revista república

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Responsabilidade no papel a78 anos de luta merecem mais que comemoração. Sindicato lança Revista República e aposta na informação vista pelos olhos do trabalhador. aSáude aEconomia aEsportes aLazer e muito mais... Foto: Mario Cortivo - Arte: Francielli S. Camargo e Evelyn Domingues

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sindicato dos metalúrgicos de santo andré e mauá

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Page 1: revista república

Responsabilidade no papel

a78 anos de lutamerecem mais quecomemoração.

Sindicato lança Revista República e apostana informação vista pelos olhos do trabalhador.

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EXPEDIENTEPublisher Responsável

Donizete Fernandes

EdiçãoTuga Martins - MTb 19.845

Colaboradores• Liora Mindrisz – MTb 57.301 • Roberto Barboza – MTb 19.845

• João Pedro Schleder • Shayane Servilha

Fotos• Diego Barros – MTb 36.327 • Mário Cortivo – MTb 29.409

RevisãoProf. Isaias Gomes de Lima

Projeto gráfico e editoração eletrônicaEvelyn Domingues - MTb 48.250

Tratamento de imagemFrancielli S. Camargo

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente - Cícero Firmino da SilvaVice-Presidente - Adonis Bernardes

Secretário Geral - Sivaldo Silva PereiraSecretário Adm. e Financ. - Adilson Torres dos Santos

Primeira Secretária - Aldenisa Moreira de Araújo Segundo Secretário - Osmar César Fernandes

Terceiro Secretário - José Ramos da SilvaDiretor Executivo - Elenísio de Almeida SilvaDiretor Executivo - Geraldo Ferreira de SouzaDiretor Executivo - Geovane Correa de Souza

Diretor Executivo - José Roberto VicariaDiretor Executivo - José Braz da Silva

Diretor Executivo - Joseildo Rodrigues de QueirozDiretor Executivo - Aldo Meira Santos

Diretor Executivo - Pedro Paulo da Silva

CONSELHO DA DIRETORIA EXECUTIVA• Geraldo Alves de Souza • Manoel Severino da Silva • Wilson Francisco

• Edilson Martins • Rafael William Loyola • Bertoni Batista Beserra• Maria Andréia Cunha Mathias • Jeferson Carmona Cobo

• Marcos Antonio da Silva Macedo • Joelma de Sales

CONSELHO FISCAL – TITULARES• José Edilson dos Santos • Claudinei Aparecido Maceió • Claudio Adriano

Fidelis • Conselho Fiscal Suplentes • Pedro Cassimiro dos Santos• Altamiro Ribeiro de Brito • Marcos Donisete Felix

COMITÊ SINDICAL DE EMPRESA• Adair Augusto Granato • Anderson Albuquerque Brito

• Carlos Alberto Vizenzi • Carlos Roberto Bianchi • Clayton AurélioDomingues de Oliveira • Cleber Soares da Silva • Gilberto Andrade de Lima

• Givaldo Ferreira Alves • Hélio dos Santos • Jacó José da Rocha • Jânio Izidorode Lima • Jessé Rodrigues de Sousa • José Moura de Oliveira • José Ramalho

Guilherme Feitosa • José Ricardo da Cruz • José Romualdo de Araújo• Juscelino Gonçalves Ferreira • Lincoln Patrocínio • Lourenço Aleixo da Rocha

• Luiz Fernando Malva Souza • Manoel Gabriel da Silva • Michele Raizerdos Santos • Nauro Ferreira Magalhães • Onésimo Teodoro da Silva

• Otaviano Crispiniano da Rocha • Pedro Leonardo Rodrigues• Rossini Handley Apolinário dos Santos • Viviane Cristina Camargo

ImpressãoProl Editora Gráfica - Unidade Imigrantes: Av. Papaiz, 581 - Diadema

SP - CEP 09931-610 - Fone: (11) 2169-6199

Tiragem: 10.000

Contatos:Tel.: 11- 4438.7329

[email protected][email protected]

A Revista República é uma publicação doSindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

em parceria com a Studio44 Comunicação e Marketig.

EditorialChave para a liberdade

A tributos da leitura somam infinidade de virtudes, prin-cipalmente quando a informação é oferecida como bem social e não como mercadoria. Em sociedade devastada por avalanche de informações, a seleção

de conteúdo faz diferença. É preciso entender o valor da lei-tura não só para acúmulo de conhecimento, mas como meio de discernir conjunturas de maneira a identificar a realidade sem distorções. Esta é a proposta da Revista República, publi-cação voltada aos trabalhadores do setor metalúrgico, que emerge também como alternativa para qualquer cidadão disposto a receber notícias livres do arbítrio da mídia conven-cional, a qual trata informação como commodity.

Longe da mercantilização da notícia, as reportagens das próximas páginas permitem diálogo com público, uma vez que retratam experiências, muitas vezes compartilhadas pe-los leitores. A meta é provocar o ideário individual em favor de interesses coletivos e exercitar o discernimento. A chama-da era da informação carrega fragilidades, especialmente porque dedica tempo e espaço demais na divulgação de no-tícias irrelevantes.

Algumas culturas consideram a leitura de qualidade como talento e não podemos negar que a imprensa brasilei-ra desempenhou papel determinante em alguns momentos da história do país. Mas a decadência é notória quando a insistência em sensibilizar a opinião pública atende apenas a interesses de poucos. Como o leitor está cada vez mais exi-gente, nenhum veículo de comunicação pode fugir à respon-sabilidade de oferecer oportunidade de ler melhor. Este é o caminho que escolhemos. Boa leitura!

Donizete Fernandes Publisher

Page 5: revista república

SumárioCONJUNTURAIS06 e 07Notas conjunturais

COMEMORAÇÃO08 e 09Aniversáriodo sindicato

CAPA10 e 11Revista República

LAZER12 e 13Pipas exóticas

CULTURA14 a 28Notas culturaisPatrimôniosCidade TVMoisés PatrícioLuís SacilottoHip Hop RuaMoreira AcopiaraMuseus às moscas

ESPORTES29 a 38 Notas esportivas

Fanáticos por futebol Grêmio ABC? Gol da conquista Complexo de atletismo Mundial de hand

MEMÓRIA39 a 41Arquivo de ouroHistória viva

QUALIDADE DE VIDA42 a 48Prevenção àLER/DORTAposentadoria

sem preconceitosPesadelo do alcoolismoImune à depressão

INCLUSÃO49Conselho Tutelar

FORMAÇÃO50 a 52Ensino e desenvolvimentoNova geraçãoCapacitação continuada

CARREIRA54 a 56Dedo feminino na Ford

MODA57Visual para arrumar emprego

MEIO AMBIENTE58 a 60Exemplode Indaiatuba

POLÍTICA61 a 63Sede nova do PDTTrabalhadores no poder

TURISMO64 a 69Comer, rezar e amar

Verão no alto da serra

ESPECIAL70 a 72Modelo sindical de Jundiaí

PERFIL73Gente nossa

DECORAÇÃO74 e 75Jardim verticalDicas

ECONOMIA76 e 77Drama dos juros O valor da PLR

CONSUMO78 a 82Dica de presentesEstacionamento naponta do lápisFebre de celulares

Compras coletivas

5Revista Repúplica

Page 6: revista república

CONJUNTURAIS

Novo desafio de Lula

Na manhã de 31 de outubro – quatro dias após ter completado 66 anos – o ex-presidente

Luiz Inácio Lula da Silva começou tratamento no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para eliminar câncer na laringe. Diagnosticado em biópsia, o tumor tem nível médio de agressividade.

As sessões de quimioterapia devem durar três meses e serão seguidas por radioterapia. O ex-presidente raspou a cabeça e tirou a barba antes dos efeitos do tratamento. Os médicos acreditam que, se reagir bem, Lula pode estar curado em fevereiro de 2012.

Mais agilidade

A s catracas vão deixar os ônibus que trafegam no corredor de trólebus para serem instaladas nas

paradas do trajeto. O modelo funciona em Curitiba, ca-pital paranaense que é referência nacional. A proposta é diminuir o tempo de parada dos veículos e deverá entrar em operação no primeiro semestre de 2012.

Na contramão da mobilidade

A integração gratuita no transporte coletivo inter-municipal dos terminais de Diadema e Pirapori-

nha está com os dias contados. Ao que tudo indica, a partir de janeiro, cerca de 25% dos quase 100 mil usuários terão que desembolsar R$ 1 para cada bal-deação. Isso implica em aumento de R$ 40 mensais para os passageiros que transitam pelo corredor.

A justificativa para mais este choque no orçamento é o custeio da conclusão das obras de eletrificação do corredor que liga São Mateus ao bairro do Brooklin, na capital paulista, passando por Santo André, São Bernardo e Diadema. “A cobrança significa retrocesso na questão da mobilidade”, diz o secretário de Transportes de Diadema, Ricardo Perez.

O primeiro doutor a região não esquece

A UFABC (Universidade Federal do ABC) formou o primeiro doutor: o ana-lista ambiental Giovano Candiani, de 37 anos, que defendeu em 15 de

setembro a tese Estudo da Geração de Metano em uma Célula de Aterro Sa-nitário. O estudo quantifica a produção de biogás e metano em aterros para aproveitamento na geração de energia elétrica e de créditos de carbono.

A pesquisa foi desenvolvida dentro do programa de pós-graduação em Energia e amplia a possibilidade de utilização do gás metano para pro-dução de combustível ou energia elétrica. “A experiência foi muito interes-sante, a UFABC tem apenas cinco anos, algumas análises foram feitas com ajuda de outros laboratórios e o projeto foi bancado por empresas”, afirmou Candiani.

Redação

Marisa Letícia teve a difícil tarefa de tirar a barba histórica de Lula

Giovano Candiani

Foto: Divulgação

Catracas nas paradas entram em operação em 2012

Foto: Divulgação

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

6 Revista Repúplica

Page 7: revista república

Neblina e imprudência

Forte nevoeiro provocou o maior engavetamento da história do Sistema Anchieta-Imigrantes com aproximadamente

270 veículos, entre carros, ônibus e caminhões, na rodovia dos Imigrantes, sentido São Paulo. O acidente na altura do Km 41, em São Bernardo do Campo, deixou uma pessoa morta e pelo menos 29 feridos. A rodovia ficou bloqueada totalmente nos dois sentidos por cerca de quatro horas.

Instantes antes do engavetamento na Imigrantes, houve outro acidente na altura do Km 38 da Anchieta, envolvendo quatro carretas. Na mesma onda, em outubro, outro enga-vetamento envolvem seis veículos, deixou uma vítima com ferimentos leves e a pista da Imigrantes bloqueada, na altura do Km 48.

Injeção de ânimo

Mais que fôlego no bolso dos trabalhadores, o 13º salário

deste ano deve injetar R$ 118 bi-lhões na economia brasileira, repre-sentando 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeco-nômicos) divulgado no começo de novembro. Ano passado, a estima-tiva do Dieese era de que seriam injetados R$ 102 bilhões para este ano no 13º, projeção 15,6% menor ao número divulgado agora.

Pólo de Cosméticos

Polo de Cosméticos de Diade-ma, inaugurado em maio de

2002, que nos últimos dois anos perdeu prestígio e 5% dos postos de trabalho, pode voltar a come-morar. Isso porque estão previstos novas parcerias, cursos e o apoio da prefeitura para revitalização. A principal medida é o curso de produção de cosméticos da Fatec (Faculdade de Tecnologia), previsto para o segundo semestre de 2012. Estão sendo promovidos cursos com a Abihpec e com a ABDI.

Valor do sorriso infantil

A equipe da Odontopediatria do Hospital de Clínicas Dr.

Radamés Nardini, em Mauá, foi premiada no 8º Encontro Nacional de Odontologia para Bebês. Dos 360 trabalhos inscritos, somente sete foram premiados. A equipe de Mauá venceu na categoria Sistema-tização da Atenção Odontológica ao Bebê pelo trabalho Odontolo-gia Integrada à Equipe Hospitalar Neonatal, conferido por meio de certificado para a Secretaria de Saúde de Mauá.

Visita ao lar

A ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, esteve no ABC no início de novembro. Com o prefeito Luiz Marinho entregou

200 unidades do Conjunto Habitacional Nova Silvina, 540 destinadas às famílias do núcleo Naval e 532 do Conjunto Habitacional Jardim Silvina. Também assinou a ordem de início das obras do PAC 2/ Encostas (Programa de Aceleração do Crescimento) com 26 obras em 12 assentamentos.

“A vinda da ministra, que é condutora do PAC no governo de Dilma Rousseff e protagonista de uma das parceiras mais importantes do governo federal no ABC, fortalece a imagem do Partido dos Trabalhadores (PT) na região para o processo sucessório eleitoral do ano que vem”, diz Luiz Turco, presidente do PT de Santo André.

Engavetamento envolveu 270 veículos

Mirian Belchior e Luiz Turco

Foto: José Alfredo

Foto: Divulgação

7Revista Repúplica

Page 8: revista república

8 Revista Repúplica

COMEMORAÇÃO

M ais que slogan permanente de luta, as palavras existên-cia e resistência conden-sam a história do Sindicato

dos Metalúrgicos de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que completou 78 anos em 2011. A comemoração do aniversá-rio brindou também a posse da di-retoria para a gestão 2011-2015 e a inauguração de sede em Mauá, que superou Santo André em número de trabalhadores do setor.

Não é fácil a tarefa de cumprir trajetória ancorada em mobiliza-ções, que mesmo consideradas vi-sionárias foram convertidas em con-quistas e se tornaram referência para outras classes trabalhadoras. “O pró-ximo desafio é constituir Conselho Permanente da categoria, que inclui cipeiros e companheiros engajados no movimento sindical”, diz o presi-dente Cícero Firmino, o Martinha.

O Conselho Permanente irá acelerar o processo de decisões que envolvem base com mais de 20 mil trabalhadores. “O sindicato está es-truturando banco de dados para assegurar contatos frequentes com os trabalhadores, que são multipli-cadores potenciais de informações e precisam conhecer os canais de comunicação com a entidade”, diz Martinha. O sindicato aposta ainda

no acesso às novas tecnologias, de celulares a tablets, cada vez mais co-muns aos trabalhadores.

Sempre na vanguarda das conquistas trabalhistas, o sindicato ocupa posição estratégica no país. A história registra quatro intervenções: 1947, 1964, 1979 e 1980. Mas tam-bém traz a campanha O Petróleo é Nosso, nos anos 40, a qual inspirou a criação da Petrobras em 1953, hoje a segunda maior empresa petrolí-fera de capital aberto do mundo. “As lutas sempre foram necessárias. Mesmo os companheiros que foram presos, voltaram para o movimento sindical contrariando ordens de che-fias”, testemunha Martinha.

Além do ativismo frente às questões nacionais, o pioneirismo

emerge em defesa da campanha por 40 horas semanais, iniciada nos anos 1980 e hoje entre as principais bandeiras do movimento sindical. “Também a extensão do aviso pré-vio de 30 para 90 dias proporcional ao tempo de trabalho é reconheci-mento justo para companheiros que dedicaram 20 anos da vida, ou mais, à empresa”, defende Martinha.

Reivindicações como plano de cargos e salários, fortalecimento das campanhas da PLR, formação profissional e política dos trabalha-dores, bem como reposição salarial, aumento real, valorização do piso salarial, fim do teto de aplicação de reajuste e fim das terceirizações en-cabeçam a agenda de luta da direto-ria recém-empossada.

A festa foi prestigiada por Eufro-zino Pereira da Silva, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo; Atevaldo Leitão, diretor do Sindicato da Construção Civil de São Paulo; Marcelo Oliveira, verea-dor de Mauá; Emanuel Teixeira, vice presidente do Ciesp de Santo André; José Maria de Albuquerque, diretor do Sindicato da Construção Civil de São Caetano do Sul; Claudinho da Geladeira, vereador de Rio Grande da Serra; Jorge José Nunes, diretor do Senai de Santo André e Saul Gel-man, ouvidor de Santo André.

Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André comemora78 anos e empossa diretoria para gestão 2011-2015

Tuga Martins

Muitosanos de lutaCícero Firmino, o Martinha,

assumiu a presidência pela primeira vez em 1991, quando João Avamileno se candidatou a vereador. Em 1993, a unificação com São Bernardo não deu certo e três anos depois, Martinha foi um dos principais líderes pela reto-mada do Sindicato. Ocupou o cargo de diretor administrativo até 1999 quando foi eleito presidente.

TIME VENCEDOR

Page 9: revista república

9Revista Repúplica

A sede do Sindicato dos Meta-lúrgicos em Mauá ampliada e refor-mada foi entregue aos trabalhadores em setembro em clima de festa e reconhecimento. O presidente Cíce-ro Firmino, o Martinha, destacou a concessão do terreno assinada pelo então prefeito Amaury Fioravante. “É imprescindível que os homens pú-blicos atuem em favor dos que traba-lham pelo desenvolvimento do país”, afirmou o presidente.

A sede de Mauá existe há 20 anos. A reforma incluiu acréscimo de aproximadamente 700 metros quadrados de área construída, o que possibilita ampliação da prestação de serviços aos associados, além de aprimorar o atendimento. “O sindi-cato está em negociação com o Senai para, a partir do ano que vem, ofere-cer cursos de qualificação, que já são ministrados em Santo André”, afirma o diretor Adilson Torres, o Sapão.

A inauguração foi prestigiada por autoridades como o deputado fe-deral Vicentinho, a deputada estadual Vanessa Damo, o deputado estadual Carlos Alberto Grana, Amaury Fiora-vante Jr., representando o ex-prefeito Amaury Fioravante; o ex-prefeito Leonel Damo; o prefeito de Mauá, Oswaldo Dias, e o ex-presidente do sindicato e ex-prefeito de Santo An-dré, João Avamileno.

MAIOR E MELHOR

Foto

s: M

aria

Cida

Lourenço Aleixo da Rochae José Roberto de Melo

Adilson Torres e Saul Gelman

Juscelino Gonçalves Ferreira, CíceroMartinha, Claudinei Aparecido Maceió

José Cicotee Moacir

Cícero Martinha com a filha TatianaFirmino e as netas Gabriela e Giulia

Ato da posse da Diretoria, gestão 2011-2015. Saul Gelman, Gilvan Mendonça, Raimundo Salles, João Avamileno, Cícero Firmino, José Roberto de Melo, Eufrozino Pereira da Silva e José Cicote

Sivaldo Pereira e Gilvan Mendonça João Avamileno e Raimundo Salles

Page 10: revista república

CAPA

M ais que bom projeto gráfico reche-ado de informações, a Revista Re-pública nasce com alma, alma de trabalhador. Se valores coletivos e

vontade popular sempre inspiraram a luta dos movimentos sociais, a publicação pro-põe desmonte da comunicação formatada pelos interesses da indústria midiática e vai ao encontro da consolidação da cidadania da classe que sustenta a prosperidade do ABC. Ou seja, o mundo visto pela informação dos trabalhadores supõe democratização.

O projeto foi desenvolvido pelo Sindica-to dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, e Studio 44 Comunicação e Marketing. “Com a revista, o sindicato cumpre papel de par-ticipar mais da vida dos trabalhadores e contribuir para avaliação consciente do que acontece no mundo”, diz o presidente Cícero Firmino, o Martinha.

Fatos que impactam a vida de milhões

Revista República mostra omundo visto pela classe quesustenta a prosperidade do ABC

Redação

Palavra de trabalh ador

Cícero Martinha e Donizete Fernandes: o conteúdo vai surpreender.

Foto: Mario Cortivo

Page 11: revista república

11Revista Repúplica

de pessoas, geralmente são contados a partir da visão do capital. São emissoras de rádio e televisão, portais de internet, jornais e revistas que interpretam a realidade e distribuem como verdade. Mais pró-ximo da família e disposto a abordar temas além do cotidiano nas fábricas, o sindicato aposta na Revista República para informar sem distorções e compreender melhor as necessidades dos associados. Todo trabalhador tem atividades sociais, se relaciona com o mun-do, consome, busca lazer e entretenimento. “Lembro que um jornal de economia manchetou em 2005 ‘Empresários temem república sindical’, supondo que no segundo governo do presidente Lula, os interesses dos trabalhadores superariam os ditames capitalistas. Isso não aconteceu por completo, mas de lá para cá, os trabalhadores se apropriaram do espaço que ocupam na sociedade”, diz

A primeira edição soma 45 matérias distribuídas por 80 pági-nas sobre qualidade de vida, economia, lazer, cultura, esportes e, claro, direitos e conquistas do movimento sindical. “O conteúdo vai surpreender. Vamos distribuir a publicação para oito mil sócios mais os aposentados, atingindo cerca 12 mil trabalhadores diretamente”, comemora Martinha. Graças à portabilidade, o acesso ao conteúdo será ampliado.

Foi um informativo sindical abandonado em um canto que le-vou o empresário Donizete Fernandes a procurar o presidente Mar-tinha. “Se as informações estivessem nas páginas de uma revista, certamente não estariam largadas”, diz. A coincidência de idéias foi o estopim do projeto. A equipe é enxuta, mas com ingrediente im-prescindível: visão crítica e paixão. “A expectativa é abrir canal para que os trabalhadores manifestem os interesses e sugiram assuntos a serem abordados nas próximas edições”, afirma Donizete Fernandes.

Palavra de trabalh ador Os grandes

oligopóliosmidiáticos agridem o verdadeiro papel e a responsabilidade dos meios de comunicação. Pluralidade e diversidade nãoentram nesses meios que aí estão. Reconhecemos anecessidade de investire de contar cominstrumentos próprios. Se não dizemos nossaprópria palavra, osoutros a dizem por nós(Osvaldo León)

Page 12: revista república

LAZER

Há três anos as cores da primave-ra invadem Santo André pelos ares do Parque Central. A proeza de tingir o céu é divulgada como

Festival de Pipas Exóticas, iniciativa de Gervásio Nunes de Oliveira, que resgata a milenar arte chinesa com apoio da prefei-tura e da Fefisa (Faculdade de Educação Física de Santo André).

Com a quarta edição agendada para 16 de setembro de 2012, o evento vislumbra promover a participação de pessoas portadoras de necessidades es-peciais de todo o Estado de São Paulo. Para tanto, Gervásio articula contatos com dirigentes da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e com a Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência).

O convite para empinar idéias, con-tagia: cerca de 60 modelos levantaram vôo este ano, 20 a mais que em 2010, nas modalidades engenhosidade, barracas, maior pipa, três varetas, criatividade e be-leza. “A prefeitura continuará apoiando o evento em tudo o que for possível, mas não pretendemos incorporá-lo ao calen-dário oficial porque a iniciativa é privada e está voando melhor a cada ano”, brinca Meire Prado, assessora do prefeito Aidan Ravin.

A inscrição foi formalizada com a doação de um quilo de alimento não

Festival de Pipas Exóticas propõe transformararte milenar em atividade de inclusão

Roberto Barboza

Céus de todas

Gervásio Oliveira: vôo de 60 pipasrendeu mais de 50 quilos de alimentos

as coresFotos: Diego Barros

12 Revista Repúplica

Page 13: revista república

perecível, posteriormente encami-nhado para o Fundo Municipal de So-lidadriedade. “Este ano conseguimos mais de 50 quilos de alimentos”, co-memora Gervásio Oliveira, também conhecido como Neguinho das Pipas.

Cristian Roberto de Resende foi um dos primeiros a chegar com um para-faiol de 12 metros quadra-dos suportado por quatro linhas de 25 metros. O brinquedo lembra o parapente, tipo de para-quedas re-tangular que custa em torno de R$ 2 mil. “Dependendo do vento, chega a exercer pressão de 350 quilos”, afirma.

Outra gigante premiada no festi-val competiu na modadlidade barra-ca oitavada com homenagem ao rei Pelé. Também com área de 12 metros quadrados e rabiola de 25 metros, João Carlos Terto da Silva repetiu o feito do Festival de 2010, quando ga-nhou o primeiro lugar com o mesmo modelo de pipa com a imagem de Jesus Cristo.

