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1 FACULDADE DE DIREITO PROJEÇÃO CURSO: DIREITO CLAUDIO VIANA DOS SANTOS A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PLENA ATRAVÉS DA INTRODUÇÃO DE NOÇÕES DE DIREITO NA EDUCAÇÃO BÁSICA.

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1

FACULDADE DE DIREITO PROJEÇÃO

CURSO: DIREITO

CLAUDIO VIANA DOS SANTOS

A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PLENA ATRAVÉS DA INTRODUÇÃO DE NOÇÕES DE DIREITO NA EDUCAÇÃO BÁSICA.

BRASÍLIA

2012

2

CLAUDIO VIANA DOS SANTOS

A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PLENA ATRAVÉS DA INTRODUÇÃO DE NOÇÕES DE DIREITO NA EDUCAÇÃO BÁSICA.

Monografia apresentada na Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso como requisito básico para a apresentação do Trabalho de Conclusão do Curso de Direito pela Faculdade de Direito Projeção.

Orientador (a): MATHEUS PASSOS SILVA

BRASÍLIA2012

3

Monografia apresentada para a Banca Examinadora do

Curso Bacharel em Direito, como exigência obrigatória

para a obtenção de título de graduação pela Faculdade

Projeção, sob orientação do Professor Matheus Passos

Silva

BRASILIA2.012

4

TERMO DE APROVAÇÃO

Claudio Viana dos Santos

A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PLENA ATRAVÉS DA INTRODUÇÃO DE NOÇÕES DE DIREITO NA EDUCAÇÃO BÁSICA.

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito

obrigatório para obtenção da graduação de Bacharel em Direito,

pela seguinte banca examinadora:

Taguatinga: Data de Aprovação____ de________ de 2012.

___________________________

Profº orientador – Matheus Passos Silva

__________________________

__________________________

__________________________

5

AGRADECIMENTOS

À minha esposa, Sandra, e meu ao filho, Heitor, sem os quais eu não teria forças

para superar as dificuldades dessa graduação e outras surgidas durante esse processo.

Aos colegas de curso, que contribuíram imensamente com suas ideias para que

esse trabalho fosse realizado.

A todos que dispuseram de seu tempo para participar dessa pesquisa.

Ao orientador que, com paciência e dedicação, iluminaram o caminho a ser

trilhado.

A todos os professores da Faculdade de Direito Projeção que me possibilitaram

esse crescimento acadêmico que é tão relevante para vida pessoal quanto para a

profissional.

E, principalmente, a Deus que em todas as horas esteve presente a me

impulsionar neste trabalho na busca por uma vida digna.

6

SUMÁRIO

1. RESUMO.............................................................................................................07

2. ABSTRACT..........................................................................................................08

3. TEMA..................................................................................................................09

3.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................09

3.2 PROBLEMATIZAÇÃO....................................................................................11

3.3 JUSTIFICATIVA.............................................................................................13

3.4 OBJETIVOS...................................................................................................18

4. METODOLOGIA DA PESQUISA........................................................................18

5. CAPÍTULO I.........................................................................................................20

6. CAPÍTULO II........................................................................................................29

7. CAPÍTULO III.......................................................................................................39

7.1. PESQUISA DE CAMPO...........................................................................39

7.2. JUSTIFICATIVA DA PESQUISA DE CAMPO.........................................39

7.3. ANÁLISE DA QUESTÃO 1 (UM)............................................................. 39

7.4. ANÁLISE DA QUESTÃO 2 (DOIS)..........................................................43

7.5. ANÁLISE DA QUESTÃO 3 (TRÊS).........................................................47

7.6. ANÁLISE DA QUESTÃO 4 (QUATRO)....................................................52

7.7. ANÁLISE DA QUESTÃO 5 (CINCO).......................................................56

7.8. ANÁLISE DA QUESTÃO 6 (SEIS)...........................................................61

7.9. ANÁLISE DA QUESTÃO 7 (SETE)..........................................................65

8. CONCLUSÃO DA PESQUISA DE CAMPO.........................................................68

9. ANTEPROJETO DE LEI......................................................................................70

9.1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA...............................................................70

9.2. PESQUISA SOBRE PROJETOS EM TRAMITAÇÃO NO LEGISLATIVO....70

9.3. PROPOSIÇÃO LEGISLATIVA......................................................................71

9.4. EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DO ANTEPROJETO DE LEI...........................73

9.5. CONSEQUENCIAS DO ANTEPROJETO DE LEI........................................77

10. CONCLUSÃO DO TRABALHO DE CURSO.......................................................79

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................81

12. ANEXOS..............................................................................................................82

12.1. ANEXO 1 (UM) LEI Nº 9.394 DE 1.996......................................................82

12.2. QUESTIONÁRIO APLICADO NA PESQUISA DE CAMPO.......................115

7

1. RESUMO

O exercício cidadania, situação em que se enquadram todos aqueles que

plenamente usufruem de seus direitos e respeitam os direitos dos outros além de

cumprirem com suas obrigações legais e judiciais, é um dos principais alvos que deve

ser perseguido num estado democrático de direito. Portanto, tendo o Brasil uma

Constituição Federal cujo fulcro máximo é a cidadania, a construção desta torna-se

objetivo e fundamento de extrema importância para todos os segmentos da sociedade.

O ensino de noções de direito ao/à estudante da educação básica visa dar

subsídio legal àqueles/as que pretendem iniciar sua trajetória profissional, haja vista que

em todos os empregos e/ou iniciativas empresariais é absolutamente necessário

conhecimento do ordenamento jurídico federal, estadual e municipal, sobretudo, se o

ente da federação na qual o cidadão se encontra é o Distrito Federal por sua

característica híbrida de estado e município e por cujo governo federal ter sua sede em

Brasília.

Dessa forma, o presente trabalho reflete a necessidade imperiosa de se construir

a cidadania plena através do exercício verossímil, por parte do cidadão, dos seus

direitos e do cumprimento de suas obrigações. Para tanto, tornou-se relevante o

argumento aqui defendido a fim de que noções básicas de direito sejam ministradas

como disciplina obrigatória da educação básica, sob o título de Educação para a

Cidadania, na qual serão ministrados conteúdos que facilitem a compreensão da

legislação pátria e propiciem a participação conscientemente tanto coletiva quanto

individualmente da/o estudante na construção da cidadania como sujeito de

transformação.

PALAVRAS-CHAVES: CIDADANIA, CIDADÃO EDUCAÇÃO, NOÇÕES DE DIREITO,

LEGISLAÇÃO, DEMOCRACIA, CONSTRUÇÃO, ESTUDANTE E TRANSFORMAÇÃO.

8

2. ABSTRACT

The exercise of citizenship: a situation in which all those who fully enjoy their

rights and respects those of others, also fulfilling their legal and juridical obligations and

roles. This exercise is one of the main goals a democratic state funded in rights should

aim for; therefore, as Brazil has a Federal Constitution which rests upon matters of

citizenship, its development must be both objective and fundament of utmost importance

for every segment of society.

To teach notions of laws and rights to students of basic education assists over

giving enough knowledge to those who wish to start their professional careers, having in

sight that the knowledge of the statutory law and process is downright necessary in

every job and/or enterpreneuristic attempt, more so if the citizen in question is in Distrito

Federal, given its state/municipality hybrid condition and given the federal government is

held in Brasília.

As such, the present work ponders upon the imperious need of constructing

citizenship throughout real exercise of one's rights and fulfilling one's obligations in all

likehood. For instance, it has become quite relevant the point here stated and defended

so that basic notions of law and right are ministered as compulsory subject in basic

education, under the name of Education for Citizenship, in which the ministered contents

will ease the comprehension of the national law and allow conscious participation of the

student, collectively and individually, in the construction of citizenship as transformation

agent.

KEYWORDS: CITIZENSHIP, CITIZEN, EDUCATION, LAW AND RIGHT NOTIONS,

STATUTORY LAW, DEMOCRACY, CONSTRUCTION, STUDENT AND

TRANSFORMATION.

9

3. TEMA

A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PLENA ATRAVÉS DA INTRODUÇÃO DE NOÇÕES DE DIREITO NA EDUCAÇÃO BÁSICA.

3.1. INTRODUÇÃO

Após completar pouco mais de duas décadas de promulgação, a Constituição da

República Federativa do Brasil, também conhecida como Constituição Cidadã, ainda

não conseguiu ser totalmente aplicada. Nesse tempo, os direitos de primeira, segunda e

terceira gerações estão longe de ser objeto de comemoração no que diz respeito à

democratização. As garantias e os direitos individuais e coletivos previstos na

Constituição Federal são normas cuja eficácia ainda carece de regulamentação

infraconstitucional. Tais situações colocam o Poder Judiciário em situação anômala, já

que em não raras situações é o próprio Judiciário quem age como o protetor da

cidadania, atuando como legislador, para garantir o desfrute dos direitos por parte da

população. Exemplo prático dessa afirmação é a aplicação do direito de greve previsto

na Constituição da República, que fora regulamentado apenas para o trabalhador na

esfera privada, celetista. Dessa forma, na falta de legislação daquele direito no setor

público, o Supremo Tribunal Federal estendeu a aplicação da lei de greve do setor

privado aos servidores públicos enquanto o Legislativo não o regulamenta de forma

definitiva.

Tal exemplo consubstancia o fato de que os direitos constitucionais não são

inteiramente usufruídos pela população, ora por falta de regulamentação

infraconstitucional, ora por falta de interesse da Administração pública em aplicar a Lei.

No entanto, o que mais causa arrepio ao Direito e à Justiça é a falta de conhecimento

da legislação pátria pela própria população que dela vai desfrutar, seja para cumprir

obrigações, seja para perceber os benefícios dela oriundos.

Essa falta de informação da população acerca da legislação nacional

impossibilita o pleno exercício da cidadania e, consequentemente, se traduz no

aumento das desigualdades, causando flagrante descumprimento de um dos preciosos

objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil previsto da Carta Magna que

se refere ao combate às desigualdades sociais, já que é a própria Constituição quem,

do alto de sua soberania, aduz, proclama e garante no seu artigo 3º, inciso III:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

10

II - garantir o desenvolvimento nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação1.

O dispositivo constitucional ora mencionado quer dar ao Brasil ares de nação

que preza pela erradicação das desigualdades, já que é de conhecimento amplo e

demonstrado por estudos científicos que um dos pilares da violência é desigualdade

social. Entretanto, é imperioso cientificar-se do conceito de desigualdade e de

igualdade. Para Rui Barbosa em sua obra Oração aos Moços há de se verificar o que o

tema desigualdade tem de relevante para que possa combatê-la. Vejamos o que diz o

valoroso jurista:

Ninguém, senhores meus, que empreenda uma jornada extraordinária, primeiro que meta o pé na estrada se esquecerá de entrar em conta com as suas forças, por saber se a levarão ao cabo. Mas, na grande viagem, na viagem de trânsito deste a outro mundo, não há “possa, ou não possa”, não há querer, ou não querer. A vida não tem mais que duas portas: uma de entrar, pelo nascimento; outra de sair, pela morte. Ninguém, cabendo−lhe a vez, se poderá furtar à entrada. Ninguém, desde que entrou, em lhe chegando o turno, se conseguirá evadir à saída. E, de um ao outro extremo, vai o caminho, longo, ou breve, ninguém o sabe, entre cujos termos fatais se debate o homem, pesaroso de que entrasse, receioso da hora em que saia, cativo de um e outro mistério, que lhe confinam a passagem terrestre. Não há nada mais trágico do que a fatalidade inexorável deste destino, cuja rapidez ainda lhe agrava a severidade. Em tão breve trajeto cada um há de acabar a sua tarefa. Com que elementos? Com os que herdou, e os que cria. Aqueles são a parte da natureza. Estes a do trabalho.

A parte da natureza varia ao infinito. Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas às outras. Mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as gotas do mesmo fluido, os argueiros do mesmo pó, as raias do espectro de um só raio solar ou estelar. Tudo assim, desde os astros no céu, até os micróbios no sangue, desde as nebulosas no espaço, até aos aljôfares do rocio na relva dos prados.

A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem.Esta blasfêmia contra a razão e a fé, contra a civilização e a humanidade, é a filosofia da miséria, proclamada em nome dos direitos do trabalho; e, executada, não faria senão inaugurar, em vez da supremacia do trabalho, a organização da miséria. Mas, se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança. Tal a missão do trabalho2.

1 Constituição Federal de 19882 Barbosa, Rui. ORAÇÃO AOS MOÇOS. Edição popular anotada por Adriano da Gama Kury.5ª ediçãoEdições. Página 26.

11

O que se percebe da esplêndida oratória do ilustre senador é que, para se

diminuírem as desigualdades, devem ser tomadas medidas que favoreçam o equilíbrio

social através de ações que privilegiem os menos favorecidos pelas desigualdades

naturais, tornando o convívio mais justo. Destarte, busca-se a igualdade, tratando de

forma mais atenciosa, sobretudo, através da educação, aqueles que não têm condições

naturais de providenciar, por sua conta, a igualdade. Deixar o Estado de tomar tais

medidas é o mesmo que ratificar as desigualdades e, com isso, colocar, em risco de

violência, a população que sofre com a miséria e todas as suas consequências.

Erradicar as desigualdades é efeito necessário de várias ações conectadas de

forma multidisciplinar e sistematizadas de modo constante e perene com o intuito de a

médio e longo prazo serem os frutos mensurados.

A cidadania, termo usado de forma exaustiva em todos os segmentos da

sociedade, deveria ter a sua construção iniciada desde os primeiros anos de vida do

indivíduo, sobretudo, nas escolas, pois é nelas em que criança tem acesso às primeiras

informações sistematizadas do saber. Desde os primeiros anos de escolarização, a

criança tem contato com noções de Matemática, Língua Portuguesa, noções de

Geografia, História entre outros ramos do saber que promovem a estruturação básica

conhecimento para que o indivíduo possa participar com maior presteza da construção

da cidadania. Entretanto, tal conhecimento ainda não é o bastante para que se edifique

de forma sólida a participação da pessoa no processo de consolidação de sua

cidadania, pois é preciso que se tome posse do conhecimento do ordenamento jurídico

que rege o país e a consciência de que todos, sem exceções, devem obediência à

legislação como forma de pacificação social.

Destarte, a escola deveria cumprir com maior eficácia sua função precípua de

formar cidadãos mais inteirados de sua importância para o desenvolvimento do país,

ensinando, além dos componentes curriculares já mencionados, noções de direito, que

facilitariam o conhecimento jurídico por parte da população e, por conseguinte, o

desenvolvimento da cidadania.

3.2. PROBLEMATIZAÇÃO

A construção da cidadania é tarefa demasiadamente difícil por se tratar de tema

extremamente subjetivo e cujo conceito sofre mutações que dificultam traçar metas e

planos que as atinjam. Embora haja inúmeras formas de se caracterizar a cidadania, há

duas vertentes de profunda relevância para o estudo ora em tela. A primeira é a

12

construção individual em que a pessoa busca a informação motivada intrinsecamente

pela vontade de vencer os percalços vivenciados e conquistar vitórias nos diversos

segmentos da vida em sociedade. Tal construção está intimamente relacionada com a

cidadania coletiva que é a segunda vertente de construção da cidadania. Esta

construção abrange o crescimento da sociedade como um todo, visando formar uma

coletividade conhecedora de seus direitos e suas obrigações com fulcro no bem comum

para o desenvolvimento do grupo e não apenas do indivíduo.

Apesar de ambas as vertentes estarem relacionadas e serem obrigatoriamente

reciprocamente consideradas, a abordagem para a construção requer a resposta para

diversas indagações. Como exercer a cidadania se grande parte da população

brasiliana desconhece suas garantias constitucionais e se a maioria esmagadora da

sociedade não tem acesso à informação das leis que regem o país e nem as limitações

do Estado quanto à interferência na vida do cidadão?

O Estado que se intitula democrático e de direito deve viabilizar as condições

para formar cidadãos mais participantes na vida política do país, além, é claro, de

obrigar os eleitores a votar sem que haja a menor conscientização da importância do

pleito?

Como os estudiosos em ciências jurídicas, políticas e educacionais podem

contribuir para a formação da cidadania que atinja a população de forma que cada

pessoa possa ser um agente multiplicador de cidadania e qual é o papel do advogado

na construção da cidadania da sociedade da qual faz parte?

Muitas outras questões relacionadas à construção da cidadania poderiam ser

suscitadas, entretanto, a que norteia o presente trabalho é: o ensino de noções de

direito nas escolas públicas de educação básica contribui de forma significativa para a

formação do cidadão e para a construção da cidadania coletiva?

Ao buscar tal resposta, não se quer, aqui, ensinar um caminho determinado e

estável para a construção da cidadania. Não se pretende criar um modelo a ser seguido

e nem um guia com os passos para se alcançar a cidadania. O que se quer é discutir

propostas viáveis que contribuam para a busca de soluções variadas para que o

exercício da cidadania seja o mais pleno possível e que se adéquem aos casos

concretos, respeitando as características dos grupos envolvidos nesse processo de

construção.

13

3.3. JUSTIFICATIVA:

O presente trabalho se justifica pela necessidade urgente de se formar cidadãos

conhecedores de seus direitos e obrigações assim como difundir na população a

organização sistema judiciário e legislativo pátrio para que possam participar mais

efetivamente das questões jurídicas, políticas, econômicas e sociais as quais vivenciam

dia a dia e que, na maioria das vezes, são tratados como objeto e não como sujeitos.

Tal conhecimento é de profunda relevância para o desenvolvimento da cidadania

brasileira, pois visa garantir a dignidade da pessoa humana no que diz respeito ao pleno

gozo de seus direitos e do integral cumprimento de suas obrigações. Todavia, mesmo

que todo esforço seja feito para que a cidadania seja vivenciada integralmente na

sociedade é necessário definir o que é cidadania. Dessa forma é mister conceituar a

cidadania de modo mais completo possível e definir a área de abrangência do conceito

elaborado.

Para Francisca Socorro Araújo, da revista eletrônica infoescola, em artigo

publicado em novembro de 2007, o conceito de cidadania envolve diversas áreas do

conhecimento e que a diversidade de opiniões se diversifica sob a ótica de que área do

conhecimento se quer desenvolver o conceito:

Sobre cidadania o dicionário de língua portuguesa Larousse afirma ser

“qualidade de cidadão”, “qualidade de uma pessoa que possui, em uma

determinada comunidade, política, o conjunto de direitos civis e políticos”. No

entanto, na realidade em que vivemos atualmente, se indagarmos a respeito do

tema, certamente encontraremos uma diversidade de opiniões e nenhuma

definição que possa contemplar de forma plena o conceito de cidadania.

Podemos afirmar que ser cidadão é ter direitos e deveres. Mas de que maneira

poderemos definir quais direitos e quais deveres? Portanto, é na determinação

destes direitos e deveres que se encontra o “nó” relacionado a esta questão

complexa que é a cidadania3.

O principal motivo deste trabalho encontra-se evidenciado no artigo 1º da Carta

da República, nos incisos II e III:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel

dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado

democrático de direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a

3 ARAUJO, Francisca Socorro. SOBRE O CONCEITO DE CIDADANIA E SEUS REFLEXOS NA ESCOLA, Publicado em 2/11/2007. www.infoescola.com/sociologia/educação-e-cidadania/

14

cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do

trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.4

Acerca da dignidade da pessoa humana, o Ministro do Tribunal Superior do

Trabalho Ives Gandra Martins Filho esclarece de forma irretocável o conceito e sua

aplicabilidade:

A dignidade é essencialmente um atributo da pessoa humana: pelo

simples fato de "ser" humana, a pessoa merece todo o respeito,

independentemente de sua origem, raça, sexo, idade, estado civil ou condição

social e econômica. Nesse sentido, o conceito de dignidade da pessoa humana

não pode ser relativizado: a pessoa humana, enquanto tal, não perde sua

dignidade quer por suas deficiências físicas, quer mesmo por seus desvios

morais. Deve-se, nesse último caso, distinguir entre o crime e a pessoa do

criminoso. O crime deve ser punido, mas a pessoa do criminoso deve ser

tratada com respeito, até no cumprimento da pena a que estiver sujeito. Se o

próprio criminoso deve ser tratado com respeito, quanto mais a vida inocente5.

A dignidade da pessoa humana deve ser fomentada em todos os setores da

sociedade porquanto é da essência da humanidade ser digna de respeito

independentemente de qualquer condição a que esteja submetida. Disso decorre a

inserção de tal dispositivo no rol de fundamentos da Carta Magna de forma expressa e

inderrogável. Dignidade, portanto, é o que se deve buscar para que se atinjam

patamares de desenvolvimento social, jurídico, econômico e político e para que se

formem verdadeiros cidadãos, cujos direitos não estejam apenas formalizados no papel,

mas vivenciados de maneira que se possam ser comparados ao direito natural.

Outro fundamento que se destaca, inserido no artigo 1º, II da atual Carta da

República do Brasil é a Cidadania que, juntamente com a Dignidade da pessoal

humana, serve de sustentáculo para a nação em que se prega o Estado Democrático

de Direito no qual o poder emana do povo, que o exerce de forma direita ou indireta.

