revolução farroupilha - luiz alves

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 REVOLUÇÃO F ARROUPILH A LUIZ ALVES Página 1 Prefácio A rotina do dia mascara os momentos, vivifica muitas pedras ociosas no caminho, deglutindo o universo de sentimentos e sonhos reencarnado no eterno. Eu sei que às vezes, a consciência se perde no vazio e o inconsciente sobrevive na alma crucificada, mas temos de persistir em nossos objetivos e realizar os pensamentos, abdicando os medos e receios. A minha visão sobre os fatos presente abarca o conceito da teologia não convenci onal, dando muito trabalho aos psicólogos de final de semana, qu e por ventura, vir a estarem de plantão. Eu pergunto a todos vocês, o que seria do psicólogo se não existisse a doença psicológica ou neurológica? O que seria do bem se não existisse o

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revolução dos farroupilhas

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  • REVOLUO FARROUPILHA

    LUIZ ALVES Pgina 1

    Prefcio

    A rotina do dia mascara os momentos, vivifica muitas pedras ociosas no

    caminho, deglutindo o universo de sentimentos e sonhos reencarnado no eterno. Eu sei

    que s vezes, a conscincia se perde no vazio e o inconsciente sobrevive na alma

    crucificada, mas temos de persistir em nossos objetivos e realizar os pensamentos,

    abdicando os medos e receios.

    A minha viso sobre os fatos presente abarca o conceito da teologia no

    convencional, dando muito trabalho aos psiclogos de final de semana, que por ventura,

    vir a estarem de planto. Eu pergunto a todos vocs, o que seria do psiclogo se no

    existisse a doena psicolgica ou neurolgica? O que seria do bem se no existisse o

  • REVOLUO FARROUPILHA

    LUIZ ALVES Pgina 2

    mal? O que seria da vida se no houvesse a dualidade dos acontecimentos e a liberdade

    de escolha?

    H anos atrs um mestre me confidenciou: O que realmente revela a beleza de

    uma viso no a paisagem, mas a forma que os olhos vem e o corao sente. Uns

    observam admirados todas as ptalas de uma flor, outros vo mais longe, admiram os

    seus pontiagudos espinhos, aceitando a sua forma e vendo o alm das aparncias,

    transformando-o num encantado universo indito.

    Muitas pessoas caminham pela vida sem nenhum objetivo, somente

    sobrevivem s rotinas ociosas e incansveis. Outros tiram das Pedras no Caminho, a

    sabedoria de se tornar uma experincia maravilhosa e nica. O ser humano convive num

    amontoado de medos e receios, evita pensar no sofrimento, mas outros tiram dele a

    razo de fazer a vida mais bela... Mais humana.

    Razes da Revolta

    Frente s seculares desavenas entre os reis de Portugal e Espanha, aonde no

    chegam concluso dos limites da Colnia de Sacramento. O imperador Napoleo fora

    a Espanha declarar guerra a Portugal, complicando mais a situao na banda oriental.

    Em 1817, os capites do Rio Grande do Sul se apossam dos territrios: das sete misses,

    Cerrito e terras hispano-platense.

    Em 1825, general Joo Antnio Lavalleja, consegue anexar a Provncia

    Cisplatina sob domnio da Argentina, tirando-a do Brasil. Em 1828, general Frutuoso

    Rivera liberta-a e denomina Repblica Oriental do Uruguai.

    A Guerra da Cisplatina levou ao completo caos econmico nas estncias e charqueadas no Rio Grandes do Sul, encontrava-se com os seus rebanhos esgotados e o

    imprio, sequer pensava em indeniz-los, devido a guerra. Complicando mais a

    situao, as altas taxas de impostos na exportao de gado vivo, na arroba de charque,

    erva mate, couros, sebo e gordura. Aumentando tambm, a taxa da importao de sal,

    produto vital na produo. O comrcio, influenciado pelos liberais no centro do pas

    como represlia, passa a comprar o charque Cisplatino, por ser mais barato e porque o

    rio-grandense usava trabalho escravo. Mas o que criou pavor na provncia foi a

    falsificao de moedas do imprio, complicando intensamente a economia rio-

    grandense.

    Na poca, o Rio Grande do Sul era composto por 14 municpios: Porto Alegre,

    Rio Grande, Rio Pardo, Santo Antnio da Patrulha, Cachoeira do Sul, Pelotas, Piratini,

    Alegrete, Caapava do Sul, So Jos do Norte, Triunfo, Jaguaro, So Borja e Cruz

    Alta. Entre esses municpios destacam-se: Porto Alegre como a capital, Rio Grande por

    ser o porto de todo comrcio, e Pelotas por ser o maior produtor de charque. A sua

    populao, eram aproximadamente quatrocentas mil pessoas, entre brancos, ndios e

    escravos. Apesar de ser uma regio massacrada pelo imprio, as guerras passadas, ainda

    mantinha esperana de se erguer como tantas outras vezes anteriores.

    A situao poltica era uma caldeira preste a explodir, devido inabilidade dos

    presidentes da provncia, nomeados pelo imprio. Frente das altas taxas de impostos, o

    Rio Grande do Sul fechava o ano sempre com supervit. Invs de todos os recursos

    serem aplicados em obras e benefcios na prpria provncia, uma porcentagem

    transferiam a outras que fechavam em dficit, e o restante enviavam ao imprio para

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    pagar dvidas com os ingleses e franceses. A instabilidade diplomtica entre os

    governos da Prata e do imprio brasileiro faz criticar mais o clima no Rio Grande do

    Sul, pois foi proibido o fluxo de gado para o Uruguai. Os estancieiros gachos

    compraram terras e gados na banda oriental, e com independncia daquele pas, no

    tinham mais acesso s pastagens platinas, somente restando o constante contrabando de

    gado.

    As rixas militares eram outro ponto agravante, o marechal do exrcito imperial,

    Sebastio Barreto Pinto, era um ferrenho inimigo do coronel da guarda nacional, Bento

    Gonalves da Silva, devido s suas constantes promoes por atos de coragem e

    bravura, proveniente das inmeras vezes que foi convocado em perodos de guerra.

    A onipresena da igreja catlica nas provncias fez que as sociedades secretas,

    Maons e em seguida os Carbonrios, excomungados e condenados morte pelos

    governos europeus, por suas filosofias de Liberdade, Igualdade, Unio e Fraternidade,

    faz nascer o sonho republicano na provncia, tendo como figura principal o cientista e

    intelectual, Conde Tito Lvio Zambecari nas letras, e coronel Bento Gonalves da Silva

    como senhor da guerra, desencadeando a Revoluo Farroupilha, que levaria quase dez

    anos, custa de milhares de mortes e novamente trazendo o caos financeiro na

    provncia.

    Maro de 1817, Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca - frei Caneca e

    Jos Incio de Abreu Lima - padre Roma, lderes da Revoluo Pernambucana, iniciam

    o movimento que tinha cunho federalista e republicano. O movimento conta com o

    apoio da Loja Manica, inclusive emigrantes e descendentes europeus.

    Maro de 1817, o general Caetano Pinto de Miranda Montenegro, rene todos

    os oficiais e soldados do imprio portugus em Recife, dissolve o movimento e

    aprisiona os revolucionrios e seus lderes. Padre Roma julgado por uma comisso

    militar, e fuzilado sumariamente no Campo da Plvora na Bahia. Frei Caneca enviado

    para uma priso na Bahia, onde permanece por quatro anos, mas sendo solto, devido

    presso dos lderes da Loja Manica e nobres da corte imperial.

    Janeiro de 1822, D. Pedro I decide retornar a Portugal, mas ao conceder

    audincia Jos Clemente Pereira, que traz consigo um manifesto com oito mil

    assinaturas de nobres, polticos, alto clero catlico, comerciantes e fazendeiros. O

    regente imperial d imortal resposta histrica: Como para o bem de todos e felicidade da nao, diga ao povo que fico. Janeiro de 1822, a diviso auxiliadora no comando de Jorge de Avilez, tenta se

    opor deciso de D. Pedro I ficar no Brasil. As foras portuguesas de Salvador,

    recebem ordens para sufocar os rebeldes, depois de vrios bombardeios e combates

    contra o inimigo, o improvisado exrcito de libertao debanda em completa desordem,

    deixam Salvador a merc das foras portuguesas. A partir desse momento histrico,

    desencadeia uma seqncia de saques e uma desumana chacina contra a populao. O

    Convento da Lapa no escapa da sanha, executam sumariamente a madre Joana

    Anglica de Jesus e as demais freiras internas. O exrcito de libertao se organiza,

    desencadeando novamente violentos combate com as foras portuguesas, a diviso

    auxiliadora rende-se e retornam para Portugal.

    Agosto de 1822 lanado s cartas por Gonalves Ledo e Jos Bonifcio, onde

    D. Pedro I proclama independncia do Brasil, e declara guerra contra o desembarque

    de foras militares lusas.

    Setembro de 1822, D. Pedro I ao retornar de uma viagem de Santos, com o

    objetivo de ver a sua amante: Domitila de Castro e Melo - Marquesa de Santos,

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    abordado por um mensageiro de Jos Bonifcio e D. Maria Leopoldina de Habsburgo,

    relatam ao prncipe regente s ordens para regressar a Lisboa, no prazo de um ms,

    indignado tira o tope lusitano e lana longe, aps dirige ao oficial de sua guarda pessoal,

    determina: Desde este momento estamos separados de Portugal. E a nossa divisa de hoje em diante, ser... Independncia ou Morte. Outubro de 1822, em ato solene pelos senadores e deputados do imprio, D.

    Pedro I, aclamado imperador e defensor perptuo do Brasil. Essa comenda oficial,

    conta com o apoio dos nobres da corte, cafeicultores, fazendeiros, ricos comerciantes e

    empresrios, inclusive a Loja Amrica do Brasil e a Loja Manica.

    Novembro de 1822, o general Pierre Labatut, no comando de cinco mil oficiais

    e soldados imperiais, derrota as foras portuguesas em Sergipe, monta o bloqueio

    militar em Salvador por tempo indeterminado, derrota-os em Piraj, Itapo, Conceio e

    concentra um ataque macio s Ilhas da Madeira. General Labatut ordena vrias

    execues de soldados das tropas portuguesas, deposto do cargo e preso na Ilha das

    Cobras - Rio de Janeiro.

    Os lderes da cpula independente, em sua totalidade so compostos por

    emigrantes ou descendentes de europeus.

    Julho de 1823, general madeira, comandante das tropas portuguesas contra a

    independncia, derrotado pelas foras imperiais brasileiras e obrigado abandonar s

    pressas a provncia da Bahia, retornando a Portugal.

    Julho de 1824, Frei Caneca e Manuel Carvalho Pais de Andrade, lanam

    novamente manifesto com ideais Federalistas e Republicanos, declaram Pernambuco e

    as demais provncias vizinhas separadas do Rio de Janeiro, formando assim, a

    Confederao do Equador. O movimento rebelde tinha apoio da Loja Amrica do Brasil

    e Loja Manica, principalmente de emigrantes e descendentes de europeus.

