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How many languages do you speak? Saber Revista Revista laboratório dos alunos de Jornalismo da FPM / Ano II - Nº 4 Foi-se a época em que saber mais de um idioma era falar inglês. Conheça as iniciativas que introduzem crianças no universo do conhecimento do idioma estrangeiro e capacita para um novo mercado de trabalho

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Revista-laboratório dos alunos do 4º ano do curso de Jornalismo da Faculdade Prudente de Moraes

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How many languages do you speak?

SaberRevista

Revista laboratório dos alunos de Jornalismo da FPM / Ano II - Nº 4

Foi-se a época em que saber mais de um idioma era falar inglês. Conheça as iniciativas que introduzem crianças no universo do conhecimento do idioma estrangeiro e capacita para um novo mercado de trabalho

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editorial

Uma das grandes bandeiras da propaganda governamental no final da gestão de Fernando Henrique Cardoso na presidência da República foi a inclusão de crianças na escola. Dizia-se que o Brasil havia praticamente erradicado a evasão escolar, que não havia crianças longe dos estudos e a eliminação do analfabetismo no país estava garantida.No governo Lula também ganharam destaque as políticas de inclusão no ensino, sobretudo no ensino superior. O sistema de cotas para negros – polêmicas a parte – e o ProUni são ferramen-tas que trazem cada vez mais alunos às universidade. Isso, asso-ciado ao fenômeno da tão falada e emergente classe C corrobora a tese do petista de que o país nunca teve tanta gente no ensino superior.De fato, cresce a olhos vistos o número de faculdades e de cursos de graduação a preços cada vez mais acessíveis. A grande questão é discernir até que ponto é benéfica esta inclusão de massa e se isso realmente reflete um progresso.Se por um lado, generalizando, nossas crianças entram cedo na escola e conseguem seu diploma de ensino superior, por outro o setor privado reclama sempre do mesmo problema: falta mão de obra qualificada. Os índices internacionais de medição da qualidade da educação nos tiram da euforia desenvolvimentista e nos forçam a encarar uma realidade inconciliável com o papel de protagonista que o Brasil quer tomar: ainda somos uma nação de Terceiro Mundo no quesito educação.Base para o desenvolvimento do país, o Brasil parece ter tomado caminhos desarmônicos para conseguir seu salto de qualidade nesta área. Não basta abrir as portas de escolas e faculdades se é baixa a qualidade da aula, se o professor não está preparado e não é valorizado. É verdade que temos universidades públicas de ponta, mas trata-se de uma elite abismalmente distante do grosso das instituições de ensino no país.Não é novidade que o problema começa cedo. Os professores de ensino básico são mal preparados e mal pagos. Muitas vezes não dominam o conteúdo da matéria pela qual são responsáveis de ensinar. O aluno também se desmotiva, diante de um conteúdo programático caduco, um método pedagógico distante da realida-de digital e interativa a que está acostumado e falta de estrutura física nas escolas. O resultado é indisciplina, falta de interesse e consequente mal resultado nas notas.Enquanto for dada a ênfase no aluno, de nada adiantará. É pre-ciso olhar para o outro lado do tabuleiro e investir na qualidade do professor – e na estrutura das escolas, no conteúdo do ensino – para que valha a pena que mais gente frequente os bancos escolares, em todos os níveis. Caso contrário, a quantidade de alunos que cada vez mais entram nas escolas e faculdades continuará a ser proporcionalmente igual ao tamanho da fila de desempregados.

Sobre matrículas e filas

Pedro Carlos Leite

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Expediente

Revista SaberRevista laboratório dos alunosdo 4º ano do curso de Jornalismo da FPM

Editor: Paulo StucchiEditor assistente: Pedro Carlos Leite

JornalistasPedro Carlos LeiteRenata GuidoThalita MarchioriRenan PereiraMurilo RooschAndré RicciJoão SartiTalita VieiraBruna ArmelinBruna LígiaRodrigo CamargoAparecida Suzana

Revista SaberAno II - Edição 4

Matérias

Do you speak?Educação no trânsitoQuadra vaziaO blog na educaçãoLaurentino Gomes: por uma boa educaçãoUma forma diferente de educarConsciência e mobilizaçãoAprendiz

CAPA: Nova realidade no ensino dos idiomas

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André Ricci

Do you speak?...

Como anda o ensino dos idiomas no Brasil e como o mercado absorve pessoas com domíno de mais de uma língua.

Tu hablas?...Sprechen Sie?...

Si parli?...

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O Brasil passa por um cenário mutante no ensino e no mercado de trabalho. Ao seguir os passos das mudanças constan-

tes no mundo inteiro, seja em visão de empre-go, seja em educação, o país tem que enxergar o aprendizado de forma diferente. Hoje, as escolas e universidades preparam os futuros profissio-nais com mais foco no acadêmico, mas pouco no prático – que compreende, entre outras visões, o ensino de idiomas.De acordo com o MEC, o currículo obrigató-rio no ensino fundamental é compreendido das disciplinas “fundamentais”, como Língua Portu-guesa e Matemática, seguidas das ciências, como Física, História e Biologia. O ensino de idiomas caminha, no entanto, a passos mais lentos. Com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, pelo Ministério da Educação e do Desporto) criados ainda em 1998, as escolas de ensino fun-damental têm tido que seguir diretivas de ensi-nar uma segunda língua.

O professor Luis Paulo Moita, autor do “A Nova Ordem Mundial, os Parâmetros Curriculares Nacionais e o Ensino de Inglês no Brasil” afirma que algumas metas são necessárias ainda para o país alcançar os objetivos estabelecidos no PCN. Ele prega a construção de uma base que possibi-lite o engajamento discursivo dos alunos, o de-senvolvimento da consciência crítica em relação à linguagem e uma visão multilateral do mundo através do entendimento do idioma, itens que podem combinar tanto para o crescimento pes-soal quanto profissional do futuro trabalhador.Esse lado mais ambicioso do ensino de idiomas no Brasil, que espera trazer o crescimento in-dividual do aprendiz - além da facilidade vin-da do conhecimento multilinguístico, é fácil de perceber. Marcelo Lopes, publicitário, vive essa evolução. “Eu não sabia que aprender um novo idioma ia me fazer tanta diferença assim. O ní-vel de conhecimento que tenho acesso quando domino, além do português, o inglês, é muito

Tu hablas?...Sprechen Sie?...

Em todo o mundo, cresce a prática do ensino de outros idiomas desde a pré-escola. No Brasil, essa iniciativa também está em voga

Si parli?...