Todavia, não é bem esse o quadro que se pinta da realidade da cidadania brasileira

após pouco mais de vinte anos de vigor da Constituição da República. Para o jornalista

e escritor Gilberto Dimenstein, em sua obra O Cidadão de Papel há uma enorme

diferença entre a cidadania que está no papel e a cidadania que se materializa na vida

do povo brasileiro, vejamos:4 Constituição Federal 19885 FILHO, Ives Gandra Martins. O QUE SIGNIFICA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA? Meio eletrônico. Ministro do TST, professor de Filosofia do Direito do IDP http://www.comunidademaconica.com.br/Artigos/5778.aspx, publicado em 25 de setembro de 2008.

15

Tão frágil quanto o papel e, quase sempre, com seus direitos

assegurados apenas no papel. Assim se resume a cidadania no Brasil, onde,

apesar de todos os avanços, a regra é a exclusão social, a incapacidade de

oferecer um mínimo de igualdade de oportunidades às pessoas. Essa é a raiz

da violência que vemos por todos os lados e que nos faz sentir como reféns6.

Embora o Brasil ocupe atualmente um lugar privilegiado no cenário mundial no

que diz respeito às questões econômicas, ao se observar o reflexo disso nas questões

diárias dos cidadãos, pode-se verificar não há por parte do Estado na preservação das

garantias constitucionais destinadas a proteger o cidadão de abusos por parte de

classes mais favorecidas. O fato de o cidadão comum não conhecer seus direitos e

garantias constitucionais reflete que tipo educação o Estado constrói com o sistema de

ensino público. Não se conhecem no Brasil ações de cunho educacional que

vislumbrem de forma constante, assídua e gradativa o ensino das garantias

constitucionais previstas, sobretudo no artigo 5º da Carta da República, assim como não

se conhecem ensino de noções de direito que facilitem o desenvolvimento da cidadania.

Como consequência dessa falta de conhecimento acerca do ordenamento jurídico

pátrio, não há de forma contundente, o exercício da cidadania plena pelos brasileiros.

Entretanto, não se pode deixar de observar que há em alguns estados da federação

uma ou outra iniciativa por parte de órgãos judiciais em levar às escolas públicas algum

conhecimento jurídico e que em geral está ligado ao direito eleitoral. Há também

projetos que levam os alunos das escolas públicas aos tribunais para que estes

conheçam o funcionamento do órgão judicial visitado. E, ainda, há outras realizações

que tentam construir a cidadania através de atividades cujo foco é oferecer à população

palestras e serviços ligados à saúde, lazer, culinária, assistência jurídica em datas

específicas e determinadas. Todas essas iniciativas, apesar de terem um valor

extremamente relevante para a população envolvida, servem apenas como um paliativo

já que não atacam diretamente o problema da falta de cidadania por parte da população

mais carente de recursos financeiros. Ocorre que tais eventos não têm a continuidade

necessária para que se tornem eficazes para formação do cidadão conhecedor de seus

direitos e de suas obrigações.

É através de simples observação que se percebe que tais ações descontinuadas

ocorrem no seio de comunidades carecedoras de recursos. Tais atitudes tentam

minimizar as desigualdades vivenciadas por esse segmento da população pelo fato de

que seus direitos e garantias constitucionais não estão plenamente sendo respeitados.

6 DIMENSTEIN, Gilberto. O CIDADÃO DE PAPEL A INFANCIA, A ADOLESCÊNCIA E OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL. pag. 4 Ed. Ática. São Paulo, 2005

16

Essas tentativas denotam a agressão ao princípio constitucional da dignidade da

pessoa humana por serem claramente como distribuir migalhas de cidadania e maquiar

a participação do Estado como atuante no oferecimento de qualidade de vida digna

àqueles que mais precisam da ação estatal.

Tal agressão não ocorre contra aqueles cujo conhecimento e recursos

econômicos lhe possibilitem usufruir da lei em seu favor. Exemplo disso são muitas

empresas de grande porte que deixam de pagar multas por desrespeitos às leis

ambientais, enquanto que pequenos lavradores são presos por crimes contra a flora

pelo simples descascar de uma pequena parte de árvore protegida pelo ordenamento

jurídico nacional. Obviamente, os mais desfavorecidos são atingidos com a força

corretiva total da lei, até porque, não conhecem seus direitos e não podem pagar pelos

serviços de advogados que têm o conhecimento para defendê-los em juízo.

Para os menos favorecidos pela sorte de se ter o conhecimento, pode ser usado,

ainda que por analogia, o brocardo “o direito não acolhe aos que dormem”. O sentido de

dormir ultrapassa o simples fato de ser perder um prazo jurídico. O significado do

brocardo está diretamente ligado à condição da pessoa que dorme já que não opina,

não discute, não entende, não confronta e o que é ainda mais grave, não se defende e

nem tem consciência da importância do conhecimento para sua própria vida.

O art. 3º da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LINDB)

estabelece que “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.

Sendo assim, o Estado deve garantir a todos os cidadãos, não importando a idade ou

grau de escolarização, o acesso à informação clara e objetiva sobre as leis brasileiras,

sobretudo, sobre as garantias constitucionais, muitas vezes desrespeitadas pelo próprio

Estado que as editou.

As transformações sociais de grande relevância ocorrem de forma lenta e

gradual, assim como é a busca da cidadania num Estado Democrático de Direito.

Portanto, a necessidade de se formar cidadãos conscientes de sua participação na

sociedade passa, necessariamente, por ações que visem o ensino de noções de direito

nas escolas, possibilitando aos estudantes acesso à informação de forma correta e

aplicável na vida cotidiana.

Na lição de Rui Barbosa, Oração aos Moços, citada anteriormente, o nobre

jurista salienta a importância de se verificar que todos devem respeitar as leis. Dessa

forma, ninguém está acima do ordenamento jurídico, nem mesmo aqueles a quem

17

competem governar o Estado. Depreende-se de tal manifestação do pensamento que a

cidadania deve ser exercida por todos para que a justiça social seja comum a todos.

Percebe-se também do texto do valoroso advogado sua preocupação com a atuação

dos juízes em serem corajosos ao manifestarem decisões justas, ainda que contrariem

o Estado. Consolida, dessa forma, o emérito jurista, a ideia de que o direito das classes

menos favorecidas deve ser protegido com a mesma gana com que se protegem os

direitos dos que exercem os poderes políticos e econômicos. Sua preocupação é tão

acentuada com relação àqueles que são desprovidos de recursos que, expressamente,

impõe, aos jovens magistrados, que na aplicação da justiça para com os

marginalizados, esta esteja eivada de escrúpulos.

Assim sendo, a ideia de se cuidar com maior interesse dos menos favorecidos

de recursos é a efetivação da busca pela erradicação das desigualdades sociais.

Portanto, é preciso que ações, sobretudo por parte do Estado, venham viabilizar o

acesso das classes sociais com índice de desigualdade ao saber jurídico, ainda que na

forma de noções. Entretanto, não basta apenas deixar nas mãos dos magistrados a

tarefa de zelar pela garantia da cidadania. É necessário que a população, de maneira

geral, conheça seus direitos e saiba como se proteger de autoridades inescrupulosas

que buscam o cerceamento dos direitos de determinada classe social em detrimento de

outra.

O que se pretende com isso é que a construção da cidadania coletiva seja

disponibilizada de forma democrática, para que pessoas com menos condições

financeiras possam ter acesso a esse tipo de informação com o intuito de equilibrar um

pouco mais a balança das desigualdades sociais de forma a não ser mais um falso

benefício, um paliativo para erradicar a pobreza como muitas ações assistencialistas

disfarçadas de programas de construção da cidadania.

É importante salientar que, apesar de o produto interno bruto de um país ser um

indicativo de sua riqueza, e que o Brasil, hoje, tem uma boa imagem no exterior do

ponto de vista econômico, o conhecimento e a educação de um povo denotam a forma

como essa riqueza está distribuída e demonstra o índice de desenvolvimento social que

contribui para a pacificação social. Portanto, é pela busca uma sociedade mais

equilibrada, mais justa e mais cidadã que este trabalho se justifica.

3.4. OBJETIVO GERAL

18

Demonstrar a importância do ensino de noções de direito na educação básica

como forma de construção da cidadania plena construção, contribuindo assim para a

participação plena do cidadão nas questões fundamentais da sociedade.

3.5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Verificar os dispositivos que permitem a construção da cidadania plena através

do ensino de noções de direito na educação básica previstos na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação;

Demonstrar a importância do ensino de noções de Direito no ensino fundamental

para a formação do cidadão;

Verificar o interesse de estudantes e professores da educação básica em

vivenciar o ensino de noções básicas de Direito Constitucional (direitos e garantias

fundamentais), Direito do consumidor, Direitos Humanos e Estatuto da Criança e do

Adolescente.

4. METODOLOGIA:

O Brasil é atualmente uma democracia consolidada e sob vários aspectos a

cidadania tem sido construída de maneira a oportunizar aos brasileiros o exercício de

seus direitos. Como exemplo disso há o exercício do voto nas eleições diretas e a

possibilidade do cidadão ser candidato e ao mesmo tempo eleitor. São raras as

comunidades que não tem acesso à educação através das escolas públicas. A justiça,

sobretudo a trabalhista, tem criado mecanismos de celeridade no julgamento das

demandas que lhe são apresentadas. O consumidor ganhou um código de defesa

contra os abusos dos fornecedores. O Ministério Público foi criado para garantir que a

lei seja respeitada e atua como dono da lide ou fiscal da lei. Muitas outras garantias

foram criadas depois da promulgação da Constituição da República de 1988.

Entretanto, não basta apenas as garantias, é preciso que o cidadão as conheça e tenha

mecanismos de acesso rápido e objetivo, caso contrário, tudo o for criado para a

construção da cidadania será inócuo se o principal ator desse processo não conseguir

tomar posse do exercício dos seus direitos ou não cumprir com suas obrigações por

ignorar que elas existam.

Com preocupação nesse pleno exercício da cidadania, o caminho a ser

percorrido para composição deste trabalho terá seu fulcro dissertativo concentrado nos

apontamentos da importância do exercício pleno da cidadania. Dessa forma, a pesquisa

19

qualitativa evidenciará os dispositivos legais e constitucionais que possibilitam o ensino

de noções de direito na educação básica.

Com o intuito de conhecer a opinião dos principais atores do processo de

construção da cidadania, o trabalho também será elaborado na forma de pesquisa de

campo, no qual os sujeitos desse processo, estudantes e professores da educação

básica, assim como, pessoas com formação jurídica opinarão acerca da importância do

ensino das noções de direito no que tange a construção e do pleno exercício dá

cidadania.

Por fim, será proposto um anteprojeto de lei que modificará a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação para incluir em seu texto a obrigatoriedade do ensino de noções de

direito nas escolas de educação básica.

5. CAPÍTULO I

20

OS DISPOSITIVOS QUE INDUZEM À CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PLENA ATRAVÉS DO ENSINO DE NOÇÕES DE DIREITO NA EDUCAÇÃO BÁSICA PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E NA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO

A história da cidadania está atrelada à existência da busca humanidade pelos

direitos de sua preservação é não exagero afirmar que se confunde na perseguição dos

direitos humanos, pois, ao se observar o caminho trilhado pela humanidade até os dias

atuais no que diz respeito ao exercício dos direitos e cumprimento de suas obrigações,

é perceptível que a cidadania sempre esteve em construção e nunca se chegou ao

ápice de sua completude.

Na lição de Marco Silvio Santana7 em sua obra O que é Cidadania, a cidadania é

um referencial de conquista da humanidade através daqueles que sempre lutam por

mais: direitos, liberdade, garantias individuais e coletivas, e não se conformam frente às

dominações arrogantes, seja do próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas

que não desistem de seus privilégios, de opressão e de injustiças contra a maioria

desassistida que não se consegue fazer ouvir, exatamente por que se lhe nega a

cidadania plena, cuja conquista, ainda que tardia, não será obstada.

De certa forma, a cidadania vem se transformando de tempos em tampos. Por

vez, na história da humanidade, o conceito não vivido plenamente pelas pessoas e em

outras épocas fica suspenso e não é exercida pelas pessoas mais carentes de recursos

financeiros e em outros tempos, ainda, apenas pouquíssimas pessoas conseguem

usufruir de seus direitos.

Na civilização grega, uma das características principais do cidadão era fato de

ser homem e outra era o fato de ser rico. Quanto ao segundo fato, este se justifica, pois

o cidadão era aquele que cuidaria dos aspectos políticos da sociedade em tempo

integral. Dessa forma, não poderia exercer uma profissão e, por consequência, passaria

por dificuldades financeiras por não ter um trabalho remunerado. Destarte, sendo rico,

não precisaria se preocupar com questões de remuneração e poderia se dedicar

exclusivamente às questões políticas daquela sociedade.

Na Roma antiga, tal situação de cidadania foi modificada, sendo ampliado o

conceito conforme se percebe no texto a seguir:

7 SANTANA, Marcos Silvio de. O QUE É CIDADANIA. Disponível em WWW.advogado.adv.br/estudantesdireito/fadipa/marcossilviodesantana/cidadania. Acessado em 30/04/2.012

21

Ser cidadão romano comportava uma notável série de privilégios, variáveis durante o curso da história, tendo sido criadas diversas "gradações" da cidadania. Na sua versão definitiva e plena, todavia, a cidadania romana permitia o acesso aos cargos públicos e às várias magistraturas (além da possibilidade de escolhê-las no dia de sua eleição), a possibilidade de participar das assembleias políticas da cidade de Roma, diversas vantagens de carácter fiscal e, importante, a possibilidade de ser sujeito de direito privado, ou seja, de poder se apresentar em juízo mediante os mecanismos do jus civile, o direito romano por excelência.A concessão da cidadania também aos estrangeiros começou a se tornar um problema e uma necessidade no momento no qual Roma deu início à sua fase de expansão, seja territorial como comercial, entrando em contacto com povos que tinham de tolerar a série de privilégios que lhe eram negados. A partir de então, a concessão da cidadania começou a ser também um instrumento de controle político além de ser uma ferramenta de poder. Um caso clássico é a concessão da cidadania, depois da conquista e de largos períodos de tensões e conflitos, aos itálicos, isto é, aos habitantes da Península Itálica e da Gália Cisalpina, com uma lex Iulia que foi precedida pela célebre Guerra Social (91–88 a.C.).A Constitutio Antoniniana foi somente o último passo deste desenvolvimento das concessões, paralelamente ao esvaziamento dos privilégios do cidadão romano: Caracalla, de facto, limitou-se a unificar o status de todos os habitantes do império na condição de súditos, membros não mais de uma comunidade política organizada em base a uma relativa participação (com as consequentes vantagens no plano público), mas de um estado sempre mais absolutista, no qual o poder era inteiramente concentrado nas mãos do Soberano e de sua classe burocrática.A cidadania podia ser ainda conferida individualmente, em princípio pelo povo reunido em assembleia (mediante uma lex) ou por um acto do magistrado autorizado ex lege, pela vontade do imperador (mediante um senatoconsulto o constitutio), em base a méritos de várias naturezas. Podia-se, também, obter a cidadania de direito como prêmio por alguns serviços, em particulares circunstâncias: depois de ter servido Roma por alguns anos no corpo dos vigilantes: depois de ter gastado uma importante parte do patrimônio pessoal para construir uma casa em Roma; depois de ter trazido a Roma mantimentos por um certo número de anos; depois de ter moído grãos em Roma por anos.Estes últimos modos de obtenção eram, todavia, reservados somente àqueles que possuíam a cidadania latina, uma condição intermediária entre o romano e o estrangeiro8.

Ao se fazer uma breve comparação da cidadania na Grécia antiga e na Roma

antiga, percebe-se que na segunda houve ampliação do conceito de cidadania, já que

inclusive estrangeiros poderiam ascender à condição de cidadão, enquanto que na

primeira, essa possibilidade era inexistente.

O artigo 6º da Constituição Brasileira, incluso no capítulo que trata dos Direitos

Sociais estabelece que:

Art. 6º. São direitos Sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o

lazer, a segurança, a previdência, a proteção à maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

8 KULIKOWSKI, Michael. Guerras Góticas de Roma. 1 ed. São Paulo: Madras, 2008. 246 p. 1 vol. vol. 1

22

No artigo acima, foram destacados dois direitos de grandiosa importância que,

se exercidos, ensejaram o usufruto dos demais presentes no dispositivo constitucional.

O problema é que o exercício da cidadania no Brasil não se vislumbra como algo

democratizado, ou seja, ainda é para poucos assim como era na Grécia e na Roma

antigas. Não é objeto deste estudo a análise da construção da cidadania grega e

romana. Entretanto se faz necessária uma menção, ainda que superficial, do berço da

civilização ocidental com o intuito de fundamentar com clareza a importância de se

construir a cidadania plena na atual população do Brasil.

As disposições Gerais do capítulo II da Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996,

Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) é enfática no que tange a formação

comum do educando indispensável para o exercício da cidadania. Os artigos que se

seguem demonstram a preocupação do legislador em oferecer o ensino de Matemática,

História, Geografia, Educação Física, entre outros componentes curriculares pertinentes

à formação do cidadão. Além disso, a LDB atribui aos demais entes federados a

adaptação curricular necessária para garantir o acesso mais eficaz ao estudante,

respeitando as particularidades regionais de onde vive.

Logo em seu artigo 2º a LDB aduz de forma inequívoca que é dever de Estado e

da família o de educar e em quais princípios estão fundamentados. A lei estabelece.

Outro ponto de extrema importância expresso nesse mesmo artigo é o objetivo da

educação que é o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para a cidadania e

sua qualificação para o trabalho.

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de

liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno

desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e

sua qualificação para o trabalho9.

A Lei, ao mencionar que o educando deve ser preparado para o exercício da

cidadania, não precisaria explicitar nada mais, pois o conceito de cidadania deve

abranger o desenvolvimento pleno e a qualificação para o trabalho do cidadão, caso

contrário a que cidadania o artigo está se referindo? Ou o legislador ao elaborar tal

dispositivo não deu à expressão “cidadania” o alcance que merece? Mesmo não tendo

o conceito de cidadania ter sido abrangido da forma necessária, o fato é que a lei

estabelece e, portanto o Estado assume, com isso, o compromisso de cumpri-la, já que

à Administração pública é obrigada a cumprir rigorosamente o que está na lei, não

9 Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996

23

tendo, dessa forma a opção de fazer apenas o que a lei proíbe. Portanto, se está na Lei,

deve ser cumprido. Entretanto o cumprimento de dum preceito tal magnitude é tarefa

extremamente árdua e que exige enorme vontade política. De tão grande que é difícil

saber onde e como agir para atingir os objetos constitucionais e legais. Destarte é

preciso começar a garantir o exercício pleno da cidadania àqueles cuja condição social,

financeira e política não lhes permitem, por si só, o exercício pleno de seus direitos e o

conhecimento de suas obrigações. Por isso, torna-se imprescindível que o ensino de

Direito, ainda na forma de noções, seja imediatamente inserido como disciplina

obrigatória na educação básica10 e, caso queira se aprofundar, o estudante poderá dar

seguimento aos seus estudos, cursando o bacharelado em Direito.

Para concretizar tal introdução das disciplinas jurídicas no sistema educacional

pátrio, a própria LDB traz em seu texto a possibilidade de os Estados e Municípios se

organizarem a fim de garantirem o exercício da plena cidadania aos estudantes. De

acordo com a letra da Lei:

Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino;II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios;IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;11

Vê-se, portanto que o dispositivo mencionado no artigo 10 da LDB delega aos

estados o modo de como será a organização da educação local. Dessa forma, não há

óbice em introduzir na educação básica conteúdos, tais como, noções de direito:

constitucional, civil, penal, consumidor, além dos estatutos: da criança e do adolescente,

do idoso entre outros que garantam ao estudante o exercício de sua cidadania e

oportunizado a esse estudante as condições necessárias de contribuir com a

construção da cidadania coletiva ao participar das questões políticas do país.

O inciso V do artigo em tela autoriza aos estados baixarem normas

complementares que viabilizem o pleno funcionamento do sistema de ensino. Destarte,

os estados podem criar, em sua legislação, instrumentos para o ensino de noções de

10 Art. 21 da Lei 9394/96. A educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio;

11 Lei 9394/96

24

direito sem, com isso, contrariar a LDB e, ao mesmo tempo, garantir a efetivação do

dispositivo constitucional previsto no artigo 1º, inciso II e III no que tange a

concretização da cidadania e a dignidade da pessoa humana.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; (grifos nossos)

A competência dos municípios também foi contemplada pela LDB com o intuito

de dar autonomia ao governo local para disciplinar as particularidades do sistema

educacional. Dessa forma, também os municípios podem legislar acerca da introdução

dos conteúdos jurídicos em seus planos de ensino locais, harmonizando-se com os

estados e com as diretrizes da LDB e da Constituição da República.

É comum os municípios criarem, por exemplo, programas de incentivo à

participação dos estudantes nas questões políticas locais, estaduais e federais.

Entretanto, a falta de sistematização legal e pontual acerca do ensino de questões

políticas e jurídicas gera uma espécie de esforço casuístico que pouco tem contribuído

para a formação do estudante como cidadão.

Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.12

A leitura do artigo 26 da LDB remete à observação da previsão de sistema de

ensino ser composto, entre outros elementos, por uma parte diversificada que deve

respeitar as características regionais e locais da sociedade, da economia e da clientela.

