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Page 1: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

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Revista Anual de J-Jistaacuteria

Ano XIII 2006- Nuacutemero 13

~========~~==~~~==~=========== CumpTinJo o lei municipal nO 2160

de 18 de De7emb1O de 1974 edita o volume

Revista nO 13 do ano 2006

Apoio

PT6feituTo do Municiacutepio de piracicaba e

Secretaria de AccediliJo CultuTal

~~~~~~~~~~~~~~~~

COPYTight - 2006 IWGP

Todos 0 direito reeTVados ao II-JGP

Impresgto no Biacutel - Printed in BTGl7il

~~~~~~~~~~~~~~~~

Noltsa Capa

Rio pilccicobo

RevitIiltltiacuteo da PrOl Joseacute Bonifoacutecio

D7eFeibJ7a - 2006 BaTjm NegTi

ccediloto David NegTi

Arte da Capa JelZo Oliveira dos Santo

INSTITUTO HISTOacuteRICO E ImOCROacuteFICO DE PIRACI

DIRETORIA (2006 2006)

Presidente PAULO CELSO BASSETTI

Vice~Ptesidente

HALDUMONT NOBRE FERRAZ

1deg Secretaacuterio SERMO DORIWTTO

2- Secretaria MYRIA MACHADO BOTELHO

1 Tesoureiro I FfltA~ICICO DE A F DE MELLO

2deg Tesoureiro FLAVIO RIZZOLO

Orador JOAtildeO UMBERTO NASSIF

Diretor de Acervo MARLY THEREZlNHAG PERECIN

1(1 Suplente RENATO LEME FERRARl

2 Suplente CEcluo ELiAS NETTO

3 Suplente GILBERTO JUacuteLIO PIATTO

Conselho Fiscal 11gt ANTONIO ROBERTO DIEHL 2 CElARIO DE C FERRARI 3deg ANTONIO H C COCENZA

Suplente Conselho Fiscal ELIAS SALUM

JOS~ANTONIO B DE CAMARGC WALDEMAR ROMANO

ED1TORACcedilAtildeO E IMPRESSAtildeO Graacutefica e Editora Oegaspari R Baratildeo de Piraclcamriacutem 1926 FonefFax (19) 3433-6748 13416middot150 _ PiracicabamiddotSP

glltir~degsP3rit(rmoombr

REVISTADO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE

SUMAacuteRIO

Relatoacuterio das Atiacuteviacutedades do IHGP no Ano de 2006 7

Relaccedilatildeo de Malerial do Acervo Permanente do IHGP Disponibilizado para consulta e pesquisa 9

Relaccedilatildeo de Pesquisas 13

Eacute S CULO XVIII A Ameacuterica Portuguesa e a Situaccedilatildeo Geral de Inseguranccedila no Brasil- Marly Therezinha Germano Pereciacuten 15

Recreio do Corumbataiacute Frei Sermo Oonzollo 23

Miguelzinho Outra (Toacutepicos Biograacuteficos) - Guilherme ViUi 43

Frei Paulo de Sorocaba Francisco de Assis Ferraz de Mello 49

Catolicismo Popular -A Devoccedilatildeo ao Senhor Bom Jesus no Estado de Satildeo Paulo - Joatildeo Luis Franchi 51

MemoacuteriaS da EscravidatildeO O Negro nas Artes - Hugo Pedro Carradore 55

A Capela do Passo do Nosso Senhor do Horto de Piracicaba - Hugo Pedro Carradore 63

Coordenaccedilatildeo Editorial Isabel C DeGaspari Diagramaccedilatildeo Jelzo Oliveira dos Santos Fotos Arquivo do IHGP Agradecimentos Odila A Franccediloso Rodrigues de Souza Aos Colaboradores Vitor Pires Vencovisky

Caacutessio Marafante

~~ INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAFICO DE PIRACICABA iii CNPJ 508538780001-48+ Rua do Rosaacuterio 781-CEP 13400-180 Piracicaba-SP -Brasil ~ Telefone (19)3434-8811 E-mail ihgpigcombr ~

V Votorantim ICelulose e Papel

)RESENTE RESPONSAVEL FUTURO SUSTENTADO

Impresso em papel coucheacute Starmax 90 91m2

da Votorantiacutem Celulose e Papel - VCP Papel produzido com florestas plantadas de eucalipto

Preservando matas nativas em harmonia com o meio ambiente

RELATOacuteRIO DAS ATIVIDADES

00 IHGP NO ANo DE 2006

i) Completou a digitalizaccedilatildeo do jornal Gazeta de Piracicaba (1882-1937)

2) Instalaccedilatildeo do Cenlro de Pesquisa e Desenvolvimento Histoacuterico

3) Instalaccedilatildeo do Cadastro Temaacutetico do IHGP em ordem alfabeacutetica

4) Catalogaccedilatildeo da Biblioteca do IHGP petos alunos estagiaacuterios da Unimep

5) Feita a inscriccedilatildeo do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba no oPACo da Secretaria de Cultura do Estado de Satildeo Paulo

6) Homenageou o Centenaacuterio da Corporaccedilatildeo Musical Banda Uniatildeo Operaacuteria

7) Realizou a Pesquisa da Hisloacuterla da Banda Uniatildeo Operaacuteria

8) Elaborou o lanccedilamento da Revista O Passar da Banda

9) Publicou a Revista Cientiacutefica do IHGP 013 ano 2006

10) Instalou a Biblioteca do Prol Flaacutevio Toledo Piza

11) Promoveu a l Semana de Esludos Cemltenals com palestras e seminaacuterios

12) Em elaboraccedilatildeo bull Dicionaacuterio de Ruas de Piracicaba 10 Volume 500 paacuteginas

13) Pesquisas bull Histoacuteria das Corridas Automobiliacutesticas de Piracicaba

bull HistOacutelIacutea do Basquetebol em Piracicaba

14) Exposiccedilotildees bull Exposiccedilatildeo com fotos do acervo do IHGP com participaccedilatildeo da

Secretaria de Accedilatildeo Cultural SecretalIacutea da Educaccedilatildeo e diversas Escolas entre elas o liceu Terras do Engenho

- Exposiccedilatildeo sobre Ecologia no Carrefour

bull Exposiccedilatildeo de Fotografia de Jazigo com obra artiacutestica no salatildeo da Acipi

RELACcedilatildeO DE MlITERlAL DO

ACERVO PERMANENTE DO IHGP- DISPONIBILIZADOS

PARA CONSULTA E PESQUISA

(GESrOES 2002 A 2006)

PERiOacuteDICOS

1 REVISTAS DE ESTUDOS HISTOacuteRICOS E CIEcircNCIAS CORRELATAS

Revista do IHGB (Revisla do Instituto HistOacutelIacuteco e Geograacutefico Brasileiro) - Eacute a revista mais antiga publicada no Brasil Nunca deixou de ser produzida desde seu primeiro nuacutemero lanccedilado no ano de 1839 O IHGB foi uma instituiccedilatildeo criada pelo Govemo Imperial quando D Pedro 11 era regente do Brasil Essa instituiccedilatildeo leria por objetivo incentivar pesquisadores de vaacuterias aacutereas de estudos cientificas a investigar relatar e produzir conhecimento sobre as diversas regiotildees geograacuteficas do Pais e os grupos sociais existentes nelas seus modos de vida suas culturas Todas as informaccedilotildees recolhidas eram levadas agrave sede da instituiccedilatildeo que fica ateacute hoje na cidade do Rio de Janeiro Elas eram analisadas e os estudos considerados importantes eram entatildeo publicados na revista Desse modo o Govemo Imperial com agentes espalhados por inuacutemeros canshylos do Brasil obtinha informaccedilotildees relevantes sobre a diversidade dos recursos naturais e humanos existentes pelo lerritoacuterio Era uma forma de fazer conhecer as aacutereas mais distanles da capital e permitir com isso que se planejassem estrateacutegias de proteccedilatildeo e controle das fronteiras territoriais do Pais No acelVo do IHGP (Insliluto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba) temos os nuacutemeros que vatildeo de 1839 a 1990 shycoleccedilatildeo quase completa Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo (revista do mesmo gecircnero que a do Instituto Histoacuterico e GeograacutefiCO Brasileiro)-O IHGSP era um Instituto Provincial e linha a funccedilatildeo de reunir informaccedilotildees importantes sobre a Provincia paulista mais especificamente Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico da Paraiba Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Minas Gerais

Revista de Histoacuteria (produzida pelo Departamento de Histoacuteria Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo nasdeacutecadas de 1960 a 1980) - Eacute uma importante revisla de artigos de acadecircmicos ligados agrave aacuterea de Histoacuteria e MemOacutelia Brasil e geral Revista Anhembi (reuacutene uma seacuterie de artigos literaacuterios e outros estudos) - coleccedilatildeo quase completa Revista do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo (reuacutene uma seacuterie de artigos voltados para estudos sobre a capital e o intenor paulista gecircneros de estudos diversificados) Revista do Arquivo Puacuteblico Mineiro Revista da Academia Paulista de Letras Revista de Genealogia Revista do Conselho Esladual de Cultura Revista de Informaccedilatildeo legislativa Revista do Museu Paulista

2 PUBLICACcedilAtildeO DE DOCUMENTAccedilotildeES (ORGANIZADAS)

Atas da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (registros das sessotildees ordinaacuterias e extraordinaacuterias ocorridas no exerciacutecio das atividades da Cacircmara de S Pauto) -Abrange os seacuteculos XVIII XIX e XX Atas da Sociedade Beneficente Portuguesa - Piracicaba Registro Geral da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (seacuteculos XVII XVIII e XIX) Cartas de Datas de Terra (registro de pedidos e doaccedilotildees de terras concedidas pelo Ministeacuterio do Governo para arrendamentos) - Abrange os seacuteculos XVII XVIII e XIX Documentos Interessantes (reuacutene uma seacuterie de documentos de ordem ofiacutecial puacuteblicos e variados quanto aos tipos) shySeacuteculos XVIII XIX e XX Anais da Assembleacuteia legislativa (seacuteculo XX) Anais da Assembleacuteia legislativa da Proviacutencia (seacuteculo XIX) Anais do Museu Paulista leis e Decretos do Estado de Satildeo Paulo (fins do seacuteculo XIX eXX)

3 COLECcedilOtildeES DE JORNA1S~

Gazeta de Piracicaba (1882-1937) Jornal de Piracicaba (1900-1995) O Diaacuterio de Piracicaba (1936--1993) O Diaacuterio (1962-1993) A Tribuna Piracicabana (1966--1994) A Proviacutencia (1988) Jornal do Povo Piracicabano (1978-1979)

o Democrata (1993--1994) Folha Piracicabana (1962-1968) O Monumento (1930-1933) Diaacuterio da Manhatilde (1929-1930) A Tarde (1918) O Maiatildeo (1901 - uacutenico exemplar) A Bigorna (uacutenico exemplar) O Planalto (1940-1942) Diaacuterio de Satildeo Paulo (1954) Folha da Manhatilde (1954)

ICONOGRAFIAS

4 FOTOGRAFIAS

Cenas cotidianas na cidade e aacutereas rurais em Piracicaba (seacuteculos XIX e XX -aproximadamente 1200) Obras puacuteblicas acervo fotograacutefico da Prefeitura de Piracicaba (seacuteculos XIX e XX - aproximadamente 1000)

5 IMAGENS DIGITALIZADAS

Fotografia telas postais desenhos (aproximadamente 1100)

DOCUMENTACcedilAtildeO ELETROcircNICA

6 JORNAIS 40000 imagens

7 DOCUMENTOS AVULSOS 2000

8 REV1TAS 20 nuacutemeros - inlegral (aproximadamente 4000 paacuteginas)

9 OBRAS RARAS 2 Titulos - integral (aproximadamente 500

paacuteginas)

E GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

RELACcedilAtildeO DE PESQUISAS

Piracicaba 29 de novembro de 2006

DE Luiz FranciacutescoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histoacuteria da Unimep

i 11I~X PARA Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piacuteracicaba - IHGP

~~x~ REF Relaccedilatildeo de pesquisas vinculadas ao ~~~ Curso de Histoacuteria da Unimep que recorreram agraves

~p~jsect f2ti~ fontes disponfvels no IHGP

Prezados professores

Atendendo aacute solicitaccedilatildeo da diretoria do IHGP apresento a seguir os discentes do Curso de Histoacuteria da Unimep que utilizaram fontes disponiacuteveis no referido Instituto na composiccedilatildeo de seus Trabalhos de Conclusatildeo de Curso assim como os tiacutetulos de suas pesquisas

Discenes concluintes em 2005

BORBA Giovana Carpin Guerreiros inconstantes heroacuteis indolentes as representaccedilotildees do indigena pelo IHGB Orienmiddot tador ProL-DL Luiz Francisco A de Miranda

REDIVO Rute Luciancencov O mesticcedilo e suas qualidades laboriosas Orientador Prof-DrLuiz FranciscoA de Miranda

SPOTO Eduardo FilieI Civilizaccedilatildeo e catequese contenda poliacutetica entre Esado e Igreja no seacuteculo XIX Orientador Prolmiddot Dr Luiz Francisco A de Miranda

Discentes concluines em 2006

FERREIRA Joatildeo Paulo Ponte Feacute lei e miscigenaccedilatildeo anaacutelise do sistema colonial brasileiro por Rober Southey Orientador ProLmiddotDr Luiz Francisco A de Miranda

GOMES Luiz Rafael A liga Operaacuteria de Piracicaba e a greve geral de 1919 sindicalismo revolucionaacutelio reformismo cultura e imprensa Orientadora Profa-Dra Joseli Maria Nunes Mendonccedila

MELLO Patricia Ferraz de A questatildeo da origem dos iacutendios na Revista do IHGB Orientador ProL-Dr Luiz Francisco A de Miranda

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

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o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

prlmmJOS habitantes do tefshyrilocircrlo paulista In Revista de Hisloacuteria n18 SatildeO Pau~ lo 1954 p 395-397

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Atas e Relatoacuterios

Aclas da Carnara da ViUa de S Paulo 1596-1622 vol2

RelatoacutelIacuteo da Estrada de Ferro ytuana 1900

Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

bull bullbull

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

00

Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

bullbullbull

Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

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BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

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VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 2: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

Revista Anual de J-Jistaacuteria

Ano XIII 2006- Nuacutemero 13

~========~~==~~~==~=========== CumpTinJo o lei municipal nO 2160

de 18 de De7emb1O de 1974 edita o volume

Revista nO 13 do ano 2006

Apoio

PT6feituTo do Municiacutepio de piracicaba e

Secretaria de AccediliJo CultuTal

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Todos 0 direito reeTVados ao II-JGP

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Noltsa Capa

Rio pilccicobo

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D7eFeibJ7a - 2006 BaTjm NegTi

ccediloto David NegTi

Arte da Capa JelZo Oliveira dos Santo

INSTITUTO HISTOacuteRICO E ImOCROacuteFICO DE PIRACI

DIRETORIA (2006 2006)

Presidente PAULO CELSO BASSETTI

Vice~Ptesidente

HALDUMONT NOBRE FERRAZ

1deg Secretaacuterio SERMO DORIWTTO

2- Secretaria MYRIA MACHADO BOTELHO

1 Tesoureiro I FfltA~ICICO DE A F DE MELLO

2deg Tesoureiro FLAVIO RIZZOLO

Orador JOAtildeO UMBERTO NASSIF

Diretor de Acervo MARLY THEREZlNHAG PERECIN

1(1 Suplente RENATO LEME FERRARl

2 Suplente CEcluo ELiAS NETTO

3 Suplente GILBERTO JUacuteLIO PIATTO

Conselho Fiscal 11gt ANTONIO ROBERTO DIEHL 2 CElARIO DE C FERRARI 3deg ANTONIO H C COCENZA

Suplente Conselho Fiscal ELIAS SALUM

JOS~ANTONIO B DE CAMARGC WALDEMAR ROMANO

ED1TORACcedilAtildeO E IMPRESSAtildeO Graacutefica e Editora Oegaspari R Baratildeo de Piraclcamriacutem 1926 FonefFax (19) 3433-6748 13416middot150 _ PiracicabamiddotSP

glltir~degsP3rit(rmoombr

REVISTADO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE

SUMAacuteRIO

Relatoacuterio das Atiacuteviacutedades do IHGP no Ano de 2006 7

Relaccedilatildeo de Malerial do Acervo Permanente do IHGP Disponibilizado para consulta e pesquisa 9

Relaccedilatildeo de Pesquisas 13

Eacute S CULO XVIII A Ameacuterica Portuguesa e a Situaccedilatildeo Geral de Inseguranccedila no Brasil- Marly Therezinha Germano Pereciacuten 15

Recreio do Corumbataiacute Frei Sermo Oonzollo 23

Miguelzinho Outra (Toacutepicos Biograacuteficos) - Guilherme ViUi 43

Frei Paulo de Sorocaba Francisco de Assis Ferraz de Mello 49

Catolicismo Popular -A Devoccedilatildeo ao Senhor Bom Jesus no Estado de Satildeo Paulo - Joatildeo Luis Franchi 51

MemoacuteriaS da EscravidatildeO O Negro nas Artes - Hugo Pedro Carradore 55

A Capela do Passo do Nosso Senhor do Horto de Piracicaba - Hugo Pedro Carradore 63

Coordenaccedilatildeo Editorial Isabel C DeGaspari Diagramaccedilatildeo Jelzo Oliveira dos Santos Fotos Arquivo do IHGP Agradecimentos Odila A Franccediloso Rodrigues de Souza Aos Colaboradores Vitor Pires Vencovisky

Caacutessio Marafante

~~ INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAFICO DE PIRACICABA iii CNPJ 508538780001-48+ Rua do Rosaacuterio 781-CEP 13400-180 Piracicaba-SP -Brasil ~ Telefone (19)3434-8811 E-mail ihgpigcombr ~

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Preservando matas nativas em harmonia com o meio ambiente

RELATOacuteRIO DAS ATIVIDADES

00 IHGP NO ANo DE 2006

i) Completou a digitalizaccedilatildeo do jornal Gazeta de Piracicaba (1882-1937)

2) Instalaccedilatildeo do Cenlro de Pesquisa e Desenvolvimento Histoacuterico

3) Instalaccedilatildeo do Cadastro Temaacutetico do IHGP em ordem alfabeacutetica

4) Catalogaccedilatildeo da Biblioteca do IHGP petos alunos estagiaacuterios da Unimep

5) Feita a inscriccedilatildeo do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba no oPACo da Secretaria de Cultura do Estado de Satildeo Paulo

6) Homenageou o Centenaacuterio da Corporaccedilatildeo Musical Banda Uniatildeo Operaacuteria

7) Realizou a Pesquisa da Hisloacuterla da Banda Uniatildeo Operaacuteria

8) Elaborou o lanccedilamento da Revista O Passar da Banda

9) Publicou a Revista Cientiacutefica do IHGP 013 ano 2006

10) Instalou a Biblioteca do Prol Flaacutevio Toledo Piza

11) Promoveu a l Semana de Esludos Cemltenals com palestras e seminaacuterios

12) Em elaboraccedilatildeo bull Dicionaacuterio de Ruas de Piracicaba 10 Volume 500 paacuteginas

13) Pesquisas bull Histoacuteria das Corridas Automobiliacutesticas de Piracicaba

bull HistOacutelIacutea do Basquetebol em Piracicaba

14) Exposiccedilotildees bull Exposiccedilatildeo com fotos do acervo do IHGP com participaccedilatildeo da

Secretaria de Accedilatildeo Cultural SecretalIacutea da Educaccedilatildeo e diversas Escolas entre elas o liceu Terras do Engenho

- Exposiccedilatildeo sobre Ecologia no Carrefour

bull Exposiccedilatildeo de Fotografia de Jazigo com obra artiacutestica no salatildeo da Acipi

RELACcedilatildeO DE MlITERlAL DO

ACERVO PERMANENTE DO IHGP- DISPONIBILIZADOS

PARA CONSULTA E PESQUISA

(GESrOES 2002 A 2006)

PERiOacuteDICOS

1 REVISTAS DE ESTUDOS HISTOacuteRICOS E CIEcircNCIAS CORRELATAS

Revista do IHGB (Revisla do Instituto HistOacutelIacuteco e Geograacutefico Brasileiro) - Eacute a revista mais antiga publicada no Brasil Nunca deixou de ser produzida desde seu primeiro nuacutemero lanccedilado no ano de 1839 O IHGB foi uma instituiccedilatildeo criada pelo Govemo Imperial quando D Pedro 11 era regente do Brasil Essa instituiccedilatildeo leria por objetivo incentivar pesquisadores de vaacuterias aacutereas de estudos cientificas a investigar relatar e produzir conhecimento sobre as diversas regiotildees geograacuteficas do Pais e os grupos sociais existentes nelas seus modos de vida suas culturas Todas as informaccedilotildees recolhidas eram levadas agrave sede da instituiccedilatildeo que fica ateacute hoje na cidade do Rio de Janeiro Elas eram analisadas e os estudos considerados importantes eram entatildeo publicados na revista Desse modo o Govemo Imperial com agentes espalhados por inuacutemeros canshylos do Brasil obtinha informaccedilotildees relevantes sobre a diversidade dos recursos naturais e humanos existentes pelo lerritoacuterio Era uma forma de fazer conhecer as aacutereas mais distanles da capital e permitir com isso que se planejassem estrateacutegias de proteccedilatildeo e controle das fronteiras territoriais do Pais No acelVo do IHGP (Insliluto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba) temos os nuacutemeros que vatildeo de 1839 a 1990 shycoleccedilatildeo quase completa Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo (revista do mesmo gecircnero que a do Instituto Histoacuterico e GeograacutefiCO Brasileiro)-O IHGSP era um Instituto Provincial e linha a funccedilatildeo de reunir informaccedilotildees importantes sobre a Provincia paulista mais especificamente Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico da Paraiba Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Minas Gerais

Revista de Histoacuteria (produzida pelo Departamento de Histoacuteria Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo nasdeacutecadas de 1960 a 1980) - Eacute uma importante revisla de artigos de acadecircmicos ligados agrave aacuterea de Histoacuteria e MemOacutelia Brasil e geral Revista Anhembi (reuacutene uma seacuterie de artigos literaacuterios e outros estudos) - coleccedilatildeo quase completa Revista do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo (reuacutene uma seacuterie de artigos voltados para estudos sobre a capital e o intenor paulista gecircneros de estudos diversificados) Revista do Arquivo Puacuteblico Mineiro Revista da Academia Paulista de Letras Revista de Genealogia Revista do Conselho Esladual de Cultura Revista de Informaccedilatildeo legislativa Revista do Museu Paulista

2 PUBLICACcedilAtildeO DE DOCUMENTAccedilotildeES (ORGANIZADAS)

Atas da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (registros das sessotildees ordinaacuterias e extraordinaacuterias ocorridas no exerciacutecio das atividades da Cacircmara de S Pauto) -Abrange os seacuteculos XVIII XIX e XX Atas da Sociedade Beneficente Portuguesa - Piracicaba Registro Geral da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (seacuteculos XVII XVIII e XIX) Cartas de Datas de Terra (registro de pedidos e doaccedilotildees de terras concedidas pelo Ministeacuterio do Governo para arrendamentos) - Abrange os seacuteculos XVII XVIII e XIX Documentos Interessantes (reuacutene uma seacuterie de documentos de ordem ofiacutecial puacuteblicos e variados quanto aos tipos) shySeacuteculos XVIII XIX e XX Anais da Assembleacuteia legislativa (seacuteculo XX) Anais da Assembleacuteia legislativa da Proviacutencia (seacuteculo XIX) Anais do Museu Paulista leis e Decretos do Estado de Satildeo Paulo (fins do seacuteculo XIX eXX)

3 COLECcedilOtildeES DE JORNA1S~

Gazeta de Piracicaba (1882-1937) Jornal de Piracicaba (1900-1995) O Diaacuterio de Piracicaba (1936--1993) O Diaacuterio (1962-1993) A Tribuna Piracicabana (1966--1994) A Proviacutencia (1988) Jornal do Povo Piracicabano (1978-1979)

o Democrata (1993--1994) Folha Piracicabana (1962-1968) O Monumento (1930-1933) Diaacuterio da Manhatilde (1929-1930) A Tarde (1918) O Maiatildeo (1901 - uacutenico exemplar) A Bigorna (uacutenico exemplar) O Planalto (1940-1942) Diaacuterio de Satildeo Paulo (1954) Folha da Manhatilde (1954)

ICONOGRAFIAS

4 FOTOGRAFIAS

Cenas cotidianas na cidade e aacutereas rurais em Piracicaba (seacuteculos XIX e XX -aproximadamente 1200) Obras puacuteblicas acervo fotograacutefico da Prefeitura de Piracicaba (seacuteculos XIX e XX - aproximadamente 1000)

5 IMAGENS DIGITALIZADAS

Fotografia telas postais desenhos (aproximadamente 1100)

DOCUMENTACcedilAtildeO ELETROcircNICA

6 JORNAIS 40000 imagens

7 DOCUMENTOS AVULSOS 2000

8 REV1TAS 20 nuacutemeros - inlegral (aproximadamente 4000 paacuteginas)

9 OBRAS RARAS 2 Titulos - integral (aproximadamente 500

paacuteginas)

E GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

RELACcedilAtildeO DE PESQUISAS

Piracicaba 29 de novembro de 2006

DE Luiz FranciacutescoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histoacuteria da Unimep

i 11I~X PARA Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piacuteracicaba - IHGP

~~x~ REF Relaccedilatildeo de pesquisas vinculadas ao ~~~ Curso de Histoacuteria da Unimep que recorreram agraves

~p~jsect f2ti~ fontes disponfvels no IHGP

Prezados professores

Atendendo aacute solicitaccedilatildeo da diretoria do IHGP apresento a seguir os discentes do Curso de Histoacuteria da Unimep que utilizaram fontes disponiacuteveis no referido Instituto na composiccedilatildeo de seus Trabalhos de Conclusatildeo de Curso assim como os tiacutetulos de suas pesquisas

Discenes concluintes em 2005

BORBA Giovana Carpin Guerreiros inconstantes heroacuteis indolentes as representaccedilotildees do indigena pelo IHGB Orienmiddot tador ProL-DL Luiz Francisco A de Miranda

REDIVO Rute Luciancencov O mesticcedilo e suas qualidades laboriosas Orientador Prof-DrLuiz FranciscoA de Miranda

SPOTO Eduardo FilieI Civilizaccedilatildeo e catequese contenda poliacutetica entre Esado e Igreja no seacuteculo XIX Orientador Prolmiddot Dr Luiz Francisco A de Miranda

Discentes concluines em 2006

FERREIRA Joatildeo Paulo Ponte Feacute lei e miscigenaccedilatildeo anaacutelise do sistema colonial brasileiro por Rober Southey Orientador ProLmiddotDr Luiz Francisco A de Miranda

GOMES Luiz Rafael A liga Operaacuteria de Piracicaba e a greve geral de 1919 sindicalismo revolucionaacutelio reformismo cultura e imprensa Orientadora Profa-Dra Joseli Maria Nunes Mendonccedila

MELLO Patricia Ferraz de A questatildeo da origem dos iacutendios na Revista do IHGB Orientador ProL-Dr Luiz Francisco A de Miranda

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

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o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

prlmmJOS habitantes do tefshyrilocircrlo paulista In Revista de Hisloacuteria n18 SatildeO Pau~ lo 1954 p 395-397

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Atas e Relatoacuterios

Aclas da Carnara da ViUa de S Paulo 1596-1622 vol2

RelatoacutelIacuteo da Estrada de Ferro ytuana 1900

Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

bull bullbull

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

00

Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

bullbullbull

Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

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BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

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NOVO CATECISMO OU CATECISMO HOLANDEcircS Instituto Catequeacutetico de Nijmegem Editora Helder Satildeo Paulo 1967

VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 3: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

INSTITUTO HISTOacuteRICO E ImOCROacuteFICO DE PIRACI

DIRETORIA (2006 2006)

Presidente PAULO CELSO BASSETTI

Vice~Ptesidente

HALDUMONT NOBRE FERRAZ

1deg Secretaacuterio SERMO DORIWTTO

2- Secretaria MYRIA MACHADO BOTELHO

1 Tesoureiro I FfltA~ICICO DE A F DE MELLO

2deg Tesoureiro FLAVIO RIZZOLO

Orador JOAtildeO UMBERTO NASSIF

Diretor de Acervo MARLY THEREZlNHAG PERECIN

1(1 Suplente RENATO LEME FERRARl

2 Suplente CEcluo ELiAS NETTO

3 Suplente GILBERTO JUacuteLIO PIATTO

Conselho Fiscal 11gt ANTONIO ROBERTO DIEHL 2 CElARIO DE C FERRARI 3deg ANTONIO H C COCENZA

Suplente Conselho Fiscal ELIAS SALUM

JOS~ANTONIO B DE CAMARGC WALDEMAR ROMANO

ED1TORACcedilAtildeO E IMPRESSAtildeO Graacutefica e Editora Oegaspari R Baratildeo de Piraclcamriacutem 1926 FonefFax (19) 3433-6748 13416middot150 _ PiracicabamiddotSP

glltir~degsP3rit(rmoombr

REVISTADO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE

SUMAacuteRIO

Relatoacuterio das Atiacuteviacutedades do IHGP no Ano de 2006 7

Relaccedilatildeo de Malerial do Acervo Permanente do IHGP Disponibilizado para consulta e pesquisa 9

Relaccedilatildeo de Pesquisas 13

Eacute S CULO XVIII A Ameacuterica Portuguesa e a Situaccedilatildeo Geral de Inseguranccedila no Brasil- Marly Therezinha Germano Pereciacuten 15

Recreio do Corumbataiacute Frei Sermo Oonzollo 23

Miguelzinho Outra (Toacutepicos Biograacuteficos) - Guilherme ViUi 43

Frei Paulo de Sorocaba Francisco de Assis Ferraz de Mello 49

Catolicismo Popular -A Devoccedilatildeo ao Senhor Bom Jesus no Estado de Satildeo Paulo - Joatildeo Luis Franchi 51

MemoacuteriaS da EscravidatildeO O Negro nas Artes - Hugo Pedro Carradore 55

A Capela do Passo do Nosso Senhor do Horto de Piracicaba - Hugo Pedro Carradore 63

Coordenaccedilatildeo Editorial Isabel C DeGaspari Diagramaccedilatildeo Jelzo Oliveira dos Santos Fotos Arquivo do IHGP Agradecimentos Odila A Franccediloso Rodrigues de Souza Aos Colaboradores Vitor Pires Vencovisky

Caacutessio Marafante

~~ INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAFICO DE PIRACICABA iii CNPJ 508538780001-48+ Rua do Rosaacuterio 781-CEP 13400-180 Piracicaba-SP -Brasil ~ Telefone (19)3434-8811 E-mail ihgpigcombr ~

V Votorantim ICelulose e Papel

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da Votorantiacutem Celulose e Papel - VCP Papel produzido com florestas plantadas de eucalipto

Preservando matas nativas em harmonia com o meio ambiente

RELATOacuteRIO DAS ATIVIDADES

00 IHGP NO ANo DE 2006

i) Completou a digitalizaccedilatildeo do jornal Gazeta de Piracicaba (1882-1937)

2) Instalaccedilatildeo do Cenlro de Pesquisa e Desenvolvimento Histoacuterico

3) Instalaccedilatildeo do Cadastro Temaacutetico do IHGP em ordem alfabeacutetica

4) Catalogaccedilatildeo da Biblioteca do IHGP petos alunos estagiaacuterios da Unimep

5) Feita a inscriccedilatildeo do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba no oPACo da Secretaria de Cultura do Estado de Satildeo Paulo

6) Homenageou o Centenaacuterio da Corporaccedilatildeo Musical Banda Uniatildeo Operaacuteria

7) Realizou a Pesquisa da Hisloacuterla da Banda Uniatildeo Operaacuteria

8) Elaborou o lanccedilamento da Revista O Passar da Banda

9) Publicou a Revista Cientiacutefica do IHGP 013 ano 2006

10) Instalou a Biblioteca do Prol Flaacutevio Toledo Piza

11) Promoveu a l Semana de Esludos Cemltenals com palestras e seminaacuterios

12) Em elaboraccedilatildeo bull Dicionaacuterio de Ruas de Piracicaba 10 Volume 500 paacuteginas

13) Pesquisas bull Histoacuteria das Corridas Automobiliacutesticas de Piracicaba

bull HistOacutelIacutea do Basquetebol em Piracicaba

14) Exposiccedilotildees bull Exposiccedilatildeo com fotos do acervo do IHGP com participaccedilatildeo da

Secretaria de Accedilatildeo Cultural SecretalIacutea da Educaccedilatildeo e diversas Escolas entre elas o liceu Terras do Engenho

- Exposiccedilatildeo sobre Ecologia no Carrefour

bull Exposiccedilatildeo de Fotografia de Jazigo com obra artiacutestica no salatildeo da Acipi

