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Page 1: “Não há saber mais ou saber · SindiAlimentação/ES Estrada Jerônimo Monteiro, 1732, Glória - Vila Vleha CEP: 29120-000 Telefone: (27) 3229-9618 2. 6 VIDAVIVA revista N e trabalho
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“Não há saber mais ou sabermenos: há saberes diferentes”.

“Trabalho um tantão assim.Cansaço é bastante, sim”.

Paulo Freire

Cartola/ Monsueto

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“Ninguém liberta ninguém, ninguémse liberta sozinho, as pessoas selibertam em comunhão”.

“Morreu de quê? -Gastou-se”.

“Amanheceu o impossível.Vamos viver”.

Paulo Freire

Eugênia Menezes

Geraldo Azevedo

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o Ano 2 • Nº [email protected]

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Projeto nas direções

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O ano de 2004

Capacitação de Monitores1 41 41 41 41 4

O Projeto na base1 61 61 61 61 6

Exposição Vivências2 42 42 42 42 4

México - Intercâmbio Internacional2 72 72 72 72 7

Programa de Intervenção2 82 82 82 82 8

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004 foi um ano de muitos desafios para oProjeto VidaViva. Superados, fel izmente,

pelo empenho de toda a rede de sindicatos e depessoas que dele fazem parte. E não foram pou-cos os obstáculos. O primeiro foi dar forma àsreflexões feitas no projeto sobre a tríade Vida,Saúde e Trabalho.Uma experiência que resultouem três recursos formativos importantes para ini-ciarmos nosso trabalho: Raio, Pesquisa Participa-tiva e Vivências.

Nenhum desses recursos foi produzido paraensinar algo. O desejo que impulsionou sua cria-ção foi vivenciar reflexões, a partir da experiên-cia dos próprios trabalhadores. Só essa experiên-cia pode auxiliar-nos em nossa luta por mudançasefetivas no local de trabalho.

Novos esforços foram feitos para vencer amaior das barreiras: fazer com que a propostareflexiva do projeto chegasse até os trabalha-dores, evitando que os recursos formativos pro-duzidos fossem esquecidos nas estantes dos sin-dicatos.

Uma nova rede foi tecida. Mais de 100 sindi-catos ingressaram no projeto. Com essa adesão,cerca de 800 dirigentes sindicais, nos oito esta-dos onde o projeto atua, discutiram uma novaperspectiva de saúde. A visão sobre saúde seampliou, indo além da mera ausência de doen-ças. Dispostas a mudar sua ação no campo dasaúde, mais de 350 pessoas, entre dirigentes,militantes e trabalhadores de base, indicadas pe-los sindicatos, aceitaram o desafio de seremeducadores(as) voluntários(as) na luta pela vida.Impossível? Para nós não, porque para desenvol-ver essa tarefa ninguém melhor do que quem trazconsigo a experiência concreta do trabalho.

Novas redes, novos desafios a transpor. Asfases de capacitação desse grupo para uso dosrecursos foram marcadas pelo intenso aprendiza-do e troca de experiências, pois promoveram ocontato entre diferentes realidades, de distintascategorias.

A cada encontro, novas reflexões e novasdemandas para o Projeto VidaViva. É na práticaque o projeto se faz. E não poderia ser diferen-te. Nossos próximos passos serão dirigidos à cons-trução de propostas que potencializem a ação dostrabalhadores no local de trabalho. Mas para issoé necessário provocar uma reflexão sobre as con-tradições de nosso trabalho atual.E criar nos tra-balhadores o desejo por uma vida diferente, umaVidaViva. É esse objetivo que continuamos per-seguindo em 2005.

Plataforma Intersindical

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RedaçãoMara Lúcia LiraGislene Madarazzo

EditoraçãoComunicação Impressa

FotosDino P. dos SantosJoaõ Egito RufinoCelso ÂngeloThéo de OliveiraArquivos do Projeto

RevisãoFabíola Mazzini

Conselho editorialPlataforma Intersindical

CapaComunicação Impressa

Tiragem2000 exemplares

EndereçoSindiAlimentação/ESEstrada Jerônimo Monteiro,1732, Glória - Vila VlehaCEP: 29120-000Telefone: (27) 3229-9618

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Ne trabalho para impulsionar umaação efetiva dos trabalhadores pormudanças no local de trabalho. Foiesse o principal enfoque definidopelos sindicatos que constituíram aPlataforma Intersindical e criaram oProjeto VidaViva. Após analisar asnecessidades apontadas pelos sin-dicatos, o projeto VidaViva estrutu-rou seus objetivos e ações. Tambémapós tal análise, a Plataforma pas-sou a dedicar seus esforços para pla-nejar a produção dos recursos for-mativos que seriam voltados paraestimular a reflexão sobre a tríadevida,saúde e trabalho. O próximopasso foi definir as estratégias e fa-ses necessárias para que o projetochegasse ao local de trabalho. Lá,onde os trabalhadores devem lutarpara mudar a realidade de trabalho.Tudo em nome de uma VidaViva.

o início do Projeto VidaViva,havia apenas 18 entidades in-

teressadas em refazer sua visão so-bre saúde, reconstruindo-a sob novaperspectiva. Era preciso, para isso,ter uma autocrítica de nossas açõessindicais, antes de seguir em fren-te. E foi isso que fizemos. A partirda análise de que nossas ações têmsido mais reparadoras do que pro-priamente preventivas, centraliza-mos nosso olhar em outro foco: olocal de trabalho. Lá onde tudo co-meça, lá onde os trabalhadores con-somem sua força de trabalho e láonde as novas estratégias do Capi-tal tentam não só nos forçar, nosameaçar, mas também nos conven-cer de que vale à pena não só ven-der nossa saúde, mas também avida. Tudo em nome da produção.Pensar a relação entre vida, saúde

2004 foi um ano dereflexão e produção.Foram finalizadas aselaborações dosprimeiros recursosformativos destinados apromover a reflexãosobre vida, saúde etrabalho. Iniciamos,ainda, a capacitação dosmonitores voluntários,indicados paradesenvolver a formaçãona base. Nos estadosonde o projeto atua, égrande a expectativa dealcançarmos nosso maiorobjetivo: organizar ostrabalhadores paraintervir no local detrabalho.

Um ano de reflexão e produção

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Vivências: Histórias de Vida

Conceição, Dona L ió, Juarez eJovina. O que as histórias dessestrabalhadores têm de semelhante?Todos adoeceram por causa dasmás condições de trabalho, apesarde exercerem funções completa-mente di ferentes. Conceição éoperadora de máquinas numa fá-brica de chocolates no Espírito San-to. Dona Lió representa os milha-res de trabalhadores assalariadosrurais que enfrentam diariamenteas lavouras de fruticultura no ser-tão da Bahia. Diagnóstico: as duas

Recursos pela Vida

Os Grupos de trabalho esforçaram-se, no ano de 2004, para concluira produção dos primeiros recursos,definidos pela Plataforma a partirdas demandas e necess idadesapontadas pelos sindicatos. Umdos resultados deste trabalho foia produção do Recurso Audiovisu-al Interat ivo (Raio), que contacom vídeos e roteiros de discus-são para estimular a reflexão so-bre temas importantes de nossa

vida, saúde e trabalho. Outro re-curso elaborado foi o fichário dePesquisa Participativa, que permi-te aos trabalhadores analisar osimpactos do trabalho sobre suasaúde e sua vida, estimulando aelaboração de propostas de açõesde intervenção no local de traba-lho. História em quadrinhos foi alinguagem escolhida para abordaro processo de adoecimento e suarelação com o trabalho. "Em bus-ca do equilíbrio" foi o primeiro nú-mero do gênero, para estimular areflexão sobre a necessidade delutarmos para que as empresas

respeitem nossos limites. No pro-jeto, ainda foram produzidas asVivências. Trata-se de ensaios fo-tográficos que retratam históriascontadas pelos próprios trabalha-dores sobre sua vida, saúde e tra-balho. Foram produzidas exposi-ções fotográficas de trabalhadoresdos setores de alimentação, ban-cário, rural e químico. Várias ex-posições foram feitas durante oano, criando um laço de identifi-cação e solidariedade entre os tra-balhadores e a percepção de quenossos problemas são mais comunsdo que imaginamos.

Grupos de Trabalho

sof rem de Lesões por Es forçoRepetitivo. Juarez é um trabalha-dor do setor químico em São Pau-lo, demitido após ter adquirido

vitiligo ocupacional por contamina-ção. Jovina é bancária. Sofre desíndrome do pânico, desenvolvidaapós o trauma de dois assaltos naagência em que trabalhava. Mas hámais semelhanças entre esses tra-balhadores: apesar dos desafiosenfrentados, todos têm a mesmadisposição de lutar para ter sua dig-nidade restabelecida. A históriadeles agora circula pelo Brasil emexposições fotográficas. Para mo-tivar a luta pela vida e por mudan-ças no trabalho.

Antes de iniciarem-se os trabalhos,os sindicatos apontaram várias ne-cessidades que orientaram a elabo-raçao de propostas formativas e in-formativas a fim de envolver os tra-balhadores na discussão sobre saú-de. Para elaborar os recursos for-

mativos, foram criados Grupos deTrabalho, contando com a partici-pação de dirigentes sindicais e pro-fissionais de diversas áreas, deacordo com cada recurso ou pro-grama. Os grupos constroem aspropostas, que são avaliadas e dis-cutidas na Plataforma antes de suafinalização. Cada grupo de traba-lho tem um grande desafio: cons-truir propostas que atendam à di-

versidade de realidades das cate-gorias ligadas ao projeto.

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Capacitar para a mudançaA rede de entidadessindicais que aderiuao projeto VidaVivacresceu no ano de2004. Mais de 100entidades de diversascategorias passarama integrar o Projeto, oqual já conta comcerca de 350monitores voluntáriosque aceitaram odesafio de promover adiscussão sobre asaúde nos locais detrabalho. Osmonitores indicadospelos sindicatosparticiparam dasfases de capacitaçãocom os recursosformativos produzidose já se preparam parainiciar a formaçãocom os trabalhadoresda base.

Fazer com que o projeto VidaViva chegue até os trabalha-

dores. Com esse objetivo, a Plata-forma Intersindical elaborou umplano de ação. O primeiro passo foipromover a reflexão sobre a rela-ção entre vida, saúde e trabalhocom as direções sindicais. Essa eta-pa é importante porque, para ga-rantir que o projeto chegue aoslocais de trabalho, é preciso o de-bate das direções sobre a novaperspect iva de saúde propostapelo projeto. Afinal, a saúde nãopode ser apenas uma preocupaçãodo secretário de saúde do sindica-to, como normalmente acontece.

O segundo passo tem sido a faseda capacitação dos monitores indi-cados pelos sindicatos. Para isso,foi estruturada uma equipe de edu-cadores - com experiência em for-mação sindical e popular - cujo pa-pel é capacitar monitores para odesenvolvimento dos recursos for-mativos na base. O terceiro passoestá sendo a implementação nabase. O resultado das discussõesdos trabalhadores é uma importan-te fonte para continuar alimentan-do as reflexões dentro do ProjetoVidaViva, bem como nossos próxi-mos passos rumo a uma interven-ção efetiva no local de trabalho.