Assim sendo, estudos sistematizados de conteúdos curriculares que favoreçam ao

exercício pleno da cidadania, como por exemplo, aqueles que envolvam o estudo do

Direito podem ser introduzidos nessa como disciplina aproveitando o tempo de estudo

destinado à parte diversificada, como mencionado no artigo acima sem a necessidade

de extremas modificações na modulação das disciplinas que compõem o currículo

educação. Por obvio, é imprescindível a criação de uma disciplina específica que se

ocupe da dosagem e distribuição sistemática dos conteúdos jurídicos, além de se

preocupar com a avaliação da aprendizagem dos/as estudantes envolvidos nesse

processo de construção do conhecimento.

Art. 26, § 5º Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira

12 Lei 9.394/96

25

moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição. Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidade: II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes: I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania13;

Não há dúvida, mínima que seja, sobre a importância, sobretudo, nos dias

atuais, do ensino obrigatório de, pelo menos, uma língua estrangeira para os estudantes

da educação básica. Tal iniciativa legal contribui de forma grandiosa para a colocação

do/a estudante numa posição de conquistar seu espaço num mundo cada vez mais

globalizado e carente de pessoas que tenha fluência comunicativa em diversos idiomas.

Tal ensino deve ter sempre morada na legislação pátria e deve ser aprimorado cada vez

mais para que o estudante tenha a possibilidade de exercer a fluidez linguística no

maior número de idiomas possível. Destarte, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

no caput do artigo 26 deixa evidente a preocupação do legislador com essa formação

do educando ao estabelecer de forma expressa a obrigatoriedade do oferecimento

desse conhecimento à comunidade escolar. Partindo da premissa que o conhecimento,

ainda que elementar de uma língua diferente da portuguesa deve ter a preocupação do

Estado, não poderia esse mesmo estado negligenciar a formação do/a educando/a

quanto ao conhecimento jurídico básico nacional pelos mesmos argumentos da

importância de qualquer outra disciplina que facilite o acesso ao exercício da cidadania

à/ao jovem estudante.

Para corroborar esse raciocínio, a LDB, no artigo 35, II, III e IV, expressa a

preocupação do legislador com a construção da cidadania do educando, além de seu

aprimoramento como pessoa humana, incluindo formação ética e preparação para o

trabalho. Essa lei também estabelece que o/a educando/a deve ter aprimoramento

intelectual e crítico. Deve-se, a partir da leitura de tais dispositivos, esclarecer o conceito

de cidadão e de cidadania. Além de disso, deve-se observar quais as opções de

trabalho do/a estudante ao concluir o nível médio de escolaridade. O conceito de

cidadania está ligado ao exercício pleno dos direito e dos deveres, no entanto, para

isso, é necessário conhecê-los. Dessa forma, a construção da cidadania, nos moldes da

13 Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

26

letra da lei ficará vazia caso a educação básica não oportunize aos/às estudantes o

acesso ensino da legislação do país.

Com relação à preparação para o trabalho, não se pode vislumbrar um cidadão

que não conheça seus direitos e suas obrigações trabalhistas. Entretanto, o que se

percebe na prática é que a justiça do trabalho procura, a cada dia, tornar-se mais

simples e informal para que se torne mais acessível. Outro ponto de relevância é que no

Distrito Federal e em todo o país fica cada vez mais intensa a procura por cargo ou

emprego público. Assim sendo, o ensino do direito nas escolas de educação básica é

uma ferramenta de extrema importância para o exercício da cidadania dos/as jovens

que pretendem seguir a carreira na esfera pública. Se, por outro lado, a intenção for a

iniciativa privada, ainda mais relevante será o ensino do direito para a clientela da

educação básica, pois o empregador seleciona pessoas que tenham a capacidade de

identificar e solucionar problemas. Não é desconhecido que os problemas no campo

jurídico de qualquer empresa ocorrem em número excessivo muitas vezes por falta de

conhecimento dos empregados da empresa.

O artigo 22 da LDB estabelece as finalidades da educação básica:

Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.14

É perceptível que o artigo em comento visa garantir o exercício da cidadania.

Entretanto, é preciso esclarecer o que é cidadania ou ainda mais especificamente o ser

cidadão. O governo do Estado do Paraná publicou recentemente uma cartilha

denominada Cartilha da Cidadania: a cidadania ao alcance de todos para ampliar o

exercício da cidadania e, nesta obra, conceituou a cidadania e cidadão da seguinte

maneira:

Cidadania é a tomada de consciência de seus direitos, tendo como contrapartida a realização dos deveres. Isso implica o efetivo exercício dos direitos civis, políticos e sócio-econômicos, bem como a participação e contribuição para o bem-estar da sociedade. A cidadania deve ser entendida como processo contínuo, uma construção coletiva, significando a concretização dos direitos humanos. Cidadão é todo aquele que participa, colabora e argumenta sobre as bases do direito, ou seja, é um agente atuante que exerce seus direitos e deveres. Ser cidadão implica não se deixar oprimir nem subjugar, mas enfrentar o desafio para defender e implementar seus direitos15.

14 Lei 9394/9615Cartilha da Cidadania: A Cidadania ao Alcance de Todos. Disponível em: www.codic.pr.gov.br/arquivos/file/cartilha_da_cidadania.pdf. Acessado em 3 de março de 2012.

27

Ao compulsar os conceitos acima explicitados, depreende-se que há um longo

caminho a ser percorrido pela democracia brasileira para formar verdadeiros cidadãos e

não apenas pessoas parcialmente úteis a um sistema que explora as por não terem a

acessibilidade a uma educação de qualidade que lhes assegurasse uma formação de

cidadania plena. Portanto o que se vislumbra no artigo 22 da LDB não condiz com a

realidade do ensino oferecido pelas escolas de ensino fundamental no Brasil atual.

O artigo 3º da LDB estabelece os princípios a serem respeitados no que tange a

ensino e à forma como deverá ser ministrado:

Art. 3o O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;VII – valorização do profissional da educação escolar;VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas de ensino;IX – garantia de padrão de qualidade;X – valorização da experiência extraescolar;XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

O que se percebe da dicção dos princípios acima citados é uma tentativa de se

adequar o ensino ministrado nas escolas à realidade na qual estão inseridos os

estudantes. Tal tentativa é totalmente pertinente, pois possibilita a adequação curricular

de modo a facilitar o ensino para aqueles que vivem em determinada coletividade e que

o ensino valoriza seus costumes.

O Distrito Federal não pode se excluir dessa adequação, já que a LDB permite e

fomenta tal adequação. Partindo da premissa que cada ente federado tem suas

particularidades, o DF também tem as suas. Uma delas, talvez a maior de todas, é a de

que o DF é o centro do poder político, jurídico e administrativo do país. Assim sendo,

cabe ao DF estabelecer mecanismos que contribuam de forma eficaz para a formação

do cidadão, integrando-o ao contexto no qual esse ente federado está inserido. Dessa

forma, o ensino do direito básico nas séries iniciais do ensino fundamental se faz

necessário para a construção da cidadania plana almejada no artigo 22 dessa Lei.

De acordo com o que estabelece a LDB, será permitido que temas transversais

sejam desenvolvidos em associação aos componentes curriculares já estabelecidos nos

PCN’S (Parâmetros Curriculares Nacionais). Portanto é plausível a existência de um

tema transversal que trate do Estatuto da Criança e do Adolescente no qual se

28

evidencie os conteúdos geografia, história, português entre outros, fazendo, assim, uma

verdadeira construção do conhecimento interdisciplinar.

Com se vê, é possível construir a cidadania através da inclusão do ensino de

direito associado aos outros componentes curriculares de forma interdisciplinar e

abrangente, fazendo com isso, que o/a estudante tenha acesso à informação e

aplicação do conhecimento nas atividades diárias como cidadão/ã.

6. CAPÍTULO II

29

6.1. A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE NOÇÕES DE DIREITO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA.

Após a discussão sobre o conceito de cidadania e cidadão, torna-se pertinente

oportunizar aos candidatos a cidadãos o acesso à informação que contribui para sua

formação. O art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB)

estabelece que “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece” 16.

O que se deduz dessa fonte normativa é que as pessoas devem cumprir a lei mesmo

sem conhecê-la. Isso traz uma série de dificuldades da população que acaba por

cumprir normas que as comprometem sem saber que há normas que as protegem.

A Constituição da República Federativa do Brasil (CFRB) traz, em seu texto,

inúmeras garantias e estas são quase que totalmente desconhecidas pela maioria da

população brasileira. A ignorância legislativa e jurídica da população também é algo

preocupante. Portanto, é imprescindível que este quadro de ignorância generalizada

seja modificado o quanto antes. Para isso, a solução mais viável é a utilização dos

institutos educacionais como multiplicadores do saber jurídico, político e administrativo.

A introdução dos conteúdos pertinentes ao conhecimento dos direitos e deveres do

cidadão ao lado das disciplinas tradicionalmente estudadas nas escolas de ensino

fundamental deve favorecer à assimilação das leis que regem o país desde o ensino

fundamental e, com isso fornecer subsídios para a formação da cidadania

experimentada de forma mais completa pelos estudantes formados nas escolas

públicas, promovendo, assim, a diminuição das desigualdades para com àqueles que

naturalmente já conhecem seus direitos e suas obrigações, pois contam com estrutura

familiar adequada ao desenvolvimento pessoal. Nesse aspecto, Rui Barbosa, em seu

discurso Oração aos Moços, assevera que é pela educação, pela atividade e pela

perseverança que as desigualdades são diminuídas. Dessa forma, o ensino de noções

de direito como disciplina na educação básica é exatamente a alternativa para suplantar

as diferenças nativas entre os de classe mais favorecidas e os de menos. Nesse ponto

o ilustre orador Rui Barbosa é enfático ao expressar categoricamente que um dos

caminhos a serem trilhados para reagir ante as desigualdades naturais é pela

educação. Por isso, o Estado deve garantir a esses desiguais as condições que

promovam o equilíbrio social, proporcionando àqueles que naturalmente não tem

acesso ao conhecimento das leis brasileiras o saber jurídico, ainda que de forma básica,

já que o aprofundamento ficará para aqueles que seguirem carreira jurídica como forma

de trabalho profissional.

16 Artigo 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

30

Durante o regime militar no Brasil, duas das disciplinas ministradas na educação

básica eram a Educação Moral e Cívica (EMC) e Organização Social e Política

Brasileira (OSPB). Tal disciplina visava, nas palavras do Conselheiro de Educação

Newton Sucupira publicado em março de 1962:

Ela tem como finalidade proporcionar ao aluno uma idéia adequada da realidade sócio-cultural brasileira em sua forma e ingredientes básicos. Deverá, pois apresentar o quadro geral das instituições da sociedade brasileira, sua natureza, formação e caráter, bem como as formas de vida e costumes que definem o modo de ser específico e a fisionomia característica de nossa cultura. Será, além disso, um estudo da organização do Estado brasileiro, da Constituição, dos poderes da República, do mecanismo jurídico e administrativo em suas linhas gerais, dos processos democráticos, dos direitos políticos, dos deveres do cidadão, suas obrigações civis e militares. 17

Obviamente o ensino de tal disciplina com o intuito de formar o cidadão para a

obediência das normas do país a fim de manter a paz social pela dominação da

população através do medo, pois se ensinava muito bem as consequências para quem

não seguia as normas estabelecidas de forma autoritária pelo governo. Assim sendo,

não se formava cidadãos atuantes, mas sim pessoas que sabiam obedecer à Lei sem

participar da sua elaboração. Essa não é, portanto, a forma pretendida neste trabalho

de se estabelecer a paz social. O que se quer é a formação do cidadão de forma que

este saiba como participar da elaboração das leis, como usá-la para o bem comum e

individual além de saber acessar o judiciário quando estás leis forem desrespeitadas.

De acordo com o cientista político e coordenador do Núcleo de Pesquisas da

Faculdade de Direito Projeção de Taguatinga no Distrito Federal, Matheus Passos Silva

as disciplinas OSPB e EMC, ao invés de terem sido retirados do currículo da educação

básica, pois não se coadunavam com a nova ordem política do Brasil, deviriam ser

reformuladas para servirem como instrumento de formação da cidadania, aproveitando

o conteúdo que havia de importante para a democracia. Em sua coluna semanal, o

professor Matheus Passos demonstra de forma categórica sua preocupação com a

formação acadêmica do estudante no ponto da construção e do exercício de sua

cidadania:...na segunda metade da década de 1980, estavam presentes no currículo das escolas duas disciplinas: Educação Moral e Cívica (EMC) e OSPB (Organização Social e Política Brasileira).

17 VIEIRA, Cleber Santos. Doutorando – FEUSP. História, cidadania e livros escolares de OSPB(1962-1964). Em 18 de março. http://secbahia.blogspot.com.br/2009/03/organizacao-social-e-politica-do-brasil meio eletrônico. Postado em 17 de maço de 2009

31

Segundo o Dicionário Interativo da Educação Brasileira, ambas as disciplinas se tornaram obrigatórias no currículo escolar brasileiro a partir de 1969, por meio do Decreto-lei 869/68, e vieram para substituir as disciplinas de Filosofia e de Sociologia. Também segundo o Dicionário, tais disciplinas “ficaram caracterizadas pela transmissão da ideologia do regime autoritário ao exaltar o nacionalismo e o civismo dos alunos e privilegiar o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise”. Ainda segundo o Dicionário, as disciplinas foram “condenadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), estabelecidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996″ porque tinham um “caráter negativo de doutrinação”.18

De acordo com texto acima, as disciplinas introduzidas no currículo educacional brasileiro tornaram-se obrigatórias por força do Decreto-lei 869/68, sob o viés da desconfiança de serem utilizadas para a doutrinação de forma pejorativa disfarçada de civismo. Tal suspeição deveu-se pelo fato de as disciplinas OSPB e EMC substituírem as disciplinas Sociologia e Filosofia. Além disso, estando o Brasil governado através da ótica de uma ditadura militar, a educação seria utilizada para se manter a ordem estabelecida pela autoridade dominante.

Por outro lado, o que se pretende com a introdução de disciplinas jurídicas na educação básica é exatamente a construção da cidadania consciente e não promover a alienação coletiva através da educação. Na lição do professor Matheus Passos não há óbice em se construir o senso de civismo, pois isso promove o amor pela pátria e pela coisa pública como o bem comum e que favorece a vida em sociedade. Assim sendo, já que o Brasil é uma República, nada mais justo em conscientizar a população da importância de sua participação nas atividades que promovem o desenvolvimento do país. Isso, necessariamente, passa pelo ensino dos direitos e deveres do cidadão e pela construção de uma cidadania embasada na valorização do indivíduo como agente de transformação social.

Ainda em lição extraída da lavra do Professor Matheus Passos, citando Platão no Livro A República, o cidadão é o homem bom e justo. Obviamente que a bondade e a justiça mencionadas pelo filósofo grego transcendem o aspecto individual, pois a busca de do que é bom para si deve, ao mesmo tempo, atuar de forma escorreita para com a coletividade. Dessa forma para ser um bom cidadão, deve-se evidenciar a preocupação com a coletividade.

Nos dias atuais, é comum se observar a letargia em grande parte da população brasileira. Há pouco interesse do povo, em geral, nas questões políticas, além do descrédito para com a ação governo, sobretudo, quando se dá enfoque à corrupção. É também comum justificar a existência da corrupção com a alegação de que todos os representantes do povo nos cargos políticos do Poder Executivo ou do Legislativo são corruptos ou facilmente corruptíveis. A opinião pública atualmente é, em muitos casos, formada pelos meios de comunicação que, em geral, trazem informações incorretas ou tendenciosas, gerando insatisfação na população, porém sem produzir a necessária

18 Silva, Matheus Passos. Disponível em: perspectivapolitica.com.br/.../coluna-do-dia-civismo-revisitando-a-in..Publicado em 17 de outubro de 2009. Acessado em 16/04/2012.

32

vontade mudanças relevantes por parte da população nas questões políticas, sociais, econômicas e jurídicas. É visível a construção da falsa ideia de que não há a possibilidade de mudança e que, na atual estrutura do Estado brasileiro, é comum acontecerem desvios de dinheiro público sem a devida punição. Essa aceitação, por parte da população, de que tudo que lhe é dito através dos meios de comunicação é verdadeiro, gera o desânimo de lutar por mudanças já que elas não são possíveis.

O conhecimento de seus direitos e obrigações assim com a ciência da responsabilidade do Estado e de seus agentes é, portanto, a arma do cidadão contra a eleição de pessoa inescrupulosa ou até mesmo de partido político, em cuja atuação nas questões públicas já restou comprovada a má fé. Consoante a isso, o professor Matheus Passos aborda o tema da falta de conhecimento por parte de seus alunos e como isso interfere na construção da cidadania:

...o cidadão muitas vezes assim se comporta por falta de conhecimento. Na coluna da semana passada abordei, de maneira sucinta, o sistema eleitoral brasileiro, especificamente o sistema proporcional.Quantos conhecem nosso sistema eleitoral? Pouquíssimos – e falo isso com conhecimento de causa, vendo o espanto no rosto dos meus alunos quando explico como nossos parlamentares são eleitos.Ampliando as perguntas, quantos sabem quais as prerrogativas de um governador, ou de um prefeito, evitando cair nas propagandas enganosas durante a campanha eleitoral – como a de um candidato a governador do DF que prometeu ampliar os campi da Universidade de Brasília, que é federal, e não estadual?Quantos sabem quais são seus direitos mais básicos? Ou uma pergunta ainda mais simples: quantos se lembram em quem votaram nas últimas eleições?É aqui que retorno à questão da minha infância e à questão das disciplinas de EMC e OSPB. Não tenho dúvidas de que tais disciplinas eram manipuladas com o objetivo de colocar na cabeça das crianças ideias e ideais do regime militar brasileiro, e também não tenho dúvidas de que, com a “redemocratização” ocorrida em 1985, seu currículo teria, necessariamente, de ser alterado para refletir os ares da Nova República.Entretanto, ao invés de se reformular as disciplinas e se aproveitar o que poderiam ter de bom no sentido de formar o senso cívico do cidadão brasileiro, o que ocorreu foi o radicalismo típico daqueles que querem se ver livres de tudo aquilo com o que não concordam: extinguiram-se as disciplinas sem se colocar nada em seu lugar – e sem verificar, é claro, aquilo que as disciplinas poderiam trazer de bom para a sociedade brasileira.Ao se buscar “cortar o mal pela raiz”, cortou-se também toda e qualquer possibilidade de implantar em toda uma geração brasileira aquilo que, para Platão, era fundamental para a boa governança: a ideia de civismo, entendida como a necessidade que todo cidadão deveria ter de participar da esfera pública.O resultado é o que temos hoje, e que é péssimo para qualquer perspectiva de desenvolvimento de um país: o desinteresse da grande maioria da população em relação à política e a generalização de que “tudo é igual”, somada à apatia também generalizada, baseada na ideia de que “o estado deve fazer tudo por nós”.Enquanto o cidadão brasileiro não olhar para si próprio e perceber que o erro está em si, e não nos políticos, pouco ou nada será mudado no cenário político e social brasileiro19.

19 Silva, Matheus Passos. Disponível em: perspectivapolitica.com.br/.../coluna-do-dia-civismo-revisitando-a-in..Publicado em 17 de outubro de 2009. Acessado em 16/04/2012.

33

Ainda na lavra do Professor Matheus, na citação acima, ao se retirarem

disciplinas que busquem elevar o senso de civismo no cidadão, também se implantam

uma apatia generalizada na população no que tange a participação do cidadão de forma

ativa da construção da democracia do seu país. Tal desinteresse se comprova com

próprios questionamentos feitos acima sobre a forma de eleição em nosso país seja

para cargo no executivo ou no legislativo ou até mesmo o questionamento feito acerca

dos direitos mais básicos do cidadão. O que se percebe do texto é que a população

brasileira em geral não conhece seus direitos e o que é ainda pior não sabe como

exercê-los. Isso faz com que milhões de pessoas sejam tão manipulados em tempos de

liberdade quanto em tempos de autoritarismo militar.

Diante dessa realidade, a construção de uma população cidadã deve ser

fomentada desde a educação básica, inserindo-se componentes curriculares que

contribuam para a participação do indivíduo de forma atuante e consciente de seu papel

no desenvolvimento do Brasil.

Ao se verificar a proposta organizacional do ensino público, verifica-se que se

deveria contemplar a formação do cidadão participativo na sociedade na qual está

inserido. Entretanto, que a cada ano as escolas públicas não conseguem formar

cidadão de maneira alguma. O jovem termina o nível médio e não sabe se comunicar

de forma minimamente aceitável através da oratória e muito menos através da escrita.

As faculdades particulares acolhem esses estudantes e também não conseguem fazê-

los evoluir de forma significativa.

Aparecem no cenário social, então, os cursos preparatórios para concursos

públicos com a promessa de recuperar anos de atraso em todas as áreas do

conhecimento para transformar um estudante despreparado numa máquina de

responder questões objetivas e conquistar um pedaço do paraíso que é o serviço

público. Há quem critique de forma pejorativa a façanha realizada pelos donos desses

cursos preparatórios, entretanto percebe-se, a despeito de estarem cada vez mais ricos,

contribuem para o sucesso de alguém que nunca teve sequer esperanças de conquistar

alguma independência financeira e status social.

