romantismo excertos 2016

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Certo é que as majestosas e novas cenas da natureza naquela vasta região deviam ter dado a seus poetas originalidade, mais diferentes imagens, expressões e estilo, do que neles aparece; a educação européia apagou-lhes o espírito nacional: parece que se receiam de se mostrar americanos; e daí lhes vem uma afetação e impropriedade que dá quebra em suas melhores qualidades (GARRETT, 1998, p. 56-57). Almeida Garret, Parnaso lusitano ou poesias dos autores portugueses antigos e modernos, 1826. [...] pendure a sua lira por instantes nos galhos dessas árvores antigas, cujas sombrias ramadas ocultam tantas cenas de perseguição; retome-a após haver lançado um olhar de compaixão aos séculos transcorridos; lamente as nações exterminadas, excite uma piedade tardia, mas favorável aos restos das tribos indígenas; e que este povo exilado, diferente na cor e nos costumes, não seja nunca esquecido pelos cantos do poeta; adote uma nova pátria e cante-a ele mesmo; consolese à lembrança de outros infortúnios, rejubile-se com a radiosa esperança que lhe dá um povo humano (1978, p. 38) Os americanos não têm feito sempre sentir em suas produções, o influxo da natureza que os inspirou; antes da Independência, parecia até pretenderem olvidar a própria pátria para pedir à Europa um quinhão da sua glória. Agora, que têm necessidade de fundar sua literatura, repito: ela deve ter caráter original (DENIS, 1978, p. 47). Resumo da história literária de Portugal, seguido do resumo da história literária do Brasil, 1826. DENIS, Ferdinand. Resumo da história literária do Brasil. In: CÉSAR, Guilhermino (org.). Historiadores e críticos do romantismo: 1- a contribuição européia: crítica e história literária. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1978. p. 35-82.

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Certo que as majestosas e novas cenas da natureza naquela vasta regio deviam ter dado a seus poetas originalidade, mais diferentes imagens, expresses e estilo, do que neles aparece; a educao europia apagou-lhes o esprito nacional: parece que se r

Certo que as majestosas e novas cenas da natureza naquela vasta regio deviam ter dado a seus poetas originalidade, mais diferentes imagens, expresses e estilo, do que neles aparece; a educao europia apagou-lhes o esprito nacional: parece que se receiam de se mostrar americanos; e da lhes vem uma afetao e impropriedade que d quebra em suas melhores qualidades (GARRETT, 1998, p. 56-57).

Almeida Garret, Parnaso lusitano ou poesias dos autores portugueses antigos e modernos, 1826.

[...] pendure a sua lira por instantes nos galhos dessas rvores antigas, cujas sombrias ramadas ocultam tantas cenas de perseguio; retome-a aps haver lanado um olhar de compaixo aos sculos transcorridos; lamente as naes exterminadas, excite uma piedade tardia, mas favorvel aos restos das tribos indgenas; e que este povo exilado, diferente na cor e nos costumes, no seja nunca esquecido pelos cantos do poeta; adote uma nova ptria e cante-a ele mesmo; consolese lembrana de outros infortnios, rejubile-se com a radiosa esperana que lhe d um povo humano (1978, p. 38)

Os americanos no tm feito sempre sentir em suas produes, o influxo da natureza que os inspirou; antes da Independncia, parecia at pretenderem olvidar a prpria ptria para pedir Europa um quinho da sua glria. Agora, que tm necessidade de fundar sua literatura, repito: ela deve ter carter original (DENIS, 1978, p. 47).

Resumo da histria literria de Portugal, seguido do resumo da histria literria do Brasil, 1826.

DENIS, Ferdinand. Resumo da histria literria do Brasil. In: CSAR, Guilhermino (org.). Historiadores e crticos do romantismo: 1- a contribuio europia: crtica e histria literria. Rio de Janeiro: Livros Tcnicos e Cientficos; So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 1978. p. 35-82.

Friedrich Schiller, Poesia Ingnua e Sentimental (1795)

No para ns seno o ser espontneo, a subsistncia das coisas por si mesmas, a existncia segundo leis prprias e imutveis [...] [da, o que se aspira da natureza no algo] esttico, mas moral. [Mas as manifestaes da natureza] so o que ns fomos, so o que devemos vir a ser de novo. [...] nossa cultura deve nos reconduzir natureza pelo caminho da razo e da liberdade. So, portanto, expresso de nossa infncia perdida, que para sempre permanece como aquilo que nos mais precioso, por isso, enchenos de uma certa melancolia. Ao mesmo tempo, so expresso de nossa suprema completude no Ideal, transportandonos, por isso, a uma sublime emoo. (Schiller, 1991, p.44)Gonalves de Magalhes, Prefcio a Suspiros poticos e Saudades (1836)Ora, nossa religio, nossa moral aquela que nos ensinou o Filho de Deus, aquela que civilizou o mundo moderno, aquela que ilumina a Europa e a Amrica: e s este blsamo sagrado devem verter os cnticos dos poetas brasileiros. [...] Este livro uma tentativa, um ensaio; se ele merece o pblico acolhimento, cobraremos nimo, e continuaremos a publicar outros que j temos feito, e aqueles que fazer poderemos com o tempo. um novo tributo que pagamos ptria, enquanto no lhe oferecemos coisa de maior valia [...]. Tu vais, livro, ao meio do turbilho em que se debate nossa ptria; onde a trombeta da mediocridade abala todos os ossos, e desperta as ambies; onde tudo est gelado, exceto o egosmo [...]. Vai, ns te enviamos cheios de amor pela Ptria, de entusiasmo por tudo o que grande e de esperanas em Deus e no futuro.