Com 24 velas horizontais e qua-tro verticais, a caravela construída

por Luciano Felício levou 25 noites para ficar pronta. Mais difícil foi fazer a obra decolar. Mas se os ventos não estavam muito a favor, a beleza plásti-ca atraiu atenção.

Não é preciso gastar muito para se divertir. Pipas simples custam R$ 1,99 já prontas e até menos para quem quiser fazer em casa. Cerca de 800 pipas (tipo raia, de duas varetas) e carretéis de linha foram distribuídos para as crianças que participaram do festival.

Os perigos da prática de em-pinar papagaios em áreas urbanas foi exaustivamente lembrado pelos or-ganizadores do festival. Tanto os ris-cos relativos a proximidade de redes elétricas quanto ao uso do cerol (linha cortante, proibida por lei) que, além de mutilar animais, causa acidentes com pessoas, alguns fatais, principal-mente motociclistas.

SEGURANÇA:

13Revista Repúplica

Page 14: revista república

CULTURAIS

Paradoxo do Alcina

Dez dias antes de virar manchete em mídias de todo o país, em razão da tragédia do estudante de 10 anos que atirou na

professora dentro da sala de aula e depois se suicidou, a Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, de São Caetano, foi notícia por motivo bem mais nobre. Em 12 de setembro, saía o resultado do desempenho dos alunos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2010, que indicou a instituição como a melhor escola pública não-técnica do Estado.

Com números acima da média nacional que totalizou 511,21 pontos, os alunos do Ensino Fundamental do Alcina Dantas Fei-jão fizeram, em média, 618,27 pontos. Mas não deu muito tempo de comemorar. No dia 22, o tiroteio que acabou com a morte do estudante e a internação da professora, impôs paradoxo à sociedade: Quais quesitos são necessários para qualificar escolas, ensino exemplar e, principalmente, qual o sentido de educar?

Mural ao ar livre

Seis artistas do ABC aceitaram o desafio de encarar muro de 191 metros de extensão. A obra de arte ao ar livre está localizada no bairro Sitio Bom

Jesus, no Alvarenga, em São Bernardo, e surpreende pela proporção. Cada artista ficou responsável por cerca de 35 metros de muro com altura e textu-ra desregular para deixar inspiração.

Os artistas Daniel Melim, Odirlei Regazzo, Emol, Cena 7 e a dupla B-47 tiveram cerca de um mês para finalizar o trabalho, intitulado de Mural 191. “A idéia foi boa porque deixou aparência melhor para as casas que foram retiradas da beira do córrego. Além do que, é importante que haja democra-tização do acesso à arte, capaz de tornar as pessoas mais criticas, desenvol-ver seres pensantes e é uma forma de criar cidadãos”, disse Melim. O projeto consta da revitalização do bairro realizada pelo Projeto de Urbanização Integrada do Alvarenga, da Prefeitura.

Ode à liberdade

O Teatro Municipal de Mauá recebeu no inicio de novembro o espetá-culo inspirador Libertád, apresentado pela companhia Bailarte Dança

Flamenca, que homenageou a luta contra a ditadura do país durante com dança tipicamente espanhola. De 1936 e 1939, a Espanha foi palco de gran-des batalhas civis durante a chamada Revolução Espanhola, que buscava algo aparentemente simples: a liberdade.

O espetáculo é realizado por cerca de 50 profissionais, entre produção e bailarinos, e é dirigido pela coreógrafa da companhia Karina Ferreira. A apre-sentação em Mauá contou com a participação especial dos bailarinos Karina Martini e Jackson Murifran. A Cia Bailarte realiza espetáculos e oferece aulas de flamenco no ABC desde 1999, com a direção de Renata Nahssen.

Redação

Alcina Dantas Feijão: o que baliza a qualidade de ensino?

Espetáculo Libertád homenageia luta contra

Mural 191: melhoria na paisagem urbana

14 Revista Repúplica

Foto: Divulgação

Foto: Karina Ferreira

Foto: Divulgação

Page 15: revista república

CULTURA

A maior parte das pessoas já teve de conviver com algum apelido indesejado por motivos de chacota entre os amigos. Mas já imaginou ser chamado de Zé Cabaço? Enquanto você para de rir, vá pensando que este é, sim, o apelido de José Romualdo de Araújo. “Não tem jeito, sempre que alguém me chama, cai na gargalhada”, conta, rindo. Bem humorado, o diretor sindical da Fundição Tupy revela a razão de ser lembrado como cabaço e, pas-

me, é exatamente pelo motivo que você está pensando. “Eu vim de Pernambuco muito novo, com 19 anos. Lá, eu vivia em Águas Belas, terra de índio. Até os 17, eu não sa-

bia o que era escola, só trabalhava na roça. Então eu não sabia de nada da vida”, confessa. “Casei com a primeira mulher que conheci e com ela estou até hoje”. Sim, dona Ilda foi a primeira mulher de Zé Cabaço, que tentou relutar quando o colega de trabalho gritou,: “hei, vai perder o cabaço?”. “Meti a mão no pé do ouvido de muita gente”, admite. Mas não conseguiu escapar.

Aos 53 anos, Zé Cabaço tem histórias de sobra. Desde gerente de banco que ligou para o trabalho perguntando por José Romualdo e ouvindo um sonoro “não tem ninguém com esse nome” até mulheres se interessando em eliminar a razão do apelido. Aquele nervosismo do início virou risada e, depois de um tempo, começou a levar tudo com humor. Hoje ele se diverte e diz não ligar mais para o apelido que carrega há mais de 30 anos.

Dos mais cômicos aos mais irritantes, apelidos são patrimônios do movimento sindical bra-sileiro. Se alguns atormentam, outros são motivo de orgulho e acabam introduzidos ao nome, caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta coluna propõe revelar o carinho traduzido em criatividade pelos trabalhadores.

Liora Mindrisz

Patrimônios

Você conhece o Zé Cabaço?José de Araújo: ingenuidade da adolescência motivou apelido

Foto: Mario Cortivo

Page 16: revista república

16 Revista Repúplica

CULTURA Roberto Barboza

Oslogan Produção Brasileira de Padrão Inter-nacional, propagado pelos Estúdios Vera Cruz nos anos 1950, está de volta ao Jardim do Mar, em São Bernardo, na versão telinha

com a inauguração da Cidade da TV. São 800 m2 destinados a resgatar a memória da televisão bra-sileira e homenagear a primeira cidade cenográ-fica do Brasil, construída para ambientar a novela Redenção e que, com o fim das gravações, deu ori-gem à Cidade das Crianças, primeiro parque temá-tico do país. “Está tudo igual à época em que os 596 capítulos foram produzidos”, diz Reynaldo Boury, então diretor da novela.

Inaugurado em setembro, o complexo exigiu 12 meses de trabalho e conta com acervo de três mil itens, distribuídos por 30 salas em dois pavi-mentos. O projeto foi desenvolvido pela prefeitura, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Eco-nômico, Trabalho e Turismo, em parceria com a Pró-TV (Associação dos Pioneiros da TV). A entidade é presidida pela atriz Vida Alves, que protagonizou o primeiro beijo exibido na televisão em 1950. O es-paço é operacionalizado pela empresa Aquário de São Paulo, concessionária da Cidade das Crianças, e dirigido por Elmo Frankfort, especialista em TV e autor de livros sobre a Gazeta e a Manchete.

Fotos históricas, equipamentos, vestimentas usadas em programas, filmes e vídeos do passado, comerciais antigos, troféus destinados a artistas famosos e objetos curiosos estão expostos para saciar a curiosidade do público. “O espaço oferece também cursos, palestras e outros eventos rela-cionados ao universo da televisão”, diz o secretá-

Devoltaàs estrelas

São Bernardo inaugura Cidade da TV edevolve atmosfera artística ao Jardim do Mar

Fotos: Diego Barros

Jefferson da Con ceição: na Cidade TV,visitantes são mais que espectadores

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rio de Desenvolvimento Econômi-co, Trabalho e Turismo da cidade, Jefferson José da Conceição. Bem como manter viva a história da pro-dução televisiva nacional, a Cidade da TV promove interação com os visitantes, que deixam de ser meros espectadores.

O público pode manipular a câmera da inauguração da TV Tupi, as câmeras usadas na filmagem de Chico Xavier, doadas pelo diretor Daniel Filho, e ainda assistir à pró-pria imagem em um aparelho em preto e branco. Além de admirar relíquias, os visitantes têm contato com o que há de mais moderno no mundo em televisão, como a versão

holográfica de tecnologia alemã, na qual as imagens interagem com o telespectador.

TELONANa inauguração da Cidade da

TV, o prefeito Luiz Marinho reto-mou a promessa de recuperar e revitalizar os Estúdios Vera Cruz. “Trata-se de sonho antigo e sem-pre trabalhei com a lógica de que o espaço fosse voltado para o cine-ma novamente. Temos diversos ce-nários na nossa cidade que podem ser utilizados, inclusive, para rodar

novelas”, comentou. Para quem duvida do empenho

da atual administração, o município já recuperou o imóvel e a marca Vera Cruz. “Agora falta o dinheiro”, pontua o prefeito, na expectativa de firmar parcerias que viabilizem o projeto.

A Cidade da TV está localizada na rua Tasman, nº 301, portão 4, Jardim do Mar, São Bernardo do Campo. Funciona de terça a domingo das 9h às 17h com entrada a R$ 6. Munícipes com carteirinha da Cidade da Criança pa-gam meia-entrada.

Reynaldo Boury: cenários da novela Redenção estão preservados

Vida Alves: protagonista do primeiro beijo na TV Luiz Marinho: retomar vocação dos Estudios Vera Cruz

O aparelho que revolucionou as comunicações e mexeu com as artes no século passado só começou a ser fabricado em escala comercial em 1945 pela RCA dos EUA. A pré-estréia da televisão no Brasil aconteceu em 3 de abril de 1950. A primeira trans-missão foi assistida por seleto público em alguns aparelhos instalados no saguão dos Diários Associados, de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo.

A inauguração oficial da TV Tupi de São Paulo consolidou a novidade no país e o primeiro programa foi TV na Taba, apresentado por Homero Silva, com participação de Lima Duarte, Hebe Camargo, Mazzaropi, Ivon Cury, Lolita Rodrigues e do maestro George Henri. A antena transmissora estava instalada no edifício do Banco do Estado de São Paulo - Banespa.

Das duas câmeras compradas da RCA por Assis Chateaubriand, uma teve proble-mas no dia da estréia. Os técnicos nortes americanos acharam por bem adiar a trans-missão. Mas o diretor do programa Cassiano Gabus Mendes contrariou os especialistas e decidiu entrar no ar com apenas uma câmera e colocou à prova o talento brasileiro para o improviso.

CAIXA MÁGICA

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Primeiromestre foi oargentino Juan José Balziem projeto deinclusão socialde Santo André

CULTURA

Pode não parecer novidade para os crédulos saber que um novo Moisés rompeu mares em busca do reconhecimen-

to de uma arte prometida, mas para este expressionista de 28 anos, expor obras na DaadGalerie, em Berlim, por pouco não soou como milagre.

Foi o interesse do diretor e cura-dor do Museu Afro-brasileiro, Ema-noel Araújo, por trabalhos de afro-grafiteiros que aproximou Moisés do galerista alemão Golberg Knüst, du-rante visita a São Paulo. “Não perten-ço integralmente ao movimento do grafite. O muro é muito mais concei-tual do que gráfico. Para mim, é mais um elemento que compõe a arte no conceito da minha produção atual”, argumenta o artista.

Depois de apresentar alguns trabalhos ainda não emoldurados, Moisés desenvolveu coleção exclu-siva intitulada Personal Identity Con-tinuity (Identidade Pessoal e Conti-nuidade) para expor na Alemanha durante o Metropolitan Art Berlin. São oito telas de um metro por 1,40 metro, além de vídeo documentário. Os trabalhos representam momen-to de reconciliação do artista com a pintura clássica, por meio de retratos que Moisés considera de si mesmo. Longe de um surto narcisista, ape-nas um quadro traz imagem do artis-ta, os demais homenageiam pessoas que contribuíram para a trajetória profissional.

Os trâmites burocráticos da ex-posição ficaram a cargo de Mônica

Roberto Barboza

Artista Moisés Patrício abre mares e derrubamuros com exposição individual na DaadGalerie

Novas cores em Berlim

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Figueiras, renomada galerista de São Paulo, que conheceu os trabalhos do artista pelas redes sociais e, desde então, já comercializou 10 obras. Na mesma Berlim, uma semana antes, outro brasileiro também de São Pau-lo, conhecido como Nunca, foi con-vidado a grafitar um fragmento do Muro da Vergonha preservado para a história.

Antes de receber a notícia que

no dia da abertura da exposição sete dos oito quadros expostos haviam sido vendidos, Moisés já preten-dia aceitar convite da prefeitura de Berlim para vivência artística de seis meses na capital alemã. “Será uma dura empreitada que implicará em aperfeiçoar o inglês ou, sendo mais ousado, aprender alemão em curso intensivo”, argumenta o artista.

A iniciação nas artes aconteceu para Moisés Patrício em 1998 quan-do, aos 14 anos, começou a partici-par de projeto de inclusão social em Santo André. Como primeiro mestre, contou com a experiência do pin-tor argentino Juan José Balzi, recém -chegado ao Brasil da Europa, onde lecionou Pintura e História da Arte. Desde então, Moisés testemunhou a inclusão de mais de mil jovens. “Cer-ca de 15, inclusive eu, continuamos atuando como orientadores e multi-plicadores”, conta.

Moisés é um dos criadores do Maou (Movimento Artístico de Ocupação Urbana), em São Paulo.

As ações dos artistas denunciam a negligência das autoridades em relação a espaços urbanos abando-nados. As intervenções expõem os potenciais de galpões industriais, depósitos e outras construções que estão à mercê da especulação imobiliária. “Dessa maneira, a arte retrata o paradoxo das carências de espaços de lazer e cultura, principal-mente nas periferias das grandes ci-dades”, diz.

A origem socioeconômica e a trajetória artística pessoal nunca afastaram Moisés dos trabalhos co-munitários na região e até mesmo no exterior. Foi o que aconteceu em 2010 na primeira viagem à África. Convidado pelo Ministério dos Es-portes, Moisés participou de ofici-nas de arte com crianças e jovens de Uganda, vítimas de 20 anos de guerra civil. “As crianças desenha-vam sempre armas e granadas. Era muito triste. Aquele era o universo que conheciam.” – emociona-se Moisés.

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Obras representam momento de reconciliação do artista com a pintura clássica

Moisés Patrício: 10 trabalhos comercializados antes da exposição

Fotos: Arquivo Pessoal

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CULTURA

AA próxima vez que percorrer a rua Coronel Oliveira Lima, ignore por al-guns instantes os apelos das vitrines e olhe para baixo. Um painel de 500 metros sob os pés dimensiona a arte do concretista Luiz Sacilotto e enri-quece de maneira sem precedentes o principal eixo comercial de Santo

André.Claro que alguns estudiosos podem citar as ondas do calçadão de Co-

pacabana, inspiradas no desenho Grande Mar, que fica no Largo do Rossio, em Lisboa, depois redesenhadas por Burle Marx nos anos 1970. Mas o piso da Oliveira Lima traz o saber operário de Sacilotto, que conquistou aplauso mundial. “Meu pai entendia que a obra tinha a face elitista, mas tinha também o popular e ele sempre gostou desse lado”, afirma Valter Sacilotto, filho do artista, que acompanhou toda a concepção e execução da obra.

O acervo a céu aberto deixado para a cidade natal, Santo André, com-põe tesouro plástico muitas vezes órfão do reconhecimento local. “O prefeito Celso Daniel tinha a visão de melhorar a cidade e quando apareceu a opor-tunidade, meu pai ficou muito animado porque, desta forma, sua obra pode-ria ser vista pelas pessoas”, conta Valter Sacilotto. “Eu lembro que, de vez em quando, ele ia ao calçadão para observar a reação das pessoas”.

Em 2000, o projeto Centro Com Vida incluiu as obras de Sacilotto na pro-posta de instalar corredor cultural com fácil acesso do público. “A escolha de Sacilotto para desenhar o calçadão foi forma de homenageá-lo. Na época, mesmo com idade avançada não havia parado de produzir. Era artista reco-nhecido, mas estava esquecido por ter feito parte do movimento concretista que começou nos anos 50”, relembra a arquiteta urbanista Margareth Uemu-ra, coordenadora do projeto na época.

Para conceber a obra do calçadão, o artista plástico teve companhia do ar-quiteto Decio Tozzi. “Assim como Brodowski festeja o modernismo de Cândido Portinari, Santo André tem o concretismo de Sacilotto, que é um dos artistas mais expressivos de um movimento fundador da arte moderna no Brasil. Com ele, tive a oportunidade de fazer um dos maiores painéis do país”, comemora.

Calçadão da rua Oliveira Lima dimensionaconcretismo único de Luiz Sacilotto

Liora Mindrisz

Arte sobos pés

Concreção 001: oito metros de altura na Praça IV Centenário

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Painel para caixa de elevadordo Sesc Santo André

Concreção 005: aço carbonopintado na rua Coronel Oliveira Lima

Na mesma época da instala-ção do calçadão da Oliveira Lima, a Prefeitura de Santo André comprou algumas esculturas de Sacilotto dos tempos em que o artista era operário e vivia a efervescência da industriali-zação do ABC.

Concebidas em aço carbono pin-tado, as obras expõem sutileza entre simples e complexo e harmoniosa-mente brincam com a geometria. As esculturas intituladas Concreção 0011, de oito metros de altura e Con-creção 0005, de quatro metros, estão fixadas na frente do Parque Central e na rua Coronel Oliveira Lima, respec-tivamente. “Essas peças têm origem nos anos 1950, quando meu pai tra-balhava como desenhista projetista. Na empresa havia prensa e corte de metais e ele passou a comprar as sobras. Com as chapas de alumínio e latão fazia obras à mão”, releva Valter.

GRANDES DIMENSÕES

Fotos: Diego Barros

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CULTURA

Cerca de mil crianças e jovens do ABC não precisaram viajar para os subúrbios de Nova Iorque para conhecer o movimento

hip-hop. A iniciativa do rapper Preto WO, nome artístico de William Freire de Oliveira, desde 1997 leva a cultu-ra do gueto para dentro das escolas. “É um projeto social itinerante. Não queríamos nos fixar em apenas um lugar, para podermos atender ao maior número de crianças e jovens de várias periferias”, detalha William.

O Hip-Hop Rua começou em Mauá, mas já ganhou outras cidades de São Paulo. A inspiração veio da ne-cessidade de transformar o cidadão por meio da cultura do movimento e seus elementos: o DJ (tocador de discos), o rap, o beat box, o MC (por-ta-voz), o break dance (dança) e o grafite. “Oficinas culturais, palestras, workshops e bate-papos promovem cidadania e interação”, diz.

Preto WO não nega que quan-do o jovem está submisso ao mundo das drogas e da violência fica mais difícil trazer para o movimento. “Mas temos várias testemunhas vivas de que é possível mudar a realidade de jovens e crianças que vivem na pe-riferia. Agora, seria leviano de minha parte dizer que o hip-hop é milagro-so”, afirma.

AVESSO DE SID E NANCYJaymix e LOM são exemplos da

transformação promovida pelo Hip-

Hop Rua. O casal fez o curso de DJs quando o projeto passou pelo Tea-tro de Mauá, em 2008. Sem muitas pretensões, participaram das aulas porque gostavam da arte. Porém, logo perceberam que poderiam al-çar vôos mais altos. Hoje, se apresen-tam em festas, shows e eventos, em Porto Alegre, onde residem.

Preto WO há 14 anos leva cultura hip-hop itinerante para crianças e jovens da região

João Schleder

Do gueto para

O hip-hop surgiu no início dos anos 1970 nos subúrbios de Nova Ior-que onde jovens encontravam único espaço de lazer nas ruas. Nas festas, usavam equipamentos sonoros pos-santes e expunham a percepção cul-tural de mundo.

Com o tempo, as gangues tro-caram a violência pela arte e passa-ram a frequentar festas e a dançar break. Passos arrrojados substituíram armas. Foi quando o guru do movi-mento Afrika Bambaataa idealizou a união dos elementos e criou o termo hip-hop.

O hip-hop chegou ao Brasil 10 anos mais tarde, precisamente em São Paulo, onde os tradicionais en-contros na Rua 24 de Maio e no Metrô São Bento despertaram a maioria dos artistas reconhecidos pela cena.

GEN SOCIAL

Preto WO: alternativa paraescapar de coisas ruins

o pátio das escolas

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“Fiz o curso porque sempre fui fascinada pelo universo dos DJs. A princípio, queria tocar em casa, não em bailes. Mas consegui ir mais além”, conta Jaymix. Atrás dos shows dos Racionais, Thaide e DJ Hum, RZO, pensava: “Quero fazer igual. Mas não esperava ser profissional”, emenda LOM. O curso mudou a vida do casal e a gratidão ao HipHop Rua vibra a cada mixagem.

A trajetória de William é pareci-da com a da maioria dos moradores de lugares carentes. Criado na Vila Santa Cecília, em Mauá, conviveu de perto com a realidade dura das pe-riferias da metrópole. “Moro na pe-riferia desde sempre e sei bem com o que essas crianças convivem. Mas encontrei no movimento uma al-ternativa para escapar dessas coisas ruins que infelizmente acontecem”, afirma o DJ.

Preto WO iniciou caminhada na cultura hip-hop em 1994 como MC em um grupo do bairro. No mesmo ano, formou o MWN com outros in-tegrantes e logo se destacou na cena em todo o ABC e São Paulo. Abriu shows dos Racionais MC’s, Thaide e DJ Hum, Apocalipse 16, entre ou-tros. Atualmente, o artista prepara-se para lançar o álbum Superação.

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CULTURA

O poeta Moreira de Acopiara rima naturalmente ao significado que o dicionário atribui ao vernáculo popular. Relativo ou pertencente ao povo, Acopiara é artesão das letras, artista do povo. A linguagem da literatura de cordel facilita desempenhar este papel. Os versos sim-

ples e agradáveis narram casos folclóricos ou cotidianos, com poucos per-sonagens. E no que faz, este cearense de 50 anos, morador de Diadema, já ganhou notoriedade.

O necessário para ser poeta popular, Moreira sempre teve: sensibilida-de. E o restinho que não tinha, começou a desenvolver lá no pé da serra, em Acopiara. Aos 16 tomou coragem e apresentou os primeiros versos para o consagrado cordelista Patativa de Assaré. E, bom de história, descreve: “Eu, iludido, datilografei dois poemas e fui mostrar ao Patativa, que me olhou e disse: ‘seus versos estão muito ruins’. E logo em seguida, vendo a decepção em meu rosto, complementou: ‘mas estão acima da média. Quem sabe em uns 20 anos, com dedicação, você não se torne um grande poeta’. E me disse para ler muito e manter os olhos e os ouvidos atentos ao mundo”.

Sem dúvida Patativa ficaria feliz em saber que atingir o sucesso custou menos de duas décadas. Aos 26 anos, já morando no ABC, publicou o pri-meiro cordel, daqueles também populares, num papel simples, em forma de retângulo do tamanho da mão. Pouco depois, aos 32, foi a vez do primeiro livro. Tudo do próprio bolso já que toda boa paixão vem com dose extra de perseverança.

Moreira conta que só se deparou com o reconhecimento que esperava na terceira publicação. “Foi quando começaram a me ligar de escolas e biblio-tecas para eu dar palestras. Como ficava complicado, pois eu tinha emprego fixo, resolvi largar tudo e viver de literatura”. Claro que não foi fácil. Mas o jo-vem que levou um não aos 16 e contornou a situação aprendendo a lição, não iria desistir.

