revista ucs | maio de 2014

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revista UCS MAIO.2014 . ANO 2 . Nº 11 SENEGAL ARTE COPA DO MUNDO A TORCIDA ESTRANGEIRA NO CAMPUS O CENTENÁRIO DE IBERÊ CAMARGO O PERFIL DO NOVO REITOR DA UCS O SEGUNDO MOVIMENTO IMIGRATÓRIO EM CAXIAS A TRAJETÓRIA E O PENSAMENTO DO PROFESSOR EVALDO ANTONIO KUIAVA

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Edição 11.

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revistaUCSMaio.2014 . ano 2 . nº 11

SENEGAL

ARTECOPA DO MUNDOA TORCIDA ESTRANGEIRA

NO CAMPUS

O CENTENÁRIO DE

IBERÊ CAMARGO

O PERFIL DO NOVO REITOR DA UCS

O SEGUNDO MOVIMENTO

IMIGRATÓRIO EM CAXIAS

A TRAJETÓRIA E O PENSAMENTO DO PROFESSOR EVALDO ANTONIO KUIAVA

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EM BUSCA DE TRABALHO, SENEGALESES MODIFICAM PAISAGEM DE CAXIAS 4

MOMENTO DE TRANSFORMAÇÕES NA UNIVERSIDADE19

Universidade de Caxias do SulReitor: Evaldo Antonio KuiavaVice-Reitor: Odacir Deonisio GraciolliPró-Reitor Acadêmico: Marcelo RossatoPró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos KöchePró-Reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico: Odacir Deonisio GraciolliChefe de Gabinete: Gelson Leonardo RechDiretor Administrativo: Cesar Augusto Bernardi

Coordenação: Assessoria de Comunicação da UCS – Área de Mídias Digitais Impressão: Gráfica NordesteTiragem: 5.000 exemplaresContato: (54) 3218.2116, [email protected] www.ucs.br, @ucs_oficial, www.facebook.com/ucsoficialLeia também a revista no site www.ucs.br

OS CAMINHOS TRILHADOS POR EVALDO KUIAVA À

PROCURA DO SABER 9

O CENTENÁRIO DE IBERÊ

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AS TORCIDAS DA UCS PARA AS SELEÇÕES QUE DISPUTAM A COPA

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O que uma borracha e Copa do Mundo tem a ver? Para o fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Futebol, Odir de Souza do Carmo, tudo! Ele esteve na UCS no final de abril para palestrar aos alunos de Fisioterapia. “Uma borracha é indispensável para o entorse. Faz o trabalho preventivo e reforça a musculatura”, afirma, ao comentar sobre a importância dos elásticos largamente utilizados em trabalhos fisioterapêuticos. É que durante os eventos esportivos, os profissionais da área não contam com a mesma infraestrutura que no período de preparação. Ele citou como exemplo as Olimpíadas, em que a sala para os trabalhos era pequena. Obviamente que ele não tratou apenas sobre borracha. Recuperação de lesões graves, quadros agudos e os bastidores do evento – com direito a fotos de Ronaldinho Gaúcho e Alexandre Pato – também foram debatidos com o público que lotou a Sala Florense, no Bloco M.

Se ao entrar em uma locadora de DVDs você se sente em dúvida sobre qual é a melhor escolha, imagine como é estar diante do acervo de 11.600 filmes à disposição na Biblioteca da UCS. Para facilitar a tarefa, elegemos três produções clássicas, de diferentes gêneros, para você usufruir a estrutura que a Universidade oferece. Adiantamos um bônus que não é filme, mas merece a indicação: o DVD com os cinco melhores episódios da série “Friends”.

O Nome da Rosa – Do livro de Umberto Eco para as telas, o filme é um suspense que se passa na Idade Média. Apesar disso, é um clássico pós-moderno. Com Sean Connery no papel principal.

Indiana Jones – Um pacato arqueólogo que se transforma em aventureiro destemido. No acervo, há vários filmes da série dirigida por George Lucas. Aqui, Jones é filho de um professor interpretador por Sean Connery.

Carne Trêmula – Sem Sean Connery no elenco, mas nem por isso menos clássico. Espanha, 1970, melodrama, paixão, crime, Penélope Cruz e direção de Almodóvar.

“Nada é 100% seguro na Internet, por mais que a gente ache que é”, alerta a professora Maria de Fátima Webber do Prado Lima, do Centro de Computação e Tecnologia da Informação da UCS. Estudiosa em Segurança da Informação, ela explica que o Marco Civil da Internet, aprovado pelo Congresso Nacional em abril, regula o uso da rede de computadores.

A nova lei determina a neutralidade na Internet, em que as operadoras não podem cobrar valores diferentes para a transmissão de dados; a liberdade de expressão, que garante o direito da manifestação dos usuários; e o direito à privacidade, que não permite aos provedores acessar o conteúdo das informações trocadas por usuários.

A BORRACHA, OS CRAQUES DA BOLA E A COPA

UMA BIBLIOTECA DE FILMES

MARCOCIVIL DA INTERNET

DE LONDRES A CAXIAS: AS MAIS TOCADAS NA UCS FMUm grupo de indie britânico, uma banda brasileira

com nome inglês e um talento local dominaram a lista das 5 músicas mais tocadas da UCS FM em abril. Para escutar os hits, sintonize 106.5 (Caxias), 89.9 (Bento) e 106.1 (Vacaria), acesse www.ucsfm.com.br ou baixe os aplicativos para smartphone através do leitor para QR Code.

- Pompeii, da banda britânica Bastille - Money On My Mind, do cantor inglês Sam Smith- Amor Bizarro, dos brasileiros do Los Fashion

Weeks- Magic, dos londrinos do Coldpaly- Quase, da cantora caxiense Brenda Valer

iPhone

Android

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VAGNER ESPEIORIN | [email protected]: CLAUDIA VELHO

A CARADO NOVOIMIGRANTE

Mor Ndyane VAGNER ESPEIORIN | [email protected]: CLAUDIA VELHO

A CARADO NOVOIMIGRANTE

Mor Ndyane

ACOSTUMADA AO ELOGIO ÀS PROEZAS

DO IMIGRANTE ITALIANO, CAXIAS DO

SUL DEPARA-SE COM UM NOVO FLUXO

MIGRATÓRIO. AGORA, DE SENEGALESES

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As vozes sibilantes indicam que um idioma estranho ao português está sen-do falado. No número 706 do edifício Vitrine Central, tudo chama atenção. O barulho é diferente. O jeito de se comu-nicar é diferente. As pessoas têm apa-rência diferente. Caxias do Sul também não é mais a mesma. É no pequeno espaço comercial do prédio em frente à Praça Dante Alighieri que os imigrantes senegaleses em Caxias do Sul matam a saudade dos familiares que fi caram no país da África Ocidental. No local, fun-ciona um sistema de telefonia que faz ligações para fora do Brasil a um preço mais barato do que o comum. Por ape-nas R$ 0,85 o minuto, eles conseguem se comunicar com quem fi cou no Sene-gal. O espaço lota. São quatro cabines pra atender uma demanda que dia após dia, só cresce.