Adeus!

(Magalhes, 1998, p.426)

Como o passado o objeto da nostalgia dos restitucionistas, ele identificase, por vezes, com uma sociedade agrria tradicional entre os eslavfilos russos ou, no perodo entre as duas guerras, para os agrarians da escola literria do Sul dos Estados Unidos , mas quase sempre o restitucionismo est relacionado com a Idade Mdia. Essa focalizao do ideal no passado medieval, sobretudo em sua forma feudal, explicase verossimilmente por sua relativa proximidade no tempo (comparado s sociedades antigas, prhistricas, etc.), e por sua diferena radical em relao ao que rejeitado do presente: esse passado est bastante prximo para que seja possvel encarar sua restaurao, mas ao mesmo tempo totalmente oposto ao esprito e estruturas da vida moderna.

(Lwy e Sayer, Revolta e Melancolia: O romantismo na contra-mo da modernidade, 1995, p. 94)

Gonalves Dias, Meditaes, (1846), Revista Guanabara, 1850

E sabes tu, perguntoume o ancio, por que as vossas ruas so estreitas, tortuosas e mal caladas, e porque as vossas casas so baixas feias e sem elegancia? Sabes porque vossos palcios sem pompa e sem grandes, e os vossos templos sem dignidade e sem religio?

Sabes porque miservel a vossa marinha, e porque se ri o extrangeiro que aporta no Brasil?

porque o bello o grande filho do pensamento, e o pensamento do bello e do grande incompatvel com o sentir do escravo.

E o escravo o po de que vos alimentais, as tellas que vestis, o vosso pensamento cotidiano, e o vosso brao incansvel. [...]

O escravo ser negligente e inerte, porque no lhe aproveitar o suor do seu rosto, porque a sua obra no ser a recompensa do seu trabalho, porque a sua intelligencia limitada, e porque elle no tem o amor da gloria. (Dias, 1850, p.14. Foi preservada a grafia original.)estas dificuldades permaneciam curiosamente inessenciais. O teste da realidade no parecia importante. como se coerncia e generalidade no pesassem muito, ou como se a esfera da cultura ocupasse uma posio alterada, cujos critrios fossem outros. [...] Por sua mera presena, a escravido indicava a impropriedade das ideias liberais o que entretanto menos que orientarlhes o movimento. (Schwarz, Roberto, As idias fora do lugar, Ao vencedor as batatas,1992, p.15)

A poesia, Gonalves de Magalhes (1836)

[...]

Oh tu queu amo como casta virgem!

Sim, tu s como Deus, diva Poesia!

Sim, tu s como o sol!... Por toda parte

Cultos te rendem de uma zona outra;

Cada mortal te oferece

Um culto igual fora de sua alma;

Qual te julga uma virgem do Permesso,

S de fices amiga;

Qual da verdade o Anjo,

Que tudo v com olhos luminosos.

Tua voz semelhante a uma torrente

Tudo abala, e consigo arrasta tudo.

Oh poesia, oh vida da Natura!

Oh, suave perfume

Dalma humana exalado!

Oh, vital harmonia do Universo!

Tu no s um fantasma da beleza,

Falaz sonho de mente delirante,

E da mentira a deusa;

Tu no habitas s da Grcia os montes,

Nem s de Febo a luz te inspira o canto!

[...]

Nas cavas sepulcrais som lutuoso

De tua voz reboa.

Dirs que animados por teu canto,

Os mirrados cadveres se elevam

Do fundo dos jazigos,

E sobre as lousas curvos

Cantam num coro o mstico estribilho.

Sobre o bronco alcantil de alpestre fraga

Pelos tufes batida e pelas ondas,

Que incessantes se entonam,

Tu, sentada qual virgem

Do naufrgio escapa,

O mar contemplas, do infinito a imagem;

[...]

No campo de batalha, o cho juncado

De ossos que alvejam, de quebradas armas,

Que sublimes lies aos homens dita!

Tu s tudo, oh Poesia!

Tu ests na paz e na guerra,

Nos cus, nos astros, na terra,

No mar, na noite, no dia!

[...]

Tu, que s a imagem do Eterno,

Ters fim nesse momento?

Ou ters nova existncia

Do senhor no pensamento?

Sim; quando tudo extinguir-se,

Guardar Deus na lembrana

De tudo o que agora existe

Uma viva semelhana.

Essa imagem a Deus presente

Sers tu, oh Poesia!

Tu s do Eterno um suspiro,

Que enche o espao de harmonia.

Candido, Antonio. Formao da literatura brasileiraPessimismo, humor negro, perversidade, de mos dadas com a ternura, singeleza, doura, nesses poetas que devemos procurar. Considerados em bloco, formam um conjunto em que se manifestam as caractersticas mais peculiares do esprito romntico. Inclusive a atrao pela morte, a autodestruio dos que no se sentem ajustados ao mundo. Todos eles sentiram de modo profundo a vocao da poesia, vocao exigente que incompatibiliza com as carreiras abertas pela sociedade do Imprio e nas quais se acomodaram eficazmente, na gerao anterior, Magalhes, PortoAlegre, Norberto, o prprio Gonalves Dias: advocacia, magistrio, comrcio, Clero, armas, agricultura, burocracia. Por isso Junqueira Freire falhou como frade, Casimiro como caixeiro, Laurindo como mdico, Varela como tudo. Por isso o advogado Aureliano Lessa caa como bbado na rua e o Juiz de Catalo, Bernardo Guimares, era demitido a bem do servio. Por isso, o melhor estudante da Academia de So Paulo, lvares de Azevedo, morreu antes de obter o canudo de bacharel. (Candido, 1959, p.151)