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Seminário URBFAVELAS 2016 Rio de Janeiro - RJ - Brasil ÁREAS DE INTERESSE SOCIAL INSERIDAS EM SÍTIOS AMBIENTALMENTE FRÁGEIS – O CASO DA PONTA DO LEAL EM FLORIANÓPOLIS/SC Antonio Couto Nunes (UFSC) - [email protected] Arquiteto e Urbanista, mestrando do curso de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo pelo Pós-Arq – Área de concentração 2 - Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade Jordi Sanchez-Cuenca Alomar (UFSC) - [email protected] Arquiteto e Urbanista, doutorando do curso de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo pelo Pós-Arq – Área de concentração 2 - Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade Renee Nycolaas (UFSC) - [email protected] Urbanista, mestranda do curso de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo pelo Pós-Arq – Área de concentração 2 - Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade

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Seminário URBFAVELAS 2016Rio de Janeiro - RJ - Brasil

ÁREAS DE INTERESSE SOCIAL INSERIDAS EM SÍTIOS AMBIENTALMENTE FRÁGEIS – OCASO DA PONTA DO LEAL EM FLORIANÓPOLIS/SC

Antonio Couto Nunes (UFSC) - [email protected] e Urbanista, mestrando do curso de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo pelo Pós-Arq – Área deconcentração 2 - Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade

Jordi Sanchez-Cuenca Alomar (UFSC) - [email protected] e Urbanista, doutorando do curso de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo pelo Pós-Arq – Área deconcentração 2 - Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade

Renee Nycolaas (UFSC) - [email protected], mestranda do curso de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo pelo Pós-Arq – Área de concentração 2- Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade

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ÁREAS DE INTERESSE SOCIAL INSERIDAS EM SÍTIOS AMBIENTALMENTE FRÁGEIS – O CASO DA PONTA DO LEAL EM

FLORIANÓPOLIS/SC ________________________________________________________________________ RESUMO Este trabalho procura relacionar duas temáticas que costumam ser analisadas de forma isolada: a ocupação de áreas ambientalmente frágeis e a demanda por habitação de interesse social. Para este fim, será analisado um caso específico ocorrido em Florianópolis, com uma comunidade de pescadores ocupando a orla da baía norte por mais de 40 anos. A comunidade em questão é a Ponta do Leal, que recentemente foi beneficiada pelo programa Minha Casa Minha Vida e será deslocada para área adjacente à sua atual localização, liberando a borda d’água para que seja recuperada. O caso pode ser considerado um marco em relação à aplicação da legislação ambiental, com, ao mesmo tempo, a preocupação de reduzir o prejuízo social de toda uma comunidade de baixa renda. Para isso foi necessário balancear interesses, entre a liberação da orla através da remoção da comunidade e uma justa alternativa para as novas moradias, num contexto determinante de intensa especulação imobiliária e interesses privados envolvidos. Palavras-chave: Habitação de interesse social; Teoria dos Sistemas; Programa Minha Casa Minha Vida; Legislação Ambiental; Ponta do Leal.

ABSTRACT The article relates two themes that are usually analyzed isolated from each other: the occupation of fragile ecosystems and the demand for social housing. For that purpose, it will be analyzed a special case in Florianopolis, Brazil, in a poor community initiatedmore than 40 years ago, by the occupation of site on the sea shore by fishing men and their families. The community is named Ponta do Leal, and recently achieved a governmental attention by the providing of a My House My Life project, closely located to its actual site, liberating the sea shore to be recuperated. This case can be considered as a benchmark on how ambiental law was used considering the needs of a poor community, in a context of intense real estate speculation and private interests involved. Keywords: Social Housing; Systems theory; My House My Life Programme; Ambiental Law; Ponta do Leal. 1. INTRODUÇÃO Dentre os temas mais relevantes da contemporaneidade estão a desigualdade social e o desequilíbrio ambiental do planeta. Esses temas podem ser observados por toda parte e em várias escalas. Elencando apenas algumas questões, no que tange à questão ambiental, na macro escala as preocupações são em relação ao aquecimento global e à matriz energética adotada pelas principais economias e, de modo geral, maiores poluidoras do planeta, seus efeitos no clima e nos ecossistemas. Aproximando-se a escala de análise, podem ser destacados os problemas ambientais vivenciados pelo Brasil, com o desmatamento das florestas, a poluição das principais bacias hidrográficas, tanto por resíduos agrícolas quanto industriais e urbanos. Aproximando-se mais ainda a

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escala, em nível municipal, podem ser identificados inúmeras desconexões entre cidade e meio natural, a ocupação de áreas ambientalmente frágeis e a desfiguração das paisagens naturais.

Quanto à desigualdade social também é possível analisar diversas escalas. Globalmente, pode-se citar a pobreza extrema de muitos países, especialmente os africanos, em oposição aos países ricos do norte da Europa, por exemplo. Realidade semelhante, no entanto, pode ser encontrada no Brasil, país com um dos maiores índices de desigualdade social, de acordo com o coeficiente GINI. Em Florianópolis não é diferente, conhecida pela qualidade de vida e por seus balneários de luxo, a mídia vende uma imagem de cidade livre dos típicos problemas sociais brasileiros. Porém, há uma elevada desigualdade socioeconômica, semelhante aos padrões de segregação socioespacial características das outras capitais estaduais (SUGAI, 2015).

A análise destas duas temáticas de forma segregada pode fornecer discrepâncias irreconciliáveis, tanto para o meio ambiente como para a sociedade (que deveriam ser entendidos como uma coisa só e não separadas). O planejamento das cidades brasileiras tem historicamente desconsiderado o meio natural como parte fundamental do todo. Rios retificados e canalizados, várzeas de rios e encostas de morros densamente ocupadas, bordas d’água utilizadas como vias expressas, tanto à beira-mar como à beira-rio, etc. Assim como o desenvolvimento econômico brasileiro tem deixado de lado uma parcela significativa da população, desprovida de meios para acessar uma residência na cidade formal, tendo que autoconstruir suas moradias em áreas que não se adequam às normas urbanísticas e ambientais. É neste ponto em que os dois assuntos se tangenciam.