Mor Ndyane é um dos imigrantes do grupo que ocupa a sala numa ma-nhã de segunda-feira. Saiu do Senegal em 2007. Mas a cidade fria da Serra gaúcha não foi seu primeiro destino na América do Sul. Ele foi parar na Argen-tina, num período em que a economia do país vizinho exibia pujança. Com um crescimento econômico baixo dos “her-manos”, o fl uxo migratório senegalês seguiu para cá. Chegou ao Rio Grande do Sul em 2011. Em Passo Fundo, Mor fi cou por poucos meses até resolver mi-grar novamente. Em Caxias, conseguiu emprego na JBS Alimentos – antigo fri-gorífi co Frangosul.

O africano, de 38 anos, é um exem-plo de imigrante que tem modifi cado a rotina da cidade, transformado a fei-ção de Caxias e alertado as autorida-des para a necessidade de se pensar em políticas públicas destinadas aos estrangeiros. Ele deixou a cidade de Thiès, distante 73 quilômetros da capital Dakar, em busca de emprego. No Sene-gal, permaneceu a esposa, para quem destina parte do que recebe por aqui. Na mesma condição de Mor estão mui-tos outros senegaleses.

“É uma migração laboral. Ela ocorre em busca de trabalho. A Europa, que já foi um destino, está em crise. Já exis-tiam senegaleses na Argentina há 10 anos. Agora, eles vieram para o Brasil e estão em Caxias do Sul”, explica a professora do Centro de Ciências Hu-manas, Vania Beatriz Merlotti Herédia. A socióloga coordena a pesquisa “Mi-

grações internacionais no Sul do Brasil”, que é desenvolvida pela UCS em par-ceria com estudiosos da Universidade Federal de Santa Maria e da Universida-de de Passo Fundo. Não por acaso, as instituições parceiras se localizam em cidades que também têm recebido mui-tos africanos. Faz mais sentido ao se observar que tanto Passo Fundo como Santa Maria mantêm bons índices de crescimento. A primeira com um foco nos setores industrial e agrícola. A se-gunda, no comércio.

É o trabalho que movimenta o fl u-xo em direção à Serra – e ao Estado, de modo geral. E não poderia ser mais propício. Foi o trabalho e a busca por um local para morar que trouxe para a região os primeiros italianos. A diferen-ça entre os imigrantes de 1875 para os de agora é a cor da pele. Negros, os africanos trazem uma diversidade cultu-ral à região. Muda também a aceitação: muitos ainda os veem com desconfi an-ça. “A população de Caxias é cheia de preconceitos. Ela sempre foi. Durante a colonização, não se podia ter escravos. Nunca se habituou a convivência com os negros. Caxias não tem uma multi-culturalidade. Se fossem pessoas bran-cas não teria essa dimensão de proble-ma”, enfatiza Vania.

De fato, os questionamentos esbar-ram no preconceito. Não foi por vonta-de que os imigrantes senegaleses per-correram mais de 6 mil quilômetros de distância para chegar a Caxias do Sul. Foi por necessidade. Mor ilustra como a carência de uma vida digna os moti-vou a cruzar o Atlântico. Por aqui, eles tiveram que modifi car muitos hábitos e se acostumar com uma nova realidade, longe de qualquer referência. “Me fal-tam meus amigos. Me falta minha cultu-ra. Me falta minha família”, diz Mor, cuja manta que envolvia seu pescoço na ma-nhã fria parecia protegê-lo também da saudade.

DO SENEGAL AO BRASIL

Com uma área um pouco menor que o estado do Paraná, o Senegal é um país que alcançou a independência apenas em 1960. Poderia ser a Itália, a Inglaterra ou a Alemanha, mas foi a França que colonizou o território ainda no século XIX. A disputa europeia por colônias africanas dissolveu tribos, le-

“A POPULAÇÃO DE

CAXIAS É CHEIA DE

PRECONCEITOS. ELA

SEMPRE FOI. DURANTE A

COLONIZAÇÃO, NÃO SE

PODIA TER ESCRAVOS.

NUNCA SE HABITUOU

A CONVIVÊNCIA

COM OS NEGROS.

CAXIAS NÃO TEM UMA

MULTICULTURALIDADE.

SE FOSSEM PESSOAS

BRANCAS NÃO TERIA ESSA

DIMENSÃO DE PROBLEMA”,

DIZ VANIA HERÉDIA

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Praça reúne senegaleses. Perto dali, ligam para o Senegal e retiram vianda com refeições

Ndeya Seynabou Samb

Celulares e cabines telefônicas diminuem a distância entre

Caxias e Senegal

Amet Samb

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IMIGRANTES SENEGALESES CONTABILIZADOS PELO CENTRO DE ATENDIMENTO AO MIGRANTE (CAM)

BUSCARAM DOCUMENTAÇÃO NA POLÍCIA FEDERAL ATÉ MARÇO DE 2014

CADASTRARAM-SE NO SUSATÉ MARÇO DE 2014, CONFORME A FAS

SENEGALESES CHEGAM A CAXIAS A CADA SEMANA,SEGUNDO O CAM

vou o conflito ao continente e, mesmo que hoje o Senegal esteja em “paz”, as marcas das interferências bélicas ou políticas se revelam. “Quase 90% da po-pulação é de jovens, porque os velhos morreram, principalmente em conflitos”, explica Vania. Além disso, a economia é fraca e não consegue acolher toda a mão de obra do país. A alternativa que resta é migrar.

Quando chegam a Caxias, um dos primeiros locais em que buscam ajuda é no Centro de Atendimento ao Migran-te, mantido pelas religiosas scalabrinia-nas. No Desvio Rizzo, o CAM auxilia e os encaminha para a obtenção de do-cumentação e ajuda os estrangeiros a garantir o mínimo de dignidade. A co-ordenadora do Centro, irmã Maria do Carmo dos Santos Gonçalves, explica que os primeiros senegaleses chega-ram a Caxias do Sul há 4 anos, mas foi a partir da metade de 2012 que o fluxo se massificou. Maria do Carmo – que participa da pesquisa desenvolvida na UCS – acompanhou de perto a chega-da de muitos deles. “Até o momento, a gente tem visto que eles conseguem ingressar no mercado de trabalho, mas têm uma vida simples, precisam pagar aluguel e têm um grande compromisso com quem ficou por lá”.

Apesar de falarem pouco sobre a forma como ingressam no Brasil, a rota principal se inicia no Equador porque lá não é exigido passaporte, visto ou auto-rização para circular pelo país. Depois, eles seguem para o Paraguai, Argentina e finalmente o Rio Grande do Sul. Ou-tros preferem cruzar a fronteira com o Acre e depois seguem em direção ao Sul do Brasil. “Olhando o Senegal, a gente vê que eles estão num processo de diáspora. E para entrar no país, mui-tos acabam sendo vítimas de ‘coiotes’ que os fazem ingressar no Brasil”, expli-ca Maria do Carmo.