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Após a implementação do mó-

dulo I com as direções, e a in-dicação, pelos sindicatos, dos mo-

nitores voluntários, iniciamos o pro-cesso de capacitação para a aplica-

ção dos recursos formativos na

base. Na maioria dos estados, oprimeiro recurso a ser desenvolvi-

do com os monitores foi o Raio. A

capacitação com o Raio é feita emduas etapas: Módulos II e III. A

primeira etapa visa possibilitar aos

monitores um primeiro contatocom o recurso, conhecendo suas

formas de utilização e se apropri-

ando de alguns temas propostospelo projeto. Na segunda etapa, os

monitores são capacitados com o

módulo III, que já conta com o

Reflexão Sindical Re

de

Viv

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100 sindicatos integraramo projeto VidaViva em2004;800 dirigentes sindicaisparticiparam dodesenvolvimento doMódulo I - reflexãoVida,saúde e trabalho;350 monitores voluntáriosparticipam do projetoVidaViva;o projeto VidaVivaconseguiu ampliar oenvolvimento dasdireções.Entre os monitoresvoluntários, além dossecretários de saúde, hádirigentes que atuam emoutras áreas do sindicato;o projeto conta tambémcom trabalhadores debase indicados comomonitores voluntários.

conteúdo a ser desenvolvido com

os trabalhadores da base. Para cadamódulo, foram dois dias de capaci-

tação, mesma carga horária da ca-

pacitação com a Pesquisa Partici-pativa, na qual os monitores desen-

volvem a experiência com o map-

ping - uma das propostas de pes-quisa que possibilitam a reflexão so-

bre os impactos do trabalho na saú-

de e na vida dos trabalhadores. Éessa reflexão que acaba permitin-

do-lhes construírem alternativas

para mudar a situação na qual seencontram. Nos estados onde o

projeto atua, foram realizados mais

de 70 encontros de capacitação doProjeto VidaViva.

As direções dasentidades sindicais queingressaram no projetoforam os primeiros adebater a relação entreVida, Saúde e Trabalho.O módulo I do RecursoAudiovisual Interativo(Raio), elaborado paraesse público, foidesenvolvido nossindicatos, envolvendomais de 800 dirigentessindicais nos estadosonde o projeto atua. Umtrabalho que resultou naindicação de cerca de350 monitoresvoluntários paraimplementar o projetona base. A partir dasindicações, o próximopasso foi iniciar as fasesde capacitação para odesenvolvimento dosrecursos formativos.

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Raio: formação para a vidaApós o período de elaboração dos recursos e

capacitação de monitores voluntários, caminhamos

em direção a um dos momentos mais importantes

do projeto: a implementação na base para

estimular a reflexão dos trabalhadores. Para isso,

foi criado o Raio Vida-Saúde-Trabalho. Um lampejo

na luta por uma vida com qualidade.

O desafio é grande: sindicatosaproximarem-se dos trabalhado-

res, trocarem com eles experiênciase conhecimentos e, a partir dessatroca, elaborarem juntos propostasde ações para mudar as condiçõesde trabalho em que vivem. Para isso,é preciso romper com o silêncio dostrabalhadores.

Foi dessa forma, como fruto deinúmeros encontros e debates, quesurgiu o Recurso Audiovisual

O que você busca? Qualidade deVida ou uma vida com qualidade?Questionando a "onda" consumistaque impera na sociedade atual, ovídeo "A venda não termina nunca"provoca a reflexão sobre até ondeestamos dispostos a comprometernossa vida e nossa saúde pelasatisfação de nossos desejos deconsumo. E provoca ainda umrepensar sobre os desejos querealmente temos e os que nos sãoimpostos pela mídia.

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Interativo(Raio).Com didática simples, esse re-

curso formativo possibilita indagaçõese debates imediatos sobre a tríadeVida, Saúde e Trabalho. A cada apli-cação do Raio pelos monitores, osparticipantes poderão vivenciar situ-ações, trazendo o seu sentir, o seusaber e o seu pensar, para que de-pois o grupo todo construa propos-tas concretas de ações.

Com o Raio, o Projeto VidaViva

propõe um novo caminho: a criaçãode espaços em que o próprio traba-lhador, a partir da sua experiência,construa junto ao sindicato ações paratransformar a situação em que vive.

1 Vida com qualidade

2 O Triângulo

No vídeo "Pronto-Socorro" osparticipantes são provocados arefletir sobre a tríade Vida-Saúde-Trabalho. É possível separar esseselementos?O capítulo aborda assaídas individuais que têm sidocriadas para enfrentar os problemasrelacionados à saúde e convida osparticipantes a construíremalternativas coletivas para mudar oslocais de trabalho.

Este capítulo pretende abordar aquestão do sofrimento no trabalhoe provocar a reflexão sobre comoas novas estratégias empresariaisnos isolam no trabalho, fazendo-nos romper todos os laços derelações pessoais. Quandoestamos fisicamente próximos notrabalho, nos sentimos tambémisolados? É essa reflexão que estecapítulo pretende provocar.

3 Isolamento

4 Limites

Metas de produção, cobranças,pressões. O videoclipe "limites"estimula o debate sobre como asestratégias empresariais nosestimulam a ultrapassar nossoslimites. O grupo é levado a refletirsobre as diversas formas de assédioque são empregadas em nome daprodução e os impactos daultrapassagem dos limites para nossasaúde e nossa vida.

O módulo III do Raio Vida-Saúde-Trabalho tem os temas propostos:

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O Raio (Recurso Audiovisual Interativo)usa a interação entre imagens e tex-

tos, construindo um diálogo entre eles.São videoclipes, textos e atividades emgrupo que estimulam a sensibilidade e aju-dam a "abrir" uma conversa, provocandouma reflexão coletiva. O audiovisual, decurta duração, é o "disparador" de todoesse processo.

Os videoclipes foram criados com a in-tenção de: expor polêmicas e conflitos;duvidar de conceitos; ajudar a questio-nar atitudes ligadas a nossa vida, saúdee trabalho. As dinâmicas contribuem paracompartilharmos pensamentos e senti-mentos que quase nunca são falados emoutros espaços.

O importante é que são os próprios sindi-

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No vídeo "Redemoinho", Lenice,operária da indústria de confecção,convive num ambiente decompetição permanente, com metasconstantemente impostas nos locaisde trabalho. Até que ponto acompetição não está naturalizadaem nosso meio?O capítulo pretende promover odebate sobre a necessidade deestabelecermos outras redes, maissolidárias, mais humanas...

5 Que sufoco!

6 Quem é o dono do tempo?

Ser dono do nosso tempo é nãopermitir que o trabalho nos imponhaa velocidade e o ritmo, sem respeitaras nossas necessidades. Crianças,filhos de trabalhadores etrabalhadoras dos quatro cantos dopaís, falam sobre o que pensam dotrabalho dos pais e nos provocamcom a pergunta: devemos trabalharpara viver ou viver para trabalhar?

Este capítulo busca abordar anecessidade de uma luta coletivapara resgatar nossa dignidade.Problematiza com os trabalhadoreso que é o trabalho: Prazer ouSofrimento? Qual o valor dotrabalho em nossas vidas? Como épossível resgatar valores comocooperação e solidariedade, diantede um trabalho que pretendetornar-nos cada vez maisindividualistas?

7 Dignidade

8 Resistir e Agir

Quais os valores mais importantespara nós em nossa sociedade?Nesse capítulo somos levados arefletir sobre as formas de resistir eagir para transformar a realidadedo(a) trabalhador(a) neste mundotão competitivo, destacando aimportância de resgatar nossosvalores, reafirmar nossa dignidadee celebrar a vida.

catos que desenvolvem esse recurso jun-to à base, por meio dos monitores volun-tários que são capacitados pelo Projeto.Os sindicatos que participam do Projetorecebem uma pasta do Raio com fita devídeo e um conjunto de material impres-so (com roteiro de perguntas e textos deapoio) que alicerça as discussões, ajudan-do o monitor. Para a aplicação do recur-so, a infra-estrutura necessária é uma te-levisão e um vídeo.

O Projeto VidaViva produziu um Raio, di-vidido em três módulos: Módulo 1, volta-do para as direções sindicais; Módulo 2,para capacitação dos monitores; e Módu-lo 3, para os trabalhadores na base. Esteúltimo é um recurso com duração totalde 16 horas, dividido por capítulos. Suaaplicação, no entanto, é flexível. Pode serdividida em partes ou feita integralmentenum fim de semana.

Reflexão Coletiva

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Um Raio de ReflexãoO primeiro passo para participar no ProjetoVidaViva acontece nas direções sindicais. Antes deas discussões chegarem aos trabalhadores, são aslideranças dos sindicatos que discutem a tríadevida,saúde e trabalho. Essa fase permite umaprofunda reflexão sobre nossas próprias ações nadefesa da saúde, possibilitando uma autocrítica quenos leve a agir e intervir onde realmente podemosmodificar o quadro de adoecimento dostrabalhadores: no local de trabalho.

D esde sua cr iação, há doisanos, até hoje, o Projeto Vi-

daViva recebeu a adesão de maisde 100 sindicatos, distribuídos nos08 estados onde atua. Cerca de800 dirigentes sindicais participa-ram das atividades formativas de-senvolvidas com o uso do Recur-so Audiovisual Interativo (RAIO),produzido especia lmente paraabordar a relação entre vida, saú-

de e trabalho.Uma reflexão queprovoca a necessidade de se am-pliar a visão sobre saúde e sobrenossa atuação. Cria-se um espa-ço de debates que permite umaautocrítica da atuação sindical nasaúde, que tem sido mais repara-dora do que preventiva. O au-mento no quadro de adoecimen-to dos trabalhadores gerou umademanda que conduziu a maioriadas entidades a estruturar seusdepartamentos médico e jurídico,porém poucas ações são voltadasà intervenção efetiva no local detrabalho.

O Módulo I do Projeto VidaVi-va possibilita ao dirigente uma mai-or compreensão da proposta doprojeto e permite o envolvimentoe comprometimento da direçãocom a implementação na base.

O Projeto VidaViva está estruturado para ser desenvolvidocom os trabalhadores pelos próprios sindicatos. Após a fasede produção dos recursos formativos, inicia-se a etapa decapacitação dos monitores voluntários indicados pelossindicatos. O resultado do desenvolvimento do módulo I nasdireções foi a indicação de aproximadamente 350 monitores,a maioria dirigentes, que terão o desafio de desenvolver osrecursos formativos na base. O projeto vem conseguindovencer outro desafio: envolver mais lideranças sindicais nadiscussão sobre saúde, tema que normalmente é tratadoapenas pelo secretário de saúde do sindicato.

