rosa, guimarães. nenhum, nenhuma

Upload: juli-ana

Post on 22-Feb-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/24/2019 ROSA, Guimares. Nenhum, Nenhuma.

    1/9

    Nenhum, nenhuma

    D en t ro d a c as a- de -f az en da , a ch ad a, a o a ca so d e o ut r as v r i as e r ec om e ad as

    d i s t n ci a s, p a s sa r am - se e p a s sa m -s e , n a r e te n ti v a d a g e n te , i r re v er s os g r an d es f a to s

    r ef le xo s, r el m pa go s, l am pe jo s p es ad os e m o bs cu ri da de . A m an s o, e st ra nh a,

    f u g i n d o , a t r s d e s e r r a s e s e r r a s , s e m p r e , e b e i r a d a m a t a d e a l g u m r i o , q u e p r o b e o

    i m a g i n a r . O u t a l v e z n o t e n h a s i d o n u m a f a z e n d a , n e m n o i n d e s c o b e r t o r u m o , n e m t o

    longe? No possvel saber-se, nunca mais.

    M as u m m en in o p en et ra ra n o q u ar to , n o e xt r em o d a v ar an d a, o n de s e a c h av a

    u m h om em s em a par n ci a, s e b em q ue , p or c ert o, c omo c ur io sa men te s e d iz, j en tr ad o e m a no s e le d ev ia d e s er o d on o d e l . E n aq ue le q ua rt o q ue , d e a co rd o

    c om o q ue s e v er if ica , e m g era l, n a r eg i o, n os c as ar e s- de -f az en da c om al ta e

    c o m p r i d a v a r a n d a , s e r i a o e s c r i t r i o h e r a u m a d a t a . O m e n i n o n o s a b i a l e r , m a s

    c om o s e a e st iv es se r el en do , n um a r ev is ta , n o c ol or id o d e s ua s f ig ur as n o c he ir o

    d e l a s , i g u a l m e n t e . P o r q u e o m a i s v i v a z , p e r s i s t e n t e , e q u e f i x a n a e v o c a o d a g e n t e o

    r e s t a n t e , o d a m e s a , d a e s c r i v a n i n h a , v e r m e l h a , d a g a v e t a , s u a m a d e i r a , m a t r i a r i c a

    d e q u a l i d a d e : o c h e i r o , d o q u a l n u nc a m a is h o uv e. O h o m e m s e m a s p e c t o t e n t a a g o r a

    parecer-se com outro um desses velhos tios ou conhecidos nossos, deles o mais

    s i l e n c i o s o . M a s , s e g u n d o s e a p u r o u , n o e r a . A l g u m , a p e n a s , c h a m a r a - o , n a o c a s i o ,

    d e n o m e c o m a p r o x i m a d a a s s o n n c i a e o s d o i s , o i g n o r a d o e o s a b i d o , s e p e r t u r b a m .

    A lg u m m ai s, p oi s, a li e nt ra ra ? A M o a, i ma ge m. A M o a e nt o q ue r ea pa re ce ,

    l in da e r ec n di ta . A l em br an a e m t or no d es sa M o a r ai a u ma t o e xt ra or di n ri a,

    m a ra v il h o sa l u z, q ue , s e a lg um d ia e u e nc on tr ar a qu i o q ue e st p or t r s d a p al av ra pa z , t er -m e- s i do d a do t a mb m a tr a v s d el a. N a v er da de , a d at a n o p od er ia s er

    a qu el a. S e d i ve rs a, e nt re t an t o, i mp s- se , p or t ro ca me nt o, n o j og o d a m em r ia , p or

    m ai o r c au sa . F oi a M o a q u em e nu nc io u , c om a v oz q u e a s si m n a s ci a s e m p re te xt o ,

    que a data era a de 1914? E para sempre a voz da Moa retificava-a.

    T u d o n o d e mo r ou c a la d o , t o f u nd a me n te , n o e x is t i nd o , e n q ua n to v i v ia m a s

    pessoas capazes, quem sabe, de esclarecer onde estava e por onde andou o Menino,

  • 7/24/2019 ROSA, Guimares. Nenhum, Nenhuma.

