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Rodovia Admar Gonzaga, 1.188, Itacorubi88034-901 Florianópolis, SCFones: (48) 3239-8090/3334-0711

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∗ Editorial .........................................................................∗ Lançamentos editoriais .................................................∗ Normas para publicação ................................................

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista e são de inteira responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só será permitida mediante a citação da fonte e dos autores.

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Sumário

∗ Novo cancro da soja identificado ..................................∗ Variedades locais: como defini-las ................................∗ O risco da escassez da água .........................................∗ Silício beneficia cultivo de batata ..................................∗ Integração lavoura-pecuária no Sul do Brasil ...............∗Confinamento europeu versus pastagens no Brasil ......∗ Agricultura do futuro – um retorno às raízes ................∗Extratos de timbó e arruda ajudam na conservação desementes de milho ...........................................................∗ Vitamina B – ninguém vive sem ela ...............................∗ Farinha de arroz: alternativa econômica para a farinha detrigo ..................................................................................∗ Mortadela rica em fibras e pobre em gordura ...............∗ Mel floral e mel de melato .............................................

∗ Identificação da variabilidade fenotípica numa populaçãolocal de feijão-preto ..........................................................∗ Eficiência da uréia e do nitrato de amônio em adubaçãode cobertura para milho cultivado no sistema plantio direto∗ Microclima e taxas fotossintéticas e transpiratórias dotomateiro em diferentes ambientes de cultivo ..................∗ Alterações em atributos químicos no perfil do solo após93 meses da aplicação superficial de calcário, em sistemaplantio direto ....................................................................∗Jovens agricultores do Oeste de Santa Catarina na encru-zilhada: entre o rural e o urbano .......................................

∗ Primeiro relato da ocorrência da forma perfeita deColletotrichum acutatum em folhas de macieira no Brasil∗ Primeiro registro da ocorrência de sarna em pereirajaponesa em Santa Catarina, Brasil ...................................∗ Nível de infestação e ocorrência do ácaro-vermelho-europeu em macieira cultivares Gala e Fuji .......................

∗ As feiras livres e a produção agroecológica .................

∗ Ovinocultura rumo à sustentabilidade ..........................∗ Esse garoto vai longe ...................................................∗ Associativismo impulsiona produção da cebolaagroecológica ..................................................................

Registro

Opinião

Conjuntura

Reportagem

Artigo Científico

Nota Científica

678899

10

1011

121213

14

1826

29

39

60

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∗ Estimativas dos impactos das mudanças climáticas nozoneamento da cultura do feijão no Estado de Santa Catarina

Mudanças climáticas

∗ Um cenário para a pesquisa e a extensão rural ............ 16

∗ Alecrim – um condimento bioativo com muitos aromas 33

Plantas bioativas

45485154

56

∗ Bacterioses da cebola: diagnose e recomendações parao controle integrado ........................................................∗ Métodos culturais no manejo de tripes em cebola .......∗ Rizobactérias promotoras de crescimento de plantas ..∗ Danos de Lagria villosa em mudas de videira ...............∗ Avaliação de cultivares para produção de batata orgânicano Litoral Sul Catarinense ................................................

Informativo Técnico

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A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina

Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

FICHA CATALOGRÁFICA

Agropecuária Catarinense – v.1 (1988) – Florianó-polis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou

a ser quadrimestral1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC. CDD 630.5

Impressão: Cromo Editora e Indústria Gráfica Ltda.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International.Conceito B em Ciências Agrárias – QUALIS

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publica-ção da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Exten-são Rural de Santa Catarina S.A. – Epagri –, RodoviaAdmar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502,88034-901 Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone:(48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597, internet:www.epagri.sc.gov.br, e-mail: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVA DA EPAGRI: Presidente:Murilo Xavier Flores, Diretores: Athos de AlmeidaLopes, Ditmar Alfonso Zimath, Edson Silva, ElisabeteSilva de Oliveira, Renato Broetto

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Dorvalino Furtado FilhoEditor: Roger Delmar FleschEditores-assistentes: Ivani Salete Piccinin Villarroel,Paulo Henrique Simon

JORNALISTA: Márcia Corrêa Sampaio (MTb 14.695/SP)

ARTE: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Janice da SilvaAlves

PADRONIZAÇÃO: Rita de Cassia Philippi

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Vânia Maria Carpes eLaertes Rebelo

REVISÃO DE INGLÊS: Airton Spies e Roger DelmarFlesch

CAPA: Foto de Ecco Publicidade

PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, MariaTeresinha Andrade da Silva, Neusa Maria dos Santos,Mariza Martins, Zilma Maria Vasco

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira eZulma Maria Vasco Amorim – GMC/Epagri, C.P. 502,fones: (48) 3239-5595 e 3239-5535, fax: (48) 3239-5597 ou 3239-5628, e-mail: [email protected],88034-901 Florianópolis, SCAssinatura anual (3 edições): R$ 22,00 à vista

PUBLICIDADE: GMC/Epagri – fone: (48) 3239-5682,fax: (48) 3239-5597

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE NOVEMBRO DE 2007

Aovinocultura passoua ser uma alternativade renda nas pequenas

propriedades rurais deSanta Catarina. Ela édesenvolvida praticamenteem todos os municípios doEstado, onde cerca de 11 milcriadores exploram estaatividade, que se concentranas Regiões Serrana, Meio-Oeste e Oeste Catarinense.O potencial desta atividadeé enorme e atualmenteobserva-se o desenvol-vimento da profissio-nalização do setor, cominclusão de novos pro-dutores e indústrias paraabate e comercialização,principalmente da carneovina. Muito esforço foi feito

para tirar esta atividade dasubsistência até atingir oalto nível que tem hoje e,por isso, ser reconhecidanacionalmente. Associaçõesde criadores foram for-madas, matrizes e sêmensforam importados, omelhoramento genético foiestimulado e trabalhado ecursos profissionalizantesforam oferecidos. Comoresultado, vêem-se pro-dutores especializados emprodução de carne e lã, comclientela garantida paraseus produtos. Os benefíciosque a criação de ovinosoferece são vários. Além defonte geradora de renda,pela comercialização decordeiros, lã e pele paraartesanato, a carne tem umsabor ótimo e baixo custo aoprodutor. Ela não depende

de grãos para sua produção,polui menos e pode serconsiderada como umaatividade “verde”. Osdepoimentos de produtoresapresentados na repor-tagem veiculada nestaedição demonstram apreferência por certasraças, a maneira de conduzira atividade, a diversidadede produtos gerados evendidos e a obtenção deuma renda satisfatória.Porém, segundo os pro-dutores, é preciso conhecera atividade, gostar deexercê-la, ter visão em-presarial e despender muitotrabalho para obter bonsresultados e renda. Areportagem sobre o assuntomerece a leitura dos quegostam da ovinocultura oujá a executam.

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5Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Sistema de avaliação econômico-financeira em floricultura: manual dousuário. 2007, 28p. BD 74, R$ 10,00

Este “Manual do usuário” traz orientaçãopara os utilizadores do sistema no dia-a-dia eservirá também para dirimir possíveis dúvidasque possam ocorrer. Trata-se de um sistemaconstruído com base na planilha eletrônicaMicrosoft® Excel®, que possibilita o cálculo dalucratividade e o levantamento de coeficientestécnicos da atividade. Este manual é muitoprático e de fácil manuseio para técnicos eempresários ligados à floricultura. Vemacompanhado de um CD-ROM a partir do qualo sistema poderá ser copiado para o computador,onde estará então pronto para ser utilizado.

Contato: [email protected].

Pragas da erva-mate noEstado de Santa Catarina. 2007,38p. BT 134, R$ 10,00

Este Boletim reúne informaçõessobre os insetos e ácaros queocorrem nas plantas de erva-mateno Estado de Santa Catarina. Tempor objetivo principal auxiliar noreconhecimento das pragas-chavee pragas secundárias e, ao mesmotempo, sugerir alternativas decontrole em benefício dosprodutores, consumidores e do meioambiente. Esta publicação é degrande valia para técnicos eprodutores que trabalham com acultura da erva-mate.

Contato: [email protected].

Sistema para produção devime. 2007, 40p. SP 44, R$ 10,00

Neste Sistema de Produçãoforam reunidas e organizadas asinformações disponíveis junto aosprodutores rurais, à extensãorural e à pesquisa agropecuária,para facilitar o acesso e socializaro conhecimento, tendo em vistaa melhoria do sistema de cultivo,com responsabilidade social epreservação ambiental. Aatividade tem importânciaeconômica na Serra Catarinensepela comercialização para todo oPaís, principalmente para aconfecção de peças artesanais.

Contato: [email protected].

Os re-cursos ge-néticos ve-getais nasunidadesde pes-quisa daE p a g r i .2007, 59p.DOC 226,R$ 10,00

O presente Documentocontém um relatório completodo estado dos recursos genéticosvegetais mantidos nas coleçõesde germoplasmas das unidadesde pesquisa da Epagri. Tambémsão apresentadas sugestões paraações estratégicas relacionadasaos recursos humanos, orga-nização e uso das coleções, for-mas adequadas de preservação,manutenção e aplicações nomelhoramento de espécies deexpressão econômica para oEstado de Santa Catarina.

Contato: [email protected].

Multiplicação da alga Chlorellaminutissima em propriedades ruraispara produção orgânica de peixes. 2007,24p. BD 69, R$ 8,00

O presente estudo apresenta subsídiospara a formulação de um sistema de produçãoe propagação da alga Chlorella minutissimapara a alimentação orgânica dos peixesfiltradores e, fundamentalmente, para odesenvolvimento e agregação de valores àpiscicultura de água doce da pequenapropriedade rural. São identificadas esugeridas condições de qualidade da águapara o desenvolvimento da atividade, bemcomo o aproveitamento de recursosdisponíveis e agregação de valor, com oobjetivo final de aumento de renda.

Contato: [email protected].

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6 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Novo cancro daNovo cancro daNovo cancro daNovo cancro daNovo cancro dasoja identificadosoja identificadosoja identificadosoja identificadosoja identificado

Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária – Em-brapa –, vinculada ao

Ministério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento – Mapa –, acaba deconfirmar a ocorrência de uma novadoença de soja no Brasil: um cancroda haste, causado pelo fungoDiaporthe phaseolorum var.caulivora. A pesquisadora LeilaCostamilan, da Embrapa Trigo,Passo Fundo, RS, identificou adoença, no ano agrícola 2005/06,em algumas áreas de Passo Fundoe de Coxilha, no RS. “Naquele anojá identificamos a doença em outrosmunicípios do Estado, mas aindanão temos levantamento dos danoseconômicos. Mesmo assim, a doençapreocupa, porque as plantasmorrem precocemente, o que afetaa produtividade”, diz.

Leila explica que, em plantasadultas, as folhas secam e per-

manecem aderidas às plantas. Ashastes apresentam áreas marrons,principalmente próximas dasinserções dos ramos laterais. “Aose raspar a superfície da haste,observa-se escurecimento interno.No entanto, as raízes têm aparênciasadia”, afirma.

A nova doença é similar ao cancroda haste, que causou prejuízoseconômicos no Brasil, na safra 1988/89, e para o qual já foramdesenvolvidas cultivares resis-tentes. O novo cancro já estámobilizando a pesquisa, no sentidode gerar material genéticoresistente. “Atualmente, açõesestão sendo realizadas pelaEmbrapa, em conjunto com o Mapae a Secretaria da Agricultura eAbastecimento do Rio Grande doSul, no sentido de avaliar a área de

ocorrência deste cancro. No futuro,testes serão realizados com ascultivares de soja da Embrapavisando a resistência a essa novadoença”.

Como o Brasil ainda não dispõede cultivares de soja resistentes aoproblema, são indicadas, comomedidas de controle, o tratamentode sementes com fungicidas e arotação de culturas.

De acordo com o pesquisador daEmbrapa Soja Álvaro Almeida, queidentificou no Brasil a espéciecausadora do problema por métodosmoleculares, a doença já foi descritaem outros países como EUA, Canadáe Argentina. “Nos Estados Unidos,o problema chegou a produzir danossuperiores a 50%, mas atualmentenão causa preocupação pelodesenvolvimento de cultivaresresistentes. Na Argentina, em 2004,as perdas de rendimento de grãosem algumas lavouras variaram de4% a 10%”, explica Leila.

Outros problemas que podemser confundidos com o cancro davar. caulivora: podridão radicularde fitóftora (Phytophthora sojae),podridão branca da haste(Sclerotinia scierotiorum), podridãovermelha da raiz (Fusarium solanif. sp. Glycines), danos de tamanduáou bicudo da soja (Sternechussubsignatus), morte em reboleira(Rhizoctonia solani).

Mais informações podem serobtidas na página da Embrapa Trigo,no endereço www.cnpt.embrapa.br.

Áreas marrons, especialmente na inserção de ramos laterais

As normas para publicação na revista Agropecuária Catarinensepodem ser acessadas pela internet no endereço www.epagri.sc.gov.br.

Procure por Revista Agropecuária e, a seguir,por Normas para publicação na revista.

As folhas secam rapidamente e permanecempresas às plantas

A

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7Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

VVVVVariedades locais: como defini-lasariedades locais: como defini-lasariedades locais: como defini-lasariedades locais: como defini-lasariedades locais: como defini-las

Variabilidade de cor de grão dasvariedades locais de milhocultivadas em Anchieta, SC

ma dúvida freqüente entreagricultores é a diferencia-ção entre variedades de

milho locais e melhoradas. Ambassão variedades de polinização aberta(VPA) e, por essa razão, o agricultorpode reutilizar a semente colhidapara semeadura na próxima safra,caso que não deve ser repetido emcultivares híbridas, principalmenteem virtude da perda do vigor híbrido(heterose) e redução na produ-tividade.

O termo variedade local é muitoamplo. Muitos sinônimos têm sidoutilizados no mundo inteiro. Os maisusuais são variedades crioulas,variedades tradicionais, variedadesprimitivas ou variedades dosagricultores, apresentandopequenas diferenças peculiares acada denominação.

Variedades locais podem serdefinidas como populaçõescultivadas por agricultores, que nãosofreram o processo convencionalde melhoramento genético, sãodistintas geograficamente ouecologicamente, têm composiçãogenética diversa, são adaptadas àscondições agroclimáticas locais,sendo comum o fato de seremdenominadas, selecionadas emantidas pelos agricultorestradicionais, para atender as suasnecessidades sociais, econômicas eculturais (Teshome, 1999; Silva et

al., 2002; Brown, 1978,citado por Zeven, 1998).

Em geral, apresentamuma natureza bastantecomplexa e ampla, nãosendo possível dar umadefinição única. Hádivergências princi-palmente relacionadasao tempo mínimo decultivo, podendo serclassificadas de váriasformas.

Zeven (1998) deno-mina variedade localcomo aquela cultivada pormuito tempo numsistema agrícola re-gional. Louette et al. (1997) e Brush(1999) consideram uma variedadecomo local quando a semente tiversido cultivada na região por pelomenos uma geração de agricultores(de pai para filho), ou seja,aproximadamente 30 anos.

Machado (2006) considera umavariedade tradicional aquela quevem sendo manejada em um mesmoecossistema por pelo menos trêsgerações familiares (avô, pai e filho),no qual já são incorporados valoreshistóricos e que passam a fazerparte das tradições locais.Generalizando, variedades locaispodem ser referenciadas como asvariedades manejadas ereproduzidas tradicionalmente

pelos agricultores ao longodos anos, podendo sertambém chamadas detradicionais ou crioulas.Como exemplos de va-riedades locais de milhotem-se: Pixurum, Ama-relão, Mato Grosso, Roxo,Branco 8 carreiras, Branco,Moroti, etc. As variedadesmelhoradas são sele-cionadas utilizandometodologias conven-cionais, e como exemplocitam-se as variedadescomerciais SCS 153(Esperança) e SCS 154(Fortuna).

Mais informações como eng. agr. GilcimarAdriano Vogt, Epagri/Cepaf, C.P. 791, 89801-970

Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600,e-mail: [email protected].

Literatura citada

1. BRUSH, S.B. The issues of in situconservation of crop genetic resources.In: BRUSH, S.B. Genes in the field: onfarmer conservation of crop diversity.Canadá: Lewis, 1999. p.3-26.

2. LOUETTE, D.; CHARRIER, A.;BERTHAUD, J. In situ conservation ofmaize in Mexico: Genetic diversity andmaize management in a traditionalcommunity. Economic Botany, v.51,n.1, p.20-38, 1997.

3. MACHADO, A.T. Dinâmica econceituação das variedadestradicionais e locais e sua diferenciaçãocom as variedades modernas. Rio deJaneiro: Articulação Nacional deAgroecologia – ANA, 2006. 2p.Disponível em: <www.agroecologia.org.br>. Acesso em: 10 set. 2007.

4. SILVA, R.M. da; FARALDO, M.I.F.;ANDO, A. et al. Variabilidade genéticade etnovariedades de mandioca. In:CEREDA, M.P. Culturas de tuberosasamiláceas Latino Americanas. SãoPaulo: Fundação Cargill, 2002. p.207-241.

5. TESHOME, A.; BAUM, B.R.; FAHRIG,L. et al. Sorghum (Sorghum bicolor (L.)Moench) landrace variation andclassification in North Shewa and SouthWelo, Ethiopia. Euphytica, Wage-ningen, v.97, n.3, p.255-263, 1997.

6. ZEVEN, A.C. Landraces: a review ofdefinitions and classifications.Euphytica, Wageningen, v.104, p.127-139, jun. 1998.

Variedades de polinização aberta (VPA)melhoradas da Epagri

U

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8 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

O risco da escassez da águaO risco da escassez da águaO risco da escassez da águaO risco da escassez da águaO risco da escassez da águaaquecimento global não é aúnica ameaça à vida noplaneta. Está em curso o

que os especialistas qualificam de“crise da água” e que já comprometeas condições de vida e saúde de umaampla parcela da população.Calcula-se que pelo menos um terçoda população mundial já tenhadificuldades, entre severas emoderadas, de acesso à água,sobretudo nas regiões setentrionale Norte da África.

O quadro se agrava com o usoinadequado dos recursos hídricos,poluição de mananciais e manejoirresponsável e deverá complicar-se ainda mais nos próximos anoscom o crescimento de países, oaumento da concentração urbanacom formação de megacidades e aconseqüente demanda por água po-tável.

Para responder a esse desafio, aAcademia Brasileira de Ciências –ABC – propôs ao InterAcademyPannel – IAP –, que reúne 96

O academias de ciências de todo omundo em torno de projetos degrande impacto para o avanço doconhecimento, a criação do WaterProgramme, um programainternacional de pesquisa e inovaçãosobre recursos hídricos. A propostajá obteve a adesão de 62 países, eseis deles, entre eles o Brasil, jácriaram institutos de pesquisa edesenvolvimento de novastecnologias sobre o uso da água.

O Programa da Água do IAPparte do princípio de que a água –tanto a superficial como asubterrânea – deve ser tratada comouma unidade integrada, exigindoque geólogos, limnologistas,engenheiros e ecologistas traba-lhem juntos para desenvolver abor-dagens regionais e otimizar investi-mentos, de forma a garantir que aágua siga cumprindo o seu papel nofuncionamento natural do planeta.

Em quatro encontros realizadospelo IAP – no Brasil, Polônia, Chinae África do Sul – foi definido que as

pesquisas enfatizarão o desen-volvimento de tecnologias de baixocusto para o tratamento de água,novas tecnologias de conservaçãoda água, integração de gestão demúltiplos usos, gestão de lençóissubterrâneos, monitoramento eavaliação de recursos hídricossuperficiais e subterrâneos, etc.

Cada instituto de água terá umalinha de investigação específica. NoBrasil, a missão será a utilização derecursos hídricos e da biodiver-sidade em regiões metropolitanas.O centro brasileiro – Instituto deBiodiversidade e Recursos Hídricos– terá sede em Guarulhos, na RegiãoMetropolitana de São Paulo.

Fonte: Revista Pesquisa Fapesp,Edição Impressa 137, julho 2007.

esquisas realizadas na Fa-culdade de Ciências Agronô-micas – FCA –, campus de

Botucatu, demonstram que aadubação com o nutriente silício(Si) pode melhorar a produtividadedas plantações de batata. Segundoo professor Carlos Alexandre CostaCrusciol, da FCA/Departamento deProdução Vegetal – DPV –, aaplicação do elemento torna aplanta mais ereta, resultando emmaior interceptação da luz solar,aumento da taxa fotossintética eredução da transpiração do vegetal,eventos que podem diminuir afreqüência de irrigação da culturaque, normalmente, exige grandesquantidades de água para pro-duzir.

Outro benefício, de acordo como professor Rogério Peres Soratto,

também da FCA/DPV, é que plantascom estrutura mais eretaproporcionam menor contato dasfolhas com o solo, diminuindo orisco de infecção por doenças.“Além disso, pode haver melhorana eficiência da aplicação dedefensivos agrícolas, com a reduçãoda quantidade utilizada dessassubstâncias”, esclarece. Estesresultados confirmam as conclusõesde outros pesquisadores, queconstataram a eficácia do silíciono combate da requeima, umadoença causada pelo fungoPhytophtora infestans na cultura dabatata.

Os benefícios alcançados nosexperimentos realizados em casa devegetação da FCA foram melhorastanto na produção total como naquantidade de tubérculos sem

defeitos. Segundo Soratto, foiconstatado que as batatas obtidasno processo apresentavam maiorteor de silício. O pesquisadorexplica que as investigaçõesenvolveram o acompanhamento dedois produtos: o calcário, usadopara corrigir a acidez do solo, e osilicato de cálcio e magnésio (damarca Agrosilício), que além decorrigir a acidez do solo fornecesilício às plantas, ao longo de cemdias. “Avaliamos as plantas emcondições normais de fornecimentode água e em condições de estressehídrico, isto é, com pouca água, econstatamos que o tratamento como Agrosilício proporcionou maiortolerância das plantas à falta deágua”, detalha.

Fonte: Jornal Unesp, v.21,n.226, set. 2007.

PSilício beneficia cultivo de batataSilício beneficia cultivo de batataSilício beneficia cultivo de batataSilício beneficia cultivo de batataSilício beneficia cultivo de batata

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9Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

NIntegração lavoura-pecuária no Sul do BrasilIntegração lavoura-pecuária no Sul do BrasilIntegração lavoura-pecuária no Sul do BrasilIntegração lavoura-pecuária no Sul do BrasilIntegração lavoura-pecuária no Sul do Brasil

a Região Sul do Brasil háfalta de alternativas econo-micamente viáveis para

utilização do solo entre os meses demaio e setembro (períodousualmente denominado deinverno). Por isso, muitas áreassão mantidas em pousio nestesmeses, aumentando os riscos deerosão hídrica e a infestação deplantas daninhas. O cultivo deespécies para cobertura no inverno

pode ser uma alternativa paraproteção do solo, no entanto, nãogera renda imediata, o que limita,em muitos casos, a sua utilizaçãoprática.

O cultivo de pastagens anuais deinverno, em sistema de integraçãolavoura-pecuária, pode ser umaestratégia adequada de uso de áreas,já que protege o solo e gera renda.A integração lavoura-pecuária é umsistema de produção com alter-

nância de pastagens(anuais e/ou perenes)e culturas de interesseeconômico, principal-mente grãos, ao longodo tempo. A compac-tação superficial dosolo (zero a 10cm deprofundidade), causadapelo pisoteio animal, ea reduzida quantidadede palha remanescentepara cultivos de verãosão as principais preo-cupações de agricul-tores que utilizam osistema de integraçãolavoura-pecuária sobplantio direto.

Em três experimentos con-duzidos pela Epagri/EstaçãoExperimental de Canoinhas,avaliou-se o efeito de pastagens,coberturas de solo e pousio noinverno sobre propriedades físicase químicas do solo e desempenho dacultura de milho semeada emsucessão. Constatou-se que, apósum inverno, o pisoteio bovino nãoafetou significativamente aporosidade total do solo, a densidadee a resistência do solo à penetração.Variáveis químicas do solo tambémnão foram influenciadas pelostratamentos. Em um experimentocujo nível de argila no solo erasuperior a 50% houve redução de14% na produtividade de grãos demilho na área com pastejo, emrelação à área sem pastejo. Nosoutros dois experimentos, o pisoteiobovino não prejudicou o milhocultivado em sucessão, resultandoem produtividades iguais.

Mais informações com oengenheiro agrônomo AlvadiAntonio Balbinot Junior, Epagri/Estação Experimental de Canoi-nhas, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected].

Gado pastando em área cultivadaanteriormente com milho

Confinamento europeu Confinamento europeu Confinamento europeu Confinamento europeu Confinamento europeu versusversusversusversusversus pastagens no Brasil pastagens no Brasil pastagens no Brasil pastagens no Brasil pastagens no Brasils exportações de carne bovi-na para a União Européia –EU – enfrentam nova fase

de contestação, gerada por supostosproblemas no sistema derastreabilidade brasileiro. Talimpasse, no entanto, parece terapenas a finalidade de restringir asexportações de carne do Brasil. Aspesquisas de campo da Confederaçãoda Agricultura e Pecuária do Brasil– CNA – e do Centro de EstudosAvançados em Economia Aplicada –Cepea – da Universidade de SãoPaulo – USP –, oferecem subsídiosimportantes para o entendimentodessa questão. A alimentação dosanimais é um dos maiores itens docusto da atividade, além dedeterminar a qualidade da carne. Amaioria dos rebanhos dos países dohemisfério sul usa pastagens como

base da alimentação, ao contráriodos países do hemisfério norte, quebaseiam a dieta dos animais emsilagem, farelo de soja e outrasopções. A utilização de pastagem eo aumento da produtividade sãofundamentais para explicar o ganhode competitividade da carnenacional. Como os concorrentes doBrasil não possuem meios parasuperar essa vantagem, surgem astentativas de restrição do comércio.Nas discussões européias, ascaracterísticas positivas do sistemade produção a pasto são relegadas asegundo plano, entre elas o bem-estar do animal, esquecido napecuária bovina, mas semprecobrado nas criações de aves esuínos. O motivo é simples: nosistema de confinamento europeu,os animais não têm acesso ao

ambiente de liberdade presente nascondições originais de vida dosbovinos e que é respeitado nosistema de criação a pasto. Acombinação da pecuária de cortecom outras atividades em umamesma empresa agrícola tende agerar ganhos de produtividade napecuária. Na Região Centro-Oeste,por exemplo, a integração pecuária-agricultura é representada pelaprodução de grãos, que gera farelode soja, utilizado na alimentaçãodos rebanhos europeus. Assim, oBrasil é responsável pela produçãode carne a pasto dentro de suasfronteiras e ainda auxilia a produçãode carne em muitos países,ofertando matéria-prima.

Fonte: CNA/Cepea/Esalq, In-dicadores Pecuários, ano 6, n.49,agosto 2007 ou www.cna.org.br.

A

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1 0 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Uma matéria divulgada narevista Scientific AmericanBrasil chama a atenção para

estudos que procuram substituir asculturas anuais graníferas por plan-tas perenes, com grande sistema deraízes, que permitem maiorpreservação do solo e cultivo emáreas marginais. O que motivouesta ação? É que a agricultura atualtem 80% das terras agrícolas doplaneta ocupadas com leguminosas,oleaginosas e cereais, as quais sãomuito exigentes em energia, irri-gação, extensas áreas de terra e de-fensivos agrícolas. Entretanto, estasculturas precisam ser cultivadasanual e intensivamente com reper-cussão negativa junto ao meio am-biente que, com o aumento da popu-lação mundial nas próximas déca-das, terá agravada a sua situação.

A idéia surgiu já nos anos 70,

quando um pesquisador observouque as gramíneas e plantas perenesdas pradarias do Kansas, EUA, erammuito produtivas anualmente,formavam solos ricos e não havianecessidade de fertilizantes eherbicidas para produzir. Noscampos próximos com culturasanuais como milho, trigo, girassol esoja, eram necessários cuidadosfreqüentes e caros e, mesmo assim,ocorria erosão, esgotamento do soloe poluição das águas. A soluçãopara o pesquisador era ter umsistema diversificado e resistente,de raízes perenes, como nos camposnaturais onde as plantas, além deprodutivas, têm raízes profundasque gerenciam a água e osnutrientes disponíveis para fazerfrente ao intemperismo. Segundo amatéria, num estudo de um séculosobre erosão do solo, a grama-timó-

teo, em mistura com alfafa e gramí-neas perenes, foi 54 vezes maiseficaz em manter a camada su-perior do solo que as plantas anuais,reduziu cinco vezes a perda de águae 35 vezes a perda de nitrato nosolo.

Com base nas observações cita-das, pesquisadores agrícolas e ecolo-gistas estão trabalhando em proje-tos que podem levar duas a cincodécadas para serem concluídos. Oobjetivo é transformar as atuaisprodutoras de grãos em plantas pe-renes, como nos ecossistemas natu-rais. Os trabalhos atacam duasfrentes: domesticação direta de plan-tas silvestres e hibridização dasplantas existentes da cultura anualcom suas parentes silvestres. Osautores da matéria concluem serimportante fixar agora as raízes deuma agricultura baseada em plantasperenes, pois daria aos agricultoresdo futuro mais opções sobre o que eonde cultivar, bem como propor-cionaria uma produção sustentávelde alimento para uma populaçãocada vez maior.

A íntegra desta matéria pode serlida na revista Scientific AmericanBrasil, v.6, n.64, p.58-65, 2007.

Extratos de timbó e arruda ajudam na conservaçãoExtratos de timbó e arruda ajudam na conservaçãoExtratos de timbó e arruda ajudam na conservaçãoExtratos de timbó e arruda ajudam na conservaçãoExtratos de timbó e arruda ajudam na conservaçãode sementes de milhode sementes de milhode sementes de milhode sementes de milhode sementes de milho

A s perdas pós-colheita de mi-lho são da ordem de 10%,causadas principalmente

pelo caruncho Sitophilus zeamais,e atingem basicamente a qualidadefisiológica das sementes. Nocontrole destes insetos são utilizadosinseticidas de alta toxicidade quedeixam resíduos no ambiente ecausam danos aos humanos. Umaalternativa para reduzir estesproblemas é a utilização de produtoscom ação inseticida, oriundos deplantas ricas em compostosbioativos. Com este objetivo,extratos hidroalcoólicos de timbó(Calopogonium coeruleum) e dearruda (Ruta graviolens) foramutilizados para avaliar o controle docaruncho do milho e a qualidadefisiológica de sementes de milhoarmazenadas. Para a obtenção dosextratos foram utilizados caulessecos de timbó e folhas secas de

arruda, ambos triturados e postos apercolar no solvente álcool etílico(70%v/v). Os extratos foramaplicados na dose de 12ml sobre amassa de sementes contida em umrecipiente de 1,5kg de capacidade.A qualidade das sementes foiavaliada no início e a cada 30 dias dearmazenamento, por 90 dias.

Houve maior ocorrência desementes infestadas com carunchona testemunha (21,92%) do que nassementes tratadas (cerca de 7,70%).A eficiência dos extratos foi igualnos três períodos (cerca de 13%),enquanto que a testemunha estavatotalmente infestada aos 90 dias(100%). Foi observada menor perdade peso da semente de milho tratadacom os extratos vegetais no períodode armazenamento. O milho tratadocom extrato de arruda, por sua vez,perdeu menos peso que o tratadocom extrato de timbó. A germinação

das sementes não foi afetada pelaaplicação dos dois extratos, quetiveram comportamento seme-lhante dentro e entre os períodosde armazenamento (entre 97% e99%), mas que suplantaram atestemunha sem tratamento emcerca de 33%, 58% e 86% aos 30, 60e 90 dias, respectivamente. Asuperioridade das sementestratadas foi devida à ausência deinsetos que, pela ação dos extratos,não puderam se desenvolver namassa de sementes armazenadas.

Os resultados obtidos permiti-ram concluir que os extratos vege-tais de timbó e arruda podem serindicados como alternativas viáveise de baixo custo para conservaçãode sementes dos produtores demilho.

A íntegra do artigo pode ser lidana Revista Brasileira de Armaze-nagem, v.31, n.1, p.79-85, 2006.

Agricultura do futuro – um retornoAgricultura do futuro – um retornoAgricultura do futuro – um retornoAgricultura do futuro – um retornoAgricultura do futuro – um retornoàs raízesàs raízesàs raízesàs raízesàs raízes

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1 1Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

AVitamina B – ninguém vive sem elaVitamina B – ninguém vive sem elaVitamina B – ninguém vive sem elaVitamina B – ninguém vive sem elaVitamina B – ninguém vive sem ela

Tabela 1. Principais fontes de vitaminas do complexo B e quantidades expressas em mg/100g

Vitamina B1 B2 B3 B5 B12

Principais fontes Ervilha, feijão, Cereais, leite, Leite em pó, Cogumelos, Carnespão integral, ovos, fígado, amendoim, milho, abacate, vermelhas,

fiambre, couve, semente feijão, aves, aves, ovos, fígado, peixes,gema de ovo, de girassol, limão, peixe, leite, vegetais, leite e ovosfígado, rins, repolho, nozes e trigo legumes, grãos

nozes, cereais, agrião integral de cereaiscarne de porco

..............................................................mg/100g.................................................................

Ervilha 0,2 0,12 0,9 5,0 -

Pão integral 0,4 0,2 4,0 - -

Ovo 0,6 0,5 0,06 1,3 0,001

Feijão 0,4 0,05 0,9 - -

Fígado 0,21 4,14 14,47 - 0,05

Necessidadesdiárias (mg) 1,0 a 1,2 1,5 a 1,7 18 5,0 0,001

Fonte: Instituto Nacional de Saúde - Estados Unidos.

vitamina B é um complexoque inclui desde a vitaminaB1 até a vitamina B12. Cada

uma tem um papel específico eexerce no corpo humano uma funçãoessencial.

A vitamina B1, por exemplo,desempenha inúmeras funções noorganismo. É importante para obom funcionamento do sistemanervoso, do pulmão e do coração,auxilia as células na produção decombustível para que o corpo possaviver, melhora a atitude mental e o

raciocínio. Sua ausência secaracteriza geralmente pelainsônia, nervosismo, irritação,fadiga, depressão, dores noabdômen e no peito, perda do tato eda memória, problemas deconcentração. O consumo exageradode álcool, café, cigarro, barbitúricos,diuréticos e doces reduz ouneutraliza seus benefícios.

Entre as vitaminas do complexoB, destacam-se a B2, que auxilia ometabolismo das gorduras,açúcares e proteínas e é impor-

tante para asaúde dosolhos, da pele,da boca e doscabelos; a B3,que além demanter a pelesaudável e pro-teger o fígado,ajuda a regulara taxa de coles-terol no san-gue; e a B12,c o n s i d e r a d ai m p o r t a n t epara o meta-bolismo dosaminoácidos e

dos ácidos nucléicos.A carência de vitamina B12 pode

provocar anemia e alteraçõesprogressivas no sistema neuro-lógico, levando à morte caso nãohaja tratamento adequado. Comoas fontes ricas em vitamina B12 sãocarnes vermelhas, ela costumaaparecer em níveis bastante bai-xos no organismo dos vegetarianos.

As principais fontes de vitaminado complexo B, bem como suasrespectivas quantidades, expressasem mg/100g, podem ser observadasna Tabela 1.

Embora muitos alimentosindustrializados tragam nos rótulosinformações sobre as vitaminas, amaior parte dos alimentos éconsumida in natura. Por isso, nemsempre é possível saber a quantiaexata de vitamina que se consome.Considerando por exemplo que 100gde nozes contêm 0,38mg devitamina B1 e 0,57mg de vitaminaB2, deve-se buscar em outra fonteas quantidades necessárias paraequilibrar a alimentação. Para umadieta balanceada, deve-se manteros níveis dessa substância o maispróximo possível das necessidadesrecomendadas na Tabela 1.

Existem diversos alimentos que,c o m b i n a d o s ,podem suprir asnecessidades devitaminas docomplexo B.Para manter asaúde em dia,basta adaptar ocardápio deacordo com apreferência decada um. Há atéquem acrediteque as cores dosvegetais são umelemento es-sencial paracompor a re-feição ideal.Além de satis-fazer seu gostopessoal, pro-cure lembrar dasaúde e bomapetite.

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1 2 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

FFFFFarinha de arroz: alternativaarinha de arroz: alternativaarinha de arroz: alternativaarinha de arroz: alternativaarinha de arroz: alternativaeconômica para a farinha de trigoeconômica para a farinha de trigoeconômica para a farinha de trigoeconômica para a farinha de trigoeconômica para a farinha de trigo

A s cotações internacionais detrigo devem se manter emalta no mercado interna-

cional e, em virtude disso, opãozinho francês pode aumentar depreço em breve. Alternativas vêmsendo estudadas para substituir afarinha de trigo por outras fontesde modo adequado para produçãode massas e panificados. Uma delasé a farinha de arroz em substituição,parcial ou total, da farinha de trigo.Com essa estratégia, os custos napanificação podem diminuir até 10%com uma proporção de 30% a 40%do derivado de arroz. Estudosindicam que a substituição dasfarinhas de trigo pela de arroz podeoferecer produtos com melhor cor,textura, sabor e aparência. Essamistura pode ser aplicada a outros

fins alimentícios, chegando até a75% de substituição, conforme oproduto. No caso do pão francês aindicação é de que seja adotada aproporção de até 40% de farinha dearroz. Na fabricação de biscoitos emacarrão, a substituição da farinhade trigo pela farinha de arroz podeser total.

No Brasil são produzidosanualmente cerca de 2,6 milhõesde toneladas de quirera (arrozquebrado) que poderiam sertransformados em farinha paraatender à indústria da panificação,pois a cotação da farinha de arroztem, em média, um custo 15%inferior ao do trigo. Os alimentosproduzidos com a farinha de arrozabsorvem menos óleo vegetaldurante as frituras, tornando os

alimentos menos calóricos. Alémdisso, a farinha de arroz não possuiglúten (beneficiando a populaçãocelíaca), apresenta baixo índiceglicêmico (digestão mais lenta emrelação à glicose), além de um altovalor nutritivo.

A Embrapa Arroz e Feijão firmouuma parceria com a UFG/Escola deAgronomia e de Engenharia deAlimentos, em 2006, para odesenvolvimento de projetosvoltados ao estudo das propriedadesda farinha e do farelo de arroz naelaboração de produtos alimen-tícios. Os resultados iniciais daspesquisas em andamento jádestacam: a produção de umaespécie de bebida láctea à base de“leite de arroz”, com ausência deglúten (bom para celíacos) e lactose(beneficiando população intoleranteà lactose), e a elaboração de biscoitoscom farelo de arroz, que agregamaiores teores de fibra e vitaminashidrossolúveis.

Mais informações com AndréRibeiro Coutinho, Embrapa Arroz eFeijão, Santo Antônio de Goiás, GO,fone: (62) 3533-2101/2107, e-mail:andré@cnpaf.embrapa.br.

Mortadela rica em fibras eMortadela rica em fibras eMortadela rica em fibras eMortadela rica em fibras eMortadela rica em fibras epobre em gordurapobre em gordurapobre em gordurapobre em gordurapobre em gordura

perspectiva de uma morta-dela com propriedades fun-cionais surgiu com a

apresentação da tese de doutoradode Andréa Carla da Silva Barretto,na Faculdade de Engenharia deAlimentos – FEA – da Unicamp.Além de reduzido teor de gordura erico em fibras, o embutido pré-biótico tem sabor, textura eaparência similares aos produtosconvencionais, segundo testesrealizados com voluntários. Aomesmo tempo em que nutrem, osalimentos funcionais com apelopré-biótico trazem benefíciosadicionais à saúde e, por isso, têmdespertado o interesse da indústriaalimentícia e dos consumidores.

Andréa decidiu estudar amortadela por se tratar de umalimento bastante apreciado pelobrasileiro, com preço acessível, que

em 2006 teve um consumo de cercade 300 mil toneladas. Consumidana forma de lanches, a mortadela éo embutido mais apreciado noSudeste, e em muitas casas elasubstitui o bife ou o frango noacompanhamento do arroz e dofeijão.

