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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VITÓRIA - EMESCAM PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO LOCAL ANA CATARINA TAVARES LOUREIRO RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO PACIENTE EM HEMODIÁLISE: a realidade e a política de saúde VITÓRIA 2016

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Page 1: RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO …€¦ · espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da espiritualidade

ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE

VITÓRIA - EMESCAM

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E

DESENVOLVIMENTO LOCAL

ANA CATARINA TAVARES LOUREIRO

RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO PACIENTE

EM HEMODIÁLISE: a realidade e a política de saúde

VITÓRIA

2016

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ANA CATARINA TAVARES LOUREIRO

RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO PACIENTE

EM HEMODIÁLISE: a realidade e a política de saúde

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em

Políticas Públicas e Desenvolvimento Local da Escola

Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de

Vitória - EMESCAM, como requisito parcial para obtenção

do grau de mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento

Local.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Carlota de Rezende Coelho

Coorientador: Prof. Dr. Giancarlo Lucchetti

VITÓRIA

2016

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Dados internacionais de Catalogação -na- Publicação (CIP)

EMESCAM – Biblioteca Central

Loureiro.

L892r Risco de suicídio, espiritualidade e religiosidade no paciente em

hemodiálise: a realidade e a política de saúde. / Ana Catarina Tavares

Loureiro. - 2016.

106f.

Orientador (a): Prof.ª Dr.ª Maria Carlota de Rezende Coelho

Coorientador: Prof. Dr. Giancarlo Luchetti

Dissertação (mestrado) em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local

– Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória,

EMESCAM, 2016.

1. Insuficiência crônica. 2. Espiritualidade. 3. Suicídio. 4. Dialise

renal. I. Coelho, Maria Carlota de Rezende. II. Luchetti, Giancarlo. III.

Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória,

EMESCAM. IV. Título.

CDU: 616.61

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ANA CATARINA TAVARES LOUREIRO

RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO PACIENTE

EM HEMODIÁLISE: a realidade e a política de saúde

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas e

Desenvolvimento Local da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de

Vitória - EMESCAM, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Políticas

Públicas e Desenvolvimento Local.

Aprovada em 06 de dezembro de 2016

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Carlota de Rezende Coelho

Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

- EMESCAM

Orientadora

________________________________________________________ Prof. Dr. Giancarlo Lucchetti

Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF

Coorientador

________________________________________________________

Prof. Dr. Carlos Eduardo Freire Estellita-Lins

Fundação Oswaldo Cruz, ICICT.

_______________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Henrique Borges

Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

- EMESCAM

________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Elda Coelho de Azevedo Bussinguer

Faculdade de Direito de Vitória – FDV

________________________________________________________

Prof. Dr. Valmin Ramos-Silva

Escola Superior De Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

– EMESCAM

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A Edson Rocha Loureiro querido esposo e Marco

Antônio Tavares Loureiro, o melhor fruto desse

amor, grandes incentivadores e parceiros, esteios

de minha caminhada.

A meus pais por terem me permitido a vida.

Page 6: RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO …€¦ · espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da espiritualidade

AGRADECIMENTOS

A Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas.

Aos meus orientadores Profa. Dra. Maria Carlota de Rezende Coelho e Prof. Dr. Giancarlo

Lucchetti pela confiança nas minhas possibilidades e pelos ensinamentos que me

acompanharão por toda vida, vocês se tornaram referências em meu caminho.

Aos professores participantes da banca de qualificação que destinaram tempo para analisar a

proposta de trabalho e fizeram valiosas contribuições.

Aos docentes do mestrado que de formas distintas ajudaram a construir um novo olhar, em

especial ao Prof. Dr. César Albenes de Mendonça Cruz pelo acolhimento do primeiro momento.

A Débora Gáudio Orletti e Felipe Bigesca Coutinho grandes parceiros e incansáveis na coleta

dos dados.

Aos pacientes que aceitaram compartilhar seus sentimentos.

A Alaor Pavesi, Jose Nilton do Amaral Torres e ao Hospital Evangélico de Vila Velha-ES, por

tão gentilmente abrirem as portas para realização das entrevistas com os pacientes.

Aos amigos-irmãos Attílio Provedel e Cristina Alochio pelo incentivo, presença e suporte nas

necessidades.

Aos amigos da Associação Médico-Espírita-ES pela paciência com minhas ausências.

A Jacira Abranches Leite e Altino Valadão Leite pelo apoio e carinho.

A Celestino Bussinguer pela semente plantada, pelo incentivo e pelas memoráveis conversas

que me ajudaram a amadurecer.

A amiga-irmã Carmen Ribeiro Faria Santos, sempre presente.

A Rita Moraes e Inês Caliman Mejia pelas colaborações prestimosas.

A Yára Musiello Barcellos, tão carinhosa e paciente conosco.

A Fabrício Davel Torres, tão parceiro! Sempre me ajudando com as trocas de plantões.

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“Solidários, seremos união. Separados uns dos

outros seremos ponto de vista. Juntos

alcançaremos a realização de nossos propósitos.”

(Adolfo Cavalcante Bezerra de Menezes)

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RESUMO

O objeto do estudo versa sobre o risco de suicídio e o impacto da espiritualidade e religiosidade

em portadores de doença renal crônica submetidos a tratamento de hemodiálise. Os objetivos

foram refletir sobre a espiritualidade e a religiosidade na saúde dos indivíduos; abordar a

espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da

espiritualidade e da religiosidade no risco de suicídio e na saúde mental de pacientes em

hemodiálise. Trata-se de um estudo quantitativo, observacional com caráter descritivo e corte

transversal, realizado em um hospital e duas unidades satélites de hemodiálise na Região

Metropolitana da Grande de Vitória. Participaram do estudo 264 pacientes. Os resultados do

estudo foram semelhantes a outros estudos que mostram que as crenças religiosas e espirituais

estão inversamente associadas ao risco, tentativas e suicídios propriamente ditos nos mais

variados grupos. Concluiu-se que as crenças espirituais estão associadas a menor risco de

suicídio e melhor saúde mental em pacientes em hemodiálise. Fatores relacionados a bem-estar

espiritual como significado, paz e fé estiveram mais associados aos desfechos estudados que o

envolvimento religioso.

Palavras chave: Insuficiência renal crônica. Espiritualidade. Suicídio. Diálise renal. Saúde

mental.

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ABSTRACT

The object of the study is about the risk of suicide and the impact of spirituality and religiosity

in patients with chronic kidney disease undergoing hemodialysis treatment. The objectives were

to reflect on spirituality and religiosity in the health of individuals; addressing spirituality and

religiosity as a suicide protection factor and to evaluate the influence of spirituality and

religiosity in the risk of suicide and mental health of hemodialysis patients. This is a

quantitative, observational study with descriptive and cross-sectional, performed in a hospital

and two hemodialysis satellite units in the metropolitan area of the Great Victory. The study

enrolled 264 patients. The results of the study were similar to other studies that show that

religious and spiritual beliefs are inversely associated with the risk, attempts and actual suicides

in various groups. In conclusion, the spiritual beliefs are associated with lower risk of suicide

and better mental health in hemodialysis patients. Factors related to spiritual well-being as

meaning, peace and faith, were more associated with the studied outcomes that religious

involvement.

Keywords: Chronic renal failure. Spirituality. Suicide. Renal dialysis. Mental health.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Características sociodemográficas...........................................................................51

Tabela 2 - Crenças religiosas e espirituais................................................................................52

Tabela 3-Religiosidade/espiritualidade e risco de suicídio.......................................................54

Tabela 4 - Religiosidade/espiritualidade e depressão...............................................................54

Tabela 5-Religiosidade/espiritualidade e transtorno de ansiedade...........................................55

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LISTA DE SIGLAS

CVV..............Centro de Valorização da Vida

DRC Doença Renal Cr:onica

FACIT Funcional Assessment of Chronic Illiness Therapy

FG Filtração Glomerular

KDOKI Kidney Disease Outcomes Quality Iniciative

MEEM Mini Exame do Estado Mental

MINI Mini International Neuropsychiatric Interview

NKF National Kidney Foundation

OMS..............Organização Mundial da Saúde

PDUREL Portuguese Duke Religion Index

SBN Sociedade Brasileira de Nefrologia

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

TECLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS...........................................................................................12

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................19

3 METODOLOGIA................................................................................................................20

3.1 FONTES DE PESQUISA...................................................................................................20

3.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO............................................................................................21

3.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO...........................................................................................21

3.4 INSTRUMENTOS DE PESQUISA...................................................................................21

3.5 COLETAS DE DADOS.....................................................................................................22

3.6 VARIÁVEIS.......................................................................................................................23

3.6.1 Sociodemográficas.........................................................................................................23

3.6.2 Estado mental.................................................................................................................23

3.6.3 Depressão........................................................................................................................23

3.6.4 Transtorno de ansiedade generalizada........................................................................23

3.6.5 Risco de suicídio.............................................................................................................24

3.6.6 Religiosidade...................................................................................................................24

3.6.7 Espiritualidade...............................................................................................................25

3.7 RISCO.................................................................................................................................25

3.8 BENEFÍCIOS ....................................................................................................................25

3.9. QUESTÕES ÉTICAS........................................................................................................26

3.10 ANÁLISE DOS DADOS..................................................................................................26

3.11 ESTRUTURA DA PESQUISA........................................................................................27

4 CAPÍTULO I - ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE NA SAÚDE DOS

INDIVÍDUOS.....................................................................................................................28

5 CAPÍTILO II - ESPIRITUALIDADE COMO FATOR DE PROTEÇÃO AO

SUICÍDIO...........................................................................................................................38

6 CAPÍTULO III - INFLUÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO

RISCO DE SUICÍDIO E NA SAÚDE MENTAL DE PACIENTES EM

HEMODIÁLISE... .............................................................................................................46

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................60

REFERÊNCIAS......................................................................................................................62

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APÊNDICES...........................................................................................................................71

APÊNDICE A..........................................................................................................................72

APÊNDICE B..........................................................................................................................73

APÊNDICE C..........................................................................................................................74

APÊNDICE D..........................................................................................................................75

ANEXOS..................................................................................................................................76

ANEXO A................................................................................................................................77

ANEXO B................................................................................................................................79

ANEXO C..............................................................................................................................105

ANEXO D..............................................................................................................................106

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A motivação para a realização de um estudo que congrega o diálogo entre a saúde e

espiritualidade emergiu da minha experiência profissional, de vinte e sete anos, associada à

minha crença sobre a relação positiva entre a espiritualidade do indivíduo e a sua saúde.

Enquanto nefrologista observo, no quotidiano da vivência clínica, pacientes sentindo-se

injustiçados pela vida ou mesmo achando que a mesma não vale a pena em virtude das restrições

impostas pela doença e da rotina do tratamento dialítico inserido em seu dia a dia.

O objeto do presente estudo versa sobre o risco de suicídio e o impacto da espiritualidade e

religiosidade em portadores de doença renal crônica submetidos a tratamento de hemodiálise

em serviços de nefrologia, de um hospital de média complexidade e duas unidades satélites de

hemodiálise na Região Metropolitana da Grande Vitória1, Espírito Santo.

O suicídio foi definido por Durkheim 1897, em livro reeditado em 2008 como “Todo o caso de

morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria

vítima, ato que a vítima sabia dever produzir esse resultado” (DURKHEIM, 2008, p. 13).

Em 1846, Marx (2006) escreve um ensaio intitulado Sobre o Suicídio, utilizando como fonte os

escritos compilados por Jacques Peuchet, diretor de arquivo da polícia na França. Portanto,

utilizou a metodologia do estudo de casos para analisar os eventos suicídios relatados Jacques

Peuchet. Marx partiu da “Premissa de que sociedades diferentes geram diferentes produtos”

(MARX, 2006, p. 25). E foi na tentativa de compreender melhor a natureza da sociedade, que

“Marx dirige seu olhar para as angústias da existência humana” (RODRIGUES, 2009, p. 709),

(do interior do indivíduo), colocando em análise questões que nos dias atuais ainda estão

presente em nossa sociedade como as questões da mulher, a opressão familiar, dentre outras

(RODRIGUES, 2009).

Durkheim (2008), por sua vez, lança mão da estatística de suicídio como uma forma de

representação da coletividade e não do pensamento e das emoções individuais. Ao estudar o

1 De acordo com a Lei complementar 204 artigos 2o a Região Metropolitana da Grande Vitória - RMGV,

compreende o espaço territorial conformado pelos Municípios de Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila

Velha e Vitória (ESPÍRITO SANTO, 2001).

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suicídio como fenômeno social, Durkheim (2008) parte do entendimento de que as causas do

suicídio partem da sociedade (do exterior) para o indivíduo.

Ambos analisam o suicídio desprovido de julgamento e deram, cada um a seu modo,

contribuições para compreender o fenômeno suicídio sob o olhar sociológico.

Outros estudiosos analisam o suicídio sob um prisma biológico. Pandey (2008) encontrou em

autópsias de cérebro de adolescentes que tentaram suicídio, redução da expressão do fator

neurotrófico derivado do cérebro (BNDF) no córtex pré-frontal. Paska Zupanc e Pregel (2013)

e Dwivedi (2010), em trabalhos de revisão de literatura, concluíram que os dados descritos das

anormalidades na sinalização de BDNF podem ser considerados um fator de risco biológico na

etiopatogênese do suicídio.

No Brasil, as ações governamentais específicas para prevenção do suicídio são recentes. Em 25

de dezembro de 2005, através da Portaria do Ministério da Saúde 2542/GM, foi criado o grupo

de trabalho para elaboração da Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio composto por

representantes do governo, da sociedade civil e das universidades (BRASIL, 2005).

Em 14 de agosto de 2006, foi assinada a Portaria do Ministério da Saúde 1876, que instituiu as

Diretrizes Nacionais de Prevenção do Suicídio recomendadas para as três esferas

governamentais: federal, estadual e municipal. Essa Portaria determina estratégias para

prevenção e, ao mesmo tempo, desenvolvimento de ações assistenciais, objetivando reduzir o

número de óbitos por suicídio e conscientizar a população na medida em que o tema é debatido

(BRASIL, 2006a).

De 2007 a 2010, a Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, além de

qualificar e ampliar a rede de cuidados de saúde mental do Sistema Único de Saúde (SUS),

articulou suas ações com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para

Prevenção do Suicídio e instituiu parcerias com a Universidade Estadual de Campinas

(UNICAMP), Centro de Valorização da Vida (CVV), prefeitura do Rio de Janeiro e

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Todas essas entidades já faziam parte

do grupo de trabalho da Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio, com o objetivo de

desenvolver atividades de formação e qualificação de profissionais (BRASIL, 2011).