Mal sabia que um dia teria os livros nas estantes de livrarias como Sa-raiva, Cultura e Cortez. E, mais do que isso, que três publicações seriam es-colhidas pelo PNBE (Programa Nacional de Biblioteca Escolar) para integrar acervos de bibliotecas públicas de todo o país. Sorridente e feliz da vida por fazer o que ama, Moreira coleciona em torno de 200 cordéis e 15 livros. Isso para não citar os projetos que estão prontos ou em processo de formatação. O homem não para um instante.

Versejando por aí ao longo dos anos, juntou mais de cem poemas e, este

DoçurapopularVersos simples de Moreira Acopiara põemliteratura de cordel em grandes livrarias

Liora Mindrisz

Ser poeta popularÉ ser bem mais que erudito;É tentar fazer bonito,Mas não se precipitar.É deixar rolar, cantarDo modo mais naturalO sertão, o litoralE o rio que serpenteia.É falar de sua aldeia,Para ser universal(Ser poeta popular, Moreira de Acopiara)

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ano, publicou livro de 388 páginas intitulado O Sertão é o Meu Lugar. “Era um sonho juntar os melhores poemas que eu declamo e que ain-da não tinham sido publicados para fazer um livro”, revelou.

Outra vontade saciada, foi adaptar conto de Monteiro Lobato para a linguagem do cordel. A Edito-ra Melhoramentos, uma das maiores do país, publicou em setembro o Colcha de Retalhos, lançado na Bie-nal do Livro do Rio de Janeiro.

Com olhar perdido na infância, o poeta lembra da mãe. “Ela ouvia um conto, decorava o enredo e depois contava para mim com suas palavras”. Com o passar dos anos, as histórias da mãe começaram a ser identificadas na obra de Monteiro Lobato, com a qual tomou gosto e aprendeu a arte da versificação e da métrica, extrema-mente necessárias para a poesia. Ele não releva em voz alta, mas ao que tudo indica, foi também com a mãe que aprendeu a distribuir alegria ao dividir com o mundo o doce talento de ser poeta popular.

Fotos: Diego Barros

Moreira Acopiara: livros nas estantesda Saraiva, Cultura e Cortez

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CULTURA Liora Mindrisz

Silêncio nas salas, corredores vazios e obras sem especta-dor. A realidade de grande parte dos museus no Brasil

anuncia que a cultura tupiniquim não inclui visitar espaços de arte e valorizar centros de memória. No ABC não é diferente. A Pinacote-ca de São Bernardo, detentora do maior acervo de arte da região, com mais de 1,1 mil obras de diversos ar-tistas brasileiros como Sacilotto, To-mie Ohtake, Volpi, Aldemir Martins, Pierino Massenzi, Wesley Duke Lee e

Jerônimo Soares, recebe em média mil visitantes por mês. “Isso, contan-do com lançamentos de exposições e visitas escolares”, afirma Osvaldo de Oliveira Neto, secretário adjunto de Cultura de São Bernardo.

Os números são escandalosos. Pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia e Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz de 2010 aponta que das mais de duas mil pessoas entrevis-tadas, apenas 8,3% visitam museus e espaços de ciência e tecnologia. Em relação aos museus de arte, o

número é ligeiramente maior, sobe para 14,1%.

A suposta ausência de grandes obras, como a Monalisa, de Leonar-do da Vinci, constam das desculpas, mas a pesquisa mostra outras ra-zões para o desinteresse. Ausência de museus na região (36,8%), falta de tempo (32,6%), falta de interesse (13,6%), desconhecimento dos lo-cais (9,4%), distância (4,5%) e a falta de dinheiro (2,2%).

No Museu de Santo André Dr. Octaviano Armando Gaiarsa, o públi-

O gritodos museus

Tradicional silêncio de espaços culturais, no ABC têm outra razão: falta de público

Pinacoteca de São Beranrdo: maior acervo de arte da região

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co médio por mês é de 700 pessoas. O espaço expõe fotos, objetos e do-cumentos que integram o passado da cidade. Com uma das cinco salas especialmente dedicada a mostras temporárias de arte, contempla tam-bém criações contemporâneas.

Em São Caetano, no Museu Histórico Municipal, que reúne par-te da memória da cidade por meio da cultura material, ou seja, obje-tos antigos, as coisas estão ainda piores. O espaço recebe em média 200 pessoas por mês. “Em agosto batemos o recorde com 400 visitas, mas foi reflexo da programação, na época com três exposições em cartaz”, conta a supervisora Cristina Toledo de Carvalho. “Mesmo sendo um número baixo, já houve aumen-to se comparar com a visitação do ano passado, o público duplicou. A média era de 95 ou 100”.

O jornalista e memorialista do ABC, Ademir Medici, não considera a falta de costume algo definitivo e

imutável. “O brasileiro tem memó-ria. Falta alguém dizer isso a ele. As pessoas têm história e se interes-sam pelo assunto, mas pensam que isso não é importante, que é coisa de velho. No dia em que o avô e a avó, que levam o neto até a porta da escola, forem convidados a entrar, as coisas começarão a mudar. E é importante que isso ocorra: mostrar à criança que os avós têm história, vieram de algum lugar, guardam lembranças, estão dispostos a nar-rar sua sabedoria de vida”, revela.

O historiador tira dos ombros das escolas toda a obrigação de fa-zer o papel de formador de novos ci-dadãos interessados em cultura. “A educação é importante neste pro-cesso, em especial se o governante descobrir que poderá melhorar o governo por meio da memória. Os passos seguintes serão automáticos e positivos”, indica o estudioso.

Ademir Medici destaca que o prefeito Celso Daniel fez isso em

Santo André e colheu bons resulta-dos, e que Luiz Marinho está fazen-do o mesmo em São Bernardo. “E os efeitos virão. Cada obra pública entregue na cidade ganha placa com os nomes dos reais construto-res, os trabalhadores. Isso significa valorizar o trabalho do semelhante e mostrar que é reconhecido como gente, como partícipe de uma ação, como cidadão”.

É unânime entre trabalhadores da área cultural que o serviço come-ça pela base: a educação. “O desafio é grande tanto para museus de arte quanto os históricos”, analisa Cristi-na, do Museu de São Caetano. “Acre-dito que não basta que a gente faça um trabalho sério e comprometido com a preservação da memória, en-quanto não houver cultura voltada para visitação desses espaços. Isso tem de partir da população, tem de haver conscientização. Por isso, es-cola deve desempenhar papel fun-damental de estímulo”.

Museu de Santo André: públicomédio de 700 pessoas por mês

Foto: Mario Cortivo

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28 Novembro de 2011

CULTURA

AGENDA CASEIRAO processo se dá em longo prazo. Enquanto nem todos

governantes e escolas dão conta do importante papel a cum-prir, os administradores dos museus do ABC angariam público

como podem e, como é de praxe no país, com baixa verba dedi-cada às pastas de cultura. “Por se tratar de órgão público, temos

barreiras orçamentárias e temos de dividir o pão com as ou-tras secretarias”, conta Carlos da Costa, gerente do Museu de Santo André. “Por isso, realizamos ações quase caseiras para tentar cativar público para o espaço, caso dos ciclos de palestras. Outra iniciativa foi abrir a sala Especial para expo-sições de artistas da região, que têm atraído mais o público

jovem, do qual sentimos falta”. Neto, que além de secretário adjunto é também presi-

dente do Compac (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de São Bernardo), também usa a criatividade para

potencializar as ações da Pinacoteca. “Oferecemos oficinas gratuitas e palestras com artistas e intelectuais com intuito de trazer mais pessoas, que se tornam multiplicadores por-que acabam tendo relação com o espaço e tendem a que-rer voltar e trazer mais pessoas”, diz. “A preocupação não é só com quantidade, mas com a qualidade dos visitantes”. “Com isso, acreditamos estar formando pessoas críticas e

cidadãs”, diz.A arquiteta Ana Paula Lepori acredita que além de educa-

ção e investimento, é necessária aproximação entre obra e pú-blico. “A arte é clássica e a forma como é apresentada nos museus

também é. Acredito que seja importante, além das informações básicas que acompanham as obras, uma contextualização

mais intensa, pois a forma de apresentação do objeto difi-culta a aproximação do espectador”, argumenta a arquiteta, que estudou o uso do objeto arquitetônico e a relação en-tre objeto e observador e foi, ainda, responsável por proje-tos de exposições em diversos museus do Brasil e Espanha.

Mesmo na Europa, onde há grandes museus e existe o hábito de visitação, são pensadas outras formas de aproximar

o público dos espaços culturais. Cafés e lojas utilizam linguagem mais interativa, com temas mais populares. “Falta, no Brasil, usar

abordagem mais fácil e lembrar que incentivar a visita não é só uma obrigação das escolas. Por isso tem de haver outros mo-

tivos para os pais irem aos museus, tem de haver obras que estejam mais próximas da realidade, que não sejam intocá-veis. Falta também a utilização dos espaços externos para atividades como oficinas que atraiam famílias e jovens, ou até para piqueniques. Temos de democratizar esses espaços,

desempoeirar as obras e desengessar alguns conceitos”, diz.

Criatividade para atrair público

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29Revista Repúplica

Reforma sem fim

A torcida do Santo André está preocupada com o ritmo da reforma do Estádio Bruno

José Daniel, onde o clube manda os jogos. “O Santo André não terá condições de receber par-tidas do Campeonato Paulista da Série A2, com início previsto para o dia 25 de janeiro”, afirma Renato Ramos, presidente da Fúria Andreense, maior torcida organizada do Ramalhão.

Os torcedores acompanham e testemu-nham que há muita coisa a ser feita e pouco tempo para execução. “Não precisa nem ser especialista, basta olhar o local. É triste que uma cidade do tamanho de Santo André não tenha um estádio que possa receber jogos profissio-nais”, lamenta.

Medalhas do ABC

Atletas do ABC foram fundamentais para que o Brasil termi-nasse na terceira colocação geral no quadro de medalhas

dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, atrás apenas das potências EUA e Cuba. Das 141 vezes que o país subiu ao pódio, em 43 houve participação direta ou indireta da região, pouco mais de 30% do total.

São Caetano foi a cidade que mais conquistou medalhas, 21 ao todo. Se forem levadas em consideração apenas as de ouro, o município mais efetivo foi São Bernardo, com nove. Santo André, por sua vez, teve quadro particular de medalhas alavancado pela família Hypólito. No total de oito medalhas, cinco foram trazidas por Diego (três ouros) e duas por Daniele (dois bronzes).

Décimo ouro de Hoyama O mesatenista Hugo Hoyama conquistou a décima medalha de ouro nos

Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. Ao lado de Thiago Monteiro e Gustavo Tsuboi, o são-bernardense subiu ao ponto mais alto do pódio depois de vencer a Argentina, na final por equipes. Com o feito, o atleta é o segundo maior vencedor brasileiro na história do evento, perdendo apenas para o nadador Thiago Pereira, com 12 ouros.

Ainda no calor da conquista e antes da cerimônia de premiação, Hoyama dedicou a vitória aos pais e lembrou com carinho da avó, Kanako Yoshimoto, de 88 anos. “Quando penso nela dá vontade de chorar. Ela está bem de saúde e deve estar muito feliz, em São Bernardo, onde mora”, disse o campeão. O mesatenista desfilou em carro aberto pelo Centro e foi aplaudi-do e reverenciado pela população. “É uma emoção indescritível”, disse.

Prefeiro Aidan Ravin e equipe: lentidão das obras

Hugo Hoyama: segundomaior vencedor do país

Diego Hypólito: três ouros

Foto: Luiz Pires/VIPCOMM

Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM

Foto: PMSA

ESPORTIVASRedação

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Bate coraçãoESPORTES

Todo torcedor que se preze tem preferência de onde assistir aos jogos do time do coração. Uns valorizam a companhia de amigos em bares, ou-tros a algazarra dos estádios. Para quem não abre mão da cervejinha, os botecos permitem trocar idéias em tempo real. Já os que optam por ir

ao estádio, garantem que comemorar um gol in loco é inexplicável. Para eles, tudo fica muito mais à flor da pele por conta da proximidade com o campo. Nos dois casos é possível fugir da marcação cerrada de esposas que não gos-tam de futebol e desaprovam expressões mais empolgadas.

CALOR DOS ESTÁDIOS Quando foi levado ao Pacaembu pela primeira vez e apresentado à Fiel

Torcida para assistir à partida Corinthians e Juventus, o chileno naturalizado César Antonio Villagra Tapia lembrou da época em que ia ao Estádio Indepen-dência, na capital chilena. Mas logo as memórias do Universidad Católica se dissolveram diante do frenesi da massa alvinegra. Foi o que bastou para se apaixonar pelo Corinthians e por jogo em estádio. “Fiquei impressionado com a torcida corintiana. Lembro que o Timão acabou perdendo, mas os caras não paravam de cantar um minuto sequer. Foi paixão à primeira vista”, diz.

Nem mesmo a derrota para o Moleque Travesso por 2 a 1, em 16 de ou-tubro, pelo Campeonato Paulista de 1974, foi suficiente para que desistisse de ser corintiano. “Em um jogo válido pela Copa do Brasil entre Corinthians e Flamengo, a gente tinha de ganhar por três gols de diferença e estava dando certo até os 40 minutos do segundo tempo, com a gente na frente por 4 a 1. Daí o Júnior acertou uma bomba de fora da área no gol do Ronaldo. Foi uma tristeza muito grande. Vi crianças e adultos chorando”, emociona-se. O corintiano refere-se à partida realizada no dia 12 de agosto de 1989, nas

quartas de final do torneio nacional. Mecânico de profissão, Antonio

viveu por cinco anos ilegalmente no Brasil. Trabalhou com artesanato e carros, sofreu muito até acertar a imi-gração. Aos 57 anos, é funcionário da Indústria Tupy de Mauá, onde costu-ma sofrer fortes gozações quando o Corinthians perde. “Cheguei ao Brasil sem dinheiro, praticamente com a roupa do corpo”, conta.

DESCONTRAÇÃO DOS BARESClayton Aurélio Domingues

de Oliveira não abre mão de assistir aos jogos do Corinthians em bares próximos à residência, em Mauá. O metalúrgico afirma que nos botecos é mais divertido, pois consegue co-

Torcedores apaixonados preferem lugares certos para assistir a jogos

84 Novembro de 2011

João Schleder

César Tapia: paixão à primeiravista pela Fiel Torcida

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mentar sobre as partidas com os amigos, tomar umas cervejas e, dependendo da importância do duelo, até comer churrasco. “Toda vez que o Timão joga eu vou para o bar. Pode ser qualquer dia da semana: terça, sexta, domingo, não importa. Não adianta assistir em casa, já que toda vez que faço um comentário em voz mais alta, minha mulher vem reclamar, dizendo que precisa dormir e inclusive, reclama das idas ao boteco”, diz Clayton e continua: “Corinthians é Corinthians, não tem jeito”.

Filho de pai santista, o fiel torcedor chegou a torcer pelo Peixe. Porém, incentivado pela mãe, que dizia ser fã do Corinthians apenas para irritar o ma-rido, o menino passou a engrossar a torcida ainda na infância.

Com 31 anos, o morador de Mauá acompanha quase todos os jogos em bares, onde já viveu muitos momentos felizes, e outros nem tanto, como quando viu o Corinthians ser eliminado pelo maior rival, o Palmeiras, na Taça Libertadores da América de 1999. “Chorei como criança naquele dia, porque o jogo nos deixaria muito perto de um título que ainda não tínhamos e não temos até hoje”.

Clayton recorda também do dia mais triste da história do clube alvinegro, quando, em 2 de dezembro de 2007, o Corinthians foi rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro. O corintiano se reuniu com vários amigos para acompanhar a partida contra o Grêmio, com fé na possibilidade da vitória que não aconteceu.Clayton Oliveira: entre goles

e gritos de gol

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ESPORTES João Schleder

Má fase dos times desperta sondagem de unificação, mas dirigentes não concordam

Grêmio ABC?Má administração. Embora minimalista, a fala de

especialistas e torcedores explica de maneira sucinta a péssima fase dos clubes do ABC. So-mado à terrível campanha dos times da região

no Campeonato Brasileiro de 2011 – o São Caetano está na Série B e o Santo André, na C –, o jargão aprender com os erros do passado ecoa nos estádios quando se fala de recuperação.

A situação é preocupante. O Azulão desde o iní-cio do torneio briga para sair da zona de rebaixamento, muito pouco para agremiação que não faz muito tem-po estava na elite nacional. O Ramalhão, por sua vez, foi eliminado precocemente da terceira divisão do futebol brasileiro, e por muito pouco não caiu para a Série D, não fosse erro extra-campo de adversário, que por ter escala-do jogador de forma irregular, perdeu pontos e caiu. Sem

Luiz Antonio Capella, do Santo André:missão de por o time de volta na série B

Luiz Fernando Teixeira, do São Bernardo:marketing para atrair público

Fotos: Mario Cortivo

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falar do Tigre que, disputando pela primeira vez o Campeonato Paulista da Série A, foi rebaixado.

Pelas performances dos últimos anos, realmente é difícil dizer como o futebol do ABC poderá sair dessa maré. Na opinião de quem acompa-nha os clubes, o futebol da região nunca vai para frente. A falta de tor-cida, já que os estádios Bruno Daniel, em Santo André, e Anacleto Cam-panella, em São Caetano, vivem às moscas, é argumento mais que vá-lido, mas não totalmente suficiente para explicar os péssimos resultados.

Solução apontada por especia-listas, e que conta com a aprovação

do comentarista Nelson Cilo, é a uni-ficação dos times do ABC uma vez que existe pouca esperança de que os times voltem a brilhar como no início dos anos 2000. “Tanto Santo André como São Caetano tiveram oportunidade de se tornar grandes, mas não aproveitaram. Agora as possibilidades de crescer são zero. Por isso penso que a região deveria ter um time só, o Grêmio ABC. Assim, juntas, as cidades poderiam conse-guir mais patrocinadores”, defende.

O presidente do São Bernardo, Luiz Fernando Teixeira, não concor-da com a proposta, mas acredita que união entre os clubes poderia ser benéfica. “Posso citar um exemplo chulo: a tinta que compramos para pintar os estádios, poderia ser adqui-rida de uma só vez pelos três, com grande desconto”, sugere.

Outro exemplo é negociação de atletas. “Este ano, emprestei jo-gadores para os dois times. O São Caetano pegou o meia Júnior Xuxa sem nenhum custo, sendo que ou-tros times do Brasil pagavam pelo empréstimo, mas quis ajudar o Nairo (presidente do Azulão)”, conta.

Com o Santo André foi igual. Ce-deu um dos atletas mais importantes, o atacante Raul, para ajudar o time, que vivia momento complicado na Série C, sem um homem de frente. “Não adianta só o São Bernardo estar bem ou só o Santo André. O futebol precisa dessa rivalidade sadia para sobreviver, ainda mais aqui na região. Por isso torço por todos, e ajudo da forma como posso”, diz Teixeira.

Nairo Ferreira concorda. “Já ouvi falar muito nessa história de unificação, mas o São Caetano e o Santo André, e agora por último o São Bernardo, são clubes que cons-truíram as próprias histórias, sem considerar a rivalidade que existe entre as torcidas. Então penso que

não daria certo. Contudo, concordo com o Luiz Fernando. Nós temos que nos unir cada vez mais, inclusive dando prioridade para os vizinhos nas negociações de atletas, como já foi feito” , afirma.

CONTRATAÇÕES EQUIVOCADASDesde 2006 na Série B do Bra-

sileiro, poucas vezes o São Caetano esteve perto de voltar à elite. Cons-tantes trocas de treinadores e joga-dores que vão e voltam, constam dos argumentos utilizados pelos ad-miradores do clube.

O comentarista Nelson Cilo, que há mais de 40 anos cobre os times do ABC, entende que falta postura profissional no Azulão. Para ele, o São Caetano virou péssimo balcão de negócios. “Falta inteligência para os diretores do clube. O São Caetano sempre monta bons elencos, mas no final da temporada quase todos são vendidos. Você não pode vender o time todo, tem que vender dois, três e manter base. Isso afasta a torcida, porque falta identificação”, avalia.

Torcedor do Azulão desde a criação em 1989, Agostinho Folco acredita que o problema está jus-tamente nas contratações. Aos 77 anos, o fundador da Torcida Bengala Azul, defende a tese de que os últi-mos jogadores que passaram pelo time não são tão bons quanto os que lá estiveram no final do século XX e início do XXI, quando o time foi duas vezes vice-campeão Brasileiro (2000 e 2001), finalista da Taça Libertado-res da América (2002) e Campeão Paulista (2004).

“A péssima fase do São Caetano se deve aos incompetentes atletas que por aqui passaram nos últimos anos. É claro que os dirigentes têm parcela de culpa, mas quem pede jogador é técnico. Dali a três, quatro meses o treinador vai embora e fica

Nairo de Souza, do São Caetano:erramos muito pouco em contratações

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ESPORTES

aquele amontoado de jogadores en-costados”, afirma o fã.

O presidente do São Caetano, Nairo Ferreira de Souza, não concor-da que os últimos elencos, incluindo o atual, são fracos. Para o mandatário do Azulão, o time é um dos melhores da Série B.

“No papel, nossa equipe é uma das melhores. Não era para estar nes-ta situação. No início da temporada, acreditávamos que estaríamos bri-gando pelo acesso, mas infelizmente não foi assim. O time não encaixou. Tivemos problemas também com os técnicos. Desde o princípio quería-mos o Márcio Araú-jo (atual treinador), porém, por proble-mas pessoais, ele não pôde vir. Erramos muito pouco em contratação, quase zero. Iremos manter o Márcio e ele vai ver quem pode ficar ou não para o próximo ano”, justifica Nairo de Souza.

FUNDO DO POÇO O erro na montagem do grupo

também foi diagnosticado pelo co-mentarista Cilo em relação ao elenco do Santo André. Para o jornalista, os dirigentes do Ramalhão não forma-ram bom time, coletiva e individu-almente. “O Santo André, na final do Campeonato Paulista de 2010, tinha um time maravilhoso. Com o lateral Cicinho, os meias Branquinho e Bruno César, os atacantes Nunes e Rodriguinho, quase arrancou o títu-lo do Santos de Neymar, Ganso, Léo, Arouca. Mas o que foi feito no segun-do semestre? Venderam todos. Não sobrou um jogador sequer daquele grupo, e o resultado está aí: o time quase cai para a Série D”, sublinha o comentarista.

Renato Ramos, presidente da Furia Andreense, maior torcida or-

ganizada do Santo André, analisou o momento do Ramalhão com grande decepção. A liderança entende que a situação da agremiação é irreversí-vel. “Estes últimos anos têm sido de muita tristeza para toda torcida. E o pior de tudo é que não há expecta-tiva de melhora. Essa forma de admi-nistração do Santo André não é viá-vel para nós, que acompanhamos o time há tempos. Eu não consigo en-tender o que se passa na cabeça dos dirigentes. O que eu sei é que não entendem nada de futebol e isso nos preocupa”, diz Renato Ramos.

Contratado no início deste ano para assumir as categorias de base do Santo André, Luiz Antônio Ruas Capella, foi alçado, em maio, ao car-go de diretor de futebol. A missão? Fazer com que o time voltasse à Série B do Brasileiro. Não deu.

“Fizemos uma pré-temporada muito boa, mas nas duas primeiras rodadas fomos mal. Detectamos o problema e resolvemos, trocando técnico e preparador físico. Mas o torneio era curto, com apenas oito jogos na primeira fase, e não foi possível recuperar. O que estamos tentando fazer é tirar proveito da situação negativa. Não podemos co-meter erros com contratações que devem ser feitas com mais cuidado, de acordo com nossas possibilida-des. Não adianta trazer jogadores ca-ros para jogar um torneio de acesso”, diz o diretor.