RELACcedilatildeO DE MlITERlAL DO

ACERVO PERMANENTE DO IHGP- DISPONIBILIZADOS

PARA CONSULTA E PESQUISA

(GESrOES 2002 A 2006)

PERiOacuteDICOS

1 REVISTAS DE ESTUDOS HISTOacuteRICOS E CIEcircNCIAS CORRELATAS

Revista do IHGB (Revisla do Instituto HistOacutelIacuteco e Geograacutefico Brasileiro) - Eacute a revista mais antiga publicada no Brasil Nunca deixou de ser produzida desde seu primeiro nuacutemero lanccedilado no ano de 1839 O IHGB foi uma instituiccedilatildeo criada pelo Govemo Imperial quando D Pedro 11 era regente do Brasil Essa instituiccedilatildeo leria por objetivo incentivar pesquisadores de vaacuterias aacutereas de estudos cientificas a investigar relatar e produzir conhecimento sobre as diversas regiotildees geograacuteficas do Pais e os grupos sociais existentes nelas seus modos de vida suas culturas Todas as informaccedilotildees recolhidas eram levadas agrave sede da instituiccedilatildeo que fica ateacute hoje na cidade do Rio de Janeiro Elas eram analisadas e os estudos considerados importantes eram entatildeo publicados na revista Desse modo o Govemo Imperial com agentes espalhados por inuacutemeros canshylos do Brasil obtinha informaccedilotildees relevantes sobre a diversidade dos recursos naturais e humanos existentes pelo lerritoacuterio Era uma forma de fazer conhecer as aacutereas mais distanles da capital e permitir com isso que se planejassem estrateacutegias de proteccedilatildeo e controle das fronteiras territoriais do Pais No acelVo do IHGP (Insliluto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba) temos os nuacutemeros que vatildeo de 1839 a 1990 shycoleccedilatildeo quase completa Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo (revista do mesmo gecircnero que a do Instituto Histoacuterico e GeograacutefiCO Brasileiro)-O IHGSP era um Instituto Provincial e linha a funccedilatildeo de reunir informaccedilotildees importantes sobre a Provincia paulista mais especificamente Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico da Paraiba Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Minas Gerais

Revista de Histoacuteria (produzida pelo Departamento de Histoacuteria Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo nasdeacutecadas de 1960 a 1980) - Eacute uma importante revisla de artigos de acadecircmicos ligados agrave aacuterea de Histoacuteria e MemOacutelia Brasil e geral Revista Anhembi (reuacutene uma seacuterie de artigos literaacuterios e outros estudos) - coleccedilatildeo quase completa Revista do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo (reuacutene uma seacuterie de artigos voltados para estudos sobre a capital e o intenor paulista gecircneros de estudos diversificados) Revista do Arquivo Puacuteblico Mineiro Revista da Academia Paulista de Letras Revista de Genealogia Revista do Conselho Esladual de Cultura Revista de Informaccedilatildeo legislativa Revista do Museu Paulista

2 PUBLICACcedilAtildeO DE DOCUMENTAccedilotildeES (ORGANIZADAS)

Atas da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (registros das sessotildees ordinaacuterias e extraordinaacuterias ocorridas no exerciacutecio das atividades da Cacircmara de S Pauto) -Abrange os seacuteculos XVIII XIX e XX Atas da Sociedade Beneficente Portuguesa - Piracicaba Registro Geral da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (seacuteculos XVII XVIII e XIX) Cartas de Datas de Terra (registro de pedidos e doaccedilotildees de terras concedidas pelo Ministeacuterio do Governo para arrendamentos) - Abrange os seacuteculos XVII XVIII e XIX Documentos Interessantes (reuacutene uma seacuterie de documentos de ordem ofiacutecial puacuteblicos e variados quanto aos tipos) shySeacuteculos XVIII XIX e XX Anais da Assembleacuteia legislativa (seacuteculo XX) Anais da Assembleacuteia legislativa da Proviacutencia (seacuteculo XIX) Anais do Museu Paulista leis e Decretos do Estado de Satildeo Paulo (fins do seacuteculo XIX eXX)

3 COLECcedilOtildeES DE JORNA1S~

Gazeta de Piracicaba (1882-1937) Jornal de Piracicaba (1900-1995) O Diaacuterio de Piracicaba (1936--1993) O Diaacuterio (1962-1993) A Tribuna Piracicabana (1966--1994) A Proviacutencia (1988) Jornal do Povo Piracicabano (1978-1979)

o Democrata (1993--1994) Folha Piracicabana (1962-1968) O Monumento (1930-1933) Diaacuterio da Manhatilde (1929-1930) A Tarde (1918) O Maiatildeo (1901 - uacutenico exemplar) A Bigorna (uacutenico exemplar) O Planalto (1940-1942) Diaacuterio de Satildeo Paulo (1954) Folha da Manhatilde (1954)

ICONOGRAFIAS

4 FOTOGRAFIAS

Cenas cotidianas na cidade e aacutereas rurais em Piracicaba (seacuteculos XIX e XX -aproximadamente 1200) Obras puacuteblicas acervo fotograacutefico da Prefeitura de Piracicaba (seacuteculos XIX e XX - aproximadamente 1000)

5 IMAGENS DIGITALIZADAS

Fotografia telas postais desenhos (aproximadamente 1100)

DOCUMENTACcedilAtildeO ELETROcircNICA

6 JORNAIS 40000 imagens

7 DOCUMENTOS AVULSOS 2000

8 REV1TAS 20 nuacutemeros - inlegral (aproximadamente 4000 paacuteginas)

9 OBRAS RARAS 2 Titulos - integral (aproximadamente 500

paacuteginas)

E GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

RELACcedilAtildeO DE PESQUISAS

Piracicaba 29 de novembro de 2006

DE Luiz FranciacutescoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histoacuteria da Unimep

i 11I~X PARA Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piacuteracicaba - IHGP

~~x~ REF Relaccedilatildeo de pesquisas vinculadas ao ~~~ Curso de Histoacuteria da Unimep que recorreram agraves

~p~jsect f2ti~ fontes disponfvels no IHGP

Prezados professores

Atendendo aacute solicitaccedilatildeo da diretoria do IHGP apresento a seguir os discentes do Curso de Histoacuteria da Unimep que utilizaram fontes disponiacuteveis no referido Instituto na composiccedilatildeo de seus Trabalhos de Conclusatildeo de Curso assim como os tiacutetulos de suas pesquisas

Discenes concluintes em 2005

BORBA Giovana Carpin Guerreiros inconstantes heroacuteis indolentes as representaccedilotildees do indigena pelo IHGB Orienmiddot tador ProL-DL Luiz Francisco A de Miranda

REDIVO Rute Luciancencov O mesticcedilo e suas qualidades laboriosas Orientador Prof-DrLuiz FranciscoA de Miranda

SPOTO Eduardo FilieI Civilizaccedilatildeo e catequese contenda poliacutetica entre Esado e Igreja no seacuteculo XIX Orientador Prolmiddot Dr Luiz Francisco A de Miranda

Discentes concluines em 2006

FERREIRA Joatildeo Paulo Ponte Feacute lei e miscigenaccedilatildeo anaacutelise do sistema colonial brasileiro por Rober Southey Orientador ProLmiddotDr Luiz Francisco A de Miranda

GOMES Luiz Rafael A liga Operaacuteria de Piracicaba e a greve geral de 1919 sindicalismo revolucionaacutelio reformismo cultura e imprensa Orientadora Profa-Dra Joseli Maria Nunes Mendonccedila

MELLO Patricia Ferraz de A questatildeo da origem dos iacutendios na Revista do IHGB Orientador ProL-Dr Luiz Francisco A de Miranda

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

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o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

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GUIDOTTI Joseacute Luiz Rio Corumbatai Piracicaba C N Editoria 1966 e O Rio Corumbatai Revista do IHGP v5 1977

KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004

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MACHADO Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Uma Histoacuteria para Ipeuacutena Dissertaccedilatildeo de Mestrado Rio ClaroUnesp 2004

MARC[UO Maria Luiza Crescimento Demograacutefico e Evoshyluccedilatildeo Agraacuteria Paulista 1700-1836 Satildeo Paulo Edusp 2000

MELLO J S A Fundaccedilatildeo de Piracicaba In Almanaque de Piracicaba 1900

NEME Maacuterio Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedashyde Rural na Zona de Piracicaba Vl Coleccedilatildeo Museu Paulista Seacuterie de Histoacuteria Satildeo Paulo 1974

NEME Maacuterio Dois Antigos Caminhos de Serlanislas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos [ndios Caiapoacutes In Anais do Museu Paulista v23 1969 p7-147

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba Boca de Sertatildeo Revista do IHGP v3 n3 1994

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Revista do IHGP vA nA 1995

SAINT-HILAIRE Augusto de Segunda Viagem a Satildeo Paulo e Quadro Histoacuterico da Provincia de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e introdushyccedilatildeo de Afonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 tiragem [1976] p164

SAtildeO PAULO (Estado) Secretaria de Estado da Cultura Reshypertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p522

SCHADEN Egon Os primitivos habitantes do territoacuterio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo Paulo 1954 p396-397

SYLOS Honoacutero de Satildeo Paulo e seus Caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasit 1976

TAUNAY Affonso de E Relatos Monccediloeiros Belo Horizonte Editora Itatiacuteaia Satildeo Paulo Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1981

TAUNAY Affonso de E Relatos Sertanistas Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 tiragem [1976]

Atas e Relatoacuterios

Aclas da Carnara da ViUa de S Paulo 1596-1622 vol2

RelatoacutelIacuteo da Estrada de Ferro ytuana 1900

Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

00

Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

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Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

BASTIDE Rogar As Religiotildees Africanas no Brasil Editora da USp Satildeo Paulo 1971

BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

BIBLIOGRAFIA

ANUAacuteRIO DOS ARTISTAS PLAacuteSTICOS DE PIRACICABA Projelo Susete Thame Gutierres Igual Edora Satildeo Paulo 2000

ATLAS CULTURAL DO BRASIL MEC Cia Melhoramentos Satildeo Paulo 1972

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Lisa - Livros Irradiante S A Satildeo Paulo 1972

NOVO CATECISMO OU CATECISMO HOLANDEcircS Instituto Catequeacutetico de Nijmegem Editora Helder Satildeo Paulo 1967

VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 4: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

V Votorantim ICelulose e Papel

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Preservando matas nativas em harmonia com o meio ambiente

RELATOacuteRIO DAS ATIVIDADES

00 IHGP NO ANo DE 2006

i) Completou a digitalizaccedilatildeo do jornal Gazeta de Piracicaba (1882-1937)

2) Instalaccedilatildeo do Cenlro de Pesquisa e Desenvolvimento Histoacuterico

3) Instalaccedilatildeo do Cadastro Temaacutetico do IHGP em ordem alfabeacutetica

4) Catalogaccedilatildeo da Biblioteca do IHGP petos alunos estagiaacuterios da Unimep

5) Feita a inscriccedilatildeo do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba no oPACo da Secretaria de Cultura do Estado de Satildeo Paulo

6) Homenageou o Centenaacuterio da Corporaccedilatildeo Musical Banda Uniatildeo Operaacuteria

7) Realizou a Pesquisa da Hisloacuterla da Banda Uniatildeo Operaacuteria

8) Elaborou o lanccedilamento da Revista O Passar da Banda

9) Publicou a Revista Cientiacutefica do IHGP 013 ano 2006

10) Instalou a Biblioteca do Prol Flaacutevio Toledo Piza

11) Promoveu a l Semana de Esludos Cemltenals com palestras e seminaacuterios

12) Em elaboraccedilatildeo bull Dicionaacuterio de Ruas de Piracicaba 10 Volume 500 paacuteginas

13) Pesquisas bull Histoacuteria das Corridas Automobiliacutesticas de Piracicaba

bull HistOacutelIacutea do Basquetebol em Piracicaba

14) Exposiccedilotildees bull Exposiccedilatildeo com fotos do acervo do IHGP com participaccedilatildeo da

Secretaria de Accedilatildeo Cultural SecretalIacutea da Educaccedilatildeo e diversas Escolas entre elas o liceu Terras do Engenho

- Exposiccedilatildeo sobre Ecologia no Carrefour

bull Exposiccedilatildeo de Fotografia de Jazigo com obra artiacutestica no salatildeo da Acipi

RELACcedilatildeO DE MlITERlAL DO

ACERVO PERMANENTE DO IHGP- DISPONIBILIZADOS

PARA CONSULTA E PESQUISA

(GESrOES 2002 A 2006)

PERiOacuteDICOS

1 REVISTAS DE ESTUDOS HISTOacuteRICOS E CIEcircNCIAS CORRELATAS

Revista do IHGB (Revisla do Instituto HistOacutelIacuteco e Geograacutefico Brasileiro) - Eacute a revista mais antiga publicada no Brasil Nunca deixou de ser produzida desde seu primeiro nuacutemero lanccedilado no ano de 1839 O IHGB foi uma instituiccedilatildeo criada pelo Govemo Imperial quando D Pedro 11 era regente do Brasil Essa instituiccedilatildeo leria por objetivo incentivar pesquisadores de vaacuterias aacutereas de estudos cientificas a investigar relatar e produzir conhecimento sobre as diversas regiotildees geograacuteficas do Pais e os grupos sociais existentes nelas seus modos de vida suas culturas Todas as informaccedilotildees recolhidas eram levadas agrave sede da instituiccedilatildeo que fica ateacute hoje na cidade do Rio de Janeiro Elas eram analisadas e os estudos considerados importantes eram entatildeo publicados na revista Desse modo o Govemo Imperial com agentes espalhados por inuacutemeros canshylos do Brasil obtinha informaccedilotildees relevantes sobre a diversidade dos recursos naturais e humanos existentes pelo lerritoacuterio Era uma forma de fazer conhecer as aacutereas mais distanles da capital e permitir com isso que se planejassem estrateacutegias de proteccedilatildeo e controle das fronteiras territoriais do Pais No acelVo do IHGP (Insliluto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba) temos os nuacutemeros que vatildeo de 1839 a 1990 shycoleccedilatildeo quase completa Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo (revista do mesmo gecircnero que a do Instituto Histoacuterico e GeograacutefiCO Brasileiro)-O IHGSP era um Instituto Provincial e linha a funccedilatildeo de reunir informaccedilotildees importantes sobre a Provincia paulista mais especificamente Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico da Paraiba Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Minas Gerais

Revista de Histoacuteria (produzida pelo Departamento de Histoacuteria Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo nasdeacutecadas de 1960 a 1980) - Eacute uma importante revisla de artigos de acadecircmicos ligados agrave aacuterea de Histoacuteria e MemOacutelia Brasil e geral Revista Anhembi (reuacutene uma seacuterie de artigos literaacuterios e outros estudos) - coleccedilatildeo quase completa Revista do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo (reuacutene uma seacuterie de artigos voltados para estudos sobre a capital e o intenor paulista gecircneros de estudos diversificados) Revista do Arquivo Puacuteblico Mineiro Revista da Academia Paulista de Letras Revista de Genealogia Revista do Conselho Esladual de Cultura Revista de Informaccedilatildeo legislativa Revista do Museu Paulista

2 PUBLICACcedilAtildeO DE DOCUMENTAccedilotildeES (ORGANIZADAS)

Atas da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (registros das sessotildees ordinaacuterias e extraordinaacuterias ocorridas no exerciacutecio das atividades da Cacircmara de S Pauto) -Abrange os seacuteculos XVIII XIX e XX Atas da Sociedade Beneficente Portuguesa - Piracicaba Registro Geral da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (seacuteculos XVII XVIII e XIX) Cartas de Datas de Terra (registro de pedidos e doaccedilotildees de terras concedidas pelo Ministeacuterio do Governo para arrendamentos) - Abrange os seacuteculos XVII XVIII e XIX Documentos Interessantes (reuacutene uma seacuterie de documentos de ordem ofiacutecial puacuteblicos e variados quanto aos tipos) shySeacuteculos XVIII XIX e XX Anais da Assembleacuteia legislativa (seacuteculo XX) Anais da Assembleacuteia legislativa da Proviacutencia (seacuteculo XIX) Anais do Museu Paulista leis e Decretos do Estado de Satildeo Paulo (fins do seacuteculo XIX eXX)

3 COLECcedilOtildeES DE JORNA1S~

Gazeta de Piracicaba (1882-1937) Jornal de Piracicaba (1900-1995) O Diaacuterio de Piracicaba (1936--1993) O Diaacuterio (1962-1993) A Tribuna Piracicabana (1966--1994) A Proviacutencia (1988) Jornal do Povo Piracicabano (1978-1979)

o Democrata (1993--1994) Folha Piracicabana (1962-1968) O Monumento (1930-1933) Diaacuterio da Manhatilde (1929-1930) A Tarde (1918) O Maiatildeo (1901 - uacutenico exemplar) A Bigorna (uacutenico exemplar) O Planalto (1940-1942) Diaacuterio de Satildeo Paulo (1954) Folha da Manhatilde (1954)

ICONOGRAFIAS

4 FOTOGRAFIAS

Cenas cotidianas na cidade e aacutereas rurais em Piracicaba (seacuteculos XIX e XX -aproximadamente 1200) Obras puacuteblicas acervo fotograacutefico da Prefeitura de Piracicaba (seacuteculos XIX e XX - aproximadamente 1000)

5 IMAGENS DIGITALIZADAS

Fotografia telas postais desenhos (aproximadamente 1100)

DOCUMENTACcedilAtildeO ELETROcircNICA

6 JORNAIS 40000 imagens

7 DOCUMENTOS AVULSOS 2000

8 REV1TAS 20 nuacutemeros - inlegral (aproximadamente 4000 paacuteginas)

9 OBRAS RARAS 2 Titulos - integral (aproximadamente 500

paacuteginas)

E GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

RELACcedilAtildeO DE PESQUISAS

Piracicaba 29 de novembro de 2006

DE Luiz FranciacutescoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histoacuteria da Unimep

i 11I~X PARA Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piacuteracicaba - IHGP

~~x~ REF Relaccedilatildeo de pesquisas vinculadas ao ~~~ Curso de Histoacuteria da Unimep que recorreram agraves

~p~jsect f2ti~ fontes disponfvels no IHGP

Prezados professores

Atendendo aacute solicitaccedilatildeo da diretoria do IHGP apresento a seguir os discentes do Curso de Histoacuteria da Unimep que utilizaram fontes disponiacuteveis no referido Instituto na composiccedilatildeo de seus Trabalhos de Conclusatildeo de Curso assim como os tiacutetulos de suas pesquisas

Discenes concluintes em 2005

BORBA Giovana Carpin Guerreiros inconstantes heroacuteis indolentes as representaccedilotildees do indigena pelo IHGB Orienmiddot tador ProL-DL Luiz Francisco A de Miranda

REDIVO Rute Luciancencov O mesticcedilo e suas qualidades laboriosas Orientador Prof-DrLuiz FranciscoA de Miranda

SPOTO Eduardo FilieI Civilizaccedilatildeo e catequese contenda poliacutetica entre Esado e Igreja no seacuteculo XIX Orientador Prolmiddot Dr Luiz Francisco A de Miranda

Discentes concluines em 2006

FERREIRA Joatildeo Paulo Ponte Feacute lei e miscigenaccedilatildeo anaacutelise do sistema colonial brasileiro por Rober Southey Orientador ProLmiddotDr Luiz Francisco A de Miranda

GOMES Luiz Rafael A liga Operaacuteria de Piracicaba e a greve geral de 1919 sindicalismo revolucionaacutelio reformismo cultura e imprensa Orientadora Profa-Dra Joseli Maria Nunes Mendonccedila

MELLO Patricia Ferraz de A questatildeo da origem dos iacutendios na Revista do IHGB Orientador ProL-Dr Luiz Francisco A de Miranda

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

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o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

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GUIDOTTI Joseacute Luiz Rio Corumbatai Piracicaba C N Editoria 1966 e O Rio Corumbatai Revista do IHGP v5 1977

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MACHADO Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Uma Histoacuteria para Ipeuacutena Dissertaccedilatildeo de Mestrado Rio ClaroUnesp 2004

MARC[UO Maria Luiza Crescimento Demograacutefico e Evoshyluccedilatildeo Agraacuteria Paulista 1700-1836 Satildeo Paulo Edusp 2000

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NEME Maacuterio Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedashyde Rural na Zona de Piracicaba Vl Coleccedilatildeo Museu Paulista Seacuterie de Histoacuteria Satildeo Paulo 1974

NEME Maacuterio Dois Antigos Caminhos de Serlanislas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos [ndios Caiapoacutes In Anais do Museu Paulista v23 1969 p7-147

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba Boca de Sertatildeo Revista do IHGP v3 n3 1994

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Revista do IHGP vA nA 1995

SAINT-HILAIRE Augusto de Segunda Viagem a Satildeo Paulo e Quadro Histoacuterico da Provincia de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e introdushyccedilatildeo de Afonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 tiragem [1976] p164

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SCHADEN Egon Os primitivos habitantes do territoacuterio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo Paulo 1954 p396-397

SYLOS Honoacutero de Satildeo Paulo e seus Caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasit 1976

TAUNAY Affonso de E Relatos Monccediloeiros Belo Horizonte Editora Itatiacuteaia Satildeo Paulo Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1981

TAUNAY Affonso de E Relatos Sertanistas Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 tiragem [1976]

Atas e Relatoacuterios

Aclas da Carnara da ViUa de S Paulo 1596-1622 vol2

RelatoacutelIacuteo da Estrada de Ferro ytuana 1900

Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

00

Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

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Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

BASTIDE Rogar As Religiotildees Africanas no Brasil Editora da USp Satildeo Paulo 1971

BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

BIBLIOGRAFIA

ANUAacuteRIO DOS ARTISTAS PLAacuteSTICOS DE PIRACICABA Projelo Susete Thame Gutierres Igual Edora Satildeo Paulo 2000

ATLAS CULTURAL DO BRASIL MEC Cia Melhoramentos Satildeo Paulo 1972

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Lisa - Livros Irradiante S A Satildeo Paulo 1972

NOVO CATECISMO OU CATECISMO HOLANDEcircS Instituto Catequeacutetico de Nijmegem Editora Helder Satildeo Paulo 1967

VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 5: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

RELATOacuteRIO DAS ATIVIDADES

00 IHGP NO ANo DE 2006

i) Completou a digitalizaccedilatildeo do jornal Gazeta de Piracicaba (1882-1937)

2) Instalaccedilatildeo do Cenlro de Pesquisa e Desenvolvimento Histoacuterico

3) Instalaccedilatildeo do Cadastro Temaacutetico do IHGP em ordem alfabeacutetica

4) Catalogaccedilatildeo da Biblioteca do IHGP petos alunos estagiaacuterios da Unimep

5) Feita a inscriccedilatildeo do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba no oPACo da Secretaria de Cultura do Estado de Satildeo Paulo

6) Homenageou o Centenaacuterio da Corporaccedilatildeo Musical Banda Uniatildeo Operaacuteria

7) Realizou a Pesquisa da Hisloacuterla da Banda Uniatildeo Operaacuteria

8) Elaborou o lanccedilamento da Revista O Passar da Banda

9) Publicou a Revista Cientiacutefica do IHGP 013 ano 2006

10) Instalou a Biblioteca do Prol Flaacutevio Toledo Piza

11) Promoveu a l Semana de Esludos Cemltenals com palestras e seminaacuterios

12) Em elaboraccedilatildeo bull Dicionaacuterio de Ruas de Piracicaba 10 Volume 500 paacuteginas

13) Pesquisas bull Histoacuteria das Corridas Automobiliacutesticas de Piracicaba

bull HistOacutelIacutea do Basquetebol em Piracicaba

14) Exposiccedilotildees bull Exposiccedilatildeo com fotos do acervo do IHGP com participaccedilatildeo da

Secretaria de Accedilatildeo Cultural SecretalIacutea da Educaccedilatildeo e diversas Escolas entre elas o liceu Terras do Engenho

- Exposiccedilatildeo sobre Ecologia no Carrefour

bull Exposiccedilatildeo de Fotografia de Jazigo com obra artiacutestica no salatildeo da Acipi

RELACcedilatildeO DE MlITERlAL DO

ACERVO PERMANENTE DO IHGP- DISPONIBILIZADOS

PARA CONSULTA E PESQUISA

(GESrOES 2002 A 2006)

PERiOacuteDICOS

1 REVISTAS DE ESTUDOS HISTOacuteRICOS E CIEcircNCIAS CORRELATAS

Revista do IHGB (Revisla do Instituto HistOacutelIacuteco e Geograacutefico Brasileiro) - Eacute a revista mais antiga publicada no Brasil Nunca deixou de ser produzida desde seu primeiro nuacutemero lanccedilado no ano de 1839 O IHGB foi uma instituiccedilatildeo criada pelo Govemo Imperial quando D Pedro 11 era regente do Brasil Essa instituiccedilatildeo leria por objetivo incentivar pesquisadores de vaacuterias aacutereas de estudos cientificas a investigar relatar e produzir conhecimento sobre as diversas regiotildees geograacuteficas do Pais e os grupos sociais existentes nelas seus modos de vida suas culturas Todas as informaccedilotildees recolhidas eram levadas agrave sede da instituiccedilatildeo que fica ateacute hoje na cidade do Rio de Janeiro Elas eram analisadas e os estudos considerados importantes eram entatildeo publicados na revista Desse modo o Govemo Imperial com agentes espalhados por inuacutemeros canshylos do Brasil obtinha informaccedilotildees relevantes sobre a diversidade dos recursos naturais e humanos existentes pelo lerritoacuterio Era uma forma de fazer conhecer as aacutereas mais distanles da capital e permitir com isso que se planejassem estrateacutegias de proteccedilatildeo e controle das fronteiras territoriais do Pais No acelVo do IHGP (Insliluto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba) temos os nuacutemeros que vatildeo de 1839 a 1990 shycoleccedilatildeo quase completa Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo (revista do mesmo gecircnero que a do Instituto Histoacuterico e GeograacutefiCO Brasileiro)-O IHGSP era um Instituto Provincial e linha a funccedilatildeo de reunir informaccedilotildees importantes sobre a Provincia paulista mais especificamente Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico da Paraiba Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Minas Gerais

Revista de Histoacuteria (produzida pelo Departamento de Histoacuteria Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo nasdeacutecadas de 1960 a 1980) - Eacute uma importante revisla de artigos de acadecircmicos ligados agrave aacuterea de Histoacuteria e MemOacutelia Brasil e geral Revista Anhembi (reuacutene uma seacuterie de artigos literaacuterios e outros estudos) - coleccedilatildeo quase completa Revista do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo (reuacutene uma seacuterie de artigos voltados para estudos sobre a capital e o intenor paulista gecircneros de estudos diversificados) Revista do Arquivo Puacuteblico Mineiro Revista da Academia Paulista de Letras Revista de Genealogia Revista do Conselho Esladual de Cultura Revista de Informaccedilatildeo legislativa Revista do Museu Paulista

2 PUBLICACcedilAtildeO DE DOCUMENTAccedilotildeES (ORGANIZADAS)

Atas da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (registros das sessotildees ordinaacuterias e extraordinaacuterias ocorridas no exerciacutecio das atividades da Cacircmara de S Pauto) -Abrange os seacuteculos XVIII XIX e XX Atas da Sociedade Beneficente Portuguesa - Piracicaba Registro Geral da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (seacuteculos XVII XVIII e XIX) Cartas de Datas de Terra (registro de pedidos e doaccedilotildees de terras concedidas pelo Ministeacuterio do Governo para arrendamentos) - Abrange os seacuteculos XVII XVIII e XIX Documentos Interessantes (reuacutene uma seacuterie de documentos de ordem ofiacutecial puacuteblicos e variados quanto aos tipos) shySeacuteculos XVIII XIX e XX Anais da Assembleacuteia legislativa (seacuteculo XX) Anais da Assembleacuteia legislativa da Proviacutencia (seacuteculo XIX) Anais do Museu Paulista leis e Decretos do Estado de Satildeo Paulo (fins do seacuteculo XIX eXX)

3 COLECcedilOtildeES DE JORNA1S~

Gazeta de Piracicaba (1882-1937) Jornal de Piracicaba (1900-1995) O Diaacuterio de Piracicaba (1936--1993) O Diaacuterio (1962-1993) A Tribuna Piracicabana (1966--1994) A Proviacutencia (1988) Jornal do Povo Piracicabano (1978-1979)

o Democrata (1993--1994) Folha Piracicabana (1962-1968) O Monumento (1930-1933) Diaacuterio da Manhatilde (1929-1930) A Tarde (1918) O Maiatildeo (1901 - uacutenico exemplar) A Bigorna (uacutenico exemplar) O Planalto (1940-1942) Diaacuterio de Satildeo Paulo (1954) Folha da Manhatilde (1954)

ICONOGRAFIAS

4 FOTOGRAFIAS

Cenas cotidianas na cidade e aacutereas rurais em Piracicaba (seacuteculos XIX e XX -aproximadamente 1200) Obras puacuteblicas acervo fotograacutefico da Prefeitura de Piracicaba (seacuteculos XIX e XX - aproximadamente 1000)

5 IMAGENS DIGITALIZADAS

Fotografia telas postais desenhos (aproximadamente 1100)

DOCUMENTACcedilAtildeO ELETROcircNICA

6 JORNAIS 40000 imagens

7 DOCUMENTOS AVULSOS 2000

8 REV1TAS 20 nuacutemeros - inlegral (aproximadamente 4000 paacuteginas)

9 OBRAS RARAS 2 Titulos - integral (aproximadamente 500

paacuteginas)

E GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

RELACcedilAtildeO DE PESQUISAS

Piracicaba 29 de novembro de 2006

DE Luiz FranciacutescoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histoacuteria da Unimep

i 11I~X PARA Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piacuteracicaba - IHGP

~~x~ REF Relaccedilatildeo de pesquisas vinculadas ao ~~~ Curso de Histoacuteria da Unimep que recorreram agraves

~p~jsect f2ti~ fontes disponfvels no IHGP

Prezados professores

Atendendo aacute solicitaccedilatildeo da diretoria do IHGP apresento a seguir os discentes do Curso de Histoacuteria da Unimep que utilizaram fontes disponiacuteveis no referido Instituto na composiccedilatildeo de seus Trabalhos de Conclusatildeo de Curso assim como os tiacutetulos de suas pesquisas

Discenes concluintes em 2005

BORBA Giovana Carpin Guerreiros inconstantes heroacuteis indolentes as representaccedilotildees do indigena pelo IHGB Orienmiddot tador ProL-DL Luiz Francisco A de Miranda

REDIVO Rute Luciancencov O mesticcedilo e suas qualidades laboriosas Orientador Prof-DrLuiz FranciscoA de Miranda

SPOTO Eduardo FilieI Civilizaccedilatildeo e catequese contenda poliacutetica entre Esado e Igreja no seacuteculo XIX Orientador Prolmiddot Dr Luiz Francisco A de Miranda

Discentes concluines em 2006

FERREIRA Joatildeo Paulo Ponte Feacute lei e miscigenaccedilatildeo anaacutelise do sistema colonial brasileiro por Rober Southey Orientador ProLmiddotDr Luiz Francisco A de Miranda

GOMES Luiz Rafael A liga Operaacuteria de Piracicaba e a greve geral de 1919 sindicalismo revolucionaacutelio reformismo cultura e imprensa Orientadora Profa-Dra Joseli Maria Nunes Mendonccedila

MELLO Patricia Ferraz de A questatildeo da origem dos iacutendios na Revista do IHGB Orientador ProL-Dr Luiz Francisco A de Miranda

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

26

o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

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vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

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NEME Maacuterio Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedashyde Rural na Zona de Piracicaba Vl Coleccedilatildeo Museu Paulista Seacuterie de Histoacuteria Satildeo Paulo 1974

NEME Maacuterio Dois Antigos Caminhos de Serlanislas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos [ndios Caiapoacutes In Anais do Museu Paulista v23 1969 p7-147

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba Boca de Sertatildeo Revista do IHGP v3 n3 1994

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Revista do IHGP vA nA 1995

SAINT-HILAIRE Augusto de Segunda Viagem a Satildeo Paulo e Quadro Histoacuterico da Provincia de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e introdushyccedilatildeo de Afonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 tiragem [1976] p164

SAtildeO PAULO (Estado) Secretaria de Estado da Cultura Reshypertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p522

SCHADEN Egon Os primitivos habitantes do territoacuterio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo Paulo 1954 p396-397

SYLOS Honoacutero de Satildeo Paulo e seus Caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasit 1976

TAUNAY Affonso de E Relatos Monccediloeiros Belo Horizonte Editora Itatiacuteaia Satildeo Paulo Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1981

TAUNAY Affonso de E Relatos Sertanistas Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 tiragem [1976]

Atas e Relatoacuterios

Aclas da Carnara da ViUa de S Paulo 1596-1622 vol2

RelatoacutelIacuteo da Estrada de Ferro ytuana 1900

Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

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Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

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Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

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smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

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17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

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BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