Planejamento ambiental e urbano, estes termos não deveriam ser separados. Ou seja, planejamento urbano deveria automaticamente incluir as preocupações ambientais. Porém, na prática, quase sempre um processo de planejamento urbano vai ter que priorizar: em alguns casos ‘ganha’ o social, o urbano, o econômico, a cultura. E em outros, a natureza, o ambiental, o planeta. O que fazer em lugares onde o processo de urbanização está saindo do controle público? Onde, por um lado, o mercado privado prioriza o lucro, considerando minimamente a lógica ambiental, e onde, por outro lado, ocorre um processo de urbanização informal pela população de baixa renda, desconsiderando leis ambientais? Uma população que, a grosso modo, por falta de opção, ocupou as sobras do território consumido pelo mercado imobiliário formal: nos morros e beiras dos corpos d’água, áreas ambientalmente frágeis e com restrições legais de ocupação, motivo pelo qual os próprios incorporadores imobiliários normalmente não as ocuparam.

Optou-se por relatar o caso da comunidade da Ponta do Leal, em Florianópolis, Santa Catarina, o qual aborda ambas as temáticas em um mesmo cenário. A ocupação da área teve início há mais de 40 anos, composta inicialmente por pescadores e suas famílias, que construíram suas casas sobre a praia e o mar, com palafitas, na orla continental da Baía Norte, junto ao bairro Estreito. “Por muito tempo a comunidade foi chamada de ‘Vila Miséria’, uma denominação que implica em uma forma de segregação, com um termo pejorativo e carregado de sentido” (PALMA, 2010, p.27).

Devido à sua localização privilegiada e aos recentes planos municipais de ampliação da infraestrutura rodoviária, tornou-se um espaço cobiçado pelo mercado imobiliário. Houve uma crescente pressão sobre o poder local para a remoção da comunidade, sob o viés da recuperação ambiental da área e melhoria da mobilidade. No seu discurso, a remoção possibilitaria a abertura da orla, fundamental para a recuperação ambiental e qualidade urbanística do local (GOMES, 2013). A comunidade vem, desde 2005, lutando pela

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permanência no local e pressionando o Estado pela melhoria das suas condições urbanísticas e habitacionais. Em 2015, atingiram parte de seus objetivos, através da cessão de terras da União e do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), com muita dificuldade e intensos embates (NUNES et al.2016).

O caso mostra uma abordagem interessante dos pontos de vista ambiental e social, na medida em que atende às premissas do primeiro, sem desconsiderar o segundo. Com o intuito de recuperar a orla degradada, a comunidade será removida para um terreno contíguo à localização atual, junto ao mar, mantendo a coesão comunitária e a relação destes com o sítio original e recuperando o espaço livre da orla, descaracterizado pela ocupação irregular. A obra ainda se encontra em fase de execução (julho/2016).

O local onde os moradores se assentaram há mais de 40 anos é uma área de preservação permanente, a faixa de areia da praia, e está dentro da faixa de marinha, na qual existem restrições para construir. No entanto, o próprio Poder Público, responsável constitucional por impedir que estas áreas sejam ocupadas, colabora para reproduzir estas situações, na medida em que se ausenta de implementar políticas habitacionais condizentes e contínuas. Muitas vezes age somente quando as situações se tornam emergenciais, como deslizamentos em encostas e transbordamentos de rio, ou ainda, no caso da Ponta do Leal, onde famílias de baixa renda localizam-se em áreas com elevado valor no mercado imobiliário (PERES, 2012).

O artigo elabora algumas teorias sobre a simbiose e os conflitos entre homem e natureza, oferecendo uma base teórica para o caso em estudo. O resgate teórico e empírico visa mostrar quais os desafios e lições o caso da Ponta do Leal nos apresenta quanto ao planejamento ambiental em relação às áreas de interesse social.

2. UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA DO MEIO URBANO EM RELAÇÃO A O MEIO AMBIENTE, AS NECESSIDADES E POSSIBILIDADES A natureza e o urbano lutam um contra o outro para ocupar o mesmo espaço. Esta é a realidade que o homem tem construído ao longo da história e vem se intensificando na sociedade contemporânea. Neste contexto, vemos que o planejamento ambiental e o planejamento urbano se mostram muitas vezes em oposição. Ao planejar cidades, é fundamental que o urbanista tenha a percepção clara de que possui uma responsabilidade de cuidar do habitat natural, para a manutenção de todos os seres, inclusive o ser humano. Ocorre que desde a revolução industrial o homem tem se distanciado cada vez mais desta responsabilidade, a lógica econômica (em contraposição à ecológica) tem determinado a maioria das ações humanas, em detrimento da população mais vulnerável e das futuras gerações. O ambientalista e sociólogo ambiental Henrique Leff (2001) coloca a importância de se desconstruir o método do fracionamento do conhecimento, decorrente da revolução industrial e da ciência moderna que levou o planeta à crise ambiental dos anos 1970 e exigiu reflexões a respeito deste processo de desenvolvimento, “a crise ambiental problematiza os paradigmas estabelecidos do conhecimento e demanda novas metodologias capazes de orientar um processo de reconstrução do saber que permita realizar uma análise integrada da realidade” (LEFF, 2001 p.60).

A saúde das espécies convivendo em equilíbrio, além das virtudes ambientais, sociais e éticas, possui virtudes econômicas a longo prazo. A partir disso, pode-se tirar uma conclusão preliminar: a preservação ambiental dentro do planejamento urbano é melhor para todos. Infelizmente, a operacionalização e efetivação desta ideia não é tão simples, e o pensamento a partir da teoria dos sistemas ajuda a explicar porque.

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As ideias sobre sistemas em suas totalidades surgiram no começo do século 20, porém a teoria dos sistemas se tornou mais reconhecida depois da sua introdução pelo biólogo Ludwig von Bertalanffy, nos anos 1950 (DRACK, 2008). A teoria mostra as vantagens, e mesmo a necessidade, de ver (entre outros sistemas) o sistema urbano como um todo (OLIVEIRA; PORTELA, 2006). Segundo a teoria, os sistemas consistem de elementos interligados que não podem ser vistos separadamente. Esses elementos podem ser espaços, setores políticos, territórios, configurações urbanas e rurais, paisagens, pessoas, e podemos ainda colocar esses segmentos em tri-dimensionalidade, incluindo o fator tempo. Toda decisão e intervenção tem repercussões em todos os elementos. Se fosse o interesse da sociedade (e se seu governo representasse de fato todos seus membros) ver o mundo como um sistema, em sua totalidade e no longo prazo, a importância do equilíbrio entre planejamento ambiental e urbano seria óbvia. Cada entrada dentro do sistema, após todo seu ciclo de produção e seus resultados, deveriam gerar uma nova entrada, tudo dentro do mesmo sistema fechado.