O desafio tecnológico foi produziruma mortadela com baixo teor degordura e que contivesse fibras nasua formulação, sem alterar suaqualidade sensorial. No estudo, apesquisadora utilizou fibras de trigoe aveia, além de inulina. As fibrascontribuem para a redução do riscode doenças crônico-degenerativas eajudam a melhorar o funcionamentodo trato intestinal. Ao todo, ela feznove diferentes formulações e ascomparou com uma amostra-controle, com 20% de gordura suína.Ao final dos ensaios laboratoriais e

dos testes sensoriais, Andréaconcluiu que duas formulações, umacontendo 6% de fibras e 5% degordura e outra com 6,58% de fibrase 1,45% de gordura, apresentavamcaracterísticas sensoriais similaresàs da amostra-controle, sem adiçãode fibras.

A mortadela funcional foiproduzida segundo as exigências dalegislação vigente e parte dotrabalho, executada nasdependências de uma indústriaalimentícia, de modo a reproduziras condições reais de uma plantaindustrial. Os resultados precisamser aprimorados, mas é umacontribuição importante para que aindústria alimentícia passe aproduzir no futuro produtos cárneosfuncionais.

Fonte: Jornal da Unicamp,edição 362, junho de 2007.

A

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1 3Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

AMel floral e mel de melatoMel floral e mel de melatoMel floral e mel de melatoMel floral e mel de melatoMel floral e mel de melato

principal matéria-prima pa-ra a elaboração do mel pelasabelhas melíferas (Apis

mellifera L.) é o néctar das flores,mas em menor proporção tambémpode ser oriundo de secreções deinsetos como as cochonilhas e dasecreção de certas plantas e desubstâncias doces diversas.

A secreção açucarada dosnectários é colhida pelas abelhas(Figura 1) e, a partir de então, sofreuma série de reações químicas efísicas até se transformar em mel.As reações químicas ocorrem pelaação de enzimas sobre os açúcaresdo néctar. Ao mesmo tempo, ocorreuma ação física de desidratação donéctar, através da absorção de águana vesícula melífera (papo) eevaporação na colméia. O produto éregurgitado nos alvéolos do favo,onde continua a sofrer modificações,

culminando com a operculação(depósito de uma fina camada decera que recobre os favos) quando omel encontrar-se maturado.

As características dos méis dasabelhas melíferas, tais como a cor,o sabor, o aroma, a consistência, acristalização e a granulação, sãovariáveis e estão diretamenterelacionadas com as espécies floraiscoletadas.

Em locais de ocorrência deflorestas de bracatinga (Mimosascabrella), árvore típica do planaltocatarinense, de partes do RioGrande do Sul e do Paraná, podeocorrer a produção de mel de melato,da seguinte forma: a bracatinga éparasitada por um insetodenominado cochonilha que suga aseiva da árvore. A seiva passa pelosistema digestivo da cochonilha,sendo então eliminada na forma de

Figura 1. Abelha coletando néctar

Composição físico-química do mel floral e mel de melato

MelComposição

Floral Melato

Umidade (máximo) - % 20,0 20,0

Açúcares redutores (mínimo) - % 65,0 60,0

Sacarose (máximo) - % 6,0 15,0

Cinzas - resíduo mineral (máximo) - % 0,6 1,2

Acidez (máximo) - meq/kg 50,0 50,0

Fonte: Adaptado de Instrução Normativa nº 11, Ministério da Agricultura, de 20de outubro de 2000.

Figura 2. Gotas de melato

uma secreção açucarada em formade gotas de melato (Figura 2), quesão coletadas pelas abelhas e porelas processadas, originando o melde melato. O ciclo da cochonilha ébianual e ocorre nos meses defevereiro e maio. O mel de melatose caracteriza por apresentar umacor escura e por apresentar maiorteor de sais minerais se comparadoao mel de flores (Figura 3).

Mais informações com a médicaveterinária Mara Rubia RomeuPinto, especialista em em SanidadeAnimal, Epagri/Cepea, fone: (48)3331-3900, e-mail: [email protected].

Figura 3. Mel floral e mel de melato (cor escura)

Foto de M. Martins e A. Orth

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Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 20071 4

s feiras livres lembram-medo tempo que morava emBlumenau, no bairro da

Itoupava-Seca, lá pelo final dos anos60. Todas as sextas-feiras, o senhorHerbert, com sua carroça puxadapor uma junta de cavalos, traziauma série de hortifrutigranjeirosda época, como aipim, abóbora,batata-doce, cará, taiá, chuchu,laranja, vergamota, lingüiça,manteiga, torresmo, musses, ovos,pão de milho, queijo, bolachas, etc.,produzidos por sua família evizinhos. A maioria desses produtospodiam ser considerados orgânicos,pois a “revolução verde”, queintroduziu as tecnologias modernas(tratores, sementes, agroquímicos,agrotóxicos, etc.), ainda estavainiciando. Esse dia era esperadocom ansiedade pelas crianças, poisera comum montarem no lombodos cavalos até o final da rua. Nossafamília, assim como outras,mantinha uma relação com o senhorHerbert além da comercial. Eramfreqüentes as visitas que fazíamosà propriedade da família localizadano Bairro Fortaleza, aos finais desemana, para pescar, tomar banhode rio, conhecer e interagir umpouco com a realidade do meio rural.Aos poucos esse tipo de atividade foidesaparecendo, se inviabilizandoeconomicamente.

Pouco depois, nessa mesmaépoca, surgiram as feiras livres nosbairros da cidade. Íamos de manhã

As feiras livres e a produçãoAs feiras livres e a produçãoAs feiras livres e a produçãoAs feiras livres e a produçãoAs feiras livres e a produçãoagroecológicaagroecológicaagroecológicaagroecológicaagroecológica

Edson Walmor Wuerges1

bem cedinho para comprar osprodutos fresquinhos. Éramos nós,as crianças, que carregávamos assacolas à medida que iam sendocompletadas a cada banca. Quandotínhamos dúvida a respeito do saborde algum produto, era “obrigação”do feirante oferecer a prova. Maspara que enganar, se a freguesiaera conquistada na base da confiançae do bom atendimento? Nesse tipode feira, algumas bancas eramespecializadas em certos produtos,enquanto outras eram maisdiversificadas. No início, a maioriaeram produtores. Com o tempo,começaram a prevalecer osintermediários, que adquiriamprodutos de outros produtores ouem centrais de abastecimento.Além dos produtos locais, algunsimportados, como a maçã argen-tina, eram encontrados nessasfeiras.

Atualmente, em Blumenau, atradição das feiras continua, apesarde ter perdido muito dos seusprincípios, finalidades e do seusignificado. A maioria dos fei-rantes não são agricultores. Comisso, a relação direta entre ourbano e o rural, representadapelas trocas (econômicas, cultu-rais, sociais) existentes entreprodutores e consumidores, ficouprejudicada.

Apesar dessa tradição culturaldas feiras livres em Blumenau, acomercialização de hortifruti-

granjeiros, em especial das frutas,legumes e verduras (FLV), estáacompanhando a tendência mundiale é realizada principalmente nossupermercados.

Tendências do consumode alimentos orgânicos

Cada vez mais os alimentosorgânicos ocupam um mercadopróprio, sendo consumidos, emgeral, por uma classe social commaior poder aquisitivo. Pode-sechamar este processo de“mercantilização da ecologia”. Umaconstatação internacional maisrecente coloca os supermercadoscomo a forma dominante naexpansão da comercialização dosalimentos orgânicos, apesar dosconflitos que existem entrefornecedores e produtores.

Assim, o contato, o diálogo, arelação de confiança entre consu-midores e agricultores estãodiminuindo cada vez mais. Os FLVorgânicos, para serem comer-cializados nesse mercado,necessitam a certificação daprodução, baseada em processosde auditorias externas quedispensam a presença de quem osproduziu.

Além disso, as grandes redesvarejistas impõem restrições eexigências em relação à quantidade,qualidade e regularidade da ofertade FLV orgânicos, entre as quaisdestacam-se: embalagens so-fisticadas, repositores dos produtos,venda consignada, etc., que acabamonerando o preço final aosconsumidores. Os gerentes de lojae de seção dos supermercadosapontam alguns problemas quepodem inibir o consumo dosorgânicos: preço muito alto, poucaquantidade disponível, descon-tinuidade da oferta, pouca variedadede produtos e exigência deembalagens fracionadas. Semcontar com o fato de que osconsumidores preferem comprar

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Escritório Municipal de Palhoça, Rua Ilza Teresinha Pagani, 280, Parque Residencial Pagani, 88130-000Palhoça, SC, fone: (48) 3242-1636, e-mail: [email protected].

A

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Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007 1 5

FLV a granel, alegando apossibilidade de manusear osprodutos.

Feiras livres deagricultores familiarescomo agentes detransformação

Estudos sobre os projetos dedesenvolvimento no meio rural,principalmente aqueles levadosadiante pelas instituições ligadasao setor público estatal, revelamque estes desconsideram, emgrande parte, a complexidade e ainterdependência existente narelação entre o ambiente rural e ourbano e, principalmente, nasrelações de comercialização. Aaproximação entre agricultores econsumidores, a exemplo doscircuitos curtos de comercialização,como a venda direta na propriedadeou em feiras, pode influenciardiretamente os sistemas produtivosagrícolas, ampliando a autonomia,a biodiversidade, a complexidade, acooperação e a geração de empregosnas propriedades rurais familiares.

As feiras livres agroecológicaspodem favorecer a interação deaspectos técnicos e sociais paraalém dos aspectos meramenteprodutivistas ou de lucro. Nesteespaço, os consumidores poderãoobter mais qualidade, preço maisbaixo e a oportunidade do “bate-papo”, da solidariedade etc., comomostra a Figura 1.

Com o diálogo e a integraçãoentre agricultores e consumidores,é possível melhorar a qualidade daprodução e do consumo de FLV.Aspectos e particularidades queinfluenciam a produção local (clima,variedades e outros itens que podemlevar à sazonalidade da produção eà entressafra) podem ser levados aoconhecimento dos consumidores.Visitas às propriedades ruraispodem ser organizadas de modo aestimular o turismo no meio ruralde forma saudável.

O “livre-mercado” não é,necessariamente, a instituição maisapropriada para estabelecer ascondições favoráveis para amelhoria da qualidade das relações

Figura 1. Feira Ecológica da Lagoa da Conceição – Florianópolis, SC

entre seres humanos, tecnologia eambiente natural. As feiras agroe-cológicas de produtores familiares,no entanto, podem oferecer taiscaracterísticas e impulsionar aprodução e o consumo de orgânicos.Para isso, é fundamental o incentivodo poder público local à implantaçãode espaços com infra-estrutura ade-quada.

Um exemplo recente do queestamos falando pode ser extraídoda experiência de Chapecó, ondeaproximadamente 3 anos após oinício da implantação das feirasecológicas mais de 300 famílias deagricultores já estavam envolvidas,nas quais circulavam em média,semanalmente, 7 mil consumidores.Das 104 bancas distribuídas em novepontos naquele município, 36,5%estavam enquadradas comoagroecológicas e 63,5% como “emtransição”. A iniciativa aumentou arenda dos agricultores-feirantes epermitiu maior investimento nasunidades de produção, gerandonovas oportunidades de trabalho,especialmente para os demaismembros das famílias.

Assim como no município deChapecó, em todas as regiões elocalidades do Estado podem serdesenvolvidos projetos seme-lhantes, de acordo com suasparticularidades. A Região da

Grande Florianópolis, por exemplo,reúne diversas condições favoráveispara a criação de feiras livres locaise regionais a fim de estimular umaproposta de desenvolvimento combase na agroecologia. Além dapopulação de quase 1 milhão dehabitantes da rede viária com asBRs 101 e 282 e do acesso asfálticoa quase todos municípios, a regiãoconta com variedade climática,altitudes entre zero e mais de1.000m, agricultura familiardiversificada etnicamente e ematividades produtivas.

Para finalizar

Até meados dos anos 70,predominava em Blumenau oabastecimento de hortifruti-granjeiros produzidos e co-mercializados localmente, se-guindo vários princípios elencadosatualmente pela agroecologia.

As feiras livres agroecológicasde agricultores familiares, naatualidade, se revelam comoalternativa e complemento aossupermercados, com vistas aresgatar técnicas, princípios evalores culturais, popularizar aprodução e o consumo de alimentosorgânicos e estimular o forta-lecimento de novas relações, alémdas comerciais.

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Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 20071 6

Um cenário para a pesquisa e a eUm cenário para a pesquisa e a eUm cenário para a pesquisa e a eUm cenário para a pesquisa e a eUm cenário para a pesquisa e a extensão ruralxtensão ruralxtensão ruralxtensão ruralxtensão rural

Murilo Xavier Flores1

século 21 se iniciou como fortalecimento de um pro-cesso global de mudança no

perfil da atividade agrícola, que temsuas origens em alguns fatores,destacando-se particularmente doisdeles: o crescimento da renda decamadas sociais em diversas partesdo mundo, tanto em paísesdesenvolvidos como nos queatualmente são denominados deemergentes, e a grande criseambiental causada pela moder-nização da sociedade, onde muitosriscos passam a ter escala global.

O primeiro aspecto tem colocadonovas questões importantes naagenda da pesquisa e da extensãorural. A demanda por produtos comnovos perfis de qualidade temtomado grande espaço na definiçãodas prioridades da pesquisa e nasações voltadas à orientaçãotecnológica aos agricultores. Essasnovas demandas estão relacionadasa diversos fatores como benefíciospara a saúde do consumidor,incorporação de especificidadeslocais que diferenciem os produtosterritorialmente – muitas vezesassociando-se a aspectos culturaisou étnicos, e outras a combinaçõesde modos de produção e condiçõesambientais – e característicassensoriais orientadas por novospadrões de comportamento social.

Não se trata de se desprezar aimportância da produtividade emrelação à competitividade doproduto agrícola; mas este fatorcada vez mais não se move sozinhono conjunto das variáveis que defineo perfil do produto competitivo eperfeitamente conectado com asexpectativas de mercado. Oaumento da renda, associado àprocura da diversidade e da espe-

cificidade, transforma mercadosoriginalmente marginais emmercados com maior importância eque vêm merecendo cada vez maisatenção nas negociações inter-nacionais envolvendo acordos noâmbito da Organização Mundial doComércio – OMC.

Um exemplo concreto dessecaminho é o crescente registro dedenominações relacionadas àterritorialidade. No caso europeu,são comuns os vinhos, queijos,derivados de suínos e aves, frutas,dentre outros, que registram suasdenominações ligadas a uma regiãodelimitada. Este é um processo quese pode denominar de “descommo-ditização” do produto agrícola, ouseja, tornar um produto local emespecífico e, dessa forma, ocuparespaços preferenciais no mercado.No Brasil, essas ações ainda sãopequenas, mas têm importantesrepercussões internacionaisquando se consegue territorializar(para todo o País) a denominação decachaça, que passa a ser de usoexclusivo para o produto nacionaloriginário da cana-de-açúcar.

Esse tipo de mercado que crescevertiginosamente no mundo colocapara a pesquisa e a assistênciatécnica e extensão rural novosdesafios, muitos dos quais elas aindanão estão qualificadas paraenfrentar.

O segundo aspecto citado serefere a toda nova complexidadedos problemas que a crise ambientaltem colocado para a sociedade. Aexigência de padrões sustentáveisde desenvolvimento coloca emdebate toda a base tecnológica querevolucionou a produção agrícolano século 20, denominada de“revolução verde”. Com a crise

ambiental de alcance global – que éa principal característica dife-renciadora da crise atual em relaçãoaos problemas ambientais dopassado – a necessidade de desen-volvimento de novas técnicasagrícolas se tornou fundamental. Anecessidade de redução no uso deinsumos químicos, do melhormanejo da água e do solo, de umanova matriz energética que mova aprodução agrícola e de preservaçãoda biodiversidade provoca anecessidade de novos padrõestecnológicos e sistemas de produção.

Alguns eventos de expressãointernacional como o surgimento edisseminação do “mal da vaca louca”e da “gripe aviária” fizeram comque as agendas de pesquisa setransformassem e as orientaçõestécnicas passassem a ter novasbases. A criação de animais emconfinamento, considerada pormuitos como único caminho para acompetitividade da pecuária, perdeuespaço para o discurso da produçãoa pasto, sem o uso de raçõesabusivamente descaracterizadorasde “um processo natural deprodução”.

Grupos mais comprometidoscom movimentos ambientalistasdefendem padrões agroecológicosde produção. Outros definemcaminhos através da agriculturaorgânica e todo seu sistema decertificação empresarial construídoglobalmente. A diversidade dealternativas nesse campo é muitosignificativa e acompanha seusconteúdos ideológicos, que muitasvezes divergem de forma signifi-cativa.

Por outro lado, as grandes em-presas internacionais, que fizeramsignificativos investimentos nos

O

1Eng. agr., Dr., presidente da Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5660, e-mail: [email protected].

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mercados de insumos químicos e desementes – cujos potenciais deprodução estão associados a essesinsumos, – buscam fortaleceralternativas baseadas na evoluçãoda biotecnologia (particularmentena transgenia) e na nanotecnologia.Por vezes – ou talvez na maioriadas vezes – suas estratégias colidemcom os interesses dos gruposambientalistas que vêem nessecaminho uma ameaça àbiodiversidade, quando a discussãorecai sobre a problemáticasocioambiental. Quando os debatessão econômicos, recaem sobre omonopólio ou oligopólio dessasempresas no mercado agrícola.

Definir exatamente o padrãotecnológico que se consolidará naspróximas décadas é um exercício defuturologia que pode levar aequívocos. Mas pensar um mundoagrícola onde a dialética entreagroecologia e biotecnologia (leia-se transgenia) persista parece poderter algo de possível realidade. Apesardas grandes ameaças ambientaisglobais e a constante pressão porpadrões sustentáveis de desen-volvimento, não parece haver sinaisque indiquem uma substituiçãocompleta dos padrões da “revoluçãoverde” por um padrão agroeco-lógico. O poder de interesseseconômicos fortes não deverá serquebrado a ponto de provocarprofundas reversões. Apesar disso,é crescente, e muito visível, aparticipação da produção orgânicano mercado mundial.

O conceito de sustentabilidadedo desenvolvimento tem sido usadocom diferentes interpretações, deacordo com o perfil ideológico dointerlocutor. Com as grandesameaças colocadas pela criseambiental – cujo aspecto que maisestá atormentando o mundo atual-mente é o das mudanças climáticas–, cada vez mais a sustentabilidadeserá parte essencial de qualquerprojeto de pesquisa ou ação dedesenvolvimento. No entanto, suascaracterísticas deverão conter operfil ideológico de seus propo-nentes, onde o que é sustentáveldepende da perspectiva com que seolha para a sociedade.

Um aspecto, no entanto, parececrescer na consciência de muitostomadores de decisão e formadoresde opinião pública: refere-se ao

reconhecimento da complexidadedos sistemas socioambientais, queenvolvem sociedade e natureza. Osentido de relação direta entre causae efeito passa a ser mais largamentequestionado e substituído pelosentido de incerteza considerandoa complexidade desse sistema. Istosignifica que a ciência passa a sebasear no fato de que não há umalinearidade e sentido único entrecausa e efeito. Ou seja, cada açãopode proporcionar resultados eminúmeros componentes dessesistema complexo, tanto dentro dasociedade como na natureza. Dessemodo, a principal característica dosnovos tempos parece ser a doreconhecimento da incerteza, o queconduz ao princípio da precaução.

Esse princípio baseia-se na noçãode que, ao não se ter certeza dosdiversos efeitos que uma tecnologiapode causar, fortalece-se anecessidade de cuidados para tomara decisão sobre sua adoção. Paraisso, novos mecanismos institu-cionais vêm sendo criados, muitasvezes ainda em caráter experi-mental, que permitem à sociedadede modo geral – e não apenas aosgrupos ideologicamente já definidos– analisar as relações entre osbenefícios que uma tecnologia podeproporcionar diante de seuspotenciais riscos. É possívelimaginar o abandono de benefíciosconcretos diante de riscos poten-ciais, ainda que não claramentecertos. Como exemplo, talvez asociedade possa rejeitar o uso deuma semente transgênica queproporcionaria aumento signi-ficativo de produtividade, com riscospotenciais, mas não definidos, decontaminação genética de outrasvariedades, e aprovar o uso de umavacina transgênica capaz de salvarvidas, ainda que seus efeitoscolaterais sobre o organismo sejamincertos e com grande potencial deimpacto negativo.

Essas reflexões e decisões sobrecaminhos a serem trilhados diantedos debates estarão na ordem dodia das organizações de pesquisa eextensão rural nos próximos anos.Novos investimentos na formaçãodos quadros da pesquisa e daextensão se farão necessários, sejapara a mudança no padrão tec-nológico diante da problemáticaambiental, seja na mudança do perfil

da demanda pela qualidade dosprodutos agrícolas. Pesquisadorese extensionistas que não se man-tenham atualizados e capacitadospara esses novos desafios podemenfrentar graves restrições para ofinanciamento de suas atividades.

Mas outra pressão por mudan-ças, talvez mais visível para asociedade, deve ocorrer sobre o perfildas instituições. As organizaçõesdeverão incorporar mecanismosflexíveis e ágeis de incorporação de“feedbacks” oriundos da própriasociedade na avaliação do impactode suas ações. A incapacidade dapermanente reavaliação e rápidatomada de decisão tornará umaorganização desalinhada em relaçãoàs demandas. Atualmente, consi-derando a rapidez das mudanças e ograu de incertezas, não há espaçopara organizações que se mantêmrígidas e atreladas a um sucessopassado. Ele não garante o futuro.

Pesquisa e extensão ruraldeverão continuar na agenda dasações públicas, apoiadas comrecursos públicos (pelo menos emparte). Uma organização depesquisa e extensão, no entanto,terá que estar com seu foco extre-mamente bem colocado para conti-nuar recebendo apoio financeirocuja origem é o bolso do contri-buinte. Este contribuinte, cada vezmais, está sendo dotado deinstrumentos que lhe permitemrecusar proposições inadequadas aoseu interesse.

A ciência e a tecnologia, em quepese serem cada vez maissofisticadas, caminham parainteragir com novos espaços departicipação da sociedade, criandofóruns para a construção do que sepoderia chamar de uma ciênciacidadã, em que o interesse dasociedade deverá cada vez mais termaior influência sobre os novospadrões. Durante a “revoluçãoverde” a sociedade – e os cidadãos– se constituiu em mera assistentedas orientações que pesquisadorese extensionistas apresentavamcomo os elementos capazes deproporcionar maior competitividadeao agricultor e atendimento àsdemandas mundiais por alimentos.No estágio atual, e futuro, visualiza-se uma maior participação dasociedade na definição dos rumos aserem tomados.

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Reportagem de Celívio Holz1 e Volney Silveira de Ávila2

Ovinocultura rumo àOvinocultura rumo àOvinocultura rumo àOvinocultura rumo àOvinocultura rumo àsustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadeOvinocultura rumo àOvinocultura rumo àOvinocultura rumo àOvinocultura rumo àOvinocultura rumo àsustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidade

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5647, e-mail:[email protected]éd. vet., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone/fax: (49) 3224-4400,e-mail: [email protected] de Ecco Publicidade.

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A criação de ovelhas,antes apenassubsistência nasfazendas, passa a seralternativa de rendainclusive nas pequenaspropriedades rurais.

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Breve histórico

A ovinocultura na Região Sulteve o maior rebanho do Brasil em1968, quando era especializada naprodução de lã, com 13,3 milhõesde cabeças, que representavam54,3% do efetivo nacional. Face àperda do valor da lã no mercadointernacional, o rebanho ovino daregião diminuiu paulatinamente,chegando a 5,6 milhões de cabeçasno ano de 2000, constituindo 38,5%do efetivo nacional. Neste período,grande número de produtores doSul mudou de orientação, passandode ovinos tipo lã para raçastambém lanadas porém com duplaaptidão (lã e carne) e, maisrecentemente, para raças especí-ficas para produção de carne,porém com produção de lã dequalidade inferior. Esta mudançade orientação na cadeia produtivaprovoca profundas modificações nomanejo dos rebanhos em cadapropriedade e a necessidade denovas tecnologias.

O mercado de carne ovina temaumentado expressivamente nasgrandes cidades. O consumidor,mais exigente, está disposto a pagarpreços maiores pela qualidade doproduto. Churrascarias e butiquesde carnes de todas as capitais ecidades grandes oferecem cortes deovelha ao consumidor, na maioriaoriundos do Uruguai, Chile ou NovaZelândia.

O potencial de desenvolvimentodesta atividade é enorme, tanto nomercado interno como externo,principalmente para carnes e peles.Isso passa a exigir profissionalismoe, principalmente, visão em-presarial da atividade, antesencarada como mera subsistênciadas fazendas e agora até comonegócio principal.

Em Santa Catarina, oincentivo rumo àqualidade

A ovinocultura é uma atividademuito antiga no Estado. Em 1980,o rebanho ovino era de 134 mil

cabeças, sem padrão racial definido,e a atividade não era conduzida comobjetivos comerciais.

O pesquisador Volney, tambémautor desta reportagem, acom-panha a ovinocultura desde 1980em Santa Catarina, quando foicriado um programa de fomento àatividade, sendo organizada aAssociação Catarinense deCriadores de Ovinos – ACCO –como primeiro ato do programa, aqual atua até hoje comorepresentante dos criadores emtodo o Estado, englobando 24núcleos de criadores, com sede emCuritibanos. A ACCO tem comoobjetivo congregar a classeprodutora, promover a capacitaçãodos produtores e a estruturação dacomercialização.

O trabalho de incentivo começoucom a importação de animais do RioGrande do Sul e do Uruguai.Cabanhas que não existiam forammontadas, e atualmente SantaCatarina possui cerca de 40cabanhas de produção de ovinos.Estas cabanhas são núcleosmelhoradores onde o produtorinveste em genética. Foi importadoainda sêmen de várias raças da

Nova Zelândia, além de embriões,com o objetivo de melhorar aqualidade do rebanho ovino.

Coube inicialmente à Acaresc edepois à Epagri a condução destetrabalho, que tem como principalobjetivo criar uma fonte alternativade renda para as pequenas e médiaspropriedades, seja através daprodução de carne para auto-abastecimento e venda deexcedentes, seja para a produção delã e pele utilizadas na confecção deprodutos artesanais.

O melhoramento zootécnico dosrebanhos também teve umapreocupação especial: um convêniofirmado entre a Secretaria de Estadoda Agricultura e DesenvolvimentoRural através da Epagri, aAssociação Brasileira de Criadoresde Ovinos – Arco – e a ACCOpermitiu a implantação do Serviçode Melhoramento Genético dosRebanhos, através dos serviços deseleção e tatuagem, valorizandocomercialmente o rebanho cata-rinense. Atualmente a Epagriconta com quatro técnicoscredenciados pela Arco paraexecutar este serviço em todo oEstado.

Volney na visita à Cabanha São José

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2 1Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Em função da evolução daovinocultura no Estado, ocorreuuma demanda muito grande dosprodutores por cursos profis-sionalizantes. Para tanto, foramcriados cursos de artesanato de lã,curtimento de pele, diversificaçãode pratos à base de carne ovina,curso de processamento da carneovina (embutidos) e o de corteschuletados da carcaça, atendendocriadores de Santa Catarina emesmo de outros Estados. Hoje,confirma o pesquisador da Epagri,Santa Catarina é reconhecidanacionalmente na ovinoculturagraças a todo este trabalho deincentivo e apoio.

Dentro da cadeia produtiva deovinos, a organização da comer-cialização é o fator mais sensível. E,na tentativa de uma solução, aEpagri, juntamente com a ACCO,criou em Curitibanos a Feira doCordeiro, abrindo desta forma umcanal de comercialização para osprodutores de cordeiros.

Com o objetivo de ver de pertoa situação da ovinocultura emSanta Catarina e saber mais sobreas mudanças que estão acontecendona atividade, visitamos e entre-vistamos alguns criadores. Asinformações são apresentadas naspáginas seguintes.

Fazenda Tapera, Salete,SC: do hobby para onegócio

Jovani Franzói tem 23 anos deexperiência com produção de ovinose é o responsável pelo controle daverminose no rebanho, pelo abate,pelo curtimento das peles, além demuitas outras atividades naFazenda Tapera e no frigorífico deovinos. Para o proprietário,Cornélio Rohden, Jovani é umaespécie de braço forte da atividade,juntamente com a esposa Carla. Efoi Jovani quem nos passou asinformações durante o 13º EncontroEstadual de Ovinocultores,realizado em São Ludgero, SC.

A produção de cordeiro precocena Fazenda Tapera começou como

Cordeiro da Fazenda Tapera

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hobby pessoal de seu Cornélio 20anos atrás. Há 10 anos os cordeirosestão sendo abatidos com 90 a 100dias de idade, enquanto que osabates anteriores eram feitos com180 a 240 dias. O peso vivo no abatevaria de 30 a 35kg e o rendimentode carcaça é de 45% a 50%. São150ha de área ocupada, sendo 30hacom pastagens de inverno, comoazevém, aveia, trevo e cornichão. Opasto natural é formado de gramamissioneira.

Os primeiros passos da FazendaTapera foram dados com a raçaRomney Marsh, e nos últimos 15anos, devido ao preço da lã que caiu,estão sendo criadas as raças Ille deFrance e Texel, consideradas dedupla aptidão: têm boa qualidade delã e carne excelente. SegundoJovani, a evolução da criação se deuinicialmente na raça, através daseleção das matrizes e reprodutoresa cada ano. A formação do plantelde 500 matrizes aconteceu com aaquisição de animais de outrasfazendas próximas que na épocadesistiram da atividade. Com otempo e muita dedicação foramselecionadas as melhores filhas atéo estágio atual.

O manejo começa na sanidade,com a coleta de fezes, a cada 45 a 50dias ou 90 a 100 dias. Isto tudo paracontrolar a verminose, que é

considerada a maior vilã daovinocultura. O controle daverminose pelo uso de vermífugosprecisa ser realizado num períodoentre 60 e 90 dias para ser eficaz.

O pasto em abundância é muitoimportante, principalmente para asovelhas em parição no inverno. Maistarde, o cordeiro recebe umcomplemento com milho, farelo desoja e de trigo. A partir dos 25 a 30dias é colocado no “creep field”,uma abertura onde passa somenteo cordeiro, para o complementoalimentar. Normalmente as fêmeasdão cria entre os meses de abril edezembro, o que resulta numaprodução média de três cordeiros,em 2 anos, por matriz. A produçãomensal da Fazenda Tapera varia de40 a 50 cordeiros.

O que é preciso fazer para tersucesso na ovinocultura, princi-palmente na produção de cordeiroprecoce? “O manejo, a nutrição e asanidade do animal são essenciais”,diz Jovani. Os controles da criaçãosão permanentes. A perda deanimais entre nascidos e des-mamados não chega a 1%. Nesteano, já foram somados 500 cordeirosnascidos. Para evitar a mortalidadeno período mais frio, os cuidadossão especiais com chuva e vento,tendo abrigo para os cordeiros nosprimeiros dias de vida.

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O cordeiro abatido é oferecidointeiro ou em cortes (paleta,costela, lombo e pernil) direta-mente ao consumidor, porencomenda. Normalmente, sãoclientes exigentes que queremqualidade, não importando o preço.O cliente tem a garantia de umproduto 100% verde. Os maiorescompradores são das cidades deFlorianópolis, Joinville eBlumenau. O preço pago pelosconsumidores para a carne daFazenda Tapera é de R$ 15,00 oquilo, sem tempero, e R$ 16,00 oquilo, temperada, para qualquer umdos cortes.

Produção e raçascriadas em SantaCatarina

Atualmente, em Santa Catarina,existem 11 mil criadores com umrebanho total de aproximadamente350 mil cabeças, distribuído nasdiversas regiões, mas com umaconcentração maior no Planalto,Meio-Oeste e Oeste Catarinense.

Tabela 1. Estimativa de raças ovinas criadas em Santa Catarina erespectiva aptidão

Raça e índice relativo Aptidão

Ille de France: 35% 60% carne; 40% lã

Texel: 30% 70% carne; 30% lã

Hampshire Down: 15% 90% carne; 10% lã

Crioula: 8% 50% carne; 50% pele e lã

Santa Inês: 7% 90% carne; 10% pele

Sufolk: 4% 90% carne; 10% lã

Romney Marsh: 1% 60% carne; 40% lã

Uma visão das raças de ovinos norebanho catarinense e aptidão decada uma delas pode ser observadana Tabela 1.

A criação de ovelhas para aprodução de leite e transformaçãoem queijos finos também já começaa ganhar adeptos, especialmentenas regiões de São Miguel do Oestee Chapecó. Isto representaagregação de valor e mais um nichode renda para os agricultoresfamiliares da região.

Raça Crioula:prolificidade eresistência à verminose

Volmar Pelizzaro, popularmenteconhecido por “Zico”, é criador daraça crioula desde 1978. Atualmenteele é o presidente do Núcleo deCriadores de Ovinos de Curitibanos.Discorrendo sobre as característicasda ovelha crioula, Volmar fazquestão de destacar que a raça estámuito bem adaptada à Serra: éresistente à verminose, prolífera eproduz até 110% de cordeirosdesmamados por ano; é de pequenoporte se comparada com outrasraças; não é tão exigente naqualidade das pastagens; muito boamãe, pois dificilmente abandonaseus cordeiros e pode ser cruzadacom outras raças.

Um dos criadores de Lages,Benjamin Küse de Faria, afirmaque “o bicho é pequeno, mas oassunto é grande”, referindo-se àcriação de ovelha em geral. Aovinocultura está em lua de mel,segundo os criadores. Há umademanda de toda a produção e deseus derivados; o preço, consideradobom, está ao redor de US$ 1,5/kg decordeiro vivo (R$ 2,50 a R$ 2,80/kg).O preço do ovino, que se equiparavaao preço do boi, hoje é 60% a 70%maior.

As raças de carne e amistura ideal

Afonso de Almeida Costa e seuVolmar Pelizzaro e o reprodutor da raça Crioula

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2 3Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Afonso de Almeida Costa e Fabrício, presidente da ACCO

filho Fabrício há 9 anos são criadoresde Texel e Sufolk e há 5 anoscomeçaram com a raça Crioula. Sãotambém criadores de gado de corte,além de produzirem alho, feijão esoja na propriedade.

Em 1996, criavam cerca de 30 a40 ovelhas, “apenas para consumo”,completa seu Afonso. Naquele anoforam importadas do Uruguai 80fêmeas da raça Corriedale ecomeçou o trabalho de melho-

Rebanho Sufolk e Texel do seu Afonso

ramento animal. A propriedadeatualmente tem dois objetivos:produção de reprodutores e matrizese produção de cordeiros precoces.Os cordeiros são abatidos comcerca de 40kg aos 3 a 5 meses deidade.

A inclusão da ovelha Crioula norebanho deu-se por gosto pessoal epara manter a tradição, segundoFabrício, e também graças aalgumas características impor-tantes da raça, entre elas, arusticidade; a facilidade deadaptação à região, podendo sercriada a campo; produz o ano todo;é resistente à verminose; tem baixamortalidade de cordeiros (apenas4%); é uma raça mista: produz carnee lã de qualidade, o que agregavalor ao preço final no artesanato;as fêmeas produzem cordeiros oano todo com muita habilidadematerna.

Manejo do rebanho

O manejo reprodutivo nas raçasSufolk e Texel funciona com acobertura das fêmeas no outono e aparição na primavera. Assimtambém ocorre com a raça Crioulaquando o objetivo é o melhoramentoanimal. Os machos Sufolk e Texelsão colocados sempre com as fêmeasCrioulas. Todos os cordeiros, nestecaso, saem com a pelagem das mães,ou seja, preta. Normalmente, paraa produção de cordeiros, as fêmeasCrioulas são cobertas duas vezespor ano: em dezembro e janeiro eem setembro e outubro. Estaçõesde monta são organizadas, onde oscarneiros permanecem com asfêmeas 60 dias por ano. Consegue-se com isso uma cria a cada 8 meses,o que dá três cordeiros por matriz acada 2 anos.

O abate dos animais éterceirizado, no frigorífico de SantaCecília, e a venda da carne é feitaprincipalmente no LitoralCatarinense, em Florianópolis, nascasas de carne, ao preço médio deR$ 10,00/kg de carcaça.

Atualmente, a criação de seuAfonso conta com 1.200 matrizes.

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As fêmeas cruzadas são vendidasnas feiras, normalmente com 6 a 7meses de idade, na base de R$ 250,00/cabeça. Animais puros com registro,tatuados, são comercializados emmédia a R$ 1.500,00. A idéia do seuAfonso, para 2008, é investir emmatrizes e reprodutores de raçasovinas produtoras de leite.

Os benefícios daovinocultura

Os benefícios socioeconômicoscom a criação de ovinos são muitos:contribui para a redução do êxodorural; supre a propriedade comuma carne de menor custo e obtidaem curto espaço de tempo; a lãserve como matéria-prima paraobtenção de produtos artesanais,gerando uma renda adicional eoportunizando a formação demicroempresas; agrega valoratravés do processamento da carneovina na produção de embutidos,pelo aproveitamento de ovinos dedescarte; aumenta a renda dapropriedade pela venda decordeiros para abate, da lã e da pelepara artesanato, contribuindo noorçamento familiar principalmentenas pequenas e médias pro-

priedades; não depende de grãospara a sua produção, portanto, nãocompete com o homem.

Nos aspectos ambientais é umaatividade que, por ser praticada emsua grande maioria de formaextensiva, utiliza o pasto comoalimento principal, não poluindo oambiente. Os dejetos dos animaispermanecem nos campos, comoforma de adubo orgânico, dis-tribuindo-se de forma homogêneanas pastagens. A ovelha promove oequilíbrio, pelo consumo dedeterminadas invasoras que outrasespécies não utilizam.

Cabanha São José, SãoJosé do Cerrito, SC:plantel em formação

O pesquisador Volnei visitou aCabanha São José, de FranciscoAndré Nerbass, no município deSão José do Cerrito, produtor deovinos da raça Texel. Dentro dossistemas de produção ovina é cadavez mais freqüente a propriedadeque realiza criação intensiva sobrepastagens cultivadas, como é o casoda Cabanha São José. Vamosacompanhar o resultado da visitana entrevista a seguir.

RAC – Qual a situação atual dapropriedade?

Francisco – A cabanha SãoJosé pratica uma exploração deovinos, que ocupa atualmente umaárea de 20ha de uma superfícietotal de 120ha, onde manejamos umrebanho de 180 cabeças da raçaHolandesa Texel. Futuramentepretendo ocupar toda a área comaproximadamente 600 matrizesdesta raça.

RAC – Quando começou atrabalhar com ovinos?

Francisco – Durante 17 anoscriei caprinos, depois iniciei umrebanho de ovinos em 2002 deforma amadora, sem conhecimentodesta atividade. A partir de 2004vendi a maioria dos caprinos einvesti na compra de ovinos comboa genética, quando implantei umacabanha de Texel de formaprofissional que estou dandocontinuidade até hoje.

RAC – Quais as linhagens queutiliza?

Francisco – Estou trabalhandocom três carneiros-pais oriundosdas importantes cabanhas do RS,Santa Orfila, Santa Mônica e Sei-val. O rebanho é composto por 90animais, puros de origem (PO),puros por cruza com origemconhecida (RGB) e seleção ovina(SO); o restante é rebanho geralcom objetivo de produzir cordeirospara abate. As fêmeas tatuadasforam adquiridas em feiras como aMercotexel, Expolages e emCuritibanos.

RAC – Como comercializa seusanimais?

Francisco – Atualmente estoumontando o plantel e por isso re-tenho as fêmeas nascidas na pro-priedade. Por ser início e disponi-bilizar de poucos animais pravenda, estou comercializando oscarneiros na propriedade. Partici-pei apenas de dois eventos, queforam a Festa do Colono em Itajaíe a Expolages. Geralmente estouparticipando de feiras como aFeinco, em São Paulo, com intuitode comprar animais e obter maiorconhecimento sobre a raça Texel.Francisco Nerbass, da Cabanha São José

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RAC – Como é feita aalimentação do rebanho?

Francisco – A minha produçãoé basicamente a pasto. No invernoutilizo pastagens perenes deinverno (trevo-branco, azevém ecornichão) e pastagens anuaiscomo o azevém. Para o verãoplantei 2ha de Aruanã e tambémutilizo gramas como papuã e milhã.Apenas são racionados os ovinosselecionados e preparados paraparticipar em exposições.

RAC – Quanto aos aspectossanitários, quais os maioresproblemas do rebanho?

