revistaucs - maio e junho 2016

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revista UCS MAIO E JUNHO /2016 . ANO 4 . Nº 20 UCS UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL POR QUE TANTA INTOLERÂNCIA? BULLYING TRANSPÕE AMBIENTE ESCOLAR E SE ESPALHA PELA SOCIEDADE, REVELANDO O DESPREPARO PARA A CONVIVÊNCIA COM O DIFERENTE

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Publicação bimestral da Assessoria de Comunicação - área de Imprensa da Universidade de Caxias do Sul

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revistaUCSMaio e Junho /2016 . ano 4 . nº 20UCS UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

POR QUE TANTA INTOLERÂNCIA?BULLYING TRANSPÕE AMBIENTE ESCOLAR E SE ESPALHA PELA SOCIEDADE,

REVELANDO O DESPREPARO PARA A CONVIVÊNCIA COM O DIFERENTE

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Fundação Universidade de Caxias do SulPresidente do Conselho Diretor: Ambrósio Luiz Bonalume Universidade de Caxias do SulReitor: Evaldo Antonio KuiavaVice-Reitor: Odacir Deonisio GraciolliPró-Reitor Acadêmico: Marcelo RossatoPró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Nilda StecanelaPró-Reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico: Odacir Deonisio GraciolliChefe de Gabinete: Gelson Leonardo RechDiretor Administrativo e Financeiro: Cesar Augusto Bernardi

Produção: Assessoria de Comunicação UCS/Setor de Imprensa e Mídias Digitais Edição: Ariel Rossi Griffante Revisão: Cristina Beatriz Boff, Josmari Pavan e Vagner Espeiorin Supervisão: Dimas Augusto FelippiFoto de capa: Claudia VelhoTiragem: 5.000 exemplaresContato: 54.3218.2116; [email protected]; [email protected]; Versão digital: www.ucs.br/revista-ucs

facebook.com.br/ucsoficial twitter.com/ucs_oficial instagram.com/ucs_oficial pinterest.com/ucsoficial/ https://www.flickr.com/photos/_ucs

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MEDICINA SEM FRONTEIRAS:

TRABALHO SOBRE

GRIPE ‘A’ NO HG

APRESENTADO AO MUNDO.

PG 10

BULLYING: INTOLERÂNCIA CULTIVADA NA INFÂNCIA SE ESTENDE PARA TODA A CONVIVÊNCIA SOCIAL. PG 6

Fotos Claudia Velho

JUNTOS NA DIVERSIDADE:

INCENTIVO À PRESERVAÇÃO

LINGUÍSTICA E CULTURAL.

PG 5

UCS SÊNIOR: 25 ANOSPROMOVENDO QUALIDADE DE VIDA NA LONGEVIDADE. PG 15

FOCO NOS DESAFIOS: LIÇÕES DA

ADMINISTRAÇÃO LEVADAS AO ATLETISMO.

PG 12

Ariel R. Griffante

Anthony Tessari/acervo IMHC

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TOCHA PERCORRERÁ CINCO CIDADES

DA REGIÃOCaxias do Sul está na rota de

uma das mais simbólicas ações da integração mundial proposta pelos Jogos Olímpicos. No dia 8 de julho, a cidade será per-curso da tocha com a chama que, tradicionalmente, percorre a nação onde ocorre a Olimpí-ada até chegar à cidade-sede. No ponto alto da cerimônia de abertura, o acendimento da Pira Olímpica demarca o período de confraternização dos povos por meio do esporte.

Junto com Porto Alegre, Pe-lotas, Santa Maria e Passo Fun-do, Caxias integra o grupo das ‘cidades-celebração’ – aquelas em que a chama ficará pernoi-tada – no Rio Grande do Sul. Bento Gonçalves, Gramado, Canela e Nova Petrópolis são os outros municípios da região no trajeto da tocha. Em um total de seis dias, a chama passará por 20 cidades gaúchas.

ROTEIRO PELO BRASIL – A

chama foi acesa cerimonial-mente no dia 21 de abril, no local das competições da An-tiguidade na cidade grega de Olímpia, com a captação e con-

versão de raios do Sol por es-pelhos côncavos, como ocorre em todos os Jogos. Após pas-sagens pela Grécia e Suíça (nas sedes da ONU e do Comitê Olímpico Internacional - COI) a tocha chegou ao Brasil em 3 de maio, dando início, em Brasília (DF), ao transporte em território nacional.

Ao todo, 12 mil pessoas conduzirão a chama por cerca de 20 mil quilômetros terrestres e 10 mil milhas aéreas em todas as unidades da federação. O re-vezamento com os condutores percorrerá 327 cidades, e ou-tras 200 receberão a passagem de comboio motorizado com a chama exposta. Com isso, será alcançada em torno de 90% da população brasileira.

O revezamento vai durar 95 dias, encerrando em 5 de agos-to, no Rio de Janeiro (RJ), quan-do o último condutor procederá o acendimento da Pira Olímpica no Estádio do Maracanã.

A Olimpíada prosseguirá até 21 de agosto, reunindo mais de 10 mil atletas de 206 países. Em 17 dias, serão disputadas 306 provas com medalhas.

w Chegada no Monumento ao Imigrante

w Partida, em direção à Prefeitura, pela BR-116, Rua Os 18 do Forte, Rua Humberto de Campos, Avenida Júlio de Castilhos e Rua Alfredo Chaves

w Cerimônia na Prefeitura

w Prossegue pelas ruas Tronca e Feijó Júnior

até o Largo da Estação Férrea. Continua pela Augusto Pestana e contorna o Shopping San Pelegrino até acessar a Rua La Salle, ingressando na Avenida Itália. Parada na Igreja São Pelegrino

w Subida pela Sinimbu até a Praça Dante Alighieri

w Vai até a Casa de Pedra percorrendo as ruas Marques do Herval, Pinheiro Machado, Marechal Floriano, 20 de Setembro, Feijó Júnior e Matheo Gianella

w Sobe a Rua Ludovico Cavinatto em direção aos Pavilhões da Festa da Uva, lugar do pernoite, onde haverá uma festividade.

