ronaldo andrade >> perdeu mulher e filhos em...

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Página: 11 CYAN MAGENTA YELLOW BLACK PÁGINA 11 - QUINTA-FEIRA - 18/SETEMBRO/2008 - 21:44 Fale com a editora: [email protected] A GAZETA Vitória (ES), quinta-feira, 18 de setembro de 2008 n n n n nnnnn DIA-A-DIA 11 MP é contrário à soltura de acusado nn O Ministério Público co- mentou, por meio de nota, a decisão judicial que revogou a prisão preventiva de Dondoni. “O Ministério Público do Esta- do do Espírito Santo (MPES) se diz contrário à liberdade de Wagner José Dondoni”. Ele é acusado de dirigir embriagado e causar um acidente que cau- sou a morte de Maria Sueli Costa Miranda, 29, Rafael Scal- fone Andrade, 13, e Ronald An- drade, 3, em abril. O MP afirmou ter manifes- tado seu posicionamento du- rante a audiência. “O promo- tor responsável pelo caso aguarda o envio dos autos pa- ra a manifestação das alega- ções finais. O MPES vai pos- tular o julgamento perante o Tribunal Popular do Júri, questionando a posição ado- tada”, dizia o texto. Já o titular da Delegacia de Delitos de Trânsito, Fabiano Contarato, não quis comentar a decisão da Justiça de soltar Dondoni. Ele se limitou a di- zer que cumpriu seu papel. “Tenho a consciência tran- qüila de que o trabalho da Po- lícia Civil foi feito com impar- cialidade, lutando por justiça. Decisão judicial não se discu- te, se cumpre”, destaca. Fa- biano Contarato indiciou Dondoni por homicídio com dolo eventual – situação em que o motorista assume o ris- co de causar o acidente. Ronaldo Andrade >> PERDEU MULHER E FILHOS EM COLISÃO Cinco meses após o acidente de trânsito que matou sua mulher e seus dois filhos, na BR 101, em Viana, Ronaldo Andrade emo- ciona-se ao falar no assunto. E agora assiste a um novo capítulo da história dessa tragédia: a sol- tura, depois de mais de 150 dias, do acusado de ter provocado o acidente, Wagner José Dondoni. O empresário saiu da cadeia na última terça-feira, depois que a Justiça acatou o pedido de revo- gação da prisão preventiva. nn Como o senhor recebeu a notícia de que Dondoni teve a prisão preventiva revogada? Fiquei indignado. A reação é essa. Nunca imaginei que ele poderia ser solto. Sabendo que ele foi solto, com certeza não dá para viver mais tran- qüilo. Mas ainda acredito na condenação dele. nn O senhor conseguiu retomar sua vida? Em relação ao trabalho, sim. Quanto à vida social é mais complicado. Tinha o costume de sair com minha mulher e meus filhos. Agora, quase não “Nunca imaginei que o causador do acidente poderia ser solto” Indignação foi a palavra usada pelo cabeleireiro para definir o que sentiu ao saber da soltura do empresário Wagner Dondoni saio mais. Moro sozinho, na mesma casa em que morava com eles. nn O senhor ainda guarda os objetos pessoais deles? Doei a maioria das roupas e dos brinquedos. É claro que al- guma coisa ficou para recorda- ção. O quarto do meu filho mais novo (Ronald, de 3 anos), por exemplo, está praticamen- te intacto. Só tem menos brin- quedos e roupas. No início, era muito difícil entrar lá, mas hoje já consigo. Rezo todos os dias um Pai-Nosso para eles. nn O senhor ficou com alguma seqüela física? Estou com quatro costelas quebradas e uma trincada. Fiz uma cirurgia, mas a recupera- ção é lenta. Os cortes nas mãos, na cabeça e nas pernas já melhoraram. nn As seqüelas atrapalham no seu dia-a-dia? Incomoda. Nesse frio, então... Eu não acreditava, mas é ver- dade que doem mais. nn Durante a recuperação, Entrevista >> POR CARLA NASCIMENTO [email protected] seu trabalho ficou prejudicado? Minha mão machucou bastan- te. Fiquei quase um mês sem trabalhar. Mas hoje, graças a Deus, estou bem melhor. O dono do salão me deu muita força para voltar a trabalhar. Além disso, dependo do meu trabalho, não tenho outra fon- te de renda. nn O senhor encontrou dificuldades financeiras, depois do acidente? Havia comprado o carro um mês antes, financiado em 36 meses. Havia pago a primeira parcela. Ele (Dondoni) não ti- nha seguro, e até agora não consegui retomar o pagamen- to das parcelas. Foram muitas despesas. nn O senhor teve contato com a família de Dondoni depois do acidente? Não. Ninguém veio me procu- rar. nn O que o senhor diria para pessoas que passam por tragédias semelhantes? Em primeiro lugar, que elas de- vem se apegar a Deus, indepen- dente da religião. Isso fortalece bastante a gente. E também con- tar com o apoio de amigos e fa- miliares. É preciso se agarrar a tudo o que te fortalece, porque caso contrário você não conse- gue levar a vida. - ---------------------------------------------------------------------------- Entenda o caso n O acidente. A caminhonete S-10 guiada por Wagner Dondoni (foto) e o Fiat Uno dirigido por Ronaldo Andrade colidiram por volta das 7 horas de 20 de abril, no quilômetro 304 da BR 101, próximo ao posto de combustíveis Flecha, em Viana n As vítimas. A família de Ronaldo seguia para Guaçuí, no Sul do Estado. Rafael Scalfone Andrade, filho de Ronaldo, de 13 anos, morreu no local. O caçula, Ronald, 3, morreu horas depois. Já mulher do cabeleireiro, Maria Sueli Costa Miranda, 29, ainda ficou internada por três dias n A prisão. Dondoni foi preso ao depor em 24 de abril. Pessoas afirmam que, pouco antes da batida com o Fiat Uno, a caminhonete que o comerciante guiava foi vista zigue-zagueando na rodovia. Ele teria colidido num Corsa e por pouco não bateu numa ambulância n Embriaguez. Dez horas depois da colisão, o exame etílico feito a partir de coleta de sangue revelou que Dondoni tinha 6.7 decigramas de álcool por litro de sangue – o tolerável, na época, eram 6 decigramas n Liberdade. Na última terça, Dondoni saiu da cadeia. A defesa aguarda a sentença de pronúncia, e após essa etapa a Justiça decide se o empresário vai, ou não, a júri popular. A decisão deve sair na próxima semana SEGURANÇA VITOR JUBINI LEMBRANÇA. Ronaldo mostra foto de Ronald, uma das vítimas - ---------------------------------------------------------------------------