    2/9

    n aq ue le s r em ot o s, j p er em pt os a no s? S a go ra q ue a ss om a, m ui t o l en to , o d i f ci l

    c la r o re mi ni sce nt e, a o t erm o t al ve z d e l on gu s si ma v ia ge m, v in do f er ir -l he a

    conscincia. S no chegam at ns, de outro modo, as estrelas.

    U l tr a mu it o , p or m , h o uv e o q ue h , p or a qu el a p a r te , a t a on d e o l ua r d o m eu

    m ai s -l on g e, o q ue c er t if i co e s ei . A c a s a - r s t i c a o u s o l a r e n g a - s e m h i s t r i a v i s v e l ,

    s p o r s o mb ra s, t i nt as s u rd as : a j an el a p ar ap ei ta da , o p at am ar d a e sc ad ar ia , a s v az ia s

    t a r i m b a s d o s e s c r a v o s , o t u m u l t o d o g a d o ? S e e u c o n s e g u i r r e c o r d a r , g a n h a r e i c a l m a ,

    se conseguisse religar-me: adivinhar o verdadeiro e real, j havido. I n f n c i a c o i s a ,

    coisa?

    A M o a e o M o o , q u a n d o e n t r e s i , p a s s a v a m - s e u m e m b e b i d o o l h a r , d i f e r e n t e

    d o d o s o u t r o s e r a d i a v a e m a m b o s u m m o d o i g u a l , p a r e c i d o . E l e s o l h a v a m u m p a r a o

    o ut ro c om o o s p as sa ri nh os o uv id os d e r ep en te a c an ta r, a s rv or es p - an te -p , a s

    n u ve n s d e sc o nc e rt a da s : c o mo d o a s s op r ad o d a s c i nz a s a e s pl e nd i o d a s b r as a s. E l es

    s e o l ha va m p ar a n o -d i st n ci a, e st i ad am en te , s em s ab er es , s em c as o. M as a M o a

    e st av a d ev ag ar . M as o M o o e st av a a ns io so . O M en in o, s em pr e l p er to , t in ha d e

    procurar-lhes os olhos.Na prpria preciso com que outras passagens lembradas se

    o fe re ce m, d e e nt re i mp r es s es c on f us a s, t al ve z s e a gi t e a m a li g na a s t ci a d a p o r o

    e s cu r a d e n s m e s mo s , q u e t e n ta i n co m p re e ns i v el m en t e e n g a n ar - n os , o u , p e lo m e no s ,

    r e ta r d ar q u e p r es c r ut e mo s q u al q u er v e rd a d e. M a s o M e n i n o q u e r i a q u e o s d o i s n u n c a

    deixassem de assim se olhar. Nenhuns olhos tm fundo a vida, tambm, no.

    q u e l a c a s a , c o m o e p o r q u e v i e r a t e r o M e n i n o ? T a l v e z , e m d e s v i a d a v i a g e m ,

    s em p es s oa s d a f am l i a. S ua e st ad a e sp er ar a- se p ar a m ai s c ur ta , d o q ue f oi ? P or qu e,

    primeiro, todos pensavam esconder-lhe o que havia num determinado quarto, em e s m o o p a s s o d o c o r r e d o r p a r a o n d e d a v a a q u e l e q u a r t o .A dvida que isso marcou,

    n o M en in o, a ju da -o a go ra a m ui to s e l em br ar . A M o a , p o r m , e r a a m a i s f o r m o s a

    c r i a t u r a q u e j a m a i s f o i v i s t a , e n o h f i m d e s u a b e l e z a . E l a p o d e r i a s e r a p r i n c e s a n o

    c as te lo , n a t orr e. E m r ed or d a a lt ur a d a t orr e d o c as te lo , n o d ev ia m t e re vo ar as

    n eg ra s gu ia s? O H om em , v el ho , q ui et o e s em f al ar , s er ia , n a r ea li da de , o p ai d a

    m o a . O H o m e m c o n c o r d a v a c o m t o d o s , s e m t r i s t e z a s s e c a l a v a ?As nuvens so para

  • 7/24/2019 ROSA, Guimares. Nenhum, Nenhuma.

    3/9

    no s er em vi stas . Mesmo um menino sabe, s vezes, desconf iar do es treit o

    caminhozinho por onde a gente tem de ir - beirando entre a paz e a angstia .

