Os encontros Práticas e Reflexões com Educadores, desenvolvidos

pelo CCBB Educativo, tem o intuito de contribuir com os

professores e educadores na discussão dos mais variados

desafios enfrentados em sala de aula. Nesta edição, as atividades têm

como foco o debate sobre a Acessibilidade.

De tamanha amplitude e complexidade, a Acessibilidade é tema que

vem sendo abordado nos mais diversos campos da sociedade:

educacional, empresarial, político, cultural, da saúde, entre outros. É

uma questão que impacta diretamente um dos direitos primordiais do

cidadão: o direito de ir e vir, com segurança e autonomia, a partir do

qual tantos outros são decorrentes.

Com mais esse encontro, o CCBB espera colaborar para o

aprofundamento das discussões sobre o tema e para a criação de

instrumentos e estratégias de mediação que contribuam cada vez

mais para a educação e formação do cidadão.

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Centro Cultural Banco do Brasil

02 :: ACESSÍVEL PARA QUEM?

08 :: EDUCAÇÃO E MULTISSENSORIALIDADE

12 :: ALTERIDADE E EXPERIMENTAÇÃO

14 :: ARTE, ACESSO, PARTICIPAÇÃO

18 :: A MÚSICA NA PELE

20 :: DINAMISMO

08 12

18

14

02

20

Os encontros Práticas e Reflexões com Educadores, desenvolvidos

pelo CCBB Educativo, tem o intuito de contribuir com os

professores e educadores na discussão dos mais variados

desafios enfrentados em sala de aula. Nesta edição, as atividades têm

como foco o debate sobre a Acessibilidade.

De tamanha amplitude e complexidade, a Acessibilidade é tema que

vem sendo abordado nos mais diversos campos da sociedade:

educacional, empresarial, político, cultural, da saúde, entre outros. É

uma questão que impacta diretamente um dos direitos primordiais do

cidadão: o direito de ir e vir, com segurança e autonomia, a partir do

qual tantos outros são decorrentes.

Com mais esse encontro, o CCBB espera colaborar para o

aprofundamento das discussões sobre o tema e para a criação de

instrumentos e estratégias de mediação que contribuam cada vez

mais para a educação e formação do cidadão.

Page 4: Praticas reflexoes acessibilidade_af

ACESSÍVEL PARA QUEM? por Tatiana Henrique

Datam dos anos 80 do século XX, as primeiras conversas em solo brasileiro sobre a necessidade de revisitação de espaços e objetos, a fim de que estes se colocassem à disposição de uso por todas as pessoas, o que se convencionou chamar de acessibilidade*.

Em 1981, acontece o Ano Internacional de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência, efeméride em que se inicia a redação de leis e decretos que estabelecem uma nova ordem nacional. Cerca de 30% da população residente na cidade de São Paulo possui algum tipo de deficiência – dados do IBGE, do censo 2000! – o que mostra o quão emergencial era a transformação dos aparelhos da cidade, para que esses cidadãos pudessem sair da invisibilidade e ser integrados à população total.

Ainda em São Paulo, a partir de 91, quando é sancionada a lei de acessibilidade a estádios esportivos, são redigidos inúmeros outros documentos legais, na tentativa insistente e incansável de fazer com que todos os espaços, urbanos e internos, abriguem a maior diversidade de pessoas.

É natural associar a palavra acessibilidade a uma relação mais direta com a luta das pessoas com deficiência. Aqui, propomos que esse debate seja (é) ampliado a muitos públicos. Uma definição básica deste termo é:

*s.f. Qualidade do que é acessível, do que tem acesso. Facilidade, possibilidade na aquisição, na aproximação: a acessibilidade de um emprego. Fonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

03

Alice abriu a porta e viu que dava para uma pequena passagem, não muito maior que um buraco de rato: ela ajoelhou-se e avistou o mais adorável jardim que jamais vira. Como ela gostaria de sair daquela sala escura e passear por entre aqueles canteiros de flores viçosas e aquelas fontes geladas... mas ela nem mesmo conseguiria fazer passar sua cabeça pela porta; 'e mesmo que a minha cabeça passasse', pensou a pobre Alice, teria pouca utilidade sem meus ombros. Oh! como eu desejo poder encolher como um telescópio. Eu acho que poderia, se ao menos soubesse como começar.

Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll

Se algum lugar, de algum modo, faz com que você não se sinta bem-vindo, qual é a sua reação? Você se lembra de alguma situação em que se viu impedido de ter acesso a alguém ou algo? Qual foi o motivo? A distância, a língua, a sinalização, o preço, a altura, a largura, a luminosidade, o tamanho da fonte do texto, o olhar das pessoas?

A sensação de inadequação em ruas e espaços é algo compartilhado por pessoas com deficiência visual, auditiva, motora, intelectiva, e idosos, crianças, canhotos, obesos, pobres e estrangeiros. Felizmente já começamos a vislumbrar o dia em que não passar pela catraca de ônibus, falta de elevadores para cadeirantes, mobiliários e botões muito altos, falta de sinalização em braille ou inglês ou espanhol vai ser totalmente estranho e incomum.

Ilustração para Alice no País das Maravilhas, de John Tenniel, 1865.

Page 5: Praticas reflexoes acessibilidade_af

ACESSÍVEL PARA QUEM? por Tatiana Henrique

Datam dos anos 80 do século XX, as primeiras conversas em solo brasileiro sobre a necessidade de revisitação de espaços e objetos, a fim de que estes se colocassem à disposição de uso por todas as pessoas, o que se convencionou chamar de acessibilidade*.

Em 1981, acontece o Ano Internacional de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência, efeméride em que se inicia a redação de leis e decretos que estabelecem uma nova ordem nacional. Cerca de 30% da população residente na cidade de São Paulo possui algum tipo de deficiência – dados do IBGE, do censo 2000! – o que mostra o quão emergencial era a transformação dos aparelhos da cidade, para que esses cidadãos pudessem sair da invisibilidade e ser integrados à população total.

Ainda em São Paulo, a partir de 91, quando é sancionada a lei de acessibilidade a estádios esportivos, são redigidos inúmeros outros documentos legais, na tentativa insistente e incansável de fazer com que todos os espaços, urbanos e internos, abriguem a maior diversidade de pessoas.

É natural associar a palavra acessibilidade a uma relação mais direta com a luta das pessoas com deficiência. Aqui, propomos que esse debate seja (é) ampliado a muitos públicos. Uma definição básica deste termo é:

*s.f. Qualidade do que é acessível, do que tem acesso. Facilidade, possibilidade na aquisição, na aproximação: a acessibilidade de um emprego. Fonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

03

Alice abriu a porta e viu que dava para uma pequena passagem, não muito maior que um buraco de rato: ela ajoelhou-se e avistou o mais adorável jardim que jamais vira. Como ela gostaria de sair daquela sala escura e passear por entre aqueles canteiros de flores viçosas e aquelas fontes geladas... mas ela nem mesmo conseguiria fazer passar sua cabeça pela porta; 'e mesmo que a minha cabeça passasse', pensou a pobre Alice, teria pouca utilidade sem meus ombros. Oh! como eu desejo poder encolher como um telescópio. Eu acho que poderia, se ao menos soubesse como começar.

Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll

Se algum lugar, de algum modo, faz com que você não se sinta bem-vindo, qual é a sua reação? Você se lembra de alguma situação em que se viu impedido de ter acesso a alguém ou algo? Qual foi o motivo? A distância, a língua, a sinalização, o preço, a altura, a largura, a luminosidade, o tamanho da fonte do texto, o olhar das pessoas?