ESPERANÇA MORA AO LADOA queda do São Bernardo para

a Série A2 do Paulista não pode ser comparada com o atual momento

vivido pelos vizinhos Santo André e São Caetano, na opinião de Cilo. Para o jornalista, o Tigre é administrado de forma adequada, contudo faltou planejamento na hora de montar o elenco.

O São Bernardo achava que tinha montado bom elenco, mas o time era fraco. “Eu conheço o tra-balho do Luiz Fernando Teixeira, do Edinho Montemor (presidente de honra) e do Edgar Montemor (dire-tor do futebol), e sei da competência deles. O São Bernardo conta com ótima influência junto à prefeitura, e

isso ajuda muito na hora de conse-guir patrocínio. É o clube que mais tem cara de clube no ABC hoje”, opi-

na o comentarista.A terceira maior média de pú-

blico do Campeonato Paulista, per-dendo apenas para Corinthians e São Paulo, e à frente de Palmeiras e Santos, credencia o presidente Luiz Fernando a afirmar que um dos dife-renciais da agremiação é a empatia com a cidade. No jogo contra o Co-rinthians, com a presença do ex-pre-sidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais de 15 mil pessoas foram ao Estádio 1º de Maio. “Time sem torcida está fadado ao insucesso. Por isso, desde que assumi a Presidência do clube em 2009, desenvolvo várias ações junto com o Departamento de Mar-keting para que cada vez mais pes-soas compareçam ao estádio”, diz. Destaque para o Projeto Sócio Torce-dor e o Projeto Empresa Parceira, por meio do qual companhias compram e distribuem ingressos para funcio-nários, entre outras ações. “Futebol sem torcida não tem graça, sem contar que da arquibancada tiramos receita para manter o clube”, afirma Luiz Fernando.

Performances dos últimos anos dificultam previsõespositivas para as três agremiações do ABC

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tive que mudar a diagra-mação e precisa incluir o nome das duas primeiras

Gol da Conquista

O Projeto Gol da Conquista, fun-dado este ano pelo ex-jogador Sandro Gaúcho, engrossa a fileira de bolas direcionadas

a inclusão e solidariedade. Mais que alimentar sonhos de sucesso nos gramados, o futebol contribui para a formação de crianças e adolescentes. Não se trata de espaço de formação de atletas profissionais, porém se al-guma revelação emergir, será auxi-liada pelo ídolo da torcida andreense. “Não é o intuito, mas se aparecer aju-darei. Eles têm sonhos, se eu puder realizá-los, será ótimo”, diz Sandro Gaúcho.

A ONG acolhe cerca de 200 crianças e adolescentes entre 7 e 15 anos com atividades esportivas, cul-turais e aulas de inglês. Instalada no Parque Erasmo, em Santo André, o campo onde os alunos jogam bola já foi ponto de tráfico de drogas. “O lugar foi totalmente transformado. Se percebemos que alguém desconhe-cido se aproxima, questionamos para

evitar futuros problemas”, afirma Regina Aparecida da Silva, uma das responsáveis pela entidade.

Sensibilizado com a iniciativa de construir cidadania por meio da prática esportiva, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Cícero Martinha foi conhecer de perto o Gol da Conquis-ta. “Fico feliz em poder ajudar essas crianças. São vidas que merecem fu-turo digno. O esporte é o chamariz para que venham, mas temos muito mais a ensinar do que simplesmente chutar a bola”, afirma o sindicalista.

O sindicato doou 10 bolas oficiais de futebol para a entidade. “Con-tribuímos com várias comunidades carentes do ABC, e logo que tomei co-nhecimento do trabalho realizado pelo Sandro Gaúcho, fiz questão de ajudar também. O que me afastou das coisas ruins foi o esporte e toda criança preci-sa gastar energia”, diz Martinha.

Assistido pela Gol da Conquista, João Victor Pereira, de 11 anos, ficou vidra-do nas novas bolas. “Gosto muito de jogar futebol. Quero ser atleta profissional para ajudar minha família e as bolas novas incentivam a melhorar cada vez mais”, comemorou.

A Gol da Conquista conta com o trabalho de seis voluntários, ACCSA (As-sociação de Construção Comunitária de Santo André), Igreja Plenitude Cristã e Náutico, time de várzea do bairro. “A gente precisa muito de auxílio para que o projeto cresça”, diz Sandro Gaúcho.

ÍDOLOSandro Gaúcho é um dos maiores ídolos da história do Santo André. Ata-

cante de ofício, o atleta foi peça fundamental na conquista da Copa do Brasil em 2004. Naquela campanha, marcou gols fundamentais contra grandes ti-mes, como Palmeiras e Atlético-MG. Sem contar com a épica partida contra o Flamengo na final, quando abriu o placar da vitória de 2 a 0, conquistando o primeiro título nacional de um clube do ABC. Depois de se aposentar, o ex-jogador tornou-se treinador.

Bolasolidária

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Sivaldo, Adonis, Martinha, Sandro Gaúcho e Regina da Silva: bola a favor da inclusão

ESPORTESJoão Schleder

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ESPORTES

Depois de três décadas de rei-vindicação, atletas de São Bernardo merecem medalha de ouro em persistência e de-

terminação. Até março de 2012, a ci-dade ganha Complexo de Atletismo em total acordo com os padrões da IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo) e quem sabe essa nova incubadora de atle-tas colocará o Brasil no pódio das Olimpíadas de 2016.

O projeto vai ser instalado no antigo Clube da Volks e as obras de revitalização do espaço incluem pista de corrida de 400 metros e Centro de Alto Desempenho para contemplar as diversas modalida-des de esporte. “Este foi o sétimo projeto apresentado para a Prefei-tura reivindicando espaço melhor. Gastamos muita energia ao longo desses anos, mas enfim, somos prioridade e estamos muito satis-

Complexo de Atletismo vai revitalizar antigoClube da Volks e promete estrelas para 2016

Liora Mindrisz

de atletasNova incubadora

Complexo de Atletismo põe fim à agonia dos atletas da ASA

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feitos”, celebra Otaviano Caetano da Silva, treinador da equipe da ASA (Associação São-Bernardense de Atletismo) desde 1980.

A instalação do Complexo soma R$ 38 milhões de investimentos da parceria firmada entre Prefeitura de São Bernardo e do Ministério do Es-porte do Governo Federal. A inicia-tiva põe fim à agonia dos membros da ASA, que passaram por poucas e boas desde os tempos áureos do es-porte no município, quando eventos internacionais lotavam o Estádio Pri-meiro de Maio, graças à célebre pista de carvão – uma das melhores do Estado de São Paulo na época. Mas o brilho dessa história está arquivado nos anos 1970 e 1980.

De lá para cá, o abandono to-mou conta da modalidade e hoje a equipe da cidade treina nas vizinhas São Caetano e São Paulo e, com

muito esforço, adapta ginásio na Vila Vivaldi às necessidades. “Consi-derando nossas condições, temos resultados bastante expressivos. Três atletas participaram do Campeona-to Sul-Americano em setembro e voltaram com seis medalhas”, afirma o treinador.

Os objetivos do complexo vão além da realização esportiva, uma vez que contemplam a inclusão so-cial. O antigo Clube da Volks voltará a ser opção de lazer para os morado-res de Vila do Tanque, Vila São Pedro, Jardim Irajá, Jardim Santa Terezinha e região. “No entorno há diversos conjuntos habitacionais e a idéia é trazer os moradores para o comple-xo, não só para formar novos atletas, mas também estimular o esporte na área, que demanda atenção”, deta-lhou Luiz Carlos Dantas, diretor de Esportes da prefeitura.

O projeto vislumbra atender mais de mil crianças carentes das co-munidades do entorno e, ao mesmo tempo, investir em equipe represen-tativa, mantendo 75 atletas de alto rendimento, entre homens e mulhe-res. Nada mal para um país que tem no atletismo o esporte com maior número de medalhas conquistadas em Olimpíadas e Jogos Pan-Ame-ricanos e que, há 25 anos, mantém hegemonia na América do Sul com as seleções nacionais.

Ginásio da Vila Vivaldi adaptado às necessidades

Otaviano da Silva: alto rendimento e inclusão social

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Pela primeira vez, desde a es-tréia em 1957, o Mundial Fe-minino de Handebol de qua-dra será sediado nas Américas.

Mais próximo que isso, no Brasil, e mais perto ainda, em São Bernardo, que consta das quatro cidades-sede do evento. São Paulo, Barueri e San-tos completam o circuito da compe-tição, que acontece entre 2 e 18 de dezembro.

O Ginásio Poliesportivo será palco dos jogos da fase preliminar do Grupo D, que conta com seleções da Suécia, Dinamarca, Croácia, Ar-gentina, Costa do Marfim e Uruguai,

das quais quatro se classificam para as oitavas e, a partir das quartas de final todos os jogos acontecem no Ginásio do Ibirapuera, que não fica tão longe do ABC Paulista. Em São Paulo, a seleção brasileira, que em junho conquis-tou ouro no Pan-Americano realizado no ginásio são-bernardense, começa a saga contra as equipes da Romênia, França, Tunísia, Cuba e Japão. O campeão surge dia 18 e garante vaga nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, e no Campeonato Mundial de 2013, que acontecerá na Sérvia.

O chefe da divisão de Esportes da Secretaria de Esporte de São Bernardo, José Alexandre Pena, está mais que empolgado com a visibilidade que um evento deste porte traz para a cidade. “É oportunidade de a cidade se tornar ainda mais conhecida, não só no meio esportivo, mas enquanto município também”, diz José Pena, que contabiliza ainda a transmissão do campeonato para mais de 100 países.

Em setembro, após a escolha e vistoria da Federação Internacional de Handebol, o Poliesportivo – que comporta cinco mil espectadores - passou por reformas nos vestiários, quadra, área de imprensa e na iluminação.

São Bernardo será uma das quatro cidades-sedesda primeira edição do campeonato nas Américas

ESPORTES Liora Mindrisz

Foto: Diego Barros

José Pena: divulgar omunicípio para mais de 100 países

Na estréia do Mundial de Hand

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Na década de 1980, chefias que pegavam pesado com os trabalhadores eram assombrados pelo Comando Mão na Graxa. A expressão era atribu-ída a companheiros combativos que tinham a

missão de mudar a conduta dos maus chefes.

A tarefa de parar os en-tão 12 mil funcionário da Cofap não era das mais fáceis nos anos de

1980. A empresa havia instalado sistema de monitoramento por ví-deo que identificava e afastava tra-balhadores que estavam na linha de frente das mobilizações. Para driblar e surpreender , o companheiro Marti-nha sugeriu por saco preto na cabeça dos piqueteiros. Na véspera da ação, cerca de 500 sacos foram comprados e a iniciativa não só teve sucesso como en-corajou vários trabalhadores a aderir à luta. Mas o Manezinho, que se recusava a usar o calçado fornecido pela empresa, foi identifi-cado pelo chefe que, de pronto, reconheceu o sapato diferente do rapaz.

Arquivo de Ouro

Assombração

Mula sem

de pelego

cabeça

MEMÓRIATuga Martins

Foto: Arquivo

Foto: Mario Cortivo

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MEMÓRIA

Os metalúrgicos começaram a ir para a rua rei-vindicar direitos depois da morte do Vladimir Herzog em 1975. Bem antes disso, o ativista José Cicote, então operador de máquinas,

já apimentava o movimento sindical do ABC defen-dendo a integração dos funcionários da Pirelli ao setor metalúrgico. “Não tinha cabimento pertencer aos borracheiros”, diz. Mesmo com as reivindicações trabalhistas ainda longe da ebulição que acaba-ram por transformar o país, a postura combativa daquele trabalhador de 32 anos bastou para que dirigentes o convidassem para fazer parte do Sindicato dos Metalúrgicos como segundo se-

cretário. “O presidente era Benedito Marcílio Alves da Silva e o mandato era de três anos”, lembra.

Já casado com Inês e com quatro filhos pra criar, José Cicote assumiu agenda lotada de congressos, reuniões e mobilizações. “A Inês sempre foi baluarte de minha trajetória”, emociona-se. A ditadura era ferrenha e por muito tempo os sindicatos servi-ram mais para fazer bailes que para arregaçar as mangas pelas questões trabalhistas. “Era difícil ter reunião política e para fazer assembléia tinha de ter autorização, os órgãos de segurança ti-nham de ser avisados”, lembra Cicote.

Em 1978, quando o movimento sindical ainda acanhado rompeu os muros das fábricas, José Cicote estava na linha de frente. “Eu viajava muito, as reuniões aconteciam em diversos

Tuga Martins

História Viva

Orgulhometalúrgico

José Cicote e Inês: lições de humildade em 42 anos de dedicação ao movimento sindical

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estados”, lembra. As paralisações pipocaram em toda a região e envolveram empresas como Cofap, Pirelli e Isam Auto Peças. Mas do álbum de recordações do sindicalista, constam as cer-ca de quatro mil mulheres funcionárias da Brosol, que deram exemplo de organização e disciplina “Jamais vou esquecer lide-ranças como a Rosa, a Maria Cristina e a Mariazinha”, destaca.

Cicote perdeu as contas das vezes que foi detido por causa das manifestações em portas de fábricas e que chegou a apa-nhar em piquetes. “Mas também batia”, orgulha-se. A primeira prisão foi em 1977 durante a convocação para o 1° de maio em frente à Companhia Paulista de Laminação. “A Polícia apareceu e muitos foram presos. Mas a gente saía no mesmo dia. As prisões eram para esvaziar o movimento”, afirma.

Os confrontos mais sérios se deram na Cofap, Ottis e Pi-relli em 1979. “Tinha olheiro pra todo lado”, diz Cicote. Foi neste ano que veio a cassação de sindicalistas. “Um tal de Guaraci entrou nos sindicatos e afastou uns 25 dirigentes de São Bernardo e Santo André”, conta. A inter-venção acabou sendo tiro no pé do sistema porque os trabalhadores decidiram se apro-priar do espaço da categoria. Quase um mês depois, os sindicatos voltaram para o contro-le dos trabalhadores.

Vieram então as grandes assembléias. Em Santo André, no Estádio do Jaçatuba e em São Bernardo, no Vila Euclides. “O Joaquinzão Andrade, que era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e secretário Geral do Movimento Sindical do Estado, e o Argeu Egídio dos Santos, que era dos Metalúrgicos de Ribeirão Preto e presidente da Federação, re-solveram realizar congresso em Lins, aproveitando a volta dos sindicalistas e o aquecimento dos ânimos”, lembra. Na verdade, a proposta incendiou o movimento.

DO CAOS, A ESTRELA Os sindicalistas tinham de apresentar teses que, se aprova-

das, se tornariam bandeiras unificadas de luta de toda a catego-ria. Surgiram as propostas de 40 horas, piso unificado, segurança e horas extras. Na seção temática Sindicalismo e a Questão Polí-tica do País, José Cicote, João José de Albuquerque e José Maria de Almeida apresentaram a tese de criação de um partido que representasse a classe trabalhadora. Estava ali o embrião do PT. “A tese foi aprovada e a sigla PT era ouvida por todos os cantos”, registra Cicote.

Muitos consideravam loucura a proposta e defendiam o PC do B como representante. “A simpatia pelo Partidão era legítima, afinal muitos companheiros foram exilados pelo envolvimento político. Mas a gente queria um partido de es-

querda democrático”, diz.Um ano depois, Cicote foi cassado como sindica-

lista. “Não deu tempo de sair do país e fiquei na pri-são por 25 dias”, conta. Em 1982, o sindicalista trocou as portas de fábrica pelo parlamento e se candidatou a deputado estadual pelo PT. Foi eleito como o mais votado do partido com mais de 80 mil votos. Ficou na assembléia por oito anos.

Na trajetória política foi vice-prefeito de Santo André na primeira gestão de Celso Daniel e chegou a disputar a prefeitura. “O Lula tinha cadeira na Câmara e disse para eu sair para deputado federal”, conta. Ci-cote foi constituinte e ficou no Congresso Nacional por quatro anos. Aposentou em meados dos anos

2000 e hoje está filiado ao PSB e é vice-presidente da Asso-ciação dos Metalúrgicos Apo-sentados, onde vai todos os dias encontrar companhei-ros e acompanhar de perto os passos do movimento rumo ao futuro,

Nos 42 anos de de-dicação ao movimento sindical, a grande li-ção foi a humildade. “É importante saber dos próprios direi-

tos, mas também respeitar os direitos de companheiros, filhos e mulher. Respeitar muito mais a família. Não trocaria o que aprendi por qualquer universidade”, orgulha-se.

Devoto de São Judas Tadeu, vai à missa, viaja pouco e confessa que é mesmo caseiro. Aos 73 anos, ainda mora na mesma casa que construiu nos tempos em que trabalhou na Pirelli. “Foi o João Avamileno (ex-prefeito de Santo André) que fez a parte elétrica. Não tinha dinheiro para mais que isso”, lembra. A me-mória vai longe quando o assunto é dificuldade. Chega à infância na cidade de Polone e cruza os mares em direção à Itália de onde vieram os avós, de quem José Cicote herdou a insistente coragem de seguir em frente.

Aos 73 anos, Cicoteé filiado ao PSB e

vice-presidente daAssociação dos

Metalúrgicos Aposentados, onde diariamenteencontra velhos

companheiros de luta

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QUALIDADE DE VIDA

“Primeiro eu senti uma dor quase insuportável, não conseguia levantar o braço para colocar camisa para ir ao médico”, relata Romildo Leão de Souza, de 47 anos. O diagnóstico em 2008 foi rompimento parcial

do tendão no ombro direito. Motivo? Forneiro por 11 anos, retirava materiais quentes por meio de tarugo de cobre, que chega a pesar até 200 quilos.

Romildo é apenas um caso entre tantos das chamadas LER/ DORT (Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). Pesquisa realizada este ano pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) com 153.626 trabalhadores, mostra que 32,5% afirmaram ter faltado ao trabalho por problemas de saúde pelo menos um dia. O número cresceu em 1,8% em relação à média histórica já pesquisada pela instituição.

No caso de Romildo, a empresa Paranapanema, onde trabalha há 16 anos, reconheceu a doença ocasionada pelo esforço repe-titivo e o trocou de área para não prejudicar ainda mais o ombro. “Mesmo com apoio da empresa, procurei o sindicato e fui orien-tado pelo Departamento Médico a dar entrada no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)”, conta Romildo, que continua o trata-mento de fisioterapia, que o mantém afastado do trabalho. Só este ano, precisou ficar 50 dias fora para sessões. “Meu problema não piorou, mas também não sarou. O médico indicou cirurgia só em último caso”, conta.

Há várias formas de prevenir LER/DORT. O fisioterapeuta Cristiano Schiavinato Baldan, especialista em reabilitação moto-ra, defende que as empresas devem contratar profissional para Avaliação de Risco Ocupacional. “É preciso analisar ergonomia, postura do trabalhador, angulação do braço, luminosidade, tem-peratura, inclinação da máquina e outras coisas. Depois, elencar os principais riscos e ajustar o espaço, quando necessário, para favorecer o funcionário”, detalha. Depois disso, o fisioterapeuta pode criar série de atividades que com exercícios específicos para diferentes tipos de ocupação. É bom lembrar que o ambiente de trabalho e preparação muscular são essenciais para que o funcio-nário não corra riscos.

À frente da dorEmpresas são responsáveis por açõesde prevenção às LER/DORT

Liora Mindrisz

Avaliação deRisco Ocupacionalinclui ergonomia,luminosidade,temperatura,posição demáquinas eoutros quesitos

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Fotos: Diego Barros

O 7° artigo da Constituição Fede-ral de 1988, no inc. XXII, diz que “são di-reitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem a melhoria de sua condição social, a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de nor-mas de saúde, higiene e segurança”.

Além disso, o artigo 157 da Con-solidação das Leis do Trabalho explicita que é responsabilidade das empresas “fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho, instruir os em-pregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sen-tido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais, adotar as medi-das que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente, e facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente”.

Para proteger o trabalhador, há ainda a Norma Reguladora 17 do Ministério do Trabalho e Emprego que pondera sobre ergonomia e estabelece parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho de acordo com cada função.

Mesmo que nada disso funcio-ne na prática, em episódios como o de Romildo, a empresa tem obrigação de fazer comunicado de Acidente de Tra-balho, mas cabe ao próprio funcionário buscar os direitos, depois de provada a razão da doença, chegando até a pedir indenização por danos materiais.

Além de buscar ajuda nos sindi-catos, o trabalhador pode procurar os Centros de Referência de Saúde ao Tra-balhador, espaços vinculados ao Minis-tério da Saúde, que cedem informações sobre doenças ocupacionais. Em Santo André, o Cerest atende pelo telefone 4997-3936 e fica localizado na Alameda Vieira de Carvalho, 170, Santa Terezinha.

VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO NESSA

Romildo de Souza: 50 dias deafastamento para fisioterapia

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QUALIDADE DE VIDA

Cabelos grisalhos há tempos deixaram de ser sinônimo de incapacidade uma vez que a sociedade envelhece a passos largos e as pessoas se mantêm cada vez mais ativas e participativas. Para acompanhar essa realidade, a Associação dos Trabalhadores Metalúrgicos Aposentados e Pensionistas de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra desenvolve agenda voltada aos direitos sociais de quem já fez a lição de casa.

Empenhada em eliminar preconceito, desfazer estereótipos, ampliar a autonomia e o espaço de participação do idoso como cidadão, contribuinte, profissional e ser humano com direitos, deveres, conquistas e superações, a associação fomenta a disposição dos mais velhos a fim de transformar a aposentadoria em época de atividade. “É necessária preparação para que o aposentado aproveite ao máximo esse período, investindo em sua saúde física e mental, valorizando o autocuidado e o aproveitamento máximo de potencialidades e objetivos”, diz o tesoureiro e diretor Administrativo, João Izídio da Silva.

Desde a instituição da Política Nacional do Idoso e do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, quem já passou dos 60 luta para ampliar direitos de cidadania. “O marco central dessa batalha foi a promulgação do Estatuto do Idoso em 1 de outubro de 2003”, diz o diretor.

Associação dos Aposentados fomenta agenda para eliminar preconceito e desfazer estereótipos de quem parou de trabalhar

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Foto: Mario Cortivo

João Isídio: qualidade de vida para quem não bate mais ponto nas fábricas

Descansoem atividade

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O Conselho Nacional de Direitos do Idoso trabalha para que o Estatu-to do Idoso se converta em ações e políticas coerentes com as expecta-tivas da população na terceira idade. “A valorização do trabalho e a luta incessante contra a discriminação etária devem fa-zer parte da agen-da de toda a nos-sa sociedade”, diz João Izídio.

O Brasil pos-sui atualmente 17,9 milhões de pessoas com ida-de igual ou su-perior a 60 anos, cerca de 10% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estudos da Orga-nização das Nações Unidas (ONU) demonstram que a população esti-mada do país para o ano de 2025 será de 220 milhões de habitantes, com uma população idosa de 30 milhões de pessoas, o que coloca o Brasil na sexta posição no ranking de país mais velho do mundo.

A Associação dos Aposentados tem cerca de oito mil associados e cadastro de mais de 25 mil trabalha-dores inativos. Funciona no prédio do sindicato e pelo estatuto qual-quer profissional aposentado pode se associar. O desafio é oferecer agenda que garanta a qualidade de vida dos trabalhadores que não es-tão mais batendo ponto nas fábricas.