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Entretanto, ainda é grande o número de brasileiros que relata ideação ou tentativa de suicídio

nos estudos científicos. Em um estudo de base populacional conduzido por Botega (2009),

observou-se, entre as 515 pessoas entrevistadas na cidade de Campinas, no estado de São Paulo,

que aproximadamente um quinto dos entrevistados teve ideação suicida ao longo da vida. Neste

estudo, observou-se, na população que apresentou ideação suicida, que houve predominância

do sexo feminino, da faixa etária de 30 a 44 anos e entre aqueles que vivem sozinhos.

As doenças que comprometem seriamente o organismo e, principalmente aquelas de caráter

crônico, dentre elas a doença renal crônica, ocupam lugar de destaque na área da saúde, pois

necessitam de maior atenção por parte dos serviços e dos profissionais de saúde. Para a OMS,

as doenças crônicas estão intimamente relacionadas a prevalência de suicídio

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2000).

A doença renal crônica, embora prevenível e tratável, por si só é potencialmente grave. O

paciente ao receber este diagnóstico, em geral tardiamente, no momento em que a única

terapêutica possível é o tratamento dialítico, sofre grande impacto, principalmente em sua vida

pessoal, pois lida, com transformações súbitas em seu modo de viver, que vão desde mudanças

de hábitos alimentares a obrigatoriedade de submeter-se a hemodiálise, geralmente três vezes

por semana, com duração de quatro horas para cada sessão, ou conectar-se a um equipamento

de diálise peritoneal automatizada todas as noites, ainda que em seu domicílio (BASTOS,

2010).

A National Kidney Foundation (NKF) define a Doença Renal Crônica (DRC) como:

Lesão presente por um período igual ou superior a três meses, definida por

anormalidades estruturais ou funcionais do rim, com ou sem diminuição da Filtração

Glomerular (FG), evidenciada por anormalidades histopatológicas ou de marcadores

de lesão renal, incluindo alterações sanguíneas ou urinárias, ou ainda de exames de

imagem; Filtração Glomerular menor que 60 mL/min/1,73 m2 por um período igual

ou superior a três meses com ou sem lesão renal (NATIONAL KIDNEY

FOUNDATION, 2002, p. 44).

A doença renal é classificada em 05 estágios (NATIONAL KIDNEY FOUNDATION, 2015).

No estágio 01, temos lesão renal com filtração glomerular (FG) normal ou aumentada e, no

estágio 05, uma FG menor que 15 ml/min/1,73 m2. Neste estágio, geralmente, iniciam-se os

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sintomas de uremia, quais sejam: inapetência, náuseas, soluços, perda de peso e é indicado o

tratamento dialítico, como é o caso deste estudo.

A nossa opção por analisar pacientes em hemodiálise, deve-se ao fato de ser a modalidade de

tratamento com maior número de pacientes. Segundo dados epidemiológicos pelo US Renal

Data System 2015, 63.7% dos pacientes com Doença Renal Crônica estágio V recebiam

hemodiálise em dezembro de 2013 nos Estados Unidos (SARAN et al., 2016). Quanto ao Brasil,

de acordo com Sesso et al. (2016), pelo senso de 2014 da Sociedade Brasileira de Nefrologia,

91,4% são submetidos a hemodiálise.

Se de um lado, o tratamento de hemodiálise foi um avanço que contribuiu para a sobrevida dos

portadores de doença renal crônica por outro, também restringiu hábitos de vida e atividades

essenciais à vida social e à a saúde mental.

Dados do World Health Statistics 2016 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2016)

informam que transtornos mentais estão presentes na população mundial e os mais prevalentes

são depressão e ansiedade que atingem em torno de 676 milhões de pessoas, representando uma

em cada dez pessoas no mundo. Apesar disso, a depressão, além de subdiagnosticada, é

considerada a doença psiquiátrica mais comum entre os portadores de doença renal crônica e

está relacionada a fatores que incapacitam o paciente para as atividades de seu cotidiano.

Aproximadamente metade dos pacientes em diálise informam sintomas sugestivos de

depressão, interferindo na não adesão aos tratamentos, no aumento dos índices de suicídio e na

mortalidade por outras causas (ALMEIDA; MELEIRO, 2000).

Nesse contexto, o suicídio e a doença renal crônica são duas importantes questões de saúde

pública. De acordo com a World Health Organiztion (2014), o suicídio representa a segunda

causa de óbitos na faixa etária entre 15 e 29 anos. Os dados mostram, globalmente, 800.000

óbitos por ano, o que equivale a um óbito a cada 40 segundos. Atinge os mais diversos

segmentos da sociedade. Informações do DATASUS têm mostrado, inclusive, um aumento da

prevalência de suicídios na população indígena em nosso país. Machado (2015) encontrou taxa

de 8,6/100.000 no ano 2000 e 14,4 /100.000 no ano de 2012.

Em relação à doença renal crônica, a Sociedade Brasileira de Nefrologia divulgou em seu site

o resultado do Censo 2014, mostrando que os pacientes em hemodiálise apresentaram uma

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prevalência de 552 por milhão de população e, ressalta ainda, que a taxa bruta de mortalidade

presente neste universo gira em torno de 19%. (SESSO et al., 2016).

Estudos recentes afirmam que tanto o suicídio como a doença renal crônica são agravos

passíveis de ações preventivas. Para Bastos, Bregman e Kirsztajn (2010), apesar de a doença

renal crônica ser muito frequente e grave, ela, além de ser tratável, é também prevenível. Da

mesma forma, Fukumitso (2013) considera que o suicídio pode ser prevenido e o luto2,

sobretudo, deve ser acolhido, uma vez que ele pode representar um estágio anterior ao suicídio,

há uma legítima dificuldade de enfrentar uma realidade onde não há nada a fazer ou modificar

(SILVA, 2009).

A OMS considera como fatores protetores do suicídio as crenças culturais e religiosas, sobre o

pressuposto de que estas desestimulam o suicídio e amparam na autopreservação. Dá destaque

também aos líderes espirituais e religiosos como pessoas chaves nesse contexto (WORD

HEALTH ORGANIZATION, 2014).

De fato, a interface entre saúde e espiritualidade/religiosidade tem sido um campo de interesse

de pesquisadores e um crescente número de publicações demonstra que existe uma relação

positiva entre a espiritualidade/religiosidade dos indivíduos e a sua saúde (LUCCHETTI;

LUCCHETTI, 2014).

Koenig (2001, p. 18) nos orienta sobre as diferenças que permeiam questões inerentes à

espiritualidade/religiosidade e a religião:

Espiritualidade é uma busca pessoal pela compreensão das questões últimas acerca da

vida, do seu significado, a da relação com o sagrado e transcendente, podendo ou não

conduzir ou originar rituais religiosos e formação de comunidade. A religião é um

sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos destinados a facilitar a

proximidade com o sagrado e o transcendente3.

De acordo com Almeida (2010), em um estudo com uma amostra probabilística da população

brasileira, com 3007 indivíduos estudados e residentes em 143 cidades, foi identificado um alto

nível de religiosidade na população brasileira, mostrando a importância das crenças na vida do

indivíduo.

2 Luto: Tristeza normal e apropriada em resposta a uma causa imediata. (SIGNIFICADO..., 2014) 3 O significado de transcendente para o autor é Deus, forca superior ou verdade absoluta (KOEING, 2001, p. 18)

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Diversos estudos ainda apontam para uma relação positiva entre religiosidade/espiritualidade e

desfechos clínicos e laboratoriais, observando-se, inclusive, diminuição dos níveis de cortisol

e mortalidade (LUCCHETTI, 2010). No mesmo artigo, outros autores também demonstraram

uma menor reatividade da Pressão Arterial em pacientes com maior religiosidade. Abdala

(2011) em estudo de caso com 9 indivíduos hipertensos que foram submetidos a 11 intervenções

espirituais tipo grupos de estudo, leitura bíblica, orações, concluiu que houve redução média da

pressão arterial sistólica em 80 mmHg e diastólica em 10 mmHg

Em outra publicação de Lucchetti (2010), identifica-se que a espiritualidade e a religiosidade

possuem papel importante para o paciente em tratamento dialítico. O autor demonstra também

a correlação existente entre a espiritualidade e a religiosidade nas relações interpessoais, na

qualidade de vida e no enfrentamento da doença renal crônica.

Reig-Ferrereal (2012), em um estudo com 94 pacientes em tratamento em hemodiálise, relata

uma relação direta entre o grau de espiritualidade, melhor percepção do estado de saúde, maior

sentimento de felicidade na população examinada. Ko et al. (2007), estudando 112 pacientes

que realizavam diálise em uma clínica em Chicago (Estados Unidos), constatou que as crenças

espirituais/religiosas proporcionavam esperança, significado e propósito para vida, além de

uma melhor forma de lidar com a morte.

Huguelet et al. (2007) estudaram 115 pacientes internados em hospital psiquiátrico, com

diagnóstico de esquizofrenia e transtorno esquizo-afetivo, com idade entre 18 e 65 anos que

foram entrevistados por três psiquiatras. Embora os autores não tenham encontrado uma relação

inversa entre tentativas de suicídio e religiosidade/espiritualidade nessa população, ao analisar

os dados na forma qualitativa, detectaram que 25% se referiram a um papel protetor da religião

contra o suicídio.

Rasice et al. (2009) analisaram espiritualidade, religião e comportamento suicida em uma

população de 36.984 pessoas no Canadá, com idade superior a 15 anos, obtendo resposta de

77% da amostra selecionada. Observaram que 63,1% dos entrevistados relataram que valores

espirituais eram importantes e concluíram que a prática religiosa estava associada a menos

tentativa de suicídio nos últimos 12 meses em que o estudo foi realizado, tanto na população

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em geral, como naqueles portadores de transtorno mental, mesmo depois de afastados fatores

como suporte social.

Apesar do grande número de estudos envolvendo a relação entre crenças espirituais e religiosas

e menores prevalências de suicídio, existem poucas pesquisas avaliando a relação entre essas

variáveis em pacientes em hemodiálise. Nos serviços de nefrologia, principalmente no ambiente

da hemodiálise e nos demais ambientes para diagnóstico, coexistem adversidades físicas,

emocionais, tecnologia de ponta e o risco de suicídio nem sempre é considerado. Os pacientes,

em virtude de preconceitos sociais ou até mesmo por crenças religiosas, não compartilham seus

sentimentos e estes podem crescer a um nível de difícil controle.

A relevância do presente estudo se apoia no fato de que se torna importante encontrar meios

para identificar precocemente o risco de suicídio e oferecer ferramentas de suporte para que os

indivíduos consigam conviver com a doença e com a dor frente aos desafios nas diferentes

situações de vida.

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19

2 OBJETIVOS

Refletir sobre a espiritualidade e a religiosidade na saúde dos indivíduos;

Abordar a espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio;

Avaliar a influência da espiritualidade e da religiosidade no risco de suicídio e na saúde mental

de pacientes em hemodiálise.

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20

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo quantitativo, observacional com caráter descritivo e corte transversal.

O estudo foi realizado em um hospital e duas unidades satélites na Região Metropolitana da

Grande de Vitória.

3.1 FONTES DE PESQUISA

As fontes de pesquisa foram de caráter primário e secundário. Quanto ao caráter primário, as

informações foram extraídas dos questionários que foram aplicados nos pacientes cadastrados

nos serviços de hemodiálise eleitos como cenário da pesquisa. O número de participantes foi

calculado com base na prevalência de 21% de risco de suicídio obtida em um estudo prévio em

pacientes dialíticos (CHEN, 2010). Para estimar a prevalência do risco de suicídio na população

de pacientes em hemodiálise, optou-se por determinar a diferença entre a prevalência real e

estimada de até 5%, a um nível de significância de 5% o tamanho amostral foi de 255 pacientes.

Em relação a hipótese de que haveria diferença de risco de suicídio entre pessoas com maior e

menor religiosidade/espiritualidade, optamos por determinar uma diferença de 10% entre os

grupos, aproximadamente 16% para maior religiosidade e 26% para menor religiosidade, com

um poder do teste de 80% e significância de 5% (bicaudal), sendo necessários 259 pacientes.

Considerando possíveis perdas e maior robustez estatística, optamos pelo n amostral de 300

pacientes. Responderam aos questionários 267 pacientes.

As fontes de caráter secundário versam sobre a literatura pertinente ao tema que foram

localizadas nas bases de dados acessíveis por meio de consulta a Biblioteca Virtual em Saúde

(BVS), Medline e outros bancos de artigos que foram necessários.

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3.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Serão incluídos pacientes de ambos os sexos, maiores de 18 anos, portadores de Doença Renal

Crônica estágio 05, em tratamento hemodialítico regular há mais de 3 meses.

3.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos os pacientes que não concordaram em participar e não assinarem o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A), os que foram a óbito antes da entrevista,

apresentavam-se internados, transplantados e os que se encontravam sob guarda judicial por

necessitar de autorização judicial prévia.

3.4 INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Os dados sociodemográficos dos pacientes em estudo foram coletados a partir das informações

que constam na ficha de admissão/identificação que são preenchidas pelos serviços e que ficam

anexadas aos prontuários dos mesmos.

Para avaliação da cognição foi utilizado o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) (ANEXO

A) Trata-se de um instrumento para avaliar a função cognitiva dos entrevistados, de rápida

aplicação, aproximadamente 10 minutos.

Para avaliação do risco de suicídio, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno

depressivo foram utilizadas, seções diagnósticas do Mini International Neuropsychiatric

Interview (M.I.N.I.)4 (ANEXO B), que trata da depressão, ansiedade e risco de suicídio. O

M.I.N.I. é um instrumento que possibilita uma entrevista diagnóstica padronizada, é de

4 Foi utilizado do instrumento completo, apenas os módulos A, C e O. O módulo C analise o risco de suicídio

especificamente o módulo A avalia transtorno depressivo maior e o módulo O transtorno de ansiedade

generalizada, estes dois últimos foram analisados por terem impacto no risco de suicídio.

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aplicação rápida (em média de 15 minutos) e que identifica os principais transtornos

psiquiátricos. Este instrumento foi validado em português por Amorim (2000).

No que tange a espiritualidade e religiosidade, foram utilizados dois instrumentos: um trata-se

do Duke Religion Index (PDUREL) validado em português por Lucchetti (2012) (ANEXO C),

que avalia a religiosidade organizacional, não organizacional e intrínseca do indivíduo e o

outro, se trata da Functional Assessmentof Chronic Illness Therapy Spiritual Well Being

(FACIT-Sp-12) (ANEXO D) traduzido para o idioma português pela Functional Assessmentof

Chronic Illness Therapy e validado por Lucchetti (2013) que avalia a espiritualidade.