A sensação de inadequação em ruas e espaços é algo compartilhado por pessoas com deficiência visual, auditiva, motora, intelectiva, e idosos, crianças, canhotos, obesos, pobres e estrangeiros. Felizmente já começamos a vislumbrar o dia em que não passar pela catraca de ônibus, falta de elevadores para cadeirantes, mobiliários e botões muito altos, falta de sinalização em braille ou inglês ou espanhol vai ser totalmente estranho e incomum.

Ilustração para Alice no País das Maravilhas, de John Tenniel, 1865.

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04

Neste aspecto material nasce o conceito de desenho universal, cuja própria expressão já diz do que se trata: na criação de qualquer objeto ou lugar, é preciso pensar não apenas no produto em si, mas na diversidade humana que entrará em contato com ele. Para ser um produto com desenho universal, o espaço ou objeto devem ser construídos tendo em vista as seguintes características:

Igualitário – portas com sensores que se abram em amplas larguras;�

Adaptável – tesouras para canhotos e destros, e adaptadores para pessoas com �deficiência motora;

Óbvio – a sinalização de sanitários;�

Conhecido – acrescido de relevo e escrita em braille;�

Seguro – elevadores com sensores em alturas diferentes;�

Sem esforço – torneiras com sensores ou maçanetas que podem ser abertas com �o cotovelo;

Abrangente – assentos para obesos e cabines sanitárias para cadeirantes;�

É possível aplicar as ideias de desenho universal em todos os locais, até mesmo em casa, identificando e minimizando a presença de quinas pontiagudas, altura de prateleiras, tapetes escorregadios. Em locais como centros culturais, pode ser observado nas portas e portões, elevadores, balcões de atendimento, corrimãos e rampas.

No entanto, a acessibilidade espacial precisa estar acompanhada de outros modos de praticá-la, pois o valor dos eventos por vezes é um fator determinante no momento da escolha de eventos. Vale lembrar que a desigualdade socioeconômica e cultural no Brasil se reitera não só na renda das famílias, mas acaba se refletindo nas programações artísticas disponíveis à população de classes de baixa renda, devido à inviabilidade de transporte e o custo de ingressos em geral.

Neste sentido, a escola pode ser um personagem mediador excelente, através de seus educadores e educandos, que multiplicam o reconhecimento de locais que acolham a diversidade: em todo núcleo familiar, pode-se encontrar ao menos uma criança, um idoso, uma pessoa com algum tipo de deficiência ou necessidade especial (momentânea ou não), uma gestante ou um parente com menor poder aquisitivo. No contato com os espaços culturais acessíveis, a escola, através desses atores, distribui uma espécie de telescópio de Alice, não para diminuir as pessoas, mas para aproximá-las de toda a maravilha da urbe.

E já que estamos falando de escola, só para não passar despercebido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96, em acordo com a Constituição Federal Brasileira (que estabelece a universalidade do ensino e cultura à sua população), discursa em seu capítulo V sobre os princípios da educação para pessoas com deficiência. Princípios que seguem em discussões sobre o seu desenvolvimento, sobre as diferenças entre integração (manutenção do sistema de educação, adaptando-se à especificidade do educando) e inclusão (em que há o questionamento de todo o sistema e dos procedimentos pedagógicos em relação a toda diversidade discente). Na sua escola, como isso acontece?

Vamos pensar juntos: ao falarmos em Educação, já deveriam estar intrínsecos os princípios inclusivos, seja com relação a questões de deficiência, gênero, etnia ou social, dado que este é um campo de compartilhamento dos valores humanos sincrônica e diacronicamente.

Contemporaneamente, os museus e centros culturais também compartilham dessas propriedades. Assim, recai sobre eles um dever duplo: com a adequação de seu espaço físico – ainda que tombado, uma vez que o patrimônio arquitetônico não pode estar acima do direito humano – e o acesso aos bens culturais que propagam, dada às suas funções de guarda e de exibição do acervo ou programações temporárias e de educação.

Esta última função normalmente recai sobre os setores educativos que, através de sua metodologia pedagógica, possuem estratégias alternativas ao que possa faltar em exposições, por exemplo.

A criação de réplicas táteis para cegos ou pessoas com baixa visão, intérpretes em LIBRAS e mobiliários rebaixados são apenas o início da abordagem mediativa acessível. Ela só vai se completar na conversa: o que se percebe ao tocar as réplicas, ao sentir a vibração do som da videoinstalação, ao ser engolido pela dimensão da instalação, ao passar por debaixo da porta centenária pela qual passavam os mais ricos da cidade?

Construindo perguntas e respostas, comunicando ideias e sensações, entrelaçando saberes e habilidades, as ações educativas se tornam inclusivas. A mediação é a acessibilidade, transmaterial e dialógica, além de leis, decretos, plenamente tornada viva. E que, principalmente, pode estimular uma fruição mais autônoma e coletiva possível.

É através dessas práticas que o maior fato de inacessibilidade é eliminado: o olhar do outro. Não bastam documentos escritos e assinados, locais preparados se o aparelho humano não se abre para acolher a diversidade de público. É preciso abrir os sentidos para aprendercom quem está ao meu lado, independentemente de sua idade, contorno físico ou sistema de comunicação.

É esse o convite que nós fazemos a você, educador: vivenciar uma experiência acessível. Seguem as instruções de bordo...

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Neste aspecto material nasce o conceito de desenho universal, cuja própria expressão já diz do que se trata: na criação de qualquer objeto ou lugar, é preciso pensar não apenas no produto em si, mas na diversidade humana que entrará em contato com ele. Para ser um produto com desenho universal, o espaço ou objeto devem ser construídos tendo em vista as seguintes características:

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É possível aplicar as ideias de desenho universal em todos os locais, até mesmo em casa, identificando e minimizando a presença de quinas pontiagudas, altura de prateleiras, tapetes escorregadios. Em locais como centros culturais, pode ser observado nas portas e portões, elevadores, balcões de atendimento, corrimãos e rampas.

No entanto, a acessibilidade espacial precisa estar acompanhada de outros modos de praticá-la, pois o valor dos eventos por vezes é um fator determinante no momento da escolha de eventos. Vale lembrar que a desigualdade socioeconômica e cultural no Brasil se reitera não só na renda das famílias, mas acaba se refletindo nas programações artísticas disponíveis à população de classes de baixa renda, devido à inviabilidade de transporte e o custo de ingressos em geral.

Neste sentido, a escola pode ser um personagem mediador excelente, através de seus educadores e educandos, que multiplicam o reconhecimento de locais que acolham a diversidade: em todo núcleo familiar, pode-se encontrar ao menos uma criança, um idoso, uma pessoa com algum tipo de deficiência ou necessidade especial (momentânea ou não), uma gestante ou um parente com menor poder aquisitivo. No contato com os espaços culturais acessíveis, a escola, através desses atores, distribui uma espécie de telescópio de Alice, não para diminuir as pessoas, mas para aproximá-las de toda a maravilha da urbe.

E já que estamos falando de escola, só para não passar despercebido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96, em acordo com a Constituição Federal Brasileira (que estabelece a universalidade do ensino e cultura à sua população), discursa em seu capítulo V sobre os princípios da educação para pessoas com deficiência. Princípios que seguem em discussões sobre o seu desenvolvimento, sobre as diferenças entre integração (manutenção do sistema de educação, adaptando-se à especificidade do educando) e inclusão (em que há o questionamento de todo o sistema e dos procedimentos pedagógicos em relação a toda diversidade discente). Na sua escola, como isso acontece?