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alto”, afirma. Marcelo está entre os que não dis-puseram de um satisfatório ensino em idiomas no nível fundamental das escolas, que deveria ser proporcionado pelo governo; aprendeu, na ver-dade, devido às necessidades do seu trabalho e o uso constante dos recursos da internet.A estrutura online da internet é um meio de co-municação que serve de corda para os principais serviços, como educação e mercado de trabalho. Entre seus usuários, a maioria, 35%, é composta de pessoas que se comunicam na língua inglesa, de acordo com a fundação de estatísticas da web, Internet World Stats (dados de 2010). Segundo o grupo de pesquisa, o conteúdo das páginas de internet no idioma corresponde a 42% do total. O mais notável, no entanto, é o crescimento da presença da linguagem no mundo virtual. No período de 2000 a 2010, o inglês cresceu 281,2 %. Essa quantidade reflete, principalmente, o número de internautas. Os usuários da língua portuguesa na web compreendem cerca de 80 milhões, enquanto os de língua inglesa, quase 540 milhões.Ivan Rodrigues, analista de sistemas, diz que a

quantidade de informação é “absurda”, quando a pessoa tem acesso a pelo menos um idioma além de seu nativo. “Antes, ao fazer pesquisas e obter ajuda em buscas, eu ficava satisfeito em buscar apenas em português. Hoje, depois de aprender inglês, eu consigo ir atrás de uma soma dos dois idiomas em tamanho de conteúdo, o que é muito maior”. Assim como no caso de Lopes, Rodri-gues também aponta que não obteve conheci-mento significativo em aprendizado escolar de inglês, apenas com ensino através de escolas especializadas oferecidas pela empresa em que trabalha.Mas o cenário da educação de idiomas no Brasil está melhorando. Já há esforços, ainda que isola-dos no crescimento e preocupação demonstra-dos por professores e coordenadores do segmen-to público e privado. Apesar do início lento, em 2009 já foi assinado um acordo entre o Brasil e a Espanha que determinou a língua espanhola como ensino adicional nas escolas públicas bra-sileiras. O espanhol, juntamente com o inglês e o mandarim, é um dos três idiomas mais falados no mundo e na internet. Além do óbvio bene-fício em aprender um novo idioma e ampliar o leque de busca de conhecimento, nove em cada dez pessoas que falam espanhol vivem na Amé-rica e o trabalhador brasileiro disporia de um grande diferencial ao aprender o idioma oficial de seus vizinhos.Marcelo Lopes conclui, “eu gostaria de já ter aprendido o que eu sei, ou pelo menos boa parte disso, na escola. Teria me aberto muitas oportu-nidades na vida que só consegui enxergar agora. A maioria das pessoas não tem condições de en-trar em uma escola de idiomas”.

Milenar, o mandarim, idioma oficial chinês, será uma das disciplinas obrigatórias no futuro próximo

Internet: ferramenta essencial e moderna para aprendizado de outras línguas

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Bruna Armelin

Educação tambémvale pro trânsitoA imprudência ainda é a maior causa de acidentes de trânsito no Brasil.

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No Brasil os números de mortes causadas por acidentes de trânsito são alarmantes. Mais de 35 mil pessoas morrem por dia envolvidas em acidentes de carro, moto, bicicleta ou qualquer tipo de veículo.De acordo com a SET, Secreta-ria de Engenharia de Tráfego, os jovens são os que mais se envolvem em acidentes de trânsito. Verificou-se que 34% dos acidentes acontecem com pessoas da faixa etária de 18 a 29 anos.O número de acidentes no trânsito tem au-mentado drasticamente todo ano, devido, prin-cipalmente, à imprudência dos motoristas. Nas estradas ou nas cidades, todo dia acontece uma fatalidade.Segundo pesquisa feita pelo Governo Federal 57% dos acidentes acontecem por desatenção e/ou imprudência do motorista, 15% por excesso de velocidade, 9% por consumo de bebida alcoó-lica, 6% má conservação do automóvel e 5% más condições das vias. Se o condutor tiver consci-ência de todas as regras de trânsito, assim como o respeito pelas mesmas, com certeza não irá co-meter estragos para outras pessoas e para si mes-mo. E isso fará com que o índice de acidentes de trânsito seja reduzido.Mesmo com regras de retirada de habilitação cada vez mais severas, leis que punem e que ree-ducam, grande parte desses acidentes são causa-dos por motoristas irresponsáveis que fazem da bebida a melhor companheira. Nilson Garcia, dono de uma autoescola em Sal-to, afirma que mesmo tendo aumentado a carga horária das aulas teóricas e práticas os motoristas continuam imprudentes. “Isso pode ocorrer por-que, ainda assim, o tempo para o aprendizado é curto e a educação no trânsito deveria ser ensi-nada nas escolas”, disse.

O que diz a lei

Hoje, a lei manda que sejam feitas 45 horas aula de ensino teórico e 20 aulas práticas. Isto, para quem vai tirar a primeira habilitação. A professora de um Centro de Formação de Condutores (CFC) Cássia Braga dá aulas de di-reção há 10 anos. Ela diz que as novas regras aju-daram muito, mas cansou de ver antigos alunos

voltarem a sua sala de aula para fazer reciclagem por causa da imprudência no trânsito.Jovem e a direção Uma pesquisa feita pelo Instituto Sangari e o Ministério da Justiça mostrou que houve um au-mento de 32,4% nas mortes de jovens em decor-rência de acidentes de transporte no período de 1998 a 2008, enquanto no total da população o índice foi de 26,5%. Hoje, os cursos ensinam os alunos a pas-sarem nos exames apenas, tanto práticos quanto teóricos. Dirigir mesmo, no dia a dia, só prati-cando e no caso, errando. Garcia critica a avaliação que o aluno faz após o curso teórico. Por ser muito fácil, o aluno nem se prepara realmente, basta saber ler para passar, a educação no trânsito deve ser ensina desde criança, nas escolas de todo o país.

Segundo pesquisa feita pelo Governo Federal 57% dos aci-dentes acontecem por desa-tenção e/ou imprudência do motorista, 15% por excesso de velocidade, 9% por consu-mo de bebida alcoólica, 6% má conservação do automóvel e 5% más condições das vias.

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Quadra vaziaBruna Lígia

A evasão dos alunos nas aulas de Educação Física pode ser um problema. Como reverter esse quadro?