Porém, as ações do homem em sociedade, em decorrência da fragmentação do saber, como afirma Leff (2001), não possuem a noção do todo. Por isso, pensar na lógica da teoria dos sistemas não é um processo automático. Em muitos casos, interesses individuais ou setoriais, que se manifestam na pequena escala e num futuro próximo, acabam pesando mais nas decisões do que os interesses do coletivo e as estratégias de longo prazo. Certos segmentos do todo recebem prioridade, formando sistemas abertos, em que as entradas e as saídas não fazem parte do mesmo, necessitando de uma energia externa para continuar funcionando. Os excedentes deste sistema aberto são, em geral, prejudiciais ao equilíbrio do mesmo.

A paisagista (fotógrafa e escritora) Anne WhistonSpirn, no seu livro Jardim de Granito (1995), também usa o conceito de sistema, mais especificamente de ecossistemas, que servem como quadro para avaliar os custos e benefícios de certas ações. Os problemas ambientais, muitas vezes, se manifestam em locais diferentes daqueles onde foram gerados. E por isso, em muitos casos, o foco das ações também estão num outro lugar que não aquele onde o problema ocorreu. Como instrumento, a avaliação através do pensar sistêmico permite, ou mesmo obriga, ampliar a visão para além das fronteiras territoriais e prazos determinados.

Sistemas em desequilíbrio ocorrem bastante no planejamento das cidades, e planejamento urbano e ambiental se opõem (SPIRN, 1995, 2016). Spirn mostra que esse conflito não é necessário, ou muito menos do que pensamos. A autora visa a harmonia entre a cidade e a natureza, para o bem do próprio ser humano:

A sobrevivência humana depende da adoção de nossa parte e da parte de nossas paisagens - cidades, prédios, estradas, rios, campos, florestas – de novos modos os quais sustentam a vida, moldando lugares que são funcionais, sustentáveis, significativos e artísticos, lugares que nos ajudam a sentir e entender a relação entre o natural e o construído (tradução livre pelos autores) (SPIRN, 2016).

Mostra a importância da natureza para a cidade, e é por isso que ambas não podem ser separadas. Porém, em muitos casos, a cidade foi vista como unidade separada, e isso determinou a maneira como foi planejada. Esta abordagem não prejudica somente a natureza, mas obviamente a própria cidade. As cidades brasileiras são exemplos claros desta abordagem. Dentre elas talvez o caso mais emblemático seja o de São Paulo, que canalizou seus rios e impermeabilizou seu solo e sofre constantemente com alagamentos. Recentemente, tem passado pelo oposto, com longos períodos de estiagem que colocam

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em risco a viabilidade hídrica da maior metrópole da América do Sul. As consequências não são somente ambientas. Vemos que, por exemplo, habitantes fogem da cidade para lugares com mais qualidade de vida, assim também prejudicando a situação econômica e social.

Como Spirn (1995) afirma, os meios, instrumentos e conhecimento para uma nova abordagem não faltam. Já no século 19, começou-se a enxergar isso. Nos anos 1970 havia casos exemplares de um monitoramento dos impactos urbanos sobre a natureza, e através da transparência e de um senso comum, haveria toda possibilidade de criar “cidades celestiais” ao invés de “cidades infernais”1. As possibilidades aumentam significativamente com os avanços tecnológicos. O problema, muitas vezes, é a falta de vontade política, entrelaçada com interesse econômico, de planejar junto com a natureza ao invés de contra ela (SPIRN, 1995).

Leff (2001) também põe ênfase na necessidade de um olhar holístico sobre a temática. Ele propõe um novo paradigma, derrubando as barreiras entre setores diferentes para a construção de um modelo verdadeiramente interdisciplinar. Leff (ibid.) defende que o comportamento do ser humano é mais conduzido pelas forças coletivas sociais, culturais e políticas, do que pela intuição de um ser biológico adaptando-se ao meio. Por isso, a questão ambiental não ganha automaticamente prioridade nas decisões das pessoas. Leff (2001) e Sprin (1995), assim como muitos outros autores das áreas ambiental e social, fazem uma chamada à adoção de paradigmas alternativos ao modelo economicista dominante. Para isso, precisamos de um olhar sobre a sustentabilidade ecológica e equidade social radicalmente diferente, para captar a complexidade de problemas ambientais.

3.LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E O PROJETO ORLA

Como abordado já com Leff (2001) e Spirn (1995), a crise ambiental ocorrida na década de 1970 colaborou para que novas formas de pensar pudessem emergir e colaborar com as discussões quanto ao planejamento urbano e ambiental. Neste contexto, as legislações em torno das demandas ambientais foram criadas e vem sendo aprimoradas em um processo contínuo. No Brasil, em especial, a legislação ambiental assume um papel importante como ordenador do território gerando inclusive novas categorias de espaços livres2 (SOUZA, MACEDO, 2014).

A legislação ambiental brasileira é reconhecida como uma das mais completas do mundo, sua aplicação, no entanto, não pode ser considerada da mesma forma. Apesar disto, tem contribuído para o crescimento da quantidade de áreas verdes nas cidades, tais como parques lineares junto aos cursos d’água, parques florestais, unidades de preservação públicas e privadas etc.,contudo, Souza e Macedo (2014) afirmam que ainda há uma falta de integração em relação à rede de espaços livres e o espaço construído das cidades.

Boa parte da legislação ambiental tem origem no meio rural e foi transposta para o meio urbano sem a devida adequação, gerando essas discrepâncias no território. A visão do meio rural é bastante conservacionista, ou seja, segrega o meio ambiente conservado de outros usos. No meio urbano essa visão se mostra equivocada, uma vez que há uma

1Termos cunhados por Spirn em “O jardim de granito”, onde a autora referência a cidade celestial como uma combinação ideal de sociedade com natureza e a cidade infernal como o oposto. 2O termo Sistema de Espaços Livres (SEL) é utilizado para definir as áreas livres como os espaços não edificados: “todo espaço nas áreas urbanas e em seu entorno, não coberto por edificações” MAGNOLI, 2006 apud SOUZA, MACEDO, 2014.

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concentração humana carente de espaços livres de lazer. É importante, no planejamento, a percepção de que há uma relação ideal entre as variáveis ambientais, sociais e urbanas, e esta relação só pode ser atingida quando as variáveis são elaboradas de forma sistêmica, com preocupação pelo território como um todo. Isso quer dizer que também o informal precisa existir no planejamento, fazendo boa parte das cidades.

