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Roberto José Cabuço Riscos ocupacionais no bloco operatório: acidentes com materiais de natureza biológica e química Dissertação de Mestrado Mestrado em Engenharia Humana Trabalho efetuado sob a orientação de Professora Doutora Paula Machado de Sousa Carneiro e de Professora Doutora Ana Cristina da Silva Braga Julho de 2017

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  • Roberto Jos Cabuo

    Riscos ocupacionais no bloco operatrio:

    acidentes com materiais de natureza

    biolgica e qumica

    Dissertao de Mestrado

    Mestrado em Engenharia Humana

    Trabalho efetuado sob a orientao de

    Professora Doutora Paula Machado de Sousa Carneiro e

    de

    Professora Doutora Ana Cristina da Silva Braga

    Julho de 2017

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    A concretizao deste projeto no teria sido possvel sem o apoio fundamental de um

    conjunto de pessoas que, pessoal e profissionalmente, colaborou para que chegasse a bom

    porto. Mais do que um trabalho unicamente pessoal, este um trabalho coletivo e, por isso

    mesmo, no poderia deixar de agradecer:

    Professora Doutora Paula Carneiro e Professora Doutora Ana Cristina Braga, pela valiosa

    orientao e pelo encorajamento em todas as fases constituintes do projeto, sobretudo

    perante as maiores dificuldades. A sua experincia e valiosos conhecimentos encaminharam-

    me na realizao de todas as tarefas;

    Ao meu amigo Enfermeiro Filipe Freitas, por me referenciar o curso de Engenharia Humana e

    pelo permanente apoio moral, tambm ele essencial consecuo desta formao;

    Ao Corpo Diretivo do Hospital, aos Diretores e aos enfermeiros chefes do Bloco Operatrio,

    do servio de anestesiologia e do servio de cirurgia geral, assim como todos os funcionrios

    do bloco operatrio onde foi realizado o presente trabalho, de onde destaco mdicos,

    enfermeiros, assistentes operacionais e secretrias, cuja pronta colaborao me merece as

    melhores palavras e referncias.

    De modo geral, espero que cada elemento que direta ou indiretamente colaborara para o

    meu processo formativo e sobretudo para a presente investigao, representativa de uma

    conquista para mim, se reveja nesta pgina, onde expresso a minha mais sincera gratido.

  • v

    RESUMO

    Apesar do progresso que a tecnologia e a medicina tm acompanhado, certos profissionais da

    sade continuam a constituir grupos de risco no que concerne suscetibilidade de sofrer

    acidentes de trabalho decorrentes sobretudo de riscos biolgicos e qumicos.

    O bloco operatrio justamente um dos locais das unidades hospitalares onde este tipo de

    incidentes ocorre com mais frequncia, estando na sua origem, por exemplo, o contacto com

    produtos orgnicos contaminados ou com os prprios instrumentos cirrgicos. Contudo h

    um conjunto de medidas de preveno que os profissionais podem e devem adotar, no

    sentido de diminuir os riscos. A responsabilidade pela sua segurana cabe, por isso mesmo,

    no apenas ao hospital, mas tambm aos profissionais, a quem no basta a formao. Devem

    inclusivamente p-la em prtica e entender, com a responsabilidade que a profisso lhes

    merece, as consequncias da ocorrncia de acidentes decorrentes desses riscos.

    A presente dissertao abordar, justamente, a problemtica dos riscos associados ao bloco

    operatrio, tendo essencialmente como objetivo identificar e analisar os riscos biolgicos e

    qumicos a ele inerentes, bem como as atitudes dos profissionais relativamente aos mesmos.

    De forma a cumprir tais propsitos, apresentar-se-o os possveis riscos dentro de um bloco

    operatrio, analisando-se os resultados de um estudo descritivo, analtico e transversal da

    realidade vivida numa unidade hospitalar no norte de Portugal, para o qual colaborou uma

    amostra de 86 profissionais, atravs do preenchimento de um questionrio.

    Os resultados obtidos revelaram a ocorrncia de determinados acidentes, no entanto verifica-

    se que as normas de segurana e o uso conveniente de EPI nem sempre so

    irrepreensivelmente respeitados. Alm disso, pde confirmar-se que nem todos os

    profissionais possuem formao ao nvel dos riscos ocupacionais, embora esse parea ser um

    fator, a par do tempo de servio e da idade, sem diferenas estatisticamente significativas

    associadas ocorrncia de acidentes.

    Face aos resultados encontrados, sugere-se que os profissionais e a prpria instituio se

    envolvam mais na preveno de riscos e sobretudo na promoo de um ambiente laboral

    seguro.

    Palavras-Chave: Riscos biolgicos; Riscos qumicos; Bloco operatrio.

  • vii

    ABSTRACT

    Despite the progress made by technology and medicine, certain health professionals continue

    to be at risk groups in terms of susceptibility to work-related accidents, mainly due to

    biological and chemical risks. The operating room is precisely one of the hospital places where

    this type of incident occurs more frequently, being in its origin, for example the contact with

    contaminated organic products or the contact with the surgical instruments. However, there

    is a set of prevention measures that professionals can and should adopt in order to reduce

    risks. Responsibility for their safety lies, therefore, not only on the hospital, but also on the

    professionals, for whom the occupational training is not enough. They must even put

    vocational training into practice and understand, with the responsibility that the profession

    deserves, the consequences of the occurrence of accidents resulting from these risks.

    This dissertation will address the problematic of the risks associated with the operating room,

    essentially aiming to identify and analyze the biological and chemical risks inherent to it, as

    well as the professionals' attitudes towards them. In order to fulfill these purposes, the

    possible risks at an operating room will be presented, analyzing the results of a descriptive,

    analytical and transversal study of the reality lived in a hospital unit of northern Portugal.

    Eighty six professionals participated into the study through the completion of a questionnaire.

    The results obtained have revealed the occurrence of certain accidents, however it is verified

    that the safety standards and the convenient use of individual protection equipment are not

    always completely respected. In addition, it can be confirmed that not all professionals are

    trained in occupational risks, although this appears to be a factor, along with seniority and

    age, with no statistically significant differences associated with the occurrence of accidents.

    Given the results, it is suggested that professionals and the institution itself become more

    involved in risk prevention and, above all, in promoting a safe working environment.

    KEYWORDS: Biological risks; Chemical risks; Operating room.

  • ix

    NDICE

    Agradecimentos ........................................................................................................................ iii

    Resumo ....................................................................................................................................... v

    Abstract .................................................................................................................................... vii

    Lista de Figuras .......................................................................................................................... xi

    Lista de Tabelas ........................................................................................................................ xiii

    Lista de Abreviaturas, Siglas e Acrnimos .................................................................................xv

    1. Introduo e Objetivos ....................................................................................................... 1

    1.1 Motivao .................................................................................................................... 1

    1.2 Objetivos ...................................................................................................................... 3

    1.3 Estrutura da dissertao .............................................................................................. 4

    2. Reviso de Literatura .......................................................................................................... 7

    2.2 Comportamentos de segurana .................................................................................. 8

    2.3 Bloco operatrio ........................................................................................................ 10

    2.3.1. Conceito ............................................................................................................. 10

    2.3.2. Caraterizao tcnica ......................................................................................... 10

    2.3.3. Gesto administrativa ........................................................................................ 12

    2.3.4. Riscos de natureza biolgica .............................................................................. 16

    2.3.5. Riscos de natureza qumica ................................................................................ 22

    2.3.6. Riscos psicossociais ............................................................................................ 24

    2.3.7. Riscos ergonmicos ............................................................................................ 25

    2.3.8. Riscos de natureza fsica .................................................................................... 26

    2.3.9. Equipamentos de proteo individual (EPI) em contexto especfico ................ 29

    3. Metodologia ...................................................................................................................... 37

    3.1 Metodologia aplicada investigao ........................................................................ 37

    3.2 Local de realizao do estudo ................................................................................... 38

    3.3 Populao-alvo e caraterizao da amostra ............................................................. 40

    3.4 Mtodos utilizados para a recolha de informao .................................................... 40

    3.5 Descrio do questionrio ......................................................................................... 41

    3.6 Tratamento estatstico e anlise dos dados .............................................................. 42

  • x

    4. Resultados ......................................................................................................................... 43

    4.1 Apresentao dos resultados do questionrio .......................................................... 43

    4.2 Resultados das associaes estatsticas .................................................................... 56

    4.2.1. Avaliao da associao entre a formao e ocorrncia de acidente ............... 56

    4.2.2. Avaliao da associao entre a formao e utilizao de EPI e medidas ps-

    acidente 57

    4.2.3. Avaliao da associao entre a categoria profissional e ocorrncia de acidente

    58

    4.2.4. Avaliao das caractersticas tempo de servio e idade .................................... 59

    5. Anlise e Discusso dos Resultados .................................................................................. 63

    6. Concluses e Recomendaes .......................................................................................... 67

    Bibliografia ............................................................................................................................... 70

    Anexo I Questionrio utilizado para recolha de dados ......................................................... 78

  • xi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Percentagem de participantes por categoria profissional. ...................................... 43

    Figura 2 - Percentagem de participantes por gnero. ............................................................. 44

    Figura 3 - Percentagem de participantes em funo de possurem outra atividade profissional

    fora do hospital. ....................................................................................................................... 44

    Figura 4 - Percentagem de participantes que obtiveram formao sobre riscos de natureza

    fsica, ergonmica, qumica e biolgica. .................................................................................. 45

    Figura 5 Percentagem de participantes vacinados contra a Hepatite B. .............................. 47

    Figura 6 - Percentagem de participantes que sofreu algum acidente envolvendo material

    biolgico durante o horrio de trabalho no BO. ...................................................................... 47

    Figura 7 - Nmero de acidentes biolgicos por participantes. ................................................ 50

    Figura 8 - Percentagem de participantes em funo da utilizao de EPI no momento do

    acidente. ................................................................................................................................... 51

    Figura 9 - Percentagem de condutas tomadas aps o acidente envolvendo material biolgico.

    .................................................................................................................................................. 52

    Figura 10 Percentagem de participantes que sofreram algum acidente envolvendo material

    qumico durante o horrio de trabalho no BO. ........................................................................ 52

    Figura 11 Nmero de acidentes qumicos ocorridos no BO.................................................. 53

    Figura 12 - Percentagem de participantes em funo dos efeitos da exposio aos agentes

    qumicos. .................................................................................................................................. 54

    Figura 13 - Percentagem de participantes de acordo com a utilizao de equipamentos de

    proteo que utilizavam no momento do acidente. ............................................................... 55

    Figura 14 - Percentagem de participantes em funo das condutas tomadas aps o acidente.

