revista racine (edição 119) - infecção hospitalar

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Revista Racine 119 Infecção Hospitalar Novembro/Dezembro 2010 Ano XX Novembro Dezembro 2010 ISSN 1807-166X Infecção Hospitalar 119 Legislação O que Prevê a RCD nº 44/2010, Publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e como as Farmácias e Drogarias Devem Adaptar-se para Cumprir as Novas Determinações? Pág. 80 Seções Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica Therapeutic Outcomes Monitoring (TOM): Aplicação da Atenção Farmacêutica para a Farmácia Comunitária Pág. 60 Farmácia Hospitalar Prevalência de Interações Medicamentosas Relevantes em Pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pág. 70 Mesa-Redonda: Infecção Hospitalar: Questão Complexa e Relevante para a Saúde Pública Qualidade em Antibioticoterapia - Estratégia de Racionalização de Antimicrobianos Controle de Utilização de Antimicrobianos em Ambiente Hospitalar

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Page 1: Revista Racine (Edição 119) - Infecção Hospitalar

Revista R

acine 119

Infecção Hospitalar

Novem

bro/Dezem

bro 2010

Ano XXNovembroDezembro2010

ISSN 1807-166X

Infecção Hospitalar

119

LegislaçãoO que Prevê a RCD nº 44/2010, Publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e como as Farmácias e Drogarias Devem Adaptar-se para Cumprir as Novas Determinações? Pág. 80

SeçõesFarmácia Clínica / Atenção FarmacêuticaTherapeutic Outcomes Monitoring (TOM): Aplicação da Atenção Farmacêutica para a Farmácia Comunitária Pág. 60

Farmácia HospitalarPrevalência de Interações Medicamentosas Relevantes em Pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pág. 70

Mesa-Redonda: Infecção Hospitalar: Questão Complexa e Relevante para a

Saúde Pública

Qualidade em Antibioticoterapia

- Estratégia de Racionalização de

Antimicrobianos

Controle de Utilização de Antimicrobianos em

Ambiente Hospitalar

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4 Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010

Editorial

119Ano XXNovembro/Dezembro de 2010Infecção Hospitalar

Infecção Hospitalar: Altas Taxas Verificadas Globalmente

Milhares de pacientes que passam por ambientes hospitalares são afetados em todo o mundo, anualmente, por infecções associadas aos cuidados de saúde. As internações prolongadas, o aumento da resistência dos microorganismos aos antimicrobianos e os procedimentos invasivos são alguns dos agentes que deixam o paciente suscetível à infecção, gerando custos adicionais ao sistema de saúde, custos elevados para a família e mortes em excesso.

Este grave problema de saúde pública apresenta prevalência exata desconhecida no mundo. No Brasil, a taxa de infecção hospitalar é de aproximadamente 15%, segundo o Ministério da Saúde. Índice bastante alto se comparado à taxa média de 8,7% encontrada em outros 14 países, de acordo com estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esses dados demonstram que são necessárias medidas drásticas para a redução do índice de infecção hospitalar nos hospitais públicos, filantrópicos e privados brasileiros.

Uma dessas medidas, simples, porém fundamental, é o ato de higienizar as mãos ade-quadamente. Este ato, que pode salvar muitas vidas, nem sempre é efetivo no âmbito hospitalar, e configura-se em um dos principais gatilhos desencadeadores de infecções hospitalares. Com o tema Salve Vidas: Lave suas Mãos, a OMS levanta a bandeira em prol do controle das infecções hospitalares. Lavar as mãos é essencial para a segurança do paciente e possibilita a redução de infecções associadas aos cuidados de saúde e suas conseqüências. É uma atitude de baixo custo e eficaz, porém implica em respon-sabilidade pessoal e em mudança de comportamento, a partir da conscientização dos profissionais da saúde.

A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), instituída pela Portaria n° 2.616/1998 do Ministério da Saúde, assim como o Programa de Controle de Infec-ções Hospitalares (PCIH), tem dentre suas atribuições a premissa de colaborar com o treinamento dos profissionais da saúde sobre a prevenção e o controle das infecções hospitalares. O farmacêutico, um dos integrantes da CCIH, também possui função ampla na Comissão, educando, padronizando e monitorando antimicrobianos e germicidas, atuando na área farmacotécnica hospitalar e em farmacoeconomia, desenvolvendo atividades de consultoria e supervisão e participando de treinamentos.

A educação e o aprendizado contínuo começam pelos profissionais da saúde e é uma obrigação de todos que atuam neste setor, sejam médicos, enfermeiros, farmacêuticos ou outros. Esta constatação consolidou-se com base nas transformações pelas quais o mundo passou nas últimas décadas, culminando em discussões conduzidas pela OMS e outras entidades mundiais da área da saúde, que levaram a Organização das Nações Uni-das para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a redefinir suas recomendações quanto à educação superior em saúde, dando origem às renovadas e atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos superiores na área da saúde, citando, entre outras competências necessárias, que estes devem ser contínuos aprendizes e educadores.

A mensagem principal que pretendemos transmitir nesta 119° edição da Revista Ra-cine, abordando as infecções hospitalares como tema de capa, é que a observância de princípios básicos do controle das infecções hospitalares é a melhor forma de evitar conseqüências graves e para isso é fundamental a conscientização dos profissionais da saúde, com valorização do trabalho em equipe e o respeito mútuo.

Boa leitura! Nilce Barbosa

Presidente do Grupo Racine e Coordenadora Técnico-Editorial da Revista Racine

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6 Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010

Correspondências 7

Mesa-Redonda 12Infecção Hospitalar: Questão Complexae Relevante para a Saúde Pública

Panorama Geral Qualidade em Antibioticoterapia: Estratégiade Racionalização de Antimicrobianos 30

Especial de CapaFarmácia Controle de Utilização de Antimicrobianos em Ambiente Hospitalar 40

Enfermagem Papel do Enfermeiro na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) 46

Microbiologia Relacionamento da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) com o Laboratório de Microbiologia 52

Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica 60Therapeutic Outcomes Monitoring (TOM): Aplicação da Atenção Farmacêutica para a Farmácia Comunitária

Farmácia Hospitalar 70Prevalência de Interações Medicamentosas Relevantes em Pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

Pôsteres 7420ª Semana Racine - Congresso de Farmácia

Legislação 80O que Prevê a RCD nº 44/2010, Publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e como as Farmácias e Drogarias Devem Adaptar-se para Cumprir as Novas Determinações?

Acontece 81

Orientações para Publicação de Artigos na Revista Racine 82

Índice

Luciana Gabriel é graduada em farmácia pela Universidade Anhembi Morumbi e graduada em administração de empresas pelas Facul-dades Metropolitanas Unidas (FMU), além de especialista em cosmetologia e em controle da qualidade e gestão da qualidade. Atuou no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICr-HCFMUSP) e no Hospital Sírio Libanês. Atualmente é farmacêutica responsável pelo Laboratório de Líquidos e Semi-Sólidos e pela Gestão da Qualidade da Pharmatural Farmácia de Manipulação.

“Leio a Revista Racine porque é primordial para meu aprimoramento. Hoje, integra-mos uma equipe multidisciplinar e com a Revista Racine é possível complementar o conhecimento adquirido e possuir acesso a algumas discussões importantes. Além dis-so, a Revista Racine apresenta resumos de artigos especiais e de trabalhos acadêmicos, que auxiliam os profissionais a se atualiza-rem constantemente.

Destaco a edição 112, cujo tema de capa é Fibromilagia (Setembro/Outubro de 2009). A edição é bastante esclarecedora sobre o tema, apresenta abordagens diversas e a Mesa-Redonda faz com que se reflita sobre o assunto, chegando a conclusões interes-santes, por exemplo, sobre como auxiliar o paciente com fibromialgia em seu trata-mento, obtendo sucesso sem interromper as tarefas diárias. A autonomia do paciente é importantíssima.”

Eu Leio a Revista Racine

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Correspondências

Expediente

Filiada

119

A Revista Racine (ISSN 1807-166X) é uma publicação bimestral da RCN Comercial e Editora Ltda., dirigida a empresas e profissionais das áreas farmacêutica, química, cosmética e da saúde.