BIBLIOGRAFIA

ANUAacuteRIO DOS ARTISTAS PLAacuteSTICOS DE PIRACICABA Projelo Susete Thame Gutierres Igual Edora Satildeo Paulo 2000

ATLAS CULTURAL DO BRASIL MEC Cia Melhoramentos Satildeo Paulo 1972

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Lisa - Livros Irradiante S A Satildeo Paulo 1972

NOVO CATECISMO OU CATECISMO HOLANDEcircS Instituto Catequeacutetico de Nijmegem Editora Helder Satildeo Paulo 1967

VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 6: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

12) Em elaboraccedilatildeo bull Dicionaacuterio de Ruas de Piracicaba 10 Volume 500 paacuteginas

13) Pesquisas bull Histoacuteria das Corridas Automobiliacutesticas de Piracicaba

bull HistOacutelIacutea do Basquetebol em Piracicaba

14) Exposiccedilotildees bull Exposiccedilatildeo com fotos do acervo do IHGP com participaccedilatildeo da

Secretaria de Accedilatildeo Cultural SecretalIacutea da Educaccedilatildeo e diversas Escolas entre elas o liceu Terras do Engenho

- Exposiccedilatildeo sobre Ecologia no Carrefour

bull Exposiccedilatildeo de Fotografia de Jazigo com obra artiacutestica no salatildeo da Acipi

RELACcedilatildeO DE MlITERlAL DO

ACERVO PERMANENTE DO IHGP- DISPONIBILIZADOS

PARA CONSULTA E PESQUISA

(GESrOES 2002 A 2006)

PERiOacuteDICOS

1 REVISTAS DE ESTUDOS HISTOacuteRICOS E CIEcircNCIAS CORRELATAS

Revista do IHGB (Revisla do Instituto HistOacutelIacuteco e Geograacutefico Brasileiro) - Eacute a revista mais antiga publicada no Brasil Nunca deixou de ser produzida desde seu primeiro nuacutemero lanccedilado no ano de 1839 O IHGB foi uma instituiccedilatildeo criada pelo Govemo Imperial quando D Pedro 11 era regente do Brasil Essa instituiccedilatildeo leria por objetivo incentivar pesquisadores de vaacuterias aacutereas de estudos cientificas a investigar relatar e produzir conhecimento sobre as diversas regiotildees geograacuteficas do Pais e os grupos sociais existentes nelas seus modos de vida suas culturas Todas as informaccedilotildees recolhidas eram levadas agrave sede da instituiccedilatildeo que fica ateacute hoje na cidade do Rio de Janeiro Elas eram analisadas e os estudos considerados importantes eram entatildeo publicados na revista Desse modo o Govemo Imperial com agentes espalhados por inuacutemeros canshylos do Brasil obtinha informaccedilotildees relevantes sobre a diversidade dos recursos naturais e humanos existentes pelo lerritoacuterio Era uma forma de fazer conhecer as aacutereas mais distanles da capital e permitir com isso que se planejassem estrateacutegias de proteccedilatildeo e controle das fronteiras territoriais do Pais No acelVo do IHGP (Insliluto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba) temos os nuacutemeros que vatildeo de 1839 a 1990 shycoleccedilatildeo quase completa Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo (revista do mesmo gecircnero que a do Instituto Histoacuterico e GeograacutefiCO Brasileiro)-O IHGSP era um Instituto Provincial e linha a funccedilatildeo de reunir informaccedilotildees importantes sobre a Provincia paulista mais especificamente Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico da Paraiba Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Minas Gerais

Revista de Histoacuteria (produzida pelo Departamento de Histoacuteria Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo nasdeacutecadas de 1960 a 1980) - Eacute uma importante revisla de artigos de acadecircmicos ligados agrave aacuterea de Histoacuteria e MemOacutelia Brasil e geral Revista Anhembi (reuacutene uma seacuterie de artigos literaacuterios e outros estudos) - coleccedilatildeo quase completa Revista do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo (reuacutene uma seacuterie de artigos voltados para estudos sobre a capital e o intenor paulista gecircneros de estudos diversificados) Revista do Arquivo Puacuteblico Mineiro Revista da Academia Paulista de Letras Revista de Genealogia Revista do Conselho Esladual de Cultura Revista de Informaccedilatildeo legislativa Revista do Museu Paulista

2 PUBLICACcedilAtildeO DE DOCUMENTAccedilotildeES (ORGANIZADAS)

Atas da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (registros das sessotildees ordinaacuterias e extraordinaacuterias ocorridas no exerciacutecio das atividades da Cacircmara de S Pauto) -Abrange os seacuteculos XVIII XIX e XX Atas da Sociedade Beneficente Portuguesa - Piracicaba Registro Geral da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (seacuteculos XVII XVIII e XIX) Cartas de Datas de Terra (registro de pedidos e doaccedilotildees de terras concedidas pelo Ministeacuterio do Governo para arrendamentos) - Abrange os seacuteculos XVII XVIII e XIX Documentos Interessantes (reuacutene uma seacuterie de documentos de ordem ofiacutecial puacuteblicos e variados quanto aos tipos) shySeacuteculos XVIII XIX e XX Anais da Assembleacuteia legislativa (seacuteculo XX) Anais da Assembleacuteia legislativa da Proviacutencia (seacuteculo XIX) Anais do Museu Paulista leis e Decretos do Estado de Satildeo Paulo (fins do seacuteculo XIX eXX)

3 COLECcedilOtildeES DE JORNA1S~

Gazeta de Piracicaba (1882-1937) Jornal de Piracicaba (1900-1995) O Diaacuterio de Piracicaba (1936--1993) O Diaacuterio (1962-1993) A Tribuna Piracicabana (1966--1994) A Proviacutencia (1988) Jornal do Povo Piracicabano (1978-1979)

o Democrata (1993--1994) Folha Piracicabana (1962-1968) O Monumento (1930-1933) Diaacuterio da Manhatilde (1929-1930) A Tarde (1918) O Maiatildeo (1901 - uacutenico exemplar) A Bigorna (uacutenico exemplar) O Planalto (1940-1942) Diaacuterio de Satildeo Paulo (1954) Folha da Manhatilde (1954)

ICONOGRAFIAS

4 FOTOGRAFIAS

Cenas cotidianas na cidade e aacutereas rurais em Piracicaba (seacuteculos XIX e XX -aproximadamente 1200) Obras puacuteblicas acervo fotograacutefico da Prefeitura de Piracicaba (seacuteculos XIX e XX - aproximadamente 1000)

5 IMAGENS DIGITALIZADAS

Fotografia telas postais desenhos (aproximadamente 1100)

DOCUMENTACcedilAtildeO ELETROcircNICA

6 JORNAIS 40000 imagens

7 DOCUMENTOS AVULSOS 2000

8 REV1TAS 20 nuacutemeros - inlegral (aproximadamente 4000 paacuteginas)

9 OBRAS RARAS 2 Titulos - integral (aproximadamente 500

paacuteginas)

E GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

RELACcedilAtildeO DE PESQUISAS

Piracicaba 29 de novembro de 2006

DE Luiz FranciacutescoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histoacuteria da Unimep

i 11I~X PARA Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piacuteracicaba - IHGP

~~x~ REF Relaccedilatildeo de pesquisas vinculadas ao ~~~ Curso de Histoacuteria da Unimep que recorreram agraves

~p~jsect f2ti~ fontes disponfvels no IHGP

Prezados professores

Atendendo aacute solicitaccedilatildeo da diretoria do IHGP apresento a seguir os discentes do Curso de Histoacuteria da Unimep que utilizaram fontes disponiacuteveis no referido Instituto na composiccedilatildeo de seus Trabalhos de Conclusatildeo de Curso assim como os tiacutetulos de suas pesquisas

Discenes concluintes em 2005

BORBA Giovana Carpin Guerreiros inconstantes heroacuteis indolentes as representaccedilotildees do indigena pelo IHGB Orienmiddot tador ProL-DL Luiz Francisco A de Miranda

REDIVO Rute Luciancencov O mesticcedilo e suas qualidades laboriosas Orientador Prof-DrLuiz FranciscoA de Miranda

SPOTO Eduardo FilieI Civilizaccedilatildeo e catequese contenda poliacutetica entre Esado e Igreja no seacuteculo XIX Orientador Prolmiddot Dr Luiz Francisco A de Miranda

Discentes concluines em 2006

FERREIRA Joatildeo Paulo Ponte Feacute lei e miscigenaccedilatildeo anaacutelise do sistema colonial brasileiro por Rober Southey Orientador ProLmiddotDr Luiz Francisco A de Miranda

GOMES Luiz Rafael A liga Operaacuteria de Piracicaba e a greve geral de 1919 sindicalismo revolucionaacutelio reformismo cultura e imprensa Orientadora Profa-Dra Joseli Maria Nunes Mendonccedila

MELLO Patricia Ferraz de A questatildeo da origem dos iacutendios na Revista do IHGB Orientador ProL-Dr Luiz Francisco A de Miranda

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

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o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

prlmmJOS habitantes do tefshyrilocircrlo paulista In Revista de Hisloacuteria n18 SatildeO Pau~ lo 1954 p 395-397

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Atas e Relatoacuterios

Aclas da Carnara da ViUa de S Paulo 1596-1622 vol2

RelatoacutelIacuteo da Estrada de Ferro ytuana 1900

Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

00

Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

bullbullbull

Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

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BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

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VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 7: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

RELACcedilatildeO DE MlITERlAL DO

ACERVO PERMANENTE DO IHGP- DISPONIBILIZADOS

PARA CONSULTA E PESQUISA

(GESrOES 2002 A 2006)

PERiOacuteDICOS

1 REVISTAS DE ESTUDOS HISTOacuteRICOS E CIEcircNCIAS CORRELATAS

Revista do IHGB (Revisla do Instituto HistOacutelIacuteco e Geograacutefico Brasileiro) - Eacute a revista mais antiga publicada no Brasil Nunca deixou de ser produzida desde seu primeiro nuacutemero lanccedilado no ano de 1839 O IHGB foi uma instituiccedilatildeo criada pelo Govemo Imperial quando D Pedro 11 era regente do Brasil Essa instituiccedilatildeo leria por objetivo incentivar pesquisadores de vaacuterias aacutereas de estudos cientificas a investigar relatar e produzir conhecimento sobre as diversas regiotildees geograacuteficas do Pais e os grupos sociais existentes nelas seus modos de vida suas culturas Todas as informaccedilotildees recolhidas eram levadas agrave sede da instituiccedilatildeo que fica ateacute hoje na cidade do Rio de Janeiro Elas eram analisadas e os estudos considerados importantes eram entatildeo publicados na revista Desse modo o Govemo Imperial com agentes espalhados por inuacutemeros canshylos do Brasil obtinha informaccedilotildees relevantes sobre a diversidade dos recursos naturais e humanos existentes pelo lerritoacuterio Era uma forma de fazer conhecer as aacutereas mais distanles da capital e permitir com isso que se planejassem estrateacutegias de proteccedilatildeo e controle das fronteiras territoriais do Pais No acelVo do IHGP (Insliluto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba) temos os nuacutemeros que vatildeo de 1839 a 1990 shycoleccedilatildeo quase completa Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo (revista do mesmo gecircnero que a do Instituto Histoacuterico e GeograacutefiCO Brasileiro)-O IHGSP era um Instituto Provincial e linha a funccedilatildeo de reunir informaccedilotildees importantes sobre a Provincia paulista mais especificamente Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico da Paraiba Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Minas Gerais

Revista de Histoacuteria (produzida pelo Departamento de Histoacuteria Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo nasdeacutecadas de 1960 a 1980) - Eacute uma importante revisla de artigos de acadecircmicos ligados agrave aacuterea de Histoacuteria e MemOacutelia Brasil e geral Revista Anhembi (reuacutene uma seacuterie de artigos literaacuterios e outros estudos) - coleccedilatildeo quase completa Revista do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo (reuacutene uma seacuterie de artigos voltados para estudos sobre a capital e o intenor paulista gecircneros de estudos diversificados) Revista do Arquivo Puacuteblico Mineiro Revista da Academia Paulista de Letras Revista de Genealogia Revista do Conselho Esladual de Cultura Revista de Informaccedilatildeo legislativa Revista do Museu Paulista

2 PUBLICACcedilAtildeO DE DOCUMENTAccedilotildeES (ORGANIZADAS)

Atas da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (registros das sessotildees ordinaacuterias e extraordinaacuterias ocorridas no exerciacutecio das atividades da Cacircmara de S Pauto) -Abrange os seacuteculos XVIII XIX e XX Atas da Sociedade Beneficente Portuguesa - Piracicaba Registro Geral da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (seacuteculos XVII XVIII e XIX) Cartas de Datas de Terra (registro de pedidos e doaccedilotildees de terras concedidas pelo Ministeacuterio do Governo para arrendamentos) - Abrange os seacuteculos XVII XVIII e XIX Documentos Interessantes (reuacutene uma seacuterie de documentos de ordem ofiacutecial puacuteblicos e variados quanto aos tipos) shySeacuteculos XVIII XIX e XX Anais da Assembleacuteia legislativa (seacuteculo XX) Anais da Assembleacuteia legislativa da Proviacutencia (seacuteculo XIX) Anais do Museu Paulista leis e Decretos do Estado de Satildeo Paulo (fins do seacuteculo XIX eXX)

3 COLECcedilOtildeES DE JORNA1S~

Gazeta de Piracicaba (1882-1937) Jornal de Piracicaba (1900-1995) O Diaacuterio de Piracicaba (1936--1993) O Diaacuterio (1962-1993) A Tribuna Piracicabana (1966--1994) A Proviacutencia (1988) Jornal do Povo Piracicabano (1978-1979)

o Democrata (1993--1994) Folha Piracicabana (1962-1968) O Monumento (1930-1933) Diaacuterio da Manhatilde (1929-1930) A Tarde (1918) O Maiatildeo (1901 - uacutenico exemplar) A Bigorna (uacutenico exemplar) O Planalto (1940-1942) Diaacuterio de Satildeo Paulo (1954) Folha da Manhatilde (1954)

ICONOGRAFIAS

4 FOTOGRAFIAS

Cenas cotidianas na cidade e aacutereas rurais em Piracicaba (seacuteculos XIX e XX -aproximadamente 1200) Obras puacuteblicas acervo fotograacutefico da Prefeitura de Piracicaba (seacuteculos XIX e XX - aproximadamente 1000)

5 IMAGENS DIGITALIZADAS

Fotografia telas postais desenhos (aproximadamente 1100)

DOCUMENTACcedilAtildeO ELETROcircNICA

6 JORNAIS 40000 imagens

7 DOCUMENTOS AVULSOS 2000

8 REV1TAS 20 nuacutemeros - inlegral (aproximadamente 4000 paacuteginas)

9 OBRAS RARAS 2 Titulos - integral (aproximadamente 500

paacuteginas)

E GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

RELACcedilAtildeO DE PESQUISAS

Piracicaba 29 de novembro de 2006

DE Luiz FranciacutescoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histoacuteria da Unimep

i 11I~X PARA Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piacuteracicaba - IHGP

~~x~ REF Relaccedilatildeo de pesquisas vinculadas ao ~~~ Curso de Histoacuteria da Unimep que recorreram agraves

~p~jsect f2ti~ fontes disponfvels no IHGP

Prezados professores

Atendendo aacute solicitaccedilatildeo da diretoria do IHGP apresento a seguir os discentes do Curso de Histoacuteria da Unimep que utilizaram fontes disponiacuteveis no referido Instituto na composiccedilatildeo de seus Trabalhos de Conclusatildeo de Curso assim como os tiacutetulos de suas pesquisas

Discenes concluintes em 2005

BORBA Giovana Carpin Guerreiros inconstantes heroacuteis indolentes as representaccedilotildees do indigena pelo IHGB Orienmiddot tador ProL-DL Luiz Francisco A de Miranda

REDIVO Rute Luciancencov O mesticcedilo e suas qualidades laboriosas Orientador Prof-DrLuiz FranciscoA de Miranda

SPOTO Eduardo FilieI Civilizaccedilatildeo e catequese contenda poliacutetica entre Esado e Igreja no seacuteculo XIX Orientador Prolmiddot Dr Luiz Francisco A de Miranda

Discentes concluines em 2006

FERREIRA Joatildeo Paulo Ponte Feacute lei e miscigenaccedilatildeo anaacutelise do sistema colonial brasileiro por Rober Southey Orientador ProLmiddotDr Luiz Francisco A de Miranda

GOMES Luiz Rafael A liga Operaacuteria de Piracicaba e a greve geral de 1919 sindicalismo revolucionaacutelio reformismo cultura e imprensa Orientadora Profa-Dra Joseli Maria Nunes Mendonccedila

MELLO Patricia Ferraz de A questatildeo da origem dos iacutendios na Revista do IHGB Orientador ProL-Dr Luiz Francisco A de Miranda

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

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o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

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NEME Maacuterio Dois Antigos Caminhos de Serlanislas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos [ndios Caiapoacutes In Anais do Museu Paulista v23 1969 p7-147

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba Boca de Sertatildeo Revista do IHGP v3 n3 1994

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Revista do IHGP vA nA 1995

SAINT-HILAIRE Augusto de Segunda Viagem a Satildeo Paulo e Quadro Histoacuterico da Provincia de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e introdushyccedilatildeo de Afonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 tiragem [1976] p164

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SCHADEN Egon Os primitivos habitantes do territoacuterio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo Paulo 1954 p396-397

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TAUNAY Affonso de E Relatos Monccediloeiros Belo Horizonte Editora Itatiacuteaia Satildeo Paulo Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1981

TAUNAY Affonso de E Relatos Sertanistas Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 tiragem [1976]

Atas e Relatoacuterios

Aclas da Carnara da ViUa de S Paulo 1596-1622 vol2

RelatoacutelIacuteo da Estrada de Ferro ytuana 1900

Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

00

Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

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Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

BASTIDE Rogar As Religiotildees Africanas no Brasil Editora da USp Satildeo Paulo 1971

BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

BIBLIOGRAFIA

ANUAacuteRIO DOS ARTISTAS PLAacuteSTICOS DE PIRACICABA Projelo Susete Thame Gutierres Igual Edora Satildeo Paulo 2000

ATLAS CULTURAL DO BRASIL MEC Cia Melhoramentos Satildeo Paulo 1972

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Lisa - Livros Irradiante S A Satildeo Paulo 1972

NOVO CATECISMO OU CATECISMO HOLANDEcircS Instituto Catequeacutetico de Nijmegem Editora Helder Satildeo Paulo 1967

VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 8: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

Revista de Histoacuteria (produzida pelo Departamento de Histoacuteria Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo nasdeacutecadas de 1960 a 1980) - Eacute uma importante revisla de artigos de acadecircmicos ligados agrave aacuterea de Histoacuteria e MemOacutelia Brasil e geral Revista Anhembi (reuacutene uma seacuterie de artigos literaacuterios e outros estudos) - coleccedilatildeo quase completa Revista do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo (reuacutene uma seacuterie de artigos voltados para estudos sobre a capital e o intenor paulista gecircneros de estudos diversificados) Revista do Arquivo Puacuteblico Mineiro Revista da Academia Paulista de Letras Revista de Genealogia Revista do Conselho Esladual de Cultura Revista de Informaccedilatildeo legislativa Revista do Museu Paulista

2 PUBLICACcedilAtildeO DE DOCUMENTAccedilotildeES (ORGANIZADAS)

Atas da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (registros das sessotildees ordinaacuterias e extraordinaacuterias ocorridas no exerciacutecio das atividades da Cacircmara de S Pauto) -Abrange os seacuteculos XVIII XIX e XX Atas da Sociedade Beneficente Portuguesa - Piracicaba Registro Geral da Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo (seacuteculos XVII XVIII e XIX) Cartas de Datas de Terra (registro de pedidos e doaccedilotildees de terras concedidas pelo Ministeacuterio do Governo para arrendamentos) - Abrange os seacuteculos XVII XVIII e XIX Documentos Interessantes (reuacutene uma seacuterie de documentos de ordem ofiacutecial puacuteblicos e variados quanto aos tipos) shySeacuteculos XVIII XIX e XX Anais da Assembleacuteia legislativa (seacuteculo XX) Anais da Assembleacuteia legislativa da Proviacutencia (seacuteculo XIX) Anais do Museu Paulista leis e Decretos do Estado de Satildeo Paulo (fins do seacuteculo XIX eXX)

3 COLECcedilOtildeES DE JORNA1S~

Gazeta de Piracicaba (1882-1937) Jornal de Piracicaba (1900-1995) O Diaacuterio de Piracicaba (1936--1993) O Diaacuterio (1962-1993) A Tribuna Piracicabana (1966--1994) A Proviacutencia (1988) Jornal do Povo Piracicabano (1978-1979)

o Democrata (1993--1994) Folha Piracicabana (1962-1968) O Monumento (1930-1933) Diaacuterio da Manhatilde (1929-1930) A Tarde (1918) O Maiatildeo (1901 - uacutenico exemplar) A Bigorna (uacutenico exemplar) O Planalto (1940-1942) Diaacuterio de Satildeo Paulo (1954) Folha da Manhatilde (1954)

ICONOGRAFIAS

4 FOTOGRAFIAS

Cenas cotidianas na cidade e aacutereas rurais em Piracicaba (seacuteculos XIX e XX -aproximadamente 1200) Obras puacuteblicas acervo fotograacutefico da Prefeitura de Piracicaba (seacuteculos XIX e XX - aproximadamente 1000)

5 IMAGENS DIGITALIZADAS

Fotografia telas postais desenhos (aproximadamente 1100)

DOCUMENTACcedilAtildeO ELETROcircNICA

6 JORNAIS 40000 imagens

7 DOCUMENTOS AVULSOS 2000

8 REV1TAS 20 nuacutemeros - inlegral (aproximadamente 4000 paacuteginas)

9 OBRAS RARAS 2 Titulos - integral (aproximadamente 500

paacuteginas)

E GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

RELACcedilAtildeO DE PESQUISAS

Piracicaba 29 de novembro de 2006

DE Luiz FranciacutescoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histoacuteria da Unimep

i 11I~X PARA Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piacuteracicaba - IHGP

~~x~ REF Relaccedilatildeo de pesquisas vinculadas ao ~~~ Curso de Histoacuteria da Unimep que recorreram agraves

~p~jsect f2ti~ fontes disponfvels no IHGP

Prezados professores

Atendendo aacute solicitaccedilatildeo da diretoria do IHGP apresento a seguir os discentes do Curso de Histoacuteria da Unimep que utilizaram fontes disponiacuteveis no referido Instituto na composiccedilatildeo de seus Trabalhos de Conclusatildeo de Curso assim como os tiacutetulos de suas pesquisas

Discenes concluintes em 2005

BORBA Giovana Carpin Guerreiros inconstantes heroacuteis indolentes as representaccedilotildees do indigena pelo IHGB Orienmiddot tador ProL-DL Luiz Francisco A de Miranda

REDIVO Rute Luciancencov O mesticcedilo e suas qualidades laboriosas Orientador Prof-DrLuiz FranciscoA de Miranda

SPOTO Eduardo FilieI Civilizaccedilatildeo e catequese contenda poliacutetica entre Esado e Igreja no seacuteculo XIX Orientador Prolmiddot Dr Luiz Francisco A de Miranda

Discentes concluines em 2006

FERREIRA Joatildeo Paulo Ponte Feacute lei e miscigenaccedilatildeo anaacutelise do sistema colonial brasileiro por Rober Southey Orientador ProLmiddotDr Luiz Francisco A de Miranda

GOMES Luiz Rafael A liga Operaacuteria de Piracicaba e a greve geral de 1919 sindicalismo revolucionaacutelio reformismo cultura e imprensa Orientadora Profa-Dra Joseli Maria Nunes Mendonccedila

MELLO Patricia Ferraz de A questatildeo da origem dos iacutendios na Revista do IHGB Orientador ProL-Dr Luiz Francisco A de Miranda

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

26

o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

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Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

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Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

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Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

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Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

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BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

BIBLIOGRAFIA

ANUAacuteRIO DOS ARTISTAS PLAacuteSTICOS DE PIRACICABA Projelo Susete Thame Gutierres Igual Edora Satildeo Paulo 2000

ATLAS CULTURAL DO BRASIL MEC Cia Melhoramentos Satildeo Paulo 1972

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Lisa - Livros Irradiante S A Satildeo Paulo 1972

NOVO CATECISMO OU CATECISMO HOLANDEcircS Instituto Catequeacutetico de Nijmegem Editora Helder Satildeo Paulo 1967

VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 9: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

o Democrata (1993--1994) Folha Piracicabana (1962-1968) O Monumento (1930-1933) Diaacuterio da Manhatilde (1929-1930) A Tarde (1918) O Maiatildeo (1901 - uacutenico exemplar) A Bigorna (uacutenico exemplar) O Planalto (1940-1942) Diaacuterio de Satildeo Paulo (1954) Folha da Manhatilde (1954)

ICONOGRAFIAS

4 FOTOGRAFIAS

Cenas cotidianas na cidade e aacutereas rurais em Piracicaba (seacuteculos XIX e XX -aproximadamente 1200) Obras puacuteblicas acervo fotograacutefico da Prefeitura de Piracicaba (seacuteculos XIX e XX - aproximadamente 1000)

5 IMAGENS DIGITALIZADAS

Fotografia telas postais desenhos (aproximadamente 1100)

DOCUMENTACcedilAtildeO ELETROcircNICA

6 JORNAIS 40000 imagens

7 DOCUMENTOS AVULSOS 2000

8 REV1TAS 20 nuacutemeros - inlegral (aproximadamente 4000 paacuteginas)

9 OBRAS RARAS 2 Titulos - integral (aproximadamente 500

paacuteginas)

E GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

RELACcedilAtildeO DE PESQUISAS

Piracicaba 29 de novembro de 2006

DE Luiz FranciacutescoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histoacuteria da Unimep

i 11I~X PARA Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piacuteracicaba - IHGP

~~x~ REF Relaccedilatildeo de pesquisas vinculadas ao ~~~ Curso de Histoacuteria da Unimep que recorreram agraves

~p~jsect f2ti~ fontes disponfvels no IHGP

Prezados professores

Atendendo aacute solicitaccedilatildeo da diretoria do IHGP apresento a seguir os discentes do Curso de Histoacuteria da Unimep que utilizaram fontes disponiacuteveis no referido Instituto na composiccedilatildeo de seus Trabalhos de Conclusatildeo de Curso assim como os tiacutetulos de suas pesquisas

Discenes concluintes em 2005

BORBA Giovana Carpin Guerreiros inconstantes heroacuteis indolentes as representaccedilotildees do indigena pelo IHGB Orienmiddot tador ProL-DL Luiz Francisco A de Miranda

REDIVO Rute Luciancencov O mesticcedilo e suas qualidades laboriosas Orientador Prof-DrLuiz FranciscoA de Miranda

SPOTO Eduardo FilieI Civilizaccedilatildeo e catequese contenda poliacutetica entre Esado e Igreja no seacuteculo XIX Orientador Prolmiddot Dr Luiz Francisco A de Miranda

Discentes concluines em 2006

FERREIRA Joatildeo Paulo Ponte Feacute lei e miscigenaccedilatildeo anaacutelise do sistema colonial brasileiro por Rober Southey Orientador ProLmiddotDr Luiz Francisco A de Miranda

GOMES Luiz Rafael A liga Operaacuteria de Piracicaba e a greve geral de 1919 sindicalismo revolucionaacutelio reformismo cultura e imprensa Orientadora Profa-Dra Joseli Maria Nunes Mendonccedila

MELLO Patricia Ferraz de A questatildeo da origem dos iacutendios na Revista do IHGB Orientador ProL-Dr Luiz Francisco A de Miranda

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

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o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

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GUIDOTTI Joseacute Luiz Rio Corumbatai Piracicaba C N Editoria 1966 e O Rio Corumbatai Revista do IHGP v5 1977

KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004

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MACHADO Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Uma Histoacuteria para Ipeuacutena Dissertaccedilatildeo de Mestrado Rio ClaroUnesp 2004

MARC[UO Maria Luiza Crescimento Demograacutefico e Evoshyluccedilatildeo Agraacuteria Paulista 1700-1836 Satildeo Paulo Edusp 2000

MELLO J S A Fundaccedilatildeo de Piracicaba In Almanaque de Piracicaba 1900

NEME Maacuterio Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedashyde Rural na Zona de Piracicaba Vl Coleccedilatildeo Museu Paulista Seacuterie de Histoacuteria Satildeo Paulo 1974

NEME Maacuterio Dois Antigos Caminhos de Serlanislas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos [ndios Caiapoacutes In Anais do Museu Paulista v23 1969 p7-147

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba Boca de Sertatildeo Revista do IHGP v3 n3 1994

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Revista do IHGP vA nA 1995

SAINT-HILAIRE Augusto de Segunda Viagem a Satildeo Paulo e Quadro Histoacuterico da Provincia de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e introdushyccedilatildeo de Afonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 tiragem [1976] p164

SAtildeO PAULO (Estado) Secretaria de Estado da Cultura Reshypertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p522

SCHADEN Egon Os primitivos habitantes do territoacuterio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo Paulo 1954 p396-397

SYLOS Honoacutero de Satildeo Paulo e seus Caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasit 1976

TAUNAY Affonso de E Relatos Monccediloeiros Belo Horizonte Editora Itatiacuteaia Satildeo Paulo Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1981

TAUNAY Affonso de E Relatos Sertanistas Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 tiragem [1976]

Atas e Relatoacuterios

Aclas da Carnara da ViUa de S Paulo 1596-1622 vol2

RelatoacutelIacuteo da Estrada de Ferro ytuana 1900

Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

00

Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

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Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

BASTIDE Rogar As Religiotildees Africanas no Brasil Editora da USp Satildeo Paulo 1971

BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

BIBLIOGRAFIA

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COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Lisa - Livros Irradiante S A Satildeo Paulo 1972

NOVO CATECISMO OU CATECISMO HOLANDEcircS Instituto Catequeacutetico de Nijmegem Editora Helder Satildeo Paulo 1967

VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 10: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

RELACcedilAtildeO DE PESQUISAS

Piracicaba 29 de novembro de 2006

DE Luiz FranciacutescoAlbuquerque de Miranda - Docente do Curso de Histoacuteria da Unimep

i 11I~X PARA Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piacuteracicaba - IHGP

~~x~ REF Relaccedilatildeo de pesquisas vinculadas ao ~~~ Curso de Histoacuteria da Unimep que recorreram agraves

~p~jsect f2ti~ fontes disponfvels no IHGP

Prezados professores

Atendendo aacute solicitaccedilatildeo da diretoria do IHGP apresento a seguir os discentes do Curso de Histoacuteria da Unimep que utilizaram fontes disponiacuteveis no referido Instituto na composiccedilatildeo de seus Trabalhos de Conclusatildeo de Curso assim como os tiacutetulos de suas pesquisas

Discenes concluintes em 2005

BORBA Giovana Carpin Guerreiros inconstantes heroacuteis indolentes as representaccedilotildees do indigena pelo IHGB Orienmiddot tador ProL-DL Luiz Francisco A de Miranda

REDIVO Rute Luciancencov O mesticcedilo e suas qualidades laboriosas Orientador Prof-DrLuiz FranciscoA de Miranda

SPOTO Eduardo FilieI Civilizaccedilatildeo e catequese contenda poliacutetica entre Esado e Igreja no seacuteculo XIX Orientador Prolmiddot Dr Luiz Francisco A de Miranda

Discentes concluines em 2006

FERREIRA Joatildeo Paulo Ponte Feacute lei e miscigenaccedilatildeo anaacutelise do sistema colonial brasileiro por Rober Southey Orientador ProLmiddotDr Luiz Francisco A de Miranda

GOMES Luiz Rafael A liga Operaacuteria de Piracicaba e a greve geral de 1919 sindicalismo revolucionaacutelio reformismo cultura e imprensa Orientadora Profa-Dra Joseli Maria Nunes Mendonccedila

MELLO Patricia Ferraz de A questatildeo da origem dos iacutendios na Revista do IHGB Orientador ProL-Dr Luiz Francisco A de Miranda

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

26

o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

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Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

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Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

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Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

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BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

BIBLIOGRAFIA

ANUAacuteRIO DOS ARTISTAS PLAacuteSTICOS DE PIRACICABA Projelo Susete Thame Gutierres Igual Edora Satildeo Paulo 2000

ATLAS CULTURAL DO BRASIL MEC Cia Melhoramentos Satildeo Paulo 1972

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Lisa - Livros Irradiante S A Satildeo Paulo 1972

NOVO CATECISMO OU CATECISMO HOLANDEcircS Instituto Catequeacutetico de Nijmegem Editora Helder Satildeo Paulo 1967

VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 11: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

