revista a república

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Revista da Associação Nacional dos Procuradores da República

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A segunda edição da revista A República é dedicada a revelar as diversas facetas de um patrimônio de valor inestimável para qualquer civilização: suas raízes, cul-tura e costumes. Em reportagem especial, buscamos mostrar um pouco do valioso trabalho que o Ministério

Público Federal vem desenvolvendo na defesa de nossas comunida-des tradicionais.

Das quebradeiras de coco até os plantadores de açaí, são inúme-ros os povos que levam suas vidas de forma completamente diferen-te das pessoas que habitam os grandes centros urbanos. Os dilemas incluem, principalmente, a demarcação de terra, a aprendizagem de técnicas artesãs ainda na infância, bem como os limites de direitos e deveres que precisam ser respeitados.

Trouxemos nesta edição também o acalorado debate sobre o novo Código Florestal. Em tramitação no Congresso Nacional há mais de 12 anos, o projeto de lei gera polêmica e pode mudar a forma como as nossas flora e fauna serão tratadas nas próximas décadas. Os procu-radores da República têm acompanhado de perto as propostas refe-rentes ao Código e, para falar sobre o assunto, A República convidou o subprocurador-geral da República Mário Gisi, coordenador da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF .

Já a reportagem “Corrupção: esse mal tem remédio” foi motiva-da pelo Dia Internacional de Combate à Corrupção, celebrado no dia 9 de dezembro. A matéria mostra como os cidadãos podem auxiliar, de forma prática, na luta contra atos ilícitos e apresenta iniciativas do MPF, de organizações não-governamentais e da Controladoria Geral da União.

A revista traz, ainda, um apanhado dos pontos altos do XXVIII Encontro Nacional dos Procuradores da República, que ocorreu em novembro no Ceará. Com mais de 360 associados reunidos durante cinco dias, o evento colocou em pauta o tema “O MPF e os Desafios da Segurança Pública”. Como resultado, a Carta de Caucaia aponta medidas que podem contribuir para o incremento das políticas de se-gurança do país, entre elas a tipificação das condutas de terrorismo e o aprimoramento da Lei de Lavagem de Dinheiro.

Boa leitura!Alexandre Camanho de Assis

Revista A República

Esta é uma publicação da Associação Nacional dos Procuradores da República

Diretoria Biênio 2011/2013

Presidente

Alexandre Camanho de Assis (PRR1)Vice-Presidente

José Robalinho Cavalcanti (PR/DF)Diretor de Comunicação Social

Alan Rogério Mansur (PR/PA)Diretor para Aposentados

Antônio Carneiro Sobrinho (PRR1-aposentado)Diretora-Secretária

Caroline Maciel (PR/RN)Diretor Financeiro

Gustavo Magno Albuquerque (PR/RJ)Diretor de Assuntos Legislativos

José Ricardo Meirelles (PRR3)Diretora Cultural

Monique Cheker de Souza (PR/PR)Diretor de Assuntos Corporativos

Roberto Thomé (PRR4)Diretor de Assuntos Institucionais

Tranvanvan Feitosa (PR/PI)Diretor de Assuntos Jurídicos

Vladimir Aras (PR/BA)Diretora de Eventos

Zani Cajueiro (PR/MG)

Revista A República

Dezembro de 2011Tiragem: 4.000 exemplaresFoto da capa: Maricélia G. BarbosaJornalista Responsável

Renata Freitas ChamarelliMTB – 6945/15/172-DFEdição: Renata Freitas ChamarelliTextos:

Ana Carolina Ferreira, Érica Abe e Shirley de MedeirosProjeto Gráfico:

Pedro LinoContato:

SAF Sul Quadra 4 Conjunto C Bloco B Salas 113/114 – Brasília (DF)Cep 70.050-900 Fone: 61 – 3961-9025Fax: 61 – 3201-9023e-mail: [email protected]: @Anpr_BrasilFacebook: ANPRBrasilwww.anpr.org.br

Fala, Presidente!

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Índice

CurtasTradicionais em busca de terra

Carta de Caucaia (CE)

Dois anos de Carne Legal: Avanços e desafios

Nossos escritores

Luta contra a exclusão social

O Código da discórdia

Corrupção: esse mal tem remédio?

XXVIII ENPR: evento traz debate sobre segurança pública

5 e 6 10-12

9 22

2113

14-17

18-20

7-8

Capa

Integração

Mobilização

Artigo

Entrevista

Em destaque

Em destaque

ANPR recomenda

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Em novembro, a ANPR en-viou ofício à ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, solicitando o veto à proposição que retira o po-der de polícia do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Apro-vado pelo Senado Federal, o Projeto de Lei da Câmara 01/10 fixa nor-mas de cooperação entre a União,

Em meio à acalorada discus-são sobre o projeto de lei que ins-titui novo regime de previdência complementar para os servidores públicos (PL 1992/2007), ocorrido no Plenário da Câmara dos Deputa-dos, a ANPR distribuiu nota técnica a líderes partidários e parlamenta-res. O documento foi feito em con-junto com a procuradora da Repú-

Moderno e funcional. O novo portal da ANPR traz melhorias tan-to para a sociedade quanto para os associados. Com novas cores e a lo-gomarca comemorativa, as páginas foram especialmente desenhadas para facilitar a localização das in-formações pelos usuários. As no-

Associação defende poder de polícia do Ibama

Previdência complementar: ANPR entrega nota técnica ao Congresso Nacional e ao STF

ANPR lança nova página na internet

os estados e o Distrito Federal na proteção dos recursos naturais, de-legando para a esfera estadual a competência de fiscalizar crimes ambientais.

A Associação defende publi-camente que, por se tratar de uma autarquia federal, o Instituto é o ór-gão mais indicado para restringir ou licenciar as ações do homem na na-

blica Zélia Pierdoná (PR/SP) - uma das maiores especialistas do MPF no assunto - e elenca os principais argumentos a respeito da proposta.

Antes disso, a pedido do mi-nistro do Supremo Tribunal Fede-ral (STF) Marco Aurélio, o secretá-rio-geral do Ministério Público da União (MPU), Lauro Pinto Cardo-so Neto, e Pierdoná - indicada pela

tícias e as redes sociais ganharam mais destaque.

Outra inovação da página é a intranet. Intitulada de Espaço do Associado, a ferramenta é acessa-da apenas por meio de senha, traz fóruns, novo formato de prestação de contas e notícias exclusivas.

Curtas

tureza. Para a ANPR, o Ibama é um dos parceiros prioritários do MPF na proteção do patrimônio am-biental do Brasil. “Delegar à esfera estadual o poder de multar os em-preendimentos em desacordo com as normas brasileiras é relegar a questão ambiental aos desmandos regionais que assombram a demo-cracia”, salienta o documento.

ANPR para representar a classe -, encaminharam ao STF documento relativo à previdência complemen-tar no serviço público.

Os dois membros do Minis-tério Público integram comissão instituída pelo presidente do STF, ministro Cezar Peluso, para discu-tir as mudanças no regime de pre-vidência dos servidores públicos federais – propostas pelo governo federal - e examinar o Projeto de Lei nº 1992/2007, que limita as aposen-tadorias ao limite do Regime Geral da Previdência Social e condiciona a complementação à opção por par-ticipar da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (FUNPRESP).

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missão de aprimorar o plano no sentido operacional e orçamen-tário, o grupo buscou identificar e sugerir melhorias no plano de saúde, ouvindo as demandas dos associados.