3.5 COLETAS DE DADOS

A coleta de dados foi realizada através de uma equipe que foi composta por quatro psicólogos,

sendo que um deles exercia a função de coordenador da equipe com experiência em serviço de

nefrologia tendo sido responsável pelo treinamento da equipe. Os participantes foram

identificados por meio de uma lista fornecida pelas instituições considerando o agendamento

das sessões de hemodiálise e foram abordados durante as sessões. Inicialmente, o pesquisador

lia o termo de consentimento, explicava os objetivos da pesquisa e fazia o convite para

participação. Uma vez concordando, o participante assinava o termo, desde que estivesse

clinicamente estável, era entrevistado. Todo processo de aplicação dos questionários teve uma

duração média de 30 minutos.

3.6 VARIÁVEIS

As variáveis incluídas na análise foram as: sociodemográficas, estado mental, depressão,

transtorno de ansiedade generalizada, risco de suicídio, religiosidade e religiosidade.

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3.6.1 Sociodemográficas

Gênero - classificados como masculino e feminino; idade - classificada por faixa etária ( 15 a

19 anos, de 20 a 24 anos, de 25 a 29 anos, de 30 a 34 anos, de 35 anos a 39 anos, de 40 a 44

anos, de 45 a 49 anos, de 50 a 54 anos, de 55 a 59 anos,de 60 a 64 anos, de 65 anos a 70 anos e

mais de 70 anos); escolaridade – classificada pelo grau de instrução: analfabeto, um a quatro

anos de estudo, cinco a oito anos de estudo, nove a onze anos de estudo e com mais de onze

anos de estudo e estado civil – classificado em: casado, união estável, separado, viúvo ou

solteiro. Esses dados foram adquiridos dos registros contidos nos prontuários dos pacientes,

assim como a data do início da terapia dialítica.

3.6.2 Estado mental

A função cognitiva foi verificada pela aplicação do Mini Exame do Estado Mental (MEEM);

utilizamos o escore de Betolucci (1994) que foi considerado como ponto de corte: treze pontos

para os pacientes analfabetos; dezoito pontos para aqueles com baixa e média escolaridade e

vinte e seis pontos para aqueles com alta escolaridade.

3.6.3 Depressão

A existência de transtorno depressivo foi considerada após analisados os dados obtidos pelas

respostas a seção diagnóstica do MINI (Mini International Neuropsychiatric Interview) parte

A, se respondidos sim as questões A1 e A2 ou pelo menos três respostas sim em A3 ou A4 caso

A1 ou A2, as respostas tenham sido não (AMORIM, 2000).

3.6.4 Transtorno de ansiedade generalizada

A existência do transtorno de ansiedade generalizada foi considerada após analisados os

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dados obtidos pelas respostas a seção diagnóstica MINI (Mini International Neuropsychiatric

Interview) parte O, se obteve como sim as questões O1 e O2, ou pelo menos três respostas sim

em O3 (AMORIM, 2000).

.

3.6.5 Risco de suicídio

A existência de risco de suicídio foi considerada após analisados os dados obtidos pelas

respostas a seção diagnóstica do MINI (Mini International Neuropsychiatric Interview) parte

C, foi considerado um baixo risco de suicídio atual se obteve um máximo de cinco pontos; risco

moderado de seis a nove pontos e risco alto se obtive dez pontos ou mais (AMORIM, 2000).

3.6.6 Religiosidade

Para avaliar religiosidade foi utilizado Duke Religion Index (PDUREL), em que se avalia a

religiosidade organizacional, não organizacional e intrínseca. A organizacional envolve

atividades religiosas públicas ou participação em grupos de atividade religiosa tipo prece ou

estudo bíblico; na religiosidade não organizacional as atividades de prece e ou estudo são de

cunho privado. Na religiosidade intrínseca o indivíduo se vincula a uma religião com um fim

útil em si, sendo mais comprometido e motivado. Em contrapartida, na religiosidade extrínseca

o indivíduo a utiliza como um meio para fins de autopromoção como: sucesso financeiro, status

social, conforto, ou ainda como uma atividade social (KOENIG, 2010).

A religiosidade organizacional é considerada na questão número um sendo categorizada em

mais do que uma vez por semana, uma vez por semana, duas a três vezes por mês, algumas

vezes por ano; uma vez por ano, ou menos e nunca. A religiosidade não organizacional é

considerada na questão dois categorizada em: mais do que uma vez ao dia, diariamente, duas

ou mais vezes por semana, uma vez por semana, poucas vezes no mês, raramente ou nunca. A

religiosidade intrínseca é considerada nas questões três, quatro e cinco categorizadas por:

totalmente verdade para mim, em geral é verdade, não estou certo, em geral não é verdade, e

não é verdade (KOENIG, 2010).

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3.6.7 Espiritualidade

Para espiritualidade foi utilizada a Functional Assessment of Chronic Illness Therapy Spiritual

Well Being (FACIT-Sp-12), versão 4; nas questões de um a nove foram analisados sentimentos

de paz e significado para a vida e nas questões de dez a doze foi analisada a intensidade da fé.

Todas as questões são categorizadas por: nem um pouco, um pouco, mais ou menos, muito e

muitíssimo e equivalem aos numerais: zero, um, dois, três e quatro respectivamente.

(LUCCHETTI, 2013)

3.7 RISCO

Os riscos no desenvolvimento da pesquisa são mínimos, pois de acordo com a Organização

Mundial da Saúde (2000, p. 12 “Perguntar sobre suicídio frequentemente reduz a ansiedade a

respeito deste tema, uma vez que o paciente pode sentir-se aliviado e melhor compreendido. ”

Os pacientes identificados como portadores de risco de suicídio foram encaminhados para

acompanhamento psiquiátrico e psicológico.

3.8 BENEFÍCIOS

Ampliar conhecimento na área por meio de publicações. Contribuir com informações sobre um

tema que é relativamente pouco pesquisado no Brasil. Ampliar a compreensão desta complexa

patologia e suas repercussões na vida dos pacientes e contribuir para o melhor entendimento

sobre os temas em estudo, não só para a população em geral, mas também para aqueles que se

dedicam a formulação de políticas públicas de prevenção ao suicídio.

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3.9 QUESTÕES ÉTICAS

A pesquisa foi realizada após assinatura do Termo de Autorização Institucional (APÊNDICE

B, C e D), pelas instituições que foram cenário do estudo.

O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de

Misericórdia de Vitória sob parecer número 1.250.626 e os pacientes assinaram um Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A).

3.10 ANÁLISE DOS DADOS

A análise estatística procedeu da seguinte forma. Primeiro, foi realizada uma análise descritiva

por meio de utilização de frequência absoluta e relativa, média e desvio padrão. Depois, foi

realizada uma análise inferencial com o objetivo de verificar se as crenças religiosas e

espirituais por meio dos resultados das escalas de PDUREL e FACIT-Sp 12 estariam associadas

ao risco de suicídio e transtornos psiquiátricos.

Para isso, foram realizados três modelos de regressão logística dicotômicas, tendo como

variáveis dependentes (presença ou ausência de risco de suicídio, presença ou ausência de

depressão e presença ou ausência de ansiedade) e variáveis independentes (religiosidade

organizacional, não organizacional e intrínseca, paz, significado e fé). Os modelos foram

avaliados sem ajuste, assim como ajustados para variáveis sociodemográficas e cognição –

modelo 1 (Gênero, idade, escolaridade, tempo em diálise, alteração cognitiva) e, no caso do

risco de suicídio, também para variáveis neuropsiquiátricas – modelo 2 (depressão e ansiedade).

Foi obedecida a regra de, pelo menos, 20 casos por preditor, a qualidade dos modelos foi

verificada através do teste de Hosmer-Lemeshow e a multicolinearidade foi verificada mediante

verificação da tolerância e VIF.

As análises foram realizadas no programa SPSS 21.0 (SPSS Inc.) e foi adotado p<0.05 como

estatisticamente significante.

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3.11 ESTRUTURA DA PESQUISA

A pesquisa foi estruturada em três capítulos. No primeiro, a ênfase se deu na avaliação da

espiritualidade/religiosidade na saúde dos indivíduos. Encaminhado para publicação em forma

de ensaio sob o título: Espiritualidade/religiosidade na saúde dos indivíduos.

No segundo capítulo, foi abordada a espiritualidade como fator de proteção do suicídio – o

mesmo já foi publicado sob a forma de artigo na Revista Brasileira de Psicologia, ISSN 2319-

0361. Salvador, Bahia, v.2, n.2, p. 33-40, 2015.

No terceiro capítulo, foi abordada a influência da espiritualidade e religiosidade no risco de

suicídio e na saúde mental de pacientes em hemodiálise. Encaminhado para publicação sob a

forma artigo.

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4 CAPÍTULO I - ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE NA SAÚDE DOS

INDIVÍDUOS

RESUMO

O objetivo deste ensaio é refletir sobre o papel da espiritualidade na saúde dos indivíduos.

Estudos apontam para uma correlação positiva entre religiosidade/espiritualidade e saúde:

redução da pressão arterial, melhor controle do Diabete Mellitus tipo II, menos ansiedade e

depressão. Espiritualidade e prática clínica não são excludentes por si só.

INTRODUÇÃO

Compreender a espiritualidade tem sido um desafio e uma busca para a maioria dos pensadores

na tentativa de desvencilhar-se de uma visão reducionista do Homem. Esse ser que ocupa o

topo da escala animal é de uma riqueza ímpar, porém muitas vezes incompreensível, com várias

dimensões a serem consideradas. De acordo com Röhr (2011), existem cinco dimensões básicas

categorizadas, tais como: física, sensorial, emocional, mental e espiritual. O mesmo autor, sob

um olhar filosófico-antropológico, julga ser a espiritualidade parte fundamental e perene da

humanização do ser humano por ser inerente ao Homem, consequentemente não é

exclusividade dos estudos teológicos como muitas é vezes entendida no bojo da sociedade

contemporânea.

A procura de uma compreensão mais ampla do ser humano não pode excluir a espiritualidade,

esse aspecto que chega a ser vital em si mesmo. De acordo com Rörh (2011), criar um

distanciamento intransponível entre a espiritualidade e as demais dimensões gera um

misticismo falso e nocivo à formação humana. Distanciar seria fragmentar aquele que está à

procura da harmonia e da integralidade, induzindo-o a análise das partes sem considerar a

compreensão do inteiro que somos todos nós.

Para Siqueira (2008), na espiritualidade constata-se um movimento em que novos significados,

autoridades, competências encontram-se em processo de legitimação.

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Esse reconhecimento estimula a busca, o que fertiliza o conhecimento com novos estudos, por

vezes complexos e desafiadores. Nesse caminho, procura-se metodologia adequada, e discute-

se sua importância no intuito de alicerçar um saber em bases sólidas e válidas no meio científico.

Nesse contexto, cabe salientar que as pesquisas qualitativas são necessárias, uma vez que, por

meio destas, podemos melhor compreender e interpretar as razões que levam o indivíduo em

direção a sua transcendência, pois os relatos nos fornecem informações que nem sempre ficam

claras em questionários. Ingressando nesse aspecto, podemos encontrar uma forma de melhor

adequar a prática clínica às necessidades dos pacientes.

Ademais, observamos uma escassez desse tema na graduação do profissional de saúde,

dificultando a prática de um olhar menos reducionista e fragmentado, o que leva o profissional

a uma visão biologizante do ser humano. Nesse sentido, é importante e urgente a inserção de

disciplinas com esse conteúdo na formação desse profissional.

PARA ALÉM DO CORPO FÍSICO

Existem instigantes desafios em curso nesse campo do conhecimento. Alguns pensadores,

(Ribeiro, 2014; Calvani,2014) têm refletido a respeito do que nomeiam de “espiritualidade não

religiosa”, uma linha relativamente nova nesse contexto, que vai muito além de modelos

institucionais, rótulos e dogmas eclesiásticos milenares. Ribeiro (2014) considera que:

[...] espiritualidade não religiosa é a que se ocupa exclusivamente dos processos de

ultrapassamento do humano. Falar em espiritualidade não religiosa é ocupar-se da

formação do caráter, de uma educação que talha e disciplina a vontade, falar de uma

orientação dos sentidos que torna o ser humano um animal qualificado. (RIBEIRO,

2014 p.657)

O início do elo entre espiritualidade e saúde se perde no evo. Encontramos na Mesopotâmia os

primeiros registros da civilização, nos quais se verificam uma estreita associação entre

adoecimento e pecado que deixavam os deuses aborrecidos. O médico era reconhecido como

uma autoridade e convidado a comparecer aos palácios para tratar de agravos já diagnosticados

pelo bâru, o adivinho, usava, inclusive, fórmulas consideradas mágicas. No Egito, também

nessa época, o médico era membro da classe dos sacerdotes, portanto, um representante do

sagrado (Melo,1989).

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Com o translado do centro cultural do Egito para a Grécia, no milênio que precedeu a Era Cristã,

ocorreram os primeiros ensaios de uma arte médica mais racional e é nesse período que se situa

Hipócrates, considerado o Pai da Medicina. (Melo,1989)

Entretanto, apesar da racionalidade proposta por Hipócrates, a relação espiritualidade-saúde

continuou a percorrer, durante séculos, um caminho que buscava a explicação e a cura das

doenças, não conseguindo desvencilhar-se dos mitos e crendices.

Esse período é sucedido por uma fase de relativa descrença. No entanto, no início do século

passado, em 1910, o Dr. William Osler (1910), médico nascido no Canadá e um dos fundadores

do Johns Hopkins Hospital, escreveu um artigo intitulado A fé que cura, publicado no British

Medical Journal. A credibilidade do autor e do periódico, não foi suficiente para estimular a

comunidade científica a pesquisar e dar visibilidade ao tema. Após 1910, segue-se um grande

período de silêncio com escassas publicações. Na segunda metade do século XX, as pesquisas

sobre o tema começaram a surgir e a relação espiritualidade e saúde saiu do descrédito para

tornar-se objeto de estudos, buscando ampliar o entendimento dessa relação tão antiga e

incitante.

Atualmente, o papel da espiritualidade na saúde dos indivíduos tem sido objeto de trabalho em

vários centros de pesquisas que buscam compreender se há relação entre elas, como essa relação

se processa. Considerando a escassez de publicações sobre o tema na primeira metade do século

XX, fica evidente que esse interesse nem sempre foi o propósito central da comunidade

científica, quer por desconhecimento quer por receio de ser um conhecimento considerado

místico ou anticientífico.