PresidenteNilce Barbosa

Diretores ExecutivosArnivaldo DiasMarco QuintãoRenato Cintra Sérgio Slan

Coordenação Técnico-EditorialNilce Barbosa - CRF-SP 9.609

EditorAndré Policastro - MTb 42.774

Editora-Assistente e Jornalista ResponsávelKelly Monteiro - MTb 06.447

Colaboraram nesta EdiçãoBruna Fromhertz, Daniela Vieira Baldini Batista, Divaldo Pereira de Lyra Júnior, Fábio Zanerato, Firmino Jr. Haag, Glaucia VarkuljaJosé Jr Costa, Lina Abechain, Luciana Gabriel, Márcia Gonçalves Oliveira, Maria de Lurdes Hirato Hasegawa, Maria Rita Elmor de Araújo, Michelle Zicker, Patrícia Melo Aguiar, Renato Satovschi Grinbaum, Rosilene Giusti, Samuel Pereira, Lisiane Thomazzi e Viviane Cristina Caetano Nascimento EditoraçãoPercepção Design

Anúncios, Assinaturas e CorrespondênciasRua Padre Chico, 93Pompéia - CEP 05008-010São Paulo - SP - BrasilTel/Fax: 55 11 3670-3499E-mail: [email protected]

Artigos e matérias assinadas não refletem necessariamente a opinião da RCN Comercial e Editora Ltda.

ImagensGuilherme Bessa, arquivo Racine e divulgação

Agradecemos as manifestações enviadas de:

Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas de São Caetano do Sul,

São Caetano do Sul (SP)

Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), Londrina (PR)

Centro Universitário La Salle, Canoas (RS)

Ano XXNovembro/Dezembro2010

Tiragem desta edição: 8.000 exemplares

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12 Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010

Mesa-Redonda

Infecção Hospitalar: Questão Complexa e Relevante para a Saúde Pública

Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo

Viviane Cristina Caetano Nascimento, enfermeiraSamuel Pereira, farmacêuticoMaria Rita Elmor de Araújo, microbiologistaMaria de Lurdes Hirato Hasegawa, enfermeiraLisiane Thomazze, farmacêuticaMichelle Zicker, médica infectologistaRenato Satovschi Grinbaum, médico infectologista

Coordenação

Kelly Monteiro - editora-assistente e jornalista responsável das Publicações Racine

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Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010 13

s infecções hospita-lares caracterizam- se como um grave

problema de saúde pública por representarem complicações relacionadas à saúde e consti-tuírem uma causa importante de morbidade e de mortali-dade, gerando prejuízos ao paciente, à comunidade e ao Estado. A Portaria nª 2.616 de 12 de maio de 1998, do Minis-tério da Saúde, define infec-ção hospitalar como “aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser rela-cionada com a internação ou procedimentos hospitalares”.

A mesma portaria, regula-menta as ações de controle de infecção hospitalar no País, inclusive o Programa de Con-trole de Infecções Hospitala-res (PCIH) e a implementação nos hospitais das Comissões de Controle de Infecção Hos-pitalar (CCIH). São deveres das CCIH: detectar casos de infecção hospitalar, seguindo critérios de diagnósticos pre-viamente estabelecidos, co-nhecer as principais infecções hospitalares detectadas no ser-viço e definir se a ocorrência destes episódios de infecção está dentro de parâmetros aceitáveis - isto significa conhecer a literatura mundial sobre o assunto e saber reco-nhecer as taxas aceitáveis de infecção hospitalar para cada tipo de serviço -, elaborar normas de padronização para que os procedimentos reali-

Mesa-Redonda

A zados na instituição sigam uma técnica asséptica (sem a penetração de microrganis-mos), diminuindo o risco do paciente adquirir infecção, colaborar no treinamento de todos os profissionais da saúde no que se refere à prevenção e ao controle das infecções hospitalares, rea-lizar controle da prescrição de antibióticos, evitando que os mesmos sejam utilizados de maneira descontrolada no hospital, recomendar as medi-das de isolamento de doenças transmissíveis quando se trata de pacientes hospitalizados, e oferecer apoio técnico à ad-ministração hospitalar para a aquisição correta de materiais e equipamentos e para o pla-nejamento adequado da área física das unidades de saúde.

No Brasil, a prevalência exata das infecções hospita-lares ainda é desconhecida. Inquérito realizado pelo Mi-nistério da Saúde revelou que, entre as instituições avaliadas, a taxa de infecção hospitalar variou de 13% a 15%. Esta se apresenta bastante alta se for comparada a um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que encontrou em 14 países, entre 1983 e 1985, taxa média de 8,7%, ou seja, o estudo rea-lizado no Brasil revelou que este apresenta praticamente o dobro de casos de infecção hospitalar em relação aos outros países estudados, de-monstrando a necessidade de medidas mais eficazes para a

redução dessas taxas no País.

A Agência Nacional de Vi-gilância Sanitária (ANVISA) e a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mun-dial da Saúde (OPAS/OMS) criaram estratégias para favo-recer a segurança do paciente nos serviços de saúde. As es-tratégias são baseadas em dois desafios globais lançados pela OMS. O primeiro, com o tema Uma Assistência Limpa é Uma Assistência Mais Segura, está focado nas ações de melhoria da higienização das mãos em serviços de saúde. O segundo desafio, sob o lema “Cirur-gias Seguras Salvam Vidas”, está relacionado às ações de melhoria dos procedimentos cirúrgicos.

O principal objetivo das ações é reduzir os casos de infecções hospitalares, as grandes vilãs da segurança do paciente. A meta da ANVISA é diminuir em 30% os índices nacionais de infecção, em um prazo de três anos, contados a partir de 2010. Estima-se que, no Brasil, a taxa de infecções hospitalares atinja 14% das internações. Segundo dados da OMS, cerca de 234 milhões de pacientes são operados por ano em todo o mundo. Destes, um milhão morre em decorrência de infecções hospitalares e sete milhões apresentam com-plicações no pós-operatório.

O farmacêutico possui pa-pel relevante na CCIH pois é este profissional quem padro-

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Mesa-Redonda

niza e monitora os antimicro-bianos e germicidas, atua na área de farmacotécnica hospi-talar e em farmacoeconomia, desenvolve atividades de con-sultoria e supervisão e também participa de treinamentos.

Neste contexto e devido à relevância deste assunto, a Mesa-Redonda desta edição 119 da Revista Racine apre-senta o tema Infecção Hos-pitalar. Confira a seguir os principais tópicos abordados neste encontro, realizado com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital Beneficência Por-tuguesa de São Paulo...................................................

Renato Satovschi Grinbaum, médico infectologista

“A infecção hospitalar no Brasil é um problema impor-tante. Destacou-se após o fale-cimento do ex-presidente Tan-credo Neves e, a partir deste momento, houve a implemen-tação de diversas legislações, o crescimento de uma área muito forte e a consolidação, principalmente por meio destas legislações, de comissões obri-gatórias em todos os hospitais, que tornaram este assunto uma das prioridades da atuação hospitalar para os profissionais da saúde. Obviamente, existem diversos obstáculos, de diver-sas naturezas, em todas as ins-tituições, até porque o assunto é complexo. Não há números ainda totalmente consolidados sobre infecção hospitalar no Brasil. O que se sabe é que não

se calcula mais a taxa geral do hospital. Isso não implica, não leva ao conhecimento de quais são os problemas de infecção hospitalar. O hospital apresen-tar índice de um, dois, três ou dez por cento não quer dizer nada porque não se está ava-liando o tipo de procedimento que é realizado e tampouco a predisposição do paciente. Há praticamente 20 anos calcula--se indicadores de infecção que são baseados nos riscos dos pacientes em procedimen-tos. Tanto o Estado de São Paulo quanto o Município de São Paulo conseguem estabe-lecer referenciais para que os hospitais se guiem e possam comparar seus indicadores. A Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária (ANVISA) está construindo este processo para que existam indicadores na-cionais. Mas não existe ainda um perfil totalmente objetivo, bem validado, sobre a dimen-são do problema da infecção hospitalar. Sabe-se que exis-te, é grande, e que a atuação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) é uma garantia de segurança para o paciente.”

Viviane Cristina Caetano Nascimento, enfermeira

“As investigações sobre infecção hospitalar são rea-lizadas pela vigilância epi-demiológica. A verificação ocorre por meio de determi-nados fatores de risco para esta infecção, que são rela-cionados à utilização de al-guns dispositivos invasivos.

A vigilância epidemiológica verifica a infecção da corrente sanguínea relacionada ao uso de Cateter Venoso Central (CVC), a pneumonia relacio-nada ao uso de ventiladores mecânicos, a infecção urinária relacionada ao uso de sonda vesical. Além disso, outro indicador importante é em relação às infecções de sítio cirúrgico. É importante que haja esta vigilância dentro de todas as instituições hospita-lares.”