    D ep oi s, p or m , p or qu e m ud as se m d e i d ia , o u p or qu e o M en in o t iv es se d e

    s oj or na r l p or m ai s t em po , d ei xa ra m- no s ab er o q ue d en tr o d aq ue le d it o q ua rt o s eg ua rd av a. D ei xa ra m- no v er . E , o q ue h av i a a li , e ra u ma m ul he r. E ra u ma v el h a, u ma

    v e l h i n h a - d e h i s t r i a , d e e s t r i a - v e l h s s i m a , a i n a c r e d i t v e l . T a n t o , t a n t o , q u e e l a s e

    e n co l h er a , e n cu r t ar a -s e , p e qu e ni n a c o mo u m a c r ia n a , t o da e n ru g ad i n ha , d e sb o t ad a :

    n o c am in har ia , n em f ic av a e m p , e q ua se n o d av a ac or do d e co is a n en hu ma ,

    perdida a claridade do juzo. No sabiam mais quem ela era, tresbisav de quem, nem

    d e q u e i d a d e , i n c o m p u t a d a , i n c a l c u l v e l , v i n d a a t r a v s d e g e r a e s , s e m n i n g u m , s

    a in da d a m es ma n os sa e sp ci e e f ig ura . Ca so i me mo ri al , ap en as c om a i nc er ta

    comparada. A Moa, com amor, tratava dela.

    T n ue , t n ue , t em d e i n si s ti r -s e o e sf o r o p a ra a lg o r em em br ar, d a c h u v a q u e

    c a a , d a p l a n t a q u e c r e s c i a , re troc e didame nte , por e spa o, o s c a s t i a i s , o s b a s , a r c a s ,

    c a n a s t r o s d e s a n t o s , c o m o s e u m p e d a o d e r e n d a a n t i g a , q u e s e s u s p e n s a s f l o r e s t a s , o

    porta-retratos de cristal,floresta e olhos, ilhas que se brancas, a s v o z e s d a s p e s s o a s,

    e xt r ai r e r et er , r ev ol ve r e m m i m, t ra z er a f oc o a s a l t a s c a m a d a s d e t o r n e a d o , u m c a t r e

    c om ca be cei ra d ou ra da ta lvez as coisa s ma is ajud ando, a s coi sas, que ma is

    perduram : o c o m p r i d o e s p e t o d e f e r r o , n a m o d a p r e t a , o b a t e d o r d e c h o c o l a t e , d e

    jacarand, na prateleira com alguidares, pichorras, canecos de estanho. O Menino,

    a ss us t an do -s e, c or re ra a r ef ug i ar -s e n a c oz in h a, e sc ur a e i me ns a, o n de m ul h er es d e

    grossos ps e pernas riam e falavam.

    A M o a e o M o o v ie ra m b us c -l o? O M o o c au sa va -l he a nt ip at ia e r an co r,d e l e j t i n h a c i m e s . A M o a , d e f o r m o s u r a t o e x t r e m a d a , v e s t i d a d e p r e t o , e e l a e r a

    a lt a, a lv a, a lv a p are ci a es ta r d e m ad ri nh a n um c as am en to , o u n um t ea tr o? E la

    carreg ou o Meni no, cheirav a a vem de v erde e a ros a, mai s meigo que as rosas

    c he ir am , m ai s g ra ve . O M o o r ia , e xa to . T ra nq ui l iz av am -n o, d iz ia m: q u e a v el h in h a

    n o e r a a M o r t e , n o . N e m e s t a v a m o r t a .Antes, era a vida. Ali, num s ser, a vida

    v ib ra va e m s il n ci o, d en tr o d e s i, i nt r ns ec a, s o c or a o , o e sp r it o d a v id a, q ue

    e sp er av a. A q ue la m ul h er a i nd a e xi s ti r , p ar ec ia u m d es a ti n o d e q ue e la m es ma n em

  • 7/24/2019 ROSA, Guimares. Nenhum, Nenhuma.

    4/9

    t iv es se c ul pa . M as o Mo o n o ri a m ai s. L es ta va t am b m o H ome m c al ad o, d e

    costas, mesmo de p ele rezava o tero, num rosrio de pretas camldulas.