FRUTO BRASILEIRODO VENTRE SENEGALÊS

Como uma mãe canguru, Ndeya Seynabou Samb transita pela praça car-regando um bebê e entregando viandas. Pela manhã, ela prepara os pratos para distribuí-los durante o meio-dia à clien-tela senegalesa. Apesar de simples, o empreendimento vem dando certo e a

receita é caseira: os ingredientes são brasileiros, mas a elaboração tenta levar em conta os padrões do país de origem. A culinária de lá tem pescados e mais verduras e legumes, ingredientes caros por aqui. A solução foi dar ao arroz e frango um tempero senegalês.

Ndeya é casada com Amet, é mãe de Arami – a primeira criança nascida em Caxias descendente de senegale-ses – e veio ao Brasil há pouco mais de um ano. Chegou a Caxias depois do marido Amet Samb, que vive por aqui há quase dois anos. Ele veio para traba-lhar. Arrumou emprego e resolveu trazer a mulher. A falta do Senegal é grande, mas pretendem voltar à África apenas para visitar. Amet atua no setor de pin-tura da Marcopolo. As expectativas so-bre o Brasil se tornaram realidade. Fixou residência na cidade e constituiu a pri-meira família senegalesa caxiense. Se tornou raridade.

“Eu diria que talvez não seja uma imi-gração para ficar. Eles querem trabalhar. Na Itália, a migração de africanos foi transitória. Eles ficam porque precisam de trabalho”, explica a professora Vania Herédia. Muçulmanos, eles são bastan-te disciplinados e praticamente não se envolvem em conflitos. Não consomem bebidas alcoólicas e não apresentam aquela malícia tão comum ao brasileiro. Os únicos registros encontrados na po-lícia dizem respeito a casos de racismo. Eles foram as vítimas.

Como Amet, muitos encontraram postos de trabalhos abertos. Força fí-sica, subordinação e respeito à hierar-quia ajudam a explicar porque muitos empresários optam pela contratação de senegaleses. Apesar disso, a cidade não estava preparada para recebê-los.

DIREITOS HUMANOS EPOLÍTICAS PÚBLICAS

A Universidade de Caxias do Sul foi o palco da 1º Conferência Municipal sobre Migrações e Refúgios. Promovi-do pela Fundação de Assistência So-cial (FAS) e pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores, o encontro levantou as necessidades dos imigrantes e apontou os rumos de uma discussão nacional prevista para ocor-rer no final de maio, em São Paulo.“Eles pontuaram principalmente a dificuldade

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com a língua”, relata a presidente da FAS, Marlês Andreazza. Mas a incom-preensão da população local do wolof, idioma tribal adotado como língua ma-terna pela maioria deles, não é a única adversidade. A regularização da situa-ção no país e a retirada de documenta-ção para acessar serviços básicos são outros aspectos que foram elencados.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores já havia se de-parado com o problema que envolve a emissão de vistos. É por meio da Polícia Federal que os africanos conseguem retirar o protocolo de refúgio. Com o documento, eles têm a possibilidade de fazer a carteira de trabalho, essencial para garantir a subsistência por aqui. “Apesar de não serem considerados refugiados de guerra, eles acabaram recebendo o protocolo porque funciona como um refúgio econômico”, explica a presidente da Comissão, vereadora De-nise Pessoa.

Até o ano passado, a Polícia Fede-ral fazia apenas um atendimento de estrangeiro por dia. O resultado era a formação de filas de senegaleses que chegaram a dormir na porta da delega-cia em busca da legalização. A situação mudou depois que o Ministério da Jus-tiça incrementou a estrutura do depar-tamento e reforçou a necessidade de agilizar os processos.

A dificuldade de conseguir a lega-lização é apenas uma diante das pro-vações que precisam passar por aqui. Falta da família, preconceito, condição de vida precária são exemplos da ne-gação de direitos humanos a estrangei-ros. Além disso, há o discurso do senso comum que enxerga os senegaleses como estrangeiros que estão aqui para “tirar a riqueza de Caxias”. Não obstan-te, os senegaleses ajudam a mostrar que o mundo vai muito além da praça.

“Eu acho que para nós o processo de migração é um ganho. Nós vamos nos abrir a culturalmente. Entender que tem diferenças, entender um pouco o mundo. O ganho é mais nosso do que deles. Só que as pessoas têm medo disso”, argumenta Vania.

O tempo – que provou que o último processo de imigração de mais de cem anos transformou Caxias numa cidade pujante – mostrará que a cidade não é apenas capaz de atrair investimentos, mas também novas culturas.

“EU ACHO QUE PARA

NÓS O PROCESSO DE

MIGRAÇÃO É UM GANHO.

VAMOS ENTENDER UM

POUCO O MUNDO. O

GANHO É MAIS NOSSO

DO QUE DELES. SÓ QUE

AS PESSOAS TÊM MEDO

DISSO”, ARGUMENTA

VANIA HERÉDIA

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PAULA SPERB | [email protected]

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Os concertos das Quatro Estações criados por An-tonio Vivaldi, um dos compositores preferidos de Eval-do Antonio Kuiava – “ele é o mais alegre” –, servem como metáfora para a trajetória do novo reitor da Uni-versidade de Caxias do Sul. Com 21 anos de atuação na UCS, Kuiava nunca planejou chegar ao comando da reitoria, mas reconhece que a conquista é resultado de uma postura adotada ao longo da vida, “sempre em busca do conhecimento”. Essa busca, assim como as estações, foram marcadas por quatro etapas acadêmi-cas: graduação, mestrado, doutorado e pós-doutora-do. Na UCS, o estudo constante também foi reconheci-do, fazendo com que Kuiava ocupasse as posições de professor, diretor de Centro, pró-reitor e, agora, reitor.

“Sinto-me tranquilo e preparado para, com a equi-pe, fazer as mudanças necessárias. A gestão precisa melhorar. A parte acadêmica tem que melhorar muito, com excelência e inovação para que a UCS seja prota-gonista em todos os processos”, sinaliza Kuiava sobre o projeto que tem para a instituição. “Eu tenho uma ideia de universidade”, anuncia convicto o filósofo que domina o campo das ideias, mas está constantemente procurando formação na área de gestão. O aperfeiço-amento na área administrativa, através de cursos e lei-turas, ajuda-o a colocar os projetos em prática. A ideia de universidade que guiará a nova gestão contempla os conceitos de excelência, inovação, contemporanei-dade e sustentabilidade. “A UCS tem que ser protago-nista. A universidade é um lugar onde deve ocorrer a inovação. Aqui, conhecimentos novos são produzidos e, diferentemente de uma empresa, esse conhecimen-to é colocado à disposição da sociedade. A empresa segura para si. A universidade não retém para si, dis-

EM BUSCA DOCONHECIMENTO

DE ESTUDANTE QUE CAMINHAVA 6 QUILÔMETROS

NO ESCURO PARA IR À ESCOLA ATÉ O POSTO DE

REITOR DA UCS, CONHEÇA UM POUCO DA HISTÓRIA

DA VIDA ACADÊMICA DE EVALDO KUIAVA

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ponibiliza”, diz Kuiava sobre a finalidade do Ensino Superior e a missão de levar conhecimento e excelência à comunida-de.