Vamos pensar juntos: ao falarmos em Educação, já deveriam estar intrínsecos os princípios inclusivos, seja com relação a questões de deficiência, gênero, etnia ou social, dado que este é um campo de compartilhamento dos valores humanos sincrônica e diacronicamente.

Contemporaneamente, os museus e centros culturais também compartilham dessas propriedades. Assim, recai sobre eles um dever duplo: com a adequação de seu espaço físico – ainda que tombado, uma vez que o patrimônio arquitetônico não pode estar acima do direito humano – e o acesso aos bens culturais que propagam, dada às suas funções de guarda e de exibição do acervo ou programações temporárias e de educação.

Esta última função normalmente recai sobre os setores educativos que, através de sua metodologia pedagógica, possuem estratégias alternativas ao que possa faltar em exposições, por exemplo.

A criação de réplicas táteis para cegos ou pessoas com baixa visão, intérpretes em LIBRAS e mobiliários rebaixados são apenas o início da abordagem mediativa acessível. Ela só vai se completar na conversa: o que se percebe ao tocar as réplicas, ao sentir a vibração do som da videoinstalação, ao ser engolido pela dimensão da instalação, ao passar por debaixo da porta centenária pela qual passavam os mais ricos da cidade?

Construindo perguntas e respostas, comunicando ideias e sensações, entrelaçando saberes e habilidades, as ações educativas se tornam inclusivas. A mediação é a acessibilidade, transmaterial e dialógica, além de leis, decretos, plenamente tornada viva. E que, principalmente, pode estimular uma fruição mais autônoma e coletiva possível.

É através dessas práticas que o maior fato de inacessibilidade é eliminado: o olhar do outro. Não bastam documentos escritos e assinados, locais preparados se o aparelho humano não se abre para acolher a diversidade de público. É preciso abrir os sentidos para aprendercom quem está ao meu lado, independentemente de sua idade, contorno físico ou sistema de comunicação.

É esse o convite que nós fazemos a você, educador: vivenciar uma experiência acessível. Seguem as instruções de bordo...

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0706

Substitua o termo normalidade por diversidade. Não se pode mais falar sobre o ser humano, mas os inúmeros tipos de seres humanos.

Comece a perceber tudo sobre o que conversamos aqui: se coloque em alturas diferentes, imagine-se com larguras diferentes, com metade do dinheiro que você tem na sua carteira, falando uma outra língua, feche seus olhos, seus ouvidos.

Passeie pelo CCBB e observe a quantidade de cores e linhas presentes nas pessoas ao seu redor. Algumas vão se parecer mais ou menos com você, mas nunca serão tão iguais ou tão diferentes. Exercite sua alteridade.

Seja bem-vindo ao jardim de Alice n

O artista e designer Roxane Andrès cria vários objetos para crianças em hospitais, a fim de que elas recriem partes do corpo ou encarem os materiais típicos desses locais de um modo mais divertido.

Referências disponíveis na internetDesenho universal: um conceito para todos. De Ana Claudia Carletto e Silvana Cambiaghi.

Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência. Presidência da República; Secretaria Especial de Direitos Humanos; Coordenadoria Nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Presidência da República; Casa Civil; Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Todas as crianças são bem-vindas à escola. Maria Teresa Eglér Mantoan.

Alice no país das maravilhas. Lewis Carroll.

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Roxane AndrèsO Conto de intervenção, La Ceinture d´intervention Exposição Saint Etienne Cité du DesignerCCBB - 2009

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Substitua o termo normalidade por diversidade. Não se pode mais falar sobre o ser humano, mas os inúmeros tipos de seres humanos.

Comece a perceber tudo sobre o que conversamos aqui: se coloque em alturas diferentes, imagine-se com larguras diferentes, com metade do dinheiro que você tem na sua carteira, falando uma outra língua, feche seus olhos, seus ouvidos.

Passeie pelo CCBB e observe a quantidade de cores e linhas presentes nas pessoas ao seu redor. Algumas vão se parecer mais ou menos com você, mas nunca serão tão iguais ou tão diferentes. Exercite sua alteridade.

Seja bem-vindo ao jardim de Alice n

O artista e designer Roxane Andrès cria vários objetos para crianças em hospitais, a fim de que elas recriem partes do corpo ou encarem os materiais típicos desses locais de um modo mais divertido.

Referências disponíveis na internetDesenho universal: um conceito para todos. De Ana Claudia Carletto e Silvana Cambiaghi.

Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência. Presidência da República; Secretaria Especial de Direitos Humanos; Coordenadoria Nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Presidência da República; Casa Civil; Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Todas as crianças são bem-vindas à escola. Maria Teresa Eglér Mantoan.

Alice no país das maravilhas. Lewis Carroll.

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Roxane AndrèsO Conto de intervenção, La Ceinture d´intervention Exposição Saint Etienne Cité du DesignerCCBB - 2009

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EDUCAÇÃO E MULTISSENSORIALIDADE

pelo Grupo de Pesquisa em Acessibilidade

Durante muito tempo, os trabalhos feitos em Artes Visuais, como o próprio termo nos diz, eram apreendidos através da lógica da visão, devendo os outros quatro sentidos se comportarem como coadjuvantes. Diziam os gregos, inclusive, que enxergávamos as coisas devido a uma luz emitida pelos olhos que iluminava os objetos. Ainda hoje, poeticamente se afirma que os olhos são como portais de nossa alma.

Vamos lembrar também que, por um longo período da história, sofremos uma educação que procurava minimizar as funções do corpo, evitando, principalmente, os sentidos como o olfato, o mais primitivo, e o tato, o mais relacional de todos.

Contudo, a relação entre os sentidos sempre esteve presente na Arte, despertando o público para sensações diversas. Quem vê o desenho de um abacaxi pode salivar porque se lembra do gosto agridoce da fruta ou imaginar a textura de sua casca e coroa.

Com o passar do tempo, materiais, suporte e mesmo o papel daquele que usufrui da arte foram sendo repensados. A própria definição do que é pintura se transformou na atualidade. Além da tradicional tela, outros suportes passaram a ser utilizados como um pedaço de alfinete, um prédio e até o próprio corpo. Este processo tornou a Arte mais sinestésica, ou seja, capaz de ser apreendida através de mais de um dos sentidos. Uma instalação, por exemplo, proporciona discussões sobre a relação do corpo com o espaço, pode ter cheiros, cores e muitas vezes só existe no momento em que o espectador se torna sujeito ativo e a adentra.

Que tal visualizar uma pintura por meio de uma descrição, perceber o desenho de uma escultura através do tato ou experimentar uma música percebendo sua vibração? Modos não convencionais de conhecer e interagir com a obra de arte viabilizam a acessibilidade de pessoas com deficiência e são uma possibilidade instigante para os demais visitantes de uma exposição. Quando um de nossos sentidos é vedado, ativamos outros canais de percepção, os quais muitas vezes não utilizamos em toda a sua potência.

A obra de Hélio Oiticica é um bom exemplo de multissensorialidade. O Parangolé faz não só o espectador contemplar a cor, como também vestir-se dela, ou seja, ser a própria cor. Ele passa a senti-la pelo movimento dos panos. Wassili Kandinsky, no início do século XX, propôs uma equação que aproximava a pintura da música. Ele falava do movimento ritmado da composição, do rufar dos tambores, da pulsação – tudo através das cores.