Francisco – A verminose é omaior problema na minha criação.Há 2 anos venho trabalhando comproduto homeopático, que émisturado ao sal, e tenho notadoalgum resultado, proporcionandointervalo de 60 a 120 dias entretratamentos, quando a maioria dosprodutores dosifica a cada 30 diasou menos. Isto reduz os meuscustos. Outro detalhe importante évacinar contra as clostridioses(carbúnculo, gangrena eenterotoxemias).

RAC – No seu ponto de vistaqual o maior entrave na criação?

Francisco – A organização dacomercialização, devido à falta deinformações e de união entre oscriadores. Somente unidospoderemos efetuar uma vendamelhor. A falta de qualidade e depadronização de alguns rebanhos éoutro fator que dificulta acomercialização. O exemplo disso

está nas feiras realizadas em Lagese Curitibanos, onde os lotes maispadronizados de cordeiros ecordeiras obtêm melhor preço. Oinvestimento em bons reprodutoresnão é oneroso pois vai produzirmelhores animais com maior preçode venda. Como exemplo, criadoresde São Paulo estão indo compraranimais na fronteira do RS,onerando os custos com transporte.Se nós tivéssemos volume equalidade, certamente viriamcomprar aqui em Santa Catarina.

RAC – Qual a perspectiva paraa ovinocultura catarinense nospróximos anos?

Francisco – É muito boa, poiso mercado nacional e internacionalestá totalmente aberto.Futuramente a tendência épodermos exportar. Hoje o queproduzimos não abastece nem omercado catarinense. O campo éamplo, precisamos é produzir comqualidade, pois futuramente ocaminho é a exportação. O preçohoje é bom, principalmente secomparado à bovinocultura decorte, proporciona uma rendamelhor.

RAC – O que você acha que deveser feito para a ovinocultura evoluirmais rapidamente no Estado?

Francisco – O trabalho daEpagri e da ACCO tem ajudadobastante. Tenho visto o grandepúblico que tem participado dosencontros estaduais, que contamcom o empenho dos núcleos decriadores, como foi em Ituporanga,

Mafra e mais recentemente em SãoLudgero, demonstrando o grandeinteresse dos criadores pelaatividade. Eu entendo que precisaser realizado um maior número defeiras, distribuídas nas diversasregiões do Estado, e eventos quepromovam uma maior divulgaçãoda carne ovina, para aumento doconsumo deste produto saboroso ede qualidade, vindo de animaisjovens (cordeiros). Muitas pessoasdesconhecem o que é um produtode qualidade.

O foco atual daovinoculturacatarinense

O pesquisador Volney lembraque o grande foco da ovinoculturaatual é a produção de carne dequalidade, através da criação decordeiros precoces, isto porque a lãexige rebanhos e áreas grandes paracompensar economicamente, o quea estrutura fundiária de SantaCatarina – 50ha, em média – nãopermite. Nas propriedadesmenores, a criação intensiva deovinos pode alcançar um bomretorno para o produtor, produzindocarne, preferencialmente, ficandoa lã como um subproduto a serutilizado em artesanato que atendeà necessidade de muitas famíliascatarinenses que dependem destaatividade para sobreviver.

Mais informações podem serconseguidas no endereço ACCO:www.acco-sc.com.br.

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1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5582, e-mail: [email protected] em Letras, Epagri, fone: (48) 3239-5682, e-mail: [email protected].

Reportagem de Silvano Luiz Breda1 e Laertes Rebelo2

Boa parte dos agricultores do Sul de Santa Catarina tem na fumicultura suaatividade principal. Embora a produção de fumo ofereça segurança e

lucratividade, aos poucos as pessoas estão percebendo que há outras opções. É ocaso da família Bodny, que resolveu mudar de atividade: desistiu de produzir

fumo e passou a cultivar hortaliças no sistema agroecológico. É aqui que entra ahistória do Vitor, um garoto de apenas 13 anos, mas que fala e age como gente

grande. Ele vive com os pais, seu Pedro e dona Margarete, além das irmãs Daiane,Luciane e o caçula Murilo. Hoje eles estão colhendo saúde,

educação e qualidade de vida.

omunidade Espigão Primei-ro, interior do município deIçara, Sul de Santa Catarina.

Este é o local onde mora a famíliado Vitor. No caminho, destacam-sena paisagem as estufas de fumo,

principal atividade econômica daregião, além de uma ou outraatividade de subsistência.

Chegamos cedo na propriedadeda família Bodny, acompanhados deAdroaldo Ramos, extensionista

rural da Epagri. O pai, seu Pedro,nos recebe junto com o caçula nobelo quintal da casa. Seu Pedro nosleva primeiro ao galpão que já foiuma antiga estufa de fumo, ondesua esposa, dona Margarete, já está

C

Esse garoto vai longeEsse garoto vai longe

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Adroaldo, extensionista da Epagri:interesse pela agroecologia tende acrescer

há tempo na lida. Nosso amigo Vitor,filho do casal, está lá também“pegando junto”, como se diz.

A mãe, dona Margarete, nosconta porque, há alguns anos,resolveram desistir da plantação defumo. Segundo ela, o uso intensivode agrotóxicos estava lhe fazendomal. Na época, ela sentiaconstantes dores de cabeça. Comoem sua casa “com saúde não sebrinca”, o casal resolveu investirem outra atividade. Para substituira fumicultura, a família optou pelaprodução agroecológica de horta-liças.

Embora não tivessem expe-riência, eles sabiam que aprofissionalização era fundamentalpara a atividade dar certo. Por isso,

seu Pedro fez vários cursos, que oVitor também freqüentava.

No começo a mudança foi difícil,mas a decisão era definitiva. A antigaestufa foi adaptada e serve agorapara acondicionamento de produtosque são encomendados diretamentepelos consumidores ou distribuídosnos supermercados.

O trabalho de embalagem dosprodutos é uma das partes que Vitormais gosta. O serviço é mais leve eas embalagens são caprichadas, dojeito que o consumidor prefere. Aolado da mãe, o garoto dá o melhorde si para que os produtos cheguemselecionados e fresquinhos à mesado consumidor.

O Vitor faz questão de nosmostrar a propriedade. A primeiraparada é na sementeira, a estufa demudas, que é da responsabilidadedele. Para dar conta de todas assuas atribuições, Vitor organiza asemana de acordo com o trabalho,as tarefas escolares e as aulas naescola. “Eu sempre semeio na sexta-feira... Deixo uma bandeja em cimada outra, até a muda nascer. Quandoa muda brota, eu trago pra fora,para o sol. Nos outros dias eu acordode manhã, vou ajudar o pai na roçae embalar verduras. À tarde, eusempre estudo...”, conta.

Mas o que mais se destaca napropriedade é, sem dúvida, a beleza

da horta. Os canteiros, bemcuidados, são distribuídos emdiversas áreas. Nesta etapa dostrabalhos, a mão-de-obra, maispesada, fica por conta do pai.

Além de talento para cuidar dashortaliças, Vitor é bom de papo.Basta deixar rolar a conversa e elemostra seu entusiasmo pelaagroecologia. Diz que até jáparticipou de um curso sobre oassunto. Embora não tenha assistidoa todas as reuniões, deu praaprender algumas lições impor-tantes.

Conforme o extensionistaAdroaldo, Vitor já foi até convidadopara dar palestras, mas como achavaque ainda não estava bem preparado,não quis arriscar. Em nossaconversa, ele parece mais modestoe diz que “ainda não criou coragem,mas quem sabe um dia”. Na escola,Vitor diz que tenta falar sobre oassunto com os colegas, “mas opessoal ainda não está consciente,ainda não acredita”. Emborademonstre a insegurança naturalde todo garoto de sua idade, Vitornão tem dúvida quando se refere aofuturo da agroecologia: “Um diaisso com certeza vai mudar, porqueesse é o caminho, o futuro”.

Olhando para a horta do Vitor ede sua família, percebe-se que,apesar das dificuldades que ainda

Produtos chegam fresquinhos àmesa do consumidor A irmã Daiane trabalha como modelo: beleza, ela tem de sobra

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existem, a família já se firmou nanova atividade. Depois quepassaram a cultivar também oscanteiros de moranguinhos napropriedade, os Bodny já conse-guiram até contratar um empre-gado.

Para Adroaldo, até do ponto devista econômico, a agroecologia éum ótimo investimento. “O modeloagroecológico dá liberdade para oagricultor, dá independência,respeita o homem, respeita o meioambiente. Na verdade, a gente vêtudo crescendo, vê a mudança dentroda propriedade. Claro, agora a genteprecisa acreditar nisso. Mas não ésó: a agroecologia também éeconomicamente viável. Osprodutos têm um preço dife-renciado”. Segundo o exten-sionista, o foco agora é para que oagricultor tenha consciência doprocesso, porque do ponto de vistaeconômico este modelo é muitobom.

A família também conta com aDaiane, uma das irmãs de Vitor.Além de ajudar na cozinha e nahorta, Daiane estuda. Recen-temente, ela teve uma interessanteexperiência em uma rádiocomunitária e já fez até trabalhoscomo modelo. No quesito beleza,não há dúvida: ela tem de sobra. Aoutra irmã, Luciane, está cursandoa faculdade.

Bom desempenho escolar comprovado pelas médias

E quando se trata de educação,Vitor não deixa por menos. Seudesempenho escolar pode sercomprovado através do boletim, comexcelentes médias em praticamentetodas as matérias.

Se depender desta geração, ofuturo dos Bodny está garantido e avida na região tem tudo para

melhorar. Até o pequeno Muriloparece que já entende issoperfeitamente. Mas chega deconversa, nossa reportagemtermina aqui. Vamos pegar aestrada, enquanto o Vitor tem ocompromisso mais importante dodia: é hora de pegar o ônibus e ir praescola.

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A Região do Alto Vale do Itajaí,que abrange os municípiosde Rio do Sul, Ituporanga,

Imbuia, Petrolândia, AlfredoWagner, entre outros, destaca-seno cenário nacional pela produçãode cebola, tornando Santa Catarinaatualmente o primeiro produtorbrasileiro, com um volume superiora 400 mil toneladas. São 18 milfamílias que têm apostado no cultivo

desta hortaliça, e é tal a importânciada cebola para os catarinenses queaté festa nacional acontece todos osanos na cidade de Ituporanga,considerada a capital brasileira dacultura.

Mas, apesar dos resultadosimportantes em termos de retornosfinanceiros, nos últimos anos ocultivo da cebola nesta região vemapresentando altos e baixos. Um

aspecto que chama a atenção é ouso indiscriminado de agrotóxicose fertilizantes químicos. Para se teruma idéia, produtores do Alto Valechegam a utilizar até 30 sacos deadubos químicos de manutenção emsuas lavouras, um verdadeiroexagero, sinalizando que afertilidade natural de alguns dossolos da região já não existe mais. Aesterilidade destes solos é

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5533, e-mail: [email protected].

Paulo Sergio Tagliari1

Agricultores familiares, reunidos em pequenas associações, com o apoio depesquisadores e extensionistas, mostram que é viável e vantajosa a produção da

cebola orgânica/agroecológica, gerando renda, saúde e proteção ambiental.

Associativismo impulsiona produçãoAssociativismo impulsiona produçãoAssociativismo impulsiona produçãoAssociativismo impulsiona produçãoAssociativismo impulsiona produçãoda cebola agroecológicada cebola agroecológicada cebola agroecológicada cebola agroecológicada cebola agroecológicaAssociativismo impulsiona produçãoAssociativismo impulsiona produçãoAssociativismo impulsiona produçãoAssociativismo impulsiona produçãoAssociativismo impulsiona produçãoda cebola agroecológicada cebola agroecológicada cebola agroecológicada cebola agroecológicada cebola agroecológica

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provocada também pelo usointensivo de herbicidas, inseticidase fungicidas, que induzem odesequilíbrio fisiológico na cebolacultivada nestas terras.

Para contornar este problema etornar o cultivo da cebola uma ati-vidade mais sustentável, a Epagri/Estação Experimental de Itupo-ranga – EEIt – tem feito pesquisascom a hortaliça em cultivosagroecológicos ou orgânicos há maisde 10 anos, com resultados pro-missores. Ao mesmo tempo, associa-ções de agricultores agroecológicosvêm desenvolvendo há 15 anos umtrabalho árduo e constante, masque agora começa a dar frutosconsistentes, com a produção emescala comercial crescente da cebolaorgânica ou agroecológica. Isto temsido um grande desafio, pois aindasão poucos os técnicos das áreasgovernamental e privada que sededicam a este tipo de cultivo.Dentre as entidades que sedestacam, citam-se a Associação dosAgricultores Ecológicos de AlfredoWagner e Bom Retiro, a Natural daTerra, a Associação de AgricultoresEcológicos de Santa Tereza – Aesta– e a Associação dos Agriculto-res Ecológicos de Ituporanga –Aecit –, todas formadas porpequenos agricultores familiares.Nesta reportagem abordaremos trêsdestas entidades.

Mercado é o grandedesafio

O Lucimar Correa é o atualpresidente da Associação dosAgricultores Ecológicos de AlfredoWagner e Bom Retiro e também émembro da associação demicrobacias local; cultiva 1ha decebola agroecológica e suaprodutividade atinge 17t, um bomrendimento em se tratando deorgânicos. Já o Amarildo Netocultiva 2ha e produz 30t. Ele é oatual vice-presidente e foi pioneirona criação da entidade no ano 2000.Tem também o Leomar Correa,que é pai do Lucimar e produz cercade 7t em 0,5ha. Ainda presentes nogrupo o Fabiano de Andrade, atualpresidente da Ecoserra (cooperativasediada em Lages e que comer-cializa a produção de 300 famíliasda Região Serrana), e o Paulo César

Agricultores de Alfredo Wagner e a cebola agroecológica: o preço é bom, masa dificuldade na comercialização reduz lucros

Rossi, que é o presidente da Cresolde Alfredo Wagner (cooperativa decrédito para a agricultura familiar).Completam a lista o Gilmar Góes eo Virgínio Moretti, este último domunicípio de Bom Retiro e atualsecretário da Associação.

A entidade mantém umaparceria com a Epagri/EEIt na áreade melhoramento genético dacebola, e quem dá assistência nestaárea é o engenheiro agrônomo epesquisador Hernandes Werner,que também orienta em aspectostécnicos, tais como manejo dafertilidade do solo e das plantas.Acompanham o Werner nestaempreitada os funcionários daEpagri Alvoni Carlos Thiesen eCarlito Wanderley Lopes e, porparte do Projeto Microbacias 2, aengenheira agrônoma e facilitadoraKarina de Medeiros.

Além da cebola, a Associação deAlfredo Wagner também produzbatata, feijão, tomate, milho crioulo(para consumo próprio e troca-trocade sementes) e hortaliças não-folhosas, tipo beterraba, cenoura,etc. O Lucimar Correa explica quea entidade não cultiva folhosas, poiso mercado com o qual atualmentecomercializa é o de São Paulo, sendoproblemático o envio de alimentosaltamente perecíveis. A Ecoserra,através de caminhão próprio, leva a

produção diretamente à capitalpaulista e entrega a um grandedistribuidor de orgânicos. “Nossogrande problema atual não estátanto na produção, mas sim nomercado”, ressalta o jovem pre-sidente da Associação. Ele esclareceque, por serem produtores peque-nos, sem muitos recursos, não têmmeios de transporte próprios e,muitas vezes, dependem dosintermediários. O Lucimar contaque, apesar do preço conseguido deR$ 1,10 na última safra (novembro/dezembro de 2006 e venda até maiode 2007), bem superior aos R$ 0,35pagos à cebola convencional, mesmoassim não sobra muito ao agricultor.“Usamos mais mão-de-obra egastamos com a compra de aduboorgânico. Ainda pagamos 12% àEcoserra, 10% ao atravessador, maisfrete, impostos, etc.”, contabiliza opresidente da Associação e reclamaque há muita exigência por partedos comerciantes em relação àqualidade do produto, demanda queos pequenos agricultores ainda nãoconseguem atender na totalidade epor isso arcam com descontosextras.

Quanto ao manejo da cultura, opesquisador Hernandes Wernerensina que tudo começa com ocanteiro de sementes onde se faz opreparo das mudas para o trans-

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plante, o qual é feito geralmentenos meses de julho e agosto. Nocanteiro é indispensável o uso defolhas de jornal, sobre as quais vaiuma camada de composto, onde ésemeada a cebola, cuja semente écoberta com serragem paraproteção do solo e conservação daumidade. Com esta técnica, evita-se a germinação dos inços noscanteiros. No solo definitivo é feitaa correção conforme análise. Alémde calcário é recomendado o uso depó de rocha, fosfato natural e boro.A correção tem efeito prolongado,em torno de 3 anos, dependendo daquantidade de esterco utilizada, depreferência o de aves. Comocobertura de verão os agricultoresutilizam um coquetel de milheto,milho, girassol, crotalária, soja emucuna-cinza. No início do outono,semeiam aveia-preta com grade e,no final do inverno, passam orolo-faca e plantam a cebola napalhada (cultivo mínimo). OLucimar também produz suaspróprias sementes. Ele pega osmelhores bulbos da variedadeSuperprecoce e planta numa áreaseparada para produção dassementes.

Werner destaca a maiorutilização de mão-de-obra no sistemaagroecológico, contudo outrasvantagens são observadas, tais comoa melhor conservação do solo e arestauração da matéria orgânica eda sua fertilidade biológica.

Também cita a melhor qualidade doalimento e o bom rendimento dacultura.

Pequenos, mas eficientes

A Associação Natural da Terra,de Rio do Sul, é pequena, tem apenastrês famílias associadas, todas com

Canteiro de mudas de cebola, destacando uso de jornal para abafar os inços

as propriedades agroecológicas.Embora a entidade seja pequena, acomercialização não é problemapara eles. Os agricultores Orlandoe Neusa Heiber, Gilvânio e FátimaConstante e Vilma Staroskicultivam principalmente hortaliçasdiversas, como cebola, cebolinha,salsa, vagem, pimentão, brócolis,chuchu, abobrinha, couve, alface eoutras folhosas, e têm comocomprador principal um super-mercado local. “Quase não temosdevolução de produtos, pois osconsumidores riosulenses comprampraticamente tudo”, fala satisfeitoo Orlando. Ele possui suapropriedade perto do centro dacidade, no bairro Canta Galo, o quefacilita a venda.

Além das hortaliças, Orlandotambém comercializa um pouco deleite de quatro vacas em produção eainda vende eventualmente carnede porco, para uma renda extra. Ogrupo possui certificação orgânicade entidade internacional com filialem Santa Catarina, por isso recebeum sobrepreço que compensa omaior trabalho com a produçãoagroecológica.

O engenheiro agrônomo epesquisador da Epagri/EEIt Paulo

Consumidores riosulenses aprovam os produtos agroecológicos daAssociação Natural da Terra

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Gonçalves, que assiste a entidade,informa que o preço de R$ 1,00 a R$1,10 recebido pela cebola foicompensador, pois praticamente odesembolso ficou por conta dasemente, do fosfato natural e daembalagem em torno de R$ 0,10 aR$ 0,15. Paulo informa ainda que acebola tem manejo com cultivomínimo e os agricultores utilizamadubos verdes, como naboforrageiro e aveia; aplicam estercode bovino próprio e, eventualmente,compram fora húmus e esterco deaves.

Vizinho a Rio do Sul, o municípiode Aurora hospeda mais umaassociação de agricultores eco-lógicos, a Aesta. Um dos sócios, oagricultor Reinaldo Roemig, e suaesposa, Iris, da Comunidade FundosAurora, cultivaram na última safra,com o apoio do irmão de Reinaldo,1ha de cebola e colheram 11, 5t. “Orendimento é razoável, menor queo rendimento regional da cebolaconvencional, porém esta cebolatem melhor qualidade e sabor e é

mais saudável”, falacom firmeza eorgulho o agricul-tor, que é acom-panhado pelosengenheiros agrô-nomos da EpagriGerson Wamser,extensionista local,e Paulo Gonçalves.

Assim como opessoal de AlfredoWagner, Reinaldovende a uma firmadistribuidora de SãoPaulo, que vem aSanta Catarinacomprar os pro-dutos orgânicos depequenos produ-tores, e paga dentrodo prazo máximo de45 dias, semmaiores percalços.“Para o ano, voucertamente au-mentar a área deplantio com a cebolaagroecológica, poissei que o mercadoestá pagando bem

Orlando Heiber, de Rio do Sul, SC: bom preçoestimula o cultivo agroecológico

pelo produto de qualidade”, dizsafisfeito. Para o manejo de suacebola segue as técnicas usuais,com adubação verde à base demilheto, mucuna, nabo forrageiroe aveia; faz composto para ocanteiro de sementes e compraesterco de peru para a lavoura; usafosfato natural e para as pragasutiliza urina de vaca e caldabordalesa.

Além dos aspectos positivosdestacados no cultivo da cebolaagroecológica nas associações,ressalta-se que este tipo deprodução permite às comuni-dades, municípios e Estado umaindependência em relação àcompra dos caros insumosagroquímicos. Estes, via de regra,originam-se em outros países, (amatéria-prima é importada), equando fabricados no Brasil sãopagos pesados impostos aos paísesdetentores da tecnologia, oschamados “royalties”. A produçãoorgânica ou agroecológica, portanto,representa dinheiro no bolso dosagricultores e do Estado, gerandorenda e empregos locais eindependência tecnológica.

Técnicos Paulo Gonçalves (esquerda) e Gerson Wamser junto à familiaRoemig

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O

Antônio Amaury Silva Júnior1 e Cecília Cipriano Osaida2

alecrim (Rosmarinus offi-cinalis L. – família Lamia-ceae) é uma das espécies

bioativas que vegeta espontanea-mente em terrenos pedregosos earenosos no litoral dos paísesmediterrânicos, entre o Norte daÁfrica e Sul da Europa e emcharnecas e pinhais da RegiãoCentral e Sul de Portugal. Éencontrado até 2.800m de altitude.A espécie está bem aclimatada aoBrasil, sendo cultivada em hortas ejardins. No Brasil é conhecidotambém por vários nomes regionais:alecrim-da-horta, alecrim-de-cheiro, alecrim-de-jardim, erva-da-

graça, libanotis, alecrim-rosma-rinho, rozmarim, rosmarino. Estasinonímia popular pode induzirtambém a erros de identificação,pois a alfazema ou lavanda(Lavandula officinalis) é conhecidano Oeste de Santa Catarina comoosmarim. Na antigüidade o alecrimsimbolizava o amor, a morte e aamizade. A igreja católica utilizava-o nos seus rituais, queimando-ocomo incenso.

Fitologia da espécie

Embora a maior parte dapopulação brasileira conheça e

consuma o alecrim como umaespécie única e sem variações,existem diferentes variedades,formas, quimiotipos e cultivaresdentro desta espécie, os quaisrecentemente estão sendo alvos dapesquisa e até de demandascomerciais. Destacam-se: Rosma-rinus officinalis var. albiflorum, R.officinalis var. angustissimu, R.officinalis var. genuina f. erectus,R. officinalis var. genuina f. humilis,R. officinalis var. genuina f.albiflorus, R. officinalis var.officinalis, R. officinalis var.prostatus. f. roseus, R. officinalisvar. lavandulascens, R. officinalis

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Expertimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, fax: (47) 3341-5255,e-mail: [email protected] rural, Harmonia Natural, Rua Geral do Moura, Vila Nova, 88230-000 Canelinha, SC, fone: (48) 3264-5160, e-mail:[email protected].

Alecrim – um condimento bioativocom muitos aromasAlecrim – um condimento bioativocom muitos aromas

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3 4 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

var. brevifolius, R. officinalis var.israeli, R. officinalis var. prostrataf. albiflorus, R. officinalis f.pyramidalis, R. officinalis f.fastigiata.

Esta classificação taxonômicanem sempre é aceita e algumasvariedades ou formas são inter-pretadas como ecótipos, quimiotipose/ou cultivares comerciais. Osfornecedores de sementes têmclassificado os diferentes alecrinsem quatro grupos principais:Erectus, Prostatus, Albiflorus eAngustifolius. Também ocorremsubgrupos que procuramcaracterizar características de corde flores e/ou folhas ou dearquitetura: Roseus, Lavandu-laceus, Pyramidalis, Variegatus eBonsai.

Devido às diferentes condiçõesclimáticas, nível de radiação,latitude, altitude, tipo e composiçãode solo onde ocorre ou é cultivado,os táxons de alecrim podem terdesdobramentos em raças químicasou quimiotipos, que são genótiposque evoluíram e se destacam porconter pelo menos um fitoquímicomajoritário. Existem seis qui-miotipos (QT) de alecrim encon-trados até o momento:

• QT-verbenoliferum – contémcetona verbenona (12% a 18%);originário da França; pareceapreciar a brisa fria marinha;

apresenta ação hepatoprotetora,colagoga e dermoprotetora.

• QT-canphoriferum – 20% a32% de cânfora; apresenta açãoantiinflamatória, analgésica eestimulante do sistema nervoso;ocorre em plantas sob alta radiaçãoe temperatura.

• QT-cineoliferum – é o maiscomum; contém 40% a 70% decineol; apresenta ação mucolítica eantiespasmódica. O QT-cineolpredomina antes do florescimento,

podendo alterar para cânfora após aflorada.

• QT-pinenoiferum – 40% a 45%de pineno, apresenta açãodescongestionante respiratória.

• QT-borneoliferum – contém15% a 20% de borneol; apresentaação cardiotônica, antiinfeciosa eantifadiga; oxida facilmente paracânfora.

• QT-limonenoliferum – contém30% a 55% de limoneno, umestimulante de enzimas desto-xificantes de carcinógenos;apresenta efeito antiestresse evasotônico.

Existem outras espécies dealecrim, porém pouco conhecidasno Brasil, tais como Rosmarinuscalabriensis, R. capicanalli, R.tomentosus, R. palaui, R. corsicus,R. creticus, R. eriocalix, R. israelie R. chilensis.

O alecrim é uma planta semi-arbustiva, perene, ramificada,perenifólia, que cresce de 0,7 a 1,8mde altura, em média, emboraexistam variedades de porterasteiro. As folhas são glandulíferas,sésseis, opostas, lineares, coriáceas,verde-escuras na face superior eesbranquiçadas na inferior,medindo até 3cm de comprimento.As flores são hermafroditas,diminutas, bilabiadas, azul-claras,rosadas ou esbranquiçadas,reunidas em inflorescênciasaxilares e terminais do tipo racemo.As flores são atrativas de abelhas. A

Quimiotipos de plantas jovens de alecrim: pineno, cânfora e verbenona(esquerda para direita)

Detalhe dos ramos de quimiotipos de alecrim: pineno, cânfora e verbenona(esquerda para direita)

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planta pode florescer o ano todo eviver 8 a 10 anos. O florescimentoocorre mais intensamente a partirde agosto a dezembro, estendendo-se pelo verão e outono. O fruto é dotipo aquênio, de formato ovóide.

Habitat e ambiente decultivo

O alecrim é originário de regiõesde clima temperado quente, comdias longos e com bastanteluminosidade. Noites quentesfavorecem o crescimento vegetativoda planta, enquanto períodoschuvosos ou com nevoeiro reduzemos princípios ativos. Umidadeelevada e clima muito frio reduzemo teor das essências da planta, alémde afetar o crescimento.

A produção de óleo essencial émaior no verão do que no inverno.Os teores de ácido carnósico ecarnosol podem baixar até 50%durante o verão mediterrânico,como resultado da baixa pre-cipitação, altas temperaturas eradiação. No entanto, os diter-

penos rosmanol, iso-rosmanol edimetil iso-rosmanol têm seusteores aumentados nessas con-dições.

Quando o alecrim é submetidoao estresse hídrico, a concentraçãode α-tocoferol e carotenóides naplanta é incrementada em 15 vezese 26%, respectivamente, além deocorrer um aumento de 25% noteor de iso-rosmanol e de 40% dedimetil-iso-rosmanol, comoresultado da oxidação do ácidocarnósico, cujo teor na plantadecresce em 22%. A grandequantidade de ácido carnósico, α-tocoferol e carotenóides encontradano alecrim pode contribuir com aprevenção de danos oxidativos queo estresse hídrico poderia causar àplanta.

No entanto, um estresse hídricomuito acentuado pode resultar emredução nos níveis de carotenos eclorofila nas folhas e reduçãosignificativa da área foliar. Plantasde alecrim com 2 anos de idade esubmetidas a um prolongadoestresse hídrico apresentam umaredução de 35% no conteúdo internode água e 85% no teor de clorofilanas folhas.

As qualidades aromáticas sãomais pronunciadas quando a plantacresce em solo calcário, seco, poucofértil em nutrientes, arenoso e bemdrenado. A planta não tolera solosácidos e encharcados.

Agrologia

• Cultivares de arquiteturaprostrada:

Blue Spires, Arp, Irene, Capri,Collingwood Ingram, Deben Blue,Fota Blue, Gethsemane, Jack-man’s Prostrate, Kenneth’sProstrate, Lockwood de Forest,Severn Sea, Sissinghurst Blue,Trewithen.

• Cultivares de arquiteturaereta:

Alderney, Arta, Aureus,Barbecue, Barcelona, Blue Lagoon,Blue Rain, Bowles, Capercaillie,Columbian, Eve, Escondido,Farinole, Foxtail, Gorizia, Haifa,Henfield Blue, Ken Taylor, Lady inBlue, Lérida, Lilies Blue, Loupian,Majorca Pink, Marenca, Marinka,Minerve, Montagnette, Octopussy,Primley Blue, Roman Beauty,Roseus, Salem, Sea Level, Severn

Sea, Silver Spires, Spanish Snow,Trusty, Tuscan Blue, Ulysse.

• Propagação: sementes eestaquia. Um grama de sementescontém cerca de mil sementes. Assementes podem ser germinadasem bandejas de poliestireno, tubetesou saquinhos plásticos comsubstrato organomineral e mantidasem abrigo plástico com irrigaçãocontrolada. Para a propagação viaestacas, utilizam-se as ponteiras dosramos, com cerca de 10 a 15cm decomprimento, desbastando-se todasas folhas nos dois terços basais. Oenraizamento de estacas pode serfeito em areia média a grossa ouvermiculita ou cinza de casca dearroz, a partir do mês de setembroaté março. Estacas postas a enraizarem cinza de casca de arroz, sobtelado plástico com 70% de sombrae sob irrigação diária pornebulização intermitente, trêsvezes ao dia e em turnos de 2minutos, no verão, enraízam emcerca de 3 a 4 semanas e o índice deenraizamento das estacas é de 60%.O tempo para o enraizamento emareia lavada é de 35 dias. No final doinverno o índice de enraizamentocai para 4%. Maiores índices deenraizamento podem ser obtidosembebendo a base das estacas comuma solução de ácido indol butírico,na dose de 1.000ppm. Depois deenraizadas as estacas são repicadaspara recipientes ou saquinhosplásticos contendo substratoorganomineral.

• Espaçamento para o plantio:1,0 x 0,5m (20 mil plantas/ha) ou1,5 x 0,5m (13.333 plantas/ha),se utilizar microtrator com rota-tiva para execução de tratosculturais.

• Plantio: outubro a novembro,quando a muda for obtida de estacasou mergulhia. Quando obtidas desementes, plantar de março a abrilou outubro a novembro. As mudassão transplantadas com um portede 20 a 25cm. Por ser uma plantalenhosa, o crescimento é lento.

• Irrigação: só deverá ser feitase ocorrer um período significativode estiagens, pois as regasabundantes são prejudiciais aoconteúdo de óleos essenciais daplanta.

• Plantas invasoras: deve-secontrolar as espécies infestantescom capina manual ou mecânica. O

Arquitetura de uma planta adultade alecrim quimiotipo verbenona

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uso de cobertura morta sobre o soloreduz a infestação de ervasconcorrentes, além de melhorar ascondições físico-biológicas do solo.

• Doenças: as raízes podem serinvadidas por Meloidogyne javanica,M. incognita e M. hapla, que causamamarelecimento e perda de aromadas folhas e secamento dos ramos.

• Alelopatia: a planta é alelopatapositiva com a sálvia (Salviaofficinalis), constituindo uma boaopção de consórcio.

• Colheita: inicia no primeiroano, no início do florescimento(primavera). Cortam-se até 30% dosramos para que possa haver umaboa recuperação da planta para ospróximos cortes, feitos a cada 3meses. Devido à maior concentraçãode óleo essencial na parte apical daplanta, colhem-se preferencial-mente as ponteiras.

• Produtividade de folhas secas:1,4 a 2t/ha de folhas secas ou 8a 10t/ha de folhas frescas por ano. O

rendimento de óleo essencial variade 40 a 60kg/ha/ano.

• Secagem: os ramos com folhassão postos a secar em estufas comfluxo de ar contínuo, mantidas comtemperatura de 40oC. Com asecagem, as folhas soltam-sefacilmente dos ramos, os quais sãoeliminados. Os teores de óleoessencial nas folhas do alecrim QT-pinenoiterum, após secagem emtemperaturas de 40, 60 e 80oC sãode 2,1%, 1,6% e 1,1%, respectiva-mente.

• Padrões comerciais: o óleoessencial deve ter, no mínimo, 2,5%de ésteres.

• Rotação cultural: devem serutilizadas espécies leguminosas eevitadas gramíneas.

Composição fitoquímica ebromatológica

As folhas contêm cerca de 32%de matéria seca e o teor de óleo

essencial varia deacordo com asépocas de colheita,regiões e partesamostradas. Ocor-rem variações noteor de óleoessencial nasfolhas de 0,37% a2%. O teor de óleoessencial nasfolhas frescas,colhidas no invernoe no verão, emItajaí, SC, é de0,53% e 1,2%, emmédia, utilizando-se o método dehidrodest i laçãoClevenger, com 3horas de destila-ção.

Componentesdo óleo essencial:verbenona, α e β-pineno, borneol,1,8-cineol, cânfora,limoneno, mirce-no, acetato deisobornila, acetatode bornila, ver-binol, α-tujeno,canfeno, δ-3-care-

no, ρ-cimeno, copaneno, linalol,terpin-4-ol, α e δ-terpineol, α e χ-terpineno, terpinoleno, β-cario-fileno, α-humuleno, muuroleno, β-bisa-bolona, carvona, curcumeno,sabineno, ledeno, δ e χ-cadineno, α-selineno, cubeneno, trans-anetol,calameneno, calocoreno, óxido decariofileno, metil-eugenol, coro-caleno, carvacrol, timol e cada-leno.

• Ácidos fenólicos: ácidosrosmarínico, clorogênico, caféico,labiático e neoclorogênico.

• Terpenóides: rosmanol,epirosmanol, carnosol, ácidocarnósico, ácidos ursólico,oleanólico, carnosílico e oleânico,rosmaridienol e α e β-amirenona.

• Flavonóides: luteolinas,hesperidina, apigenina, diosmetina,diosmina, genquaninas, hispi-dulina, 6-metoxi-homoplantagina,cirsimarina, nepritina, sinense-tina, cupafolina e 7-metoxi-fegopolina.

• Fitosteróis: estigmasterol,taraxasterol e campesterol.

Cem gramas das folhas secascontêm 331 calorias, 9,3g de água,4,9g de proteína, 64,1g decarboidratos totais, 17,6g de fibras15,2g de lipídeos, 6,5g de cinzas,1.280mg de cálcio, 955mg depotássio, 220mg de magnésio, 70mgde fósforo, 50mg de sódio, 29,2mgde ferro, 3,2mg de zinco, 3.128 UIde vitamina A, 1mg de niacina,0,5mg de tiamina e 61mg de ácidoascórbico. A planta contém 4,5% a6% de cinzas.

Propriedadescomprovadascientificamente

• Extratos de alecrim têmdemonstrado ação colerética, an-tioxidante, espasmolítica, diurética,gastroprotetora, hepatoprotetora,antimutagênica e antitumoro-gênica. A atividade anti-hepa-totóxica do alecrim pode seratribuída aos ácidos fenilcar-boxílicos, enquanto que a açãoanticarcinogênica é devida aosfitoquímicos carnosol e ácidocarnósico. A atividade antioxidanteFlor e folhas de alecrim quimiotipo verbenona

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é devida aos ácidos carnósico,rosmarínico, caféico e labiático,rosmanol e hesperidina.

• O ácido rosmarínico e osflavonóides são os principaisresponsáveis pela atividadeantiinflamatória da planta. Osácidos rosmarínico e caféicoapresentam grande potencial notratamento ou prevenção de asmabronquial, distúrbios espasmo-gênicos, úlceras pépticas,

inflamações, aterosclerose,isquemia cardíaca, catarata,hepatotoxicidade, câncer e fracamotilidade do espermatozóide. Oácido rosmarínico incrementa aprodução de leucotrieno B4 emleucócitos polimorfonucleareshumanos. Os ácidos fenólicosapresentam ação colerética ecolagoga. Os flavonóides apre-sentam propriedades antiespas-módica e de aumentar a resistência

dos capilares sangüíneos e acirculação principalmente dosmembros inferiores. A diosminareduz a permeabilidade capilar deforma mais potente que a rutina,ambas encontradas na planta. Oscompostos monoterpênicos (cineol)apresentam atividade anties-pasmódica e estimulante do courocabeludo. O ácido rosmarínico inibe,in vitro, a imunoemólise deeritrócitos, reduz o edema em patade rato induzido pelo fator venenode cobra e inibe a anafilaxia cutâneapassiva em ratos. O ácido carnósicoapresenta um forte efeito inibitóriosobre o HIV-1 protease e sobre areplicação do vírus HIV-1.

• Extratos da planta (1% daração) diminuem em 47% aincidência de tumores mamários,enquanto que na concentração de6μg/ml inibe em 80% a formação deDNA alterado pelo pré-carcinógenobenzo(a)pireno em células epiteliaisdos brônquios humanos. Aplicadotopicamente sobre a pele decamundongos, o extrato metanólicodas folhas reduz o número detumores, a hiperplasia e ainflamação induzidos pelo pré-carcinógeno 12-O-tetradecanoil-forbol-13-acetato. O extrato dasfolhas de alecrim aumenta aatividade das enzimas dedesintoxicação hepática e estomacalem camundongos, sugerindo umgrande potencial de proteção aofígado e estômago de agentescarcinogênicos ou tóxicos.

• O óleo essencial é analgésico,estimulante e antimicrobiano contra21 espécies de microrganismos. Aforte atividade antimicrobiana doóleo depende do tipo e daconcentração deste, bem como daraça do patógeno testada. Váriostrabalhos de pesquisa têmdemonstrado a ação antimicrobianado óleo sobre as bactériasStaphylococcus aureus, Staphylo-coccus albus, Vibrio cholerae,Salmonella sp., Escherichia coli,Listeria monocytogenes eCorynebacterium sp., além da açãoantifúngica sobre Alternariacarthami e Sclerotium rolfsii. Oóleo essencial da planta inibe ocrescimento radial e a germinação

Arquitetura de uma planta adulta de alecrim quimiotipo pineno

Detalhe das folhas de alecrim quimiotipo pineno

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e a produção de conídeos dePenicillium digitatum.

• Os óleos essenciais das folhasdos quimiotipos camphoriferus, 1,8-cineoliferus e verbenoniferusapresentam efeito amebicida totalsobre Entamoeba histolytica nasconcentrações de 1μl/ml; 0,25μl/mle 1μl/ml, respectivamente.

• O extrato aquoso das folhas(20%) inibe significantemente agerminação de sementes de Bidenspilosa (picão-preto).

Formas de uso

Utilizam-se normalmente folhassem ramos. Na indústria se utilizamramos verdes com folhas esumidades floridas.

• Infusão: 1 colher das de chá em1 xícara de água quente. Tomar 2 a3 xícaras ao dia.

• Vinho: macerar 1 xícara e meiadas de chá de folhas em 1L de vinhotinto durante 10 dias. Filtrar eadoçar com mel. Tomar 1 cáliceantes das refeições.

• Banho: ferver 3 xícaras das dechá de folhas em 1L de água por 5minutos. Coar, esfriar e misturar àágua da banheira. Pode ser utilizadotambém o óleo essencial, 3 colheresdas de sopa.

• Pó: as folhas secas podem serpulverizadas e utilizadas comocicatrizantes.

• Tintura:- Macerar 50g de folhas secas em

1L de álcool de cereais ouaguardente. Deixar em maceraçãopor 5 dias, filtrar e conservar emvasilhame escuro. Tomardiariamente 40 gotas diluídas em 1copo de água, por 10 a 15 dias(tratamento para hemorróidas,estresse e como tônico).