As metas de gestão da UCS exigirão dedicação intensa de Kuiava e de sua equipe. Alcançar o objetivo demandará persistência, característica marcante da personalidade do novo reitor. Nascido em Casca, cidade a 102 quilômetros de distância de Caxias do Sul ao noroeste do Estado, Kuiava despertou para a lei-tura muito antes de ir à escola. Ele foi al-fabetizado em polonês em casa. Mesmo sem ter idade, insistia com os pais para que o deixassem ir junto com os primos às aulas. Quando finalmente foi matri-culado, a ansiedade era tão grande que acordava às 5h. Preparava um chimarrão para os pais e percorria os 3 quilômetros que o separavam do objetivo de apren-der. Quando a professora chegava na escola, para iniciar a aula às 7h, encon-trava um menino magro e muitas vezes com frio aguardando-a. Kuiava chegava uma hora antes da aula começar. “Era frio, ficava congelado. Fazia fogo para me esquentar, era natural isso”, conta Kuiava, que encarou essa rotina até a 4ª série. Depois, até o início da então 1ª série do segundo grau, o jovem moldou ainda mais sua persistência. A distância até a escola dobrou. Eram 6 quilômetros a serem percorridos à noite, sozinho. “Ia no escuro, no barro, no pó, não tinha nin-guém. Às vezes ia com medo, mas en-frentava o medo e o desafio. Não admitia a possibilidade de não estudar”, lembra Kuiava, que atualmente está matricula-do em quatro cursos e segue buscando conhecimento. “Caminhava no escuro, mas com uma meta na vida. A meta me guiava. Não era um peso. Era uma pas-sagem”, relata. Passagem que não foi percorrida por outros. “Todas as pesso-as desistiram, amigos, vizinhos, comu-nidade”, diz. Não é à toa que seus pais ficaram orgulhosos com a notícia de que seria reitor da UCS. “Eles entenderam toda minha caminhada.”

OLHOS NO MUNDOSentado no chão ao lado de seus ir-

mãos e primos, Kuiava escutava atenta-mente as histórias que seu avô lia em po-lonês. Além de aguçar sua curiosidade para o mundo do conhecimento, a leitura oral compartilhada em família era um dos momentos mais alegres para o menino.

Depois que seu avô faleceu, Kuiava as-sumiu a função de ler em voz alta para todos, uma responsabilidade repleta de simbolismo. Aí, já dava indícios de que seria também um bom líder, preocupado com o que parece invisível aos olhos da maioria. “Essa é uma característica forte dele. Quando ele era diretor (do Centro de Filosofia e Educação), ele sempre procurou deixar as coisas bem, equilibrar os horários dos professores. Ele sempre se dedicou a esse lado. Tinha preocu-pação que o corpo docente funcionasse bem para que a instituição ficasse bem”, conta o frei Valdir Pretto, amigo e ex-co-lega de trabalho de Kuiava. Os dois se conheceram na década de 1990, quan-do Pretto iniciou sua atividade docente na UCS. De lá para cá, estreitaram laços e desenvolveram trabalhos acadêmicos em conjunto. Inclusive se encontraram em algumas ocasiões na França, en-quanto Kuiava desenvolvia seu projeto de pós-doutorado na Université Lumière Lyon 2. “Eu me recordo que ele palestrou em Lyon. Eu era um dos ouvintes na pla-teia. Ele palestrou em francês”, relembra Pretto sobre o amigo que tem facilidade com línguas estrangeiras “Foi uma bela palestra. A assembleia demonstrou bas-tante interesse na temática da educação e pesquisa. Ele se fez entender”, conta Pretto sobre a experiência internacional de ambos. “É um homem que cruza as fronteiras carregando a bandeira, sobre-tudo a da UCS”, conta Pretto.

Antes da incursão acadêmica pela França, Kuiava completou seu mestra-do e doutorado na PUC-RS, ambos em Filosofia. Durante o doutorado, passou um período de estudos na Alemanha, na Universität Kassel. Na Alemanha, Kuiava diz que reuniu “material para três vidas”. Três, justamente o número de movimen-tos de cada concerto das Quatro Esta-ções de Vivaldi.

A ÓTICA DO OUTRO

Mesmo tendo material para estudar por três vidas, Kuiava só tem certeza so-bre a vida presente e faz o que está ao seu alcance para aproveitar cada dia. “Ti-nha uma angústia sobre a vida e a morte, uma angústia perante a finitude da vida. Essas questões me fazem andar com o pé no chão. ‘Não esqueças que és fini-to.’ Nós somos seres para a morte. Tudo se torna obsoleto, inclusive nós. Vive ou

“A UCS TEM QUE SER

PROTAGONISTA. A

UNIVERSIDADE É UM

LUGAR ONDE DEVE

OCORRER A INOVAÇÃO.

AQUI, SE PRODUZ

CONHECIMENTOS NOVOS

E, DIFERENTEMENTE

DE UMA EMPRESA,

ESSE CONHECIMENTO

É COLOCADO À

DISPOSIÇÃO DA

SOCIEDADE”

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não vive. E se não viveu, passou. A vida é isso”, reflete o reitor. Esses questiona-mentos o levaram até os postulados filo-sóficos do alemão Heidegger, que assim como Kuiava, também foi reitor. Martin Heidegger foi reitor da Universidade de Berlim na década de 1930.

A finitude da vida, a relação com o outro e a ética são questões filosóficas que ocupam a mente e a produção aca-dêmica do professor. Três filósofos fo-ram intensamente estudados para seus trabalhos de conclusão de curso: Kant, Heidegger e Levinas. O interesse sobre o pensamento do prussiano Immanuel Kant foi despertado a partir do imperati-vo categórico que diz: “age de tal manei-ra que a máxima da tua ação possa se transformar em lei universal”. Em outras palavras, como simplifica Kuiava, “se não vale para todo mundo, não vale pra ti também”. Um princípio iluminista que reconhece e respeita o humano. Kant dizia que todas decisões devem ser to-madas como um ato moral, ou seja, sem agredir ou afetar outras pessoas. O salto na pesquisa sobre Kant até Levinas foi um impulso natural. Kuiava passou a se preocupar com questões de alteridade. O francês Emmanuel Levinas enxergava o “outro” não como uma oposição ao “eu”, uma dialética que Kuiava considera perversa. “A coletividade em que eu digo ‘tu’ ou ‘nós’ não é um plural de ‘eu’”, dizia Levinas. Essa preocupação com o outro rompe com a esfera somente das ideias. “Ele tem um cuidado com o outro, quer que o outro cresça como pessoa, tanto nas responsabilidades, nos compromis-sos, em todas as áreas da vida”, conta o amigo Valdir Pretto.