Aleacutem dos Trabalhos de Conclusatildeo de Curso anteriormente referidos encontra-se em curso uma pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica financiada pelo FapiclUnimep que tambeacutem uliliza fontes disponibilizadas pelo IHGP A pesquisa tem por titulo Representaccedilotildees do homem do sertatildeo na Revista do IHGB (1839-1859) conduzida pela discente Lucy Desjardins Romani sob orientaccedilatildeo do Prof-De Luiz Francisco A de Miranda Esse trabalho deve apresentar seu relatoacuterio final em agosto de 2007

Colocamo-nos agrave disposiccedilatildeo para qualquer esclarecimento e goslariacuteamos mais uma vez de agradecer ao IHGP e agrave sua diretoria o apoio recebido

Atenciosamente

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

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o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

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NEME Maacuterio Dois Antigos Caminhos de Serlanislas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos [ndios Caiapoacutes In Anais do Museu Paulista v23 1969 p7-147

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba Boca de Sertatildeo Revista do IHGP v3 n3 1994

PERECIN Marly Therezinha Germano Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Revista do IHGP vA nA 1995

SAINT-HILAIRE Augusto de Segunda Viagem a Satildeo Paulo e Quadro Histoacuterico da Provincia de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e introdushyccedilatildeo de Afonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 tiragem [1976] p164

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SCHADEN Egon Os primitivos habitantes do territoacuterio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo Paulo 1954 p396-397

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TAUNAY Affonso de E Relatos Monccediloeiros Belo Horizonte Editora Itatiacuteaia Satildeo Paulo Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1981

TAUNAY Affonso de E Relatos Sertanistas Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 tiragem [1976]

Atas e Relatoacuterios

Aclas da Carnara da ViUa de S Paulo 1596-1622 vol2

RelatoacutelIacuteo da Estrada de Ferro ytuana 1900

Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

00

Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

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Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

BASTIDE Rogar As Religiotildees Africanas no Brasil Editora da USp Satildeo Paulo 1971

BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

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VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 12: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

SEacuteCULO XVTII A AMmCA PORTUGUESA E A

SrroACcedilAO GERAL DE

INSEGURANCcedilA NO BRASIL ltgt (propeoeacutelltIacuteCil Hiswria agravea Fmagraveaccedilatildeo ile piracicaba)

MarlI Tbercziltba Gentmo Pereciraquo

Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763) estashybelecidos entre as potecircncias ocidentais dominantes no seacuteculo XVIII refletiram as particularidades da poliacutelica europeacuteia as chamadas guershyras do equlliacutebrio europeu que se converteram em conflitos de mundial repercussatildeo suficientes para alterar o quadro das disposiccedilotildees colonishyais nas Ameacutericas Aacutesia e Aacutefrica A Capitania de Satildeo Paulo foi particularshymente atingida e a gente paulista viu-se lanccedilada a contragosto no olho do furacatildeo que se formou na Ameacuterica do Sul

O primeiro Tratado (Utrecht 1713) dizia respeito agrave Guerra da Sucessatildeo Espanhola (1701-1714) pela qual Luis XIV obteve a sucesshysatildeo do trono espanhol para o seu nelo o Duque de Anjou (Felipe IV) poreacutem li custa de grandes perdas coloniais para Franccedila e Espanha muitas das quais foram transferidas para o poder da Inglaterra Portushygal inlegrante do grupo angtoacutefilo prevaleceu-se desse tratado e teve reconhecidas pela Espanha as suas posses anteriormente efetuadas ao norte do Brasil desde o Cabo Norte ateacute o Amazonas incluindo o rio nas suas duas margens havendo o Oiapoc por fronteira no sul do Brasil obteve o reconhecimento da posse da Colocircnia do Sacramento embora os castelhanos mantivessem os seus direitos sobre a aacuterea ocupada na banda oriental do Rio Prata onde consolidaram posiccedilatildeo milita

No seacuteculo XVIII tornou-se incendiaacuteria a questatildeo levantada soshybre as fronteiras luso-castelhanas na Ameacuterica do Sul pois elas se achashyvam modificadas havia dois seacuteculos pela infiltraccedilatildeo das correntes povoadoras oriundas do Brasil e pelas ocupaccedilotildees militares de ambos os lados Sob pressatildeo dos interesses criados infundiu-se uma nova e perigosa dinacircmica no sul da Ameacuterica a qual se responsabilizou pela violenta deslocaccedilatildeo de populaccedilotildees pelo sacrificaoe recrutamento dos civis ao militariacuteado e graves otildenus agrave sociedade colonial notadamente agrave genle paulista

Em sua origem a pendecircncia remete aos meados do seacuteculo XVII quando a Coroa portuguesa buscou uma nova configuraccedilatildeo geopoliacutetica no sul da Ameacuterica objetivando atingir o Rio da Prata Por

1 Max SaleUe (coord) Hismiddot toacuteria da Clvlliacutezaccedilatildeo Mundial p424-44 Antocircnio G MaUoso Hls~

toacuteria da Civilizaccedilatildeo p392middot93 2 Seacutergio 8 de Hollanda coord) Hst6rra Geral da Civitizaccedilatildeo do BrasH 111 n1 p366

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

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o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

6

Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

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Atas e Relatoacuterios

Aclas da Carnara da ViUa de S Paulo 1596-1622 vol2

RelatoacutelIacuteo da Estrada de Ferro ytuana 1900

Relatoacuterio da Estrada de Ferro Iluana--Sorocabana 1902

Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

bull bullbull

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

00

Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

bullbullbull

Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

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BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

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DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

Page 13: Rio - IHGP...Os Tratados de Paz de Utrecht (1713) e de Paris (1763), esta belecidos entre as potências ocidentais dominantes no século XVIII, refletiram as particularidades da polílica

3 Ibidem p323 4 Ibidem p368

determinaccedilatildeo do Governo Colonial correntes povoadoras da Capilashynia de Satildeo Paulo se direcionaram para as novas fun]iaccedilotildees municishypais as Vilas de paranaguaacute (1648) Satildeo Francisco do Sul (1668) para a Ilha de Santa Catarina (1678) e Laguna (1688) aUngindo-se nesta o ponto mais extremo da demarcaccedilatildeo de Tordesilhas Todas essas ocushypaccedilotildees erarn lidas como pertencentes agrave Capitania de Satildeo Paulo Iicashyvam sob a sua administraccedilatildeo e figuravam na sua carta geograacutefica

O rnais ousado passo no processo expansionista foi dado ern 1680 corn a fundaccedilatildeo da Colocircnia Militar do Santiacutessimo Sacramento na margem esquerda do Rio da Praia num antigo siacutetio em que comercianshyles portugueses durante o dorninio espanhol (1580--1640) haviam deshysenvolvido lucralivo comeacutercio com as proviacutencias platinas A fundaccedilatildeo militar de 1680 significava para a Espanha o perigo de uma nova infiltrashyccedilatildeo comerciat porque por meio dela agia o imperialismo inglecircs acarreshytando prejuiacutezos na arrecadaccedilatildeo fiscal das suas colocircnias As conlraprovidecircncias do Govemo de Buenos Aires resultaram na fundashyccedilatildeo das praccedilas de Montevideacuteu e Maldonado na banda onenlal do Prata bern como na expansatildeo pelo territoacuterio da bacia do rio Unuguai em sua rnargem lesle

Mantendo a linha de uma politica expansionista e defensiva a Coroa portuguesa detenminou entre 1737 e 1752 correntes povoadoras oriundas de Satildeo Paulo e dos Accedilores para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos santos Maacutertires Os caminhos abertos por sertanistas entre 1728 e 1733 em breve se transfonmaram em estrashydas para a rnovimentaccedilatildeo dos comboios militares e transporte do gado muar e cavalar estreitando as distacircncias alimentando o ciclo das tropas para Sorocaba a sudeste Natildeo tange dos Campos do Viamatildeo foi fundada a povoaccedilatildeo de Porto Alegre (1773) mas logo se viu que a formidaacutevel expansatildeo povoadora o comeacutercio e a articulaccedilatildeo entre o Sul o Sudeste e o Sudoeste geravam contradiccedilatildees natildeo se isentavam dos malefielos da guerra na fronteira a ser travada com as proviacutencias hispanoamericanas

A defesa das posiccedilotildees assumidas no Prata pelas duas Coroas ibeacutericas moveu exeacutercitos adversaacuterios que sustentaram uma guerra in terrnitente na fronteira sul do Brasil havendo Buenos Aires e Rio de Janeiro como quarteacuteis-generais Em meados do seacuteculo XVIII a situashyccedilatildeo agravou-se frente agraves necessidades de defesa do Brasil contra a cobiccedila estrangeira ao avanccedilo dos castelhanos na Banda Oriental e no conUnente do Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires convertendo-se em preocupaccedilatildeo permanente para o Secretaacuterio de Esshytado Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo o Marquecircs de Pombal dushyrante todo o reinado de Dom Joseacute 1(1765-1777)

Lembremos que os efeitos obtidos com o Tratado de Utrecht (1713) foram positivos para Portugal pois aleacutem de lhe haver sido deshyvolvida a COlocircnia do Sacramento militarrnente ocupada pelos castelhanos entre 1705 e 1715 valeram as suas disposiccedilatildees como preacutevio acerto nas fronteiras sul-amencanas ao ser pleiteado em 1750 um definitivo diploma em derrogaccedilatildeo ao Tratado de Tordesilhas de 1492 A caducidade deste e a reivindicaccedilatildeo de um novo principio de direito internacional o ulipossidelis pesaram entre os argumentos diplomaacutelishy

cos que levaram ao Tratado de Madri (1750) sendo Fernando IV rei de Espanha e D Joseacute I rei de Portugal

Naquele momento tambeacutem se blscou infundir uma nova orgashynizaccedilatildeo poliacuteticomiddotadministrativa na Ameacuterica portuguesa extinguindo-se o Estado do Maranhatildeo para criar-se o Estado do GratildeomiddotParaacute e Maranhatildeo com capilal em Beleacutem (1751) Por sua vez o Estado do Brasil configushyrava-se numa grande unidade geograacutefica desde o C1araacute ateacute a Colocircnia do Sacramento havendo por capital a cidade de Satildeo Salvador Arranjo anterior no Sudoeste extinguia a Capitania de SatildeoPaulo (1748) que jaacute passara pelos grandes cortes territoriais em sua carta geograacutefica (Mishynas Gerais Rio Grande do Sul e litoral de Santa Catarina Goiaacutes e Mato Grosso) que a reduziram a Satildeo Paulo propriamente dito e Paranaacute Os paulistas deploravam o aniquilamento da sua Capitania pela privashyccedilatildeo das suas principais aacutereas de mineraccedilatildeo e comeacutercio pela falta de representatividade no governo colonial a partir de 1748 e deste ateacute 1765 periodo que os manteve em estrita subordinaccedilatildeo agrave Capitania do Rio de Janeiro agravada pela pobreza

Na determinaccedilatildeo diplomaacutetica das novas fronteiras previstas no Tratado de Madri (1750) coube a Portugal a posse da Bacia Amashyzocircnica e para consolidaacute-Ia foi consruiacuteda a rede de fortificaccedilotildees que chegou ateacute o Mato Grosso No Sul Vingaram os desacerlos pOis hashyvendo de abandonar a Colocircnia do Sacramento receberia em troca as ocupaccedilotildees castelhanas na bacia oriental do rio Uruguai a terra das Missotildees Mas a inconformaccedilatildeo dos padres jesuitas associada agrave reshysistecircncia dos nativos bem como a incompreensatildeo dos governos geshyrou a Guerra Guarani (1756) e o Impasse de que resultou a proacutepria anulaccedilatildeo do Tratado de Madri

O segundo Tratado (Paris 1763) relaciona-se com nova intercorrecircncia na poliacutetica europeacuteia dada pela emergecircncia de uma poshylecircncia expansionisla a Pruacutessia em bloco de alianccedila com a Inglaterra fatoacute que levou aacute quebra do equiliacutebrio alcanccedilado com a Paz de Utrecht (1713) Na Guerra dos 7 Anos (1756-1763) que se sucedeu os atiamiddot dos Aacuteustria Ruacutessia e Franccedila tiveram grandes pemas militares enmiddot quanto a uacuteltima viu os seus porlos bloqueados pemendo para a Inglashyterra as suas principais colocircnias na Ameacuterica Aacutesia e Aacutefrica Em 1761 Luis XV convocou a uniatildeo de tOdos os Bourbons num Pacto de Famiacutelia do qual Portugal deixou de participar sob pressatildeo inglesa Por represaacuteshylia teve o seu territoacuterio invadido por um exeacutercito franco-espanhol e experimentou momento de grande fraqueza enfrentando guerra simulshytacircnea na Europa e na Ameacuterica Entre 1761 e 1767 movimentaram-se de Caacutediz para Buenos Aires e desta cidade conlra o Estado do Brasil para a Colocircnia do Sacramento Rio Grande do Sul e Ilha de Sana Catarina as esquadras e os exeacutercitos a comando dos generais D Pedro de CevalJos D Francisco Bucarely y Ursua e D Juan Joseacute de Vertiz Tais operaccedilotildees infligiram pemas territoriais alarmantes fazendo perigar o Sul o Sudoeste e a proacutepria cidade do Rio de Janeiro considerada o maior empoacuterio colonial e o porto do ouro da Ameacuterica portuguesa

A defesa do Sul do Brasil jaacute se convertera num projeto de guermiddot ra colonial americana longa e exaustiva adminIstrada por 30 anos

SAnlocircnicG MaltosQop cil pAlamiddotI1

6 Seacutergio B de Hollanda (coord) op dI p376 1 Carla do Morgado de Mateus dirigida a Oeyras In Doc InL vXXIII pAODAESP

desde 1733 pelo General Gomes Freire de Andrade arnoeacutem Capitatildeo General do Rio de Janeiro e responsaacutevel pelo arranjo administrativo das Capitanias do Centro-Oeste e Sudoeste O ano de 1762 foi dos mais criacuteticos a guerra houve por determinar nova alteraccedilatildeo adminisshytrativa cabendo aacute cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital do Estado do Brasil enquanto era nomeado o Conde da Cunha (Antocircnio Aacutelvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil (1763-1767) Nesse mesmo ano os dois blocos adshyversaacuterios na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (10121 1763) pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum

Exorbitando os castelhanos devolveram apenas a Colocircnia do Sacramento a Portugal enquanto asseguravam a posse militar nos territoacuterios meridionaIS sem deixar de continuar assediando e aumenshytando o seu poder A paz jamais se estabeleceu por completo exiginshydo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquecircs de Grimaldi) e de Lisboa (Marquecircs de Pombal) mantivessem em estado permanente de alerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro bem como os seus comandos militares

A Guerra no Sul e o temor de um alaque generalizado capaz de perder o Sudoeste e a cidade do Rio de Janeiro detenminaram a restaushyraccedilatildeo da Capitania de Satildeo Paulo (1765) e a nomeaccedilatildeo de D luis Amocircshynia de Souza Botelho Mouratildeo Morgado de Mateus para o cargo de seu Capitatildeo General Este se tornou o responsaacutevel pelos novos destinos da terra paulista e pela operaccedilatildeo estrateacutegica desastrosa denominada Dishyvertimento para o Oeste de que veio a resultar a fundaccedilatildeo da fortaleza e colocircnia militar de Yguatemi na fronteira paraguaia Justificada como recurso taacuteUco para distrair os castelhanos das suas investidas no Rio Grande do Sul de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires tomou-se objeto de fracasso mililar e razatildeo de trageacutedia para a sociedade paulista

A partir do momento em que se concebeu o projeto os sertotildees e o porto do Piracicaba no antigo Oeste Paulista entraram nas previshysotildees do Capitatildeo General sendo logo anunciado que ali se devena sediar uma das seis primeiras povoaccedilotildees a serem criadas por ele na Capitania de Satildeo Paulo (1765) Viabilizada em 1767 a pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba serviu por uma deacutecada como retaguarda da Praccedila de Nossa Senhora dos Prazeres e Povoaccedilatildeo de Satildeo Franciseacuteo de Paula de Yguatemi tornou-se O principal centro de produqatildeo das canoas que conduziram TIetecirc abaixo as monccedilotildees de abastecimento de gecircneros municcedilotildees soldados e povoadores para aquela malfadada coshylocircnia militar (1767-1777)

A Guerra do Sul motivou esforccedilos inusitados ao Brasil Colocircnia A partir de 1764 comandos militares saidos de Buenos Aires promoveshyram incursotildees avassaladoras no Rio Grande exigindo o reforccedilo militar da regiatildeo e o consequumlente envio de todas as forccedilas que o Vice-Rei do Brasil pocircde ajuntar sob pena de pesado recrutamento que recaiacutea notadamente sobre a Capilania de Satildeo Paulo Em 1774 assumiu o posto de General eacutem Chefe de todas as tropas do Brasit o austriacuteaco Joatildeo Henrique Boehm e doiacutes anos mais tarde chegou-se ali ao maacutexishymo contingente de seis Regimentos com tropas do Reino do Rio de

Janeiro de Minas Gerais da Bahia e de Satildeo Paulo Tratava-se do derradeiro esforccedilo para enfrentar a estrateacutegia castelhana de conquisshytar a Ilha de Santa Catarina e por meio dela inlerceptar as operaccedilotildees de defesa do Rio Grande e Colocircnia do Sacramento Por parte do Estashydo do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo tambeacutem foram tomadas providecircncias ao longo das fronteiras de Mato Grosso Guaporeacute Rio 8ranco e Paraacute ershyguendo-se fortalezas para deter oulras investidas castelhanas proveshynientes do Paraguai ou de Santa Cruz da La Sierra

O momento decisivo chegou no iniacutecio do ano de 1777 quando partiu de Caacutediz uma grande esquadra comandada por D Pedro Cevallos Apoacutes a conquista da Ilha de Santa Catarina este buscou unir-se com os exeacutercitos de Vertiz em 8uenos Ares para ocupar a Coshylocircnia e atacar Boehm no Rio Grande restando exposto todo o sul do 8rasiL Naqueles episoacutedios pouco conhecidos da guerra colonial na Ameacuterica luso-castelhana sobressaiu o meacuteto das miliacutecias da Capitashynia de Satildeo Paula porque durante todo o tempo a legiatildeo de Satildeo Paulo segurou a fronteira no Quartel do Rio Pardo enquanto o Regimento de Santos defendeu Porto Alegre Sertanistas de origem mesticcedilos e indiaacuteticos os paulistas combateram numa guerra que natildeo compreenshydiam sob as piores condiccedilotildees imaginaacuteveis por um rei que desconheshyciam e contra outro que os ignorava Os sacrifiacutecios a que se submeteu a sociedade paulista geraram metaacuteforas em seu imaginaacuterio latentes em seu regionalismo nas deacutecadas posteriores A reforccedilaacute-las o conheshycimento de que no hemisfeacuterio norte outros povos da Ameacuterica enfrentashyvam uma guerra contra o colonialismo e pelo direito de autogoverno armados da doutrina liberal Noutras Capitanias jaacute se achavam ardenshydo os archotes do Iluminismo

Aos povos coloniais da Ameacuterica parecia tanto incompreensiacutevel quanto injusto o xadrez diplomaacutetico europeu Envolvida a Franccedila na guerra da Independecircncia dos Estados Uniacutedos e necessitando do apoio da Espanha contra a Inglaterra exigiu e obteve a cessaccedilatildeo das hostishylidades no Sul onde mediam forccedilas os dois Impeacuterios Ibeacutericos Em setembro de 1777 concertou-se a paz mediante um armistiacutecio emboshyra estivessem perdidas a Ilha de Santa Catarina a Colocircnia do Sacrashymeno a aacuterea das Missotildees e parte da campanha do Rio Grande

Recorde-se que desde o mecircs de fevereiro (1777) em que fora atacada a Ilha de Santa Catarina mudanccedilas poliacuteticas ocorriam na Peshyninsula Ibeacuterica pressionando os acontecimentos no sul das Ameacutencas Naquele comeccedilo de ano D Joseacute I veio a falecer (242) cabendo a regecircncia a sua filha a futura DMaria I que logo afastou do governo o Marquecircsde Pombal (43)Quase no mesmo periacuteodo o Ministro Grimaldi foi substituldo na Espanha por Florida-8lanca (292) e foi este quem assinou em parceria com D Marlinho de Mello e Castro o Tratado Preliminar de Limites chamado Santo IIdefonso (1deg101777) de nefasshytas consequumlecircncias

O Estado do Brasil perdeu a Colocircnia do Sacramento as Misshysotildees do Uruguai e parte da campanha do Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires enquanto o Estado Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo pershydeu as aacutereas do rio Japuraacute e do vale do rio Negro Por esse diploma

S Franciacuteco Adolfo de Vamhagen Histoacuteria Geral do Brasil 14Q

51 ad p206 9 Ibidem p268

leonino cujos artigos foram ditados quase com as armas nas matildeos apenas a Ilha de Santa Catarina foi devolvida ao Brasir Esse Tratashydo teve por apecircndice o de EI Pardo (1131778) sobre amizade gashyrantias e comeacutercio entre os povos assinado entre Carlos III da Espanha e D Maria I de Portugal poreacutem os desacertos sobre as fronteiras soacute vieram a ter soluccedilatildeo muito posterior sob outro contexto diplomaacutetico nos seacuteculos XIX e XX

Malgrado o armistiacutecio de setembro e a assinatura do Tratado de Santo IIdelonso as forccedilas castelhanas continuaram ameaccedilando inclusive procederam agrave ocupaccedilatildeo da fortaleza de Yguatemi (2610 1777) por meio da investida do governador do Paraguai Augusto Pinedo em franco desrespeito agrave paz concertada anteriormente Exshypostos ao adversaacuterio e seus aliados iacutendios os militares da praccedila e as famiacutelias povoadoras da colocircnia empreenderam a desocupaccedilatildeo assoshyciada ao traacutegico ecircxodo para o porto de Araraitaguaba no meacutedio Tietecirc onde os aguardavam a intoleracircncia a incompreensatildeo e a injusticcedila das autoridades coloniais Na fronteira ocidental do Estado do Brasil pershymaneceu controversa a raia demarcatoacuteria entre os rios Igurei e Jaruru fato que associado agrave crocircnica inseguranccedila no Rio Grande de Satildeo Pedro e dos Santos Maacutertires demandou a continuidade dos meacutetodos arbitraacuteshyrios do recrutamento na Capitania de Satildeo Paulo edo miliacutetariado no Sul ateacute o seacuteculo XIX Homens vaacutelidos que eram levados sem o proacuteprio consentimento para morrer na fronteira deixando as famiacutelias desfalcadas na lavoura filhos na orfandade e todo o tipo de privaccedilotildees reforccedilavam o clamor da sociedade contra as injusticcedilas coloniais

As duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XVIII se mantiveram em tensatildeo permanente a Sudeste Sul e Sudoeste do Brasil recaindo a odiosa praacutetica do recrutamento sobre as populaccedilotildees civis nos distritos das Vilas medida indispensaacutevel ao abastecimento das Tropas Auxiliashyres que reforccedilavam os Regimentos do Reino Na Capitania de Satildeo Paulo o que se convertera em clamor dos moradores reforccedilava o veshylho haacutebito das evasotildees para os matos e agraves bocas-de-sertatildeo conquanshyto a violecircncia fosse o principal motivo de queixa contra os Capiacutetatildeesshymores nas Vilas e suas Povoaccedilotildees Tal pratildetica atingia os bairros rurais mais distantes sequer poupava aqueles que se dirigiam agraves igrejas para as desobrigas Algemados e escoltados por corpo militar eram postos no caminho de Satildeo Paulo como recrutas e embarcados de Santos apoacutes breve treinamento para reforccedilo agraves tropas de linha Sorocabanos ituanos parnaiacuteba nos bragantinos jundiaienses compartilharam essa violecircncia

A pequenina Povoaccedilatildeo de Piracicaba foi gerada ao impacto das atrocidades da guerra nas fronteiras do Sul e do arbiacutetrio das auto ridades coloniais mas pocircde abrigar natildeo obstanle o clima de insegushyranccedila os moradores do Oeste Paulista que fugiam em patildenico ao reshycrutamento e agraves injusticcedilas da eacutepoca Por uma deacutecada serviu de retashyguarda a Ygualemi recebeu os tracircnsfugas do sistema e apoacutes 1777 os seus deslroccedilos humanos supeacuterstites agrave queda daquela Praccedila Coshyrnunlcaccedilotildees dos Capitatildees Generais soacute Chegavam a Piracicaba via Itu apoacutes oito dias penosos de viagem por aacuteguas e por lerra Morar nesle

fim de mundo guardava o seu altiacutessimo preccedilo mas recompensava em seguranccedila as famllias que possuiacuteam filhos adolescentes que podiam ser recrutados a partir dos dezesseis anos Tal expediente eacute facilmente observado no censo de 1773 particularmente na famiacutelia de Domingos Rodrigues do Prado

Na Ameacuterica colonial ateacute o seacuteculo XIX nunca foi assaz conjushyrado o perigo de novos confrontos entre os dois impeacuterios ibeacutericos Uma carta expedida do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 14211788 pelo Ministro Martinho de Mello e Castro dirigida ao Vice-Rei e Capishytatildeo General de Mar e Terra do Estado do Brasil D Luiz de Vasconceshylos e Souza dava conta de provaacutevel intercorrecircncia belicosa no Leste Europeu O risco de novo desequiliacutebrio despertava cuidados com o Sul do Brasil deilando imediato alerta sobre a odiosa praacutetica do recrutashymento que a Capitania de Satildeo Paulo e a gente paulista tanto abominashyvam A espada continuava pendente

O Ministro natildeo escondia a preocupaccedilatildeo diante de um novo e perigoso desequilibrio dos blocos europeus ao ser informado que na proacutexima primavera (1788) Aacuteustria e Ruacutessia desejosas de se expandir na peninsula Balcacircnica e no mar Negro preparavam uma campanha contra o Impeacuterio Turco O fato despertava o interesse das outras poshytecircncias imperialistas a Franccedila a Inglaterra a Holanda e podia fazer romper os Tratados quebrando a paz na Europa e dellando imediatas repercussotildees na Ameacuterica portuguesa A Martinho de Mello e Castro cabia pouco mais do que recomendar ao Vice-Rei (D Luiz de Vasconshycelos e Souza) aquelas medidas cautelares adotadas na defesa do Estado do Brasil tais como expressa vigilacircncia e organizaccedilatildeo sobre as Tropas Pagas e Auxiliares em terra mar e fortatezas A informaccedilatildeo devia ser repassada aos Capilatildees Generais incluindo Satildeo Paulo em sigilo para natildeo despertarreaccedilatildeo Jazendo por agora sem maiorruido as mais proacuteprias e melhor combinadas disposiccedilotildees

Os grandes esforccedilos de Carlos 111 (Espanha) objetivando reshycuperar as suas possessotildees no Mediterracircneo e na Ameacuterica frente atilde Gratilde-Bretanha a grande vitoriosa da Guerra dos 7 Anos bem como para inibir a expansatildeo desla na Ameacuterica Portuguesa com corresponshydente reaccedilatildeo do Estado do Brasil pareciam os estertores de Castela diante do inevitaacutevel a crise fatal do sistema colonial ibeacuterico e o esfaceshylamento do impeacuterio l1ispano-americano ~ue induziriam ao aparecimenshyto das primeiras naccedilotildees sul-americanas Naquele final do seacuteculo XVIII um novo conceito de mercado e as disputas do capitalismo internacioshynal se faziam acompanhar de doutrinas filosoacuteficas e modelos impaclantes de organizaccedilatildeo poliacutetica que melilor se adequavam agraves joshyvens naccedilotildees da Ameacuterica iacutenclusive o Brasil

10 Maccedilos de Populay30 Itu1773DAESP 11 Carta de M Mello e Cas~

Ira ao VicemiddotRei do Brasil In Doc Int vlXV p443-44 DAESP 12 JViacutecens VIVes (crg) Hisshytoacuteria da Espana y Ameacuterica social y econoacutemiacuteca vlV p184

RECREIO DO CoRUMBATAiacute

Frei ampmno Dorizotto

Em marccedilo de 1532 Dom Joatildeo 111 rei de Portugal determina a primeira divisatildeo administrativa do Brasil colonial aplicando ao territoacuteshyrio a experiecircncia do arquipeacutelago da Madeira com a entrega de cartas de doaccedilatildeo de capitanias hereditaacuterias a particulares de recursos e aptishydotildees para a colonizaccedilatildeo das novas terras O Brasil Colocircnia foi dividido em 15 quinhotildees apesar de terem sido conferidas apenas doze capitashynias As cOncessotildees outorgadas pelas cartas eram bem amplas A doshyaccedilatildeo era perpeacutetua e o donataacuterio passava a se chamar de governador e capitatildeo das ferras e adquina uma seacuterie de regalias entre elas a de distribuir sesmarias porccedilotildees de terras devolutas segundo as leis do reino de Portugal com uma diferenccedila em Portugal eram entregues para o cultivo soacute as terras abandonadas

Com a falecircncia das capitanias particulares esse oficio foi deshysempenhado pelos governadores e capitatildees-generais das capitanias hoje Estados do Brasil O capitatildeo-general enfeixava em suas matildeos os poderes administrativo execuliacutevo fiscal judiciaacuterio e militar

A histoacuteria do EstadO de Satildeo Paulo estaacute ligada agrave Capitania de Satildeo Vicente e Santo Amaro de Martim Afonso de Souza oUlorshyga de 1535 Piratiacuteninga hoje cidade de Satildeo Paulo foi elevada agrave sede da Capitania de Satildeo Vicente em 22 de marccedilo de 1681 por provisatildeo do donataacuterio Dom Luis de Taide Castro Noronha e Soushyza Marquecircs de Cascaes

Com a descoberta de minas de ouro capitanias particulares foram retomadas pelo governo portuguecircs tornando-se capitanias reshyais Assim no ano de 1709 a Coroa Portuguesa comprou as Capitanishyas de Satildeo Vicente e Santos de Seus antigos donataacuterios criando com a Carta reacutegia de 23 de novembro de 1709 a Capitania Real de Satildeo Paushylo e Minas de Ouro com sede em Ouro Prelo a qual compreendia os atuais territoacuterios de Satildeo Paulo Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul ateacute a Colocircnia do Sacramento Em 1720 por alvaraacute de 2 de dezembro foi criada a Capitania de Minas Gerais permanecendo ainda para areshygUio de Satildeo Paulo as futuras cidades de Uberaba Uberlatildendia e Araxaacute Em 11 de agosto de 1738 perdeu Satildeo Paulo o tenitoacuterio de Santa

1 BACELLAR Carlos de Almeida Prado BRIOSCHI lucila Reis (Orgs) Na es irada do Anhangoera uma visatildeo regional da histoacuteria paulista Satildeo Paulo Humanltas FFLCHUSP 1999 p_ 37

2 SYLOS Honocirctio de satildeo Paulo e seus caminhos Satildeo Paulo McGraw-Hill do Brasil 1976 p 47 3 Cf LIMA Ruy Gime Pe~

quena histoacuteria territorial do Brasil Sesmarias e (ershyras devolutas Satildeo Paulo Secelaria de Estado da Culshytura 199L 4 ALVES FILHO Ivan Brashysil 500 anos em documenshylos Rio de ~lanejto Mauad 1999 p 39middot40

Catarina Quatro anos depois loi a vez do Rio Grande tomar-se Capitashynia tigada ao Rio de Janeiro Em 1748 se separam Mato Grosso Goiaacutes e Triacircngulo Mineiro conforme provisatildeo de Dom Joatildeo V E para humilhar os paulistas a corte portuguesa retira-lhes o govemo proacuteprio e a Capishylania de Satildeo Paulo ecirc subordinada ao Rio de Janeiro por alvaraacute reacutegio de 9 de maio de 1748 Satildeo Paulo passou a ser govemada por um preposto residente na fortaleza de Sanlos A Capitania soacute foi restaurada por Dom Joseacute I aos 6 de janeiro de 1765 Por fim em 1853 foi criada a Provincia do Paranaacute perdendo Satildeo Paulo seu uacuteltimo territoacuterio

A Capitania de Satildeo Paulo e as sesmarias

Por uma das muacuteltiplas explicaccedilotildees do vocaacutebulo sesmaria vem do antigo verbo sesmar que significa dividir neste caso especifico dividir terras Em Portugal os primeiros reis costumavam conceder sesmarias para os nobres fidalgos e ricos no intuito de expandir o cultivo e a produccedilatildeo dos cereais e gratildeos principalmente do trigo e da cevada Quando as terras natildeo se tornavam produtivas eram retoma~ das pois na realidade o sesmeiro recebia o direito de exploraacute-Ia natildeo seu dominio Todas as terras estavam Inclusive as do Brasil sob a jurisdiccedilatildeo eclesiaacutestica da Ordem de Cristo devendo pagar-lhe o dizimo e a redizima do dizimo ao donataacuterio da capitania ou o tributo ao reI

