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Pais dedicados, chefes inesquecíveis Um guia para ser bom tanto em casa quanto você é no trabalho www.saraivauni.com.br

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Pais dedicados, chefes inesquecíveisUm guia para ser bom tanto em casa

quanto você é no trabalho

www.saraivauni.com.br

Natalia Gómez del Pozuelo

Pais dedicados, chefes inesquecíveisUm guia para ser bom tanto em casa

quanto você é no trabalho

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

ISBN 978-85-02-13493-5

Direção editorial

Coordenação editorial

Produção editorial

Marketing editorial

Arte e produção

Capa e ilustrações

Tradução

Produção gráfica

Flávia Alves Bravin

Ana Paula Matos Gisele Folha MósJuliana Rodrigues de QueirozRita de Cássia da Silva

Daniela Nogueira SecondoRosana Peroni Fazolari

Nathalia Setrini

All-Type Produção Editorial

Weber Amendola

Carolina Caires Coelho

Liliane Cristina Gomes

Copyright © Natalia Gómes del Pozuelo, 20102011 Editora SaraivaTodos os direitos reservados.

Traduzido de Buen padre, mejor jefe, de Natalia Gómes del Pozuelo.Tradução autorizada da edição original em espanhol publicada na Espanha pela Empresa Activa.

303.209.001.001

Contato com o [email protected]

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Saraiva.A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

G613p

Gómez del Pozuelo, NataliaPais dedicados, chefes inesquecíveis : um guia para ser bom tanto em

casa quanto no trabalho / Natalia Gómez del Pozuelo ; [tradução Carolina Caires Coelho]. - São Paulo : Saraiva, 2011.

152p. : 21 cm

Tradução de: Buen padre, mejor jefe“Bom pai, melhor chefe. É possível ser um bom profissional e ao

mesmo tempo o melhor pai do mundo?”ISBN 978-85-02-13493-5

1. Trabalho e família. 2. Sucesso nos negócios. I. Título.

11-4086. CDD: 306.36 CDU: 316.74:331

05.07.11 08.07.11 027796

A meus filhos, a meus pais,

a meus colaboradores e a meus chefes, os bons e os ruins, com os quais aprendi.

Como mãe e chefe, não há como não se identificar com este livro.

Às vezes, a sensação que tenho é de que estou sempre devendo no trabalho. E em casa mais ainda. De que puxo o cobertor para a minha filha e falta no escritório. E vice-versa. De que me dedico a uma apresentação sobre os núme-ros da área e quando chego em casa minha filha já está dormindo. E que, por mais que me esforce para equili-brar estes dois universos, o tempo que sobra para minha Rafaela ao fim do dia é tão pouco. Já não há mais a luz do dia quando, depois do trânsito roubar-me mais horas preciosas, chego em casa para dar atenção a ela. 

Pode-se medir a complexidade de um assunto, pela quantidade de livros escritos sobre ele. E o quanto divergem entre eles. É o que acontece com a questão da liderança, sobre o caminho a seguir para ser um bom chefe, um líder admirado. Muitos títulos publicados, in-clusive pela Editora Saraiva. Sobre educar filhos a questão ganha ainda outras proporções. E se juntarmos os dois? Sobre conseguir ser ao mesmo tempo bom no trabalho e melhor ainda em casa? Transportar o que se faz bem como pai para a empresa e o que lhe dá orgulho como profissional para o lar?

Este livro busca diminuir nossa ansiedade e confli-tos mostrando ser possível aplicar as boas atitudes de um mundo no outro. É possível inverter o ângulo: se tenho

Nota do editor

(como profissioNal e mãe)