DE ESTUDANTE A REITOR

A formação em Filosofia na UCS foi consequência do contato intenso que teve com livros durante os anos como aluno do Seminário Seráfico São José, dos Capuchinhos, em Veranópolis. “Lia vários livros por semana. Sempre tinha uns 10 livros comigo, era o que mais re-

tirava livros da Biblioteca”, conta Kuiava. Entre a Teologia, escolhida por muitos colegas, e a Filosofia, optou pela segun-da – uma forma mais racional de encarar o mundo. Na graduação, no mestrado e no doutorado, Evaldo Kuiava foi aluno do hoje colega e professor da UCS Jayme Paviani. “Ele é uma pessoa bem dedica-da, como estudante e como professor. Lê muito e tem curiosidade intelectual. Sem-pre busca um rigor científico ao analisar os temas”, diz Paviani. “Ele é uma pes-soa de diálogo, essa é uma das caracte-rísticas dele. Sabe ouvir os outros, sabe ponderar o que é dito”, complementa Paviani, que foi professor de Kuiava em diversos momentos de 1987 a 2003.

De aluno, Kuiava passou a ser profes-sor. Alternava três empregos (recepcio-nista, bancário e professor de datilografia) até que optou pela docência, lecionando no Colégio São José. Na UCS, professor há mais de duas décadas, já teve cente-nas de alunos em suas disciplinas. “Ele tem o perfil de acreditar nas pessoas e dar oportunidade de o aluno crescer. Como orientador, segue um rigor acadê-mico, mas sem tirar a liberdade do aluno de criar e conduzir o próprio trabalho. Ele é uma referência pessoal e profissional”, conta Gabriele Vieira Neves, que foi sua orientanda no Mestrado em Educação na UCS e hoje também leciona na Uni-versidade. Gabriele ressalta que, durante as aulas, Kuiava estimula os alunos ao propor muitas perguntas e incentivá-los à pesquisa acadêmica.

Agora, no posto máximo de uma Uni-versidade, Kuiava poderá colocar muitos dos seus ideais em prática. “Eu acredi-to que ele merece o cargo para qual foi eleito. Mas sabe o desafio que tem em mãos. Ele é um homem inteligente. Tem uma boa visão, pensa pra frente”, incen-tiva o amigo Valdir Pretto. Por pensar adiante, Kuiava manifesta seu desejo à frente da UCS. “Gostaria que cada um se sentisse feliz e realizado, seja como pro-fessor, funcionário ou aluno. Que cada um encontre na Universidade o espaço e o suporte para realizar seu projeto de vida”, salienta o novo reitor.

“ELE É UMA PESSOA

BEM DEDICADA, COMO

ESTUDANTE E COMO

PROFESSOR. LÊ MUITO

E TEM CURIOSIDADE

INTELECTUAL. SEMPRE

BUSCA UM RIGOR

CIENTÍFICO AO ANALISAR

OS TEMAS. É UMA PESSOA

DE DIÁLOGO. SABE

OUVIR OS OUTROS, SABE

PONDERAR O QUE É

DITO”, DIZ JAYME PAVIANI

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Com a atenção de todo o planeta voltada ao Brasil de 12 de junho a 13 de julho, o país também poderá olhar a si mes-mo. O gigante está acordando e é a casa da Copa do Mundo de 2014. Neste período, são espera-dos 600 mil estrangeiros visitando o país, o dobro que a África do Sul recebeu para a Copa de 2010. Mas não só sotaques do Exte-rior serão ouvidos nos estádios. As diversas variações da língua nacional também serão escuta-das. Isso porque são estimados 3 milhões de turistas brasileiros transitando entre os diferentes Es-tados para assistir aos jogos. No total, os viajantes devem gastar R$ 25,2 bilhões. Os dados são da Embratur.

“Teremos uma grande circu-lação de brasileiros dentro do país. Isso gerará a refl exão sobre os contrastes encontrados no Brasil com outros países. A partir da interação com os turistas es-trangeiros, será possível avaliar

e comparar a infraestrutura e os serviços que temos aqui, com os de países mais desenvolvi-dos”, projeta o professor Michel Bregolin, coordenador do curso de Bacharelado em Turismo da UCS. Bregolin também aponta a grande exposição midiática. “É uma oportunidade que abre por-tas para divulgar outros aspec-tos, como a diferença de culturas entre as regiões”, diz o professor sobre a chance de romper com o estereótipo do “país do futebol”.

Serão 32 seleções circulando por 12 diferentes cidades bra-sileiras. O Brasil, o único país a participar de todas as edições do campeonato, só havia sediado o evento em 1950. Assim como todo o território nacional, a UCS também acolhe culturas diferen-tes. São 95 estudantes estrangei-ros matriculados na graduação ou pós-graduação, vindos de 24 países. Das seleções que dispu-tam a Copa, a UCS tem represen-tantes de 9 nações.

A COPA DO MUNDO É NOSSANA UCS, A TORCIDA NÃO SE

RESTRINGE À SELEÇÃO BRASILEIRA.

ESTUDANTES ESTRANGEIROS

REPRESENTAM SEUS PAÍSES

DURANTE O MUNDIAL

WAGNER JÚNIOR DE OLIVEIRA | [email protected] Foto: CLAUDIA VELHO

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SUSSAN PAOLA BILBAO PUSCHELEngenharia de Produção

Foram seis paradas estratégi-cas para suportar as 40 horas de viagem de ônibus pelos mais de 2.500 quilômetros que ligam Val-paraíso, no Chile, a Caxias do Sul. “Meus pais me apoiaram. Querem que eu seja um exemplo para a mi-nha família”, contou Sussan sobre a opção de fazer um intercâmbio. Há cerca de dois meses estudan-do na UCS, Sussan fi cou impres-sionada com as festas brasileiras que frequentou por aqui. Chamou atenção da chilena o código de vestimenta feminino adotado nas baladas. “Elas usam muito brilho, salto alto e vestidos. No meu país, isso é roupa para casamento.” “Me gusta mucho”, contou Sussan sobre o time verde e amarelo. Mas a futura engenheira irá torcer pe-los craques da camisa vermelha como Alexis Sánchez, jogador do Barcelona, e Arturu Vidal, do Ju-ventus, em campo: “mi corazón és chileno!”.