Diante desse quadro, seria bastante interessante propiciar ao jovem estudante a

possibilidade de ter contato com os conteúdos jurídicos ainda na educação básica,

sobretudo, nas escolas públicas, pois é nelas que estão os cidadãos que menos

conseguem exercer seus direitos e usufruir da dignidade da pessoa humana. A inserção

de conteúdos jurídicos nas escolas públicas seria uma maneira estruturada de se

34

fomentar e desenvolver o interesse pelas questões relevantes dos aspectos políticos,

sociais e jurídicos do país. Além disso, o Direito é uma ciência que pode ser comparada

a um camaleão, pois se adéqua facilmente a qualquer outra área de conhecimento, haja

vista um fato que ocorreu em março do ano de 2.012 numa escola pública situada na

Região Administrativa de Ceilândia, Distrito Federal. A escola mencionada atende

crianças de educação infantil até o quinto ano de escolaridade. Numa turma de quinto

ano, o professor lia um conto de fadas chamado O flautista mágico também conhecido

por O Flautista de Hamelin:

Em 1282, a cidade de Hamelin estava sofrendo com uma infestação de ratos.

Um dia, chega à cidade um homem que reivindica ser um "caçador de ratos"

dizendo ter a solução para o problema. Prometeram-lhe um bom pagamento

em troca dos ratos - uma moeda pela cabeça de cada um. O homem aceitou o

acordo, pegou uma flauta e hipnotizou os ratos, afogando-os no Rio Weser.

Apesar de obter sucesso, o povo da cidade abjurou a promessa feita e

recusou-se a pagar o "caçador de ratos", afirmando que ele não havia

apresentado as cabeças. O homem deixou a cidade, mas retornou várias

semanas depois e, enquanto os habitantes estavam na igreja, tocou

novamente sua flauta, atraindo desta vez as crianças de Hamelin. Cento e

trinta meninos e meninas seguiram-no para fora da cidade, onde foram

enfeitiçados e trancados em uma caverna. Na cidade, só ficaram opulentos

habitantes e repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por sólidas

muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza20.

A história foi adaptada para idade dos estudantes que a ouviam e, na versão lida

em sala de aula, o conto foi abordado na forma de literatura de cordel, no qual o acordo

foi celebrado verbalmente entre o flautista e o prefeito da cidade de Hamelin. Mesmo

com algumas modificações de cunho literário, o foco principal da história não foi

alterado. Desse modo, o Flautista, depois de ter cumprido a sua parte no acordo feito

pelo prefeito da cidade de Hamelin viu seu direito ser desrespeitado e, por isso,

encantou as crianças e as sequestrou. Com essa história o professor estimulou as

crianças a pensarem juridicamente sobre as atitudes do prefeito da cidade e as atitudes

do flautista quando viu que fora enganado. Os alunos que estavam na sala de aula

julgaram a atitude do prefeito como desonesta e não concordaram com a atitude

flautista em sumir com as crianças.

20 O Flautista de Hamelin é um conto folclórico reescrito pela primeira vez pelos Irmãos Grimm e que narra um desastre incomum acontecido na cidade de Hamelin, na Alemanha, em 26 de junho de 1284. Disponivel em: pt.wikipedia.org/wiki/O_Flautista_de_Hamelin. Acessado em 15 de abril de 2.012

35

O professor fez vários questionamentos que levavam os alunos a refetirem sobre

a importância de se cumprir os acordos firmados, pois o contrto é considerado lei para

as partes que o aceitam, desde que não haja nenhuma situação que seja causa de

desfazimento desse acordo. Outro ponto bastante comentado na aula foi sobre o

sequestro das crianças daquela cidade. Depois de muitas opiniões um aluno perguntou

se o flautista não poderia processar o prefeito pela falta de honestidade.

Nesse ponto, o professor esclareu que a história não menciona sobre a

existência do poder judiciário que aplica a justiça, mas que pela época em que se passa

a história, ainda não havia a noção de organização de estado que há atualmente com

os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e que cada um deles tem a função de

fiscalizar o outro para evitar problemas na sociedade.21 O professor também chamou a

atenção para o fato de que é crime sequestrar pessoas e que também é crime tentar

fazer justiça com as próprias mãos e a isso se chama de exercício arbitrário das

próprias razões.

Diante das questões abordadas na aula, os alunos perceberam construiram

diversos conceitos jurídicos de forma lúdica e participativa e para complementar o

professor ensinou um dos princípios mais improtantes no que diz respeito aos contratos:

o pacta sunt servanda, ou seja, o contrato faz lei entre as partes. Depois disso, os

alunos começaram a contar casos em que as pessoas desrespeitavam o pacta sunt

servanda e, em muitas ocasiões, as partes prejudicadas eram da família da criança,

sobretudo, os pais e em questões trabalhistas. Com isso, observa-se que o ensino do

Direito nas escolas públicas é de extrema relevância, porquanto cria nos atores o

comprometimento com cuidado mútuo e com o senso de justiça, além de fomentar a

busca por soluções pacíficas e inteligentes de problemas. No caso acima, as crianças

foram esclarecidas sobre existência de diversos segmentos da justiça, sobretudo,

acerca dos tribunais especiais civeis, que foram criados para solucionar cujo valor não

excede a sessenta salários mínimos e que muitos problemas podem ser facilmente

resolvidos num acordo judicial.

Tomando por base a aula acima descrita, verifica-se que ensino lúdico se faz

necessário para conquistar o interesse das pessoas nessa fase da vida. É

imprescindível, portanto, saber: o que é o lúdico? Já está comprovado por vários

estudos científicos que jogos, literatura, teatro, brincadeiras, passeios, visitações a

museus e bibliotecas, filmes, animações, concursos, entre outras atividades atraem a 21 Essa é turma de quinto ano de escolaridade de escola pública na cidade de Ceilândia, DF que já havia tido acesso de noções sobre os poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.

36

atenção das pessoas sob muitos aspectos. Assim sendo, é possível viabilizar o ensino

das noções básicas de direito em seus diversos ramos e fazer com que o estudante

valorize o conhecimento de como se criam seus direitos e suas obrigações e, além

disso, trabalhe para construção de uma justiça mais acessível para todos.

É importante ressaltar que, diante da complexidade do tema explorado, o ensino

lúdico se faz necessário para conquistar o interesse das pessoas nessa fase da vida. É

imprescindível, portanto, saber é que é as atividades desenvolvidas devem ser

preparadas de modo a envolver plenamente as pessoas envolvidas e que esse

envolvimento pleno se coaduna com o conceito de ludicidade. Já está comprovado por

vários estudos científicos que jogos, literatura, teatro, brincadeiras, passeios, visitações

a museus e bibliotecas, filmes, animações, concursos, entre outras atividades atraem a

atenção de pessoas de quaisquer idades e sob muitos aspectos. Assim sendo, é

possível viabilizar o ensino das noções básicas de direito em seus diversos ramos e

fazer com que o/a estudante valorize o conhecimento de como se criam seus direitos e

suas obrigações e, além disso, trabalhe para construção de uma justiça mais acessível

para todos.

O lúdico é, portanto, o que fomenta a participação do/a estudante e do/a

professor/a nas atividades escolares com o objetivo de se estimular uso do intelecto e

dos sentidos, favorecendo a percepção dos conteúdos de forma plena, ou seja,

entregando-se completamente à descoberta e à redescoberta da cultura humana. O que

se busca, então, é adaptação dos conteúdos jurídicos, políticos e administrativos aos

demais conteúdos escolares, fazendo com que o estudante construa sua cidadania de

forma prazerosa e plena, corroborando com a Constituição brasileira, em vigor desde

1988, que prevê em seu artigo sexto como direitos sociais:

Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a

segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados, na forma da lei.

A palavra lazer do texto constitucional, pois traduz a espontaneidade e a

necessidade do belo, do divertido, da liberdade, da plenitude de comportamento, ou

seja, do lúdico presente em todos os segmentos da sociedade, mas nem sempre

praticado. Por isso, a construção da cidadania deve ser elaborada com a concordância

do estudante. Deve-se levar em consideração que o estudante, nessa fase de

escolarização, apesar da pouca idade, é um ser do presente e não do futuro, que tem

capacidade de opinar e modificar sua realidade, ainda que, pelos padrões sociais, em

37

pequena escala. Trata-se de erro crasso considerar o jovem estudante como o futuro do

Brasil. O/A estudante é um ser pensante e, desde já, é totalmente relevante enfatizar a

construção de sua cidadania, pois sua contribuição é sempre importante, sendo hoje ou

no futuro, cada cidadão pode contribuir para o crescimento social, jurídico, econômico e

político do país.

Muitos são os obstáculos a serem superados para que haja a construção de uma

cidadania plena. Um dos mais importantes deles é a falta de vontade política pública

para preparar as escolas de forma a atender uma necessidade tão latente e imperiosa

quanto a descoberta e o exercício dos direitos, assim como o cumprimento das

obrigações.

Outro problema a ser enfrentado é o preconceito que permeia determinados

setores da sociedade com relação às classes pobres, já que os estudantes das escolas

públicas são considerados com menos conhecimento do que os alunos cujos familiares

podem arcar com o pagamento escolas mais bem conceituadas no ensino. São tantos

os problemas enfrentados pelas escolas públicas que apenas com muito esforço e

desprendimento poderá o ensino de noções básicas dos direitos fundamentais do

cidadão se tornar eficaz e promover a cidadania como deve ser vivida.

Devido aos demasiados obstáculos, a cidadania vem sendo construída no Brasil

a passos lentos e com iniciativas estanques e sazonais. É comum a execução de

projetos que visem à valorização da cidadania do ponto de vista político, sobretudo, em

época de eleições. Assim, quando se aborda o tema de construção da cidadania,

algumas iniciativas são intentadas para esclarecer a população acerca da importância

de se votar. Por óbvio que não alcançam os resultados pretendidos já que os próprios

cidadãos não valorizam o momento de escolha de seus representantes no Legislativo e

no Executivo como deveriam. Entretanto, tais projetos merecem ser valorizados, pois

não há, ainda, postas em prática formas de familiarizar a população com o processo

eletivo eletrônico do qual o Brasil é precursor. Como exemplo de iniciativas promissoras

para o desenvolvimento da cidadania, há o Projeto Eleitor Do Futuro encabeçado pelo

Tribunal Eleitoral... Nesse projeto, o tribunal eleitoral propicia às escolas públicas e

particulares a experimentação por parte do/a jovem estudante da tecnologia utilizada

nas eleições, ou seja, o manuseio das urnas eletrônicas. Para isso são criados

candidatos fictícios, nos quais os estudantes votam e elegem aqueles que consideram

os melhores representantes.

38

Observa-se que o projeto visa formar eleitores para o futuro, entretanto, trabalha-

se com cidadãos do presente. Destarte, é de fundamental importância oportunizar as/os

estudantes, para que, quando estiverem em condições de participar verdadeiramente do

processo eleitoral no que tange o sufrágio universal, possam ter a consciência

desenvolvida de forma crítica e construtiva. Tal projeto pode ser aprimorado quando se

tratar da discussão de problemas sociais, políticos, econômicos e jurídicos, nos quais,

os alunos experimentarão o conhecimento da realidade brasileira com relação aos

temas discutidos e estudados.

Diante disso, não é possível conceber que, numa democracia, cuja Constiuição

tenha o nome de Cidadã, as pessoas inseridas nessa coletividade vivam sem o acesso

ao mínimo de conhecimento do ordenamento jurídico brasileiro e, por consequência

dessa falta de conhecimento, venha a ser um cidadão sem expressividade alguma e

que, no dizer de Gilberto Dimesntein: “um cidadão só no papel; um cidadão de papel”22

7. CAPÍTULO III

7.1. PESQUISA DE CAMPO

22 O autor faz um paralelo do cidadão brasileiro como se fosse de papel, um ser manipulável e com seus direitos apenas no papel sem saber como exercê-los.

39

APONTAMENTOS SOBRE A OPINIÃO DE ESTUDANTES E PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA EM VIVENCIAR O ENSINO DE NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO COMO CONTRIBUIÇÃO PARA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA.

7.2. DA JUSTIFICATIVA DA PESQUISA DE CAMPO E ANALISE DOS DADOS

Diante da necessidade de se construir a cidadania, usando como um dos meios

a ensino de noções de Direito na educação básica, torna-se de fundamental importância

verificar a opinião do/a estudante e do/a professor/a do ensino fundamental e médio em

vivenciar noções básicas de direito como forma de exercício da cidadania. Para isso, é

imprescindível a coleta e análise de dados quantitativos obtidos através de pesquisa de

campo, na qual se evidencie o interesse ou não dos sujeitos na construção da cidadania

através da introdução do ensino de noções de direito nas escolas de educação básica.

A partir disso, foi entregue um questionário a cinco grupos distintos, sendo que

foram entrevistados 300 (duzentas) pessoas de cada segmento, com o intuito de se

colher as informações por amostragem para a verificação da tendência das respostas.

Os segmentos de entrevistados foram formados por estudantes do nível fundamental;

estudantes do nível médio, professores/as do nível fundamental; professores/as do nível

médio e estudantes da graduação em Direito.

7.3. DA ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA QUESTÃO 1 (UM)

A primeira questão (O cidadão brasileiro deve conhecer a legislação pátria para que possa exercer seus direitos e cumprir suas obrigações e, dessa maneira, não se encontre em situação desagradável no decorrer da vida em sociedade. Dessa forma a cidadania, que é o pleno exercício de seus direitos e o cumprimento das obrigações para a convivência harmônica da vida em sociedade, deve ser vivenciada:) objetivou evidenciar se o entrevistado conhecia sob

que ponto de vista a cidadania deveria ser exercida numa sociedade. Dessa forma foi

apresentado o conceito de cidadania e quatro opções de escolha livre: a) apenas do

ponto de vista individual; b) apenas do ponto de vista coletivo; c) tanto do ponto de vista

individual como do ponto de vista coletivo e d) não sei/ não quero responder.

As informações obtidas com base nos dados coletados junto aos/as estudantes

a partir do quarto semestre ensino superior demonstram claramente que nesse

segmento a esmagadora maioria compreende sob quais pontos de vista a cidadania

deve ser vivenciada. A resposta “c” foi marcada por 98% (noventa e oito porcento) dos

entrevistados. A alternativa “d” foi escolhida por apenas 2% (dois porcento) dos

40

entrevistados. Não houve marcações nas alternativas “a” e “d”. Percebe-se que mesmo

com relação aos/as estudantes do ensino superior, há pessoas que ainda desconhecem

ou não querem responder sobre como dever ser exercida a cidadania. Eis o gráfico:

O gráfico abaixo foi elaborado a partir dos dados coletados no ensino superior de

Direito: questão 1(um)

AB

CD

0.0%10.0%20.0%30.0%40.0%50.0%60.0%70.0%80.0%90.0%

100.0%

A; 0B; 0

C; 0.98

D; 0.02

Ao se observar a mesma questão sendo aplicada aos/as estudantes do nível

médio percebe-se que as alterações forma mínimas, já que 96% (noventa e seis

porcento) dos entrevistados optaram pela alternativa “c”, indicando que a cidadania

deve ser vivenciada tanto do ponto de vista individual quanto coletiva. Apenas 2,5 %

(dois e meio porcento) dos entrevistados optaram pela alternativa “d” e 1,5% (um e meio

porcento) optaram pela alternativa “b”. Não houve respostas para a letra “a”. Percebe-

se, com a observação dos dados referentes à letra “c” que o estudante do nível médio

tem consciência da forma como deve ser vivenciada a cidadania, ou seja, de maneira

individual e coletiva e de forma que a vida em sociedade seja equilibrada. Isso

demonstra que o estudante do nível médio de escolaridade tem aptidão para a

compreensão dos conceitos elementares sobre a cidadania, o que lhe falta é a

oportunidade de aprender acerca de seus direitos e dos direitos da coletividade para

que possa usufruir com dignidade os benefícios que a cidadania lhe oferece. Debalde é

deixar que o/a estudante do nível médio passe por essa fase de sua vida escolar sem

41

conhecer ao menos em parte o ordenamento jurídico pátrio e experimentar o exercício

da cidadania de forma mais eficaz.

Assim sendo, torna-se imperioso que se construa cada vez mais a cidadania de

forma a ampliar a tendência mostrada nos números apresentados no gráfico a seguir:

O gráfico a seguir foi elaborado a partir dos dados coletados no nível médio de

escolaridade: questão 1(um)

AB

CD

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

A; 0.00%B; 1.50%

C; 96.00%

D; 2.50%

Com relação aos dados obtidos junto aos/as estudantes do nível fundamental é

importante salientar que, independentemente da maturidade dos entrevistados, os

percentuais não se afastaram significantemente dos demais grupos entrevistados;

observa-se no gráfico a seguir que os/as estudantes desse grupo de pesquisa

demonstraram um resultado similar aos demais grupos, já que 94% (noventa e quatro

porcento) dos entrevistados marcaram a opção “c” na questão número 1(um). Da

análise desse percentual se chega à conclusão de que os/as estudantes nessa faixa

etária compreendem muito bem de que forma a cidadania deve ser exercida. Destarte, o

conhecimento adquirido ao longo de seu desenvolvimento será de fundamental

importância para sua formação como cidadão. Por isso, o ensino noções de Direito

contribuirá de forma decisiva para a construção da cidadania plena se for iniciado ainda

no início do ensino fundamental.

É importante também se observar que apenas 2% dos entrevistados optaram

pela alternativa “a”, 2% optaram pela alternativa “b” e 2% optaram pela alternativa “c”.

Tais percentuais são inexpressivos, servindo apenas para corroborar com ideia de que

42

o/a jovem estudante desse segmento de ensino está apto a aprender acerca do sistema

legal que rege o país em que vivem. Assim sendo, a educação para a cidadania através

do ensino de noções de Direito para o/a estudante de nível fundamental encontrará solo

fértil no cotidiano desses estudantes.

Gráfico dos dados coletados no nível fundamental de escolaridade: questão

1(um)

AB

CD

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

A; 2%B; 2%

C; 94%

D; 2%

Os dados obtidos com aplicação da pesquisa junto aos professores de nível

fundamental e médio revelaram-se similares em muitos aspectos. Com relação à

questão 1(um) não diferença alguma nas resposta. Tanto os professores que lecionam

para o nível fundamental, quanto os que lecionam para o nível médio optaram em 100%

(cem porcento) pela resposta “c”. Esse dado demonstra que o/a professor/a detém o

conhecimento acerca de como a cidadania deve ser vivenciada. Entretanto, como se

revelará mais a diante, esse/a mesmo/a docente não exerce de forma plena sua

cidadania. O que se mostra como um paradoxo, na verdade é um reforço de que a falta

de conhecimento jurídico inibe o pleno exercício da cidadania.

Dessa forma, não apenas o/a estudante necessita de construção da cidadania,

mas, também, o docente deve despertar para o conhecimento do sistema legal pátrio

sob pena de alienar-se inteiramente com relação ao desenvolvimento pessoal e coletivo

da cidadania, o que é inconcebível, haja vista ser o/a professor/a agente da mais

profunda relevância no que se refere à mobilização do/a estudante para as mudanças

sociais relevantes e inadiáveis.

43

O gráfico a seguir apresenta os dados coletados da entrevista com os/as

professores/as de níveis: fundamental e médio. Os gráficos apresentam percentuais

idênticos, portanto apenas um deles foi aqui mostrado.

AB

CD

0.00%

10.00%

20.00%

30.00%

40.00%

50.00%

60.00%

70.00%

80.00%

90.00%

100.00%

A; 0.00%B; 0.00%

C; 100.00%

D; 0.00%

7.4. DA ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA QUESTÃO 2 (DOIS)

A segunda questão (Você considera que os direitos dos cidadãos são inteiramente respeitados atualmente no Brasil?) visou perceber se o entrevistado

tinha consciência acerca do exercício da cidadania no que ser refere ao respeito integral

de seus direitos no Brasil de hoje. Foram oportunizadas três escolhas: a) sim; b) não e

c) não sei/ não quero responder.

Os dados obtidos a partir dessa questão também demonstraram os/as

estudantes do nível fundamental têm ampla clareza de como a cidadania, ou seja, o

exercício dos direitos plenamente pelos cidadãos, assim como o cumprimento de suas

obrigações, é respeitada no Brasil atual. Nota-se que 91% (noventa e um porcento) dos

entrevistados nessa faixa etária opinaram pela resposta “b” o que evidencia a opinião de

que os direitos dos cidadãos não são respeitados inteiramente no Brasil. Apenas 7%

(sete porcento) optaram pela resposta “a”. Na opinião desses entrevistados, os direitos

dos cidadãos são inteiramente respeitados. 2% (dois porcento) dos entrevistados não

souberam ou não quiseram responder.

É fato que os/as estudantes do nível fundamental, em sua maioria são crianças,

e, por consequência disso, são subestimados quanto à capacidade de fazer a leitura da

44

sociedade. O gráfico deixa claro que os/as estudantes do nível fundamental têm plena

consciência do desrespeito ao fundamento constitucional da dignidade da pessoa

humana. Entretanto, não lhes é oferecida a oportunidade de conhecer os direitos que

inerentes aos/ às cidadãos/ãs e isso causa séria desvantagem para esses discentes.

O gráfico abaixo foi elaborado a partir dos dados coletados no nível fundamental

de escolaridade: questão 2 (dois).