O TRAJETO EM CAXIAS

PERCURSO DA CHAMA OLÍMPICA INCLUI CAXIAS DO SUL, BENTO GONÇALVES, GRAMADO, CANELA E NOVA PETRÓPOLIS

Div

ulga

ção

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Uma fita adesiva com sensores colocada na colu-na cervical para monitorar os movimentos do paciente, com aplicação na área médica e na indústria. Com este projeto, de-nominado Cervical Wearable, o professor Alexandre Mesquita, do Centro de Ciências Exatas, da Natureza e de Tecnologia, e o estudante Augusto de Toni, de Engenharia Mecânica, ambos do Campus Universi-tário da Região dos Vinhedos (CARVI), integraram a equipe vencedora do Grand Prix Se-nai de Inovação, realizado em março, em Bento Gonçalves.

A competição propõe so-luções para problemas es-pecíficos da indústria criadas por equipes multidisciplinares. Ocorrido durante a feira inter-nacional de móveis Movelsul, o Grand Prix deste ano foi vol-tado para a geração de ideias inovadoras para o mercado moveleiro. Participaram três equipes compostas por estu-dantes e professores de dife-rentes instituições de ensino.

Cada uma teve 40 horas para trabalhar no desenvol-

vimento de seus projetos se-guindo a metodologia DIP - Desenvolvimento Integrado de Produto, resultado de uma par-ceria entre o Senai, o Consor-zio Politecnico Di Milano (Itália) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), com apoio do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT/EUA).

Para o professor Alexandre Mesquita, a experiência “esti-mulou a criatividade em espíri-to colaborativo para propor so-luções em importantes temas atuais”. Também fizeram parte da equipe vencedora Ricardo Dal Piva, Eduardo Luis Bianchi, Jean Cettolin, Juliano Tremea e Augusto Crespi.

A equipe que ficou com o segundo lugar contou com a participação de outro aca-dêmico do CARVI, Giordano Cechet Moro, de Engenharia Eletrônica, apresentando uma metodologia que determina a aptidão de um funcionário para atuar com maquinário em seu dia de trabalho.

REPRESENTANTES DA UCS VENCEM GRAND PRIX DE INOVAÇÃO

Divulgação

Fita com sensores colocada na coluna cervical: aplicações na área médica e na indústria.

EVENTOS ENFOCAM QUALIDADE DA AGRICULTURA SUSTENTÁVELQualidade alimentar e

sustentabilidade social e ambiental estarão em deba-te de 1º a 3 de agosto, na IV Reunião Sul-Brasileira so-bre Agricultura Sustentável e no VI Encontro Caxiense para o Desenvolvimento da Agricultura Orgânica e Sus-tentável.

Ambas as atividades, no UCS Teatro (Bloco M do Campus-sede), propõem a reflexão para uma pro-dução de alimentos ética, qualificada e sustentável, avaliando-se modelos alter-nativos de manejo do solo

e de controle de pragas e doenças, além de atitudes para o equilíbrio ambiental.

A promoção é do Nú-cleo de Inovação e Desen-volvimento em Agricultura Sustentável do Instituto de Biotecnologia da UCS, da Comissão da Produção Orgânica do Estado do Rio Grande do Sul (CPORg) e da Secretaria do Meio Ambiente de Caxias do Sul (SEMMA).

São instituições parcei-ras o Centro Ecológico Ser-ra, a Emater-Ascar, a Em-brapa Uva e Vinho, a Rede

Ecovida de Agroecologia, a Cooperativa de Agricultores Ecologistas de Ipê (Eco-nativa), a Associação de Agricultores Ecologistas de Caxias do Sul (EcoCaxias), a Cooperativa de Agricul-tores Ecologistas de Gari-baldi (Coopeg), a Fepagro Serra, o STR e a Secretaria da Agricultura de Caxias do Sul.

As inscrições devem ser feitas até 10 de julho pelo site www.ucs.br/site/eventos/agricultura-susten-tavel-2016. O investimento é de R$ 40.

Claudia Velho

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EXPRESSÃO ARTÍSTICA

PROGRAMA ESTADUAL GERIDO PELA UCS VISA À PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO LINGUÍSTICO ESTIMULANDO COMUNIDADES A AÇÕES EDUCATIVAS E CULTURAIS

EM RESPEITO À DIVERSIDADE

‘Toda representação de uma vida melhor e toda as-piração ao desenvolvimen-to se expressa na língua, com palavras precisas para lhes dar vida e trans-miti-las. Os idiomas são quem nós somos. Protegê-los significa nos proteger-mos’.

A análise da diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, fundamenta a im-portância do Programa de Incentivo à Preservação da Diversidade Linguística e Cultural, concebido pela Secretaria de Estado da Cultura e gerido pela Uni-versidade de Caxias do Sul (UCS), por meio do Institu-to Memória Histórica e Cul-tural (IMHC) e da Asses-soria de Desenvolvimento Regional (ADRE). A articu-lação institucional coube ao professor Isidoro Zorzi.

Denominada Juntos na Diversidade, a iniciativa visa promover a preser-vação de línguas de imi-gração, como o talian, o polonês e o alemão, e a

nativa kaingang, por meio de atividades culturais e educativas. O projeto-pi-loto direciona-se às regi-ões da Serra, Hortênsias e Campos de Cima da Serra, abrangendo 49 municípios nos quais os quatro idio-mas compõem o patrimô-nio cultural, caracterizando uma diversidade linguística única.

Para o diretor do IMHC, Anthony Beux Tessari, o programa trata de ampliar a compreensão sobre a transformação da cultura dos imigrantes no Brasil, observando como a língua ou dialetos foram impor-tantes para a sua identida-de e para as trocas com outras culturas. “Através dos idiomas, das línguas ou dos dialetos, uma va-riedade muito grande de costumes, expressões, sa-beres e tradições popula-res são transferidos. Nesse sentido, sua preservação é fundamental para assegu-rarmos nossa identidade cultural”, considera.

O Juntos na Diversidade pretende esti-mular escolas, entidades e comunidades, principalmente formadas por crianças e jovens, a desenvolver ações artísticas em música, canto coral, teatro, vídeos e ou-tros, trabalhando a preservação da me-

mória comunitária. Ao final do projeto, pre-visto para novembro, será distribuída uma premiação total de R$ 50 mil, patrocinada pelo Banrisul, aos trabalhos que se desta-carem.

“Apostamos na formação de uma

consciência preservacionista, com rela-ção ao patrimônio cultural, e de respeito à diversidade cultural”, diz Tessari. “Entre os jovens e as crianças, conhecer essa di-versidade certamente ampliará o respeito a culturas diferentes”, complementa.