Sede da Copa em 1962Grupo BChile x Austrália (13/06, 18h, Arena Pantanal/Cuiabá) Espanha x Chile (18/06, 16h, Maracanã/Rio de Janeiro)Holanda x Chile (23/06, 13h, Arena de SP/São Paulo)

Sede da Copa em 1978Grupo FArgentina x Bósnia e Herzegovina (15/06, 19h, Maracanã/RJ)Argentina x Irã (21/06, 13h, Mineirão/Belo Horizonte)Nigéria x Argentina (25/06, 13h, Beira Rio/Porto Alegre)

Nunca foi sede da CopaGrupo C

Colômbia x Grécia | (14 /06, 13h, Mineirão/Belo Horizonte)Colômbia x Costa do Marfi m | (19/06, 13h, Mané Garrincha/Brasília)

Japão x Colômbia | (24/06, 16h, Arena Pantanal/Cuiabá)

JESÚS CAMILO ANDRÉS VARGAS NIÑOComércio Internacional

Para os brasileiros, a Copa de 1994 foi marcada pela conquista do tetra. Mas para os colombianos, a memória fi cou marcada pela goleada de 5 a 0 contra os argentinos. A grande estrela da partida foi Carlos Valderrama, dono de uma cabeleira eriçada e amarela como a camisa da seleção da Colômbia, ídolo nacional em um país que também ama o futebol. “ É o esporte mais popular da Colômbia e o país está em terceiro lugar na compra de ingressos para o mundial”, informa Jesús, que já esteve no Brasil duas vezes em 2006 e 2010 conhecendo Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Jesús es-colheu aprender português como segunda língua: “para me formar preciso de uma experiência fora do meu país e eu queria aprender um outro idioma. É importante para a minha carreira”.

PABLO RUDE CALVI Engenharia de Produção

Só de ouvir o nome de Lionel Messi na escalação, os jogadores das seleções adver-sárias tremem. Messi é o melhor do mundo e vai defender a Argentina em campo – motivo de sobra para acirrar ainda mais a rivalidade histórica com o Brasil, que fará de tudo para levar o título em casa. Natural de Mendoza, Pablo está ambientado em Caxias e aponta semelhanças entre as cidades: “ambas fo-ram colonizadas por italianos. Aqui é Festa da Uva, lá Festa da Vindima.” O estudante escolheu o Brasil pela receptividade, mas conta que alguns colegas optaram pelo país por causa da Copa. Além da rivalidade em campo, Pablo aponta mais uma diferença en-tre brasileiros e hermanos: “os argentinos são pontuais. Os brasileiros, não”. Pelo “padrão Fifa”, os jogos da Copa devem começar na hora marcada – pelo menos.

SUSSAN PAOLA

JESÚS CAMILO ANDRÉS VARGAS NIÑO

Sede da Copa em 1978

CHILE COLÔMBIA

ARG

ENTI

NA

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FABIO STEDILE Mestrado em Biotecnologia e Gestão Vitivinícola

Não será raro, pelo menos aqui na Região, que a nossa tor-cida divida o coração entre Bra-sil e Itália. Com o frio típico do mês de junho na Serra, a cer-veja brasileira, que acompanha os petiscos durante os jogos, pode muito bem ser substituí-da pelo vinho. Justamente para aprimorar a produção da bebi-da de uva, Fabio Stedile veio à UCS pesquisar plantas nativas para combater um fungo de videiras, sem prejudicar o am-biente. Para o estudante, o Bra-sil tem mais oportunidades para jovens. “Na Itália é diferente. É mais difícil sair de casa porque é difícil arrumar um trabalho”. Dentro de campo, os italianos têm outra desvantagem: a sele-ção não está entre as favoritas para o título, ruim para os que vão vestir a camiseta.

NEIL RACCAGeografia

O futebol é o esporte mais praticado na França, país que tem todas as condições de chegar à semifi nal da Copa. Além da paixão pelo esporte, o estudante Neil diz que paisa-gem e clima de Caxias do Sul são bastante parecidos com o local onde mora. Neil estuda Geografi a na UCS, mas preten-de ser jornalista – “antes vou fazer especialização na área”, planeja. Isso porque as coisas na França são um pouco dife-rentes. Lá, ele estuda Ciências Políticas na Université Lumière Lyon 2 preparando-se para ser comentarista de política. Depois da Copa do Mundo, Neil pode-rá aproveitar também o cenário brasileiro das eleições presiden-ciais e estaduais de 2014.

JESÚS BLÁSQUEZ GONZÁLEZEngenharia de Produção

Para os especialistas, o México estar na Copa do Mundo foi pura sorte. Só contando com ajuda do des-tino, os mexicanos não têm chance de ir adiante no cam-peonato, ainda mais no mes-mo grupo da seleção brasi-leira. Se eles não mandam bem no futebol, conquistam os brasileiros com seus pro-dutos para televisão. “É um seriado normal pra nós”, diz Jesús sobre Chaves, perso-nagem quase idolatrado no Brasil. O estudante que não assiste novela mexicana, surpreendeu-se com super-mercados que entregam compras em casa, a beleza das mulheres brasileiras e com a pimenta – mais fraca que a mexicana.

Sede da Copa em 1990Grupo DInglaterra x Itália (14/06, 18h, Arena Amazônia/Ma-naus)Itália x Costa Rica (20/06, 13h, Arena Pernambuco/Recife)Itália x Uruguai (24/06, 13h, Arena das Dunas/Na-tal)

Sede da Copa em 1938 e 1998Grupo EFrança x Honduras (15/06, 16h, Beira-Rio/Porto Alegre)Suíça x França (20/06, 16h, Arena Fonte Nova/Salvador)Equador x França (25/06, 17, Maracanã/Rio de Janeiro)

Sede da Copa em 1970 e 1986Grupo A

México x Camarões (13/06,13h, Arena das Dunas/Natal)

Brasil x México (17/06, 16h, Castelão/Fortaleza)

Croácia x México (23/06, 17h, Arena Pernambuco/Recife)

FABIO STEDILE Mestrado em Biotecnologia e

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MÉXICO

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SERGIO GARCÍA TRAVIESSOEngenharia Civil

O espanhóis são os atuais campe-ões do mundo. Eles levaram a taça em 2010, quando a Copa foi sediada na África, e não vão entregar o tesouro tão facilmente. Terra dos timaços Barcelo-na e Real Madri, a Espanha tem uma forte seleção. Não vai ser fácil para o Brasil. A atual sede da Copa foi escolhi-da como destino pelo estudante Sergio por oferecer oportunidades de empre-go. Enquanto não está assistindo suas aulas na UCS, o aprendiz de enge-nheiro conseguiu um estágio em uma incorporadora. Assim como outros es-trangeiros oriundos da Europa, ele se queixa que na Espanha não há vagas de emprego. Ele aproveitou a entrevis-ta para lembrar a família que está tudo certo por aqui: “estou comendo muito bem!”. CARLOS EDUARDO LONDETA

Engenharia Mecânica

A seleção do Equador não está entre as favoritas para o mun-dial, mas pode passar de fase utilizando os talentos que possui: organização em campo e jogadores que atuam em times de di-versos países. O equatoriano Carlos irá torcer pelo seu país, mas é no Brasil que encontrou grandes oportunidades através da bol-sa de estudos na UCS. “Uma das coisas mais interessantes que encontrei em Caxias foi que praticamente todos os alunos do cur-so de Engenharia Mecânica trabalham ou fazem estágio desde muito cedo. No Equador a realidade é diferente, muitas pessoas preferem fi nalizar os estudos para procurar emprego”, compara. Carlos gostou tanto do Brasil, que não pretende voltar. “Acredito que tomei a decisão correta quando decidi vir para cá”, conta.