Raio surgiu para a direção comouma coisa nova, porque nunca

trabalhamos com recursos desse for-mato, com vídeos. Trabalhamos maiscom boletins. Foi uma grande novi-dade para a direção e acredito quepara a categoria será muito mais. Nadireção, não há um nível elevado deestudo, mas, com o Raio, os direto-res se descobriram e fizeram compa-rações com a própria vida e o pró-prio trabalho. Eles viram o vídeo damédica e as respostas foram seme-lhantes às dos trabalhadores do se-tor da indústria. Eles identificaram o

estresse, a correria que também vi-vem, o acúmulo de atividades e aforma que as pessoas utilizam parafugir do problema, como a médicado vídeo faz. Eles aqui também fo-gem da solução dos problemas. Elesfalam "eu vou para a igreja, eu voupara o bar", mas não enfrentam oproblema, na sua grande maioria.Isso fez com a que direção mudas-se a visão sobre saúde. Nosso se-cretário de imprensa é um dos mo-nitores. Ele está animado e diz queé isso que nós temos que discutirmesmo. A gente tá conseguindo

envolver pessoas que não são daárea de saúde. A direção se sentiumais motivada para ir para a base.Para chegar aos trabalhadores. Di-ante da circunstância que temosaqui no sindicato, queremos priori-zar as áreas mais próximas. Vamosusar as vivências para atrair as pes-soas. Nossas pernas são curtas emrelação ao tamanho da nossa base,por isso a gente vai começar pelasregiões mais próximas e onde temosmonitores. As pessoas estão come-çando a se aproximar mais do sindi-cato com o projeto."

Módulo I nas direções sindicais

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Maria Goreth de Oliveira é diri-gente do Sindicato dos Traba-lhadores Assalariados Rurais emJuazeiro/BA e membro da Pla-taforma do Projeto VidaViva

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“Tem de ser cinza mesmo, porque é assim o trabalhono sistema capitalista. É para pensar mesmo quetem de estar dessa cor.”

As discussões provocadas pelo Raio no ProjetoVidaViva promovem uma reflexão profunda, com aparticipação de cada um, que conta sua experiência.

“Por que as imagens do trabalho no vídeo do Raioestão em preto e branco? Por que o trabalho temde ter uma “cara” cinzenta e pesada? Não é possíveluma outra imagem do trabalho?”

“Olha o luxo que tá nas imagens. A gente pode terisso com o que ganhamos hoje? A gente tem essaqualidade de vida?”

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“Ela está ficando estressada porque o trabalhodela não oferece boas condições.”

“Pô, uma médica doente, ninguém merece.”

“A categoria quer que o sindicato negocieinsalubridade, periculosidade e por aí vai.”

“Ela lida sozinha, tenta resolver do jeito dela. Amulher caminha, faz ioga, tem boa alimentação,mas não adianta. E por quê?”

“A verdade é que a gente só atende quem tá doente mesmo.”

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“ Não. Tem mais coisas importantesna vida, que dinheiro nenhum paga.”

“É, mas a gente faz de tudo a vidainteira para ter isso. Vende até a mãe.”

“ ... eu não, eu não, eu também não”.

“A gente se mata de fazer hora-extrapra ter isso tudo aí. É ou não é?

“Eu faço hora-extra porquepreciso pra construir minha casa.”

“ Mas o seu salário tinha que dar prafazer isso sem precisar hora-extra.”

“ Esse desejo desesperado deconsumo é criado pela TV.”

“Não é. É natural do ser humano quererser melhor que o outro. A gente vivequerendo mais status.”

“É a TV, sim, ela diz que ter saúde é sermagro, é ser malhado e a gente se sentemal por não ser assim e quer ser dequalquer jeito.”

“ Qualidade de vida é só isso? A gentesó se realiza se tiver isso?”

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Refletindo sobre a própriaexperiênciaMonitores indicados pelos sindicatos iniciaram noano passado a fase de capacitação com o Raio queserá utilizado com os trabalhadores. Em algunsestados, como Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, asatividades foram desenvolvidas em conjunto commonitores voluntários de vários sindicatos. Ummodelo que possibilitou muita troca de experiências.

O Projeto VidaViva desenvolveuma formação na qual a pró-

pria experiência do trabalhador éo eixo central para a construçãoda consciência e de uma novaação. A formação não é do tipo"aula" para passar um conceito ouum saber qualquer. O monitor in-dicado pelo sindicato é quem faza formação na base. O seu saber,que vem de sua experiência e vi-vência em seu local de trabalho,auxilia no desenvolvimento da for-mação que propomos. É vital que

ele(a) tenha uma capacidade so-cial de ouvir, ser atencioso e en-corajar os trabalhadores a fazersua própria reflexão. No proces-so, o monitor precisa estimular osdemais trabalhadores a valoriza-rem sua própria experiência e seupróprio saber.

O que propomos é outro ca-minho, no qual não se passa umconceito determinante, mas se cri-am espaços em que o próprio tra-balhador, a partir da sua experiên-cia, construa sua ação para trans-formar a situação em que vive.

A s ferramentas são muito in-teressantes, porque levam a

uma reflexão geral, de que nãohá como separar a questão dotrabalho daquilo que você vive noseu dia-a-dia, da sua saúde e daconvivência com a sua família. Asferramentas são simples, mas oimpacto que elas causam na vidada gente como cidadão é muitogrande, até devido aos vários ví-deos que a gente assiste, eles nosremetem a pensar sobre váriascoisas, a gente verdadeiramentefaz uma reflexão sobre a forma danossa vida atual, como a genteestá vivendo no momento. O quemais me chamou atenção no Raiofoi a questão "Quem é o donodo tempo?". Com o vídeo que éaplicado nessa questão - o "Olhar

de criança" - você consegue en-xergar a fundo, principalmente sevocê tem filho, que tipo de rela-ção você está tendo hoje com asua família.Gostei de tudo. Res-salto a questão de alguns exercí-cios como o do Triângulo, é umexercício muito interessante, por-que no momento em que ele écolocado pra você, a gente separaas questões vida-saúde-trabalho esó posteriormente você percebeque não tem como separar essestrês elementos. Aqui no Sindica-to vamos aplicar com uma mistu-ra do pessoal de vários setores -plásticos, petroquímicos, cosmé-ticos, farmacêuticos - e fazer en-contros aos f ina is de semanaonde desenvolveremos com elesessas reflexões".

Refletindovida, saúde etrabalho

José Freire da Silva,Sindicato dos Químicos do ABC eMonitor do Projeto VidaViva

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““E u já tinha vivido a experiência

como direção quando foi apre-sentado o projeto. Quando euolhei, era como se fosse só maisum projeto na área de saúde dotrabalho. Após esta experiência, opessoal acabou me convidandopara ser monitor e fazer este tra-balho na base. Nos cursos de apro-fundamento, você começa a anali-sar e ver que na realidade o proje-to aprofunda mais do que o espe-rado. No desenrolar do projeto,você começa a analisar a mudança.Você deixa de ser o ator e passa a

ser espectador das pessoas. Nosoutros projetos que eu já tinhadesenvolvido, você, como forma-dor, fica ali o tempo todo, falandopara o cara das suas experiências,dos seus conhecimentos sobre oassunto. Mas é você e não o tra-balhador. O que é legal do projetoé isso, você passa a ser o especta-dor, apesar de ser o formador. Vocêcomeça a tirar das pessoas, verda-deiramente, as necessidades delas.Eu tenho dois aspectos que meimpressionaram com o Raio. Vive-mos dois momentos diferentes: aapresentação com a direção exe-cutiva, mas o projeto não me ga-nhou nessa hora. Depois desse pro-cesso, eu tive que desenvolver otrabalho como monitor com a dire-ção que está na fábrica. E aí vocêcomeça a perceber o quanto o pro-jeto nos possibilita isso. Desenvol-vemos três vídeos para o grupo dadireção na base. Eles dialogavamdiretamente com o que estávamosvivendo na fábrica. Principalmentesobre a questão da qualidade devida. Isso possibilitou ganhar estesdirigentes para se envolverem noprojeto. Para fazer isso na fábrica,tem que envolver as lideranças.Isso mobilizou a direção e vai possi-

Trabalhadorcomo atorprincipal

Antônio Sérgio Verginio - Secretário de po-líticas sociais da Federação dos Metalúrgi-cos, membro do Grupo de formação e saúdeda Volks e monitor do Projeto VidaViva

s recursos do Projeto sãomuito interessantes, pois a

forma como foram apresentadosnos deu bastantes elementos parapensarmos a situação dos trabalha-dores no que diz respeito a saú-de, vida e trabalho. Em determi-nado momento, cheguei a acredi-tar que os módulos deveriam vircom respostas prontas, como sefosse uma "receita de bolo", masao decorrer das atividades, pudecompreender claramente que oobjetivo maior é levar os trabalha-dores à reflexão, para que todosjuntos possamos encontrar umasolução que torne a nossa vidabem melhor. Muitos vídeos me cha-maram a atenção, porém o maismarcante foi o vídeo das crianças.Vamos desenvolver isso com a

Alexandre Mendes Gonçalves, Bancários/Pe-trópolis-RJ - Monitor do Projeto VidaViva

Preparaçaopara iniciarprojeto na base

base. A intenção é utilizar o audi-tório do sindicato, em períodos de2 horas, dias úteis e após o expe-diente bancário. O sindicato pos-sui um excelente auditório propí-cio a estas atividades. E vale res-saltar também que seria muito di-fícil apresentar vídeos, ou fazeratividades, dentro de uma agên-cia bancária, onde os próprios ad-ministradores impõem uma situa-ção contrária à que apresentamos.A forma como nos foram apresen-tadas as situações, o intercâmbioentre o vídeo e a socialização dasimpressões causou em todos umasensação de compreensão, con-testação, aceitação, etc . Nos fezREFLETIR, e ref let ir bastante.Acredito que o impacto será mui-to grande na base”.

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bilitar mais aproximação da genteda base. E com uma técnica de tra-balho completamente diferente doque a empresa está habituada a nosver fazer no enfrentamento do dia-a dia. Acho que a próxima etapavai ser melhor ainda. Tem genteque começa a te chamar para es-tar desenvolvendo esse trabalhocom o trabalhador da área dele.Eles pedem pra gente ir para abase. Daqui a um tempo, não vaiser mais você que vai estar enfren-tando a empresa, vai ser o própriotrabalhador que vai”.

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EntrevistaO Projeto VidaViva começa a chegar à base. Nos 08estados onde o projeto atua, os monitores quepassaram pela capacitação com os recursosformativos Raio e Mapping preparam-se para iniciaras atividades de formação com os trabalhadores. NoEspírito Santo, a primeira experiência na base foi feitacom o Raio. Edmilson Lahi Boschetti, cipeiro etrabalhador na Chocolates Garoto fala da experiênciade ter participado da atividade.

MobilizaçãoEu achei que foi uma experiênciaespecial por estar participando deum trabalho que busca soluçõespara os problemas dos trabalhado-res, como doenças ocupacionais ealtos índices de acidentes, ou seja,para nossa saúde. E é interessanteessa iniciativa de estar se constru-indo um projeto inovador, um pro-jeto que envolve sindicatos de vá-rias regiões do Brasil e ainda comabrangência internacional para re-fletir os problemas relacionadoscom o trabalho. Teremos que ten-tar mobilizar os trabalhadores pararesolver os problemas relacionadosà nossa saúde.