Lauro Müller toma esse translado como parte de seu processo poético: da pintura para o espaço, a cor deixa de ser elemento e se torna corpo e volume. Como ele mesmo afirma:

“A principal responsabilidade do artista é criar mundos novos, um campo de expressão humana através de sua arte, empurrando fronteiras, derrubando limites. Levo isso ao pé da letra: Minhas cores saem dos quadros, as formas encontram seus próprios espaços”.

Lauro MullerPintura Abstrata Floresta Tropical, 600 x 500 cmtinta acrílica sobre tela recortadaExposição Museu de Arte ModernaRio de Janeiro

1994-2006

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EDUCAÇÃO E MULTISSENSORIALIDADE

pelo Grupo de Pesquisa em Acessibilidade

Durante muito tempo, os trabalhos feitos em Artes Visuais, como o próprio termo nos diz, eram apreendidos através da lógica da visão, devendo os outros quatro sentidos se comportarem como coadjuvantes. Diziam os gregos, inclusive, que enxergávamos as coisas devido a uma luz emitida pelos olhos que iluminava os objetos. Ainda hoje, poeticamente se afirma que os olhos são como portais de nossa alma.

Vamos lembrar também que, por um longo período da história, sofremos uma educação que procurava minimizar as funções do corpo, evitando, principalmente, os sentidos como o olfato, o mais primitivo, e o tato, o mais relacional de todos.

Contudo, a relação entre os sentidos sempre esteve presente na Arte, despertando o público para sensações diversas. Quem vê o desenho de um abacaxi pode salivar porque se lembra do gosto agridoce da fruta ou imaginar a textura de sua casca e coroa.

Com o passar do tempo, materiais, suporte e mesmo o papel daquele que usufrui da arte foram sendo repensados. A própria definição do que é pintura se transformou na atualidade. Além da tradicional tela, outros suportes passaram a ser utilizados como um pedaço de alfinete, um prédio e até o próprio corpo. Este processo tornou a Arte mais sinestésica, ou seja, capaz de ser apreendida através de mais de um dos sentidos. Uma instalação, por exemplo, proporciona discussões sobre a relação do corpo com o espaço, pode ter cheiros, cores e muitas vezes só existe no momento em que o espectador se torna sujeito ativo e a adentra.

Que tal visualizar uma pintura por meio de uma descrição, perceber o desenho de uma escultura através do tato ou experimentar uma música percebendo sua vibração? Modos não convencionais de conhecer e interagir com a obra de arte viabilizam a acessibilidade de pessoas com deficiência e são uma possibilidade instigante para os demais visitantes de uma exposição. Quando um de nossos sentidos é vedado, ativamos outros canais de percepção, os quais muitas vezes não utilizamos em toda a sua potência.

A obra de Hélio Oiticica é um bom exemplo de multissensorialidade. O Parangolé faz não só o espectador contemplar a cor, como também vestir-se dela, ou seja, ser a própria cor. Ele passa a senti-la pelo movimento dos panos. Wassili Kandinsky, no início do século XX, propôs uma equação que aproximava a pintura da música. Ele falava do movimento ritmado da composição, do rufar dos tambores, da pulsação – tudo através das cores.

Lauro Müller toma esse translado como parte de seu processo poético: da pintura para o espaço, a cor deixa de ser elemento e se torna corpo e volume. Como ele mesmo afirma:

“A principal responsabilidade do artista é criar mundos novos, um campo de expressão humana através de sua arte, empurrando fronteiras, derrubando limites. Levo isso ao pé da letra: Minhas cores saem dos quadros, as formas encontram seus próprios espaços”.

Lauro MullerPintura Abstrata Floresta Tropical, 600 x 500 cmtinta acrílica sobre tela recortadaExposição Museu de Arte ModernaRio de Janeiro

1994-2006

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Esses exemplos oferecem um caminho para nós, educadores: perceber que cada obra já oferece nela mesma as vias de arte-educação inclusiva. Não existe fórmula preestabelecida a ser aplicada, mas apenas observação. Assim como os artistas, no seu fazer, transformam ideias ao mesmo tempo em pintura (uma obra de superfície plana) ou em uma instalação (uma obra espacial), estamos atentos a esse tipo de percepção no trabalho de acessibilidade em exposições.

É pensando nessas questões que museus, instituições e centros culturais vêm atingindo um público ampliado. No Setor Educativo do Centro Cultural Banco do Brasil, o Grupo de Pesquisa em Acessibilidade preocupa-se justamente com isso: o estudo e a elaboração de visitas e atividades especialmente desenvolvidas para pessoas cegas, com baixa visão, surdas ou com deficiência intelectual, contando com uma equipe composta de educadores de diversas áreas do conhecimento e de especialistas em LIBRAS e braille.

A exposição Expedição Langsdorff, realizada no início de 2010, é um bom exemplo desta abordagem multissensorial e de como foi possível transpor desafios. Uma vez que se tratava de uma exposição de cunho histórico, encontravam-se dificuldades bidimensionais – documentos, aquarelas, gravuras – que precisaram ser transladadas para o universo tridimensional.

Foram esculpidas placas em alto relevo – as imagens planas contidas nas aquarelas foram transformadas em objetos. Foi elaborado um folder em braille, e disponibilizadas visitas com audiodescrição e visita em LIBRAS – esta última, parte de nossa programação permanente.

É sempre importante frisar que esse tipo de cuidado é positivo não apenas para o público com deficiência, mas para os demais, pois a ação educativa inclusiva não passa despercebida, torna-se uma intervenção criativa no espaço expositivo, acrescendo percepções a todos os visitantes.

A mediação cultural tem um importante papel para visitantes com ou sem deficiência, pois vai muito além da descrição ou das informações sobre as obras. Trata-se de um ato que provoca reflexões e instiga a participação do visitante de forma autônoma, independente de conhecimento prévio, contribuindo, assim, para uma experiência significativa. Afinal, acessibilidade está intimamente ligada ao direito que o indivíduo deve ter: a autonomia de ir, vir e permanecer. n

Conheça um pouco do trabalho desenvolvido no CCBB

Visita Sensorial - com materiais táteis, visa ao atendimento do público cego e com baixa visão, de modo que ele vivencie o espaço e a arquitetura do prédio de uma maneira diferenciada, valorizando a multissensorialidade. O público poderá tocar o edifício ao mesmo tempo em que um educador lhe fornece informações e descrições. O público vidente também pode participar da visita, utilizando vendas nos olhos.

Visita em LIBRAS - o educativo conta com três educadores especializados em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), sendo um deles surdo. Essas visitas podem abordar tanto a história do prédio quanto as exposições em cartaz. Pessoas ouvintes que são fluentes em LIBRAS também podem participar.

Visita Sensorial, CCBB Educativo SPFoto Gabriela Gil

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Esses exemplos oferecem um caminho para nós, educadores: perceber que cada obra já oferece nela mesma as vias de arte-educação inclusiva. Não existe fórmula preestabelecida a ser aplicada, mas apenas observação. Assim como os artistas, no seu fazer, transformam ideias ao mesmo tempo em pintura (uma obra de superfície plana) ou em uma instalação (uma obra espacial), estamos atentos a esse tipo de percepção no trabalho de acessibilidade em exposições.

É pensando nessas questões que museus, instituições e centros culturais vêm atingindo um público ampliado. No Setor Educativo do Centro Cultural Banco do Brasil, o Grupo de Pesquisa em Acessibilidade preocupa-se justamente com isso: o estudo e a elaboração de visitas e atividades especialmente desenvolvidas para pessoas cegas, com baixa visão, surdas ou com deficiência intelectual, contando com uma equipe composta de educadores de diversas áreas do conhecimento e de especialistas em LIBRAS e braille.