Em algumas regiotildees da Peninsula Ibeacuterica imperava o antigo costume de serem sorteadas as terras da comuna a fim de serem lavradas por particulares durante um periodo determinado conforme a necessidade de cada municipe e o nuacutemero de seus familiares A reparshyticcedilatildeo real encarregada da divisatildeo e concessatildeo de terras se chamava sesmo e os antigos magistrados portugueses responsaacuteveis pela enshytrega da terra eram conhecidos como sesmeiros Soacute mais tarde a pashylavra passou a indicar tambeacutem quem recebia a terra

A lei das sesmarias promulgada por Dom Femando I rei de Porshytugal em 26 de junho de 1375 forccedilava a lavraccedilatildeo e o cultivo de todas as terras em vista da baixa produccedilatildeo de cereais e de outros frutos necesshysaacuterios ao suslento do povo O rei objetivava levar os proprietaacuterios a planshytar nas proacuteprias terras daacute-Ias a cultivar a outros ou ainda arrendaacute-Ias a lavradores A lei baseada numa determinaccedilatildeo anterior de 1211 obrigashyva tambeacutem os ociosos e vadios ao trabalho rural evitando aumentar a mendicatildencia e coibindo os espertalhotildees Estes queriam empregar-se junto aos fidalgos com bons salaacuterios e natildeo enfrentar o trabalho do camshypo Para vigiar o cumprimento da lei eram escolhidos dois sesmeiros em cada regiatildeo encarregados da aplicaccedilatildeo das disposiccedilotildees legais

Novas leis sobre sesmarias foram promulgadas por Dom Joatildeo I em 1427 e complemenladas pelas orientaccedilotildees de Dom Duarte em 1436 Toda a legislaccedilatildeo sobre sesmarias estaacute compilada nas Ordenashyccedilotildees Afonsinas do tempo de Dom Afonso 11

Esse costume e essa legislaccedilatildeo do Reino de Portugal foram transshyplantados para as colocircnias inclusive para o Brasil e aqui vigoraram ateacute 18 quando se aceitou como primeira lei a proacutepria posse da terra

A legislaccedilatildeo impunha condiccedilotildees para a legalizaccedilatildeo definitiva das conCeSsotildees de sesmarias como a mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da aacuterea a confirmaccedilatildeo pelo rei de Portugal do primeiro documento e a cultura das terras Em geral em dois anos a pessoa devia iniciar o cultivo e se nada colhesse em oiacutelo anos podla perder o direito sobre as terras Essa legislaccedilatildeo baacutesica foi alterada e complementada semshypre de novo

O processo para conseguir a aprovaccedilatildeo de uma sesmalia era complicado demorado e custoso A pessoa tinha que se apresentar como algueacutem de recursos abundantes para cultivar as terras povoaacuteshylas e desenvolvecirc-Ias

Existiam tambeacutem alguns estratagemas utilizados para conSeshyguir sesmarias Os pretendentes adquiriam vaacuterias posses umas proacutexishymas das outras e entatildeo pediam a concessatildeo Depois de obtida a messhyma era medida demarcada e os papeacuteis enviados a Lisboa para serem confirmados pelo rei Muitos pretendentes se associavam aos posseishyros no objetivo de conseguirem a sesmaria amp Se natildeo havia acordo o requerente depoiacutes de conseguir a Carta de Sesmaria entregava ao posseiro o documento pro r13ta6 correspondente ao Quinhatildeo proporshycionaI agraves lavouras existentes e cultivadas pelo mesmo e mantinha o restante para si

O documento de 14 de marccedilo de 1822 ordenava que as provishysotildees e demarcaccedilotildees de sesmarias concedidas a partir daquela data respeitassem os posseiros com culturas efetivas no terreno presershyvando-lhes o direito e outorgando-lhes documento sobre as terras culshytivadas Por precauccedilatildeo as cartas de sesmarias jaacute vinham reconhecenshydo os direitos dos posseiros isso significava um imenso ganho dos pobres sobre os latifundiaacuterios A Lei das Terras de 1850 poreacutem ao regulamentar um estatuto da propriedade da terra liquidou o regime das posses ou ocupaccedilatildeo das terras devolutas A partir dai elas soacute podiam ser compradas de particulares possuidores de tiacutetulos ou do governo O resultado foi o fortalecimento do latifuacutendio e o enfraquecishy

menta da pequena propnedade

O POlIa Recreio do Rio Corumbatai

Porto do Corumbataiacute posteriormente Porto Recreio era o nome da primitiva povoaccedilatildeo existente junto ao Rio Corumbatal distante em linha reta pela margem do rio aproximadamente quinze quilocircmetros de Piracicaba e predecessora da atual Vila do Bairro de Recreio Jaacute o Recreio atual tem sua histoacuteria ligada agrave fazenda da margem direita do Rio Corumbatai Fazenda Bom Retiro cujas divisas foram regulariza das pela Accedilatildeo Amigaacutevel de Demarcaccedililo e Divisatildeo de Terras com hoshymologaccedilatildeo em 14 de agosto de 1889 com mediccedilatildeo e mapa do engeshynheiro Joseacute Pereira Rebouccedilas accedilatildeo promovida entre outros por Joatildeo Baptista da Cruz Leite adquirente da Fazenda Bom Retiro dos herdeishyros e da viuacuteva de Alb~no de Toledo e Silva

5 MELLO J Silveira A fun~ daccedilatildeo de Piacuteraciacutecaba In Almanaque de Piracicaba 1900 p_ 115 GPro rara mpressatildeo latiM

slgntncando I) dlrelo do posshyseiro sobre a porccedilatildeo de ter ra cultivada por sua famiacutelia 7 MARCiuo Maria Luiza Crescimento demograacutefico e evojuccedilatildeo agraacuteria paulista 1700~1836 Satildeo Paulo EOUSP2000 p 187 S 1deg-TA8EUAO DE NOTAs DE PIRACICABA Iilro 132 fls47-4tt

9 ARQUIVO DO ESTADO Requerimenlos de Sesmarias CO 0323a aO5A4

26

o alual Bairro de Recreio teve seu desenvolvimento atrelado agrave esshytaccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana posterionnente Sorocabana agrave construshyccedilatildeo da Capela Santo Antocircnio ao comeacutercio atraido para a praccedila da capela como agrave criaccedilatildeo da escola estadual Estaccedilatildeo do Recreio A desativaccedilatildeo do porto e a mudanccedila natural da vila para junto da estaccedilatildeo no final do seacuteculo XIX e do seacuteculo XX condenaram o Porto Recreio chamado entatildeo Recreio Velho agrave gradual extinccedilatildeo Hoje laacute eslo apenas algumas rui nas A antiga chamineacute do engenho da famiacutelia Nalin resiste ao tempo

A povoaccedilatildeo antiga do Porto Recreio estava historicamente lishygada ao Rio Corumbatai e agrave sua funccedilatildeo natural no passado de via de comunicaccedilatildeo

O requerimento pelo qual quatro cidadatildeos pedem Carta de Sesmaria sobre as terras do Porto Recreio eacute fundamental e esclarecedor

Dizem o CapitamAnt6nio Jazeacute da Cruz e Joaquim Francisshyco da Cruz e Bemardo Jazecirc Alvarez e Joaquim da Costa Garda que elles suplicantes ce querem an-anclJar em huns Ma~os devaMos que se acMo da outra paIte do Rio Corumbatahi DesMclo da Poshyvoaccedilao de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araracoaacutera no Porto do dito Rio de Corumbatahi fazendo ahi Piilo querem os Suppliacutecantes que Vossa Excefl~ncia lhes consed~o por Sismana lIeacutes Legoas de Terras a cada hum dos Supplicanles para suas Lavoiacuteras e Criasoens reguindo a metade da Testada Rio aSima e outra metade Rio abaixo ficando o dito Caminho no melo da DHa Testada e correndo o Certiio palio dito caminho adiante para o que pedem a V Ex bull seje Servido conceder-llJes a CizMaria das terras que pedem os Supplicantes na forma que Requer e com as confronlasoens 8sima declaradas de que P R Mre

Antes da concessatildeo da carta de sesmaria deviam ser ouvidos o Procurador da Coroa representante do Reino de Portugal e a Cacircshymara da cidade neste caso a de Ilu

Esse requerimento deve ter sido encaminhado no final de 1794 ou em janeiro de 1795 pois conteacutem o seguinte despaCho Infonne a Caacutemara e responda o DL Procurador da Coroa Satildeo Paulo 23 de Janeiro de 1795 No requerimento havia um erro pois natildeo se davam mais do que trecircs leacuteguas de terras para cada pedido e se solicitam trecircs leacuteguas para cada um dos quatro pretendentes O problema foi contomado por meio duma explicaccedilatildeo em que se dizia ter havido um equivoco assinashyda esta por Tobias Carneiro Soares provavelmente o procurador deles Por outro lado o engano surtiu um eacutefeito inesperado e compensador pois o grupo recebeu mais de trecircs leacuteguas em quadra de sesmaria

Sobre esse documento assentam-se diversas reflexotildees A reshygiatildeo era bem conhecida em lIu e atraiu o interesse de investidores Todo porto eacute local de Chegada e salda de passageiros e cargas portanto um centro de movimento de enconlro rota sem duacutevida para outros lugares fossem sitias posses e aquiacute o sertatildeo O grupo escolheu um oacutetimo lugar para explorar matas terras e lavouras Maacuterio Neme comenta

Ainda em 1795 comeccedilam as atenccedilotildees a se voltar novashymente para eleacutemmiddotPiacuteraciceba incidindo em paragens banhadas pelo rio Corumbatal movimento que levaria ao povoamenlo das atuais Rio Claro e localidades vizinhas No ato citado qualro interessamiddot dos requerendo em conjunto Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Franmiddot cisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia (alguns dos quais ceriamente posseiros jaacute ai estabelecidos) pemiddot dem treacutes leacuteguas da outra parie do rio Corumbataf no distrilo de Pirocicaba no caminho que segue para os campos de Aroraquaro~ este lote faria piatildeo no porio do fio Corumbatal e a sua testada acompanllando a margem direita desse fio seria cOlrada ao meio pelo caminllO dos campos de Araraquara

Essa obra de Maacuterio Neme estava inacabada quando de sua morte em 1973 Urna anaacutelise correta do seu conjunto eacute portanto immiddot posslve Alguns dados podem ser levantados a partir do texto acima citado O excelente pesquisador e histortador de Piracicaba partiu duma premissa as sesmarias do rio Corumbataiacute formaram outros municiacutepishyos como Rio Claro Corumbatai e Analatildendia Sem duacutevida mas as primiddot meiras estatildeo ainda dentro do municipio de Piracicaba e atualmente tambeacutem no de Charqueada O autor afirma ainda que alguns dos sesmeiacuteros satildeo certamente posseiros Na realidade satildeo pessoas in~ fluentes de lIu e de Porto Feliz

O Capitatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz nasceu em Portugal no Arcebispado de Braga Termo da Vila de Barcelos filho de Dioniacutezio Gonccedilalves da Cruz e Antocircnia M de Menezes Seu testamento eacute de 18 de marccedilo de 1799 registrado pelo Tabeliatildeo Matheus Joseacute Botelho Mouratildeo de lIu O Capilatildeo faleceu aos 14 de abril de 1804 e seu invenmiddot taacuterio eacute de 20 de maio de 1815 (1805) sendo requerente sua esposa Maria da Candelaacuteria de Jesus e testamenteiro seu filho Tenente demiddot pois Capitatildeo Joaquim Francisco da Cruz

Antocircnio Joseacute da Cruz e Joaquim da Costa Garcia eram pessomiddot as conceituadas incumbidas em diversos momentos pela Cacircmara de lIu de investigar conflitos de terras Joaquim da Cosia Garcia aparece comprando uma posse e obtendo Carta de Sesmaria Eacute um investidor de terras natildeo posseiro No cartoacuterio de tu existem procuraccedilotildees assina~ das em conjunto por ele e seu lo Bernardo Joseacute Alvares vereador em 1803

O Tenente Joaquim Francisco da Cruz aparece no levantamento das propriedades rurais ordenado por Dom Joatildeo VI pelo Aviso reacutegiO de 1817 realizado entre 1817-1818 na Freguesia de Piracicaba Bairmiddot ro do Corumbatai Acima como n 243 Possue trecircs quartos [de leacutegua] de terras de testada e uma leacutegua de fundo mais ou menos e reside na freguesia de Porto Feliz e as possue por sesmaria Continuava pormiddot tanto como proprietaacuteno residindo a leacuteguas de distacircncia natildeo era em absoluto posseiro mas um bom fazendeiro possuindo a sua gle08 de

1sesmaria dezenas de alqueires

Os quatro pretendentes antenormente ciladas tinham altos inmiddot teresses investindo nas terras esperando tambeacutem explorar as matas

10 NEME Maacuterio Apos$a~ menta do solo e evoluccedilatildeo da propriedade rural na zona de PiraeiacutecabaV1 Mushyseu Paulisa Seacutefle de Histoacutemiddot ria 1974 p 81 11 NEME op cil p 127 e 1 TABELlAtildeO DE NOTAS DE PIRACICABA Iwro 7 fls 26~31 v 12MUSEU REPUBLICANO

DE I1U Autos de Cartas de Testamento 16 OfiCio Funmiddot do Arquivo Cenlral da Comarca de Ylu M R C 11M PUSP 020 a 13 ARQUIVO DO ESTADO

CO 0234 et63 e CO 0293 1228 e 29 I sAo PAULO (Esado) Secretaria de Es~ tado da Culura Repertoacuterio das Sesmarias Satildeo Paulo 1994 p 262 14 ARQUIVO DO ESTADO

Tltlmbamento dos Bens Ruacutesshyticos ex 9869 Flash Porto Feliz Freguesiacutea de Pirflccaba Mnmiddot1fi18

da regiatildeo Pela Porto Recreio haveria faacutecil comercializaccedilatildeo e transporshyte dos produtos Tambeacutem naacuteo se pode esquecer do antigo caminho para os Campos de Araraquara via nalural de comeacutercio com o sertatildeo Influecircncia poliacutetica e recursos financeiros natildeo faltavam ao grupo

Aos 6 de oulubro de 1795 o Govemo de Satildeo Paula com aproshyvaccedilatildeo da Cacircmara da Vila de Itu em resposta ao requerimento anteriorshymente apresentado concede Carta de Sesmaria ao cidadatildeo portuguecircs Capitatildeo Antocircnio Jazecirc da Cruz O Capitatildeo recebia juntamente com seu filho Tenente Joaquim Francisco da Cruz com o cidadatildeo Bernardo Joseacute Alvares e o sobrinho dele Joaquim da Costa Garcia lima enorme sesmaria

A sesmaria recebida peto capitatildeo a primeira junto ao Rio Corumbalai tomou-se conhecida como Sesmaria Corumbatai ou do Cruz

CARTA DE SESMARIA PASSADAAO CAPITAM ANTOshyNIO JOSEacute DA CRUZ E OUTROS DE TRES LEGOAS DE TERshyRAS DE TESTADA E LEGOA E MEYA DE CERTAo NA PARAshyGEM QUEABAIXO SE DECLARA DO TERMO DA POVOACcedilAtildeO DE PIRACICABA

Bernardo Joseacute de Lorena li Faccedilo saber aos que esta mlnla carta de Sesmana virem que atendendo a me represenshytarem o Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e Joaquim da Costa Garcia que elfes suplicanles se querem arranchar em huns matos devolutas que acMo da outra parte do Rio Corumbalahy deslriclo da poshyvoaccedilatildeo de Piracicaba no Caminho que segue para os Campos de Araraquara no porto do dito Rio Corumbalahy fazendo ahy piatildeo me pediatildeo os supplicanles lhes concedesse por Sesmaria trecircs legoas de lerras para suas lavouras e creaccediloens seguindo melade da leslada Rio acima e a outra melade Rio abaixo fishycando o dito caminho no meyo da referida testada correndo o Certatildeo o espaccedilo de Leacutegoa e meya pelo mencionado caminho em diante e sendo visto () seu requerimento em que foi ouvida a Camara da Villa de Ylu por ser do daslricto e responder ella que nas erras que pediacirco os supplicanles para a parte do Rio abaixo estavoo arranchados alguns moradores pobres e que para Rio acima veziacutenhando a Povoaccedilatildeo estava devoluto ao que respondeoo Douar Procurador da Coroa e Fazenda a quem tambeacutem se deacuteu visla que na conformidade das Reaes Ordens se devia conceder aos Suppticantes as terras que pediratildeo e que os moradores que denlro dellas se comprehenderem hajatildeo de preferir pro rala naquella porccedilatildeo que segundo a possibilidashyde de cada hum lhe for preciza para o seu estabelecimento como assim o deferminaacuteo as mesmas Reaes Ordens e sem prejuizo de lerceiro havendo Visto Inteligllncia Hey por bem dar em Nome de Sua Magestade em virtude da sua Real Orshydem de 15 de junho de 1711 aos ditos Cappitatildeo Anlonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Alvares e

Joaquim da Costa Garcia as terras que pedem na paragem mencionada com as confrantaccediloens atraz indicadas e sem prejuiacutezo de terceiro ou do direito que alguma pessoa tenha a eIas com declaraccedilatildeo que as cultivaratildeo e mandaratildeo confirmar esta Carta de Sesmaria por sua Magestade dentro em dous annos e natildeo o fazendo se lhe denegaraacute mais tempo Pelo que mando ao Mfnistro e mais pessoas o que o conhecimento desshyta pertencer dem posse aos ditos Capitatildeo Antonio Joseacute da Cruz Joaquim Francisco da Cruz Bernardo Joseacute Avares e Joaquim da Costa Garcia das referidas terras na forma que pedem E por firmeza de tudo lhes mandei pessar a presente por mim assignada e sellada com o 5ello de minhas Armas que se cumpriraacute inteirashymente como nalla se conteacutem e se Registraraacute nos Uvros da Seshycretarfa deste Governo e mais partes O que tocar e se passou por duas vias Dada nesta Cidade de Satildeo Pauto Manuel Cardozo de Abreu a fez aos seis de Outubro de mil setecentos noventa e sinca = O Secretaacuterio do Govemo Joseacute Romatildeo Junior a fez escrever = Bernardo Joseacute de Lorena 11

Essa carta de sesmaria foi confirmada pelo Conselho Ultramashyrino em 24 de abril de 1799 com assinatura de Francisco da Silva Costa Leal O prazo jaacute havia expirado mas os requerentes afirmam natildeo ter enviado os papeacuteis anteriacuteormente ~pelo temor do desincamfnhamento com a infestaccedilatildeo dos inimigos nos Malesi

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Trecircs pontos devem ser ressaltados 1- A existecircncia dum porto com a respectiva povoaccedilatildeo Os rios

tambeacutem eram caminhos para a conquista do sertatildeo Os portos surgiam naturalmente dependendo da importacircncia das ligaccedilotildees estrateacutegicas do local Quem constituia a povoaccedilatildeo acima mencionada Indios mamelucos desordeiros fugidos da justiccedila pescadores caccediladores comerciantes lenhadores e madeireiros Talvez um pouco de tudo Ai natildeo faltariam tambeacutem os praacuteticos dos caminhos do sertatildeo

2-A presenccedila de individuas pobres que devem ser respeitados nos seus direitos de ocupaccedilatildeo de porccedilotildees de terra aceitando sua preshysenccedila e entregando-lhes o documento middotpro rata para serem regulashynzadas as posses na mediccedilatildeo e demarcaccedilatildeo judicial da sesmaria Entre os posseiros do Rio Corumbatai estavam ateacute fundadores da povoashyccedilatildeo de PiracicabaI

3- A estrada na meio das matas em direccedilatildeo aos Campos de Araraquara Partindo de Piracicaba Boca do Sertatildeo pela estrada ou pelo Rio Corumbatai atraveacutes do Porto Recreio era possivel adentrar toda regiatildeo do sertatildeo Goiaacutes e Cuiabaacute inclusive atraveacutes dos campos de Araraquara Essa estrada se manteve aberta ainda com a construccedilatildeo da estrada de ferro Seu uso soacute foi interrompido com o advento da era dos caminhotildees mas seu traccedilado ainda eacute perceptiveljunto ao Rio Corumbataiacute nas paragens Satildeo Joaquim e Satildeo Bernardo municiacutepio de Piracicaba inclusive na propriedade da Famiacutelia Boarettn Acima do porto num treshycho muito propicio do Corumbatal o leito do rio eacute fomlado de areia e castalho e na eacutepoca da BsUagem concedia passagem segura para os

1S ARQUIVO DO ESTADO CO 0369 livro 26 Os 114shy1151 I sAo PAULO (Estado) secretaria de Estado da Culshytura RepertoacuteriQ daacutes Sesmaria Satildeo PaUlo 1994 p 57 16 Documentos manuscfi~

los avulsos da Capl1anja de Satildeo PaulO (1616-1823) Cashytalogo 2 - Mendes Gouveia Coordenaccedilatildeo geral de Joseacute Jobson de Andrade Arruda Organizaccedilatildeo de Heloisa Liberalli BelloHo e Gilson Seacutergio Mafos Reis Bauru SP EDUSC Satildeo Pauto FAPESP Imprensa OficiaI do Estado 2002 n~ 3646 p 562

17 BARROS Mar1a Paes de No Tempo de Dantes Satildeo Pauo Paz e Terra 199B p89 18 PERECIN Mafly Thefe~

zinha Germano Piraciacuteccedilbba ~8occedila do Serto Revista do IHGPano3n3p 11lt24 1994 e Piracicaba nos Anais do Morgado de Mateus Re~ vista do IHGP ano 4 n 4 p 7-46 1995

carroccedilotildees puxados por bois carroccedilas caninhos e mais tarde os troles Os cavaleiros e tropeiros utilizavam a passagem dialiamente Abaixo permanece o paredatildeo de pedras pronto e abandonado da ponte que seria conslrulda neste local Mais tarde ela foi levantada trecircs quilocircmeshytros rio abaixo em terras da antiga Fazenda Tamandupaacute

Recreio nasceu como a maioria das vilas e cidades do Brasil junto a uma das estradas naturais de antigamente o Rio CorumbataL Era aleacutem de porto e pousada possivelmente um diminuto entreposto entre lIu e Piracicaba por um lado e os Campos de Araraquara e o sertatildeo por outro Eacute de se crer que ai se comercializassem peles de animais para cobertura das cargas peixes salgadOS carne-de-sol fashyrinha de milho feijatildeo e toucinho tatildeo necessaacuterios para as entradas do sertatildeo Tambeacutem a farinha de mandioca mesmo sendo de uso mais restrito natildeo poderia faltar E por uacuteltimo o fumo de corda tatildeo estimado por nosSos sertanistas

Segundo antiga tradiccedilatildeo oral o nome Recreio adveacutem da farta caccedila e da abundante quantidade de peixes por causa das conhecidas corredeiras tendo ai a foz do ribeiratildeo Quilombo ou Paraiacuteso As pesso~ as que iam caccedilar ou pescar ao serem interrogadas respondiam ir a recreio tornando-se a expressatildeo nome do lugar

Poeacutetica descriccedilatildeo do ambiente foi compilada por uma de suas usuaacuterias Maria Paes de Barros filha mais velha do segundo casashymento do Comendador Luiacutes Antocircnio de Souza Barros

Mais algumas horas de marcha e chegava-se 11 beira do Corumbafal Como fosse invemo as aacuteguas estavam baixas e davam vau

Enlravam lodos no rio com o pajem 11 frenle que lenla e cuidadosamente indicava a passagem Seguiam~no as meninas uma a uma firmes as reacutedeas bem erguida a longa saia de monshytar Viacutenham depois as manas por uacutellimo os pais que com olhar atentol fiscalizavam a perigosa passagem

Chegados sem acidente 11 outra margem os cavalos sashycUdiam-se livrando-se da aacutegua e os viajantes erguiam os olhos alenlados Entravam jaacute no pasto da fazenda e avistam ao longe a casa Aporia eslava o adminislrador para lhes dar as boas-vindas

Essa era uma extensa fazenda com grande e viccediloso cafezal

A fundaccedilatildeo da povoaccedilatildeo do Porto Recreio

Quando nasceu a povoaccedilatildeo do Porto Recreio o hoje jaacute extinto Recreio Velho A conhecida historiadora Ora Mar1yT G PereCin em seus artigos levanta diversas hipoacuteteses sobre o povoamenlo de PiraCicaba de seu sertatildeo e dos Campos de Araraquara Descreve a historiadora a prishymeira tentativa de formaccedilatildeo de povoado junlo ao Porto de PiraCicaba atrashyveacutes da sesmana concedida a Felipe Cardoso em 1726 dizendo lambeacutem do movimento surgido no sertatildeo entre 1723-1733 Explanando sobre a

primeira tentativa documentaacutevel de povoamento da regiatildeo de Piracicaba patrocinada por Felipe Cardoso constata o fracasso desse empreendishymento O local decaiu rapidamente por diversos motivos e enumera o tracircnsito desviado dos rios para a variante terrestre entre Cuiabaacute e Goiaacutes em 1737 a perda por Satildeo Paulo dos tenitoacuterios mineiros de Goiaacutes e Mato Grosso em 1748 e a proibiccedilatildeo de utilizar o Caminho de Luis Pedroso de Barros estrada que levava agraves minas de Mato Grosso e Goiaacutes saindo de Piracicaba Diz ainda a historiadora que o sertatildeo continuou a ser freshyquumlentado pelos aventureiros pelos fugnivos e principalmente pelOS mashydeireiros ligados agrave armaccedilatildeo monccediloeira de Araritaguaba De fato Franshycisco Galvatildeo de Franccedila no seu juramento para tomada de posse de sesmaria junto ao Porto Recreio confessa jaacute ser proprietaacuterio duma sesmaria de campos agora desejava uma de matas

Recreio foi no passado um grande exportador de madeira e o rio Corumbatai bastante caudaloso na eacutepoca era o meio de desova natural das grandes aacutervores necessaacuterias para a construccedilatildeo das canoshyas utilizadas pelos monccediloeiros O relatoacuterio da Estrada de Ferro Ituana diz que pela estaccedilatildeo de Recreio soacute no segundo semestre de 1900 foram exportadas 314 toneladas de madeira A fazenda Recreio cuja sede estava junto do Porto manteve sua serraria ainda em plena ativishydade nos primeiros anos do seacuteculo XX A Fazenda Paraiacuteso confrontante da Fazenda Recreio exportava enormes toras nas deacutecashydas de quarenta e cinquumlenta do seacuteculo passado

Marly Perecin acrescenta As canoas esta riqueza gerada em Piracicaba produziam-se mediante as reservas da mata numa forma mista de economia extrativa e de manufatura orientadas para a exploshyraccedilatildeo capitalista

Natildeo eacute sem fundamento afirmar que o Porto Recreio existe desshyde a primeira tentativa de povoamento de Piracicaba no tempo do sesmeiro Felipe Cardoso A proacutepria povoaccedilatildeo de Piracicaba fundada oficialmente no dia 1 de agosto de 1767 foi construida entre os rios Piracicaba e Corumbataiacute conforme aparece no mapa de 1770 conshyservado no Museu Ultramarino de Lisboa Ningueacutem impediria os avenshytureiros de subir o Rio Corumbatai sempre muito piscoso desbravan~ do os sertotildees e fundando aglomerados humanos Com certeza isso jaacute tinha sido feito haacute dezenas de anos

A avaliaccedilatildeo feita pela Cacircmara de Itu ao requerimento do Capishytatildeo Antotildenio Joseacute da Cruz solicitando terras na regiatildeo lanccedila mais luz sobre o assunto Ela conteacutem diversas assinaturas de Oficiais da Cacircshymara de lIu como muitos nomes de posseiros

o que nos consta das terras que pedem neste Requerishymento he que do caminllo que vai da Povoaccedililo de Piracicaba para oS oampos de Araraquara onde faz passagem e Poria no Rio de Corumbatahy que he onde querem os Suppliacuteoantes fazer Piam na Sismaria que pedem Se aoha daly para Rio abaixo povoados por alguns pobres que silo Francisco Rodrigues de Andrade com quatro filhos = Manoel Joseacute Agostinho Leme Manoel Paiacutes Marianna Ponse =Sebastiilo Leme da Cosia Rafael

19 PERECIN Marly Theremiddot zinha Germano Revista do IHGP anoS nS1994 p 23 20 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesshymarias co 032984134 21 Relatotilderio da Estrada de Ferro Uuana 1900 e 1902 22 1~TABEUAtildeODENOTAS DE PIRACICABA Ilvrodees cri1uras nO 168 flsB8v a 90 23 PEREC1N Marty Thereshyzlnha Germano RevIsta do IHGP ano 4 n 4 1995 p 21

24 ARQUIVO DO ESTADO Requerimentos de Sesmarias CO 0323 a 80644 25 SARROS Antonio da Costa (org) Pjracicaba Noiva da Colina Piracicaba Prefeitura do Municiplo Ed Alolsi 1975 p 36 26 Constiluiccedilatildeo Nome de Piracicaba quando Vila 27 1 TABELIAtildeO DE NO~ TAS DE PIRACICABA livro de escrUuras nO 13 fs 19v livro au(jJlar nO 19 fls 5 e li~ vro 179 fls 18 28 1degTABEUAoDE NOTAS DE PIRAC1CABA iViacuteode esshycriluras nltlo 12 fls 9v-21

Pereira a saber os filhos de Francisco Rodrigues de Andrade sllo homens casados e hum deles com escravos e os quais todos unidos tem andado na pertenccedilllo de alcanccedilarem por Sismaria treacutes leg08s de terras que nllo consta terem comseguido do Dito PorshyIa para o Rio aSima peja outra banda da Povoaccedilatildeo esta alheacute o prezente devoluta porem como ffca muito na vizinhanccedila da nova Povoaccedilatildeo de Piracicaba natildeo parece justo que soacute os Supplicantes possuMo tanta ExtensiJo de terras ficando Sem coacutemodo oulros que laacute saquerem estabelecer sem embargo do I Exa mandaraacute o que for servido Viacutella de Itu em Caacutemera de 2 de Mayo de 1795 Ignaacutecio Dias Ferraz Pedro Vaz de Barros Joseacute Anl6nio de Almeida Paes Joseacute Vaz Pinto Ribeiro e Jolio Manoel da Silva Paes

Alguns dados chamam a atenccedilatildeo 1- Ao menos um dos posseiros tinha escravos matildeo-de~obra

suficiente para desmaiar construir barcos e com certeza tambeacutem tocar engenho de accediluacutecar Natildeo seria para a eacutepoca nenhum pobre e era filhO de Francisco ROdriacutegues de Andrade um dos primeiros companheiros de Antocircnio Correcirca Barbosa o povoador de Piracicaba Francisco era pessoa de influecircncia pois liderou um grupo de posseiros para Conseshyguirem sesmaria proacutepria na margem esquerda do RIO Corumbataiacute

2S bull

2- Outro ponto eacute digno de nota A estrada para 05 Campos de Araraquara e o sertatildeo vinda de lIu atravessava a povoaccedilatildeo de Piracicaba utilizava a ponte do Rio Corumbatai caminhava rio acima pela margem direita e retomava agrave margem esquerda cruzando o messhymo rio no Porto Recreio

3- As terras na regiatildeo eram devolutas significando natildeo terem sido dadas em sesmaria apesar do grande nuacutemero de povoadores Soacute de Francisco Rodrigues se diz que tem quatro filhos casados portanto eram sem duacutevida muitas as famiacutelias espalhadas pelas margens do Rio Corumbatai aleacutem do grupo mais proacuteximo do porto que formava a tal povoaccedilatildeo detalhada na Carta de Sesmaria A maior parte dessas pesshysoas talvez nem constou de nenhum mapa populacional da eacutepoca Por outro lado alguns nomes aleacutem de estarem citados aqui aparecem no requerimento de sesmana do grupo de posseiros da margem esquershyda do Rio Corumbalai e da Carta da Sesmaria obtida Existem ainda muitos outros nomes de posseiros conhecidos por outros documentos como o registro das propriedades e proprietaacuterias rurais de 1817-1818

Outro dado importante sobre posseiros aparece na hisloacuteoacutea da Fazenda Recreio Aos 25 de setembro de 1858Antocircnio Joaquim de Moraes Sarmento e sua esposa Rita Angeacutelica de Castro vendem) com escritura lavrada no l Tabeliatildeo de Notas da cidade da Constituiccedilatildeo a propnedashyde para o cidadatildeo de Satildeo Joatildeo de Rio Claro Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz A gleba consistia num siacutetio e terras agrave margem do Rio Corumbatai Em outros papeacuteis aparece a identificaccedilatildeo do lugar como Sitio Satildeo Joaquim e posteriolTJ1ente Fazenda Satildeo Joaquim O negoacutecio foi fechado pela imporshytacircncia de nove contos e quatrocentos mil reacuteis

21 incluindo na mesma esshy

critura uma porccedilatildeo de terras do outro lado do rio e fronteira do mesmo siacutetio constante de um titulo jaacute entregue ao comprador

o Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz innuente personalidade da hisshytoacuteria de Rio Claro deve ter adotado Piracicaba como segundo lar pois aiacute adquiriu a casa do Alferes Joaquim Joseacute de Oliveira e de sua mulher Maria Cacircndida de Barros e Oliveira aos 5 de fevereiro de 1860