- Macerar 20g de folhas secas em100ml de álcool 70% durante 5 dias.Coar e aplicar a tintura em fricçõessobre o couro cabeludo pararevitalizá-lo.

• Alcoolatura: macerar 10g dealfazema e 20g de alecrim em álcoole aplicar em torceduras, contusõese alopecia. O alcoolato do óleo dealecrim a 5% pode ser utilizadotopicamente sobre a pele comorepelente de insetos e antine-vrálgico.

• Pomada: 1 parte de suco dealecrim + 10 partes de gorduravegetal para combate à sarna.

• Fumaça: colocar um punhadode folhas sobre uma chapa quente.Aspirar a fumaça para tratarbronquite.

• Óleo essencial: algumas gotascolocadas sobre um queimadorajudam a melhorar a concentração.Misturado com óleo de oliva, podeser utilizado em massagens emáreas reumáticas.

Toxicologia

Alecrim do quimiotipo cânforanão deve ser ingerido ouadministrado internamente. Emaltas doses é tóxico, prostático edisentérico. Extratos da planta, apartir da dose de 52mg/dia, sãoembriotóxicos em cobaias gestantes.Cosméticos que contêm o óleopodem causar dermatites empessoas com hipersensibilidade. ADL50 do óleo essencial é de 5ml/kg,via oral, em ratos, e mais de 10ml/kg em coelhos, via dermal. O óleoessencial apresenta efeitohiperglicêmico e inibidor daliberação de insulina; pode causargastroenterite e/ou nefrite. Ba-nhos e abluções que contenham oóleo podem causar eritemas.Pessoas diabéticas, epilépticas,gestantes e lactantes devem abster-

se da ingestão de produtos doalecrim.

Outras propriedades

• As folhas são utilizadas comocondimento, sobretudo de carnesde porco, cabrito, carneiro, peixes efrangos, além de guisados, saladas,pudins e biscoitos.

• Com folhas e/ou flores dealecrim maceradas em vodca obtém-se um licor conhecido como “águahúngara”.

• O óleo é utilizado paraestabilizar gorduras e evitaroxidações, principalmente naindústria de embutidos.

• A planta é melífera. O melproduzido a partir de suas flores éreputado como sendo da mais altaqualidade alimentar e medicinal.

• Os óleos das folhas e sementessão utilizados em perfumaria,cosmética (sabonete, sais de banho,desodorante, loção e tônico capilar),licores e vinhos.

• Desidratada e pulverizada, aplanta atua como incenso odorizantee abascanto.

• A planta é utilizada no controlede baratas e mosquitos; é repelentede pragas caseiras, moscas eborboletas. O óleo de alecrim éparasiticida, repelente fragrante detraças, bactericida, fungicida eprotisticida.

Aspecto da cultura do alecrim quimiotipo verbenona durante o inverno, emCanelinha, SC

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S

Estimativas dos impactos das mudanças climáticasEstimativas dos impactos das mudanças climáticasEstimativas dos impactos das mudanças climáticasEstimativas dos impactos das mudanças climáticasEstimativas dos impactos das mudanças climáticasno zoneamento da cultura do feijão nono zoneamento da cultura do feijão nono zoneamento da cultura do feijão nono zoneamento da cultura do feijão nono zoneamento da cultura do feijão no

Estado de Santa CatarinaEstado de Santa CatarinaEstado de Santa CatarinaEstado de Santa CatarinaEstado de Santa Catarina

Cristina Pandolfo1, Luiz Albano Hammes2, Cláudia Camargo3, Angelo M. Massignam4,Emanuela S.P. Pinto5, Marilene de Lima6 e José Maria Milanez7

egundo os resultados dosrelatórios do Painel Inter-governamental de Mudan-

ças Climáticas – IPCC –, atemperatura média global teve umaumento de 0,74oC no período de1906 a 2005, segundo o relatório de2007, e de 0,6oC no período de 1901a 2000, no relatório de 2001. E dosúltimos 12 anos, 11 estão entre osmais quentes desde 1850. Pelaescala dos diferentes cenáriosdesenvolvidos pelo IPCC (SRES), amédia global da temperatura do ar,projetada por modelos, sofrerá umaquecimento de 1,8 a 4oC para 2100.Em cenários mais pessimistas, oaumento poderá chegar a 6,4oC.Estas projeções indicam que oaquecimento poderia variar porregião e ser acompanhado peloaumento ou diminuição naprecipitação. Em conseqüência,poderá haver mudanças no clima ena freqüência e intensidade dealguns fenômenos climáticosextremos (Intergovernamental...2001 e 2007). Entretanto, o foco dasdiscussões climáticas está voltadoao quanto a ação antrópica estáinfluenciando as alterações e

vulnerabilidades encontradas noclima de diferentes regiões do globo(Marengo, 2006).

No Estado de Santa Catarina,um aspecto importante é conhecero comportamento das variáveisclimáticas ao longo das últimasdécadas e estimar a influênciadestas alterações na agricultura.Considerando que a agricultura éresponsável pela subsistência deum grande número de famílias deagricultores e de atividades daagroindústria, tem sido um grandedesafio aumentar o grau deinformações com relação a estasalterações, pois suas conseqüênciastornam-se um grande problemaregional. Portanto, quanto maisdetalhado e específico for o conhe-cimento do comportamento dasvariáveis meteorológicas, em longoe curto prazo, de forma mais efi-ciente podem ser mitigados os pos-síveis impactos e efeitos prejudi-ciais a determinadas regiões.

O uso de cenários agrícolas,simulando-se as mudanças climá-ticas, permite estimar os impactosdestas mudanças na agricultura epropor estratégias de atuação no

setor agrícola, com melhoramentogenético, manejo agrícola e escolhade espécies promissoras adaptadasaos novos panoramas climáticos.

Para Santa Catarina, estima-tivas dos impactos causados pelaelevação linear de 2oC nastemperaturas médias, máximas emínimas do ar, mantendo o total deprecipitação, foram apresentadaspara as culturas de banana e maçã(Pandolfo et al., 2007).

A cultura do feijão é importantepara o Estado de Santa Catarina, euma projeção de alteração dasfronteiras agrícolas a longo prazotorna-se ferramenta importantede planejamento e tomada dedecisão.

Segundo Levantamento Siste-mático da Produção Agrícola (IBGE,2007), Santa Catarina se mantémcomo sétimo maior produtornacional de feijão, responsável por2,88% da produção nacional. A áreacultivada no Estado no ano agrícolade 2006 foi de 128.510ha e aprodução alcançou 164.267t.

Um dos principais fatores queafetam o rendimento da cultura dofeijão no Estado de Santa Catarina

1Eng. agr., M.Sc., Fundagro/Agroconsult/Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-8005, e-mail:[email protected]. agr., Fundagro/Agroconsult/Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-8005, e-mail:[email protected], M.Sc., Epagri/Ciram, fone: (48) 3239-8053, e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, C.P. 116, fone/fax: (49) 3541-0748, 89620-000 e-mail:[email protected]. de sistemas, Fundagro/Agroconsult/Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-8006, e-mail:[email protected], M.Sc., Epagri/Ciram, fone: (48) 3239-8066, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5220, e-mail:[email protected].

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é o clima. Sua variabilidade, notempo e no espaço, durante a estaçãode crescimento da cultura pode sercausa do sucesso ou da frustraçãoda safra (Epagri, 1992).

A temperatura é o fatorambiental mais importante nocrescimento, desenvolvimento erendimento das culturas. Todos osprocessos biológicos respondem aela (Hunt et al., 2003). As altastemperaturas fazem decrescer ataxa de fotossíntese (White &Reynolds, 2003; Crafts-Brandner &Salvucci, 2004) e a duração daatividade fotossintética e, comoconseqüência, o rendimento dasculturas diminui (Al Khatib &Paulsen, 1990). Alguns estudosdemonstraram que altas tempera-turas reduzem os rendimentos doarroz (Morita et al., 2005), feijão(Massignam et al., 1998) e milho(Commuri & Jones, 2001). Osfatores mais importantes naexplicação da redução do rendi-mento das culturas às altastemperaturas são a redução do ciclo,especialmente o subperíodo deenchimento de grãos, e o aumentocompensatório da taxa deenchimento de grãos (Cantarero etal., 1999; Wilhelm et al., 1999 eWhite & Reynolds, 2003). SegundoDoorenbos & Kassam (1994) o feijãocomum desenvolve-se bem em zonasonde a temperatura média diáriaótima oscila entre 15 e 20oC, sendoa temperatura média mínima diáriapara o seu crescimento de 10oC e amáxima de 27oC.

Para a escolha da época desemeadura de feijão, o período defloração não deve coincidir comperíodos de ocorrência de altastemperaturas. Com o aumento datemperatura máxima (acima de28oC) há diminuição no rendimentoe aumento da variabilidade dosrendimentos de feijão (Massignamet al., 1995).

O maior consumo médio diáriode água (5,9mm) ocorre do início doflorescimento até o início doenchimento dos grãos, que, emboranão coincida com o período de maiordemanda evaporativa da atmosfera,coincide com o período em queocorre a área foliar máxima, comgrande atividade fisiológica dacultura (Matzenauer, 1992).

Em geral, altas temperaturasestão associadas a altas radiações e

alto consumo de água. No entanto,é relativamente difícil separar osefeitos fisiológicos daqueles efeitoscausados pelas condições a campo,gerando impactos negativos oupositivos que só podem serdeterminados com simulaçõesespecíficas para quantificar o efeitodo aumento de temperatura global(FAO, 2007).

Cenário de mudançasclimáticas

Para a elaboração dos cenáriosforam utilizados dados de tempe-ratura média, temperatura máxima,temperatura mínima do ar,ocorrência de geada e precipitaçãopluviométrica diária provenientesde estações meteorológicas perten-centes à Epagri, com períodosmaiores que 10 anos.

Assumiu-se que nos próximos50 anos as temperaturas média,máxima e mínima do ar do Estadode Santa Catarina vão sofrer umaumento linear de 2oC, porém foiconsiderado que o total de preci-pitação pluviométrica não sofrerámodificação.

Para a elaboração do zoneamen-to agrícola para o feijão, levaram-seem consideração critérios como: ociclo considerado foi de 90 dias;probabilidade de ocorrência de atemperatura média das máximasigual ou superior a 30oC ser inferiorou igual a 20% no período deformação de flores; a freqüência deocorrerem temperaturas mínimasabaixo de 3oC deve ser inferior ouigual a 20% durante todo o ciclo dacultura; o índice de satisfação denecessidades hídricas (ISNA), que éa relação entre a evapotranspiraçãoreal e a evapotranspiração máximada cultura, deve ser igual ousuperior a 0,65, com probabilidadede ocorrência acima de 0,8,utilizando-se para o balanço hídricouma capacidade de água disponívelno solo (CAD) de 60mm.

A metodologia e os critériosutilizados para definição doszoneamentos neste trabalhodiferem do zoneamento publicadono Diário Oficial (Brasil, 2007).

A recomendação do zoneamentoagrícola para a cultura do feijão,considerando-se as condições atuaisde clima, pode ser observada naFigura 1. Analisando os períodos

recomendados para a semeadurada cultura do feijão no Estado deSanta Catarina, situação atualcomparada com um cenário deaumento de temperatura em 2oC(Figura 2), pode-se observar que oaumento da temperatura iráimpactar significativamente acadeia produtiva da cultura noEstado.

No cenário das mudançasclimáticas, alguns municípios doExtremo-Oeste e também do Valedo Itajaí terão o cultivo do feijãonão recomendado ou bastanterestrito quanto ao período desemeadura. A restrição do cultivonestas regiões se deve principal-mente ao aumento do déficit hídrico,ocasionado pelo aumento daevapotranspiração e pelo aumentodas temperaturas máximas.

Como a cultura do feijãoapresenta limitação a temperaturaselevadas no período de floresci-mento, condição que pode ocasionarabortamento de flores, ocorrerátambém deslocamento do períodode semeadura nas regiões maisquentes do Estado. Na situaçãoatual, estas regiões apresentam arecomendação de cultivo segmen-tada em dois períodos, evitando operíodo de temperaturas maiselevadas na fase de floração dacultura. Com o aumento datemperatura em 2oC, o intervaloentre os dois períodos de cultivo éexpandido e o período de reco-mendação, deslocado para períodosde temperaturas menores.

Já para as regiões mais frias doEstado, o período de semeadura éampliado, pois o risco de geada, queé o principal fator limitante paraestabelecer o início e final da semea-dura, passa a ter seu período deocorrência menor. As tempera-turas irão aumentar mas não atin-gem o nível de danos para a cultura.

Embora a cultura do feijoeirotenha o ciclo curto, ela abriga umagama de artrópodes que, depen-dendo da fenologia da planta e decondições térmica e hídrica favorá-veis, podem aumentar as populaçõese causar perdas significativas naprodutividade, principalmente nocultivo da safrinha. Dentre aspragas que atacam a cultura dofeijoeiro, a espécie de cigarrinhaEmpoasca kraemeri é considerada aprincipal, seguida das espécies

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4 1Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Assim, considerando o cenáriode aquecimento com o aumento detemperatura de 2oC na temperaturamédia, não há exagero em afirmarque os insetos, de modo geral, terãoseus ciclos biológicos encurtados epoderão produzir maior número degerações num determinadointervalo de tempo.

Os estudos sobre exigênciastérmicas dos insetos ainda são muitoincipientes no Estado, no entanto,serão de grande valia para modelosde previsão de ocorrência de pragas,pois demonstram a correlaçãoexistente entre o aumento dadisponibilidade térmica e a reduçãodo ciclo, em dias, das espécies,provocando o aumento do númerode gerações em locais de maiorestemperaturas.

Preocupante seria o crescimentopopulacional da mosca-branca, quepode limitar o cultivo do feijoeiroem muitas áreas, já que tempera-turas próximas de 30oC sãofavoráveis à transmissão do vírusdo mosaico dourado do feijoeiro(Balardin, 1992).

Portanto, é possível afirmar queos problemas com pragas trarão ocaos e exigirão esforços redobradosda pesquisa para desenvolver novasarmas de controle com o auxílio dabiotecnologia, já que o uso exclusivode inseticidas não tem resolvido osproblemas e a cada ano surgempopulações mais resistentes.

A expectativa é de que, com oaumento das temperaturas, haverádecréscimo do rendimento devido àredução do ciclo da cultura e,conseqüentemente, acúmulomenor de graus-dia ou somatérmica. A cultura irá absorvermenos radiação e converter menosfotossintatos pela diminuição dataxa fotossintética. A redução dociclo pode ser observada quandosão utilizados modelos de cresci-mento utilizando-se o acúmulo desoma térmica para simulação dociclo. Essa situação tem reflexossobre a duração dos diferentesestádios fenológicos e redistribuiçãode fotossintatos de maneiradiferenciada, alterando a competiçãoexistente entre plantas numacomunidade vegetal.

Do ponto de vista fisiológico, porser o feijão uma planta demetabolismo fotossintético C3, acultura é menos eficiente em

Fonte: Agroconsult Ltda.

Figura 1. Zoneamento agrícola para a cultura do feijão em SantaCatarina

Fonte: Agroconsult Ltda.

Figura 2. Zoneamento agrícola para o feijão com o impacto dasmudanças climáticas

desfolhadoras Diabrotica speciosa eCerotoma sp., que na fase larval sãoconsideradas pragas de solo eatacam raízes de gramíneas eleguminosas (Milanez, 1992).

A evolução populacional de umadeterminada praga depende defatores bióticos (alimento, inimigosnaturais, fungos entomopato-gênicos) e abióticos, sendo atemperatura o fator principal, poisé sabido que os insetos são animais

de sangue frio e, portanto, nãopossuem um mecanismo que regulasua temperatura corporal, ficandoo desenvolvimento dependente davariação da temperatura ambiental.Cada fase de desenvolvimento dociclo biológico do inseto tem suaprópria exigência de calor total,portanto, não faz sentido medir odesenvolvimento do inseto em dias,mas sim em unidades de caloracumuladas.

1o/8 a 30/11 e 11/1 a 31/3

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21/9 a 28 ou 29/2Cultivo não recomendado

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4 2 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

relação ao uso de CO2 atmosféricodo que as plantas C4 emconcentrações de até 400ppmaproximadamente (FAO, 2007).Considerando-se que as plantasdaninhas mais abundantes sejamC4 (gramíneas), estas teriam suastaxas de crescimento maior porunidade de tempo, maior eficiênciana produção de fitomassa porquantidade de água consumida,melhor conversão da energialuminosa e maior competição com acultura do feijão, principalmenteno início do cultivo.

No caso do uso de cenáriosagrícolas, aumentando astemperaturas e considerando-seque os outros fatores do ambientenão alteram, as plantas daninhasterão maior competitividade emrelação à cultura do feijão e poderãoprejudicar a produção, caso nãosejam controladas.

O surgimento de doenças e seudesenvolvimento é conseqüência daação da suscetibilidade da planta,da existência de um patógeno e dosfatores ambientais, sendo estesúltimos determinantes para aseveridade de ataque de umamoléstia.

As mudanças climáticas podem,a longo prazo, causar grandesimpactos na cadeia produtiva dediversas culturas como feijão, emdiferentes regiões no Estado. O usodas informações geradas peloscenários e as estimativas de seusimpactos são ferramentas deplanejamento e orientação ao setoragrícola frente às tendênciasclimáticas que se configuram.

Literatura citada

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Seção Técnico-científica

∗ Bacterioses da cebola: diagnose e recomendações para o controle integrado .......................João Américo Wordell Filho

Marciel João Stadnik∗ Métodos culturais no manejo de tripes em cebola ..........................................................

Paulo Antonio de Souza Gonçalves∗ Rizobactérias promotoras de crescimento de plantas .......................................................

Oscar Emilio Ludtke HarthmannWilmar Cório da Luz

João Américo Wordell FilhoEdilberto Possamai

∗ Danos de Lagria villosa em mudas de videira .................................................................Alvimar Bavaresco

Marcos BottonGilson José Marcinichen Gallotti

∗ Avaliação de cultivares para produção de batata orgânica no Litoral Sul Catarinense ..............Antonio Carlos Ferreira da Silva

Zilmar da Silva SouzaLuiz Augusto Martins Peruch

∗ Identificação da variabilidade fenotípica numa população local de feijão-preto ....................Gilcimar Adriano VogtHaroldo Tavares Elias

Fernando de NadalMaria Celeste Gonçalves Vidigal

Marcos Alexandre Danieli∗ Eficiência da uréia e do nitrato de amônio em adubação de cobertura para milho cultivado no

sistema plantio direto .............................................................................................Eloi Erhard Scherer

∗ Microclima e taxas fotossintéticas e transpiratórias do tomateiro em diferentes ambientes decultivo .................................................................................................................

Anderson Fernando WamserEuclides Schallenberger

Luiz Carlos Argenta∗ Alterações em atributos químicos no perfil do solo após 93 meses da aplicação superficial de

calcário, em sistema plantio direto .............................................................................Carla Maria Pandolfo

Milton da Veiga∗ Jovens agricultores do Oeste de Santa Catarina na encruzilhada: entre o rural e o urbano ........

Dilvan Luiz FerrariMilton Luiz Silvestro

Márcio Antonio de MelloVilson Marcos Testa

Informativo Técnico

Artigo Científico

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* Primeiro relato da ocorrência da forma perfeita de Colletotrichum acutatum em folhas de macieira noBrasil ...................................................................................................................

Onofre Berton

* Primeiro registro da ocorrência de sarna em pereira japonesa em Santa Catarina, Brasil ...........Walter Ferreira Becker

* Nível de infestação e ocorrência do ácaro-vermelho-europeu em macieira cultivares Gala e Fuji .Janaína Pereira dos Santos

Nota Científica

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ISSN 0103-0779

Comitê de Publicações/Publication Committee

Anderson Fernando Wanser, M.Sc. – EpagriCristiano Nunes Nesi, M.Sc. – EpagriGeorge Livramento, eng. agr. – EpagriHenri Stuker, Dr. – EpagriJefferson Araújo Flaresso, M.Sc. – EpagriJosé Ângelo Rebelo, Dr. – EpagriLuiz Augusto Martins Peruch, Dr. – EpagriPaulo Henrique Simon, M.Sc. – Epagri (Secretário)Roger Delmar Flesch, Ph.D. – Epagri (Presidente)Rogério Luiz Backes, Dr. – EpagriTássio Dresch Rech, Dr. – EpagriValdir Bonin, M.Sc. – Epagri

Conselho Editorial/Editorial Board

Ademir Calegari, M.Sc. – Iapar – Londrina, PRAnísio Pedro Camilo, Ph.D. – Embrapa – Florianópolis, SCBonifácio Hideyuki Nakasu, Ph.D. – Embrapa – Pelotas, RSCésar José Fanton, Dr. – Incaper – Vitória, ESEduardo Humeres Flores, Dr. – Universidade da Califórnia – Riverside, USAFernando Mendes Pereira, Dr. – Unesp – Jaboticabal, SPFlávio Zanetti, Dr. – UFPR – Curitiba, PRHamilton Justino Vieira, Dr. – Epagri – Florianópolis, SCLuís Sangoi, Ph.D. – Udesc/CAV – Lages, SCManoel Guedes Correa Gondim Júnior, Dr. – UFRPE – Recife, PEMário Ângelo Vidor, Dr. – Epagri – Florianópolis, SCMichael Thung, Ph.D. – Embrapa – CNPAF - Goiânia, GOMiguel Pedro Guerra, Dr. – UFSC – Florianópolis, SCMoacir Pasqual, Dr. – UFL – Lavras, MGPaulo Henrique Simon, M.Sc. – Epagri – Florianópolis, SCPaulo Roberto Ernani, Ph.D. – Udesc/CAV – Lages, SCRicardo Silveiro Balardin, Ph.D. – UFSM – Santa Maria, RSRoberto Hauagge, Ph.D. – Iapar – Londrina, PRRoger Delmar Flesch, Ph.D. – Epagri – Florianópolis, SCSami Jorge Michereff, Dr. – UFRPE – Recife, PESérgio Leite G. Pinheiro, Ph.D. – Epagri – Florianópolis, SC

Indexada à Agrobase e à CAB International

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICO-CIENTÍFICOS NESTA EDIÇÃO: Alvimar Bavaresco, Ângelo Mendes Massignam, AntonioCarlos Ferreira da Silva, Carla Maria Pandolfo, Círio Parizotto, Clori Basso, Cristiano Nunes Nesi, Eduardo Rodrigues Hickel, Elói Erhard Scherer,Euclides Schallenberger, Faustino Andreola, Gilson José Marcinichen Gallotti, Irceu Agostini, Janaína Pereira dos Santos, João Américo Wordell Filho,José Itamar da Silva Boneti, Leandro do Prado Wildner, Luis Antônio Chiaradia, Márcio Sônego, Milton da Veiga, Nelson Cortina, Paulo Antonio deS. Gonçalves, Robert Harri Hinz, Rogério Luiz Backes, Rubens Marschalek, Siegfried Mueller, Yoshinori Katsurayama.

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4 5Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Bacterioses da cebola: diagnose e recomendaçõesBacterioses da cebola: diagnose e recomendaçõesBacterioses da cebola: diagnose e recomendaçõesBacterioses da cebola: diagnose e recomendaçõesBacterioses da cebola: diagnose e recomendaçõespara o controle integradopara o controle integradopara o controle integradopara o controle integradopara o controle integrado

João Américo Wordell Filho1 e Marciel João Stadnik2

cebola (Allium cepa L.)ocupa, entre as hortaliçascultivadas, a terceira posição

em importância econômica noBrasil, ficando atrás apenas dabatata e do tomate. Em SantaCatarina, a cebola constitui-se naprincipal hortaliça cultivada emtermos de área plantada e volumede produção. Ainda neste Estado,ela assume grande importânciasocioeconômica, pois envolve maisde 18 mil famílias de agricultoresque a cultivam como atividadeprincipal em pequenas proprie-dades. Na safra de 2005/06 aprodução foi de aproximadamente431.399t e a produtividade médiaficou em torno de 20,73t/ha(Epagri/Cepa, 2006), ainda muitoaquém do potencial produtivo dacultura. Isto se deve, em grandeparte, à ocorrência de doenças,entre elas as bacterioses. Se nãobastassem as perdas que ocorremno campo, somam-se a estas aspodridões de bulbos durante oarmazenamento, destacando-se apodridão-de-escamas e a podridão-mole.

A podridão-de-escamas dosbulbos de cebola é uma doença deocorrência generalizada, podendocausar até 50% de descarte nacomercialização. O sintoma estáassociado a várias espécies debactérias, sendo a mais freqüente a

Burkholderia cepacia (Yabuuchi etal., 1992) (ex.: Pseudomonas cepacia)(Jaccoud Filho et al., 1987). Apesarde B. cepacia ser considerada umabactéria mesofílica (desenvolve emtemperaturas baixas), vem sendorelatada com freqüência em regiõestropicais, em vários países de todosos continentes (Bazzi, 1979). Defato, é bem provável que muitasespécies de bactérias estejamocorrendo ao mesmo tempo, emboraalgumas delas possam se sobreporem determinadas condições,conferindo o respectivo sintomatípico, ou ocorrendo ainda umasucessão ecológica. A podridão porBurkholderia cepacia pode ocorrerno campo, onde se pode conferir oaparecimento de “folhas brancas”.Contudo, é mais freqüente após acolheita.

A podridão-mole ocorre emvárias hortaliças, sendo a principalcausa da perda de peso de bulbos decebola em pós-colheita nos climastropicais e subtropicais. A principalespécie envolvida é Pectobacteriumcarotovorum ssp. carotovorum (ex.:Erwinia carotovora ssp. carotovora),de ocorrência cosmopolita e poucoespecífica (Jaccoud Filho, 1988;Hauben et al., 1998).

Neste trabalho são descritos ossintomas característicos causadospor Burkholderia spp. e P. caro-tovorum e listadas as principais

recomendações para o controledestas bacterioses.

Sintomas

Bulbos atacados pela podridão-de-escamas, causada por B. cepacia,deixam normalmente odoravinagrado, diferenciando dapodridão-mole, por Pectobacteriumspp., que produz um odor fétidocaracterístico.

B. cepacia causa podridão dasescamas mais externas dos bulbosde cebola deixando aparência úmidae cor amarelada (Figura 1) (JaccoudFilho et al., 1987). A coloraçãoamarelada é decorrência desubstâncias produzidas pelo bulboem resposta à presença da bactéria(Jaccoud Filho, 1988). Os catafilosmais internos que ainda tenham asrespectivas folhas não são atacados.Cebolas infectadas podem mostrarenrugamento da porção superior dobulbo, e no estágio avançado dadoença a película externa escorregafacilmente com a pressão da mão,enquanto que a porção do bulbo,interna à camada afetada,permanece firme. Isto resultageralmente na formação de umapelícula que se desprende ao toque,originando bulbos brancos.

A podridão causada por B.gladioli inicia em uma ou duasescamas mais internas, que se

Aceito para publicação em 16/4/07.1Eng. agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600,e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., Centro de Ciências Agrárias – CCA –, C.P. 476, 88040-900 Florianópolis, SC, e-mail: [email protected].

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4 6 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Figura 1. Sintoma típico de apodrecimento causado por Burkholderiacepacia em bulbos de cebola armazenados

Fot

o de

Sam

i Mic

her

ef

mostram amolecidas e aguadas. Adoença infecta o pescoço e progridepara a base do bulbo, semcomprometer camadas adjacentes.Nos primeiros estágios da doençaos bulbos apresentam-se normais,e quando pressionados na baseejetam a parte central doente,dando origem ao que se denominade pele escorregadia. Poste-riormente, as camadas doentessecam e o bulbo encolhe ou apodrecepor completo pela invasão de outrasbactérias e fungos saprófitas. Nasfolhas, pode manifestar-se emforma de mancha.

A bactéria Pectobacteriumcarotovorum ssp. carotovorum temintensa atividade pectolítica,causando podridão-mole em órgãosdo tipo carnoso das várias espéciesvegetais. As células são bastonetes,medindo entre 0,5 e 1μm e 1 e 3μm,são móveis, com flagelosperitríquios, de anaerobiosefacultativa e rápido crescimento emmeio de cultura (Bradbury, 1986).Depois de infectado, o tecido torna-se rapidamente amolecido,apodrece e é invadido por saprófitas.Bulbos de cebola, ao seremapertados nestas condições,expulsam um líquido viscoso pelopescoço com forte impregnação deodor fétido (Figura 2). Jaccoud Filho(1988) observou que sintomas

iniciais ocorriam na região dopseudocaule, limitando-se a poucastúnicas internas. Muitos bulbosapresentam-se normais; porém,

Figura 2. Sintoma de podridãocausado por Pectobacteriumcarotovorum

internamente as escamas podemestar deterioradas, tendo coloraçãoamarelo-amarronzadas. Com aevolução da doença há penetraçãode outros organismos, que resultano apodrecimento total dos bulbos.O sintoma de podridão-mole é devidoà ação de várias enzimas pectino-líticas extra e intracelulares pro-duzidas pelas células bacterianas,que degradam substâncias pécticasda lamela média, causando flacidezdo tecido, razão do nome da doença(Collmer & Keen, 1986).

Manejo

O manejo das bacterioses deveser entendido como o uso per-manente de medidas integradaspara, preferencialmente, evitar quea doença apareça ou atinjaproporções epidêmicas que re-sultem em grandes perdas. Devidoà não-existência de cultivaresresistentes (Delahaut, 2006) e àbaixa eficiência e pouca viabilidadeeconômica de medidas curativas,devem-se adotar medidas pre-ventivas visando evitar o sur-gimento e a proliferação dasbactérias da cebola no campo e noarmazenamento.

Métodos de controledurante a fase de campo

• Usar sementes sadias (nacompra da semente, exigir umatestado fitossanitário acom-panhado da nota fiscal de venda).

• Evitar plantios densos (maioresque 333 mil plantas/ha), que nãopermitem adequada aeração dafolhagem.

• Controlar as diferentes doençase pragas incidentes na cultura dacebola, evitando assim o ferimentodos tecidos, que serve como portade entrada para as bactérias.

• Manejar adequadamente airrigação, evitando excesso ouinsuficiência de água durante o ciclodas plantas.

• Não usar água contaminadade córregos que escorrem delavouras infectadas pela doença parairrigação ou pulverizações.

• Realizar os tratos culturaissomente quando as plantasestiverem enxutas.

• Evitar ao máximo ferimentosnas plantas durante as capinas e

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4 7Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

pulverizações e qualquer choqueque possa comprometer a inte-gridade das escamas ou ferir asfolhas próximo ao pescoço.

• Inspecionar a lavoura comfreqüência para detectar pre-cocemente eventuais focos dadoença (Wordell Filho & Boff,2006).

• Usar defensivos à base decobre, principalmente durante abulbificação (Delahaut, 2006).

• Evitar o trânsito de pessoas emáquinas, procedentes de áreasinfestadas, na lavoura sem antespassar por assepsia. Máquinasagrícolas devem ser lavadas paraeliminar restos de terra e materialvegetal procedentes de áreasinfestadas.

• Destruir os restos culturaislogo após a colheita, enterrando-oscom aração profunda ou queimando-os, ou utilizá-los na compostagemse não estiverem infectados.

• Fazer rotação de culturas,especialmente com gramíneas comoaveia-preta, centeio, trigo, milheto,milho e capins de pastagens por 3ou 4 anos (Wordell Filho & Boff,2006).

• Após a colheita, eliminarplantas de cebola espontâneas ou“guachas” que permanecemvegetando na área.

• Adubar as plantas de cebola deacordo com a análise química dosolo. As plantas devidamente

Figura 3. Armazenamento de cebola em local ventilado

nutridas (adubação equilibrada)resistem melhor às doenças emtermos gerais. Se possível, utilizaradubação orgânica.

• Evitar o excesso de nitrogênio,principalmente em anos chuvo-sos.

• Evitar adubações de coberturacom nitrogênio e potássio durantea fase de bulbificação.

Métodos de controledurante a fase dearmazenamento

• Remover bulbos que apre-sentam sintomas de ataque debactérias durante a armazena-gem.

• Realizar cura adequada nosbulbos armazenados, evitandoexposição direta do bulbo ao sol. Aproteção de chuvas na colheita reduza infecção inicial das bacterioses deescamas.

• Armazenar os bulbos em localventilado (Figura 3) e somentequando o pescoço estiver seco. Oarmazenamento em baixas tem-peraturas, de zero a 2oC, impede oprogresso das bacterioses (Mohan,1995).

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4 8 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Métodos culturais no manejo de tripes em cebolaMétodos culturais no manejo de tripes em cebolaMétodos culturais no manejo de tripes em cebolaMétodos culturais no manejo de tripes em cebolaMétodos culturais no manejo de tripes em cebola

Paulo Antonio de Souza Gonçalves1

tripes ou piolho da cebola,como é popularmente co-nhecido em Santa Catarina,

é a principal praga da cebola noBrasil (Figura 1). Os danos do insetose caracterizam pela raspagem dasfolhas e sucção da seiva da planta,que em altas infestações provocamcoloração foliar esbranquiçada,retorcimento das plantas, seca deponteiros, redução do tamanho epeso de bulbos (Figura 2). Otombamento das plantas por ocasiãoda maturação, típico desta fase emcebola, pode não ocorrer em altasdensidades populacionais do inseto,o que possibilita a entrada de águada chuva até o bulbo, com futurasperdas por apodrecimento na fasede armazenagem (Gonçalves, 2006).O controle do inseto tem sidorealizado com inseticidas sintéticos,

principalmente com organo-fosforados e piretróides, comconseqüentes reflexos sobre oambiente e a saúde humana.

A cultura da cebola apresentouum aumento considerável no usode agroquímicos entre 1994 e 2001:inseticidas (492%), herbicidas(309%), fungicidas (367%), adubaçãocom NPK (293,04%) (Muniz, 2003).Este aumento ocorreu prova-velmente em função do aumento dacompetição econômica com o iníciodas atividades do Mercosul, quepossibilitou a entrada de cebola,principalmente de origem argen-tina. Os técnicos e agricultores queatuavam no setor relacionaramaumento de competitividade comincremento no uso de insumos, oque causou algumas perdaseconômicas e desequilíbrio doagroecossistema.

Algumas práticas de manejo doagroecossistema de cebola podemcontribuir para a redução deinseticidas sintéticos nessa culturaou mesmo a sua eliminação, comoserão relatadas a seguir.

Cultivares

As cultivares precoces para ascondições do Alto Vale do Itajaí, SC,apresentam escape natural à altaincidência do inseto (Gonçalves,1997; Gonçalves & Gandin, 1998).Este escape ocorre devido ao ciclomais rápido destas cultivares e peloplantio antecipado, nos meses dejunho e julho, com período de

desenvolvimento vegetativo dasplantas em clima mais ameno. Apartir de meados de outubro, quandoocorrem altas infestações do insetodevido ao aumento de temperatura,estas cultivares estão com a partevegetativa em estádio adiantado dedesenvolvimento, o que não causaredução no tamanho de bulbos. Ascultivares precoces recomendadaspara Santa Catarina são Epagri 363Superprecoce, Empasc 352 BolaPrecoce, Baia Periforme, Aurora,

Aceito para publicação em 3/7/07.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, C.P. 121, 88400-000 Ituporanga, SC, fone: (47) 3533-1409/3533-1364,e-mail: [email protected].

O

Figura 1. Tripes na fase de ninfa,que mede aproximadamente 1mmde comprimento

Figura 2. Planta com sintomas dedanos causados por tripes

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4 9Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Régia, Primavera e Madrugada(Wordell Filho & Rowe, 2006).

Plantas de cobertura esistema de plantio direto

O plantio direto de cebolapropicia a melhoria dascaracterísticas físicas, biológicas equímicas do solo, diminui extremosde temperatura prejudiciais amicrorganismos do solo e àsplantas, reduz a incidência de ervasespontâneas e, conseqüentemente,favorece o desenvolvimento dacultura (Amado et al., 1992).Segundo estes autores, em 1992havia em Santa Catarina 2.000hacom plantio direto de cebola. Porém,a prática de plantio direto na culturafoi drasticamente reduzida ao longodos anos. Por outro lado,recentemente a Epagri, emconjunto com agricultores, temdesenvolvido o Sistema de PlantioDireto de Hortaliças com enfoqueambiental, social, ecológico eeconômico (Faial & Mondardo,2004), trabalho este realizado noAlto Vale do Rio do Peixe e AltoVale do Itajaí.

As plantas de cebola toleraram odano causado pelo tripes, mesmosem o controle químico, em sistemacom o uso de mucuna como plantade cobertura e adubação mineralassociada com esterco de aves

Figura 3. Cebola plantada em sistema de plantio direto sobre palhada deaveia e nabo forrageiro

(Gonçalves, 1998). Neste trabalhohouve pulverização com inseticidasde acordo com diferentes populaçõesdo inseto, sem e com o uso de plantade cobertura (mucuna), na mesmaárea experimental durante doisanos. A produtividade datestemunha sem aplicação deinseticidas se elevou com o uso demucuna e se nivelou com as parcelascom aplicação de inseticida, pois ascondições físicas, químicas ebiológicas do solo propiciaram àsplantas a tolerância à presença doinseto sem perdas no rendimento.

Em sistema de plantio direto tem-se obtido significativa produtividadede cebola mesmo com altos níveispopulacionais de tripes (Lima et al.,2004). Nos Estados Unidos, o uso decobertura morta com palha de trigoem cebola tem reduzido a incidênciado inseto, provavelmente por efeitorepelente ou pelo aumento donúmero de predadores (Cranshaw,2006; Mahaffey et al., 2006).

As plantas de cobertura que têmsido utilizadas em cebola para aRegião do Alto Vale do Itajaí sãomucuna (Stizolobium spp.), feijão-

de-porco (Canavalia ensiformis),nabo forrageiro (Brassica napus var.oleiferus), aveia-preta (Avenastrigosa) (Figura 3) e centeio (Secalecereale) (Tabela 1). Também éutilizada vegetação espontânea comcapim-doce, conhecido pormarmelada ou papuã (Brachiariaplantaginea) (Rowe, 2006).

Substâncias alternativasem pulverização

A Epagri/Estação Experimentalde Ituporanga testou váriassubstâncias alternativas aosinseticidas sintéticos no manejo detripes em cebola, porém nenhumaapresentou resultado significativode controle (Gonçalves, 2006).

Considerações finais

A utilização de cultivaresprecoces de cebola associada ao

Tabela 1. Adubação com plantas de cobertura em sistema de plantiodireto em cebola, com época de plantio, densidade de semeadura efornecimento de nitrogênio

EspécieÉpoca de Densidade de

Nitrogênioplantio semeadura

....................(kg/ha).......................Feijão-de-porco(Canavalia ensiformis) Out./dez 100 a 120 234

Mucunas (Stizolobium spp.) Out./dez. 60 a 80 60 a 116Nabo forrageiro (Raphanussativus var. oleiferus) Mar./maio 4 a 6 49 a 106Aveia-preta (Avenastrigosa) Mar./maio 60 a 80 48 a 70

Centeio (Secale cereale) Mar./maio 80 a 100 68

Fonte: Modificado de Amado (1991), Amado & Teixeira (1991) e Epagri (2000).

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5 0 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

sistema de plantio direto da culturapossibilita uma redução do númerode pulverizações de inseticidassintéticos ou, até mesmo, a suaeliminação a curto prazo no controlede tripes em cebola. Com o manejoadequado do solo há tendência demelhoria nas condições físicas,químicas e biológicas, o que propiciaaumento significativo deprodutividade, compensando a açãodanosa de tripes nas plantas.

Literatura citada

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5 1Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

A

Oscar Emilio Ludtke Harthmann1, Wilmar Cório da Luz2,João Américo Wordell Filho3 e Edilberto Possamai4

s doenças de plantas são res-ponsáveis por perdas subs-tanciais na agricultura, e a

utilização e o manejo de algunsmicrorganismos presentes nos solostêm mostrado bons resultados nocontrole de fitopatógenos,principalmente daqueles causadoresde podridões de sementes, raízes ecolo de plantas (Cruz et al., 2005).

O tratamento de sementes commicrorganismos antagônicos,denominado microbiolização desementes (Luz, 1993), podeproporcionar o controle de pató-genos habitantes da superfície dassementes e de patógenos presentesno solo. Estirpes não-patogênicasde bactérias colonizadoras darizosfera são designadas comorizobactérias promotoras docrescimento de plantas (RPCPs)(Luz, 1996). Ou seja, são bactériascolonizadoras da região do solo sobinfluência das raízes que apre-sentam efeitos benéficos às plan-tas, promovendo seu crescimento.