A palavra de ordem é ativismo, mas o que leva os aposentados para a entidade primeiramente são os benefícios de assessoria jurídica e assistência médica. “Também ofere-cemos serviços de cabeleireiro, ma-nicure e dentista, além do médico de plantão”, destaca o diretor. A as-

sociação mantém convênio com a Santa Helena Saúde, o qual proporciona desconto para ingresso no Plano de Saúde

Como a sociedade não está preparada de maneira adequada e sufi-ciente para atender às demandas da população idosa, a associação dá res-paldo em processos de aposentadoria e se mantém à frente de lutas para a recuperação de perdas em aposentadorias e pensões. E também apóia os

trabalhadores que continuam na ativa após a aposenta-doria. “Todo segundo sábado do mês, entre 450 e 600 as-sociados participam de assembléia para informes sobre questões pertinentes a aposentadoria”, diz o diretor.

A agenda social é agitada. Para alentar o coração de aposentados que nunca viram o mar porque passaram a vida de casa para a fábrica e vice-versa, toda última quarta-feira do mês, a associação lota seis ônibus rumo à colônia de férias em Praia Grande, Baixada Santista. A saída é às 6h30 e a chegada de volta às 19h.

À beira mar, são recepcionados com café da manhã, recebem chave de armário para guardar os pertences e quando necessário, podem contar com quarto. Aprovei-tam a manhã na praia ou na piscina. O almoço é dançante

e o retorno por volta das 16h. Antes relaxam com roda de violão e cantoria. Outros passeios acontecem durante o ano para variar um pouco. A viagem custa R$ 20, com tudo incluído. Águas de Lindóia e até mesmo atividades culturais em Sescs da Capital são alternativas.

Associaçãotem cercade oito milassociados

e cadastro demais de 25 miltrabalhadores

inativos

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Q ualquer tipo de dependência química é pesadelo. Com o alcoolismo não é melhor, uma vez que o psi-cotrópico é lícito e pode ser encontrado em quase toda esquina. Dados de 2004 da Organização Mun-

dial da Saúde indicam o álcool como a droga mais consu-mida no mundo. Se não bastasse, é responsável por 3,2% das mortes.

Enquanto a média mundial de anos perdidos de vida útil é de 4%, na América Latina o número é quatro vezes maior, atinge 16%. No Brasil, depois do primeiro Levanta-mento Nacional sobre Padrões de Consumo de Álcool na População, realizado em 2007 pela Secretaria Nacional An-tidrogas, foi diagnosticado que 52% dos brasileiros são con-siderados bebedores e, destes, 27% fazem uso ocasional e 25% bebem pelo menos uma vez por semana.

Foi com uma cervejinha que José Ailton Alves dos San-tos, o Baiaco, começou a beber por volta de 1978. Foi a épo-ca dourada dos movimentos sindicais e o trabalhador baia-no estava em greves e na organização dos companheiros. “Quando perdíamos uma grande luta, bebíamos de desgos-to. Quando ganhávamos, bebíamos para comemorar. Todo mundo bebe, o problema é que uma minoria tem predis-posição para se tornar dependente químico e aí acha que pode controlar e não pode”, conta Baiaco, hoje com 61 anos.

O álcool nunca chegou a influenciar a vida profissional de Baiaco, mas na vida privada as coisas eram diferentes. “Todo mundo me achava uma excelente pessoa, mas lá pe-los anos 1990, no auge do alcoolismo, comecei a achar tudo ruim, me tornei uma pessoa indigesta. Notava meus filhos me olhando de canto, desconfiados. Os amigos também observavam minha mudança. Até que eu cheguei na fase do apagão, assumia culpa dos outros e não sabia bem o que tinha feito. Estive em diversos acidentes de carro, porque bêbado acha que pode tudo e eu poderia ter acabado com a minha vida”, relembra.

O mesmo levantamento sobre os padrões de consumo de álcool também revela que cerca da metade das pessoas

Tão difícil quanto tratar o alcoolismo é admitir que tem a doença

Drogada negação

QUALIDADE DE VIDA Liora Mindrisz

Em 1967, a Organização Mundial da Saúde consi-derou o alcoolismo doença. Mas 32 anos antes, a entidade Al-coólicos Anônimos nascia nos EUA com essa consciência. Hoje, há reuniões do AA em todos os cantos do mundo e, às vezes, até no interior de fábricas do ABC. “Prestamos serviços para me-talúrgicas e outras empresas, levamos material para informar os funcionários e, se necessário, conversar com alguns deles”, revela Luiz, coordenador da Comissão de Cooperação com a Comunidade Profissional do AA de São Paulo.

“Hoje existem empresas que adotam política de não levar o problema do alcoolismo como sem-vergonhice do fun-cionário. As próprias firmas se encarregam de encaminhar, em vez de demitir”, revela. Foi o que aconteceu com Adilson Ribeiro, coordenador de RH da metalúrgica Açofor. “Sempre é possível notar funcionários com problemas de dependência química, mas até admitirem, não podemos impor nada”, explica.

Porém, em episódio que um funcionário não tinha con-dições de trabalhar, a família foi chamada. “Conversamos com todos e ele se prontificou a aceitar nossa ajuda. Conseguimos tratamento, que ele frequenta há cerca de quatro meses”, co-memora. “A empresa tem responsabilidade social e comprome-timento com seus funcionários. Liberamos os funcionários para tratamento durante o horário de trabalho, e acompanhamos a evolução”.

O tratamento depende muito de caso para caso. “Não existe receita ou produção em série que cure um alcoolismo, cada pessoa tem uma individualidade”, diz Luiz. Para isso, é preciso passar por programa de autoconhecimento, onde a pri-meira fase é a de auto-exame, para o alcoólatra se conhecer e reconhecer que possui a doença. A segunda parte do programa é a de reformulação, quando é necessário mudar condutas. Por fim, a mais longa é a de manutenção da sobriedade. E como bem explica Baiaco: “Hoje, meu problema está adormecido. Se eu der um gole, volto a recair”.

HÁ SAÍDAS

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que bebem apresenta problemas, sendo que 38% do to-tal de entrevistados disseram possuir comprometimen-tos físicos decorrentes do álcool, enquanto outros 18% têm problemas familiares e 23% citaram a violência den-tro da população mais jovem, entre 18 e 24 anos.

O ponto final foi em agosto de 2002, depois de três anos tentando parar de beber, Baiaco deu o últi-mo gole de conhaque. “Procurei o médico do sindi-cato que encaminhou para tratamento de 15 dias em clínica, na qual eu passava o dia todo em palestras e terapia ocupacional, e voltava à noite para casa”. Hoje, se sente melhor e não precisa fugir dos bares. “Fico lá com os amigos bebendo água e até caipirinha faço em festas de família”, diz.

Por mais que o alcoolismo deixe sequelas, não afetou nenhum órgão de Baiaco. Mas infelizmente, para Claudi-nei Aparecido Maceió, que começou a beber com 14 anos, a sorte não foi a mesma. Com infância difícil, separação dos pais e entrada no mercado de trabalho muito cedo, bebia para desinibir. Quando a pinga virou hábito, deixou a desejar no trabalho e em casa, chegando por diversas vezes a dormir na rua. “Casei com 24 anos e, depois de um ano, numa festa dos parentes de minha esposa, bebendo pinga pura, eu caí, convulsionei, tive parada cardíaca e fi-quei em coma por três dias”, lembra Maceió.

SINAL AMARELOMesmo com o alerta, o metalúrgico não conseguiu

parar de beber. Até que em 2002 foi ao médico, que des-

cobriu uma pancreatite crônica. “Eu tinha perdido 30% do meu pâncreas, que já tinha calcificado, e gerou a dia-betes. Meu fígado já estava alterado, com uma etapa de cirrose. Eu pesava 90 quilos”. Maceió se tratou por quatro meses mas recaiu. Dois anos depois, pesando 100 quilos, a esposa o fez acordar. “Um dia ela me disse que eu esta-va fedendo e eu não acreditei. Ela me mostrou o lençol e a fronha onde eu dormia e havia uma mancha amarela e um cheiro de ovo podre. Voltei no mesmo médico, ele me explicou que o corpo produzia uma enzima pra aler-tar que estava doente e me deu 12 meses de vida”.

Em 2005 começou a frequentar igreja evangéli-ca com a esposa, onde faz trabalhos com dependentes químicos. “Só consegui sair dessa situação quando reco-nheci que era alcoólatra. Sempre que vinha o desejo de ir para o bar eu conseguia ir para a igreja e lá eu me sentia bem, e não pensava em nada. Hoje estou bem, ajudo os outros, mas deixei marcas na minha família”, lamenta e continua: “Do segundo aninho da minha filha até o déci-mo eu não acompanhei porque ficava fora de casa, bêba-do. Meu filho acabou tendo o mesmo problema que eu, é muito fechado e eu o fiz passar pelo que eu passei. São erros que não têm volta”.

Para Baiaco, dividir a história pode ajudar outras pes-soas a não passar pela mesma situação. “Hoje sou normal para tudo, mas sou impotente perante o álcool. O mais importante é reconhecer que tem a doença. Contando sobre minha vida, talvez aconteça um acidente a menos, ou uma separação a menos”, desabafa.

Baiaco: álcool só na caipirinha de amigos

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Não são raros casos em que o sonho da aposentadoria se transforma em pesadelo. O baque é inevitável, principal-

mente para quem pendura as chutei-ras aos 60 anos ou até antes, decisão precoce em razão do aumento da expectativa de vida. Além da redução de renda, a mudança na rotina causa sensação de ociosidade e de perda de status social, o que abala profun-damente a autoestima. “Passamos a maior parte da nossa vida adulta trabalhando. O trabalho acaba incor-porado pelo ser. Ou seja, você é o que você faz”, diz a professora Sônia Mar-ques, mestre em Psicologia da Saúde.

O conselho de Mário Gosi, o Tabaco, é não ficar dentro da casa, porque é em cabeça vazia que vêm pensamentos ruins. Aos 72 anos, ele confessa que não estava preparado para parar de trabalhar. O salário muda, amigos somem, perde-se o lugar na sociedade e todos os valo-res agregados ao fato de trabalhar e produzir. Trabalho é momento de criação, quando o cidadão contri-bui para si mesmo e para o mundo. Quando o trabalhador sai de cena, fica sem referência.

Para se ter idéia, funcionários públicos perdem 20% dos ganhos e quem trabalha na livre iniciativa re-cebe R$ 2,4 mil no máximo do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) se não tiver plano de previdência privada. Tal realidade desestabiliza e não à toa, a depressão acomete cer-ca de 70% dos aposentados. Falta de memória, de concentração, fraqueza, cansaço e distúrbio do sono podem estar ligados à aposentadoria prema-tura. “A depressão é contingência de qualquer carência e a aposentadoria é uma perda enorme. Torna-se quase inevitável, mesmo em situações de alívio. O grau da depressão é indivi-dual, não acontece necessariamente

com todos, mas está na base”, diz a psicóloga.Os sintomas surgiram logo que Mario Gosi se aposentou. Bastaram uns dias

em casa para a tristeza chegar. “Saía na rua e não sabia para qual lado tinha de ir”, diz. Procurou psiquiatra e passou por tratamentos. “Fiquei 18 meses mal”, admite.

A depressão pode ser leve e é resolvida se o aposentado encontrar outros prazeres. Pode também ser séria, que precise de intervenções médicas porque há, inclusive, sintomas físicos, que variam de gastrite a câncer. Vale lembrar que depois dos 60, o corpo já está mais vulnerável.

O apoio da família foi fundamental. “Um dia pensei que aquilo realmente tinha de acabar. Entrei em meu quarto, ajoelhei, chorei muito e pedi a Deus para me ajudar a sair dessa. Parei de tomar os remédios tarja preta que me fa-ziam dormir e comecei a ir para a rua 25 de Março comprar coisas para revender para os amigos. Ia ao mercadão passear e comer lanche de mortadela”, lembra o aposentado.

Há uns anos, Mario Gosi frequenta o sindicato. Faz alguns serviços, conver-sa com todo mundo, participa de jogos e mantém a mente ativa. Planejamen-to e apoio são imprescindíveis para minimizar ocorrência ou agravamento da depressão. “Os trabalhadores deveriam ser orientados a planejar a vida desde cedo e os sindicatos têm de estar estruturados para acolher os recém-aposen-tados com equipes multidisciplinares”, sugere Sonia Marques.

Sonho da aposentadoria nãopode se transformar em pesadelo

Xôdepressão

Mario Gosi: é em cabeça vazia que vêm os pensamentos ruins

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QUALIDADE DE VIDA Liora Mindrisz

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P esquisa do IBGE de 2009 indica que há Conselhos Tutelares em 98,3% dos municípios brasilei-ros, totalizando 5.472 institui-

ções e 27.360 conselheiros. Embora animadores, os números parecem ir-risórios diante da tarefa de assegurar direitos de crianças e adolescentes em tempos de violência exacerbada. As estatísticas são dolorosas: 65% dos casos de violência doméstica são presenciados por crianças, como aponta o Disque Denúncia.

Os Conselhos Tutelares agem sempre que crianças e adolescentes são ameaçados, seja pela sociedade, pelo Estado, pelos pais ou responsá-vel, e mesmo em razão da própria conduta. “Saber ouvir, compreender e discernir são habilidades impres-cindíveis para o trabalho de receber, estudar, encaminhar e acompanhar casos”, diz a recém-eleita conselheira tutelar de Santo André, Roseli Que-rodia. Os três Conselhos Tutelares da cidade tiveram eleições em setem-bro e os novos membros têm de dar conta da lição de casa.

As ações podem ser preventi-vas, quando há ameaça de violação de direitos, ou corretiva quando já

se concretizou. Na maioria dos casos, o Conselho Tutelar é chamado a agir. Outras vezes, sintonizado com os problemas da comunidade, se antecipa à denúncia. “Isso faz enorme diferença”, assegura a conselheira.

Os noticiários diários não deixam o tema escapar. O Mapa da Violência 2011 realizado pelo Ministério da Justiça mostra que 73,6% das mortes entre jovens (de 15 a 24 anos) estão relacionadas a causas externas (homicídios, suicídios, acidentes de trânsito). Homicídios entre os jovens totalizam 39,7% dos motivos de morte, enquanto os acidentes são responsáveis por 19,3% e os suicídios por mais 3,9%. “Só o fato de existir um local onde essas pessoas podem recorrer, já ajuda. Por outro lado, os encaminhamentos são limitados porque os serviços públicos são, muitas vezes, ineficazes”, argumenta.

Roseli Querodia quer ir mais fundo. Um dos objetivos é entrar nas esco-las, onde jovens sofrem com violência que não consta dos gráficos. “Há uma lacuna nos dados. Só são registrados casos que se tornam ocorrência. Há muitos outros tipos de violência acontecendo dentro das casas e nas escolas. Violências verbais, psicológicas, que não sangram”, defende.

Há ainda o bullying que deve ser tratado e cuidado. “Acredito que as crianças reproduzem a violência que viveram lá atrás e que a maioria dos cri-mes são ocasionados por intolerância, portanto deve-se educar. Prevenção é a palavra chave”, afirma a conselheira.

Conselhos Tutelares têm desafio de ampararestatísticas dolorosas de violência juvenil

Roseli Querodia: ir mais fundo, onde gráficos não conseguem chegar

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INCLUSÃOLiora Mindrisz

Missão de super-herói

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O país ainda não definiu qual a saída para a falta de mão-de-obra quali-ficada, mas na região os olhos do advogado e professor de Direito Co-mercial, Raimundo Salles, estão voltados para a Universidade Federal do ABC (UFABC), bem como para as Faculdades de Tecnologia de São Paulo

(Fatecs). As instituições são apontadas como potenciais soluções para o fortale-cimento do mercado regional por meio da formação de profissionais, que aten-dam às demandas da vocação econômica local.

Por mais que os comandos acadêmicos insistam que as relações entre uni-versidade e mercado não têm tropeços, a realidade aponta baixa interatividade das escolas com o meio produtivo regional. “A questão da empregabilidade foi

solucionada no ABC, mas o parque industrial está estagnado. Não existe interação dos cursos com a realidade econômica da região uma vez que comunidade acadêmica e sociedade não debatem as necessidades de cur-sos que alicercem matriz de forma-ção intelectual como vetor de desen-volvimento da região”, afirma Salles, e continua: “Basta observar Jundiaí, Americana, Bauru, Marília, São José dos Campos, cidades que possuem universidades mais engajadas no desenvolvimento regional e apresen-tam pujança econômica”.

Salles defende que o debate deve envolver os sindicatos da região em razão do descompasso entre for-mação, trabalhadores e demanda de mercado. “Mais de 85% dos alunos da UFABC são de fora do ABC e quase 90% dos alunos das escolas privadas de Ensino Superior, principalmen-te nos cursos noturnos, são filhos de trabalhadores. Descendentes de quem construiu a região deveriam ter oportunidade de cursar educação superior de qualidade e gratuita”, diz o advogado.

A omissão do movimento sindi-cal emerge quando a formação de tra-balhadores se torna bandeira política de legenda pouco engajadas na luta trabalhista. “As centrais sindicais têm de sentar com o Ministério da Educa-ção e se apropriar do gargalo da quali-ficação da mão-de-obra”, afirma.

As críticas do advogado respin-garam também na Fundação Santo André, instituição de economia mis-ta, que abriga curso de Economia e que não tem pesquisas voltadas ao desenvolvimento regional. “Não se trata apenas de formação, mas da im-plantação de centros de estudos”, diz Salles.

Advogado Raimundo Salles questiona interaçãoda comunidade acadêmica com mercado regional

FORMAÇÃO Tuga Martins

Ensino superiorem xeque

Foto: Mario Cortivo

Raimundo Salles: se apropriar dogargalo da qualificação da mão-de-obra

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Metalúrgico Anderson Brito seguiu profissãodo pai inspirado por histórias da luta sindical

Quem disse que filho de peixe não pode voar?

FORMAÇÃORoberto Barboza

Depois de experimentar a dureza dos anos 1970 e a repressão aos trabalhado-res, o sonho do metalúrgico

Edson Braga Brito para os seis filhos passava longe do chão das fábricas. Queria que Anderson fosse advoga-do, mas as histórias do movimento sindical tinham sabor de aventura e despertaram o rapaz para a profis-são do pai. A trajetória de Anderson não seguiu roteiro tão cinematográ-fico assim. Antes de por o pé na li-nha de produção, fez bicos, inclusive como camelô. Teve curta passagem pela metalúrgica Magneti Marelli, em Mauá, onde fez curso de Opera-dor de Empilhadeira. “Nunca exerci a função”, confessa. Partiu então para a venda de DVDs piratas nas ruas cen-trais da cidade até conseguir, há três anos, emprego de prensista na Me-talúrgica Jardim.

Assim que chegou à empresa, Anderson percebeu que a realidade em nada lembrava o glamour das narrativas que ouviu na infância. “O diretor do sindicato, que trabalhava na empresa e representava os traba-lhadores há mais de 20 anos, dizia que a firma estava em dificuldades e que os empregados não deveriam es-

perar muitas coisas das negociações salariais. Parecia que defendia mais os interesses da empresa que os dos peões”, lembra Anderson Brito.

O pai Edgar, que com o tempo deixou a metalurgia e montou imo-biliária, chegou a convidar o filho para fazer parte da equipe de corre-tores. “Não tenho dúvida que talvez tivesse ganhando mais do que como metalúrgico”, afirma. Mas a escolha estava feita e Anderson sabia que te-ria de se posicionar.

Já sindicalizado e eleito mem-bro da Cipa entendeu que a bata-lha era travada na base, entre os próprios trabalhadores. Anderson começou a suspeitar que o tal diri-gente também denunciava os cole-gas mais mobilizados aos patrões.

“Foi quando o Malhadão, dirigente morador do mesmo bairro que eu, orientou para conversar com a Dire-ção Executiva”, conta.

A partir daí as coisas mudaram. Anderson Brito conheceu a alma do sindicalismo transparente e defen-sor dos direitos dos trabalhadores. “Antes de começar a participar ati-vamente do movimento sindical eu me considerava uma pessoa avessa à política. Hoje acredito que tudo o que fazemos, vencemos ou perde-mos é política. Vejo que as pessoas parecem ter mais medo de se mani-festar e são mais conformistas, mais acomodadas que nos tempos da di-tadura, quando as consequências da luta eram mais severas”, avalia.

Aos 30 anos, Anderson não esconde o orgulho da profissão e a postura combativa de trabalhador mais que engajado no movimento sindical. “Além de corretor, meu pai é advogado, profissão que tanto sonhou para mim”, orgulha-se. Dos planos, consta criar uma associação de moradores no Jardim Kennedy e enviar ao menos um representante para acompanhar de perto todas as sessões da Câmara Municipal de Mauá. “Penso também em fazer So-ciologia para abrir novos horizontes”, afirma.

Anderson e Edgar Pinto: do sonho doDireito ao orgulho de ser metalúrgico

Foto: Diego Barros

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Não precisa ser expert para no-tar que a substituição de silên-cio e fragmentação de tarefas por comunicação e interativi-

dade enfraqueceu a separação entre pensar e fazer e alterou significativa-mente o modo de trabalho. A difusão do conhecimento técnico-científico no processo produtivo transformou a qualificação contínua em fator chave de sucesso profissional.

Pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicaram, em abril de 2011, aumen-to de 12,5% no número de pessoas empregadas que tinham 11 anos ou mais de escolaridade. De 2003 para 2010, o percentual passou de 46,7% para 59,2%.

Mais por intuição que por estatísticas, Gilmar Cesário de Arruda, tra-balhador da Fundição Tupy, percebeu que no anúncio dos cursos gratuitos oferecidos pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) havia mais que opor-tunidade. Ali estava o caminho para garantir o emprego e, por que não, con-quistar colocação melhor no mercado de trabalho.

Aos 36 anos, começou em fevereiro curso de Matemática Aplicada e de lá pra cá não parou. Estudou Controle Dimensional, Controle de Estatística de Processo e Desenho Técnico Mecânico. “Os cursos que fiz não têm relação com minha função de operador de fundição, mas me interessei porque acre-dito que é sempre bom a gente se atualizar, aprender novas coisas. Quem sabe assim eu não arrumo emprego em área melhor”, avalia Gilmar.

A parceria firmada entre o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e o Senai, há cerca de cinco anos, tem a tarefa de acompanhar o novo ritmo do mercado. “O sindicato tem o compromisso de incentivar a categoria, cuja maioria não tem dinheiro para investir em estudos”, diz Adilson Torres dos Santos, diretor da Secretaria de Formação. Hoje são ofertados quatro cursos com duração entre 20 a 84 horas, contemplando 16 turmas e cerca de 800 alunos.

Mercado exige cada vez mais capacitação continuada dos trabalhadores

FORMAÇÃO Liora Mindrisz

Tempo de pensar e fazer

A Escola Piping acompanha de perto as mudanças do perfil profissional desde 1968 quando o ABC tinha urgência para suprir as demandas do Polo Petroquímico. Depois veio a época da automação industrial e atualmente a escola oferece 36 cursos voltados para os se-tores automobilístico, de refrigeração, eletricidade, entre outros que atendam à diversidade produtiva da região. “Quando meu pai abriu a escola, o profissional se formava em atividade específica. Hoje, o tra-balhador que atua em determinada área precisa de reciclagem”, diz Ubiratan Ghizze, proprietário da escola.

Parte dos alunos da Piping é de jovens que ainda não decidi-ram que profissão seguir. “A maior incidência é dos 25 aos 30 anos e os cursos mais procurados são nas áreas de elétrica, mecânica, solda e usinagem, mesmo sendo oferecidos cursos administrativos”, afirma.

ÀS ORDENS DO MERCADOFo

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Gilmar Cesário de Arruda: atualizar para melhor colocação no mercado

Ubiratan Ghizze: trabalhador precisa de reciclagem

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Pesquisasindicam que 85%dos proprietáriosde picapes ecrossovers sãohomens ou empresas lideradaspor homens

EXECUTIVA

Vai longe o tempo em que carro era assunto restrito a homens. Mas quando se pen-sa em robustos SUVs e utili-

tários, a tendência é esquecer que 50% das compras de veículos são realizadas por mulheres. A exemplo de outras montadoras, que expan-diram a participação da mulher em cargos estratégicos, a Ford entregou os modelos Ranger, F-250, Courier e Edge nas mãos da matemática Lucí-ola Almeida.