Contudo, essa postura é compreensível na atualidade em virtude do ineditismo do tema para a

época. Moreira-Almeida, (2007) nos conduz a reflexão ao asseverar que nesse campo “é fácil

deslizar, por um lado, para um ceticismo intolerante e uma negação dogmática ou, por outro,

para uma aceitação ingênua de afirmações pouco fundamentadas”. Reflexões como essa são

convites para sairmos da zona de conforto, da suposição e ir à busca de evidências.

O padrão cientificamente pautado no paradigma racional da modernidade é aquele que procura

respostas pavimentadas em experimentos bem conduzidos, metodologicamente adequados.

Inegavelmente, estamos diante de um campo do conhecimento que cresceu muito nos últimos

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trinta anos e está explorando uma fronteira que, às vezes, pode parecer tênue e busca as

evidências do mecanismo de ação. Suas características, limites éticos, o impacto nas diversas

culturas e na qualidade de vida, o papel nas políticas de saúde, importância para o paciente,

conceitos apropriados, dentre outros. Como fundamentam os cânones da modernidade, o

pesquisador deve estar isento de sua crença, buscando alicerçar-se do conhecimento de base

científica.

As bases de dados dispõem de uma multiplicidade de publicações que apontam para uma

relação positiva entre religiosidade/espiritualidade e saúde, em desfechos clínicos e

laboratoriais. Alguns trabalhos analisaram sobrevida, resposta imunológica, níveis de pressão

arterial, aderência a tratamentos, capacidade de enfrentamento diante das adversidades, dentre

outros.

A definição de espiritualidade, por ser tema relativamente novo de estudo sistemático, ainda

não é única. De acordo com Saad, Masiero e Battistella (2001, p. 108). ”É um sentimento

pessoal, que estimula um interesse pelos outros e por si, um sentido de significado da vida capaz

de fazer suportar sentimentos debilitantes de culpa, raiva e ansiedade”. Lucchese (2013 p. 105)

considera espiritualidade como “Sentimento pessoal dos indivíduos em busca de sentido para

suas vidas, muitas vezes, livre de regras, regulamentos e responsabilidades associados com a

religião”. Koenig (2001), um dos percussores nessa área, ao pesquisar as correlações entre

espiritualidade e saúde, discorre sobre as diferenças que permeiam questões inerentes à

espiritualidade/religiosidade e a religião:

Espiritualidade é uma busca pessoal pela compreensão das questões últimas acerca da

vida, do seu significado, a da relação com o sagrado e transcendente, podendo ou não

conduzir ou originar rituais religiosos e formação de comunidade. A religião é um

sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos destinados a facilitar a

proximidade com o sagrado e o transcendente5 (KOENIG, 2001, p.18).

Ainda que integralmente não compreendida do ponto de vista epistemológico, a espiritualidade

ocupa um espaço significativo na vida das pessoas, haja vista o que demonstra um estudo de

corte transversal conduzido por Borges et al., (2013), entre junho de 2010 e maio de 2011,

envolvendo 12 universidades brasileiras, e que teve como objetivo compreender quais são os

conceitos de espiritualidade trazidos pelos estudantes de medicina e sua relação com a

5 O significado de transcendente para o autor é Deus, forca superior ou verdade absoluta (KOEING, 2001, p. 18)

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religiosidade. A pesquisa mostrou que não existe igualdade no conceito de espiritualidade,

embora as diferentes dimensões de religiosidade moldaram a forma de entender o campo de

saúde e espiritualidade, levando os autores a tecer considerações a respeito da importância de

ampliar a discussão sobre o assunto.

O anseio do paciente para que essa temática esteja inserida no contexto do tratamento clínico

também é demonstrado em trabalho conduzido por Ehman (1999, p. 1804). O pesquisador

entrevistou 177 pacientes ambulatoriais, perguntando-lhes: “Suas crenças espirituais ou

religiosas poderiam influenciar suas decisões médicas se você se tornar gravemente doente”?

Para 66% dos pacientes a pergunta dos médicos sobre suas crenças, aumentaria a confiança no

médico, 63% acham que os médicos deveriam conversar sobre fé e para 84% deles a religião é

importante.

De fato, a interface entre saúde e espiritualidade/religiosidade tem sido um campo de interesse

de pesquisadores e um crescente número de publicações demonstra que existe uma relação

positiva entre a espiritualidade/religiosidade dos indivíduos e a sua saúde (LUCCHETTI;

LUCCHETTI, 2014).

Puchalski (2001, p. 353) pondera que a “Espiritualidade pode ser um elemento importante na

forma como os pacientes enfrentam a doença crônica, sofrimento e perda”, recomendando aos

médicos inserir espiritualidade nos cuidados dos pacientes. Essa postura com o enfermo, como

tudo que permeia a relação médico-paciente, está sujeita a limites impostos pela ética, pelo o

respeito à individualidade e pelas crenças do sujeito à frente do cuidador. O enfermo anseia por

um atendimento mais humanizado dentro de um aparato tecnológico muitas vezes não

entendido por ele que se encontra fragilizado, física e emocionalmente, pelo processo que

envolve o seu adoecimento. Essa inclusão fortalece o elo entre os atores envolvidos e abre um

caminho gratificante para ambos.

Tendo em vista o crescente número de publicações envolvendo o tema saúde e espiritualidade,

Guimarães e Avezum (2007, p. 89) realizaram um estudo de revisão descritiva que buscava “O

papel da espiritualidade e religiosidade em diversos campos da prática clínica diária”, cujos

artigos selecionados incluíam intervenções terapêuticas e revisões sistemáticas. Concluem os

autores Guimarães e Avezum (2007, p. 93), a partir deste levantamento bibliográfico, que

“Religiosidade/espiritualidade tem demonstrado potencial impacto sobre a saúde física,

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definindo-se como possível fator de prevenção ao desenvolvimento de doenças na população

previamente sadia”.

Diversos estudos ainda apontam para uma relação sinérgica entre religiosidade/espiritualidade

e desfechos clínicos e laboratoriais, observando-se inclusive diminuição dos níveis de cortisol

e mortalidade (LUCCHETTI et al, 2010). Neste mesmo artigo, os autores também

demonstraram uma menor reatividade da pressão arterial em pacientes com maior religiosidade.

Ademais, Bonelli e Koenig (2013), em uma revisão sistemática relataram que em 72% dos

estudos analisados encontraram relação positiva entre religiosidade e saúde mental; em apenas

5% encontraram correlação negativa. Já Dalgalarrondo (2007) ao analisar estudos relevantes

publicados sobre saúde mental e religião constata que a busca para alívio do sofrimento, por

meio da presença do religioso, é demonstrada em vários deles.

As pesquisas que associam saúde e espiritualidade seguem uma linha ascendente na busca de

dados relevantes e fidedignos, integrando-os com o universo no qual está inserido o sujeito

participante de estudo. Nesse contexto encontramos análises populacionais como a de Moreira-

Almeida (2010), que apresentou dados de uma amostra probabilística da população brasileira,

com 3007 indivíduos residentes em 143 cidades, e identificou alto nível de religiosidade em

nossa população, mostrando a importância das crenças na vida dos indivíduos. Spurr (2012)

entrevistou 280 adolescentes na faixa etária de 16 a 20 anos, 53% dos respondentes relataram

que a espiritualidade era um importante recurso além de ter influência em seu bem-estar.

Edman et al (2014), num estudo de coorte realizou entrevistas por meio de um site de medicina

integrativa com 3940 pacientes. Destes, 353 se identificaram como sendo portadores de câncer

e foram comparados com aqueles que não tinham câncer conforme estudo do The Brave Net

Registry Study. Nesse trabalho, 52,4% dos portadores de patologia neoplásica informaram que

procuraram para tratamento de sua doença um ambiente que incluísse a espiritualidade como

parte dos cuidados clínicos. Transtorno depressivo, Alzheimer e frequência a serviços religiosos

também foram analisados.

Essa demanda por terapia complementar religiosa no curso de doenças, tem se mostrado

cosmopolita e também foi observada no Brasil. Luchetti (2013) analisou perfil do tratamento

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religioso efetuado nos centros espíritas da cidade de São Paulo. As 55 instituições respondentes

informaram realizar, em média, atendimentos a 261 pessoas por semana, o que equivale a

aproximadamente 15.000 atendimentos ao mês. 45% das instituições relataram ser a depressão

a causa da procura e 43% relataram como causa da busca de assistência espiritual o câncer,

depressão através de vias diretas e indiretas. Moritz et al (2011), em um trabalho qualitativo,

observaram 15 pacientes com depressão submetidos a um programa de treinamento em

espiritualidade e verificaram que estes apresentaram mudanças nos pensamentos negativos,

melhora de humor, assim como diminuição na intensidade dos sentimentos de ansiedade e

depressão. Importante salientar que o transtorno depressivo é considerado pela OMS

(MARCUS, 2012) como um transtorno incapacitante, recorrente e que atinge em torno de 350

milhões de pessoas em todo o mundo. O estudo multicêntrico The World Mental Health Survey

informa que uma em cada vinte pessoas apresentaram um episódio depressivo no ano anterior

ao da entrevista (MARCUS, 2012).

O impacto da prática religiosa e cuidados foi analisado em pacientes portadores de Diabetes

Mellitus tipo II por Watkins et al (2013), que estudaram 132 pacientes afro-americanos. Trata-

se de um trabalho de corte transversal que procurou as inter-relações entre práticas espirituais

e religiosas, apoio social e autocuidados. Concluíram que os autocuidados podem ser de melhor

qualidade se a espiritualidade for incluída no plano de tratamento do Diabetes Mellitus.

Hipertensão arterial também foi observada no âmbito das pesquisas. Abdala (2011), em um

estudo de intervenção com nove pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica,

observou uma redução média de 80 mm Hg na pressão arterial sistólica e 10 mmHg na pressão

arterial diastólica após atividades espirituais.

Da mesma forma, KO et al. (2007), estudando 112 pacientes que realizavam diálise em uma

clínica em Chicago (USA), constatou que as crenças espirituais/religiosas proporcionavam

esperança, significado e propósito para vida, além de uma melhor forma de lidar com a morte.

Sabemos que essa população muitas vezes permanece anos a espera de um transplante, doador

falecido, por não ser possível transplante intervivos. Como prosseguir com a hemodiálise se

não há objetivo para a vida e nem sempre é possível ter esperança?

Atualmente, cada vez mais reconhecida como fator de proteção à saúde, a espiritualidade é

recomendada em trabalhos como o INTERHEART, um estudo de base populacional que

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35

analisou uma coorte com aproximadamente 27.000 indivíduos, em 52 países dos cinco

continentes, e que foi desenhado para avaliar os fatores de risco para doença arterial

coronariana. Nos seus resultados constam recomendações para valorizar a religiosidade e a

busca por orientação espiritual como fator de proteção (YUSUF et al., 2004).

Em nível global, observamos alguns avanços na inclusão de práticas espirituais como terapia

complementar. A OMS elaborou um documento (WORLD HEALTH ORGANIZATION,

2002) intitulado: Estratégias de Medicina Tradicional (MT), no qual a terapia espiritual é

incluída como parte do arsenal terapêutico da MT. Em 2013, na reedição desse importante

trabalho, a terapia espiritual permaneceu reconhecida (WORLD HEALTH ORGANIZATION,

2013).

No Brasil, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) em seu artigo 5º, inciso, VI assegura o

direito a assistência religiosa aos pacientes internados em instituições civis ou militares. No

artigo 198 inciso II preconiza o atendimento integral as pessoas como parte das ações dos

serviços públicos de saúde. A Lei 9.992 (BRASIL, 2000) regulamenta o acesso a todos os

religiosos, desde que respeitadas às normas institucionais, a todos os hospitais públicos ou

privados, bem como aos estabelecimentos prisionais civis ou militares.

A Lei 8080, sancionada em 1990, (BRASIL, 1990), que regulamenta as ações e serviços de

saúde, em seu artigo 7o, discorre sobre os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde

(SUS). No inciso II deste artigo, encontramos a recomendação de integralidade na assistência

à saúde que é definida como: ”Conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos

e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade

do sistema”.

González e Alemida (2010) e Pinheiro (2007) consideram a integralidade como eixo que deve

nortear as políticas de saúde. Nesse caso teríamos acesso a um atendimento eficaz, efetivo e

eficiente, fruto de uma construção coletiva realizada em defesa da vida, expressando os

diferentes protagonistas envolvidos nos cuidados em saúde.

A lei orgânica da saúde, no 8080, em seu artigo 3o, parágrafo único, menciona como parte

integrante da saúde, as ações que asseguram às pessoas e à sociedade “Condições de bem-estar

físico mental e social.” Em sintonia com o conceito de saúde elaborado pela OMS. Apesar

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36

disso, na portaria de nº 971 (BRASIL, 2006b), que aprova a Política Nacional de Práticas

Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde, não consta qualquer menção as

terapias espirituais, embora faça referência ao documento elaborado pela OMS em 2002, no

qual essa modalidade de terapia é citada.

Castilho e Cardoso (2015) analisaram a presença dos vocábulos espiritualidade, religiosidade

e religião nas políticas de saúde registradas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) com um

olhar voltado para integralidade. Das 67 políticas identificadas, 65 estavam disponíveis e nelas

não encontraram os termos presentes de forma significativa. Concluem as autoras Castilho e

Cardoso (2015, p. 35) que “Os resultados do estudo apontam para uma abordagem ainda

limitada e pouco consistente sobre como o cuidado em saúde se relaciona com esta temática”.

Embora com muitos estudos comprobatórios, a medicina ocidental ainda apresenta posturas

céticas ora negligenciando, ora fazendo oposição ostensiva por considerar uma evidência de

psicopatologia e, às vezes, assumindo uma postura de aceitação, que deve ser incluída no

cuidado integral do paciente (BORGES et al., 2013).

Exercer essa atividade no dia a dia do profissional requer apropriar-se desse conhecimento.

Existem questionários validados em diversos idiomas, inclusive em português, estruturados,

disponíveis, como por exemplo, PDUREL (LUCCHETTI, 2012) e FACIT (LUCCHETTI,

2013), para aqueles que preferem fazer uma abordagem de forma direta. O trabalho etnográfico

de Sinclair et al. (2012), estudo canadense que observou profissionais de diversas categorias

em uma unidade de cuidados paliativos, sugere serem necessárias cinco habilidades para

integrar espiritualidade na atenção ao paciente: ouvir atenta e intuitivamente, olhar com a alma

demonstrando que a pessoa é o centro dos cuidados, utilizar o tato (segurar a mão do paciente

ou tocar levemente o seu ombro), falar com sabedoria e acima de tudo estar com o paciente.