Curtas

A defesa da recomposição sa-larial dos membros do MPF ganha fôlego na Câmara do Deputados. Em novembro, o vice-líder do go-verno e coordenador da Comissão Mista de Orçamento, deputado fe-deral Gilmar Machado (PT/MG), reafirmou aos presidentes das en-tidades que compõem a Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público da União (Fren-tas) que o reajuste de “5,2 % deve ser aprovado na lei orçamentária deste ano”. No dia 23 de novembro, a Comissão de Constituição e Jus-tiça e de Cidadania (CCJ) da Casa aprovou o direcionamento de R$ 2 bilhões para o reajuste do Poder Ju-diciário federal e do MPU, abran-gendo servidores e magistrados.

Além disso, Gilmar Machado sinalizou que o reajuste de 4,8% - so-licitado no PL 2.198/2011 pelo pro-curador-geral da República, Rober-to Gurgel, e no PL 2.197/2011 pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso - está sendo visto favoravelmente pelo governo.

O relatório final da Comis-são Temporária do Plan-Assiste foi entregue, no mês de novem-bro, ao secretário-geral do Minis-tério Público da União, Lauro Pinto Cardoso Neto.

Desde a Mobilização Nacional do dia 21 de setembro em favor da Valorização da Magistratura e do Ministério Público - que reuniu cer-ca de 1,3 mil manifestantes reivin-dicando políticas de segurança, de previdência e de reajuste dos sub-sídios -, representantes da Frentas têm discutido uma alternativa para a concessão da recomposição. Em outubro, os integrantes da Frente reuniram-se com Gurgel para apre-sentar uma proposta conciliadora.

Além do encontro com o PGR, o presidente da ANPR, Ale-xandre Camanho, tem trabalhado para o fortalecimento do pleito no Congresso Nacional. “Nossos delegados também já estão com um manifesto em mãos para fazer contato com os parlamentares nos estados”, afirmou o presidente. Na Câmara, a recomposição recebeu o apoio do deputado Lincoln Portela (PR/PR), que defendeu em Plená-ria a importância de um Ministério Público valorizado e respeitado. Já no Senado, Camanho reuniu-se

com o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB/RR), com Ro-drigo Rollemberg (PSB/DF) e com Jorge Viana (PT/AC). Os senadores comprometeram-se a analisar o pe-dido de reajuste.

Dia Nacional de Valorização da

Magistratura e do Ministério

Público - No dia 21 de setembro os membros do MP e do Judiciá-rio marcharam até o STF reivindi-cando um aparato de segurança que garanta a incolumidade da saúde e da vida; adequada cober-tura previdenciária; e uma políti-ca remuneratória que respeite a Constituição Federal, garantindo a recomposição das perdas infla-cionárias e a valorização do tem-po de carreira dos membros do Judiciário e do MP. Os presidentes das associações que representam procuradores da República, pro-motores e juízes foram recebidos pelo presidente do STF, Cezar Pe-luso, e pelo presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB/AP), para entregar o manifesto pro-pondo políticas de segurança, de previdência e de reajuste de sub-sídios. Antes da mobilização, o documento também foi entregue ao vice-presidente da República, Michel Temer, e ao Ministro do Justiça, José Eduardo Cardozo.

ANPR continua a luta pelo reajuste dos subsídios

Relatório do Plan-Assiste é entregue ao SGO documento é resultado de

aproximadamente seis meses de trabalho da Comissão compos-ta por Blal Yassine (PRR1), Maria Emília de Araújo (PRR3) e Pedro Machado (PRM/Bauru). Com a

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Em destaque

Entre os dias 1º e 5 de novembro, a ANPR realizou a 28ª edição do En-contro Nacional dos Procuradores da República (ENPR), em Caucaia (CE). O evento contou com a pre-

sença de 364 associados, para discutir o tema “O MPF e os desafios da segurança pública”, bem como de palestrantes renomados no assunto como o ministro da Justiça, José Eduardo Cardo-zo, o secretário de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, e o ju-rista Walter Maierovich.

Durante a abertura, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, salientou que o En-contro “é uma oportunidade fundamental para a construção coletiva do Ministério Público Federal”. Já o presidente da ANPR, Alexandre Camanho, chamou a atenção para o tema, en-fatizando a necessidade de se discutir e traçar estratégias que respondam ao clamor nacional por Justiça. “A liberdade é um atributo do cida-dão e não do malfeitor. Não nos damos conta de que definimos uma política de segurança pública em nosso dia a dia, com nossos proces-sos”, declarou.

XXVIII ENPR: evento traz debate sobre segurança pública

Ministro da Justiça abre ciclo de palestras -

Cardozo abriu o ciclo de palestras do Encontro e explicou que o governo atual está trabalhando para desenvolver uma política nacional de segu-rança pública. O primeiro passo será a criação do Sistema Nacional de Informações e Estatísti-cas, que contará com o repasse de informações padronizadas pelos estados com dados sobre o cenário da violência para, posteriormente, traçar um diagnóstico da real situação no Brasil. Car-dozo ressaltou a importância da pactuação de estratégias entre a polícia, o MP e o Judiciário. “É preciso superar as vaidades e o espírito corpora-tivo. Deve valer a regra do interesse público”, de-fendeu. Em sua opinião, o trabalho do Ministério Público é peça chave para esta integração.

Já Beltrame falou sobre a criação das Uni-dades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas comuni-dades e destacou que o sucesso do projeto se dá com a transição da retirada do batalhão que in-vade e a instalação da polícia comunitária. “É um processo dificílimo porque a polícia não acredita no cidadão e o cidadão não acredita na polícia”, frisou. Para ele, após a retomada dessas áreas, o Estado não tem mais desculpa para não instalar

ShIRLEy DE MEDEIROS

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os serviços públicos essenciais, como saneamento básico, educação e atendimento hospitalar.

O direito dos cidadãos e o sistema prisional também foram assuntos abordados nas palestras. A procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Gilda Carvalho, levantou o debate em torno da forma como o direito social deve ser zelado pelo Estado, lembrando que o país apresenta, ainda, problemas estruturais. Outra palestrante foi a procuradora regional da República Paula Bajer - membro do Grupo de Trabalho do Ministério Pú-blico Federal que trata sobre o Sistema Prisional -, que discorreu sobre as características do sistema penitenciário do país, ressaltando que grande parte da população carcerária pertence a grupos economicamente desfavorecidos, o que contribui para a falta de motivação na melhoria das condi-ções prisionais.

O jurista e professor Walter Maierovich falou sobre o aumento do uso de drogas no Brasil, prin-cipalmente as sintéticas, e a necessidade de avaliar o custo social deste consumo. Maierovich apre-sentou, também, dados sobre crime organizado,

O resultado da consulta sobre a sede do próximo Encontro Nacio-nal dos Procuradores da República foi divulgado no encerramento do evento: Porto de Galinhas (PE) - com o Beach Class e o Sum-mer Ville – venceu a votação dos associados, recebendo 110 votos. “Queremos dar início à tradição de anunciar durante o Encontro o local do ENPR do ano seguinte”, declarou o presidente da ANPR, Alexandre Camanho.

lavagem de dinheiro e terrorismo, enfatizando a atuação do Ministério Público no combate a to-dos eles.