Fotos Aldo Toniazzo/acervo IMHC

Anthony Tessari/acervo IMHC

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NAS ESCOLAS, A FALTA DE HABILIDADE PARA LIDAR COM DIFERENÇAS PODE SE TRANSFORMAR EM MOTIVAÇÃO PARA UMA VIOLÊNCIA INTENCIONAL E REPETIDA. NA SOCIEDADE, DA CONVIVÊNCIA ÀS REDES SOCIAIS, O PASSO É MUITO CURTO PARA A HOSTILIZAÇÃO DO OUTRO. AFINAL, POR QUE NOS TORNAMOS TÃO INTOLERANTES?

NÃO É BRINCADEIRABULLYING

VAGNER ESPEIORIN – [email protected]

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OS PRINCÍPIOS QUE MOTIVAM O BULLYING ESTÃO NO COTIDIANO SOCIAL. ELE É UMA MANIFESTAÇÃO INDIVIDUAL DE UM FENÔMENO COLETIVO

RAFAEL DOS SANTOS, antropólogo e professor

“Em outubro de 2007, um norte-ameri-

cano de 13 anos cometeu suicídio após sofrer, sistematicamente, agressões na escola que frequentava em Essex Junc-tion, no estado de Vermont. Em 2013, na saída da aula, uma aluna de 12 anos foi agredida por cinco meninas enquan-to era chamada de “gorda”. A cena, que aconteceu em Piracicaba, no interior paulista, ficou marcada na memória da adolescente, mas foi também armazena-da em vídeo pelas próprias agressoras.

Apesar das diferenças de tempo e espaço, ambos casos se enquadram no conceito de bullying. De origem inglesa, o termo deriva de ‘bully’, que tem em ‘va-lentão’ uma tradução próxima e designa uma prática perversa que encontra espa-ço no ambiente escolar, mas não exclusi-vamente nele.

“O bullying tem a característica de ser consciente, sistemático e repetitivo”, explica a professora do curso de Psico-logia da UCS Raquel Furtado Conte. A agressão pode se dar de forma física ou psicológica e não apresenta motivação aparente, mas gera impactos marcantes sobre o agredido – e até mesmo para o agressor.

Como toda forma de violência, ana-lisa a especialista, ele se projeta como

uma relação de poder. A diferença se es-tabelece nos personagens que a repro-duzem. Eles não estão em hierarquias distintas. “Em geral, o bullying acontece entre pares de colegas”, afirma Raquel.

O agressor projeta seu poder contra alguém e, não raro, lidera um determina-do grupo em torno da ação. Se a lógica de poder não se estabelece pelos papéis de cada indivíduo, ela se dá no âmbito da personalidade dos envolvidos. E aí está o desequilíbrio de forças.

“O autor costuma apresentar traços como expansividade, arrogância, prepo-tência, onipotência, agressividade. As ví-timas, geralmente, são mais submissas, têm autoestima mais baixa e uma autoi-magem negativa. Submetem-se muitas vezes esperando aprovação do grupo”, avalia a professora.

Repetição e intencionalidade são as-pectos indissociáveis do bullying, mas não únicos. Estudos acadêmicos apon-tam que a baixa autoestima da vítima contribui para uma compactuação ve-lada com o agressor, revelando-se uma concordância entre a autoimagem de quem sofre a violência e o pensamento de quem a pratica. Essa relação invia-biliza uma reação da vítima. Nesse jogo cruel, porém, há mais personagens. Foto/Claudia Velho

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O PAPEL DO ESPECTADOR

Viralizou pela Internet, em 2011, um vídeo em que um garoto australiano era hostilizado por colegas na escola. Com 16 anos, Casey Heynes não esboçava, inicialmente, reação diante de um ra-paz que o provocava com ameaças e socos. Contrariando as expectativas, porém, o jovem revidou agredindo o au-tor das provocações diante de outros estudantes no pátio da escola.

As imagens espalharam-se pelo mundo, foram tema de debates televisi-vos e fomentaram a discussão sobre o bullying. Chama a atenção, porém, que o grupo de espectadores visualizava a cena sem apartar o conflito, e muitas vezes estimulando a ação agressiva – à qual tem o público como parte essen-cial, já que ele alimenta a ‘valentia’ do autor.

“Com o passar dos anos, temos per-dido as referências e a ordem social. O ser humano se sente mais compelido a agir segundo seus próprios impulsos e estamos esquecendo a noção e a fron-teira do certo e do errado; daquilo que é possível ou não. O sujeito tem fracassa-do em sua tarefa de adiar suas neces-sidades e emoções, de aprimorar suas táticas para lidar com elas”, considera a psicóloga.

Nesse estado irracional, a multidão projeta um discurso violento em que a discriminação e o ataque ao diferente se tornam parte de um cotidiano social conflituoso. “O bullying está focado no indivíduo justamente porque os princí-pios que o motivam estão no cotidiano social. Ele é uma manifestação indivi-dual de um fenômeno coletivo”, diz o

antropólogo e professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da UCS, Rafael José dos Santos.

No ambiente escolar, no seio da sociedade ou em espaços digitais – o cyberbulliyng é um exemplo de violên-cia sistemática na Internet – as prá-ticas de agressão se retroalimentam numa realidade cada vez mais caótica.

Para Rafael, as redes sociais poten-cializam as formas de violência não por serem redes tecnológicas, mas por se-rem, antes de mais nada, sociais. Em sua amplitude e alcance, dão maior visibilidade às manifestações de vio-lência. Apesar disso, elas também se constituem em espaços de combate às discriminações. Num jogo de conflitos gerais e consensos parciais que não permite enxergar com clareza as an-gústias e as necessidades do outro.

A VIOLÊNCIA QUE SE PROLIFERA

“Hoje, sem dúvida, enfrentamos a violência de todas as ordens na socie-dade. Não só com o bullying, como um fenômeno da decadência da ordem e aumento do caos social. Estamos numa cultura da impunidade, numa cultura da violência, em que o sujeito não tole-ra as diferenças, a frustração”, analisa Raquel Conte.

A proliferação de pesquisas em rela-ção ao bullying tem ajudado a demons-trar o potencial de agressividade de um ser sobre o outro. Se na infância, as agressões repetidas e intencionais se dão no âmbito físico, na medida em que se avança em idade se modificam as formas de poder. Exemplo disso são as estratégias de exclusão dos adolescen-

ESTAMOS NUMA CULTURA DA IMPUNIDADE, DA VIOLÊNCIA, EM QUE O SUJEITO NÃO TOLERA AS DIFERENÇAS, A FRUSTRAÇÃO

RAQUEL CONTE,professora de Psicologia

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O PRECONCEITO É SUBJETIVO, AO SE MATERIALIZAR EM AÇÃO, TEMOS A DISCRIMINAÇÃO. O DIFERENTE NOS DESACOMODA

RAFAEL DOS SANTOS,antropólogo e professor

tes, capazes de planejar consequências mais subjetivas.