A Educação Física e sua finalidade no contexto escolar são relacionadas ao conceito de cultura corporal de movimento. Para a disciplina, propõem-se conteúdos, metodologias e estratégias adequadas aos diferentes níveis de ensino. Destacam-se as diferentes concepções de avaliação, analisando suas implicações para a Educação Física e apresentando sugestões. Conclui-se a necessidade da Educação Física de estreitar as relações entre teoria e prática e inovar pedagogicamente, a fim de seguir contribuindo para a formação integral das crianças e jovens e para a apropriação crítica da cultura corporal de movimento. Contudo, o que é

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visível nos dias de hoje, é que se perdeu de vista o bom professor de tal disciplina e, com isso, per-deu-se também a riqueza e o conteúdo das aulas.Raramente nas escolas o professor costuma se-guir um cronograma da grade curricular em rela-ção aos esportes. O grau de interesse dos alunos pela aula também diminuiu muito. Os alunos parecem não ter mais vontade de participar das aulas, de aprender. Enfim, não querem saber de fundamentos, e, em relação ao professor, muitas vezes, falta autoridade.O aluno de uma escola pública de Salto, Rafael Leme da Silva, 13 anos, conta como são as aulas de Educação Física. “Normalmente o professor nos passa o que deve ser feito, mas quase nunca queremos fazer a atividade proposta, então fica-mos jogando bola”, confessa.Falta de exigência por parte do professor? O problema são os alunos? Qual o motivo de ta-manho desinteresse?O ex-diretor e professor de Educação Física, Vanderlei da Silva Murça, acredita que hoje a disciplina é vista apenas como uma atividade re-creativa e não há mais tantas exigências por parte do professor. “Falando do desinteresse dos alu-nos, uma das causas pode ser a implantação da Progressão Continuada, um sistema de não re-petência dos alunos do curso fundamental. Já em relação aos professores, estes muitas vezes não têm preparo didático e estratégico para dar au-las, e a falta de material para desenvolver a aula, principalmente nas escolas públicas, pode ser um motivo de desinteresse”, afirma.A área de Educação Física hoje contempla múl-tiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movi-mento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finali-dades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde.Trata-se, então, de localizar em cada uma des-sas manifestações (jogo, esporte, ginástica, etc) seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de uso como instrumentos de co-municação, expressão, lazer e cultura, e formular, a partir daí, as propostas para a Educação Física

escolar.Segundo Vanderlei, esse contexto onde a Edu-cação Física escolar se encontra hoje pode ser mudado. “Primeiramente, se os especialistas em educação revirem a grade curricular da disciplina oferecerem mais opções aos alunos e melhora-rem o preparo dos professores, que, às vezes não sabem ao menos lidar com os alunos”, explica.Mais do que exercícioA Educação Física escolar pode sistematizar si-tuações de ensino e aprendizagem que garantam aos alunos o acesso a conhecimentos práticos e conceituais. Para isso, é necessário mudar a ên-fase na aptidão física e no rendimento padroni-zado que caracterizavam a Educação Física para uma concepção mais abrangente, que contempla todas as dimensões envolvidas em cada prática corporal.É fundamental também que se faça uma clara distinção entre os objetivos da Educação Física escolar e os objetivos do esporte, da dança, da gi-nástica, da luta, pois, embora seja uma referência, o profissionalismo não pode ser a meta almejada pela escola.

A área de Educação Física hoje contem-pla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afe-tos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde.

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João Sarti

O Blog na Educação

A importância dessa ferramenta no aprendizado

A informática, enquanto ferramenta educativa, possibilita vários caminhos para que o professor, seja de qual área for, realize suas aulas de uma forma interessan-te, diante do mundo tecnológico e conectado em que vivemos. Dominar técni-

cas de informática, para assim aplicá-las à educação é um dos grandes desafios dos dias atuais, principalmente para os profissionais da educação. Muitos recursos são utilizados para que se obtenha êxito na aprendizagem, e, um em especial, oferece muitas possibili-dades de desenvolvimento das potencialidades humanas: o blog.

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Os blogs são páginas na internet que transmitem dados e contam com um servidor para armaze-nar as informações. Historicamente, surgiram no final de 2001. Apresenta-se com uma linha de tempo para as postagens, atravessando uma infi-nidade de assuntos que vão desde diários, piadas, links, notícias, poesias, artigos, idéias, fotografias e tudo mais que seja possível. Quando postado na web, qualquer pessoa pode acessar o conteú-do. Sendo uma excelente forma de comunicação, permite que grupos e pessoas vejam, sem restri-ção temporal, pois o leitor pode registrar comen-tários acerca da exposição do blog.De acordo com a pedagoga Margarida Elisa Ehrhardt Ferreira, essa ferramenta pode contri-buir com a prática pedagógica diária. “Pensando enquanto educadora, acredito que os blogs po-dem contribuir, e muito. Eles podem servir para apresentar várias etapas de um projeto desenvol-vido na escola, divulgar atividades, servir como apoio a um eixo de trabalho, preparar encontros educacionais, desenvolver a curiosidade tecnoló-gica, além de incentivar o aluno a buscar diferen-tes linguagens de programação”, comentou.Margarida destaca que o blog, enquanto ferra-menta de ensino, deve ser visto e explorado com criatividade e riqueza.“É importante lembrar que o blog não se restrin-ge apenas a uma área. Ele funciona como um re-curso para todos os eixos do conhecimento. Ele pode, em alguns momentos, conter mais infor-mações sobre uma determinada área, mas não se fecha para qualquer outra em nenhum momen-to. Além de tantas possibilidades educativas, os blogs aproximam as pessoas, as ideias, permitem reflexões, colocações, troca de experiências, am-plia a aula e a visão de mundo”, explanou a peda-goga, que incluiu: “O professor não pode deixar de estabelecer objetivos e critérios ao utilizar este recurso, pois a utilização a esmo não enriquece as aulas, torna-se um tempo inutilizado para a construção e a troca de conhecimentos”.O uso do computador em ambientes de aprendi-zagem implica em entender o computador como uma nova maneira de representar o conheci-mento provocando um redimensionamento dos

Com a internet, blogs se tornaram ferramentas eficientes de comunicação

conceitos já conhecidos  e possibilitando a busca e compreensão de novas ideias e valores. Neste sentido, e seguindo a tendência da Web 2.0, o blog educativo aparece como ideal para usar em sala de aula como ferramenta de estudo e pla-taforma de integração entre os estudantes e a escola. Por ser um ambiente relativamente fácil para gerenciar e por possibilitar a interação en-tre professores e estudantes, muitas escolas têm adotado-o em sua prática pedagógica. Além dis-so, a utilização do blog é interessante não apenas para produzir conteúdos, mas também como in-tegração de outras mídias e redes sociais como o twitter e facebook.