    Janeiro de 1825, a Confederao do Equador teve a participao de

    aproximadamente oito mil soldados revolucionrios, tendo o comando geral de Frei

    Caneca. Enquanto do lado imperial, teve a participao ativa de dez mil soldados, sob o

    comando geral de Lord Cochrane. O movimento confederado derrotado pelas foras

    imperiais, os lderes so presos e enviados s prises em diversas provncias, enquanto

    os oficiais e soldados ingressam no exrcito imperial, o restante retoma a sua rotina

    habitual. Tristo de Araripe assassinado em fuga, quando atravessava o Rio Jaguaribe.

    Frei Caneca condenado forca na Bahia, mas todos os presos e carrascos negam

    execut-lo, enviam para Recife e sumariamente fuzilado.

    A Revolta dos Cabanos, em 1834 a 1840, ocorrido na provncia do Par. O

    movimento era composto pelos moradores em cabanas beira do rio, devido ao seu

    grande estado de pobreza e misria. No decorrer dos anos e os inmeros confrontos dos

    cabanos e o exrcito imperial, ocasiona a morte de quase metade da populao na

    provncia. O movimento derrotado pelas foras legais em 1840, enforcam os lderes:

    Malcher, Vinagre e Angelin. O exrcito imperial contou como voluntrio civil, o futuro

    general Hilrio Maximiano Antunes Gurjo.

    Aos poucos, os fazendeiros e comerciantes da provncia do Rio Grande do Sul,

    recomeam com o pouco que lhes restam, enfrentam inmeras adversidades, imposta

    pelos governos provincianos, parlamentares e o imperador, D. Pedro I, ficam anos

    pagando uma divida contrada com a Frana e Inglaterra, devido ao auxilio militar na

    Guerra Cisplatina. O jornalista Libero Badar, escreve fortes criticas no Observador Constitucional contra D. Pedro I, acusando-o de no possuir pulso forte e nem moral para governar: Devido o seu caso amoroso com a Marquesa de Santos, de pagar dois

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    milhes de libras esterlinas pela independncia ao imprio portugus, ser cmplice do

    Marques de Barbacena em emprstimos escusos e ilegais. E a mais grave das acusaes,

    que estava contratando um exrcito mercenrio ingls, com o objetivo de tirar D.

    Miguel do trono portugus, a favor de sua filha Maria da Glria. D. Pedro I falece em

    setembro de 1834, no Pao Queluz em Lisboa-Portugal.

    Badar assassinado por trs asseclas do imperador na rua Nova So Jos.

    Aproveitando esse acontecimento, polticos e jornalistas liberais, boa parte da nobreza

    da corte e os mais diversificados desafetos, pressionam D. Pedro I para abdicar o trono a

    favor de seu filho. O que acontece em Abril de 1831, nomeia como tutor Jos Bonifcio

    de Andrada e Silva, que veio abdicar o cargo, devido forte presso dos parlamentares e

    ministros. Os mesmos nomeiam Francisco de Lima e Silva, Nicolau Pereira Campos

    Vergueiro, Jos Joaquim Carneiro de Campos como tutores de D. Pedro II, devido no

    possuir idade necessria para assumir o trono imperial, que permanecem somente trs

    meses. Ao amanhecer, D. Pedro I e a famlia imperial, embarcam no navio ingls

    Warspite para Portugal, visando retomar o trono conquistado por seu irmo D. Miguel,

    derrubando do poder sua sobrinha D. Maria da Glria, filha de D. Pedro I, assim

    contraindo todas as regras sucessrias da monarquia. A regncia provisria passa-se ser

    permanente: 1831 - 1834, assumindo Joo Brulio Muniz, Jos da Costa Carvalho e

    Francisco de Lima e Silva. A regncia una: 1834 - 1837, assumida por Diogo Antnio

    Feij. 1837 - 1840, assumida por Pedro Arajo Lima.

    Os regentes de D. Pedro II e parlamentares do imprio impem altas taxas

    sobre o charque, sebo, couro exportado e taxas exageradas pelo sal importado. frente

    desse injusto panorama poltico, social econmico, a provncia do Rio Grande do Sul

    nos anos seguintes, comea a fechar com supervit. Os governos no utilizam os

    recursos para melhorias, mas enviando a outras provncias e para pagar suas dividas

    com a Inglaterra e Frana. Complicando mais a situao, a regncia imperial nomeia

    presidente desconhecido ou antiptico ao povo, que governa em causa prpria, de

    familiares e amigos, isso alm de destituir vrios comandantes de armas bem quistos

    pelas foras militares, o que trouxe um futuro clima de revoluo republicana.

    Revolta Farrapos Parte I

    Setembro de 1835 explode a Revoluo Farroupilha, tendo como lderes

    rebeldes: Coronel Bento Gonalves da Silva, Coronel Bento Manuel Ribeiro, Coronel

    Onofre Pires, Coronel Antnio de Souza Neto, Coronel David Jos Martins Canabarro,

    Major Joo Manuel de Lima e Silva, Capito Domingos Crescncio, Capito Jos

    Gomes de Vasconcelos Jardim, conde Tito Livio Zambecari, os jornalistas Pedro Jos

    de Almeida - Pedro Boticrio e Libero Badar. O movimento teve apoio de muitos

    comandantes da guarda nacional, imprensa liberal, polticos provincianos, Loja

    Manica e proscritos italianos.

    Na noite de 19 de Setembro de 1835, o coronel Bento Gonalves da Silva, o

    capito Jos de Vasconcelos Jardim e o coronel Onofre Pires, no comando de duzentos

    soldados Farrapos tomam de assalto Porto Alegre. O presidente Antnio R. Fernandes Braga e seus secretrios fogem para Rio Grande, estabelecendo ali a nova capital. Bento

    Gonalves proclama a Repblica Rio-Grandense e nomeia como presidente, Marciano

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    Pereira Ribeiro, seguido por todos os seus secretrios, inclusive na pasta de finanas,

    incube o proscrito e cientista Italiano, Conde Tito Lvio Zambecari.

    Outubro de 1835, o tenente coronel Joo Tavares no comando de dezenas de

    soldados derrota um contingente de rebeldes, acampados s margens de Arroio Grande.

    O violento confronto tem inmeras baixas de ambos os lados, tendo feito muitos

    prisioneiros. Mas logo a seguir, so derrotados pelos revolucionrios sob o comando do

    coronel Antnio de Souza Neto, libertando todos os prisioneiros, obrigando o coronel

    Joo Tavares e sua tropa a debandar desordenadamente.

    Outubro de 1835, o marechal Sebastio Barreto no comando de um contingente

    de soldados imperial, surpreendido em So Gabriel pela tropa do coronel Bento

    Ribeiro, havendo uma debanda geral entre os soldados. No tendo outra opo, o

    marechal Barreto foge para o Uruguai. Barreto planejava conseguir apoio militar com o

    presidente em Montevidu, assim retornar e retomar So Gabriel ao imprio.

    Outubro de 1835, o coronel Bento Gonalves da Silva, no comando de

    duzentos soldados, em sua maioria lanceiros escravos negros e ndios Minuanos, atacam

    Rio Grande, capital imperial. O coronel Onofre Pires, no comando de cem soldados

    ataca So Jos do Norte, vendo que tudo estava perdido, o presidente Antnio Braga,

    foge e embarca num navio de guerra para o Rio de Janeiro. O poder imperial na

    provncia do Rio Grande do Sul comea a desmoronar, os lderes dos Farrapos tomam

    cidades importantes, revelando que no era um movimento rebelde desordenado,

    pensado anteriormente pelo presidente Braga.

    Novembro de 1835 chega ao Rio Grande, Jos Arajo Ribeiro, o novo

    presidente enviado pelo regente imperial, sendo muito bem recebido pela populao.

    Imediatamente manda um emissrio com um bilhete, endereado ao coronel Bento

    Gonalves e ao coronel Bento Manuel Ribeiro, convidando-os para uma reunio

    pacfica em Pelotas.

    O motivo da reunio era que os dois se dirigissem a Porto Alegre, para acalmar

    os nimos dos rebeldes, reconhecesse-o como novo presidente, e fosse empossado

    perante a assemblia legislativa. Apesar de no estarem inteiramente de acordo, mas

    julgaram uma longnqua esperana de paz, onde os seus direitos de cidado rio-

    grandense fossem completamente respeitados, acabam aceitando a incumbncia de Jos

    Ribeiro.

    Dezembro de 1835, a Fragata Francesa Nautonnier sob o comando do capito Beauregard, traz os Carbonrios: Giusepp Maria Garibaldi, Luighi Rossetti e os

    demais proscritos da Itlia dividida, que olham extasiados a viso do Gigante de Pedra que assinalava a entrada da Baia da Guanabara, a natureza selvagem ciclopicamente harmoniosa. Os amigos firmam amizade com os comerciantes,

    Domingos Torrisano e Castellini, que moram na esquina do Largo do Pao com a rua

    direita. Por intermdio desses dois, mantiveram contato com a Loja Manica no Rio de

    Janeiro, aonde vieram receber ajuda no exlio.

    Dezembro de 1835, o presidente Arajo se retira para o Rio Grande, onde

    busca apoio de Bento Ribeiro e proclama a nova capital da provncia imperial. Em seu

    discurso assemblia provincial, promete que iria restabelecer a ordem e justia. Aps

    certo tempo, obrigado a pedir ao regente fora militares urgente, a fim de salvar o Rio

    Grande do perigo de separao. A Revoluo se prolonga dentro da diplomacia,

    permanecendo na ociosidade at o inicio de Fevereiro de 1836.

    Fevereiro de 1836, coronel Bento Gonalves rene todas as foras de que

    dispunha, traa planos para o ataque, ordena ao Major Joo Manuel de Lima e Silva,

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    deslocar com sua diviso ao interior. A vanguarda dessas foras, continha quatrocentos

    soldados sob o comando do coronel Afonso Jos de Almeida Corte Real, que encontra

    no Arroio Canap, o contingente de Bento Ribeiro com duzentos soldados. Houve um

    violento confronto, mas quando v que a sua situao estava insustentvel, o coronel

    ordena a retirada de seus soldados.

    Maro de 1836, Bento Ribeiro e os seus soldados derrotam coronel Corte Real,

    fazendo-o prisioneiro. Em seguida, ordena a sua tropa para marchar contra capital, mas

    faz frente com a tropa do ento promovido general Bento Gonalves, inclusive os

    temerrios lanceiros, negros e ndios minuanos, que o faz se retirar para Caapava.

    Porto Alegre estava muito bem fortificado, enfim estavam livres dos imperiais.

    Abril de 1836, o coronel Onofre Pires com sua tropa marcham para atacar So

    Jos do Norte, fuzilando todos os prisioneiros. O major Lima e Silva com sua tropa

    ataca Pelotas. Nas vizinhanas a tropa do coronel Souza Neto consegue desbaratar a

    cavalaria com duzentos homens, sob o comando do coronel Albano de Oliveira da

    guarda nacional.

    No confronto, quase cem soldados imperiais obrigam se refugiar em Pelotas,

    enquanto que a coluna do major Lima e Silva faz o cerco da cidade. Em poucos dias, o

    major Manoel Marques de Souza preso e enviado para capital. As divises

    revolucionrias atacam pelo Sul, o general Bento Gonalves com sua coluna punha ao

    encalo do coronel Bento Ribeiro.