Do concreto ao abstrato, a violência identificada no bullying pode ser perce-bida em toda a sociedade, nas hostiliza-ções às minorias ou a comportamentos que fogem da lógica padrão. Do precon-ceito à discriminação, a linha é muito tênue.

“O preconceito é algo subjetivo, mas a partir do momento em que ele se ma-terializa em ação, temos a discrimina-ção. Esse processo está relacionado à incapacidade social de conviver com as diferenças, com o desconhecido, que pode dizer respeito a gênero, cor de pele, religiosidade, posição política, estilo de vida, enfim, tudo que escapa ao quadro de referências que uma pes-soa tem e que lhe dá uma sensação de conforto. O diferente nos desacomoda”, define o professor Rafael dos Santos.

É o que se percebe, por exemplo, na tensão oriunda do contexto político brasileiro. Da dimensão social os con-flitos passaram a permear as relações pessoais, gerando estigmas em torno de preferências ideológicas. Apelidos pejorativos para definir posicionamen-tos e pessoas se tornaram comuns e fomentam uma inter-relação preconcei-tuosa. Nas redes sociais, fóruns de co-mentários se transformam em ringues de discussão. Memes e notícias – for-jadas, inclusive – camuflam intencio-nalidades violentas. Enquanto muitos entram no conflito, parcela significati-va observa essa dinâmica caótica, mas com pouco a fazer para diminuir o atrito da rivalidade.

“As posições antagônicas resultam de polarizações que, no limite, são os

extremos dos posicionamentos políti-co-ideológicos das diferentes classes e frações de classes sociais. Entre os polos antagônicos há gradações, mas elas têm pouca visibilidade no cenário de embates”, alerta Rafael.

CRIMINALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO

Fugir da lógica de espectador da violência para a de protagonista da di-versidade, porém, exige uma mudança de mentalidade. O antropólogo elenca, ainda, esforços nos campos jurídico e educacional como possibilidades para um caminho de maior tolerância às di-ferenças.

Na ordem jurídica, aponta Rafael, deve-se trabalhar na perspectiva da criminalização das ações de discrimi-nação e, claro, de violência. O caráter educacional consiste em promover a discussão e o trabalho efetivos sobre questões de discriminação e intolerân-cia nas salas de aula.

Medidas para amenizar as formas de violência são indispensáveis para o convívio social e a saúde individual. No caso do bullying, a vítima pode ter uma baixa de rendimento no trabalho ou na escola, desmotivar-se a ir ao lo-cal onde sofre a violência e tender a se tornar agressor. O autor não passa imune, podendo se tornar mais agressi-vo e cometer atos mais delituosos. “Ele tem dificuldades em lidar com relacio-namentos, tem problemas com poder e em relação ao respeito ao outro”, ob-serva Raquel, deixando o entendimento de que violência só gera mais violência, independente da forma como se mani-festa.

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AÇÕES NO TRATO DA GRIPE ‘A’ NO HOSPITAL GERAL LEVARAM PROFESSORA DA UCS A DISSEMINAR MUNDIALMENTE CONHECIMENTO SOBRE CONTROLE DE EPIDEMIAS

MÉDICA SEM FRONTEIRAS

CRISTINA BEATRIZ BOFF – [email protected]

Em 2009 e 2010, o mundo viveu uma pandemia de Gripe A, uma variação da gripe comum provocada pelo vírus In-fluenza conhecida também como gripe H1N1, gripe Influenza ou, popularmente, como gripe suína. Os primeiros casos entre humanos foram registrados nos Estados Unidos, em 2009, ano em que foram infectadas 1,5 milhão de pessoas em todo o mundo. No Brasil, houve 58 mil casos confirmados e mais de 2 mil mortes no período de dois anos. Nascia ali a necessidade de se fazer algo, e rá-pido, para conter a expansão da doença.

Na região, o Hospital Geral (HG) de Caxias do Sul, que atende a 49 municí-pios abrangidos pela 5ª Coordenadoria Regional da Saúde do Estado, intensifi-cou o treinamento de 100% de seus fun-cionários e dos acadêmicos dos cursos da área da Saúde da Universidade de Caxias do Sul que atuam no estabele-cimento, para dar assistência à comuni-dade. Também foi utilizada uma unidade móvel para efetuar a triagem de pacien-tes, desafogando o Setor de Emergên-cia, onde apenas casos clínicos graves continuaram sendo atendidos.

REFERÊNCIA NACIONAL – Estas foram algumas das ações orientadas pela in-fectologista e professora de Doenças Infecciosas e Parasitárias da UCS, co-ordenadora do Controle de Infecção do HG, Lessandra Michelin, que tornaram o hospital um dos primeiros do Brasil a ser referência no atendimento à Gripe A. A partir dessa experiência, Lessandra foi chamada para auxiliar no controle da pandemia no Rio Grande do Sul e a atu-ar no Ministério da Saúde, segundo ela, pela forma de planejamento estratégico e didático no treinamento das pessoas.

“O Hospital Geral foi um case de su-cesso apresentado na Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e na Sociedade Euro-peia de Infectologia, em Viena, Áustria”, relata a especialista, que tem participa-do frequentemente de congressos inter-nacionais. “Fui convidada a fazer parte da Sociedade Europeia de Infectologia Pediátrica, para integrar o grupo de es-tudos de antimicrobianos e vacinas. Em 2012, ganhei uma bolsa para fazer o cur-so de Vacinologia, oferecido pela Univer-sidade de Genebra, na Suíça”, conta.