SaúdeEu diria que há pessoas que estãopreocupadas com a saúde, sim. Masa grande maioria dos trabalhadoresestá com aquela idéia de que do-enças do trabalho são problemasnaturais. Se o Projeto conseguirresgatar, envolver os trabalhadorespelo menos numa mudança de ati-

tude, numa mudança de compor-tamento com relação ao pensa-mento sobre o trabalho, já terá sidoum grande avanço.

MudançaMudou na medida em que nós pu-demos estar pensando a saúde e otrabalho de uma forma diferencia-da. As doenças do trabalho passa-ram a ter, para mim, a partir da-quele momento, uma leitura dife-rente. Porque você passa a ver assituações do trabalho de uma for-ma que não é tão natural. A genteé provocado a pensar mais sobreisso, passando a ver o ambiente dotrabalho e seus problemas e nãosó enxergar somente quando agente está doente.

ExpectativaClaro. Todos os problemas, não sódo trabalho, mas da nossa vida,precisam ser discutidos e quantomais conscientização melhor. Se oprojeto consegue envolver os tra-balhadores nessa questão, natural-mente que vai mudar o comporta-mento e a atitude dos trabalhado-res com relação ao trabalho. Só quevai haver também, em função deum sistema já implantado, uma re-sistência por parte dos trabalhado-res. Isso porque as empresas pre-

gam isso. Pregam que as doençasnão têm relação com o trabalho.Há uma assimilação por parte dotrabalhador que passa a achar queisso é verdade.

Identidade Os assuntos que são abordadostêm a ver com a nossa vida. Sem-pre que passava um vídeo ou umasituação, era como se tivesse a pró-pria pessoa lá. Porque o mundo dotrabalho, em qualquer cidade, qual-quer país, qualquer ramo de traba-lho é isso mesmo, é conflito, é pres-são constante para reduzir os cus-tos, por produtividade, para aumen-tar os rendimentos da empresa.Para nós, que estamos aqui na Cho-colates Garoto, ou para quem esti-ver em qualquer lugar do mundo,as questões seriam as mesmas. Otrabalhador se sente presente emtodos aqueles depoimentos. Paranós, foi algo novo, pois a partir daípudemos tentar formar uma opi-nião a respeito do que discutimos.É uma troca de informações. Creioque o objetivo de vocês era ouvirmuito mais do que falar, acaba sen-do uma interação. A gente dá erecebe. Sempre se aprende, tododia se aprende alguma coisa. Nãosei se fica, mas a cada participaçãode qualquer encontro estamos otempo todo aprendendo.

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desavenças entre os trabalhadores,porque quem fazia menos era “goza-do”. Isso estava estressando todo mun-do, não só fisicamente, mas tambémemocionalmente, por causa da pressão.O índice da tartaruga era de 85% e aempresa achava isso um absurdo. Co-locava a tartaruga no quadro dizendoque éramos lentos. Os trabalhadoressugeriram usar a mesma estratégia coma empresa. Fazer um jornal colocandonossas metas e os mesmos desenhosquando ela também era lenta em aten-der os anseios dos trabalhadores. Hojenão vemos mais este quadro na produ-ção. Mas a empresa mudou a estraté-

gia de motivação. Agora ela co-loca um papel parabenizando ostrabalhadores por atingirem asmetas. As empresas vão sempreestar tentando alguma forma detirar mais da gente.

ResistênciaTemos de ter a estratégia do “con-vencer o outro”. Temos que ter umpoder de convencimento e assimir multiplicando essas idéias. Existeresistência. É natural, porque agente cresce sendo ensinado abaixar a cabeça, a ser domestica-do, a ser submisso. Temos de pros-seguir. Na medida em que o proje-to vá dando resultado, mais pesso-as vão se envolver nesse trabalho,porque o que as pessoas precisamcompreender é que o que está emjogo é a saúde do trabalhador.

PolêmicaFoi o desafio. As duas propostasque estavam lá, que era ganhar odobro do salário trabalhando a mes-ma jornada ou reduzir a jornadaganhando o mesmo salário, derambastante polêmica. Cada um temuma idéia. Não fiquei surpreso coma divisão dos grupos, porque numgrupo os interesses são diversos,

principalmente falando em dinhei-ro. Soma-se a isso o fato de quemuita gente tá acostumando a fa-zer hora-extra para complemen-tar o salário: realmente algumaspessoas vão fazer esta opção detrabalhar mais para ganhar mais.Isso já é uma realidade. Você vêmuita gente fazendo hora-extrae as empresas não querem con-tratar mais pessoas. Mas se vocêpensa na saúde, você precisa tra-balhar menos, ter um pouco maisde lazer, sair um pouco do ambi-ente de trabalho, viver mais coma família e pensar um pouco me-nos em dinheiro. E isso é compli-cado, porque a mídia está aí, que-rendo que você consuma. Vocêé um consumidor antes de ser umser humano, um trabalhador. Elesvêem em você um consumidordos pés à cabeça. Eles não vêemo Edmilson. Eles te olham e dizem:“ali está passando um consumidor”e nós vamos sendo levados poressa máquina que é a mídia, sem

nos darmos conta. Quando você,em algum momento da vida, so-fre um revés, aí você fala: tá nahora de eu parar. Isso não vai melevar a nada.

ColetivoEstão mais individualistas, sim. Emqualquer lugar o coletivismo fica emsegundo plano. As pessoas pen-sam mais numa linha individual, pri-meiro eu. Eu tenho o meu carro,a minha casa... Há um jogo paraelogiar o individualismo, para quehaja competição. O vídeo dos ín-dios é um exemplo de solidarieda-de, de coletividade. Mas quandoas pessoas viviam na época da agri-cultura o dinheiro não tinha tantovalor, as pessoas plantavam parasobreviver. Com o crescimento dosgrandes centros urbanos, tudo vi-rou competição e há um apelo paraque se consuma. Consumo, con-sumo. Isso gera competição e com-petição gera individualismo.

Júlio César de Souza é diretor doSindialimentação/ES e Monitor doProjeto VidaViva

“A implementação do projeto na base é uma novaexperiência os monitores que desenvolvem os recursospela primeira vez. Júlio, monitor do Projeto VidaViva falada atividade desenvolvida com o Raio na base.

A experiência foi boa, apesar do ner-vosismo por causa da nossa falta de ex-periência. Foi minha primeira experiên-cia em fazer esse tipo de trabalho. Otrabalhador interagiu bastante com asdiscussões e aos poucos isso nos dei-xou mais à vontade para fazer nossotrabalho. A parte que mais me tocoufoi quando discutimos as estratégias dasempresas para incentivar o trabalha-dor a produzir. Nesse momento, sentia revolta dos trabalhadores quando elescolocaram que a empresa estava esta-belecendo metas de produção e colo-cando no quadro uma tartaruga quan-do a produção era baixa. Isso gerou

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pesquisa participativa veio atender auma demanda detectada numa con-

sulta aos sindicatos: a maioria deles só ob-tinha dados sobre a saúde do trabalhadorpor meio das CATs (Comunicação de Aci-dente de Trabalho), ou quando o traba-lhador demitido procurava o sindicato, ouseja, quando quase nada poderia ser fei-to, a não ser encaminhá-lo para o INSS oupara o departamento jurídico. Como che-gar, então, aos trabalhadores em processode adoecimento? Esse era o desafiocolocado.O recurso deveria quebrar o si-lêncio e, para isso, precisava atender a doisimportantes aspectos: conseguir a confi-ança dos trabalhadores, preservando suaidentidade; e utilizar materiais simples eacessíveis, de forma que o recurso pudes-

Pesquisa Participativa:Desenhando nossas ações

Pontos coloridos e desenhos que reproduzem osimpactos do trabalho sobre nossa saúde e nossa vida.Essa é a proposta da Pesquisa Participativa adotadapelo Projeto VidaViva para auxiliar os trabalhadores naconstrução de propostas efetivas de intervenção noslocais de trabalho. Uma proposta de pesquisa queenvolve o trabalhador no desenho de suas ações.

se ser aplicado pelo próprio sindicato.Daí a opção por trabalhar com o Map-

ping, uma proposta de formação e pes-quisa participativa que é usada em váriospaíses, como Canadá e Alemanha. O prin-cipal aspecto deste recurso é que ele éfácil de ser implementado. A técnica, quedispensa o uso da escrita, possibilita aostrabalhadores relacionarem as condiçõesde trabalho com o processo de adoeci-mento, possibilitando a discussão de pro-postas de ação dos trabalhadores para al-terarem essa realidade.

Aos sindicatos que participam do Pro-jeto, este recurso é disponibilizado em for-ma de pasta-arquivo, para que futuras ex-periências de pesquisa participativa possamser incluídas.

Técnica do pote

De maneira simples, estemodelo de pesquisa participa-t iva permite aos s indicatosconsultarem a opinião dos tra-ba lhadores sobre qua lquertema. A pesquisa pode serfeita em reuniões de peque-nos grupos ou mesmo assem-bléias. A consulta consiste emdistr ibuir pequenos cartõescoloridos aos trabalhadores.Sobre uma mesa, são deposi-tados dois potes transparen-tes com as possibilidades derespostas e uma cabine de

votação. Se o sindicato dese-ja saber rapidamente quantostrabalhadores apresentam do-res por causa do trabalho querea l izam, basta formular aquestão e proceder à votação.O resultado é rápido e trans-parente, permitindo ao sindi-cato detectar a existência deproblemas no local de traba-lho que podem ser investiga-dos mais profundamente. Atécnica do pote possibilita aostrabalhadores a visualizaçãoimediata dos resultados.

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Existem várias técnicas de pesquisa participativa. Umadelas é o Mapping, adotada pelo projeto VidaViva. Estametodologia permite maior envolvimento dostrabalhadores no processo de levantamento de dados eanálise sobre as condições de trabalho.

Mapa do corpoOs trabalhadores marcam, num corpo coletivo, desenhado em tamanho natural,que pro-blemas de saúde apresentam e que estão relacionados ao trabalho. A técnica permiteuma análise coletiva do nível de adoecimento num mesmo local de trabalho. Permiteainda aos trabalhadores romperem o silêncio sobre seu quadro de saúde. Afinal, muitostrabalhadores temem o desemprego se expuserem que estão doentes. A técnica simplesgarante o anonimato dos grupos e permite o levantamento dos problemas relacionados àsaúde. Nessa fase, não só são apontados danos físicos como também os problemas psí-quicos causados pela tensão e pressão permanentes no trabalho.

Mapa do local de trabalhoO próximo passo é o desenho do local de trabalho. Em grupo ou individualmente, os trabalha-dores detalham as condições de trabalho a que estão submetidos. Esta fase não só propiciauma visão minuciosa dos postos de trabalho como também possibilita que os trabalhadorescomparem mudanças ocorridas ao longo dos anos. Esta análise permite identificar a necessida-de de contratação de mais trabalhadores, um provável excesso de horas-extras e outras con-dições que estão diretamente relacionadas às condições de saúde. Desenhando como é o seulocal de trabalho, os(as) trabalhadores(as) relacionam suas tarefas desenvolvidas com os pro-blemas ligados à sua saúde, apontados anteriormente no corpo coletivo.