    Junho de 1836, o major Manoel Souza, feito prisioneiro na capital, mediante

    suborno consegue fugir da priso com o apoio dos conservadores, se apoderam

    surpreendentemente de Porto Alegre. O fato inesperado to grande, que prendem

    Pedro Boticrio e muitos outros membros importantes do movimento.

    Ao saber da brusca mudana, general Bento Gonalves e os demais

    comandantes seguem para capital, tentando reconquist-la. Ao chegar com suas tropas,

    intima os legalistas a se render, como no recebeu resposta, decide atacar a cidade,

    sendo repelido depois de trs horas de intenso combate, obrigando a se retirarem

    temporariamente. Mas mantm o cerco capital at Setembro, onde torna atac-la,

    sendo novamente repelido pelos imperialistas, decide levantar acampamento, indo se

    reunir com a tropa do coronel Souza Neto.

    Outubro de 1836, a coluna revolucionria do general Bento Gonalves estava

    margem direita do Rio Jacu, seguia ao encontro do coronel Souza Neto. A tropa de

    coronel Bento Ribeiro ocupa o morro da Ilha de Fanfa, enquanto a esquadrilha de

    Greenfell impede a passagem dos rebeldes no Rio Jacu.

    Coronel Bento Ribeiro e Greenfell mantm fogo cerrado contra a tropa de

    Bento Gonalves, deixando-o num fogo cruzado, sem existir nenhuma possibilidade de

    retirada imediata, sem custa de muitas vidas, mesmo assim permanece nessa posio

    de combate por trs dias. Bento Gonalves, vendo que tinham chegado a seus limites,

    sem qualquer chance de fuga, decide render-se, poupando a vida de seus combatentes.

    Ele pede uma lana do lanceiro mais prximo, amarra um leno branco e

    sacode no ar, era uma trgua e sua rendio. Os dois comandantes conversam sobre as

    condies da rendio, onde o coronel aceita todas as condies do general: Dar

    liberdade a todos os seus soldados, inclusive o liberal Tito Livo, o coronel Onofre

    Pires, coronel Corte Real e o jornalista Pedro Boticrio.

    Invs de cumprir o acordo feito com o general Bento Gonalves, o coronel

    Bento Ribeiro e o presidente da provncia imperial, envia todos para um dos navios da

    esquadra de John Pascoe Greenfell, levando-os ao Rio de Janeiro.

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    Novembro de 1836, no Rio de Janeiro recebe ordem do regente Feij para levar

    o general Bento Gonalves e Pedro Boticrio, Fortaleza da Laje. Os outros trs, Tito

    Livio, Onofre Pires e Corte Real, lev-los para o velho forte de Santa Cruz. Os

    prisioneiros comeam a elaborar um plano de fuga, assim retornar ao Sul e reiniciar a

    revoluo. Visando realizarem os seus objetivos, procuram avisar a Loja Manica,

    solicitando que os auxiliassem em seus planos.

    Fevereiro de 1837, Bento Gonalves j tinha cerrado as grades da cela,

    saltando rapidamente pela abertura, mas Pedro Boticrio fica preso, devido a sua

    obesidade excessiva. Bento procura ajud-lo a sair, mas v que era impossvel. Viu que

    o barulho que estavam fazendo tinha alertado as sentinelas, manda Boticrio se retirar

    da abertura, retornando a cela, onde faz sinal ao pessoal da canoa para prosseguirem

    com a misso. Eles se retiram rapidamente do local, temendo que tivesse alertado as

    sentinelas da Fortaleza.

    Tito Livo, Onofre Pires e Corte Real tinham se antecipado, se encontravam

    angustiados pelo resgate. No momento que a canoa se aproximou da Fortaleza,

    pressentido pelas sentinelas que soaram o alarme. Onofre e Corte Real se atiram no mar,

    acenando para Tito Livo fazer o mesmo, que faz sinal que no iria porque no sabia

    nadar. Os dois em longas braadas chegam at a canoa, desaparecendo na escurido.

    No tendo outra opo, Tito Livo retorna a sua cela, s que dessa vez muito mais

    vigiada.

    Maro de 1837, a Regncia, os parlamentares e o ministro do exrcito, decidem

    dividi-los e envi-los secretamente no brigue Constana. O general Bento Gonalves encaminhado para o Forte do Mar em Salvador, na Bahia de todos os Santos.

    Enquanto que Tito Livo enviado para um forte em Pernambuco. Ficando somente na

    Fortaleza no Rio de Janeiro, o jornalista liberal Pedro Boticrio.

    Maro de 1837, Garibaldi, Rossetti, Carniglia e mais treze companheiros de

    viagem, terminam os reparos e adaptao de combate no veleiro Mazzini. No dia anterior, os trs amigos levam pessoalmente a bordo, o carregamento de armas e

    munies, cobrindo-as com sacos de farinha. S ento, decidem zarpar rumo ao Sul.

    A veleira passa lentamente pela polcia do porto, na Ilha de Villegaignon,

    mostra que os seus papis estavam em ordem, sendo liberado imediatamente. Velejam

    tranqilamente pelo longo da Baia da Guanabara, dirigindo-se para as Ilhas de Maric.

    Quando se encontravam nas alturas da Ilha Grande, surge ao sul um navio com

    a bandeira do Imprio. Garibaldi grita para todos ficaram em seus postos, mandando

    aproar direita do barco, imediatamente os seus homens dominam o capito Guilherme

    Grann e toda a sua tripulao. O barco de pesca com o nome Luza era de propriedade da D. Felisbela Stockmeyer, levava trs mil e seiscentas arrobas de caf.

    Garibaldi ordena para trazer as armas e munio para o barco. Assim que

    terminam o servio, manda incendiar o veleiro Mazzini, pois no tinha pessoal suficiente para levar os dois barcos. Um tripulante Portugus ao ver aquilo, oferece um

    pequeno saco com pedras preciosas em troca de sua vida, mas Garibaldi o acalma,

    explicando que fazia o Corso como uma medida de guerra, no para saquear e matar, e

    manda guardar as suas pedras, pois deixaria todos em terra, assim que encontrasse um

    lugar seguro.

    Garibaldi substitui o nome de Luza por Farroupilha, hasteando a bandeira da Repblica Rio-Grandense. Aps seis dias navegando ao Sul, j nas alturas de

    Ipacora - costa de Santa Catarina se aproxima da terra, arriam o nico escaler e nele

    desembarcam todos os tripulantes, menos os seis escravos, que seriam desembarcados

  • REVOLUO FARROUPILHA

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    no Uruguai como homens livres. E continuam a viagem para a embocadura da Prata, em

    direo ao Porto de Maldonado, onde pensava vender a carga de caf.

    Maio de 1837, Garibaldi ancora o Farroupilha no Porto de Maldonado, sem ter nenhum problema com as autoridades porturias. Rossetti vai procura de seus

    amigos Carbonrios, exilados em Montevidu. Garibaldi providencia a venda da carga

    do caf, enquanto os restantes se renem com marinheiros de um barco pesqueiro

    francs numa das tabernas do porto.

    Por razes diplomticas entre Brasil e Argentina, transmitidas a ordem de

    captura do barco e a priso de seus tripulantes. Mas o governador no tornou efetiva a

    priso, dava-lhes liberdade para ir e vir onde desejassem como se fossem seus

    convidados. Ficam presos somente Garibaldi e Carniglia, os demais so liberados.

    Na manh de setembro de 1837, Bento Gonalves se dirige praia para o seu

    rotineiro banho de mar, sendo acompanhado pelos olhos desinteressados das sentinelas.

    O instante em que o general v uma pequena canoa a quase um quilmetro, onde os

    pescadores jogam as suas redes no mar, chega concluso de que tinha chegado o

    momento, em longas braadas segue em direo aos pescadores. As sentinelas da torre

    vem que o prisioneiro estava fugindo, iniciam a atirar desesperadamente contra ele.

    Bento Gonalves ouve as balas zunir em seus ouvidos, mergulha por diversas

    vezes e volta tona mais adiante, seguindo sempre em direo da canoa. J dentro da

    canoa, exausto e contente por sua fuga, podendo agora retomar o comando da

    revoluo.

    Setembro de 1837, a fuga do general Bento Gonalves do Forte do Mar em

    Salvador, cai como bomba em todos os poderes do Imprio no Rio de Janeiro. Devido

    ao acontecido e uma grande presso dos parlamentares, acusando-o de ter facilitado a

    fuga do prisioneiro, regente Diogo Feij obrigado a renunciar o cargo. Assume a

    regncia, Pedro de Arajo Lima, que faz uma reforma ministerial quase total. O mestre

    intelectual e cientista Italiano, Tito Lvio Zambecari, por se encontrar muito doente, so

    solto com objetivo de retornar a sua terra ou a Europa.

    Dois dias depois de Garibaldi e seus amigos tentarem fugir, e ser capturado

    logo em seguida, Milan ordena para lev-los capital da provncia, sendo posto em

    liberdade imediatamente por ordem do governador Echage.

    Na capital da provncia, compram passagem e viajam num navio Genovs at

    embocadura do Paran, depois embarcam em outro navio e desembarcam no Porto de

    Maldonado. Apesar de serem procurados pela polcia porturia, decidem arriscar,

    visando se encontrarem com os amigos Carbonrios Rossetti, Cneo e Castellini,

    informando da fuga em Montevidu e de suas prises na provncia de Entre Rios.

    Outubro de 1837, pouco mais de um ms escondido numa ilha, o general

    decide ir para a cidade, onde encontra um amigo que estava partindo para Santa

    Catarina. Bento Gonalves, bordo no barco do amigo, faz a barba e corta o cabelo,

    enquanto fazia os preparativos para retomar a Revoluo. O navio aporta em Desterro

    em Novembro de 1837, o amigo de Bento Gonalves, arranja um cavalo e um vaqueano

    para lev-lo em segurana ao Rio Grande do Sul.

    Alguns dias depois chega a Piratini, onde recebido como heri, pois todos j

    sabiam de sua fuga. Bento, rene os vereadores e os seus secretrios, assumindo a

    presidncia da provncia e o coronel Souza Neto assume a vice-presidncia.

    Novembro de 1837, Garibaldi, Carniglia, Rossetti, Cneo e Castellini chegam a

    Piratini, imediatamente procuram o ministro do interior e fazenda, Domingos Jos de

    Almeida, que os acolhe com cordialidade. Os cinco colocam as suas espadas a favor da

  • REVOLUO FARROUPILHA

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    Revoluo, sendo aceita por Almeida, que ordena a se apresentassem ao general Bento

    Gonalves. Garibaldi fica surpreso ao saber que ele estava livre, pois pelas ltimas

    informaes se encontrava preso em Salvador.