O planejamento historicamente atuou somente sobre a cidade oficial, isto é, apenas sobre aquele território urbano reconhecido pelo poder público. Simultaneamente, desconsiderou a produção da cidade não oficial, resultante da criação de alternativas inadequadas de moradias, como favelas, cortiços, loteamentos irregulares (SILVA, 2011, p.57).

Um importante item adicionado ao espectro de leis de cunho ambiental colabora com a ideia de incluir a cidade informal no planejamento e é fundamental para o estudo da comunidade localizada na Ponta do Leal.

A Resolução CONAMA n° 369/06 traz avanços significativos no sentido de lançar olhar sobre a problemática urbana incidente sobre essas áreas, considerando a necessidade de adequar os parâmetros de restrição a determinadas demandas de uso desses espaços. Ao tornar a lei mais flexível, reconhecendo os casos de utilidade pública e interesse social, e regulando o uso das APPs como “áreas verdes” públicas - permitindo a implantação infraestruturas como caminhos, trilhas, travessias e equipamentos de lazer nessas áreas (SOUZA; MACEDO, 2014, p.14).

A resolução 369/06 do CONAMA3 vai ao encontro das premissas do Estatuto da Cidade e da função social da cidade e da propriedade previstas já na Constituição de 1988. Essa alteração da legislação permite que populações em situação de fragilidade social inseridas em áreas de proteção ambiental possam ter seus casos analisados de forma criteriosa, sem precisar chegar ao extremo de uma remoção radical de toda comunidade por ocupar uma área de proteção ambiental. Uma abordagem mais próxima e atenciosa permite que as mínimas condicionantes ambientais sejam atendidas, sem desconsiderar as premissas destas populações quanto à habitação e demais direitos constitucionais. As normas para ocupação em torno de nascentes, por exemplo, exigem que não haja nenhuma ocupação em um raio de 50 metros da origem do curso d’água. Aplicada a resolução 369/06, pode-se considerar ocupações de interesse social a menos de 50 metros, contato que sejam garantidas as condições essenciais para que a ocupação humana não prejudique o meio ambiente, tal como acesso ao saneamento básico (acesso à água, esgoto e coleta de resíduos) sem risco de contaminação do lençol freático.

Os critérios estabelecidos pela resolução 369/06 para intervenção em áreas de preservação ambiental são bem claros, evitando a utilização de forma equivocada. Essa resolução permitiu a abordagem apresentada posteriormente, no caso da Ponta do Leal.

No caso em questão há uma sobreposição entre a faixa protegida pela lei do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), nº 7661/88 e a faixa de marinha. A lei do PNGC em seu art. 10, caput e os parágrafos 1º, 2º e 3º, regulamentado pelo Decreto Federal nº 5.300, de 2004, diz que:

[...] as praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer

3CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

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direção e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação específica.

§ 1º. Não será permitida a urbanização ou qualquer forma de utilização do solo na Zona Costeira que impeça ou dificulte o acesso assegurado no caput deste artigo [...}

§ 3º do art. 10 da Lei nº 7.661 /88: "Entende-se por praia a área coberta e descoberta periodicamente pelas águas, acrescida da faixa subseqüente de material detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, até o limite onde se inicie a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde comece um outro ecossistema (BRASIL,1988).

Sobre a faixa de marinha, a Constituição Federal de 1988 define a Zona Costeira no Artigo 225 como “patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais” (BRASIL, 1998).

A definição da faixa de marinha é regida pelo Decreto n. º 9.760/46, que a descreve como “os espaços territoriais que se situam em uma faixa de 33 metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha da preamar média – LPM – de 1831” (BRASIL, 1946).

Fica claro a partir da exposição das principais leis que regem o espaço costeiro a necessidade de critérios claros para manutenção dos ecossistemas litorâneos e o bem-estar social das populações a eles vinculadas. A perspectiva aberta pela resolução 369/06 do CONAMA gera possibilidades de regularização fundiária para populações carentes e isso é um grande passo para a obtenção do direito à moradia previsto pela Constituição Federal. Gerir este território e todo espectro de leis vigentes e suas interposições pode ser demasiado complexo, ainda mais se tratando de inúmeras esferas de atuação, Federal, Estadual, Municipal, além dos agentes privados. O Projeto Orla se propõe a dar soluções para esse complexo contexto.

3.1 O Projeto Orla

Os ecossistemas litorâneos são de grande importância, ricos em fauna e flora e abrigando a vida marinha com várias espécies. No Brasil, isso é fortemente confirmado pela Mata Atlântica, bioma com elevada biodiversidade, constituindo-se de uma zona costeira com grande valor ecológico e socioeconômico. No decorrer do processo histórico, o litoral vem sendo ocupado desde antes da chegada dos europeus, mas foi principalmente no século XX que a explosão demográfica colocou em risco os ecossistemas litorâneos. Essa ocupação consiste de núcleos urbanos (assentamentos, infraestrutura, indústria), resíduos industriais e urbanos, pesca e o turismo, que além de ameaçar a natureza também muitas vezes com um tipo de uso conflitando com o outro (SANTOS, 2007).

Com o intuito de tratar, de uma forma integrada, as interferências na faixa litorânea e a harmonização entre usos patrimoniais e ecológicos, foi criado o Projeto Orla, lançado em 2002 pelo Governo Federal. É um instrumento para operacionalizar a gestão costeira no Brasil, consistindo de institutos jurídicos. Trata das áreas de marinha, faixas litorâneas de 33 metros para dentro da costa a partir da linha de preamar. A faixa de terra e mar discutidas no Projeto Orla em geral excede estes 33 metros, dependendo da caracterização do sítio em análise.

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O que é interessante no projeto foi que diferentes setores colaboraram para chegar a um resultado: a Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos do Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, visando a compatibilização das políticas ambiental e patrimonial. A ambição era juntar possibilidades socioeconômicas com o desenvolvimento sustentável da orla. Além da intersetorialidade, o projeto buscou concretizar arranjos jurídicos do nível federal no nível local.

Os dois institutos jurídicos que formam a base do Projeto Orla são a lei 7.661/88 e a lei 9.636/98. A Lei 7.661/88 define os princípios, objetivos e instrumentos do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, entre eles a descentralização da gestão através de Planos de Gestão, para serem elaborados no nível relevante para o objetivo e a área específicos (BRASIL, 2002). A informação e participação dos atores envolvidos são garantidas pela lei, pelo menos no papel (SANTOS, 2007). A Lei 9.636/98 trata do “Patrimônio da União”, o qual inclui os terrenos de marinha. Visa o uso desse patrimônio, de acordo, entre outros, com a Constituição de 1988 (BRASIL, 2002).