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Página: 11 CYAN MAGENTA YELLOW B L AC K

PÁGINA 11 - QUINTA-FEIRA - 18/SETEMBRO/2008 - 21:44

Fale com a editora:ca l v es @ r e d e g a z et a .co m . b r

A GAZETA Vitória (ES), quinta-feira, 18 de setembro de 2008n n n n nnnnn D I A-A- D I A 11

MP é contrário àsoltura de acusadon n O Ministério Público co-mentou, por meio de nota, adecisão judicial que revogou aprisão preventiva de Dondoni.“O Ministério Público do Esta-do do Espírito Santo (MPES)se diz contrário à liberdade deWagner José Dondoni”. Ele éacusado de dirigir embriagadoe causar um acidente que cau-sou a morte de Maria SueliCosta Miranda, 29, Rafael Scal-fone Andrade, 13, e Ronald An-drade, 3, em abril.

O MP afirmou ter manifes-tado seu posicionamento du-rante a audiência. “O promo-tor responsável pelo casoaguarda o envio dos autos pa-ra a manifestação das alega-ções finais. O MPES vai pos-

tular o julgamento perante oTribunal Popular do Júri,questionando a posição ado-tada”, dizia o texto.

Já o titular da Delegacia deDelitos de Trânsito, FabianoContarato, não quis comentara decisão da Justiça de soltarDondoni. Ele se limitou a di-zer que cumpriu seu papel.

“Tenho a consciência tran-qüila de que o trabalho da Po-lícia Civil foi feito com impar-cialidade, lutando por justiça.Decisão judicial não se discu-te, se cumpre”, destaca. Fa-biano Contarato indiciouDondoni por homicídio comdolo eventual – situação emque o motorista assume o ris-co de causar o acidente.