CNMP, Secretário-Geral e PGR debatem

pleitos com associados – Outro ponto alto do Encontro foram os debates ocorridos entre os associados e os membros da diretoria da ANPR, os conselheiros do Conselho Nacional do Mi-nistério Público (CNMP) Almino Afonso, Mário Bonsaglia e Taís Ferraz, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e o secretário-geral do MPU, Lauro Pinto Cardoso. Nestas reuni-ões, os participantes puderam conversar com os representantes das instituições, apresentando pleitos da carreira diretamente a eles. Os mem-bros discutiram temas específicos relacionados à segurança pública: as novas medidas caute-lares penais, cooperação penal internacional e técnicas especiais de investigação.

Aposentados apresentam reivindicações

– Os associados aposentados também se reuni-ram com os integrantes da diretoria da ANPR, o procurador-geral da República, Roberto Gur-gel, e o secretário-geral do MPU, Lauro Car-doso Pinto. “Nós trabalhamos hoje olhando o mundo sob os ombros de gigantes”, declarou o presidente da ANPR, Alexandre Camanho, res-saltando a importância daqueles que construí-ram o Ministério Público Federal. Os aposenta-dos, por sua vez, apresentaram suas sugestões, reivindicando maior interlocução entre ativos e inativos. Os membros solicitaram, ainda, o apoio da ANPR na questão do teto remunera-tório e a incorporação das vantagens pessoais.

Porto de Galinhas sediará o próximo ENPR

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Beltrame, Cardozo e Camanho debatem segurança (esq. para a dir.)

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ções dos presídios para garantir a dignidade dos presos, com ampliação e mais rigor no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) para os casos de criminosos de alta periculosidade;

Priorização de recursos humanos e finan-ceiros em atividades de inteligência e operações de fiscalização nas fronteiras, inclusive com o uso das Forças Armadas, nas hipóteses legais; tam-bém, mediante convênios com os Estados, deve ser estimulada a implantação de unidades poli-ciais em áreas de fronteira.

Tipificação das condutas de terrorismo, do financiamento ao terrorismo, da participação em organização terrorista e do delito de conspiração;

Aprovação da PEC dos Recursos (PEC 15/2011), que prevê o fim dos processos após duas decisões judiciais - do juiz de primeiro grau e a do tribunal -, evitando assim que novos recur-sos provoquem mais adiamentos;

Aprovação do projeto que aprimora a Lei de

Criação do banco nacional de medidas al-ternativas à prisão;

Estabelecimento de padrão nacional de es-tatística dos crimes violentos letais intencionais;

Aquisição de equipamentos para viabilizar a vigilância eletrônica;

Melhoria do aparelhamento do Estado para o combate ao crime organizado;

Implementação e modernização de unida-des de perícia criminal em todo o Brasil;

Criação de política de melhoria das condi-

Valorização das carreiras envolvidas na in-vestigação, persecução e execução penal;

Fornecimento de garantias, inclusive físicas, aos membros do Ministério Público e do Judici-ário para o adequado desempenho de suas atri-buições constitucionais, sob pena de ocorrerem

No final do XXVIII ENPR, os participantes fecharam a Carta de Caucaia (CE). O documen-to elenca 32 medidas jurídicas, legislativas e de governo para

diminuir a violência no país. De acordo com o presidente da ANPR, Alexandre Camanho, “a va-lorização da cidadania e da República passa pelo reconhecimento de que a segurança pública é um direito fundamental, que precisa ser garanti-do à sociedade de maneira mais efetiva e ampla”.

A carta trata também da questão dos sub-sídios, enfatizando que é imprescindível que o Estado estabeleça uma política remuneratória digna para os membros do Ministério Público e do Poder Judiciário. “A diminuição gradativa do poder aquisitivo dessas magistraturas constitui indiscutível estratégia de esvaziamento de seus quadros e desestímulo à sua atuação cotidiana”, declara o texto.

Conheça as principais sugestões apre-sentadas na Carta:

Carta de Caucaia (CE): procuradores da República indicam medidas para incrementar a segurança pública

Lavagem de Dinheiro (PLS 209/2003); Criação da Política Nacional de Segurança

Pública (PNSP), com pacto federativo envolven-do os Poderes constituídos e o Ministério Públi-co, para reduzir os índices de crimes violentos letais intencionais;

Caracterização dos crimes cometidos por hackers e crackers (PL 84/1999) e aprovação do Marco Civil da Internet (PL 2126/11);

casos como o assassinato do procurador da Re-pública Pedro Jorge e da juíza Patrícia Acioli;

Implementação da política remuneratória digna para as magistraturas do Ministério Públi-co e do Poder Judiciário, compatível com suas prerrogativas e responsabilidades.

Legislativo

Estrutura

Carreira

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Dona Dijé, 60 anos, é uma das grandes lideranças das que-bradeiras de coco babaçu. Moradora

de uma comunidade em São Luiz do Gonzaga, no Maranhão, onde vivem cerca de 200 famílias, ela explica que a principal bandeira da comunidade, que pertence ao grupo de povos tradicionais, é a luta pelo território. “Há mais de 40 anos que a gente quer a terra com tudo que ela tem, pra dizer que a gente tem um lugar onde nossos conhecimentos sejam protegidos, a mata seja preservada e esses co-nhecimentos possam ser passados de geração para geração”, defende.

Coordenadora-geral do Mo-vimento Interestadual das Quebra-deiras de Coco Babaçu (MIQCB), ela também integra o grupo musi-cal As Encantadeiras, formado por

Tradicionais em busca de terraElas representam mais de 2,3% da população, estão presentes nas cinco regiões do Brasil e têm muito a ensinar. Apesar disso, as comunidades tradicionais são desconhecidas para grande parte da sociedade e enfrentam dificuldades na luta por direitos essenciais.

Capa

ÉRICA ABE

quebradeiras que utilizam a mú-sica para expressar seus conflitos. Um dos versos mais repetidos diz: “Mais saúde e educação/para toda a nação/Eu sou quebradeira/sou mulher guerreira/venho do ser-tão”. Espalhadas pelos estados do Piauí, Pará, Tocantins e Maranhão, elas somam cerca de 400 mil repre-sentantes que produzem do coco babaçu artesanato, azeite, carvão, comida e remédio.

Já o tirador de açaí e presiden-te do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Estado do Pará (STRR), Erivelton Morato, defende o direito da terra como instrumento de autonomia da co-munidade. “Com o direito à terra, a gente consegue aumentar a produ-ção do açaí e se libertar da relação opressora com o patrão e com os atravessadores”, reclama.

Mas o processo de regulari-

zação dessas terras é longo e de-morado. Isso porque só é possível iniciá-lo depois de terminada a eta-pa de reconhecimento. Estimativas recentes apontam para mais de 4,3 milhões de indígenas, quilombolas, seringueiros, castanheiros, quebra-deiras de coco babaçu, pescadores, ribeirinhos, atingidos por barragens e pela base Alcântara (MA), comuni-dades de fundo de pasto e faxinais (veja o box na pg. 12).

Para grande parte delas, a pos-se de terra ainda é o problema prin-cipal, mas conflitos relacionados a direitos humanos, consentimento prévio informado, venda e explo-ração de recursos naturais, além de saúde e educação, também estão na pauta. A vice-procuradora-geral da República, Déborah Duprat, explica que a legislação brasileira ainda é insuficiente no que diz res-peito a esses povos. Ela alerta que foi apenas a partir da Constituição Federal de 1988 que eles passaram a ser reconhecidos. “Eles estavam invisíveis no regime constitucio-nal anterior por conta de refletir uma visão hegemônica de mundo”, analisa Duprat, lamentando que a Carta Magna atual se refira apenas a índios e quilombolas.