Renato Satovschi Grinbaum, médico infectologista

“Busca-se identificar a infecção que está ligada à manipulação do paciente. Por exemplo, em uma área pediá-trica não existe a obrigação de calcular indicadores, embora haja outra forma de vigilân-cia, um pouco mais frágil. Outros fatores do paciente ou da instituição fazem com que os profissionais fiquem mais alertas nestas unidades.”

Viviane Cristina Caetano Nascimento, enfermeira

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Mesa-Redonda

Maria de Lurdes Hirato Hasegawa, enfermeira

“Atualmente, realiza-se vi-gilância de acordo com os pro-cedimentos invasivos em pa-cientes críticos. Sabe-se que em termos de infecção existem muitos outros fatores de risco. É necessário mais atenção ao idoso e ao recém-nascido pelas próprias peculiaridades. Além da idade, outro aspecto que interfere é o estado nutricional, fator que deve ser considerado, assim como pacientes imunode-primidos, que estão utilizando cateteres, que estão há bastante tempo em permanência no hos-pital, sob utilização prolongada e indiscriminada de antibiótico e pacientes queimados. Diver-sos fatores podem ser aferidos. Estes fatores podem favorecer a infecção hospitalar. Para ad-quirir uma infecção hospitalar há diversos fatores que podem contribuir.”

Michelle Zicker, médica infectologista

“Foram citados principal-

mente os fatores individuais relacionados ao paciente, mas há ainda a questão da adesão à higienização das mãos, o aspecto do profissional in-terferindo na transmissão de microorganismos dentro do ambiente hospitalar.

Renato Satovschi Grinbaum, médico infectologista

“A campanha da Orga-nização Mundial da Saúde (OMS) é mais ampla do que somente para os hospitais. A higienização das mãos é uma medida de saúde coletiva simples e leva à modificação, inclusive, da mortalidade in-fantil. Higienização das mãos na hora em que a mãe vai amamentar a criança, na hora da alimentação, previne diar-réia e doenças virais. A OMS estabeleceu como meta de segurança dos indivíduos que haja higienização das mãos. No hospital também é neces-sário que haja esta premissa. Há três tipos de problemas referentes à higienização das mãos nos hospitais: o pri-meiro deles é a cultura que o profissional da área da saúde possui. A cultura é igual à da população e a população não sendo educada na infância com rigor sobre a higienização das mãos, subentende-se que haverá dificuldades com esse ato em todos os momentos. Há diversas oportunidades em que o indivíduo deveria lavar as mãos e não lava. Outro momento importante é a sobrecarga de trabalho, que acontece em muitos, não em

todos os hospitais. Se o pro-fissional está sobrecarregado com uma série de procedimen-tos, não fará algumas etapas. O terceiro fator é a qualidade e a disponibilidade dos pro-dutos para higienização das mãos e o acesso. Se o acesso é distante do quarto em que o profissional está realizando o procedimento, devendo andar 20 ou 30 metros, e voltar para completar o procedimento, ele não cumprirá este dever. Ou seja, é necessário fornecer acesso fácil a higienização das mãos.”

Viviane Cristina CaetanoNascimento, enfermeira

“Atualmente trabalha-se muito em relação a campanhas internas de incentivo à higie-nização das mãos, baseado no programa da OMS, que reforça cinco momentos principais para a higienização das mãos. Estes cinco momentos desta-cados pela OMS são: antes do contato com o paciente, após o contato com o paciente, após manipular material biológico, após o contato com superfícies e objetos que estão próximos ao paciente, e antes de realizar procedimento asséptico. O in-centivo é realizado com base nestes principais momentos. A experiência no Hospital Beneficência Portuguesa é trabalhar com campanha de higienização in loco levando informação para dentro das unidades. Sabe-se da dificul-dade de tirar o funcionário do setor para escutar sobre deter-minados assuntos. Portanto, a

Maria de Lurdes Hirato Hasegawa, enfermeira

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18 Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010

Mesa-Redonda

CCIH vai até o local de tra-balho e orienta os profissio-nais sobre a técnica correta de higienização das mãos, os momentos principais de higienização, utilizando di-nâmicas para que haja mais adesão, demonstra vídeos, tudo isso para conscientizar o profissional da área da saúde sobre a importância da higie-nização das mãos na preven-ção da infecção hospitalar.”

Maria de Lurdes HiratoHasegawa, enfermeira

“A campanha se estende a todos, inclusive ao visitan-te, ao familiar do paciente. Todo colaborador que é ad-mitido no hospital participa do programa de integração realizado pela CCIH, na qual aborda-se o ponto principal, que é a higiene das mãos. Seja o porteiro, o segurança ou o médico admitido, este profissional deve ouvir so-bre o que é a CCIH e sobre a importância da CCIH. Com a enfermagem o trabalho é ininterrupto, constante. A questão dos insumos é um ponto importante porque se o profissional fará a higiene das mãos e o produto utiliza-do não for de qualidade, se ressecar as mãos, essa queixa necessita chegar ao controle de qualidade para que se re-pense a padronização e até a possibilidade de modificação de produto. Assim se estimu-la o profissional a higienizar as mãos. Isto é importante em um controle de infecção hospitalar.”

Renato Satovschi Grinbaum, médico infectologista

“O papel do farmacêutico também é importante neste processo. A monitorização da qualidade, o processo de far-macovigilância e a tecnovigi-lância possuem relação direta com a qualidade e com a maior adesão. É necessário haver um programa de qualidade e de verificação tanto antes da compra quanto após o uso dos insumos que se utiliza na hi-gienização das mãos.”

Samuel Pereira, farmacêutico

“A farmácia hospitalar atua inicialmente no controle de infecção hospitalar por meio da validação do fornecedor, avaliando o processo de pro-dução destes produtos na em-presa. Depois que se qualifica o fornecedor e ao conferir que o processo é adequado, há mo-nitorização e acompanhamen-to para verificar a aceitação do produto na instituição. Caso haja queixas técnicas, troca-

se de fornecedor ou busca-se uma alternativa para que as necessidades sejam atendidas. O farmacêutico também atua monitorando a distribuição dos insumos.”

Renato Satovschi Grinbaum, médico infectologista

“O farmacêutico possui a função de avaliar a qualidade do produto. Deve-se realizar a monitorização, especialmente de produtos como a clorexidina e o álcool, que muitas vezes levam à lesão da pele, dimi-nuindo a adesão do profissional da saúde ao produto. O hospital deve estar alerta para saber se a qualidade do produto não está prejudicando a higienização das mãos, levando a outros problemas. Outra sistematiza-ção sobre a higienização das mãos é que hospitais como o Hospital Beneficência Portu-guesa estão migrando para um trabalho mais intenso das Co-missões que é a avaliação den-tro dos locais de atendimento para registrar a taxa de adesão, ou seja, um dos eventos é que exista o profissional da saúde observando em 200 oportuni-dades por mês os indivíduos que teriam que higienizar as mãos, verificar se eles higieni-zaram e se isto foi realizado de forma correta. Existem outras formas, como a monitorização automática por meio de dis-positivos que medem quantas vezes o profissional chegou perto do higienizador, para saber se ele está fazendo da forma correta. São métodos novos e muito caros.”

Samuel Pereira, farmacêutico

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Mesa-Redonda

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Michelle Zicker, médica infectologista

“A monitorização automá-tica é realizada por meio de crachás que são colocados nos uniformes dos profissionais e que conseguem medir quan-tas vezes ele chegou perto de determinada pia, dispenser de sabão ou de álcool gel. É uma forma indireta de quantificar a adesão do profissional à práti-ca de higienização das mãos, não havendo, entretanto, ga-rantia de que o profissional re-almente higienizou as mãos.”

Samuel Pereira, farmacêutico

“Outro papel da farmácia hospitalar é realizar a monito-

ração do consumo de litros de sabão, de álcool ou de substân-cia anticéptica utilizada. Pode- se monitorar, por exemplo, pela quantidade de álcool gel utilizada, quanto foi utilizado de álcool gel pela quantidade de colaboradores que o utiliza-ram, pelo número de pacientes que há no local, e pelos co-laboradores de enfermagem. Também pelos procedimentos que são utilizados, se o insumo está sendo utilizado de forma correta.”