Ronaldo Andrade >> PERDEU MULHER E FILHOS EM COLISÃO

Cinco meses após o acidente detrânsito que matou sua mulher eseus dois filhos, na BR 101, emViana, Ronaldo Andrade emo-ciona-se ao falar no assunto. Eagora assiste a um novo capítuloda história dessa tragédia: a sol-tura, depois de mais de 150 dias,do acusado de ter provocado oacidente, Wagner José Dondoni.O empresário saiu da cadeia naúltima terça-feira, depois que aJustiça acatou o pedido de revo-gação da prisão preventiva.

n n Como o senhor recebeu anotícia de que Dondoni teve aprisão preventiva revogada?Fiquei indignado. A reação éessa. Nunca imaginei que elepoderia ser solto. Sabendoque ele foi solto, com certezanão dá para viver mais tran-qüilo. Mas ainda acredito nacondenação dele.

n n O senhor conseguiuretomar sua vida?Em relação ao trabalho, sim.Quanto à vida social é maiscomplicado. Tinha o costumede sair com minha mulher emeus filhos. Agora, quase não

“Nunca imaginei que o causadordo acidente poderia ser solto”Indignação foi a palavra usadapelo cabeleireiro para definir oque sentiu ao saber da solturado empresário Wagner Dondoni

saio mais. Moro sozinho, namesma casa em que moravacom eles.

n n O senhor ainda guarda osobjetos pessoais deles?Doei a maioria das roupas edos brinquedos. É claro que al-guma coisa ficou para recorda-ção. O quarto do meu filhomais novo (Ronald, de 3 anos),por exemplo, está praticamen-te intacto. Só tem menos brin-quedos e roupas. No início, eramuito difícil entrar lá, mas hojejá consigo. Rezo todos os diasum Pai-Nosso para eles.

n n O senhor ficou comalguma seqüela física?Estou com quatro costelasquebradas e uma trincada. Fizuma cirurgia, mas a recupera-ção é lenta. Os cortes nasmãos, na cabeça e nas pernasjá melhoraram.n n As seqüelas atrapalham noseu dia-a-dia?Incomoda. Nesse frio, então...Eu não acreditava, mas é ver-dade que doem mais.

n n Durante a recuperação,

Entrevista >> POR CARLA NASCIMENTO c n a sc i m e nto @ re d e g a zeta .co m . b r

seu trabalho ficoup r e j u d i ca d o ?Minha mão machucou bastan-te. Fiquei quase um mês semtrabalhar. Mas hoje, graças aDeus, estou bem melhor. Odono do salão me deu muitaforça para voltar a trabalhar.Além disso, dependo do meutrabalho, não tenho outra fon-te de renda.

n n O senhor encontroudificuldades financeiras,depois do acidente?Havia comprado o carro ummês antes, financiado em 36meses. Havia pago a primeiraparcela. Ele (Dondoni) não ti-nha seguro, e até agora nãoconsegui retomar o pagamen-

to das parcelas. Foram muitasd e s p e sa s .

n n O senhor teve contato coma família de Dondoni depoisdo acidente?Não. Ninguém veio me procu-ra r.

n n O que o senhor diria parapessoas que passam portragédias semelhantes?Em primeiro lugar, que elas de-vem se apegar a Deus, indepen-dente da religião. Isso fortalecebastante a gente. E também con-tar com o apoio de amigos e fa-miliares. É preciso se agarrar atudo o que te fortalece, porquecaso contrário você não conse-gue levar a vida.

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Entenda o caso

n O acidente. A caminhoneteS-10 guiada por WagnerDondoni (foto) e o Fiat Unodirigido por Ronaldo Andradecolidiram por volta das 7horas de 20 de abril, noquilômetro 304 da BR 101,próximo ao posto decombustíveis Flecha, em Viana

n As vítimas. A família deRonaldo seguia para Guaçuí,no Sul do Estado. RafaelScalfone Andrade, filho deRonaldo, de 13 anos, morreuno local. O caçula, Ronald, 3,morreu horas depois. Jámulher do cabeleireiro, MariaSueli Costa Miranda, 29, aindaficou internada por três dias

n A prisão. Dondoni foi presoao depor em 24 de abril.Pessoas afirmam que, poucoantes da batida com o FiatUno, a caminhonete que ocomerciante guiava foi vistazigue-zagueando na rodovia.Ele teria colidido num Corsa epor pouco não bateu numaambulância

n Embriaguez. Dez horasdepois da colisão, o exameetílico feito a partir de coletade sangue revelou queDondoni tinha 6.7 decigramasde álcool por litro de sangue –o tolerável, na época, eram 6decigramas

n Liberdade. Na últimaterça, Dondoni saiu da cadeia.A defesa aguarda a sentençade pronúncia, e após essaetapa a Justiça decide se oempresário vai, ou não, a júripopular. A decisão deve sairna próxima semana

S E G U RA N Ç A

VITOR JUBINI

LEMBRANÇA. Ronaldo mostra foto de Ronald, uma das vítimas

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