    .................................................................................................................................................. 56

    Figura 15 - Distribuio da formao em RB segundo o procedimento lavar com gua e sabo.

    .................................................................................................................................................. 58

    Figura 16 - Distribuio da ocorrncia de acidente envolvendo material biolgico segundo a

    categoria profissional. .............................................................................................................. 59

    Figura 17 - Distribuio do tempo de servio segundo a ocorrncia de acidente envolvendo

    material qumico. ..................................................................................................................... 59

    file:///G:/_formatacao_tese/tese_V02.docx%23_Toc486585404file:///G:/_formatacao_tese/tese_V02.docx%23_Toc486585404file:///G:/_formatacao_tese/tese_V02.docx%23_Toc486585405file:///G:/_formatacao_tese/tese_V02.docx%23_Toc486585410file:///G:/_formatacao_tese/tese_V02.docx%23_Toc486585410file:///G:/_formatacao_tese/tese_V02.docx%23_Toc486585411

  • xii

    Figura 18 - Distribuio da idade dos profissionais segundo a ocorrncia de acidente

    envolvendo material qumico. ................................................................................................. 60

    Figura 19 - Distribuio do tempo de servio segundo a ocorrncia de acidente envolvendo

    material biolgico. .................................................................................................................... 61

    Figura 20 - Distribuio da idade dos profissionais segundo a ocorrncia de acidente

    envolvendo material biolgico. ................................................................................................ 61

  • xiii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Mnimo, mximo, mdia e desvio-padro relativamente ao tempo de formao em

    riscos de natureza biolgica. .................................................................................................... 45

    Tabela 2 - Percentagem de participantes que obtiveram formao sobre riscos de natureza

    biolgica. .................................................................................................................................. 46

    Tabela 3 Mnimo, mximo, mdia e desvio-padro relativamente ao tempo de formao em

    riscos de natureza qumica. ...................................................................................................... 46

    Tabela 4 Frequncia e percentagem relativamente ao local de obteno da formao com

    riscos de natureza qumica. ...................................................................................................... 46

    Tabela 5 Frequncia e percentagem relativamente participao de acidentes. ............... 48

    Tabela 6 Frequncia e percentagem relativamente s razes que levaram os profissionais a

    no participar da ocorrncia. ................................................................................................... 48

    Tabela 7 Frequncia e percentagem relativamente perceo dos riscos por parte dos

    profissionais. ............................................................................................................................ 48

    Tabela 8 Frequncia e percentagem relativamente ao contexto de ocorrncia de acidentes.

    .................................................................................................................................................. 49

    Tabela 9 Frequncia e percentagem relativamente ao nvel a que ocorreram acidentes. .. 49

    Tabela 10 Frequncia e percentagem relativamente aos objetos envolvidos em acidentes.

    .................................................................................................................................................. 49

    Tabela 11 Frequncia e percentagem relativamente atividade exercida pelos profissionais

    no momento dos acidentes...................................................................................................... 50

  • xv

    LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRNIMOS

    ACSS Administrao Central do Sistema de Sade

    AgHBs - Antgeno de superfcie da Hepatite B

    AT- Acidente de Trabalho

    AVAC Aquecimento, Ventilao e Ar Condicionado

    BO Bloco Operatrio

    CDC - Centers for disease control and prevention

    DGS - Direo Geral de Sade

    EPE Entidade Pblica Empresarial

    EPI Equipamento de Proteo Individual

    GTBO Grupo de Trabalho do Bloco Operatrio

    NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health

    OSHA Occupation Safety and Health Administration

    SSO- Servio de Sade Ocupacional

    SIDA Sndrome de Imunodeficincia Adquirida

    TP Tuberculose Pulmonar

    UCPA- Unidade de Cuidados Ps-Anestsicos

  • 1

    1. INTRODUO E OBJETIVOS

    Neste captulo introdutrio da dissertao ser abordado o motivo que levou ao

    desenvolvimento desta dissertao, ser referido o principal objetivo da mesma, assim como

    sero elencados os objetivos especficos que ajudaro a alcanar o objetivo principal. Ser

    tambm descrita, ainda que sucintamente, a organizao e estrutura da dissertao.

    1.1 Motivao

    O setor da sade emprega diferentes tipos de profissionais que enfrentam uma grande

    diversidade de riscos ocupacionais. Nos EUA, o setor da sade emprega mais de doze milhes

    de trabalhadores, sendo que cerca de 80% so do sexo feminino (NIOSH, 2009). Na Europa,

    este setor emprega aproximadamente 10% dos trabalhadores, com uma proporo

    significativa de profissionais a trabalhar em hospitais (European Union, 2011). Em Portugal,

    em 2015, o nmero de profissionais de sade pertencentes ao Ministrio da Sade sofreu um

    aumento de 2,2% relativamente ao ano de 2014, sendo atualmente cerca de 120 mil (Governo

    de Portugal, 2015).

    As taxas de acidentes de trabalho relativas aos profissionais de sade tm aumentado ao

    longo da ltima dcada (NIOSH, 2009). Alguns dos principais problemas enfrentados pelos

    profissionais de sade so os acidentes com agulhas, as leses musculoesquelticas, as

    alergias ao ltex, a violncia e o stresse. Embora seja possvel evitar ou reduzir a exposio

    dos trabalhadores a esses riscos, a quantidade de casos de acidentes de trabalho no fatais e

    de doenas entre os trabalhadores da sade das maiores de todos os setores da indstria

    (NIOSH, 2009).

    Os hospitais, com toda sua complexidade operacional, tanto clnica quanto administrativa,

    constituem locais de trabalho onde se podem encontrar os mais variados tipos de riscos que

    se abordam no contexto da segurana ocupacional (Pereira, 2012). No caso mais especfico

    do bloco operatrio (BO), possvel existir simultaneamente exposio a riscos biolgicos,

    qumicos, fsicos, ergonmicos e psicossociais. Tal conjugao de tipo de riscos

    particularmente notria em salas de cirurgia (Morgan, 2006).

  • 2

    O pessoal colaborador do BO est em risco de exposio a fontes diretas e indiretas de

    radiao ionizante e no ionizante; est exposto a gases anestsicos e a outros produtos

    qumicos; est exposto a rudo de fundo provocado por aspiradores, brocas, serras, msica e

    conversas; riscos de contrair infees dos pacientes e do resto do pessoal (Barash et al., 2014).

    Os profissionais esto igualmente sujeitos a riscos de eletrocusso pelo uso de equipamento

    eltrico (Morgan, 2006).

    Os riscos expem os colaboradores do BO ocorrncia de graves acidentes de trabalho com

    srias repercusses pessoais e institucionais. Exemplos so os acidentes com as agulhas,

    alergias ao latex das luvas de proteo, exposio a gases anestsicos, exposio a vapores

    txicos e fumos (NIOSH, 2009).

    Com base nas descries anteriores, o bloco operatrio , pois, uma estrutura operacional

    complexa, com conjugao de vrios fatores de risco, definindo-se assim como uma rea de

    risco elevado.

    Diversos estudos identificaram o conjunto de riscos ocupacionais (biolgicos, qumicos, fsicos,

    mecnico, entre outros) a que esto sujeitos os profissionais de sade, particularmente

    aqueles que desempenham a sua atividade em blocos operatrios. Tais riscos podem ter

    consequncias de gravidade varivel que, no limite, podem conduzir morte do profissional

    (Perdigoto, 2012).

    Segundo Sen & Sen (2013), a existncia de planos bem concebidos e a formao dos

    colaboradores ir prepar-los para a reduo da probabilidade de acidentes indesejados,

    assim como controlar melhor os riscos presentes no BO.

    Num estudo realizado em Portugal, em contexto hospitalar, Perdigoto (2012) detetou diversos

    comportamentos de risco por parte de profissionais afetos ao BO, no que diz respeito

    exposio a material biolgico e qumico. Tais comportamentos de risco incluam uma baixa

    adeso, tanto aos culos de proteo/mscara com viseira, como utilizao de calado

    adequado. Todos, ou quase todos, os profissionais observados utilizavam uniforme de bloco

    e mscara simples. Segundo o mesmo estudo, os profissionais possuam as protees

    adequadas s situaes com que se deparavam, mas nem sempre as utilizavam

    adequadamente, ou seja, de acordo com as indicaes dos fabricantes dos equipamentos.

    Pelo que foi sendo referido e dada a relevncia do tema, pretende-se com este estudo

    aprofundar e alargar o estudo dos riscos ocupacionais em BO de unidades hospitalares

    portuguesas, neste caso de uma unidade hospitalar do norte do pas. O foco so os acidentes

  • 3

    com materiais de natureza biolgica e com materiais de natureza qumica ocorridos no Bloco

    Operatrio. Distante dos prejuzos financeiros, do absentismo laboral e de outras situaes

    que possam advir da ocorrncia de acidentes/incidentes de trabalho, que muito preocuparia

    determinados setores hospitalares, este estudo debrua-se, acima de tudo, sobre o impacto

    fsico e/ou psicolgico que os acidentes possam ter sobre o elemento humano (trabalhador).

    A populao alvo deste estudo ser constituda por colaboradores diretos e indiretos,

    nomeadamente mdicos de vrias especialidades com interveno no bloco operatrio,

    enfermeiros, tcnicos de radiologia e auxiliares afetos ao bloco operatrio da referida unidade

    hospitalar.

    1.2 Objetivos

    O objetivo principal desta dissertao caracterizar o bloco operatrio de uma unidade

    hospitalar quanto aos riscos ocupacionais que os diferentes profissionais a enfrentam,

    particularmente os de natureza biolgica e os de natureza qumica. Pretende-se igualmente

    verificar se a sua formao acerca dos riscos que correm, tem alguma influncia sobre os

    comportamentos que adotam em termos de segurana e se a adoo de comportamentos

    seguros est associada a um menor nmero de ocorrncia de acidentes com materiais de

    natureza biolgica e qumica.