A inclusão da espiritualidade na prática clínica não tem sido tarefa fácil, quer pelo

desconhecimento de sua importância quer pelo não saber fazer, em virtude de uma formação

acadêmica deficitária nessa área, apesar de toda gama de publicações existentes que evidenciam

seu valor. Associe-se a isso uma política de saúde incipiente nesse aspecto e desconhecida dos

profissionais da saúde.

Page 39: RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO …€¦ · espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da espiritualidade

37

CONCLUSÃO

Embora não reconhecida em sua totalidade, a espiritualidade dos indivíduos tem se mostrado

um importante fator que contribui para o bem-estar e promoção da saúde.

Contudo, introduzir a espiritualidade no exercício profissional é um grande desafio a ser

vencido pelos que militam na área da saúde, tendo em vista, que na atualidade, os profissionais

estão imersos num aparato que inclui tecnologia e exigências para o cumprimento de metas,

sem uma política clara de inclusão de terapias espirituais nas práticas integrativas e

complementares. Esse fato dificulta o espaço para olhar o indivíduo na sua integralidade, o que

o reduz a um corpo biológico que é visto apenas como uma máquina necessitada de reparos. É

urgente e necessária a mudança de paradigma: o profissional na sua função mor de promoção

de saúde precisa estar cônscio de que espiritualidade e prática clínica não são mutuamente

excludentes e o paciente é o ator principal nessa relação.

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38

5 CAPÍTILO II - ESPIRITUALIDADE COMO FATOR DE PROTEÇÃO AO

SUICÍDIO

O objetivo do texto foi fazer uma reflexão, a partir da literatura, sobre a espiritualidade como

fator de proteção ao suicídio.

O termo suicídio é de origem latina, cujo significado se mantém relacionado à auto eliminação,

à autodestruição, ao autoassasinato e ao auto homicídio (VENCO; BARRETO, 2010). O

suicídio, também foi bem definido por Durkheim (2008, p. 15) como, “Todo o caso de morte

que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima,

ato que a vítima sabia dever produzir esse resultado”.

De acordo com Neves (2010) o termo teria sido utilizado pela primeira vez na obra Religio

Medici escrita por Sir Thomas Browne, datada de 1643 e citado pela primeira vez, na França

pelo abade Prévost, no ano de 1734. Ao longo da história o suicídio foi visto de diferentes

formas; na Grécia antiga o ato era tolerado se o indivíduo apresentasse boas razões para não

mais viver (VENCO; BARRETO, 2010), caso contrário não tinha autorização do estado.

Neves (2010) diz que o suicídio esteve sempre presente na humanidade, uma vez que foram

encontradas evidências de sua prática nos povos pré-históricos. No antigo Egito existia a

Academia de Sinapotumenos, vocábulo de origem grega que significa matar juntos, onde

segundo registros eram estimulados os suicídios em grupo. Há relatos de suicídios coletivos

narrados por Flávio Josefo e segundo Rocha (2004), estes eram atos que ocorriam em situações

limítrofes como: doenças incuráveis, assédio do inimigo, perda da liberdade e arrependimento

por atrocidades praticadas. O episódio do monte Massada – o último reduto judaico na guerra

contra os romanos, onde os sicários liderados por Eleazar bem Yair praticaram um suicídio

coletivo envolvendo 960 judeus, narrado por Flávio Josefo é questionado por pesquisadores

arqueólogos, com base em evidências da disposição dos esqueletos e alguns materiais como

pelo de cabra, lã e algodão que foram encontrados nas proximidades.

Ora permitido, ora condenado nas diversas culturas o suicídio passa a ser considerado crime a

partir do Concílio de Arles no ano 425 e recebe sanção penal no concílio de Praga, no ano 563,

sendo determinado que “Os suicidas não seriam honrados com nenhuma comemoração do santo

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sacrifício da missa e que o cântico dos salmos não acompanharia o seu corpo na descida ao

túmulo” (Durkheim, 1987, p. 326).

Até o século XIX (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2000) o suicídio não havia

recebido um tratamento adequado por parte da comunidade científica. A partir de Jean-Étienne

Dominique Esquirol, na psiquiatria, e Émile Durkheim, na sociologia, o ato suicida passa a

receber uma abordagem mais técnica, tentando-se compreender o significado e a dor daqueles

que enveredavam por esse caminho. Essa procura prossegue até a contemporaneidade e, apesar

da ampliação do conhecimento, os estudiosos ainda não chegaram a um consenso quanto às

suas causas. De acordo com a OMS, essa atitude é realmente multidimensional e pode ter como

pano de fundo os transtornos mentais como a esquizofrenia, a depressão, o uso de álcool e as

drogas, doenças físicas, fatores sociais, ambientais e biológicos, o que torna difícil, na análise

do suicídio, identificar onde se inicia um e termina outro e qual é o preponderante

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2000).

FATORES SOCIAIS E SUICÍDIO

De acordo com Bariani Junior (2014), a contemporaneidade caracteriza-se, entre outros

aspectos, pela grande insatisfação dos indivíduos com as condições de existência que podem

advir, não só pela ausência de condições básicas observada em alguns segmentos, mas também

em virtude da volúpia por direitos/privilégios, o que pode desencadear nos indivíduos

sentimentos de desilusão e desapontamento e consequente perda do sentido de viver. Além

disso, “Fatores sociais, como a fácil disponibilidade de meios para cometer o suicídio, e eventos

de vida estressantes, podem ter um papel significativo no aumento do risco de suicídio.”

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2000, p. 11). Conforme Souza (2010) o suicídio

é mais frequente nos períodos de crises socioeconômicas, individuais e familiares, tais como a

perda de relacionamento afetivo.

Um número da revista Isto É, em 2012, trouxe uma reflexão sobre a crise econômica que

devastou a Europa no final do século XX e início do século XXI e que foi também, agravada

por uma elevação acentuada dos índices de suicídio. De acordo com Barboza (2012) de janeiro

a julho de 2012, cerca de 80 pessoas suicidaram-se na Itália tendo como pano de fundo a crise

econômica. Na Grécia a partir de 2009 dobrou o número de óbitos e tentativas de suicídio em

virtude da crise. No Brasil, Ceccon et al. (2014) ao analisar as taxas de suicídio em seis capitais

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40

encontrou relação estatisticamente significativa entre suicídio e trabalhadores que recebem

menos de um salário mínimo na cidade de São Paulo e desemprego e suicídio na cidade do Rio

de Janeiro.

EPIDEMIOLOGIA DO SUICÍDIO E ASPECTOS PREVENTIVOS DO AGRAVO

A OMS informa em números absolutos 804.000 casos de suicídios por ano no mundo,

representando uma taxa anual global de 11,4 por 100.000 habitantes, sendo 15.0 para homens

e 8.0 para mulheres o que corresponde uma morte a cada 40 segundos. Em 2006, o suicídio era

uma das dez maiores causas de morte nos países em geral e, na faixa etária dos 15 aos 35 anos

estava entre as três maiores causas de morte. Atualmente passou para a segunda causa de morte

entre jovens de 15 a 29 anos (WORD HEALTH ORGANIZATION, 2014). Observa-se uma

drástica redução da faixa etária com aumento do indicador de causa de morte entre os jovens.

Há uma estimativa da OMS para o ano de 2020, de que no mundo haverá 1,53 milhões de óbitos

por suicídio. Segundo publicação da OMS existem indicativos de que para cada adulto que

morre por suicídio outros vinte estão tentando (WORD HEALTH ORGANIZATION, 2014).

O Brasil apresenta índices percentualmente baixos, se comparado aos de baixa densidade

populacional, mas em números absolutos, está entre os dez países com maior número de casos

(GIOVANNI, 2009). Este número cresceu entre 1980 e 2000, com elevação global de 21% e,

na faixa etária entre 15 e 24 anos, em torno de 1900%, segundo análise descritiva dos dados

brasileiros extraída do banco de dados DATASUS, realizada por Santos (2005). Em nosso país

temos taxas de 9,4 para indivíduos do sexo masculino e 2,5 para o sexo feminino por 100.000

habitantes (WORD HEALTH ORGANIZATION, 2014).

Durante a sexagésima sexta assembleia geral da OMS (WORD HEALTH ORGANIZATION,

2013), foi traçado o objetivo de reduzir em 10%, até o ano de 2020, as taxas de suicídio em

todos os países. Nesse sentido, a prevenção vem sendo considerada um imperativo global

(SAXENA; FLEISCHMANN, 2014) pelos principais atores envolvidos em programas que

visam à redução de danos. Além disso, em muitos casos, o suicídio pode ser prevenido, devendo

os profissionais se disponibilizar para o atendimento nas suas diversas áreas de atuação

(FUKUMITSU, 2013).

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41

É importante não só compreender as razões que levam os indivíduos ao ato extremo, como

também promover a desestigmatização deste comportamento, além de ajudar àqueles que estão

sob risco de suicídio (SAXENA; FLEISCHMANN, 2014). Segundo dados da Organização

Mundial da Saúde (2000), de 40 a 60% das pessoas que cometem suicídio consultaram um

médico no mês anterior ao suicídio, sendo que a maioria foi consultada por um clínico geral.

O suicídio é considerado como um transtorno multidimensional pela Organização Mundial da

Saúde (2000) e como produto final de fatores ambientais, sociais, fisiológicos, genéticos e

biológicos que interagem entre si, portanto à abordagem das medidas preventivas deve levar

em consideração todos estes aspectos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (2000) existe uma prevalência de 80 a 100% de

transtornos mentais nos casos de suicídios, e esses têm um papel significativo no número de

suicídios. No manual do Ministério da Saúde dirigido aos profissionais das equipes de saúde

mental consta que os transtornos de humor, transtornos consequentes ao uso abusivo de

substâncias psicoativas e transtornos de personalidade, sobretudo, boderline estão entre as três

primeiras causas de suicídio por transtornos mentais (BRASIL, 2006).

A prevenção recomendada pela OMS faz-se em três níveis (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2012): universal, seletiva e indicada. Considera nível universal, as ações

que visam aumentar o acesso da população aos serviços de saúde, promoção de saúde mental,

redução do uso abusivo de álcool e restrição aos meios de acesso, como pesticidas e armas de

fogo, assim como evitar divulgações sensacionalistas na mídia. O nível seletivo refere-se a

cuidados específicos com os grupos considerados vulneráveis, que são aqueles que sofreram

trauma ou abuso, pessoas envolvidas em conflitos, refugiados, migrantes e enlutadas por

suicídio. Por fim, para a prevenção indicada, recomenda-se avaliação cuidadosa de

comportamentos suicidas, de pessoas que fazem uso abusivo de drogas e seguimento intensivo

de pacientes que tentaram suicídio (WORD HEALTH ORGANIZATION, 2014).

A publicação da OMS Public Health Action for the Prevention of Suicide (WORD HEALTH

ORGANIZATION, 2012) recomenda como estratégia de prevenção para populações

vulneráveis o treinamento de pessoas que estão em contato direto com os membros da

comunidade, como os membros da atenção básica de saúde e equipes de emergência,

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professores, líderes comunitários, líderes religiosos e espirituais assim como curandeiros

tradicionais, tornando-os capazes de ações efetivas em momentos de crise.

Sob a óptica da prevenção individual é recomendado identificar e tratar transtornos mentais

procurando manter conexão entre os serviços básicos de saúde e as esquipes especializadas em

saúde mental. Salienta ainda a OMS sobre a importância de ser perguntado a todos os indivíduos

maiores de 10 anos a respeito de pensamentos ou planos de suicídio, se eles são portadores de

depressão, fazem uso abusivo de drogas, têm dor crônica, e se estão em situação de estresse

emocional agudo.

ESPIRITUALIDADE COMO FATOR DE PROTEÇÃO

Espiritualidade por ser tema relativamente novo de estudo metodológico, ainda não possui

consenso em sua definição. De acordo com Saad, Masiero e Battistella (2001, p. 108) “É um

sentimento pessoal, que estimula um interesse pelos outros e por si, um sentido de significado

da vida capaz de fazer suportar sentimentos debilitantes de culpa, raiva e ansiedade”. Lucchese

(2013, p. 105) considera espiritualidade como “Sentimento pessoal dos indivíduos em busca de

sentido para suas vidas, muitas vezes, livre de regras, regulamentos e responsabilidades

associados com a religião”. Koenig (2001, p. 18) orienta sobre as diferenças que permeiam

questões inerentes à espiritualidade/religiosidade e a religião:

Espiritualidade é uma busca pessoal pela compreensão das questões últimas acerca da

vida, do seu significado, a da relação com o sagrado e transcendente, podendo ou não

conduzir ou originar rituais religiosos e formação de comunidade. A religião é um

sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos destinados a facilitar a

proximidade com o sagrado e o transcendente.

Diversos estudos apontam para uma relação positiva entre religiosidade/espiritualidade e

desfechos clínicos e laboratoriais, observando-se inclusive diminuição dos níveis de cortisol e

mortalidade (Lucchetti et al., 2010). No mesmo artigo os autores também demonstraram uma

menor reatividade da Pressão Arterial em pacientes com maior religiosidade.

Um estudo de corte transversal conduzido por Borges et al. (2013), da Faculdade de Medicina

de Jundiaí, entre junho de 2010 e maio de 2011, envolvendo 12 universidades brasileiras, teve

como objetivo compreender quais são os conceitos de espiritualidade trazidos pelos estudantes

de medicina e sua relação com a religiosidade. A pesquisa mostrou que não existe igualdade

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no conceito de espiritualidade, embora as diferentes dimensões de religiosidade moldaram a

forma de entender o campo de saúde e espiritualidade, levando os autores a tecer considerações

a respeito da importância de ampliar a discussão sobre o assunto.

Almeida (2010) apresentou os dados de um estudo com uma amostra probabilística da

população brasileira, com 3007 indivíduos residentes em 143 cidades, e identificou alto nível

de religiosidade na população brasileira, mostrando a importância das crenças na vida do

indivíduo.

Puchalski (2001) pondera que a espiritualidade pode ser um elemento importante na forma

como os pacientes enfrentam a doença crônica, sofrimento e perda, recomendando aos médicos

inserir espiritualidade nos cuidados dos pacientes. Guimarães (2007) apresentou um estudo de

revisão descritiva, concluiu que religiosidade/espiritualidade tem demonstrado potencial

impacto sobre a saúde física, definindo-se como possível fator de prevenção ao

desenvolvimento de doenças na população previamente sadia.