Renato Satovski Grinbaum, médico infectologista

“Há resultados deste con-trole no Hospital São José, um dos hospitais da rede do

Hospital Beneficência Por-tuguesa, e os outros estão se estruturando para isso. Atualmente, consegue-se medir e registrar o cresci-mento gradual do consumo de antisséptico, de sabão e de álcool por mil pacientes ao dia. Toda esta estratégia está levando a uma melhor ade-são, por meio, inclusive, do consumo dessas substâncias. Para cada grande síndrome há um protocolo para realização de estratégias educacionais, ou seja, oferecer material e treinamento, no entanto a eficácia desta estratégia é limitada, mas é importante. Além disso, há os chamados indicadores de processos, ou

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Mesa-Redonda

seja, são eleitos cinco ou seis pontos importantes, e todos os dias o profissional se dirige ao leito do paciente para saber se estes pontos estão sendo cumpridos. Ele checa in loco e se não estiverem sendo reali-zados, busca-se uma solução, corrigindo no momento de uma forma educativa, fazendo com que aquela atitude se torne automatizada. A grande dificul-dade que existe em toda a área educativa é transformar uma medida que seja importante, es-pecialmente de prevenção, em um hábito automatizado que o indivíduo faça sem se lembrar. Este é o grande desafio, tentar automatizar estes processos.”

Viviane Cristina CaetanoNascimento, enfermeira

“As auditorias de processos são realizadas no Hospital Beneficência Portuguesa e são importantes para que se veri-fique a adesão aos protocolos institucionais. Além disso, a auditoria de processos fornece subsídios para que se avaliem conteúdos para os treinamentos que ainda devem ser abordados com a equipe de saúde. Outro item importante em relação à auditoria de processo é que o profissional da CCHI compare-ce ao setor, observa os cuidados de prevenção de infecção hos-pitalar e trabalha para ajustar. A tendência é que estas auditorias sejam realizadas pelos gestores das medidas de prevenção, por exemplo, o próprio enfermeiro da unidade, o médico, o fisio-terapeuta, o nutricionista, cada um com as suas atribuições.

Pretende-se desenvolver esta cultura, nomeada Pacote de Medidas de Prevenção, o qual é adotado em uma unidade e os profissionais acabam ob-servando e corrigindo o que for necessário, por exemplo, o paciente não está em decúbito elevado, está utilizando ven-tilador mecânico, utilizando sonda vesical que não está de-vidamente fixada. Os próprios profissionais acabam fazendo esta observação por temática, existe uma planilha de controle para que os temas não sejam esquecidos, e ele corrige a falha. O que é necessário disse-minar internamente é a cultura de que todos são responsáveis pela prevenção da infecção hospitalar, e não somente a CCHI. A Comissão possui a função de apoiar à equipe de saúde, no sentido de coorde-nação de ação, orientação, mas quem faz mesmo a prevenção é quem está próximo do pacien-te, cuidando do mesmo.”

Renato Satovschi Grinbaum, infectologista

“É transformar a consciên-cia em um hábito que o indiví-duo não necessita pensar. Isto é o mais difícil. O profissional está convencido, mas se esque-ce de fazer quando é preciso. O foco não é mais a infecção, mas o cuidado com o disposi-tivo que gera a infecção.”

Viviane Cristina CaetanoNascimento, enfermeira

“Há procedimentos que fa-vorecem a prevenção da infec-ção hospitalar, por exemplo, a

pneumonia pode ser prevenida por meio da troca adequada dos acessórios respiratórios e no tempo determinado. A inserção de cateter deve ser realizada utilizando-se a chamada bar-reira máxima de proteção, que consiste em o cirurgião ou o enfermeiro habillitado para inserir um CVC util izarem avental estéril, luvas estéreis, realizarem a assepsia das mãos adequadamente, utilizarem tou-ca, e o campo operatório amplo para que evite a contaminação no momento da passagem do cateter. Outra medida impor-tante em relação à prevenção da infecção da corrente sanguínea é trocar os acessórios vasculares no tempo adequado. No paciente que estiver recebendo nutrição parenteral deve-se manter a via exclusiva para este acesso, segundo as Boas Práticas de Nu-trição Parenteral (BPNP), entre outras medidas.”

Renato Satovschi Grinbaum, infectologista

“O que se descobre com isso tudo é que muitas vezes os indivíduos querem complicar, inventar sistemas complexos, tecnologias muito sofisticadas, mas a medida que apresenta mais impacto na prevenção da infecção relacionada ao aces-so é lembrar todos os dias ao profissional que ele deve se questionar: ‘Posso remover este cateter?’. Remover o cateter sig-nifica reduzir a exposição ao ris-co. Isso muitas vezes não é feito, os profissionais querem deixar mais um dia para observar. Ao se insistir em um procedimento

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simples, que não custa nada para o hospital, como re-mover o acesso, a redução da infecção gerada por este procedimento simples é im-pressionante. Outro ponto importante a ressaltar é que o diagnóstico de infecção no paciente é complexo de ser discutido. Como essas infec-ções possuem manifestações diversas, para notificação, não se pode confiar em um simples diagnóstico, mas deve haver uma conduta um pouco mais exagerada, dependendo da gravidade do paciente. A prerrogativa de diagnóstico de infecção hos-pitalar é da CCHI e cabem critérios muito rigorosos e que são baseados nos crité-rios da ANVISA. Trabalha- se basicamente com cinco síndromes e cada uma possui seus sintomas específicos. A pneumonia está associada à ventilação mecânica. A infecção da corrente sanguí-nea está associada ao cateter venoso, a infecção de ferida operatória está ligada ao procedimento cirúrgico, a infecção urinária está liga-da à sondagem urinária e, hoje, fala-se nas diarréias associadas à utilização de antibióticos.”

Lisiane Thomazze, farmacêutica

“Há protolocos que di-recionam o uso racional de antibióticos. Isto ocorre de acordo com cada instituição, pois cada uma delas possui foco de infecção diferencia-

do. Cada instituição elabora seus protocolos baseados nas classes terapêuticas dos anti-microbianos. A partir disto, há mais controle sob alguns itens. Normalmente, estes protocolos são para fins educacionais e para um maior controle de dispensação pelo Serviço de farmácia.”

Renato Satovschi Grinbaum, infectologista

“Existem várias formas de controle de antimicrobianos. Existe a forma padrão e a forma que foi desenvolvi-da no Hospital Beneficência Portuguesa, que é a mais pró-xima daquilo que se faz nos pacotes. A forma tradicional é uma forma de restr ição pós-prescrição. É o controle por meio de um formulário de solicitação elaborado pelo médico prescritor, como meio para que seja liberada pelo far-macêutico, que seja realizada a pós-prescrição. O papel do farmacêutico é um pouco mais burocrático, menos participa-

tivo em uma situação desta, e a participação do médico é insatisfatória. Não que não traga resultados, mas traz resultados mais pre-cários. O grande problema é que se realiza avaliação pós-prescrição e há ativi-dades precárias do aspecto educativo de se convencer o médico que está acompa-nhando o paciente de que aquele antibiótico não foi o mais apropriado. Há alguns dilemas éticos de relacio-namento, embora haja todo um jogo de cintura para discutir com os colegas, mas isso gera problemas. A experiência em toda a literatura é que esta atuação é eficiente, mas limitada. Estratégias diferenciadas têm sido desenvolvidas para transformar esta racionali-zação dos antimicrobianos em um processo mais efeti-vo. A opção é adotar as fer-ramentas de qualidade para que se trabalhe de maneira mais efetiva. Isto apresenta dois reflexos: nas fichas de restrição, o primeiro passo é criar protocolos de indi-cação dos antibióticos mais complexos para todas as classes de antimicrobianos, e as fichas de solicitação do médico devem conter o protocolo, o que é uma for-ma de educação. A segunda forma de atuação demanda a presença contínua de um médico à beira do leito au-ditando os casos, demanda a presença do farmacêutico clínico controlando uma

Lisiane Thomazze, farmacêutica

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série de aspectos que não são apenas a indicação do antibiótico, mas trabalhar com dose, duração e trata-mento, interação medica-mentosa, ou seja, o papel do farmacêutico clínico é essencial e parte do seguin-te pressuposto: trabalha-se não com o antibiótico ou com o antibiótico de classe especial, mas se trabalha em uma unidade com toda a prescrição do antibiótico e avalia-se a qualidade do diagnóstico que está sendo realizado, se aquela tera-pêutica está inserida em um protocolo, e avalia se a qua-lidade da prescrição daquele antibiótico é bem efetuada. Essa estratégia, realizada em parceria com o setor prescritor, apresenta bons resultados, em termos de racionalização e de redução de consumo com melhoria de qualidade.”