    Estes objetivos principais envolvem os seguintes objetivos especficos:

    Caraterizar o local de trabalho e tambm as tarefas a realizadas;

    Caraterizar os riscos ocupacionais presentes no BO, identificando os principais fatores

    de risco de acidentes;

    Verificar quais so as condutas tomadas pelos profissionais face aos diferentes riscos;

    Analisar os principais acidentes de trabalho ocorridos com profissionais que tenham

    adotado comportamentos seguros e aferir possveis causas;

    Identificar oportunidades de melhoria nos procedimentos ou na organizao do

    trabalho e elaborar propostas tendentes a reduzir os riscos ocupacionais no BO,

    garantindo um ambiente cada vez mais seguro.

  • 4

    1.3 Estrutura da dissertao

    O presente trabalho encontra-se estruturalmente dividido em seis captulos, havendo, por

    isso, cinco outros captulos para alm do introdutrio.

    O segundo captulo abarca um enquadramento terico das vrias temticas aqui abordadas,

    desenvolvendo conceitos de extrema importncia para os profissionais que trabalham em

    contexto hospitalar e que, por isso mesmo, se encontram sujeitos a riscos que as suas

    atividades laborais e o local onde as exercem comportam. Neste sentido, este captulo

    fundamentalmente terico, assentando tambm na descrio de comportamentos de

    segurana que no devem ser descurados pelas entidades empregadoras, e muito menos

    pelos profissionais que em muitos casos, em virtude do bem-estar dos pacientes, ou at da

    prpria preguia, desvalorizam os riscos em que incorrem, mesmo tendo conhecimento das

    suas consequncias. ainda neste captulo que se caracteriza com mais detalhe o bloco

    operatrio, bem como o processo de gesto administrativa do mesmo, que implica a gesto

    de recursos humanos e materiais que podem condicionar o bom funcionamento e a

    efetividade de uma unidade. Neste sentido, alm da descrio das condies e dos recursos

    necessrios e indispensveis a dever estar presentes num bloco operatrio, dos quais fazem

    parte determinados materiais e equipamentos, relatam-se as funes de cada operacional na

    interveno a um doente e ainda a estimativa dos custos considerados ideais para se atingir

    nveis produtivos e satisfatrios. Por fim, o segundo captulo destina-se explanao

    minuciosa e descrio dos riscos de natureza biolgica, qumica, psicossocial, ergonmica e

    fsica a que os trabalhadores esto expostos, que se associam ao desenvolvimento de graves

    doenas que podem inclusivamente comprometer vidas.

    Por sua vez, o terceiro captulo centra-se na descrio do estudo propriamente dito e da

    metodologia adotada para o levar a cabo. nesta parte da dissertao que se descreve

    detalhadamente o local onde a pesquisa foi levada a cabo, com especial destaque para os

    profissionais presentes, para os materiais que constam na sala e ainda para os procedimentos

    adotados desde que termina a interveno cirrgica, at ao momento em que o doente

    transportado para o recobro. Da mesma forma, este o captulo dedicado caracterizao da

    populao-alvo e da amostra que colaborou no estudo.

    Neste captulo, consta o relato do tratamento estatstico dos dados em que se incluem as

    respetivas associaes, cuja discusso permite construir pontes com o enquadramento

  • 5

    terico previamente feito. Com recurso grfico a figuras e tabelas, no quarto captulo que

    se revelam os resultados obtidos por meio da metodologia descrita. No quinto captulo

    procede-se anlise e discusso dos resultados, atravs dos quais se parte para a concluso,

    que , por fim, o sexto captulo. Nesta parte final da dissertao, alm de se dar resposta aos

    objetivos que se esperam ver cumpridos, enumeram-se as limitaes do estudo e esboam-

    se, em suma, recomendaes para estudos futuros.

  • 7

    2. REVISO DE LITERATURA

    2.1 Riscos em meio hospitalar

    Na Europa, o setor da sade emprega aproximadamente 10% dos trabalhadores, com uma

    proporo significativa de profissionais a trabalhar em hospitais (European Union, 2011).

    O Hospital pode ser definido como um estabelecimento de sade que presta cuidados de

    sade curativos e de reabilitao em internamento e ambulatrio, podendo colaborar na

    preveno da doena, no ensino e na investigao cientfica (DGS, 2016a). uma unidade de

    tratamento mdico capaz de prestar cuidados em regime de internamento, com pessoal e

    equipamento adequados para oferecer servios de diagnstico e teraputica, bem como

    servios de apoio necessrios para desempenhar a sua misso e as funes atribudas. (DOD,

    2015).

    As organizaes hospitalares so sistemas complexos compostos por diversos departamentos

    e profisses, tornando-as, sobretudo, numa organizao de pessoas confrontadas com

    situaes emocionalmente intensas, tais como vida, doena e morte, as quais causam

    ansiedade e tenso fsica e emocional (Faria, 2008). Como locais de trabalho, os hospitais

    aglomeram um vasto nmero de profissionais que operam nas reas clnica, administrativa e

    tcnica, utilizando no seu dia-a-dia diferentes instrumentos e meios que se configuram

    perigosos. Destes, so exemplos os diferentes tipos de materiais perfuro-cortantes, gases de

    uso medicinal, equipamentos de radiao, frmacos, produtos de higiene, entre outros. Os

    mesmos profissionais esto permanentemente expostos ao perigo de contrair doenas e

    agresses verbais e fsicas por parte dos utentes e dos seus acompanhantes. De uma maneira

    geral, o trabalho hospitalar desenvolve-se num ambiente psicossocial stressante entre

    pacientes e profissionais, muitas vezes ruidoso, algumas vezes termicamente desajustado, por

    vezes competindo tambm por uma iluminao local que seja adequada para os diferentes

    profissionais envolvidos, como acontece em cirurgias endoscpicas e noutros procedimentos

    de diagnstico ou de teraputica que exigem baixa iluminao.

    Os hospitais, com toda sua complexidade operacional clnica, administrativa e tcnica,

    constituem locais de trabalho onde se podem encontrar os mais variados tipos de riscos

    abordados no contexto da segurana ocupacional. Alguns dos principais problemas

  • 8

    enfrentados so os acidentes com agulhas, as leses musculosquelticas, as alergias ao latex,

    a violncia, o stresse e a fadiga fsica e psicolgica (NIOSH, 2009).

    Segundo a Direo Geral de Sade (DGS, 2014), a entidade empregadora (hospital)

    responsvel pela sade e segurana de todos os seus trabalhadores, devendo assegurar

    adequadas condies de trabalho e implementar as necessrias medidas de preveno dos

    riscos profissionais e de promoo da sade, atravs de medidas que garantam adequada

    implementao do regime jurdico da promoo da segurana e sade do trabalho e demais

    legislao, designadamente a cobertura de cuidados de sade ocupacional aos trabalhadores.

    2.2 Comportamentos de segurana

    As atitudes e os comportamentos dos trabalhadores perante os riscos laborais podem ser

    variveis de indivduo para indivduo. O prprio trabalhador pode apresentar

    comportamentos distintos perante a mesma situao de risco, em momentos diferentes da

    sua carreira (Areosa, 2007).

    Areosa (2011) centrou-se num estudo de caso num hospital portugus, tendo indicado que as

    percees de riscos podem influenciar os comportamentos e as atitudes. Assim, quanto maior

    for o conhecimento e as percees de riscos dos trabalhadores, melhor poder ser o

    desempenho na preveno de riscos e por consequncia na preveno de acidentes de

    trabalho ou de doenas profissionais.

    Segundo Areosa (2013), a vida pessoal dos trabalhadores pode influenciar, quer positiva quer

    negativamente, os nveis de perceo de risco no trabalho. Fatores relacionados com

    problemas familiares, a qualidade do sono, a ansiedade, problemas do foro econmico, o

    consumo de lcool ou drogas podem condicionar fortemente os nveis momentneos das

    percees do risco dos trabalhadores e, consequentemente, a maior ou menor probabilidade

    de sofrerem um acidente de trabalho.

    Para Arezes (2002), a perceo individual do risco constitui uma varivel de natureza

    multifatorial e a sua avaliao depender, essencialmente, do tipo de risco associado.

    Os profissionais de sade so treinados para exercer as suas atividades centradas no paciente.

    Isso faz com que muitas vezes ignorem a sua prpria sade e o seu bem-estar em prol do

    doente (Moore et al., 2013). Num estudo realizado com mdicos dentistas, Carneiro (2005)

    referiu que estes se preocupam com o bem-estar dos pacientes e com o conforto dos mesmos

  • 9

    na cadeira pois, frequentemente, para conseguir melhorar a viso para o interior da boca do

    paciente, o mdico acaba por adotar posturas penosas, justamente para no ter de pedir aos

    pacientes que saiam da sua posio de conforto.

    Segundo Gonalves et al., citado em Areosa (2011), a exposio continuada e prolongada a

    situaes de risco laboral pode originar uma normalizao das ameaas por parte do

    profissional exposto e, por consequncia, tornar diminuto o seu empenho em

    comportamentos de proteo e de segurana laboral.

    Perante as referncias acima expostas, oportuna a colocao de algumas questes para

    reflexo, como por exemplo Por que razo um enfermeiro ou um mdico teria de encapsular

    uma agulha j utilizada num dado doente?, ou Sentir-se- tecnicamente superior em relao

    aos demais, um profissional que em pleno gozo da sua sabedoria manuseie conscientemente

    situaes de risco sem que, no entanto, faa uso de EPI?

    Talvez determinados elementos, como a falta de cultura de segurana, o desconhecimento de

    causa ou o acreditar que determinados acidentes apenas acontecem aos outros esteja na

    gnese destes comportamentos de (in)segurana. Pacheco (2012) explica que caso a

    segurana fizesse parte da nossa natureza, irracionalmente, ou melhor, por instinto, o ser

    humano na sua plena conscincia e sade mental jamais desrespeitaria algo que pudesse

    causar leso a si mesmo. Seria uma resposta instintiva a essa contingncia. O mesmo autor

    acrescenta que no se pode confundir o instinto de sobrevivncia com o processo educativo

    de segurana e preveno, uma vez que o aspeto segurana deve ser entendido como racional

    e parte de um processo educativo e, por isso, de experincias sociais. O instinto faz parte da

    nossa natureza e ajuda-nos diante de situaes desconhecidas ou de extrema exposio

    colocando os nossos sentidos em alerta mximo. Do ponto de vista fisiolgico, isto

    corresponde a uma reao de luta ou fuga.

