Mesmo pichando há 10 anos fiquei bastante reflexivo e em alguns momentos cabreiro com a ideia de chegar propondo o projeto de uma publicação que fizesse o resgate histórico do xarpi, grafite, stencil ou qualquer outra intervensão visual no concreto da cidade, nomeada revista Risco do Risco. Principalmente pelo fato de não ter uma vivência com os pichadores que frequentam a reunião e de saber que já existem sujeitos ativos com uma visão documental da cena que poderiam me ver como concorrente. Mas deixei de lado esses pensamentos, peguei a câmera, atravessei de ônibus a cidade e fui ver qual é.

Wesley Nascimento / EDIM J.P

EM UM DIA ANTERIOR Á 6ª MEGA REUNIÃO CIPÓ, FALSO, FACA , SKIP, MARESIA E HANGLOOSE, FAZEM AUDACIOSA PICHAÇÃO NO TETO DO GINÁSIO DA PARANGABA.

EM UM DIA ANTERIOR Á 6ª MEGA REUNIÃO CIPÓ, FALSO, FACA , SKIP, MARESIA E HANGLOOSE, FAZEM AUDACIOSA PICHAÇÃO NO TETO DO GINÁSIO DA PARANGABA.

Chagando, observo uma pequena concentração dos caras na esquina do ginásio do lado de fora, achei que tinha chegado cedo demais e na verdade era isso mesmo. Como havia previsto, não havia nenhum conhecido. Até que meu olhar encontra o Paulim, um sujeito que tenho respeito desde os tempos de escola, agora mais conhecido como MASTER dos A.C, ele já riscava na época do velho e saudoso Liceu do Ceará mas nunca me acostumei em chama-lo de Master pessoalmente e já fazia uns anos que não o via. Ele estava fazendo um depoimento com uma cibershot tendo como fundo o grafite em homenagem ao finado SLAYER da E.D.T. Ainda consegui fazer uma foto e peguei o final da ideia que MASTER dizia: “Sou pichador sim e trabalho para sustentar minhas filhas”. Curti a vibe de documentação dos caras. Quando ele termina a fala me cumprimenta e me apresenta ao GAFANHOTO da R.A.R, que foi o câmera do depoimento. Conversamos bem rápido sobre a proposta de documentar a cena e os meios que podemos fazer isso. Gafanhoto me contou que gosta de palestrar sobre pichação e disse: “Os caras da academia e dos governos que falam sobre pichação não conhecem a gente, não sabem o que é a pichação em Fortaleza”.

Logo depois encontro MANO da G.S, tive uma impressão de já ter o conhecido mesmo tendo começado a se comunicar com ele apenas pela página da Risco do Risco e depois pelo meu perfil pessoal. Ele estava com o SECO da S.F, que ficou sabendo da Risco do Risco por ele e já combinou um domingo pra gente fazer uma matéria com uma saída deles no bairro onde moram, o Vila União.

E encontro o SMITH dos G.R, que também estava chegando. Eu já tinha conversado com ele há uns dias anteriores pelo facebook e falei da proposta da revista, ae ele pediu pra mim colar na reunião que ele e o GALLO estava articulando.Nesse dia da reunião se mostrou muito aberto à proposta e me perguntou se eu queria que chamasse alguns caras pra fazer depoimento. Foi quando eu disse que queria só fotografar mesmo e ficamos de marcar um dia pra eu ir á casa dele ver o material que coleciona das antigas agendas, fotos, vídeos - e por sinal ele está finalizando um documentário sobre a cena de Fortaleza.

| A partir daí fico mais solto e começo a fotografar.

A dinâmica da reunião continuou a mesma desde a época em que eu acompanhava, onde a maioria dos encontros era no terminal do Siqueira nos anos 2000.

Quem tem agenda, caderno, folha oficio ou qualquer outra superfície de papel com as assinaturas dos sujeitos que se destacam ou que tem afinidade mesmo, chega com elas pra pegar mais assinaturas e as dedicatórias. Um detalhe : qualquer uma dessas superfícies aglomeradas chamamos de agenda. A partir desse movimento muitos dos pichadores acabam se conhecendo, principalmente os que moram em bairros distantes um do outro.

Senti um pouco de receio em alguns ao serem fotografados. Eu imagino que o som do click da câmera e a forma mais natural de registro que eu estava buscando possam ter sido um dos fatores pra essa reação, antes de mim não conheço ninguem que teria chegado até esse ponto, mas confiei primeiro em minhas ideias, na convicção de que isso é importante de ser feito, quando sentia uma abertura pra falar eu explicava pra onde iriam as fotos e divulgava o nome da Risco do Risco.

Foi fotografando a 6ª Mega Reunião que vi os sujeitos que riscam os nomes que me chamam atenção, como BARÃO da W.S, SPIRRO da G.D.R, BABACA também da G.D.R, BIBOB da G.Z.P e o maluco que se destaca agora o VAMPIRO .

No ginásio estava rolando também um jogo de futsal. Atravesso a quadra pra tirar uma Foto da arquibancada cheia, foi quando um professor de educação física me pergunta que evento era aquele do outro lado e eu disse que era o encontro de pichadores. Sinceramente achei que ele iria estranhar e repelir a ideia, mas pelo contrário, ele ficou muito curioso em saber como era o movimento.

Tentei explicar de maneira resumida, foi quando ele contou que na escola onde trabalha ele articulou o graffite do muro e que achou muito massa a proposta da reunião, ele confirma que a forma de se expressar no muro é um bom complemento e pode gerar muita coisa boa na educação de uma criança, mas falou especificamente do graffite.

Vejo os caras das áreas (Goiabeiras) chegar. SATAN, SLOGAN, ZACA, GILLER da D.R e o BORN HX, esse malucos fazem parte da família de pichadores que convivemos no bairro, qualquer jogo que rolar pra um vale pra todos, foi assim na época dos rocks e essa sessão continua sempre que nos reunimos.

A cada avanço dos registros eu pessoalmente fico muito confiante de que a

proposta da pichação, como chegou a mim e ainda chega a muitos jovens que

vivem isso, é de uma agregação de valores positivos muito distantes do discurso

equivocado de muitos intelectuais e autoridades de estado que só analisam a

pichação pela atmosfera da infração as leis de crime ambiental e degradação do

espaço publico, não reconhecem a função social da pichação e suas complexidades,

nem mesmo abre espaço para que seus protagonistas apresentem suas afirmativas,

negativas e positivas impressões sobre a função do Estado e da Academia nesse

diálogo, e isso não chega a me surpreender, pois é reflexo de uma sociedade onde

se valoriza exageradamente a propriedade em comparação ao próprio individuo.

Mas agora o corre é registrar essa nossa época e deixar fluir todas as alterações

positivas resultantes das energias dedicadas a esse trabalho. Esse foi só o nosso

primeiro passo – Risco do Risco

Pros parceiros, tenho a oferecer minha presença. Talvez até confusa mas real e intensa.

Racionais.

Smith e Master - Gratidão pela confiança.

Ficha técnica:

Texto / Fotografia / Diagramação / DesignWesley Nascimento

Jornalista Responsável Ana Calvet

Organização e Articulação da 6ª Mega ReuniãoSmithGallo