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

A; 7%

B; 91%

C; 2%0%

Os dados coletados no ensino médio demonstraram um percentual ainda maior

com relação a resposta da mesma pergunta feita ao nível fundamental. No nível médio,

93% (noventa e três porcento) dos/as estudantes optaram pela alternativa “b”; 6% (seis

porcento) marcaram a opção “a” e apenas 1% (um porcento) optou por não responder a

questão. Percebe-se que os/as estudantes do nível fundamental e médio demonstraram

senso crítico acerca do não exercício de seus direitos como cidadãos.

O fato de tanto os/as estudantes do nível fundamental e do nível médio terem

opiniões semelhantes sobre o não exercício pleno de sua cidadania não garante que

eles estão motivados para fazer a mudança no quadro social no qual estão inseridos.

Nota-se que há certa apatia do/a estudante no que se refere à participação nas

questões de fundamental importância do ponto de vista social, político, econômico e,

principalmente, jurídico. Tal descaso por parte dos discentes é reflexo da pouca

informação oferecida aos/as estudantes nas áreas acima mencionadas.

45

O gráfico a seguir foi elaborado a partir dos dados coletados do nível médio de

escolaridade: questão 2 ( dois).

AB

CBranco

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

A; 6%

B; 93%

C; 0%Branco; 1%

Os dados obtidos na entrevista realizada com os estudantes de nível superior do

curso de Direito demonstraram que 100% (cem porcento) dos entrevistados

consideraram que os direitos não são inteiramente respeitados no Brasil. Esse dado

demonstra um nível de consciência ainda mais crítico com relação ao exercício da

cidadania por parte da população brasileira.

Os/as acadêmicos do curso de Direito, apesar de terem acesso à informação

sobre diversos assuntos pertinentes ao exercício da cidadania concordaram com o fato

de que a população em geral no Brasil está bem longe de vivenciar a cidadania de

forma plena, pois são pouquíssimas as oportunidades oferecidas aos/as cidadãos/ãs de

conhecer seus direitos e suas obrigações. O que se verifica é que mesmo existindo

projetos que fomentem o exercício da cidadania, esses são efêmeros e descontinuados

e que, portanto não criam os laços necessários para estruturar a plena vivência da

cidadania.

Dessa forma, o ensino sistematizado de noções de direito nas escolas públicas

por imposição legal contribuirá de forma perene para o conhecimento mais amplo dos

direitos e das obrigações por parte da população, possibilitando sua participação mais

intensa nas questões políticas, sociais, econômicas e jurídicas do Brasil.

46

O gráfico a seguir foi elaborado a partir dos dados coletados junto aos/as

estudantes do curso de Direito: questão 2 ( dois).

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

A; 0%

B; 100%

C; 0%0%

As informações contidas nos gráficos dos/as professores/as que atuam no nível

médio e no nível fundamental de escolaridade são idênticas, portanto apenas será

apresentado um gráfico representado os dois segmentos de entrevistados.

Da análise do gráfico fica evidente que os/as professores/as dos dois níveis de

escolaridade demonstram a mesma opinião no que se refere ao desrespeito aos direitos

da população, já que, de acordo com a resposta que escolheram, não são inteiramente

respeitados. Dessa forma, os/as docentes intensificam o teor crítico da opinião dos

demais segmentos entrevistados. Inerente a esse teor crítico deve estar a criação das

possibilidades para a transformação da atua realidade de forma a viabilizar mais

condições de a população exigir que seus direitos sejam respeitados. Entretanto, não se

pode conceber qualquer iniciativa que desenvolva a capacidade de exigência da

população sem estimular o acesso ao conhecimento acerca desses direitos. Por isso, a

introdução de disciplinas jurídicas nas escolas públicas, ainda que em sede de noções

de direito, contribuirá de forma decisiva para se criar no/a cidadão/ã o desejo de buscar

o pleno exercício de sua cidadania.

O gráfico a seguir foi elaborado a partir dos dados coletados junto aos/as

professore/as de nível fundamental e de nível fundamental: questão 2 (dois).

47

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

A; 0%

B; 100%

C; 0%0%

7.5. DA ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA QUESTÃO 3 (TRÊS).A terceira questão (A falta do conhecimento dos direitos por parte do

indivíduo e da população é um fator importante para o não exercício da cidadania tanto de forma coletiva como de forma individual?) teve como objetivo principal

saber a opinião do entrevistado acerca da importância de conhecer os direitos para o

exercício da cidadania, tanto de forma individual como de forma coletiva. Foram dadas

três opções de resposta ao entrevistado: a) sim; b) não e c) não sei/não quero

responder.

Percebe-se da observação dos gráficos abaixo que há uma tendência quase

óbvia nas respostas dos vários segmentos entrevistados. Entretanto os dados devem

ser analisados separadamente para que se tenha a real opinião dos entrevistados

respeitando suas características particulares, tais como: faixa etária, formação

acadêmica e atuação na sociedade.

No gráfico elaborado a partir dos dados emanados das respostas do nível

fundamental, observa-se que 94% (noventa e quatro porcento) dos entrevistados

optaram pela resposta “a”, ou seja, “sim”; 5% (cinco porcento) marcaram a alternativa

“b”, ou seja, “não” e apenas 1% (um porcento) não sabia ou não quis responder, ou

seja, optou pela alternativa “c”.

A esmagadora maioria desse grupo de entrevistados evidenciou em sua

resposta, ainda que por análise inversa, que o conhecimento dos direitos é um fator

importante para o exercício da cidadania tanto do ponto de vista individual como do

ponto de vista coletivo. Dessa forma, o ensino do Direito nas escolas de educação

48

básica é, de fato, necessário já que possibilitará aos/as cidadãos/ãs, desde sua

infância, o acesso ao conhecimento que propiciará o exercício de sua cidadania por

toda a vida.

O gráfico abaixo foi elaborado a partir dos dados coletados da entrevista com

estudantes do nível fundamental de escolaridade: questão 3 (três).

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100% A; 94%

B; 5%C; 1%

0%

Com relação aos dados colhidos para a elaboração do gráfico do nível médio de

escolaridade, percebe-se que, apesar de as respostas serem bem próximas às de nível

fundamental, a interesse daquele grupo de entrevistados é diferente desse. Os/as

estudantes do nível médio vivenciam momento da vida no qual já começa a

preocupação com a independência financeira e a liberdade para exercitar todos os atos

da vida civil. Entretanto, lhes faltam elementos para a vivência plena desses atos. O

primeiro elemento para o exercício da plena cidadania é de cunho objetivo: a idade, pois

somente ao se completar dezoito anos é que se adquire capacidade plena para todos

os atos da vida civil. No entanto, ainda que se alcance esse elemento, ainda será

necessário outro elemento que de cunho subjetivo: o conhecimento. De posse desses

dois elementos, o cidadão tem mais condições de ver garantido o exercício de seus

direitos. Entretanto, de posse do conhecimento, mesmo antes de se atingir a idade

necessária para a maioridade, é possível que o/a cidadão/ã experimente os benefícios

de se viver num Estado Democrático de Direito, no qual, todos são iguais perante a lei e

devem a ela obediência ou, de modo democrático, lutar por leis mais justas através dos

diversos mecanismos de alteração legislativa.

49

Ao se mencionar a possibilidade de experimentar os efeitos benéficos da

cidadania, é importante buscar, necessariamente, as armas eficazes para se

experimentar a integral participação na qualidade de cidadão/ã.

O gráfico a seguir foi elaborado a partir dos dados coletados junto aos

estudantes do nível médio de escolaridade: questão 3 (três).

AB

CBranco

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100% A; 91%

B; 5%C; 3%

Branco; 1%

O gráfico elaborado com os dados obtidos da entrevista com os/as estudantes

do nível superior do curso de Direito demonstra que a ampla maioria, ou seja, 98%

(noventa e oito porcento) dos entrevistados se posicionaram pela concordância de que

a falta do conhecimento dos direito pelos/as cidadãos/ãs individual e coletivamente

contribui fortemente para o não exercício da cidadania. 6% (seis porcento) afirmaram

que a falta do conhecimento dos direitos não contribui para o não exercício da

cidadania. Esses dados deixam claro que, segundo a opinião desse grupo de

entrevistados, o conhecimento dos direitos é fator de extrema relevância para o seu

exercício.

Assim sendo, fazendo a comparação entre os três grupos de discentes acima

apresentados percebe-se a convergência de ideias acerca da importância de se

conhecer os direitos para o efetivo exercício da cidadania. Além da consonância de

opiniões, percebe-se também que nos três segmentos a resposta “a”, ou seja, “sim” teve

sua aceitação acima dos noventa porcento, chegando próximo da totalidade dos

50

entrevistados. Esse percentual serve de importante lastro para ratificar programas

educacionais que vislumbrem o ensino de Direito a fim de garantir o acesso à

informação aos estudantes de escolas da educação básica.

O gráfico a seguir foi elaborado a partir dos dados coletados junto aos

estudantes de nível superior do curso de Direito: questão 3 (três).

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%A; 98%

B; 6%

C; 0%0%

Os gráficos elaborados com as informações coletadas nas entrevistas com os

docentes de nível médio e fundamental evidenciaram total igualdade nas respostas.

Todos os entrevistados consideraram que a falta de conhecimento dos direitos

prejudicam o exercício da cidadania. A partir desses dados, infere-se que todos os

segmentos envolvidos com a pesquisa de campo demonstraram ampla preocupação

com a construção da cidadania através do ensino do Direito desde a infância do/a

cidadão/a, já que há mecanismos de adaptação curricular para atender desde os/as

mais novos/as estudantes até os mais vividos sem distinção de qualquer natureza. É,

portanto, imprescindível que o Estado, através da lei, possibilite o acesso democrático a

todos os/as estudantes/cidadãos/ãs ao conhecimento necessário para exercer seu

verdadeiro papel de cidadão/ã de forma que se construa efetivamente a cidadania no

Brasil.

Por consequência, se é necessário que se promova a introdução do ensino de

noções de direito nas escolas da educação básica, para que se construa mais

51

efetivamente a cidadania e isso atualmente não acontece nas escolas públicas, infere-

se que o/a cidadão/ã brasileiro vivencia apenas parcialmente sua cidadania, ou seja, é

um/a quase-cidadão. Ser um/a quase-cidadão/ã não está longe de ser em breve

considerado um/a quase-gente. E isso é inadmissível.

O gráfico abaixo foi elaborado a partir dos dados coletados da entrevista com

os/as docentes do nível fundamental de escolaridade: questão 3 (três)

AB

CBranco

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%A; 100%

B; 0%C; 0%

Branco; 0%

O gráfico a seguir foi elaborado a partir dos dados coletados da entrevista com

os/as docentes de nível médio de escolaridade: questão 3 (três).

AB

CBranco

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%A; 100%

B; 0%C; 0%

Branco; 0%

7.6. DA ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA QUESTÃO 4 (QUATRO)

52

A quarta questão (Atualmente há no ensino público disciplinas como, por exemplo, Português, Matemática, Geografia, História, Física, Química, Biologia, entre outras. Você acredita que o ensino dessas disciplinas cria no estudante do ensino fundamental e médio a ideia de cidadania, ou seja, cria a vontade de ser um cidadão participante na sociedade em que está inserido?) evidenciou saber se o

as disciplinas tradicionalmente estudadas na educação básica, tais como: Português,

Matemática, Física, Química entre, outras despertava ou não a vontade do/a estudante

em participar mais ativamente das questões sociais. As opções de resposta foram: a)

sim; b) não e c) não sei/ não quero responder.

Da observação do gráfico abaixo, percebe-se que 82% (oitenta e dois porcento)

dos entrevistados marcaram a alternativa “a” afirmando que as disciplinas

exemplificadas na questão despertam a vontade de participação do estudante na

sociedade na qual está inserido. 17% (dezessete porcento) dos entrevistados optaram

pela alternativa “b”, denotando que as disciplinas citadas na questão (meramente

exemplificativas) não criam a vontade de efetiva participação do/a estudante na

sociedade de que faz parte. 1% (um porcento) não quis ou não soube responder. Dos

dados elencados, é possível extrair a grande expectativa acerca do ensino das

disciplinas acima mencionadas. O/A estudante do nível fundamental deixa claro que

confia que a estrutura de ensino que lhe oferecida fomenta o desejo de participar das

questões relevantes da sociedade no tempo presente e no futuro.

Tal expectativa diminui consideravelmente com transcorrer do tempo, conforme

se verá na análise dos dados coletados a partir do nível médio de escolaridade. E torna-

se completamente inverso quando a análise é feita a partir dos dados colhidos do nível

superior e dos/as professores/as de nível fundamental e de nível médio.

A análise feita em conjunto facilitará a observação da alternância de

posicionamento dos grupos entrevistados de forma gradual e inversa. As opiniões

variam da plena confiança ao total descrédito, conforme o nível de maturidade vai

aumentando. Tal variação se coaduna com a ideia de que o ensino de noções de direito

nas escolas de educação básica encontrará solo fértil desde o nível médio até as fases

mais avançadas de escolaridade, pois, enquanto é criança o/a cidadão/ã tem ampla

expectativa, logo o ensino de direito será mais um importante componente curricular

para solidificar sua cidadania. Na medida em que for crescendo, o/a cidadão/ã terá

acesso a importantes informações do mundo jurídico que facilitaram colocação no

mercado de trabalho e, consequentemente, desenvolveram a construção da cidadania

nos diversos setores da sociedade.

53

O gráfico abaixo foi elaborado a partir da coleta de dados do nível fundamental

de escolaridade: questão 4 (quatro).

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90% A; 82%

B; 17%

C; 1%0%

O gráfico a seguir mostra o que foi afirmado acima, ou seja, uma modificação na

tendência que até então vinha se mantendo nas marcações das alternativas das

questões anteriores. No nível médio de escolaridade, 53% (cinquenta e três porcento)

dos entrevistados consideraram com as disciplinas acima mencionadas fomentam o

desejo de se participar ativamente nas questões relevantes da sociedade. 46%

(quarenta e seis porcento) consideraram que tais disciplinas não contribuem para a

participação do/a estudante nas questões sociais e apenas 1% (um porcento) não

soube/não quis responder. Os dados apresentados pelo nível médio de escolaridade

mostraram certa indecisão, quase um empate, com ligeira vantagem para a alternativa

“a”. Se comparado ao resultado da pesquisa feita no nível fundamental, pode-se afirmar

que houve uma reviravolta nas opiniões demonstradas.

Tal variação pode ser explicada pelo desenvolvimento da maturidade do/a

estudante do nível médio de escolaridade ou pela diminuição das expectativas com

relação às disciplinas mencionadas anteriormente. O fato é que o/a estudante, nessa

fase de sua vida estudantil, demonstrou não ter mais ampla confiança se aquilo que lhe

é ensinado será de grande valia para sua vida em sociedade, ou até mesmo se

contribuirá para obter sucesso numa futura carreira profissional. O que se vê é que as

disciplinas, por si só, não conseguem desenvolver plenamente o exercício da cidadania

do/a estudante. Caso essa afirmação não fosse verdadeira, o gráfico mostraria

resultado semelhante ao do nível fundamental, entretanto por outras razões.

54

O gráfico a seguir foi elaborado a partir da coleta de dados no nível médio de

escolaridade: questão 4 (quatro).

AB

C-10%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60% A; 53%

B; 46%

C; 1%0%

Ao se observar os dados formadores do gráfico a seguir, percebe-se facilmente

que o/a graduando/a de Direito tem opinião bem adversa aos outros dois grupos

estudantis entrevistados. Tal afirmativa se justifica pelo fato de que apenas 20% (vinte

por cento) dos entrevistados opinaram a favor de que as disciplinas já mencionadas na

questão fomentam o senso de cidadania no/a estudante. 75% (setenta e cinco

porcento) optaram por marcar a alternativa “b”, demonstrando que as disciplinas,

exemplificadas na questão em análise, não contribuem efetivamente no que tange a

participação do/a estudante nas sociais. Com já foi afirmado anteriormente, o gráfico

modificou gradual e inversamente, conforme o nível de escolaridade e de senso crítico

dos entrevistados.

Vê-se, portanto, deve haver mudanças importantes na grade curricular da

educação básica, a fim de que sejam inseridas disciplinas que despertem e o senso de

cidadania por parte do/a estudante. Tais disciplinas devem necessariamente desafiar

o/a estudante a não se conformar com a inércia pela qual passa a educação em todos

os seus níveis. Nesse ponto, o ensino de noções de direito inserido na educação básica

fará com o que o/a discente tenha um leque maior de opções para exercitar e construir

sua cidadania, além de aprimorar sua atuação como cidadão/ã. Tal construção

necessita de tempo e de vontade política para se implementar políticas públicas sérias e

55

bem elaboradas a fim de que propiciem ao cidadão/ã, em formação, as condições

necessárias para o pleno aprimoramento de sua cidadania.

O Gráfico a seguir foi elaborado da coleta de dados do nível superior: questão 4

(quatro).

AB

C

0.00%

10.00%

20.00%

30.00%

40.00%

50.00%

60.00%

70.00%

80.00%

A; 20%

B; 75%

C; 5%

0%

Com relação aos números coletados com a pesquisa no grupo dos/as

professores/as (médio e fundamental), 98% (noventa e oito porcento) dos entrevistados

afirmaram que as disciplinas mencionadas na questão não estimulam a participação

do/a estudante nas atividades relevantes da sociedade. Apenas 2% (dois porcento)

afirmaram que as disciplinas despertam a participação do/a estudante nas questões

sociais.

Percebe-se claramente que o segmento dos/as docentes demonstra que a atual

estrutura de ensino apresenta ineficácia no que tange a formação de pessoas atuantes

na sociedade e dispostas a enfrentar os problemas com participação efetiva,

conhecendo seus direitos e suas obrigações e, o mais importante, exercendo de forma

consciente sua cidadania.

A formação de pessoas capazes e com esse perfil de comprometimento é um

dos maiores desafios para a sociedade brasileira atualmente. Portanto, para contribuir

com a superação desse imenso desafio é que se faz necessário mais um aliado de valor

e reconhecido como de grande poder: o ensino do Direito de forma democrática e eficaz

nas escolas públicas de educação básica.

56

Esse ensino, portanto, contribuirá de forma decisiva para a mudança de

paradigma tanto na educação como no Direito.

O gráfico a seguir foi elaborado a partir da coleta de dados da entrevista feita

com os professores de nível médio e nível fundamental: questão 4 (quatro)

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

A; 2%

B; 98%

C; 0%0%

7.7. DA ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA QUESTÃO 5 (CINCO) A quinta questão (Atualmente, todos os concursos públicos para preencher

vagas no quadro de servidores e empregados, tanto da administração direta quanto da indireta, inserem, no edital, noções de direito, explorando as mais variadas áreas jurídicas. Partindo desse fato, os/as estudantes de escolas públicas (nível médio e fundamental) levam desvantagem por não terem as mesmas condições financeiras dos/as estudantes das escolas particulares no que diz respeito à contratação de serviços de cursos preparatórios para os concursos públicos e à compra de material para estudo?) teve um objetivo peculiar, pois queria

saber a opinião do/a entrevistado/a acerca da preparação que ele dispunha nas escolas

públicas em comparação com a preparação colocada à disposição do/a estudante das

escolas particulares com mais recursos didáticos e financeiros. E se essa preparação

colocava o/a estudante da educação básico nas escolas publicas em desvangem no

que tange a aprovação em concursos públicos. Tal questão foi baseada no fato de que

atualmente, no Distrito Federal, há uma enorme procura por aprovação em concursos

públicos pelas vantagens inerentes aos cargos. Foram oferecidas três opções de

resposta: a) sim; b) não e c) não sei/ quero responder.

57

Os dados coletados a partir do questionário aplicado aos/as estudantes do nível

denotam que a escolha da resposta “a”, ou seja, para 75% (setenta e cinco porcento)

desse segmento de entrevistados, os/as estudantes de escola pública, sejam de nível

fundamental, sejam de nível médio, sofrem desvantagem por não terem o mesmo

acesso à informação se comparados aos/as estudantes das escolas particulares. Essa

desvantagem se reflete no acesso às universidades federais, assim como na aprovação

em concursos públicos, já que as vagas são quase que totalmente preenchidas por

estudantes oriundos das escolas particulares, seja do ensino regular ou de curso

preparatórios para o vestibular das universidades públicas ou para aprovação em

concursos públicos.

A alternativa “b” foi escolhida por 15% (quinze porcento) dos entrevistados e

10% (dez porcento) não souberam ou não quiseram responder. Verifica-se que a

minoria afirma que não há desvantagem dos/as estudantes que frequentam a escola

pública. Uma observação importante é que os/as entrevistados/as desse segmento da

pesquisa têm a faixa etária entre 11(onze) e 14 (catorze) anos, ou seja, iniciando a

adolescência, mas que sabem que algo precisa ser feito para diminuir essa

desigualdade no que tange a educação de qualidade e preparatória para o exercício da

cidadania.

O gráfico abaixo foi elaborado a partir da coleta e dados do nível fundamental:

questão 5 (cinco).