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orgulho de ter uma equipe que é autônoma, toma de-cisões e vai em frente sem precisar que eu peça, posso buscar aplicar esse mesmo valor com minha filha, para que seja uma pessoa independente, que escolha se quer ler O patinho feio ou ver o vídeo do Clifford, se quer usar a calça rosa ou o vestido de princesa. Como é dito no livro, o que é imposto se esvai. Meu modelo de vida é meu e cada pessoa da “minha equipe” familiar e profissional precisa saber buscar o modelo que lhe caiba melhor. A autora vai além, dizendo que na liderança e na educa-ção seguir modelos padronizados não constrói pessoas de destaque. Mesmo que quebrem a cara, ou no caso da Rafaela, machuque a testa. Foi proveitoso ler e reler este livro que mostra que, tanto na família como nas empre-sas, funcionários e filhos se desenvolvem melhor quando têm tempo, criam e se frustram. Uma letra a menos em um livro pode fazer com que toda uma edição tenha de voltar para a gráfica e ser trocada, mas também significa que esta pessoa prestará muito mais atenção nos deta-lhes da próxima vez.

Natalia recomenda que tanto com as pessoas no trabalho como com nossos filhos não pequemos pelo exagero: o excesso de atividades é um modelo que não funciona. Uma verdade que vale também para nós como pais e profissionais.

Espero que goste do livro. E que este lhe traga não apenas momentos de reflexão, como também um pou-co de confiança de que você está no caminho certo, de que tirar o melhor destes dois mundos é possível e de que você pode aproveitar um no outro!

Flávia, chefe da Ana, da Daniela, da Gabriela,

da Gisele, da Juliana, da Nathalia, da Patrícia H., da Patrícia Q., da Rita, da Rosana e mãe da Rafaela.

Pais dedicados, chefes inesquecíveis

sumário

Introdução .......................................................................................11

1. Com a atitude certa, é mais fácil aprender e mudar .............................................17

2. Educar ou dirigir não deve ser uma imposição .....................................................25

3. Nem todos filhos e profissionais são iguais......................................................33

4. As necessidades são diferentes em cada fase da vida ......................................37

5. Aprendemos imitando.........................................................43

6. Aumente sua autoestima com o amor incondicional .................................................49

7. Autoridade ou consenso? ...................................................57

8. A importância do sim e do não. .....................................65

10

9. A comunicação é o único caminho para o entendimento .......................................73

10. O estresse é o maior inimigo da harmonia ..........................................................91

11. Nunca perca o bom humor ......................................... 113

12. Não tente ser Deus ........................................................... 119

13. Sinta orgulho de quem tiver mais sucesso .......... 125

14. Atreva-se e persevere ...................................................... 129

15. Enfrente as mudanças com curiosidade positiva ......................................................... 137

16. Como gostaria de ser tratado? ................................... 143

Aprendizagem contínua ....................................................... 149

Lista selecionada de livros .................................................... 151

Andar se aprende andando; nadar, nadando; para ser um bom chefe, é possível aprender sendo um bom pai.

Tenho quatro filhos e trabalho há mais de quinze anos em diversas multinacionais, com uma grande car-ga de trabalho, viagens e tensão, o que creio ser comum a muitas pessoas. Nunca pensei na possibilidade de pa-rar de trabalhar; em vez disso, tenho buscado meios de combinar as duas coisas, sem renunciar a mim mesma.

Há alguns anos também tenho me dedicado a es-crever, e pensei que seria bom combinar os aspectos mais importantes de minha vida, e tentar fazer isso de modo harmonioso. Decidi unir os três (família, trabalho e vocação) em um livro que falará sobre minha experiência e a de muitos amigos, colegas de trabalho e pessoas que entrevistei, para que, somando vivências e conselhos, pudéssemos ajudar outros pais e mães, que também são ou serão chefes, a viver melhor.

Para analisar a relação entre família e trabalho, deve-mos levar em conta a mudança que ocorreu na sociedade.

iNtrodução

Pais dedicados, chefes inesquecíveis

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Durante milhares de anos, os homens foram pais e prove-dores econômicos do lar e as mulheres, mães e donas de casa; e tudo parecia mais sensato, mas agora todos tentam fazer o possível e, muitas vezes, o impossível, por tentar combinar os dois papéis. As mulheres precisam se desen-volver intelectual e profissionalmente, mas não querem se afastar do trabalho único e insubstituível que é a ma-ternidade e, ao mesmo tempo, os homens cada vez mais têm um papel maior na atenção, cuidado e educação dos filhos. O papel de pai distante e autoritário tem dado es-paço a relações mais ricas e mais completas, repletas de momentos de cumplicidade e de ternura com os filhos.