Exemplos

Uma mesa, um punhado de terra úmida, água, varetas e instrumentos simples, de uso delica-do e preciso. Mãos habilidosas para lidar com argila, que também pode ser classificada como nada mais que um pedaço de barro. Mas, como se brincassem de Deus, jovens de Iperó (distante 60 km de Itu) conseguem dar um sopro de vida ao material inerte. Bustos imponentes, Virgens Maria de feições dramáticas, uma réplica da mão humana, São Jorge poderoso em seu cavalo. E muitos desses novos criadores não tinham a me-nor noção do poder da vida que tinham dentro de si até entrar no Poas (Projeto Oficina de Ar-tes Sacras), um projeto que ensina a arte da es-cultura a garotos da cidade.O projeto é mantido pela Fundação Educacio-nal Ipanema em parceria com a Prefeitura local.

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Atualmente são 92 alunos de 11 a 18 anos aten-didos pela iniciativa. A seleção é feita pela Secre-taria de Assistência e Desenvolvimento Social de Iperó e avalia renda familiar, a vulnerabilidade social do aluno e família. Além da escultura, os alunos aprendem desenho, história da arte, co-municação, ética e têm reforço em português e matemática.“Um dos objetivos é dar oportunidade de profis-sionalização aos participantes. A cada ano con-vidamos os alunos que se desenvolveram melhor a dar continuidade e aprofundar seus conheci-mentos, dessa vez como instrutores. Queremos oferecer a jovens de baixa renda a chance de aprender a arte da escultura num processo de aperfeiçoamento de 4 a 6 anos e se tornar profis-sionais autônomos ou empreendedores”, explica Laís de Campos, coordenadora do projeto.Entre as maiores obras dos alunos está o presé-pio em tamanho natural que traz as tradicionais figuras natalinas e alguns animais como uma vaca e uma ovelha. Algumas peças pesam mais de 200kg.O projeto guarda histórias inusitadas como a dos instrutores Bruno Soares e Jaimara Santos. Am-bos começaram como alunos e se conheceram no ateliê de escultura. Com o tempo foram promo-vidos a instrutores e começaram a namorar. Hoje são casados. Bruno explica que não tinha a me-nor experiência antes de entrar no Poas. “Nem sabia que escultura existia. Eu achava que argila só servia para fazer tijolo”. Se antes achava que só servia para tijolo, Bruno descobriu que é capaz de fazer esculturas belís-simas. Junto com Jaimara ele comanda os outros alunos no aprendizado da arte.Enquanto participam do projeto, os alunos rece-bem a Bolsa Artesão, uma ajuda de custo. Alunos iniciantes recebem R$ 50 e os avançados R$70. O projeto começos há cinco anos com um con-vite ao escultor Murilo Sá Toledo a desenvolver em Iperó uma trabalho parecido com o que con-duzia na cidade de Pirapora do Bom Jesus (SP). A iniciativa foi tornando corpo e os primeiros alunos hoje são escultores. Em 2009 o Poas foi o único projeto da região de Sorocaba a receber apoio do Criança esperança. A parceria possibilitou a compra de dois fornos

para a queima das peças, o que as torna mais re-sisitentes. “Com a digulgação, surgiram propostas de en-comendas de obras de arte e convites para uma exposição na capital, numa Galeria de Arte”, ex-plica Laís. Atualmente, o projeto tem três núcleos na cida-de, com aulas no Centro e bairros de Bacaetava e George Oetterer.Para este ano, o principal projeto do Poas é a construção de um monumento para Iperó. “A idéia é retratar personagens importantes na his-tória da cidade e temáticas como educação, cul-tura, trabalho e meio ambiente. Vamos consultar a população para que a sociedade iperoense par-ticipe da construção”, conclui Laís.

Exemplo: blog da Universidade Federal do RS

Blog Educação Democrática: outro exemplo de blogs usados como ferramenas de comunicação no setor educacional

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laurentino gomes

Murilo Roosch

Conheça a história do jornalista e autor dos livros que viraram best sellers no Brasil e em Portugal, “1808” e “1822”, que, após deixar sua vida nas redações, se dedicou exclusivamente aos seus livros e a palestras educacionais

Saber sobre a história do Brasil também é si-nônimo de educação. Ler, pesquisar, aprender, ensinar. Isso faz com que a pessoa se torne mais

“culta”, digamos assim.A grande chave para o sucesso do “saber” é isso: fazer--se de si mesmo um ser inteligente, sábio, educado. Histórias importantes que aconteceram em nosso país, de enorme relevância, são de certa forma interes-santes para o nosso intelectual. É por isso que iremos falar aqui de um homem que, depois de uma vasta carreira na área do Jornalismo, atuante em diversos segmentos na profissão, profissional qualificado no que faz e fazia, resolveu deixar de lado sua direção na Editora Abril para escrever sobre as lindas histó-rias da nossa nação. Esse é Laurentino Gomes, que

Por uma boa educaçãoatualmente mora na cidade de Itu/São Paulo, autor dos livros de sucesso “1808”, que fala sobre a vinda da corte portuguesa para o Brasil nesta data, e o “1822”, sobre a independência do Brasil, ambos tornando-se best sellers.Nascido em Maringá, formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná, com pós-graduação em Administração pela Universidade de São Paulo, Laurentino trabalhou como repórter e editor para o jornal O Estado de S. Paulo e revista Veja e foi di-retor da Editora Abril. É membro titular da Acade-mia Paranaense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, e atualmente se dedica a escrever livros sobre a história do Brasil. Sua próxima missão: escrever seu novo livro «1889», sobre a Proclamação da República. O escritor ganhou o Prêmio Jabuti, da Câmara Bra-sileira do Livro nas categorias Melhor Livro Repor-tagem e Livro do Ano de Não-Ficção pela sua publi-cação do livro “1808”. Sua obra também foi eleita o

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Melhor Ensaio de 2008 pela Academia Brasileira de Letras e permaneceu três anos consecutivos na lista dos livros mais vendidos de Portugal e do Brasil.“O que eu procuro fazer com os livros de história do Brasil é uma pesquisa profunda, não conto uma his-tória banal, não fico só na caricatura, no entreteni-mento. Tem gente que escreve livros sobre a história do Brasil e usa a história como mero entretenimento. Uso os elementos pitorescos, divertidos para atrair a atenção do leitor mais leigo”, explica o autor. O jornalista ainda diz que o segredo da apuração para se escrever esse tipo de livro realmente está na pes-quisa adequada. “Quanto maior a pesquisa e variada as fontes de informação, mais próximo você chega da verdade. Acho que aí está o segredo de apuração. Nem tudo o que está nos documentos é verdade, é preciso entender que há um propósito do discurso nesse documento. Acho que o jornalismo que tem esse objetivo e também o propósito do bom senso. O jornalista tem um ‘desconfiômetro’”, ressaltou.