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Açaí: garantia de renda e autonomia para os catadores

Page 11: Revista A República

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No entanto, na visão de Du-prat, a edição do Decreto Presi-dencial de 13 de julho de 2006, que cria a Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais, lhes dá um pouco mais de legitimidade, pois prevê direitos e políticas pú-blicas específicas, tal como ocorre com indígenas e com quilombolas. “Ainda assim, o próprio decreto que cria a Comissão fala em direi-tos territoriais, mas não especifica quais são esses direitos. Isso tudo é um processo,” reconhece.

O antropólogo Marco Paulo Fróes Schettino, analista perito do MPF, concorda. “Para as popula-ções tradicionais o território não é um recurso natural, muito me-nos propriedade, ou mercadoria. É um bem sociocultural. A vida, a identidade cultural dessas pessoas, a visão de mundo que elas têm, a subjetividade dos indivíduos estão associadas a ele”, assegura. Ele lem-bra que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) atuam nas questões que en-volvem indígenas e quilombolas, respectivamente, mas que as de-mais comunidades ficam desampa-radas. “Boa parte dos territórios de população tradicional são posses, onde gerações e gerações têm o uso da terra, mas não os documentos, a propriedade. E por isso são frágeis, porque todos os operadores e gri-

leiros operam também nesse âmbi-to do papel”, assegura.

Engenheira agrônoma do In-cra, a coordenadora substituta de regularização de territórios qui-lombolas, Robervone Nascimento, explica que foi somente a partir da edição do decreto n° 4887, de 20 de novembro de 2003, que a insti-tuição começou a trabalhar com o reconhecimento de áreas quilom-bolas em terras particulares. Ela ex-plica que as de domínio da União são de responsabilidade do Minis-tério do Planejamento, Orçamento e Gestão, por meio da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), e aquelas pertencentes aos Estados devem ser tituladas pelas próprias

unidades da federação. “É aí que está o gargalo, porque a gente não consegue ter uma boa conversa com os estados para acelerar essas titulações”, angustia-se. Nascimen-to explica, ainda, que o Incra, a SPU e a Fundação Cultural Palma-res já emitiram mais de 120 títulos desde 2003. “Desses, 15 foram do Incra e temos a previsão de mais 50

Desde 2003, mais de 120 títulos de regularização de

terras já foram emitidos

daqui para o final do ano”, calcula. Para Nascimento, o pequeno

número de títulos emitidos pela au-tarquia nestes sete anos justifica-se pela burocracia inerente ao proces-so de desapropriação de proprie-dades privadas. Primeiro, a comu-nidade deve apresentar a Certidão de Registro no Cadastro Geral de Remanescentes de Comunidades de Quilombos, emitida pela Fun-dação Palmares. Em seguida, o Incra elabora um estudo da área, que integrará o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação. A próxima etapa é a recepção, análi-se e julgamento de eventuais con-testações. Conseguida a aprovação em definitivo do relatório, o Incra publica uma portaria de reconhe-cimento que declara os limites do território quilombola e inicia a re-gularização fundiária, com desin-trusão de ocupantes não-quilom-bolas mediante desapropriação e/ou pagamento de indenização e demarcação do território. Por fim, é concedido o título de proprieda-de à comunidade, que é coletivo, pró-indiviso e em nome da associa-ção dos moradores da área.

Papéis definidos

A procuradora regional da República Eliana Torelly (PRR1) explica que não é o objetivo do Ministério Público ter uma relação paternalista com essas comunida-des. “A função do MP é garantir que

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Para índios e quebradeiras, o artesanato é a identidade do seu povo

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eles possam exercer os direitos que já têm sem interferências, sem se-rem atropelados pelo poder econô-mico, pelas grandes corporações, por madeireiros ou garimpeiros”, esclarece.

Além da atuação dos procu-radores da República, o MPF conta com um grupo de trabalho (GT) vol-tado especificamente para quilom-bos e povos tradicionais. Segundo a coordenadora do grupo, procura-dora regional da República Maria Luiza Grabner (PRR3), as questões mais frequentes do GT dizem res-peito aos conflitos territoriais com

afirmação das identidades dessas comunidades, que vêm aumentan-do a sua representação em órgãos colegiados do governo e também se organizando para melhor canalizar suas reivindicações, apropriando-se de instrumentos jurídicos e estraté-gias políticas próprias da sociedade.

Torelly (PRR1), por sua vez, observa que ao longo dos anos es-sas comunidades começaram a ter um pouco mais de consciência dos seus direitos. “Contudo, isso não significa que a luta deles vá ser mais fácil, principalmente, quando há in-teresses relacionados a grandes cor-porações”, analisa. Segundo ela, são situações extremamente delicadas e nem sempre é possível sensibilizar o Poder Judiciário para essas realida-des. “Essa questão econômica tem um peso muito forte e acho que faz parte de um processo muito grande de conscientização”, enfatiza.

Atingidos por barragens - Individuos cujas identidades construídas se entrelaçam com a perda identitária, num fenômeno paradoxal de reconstrução de sentidos.

Benzedeiras/Raizeiros - Pessoas com o dom de eliminar o mal estar pela fé religiosa cristã. Alguns utilizam ervas, raízes e plan-tas medicinais para a cura.

Caiçaras - Indivíduos e comunidades do litoral dos Estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.

Ciganos - Recentemente, têm se fixado em territórios, mas ainda identificam-se como andarilhos.

Comunidades de fundo de pasto - Indivíduos com modo tradicional de criar, viver e fazer em que a gestão da terra e de outros recursos naturais articula terrenos familiares e áreas de uso comum, onde se criam caprinos e ovinos à solta e em pastagem nativa.

Comunidades de terreiro - Comunidades de preservação e culto das religiões de matriz africana, afro-brasileira e afro-indígena.

Faxinais - Povos cuja formação social se caracteriza principalmente pelo uso comum da terra e dos recursos florestais e hídricos disponibilizados na forma de criadouro comunitário.

Geraizeiros - Populações tradicionais que vivem nos cerrados do norte de Minas Gerais.

Pantaneiros - Nome genérico das comunidades do Pantanal. Possuem diversas expressões culturais e identitárias.Todas as comemorações festivas relacionam-se com as religiões e há santuários em quase toda casa, algumas vezes no sincretismo religioso.

Pomeranos - Descendentes da mistura de germanos com eslavos presentes, em sua maioria, em Santa Catarina.

Retireiros - Aqueles que retiram o gado das porções alagadas durante as enchentes, reconhecendo o capim que alimenta o gado como maior aliado da sobrevivência local.

Ribeirinhos - Nome genérico das populações que vivem às margens dos rios.

grandes empresas privadas ou pú-blicas, com nítida desvantagem para a preservação dos direitos ter-ritoriais e culturais daqueles povos.

Passos lentos

Para Grabner, nos últimos anos houve avanços em relação à capacidade de organização e mobi-lização na luta pelos direitos dessas comunidades. “Vem acontecendo de forma lenta, com dificuldades, mas progressivamente, como costu-ma ser a luta no campo dos direitos humanos em toda parte”, pondera. Ela aponta que há uma crescente

Conheça alguns dos povos tradicionais

Índios Tembé lideram a luta pelo reconhecimento de suas tradições

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Page 13: Revista A República

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Écom conhecimento e capacitação que a Procuradoria da República no Mato Grosso do Sul quer vencer as barreiras da exclusão social de pes-soas com deficiência. Para isso, a PR/

MS promoveu o curso Acessibilidade na Prática, ministrado pela arquiteta especialista no assunto Thais Frota. A iniciativa partiu do procurador re-gional dos Direitos do Cidadão no estado, Felipe Fritz, e visou à conscientização dos responsáveis pelas áreas de planejamento de edificação, refor-ma e manutenção de prédios públicos, chamando atenção para os detalhes que dificultam o dia a dia de pessoas com necessidades especiais.