Na margem oposta do rio margem direila na porccedilatildeo de terras citada foi construida pela famiacutelia Ferraz a sede duma nova fazenda intitulada Fazenda Recreio Grande parte dessa fazenda soacute foi aberta no inicio do seacuteculo XX pelos irmatildeos Dorizzotto Luigi e Giacomo imigrantes vecircnetos provenientes de Lugugnana Comune de Portogruaro aportados a Sanlos aos 13 de maio de 1898 Depois de breve estada junto agrave parashyda Macuco da Ituana entre Charqueada e Satildeo Pedro e na Fazenda Tamandupaacute fixaram-se no Porto Recreio desmaiando a regiatildeo planshytando canamiddotde-accediluacutecar e produzindo aguardente de cana Alguns netos e bisnetos de Giacomo Dorizzotto continuam cultivando propriedades desmembradas das Fazendas Recreio Satildeo Lourenccedilo e Paraiso

Na escritura de hipoteca da Fazenda Recreio de 11 de janeiro de 1906 encontramiddotse a descriccedilatildeo duzentos e tnnta alqueires de terra plantashyccedilotildees pastos casa de morada engenho de cana e serra prova que suas terras ainda estavam sendo desmatadas Vinte e sete alqueires de terra satildeo Isenlados da accedilatildeo de hipoteca e satildeo ciladas os nomes de oito famiacutelias

[ ) da fazenda acima descripta elles outorgantes excetumiddot am daacute hypotheca vinte e sete alqueires de terras occupadas por Francisco Soares Joseacute Baptista Joaquim Baptista Laacutezaro de aI Manoel da Silva Joaquim Rodrigues da Silva ou seus sucessoshyres Bemardo sana Bueno e Francisco Antunes Moreiri

Os vinte e sete alqueires compunham os duzentos e tnnta alqueires da propriedade remanescentes do desmembramento da fashyzenda Satildeo Lourenccedilo O fazendeiro tinha o domiacutenio das terras mas na praacutetica I reconhecia natildeo ter a posse delas E natildeo se pode esquecer essa fazenda foi vendida ao Capitatildeo Joseacute Jeremias Ferraz antes do Siacutetio Satildeo Joaquim de 1858 porAntocircnio Joaquim de Moraes Sarmento comprador dela nos antanhos de Pedro Joseacute da Silva que aparece como proprietaacuterio no Bairro do Rio Corumbataiacute Acima no recenseamiddot mento de 1817-1818 Isso comprova a existecircncia de antigos posseishyros na aacuterea formando o nuacutecleo da povoaccedilatildeo do Porto na margem direshyta do rio onde estava localizada a fazenda Recreio

Junto atilde sede dela as casas tinham sido construiacutedas mais proacutexi mas umas das outras enquanto na margem esquerda onde estava o cals estavam espalhadas Algumas casas eram de madeira e as mais antigas de taipa ou conforme a linguagem do lugar de barrote cuja teacutecnica consistia em preparar uma armaccedilatildeo de taquaras ou lascas de bambu entrelaccediladas e recobrimiddotlas dos dois lados de barro Os telhados das mais antigas eram de sapeacute ou de folhas e troncos de coqueiros J~

O porto do Corumbalaiacute continuou sendo bastante utilizado pois o rio permaneceu como via faacutecil de escoamento de produtos ateacute a inauguraccedilatildeo da Estrada de Ferro Ituana em 1886

29 1 TABEUAo DE NOmiddot TAS DE P1RACCABA livro 13 fls 1911

1430 TABELIAtildeO DE NO TAS DE PIRACICABA livro df escrlluras nC 204 (ls 90v~ 91 V livro ndeg 210 fls 26 e livro 339 fls 89 e 89v 31 1 TABEUAacuteO DE NOmiddot

TAS DE PIRACICABA IJvro de escrituras 16B Os 8ocircv~ 90 32ARQU1VO DO ESTADO

CO 9869 Tombamento dos Terrenos da provlncia de Satildeo Paulo Flash de Porio Feliz freguesia de Piracicaba Sairro do Rio Corumba1ahy Acima n 218 33 2 Tabetiaacuteo de Notas de Piracicaba livro K p t 18 n 16446

34 GUERRINI Leandro Histoacuteria de Plraelcaba em Quadtinhos Piraltlcaba 1970 IHGP v p 54 35 ARQUIVO DO ESTADO CO 033185311 35 CHIARINJ NETO Pedro Sitios arqueoloacutegicos de Piacuteraclcaba e RegIatildeo In Re~ vista do IHGP ano 11 n11 2004 p 29~32 37 GUIDOTTI Joseacute lulz Rio Corumbata1 Pirashyeicaba CN Edltoria 1996 IDEM Rio Corumbata1 tn Revista do IHGP v 5 n 5 1997 p 23-25 f FRANCHi Joseacute LuIs Estudo da Accedilatildeo Antroacuteplea na Saeia HjdroM

graacutefica do Rio CowmbataJ In Revista do IHGP v 6 n 61999 p 62-65 38 NEME Matildelfo Apossa

mento do $010 e evoluccedilatildeo da propriedade rUfal na zona de Piracicaba Satildeo Paulo Fundo de Pesquisas do Museu Paulista da USP 974 p 7

Presenccedila indiacutegena no Recreio Velho

Leandro Guerrini afirma que o Padre Acircngelo Paes de Almeida foi o primeiro a rezar missa em Piracicaba em 1770~ ai permanecendo por dois anos a missionar pelos arredores do lugar habitado por tribos ferozesmiddot Como natildeo aparecem ciacutetaccedilocirces de documentos toma~se imshypossiacutevel uma constataccedilatildeo rigorosa de tal assertiva Mas antigas tradishyccedilotildees sobre iacutendiacuteos perduraram ao menos no Recreio Velho

Junto aos documentos apresentados por Joaquim Cardoso Pimentel no seu pediacutedo de sesmaria conseguida em 1821 existe um valioso mapas em que estaacute traccedilado o ribeiratildeo Tumanupacircn nome advindo de uma danccedila indigena dos iacutendios do local conforme tradiccedilatildeo contada no passado na Escola de Recreio Os iacutendios cantavam enshyquanto danccedilavam em ciacuterculo batendo os peacutes no chatildeo e as matildeos nas naacutedegas repetindo sempre a mesma palavra tamanupacircn tamanupatilden Tamandupaacute conhecido nome da fazenda e da usina de accedilucar do bairshyro em meados do seacuteculo passado eacute uma corruptela dessa palavra

Dentro dos limites primiacutetivos do Bairro de Recreio na anliga Fashyzenda Satildeo Joaquim j existem as conneddas ocas dos iacutendios monumenmiddot tos de histoacuteria antiga Ateacute agora pelo visto nenhum estudo foi desenshyvolvido sobre os uacuteltimos resquiacutecios da extraordinatildelIacutea presenccedila iacutendiacutegena no local ou duma mais antiga civilizaccedilatildeo cujos artelalos de pedra eram encontrados por toda parte ateacute o uso dos tratores na lavoura

Segundo testemunho do conhecido historiador piracicabano Guiacutelhenne ViUi por volta de 1924 seu pai o sr Joseacute Vitti trabalhando de servente da escola do Bairro de Santara ouviu a prOfessora afirshymar aos alunos que na regiatildeo nunca houvera iacutendios O sr Joseacute Viltiacute dirigiu-se a cavalo ao Porto Recreio e junto do ribeiratildeo Paraiso recoshylheu enorme quantidade de arcos flechas e outros objetos e levou-os para a escola para provar a falsidade das afirmaccedilotildees da professora

Porque indios iriam pennanecer junto do Porto do Corumbataiacute Em Piracicaba muitos peixes natildeo conseguiam vencer o salto e tomashyvam-Se presa faacutecil Abaixo do salto existe a foz do Rio Corumbalaiacute e milhares de peixes exauslos na tentativa de ultrapassar o salto optashyvam naquela eacutepoca como ainda hoje por uma nova rota subindo o Rio Corumbalaiacute Esse ria com seus mais de 130 km de extensatildeo seshyria uma boa alternativa ao Rio Piracicaba Corumbatai rio dos corumbataacutes ou curimbalaacutes um dos peixes mais apreciados pelos iacutendiacutemiddot os por ter bastante sangue naSce no municiacutepio de Analacircndia e tem um desniacutevel anonnal formando corredeiras alrativas para os peixes esshy

17 pecialmente na eacutepoca da piacuteracema bull

Maacuterio Neme introduz sua uacutellima obra Apossamento do Solo e Evoluccedilatildeo da Propriedade Rural na Zona de Piracicaba descrevendo siacutentetiacutecamente as duas extensas vias de penetraccedilatildeo sertanista nos seacute~ culos XVII e XVIII da entatildeo Vila de Satildeo Paulo heranccedilas indiacutegenas em direccedilatildeo ao norte utilizada por Anhanguumlera na procura de ouro em Goiaacutes e noroeste futuro Picadatildeo de Luis Pedroso de Barros caminho por terra ateacute o Rio Grande atual Rio Paranaacute em busca das minas de ouro de Cuiabaacute

Sobre a via rumo noroeste jaacute se encontram alusotildees em 1606 e referecircncia expressa num papel oficial ou seja na avaliaccedilatildeo do inshyventaacuterio do sertanista Bernardo Bicudo de 14 de agosto de 1650 Mais se botou neste inventaacuterio meia legua de terras de mattos naninhos em Capibari na estrada velha do sertatildeo que vae para o sertatildeo dos

jBilreiros Bernardo Bicudo redigiu seu testamento em marccedilo de 1649 antes de partir na bandeira de Francisco de Paiva diante dos perigos a enfrentar no sertatildeo Laacute de fato veio a falecer

Os biacutelreiros tambeacutem conhecidos como caiapoacutes senhores abshysolutos de todo o interior da capitania de Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVii e sua estrada velha do sertatildeo foram longamente investishy41gados por Maacuterio Neme em l0is de seus mais conhecidos artigos

Esses caiapoacutes chamados por alguns autores de caiapoacutes merishydionais tribo Jecirc hoje extinta eram iacutendios receptivos aos brancos Uma conhecida descriccedilatildeo dos caiapoacutes provecircm da Breve Noticia do Capitatildeo Antocircnio Pires

Este gentio eacute de aldeias e povoa muita terra por ser muita gente cada aldeia com seu cacique que eacute o mesmo que governador a que no Estado do Maranhatildeo chamam principal o qual os domina estes vivem de suas lavouras e no que mais se fundam satildeo batatas milho e outros legumes mas os trajes desshytes baacuterbaros eacute viverem nus tanto homens como mulheres

Essa muita terra povoada pelos caiapoacutes meridionais compreshyendia vasla regiatildeo que se estendia a noroeste da vila de Satildeo Pauto ao norte de Cuiabaacute e a leste e ao norte de Goiaacutes Sua presenccedila constante e diaacutelia tomou 0 nome Cayapoacutes tatildeo vulgarlsado n outro tempo nas proviacutencias de S Paulo Goyaz e Minas que se dava iacutendistinctamente ao iacutendio que ali apparecesse qualquer que fosse a sua raccedila

Os caiapoacutes meridionais pressionados sempre mais pelos mineradores sertanistas e pela guerra incessante movida pelo govershyno forccedilando Seu distanciamento das minas e das rotas terrestres e fluviais foram se internando sempre mais no sertatildeo Apoacutes repressatildeo bruta praticamente desapareceram Como etnia diferenciada natildeo sem antes opor renhida resistecircncia

O verdadeiro carrasco deles foi o ituano Antocircnio Pires de Cammiddot pos o moccedilo alcunhado de Pay Pyraacute Tendo-se tomado uma espeacutecie de cacique dos bororos com cerca de quinhentos guerreiros dessa tribo investiu contra os caiapoacutes a partir de 1739 queimando suas alshydeias matando mulheres e crianccedilas e reduzindo os adultos agrave escravishydatildeo Pay pyraacute atiacutengido no braccedilo por uma flecha envenenada dos proacuteshyprios caiapoacutes faleceu no arraial de Paracatu Minas Gerais em fins de 1751 ou iniacutecio de 1752

Existem dois periodos na histoacuteria dos iacutendios caiapoacutes em sua retaccedilatildeo com os paulistas As primeiras entradas e bandeiras foram semshypre bem recebidas e comercializavam tranquumlilamente com esses iacutendimiddot os trocando mantiacutementos e obtendo provavelmente guias para o sershy

39 Inventaacuterios e Testamenshytos Satildeo Palrlo ARQUIVO DO ESTADO 1921 v 15 p 176-117 e 161 40 FRANCO Francisco de Asss CaNalha Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertashynistas do Brasiacutet Beo Horishyzonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora da USP 1989 p 12 41 NEME Maacuterio QoisAnU~ 90s Caminhos de Sertamiddotl1lslas de Satildeo Paulo e Dados para a Histoacuteria dos Indios Calapoacuteln Anais do Museu Paulista v 231969 p 7-147 42 SCHAOEN Egon Os

primitivos habitantes do tershyrit6rio paulista In Revista de Histoacuteria n18 Satildeo PavshyIo 1954 p 396-397 43 areve Noticia qlre daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Settanislas Colelacircnea inshytroduccedilatildeo e notas de Afonso da E Taunay Satildeo Paulo Limiddot vrarla MaItiacutens Editora 2- timiddot ragem11976] p 161 44 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da capitania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 137 45 OLIVEIRA Machado d Os cayapoacutes Revista Trimesshytral do Instituto Hisloacuterico Geo9raphieo e Elhno~ graphieo do Brasil Rio de Janeiro t 241861 p 492

46 fRANCO Francisco de Assis Carvalho Oicionaacuterlo de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HorIzonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 103~104 47 REVISTA 00 ARQUIVO MUNIClPAL ano 2 v 20 1936 p 62 48 FRANCO Francisco de Assis CarvalhO Dicionaacuterio de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil Belo HoriZonte Itatiaia Satildeo Paushylo Editora da USP 1989 p 107-108 49 Apud Maacuterio Neme Da~ dos para a Histoacuteria dos jndi~ os Caiapoacuteln Anais dO Mu seu Paulista v 23 1969 P 113-115 50 FRANCO op cit p 431

e Revisla doAtqUivo Munishycipal de Satildeo Paulo anO 3 Y 25 p 97 51 Aclas da Camara da Villa

de S PaulO 1596-1622 v 2 p343 52 BARROS Antonio da Costa (org) Piracicaba Noiva da Colina Piraelcaba Prefeitura Munishycipat EaacuteAtois 1975 p 19

tatildeo Soacute eles tinham conhecimento do terreno das regiotildees de caccedila e pesca e dominavam todas as antigas trilhas Os oficiais da Cacircmara de Satildeo Paulo em peticcedilatildeo de 26 de outubro de 1725 satildeo obrigados a reconhecer mesmo a contragosto e por interesses escusos os valoshyres e qualidades da gente da terra

[] e Como Sem a gente parda se nem podem Fazer os desCubrimentos do ouro por Ser Soacute eIa a q Sabe Talar o Ccedilertatildeo e navegar os Rios Livrando dos perigos que neJles Se emconlrilo por cauza das muytas cachoejras e o mais que embaraSsam as navegaccediloins Sendo - a dia gente parda a que Sustenta aos Settanislas assim pellos Rios Como por Terras peito Largo conheccedilimeno que tem de tudo que possa Servir de alimenlo [-i

O bom relacionamento com os paulistas no iniacutecio do seacuteculo XVII eacute testemunhado pela bandeira de Belchior Dias Carneiro em 1607 A despeito das aITrmativas feitas por Carvalho Franco em sua obra os documentos provam o conraacutelio As descriccedilotildees dessa bandeira demonsshytram o comeacutercio amigaacutevel com os bilreiros e na partilha dos prisioneishyros soacute se fala em gentio Tememiacutenoacute

Essa alianccedila foi rompida ao que tudo indica em 1612 com Garcia Rodrigues Velho Esse ex-capitatildeo e ex-vereador da vila de Satildeo Paulo fez uma entrada ao sertatildeo dos caiapoacutes retornando logo no ano seguinte trazendo muitos deles cativos A Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo indignada pelo fato de ele ter atacado os biacutelreiros reage manshydando nOlifTcar aos trinta de novembro de 1613 a Garcia Rodrigues como cabeccedila e capitatildeo do grupo

Viesse a esta camara a dar comia que fez ou que se fez dos Mrelros por serecirc informados que os trazlllo repartidos estamdo eles de paz em a sua aldea fazemdo miO gazalhado aos briacutelquos que la i~o porque natildeo hera rezllo que os repartlsecirc senatildeo que fossecirc postos em sua aldea e liberdade como forros

41 que sao

A cacircmara afinna a boa acolhida sempre dada pelos bilreiros aos brancos e insiste em sua liberdade natildeo aceiacutetando sua divisatildeo como escravos entre os componentes da entrada

Em resposta a essa atitude afoucada de Garcia Rodrigues resshyponderam esses bilreiros caia poacutes do Tietecirc internando-se mais proshyfundamente no sertatildeo e soacute reaparecendo na histoacuteria como volantes e inimigos crueacuteis corsaacuterios de outros gentios e epiacutetetos semelhanles ateacute praticamente sua extinccedilatildeo

Deve-se agrave guerra movida contra os caia poacutes um dos primeiros documentos relativos agrave histoacuteria de Piracicaba Eacute a resposta de 28 de marccedilo de 1733 do sertanista Manoel Correa Arzatildeo dispondo-se como vassalo de Sua Majeslade a ir agrave conquista dos Baacuterbaros que infestam as minas de Cuiabaacute por convocaccedilatildeo do iacutel0vernador Dom Antocircnio de Taacutevora de vinte e dois de marccedilo de 1733

Dom Luis Antonio de Souza escrevendo em 29 de novembro de 1772 para o Capitatildeo Joseacute Gomes da Gouvea encarregado de preshyparar nova expediccedilatildeo para Iguatemi usa de um expediente revelador do espiacuterito da eacutepoca com relaccedilatildeo aos indios caiapoacutes Como ningueacutem se candidatava para iguatemi para conseguir voluntaacuterios manda dar a entender q he p dar no Gentio Cayapoacute q- agora nos infesta a Nashyvegaccedilatildeo do Cuyabaacute desde Avanhandava em tecirc o Rio Pardo_ Caccedilar escravizar ou matar caiapoacute tinha se tomado uma paixatildeo na capitania causa mesmo de fama e vangloacuteria a ponto de atrair voluntaacuteoacuteosl Augusto de Saint-Hiacutelaire referindo-se aos paulistas chega a afinnar de forma exagerada que a caccedila aos indiacutegenas constitula sua uacutenica ocupaccedilatildeo

Donde procedia e para onde se encaminha a estrada velha do sertatildeo dos bUreiros Derivava do caminho geral tambeacutem chamado camishynho imperial que proveniente de Satildeo Paulo passava por Sant-Ana de Pamaiba e buscava a regiatildeo de lIu e Porto Feliz Derivando desse caminho junto ao monro Putriacutebu seguindo rumo noroeste a estrada velha do sertatildeomiddot dos bilreiros provaacutevel rota de Luis Pedroso passava pela paragem de Capivariacute em direccedilatildeo do rio Piracicaba Maacuterio Neme observa que se este caminho atravessava o Piracicaba obedecendo ao seu woacuteprio traccedilado inicial prosseguiria na direccedilatildeo dos campos de Araraquara E a aacuterea de Rio Claro constituir-se-iacutea num cruzamento de dois caminhos ou numa inteJ1igaccedilatildeo da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros e o caminho dos batatais a estrada de Cuiabaacute de Luiacutes Pedroso e a estrada doAnhanguumlera Femando Altenfelder Silva salienta A estrutura mOrfoloacutegica da regiatildeo desshycrita como aacuterea de Rio Claro confere-Ihe o caraacuteter de ponto de cruzamenlo de dois caminhos migratoacuterios para os deslocamentos Norte-Sul ou LesteshyOeste E o engenheiro Luiacutes DmiddotAlincourt no iniacutecio do seacuteculo XIX propotildee um traccedilado ideal para nova estrada agrave Proviacutencia do Cuiacuteabaacute Mas ha pelo menos duzentos anos este era o roteiro aproximado da estrada velha do sertatildeo dos bilreiros a partir de Ipeuacutena alecirc o no Paranaacutel Acrescenta DAlincourt ficarem os comerciantes isentos de pagar o imposto das passhysagens em muilos nos da atual estrada [dos Goiazes) e os Direitos Puacuteblishycos em Goyaz Desse expediente jaacute se utilizavam muito bam os comenshyantes ituanos percorrendo a estrada velha do sertatildeo dos bilreiros agora chamada de Picadatildeo de Luis Pedroso

A professora Heacutelia Maria de Faacutetima Gimenez Machado em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Uma Histoacuteria para Ipeuacutena elaborada em 2004 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) obleve uma excelente entrevista dum antigo moradorde lpeuacutena Sr Pedro Ferreira

Meu avocirc chegou a Rio Claro junto com a ferrovia vieram de Portugal Ele tinha 20 anos sabia ler e escrever A (amllia foi irabalhar no avanccedilamenlo dos trilhos da ferrovia era a Compashynhia Paulista Passaram a Irabalhar na abertura e prolongamento da eslrada de feITO Chegaram na eacutepoca da inauguraccedilatildeo da esiashyccedilatildeo felTOvlaacuteria de Rio Claro [1876J Em Rio Claro foi fella uma parada na linha_ Por uns lempos natildeo seguiu a construccedilatildeo de noshyvos trilhos O trabalho era muito duro e o ganho era pouco entatildeo eles se desligaram da Companhia e se iomaram empreiteiros

53 DOCUMENTOS INTEshyRESSANTES v 7 p 133 54 SAINT-HILAIRE

Augusto de Segunda Viashygem a Satildeo PaUTo e Quadro Hist6rico da Provfflcla de Satildeo Paulo Traduccedilatildeo e in~ traduccedilatildeo de Alonso de E Taunay Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 2 Uragem 1976] p 164 55 NEME Mario Dois An~

Hgos Caminhos de Sertanistas de Satildeo Paulo Anais do Museu Paulista Sacirco Paulo tomo 23 p 40 1969 56 NEM op cit p 40

51 DAUNCOURT Luiz Vi~ agem do Porto de Santos atilde cidade de Cuiabaacute Satildeo Paulo livraria Mal11ns Edjmiddot tora 2~ tiragem 11976] p 16-17

58 MACHADO Heacutella Mashyria de Fatildetiacutema Gimenez Uma HistoacuterIa para lpeiacutemiil Disshysertaccedilatildeo de Mestradoelaboshyrada para a UNES Rio Cla~ ro 2004 p 57-58

fornecendo lenha para as maacutequinas A Paulista era de Rio Claro para Jundial de laacute para frente era aquela mais antiga nao me lembro o nome mas sei que chegava ateacute Santos

A famiacutelia Ferreira foi procurar local para explorar madeira Coshymeccedilaram a procurar um lugar de mata onde pudessem tirar madeira para vender na companhia Chegaram agrave serra de Itaqueri Natildeo Unham dinheiro para comprar terras cortavam madeira e vendiam A madeira melhor era destinada aos dormentes e a de categoria inferior usada como lenha para as caldeiras Na busca pelo local onde pudessem extrair madeira encontraram uma aldeia coisa pnmitiva com cabo~ elos meio ariscos custou eles terem amizade Imagine eles eram esshytrangeiros aqueles caboclos quase Indios Aquela meia duacutezia de cashysebres que deveriam estar ali para aproveilar aacutegua da cabeceira Em volta de~sa aldeia era s6 sambambaieiro e mais nada Era um mun~ do aberto entre o que eacute hoje o municlpio de trouacutena ltirapina e quem sabe ateacute Ssecto Carlos Onde hoje eacute tpeuacutena niJo tinha nada

Depois que conseguiram se achegar aos caboclos ( ) Permaneceram M por um certo tempo alijunto com os caboclos nao eram de trabalhar muito tinham roccedila de milho e mandioca nllo tinham roupa Faziam de tecido tirado das aacutervores eles messhymos Natildeo Unham arma de fogo nem ferramenta caccedilavam com arapuca ou assobiando para o passannho Se fosse macho asshysobiavam imitando fecircmea e se fosse fecircmea assobiavam como macho O passarinho vinha e eles matavam com vara Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara a gente do meu av6 foram ficando com eles e quando ia escurecendo as mulheres acendiam vela num cruzeiro que eles mesmo fize~ ramo Os homens que ainda estavam na mata olhavam a luz da vela e iam vindo e acertavam volta Eles contavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros

A gente da terra a quem o sr Pedro se refere parece ser um pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que ali viviam sem inco~ modar os donos da terra que por sua vez permiacuteliam que eles sobrevishyvessem por ali Sempre que tentaacutevamos aprofundar as perguntas na busca de informaccedilotildees mais especiacuteficas sobre o tipo de vida e de ativishydades desses primeiros moradores o sr Pedro voltava a falar sobre a maneira como eles caccedilavam os passarinhos ou como eram os rios e matas do lugar Em sua rememoraccedilatildeo as informaccedilotildees que mais inteshyressavam a um menino foram as que passaram a ser narradas com maior entusiasmo Hoje jaacute velho a memoacuteria do Sr Pedro sobre aqueshyle periacuteodo tinha sido organizada e construiacuteda atraveacutes dos interesses e das curiosidades de um menino que ouviu muitas vezes essa histoacuteria contada por seu pai que ouviu de seu avotildel9

Natildeo tinham arma de fogo bull Tinham uma pontaria que Deus me livre matavam com vara Esse espanto do sr Pedro Ferreira entrevistado da professora Heacutelia Machado jaacute foi expresso por muitos estudiosos dos caiapoacutes

Pe Jaacutecome Monteiro em sua Relatildeo da Proviacutencia do Brasil de 1610 falava em uns iacutendios que eram chamados bilreiros middotpor trashyzer nas matildeos uns paus roliccedilos a modo de bilros com os quais guerreishyam com tania destreza como com espingamas e satildeo tatildeo certos no tiro que raramente erram e com tal forccedila despendem o pau que ateacute os ossos moem com a pancada O capitatildeo Antonio Pires de Campos em 1723 escrevendo sobre o gentio caiapoacute expressa a mesma admishyraccedilatildeo e tambeacutem usam de garrotes que satildeo de pau de quatro ou cinshyco palmos com uma grande cabeccedila bem-feita e tirada com os quais fazem um lira em grande distacircncia e latildeo certo que nunca erram a cabeccedila eacute arma que mais se fiam e se prezam muito dela Em 1727 o Capitatildeo Joatildeo Cabral Camello identifica os caiapoacutes como o gentio que usa de porrete ou bilro Por volta de 1734 Francisco Palaacutecio descreve com detalhes outra taacutetica usada pelos caiap6s no combate aOs sertanistas Costumam estes estar escondidos em qualquer moitazinha de matto bisuntados com terra e estareis olhando para elles sem divizares q he gente e deixandovos passar vos foram tyro por de traz com o jaacute nomeado porrele pondo vos os miolos a mostra e basta hum soacute gentio desta nasccedillo para acabar hua tropa de muitos milhares de homens Jaacute Egon SChaden em 1954 descrevendo os iacutendios de grande extensatildeo do noroeste do Estado de Satildeo Paulo afirma que os calapoacutes meridionais serviam~se de grandes cacetesG

O sr Pedro Ferreira conClui seu depoimento dizendo Eles conshytavam que nesse lugar tambeacutem ficavam os mascates e os tropeiros Pudera por laacute era a rota do Picadatildeo de Luis Pedroso antiga trilha dos caiapoacutes

Muitas lendas se formaram na histoacuteria de Piracicaba sobre os iacutendios paiaguas 10 provaacutevel a presenccedila anual deles subindo o Rio piracicaba na eacutepoca da piacuteracema perseguindo os cardumes apressashydos em busca de refuacutegios propicias para a desova Os paiacuteaguaacutes poshyreacutem nunca abandonariam suas canoas para enfrentar nas matas dos rios Piracicaba e Corumbataiacute os tatildeo temiacuteveis bilreiros os caiapoacutes meshyridionais

Arquivos Consultados

Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo Central da Comarca de ytu M R C II M P I USP Arquivo do l Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba Arquivo do 2deg Tabeliatildeo de Notas de Piracicaba

59 LEITE Serarlm Histocircria da Companhia de Jesus no Brasil Va Lisboa Livraria Portugalia [1938] p 396 60 CAMPOSAntonio Pires de Breve Notiacutecia que daacute o Capitatildeo Antonio Pires de Campos In Relatos Sertanistas Satildeo Paulo ljw

vraria Martins Editora 2~ tIshyragem [1976t p 161middot182 61 CAMEllO Joatildeo Anlo~ nio Cabral Noticias Praacuteticas das Minas de Cuiabaacute e GOiases In Relatos Mocircnccediloeiros Satildeo Paulo lishyvraria Martins Editora 2 lf agem (1976] p 115 62 KOK Gloacuteria O Sertatildeo Itinerante Expediccedilotildees da Capiacutelania de Satildeo Paulo no Seacuteculo XVIII Satildeo Paulo Hucltec Fapesp 2004 p 143 63 SCHAOEN Egon Os

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Jornais

o ESTADO DE SAtildeo PAULO Satildeo Paulo 18 fev 2004 Caderno 6

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 15 abro 2004 Caderno A7

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2004 Caderno A11

JORNAL DE PIRACICABA Piracicaba 1middot dez 2005 Caderno AlO

Revistas

Revista do Arquivo Municipal Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo ano 2 v20 fev1936

REVISTA DO INSTITUTO HISTOacuteRICO E GEOGRAacuteFICO DE PIRACICABA Piracicaba ano 3 n3 1994

______ Piracicaba ano 4 n41995

______ Piracicaba ano 5 n5 1997

______ Piracicaba ano 6 n6 1999

______ Piracicaba ano 11 n11 2004

REVISTA DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo n18 1954

REVISTA ANUAL DO INSTITUTO HISTOacuteRICO GEOGRAPHICO E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL Rio de Janeiro 1241861

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MIGUELZINHO DUTRA (Toacutepicas Bio9rlifico5)

G~ifbenHe viacutetti I

Aqui vatildeo transcritos na ortografia atual referecircncias a esse multiforma talento artiacutestico Miguel Arcanjo Seniacutecio Assunccedilatildeo Dutra encontradas nos anais da Cacircmara Municipal Esperamos sejam de ajushyda a bioacutegrafos potenciais desse filho adotivo da Noiva da Coliacutena

O Sr Castanho indicou que havendo certos dinheiros desigshynados por lei para as obras da Matriz convinha aacute Cacircmara nomear um encarregado e julgou capaz dessa comissatildeo Miguel Arcanjo Senicio visto que ao Vigaacuterio natildeo lhe resta tempo a este fim O Se Mello concorshyda com a indicaccedilatildeo mas acha justo que se tenha uma entrevista com o Vigaacuterio por ser quem tem loda a ingerecircncia na Igreja O Sr Castashynho indicou que o Sr Mello natildeo eslaacute ao falo que os encarregados das igrejas satildeo independentes anta assim que em Itu e Campinas tecircm maiormente que a nossa igreja natildeo acabada Posto agrave discussatildeo ficou adiado (Atas 8 - Fls 27)

O Sr Castanho indicou que consultando o Dr Felipe este aconshyselhou que podia a Cacircmara nomear um encarregada da obra da Matriz por isso entendia que essa nomeaccedilatildeo deveria recair em Miguel Arcanjo Senleio O Sr Ferraz nomeou a Sento Manoel de Moraes O Se Castanho ponderou que o Senlo mora no sitio e natildeo tem a inteligecircncia do Miguel que entende de arquitetura riscos de Geometria e por isso poderaacute repashyrar qualquer defeito que possa aparecer na obra O Sr Leiacutele concordou porque pensou que o Senlo era para Tesoureiro por isso linha valado nele PoslO agrave votaccedilatildeo passou na fOnTIa de indicaccedilatildeo do Se Castanho contra os votos do Sr Presidente e Ferraz (Alas 8 - Fls 30)

O Sr Presidente fez sentir agrave Cacircmara que ainda natildeo foi decidishydo o parecer da comissatildeo acerca do cemiteacuterio e propunha para encarshyregado dessa subscriccedilatildeo a Miguel Arcanjo Sen ieio Joatildeo Joseacute Correcirca e Joatildeo Antonio de Siqueira (Atas 8 Fls 39 v)

1 Guilherme ViUi eacute soacutecio Iuoraquo dador e ExraquoPresidente do Instiu(o Histoacuterico e Googfaacuteraquo rICo de Piracicaba

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benicio Dutra fashyzendo sentir que haacute de se transladar a Imagem da Boa Morte e que havendo procissatildeo na qual saiacutera o Santiacutessimo Sacramento e estando a rua por onde deve passar a referida procissatildeo necessitada de alguns reparos por isso pedia que a Cacircmara autorizasse a quem competia a fim de fazer ditos reparos Posto em discussatildeo foi deferido dito requeshyrimento a ordenou~se que se oficie ao Fiscal para fazer aqueles repa~ ros (Atas 8 - Fls 71 v)