E como pai e mãe dividem, cada vez mais, as tarefas de provedores e de cuidar dos filhos, muitos de nós nos vemos na difícil situação de não conseguir fazer tudo.

Este livro é uma proposta do que podemos melho-rar em nossa vida para cumprirmos bem ambas as fun-ções, de pais e de profissionais, de uma forma mais tran-quila, conseguindo, assim, uma vida mais plena.

Por que não aproveitamos a aprendizagem das coisas que fazemos em casa, com nossos filhos em sua educação e acompanhamento, em nosso ambiente de trabalho? Da mesma maneira, no trabalho somos muito eficazes em diversos aspectos; temos determinadas ca-pacidades que também podemos utilizar para melhorar nossa tarefa como pais. Porque ser um bom pai pode oferecer ferramentas muito úteis para ser um bom chefe. E vice-versa. Nas próximas páginas, buscaremos essas fer-ramentas e os segredos para aplicá-las de forma sensata.

Quando falo sobre esse assunto com as pessoas que me cercam, a primeira reação é sempre de interesse,

Introdução

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mas logo me perguntam, com dúvida, se eu acredito que ser pai e ser chefe é a mesma coisa. É claro que não. Os filhos são crianças ou jovens, enquanto os co-laboradores são, em geral, jovens ou adultos, algo que precisamos levar em consideração ao longo do livro. Também devemos levar em conta que no trabalho so-mos dispensáveis e para nossos filhos, não. Se algo não vai bem no nosso trabalho, podemos procurar outro, e nossos filhos continuam sendo nossos filhos para sem-pre. Mas, ainda com essas diferenças, acredito que am-bas as tarefas têm muito em comum e, analisando-as, teremos mais facilidade de pensarmos sobre nosso pa-pel de pais e detectar pontos de melhoria que também nos ajudem a ser melhores chefes.

Por que fica mais fácil pensar sobre nosso papel de pais?Provavelmente porque ficamos mais modestos, ou

talvez mais inseguros, na tarefa de pais, já que a trans-cendência desta faz nos questionarmos o tempo todo. Além disso, pelos filhos somos capazes de renunciar a muitas coisas, entre elas ao ego. Se uma tarefa estiver mais vinculada aos sentimentos, se uma pessoa “sente” a necessidade de mudar algo que aprendeu, logo será mais sensato aprender aplicar o aprendido a outros as-pectos da vida.

E não seria bom, no trabalho, sermos mais modes-tos, diminuindo o ego e utilizando mais os sentimentos?

Por isso, o enfoque do livro será, principalmente, nas atitudes que temos em ambiente familiar que podem ser levadas ao âmbito profissional. É um caminho único, por-que, afinal, as pessoas são “únicas”, ainda que às vezes lide-mos com nossas atividades como partes isoladas.

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Certamente, todos conhecem um profissional amá-vel e simpático que em sua casa é um pouco tirano. E o oposto: uma pessoa autoritária no trabalho que, quando está em casa, é um doce.

“Se minhas diferentes realidades nada têm a ver entre si, incapazes de conviver e contribuir para um ser mais rico e de diversas facetas, essa discrepância interna vai me custar caro [...]”.1

Por que ser diferente se a vida nos permite me-lhorar em ambos os aspectos ao mesmo tempo? Por que não aprender e melhorar sempre, desfrutar dessa aprendizagem?

A vida, atualmente, está repleta de contradições. Por um lado, temos forte o ideal do bom pai e do bom chefe. Mas tentar ser “bom” (e mais um pouco) em tudo é um objetivo pouco realista. Há dias em que não nos sa-ímos bem com nosso próprio chefe ou com subordina-dos, clientes, filhos ou amigos e, por isso, sentimos von-tade de jogar a toalha. Mas não jogamos, porque sempre temos algo que não está tão ruim: nosso companheiro, um irmão, outro filho... algo que no dia se destaca.