As RPCPs têm sido usadas,inclusive comercialmente, paraaumentar a produtividade deculturas e para o controle biológicode organismos causadores de certasenfermidades de plantas (Luz, 1996;Mariano & Romeiro, 2000). Autilização de RPCPs torna-se umaalternativa atraente a ser con-siderada em programas de manejointegrado para uma agriculturasustentável e pode substituir ocontrole químico na produção dealimentos.

Histórico

As pesquisas com rizobactériasnão-simbióticas, utilizadas comotratamento de sementes, foraminiciadas no século 19 com o objetivode aumentar o crescimento e orendimento das plantas. Os paísescomo Rússia, Ucrânia e Índia foramos primeiros que realizarampesquisas e utilizaram micror-ganismos bacterianos na agricul-tura. O conceito de rizobactériaspromotoras de crescimento deplantas foi estabelecido em 1978com a utilização de estirpes espe-cíficas de Pseudomonas fluorescense de Pseudomonas putida. Apósesses resultados, as RPCPspassaram a ser pesquisadas numagrande amplitude de espécies deplantas (Luz, 1996).

Na China, as RPCPs sãoconhecidas e comercializadas comobactérias que aumentam a pro-dutividade, e em 1987 já eramaplicadas em larga escala em 48diferentes culturas, atingindo 3,35milhões de hectares (Mariano etal., 2004).

No Brasil o uso de rizobactériasé mais recente, e os primeirostrabalhos realizados ao final dadécada de 80 tinham o objetivo deaumentar o crescimento deplântulas de tomateiro e cafeeiroem condições de casa de vegetação(Mariano et al., 2004). Hoje existemvários trabalhos realizados comrizobactérias visando o controle dedoenças e a promoção do cres-

cimento de plantas. Alguns delesestão citados na Tabela 1.

Mecanismos de ação dasrizobactérias

A promoção de crescimento deplantas por RPCPs pode ser oresultado de diversos mecanismosdiretos e indiretos. Os diretosincluem: produção de fitormônios(auxinas, giberelinas, citocininas eetileno), aumento da fixação denitrogênio e disponibilidade denitrato, solubilização de fósforo eoxidação de enxofre, bem comoaumento de permeabilidade dasraízes, estimulando a absorção denutrientes, aumento de nodulaçãode leguminosas por rizóbios eaderência ao patógeno (Luz, 1996;Mariano & Romeiro, 2000). Osmecanismos de ação indiretaincluem, por exemplo, a indução deresistência sistêmica nos vegetais,produção de sideróforos, diminuiçãode fatores de estresse como o etilenoendógeno, produção de antibióticos,de ácido hidrociânico, debacteriocinas e parasitismo (Luz,1996).

Alguns microrganismos rizos-féricos, principalmente as bactériasdo grupo fluorescente do gêneroPseudomonas, são capazes deproduzir sideróforos, que sãopigmentos de cor verdefluorescente. Sideróforos sãosubstâncias de baixa massa mo-lecular, produzidas em situações dedeficiência de ferro, capazes de

Aceito para publicação em 20/4/07.1Eng. agr., M.Sc., Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul, C.P. 441, 89160-000 Rio do Sul, SC, fone: (47) 3531-3700, e-mail:[email protected]. agr., Ph.D, Rua Saul Irineu Farina, 111, Bosque Lucas Araújo, 99070-280 Passo Fundo, RS, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, C.P. 791, 88801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600,e-mail: [email protected]. agr., Dr., Universidade Federal do Paraná, C.P. 19.061, 81531-050 Curitiba, PR, e-mail: [email protected].

Rizobactérias promotoras de crescimento de plantasRizobactérias promotoras de crescimento de plantasRizobactérias promotoras de crescimento de plantasRizobactérias promotoras de crescimento de plantasRizobactérias promotoras de crescimento de plantas

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5 2 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Tabela 1. Efeito de rizobactérias em diferentes culturas e patógenos, principal mecanismo de ação e tecnologiade aplicação

Cultura Patógenos Rizobactérias Aplicação Mecanismo Autores Ano

Tomate Pseudomonas syringae 11 isolados da Microbiolização Indução de Romeiro et al. 1997pv. tomato UFV de sementes resistência

Arroz, Rhizoctonia solani, Bacillus subtilis Microbiolização Redução do Lazzaretti & 1997feijão, Aspergillus sp., e metabólitos de sementes nível de Bettiolsoja e Sclerotinia sclerotiorum, infecção detrigo Pyricularia oryzae, patógenos nas

Rhinchosporium sativum, sementesCercospora kikuchii,Phomopsis phaseoli,

Fusarium spp.,Dreschlera oryzae,

Bipolaris sorokiniana,P. oryzae e

Alternaria tenuisCebola Queima bacteriana Microbiolização Promoção de Neves 2001

de sementes crescimentoMilho Patógenos de Paenibacillus macerans, Microbiolização Promoção de Luz 2001a

sementes Pseudomonas putida, de sementes crescimentoFlavimonas oryzibabitans, Redução doAgrobacterium radiobacter, nível de

Bacillus subtilis infecção depatógenos

nas sementesFeijão Colletotrichum Bacillus sp. Microbiolização Indução de Corrêa et al. 2005

lindemuthianum, Pseudomonas veronii, de sementes resistênciaXanthomonas Bacillus cereus, Promoção deaxonopodis pv. Pseudomonas sp., crescimento

phaseoli Rhodococcus sp.Alface 70 isolados de Inoculação Promoção de Donzeli 2006

Pseudomonas spp. crescimentofluorescentes

quelar o íon férrico (Fe+3). Osmicrorganismos produtores desideróforo desenvolveram me-canismos para retirada do ferro dointerior do complexo quelato-Fe,sendo esse responsável pormelhor nutrição mineral dasplantas. Além disso, o sideróforopode ser ainda uma substância capazde inibir o crescimento de algunspatógenos, pois torna o ferroindisponível para eles (Donzeli,2006).

Além do efeito antagônico diretosobre patógenos de solo, algumasestirpes de rizobactérias tambémsão capazes de reduzir doenças naparte aérea por meio de ummecanismo chamado de resistênciasistêmica induzida. A proteçãocontra esses patógenos émanifestada tipicamente na reduçãodos sintomas da doença e tambémna inibição do crescimento dos

mesmos (patógenos) (Pieterse etal., 2005).

Benefícios causadospelas rizobactérias

Os benefícios causados pelasrizobactérias promotoras docrescimento de plantas podem serverificados em diversas culturas.Pesquisadores têm obtidoresultados positivos na germinaçãode sementes, no crescimento deplantas e no rendimento de grãosde trigo e milho (Luz, 2001a; 2001b).Os aumentos de rendimentoatribuídos à RPCPs variaram entre18% e 28% para trigo e 8% e 16%para milho. O autor conclui que amicrobiolização de sementes é umaboa alternativa de tratamento desementes de milho no Brasil para ocontrole de vários patógenos e

também como promotora degerminação e crescimento deplantas.

Corrêa et al. (2005) avaliaram oefeito de seis isolados de Xan-thomonas axonopodis pv. phaseoli,utilizados na microbiolização dassementes sobre a transmissão deColletotrichum lindemuthianumpara plântulas de feijoeiro. Osresultados permitiram concluir queos isolados DFs912, DFs842 eDFs093 apresentam potencial nocontrole da transmissão de C.lindemuthianum e os isoladosDFs093, DFs843 mostrarampotencialidade para promoção docrescimento de plantas de feijoei-ro.

Neves (2001) selecionou in vitroe in vivo bactérias com potencialpara o biocontrole da queimabacteriana da cebola, bem comoavaliou o potencial para promoção

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5 3Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

de crescimento das plantas pelasbactérias selecionadas. Ele utilizousementes de cebola, cultivar Aurora,que foram microbiolizadas comsuspensões de cada um dosantagonistas; alcançou 36,48% deredução no número de lesões eobteve incrementos de 22,44% namassa fresca, 131,13% na massaseca de bulbos e 219,55% na massaseca de raízes de cebola, aos 270dias após a semeadura.

Considerações finais

As rizobactérias podempromover o crescimento de plantas,e diversos efeitos podem serobservados após a sua aplicação emsementes e mudas. Muito se temavançado nos estudos sobre a suautilização e os seus mecanismos deação. Pesquisadores de diferentesinstituições e regiões do País estãopesquisando os efeitos e os

Figura 1. Mudas de cebola dacultivar Bola Precoce oriundas desementes não tratadas (testemunha)

benefícios da aplicação derizobactérias em culturas comomilho, trigo, tomate, pepino,essências florestais e outrasespécies.

Na Epagri/Estação Experimen-tal de Ituporanga, SC, está sendoavaliado o efeito de diferentesrizobactérias para a promoção decrescimento e o controle de doençasna cultura da cebola (Figuras 1 e 2).Já foram selecionadas e testadas,em condições de canteiro, algumasestirpes com resultados pro-missores. Características comoemergência, número de mudas pormetro quadrado, diâmetro depseudocaule, pesos de raízes e folhasforam avaliadas, e os resultadospreliminares têm mostrado que autilização destas estirpes derizobactérias pode interferir nocrescimento de mudas de cebola.

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Figura 2. Mudas de cebola dacultivar Bola Precoce oriundas desementes tratadas comrizobactérias

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Danos de Danos de Danos de Danos de Danos de Lagria villosa Lagria villosa Lagria villosa Lagria villosa Lagria villosa em mudas de videiraem mudas de videiraem mudas de videiraem mudas de videiraem mudas de videira

Alvimar Bavaresco1, Marcos Botton2 eGilson José Marcinichen Gallotti3

cultura da videira ocupaaproximadamente 68 milhectares de área plantada

no Brasil (IBGE, 2005). No Estadode Santa Catarina, a área cultivadaultrapassa 3.700ha, sendo que acultura encontra-se em expansãoem diversas regiões do Estado(Epagri, 2004; Síntese... 2004). Aimplantação de um parreiral é umafase crítica para se obter sucessona atividade, sendo que diversosfatores podem causar a perda dasmudas e/ou prejudicar o desenvol-vimento das plantas. Neste aspec-to, danos de insetos têm elevadaimportância, pois podem causarsérios prejuízos aos viticultores(Hickel, 1996; Soria & Dal Conte,2000; Botton et al., 2003).

Lagria villosa Fabricius(Coleoptera: Lagriidae) é de origemafricana, tendo sido introduzido noBrasil em meados de 1970 (Pachecoet al., 1976), e ocorre em feijoeiro,ervilha e fava (Miglioranza et al.,1979; Gallo et al., 2002). O insetoapresenta hábito alimentar polífago,sendo muitas vezes encontrado sealimentando de folhas mortas oubordas de lesões nas folhas comtecido morto (Nodari & Destro,2002). A importância da espéciecomo praga é considerada baixa, equando incide nas culturas ge-ralmente é considerada secundária,não acarretando grandes prejuízos.Entretanto, Nodari & Destro (2002)e Montero et al. (2002) relatam aocorrência de elevadas infestações

de L. villosa em lavouras de sojaimplantadas com variedadestransgênicas, onde a aplicação deherbicida com base em glifosatoelimina as outras fontes dealimento desta espécie.

Na cultura da videira, danos deL. villosa foram observados emmudas de Vitis labrusca, cultivarNiágara Rosada, enxertada sobre oporta-enxerto VR 043-43 (Vitisrotundifolia x Vitis vinifera), nomunicípio de Canoinhas, SC(26o11’17"S e 50o21’53"O). Oparreiral foi implantado emnovembro de 2004 utilizando-se

mudas enraizadas, totalizando 108plantas numa área de aproxi-madamente 500m2, e conduzido deacordo com as normas paraprodução orgânica estabelecidaspela Instrução Normativa no 007,de 17 de maio de 1999 (Brasil,1999).

Os adultos de L. villosa (Figura1) alimentam-se da haste principaldas mudas (Figura 2A) e do pecíolodas folhas (Figura 2B), acarretandoo desfolhamento com conseqüentemorte das plantas (Figura 2C e 2D).O ataque do inseto foi observado apartir de janeiro de 2005. Na

A

Aceito para publicação em 3/5/07.1Eng. agr., Dr., Mapa/Unidade de Vigilância Agropecuária de Quaraí – Uvagro –, Rua Duque de Caxias, 1.080, 87560-000 Quaraí, RS,fone (55) 3423-2104, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Embrapa Uva e Vinho, C.P. 130, 95700-000 Bento Gonçalves, RS, fone: (54) 3455-8137, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected].

Figura 1. Adulto de Lagria villosa

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tentativa de controlar a pragaforam realizadas duas pulve-rizações com caldas formuladascom óleo de nim (1%), obedecendoao intervalo de 7 dias entre asaplicações. Entretanto, o trata-mento não impediu a continuidadedo ataque da praga, que atingiu100% de desfolha. Em maio de 2005foi constatada a mortalidade de70,4% das plantas. Na maioria dasplantas sobreviventes aextremidade da haste principalsecou, ocorrendo a rebrota degemas laterais, mas as plantastiveram o crescimento prejudicado.

A presença de L. villosa na áreafoi observada antes do ataque àsmudas de videira, associada àvegetação espontânea manejadapor roçadas. Entretanto, ao

Figura 2. Danos de Lagria villosa em mudas de videira: (A) em ramo, (B)no pecíolo, (C) folha seca devido ao ataque e (D) muda desfolhada.Canoinhas, SC, janeiro de 2005

contrário do descrito por Nodari &Destro (2002), a alimentação doinseto não ficou restrita às outrasfontes de alimento disponíveis,causando danos expressivos àvideira. Dessa forma, alerta-se queL. villosa pode ser potencialmenteprejudicial na fase inicial daimplantação da cultura da videirae que, se não controlado, podecausar elevado percentual demortalidade de mudas.

Literatura citada

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Avaliação de cultivares para produção de batataAvaliação de cultivares para produção de batataAvaliação de cultivares para produção de batataAvaliação de cultivares para produção de batataAvaliação de cultivares para produção de batataorgânica no Litoral Sul Catarinenseorgânica no Litoral Sul Catarinenseorgânica no Litoral Sul Catarinenseorgânica no Litoral Sul Catarinenseorgânica no Litoral Sul Catarinense

Antonio Carlos Ferreira da Silva1, Zilmar da Silva Souza2 eLuiz Augusto Martins Peruch3

m todo o mundo, é cada vezmaior a preocupação com asaúde e o consumo de

alimentos mais saudáveis. Osprodutos orgânicos, por seremproduzidos com técnicas am-bientalmente corretas, sãoalimentos ideais para o consumo.Vários autores, citados porKokuszka (2005), verificaram aredução no teor de nitratos,acréscimo no teor de matéria secae de minerais, bem como outrosnutrientes nos produtos orgânicos,em relação aos convencionais. Silva& Dittrich (2002) e Aubert (1977),citado por Darolt (2001), cons-tataram maior teor de matéria secano cultivo de batata somente comadubação orgânica e que alto teorde matéria seca é um dos pré-requisitos para a industrialização,o que implica em maior valoragregado do produto. Analisandoamostras de batata, Stertz et al.(2005) comprovaram que ostubérculos orgânicos tiveram 80%a menos de nitritos e nitratosquando comparados aos produzidosno cultivo convencional.

Segundo Neves et al. (2003), ouso de adubos químicos no cultivode batata no Brasil cresceu 86% noperíodo de 1991 a 2001, apesar daredução da área plantada. Apreocupação de grande parte dos

produtores em realizar aplicaçõesmaciças de nutrientes, quando omais importante é o balanceamentoentre eles, explica este fato. Plantasbem nutridas são mais resistentesàs doenças e pragas. O excesso e adeficiência de nitrogênio e potássiotornam as plantas mais suscetíveisàs doenças foliares, além defavorecerem o ataque de pulgões(Epagri, 2002). O nitrogênio usadoem excesso e associado à irrigaçãofreqüente, além de salinizar o solo,acumula-se nas plantas sob a formade nitrato que, quando ingerido,passa à corrente sangüínea e podereduzir-se a nitritos. Os nitritoscombinados com aminas formam asnitrosaminas, substâncias can-cerígenas, mutagênicas e tera-togênicas (Darolt, 2001).

O cultivo de batata em algumasregiões de Santa Catarina carac-teriza-se por ser nômade e realizadopor arrendatários que não seguemas técnicas recomendadas. Osprodutores utilizam excesso deinseticidas de solo e adubos químicosaltamente solúveis e, o que é pior,plantam morro abaixo, causandodegradação, erosão, desequilíbriode nutrientes no solo e conta-minação do meio ambiente (Souzaet al., 1999).

Dentre as hortaliças cultivadasno sistema convencional, a batata

é uma das que mais exigeinvestimento em insumos, quecontribuem por até 70% do custototal da cultura. A necessidade demaior capital na implantação dalavoura é um fator limitanteespecialmente para o pequenoprodutor com baixo poderaquisitivo. A produção orgânica, pornão utilizar adubos químicos eagrotóxicos, pode ser umaalternativa para reduzir o custo dacultura. Darolt et al. (2003),realizando uma análise entresistemas de produção, verificaramque, embora a produtividade médiado cultivo convencional tenha sidosuperior, os gastos com insumosforam, em média, 81% maiores, porisso a renda líquida atingiu R$2.000,00/ha a mais no cultivoorgânico. Os mesmos autoresrevelaram, também, que asmaiores dificuldades técnicas nocultivo orgânico são a falta decultivares de maior rusticidade eresistência às doenças e ainexistência em escala comercialde batata-semente de origemorgânica no Brasil.

Este trabalho teve como objetivoavaliar o desempenho de cultivaresde batata sob cultivo orgânico, bemcomo verificar a viabilidade demultiplicação própria de “semente”orgânica, visando a produção de

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Aceito para publicação em 3/7/07.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone/fax: (48) 3465-1209, e-mail:[email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, C.P. 81, 88600-000 São Joaquim, SC, fone/fax: (49) 3233-0324,e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected].

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batata-consumo, no Litoral SulCatarinense.

Condução das unidadesdemonstrativas e deobservação

No plantio de inverno de 2000,2001 (Figura 1), 2005 (Figura 2) e2006 foram conduzidas 10 unidadescom cultivares de batata empropriedades de agricultores, sendo8 demonstrativas e 2 de observação,visando a produção de batata-consumo e batata-semente orgâ-nicas, respectivamente, no LitoralSul Catarinense.

Na escolha da área recomen-daram-se terrenos isolados dosplantios convencionais e que nosúltimos 2 anos não tivessem sidocultivados com solanáceas, nemrecebido adubos químicos eagrotóxicos. Os locais, as cultivarese os anos de cultivo constam naFigura 3 e 4. Os tubérculos-sementeutilizados em todas as unidadesforam uniformes no tamanho (tipoIII) e de boa qualidade fitossanitária,com brotação e turgescênciaadequadas, provenientes da Epagri/Estação Experimental de SãoJoaquim. O número de tratamentosfitossanitários variou de uma a seteaplicações com calda bordalesa (1%).As unidades não foram irrigadas.

Os dados climáticos foram coletadosna Estação Meteorológica deUrussanga. As avaliações foramfeitas em três parcelas de 8m2,totalizando 24m2 por cultivar e clonetestados.

Na produção de batata-consumo(unidades demonstrativas), aadubação orgânica realizada nosulco, de acordo com adisponibilidade dos produtores,variou de 2 a 7,5t/ha de cama deaviário e 5 a 10t/ha de esterco degado curtidos. As colheitas foramfeitas 10 a 15 dias após a secagemtotal das plantas. As variáveisavaliadas foram: incidência derequeima (Phytophthora infestans)através de notas (alta, média e baixa)e rendimento comercial detubérculos graúdos (>45mm) emédios (33 a 45 mm de diâmetro).

Na multiplicação própria detubérculos-semente orgânicos(unidades de observação), aadubação orgânica realizada foi de10t/ha de esterco de gado curtido nosulco em Pedras Grandes e, emCriciúma, 20t/ha de cama de aviárioaplicadas a lanço em toda a área. Ociclo da cultura foi encurtado, cercade 30 dias, pelo corte das ramaspara obtenção de “sementes” detamanho adequado e com melhorsanidade, em função do menorperíodo de exposição às pragas e

doenças. Avaliaram-se os ren-dimentos totais e tipos de “se-mentes” (I = 50 a 60mm; II = 40 a50mm; III = 30 a 40mm e IV = 23 a30mm de diâmetro).

Resultados

Produção e qualidade dabatata-consumo

Analisando-se os resultados(Figura 3), constatou-se asuperioridade da cultivar Epagri361-Catucha sobre as demaisquanto ao rendimento comercial detubérculos, com produtividades quevariaram de 4,3 a 30t/ha. O cloneEEI-004, testado a partir de 2005,mostrou-se também promissorpara o cultivo orgânico comrendimentos comerciais quevariaram de 5,7 a 15,1t/ha. Estesresultados estão de acordo comSilva & Peruch (2005). A maioradaptação da cultivar e do clone nascondições de cultivo no Litoral SulCatarinense e, principalmente, aalta resistência à requeimaexplicam os resultados obtidos.Esta doença tem limitado o cultivoorgânico de batata por reduzir aárea foliar e o ciclo vegetativo dacultura, o que está de acordo comSouza (2003).

A variação no rendimento detubérculos em todas as cultivaresnos diferentes locais e o fracodesempenho das mais suscetíveis àrequeima podem ser explicados, emgrande parte, pela estreita relaçãoentre a produtividade e a doençanos diferentes ambientes. Ascultivares Monalisa, Elvira, Barakae Baronesa apresentaramincidência média de requeima,enquanto que a ‘Ágata’ foi a maissensível à doença, o que está deacordo com Souza & Silva (2007).É importante ressaltar que odesempenho da cultivar Catucha edo clone EEI-004, quanto àprodutividade, poderia ser maisestável, caso fossem cultivadosisoladamente das cultivaressuscetíveis à requeima, pois estasfavorecem o aumento da pressão doinóculo da doença prejudicando asmais resistentes. Apesar disso,deve ser salientado que o rendi-mento médio total da ‘Catucha’(20,5t/ha) sob cultivo orgânico noLitoral Sul Catarinense foi superior

Figura 1. Desenvolvimento vegetativo das cultivares Epagri 361-Catuchae Baraka sob cultivo orgânico no plantio de inverno de 2001, em Treze deMaio, SC

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5 8 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

ao de Santa Catarina no sistemaconvencional (13,8t/ha), conformeSíntese... (2006).

Quanto ao aspecto comercial,observou-se que as cultivaresapresentaram tubérculos comrazoável a boa aparência quanto àuniformidade e película e poucosdanos de pragas do solo (Figura 5).A escolha correta da área, o pre-paro do solo e, principalmente, aamontoa, realizados adequa-damente, contribuíram para o bommanejo das pragas do solo. Alémdisso, a calda bordalesa re-comendada para o manejo darequeima deve ter contribuído como efeito repelente sobre a vaquinhae, em conseqüência, sobre a larva-alfinete (principal praga do solo), oque está de acordo com Souza(2003).

Multiplicação própria detubérculos-semente orgânicos

Embora o ciclo da cultura tenhasido interrompido com 30 dias deantecedência, obtiveram-se produ-tividades médias que variaram de7,3 a 25t/ha de tubérculos-sementetotais (Figura 4). A cultivar Catuchae o clone EEI-004 destacaram-sedas demais quanto à produtividadetotal de tubérculos-semente, comrendimentos que variaram de 18 a25 e 14,8 a 20,2t/ha, respec-tivamente. A alta resistência àrequeima da ‘Catucha’ e do cloneEEI-004 explicam os resultadosobtidos. A ‘Catucha’ apresentouuma taxa média de multiplicação de1:12, o que significa que o plantiode cinco caixas de “semente” do tipoIII possibilita a multiplicação debatata-semente de boa qualidadepara cerca de 1ha. A maiorprodutividade de tubérculos-semente dos tipos I e II, da‘Catucha’ e do clone EEI-004, emvez do tipo III, que seria maisdesejável, está relacionada à épocatardia do corte das ramas. Amultiplicação própria de tubérculos-semente pode reduzir o custo deprodução da batata e, princi-palmente, melhorar a produ-tividade, especialmente dospequenos produtores que possuembaixo poder aquisitivo para adquirir“semente” certificada que, emcertos anos, chega a custar 50% docusto total da cultura.

Figura 2. Desenvolvimento vegetativo das cultivares Epagri 361-Catuchae Monalisa (uma das mais cultivadas em Santa Catarina) sob cultivoorgânico no plantio de inverno de 2005, em Pedras Grandes, SC

Figura 3. Rendimento comercial de batata-consumo orgânica obtidoem oito unidades demonstrativas em propriedades de agricultores(plantio de inverno de 2000, 2001, 2005 e 2006), no Litoral SulCatarinense

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Treze de

Maio

Treze de

Maio

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2000 2001 2005 2006

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Catucha

EEI-004

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Baronesa

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Fonte: Epagri, 2007.

Fonte: Epagri, 2007.

Figura 4. Rendimento de tubérculos-semente orgânicos de batata obtidoem duas unidades de observação em propriedades de agricultores(plantio de inverno/2005), no Litoral Sul Catarinense

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Total Tipos I e II Tipos III e IV Total Tipos I e II Tipos III e IV

Pedras Grandes Criciúma

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EEI-004

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5 9Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Custo de produção cominsumos

A principal diferença práticaentre os sistemas orgânico econvencional é o uso de adubosquímicos e agrotóxicos. No cultivoconvencional, em um sistemarelativamente tecnificado, sãorealizados, normalmente, 1aplicação de inseticida granulado noplantio, 9 pulverizações foliares comfungicidas de contato associados ounão com inseticidas diversos e 3com produtos sistêmicos (Epagri,2002), totalizando aproxima-damente R$ 1.000,00/ha, enquantoque no sistema orgânico 10pulverizações com calda bordalesaa 1%, normalmente, são suficientespara o manejo adequado da doençacom custo de cerca de R$ 350,00/ha.

Em relação à adubação, oscustos são semelhantes nos doissistemas de produção, caso oprodutor orgânico não tenha napropriedade esterco de animais. Noentanto, havendo na propriedade aintegração da agricultura epecuária, o que seria desejável, ocusto do adubo orgânico pode serreduzido drasticamente e, o maisimportante, com melhoria nascondições físico-químicas ebiológicas do solo.

Figura 5. Aspecto dos tubérculos da cultivar Epagri 361-Catucha produzidano sistema orgânico no plantio de inverno de 2000, em Treze de Maio, SC

Conclusões

Com base nos resultados obtidosconclui-se que:

• a cultivar Epagri 361-Catuchae o clone EEI-004 são os maispromissores para a produção debatata orgânica;

• é viável a multiplicação detubérculos-semente no sistemaorgânico, a partir de batata-semente de boa qualidadefitossanitária, no plantio deinverno, utilizando-se cultivaresadaptadas, visando a produção debatata-consumo no Litoral SulCatarinense;

• a produção orgânica de batataé uma alternativa para reduzir ocusto de produção da cultura.

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Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 20076 0

Identificação da variabilidade fenotípica numaIdentificação da variabilidade fenotípica numaIdentificação da variabilidade fenotípica numaIdentificação da variabilidade fenotípica numaIdentificação da variabilidade fenotípica numapopulação local de feijãopopulação local de feijãopopulação local de feijãopopulação local de feijãopopulação local de feijão-preto-preto-preto-preto-preto

Gilcimar Adriano Vogt1, Haroldo Tavares Elias2, Fernando de Nadal3,Maria Celeste Gonçalves Vidigal4 e Marcos Alexandre Danieli5

Resumo – A ocorrência de variabilidade abre a possibilidade de seleção dos melhores genótipos. Nesse sentido,a Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf – vem realizando trabalhos de resgate devariedades de feijão. O objetivo deste trabalho foi realizar estudos da variabilidade fenotípica da variedade localAzulão Caxambu e estudar o efeito da seleção de plantas individuais no incremento de produtividade. Oexperimento foi conduzido na área experimental da Epagri/Cepaf, em Chapecó, SC, no ano agrícola 2004/05. Emfunção da variabilidade fenotípica sugere-se o melhoramento intra-populacional para elevar a média derendimento de grãos.Termos para indexação: Phaseolus vulgaris, variedade local, melhoramento de plantas, rendimentos de grãos.

Identification of the phenotypic variability in a localcommon bean population

Abstract – The occurrence of variability offers the possibility to select the best genotypes. Based on thisprinciple, Epagri/Cepaf is carrying out several activities to rescue landraces of common beans. The aim of thisstudy was to characterize the phenotypic variability of the landrace Azulão Caxambu and the effect of the selectionof individual plants on the grain yield. The experiment was conducted at the experimental area of Epagri/Cepaf,in Chapecó, SC, during the 2004/05 agricultural season. Due to the phenotypic variability, intra-population plantbreeding is suggested to increase the grain yield.Index terms: Phaseolus vulgaris, landrace, plant breeding, grain yield.

Introdução

Devido a sua boa adaptação àscondições climáticas do Brasil, ofeijão faz parte da maioria dossistemas produtivos de pequenos,médios e grandes produtores(Yokoyama et al., 1996). Em SantaCatarina, o feijão é culturatradicional, predomina em regiões

com agricultura familiar e apre-senta importante função social eeconômica por ser uma cultura deciclo curto e de rápido retorno doinvestimento realizado. Importantefonte de proteína na dieta humana,o feijão é um prato quase obriga-tório da população brasileira.

Apesar de todos os esforços dapesquisa em desenvolver novas

cultivares, as sementes melhoradasde feijão dividem espaço com ascultivares locais (crioulas). Poroutro lado, os agricultoresfamiliares freqüentemente utilizamem suas lavouras grãos colhidoscomo sementes para um novocultivo (Ramalho et al., 1993).Estudos revelaram que a taxa deutilização de sementes fiscalizadas

Aceito para publicação em 26/4/07.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected]. agr., Universidade Federal do Paraná, Rua dos Funcionários, 1.540, Juvevê, 80035-050 Curitiba, PR, fone: (41) 3350-5601,e-mail: [email protected]., Ph.D., Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo, 5.790, 87020-900 Maringá, PR, fone: (44) 3261-4040, e-mail:[email protected] de Ciências Biológicas da Unochapecó, Av. Senador Attílio Fontana, 591-E, Bairro Efapi, 89809-000 Chapecó, SC, fone:(49) 3321-8000.

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de feijão em Santa Catarina é deapenas 20% (Abrasem, 2006). Emalgumas regiões específicas, comoo município de Anchieta, mais de70% das famílias de agricultoresoptam pelo cultivo de cultivareslocais de feijão (Canci et al., 2004).Entretanto, muitas variedadesreconhecidas como locais pelosagricultores são gerações avan-çadas de cultivares melhoradasreproduzidas pelos agricultores aolongo dos anos.

As variedades locais utilizadasao longo dos anos pelos agricultoresconstituem populações interes-santes para serem submetidas àseleção, pois apresentam adap-tabilidade local e possuem o tipo degrão que atende às exigências doconsumidor (Ramalho et al., 1993).Apesar disto, apresentam-se comopopulações com alta variabilidade(baixa homogeneidade e padrão) ebaixo a médio rendimento degrãos.

Devido à importância deconservar os recursos genéticosregionais e com o objetivo deminimizar a perda crescente dogermoplasma local, diversasinstituições, como a Embrapa e oIapar, vêm utilizando essesmateriais na pesquisa a curto, médioe longo prazos, principalmente nosprogramas de melhoramento(Buratto, 2001). Com os mesmospropósitos, a Epagri/Cepaf tambémvem realizando trabalhos comvariedades locais, avaliando-as emensaios específicos, em especial emtermos de rendimento de grãos,resistência às doenças e preco-cidade.

O objetivo deste trabalho foirealizar estudos da variabilidadefenotípica e avaliar os efeitos daseleção de plantas individuaissobre a produtividade de grãosda variedade local Azulão Caxam-bu.

Material e métodos

Os genótipos avaliados nestetrabalho são oriundos da populaçãooriginal da variedade local AzulãoCaxambu, coletada na década de 90no município de Caxambu do Sul,

SC, e conservada na Epagri/Cepafem câmara climatizada comcontrole de temperatura e umidaderelativa (Temp. ± 14ºC; UR ± 45%).

A multiplicação das sementes domaterial conservado (± 800g) foirealizada a campo no ano agrícola2001/02 e safrinha 2002. No anoagrícola 2003/04 foi realizada asemeadura da população originalem 1ha, fazendo-se a seleção visualde plantas, como preconiza o métododa seleção de plantas individuaiscom teste de progênie descrito porAllard (1960). A seleção das plantasindividuais foi realizada priorizandocaracterísticas relacionadas asanidade, porte e produtividade.

Foram selecionadas 344 plantasindividuais, sendo que cadaprogênie das plantas individuaisconstituiu uma nova família (Pinto,1995), avaliadas individualmentequanto ao rendimento de grãos.

As sementes oriundas dasplantas selecionadas foramacondicionadas em envelopesindividualizados e semeadas emexperimento específico no anoagrícola 2004/05. A implantação doexperimento ocorreu no sistema desemeadura direta em 17 desetembro de 2004, na áreaexperimental da Epagri/Cepaf,utilizando-se a adubaçãorecomendada para a cultura do feijão(Sociedade..., 2004).

Em função da poucadisponibilidade de sementes e ogrande número de famílias paraserem avaliadas utilizou-se odelineamento em blocos au-mentados (Federer, 1956), quepossibilita a avaliação de um grandenúmero de tratamentos semrepetições. Os tratamentos foramdivididos em dois grupos:tratamentos regulares, compostospelas famílias selecionadas; etratamentos comuns, compostospela população original. Nessedelineamento, os efeitos dos blocossão usados para ajustar ostratamentos regulares (famílias) eo erro é estimado a partir dostratamentos comuns intercalares(população original) (Scott &Milliken, 1993), sendo os valorescorrigidos em função da diferença

entre a média geral dastestemunhas e a média dastestemunhas no bloco (Backes etal., 2003).

As sementes de cada plantaforam semeadas em uma linha de4m (12 plantas/m), totalizando 48plantas por parcela, no espaçamentoentre linhas de 0,45m. Em cadabloco foram semeados 10 trata-mentos, sendo 2 testemunhas(população original) ocupando asposições 3 e 8 e 8 famílias (plantasindividuais selecionadas), consti-tuindo 43 blocos.

Para avaliação da variabilidadefenotípica da população original foiconsiderada apenas a característicarendimento de grãos. Após aquantificação do rendimento, osdados foram submetidos à análisede variância e foi estimado odiferencial de seleção (Ds) entre amédia da população original (X0) e amédia da nova população selecionada(Xs), através da equação Ds = Xs –Xo.

Resultados e discussão

A amplitude de variação dorendimento de grãos das 344famílias (tratamentos regulares) foielevada (352 a 3.422kg/ha). Aanálise de variância reveloudiferença significativa entre aslinhagens, o que evidencia aocorrência de variabilidadegenotípica na população originalAzulão Caxambu.

Devido à ocorrência devariabilidade, a variedade localapresenta potencial para seleçãopois, além de ser adaptada à região,possui um tipo de grão diferenciado(preto graúdo brilhoso achatado) eque atende às exigências de umgrupo considerável de consu-midores.

Apesar de o feijão ser umaespécie autógama, a variabilidadepresente na população local podeter sido ocasionada por cruzamentosnaturais, misturas varietais e pormutações, conforme citado porRamalho et al. (1993) e Royer et al.(1999).

Jarvis et al. (1998) relataramque a ocorrência de variabilidade

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genético de plantas, a média dapopulação selecionada foi de2.150kg/ha (Figura 1), o quecorresponde a um diferencial deseleção de 842kg/ha.

A avaliação de um grandenúmero de famílias e, conse-qüentemente, a exploração davariância genética contribuírampara que a estimativa de ganhoesperado fosse alta, conformerelatado por Aguiar et al. (2000).Entretanto, a variância observadana análise de apenas umacaracterística, como produtividade,pode ser resultado da contribuiçãodos genes de uma determinadaplanta e do ambiente em que elase desenvolve, pois o fenótipo deuma planta pode ser descrito comoa soma do seu genótipo e doambiente (Destro & Montalvan,1999). Além disso, a interaçãogenótipo com ambiente pode tercontribuído significativamente paraa expressão do fenótipo.

O delineamento em blocosaumentados mostrou-se viável paraseleção de famílias nas etapasiniciais dos programas demelhoramento genético, caso sejaaplicada uma intensidade deseleção branda, visandoprincipalmente o descarte demateriais, conforme relatado porSouza et al. (2000) e Aguiar et al.(2000). O uso de um númerosuperior a 300 famílias, a priori,permitiu explorar bem avariabilidade da população originalpara o caráter rendimento de grãos,como também relatado por Aguiaret al. (2000).

Entretanto, mesmo que aseleção inicial tenha sido eficiente,sobretudo na eliminação dasfamílias com rendimento inferior(Figura 1), deve-se salientar que,neste estudo, foi consideradaapenas a característica derendimento de grãos. O caráterrendimento de grãos é muitoinfluenciado pelo ambiente,governado por muitos genes, sendoque a seleção nas próximas etapassó será eficiente se associada aavaliações das famílias emexperimentos com repetições (Silvaet al., 2005).

em populações locais é afetada,principalmente, por três grandesgrupos de fatores: estrutura dapopulação (taxas de mutação,migração, tamanho da população,isolamento, sistemas de me-lhoramento, cruzamentos ao acasoe deriva genética); pela seleçãonatural do ambiente (tipo de solo,clima, doenças, competição comervas espontâneas); e pela seleçãoe decisões dos agricultores (seleçãode características agromorfoló-gicas preferidas e manejo doagroecossistema). Além disso, osagricultores reutilizam os grãos dasvariedades locais como semente porvárias safras, levando à grandevariabilidade devido a freqüentesmisturas de linhagens diferentesdentro da população (Sena, 2006).

Johannsen (1903), citado porBueno et al. (2001), em sua teoriadas linhas puras comprova que umapopulação original é formada deuma mistura de linhas puras e quecada progênie avaliada constitui umgenótipo distinto. Nesse sentido,acredita-se que a população originalAzulão Caxambu, como a maioriadas cultivares de espéciesautógamas, sempre foi constituídapor uma mistura de linhas puras eque a variabilidade fenotípicapresente nessa população pode ter

sido ampliada pelos fatoresanteriormente citados.

Considerando a média dostratamentos comuns, que repre-sentam a população original(1.308kg/ha), em relação à médiade rendimento das famílias(1.505kg/ha), fica demonstrada aeficiência da seleção no incrementode produtividade de grãos (Figura1). O diferencial de seleção foi de197kg/ha, o que representa umincremento de produtividade degrãos superior a 15% em relação àpopulação original. Apesar de aestimativa do diferencial serrelativamente elevada, nãorepresenta o ganho de seleção, jáque esta foi feita com base emvalores fenotípicos, que sãofortemente influenciados peloambiente. No entanto, é umindicativo de que há possibilidadede se alcançar ganho com seleçãona população local de AzulãoCaxambu.

Adotando como critério odescarte de 80% das famíliasinferiores, ou seja, realizando apressão de seleção de apro-ximadamente 20%, valor comu-mente utilizado pelos profissionaisda área para seleção e descarte degenótipos nas fases iniciais dosprogramas de melhoramento

Figura 1. Distribuição por classes de rendimento de grãos das famíliasselecionadas (tratamentos regulares) e representação da média derendimento de grãos da população original, da população selecionada(344 famílias) e da nova população (20% superiores). Epagri/Cepaf –Chapecó, 2006

0

10

20

30

40

50

60

70

Classes de produtividade (kg/ha)

mero

de o

bserv

açõ

es

x

(pop. original) = 1.308kg/ha

x

(famílias)

= 1.505kg/ha

x

(20% superiores) = 2.150kg/ha

Famílias descartadas (80% inferiores)

Famílias selecionadas (20% superiores)

300

- 499

500

- 699

700

- 899

900

- 1.0

99

1.10

0 - 1

.299

1.30

0 - 1

.499

1.50

0 - 1

.699

1.70

0 - 1

.899

1.90

0 - 2

.099

2.10

0 - 2

.299

2.30

0 - 2

.499

2.50

0 - 2

.699

2.70

0 - 2

.899

2.90

0 - 3

.099

3.10

0 - 3

.299

3.30

0 - 3

.499

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6 3Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Além disso, para as etapassubseqüentes, devem serconsideradas outras característicasimportantes para a cultura, taiscomo tamanho de grãos, porte dasplantas e resistência a doenças,como relatado por Silva et al. (2005),a fim de melhorar a classificaçãodos genótipos, reduzir o erropadrão e, conseqüentemente,minimizar o efeito ambiental (Souzaet al., 2000).