    A cultura de segurana de extrema importncia em todas as organizaes, e medida que

    a complexidade de uma organizao aumenta, este aspeto torna-se cada vez mais influente

    na preveno de acidentes. A cultura de segurana deve imanar sempre da gesto de topo de

    uma organizao e esta deve demonstrar que coloca os objetivos de segurana acima dos

    prprios objetivos de gesto (Silva, 2010).

    Determinados autores citados em Pacheco (2012) consideram que a perceo do risco diz

    respeito capacidade que a pessoa tem em identificar os perigos e reconhecer os riscos,

    atribuindo-lhes significado, seja no trabalho, no trnsito, ou no lar. No entanto, entender a

  • 10

    alta perceo do risco apenas a base para que o trabalhador se comporte de forma segura,

    pois existem casos em que os indivduos identificam os perigos, reconhecem os riscos e,

    mesmo assim, optam por violar regras e procedimentos, em virtude da pessoa, da preguia

    ou at mesmo do desconforto, ou seja, alm de conhecer muito bem tcnica e

    operacionalmente a sua atividade, os riscos devero ser sempre compreendidos.

    2.3 Bloco operatrio

    2.3.1. Conceito

    O Bloco Operatrio (BO) pode ser definido como unidade orgnico-funcional de um

    estabelecimento de sade, com espao fsico prprio e meios tcnicos e humanos

    qualificados, destinados prestao de tratamento cirrgico ou realizao de exames que

    requeiram elevado nvel de assepsia e/ou anestesia (DGS, 2016a).

    O BO um servio de grande diferenciao e de utilizao transversal pelas diversas

    especialidades cirrgicas.

    neste local que se podem realizar intervenes cirrgicas programadas ou urgentes,

    chegando os utentes atravs das urgncias, do internamento ou de servios ambulatrios.

    Podem tambm realizar-se exames e outros procedimentos que requeiram um elevado nvel

    de cuidados de assepsia e/ou anestesia (Lopes, 2012).

    2.3.2. Caraterizao tcnica

    De acordo com a Administrao Central do Sistema de Sade, IP (ACSS, 2011), o BO um

    servio com grandes exigncias tcnicas, tanto ao nvel das instalaes como dos

    procedimentos e dos tcnicos que os executam. Independentemente da localizao, deve ser

    sempre resguardado de forma a no ser atravessado nem devassado por qualquer tipo de

    circulao que lhe seja estranha, devendo ser consideradas trs zonas de acesso distinto,

    interiores ao BO, nomeadamente:

  • 11

    rea livre - onde se pode circular com roupa de exterior. Comporta a receo, a sala de espera,

    o gabinete de coordenao, a biblioteca, reunies, instalaes sanitrias de pessoal, espera

    de acompanhantes, instalaes sanitrias de acompanhantes, admisso de doentes pr-

    operatrio vindos do exterior e do internamento, controlo de entradas (a principal funo o

    controlo entre a zona livre e a zona semi-restrita, podendo tambm controlar-se a entrada no

    servio).

    rea semi-restrita - na qual obrigatria a utilizao de roupa do BO, incluindo touca. Esta

    rea serve tambm para manuteno e reparao de equipamentos internos do BO por

    pessoal exterior ao servio.

    rea restrita - nela obrigatria a utilizao de roupa do BO, incluindo touca e mscara.

    Corresponde sala de preparao, sala de anestesia, rea de desinfeo do pessoal, sala

    de operaes, sala de sujos, ao recobro ou unidade de cuidados ps-anestsicos e ao piso

    tcnico.

    Sala de operaes o local que d continuidade sala de preparao e ao espao de limpeza

    e embalagem de sujos. O pavimento deve ser antiesttico condutivo e respeitar as regras

    tcnicas das instalaes eltricas de baixa tenso. Com respeito iluminao, recomenda-se

    um nvel mdio de iluminncia de 1000 lux, com um ndice de restituio cromtica mnimo

    de 90%. Deve ser considerada a regulao do fluxo luminoso. A iluminao operatria (sem

    sombra) deve ser alimentada por uma fonte com autonomia mnima de 1 hora. As portas das

    salas de operaes devem ser mecnicas, pelo que a sua abertura deve ser possvel a partir

    de contacto com a anca e o seu fecho deve ser automatizado. A climatizao obedece o

    disposto nas especificaes tcnicas para instalaes de AVAC ET 06/2008 para

    compartimentos do bloco operatrio: sala de operaes. Os gases medicinais e aspirao

    obedecem o disposto nas especificaes tcnicas para gases medicinais e aspirao ET

    03/2006, anexo I, para compartimentos do bloco operatrio: sala de operaes.

    A tendncia atual para a criao de salas hbridas, onde se realizam intervenes de maior

    ou menor intruso, mas com fortes recursos de imagem e de equipamentos robotizados. Pela

    sua grande complexidade e especificidade, estas salas tm dimenses e configuraes

    fortemente condicionantes, devendo ser polivalentes e podendo servir a vrias

    especialidades: hemodinmica, cardiologia, entre outras.

    As salas hbridas devem ser projetadas de forma a possibilitar a troca ou a sada de

    equipamentos de grande dimenso e peso.

  • 12

    2.3.3. Gesto administrativa

    De uma maneira geral, os princpios de gesto das organizaes so normalmente

    considerados universais, pois visam utilizar os recursos para atingir os seus objetivos com o

    melhor desempenho.

    O tradicional processo de gesto considera quatro funes de gesto: planear, organizar,

    liderar e controlar. A funo planear consiste na definio dos objetivos a atingir e na

    identificao da melhor forma de os alcanar; a funo organizar o modo como a autoridade

    distribuda na organizao, como que se repartem os recursos e o trabalho pelos diferentes

    membros de modo a que se possam atingir os objetivos; a moderna conceo da gesto

    entende que se deve designar a funo dirigir por liderar. Deste modo, liderar significa

    influenciar e motivar os indivduos de uma equipa a realizar as tarefas essenciais para se

    atingirem os objetivos. A funo controlar consiste na verificao do cumprimento ou no dos

    objetivos definidos (Sotomayor et al., 2013).

    Associado ao conceito de organizao, de que exemplo o BO, esto trs caractersticas

    principais:

    1. Recursos materiais, os quais constituem o conjunto do capital e dos equipamentos

    necessrios prossecuo dos objetivos da organizao;

    2. Recursos humanos, que so o elemento que desenvolve o trabalho e transforma os

    recursos materiais em bens e ou servios. Eles so a potencial fonte de obteno de

    vantagens.

    3. Forma organizativa, a qual consiste no modo como a organizao combina os recursos

    humanos e materiais e se organiza internamente.

    A gesto de um BO considerada difcil e complexa pela variabilidade dos recursos envolvidos

    e pela constante inovao tecnolgica, estando envolvidas no apenas a gesto de recursos

    materiais e humanos, mas tambm a importantssima gesto de tempos, que permitir

    elaborar e cumprir a programao ou o planeamento das intervenes a realizar (Lopes,

    2012).

    Cada bloco operatrio tem o seu funcionamento prprio, o seu modelo de gesto e os seus

    mtodos de organizao. No entanto, existem blocos que podem ou podero ser mais

    rentveis e mais producentes do que outros, no sentido de que do uma resposta mais rpida

    procura que se faz do servio, isto , fazendo um bom uso dos recursos e uma boa gesto,

  • 13

    atestam ser possvel produzir mais e melhor, aumentando a rentabilidade e a satisfao dos

    profissionais e dos utentes (Pegado, 2010).

    Lamiri et al. (2007) considera que o BO representa o maior custo de uma instituio hospitalar

    e estima esse custo em mais de 40% das despesas totais. O BO reportado por vrios autores,

    nacionais e internacionais, como sendo um dos mais dispendiosos servios dentro do hospital,

    com custos que rondam entre 10 a 15% do oramento hospitalar. Para Barash et al (2014), os

    gastos relacionados com frmacos anestsicos representam uma pequena parte dos custos

    perioperatrios totais, porm o grande nmero de doses que se aplica contribui muito para o

    aumento do custo total da instituio. Por exemplo, em termos de anestesia geral, a reduo

    de fluxo de gs fresco de 5 para 2 litros por minuto sempre que seja possvel representa uma

    poupana de cerca de 100 milhes de dlares por ano nos Estados Unidos da Amrica (Barash

    et al., 2014). O emprego de tcnicas e frmacos mais caros podem reduzir os custos indiretos.

    O Propofol, por exemplo, uma infuso muito cara, mas reduz o tempo mdio na Unidade de

    Cuidados Ps-anestsicos (UCPA), assim como as nuseas e vmitos ps-operatrio.

    Por outro lado, importante frisar que o BO tambm o servio que gera as maiores receitas

    e quase sempre confere a imagem meditica do Hospital.

    Um estudo intitulado Gesto do Bloco Operatrio, realizado no ento Centro Hospitalar do

    Alto Ave, EPE (Lopes, 2012) fez incidir a sua investigao sobre os principais problemas do BO,

    gesto da informao e criao de uma fatura de ato cirrgico, tendo concludo que os

    problemas de gesto do BO so complexos e interdependentes, motivados pelas equipas que

    constituem os seus recursos humanos, as suas expetativas e pelos materiais de que o servio

    necessita.

    Num outro estudo, Pegado (2010) criou uma grelha de observao para vrios modelos de

    gesto de BO, destacando alguns elementos principais e de diferenciao. O referido autor

    concluiu o seu estudo considerando que, em face dos vrios modelos de gesto por si

    observados, os gestores devem ponderar a existncia das componentes mais importantes de

    cada modelo. Considera tambm que, decerto, no existe um modelo de gesto que seja mais

    efetivo para o BO de um hospital.

    Para Pereira (2014), a proposta de construo de um modelo conceptual de gesto do BO

    seria um contributo importante, no s para a melhoria da qualidade e do desempenho dos

    servios prestados, mas tambm para melhoria das polticas de gesto e do desempenho do

    servio, e consequentemente para toda estratgia da instituio de sade. importante

  • 14

    identificar indicadores de desempenho do BO, avaliar a sua correlao com a performance

    global do BO e rentabilizar os recursos, com o intuito de aumentar consideravelmente a

    eficincia, a produo e a qualidade e de eliminar os desperdcios que no acrescentam

    qualquer valor, nem para o doente, nem para a instituio.