Dalgalarrondo (2007) ao analisar pesquisas relevantes publicadas sobre saúde mental e religião

constata que a busca para alívio do sofrimento, através da presença do religioso, é evidenciada

em muitas pesquisas. Peteet (2007) analisando as perspectivas clínicas de prevenção do suicídio

sugere que os médicos ajudem seus pacientes a desenvolver sua espiritualidade e estabelecer

conexões quando sentirem-se só, incompreendidos e rejeitados por todos, assim como,

deveriam ser estimulados a sentir Deus como o pai do filho pródigo e não como uma autoridade

que irá julgá-los. Bertolote et al. (2005) encontraram taxas de suicídio entre 12/100.000

habitantes para o sexo feminino e 40/100.000 para o sexo masculino, entre os ateus.

Huguelet et al. (2007) estudaram 115 pacientes internados em hospital psiquiátrico, com

diagnóstico de esquizofrenia e transtorno esquizo-afetivo, com idade entre 18 e 65 anos que

foram entrevistados por três psiquiatras. Embora os autores não tenham encontrado uma relação

inversa entre tentativas de suicídio e religiosidade/espiritualidade nessa população, ao analisar

os dados na forma qualitativa detectou que 25% deles referiu um papel protetor da religião

contra o suicídio.

Rasice et al. (2009) analisaram espiritualidade, religião e comportamento suicida, em uma

população de 36.984 pessoas no Canadá, com idade superior a 15 anos, obtendo resposta de

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77% da amostra selecionada. Observaram que, 63,1% dos entrevistados relataram que valores

espirituais eram importantes e concluíram que a prática religiosa está associada a menos

tentativa de suicídio nos últimos 12 meses, tanto na população em geral, como naqueles

portadores de transtorno mental, mesmo depois de afastados fatores como suporte social.

A espiritualidade seja cada vez mais reconhecida como fator de proteção à saúde e reforçada

em estudos como o INTERHEART que analisou uma coorte com aproximadamente 27.000

indivíduos, em 52 países dos cinco continentes, e que foi desenhado para avaliar os fatores de

risco para doença arterial coronariana. Nos seus resultados constam recomendações para

valorizar a religiosidade e a busca por orientação espiritual como fator de proteção (YUSUF et

al., 2004). Mesmo com muitos estudos, a medicina ocidental apresenta posturas ora

negligenciando, ora fazendo oposição ostensiva por considerar uma evidência de psicopatologia

e às vezes assumindo uma postura de aceitação, que deve ser incluído no cuidado integral do

paciente (BORGES et al., 2013).

Bonelli e Koenig (2013) em uma revisão sistemática relatam que em 72% dos estudos

analisados encontraram relação positiva entre religiosidade e saúde mental e 5% encontraram

correlação negativa.

A OMS publicou as ações para prevenção do suicídio onde reconhece e recomenda, como

fatores protetores, crenças pessoais e religiosas que desencorajam o ato suicida e considera

como pessoas chave nessa empreitada, os líderes espirituais e religiosos, assim como, curadores

tradicionais (WORD HEALTH ORGANIZATION, 2012).

Segundo Bteshe et al. (2010, p. 47).

Líderes e congregados espirituais são atores privilegiados não apenas na transmissão de

informação como na identificação de pessoas sob risco de se matar. Não se trata de legar

a eles ou à fé que professam a responsabilidade por tratamentos ou por alguma solução,

mas de construir uma ponte entre esferas sociais que possam colaborar para a promoção

de saúde mental e prevenção do suicídio.

Bullock, Nadeau e Renaud (2012) ao realizar uma análise qualitativa das entrevistas feitas com

15 adolescentes entre 14 e 18 anos, demonstrou que os membros de comunidades religiosas

agiam como uma ponte entre os jovens e o prestador de cuidados de serviços de saúde mental,

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chamando a atenção para a importância de empoderar e capacitar líderes religiosos ensinando-

os como abordar e a lidar com situações de crises, diante de pessoas com risco de suicídio.

A despeito de a fé ser reconhecida nas últimas décadas como fator protetor ao fornecer um

sistema organizado e estruturado de crença e suporte social, não se pode esquecer que algumas

crenças, em virtude de suas posturas morais podem estigmatizar o suicídio, evitando que os

seus membros possam buscar ajuda e outras crenças estimulam a autoimolação ao recomendar

às mulheres que ficam viúvas a jogarem-se na pira por ocasião da cremação do cônjuge,

costume existente em algumas regiões da Ásia (WORD HEALTH ORGANIZATION, 2014).

CONCLUSÃO

Ao postular a espiritualidade como uma das ferramentas de prevenção ao suicídio, os autores

citados não estão fazendo apologia ou induzindo as diferentes crenças, muito menos,

desaconselhando medidas terapêuticas clássicas como as inúmeras modalidades de

psicoterapias e a abordagem farmacológica, ambas necessárias a pessoas em estado de

sofrimento tal, que cogitam e, em alguns momentos tentam livrar-se da dor que as afligem

tirando a própria vida.

Na verdade, os autores estão sugerindo outra possibilidade terapêutica, mais integrativa

incluindo os cuidados espirituais como possibilidade complementar e não alternativa como às

vezes é sugerida pelo senso comum.

Os artigos indicam que os pesquisadores consideram que o indivíduo, em sua complexidade,

vai além do biológico evidenciando e valorizando aspectos importantes que foram

negligenciados por muitos séculos, em algumas áreas da saúde, mesmo após a ampliação do

conceito de saúde pela OMS, que inclui o bem-estar físico mental e social desde 1946.

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6 CAPÍTULO III - INFLUÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO

RISCO DE SUICÍDIO E NA SAÚDE MENTAL DE PACIENTES EM HEMODIÁLISE

RESUMO

OBJETIVO: Avaliar a influência da espiritualidade e religiosidade no risco de suicídio e saúde

mental de pacientes em hemodiálise.

MÉTODO: Estudo transversal, realizado em três unidades de diálise brasileiras, envolvendo

paciente em hemodiálise. Foram avaliadas religiosidade (Duke Religion Index), bem-estar

espiritual (FACIT-Sp 12), saúde mental – depressão e ansiedade (Mini International

Neuropsychiatric Interview – MINI) e risco de suicídio (MINI). Para análise, foram realizados

modelos de regressão logística ajustando para fatores confundidores.

RESULTADOS: Foram incluídos, 264 (80.7%) pacientes, sendo 59,1% do sexo masculino.

Destes, 14,0% apresentavam episódio depressivo maior atual, 14,7% apresentavam transtorno

de ansiedade generalizada e 17,8% apresentavam risco de suicídio. Com relação a medidas de

bem-estar espiritual (FACIT-Sp 12), a subescala de Significado esteve associada a menor risco

de suicídio, depressão e ansiedade. Já a subescala paz esteve associada a menor depressão e

ansiedade; enquanto a subescala fé esteve associada a menor risco de suicídio e depressão. As

medidas de religiosidade intrínseca, organizacional e não organizacional não estiveram

associadas aos desfechos estudados.

CONCLUSÃO: As crenças espirituais estão associadas a menor risco de suicídio e melhor

saúde mental em pacientes em hemodiálise. Fatores relacionados a bem-estar espiritual como

significado, paz e fé, estiveram mais associados aos desfechos estudados que o envolvimento

religioso. Mais estudos são necessários para replicar nossos achados em diferentes contextos

culturais e religiosos.

DESCRITORES: Insuficiência renal crônica; Espiritualidade; Suicídio; Hemodiálise; Saúde

mental.

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INTRODUÇÃO

O suicídio e a doença renal crônica (DRC) são duas importantes questões de saúde pública. De

acordo com a OMS, o suicídio representa a segunda causa de óbitos na faixa etária entre 15 e

29 anos (WORD HEALTH ORGANIZATION, 2014). Globalmente, estima-se a ocorrência de

um óbito por suicídio a cada 40 segundos. Já em relação à doença renal crônica, estimativas

apontam que mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo utilizam-se de terapias

substitutivas como diálise ou transplante renal, embora isso represente apenas 10% de todas as

pessoas que necessitariam dessas terapias (COUSER et al., 2011).

Apesar dos avanços da terapia substitutiva para pacientes com DRC, estudos têm demonstrado

que pacientes em diálise possuem risco aumentado de suicídio e pior saúde mental

(KARASOULI; LATCHFORD; OWENS, 2014; GÓMEZ; BÓRQUEZ, 2012; KESKIN;

ELGIN, 2011), provavelmente devido à desesperança, a dificuldade de lidar com a doença

crônica e aos níveis elevados de depressão. Nesse contexto, é importante a identificação de

fatores protetores e medidas preventivas que possam auxiliar esses indivíduos no enfrentamento

de sua doença. Dos diversos fatores que têm sido debatidos como inversamente associados a

esses desfechos, destacamos as crenças espirituais e religiosas dos pacientes (LUCCHETTI;

ALMEIDA; GRANERO, 2010).

A espiritualidade tem papel relevante no bem-estar psicológico dos pacientes portadores de

doença renal crônica em hemodiálise, o que possibilitaria melhor qualidade de vida,

influenciando positivamente o seu modo de lidar com a doença (REIG-FERRER et al., 2012;

DAVISON; JHANGRI, 2010; CORREIA et al., 2015; LUCCHETTI et al., 2012). Estudos em

hemodiálise mostram que as crenças espirituais/religiosas podem proporcionar esperança,

significado e propósito para vida além de uma melhor forma de lidar com a morte, o que pode

impactar positivamente ou negativamente nos desfechos clínicos e no suporte social desses

pacientes. (KO et al., 2007; RAMIREZ et al., 2012; VALCANTI et al., 2012; BRAGAZZI;

DEL PUENTE, 2013)

Da mesma forma, a literatura científica vem apontando para o papel protetor da

espiritualidade/religiosidade no risco e na prevalência de suicídio. Um grande estudo

longitudinal (14 anos de follow up) recém-publicado analisou a religiosidade e risco de suicídio

de 89.708 enfermeiras e concluiu que a frequência religiosa diminuiu em até cinco vezes o risco

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48

de suicídio em comparação com pessoas que não frequentavam serviços religiosos.

(VANDERWEELE et al., 2016), resultados esses semelhantes a outros estudos (SANSONE et

al., 2015; CARIBÉ et al., 2012).

Porém, apesar da extensa literatura que tenha avaliado como essas crenças impactam na saúde

mental e risco de suicídio nos mais diversos grupos de pacientes, existem poucos estudos que

tenham feito essa investigação em pacientes nefrológicos. Esses dados possibilitariam uma

maior compreensão dos fatores que podem influenciar nos desfechos em diálise e podem

auxiliar no desenho de medidas preventivas e nas políticas de saúde. Dessa forma, objetiva-se

avaliar a influência da espiritualidade e religiosidade no risco de suicídio e saúde mental de

pacientes em hemodiálise.

MÉTODOS

Desenho - Trata-se de um estudo quantitativo, observacional e transversal, realizado em três

unidades de diálise na Região Metropolitana da Grande de Vitória/ES, Brasil no período de 04

de maio de 2015 a 31 de maio de 2016. Essas unidades possuem capacidade para oferecer

tratamento hemodialítico a 144, 55 e 150 pacientes respectivamente, sendo duas são de caráter

privado e uma de caráter filantrópico e todas são credenciadas pelo sistema de saúde brasileiro.

O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de

Misericórdia de Vitória sob parecer número 1.250.626 e os pacientes assinaram um termo de

consentimento (APÊNDICE B, C e D)

Critérios de inclusão e não inclusão.

Foram incluídos pacientes de ambos os sexos, maiores de 18 anos, portadores de Doença Renal

Crônica estágio 05 pela National Kidney Foundation (2015), em tratamento hemodialítico

regular há mais de 3 meses e que concordaram em participar do estudo. Foram excluídos

participantes que foram a óbito antes da entrevista, apresentavam-se internados, transplantados

ou que apresentassem algum problema de saúde que não permitisse a participação na pesquisa.

Procedimentos - A coleta de dados foi realizada através de uma equipe que foi composta por

quatro psicólogos, sendo que um deles exercia a função de coordenador da equipe com

Page 51: RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO …€¦ · espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da espiritualidade

49

experiência em serviço de nefrologia e neuropsicologia e foi responsável pelo treinamento da

equipe. Os participantes foram identificados através de uma lista fornecida pelas instituições

considerando o agendamento das sessões de hemodiálise e foram abordados durante as sessões.

Inicialmente o pesquisador lia o termo de consentimento, explicava os objetivos da pesquisa e

fazia o convite para participação. Uma vez concordando, o participante assinava o termo e desde

que estivesse clinicamente estável, era entrevistado. Todo processo de aplicação dos

questionários teve uma duração média de 30 minutos.

INSTRUMENTOS

Foram avaliados os seguintes aspectos:

a) dados sociodemográficos dos pacientes: sexo, idade, escolaridade e tempo em diálise;

b) cognição: através do Mini Exame do Estado Mental (MEEM). Trata-se de um

instrumento para avaliar função cognitiva de rápida aplicação, aproximadamente 10

minutos, já utilizado em estudos com pacientes portadores de doença renal crônica em

hemodiálise por Condé et al. (2010);

c) risco de suicídio e saúde mental: A avaliação do risco de suicídio, transtorno de

ansiedade generalizada e transtorno depressivo foi efetuada por meio de seções

diagnósticas do Mini International Neuropsychiatric Interview (M.I.N.I.). O M.I.N.I é

um instrumento que possibilita uma entrevista diagnóstica padronizada de aplicação

rápida (em torno de 15 minutos), que identifica os principais transtornos psiquiátricos.

Este instrumento foi validado em português por Amorim (2000) e tem sido utilizado por

diversos estudos para avaliar transtornos depressivos, ansiedade. (JUNG et al., 2000,

KLONSKY; MAY; GLENN, 2013) e risco de suicídio (VERA et al., 2011; WOJNAR

et al., 2009);

d) espiritualidade e religiosidade: foram utilizados dois instrumentos. O primeiro é o Duke

Religion Index (PDUREL) validado para a língua portuguesa (LUCCHETTI et al.,

2012), que avalia a religiosidade organizacional (frequência a serviços religiosos), não

organizacional (frequência de atividades religiosas privadas como reza ou leitura) e

religiosidade intrínseca (religião como sentimento de significado último da vida). O

segundo é o Functional Assessmentof Chronic Illness Therapy Spiritual Well Being

(FACIT-Sp-12) também validado para a língua portuguesa (LUCCHETTI et al., 2013),

que avalia bem-estar espiritual e é dividido em três fatores: fé (crenças espirituais per

se), paz (considerada uma affective dimension of spirituality) e significado (considerado

Page 52: RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO …€¦ · espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da espiritualidade

50

um cognitive dimension of spirituality) (CANADA et al.; 2008; MURPHY et al., 2010;

HAUGAN, 2015).