Através da categorização das atribuições naturais em relação às atribuições construídas, o Projeto Orla é um mecanismo que permite uma sistematização para o planejamento da orla. O Projeto divide tipos da orla: áreas urbanas,semiurbanas e rurais. Também faz a diferença entre áreas em processo de urbanização, áreas de urbanização consolidada e áreas de interesse especial. Além disso, distingue as tipologias de áreas em relação à exposição ao mar.

A partir dessa sistematização, o projeto serve como instrumento de auxílio à elaboração dos planos diretores, que são realizados de acordo com as normativas federais e que são participativos, com membros da sociedade civil, junto com técnicos dos órgãos municipais.

3.2 Projeto Orla em Florianópolis e a Ponta do Leal

Em Florianópolis o projeto está sendo desenvolvido desde 2013. Por se tratar de uma extensa orla, com mais de 200 km entre ilha e continente, cada trecho com configurações sociais e morfológicas bastante distintas entre si, os técnicos do Projeto Orla sugeriram a subdivisão do município de Florianópolis em oito setores distintos. A Ponta do Leal, caso proposto para análise, será abordada no setor oito, que inclui toda a orla continental da cidade (fig.1).

O Projeto Orla é um instrumento local para harmonizar os diferentes usos naturais e humanos da zona costeira. Entre outros, é destacada a pressão da ocupação desordenada e a falta de infraestrutura de saneamento, com a poluição severa causada pelos esgotos sem tratamento descarregando nas águas costeiras. Essa situação é especialmente relevante para o nosso caso da Ponta do Leal.

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Figura 1 – Setores do projeto Orla em Florianópolis Fonte: Site do Projeto Orla da PMF, 07/2016.

Em uma entrevista com uma técnica do IPUF que está participando do Projeto, se obteve a informação de que o cronograma inicial não foi cumprido por uma série de entraves burocráticos em todos os setores do Projeto. Apenas os setores de número três e seis avançaram, e estão agora em fase de conclusão. De acordo com Claro (2016), o setor oito teve início, mas foi interrompido por falta de adesão popular. Pode-se observar o sítio privilegiado onde se insere a comunidade da Ponta do Leal (fig. 2 e fig.3), de frente para o mar com vistas para a ponte Hercílio Luz, morro da Cruz e as avenidas Beiramar Norte (Via de contorno Norte-Ilha) e Beiramar continental (junto ao bairro do Estreito).

Figura 2 – Potencial paisagístico da baía norte a partir da comunidade da Ponta do Leal. Fonte: acervo próprio, 04/2016.

Apesar da remoção iminente das famílias da Ponta do Leal, o Projeto Orla ainda não forneceu indicações urbanísticas e ambientais para a área, um dos trechos mais privilegiados da orla continental em relação ao potencial paisagístico. Infelizmente o processo não está correndo ao ritmo que requerem as intensas modificações da dinâmica intraurbana. É possível que quando concluídos os estudos, o território discutido pelas oficinas do Projeto Orla já não apresente as mesmas configurações.

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4. O CASO DA PONTA DO LEAL – FLORIANÓPOLIS/SC – BRASI L

Localizada no bairro Estreito, na porção continental da baía norte de Florianópolis/SC, a comunidade da Ponta do Leal é formada por aproximadamente 400 pessoas e boa parte de suas construções foi construída em palafitas sobre o mar. O local foi ocupado há mais de 40 anos e se constitui por uma estreita faixa entre o mar e o terreno de uma sede administrativa da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN).

Figura 3 – Inserção da Ponta do Leal no contexto urbano em imagem de Jan/2015. Fonte: Nunes et al(2016)

De acordo com Palma (2010) o bairro do Balneário do Estreito, junto à Ponta do Leal, apresentava, após a construção da ponte Hercílio Luz (1926) até meados do século XX, um caráter de ocupação sazonal de veraneio, assim como outros bairros na orla continental (Coqueiros, Itaguaçu). Com o crescimento da cidade, a poluição das águas da baía e o vetor de crescimento rumo às praias do norte da cidade, a área perdeu o caráter de balneário praiano para se transformar em um bairro residencial. A comunidade da Ponta do Leal teve início após o auge da ocupação do bairro como área de veraneio, e anteriormente à fase de ocupação residencial pela classe média. Uma brecha de tempo que permitiu a ocupação da área por moradores de baixa renda sem grandes empecilhos.

Até 2006, muita gente desconhecia a existência da Ponta do Leal. Quando as obras do aterro hidráulico para a construção da Beira-Mar Continental começaram, a tímida comunidade revelou-se em forma de palafitas para quem passeia pelo calçadão da avenida. A visibilidade da favela deu início a um longo processo de realocação das 98 famílias que ali vivem. (LIMA,2015)

O caso da Ponta do Leal é emblemático em Florianópolis, cidade que apresenta uma intensa desigualdade socioeconômica, (22,3% ganham até 2 S.M. e 19,5% mais de 20

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S.M.), e reflete os padrões de segregação socioespacial caraterísticas das outras capitais estaduais (SUGAI, 2015). A comunidade localiza-se junto à orla da baía norte, num espaço com imenso interesse paisagístico e ambiental, também identificado com status social, com elevado valor da terra, bastante cobiçado pelo capital imobiliário (NUNES et al, 2016).

A comunidade ainda guarda traços de suas origens, a partir dos galpões dos pescadores, que acabaram por construir suas residências no mesmo local. A atividade pesqueira ainda se mostra presente, porém, a maior parte dos moradores trabalha em outros tipos de atividades. A renda média gira em torno de três salários mínimos por família (PERES, 2012). As residências foram construídas junto à orla, sobre as águas, com acesso por um corredor com cerca de um metro de largura. A partir das palafitas é possível ter uma ampla visão da baía norte (fig.4). É um conjunto contrastante que envolve a comunidade, a natureza, e, por ironia, de edifícios habitados pelas camadas de mais alta renda na Ilha, do outro lado da baía norte (NUNES et al, 2016).

Figura 4 – Habitações precárias com vista para os prédios de luxo junto à Via de Contorno Norte-Ilha. Fonte: acervo próprio, 04/2016.