Com pós-graduação em Auditoria em Saúde pela Universidade Gama Filho, do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em Biotecnologia/Microbiologia pela UCS, a infectologista Lessandra Michelin alerta sobre o crescente número de epidemias e surtos em todo o mundo nos últimos anos. “O desmatamento, a agressão ao meio ambiente e as mudanças de ecossistemas têm auxiliado na propagação de microorganismos pouco vistos anteriormente, como

ocorreu com o vírus Ebola. Além disso, a globalização tem feito com que as doenças infectocontagiosas se disseminem rapidamente, e, com a baixa adesão a campanhas de vacinação, doenças controladas como a pólio e o sarampo estão ressurgindo”, aponta. A especialista cita ainda que o uso indiscriminado de antibióticos para o controle de doenças humanas e animais, ou de pragas em plantas, tem auxiliado na seleção de superbactérias. “Teremos poucos

AGRESSÃO AMBIENTAL AUMENTA RISCO DE EPIDEMIAS

Coordenadora do Controle de Infecção do HG, Lessandra Michelin orienta acadêmicas da área da Saúde: experiência local tornou-se case em eventos de Medicina nos EUA e Europa.

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AÇÕES NO TRATO DA GRIPE ‘A’ NO HOSPITAL GERAL LEVARAM PROFESSORA DA UCS A DISSEMINAR MUNDIALMENTE CONHECIMENTO SOBRE CONTROLE DE EPIDEMIAS

MÉDICA SEM FRONTEIRAS

Lessandra passou a in-tegrar o Grupo de Estudos em Vacinologia da Socieda-de Europeia de Infectologia e tem dado aulas em várias universidades da Europa e em congressos de Infectolo-gia e Vacinologia. “É gratifi-cante poder levar o nome da UCS em apresentações em Londres, Madrid, Barcelona, Atenas, Milão, Roma, Ber-lim, Lübeck, Leipzig, Sitges, Genebra e Copenhague”, ressalta. Desde 2014 a pro-fessora também auxilia a Or-ganização Mundial de Saúde em estratégias para controle de antimicrobianos e controle de infecção, incluindo o uso em agricultura e pecuária.

No ano passado, ela presidiu o XIX Congresso Brasileiro de Infectologia, em Gramado, e os convites in-ternacionais só aumentaram. “Em novembro fui apresentar a experiência de tratamento

de endocardite fúngica na Duke University, na Carolina do Norte, nos Estados Uni-dos e, em abril deste ano, a experiência com vacinas con-tra meningite em Amsterdã, na Holanda, sendo convida-da para escrever, junto com outros experts, o Guideline Europeu de Vacinas em Ges-tantes”, conta.

Atualmente, Lessandra preside a Sociedade Rio-grandense de Infectologia e é membro de diversos comitês na área da infectologia.

A experiência faz a porto-alegrense de 42 anos – há 15 residindo em Caxias do Sul – acreditar que o mundo não irá enfrentar algo semelhante à epidemia de 2009. “Hoje temos vacinas para bloqueio de transmissão em massa, recursos para diagnósticos e tratamentos à disposição. Podemos encarar a Influenza com outra atitude”, enfatiza.

ocorreu com o vírus Ebola. Além disso, a globalização tem feito com que as doenças infectocontagiosas se disseminem rapidamente, e, com a baixa adesão a campanhas de vacinação, doenças controladas como a pólio e o sarampo estão ressurgindo”, aponta. A especialista cita ainda que o uso indiscriminado de antibióticos para o controle de doenças humanas e animais, ou de pragas em plantas, tem auxiliado na seleção de superbactérias. “Teremos poucos

recursos terapêuticos para tratar futuras infecções se a sociedade não mudar sua atitude”, ressalta. Há, contudo, como prevenir essas epidemias e surtos com ações simples, conforme aconselha a infectologista: “verificar se estamos com as vacinas em dia, evitar a automedicação e higienizar as mãos com frequência, evitando adquirir e disseminar doenças na comunidade”. Palavra de doutora!

AGRESSÃO AMBIENTAL AUMENTA RISCO DE EPIDEMIAS

ATUAÇÃO INTERNACIONAL

Coordenadora do Controle de Infecção do HG, Lessandra Michelin orienta acadêmicas da área da Saúde: experiência local tornou-se case em eventos de Medicina nos EUA e Europa.

Claudia Velho

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDEDirecionado a graduados em Ciências da Saúde,

Ciências Biológicas, Ciências Econômicas e Ciências Exatas, está em funcionamento, desde o início de 2016, o Mestrado Acadêmico em Ciências da Saúde da UCS.

Na área das Ciências Biomédicas o programa é volta-do ao estudo da fisiopatologia e patogenia das doenças e à investigação da exposição e da resposta molecular e celular às substâncias ativas, agressões, estímulos e bio-materiais, tendo como linhas de pesquisa Farmacologia e Biomarcadores e Engenharia e Terapia Celular.

Na área das Ciências Clínicas – centrada no ensino das bases conceituais dos diferentes tipos de estudos clí-nicos e epidemiológicos para testar, desenvolver ou aper-feiçoar métodos diagnósticos, procedimentos, instrumen-tos de medida, educação, informação e sistemas tutoriais inteligentes em saúde – as linhas são Investigação Clínica e Epidemiológica e Saúde Materno-Infantil.

Mais informações podem ser obtidas no site www.ucs.br/site/pos-graduacao/formacao-stricto-sensu/ciencias-da-saude ou por meio do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (54.3218.2122).

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MARCELO DE JESUS DOS SANTOS, 20 ANOS, LEVA PARA O ATLETISMO OS APRENDIZADOS DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO, E DO ESPORTE RETIRA LIÇÕES APLICÁVEIS AO MUNDO CORPORATIVO

FOCO NOS DESAFIOS

ARIEL ROSSI GRIFFANTE - [email protected]

A semana de Marcelo de Jesus dos Santos, 20 anos, acadêmico do curso de Administração da Universidade de Caxias do Sul, é similar à de inúmeros universitários, exigindo a concilia-ção dos estudos com o trabalho – no caso dele, manhãs e tardes são dedicadas à atividade pro-fissional na RGE, e as noites às salas de aula. No entanto, entre estes compromissos, o jovem acrescentou uma intensa rotina de dez horas de treino de atletismo visando a competições, para as quais são reservados os domingos.

A fórmula para dar conta disso tudo acabou por se revelar um incremento para os três cená-rios - trabalho, estudos e esporte -, tornando as pistas espaços de prática do conhecimento ad-quirido na formação superior, e delas retirando lições que ampliam a compreensão do mundo corporativo.

Marcelo relaciona os temas da Administra-ção e o cotidiano do atletismo procurando me-lhoria de performance. Os resultados têm sido uma compreensão mais abrangente das teorias acadêmicas e um desempenho expressivo nas corridas – até o momento, são 68 pódios em 80 provas na carreira.