A exposição Expedição Langsdorff, realizada no início de 2010, é um bom exemplo desta abordagem multissensorial e de como foi possível transpor desafios. Uma vez que se tratava de uma exposição de cunho histórico, encontravam-se dificuldades bidimensionais – documentos, aquarelas, gravuras – que precisaram ser transladadas para o universo tridimensional.

Foram esculpidas placas em alto relevo – as imagens planas contidas nas aquarelas foram transformadas em objetos. Foi elaborado um folder em braille, e disponibilizadas visitas com audiodescrição e visita em LIBRAS – esta última, parte de nossa programação permanente.

É sempre importante frisar que esse tipo de cuidado é positivo não apenas para o público com deficiência, mas para os demais, pois a ação educativa inclusiva não passa despercebida, torna-se uma intervenção criativa no espaço expositivo, acrescendo percepções a todos os visitantes.

A mediação cultural tem um importante papel para visitantes com ou sem deficiência, pois vai muito além da descrição ou das informações sobre as obras. Trata-se de um ato que provoca reflexões e instiga a participação do visitante de forma autônoma, independente de conhecimento prévio, contribuindo, assim, para uma experiência significativa. Afinal, acessibilidade está intimamente ligada ao direito que o indivíduo deve ter: a autonomia de ir, vir e permanecer. n

Conheça um pouco do trabalho desenvolvido no CCBB

Visita Sensorial - com materiais táteis, visa ao atendimento do público cego e com baixa visão, de modo que ele vivencie o espaço e a arquitetura do prédio de uma maneira diferenciada, valorizando a multissensorialidade. O público poderá tocar o edifício ao mesmo tempo em que um educador lhe fornece informações e descrições. O público vidente também pode participar da visita, utilizando vendas nos olhos.

Visita em LIBRAS - o educativo conta com três educadores especializados em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), sendo um deles surdo. Essas visitas podem abordar tanto a história do prédio quanto as exposições em cartaz. Pessoas ouvintes que são fluentes em LIBRAS também podem participar.

Visita Sensorial, CCBB Educativo SPFoto Gabriela Gil

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A Ideia...Como é possível tornar um produto cujo apelo é visual acessível à um pessoa cega? Um comercial, por exemplo, pode apontar as características de um produto e não dizer seu nome, nem seu formato. Como um cego poderia comprá-lo? Um filme pode terminar apenas com uma cena de um beijo, mas sem nenhuma fala. Qual seria o final do filme para uma pessoa com deficiência visual?

Por meio da audiodescrição, isto é da “tradução” da linguagem visual para a verbal, podemos tornar acessíveis as informações visuais para essas pessoas.

Na atividade a seguir, propomos essa experiência a você e seu grupo.

Os cartazes russos são um bom exemplo de acessibilidade antes mesmo dessa temática estar em voga: a utilização de fontes que fossem simples de serem lidas e de imagens que transmitissem a mensagem para os analfabetos buscavam mostrar o máximo de informação em um mínimo de espaço. E pra você: é possível perceber a mensagem através das imagens, mesmo sem conhecer a língua russa?

A Prática...Para sensibilizar os participantes antes da atividade, você deve vendá-los. Em seguida, passe uma cena de um filme com poucas falas e muitas imagens ou de um comercial de TV. Eles conseguiram compreender do que se tratava o filme ou o comercial? O que faltou?

Depois de tirarem as vendas, divida-os em grupos de cinco. Para cada grupo entregue uma imagem: um edifício, uma pintura, uma fotografia. Nenhum grupo pode ver a imagem do outro. Converse sobre as imagens e a maneira como as descreveriam à primeira vista. Deixe que se reúnam, discutam e pesquisem.

Após essa fase, peça que escrevam um roteiro sobre as imagens, tendo em mente que ele terá a função de descrevê-las a uma pessoa cega.

Você ainda pode apresentar um trecho de filme ou propaganda com audiodescrição (disponível na internet ).

Essa atividade proporciona a discussão tanto sobre questões de acessibilidade quanto sobre as informações que são necessárias à compreensão do mundo e, também, da diferença entre a linguagem verbal e a visual.

E agora: será que seus alunos percebem o mundo de uma maneira diferente?

n

ALTERIDADE E EXPERIMENTAÇÃOpor Angélica Ferreira

ALEKSANDR RÓDTCHENKO

Dobrolet. Envergonhe-se, o seu nome ainda não está presente em listas de acionistas de Drobolet. Todo o país está assistindo esta lista, 1923Cromo-litogravura, 108 x 71 cm Legado em 1931, Leningrado

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A Ideia...Como é possível tornar um produto cujo apelo é visual acessível à um pessoa cega? Um comercial, por exemplo, pode apontar as características de um produto e não dizer seu nome, nem seu formato. Como um cego poderia comprá-lo? Um filme pode terminar apenas com uma cena de um beijo, mas sem nenhuma fala. Qual seria o final do filme para uma pessoa com deficiência visual?

Por meio da audiodescrição, isto é da “tradução” da linguagem visual para a verbal, podemos tornar acessíveis as informações visuais para essas pessoas.

Na atividade a seguir, propomos essa experiência a você e seu grupo.

Os cartazes russos são um bom exemplo de acessibilidade antes mesmo dessa temática estar em voga: a utilização de fontes que fossem simples de serem lidas e de imagens que transmitissem a mensagem para os analfabetos buscavam mostrar o máximo de informação em um mínimo de espaço. E pra você: é possível perceber a mensagem através das imagens, mesmo sem conhecer a língua russa?

A Prática...Para sensibilizar os participantes antes da atividade, você deve vendá-los. Em seguida, passe uma cena de um filme com poucas falas e muitas imagens ou de um comercial de TV. Eles conseguiram compreender do que se tratava o filme ou o comercial? O que faltou?

Depois de tirarem as vendas, divida-os em grupos de cinco. Para cada grupo entregue uma imagem: um edifício, uma pintura, uma fotografia. Nenhum grupo pode ver a imagem do outro. Converse sobre as imagens e a maneira como as descreveriam à primeira vista. Deixe que se reúnam, discutam e pesquisem.

Após essa fase, peça que escrevam um roteiro sobre as imagens, tendo em mente que ele terá a função de descrevê-las a uma pessoa cega.

Você ainda pode apresentar um trecho de filme ou propaganda com audiodescrição (disponível na internet ).

Essa atividade proporciona a discussão tanto sobre questões de acessibilidade quanto sobre as informações que são necessárias à compreensão do mundo e, também, da diferença entre a linguagem verbal e a visual.

E agora: será que seus alunos percebem o mundo de uma maneira diferente?

n

ALTERIDADE E EXPERIMENTAÇÃOpor Angélica Ferreira

ALEKSANDR RÓDTCHENKO

Dobrolet. Envergonhe-se, o seu nome ainda não está presente em listas de acionistas de Drobolet. Todo o país está assistindo esta lista, 1923Cromo-litogravura, 108 x 71 cm Legado em 1931, Leningrado

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Palavras como experiência, participação, interatividade estão marcadas quase que indissociavelmente na produção de arte contemporânea. São premissas para diversos trabalhos e para prática de muitos artistas: a obra deve ser ativada em sua potência, ser acessada.

Pensar no acesso às obras envolve uma perspectiva abrangente, a começar pelas expectativas de educadores em relação ao público, às obras e aos possíveis relacionamentos entre ambos.