Aos 38 anos e na função de ge-rente de Marketing de Produtos de picapes e crossovers, Lucíola admi-te ser mais realista que ambiciosa. Moradora de São Bernardo e casada há sete anos, a executiva entrou na empresa como estagiária e, ao lon-go dos quase 20 anos de carreira, passou por diversas áreas até chegar à responsabilidade de pensar estra-tégias e lançar novos produtos da multinacional.

REVISTA REPÚBLICA - Como você ingres-sou na Ford?

LUCÍOLA ALMEIDA - Entrei na Ford como estagiária em 1992, mas estou na empresa como funcionária desde 1995. Foi meu terceiro emprego.

Primeiro passei por empresa no ramo metalúrgico, que é fornece-dora da Ford, e depois em outra de engenharia industrial. Quando cheguei aqui, já era profissional plena. Fiz técnico em Processa-mento de Dados na ETE (Escola Técnica Estadual) e, na época, tive a oportunidade de iniciar o está-gio. Eu era jovem e como a Ford é uma empresa muito promissora, tomei a decisão de dar alguns pas-sos para trás e abri mão do que eu já tinha conquistado para começar do zero.

REVISTA REPÚBLICA - Qual sua forma-ção?

LUCÍOLA ALMEIDA - Sou formada em Matemática pela Fundação San-to André. A escolha do curso teve muito a ver com o Processamento de Dados. Foi uma opção interes-sante porque aprendi muito sobre raciocínio e lógica, mas também de administração e tecnologia. Tudo que utilizo aqui até hoje.

REVISTA REPÚBLICA - Mas você não pa-rou de estudar.

LUCÍOLA ALMEIDA - Costumo brincar que tem gente que estuda para

Lucíola Almeida põe dedo feminino nouniverso de picapes e crossovers da Ford

Liora Mindrisz

realistaMaisambiciosaque

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55Revista Repúplica

entrar no mercado de trabalho, e gente que entra no mercado de trabalho e vai se profissionalizan-do. O meu caso é o segundo. En-trei como estagiária de Processa-mento de Dados mas, conforme minha carreira foi mudando, eu fui complementando minha for-mação. Hoje tenho MBA em Ges-tão de Negócios pela Fundação Getúlio Vargas e sou máster em Marketing de Produto pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

REVISTA REPÚBLICA - Qual foi a trajetória até se tornar gerente de Marketing de Produto?

LUCÍOLA ALMEIDA - Passei por muitas áreas. A Ford ofereceu a perspecti-va de trabalhar em várias empresas sem deixar a companhia. Minha primeira função foi na Qualida-de Assegurada, trabalhando com compras e engenharia, depois passei por Suply Chain, Logística, depois por Compras, Serviço ao Cliente, Vendas e, por fim, vim para o Marketing de Produtos, onde es-tou há cinco anos. Acredito que é uma área que nem todo mundo entende bem. Muitos pensam que

se limita a eventos. Mas na realida-de é pensar em estratégia, deman-da e preço. É desenhar produtos para o futuro. Não posso deixar de reconhecer que é uma área muito glamourosa. Nos primeiros três anos, cuidei dos produtos de entrada, como o Ká e o Fiesta. Fui responsável pelo lançamento do New Fiesta no ano passado. Agora cuido de picapes e crossovers.

REVISTA REPÚBLICA - Você compartilha da máxima de que o universo auto-mobilístico é masculino?

LUCÍOLA ALMEIDA - Desde quando eu comecei até hoje, vejo que os pos-tos de trabalho se equilibram entre homens e mulheres. Em relação a cargos de gerência e supervisão, que costumavam ser mais ocupa-dos por homens, noto que estão muito mais relacionados a compe-tência que a gênero. O universo é muito masculinizado, mas mulher tem capacidade de adaptação mais forte, consegue se impor, fa-zer prevalecer os pontos racionais em detrimento dos emocionais. Acho que no Brasil, com essa di-

versidade cultural, aprendemos a respeitar as diferenças. E a globa-lização ajuda também. Então acho que já extrapola a questão do sexo.

REVISTA REPÚBLICA - E como é cuidar de carros feitos para homens, como pi-capes e crossovers?

LUCÍOLA ALMEIDA - Concordo que se trata de universo mais masculino. As pesquisas indicam que mais de 85% dos proprietários de picapes e crossovers são homens, ou são empresas lideradas por homens. Mas eu acho que o fato de ser mu-lher não interfere no trabalho, ao contrário, em muitos pontos até ajuda porque a sensibilidade en-tra em cena. A mulher ouve, per-cebe mais detalhes e isso ajuda a ter empatia. Aqui fazemos muita pesquisa com consumidor e eu me baseio nisso. Então consigo ler o desejo do consumidor mes-mo que não seja sua realidade. Mas não podemos generalizar, eu mesma adoro esse tipo de carro e tenho um crossover.

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REVISTA REPÚBLICA - Você já passou por algum contratempo por ser mulher na atual função?

LUCÍOLA ALMEIDA - Sendo muito rea-lista, tem horas que não sou aqui necessariamente como sou em casa. Na empresa posso ter tom mais masculinizado, mas isso não me faz perder a feminilidade, é só questão de postura profissional. Isso acontece em qualquer am-biente, todo mundo precisa se adaptar para dialogar melhor.

REVISTA REPÚBLICA - Você tem hobbies?LUCÍOLA ALMEIDA - Nas minhas horas li-

vres, costumo aproveitar bastante o tempo com meu marido. Gosta-mos de cinema e sempre que dá, fazemos passeio em família. Mas viajar é preferência número um. Adoramos pensar para onde va-mos nas próximas férias. Lugares inusitados são minhas rotas favori-tas e ele embarca em tudo comigo.

REVISTA REPÚBLICA - Viajar a trabalho também é prazeroso?

LUCÍOLA ALMEIDA - Viajei bastante na época em que estava no setor de Vendas e Serviço ao Cliente. Cheguei a visitar todos os postos regionais. Com o lançamento de produtos, viajo junto com o pesso-al da Imprensa para fazer as apre-sentações dos novos carros em eventos. Tudo tem o lado bom e o lado não tão bom. O fato de viajar traz para a profissão a falta de ro-tina, o que é legal. Mas isso even-tualmente priva de compromissos pessoais. Uma coisa compensa a outra. É interessante conhecer lu-gares diferentes. Evento que me marcou foi um lançamento em Foz do Iguaçu porque passamos perto das cataratas. É bom visitar luga-res, inclusive os que já conheço e mesmo sendo a trabalho.

REVISTA REPÚBLICA - Você passou por diversas áreas, qual considera es-sencial para a carreira?

LUCÍOLA ALMEIDA - Acredito que todo mundo, em qualquer empresa de qualquer ramo, deveria ter experiência no Serviço ao Clien-te, que permite contato com um dos principais patrimônios da empresa, que é o consumidor. É bom saber a razão pela qual você faz todo seu trabalho, saber que tem alguém na ponta do proces-so. No setor, se tornam acessí-veis e perceptíveis os desejos do cliente. Então olho com bastante carinho a época que estive nes-sa área. Fiquei de 1997 a 2003 e passei por várias funções, desde Processos à Engenharia de Servi-ços e Garantia.

REVISTA REPÚBLICA - Quais são os pla-nos futuros para sua carreira? Existe alguma área que queira assumir?

LUCÍOLA ALMEIDA - Prefiro ser mais realista que ambiciosa. Faço meu trabalho e espero que venham as oportunidades. Especular tira o foco. Talvez meu pensamen-to seja estar sempre preparada. Normalmente passava cerca de dois anos e meio em cada fun-ção. Eu chegava, aprendia, exer-cia e quando começava a ensi-nar, mudava. Nunca tive período de monotonia. Da forma como foi, não tive tempo de cair na ro-tina e a empresa ofereceu opor-tunidade de crescimento. Nestes anos, pude ajudar a empresa e ao mesmo tempo crescer profis-sionalmente. Sempre foi uma via de duas mãos. Passei por tantas áreas que, no momento de car-reira que estou, prefiro pensar em aprimorar as posições. Quero continuar aplicando meu conhe-cimento, e que seja positivo.

EXECUTIVA

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Tecidos brilhantes, transparentes, roupas que marcam e decotes extravagantes devem ser abolidos. Use camisa de cor discreta com bom caimento. Impossível errar com calça social preta.

Look Social

Look Casual

O bolero dá toque especial. Peça eclética, pode ser usada

em diversos estilos ecombinações. Cai bem com

saias, vestidos, calças e até shorts. Evite usar regatas. Escolha peça sem muitas

informações. Básico também é sinônimo de elegância.

Olho no comprimento da saia. O correto é de até um

palmo acima do joelho.

Descarte camisa com muita informação. Lisas deixam a

aparência mais limpa.Esqueça calças com lavagens. Opte por tom escuro para ter mais opções de combinações

com camisas.

Dicas de ouroUnhas feitas sempre. O mesmo

vale para os pés, caso utilizesandálias ou peep toe. Cores

claras são sempre ótima opção. Capriche na maquiagem e

não exagere nos acessórios.Cabelos devem ser presos ou

bem penteados.

Dicas de ouroNão use tecidos finos

e golas em V. Não esqueçade manter os cabelos curtos,

barba feita e unhas aparadas.

Na medida certaDepois de selecionado entre tantos currículos, a hora da entrevista de emprego impõe dúvidas uma vez que

a imagem pode servir como cartão de visitas.Alguns modelos podem ofuscar qualidades profissionais. Mas se vestir corretamente não exige gastar muito.

Peças chaves podem estar no guarda-roupa ou custam menos do que se imagina. O estilo varia de acordo com o local, exigência e horário. A consultora de moda Ielaine Elisabeth Nunes indica

looks formal e casual para não errar na hora da entrevista.

Bolero: 44,99Blusa: 29,99Saia: R$ 44,99Colar: 9,99

Camisa: 39,99Calça: 24,99Colar: 3,99

Polo: R$34,99Calça Jeans: R$44,99

Camisa: R$ 29,99Gravata: R$: 9,99

Calça Social: R$ 29,99Cinto: 25,99

Calça risca de giz é peça certeira e foge do pretotradicional. Manga curta édeselegante, aposte em longa. Calça preta e camisa branca é como o preto básico da mulher. Tons cinzas também valem a pena. Gravatas com estampasdivertidas ou de bichinhos são proibidas. Use cor neutra.

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MEIO AMBIENTE

Indaiatuba tem tudo para ser o principal ponto verde no mapa do Estado de São Paulo. Não pela raiz indígena, que remete a grande quantidade de palmeiras, mas pelas iniciativas de sustentabilidade

encampadas pela prefeitura que, sem dúvidas, mos-tram que o futuro determina a agenda do presente. Das ações, o programa Biodiesel Urbano – Por uma Indaiatuba Saudável, desenvolvido em parceria com a Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, chama a atenção pelo pioneirismo e criatividade.

Desde 2006, a municipalidade transforma em biodiesel o óleo comestível usado recolhido em ecopontos. Os cinco mil litros mensais abastecem frota de cerca de 100 caminhões da prefeitura e do Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). “O bio-

diesel diminui a emissão de gases poluentes, como o CO2, que aquecem a atmosfera”, diz a secretária de Urbanismo e Meio Ambiente, Mariângela Gomes Carneiro.

A campanha sensibilizou primeiramente crian-ças, que passaram a multiplicadores e a cobrar dos pais comportamento mais responsável no destino do subproduto das cozinhas. Antes mesmo de o projeto completar um ano, a iniciativa já havia coletado nada menos que 55 mil litros de óleo saturado. “Hoje exis-tem 180 pontos de coleta cadastrados, subdivididos em três modalidades”, diz a secretária. A produção gera economia de aproximadamente 60% no custeio em comparação aos combustíveis convencionais. A economia é destinada a programas de inclusão social.

Indaiatuba abastece frota pública com biodiesel produzido com óleo de cozinha

Roberto Barboza

Ponto Verdede São Paulo

Secretária Mariângela Carneiro participa de campanha de plantio de árvores

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59Revista Repúplica

O Brasil produz 3,8 bilhões de litros de óleo vegetal comestível por ano, de acordo com a Abiove (Associa-ção Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) e apenas cerca de 2,5% são reinseridos na cadeia produtiva. Ou seja, 75 milhões são transformados em subprodutos, como biodiesel, ração animal, massa de vidro, sabão e tintas. Mas há potencial para qua-druplicar o reaproveitamento do óleo comestível com o crescimento dos postos de coleta e das campanhas de conscientização.

VOCÊ PODE CONTRIBUIR

Crianças são multiplicadoras e cobram comportamento responsável dos pais

17 ONGs mais citadas pelas 500 maiores empresas do Brasil; entre as 10 ONGs mais destacadas em ações voltadas para a promoção da sustentabilidade na edição es-pecial sobre o tema na revista Exa-me; em 2010 a logomarca do Ins-tituto foi impressa em camisetas e no material promocional da turnê internacional da banda Sepultura e parte da renda foi direcionada à instituição.

Em novembro de 2001, a en-tidade lançou o programa Leve Óleo, que consiste na participação ativa da comunidade por meio do relacionamento dos pontos de entrega voluntária do óleo. “Os pontos se responsabilizam pelo relacionamento do instituto com as pessoas, isso por que a cada garrafa pet de dois litros entregue, a pessoa recebe kit com pedra de sabão e revista VivaMundo”, diz Ra-fael Mônico.

O Instituto Triângulo, Organização da Sociedade Civil de Interesse Pú-blico (Oscip), atua desde 2003 com a preocupação de minimizar os efeitos danosos do descarte irregular de óleo usado de cozinha. O sistema de cole-ta não difere muito do praticado pela Prefeitura de Indaiatuba. O que muda é resultado do produto final que, em Santo André, sede da organização e base da usina de transformação, o óleo vira sabão ecológico.

O desenvolvimento de campanhas em escolas, comércio, junto a do-nas de casa e empresas é a estratégia para atingir as metas. “Em 2010 co-letamos 238,9 toneladas, 60% mais que em 2009. Estamos cada dia mais perto da tão sonhada sustentabilidade.”, anima-se Rafael Mônico, do Insti-tuto Triângulo. São cerca de 25 toneladas de óleo coletadas por mês, que se transformam em 50 toneladas de sabão.

O trabalho com escolas em 2010 sensibilizou mais de 500 professores e 14 mil estudantes, números tão expressivos quanto o das 650 empresas alvos das ações educativas do Instituto Triângulo. Dos resultados vieram reconhecimento: classificada pelo quarto ano consecutivo como uma das

Instituto Triângulo transforma 25 toneladasde óleo em 50 toneladas de sabão por mês

SonhadaSustentabilidade

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MEIO AMBIENTE

A polícia chinesa apreendeu em outubro de 2011 mais de 100 tonela-das de óleo de sarjeta, nome atribuído à substância tóxica fabricada a partir de óleo de cozinha usado recolhido de restaurantes, reprocessado e vendido a preços baixos.

O caso mudou os hábitos ali-mentares de alguns chineses uma vez que pequenos restaurantes usam o óleo de sarjeta. As investigações fo-ram iniciadas em março e revelaram a existência de uma fábrica de pro-cessamento de óleo na província de Zhejiang e de uma empresa biológica que vendia o produto em Shandong. A rede criminosa atuava em 14 provín-cias da China.

RECICLAGEM DO MALSão 110 ecopontos destinados a atender cozinhas industriais, bares, restaurantes, pastelarias, hospitais entre outros, 36 onde a população pode entregar o óleo usado em gar-rafas pet e 34 estão instalados em condomínios, escolas, restaurantes, igrejas e empresas. Para grandes for-necedores, existe serviço de agen-damento de coleta que pode ser semanal, quinzenal ou mensal. “A prefeitura disponibiliza vasilhames de 20, 30 ou 50 litros, dependendo da quantidade gerada de resíduo”, diz Mariângela Carneiro.

O prefeito Reinaldo Nogueira Lopes Cruz quer ir além. Estuda a

criação de selo de certificação para empresas e entidades que partici-pam do projeto. “Esta seria uma for-ma de reconhecimento e valorização dos esforços da comunidade em prol da qualidade de vida e de um meio ambiente mais saudável para todos”, diz a secretária.

Situada a 90 quilômetros da ca-pital paulista, Indaiatuba é a quarta maior cidade da região metropolita-na de Campinas com população de quase 206 mil habitantes. Do ideário sustentável do município constam limpeza urbana, coleta de resíduos e reciclagem, manutenção de áreas verdes, parques e jardins, plantios

e doação de mudas para calçada e reflorestamento, fiscalização de in-dústrias e comércios com potencial poluidor, fiscalização de denúncias de degradação e crime ambiental, recuperação de áreas degradadas, gerenciamento de coleta de lixo hospitalar, gerência do Centro de Re-abilitação Animal e Zoonose e Edu-cação Ambiental.

Limpeza urbana, coleta de resíduos e reciclagem constam de ideário sustentável

A Sabesp mensura que cada litro de óleo despejado em rios ou lagos polui mais de 25 mil litros de água.

Preste atenção: Jogar óleo na pia, em terrenos baldios ou no lixo acarreta fins desastrosos:• permanece retido no encanamento, causa entupimento das tubulações se não for separado por estação de tratamento e saneamento básico;• se espalha na superfície dos rios e das represas se não houver sistema de tratamen-to de esgoto, causando danos à fauna aquática;• impermeabiliza o solo e facilita enchentes ou entra em decomposição, produz gás metano, causa mau cheiro e agrava o efeito estufa.

ABSURDA PROPORÇÃO

Alguns estados criaram leis sobre a coleta do óleo comestível, mas é preciso mudar hábitos e romper ques-tão cultural. A reciclagem de resíduos de óleo de cozinha ajuda a gerar ren-da para milhares de brasileiros. Cada litro de óleo vale em média R$ 0,40 — mais do que o valor pago pelo quilo do ferro, cerca de R$ 0,35.

EMPREGO E RENDA

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O PDT (Partido Democrático Trabalhista) de Santo André inaugurou em setembro a nova sede do Diretório Municipal. Churrasco e o ritmo do grupo Arrasta animaram os 200

convidados entre autoridades, sindicalistas, filiados e pré-candidatos para a disputa eleitoral de 2012. Com localização privilegiada à rua Senador Flaquer, a nova sede ocupa três andares em área de 1,2 mil metros quadrados.

O presidente municipal do partido e também secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Adonis Bernardes, não pou-pou críticas à atual administração: “Santo André, lamentavelmente, hoje é uma cidade abandonada. O PDT, com o companheiro Raimundo Salles, nosso pré-candidato à prefeitura, e com os nossos pré-can-didatos e pré-candidatas à Câmara Municipal, está pronto para retomar os rumos de desenvolvimento, saúde e segurança da nossa cidade”, discursou.

Filiação e formalização da pré-candidatura de Salles aconteceram em 1º de julho em solenidade na Câmara Municipal onde participaram, inclusive, antigos adversários políticos como o deputado es-tadual Carlos Grana, também pré-candidato à Pre-feitura de Santo André pelo PT, o deputado federal William Dib, do PSDB, e o deputado estadual Alex Manente, do PPS. O adesivo para a campanha do ano que vem aproveita a coincidência e estampa: Em 2012 é 12, número da legenda.

Wilson Bianchi, presidente do Sehal, destacou o amadurecimento político do advogado e profes-sor universitário Raimundo Salles. Pesquisas do par-tido indicam que o candidato aparece com mais de 20% da preferência do eleitorado de Santo André. “São números animadores que comprovam que te-mos chances reais de disputar estas eleições para ganhar”, diz.

Em nova sede, PDT esbanja otimismopara eleições do próximo ano

Apostano 12

Raimundo Salles e Wilson Bianchi:pesquisas animadoras

Adonis Bernardes: críticas àadministração de Aidan Ravin

POLÍTICARoberto Barboza

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62 Revista Repúplica

POLÍTICA

Desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente da Repú-blica, o movimento sindical brasileiro encara mudança de paradigma em relação à efetiva participação nos processos decisórios do país. Assegurar a conquista desse espaço na história da nação implica em

eleger parlamentares e governantes comprometidos com direitos sociais, ambientais e de distribuição de renda. “Isso é essencial para o enraizamento da democracia e os sindicalistas, pela experiência de enfrentar conflitos e ne-gociar, têm percepção dos limites do movimento sindical e de que é preciso ter atuação política para mudar a sociedade”, afirma o deputado estadual Car-los Grana (PT), de Santo André.

O avanço do embate capital x trabalho para as entranhas dos parlamen-tos é resultado da ação de uma geração vitoriosa de trabalhadores. “Série de conquistas e direitos que estavam apenas em negociações pulverizadas se transformaram em leis depois que trabalhadores chegaram às assembléias legislativas e ao Congresso Nacional”, diz o deputado.

A missão de transformar o que é conquistado na luta sindical em legis-lação pressupõe habilidade para minimizar o conflito permanente de inte-resses. O aumento de representantes de trabalhadores contribuiu para certa flexibilização da bancada empresarial, uma vez que os trabalhadores saíram do campo restrito das condições de trabalho e salário e passaram a apontar políticas que beneficiam também o empresariado. “Trabalhador tem conhe-cimento de negócios, empreendedorismo, exportação e muitas vezes se an-tecipa à visão empresarial”, diz Carlos Grana.

Na Assembléia Legislativa de São Paulo, o deputado integra bancada de no máximo 28 parlamentares que defendem interesses de trabalhadores. Os outros 66 constituem apoio ao governo de Geraldo Alckimin. “Nossa propos-ta é discutir São Paulo olhando para o futuro, caso da regulamentação da Re-gião Metropolitana, que envolve questões macro, como mobilidade urbana. Não adianta apenas uma cidade fazer excelente investimento se o vizinho não acompanhar. Temos expectativa de projetos de longo alcance e grande impacto”, diz o deputado.

Alguns problemas extrapolam os municípios e demandam ação inte-grada. Outros rompem as fronteiras estaduais e envolvem todo o país. O de-safio é claro: aumentar o número de representantes nos poderes Executivo e Legislativo nas três esferas de governo para não correr o risco de ter as expectativas de conquistas trabalhistas e sociais engolidas por interesses de-fendidos por outros setores da sociedade. “A agenda dos trabalhadores tem

Poderes Legislativos são nova arena para o embate capital x trabalho

Tuga Martins

Representatividade é essencial

TRABALHADORES DEFENDEM:• Redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas

• Ratificação da Convenção 158 da OIT, contra demissões imotivadas

• Revisão dos índices deprodutividade da terra

• Aprovação da PEC contra otrabalho escravo

EMPRESÁRIOS DEFENDEM:• Redução da carga tributária.

• Redução dos direitos trabalhistas.

• Total liberalidade para contratar terceirizados.

• Manutenção da jornadaem 44 horas.

• Novas modalidades de admissão (a CNI fala em “formas alternativas de contratação”)

RURALISTAS DEFENDEM:• Mudanças no Código Florestal, diminuição da área que deve ser obrigatoriamente conservada e protegida do desmatamento.

• Rejeitar a PEC que determinaconfisco de propriedade que emprega trabalho escravo

BANCADAS INFORMAIS

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63Revista Repúplica

de ir além do movimento sindical”, defende Carlos Grana.

EQUILIBRAR BRASÍLIAOs trabalhadores contam com

72 congressistas, sendo 64 deputa-dos e oitos senadores, contingente enxuto para enfrentar os 273 parla-mentares da bancada empresarial, suprapartidária e a mais expressiva do Congresso Nacional, e os 142 deputados e 18 senadores da ban-cada ruralista. “O fortalecimento das bancadas de representação dos trabalhadores é fundamental para aprovar temas de interesse nas três esferas”, diz Carlos Grana. Quando Lula foi eleito em 2002, o PT elegeu 95 deputados federais e 12 senado-res, nem 20% da Câmara e menos de 15% do Senado.