Preguiça e receio

Preguiçoso e receoso; Laurentino confessa esses que dois adjetivos vieram para lhe amedrontar a escrever o livro “1808”. “Eu tinha certo medo de comprometer a minha repu-tação, de fazer uma obra que seria muito contestada e certa preguiça mesmo, de abandonar a minha rotina do dia a dia na Editora Abril e escrever um livro no fim de semana, feriado”, afirmou. Escrever sempre foi algo angustiante para o autor, po-rém, o que mais gostava na verdade era pesquisar. “Eu diria que o culpado disso tudo é do Dom João, foi ele que me obrigou a escrever o livro em função da efe-méride e, ao fazer isso, todos os meus planos de vida foram atropelados. Mas foi a melhor decisão que eu tomei na minha vida, hoje eu sou muito feliz”, disse.Com certeza, através de pesquisas enriquecidas e tra-balhosas que alguém faz, o nível de conhecimento da pessoa cresce, e o resultado para o que está fazendo pode ser ótimo. É disso que hoje mais os brasileiros precisam: estudar! Se todos fossem como o tal do Laurentino Gomes, quem sabe a educação e o au-todesenvolvimento seriam melhores e mais eficazes?

Próxima obra

Já o livro no “1822”, que aborda a independência do Brasil, o escritor diz que sentiu um peso muito gran-de nas costas ao escrevê-lo, pois sua expectativa era enorme por parte dos leitores e dos críticos que iam

pegar o segundo livro e analisar com lupa para saber se o fenômeno era consistente e dele mesmo. “Eu senti um peso muito grande, aliás, eu tive que ir para a terapia, terapia mesmo! E agora? O que está acontecendo? Que fenômeno é esse que está transfor-mando a minha vida nesta dimensão? Mas ele saiu, eu acho que é um livro que está bem escrito, gosto muito de 1822, é mais crítico que o 1808”, assegurou.Educado, atencioso e sorridente, Laurentino, agora, mesmo após o abandono das redações, faltando ape-nas dois anos para se aposentar, alegra-se ao dedicar sua vida exclusivamente aos livros e confirma: “É a profissão do jornalismo à qual eu devo tudo o que sou hoje”.Para finalizar a deliciosa conversa com o escritor, seu próximo livro não ficou sem ser pronunciado. O “1889”, sobre a Proclamação da República, que não tem o mesmo peso do segundo livro. “Como o segundo já virou um best seller, já vendeu mais de 400 mil exemplares, eu acho que eu estou justificado para mim mesmo. Agora é um Brasil mais complexo, muito diferente do começo do século XIX, é um Brasil que já tem imprensa, livros, ensino supe-rior, telégrafo, telefone, carro, trem... Eu vou ter que ser muito mais  profundo na pesquisa e muito mais seletivo para editar, para não me perder. Mas eu não posso me assustar com isso não, o jornalismo é isso mesmo”, admite. Por consequência disso, graças ao querido jornalista, nosso aprendizado também pode ser mais profundo, não? Basta dar uma passada na banca mais próxima.Laurentino hoje, além da dedicação aos seus livros, dá palestras sobre suas obras em escolas, faculdades, universidades e em qualquer lugar que for convidado, e também costuma participar de seminários e debates sobre história.

Laurentino: educação como princípio para pesquisa, busca pela cultura e saber

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educação

Pedro Cunha

O desafio de serPROFESSOR

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Carreira enfrenta desinteresse dos jovens enquanto políticas públicas tentam a va-lorização

Peça indispensável na melhora dos índices de aprendizado e de Educação de uma maneira ge-ral, o professor vive um paradoxo na realidade brasileira. Embora seja importante na formação intelectual e humana das crianças do país, a pro-fissão de professor é desprestigiada e pouco al-mejada por jovens brasileiros de hoje.Dados de uma pesquisa realizada pela Funda-ção Carlos Chagas no ano passado mostram que apenas 2% dos estudantes de ensino médio que-rem cursar licenciatura ou pedagogia. O estudo ouviu 193 alunos em grupos de discussão e re-cebeu 1,5 mil questionários respondidos por jo-vens de sete estados das cinco regiões brasileiras.Apesar de os estudantes reconhecerem a impor-tância do professor, eles acreditam que a profis-são é desvalorizada pela sociedade e pelo gover-no, segundo a pesquisa. Os resultados revelam que alguns (32%) haviam considerado a possi-bilidade de investir na carreira, mas desistiram.Como alternativa para melhorar o desempenho dos professores e incentivar o trabalho de resul-tados, desde 2008 o governo estadual paulista paga bônus por metas atingidas. As escolas são avaliadas anualmente e se os alunos atingirem ou superarem a nota previamente estipulada, todos os funcionários recebem um bônus no salário.Para Vilma Moraes de Arruda Soares, que é di-retora de escola da rede pública em Boituva/SP, o bônus salarial traz pontos positivos e negativos. “O professor que desempenha um trabalho de excelência merece ganhar o bônus como incen-tivo, porém ele não realiza [isso] pelo motivo do prêmio e sim porque acredita que a escola deve ser transformadora e que o seu papel é funda-mental neste sentido”. Para ela, o aspecto negativo é que “conforme as ‘clientelas’ atendidas, existem problemas que ul-trapassam os limites da escola e que não estão re-lacionados apenas com o trabalho do professor”. Vilma acredita que problemas sociais e familia-res são também determinantes para o resultado escolar da criança.

As metas são estabelecidas pelo Índice de Desen-volvimento da Educação de São Paulo (Idesp). O valor do bônus é proporcional ao avanço al-cançado. Se as metas forem 100% cumpridas, os funcionários receberão o total do bônus: 20% dos 12 salários mensais, ou seja, 2,4 salários a mais no ano. Se a escola atingir 50% de sua meta, seus funcionários receberão 50% do bônus, e as-sim por diante.Além da questão salarial e de carreira, o profes-sor também enfrenta dificuldades dentro da sala de aula, especialmente para conquista a atenção dos alunos. “Manter o interesse e disciplina dos alunos são desafios, pois eles vivem em contato com tecnologias sofisticadas, sem regras. Alguns são desinteressados e apáticos o que vem dificul-tando o trabalho do professor”, continua Vilma.Os desafios que os docentes enfrentam no dia a dia tanto em sala de aula, quanto na questão sa-larial e na própria perspectiva de ascensão dentro da carreira faz com que esta profissão – tão im-portante para o desenvolvimento do país – seja escolhida por poucos jovens e talvez já enfrente um processo de envelhecimento dos profissio-nais. “Ficam na carreira alguns, porque são idealistas, outros por comodismo e muitos acabam desis-tindo”, resume a diretora Vilma.