Mapa do “Nosso Mundo”À proporção que o trabalho ocupa nosso tempo, pensamento e energia, ele pode passar aexercer um papel central na nossa vida. Por meio do Mapeamento do "Nosso Mundo", desco-brimos os efeitos que o trabalho provoca em nossa vida. Os impactos do trabalho nas rela-ções familiares, na vida social. No mapa do "Nosso Mundo", encontraremos uma visualizaçãocoletiva desses impactos.

Plano de açõesNa última fase do mapping, os trabalhadores levantam os problemas detectados nas fasesanteriores e estabelecem prioridades para a busca de soluções. São definidas ações de curto,médio e longo prazos. Esse planejamento deve garantir que os trabalhadores não só definamas ações, mas também se envolvam no encaminhamento das tarefas. Normalmente, há ocostume de delegar apenas à direção dos sindicatos a responsabilidade pelo encaminhamentodas ações e soluções dos problemas. O mapping permite romper com esta visão e estimula ostrabalhadores a participarem ativamente da tomada de decisões e das ações para mudar arealidade do trabalho.

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O trabalho, a vida e a saúde vão ganhandocontornos nas atividades de capacitação dosmonitores do projeto Vidaviva. Traço a traço ogrupo vai se apropriando da metodologia daPesquisa Participativa que será desenvolvida nabase. Uma possibilidade de construir espaçoscoletivos onde os próprios trabalhadores analisamos impactos do trabalho sobre sua saúde e sua vidae redesenham suas ações.

Mapping: ParticipAção dostrabalhadores

O Mapping pode ajudar bastante notrabalho do sindicato, porque é umaforma diferente de trabalhar com asaúde. Os recursos que tínhamosantes eram o mapeamento de pro-dução e o mapeamento de risco, maseles não provocam a discussão e não

dão oportunidade de os trabalhado-res falarem. Não ajudam a demons-trar em quê as pessoas realmentetêm problemas. Algumas apresentamproblemas como tendinite, bursite,problema psíquico...

O Mapping consegue provo-car a discussão a partir do trabalho.Se o problema é o trabalho, comodiscutir saúde sem abordar o local detrabalho? O Mapping dá a oportuni-dade de os próprios trabalhadores fa-larem, de eles apontarem os proble-mas e de eles discutirem o local detrabalho.

A gente aqui tem utilizado asCipat´s para desenvolver o map-ping. São espaços que temos paradiscutir os problemas no local de tra-balho. Apesar de estarem numa sala,as pessoas estão no trabalho. Porestarem na empresa, elas já ligamdiretamente o que estão fazendocom o trabalho.

O Mapping tem uma parte

Mauro Soares é diretor do Sindicato dos-Metalúrgicos do ABC , membro da Plata-forma e monitor do Projeto VidaViva.

equipe de monitores do Pro-jeto VidaViva participou das

atividades de capacitação realiza-das nos Estados de São Paulo, Riode Janeiro, Espírito Santo, Bahia,Pernambuco, Santa Catarina, RioGrande do Sul e Alagoas. São 350monitores, que já se preparampara começar a desenvolver a pes-quisa participativa na base. A mai-

oria dos monitores são dirigentessindicais que aceitaram o desafiode fazer a formação em saúde.Nas fases de capacitação, eles vi-venciaram o desenvolvimento dametodologia, desenhando seu tra-balho, sua vida e sua saúde. Ago-ra, nos falam de suas impressõese expectativas para o início do tra-balho na base.

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em que se deve desenhar o localde trabalho e assim fica mais fácilpara os trabalhadores apontarem osproblemas. As discussões que temosfeito aconteceram pela CIPAT e dápara aplicar o recurso e fazer a dis-cussão com os trabalhadores. A par-tir daí, utilizamos também a ergo-nomia como meio de intervençãopara a melhoria das condições. É umtrabalho casado entre sindicato, co-missão de fábrica e trabalhadores debase. A ergonomia ajuda na buscade melhorias. O Mapping ajuda mui-to nisso. É diferente de o dirigenteapontar os caminhos. O dirigenteaponta as coisas da forma como elepensa e não da forma como os tra-balhadores pensam. Quando o diri-gente faz isso a partir do que a basecoloca, ele tem mais chance deacertar nos encaminhamentos doque se ele fizesse as avaliações. Achance de fazer um bom trabalhousando o Mappig é muito maior.

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Todas as atividades dizem res-peito ao trabalhador e todos os mo-nitores tinham o que dizer sobre osassuntos tratados.

Estamos pensando em ocuparhorários de trabalho para discutir coma categoria sobre Saúde como direi-to de todo trabalhador. Estaremos rei-vindicando estes espaços junto comas chefias, justificando que este é umproblema sério e que os trabalhado-res tem muito a dizer sobre o assun-to. Pretendemos aplicar a Pesquisaparticipativa em cada local de traba-lho (quase 300), e é por isto quetemos tantos monitores. Um desafiotambém será a construção do Planode Ações: achamos que, para mon-tar os planos de ação, vamos reunirgrupos por setores (educação, saú-de, limpeza urbana...).

Acho que poderemos ter al-gumas dificuldades no início, mas como tempo os trabalhadores verão quea saúde vale mais do que ganhos ex-

Cláudio Vigânigo , Gari , diretor Sindicatodos Trabalhadores no Serviço Público Munici-pal de Florianópolis/SC e monitor do projetoVidaViva

tras. Explico: tem gente que acha maisimportante brigar para ganhar insalu-bridade do que lutar por melhorescondições de trabalho. Tá certo quea gente tem que ganhar melhor, massaúde não tem preço.

O recurso formativo do pro-jeto é algo novo e tem uma lin-guagem diferente da dos materi-ais que já utilizávamos na forma-ção em Saúde do Trabalhador.Se eu bem entendi, a propostafundamenta-se em compromissaros sindicatos para que participem,para que façam a discussão no lo-cal de trabalho. Para isso, todomaterial que é disponibilizado nãosomente ajuda na formação polí-tica dos dirigentes, mas tambémos capacita a fazerem tal discus-são na base. Essa forma, de fazera provocação e amarrar os con-

teúdos para formar uma linha ló-gica, sem determinar conceitos,é realmente capaz de fazer o tra-balhador envolver-se na discussão.Mas o mais interessante foi o Ma-pping. É algo realmente novo eprático.O projeto já é um suces-so devido à quantidade de enti-dades sindicais cutistas que já par-ticipam.

Tereza Cristina é Secretária de Forma-ção CUT-PE e Diretora do Sindicato dosBancários PE.

“A minha avaliação é que as ativida-des foram de grande valia, porqueajudaram a ampliar a compreensão darelação de trabalhadores de diversasfunções com a saúde. No nosso sin-dicato, onde temos em nossa basetrabalhadores de diversos setores,como professores, cozinheiras, mé-dicos, enfermeiros, motoristas, garis,técnicos administrativos, calceteiros,mecânicos e etc..., temos monitoresde todas estas funções e, com a for-mação do VidaViva, tivemos oportu-nidade de conhecer melhor como tra-balham e quais são as diferentes con-dições de trabalho que provocam asdoenças. Por exemplo: nunca tinhaimaginado que cada professora deberçário, numa creche, tem que tro-car cerca de 30 fraldas por dia, e que,como ela não tem um local bom pratroca de fralda, fica com problemasna coluna. Antes achava que só ogari que tinha problemas graves (dejoelho, coluna).

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stive ausente do trabalho por-que participei em Marau de um

curso de capacitação de monitoresem Saúde, que tem com o objeti-vo atuar juntos com os trabalhado-res buscando soluções para o sérioproblema de doenças ocupacionaisque existem.

Sabe o que aconteceu aquinesses dias? Foram discutidos as-suntos que interessam a cada tra-balhador: saúde, problemas, desi-gualdade. Concluímos nesse encon-tro que nossa vida e nossa saúdevalem mais que qualquer dinheiro.Que devemos buscar coletivamen-te soluções possíveis para os nos-sos problemas. Que os problemasde saúde não são individuais e osriscos do trabalho são comuns atodos trabalhadores.

Estudamos vários assuntos re-lacionados à saúde e buscamos de-senvolver uma metodologia de tra-balho que possa nos ajudar a solu-cionar os problemas causados no serhumano devido seu próprio traba-lho. Encontrar a causa do proble-ma, buscar a solução e promoveruma ação para que o direito à vidae a saúde sejam uma constante emnosso dia a dia.

O que mais me marcou nesseencontro foi a dinâmica mapa docorpo que serve também como umdesabafo. Aqui todos ouviram eprestaram atenção nos problemasde cada um. O método é bom, fazpensar, participar, opinar e trabalharem grupo”.

Carta construída coletivamente - dinâmicautilizada na avaliação do encontro, ondecada um(a) escreveu parte de uma carta

O curso Vidaviva que eu parti-cipei foi muito construtivo, foi dez.Um dia gostaria que você partici-passe também. Você vai gostar poisé muito legal e com isso nós apren-demos muito. Esse conhecimentoque estou levando vou passar aosmeus colegas de trabalho.

A mudança que queremos, oobjet ivo que buscamos está emnossas mãos, basta agente querer.Você aceita fazer parte disso? Pro-curar em grupo soluções para onosso dia a dia com mais saúde eliberdade?

José Adair Gonçalves - Serafina Corrêa - RS.(Iniciativa de um dos participantes para concluiras discussões do seu grupo)

Mapping: histórias,relatos e poemas

Motivações e Prêmios

As empresas lucram milhões emilhões em cima do sofrimento e dador insuportável dos trabalhadores.O trabalhador é obrigado a suportarporque tem sua família parasustentar.A ilusão chegou também aos jovens.São iludidos com promessas eprêmios.Na verdade, estão apenascomeçando a destruir seu própriocorpo e sua saúde.Para as empresas o importante émanter a produção.Não importa a destruição do corpohumano.A verdade todos nós sabemos: otrabalhador só tem valor enquantoestiver com saúde, produzindomais, mais e mais...A idade vem e com ela o cansaço eas seqüelas.O corpo já não tem mais a mesmahabilidade.Tantos anos de dedicação!E o trabalhador já não tem maisvalor.

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Fernando"...Eu trabalho de madrugada, du-rante o dia fico imprestável (sono-lento, mal humorado, etc). Quan-do estou com a adrenalina a mil,todos estão dormindo".

Schütz"Chego em casa às 6 da tarde, che-go acelerado, cansado, relação rá-pida com os filhos (já estressado),fico quieto, vejo notícias, xingo ascrianças se fazem barulho. Levo odesgaste do trabalho para dentrode casa".

Maia"... Tenho limitações por causa datendinite: não posso jogar vôlei,nem futebol, por exemplo. Quandochego em casa, gosto de tomar chi-marrão, caminhar, ou seja, trocara energia do trabalho (onde temosmuitas cobranças). Três vezes porsemana participo de atividades kar-decistas, para me harmonizar espi-ritualmente".