No último mandato, a articula-ção empresarial não se intimidou: derrubou a CPMF, aprovou a Emen-da 3 (que facilitava a contratação de pessoas jurídicas prestadoras de serviços no lugar de funcionários ce-letistas, posteriormente vetada pelo presidente da República) e, pelo me-nos até agora, segurou a tramitação da Proposta de Emenda à Constitui-ção (PEC) de redução da jornada de

trabalho para 40 horas semanais. “Quando há mais identificação com as po-sições dos trabalhadores, as aprovações de projetos são mais tranquilas”, diz Carlos Grana.

A bancada dos trabalhadores também se mobilizou e conquistou políti-ca de aumentos reais sucessivos para o salário mínimo, atualização da tabela de cálculo do Imposto de Renda, que reduziu o IR retido na fonte da classe média assalariada, a legalização das centrais, o arquivamento do projeto de flexibilização da CLT.

Quando assumiu a Prefeitura de Santo André, João Avamileno firmou o compro-misso de governar para todos. Mas a origem sindical permitiu abordagem e diálogo social

mais efetivos com os diversos setores da sociedade. Conselhos municipais, orçamento participativo e outras políticas ajustaram a cidade a eixo democrático de administração. “Todos esses avanços foram desprotegidos no atual governo”, diz Carlos Grana.

A mudança de modelo atinge diretamente o cidadão porque piora a qualidade dos serviços essenciais -- transporte, saúde, educação – e impacta a qualidade de vida.

“Inclusive o empresariado está descontente com a gestão atual”, afirma Carlos Grana. Na Câmara Municipal, os trabalhadores contam com seis represen-

tantes, que fazem o embate político para preservar direitos e defender interesses sociais.

EXPERIÊNCIA LOCAL

João Avamileno: diálogo social

Carlos Grana: agenda além do movimento sindical

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Todos ossentidosDestinos para satisfazer prazeresà mesa, do espírito e do coração

TURISMO Tuga Martins

N ão há dúvidas que o best-seller de Elizabeth Gilbert, Comer Rezar Amar, aguça a vontade de fazer as malas. A protagonista do romance que vendeu mais de quatro milhões de cópias relata

experiências na Itália, Índia e Indonésia que extrapo-lam o turismo na busca de autoconhecimento. Mas

existem roteiros alternativos que também satis-fazem os sentidos gastronômico, espiritual e ro-mântico. Escolha entre os sabores da Argentina, as bênçãos de Jerusalém e as tardes mornas de Itapuã.

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65Revista Repúplica

Comer na ArgentinaChurrasco é identidade e churrasquerías são institui-

ções nacionais, mas a gastronomia da Argentina é bem mais rica. Difere do resto da América Latina pela influên-cia espanhola e italiana, além da herança nativo-ameri-cana andina e guarani. Carnes, vinhos e empanadas têm grande importância à mesa, mas os sabores argentinos refletem costumes dos quatro cantos do país. A geografia argentina propõe desfrute dos melhores cortes de carne bovina na zona central, dos sabores de origem incaica à base de legumes e grãos ao norte, doces, queijos e chaci-nados em Córdoba e do verdadeiro sabor das frutas, pei-xes e frutos secos na zona de Cuyo.

A rede de oferta gastronômica está entre as melho-res do mundo. Restaurantes requintados preparam co-mida de padrão internacional enquanto adegas, bares e cantinas apresentam apetitosa proposta de pratos a pre-ços acessíveis. O serviço de almoço termina às 16h e os restaurantes só reabrem para o jantar. Os portenhos jan-tam tarde, normalmente depois das 21h ou 22h. Gorjetas não são obrigatórias e não são incluídas na conta.

As carnes normalmente são acompanhadas por batatas fritas, saladas, provolone ou provoleta. Puchero criolo é uma versão do cozido espanhol com mais carne e menos grão de bico. A carbonada pode adquirir sabor mais adocicado se ao final do preparo forem acrescenta-dos pêssegos, peras ou frutas secas. Com origem na Ga-lícia, as empanadas se resumem a leve massa recheada com carne, cebola, ovos, azeitonas e temperos.

A história da culinária argentina tem origem nos Pampas com receitas à base de milho com locro, tamales e humitas, que constituíam a dieta comum dos primeiros habitantes locais e ainda são servidos no norte do país.

Tão famosa quanto a carne, a adega argentina tem em Mendoza a de maior prestígio. Quarto produtor vi-nícola do mundo, a Argentina garante bons cabernets, merlots, malbecs, chablis, sauvignons, chardonnays, e até mesmo o champanhe. Quilmes é marca de cerveja local mais consumida e a erva mate, de tão importante, virou verbo. Todo argentino que se preze tem hora para ma-tear. Na província de Córdoba existe forte aceitação do Fernet, bebida amarga de ervas naturais e álcool que é misturada com cola, e hortelã em alguns casos.

De São Paulo para o aeroporto Internacional de Buenos Aires, Ezeiza (2 horas e meia de viagem)

Churrasco e miúdos - É impossível não experimentá-los, porque junto com o tango é pura argentinidade.

Pizza com faina - Feita com farinha de grãos-de-bico e azeite deve ser acompanhada por copo de moscato. É como estar dentro do tango.

Sanduíches de miga - Parte da vida diária dos bares e cafeterias. Pode ser aperitivo ou almoço.

Bife de chouriço com batatas fritas - Suculento e acompanhado de batatas fritas, é experiência gastronô-mica imperdível.

Matambre - Rocambole de carne recheado com verdu-ras, ovo cozido e temperos. Costuma ser consumido como entrada fria em fatias, acompanhado de salada de bata-tas, cenoura, ervilhas, e maionese. É tão importante que o escritor Esteban Echeverría publicou em 1837, a Apologia ao Matambre.

Locro - Guisado de origem pré-hispânica e pré-incaica feito com abóbora, milho, feijão, batata, carne e vísceras bovinas e suínas, cebola e temperos. Costuma ser con-sumido em feriados nacionais. Pelo alto nível calórico é melhor em dias frios.

Cozido - Conta Manuel Vicent que o Cozido Valenciano era a comida escolhida para o almoço de Natal no pós-guerra espanhol. A fórmula mágica: muitas carnes, verduras, frios e miúdos cozidos em um único caldeirão.

Empanadas - Típicos de bar, os pastéis assados são pi-cantes. Os recheios mais comuns são de carne de boi, ou frango, milho e de queijo com cebola.

Doce de leite - Às colheradas ou no coração de alfajores, bolos, roscas e sorvetes, é obrigação para aquele que pisa em solo argentino.

Cordeiro patagônico - Dizem que pelo tipo de pasta-gens que comem e a liberdade com a qual se deslocam, os cordeiros patagônicos são delícia apreciada por turistas nacionais e estrangeiros.

Humita - A palha do milho envolve recheio preparado com os grãos de milho ralados, tomates, pimentões e cebola. De origem indígena, nas províncias do norte é obrigatório em festas nacionais.

SABORES IMPERDÍVEIS

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66 Revista Repúplica

TURISMO

Rezar emJerusalém

Uma oração na capital de Israel tem significado profundo para três religiosidades. A quantidade de locais sagrados e his-tóricos, ruínas antigas, monumentos e museus somada às mon-tanhas, vento, luz e cenário onde o sol tinge as pedras de ouro atribuem charme a este destino sagrado.

Com 1.204 sinagogas, 158 igrejas e 73 mesquitas, Jerusa-lém é mencionada na Bíblia 632 vezes. Antiga cidade Cananéia, o nome tem origem provável na divindade amorrita Shalem. Bem antes do turismo religioso virar bom negócio, os devotos de Bordéus, na França, registraram no ano de 333, roteiro com itinerário bem detalhado. Não à toa, os planos para o futuro de Jerusalém estão no passado.

Para os judeus, a cidade foi escolhida pelo criador para ser a casa do espírito divino. É onde foi erguido o Templo de Salomão e também o Segundo Templo. Na tradição cristã, Jerusalém in-clui lugares onde Jesus viveu e morreu. Além da Via Dolorosa e da Igreja do Santo Sepulcro, o local da última ceia de Jesus está nos arredores, no Monte Sião. Outro lugar proeminente cristão é o Gólgota, onde teria acontecido a crucificação. Os islâmicos consideram Jerusalém o terceiro local sagrado com a mesquita de Al-Aqsa, depois de Meca e Medina. É ainda o destino da fa-mosa Jornada da Noite de Muhammad.

Com menos de um quilômetro quadrado, a Cidade Antiga é murada e dividida em quatro bairros: armênio, cristão, judeu e o muçulmano. Acolhe os principais pontos religiosos como Es-planada das Mesquitas, Muro das Lamentações, Santo Sepulcro, Cúpula da Rocha e a Mesquita de Al-Aqsa.

Patrimônio mundial desde 1982, Jerusalém está situada ao sul do planalto da Judéia, que inclui o Monte das Oliveiras a leste e o Monte Scopus a nordeste. A cidade já foi cercada por flo-restas de amêndoa, azeitona e pinheiros que sumiram graças às diversas destruições. Jerusalém foi dizimada duas vezes, sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes, e capturada e recapturada 44 vezes.

Cidade Velha - As vielas estreitas são pavimentadas com pe-dras ancestrais e têm atmosfera de mercados mediterrâneos.

Muro das Lamentações - Quando o Segundo Templo foi destruído, o muro construído por Herodes resistiu.

Igreja do Santo Sepulcro - Considerada a mais sagrada das igrejas, foi construída onde Jesus foi crucificado e sepultado.

Via Dolorosa - Caminho percorrido por Jesus antes da cruci-ficação. Inclui 14 estações.

E+ Israel Museum - Aberto em 1965, abriga exposições de arte e arqueologia, com tesouros encontrados na região, em espe-cial os Manuscritos do Mar Morto.

The Bible Lands Museum - Aberto em 1992, é composto por coleção de artefatos de diferentes culturas sobre religião, comércio, comunicação e transporte.

The Southern Wall of the Temple of the Mount and the Davidson Center - Visitar o parque arqueológico de Jerusalém é oportunidade única de explorar ruínas de tem-plos e lugares sagrados com cerca de dois mil anos de história.

Church of Saint Anne e Pools of Bethesda - Igreja cruza-da do século 12 foi erguida em homenagem ao local de nas-cimento de Hannah, mãe de Maria, e está ao lado da piscina chamada Bethesda, onde Jesus teria curado um paralítico.

Rockefeller Archeological Museum - O museu é tesou-ro de objetos arqueológicos da Idade da Pedra ao século 18. Guarda o trabalho original em pedra que adornava a entrada da Igreja do Sagrado Sepulcro.

L. A. Mayer Memorial Museum of Islamic Art - O museu tem incomparável coleção permanente de arte islâmica. Des-taques para as exibições de roupas e ornamentos palestinos, de artesanatos locais e jóias.

Knesset - Government Quarter - O Parlamento é moder-no marco arquitetônico, chamado por muitos de Acrópole e guarda mosaicos e tapeçarias de Chagall.

ONDE AJOELHAR

De São Paulo para o aeroporto Internacional Ben-Gurion, de Tel Aviv (14 horas e meia de viagem). Para Jerusalem pode optar por van chamada sherut, que cobra preço fixo; ônibus públicos, que são mais baratos e funcionam das 6h às 22h30; ou táxis

Cidade Velha

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67Novembro de 2011 00Novembro de 2011

Amar emItapuã

Falar de mar e romance sem esbarrar em Itapuã é incorrer no erro de trancar o coração e jogar a chave fora. A famosa praia baiana, cantada nos versos de Vinícius de Moraes, foi desenhada para incendiar emoções, reacender paixões e selar amores eter-nos enquanto durem. Cercado por coqueiros altos e embalada pela calmaria de águas de um verde único, Itapuã abriga colônia de pescadores, cujas jangadas temperam o cenário com a paz que os casais precisam para se entender.

Pouco importa a idade dos namorados, as caminhadas pelo calçadão inspiram. No caminho, Farol e Sereia de Itapuã iluminam o passeio até a parte mais antiga da praia. Situada ao norte da cidade, fora da Baía de Todos os Santos, Itapuã é banha-da por mar aberto. O bairro é uma das principais referências culturais e turísticas de Salvador e atualmente ganha atenção para resgatar de forma duradoura os valores e a identidade que incluem gastronomia, música, pintura, confecção de instrumen-tos, capoeira, Ganhadeiras, Malê de Balê e tantas outras manifestações. Em janeiro, os pescadores organizam a lavagem da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Itapuã.

Itapuã em Tupi significa ponta de pedra ou pedra que ronca. Antigamente exis-tia no local uma pedra que roncava na maré vazante. Itapuã tem águas limpas, areias claras e é protegida por arrecifes. Antigamente, os pescadores pescavam baleia para utilizar o óleo refinado na iluminação pública.

O clima sensual que colore as tardes pela praia levou alguns hotéis a estruturarem pacotes para atender aos apaixonados. Com serviços exclusivos, incluem decoração com velas, aromatização, espumante, chocolate e outros mimos. Quem preferir dar um toque a mais à ocasião, pode pedir jantar à luz de velas com menu especial, mas-sagem tailandesa ou ayurvédica, roupão personalizado e translado em carro de luxo.

Casais mais descolados podem apimentar a viagem com o famoso acarajé na barraca da Cira. O sabor traz herança da África com o dendê, marca registrada tam-bém da moqueca, bobó e caruru. A influência indígena aparece no uso da mandioca, enquanto dos portugueses adoçam as opções com quindim e ambrosia. Em Itapuã é possível provar todas essas delícias típicas. Depois, uma foto ao lado da estátua de Vi-nicius de Moraes é perfeita para não deixar a poesia escapar. Mas se a idéia é melhorar o ritmo da relação, a proposta é ir ao Abaeté onde está o Museu da Música e a Fobica de 1950, com a qual Dodô e Osmar reinventaram o Carnaval.

De São Paulo a Salvador (2 horas e 10 minutos de viagem - avião)

TRÊS É DEMAIS

Sereia de Itapuã

Quitutes da Cira

Praça Vinícius de Moraes

Lagoa do Abaeté

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68 Revista Repúplica

Musa do inverno,Paranapiacabatem tudo paraabafar no verão

TURISMO Liora Mindrisz

V erão próximo e temperaturas altas aumentam a vontade de escapar do calor claustrofó-bico da metrópole para fazer

atividades ao ar livre e ficar de bem com o corpo. A cerca de 30 quilôme-tros de São Paulo e conhecida pela atmosfera antiga de vila ferroviária, Paranapiacaba é candidata a ende-reço cobiçado na próxima estação.

Os programas de caminhadas em meio à Mata Atlântica ofere-cidos pela AMA (Associação dos Monitores Ambientais) combinam bem estar com ecologia e atendem a diversos níveis de preparo físico. “Engana-se quem pensa que a vila é só Festival de Inverno”, afirma Mil-ton de Marchi, diretor de Meio Am-biente da Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense.

Curtir as trilhas demanda pre-sença de guia credenciado pela Pre-

feitura. “Todo o Parque Nascentes só pode ser visitado com monitores ambientais e, para preservar, educar e por segurança, o pessoal passou por treinamento de dois anos”, detalha Marchi. E não é à toa, a responsabili-dade cresce ano a ano. De janeiro a agosto de 2011, a vila recebeu cerca de 12 mil visitantes.

Quem quiser se aventurar pode começar pela trilha do Mirante, de dificuldade média, que sobe por cer-ca de mil metros, passando pela Pe-dra do Índio, até o topo de onde se vê o mar. O passeio tem duração mé-dia de duas horas e meia, percorre 2,5 quilômetros e custa cerca de R$ 12 por pessoa. Por duas horas a mais de caminhada e R$ 8 para o guia, os mais despojados ganham mergulho na Cachoeira Escondida.

A Trilha da Comunidade exige condicionamento físico mais apura-do. Oferece quatro horas de cami-

nhada com pontos de declive acima de 30 graus. O esforço não é em vão. Por todo o percurso, a diversidade de flores, árvores e nascentes encantam. A trilha termina em ruínas de nature-za mística. Para alguns, são resquícios de uma comunidade alternativa que se estabeleceu no local por volta dos anos 1970, o que desperta a curiosi-dade de esotéricos. O passeio custa por volta de R$ 20.

Um pouco mais leve e indica-do para interessados em introduzir a criançada na natureza, passeio único de no máximo duas horas permite conhecer o Núcleo Olho D’Água e o Núcleo Tanque Gustavo. No Olho D’Água estão os reservatórios e as nascentes que abastecem a Parte Baixa da vila. No Tanque, o visitante conhece o sistema de abastecimento que envia água para a Parte Alta de Paranapiacaba. Por esses passeios, a taxa é de R$ 10.

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69Revista Repúplica

Expresso turístico agrega charme ao passeio

A AMA fica à Rua Direita, 344, na Parte Baixa de Paranapiacaba. Para grupos com até 10 pessoas não é necessário fazer agendamento durante os fins de semana. Mais informações podem ser obtidas no site www.ama-paranapiacaba.org.br ou pelo telefone 4439-0155.

Na Vila há ainda o Centro de Informações Turísticas, que funciona nos fins de semana e feriados, localizado no Largo dos Padeiros, na Parte Baixa. O telefone é 4439-0237. É bom lembrar que o Parque fica aberto de terça-feira a domingo das 8h às16h.

Como chegarVisitantes podem optar por carro, ônibus ou trem. O recente Expresso Turístico

Paranapiacaba agrega charme ao passeio. Sai da Estação da Luz, passa pela Estação Prefeito Celso Daniel-Santo André e segue até a Vila Ferroviária, por R$ 27 (ida e volta). De carro, há acesso por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra ou pela Rodovia Índio Tibiriçá (SP 31) até o Km 45,5, para pegar a Via SP 122 até Paranapia-caba. De ônibus, há saídas a cada 40 minutos do Terminal Rodoviário de Santo André ou da Estação Ferroviária de Rio Grande da Serra a cada hora (Viação Ribeirão Pires).

PROGRAME-SE

Cachoeriras e trilhas paratodos os gostos

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70 Revista Repúplica

ESPECIAL

Sindicato de Jundiaí apostaem gestão ajustada àsdemandas da modernidade

84 Novembro de 2011

Tuga Martins

Prontopara o futuro

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Presidente Eliseu Costa

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O Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí, Várzea Paulista e Campo Limpo Paulista completou 65 anos em 2011 com os olhos volta-dos para o futuro. O presidente Eliseu Silva Costa, que acumula a função de tesoureiro da Federação dos Metalúrgicos do Estado de

São Paulo, não tem dúvidas de que a história alicerça a credibilidade e a envergadura da entidade, mas está atento às constantes mudanças e avanços da categoria, que cada vez mais exige modernizações e ajustes das ações sindicais.

Com base de 35 mil trabalhadores nas três cidades, há apenas três anos o sindicato acolhia maioria de associados do setor de auto-peças, em especial dos quadros da ThyssenKrupp e da Sifco, mas a chegada da Apple, Foxcom e outras, levou o número de funcionários das empresas de eletro-eletrônicos a se sobrepor ao de metalúrgicos. “Só na Apple, o quadro pode saltar de 800 para três mil colaboradores até o fim de 2011”, afirma Eliseu Costa.

A mudança começou em meados de 2008 com as políticas do gover-no Lula em favor da atração de novas empresas para o Brasil. “Quando as pessoas perguntavam por que o Lula viajava tanto, a gente sabia que era para atrair novos investimentos para o país”, diz o presidente. O anúncio da instalação de planta da Apple atiçou diversas cidades e a escolha de Jundiaí foi um grande estímulo para o sindicato. “Recebi a notícia do próprio Aloy-sio Mercadante”, orgulha-se.

A mudança da atividade e do perfil dos trabalhadores exigiu atitudes do sindicato. “O que mais surpreendeu foi que a grande maioria dos traba-lhadores é jovem e está no primeiro emprego”, conta Eliseu Costa. Os jovens têm pouca noção dos direitos trabalhistas e poucos conhecem a história de luta que levou às conquistas. “É difícil dar valor porque já encontraram tudo pronto”, diz.

Para conscientizar esta nova geração de trabalhadores, o sindicato criou e distribuiu uma cartilha educativa com orientações sobre direitos, importância da sindicalização, união dos trabalhadores e do envolvimento com a militância no movimento sindical. A tradição também merece desta-que no processo de educação. A comemoração do Dia 1° de Maio faz his-tória e reúne todo ano mais de 30 mil pessoas. Número que contribui para engordar o acervo do Museu do Metalúrgico, relíquia que a entidade faz questão de manter e divulgar.

Para atender às exigências dos novos tempos, a sede central foi de-molida. O terreno, ampliado pela aquisição de imóveis vizinhos, sai de 15 metros por 25 metros para 22,5 metros por 50 metros, onde será erguido edifício de seis andares com mais de 50 vagas de estacionamento, auditório de 250 lugares e espaço para a Escola de Formação, com salas de aula e la-boratórios, que saem da Vila Municipal para a sede. Até sala de cinema está projetada e promete programação voltada à trajetória de luta de trabalha-dores. “A proposta é concentrar todos os serviços e benefícios em um único lugar”, defende o presidente. O endereço será ponto de referência para ao trabalhador. A obra terá duração de 10 meses.

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1º de Maio reúne mais de30 mil trabalhadores

Aloysio Mercadante anunciouinstalação da Apple em Jundiaí

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72 Novembro de 2011

Entidade oferece benefícios que valorizama qualidade de vida dos trabalhadores

SINDICAL

QUALIDADE DE VIDAAlém da consistência nas lutas sindicais, a entida-

de oferece benefícios que valorizam a qualidade de vida dos trabalhadores. O clube de campo, considerado um

dos melhores de trabalhadores de todo o país, dispõe de 10 alqueires, com dois lagos para pesca, 84 quiosques apro-

priados para churrascos e outros equipamentos de lazer e esportes. “A escolinha de futebol tem 400 alunos”, co-memora o presidente. O padrão de organização nada deixa a desejar a resorts internacionais. No ginásio acontece o melhor baile de Carnaval que atrai cerca de cinco mil pessoas por noite.

Mesmo com estrutura invejável, o clube decidiu atender reivindicação dos associados e está construindo

salão social com capacidade para acolher 1,2 mil pessoas sentadas. “O espaço não será destinado apenas a festas,

mas também a eventos de formação como seminários e congressos”, diz Eliseu Costa. Além disso, a locação do lugar passa a integrar a planilha de renda extra do sindicato.

Menina dos olhos da entidade o Plano de Saú-

de dos aposentados supera o de muitas empresas. O benefício existe desde 1998 e atende a mais de sete mil aposentados. “É um plano completo e totalmente ajustado à nova legislação”, garante o presidente.

Na mesma época, o sindicato se lançou em pro-jeto ousado totalmente voltado ao bem estar do tra-

balhador e família. Entregou 403 casas para associados da entidade bem antes do programa Minha Casa, Minha

Vida afagar o coração de quem quer um lugar para morar. O empreendimento residencial foi pioneiro e inédito porque

permitia adquirir o imóvel em três estágios de constru-ção, de acordo com o poder aquisitivo do trabalhador. Do embrião com sala e cozinha que na época custa-va R$ 13.050 ao mais completo cotado a R$ 31.500, a valorização foi substancial. Os sobrados hoje valem R$ 250 mil. “É um dos empreendimentos mais valorizados

de Jundiaí nos últimos 50 anos”, diz Eliseu.