    Janeiro de 1838, O general Bento Gonalves manda o coronel Bento Ribeiro

    no comando de trezentos soldados, combaterem os legalistas acampados s margens do

    Rio Ca sob o comando do tenente Junqueira. Frente ao ataque surpresa dos Farrapos

    tenta suportar o mximo possvel, perdendo dezenas de soldados. Quando v que no

    restava alternativa, o tenente Junqueira e os sobreviventes se obrigam a fugir a bordo da

    canhoneira Oceano, mas deixam cair nas mos dos republicanos dois lanches. Maro de 1838, General Bento Gonalves se dirige com uma tropa de soldados

    para Lages, sabedor da revolta da populao contra o imprio. O contingente imperial

    sabendo do ataque republicano decide abandonar a vila de Lages. Quando o general

    chega com a sua tropa, so aclamados como heris pela populao. O primeiro passo foi

    dado com a tomada da vila de Lages, ponto de vital importante Repblica Rio-

    Grandense. A prxima meta era a tomada de Laguna, assim teriam um porto para

    combater os imperiais, alm de importar e exportar mercadorias. O general nomeia o

    capito-comandante do municpio republicano, Antnio Incio de Oliveira Filho,

    deixando ao encargo dele nomear as demais autoridades.

    Abril de 1838, o coronel Bento Ribeiro e o coronel Souza Neto com uma

    expedio de quinhentos soldados, entram em combate com a tropa legalista de

    quatrocentos soldados no Rio Pardo, sob o comando do marechal Sebastio Barreto

    Pereira Pinto, entreposto principal s margens do Jacu. O marechal frente da perda do

    coronel Guilherme Jos Lisboa e mais de cem soldados se obrigam recuarem por se

    encontrar em situao desfavorvel, e cede o terreno aos republicanos. A vitria custa

    trezentas baixas aos republicanos entre oficiais e soldados, mas conquistam um ponto

    estrategicamente de vital importncia.

    Maio de 1838, o coronel Souza Neto e coronel Bento Ribeiro, no comando de

    quatrocentos soldados, cercam novamente Porto Alegre, mas os legalistas resistem.

    Aps vrios dias de combate, decidem recuar devido terem dezenas de mortos e feridos

    no cerco. Os dois coronis resolvem acampar nos arredores da capital, assim no deixar

    nenhuma mercadoria entrar, trazida pelos tropeiros de Sorocaba na provncia de So

    Paulo.

    Maio de 1838, o general Bento Gonalves e coronel David Jos Canabarro,

    decidem enviar Garibaldi, Eduardo Matru, Carniglia, vinte e oito amigos Carbonrios

    para a estncia da Barra e do Brejo, de propriedade das irms do general, Ana e

    Antnia. O grupo deveria se apresentar ao capataz norte-americano, John Griggs (Joo

    Grande), encarregado em construir dois lanches e restaurar outros dois no Camaqu.

    Nas estncias se encontravam trinta escravos negros e trinta ndios Minuanos, no

    objetivo de auxiliar nos trabalhos de construo e reparos. Ele e Griggs em seguida

    formariam duas turmas de marinheiros experientes, onde proclamariam em Laguna a

    Repblica Catarinense.

    Os trabalhos de restaurao dos lanches ficam prontos aps de duas semanas.

    Griggs e Garibaldi deixam Carniglia e Matru comandando a construo dos novos

    lanches, pois tinham recebido ordens do general Bento Gonalves para colocar os

    lanches em ao na Lagoa dos Patos, Mirim e rios confluentes, confiscando tudo o que

    servir Revoluo. Garibaldi no comando do Rio Pardo com dez marinheiros, Griggs no comando do Republicano com outros dez marinheiros. Os dois lanches partem rumo Lagoa dos Patos, onde fariam servios de Corsrios Repblica.

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    Junho de 1838, o marechal Barreto em fuga desordenada do confronto de Rio

    Pardo, vai vila de Triunfo, onde se encontrava o navio Leopoldina sob o comando do capito Guilherme Parker, e o incumbe de informar o presidente Antnio Elisirio e

    o comandante chefe das foras navais. Elisirio envia mais barcos para auxiliar o

    marechal Greenfell na vigilncia ao longo da costa, rios afluentes, que desembocavam

    no oceano. Greenfell deixa quase a metade da frota naval ancorado prximo de Porto

    Alegre, temendo outro ataque violento dos republicanos.

    Junho de 1838, Garibaldi, v que os cavalos se encontram inquieto, indicava

    que teriam pressentido alguma coisa estranha no vento. Manda o cozinheiro reunir todas

    as armas e munies, carregando-as e deix-las a beira da entrada do estaleiro, enquanto

    verificaria os arredores. O seu sexto sentido lhe dizia que, alguma coisa grave estava

    preste a acontecer. Ao se aproximar da mata, agua o seu sentido e ouve o som de

    vrios cavalos a galope. Garibaldi corre ao estaleiro, acena ao cozinheiro para se

    esconder. Assim que entra no estaleiro, o seu sombreiro arrancado de sua cabea por

    uma lana.

    O cozinheiro tinha carregado setenta carabinas, apanha a primeira e dispara,

    assim seguindo uma aps outra, sendo rapidamente recarregadas pelo cozinheiro.

    Moringue fica temeroso em avanar contra o estaleiro, os disparos indicavam ter muito

    mais de dois atiradores, devido s diversas baixas em seu grupo. Ouvindo o barulho dos

    tiros, os companheiros correm a seu auxilio imediatamente. Carniglia o primeiro a

    chegar ao estaleiro, seguido por Incio Bilbau, Lorenzo, Matru, o escravo Rafael,

    Procpio, Natale, Francisco Silva e mais alguns outros.

    Moringue e os seus homens tinham ocupado as casas e barracas de charqueada,

    enquanto o estaleiro continuava em fogo cerrado. Ele manda alguns homens destelhar a

    casa principal, buscando uma melhor viso e disparar contra os Corsrios. Garibaldi

    manda disparar contra os homens do telhado, abatendo vrios deles. O chefe de pesca,

    Joo da Mata tenta constituir um segundo ponto de resistncia nos barcos de forquilha,

    mas imediatamente abatido. Os seus homens desorientados e querendo se salvar, uns

    ganham a mata e outros se jogam na Lagoa.

    Aos meados da tarde, negro Procpio localiza o Moringue, dispara uma bala

    certeira, acertando-o brao. Marianito assume o comando e decide debandar, pois o seu

    chefe era a alma e o incentivo dos homens. Ele manda ajudar o Moringue e os demais

    feridos, chegando tempo depois ao Rio Capivari, onde embarcam num navio imperial

    que os levou at Porto Alegre.

    O general Bento Gonalves e o seu estado maior chegam inesperadamente na

    manh de sbado de 1839 fazenda do Camaqu, sendo recebidos com entusiasmo

    pelos familiares e seus soldados. As irms providenciam rapidamente os preparativos

    para a festa logo noite, visando comemorar a chegada do irmo. Bento e o seu estado

    maior se dirigem ao estaleiro, vem que os lanches esto prontos para navegar a

    servio da Repblica.

    Garibaldi sugere construir dois carretes com rodas de quatro metros de

    dimetro, que seria construdo somente com madeira encaixada, onde transportariam os

    lanches com duzentas juntas de boi. Bento acha arriscada a operao, mas como no

    tinham outra idia melhor, decide aceitar a sugesto audaciosa do italiano.

    O general e sua comitiva retornam Caapava, enquanto Garibaldi e Griggs

    iniciam o transporte dos lanches, auxiliado por mais cem homens, uns a cavalo e

    outros a p, que conduzem as juntas de bois e auxiliam nas enormes rodas dos dois

  • REVOLUO FARROUPILHA

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    carretes. Outros abrem estradas na mata, tapando buracos e fortalecendo os locais de

    areia mole.

    O estranho cortejo leva seis dias do estaleiro at a Barra do Tramanda,

    rodando oitenta quilmetros, onde decidem descansar at o amanhecer do prximo dia.

    Ainda estava escuro quando retomam os servios, s que agora era mais complicado,

    teria de lanar os lanches na Lagoa, a empreitada leva at as oito horas da noite do dia

    11 de Julho de 1839.

    O lancho Farroupilha fica sob o comando de Garibaldi, com trinta tripulantes e um canho de doze polegadas. O lancho Seival fica sob o comando de Griggs com outros trinta tripulantes e um canho de doze polegadas. Quatro dias depois,

    Griggs v que um temporal estava para chegar at eles, decide ancorar na Barra da

    Lagoa do Camacho. O Farroupilha surpreendido nas proximidades da Foz do Rio Mampituba, regio com o seu fundo raso e repleto de pedras, o local era mais conhecido

    por cemitrio de navios.

    Garibaldi tenta usar toda a sua percia de navegador, mas os seus esforos

    foram em vo, o Farroupilha acaba afundando. Ele tenta ajudar os seus companheiros, v que muitos so carregados pelas foras das ondas, outros nadam at praia. No

    acidente Garibaldi perde diversos amigos: Eduardo Matru, Luighi Carniglia, Luighi

    Staderini, Navona, Giovanni e mais outros nove companheiros.

    Garibaldi e os quinze sobreviventes caminham pela praia, seguem rumo ao

    norte. Em seguida atravessam a Foz do Mampituba, chegando Barra da Lagoa do

    Camacho. Todos ficam surpresos ao verem o Seival ancorado, pois julgavam que tambm tinha naufragado. J em terra, encontram Griggs e sua tripulao conversando

    com o coronel Felipe Jos Sousa Leo (Capote), que aguardava as tropas do coronel

    Canabarro. Eles permanecem alguns dias ainda no local, tendo a promessa dos

    habitantes de manter silncio sobre a tropa republicana.

    Repblica Juliana

    Julho de 1839, ao saber do ataque republicano Laguna, as autoridades

    legalistas, inclusive o tenente coronel Vicente Paulo Oliveira Vilas Boas, tentam reunir

    soldados para defender a vila. O primeiro combate d-se no canal do Rio Tubaro, junto

    dos Campos da Carnia, cujo ataque desfechado pelos imperiais no barco

    Catarinense, sob o comando de Jos de Jesus. Os imperiais vendo a situao crtica fogem a esmo da embarcao, perdendo mais da metade dos soldados. A notcia espalha

    rapidamente at vila e as autoridades resolvem tambm debandar.

    Julho de 1839, o Seival chega ao Rio Tubaro e ao Canal da Barra, onde surpreendem os navios imperiais Lagunense, Itaparica e Santana, apreendendo todos eles somente conseguem evadir o Cometa. Garibaldi e Jernimo Castilhos decidem desembarcar em Laguna, ambos no comando de quarenta soldados. A tropa de Teixeira

    Nunes chega aps a tomada da vila, vindo de Lages, seguido por Canabarro que veio

    com seus soldados de Viamo. As autoridades imperiais tinham abandonado

    desordenadamente Laguna, deixando o caminho livre para os rebeldes. Os republicanos

    ao todo apreendem quatro escumas, quatorze veleiros, quinze canhes, quatrocentos e

    sessenta e trs carabinas e trinta mil e seiscentos e vinte cartuchos.

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    Garibaldi, Canabarro e os soldados republicanos so recebidos em Laguna com

    festa e como heris, pelas autoridades e o vigrio Francisco Vilela. O coronel

    Canabarro, Garibaldi, os oficiais, soldados e simpatizantes se renem no Pao

    municipal, onde proclamam a Repblica Catarinense ou Juliana. Em seguida, convocam

    uma reunio extraordinria na cmara, visando eleger todo o secretariado.

    Eleito presidente da Repblica Juliana, o tenente coronel Joaquim Xavier

    Neves - vice-presidente, o padre Vicente Ferreira Santos Cardoso, antigo vigrio da

    vila. A pasta da guerra, marinha e do exterior, Joo Antnio Oliveira Tavares. A pasta

    da fazenda, interior e justia coube, Antnio Claudino Souza Medeiros. Secretrio do

    presidente nomeado Garibaldi, e a Rossetti couberam o cargo de conselheiro.