A importância da motivação, trabalho em equipe, planejamento estratégico, superação, liderança e autoconfiança, abordadas nas dis-ciplinas de Gestão de Pessoas, Comportamen-to Organizacional e Gestão Estratégica, são exemplos concretos. “Os treinos mais longos, de 20km, duram uma hora e meia. Passei a usar esse tempo para pensar em coisas que tinham me chamado a atenção em aula, e ver como eles se relacionavam tanto com a realidade de uma empresa como com o atletismo”, relata.

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MOTIVAÇÃO E TRABALHO EM EQUIPE

Um dos insights mais significativos deu-se com a motivação, essencial para um atleta como para qualquer profissional. “Corrida e trabalho estão no mesmo patamar. Nos dois casos, sem motivação, o desempenho não será bom, nem o resultado”, aponta. A mesma analogia acontece com o traba-lho em equipe. “No treino em grupo, por mais difícil que seja, se consegue melhores resultados do que quando sozinho. As pessoas que correm sabem que todos ali têm um mesmo objetivo e estão pro-curando se superar, por isso se ajudam”, conta.

Essa comparação foi intensificada nas aulas que enfocam a importância da combinação entre diferentes perfis em uma equipe dentro de uma empresa, reforçando o ensinamento de que mode-lo de gestão, liderança e relações de grupo tam-bém fundamentam a motivação de cada integran-te. “No atletismo ou numa empresa uma equipe focada e unida pode produzir um resultado exce-lente. Se for mediana, o resultado também será”, sintetiza Marcelo.

ESTRATÉGIA E MARKETING Aprendizados sobre estrutura e processos em-

presariais, perspectivas de mercado e aplicação de recursos - obtidos nas aulas de Gestão Estra-tégica - também auxiliaram Marcelo como atleta, uma vez que o universo das corridas exige plane-jamento e estratégias minuciosas. “Tudo depende de definir metas e traçar um plano para chegar lá”, pontua.

Para este ano, por exemplo, o jovem recebeu do treinador o desafio de baixar em 55 segundos o tempo de prova de 3 km até dezembro. Com isso, ambos estabeleceram um conjunto de ações em treinamento, suplementação e motivação para ba-lizar a busca do objetivo.

Até mesmo as aulas de Marketing são transfe-ridas para as pistas. Cuidar da imagem pessoal e saber como se apresentar ao mercado são defini-dos por Marcelo como métodos para usar o de-sempenho nas corridas a seu favor.

A identificação com a área direcionou também os próximos passos da formação profissional. Uma vez graduado, Marcelo almeja um período de intercâmbio na Espanha e, no retorno, especializar-se para atuar com Marketing Esportivo. “Amo cor-rer, mas sempre pensando também em estudar”, sinaliza.

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Nascido em Palmas, no Sul paranaense, Marcelo veio para Caxias há 11 anos, quando o pai conseguiu um emprego na cidade. Mora com a família – os pais e dois irmãos menores. Há qua-tro anos trabalha na RGE, onde iniciou como aprendiz e passou a assistente admi-nistrativo, mesmo período de tempo em que estuda Admi-nistração na UCS, onde se forma em um ano.

O interesse pelas cor-ridas surgiu cedo. Aos 12 anos, começou a participar de competições escolares. “Ao ver que conseguia che-gar ao pódio competindo contra atletas da UCS, que sempre foi uma referência no atletismo, percebi que podia investir nisso”, recorda. Mo-tivado pela possibilidade de superar metas e desafios, há dois anos investiu pessoal-mente na contratação de um treinador – Daniel da Silva, que por cinco anos compe-tiu representando a UCS – e de uma nutricionista. Com os bons resultados obtidos, conquistou patrocínios um ano depois.

A rotina de treinos é in-tensa, ocupando seis dias

por semana. Começa com uma rodagem leve, às se-gundas. Terças e quintas são dedicadas aos treinos de ‘tiro’ (arrancadas e cor-ridas de explosão, na pis-ta do Estádio Municipal). Quartas e sextas são dias de circuitos de rua e em áreas verdes da cidade. O domingo, quando não é data de competição, serve para a prática do ‘longão’ de até 20km. Marcelo tam-bém faz reforço muscular em academia quatro ve-zes por semana. Folgas, apenas aos sábados. Inde-pendente de calor, chuva ou frio, o ritmo é mantido. Ao todo, são dez horas de treino e 70 km de corrida no período.

As competições ocor-rem de fevereiro a dezem-bro, em duas provas por mês. A conquista do vice-campeonato do Circuito Sesc de Corridas na dis-tância de 3 km em 2015 indicou a possibilidade de avançar, em 2016, para as corridas de 5 e 10 km. Para o futuro, a meta é a profis-sionalização, qualificando--se para provas internacio-nais.

70 KM POR SEMANA

‘TUDO É APRENDIZADO’Marcelo atribui à combinação família/trabalho/

curso superior/esporte a consolidação de valores que lhe conferem uma postura assertiva perante desafios, e que sustentam dois aprendizados que considera fundamentais: “Primeiro, ter o objetivo, ir em busca, arriscar. Segundo, nunca perder a motivação”.

Contudo, como isso em si não garante as con-quistas pretendidas, é necessário também saber lidar com as frustrações. “A corrida me ajudou a entender que às vezes se ganha, às vezes se per-de, e que as coisas não são como a gente espera. Ao perder, procuro refletir sobre o desempenho e tirar o aprendizado, sabendo que sempre é possí-

vel melhorar”, descreve. As compreensões adquiridas no contexto es-

portivo se estendem para uma aplicação univer-sal. “Às vezes, a pessoa pensa que as coisas têm que dar certo da maneira que ela quer, mas há diversas maneiras de algo acontecer. Pode não ser o momento daquilo. Nessas horas, é impor-tante aceitar opiniões, não ficar retraído na própria forma de pensar”, avalia.

Com a experiência de atleta, o jovem assegura que, mesmo na derrota, não há perdas: “Tudo que acontece de ruim, de algum modo, é aprendizado para melhorar. Pode-se tirar lições de tudo o que se faz”.

Fotos Ariel R. Griffante

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É PRECISO SABER ENVELHECERCOM 25 ANOS DE ATUAÇÃO FOCADA NO BEM-ESTAR NA LONGEVIDADE, PROGRAMA UCS SÊNIOR CONTRIBUI COM O PREPARO SOCIAL PARA O AUMENTO DA POPULAÇÃO IDOSA

“Veja se saio bonita”, avi-sou, risonha, à fotógrafa da revistaUCS no momento da produção de imagens para a entrevista. A beleza de dona Gemma Mazzuco é impressa nos traços que denotam sua experiência de vida. Em julho, mesmo mês em que o progra-ma UCS Sênior – Educação e Longevidade, completa bo-das da prata, ela chegará aos 85 anos.