Neste sentido, quando o foco de atuação do mediador é o público com deficiência, algumas questões merecem uma reflexão ainda mais ampla, considerando de antemão que a

1exposição é o lugar onde dois corpos potentes de ativação se encontram.

De um lado está o público: diverso, múltiplo, potente de possibilidades e percepções que se dão a partir de seu corpo, atuante num movimento ininterrupto na construção de sentidos. Um corpo que escuta, vê, pensa e sente na medida de suas possibilidades: pode ver com as mãos, escutar com os olhos, pensar com o sentimento, sentir pensando.

Do outro lado, à espera do encontro, está a obra: plena de sentidos que se manifestam por meio também de seu corpo, constituído de matéria e conceitos.

No âmbito da educação pela arte, o mediador (seja o professor ou o educador de uma instituição cultural) é quem presencia este encontro íntimo entre público e obra. Seu papel é determinante: sua presença pode tornar-se um elemento facilitador ou uma interferência, a depender justamente do que espera que o outro (o público) experiencie. Em geral, o risco de obstruir o acesso e a participação do público a um único tipo de experiência válida advém do fato de tomar como referência um tipo específico de percepção sensorial, cognitiva e sensível, ignorando que há outras formas de ver, sentir e pensar.

Quando o objetivo é promover o acesso, o mediador deve ampliar seu foco de atuação. Sua ”meta” deve estar na experiência como processo e não como ponto de chegada. Ela é duração, intercurso, construção de sentidos, individual em primeira instância.

ARTE, ACESSO, PARTICIPAÇÃOpor Valquíria Prates

Guilherme TeixeiraRolê, 2010Escultura em madeira, rodas de skate, rolamentos e lixa

1. Merleau-Ponty, M. (1999). Fenomenologia da percepção. 2 a. Ed. São. Paulo: Martins Fontes. (Texto original publicado em 1945).DEWEY, J. A Arte como Experiência. São Paulo, Ed Martins Fontes, 2010. (texto original de 1934).

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Palavras como experiência, participação, interatividade estão marcadas quase que indissociavelmente na produção de arte contemporânea. São premissas para diversos trabalhos e para prática de muitos artistas: a obra deve ser ativada em sua potência, ser acessada.

Pensar no acesso às obras envolve uma perspectiva abrangente, a começar pelas expectativas de educadores em relação ao público, às obras e aos possíveis relacionamentos entre ambos.

Neste sentido, quando o foco de atuação do mediador é o público com deficiência, algumas questões merecem uma reflexão ainda mais ampla, considerando de antemão que a

1exposição é o lugar onde dois corpos potentes de ativação se encontram.

De um lado está o público: diverso, múltiplo, potente de possibilidades e percepções que se dão a partir de seu corpo, atuante num movimento ininterrupto na construção de sentidos. Um corpo que escuta, vê, pensa e sente na medida de suas possibilidades: pode ver com as mãos, escutar com os olhos, pensar com o sentimento, sentir pensando.

Do outro lado, à espera do encontro, está a obra: plena de sentidos que se manifestam por meio também de seu corpo, constituído de matéria e conceitos.

No âmbito da educação pela arte, o mediador (seja o professor ou o educador de uma instituição cultural) é quem presencia este encontro íntimo entre público e obra. Seu papel é determinante: sua presença pode tornar-se um elemento facilitador ou uma interferência, a depender justamente do que espera que o outro (o público) experiencie. Em geral, o risco de obstruir o acesso e a participação do público a um único tipo de experiência válida advém do fato de tomar como referência um tipo específico de percepção sensorial, cognitiva e sensível, ignorando que há outras formas de ver, sentir e pensar.

Quando o objetivo é promover o acesso, o mediador deve ampliar seu foco de atuação. Sua ”meta” deve estar na experiência como processo e não como ponto de chegada. Ela é duração, intercurso, construção de sentidos, individual em primeira instância.

ARTE, ACESSO, PARTICIPAÇÃOpor Valquíria Prates

Guilherme TeixeiraRolê, 2010Escultura em madeira, rodas de skate, rolamentos e lixa

1. Merleau-Ponty, M. (1999). Fenomenologia da percepção. 2 a. Ed. São. Paulo: Martins Fontes. (Texto original publicado em 1945).DEWEY, J. A Arte como Experiência. São Paulo, Ed Martins Fontes, 2010. (texto original de 1934).

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A experiência, lembrando Merleau Ponty (França, 1908-1961), reside no espectador e é entranhada a partir do conjunto de variáveis que constitui sua singularidade. Desta forma, se o público não enxerga, não escuta, tem mobilidade reduzida ou qualquer tipo de deficiência intelectual, é preciso considerar que nada disso constitui um impedimento à vivência de experiências poderosas e plenas; ao contrário, a arte espera a participação ativa de toda e qualquer pessoa que se dispuser a ativá-la no encontro.

Nos últimos 12 anos venho me dedicando às práticas de mediação em diferentes instâncias do trabalho com arte, em especial à curadoria e à ação educativa em exposições de arte. Grande parte de meu interesse está justamente na preparação de propostas de mediação acessíveis e abrangentes, considerando o público num enfoque expandido de interesses e possibilidades. A ideia não é preparar ações específicas para o público com deficiências, mas sim planejar e construir 'ambientes' de mediação, que possam acolher qualquer pessoa que queira experimentar arte. Meu foco de atuação, desta forma, é a preparação do espaço físico da exposição e de instâncias que mediam as obras: textos escritos, falados, subentendidos ou explícitos.

Acredito que o mediador deve, em primeira atitude de planejamento, vasculhar a plataforma da exposição em busca de territórios onde o acesso às obras possa acontecer sem obstruções, para enfatizar nelas suas ações. Pensar em caminhos de acesso físico, promover soluções para a visibilidade dos trabalhos e dos textos que mediam a exposição. É justamente a falta de planejamento para o acesso físico que prejudica, em muito, as condições de desempenho da pessoa com deficiência no ato de visitar exposições. Mas contar apenas com a acessibilidade física não é o bastante. Esta é a primeira medida de equiparação de oportunidades; mas, para promover de fato o acesso, o educador precisa estar atento às suas próprias expectativas, perceber que o contato com as obras se dá simultaneamente em duas camadas e níveis que estão no entorno da experiência: no lugar-exposição e na emancipação do público numa perspectiva mais ampla. E perceber que como mediador, só poderá ser espectador do encontro entre o público e a obra, um espectador que leva elementos adicionais a este momento de partilha de sentidos.

16

Para isso, penso que é importante validar de forma enfática as experiências vividas pelo público com deficiência, acentuar sua autoria de sentidos elaborados para as obras e as diferentes formas de se relacionar com cada trabalho. Isso pode ser estimulado a partir da realização de diferentes atividades de mediação, algumas mais práticas como ateliês e oficinas, outras mais reflexivas como palestras, aulas abertas e seminários, por exemplo.

É na partilha do encontro individual público-obra, presenciado pelo mediador, que ocorrem estas afirmações de autonomia. O público precisa acreditar que é por estarmos vivos que a arte existe - e não o contrário - e, desta forma, ter certeza de que suas impressões, ideias e sentimentos são reais e importantes porque constituem seu relacionamento individual com a obra. A partir daí, em conversa e troca com o mediador, o público precisa saber que pode ser livre para concordar ou discordar da mediação da instituição, do curador, do artista e do próprio educador.