    O Grupo de Trabalho do Bloco Operatrio (GTBO, 2015) considera que todos os BO tm o seu

    modelo de gesto, algumas vezes intuitivamente organizado, mas outras estruturalmente

    estudado e pensado para aumentar a rentabilidade e eficincia, com vista na mxima

    utilizao dos recursos existentes. Porm, verificou que 27% dos BO no possuem qualquer

    sistema de controlo de gesto, recomendando assim a criao de um modelo que v ao

    encontro das orientaes expressas na lei de gesto hospitalar de 2002, no que respeita

    estimulao do desempenho dos profissionais e autonomia dos servios. So caractersticas

    basilares do modelo proposto, a rigorosa definio dos servios da responsabilidade do BO e

    os objetivos a que est acometido, sendo que a direo do BO deve poder controlar as

    variveis subjacentes.

    O estudo cientfico da gesto considera que os modelos nos fornecem previses que

    comparamos com a realidade, com o intuito de validarmos as teorias (Sotomayor et al., 2013).

    A gesto dos tempos de sala um dos aspetos primordiais que contribuem para a eficincia

    do BO. O tempo de sala corresponde ao perodo que decorre entre a entrada do doente em

    sala e o momento em que a sala fica em condies para outro doente entrar. Tem um valor

    de referncia estimado em 120 minutos para uma cirurgia padro.

    Os custos horrios de sala so muito elevados, pelo que se torna necessrio fazer todos os

    esforos possveis para reduzir ao mximo o desperdcio.

    O custo mdio de sala operatria, segundo o Hospital de Santa Marta, estudado por GTBO

    (2015), corresponde a valores que se situam entre 7 e 12 /minuto, o que equivale a 420 a

    660 /hora.

    O tempo mdio de preparao de sala (perodo que decorre entre a sada do doente e a sala

    estar preparada para receber novo utente, em minutos) tem um valor mnimo recomendado

    de 20 minutos, para permitir uma higienizao adequada e o assentamento de poeiras, sendo

    que, em situaes especiais, estes tempos podem ser excedidos. Importa realar que tempos

    mdios inferiores a 10 minutos podem significar um cuidado insuficiente nos processos de

    higienizao, devendo ser auditados estes casos (ACSS, 2011).

  • 15

    Perdigoto (2012), no seu estudo, avalia os acidentes de trabalho no bloco operatrio pelo

    impacto que estes causam ou podem causar na gesto das unidades hospitalares.

    Um dos elementos a ter em conta na gesto dos servios do BO so os recursos humanos.

    Estes revelam-se cada vez mais importantes, se atendermos a que as pessoas so o fator-

    chave de sucesso das organizaes. Esta relevncia est patente na prpria evoluo do

    conceito: gesto de pessoal, gesto de recursos humanos e gesto de pessoas (e do capital

    humano), e no facto de que a utilizao do BO deriva em muito do equilbrio entre diferentes

    classes profissionais, visto que o deficit em qualquer deles pode comprometer a rentabilidade

    de um bloco e as horas afetas por outras especialidades.

    Quanto aos recursos humanos, o nmero de profissionais que compem a equipa cirrgica

    depende do tamanho do hospital e da carga de casos cirrgicos. A equipa cirrgica que

    trabalha em cada sala cirrgica constituda, em geral, por 1 cirurgio principal (snior), 2

    cirurgies ajudantes, 1 anestesista, 1 enfermeiro instrumentista, 1 enfermeiro circulante e 1

    enfermeiro anestesista. No caso de existirem protocolos de formao com Universidades nas

    licenciaturas em Medicina e em Cincias de Enfermagem, poder haver mdicos e

    enfermeiros em formao em cada sala cirrgica (Lopes, 2012).

    O Cirurgio realiza intervenes cirrgicas, tendo em vista a correo de leses adquiridas ou

    congnitas, o tratamento de ferimentos e a preveno de doenas, promovendo a melhoria

    das funes orgnicas no mbito da cirurgia eletiva e de urgncia.

    A American Society of Anesthesiologists (ASA, 2011) refere que o anestesiologista trata a dor,

    controla o nvel de conscincia, assegura o conforto, o bem-estar e as funes vitais do doente

    durante as intervenes cirrgicas, os exames complementares de diagnstico e a execuo

    de outras tcnicas invasivas. Por outras palavras, o anestesiologista lida com todos os aspetos

    no cirrgicos do cuidado ao paciente no perioperatrio, no ficando o exerccio da sua

    atividade apenas confinado s salas de cirurgia, uma vez que no se limita a tornar os

    pacientes insensveis dor.

    Durante a cirurgia utilizada tecnologia avanada para a monitorizao dos sinais vitais, fruto

    da inovao e do desenvolvimento das novas tecnologias, e nesse aspeto o anestesiologista

    interpreta tambm a informao oferecida pelos monitores.

    No bloco operatrio, as responsabilidades da equipa de enfermagem aumentam de acordo

    com as funes que desempenham como enfermeiro de anestesia, enfermeiro circulante e

    enfermeiro instrumentista. Segundo a Ordem dos Enfermeiros, nas Orientaes Relativas s

  • 16

    Atribuies do Enfermeiro Circulante, este profissional, tem como atribuies especficas a

    diminuio da exposio do doente aos riscos inerentes aos cuidados prestados no Bloco

    Operatrio, pela promoo da segurana do doente e dos restantes profissionais e o suporte

    necessrio qualidade do ato cirrgico no que ao ambiente diz respeito (Ordem dos

    Enfermeiros, 2004).

    O Enfermeiro Chefe o responsvel pela gesto dos recursos humanos de todos os

    enfermeiros, estando a seu cargo decidir sobre a afetao dos meios, nomeadamente atravs

    da elaborao de horrios e de planos de trabalho e de frias, pela gesto funcional dos

    assistentes operacionais e pela logstica do bloco operatrio, assegurando a informao que

    caracteriza o nvel de produo, desde o agendamento cirrgico aos recursos materiais

    necessrios para as todas cirurgias (Lopes, 2012).

    2.3.4. Riscos de natureza biolgica

    Os acidentes que envolvem a exposio a fludos orgnicos contaminados tm merecido

    especial ateno por parte dos servios de segurana e sade no trabalho. Neste mbito, o

    Decreto-Lei n. 121/2013, de 22 de agosto, relativo preveno de feridas provocadas por

    dispositivos mdicos corto-perfurantes que constituam equipamentos de trabalho nos

    setores hospitalar e da prestao de cuidados de sade, visa reforar e harmonizar as boas

    prticas j existentes, com vista na sua implementao em todos os servios de sade pblicos

    e privados a nvel nacional.

    No contexto da exposio aos agentes biolgicos, em particular aos microrganismos, as

    potenciais e principais fontes deste risco so o contacto pessoal com os doentes e o

    manuseamento de produtos biolgicos: sangue e seus componentes, fezes, urina, exsudados,

    secrees e vmitos, bem como os materiais contaminados por estes (Lima, 2008).

    So considerados agentes biolgicos todos os microrganismos, incluindo os geneticamente

    modificados, as culturas de clulas e os endoparasitas humanos suscetveis de provocar

    efeitos negativos na sade dos trabalhadores quando a eles esto expostos, nomeadamente

    infees, alergias ou intoxicaes. Os principais agentes biolgicos so os vrus, as bactrias,

    os parasitas, os fungos e os organismos geneticamente modificados (Freitas, 2011).

    Um microrganismo qualquer entidade microbiolgica, celular ou no, dotada de capacidade

    de reproduo ou de transferncia do material gentico (Freitas, 2011).

  • 17

    As possveis vias de entrada, com risco de exposio, a agentes biolgicos so a respiratria,

    a digestiva, a pele e membranas mucosas e a via percutnea, que se manifesta atravs de

    leses produzidas por objetos cortantes e/ou perfurantes para alm das picadas e/ou

    mordeduras (Gomz, 2012).

    Atravs das vias respiratrias podem ser transmitidos aerossis de pequenas ou grandes

    partculas, relevantes em doenas virais tais como o sarampo, infees por vrus influenza e

    por vrus sincitial respiratrio humano, assim como em doenas bacterianas, como a

    tuberculose pulmonar e a doena do legionrio (Barash et al., 2014). So exemplos de

    procedimentos geradores de aerossis, entre outros, a intubao endotraqueal, a aspirao

    traqueobrnquica, os cuidados de traqueostomia, a ressuscitao cardiopulmonar, a induo

    de expetorao, a broncoscopia, a administrao aerossolizada de medicamentos e serras de

    osso (CDC, 2015).

    Os agentes biolgicos, para os quais a via de transmisso fecal-oral se torna mais vivel, so

    os vrus da hepatite A e as bactrias como a helicobacter pylori e a salmonela (Lima, 2008). A

    Hepatite A quase sempre uma doena autolimitada, no existindo estado de portador

    crnico.

    As superfcies cutneas e mucosas podem estar expostas aos diferentes agentes biolgicos,

    resultando em doenas como o herpes, varicela e micoses cutneas. A infeo primria pelo

    vrus herpes simples tipo 1 (VHS-1) quase sempre assintomtica, mas pode causar leses

    bucais graves, febre e adenopatia (Barash et al., 2014).

    Por via percutnea, destaca-se a transmisso dos vrus da Hepatite B, Hepatite C e o vrus da

    imunodeficincia humana (VIH), sendo passvel o contacto com estes agentes quando se

    efetuam, dentre outras tarefas, a obteno de acessos venosos e arteriais, procedimentos

    meramente cirrgicos tais como inciso, corte e sutura, recolha de amostras de produtos

    biolgicos para anlise laboratorial, recolha e acondicionamento de perfuro-cortantes e de

    lixo hospitalar.

    Em funo do acima exposto, vrios autores citados em Canalli (2012) afirmam que

    numerosos estudos realizados com profissionais de sade destacam a equipa de enfermagem

    como aquela que mais acidentes tem durante a prtica profissional, tendo como maior fator

    de risco o contacto com o material perfuro-cortante e o material biolgico potencialmente

    contaminado.

  • 18

    Atualmente, as doenas apontadas na maioria dos estudos sobre acidentes com material

    biolgico potencialmente contaminado e de maior repercusso na sade dos trabalhadores

    so causadas por patgenos veiculados pelo sangue, tais como o vrus da Hepatite B, o vrus

    da Hepatite C e o vrus da imunodeficincia humana (Canalli, 2012).