O mesmo Senhor Presidente fez sentir agrave Cacircmara que era neshy

cessaacuterio nomear-se um Diretor que se encarregasse das obras da Mashytriz e que na pessoa de Miguel Arcanjo Benicio Dutra se reuniam boas qualidades para isto poreacutem que era preciso que se lhe marcasse uma gratificaccedilatildeo porque estes serviccedilos necessariamente haviam de o distra~

ir de ou Iras suas ocupaccedilotildees Foi esla indicaccedilatildeo aprovada e encarrega~ do o Sr Floriano leite para disto tratar (Atas 9 - Fls 155 v)

Compareceu o Miguel Arcanjo Benicio Dutra convidado pelo Vereador Floriano leite para a Cacircmara contratar a obra da igreja Matriz e entrando a Cacircmara em ajustes com o mesmo acordaram pela maneishyra seguinte Miguel Arcanjo Beniacutecio fica encarregado como Diretor da obra da Matriz ficando ela debaixo de Sua direccedilatildeo percebendo pelo seu trabalho a diaacuteria de dois mil reacuteis por ser a obra de Santo Antonio Foi isto aprovado pela Cacircmara e deliberado que primeiramente o Diretor promovesse um conserto na torre velha que estaacute arruinada quanto anshytes e depois principiasse com a nova indo esta no centro da Matriz com o plano dado pelo mesmo (Atas 10 - Fls 157 v)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em o qual

pedia que a Cacircmara mandasse franquear a ponte sobre o rio Piracicaba mandando primeiramente fazer um exame sobre a mesma a fim de conhecer-se se estaacute em termos de por ela transitarem carros Entranshydo em discussatildeo foi deliberado nomear-se uma comissatildeo para examishynar a ponte e seu estado de solidez e deferiu-se o requerimento e foram eleitos os Srs Capitatildeo Joatildeo Morato de Carvalho e Francisco Coelho Barbosa apresentando seu parecer ao Sr Presidente para este deferir ou indeferir o requerimento agrave vista do parecer da comisshysatildeo com a condiccedilatildeo poreacutem de aterrar-se o lugar com terra sem o que natildeo poderatildeo transitaL (Atas 10 - Fls 84)

Foi lido um requerimento de Miguel Arcanjo Benlcio zelador da igreja da Boa Morte requerendo providecircncias sobre aquela rua Entrando em discussatildeo o Sr Presidente informou que se passa a dar as necessaacuteshyrias providecircncias e foi o mesmo deferido pela maneira seguinte jaacute o Presidente da Cacircmara deu as Providencias (Alas 10 - Fls 145 v)

Foi lido um outro (requerimento) de Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra requerendo que a Cacircmara mande consertar a rua da Boa Morte Entrando em discussatildeo o sr Almeida Cunha disse que votava a favor visto achar-se justo o seu alegado Foi finalmente deferido da maneira seguinte Deferido ficando a cargo do peticionaacuterio fazer os mesmos consertos consultando com o sr Presidente da Cacircmara a respeito (Atas 10 - Fls 171)

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Quanto poreacutem agrave plantaccedilatildeo (de aacutervores) ao redor do paacutetio da Matriz ficou para dele ser encarregado Miguel Arcanjo Benicio Dutra consultando igualmente ao sr Presidente (Atas 10 - Fls 173 v)

Foi lido um requerimenlo de Miguel Arcanjo Benioio Dutra zeshy

lador da igreja da Boa Morte mandou-se passar (Atas 11 - Fls 58 v)

Foram mais tidos e assinados dois oficios um ao Administrashy

dor das obras da Matriz desta cidade Marcelino Joseacute Pereira outro a Miguel Arcanjo Beniclo Dutra este para mandar demolir o Teatro danshydo-se o prazo de sessenta dias pena de a Cacircmara mandardemolHo agrave custa de quem ao mesmo pertence (Atas 11 - Fls 79 v)

o

Oulro requerimento de Miguel Arcanjo Benicio no mesmo senshylido (refere-se a construccedilatildeo do puxado em sua casa) Teve o mesmo destino (encaminhamento agrave comissatildeo) (Atas 11 - Fls 138) _

Requerimento de Miguel Arcanjo Beniacutecio em que requer COnshycessatildeo para levanar um puxado na alura e seguimento de sua casa que jaacute tem para o lado da Boa Morte A Cacircmara deferiu o requerimenshylo (Alas 11 - Fls 186)

Indicou o Dr Eulaacutelia que tendo a Cacircmara passada nomeado uma comissatildeo composta do Dr Felipe Xavier da Rocha Comandador Francisco Joseacute da Conceiccedilatildeo a Vigaacuterio Joaquim Cipriano de Camargo para cuidarem da aquisiccedilatildeo de meios para as obras da igreja Matriz e da administraccedilatildeo dessas mesmas obras e tendo ao depois passado esses trabalhos ao cargos de outros cidadatildeos como o Vigaacuterio Francisco Galvatildeo Paes de Barros e Miguel Arcanjo Beniacutecio Dutra a Cacircmara convishydasse esses Senhores a virem com suas contas na proacutexima sessatildeo ordinaacuteria a 7 de Julho proacuteximo luturo para que possam-se reconhecer quais os meios de que se tecircm dispostos e quais as despesas feitas e tomar providecircncias a respeito de tais obras (Atas 11 - Fls 278)

Seu nome consta da lista dos presentes agrave reuniatildeo destinada agrave compra de accedilotildees pera a instalaccedilatildeo do ramal da estrada de lerro Ituana ateacute nossa cidade (Atas 11 - Fls 65)

Prestaccedilatildeo de contas entregue na sessatildeo da Cacircmara de 5 de janeiro de 1873 Apenas a citaccedilatildeo da prestaccedilatildeo (Atas 12 - Fls 73)

Receberam-se ofiacutecios do e de Miguel Arcanjo Benleio Dutra

zelador da Irmandade da Boa Morte prestando inlormaccedilotildees pedidas em ofiacutecio de 23 de Novembro uacuteltimo (Atas 12 - Fls 91) _

O Sr Dr Manoel de Morais Barros na qualidade de relator da comissatildeo incumbida de verificar se o terreno em aberto em frente ao Coleacutegio da Assunccedilatildeo eacute puacuteblico ou perticular diz que a mesma comisshysatildeo verificou que esse terreno eacute particular e propriedade do Major Femando Ferraz de Arruda e do Vigaacuterio Francisco Gavatildeo Paes de Barros que compraram dos herdeiros de MiguelArcanjo Benicio Dura por escrilura puacuteblica de 22 de levereiro de 1882 nas notas do Tabeliatildeo Franccedila (Atas 13-Fls 136 v)

E nada mais foi encontrado nos llvros de atas da Cacircmara Mu~ nicipal No livro de ofiacutecios de 1839 e 1655 fls 79 v haacute um longo oficio dirigido ao Presidente da Provineia com referecircncia ao mesmo Miguel apesar de natildeo ser citado nomiacutenalmenle

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Excelentiacutessimo Senhor Tendo esta Cacircmara pedido acirc Assembleacuteia Provincial que na lei do

orccedilamento deste presente ano fosse designada alguma quota para a obra da igreja Matliz desta Vila ela atendendo a esta urgente necessidade seshygundo a exposiccedilatildeo feita por esta Cacircmara natildeo vacilou em decretar a quantia de dois conlos de reacuteis para esla obra e da mesma forma a Cacircmara espera que V Exa atendendo a esta necessidade que de dia em dia cresce determina que quanto antes seja salisfeita esta quantia de esses dois conshytos para que natildeo parem os Irabalhos em dita igreja este templo apenas comeccedilado por falta de recursos teve de estar parado por muito tempo ateacute que haacute ano e tanto um particular tomando a si todo o peso da administrashyccedilatildeo desta obra e mendigando esmolas dos fieacuteis que prontamente tecircm conshyconido com quantias superiores agraves suas forccedilas s6 para que possam ter uma casa em que se celebre o culto divino e se preencham os deveres de cristatildeo tem dado um grande impulso a esta obra mas acontecendo que os fieacuteis jaacute se acham exauridos ej por isso em circunstacircncias de pararem os trabalhos caso natildeo venha desde jaacute essa quantia ACacircmara se apressou a fazer sentir isto mesmo a V Exa de que esperam toda a proteccedilatildeo e coadjuvaccedilatildeo para esta obra Hoje se acham os oficiais trabalhando no retaacutebulo que ainda estaacute em princiacutepio e tendo para isto sido chamado um entalhador de outra povoaccedilatildeo que foi preciso mudar-se para esta Vila com sua famiacutelia durante esta obra aconteceraacute que uma vez paralisados os trabalhos por falta de dinheIros este entalhador teraacute de se retirar e ficar assim talvez para sempre esta igreja sem o retaacutebulo tatildeo essencial disshypensando-se ao mesmo tempo os demais oficiais e trabalhadores que estatildeo engajados em dita obra aleacutem disso ainda mesmo para conservaccedilatildeo de algumas coisas que jaacute estatildeo feItas de necessIdade eacute que se faccedilam outros serviccedilos e reparos que demandam despesas Sobre tudo ainda esta Cacircmara para mostrar a necessidade da conclusa desta obra e inflamarshynos no prosseguimento do trabalho nela ateacute que fique em um ponto que com dececircncia jaacute se possa celebrar o culto divino ainda que natildeo conctuiacuteda basta fazer sentir a V Exa que este eacute o uacutenico templo que tem esta Vila a qual embora natildeo seja das mais abastadas da Provincia eacute todavia uma das mais populosas apesar de ainda nascente razatildeo tambeacutem que bem se mostra a necessidade da existecircncia de um templo pelo menos Avista poiacutes do exposto ede que V Exa natildeo hesitaraacute noque estiver nas suas matildeos em acudir aacutes primeiras necessidades de seus habitantes a Cacircmara espera que V Exa com a brevidade possiacutevel ordene que se faccedila a entrega dos dois contos de reacuteis ao Procurador constituido por esta Cacircmara para esse fim Deus guarde a V Exa muitos anos

Paccedilo da Cacircmara Municipal da Vila da Constituiccedilatildeo em sessatildeo de 11 de maio de 1844

limo E Exmo Sc Presidente da Proviacutencia de S Paulo Antonio Fiuacuteza de Almeida - Antonio Joseacute da Conceiacuteccedilatildeo -

Fructuoso Joseacute Coelho - Domingos Joseacute da Silva Braga - Manoel Duarte Novais - Francisco Florecircncio do Amaral-

Estaacute conforme o original O Secretaacuterio Joseacute Lopes Siqueira

Aleacutem dos livros de atas e de oficios existe no Arquivo da Cacircshymara Municipal o plimeiro livro da Irmandade do Santiacutessimo sacrashymenlo no qual haacute vaacuterias alusotildees a ele Ei-Ias

Foi lida pelo Irmatildeo Pinto uma carta do cidadatildeo Miguel Arcanmiddot jo em a qual maniresta a disposiccedilatildeo em que se acha de por devoccedilatildeo encarregar-se da resta da Semana Santa uma vez que para ela haja meios em consequumlecircncia da qual indicou mais o Irmatildeo Pinto se nomeshyasse uma comissatildeo de dois membros a fim de ver se por meio de uma subscriccedilatildeo se obtinha dinheiro para ela Assim se resolveu sain~ do aprovados os irmatildeos Rosa e Pinto e encarregado este uacutellimo atilde vista do resultado entender-se em tempo com o dito cidadatildeo Miguel (Atas da Irm SS Sacramento fis 6 v)

Mais adiante na relaccedilatildeo das despesas da Irmandade haacute este toacutepico A um camarada a animal para ir a lIu com o Miguel (Atas da I SS Slo Fls9) E na mesma folha

Concorreram para dar gratificaccedilatildeo ao cidadatildeo Sr Miguel Arshycanjo os seguintes senhores (seguem-se os nomes dos doadores aprando-se o total de 16$000)

NOTA Toda documentaccedilatildeo eacute exclusiva da Arquivo da Cacircmara Munishy

cipal de Piracicaba

FREr PAULO

FrancisaJ Oe Assis f-erraz ocirce Mello

Frei Paulo Maria de Soroeaba nome religioso de Joatildeo Batista ROdriguesde Mello nasceu em Soroeaba no dia 24611873 onde passhysou a infacircncia em ambiente familiar propicio agrave arte o pai era violinista e um tio fazia peccedilas e montava preseacutepios

Aos 10 anos inicia o aprendizado em desenho Dos 14 aos 18 faz pintura e decoraccedilatildeo de paredes dos 18 aos 26 exercita a fotograshyfia praacutetica que conservou ateacute o final da vida

Em 1900 eacute admitido como leigo na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores indo trabalhar como cozinheiro em Taubateacute e outras localidades sem jamais deixar os serviccedilos humildes Nas horas de folga se dedicava ao desenho agrave pinlura e agrave muacutesica

Em 1912 eacute enviado a Trento e depois a Rovereto com a finalidashyde de aprimorar-se em desenho e pintura Retoma ao Brasil em 1913 por causa dos frequumlentes rumores soore o inicio da Primeira Grande Guerra

Em dezembro de 1913 vem a Piracicaba e aqui pennanece ateacute 1923 indo a seguir para Botucatu e depois para Santos

Em 1928 retorna a Piracicaoa onde permanece ateacute o falecishymento em 1955

A par dos serviccedilos subalternos dedica-se agraves pinturas sacras retratos de frades auto-retratos naturezas-mortas e paisagens reveshylando sobretudo o seu talento artiacutestico E pratica a escultura

Em 1929 inicia um curso de desenho e pintura para os alunos seminaristas que logo deixa de oferecer por causa da falia de interesshyse uma vez que natildeo era disciplina curricular Entatildeo inicia o curso com alunos seculares este com pleno ecircxito

Dezenas de jovens e de adultos frequumlenlaram as aulas de Frei Paulo inclusive pintores que alcanccedilaram reputaccedilatildeo como Joatildeo Adamoli Angelina Stella Manoel Martho Aacutelvaro Paulo Sega Eugecircnio Nardim Ermelindo Nardiacutem Gil Schreiber da Silva e outros

O frei foi um grande amigo e conselheiro dos disciacutepulos relrashyando-os e sendo retratado por vaacuterios deles Frequumlentemente com eles ia pintar ao natural Aacutes vezes forneciamiddotlhes malerial de pintura

Embora natildeo fosse um grande colorisla Frei Paulo sabia usar as cores como bem demonstra Q seu domiacutenio completo sobre o verde segundo informaccedilotildees de Manoel Martho

Interessou-se tambeacutem pela muacutesica tendo sido bom violinista e autor de vaacuterias composiccedilotildees sacras Amante da astronomia era exishymia construtor de reloacutegios solares e passava noites inteiras desenhanshydo e pintando as transformaccedilotildees da Lua durante os eclipses lunares

PratIcou a radioestesia cujos conhecimentos transmitiu ao diacutes~ ciacutepulo Eugecircnio Nardim que a utiliza ateacute hoje na descoberta de lenccediloacuteis de aacutegua subterr~neos para a conslruccedilatildeo de poccedilos

Aleacute o fim da vida permaneceu fiel aos votos de pobreza humilshydade e castidade caracteriacutesticas da Ordem a que pertencia Certa vez ao ganhar um reloacutegio de presente foi ateacute o superior solicitar pershymissatildeo para usaacute~lo

Frei Paulo foi extremamente simples e bom Praticamente natildeo expocircs os seus trabalhos que hoje em dia estatildeo em coleccedilotildees particushylares no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis na Igreja dos Frades em Piracicaba a maioria No Salatildeo de Belas Artes desta cidade ganhou o Precircmio Aquisiccedilatildeo em 1954

Seu grande meacuterito foi a capacidade de congregar jovens talenshytos artisticos desta terra e ensinar-lhes com muita paciecircncia e ternura os primeiros passos no desenho e na pintura respeitando sempre as caracteriacutesticas de cada um Foiacute um mestre natildeo um tirano

Faleceu no dia 1171955 no Seminaacuterio Seraacutefico Satildeo Fideacutelis em Piraciacutecaba sendo a sua morte presenciada unicamente pelo seu aluno e grande amigo Eugecircnio Nardim Foi sepultado no Cemiteacuterio da Saudade da cidade mencionada

Bibliografia Dicionaacuterio Piracicabano de Artistas Plaacutesticos ediccedilatildeo

ClITOLICISMO POPULAR

A DEVCXAO AO

SENHOR BOM JESUS

NO ESTADO DE SAo PAULO

Resumo

o fenocircmeno religioso tambeacutem faz parte da complexa rede de ligaccedilotildees e intercacircmbios que compotildeem o espaccedilo geograacutefico

A religiosiacutedaoacutee catoacutelica brasileira ainda mostra aspectos como o embate entre o catolicismo popular e o catolicismo iacutensUtucional De um lado a religiosidade herdada muitas vezes de tradiccedilotildees coloniais em que o sagrado e o profano se unem numa demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo que ainda se faz presente em festas como a do Bom Jesus e a do Divino Espiacuterito Santo de outro a religiosidade inslitucionalizada com as normas de caraacuteter europeu De um lado a diversificaccedilatildeo a espontaneidade a tradiccedilatildeo da feacute popular de outro a nonmatizaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo da feacute como pensamento religioso uacutenico

Palavras-chave religiosidade e espaccedilo geograacutefico calolicisshymo popular

I - As origens

Quando o asfalto era raro e a maioria de nossas estradas ainshyda era de terra batida frequumlentemente na regiatildeo de Piracicaba hoshymenS eram vistos carregando cruzes ou caminhando em direccedilatildeo a Pirapora do Bom Jesus especialmente na Quaresma e Semana Santa e por ocasiatildeo da festa do Bom Jesus no inicio de agosto numa deshymonstraccedilatildeo de feacute e ardor religioso Atualmente com o advento da SQshy

ciedade do asfalto e do automoacutevel parte dessa tradiccedilatildeo se perdeu mas ainda eacute possivel encontrar romeiacuteros-caminhantes em direccedilatildeo ao Santuaacuterio

A devoccedilatildeo ao Senhor do Bom Jesus chegou ao Brasil Colocircnia com os portugueses no seacuteculo XVII

Surgidos geralmente ao longo de caminhos utilizados pelos bandeirantes eSses locais sagrados tecircm-se constituiacutedo importantes

1 Licenciado em Geografia pela UNESPJRio Claro

cenlros de peregrinaccedilatildeo onde os fieacuteis pela meditaccedilatildeo dos sofomenshytos de Cristo invocam o Bom Jesus sob diferentes denominaccedilotildees

11- Os Santuaacuterios histoacutericos

Eacute conhecida a importacircncia dos santuaacuterios histoacutericos (seacuteculos XVII e XVIII) que conservam veneraacuteveis imagens do Senhor Bom Jeshysus no incremento agrave devoccedilatildeo ao Cristo padecente em nossas terras paulistas

No caso do Eslado de Satildeo Paulo haacute quatro santuaacuterios histoacuterishycos dedicados ao Senhor do Bom Jesus (Iguape Tremembeacute Bom Jeshysus dos Perdotildees e Pirapora do Bom Jesus)

Bom)us do Iguape

Em fevereiro de 1647 uma imagem do Bom Jesus vinha de Portugal para o Brasil Proacuteximo ao Iiloral pernambucano na eacutepoca sob dominio holandecircs o navio que trazia a imagem foi atacado Temendo que a imagem fosse profanada a tripulaccedilatildeo decidiu atiraacute-Ia ao mar numa caixa com botijas de 6Teo Nove meses mais arde a Imagem foi encontrada por iacutendios numa praia do litoral sul de Satildeo Paulo sendo levada ateacute a Vila de Iguape onde no dia 2 de novembro de 1647 foi solenemenle entronizada na Matriz de Nossa Senhora das Neves A igreja tornou-se urn renomado centro de devoccedilatildeo ao Bom Jesus A igreja nova abenccediloada em 1856 para onde foi solenemente transladada a imagem recebeu mais tarde o tiacutetulo de Basilica

Para sua preservaccedilatildeo desde 1946 a imagem original do Bom Jeshysus pennanece entronizada no altar-mor da Basilica sendo que uma reacutepl~ ca segue junto agraves procissotildees que anualmente reuacutenem milhares de fiecircis

Bom Jesus de Tremembeacute

A imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembeacute segundo a tradiccedilatildeo fora encontrada numa cabana onde um velhinho desconheshycido a teria esculpido em 1663 Crescendo a devoccedilatildeo ao Bom Jesus fora construida uma nova capela em 1772 e apoacutes sucessivas reforshymas o templo recebeu o mulo de Sanluaacutelio em 1907

~sus dos PerdocircJlji

Aos 22 de maio de 1705 foi abenccediloada uma capela dedicada ao Bom Jesus junto ao caminho onde Fernatildeo Dias Paes Leme fizera ponto de pouso de sua expediccedilatildeo em busca de ouro nas Minas Gerais Com o crescimento da devoccedilatildeo a tocalidade cresceu sendo Iransforshymada em Santuaacuterio em 11 de janeiro de 1913

Pirapora do Bom Jesus

A tradiccedilatildeo conta que Joseacute de Almeida Naves morador em Santana do Parnaiacuteba encontrou em um sitio de sua propriedade situshyado no bairro chamado Pirapora por volta de 1725 encostada no Rio Anhembi uma imagem do Bom Jesus que levando- para casa a colocou num altar domeacutestico para que o povo vizinho pudesse fazer aiacute suas preces Aiacute teve inicio o culto ao Bom Jesus que teve sua primeira capela abenccediloada em 1730 quando foi celebrada a pnmeira festa Em 1887 a capela completamente reformada recebeu o tiacutetulo de Santuaacutemiddot no A imagem do Senhor Bom Jesus que estaacute no Santuaacuterio de Pirapora retrata o Cristo como ele foi apresentado segundo as Escrituras a Potildencio Pilatos - eacute o Cristo flagelado coroado de espinhos mlios amarshyfadas manto vermelho nos ombros e uma palma dourada nas matildeos

111- Catolicismo popular e normatizaccedilatildeo

Parece-nos que osofrimento se faz ressoar nas vidas dos mais humildes dos que tecircm feacute dai a devoccedilatildeo ao Bom Jesus como a conshyfortar o sofrimento do dia-a-dia

Conforme determinaccedilatildeo da Igreja todas as festas particulares ao Nosso Senhorj que natildeo tem dia proacuteprio assinarado devem ser celeshybradas no dia 6 de agosto

Segundo Gaeta (2006) no final do seacuteculo XIX as devoccedilotildees que possuiam uma larga expressatildeo popular como a de Satildeo Benedito e a do Divino Espirito Santo a de Nossa Senhora do Rosaacuterio a de Santa Eligecircnia a dos Reis Magos e a do Bom Jesus - uma devoccedilatildeo sacnficial ao Cristo sofredor - comeccedilam a ser desqualificadas sob a alegaccedilatildeo dos excessos cometidos pelas irmandades leigas

Danccedilas muacutesicas alardes lambores folias maacutescaras palhashyccedilos imperatrizes bandas lagos manifeslaccedilotildees de autoflagelaccedilatildeo shyrepresenlaccedilotildees emblemaacuteticas do sagrado eram consentidas e incentishyvadas pelo catolicismo tradicional popular como sinais visiveis da feacute e da graccedila contudo comeccedilaram a ser ciosamente regulamentadas

Muitos santos de origem exctusivamente europeacuteia comeccedilam a povoar os aliares e os santuaacuterios deixam as matildeos leigas para a admishynistraccedilatildeo direla de Igreja

Conclusatildeo

Vivemos atualmente intenso processo de globalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo que percorre todos oS cantos do planeta pomeiramente na questatildeo econocircmica e quase que conjuntamente na questatildeo cultural

A imposiccedilatildeo de padrotildees e normas exteriores e ateacute estranhos agrave nossa cultura como vemos vem de longa data

Mas o mesmo processo que lenta normalizar regulamentar unificar acaba por promover indiretamente a diversificaccedilatildeo marca re glslrada da cultura brasileira e que de forma alguma poderaacute se pershyder TudO Isso se reflete lambeacutem no plano espiritual e religioso

Diz Gaeta que as festas brasileiras em devoccedilatildeo aos milagroshysos santos como a do Bom Jesus continuam atraindo multidotildees que chegam em romarias a peacute de carros ou em modernos ocircnibus Haacute uma vivecircncia do religioso em intima conjunccedilatildeo com o cultural possibilitanshydo muitas vezes a recuperaccedilatildeo da proacutepria identidade perdida

Bibliografia

raquo GAETA Maria Aparecida Junqueira Veiga A Cultura Clerical e doli popular llnivcriilllade Estadillll PaIillErancaSP 20Q6

raquo Paroacutequia Santuaacuterio de Pirapora do Bom Jesus Histoacuteria da imagem do Senhor Bom Jesus 2005

raquo Sitio Internet wwwbjperdoesspaoybrgt acesso dia 4 62006

smo InternelltwwwsantuariopiraporasPcombrgtacesshyso dia 16712006

MEMoacuteRJAS DA EScRAVIDAo O Neoro as Artes

1Hugo peocircra 02rrilOOre

Resumo

Toda a cultura brasileira nas artes e na literatura traz o amaacutegamo da cultura dos povos africanos

A mateacuteria em consideraccedilatildeo focaliza a participaccedilatildeo do negro na construccedilatildeo da cultura e das artes brasileiras - principalmente na muacutesimiddot ca na danccedila na escultura e na literatura Faz citaccedilotildees dos expoentes que se projetaram nos diversos campos das artes no Brasil Colocircnia Impeacuterio preacute e poacutes-aboliccedilatildeo

Palavras-chave

Cultura Brasileira - Povos Africanos - Transculturaccedilatildeo -Aculturaccedilatildeo - Muacutesica - Danccedila - literatura e seus mentores

Somos um paiacuteS de mesticcedilos senatildeo no sangue ao menos na alma

Siacutelvio Romero

A civilizaccedilatildeo brasiacuteleiacutera carrega em si uma enorme cota de culmiddot tura negra perpetuada pelos afrodescendentes

Natildeo eacute possiacutevel renunciar a uma anaacutelise da nossa formaccedilatildeo eacutetnica quando pretendemos realizar um estudo sobre a cultura brashysileira

O antropoacutelogo Arthur Ramos escreveu O estudo da transplanshytaccedilatildeo das culuras africanas para o Brasil soacute pode ser feito 11 luz dos meacutetodos da aculturaccedilatildeo isto eacute dos contactos culturais

Em toda a nossa cultura torna~se manifesta sempre a marca do influxo da memoacuteria das naccedilotildees africanas noS sistemas de atitudes usos e costumes

1 Hugo Pedro Cauadore eacute proressor Bacharel em Ciecircrr elas Jurldicas ia Sociacuteals Mem~ bro Titular da Academia Paulistana da HistOacutefia Memw

bro Titular e tlwPresklenie do Inslitulo HistoacuteMco e Geogratildefi 00 de Piracicaba 2 Ramos Arthur A Acu~

turaccediliJo Negra no Brasi 3 Mores ratinismo segundo o costume 4 Aculturaccedilatildeo eacute a lofluecircncta reclpiOca de elementos cultumiddot taiS entre grupos indiviacuteduos S lundu muacutesica e danccedila de orIgem africana banlo de An~ gota Era panado sollo onde a mulher emprega todos 0$

recursos de facelrlce etrl moshyvimentos inequivoco de ex~ citaccedilatildeo sexual

6 Os jesuilas dado o caragraveter sexual das danccedilas afros como o batuque que era a danccedila da procriaccedilatildeo procushyraram sublimar esse instinto por meio da Congada run~ damentalmente religiosa e medieval a luta entre crisr tatildeos e mouros Os negros reiacutenterpretaram~na como a luta entre o Rei do Congo e a Rainha Njinga Da o nome Congada 7 Moccedilambiqueacute baIlado poshypular em Goiaacutes Minas Geshyrais Satildeo Paulo e Rio Granmiddot de do Sul participa tias fesshytas de Nessa Sen)ora do Rosario ou Satildeo Benedito de influecircncia socla negra S O quilombo ou danccedila dos quilombos existe nas Alagoas e e considerado como uma sobrevivecircncia hlst6rica do Quilombo de Palmares

As cicatrizes africanas natildeo s6 ficaram presentes nos mores brasileiros mas tambeacutem nas artes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshytiacutestico basicamente na muacutesica e na danccedila

Na Bahia a muacutesica caracteriacutestica com o som dos alabaques nos candombleacutes a presenccedila do negro no jogo de capoeira nos largos do Mercado Modelo do Terreiro de Jesus satildeo a comprovaccedilatildeo evidente da participaccedilatildeo da muacutesica e da danccedila negra entre noacutes

Essa contribuiccedilatildeo se expressa de forma evidente no plano arshyUstico Eacute raro natildeo se encontrar uma sucessatildeo riacutetmiacuteco-percussiva dos negros que natildeo se manifeste na muacutesica popular

No batuque no candombleacute e na umbanda no samba como nas expressotildees da nossa muacutesica folcloacuterica haacute a presenccedila e a particishypaccedilatildeo do escravo QO processo de aculturaccedilatildeo

A gangorra lasciva do lundu ou lundum trazido para o Brasil pelos escravos era uma danccedila de pares soltos multas vezes danccedilado apenas por mulheres Tollemare em liNoites Dominicais tomadas durante as suas viagens ao Brasil (1816 a 1817 e 1918) - traduccedilatildeo de Alfredo Carvalho - descreve o lundum a que assistiu no Teatro de Salshyvador em 1918 tachando-o como danccedila lasciva e libertina

Na congada e maracatus tambeacutem resultados de aculturaccedilatildeo a evidecircncia cultural negra se faz presente Congadas ou cangas satildeo autos populares de motivaccedilatildeo afro-jesuiacutetica Reminiscecircncia dos bailashydos guerreiros

Hoje o maracatu eacute grupo camavalesco pemambucano com pequena orquestra de percussatildeo que percorre as ruas vestiacutegio dos seacutequumlilos negros que acompanhavam os reis dos cangas eleitos pelos escravos e coroados nas igrejas

Fruto da muacutesica afro-brasileira haacute memoacuterias histoacutericas que reshysistem ao tempo danccedilas com bastatildeo e espadas evocando batalhas entre cristatildeos e mouros no Brasil aleacutem das congadas os moccedilambiques os quilombos e oulros autos populares

O samba tem as suas raiacutezes na Aacutefrica proveacutem de Semba umbigada em Luanda segundo Alfredo de Sarmento em Os Sertotildees da Arriea Semba eacute umbigada em quibundo no batuque se inclui a umbigada Batuque eacute denominaccedilatildeo geneacuterica para todos os bailes africanos

Do tundu trazido de Angola muacutesica danccedila e canto dos escrashyvos bantos segundo alguns autores veio o samba

Como baile popUlar o samba repete o mesmo processo aglutinante do fandango tomado como reunillo danccedilante campestre convergindo para ele inuacutemeras formas de danccedila (Cacircmara Cascudo) Nos quadros rurais e urbanos possui uma grande variedade de exshypressatildeo e constituiccedilatildeo cabendo um estudo geograacutefico samba-lenccedilo samba-de-roda arrasta-peacute tambor-de-cnola bambelocirc coco partidoshyalto samba-de-gafieira samba-canccedilatildeo samba-exaltaccedilatildeo

O nome Samba contudo teve divulgaccedilatildeo lenta soacute apareshyceu e se firmou em 1916 com a publicaccedilatildeo da primeira muacutesica impresshysa Pelo Telefone de Emesto Souza Donga

A capoeira eacute outra memoacuteria dos idos da escravidatildeo trazida pelos bantos de Angola Hoje eacute danccedila uma brincadeira um jogo musishycaI Nos cantos e na muacutesica do berimbau ao qual se uniram o agogO o ganzaacute o atabaque e o afoxe Originou-se e serviu como forma de luta e meio de defesa contra Os opressores

Nos dias santos de natildeo-trabalho os feitores olhavam e viamshyna como uma danccedila estramboacutelica enquanto isso os negros eslavam treinando um meio de defesa e ataque sem precisar de outra arma senatildeo os braccedilos e principalmente os peacutes

Nas fugas era com a agilidade do corpo que o capoeirista se defendia dos capitatildees-da-mato e de sua suacutecia

Depois da aboliccedilatildeo as autoridades proibiram e combateram a capoeira Hoje o jogo de capoeira eacute um espetaacuteculo para ver Quando o tocador de berimbau daacute o primeiro toque e canla um solo que eacute prece ladainha ou fundamenlo em que ele narra a hisloacuteria da capoeira ou da sua vida tem iniacuteciO o jogo Ela daacute senha canlando por exemplo Ecirch faca de ponta f Os demais respondem - Faca de ponta camaracirc1J Soacute o tocador do berimbau canta Ecirch valia no mundo Eacute a partir desse momento que os capoeiras entram na roda