Por isso, como mediadora, fico feliz sempre que presencio o milagre do encontro da vida com a arte sem restrições de experiência entre estes, que são dois corpos potentes de vida: uma pessoa (que sente, vive, pensa e vibra) e uma obra (que carrega sentimentos, vida, pensamentos e também vibra). n

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A experiência, lembrando Merleau Ponty (França, 1908-1961), reside no espectador e é entranhada a partir do conjunto de variáveis que constitui sua singularidade. Desta forma, se o público não enxerga, não escuta, tem mobilidade reduzida ou qualquer tipo de deficiência intelectual, é preciso considerar que nada disso constitui um impedimento à vivência de experiências poderosas e plenas; ao contrário, a arte espera a participação ativa de toda e qualquer pessoa que se dispuser a ativá-la no encontro.

Nos últimos 12 anos venho me dedicando às práticas de mediação em diferentes instâncias do trabalho com arte, em especial à curadoria e à ação educativa em exposições de arte. Grande parte de meu interesse está justamente na preparação de propostas de mediação acessíveis e abrangentes, considerando o público num enfoque expandido de interesses e possibilidades. A ideia não é preparar ações específicas para o público com deficiências, mas sim planejar e construir 'ambientes' de mediação, que possam acolher qualquer pessoa que queira experimentar arte. Meu foco de atuação, desta forma, é a preparação do espaço físico da exposição e de instâncias que mediam as obras: textos escritos, falados, subentendidos ou explícitos.

Acredito que o mediador deve, em primeira atitude de planejamento, vasculhar a plataforma da exposição em busca de territórios onde o acesso às obras possa acontecer sem obstruções, para enfatizar nelas suas ações. Pensar em caminhos de acesso físico, promover soluções para a visibilidade dos trabalhos e dos textos que mediam a exposição. É justamente a falta de planejamento para o acesso físico que prejudica, em muito, as condições de desempenho da pessoa com deficiência no ato de visitar exposições. Mas contar apenas com a acessibilidade física não é o bastante. Esta é a primeira medida de equiparação de oportunidades; mas, para promover de fato o acesso, o educador precisa estar atento às suas próprias expectativas, perceber que o contato com as obras se dá simultaneamente em duas camadas e níveis que estão no entorno da experiência: no lugar-exposição e na emancipação do público numa perspectiva mais ampla. E perceber que como mediador, só poderá ser espectador do encontro entre o público e a obra, um espectador que leva elementos adicionais a este momento de partilha de sentidos.

16

Para isso, penso que é importante validar de forma enfática as experiências vividas pelo público com deficiência, acentuar sua autoria de sentidos elaborados para as obras e as diferentes formas de se relacionar com cada trabalho. Isso pode ser estimulado a partir da realização de diferentes atividades de mediação, algumas mais práticas como ateliês e oficinas, outras mais reflexivas como palestras, aulas abertas e seminários, por exemplo.

É na partilha do encontro individual público-obra, presenciado pelo mediador, que ocorrem estas afirmações de autonomia. O público precisa acreditar que é por estarmos vivos que a arte existe - e não o contrário - e, desta forma, ter certeza de que suas impressões, ideias e sentimentos são reais e importantes porque constituem seu relacionamento individual com a obra. A partir daí, em conversa e troca com o mediador, o público precisa saber que pode ser livre para concordar ou discordar da mediação da instituição, do curador, do artista e do próprio educador.

Por isso, como mediadora, fico feliz sempre que presencio o milagre do encontro da vida com a arte sem restrições de experiência entre estes, que são dois corpos potentes de vida: uma pessoa (que sente, vive, pensa e vibra) e uma obra (que carrega sentimentos, vida, pensamentos e também vibra). n

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Música é uma combinação de sons e silêncio. Neste texto o nosso interesse estará no som enquanto fenômeno físico produzido quando algo faz o ar se mover. As moléculas de ar vibram e se chocam umas nas outras, fazendo com que o som se espalhe pelo ar em forma de ondas, como uma pedra quando atirada em um lago. Podemos chamar esse movimento de vibração.

Percebemos estas vibrações quando nos deparamos com sons muito potentes mecânicos ou da natureza. Sirenes de ambulâncias, alto-falantes de comícios, turbinas de aviões, trovão, quedas d'água. Imagine o estrondo das águas nas cataratas do Iguaçú. E não podemos nos esquecer dos sons que fazem parte do nosso corpo, coração, respiração ou até mesmo da nossa voz.

A ausência de audição não impede que os surdos experimentem as ondas sonoras. É a partir dessas vibrações que eles encontram várias formas de vivenciar a música. O som é percebido pelos surdos através do tato que tem a pele, o maior órgão do corpo, como responsável. Neles o sentido do tato é bem mais apurado do que o dos ouvintes, já que há maior sensibilidade.

Essa forma de “escutar” o som pode ser experimentada na obra Handphone Table, da artista norte-americana Laurie Anderson. A obra consiste em uma mesa que possui alto-falantes em seu interior. O som fica contido dentro dela e não se propaga pelo ar, fazendo vibrar sua superfície. Quando apoiamos os cotovelos sobre a mesa e tapamos os ouvidos com as mãos, esta vibração é conduzida pelos ossos dos braços e mãos, o que nos permite ouvi-la.

Os surdos dançam? Eles dançam no ritmo? Sim, os surdos percebem o ritmo através da vibração. Assim trabalha o “Grupo de Dança Surdo Videira” de Fortaleza – é composto de quatro integrantes e liderado pelo intérprete Nilton Câmara. A sala de ensaio dispõe de aparelho de som bem potente e um chão de assoalho em madeira, adaptações simples que facilitam a propagação do som e auxiliam o aluno surdo na percepção das vibrações. Espelhos colaboram para a consciência corporal.

No Brasil, podemos encontrar vários projetos que visam o desenvolvimento musical dos surdos. No projeto “Música do Silêncio”, a percussão trabalha a sensibilização dos sons. Os alunos começam a tocar logo na primeira aula com instrumentos mais graves, como o treme-terra, utilizado em escolas de samba, para que o corpo sinta as vibrações. Conforme evoluem, recebem instrumentos mais difíceis. Gestos e semblantes fazem parte da regência. Os surdos produzem música.

O som pode ser considerado uma experiência de todo o corpo. Lembre-se que o tato é toda sensação gerada pelo toque de algo na pele. Ele é instintivo, não racional, tanto que é o primeiro sentido desenvolvido no feto, que reage ao estímulo dentro do útero. Sinta as vibrações ao seu redor, o som de uma bateria de escola de samba, as badaladas dos sinos de uma igreja, a reverberação em um show de música. Perceba como estes sons chegam até seu corpo, qual o ritmo, a direção e a intensidade deles. Você vai descobrir que as possibilidades de sentir o som vão além dos nossos ouvidos. n

A MÚSICA NA PELE por Rogério José de Souza

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Laurie AndersonMesa de Fone de Mão / Handphone Table, 1977Cortesia da artista e Galeria Sean Kelly, Nova IorqueExposição I in U / Eu em Tu Laurie AndersonFoto Gabriela GilCCBB São Paulo, 2010

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Música é uma combinação de sons e silêncio. Neste texto o nosso interesse estará no som enquanto fenômeno físico produzido quando algo faz o ar se mover. As moléculas de ar vibram e se chocam umas nas outras, fazendo com que o som se espalhe pelo ar em forma de ondas, como uma pedra quando atirada em um lago. Podemos chamar esse movimento de vibração.

Percebemos estas vibrações quando nos deparamos com sons muito potentes mecânicos ou da natureza. Sirenes de ambulâncias, alto-falantes de comícios, turbinas de aviões, trovão, quedas d'água. Imagine o estrondo das águas nas cataratas do Iguaçú. E não podemos nos esquecer dos sons que fazem parte do nosso corpo, coração, respiração ou até mesmo da nossa voz.