    O primeiro decreto redigido por Rossetti, foi usar o lema Manico: Liberdade,

    Igualdade e Fraternidade. Outro criava a bandeira Catarinense, verde, branca e amarela,

    cujos funcionrios deveriam ostentar nos chapus, como prova de amor Repblica.

    Canabarro nomeado general do exrcito Catarinense, enquanto Garibaldi

    acumula tambm o cargo de comando supremo das foras navais da Repblica.

    No dia 24, celebrada uma missa de ao de graas pela vitria republicana,

    com a presena de republicanos e simpatizante. A partir desse dia, o destino comea

    traar a sua teia no corao de dois amantes, que viria se eternizar no tempo. Foi a

    primeira vez que o olhar de Ana Maria de Jesus se cruza com o de Garibaldi,

    eletrizando a alma e corpo de ambos.

    Agosto de 1839, o parlamento teve uma sesso extraordinria, devida

    gravidade do problema no sul do Pas. frente de trocas de acusaes, complicava mais

    ainda o clima j tenso. O presidente Brigadeiro Joo Carlos Pardal deposto, mas era

    necessrio nomear o seu substituto, mas quem seria o novo Cristo? At que um dos

    parlamentares sugere o nome do marechal e deputado geral, Francisco Jos Souza

    Soares Andria, o que imediatamente aceito por todos os demais. Andria assumiu o

    governo do Par, diante de mtodos no convencionais conseguiu impor a lei do

    imprio. Ele era autoritrio e extremamente vaidoso, possua complexo de alta

    superioridade.

    Marechal Andria desembarca na praia de Fora, porque o navio no consegue

    entrar na barra, chegando inesperadamente em Desterro. Em pouco tempo, a populao

    sentiria na prpria pele o seu pior defeito como ser humano. A primeira medida extrema

    foi chamar o Xavier Neves, eleito presidente da Repblica. Andria disse-lhe, que tinha

    trazido um abrao enviado pelo regente, em seguida alerta-o de que sua cabea rolaria a

    qualquer subverso contra o imprio. E para humilh-lo mais ainda, envia-o comisso

    dos Alemes. Greenfell afastado do comando geral naval do imprio, sendo

    substitudo pelo capito Frederico Mariath, o contrrio da vez anterior.

    Setembro de 1839, o presidente Andria, com a chegada do reforo que pediu

    aos Regentes e ministro da guerra, comea a organizar as foras em terra. O coronel

    Jos Fernandes Santos Pereira com uma diviso sob o seu comando tinha ordens de

    cooperar com Mariath que possua sob o seu comando treze navios, trezentas praas de

    guarnio, seiscentos e um soldados de abordagem e trinta e trs canhes.

    Mas como era uma operao de alto risco, deveriam saber com exatido das

    foras inimigas, os seus pontos fracos e onde atac-los, s ento entrariam em ao na

    reconquista de Laguna. Andria decide usar a batalha psicolgica, coloca um espio

    acima de qualquer suspeita entre os rebeldes, um verdadeiro malandro e aventureiro, na

    inteno de colocar uns contra os outros, polticos republicanos e a populao.

  • REVOLUO FARROUPILHA

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    Nesse instante entra em seu gabinete, o espanhol Jos Guasque, que conheceu

    na Rua da Alfndega - Rio de Janeiro, onde aplicava golpes junto com dois ingleses, em

    inocentes comerciantes da capital, e de outros estados na compra e venda de

    mercadorias, que aps ter o dinheiro em suas mos, a mercadoria nunca chegaria ao seu

    comprador ou vendedor. Ele seria o piv das intrigas, enfraquecendo os republicanos,

    assim seria muito mais fcil derrot-los.

    Agosto de 1839, Garibaldi j prevendo um ataque das foras imperiais, passa a

    organizar a defesa da capital Juliana, reconstruindo as fortalezas, coloca dezesseis

    canhes nos navios republicanos. O povoado cercado de fossos e trincheiras, onde os

    contingentes muitos bem armados estariam prontos a qualquer emergncia.

    Na fronteira da vila, encontrava-se general Canabarro no comando de mil e

    duzentos soldados experientes, prontos para evitar um ataque de surpresa dos imperiais.

    Ainda por garantia, Garibaldi pede a Rossetti enviar um navio com Napoleo Castellini

    a Montevidu, onde deveria procurar a Irmandade Manica, requisitando a sua valiosa

    ajuda em seguida se incumbiria de trazer armas e munies, recrutando bons

    marinheiros.

    Canabarro convoca para uma reunio todos os oficiais de terra e mar, que se

    apresentam imediatamente na barraca de campanha do general. Ao coronel Teixeira

    Nunes incube-o de limpar a provncia de todo e qualquer imperialista (Caramurus),

    determina-o que ocupasse So Jos e Desterro, s para abaixar a crista daquele

    engomadinho, que se dizia presidente do imprio.

    Canabarro fala a Garibaldi: Quanto a voc capito, para agradar Mazzini e

    aquela linda morena que voc est enrabichado. Quero que tomem de assalto alguns

    barcos de Mariath. Parta o quanto antes para um cruzeiro at a altura de Santos, ou at a

    Baa de Guanabara, s para deixar aqueles imperiais de uma figa putos de raiva. Procure

    espalhar o terror por estes lados, assim teremos um pouco de sossego por aqui.

    Garibaldi toma uma deciso de repente, convida-a para viver com ele no Rio Pardo, no prometia uma vida de conforto, mas teria com certeza todo o seu amor, faria tudo para dar o melhor a ela. Anita no pensa duas vezes, aceita o convite. Naquela

    noite, os dois amantes conhecem a verdadeira fora do amor, o poder da seduo, a

    intensidade das emoes descobre juntos os segredos dos amantes.

    Os dois acordam bem cedo, Garibaldi vai coordenar os preparativos para

    viagem, enquanto Anita fica na cama por uns momentos, com a dvida se era um sonho

    ou uma realidade. S ento ela sobe as escadas do poro, procura tapar o sol com as

    mos, pois tinha escurecido suas vistas, assim pode ver dezenas de marinheiros

    trabalhando nos preparativos para viagem, que aconteceria no incio da noite.

    Os marinheiros ficam surpresos ao verem uma mulher a bordo, ainda mais com

    a inesquecvel beleza de Anita. Garibaldi chama todos e apresenta-a: Esta dona Anita,

    minha mulher, vai para o mar conosco. Todos se apresentam mulher do chefe,

    recebendo-a com carinho e um sorriso nos lbios. Ela passa quase o dia inteiro

    observando o servio de cada um dos marinheiros, inclusive de seu amado. Garibaldi se

    divertia com a curiosidade de Anita, e passa uns longos momentos ensinado-a em

    detalhes, a funo de cada um dos aparelhos de navegao, o que fazer e como proceder

    frente de imprevistos.

    No incio da noite, Garibaldi envia um velho barco carregado de mantimentos

    com destino ao sul, com a finalidade de distrair os barcos imperiais, sob o comando do

    tenente Romano da Silva, que faziam o bloqueio da entrada do porto. Assim que avista

    o velho barco na costa de Laguna rumo ao sul, os barcos imperiais partem em sua

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    perseguio, deixando o caminho livre a esquadrilha republicana. Garibaldi,

    aproveitando a noite de lua cheia e a escurido, navega vagarosamente ao longo da baa.

    O barco Rio Pardo sob o seu comando, Seival sob o comando de Griggs e o Caapava sob o comando de Loureno Valerigini, lentamente com cautela passam pelo canal.

    Ao passar a Barra na escurido, Garibaldi toma o leme, e de ouvido atento e os

    nervos tensos, orientando-se pela arrebentao sobre o banco de areia e o som das ondas

    sobre o costo de pedra da margem. Ao passar o ponto crtico, ele e o restante dos

    tripulantes da esquadrilha republicana, sentem-se mais aliviados e confiantes, agora j

    em pleno mar rumo costa Paulista. Garibaldi entrega novamente o leme ao marinheiro,

    ele e Anita descem ao poro, e no embalo das ondas, os dois usufruem as eternas

    delicias do amor e o xtase do corpo ardente pelo pecado da carne.

    Na madrugada pego por uma tempestade formada de inopino, Garibaldi

    afasta-se um pouco de Anita, com o fim de dar ordens, visando sarem intactos e com

    segurana do imprevisto. Anita vai atrs de seu amado, mesmo sendo jogada de um lado

    a outro, enfim chega at o mastro, onde se segura com fora.

    A ventania machucava-lhe as faces, os cabelos desdenhado e com o corpo todo

    encharcado, mesmo assim ela teima em ficar, apesar dos gritos de Garibaldi pedindo

    para voltar cabine. A tempestade termina quase de madrugada. Pela manh v que

    estavam costeando a provncia do Paran, ele verifica se o Rio Pardo ou se os outros barcos tinham alguma avaria, quando teve a confirmao dos outros dois capites,

    continua a viagem. Ele ordena aos demais que navegassem rente a praia, pelo menos at

    atingir a Ilha de Queimadas, prximo ao porto de Santos.

    Dois dias espera de uma presa, conseguem apoderar-se sem nenhuma

    resistncia de dois barcos. Garibaldi ordena a trs marinheiros ir at Laguna,

    aproveitando os tripulantes do barco. Enquanto que o outro barco, j tinha colocado

    cinco marinheiros seu no comando.

    Garibaldi e Anita passam uma semana de inteira paz, prazer e felicidade. Ela

    estava vivendo um mundo novo, que tantas vezes imaginou em suas caminhadas beira

    mar, s que junto com o seu amado, era o paraso... Um sonho, que desejaria no

    acordar nunca mais, viver eternamente. Garibaldi estava ensinado Anita os segredos

    de navegao, quando um marinheiro gritou: Barco a vista... Tem a bandeira do

    imprio.

    A corveta imperial comea a persegui-los, se aproxima aos poucos dos navios

    republicanos. O Rio Pardo dispara contra a fragata, avariando o velacho e o traquete, sendo obrigado a diminuir a velocidade, dando tempo esquadrilha naval republicana

    desaparecer de suas vistas, indo abrigar-se atrs da Ilha de Bom Abrigo. Nos dias em

    que permanecem escondidos, os cento e quinze marinheiros quase devastam as

    plantaes existentes.

    Final de Outubro, a esquadra naval republicana deixa a Ilha, nas imediaes

    abordam e confiscam os barcos Elvira e a Bizarro, carregados de arroz com destino ao Rio de Janeiro. A Elvira, Bizarra e os demais barcos prosseguem cautelosamente at ao Porto de Paranagu, onde soltam os tripulantes dos barcos apreendidos,

    afundando os dois barcos prximos ao Morro das Conchas, na entrada da Barra.

    No dia seguinte aprisionam o iate Formiga de propriedade de tal Ramon, seguido pelo Elisa e Monte Real nas proximidades de Cambori. Na altura de Desterro deu de encontro com o navio imperial Andorinha, onde se trava intenso tiroteio. Garibaldi vendo-se em situao difcil, solta os quatros navios confiscados,

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    procurando ganhar tempo. O que no acontece, o Caapava atingido por um tiro certeiro, que quase o leva a pique. O Seival avariado por um tiro certeiro, avariando o seu costado. Ele aproveita um descuido do Andorinha e procura refugio no Porto de Imbituba, j que no poderia alcanar Laguna.