Um dos maiores desafios dos professor é entreter a atenção dos alunos

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educação

Renan Pereira

Francisco Coccaro, o Monge, inova na forma de ensinarFilosofia. “Eu sempre fui um cara meio inconformado com o mundo e isso realmente me incomoda bastante”

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A escandalosa campainha do pequeno so-brado do 21, na Rua Salvador Pereira de Camargo soa aproximadamente às duas

horas da tarde. Era apenas o meu primeiro en-contro com o professor. Ele me recebe pela jane-la com um amigável “e aí, cara!”. Logo depois, sai e me dá um abraço. “Venha, vamos até o cyber comigo; preciso imprimir umas paradas para a aula”.  Por onde passa, o Monge - como ficou conhecido - sempre é cumprimentado, ou, no mínimo, gera olhares assustados de transeuntes habituados ao pacato bairro sorocabano. Calça larga preta e camisa da mesma cor, óculos escuros e a careca coberta por uma boina também preta. Coturno cano alto, jaqueta escura, brincos, tatuagens nos braços e na cabeça. É assim que o excêntrico professor de filosofia da escola Fran-cisco Coccaro se veste todos os dias. “O preto é a única cor que eu uso, sempre. Ele representa o meu luto pelo estado de decadência que o nosso mundo se encontra”, pondera.“Entra e não repara na bagunça”, aconselha o Monge. De fato, não seria possível não reparar: uma TV totalmente destruída em frente à por-ta, fios espalhados pelo chão, jaquetas em cima do colchão que se encontra no chão, um blazer dependurado na porta, algumas latas vazias nos cantos das paredes, livros sobre a mesa da co-zinha e mais livros sobre a poltrona em frente ao quarto. O forte cheiro de tinta bate e se esvai pela janela da sala de quando em quando: o pro-fessor está pintando as paredes de branco; antes, elas eram pretas. “Minha namorada não gostava. Aceita um suco?”. Eu aceito. O suco é de mar-acujá. O Monge não ingere álcool e é vegan. Ele

Uma forma diferente de

EDUCARme leva até o quarto que fica de frente para a cozinha e pede para que eu me sente. O local está quase vazio e só possui um sofá, um guarda-roupa, um objeto não identificável de madeira ao meu lado e os nossos copos de suco. Aqui, as paredes ainda são escuras.André Ricardo da Roza, nome de nascença do Monge, é filho adotivo e tem 29 anos. Natural de Santo André, viveu um período de sua vida em Araçoiaba da Serra, cidade em que teve um filho, hoje com 10 anos e que mora com a mãe. O filósofo passou por várias cidades até chegar a Itu. Pouco depois, conheceu a cidade de Soro-caba, onde se formou em filosofia pela Universi-dade de Sorocaba (Uniso) no ano de 2008. Hoje, ele trabalha e vive na cidade. “Este é o local onde eu melhor me adaptei. Foi aqui que dei início à vida de professor, profissão que não pretendo deixar de exercer nunca”, afirma. Polêmico, o Monge se diferencia de outros edu-cadores justamente pela sua forma de pensar e de ensinar. “Na verdade, sou contra as pessoas terem que se formar para dar aulas de filosofia, por ex-emplo. Tudo o que eu faço é ter um papo cabeça com os alunos e respeitar a cultura de cada um deles, independente do comportamento.”De fato, na escola em que o Monge leciona, ouvi comentários positivos sobre o mestre. “Suas au-las são bem malucas, ele sobe em cima da mesa, fala palavrões e motiva os alunos a pensarem em coisas do cotidiano. É raro ver um que o desre-speite”, diz Jefferson Batista, estudante do pri-meiro ano do ensino médio. Fernanda Nunes, estudante para a qual o profes-sor dá apenas aulas eventuais, concorda: “Todos

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gostam do Monge por aqui. Ele dá uma cara diferente à escola; suas aulas envolvem muita conversa, vídeos, etc. – nada de apenas lousa cheia de lição. Nunca vi nenhum professor con-seguir tanto respeito por parte dos alunos”.

Polêmico, acima de tudo

O Monge é polêmico; diz não ser adepto a nen-huma religião e não acreditar no Deus ocidental. “Afastei-me da igreja evangélica quando percebi que eu não gostava de estar lá. A religião católica então nem se fala: lamentável”. Tímido e vaidoso, o professor foi influenciado pelo hinduísmo e budismo, cultura punk na ado-lescência, música mantra indiana, rock gótico anos oitenta e, é claro, a filosofia. Iniciou-se na religião com 14 anos, após ler o evangelho do espiritismo. Foi batizado aos 17 pela igreja evan-gélica. Ele explica como a filosofia surgiu cedo na sua vida e que foi o que o motivou a se tornar um professor. “Aos dez anos de idade comecei a indagar sobre a existência do ser humano e fui buscar no livro de grandes autores essa resposta. Nunca a encontrei, mas a filosofia, ao menos, me deu várias possibilidades. Logo, comecei a per-ceber que eu estava um nível acima dos outros alunos e que tinha de usar o meu conhecimento para ajudar outras pessoas”. A partir daí, Monge passou a organizar grupos de estudo e percebeu que realmente tinha o dom de passar o conhecimento adiante. “Eu sempre notava que todos os professores eram iguais e agiam como executivos de grandes multinacio-nais. Para mim, educar é algo que vai muito além do mero conhecimento recíproco. E a filosofia dá a possibilidade de você explorar das pes-soas. Fazer com que elas libertem os seus maus pensamentos e os transformem, talvez, em coisas boas”, afirma.Nos dois encontros que tive com o Monge, eles estava vestido sempre com as mesmas roupas pesadas, ignorando o calor fatal das três da tarde das quartas-feiras - sempre encarando os assun-tos com seriedade, apesar do seu bom-humor, criticando o sistema e tomando o seu suco de maracujá. O professor me contou ainda que é au-tor de dois livros: Pessimismo: caminho para a fe-

licidade e Advogando suicídio – obra que escreveu quando estava a ponto de deixar o mundo. “Eu estava na fossa: olhava todos os dias para uma corda que eu tinha em casa. Realmente estava a fim de pendurá-la em qualquer lugar e pôr um fim na minha vida. Eu tinha constantes crises de depressão e estava paranóico. No fim, acho que acabei não me matando pela minha mãe. Eu sou filho único e então pensava: vou colocar minha mãe em um patamar de fracassada, o único filho que teve cometeu suicídio”. A arte de ensinar, no entanto, lhe trouxe uma visão diferente do mundo. “Eu sempre fui um cara meio inconformado com o mundo e isso realmente me incomoda bastante. Por outro lado, a partir do momento em que entrei em uma sala de aula e vi que até mesmo os alunos chama-dos de ‘demônios’ paravam para escutar o que eu tinha a dizer, decidi que essa seria a minha nova missão”, conta. Depois de toda a fase negativa pela qual pas-sou, ele diz suas crises foram superadas. “Hoje, tenho uma visão até positiva do mundo. Se nós não nos movermos, nenhum político fará isso por nós. Partindo desse princípio, só o conhecimento poderá nos salvar. E é isso que eu tenho feito todos os dias, motivando os meus alunos a questionarem todas as formas de poder absoluto”. Pois bem, enquanto o mundo não chega ao nível que o Monge espera ele continua vivendo ali, firme e forte, no sobradinho da rua Salvador Pereira de Camargo, perto da Rua dos Comér-cios.