    HEPATITE B

    O Vrus da hepatite B (VHB) constitui um perigo laboral significativo para os anestesiologistas

    e outro pessoal mdico sem imunidade ao vrus. O risco de infeo resulta do contacto

    percutneo ou mucoso acidental com sangue ou outros lquidos corporais de pacientes

    infetados. A infeo aguda pelo VHB pode ser assintomtica e quase sempre se resolve sem

    leso heptica significativa (menos do que 1% de pacientes com infeo aguda desenvolve

    hepatite fulminante). Cerca de 10% convertem-se em portadores crnicos do VHB (evidncia

    serolgica durante mais de 6 meses). Em dois anos, metade dos portadores crnicos resolve

    a infeo sem leso heptica residual. A hepatite crnica ativa pode evoluir para cirrose

    heptica e para o carcinoma hepatocelular, sendo estes desfechos frequentes em pessoas

    com infeo viral crnica durante mais de 2 anos (Barash et al., 2014).

    Em Portugal, a vacina da hepatite B (que como em qualquer pas a principal estratgia para

    prevenir a transmisso laboral do VHB), est includa no Programa Nacional de Vacinao

    desde o ano 2000, e estima-se que a prevalncia do VHB possa rondar 1%. Em relao ao

    tratamento, apesar de se ter comprovado elevado benefcio em termos clnicos (reduo da

    infecciosidade, regresso da cirrose e diminuio do risco de carcinoma hepatocelular), a

    teraputica no curativa, j que ainda no est bem definido a suspenso do tratamento

    (Pedroto et al.,2016).

    HEPATITE C

    A infeo crnica pelo vrus da hepatite C (VHC) pode evoluir, ao longo dos anos, para quadros

    clnicos e anatomopatolgicos de fibrose avanada, cirrose, falncia heptica e carcinoma

    hepatocelular que aumentam a morbilidade e reduzem a qualidade de vida e a sobrevivncia

    dos infetados. Em consequncia, o tratamento deste vrus deve ser considerado para todos

    os infetados por VHC (nvel de evidncia A, grau de recomendao I), exceto para os casos em

    que a esperana de vida estimada, de acordo com comorbidades no associadas com a doena

    heptica, seja inferior a 12 meses. No so includos nos termos da presente Norma, os

  • 19

    doentes para tratamento da hepatite C crnica causada pelos gentipos 5 e 6 do VHC, por no

    se considerar existir informao cientfica suficientemente robusta (DGS, 2016).

    Ainda de acordo com a DGS (2016), o objetivo imediato do tratamento do VHC a obteno

    de uma resposta virolgica sustentada que se traduz por ARN-VHC indetetvel (< 15 UI/ml),

    12 ou 24 semanas aps a suspenso do tratamento. Este resultado considerado pela

    comunidade cientfica como equivalente cura (nvel de evidncia A, grau de recomendao

    I).

    Estatsticas internacionais estimam que Portugal se situa na zona europeia em que a

    prevalncia do VHC ronda os 1,0 - 1,2%. Vrios autores estimam que o nmero de mortes em

    Portugal relacionadas com a hepatite C (cirrose heptica, carcinoma hepatocelular, mortes

    associadas ao VIH) possa atingir um nmero prximo dos 1000 por ano. Anjos et al. (sem data)

    citados por Pedroto et al. (2016), estimaram que os custos relacionados com a hepatite C

    possam rondar os 61 milhes de Euros por ano.

    INFECO POR VIH/SIDA

    A infeo por VIH uma pandemia. As estimativas apontam para 33.3 milhes de pessoas

    infetadas em todo mundo, 1.1 milhes nos Estados Unidos da Amrica, dos quais cerca de

    21% desconhecem que esto infetados (Barash et al., 2014).

    Antes do conhecimento da infeo pelo VIH, responsvel pelo desenvolvimento da sndrome

    de imunodeficincia adquirida (SIDA), acidentes envolvendo objetos perfuro-cortantes eram

    subestimados, bem como o risco de transmisso de patgenos atravs do sangue, como o

    vrus da hepatite B e C (Canalli, 2012).

    A primeira referncia de um caso comprovado de infeo pelo vrus da imunodeficincia

    humana ps exposio laboral em trabalhador de sade foi documentada em 1984 no jornal

    ingls The Lancet. A partir daquele momento, foram-se sucedendo inmeras referncias na

    literatura mdica mundial sobre o assunto (Boaventura, 1997).

    Para Boaventura (1997), o risco de infeo ps exposio laboral pelo vrus da

    imunodeficincia humana (VIH) de 0,3%, contra 15 a 20% do risco de infeo pelo vrus da

    hepatite B. Esta diferena resulta do grau de virmia, que muito superior no caso do VHB,

    que de 10/ml, pelo que bastam 0,00004 ml de sangue para ter poder infetante. No caso do

    VIH, a virmia de 10 /ml, sendo necessrio 0,1 ml de sangue para ser contaminante. Dentre

  • 20

    as diferentes vias de contaminao, a via percutnea a mais frequente, representando entre

    75 a 90% de todos os acidentes.

    A preveno de ferimentos por perfuro-cortantes inclui medidas para o seu manuseamento

    em segurana, de forma a evitar ferimentos ao utilizador e a outras pessoas que possam

    encontrar o dispositivo durante ou aps um procedimento. Em 1991, a OSHA publicou pela

    primeira vez o padro de patgenos transmitidos pelo sangue com vista a proteger os

    profissionais de sade, cujo objetivo foi a implementao de uma hierarquia de medidas de

    controlo que incluiu focar a ateno na remoo de perigos de objetos cortantes atravs do

    desenvolvimento e uso de medidas de controlo de engenharia (Siegel et al., 2007).

    Um estudo levado a cabo pelo ministrio da Sade do Kuwait, durante o ano de 2010, concluiu

    que nesse ano, o ferimento por agulha tinha sido o tipo mais comum de exposio (75,9%),

    tendo-se observado em situaes de insero ou remoo das mesmas a partir de pacientes

    (35,4%) e durante a execuo de intervenes cirrgicas (22,6%). As exposies ocorreram

    principalmente nas enfermarias e nas salas de cirurgia, sendo que os enfermeiros foram o

    grupo profissional mais afetado, logo seguido pelo grupo dos mdicos (Omar, 2014).

    TUBERCULOSE PULMONAR

    Os casos de tuberculose pulmonar (TP) ativa (doena) entre os profissionais de sade devem

    ser considerados como doenas profissionais com origem provvel no local de trabalho. As

    principais fontes de transmisso so os doentes com tuberculose pulmonar ou larngea. A

    avaliao do risco nos locais de trabalho est fortemente associada s tarefas executadas e

    aos meios de proteo utilizados. So consideradas atividades de risco elevado aquelas que

    envolvem procedimentos como a induo de tosse (laringoscopias/broncoscopias, aspirao

    de secrees, entubao e nebulizao) quando efetuadas sem proteo adequada (DGS,

    2014).

    A avaliao e gesto do risco de TB nos profissionais de sade realizada por tcnicos

    qualificados de Sade Ocupacional/Sade e Segurana do Trabalho de cada estabelecimento

    de sade. A colaborao com a Comisso de Controlo de Infeo e com os servios de cada

    estabelecimento deve ser fomentada, de modo a que todos os casos de tuberculose sejam

    reportados (DGS, 2014).

  • 21

    O programa de controlo de TB deve basar-se numa hierarquia com trs nveis de medidas que

    incluem medidas administrativas, controlo ambiental e uso de equipamentos de proteo

    respiratria (Siegel et al., 2007).

    DOENA POR PRIES

    Os pries so responsveis pela transmisso de encefalopatias espongiformes transmissveis

    (encefalopatia espongiforme bovina ou doena das vacas loucas, no gado, e doena de

    Creutzfeldt-Jakob em humanos). No existe tratamento e todas as formas desta doena so

    mortais (Barash et al., 2014).

    uma doena neurodegenerativa humana, rara e fatal, classificada como Encefalopatia

    Espongiforme Transmissvel devido sua capacidade de ser transmissvel e por causar

    degenerao esponjosa do crebro. Em contexto laboral, pode resultar da transmisso

    acidental atravs de equipamento cirrgico contaminado com sangue ou seus derivados

    (WHO, 2012).

    CAUSALIDADE DE ACIDENTES COM MATERIAIS DE NATUREZA BIOLGICA

    As agulhas de sutura com pontas cortantes so a fonte principal de leses percutneas nos

    cirurgies, causando entre 51% e 77% destes acidentes, que ocorrem frequentemente

    quando estes realizam suturas de msculos e fscias, quando passam a agulha de mo em

    mo e quando deixam as agulhas no campo operatrio. Esta ltima causa, associada

    colocao ou reposio da agulha no porta-agulhas, representa a causa principal de leses

    nos instrumentistas. Para esse efeito, a OSHA identifica e recomenda o uso de agulhas com

    pontas rombas, como exemplo de medidas de engenharia, para suturar tecidos menos densos

    como so, por exemplo, os msculos e as fscias, permitindo utilizar agulhas convencionais

    para suturar estruturas como a pele, os intestinos e os vasos sanguneos (CDC, 2008).

    Outra situao que responsvel por um grande nmero de casos a tentativa errada de

    revestir as agulhas com a cpsula aps utilizao (Boaventura, 1997).

    A OSHA e o NIOSH recomendam energicamente o uso de agulhas de sutura com pontas

    rombas sempre que seja vivel e apropriado, para diminuir leses percutneas no pessoal

    cirrgico, pois o uso clnico e os estudos cientficos tm demonstrado a efetividade destas

    agulhas em diminuir os riscos de leses percutneas (CDC, 2008).

  • 22

    O fumo cirrgico um exemplo de um contaminante do ar encontrado nas salas de operao

    que comumente incorporam laser e procedimentos eletrocirrgicos. Vrias organizaes

    profissionais e agncias governamentais recomendam o uso de ventilao de exausto local

    (LEV) como principal meio de controlo cirrgico para o fumo. A falta de proteo respiratria

    adequada e de LEV reforam a necessidade de criao de programas de educao e formao

    dos trabalhadores em matria de controlo apropriado para exposio fumaa cirrgica (The

    Joint Commission, 2014).

    Mltiplas abordagens so necessrias para a preveno e controle de infees. As medidas de

    preveno e controlo de infees visam reduzir a disseminao da doena entre pacientes,

    profissionais de sade e visitantes. Exemplos de medidas de controlo de infeo incluem a

    vacinao de funcionrios, a higienizao das mos, a substituio ou limpeza, desinfeo e

    esterilizao de instrumentos cirrgicos, dispositivos de cuidados ao paciente, uniformes e

    equipamentos de proteo individual (EPI) (CDC, 2015).