Marlene"... Já saio do serviço estressadae isso piora no ônibus. Chego emcasa com fome e descarrego nomarido. Me refugio na igreja, souevangélica. Me distraio com o meusobrinho. Mas perco o sono quan-do tenho que resolver algum pro-blema (do sindicato). É difícil con-ciliar sindicato e família. Mas euadoro o que faço".

Alvorete"Desenhei a rotina. O stress co-meça cedo quando tenho que tirara Mariana (filha de 4 anos) dacama. Quando chego em casa,depois do trabalho, me atiro e jogoos pés para cima. Os pés doemmuito. O sapato do uniforme équente no verão e frio no inverno.Não tenho tempo de brincar com afilha. A gente diz que o mais im-portante é a família, mas a gentenão consegue se dedicar a ela. Àsvezes, perco o sono".

Everson"Trabalho 6 horas em pé: sinto mui-ta dor nos pés, os pés incham. Jáacordo com dor nos pés. Quandosaio do aeroporto me desligo, apa-go. Chego em casa e me desligo".

Desenhos de monitores doSindicato dos Aeroviários/RS e

Alimentação de PelotasCapacitação com Mapping

Os monitores do Projeto VidaViva ligados aoSindicato dos Aeroviários e Alimentação dePelotas, no Rio Grande do Sul, vivenciaram ametodologia do Mapping na fase de capacitação. Aseguir, trechos de falas desses trabalhadoressobre seu trabalho, sua saúde e sua vida.

Luís"Desenhei os olhos, porque a pri-meira coisa que o trabalho afetoufoi a minha visão (sou classifica-dor de cereais e nesse serviço hámuita poeira). Desenhei o sol e alua, porque trabalho em turnos ro-tativos e nunca me adapto aoshorários, quando estou começan-do a me adaptar ao trabalho danoite, começo a trabalhar de dia.Isso traz um desgaste muito gran-de para a família. Também já pas-sei muito sacrifício por causa docalor no trabalho".

Sparremberger"Saio do trabalho e pego um tremlotado, mal cheiroso (sou baixinhoe fico no sovaco dos maiores). Éestressante. Mas chego em casa ebrinco com os filhos. Uso uma cha-vezinha para me desligar. Tive queaprender a fazer isso por causa dacobrança da mulher. Assim eu vivomais a minha casa. Mas nem sem-pre a chave funciona (fica inope-rante, tento, mas não consigo)".

Grupo 5 – Ceval Alimentos

Grupo 3 – Hangar

Grupo 2 – Setor de Reparo de Peças

Grupo 4 – Aeromot

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Vivências:Histórias de eu, tu, nós

ano, serão produzidos mais doispainéis, abordando a realidade dostrabalhadores do setor frigoríficoe da indústria de papelão. O en-saio fotográfico pretende rompercom a visão de que o adoecimen-to é um processo individual semrelação com o trabalho. São his-tórias que narram os impactos dotrabalho sobre nossa vida e nossasaúde. São histórias que muitasempresas pretendem esconder,mas devemos lembrá-las paraconstruir o espírito e a motivaçãonecessários para mudar o local detrabalho.

Metas de produção. Ritmo intenso. Assédio da chefia. Cobrança pordesempenho. Competição entre colegas. Ameaça de desemprego.Adoecimento. Resistência.Essas histórias são relatadas por trabalhadores no ensaio fotográfico“Vivências”. Uma exposição que aproxima os trabalhadores,emociona e desperta a consciência. “Vivências” nos faz refletir queexiste um trabalho que precisa ser (re)pensado e ações que precisamser construídas coletivamente para mudar essa realidade.

s lições de vida da trabalha-dora rural Dona Lió; de Con-

ceição, operadora de máquinasnuma fábrica de chocolates; dabancária Jovina e a do trabalha-dor químico Juarez estão mexen-do com os trabalhadores queacompanham a exposição foto-gráfica. O intercâmbio dessas his-tórias de vida possibilita a identifi-cação de problemas comuns atodos nós trabalhadores. As ex-posições percorreram vários esta-dos brasileiros e foram montadasem frente a fábricas, sindicatos,praças e órgãos públicos. Nesse

BahiaNo mês de abril, foi a vez de os baianos conhecerem o depoimento do “GuerreiroOperário” Juarez. A exposição fez parte das atividades do Forumat – Fórum do MeioAmbiente do Trabalho – que prestou homenagem a todos os (as) trabalhadores(as) daBahia vítimas de acidentes e doenças do trabalho, pela proximidade com o dia 28 – DiaMundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho. A apresentaçãoocorreu também em Praça Pública, em frente à Câmara dos Vereadores de Salvador.Em maio, “Vivências” abordando a história de Juarez foi exposta no pátio do Serpro -Serviço Federal de Processamento de Dados, também em Salvador.

Pernambuco e AlagoasPor iniciativa do Sindicato dos Bancários, a exposição “Minha vida em Pretoe Branco” fez parte das atividades realizadas na semana de 02 a 06 demaio, na qual a categoria dos bancários denunciou nacionalmente a violên-cia dos assaltos e seqüestros e a insegurança que tomou conta do setor.Os painéis também foram expostos no saguão de entrada da DelegaciaRegional do Trabalho-PE, possibilitando a centenas de trabalhadores oacesso à história de Jovina, causando um forte impacto em todos.Em Alagoas, a exposição foi montada em evento da CUT-AL e da Federa-ção dos Sindicatos de Bancários cutistas do Nordeste.

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Espírito SantoEm Vitória, o SindiAlimentação do Espírito Santo aproveitou a realizaçãoda Semana de Saúde para levar os painéis das exposições “Inconforma-da” e “O lado amargo do chocolate” para a porta da fábrica de Chocola-tes Garoto, o mesmo lugar onde a trabalhadora Conceição adquiriu LER.A mãe de um trabalhador da empresa viu a exposição e ficou indignada:“Meu filho trabalha aí dentro e eu não conhecia esse lado. Ele vemreclamando de dor e eu me interessei mais em saber o que está aconte-cendo. O cansaço é tão grande que meu filho vive dizendo que pareceque ele não dorme, não consegue repousar durante o sono. E ele estásó há quatro meses na fábrica”.Para Zequinha, que também trabalha na Garoto, conhecer a história datrabalhadora rural Dona Lió o fez identificar semelhanças. “Aqui traba-lhamos direto com máquinas. Lá é só tesoura e banquinho. Vivenciei arealidade das plantações de cacau e o sofrimento é o mesmo. O segredoé estarmos unidos, é fazer esse trabalho, mostrar tudo isso para quehaja melhores condições de trabalho”.

s Vivências “Inconformada” e “Olado amargo do Chocolate” fo-

ram expostas em diversas fábricas naAlemanha: Daimler Chrysler Unter-turkheim; Daimler Chrysler Woerth;Toyota Koeln; Thyssen Duesseldorf;no Sindicato dos Metalúrgicos, em St-tuttgart, no Dia Internacional da Mu-lher, e em encontros de Comissõesde fábricas de várias unidades da Da-imler Chrysler.

A história de Conceição, opera-dora de máquinas de uma fábrica dechocolates no Espírito Santo, sensi-bilizou o trabalhador alemão WolfgangFoerster, que é membro da Comis-são de Fábrica da Daimler Chrysler

Exposição de “Vivências”na Alemanha

Woert. “Quando vi que ela não con-seguia mais segurar seu filho, foi for-te. Normalmente, não estamos cons-cientes disso. Em nosso pensamen-to, o trabalho e a vida privada sãocoisas distintas, mas não é assim, otrabalho muda toda a nossa vida”,comentou.

Já o presidente da Comissão deFábrica da unidade de Thyssen emDuesseldorf, Klaus Specht, contaque recebeu comentários sobre a Ex-posição Vivências de mais de cemtrabalhadores e muitos, principalmen-te os que trabalham na linha de pro-dução, disseram que vivem situaçõesparecidas. “Eles também sofrem por

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causa dos trabalhos monótonos, semvariação, fazendo sempre os mes-mos movimentos. Um trabalho quedestrói a vida. Aqui, como no Brasil,temos de lutar contra isso, lutar poruma vida melhor”. Para Klaus, as ex-posições ajudaram os trabalhadoresalemães a compreenderem que so-mos iguais no mundo e que nossaluta é a mesma.

São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do SulO Sindicato dos Químicos do ABC apresentou os painéis com a história de Juarez no ato de comemoração de 20anos da existência da Comsat (Comissão de Saúde, Trabalho e Meio Ambiente) e na oficina sobre saúde dotrabalhador, em abril, durante os trabalhos do IX Congresso da entidade.“É muito emocionante ver as fotos assim em exposição, porque ele ficou muito chocado por ter sido mandadoembora, achou que não arranjaria mais empregos por causa daquelas manchas. Ele ficou derrubado, eu tinhamedo até de ele fazer uma besteira contra a própria vida”, conta, emocionada, Maria Luciene, esposa deJuarez. Entre os painéis, o que mais chamou atenção do público foi aquele em que Juarez descreve o compor-tamento do médico da empresa: “O médico diz que ele não tem nada e aí ele pergunta se seria admitido pelaempresa naquele estado. Isso me marcou demais. O que aconteceu com ele pode acontecer com qualquer um”,observa Antônio, trabalhador químico.

No Rio de Janeiro, a exposição “Minha Vida em Preto e Branco” foi apresentada na inauguração da nova sededo Sindicato dos Bancários daquele estado.Aproveitando o grande número de trabalhadores(as) e ativistas sindicais e do movimento popular do Brasil e devárias partes do mundo, em Porto Alegre (RS), as exposições “Inconformada” e “O lado amargo do Chocolate”fizeram parte das atividades da Conferederação Nacional da Alimentação (Contac) no Fórum Social Mundial.

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Em 1964 a primeira zona franca paraexportação foi introduzida no México.A zona, caracterizada pelas“maquiladoras” – fábricas queimportam matérias-primas eexportam produtos montados ecomponentes – cresceu muito com otempo. Em 2002, 1,4 milhões detrabalhadores atuaram em 2.867empresas (autopeças, eletrônicos,têxteis), sendo 75% mulheres. Asexportações das maquiladorasrepresentam 40% de toda exportaçãodo México. Para atrair as empresas, ogoverno mexicano oferece incentivoscomo infra-estrutura e redução deimpostos. Os salários são miseráveise sindicatos combativos praticamentenão existem. A situação dostrabalhadores piorou com o tempo.Um trabalhador das maquiladoras,que recebia 50 dólares por semana há10 anos, hoje só recebe 35 dólares. Aorganização sindical é complicada nasmaquiladoras. Por um lado, asempresas têm uma forte política anti-sindical, demitindo trabalhadores quese tornem ativistas sindicais. Poroutro lado, vários sindicatosexistentes são comprometidos comas empresas e, por isso,desvalorizados pelos trabalhadores. Asaída encontrada foi a criação decentros de trabalhadores onde sãodesenvolvidas campanhas eprogramas de formação que ajudam aconstruir uma prática solidária.