Mesmo que no dia seguinte as coisas boas fiquem ruins, seguimos em frente por nossos filhos, acima de tudo, porque ser pai é uma coisa misteriosa, tão misterio-sa que dá medo; porque amamos tanto os nossos filhos que chega a doer. Mesmo que haja momentos em que é difícil aguentá-los, e há. Às vezes, sentimos que não so-mos capazes de nos comunicar com eles, que parecem

1 SORALUCE, Santiago Álvarez de Mon Pan de. No soy superman [Não sou superman]. Santiago: Prentice Hall-Financial Times, 2007.

Introdução

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seres desconhecidos, alienígenas. A mesma coisa acon-tece com nosso companheiro, colaboradores, amigos... e até conosco mesmos.

No trabalho, ainda que as coisas estejam boas, muitas vezes temos a sensação de que a estratégia da empresa não é a adequada, de que nosso chefe não é tão competente como gostaríamos, de que a pressão e a competitividade são excessivas e de que a única coi-sa que parece importar são os resultados — e em curto prazo.

Mas não é saudável desanimar. É preferível pensar no caminho, em como dar passos que nos deixem mais próximos da melhora desejada, sem que fiquemos ago-niados e sem que tenhamos impedimentos de desfrutar tanto do convívio com os filhos como do trabalho.

Cada um deve pensar e criar seu próprio critério, adaptá-lo à si próprio e sua capacidade em função de seu caráter e do tempo de que dispõe. E realizar peque-nas mudanças possíveis que o ajudem a melhorar sua atitude, não em casa nem no trabalho, mas na vida, que é uma só.

Para isso, deveríamos tirar da cabeça esse ideal “aprendido”, que faz nos sentirmos impotentes.

O mito de Procusto

Por ordem de Zeus, o deus dos deuses, toda pessoa que quisesse entrar em Atenas tinha de passar uma noite no leito de Procusto. Essa cama tinha a medida exata que, para Procusto, todo

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Pense em si mesmo como um ser único e indivi-dual, porque só assim você poderá ser o bom pai ou o bom chefe que pode ser, não o que os outros acham que você deve ser. E, acima de tudo, que isso não seja uma carga a mais, mas uma carga a menos.

bom ateniense deveria ter. Se o indivíduo fosse muito baixo, Procusto prendia correntes nas mãos e nos pés até que ele ficasse mais comprido. Se a pessoa fosse muito alta, ele cortava suas pernas.

Um dia, Teseu viajava por esse caminho e foi convidado por Procusto a entrar. Ao se acomodar na cama, Teseu deitou atravessado na cama, e não no sentido do comprimento, como faz todo mundo. Isso deixou Procusto tão desconcertado, que Teseu pôde atacá-lo com sua espada, partin-do-o em duas metades exatamente iguais.

O mito de Procusto explica que a norma-lidade não existe e que tentar se adaptar a ela é um erro. Também mostra como podemos nos defender de pessoas que, como Procusto, que-rem impor um modelo. Colocando-se em outra posição, o modelo perde a utilidade. E, sem o modelo, as pessoas não sabem como agir

Os pequenos ou grandes resultados que obtivermos nessa análise farão nos sentir melhores, estaremos mais predispostos a continuar aprendendo e, assim, seremos mais felizes.

“Se quiser mudar o mundo, mude a si mesmo.”Mahatma Gandhi

Ainda que passemos anos agindo de uma determi-nada maneira como pais ou como chefes, é bom

que analisemos se fazemos isso de maneira harmônica, se nossa maneira de agir coincide com nosso caráter e se nos sentimos serenos e satisfeitos.

O ser humano costuma parar e pensar em momen-tos de crise. Como na crise dos quarenta, em que a pes-soa julga que chegou, aproximadamente, à metade de sua vida. Então, faz-se um balanço e analisa-se se ainda se quer seguir vivendo a outra metade daquela mesma maneira. Para mim, por exemplo, foi fulminante: deixei o trabalho que fazia, passei a me dedicar à consultoria, comecei a escrever e me separei. Outros momentos de crise que geram mudanças podem advir de uma doença, um problema sério com um filho, um divórcio...