    D i z i a m a o m e n i n o , d e m o n s t r a v a m - l h e : q u e a V e l h i n h a n o e r a s o m b r a o , m a s

    s i m p e s s o a . S e m q u e l h e s o u b e s s e m o v e r d a d e i r o n o m e , c h a m a v a m - n a a N e n h a . E l af i c a v a t o q u i e t a , n o m e i o d a a l t a c a m a d e t o r n e a d o s , o c a t r e c o m a c a b e c e i r a d o u r a d a ,

    q u e a l i q u a s e s e s u m i a , n o s p a n o s , a l g o i n v i o l v e l e m s u a e x i g u i d a d e , e r e s p i r a v a . E r a

    c o r d e c i d r a , e m t o d a s a s r u g a z i n h a s - e o s o l h o s a b e r t o s , g a r o s . O q u e e l a n o t i n h a

    era pl pebras ? To davia, u m t rmito , uma b ab inha, no murch o, a boca, e era o

    d o ce m en t e i n co m pr e en s ve l . O M e ni n o s o r ri u . P e rg u nt o u : - Ela bela-adormeceu?.

    A M o a b e i j o u - o . A v i d a e r a o v e n t o q u e r e n d o a p a g a r u m a l a m p a r i n a . O c a m i n h a r d a s

    sombras de uma pessoa imvel.

    A M o a n o q u e r i a q u e c o i s a a l g u m a a c o n t e c e s s e . A M o a t i n h a u m l e q u e ? O

    M o o c on j ur av a- a, s us p en so s o lh o s. A M o a d is s e a o M o o: - V o c a i n d a n o s a b e

    sofrer - e e l a t r e m i a c o m o o s a r e s a z u i s . T en ho d e m e l em br ar . O p as sa do q ue

    v ei o a m i m, c om o u m a n uv em , v em p a ra s er r ec on h ec id o : a p en a s, n o e s t ou s ab en d o

    decifr-lo . E st av a- se n o g ra nd e j ar di m. P ar a l , t in ha m t ra zi do t am b m a N en ha ,

    velhinha.

    T ra zi am -n a, p ar a t om ar s o l, a co mo da di n ha n um c es t o, q u e p ar ec ia u m b er o .

    T o g a l a n t e , t u d o , q u e o M e n i n o d e r e p e n t e s e e s q u e c e u e p r e c i p i t o u - s e : q u e r i a b r i n c a r

    c o m e l a ! A M o a i m p e d i u - o a p e n a s c o m b r a n d u r a , s e m o r e p r e e n d e r , e l a l s e s e n t a v a ,

    entre madressilvas e rosmaninh os, in subs tituv el. Olhava para a Nenha,

    e xt re mo sa me nt e, d e d el on ga , p el o c ur so d os a no s, p el os d if er en te s t em po s, e la

    t am b m m en in a a nc ia n s si ma . R ec ob ri ra -a c om u m x al e a nt i go , d a V el hi n ha n o s ev ia m a s m o s . S o e ng ra a di nh o , p ue ri l a co nd i ci on am en t o, o s or no i mp al p ar -s e,

    a m ve l r id ic ul ar ia . D av am -l h e b oc a c om id in h a m ol e. T or na va m- lh e s v ez es u ns

    s o r r i s i n h o s , u m t a n g e r d e t o s s e , c h e g a v a a f a l a r - e e s c a s s a m e n t e p o d i a s e r e n t e n d i d a -

    no s emi-sus surro mais dis creto que o b at er da borbol et inh a branca. A Moa

    a di vi nh av a- a? P ed ia gu a. A M o a t ra zi a a gu a, v in ha c om n as d ua s m o s o c op o

    c h e i o s b e i r a s , s o r r i n d o i g u a l , s e m d e i x a r c a i r f o r a u m a n i c a g o t a - a g e n t e p e n s a v a

  • 7/24/2019 ROSA, Guimares. Nenhum, Nenhuma.

    5/9

    q u e e l a d e v i a d e t e r n a s c i d o a s s i m , c o m a q u e l e c o p o d e g u a p e l a b o r d a , e c o n s e r v - l o

    at a hora de desnascer: dele nada se derramasse.