VidaViva além das fronteirasVidaViva além das fronteiras

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O Projeto VidaViva que aborda a tríade vida,saúde e trabalhoatravessa fronteiras e ajuda a diminiuir a distância entretrabalhadores brasileiros, alemães e mexicanos. A exemplo dostrabalhadores da Alemanha, o México também começa a trabalharcom a pesquisa participativa. Nos dois países o desenvolvimentodo Mapping fortaleceu a compreensão de que é preciso contruiruma ação conjunta em defesa da saúde e de um trabalho querespeite a vida.

Na medida em que conhecemosa realidade de outro trabalhador,seja ele de outra categoria ouaté mesmo de outro país, pode-mos descobrir semelhanças prin-cipalmente nas nas condições detrabalho . Essa troca de experi-ências e de conhecimento nosidentifica com o outro e podegerar um espírito de solidarieda-de, de vontade de lutar paratransformar nossa realidade. ATIE desenvolveu com os traba-lhadores das zonas francas (as

maquilas), o Mapping, uma daspropostas de pesquisa participa-tiva. Betty Robles, ativista doSEDEPAC – um centro que bus-ca organizar esses trabalhadores- em Coahuila, México, relata quedesenhar os mapas foi muito im-portante porque ajudou os tra-balhadores a reconhecerem seupróprio ambiente de trabalho.“Foi algo muito bonito. Ao de-senhar a área de trabalho, elesse deram conta dos perigos aque estão expostos, embora a

m agosto 2004, a TIE orga-nizou um seminário de saúde

com ativistas do setor têxtil e or-ganizadores de centros de traba-lhadores em Rio Bravo, México.Participaram da atividade 22 ati-vistas de várias regiões da fron-teira do México com os EstadosUnidos. O projetoVidaViva, de-senvolvido no Brasil foi apresen-tado. Os trabalhadores mexicanosrefletiram sobre o processo de re-estruturação produtiva implanta-do na maioria das empresas, apon-tando grandes semelhanças coma realidade de outros trabalhado-res no mundo e identificandovárias mudanças nos últimos anoscomo a intensificação do trabalho,a existência de trabalho em equi-pe, a polivalência e a intensifica-ção do estresse. O processo decooptação por parte das empre-sas também está presente.As em-

presas tentam cooptar os traba-lhadores por meio de várias inicia-tivas: prêmiações especiais e dis-cursos de parceria. Também nasmaquilas a intensificação da pro-

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empresa afirme que esses peri-gos não existem”, diz Betty. Elaconta que nas avaliações feitaspelo grupo, os trabalhadores des-cobriram que as condições desaúde são semelhantes às doscompanheiros do Brasil. “Aquipassamos pelos mesmos proble-mas. Muitos produtos químicossão utilizados sem informação oucom a informação em inglês e issopouco importa à empresa, queexpõe os trabalhadores aos ris-cos e aos excessos de produção”.

dução resultou no aumento noquadro de adoecimento dos tra-balhadores com aumento do nú-mero de casos de LER/DORT esintomas de estresse.

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Programa de IntervençãoA partir do momentoem que o ProjetoVidaViva chegar atéos trabalhadores,esperamos quesejam desenvolvidaspráticas efetivas deintervenção no localde trabalho. Oprograma deintervenção que estásendo elaboradopretende auxiliar odesenvolvimento decapacidades deintervenção emdiferentes níveis:socialização deexperiências,capacitação,informação e apoio aredes de contato.

ma das idéias para auxiliar sin-dicatos e trabalhadores na

concretização de mudanças nos lo-cais de trabalho é o Fórum Inter-venção Sindical (FIS). A partir daimplementação dos recursos forma-tivos na base, como o mapping, porexemplo, os sindicatos que partici-pam do Projeto VidaViva irão iden-tificar problemas no trabalho queafetam a saúde dos trabalhadores.

Por meio do Fórum, os sin-dicatos poderão socializar práticasconcretas que resultaram em mu-danças em favor dos trabalhadorese comparar locais de trabalho deacordo com interesses e critériospré-definidos como ritmo de traba-lho, sobrecarga, análise de um pos-to de trabalho específico, escalas,controle, etc.

O primeiro passo é detectarum local de trabalho específico ou

Redes de contatoMuitos sindicatos têm proble-mas específicos relacionadosà saúde que não poderão serabordados pelo projeto. Po-rém, o projeto desenvolveráestruturas de apoio para me-diar os contatos com outrasentidades e/ou organizaçõesna busca de soluções para osproblemas levantados. Umexemplo claro é a necessida-de de os trabalhadores ruraisconhecerem melhor o com-ponente químico de agrotó-xicos - utilizados nas lavourase manuseado por eles. O pro-jeto pode auxiliar no contatocom outros sindicatos, comuniversidades e com outrasorganizações que possam fa-cilitar o acesso a esse conhe-cimento em nível nacional ouinternacional.

uma forma de organização do tra-balho em que haja problemas. Comapoio da rede, o projeto busca iden-tificar sindicatos que mantenhamcontato com empresas possuido-ras de locais ou organizações simila-res. A partir daí, a rede procura or-ganizar seminários e intercâmbiosnacionais ou internacionais que pro-movam a troca de experiências.

Os intercâmbios irão possibi-litar o debate sobre questões rela-cionadas à organização do trabalho,como ciclo, ritmo, tecnologia, con-trole e ações concretas desenvol-vidas em favor dos trabalhadores.

Além de socializar práticas deintervenção já existentes e que es-tejam de acordo com as reflexõesdo Projeto VidaViva, pretendemospossibilitar o intercâmbio de novasestratégias geradas a partir do de-senvolvimento do projeto.

Fórum IntervençãoSindical(FIS)

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projeto pretende esti-mular uma reflexão sobre

o processo da reestruturaçãoprodutiva e suas contradiçõespara qualificar os monitoressobre a temática, apoiando aimplementação dos recursosformativos desenvolvidos atéo momento. Para isso, serãorealizados encontros estadu-ais de monitores, com o ob-jetivo de socializar experiên-

Saúde no Trabalho

No ProjetoVidaViva, está emfase de elaboraçãoo curso paracipeiros, militantese dirigentesinteressados emdiscutir a questãoda saúde no localde trabalho. Essaproposta pretendeampliar a atuaçãoda CIPA,estimulando umaintervenção quenão se baseieapenas nosaspectos técnicosdo trabalho, masconsidere outrosfatores “invisíveis”que estãopresentes e queafetam igualmentea saúde e a vidadas pessoas.

oucos sindicatos desenvolvemprogramas de formação para ci-

peiros. As razões para isso vão desdea falta de recursos financeiros, difi-culdades em mobilizar trabalhadores,até o total desinteresse em fazer for-mação com esse grupo de trabalha-dores. Para alguns sindicatos, a CIPAnão representa uma possibilidade deorganização dos trabalhadores no lo-cal de trabalho. Na falta de uma açãosindical que trabalhe a questão dasaúde com esse público, são as em-presas que terminam por fazer a for-mação.

Nesses cursos, a formação decipeiros é voltada para “ensinar” osparticipantes a analisarem causas deacidentes sob o ponto de vista daempresa, no qual, geralmente, o tra-balhador é o único responsabilizado.Muitas são as situações em que aanálise de um acidente acaba numúnico veredicto: ato inseguro. Umaavaliação que desvia o foco e nãopermite a análise das condições detrabalho e dos demais fatores que co-laboraram com o acidente.

Também é comum os trabalha-dores serem submetidos a programasde prevenção elaborados pelas em-presas que pregam insistentementea utilização de equipamentos de pro-teção individual (EPIs). Uma estraté-gia que, além de gerar um processode culpabilização do trabalhador por

um acidente ou adoecimento, impe-de ainda que os trabalhadores se or-ganizem para lutar pela instalação deequipamentos de proteção coletiva(EPCs). É mais barato para as empre-sas gerenciarem os índices de aciden-tes e a incidência de doenças ocu-pacionais do que investir em equipa-mentos que eliminem os problemas.

Fortalecer uma intervençãoefetiva no local de trabalho. Este é oobjetivo principal do curso “Saúde noTrabalho” que vem sendo elaboradono projeto. A proposta é de queseja um curso menos técnico e maisreflexivo, abordando o processo deadoecimento dos trabalhadores e es-tabelecendo a relação com o traba-lho. A discussão sobre a reestrutura-ção produtiva, enfocando as estra-tégias empresariais para intensificar aprodução, também será um temaabordado. Os participantes serão pro-vocados a pensar sobre a necessida-de de se construir uma luta para queas empresas implantem equipamen-tos de proteção coletiva. A análisede acidentes, visando desconstruir oprocesso de culpabilização do traba-lhador, também será enfocada no cur-so. Os participantes serão estimula-dos a refletir sobre as estratégias dasempresas para gerenciar os índices deacidentes e adoecimento sem pro-mover reais mudanças que preservema saúde dos trabalhadores.

cias entre monitores das di-ferentes categorias. O proje-to prevê ainda que haja inter-câmbios de visitas nas empre-sas para aprofundar a discus-são sobre o processo de re-estruturação e seus impactosnos locais de trabalho. Neles,os monitores poderão obser-var concretamente as estra-tégias empresariais que sãoimplementadas para aumentar

a produtividade, os meios decooptação e controle exerci-dos sobre os trabalhadores eos impactos na saúde e navida dos trabalhadores.

A partir das questõeslevantadas pelos sindicatos nodesenvolvimento do projeto,também serão desenvolvidoscursos e publicações para for-talecer a ação de intervençãono local de trabalho.

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Encontros estaduais de monitores

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Estratégias Empresariais

pessoas). Ao contrário, elapode ser criada a partir de umainfluência externa. Geralmen-te, dura exatamente o perío-do dessa influência, sem per-durar por longos períodos.

Na verdade, a motivaçãopermanente não acontece paraa maioria dos trabalhadores.Apenas algumas pessoas, comoexecutivos, empresários, libe-rais e esportistas, conseguempermanecer motivados. Nestescasos, motivação e desejo es-tão muito próximos e muitasvezes se confundem. A partirde experiências como a de Ha-wthorne e de exper iênciascom grupos de trabalho na es-cola sociotécnica e na produ-ção enxuta, a administração depessoal vem sofrendo constan-tes e profundas mudanças, as-sumindo um papel mais elabo-rado de administração de re-cursos humanos e, mais atual-mente, de gestão de pessoas.Mudam-se focos históricos. Sa-ber aprender passa a ser maisimportante que saber fazer.Passam a ser destaques: a ex-periência e a vivência pessoal;a capacidade de liderança e detrabalho em equipe; a predis-posição em assumir compromis-sos com a empresa; o envolvi-mento total com as metas pro-dutivas estabelecidas. A “inte-ligência emocional” torna-se tãovalorizada quanto o conheci-mento formal. Ainda dentrodessa política de gestão depessoas, são adotados progra-mas de motivação para criar umclima organizacional favorável àempresa e para fortalecer con-tinuamente os compromissosdos trabalhadores com as me-tas produtivas. A empresa usa,por exemplo:

Participação nos lucros e re-sultados (PLR) baseada em

acordo coletivo anual, comestabelecimento de metas,como redução do absente-ísmo, diminuição dos aciden-tes e doenças profissionais,redução das perdas por fal-ta de qualidade, com con-seqüente redução do re-tra-balho e do desperdício, par-t ic ipação da empresa nomercado, indicadores de sa-tisfação dos clientes, entreoutros.Programas de comprometi-mento psico-afetivo para ostrabalhadores, como dinâmi-cas de grupo, reuniões deliderança, superação de difi-culdades etc.Programas de integração fa-miliar, nos quais as famíliasdos trabalhadores são leva-das a participar de atividadesfestivas, palestras, visitas eeventos educativos, criandouma imagem favorável à em-presa junto à família.