É previsto e saudável reorganizar as coisas nes-ses momentos. Todavia, é muito mais interessante analisá-las também em momentos de calmaria, pensar

1 Com a atitude Certa, é mais fáCil aprender e mudar

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no que somos e em como fazemos as coisas para poder-mos prever as possíveis crises.

O problema é que, quando refletimos sobre nossa atitude diante de algo, costumamos pensar que é boa ou ruim, que temos qualidades e defeitos. Entretanto, o que consideramos um defeito, pode ser simplesmente uma qualidade de menor nível. Frio é apenas um nível mais baixo de calor. O que parecem defeitos podem ser apenas manifestações de qualidades.

Por exemplo, quando ficamos desmotivados no tra-balho e não rendemos como o esperado em vez de pensar que somos incompetentes, nos recriminarmos ou nos sen-tirmos culpados, devemos antes analisar por que nos com-portamos assim. Pode ser que nossa atitude tenha razão de ser, levando-nos à conclusão de que esse trabalho não é o indicado, que está nos afastando do que queremos fazer, ajudando-nos a perceber que necessitamos de uma ativi-dade que combine com nosso eu mais autêntico.

Assim, em vez de nos concentramos em nossos su-postos “defeitos”, deveríamos tentar reforçar nossas qua-lidades. Se quisermos afastar a escuridão de uma casa, podemos abrir a janela para que a luz entre.

Algumas perguntas que podem ajudar a pensar so-bre esse tema são:

• Dedico tempo suficiente a mim mesmo?• Eu me sinto culpado ao refletir porque me habituei à

abnegação?• Saio cansado do trabalho, sem vontade de fazer

mais nada?• Deixei de dar atenção a um amigo que tinha problemas?• Minha casa é um caos e isso me irrita?

1 Com a atitude certa, é mais fácil aprender e mudar

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Para entendermos e descobrirmos as coisas que nos estão impedindo de crescer como pessoas e, por-tanto, como pais e como chefes, deveríamos nos ques-tionar, e também ter em mente que nosso valor não depende de questões externas. Em relação a isso, numa dessas mensagens comuns que circulam pela internet, li algo interessante:

Paulo, com o rosto abatido, se encontrou com a amiga Laura para tomar um café. Deprimi-do, descarregou nela as suas angústias: o traba-lho, o dinheiro, a relação com sua mulher... tudo parecia estar ruim em sua vida.

Então, Laura colocou a mão no bolso, tirou uma nota de cem reais e disse:

— Quer esta nota? Paulo, um pouco confuso, disse:— Claro, Laura, são cem reais. Quem diria não?Laura amassou a nota até formar uma boli-

nha e, mostrando-a a Paulo, voltou a perguntar:— E agora, continua querendo?— Claro! Continuam sendo cem reais!Laura desdobrou a nota, colocou no chão e

passou o pé por cima dela.— Ainda a quer?— Veja, Laura, não sei o que pretende com

isso, mas é uma nota de cem reais e, mesmo que se rasgue, continua tendo o mesmo valor.

— Paulo, você deve saber que ainda que algu-mas vezes alguma coisa não saia como você quer,

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ainda que a vida lhe pisoteie, você continua tendo o mesmo valor de sempre. Você deve refletir que importa mais o quanto você vale realmente, apesar de às vezes se abater por algumas situações.

Acredito que a mensagem está clara: o valor de cada um depende de si próprio, não de como se encon-tra em um determinado momento, do julgamento dos outros ou dos modelos que vêm de fora.

Muitos criticam as atitudes de outros pais e de outros chefes e opinam constantemente a respeito de como eles devem se comportar. A influência dos meios de comunicação e dos outros modelos torna, muitas vezes, difícil a busca do nosso. A quantidade, a rapidez e a constância do bombardeio de informações aceleram nossa mente e limitam a profundidade de nos-sos pensamentos e de nossa vida.