O evento marcou as ações celebradas em apoio ao Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, celebrado em 21 de setembro. Para Fritz, a principal barreira a ser ultrapassada é a do preconceito. “A barreira atitudinal, da in-visibilidade e da falta do conhecimento, é a mais difícil de ser superada, por isso é preciso pensar a acessibilidade no conceito de inclusão social”, explica o PRDC.

A redatora Lak Lobato sabe bem o que é isso. Deficiente auditiva desde os 10 anos, Lak conta que a grande dificuldade que enfrenta é o despreparo e a intolerância das pessoas. “É preci-so parar de achar que acessibilidade é um favor que se faz aos outros. Acessibilidade é uma neces-sidade, uma obrigação social, justamente porque é para todos. Qualquer pessoa pode tornar-se deficiente temporária ou permanente”, analisa ela. Apesar das limitações, Lak aprendeu francês e hoje escreve o blog Desculpe, não ouvi, com te-mas sobre deficiência auditiva que vão além da linguagem de sinais. Por sua história de supera-ção, a redatora foi escolhida para participar do documentário Inclusive, produzido pela asses-soria de comunicação do MPF no Mato Grosso do Sul em parceria com o MPF em São Paulo. O vídeo traz depoimentos e histórias de deficientes com perspectivas diferentes na luta pela conquis-

Conscientização na luta contra a exclusão social

Integração

ta e garantia de seus direitos fundamentais. Para a procuradora da República Analú-

cia Hartmann (PR/SC), coordenadora do Grupo de Trabalho de Inclusão para Pessoas com Defici-ência da Procuradoria Federal dos Direitos do Ci-dadão, a atuação de Fritz à frente da PRDC é um exemplo para as outras unidades do Ministério Público. Hartmann explica que o MPF avançou muito nos últimos dois anos na questão da acessi-bilidade, mas há muito a ser feito. Em 2011, o GT atuou, principalmente, na fiscalização do cumpri-mento dos Termos de Ajustamento de Conduta, do acesso aos estádios da Copa do Mundo em 2014 e das legendas nos cinemas para que esses sejam inclusivos, garantindo os direitos constitu-cionalmente assegurados a todos.

Além do curso de acessibilidade, Fritz também presidiu uma consulta à sociedade civil envolvida no aprimoramento da acessibilidade para apresentar o projeto de adequação das sedes do MPF no Mato Grosso do Sul. “É importante ter o engajamento das pessoas com deficiência na elaboração desses projetos. Muitas vezes um usu-ário com deficiência aponta erros no projeto que somente ele, com a sua vivência cotidiana, conse-gue perceber”, frisa.

Redatora Lak Lobato criou o blog Desculpe, não ouvi

ANA CAROLINA FERREIRA

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Especialista em Direito Ambiental e com ampla atuação na área, o subprocurador-geral da República Mário Gisi fala das polêmicas que envolvem o novo Código Florestal e o que deveria ser modificado no texto que tramita no Senado Federal

O Código da discórdia

Entrevista

ÉRICA ABE

Ascom ANPR

Onovo Código Florestal já nas-ceu em meio a polêmicas. Em discussão desde 1999 no Con-gresso Nacional, a proposição recebeu mais de 270 emendas

nas duas Casas e o texto final ainda é alvo de críticas tanto de ambientalistas quanto de agri-cultores. Atento aos riscos que a aprovação da proposta representa para o país, o subprocura-dor-geral da República Mário Gisi acompanha a evolução do projeto no Legislativo. Em entre-

vista para a revista A República, Gisi aponta os problemas do texto atual e explica qual é o Códi-go Florestal ideal na visão do Ministério Público Federal. Especialista em Direito Ambiental, Gisi é o coordenador da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF), es-pecializada em meio ambiente e patrimônio his-tórico. Com 24 anos de carreira como membro do MPF, entre as diversas funções que exerceu está a de representante do órgão junto ao Conse-lho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

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O artigo 225 da Constituição Federal dá ao

Poder Público o dever de defender e preser-

var o meio ambiente. O novo Código está

dentro dessa perspectiva?

Fizemos algumas análises preliminares e observamos que há diversos pontos que preci-sam ser ajustados, especialmente quando se fala em preservação de processos ecológicos essen-ciais. O comprometimento de alguns biomas ou alguns ecossistemas, em razão da forma como tem sido conduzido o processo no Legislativo, leva a crer que há inconstitucionalidades que te-rão de ser apreciadas futuramente, se não houver modificação.

Os ambientalistas dizem que o Código é um

retrocesso. Os ruralistas dizem que é um

avanço. Como o senhor avalia o texto que

está em debate? A bancada ruralista enxerga isso na pers-

pectiva política. Eles querem as terras livres des-se tipo de compromisso, de responsabilidade ou de amarração legal. Por outro lado, os ambienta-listas estão observando a questão na perspectiva técnica. A produtividade é muito importante, mas não podemos esquecer que a preservação dos ecossistemas em quanti-dades mínimas suficientes para a manutenção das espécies é absolutamente necessária e, sem ela, nós vamos ter o total comprometimento e a descaracterização dos biomas. Essas são ques-tões das quais não se pode abrir mão, sob pena de um retrocesso, de um dano, principalmente nas regiões de monocultura.

Do ponto de vista mais prático, qual é esse

mínimo que deve ser garantido?

Além das questões que estão sendo bastan-te debatidas, há a diminuição de áreas úmidas, da caracterização do que significa Área de Preser-vação Permanente (APPs) nas encostas. As APPs tradicionais, aquelas que são na beira de rios, ne-cessitam de espaços mínimos para o trânsito da fauna, que, junto com as áreas de reserva legal, permitem a manutenção mínima do fluxo gênico e, portanto, das características das espécies nos diversos biomas brasileiros.

Somente no Senado Federal, o projeto do

Código Florestal (PLC 30/11) recebeu mais

de 90 propostas de emendas. Na sua visão,

isso significa que o texto não é adequado às

diferentes realidades do Brasil?

Acho que deve melhorar bastante, pois ve-mos que essa lei é genérica e, por isso, comple-tamente inadequada para regiões como o Pan-

tanal, por exemplo. Até porque há uma tendência de transferir maciçamente para os estados a respon-sabilidade na fiscalização das florestas e dos licen-ciamentos. Em regiões úmidas e que atingem mais que um estado - no

caso do Pantanal mais que o próprio país, por-que chega até o Paraguai -, o licenciamento que atenda ao interesse do estado poderá compro-meter a água naquela região. Na verdade, pode afetar a região toda. Portanto, a fiscalização não pode ser estadual, tem que ser federal. Então, eu diria que há necessidade de o Código ter visões específicas com relação a cada região, a cada tipo

“Há a necessidade de o Código ter visões

específicas com relação a cada região, a cada tipo

de bioma”

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alguma forma, dado algum medo de a pessoa vir a ser multada, presa, de ter algum problema com isso. O importante e o ideal seria que as atividades desenvolvidas no campo tornassem interessante para o proprietário o cumprimento da legislação, que iria permitir alguns benefícios fiscais e credi-tícios significativos que compensassem uma pro-dução social e ecologicamente integrada ao meio ambiente. Quer dizer, mecanismos que fizessem com que o produtor buscasse automaticamente o órgão estadual ou federal para que houvesse o reconhecimento da área dele.