Aos dez anos de idade come-cei a indagar sobre a exis-tência do ser humano e fui buscar no livro de grandes autores essa resposta. Nunca a encontrei, mas a filosofia, ao menos, me deu várias possibilidades.

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artigo

Renata Guido

O Movimento NaMesmaMoeda é uma manifestação nacional que começou pela internet e vem comando proporções cada vez maiores. A proposta é protestar contra o aumento do preço dos combustíveis, mos-trando nossa indignação com o abuso dos impostos cobrados do consumidor final.Tudo começou em Goiânia, capital do Estado de Goiás, no dia 20 de abril, véspera de feriado, quando, lendo o jornal pela manhã, um grupo de publicitários se revoltou com a notícia do aumento da gasolina, que foi para R$ 3,19. Começaram, então, a debater o assunto no trabalho de forma natural, logo o papo fluiu até surgir a ideia de criar um protesto pacífico através das redes sociais. Nasceu então o “Na Mesma Moeda”.Por volta das 11 horas da manhã, o #NaMesmaMoe-da (hastag utilizada no manifesto) começou a circular pelo Twitter e Facebook, divulgando a idéia de pagar “na mesma moeda” o abuso na alta dos preços dos combustíveis. Não demorou muito para surgir cen-tenas de pessoas interessadas em participar do mo-vimento. Na medida em que o tempo passava, mais e mais adesões apareciam em ritmo acelerado, a im-prensa entrou em contato por volta das 15h, a partir dali o grupo tinha certeza que aquela idéia de horas antes havia tomado grandes proporções. Naquele dia a hastag alcançou a primeira posição dos tópicos mais comentados do Twitter em Goiás.O primeiro protesto foi realizado na noite do mesmo dia, mobilizando mais de 200 pessoas em um posto de gasolina da cidade. Pedindo para abastecer apenas R$0,50 e exigindo a nota fiscal, o grupo protestou de forma pacífica, chamando a atenção da população e da impressa para o problema.No dia seguinte, começou a circular o vídeo do pro-testo na internet, causando então um efeito bola de neve que acabou tomando conta do país. Em pou-cos dias a idéia se espalhou. Milhares de pessoas em todos os estados brasileiros aderiram ao movimento, provando a força das redes sociais, mobilizando a po-pulação com o objetivo de despertar a atenção das

Consciência e mobilização

autoridades competentes.Alguns dos manifestantes deixaram claras suas opi-niões. “Nada justifica esse aumento absurdo. Expor-tamos por menos de R$ 1,00 e aqui temos que pagar mais de R$ 3,00. Isso não é certo”, comentou Lo-rena Vieira. “O governo precisa baixar esses valores, os brasileiros estão revoltados”, afirmou Guilherme Gara. “Não vamos ficar só nesse protesto e não vai acontecer só em um dia. Enquanto não baixarem o valor dos combustíveis, a manifestação vai continuar”, garantiu outra manifestante.O “Na Mesma Moeda” já aconteceu também em Sal-vador, Campo Grande, Curitiba, Joinville, Uberada, Uberlândia, Florianópolis, Marília, Divinópolis, Belo horizonte, Anápolis, Brasília, Porto Alegre, Palmas, dentre outras cidades. Além disto, dezenas de outras cidades já têm data marcada para realizar o protesto. O site oficial da manifestação é o www.namesma-moeda.com.br. O site, segundo os organizadores do movimento, surgiu com a necessidade de organizar e centralizar as informações, criando um canal de co-municação entre protestantes, simpatizantes da causa e para que seja amplamente divulgado os protestos acontecidos e que também irão acontecer.

Protestar com inteligência também é característica de um povo educado. Veja a ação do movimento Na mesma moeda, iniciado em Goiânia (GO) e que se espalhou por todo o Brasil.

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Com o lema “Transformando sua ideia em arte”, o designer Almir machado, de 42 anos, pai de uma garota de 12 anos,

natural  do bairro da Pompeia, São Paulo capital, e criado na Vila Olimpia,  vem trazendo inova-ções no modo de atuar do empresariado da cida-de de Salto revivendo a presença de aprendizes em empresas. A ideia não e nova, mas foi abandonada com as novas leis governamentais que, por não serem explicadas de ofrma clara, criam confusão ao afirmarem que os jovens de até 18 anos não po-

aprendiz

Aparecida Susana

dem trabalhar. Na verdade, esses jovens podem, sim aprender uma profissão na prática. Ciente dos beneficio sociais, Machado é adep-to da velha forma de profissionalizar de jovens. Bem humorado, alto, e ostentando a tradicio-nal boina sob a cabeça, e “falando” com as mãos como um autêntico descendente de italianos, com os olhos expressivos exibe as mãos caleja-das com as quais extrai do ferro formas inusitadas como a de uma rosa. Há três anos na cidade, co-manda o ateliê Ferro Battuto, às margens do Rio Judiaí, no mesmo prédio onde, por  muitos anos,

Aprendiz

Educação e trabalho aliados na formação de jovens

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funcionou o Bar da Ponte. “Sou um dos seis filhos de dona Raimunda, que me deu um segundo pai, imigrante italiano, Wil-son Rangila. Meus pais não desatrelaram a escola do trabalho na minha educação, fui aprendiz de meu pai, que já trabalhava com ferro battuto antes de  vir  da Calábria, na Itália”, conta. Segundo o ferreiro, seu pai lhe dizia sempre: “Fi-lho, ferro é tudo. Aprenda a lidar com ele, a mol-dá-lo, você morre e ele fica. Passe aos outros o seu conhecer, você se vai, mas a arte fica.” O designer passou por outras experiência pro-fissionais; foi analista em vários grandes bancos paulistas, até se dedicar à antiga arte de moldar o ferro battuto após se formar em Arte Designer na escola Panamericana da capital. Machado trabalha embalado pelo som do jazz. (Norman Brown, Robert Corti, e os clássicos como Billie Holiday e Lee Morgan). O artista é músico nas horas vagas, mas, segundo ele, a “arte dura” falou mais alto do que a arte apenas para a alma, que é a música. A profissão, que a prendeu na adolescência, trouxe o sucesso ao artista, que recebe seus clientes com bom humor e descontra-ção.“Quero aliar os estudos ao trabalho, como aprendi com meu pai. Fez bem para mim e a tantos outros garotos, vai fazer bem também à garotada de hoje, especialmente ao caráter”, disse.Para ele, as aulas que os adolescentes acham cha-tas, como geometria, matemática e física, ficarão interessantes quando eles passarem a utilizá-las na prática. “Por hora, são só dois garotos que tenho aqui, mas pretendo aumentar o número de apren-dizes brevemente. Tenho computadores aqui, quando eles precisam dar uma paradinha para estudar para a prova eu libero na boa”, garante o patrão, orgulhoso dos meninos.Os garotos, estudam de manhã, saem da escola, almoçam em suas casas e entram no trabalho de-pois. Machando ainda argumenta que estudar à noite não é uma boa e trabalhar o dia todo. Isso pode atrapalhar o rendimento escolar, e não é isso que ele pretende,