    2.3.5. Riscos de natureza qumica

    Alguns dos fatores de risco qumico referenciados ao nvel internacional devem-se

    manipulao de drogas citostticas, exposio a gases anestsicos, exposio a agentes

    qumicos, em geral, a reaes alrgicas s luvas, exposio ao cimento sseo, tambm

    designado de cimento de metil-metacrilato, entre outros (Xelegati, 2003, citado em Faria,

    2008).

    Neste contexto, os riscos da exposio laboral ao metil-metacrilato incluem queimaduras

    cutneas, reaes alrgicas, asma, irritao ocular (inclui possvel ulcerao corneal), cefaleia

    e sinais neurolgicos. A OSHA recomenda o uso de dispositivos de eliminao para manter a

    exposio ao metil-metacrilato em 8 horas em mdia ponderada por tempo em 100 ppm

    (Barash et al., 2014).

    O latex presente nas luvas cirrgicas e nas luvas de procedimentos tem se convertido na causa

    principal de reaes alrgicas entre o pessoal cirrgico. Estas reaes intensificam-se pela

    presena de talco que aumenta a possibilidade de as partculas de latex se dispersarem em

    aerossol e se disseminarem ao sistema respiratrio do pessoal e s superfcies ambientais

    durante o processo de calar ou retirar as luvas, podendo resultar em dermatite de contacto

  • 23

    por irritao, reaes de hipersensibilidade tardia (Tipo IV), reaes de hipersensibilidade

    imediata (Tipo I), urticria localizada por contacto e reao generalizada (Barash et al., 2014).

    Nos hospitais, o formaldedo utiliza-se em grande escala para conservar as amostras de

    tecidos orgnicos. tambm utilizado como desinfetante nas salas operatrias e nos

    processos de esterilizao de instrumentos cirrgicos. uma substncia irritante para os olhos

    e para as vias respiratrias, provocando importantes alteraes neurocomportamentais.

    Recentemente, foi sugerido que a exposio ao formaldedo pode aumentar o risco de cancros

    nasossinusais, em particular adenocarcinomas. A Agncia Internacional de Investigao sobre

    o Cancro concluiu que existe apenas uma pequena evidncia epidemiolgica de que o

    formaldedo possa causar cancro nasal em humanos (Sandvik et al., 2014). Estes autores

    descreveram o caso de um auxiliar de enfermagem que, aps vrios anos de trabalho no BO

    e de exposio continuada ao formaldedo, desenvolveu carcinoma adenoide qustico no seio

    maxilar esquerdo.

    Os anestsicos inalatrios so os frmacos mais utilizados para manuteno da anestesia

    geral. A popularidade desses medicamentos baseada numa gama de atrativos, como

    facilidade de administrao, previsibilidade dos seus efeitos, baixo custo e extenso treino dos

    anestesistas.

    Os anestsicos volteis mais conhecidos na prtica clnica so o xido nitroso, o halotano, o

    enflurano, o isoflurano, o sevoflurano e o desflurano. O halotano o menos utilizado devido

    s suas propriedades negativas especficas, das quais ressalta a hepatite por halotano

    complicao extremamente rara (1 para cada 35.000 casos) (Morgan, 2006).

    Os efeitos reprodutivos so a principal preocupao relativamente exposio ocupacional

    aos agentes anestsicos, particularmente o risco de abortamento espontneo e a

    teratogenicidade, nomeadamente associada exposio ao xido nitroso (Norton, 2015).

    A maioria das alteraes psicomotoras e cognitivas mensurveis (letargia e fadiga) resultantes

    de exposies breves aos anestsicos inalatrios so transitrias e desaparecem 5 minutos

    aps terminada a exposio (Barash et al., 2014).

    No bloco operatrio existem mltiplas fontes potenciais de fuga de gs anestsico para a

    atmosfera incluindo as vlvulas de escape, conexes no circuito ventilatrio, defeitos nas

    traqueias de plstico, nos bales de insuflao, nos foles do ventilador ou conector em Y. A

    tcnica anestsica selecionada, o tipo de material utilizado e prticas inadequadas, podem

    tambm contribuir para a fuga de anestsicos inalatrios para o ambiente (Norton, 2015).

  • 24

    Os medicamentos citostticos so utilizados para prevenir a proliferao de clulas tumorais

    por meio de vrios mecanismos. As diversas substncias ativas presentes no mercado atuam

    de forma txica sobre as clulas e produzem vrios efeitos nos seres humanos.

    Os trabalhadores do servio de sade podem entrar em contacto com medicamentos

    citostticos em diversas circunstncias. Uma vez que as substncias ativas se acumulam na

    pele dos doentes ou noutras superfcies humedecidas, os trabalhadores podem estar

    expostos, por exemplo, quando lavam os doentes.

    As propriedades j conhecidas deste tipo de medicamentos cancergenos, mutagnicos e

    txicos justificam a aplicao de medidas de proteo dos trabalhadores que com eles

    contactam. O uso de equipamentos de proteo individual adequados tambm evita a

    exposio dos trabalhadores. Neles se incluem, em particular, o uso de luvas de proteo

    adequadas sempre que necessrio, com punhos. H luvas especiais de proteo contra os

    citostticos e, por vezes, recomendado o uso de dois pares (luvas duplas) e de uma bata de

    laboratrio abotoada at ao pescoo com mangas compridas e punhos ajustados.

    2.3.6. Riscos psicossociais

    Os enfermeiros e os mdicos ocupam reconhecidamente o topo das profisses geradoras de

    stresse. Estes profissionais, que mantm durante muito tempo uma relao de ajuda e

    interao com os outros, esto mais sujeitos a desenvolver problemas de sade mental. Para

    alm disso, os mdicos revelam maior conflitualidade familiar e divorciam-se vinte vezes mais

    do que a populao geral (Gabbard & Menninger, 1988, citado em Machado, 2013).

    Para Gomes et al. (2009), os estudos tm vindo a evidenciar que os enfermeiros representam

    uma classe profissional particularmente exposta a elevados nveis de presso e stresse.

    Adicionalmente, devem ainda ser referidos os perigos para a prpria sade do profissional,

    uma vez que algumas das patologias dos doentes so de natureza infeciosa, como por

    exemplo a SIDA, colocando desafios constantes e presso ao exerccio dessa profisso.

    A sala de operaes impe um nvel basal de stresse crnico ligeiro. Os fatores stressantes

    especficos referidos pelos anestesiologistas incluem o carter imprevisvel do trabalho, a

    necessidade de vigilncia mantida por intervalos prolongados, a presso sobre a produo, as

    relaes interpessoais difceis e as incertezas econmicas (Barash et al., 2014).

  • 25

    Gomes (2014), num estudo comparativo sobre stresse ocupacional em mdicos e enfermeiros

    a trabalharem em instituies hospitalares e centros de sade da regio norte de Portugal,

    obteve resultados que apontaram avaliaes gerais de stresse mais elevadas nos mdicos do

    que nos enfermeiros, valores de burnout semelhantes em ambas as classes e maior

    insatisfao pessoal e profissional nos enfermeiros.

    Uma das possveis consequncias da multiplicidade de exigncias laborais o surgimento do

    burnout (esgotamento). De acordo com Shirom e Melamed (2006), citado em Machado,

    (2013), o fenmeno de burnout deve ser entendido como um estado afetivo caracterizado

    pela exausto emocional, fadiga fsica e fadiga cognitiva.

    A Organizao Mundial de Sade (OMS) considera a sndrome de burnout como um dos

    problemas de sade mais graves da atualidade, no s pela significativa prevalncia do

    fenmeno em profissionais de sade, como tambm pelas repercusses negativas na

    qualidade dos servios prestados, na satisfao dos pacientes e ainda na adeso ao

    tratamento (Machado, 2013).

    Relativamente ao suicdio, Barash et al (2014), apontam o stresse e o abuso de substncias

    entre o pessoal de anestesia como possveis causas para o aumento das respetivas taxas de

    burnout.

    2.3.7. Riscos ergonmicos

    Os riscos ergonmicos tambm esto presentes em meio hospitalar, estando principalmente

    associados movimentao e ao transporte de doentes, ao manuseamento e transporte de

    equipamentos e materiais, s posturas prolongadas e inadequadas nos diferentes postos de

    trabalho, ao tipo de mobilirio, aos movimentos repetitivos, alm das deslocaes frequentes

    e desnecessrias realizadas durante a jornada de trabalho e da existncia de doentes com

    graus de dependncia mltipla. Tudo isto contribui para aumentar, de forma exponencial, a

    ocorrncia de leses musculoesquelticas que afetam os ossos, os msculos e os tendes,

    devido sobrecarga ou m utilizao dessas estruturas (Silva, 2014).

    No BO podem existir dificuldades derivadas do mau dimensionamento de mobilirio e

    equipamentos. Por exemplo, o aparelho de anestesia algumas vezes est mal posicionado,

    com frequncia os monitores esto colocados de tal maneira, que a ateno do mdico se

    desvia do paciente e do campo cirrgico. A capacidade para realizar tarefas complexas de

  • 26

    ateno, como a manuteno da vigilncia e a resposta a incidentes crticos vulnervel

    distrao gerada pelo desenho ou pela colocao incorreta e inadequada do equipamento

    (Barash et al., 2014).

    2.3.8. Riscos de natureza fsica

    Os riscos de natureza fsica em meio hospitalar esto representados pelas radiaes ionizantes

    e no ionizantes, ambiente trmico, iluminao, rudo e vibraes que contribuem de forma

    decisiva para a ocorrncia de diversas doenas profissionais e acidentes de trabalho. H ainda

    a acrescentar o risco de incndio e exploso intraoperatria.

    A radiao ionizante inclui a radiao eletromagntica (raios x e raios gama), assim como a

    radiao corpuscular de partculas subatmicas: protes, neutres, eletres. Tanto a radiao

    eletromagntica como a corpuscular, ao entrarem em contacto com a matria, tm a

    capacidade de induzir ionizaes e excitao dos tomos, podendo levar rutura de ligaes

    moleculares na cadeia de ADN (efeito direto) e formao de radicais livres que vo reagir

    quimicamente (efeito indireto), resultando em danos celulares, tecidulares e orgnicos (DGS,

    2016b).