Dona Gemma é uma ve-terana na iniciativa – é aluna desde que ficou viúva, há 23 anos. O UCS Sênior trouxe à aposentada a possibilidade de fazer algo que ama: cantar. Ela sempre cantou, desde pe-quenina nas missas do colé-gio de freiras que frequentava.

“Soube por uma amiga da existência de um coral. A exi-gência para os interessados, além do interesse em música, era que tivessem mais de 60 anos”, explica. Em mais de duas décadas, a atuação no coral possibilitou que Dona Gemma viajasse bastante pela região, com apresenta-ções em eventos de diversas cidades. “Houve uma época em que não parava em casa. Cantávamos onde nos cha-massem”, recorda.

Ela utiliza o transporte pú-blico para se deslocar até a UCS. Até hoje, mantém parti-cipação assídua nos ensaios, sempre às segundas-feiras. Há mais de 20 anos também é presença certa nas aulas de hidroginástica da Vila Polies-portiva, duas vezes por sema-na. Vitalidade e independên-cia que impressionam, mas que nem por isso refletem em desatenção da família. “Tenho quatro filhos e sete netos e eles estão sempre por perto, me visitando e cuidando de mim”, relata.

JOSMARI PAVAN [email protected]

Claudia Velho

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O perfil de Dona Gemma sintoniza com a realidade contemporânea. De fato, em outros tempos, o avanço da idade era tido, predominan-temente, como fator de limi-tação da existência. Hoje, as mudanças dos perfis demo-gráficos brasileiro e mundial mostram que é urgente rever o papel do idoso no meio social.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a população com mais de 60 anos vai chegar a 2 bilhões até 2050 em todo o mundo – e, por isso, alerta: envelhe-cer bem deve ser prioridade

global. No Brasil, essa par-cela chegará a 58,4 milhões (26,7% do total) de pessoas até 2060. Neste período, a expectativa média de vida do brasileiro deve aumentar dos atuais 75 para 81 anos (da-dos do Censo 2013).

CUIDADO HUMANO Ainda no início da déca-

da de 1990, percebendo a ascensão dessa nova reali-dade social, a UCS começou a instituir ações de estímulo ao envelhecimento ativo, ampliando sua vocação de desenvolver a cultura do cui-dado humano.

A realização de pesqui-sas científicas na área e ar-ticulações com a sociedade civil foram fatores de influ-ência. Inicialmente, surgiu a ARATI, Associação Regional de Apoio à Terceira Idade. Posteriormente, o programa estruturou-se como a Uni-versidade da Terceira Idade (UNTI), passando a chamar-se, em 2014, UCS Sênior – Educação e Longevidade.

Em julho, a iniciativa completa 25 anos de exis-tência, sendo disponibiliza-da, atualmente, nos campi de Caxias do Sul, Canela e Vacaria.

5,5 MIL ALUNOS EM 25 ANOS

w O UCS Sênior tem, aproximadamente, 1.460 pessoas matriculadas no Campus-sede, em Caxias do Sul; 50 no Campus Universitário da Região das Hortênsias, em Canela; e outros 20 no Campus Universitário de Vacaria.

w Em 25 anos de atividades somam-se cerca de 5,5 mil alunos matriculados. Somente no período de 2000 a 2016, passaram pelo programa 4.427 alunos.

w O UCS Sênior é ofertado nos campi da UCS em Caxias do Sul, Canela e Vacaria

w A etapa de rematrículas ocorre entre 4 a 8 de julho

w Matrículas novas serão feitas de 11 a 15 de julho

w Horário: das 8h às 18h

w Local: Central de Atendimento - Galeria Universitária

PRIORIDADE GLOBAL

COMO PARTICIPAR

Informaçõesw Coordenador Delcio Antonio Agliardi – [email protected] Deise Tisott – dtisot2 @ucs.brw Karina de Almeida Kalnin – [email protected]

Dona Gemma Mazzuco no coral do programa: possibilidade de fazer o que ama deste a infância.

Telefones: 54.3218-2355 /

3218.2271

Site: www.ucs.br/site/

extensao/programa-ucs-senior

Claudia Velho

UM EM CADA QUATRO BRASILEIROS

FORMARÁ GRUPO DE 58,4 MILHÕESDE IDOSOS QUE O

PAÍS TERÁ EM 2060

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RESSIGNIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO HUMANA

Interessados em capacitar-se para atuar com o público da terceira idade têm a possibilidade, na Universidade de Caxias do Sul, de cursar a especia-lização em Envelhecimento e Saúde do Idoso, ofertado no Campus-sede.

O curso, de 375 horas, tem como objetivo desenvolver habilidades e competências em consonância com a política de envelhecimento ativo pro-posta pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O público-alvo são profissionais graduados em Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Farmácia, Odon-tologia, Psicologia, Serviço Social, Fi-losofia, Ciências Sociais, Arquitetura, Turismo, Educação Física, Direito, Pe-dagogia e áreas afins.

Mais informações podem ser ob-tidas com a Coordenadoria de Pós-Graduação Lato Sensu ou na Central de Atendimento da Galeria Universitá-ria (e-mail: [email protected]; telefones: 54.3218.2145 e 54.3218.2001).

O Programa UCS Sênior adota a concepção da Peda-gogia Social, com ênfase na socialização e aprendizagem social do indivíduo. Para isso, propõe atividades nas seguin-tes áreas: Estudos e Pesqui-sas; Formação de Recursos Humanos; Saúde, Movimento e Lazer; Atualização e Aquisi-ção de Novos Conhecimen-tos; Arte e Cultura; Eventos; Serviços e Assessorias. O requisito para ingressar é ter mais de 50 anos. Não há limite de tempo para permanência.

O professor Delcio Agliar-di, coordenador do UCS Sênior, acredita que o maior mérito da iniciativa trata-se da hospitalidade e do acolhimen-to, na medida em que o en-

velhecimento é encarado na perspectiva da humanização e da construção de histórias de vida singulares.

APRENDER A CONVIVER“Quando a sociedade

compreende a importância de cuidar das crianças e dos velhos, ela se revela em evo-lução nos diferentes aspectos da vida contemporânea. Os pioneiros do programa sou-beram cuidar deste aspecto desde a gênese das primeiras ações voltadas ao envelhecer humano”, considera.