    Garibaldi aproveita o tempo que lhe restava, at que os encontrassem, manda

    transportar o canho do Seival ao promontrio prximo, sob os cuidados do artilheiro Manuel Rodrigues, onde deveria lhe auxiliar na batalha. Enquanto ele situa o Rio Pardo e os dois barcos no fundo da baa, dispostos a morrer se preciso. Permanece nessa posio at o incio da manh, quando surgiram os barcos imperiais Andorinha, Bella Americana e a Patagnia carregados com diversos canhes. Garibaldi julgou que o pior j tinha passado, mas os problemas somente

    estavam comeando. Nesse momento olha constantemente a sua amada Anita,

    arrependendo-se por t-la trazido para aquele inferno no mar. Garibaldi manda-a

    aguardar em terra, onde estaria muito mais segura. Anita responde com veemncia que

    tinha abandonado a famlia, para depois abandon-lo, morreria tambm junto com ele.

    Os navios imperiais comeam bombardear os barcos republicanos, que respondem

    timidamente, pois no tinham muita opo de fogo. Quando os barcos inimigos estavam

    prximos, comea a fuzilaria de ambos os lados.

    Anita ao ver que os marinheiros estavam entrando em pnico, pega por instinto

    uma carabina no convs e comea atirar contra os inimigos, totalmente desprotegida e

    com uma coragem inigualvel. Garibaldi somente amava aquela mulher, a partir

    daquele momento passaria a admir-la como o mais bravo de seus homens. Ela, para

    animar os marinheiros, gritava desesperadamente para responderem o fogo. Eles ao

    verem a valentia daquela frgil mulher, envergonham-se, passam a combater como

    jamais haviam visto. Aos poucos o Rio Pardo estava ficando cheia de cadveres e muitos feridos, ela passa exercer o papel de enfermeira, procurando anim-los. Um tiro

    de canho cai entre Anita e dois marinheiros, despedaando os seus corpos e jogando-a

    longe.

    Ao ver o acontecido, Garibaldi corre ao local, v Anita toda ensangentada,

    julga que estava morta, mas levanta-se rapidamente e informa que estava bem, o sangue

    era dos dois marinheiros. Garibaldi temendo por sua vida grita para se abrigar no poro.

    Anita responde-lhe com um olhar de raiva, s se for para trazer aqueles covardes que se

    esconderam. Ela pega a primeira carabina que encontra, desce rapidamente ao poro,

    em seguida traz sob a mira trs marinheiros, que tinham ali se refugiado. O combate

    prolonga at quase ao anoitecer, deixando muitos mortos e feridos. O lder dos capites

    da esquadra imperial, surpreso com o poder de fogo e a resistncia dos republicanos,

    tambm por ter perdido um capito e dezenas de marinheiros, decide retirar-se e buscar

    reforos.

    Garibaldi manda recolocar o canho no Seival. Agora protegidos pela escurido da noite, partem para Laguna. Mas antes na curva da praia, fazem trs

    enormes fogueiras, dando impresso de trs navios incendiados. Chegam em Laguna ao

    amanhecer do outro dia, com todos os trs navios avariados e dezenas de feridos.

    Enquanto que os mortos tiveram um funeral digno, os seus corpos foram entregues ao

    mar.

    Setembro de 1839, o tempo que a esquadra naval de Garibaldi se encontrava no

    servio de Corsrio, confiscando barcos e mercadorias, mediante duros combates e a

    perda de muitos amigos, o general Canabarro trocava os ps pelas mos, imps um

    regime desptico, criando antipatia entre os polticos e a populao. Principalmente em

  • REVOLUO FARROUPILHA

    LUIZ ALVES Pgina 17

    seus prprios oficiais e soldados, tratando-os com dureza e expondo-os a uma situao

    humilhante.

    A coluna de Teixeira Nunes estabiliza-se um pouco alm de Massiambu,

    pequeno filete dgua que se despeja no canal de Santa Catarina. Canabarro tinha prometido reforos da vila de Lages, o que no aconteceu. Como ele no dispunha de

    soldados suficientes para atacar Desterro, decide aguardar novas ordens de Canabarro.

    Em Laguna, inicia o descontentamento com os ideais republicanos, motivados

    pelas intrigas do espanhol Jos Guasque, que alegava que tinha mudado o tipo de

    governo, mas a situao se transformou muito pior, e a tendncia era piorar muito mais

    ainda. O comrcio estava praticamente parado, os comerciantes comeam a conspirar

    contra os prprios republicanos. Isso era somente o princpio, situao pior explodiria

    dias depois. Lentamente Guasque solta o seu veneno, trazendo confuso e discrdia

    entre os prprios republicanos, principalmente aos habitantes de Laguna e arredores.

    Ele sabedor que toda a provncia era muito conservadora nos valores morais e

    familiares, usa o romance de Anita e Garibaldi para exaltar mais os nimos contra os

    republicanos. Canabarro sabia do perigo que Guasque representava, era muito

    conhecido e respeitado pela populao, nomeia-o a um cargo pblico com o intuito de

    traz-lo para seu lado. Foi outro erro imperdovel que Canabarro cometeu, assim

    acabou dando mais veracidade aos seus comentrios maliciosos.

    O coronel Jos Fernandes e o capito Mariath decidem atacar a coluna de

    Teixeira Nunes, enquanto Mariath atacaria pela barra de Massiambu, o coronel

    Fernandes com quatrocentos e cinqenta soldados atacaria por terra, assim pegando os

    republicanos num fogo cruzado. O primeiro a atacar os republicanos foi Mariath, que

    desembarca com cinqenta soldados, pegando-os completamente de surpresa. Teixeira

    no desespero tenta organizar os soldados, que se encontra em intensa fuzilaria,

    deixando-os mais perdidos ainda, ento se obriga dar ordens para recuar.

    Nesse momento, entra em cena a coluna do coronel Fernandes, deixando os

    republicanos completamente perdidos. Com a morte do capito Henrique Marques

    Rocha e dois soldados e dezenas de feridos, aps uma hora e meia de combate, Teixeira

    ordena para a coluna debandar. Na fuga em direo a Laguna, so apreendidos pelos

    legalistas dezenas de cavalos, armas, mochilas e munio.

    Novembro de 1839, motivados pelos comerciantes, polticos e lderes locais,

    nasce na vila de Imaru, fundos da baa ha vinte quilmetros de Laguna, a primeira

    revolta anti-republicana. General Canabarro, confia a Garibaldi o comando de duzentos

    e cinqenta soldados, a ingrata tarefa de agir com rigor contra os revoltosos. Sentiu-se

    constrangido em cumprir as ordens, devido o seu esprito democrtico.

    Garibaldi leva trs barcos no transporte dos soldados, os oficiais receberam

    ordens explcitas de Canabarro de executar todos os rebeldes, se necessrio. Os

    habitantes organizam a defesa ao lado da Lagoa. Garibaldi j esperava isso, desembarca

    os soldados a trs milhas de distncia ao leste. Ele realiza um ataque pelo morro,

    fazendo que os sobreviventes debandassem desordenadamente, assim se apoderando da

    vila, tendo somente a perda de um sargento e diversos feridos.

    Com Imaru no controle dos republicanos, os soldados encontram um estoque

    de bebida alcolica, passam a ingerir descontroladamente. Quase todos j praticamente

    bbados, passam a saquear as casas e o comercio, degolar vrios habitantes, inclusive

    estupradas e depois degoladas as mulheres que no tiveram tempo de fugir. Garibaldi e

    uns poucos oficiais tentam impedi-los, mas todos estavam dominados pelo lcool,

  • REVOLUO FARROUPILHA

    LUIZ ALVES Pgina 18

    restando se isolarem daquela barbrie. O que restou a Garibaldi e os oficiais era pedir

    perdo a Deus, que lhes perdoassem pelos atos desumanos de seus soldados.

    O coronel imperialista Alano consegue apoio dos habitantes, inclusive de

    muitos soldados republicanos revoltosos, consegue expuls-los e retomar a vila de

    Lages para as foras imperiais. O oficial republicano envia um mensageiro a Laguna,

    requisitando soldados para tomar novamente a vila, informando-os que ficariam nos

    arredores at a chegada de reforo.

    Laguna - a capital da Repblica Juliana tinha se transformado num caos

    completo, o governo civil, o padre presidente, os ministros, os conselheiros

    desaparecem por estarem conscientes da possibilidade de um ataque macio dos

    imperialistas. General Canabarro incube Garibaldi de fazer o bloqueio naval na entrada

    do Porto. Ele deixa o barco Itaparica sob o comando de Joo Henrique, o Caapava sob o comando de Griggs, o Seival sob o comando de Valerigini, o Rio Pardo sob o comando de Anita (Ana Maria de Jesus), a Lagunense sob o comando de Manuel Rodrigues, a Santana sob o comando de Incio Bilbau, sendo apoiados por cinco Lanches com atiradores, alm de vrios canhes deixados no Forte Atalaia e em outros

    pontos estratgicos.

    Enquanto Canabarro com quase mil soldados decide mudar os planos iniciais,

    uma tropa acampa e monta defesa no Camacho e a outra monta defesa em Campo Bom.

    O plano era deixar uma tropa para combater os imperiais em terra, a outra deveria

    auxiliar Garibaldi no confronto naval.

    O presidente Andria e Mariath estacionado na enseada de Imbituba j estava

    impaciente com a demora das trs colunas de apoio por terra, a 1 sob o comando do

    coronel Fernandes, a 2 o comando do major Miguel Moreira e a 3 sob o comando do

    major Melam. Finalmente, recebem um mensageiro do comando das tropas em terra,

    informando-os de que j se encontravam prximos dos objetivos. Andria manda o

    mensageiro retornar com novas ordens, contando as mudanas de planos de ataque ao

    coronel Fernandes, ocasionado pelos planos de defesa dos republicanos.

    Mariath ordena a seus comandos levantar ncora, todos deveriam agir

    conforme os planos iniciais. Ele manda o barco sob o comando do tenente Manoel

    Moreira Silva (Manoel Diabo), levar consigo quatro lanches com cento e cinqenta

    marinheiros, que deveriam abordar o Itaparica. Em seguida manda mais dois barcos sob os comandos dos tenentes Pereira Pinto e Gama Rosa, com a finalidade de distrair o

    fogo dos canhes da Fortaleza, de outros pontos estratgicos e os primeiros lanches

    rebeldes. Seguidos pelos barcos So Jos sob o comando de Jos de Jesus, a Bella Americana sob o comando do tenente Joo Custdio Houdain, o Desterro sob o comando do tenente Marcos Jos Evangelista, o Cometa sob o comando do capito Sena de Arajo, o Blico sob o comando do tenente Manuel Jos Vieira, enquanto Mariath chefiaria a expedio no olo. Os barcos Caliope e a Patagnia sob os comandos dos tenentes Castro Meneses e Jorge Otoni, com ordens de desembarcar no Cabo de Santa Marta, a fim de

    distrair por estes lados o inimigo.