E com relação à restauração das Áreas de

Proteção Permanente (APPs), essas áreas de-

vem ser mantidas ou podem ser objeto de

manejo?

O que o projeto tem previsto é que as APPs poderiam ter plantio de árvores exóticas de até 50% da área. Eu penso que isso significa acabar em 50% com a área da APP, porque há uma des-caracterização. Se a função ambiental da APP é de manter as espécies nativas na região, com admissibilidade desse tipo de atitude, vamos di-minuí-la no mesmo percentual. Na verdade, a lei já permite a exploração da área de reserva legal, mas ela deve se limitar a essa possibilidade de manejo dentro da área, e não com espécies que não sejam nativas, já que elas não convivem com a fauna silvestre.

Existe algum ponto que deveria ser acres-

centado ao novo Código?

A questão dos agrotóxicos, por exemplo. Acho que essa é uma grande oportunidade de dar um estímulo aos produtores que saibam con-viver com a vida que existe junto com a planta-ção. Quer dizer, a plantação não pode ser aquela coisa que você tem que matar tudo, que tudo é

inimigo e que só a planta presta. Na verdade, esse sistema monocultural pre-cisa ser repensado, porque o Brasil é hoje o maior consumidor de agrotóxi-cos do mundo, com cerca de cinco litros de agrotóxi-cos por pessoa anualmen-te. Acho que essa é uma

“O importante e o ideal seria que as atividades

desenvolvidas no campo tornassem interessante

para o proprietário o cumprimento da

legislação“

de bioma, e também análises e construções jurí-dicas bem peculiares para que esses locais sejam tratados de forma adequada e diferenciada, con-forme a própria natureza deles.

há quem diga, também, que a fiscalização

feita pelos estados é também mais branda do

que a da União. O senhor concorda com esse

ponto de vista?

Evidentemente, nem todos os estados do Brasil têm a estrutura e a independência dos es-tados maiores. Por exemplo, São Paulo a gente vê que está muito bem estruturado: o órgão tem poder de fiscalização e independência já quase consolidada. Contudo, nos demais estados da federação há muita dependência das políticas internas e das conveniências dos políticos e, portanto, a questão ambiental vai de roldão ao interesse econômico local e submerge comple-tamente. Portanto, há necessidade de fiscaliza-ção complementar.

O que falta para que essa fiscalização seja

feita, já que hoje existe uma legislação am-

biental que não é cumprida?

A construção dessas leis é feita com base no “Comando e Controle”. Quer dizer, o Estado dá as ordens e fica para a polícia, para as fiscalizações e para o Ministério Público acompanhar. E é cla-ro que a gente apanha muito para dar conta do recado. Basta olhar essa lei que está em vigor há tantos anos [Lei nº 4.771/65] para ver que ela não foi minimamente cumprida e, quando começou a ser cumprida, os ruralistas começaram a chiar e a defender a sua modificação, pois entendem que não podem ser atingidos por ela. Então, a gente vê uma completa incapacidade do Estado de gerir e dar conta do cumprimento da legislação até pela dimensão do país, pela quantidade de fiscais que seriam necessários. Portan-to, o que nós temos advo-gado é que a lei precisa ter mecanismos automáticos de implementação dela própria e não depender só do “Comando e Controle”. É claro que não podemos abrir mão dessas fiscaliza-ções, porque isso tem, de

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O que o MP tem feito nesse sentido?

Temos feito reuniões, propostas, artigos, conversado com políticos e ministros. Temos participado de todas as maneiras, levando infor-mações técnicas ao conhecimento dos parlamen-tares, participando de audiências públicas para trazer a perspectiva do MP ao conhecimento dos parlamentares para que eles decidam, pelo me-nos, de maneira informada.

O senhor acha que está havendo uma

receptividade?

Ao contrário do que aconteceu na Câmara dos Deputados, acho que o projeto está tendo muito mais oxigenação no Senado. Porque na Câmara sempre foi ouvida só a área dos produ-tores rurais e sempre excluíram e demonizaram a sociedade organizada, o Ministério Público. O que não está acontecendo no Senado, que tem convidado o MP, tem ouvido as organizações. Noto que os senadores estão com os ouvidos abertos à sociedade e eu acredito e espero que o Código tenha significativas melhoras com a revisão pelo Senado.

boa hora para estimularmos mudanças nesse pa-norama tão mecanicista e fazer com que isso se torne um pouco mais integrado à natureza. Acho que esse é o papel de órgãos como a Embrapa, que devem desenvolver não só novos produtos, mas que sejam ecologicamente capazes de con-viver com as demais espécies que vivem ao redor.

Na sua opinião, qual o Código Florestal ideal

para o MP?

É aquele que técnica e cientificamente asse-gure a capacidade dos biomas e ecossistemas se manterem, sobreviverem e se regenerarem, ain-da que com uma exploração comercial. Nós não queremos nem mais nem menos. Acho que essa questão é técnica e precisa ser analisada de acordo com pareceres de profissionais da área. Não po-demos abrir mão daquilo que ultrapasse o limite mínimo. O que for a mais que isso é lucro, porque, na verdade, isso significa qualidade de vida.

E o texto que está tramitando agora no Sena-

do está próximo disso?

Está longe.

Área com desmatamento irregular

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Corrupção: esse mal tem remédio? O Dia Internacional Contra a Corrupção levanta debates em torno de um dos principais problemas enfrentados pelo Brasil. Na luta contra a ilegalidade, o MPF aposta na fiscalização

Mobilização

ShIRLEy DE MEDEIROS

Adata de 9 de dezembro foi instituí-da como o Dia Internacional Con-tra a Corrupção pela Organização das Nações Unidas (ONU), para quem a prática é uma ameaça ao

desenvolvimento, à democracia e à estabilidade de um país. Além de distorcer os mercados, ela trava o crescimento econômico - desencorajando o investimento estrangeiro -, corrói os serviços públicos e a confiança em seus trabalhadores, contribui para a degradação do meio ambiente e põe em risco a saúde pública.

No Brasil, a população não tem motivos para comemorar. Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) demonstram que a economia brasileira perde com a corrupção de 1% a 4% do seu Pro-duto Interno Bruto (PIB), por ano. Em 2010, este percentual foi, no mínimo, equivalente a cerca de R$ 36 bilhões. Outra pesquisa da Fundação revela que a redução de apenas 10% no nível de corrup-ção do país aumentaria, no prazo de 25 anos, a renda per capita dos brasileiros em 50%.

Na opinião do procurador regional da Re-pública e coordenador do Fórum Permanente de Combate à Corrupção em Pernambuco (Focco/PE), Fábio George Cruz da Nóbrega (PRR5), nas

últimas décadas o país apresentou avanços sig-nificativos na luta contra práticas ilegais. Ele cita exemplos como a criação da Controladoria Geral da União (CGU), o fortalecimento e a maior in-dependência do Ministério Público e da Polícia Federal, a criação de movimentos de combate à corrupção nos estados e a maior liberdade de im-prensa e transparência das contas públicas.