Ainda segundo o coorde-nador, o UCS Sênior construiu um grande legado no âmbito do ‘aprender a conviver’, um dos pilares da educação para

o século XXI. “A partir do estí-mulo à convivência saudável, das relações entre alunos e do conhecimento, foi possível de-senvolver formação continua-da e ao longo da vida para um expressivo número de pesso-as”, destaca.

O perfil das pessoas que buscam o programa é hetero-gêneo – os participantes são homens e mulheres entre 50 e 95 anos de idade, de dife-rentes níveis de escolaridade e variadas condições econô-micas e socioculturais. “Os alunos possuem em comum o desejo de adquirir novos conhecimentos, estabelecer novos projetos e, sobretudo, ressignificar a formação hu-mana”, define Agliardi.

ESPECIALIZAÇÃO EM ENVELHECIMENTO E

SAÚDE DO IDOSO

CUIDAR DAS CRIANÇAS E

VELHOS REVELA EVOLUÇÃO EM

DIFERENTES ASPECTOS

DA VIDA CONTEMPORÂNEA

DELCIO AGLIARDI, Coordenador do

UCS Sênior

DOCUMENTÁRIO NA UCS TVUma das ações em comemoração

aos 25 anos do UCS Sênior foi o lan-çamento, em junho, do documentário EnvelheSer, produzido pela UCS TV e exibido nacionalmente pelo Canal Futu-ra. O trabalho aborda as etapas que en-volvem o processo do envelhecimento humano e propõe questionamentos sobre a preparação para esse mo-

mento da vida. Idosos e especialistas na área falam sobre suas experiências, dificuldades, ganhos e perdas e sobre a constatação de que a sociedade bra-sileira que não pensa em seu próprio envelhecer. Os assuntos se desdobram em dez episódios de 13 minutos cada. O documentário estará disponível no site da UCS TV (www.ucstv.com.br).

Reprodução

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Só queria que o inverno / Não fosse tão sozinhoE queria que todas as folhas / Logo fossem flores

Colorissem cada passo / E enfeitassem o caminho

Claudia Velho

Pedro Guerra, escritor

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Ao analisarmos a evolução da ciên-cia e da tecnologia, ficamos maravilha-dos com tantas inovações e descober-tas. No entanto, quando analisamos o homem, na sua inteireza, e olhamos para a sua alma, percebemos que ele não acompanhou o ritmo do desenvol-vimento tecnológico.

Especificamente, a tecnologia de informação e de comunicação evo-luiu de maneira rápida e substancial, caminhando contrariamente às velhas formas de se informar, que se carate-rizavam pelo seu caráter restrito e pela sua baixa velocidade de propagação.

Neste cenário que, a cada dia se apresenta mais distante, sem dúvidas, tudo era mais estável, previsível e de fácil controle. Com a gradual acelera-ção da tecnologia da comunicação, mais pessoas passaram a acessar informações, numa velocidade imen-sa, sentindo-se, a partir de então, par-ticipantes das decisões de diferentes esferas. Porém, como produto de uma “Era da informação”, conquistamos um mundo mais instável, rápido e im-previsível.

Sob intensas mudanças tecnológi-cas, hoje, relacionamo-nos em rede e vivemos uma transformação profunda que, além de contemplar novas formas de conhecimento, faz surgir sentimen-tos de intolerância, já que os ambien-tes de trabalho e fora dele estão cada

vez mais mutáveis e velozes. Esse pa-norama singular que vem se colocan-do tem gerado desentendimento entre as gerações e provocado a quebra de paradigmas, de crenças e de valores da sociedade.

Um fator inerente a esse desenten-dimento é a falta de diálogo. Este, no decorrer de toda essa “evolução”, tem se perdido, gerando grande incompre-ensão, sendo a sua recuperação ou manutenção um grande desafio para a convivência organizacional. Molda-das por um sistema individualista, as pessoas tentam impor a sua própria maneira de ser e de fazer, tornando-se intolerantes diante das diferenças que as cercam. Todavia, sendo a liberda-de um dom, é preciso reconhecê-la, fazendo-se compreender que a vida é feita de escolhas.

O ambiente de trabalho, local que concentra pessoas de variadas perso-nalidades, abarca um tempo conside-rável do nosso cotidiano, e é nele que construímos grande parte dos nossos projetos de vida. Certamente, é o lugar onde mais se vive e se convive, tor-nando-se fundamental e determinante para a qualidade de vida das pessoas.

As organizações, de maneira geral, gastam mais tempo atendendo aos fatores estruturais por, obviamente, serem mais visíveis, e seus resultados, aparentemente, mais imediatos. Con-

tudo, esses fatores não garantem, de fato, a sobrevivência de uma organiza-ção. Para comprovar isso, basta que olhemos para as estatísticas que nos mostram a mortalidade de empresas e suas causas.

Por outro lado, as organizações, especialmente as que apresentam os melhores resultados, há tempos, de-ram-se conta da importância do inves-timento nas pessoas. Tal investimento, diferente do que se possa pensar, exi-ge menos recursos financeiros. Mas, em contrapartida, exige tempo de cuidado com o próximo, solicita afeto, compreensão, visando à justiça, à ho-nestidade e à integridade do outro.

Quando as pessoas se sentem va-lorizadas e têm a organização dentro de si, ou seja, os seus valores, as boas práticas e as normas, não são neces-sários muitos controles, pois o com-portamento delas será de comprome-timento.

Para tanto, faz-se imprescindível a promoção de capacitação continuada, por parte das lideranças, pautada pela construção de um diálogo atencioso, sendo que é um dos caminhos mais relevantes para o aperfeiçoamento permanente das pessoas.

O diálogo, junto à simplicidade e à humildade, é o melhor caminho para combater a intolerância e tornar a or-ganização mais eficaz.

ARTIGO

O MILAGRE DO DIÁLOGOO DIÁLOGO, JUNTO À SIMPLICIDADE E À HUMILDADE, É O MELHOR CAMINHO PARA COMBATER A INTOLERÂNCIA E TORNAR A ORGANIZAÇÃO MAIS EFICAZ

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PROF. ROBERTO VITORIO BONIATTI Coordenador da

Assessoria de Planejamento e Orçamento da

Universidade de Caxias do Sul

Vagner Espeiorin

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Universidade de Caxias do SulCaixa Postal 131395020-972 - Caxias do Sul - RS