Eacute em verdade nos cantos que acompanham o jogo que se vecirc a beleza do folclore

De todas as artes que se desenvolveram no Brasil Colocircnia de insunaccedilatildeo religiosa a que mais demorou em obter cunho e autenticidade artiacutestica foi a muacutesica com o padre mulato Joseacute Mauriacutecio Nunes Garcia (1767-1630) e marca um periacuteOdo de transiccedilatildeo Tocava com parfeiccedilatildeo oacutershygatildeo cravo violatildeo Foi considerado o mais completo compos~or brasileiro foi cognominado pelo Visconde de Taunay o gecircnio da muacutesica no Brasil

Em quase lodo o periodo colonial a muacutesica brasileira absorshyveu o reflexo das muacutesicas europeacuteias No seacuteculo XIX esboccedilou-se a marcha para a utilizaccedilatildeo dos componentes de insinuaccedilatildeo popular Mas foi Viacutella-Lobos o legiacutetimo criador da autecircntica muacutesica nacional

Edoardo Vidossich declara Villa-Lobos emprega com grande eficaacutecia efeitos onomatopeacuteicos Serve-se das inflexotildees de voz o coral Obedece aos padrotildees do canto africano Os instrumentos primitivos satildeo abundantemente aproveitados

Eacute festa eacute noite os ala baques convocam os orixaacutes O candombleacute a umbanda como todas as manifestaccedilotildees mushy

sicais do folclore tecircm por meio do negro a sua figura mais importante Raros satildeo os turistas que visitam a Bahia que natildeo pedem aos

seus gulas para ir a um terreiro e assistir a um espetaacuteculo inesqueciacutevel A muacutesica eacute fundamental no desenvolvimento dos cultos sincreacuteticos

religiosos no chamamento dos deuses negros Ela eacute o elemento de ligashyccedilatildeo entre os homens e os ofixaacutes Os Irecircs tambores (alabaques) - o num o maior o rumpi de tamanho mecircdio e oleacute o menor tecircm o poder de evocar a vinda dos ffsantos africanos~ Outros instrumentos datildeo otoque ao ritual o agog6 sino duplo desiguais que se loca com uma vasilha de metal o adjaacute campainha de metal usada nos ritos religiososl

As iniciadas filhas-de-santo danccedilam Dai por dianle voltashydas para o centro do circulo que formam aguardam a incorporaccedilatildeo do seu santo

-9 Orlxaacutes - tHvindades da religiatildeo iorubana eltpressaacuteo das forccedilas da natureza

10 Lia Ribeiro Dias ~Diaacutero de Satildeo Paulo~ 051972 11 PeJls - satildeo altares dos cultos afro-brasileiros 12 Antocircnio Francisccedilo Us~ boa o Aleijadinho (1730~ 1814) nasceu em Vila Rica filho do mestredemiddotoblas por~ tuguecircs Manuel Francisco Manuel da CosIa Lisboa e de matildee escrava O Aleijadinho eacute considerado como o gecircnio da escultura das Amecircrlcas Com maIs de 40 anos rol acometido de lepra dilacerante ficando somenshyle os dedos polegar e indi~ cadoL Mesmo assim ele nunca deixou de Irabalhar seu escravo Mauriacutecio carre~ gavao nos ombros e ao seu pUlso era amanada agrave talhadeira ou o buril O con~ junto arquitetocircnico lavrado pelo aleijadinho cons(ltumiddotse em obras~prlmas do seu gecirc n[o criador em Minas Gerais 13 Manuel da Costa Ataiacutede (1762-1830) frlho docapllatildeo portuguecircs Luis da Cosia Alaiacutede e da mulala Maria do Carmo Raimunda nasceu em Mariana (MG) concilia a carreira mimar com o granshyde poder criador da prochJshyccedilacirco artiacutestica Autor de textos e mufals em aproxjmada~ menle 20 Igrejas bairocas de Minas Gerais Trabalhou em vaacuterias obras ao lado doAreimiddot jadinho

Exemplo canto para lemanjaacute no candombleacute

Iaba okecirc rececirc O kecirc eacute lemanjaacute

A Pota Pire pire peatildeo Pela xo recirc ocirc

O afoxeacute grupo carnavalesco da Bahia eacute formado por negros pertencentes a um candombleacute

Corno podemos constatar o cullo fetichista africano vai-se disshysolvendo atraveacutes da aculturaccedilatildeo Hoje na verdade temos cultos sincreacuteticos gecircge - nagocirc - mulsumi - banIa - caboclo - esplrita - catoacuteshylico No dizer de lia Ribeiro Dias Soacute um longo trabalho de muitas geraccedilotildees poderaacute substituir os elementos mItlcos e preacute-loacutegicos da menshytalidade primitiva por elementos racionais novas formas de participa~ ccedilatildeo social Ateacute laacute o povo continuaraacute sendo absorvido pelos fantasshymas criados atraveacutes dos tempos com a presenccedila marcante da influlmshycia dos cultos africanos10

A arte popular eacute um assunto dos mais consideraacuteveis no foleloshy

re e marca a mudanccedila de grupo de estaacutegio de caraacuteter primaacuteMo de uma cultura para outro mais adiantado de acordo com determinados fatoshyres geograacuteficos poliacutelicos e cullurais

A influecircncia reciproca da arte popular sobre a erudita e desta sobre aquela eacute um acontecimento que se sucede com frequumlecircncia na histoacuteria dos povos

Os negros foram habilidosos artesatildeos como marceneiacuteros e santelros assim eacute que deixaram esculturas folcloacutelicasde barro e madeira

A escultura popular satildeo imagens sacras feilas por negros que proshycuravam parodiar as obras portuguesas que se encontravam nas igrejas

Tanto a pintura como a escultura de origem iocircubuna apresenshytam ruacutesticas figuras das quais remiacuteniscecircnciacuteas podem ser vistas nas paredes e nos altares dos pajs

A civilizaccedilatildeo brasileira carrega em si uma enorme cota da culshytura e da arte negra atraveacutes do encontro do rrSenhor e das negras das casas-grandes e dos sobrados perpetuadas por meio dos afrodescendentes como os magniacuteficos Antocircnio Francisco Lisboa o Aleijadinho (1730-1814) e Manuel da Costa Ataide (1762-1830) que marcaram a arte brasileira na eacutepoca da escravidatildeo

A muacutesica a danccedila a escultura a pintura a literatura e religioshysidade satildeo aacutereas da cultura em que os negros transmitiram incalculaacuteshyveis heranccedilas

O sincretismo anexou~se ao catolicismo mercecirc agrave religiatildeo dos ootildexaacutes resultado da feacute imposta pelos senhores de escravos Assim os orixaacutes das religiotildees afro~brasileiras se identificam com os santos catoacutelicos de maior veneraccedilatildeo dos escravos dos tempos coloniais ateacute os nossos dias como Satildeo Benedito Nossa Senhora do Rosaacuterio Santa lfigecircnia e

Santo Elesbatildeo Demonstraccedilatildeo da presenccedila do negro na cultura brasileira no Museu Afro-Brasil encerrando em seu acervo peccedilas de escultores negros e mulalos dos seacuteculos XVIII e XIX como de arlistas da atualidade

o negro Henrique Dias foi o pomeiro negro versado em letras Tudo indica que foi ele tambeacutem o pomeiro homem de cor que escreshyveu um texto no Brasil em 1650 uma carla acirc EI Rey de Portugal outrossim foi ainda o negro Teixeira de Souza autor de O Filho do Pescador escoto em 1843 o pomelro romancista negroacutelde A Indeshypendecircncia do Brasil em 12 cantos de oitava lima que nas graccedilas do Ministro da Fazenda recebeu o cargo de Guarda da Alfacircndega

O negro ocupou um lugar de destaque na literatura brasileira com um desfile de escmores e tlibunos que marcaram o periodo preacute-aboliccedilatildeo

bull Luis Gama (183O-1882) Filho da africana que natildeo aceishytou o batismo Luisa Mahin O pai sabe-se que era de uma famiacutelia tradicional baiana Canalha comeleu a atrocidade de vender o proacuteprio filho de 10 anos como escravo para um mercenaacutelio que o levou para o Rio de Janeiro a bordo do navio Saraiva Laacute seguindo sua sina de escravo foi negociado com um corIacutelerciantepOrluguecircs conhecido como Vieira Vendido sucessivas vezes foi parar na casa de Antonio Rodrigues de Souza que percebendo sua inteligecircncia ensinou-o a ler escrever e fazer contas

Alforriado dedica-se de corpo e alma ao esludo de Direito torshynou-se um raacutebula de grande cullura juriacutedica na lula pela aboliccedilatildeo Orador empolgante seus escritos em verso e prosa ateacute hoje satildeo lidos e admirados

bull Oulro galardatildeo do jornalismo e na luta pela extinccedilatildeo da escravidatildeo foi Joseacute do Patrociacutenio (1853-1905) o Tigre da Abolishyccedilatildeo Filho de uma negra quitandeira e de um cocircnego nasceu em Campos de Goilacazes Aos 12 anos sob a proleccedilatildeo do Conselheiro Albino de Alvarenga comeccedilou a esludar e depois com os recursos do Dr Joatildeo Pedro Aquino formou-se em Farmaacutecia Mas a sua vocaccedilatildeo era para o jornalismo Casado com o dole de 15 conlos de seu sogro comprou a uGazeta da Tarde Lutador polecircmico seus artigos Im pressionavam a ponto de conquistar o caonho da Princesa Isabel Como obra publicou Mota Coqueiro Os Retiranles Pedro Espanhol e traduziu a comeacutedia de Maurice Ordomneaux As Meninas Ao lado de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) o papa do Romance Brasileiro outro mesticcedilo poiS seu pai era filho de escravos fundou a Academia Brasileira de Lelras em 1896 Em 29 de janeiro de 1905 falecia no Rio de Janeiro enquanto escrevia um artigo

Satildeo lantos os negros e mulalos que colaboraram para a consshytituiccedilatildeo das letras brasilicas que um pequeno Iraccedilo biogracircnco de cada um deles ocupaoa alguns volumes Soacute para citar alguns

14 Henrique Dias (~1e61) aprendeu a ler e escrever por meio das armas mostrou a sua lealdade e bravura na defesa da paacutetria contra a lrr vasatildeo holandesa Ferido inlr~ meras vezes teve sua matildeo esquerda ampUlada mas mesmo assIm neuroio reoonclou a luta no campo de batalha Foi condecorado pelo rei de Portugal e Espanha com o Haacutebllo de Cristo o foro de Il~

dalgo e a patente de Gover~ nador dos Prelos erlolos e Mulatos dos Eslado do Bramiddot si 15 Teixeira e Souu nasceu do negociante portuguecircs Manuel Gonccedilalves e da neshygra Ana Teixeira de Jesus em C abo Frio em 28 de mar~ ccedilo Com amorte do pai edos Irmatildeos aos 20 anos estabeshylece relaccedilotildees com o mulato Paulo Brito editor de A MarmolaM

que lhe da empre~ go e lhe publica em 1840 a trageacutedia em versos ~Comeacutejja Em 1843 pUblta o romance 0 Filho do Pesshycador Em 1846 casou~se com d Carolina Maria Teixeira de Souza Morreu de tuberculose em 1(1 de de~ zembro de 1861 16 Raacutebula era um advoga~ do praacutetico sem diploma a quem na eacutepoca ela permlU~ do o exercielo da profissatildeo

bullbullbull

17 Aculturaccedilatildeo eacute a Infiuecircnshyela reciacuteproca de elementos culturais entre grupos de usos e costumes diferentes

bull Manuel Inaacutecio da Silva Alvarenga (1749-1814) Poeta mesticcedilo em cujos versos jaacute se vecirc a clara demonstraccedilatildeo da nossa alforria arti stico-literaacuteiia

bull Gonccedilatves Dias (1823-1864) Poeta gerada pelo enconshytro de Irecircs raccedilas a branca a negra e a indigena

bull Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) Poeta ensaiacutesta e critico Sua obra exerceu grande infiuecircncia na poesia e no pensamenshyto filosoacutefico do seu tempo Poliglota raro brasileiro que dominava o aleshymatildeo

bull Joatildeo Cruze Souza (1862-1898) Filho de escravos granshyde poeta simbolista

bull A poeliacutesa negra Auta de Souza (1876-1901) eacute pouco lemshybrada Versejava em portuguecircS e francecircs

bull Maria Finnlnia dos Reis (1825-1919) foi a pomeira roshymancista negra da literatura brasileira

bull Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) Mulato e pobre foi considerado o preacute-modernista da literatura brasileira com sua obra HTriste Fim de Policarpo Quaresma

bull Maacuterio Morais de Andrade (1893-1945) Mulato intelecshytual polifaceacutetico um dos destacados estudiosos do folclore brasileiro da muacutesica da literatura histoacuterta do Brasil Foi um dos organizadores da Semana da Arte Modema de 1922 Macunaima eacute a obra-plima do MOdemismo

bull Uno Guedes (1897-1951) Negro filho de ex-escravos professor Jornalista e poeta Deu a marca da negriacutetude no seu O Canshyto do Cisne Preto

bull Cloacutevis Moura (1929-2003) Poeta historiador socioacutelogo ensaiacutesta e defensor de sua afrodescendecircncia Na publicaccedilatildeo da sua significativa e volumosa obra destacamos o ensaio publicado em 1983 Brasil Raiacutezes do Protesto Negro

A muacutesica e a danccedila as artes plaacutesticas e a lileratura brasileira trazem consigo a resultante de sincretismo inelutaacutevel de elementos orishyginaacutelios das naccedilotildees aflicanas trazidas nos porotildees dos navios negreiros

O poeta Olavo SUac em Seu soneto explica o processo de formaccedilatildeo aculturativa

17 da muacutesica brasileira

Tens as formas do fogo soberano Do amor encerras na cadecircncia acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feiticcedilo do pecado humano

Mas sobre essa voluacutepia erra a tristeza Dos desertos das malas e do oceano Baacuterbara poraceacute banzo africano E soluccedilo de trova portuguesa

Eacutes samba e jongo chiba e fado cujos Acordes satildeo desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgia e paixotildees consistes Lasciva dor beijo de trecircs saudades Flora amorosa de trecircs raccedilas tristes

Muitas religiotildees negras foram trazidas para o Brasil com desshytaque para a nagocirc que pertencia agrave cultura iurubana

A mistica nagaacute infiuiu de forma dominante no painel geral das demais religiotildees absorvendo traccedilos marcantes da comunidade gege

As religiotildees nagotilde e gcge conquistaram as regiotildees das quais os sudaneses chegaram em maior nuacutemero contudo tambeacutem nas aacutereas onde se manifestou o traacutefico dos bantas A mistica gage foi praticashymente assimilada pela nagotilde em Pernambuco mas conserva-se no sincretismo gege-nagotilde na Bahia 8

Olllando para a amostra da carruagem Oswaldo de Camargo1 em seu livro O Negro Escrito publicado em 1987 conclui

Com a morte de Uma Barreto desaparece o uacuteltimo grande mulato daliteralura brasileira o uacuteltiacutemo da liacuteIeratura olicial Fecha o ciclo que - fossem outras circunstacircncias inicialia o esclitor negro em alIo nuacuteshymero no rumos de uma escrita marcando o seu parlicufarismn rural e as conseqGecircncias desse particularismo Lima Barreto morre em 1922 marccedilo inicial - ao menos oficialmente - do Modernismo no Brasil No entretanto o Modernismo natildeo veraacute aparecer mislurada as vozes de Maacuteshyrio de Andrade Menolti Del Picchia Oswald de Andrade Jorge de Uma e depois Jorge Amado - e tantos oulros - a voz do negro

BIBLIOGRAFIA

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BASTOS Abguar Os Cultos Macircgicos - Religiosos no Brashysil Ed Hucitec Satildeo Paulo 1979

CARRADORE Hugo Pedro Digressotildees em Torno do Folshyclore Editora Franciscana Piracicaba 1979

18 Oswaldo de Camargo (Braganccedila Paulista 1936) eacute negro poeta contista e criacutemiddot tlco Hteraacuterio jornallsta e muacutemiddot sico autor de vaacuterios livros sobl~ a neacutegritude

CASCUDO Luis da Cacircmara Antologia do Folclore Brasileishyro Martins Editora Satildeo Paulo 1944

________ Dicionaacuterio do Folclore Brasileiro

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Brasileira Edishyccedilotildees Melhoramentos Satildeo Paulo 1980

DIEacuteGUE JUacuteNIOR Manuel Etnias e Culturas no Brasil Ed Circulo do Livro Satildeo Paulo 1975

FREIRE Gilberto Casa Grande Senzala Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1961

_____ Sobrados e Mucambos Ed Joseacute Olympio Rio de Janeiro 1985

A CAPELA 00 PASSO

00 SENHOR 00 HOKID

DE PmAcICABA

HIltJo Petlro CarraOOr 1

RESUMO

A memoacuteria das cerimocircnias lituacutergicas da Semana Santa Visatildeo das cerimocircnias das Vias-Sacras e os Passos da Paixatildeo O desaparecishymento dos Passos da Paixatildeo O Passo da Paixatildeo do Senhor do Horto de Piracicaba A histoacuteria dos Passos de Piracicaba Heranccedila em tesshytamento O patrimoacutenio histoacuterico e os cuidados da preservaccedilatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Semana Santa - Via-Sacra - Passos da Paixatildeo - Histoacuteria -Patrimocircnio - Preservaccedilatildeo

Um anjo veio confortaacute-lo Jesus aceishytou o caacutelice da amargura Entrementes aproximou-se um grupo de soldados munidos de espadas archotes e corshydas Judas vinha com eles E disse aquele que eu beijar amp Jesus Assim tem inicio o Drama da Paixatildeo

A memoacuteria do tempo estaacute marcada pela religiosidade e pela magnificecircncia das cerimocircnias do calendaacuterio lituacutergico da Igreja Catoacutelica Entre as solenidades mais evocativas estavam a da Semana Santa

Na Sexta-Feira Santa lembra-se os misteacuterios da Paixatildeo quanshydo segue-se passo por passo a Via-Sacra que eacute o ponto culminante nos Evangelhos a saber a narraccedilatildeo hagiograacutefica das provaccedilotildees de Jesus lidas nas Escrituras Sagradas no dia do aniversaacuterio da sua morte

PASSOS DA PAIXAtildeO eram pequenas capelas com imagens riquiacutessimas em arte de papel fundamental na Semana Santa

1 Hugo Pedro Carradore Profesior historiador ba~ charelem Ciecircncias Jurldicas e Socias El(~Presidene do IHGP

2 Via~Cruacutecis ou Via~Scra

Seacuterie de cruzes disposlas de espaccedilo em espaccedilo em um femplo ou nas ruas de uma povoaccedilatildeo diante das quaIs os devotos rezam Seacuterie de quatorze quadros que represhysentam as Cenas da Paixatildeo de Cristo o mesmo que quatorze estaccedilotildees 3 Miguelzinho Miguel Arshycanjo BenJcio dAs sumpccedilatildeo Dutra patriarca da famiacutelia Dutra nasceu em Hu em 1810 tfansferiu~se para Piracicaba com 20 anos adotando-a como sua terra onde faleceu em 1875 arquiteto escultor pintor poshyeta musico Suas obras satildeo encontradas nas cida~ des de Satildeo Paulo Piracicaba lIu Porto Feliz Umelra Ataras e Casa Bran~ ca Satildeo imensas entre oushyIras as pinturas nas Igrejas de Sanla Tereza Beleacutem e da Penha em Satildeo Paulo na Matriz e no Museu de nu em PiracjCaba a arquitetura da Igreja de Satildeo Benedito da anllga Matriz de Santo Anshytonio e da Boa Morte

Os Passos da Paixatildeo eram acompanhados por toda a populashyccedilatildeo numa demonstraccedilatildeo profunda de feacute de capela em capela

D antes no Domingo de Ramos e n~ Sexta-feira Santa de PASSO EM PASSO as procissotildees agrave passagem da imagem de Nosso Senhor dos Passos carregando o lenho da cruz fazia-se ouvir o canto da Verocircnica que mostrava agrave multidatildeo de catoacutelicos a uFace de Cristo no pano que lhe enxugara o rosto Nesse momento os fieacuteis com VOz emocionada cantavam

IOacute vos omnes qui transitis per viam attendite et videte1si est dolor sicut dolor meus

Satildeo catorze Passos desta caminhada em Jerusaleacutem a maioshyria dos quais fora das muralhas e os trecircsiJltiacutemos jaacute dentro da cidade completam a HVia Cruacutecist

Esses pequeninos santuaacuterios dispersos pelo Brasil foram deshysaparecendo do apontamento das lembranccedilas

Quem hoje vai agrave cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais aleacutem de ver no adro do Santuaacuterio do Bom Jesus de Matozinhos as estaacutetuas dos Profetas enconlra tambeacutem os Passos da Paixatildeo com soberbas imagens tudo obra do genial Aleijadinho -Antocircnio Franshycisco Lisboa (1730-1614) considerado internacionalmente o maior esshycultor brasileiro de todos os tempos

Dos cem nuacutemeros Passos da Paixatildeo que havia espalhados pelas cidades e vilas da antiga Proviacutencia de Satildeo Paulo todos foram lentamente tragados pela faiacutena do progresso em destruir as memoacute~ rias do passado reslando apenas um uacutenico neste Estado Bandeirante O PASSO DO SENHOR DO HORTO em Piracicaba

Localizado na rua Prudente de Morais proacuteximo agrave Praccedila Joseacute Bonifaacutecio distando da Capital 152 km peja Rodovia Anhanguumlera 160 km pela Rodovia Bandeirantes e 175 km pela Rodovia Castelo Branco a nordeste de Satildeo Paulo a uacutenica rellquia religiosa paulista no gecircnero Obra de Miguel Arcanjo Benicio deAssumpccedilatildeo Outra o Miguelzinho uPai da Arte Piracicabanal

Tombado pelo Conselho de Defesa do palrimoacutenio Histoacuterico Artisshytico do Estado de Satildeo Paulo em 1973 restaurado em 1978 pelo Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e Coordenadoria daAccedilatildeo Cullural do Municiacutepio de Piracicaba em 1981 restaurado novamenle peJo mesmo oacutergatildeo sob as espessas do Banco Safra em 1991 o Passo do Senhor do Hono eslaacute desafiando o tempo com os seus 133 anos de hisloacuteria

Qual a Passagem do Passo do Senhor do Horto

Quinla-feira peno da meia-noite depoiacutes da Uacuteltima Ceia com os discipulos retirou-se ao Monte das Oliveiras onde havia um hono denominado Getsecircmani Laacute afastou-se dos apoacutestolos para rezar leshyvando consigo Pedro liago e Joatildeo Quando estiveram a soacutes disseshylhes A minha alma estaacute numa tristeza moria (Me 1434) Entrou um pouco mais no horto e prostrou~se de joelhos IE seu suor tornou se gotas de sangue a eSCorrer pela terra (Lc 2244)

Em sua oraccedilatildeo Jesus chama pela Pai Abba Pai todas as coisas satildeo possiacuteveis afasta de mim este caacutelice poreacutem niJo (natildeo faccedila) o que eu quero mas o que Tu queres(Mc 14 36)

Depois cumprem-se as escrituras o Beijo de um traidor Cheshygou Judas Isca notes acompanhado de um ajuntamento soldados COm espadas e enviados do sumo sacerdote de bordatildeo em punho

Judas aproximou-se - Salve Mestrel E beijouott Tem ini~bull

cio a Paixatildeo

A HISTOacuteRIA

o DL Felipe Xavier da Rocha um dos primeiros advogados desshyta cidade e sua esposa dona Benedita Antonia de Lima Rocha senhora profundamente religiosa foram figuras de grande destaque na velha Vila Nova da Constituiccedilatildeo (Piracicaba) no tempo do Impeacuterio

Ele de elevada cultura e respeitabilidade figura leal ao impeshyrador acumulou o cargo de Juiz Municipal e Delegado de Poliacutecia empossado em 1842 ano em que foi chamado ao exercicio do cargo de Juiz de Direito Substituto de Campinas com a tarela de presidir a devassa contra os implicados na Revoluccedilatildeo Liberal sob a lideranccedila do Brigadeiro Tobias de Aguiar

O Dr Felipe Xavier da Rocha militou na poliacutetica tendo exercido a vereanccedila pelo Partido Conservador O casal que residia na rua dos Pecadores (hoje nua Prudente de Morais) por vontade da virtuosa dona Benedita encomendou o projeto e a ereccedilatildeo da Capela do Passo do Horto vizinha a sua residecircncia ao insigne Miguelzinho

Em Piracicaba houve outras Capelas do Passo do Senhor tais como das famiacutelias Honoacuterio Lib6rio Francisco Ferraz de Carvalho Ricardo Pinto de Almeida Joaquim Floriano Leite LuiacutezAntonio Freire Joseacute Viacuteegas Moniz Rita Eulrosina de Oliveira e Jaime Pinto de Almeida cada uma representando um Passo da Paixatildeo que loram desapareshycendo paulaUnamente atraveacutes da marcha dos anos

A Capela do Passo do Horto loi inaugurada no Domingo de Ramos de 1873 com uma grande manirestaccedilatildeo de leacute da comunidade e a participaccedilatildeo de todas as autoridades visitando todos os Passos existentes COm o cetebrante vigaacuterio Francisco Galvatildeo Participaram o Poder Executivo na pessoa de Jeremias Ferraz de Andrade tambeacutem presidente da Cacircmara lI e os demais vereadores inclusive Estevatildeo Ri~ beiro de Souza Rezende Baratildeo de Rezende

Em 1middot de junho de 1875 Benedita Antonia de Uma Rocha rez um testamento para ser lido depois da sua morte que ocorreu em 8 de janeiro de 1881 apoacutes a unccedilatildeo dos enlermos pelo padre Galvatildeo no qual dispunha

deixo a quantia de um cento de reacuteis para darmiddotse a precircshymio em matildeo segura e com ee sustentar-se o meu PASSO nas fesshytividades da Semana Santa e dizer-se no dia 6 de agosto de cada ano a missa costumada ao Senhor Bom Jesus da Prlsfio antiga devoccedilfio com o senhor Miguel Arcanjo (o Miguelzinho Dutra) fishy

4 Elevada agrave vila com o nome de Vira Nova da Consmui~ ccedilatildeo em 31 de outubro de ~ 821 em homenagem agrave Constituiccedilatildeo portuguesa nesse ano promUlgada O nome original Piracicaba soacute retornou por forccedila da Lei ndeg 21 de 13deagosode 1877 5 De 1840 em diante ateacute a Proclamaccedilatildeo da Repocircblica em 1889 o Presidente da Cacircmara exercia as funccedilotildees execuUIas

6 Archlmedes Dutra nasceu em Piracicaba em 6 de julho de 1908 e faleceu em 1 de julho de 1983 Diplomado em 1948 pela ~Academia di Be1li ArW de Roma profes~ sor de Desenho Artisliacuteco da Faculdade de Arquiletura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo Um dos mais premiados artistas Pirac[middot cabanas 1 Joaquim Miguel Dutra (Nhotilde QUim) Pltacicabano (1610611864 a 2804(1930) neto de Mlguelzinho Joamiddot quim Oula foiacute um hOmem de muilas artes pintor muacutesico escultor decorador Foi artisshyta que mais pintou as belemiddot zas de Piracicaba principal~ mente o SaUo cerca de 4 mil telas Sua obra encontra-se diacutespersa pelo SraSll como lambeacutem na Argentina Chile ESlados Unidos Inglaterra Itaacutelia Portugal e Franccedila Foi o pai dos outros grandes p[nshytores Alipio Dutra Joatildeo Out(a Antonio de Paacutedua Dutra e Archlmedes Outra

cando O dUo PASSO por morte de meu marido como patrimoacutenio da Irmandade do Santiacutessimo Sacramento e a metade da dita quanshytia com a aplicaccedilatildeo mencionada revertida aos pobres_

Assim eacute que por forccedila de testamento a CAPELA DO PASSO DO SENHOR DO HORTO DE PIRACICABA passou a constituir-se em patrimocircnio da Inmandade do Santiacutessimo Sacramento

Archimedes Dutra o Mago das Artes Plaacutesticas Piracicabanas bisneto de Miguelzinho conseguiu recuperar parte do acervo do Mestre Em 1978 elaborou uma pequena mas importante publicaccedilatildeo por meio do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Piracicaba e da Accedilatildeo Cullural na qual faz uma descriccedilatildeo da Capela do Passo do Senhor do Horto

Singela eacute a sua fachada erguida no proacutepriO alinhamento da rua Prudente de Morais na qual se distinguem tatildeo somente duas pilastras laterais que SelVem de apoio ao frontatildeo triangular e uma porta central ogival aberta no eixo do plano mural que sepashyra as duas pilastras Um reduzido nuacutemero de planos combinados na melhor das proporccedilotildees comp(Je a fachada deste passo

O PASSO DO SENHOR DO HORTO de Piracicaba eacute de puro estilo barroco da sua melhor fase mostrando na aparente sim plicidade de estrutura do seu Interior a combinaccedilatildeo justa dos piashynos de montagem lanccedilados no entrosamento dos relevos espaci ais de seguro e belo efeito plaacutestico

Elemento de destaque da obra eacute a leveza que se apresenshyta acirc unidade plaacutestica do seu bem proporcionado altar em frente esplande a Impressionante imagem do SENHOR DO HORTO emshypunhando o caacutelice da amargura numa montagem de classe para uma escultura de lOroes como esta na qual a periacutecia teacutecnica do grande artista se faz presente na plenitude da sua forccedila quanto agrave goiva desbastando o cedro vai modelando aquela invulgar fisionomia sofredora de um Cristo jaacute conformado com a dor que o desgasta e atonnenta

Outra figura participava do Passo o Anjo Terreno belissima escultura de madeira em postura de contemplaccedilatildeo oferecendo ao Crisshyto o caacutelice da amargura

A imagem de Jesus desapareceu na deacutecada de 1920 soacute senshydo reencontrada nos anos setenta no depoacutesito da igreja do Satildeo Beneshydito Para substituiacute-Ia ateacute o seu retorno aO seu justo lugar Joaquim Dutra pintou a figura de Cristo carregando a cruz que foi ajustada na abertura do nicho

Tambeacutem sumiu oAnjo Terreno Essa magniacutefica peccedila igualmente obra de Miguelzinho altamente significativa para compor o conjunto ateacute hoje natildeo foi encontrada

No decorrer da histoacuteria o crescimento das cIdades em nome do progresso fez desaparecer reliacutequias do patrimocircnio histoacuterico

o tempo eacute reloacutegio da vida Do Domingo de Ramos de 1873 para os nossos dias Piracicaba transformoumiddotse as residecircncias provin~ cianas deram lugar aos grandes edifiacutecios o piano foi substituiacutedo pejo computador As Capelas dos Passos do Senhor extinguiram-se soacute resshytando a do PASSO DO SENHOR DO HORTO a mais preciosa heranshyccedila do passado

BIBLIOGRAFIA

ANUAacuteRIO DOS ARTISTAS PLAacuteSTICOS DE PIRACICABA Projelo Susete Thame Gutierres Igual Edora Satildeo Paulo 2000

ATLAS CULTURAL DO BRASIL MEC Cia Melhoramentos Satildeo Paulo 1972

COIMBRA Creacuteso Fenomenalogia da Cultura Lisa - Livros Irradiante S A Satildeo Paulo 1972

NOVO CATECISMO OU CATECISMO HOLANDEcircS Instituto Catequeacutetico de Nijmegem Editora Helder Satildeo Paulo 1967

VITTI Guilhenme Manual de Histoacuteria de Piracicaba 2 Censhytenaacuterio Ediccedilatildeo do Jornal De Piracicaba 1967

DESENHO ORIGINAL DO PASSO DO SENHOB DO HORTO

_~1middot5~ middot ~ hoacuteG tQ U-gtIt 110 _U

AUTORIA DE

MIOVEL ARCHAHJO tnN1CIO A OUTRA

JlIRAClCA8A1amp13

Atilde fTDjeta em 1JC1ilbullbull 60 J1aH) do $nho do MOrlogt u((IIudo bull tift linhu tOll nflHulm pllto laquo tflItI campkmrnUt ccedil~ lirnk de

C

Porta de enlnlda fechada

porta aberta estrutura intemal mostrando seis flofOtildees entalhados e folhados a ouro em cada centro da almofada

Detalhes da abertura do nicho mostrando a imagem do Senhor do Horto empunhando o catildelice da amargura no tope do medalhatildeo

com a inscrir~o faUna Pater si pofest transe ame calix (PaI se pO$sivel livra-me deste catildellce)

Detalhes da abertura do nicho mostrando 01 imagem do Senhor do Horlo empunhando o caacutelice da amargura

HISTOacuteRICO E Anj terreno GEOGRAacuteFICO DE

PIRACICABA Ano XIII 2006

Nuacutemero 13

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