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80% A; 75%

B; 15%

C; 10%

0%

O gráfico com os dados obtidos a partir do nível médio de escolaridade mostra

que o/a estudante do nível médio reconhece que de forma mais incisiva que sofre

58

desvantagem no que diz respeito ao acesso à informação. As respostas escolhidas

pelos os/as estudantes do nível médio de escolaridade denotam que 94% (noventa e

quatro porcento) dos entrevistados se consideram prejudicados pela falta de informação

que possibilitem mais chances de concorrer com igualdade de condições, por vagas

oferecidas no serviço publico, contra aqueles que possuem condições financeiras

suficientes para arcar com o custo de um curso preparatório após a conclusão do

ensino médio.

Caso os/as estudantes dessa modalidade de ensino tivesse acesso ao conteúdo

jurídico de forma sistematizada e oferecida gratuitamente pelo Estado, suas chances de

sucesso nos concursos públicos aumentariam, diminuindo, assim, a flagrante

desigualdade de oportunidades que atualmente está inserida na realidade social

brasileira.

Apenas 4% (quatro porcento) consideraram que não desvantagem alguma entre

os alunos de escolas públicas e particulares. E 2% (dois porcento) não sabiam ou não

quiseram responder.

O gráfico a seguir foi elaborado a partir dos dados coletados do nível médio de

escolaridade: questão 5 (cinco)

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100% A; 94%

B; 4%C; 2%

0%

59

Os números apresentados pelos/as acadêmicos/as do curso de Direito

demonstraram quase que unanimemente que há desvantagem para o/a estudante das

escolas públicas em comparação ao nível de preparação para a disputa por vagas no

serviço público ou em universidades públicas. 98% (noventa e oito porcento) optaram

pela resposta “a” o que quer dizer que concordam que há desvantagem para o/a que

frequenta escola pública com relação ao que frequenta escola particular. Apenas 1%

(um por cento) considerou que não há desvantagem.

Pode-se inferir desses números que esse segmento tem mais experiência

acerca da concorrência por vagas em concursos públicos. Não é demais afirmar que

muitos dos que cursam a Graduação em Direito, o fazem para concorrer a cargos

públicos que, sem o conhecimento jurídico, jamais seriam aprovados e selecionados

nos certames públicos.

Além disso, muitos desses graduandos em Direito em faculdades particulares

optariam, se pudessem por universidades federais. Partindo dessa análise, as

faculdades particulares propiciam aos que não conseguem vagas nas universidades

públicas, a chance de se graduarem e concorrerem ao mercado de trabalho.

O que se verifica é que, mesmo os que optam por cursarem a graduação em

Direito em faculdades públicas poderiam se beneficiar do conhecimento jurídico se,

ainda no nível médio, já pudessem ter acesso a esse tipo de informação. Dessa forma,

a cidadania poderia ser exercida de forma mais intensa e ser aprofundada em outras

formações acadêmicas.

O gráfico abaixo foi elaborado a partir dos dados coletados do nível superior:

questão 5 (cinco)

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

A; 98%

B; 1%C; 0%

0%

60

Da análise dos dados coletados dos/as professores/as (nível médio e nível

fundamental), percebe-se que esse segmento também em sua ampla maioria afirma

que os/as estudantes das escolas públicas levam desvantagem em comparação com

o/a estudante das escolas particulares. 96% (noventa e seis porcento) dos/as

entrevistados/as sinalizaram para alternativa “a” concordantes como sendo verdadeira a

desvantagem dos/as estudantes oriundos das escolas públicas; apenas 4% (quatro

porcento) não concordaram que exista a desvantagem dos/as estudantes das escolas

públicas, pois marcaram a alternativa “b”; não houve percentual para a alternativa “c”,

ou seja, não sei ou não quero responder.

É visível que as escolas públicas passam por sérios problemas pedagógicos e

estruturais e que não se pode apresentar apenas uma causa para esses entraves.

Entretanto, é necessário apresentar constantes soluções, ainda que não sejam soluções

definitivas, mas que podem abrandar a vasta desigualdade existente entre os/as

alunos/as que precisam do ensino público de qualidade para concorrer com chances de

sucesso contra aqueles que naturalmente nascem com todos os recursos favoráveis.

As respostas coletadas dos/as docentes mostram claramente que algo precisa

ser feito urgentemente para garantir o exercício da cidadania para esses/as estudantes.

Assim sendo, o ensino do direito obrigatório nas escolas públicas irá diminuir o claro

descumprimento de dois fundamentos da Constituição Federal: a cidadania e a

dignidade da pessoa humana.

O gráfico abaixo foi elaborado a partir da coleta de dados dos/as docentes

(médio e fundamental): questão 5 (cinco)

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%A; 96%

B; 4%C; 0%

0%

61

7.8. DA ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA QUESTÃO 06 (SEIS)

Na sexta questão (Que áreas do Direito você considera prioridade para que sejam incluídas no currículo da educação básica (ensino fundamental e médio), obviamente, pedagogicamente adaptadas para cada faixa etária? (pode ser marcada mais de uma alternativa) verificou-se o interesse do/a entrevistado/a acerca

de que áreas do Direito deveriam ser inseridas na educação básica com as devidas

adaptações pedagógicas para cada faixa etária e ano de escolaridade. Foram

oferecidas algumas opções de resposta meramente exemplificativas. Uma das

alternativas deu liberdade para o/a entrevista escrever livremente sobre qual área do

Direito considerava importante para ser incluída entres as disciplinas que deverem ser

estudadas que não estava contemplada nas opções oferecidas. As opções foram: a)

Estatuto da Criança e do Adolescente; b) Direito Constitucional; c) Direito do

Consumidor; d) Direito Civil; e) Direitos Humanos; f) outra e g) não sei/não quero

responder. Saliente-se que o/a entrevistado/a poderia optar por mais de uma alternativa

ou até mesmo todas elas, obviamente que, optando por qualquer uma de “a” a “f”, a

opção “g” estaria prejudicada.

Ao se observar o gráfico elaborado a partir das informações extraídas do nível

fundamental, fica claro que os/as entrevistados/as exerceram o direito de múltipla

escolha, pois quase a totalidade dos/as entrevistados/as optou todas marcar as

alternativas.

De acordo com as respostas, 92% (noventa e dois porcento) dos/as estudantes

entrevistados/as consideraram importante o ensino do Estatuto da Criança e do

Adolescente; 95% (noventa e cinco porcento) afirmaram ser importante o ensino de

noções de Direito Constitucional; 70% (setenta porcento) concluíram pela importância

do direito do consumidor ser ensinado nas escolas públicas; 50% (cinquenta porcento)

marcaram o ensino do Direito Civil como conteúdo importante para ser ministrado nas

escolas públicas; 90% (noventa porcento) demonstraram interesse pelo ensino dos

Direitos humanos e 1% marcou outra opção e sugeriam o Direito do Trabalho e o Direito

Penal.

Como se pode ver, os/as estudantes demonstram interesse em construir o

conhecimento jurídico em diversas áreas do Direito. Entretanto, deve haver muito

cuidado com o ensino do Direito nessa fase da vida, pois é importante lembrar que os

sujeitos ainda são muito jovens e que, por isso, deve haver preparação do/a docente e

curricular, para que, de forma lúdica, tais conteúdos sejam ministrados, a fim de ampliar

o interesse e a construção da cidadania. Destarte, podem-se visualizar, num futuro

62

próximo, crianças e adolescentes muito mais participantes da sociedade se comparado

aos dias atuais.

O gráfico abaixo foi elaborado a partir dos dados coletados no nível fundamental:

questão 6 (seis).

A B C D E F G

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100% A; 92% B; 95%

C; 70%

D; 50%

E; 90%

F; 1% G; 3%

A observação do gráfico elaborado a partir das informações coletadas na

entrevista dos/as estudantes do nível médio de escolaridade denotou a enorme

importância que esse segmento destinou ao ensino das disciplinas jurídicas nas escolas

públicas. Assim como no segmento anterior, os/as entrevistados/as optaram por marcar

mais de uma alternativa da seguinte forma: 70% (setenta porcento) consideraram que o

Estatuto da Criança e do Adolescente deve ser ensinado nas escolas públicas para a

construção da cidadania de forma mais ampla; 56% (cinquenta e seis porcento) dos/as

entrevistados/as consideraram que noções de Direito Constitucional devem ser

ensinadas nas escolas públicas; 65% (vinte cinco porcento) afirmaram que noções de

Direito do Consumidor devem ser ministradas aos/as estudantes das escolas públicas;

35% (trinta e cinco porcento) afirmaram ser o Direito Civil importante para o exercício da

cidadania e que, portanto deveria ser ministradas, ao menos noções dessa área do

Direito; 80% dos/as entrevistados/as marcaram a opção que mostra que os Direitos

Humanos devem ser ensinados nas escolas públicas e 2% (dois porcento) não

quiseram/não sabiam responder.

Infere-se desses dados que os/as estudantes do nível médio têm a clareza

necessária para saber o que é importante conhecer a fim de construir sua cidadania.

Ocorre que esses/as estudantes não têm atualmente a oportunidade de tomar posse do

conhecimento necessário para exercer plenamente sua cidadania, pois não lhes é

63

oferecido ensino de conteúdos extremamente importantes para a vida atuante na

sociedade em que está inserido.

O gráfico abaixo foi elaborado a partir da coleta de dados do nível médio de

escolaridade: questão 06 (seis)

A B C D E F G Branco

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%A; 70%

B; 56%

C; 65%

D; 35%

E; 80%

F; 0% G; 2%Branco; 1%

A análise do gráfico feita a partir dos dados coletados com a entrevista dos

alunos do nível superior evidenciou que o graduando em Direito marcou várias das

opções oferecidas de acordo com seu interesse, ficando assim expresso: 70% (setenta

porcento) dos/as entrevistados/as consideraram importante o ensino do Estatuto da

Criança e do Adolescente nas escolas públicas; 80% (oitenta porcento) consideraram

necessário o ensino de noções de Direito Constitucional nas escolas públicas; 30%

(trinta porcento) marcaram como importante para a construção da cidadania do/a

estudante o ensino do direito do consumidor; 20% (vinte porcento) disseram que o

ensino do Direito Civil contribui para a formação da cidadania nos/as estudantes da

escola pública; 89% (oitenta e nove porcento) consideraram importante para a

construção da cidadania o ensino dos Direitos Humanos e 2% (dois porcento)

consideraram que o direito do trabalho deve ser ensinado para construir mais

intensamente a cidadania.

Verificou-se que esse segmento de entrevistados/as valorizou o um pouco mais

o ensino do Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Humanos o que se

justifica pela importância atual dessas duas áreas do Direito para a sociedade brasileira

e mundial, pois se dá cada vez mais notoriedade em todos os segmentos da sociedade

brasileira a proteção da criança e do adolescente, assim como a proteção de todos os

64

seres humanos, haja vista que se percebem os ataques constantes, nas escolas, à

integridade física e moral de estudantes e docentes. Ataques denominados bulling que

impedem de forma imperiosa o exercício da cidadania de todos os que sofrem essas

agressões. O ensino do Direito, portanto, pode inibir tais práticas através da

conscientização de todos os envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem.

O gráfico abaixo foi elaborado a partir dos dados coletados da entrevista do nível

superior: questão 6 (seis).

A B C D E F G

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

A; 70%

B; 80%

C; 30%

D; 20%

E; 89%

F; 2%G; 0%

A análise dos dados coletados da entrevista dos/as docentes demonstrou que

esse segmento de entrevistados deu ampla importância a todas as áreas do Direito

sugeridas no questionário, ficando assim evidenciada: 98% (noventa e oito porcento)

dos/as entrevistados/as consideraram que o Estatuto da Criança e do Adolescente deve

ser ministrado nas escolas públicas; 99% (noventa e nove porcento) consideraram o

ensino de noções de Direito Constitucional importante para a construção da cidadania;

87% (oitenta e sete porcento) marcaram como necessário nas escolas públicas o ensino

de Direito Consumeirista; 78% (setenta e oito porcento) consideraram o ensino de

noções de Direito Civil necessário nas escolas públicas; 100% (cem porcento)

consideraram que os Direitos Humanos devem ser ensinados nas escolas públicas;

12% (doze porcento) optaram pela alternativa “f”, opção “outros” e foram sugeridos

entre esses o Direito penal e trabalhista, divididos assim: 4% para o primeiro e 6% para

o segundo.

Da análise dos dados, fica claro a preocupação dos/as docentes em garantir o

conhecimento das áreas que consideraram mais relevantes para a formação dos/as

65

estudantes no que concerne a construção da cidadania através do ensino de direito na

educação básica. É importante mencionar que quase a totalidade dos entrevistados

optou todas as áreas sugeridas e ainda forneceram mais opções. Dessa forma, pode-se

concluir que há imenso interesse por parte dos/as professores/as em propiciar o acesso

ao conhecimento ao/à estudante e contribuir para a construção da cidadania plena de

todos os envolvidos nesse exercício.

O gráfico a seguir foi elaborado a partir da coleta de dados da entrevista dos

docentes (médio e fundamental): questão 6 (seis)

A B C D E F G Branco

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%A; 98% B; 99%

C; 87%

D; 78%

E; 100%

F; 12%

G; 0% Branco; 0%

7.9. DA ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA QUESTÃO 07 (SETE)

A sétima questão (Você já perdeu a oportunidade de exercer um direito por não conhecê-lo?) pretendeu saber se o/a entrevistado já havia perdido ou não a

oportunidade de exercer um direito por não conhecê-lo e com que frequência isso

ocorria. As opções foram: a) sim; b) não e c) não sei/não quero responder.

A análise dos dados do nível fundamental mostra que a esmagadora maioria

dos/as estudantes já perdeu a oportunidade de exercer um direito por não conhecê-lo.

O gráfico traduz da seguinte maneira: 93% (noventa e três porcento) dos/as estudantes

nessa faixa etária responderam “sim”, indicando que deixaram de exercer um direito por

não conhecê-lo; apenas 2% (dois porcento) alegaram nunca ter vivenciado tal situação

e 6% (seis porcento) não quiseram/não sabiam responder.

66

Os dados coletados mostram que, mesmo com pouca experiência de vida, os/as

entrevistados já sentiram os efeitos de não poder exercer a cidadania por ignorância da

existência de direitos. Essa falta de conhecimento dos direitos inerentes ao/a estudante

poderia ser facilmente resolvido se lhe fosse oportunizado ensino de alguns diplomas

legais adaptados a sua faixa etária.

O gráfico a seguir foi elaborado a partir dos dados coletados do ensino

fundamental: questão 07

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100% A; 93%

B; 2%C; 5%

A análise dos dados fornecidos pelos/as entrevistados do nível médio de

escolaridade aponta para um fato de que todos/as os/as entrevistados/as deixaram de

exercer algum direito pelo simples fato de não saber da existência dele. Tal fato é

impressionante, pois denota um amplo desrespeito no que tange a formação desse/a

estudante. Na análise em tela, a regra do desconhecimento é geral e absoluta e isso é

um fato raro, pois em se tratando de Direito, quase tudo tem alguma exceção.

O gráfico abaixo foi elaborado a partir dos dados coletados do ensino médio

questão 07

AB

CBranco

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%A; 100%

B; 0%C; 0%

Branco; 0%

67

Os dados coletados no nível superior e os dados coletados no segmento de

professores apontam para um empate técnico: 98% (noventa e oito porcento) dos/as

graduandos/as do curso de Direito alegam já terem deixado de exercer algum direito por

desconhecê-lo e apenas 2% (dois porcento) alegam jamais terem deixado de exercer

algum direito pelo motivo elencado na questão. O gráfico dos/as professores/as de nível

fundamental e médio mostra que 97% (noventa e sete porcento) dos/as docentes

entrevistados afirmam já terem perdido a oportunidade de exercer algum direito por não

saber de sua existência. Apenas 2% (dois porcento) afirmam que jamais deixaram de

exercer algum direito pelo motivo assinalado na questão.

Esses dados denotam que nem mesmo pessoas participantes da construção da

sociedade e, por consequência, da cidadania estão imunes de não exercerem seus

direitos por não conhecê-los. A busca para erradicar a ignorância deve ser feita todos

os momentos da vida e quanto antes de esclarecer os cidadãos/os da existência do

direitos a eles inerentes, mais rapidamente haverá a evolução social que favorecerá a

todos que dessa sociedade participam. É nesse ponto que se justifica a necessidade de

se incluir no currículo das escolas de educação básica as noções de direito que

propiciarão ao/a estudante o conhecimento necessário para minimizar a falta de

respeito a sua dignidade e a sua cidadania

O gráfico a seguir foi elaborado a partir da coleta de dados no ensino superior

questão 07

AB

C

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%A; 98%

B; 2%C; 0%

0%

68

8. CONCLUSÃO DA PESQUISA DE CAMPO

Quando se aborda o tema de cidadania, é bastante comum se associar cidadão

à eleição, pois, na maioria das vezes, só é valorizada a ação cidadã no período

eleitoral. Essa associação de ideias acaba por diminuir o verdadeiro sentido da

cidadania que, num Estado Democrático de Direito, deveria ser tratada como um

sacramento religioso e respeitada de forma absoluta. Entretanto, não é isso que ocorre

na maioria das Repúblicas democráticas em desenvolvimento, aliás, é comum ocorrem

abusos em série, sobretudo, contra aqueles que passam uma vida inteira sem ter

acesso ao conhecimento necessário para viver com dignidade. Essas vítimas são,

geralmente, pessoas carentes financeiramente, oriundos de uma ascendência humilde

e despreparada do ponto de vista econômico para conquistar a informação necessária

para ser respeitado/a e ouvido/a.

O local em que se encontram esses/as cidadãos/ãs é a escola pública, pois há

muito tempo tornou-se mero centro de aglomeração de pessoas, cuja perspectiva de

ascensão social é mínima, já que, do conhecimento ali desenvolvido, pouco é

aproveitado para a vivência da cidadania. Há, nas escolas públicas de todo o Brasil,

milhões de jovens tentando vencer os obstáculos sociais para conquistar um emprego

digno; ter uma renda que lhe possibilite cuidar melhor de si mesmo/a e de sua família,

cursar uma faculdade que lhe dê prazer em aprender os conteúdos que lhe são

ministrados/as; ser respeitado/a e, o mais importante, contribuir para uma sociedade

mais justa e livre de preconceito. No entanto, quase sempre é debalde porquanto o

esforço é, quase sempre, aplicado em ações, cuja relevância é insuficiente para se

alcançar o objetivo desejado.

Nesse ponto, cabe uma reflexão importa? Obviamente aplicando o verdadeiro

sentido dessa palavra. A resposta “não” por mais clara que seja carece de ponderada

meditação antes de ser proferida. Dessa ponderada meditação surgiu a necessidade de

ouvir a opinião dos/as mais interessados/as em que a escola pública tenha um papel

relevante para a construção da cidadania, já que essa uma missão atribuída às

instituições escolares. Para se responder àquela e à outras questões foi elaborado um

questionário e aplicado para cinco segmentos distintos, porém plenamente unidos por

sua própria natureza, a saber: estudantes do nível fundamental, cuja faixa etária varia

dos onze aos catorze anos; estudantes do nível médio, cuja faixa etária varia dos 15

aos18 anos; docentes que atuam no nível fundamental; docentes que atuam no nível

médio e estudantes do curso de Direito.

69

A pesquisa de campo mostrou-se como elemento de profunda relevância para a

demonstração da importância do ensino de noções de direito nas escolas públicas de

educação básica. O posicionamento dos/as estudantes e do/as professores/as que se

dispuseram a responder tão prontamente o questionário que lhes foi apresentado

forneceu elementos de precioso aproveitamento na esfera acadêmica, mas que

produzirá rebentos em profusão. Observou-se que cada entrevistado/a mostrava-se

indignado ao responder às proposições, pois a cada resposta percebiam que eram não

eram cidadãos/ãs na essência do seu significado; percebiam que não passavam de

cidadãos/ãs de fechada, sem conteúdo e sem devido valor.

Houve momentos em que os/as entrevistados se manifestavam oralmente

demonstrando o quanto estavam insatisfeitos com o tratamento que é oferecido pelo

Estado às classes sociais de menor poder econômico. Contudo, e apesar do sentimento

de inutilidade, todas as respostas apresentadas mostravam-se como um desabafo

individual que, ao serem tabulados, mostraram-se como um apelo coletivo de mudança.

Destarte, é com a convicção de que, se ocorrer uma busca coletiva na qual se

almeje a mudança nesse quadro caótico de descaso para com o exercício da cidadania,

haverá, pois uma verdadeira transformação social encabeçada pelo amplo exercício da

cidadania por seu/ua dono/a de direito e de fato: o/a cidadão/ã.

70

9. ANTEPROJETO DE LEI

9.1. INTRODUÇÃO

A história da construção da cidadania persegue as relações humanas desde

tempos remotos. Desde o início na Grécia antiga, passando pelo Império Romano,

sendo quase que por completo abandonado na Idade Média, retornando a ser cogitado

na idade moderna e vivenciado com maior intensidade na idade contemporânea.

Atualmente a cidadania no Brasil, ao menos na letra da lei, está consolidada.

Entretanto o seu exercício pleno carece de desenvolvimento, principalmente, pelo fato

de que a população desconhece grande parte de seus direitos ou desconhece os

mecanismos de exercê-los.

Dessa forma é imperioso que se criem soluções para o problema da falta de

exercício da cidadania, sobretudo daqueles que não tem acesso às informações do

direito brasileiro.