Na análise dos parâmetrosgenéticos constatou-se um valorelevado da herdabilidade (66%)(Tabela 1), em conseqüência da altavariância genética obtida e da baixaprecisão das estimativas dosparâmetros genéticos no uso dodelineamento em blocosaumentados, como já relatado porSouza (1997), Aguiar et al. (2000) eSouza et al. (2000). A herdabilidadefoi superestimada porque a seleçãofoi efetuada em apenas umambiente e sem repetições,ocorrência relatada anteriormentepor Rosal et al. (2000).

Conclusão

Existe variabilidade fenotípicana população de plantas davariedade local de feijão AzulãoCaxambu coletado pela Epagri/Cepaf em 1992.

O melhoramento genéticointrapopulacional poderá elevar amédia de rendimento de grãos destavariedade local.

Literatura citada

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Eficiência da uréia e do nitrato de amônio emEficiência da uréia e do nitrato de amônio emEficiência da uréia e do nitrato de amônio emEficiência da uréia e do nitrato de amônio emEficiência da uréia e do nitrato de amônio emadubação de cobertura para milho cultivadoadubação de cobertura para milho cultivadoadubação de cobertura para milho cultivadoadubação de cobertura para milho cultivadoadubação de cobertura para milho cultivado

no sistema plantio diretono sistema plantio diretono sistema plantio diretono sistema plantio diretono sistema plantio direto

Eloi Erhard Scherer1

Resumo – Com o objetivo de comparar a eficiência de duas fontes de nitrogênio (N) em diferentes épocas deaplicação da adubação de cobertura em milho, foi conduzido um experimento de campo em Latossolo Vermelhodistroférrico nos anos agrícolas 2001/02, 2002/03 e 2003/04, em Chapecó, SC. O delineamento experimental foi deblocos ao acaso com os tratamentos arranjados em fatorial 2 x 4, com dois fertilizantes (uréia e nitrato de amônio)e quatro épocas de aplicação do N (todo na emergência das plantas, 1/3 na emergência e o restante (2/3) 28 diasapós, e todo 14 e 28 dias após a emergência). Também foi incluído um tratamento sem adubação nitrogenada. ON foi aplicado na dose de 120kg/ha, a lanço, sem incorporação ao solo. Houve apenas efeito significativo para épocasde aplicação do adubo, obtendo-se melhores resultados com aplicação de todo N na emergência das plantas ouparcelado em duas vezes: 1/3 na emergência das plantas e o restante 28 dias após. Não foram constatadasdiferenças significativas entre as fontes de N avaliadas, podendo ser utilizada em adubações de cobertura no milhoa fonte com menor preço por unidade de N.Termos para indexação: Zea mays, nitrogênio, fontes, adubação de cobertura.

Effect of urea and ammonium nitrate in top-dressing applicationon corn yield under no-till system

Abstract – To evaluate the efficience of nitrogen (N) sources and time of N application on corn yield, a fieldexperiment was carried out in a Typical Red Latosol (oxisol) in Chapecó, Santa Catarina State, Brazil. Theexperiment was conducted as completely randomized block design with the use of two top-dressed N sources(urea and ammonium nitrate) and four application time (total dose at plant emergence, 1/3 at emergence and 2/3 28 days later, and total dose at 14 and 28 days after plant emergence), plus an additional treatment without Nfertilization. The results showed that only the time of N application had influence on corn yield. Best resultsgenerally were obtained when total N dose was applied at plant emergence or when applied 1/3 of the total N atplant emergence and the remaining 28 days later. The source of N did not significantly affect corn yield. Since nosignificant differences were observed in the corn yield, the decision of using urea or ammonium nitrate for top-dress application should be based on the cost per unity of N.Index terms: Zea mays, nitrogen, sources, top-dressing.

Introdução

As atuais recomendações deadubação nitrogenada para milhosão realizadas com base em curvasde resposta, teor de matériaorgânica do solo, histórico da área,

condições ambientais e produ-tividade esperada (Sociedade...,2004). Dada a grande exigência dacultura do milho e o baixo efeitoresidual no solo, a adubação nitro-genada é, normalmente, realizadade forma parcelada, aplicando-se

uma pequena quantidade nasemeadura e o restante emcobertura (Yamada, 1996;Sociedade..., 2004).

A aplicação superficial emcobertura, tanto do nitrato deamônio quanto da uréia, sem

Aceito para publicação em 8/5/07.1Eng. agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600,e-mail: [email protected]

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incorporação ao solo, constituiprática rotineira na cultura domilho nos diversos sistemas deprodução utilizados no Estado deSanta Catarina (Epagri, 1997). Poroutro lado, inúmeros trabalhos depesquisa (Anjos & Tedesco, 1976;Kissel et al., 1988; Lara Cabezas etal., 1992; Silva et al., 1995; LaraCabezas et al., 1997b) mostram quea aplicação superficial da uréia, semincorporação ao solo, podefavorecer as perdas de N porvolatilização de NH3. Os resultadosde campo apontam, em geral, parauma eficiência menor da uréia emrelação a outras fontes de N,quando aplicada na superfície, semsua imediata incorporação ao solo(Silva et al., 1995; Lara Cabezas etal., 1997a; Kissel et al., 1988;Bellow et al., 2006).

A volatilização de NH3 ocorreprincipalmente em função daelevação do pH da solução próximoao grânulo de uréia durante suahidrólise (Rodrigues & Kiehl, 1986;Lara Cabezas et al., 1992). Váriascaracterísticas do solo (pH, CTC,textura e teor de matéria orgânica)e condições ambientais (tempe-ratura, umidade, precipitação,evaporação) podem influenciar oequilíbrio NH3 – NH4

+ e serdeterminantes na magnitude dasperdas gasosas de amônia(Bowmeester et al., 1985). Altatemperatura e umidade são fatoresque podem acelerar a hidrólise e asreações da uréia, acarretandoperdas de NH3 pela ação alcalina dauréia em solo com pH próximo ouacima de 7,0 (Rodrigues & Kiehl,1992).

Entretanto, estas perdas de Npor volatilização de amônia podemser drasticamente reduzidas quandoda ocorrência de chuvas ou em casode irrigação, logo após a aplicaçãoda uréia na superfície do solo (Fox& Hoffmann, 1981; Black et al.,1987).

O nitrato de amônio, ao contrárioda uréia, não sofre perdas porvolatilização de NH3 quando o pHdo solo é inferior a 7,0. Porém, emsolos com textura mais arenosa, oN pode ser facilmente perdido pelalixiviação de NO-

3, principalmentequando ocorrerem chuvas de altaintensidade logo após sua aplicação.

O objetivo deste trabalho foiavaliar a eficiência agronômica da

uréia e do nitrato de amônioaplicados na superfície do solo, semincorporação, em diversas épocas efases de desenvolvimento da culturado milho no sistema plantio direto.

Material e métodos

A pesquisa constou de umexperimento de campo com acultura do milho, conduzido nosanos agrícolas 2000/01, 2001/02 e2002/03, sempre em nova área, emglebas adjacentes, no município deChapecó, SC. O solo da áreaexperimental, classificado comoLatossolo Vermelho distroférrico,apresentou, antes da instalação doexperimento, as seguintes ca-racterísticas na camada superficial(zero a 10cm): pH em água = 5,6;Índice-SMP = 5,5; matéria orgânica= 3,3%; P = 18mg/dm3; K = 128mg/dm3; Ca = 5,5cmolc/dm3; Mg = 2,6cmolc/dm3 e argila = 56%,determinados segundo metodologiade Tedesco et al. (1995).

O delineamento experimental foide blocos ao acaso com trêsrepetições no primeiro ano e quatrorepetições nos demais anos. Ostratamentos constaram de umfatorial 2x4 envolvendo duas fontesde N e quatro épocas de aplicaçãodo adubo nitrogenado. As fontes deN foram uréia e nitrato de amônioaplicados na dose de 120kg/ha nasuperfície, sem incorporação ao solo,nas seguintes épocas: E1 = 1/3 do Naplicado na emergência das plantase o restante (2/3) 28 dias após; E2 =todo N aplicado na emergência dasplantas; E3 = todo N aplicado 14dias após a emergência (DAE); E4 =todo N aplicado 28 DAE. Comotratamento adicional incluiu-se umatestemunha sem aplicação de N.Não foi aplicado N na semeadura.

A parcela experimental contoucom uma área total de 32,4m2 (5,4mx 6m) com semeadura de seis linhasde milho espaçadas em 0,9m. Asemeadura do milho, cultivar Ag-9090, foi realizada com semeadorade plantio direto em 19/10/2001,4/11/2002 e 29/10/2003. Antecedendoo milho, foi cultivada, anualmente,aveia-preta, que foi dessecada comherbicida Glifosato em torno de 20dias antes da semeadura do milho.O desbaste, objetivando a densidadede 66 mil plantas/ha foi realizado 14dias após a emergência das plantas.

Os tratos culturais foram realizadosde acordo com as recomendações dosistema de produção da cultura(Epagri, 1997). Para o controle deplantas daninhas foi utilizado oherbicida Sanson na doserecomendada. As colheitas foramrealizadas em área de 18m2,colhendo-se as quatro linhascentrais da parcela, com 5m decomprimento, eliminando-se 0,5mnas extremidades. O peso de grãosfoi corrigido para umidade de 15%.

Os dados de produção de grãosforam submetidos à análise davariância, empregando-se o testeF, e os tratamentos fatoriais,quando significativos, decompostospara isolamento do efeito de fontes,épocas de aplicação e interaçãoentre fontes e épocas. As médiasforam comparadas pelo teste deTukey a 5%.

Resultados e discussão

Encontram-se na Tabela 1 osdados de produção de grãos demilho, valores médios das duasfontes de N, das diversas épocas deaplicação do adubo nitrogenado e datestemunha, sem N. Em todos osanos a cultura apresentou respostapositiva à aplicação de N.

A análise mostrou que houvesignificância estatística (P>0,05)apenas para épocas de aplicação deN e para a interação entre épocas eanos, indicando que estas nãotiveram o mesmo comportamentonos 3 anos de cultivo. Observa-seque, com exceção do terceiro ano, aprodução de grãos do tratamentocom aplicação parcelada do N (umterço na emergência das plantas eaplicação do restante 28 dias após)foi significativamente superior à dotratamento com todo adubonitrogenado aplicado 28 DAE. Istoestá de acordo com as reco-mendações de adubações para acultura nos Estados do Rio Grandedo Sul e Santa Catarina (So-ciedade..., 2004). Mello et al. (1988)também relatam efeito positivo daaplicação parcelada de N em milho.A pior performance com a aplicaçãotardia de N ocorreu principalmenteno primeiro ano, coincidindo comcurtos períodos de estiagem daqueleano (Figura 1), o que de certa formalimitou a produtividade e respostada cultura à adubação nitrogenada

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aplicada. Resposta semelhante foiobservada por Scherer (2001)também em condições de baixosíndices de precipitação pluvialocorrida após a aplicação do N emcobertura na cultura do milho sobplantio direto.

Os dados de produção de grãosobtidos com as duas fontes de N,nos 3 anos de cultivo, encontram-sena Tabela 2. São apresentadosapenas valores médios, pois as duasfontes de N, independentemente daépoca de aplicação e ano de cultivo,não diferiram significativamenteentre si, corroborando os resultadosde Scherer (2001) com milhocultivado em condições climáticas e

de solo semelhantes. Mello et al.(1988) não obtiveram diferenças emprodutividade de milho com e semincorporação da uréia ao solo,indicando que as perdas de N porvolatilização de NH3 com aplicaçãosuperficial da uréia podem ter sidoinsignificantes.

Teoricamente, a eficiência dauréia no presente estudo, sem suaimediata incorporação ao solo,deveria ser menor em comparaçãoao nitrato de amônia. Porém, épossível que as perdas de N porvolatilização de amônia, emcondições de campo, não tenhamsido tão elevadas quanto àsverificadas em ambientes contro-

lados (Anjos & Tedesco, 1976;Rodrigues & Kiehl, 1986; LaraCabezas et al., 1992; Silva et al.,1995) e, dessa forma, tenhamexercido pouca influência sobre aprodução de grãos.

Por outro lado, as perdas de Npor volatilização de NH3 (Anjos &Tedesco, 1976; Kissel et al., 1988;Lara Cabezas et al., 1992) podemter sido compensadas por maioresperdas por lixiviação de NO3, quandoda utilização de nitrato de amônio,que tem 50% do N total nesta forma.Maiores perdas de NO3 podemocorrer especialmente no SPD,onde a camada de palha sobre asuperfície e a continuidade dosporos no perfil favorecem ainfiltração e percolação de água comconseqüente maior lixiviação deNO3 (Salet et al., 1997). Além dasperdas por volatilização e lixiviação,fatores ambientais e de solo, taiscomo precipitação, temperatura,teor de matéria orgânica do solo,relação C/N (Amado & Mielniczuk,2002), dentre outros, podem afetara dinâmica do N no solo e suaabsorção pelas plantas e terinfluenciado a produção de grãos.

Na literatura são encontradosinúmeros trabalhos de pesquisademonstrando que a uréia emcobertura pode ser tão eficientequanto as outras fontes de N,principalmente quando ocorre umachuva após sua aplicação(Bouwmeester et al., 1985; Mello etal., 1988; Lara Cabezas et al., 1997).Outro procedimento que podeaumentar a eficiência da uréia é ouso da irrigação controlada. A rápidasolubilização dos grânulos de adubopela água e movimentação do N nasolução do solo até uma certaprofundidade reduz considera-velmente os riscos de perda porvolatilização (Fox & Hoffmann,1981; Black et al., 1987; Kissel etal., 1988). Esta prática podesubstituir a incorporação do adubo,quando isto não for possível(Bouwmeester et al., 1985; Vitosh,2006).

Rodrigues & Kiehl (1986), emestudos de laboratório, observaramque a taxa máxima de volatilizaçãode NH3 ocorre 4 a 5 dias após aaplicação da uréia. Como nopresente estudo geralmenteocorreram precipitações pluviais demédia a forte intensidade nos

Tabela 1. Efeito de épocas de aplicação do adubo nitrogenado (120kg/ha) na produção de grãos de milho em diferentes anos agrícolas. Dadosmédios de todas as fontes de N

Ano agrícola(1)

Época de aplicação do N2001/02 2002/03 2003/04

........................kg/ha..........................

1/3 0 DAE e 2/3 28 DAE 5.310 aB 8.367 aA 6.251 aB

Todo 0 DAE 5.708 aC 7.857 abA 5.901 aB

Todo 14 DAE 5.232 aB 7.737 abA 5.447 aB

Todo 28 DAE 3.780 bC 6.994 bA 5.223 aB

Testemunha 1.800 cC 5.647 cA 1.815 bB

(1)Médias seguidas de mesmas letras minúsculas para épocas e maiúsculaspara anos não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%.Nota: DAE = dias após a emergência das plantas.

1o/10

2o/10

3o/10

1o/11

2o/11

3o/11

1o/12

2o/12

3o/12

1o/01

2o/01

3o/01

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

2001

2002

2003

Decêndio/Mês

recipitaç

o

(mm

)

Figura 1. Precipitação pluviométrica acumulada por decêndio, emChapecó, no período de aplicação da adubação nitrogenada edesenvolvimento da cultura do milho (outubro a janeiro de cada ano)

PRECIPITAÇÃO

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Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007 6 7

primeiros dias após a aplicação dosadubos (Figura 1), este fato pode tercontribuído para melhorar aeficiência da uréia em adubações decobertura.

Conclusões

A adubação nitrogenadaaumenta significativamente aprodução de milho, obtendo-se, demodo geral, maiores produções comaplicação parcelada ou em doseúnica do adubo até 14 dias após aemergência da plantas.

Não há diferença entre as fontesde N testadas, uréia e nitrato deamônio, sobre a produção de grãos,em nenhuma das épocas deaplicação da adubação de cobertura,podendo ser utilizada a fonte commenor preço por unidade de N.

Literatura citada

1. AMADO, T.J.C.; MIELNICZUK, J.;AITA, C. Recomendação de adubaçãonitrogenada pra milho no RS e SCadaptada ao uso de culturas decobertura do solo, sob sistema plantiodireto. Revista Brasileira de Ciênciado Solo, v.26, p.241-248, 2002.

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4. BLACK, A.S.; SHERLOCK, R.R.;SMITH, N.P. Effect of timing of

Tabela 2. Influência de fontes de N na produção de milho cultivado emLatossolo Vermelho distroférrico sob plantio direto. Valores médios detodas as épocas e quatro repetições

Ano agrícola(1)

Fonte de N2001/02 2002/03 2003/04

..........................kg/ha..........................

Uréia 4.911 7.680 6.055

Nitrato de amônio 5.105 7.798 6.242

Média 5.008 7.739 6.148

(1)As médias não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%.

simulated rainfall on ammoniavolatilization from urea, applied to soilof varying moisture content. JournalSoil Science, v.38, p.679-688, 1987.

5. BOUWMEESTER, R.J.B.; VLEK,P.L.G.; STUMPE, J.M. Effect ofenvironmental factors on ammoniavolatilization from a urea-fertilized soil.Soil Science Society AmericanJournal, v.49, p.376-381, 1985.

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Microclima e taxas fotossintéticas e transpiratórias doMicroclima e taxas fotossintéticas e transpiratórias doMicroclima e taxas fotossintéticas e transpiratórias doMicroclima e taxas fotossintéticas e transpiratórias doMicroclima e taxas fotossintéticas e transpiratórias dotomateiro em diferentes ambientes de cultivotomateiro em diferentes ambientes de cultivotomateiro em diferentes ambientes de cultivotomateiro em diferentes ambientes de cultivotomateiro em diferentes ambientes de cultivo

Anderson Fernando Wamser1, Euclides Schallenberger2 eLuiz Carlos Argenta3

Resumo – O objetivo deste trabalho foi estimar as variáveis microclimáticas e as taxas fotossintéticas etranspiratórias do tomateiro cultivado em seis ambientes: a céu aberto (CA); em telado cercado por tela citros(RT); em abrigo do tipo pampeana com cobertura de polietileno sem tela antiinsetos nas laterais (ST) e com trêstipos de telas laterais, antiafídica (AF), citros (CI) e clarite (CL), em Itajaí, SC, no ano agrícola de 2004. Asavaliações foram feitas 35 e 75 dias após o plantio e em cinco horários do dia. As temperaturas do ar e da folhaforam maiores nos ambientes protegidos e com telas antiinsetos de menor espessura. Aos 35 dias após o plantioas taxas fotossintéticas foram maiores nos ambientes protegidos, enquanto que as taxas transpiratórias forammaiores nos ambientes protegidos com tela antiafídica e citros na lateral.Termos para indexação: Lycopersicon esculentum Mill, cultivo protegido, tela antiinsetos.

Microclimate and photosynthetic and transpiration rates of tomato plants indifferent growth environments

Abstract – The aim of this study was to estimate the microclimate and the photosynthetic and transpirationrates of tomato grown at open air plots (CA); in screenhouses with citrus insect-proof screen (RT); in plasticcovered greenhouses without insect-proof screen (ST) and in plastic covered greenhouses with three types ofinsect-proof screen, anti-aphidian (AF), citrus (CI) and clarity (CL), in Itajaí, SC, in 2004. The protected cultivationwith screens with smaller thickness provided greater leaves and air temperatures. Thirty-five days after plantingphotosynthetic rates were greater in protected cultivation while transpiration rates were greater in protectedcultivation with anti-aphidian and citrus screens.Index terms: Lycopersicon esculentum Mill, protected cultivation, insect-proof screen.

Introdução

O cultivo em ambiente prote-gido é uma estratégia utilizadapelos agricultores para estender aprodução para épocas do ano eregiões com clima desfavorável àsculturas, protegendo-as dasadversidades climáticas, propor-cionando aumento da produtividadee viabilizando o fornecimento deprodutos no período da entressafra.A aclimatação das plantas às

variações ambientais, como aproporcionada pelo ambienteprotegido em relação ao ambientea céu aberto, normalmente resultaem ajustes morfofisiológicos,incluindo alterações da fotossíntesee transpiração (Taiz & Zeiger,2004). Segundo Loomis & Connor(1992), as alterações fisiológicas dacultura podem variar tantoespacialmente, em resposta aosfatores ambientais atuantes, comotemporalmente, em resposta aos

efeitos das condições ambientaisanteriores.

O uso de telas laterais antiin-setos no cultivo em ambienteprotegido é efetivo na diminuiçãoda incidência de alguns insetos-praga e insetos vetores de doenças(Vieira et al., 2004). Os efeitos dosdiferentes tipos de telas antiinsetos,com diferentes tipos de malhas etransmissividade à radiação, sobreas alterações do ambiente e damorfofisiologia do tomateiro não

Aceito para publicação em 12/6/07.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2000, e-mail:[email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail:[email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].

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6 9Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

estão claramente estabelecidos. Oconhecimento do efeito dos fatoresambientais sobre os aspectosfisiológicos das plantas podeauxiliar no entendimento dasdiferenças de produtividadeencontradas entre os diferentesambientes de cultivo do tomate,como observado por Schallenberger(2005).

O objetivo do presente estudo foiestimar as variáveis climáticas e astaxas fotossintéticas e transpi-ratórias do tomateiro cultivado emdiferentes ambientes.

Material e métodos

O estudo foi realizado em 2004,na Epagri/Estação Experimental deItajaí – EEI –, localizada nomunicípio de Itajaí, SC, regiãofisiográfica do Baixo Vale do Itajaí.O clima da região é mesotérmicoúmido, com verão quente, do tipoCfa, conforme a classificação deKöppen (Pandolfo et al., 2002).

Os tratamentos consistiram emseis ambientes de cultivo: teste-munha a céu aberto (CA), abrigotipo pampeana sem proteção de telanas laterais (ST), abrigo tipopampeana com tela antiafídica naslaterais (AF), abrigo tipo pampeanacom tela citros nas laterais (CI),abrigo tipo pampeana com telaclarite nas laterais (CL), e teladorevestido por tela citros (RT). Cadatratamento foi composto por umambiente, cuja área era de 70m2

(10m x 7m).Os abrigos do tipo pampeana

foram cobertos com polietileno debaixa densidade (PEBD) comespessura de 100μm. As telasantiafídica, citros e clariteapresentavam malha de 0,5 x0,5mm, 1 x 1mm e 2,0 x 2mm ou50, 25 e 12 mesh, respectivamente.Os ambientes formados por abrigosdo tipo pampeana e o teladopossuíam altura de pé direito de 2me altura da cumeeira de 3,5m.

As mudas da cultivar de tomateFortaleza, híbrido de crescimentoindeterminado, foram transplan-tadas aos ambientes no dia 2/9/2004, 38 dias após a semeadura. Otomateiro foi cultivado emespaçamento de 1m entre linhas e0,5m entre plantas. Foramconduzidas duas hastes por plantano sistema vertical com bambu com

retirada de brotos e realização deamarrio das plantas semanal-mente. O sistema de irrigação foi olocalizado com fitas de gotejamento,sendo utilizada a mesma freqüênciae lâmina d’água para todos osambientes.

As taxas fotossintética (A) etranspiratória (E), a condutânciaestomática (g), a concentraçãointerna de CO2 (Ci), a temperaturada folha (Tfolha) e do ar (Tar) e o déficitde pressão de vapor (DPV) foramdeterminados utilizando umsistema portátil de análise de gasespor infravermelho (Irga, Li-6400,Li-Cor, Lincoln, Nebrasca, EUA).As variáveis A, Ci, E, g, Tfolha e DPVforam estimadas sob radiaçãofotossinteticamente ativa (RFA)saturante de 1.200μmol de fótons/m2/s e concentração constante deCO2 de 360μmol de CO2/mol de ar.As avaliações foram feitas aos 35 e75 dias após o plantio (DAP) e emcinco horários: 8h57 (±19min),10h48 (±19min), 13h11 (±19min),15h20 (±19min) e 17h16 (±15min),aos 35 DAP, e 7h56 (±23min), 9h36(±20min), 13h00 (±19min), 15h02(±20min) e 16h19 (±16min), aos 75DAP. Cada horário de avaliação foiconsiderado uma repetição. Foirealizada uma leitura em folhas doterço superior do dossel de cadaplantas amostrando cinco plantaspor ambiente, em cada horário. Asplantas amostradas pertenciam àsegunda linha de plantas de cadaambiente, sendo que cada linhapossuía 20 plantas. Até os 75 DAPnão foi realizada colheita de frutos.O delineamento experimentalutilizado foi o de blocos completosao acaso. As variáveis estudadasforam submetidas à análise devariância pelo teste F. Havendosignificância estatística (P < 0,05),as médias foram comparadas peloteste de Tukey a 5% de proba-bilidade de erro. As análisesestatísticas foram realizadasatravés do pacote estatístico Sisvarversão 5.0 (Ferreira, 2000).

Resultados e discussão

A Tar média de todos osambientes analisados foi de 26,7 e30,8oC, aos 35 e 75 DAP, respec-tivamente, correspondendo aoaumento histórico das tempera-turas médias entre os meses de

outubro e novembro na região deItajaí (Pandolfo et al., 2002). Oambiente CI apresentou a maior Tarmédia durante o dia, não diferindodos ambientes AF e RT, tanto aos35 como aos 75 DAP (Tabela 1). Asmaiores temperaturas em am-bientes com tela lateral, espe-cialmente com malhas maisadensadas (antiafídica e citros),possivelmente resultam da menorventilação e difusão do ar aquecidopara fora do ambiente (Galvani &Escobedo, 2001). O ambiente STapresentou menor Tar que oambiente CA na primeira épocaanalisada, e não se diferiram nasegunda época. Contrário a esteresultado, Caliman et al. (2005),trabalhando com abrigos de 400m2,observaram menores temperaturasdo ar no ambiente a céu aberto.

Em geral, os efeitos dos am-bientes sobre a Tfolha foram seme-lhantes àqueles sobre a Tar, onde asmaiores Tfolha foram observadas nosambientes protegidos com tela naslaterais, seguidos pelos ambientesCA e ST (Tabela 1). A Tfolha médiafoi 1,7% (26,3oC) e 3,7% (29,7oC)menor que a Tar aos 35 e 75 DAP,respectivamente. A maior reduçãoda Tfolha em relação à Tar na segundaépoca de avaliação possivelmente sedeve à maior taxa transpiratóriaobservada em relação à primeiraépoca (Tabela 1). A transpiração éum processo que envolve aevaporação da água da superfíciedas células do mesófilo para osespaços intercelulares das folhas ea difusão do vapor de água dasfolhas para o meio (Taiz & Zeiger,2004). A evaporação da água implicaem absorção de calor latente eresfriamento dos tecidos das folhas(Taiz & Zeiger, 2004). Quando asfolhas transpiram a evaporação daágua retira o calor da folha e arefresca. Neste sentido, Nogueiraet al. (2001) encontraram Tfolhasuperior a Tar quando a taxatranspiratória era baixa.

O DPV médio de todos osambientes analisados foi de 2,8kPaaos 35 DAP e de 2,1kPa aos 75 DAP.Aos 35 DAP, o DPV foi maior nosambientes CL, RT e CA, não sediferindo do ambiente CI, e menorno ambiente AF, não se diferindodo ambiente ST (Tabela 1).Possivelmente no ambiente AF,com Tar e Tfolha elevadas, o menor

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Tabela 1. Temperatura do ar (Tar), temperatura da folha (Tfolha), déficit de pressão de vapor (DPV), fotossíntese(A), condutância estomática (g), concentração interna de CO2 (Ci) e transpiração (E) do tomate durante o dia, emseis ambientes de cultivo, aos 35 e 75 DAP em Itajaí, SC, 2004(1)

Ambiente Tar Tfolha DPV A g Ci E

..............oC............. kPa ...μ...μ...μ...μ...μmol CO2/m2/s... μμμμμmol CO2/mol μμμμμmolH2O/m2/s

Primeira época (35 DAP)

CA 25,9 c 25,8 b 2,89 a 15,8 b 0,12 c 86,1 b 3,07 b

ST 25,0 d 24,8 c 2,68 bc 19,1 a 0,13 bc 78,8 b 3,38 b

AF 27,3 ab 26,6 a 2,66 c 19,4 a 0,19 a 131,4 a 4,65 a

CI 27,9 a 27,1 a 2,84 ab 19,4 a 0,16 ab 103,0 b 4,21 a

CL 26,9 b 26,5 a 2,92 a 16,8 ab 0,13 c 86,5 b 3,36 b

RT 27,3 ab 26,8 a 2,96 a 14,1 b 0,12 c 130,6 a 3,44 b

Média 26,7 26,3 2,83 17,4 0,14 102,7 3,68

CV (%) 3,5 3,0 7,5 21,6 29,6 30,8 24,4

Segunda época (75 DAP)

CA 30,4 bc 28,8 c 1,71 c 21,4 a 1,12 a 229,2 ns 8,27 a

ST 29,9 c 29,3 bc 2,42 a 12,5 c 0,39 c 223,4 5,83 d

AF 31,4 a 30,3 a 2,15 b 13,7 bc 0,65 bc 247,2 7,36 b

CI 31,5 a 30,3 a 2,21 ab 14,6 bc 0,60 bc 233,1 6,83 bc

CL 30,6 bc 29,7 ab 2,18 ab 12,7c 0,51 bc 232,9 6,14 cd

RT 30,9 ab 29,7 ab 2,02 b 15,5 b 0,70 b 231,2 7,15 b

Média 30,8 29,7 2,12 15,1 0,66 232,8 6,93

CV (%) 3,2 2,9 14,9 22,3 50,6 11,8 16,0

(1)Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro.Notas: CA = céu aberto; ST = abrigo tipo pampeana sem proteção de tela nas laterais; AF = abrigo tipo pampeanacom tela antiafídica nas laterais; CI = abrigo tipo pampeana com tela citros nas laterais; CL = abrigo tipopampeana com tela clarite nas laterais; RT = telado revestido por tela citros; C.V. = coeficiente de variação.

DPV pode estar relacionado à maiorUR deste ambiente. O reduzidodiâmetro dos orifícios da telaantiafídica dificulta a saída do vapord’água pela ação do vento (Tannyet al., 2003), e a UR do ambientetende a aumentar (Fatnassi et al.,2003) com a contínua evapo-transpiração. Nos ambientes commaior espessura da malha (CI, CLe RT), a ventilação do ambientetende a aumentar, diminuindo a URe, conseqüentemente, aumentandoo DPV. No ambiente ST, com maiorventilação, o menor DPV estárelacionado às menores Tar e Tfolha,enquanto que no ambiente CA amaior remoção do vapor d’água pelaação do vento favorece a menor URdo ambiente e o aumento do DPV.Aos 75 DAP, o ambiente CA

apresentou o menor DPV, favo-recido pela ocorrência de chuvasneste período e umidade do ar maiselevada.

A condutância estomática médiade todos os ambientes foi 0,143 e0,662μmol/m2/s aos 35 e 75 DAP,respectivamente, estando rela-cionadas com as diferenças de DPVmédio nestas mesmas épocas. Damesma forma, a condutânciaestomática de cada ambiente esteverelacionada com o DPV, poisambientes com maior DPVapresentaram menor condutânciaestomática (Tabela 1). Já a taxatranspiratória média de todos osambientes foi 3,7 e 6,9μmol/m2/saos 35 e 75 DAP, respectivamente.A maior taxa transpiratória médiana última época está correla-

cionada à maior condutânciaestomática média observada nestaépoca. De forma geral a variaçãoda taxa transpiratória estevesempre relacionada com a variaçãoda condutância estomática (Tabela1) para todos os ambientes e épocasde avaliação. Desta forma, maiorestaxas transpiratórias foramobservadas nos ambientes AF e CIaos 35 DAP. Mesmo com Tarelevada, houve menor fechamentoestomático nestes ambientesdevido ao menor DPV, favorecendoestas maiores taxas transpira-tórias.

A taxa fotossintética foi medidapor unidade de área sob luzsaturante. Entretanto, Schallen-berger (2005) observou nestemesmo experimento diferenças de

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luminosidade entre os ambientes,onde o ambiente CA apresentoumaior luminosidade seguido pelosambientes ST, CL, CI, AF e, porúltimo, o ambiente RT. Assim, asvariações da taxa fotossintéticaestão mais fortemente relacionadasao efeito das condições ambientaisatuantes e dos efeitos acumuladosde todas as condições ambientaispassadas sobre os processosmorfofisiológicos das plantas. Ataxa fotossintética média de todosos ambientes foi maior aos 35 DAPem relação aos 75 DAP,correspondendo a 17,4 e 15,1μmolde CO2/m

2/s, respectivamente. Amenor taxa fotossintética médiaobservada aos 75 DAP se deve, emparte, à queda de suas taxas porvolta das 12h na maioria dosambientes, o que foi observado aos35 DAP somente no final do dia.

Os ambientes protegidos comcobertura de PEBD proporcio-naram as maiores taxas fotos-sintéticas das plantas aos 35 DAP(Tabela 1). As maiores taxasfotossintéticas explicam o maioracúmulo de massa aérea seca pelasplantas cultivadas nestes am-bientes, conforme observado porSchallenberger (2005). Nosambientes CA e RT, onde as taxasfotossintéticas foram menores, oacúmulo de massa seca também foimenor (Schallenberger, 2005).Entretanto, aos 75 DAP as menorestaxas fotossintéticas foramobservadas nos ambientes comcobertura de PEBD, refletindo oestádio de desenvolvimento dasfolhas do terço superior do dosselda cultura. Nesta época, as plantascultivadas nos ambientes pro-tegidos se apresentavam emestádio de desenvolvimento maisavançado que as plantas cultivadasnos ambientes CA e RT(Schallenberger, 2005), refletindo asmaiores taxas fotossintéticas noinício do ciclo, já tendo sidorealizada a desponta. Conseqüen-temente, as folhas do terço superiordas plantas cultivadas nosambientes protegidos estavam comidade fisiológica mais avançada quea dos ambientes CA e RT e,conseqüentemente, com menorpotencial fotossintético (McAvoy &Janes, 1989).

A Ci média entre os ambientesfoi de 102,7 e 232,8μmol de CO2/mol

aos 35 e 75 DAP, respectivamente.A menor Ci aos 35 DAP reflete amaior taxa fotossintética nestaépoca e a menor condutânciaestomática. As maiores Ci de CO2aos 35 DAP foram observadas nosambientes AF e RT (Tabela 1).Estes resultados mostram que amenor taxa fotossintética noambiente RT não foi limitada peloCO2. A redução da taxafotossintética neste ambiente podeestar ligada mais aos fatoresfotoquímicos e bioquímicos, emresposta à aclimatação, à menorquantidade de radiação solar ou àmaior ocorrência de doençasobservadas por Schallenberger(2005) neste ambiente. Aos 75 DAPnão houve diferenças significativasentre ambientes para a Ci.

Conclusões

Ambientes com telas antiinsetoscom menor espessura de malhaproporcionam maiores tempera-turas do ar e de folhas.

Os ambientes protegidos comcobertura de polietileno de baixadensidade proporcionam maiorestaxas fotossintéticas nas folhas doterço superior do dossel das plantasno início do ciclo.

Os ambientes protegidos e comtela antiinsetos de menorespessura de malha na lateralproporcionam maiores taxastranspiratórias nas folhas do terçosuperior do dossel das plantas noinício do ciclo.

Literatura citada

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Alterações em atributos químicos no perfil do solo apósAlterações em atributos químicos no perfil do solo apósAlterações em atributos químicos no perfil do solo apósAlterações em atributos químicos no perfil do solo apósAlterações em atributos químicos no perfil do solo após93 meses da aplicação superficial de calcário, em93 meses da aplicação superficial de calcário, em93 meses da aplicação superficial de calcário, em93 meses da aplicação superficial de calcário, em93 meses da aplicação superficial de calcário, em

sistema plantio diretosistema plantio diretosistema plantio diretosistema plantio diretosistema plantio direto

Carla Maria Pandolfo1 e Milton da Veiga2

Resumo – No sistema plantio direto (SPD), a aplicação de calcário é feita sobre a superfície do solo e o tempotranscorrido desde a aplicação é importante para que as reações se processem. O objetivo deste trabalho foi avaliar,a longo prazo, os efeitos da aplicação superficial de calcário sobre alguns atributos químicos, ao longo do perfil deum solo originalmente ácido. Para isto, foram coletadas amostras de solo em sete camadas, até a profundidadede 60cm, 93 meses após a aplicação de doses de calcário dolomítico correspondentes a zero, 1/4, 1/3, 1/2 e 1 veza necessidade para elevar o pH-H2O do solo a 6,0. O experimento foi conduzido sobre um Nitossolo Vermelho, sobSPD, em Campos Novos, SC. Os atributos avaliados foram pH-H2O, pH-KCl, H+Al, Al, Ca, Mg, Cu, Zn, Mn e Fe.A aplicação superficial de calcário aumentou, após 93 meses, o pH-H2O, pH-KCl, Ca e Mg trocáveis do solo ediminuiu os teores de H+Al, Al e Mn nas camadas superficiais. Não houve efeito do calcário nos teores de Zn, Cue Fe. Os efeitos mais significativos das doses de calcário foram observados até 10cm para o pH-KCl, Ca e Mn; até15cm para o pH-H2O e H+Al; até 20cm para o Al e até 40cm para o Mg.Termos para indexação: calagem superficial, acidez, micronutrientes.

Changes on chemical properties in the soil profile after 93 months of surfacelime application, in no-till system

Abstract – Liming in no-till system is made on the soil surface, which requires long term for its reaction. Theobjective of this study was to evaluate the effect of superficial application of lime on some chemical properties inthe profile of an acid soil, after long term, in no-till system. Soil was analyzed at seven layers up to 60cm deep,93 months after the application of dolomitic lime doses, corresponding to zero, 1/4, 1/3, 1/2, and 1 time the necessityto rise the soil pH to 6,0. The experiment was carried out on an Hapludox soil, in Campos Novos, Santa CatarinaState, Brazil. Liming increased pH in water and reduced the content of H+Al, Al and Mn, but did not affect theavailability of the micronutrients Cu, Zn and Mn. Regarding to the effects of lime doses along the soil profile, pHin KCl, Ca and Mn were affected until 10cm; pH in water and H+Al until 15 cm; Al until 20cm and Mg until 40cm.Index terms: surface liming, soil acidity, micronutrients.

Introdução

A calagem é uma prática comumnos solos ácidos, sendo efetuadacom o objetivo de elevar o pH,diminuir ou neutralizar o efeito deelementos tóxicos como o alumínio(Al) e o manganês (Mn) trocáveis eaumentar os teores de cálcio (Ca) e

de magnésio (Mg) no solo. Aaplicação de corretivos da acidez dosolo em sistema plantio direto (SPD)é feita sobre a superfície, semincorporação, já que este sistemanão prevê o revolvimento do solo,diferentemente do solo manejadosob preparo convencional. Assim,calcário, fertilizantes e resíduos

vegetais permanecem nas camadassuperficiais e, com a não-incor-poração dos mesmos, forma-se umgradiente de fertilidade ao longo doperfil do solo. Apesar de o calcárioapresentar baixa solubilidade emobilidade, os efeitos do mesmonos atributos de solo emprofundidade no SPD podem estar

Aceito para publicação em 11/7/07.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, C.P. 116, 89620-000 Campos Novos, SC, fone/fax: (49) 3541-0748,e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, e-mail: [email protected].

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associados a mecanismos de ordemquímica, física e biológica (Amaral,2002). Os possíveis mecanismos,segundo este autor, são a descidade partículas de calcário por meiodos bioporos do solo, o transportede Ca e Mg acompanhados porânions solúveis, o transporte decátions divalentes por ligantesorgânicos e a neutralização da acidezdo solo e diminuição da toxidez deAl por ácidos orgânicos, resultantesda ação dos microrganismos nadecomposição dos resíduos vegetais.