Empreendimento residencialdo sindicato foi pioneiro e inédito

no mercado imobiliário

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PERFILShayane Servilha

Gente NossaExperiência precoce

C om muita experiência e ain-da aos 40 anos, Adilson Tor-res, o Sapão, chegou a Mauá aos seis anos com os pais e os

irmãos. Começou a trabalhar ainda pequeno como ajudante de pedrei-ro. “Foi ali que ganhei conhecimento para construir minha casa com as próprias mãos”, orgulha-se. Natu-ral de Minas Gerais, Sapão também trabalhou em supermercado como repositor de mercadoria e depois como açougueiro. Não demorou muito para ingressar no setor indus-trial. A experiência na fábrica na área de montagem foi primordial para a inserção no sindicato.

Diretor Administrativo e Finan-ceiro do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Sapão não esquece as atividades que o levaram ao cargo atual. “Todos agregaram valor à minha vida profissional e pes-soal. Nenhum emprego foi mais ou menos, todos foram importantes”, conta nostálgico.

No começo da militância no mo-vimento sindical, Sapão resistiu ao apelido, o qual ganhou no chão de fábrica, devido à semelhança com co-lega de trabalho. Hoje, o apelido está até estampado no cartão de visitas. “Às vezes, quando me chamam pelo verdadeiro nome nem percebo que é comigo. O apelido realmente pegou, daqui a pouco vou registrar como o Lula fez”.

Desde 2005 no setor administrativo do sindicato, Sapão está no terceiro mandato consecutivo, e mesmo com muito tra-balho, o diretor garante que tem prazer em ver a categoria cada vez mais realizada. “A melhor recompensa é o reconhecimento dos metalúrgicos com o trabalho que realizamos no sindicato.”

O trabalho conjunto com os diretores inclui aumento da fro-ta de carros, terreno para a sede de Mauá, reformas no prédio de Santo André, cursos ministrados em parceria com o Senai e piscina para adultos na colônia de férias, em Praia Grande.

Mas nem tudo é trabalho. Os fins de semana, Sapão dedica à família, em especial aos momentos com o filho de 11 anos. “Pescar e ir ao litoral são preferências unânimes em casa”, diz.

Sapão: prazer em vera categoria realizada

Foto: Mario Cortivo

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74 Novembro de 2011

Saudável, ecologicamente correta e chique, horta vertical estrutura-da em garrafas PET ou canos de PVC é perfeita para quem valoriza

temperos fresquinhos e sem agrotóxi-cos nas refeições. Além disso, bem har-monizados, os vasos se transformam em quadros de natureza muito viva. “Não vale sair tomando litros de refri-gerante só para fazer a horta. Prefira sempre aproveitar o que já foi descar-tado”, aconselha Bruno de Jesus Helvé-cio, educador em permacultura. Pneus sem cortar e potes de sorvete também podem virar vasos. Se quiser pintar, use tintas acrílicas ou guache e cola branca misturadas na proporção 1 x 1.

Presos em muros, os canteiros per-mitem aproveitar pequenos espaços e atribuem atmosfera sustentável a casas, apartamentos ou mesmo ao local de trabalho. É uma maneira criativa de se apropriar de técnicas ecologicamente corretas, viáveis e econômicas. “Quem usar cordas orgânicas, de algodão e sisal, tem de atentar para o tempo de decom-posição”, diz o permacultor. Cordinhas de varal são indicadas para recipientes mais leves. Para pneus, use cabos de aço.

O segredo da horta vertical está na criatividade, que vai nortear sobre modelo e tamanho mais apropriados ao gosto de cada um. Não adianta ter uma horta enorme se não tiver tempo de cuidar.

Horta vertical é opção para quemquer temperos fresquinhos nas refeições

DECORAÇÃO Tuga Martins

Canteirossuspensos

Material• Garrafas PET, canos de PVC, potes

de sorvete ou pneus vazios e limpos• Corda de varal, cordoalha, bar-

bante, arame ou cabo de aço• Para os que optarem por cordoa-

lhas, arames ou cabos de aço, são ne-cessárias duas arruelas por recipiente

• Pedrisco, terra, folhas secas• Muda de planta

Modo de FazerQualquer que seja o recipiente

escolhido, é preciso fazer furos para fi-xação e para drenagem. Coloque uma camada de pedrisco, depois terra, fo-lhas secas, mais uma de terra, plante a muda e cubra com folhas. Regue.

Depois disso, passe a corda por um furo e puxe pelo outro. Basta esti-car e fixar no local escolhido.

SIMPLES ASSIM

Bruno Helvécio: atmosfera sustentável em casas e apartamentos

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Vasos de vidroEnfeites sobrando? Coloque tudo em vaso de vidrotransparente. Mescle bolas de todos os tamanhos e cores,estrelas, anjos, folhagens e correntes. Não tenha medo de pecar na hora de misturar.

EnfeitesSobre os pratos

demonstram esmero comconvidados, além de dar toque

diferenciado à decoração. Guardanapos,

bolas de Natal e caixinhas com lembranças ou mensagens

personalizam a mesa.

LouçasDê preferência a tons claros, padrão liso ou com poucos detalhes. Para completar, utilize talheres sofisticados.

VelasSão indispensáveis paradar clima de festa. Podem ser quadradas, redondas, emcastiçais, flutuantes, enfeitadas, coloridas. Mesa de Natal tem de ter luz. Fitas, laços, bolas e sinos também são bem vindos. Solte aimaginação, mas não esqueça que simplicidade deixa oambiente charmoso.

FloresVermelho tem tudo a ver com

Natal e rosas são boa opção. Harmonize com

folhagens douradas em vasos transparentes. Outra dica são

flores tropicais, facilmenteencontradas e com preços

acessíveis. Não use arranjos mais altos na mesa da ceia

para não atrapalhar o contato visual com os convidados.

Dicas de decoraçãoNatal é momento de reunir família e amigos em ambiente aconchegante.A arquiteta Daniela Mafuz presenteia a primeira edição de República comdicas simples para deixar a casa mais bonita para o fim do ano.

DECORAÇÃOShayane Servilha

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76 Revista Repúplica

A disposição de investir no crescimento da empresa levou Osmar Ferreira a con-trair empréstimo bancário,

mas a dívida acabou fechando as por-tas dos negócios devido aos juros. O empresário não hesitou e entrou com ação judicial e foi ressarcido pela ins-tituição. “No começo pagava por um valor. Quando não conseguia pagar a dívida, o juro ficou estrondoso, im-possível de quitar. Alguns valores eu não sabia de onde vinham. Um mês sem pagar em dia e tudo virou uma bola de neve. Tinha pagado o valor principal do empréstimo e ainda continuava devendo. Hoje não entro mais nessa, prefiro continuar peque-no, mas sem dívidas”, relata Ferreira.

O ressarcimento foi deferido pela Justiça porque o banco cobrava juros sobre juros, prática ilegal pelos Código Civil e do Consumidor. Na maioria dos casos, a dívida é nego-ciada e refinanciada. Caso o cliente se sinta prejudicado, o melhor é procu-rar os direitos no Procon ou por meio de advogado. “Essas taxas são ciclo vicioso. Quanto maior a taxa de juro maior será a inadimplência, e quanto maior a inadimplência maior será a

dívida, não tem fim. Por isso é importante o consumidor ler, saber dos direitos e procurar ajuda”, diz o advogado Odair Filomeno, que cuidou do caso.

Mas nada melhor que planejar o orçamento. “As pessoas têm de ter consciência de que as dívidas serão pagas na totalidade em algum momento. Deve-se evitar o pagamento do valor mínimo da dívida para depois não arcar com juros altos que, normalmente, inviabilizam a quitação”, afirma Ana Paula Satcheki, diretora do Procon de Santo André.

NA JUSTIÇAEm outubro, o procurador da República do Rio de Janeiro Cláudio Ghe-

venter divulgou que o Ministério Público entrou com ações contra os bancos HSBC, Santander, Unibanco e outras três instituições menores porque não aceitaram a recomendação de devolver R$ 430 milhões, relativos a cobranças indevidas de tarifas bancárias entre os anos de 2008 e 2010.

As ações devem tramitar por muito tempo na Justiça. Para evitar acú-mulo, o Banco Central deveria comunicar o Ministério Público sempre que detectasse cobrança indevida de tarifa. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) comunicou que os bancos só cobraram as tarifas porque não havia regulamentação que as proibisse até 2008.

Na hora de fazer empréstimo eminstituições financeiras atente aos juros

ECONOMIA Shayane Servilha

Cobrançailegal

Odair Filomeno: o melhor é planejar o orçamento

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77Revista Repúplica

ECONOMIATuga Martins

A definição dos valores da Par-ticipação nos Lucros e Resul-tados (PLR) tem sido um dos principais motivos de mobi-

lização do setor metalúrgico depois que os ajustes salariais assumiram mais equilíbrio em razão da estabi-lidade econômica do país. “Se por um lado a PLR oferece mais tranqui-lidade financeira ao trabalhador, por outro representa injeção considerá-vel de dinheiro na economia regio-nal uma vez que permite ampliar o consumo”, diz Cícero Firmino, o Mar-tinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Este ano, só o pagamento da primeira parcela da PLR significa R$ 30 milhões. Em 2010, a soma da to-talidade da PLR paga aos 25 mil tra-balhadores na ativa de Santo André, Mauá Ribeirão pires e Rio Grande da Serra chegou a R$ 40 milhões. O sindicato acompanha mês a mês os quesitos das metas nas empresas e os trabalhadores são envolvidos por meio de comissão.

Mas nem sempre a trajetória de conquistas econômicas e sociais do setor metalúrgico teve a conjuntu-ra soprando a favor. Embora conste dos direitos dos trabalhadores des-de a Constituição de 1946, a PLR só passou a ser praticada para valer a partir de dezembro de 1994, regu-lamentada por Medida Provisória. No movimento sindical, a história remonta à década de 1980, quando foi realizado o I Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora. “Tí-nhamos diversas bandeiras de luta. Férias em dobro, 14° salário e jorna-da de 40 horas semanais constavam dos debates”, diz

A luta pela PLR começou em 1985, quando os sindicatos do Esta-do de São Paulo deflagraram greve geral enquanto negociavam ajustes

salariais por conta dos sinais de melhoria da economia. “Nessa época conse-guimos vários apoios e registramos importantes conquistas. Algumas empre-sas concordaram em reduzir a jornada de 48 para 44 horas semanais e vieram os abonos”, lembra Martinha. As empresas que deram abono em 1986 não queriam repetir o benefício para que não se tornasse direito adquirido.

Para se ter idéia, no Grupo Philips que tinha três unidades instaladas na região, foram 57 dias de paralisação. “A empresa não concedeu e piorou a si-tuação com várias demissões por justa causa. Depois disso, a ferramentaria da empresa nunca mais se acertou e não demorou muito para que as três empresas fechassem”, detalha o presidente.

Este ano, o sindicato debateu e defendeu os interesses dos trabalhado-res com 221 empresas entre maio e julho e o maior valor acordado foi de R$ 2,5 mil para a primeira parcela, já paga pela maior parte das empresas. A segunda parcela virá em janeiro de 2012 e inclui metas no cálculo do valor. “A primeira parcela não é obrigatoriamente a metade, mas uma antecipação”, diz Aldo Meira Santos, diretor executivo do sindicato. A segunda parcela pode somar até R$ 4 mil em algumas empresas. “Os trabalhadores têm de entender que temos empresas de pequeno, médio e grande portes e que os valores variam”, diz o diretor.

Primeira parcela da PLR de 2011 significa R$ 30 milhões amais no orçamento dos trabalhadores e na economia regional

Bandeira de luta: desde 1980, PLR une trabalhadores do setor

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Estopim demobilização

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Diversão até debaixo d’águaTirar fotos debaixo d’água é, no mínimo, divertido. Hoje, a tecnologia já tornou a atividade acessível e prática. Não há mais necessidade de gastar uma nota com máquinas à prova d’água. Bolsas estan-ques são encontradas em diversas lojas de esportes de aventura, com preços e formas variados, e servem para envolver a câmera digital de tamanhos compactos antes de cair na água.

Pose de rock starA tradicional marca de óculos de sol Evoke, conhe-cida pelo design em rostos de surfistas e skatistas internacionais, resolveu diversificar. Chamou um dos ícones do punk rock mundial, Marky Ramone, ex-baterista da banda Ramo-nes, para assinar marca personalizada de óculos de sol. Com opções de lentes degradê nas cores cinza e marrom, os óculos são releitura do clássico estilo aviador, com hastes de acetato revesti-das em couro. Com muito estilo, como é praxe do rock’n’roll , a edição é limitada, vendida apenas no Brasil, França, Noruega e Japão. Corra, porque apenas mil exemplares vão circular por aí.

BrasilidadeO arquiteto e design Marcelo Rousenbaum, que ficou conhecido pelo quadro Lar Doce Lar do programa Caldeirão do Huck, é referên-cia quando se fala em valorizar a cultura popular brasileira. Dessa vez, criou para a empresa Full Fit, a linha Mesa Brasileira, com copos térmicos, jogos de chá e café e canecas. São três tipos de estampas, destacando animais brasileiros como bicho pre-guiça, tamanduá, onça e formigas,

com influências nordestinas nas cores e na xilogra-vura.

CONSUMO Liora Mindriz

Dicas de presentesA variação climática dessa primavera, que rendeu banhos de chuva e semanas de frio, está com os dias conta-

dos para dar lugar à estação do sol. Tempo de alegria, que tanto combina com a personalidade do brasileiro, traz cores, calor, atividades ao ar livre, praia, festas e férias. Alguns itens podem antecipar o clima agradável do verão.

Em São Bernardo, pode-se encontrar o produtona loja Decatlhon, localizada no complexo do

supermercado Sonda (avenida Pereira Barreto, 1500,Vila Baeta Neves). Em Santo André, no Shopping ABC(avenida Pereira Barreto, 42, Vila Gilda), encontra-se

bolsa estanque na loja Sugoi Big Fish, localizadano piso Loft. Os produtos variam de R$ 28 a R$ 60.

É possível comprar pelo site http://www.tbox.com.br. O jogo de xícaras de chá e café com 12 peças sai por R$ 47. Duas canecas de porcelana com qualquer animal saem por R$ 39,00.

Mais informações: http://www.fullfit.com.br.

Os óculos de sol custam R$ 1.199,90 e podem ser comprados pelo site da marca, www.evoke.com.br.

Fotos: Divulgação

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Alegria da criançadaCom as férias escolares e a criança-da em casa, é preciso praticidade e jogo de cintura. A Arno pensou em tudo: diversão e saúde. A pipoqueira da linha Arno Kids faz pipoca cro-cante e rápida sem óleo ou qualquer outro tipo de gordura. O processo é tão simples que se transforma em diversão. Basta usar a colher dosa-dora e esperar os grãos estourarem. Todo o processo pode ser acompa-nhado pela tampa transparente.

Descontração no happy hourTradicionalmente conhecida pelos objetos divertidos, a loja Imaginarium oferece diversas opções de copos e canecas personalizados. Para quem gosta de uma loira gelada, há tulipas com frases descontraídas como “beber sem brindar, 7 anos sem...oba-oba”, caneco com fundo redondo no estilo “me segura senão eu caio” e, para os mais espertinhos, uma tulipa “dose certa” com capacidade de 1.300. Quem prefere uma branquinha, tem o kit pinga com quatro copos, cada um para uma hora da noite.

Ao ar livreQuando sai o sol, nada como fazer atividades ao ar livre. Quem tem espaço em casa para receber con-vidados, pode se aconchegar do lado de fora com facilidade.

A pipoqueira pode ser comprada pela internet, no site da Arno por R$ 149,90 ou até em 6x R$ 24,98. Basta acessar http://www.arnoshop.com.br. Também é

possível encontrar o produto em lojas da região, como a Fast Shop, localizada no piso 2 do Shopping ABC.

O kit pinga e o caneco custam R$ 39,90, o conjunto de tulipas “brindar” sai por R$ 42,90 e a tulipa gigante por R$ 59,90. Os artigos podem

ser adquirido pelo site da marca http://www.imaginarium.com.br/ ou na loja Imaginarium do

Shopping ABC, que fica no piso 2.

Na Tok Stok há cadeiras dobráveis com braço da li-nha Mata Tropical, com estampas desenhadas por

Amir Slama, por R$ 320,00. Para acompanhar, a mesa lateral Leblon com bandeja, custa R$279,00.Tudo fácil de transportar e guardar. No ABC há loja

da Tok Stok no piso 2 do Shopping ABC.

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80 Revista Repúplica

Fotos: Mario Cortivo

Imprescindível para muitos e nem tão querido por outros, o celular pode ser considerado gênero de primeira necessidade aos consumidores brasileiros. Por status ou funcionalidade, é um dos produtos mais vendidos no merca-do nacional. Funciona assim: a corrida tecnológica desperta fetichismo e o

afã das operadoras amplia o acesso.O resultado são 227,4 milhões de linhas de celulares habilitadas no país

até setembro, de acordo com a Anatel (Associação Nacional de Telecomu-nicações). Nos primeiros nove meses do ano, o serviço de telefonia móvel registrou 24,4 milhões de novas habilitações, representando crescimento de 12,03% no ano.

A relação de amor e ódio varia. Se para o assessor de Imprensa do Sin-dicato dos Metalúrgicos de Santo André, Nelson Brazilio, o aparelho funciona apenas no horário comercial, para o jornalista Guilherme Fuoco, não fica um momento desligado. “Antigamente não era necessário e vivíamos da mesma forma que hoje. Por que agora as pessoas sentem tanto essa necessidade de fi-car falando ao celular? Parece que é só para mostrar que têm um telefone caro”, diz Nelson, cujo aparelho só sai da bolsa em casos de emergência.

Em média, o brasileiro paga US$ 229 por aparelho, enquanto o gasto mé-dio mundial é de 179 dólares. Guilherme pagou bem mais que a média por seu iPhone e afirma que valeram a pena as 10 prestações para ter a tecnologia de Steve Jobs nas mãos. “Sou viciado no meu aparelho, não consigo ficar sem. Desespero quando a bateria está acabando. Se eu posso ter o melhor aparelho, por que investir em um inferior e que não me dá muitas ferramentas?”, indaga o jornalista, que também utiliza o modelo para conectar redes sociais.

A socióloga Verônica Aravena Cortes afirma que o consumismo, muitas vezes exagerado, faz parte do paradigma que a mídia impõe à sociedade. “A mídia nos mostra determinada moda. Se antes era chique ter tênis de última geração, hoje é o lançamento em celular que aumenta a autoestima. O proble-ma não é ter um aparelho moderno, mesmo não sabendo usar. A questão é quando deixa outras prioridades e até passa necessidade para ter determina-do modelo apenas por status”, diz.

O assessor de Imprensa é incisivo ao dizer que não faz nenhuma questão de usar o aparelho e que prefere telefonia fixa. “Vejo muitos casais juntos que não falam nada. As pessoas parecem que têm coragem de falar só quando es-tão distantes. O celular é utilizado apenas para mostrar que têm modelo de ce-lebridades. Às vezes, mal terminam de pagar um aparelho e trocam por outro sem necessidade”, avalia.

Básicos ou smarts, celulares podem serconsiderados gênero de primeira necessidade

CONSUMO Shayane Servilha

eEntre bipes ring tones

Nelson Brasilio: celular só em emergências

Guilherme Fuoco: viciado na tecnologia de Steve Jobs

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Cobrança: medida cabe a cada estabelecimento

Frequentadores assíduos de shopping centers do ABC es-tão começando a fazer uma conta que vai além de com-

pras e entretenimento. Na ponta do lápis, os passeios estão saindo mais caros que a encomenda devido aos valores cobrados pelo estaciona-mento. A radialista Nayara Moreira passa mais de cinco horas dentro de shoppings todos sábados ou domingos. “Fico praticamente o dia todo dentro do shopping. O gasto que já tive com estacionamento poderia ter aproveitado para outra coisa. E para não ajudar, não tem lugar para estacionar sem pagar. É um roubo ter de deixar R$ 12 reais a mais para aproveitar meu fim de semana”, reclama.

Os moradores de Goiânia não precisam se preocupar mais com essa questão. Lei de autoria do ve-reador Djalma Araújo (PT), garante ao cliente direito de isenção na taxa

de estacionamento em shoppings da capital, desde que consuma va-lor 10 vezes maior ao cobrado pelo estacionamento. Cliente que extra-polar seis horas perde o benefício.

Aos olhos da Abrasce (Associa-ção Brasileira de Shopping Centers), a lei é inconstitucional e fere o direi-to de propriedade privada. A enti-dade ainda defende a legalidade da cobrança, mas diz que a decisão de implementar a medida cabe a cada estabelecimento.

Outra reclamação é pagar pe-ríodo integral e usar menos tempo. “Levei apenas uma hora para pagar algumas contas e fazer uma peque-na compra e mesmo assim tive de pagar o valor cobrado por até qua-tro horas”, diz a secretária Ana Luísa Barbosa. Para ela é um terror ter de pagar tanto por tão pouco. “Deveria ser cobrado valor proporcional”, de-fende. Quem fica por pouco tempo, acaba optando por outros lugares.

Caso da administradora Ro-seli da Rocha, que prefere fazer compras sem gastar com estacio-namento. “Foi o melhor modo que encontrei para não gastar mais que o planejado. Os shoppings podem não perceber, mas perdem clien-tes”, avalia a administradora, que diz frequentar menos o shopping por conta do preço do estacionamento.

Consumidores começam a por valorde estacionamento na ponta do lápis

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Mais caro quea encomenda

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Por mais que a gente tente fin-gir que não vê, a tentação dos sites de compra coletiva está em todos os cantos: e-mail, re-

des sociais e até em conversas com amigos. Não à toa, tem crescido o número de consumidores que pro-curam boas ofertas. As promoções são para todos os gostos. Vão de viagens a churrascarias, de estética a revelação de fotos, de boliche a cui-dados com o carro.

Depois de lançar em São Paulo, o site Peixe Urbano levou apenas seis meses para notar a necessidade de ter uma página especialmente volta-da para o ABC. No primeiro ano de atividade, foram publicadas mais de 600 ofertas, gerando economia para os consumidores locais que ultra-passa R$15 milhões. “É uma região

com forte economia, grande núme-ro de habitantes, alta penetração de internet e variedade de serviços e atividades locais”, diz a diretora da empresa, Letícia Leite, sem disfarçar o entusiasmo.

O site do ABC foi o 15° da rede e veio logo depois de Rio de Janeiro e São Paulo. “Antes de lançar o Peixe Urbano na região, abrimos a página local para cadastros e acompanha-mos o número de usuários registra-dos. Quando já tínhamos número significante, observamos que havia demanda para o nosso serviço e im-plementamos o projeto”.

Site de compra coletiva gerou economia deR$ 15 milhões para consumidores do ABC

Eu compro, ele compra,nós compramos

Átila Bru: site próprio de promoções agrega valor ao negócio

Ao notar a boa maré do mer-cado pela internet, Átila Brú, sócio-proprietário do Brú Internacional, não ficou para trás. Depois de difundir o estabelecimento em três promoções de sites de compra coletiva, percebeu que o negócio era positivo, mas po-deria melhorar. “Para o comerciante a relação não é tão boa, porque você diminui o preço do produto e divide o lucro com o site, mas a idéia é extra-ordinária. Por isso contratei empresa que fez site próprio para o salão”, conta. Desta forma, conseguiu dar descontos razoáveis e atrair clientela nova, mesmo que só cerca de 20% revertam em fidelidade.

De tão simples, é bom manter os olhos abertos. O Procon de Santo André observa crescente registro de reclama-ções contra sites de compra coletiva e orienta para compras online:

• verificar se a empresa que ofe-rece o produto é idônea e se constam reclamações;

• analisar todas as regras refe-rentes ao desconto, como prazo de utilização, quantidade de cupons que a oferta disponibiliza, restrições de datas de utilização, tipo de pagamento e casos de desistência;

• salvar todas as etapas da com-pra para possível necessidade de com-provação da operação;

• notar se há número mínimo de compradores antes de fechar negócio.

VÔO SOLO

PARA NÃO ERRAR

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