9.2. PESQUISA DE PROJETOS DE LEI JÁ EXISTENTES SOBRE O ASSUNTO

Visualizou-se a possibilidade de os órgãos do Poder Legislativo já ter iniciado

trabalhos acerca da criação de lei que obrigue a implantação do ensino de noções de

direito na educação básica, alterando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

Embora haja, no Congresso Nacional, inúmeros projetos que antevêem a

valorização do ensino nas mais diversas searas da educação, não foram encontrados

quaisquer projetos que prevêem a obrigatoriedade do ensino de noções de direito nas

escolas de educação básica.

Assim sendo, é de fundamental importância que se busque, com celeridade,

dar atenção à construção da cidadania de maneira sólida, estável e, sobretudo, perene.

71

9.3. PROPOSIÇÃO LEGISLATIVALEI Nº... DE ... DE ...

EMENTA – dispõe sobre a alteração do artigo 26 Lei 9.394/96

(LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO), criando a

disciplina Educação Para a Cidadania a ser ministrada

obrigatoriamente como componente curricular do ensino da

educação básica a partir do sexto ano de escolaridade e

facultativamente nas séries iniciais de ensino.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono e promulgo a presente lei.

Art. 1º. Fica alterada a Lei 9.394/96 com o acréscimo do parágrafo 7° ao artigo 26 e

com o acréscimo do inciso V ao artigo 36.

Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional

comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar,

por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da

sociedade, da cultura, da economia e da clientela.

§ 7º Na parte diversificada do currículo será incluída, obrigatoriamente, a partir do sexto ano de escolaridade a disciplina Educação para Cidadania, sistematizando o ensino de noções de Direito Constitucional, Direito Civil, Direito Penal, Direitos Humanos, Direito do Consumidor e Estatuto da Criança e do Adolescente de forma adaptada ao entendimento do estudante dessa faixa etária, propiciando a construção da cidadania através do exercício dos seus direitos e cumprimento de suas obrigações como cidadão.

Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e

as seguintes diretrizes:

V - será incluída a disciplina Educação para a Cidadania, na qual será viabilizado o acesso ao educando ao contato com conteúdos jurídicos, sobretudo, noções de Direito Constitucional, abordando, principalmente, o artigo 5º da Constituição Federal, noções de Direito Civil, noções de Direito Penal, noções de Direito do

72

Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente e noções de direitos humanos.

Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.

Art. 7º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília-DF., de de .

(Assinatura do autor)

73

9.4. EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DO ANTEPROJETO DE LEI

O presente anteprojeto de lei se justifica pela necessidade urgente de se formar

cidadãos conhecedores de seus direitos e de suas obrigações assim como difundir na

população a organização sistema judiciário e legislativo pátrio para que possam

participar mais efetivamente das questões jurídicas, políticas, econômicas e sociais as

quais vivenciam dia a dia e que, na maioria das vezes, são tratados como objeto e não

como sujeitos. As ideias aqui discutidas já foram objeto de análise nos capítulos

anteriores, dessa forma alguns fragmentos deles serão repetidos nesta exposição de

motivos a fim de fortalecer argumento.

O conhecimento do ordenamento jurídico pátrio possibilita a vivência da

cidadania de forma a tornar eficaz a garantia dos direitos dos cidadãos, assim como

produz mudanças favoráveis para a população de forma mais célere. Tal conhecimento

é de profunda relevância para o desenvolvimento da cidadania brasileira, pois visa

garantir a dignidade da pessoa humana no que diz respeito ao pleno gozo de seus

direitos e do integral cumprimento de suas obrigações. Todavia, mesmo que todo

esforço seja feito para que a cidadania seja vivenciada integralmente na sociedade é

necessário definir o que é cidadania. A cidadania é, portanto, o pleno exercício dos

direitos e o consciente cumprimento dos deveres por parte de todos que compõem uma

sociedade. A afirmação de que todos devem cumprir suas obrigações justifica o Estado

Democrático de Direito do Brasil.

O principal motivo deste anteprojeto, assim sendo, encontra-se evidenciado no

artigo 1º da Carta da República, nos incisos II e III, ou seja, a cidadania e a dignidade

da pessoa humana23. A Constituição Federal de 1988 impõe como fundamento da

República Federativa do Brasil a cidadania e a dignidade da pessoa humana.

A palavra cidadania está expressa na Constituição Federal sete vezes em

diversos dispositivos e em todos eles nunca a cidadania é expressa com o sentido

diminuído o menos valorado, pois a Constituição da República Federativa do Brasil,

também conhecida como A Constituição Cidadã nasceu para elevar a cidadania ao

ponto mais alto que se possa alcançar. Portanto a cidadania deve ser vivenciada sob o

aspecto mais glorioso que a ela possa significar.

Acerca da dignidade da pessoa humana, o Ministro do Tribunal Superior do

Trabalho Ives Gandra Martins Filho24 esclarece de forma irretocável o conceito e sua

23 Artigo 1º, II e III da Constituição Federal de 198824 FILHO, Ives Gandra Martins. O QUE SIGNIFICA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA? Ministro do TST, professor de Filosofia do Direito do IDP. Disponível em

74

aplicabilidade. De acordo com este jurista, a dignidade da pessoa humana deve ser

fomentada em todos os setores da sociedade porquanto é da essência da humanidade

ser digna de respeito independentemente de qualquer condição a que esteja submetida.

Disso decorre a inserção de tal dispositivo no rol de fundamentos da Carta Magna de

forma expressa e inderrogável. Dignidade, portanto, é o que se deve buscar para que

se atinjam patamares de desenvolvimento social, jurídico, econômico e político e para

que se formem verdadeiros cidadãos, cujos direitos não estejam apenas formalizados

no papel, mas vivenciados de maneira que se possam ser comparados ao direito

natural.

Outro fundamento que se destaca, inserido no artigo 1º, II da atual Carta da

República do Brasil é a Cidadania que, juntamente com a Dignidade da pessoal

humana, serve de sustentáculo para a nação em que se prega o Estado Democrático

de Direito no qual o poder emana do povo, que o exerce de forma direita ou indireta.

Todavia, não é bem esse o quadro que se pinta da realidade da cidadania brasileira

após pouco mais de vinte anos de vigor da Constituição da República. Para o jornalista

e escritor Gilberto Dimenstein, em sua obra O Cidadão de Papel 25 há uma enorme

diferença entre a cidadania que está no papel e a cidadania que se materializa na vida

do povo brasileiro. Para este autor a cidadania deve ser tratada de forma intensa por

todos os setores da sociedade e que todos são responsáveis por todos para que a

cidadania seja alcançada. Dessa forma, o exercício dos diretos e o cumprimento das

obrigações seriam alcançados tanto de individual como coletivamente.

Como já mencionado anteriormente, o Brasil ocupa, atualmente, um lugar

privilegiado no cenário mundial no que diz respeito às questões econômicas, ao se

observar o reflexo disso nas questões diárias dos cidadãos, pode-se verificar não há por

parte do Estado na preservação das garantias constitucionais destinadas a proteger o

cidadão de abusos por parte de classes mais favorecidas. O fato de o cidadão comum

não conhecer seus direitos e garantias constitucionais reflete que tipo educação o

Estado constrói com o sistema de ensino público. Não se conhecem no Brasil ações de

cunho educacional que vislumbrem de forma constante, assídua e gradativa o ensino

das garantias constitucionais previstas, sobretudo no artigo 5º da Carta da República,

assim como não se conhecem ensino de noções de direito que facilitem o

http://www.comunidademaconica.com.br/Artigos/5778.aspx, publicado em 25 de setembro de 2008. Acessado no dia 12/04/2012.

25 DIMENSTEIN, Gilberto. O CIDADÃO DE PAPEL A INFANCIA, A ADOLESCÊNCIA E OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL. pag. 4 Ed. Ática. São Paulo, 2005

75

desenvolvimento da cidadania. Como consequência dessa falta de conhecimento

acerca do ordenamento jurídico pátrio, não há de forma contundente, o exercício da

cidadania plena pelos brasileiros. Entretanto, não se pode deixar de observar que há

em alguns estados da federação uma ou outra iniciativa por parte de órgãos judiciais

em levar às escolas públicas algum conhecimento jurídico e que em geral está ligado ao

direito eleitoral. Há também projetos que levam os alunos das escolas públicas aos

tribunais para que estes conheçam o funcionamento do órgão judicial visitado. E, ainda,

há outras realizações que tentam construir a cidadania através de atividades cujo foco é

oferecer à população palestras e serviços ligados à saúde, lazer, culinária, assistência

jurídica em datas específicas e determinadas. Todas essas iniciativas, apesar de terem

um valor extremamente relevante para a população envolvida, servem apenas como um

paliativo já que não atacam diretamente o problema da falta de cidadania por parte da

população mais carente de recursos financeiros. Ocorre que tais eventos não têm a

continuidade necessária para que se tornem eficazes para formação do cidadão

conhecedor de seus direitos e de suas obrigações.

É através de simples observação que se percebe que tais ações descontinuadas

ocorrem no seio de comunidades carecedoras de recursos. Tais atitudes tentam

minimizar as desigualdades vivenciadas por esse segmento da população pelo fato de

que seus direitos e garantias constitucionais não estão plenamente sendo respeitados.

Essas tentativas denotam a agressão ao princípio constitucional da dignidade da

pessoa humana por serem claramente como distribuir migalhas de cidadania e maquiar

a participação do Estado como atuante no oferecimento de qualidade de vida digna

àqueles que mais precisam da ação estatal.

Tal agressão não ocorre contra aqueles cujo conhecimento e recursos

econômicos lhe possibilitem usufruir da lei em seu favor. Exemplo disso são muitas

empresas de grande porte que deixam de pagar multas por desrespeitos às leis

ambientais, enquanto que pequenos lavradores são presos por crimes contra a flora

pelo simples descascar de uma pequena parte de árvore protegida pelo ordenamento

jurídico nacional. Obviamente, os mais desfavorecidos são atingidos com a força

corretiva total da lei, até porque, não conhecem seus direitos e não podem pagar pelos

serviços de advogados que têm o conhecimento para defendê-los em juízo.

Para os menos favorecidos pela sorte de se ter o conhecimento, pode ser usado,

ainda que por analogia, o brocardo “o direito não acolhe aos que dormem”. O sentido de

dormir ultrapassa o simples fato de ser perder um prazo jurídico. O significado do

brocardo está diretamente ligado à condição da pessoa que dorme já que não opina,

76

não discute, não entende, não confronta e o que é ainda mais grave, não se defende e

nem tem consciência da importância do conhecimento para sua própria vida.

O art. 3º da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LINDB)

estabelece que “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.

Sendo assim, o Estado deve garantir a todos os cidadãos, não importando a idade ou

grau de escolarização, o acesso à informação clara e objetiva sobre as leis brasileiras,

sobretudo, sobre as garantias constitucionais, muitas vezes desrespeitadas pelo próprio

Estado que as editou.

Diante disso, como já mencionado anteriormente, as transformações sociais de

grande relevância ocorrem lenta e gradualmente, assim como é a busca da cidadania

num Estado Democrático de Direito. Portanto, a necessidade de se formar cidadãos,

conscientes de sua participação na sociedade, ainda que lentamente, requer,

necessariamente, que na formação do estudante sejam inseridas noções de direito,

possibilitando acesso à informação de forma correta.

9.5. CONSEQUÊNCIAS DO ANTEPROJETO DE LEI

É comum a condição de cidadão ser observada apenas do ponto de vista

político e mais especificamente em época de eleições gerais ou locais. Nesse ponto, o

exercício da cidadania é reduzido ao ponto de apenas servir para cumprir o

77

mandamento constitucional de se eleger os ocupantes dos cargos políticos do

Legislativo e do Executivo.

O que se vislumbra como consequência social desse anteprojeto de lei é a

possibilidade de garantir o conhecimento do/a estudante da educação básica da escola

pública de noções da legislação brasileira, já que é de fundamental importância que

todos os cidadãos conheçam e exerçam seus direitos, assim como conheçam e

cumpram suas obrigações. Essa consequência possibilitará o desenvolvimento da

consciência tanto na esfera individual como na esfera coletiva, pois o acesso à

informação é um fator preponderante para que o cidadão faça suas escolhas mais bem

pensadas e amadurecidas.

Dessa forma, as conseqüências plausíveis desse anteprojeto de lei são: a

evolução da sociedade no que tange sua participação do cidadão na construção de

uma sociedade mais inteirada de seus direitos e de suas obrigações; a participação

mais consciente do cidadão nos processos democráticos; a possibilidade de se motivar

a participação da sociedade nas questões políticas, posto que o conhecimento legal

gera interesse em se modificar e aprimorar o ordenamento jurídico; a construção da

harmonia social com a diminuição das desigualdades, tendo em vista que o acesso ao

conhecimento gera melhor condição de emprego e salário e a construção da cidadania

na qual as pessoas são tratadas com dignidade, porquanto conhecem seus direitos e

sabem como agir ante aos possíveis abusos.

A evolução da sociedade num estado democrático de direito sempre terá como

fator preponderante a participação do cidadão na construção da cidadania, haja vista

que o poder na democracia emana do povo e este é o elemento que opina, gera de

riquezas tanto materiais como culturais, elege representantes para os cargos políticos,

ou seja, é o elemento vivo do Estado. Portanto, para que essa sociedade evolua e,

consequentemente, o Estado também se desenvolva, é fundamental que a cidadania

seja exercida de forma intensa pelo povo. Dessa forma, torna-se imperativo que o

Estado, a quem o cidadão confiou o exercício do poder em seu nome, deve prover o

fortalecimento da cidadania, elaborando estratégias que fomentem esse exercício. Por

isso, uma das consequências plausíveis desse anteprojeto de lei é o provável

crescimento da experimentação do exercício da cidadania por parte daqueles que são

menos privilegiados naturalmente sem a intervenção estatal.

Importante é, também, observar as consequências informativas e

conscientizadoras agregadas a este anteprojeto de lei, corroborando com a anterior,

78

pois se trata de construção de consciência política e jurídica. A primeira promove

consciência e o esclarecimento do individuo quanto à importância de se escolher seus

representantes no Poder Legislativo e no Poder Executivo. A segunda está associada

ao contato com o ordenamento jurídico pátrio. A relação entre o indivíduo e as leis que

regem seu país possibilita maior liberdade de ação, respeito ao ordenamento ao que é

lícito, contribuindo assim para a diminuição das injustiças causadas pela ignorância.

Debalde é qualquer iniciativa de promoção da cidadania que não vislumbrar a

participação consciente do cidadão.

Com a diminuição das injustiças, ocorrerá outra consequência almejada com

este projeto de lei: a diminuição das desigualdades. Inúmeras são as consequências

das desigualdades, entretanto duas são consideradas as piores entre todas as mazelas

da vida em sociedade: a miséria e a violência. Ambas são produtos da exploração do

aumento das desigualdades e atingem, na maioria das vezes, as classes com baixo

acesso à informação e baixa perspectiva para alcançar as mudanças sociais que

desejam. Assim sendo, este anteprojeto de lei busca nivelar o acesso a informação,

possibilitando às classes sociais menos favorecidas, maiores condições de alcançar

mudanças sociais qualidade de vida.

Como se percebe, a introdução de conteúdos de cunho jurídico nas escolas de

educação básica possibilitará a construção da cidadania de forma intensa e

participativa, pois intenciona elevar o/a estudante à categoria de ator principal e ao

mesmo tempo de autor da sua própria trajetória de conhecimento da realidade social na

qual está inserido, assim como agente de transformação individual e coletiva,

propiciando, com isso, o pleno exercício da cidadania.

10. CONCLUSÃO DO TRABALHO

A cidadania, numa República, pressupõe necessariamente que o poder emana

do povo e que é através dele que surgem os direitos e os deveres que colocam as

pessoas numa posição de igualdade de condições para se obter uma vida digna com

respeito recíproco. Porém a busca por essa plenitude cidadã não se dá apenas na

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existência desses direitos e dessas obrigações, mas, sim, do exercício participativo e

consciente do cidadão nas questões políticas, jurídicas, econômicas e dos demais

segmentos relevantes para a evolução de uma sociedade como um todo.

Torna-se cada vez mais cristalina a necessidade de se programar política

públicas que evidenciem o exercício da cidadania, tanto do ponto de vista individual

como coletivo, para que as desigualdades sejam minimizadas. Tais políticas públicas

devem buscar a construção da cidadania de forma continuada e constante, a fim de se

tornarem mecanismos de edificação perene de transformação social. Para isso se faz

necessário o uso de todas as armas ao alcance estatal, sobretudo, no que diz respeito à

formação acadêmica do cidadão/ã.

Dessa forma, é imprescindível que o ensino de noções de direito seja incluído

nas atividades cotidianas dos/as estudantes da educação básica. Por isso, torna-se

imperativo que, no ordenamento jurídico pátrio, seja obrigatória a educação para a

cidadania, através de modificações pontuais na Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

Tal mudança visa tornar obrigatório o ensino de noções de direito nas escolas públicas

de nível fundamental e médio para que os/as estudantes percebam os benefícios de se

conhecer as Leis de relevância para o exercício da cidadania.

Com este trabalho buscou-se fomentar a discussão acerca da importância de se

propiciar ao/a cidadão/ã meios para exercer sua cidadania de forma plena e consciente

de sua importância como agente de transformação de si mesmo e da sociedade através

do conhecimento do sistema legal e político nacional, posto que ninguém transforma

aquilo que não conhece, assim como não se conquista algo sem as ferramentas

apropriadas e devidamente ajustadas.

Conclui-se, portanto, que a cidadania é algo que se constrói diária e lentamente

através de ações bem estruturadas e bem avaliadas sistematicamente. Ser cidadão não

se resume apenas em viver numa república democrática, mas, sim, exercer o poder que

a própria Constituição dessa republica lhe confere: o poder de transformar a si mesmo e

à sociedade na qual está inserido através da participação nas questões fundamentais

do país.

80

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MORAES, Alexandre de. DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS. 5ª Ed. São Paulo: Ed. Atlas S/A, 2009.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2002.

BARBOSA, Rui. O DEVER DO ADVOGADO. Publicação 43. Editora Aide Editora. Rio de Janeiro, 1999.

81

CARVALHO, José Murilo de. CIDADANIA NO BRASIL O LONGO CAMINHO. 8ª edição, Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2006

JUNIOR, César Pereira da Silva Machado. O DIREITO À EDUCAÇÃO NA SOCIEDA BRASILEIRA. Ed. LTR, São Paulo, 2003.

DIMENSTEIN, Gilberto. O CIDADÃO DE PAPEL A INFANCIA, A ADOLESCÊNCIA E OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL. Ed. Ática. São Paulo, 2005

JUNIOR, Gabriel Denzen. DIREITO CONSTITUCIONAL. 11ª Ed. Ampl. Brasília: Editora Vestcon, 2006.

SHAKESPEARE, William. O MERCADOR DE VENEZA, vol. 130, RIO GRANDE DO SUL,Ed.L&M POCKET,1998.

HIZINGA, Johan. HOMO LUDENS, O JOGO COMO ELEMENTO DA CULTURA. 5ª Ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2008.

BALDY, Cesar Augusto. DIREITOS HUMANOS NA SOCIEDADE COSMOPOLITA. Ed. Renovar, Rio de Janeiro, 2004

KULIKOWSKI, Michael. Guerras Góticas de Roma. 1 ed. São Paulo: Madras, 2008. 246 p. 1 vol. vol. 1

SILVA, Matheus Passos. Disponível em: perspectivapolitica.com.br/.../coluna-do-dia-civismo-revisitando-a-in..Publicado em 17 de outubro de 2009. Acessado em 16/04/2012.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado,

BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. -- Edição: 5. ed. rev. atual. --. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Serviços Gráficos, 2006.

CARTILHA DA CIDADANIA , disponível em www.prefeiturademossoro.com/cartilhada cidadania. Acessado em 20 de março de 2.012

BRASIL, LDB. Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em < www.planalto.gov.br >. Acesso em: 25 de abril de 2.012.

12. ANEXOS

12.1. ANEXO 1

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996.

Vide Adin 3324-7, de 2005 Estabelece as diretrizes e bases da

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Vide Decreto nº 3.860, de 2001Vide Lei nº 12.061, de 2009 educação nacional.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

Da Educação

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.

§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.

TÍTULO II

Dos Princípios e Fins da Educação Nacional

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;

IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

VII - valorização do profissional da educação escolar;

VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;

IX - garantia de padrão de qualidade;

X - valorização da experiência extra-escolar;

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XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

TÍTULO III

Do Direito à Educação e do Dever de Educar

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;

II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

II - universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela Lei nº 12.061, de 2009)

III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino;

IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade;

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola;

VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;

IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade. (Incluído pela Lei nº 11.700, de 2008).

Art. 5º O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo.

§ 1º Compete aos Estados e aos Municípios, em regime de colaboração, e com a assistência da União:

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I - recensear a população em idade escolar para o ensino fundamental, e os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso;

II - fazer-lhes a chamada pública;

III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.

§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais e legais.

§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente.

§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade.

§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização anterior.

Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir dos sete anos de idade, no ensino fundamental.

Art. 6o É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir dos seis anos de idade, no ensino fundamental. (Redação dada pela Lei nº 11.114, de 2005)

Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições:

I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e do respectivo sistema de ensino;

II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade pelo Poder Público;

III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto no art. 213 da Constituição Federal.

TÍTULO IV

Da Organização da Educação Nacional

Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.