FLORIAN DEITERMANNComércio Internacional

Ele admira as paisagens do Rio Grande do Sul, acha o Estado seme-lhante com São Paulo no quesito eco-nômico e, como outros intercambis-tas da UCS, escolheu o Brasil pelas oportunidades de trabalho. A Copa do Mundo complementa a escolha, afi nal Florian estuda Administração e Comu-nicação de Esporte na German Sport University Cologne. Além do futebol, Florian vê o amadurecimento que a Copa traz ao país quando a população reivindica esclarecimentos sobre obras e faz protestos. “O Brasil é um país maravilhoso, mas tem várias coisas que precisam melhorar. Muitas pesso-as, especialmente jovens e estudantes, têm esse pensamento crítico que é o primeiro passo para mudar coisas e re-solver vários problemas”, analisa.

Grupo BEspanha x Holanda

(13/06, 16h, Arena Fonte Nova/Salvador)Espanha x Chile

(18/06, 16h, Maracanã/Rio de Janeiro)Espanha x Austrália

(23/06, 13h, Arena da Baixada/Curitiba)

Sede da Copa em 1978Grupo G

Alemanha x Portugal (16/06, 13h, Arena Fonte

Nova/Salvador) Alemanha x Gana

(21/06, 16h, Castelão/Fortaleza)

Alemanha x Estados Unidos (26/06, 13h, Arena

Pernambuco/Recife)

Nunca foi sede da CopaGrupo E

Suíça x Equador (15/06, 13h, Mané Garrincha/Brasília)Equador x Honduras

(20/06, 19h, Arena da Baixada/Curitiba)

Equador x França (25/06, 17h, Maracanã/

Rio de Janeiro)

SERGIO GARCÍA TRAVIESSO

FLORIAN DEITERMANNComércio Internacional

Ele admira as paisagens do Rio Grande do Sul, acha o Estado seme-

Sede da Copa em 1978Grupo G

ESPANHA

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Movimentos rápidos e traços precisos: assim pintava e desenhava Iberê Camar-go. A cena costumava atrair a atenção de quem o via diante da tela. Poderia ser uma obra pequena ou um painel, Iberê projeta-va sua mão e, mesmo com movimentos bruscos, fazia parecer, golpe após golpe, que criar uma imagem era algo fácil. Não era.

“Iberê trabalhando era impactante, como se ele incorporasse outro artista. Chegava a ser agressivo com aquilo que

pintava, e ficava insatisfeito com aquilo que fazia”, recorda Paulo Ribeiro, escritor e professor do curso de Jornalismo da UCS, que conviveu com Iberê nos últimos anos de vida do pintor.

Até se consagrar como um dos maio-res artistas brasileiros do século XX, Iberê teve que desenhar uma carreira cheia de altos e baixos. Ribeiro conheceu de perto os dramas do artista que em 2014 com-pletaria, em novembro, 100 anos. Foi um trabalho para a Veja Rio Grande do Sul

– extinta publicação da revista Veja que circulava apenas no Estado – que ele co-nheceu Iberê. Era 1989, e Paulo propôs à revista um perfil do pintor e gravurista. Para a produção do trabalho, foram dez encontros. Parou por aí. A revista fechou, mas o material coletado por Paulo Ribeiro deu origem ao romance biográfico Iberê, publicado em 1996, dois anos após a morte do protagonista do livro.

“O Iberê foi a personalidade mais forte que eu conheci em toda a minha vida. Ele

O CENTENÁRIO DE UM TRANSFIGURADOR DO REAL

VAGNER ESPEIORIN | [email protected]

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era essencialmente artista: 24 horas por dia só pensava em arte”, lembra Ribeiro.

A memória tem sentido central em sua obra. E, de fato, tudo começou na infância. Ele nasceu em Restinga Seca, na região central do Estado. O pai era ferroviário e, ainda criança, costumava ver de perto as caldeiras da locomotiva queimarem o car-vão. O ferro também fazia parte do dia a dia do pequeno. Não foi por acaso que os tons escuros e fortes, de memórias esfu-maçadas, comuns na infância, vão acom-panhá-lo até a velhice e serão emblemáti-cas em seus trabalhos.

“Cada técnica trabalhada por Iberê ti-nha uma intensidade diferente. Na pintu-ra, a cor sombria e a tinta excessiva, em muitas camadas de óleo, eram predomi-nantes. Na gravura e no desenho, a sim-plicidade e rapidez do traço, como se tudo fosse possível no gesto da mão”, afirma a professora de História da Arte da UCS, Sil-vana Boone, que já fez também curadoria de exposições com obras do pintor.

Até se transformar em ícone da arte nacional, Iberê aprimorava sua técnica. O processo de aperfeiçoamento se dava em diferentes cenários e cidades. Saiu de Restinga Seca, em 1918, com destino a Santa Maria, onde iniciou os estudos. Não demorou muito para seguir a Porto Alegre, de onde conseguiu uma bolsa de estudos para o Instituto de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Por lá, conheceu importantes ar-tistas – entre eles, Cândido Portinari – e foi em território carioca que Iberê se con-sagrou e se constituiu como artista. Mas, nesse mesmo cenário, viveu a maior tragé-dia de sua vida – e que também marcaria profundamente sua obra.

UMA TRAGÉDIA NA VIDA DO ARTISTA

Até 1981, os trabalhos de Iberê eram carregados de abstracionismo. Elementos que remetiam à infância, como os car-retéis, eram marcas de suas obras. Mas

chegou um momento entre o final da dé-cada de 1970 e início de 1980, que seus trabalhos experimentaram uma espécie de estagnação criativa.

“Ele começou dentro do figurativo. De-pois, passou a integrar o abstracionismo e, nessa fase, foi o maior artista brasileiro. Os carretéis (brinquedos que remetiam à infância do pintor) o fazem voltar à figura-ção, e ele acaba produzindo um figurativo abstrato. Mas a partir disso, ele começa a se repetir, a patinar”, analisa Ribeiro.

Um fato porém, iria fazer com que a vida de Iberê rodopiasse. Era 5 de dezem-bro, quando saiu pelo bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro, para comprar cartões de Natal. No percurso, Iberê observa um homem que chacoalhava com força uma mulher.