A inserção da comunidade neste contexto é bastante prejudicial para o ecossistema da baía norte, tanto do ponto de vista paisagístico, com a interrupção da continuidade da orla, como pela degradação ambiental resultante da ocupação do local. As edificações encontram-se sobre o mar, interferindo diretamente nas correntes internas da baía e na movimentação das areias deste sistema. Boa parte dos resíduos produzidos pelos moradores são despejados diretamente no mar, assim como o esgoto das residências (fig. 5). Além disso, chegam muitos resíduos do resto da baía (fig. 6), o qual se acumula entre as palafitas das casas da comunidade.

Há, obviamente, o aspecto social, com as famílias vivendo em um local insalubre, sob ação direta dos ventos e da umidade, com a água do mar entrando pelas frestas das residências em dias de ressaca, sujeitos à falta de saneamento básico, risco de desabamento pela ação do mar, carência de espaços livres e ainda a estigmatização dos seus moradores pelos vizinhos de média renda.

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Figuras 5 e 6 – Despejo de esgoto diretamente no mar e resíduos acumulados entre as

casas. Fonte: acervo próprio, 04/2016.

Ao longo de sua formação e consolidação, a comunidade passou quase despercebida, localizada em uma área que era considerada como “fundos”. Não por acaso, no momento em que a Prefeitura Municipal passa a divulgar um projeto de uma via de trânsito rápido, nos moldes da principal avenida da cidade, a Via de Contorno Norte-Ilha (SUGAI,2015), a localização ganha atenção da mídia, com inúmeras reportagens dos jornais locais sobre o caso e a comunidade do entorno se posicionando contra a ocupação da orla pelos moradores de baixa renda. Em entrevista realizada por Palma (2010) com moradores do bairro do Estreito fica clara a percepção em relação à comunidade, nesse novo contexto a comunidade torna-se um entrave ao desenvolvimento da cidade e um grave problema ambiental.

Fábio, que mora na área nobre do bairro, acredita na resolução desse ‘impasse’ através da prefeitura. ‘Ali vai ser retirada parece, né... aquela comunidade vai ter que tirar, né. Diz que as negociações tá bem forte [...] tá há muitos anos [no local]... deixaram criar, né. Mas eu acho que a prefeitura resolve. PALMA (2010, p.86)

Esta situação nos remete às colocações de Souza e Macedo (2014, p.3) em relação ao discurso de sustentabilidade. Neste caso, igual como nos casos apresentados por estes autores, as ações dos agentes públicos e privados reproduzem um modelo de urbanização cujos efeitos perversos sobre o suporte biofísico, na melhor das situações, são apenas atenuados.

Em sentença favorável ao MPF, a Justiça determinou ao Município de Florianópolis que resolva os problemas locais de ligações clandestinas de esgoto e contaminação da areia da praia, entre outros. Como não é possível a ocupação residencial da Ponta do Leal, nem a execução de um projeto de saneamento, já que muitas residências estão construídas sobre palafitas, ficou evidente, durante o processo, que é necessária a retirada da população da situação precária em que vive, com risco de saúde pública, através da sua

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inclusão em projeto de habitação popular. (Procuradoria da República no Estado de SC, in Floripamanhã, 2008)

O projeto de vias da Prefeitura para a área não considera a existência da comunidade carente na Ponta do Leal, que deve ser removida para o traçado da nova via expressa. É importante ressaltar os interesses por trás das ações do poder público. Como afirma Sugai (2015), a efetivação da Via de Contorno Norte-Ilha configurou-se como uma das principais responsáveis pelo processo de rodoviarismo, com a expansão do capital imobiliário e da consolidação da segregação socioespacial na área conurbada de Florianópolis. A construção da nova via no bairro do Estreito, se apresenta então como um novo vetor de desenvolvimento urbano, com a manutenção dos níveis de acumulação do mercado imobiliário sob a justificativa de melhoria na mobilidade urbana e recuperação ambiental da orla degradada, especialmente em relação à comunidade da Ponta do Leal. Vale ressaltar que o Plano Diretor vigente, aprovado em 2014 (e atualmente em revisão devido a irregularidades no processo) aumenta de forma significativa os gabaritos na área, confirmando a afirmação anterior. O que era fundos se torna frente, para esta nova condição, a remoção da comunidade da Ponta do Leal e a “continuação dessas obras viárias, e a sua conexão com as duas pontes, são fundamentais para a realização e expansão dos interesses do capital imobiliário” (NUNES et al, 2016, p.12). “Notadamente, a Ponta do Leal ocupa um espaço nobre para a especulação imobiliária e a construção de uma via expropria os moradores para que esta área se torne atrativa para moradores com maior poder aquisitivo” (PALMA, 2010, p.27).

Desde que sua localização se tornou um problema e sua permanência no local passou a ser ameaçada, a comunidade vem lutando pelo direito à moradia. Por volta de 2005, a Prefeitura Municipal ofereceu propostas para remoção dos moradores para duas localidades diferentes e afastadas do local atual. A comunidade rejeitou a sugestão da Prefeitura especialmente pela sua divisão em duas e devido à distância em relação ao mar, importante principalmente para a pesca como fonte de renda.

Um longo processo se desenvolveu desde as primeiras propostas da Prefeitura até o momento atual em que está se construindo um conjunto multifamiliar com quatro blocos de apartamentos no terreno adjunto à comunidade, usado anteriormente pela CASAN como estacionamento (fig.7). Para a área atual da comunidade, que será liberada após o término das obras, está sendo realizado um projeto de recuperação ambiental.

Figura 7 – Localização e Implantação do projeto em construção pela PMF. Fonte: cedido pela PMF, 06/2016.

De acordo com Palma (2010) e Peres (2016), a solução para o impasse se deu a partir do momento que se constatou que a própria CASAN estava instalada de forma irregular junto à borda d’água, em terreno de marinha e pertencente à União. A solução definitiva foi

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acordada entre a CASAN, Ministério Público Federal (MPF), Secretaria de Patrimônio da União (SPU), a Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF), Atelier Modelo de Arquitetura (AMA) da UFSC e a comunidade. Ao realocar os moradores em situação irregular no terreno contíguo subutilizado pela CASAN conseguiram regularizar a situação de ambos.

A ação garantiu um acordo de cessão do terreno público para a construção de um conjunto multifamiliar para a comunidade, através do PMCMV. Esse fato constitui-se uma dupla vitória para a comunidade, que obteve a construção de uma edificação adequada e, principalmente, pela localização das novas moradias que se situam ao lado do atual assentamento, e próximo à borda d’água, sem dúvida nenhuma, a maior vitória da comunidade sob a perspectiva do Direito à Cidade. (NUNES et al, 2016, p.12).