§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais.

§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei.

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Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento)

I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios;

III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva;

IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum;

V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação;

VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;

VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-graduação;

VIII - assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino;

IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino.

§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei.

§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a União terá acesso a todos os dados e informações necessários de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais.

§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que mantenham instituições de educação superior.

Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:

I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino;

II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;

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III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios;

IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;

V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;

VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio.

VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.061, de 2009)

VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003)

Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competências referentes aos Estados e aos Municípios.

Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:

I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados;

II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;

III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;

IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino;

V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino.

VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal. (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003)

Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica.

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;

II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;

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III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;

IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;

V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;

VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;

VII - informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.

VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de 2009)

VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinqüenta por cento do percentual permitido em lei.(Incluído pela Lei nº 10.287, de 2001)

Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:

I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;

II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;

III - zelar pela aprendizagem dos alunos;

IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;

V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;

VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade.

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e

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administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público.

Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:

I - as instituições de ensino mantidas pela União;

II - as instituições de educação superior criadas e mantidas pela iniciativa privada;

III - os órgãos federais de educação.

Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal compreendem:

I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;

II - as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público municipal;

III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela iniciativa privada;

IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, respectivamente.

Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, integram seu sistema de ensino.

Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:

I - as instituições do ensino fundamental, médio e de educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;

II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela iniciativa privada;

III – os órgãos municipais de educação.

Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classificam-se nas seguintes categorias administrativas: (Regulamento)

I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, mantidas e administradas pelo Poder Público;

II - privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.

Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas seguintes categorias: (Regulamento)

I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as características dos incisos abaixo;

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II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de professores e alunos que incluam na sua entidade mantenedora representantes da comunidade;II – comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de pais, professores e alunos, que incluam em sua entidade mantenedora representantes da comunidade; (Redação dada pela Lei nº 11.183, de 2005)

II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora representantes da comunidade; (Redação dada pela Lei nº 12.020, de 2009)

III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior;

IV - filantrópicas, na forma da lei.

TÍTULO V

Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino

CAPÍTULO I

Da Composição dos Níveis Escolares

Art. 21. A educação escolar compõe-se de:

I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio;

II - educação superior.

CAPÍTULO II

DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Seção I

Das Disposições Gerais

Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.

Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.

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§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais.

§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei.

Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:

I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;

II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino fundamental, pode ser feita:

a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;

b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas;

c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino;

III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a seqüência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino;

IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares;

V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:

a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;

b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;

c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado;

d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;

e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos;

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VI - o controle de freqüência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a freqüência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação;

VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com as especificações cabíveis.

Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades responsáveis alcançar relação adequada entre o número de alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais do estabelecimento.

Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à vista das condições disponíveis e das características regionais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto neste artigo.

Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.

§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil.

§ 2º O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.

§ 2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. (Redação dada pela Lei nº 12.287, de 2010)

§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.

§ 3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. (Redação dada pela Lei nº 10.328, de 12.12.2001)

§ 3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Redação dada pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)

I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)

II – maior de trinta anos de idade; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)

III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)

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IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)

V – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)

VI – que tenha prole. (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)

§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia

§ 5º Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição.

§ 6o A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.769, de 2008)

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.(Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.(Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.(Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)

§ 3o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).

§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).

§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).

Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes:

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I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática;

II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento;

III - orientação para o trabalho;

IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não-formais.

Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente:

I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;

II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;

III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.

Seção II

Da Educação Infantil

Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

Art. 30. A educação infantil será oferecida em:

I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;

II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.

Art. 31. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.

Seção III

Do Ensino Fundamental

Art. 32. O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola pública, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:

Art. 32. O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola pública a partir dos seis anos, terá por objetivo a formação básica do cidadão mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.114, de 2005)

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Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)

I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;

IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.

§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos.

§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino.

§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.

§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais.

§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, observada a produção e distribuição de material didático adequado. (Incluído pela Lei nº 11.525, de 2007).

§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como tema transversal nos currículos do ensino fundamental. (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011).

Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter:

I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou

II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa.

Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil,

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vedadas quaisquer formas de proselitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)

§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.

§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso."

Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola.

§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.

§ 2º O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino.

Seção IV

Do Ensino Médio

Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades:

I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes:

I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania;

II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes;

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III - será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição.

IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio. (Incluído pela Lei nº 11.684, de 2008)

§ 1º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:

I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna;

II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem;

III- domínio do conhecimento jurídico básico para o pleno exercício de sua cidadania.

III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania. (Revogado pela Lei nº 11.684, de 2008)

§ 2º O ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas. (Regulamento) (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)

§ 3º Os cursos do ensino médio terão equivalência legal e habilitarão ao prosseguimento de estudos.

§ 4º A preparação geral para o trabalho e, facultativamente, a habilitação profissional, poderão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em cooperação com instituições especializadas em educação profissional. (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)

Seção IV-A

Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, facultativamente, a habilitação profissional poderão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em cooperação com instituições especializadas em educação profissional. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível médio será desenvolvida nas seguintes formas: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

I - articulada com o ensino médio; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

II - subseqüente, em cursos destinados a quem já tenha concluído o ensino médio.(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

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Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível médio deverá observar: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

II - as normas complementares dos respectivos sistemas de ensino; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos de seu projeto pedagógico. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível médio articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, será desenvolvida de forma: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula única para cada aluno; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas distintas para cada curso, e podendo ocorrer: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profissional técnica de nível médio, quando registrados, terão validade nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na educação superior. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

Parágrafo único. Os cursos de educação profissional técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante e subseqüente, quando estruturados e organizados em etapas com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados de qualificação para o trabalho após a conclusão, com aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma qualificação para o trabalho. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

Seção V

Da Educação de Jovens e Adultos

Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.

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§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.

§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.

§ 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.

§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:

I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos;

II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.

§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.

CAPÍTULO III

DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Da Educação Profissional e Tecnológica(Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)

Art. 39. A educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva.(Regulamento)

Parágrafo único. O aluno matriculado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em geral, jovem ou adulto, contará com a possibilidade de acesso à educação profissional.

Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)

§ 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a construção de diferentes itinerários formativos, observadas as normas do respectivo sistema e nível de ensino. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

§ 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguintes cursos: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

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II – de educação profissional técnica de nível médio; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

§ 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne a objetivos, características e duração, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho. (Regulamento)

Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos. (Regulamento)

Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos.(Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)

Parágrafo único. Os diplomas de cursos de educação profissional de nível médio, quando registrados, terão validade nacional. (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)

Art. 42. As escolas técnicas e profissionais, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade. (Regulamento)

Art. 42. As instituições de educação profissional e tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)

CAPÍTULO IV

DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Art. 43. A educação superior tem por finalidade:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;

II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;

III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;

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IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;

V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;

VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;

VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.

Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas: (Regulamento)

I - cursos seqüenciais por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino;

I - cursos seqüenciais por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde que tenham concluído o ensino médio ou equivalente; (Redação dada pela Lei nº 11.632, de 2007).

II - de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo;

III - de pós-graduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das instituições de ensino;

IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino.

Parágrafo único. Os resultados do processo seletivo referido no inciso II do caput deste artigo serão tornados públicos pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória a divulgação da relação nominal dos classificados, a respectiva ordem de classificação, bem como do cronograma das chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para preenchimento das vagas constantes do respectivo edital. (Incluído pela Lei nº 11.331, de 2006)

Art. 45. A educação superior será ministrada em instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou especialização. (Regulamento)

Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento de instituições de educação superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após processo regular de avaliação. (Regulamento)

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§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção na instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento. (Regulamento)

§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo responsável por sua manutenção acompanhará o processo de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessários, para a superação das deficiências.

Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver.

§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes de cada período letivo, os programas dos cursos e demais componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições.

§ 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino.

§ 3º É obrigatória a freqüência de alunos e professores, salvo nos programas de educação a distância.

§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, no período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, garantida a necessária previsão orçamentária.

Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quando registrados, terão validade nacional como prova da formação recebida por seu titular.

§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições não-universitárias serão registrados em universidades indicadas pelo Conselho Nacional de Educação.

§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por universidades estrangeiras serão revalidados por universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais de reciprocidade ou equiparação.

§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por universidades que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e em nível equivalente ou superior.

Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a transferência de alunos regulares, para cursos afins, na hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo.

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Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na forma da lei. (Regulamento)

Art. 50. As instituições de educação superior, quando da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio.

Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de seleção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos desses critérios sobre a orientação do ensino médio, articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas de ensino.

Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamento)

I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional;

II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado;

III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral.

Parágrafo único. É facultada a criação de universidades especializadas por campo do saber. (Regulamento)

Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes atribuições:

I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educação superior previstos nesta Lei, obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino; (Regulamento)

II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes;

III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de extensão;

IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade institucional e as exigências do seu meio;

V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em consonância com as normas gerais atinentes;

VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;

VII - firmar contratos, acordos e convênios;

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VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral, bem como administrar rendimentos conforme dispositivos institucionais;

IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos estatutos;

X - receber subvenções, doações, heranças, legados e cooperação financeira resultante de convênios com entidades públicas e privadas.

Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático-científica das universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários disponíveis, sobre:

I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;

II - ampliação e diminuição de vagas;

III - elaboração da programação dos cursos;

IV - programação das pesquisas e das atividades de extensão;

V - contratação e dispensa de professores;

VI - planos de carreira docente.

Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus planos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal. (Regulamento)

§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições asseguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas poderão:

I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e administrativo, assim como um plano de cargos e salários, atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos disponíveis;

II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformidade com as normas gerais concernentes;

III - aprovar e executar planos, programas e projetos de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo Poder mantenedor;

IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;

V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas peculiaridades de organização e funcionamento;

VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com aprovação do Poder competente, para aquisição de bens imóveis, instalações e equipamentos;

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VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial necessárias ao seu bom desempenho.

§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser estendidas a instituições que comprovem alta qualificação para o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação realizada pelo Poder Público.

Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e desenvolvimento das instituições de educação superior por ela mantidas.

Art. 56. As instituições públicas de educação superior obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de que participarão os segmentos da comunidade institucional, local e regional.

Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha de dirigentes.

Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de aulas.(Regulamento)

CAPÍTULO V

DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.

§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.

§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.

§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.

Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades;

II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;

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III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;

IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;

V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.

Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público.

Parágrafo único. O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo.

TÍTULO VI

Dos Profissionais da Educação

Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: (Regulamento)

I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço;

II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades.

Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009)

I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009)

II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009)

III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)

Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das

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diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos: (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)

I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)

II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço; (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)

III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (Regulamento)

§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios, em regime de colaboração, deverão promover a formação inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de magistério. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009).

§ 2º A formação continuada e a capacitação dos profissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecnologias de educação a distância. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009).

§ 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo uso de recursos e tecnologias de educação a distância. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009).

Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: (Regulamento)

I - cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental;

II - programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica;

III - programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis.

Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional.

Art. 65. A formação docente, exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas.

Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.

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Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por universidade com curso de doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de título acadêmico.

Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público:

I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos;

II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim;

III - piso salarial profissional;

IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho;

V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho;

VI - condições adequadas de trabalho.

§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos termos das normas de cada sistema de ensino.(Renumerado pela Lei nº 11.301, de 2006)

§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5o do art. 40 e no § 8o do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções de magistério as exercidas por professores e especialistas em educação no desempenho de atividades educativas, quando exercidas em estabelecimento de educação básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pedagógico. (Incluído pela Lei nº 11.301, de 2006)

TÍTULO VII

Dos Recursos financeiros

Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os originários de:

I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

II - receita de transferências constitucionais e outras transferências;

III - receita do salário-educação e de outras contribuições sociais;

IV - receita de incentivos fiscais;

V - outros recursos previstos em lei.

108

Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de impostos, compreendidas as transferências constitucionais, na manutenção e desenvolvimento do ensino público.

§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não será considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir.

§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos mencionadas neste artigo as operações de crédito por antecipação de receita orçamentária de impostos.

§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o caso, por lei que autorizar a abertura de créditos adicionais, com base no eventual excesso de arrecadação.

§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as efetivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas a cada trimestre do exercício financeiro.

§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela educação, observados os seguintes prazos:

I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada mês, até o vigésimo dia;

II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo dia de cada mês, até o trigésimo dia;

III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final de cada mês, até o décimo dia do mês subseqüente.

§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção monetária e à responsabilização civil e criminal das autoridades competentes.

Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a:

I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da educação;

II - aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino;

III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino;

IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino;

109

V - realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos sistemas de ensino;

VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas;

VII - amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;

VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de transporte escolar.

Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:

I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua expansão;

II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial, desportivo ou cultural;

III - formação de quadros especiais para a administração pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;

IV - programas suplementares de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social;

V - obras de infra-estrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;

VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino.

Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.

Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, prioritariamente, na prestação de contas de recursos públicos, o cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e na legislação concernente.

Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de oportunidades educacionais para o ensino fundamental, baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade.

Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo será calculado pela União ao final de cada ano, com validade para o ano subseqüente, considerando variações regionais no custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino.

110

Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente, as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de qualidade de ensino.

§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula de domínio público que inclua a capacidade de atendimento e a medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito Federal ou do Município em favor da manutenção e do desenvolvimento do ensino.

§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo será definida pela razão entre os recursos de uso constitucionalmente obrigatório na manutenção e desenvolvimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão mínimo de qualidade.

§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos que efetivamente freqüentam a escola.

§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade de atendimento.

Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições legais.

Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas que:

I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;

II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;

III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades;

IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos recebidos.

§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão da sua rede local.

§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive mediante bolsas de estudo.

TÍTULO VIII

Das Disposições Gerais

111

Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilingüe e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:

I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;

II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-índias.

Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino no provimento da educação intercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa.

§ 1º Os programas serão planejados com audiência das comunidades indígenas.

§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos:

I - fortalecer as práticas sócio-culturais e a língua materna de cada comunidade indígena;

II - manter programas de formação de pessoal especializado, destinado à educação escolar nas comunidades indígenas;

III - desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades;

IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático específico e diferenciado.

§ 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo de outras ações, o atendimento aos povos indígenas efetivar-se-á, nas universidades públicas e privadas, mediante a oferta de ensino e de assistência estudantil, assim como de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas especiais. (Incluído pela Lei nº 12.416, de 2011)

Art. 79-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.(Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)

Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. (Regulamento)

§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União.

112

§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registro de diploma relativos a cursos de educação a distância.

§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de programas de educação a distância e a autorização para sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas. (Regulamento)

§ 4º A educação a distância gozará de tratamento diferenciado, que incluirá:

I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens;

II - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas;

III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos concessionários de canais comerciais.

Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições de ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições desta Lei.

Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas para realização dos estágios dos alunos regularmente matriculados no ensino médio ou superior em sua jurisdição.

Parágrafo único. O estágio realizado nas condições deste artigo não estabelecem vínculo empregatício, podendo o estagiário receber bolsa de estágio, estar segurado contra acidentes e ter a cobertura previdenciária prevista na legislação específica. (Revogado pela nº 11.788, de 2008)

Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal sobre a matéria. (Redação dada pela Lei nº 11.788, de 2008)

Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, admitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas fixadas pelos sistemas de ensino.

Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo com seu rendimento e seu plano de estudos.

Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação própria poderá exigir a abertura de concurso público de provas e títulos para cargo de docente de instituição pública de ensino que estiver sendo ocupado por professor não concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Art. 86. As instituições de educação superior constituídas como universidades integrar-se-ão, também, na sua condição de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, nos termos da legislação específica.

TÍTULO IX

Das Disposições Transitórias

113

Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir da publicação desta Lei.

§ 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos.

§ 2º O Poder Público deverá recensear os educandos no ensino fundamental, com especial atenção para os grupos de sete a quatorze e de quinze a dezesseis anos de idade.

§ 2o O poder público deverá recensear os educandos no ensino fundamental, com especial atenção para o grupo de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos de idade e de 15 (quinze) a 16 (dezesseis) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)

§ 3º Cada Município e, supletivamente, o Estado e a União, deverá:I - matricular todos os educandos a partir dos sete anos de idade e,

facultativamente, a partir dos seis anos, no ensino fundamental;I – matricular todos os educandos a partir dos seis anos de idade, no ensino

fundamental, atendidas as seguintes condições no âmbito de cada sistema de ensino: (Redação dada pela Lei nº 11.114, de 2005)

a) plena observância das condições de oferta fixadas por esta Lei, no caso de todas as redes escolares; (Incluída pela Lei nº 11.114, de 2005)

b) atingimento de taxa líquida de escolarização de pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) da faixa etária de sete a catorze anos, no caso das redes escolares públicas; e (Incluída pela Lei nº 11.114, de 2005)

c) não redução média de recursos por aluno do ensino fundamental na respectiva rede pública, resultante da incorporação dos alunos de seis anos de idade; (Incluída pela Lei nº 11.114, de 2005)

§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, supletivamente, a União, devem: (Redação dada pela Lei nº 11.330, de 2006)

I – matricular todos os educandos a partir dos 6 (seis) anos de idade no ensino fundamental; (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)

a) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)

b) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)

c) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)

II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e adultos insuficientemente escolarizados;

III - realizar programas de capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da educação a distância;

IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação do rendimento escolar.

114

§ 4º Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço.

§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino fundamental para o regime de escolas de tempo integral.

§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados aos seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimento do art. 212 da Constituição Federal e dispositivos legais pertinentes pelos governos beneficiados.

Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir da data de sua publicação. (Regulamento)

§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes estabelecidos.

§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.

Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de ensino.

Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste, pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a autonomia universitária.

Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer outras disposições em contrário.

Brasília, 20 de dezembro de 1996; 175º da Independência e 108º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSOPaulo Renato Souza

12.2. ANEXO 2

QUESTIONÁRIO APLICADO COM A FINALIDADE DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO NA MODALIDADE DE PESQUISA DE CAMPO DA FACULDADE DE DIREITO PROJEÇÃO.

115

DADOS DO/A ENTREVISTADO/A:

Ocupação:

a) ( ) estudante do nível fundamental de escolaridade

b) ( ) estudante do nível médio de escolaridade

c) ( ) estudante do nível superior

d) ( ) professor do ensino fundamental

e) ( ) professor do nível médio

Questão 01

O cidadão brasileiro deve conhecer a legislação pátria para que possa exercer seus

direitos e cumprir suas obrigações e, dessa maneira, não se encontre em situação

desagradável no decorrer da vida em sociedade. Dessa forma a cidadania, que é o

pleno exercício de seus direitos e o cumprimento das obrigações para a convivência

harmônica da vida em sociedade, deve ser vivenciada:a) ( ) apenas do ponto de vista individual, ou seja, somente os meus direitos

devem ser respeitados

b) ( ) apenas do ponto de vista coletivo, ou seja, somente os direitos coletivos

devem ser respeitados.

c) ( ) do ponto de vista individual, ou seja, os meus direitos devem ser respeitados,

assim como do ponto de vista coletivo, ou seja, os dos outros, vislumbrando a

convivência coletiva harmônica.

d) ( ) não quero responder/não sei responder

Questão 02

Você considera que os direitos dos cidadãos são inteiramente respeitados atualmente

no Brasil?

a) ( ) sim

b) ( ) não

c) ( ) não quero responder

Questão 03

A falta do conhecimento dos direitos por parte do indivíduo e da população é um fator

importante para o não exercício da cidadania tanto de forma coletiva como de forma

individual?

116

a) ( ) sim

b) ( ) não

c) ( ) não quero responder.

Questão 04

Atualmente há no ensino público disciplinas como, por exemplo, Português, Matemática,

Geografia, História, Física, Química, Biologia, entre outras. Você acredita que o ensino

dessas disciplinas cria no estudante do ensino fundamental e médio a ideia de

cidadania, ou seja, cria a vontade de ser um cidadão participante na sociedade em que

está inserido?

a) ( ) sim

b) ( ) não

c) ( ) não quero responder

Questão 05

Atualmente, todos os concursos públicos para preencher vagas no quadro de servidores

e empregados, tanto da administração direta quanto da indireta, inserem, no edital,

noções de direito, explorando as mais variadas áreas jurídicas. Partindo desse fato,

os/as estudantes de escolas públicas (nível médio e fundamental) levam desvantagem

por não terem as mesmas condições financeiras dos/as estudantes das escolas

particulares no que diz respeito à contratação de serviços de cursos preparatórios para

os concursos públicos e à compra de material para estudo?

a) ( ) sim

b) ( ) não

c) ( ) não quero responder.

Questão 06

Que áreas do Direito você considera prioridade para que sejam incluídas no currículo da

educação básica (ensino fundamental e médio), obviamente, pedagogicamente

adaptadas para cada faixa etária? (Pode ser marcada mais de uma alternativa)

a) ( ) Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);

b) ( ) Noções de Direito Constitucional (direitos e garantias individuais e coletivos);

c) ( ) Direito do Consumidor;

d) ( ) Noções de Direito Civil;

e) ( ) Direitos Humanos.

117

f) ( ) outra ________________________

g) ( ) não quero responder.

Questão 07

Você já perdeu a oportunidade de exercer um direito por não o conhecer?

a) ( ) sim, mas em raras ocasiões.

b) ( ) sim, com frequência.

c) ( ) não

d) ( ) não quero responder