ANÁLISE DOS DADOS

A análise estatística procedeu da seguinte forma. Primeiro foi realizada uma análise descritiva

através da utilização de frequência absoluta e relativa, média e desvio padrão. Depois, foi

realizada uma análise inferencial com o objetivo de verificar se as crenças religiosas e

espirituais através dos resultados das escalas de PDUREL e FACIT-Sp 12 estariam associadas

a risco de suicídio e transtornos psiquiátricos.

Para isso, foram realizados três modelos de regressão logística dicotômicas, tendo como

variáveis dependentes (presença ou ausência de risco de suicídio, presença ou ausência de

depressão e presença ou ausência de ansiedade) e variáveis independentes (religiosidade

organizacional, não organizacional e intrínseca, paz, significado e fé). Os modelos foram

avaliados sem ajuste, assim como ajustados para variáveis sociodemográficas e cognição –

modelo 1 (Genero, idade, escolaridade, tempo em diálise, alteração cognitiva) e, no caso do

risco de suicídio, também para variáveis neuropsiquiátricas – modelo 2 (depressão e ansiedade).

Foi obedecida a regra de pelo menos 20 casos por preditor, a qualidade dos modelos foram

verificadas através do teste de Hosmer-Lemeshow e a multicolinearidade foi verificada

mediante verificação da tolerância e VIF.

As análises foram realizadas no programa SPSS 21.0 (SPSS Inc.) e foi adotado p<0.05 como

estatisticamente significante.

RESULTADOS

Do total de 327 participantes cadastrados nas três unidades de diálise, 264 (80.7%) foram

incluídos. Os principais motivos para exclusão foram: 42 recusaram participar, 07 foram a óbito

antes da entrevista, 11 apresentavam restrição de saúde, 2 foram transplantados antes da

entrevista e 1 necessitava de autorização judicial para ser entrevistado.

Em relação às características sociodemográficas (Tabela 1), a maioria dos pacientes era do

sexo masculino (59,1%) com média de idade de 51,26 anos (DP ± 14,05 anos), escolaridade

Page 53: RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO …€¦ · espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da espiritualidade

51

média de 7,09 anos (DP ± 3,83 anos) e tempo médio em hemodiálise de 39,19 meses (DP ±

44,59), conforme tabela na próxima página:

Tabela 1 - Características sociodemográficas

Fonte: Elaborada pela autora

Quanto aos aspectos neuropsiquiátricos, a pontuação do Mini-exame do Estado Mental foi de

23,03 pontos (DP ± 4,36). Dos pacientes, 37 (14,0%) apresentavam episódio depressivo maior

Variáveis

Gênero n (%)

Masculino 156 (59,1%)

Feminino 108 (40,9%)

Idade M (± DP) 51,26 (±14,05)

Tempo de estudo M (± DP) 7,09 (±3,83)

Tempo em hemodiálise M (± DP) 39,19 (±44,59)

Instituição n (%)

1 101 (38,3%)

2 114 (43,2%)

3 49 (18,6%)

Soma Mini-mental M (± DP) 23,03 (±4,36)

Alteração cognitiva (MEEM abaixo)

n (%)

Sim 114 (43,2%)

Não 150 (56,8%)

Episódio depressivo maior atual n

(%)

Sim 37 (14,0%)

Não 227 (86,0%)

Episódio depressivo maior

recorrente n (%)

Sim 14 (5,3%)

Não 250 (94,7%)

Episódio depressivo maior atual –

melancólicas n (%)

Sim 29 (11,0%)

Não 235 (89,0%)

Risco de suicídio n (%)

Sim 47 (17,8%)

Não 217 (82,2%)

Transtorno de ansiedade

generalizada n (%)

Sim 39 (14,7%)

Não 225 (85,3%)

Risco de suicídio atual

(categorizado) n (%)

Não 217 (82,2%)

Baixo 30 (11,4%)

Moderado 3 (1,1%)

Alto 14 (5,3%)

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52

atual, 14 (5,3%) episódio depressivo maior recorrente, 29 (11,0%) episódio depressivo maior

com características melancólicas; 39 (14,7%) apresentavam transtorno de ansiedade

generalizada e 47 (17,8%) apresentavam risco de suicídio.

Já em relação às crenças religiosas e espirituais (Tabela 2), 104 (39,4%) eram evangélicos

seguidos de 100 (37,9%) católicos, sendo que 152 (57,6%) frequentavam a serviços religiosos

uma vez ou mais por semana e 219 (83%) realizavam atividades religiosas privadas (e.g. preces,

rezas ou meditação) uma vez ou mais ao dia. As demais características religiosas e espirituais

podem ser visualizadas na Tabela 2.

Tabela 2 - Crenças religiosas e espirituais

Variáveis

Religião

Católico 100 (37,9%)

Evangélico 104 (39,4%)

Outras 35 (13,2%)

Sem religião 25 (9,5%)

PDurel1: Com que frequência

você vai a uma igreja, templo

ou outro encontro religioso?

Mais do que uma vez por

semana 91 (34,5%)

Uma vez por semana 61 (23,1%)

Duas a três vezes por mês 34 (12,9%)

Algumas vezes por ano 54 (20,5%)

Uma vez por ano ou menos 8 (3,0%)

Nunca 16 (6,1%)

PDurel2: Com que frequência

você dedica o seu tempo a

atividades religiosas

individuais, como preces, rezas,

meditações.

Mais do que uma vez ao dia 124 (47,0%)

Diariamente 95 (36,0%)

Duas ou mais vezes por semana 16 (6,1%)

Uma vez por semana 4 (1,5%)

Poucas vezes no mês. 11 (4,9%)

Raramente ou nunca 12 (4,5%)

PDurel 3: Em minha vida, eu

sinto a presença de Deus (ou do

Espírito Santo).

Totalmente verdade para mim 233 (88,3%)

Em geral é verdade 2 (10,2%)

Não estou certo 3 (0,4%)

Em geral não é verdade 0 (0,0%)

Não é verdade 3 (1,1%)

Continua

Page 55: RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO …€¦ · espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da espiritualidade

53

Conclusão

Tabela 2 - Crenças religiosas e espirituais Conclusão

Variáveis

Durel 4: As minhas crenças

religiosas estão realmente por

trás de toda a minha maneira

de viver.

Totalmente verdade para mim 205 (77,7%)

Em geral é verdade 36 (13,6%)

Não estou certo 3 (0,8%)

Em geral não é verdade 4 (1,5%)

Não é verdade 17 (6,4%)

PDurel 5: Eu me esforço muito

para viver a minha religião em

todos os aspectos da vida.

Totalmente verdade para mim 185 (70,1%)

Em geral é verdade 47 (17,8%)

Não estou certo 13 (4,9%)

Em geral não é verdade 5 (1,9%)

Não é verdade 14 (5,3%)

Tempo na religião - meses M

(±DP) 397,80 (±286,70)

FACIT Sp12 Total M (±DP) 36,87 (±7,33)

FACIT Sp12 Significado M

(±DP) 12,38 (±2,76)

FACIT Sp12 Paz M (±DP) 11,70 (±3,11)

FACIT Sp12 Fé M (±DP) 12,78 (±3,05)

FACIT Sp12 Total M (±DP) 36,87 (±7,33)

Fonte: Elaborada pela autora

Na Tabela 3, é mostrada a associação entre as diferentes variáveis de

religiosidade/espiritualidade e o risco de suicídio (Tabela 3). Apesar de no modelo sem ajuste,

a religiosidade intrínseca, o significado e a paz estivessem associados a menor risco de suicídio,

quando utilizado o modelo final ajustado (Modelo 3), apenas o significado (OR= 0,74, IC 95%=

0,64-0,86, p<0,05) com poder de explicação de 43% (Pseudo-R²) e a fé (OR = 0,89, IC 95%=

0,78-1,01, p<0,05) com poder de explicação de 37% (Pseudo-R²) mantiveram-se significantes.

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54

Tabela 3-Religiosidade/espiritualidade e risco de suicídio

Variável dependente: Suicídio.

Modelo 1: Sem ajuste.

Modelo 2: Gênero, idade, tempo de estudo, tempo em diálise, alteração cognitiva.

Modelo 3: depressão, ansiedade.

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

OR (IC 95%) OR (IC 95%) OR (IC 95%)

PDUREL 1 0,96 (0,78-1,18) - -

PDUREL 2 0,84 (0,67-1,04) - -

PDUREL Intrínseca 0,84 (0,74-0,96)* 0,83 (0,72-0,96)* 0,87 (0,73-1,02)a

FACIT Significado 0,71 (0,63-0,81)*** 0,71 (0,62-0,80)*** 0,74 (0,64-0,86)***b

FACIT Paz 0,80 (0,72-0,89)*** 0,79 (0,71-0,89)*** 0,89 (0,78-1,01)c

FACIT Fé 0,78 (0,70-0,86)*** 0,77 (0,69-0,85)*** 0,80 (0,71-0,90)***d

* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001;

ᵃ 𝜒𝑂𝑚𝑛𝑖𝑏𝑢𝑠2 (8) = 67,62, p < 0,001, pseudo-R² = 0,37;

Tolerance:0.787 a 0.985, VIF: 1.015 a 1.271

ᵇ 𝜒𝑂𝑚𝑛𝑖𝑏𝑢𝑠2 (8) = 81,54, p < 0,001, pseudo-R² = 0,43;

Tolerance:0.777 a 0.976, VIF: 1.024 a 1.287

ᶜ 𝜒𝑂𝑚𝑛𝑖𝑏𝑢𝑠2 (8) = 67,90, p < 0,001, pseudo-R² = 0,37;

Tolerance:0.787 a 0.985, VIF: 1.015 a 1.271

ᵈ 𝜒𝑂𝑚𝑛𝑖𝑏𝑢𝑠2 (8) = 78,57, p < 0,001, pseudo-R² = 0,42;

Tolerance:0.784 a 0.985, VIF: 1.015 a 1.276

Nº de observações = 264

Fonte: Elaborada pela autora

Para a associação entre religiosidade/espiritualidade e depressão maior (Tabela 4), em todos os

modelos a fé, significado e paz estiveram associados a redução na presença de depressão maior.

No modelo final ajustado, o significado (OR= 0,80 IC 95% =0,70-0,92, p<0,05) com poder de

explicação de 24% (Pseudo-R²), a paz (OR = 0,77 IC 95% =0,68-0,88, p<0,05) com poder de

explicação de 27% (Pseudo-R²) e a fé (OR =0,82, IC 95% =0,73-0,93, p<0,05) com poder de

explicação de 24% (Pseudo-R²) foram significantes.

Tabela 4 - Religiosidade/espiritualidade e depressão

Variável dependente: Depressão.

Modelo 1: Sem ajuste.

Modelo 2: Gênero, idade, tempo de estudo, tempo em diálise, alteração cognitiva.

Modelo 3: Ansiedade.

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

OR (IC 95%) OR (IC 95%) OR (IC 95%)

PDUREL 1 0,86 (0,66-1,03)

PDUREL 2 0,89 (0,70-1,13)

PDUREL Intrínseca 0,90 (0,78-1,04)

FACIT Significado 0,77 (0,68-0,87)*** 0,77 (0,67-0,87)*** 0,80 (0,70-0,92)**a

Continua

Page 57: RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO …€¦ · espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da espiritualidade

55

Conclusão

Tabela 4 - Religiosidade/espiritualidade e depressão

Variável dependente: Depressão.

Modelo 1: Sem ajuste.

Modelo 2: Gênero, idade, tempo de estudo, tempo em diálise, alteração cognitiva.

Modelo 3: Ansiedade.

FACIT Paz 0,75 (0,67-0,84)*** 0,73 (0,65-0,83)*** 0,77 (0,68-0,88)***b

FACIT Fé 0,83 (0,74-0,92)*** 0,81 (0,73-0,91)*** 0,82 (0,73-0,93)**c

* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001;

ᵃ 𝜒𝑂𝑚𝑛𝑖𝑏𝑢𝑠2 (7) = 39,09, p < 0,001, pseudo-R² = 0,24;

Tolerance:0.78 a 0.978, VIF: 1.022 a 1.280

ᵇ 𝜒𝑂𝑚𝑛𝑖𝑏𝑢𝑠2 (7) = 44,39, p < 0,001, pseudo-R² = 0,27;

Tolerance:0.795 a 0.986, VIF: 1.015 a 1.257

ᶜ 𝜒𝑂𝑚𝑛𝑖𝑏𝑢𝑠2 (7) = 39,33, p < 0,001, pseudo-R² = 0,24;

Tolerance:0.790 a 0.986, VIF: 1.014 a 1.266

Nº de observações = 264;

.

Fonte: Elaborada pela autora

Na Tabela 5, são observados as associações entre religiosidade/espiritualidade e o transtorno

de ansiedade. Apesar de no modelo sem ajuste, significado, paz e fé estivessem associados a

menor presença de ansiedade, quando utilizado o modelo ajustado houve redução na presença

de transtorno de ansiedade para o significado (OR= 0,74 IC 95% =0,64-0,86, p<0,05) com

poder de explicação de 21% (Pseudo-R²) e a paz (OR= 0,89 IC 95% =0,78-1,01, p<0,05) com

poder de explicação de 27% (Pseudo-R²).

Tabela 5-Religiosidade/espiritualidade e transtorno de ansiedade

Variável dependente: Transtorno de ansiedade.

Modelo 1: sem ajuste.

Modelo 2: Gênero, idade, tempo de estudo, tempo em diálise, alteração cognitiva.

Modelo 3: Depressão.

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

OR (IC 95%) OR (IC 95%) OR (IC 95%)

PDUREL 1 0,89 (0,72-1,11) - -

PDUREL 2 0,96 (0,75-1,24) - -

PDUREL Intrínseca 0,87 (0,75-1,00) - -

FACIT Significado 0,79 (0,70-0,89)*** 0,79 (0,70-0,89)*** 0,83 (0,72-0,94)***a

FACIT Paz 0,74 (0,66-0,83)*** 0,73 (0,64-0,83)*** 0,77 (0,67-0,87)***b

FACIT Fé 0,88 (0,80-0,98)* 0,88 (0,79-0,98)* 0,92 (0,82-1,03)c

* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001;

Continua

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56

Conclusão

Tabela 5-Religiosidade/espiritualidade e transtorno de ansiedade

Variável dependente: Transtorno de ansiedade.