Samuel Pereira, farmacêutico

“Com a ficha de solici-tação, o acompanhamento é sempre posterior, ou seja, o médico inicia o tratamen-to do paciente, preenche a justificativa nesta ficha, de acordo com o protocolo, porém o resultado não é tão adequado porque o medi-camento foi dispensado, o paciente iniciou o uso e pos-teriormente avalia-se para continuar o tratamento e, em seguida, há a análise da CCHI. Os médicos avaliam e acompanham os casos.

Com o mapeamento por Dose Diária Definida (DDD), que é uma unidade internacional estabelecida pela OMS, para cada medicamento, a partir da qual verifica-se o consumo dos antibióticos dentro da instituição e avalia-se a uti-lização mediante o consumo. Esses dados são compilados, e possibilitam a monitorização do consumo e identificação de possíveis picos de utilização, e estes dados são transmitidos para a CCIH, que efetuará o acompanhamento. O cálculo realizado também é estabele-cido pela OMS.”

Renato Satovschi Grinbaum,infectologista

“Este trabalho desenvolvido pela farmácia hospitalar é mui-to importante. De que maneira sabe-se que um hospital está consumindo muito ou pouco antimicroniano? Não é possí-vel trabalhar com gasto, pois há antibióticos baratos e caros, cada fornecedor oferecerá um preço diferente. Pelo número de frascos há o mesmo proble-ma. Ao se calcular o número de gramas, a posologia do an-tibiótico varia. Há antibiótico que se utiliza 50 miligramas por dia, por exemplo, e outro que se utiliza 13,5 gramas. Não há como calcular. A DDD é um corretor que determinará a quantidade de prescrições diárias de determinado anti-biótico. Com este ajuste de monitorização, que é essencial para a farmácia, por mais que em um primeiro momento pareça difícil, especialmente

se for automatizado, fica mais simples, permite que haja uma visibilidade sobre o uso de antimicrobiano muito maior do que se calcular o gasto ou o número de frascos ou de gramas. Passa-se a entender os problemas de uma maneira mais lúcida do que se fazia no passado.”

Michelle Zicker, médica infectologista

“É importante destacar que a desospitalização precoce favorece a prevenção das infecções hospitalares. Quan-to menos tempo o paciente permanecer em um ambiente hospitalar, sendo submetido a procedimentos invasivos, menor será a chance de apre-sentar infecção. Tenta-se que seja implementado um regime de alta precoce, quando pos-sível, e encaminha o paciente para home care. O paciente continuará recebendo o tra-tamento, utilizando medica-mento, mas fora do ambiente hospitalar.”

Michelle Zicker, médica infectologista

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Maria Rita Elmor de Araújo, microbiologista

Renato Satovschi Grinbaum, infectologista

“Existem duas sub-questões quanto à desospitalização. Existem nas UTIs, princi-palmente no pós-operatório, um sistema que vem sendo desenvolvido nos Estados Unidos da América (EUA) e que no Brasil está sendo implementado. Significa que no pós-operatório do paciente tira-se o mesmo dos cuidados mais intensivos dos dispositi-vos mais invasivos para que se reduza a exposição aos riscos de infecção, para que se redu-za o tempo de UTI e promova a alta mais rapidamente do paciente. A outra questão é tentar a desospitalização. Esta

é uma medida muito desejável e sabe-se que, por questões que não são inerentes ao hospital, mas por questões externas, a operacionalização desta de-sospitalização não é tão fácil no Brasil quanto no exterior.”

Maria Rita Elmor de Araújo, microbiologista

“O laboratório de micro-biologia também é um as-pecto importante no controle da infecção hospitalar, pois é nele que se realizam os diagnósticos, além do quadro clínico, e também se orienta o tratamento, ou seja, se reajusta o tratamento a partir de uma terapêutica empírica. O foco é desde a indicação de coleta de

material para cultura. O labo-ratório necessita oferecer este suporte aos clínicos para que seja efetuada a indicação no momento correto, com o mate-

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rial biológico mais indicado para se realizar diagnóstico, evitar coletas desnecessárias, principalmente de materiais que podem representar mais colonização e contaminação do que uma real infecção, e isso também auxilia muito na prescrição do antibiótico. Com um diagnóstico mais preciso, utiliza-se menos antibióticos ou utiliza-se o antibiótico mais indicado. A missão do laboratório de microbiologia é sempre atuar em parceria com os clínicos para que haja condutas bem precisas, determinando qual é o melhor material biológico para realizar um diagnóstico preciso. A partir daí, o mate-rial sendo adequado, há um resultado rápido. A busca do laboratório é cada vez mais procurar por metodologias que dêem resultados rápidos. Possuímos metodologias au-tomatizadas que conseguem padronizar os resultados. Essa informação deve chegar rapidamente ao prontuário e estar acessível a todo o hos-pital de maneira ágil. Além disso, o laboratório fornece constantemente dados de pre-valência e distribuição dos microrganismos isolados e os perfis de sensibilidade aos antibióticos, o que auxilia nas medidas de controle de disseminação de patógenos resistentes e propicia o ma-peamento das unidades de internação dando bases para a escolha terapêutica empíri-ca de acordo com o sítio de infecção.”

Renato Satovschi Grinbaum, infectologista

“Há a tendência, em alguns laboratórios, da hiperautoma-tização. Ou seja, pouco recurso humano e muitas máquinas. Isso não é a melhor das estra-tégias. O papel ativo do micro-biologista confere consistência a um programa de controle de infecção no momento em que determina, seja em conjunto, mas o conhecimento técnico é do microbiologista, qual é a melhor coleta de culturas, a checagem da qualidade do material de cultura auxiliará na discussão da terapia primária, na consolidação dos laudos para que se possa implementar políticas de prevenção. Cada hospital apresenta problemas específicos com bactérias e cada hospital possui bacté-rias diferentes. É necessário que haja um profissional com conhecimento técnico, e não somente uma máquina, para que se possa discutir, de uma maneira muito mais lúcida e mais focada em um problema como infecção hospitalar. Existem alguns padrões que são comuns a todas as ins-tituições. Para se trabalhar com indicadores de infecção, há alguns que são obrigató-rios para todos os hospitais. Os índices de pneumonia, de infecção na corrente san-guínea, de infecção urinária, sítio cirúrgico, são obrigató-rios. Pode-se até dividir por complexidade de hospital. Para estes dados devem haver políticas públicas. Algumas medidas básicas de higieniza-

ção de mãos, decúbito, podem ser centralizadas e devem ser. A Agência Nacional de Vigi-lância Sanitária (ANVISA) dispõe de manuais básicos de diagnóstico e prevenção de cálculos de indicadores que estão sendo reestruturados em uma tentativa de haver uma coleta uniforme de dados para todo o Brasil. O Estado de São Paulo neste aspecto é pioneiro e possui um sistema de notificação centralizado. Sobre medidas de prevenção há questões que são especí-ficas de cada hospital. Qual é o melhor antibiótico para se utilizar neste hospital? O hospital apresenta problemas referentes à diarréia mais do que o hospital B? É necessá-rio haver medidas específicas para cada um deles. É obriga-tório que cada hospital possua uma comissão com autonomia para determinar um corpo de atuações que não sejam mais aquelas determinadas pela política pública, mas por sua necessidade diária.”

Renato Satovschi Grinbaum, médico infectologista

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Revista Racine: Como foi criada a APECIH, qual é a missão e de que maneira a entidade atua?

Glaucia Varkul-ja: Instituição civil, sem fins lucrativos, a APECIH é uma as-sociação multiprofis-sional, que foi criada em 1987 por profis-

sionais que à época acumulavam alguma experiência em prevenção e controle de infecção hospitalar, ainda incipiente no País. Possui por missão contribuir para a diminuição da incidência de infecção associada à assistência, e faz isso por meio da educação, da produção e da difusão de conhecimento, além de contribuir com organizações governamentais em polí-tica de controle de infecção hospitalar.