“O Iberê, com aquela personalidade muito forte, se comoveu com a cena. Ele atravessou a rua e disse ao agressor: ‘você sabia que não se bate em mulher?’”, nar-ra Ribeiro. Naquele instante, o homem se volta contra Iberê e parte para cima dele. Caído no chão, o pintor pega o revólver que guardava numa bolsa – à época, ele acabara de concluir um curso de tiro – e acerta o agressor.

A morte funcionou como uma bomba atômica na vida de Iberê. “Ele dizia que era a Hiroshima dele”, comenta Ribeiro. Após ficar preso e ser absolvido por legítima de-fesa, Iberê volta ao Rio Grande do Sul, um ano depois, em 1982. E inicia uma das fa-ses mais intensas de suas obras. Não por acaso, a mais sombria e fantasmagórica também.

No final daquela década, observando as mulheres andando sobre as bicicletas no Parque da Redenção, na capital gaú-cha, ele cria a série “Ciclistas”. Uma das mais marcantes e que reforça a técnica de camadas de tintas sobrepostas. A figura humana – por vezes, desproporcional – está em primeiro plano, mas a produção guarda as influências do abstracionismo.

“A obra do Iberê Camargo foi marcada principalmente pela expressividade matéri-ca da pintura, pelas temáticas pontuadas

por carretéis, ciclistas, idiotas e suas fan-tasmagorias, ao longo da carreira de mais de 60 anos”, reforça a professora Silvana.

Mas há ainda os autorretratos. Com seu traço característico, Iberê criou ao lon-go do tempo diferentes representações de si mesmo. “Seus autorretratos, duran-te toda a sua trajetória, são vibrantes em diferentes períodos. E em cada um, a re-presentação de si é motivada pela ideia de representação que tinha do ser humano como um todo”, reforça a professora.

Assim como a autorrepresentação se transformou com o tempo, a produção ar-tística de Iberê se modificou, se reciclou. Hoje, há 100 anos de seu nascimento e há 20 de sua morte, seus trabalhos são cons-tantemente revisitados e redescobertos. À beira do Guaíba, a Fundação Iberê Camar-go, em Porto Alegre, guarda gravuras, pin-turas e demais criações artísticas que se abrem para o mundo.

Já no final da vida, Iberê foi vítima de um câncer no pulmão que o fez imergir numa das fases mais conscientes de sua obra. “Solidão, de 1994, traz a essência da consciência do seu passado e do seu presente como artista e como ser huma-no. Traduz algo que é intraduzível com pa-lavras, mas está ali, na tinta sobre a tela”, destaca Silvana.

Solidão era imensa – tinha quatro me-tros de tela – e dava um desfecho com um título sagaz ao conjunto de sua carreira. Num país tropical, Iberê foi um solitário no cenário nacional: pintou com tons escuros e fortes. E pintou e desenhou memórias crepusculares de uma região escondida no Rio Grande do Sul. Transfigurou o real. Como um detalhista, acreditava que o aca-bamento de uma obra era indispensável. Um dedo de um de seus personagens, que estivesse descompassado com o restante da pintura, poderia comprometer a tela. Ficava sobre aquele ponto até “con-sertá-lo” por completo. Era um perfeccio-nista. Como disse certa vez: “no fundo, um quadro para mim é um gesto, é o último gesto”. Seus gestos chegaram perto da perfeição: desejo de toda a arte.

VAGNER ESPEIORIN | [email protected]

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QUATRO ESTAÇÕES O plátano, o poente, a neblina e o perfume: frutos do ciclo da natureza

em um mesmo dia da Cidade Universitária.Fotos: Claudia Velho

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Numa história quase cinquen-tenária, professores, funcionários e entidades ligadas à UCS deram significativa contribuição para sua estruturação e consolidação enquanto uma universidade co-munitária. De fato crescemos, ampliamos, diversificamos e nos tornamos referência. Vivemos uma fase de exclusividade no meio educacional do ensino su-perior e ocupamos hoje um lu-gar de destaque. Nesse sentido, o sentimento é de orgulho pela nossa Universidade e de agrade-cimento pelo empenho de todos que nos antecederam.

Mas o cenário atual evidencia profundas transformações em to-das as esferas da sociedade. Es-sas transformações constituem um desafio contínuo a todos os envolvidos em processos institu-cionais, pois exigem que visões de mundo, formas de gestão e relacionamento sejam submeti-dos a permanente análise crítica. A Universidade não fica imune às mudanças. Nesse sentido, cabe à Universidade pensar a si mesma! Pensar e repensar sua visão de conhecimento, seu papel social, sua participação na resolução dos problemas do mundo, seu modelo pedagógico, sua forma de fazer educação e de promover o desenvolvimento.

Acreditamos que de forma planejada e coletiva, com regras claras e justas, com a valorização das pessoas que aqui desenvol-vem seus projetos de vida, pode-remos construir uma Universida-de contemporânea, sintonizada com seu tempo e projetada para além dele; comprometida com a

excelência acadêmica tanto no ensino como na pesquisa, com uma pedagogia inovadora e atra-ente, construindo programas e projetos articulados interdiscipli-nares, a partir de uma visão sistê-mica. Acreditamos, ainda, que é necessário fomentarmos a cultura da inovação científica e tecnológi-ca, qualificarmos as relações in-ternas e externas com respostas rápidas, competitivas e éticas. É por isso que nossa proposta de gestão é de um modelo comparti-lhado que possibilite esse tipo de respostas.

Em vista da excelência, consi-deramos importante a definição de uma estrutura organizacional e funcional clara, adequada às ne-cessidades e aos objetivos institu-cionais, com indicadores que per-mitam a tomada de decisão. Na dinâmica hodierna a capacidade de reorganização constante per-mite à Universidade adaptar-se ao estado de evolução da ciência e da tecnologia e aos interesses da sociedade. Assim, devemos estar dispostos a rever os proces-sos, a aculturar a Instituição para a integração do planejamento e do orçamento, a sermos ágeis com a relação com o mercado e abertos às parcerias, a aproximar a gestão da academia, a qualifi-car a equipe de gestores e pro-fessores, a consolidar políticas e a modernizar a infraestrutura.

Nesse sentido, convidamos a todos a colaborarem nesse pro-cesso de mudança e a renova-rem o sentimento de pertença à Universidade. Contamos com a participação e com a contribuição de todos.

Professor

EVALDO ANTONIO KUIAVAReitor da Universidade de Caxias do Sul

POR UMA UNIVERSIDADE DE EXCELÊNCIA

ARTIGO

O CENÁRIO ATUAL EVIDENCIA PROFUNDAS

TRANSFORMAÇÕES. ESSAS TRANSFORMAÇÕES EXIGEM

QUE VISÕES DE MUNDO, FORMAS DE GESTÃO

E RELACIONAMENTO SEJAM SUBMETIDOS A

PERMANENTE ANÁLISE CRÍTICA

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Universidade de Caxias do Sul

Caixa Postal 1313

95020-972 - Caxias do Sul - RS