Modelo 1: sem ajuste.

Modelo 2: Gênero, idade, tempo de estudo, tempo em diálise, alteração cognitiva.

Modelo 3: Depressão.

ᵃ 𝜒𝑂𝑚𝑛𝑖𝑏𝑢𝑠2 (7) = 34,36, p < 0,001, pseudo-R² = 0,21;

Tolerance:0.782 a 0.980, VIF: 1.021 a 1.279

ᵇ 𝜒𝑂𝑚𝑛𝑖𝑏𝑢𝑠2 (7) = 44,36, p < 0,001, pseudo-R² = 0,27;

Tolerance:0.795 a 0.987, VIF: 1.014 a 1.258

ᶜ 𝜒𝑂𝑚𝑛𝑖𝑏𝑢𝑠2 (7) = 25,54, p < 0,001, pseudo-R² = 0,18;

Tolerance:0.791 a 0.987, VIF: 1.013 a 1.265

Nº de observações = 264;

Fonte: Elaborada pela autora

DISCUSSÃO

O presente estudo encontrou que crenças espirituais e religiosas estiveram associadas a menor

risco de suicídio e melhor saúde mental em pacientes em hemodiálise, aumentando a

compreensão de como essas crenças podem impactar o tratamento médico e influenciar a vida

do paciente nefrológico.

Nossos resultados são semelhantes a outros estudos que mostram que as crenças religiosas e

espirituais estão inversamente associadas ao risco, tentativas e suicídios propriamente ditos nos

mais variados grupos, como por exemplo, pacientes portadores de transtornos mentais,

população geral, adolescentes, idosos e portadores de doenças crônicas (HUGUELETET et al.,

2007; RASIC et al., 2009; RASIC; KISELY; LANGILLE,2011). Lawrence; Oquendo e Stanley

(2016), em uma revisão sistemática encontrou que, para a maioria dos estudos, a religião é fator

protetor do suicídio. Entretanto, ainda existem poucos estudos que tenham avaliado se esses

resultados se repetiriam no ambiente da hemodiálise.

Martiny et al. (2011) avaliaram 69 pacientes em hemodiálise em um estudo observacional e

encontrou uma probabilidade oito vezes maior de risco de suicídio nos indivíduos sem

religiosidade, resultados semelhantes ao presente estudo que encontrou que as crenças do

indivíduo influenciam em seu risco de suicídio. Os principais motivos para a espiritualidade

atuar como protetor dessas condutas ofensivas à vida ainda não são totalmente esclarecidos,

Page 59: RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO …€¦ · espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da espiritualidade

57

porém os estudos indicam que a espiritualidade/religiosidade oferecem suporte social,

significado ao sofrimento, esperança e conforto espiritual (LAWRENCE; OQUENDO;

STANLEY, 2016; BULLOCK; NADEAU; RENAUD, 2012).

Da mesma forma, as crenças religiosas e espirituais estiveram associadas inversamente a

depressão e ansiedade. Diversos estudos têm dado suporte a essa relação em pacientes

submetidos a hemodiálise, Lucchetti, Almeida e Granero, (2010), Keskin e Elgin (2011)

verificaram que o coping religioso foi a maior estratégia utilizada pelos pacientes em

hemodiálise para lidar com a depressão, enquanto Pirutinsky et al. (2011) observou um coping

religioso negativo fortemente associado a sintomas depressivos e Ronneberg et al. (2016)

concluiu que a religiosidade /espiritualidade tem importante papel contra depressão e na

recuperação dos pacientes idosos com transtornos depressivos. Em um estudo brasileiro,

Lucchetti, Almeida e Luchetti (2012) encontraram que pacientes em hemodiálise com maiores

crenças religiosas possuíam menores sintomas depressivos e melhor qualidade de vida. Esses

resultados também dão suporte ao presente estudo, em que essas crenças estiveram associadas

à saúde mental dessa população.

Entretanto, apesar de quase 80% da literatura na área de saúde e espiritualidade avaliar saúde

mental e já existir uma ampla gama de estudos avaliando essa relação em diálise, a maioria dos

estudos utiliza-se ainda de medidas mais simples como afiliação religiosa ou frequência

religiosa. No presente estudo, optou-se por utilizar medidas mais complexas e que capturassem

a religiosidade e espiritualidade de forma mais ampla. Essa abordagem permitiu verificar que

determinados tipos de crenças parecem estar mais fortemente associadas a desfechos que outras.

O chamado bem-estar espiritual, em detrimento da religiosidade esteve mais associado a melhor

saúde mental e menor risco de suicídio. De acordo com Canada et al. (2008) e Murphy et al.

(2010), significado está relacionado com uma dimensão mais cognitiva da espiritualidade

enquanto a paz está relacionada a um aspecto mais afetivo. A exemplo de outros estudos que

utilizaram a escala FACIT-Sp12, essas dimensões parecem estar muito mais associadas a

desfechos em saúde do que a religiosidade mais formal (WHITFORD; OLVER, 2010; HOLT

et al., 2011), o que reforçaria a compreensão de que a espiritualidade seria um conceito mais

amplo que envolveria a busca dinâmica por significado e conforto e não apenas o envolvimento

religioso, embora possa expressar-se por este meio (PUCHALSKI et al., 2014).

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58

Esses resultados possuem maior importância se considerarmos que os pacientes em hemodiálise

possuem um maior risco para transtornos mentais e possuem também um maior risco de

suicídios. Dessa forma, a identificação de fatores que influenciem nesses desfechos pode

auxiliar na detecção precoce, que também é uma modalidade de prevenção e no planejamento

de futuras intervenções que podem ter impacto nas políticas de saúde pública. Uma vez que

estamos diante de um agravo prevenível e tratável, é fundamental implantar plenamente as

diretrizes nacionais de prevenção do suicídio, pois identificar precocemente e iniciar medidas

adequadas reduzem os riscos de complicações e a mortalidade. É imprescindível estarmos

conscientes da importância da prevenção como instrumento de promoção de saúde e, nesse

contexto, a espiritualidade/religiosidade têm sido colocadas como possível ferramenta.

Frente ao paciente com doença renal crônica que se submete a hemodiálise, compreender a

existência do risco de suicídio, fato esse que pode estar por traz de muitas atitudes dos pacientes

que são pouco compreendidas e interpretadas como rebeldia, pode ser importante aliado no

controle clínico. Apropriar-se desse conhecimento, descortina para o profissional de saúde a

realidade de que ele está diante de um indivíduo vulnerável, que necessita ser acolhido em sua

dor, não só a dor física.

O estudo apresentou algumas limitações: Primeiro, trata-se de um estudo transversal o que não

permite a avaliação de causalidade. Segundo, devido ao ambiente da hemodiálise, muitas vezes

ocorre uma dificuldade para realizar entrevistas de forma privada, o que tentou ser minimizado

pelos entrevistadores, uma vez que assuntos muito particulares foram abordados. Terceiro,

alguns pacientes recusaram participar do estudo por não se sentirem confortáveis com o tema

suicídio, o que pode ter impedido que alguns indivíduos com risco tenham sido avaliados.

Quarto, existe uma discussão na literatura atual se algumas medidas como por exemplo de “paz”

estariam sobrepostas a medidas de bem-estar. No intuito de diminuir esse problema, optamos

por utilizar medidas de religiosidade e separamos a escala FACIT-Sp 12 em três dimensões

distintas, uma vez que a fé e o significado são menos influenciados por medidas de bem-estar

e a paz, conforme proposto por alguns autores (CANADA et al., 2008; MURPHY et al., 2010;

HAUGAN, 2015).

Conclui-se que, as crenças espirituais estão associadas a menor risco de suicídio e melhor saúde

mental em pacientes em hemodiálise. Fatores relacionados a bem-estar espiritual como

significado, paz e fé, estiveram mais associados aos desfechos estudados que o envolvimento

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59

religioso. Mais estudos são necessários para reforçar os achados deste em diferentes contextos

culturais e religiosos.

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60

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Paulo Freire (2001) nos disse que ninguém nasce educador, se faz educador. Na prevenção do

suicídio também não nascemos prontos, com essa habilidade, vamo-nos tornando assim à

medida que ampliamos nosso conhecimento sobre o tema. Nesse sentido, a revisão literária foi

importante para consolidar uma reflexão trazendo a luz informações que por um lado, responde

as indagações e nos motiva a continuar estudando e por outro, traz inquietude ao se constatar o

quanto ainda precisa ser feito pela população estudada e por todos os outros que estão em

situação de risco de suicídio.

O que observamos é uma lacuna entre a legislação, a teoria e a prática, pois desde 2006 foram

instituídas em nosso país as diretrizes nacionais para prevenção do suicídio e muito pouco é

efetivamente realizado quer no âmbito da saúde pública, quer na saúde privada.

Há escassez de especialistas em saúde mental para atender a demanda em nível ambulatorial e

hospitalar, o que se verifica também é uma lacuna na formação dos profissionais que atuam nos

prontos atendimentos para o manejo integral do paciente para além dos antídotos e de medidas

de suporte ao corpo físico que sofreu uma autoagressão.

Observa-se na prática clínica, sobretudo nas emergências, dificuldades no manejo clínico do

paciente em risco de suicídio tanto em acolher profissionalmente, por várias razões, dentre elas

desconhecimento e falta de treinamento quanto a ambiguidade de lutar pela vida de outrem

quando na realidade somos seres finitos, levando o profissional a considerar muitas vezes a

internação psiquiátrica como a melhor possibilidade terapêutica (ESTELLITA-LINS, 2012).

Na medida em que buscávamos, através da metodologia, resposta para a indagação se havia

associação entre espiritualidade e religiosidade com risco de suicídio, nossos objetivos, em

parte, foram alcançados. Os resultados mostraram que 17% da população estudada

apresentavam risco de suicídio, e com relação a fatores protetores, significado e fé foram

positivamente correlacionados a proteção do suicídio.

O estudo apresentou algumas limitações, entre elas, o caráter transversal e quantitativo, não

sendo possível observação longitudinal dos pacientes. Entendemos que um questionário não

avalia um fenômeno de natureza tão complexa, uma vez que não retrata o que acontece na alma

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do indivíduo. Outra limitação foi a dificuldade para realizar entrevistas de forma privada, pois

os pacientes não concordavam permanecer no setor após a terapia dialítica por receio de perder

o transporte oferecido pelo município para esse fim. A grande maioria depende desse tipo de

transporte, pela mesma razão apresentavam dificuldades para chegar mais cedo, ou pela

dependência de familiares para chegar até o centro de diálise.

Alguns pacientes recusaram participar do estudo por não se sentirem confortáveis com o tema

suicídio, retratando o que temos na sociedade que é a dificuldade de falar sobre o assunto,

tornando-o obscuro e permeado de preconceitos e mitos.

Compreender a existência do risco de suicídio no paciente com doença renal crônica que se

submete a hemodiálise, pode ser importante aliado no controle clínico, uma vez que algumas

atitudes decorrentes de um desejo as vezes inconsciente de não mais viver podem ser

interpretadas como rebeldia. Apropriar-se desse conhecimento, descortina para o profissional

de saúde a realidade de que ele está diante de um indivíduo vulnerável, que necessita ser

acolhido em sua dor, não só a dor física.

A relevância da dimensão espiritual como fator protetor do suicídio, encontrada neste estudo

nos convida para que no exercício profissional possamos oferecer essa ferramenta estimulando

o paciente a entrar em contato com sua dimensão espiritual como uma possibilidade de terapia

complementar e não alternativa. Apresentar esta possibilidade ao paciente é trabalhar

preventivamente.

Futuras investigações que tratem desse tema são necessárias a fim de que esse conhecimento

seja aprofundado e os resultados possam receber maior atenção da comunidade científica.

Page 64: RISCO DE SUICÍDIO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO …€¦ · espiritualidade e a religiosidade como fator de proteção ao suicídio e avaliar a influência da espiritualidade

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

Prezado (a) Sr. (a):___________________________________________________

Você está sendo convidado a participar da pesquisa cujo título é ideação suicida e

espiritualidade/religiosidade um olhar direcionado aos portadores de doença renal crônica

submetidos à hemodiálise. Os objetivos da pesquisa são: Avaliar a associação entre

espiritualidade/religiosidade e ideação suicida nos pacientes portadores de doença renal crônica

de pacientes em hemodiálise. Avaliar a associação entre espiritualidade/religiosidade e saúde

mental (depressão e ansiedade) nos pacientes portadores de doença renal crônica em

hemodiálise. Contextualizar os impactos relacionados à espiritualidade/religiosidade com a

saúde dos indivíduos; refletir sobre a prevenção do suicídio no bojo das políticas públicas, em

especial as políticas de saúde mental. Sua participação nesta pesquisa é voluntária e se dará de

forma a responder questões relacionadas ao tema de pesquisa. Serão garantidos o sigilo e a

privacidade dos participantes do estudo, ou seja, não serão divulgados nomes, imagens ou

identidades. Os formulários de coleta de dados serão guardados pelos pesquisadores no período

de 5 (cinco) anos e após esse período serão descartados. Há um risco mínimo, ou seja, caso haja

desconforto em responder as perguntas você terá suporte, pois terá acompanhamento

psiquiátrico e/ou psicológico no ambulatório do Hospital Evangélico de Vila Velha. A qualquer

momento você poderá desistir de seu consentimento sem nenhum prejuízo. Você receberá uma

cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço eletrônico da pesquisadora, e da

orientadora, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou em qualquer

momento, através dos contatos abaixo.

Comitê de Ética e Pesquisa (CEP): e-mail: [email protected] e/ou telefone: 3334-

3586.

Orientadora: [email protected] e pelo tel. 981674433 Pesquisadora:

[email protected] e pelo tel.33290250/21213752

Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e

concordo em participar.

Vitória, ____ de______________ de 2015.

Participante: ______________________________ RG:_______________

___________________________________________________

Assinatura

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APÊNDICE B – Carta de Anuência do Centro de Doenças Renais do Espírito Santo

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APÊNDICE C – Carta de Anuência do Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital

Evangelico de Vila Velha

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APÊNDICE D – Carta de Anuência da Clínica MEDIRIM LTDA

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ANEXOS

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ANEXO A – Mini Exame do Estado Mental

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ANEXO B – seções diagnósticas do Mini International Neuropsychiatric Interview

(M.I.N.I)

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ANEXO C - Duke Religion Index (DUREL)

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ANEXO D - Functional Assessmentof Chronic Illness Therapy Spiritual Well Being

(FACIT-Sp-12)