    Garibaldi na Fortaleza com sua luneta consegue ver melhor o poder de fogo

    dos imperiais, alm das tropas com quase trs mil soldados que estavam vindos por

    terra, ento teve a certeza de que seria impossvel derrot-los, somente ganhar tempo

    para uma inesperada retirada de Laguna. Os barcos imperiais iniciam a entrada ao porto,

    a esquadra republicana permanecia em completa inrcia. No convs do Rio Pardo, Anita vendo que todos estavam esperando as ordens de Garibaldi, como j se

  • REVOLUO FARROUPILHA

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    encontrava em linha de fogo, decide dar o primeiro tiro de canho, assim

    desencadeando um inferno na costa de Laguna.

    Garibaldi j estava preocupado com a demora da tropa de apoio de Canabarro,

    pois toda a esquadra de Mariath se encontrava na entrada, viu que estavam sozinhos

    naquele combate. Ele passa ordens a Souza Leo (Capote) para manter fogo intenso

    contra os imperiais, depois corre para assumir o comando do Rio Pardo. Com o primeiro tiro de canho, Anita ordena todos os marujos concentrar intensa fuzilaria

    contra os navios imperiais.

    Mariath ordena para responder o fogo, contra os barcos e as artilharias

    espalhadas pela costa. Nesse instante os republicanos sentem o poder de fogo dos

    imperiais, tendo a certeza de que o combate estava perdido, s restava retard-lo o

    mximo possvel e rezar que chegassem logo os reforos de Canabarro. Os barcos

    republicanos Itaparica, o Seival, o Caapava, o Lagunense e o Santana sob intenso bombardeio, todos quase praticamente destrudos e centenas de marinheiros

    mortos, mutilados ou outros feridos menos grave. Os poucos sobreviventes jogam-se ao

    mar com esperana alcanar praia, mas todos so pegos com a maior facilidade pela

    fuzilaria dos soldados imperiais.

    Enfrentando a fuzilaria intensa contra eles, Garibaldi consegue chegar ao Rio Pardo, envia Anita ao general Canabarro, pedindo que mandasse urgentemente reforos. Sem muita demora, ela retorna com novas ordens de Canabarro, pedia para

    salvar o que fosse possvel, aps incendiasse todos os barcos e dirigissem ao Camacho.

    Os barcos inimigos continuam a fulminar o Rio Pardo com sua artilharia pesada, alm de manter a fuzilaria com centenas de carabinas. Garibaldi manda que Anita suba num

    escaler com dois marinheiros, levando armas e munies, depois permanecesse em

    terra. Ela cumpre a primeira ordem, mas no a segunda. Anita faz o mesmo trajeto com

    o escaler lotado de armas e munies por doze vezes, sob fuzilaria constante do inimigo.

    Os marinheiros do escaler encolhiam-se o que podiam, enquanto que ela permanecia em

    p na popa da embarcao, como tivesse desafiando os atiradores imperiais.

    Garibaldi presencia de perto a morte de seus marinheiros e amigos, sem que

    pudesse fazer nada para evit-la. A sua vista o bravo Joo Henrique cado no convs do

    Itaparica, um largo rombo em seu peito feito por uma bala de canho. Sobe a bordo, desce at o poro e derrama um pouco de plvora at a entrada, aps toca fogo e se

    retira do barco. Segue at o Caapava avista o corpo de seu amigo Griggs, que se encontrava partido em dois pedaos, o busto ficara em p contra a amurada, enquanto o

    membro inferior jazia no cho. Sobe a bordo, fazendo o mesmo que fez com o anterior.

    Nesse instante explode o Itaparica, seguido pelo Caapava, Seival, Lagunense e o Santana. J noite de 15 de Novembro de 1839, logo aps incendeia o Rio Pardo, cumprindo a tarefa macabra. Ele atravessa com Anita a derradeira viagem no canal de Laguna, sendo acompanhados com os poucos sobreviventes tomam o rumo

    do Camacho, ao encontro de Canabarro, Teixeira Nunes e os demais comandantes

    republicanos. No confronto naval os imperialistas tm cinqenta e um mortos e treze

    feridos. J do lado dos republicanos, quase duzentos mortos e aproximadamente cem

    feridos.

    A coluna do coronel Fernandes, ataca a tropa do coronel Teixeira Nunes, que a

    frente de quase meia hora de combate se retira rumo ao sul. A coluna do major Miguel

    Moreira e do major Melo se unem e atacam a tropa de Canabarro, que tambm se retira

    rumo ao sul. Em seguida as trs colunas se unem e chegam ao anoitecer a vila de

  • REVOLUO FARROUPILHA

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    Laguna, onde j se encontrava o presidente Andria, o capito Mariath e os demais

    oficiais.

    Todos eles so recebidos como heris pelas antigas autoridades republicanas,

    agora transformadas em ferrenhos imperialistas, inclusive parte de toda a populao.

    Andria mantm nos cargos quase todos os funcionrios da Repblica, exceto os que

    fugiram ou resolveram acompanh-los. Com essa atitude irresponsvel, ele premiava a

    covardia, a duplicidade e a traio.

    O Regente do imperador e os parlamentares recebem o mensageiro enviado

    pelo presidente Andria, informando-lhes que a vila de Laguna se encontrava nesse

    momento em poder de Vossa Majestade - o Imperador D. Pedro II. Em seguida,

    informa-lhes que a vila de Lages foi retomada, frente da bravura inigualvel do

    coronel Alano, que conseguiu motivar populares e contar com o apoio de uns soldados

    republicanos. Relata tambm que, a ltima noticia dos rebeldes indicavam, que estavam

    retornando a provncia do Rio Grande do Sul.

    As noticias deixam o parlamento em xtase, porque o velho problema deles,

    agora retornava s origens, os senhores do poder temiam que as ondas de rebelies se

    alastrassem por todas as provncias do imprio.

    General Canabarro permanece acampado por uma semana no passo do

    Camacho, era preciso tomar cuidado, observar o inimigo e esperar os retardatrios. O

    primeiro a chegar a tropa de Capote, segundo a de Sousa Leo e por ltimo a reduzida

    de Garibaldi. J Teixeira Nunes vai ao encontro da tropa de Campo Bom, onde aps se

    dirigem tambm para o passo do Camacho.

    Garibaldi e os demais comandantes tentam convencer Canabarro para retomar

    Laguna, mas depois uma calorosa discusso entre os oficiais, Canabarro enfim consegue

    impor a sua vontade na maioria. Enquanto ele retorna com uma parte da tropa para

    Viamo, ficando a disposio do general Bento Gonalves, escala Garibaldi, Anita e

    Teixeira Nunes no comando de cento e cinqenta soldados, onde deveriam juntar-se

    com as colunas do coronel Joaquim Mariano Aranha e coronel Jos Gomes Portinho,

    que estavam a espera de reforos para retomar a vila de Lages.

    Ainda em Novembro de 1839, o coronel Antnio Mello de Albuquerque

    encontrava-se estacionado com sua tropa imperial na vila de Cruz Alta - Rio Grande do

    Sul, no ms anterior, recebe ordens do presidente Saturnino para se juntar com a coluna

    do brigadeiro Cunha na vila de Lages. Rene os soldados, parte imediatamente para a

    vila, conforme as ordens superiores. O objetivo era fundir as duas tropas legalistas, e

    juntas marchar e levantar o cerco republicano de Porto Alegre.

    Dezembro de 1839, a frente de vrios dias de cavalgada, enfim chegam at o

    ponto de encontro com muito esforo e intenso cansao, j no final da serra. Agora com

    as colunas juntas, se dirigem pelo Passo de Santa Vitria.

    O brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, no comando da diviso de So Paulo,

    estacionada em Rio Negro, com mais de dois mil soldados, se desloca para o planalto

    sob ordens do ministro da guerra, com a finalidade de expulsar os republicanos na vila

    de Lages. Soube por simpatizantes dos republicanos que se encontravam no Passo de

    Santa Vitria, engole a isca e se dirige ao local.

    Quando os republicanos avistam o inimigo, Teixeira Nunes ordena a Antnio

    Incio de Oliveira com os seus cavalarianos atrassem uma parte dos legalistas,

    enquanto que os seus lanceiros negros e ndios Minuanos atrairiam outra parte da tropa

    do brigadeiro Cunha no sentido oposto. A sua estratgia era dividir as foras do

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    brigadeiro, assim teriam grandes chances de peg-los de surpresa e derrot-los, mesmo

    estando em menor nmero de soldados.

    O brigadeiro viu que tinha cado numa armadilha ardilosa do inimigo,

    retrocede com a metade de seus soldados at uma mangueira de pedra, que era usada

    antigamente para o fisco alfandegrio. Teixeira Nunes aproveita o momento, ordena a

    seus lanceiros atacar os legalistas, combatendo no corpo a corpo, trucidando-os quase

    por completo. O brigadeiro vendo-se perdido e ferido na perna, auxiliado por alguns de

    seus oficiais, procura fugir, mas ao cruzar o Rio Pelotas o seu corpo tragado pelas

    guas.

    Antnio e os seus cavalarianos levam uma parte outra armadilha, onde se

    encontrava a metade da coluna dos coronis Aranha e Portinho, escondidos num capo

    de mato a quase um quilmetro do local. Quando os cavaleiros republicanos estacionam

    em frente o capo, o capito Hiplito manda estender linha, julgando que todos iriam se

    entregar. Mas ele e o restante da tropa ficam surpresos, ao ver que saiam dezenas de

    soldados de ambos os lados do capo.

    As trs frentes mantm uma fuzilaria intensa contra os legalistas, matando

    dezenas deles. Quando o capito recupera-se da surpresa, ordena a seus soldados

    debandar em sentido da vila de Curitibanos. Os legalistas sobreviventes ouvem dezenas

    de disparos e gritos horrveis de morte, vindos na direo onde se encontrava a outra

    frente, deduzem que se encontrava em situao pior do que a deles. Antnio ordena para

    perseguir os legalistas, mas foram impedidos pelo coronel Aranha que os conscientiza

    para que deixassem fugir.

    Espalha rapidamente a noticia da derrota dos dois mil legalistas para

    quinhentos republicanos no Passo de Santa Vitria corre rapidamente e chega at a vila

    de Lages. O coronel Cndido Alano e os demais soldados que ajudaram a retomar a

    vila, decide fugir s pressas o mais longe possvel, temendo represlias e por suas vidas.

    Quatro dias depois do confronto no Passo de Santa Vitria, Garibaldi, Anita,

    Rossetti, Teixeira Nunes e os demais republicanos, entram triunfantes na vila de Lages,

    sendo recepcionados como heris pelas poucas autoridades e seus habitantes.

    Aps a derrota pela esquadra de Mariath e o coronel Fernandes em Laguna, a

    recente derrota dos legalistas no Campo de Santa Vitria, enfim os republicanos tm um

    pouco de paz e tranqilidade. Assim que Anita e Garibaldi entram na vila, recebido

    com grande euforia pelo seu tio Antnio, que imediatamente arruma uma pequena casa

    aconchegante aos dois amantes. Garibaldi e Antnio simpatizam-se a primeira vista,

    pois tinham os mesmos ideais de liberdade.