ApoioAinda falta divulgação e apoio do governo para

que os empresário – epecificamente os microem-preendedores – descubram essa vertente de como aproveitar a mão de obra do menor aprendiz, em favor da produção e do adolescente.Elias Marcelo de 16 anos, estudante da escola Estadual Profª. Maria de Lurdes Moraes Coste-la, cita suas vantagens em trabalhar e estudar. “Eu estou curtindo, acho legal aprender algo novo, ter uma profissão. Uma grana, ajuda muito a gente a pensar no futuro de forma maior, mais resposável” afirma o jovem. As aulas ainda são chatas, aos olhos dos adoles-centes, porque os professores não mostram a utili-dade, de cada matéria, é complexo para os jovens, com tantas dúvidas ainda estudar algo que parece nunca terá utilidade.A produção do ateliê é inspirada na tradição ita-liana, especializado no segmento de artefatos decorativos feito de ferro forjado, como: lustres, móveis, castiçais, candelabros, aparadores, caça-rolas, caldeirões, panelas, churasqueiras, lampiões, fogos a lenha entre outros. Há também móveis para jardins e piscinas. Além de vários outros pro-dutos decorativos expostos na loja, a vantagem do cliente é ter tudo personalizado, caracteristica do artesanal.Segundo o presidente executivo do CIEE – Cen-tro de Integração Empresa Escola, Luiz Gonza-ga Bertelli, não há uma carreira específica capaz de ser chamada de a profissão do futuro. “O que acontece hoje é que existem muitas áreas que não são bem exploradas e poderiam gerar muitos em-pregos, como Engenharia de Alimentos, Moda, Geografia e História, e outras que são extrema-mente competitivas”, disse.Ainda de acordo com Bertelli, profissões já “consagradas”, como Administração de Empre-sas, Direito, Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, Informática e Processamento de Dados, Engenharia Mecânica, Engenharia Civil, Comércio Exterior, Arquitetura e Secretariado Executivo, ainda continuarão sendo as áreas mais procuradas.“Por isso, não podemos caracterizar uma única profissão como sendo a do futuro, mas várias de-las, mesmo as muito competitivas e concorridas, porque ainda têm muito espaço para crescer.”

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SESSÃO

XEQUE-MATE

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Presume-se que as pessoas encarregadas, por vontade e vocação, de ensinar aos

outros aquilo que sabem, devam ter conhecimento necessário e saibam como fazê-lo. É o que a maioria pensa sobre um professor. Imagina-se que seja pre-parado, domine o assunto e saiba como transmitir seu conhecimento aos seus alunos. Há certa distância entre isso e a realidade brasileira.Segundo pesquisa realizada pelo Enade (Exame Nacional de De-sempenho de Estudantes), 14% dos cursos de Pedagogia está com a menor nota, que é um. Constatou--se também que 42% do total foca seu ensino para o funcionamento de sistemas educacionais e os fun-damentos da educação, como sua história e sua psicologia. Segundo pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas, as instituições de ensino deixam a desejar nos quesi-tos “o quê” e “como” ensinar.

Sinal de alerta na Educação! Segundo Enade, professores não têm conhecimento suficiente para ensinar!

Por Thalita Marchiori

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xeque-mate

“Ao observar a professora que trabalhava comigo descobri que queria ensinar também e que gos-to muito de lidar com crianças”, afirma Paola de Jesus, que é auxiliar de sala em Porto Feliz. Isso a motivou e ela começou o curso de Educação a Distância (EAD) de Pedagogia na Universida-de Metodista de São Paulo há dois semestres. Como ela já observa o trabalho na área, conse-gue identificar na prática as teorias aprendidas na faculdade. Ela gosta do ambiente virtual que o curso à distância oferece, o que possibilita que ela se aprofunde nos assuntos que mais a inte-ressam.Nas grades curriculares de algumas faculdades aleatórias da região fica clara a deficiência no en-sino de “como” ensinar. Entre as matérias estão Filosofia, Antropologia, Comunicação, História da Educação e muitas outras teorias, as quais, sem dúvidas, são muito importantes para a for-mação de futuros professores. Mas metodologia de ensino já não é tão frequente nos currículos. Paola concorda com a deficiência das grades. “Eles passam muitas teorias e não ensinam como um professor deve ensinar, o que fazer em uma sala de aula”, conta.Há ainda os professores sem formação acadêmi-ca e que também passam dificuldades em algu-mas situações do dia a dia. O professor Adauto Molck, que dá aula para os cursos de jornalismo da PUC Campinas e Facul-dade Prudente de Moraes, se formou jornalista e está fazendo mestrado, mas já dá aula há oito anos. Ele acredita que o que o ajudou a ser um bom professor foi a observação, admiração e es-tudos na área. “Nas situações de dificuldades sempre me vali dos colegas, dos diretores de curso e orientadores pedagógicos e também tenho um socorro caseiro - minha esposa é professora e pedagoga”, conta o professor. Sobre os cursos de pedagogia em si, Molck lem-bra as palavras de sua mãe, que diz “quem faz o curso é o aluno”. Ele compara todos os cursos, de todas as áreas de atuação (medicina, jornalismo, direito), com os alicerces das casas. Ele diz: “Olhando por fora, você nem percebe que ele foi feito, mas é ele que irá segurar toda a

casa. Se foi bem feito a casa poderá até ganhar novos andares. Também acredito que o ensino precisa melhorar muito, mas não só os que for-mam professores... os que formam todos os pro-fissionais brasileiros”.

“Ao observar a professora que trabalhava comigo, descobri que queria ensinar também e que gosto muito de lidar com crianças” (Paola de Jesus)

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