RR: Segundo o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado de São Paulo, os hospitais neste Estado registraram, em 2009, uma média de 36 casos de infecção hospitalar por dia. Como a APECIH avalia o alto índice de infecção hospitalar, prin-cipalmente em hospitais privados, e quais são as medidas preventivas a serem tomadas? GV: O trabalho desenvolvido pela Di-visão de Infecção Hospitalar do Estado permite que haja dados da realidade. A notificação é voluntária e crescente ano a ano. Em 2009 foram 680 hospitais. Os indicadores existentes de infecções associadas a dispositivos invasivos em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) revelam índices superiores a de realidades de países desenvolvidos. Porém esse dado é bastante variável de hospital para hospital, e mesmo alguns serviços públicos conseguiram, por meio de trabalhos reconhecidos

inclusive internacionalmente, reduções expressivas de suas taxas. Apesar de ser possível observar, por vezes, tendência de curva descendente de incidência, sabe-se que não necessariamente há reflexos de melhorias, e há a neces-sidade de investimentos maciços em prevenção e controle. A mais básica das medidas de prevenção é a compre-ensão, tanto por gestores quanto pelos profissionais diretamente envolvidos na assistência, de sua responsabilidade e de seu compromisso na prevenção do evento infecção. A APECIH contribui com a capacitação de recurso humano (foram mais de 14.000 participantes em seus vários eventos), de suas publica-ções (19 monografias, referência para seus mais de 2.800 sócios, sendo parte deles fora do Estado de São Paulo).

RR: A falta de higienização das mãos é uma das principais explicações para as infecções hospitalares, tanto que em 2010 a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a campanha Save Lives: Clean Your Hands. De que maneira esse hábito pode ser in-centivado nos hospitais, tanto entre os profissionais da saúde quanto entre os visitantes e familiares dos pacientes? A APECIH realiza alguma atividade com esse foco?GV: Higienizar as mãos é a atitude isolada que mais causa impacto em prevenir infecção hospitalar e con-seqüentes complicações associadas. Infelizmente, otimizar a higienização das mãos pelos profissionais de saúde (cuja adesão à prática está em torno de 40%) está entre os maiores desafios de quem atua com prevenção e controle de infecção. Entre as justificativas para esse baixo rendimento, encontra- se a falta de tempo. Recurso humano em número adequado para demanda é

essencial, mas capacitar e educar adul-tos que iniciam a vida profissional por volta dos vinte anos requer estratégias que devem ser implantadas com planos de melhorias também em médio e longo prazo. A utilização de solução alcoólica própria para essa finalidade reduz pela metade o tempo utilizado para higieni-zar as mãos na técnica correta (de 40 a 60 segundos com água e sabão, para 20 a 30 segundos), e que deve obedecer aos cinco momentos orientados pela OMS. A APECIH disponibilizou em língua portuguesa o guideline do CDC sobre o tema, e como membro do Comitê Téc-nico Estadual, sugeriu que se trabalhe a higienização das mãos como indicador de qualidade hospitalar. Prontamente aceita, a idéia se concretiza aos poucos, com a formação de um grupo composto por profissionais de hospitais públicos e privados, que avaliam desde como estimular a participação dos hospitais no Estado (que será voluntária) até a escolha dos indicadores, e a implanta-ção de um programa incluindo disponi-bilização de material para treinamento - baseado na proposta da OMS.

RR: Como analisa a atuação multi-profissional nos hospitais em relação ao controle da infecção hospitalar?GV: Presencia-se e participa-se de iniciativas governamentais, acadêmi-cas e da sociedade civil, coordenadas nos níveis estadual e nacional, para melhoria do cenário de prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde e à segurança do paciente. É fundamental esclarecer à população, em sua grande maioria sem poder de escolha do serviço de saúde, que há grande e contínuo movimento por parte de profissionais dedicados em sua tarefa de tornar o ambiente hospitalar o mais seguro possível.

Entrevista com Glaucia Varkulja, membro da diretoria da Associação Paulista de Epidemiologia e Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (APECIH)

APECIHAssociação Paulista de Epidemiologia e

Controle de Infecção Relacionada àAssistência à Saúde

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Qualidade em Antibioticoterapia: Estratégia de Racionalização de AntimicrobianosRenato Satovschi Grinbaum e Michele Zicker

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Panorama Geral

o se falar em controle de antimicrobianos, duas estratégias muito parecidas são rapidamente lembradas. A restrição, que consiste na exclu-

são ou liberação de um ou mais antimicrobianos, mediante justificativa, e o rodízio de antimicrobianos. Os estudos que abordam a eficácia dessas medidas são de metodolo-gia limitada e não permitem um julgamento mais racional. Na verdade, os princípios práticos e as possibilidades reais de intervenção acabam por nortear a prática, muito mais do que a medicina baseada em evidências.

Considerando estes princípios, é possível afirmar que não há evidência que ofereça suporte à utilização do ro-dízio de antimicrobianos, e as dificuldades práticas para implementá-lo dificultam sua realização. A maioria dos hospitais opta por formas de restrição por meio do formu-lário de solicitação de antimicrobianos, mais factível do aspecto prático, mas que também merece questionamento.

Todas as formas de restrição são úteis, porém limita-das. Na restrição completa, situação em que o antimicro-biano somente é liberado mediante avaliação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), há falta de recursos básicos. Habitualmente não há plantão de CCIH nos hospitais, e a não liberação de antimicrobianos nesta situação se torna um problema de cunho ético, em pri-meiro lugar. Ao haver liberação mediante telefonema, a qualidade da avaliação é prejudicada.

Na restrição parcial, em que o laudo da CCIH é rea-lizado após a liberação pela farmácia, a racionalização fica limitada porque existe uma divergência entre o caso e a avaliação, gerada por vários fatores. São exemplos: a ficha é preenchida por um plantonista que não acompanha o paciente e não será ele quem discutirá com a CCIH - nestes casos, muitas particularidades poderão ser perdi-das no momento da checagem da CCIH; preenchimento inadequado da ficha, gerando trabalho desnecessário da CCIH; melhora do paciente com o esquema, o que gera conflito no momento de uma eventual substituição.

Ambas as formas de restrição apresentam problemas que apontam a necessidade de estratégias adicionais:a. Espectro limitado de medicamentos restritos. Neste

caso, muitas vezes o critério de inclusão não é técnico, e considera mais o preço, o tempo de uso no mercado ou o falso conceito de antibióticos vilões, indutores de resistência;

b. Atuação somente sobre o diagnóstico escrito, sem avaliação da qualidade do diagnóstico da infecção;

c. Volume de fichas grande, gerando liberações sem a

A avaliação apropriada;d. Sobrecarga de trabalho para enfermagem e farmácia;e. Trabalho disperso, com baixo poder de educação e

modificação de comportamento;f. Ausência de um indicador de qualidade - o número de

fichas negadas é parâmetro extremamente subjetivo;g. Trabalho baseado em conflito, com geração de poucas

oportunidades de real modificação de comportamento.

Desta forma, um programa baseado somente em restrição terá alcance limitado, além de ser incapaz de gerar indicadores de seus próprios resultados. A restrição é particularmente útil para antimicrobianos dos quais se espera utilização bastante limitada, e, de forma ideal, deve estar associada a uma padronização bem divulgada das indicações de uso daquele antimicrobiano. Para an-tibióticos de alto consumo, esta estratégia dificilmente resultará em benefícios mais concretos.

As estratégias baseadas somente em educação tam-bém são limitadas. Em particular em hospitais abertos ou em serviços com grande número de plantonistas, as estratégias educacionais são difíceis de ser executadas e apresentam baixa eficácia.

Aulas gerais são marcos importantes, mas a magni-tude do seu efeito é desproporcional, não apenas pela dificuldade de agregação de indivíduos, mas pela pe-quena assimilação de conceitos e baixa capacidade de promover modificação de comportamento.

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Panorama Geral

Guias terapêuticos muitas vezes são formulados pela CCIH sem a participação ou com mínima re-presentatividade dos prescritores, podendo não atender às necessidades técnicas dos médicos. É comum que normatizações genéricas não consi-derem particularidades da população atendida, sendo consequentemente de pouca utilidade. Sem participa-ção dos envolvidos, freqüentemente as normatizações são esquecidas e pouco aplicadas.

Isto não quer dizer que não se deva realizar um programa educativo ou restritivo, mas sim que é necessário somar esforços e planejar no intuito de se estabelecer quais são os com-ponentes mais importantes de um programa de qualidade, e não baseá-lo em pilares únicos e pouco adaptados à realidade de cada instituição.