Os indicadores de pro-dução, como metas alcança-das, ganhos de produtividade,etc., têm representado umaumento da vigilância sobre ocomportamento individual edos grupos. Essas estratégiasacabam por criar um “cerco”para que o trabalhador retribuatodo investimento que a em-presa está fazendo na sua qua-lificação e na melhoria da sua“qualidade de vida”. Esse “cer-co” se dá por uma cobrança dis-farçada dos compromissos “vo-luntariamente assumidos” pelostrabalhadores, com ameaçasconstantes sobre como a em-presa tratará os trabalhadoresnão-cumpridores de suas res-ponsabilidades. As premiações,reconhecimento mais afetivo eemocional do que financeiro,parecem ter se tornado ape-nas formas de cooptação e

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o início do século XX, asempresas americanas co-

meçaram a se orientar pela es-cola de administração científi-ca do trabalho, liderada porTaylor e Ford. Na época, liga-vam-se os problemas de baixaprodutividade à fadiga e às de-ficiências do ambiente físico, fa-tores conhecidos como higiê-nicos. Também na época,Taylor elaborou sua teoria dohomus economicus, segundo aqual o pagamento era o únicofator que levava as pessoas aproduzirem. No entanto, algunsoutros cientistas, descontentescom essa visão e insatisfeitoscom os resultados das açõespropostas por Taylor e Ford,começaram a estudar os pro-blemas da produtividade soboutro foco, o homem e seugrupo social. Esses estudosderam origem à chamada es-cola comportamental, idealiza-da por Mayo, Herzberg eMcGregor. Em 1927, HeltonMayo, estudando trabalhadoresde uma linha de montagem daWestern Electric, na cidade deHawthorne – USA, demons-trou, com um trabalho conhe-cido como Experiência de Ha-wthorne, a importância de fa-tores psicológicos e sociais paraa produtividade da empresa. Apartir daí, as empresas que se-guiam a teoria taylorista passa-ram a adotar novas políticas deadministração de pessoal. Ossentidos dessas políticas são:valorização, reconhecimento eatenção para os trabalhadorese seus grupos. O objetivo émotivar psiquicamente parauma maior produtividade. Valea pena, neste momento, en-tender o significado da palavramotivação. A motivação não éum sentimento intrínseco (quefaz parte da constituição das

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compensação. Para isso, sãousados diplomas, medalhas, pe-quenos presentes, elogios pú-blicos e pequenas promoções.Mas nada tem garantido aoshomenageados o reconheci-mento verdadeiro, e o “operá-rio padrão”de hoje pode ser odemitido de amanhã.

As pun ições , mu i tasvezes, estão na esfera admi-nistrativa. Podem ser desdemudança de grupo de traba-lho, submissão hierárquica aex-companheiros, exclusãodas atividades sociais da em-presa, até isolamento e demis-são do trabalhador que não foicapaz de se adaptar a umanova realidade no mundo dotrabalho. Mas existem também

as formas mais “psicológicas”de controle e punição – asque podem levar o trabalha-dor à baixa auto-estima, àauto-culpabilização, à auto-punição ou à humilhação pú-blica (muitas vezes, os própri-os colegas de trabalho parti-cipam dessas formas de pu-n i r) . Mesmo passando portudo isso, o trabalhador nãotem garantias de permanên-cia no emprego. Assim, nãoseria exagero afirmar que exis-te hoje, nas empresas, umextenso programa de sedu-ção, envolvimento, compro-metimento, vigilância, cobran-ça e punição, necessariamen-te nessa ordem. Esse exten-so programa pode destruir in-

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dividualidades e criar um co-letivo sem forma e sem von-tade própria, sempre geran-do respostas sistematicamen-te pré-estabelecidas pela es-tratégia empresarial.

Como essas respostasnão têm levado em conta ou-tra coisa senão os interessescorporativos, muitas vezes iso-lam, estressam, deprimem ealienam as pessoas, transfor-mando-as em meros elos doprocesso produtivo, substituí-veis sempre que falharem emsuas ações.

Théo Oliveira é Médico do Traba-

lhado e assessor do departamento

de Saúde do Sindicato dos

Metalúrgicos do ABC.

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Meu nome é Juarez Barros Feitosa. Nasciem Juazeiro do Norte, no Ceará, e vimpara São Paulo com 19 anos.

Por que aqui a gente tem esseestresse de emprego, trabalhanuma firma onde se é mandadoembora mesmo doente. Isso foiuma pancada e tanto.

A partir daí começou essa co-ceira, eu ficava agoniado comessa coceira, coçava tudoquanto era lugar.

Eu passei com o médicoda firma e ele falou queera vitiligo e não intoxi-cação. Eu cobrei uma ex-plicação, pois eu tava fi-cando todo branco, igualao Michael Jackson. Eledisse para não me preo-cupar que eu iria sarar.Uma semana depois eufui mandado embora.

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Por causa do estresse, da depres-são, fui procurar a igreja.

No exame demissional, o médico da empresaolhou pra mim e disse:“ – O que é isso?– O senhor já viu isso, respondi. Quem quersaber o que é isso sou eu.– Ah!, isso aí é uma coisinha simples, umacoisinha normal, ele falou sem me examinare me deu um papel.– Assina aí.– Não vou assinar não,por que eu tenho queassinar isso?– Você tem que assinar porque é a sua dis-pensa, você está bom!– Quer dizer que estou bom para serdispensado da empresa?– Sim, você não tem problema algum.– E se fosse para eu entrar na empresa ago-ra, o senhor me aceitaria dessa forma?– Aí é outra coisa - disse ele bravo, querendomostrar autoridade, ligou para quatro/cincopessoas dentro da firma, falou um bocado decoisa.– O que o senhor veio fazer aqui, então?– Vocês me chamaram, eu vim. Eu sabia queo senhor ia falar que eu não tinha nada emandar eu assinar o papel. Mas eu não vouassinar, embora eu saiba que não adiantanada, porque o poder de vocês é grande, eusou uma coisinha bem miudinha, só que euvou procurar meus direitos”.Aí foi quando eu vim para o sindicato.

Geralmente no almoço a gente come na mesa, mas a jantaé no sofá mesmo, de frente pra TV.

Eu não vou mentir não, eu voltei a estudar porcausa do mercado de trabalho. Hoje o fundamentaljá não basta, tem que terminar os estudos, temque fazer cursos, curso de computação...

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Eu sofri dois assaltos no banco. O último foi no ano de 2000. Obanco não ofereceu nenhuma assistência psicológica. Fizeramuma reunião conosco, e foi uma psicóloga dizendo que a gentedevia se manter calmo. Eu só vim saber do problema que eutinha adquirido um ano e meio depois. E aí o banco quis medemitir. Eu fui pra justiça, pra tentar a minha reintegração, atéhoje me encontro em benefício, e me sinto uma pessoa incapaz.

Quando chega perto do tempo de fazer a perí-cia... é exatamente quando eu sinto que a medi-cação já não tá fazendo bastante efeito. Eu nãodurmo e começo a piorar. Só de pensar que tenhode passar por tudo aquilo novamente, eu chegoao ponto de estourar as mãos, fica toda cheia decaroço e daqui a 30 dias tem que passar denovo...aí dão 45 dias, dão 30 dias e você ficanaquele negócio.

Não tenho condições de sair de casa sozinha. Tanto fazpassar dois, três dias dentro do meu quarto. Me acordode noite pra ver se as portas estão fechadas. Quandomeus cachorros começam a latir, eu vou pra janela dobanheiro pra ver se tem alguma coisa de anormal...porque fiquei com muito medo.

Antes eu tinha alegria, eu tinha saúde, eu podia com-preender meus filhos, amigos... hoje eu me sinto as-sim: uma prisioneira. Eu não tenho condição de sair, eunão tenho condição de ter um lazer, pois de tudo eutenho medo.

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Eu tomo o Rivotril, Amipritilina, Carmazepina... São 5 comprimidosque eu tomo por dia. São anti-depressivos. A medicação ajuda praque eu não venha a piorar, pois eu sinto quando vou entrar em crise,mas não consigo interromper.

Meu relacionamento com meus filhos mudou,meu relacionamento com meu marido mudou,entendeu? Porque eu não consigo mais sorrir daforma em que eu sorria antes. Eu não consigoser mais a Jovina que eu era antes, nem ver omundo da forma em que eu via antes. Hoje eutenho medo de tudo. Os meus filhos e meumarido se queixam muito. Mas é uma coisaassim... que eu faço... não porque eu queira.Eu sinto e demonstro aquilo que eu tô sentindo.

Os médicos que atendem a gente no INSS são muitos grossos. Jáaconteceu de eu sair de lá com uma crise de choro. Porque o médicogritou tanto, falou tão grosso... Nem a pessoa que me leva para omédico e que sai comigo pros cantos - porque eu tenho medo de sairsozinha-, ele não quis que ela ficasse na sala.

Qualquer profissional que sentir, seja qual for o pro-blema... ele lute pelos seus direitos e vá em busca desua saúde. Jamais se prenda por responsabilidade,necessidade, nem por comprometimento. Porque nahora que eles querem demitir a gente, eles não que-rem saber se você tá louco, se tá com saúde, se tácom problema nas mãos. Eles não querem saber denada. Eles te botam na rua e você fica doente e semplano de saúde. Sem nada e na rua da amargura.

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ProjetoVidaViva.como ar, o site do Projeto VidaViva!Para acessar basta entrar em

www.projetovidaviva.com. Você po-derá obter informações sobre o his-tórico do projeto, seus objetivos esobre a rede que se formou para dis-cutir a relação vida,saúde e traba-lho. Poderá, ainda, se informar a res-peito dos recursos formativos e in-formativos produzidos no projeto eacompanhar as fases de implemen-tação que estão em andamento nossindicatos que dele fazem parte. To-das as atividades que estão sendodesenvolvidas nos estados onde o

projeto atua serão divulgadas. Inter-câmbios, exposições fotográficascom histórias de trabalhadores de di-versas categorias e reações dos tra-balhadores que participam do proje-to. Acessando o site, você entraem contato com o projeto para,quem sabe, tornar-se mais ummembro dessa rede que pretendecriar espaços de reflexão onde ostrabalhadores possam constru i rsuas próprias estratégias para mu-dar a realidade em que vivem. Mu-dar o trabalho para preservar a saú-de e a vida. Seja bem-vindo!

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