    No, a Nenha no reconhecia ningum, alheada de fim, s um pensar sem

    i nt el i g nc ia , i me ns a o mi ss o , e j c on de na do s s eg re do s - c or a o i mp er ce pt ve l.Noq ue v ag ue ia o s o lh os , c on tu do , s ur pr ee nd e- se -l he o i ma ne ce r d a b em -a ve nt ur a,

    t r a ns o r di n ri a b e ni g n id a d e, o b o m f a n t s t ic o . O M e n i n o p e r g u n t o u : - Ela agora est

    c he ia d e j u zo ? . A Mo a f ir mo u o o lh ar , c om o o l uar d es as so mb ra . O ru mo r d a

    t es ou ra g ra nd e p od av a a s r os ei ra s. E ra o H om em v el h o, d e p , d e c on tr al uz , h om em

    mu it o a lt o. O Mo o p eg ou n a m o d a Mo a , e le es ta va a pa ix on ad o. O M en in o s e

    recolheu, olhando para o cho, numa tristeza de amuo.

    O H o me m v el h o s q ue ri a v er a s f lo re s, f ic ar e nt re e la s, c ui d -l as . O H o me m

    v el ho b ri nc av a c om a s f lo re s. C er ra -s e a n v oa , o e sc ur ec id o, h u ma m ur al ha d e

    fadiga. Orientar-me! - como um riachinho, s voltas, que tentasse subir a montanha .

    H a v i a u m f i o d e b a r b a n t e , q u e a g e n t e e n r o l a v a n u m p a u z i n h o . A M o a r e p e t i a c o i s a s

    t a n t a s , m u i t o m a n s a s , a o M o o . T e nho de m e re c upe rar, de sde sle m brar- m e , e x c ogitar

    - q ue s ei ? - d as c am ad a s a n gu st i os a s d o o lv id o . C o mo v iv i e m u de i, o p as s ad o m u d ou

    t am b m . S e e u c on s eg ui r r et o m -l o. Do que falavam o Mo o e a Moa. Do velh o

    Homem, pai dela, desenganadamente doente, para qualquer momento, mortal.

    - E e le j s a b e? - o M o o p er g u n to u . A M o a, c o m u m le n o b r a n co , m u ito

    f i n o , l i m p a v a a s u m i d a b o c a d a N e n h a , v e l h i n h a . - Ele sabe. Mas no sabe por qu!

    - e la f al ou , t in ha f ec ha do o s o lh os , t es a, p ar ad a. O M o o s e m or de u, u m c ur to .- E

    q ue m q u e s ab e? E p a ra q ue s ab er p or q ue t em o s d e m or r er ? - d i s s e , d i s s e . A M o a ,

    agora, era que pegava na mo dele.V en ho a m e l em br ar . Q ua nd o a ma do rn o. D e c om o f or a p os s vel q ue t o d e

    t o d o s e p e r d e s s e a t r a d i o d o n o m e e p e s s o a d a q u e l a N e n h a , v e l h s s i m a , a n t e p a s s a d a ,

    c on se rv ad a c on t ud o a li , p or s eu p ov o d e p ar en t es . A lg u m , a nt es d e m or re r, a in da s e

    l em br av a d e q ue n o s e l em br av a: e la s er ia a pe na s a m e d e o ut ra , d e u ma o ut ra , d e

    u ma o u tr a, p ar a t r s. A nt es d e v ir p ar a a f az en da , e la t er -s e- i a r e s id id o e m c id ad e o u

    v il a, n um a c er ta c as a, n um L ar go , c ui da da p or u ma s i r m s s o lt ei ro n as . M es mo e ss as ,

    m al c on ta va m. D er a- se q ue , e m t em po s, q ua se t od as a s a nt ec ed en te s m ul he re s d a

  • 7/24/2019 ROSA, Guimares. Nenhum, Nenhuma.

    6/9

    f am l ia , d e r oc a e fu so , s uc es si va me nt e t er ia m m or ri do , q ua se d e u ma v ez , d o

    m a l - d e - s e m a n a , f e b r e d e p a r t o d a , r o m p i d o o c o n h e c i m e n t o , o s h o m e n s s e m u d a n d o ,

    a nd ar a c on fi ad a a e st r an h os a N en ha , v el h in ha , q ue d ur av a, v i su al , a l m d e t od as a s

    r ai as d o v iv er c om um e d a v el h ez , m a s n a p er pe tu i da de .Ento o fato se dissolve. As

    l em br a n as s o o u tr a s d i st nc ia s. E r am c oi s as q ue p ar a va m j b ei r a d e u m g ra n de

    sono . A gente cresce sempre, sem saber para onde.