No SPD, os efeitos da calagemna acidez e em outros atributosquímicos do solo têm sido verificadosnas camadas mais superficiais dosolo, até aproximadamente 15 a20cm de profundidade (Caires etal., 2002; Amaral et al., 2004; Ciottaet al., 2004), cuja magnitude variaem função do tipo de solo, dosesaplicadas, atributo avaliado e tempotranscorrido após a aplicação.Efeitos em maior profundidadetambém foram observados em umLatossolo Vermelho Distrófico, apóslongo tempo da aplicação (Caires etal., 2002). Estes autores observaramque, após 92 meses da aplicação dequatro doses de calcário dolomíticona superfície, com reaplicação deduas doses nas subparcelas 7 anosdepois da primeira aplicação, houveaumento do pH, do Ca trocável e dasaturação de bases e redução do Altrocável até a profundidade de 60cm.Kaminski et al. (2005), por sua vez,verificaram que a eficiência dacalagem em um Argissolo semanteve por período superior a 7anos após sua aplicação em SPD,independentemente de aplicação nasuperfície ou incorporada.

Em função da expansão do SPDno Planalto Sul Catarinense nadécada de 90 e da poucadisponibilidade de estudos locaissobre a aplicação de calcário nestesistema, foi desenvolvido o presentetrabalho com o objetivo de avaliar oefeito, após 93 meses, da aplicaçãosuperficial de doses de calcário sobrealguns atributos químicos ao longodo perfil de um solo originalmenteácido, manejado sob SPD.

Material e métodos

O experimento foi realizado nomunicípio de Campos Novos, SC,em um Nitossolo Vermelho (Santos

et al., 2006). A área, originalmentecom campo natural com vegetaçãoarbustiva, havia sido recém-destocada e submetida a apenas umcultivo de soja sem aplicação decalcário, anteriormente à conduçãodo experimento. Em março de 1995,o solo da área foi amostrado naprofundidade de zero a 20cm e osresultados da análise foram: 550g/kg de argila; 4,4 de pH em água(H2O); 4,5 de índice SMP; 1,3mg/dm3 de fósforo (P) disponível; 132mg/dm3 de potássio (K) trocável; 59g/dm3 de matéria orgânica (MO); 3,2cmolc/dm3 de Al trocável; 2,9cmolc/dm3 de Ca trocável e 1,7cmolc/dm3

de Mg trocável. Em junho do mesmoano, o experimento foi instaladocom a aplicação dos tratamentos,com condução do experimento sobSPD.

O delineamento experimental foiem blocos ao acaso, com cincotratamentos e três repetições, emparcelas de 36m2. Os tratamentosconsistiram na aplicação superficial,em parcela única, de doses decalcário calculadas a partir dofracionamento da dose recomendadapara elevar o pH em H2O a 6,0,estimada pelo índice SMP (Sociedade..., 1995). As doses de calcário foramde zero; 4,3; 5,8; 8,7 e 17,3t/ha(PRNT 100%), representando,respectivamente, zero, um quarto,um terço, meia e uma vez a dose,sendo as mesmas corrigidas peloPRNT do calcário dolomíticoutilizado (75,1%). Ao longo do tempode condução do experimento, foramcultivados quatro ciclos de umarotação com a seqüência bianualdas seguintes culturas: triticale/soja/ervilhaca/milho. Em todos oscultivos de milho, soja e triticale foiutilizada adubação de acordo comas recomendações (Sociedade ...,1995), aplicada por ocasião dasemeadura das culturas. As culturasde verão foram semeadas comsemeadora de plantio direto dotadade sulcador, e as de inverno, comsistema duplo disco.

Em março de 2003, 93 mesesapós a instalação do experimento,foram coletadas amostras de solonas camadas de zero a 2,5, 2,5 a 5,0,5 a 10, 10 a 15 e 15 a 20cm com páe nas camadas de 20 a 40 e 40 a60cm de profundidade com tradotipo holandês. Nestas amostras desolo foram determinados o pH em

H2O, Ca, Mg, Al, Mn, Zn, Cu e Fepela metodologia descrita emTedesco et al. (1995) e pH em KCl1N e H+Al de acordo com Embrapa(1979).

O efeito das doses de calcárionos atributos químicos do solo foiavaliado por meio da análise devariância, com restrição paracamadas amostradas, as quaisforam consideradas como parcelasubdividida. Essa restrição foiutilizada porque, para algumasdeterminações, é esperado haverdiferenças estatísticas entrecamadas mesmo na testemunha,refletindo a variação decaracterísticas do solo ao longo doperfil em condições naturais. Oefeito das doses em cada camada foiavaliado por regressões entre osatributos e as doses aplicadas,aceitando-se coeficientes dedeterminação significativos a 5% (P< 0,05).

Resultados e discussão

As doses de calcário, aplicadasna superfície, tiveram efeitosignificativo sobre a maioria dosatributos 93 meses após suaaplicação, não apresentando efeitoapenas sobre os teores de Zn, Cu eFe. Houve aumento do pH em H2O,do pH em KCl, do Ca e do Mgtrocáveis e redução do H+Al, do Ale do Mn trocáveis nas camadassuperficiais (Figuras 1 e 2), comoindicam os ajustes significativos dasequações de regressão. Estesresultados concordam com osobtidos por Leite et al. (2006), queobservaram aumento nos valoresde pH, Ca e Mg e redução nos teoresde Al nas camadas superficiais anosapós a aplicação superficial de dosesde calcário em um ArgissoloVermelho Distrófico arênico. Estesautores também observaram que,quanto maior a dose de calcárioaplicada na superfície, maior o efeitoem profundidade. Teores de Almenores do que 1cmolc/dm3 sãoencontrados até a profundidade de10cm nas três doses mais altas decalcário, que representam umterço, meio e um SMP da reco-mendação.

Verificou-se que os valores depH em H2O e em KCl encontradosna camada de 2,5 a 5,0cm, nas trêsdoses mais altas de calcário, são

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maiores do que aqueles encontradosna camada de zero a 2,5cm (Figura1), o que pode indicar a ocorrênciade uma frente de acidificação a partirda superfície.

Embora as doses de calcáriotenham aumentado o pH em águanas camadas de 20 a 40 e 40 a 60cm,isto não se verificou para o pH emKCl, pois os ajustes das regressõespolinomiais testadas nessascamadas não foram significativos.Os valores de pH em KCl obtidos noexperimento até a profundidade de20cm ficaram, em média, 0,5unidade abaixo do pH em H2O,indicando haver carga líquidanegativa nas condições de pHexistentes no solo.

As doses de calcário aumentaramsignificativamente os teores de Cae de Mg até as camadas de 5 a 10cme 20 a 40cm, respectivamente, comoindicam os ajustes das regressões(Figura 2). Os teores de Caencontrados nas camadas de zero a2,5, 2,5 a 5 e 5 a 10cm, a partir dadose de 4,3t/ha (um quarto SMP),são interpretados como médio aalto, segundo a Sociedade... (2004).Por outro lado, embora as doses decalcário tenham aumentado osteores de Mg até 40cm deprofundidade, os teores desteelemento na camada de 20 a 40cmficaram abaixo de 0,6cmolc/dm3 emqualquer dose aplicada, sendointerpretados como baixos pelaSociedade... (2004). O maioraumento dos teores de Mg emprofundidade em relação ao Ca podeestar relacionado ao fato de o Mgser menos fortemente retido nocomplexo de troca (Barber, 1984)devido ao seu maior raio hidratadoe, conseqüentemente, por estarpresente em concentração mais altana solução do solo (Oliveira et al.,2002), possibilitando maiormovimentação no perfil.

As doses de calcário diminuíramsignificativamente os teores de Mntrocável no solo nas três camadassuperficiais, ou seja, até 10cm deprofundidade (Figura 2). Na camadade zero a 2,5cm, o teor de Mn reduziude 56,8mg/dm3 na testemunha (0t/ha) para 6,1mg/dm3 na dose de 17,3t/ha. A redução do Mn trocável com oaumento do pH do solo édemonstrada pela equação deregressão exponencial entre as duasvariáveis, considerando os pares de

*, ** e NS: significativos a P < 0,05, P < 0,01 e não significativo,respectivamente.Nota: L = efeito linear e Q = efeito quadrático, por regressãopolinomial

Figura 1. Atributos relacionados à acidez do solo ao longo de 60cm deprofundidade, 93 meses após a aplicação superficial de doses de calcário,e coeficiente de determinação das regressões significativas entre as dosesde calcário e o atributo em cada camada analisada

*, ** e NS: significativosa P < 0,05, P < 0,01 e não-significativo, respectiva-mente.Nota: L = efeito linear eQ = efeito quadrático, porregressão polinomial.

Figura 2. Cálcio (Ca), magnésio (Mg) e manganês (Mn) trocáveis ao longode 60cm de profundidade, 93 meses após a aplicação superficial de dosesde calcário, e coeficiente de determinação das regressões significativasentre as doses de calcário e o atributo em cada camada analisada

pH - KCl

0

10

20

30

40

50

60

3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0

Q 0,88 * Q 0,79 * Q 0,59 ** NS L 0,27 * NS NS

H + Al

0

10

20

30

40

50

60

2 4 6 8 10 12 14 16

(cmolc/dm3)

Pro

fun

did

ad

e

(cm

)

Q 0,93 ** Q 0,85 ** Q 0,76 ** Q 0,47 * NS NS NS

Al trocável

0

10

20

30

40

50

60

0 1 2 3 4 5 6

(cmolc/dm3)

0t/ha 4,3t/ha

5,8t/ha

8,7t/ha

17,3t/ha

Q 0,92 ** Q 0,93 ** Q 0,91 ** Q 0,53 ** L 0,29 * NS NS

Ca trocável

0

10

20

30

40

50

60

0 2 4 6 8 10 12

(cmolc/dm3)

Pro

fun

did

ad

e

(cm

)

Q 0,82 ** Q 0,75 ** Q 0,65 * NS NS NS NS

Mg trocável

0

10

20

30

40

50

60

0 2 4 6 8

(cmolc/dm3)

Pro

fun

did

ad

e

(cm

)

Q 0,87 ** Q 0,78 ** Q 0,71 * Q 0,65 * Q 0,53 * Q 0,77** NS

Mn trocável

0

10

20

30

40

50

60

0 10 20 30 40 50 60 (mg/dm

3)

Pro

fun

did

ad

e

(cm

)

0t/ha

4,3t/ha5,8t/ha

8,7t/ha17,3t/ha

Q 0,68 ** Q 0,77** L 0,50** NS

NS

NS

NS

pH - H2O

0

10

20

30

40

50

60

3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5

Pro

fun

did

ad

e

(cm

)

Q 0,

Q 0,

Q 0,

Q 0,

NS Q 0,

L 0,3

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Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007 7 5

dados obtidos nas camadas de zeroa 2,5; 2,5 a 5 e 5 a 10cm (Y =4384e-1,0688x, sendo Y o teor de Mntrocável e x o pH em H2O), comcoeficiente de determinação de 0,81(P<0,01). O aumento do pH do solonas camadas de zero a 5 e 5 a 10cm,devido à calagem superficial, poderesultar na redução dedisponibilidade e absorção de Mnpela soja, como determinado porCaíres & Fonseca (2000) em umLatossolo Vermelho-Escurodistrófico. Estes autores alertarampara a necessidade de seestabelecerem critérios adequadospara a estimativa da dose de calcárioa ser aplicada no SPD para evitaresse problema.

Conclusões

Após 93 meses da aplicaçãosuperficial de calcário dolomíticohá aumento do pH em KCl e cálciotrocável até 10cm, do pH em H2Oaté 15cm e do Mg trocável até 40cm.Por outro lado, há redução domanganês trocável até 10cm, doH+Al até 15cm e do Al trocável até20cm. Não há efeito das doses nosteores de Cu, Zn e Fé.

Literatura citada

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Jovens agricultores do Oeste de Santa Catarina naJovens agricultores do Oeste de Santa Catarina naJovens agricultores do Oeste de Santa Catarina naJovens agricultores do Oeste de Santa Catarina naJovens agricultores do Oeste de Santa Catarina naencruzilhada: entre o rural e o urbanoencruzilhada: entre o rural e o urbanoencruzilhada: entre o rural e o urbanoencruzilhada: entre o rural e o urbanoencruzilhada: entre o rural e o urbano

Dilvan Luiz Ferrari1, Milton Luiz Silvestro2,Márcio Antonio de Mello3 e Vilson Marcos Testa4

Resumo – Este artigo discute as aspirações dos jovens rurais que vivem em unidades familiares de produçãono Oeste de Santa Catarina. Constatou-se que o comportamento dos jovens está mudando em relação àsalternativas que se vislumbram para construir sua trajetória profissional e buscar caminhos diferentes daquelesvividos por seus pais. A pesquisa mostra que permanecem no meio rural os jovens com menor nível deescolaridade, deixando uma pesada herança para a formação de uma nova geração de agricultores. As moças nãoestão mais dispostas a simplesmente reproduzir o papel de esposa e mãe, padrão outrora dominante na sociedaderural brasileira. Discute-se ainda o processo de migração e alguns aspectos determinantes da escolha da profissãodos jovens rurais, principalmente aqueles relacionados com a dinâmica de funcionamento do núcleo familiar.Termos para indexação: jovens rurais, gênero, escolha profissional.

Young farmer at a crossway: between the rural and the urban choice

Abstract – This paper discusses the aspirations of the rural youths who live in family farms in Santa Catarina,Brazil. It is possible to notice a change in the youth’s behavior in relation to the alternatives to build theirprofessional course and the search for different ways from those experienced by their parents. It is shown in theresearch that the youths who stay in the rural enviroment are those who have lower level of formal education,which becomes a heavy burden for the formation of a new generation of farmers. The girls are not willing to simplyreproduce the role of wife and mother anymore, a formerly dominant pattern in the Brazilian rural society. Themigration process and what determines the professional choices of the rural youth, mainly those which are relatedto the dynamics of the familiar nucleus are also discussed.Index terms: rural youth, gender, professional choice.

Introdução

Enquanto no passado os filhosde agricultores permaneciammaciçamente na agricultura, hojerejeitam fortemente uma atividadeque lhes parece mal remunerada epenosa, preferindo os horários fixose as rendas regulares do salário nascidades. Por esta razão, a saída dejovens filhos de agricultoresfamiliares do meio rural em direçãoàs cidades vem se intensificando

nos últimos anos. Mais do queconstatar esta tendência, queocorre na maioria das regiões ondepredomina a agricultura familiar,procurar entender as razões desseprocesso é um desafio para estu-diosos do mundo inteiro. Mesmoaqueles jovens que desejam seguira profissão dos pais encontram nomeio rural dificuldades que limitamsuas escolhas, impelindo-os a buscaralternativas profissionais fora domeio rural e da agricultura.

Neste artigo, inicialmentediscutem-se as aspirações dos jovensfilhos de agricultores, demons-trando os conflitos que surgem entreo desejo expresso em seussentimentos e a realidade objetivaque limita as escolhas para seufuturo profissional. Neste caso,observa-se o efeito da diferença degênero, na medida em que as moçasexpressam um forte desejo de nãocontinuarem a reproduzir o papelde suas mães como parte funda-

Aceito para publicação em 12/7/07.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected].

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mental da organização social daunidade de produção familiar.

A seguir, trata-se das questõesrelacionadas ao processo de saídados jovens do meio rural. Analisam-se alguns determinantes que contri-buem para a escolha da profissão,como a educação no meio rural, adiferenciação social e a precarie-dade das condições da unidadeprodutiva, além do viés de gêneronas relações familiares e no processosucessório.

Método

Com base em duas pesquisasrealizadas na Região Oeste de SantaCatarina, este texto discutequestões relacionadas às aspiraçõese expectativas dos jovens agri-cultores quanto a seu futuroprofissional, às diferentes estra-tégias familiares adotadas e aosconflitos que surgem quando daindividualização das trajetórias derealização profissional; discutetambém como algumas questõesdeterminantes interferem nesseprocesso, além da questão relacio-nada com o viés de gênero, quetende a acompanhar o processosucessório e parece responder, emgrande parte, pela severidade doêxodo das jovens agricultoras.

Na primeira pesquisa fez-se umestudo de caso, com informaçõescoletadas no ano de 1997 através deentrevistas realizadas junto a 55famílias rurais de um município doOeste Catarinense, representa-tivo da agricultura familiar. Asegunda pesquisa foi realizada noano de 2000, junto a 116 famíliasrurais, em dez municípios destamesma região. Para melhorcompreensão das questõesrelacionadas à dinâmica interna dasfamílias e suas estratégias dereprodução social, nas duaspesquisas foram entrevistados,separadamente, em cada uma dasfamílias, os pais, um rapaz e umamoça, estes últimos com idade entre15 e 30 anos.

Com o objetivo de melhorcompreender as questões discutidasnesse texto, optou-se por analisaras respostas dos jovens de acordocom sua escolaridade, faixa etária ea situação socioeconômica daunidade familiar, estratificando-seos estabelecimentos em trêscategorias de renda: capitalizados,em transição e descapitalizados5.

Resultados e discussão

As expectativas dos jovensrurais

O futuro para os rapazes filhosde agricultores não se resume emcontinuar exercendo a mesmaprofissão dos pais. Este padrãomoral, constatado por Abramovayet al. (1998), parece não sereproduzir entre os filhos dasgerações mais recentes. Embora71% dos rapazes entrevistadostenham manifestado seu desejo decontinuar na agricultura comoproprietários, desempenhando asatividades que aprenderam com ospais, quando se analisa a respostados jovens de diferentes faixas

etárias (Tabela 1), observa-se queeste desejo já não está presentecom a mesma intensidade entreaqueles jovens nascidos a partir dasúltimas duas décadas do séculopassado.

A grande maioria dos jovens comidade entre 25 e 30 anosmanifestaram seu desejo deconstruir sua vida profissional naagricultura. Parece haver aqui umaforte associação entre sucessãohereditária e nível educacional. Osrapazes nesta faixa etária cursaram,em sua maioria, somente até a 4ªsérie do ensino fundamental.Enquanto os mais novos estãoestudando – e, possivelmente, sepreparando para deixar o meio ru-ral –, os jovens com idade entre 25e 30 anos não vêem perspectivaspromissoras fora da agricultura6 esão os candidatos naturais àsucessão da propriedade dos pais7.Sua vida já está organizada em tornodo estabelecimento familiar, asrelações sociais estão construídaslevando em consideração suacondição de agricultor. Além disso,sua preferência em permanecer naagricultura parece se apoiar na

5Respectivamente, com renda superior a três salários mínimos por pessoa ocupada por mês, entre um e três salários mínimos porpessoa ocupada por mês e menor que um salário mínimo por pessoa ocupada por mês.6Considerando o seu grau de instrução, 72% dos rapazes acham que têm as melhores oportunidades “no meio rural e na agricultura”e apenas 13% “na cidade, em atividades da indústria, de serviços e do comércio”.7É comum o filho mais velho assumir o trabalho no estabelecimento agrícola. Conforme já identificaram Silvestro et al. (2001),diferentemente do padrão verificado até o final dos anos 60, ficam preferentemente na propriedade paterna, como sucessores, os filhosmais velhos.

Tabela 1. Futuro profissional desejado pelos rapazes agricultoresresidentes no Oeste Catarinense. Julho de 2000

Faixa etáriaResposta Total

13 a 18 19 a 24 25 a 30

...........................%...........................Permanecer na agriculturacomo proprietário 55 72 85 71Permanecer na agriculturacom tempo parcial 3 0 7 3Trabalhar e morar na cidade 33 19 4 19Trabalhar na cidade e morarna propriedade 6 2 0 3Ficar no meio rural trabalhandoem atividades não-agrícolas 3 7 0 3

Outras respostas 0 0 4 1

Número de respostas 33 43 27 103

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percepção realista de que suacondição educacional não permitevislumbrar um futuro promis-sor fora do meio rural e daagricultura.

Já para os rapazes com idadeentre 13 e 18 anos, que ainda estãocursando o ensino fundamental emédio, a perspectiva de permanecerna agricultura vem sendosubstituída por novas possibilidades.Para estes jovens, filho de agricultornão será necessariamenteagricultor, não se sentindo nocompromisso de assumir o modo devida dos pais. Enquanto 55% delesdesejam ser agricultores no futuro,outros 33% desejam trabalhar emorar na cidade. Para estes, aagricultura é vista como umaescolha entre outras possibilidades,inclusive a migração ou a inserçãoem outros setores da economia nomeio urbano.

Os rapazes, quando questionadossobre o seu futuro como agri-cultores, 62% dos filhos deagricultores capitalizados e apenas22% entre os descapitalizados,disseram que gostam de seragricultores e é certo que serãoagricultores. Por outro lado,enquanto entre os filhos deagricultores capitalizados 14%preferem ter outra profissão e/ounão desejam ser agricultores, entreos descapitalizados 37% assim semanifestaram. Estas respostasmostram claramente uma forteassociação entre pobreza e futuroprofissional. Também aqui asdiferenças aparecem de acordo coma idade dos rapazes: 48% dos jovensentre 25 e 30 anos e apenas 26%entre 13 e 18 anos disseram quegostam de ser agricultores e é certoque serão agricultores. Por outrolado, enquanto entre os primeirosnenhum disse que não deseja seragricultor, entre os últimos, 27%não desejam ser agricultores eoutros 18% preferem ter outraprofissão.

O desinteresse das moças

As filhas de agricultoresfamiliares têm um interesse naagricultura muito aquém daqueledemonstrado pelos rapazes. Apenas39% delas desejam permanecer naagricultura como proprietárias,

Tabela 2. Futuro profissional desejado pelas moças agricultoras residentesno Oeste Catarinense. Julho de 2000

Faixa etáriaResposta Total

13 a 18 19 a 24 25 a 30

...........................%...........................Permanecer na agriculturacomo proprietária 25 38 53 39Permanecer na agriculturacom tempo parcial 7 3 7 6Trabalhar e morar na cidade 53 29 33 38Trabalhar na cidade e morarna propriedade 9 18 0 9Ficar no meio rural trabalhandoem atividades não-agrícolas 4 12 7 8

Outras respostas 2 0 0 0

Número de respostas 53 34 15 102

enquanto que 38% desejamtrabalhar e morar na cidade (Tabela2). Essa diferença se acentua aindamais naquelas famílias deagricultores mais pobres: apenas28% das moças que vivem emunidades descapitalizadas têm odesejo de ser agricultoras, enquantoque 50% gostariam de trabalhar emorar na cidade.

O padrão anterior, em que àsmoças cabia reproduzir o papel desuas mães dentro da unidadefamiliar de produção (Abramovayet al., 1998), parece estar esgotado.Dentre as moças com idade entre13 e 18 anos, apenas 25%manifestaram desejo de seguir naprofissão de agricultora e, por outrolado, 53% gostariam de trabalhar emorar na cidade. O desejo depermanecer na agricultura aparecemais fortemente na faixa de idadesuperior aos 25 anos. Para estas, apossibilidade de buscar alternativasde vida parece mais remota, mesmoporque, dentre as entrevistadasnessa faixa de idade, nenhumadescartou a agricultura para suarealização profissional. Aocontrário, 40% delas afirmaram comabsoluta certeza que permanecerãocomo agricultoras no futuro.

No grupo das jovens com idadeentre 13 e 18 anos, a certeza quantoa sua realização profissional naagricultura cai para 14%. Muitasdelas (22%) ainda não pensaramsobre o seu futuro, mas a maioria

(41%) garante que não pretendeseguir a mesma profissão dos pais.

Essas afirmações e o desejodemonstrado pelas moças (Tabela2) permitem identificar umaimportante mudança compor-tamental entre duas gerações quetêm 10 anos de diferença. As jovensadolescentes vislumbram muitomais outras possibilidades de vidado que aquelas vividas por suasmães.

Uma questão consideradadecisiva, intimamente relacionadacom o desinteresse das moças pelaagricultura, é a penosidade dotrabalho associada às atividades nalavoura. Talvez esta razão expliquea preferência de algumas moçasentrevistadas pelo casamento comrapazes de fora do meio rural. DíazMéndez (1998) também constatouque as jovens rurais da Espanhaprocuram realizar o matrimôniocom rapazes de fora do meio ruralcomo “uma ponte para a cidade”,estratégia incentivada pelaspróprias mães.

Quando solicitadas a indicarquais os dois problemas que maisdificultam ser agricultora, aresposta com maior freqüência (30%das moças) foi: “o trabalho naagricultura é muito sofrido, pesado,cansativo”. O afastamento dasoperações de trabalho ligadas àatividade agrícola é confirmado pelaresposta de 60% das moças quedisseram concentrar suas ativida-

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des “nos trabalhos domésticos e sóesporadicamente na lavoura ecriações”. Ao serem excluídas doprocesso produtivo, também lhes ésubtraída a possibilidade departicipação social, isolando-as norecesso privado do lar (Panzutti,1996). Se a vida no campo nãoenvolvesse uma carga de trabalhotão pesada, é possível que o horizontedas moças fosse diferente, pois 43%delas gostariam de trabalhar ou ematividades diferentes daquela doshomens ou em atividades não-agrícolas. Se no passado o trabalhoera visto como virtude étnica dosagricultores familiares – “o trabalhoadoçava a vida” –, atualmente háuma reavaliação desta percepção,principalmente com relação àsmoças – agora “o trabalho estraga ocorpo” (Renk, 2000).

Essas constatações compõemuma questão intrigante: por querazão as moças deixam o camponuma proporção maior que osrapazes? Primeiro, as oportunidadesno mercado de trabalho urbano e aexpansão do setor de serviços, tantoem residências como no comércio eindústrias, oferecem às moçasperspectivas novas e diferentes dopapel tradicional de mãe e esposa,condição que é corroborada peloseu melhor nível educacional. Emsegundo lugar, a própria dinâmicainterna das unidades familiares deprodução, fortemente enraizada natradição patriarcal, na qual asperspectivas de continuarem naatividade agrícola e serem ossucessores são mais favoráveis aosrapazes, e o próprio papel subalternoque é reservado às moças nestasfamílias de agricultores, cominexpressiva participação naorganização produtiva e nosprocessos decisórios.

Em suma, pode-se dizer queexiste uma importante aspiraçãode continuidade na agriculturafamiliar por parte dos rapazes comidade entre 19 e 30 anos – mesmo osque vivem em unidades que nãochegam a gerar sequer a rendanecessária à reprodução familiar –e uma visão bastante negativa arespeito deste horizonte profissionalpara a maioria das moças. Os filhosdas famílias de maior renda

encaram a permanência naagricultura como promissora, e issoé bem mais nítido entre rapazes doque entre moças. O preocupante éque parece haver uma associaçãoforte entre a escolha profissionalem torno da agricultura familiar eum nível de educação especialmenteprecário por parte dos que encaramcomo desejado este futuro.

Quem deixa o meio rural?

O trabalho de Ferrari (2003)mostrou que nos anos 90 houveuma forte tendência de redução dasocupações rurais em SantaCatarina, com um predomínio dasaída de jovens do meio ruralbuscando oportunidades de trabalhonas cidades. Neste trabalhoestimou-se que, somente na décadade 90, aproximadamente 75 miljovens abandonaram a agriculturae o meio rural da Região OesteCatarinense. O autor aponta a baixaremuneração da agricultura e a faltade terra como forças de expulsão,como fatores de esvaziamento domeio rural. Certamente outrasrazões, que não de ordemeconômica, também levam os jovensa migrar: resistência paterna emaceitar as sugestões dos filhos(Woortmann, 1988), dependência do“pai-patrão”, serviço de “escravo”,posição de subalternidade do colono(Renk & Cabral Jr., 2002) e o desejode estudar, seguir outra carreiraprofissional.

No ano de 2000, no OesteCatarinense, o número de rapazesna faixa de idade entre 15 e 24 anosera 16,7% superior ao número demoças, sendo que a masculinizaçãoda população rural aumentaexpressivamente entre os jovensde 15 a 19 anos em relação ao ano de19918. O envelhecimento e amasculinização da população ruralacabam por expressar o seu própriodeclínio. Este se reforça na medidaem que 29% dos estabelecimentosfamiliares da região ou não temsucessores ou apenas um filho (oufilha) mora com os pais, ameaçandoa continuidade destes no processoprodutivo (Silvestro et al., 2001).Por outro lado, significa que os filhos(ou filhas) dos agricultores buscaram

fora da agricultura e do meio rural– em muitos casos, fora da própriaregião – oportunidades de trabalhoque atendessem às suas aspiraçõespessoais, no campo profissional,econômico, cultural ou social.

Pesquisas recentes (Abramovayet al., 1998 e Silvestro et al., 2001)apontam a existência de uma fortemigração juvenil, sobretudofeminina. Constatou-se que “asmoças deixam o campo antes e numaproporção muito maior que osrapazes”. Numa amostra com 116famílias de agricultores, identificou-se que 176 jovens haviam deixado apropriedade paterna, dos quais 103eram moças e 73, rapazes. Alémdisso, enquanto 39% das moçassaíram com idade entre 16 e 18anos, entre os rapazes somente 19%o fizeram nesta mesma faixa deidade.

Pode-se apontar pelo menos doisfatores básicos que afetam asaspirações profissionais dos jovensagricultores do Oeste Catarinense:primeiro, a formação educacional,já que há fortes indícios de queficam na propriedade paterna osjovens com menor níveleducacional, condição que por si sóreduz sobremaneira as possi-bilidades de inserção no mercadode trabalho urbano. O contraste énítido: dos jovens que saíram dapropriedade paterna para instalarnovas unidades produtivas no meiorural, 69% tinham somente até a 4ªsérie do ensino fundamental,condição educacional presente paraapenas 36% daqueles que seguirampara as cidades; em segundo lugar,a renda gerada na unidade deprodução familiar. Em pesquisasrecentes realizadas na região,constatou-se que, de 95 jovens quesaíram do estabelecimento familiarpara trabalhar no meio urbano, 8eram oriundos de unidadescapitalizadas, 34 em transição e 53descapitalizadas. A relação entre otipo de estabelecimento familiar e onúmero de jovens que saírampermitiu identificar que saiu emmédia 0,4 jovem por estabe-lecimento capitalizado, 0,7 jovempor estabelecimento em transiçãoe 1,1 jovem por estabelecimentomais pobre. Para as famílias de

8Para o ano de 2000, a proporção da população rural masculina supera numericamente a feminina em 9,4% no Oeste do Estado.

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8 0 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

menor renda – em geral com poucaterra e de baixa qualidade – sãoprecárias as perspectivas dereprodução com base em atividadesagrícolas, sendo a migração paracidades em busca de trabalho umaalternativa mais promissora, apesardos riscos e dificuldades.

As estratégias não-agrícolas

Num contexto onde oscomponentes da família não sãoabsorvidos pela produção agrícola,a busca por trabalho fora do meiorural e, sobretudo, a migraçãopassam a fazer parte das estratégiasde vida dos jovens filhos deagricultores familiares. Estes vêemnas cidades melhores condições paraganhar seu próprio dinheiro, maisoportunidades para estudar e melhorremuneração do trabalho.

Na região estudada, “morar napropriedade e trabalhar fora” é umaestratégia presente em 23% dosestabelecimentos familiares,independentemente do nível derenda das famílias rurais,demonstrando que a procura portrabalho em outras atividades forada unidade de produção não estáexclusivamente vinculada à suacondição de pobreza. Dosentrevistados, 19% das moças e 25%dos rapazes desenvolvem trabalhosagrícolas e não-agrícolas fora dapropriedade onde residem. Oassalariamento ou trabalhoautônomo de uma pessoa da famíliaestá presente em 14% das unidadesfamiliares rurais.

Muitas vezes, por não encon-trarem oportunidades em trabalhosnão-agrícolas, os rapazes, emespecial, acabam fazendo trabalhosem outros estabelecimentosagrícolas da própria comunidadeem que vivem. No entanto, outrosjovens filhos de agricultoresbuscam oportunidades de trabalhomigrando em direção às cidades ou,então, continuam morando napropriedade paterna e se deslocamdiariamente até os centros urbanospróximos para trabalhar nasindústrias locais. A propriedadepara esses jovens continua a serextremamente importante, pois éo seu “porto seguro”. Aliás, na

maioria dos casos, os jovens sesubmetem a condições de baixaremuneração justamente pormanterem ainda uma relação dedependência com o estabelecimentopaterno, já que é comum em suasvisitas periódicas retornarem dacasa dos pais com alimentos que osajudarão em suas despesasmensais.

Neste aspecto, normalmente ostrabalhos desempenhados por estesjovens não exigem grandesqualificações profissionais e nemum alto nível de escolaridade. Omenor nível de escolaridade daspessoas que vivem no meio ruralrepresenta um limite na disputapelo mercado de trabalho no setorindustrial e de serviços, pelo menosnaquelas ocupações de maiorqualificação e, por conseguinte,maior remuneração. Por outro lado,observa-se que muitos empre-gadores urbanos preferem os jovensfilhos de colonos por apresen-tarem um habitus de trabalho e umcapital incorporado da cam-pesinidade (auto-exploração) que osacompanha em sua trajetóriaalém do espaço rural. Esta é umadas razões que fazem com quealgumas agroindústrias locaiscoloquem à disposição dos jovensmeios de transporte que passampelas comunidades rurais para levá-los diariamente até o local detrabalho.

Os jovens rurais conseguemencontrar trabalho em ocupaçõescomo as de garçom, operários nasagroindústrias, em confecções, naconstrução civil, empregadasdomésticas ou balconistas nocomércio. Como enfatizou Dirven(2000), estas ocupações representammais uma condição de “refúgio” doque propriamente uma mudançana trajetória profissional capaz designificar ascensão econômica. Paraas moças, o trabalho pode significarsair da reclusão do mundodoméstico, buscando uma atividadeprofissional que lhe defina umaidentidade própria e também umajanela para a condição de estudante,com o objetivo de construir sua vidafora da agricultura e do meio rural.

Há que se considerar, entre-tanto, que a inserção no mercado

de trabalho urbano representa umaampliação das escolhas para osjovens rurais, principalmenteporque, ao longo dos últimos 20anos, o setor primário vemmostrando uma reduzida capacidadede abertura de novas ocupações epostos de trabalho.

Considerações finais

Os jovens rurais já nãoidentificam na profissão deagricultor a escolha natural pararealizar seus projetos de vida, comoacontecia algum tempo atrás. Isto émais evidente entre os adolescentesde 13 a 18 anos, principalmenteentre as moças, que em sua maioriatêm aspirações de construir seufuturo profissional fora daagricultura, o que quase sempresignifica sair do meio rural. Os filhosde agricultores na faixa de idadeacima dos 25 anos são os candidatosnaturais à sucessão no esta-belecimento do pai. Estes en-contram em seu baixo nível deescolaridade os limites para o plenoexercício de atividades agrícolas enão-agrícolas no meio rural. Éfundamental uma política edu-cacional rural que resgate o atrasoescolar desses jovens preparando-os e formando uma nova geração deagricultores capazes de enfrentaros futuros desafios da agriculturafamiliar.

O ofício de agricultor, aocontrário da maioria das outrasprofissões, é obtido no seio daunidade doméstica e das relaçõessociais. Assim, um rapaz ou umamoça com 18 a 20 anos de idade jádomina a profissão que foi aprendidadesde a mais tenra idade. Destaforma, a agricultura familiarentrega este “capital” para asociedade sem receber qualquercontrapartida. Assim como o poderpúblico investe na capacitação eformação dos jovens urbanos, hánecessidade de construir umapolítica pública para os jovens ruraisque desejam permanecer naagricultura, levando em conta suaheterogeneidade e suas expec-tativas. Seguir uma profissãodiferente da dos pais não deve estarcondicionado a deixar o convívio do

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lar. Para tal, é urgente construir noespaço rural as condições mínimasde cidadania, como educação, saúde,moradia e lazer. Além disso, asatividades econômicas dos outrossetores da economia, especialmenteatrativas para as moças, não devempermanecer restritas ao espaçourbano, com o fim de oportunizaraos jovens rurais desenvolveroutras atividades além daquelasestritamente agrícolas, contri-buindo assim para a dinamizaçãosocial e econômica do espaçorural.

Literatura citada

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Nota Científica

PPPPPrimeiro relato da ocorrência da forma perfeita derimeiro relato da ocorrência da forma perfeita derimeiro relato da ocorrência da forma perfeita derimeiro relato da ocorrência da forma perfeita derimeiro relato da ocorrência da forma perfeita deColletotrichum acutatumColletotrichum acutatumColletotrichum acutatumColletotrichum acutatumColletotrichum acutatum em folhas de macieira no Brasil em folhas de macieira no Brasil em folhas de macieira no Brasil em folhas de macieira no Brasil em folhas de macieira no Brasil

Onofre Berton1

Resumo – Em 2005, folhas da cultivar Fuji coletadas na Epagri/Estação Experimental de Caçador foramsubmetidas à câmara úmida e desenvolveram a forma perfeita de Glomerella após 7 a 10 dias de incubação. Osperitécios observados apresentaram-se imersos no tecido, agrupados ou isolados. Nas estruturas madurasobservou-se o extravasamento de uma massa rosada composta por ascas e ascósporos. Pelos estudos de laboratóriofeitos a seguir, foi possível concluir que as estruturas encontradas são de Glomerella acutata, forma perfeita deColletotrichum acutatum, até então desconhecida. Amostras de folhas foram em seguida submetidas ao colesporcomprovando-se que, à semelhança de Glomerella cingulata, G. acutata não possui mecanismo de propulsãoativo. Este é o primeiro relato de G. acutata ocorrendo em folhas de macieira no Brasil.Termos para indexação: Doenças, fungos, podridão amarga, mancha da gala, Glomerella acutata.

First report of the teleomorph of Colletotrichum acutatumon apple leaves in Brazil

Abstract – Apple leaves of cultivar Fuji collected in 2005 at Epagri/Estação Experimental de Caçador developedGlomerella perithecia after 7 to 10 days in mist chamber. Perithecia were immersed in the tissue, single or inclusters, presenting different degrees of formation and maturation. Asci and ascospores released by ostiole wereconic involved in a gelatinous pink matrix. After monoconidial isolations and lab tests it was possible to identifythe fungus as Glomerella acutata, the teleomorph of Colletotrichum acutatum, for the first time. Leaf sampleswere immediately submitted to colespor and the conclusion was the same for Glomerella cingulata, i.e., G.acutata is not actively released from the structures. This is the first report of G. acutata on apple leaves inBrazil.Index terms: Diseases, fungi, bitter rot, gala leaf spot, Glomerella acutata.

Glomerella spp. e suas formasimperfeitas Colletotrichum spp. sãoresponsáveis pela doença conhe-cida como antracnose em dezenasde espécies de plantas tropicais,subtropicais e temperadas. Comoexemplo podem ser citadasmacieira, abacateiro, cítrus,mamoeiro, pessegueiro, nogueirapecam, mangueira e morangueiro.Duas das formas imperfeitasencontradas em macieira devemresponder à quase totalidade dasespécies encontradas nessa cultura,nos diversos agroecossistemas noSul do Brasil. As formas dopatógeno apresentam isoladospatogênicos e não-patogênicos e

muita variabilidade (Freeman,2000). Variação considerável emvirulência tem sido observada emvários hospedeiros, incluindocolonização por grupos que sãopatógenos oportunistas ousaprófitas (Katan, 2000). Espéciesde Colletotrichum têm sidoestudadas em diversas culturas.Em função do aparecimento daforma perfeita Glomerella cingulataem folhas e frutos da macieira,foram desenvolvidos estudos eisolamentos visando entender ocomplexo Glomerella na cultura. Opresente trabalho relata oaparecimento da forma perfeita deC. acutatum, G. acutata, em folhas

de macieira, encontrada pelaprimeira vez no Brasil, na Epagri/Estação Experimental de Caçador,em 2005, na cultivar Fuji.

Folhas da cv. Fuji, com manchasem nada semelhantes às manchasde Glomerella na cv. Gala, foramcoletadas e colocadas imedia-tamente em câmara úmida nointerior de bandejas plásticas comtampa e permaneceram emtemperatura ambiente noLaboratório de Fitopatologia. Após7 a 10 dias desenvolveram massasrosadas em diversos pontos. Foramobservados peritécios com ascas eascósporos com diferentes graus dematuração. Medições de peritécios,

Aceito para publicação em 4/5/07.1Eng. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3361-2000, e-mail:[email protected].