    Os dados na literatura revelam que estes riscos esto presentes em reas onde se utilizam

    equipamentos de imagens mdicas em tempo real, como acontece nos blocos operatrios,

    laboratrio de cateterismo cardaco e outras salas de radiologia de interveno.

    Segundo a Lei n. 102/2009, de 10 de setembro e suas alteraes, as atividades que impliquem

    exposio a radiaes ionizantes so consideradas de risco elevado e suscetveis de implicar

    riscos para o patrimnio gentico. Os ovrios e os testculos so rgos que podem apresentar

    graves comprometimentos funcionais. Medula ssea, tecido linftico e cristalino so outros

    tecidos igualmente radiossensveis. O cancro e as anomalias genticas hereditrias so dois

    efeitos que ocorrem a longo-prazo e que so normalmente considerados fenmenos sem

    limiar de dose. Os trabalhadores que estiveram expostos radiao ionizante em alguma fase

    da sua vida profissional e que, posteriormente, desenvolveram cancro devem ser objeto de

    uma cuidadosa avaliao de risco profissional que identifique o nexo de causalidade podendo

    determinar, a qualquer momento, a participao de doena profissional (DGS, 2016).

    Segundo Carvalho (2009), a exposio a radiaes ionizantes durante um certo perodo de

    tempo, dose correspondente ao limite de dose ocupacional para radiaes ionizantes (20

  • 27

    mSv durante 1 ano), implica um risco de morte por cancro 10 vezes superior que se

    verificaria se se tratasse de uma exposio ao amianto durante o mesmo perodo de tempo.

    Apesar disso, atualmente so raros os trabalhadores que esto expostos a doses de radiao

    prximas dos 20 mSv por ano.

    As radiaes no ionizantes possuem baixa energia e, ao incidirem sobre a matria biolgica,

    no conseguem provocar uma ionizao. Este tipo de radiaes proveniente de raios laser,

    campos magnticos e rdio frequncias. Teoricamente, os riscos para a sade so

    considerados pouco relevantes, mas a utilizao dos raios laser no ser de todo isenta de

    riscos (Perdigoto, 2012).

    A luz de laser (light amplification by stimulated emission of radiation) difere da luz comum sob

    3 aspetos: monocromtica (i.e., possui um s comprimento de onda), coerente (oscila na

    mesma fase) e colimada (existe como um feixe paralelo estreito) (Miguel, 2014).

    Estas caratersticas oferecem ao cirurgio excelente preciso e hemostasia com mnimo

    edema ou dor ps-operatria. As precaues gerais incluem a evacuao dos fumos txicos

    (pluma do laser) produzidos a partir da vaporizao dos tecidos. Estes podem ter potencial de

    transmitir doenas bacterianas. As queimaduras e as leses oculares dependero do

    comprimento de onda do laser que estiver a ser utilizado, pelo que todo pessoal na sala de

    cirurgia deve usar proteo para os olhos, incluindo o doente. No caso de cirurgia da via area

    com laser, o maior temor o incndio no tubo endotraqueal (Morgan, 2006).

    Outras precaues relacionadas com a utilizao de laser so as seguintes: as paredes das

    salas devem ter cores baas e no refletoras, as janelas devem ser de vidro fosco, deve haver

    um sistema de ventilao e aspirao de fumos, a sinalizao de portas onde se utiliza o laser

    obrigatria, deve-se utilizar instrumental cirrgico de superfcies baas, deve-se utilizar

    protees oculares especficas, fazer vigilncia oftalmolgica peridica, proibir de utilizao

    de adornos ou placas metlicas, fazer uma manuteno preventiva do equipamento por

    pessoal competente e cumprir as normas de segurana preconizadas (Pettersson et al., 2000;

    Graa, 2009; Campos & Pinheiro, 1997, citados em Perdigoto, 2012).

    Com relao ao ruido na sala operatria, os ventiladores, aspiradores, msica e conversas

    geram um rudo de fundo de 75 a 90 dB(A), o que interfere com a capacidade para ouvir os

    alarmes. A eficcia mental, a memria de curto prazo e a capacidade para realizar tarefas

    mltiplas e psicomotoras complexas diminuem (Barash et al., 2014).

  • 28

    Morgan (2006) refere que o rudo das salas de cirurgia tem sido medido revelando nveis de

    70 a 80 dB(A), com picos sonoros frequentemente excedendo os 80 dB(A) dependendo do

    sistema de ventilao (por exemplo fluxo laminar) e instrumentos cirrgicos (por exemplo

    brocas e serras) que esto a ser utilizados.

    Sobre esse aspeto, Bonavides (2000), citado em Faria, (2008), afirma que nos servios de

    cirurgia so recomendados nveis de ruido entre 35 e os 40 dB(A).

    Relativamente iluminao, os diferentes tipos de utilizadores e as diversas atividades

    realizadas no hospital requerem cuidados particulares e especializados, no sentido de ser

    proporcionado o adequado bem-estar visual. Assim, a questo da iluminao, deve ter em

    conta as salas de cirurgia dos blocos operatrios, as salas de trabalho de enfermagem, as

    enfermarias e os laboratrios. A iluminao insuficiente nestes casos pode dar origem a

    consequncias graves quer para o profissional quer para o doente (Silva, 2014).

    Segundo a ACSS (2011), com respeito iluminao, recomenda-se para as salas de cirurgia um

    nvel mdio de iluminncia de 1000 lux, com um ndice de restituio cromtico mnimo de

    90%. Deve ser considerada a regulao do fluxo luminoso. A iluminao operatria (sem

    sombra) deve ser alimentada por uma fonte com autonomia mnima de 1 hora.

    O ambiente trmico consiste na relao conforto/desconforto relativo temperatura

    corporal. H conforto trmico quando existe um equilbrio entre a produo de calor e

    humidade pela atividade metablica do organismo, e a dissipao proporcional deste mesmo

    calor e humidade para o ambiente (Silva, 2014).

    A norma ISO 7730:2005 considera que um espao apresenta condies de conforto trmico

    quando no mais do que 10% dos seus ocupantes se sintam desconfortveis.

    Os sistemas de ventilao e de distribuio de ar em salas operatrias devem garantir o

    conforto trmico do utente e da equipa cirrgica durante a cirurgia, o que muitas das vezes

    fica em segundo plano. Condies trmicas confortveis ajudam a equipa cirrgica a operar

    melhor e previnem possveis problemas ao paciente (Fernandes, 2014).

    Fernandes (2014), num estudo por si realizado, observou que os parmetros fsicos do

    ambiente trmico, ou seja, temperatura do ar, humidade relativa, temperatura do globo e

    velocidade do ar se encontram dentro dos valores recomendados pela literatura

    internacional, no que se refere aos utilizadores do BO. Constatou igualmente valores dentro

    do recomendado, no que diz respeito ao isolamento do vesturio e ao metabolismo. O autor

  • 29

    tambm notou que houve uma tendncia dos inquiridos para considerarem as salas

    operatrias ligeiramente mais frias.

    A temperatura, na maioria das salas de cirurgia, parece ser desconfortavelmente fria para

    muitos pacientes conscientes e, tambm para os anestesiologistas. Por outro lado, ficar em

    p com roupas cirrgicas durante horas sob as luzes da sala de cirurgia pode ser um teste de

    resistncia para muitos instrumentistas e cirurgies. Como princpio geral, o conforto do

    pessoal da sala de cirurgia deve ser conciliado com as necessidades do paciente. Por exemplo,

    crianas pequenas e pacientes com grandes superfcies expostas (como aqueles com

    queimaduras trmicas) constituem indicaes especficas para uma sala de cirurgia com

    temperatura de 24 C ou mais, j que estes pacientes perdem calor rapidamente e tm

    capacidade limitada de termognese (Morgan, 2006).

    O risco de incndio e exploso intraoperatria derivam da presena de um agente

    extremamente oxidante, no caso, o oxignio, o xido nitroso e o ar. Os materiais da sala de

    cirurgia que podem ser combustveis incluem cnulas endotraqueais, cateteres de oxignio,

    campos cirrgicos e solues alcolicas. As fontes de ignio mais modernas incluem

    equipamento eltrico como a unidade eletrocirrgica, laser e fibra tica com luz. O uso de

    diatermia perto de uma ala intestinal distendida ou o laser prximo de cnulas endotraqueais

    fornece-nos suspeita de perigo de exploso intraoperatria. Os resultados de incndios em

    salas de cirurgia so invariavelmente trgicos (Morgan, 2006; Barash et al., 2014).

    2.3.9. Equipamentos de proteo individual (EPI) em contexto especfico

    Embora parea algo novo, a preocupao com a segurana remonta aos anos em que os

    homens viviam em cavernas, ou seja, h sensivelmente quatro milhes de anos, os homens j

    deveriam proceder de acordo com regras de segurana, pois, segundo Freitas (2011), caso

    contrrio, a espcie teria sido dizimada.

    O controlo dos riscos dentro de limites aceitveis pressupe quatro processos, em que o

    primeiro prev limitar ou eliminar o perigo e o segundo envolver o perigo; o controlo destes

    dois processos envolve medidas que atuam sobre os meios de trabalho, designadamente

    medidas construtivas ou de engenharia. O terceiro processo de controlo do risco consiste em

    afastar o homem do perigo mediante conceo de medidas organizacionais, as quais atuam

    no sistema homem-mquina-ambiente. O quarto processo prev a proteo do homem

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    atravs de medidas individuais ou de proteo individual, que devem ser usadas apenas na

    impossibilidade de adoo de medidas de ordem geral. A adoo de medidas construtivas

    constitui o mtodo mais desejvel e eficaz e deve ser tido em conta, preferencialmente, na

    fase de conceo ou de projeto (Miguel, 2014).

    O EPI todo o equipamento, complemento ou acessrio a ser utilizado para proteo contra

    os riscos para a Segurana e Sade no Trabalho, quando estes no podem ser eliminados por

    meios de proteo coletiva ou por medidas, mtodos ou processos de organizao de trabalho

    (Freitas, 2011). De acordo com o mesmo autor, os EPI so classificados em funo do tipo de

    agente agressor, a parte do corpo a proteger e o tipo de risco.

    O regulamento (UE) 2016/425 do Parlamento Europeu e do Conselho da Unio Europeia

    revoga a diretiva 89/686/CEE, estabelecendo requisitos para a conceo e fabrico de

    equipamentos de proteo individual destinados a ser disponibilizados no mercado, a fim de

    assegurar a proteo da sade e a segurana dos utilizadores e de