Por outro lado, Nóbrega considera que estes avanços estagnaram e que o país vive a urgência de se criar novas estratégias. “As instituições foram até aonde poderiam ir. Precisamos de uma ampla mobilização nacional, de um plano estratégico a longo prazo contra a corrupção, que envolva o setor público, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada”, defende. Para ele, o descrédito da população com a atividade política é uma das consequências preocupantes da corrupção.

“Apenas 45% dos brasileiros não abrem mão da democracia. Ao invés de se abster, é ne-cessário que o cidadão se envolva. A Lei da Ficha da Limpa e as Marchas Contra a Corrupção são provas da capacidade que a sociedade tem de se organizar”, lembra Nóbrega, reforçando que a democracia é algo que se consolida com o tem-po, com a participação de todos.

Parcerias com a sociedade – Dentro da sua função de fiscalizar a aplicação das leis e a de-fesa do patrimônio público, o Ministério Público Federal (MPF) tem intensificado suas ações con-tra as práticas ilegais. Nos estados, o MPF parti-cipa das Redes de Controle e de Fóruns Perma-nentes de Combate à Corrupção, que promovem a integração de órgãos públicos, da imprensa e de representantes da sociedade civil organizada. “Nosso objetivo é estabelecer parcerias entre a

Ilustrações: Shutterstock

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população e os órgãos de controle para a fiscali-zação das verbas públicas, otimizando a preven-ção e o combate às fraudes”, explica Nóbrega.

O Instituto de Fiscalização e Controle (IFC) é uma das entidades que trabalha em parceria com o MPF. Sem fins lucrativos, o Instituto ar-ticula - junto a outras 200 organizações não go-vernamentais espalhadas pelo Brasil - atividades que incentivam o acompanhamento da gestão financeira dos gastos públicos. Uma delas é a “Caravana Todos Contra a Corrupção”, que já passou por cerca de 50 municípios e promove reuniões com autoridades locais - como prefei-tos, vereadores, promotores de justiça e procura-dores da República - e audiências públicas, nas quais convida a população a fazer o controle so-cial dos recursos públicos.

A partir de 2012, a entidade pretende orga-nizar as caravanas da Cidadania, com o objetivo de desenvolver auditorias cívicas nos municípios, com a participação dos cidadãos. “Escolhemos, para os eventos, lugares onde existe melhor in-teração entre a ONG local e o representante do MP, pois assim é possível executar as auditorias, na medida em que o MP facilita nosso acesso aos órgãos públicos que queremos auditar”, explica o presidente do IFC Henrique Moraes Ziller.

Ampliação dos instrumentos de fisca-

lização – Outro exemplo da atuação do MPF é o Grupo de Trabalho de Combate à Corrupção da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Mi-nistério Público Federal. O grupo foi criado em 2010 para analisar os desvios de recursos fede-rais em convênios firmados com as prefeituras. “Nosso objetivo é utilizar o Direito Penal como instrumento de garantia dos Direitos Humanos, fazendo com que o dinheiro público chegue aon-de ele deve chegar”, explica a coordenadora do GT, procuradora regional da República Janice Agostinho Barreto Ascari (PRR3).

Um acordo de cooperação técnica entre a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Controladoria Geral da União (CGU) viabili-zou o acesso às informações. Na primeira etapa do levantamento, foram analisados os contratos fechados pelos ministérios da Saúde, Educação e Transportes, que, juntos, repassaram mais de meio milhão de reais em recursos, dos quais não

se sabe ao certo o destino. “Entre 2008 e 2010, detectamos 1.681 convênios que não prestaram contas, o que resultou na abertura de 250 inves-tigações e mais de 50 denúncias”, revela Ascari.

O levantamento continua. Recentemente, o grupo incluiu também contratos dos ministérios dos Esportes e das Cidades. A ideia é acelerar as denúncias para que os prefeitos sejam condena-dos ainda durante o mandato, de modo que não consigam se reeleger, conforme o previsto na Lei da Ficha Limpa. “A corrupção nos municípios é cruel pois afeta a parcela da população que mais precisa dos repasses federais, carente dos servi-ços de áreas como saúde e saneamento básico”, lembra a procuradora regional da República.

Para o secretário de Prevenção da Corrup-ção e Informações Estratégicas da CGU, Mário Vinícius Spinelli, o esforço conjunto entre a PGR e a Controladoria tem apresentado excelentes resultados. “As parcerias institucionais estendem nossas atividades, dando agilidade às ações de combate à corrupção”, destaca. Com relação à fis-calização dos convênios, Spinelli esclarece que o órgão trabalha no sentido de ampliar seu quadro de servidores e aprimorar sua área de inteligên-cia. “Nossa meta é atuar de forma preventiva, de-tectando fraudes cometidas pelas empresas can-didatas antes que os recursos sejam liberados”.

Secretário de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas da CGU, Mário Vinícius Claussen Spinelli

Procuradora regional da República Janice Agostinho Barreto Ascari (PRR3)

Procurador regional da República, Fábio George Cruz da Nóbrega (PRR5)

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A morosidade da Justiça, a fiscalização ine-ficiente, o excesso de cargos de confiança no se-tor público e as emendas políticas no orçamento federal são considerados fatores que favorecem os desvios e outras atividades ilícitas no país. De-pois da investigação e da abertura de um proces-so, as ações contra gestores desonestos podem passar, ainda, por quatro instâncias de julgamen-to no Poder Judiciário. Na prática, isso significa um período médio de longos 15 anos até a con-clusão de um processo.

Segundo pesquisa feita em 2007 pela Asso-ciação dos Magistrados Brasileiros (AMB), 86% dos juízes destacam a morosidade do Judiciário como a principal causa da impunidade no país. Além disso, até hoje, entre os agentes políticos que gozam de foro privilegiado – como depu-tados, senadores e ministros de Estado -, apenas três foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“O risco de ser punido é baixíssimo no Brasil. Quando o agente público mede os prós e os con-tras de se cometer um ato ilegal, ele percebe que há mais pontos positivos que negativos”, aponta o presidente do IFC. Na opinião dele, o cenário brasileiro oferece elementos que incentivam as práticas ilícitas, como uma Justiça ineficiente e um

O primeiro passo para fiscalizar e denunciar possíveis desvios é acompanhar o valor das verbas enviadas à sua cidade e como elas estão sendo aplicadas pelo poder público. Na página www.prr5.mpf.gov.br/forum, você encontra os principais sites onde este monitoramento é possível, além de cartilhas e dicas para ser um cidadão atuante no combate à corrupção.

sistema político que só se compromete com seus próprios interesses.

“A receita do Estado também aumenta a cada ano, em consequência tanto do crescimen-to econômico do país quanto do aprimoramen-to dos mecanismos de arrecadação de tributos. Dessa forma, há muito dinheiro nas mãos dos gestores e pouco controle, o que estimula o des-vio”, ressalta.

Já o procurador regional da República Fá-bio George Cruz da Nóbrega (PRR5) defende a necessidade de uma reforma política e do Esta-do, para que ocorram mudanças significativas na luta contra a corrupção. Um exemplo seria restringir e criar regras mais rígidas para a inclu-são de emendas no orçamento federal por parla-mentares. “Nos últimos anos, grandes escânda-los que ocorreram no país tiveram como pano de fundo a negociação de emendas. Ao invés de fiscalizar e legislar, os políticos passam a maior parte do tempo envolvidos com a liberação de recursos”, enfatiza.