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ascas e ascósporos foram realizadascom ocular de dez aumentos,acoplado ao microscópio binocular,bem como estudos de isolamentose testes de patogenicidade. Massasde esporos foram removidas comagulha histológica, diluídas emágua esterilizada e plaqueadas embatata, dextrose, ágar (BDA).Isolamentos monospóricos foramobtidos a partir desses plaquea-mentos e incubados a 23oC naausência de luz por 5 a 7 dias. Osesporos foram removidos uti-lizando-se pincel de pêlo de cameloe água esterilizada. A concentraçãofoi ajustada para 1x105, 1x106 e4x106 esporos/ml e as suspensõesforam pulverizadas em ramosdestacados de ‘Gala’ e ‘Fuji’. Após,os ramos foram deixados emsolução de 10% de açúcar, em coposbéquer, e permaneceram emcâmara úmida a 23oC (±2oC) por 48horas, envoltos em sacos plásticos.Em seguida foram retirados dacâmara úmida e permaneceram nolaboratório em temperatura aoredor de 20oC. A cada 2 dias foi feitauma avaliação nas folhas buscando-se a incidência de manchas. Asfolhas com as estruturas foramsubmetidas ao colespor (Berton,2004), confirmando a inexistênciade mecanismo ativo de liberação deascósporos.

Os peritécios que se desen-volveram nas folhas estavamimersos no tecido e apresentavamcoloração marrom-clara. Após 5 a 7dias as estruturas apresentaramdiferentes graus de maturação eapós esse período tornaram-se maisescuras. Uma massa mucilaginosacontendo ascas e ascósporos deGlomerella foi liberada pelo ostíolo(Figuras 1A e 1B). Os peritéciosencontrados apresentavam colo-ração marrom-escura, formato depêra, medindo em média 130 x325μm de diâmetro. As ascasapresentaram formato de bastãoestreito, cilíndrico, com oitoascósporos que mediam 9,7 a 26,5 x3,5 a 9 μm, afilados em ambas asextremidades, com discreta pon-tuação escura no centro. Isola-mentos monospóricos produziramcolônias cromogênicas de coloraçãorosada com conídios hialinos,elíptico-fusiformes, de crescimentolento, pontudos nas duas ou empelo menos uma extremidade.

Embora se saiba que C. acutatumnão é nem altamente sensível, nemaltamente tolerante a Benomyl(Bernstein et al., 1995; Adaskaveg& Hartin, 1997; Freeman et al.,1998), este mostrou-se com poucasensibilidade a 100ppm e estascaracterísticas, juntamente comoutras características culturaiscomo forma e coloração da colônia,tamanho e forma dos conídios epatogenicidade, o diferenciam de C.gloesporioides, pois acreditava-seque C. acutatum fosse uma dasdiversas variantes morfológicas deC. gloeosporioides.

Os testes de inoculação em folhasdas cultivares Gala e Fuji utilizandoas três concentrações de inóculoforam avaliados 2, 6 e 10 dias apósa inoculação (DAI). Os primeirossintomas manifestaram-se nasfolhas novas das duas cultivares 48horas após a inoculação. Aos 6 DAIos sintomas apareceram em maisfolhas. Folhas totalmentedesenvolvidas na base dos ramosmanifestaram descoloração. Aos 10DAI todos os ramos da cv. Fujiapresentaram necroses e murchaacentuada, mas nem todas asconcentrações provocaram o mesmocomportamento na cv. Gala. Asconcentrações de 105 e 106 esporos/ml apresentaram sintomas emalgumas folhas somente e um dosramos com 106 esporos/m nãomanifestou sintomas. As Figuras 2e 3 mostram que aos 10 DAI oisolado causou mais danos na ‘Fuji’,de onde foi isolado, do que na ‘Gala’,sugerindo adaptação diferenciada

do mesmo nas duas cultivares. Asfolhas que manifestaram necrosesapresentaram-se retorcidas e commurcha acentuada. As folhas maisvelhas praticamente nada sofreram,sugerindo que resistência onto-genética para esse patógeno tambémpode existir na cultura da macieira.

Estudos têm demonstrado que amaioria dos isolados de Colleto-trichum spp. não apresentaespecificidade hospedeira em muitasespécies de plantas (Freeman, 2000).Muitos hospedeiros certamentedesempenham importante papel noestabelecimento da população inicialem um pomar. Entretanto, adiversidade da população deGlomerella e Colletotrichum é semdúvida resultante de condiçõesambientais, cultivares, práticas demanejo e uso de agroquímicos, talcomo sugerido por Shy et al. (1996).Freeman & Shabi (1996) inocularamfrutos de diversas espécies e todosproduziram lesões, mas em mangaas lesões somente apareceram apósprovocar ferimentos nos frutos. Temsido demonstrado que C. acutatumisolado de morango pode parasitare causar doença em outroshospedeiros e, mesmo, sobreviverem diferentes culturas e plantasdaninhas sem produzir sintomas.Entretanto, o papel de hospedeirosalternativos ainda é muito poucoconhecido para C. acutatum(Freeman & Shabi, 1996). Gonzales& Sutton (2004) encontraramapenas dois grupos de compa-tibilidade vegetativa em trêspomares de maçã na Carolina do

Figura 1. (A) Peritécios com ascas e (B) ascósporos de Glomerellaacutata emergindo de folhas da cultivar Fuji

A B

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Norte e concluíram que, uma vezque isolados se estabelecem em umpomar, sua tendência é permanecerao longo do tempo.

O fato de Glomerella infectarfolhas de macieira e causar manchase desfolhamento precoce, pareceestar associado a uma especialidadedentro da população, com diferentesgraus de adaptação. As espéciesmais conhecidas em Santa Catarina,C. gloesporioides e C. acutatum,apresentam comportamentodiferenciado em diferentes países ehospedeiros, mas ambas têm sidoencontradas provocando queda defolhas.

Glomerella spp. e suas espéciesimperfeitas se constituem empatógenos oportunistas, capazes decausar danos severos na maçãquando se conjugam ferimentoscausados por agentes diversos,dentre os quais pode-se destacar amosca-das-frutas (Denardi et al.,2004), presença de alta concentraçãode inóculo, principalmente emfrutos mumificados e nos ramospodados que permanecem sobre osolo dos pomares, e quando chovemuito durante o ciclo, princi-palmente próximo da maturação. Avariabilidade que se observa emcada ciclo da cultura, commanifestações precoces em fins de

setembro e outubro e tardias emfevereiro e março, está inega-velmente associada a condições deprecipitação abundante, fatorindispensável para liberar edisseminar os esporos. Osurgimento de focos provavelmentepossa ser atribuído à dispersão doinóculo por abelhas e outros insetos.

Essa primeira constatação daocorrência de G. acutata sobre folhasde macieira deve contribuir para omelhor entendimento do ciclopatógeno-hospedeiro na cultura. Agrande variabilidade apresentadapor esses patógenos, associada avariações de patogenicidade, aosurgimento de raças, às diferentesrespostas aos fenômenos me-teorológicos e dificuldades nocontrole, tem se transformado emuma preocupação constante dosprodutores de maçã. O conhe-cimento mais detalhado do ciclopatógeno-hospedeiro ainda continuasendo a base para o estabelecimentode formas de controle desta doença,responsável por perdas signifi-cativas na cultura da macieira, emcada ciclo.

Literatura citada

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Figura 2. Testede patogenicidadeem folhas decultivar Fuji

Figura 3. Teste depatogenicidade emfolhas de cultivar

Gala

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Nota Científica

PPPPPrimeiro registro da ocorrência de sarna em pereirarimeiro registro da ocorrência de sarna em pereirarimeiro registro da ocorrência de sarna em pereirarimeiro registro da ocorrência de sarna em pereirarimeiro registro da ocorrência de sarna em pereirajaponesa em Santa Catarina, Brasiljaponesa em Santa Catarina, Brasiljaponesa em Santa Catarina, Brasiljaponesa em Santa Catarina, Brasiljaponesa em Santa Catarina, Brasil

Walter Ferreira Becker1

Resumo – Na primavera de 2003, uma doença causando pequenas manchas verde-oliva foi encontrada emfolhas e frutos de pêra japonesa (Pyrus pyrifolia var. culta) de dois pomares comerciais localizados nos municípiosde Caçador e Frei Rogério. Em 2004, sintomas idênticos foram observados em um pomar de Campo Belo do Sul.Os conídios coletados de folhas com sintomas, em pêra japonesa cv. Housui, foram identificados como Fusicladiumsp. A resposta da inoculação artificial com conídios coletados de folhas infectadas da cv. Housui foi positivaapenas para a cultivar de pêra japonesa desta cultivar e negativa para a pêra européia cv. Bartlett. Devido àespecificidade do agente causal da sarna sobre a pereira japonesa e às dimensões dos conídios, registrou-se estaocorrência como relacionada a Venturia nashicola. Este é o primeiro registro em Santa Catarina e no Brasil daocorrência da sarna em pereira japonesa, que é uma doença economicamente importante para esta cultura.Termos para indexação: Pyrus pirifolia var. culta, Fusicladium sp., Venturia nashicola, pêra, Housui, Bartlett.

First report of Japanese pear scab in Santa Catarina, Brazil

Abstract – In the spring of 2003, a disease causing small olive-green spots was found on young leaves and fruitsof two commercial orchards of Japanese pear (Pyrus pyrifolia var. culta) located in Caçador and Frei Rogério, SC,Brazil. In 2004 it was also observed in one orchard in Campo Belo do Sul. Conidia which had been collected frominfected leaves of the Japanese pear cv. Housui was shown to be related to Venturia nashicola, the causal agentof Japanese Pear Scab. Responses of pear leaves to Fusicladium sp. conidia, which had been artificially inoculated,were positive only for Japanese pear cv. Housui and not for European pear cv. Bartlett. This is the first reportin Santa Catarina State and in Brazil of the occurrence of Scab which is an important disease of the Japanese pear.Index terms: Pyrus pirifolia var. culta, Fusicladium sp., Venturia nashicola, pear, Housui, Bartlett.

O cultivo da pereira japonesa(Pyrus pyrifolia Nakai var. cultaNakai) no Estado de Santa Catarinaé de introdução recente secomparado com o da pereiraeuropéia (Pyrus communis L.). Aadaptação de novas cultivares comoHousui, Kousui e Nijisseiki foramfundamentais para o acréscimo daárea plantada. Contudo, esta áreanão ultrapassa 300ha neste Estadoe é cultivada especialmente poragricultores de etnia japonesa.

Até recentemente, acreditava-se que o sistema de cultivo orgânicopoderia ser adotado, principalmente

em razão dos poucos tratamentosfitossanitários que eram realizadosdurante o ciclo de cultivo.Entretanto, nos anos que seseguiram e com a expansão da áreacultivada a ocorrência de novasdoenças foram registradas, algumasmostrando-se potencialmentedestrutivas, como a seca de ramos(Becker et al. 2001, Becker & Ieki,2002, Becker, 2003).

Primeiro registro da ocorrênciada sarna na pereira japonesa – Nosanos de 1998 a 2004 foramrealizados levantamentos daocorrência de doenças em pomares

de pereira japonesa no Estado deSanta Catarina. O material,formado por folhas e frutos comsintomas de sarna, foi colocado emsacos plásticos e acondicionado emcaixa de isopor com gelo paratransporte até o Laboratório deFitopatologia da Epagri/EstaçãoExperimental de Caçador.

Os sintomas típicos nas folhas(Figura 1) são mais evidentes naparte abaxial e iniciam com manchascinzentas que mudam para cor oliva,adquirindo um aspecto aveludado ediâmetro médio de 5mm ou algumaslesões até maiores. Várias lesões

Aceito para publicação em 11/5/07.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2000, e-mail:[email protected].

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européias não são hospedeiras deV. nashicola (Ishii et al., 1992; Parket al., 2000). Devido a estaespecificidade de hospedeiro (Ishiiet al., 2002) com presença desintomas somente na cultivarjaponesa e ao tamanho dos conídios,conclui-se tratar da sarna da pereirajaponesa, causada por Venturianashicola Tanaka et Yamamoto.Para os postulados de Koch, aslesões de folhas foram raspadas pararecolhimento dos esporos, com usode pincel fino e água. Os esporosforam centrifugados e ressuspensosem água na concentração de 104

conídios/ml com 0,1% de glicose.Três ramos em crescimentoprovidos de folhas novas, semsintomas de doenças, da cultivarHousui (pêra japonesa) e três ramosda cv. Bartlett (pêra européia) comtrês repetições foram colocados emfrascos de Erlenmeyer com soluçãode sacarose a 1% e recobertos comsacos plásticos por 24 horas. Apóseste período, os ramos forampulverizados até o ponto deescorrimento com a suspensão deesporos e novamente recobertoscom saco plástico. Um frasco comtrês ramos para cada cultivar foiapenas pulverizado com água estérile reensacado. As plantas foramdeixadas em incubadora tipo BODpor 72 horas a 24oC e, após,mantidas em temperaturaambiente. Cerca de 24 dias após ainoculação houve a manifestaçãocaracterística da lesão comprodução de conídios nos ramos dacv. Housui, inoculados com asuspensão de esporos. Nas folhasdos ramos pulverizados apenas comágua não houve formação de lesões,bem como na cv. Bartlett inoculadacom a suspensão de esporos. Ascoletas de folhas em pomaresnaturalmente infectadas e acolocação destas em caixas teladascom lâmina de vidro untada emóleo sobre estas folhas nãopermitiram ainda a detecção deascósporos ou a observação daformação de pseudotécios.

Os municípios com pomaresprospectados foram Caçador, CampoBelo do Sul, Fraiburgo, FreiRogério, Otacílio Costa e SãoJoaquim. Na primavera de 2003,em dois pomares no município deCaçador, verificou-se, pela primeiravez, a ocorrência da doença da sarna

Figura 1. Folha (parte abaxial), inflorescência e frutos jovens de pêrajaponesa cultivar Housui infectados pela sarna em condições de campo.Conídios (esporos) de Venturia nashicola no detalhe

podem coalescer e causar a quedaprematura da folha. A incidência dasarna na inflorescência provoca aqueda das flores (Figura 1).

Nos frutos (Figura 1), a lesão ésimilar à que ocorre na maçã, como desenvolvimento de lesãoolivácea, aspecto aveludado, combordadura circular bem delimitada.Com o passar do tempo a lesão ficaescura, com aspecto de cortiça,podendo ocorrer o fendilhamentoda epiderme com conseqüentedeformação do fruto. As lesões emramos e pedicelo são comuns econstituem danos importantes naplanta, sendo que as do pedicelo,podem ocasionar a queda prematurado fruto.

Através da análise morfológicacomparativa, os conídios (Figura1), isolados das lesões de folhas efrutos, foram identificados comopertencentes ao gênero Fusi-cladium, anamorfo de Venturia,conforme a chave dicotômica edescrição de Barnett & Hunter(1998). Os conídios (esporos) forampredominantemente unicelulares(Figura 1), elipsóides ou sub-fusiformes, arredondados na base epontudos no vértice, de coloraçãoescura (olivácea), com comprimento

de 17,48μm e largura de 7,65μm(12,01μm a 23,60μm x 4,97μm a12,01μm; média de cem conídios),dispostos sobre o ápice (acrógenos)de conidióforos curtos. Asdimensões dos conídios coletadosem Santa Catarina foram sig-nificativamente menores (Teste T,P = 0,1%) que as de Venturia pirinaAderhold [Fusicladium pirinun(Lib.), Fuck.], cujos conídios medem25 a 30μm x 7 a 9μm (Urquijo etal.,1971), agente causal da sarna dapereira européia. Entretanto, nãohouve diferença significativa (TesteT, P = 5%) em relação às dimensõesde 8 a 27,6μm x 5,1 a 11,8μm (médiade 17,8μm x 8,4μm) dos conídios deVenturia nashicola (Ishii et al.,2002), agente causal da sarna dapereira asiática. Este patógenoapresenta diferença morfológica,fisiológica e patológica em relação aVenturia pirina, agente causal dasarna da pereira européia. Enquantoo V. nashicola infecta somentepereiras japonesas (Pyrus pyrifoliaNakai var. culta Nakai = P. serotinaRehd. var. sativa DC) e chinesas(Pyrus ussuriensis Maxim.), aespécie V. pirina ocorre somenteem pereira européia (Pyruscommunis L.). As cultivares

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da pereira japonesa. Em dezem-bro do mesmo ano um foco foiverificado em pomar do municípiode Frei Rogério. No ano de 2004 adoença foi verificada em um pomarem Campo Belo do Sul. EmFraiburgo, Otácilio Costa e SãoJoaquim a doença não foiencontrada (Figura 2). Esta doençanão havia sido identificada em SantaCatarina em prospecções anteriores(Becker et al., 2001), sendo este,portanto, o primeiro relato daocorrência da sarna da pereirajaponesa.

O fungo sobrevive no inverno,quando forma o pseudotécio de ondese originarão os ascósporos quedarão início à infecção primária naprimavera. A severidade da doençaestá relacionada à presença destesascósporos que são lançados nacorrente aérea durante um períodode 3 meses, coincidindo com a saídada dormência da planta e com oinício do crescimento vegetativo.Estes esporos são os responsáveispelo ciclo primário da doença, istoé, aqueles que darão início àsprimeiras lesões verificadas nopomar. Os sintomas são leves comperíodo de molhamento foliar (PMF)de 9 horas e 15oC, moderados se oPMF for de 12 horas entre 5 e 25oCe severos com PMF de 24 a 36 horas

e 20oC (Umemoto, 1991). Em folhasde algumas cultivares de pereirajaponesa, os sintomas típicos, comlesões esporuladas, são formadosentre 13 e 38 dias após a inoculaçãodo esporo (Umemoto, 1991),portanto, com um período latenteum pouco mais longo que o da sarnaem macieira, que é de 9 a 17 dias(Biggs, 1991).

Para o controle da doençarecomenda-se o manejo integrado,tais como eliminação de frutosinfectados, aplicação de uréia (2% a5%) sobre a folhagem na entrada dooutono, aplicação de caldasulfocálcica ou bordalesa emtratamento de inverno epulverização com fungicidas IBEs,ftalimidas, ditiocarbamatos eguanidinas no início da primaverapor ocasião da brotação nova. Antesde aplicar o fungicida deve-severificar se este não é fitotóxico àcultivar de pêra em questão e oregistro do produto no Ministérioda Agricultura, Pecuária eAbastecimento – Mapa. A tabela deMills, utilizada para o controle dasarna da macieira, também poderáser usada para a previsão da sarnada pereira. As cultivares de pêrajaponesa com valor comercial sãotodas suscetíveis à sarna (Ishii etal., 1992; Park et al., 2000).

Literatura citada

1. BARNETT, H.L.; HUNTER, B.B.Illustrated genera of imperfect fungi. 4.ed. Saint Paul: APS Press, 1998. 218p.

2. BECKER, W.F. Nectria pseudotrichiacomo agente causal do cancro de ramosocorrendo em pereira japonesa noBrasil. Fitopatologia Brasileira, v.28,n.1, p.1078, 2003.

3. BECKER, W.F.; IEKI, H. Ocorrência epatogenicidade de Botryosphaeriadothidea como agente causal da seca deramos em pereira japonesa no Estadode Santa Catarina, Brasil. SummaPhytopathologica, Botucatu, v.28, n.2,p.201-203, 2002.

4. BECKER, W.F.; OZAWA, T.; BONETI,J.I.S. et al. Doenças da pereira. In:EPAGRI. Nashi, a pêra japonesa.Florianópolis: Epagri/Jica, 2001. 341p.

5. BIGGS, A.R. Apple scab. In: JONES,A.L.; ALDWINCKLE, H.S. (Ed.)Compendium of apple and peardiseases. St. Paul: APS, 1991. p.6-9.

6. ISHII, H.; UDAGAWA, H.; NISHIMOTO,S. et al. Scab resistance in pear speciesand cultivars. Acta PhytopathologicaHungarica, v.27, n.1-4, p.293-298, 1992.

7. ISHII, H.; WATANABE, H.; TANABE,K. Venturia nashicola: Pathologicalspecialization on pears and control trialwith resistance inducers. ActaHorticulturae, n.587, p.613-621, 2002.

8. PARK, P.; ISHII, H.; ADACHI, Y. et. al.Infection behavior of Venturianashicola, the cause of scab on asianpears. Phytopathology, Saint Paul, v.90,n.11, p.1209-1216, 2000.

9. UMEMOTO, S. Relationship betweenleaf weatness period, temperature andinfection of Venturia nashicola tojapanese pear leaves. Annal of thePhytopathological Society of Japan,Tokio, v.57, n.2, p.212-218, 1991.

10. URQUIJO, L.P.; SARDIÑA, J.R.;SANTAOLALLA, G.A. PatologiaVegetal Agrícola – Enfermedades delas plantas. Madri: Mundi-Prensa,1971. 755p.

Figura 2. Municípios catarinenses produtores de pêra japonesa onde seprocedeu ao levantamento de pomares. Ocorrência positiva (destaquealaranjado) e negativa (destaque verde) de sarna (Venturia nashicola)verificada nos anos de 1998 a 2004

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Nível de infestação e ocorrência doNível de infestação e ocorrência doNível de infestação e ocorrência doNível de infestação e ocorrência doNível de infestação e ocorrência doácaroácaroácaroácaroácaro-vermelho-vermelho-vermelho-vermelho-vermelho-----europeu em macieiraeuropeu em macieiraeuropeu em macieiraeuropeu em macieiraeuropeu em macieira

cultivares Gala e Fcultivares Gala e Fcultivares Gala e Fcultivares Gala e Fcultivares Gala e Fujiujiujiujiuji

Nota Científica

Janaína Pereira dos Santos1

Resumo – Este trabalho teve por objetivo verificar o nível de infestação e a época de ocorrência do ácaro-vermelho-europeu (Panonychus ulmi) nas cultivares de macieira Gala e Fuji. O estudo foi conduzido em umpomar convencional, situado na Epagri/Estação Experimental de Caçador, SC. As amostragens do ácaro foramrealizadas quinzenalmente, durante o período vegetativo, de novembro de 2005 a dezembro de 2006. Utilizaram-se dez plantas de cada cultivar, escolhidas aleatoriamente. Em cada planta foram coletadas dez folhas, totalizandocem folhas por cultivar em cada amostragem. Na ‘Fuji’, o ácaro foi observado em todo o período vegetativo,enquanto que em ‘Gala’ não houve ocorrência em novembro e dezembro de 2006. A infestação média do ácaroem ‘Gala’ e em ‘Fuji’ foi, respectivamente, de 2,78 e 14,24 ovos/folha, 0,37 e 1 imaturo/folha e 0,49 e 1,15 adulto/folha. Verificou-se que o ácaro-vermelho-europeu foi mais freqüente e abundante em folhas de ‘Fuji’.Termos para indexação: Panonychus ulmi, Malus domestica, amostragem.

Level of infestation and occurrence of the european redmite in apple cultivars Gala and Fuji

Abstract – This study aimed to verify the level of infestation and time of occurrence of the european red mite(Panonychus ulmi) on ‘Gala’ and ‘Fuji’ apples. The study was carried out in a conventional apple orchard systemat Epagri/Caçador Experiment Station, SC, Brazil. Samplings were done fortnightly, during the vegetative period,from November 2005 to December 2006. At each sampling date, a 100 leaves sample per cultivar was collectedup by taking 10 leaves per tree, in 10 randomly selected trees. On ‘Fuji’, the european red mite was present allthe time during the vegetative growth, while on ‘Gala’ it was absent in November and December 2006. Themean counts on ‘Gala’ and ‘Fuji’, respectively, were 2.78 and 14.24 eggs/leaf, 0.37 and 1 immature/leaf and 0.49and 1.15 adult/leaf. The european red mite was more present and abundant on ‘Fuji’ leaves.Index terms: Panonychus ulmi, Malus domestica, sampling.

No Brasil, o ácaro-vermelho-europeu, Panonychus ulmi (Koch,1836) (Acari: Tetranychidae) (Figura1), é considerado praga-chave nacultura da macieira (Malusdomestica). Embora esta pragaocorra somente em folhas, em altainfestação pode causar perdasexpressivas na produção. O seuataque diminui a capacidade

fotossintética e o vigor das plantas,a taxa de transpiração das folhas, otamanho e a coloração dos frutos,além de provocar a queda prematuradas folhas, interferindo na florada ena frutificação efetiva do anoseguinte (Kovaleski, 1988; Ribeiro,1999).

Este ácaro possui tamanhoreduzido e se localiza na parte

abaxial das folhas e, desta forma,muitas vezes não é percebido pelosfruticultores, que constatam o danoda praga pelo “bronzeamento” dasfolhas, quando a população está alta(Ribeiro & Flores, 2006).

O controle de insetos e ácarospela utilização de plantas resistentesou menos preferidas é consideradoum método adequado, pela

Aceito para publicação em 9/5/07.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2035, e-mail:[email protected].

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até a queda das folhas. Durante aprimavera, a duração do cicloevolutivo é maior devido àstemperaturas mais baixas. Noverão, o crescimento populacionalé mais rápido, favorecido pelas altastemperaturas e pela baixa umidaderelativa.

No presente estudo verificou-seque o ácaro-vermelho-europeu foimais freqüente e abundante na cv.Fuji. Foram registrados, respecti-vamente, em ‘Gala’ e em ‘Fuji’números médios de 2,78 e 14,24ovos/folha, 0,37 e 1 imaturo/folha e0,49 e 1,15 adulto/folha. Estesresultados indicam que no local deestudo o ácaro P. ulmi tempreferência alimentar e deoviposição pela cv. Fuji. Kovaleski(1988) estudando os aspectosbiológicos e a preferência paraalimentação e oviposição do ácaroP. ulmi pelas cultivares de macieiraFuji, Gala, Golden Delicious,Granny Smith, Rome Beatuy e21.300.13, constatou que a Fuji é acultivar mais adequada para odesenvolvimento, sobrevivência efecundidade do ácaro, bem como, amais preferida para oviposição ealimentação, enquanto que aGranny Smith foi a cultivar menospreferida.

Há vários fatores que podemestar relacionados com apreferência dos ácaros pordeterminada cultivar, tais comocaracterísticas morfológicas efisiológicas das folhas ou acombinação destas características.Segundo Goonewardene et al.(1980), a maior suscetibilidade aoataque do ácaro-vermelho-europeuem macieira está associada àpubescência das folhas, sugerindoque cultivares que possuem folhasmais pubescentes são suscetíveis,quando comparadas às cultivaresque têm folhas com menospubescência. De acordo comGonzález (1981), as cultivares demacieira do grupo Delicious sãomais suscetíveis ao ácaro-vermelho-europeu provavelmente porapresentarem maior quantidade denitrogênio na forma protéica, emrelação às cultivares verdes. Acomposição química das folhas,como a quantidade de ácidosorgânicos, alcalóides, compostosfenólicos, substâncias voláteis,entre outros, também são fatores a

A B

Nota: Escala = 125μ, aumento de 50 vezes em microscópioestereoscópico.

Figura 1. (A) Fêmea adulta do ácaro-vermelho-europeu e (B) fêmea adultado ácaro-vermelho-europeu em folha de ‘Fuji’

Fot

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.

facilidade de uso e por ser compatívelcom outros métodos, além depossibilitar a redução do uso deagrotóxicos e, conseqüentemente,dos custos (Kovaleski, 1988).

Existem estudos indicando quehá diferentes graus de susce-tibilidade das cultivares de macieiraao ataque do ácaro-vermelho-europeu (Goonewardene et al.,1976; Kovaleski, 1988). Orth et al.(1986) relatam que as cultivaresFuji e Gala estão entre as maissuscetíveis ao ataque deste ácaro.Neste contexto, este trabalho tevepor objetivo verificar o nível deinfestação e a época de ocorrênciado ácaro-vermelho-europeu nascultivares de macieira Gala eFuji.

O estudo foi conduzido em umpomar convencional de maçãs,situado na Epagri/Estação Expe-rimental de Caçador, SC, em umaárea com altitude de 1.000m. Opomar, com cerca de 1ha, possuiplantas de 13 anos, distribuídas noespaçamento de 5m entre linhaspor 2m entre plantas. Metade daárea era de ‘Gala’ e outra metade,de ‘Fuji Suprema’ e ‘Fuji Standard’,ambas enxertadas sobre M7. Osinsetos-praga foram controladoscom inseticidas químicos emcobertura, tais como fenitrothion,delta-methrin, malathion,dimethoate, abamectin, entreoutros, conforme calendáriopreestabelecido.

As amostragens do ácaro foramrealizadas quinzenalmente, denovembro de 2005 a dezembro de2006. A infestação do ácaro foi

estimada em dez plantas de cadacultivar, escolhidas aleatoriamente.Em cada planta foram coletadas dezfolhas no terço médio de ramos decrescimento do ano, totalizando cemfolhas por cultivar em cadaamostragem, metodologia adaptadade Ribeiro (1999). As folhas foramacondicionadas em sacos de papelKraft e levadas ao laboratório paraa contagem dos ácaros emmicroscópio estereoscópico.

Avaliou-se em cada amostragemo número médio de ovos, deimaturos (larva, protoninfa edeutoninfa) e de adultos por folha.Durante 1º/8 a 10/10/2006 as gemasestavam dormentes, não sendofeitas avaliações devido à ausênciade folhas. Foram feitas 24avaliações quinzenais de ocorrênciada praga.

Na cv. Fuji, o ácaro foi observadoem todo o período que as plantastinham folhas (Figuras 2, 3, e 4). Omaior número médio de ovos/folhafoi registrado em meados defevereiro a início de março. Na cv.Gala o ácaro não foi observado nasavaliações de novembro e dezembrode 2006, sendo que o maior númeromédio de ovos/folha foi constatadoem janeiro de 2006 (Figura 2). Emambas as cultivares, o maiornúmero médio de imaturos e deadultos por folha foi registrado noverão, com pico populacional emjaneiro de 2006 (Figuras 3 e 4).Estes resultados corroboram comos de Ribeiro (1999), que constatouque o período de ocorrência destapraga em macieira é bastante longo,estendendo-se do início da brotação

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Gala Fuji

Figura 2. Número médio de ovos de Panonychus ulmi em cem folhas demacieira ‘Gala’ e ‘Fuji’, por ocasião de amostragem. Caçador, SC,novembro de 2005 a dezembro de 2006

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Data de amostragem

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Gala Fuji

Figura 3. Número médio de imaturos de Panonychus ulmi em cem folhasde macieira ‘Gala’ e ‘Fuji’, por ocasião de amostragem. Caçador, SC,novembro de 2005 a dezembro de 2006

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Data de amostragem

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Gala Fuji

Figura 4. Número médio de adultos de Panonychus ulmi em cem folhasde macieira ‘Gala’ e ‘Fuji’, por ocasião de amostragem. Caçador, SC,novembro de 2005 a dezembro de 2006

serem considerados. Entretanto,estes não podem ser os únicosindicativos de preferência.

Literatura citada

1. GONZÁLEZ, R.H. Las arañitas rojas

del manzano y del peral. Revista

Fruticola, v.2, n.1, p.3-9, 1981.

2. GOONEWARDENE, H.F.; WILLIAMS,

E.B.; KWOLEK, W.F. et al. Resistance

to european red mite, Panonychus ulmi

(Koch), in apple. Journal of the

American Society for Horticultural

Science, v.101, n.5, p.532-537, 1976.

3. GOONEWARDENE, H.F.; KWOLEK,

W.F.; DAYTON, D.F. et al. Preference

of the european red mite for strains of

‘Delicious’ apple with differences in leaf

pubescence. Journal of Economic

Entomology, v.73, n.1, p.101-103,

1980.

4. KOVALESKI, A. Aspectos biológicos e

preferenciais para alimentação e

oviposição de Panonychus ulmi (Koch,

1836) (Acari, Tetranychidae) em

cultivares de macieira. 1988. 122f.

Dissertação (Mestrado) – Escola

Superior de Agricultura “Luiz de

Queiroz”, Universidade de São Paulo,

Piracicaba, SP, 1988.

5. ORTH, A.I.; RIBEIRO, L.G.; REIS

FILHO, W. Manejo de pragas. In:

EMPASC. Manual da cultura da

macieira. Florianópolis, 1986. p.341-

379.

6. RIBEIRO, L.G.; FLORES, E.H. Ácaros

tetranichideos: ácaro-vermelho-

europeu – Panonychus ulmi (Koch,

1836) (Acari: Tetranichidae). In:

EPAGRI. A cultura da macieira.

Florianópolis, 2006. p.499-508.

7. RIBEIRO, L.G. Principais pragas da

macieira: ácaro-vermelho-europeu

(Panonychus ulmi). In: BONETI, J.I.

da S.; RIBEIRO, L.G.; KATSU-

RAYAMA, Y. Manual de identificação

de doenças e pragas da macieira .

Florianópolis: Epagri, 1999. p.102-

109.

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9 1Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Normas para publicação na revistaAgropecuária Catarinense – RAC

A revista Agropecuária Catari-nense aceita para publicaçãomatérias ligadas à agropecuária e àpesca, desde que se enquadrem nasseguintes normas:

1. As matérias para as seções ArtigoCientífico, Germoplasma eLançamento de Cultivares e NotaCientífica devem ser originais evir acompanhadas de uma cartaafirmando que a matéria éexclusiva à RAC.

2. O Artigo Científico deve serconclusivo, oriundo de umapesquisa já encerrada. Deve estarorganizado em Título, Nomecompleto dos autores (semabreviação), Resumo (máximo de15 linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms,Introdução, Material e métodos,Resultados e discussão, Con-clusão, Agradecimentos (opcio-nal), Literatura citada, tabelas efiguras. Os termos para indexaçãonão devem conter palavras jáexistentes no título e devem terno mínimo três e no máximocinco palavras. Nomes científicosno título não devem conter onome do identificador da espécie.Há um limite de 15 páginas paraArtigo Científico, incluindotabelas e figuras.

3. A Nota Científica refere-se apesquisa científica inédita erecente com resultadosimportantes e de interesse parauma rápida divulgação porémcom volume de informações

insuficiente para constituir umartigo científico completo. Podeser também a descrição de novadoença ou inseto-praga. Deve terno máximo oito páginas (incluí-das as tabelas e figuras). Deveestar organizada em Título, No-me completo dos autores (semabreviação), Resumo (máximo de12 linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês, Abs-tract e Index terms, texto corrido,Agradecimentos (opcional), Lite-ratura citada, tabelas e figuras.Não deve ultrapassar dez refe-rências bibliográficas.

4. A seção Germoplasma e Lança-mento de Cultivares deve conterTítulo, Nome completo dosautores, Resumo (máximo de 15linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms, Intro-dução, Origem (incluindo pedi-gree), Descrição (planta, brota-ção, floração, fruto, folha, sistemaradicular, tabela com dadoscomparativos), Perspectivas eproblemas da nova cultivar ougermoplasma, Disponibilidade dematerial e Literatura citada. Háum limite de 12 páginas,incluindo tabelas e figuras.

5. Devem constar no rodapé daprimeira página: formaçãoprofissional do autor e do(s) co--autor(es), título de graduação epós-graduação (Especialização,M.Sc., Dr., Ph.D.), nome eendereço da institutição em quetrabalha, telefone para contato eendereço eletrônico.

6. As citações de autores no textodevem ser feitas por sobrenomee ano, com apenas a primeiraletra maiúscula. Quando houverdois autores, separar por “&”; sehouver mais de dois, citar oprimeiro seguido por “et al.” (semitálico).

7. Tabelas e figuras não devemestar inseridas no texto e devemvir numeradas, ao final damatéria, em ordem de apre-sentação, com as devidaslegendas. As tabelas e as figuras(fotos e gráficos) devem ter títuloclaro e objetivo e ser auto-explicativas. O título da tabeladeve estar acima da mesma,enquanto que o título da figura,abaixo. As tabelas devem serabertas à esquerda e à direita,sem linhas verticais e horizon-tais, com exceção daquelas paraseparação do cabeçalho e dofechamento, evitando-se o usode linhas duplas. As abreviaturasdevem ser explicadas aoaparecerem pela primeira vez.As chamadas devem ser feitasem algarismos arábicos sobres-critos, entre parênteses e emordem crescente (ver modelo).

8. As fotografias devem estar empapel fotográfico ou em diaposi-tivo, acompanhadas das respec-tivas legendas. Serão aceitasfotos digitalizadas, desde que emalta resolução (300dpi).

9. As matérias apresentadas paraas seções Opinião, Registro,Conjuntura e Informativo

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9 2 Agropec. Catarin., v.20, n.3, nov. 2007

Técnico devem se orientar pelasnormas do item 10.

9.1 Opinião – deve discorrer sobreassuntos que expressam aopinião pessoal do autor sobre ofato em foco e não deve ter maisque três páginas.

9.2 Registro – matérias que tratamde fatos oportunos que mereçamser divulgados. Seu conteúdo éa notícia, que, apesar de atual,não chega a merecer o destaquede uma reportagem. Não devemter mais que duas páginas.

9.3 Conjuntura – matérias queenfocam fatos atuais com baseem análise econômica, socialou política, cuja divulgação éoportuna. Não devem ter maisque seis páginas.

9.4 Informativo Técnico – refere-se à descrição de uma técnica,uma tecnologia, doenças,insetos-praga e outrasrecomendações técnicas decunho prático. Não deve termais do que oito páginas,incluídas as figuras e tabelas,nem ultrapassar 15 referênciasbibliográficas.

10. Os trabalhos devem serencaminhados em quatro vias,

impressos em papel A4, letraarial, tamanho 12, espaço duplo,sendo três vias sem o(s) nome(s)do(s) autor(es) para seremutilizadas pelos consultores euma via completa para arquivo.As cópias em papel devempossuir margem superior,inferior e laterais de 2,5cm,estar paginadas e com aslinhas numeradas. Apenas aversão final deve vir acom-panhada de disquete ou CD,usando o programa “Word forWindows”.

11. Literatura citadaAs referências bibliográficasdevem estar restritas àLiteratura citada no texto, deacordo com a ABNT e em ordemalfabética. Não são aceitascitações de dados não publicadose publicações no prelo. Quandohouver mais de três autores,citam-se apenas os trêsprimeiros, seguidos de et al.

Eventos

DANERS, G. Flora de importânciamelífera no Uruguai. In: CON-GRESSO IBERO-LATINOAME-RICANO DE APICULTURA, 5.,1996, Mercedes. Anais... Mercedes,1996. p.20.

Periódicos no todo

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DOBRASIL-1999. Rio de Janeiro: IBGE,v.59, 2000. 275p.

Artigo de periódico

STUKER, H.; BOFF, P. Tamanhoda amostra na avaliação da queima-acinzentada em canteiros de cebola.Horticultura Brasileira, Brasília,v.16, n.1, p.10-13, maio 1998.

Artigo de periódico em meioeletrônico

SILVA, S.J. O melhor caminho paraatualização. PC world, São Paulo,n.75, set. 1998. Disponível em: www.idg.com.br/abre.htm>. Acesso em:10 set. 1998.

Livro no todo

SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Recomendaçãode adubação e de calagem para osestados do Rio Grande do Sul e deSanta Catarina. 3.ed. Passo Fundo,RS: SBCS/Núcleo Regional Sul;Comissão de Fertilidade do Solo –RS/SC, 1995. 223p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Manual deadubação e calagem para os Estadosdo Rio Grande do Sul e de SantaCatarina. 10.ed. Porto Alegre, RS:SBCS/Núcleo Regional Sul; Comis-são de Química e Fertilidade do Solo– RS/SC, 2004, 394p.

Capítulo de livro

SCHNATHORST, W.C. Verticilliumwilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.)Compendium of cotton diseases.St.Paul: The American Phyto-pathological Society, 1981. Part 1,p.41-44.

Teses e dissertações

CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos dailuminação artificial sobre o cultivodo maracujazeiro amarelo(Passiflora edulis Sims f. flavicarpaDeg.), 1998. 134f. Dissertação(Mestrado em Produção Vegetal),Faculdade de Ciências Agrárias eVeterinárias, Universidade EstadualPaulista, Jaboticabal, SP.

68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses trêsanos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de calda deraleantes químicos(1)

Tratamento Peso médio dos frutos Produção

média

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha1.900L/hac/pulverizadormanual1.900L/hac/turboatomizador

CV (%)Probabilidade >F 0,0002(**) 0,0011(**)0,0004(**) - -(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probalidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.

Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.

113 d122 cd131abc134ab122 cd128abc138a

125 bc

133ab4,8

95 d110 bc121a109 bc100 cd107 bc115ab

106 bc

109 bc6,4

80 d100ab 91 bc 94 bc 88 cd 92 bc104a

94abc

95abc6,1

96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3 -

1993 1994 1995 Média

................................g............................. kg/ha