    Anita estava vivendo um paraso com a sua sonhada casinha e o amado ao seu

    lado, onde poderiam dividir momentos de inteira paz e de amor infinito. Um dia antes

    do natal, ela, sua famlia e Garibaldi assistem a missa do galo na igreja local.

    Dezembro de 1839, o coronel Albuquerque e sua tropa se encontravam no

    meio do caminho, recebe a inesperada noticia da derrota e morte do brigadeiro Cunha

    no Passo de Santa Vitria. Temendo um confronto com os republicanos, decide

    contornar os campos de Lages, passando pela vila de Campos Novos, seguindo sempre

    ao norte em direo a So Paulo, procurando encontrar a coluna imperial sob o

    comando do general Labatut, assim atacar e retomar a vila de Lages. O coronel

    Albuquerque estranhamente erra em sua deciso, invs de rumar a Porto Alegre, estava

    percorrendo a direo contrria. Estava ele fazendo outro erro grave, evitar a tropa dos

    Farrapos, se as ordens superiores era combat-los.

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    Teixeira Nunes informado de que a tropa do coronel Albuquerque

    encontrava-se pela regio, temendo um ataque de surpresa, forma duas colunas para

    vigiar os arredores. Uma coluna com duzentos e cinqenta soldados voluntrios sob o

    comando do coronel Aranha vigiaria o sul da regio, estacionando nas proximidades do

    Rio Pelotas. A outra com quinhentos soldados, sob o comando de Teixeira Nunes,

    inclusive Anita e Garibaldi vigiaria o norte da regio, estacionando nos campos de

    Palmas ou de Curitibanos. O coronel Portinho fica com cem soldados voluntrios,

    visando defender a vila na ocorrncia de um ataque surpresa dos legalistas. As duas

    colunas partem da vila, conforme os planos.

    Combate de Curitibanos

    Janeiro de 1840, Teixeira Nunes fica no comando de trezentos e trinta

    soldados, Garibaldi no comando de cento e cinqenta e cavalarianos, Anita fica

    encarregada do transporte da munio com vinte soldados, que deveria ficar na

    retaguarda guarnecendo a munio.

    Aps trs dias de caminhada forada, Teixeira ordena para acampar as margens

    do Rio Marombas, Campos das Forquilhas, proximidades da vila de Curitibanos, onde

    julgava que o inimigo cruzaria em direo de Lages.

    Teixeira pede a Garibaldi organizar a vigilncia, enquanto descansaria um

    pouco da viagem forada. Garibaldi forma quatro grupos com dez soldados e distribui

    nos arredores, evitando assim um ataque surpresa do inimigo. Ele manda Anita, as

    carroas e os vinte soldados se abrigarem no Capo de Mato, enquanto a coluna do

    Teixeira ficaria no campo, ele ficaria na retaguarda numa coxilha prxima.

    O coronel Albuquerque acampa dias antes nos Campos das Forquilhas, a

    poucos quilmetros dos republicanos. Escalam vrios piquetes de soldados com o

    objetivo de vasculhar os arredores na existncia de Farrapos, o que veio acontecer no

    dia 12 de janeiro, ento comea a organizar o plano de ataque com os seus oficiais. O

    coronel Mello de Albuquerque no queria que acontecesse o mesmo que em Rio Pardo,

    onde foi derrotado pelos republicanos.

    Coronel ordena que os piquetes, sob o comando do sargento Gonalves Padilha

    e do capito Hiplito aproveitassem a escurido e fizessem ataques rpidos, em seguida

    retornando ao acampamento, assim poderia saber com exatido sua localizao. Com

    isso, o coronel poderia formar duas colunas e peg-los num fogo cruzado.

    Aproximadamente meia noite, o piquete do capito Hiplito se encontra com

    um dos grupos formado por Garibaldi, com a finalidade de evitar um ataque surpresa,

    trocam alguns tiros na escurido do Capo de Mato e desaparecem em seguida.

    Garibaldi e os demais ouvem os tiros, se prepararam para contra-atacar os legalistas.

    Mas o silncio volta a reinar nos Campos da Forquilha, pelo menos at o amanhecer.

    O coronel Melo Manso, rene novamente os piquetes e os coloca sob as ordens

    do sargento Padilha, tendo a misso de dar combate frontal aos Farrapos, onde deveria

    traz-los ao Capo de Mato. O coronel informa que deixaria mais uns soldados no local,

    tendo o objetivo de apoi-los. Aps deveriam lev-los margem do rio, onde estaria

    outro grupo de soldados para lhes auxiliar no confronto. Os republicanos estando

    margem do Marombas, assim as duas colunas pegariam num fogo cruzado, apoiado

    pelos sobreviventes do grupo, os quais seriam as iscas.

  • REVOLUO FARROUPILHA

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    Teixeira Nunes e seus soldados ficam poucos minutos sob fuzilaria dos

    piquetes, imediatamente se recompem, ordena que a cavalaria de Garibaldi persiga os

    legalistas, que recuam at o Capo de Mato, onde entra em ao a tropa de apoio,

    mesmo assim Garibaldi continua avanando contra os legalistas. Teixeira ordena para

    seus soldados avanar contra o inimigo, que empreendem fuga desordenada s margens

    do rio Marombas.

    No momento que o grupo de Teixeira se aproxima da margem do Marombas,

    so pegos num fogo cruzado pelas duas colunas do coronel Melo Manso. Teixeira viu

    que tinha cado numa armadilha, no tendo outra opo seno ocupar o Capo de Mato,

    localizado numa pequena elevao prxima.

    No Capo de Mato, Teixeira vendo-se perdido, grita a seus soldados para atirar

    contra os legalistas, mas como eles estavam em maior nmero, centenas de seus

    soldados caem frente da intensa fuzilaria das colunas do coronel Melo Manso.

    Anita ouve os primeiros tiros, ordena aos soldados ficar em alerta, pois teriam

    de proteger a munio. Ela certa de que os seus companheiros se encontravam cercados,

    ordena a seus soldados avanar, julgando que estavam necessitando de munio. Antes

    de chegar a seus companheiros cercados, so surpreendidos por um destacamento

    imperial, mas ela e nem os outros soldados se intimidam, revidam o ataque com

    coragem e determinao.

    Anita mesmo vendo os seus soldados carem abatidos, continua resistindo

    bravamente. Uma bala arranca o chapu de sua cabea, cortando tambm uma mecha de

    cabelo, mesmo assim no se amedronta, continua atirando contra os imperiais. Quando

    decide evadir do local, outra bala abate o seu cavalo, derrubando-a violentamente no

    cho. A se ver cercada pelos soldados legalistas, sente que no tinha outra opo, decide

    se entregar.

    Ao ver que era Ana de Jesus, a surpresa do sargento Joo Gonalves Padilha

    enorme. Por mera casualidade ou capricho do destino, ele era o segundo pretendente a

    casar com Ana Maria de Jesus, recusado pela me Maria Antnia, devido ele ser um

    soldado do exrcito imperial.

    Teixeira e aproximadamente dez soldados conseguem romper o cerco,

    evadindo-se desordenadamente do local. Em seguida se embrenham mata adentro,

    desaparecendo em direo da vila de Lages. Os republicanos tm quatrocentos e vinte e

    sete mortos, pois todos os feridos so sumariamente executados. Segundo fontes no

    oficiais, os imperiais tm mais de cem soldados mortos.

    Garibaldi e sessenta e trs cavaleiros ainda continuam cercados. Ele decide

    romper o cerco a tiro, forma trs grupos. Enquanto um grupo corre at um ponto, os

    outros dois protege o recuo, assim consecutivamente, at estarem numa posio mais

    favorvel. Garibaldi estava completamente esgotado fisicamente e o seu psicolgico, em

    sua mente, povoava a mesma pergunta: Onde estava Anita? Estava morta? Presa ou se

    encontrava fora de perigo? No podia sair a sua procura, alm de ser muito arriscado,

    tinha a responsabilidade com a vida de seus soldados. Apesar de doer a alma e corroer o

    corao, teria de retornar a vila de Lages. Garibaldi e seus sessenta e trs soldados

    embrenham mata adentro, chegando ao destino quatro dias depois, o trajeto para ele foi

    um martrio... O martrio da duvida.

    Anita pede ao sargento Padilha para ver se Garibaldi no estava entre os

    mortos, mas ele recusa o pedido, informa-a que somente o coronel Albuquerque poderia

    autoriz-la. Ento pede que a leve ao coronel, o que aceita imediatamente. As perdas

  • REVOLUO FARROUPILHA

    LUIZ ALVES Pgina 24

    entre os legalistas no se tm uma conta precisa, sabe-se que foram mais de cem

    soldados mortos.

    A surpresa do coronel Melo Manso tambm enorme, ao ver a sua frente uma

    mulher destemida. Tenta interrog-la, humilha-a, dizendo que tinha um completo

    desprezo pelos rebeldes republicanos. Mas Anita permanece altiva, respondendo todas

    as perguntas friamente, no deixa se intimidar. O sargento Padilha vendo o sofrimento

    de Anita com a possvel perda do marido, pede ao coronel para deix-la confirmar, se

    acaso o seu corpo se encontrava entre os mortos no campo de batalha. O sargento se

    oferece em acompanh-la com um grupo de soldados, assim evitando a sua fuga. Aps

    certa insistncia, consegue convenc-lo.

    Sargento Padilha convoca seis soldados para acompanhar a prisioneira. E sob a

    luz de lampies, Anita passa longas horas revolvendo os cadveres espalhados pelos

    campos e capes de mato, sempre com o medo de encontr-lo entre eles. A cada um que

    revolvia, crescia a sua esperana em encontr-lo com vida.

    Anita tinha muita esperana de Garibaldi ainda estar vivo, na certa debandaram

    para a vila de Lages com o restante dos soldados sobreviventes. Em sua mente povoa

    somente o mesmo pensamento, esperar uma oportunidade e fugir daquele lugar, se

    encontrando com seu amado. O que no demorou muito a acontecer, devido a euforia

    pela vitria contra os Farrapos, desencadeia uma incontrolvel bebedeira entre eles, que

    dormitavam desorganizados pelo cho completamente bbados. Anita encontrava-se

    amarrada numa barraca de campanha, sendo vigiada por quatro soldados, esses na sua

    viso era o pior dos obstculos.

    Ela escuta algum conversando animadamente com os vigias, agua os

    sentidos, querendo saber o que e com quem falavam, reconhece a voz do sargento

    Padilha, estava tecendo comentrio sobre o combate com os Farrapos. Aos poucos

    diminui a conversa, at parar por completo, escutava somente os gritos ensandecidos de

    soldados bbados.

    Sargento Padilha entra na barraca, faz sinal para ela ficar quieta, corta a corda

    que prendem suas mos, pede em seguida para lhe acompanhar, cortando com sua faca a

    lona traseira da barraca, entrando no Capo de Mato. S ento o sargento a informa que

    logo adiante tinha um cavalo amarrado numa rvore, com uma arma e um faco, pede

    para mont-lo e desaparecer rapidamente daquele lugar. Alerta-a de que cavalgue a

    beira do rio Marombas, naquele lado era muito mais seguro, por no existir nenhum

    soldado de vigia.

    Anita fica surpresa com atitude do sargento Padilha, lhe pergunta por que ele

    estava ajudando a fugir.