Projeto de qualidade em antibioticoterapia

O programa de qualidade em antibioticoterapia surge como uma

alternativa às práticas de restrição de uso de antimicrobianos. Possui como objetivo melhorar a qualidade do diagnóstico clínico, e conse-qüentemente evitar a introdução de antibióticos desnecessariamente. O programa é baseado nos seguintes princípios:1. A antibioticoterapia deve ser en-

quadrada dentro de um programa de qualidade, não se constituindo em um ponto de auditoria parti-cular ou excepcional dentro do sistema de saúde. Desta pers-pectiva, devem ser abordados estrutura, processos e resultados. Esta modificação de visão é tão importante que ao aplicá-la será possível perceber que a prescrição inapropriada de antimicrobianos muitas vezes guarda profunda re-lação com a estrutura de funciona-mento do hospital. Por exemplo, o número inadequado de médicos, a ausência de diaristas para acompa-nhamento horizontal do paciente, a falta de retaguarda ambulatorial gerando internações desnecessá-rias e antibioticoterapia excessiva

podem prejudicar a prescrição; 2. O programa deve seguir o esque-

ma tradicional do PDCA (Plan, Do, Check, Act). Para tanto, é necessário, a princípio, planejar a antibioticoterapia - e neste momen-to as prioridades técnicas do pro-grama podem ser implementadas (medicamentos de menor espectro, adequação de tempo etc);

3. É imprescindível a participação do prescritor no momento do planeja-mento. A antibioticoterapia não é prerrogativa da CCIH, e nada mais correto que o compartilhamento de idéias na formulação de estratégias;

4. Ao contrário das estratégias tra-dicionais, os indicadores não se-rão somente um dado adicional e passarão a se tornar parte vital do programa. Para tanto, a CCIH deverá possuir indicadores claros e precisos, mensalmente analisados. Aqueles indicadores considerados importantes devem ser retornados a todos os envolvidos, assim como as atitudes necessárias para estabele-cimento de resultados satisfatórios.

5. Uma das medidas mais impor-

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Panorama Geral

tantes é a modificação de foco da CCIH, que deve deixar de ser exclusivamente nos medicamen-tos e voltar-se para observar toda a antibioticoterapia. A CCIH não mais avaliará se um medicamento prescrito está apropriado ou não, mas observará, em primeiro lugar, o diagnóstico (se justifica a anti-bioticoterapia - ocasionalmente analisando os dados utilizados para o diagnóstico) e se o esquema prescrito - independentemente do medicamento ser ou não restrito - é o mais apropriado, ou padronizado para aquela situação.

O planejamento de guias para prescrição de antimicrobianos re-quer a participação de todos os envolvidos. Em primeiro lugar é necessário conhecer, no serviço ou na instituição, quais são os diagnósticos mais comuns, as particularidades da população e, finalmente, os esquemas mais prescritos para cada diagnósti-co. Estes dados podem ser facilmente obtidos por meio de auditoria de 50 a 100 prescrições, preferencialmente

prospectiva, que permita identificar prioridades. Não será surpresa des-cobrir nesta situação que os antimi-crobianos utilizados de forma mais precária são aqueles considerados não restritos ou não prioritários, mas que direta e indiretamente interferem na prescrição de medicamentos de maior espectro, além da própria se-leção de resistência que promovem.

Também é freqüente a descoberta de uma grande heterogeneidade de esquemas para a mesma situação, apontando a necessidade de organi-zação do serviço clínico e desenvol-vimento de guias efetivos. Em para-lelo, é importante saber os motivos que levam os médicos a prescrever este ou aquele antibiótico e também as dificuldades que encontram no momento da prescrição. Muitas vezes, a falta de recursos estruturais (retaguarda ambulatorial para re-torno precoce, exames laboratoriais para determinação de gravidade) pode influenciar de forma decisiva na escolha dos antimicrobianos. A identificação e a correção destes

problemas poderão contribuir para a melhoria da qualidade da prescrição, além de estreitar o vínculo entre o corpo clínico e a CCIH.

A formulação do guia deverá ser em conjunto com os prescritores, e neste momento, deverão ser conci-liadas a escolha clinicamente correta do antimicrobiano e a utilização do esquema com menor espectro pos-sível para aquela situação. Podem ser planejados, neste ponto, rodízio, diversificação ou restrição de antimi-crobianos, ou priorização de classes para situações clínicas definidas.

Do aspecto da escolha do an-timicrobiano, os princípios mais importantes do guia são: priorizar antimicrobianos de menor espectro, com menor dano potencial à ecologia hospitalar; antecipar as principais condições dentro de cada diagnóstico que indiquem esquema alternativo ou de maior espectro; rodízio e res-trição de antimicrobianos podem ser previstos, mas parece ser mais racio-nal uma estratégia de diversificação de classes, que consiste em optar por várias classes como a primeira esco-lha nas diversas situações clínicas, evitando uso maciço de uma classe somente em todas as situações, como se observou com as cefalosporinas de terceira geração e mais recen-temente com as quinolonas. Cabe destacar que um guia adequado deve também abordar:• Critérios diagnósticos, particular-

mente importantes na pneumonia hospitalar, pneumonia do idoso, pneumonia aspirativa, candidúria entre outros. O impacto desta padronização pode ser maior que o da escolha ou restrição de me-dicamentos;

• Critérios de gravidade que mo-tivarão internação, terapia pa-renteral ou esquemas de maior espectro;

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• Coleta de culturas e ajuste de esquemas com os re-sultados;

• Duração do tratamento.

Após o término da confecção do guia, devem ser pla-nejadas as estratégias de educação e modificação de com-portamento. A estratégia mais importante é a divulgação clara e universal. Ao invés de ofícios formais, a priorida-de recai nos meios que efetivamente são utilizados pelo prescritor, sejam guias de bolsos, cartazes nas salas de prescrição ou participação nas reuniões dos grupos. A visita clínica - freqüentemente utilizada para discussão de casos mais complexos, ocasionalmente estimulando prescrição de medicamentos de maior espectro, passa a ser um facilitador, desde que a prioridade de discussão recaia nos casos rotineiros, abordados na padronização. É importante destacar que, ao contrário das estratégias tradicionais, os métodos educativos possuem maior efe-tividade por possuírem respaldo do corpo clínico, pela diversidade de estratégias (aulas, panfletos, guias, infor-matização etc.) e pela inserção em programa como uma ferramenta que age sinergicamente com outras atuações.

Após a divulgação dos guias, é imprescindível a de-terminação da eficácia das medidas tomadas. Uma busca ativa, ainda que limitada, à semelhança da vigilância rotineira feita no hospital é mais efetiva do que as fichas com notificação passiva das informações da infecção.

Há grande debate sobre quais seriam os indicado-res do programa. Alguns destes podem ser locais. Por exemplo, se em um determinado hospital a prescrição de glicopeptídeos para erisipelas é um problema, após a normatização, um dos indicadores poderá ser a porcen-tagem de uso de glicopeptídeos para tal infecção.

Em uma abordagem mais ampla, devem ser de-

senvolvidos três indicadores: indicadores do perfil de sensibilidade bacteriana, indicadores de consumo de an-timicrobianos e indicadores de qualidade da prescrição:a) Indicadores do perfil de sensibilidade bacteriana:

Habitualmente são utilizadas as porcentagens de sus-ceptibilidade por agente. Além do grande volume de informações (vários antibióticos, muitas bactérias), trata-se de cifra sujeita à variação da ocorrência tanto das bactérias sensíveis, quanto resistentes. Adicional-mente, pode induzir ao uso exagerado de antimicro-bianos. O melhor indicador é a incidência de casos de bactérias resistentes selecionadas. Em primeiro lugar, são escolhidos microrganismos marcadores (Exemplo: MRSA, VRE, produtores de ESBL etc). Em seguida,

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Panorama Geral

Referências Bibliográficas

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Renato Satovschi Grinbaum é graduado em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em infectologia pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, mes-tre e doutor em clínica médica pela Univer-sidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atualmente é responsável pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital (CCIH) do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo (HBP-SP).