Como disse Santiago Álvarez de Mon: “hoje tudo é oferecido, entregue e empacotado por quilo. O pensa-mento se padronizou como uma contradição intrínseca. Vivemos na superfície dos problemas. Faltam-nos luci-dez e coragem para encontrar nossos caminhos autênti-cos de identidade, como pessoas e também como insti-tuições. Parecermos com os outros, seguirmos modelos preestabelecidos nos tranquiliza e justifica. O mundo corporativo de hoje está repleto de palavras difíceis, dis-cursos moralistas e reuniões estéreis. Faltam silêncio ati-vo e criativo e atitudes exemplares de comprometimen-to. Estendo essa crítica também ao mundo educacional,

1 Com a atitude certa, é mais fácil aprender e mudar

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da formação, repleto de diplomas, banalidades e boba-gens. Mas órfão de ideias, problemas, sonhos, conflitos e desafios concretos”.2

Essa é uma imagem muito realista da situação. To-davia, é preciso pensar que tanto a idade como as expe-riências são frutos de nós mesmos, algo só nosso. O que precisamos saber está dentro de nós mesmos. Para isso, só é preciso ter momentos de solidão e de tranquilidade.

Se quisermos, de verdade, exercer uma paternidade mais plena, que o trabalho traga satisfação tanto para nós como para nossos colaboradores, e, definitivamente, se quisermos ter uma vida mais equilibrada, devemos buscar oportunidades para pensar, sem enchê-las imediatamente com algo.

Por exemplo, quando viajamos de avião ou de trem, em vez de pegarmos logo a revista de bordo, o laptop ou até este livro, podemos aproveitar o mo-mento para aquietar a mente, para deixar que as ideias cheguem à nossa consciência, para “observar” com atenção a atitude de um filho, de um amigo, de um colaborador... que não conseguimos compreender. Mas, em vez de parar e pensar, nós nos “enchemos” de material: ligamos a televisão, abrimos um jornal, faze-mos um telefonema, analisamos as correspondências... qualquer coisa, menos enfrentar o nada; e é nesses momentos de “nada” nos quais ocorrem as melhores ideias ou as melhores compreensões. Não é possível

2 SORALUCE, 2007.

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ver onde se deram alguns dos grandes descobrimen-tos do passado. Já ocorreram na banheira para Arqui-medes ou embaixo de uma árvore no caso de Newton. Em lugares nos quais o indivíduo podia se encontrar sozinho, surgiram ideias geniais.

Mas não se trata apenas de ideias, mas também de encontrar dentro de nós mesmos a forma de tratar um filho ou de motivar um colaborador.

Em muitas culturas, existem rituais ou costumes que incentivam a solidão, já que para eles o tempo que passamos em solidão é o mais valioso da vida. Em nossa cultura, há muitos poucos momentos, se é que existe algum, de profunda tranquilidade, nos quais há espa-ço para pensarmos. Momentos nos quais uma pessoa se pergunte a respeito de coisas que o preocupam de verdade, daquelas que lhe dão satisfação. Já parou para pensar de verdade?

Edward Gibbon dizia que “a conversa enriquece a compreensão, mas a solidão é a escola do gênio”. Por isso, gostaria que este livro representasse essa “con-versa” e, portanto, que enriquecesse a compreensão. E que depois, ou de forma intercalada, incentivasse a solidão e o pensamento reflexivo.

Temos uma vida intensa e autêntica, mas nosso dia a dia está cheio de preocupações por motivos in-significantes e temos dificuldade em dar conta de tudo o que carregamos. Temos medo de nos livrar desse peso porque ele nos dá uma falsa sensação de valor e de segurança. Estando ocupados e sem conseguir fa-zer as coisas, faz nos sentirmos importantes, mas, na realidade, pode ser que não tenhamos capacidade de

1 Com a atitude certa, é mais fácil aprender e mudar

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controlar nossa vida. Nós relutamos a deixar de lado re-gras de conduta que seguimos por anos.

No entanto, se pensarmos mais e exercermos nos-sa paternidade e nosso trabalho de forma mais equili-brada e autêntica, nossa vida e a das pessoas que nos rodeiam serão melhores.

Qualquer mudança, por menor que seja, que nos ajude a melhorar nossa vida é a melhor inversão que podemos fazer.