Outro ponto destacado por Nóbrega é o excesso de cargos em comissão no Brasil - mais de 25.000, apenas na área federal. “Isso é um lo-teamento político dos órgãos da administração direta e indireta”, considera. Ele ressalta que a livre nomeação no funcionalismo público é um instrumento de barganha política, que insere no aparelho do Estado pessoas comprometidas com partidos políticos e não com a qualidade do serviço público. “Somente uma burocracia recru-tada via concurso, com um número mínimo de cargos de confiança, não composta de amigos, familiares e cabos eleitorais, pode prestar um serviço que mire o interesse público e não o do responsável pela sua nomeação”, defende.

Impunidade e cenário político estimulam a corrupção no país

Saiba como fiscalizar

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Autor: Procurador da República Edmac Trigueiro (PR/CE)

Livro: História do Universo

Editora: Novo Século

Sinopse: Com o nascimento do filho do meio com paralisia cerebral, Edmac Trigueiro passou a buscar coisas mais profundas para dar razão à vida e, como a própria introdu-ção da publicação diz, não há nada mais profundo do que a origem do Universo. Foram quatro anos estudando artigos científicos até que o hobby do procurador da República transformou-se em uma obra literária: o livro História do Universo. Trata-se de um estudo cosmológico sobre o Big Bang. Com prefácio do físico Cláudio Lenz César e uma lingua-gem simples, a obra pretende apresentar ao leitor comum a história física do Universo.

Perfil do autor: Aos 42 anos, o cearense é membro do MPF desde 1999. Em sua primeira lotação, na Procuradoria da República em Minas Gerais, atuou no fechamento do Bingo Poupa-Ganha. Com especialização em Processo Penal e mestrado em Ordem Jurídica Constitucional , ambos pela Universidade Federal do Ceará (UFC), o procu-rador da República lecionou em cursinhos preparatórios para concurso. Trigueiro já passou pela Procuradoria da República em Pernambuco e hoje está lotado na unidade do MPF no Ceará.

Autora: Procuradora regional da República Geisa de Assis Rodrigues (PRR3)

Livro: Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta - Teoria e Prática

Editora: Forense Jurídica

Sinopse: Em sua terceira edição, a publicação é o resultado de dois anos de pesquisa da autora. Durante sua lotação em Campos dos Goytacazes (RJ), a autora precisou de uma alternativa conciliadora para um caso ambiental. A solução encontrada foi a celebração do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). A partir disto, a procuradora regional da República decidiu conjugar a atuação no MPF com sua formação acadêmica. Fazendo uma comparação com a Ação Civil Pública, o livro reúne desde os primeiros artigos até a mais recente jurisprudência do TAC e traz uma análise teórica com aplicações na prática. A obra apresenta, ainda, uma pesquisa sobre as celebrações de TACs feitas pelo MPF, patrocinada pela Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU).

Perfil da autora: Com 16 anos de carreira no MPF, não faltam casos de repercussão na trajetória de Rodrigues, desde a participação na força tarefa para a preservação das reservas de urânio do país durante a privatização da Vale do Rio Doce, sua atuação na solução de conflitos entre tribos indígenas na Bahia e, recentemente, a conces-são da revisão de benefícios previdenciários para quase 200 mil segurados, junto com o procurador regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo, Jefferson Aparecido Dias. É mestre em Direito da Cidade e doutora em Direito Civil - ambos pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em sua passagem pelas Procuradorias da República do Rio de Janeiro e da Bahia, Rodrigues foi nomeada Procuradora Regional dos Direitos do Cidadão. Atualmente, está lotada na 3ª Região e atua em questões ambientais e em matéria previdenciária, integrando o Grupo de Trabalho da Previdência e Assistência Social da PFDC.

ANPR recomenda

Nossos escritores

Ascom/MPF/CE

Ascom/MPF/PRR3

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Artigo

Os números con-solidados do des-matamento na Amazônia ates-tam a tendência

de queda no Pará, que foi por anos um dos líderes no ranking da de-vastação florestal na região. Segun-do dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente na Amazônia (Ima-zon), apesar do aumento de 9% no desmate da região, no Pará, a taxa caiu 40% entre agosto de 2010 e ju-lho de 2011, na comparação com o período anterior.

Para o pesquisador Adalber-to Veríssimo, do Imazon, a conso-lidação da tendência de queda no Pará está diretamente conectada aos acordos e compromissos que o Ministério Público Federal (MPF) obteve de pecuaristas, frigoríficos, varejistas, prefeituras municipais e do governo estadual. “Em termos relativos, houve aumento de 800% no Tocantins, 106% em Rondônia, 76% no Mato Grosso, 15% no Ama-zonas e 6% no Acre. Por outro lado, houve redução de 84% em Rorai-ma e 40% no Pará”, diz o Boletim Transparência Florestal do Imazon de julho de 2011.

Nos acordos obtidos pelo MPF e pelo programa Municípios Verdes, as propriedades rurais que negociam no mercado da pecuá-

Dois anos de Carne Legal: avanços e desafios na regularização da pecuária no Pará

Daniel Cesar Azeredo Avelino*Helena Palmquist**

*Procurador da República (MPF/PA)

**Assessora de Comunicação

ria não podem ser flagradas com trabalho escravo, invasão de terras públicas e desmatamento ilegal. Também são obrigadas a estar no Cadastro Ambiental Rural e, em prazos graduais determinados pelo MPF, terão que pedir e obter Licen-ça Ambiental Rural para as ativida-des produtivas, além de comprovar a regularização fundiária. As pre-feituras se comprometeram a fis-calizar e incentivar os produtores. Os alertas de desmatamento que chegam aos municípios também chegam para o MPF, que cobra a fiscalização pelas prefeituras.

Apesar dos avanços visíveis no combate ao desmatamento, existem riscos e desafios para a consolidação do trabalho. Os em-preendimentos hidrelétricos proje-tados para a Amazônia, da forma como estão sendo licenciados, já estão puxando as taxas de desma-tamento para cima. O fenômeno está ocorrendo em Rondônia, com as obras de usinas no Rio Madeira, e começa a se repetir no Pará, onde já começou a construção da hidre-létrica de Belo Monte, no Rio Xin-gu. Altamira, local das obras, tem apresentado as maiores taxas de desmatamento paraenses.

No caso de Belo Monte, as projeções para o desmatamento fo-ram deixadas para depois da con-cessão das licenças ambientais. Foi só em 2010 que o Imazon, atenden-do a pedido do Ibama, desenhou

as projeções e apontou perigo para as florestas da região: as derruba-das podem alcançar mais de 5 mil quilômetros quadrados se nada for feito para contê-las.

As mudanças no Código Florestal são outro risco sério. A nova proposta representa um re-trocesso para o que já alcançamos, um desrespeito para o esforço e o investimento dos produtores ru-rais paraenses e uma perspectiva concreta de explosão das taxas de desmatamento. O Código retroce-de justamente no que provocou a redução das taxas no Pará: anistia quem desmatou Reserva Legal, re-duz a reserva necessária em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e propõe uma metodologia anti--científica para a exploração eco-nômica do bioma.

Além disso, o próprio gover-no brasileiro está falhando em apoiar o trabalho, pois não exis-tem linhas de crédito e fomento para os produtores que investem em regularização e recuperação de áreas degradadas nem uma política consistente nesse senti-do. Localmente, o Ibama é um dos nossos maiores aliados. Mas, nacionalmente, falta o BNDES, o Ministério do Meio Ambiente e o próprio Palácio do Planalto inves-tirem nessas iniciativas.

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