    T r a s v i s t o , s e m s e s o f r e a r , f e c h a n d o o s d e n t e s , o M o o a r g u a c o m a M o a , e l a

    f i r m e e d o u r a . E l a t i n h a d i t o : - . . . e s p e r a r , a t a h o r a d a m o r t e . S o tu r n o , n e r v o s o ,

    o q u e a M o a e x p l i c a v a : q u e n o a m o r t e d o p a i , n e m d a v e l h i n h a N e n h a , d e q u e m e r a

    a t r a t a d e i r a . F a l o u : - Mas a nossa morte S o b r e e s s e p o n t o , e l a s o r r i a - m u i t o - f l o r ,

    l i m i t e d e t r a n s f o r m a o . O b r i g a r a - s e p o r u m v o t o ? N o . M a i s d i s s e : - S e e u , s e v o c

    gostar de mim E como saber se o amor certo, o nico? Tanto o poder errar, nos

    e ng an o s d a v id a S er q ue v oc s er ia c ap az d e s e e sq u ec er d e m i m , e , a ss i m m e sm o ,

    d ep oi s e d ep oi s, s em s ab er , s em q ue re r, c on ti nu ar g os ta nd o? C om o q ue a g en te

    sabe? . O u v i d a a r e s p o s t a d a M o a , o M e n i n o e s t r e m e c e u , q u e r i a q u e e l a n o t i v e s s e

    f a l a d o .Reperdida a remembraa, a representao de tudo se desordena uma ponte,

    ponte - mas que, a certa hora, se acabou, pareceque. Luta-se com a memria .

    A to rd oa do , o M en in o, t or na do q ua se i nc n sc io , c om o s e n o f os se n in gu m , o u s e

    t o d o s u m a p e s s o a s , u m a s v i d a f o s s e m : e l e , a M o a , o M o o , o H o m e m v e l h o e a

    Nenha, velhinha - em quem trouxe os olhos.

    V - se - f ec ha n do u m p o uc o o s o l ho s , c o m o a m em ri a p ed e: o r ec on he ci me nt o ,

    a l em br an a d o q u ad ro , s e e sc la r ec e, s e d es em ba a. D es es pe ra do , o M o o, l v i do ,

    rspido, falava com a Moa, agarrava-se aos vares da grade do jardim. Dissesse: quee r a u m s i m p l e s h o m e m , s o e m j u z o p a r a n o t e n t a r a D e u s , m a s p a r a s e g u i r o v i v e r

    c om um , p or s eu s m ei o s, p el os p la no s c am in ho s ! Q ue s er , a go ra , s e a M o a n o o

    q ui se r r et er , s e e la n o c on co rd ar ? A M o a, l g ri ma s e m o lh os , m as m ed ia nt e o

    s o r r i s o , l i n d a j d e o u t r a e s p c i e . E l a n o c o n c o r d o u . E l a s o l h a v a c o m e n o r m e a m o r

    para o Moo. Ento, ele deu-lhe as costas. E a Moa se ajoelhou, curvada para o bero

    d a N en h a, v el hi n ha , e c ho ra va , a br a an do -a - e la s e a br a av a c om o i nc om ut v el , o

  • 7/24/2019 ROSA, Guimares. Nenhum, Nenhuma.

    7/9

    i mu t ve l. O M en in o, c on tr a t ud o o q ue s en ti ss e, a co mp an ho u o M o o. O M o o o

    aceitou, pegou-lhe da mo, juntos caminharam.