Atualmente o terreno pertence à prefeitura. Será entregue aos moradores na conclusão da obra, mas a área ainda estará dentro dos 33 metros de marinha. O correto, do ponto de vista legal, seria restringir a construção nesta faixa, especialmente sobre a areia da praia, mas devido à fragilidade social das famílias, esta regra foi relativizada, a partir da utilização da resolução 369 do CONAMA, citada anteriormente, de forma a atender a maior parte dos envolvidos. A comunidade carente deixará para trás a condição de irregularidade urbanística, com a obtenção do título do imóvel e segurança social, bem como acesso aos serviços básicos como qualquer cidadão, água, esgoto, eletricidade e coleta de resíduos. O ecossistema terá condições de se recuperar, uma vez que os resíduos sólidos não se acumulem no local e as águas residuais não sejam vertidas na baía sem o devido tratamento, como tem sido até hoje. Além disso, a relocação permitirá a contemplação e utilização da borda d' água por toda a cidade, ao invés da apropriação privada pelos moradores da comunidade. Assim, o fluxo das marés e das areias internas da baía poderão se recuperar também. Por outro lado, a nova avenida (com o aterro e a infraestrutura viária) e o aumento do gabarito (e da pressão humana sobre o ecossistema costeiro) talvez supõem um impacto maior sobre o meio ambiente.

Há ainda a demanda por melhoria na mobilidade, que pode vir a ser atendida com o prolongamento da avenida que margeia a baía norte ao longo do bairro do Estreito, com possibilidade de se estender até os municípios vizinhos de São José e Biguaçu. O equilíbrio entre as necessidades sociais e a preservação ambiental se mantem ainda ameaçado pela especulação imobiliária, cabendo às Prefeituras controlá-las.

Analisamos um caso no qual pareciam incompatíveis a preservação ambiental, interesses econômicos e necessidades e direitos sociais. Porém, depois de muitos problemas e lutas durante o processo, em boa medida foram conciliados os três interesses de alguma maneira.

Spirn (1995) se refere a um planejamento urbano que não somente leva o meio-ambiente em consideração, mas como obrigação, em que a natureza é vista como oportunidade para a qualidade das cidades. E isso parece bastante lógico, pensando em escala e prazo maiores. A teoria dos sistemas pode contribuir com um levantamento mais completo de causas e efeitos, forçando a considerar a escala (espacial e temporal) na qual um certo ciclo se manifesta, na sua totalidade. Por exemplo, impermeabilidade numa cidade tem efeitos não somente para aquela cidade, mas também para o seu entorno. E esses efeitos não são somente ambientais, mas também econômicos e sociais. A ampliação de sua escala sempre coloca um fenômeno numa outra perspectiva, um exercício necessário para pensar as intervenções no espaço e seus efeitos no tempo.

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Spirn (1995) mostra que já existe amplo conhecimento e tecnologia para se realizar um planejamento mais completo, holístico, porém isso vem sendo pouco concretizado. Muitas vezes falta vontade política e isso ocorre entrelaçado com certos interesses econômicos. E é por essa razão que Leff (2001) também enfatiza que temos que rever profundamente os nossos valores. Hoje, a sociedade está orientada quase exclusivamente pela economia. Para Leff (2001), teríamos que redefinir as prioridades, para que a integração da natureza com ‘o social’ obtenha posição de destaque no planejamento. Só a partir desse ponto seria possível ter uma sociedade ecologicamente orientada, valorizando a natureza ao invés de "ter que lidar com ela”.

No Brasil, vemos que há instrumentos para planejamento ambiental bem estruturados. Apesar das falhas na aplicação, a instrumentação tem gerado ativos ambientais significativos, tanto no meio rural quanto no meio urbano. Neste segundo, a importância se dá especialmente a partir da utilização da legislação ambiental atrelada aos planos diretores. Ainda assim, essa legislação ambiental aplicada ao meio urbano, em geral, carece de uma visão mais ampla, gerando espaços segregados da malha urbana, ainda sem a percepção sistêmica do processo, tanto no conceito como na proposta, como sugerem Leff (2001) e Spirn (1995).

Para as áreas costeiras do Brasil, foi elaborado o Projeto Orla. O projeto visa a sistematização de levantamento de tipos de orla em todo Brasil, para poder elaborar planos a partir daí. O projeto aspira a integração de tipos de uso, tipos de usuários e stakeholders. O Projeto possui diretrizes para sua realização, definidos em nível federal, com a proposta de que cada prefeitura realize o Projeto Orla em seu território, fazendo um diagnóstico das suas faixas litorâneas. Parece haver aí um caminho para uma visão mais ampla da orla no contexto urbano, analisada a partir de um contexto real e das diversas condicionantes existentes, social, cultural, econômica, legal,contudo, além na morosidade na execução dos planos locais, parece que o sistema para diagnosticar ganha muita ênfase, sem que o Projeto Orla ofereça os meios para fazer e executar planos. Para uma cidade como Florianópolis, com cerca de 200 quilômetros de costa marítima e de lagoas, a elaboração de projetos para a orla é de maior importância. O Projeto foi lançado em julho 2013 e pelo cronograma oficial já teria sido concluído em todas as oito áreas da orla da cidade (definidas previamente pelos gestores). Porém, o cronograma tem sofrido com interrupções ao longo do processo e com a falta de mobilização da sociedade civil e demais participantes, fato que interfere diretamente no desenvolvimento do Projeto Orla para a área continental, e consequentemente, da Ponta do Leal.

Do ponto de vista do interesse econômico e da preocupação ambiental, era necessário que a comunidade da Ponta do Leal fosse removida. Não se pode afirmar que a legislação ambiental tenha sido um álibi, ou que o foi parcialmente, para realização dos interesses econômicos, porém, de qualquer maneira, a permanência da situação da comunidade gera, de fato, um impacto ambiental no local onde se insere bem como ao restante da baía norte. Ao mesmo tempo, a comunidade possui uma história no local e necessidades sociais, culturais e profissionais de permanecer na área. Para poder conceder nova moradia à comunidade, nas proximidades da atual ocupação, foi necessário flexibilizar a legislação ambiental. A comunidade será removida da faixa da orla, porém continuará dentro dos 33 metros de marinha. Essa situação dá margem para uma longa discussão: já que vai se aplicar a legislação ambiental, será que a mesma não deva ser aplicada sem qualquer exceção? Para não admitir um modelo em que se considere a legislação, mas não na sua total plenitude? Ou teria neste processo acontecido algo que é muito inteligente (e geralmente muito difícil) para os gestores públicos adotarem: uma abordagem pragmática, flexível, sob medida, para reunir diferentes interesses e necessidades da melhor forma possível?