A ausência de audição não impede que os surdos experimentem as ondas sonoras. É a partir dessas vibrações que eles encontram várias formas de vivenciar a música. O som é percebido pelos surdos através do tato que tem a pele, o maior órgão do corpo, como responsável. Neles o sentido do tato é bem mais apurado do que o dos ouvintes, já que há maior sensibilidade.

Essa forma de “escutar” o som pode ser experimentada na obra Handphone Table, da artista norte-americana Laurie Anderson. A obra consiste em uma mesa que possui alto-falantes em seu interior. O som fica contido dentro dela e não se propaga pelo ar, fazendo vibrar sua superfície. Quando apoiamos os cotovelos sobre a mesa e tapamos os ouvidos com as mãos, esta vibração é conduzida pelos ossos dos braços e mãos, o que nos permite ouvi-la.

Os surdos dançam? Eles dançam no ritmo? Sim, os surdos percebem o ritmo através da vibração. Assim trabalha o “Grupo de Dança Surdo Videira” de Fortaleza – é composto de quatro integrantes e liderado pelo intérprete Nilton Câmara. A sala de ensaio dispõe de aparelho de som bem potente e um chão de assoalho em madeira, adaptações simples que facilitam a propagação do som e auxiliam o aluno surdo na percepção das vibrações. Espelhos colaboram para a consciência corporal.

No Brasil, podemos encontrar vários projetos que visam o desenvolvimento musical dos surdos. No projeto “Música do Silêncio”, a percussão trabalha a sensibilização dos sons. Os alunos começam a tocar logo na primeira aula com instrumentos mais graves, como o treme-terra, utilizado em escolas de samba, para que o corpo sinta as vibrações. Conforme evoluem, recebem instrumentos mais difíceis. Gestos e semblantes fazem parte da regência. Os surdos produzem música.

O som pode ser considerado uma experiência de todo o corpo. Lembre-se que o tato é toda sensação gerada pelo toque de algo na pele. Ele é instintivo, não racional, tanto que é o primeiro sentido desenvolvido no feto, que reage ao estímulo dentro do útero. Sinta as vibrações ao seu redor, o som de uma bateria de escola de samba, as badaladas dos sinos de uma igreja, a reverberação em um show de música. Perceba como estes sons chegam até seu corpo, qual o ritmo, a direção e a intensidade deles. Você vai descobrir que as possibilidades de sentir o som vão além dos nossos ouvidos. n

A MÚSICA NA PELE por Rogério José de Souza

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Laurie AndersonMesa de Fone de Mão / Handphone Table, 1977Cortesia da artista e Galeria Sean Kelly, Nova IorqueExposição I in U / Eu em Tu Laurie AndersonFoto Gabriela GilCCBB São Paulo, 2010

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É possível perceber movimento numa obra estática? Na obra ao lado, além do bater das asas das aves, há ainda a sugestão de uma linha diagonal, que vai da parte de baixo do lado direito à parte de cima do lado esquerdo, enfatizando o vôo dos pássaros ganhando altitude.

Não é só em superfícies bidimensionais, porém, que podemos ver desenhos. A natureza nos brinda com vários exemplos, e a migração de aves é um deles. Um de seus traços mais comuns no céu é formado por duas fileiras diagonais de pássaros, culminando numa ponta como uma seta.

Este complexo fenômeno é cercado de mistério e fascinação. Como pode uma frágil ave viajar milhares de quilômetros, durante semanas, enfrentando diversos perigos? O instinto de sobrevivência faz com que estes “viajantes” dupliquem seu peso e reduzam seus órgãos para a enorme quantidade de energia que será despendida. Tudo isso para dar continuidade à vida.

Como obra de Arte Contemporânea, “Migração” não tem intenção de representar uma cena da natureza, mesmo porque a própria se faz presente através do fogo. As formas são feitas com pólvora queimada, criando uma transformação irreversível no suporte de madeira. Transformação é, afinal, o resultado da junção da natureza mais o tempo, e o artista trata disso não só conceitualmente, mas também literalmente.

É através dos ciclos que a ação do tempo se faz na natureza, como no caso da migração dos pássaros: acasalamento, ida, permanência e volta. Se os ciclos de vida são transitórios, pode até mesmo a ação do fogo, a princípio irreversível, ser reconstruída? n

DINAMISMOpor Patrícia Marchesoni Quilici

Wanderlei LopesMigração, 2008pólvora queimada sobre madeira150 x 70 cm (tríptico)cortesia Galeria Virgílio

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É possível perceber movimento numa obra estática? Na obra ao lado, além do bater das asas das aves, há ainda a sugestão de uma linha diagonal, que vai da parte de baixo do lado direito à parte de cima do lado esquerdo, enfatizando o vôo dos pássaros ganhando altitude.

Não é só em superfícies bidimensionais, porém, que podemos ver desenhos. A natureza nos brinda com vários exemplos, e a migração de aves é um deles. Um de seus traços mais comuns no céu é formado por duas fileiras diagonais de pássaros, culminando numa ponta como uma seta.

Este complexo fenômeno é cercado de mistério e fascinação. Como pode uma frágil ave viajar milhares de quilômetros, durante semanas, enfrentando diversos perigos? O instinto de sobrevivência faz com que estes “viajantes” dupliquem seu peso e reduzam seus órgãos para a enorme quantidade de energia que será despendida. Tudo isso para dar continuidade à vida.

Como obra de Arte Contemporânea, “Migração” não tem intenção de representar uma cena da natureza, mesmo porque a própria se faz presente através do fogo. As formas são feitas com pólvora queimada, criando uma transformação irreversível no suporte de madeira. Transformação é, afinal, o resultado da junção da natureza mais o tempo, e o artista trata disso não só conceitualmente, mas também literalmente.

É através dos ciclos que a ação do tempo se faz na natureza, como no caso da migração dos pássaros: acasalamento, ida, permanência e volta. Se os ciclos de vida são transitórios, pode até mesmo a ação do fogo, a princípio irreversível, ser reconstruída? n

DINAMISMOpor Patrícia Marchesoni Quilici

Wanderlei LopesMigração, 2008pólvora queimada sobre madeira150 x 70 cm (tríptico)cortesia Galeria Virgílio

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Rua Álvares Penteado, 112 Centro SPPróximo às estações Sé e São Bento do Metrô

Informações (11) 3113-3651 / 3113-3652

Agendamento de grupos

(11) 3113-3649Recomendação etária

a partir de 5 anos

SAC 0800 729 0722Ouvidoria BB 0800 729 5678Deficiente auditivo ou de fala 0800 729 0088

bb.com.br/cultura

Realização

CapaRoxane AndrèsA fábrica de corações (La Fabrique de Coeurs)Exposição Saint Etienne Cité du DesignerCCBB - 2009

EDIÇÃO

PROJETO GRÁFICO

Daniela Chindler

André Ferreira Lima

Alexandre Diniz

Patrícia Marchesoni Quilici

Carla ValezinCONSULTOR EM ACESSIBILIDADE

Diego RuizPatrícia Miike

Cristiane Leal dos Santos

Angélica FerreiraAparecida da Cruz Eduardo LeiteFelipe Tognolli Filippe LyraGabriela GilMelissa RudalovPedro NunezRegiane TeixeiraRogério de Souza

Carlos GrahamhillDalila MendonçaIlda AndradeIsadora BorgesMaryana LemosRicardo FerriYasmim Machado

PATROCÍNIO