    O M o o v i er a c om t ro p e o, a pa lp an d o a s p ar ed es , c om o o s c eg os . E e nt ra ra m

    n o q u ar to , a o e xt re mo d a v ar an da , n o e sc ri t r io . A qu el a m es a e sc ri va ni n ha c he ir av a

    t o b o m , a m a d e i r a v e r m e l h a , a g a v e t a , o M e n i n o g o s t a r i a d e g u a r d a r p a r a s i a r e v i s t a ,

    c om a s f ig ur as c ol or id as m as n o t ev e ni mo d e p ed ir . O M o o e sc re ve u o b il he te ,

    e r a p a r a a M o a , a l i o d e p o s i t o u . O q u e e s t a v a n e l e , n o s e s a b e , n u n c a m a i s . N o s e

    v iu m ai s a M o a. O M o o p ar ti a, p ar a s em pr e, t or na -v ia jo r, c om e le i a t am b m o

    M e n i n o , d e v o l t a a c a s a . O M o o , c o m a c a p a d e b e a t a a z u l , t r a z i a - o , f r e n t e d a s e l a .

    V ol ta ra m o s o lh os , j a d is t nc ia : d o l im ia r, p or ta , s o H om em a lt o, s em s e p od er

    ver-lhe o rosto, desconhecidamente, fazia-lhes ainda sinais de adeus.

    A v ia ge m d ev ia d e s er l on ga , c om a qu el e M o o, q ue f al av a c om o M en in o,

    c om e le t ra ta va m o p or m o , c ar ec ia d e s el ar p al av ra s. E le , O M o o, d is se : - Ser

    q ue p o ss o v iv er s em d el a m e e sq ue ce r, a t g r an de h o ra ? S er q u e e m m e u c o r a o

    e l a t e n ha r a z o ? .. . O M e n i n o n o r e s p o n d e u , s p e n s o u , f o r t e : - Eu tambm! . A h ,

    e le t i nh a i ra d es se m o o, i ra d e r iv al i da de s. D o M o o, q ue o u tr as c oi sa s r ep et i a, q u e

    e le n o q ue ri a p er ce be r. P ed iu : s e p od ia v ir g ar up a, e m v ez d e n o a r o ? E le n o

    q ue ri a f ic ar p er to d a v oz e d o c o r a o d es se M o o, q ue e le d et es t av a. T e m h o r a s e m

    q ue , d e r ep en te , o m u nd o v ir a p eq u en i ni n ho , m as n o ut r o d e -r ep en t e e l e j t o rn a a s er

    d e ma i s d e g r a n d e, o u t ra v e z. A g e nt e d e v e d e e s pe r ar o t e rc e ir o p e ns a m en t o. O M o o ,

    n o f al av a, a go ra . F al i do , i do , n ou t ro c on fu s am en to , e le r om pe u a c ho ra r. P ou co a

    pouco, o Menino, devagarinho, chorava, tambm, o cavalo soprava. O Menino sentia:

    q ue , s e d e u m j ei to , f os se e le p od er g os ta r, p or q ue re r, d es se M o o, e nt o , d e a lg umm o d o , e r a c o m o s e e l e f i c a s s e m a i s p e r t o d a M o a , t o l i n d a , t o l o n g e , p a r a s e m p r e ,

    na soledade. Da viu-se em casa. Chegara.

    Nunca mais soube nada do Moo, nem quem era, vindo junto comigo. Reparei

    e m m e u p a i , q u e t i n h a b i g o d e s . M e u p a i e s t a v a d a n d o o r d e n s a d o i s h o m e n s , q u e e r a

    para levantarem o muro novo, no quintal. Minha Me me beijou, queria saber notcias

    d e m u i t a g e n t e , o l h a v a s e e u n o r a s g a r a m i n h a r o u p a , s e t i n h a a i n d a n o p e s c o o , s e m

    perder nenhum, os santos de todas as medalhinhas.

  • 7/24/2019 ROSA, Guimares. Nenhum, Nenhuma.

    8/9

    E eu precisei de fazer alguma coisa, de mim, chorei e gritei, a eles dois:

    - V oc s n o s ab em d e n ad a, d e n ad a, o uv ir am ? V oc s j s e e s qu ec er am d e t u do o

    que, algum dia, sabiam!...

    E eles abaixaram as cabeas, figuro que estremeceram.

    P or qu e e u d es co nh ec i m eu s P ai s - e ra m- me t o e st ra nh os j am ai s p od er ia

    verdadeiramente conhec-los, eu eu?

  • 7/24/2019 ROSA, Guimares. Nenhum, Nenhuma.

    9/9