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5. CONCLUSÕES

Planejamento urbano e planejamento ambiental muitas vezes são vistos como dois opostos. Tem se mostrado difícil a integração da cidade com a natureza de uma forma harmoniosa. Essa dificuldade, porém, não é necessária. Spirn (1995) mostra uma paixão pelas cidades nas quais a natureza é integrada através do planejamento, mostrando que isso não é impossível, trazendo ideias e melhores práticas. Leff (2001) reforça que que esta integração entre os meios natural e urbano não é só ideal como necessária, na medida em que os recursos do planeta se esgotam a olhos vistos e as soluções apresentadas nos últimos anos, em direção à uma suposta sustentabilidade, tem se caracterizado como paliativos, protelando os problemas para o futuro, mas não repensando a relação da sociedade com a natureza de forma sistêmica.

A Comunidade da Ponta do Leal ocupa uma faixa da beira-mar no bairro Estreito, na parte continental de Florianópolis. Há 40 anos, abriga cerca de 400 pessoas, uma grande parte morando em palafitas sobre o mar. Além de sofrer com as consequências de sua localização, a ocupação também gera impactos ambientais, com os esgotos das casas lançados diretamente no mar, assim como a acumulação de resíduos entre as estruturas palafíticas. Aplicando a teoria dos sistemas nesta situação, é suficientemente claro que os impactos ambientais se espalham rapidamente numa área maior, gerando um sistema aberto com sua saída negativa que não é absorvida dentro do próprio sistema. Além do mais, vemos que essa situação provoca impactos de insalubridade na própria comunidade. Por outro lado, o meio ambiente se comporta como uma ameaça às moradias, com perigo de inundação, água infiltrando nas casas, ventos fortes, maresia. Ademais, a ocupação é um obstáculo para o acesso público à faixa costeira, transformando uma área que, por lei, deveria ser pública em uma área privada.

Em suma, a comunidade está num local indesejável, não somente do ponto de vista do “bem coletivo”, mas gerando instabilidades para ela mesma. No entanto, os vínculos da comunidade com o sítio são muito fortes, existe uma história na beira do mar, vivendo da pesca, e uma história social de convivência. Além do mais, o mercado imobiliário formal não oferece moradias a preços acessíveis para o nível de renda dos moradores.

No momento da ocupação, poucos se preocupavam com a área remanescente. Com os planos de infraestrutura rodoviária, surgiu uma convocação de relocar a comunidade sob um discurso duvidoso: foi apresentada a “bandeira” dos danos ambientais e da legislação ambiental, quando na realidade o interesse era o lucro decorrente da valorização da terra após as melhoras urbanísticas. A comunidade está em condições ambientalmente intoleráveis. Porém, a atenção para a condição ambiental coincidiu suspeitosamente com os interesses na área pelo seu valor imobiliário, e o potencial de valorização após a implementação do novo eixo rodoviário projetado por cima da comunidade.

As lutas da comunidade que se seguiram permitiram um grande ganho, a concessão de um terreno adjacente ao local atual, separado por somente um muro, área anteriormente propriedade da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento.

A comunidade vai se mudar para uma área que oficialmente não tem legalidade em relação às normas ambientais, continuando dentro da faixa de marinha. Isso mostra como cada caso precisa de uma abordagem específica. Neste caso, foi adotada uma medida pragmática e de equilíbrio entre fatores ambientais e sociais, melhorando a situação ambiental por um lado e urbana, econômica e social pelo outro. Ao mesmo tempo, poderia defender-se que a legislação ambiental fosse aplicada de forma mais rigorosa, inviabilizando a proposta de utilização do terreno adjacente para as novas moradias. A resolução 369/06 do CONAMA, no entanto, oferece subsídios para a abordagem aplicada,

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na medida em que há interesse social, tanto na liberação da orla como espaço público, destinação correta de esgoto e resíduos gerados, como na regularização fundiária das famílias em estado de fragilidade social.

E mais ainda, o caso mostrou um ganho ambiental e social, e por isso parece que estamos apresentando um caso com certa harmonização entre planejamento ambiental e planejamento urbano. Porém, se realmente foram os interesses econômicos que despertaram a repentina atenção pelos valores ambientais, temos que constatar que o bem ambiental ainda não tem o status que o caso parece mostrar à primeira vista. E isso, no caso, não representaria tanto problema, uma vez que que o resultado foi um ganho em vários aspectos. Contudo, para uma sustentabilidade numa escala maior (da cidade, do país), teríamos que refletir sobre qual será o status do planejamento ambiental no futuro, e a possibilidade de separar o mesmo dos interesses econômicos.

Ficou claro que cada situação tem aspectos econômicos, sociais, urbanos e ambientais, um interferindo no outro. Cada situação envolverá um jogo de interesses, no qual o ambiental muitas vezes não tem a prioridade. O caso mostrou que houve possibilidades de satisfazer boa medida de todos os interesses, ou quase todos, pois aparentemente a perspectiva do ponto de vista ambiental não é muito animadora, se o objetivo de criar um novo eixo rodoviário ao longo da orla se cumprir. Os impactos gerados pela obra inicial da nova avenida já são visíveis, com a redução da fauna marítima e alteração das correntes internas da baía. De certa forma, no que tange aos dados disponíveis e avaliáveis, em se mantendo a proposta de retirada da comunidade e recuperação ambiental do trecho por ela hoje ocupado, os ganhos do processo devem ser partilhados por todos os atores participantes.

Não há como afirmar que o processo teve uma abordagem sistêmica como proposta inicial. Podemos apenas sugerir que, em se tratando de um processo conduzido por um ente público no Brasil, dificilmente este tipo de abordagem holística estaria nas premissas do projeto. Apesar disso, feita uma análise posterior, percebe-se uma tentativa de solucionar as questões de uma forma mais próxima do que a teoria dos sistemas propõe, envolvendo a noção do todo e de que cada ação deve gerar retorno para o próprio sistema em questão. Sistematizar o planejamento para que a maior parte dos envolvidos obtenham a devida atenção é importante, sempre com a clareza de que cada caso possui suas próprias particularidades.

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