Michelle Zicker é graduada em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG) e especialista em infectologia pela UNIFESP. Atualmente é médica infectologista do HBP-SP.

são anotados mensalmente os números de casos clínicos compro-vadamente causados por cada um dos agentes, e em seguida, deve-se dividir esse valor pelo número de pacientes-dia da unidade ou do hospital. Desta forma obtém-se um indicador objetivo que permite acompanhar a evolução da ocor-rência do microrganismo. O pro-blema deste indicador decorre do fato de que a variação da ocorrên-cia de organismos resistentes não é dependente do uso prudente de antimicrobianos exclusivamente. Esses indicadores podem expressar também surtos, maior gravidade dos pacientes, uso elevado, mas prudente de antimicrobianos, e práticas de controle de infecção sub-ótimas. Portanto, os indicado-res do perfil de sensibilidade são importantes, mas não devem ser as únicas ferramentas de avaliação do programa;

b) Indicadores de consumo de an-timicrobianos: São importantes por mostrar tendências de uso de medicamentos ou classes, mas não explicam se o motivo do uso é justificável ou não. O indicador utilizado é o número de Dose Diária Definida (DDD) por mil-pacientes-dia;

c) Sendo que a resistência é questão multifatorial e muitas das vari-áveis não são passíveis de con-trole, as principais ferramentas na avaliação do programa são os indicadores de qualidade da anti-bioticoterapia. Diversos indicado-res podem ser desenvolvidos, mas

o mais simples e factível é a taxa de conformidade. Esta consiste na vigilância de uma, várias ou todas as infecções, observando-se o es-quema inicialmente prescrito para elas. Considera-se em conformi-dade, a prescrição de esquema previsto na padronização. Caso não esteja previsto, mesmo que seja justificável tecnicamente, o esquema deverá ser classificado como em inconformidade. Este indicador permite uma análise mais objetiva e precisa, com o retorno dos resultados aos pres-critores e à administração do hospital, além do planejamento de novas atuações.

À semelhança das taxas de in-

fecção, os indicadores propostos devem ser interpretados periodica-mente e utilizados para se fechar o ciclo PDCA, gerando contínua melhoria da antibioticoterapia. Não será surpresa descobrir durante a análise dos indicadores que a solu-ção de muitas das inconformidades não está no contato direto com o prescritor, mas em modificações estruturais no atendimento da uni-dade. Adicionalmente, altas taxas de inconformidade podem indicar falta de confiança dos prescritores nos esquemas propostos, e necessidade de adequação dos guias às particula-ridades locais. A partir destes dados, é possível estabelecer programas de educação e restrição mais dirigidos, voltados para as questões levanta-das na vigilância, e com resultados mais concretos.

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Especial de Capa / Farmácia

Controle de Utilização de Antimicrobianos em Ambiente HospitalarSamuel Pereira e Lisiane Thomazzi

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Especial de Capa / Farmácia

Introdução

Um dos principais objetivos dos profissionais de saúde é estabelecer o uso racional de medicamentos 1. O uso indiscriminado de medicamentos pode trazer conseqüências catastrófi-cas para a população em geral. Uma das conseqüências mais importantes refere-se à classe de medicamentos de grande importância terapêutica: os antibióticos.

A descoberta dos agentes anti-microbianos trouxe a falsa sensação de que a população estava imune a infecções, pois as sulfonamidas, des-cobertas em 1936, e as penicilinas descobertas em 1940, reduziram de forma acentuada as taxas de mor-bidade e mortalidade. Porém, antes mesmo da disponibilização da peni-cilina para uso clínico, identificou-se a presença de resistência de algumas espécies de bactérias e logo o sur-gimento de resistência adquirida aos antimicrobianos passou a ser um problema cada vez mais preo-cupante 2, 3. Novos medicamentos antimicrobianos surgiram, em geral mais potentes e com espectro de ação cada vez maior e a prescrição dos mesmos tornou-se uma prática cada vez mais comum 4. Oriundo deste evento, percebeu-se existir uma relação direta entre o consumo dos antibióticos e o aumento da resistência microbiana aos mes-mos, e que a principal causa desta resistência era o uso inadequado do antibiótico decorrente da escolha empírica do agente antimicrobiano para o tratamento das infecções 5, 6.

Cenário atual

Atualmente, a resistência aos antimicrobianos é um dos problemas de saúde pública mais graves do mundo. Muitos dos microrganis-mos (bactérias, vírus, protozoários)

causadores de enfermidades infec-ciosas têm deixado de responder aos antimicrobianos de uso comum. O problema é tão grave que, se não houver uma ação em escala mundial, há risco de se regressar a era pré-an-tibióticos na qual doenças aparen-temente banais como infecções de ouvido, pele e garganta resultavam em surdez, morte ou seqüelas devido à septicemia e outras complicações e não era possível realizar procedi-mentos cirúrgicos mais invasivos devido ao risco de contaminação e a falta de medicamentos para com-bater estas infecções 7.

Existem vários mecanismos de resistência dos microorganismos aos agentes antiinfecciosos, os mais comuns são: perda da permeabilida-de da membrana, exclusão ativa do antimicrobiano, alteração do sítio de ligação, alteração do receptor de membrana, superprodução de enzima-alvo, síntese de enzimas que inativam o fármaco e rotas metabó-licas alternativas 2.

Pelo uso extensivo de antimicro-bianos betalactâmicos de amplo es-pectro na década de 1980, microorga-nismos que possuíam betalactamases mediadas pelo gene TEM desenvol-veram resistência a cefalosporinas de amplo espectro e monobactâmicos. Este desenvolvimento de resistência se deve a mutações nos genes bla-TEM-1 e blaSHV-1 , que resultam na substituição de aminoácidos alte-rando o substrato específico das en-zimas. Desde então, inúmeros relatos de surtos envolvendo K. pneumoniae produtoras de betalactamases de espectro estendido (ESBL) são repor-tados. Os plasmídios que carregam os genes que codificam a produção de ESBL geralmente contêm genes de resistência a outros antimicrobianos como aminoglicosídeos, sulfonami-das, tetraciclinas e cloranfenicol 8.

A eficácia microbiológica é de-terminada in vitro e corresponde à capacidade de um antibacteriano eliminar ou inibir a multiplicação de bactérias, ou seja, caracteriza o fármaco em bactericida ou bacte-riostático. As bactérias cuja MIC determinada in vitro não pode ser obtida in vivo são consideradas re-sistentes ao antimicrobiano 2.

Políticas de monitorização

A escolha do antimicrobiano deve ser orientada pelas características mi-crobiológicas e farmacológicas deste fármaco. As condições ideais para a prescrição de um agente antimicro-biano seria: baseado nos sinais, nos sintomas e nos possíveis resultados de exames, o diagnóstico médico da infecção e a necessidade de se utilizar o antimicrobiano, preenchendo-se um documento de solicitação de an-timicrobiano que seria encaminhado a SCIH do hospital para liberação da utilização do medicamento. So-mente após esta liberação o serviço de farmácia realizaria a dispensação do medicamento 1, ou seja, a libera-ção do medicamento somente seria realizada se a indicação de uso do

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mesmo for contemplada pelo proto-colo de utilização padronizado pela SCIH da instituição, que deve avaliar esta prescrição e tomar as medidas educacionais de forma ágil e eficiente junto ao corpo clínico 4.

Porém, como a utilização de esque-mas de prescrição neste tipo é inviável na maioria dos hospitais, o estudo do consumo de antimicrobianos torna- se um processo complicado. Neste caso, pode-se tomar como indicador a quantidade administrada de um deter-minado antimicrobiano, por exemplo, mediante ao número de frascos admi-nistrados ou número de doses consu-midas. O problema é encontrar uma forma de trabalhar que permita fazer comparações com estudos realizados em hospitais de outras cidades, esta-dos ou países, em diferentes espaços de tempo, pois este parâmetro pode variar para cada medicamento entre diferentes países, inclusive para um mesmo medicamento. A solução para este problema está na unidade técnica internacional de medida de consumo de medicamentos denominada Dose Diária Definida (DDD), recomendada pela Organização Mundial da Saú-

da (OMS) e que permite que sejam realizados estudos quantitativos de consumo dos antimicrobianos.

A DDD é a dose média diária mantida ao se utilizar um fármaco em sua indicação principal e não corresponde necessariamente com a dose utilizada pelos pacientes. O valor para cada fármaco é definido pela Nordic Coyncil on Medicines e pode ser encontrado em tabelas 1.

Para calcular o número de DDD referente ao consumo de determinado medicamento utiliza-se a seguinte fórmula:

/100 leitos/dia = A x 100 B T x C x F

Na qual: A = Quantidade total do medicamen-

to consumido (em gramas);B = DDD estabelecida para o medi-

camento (em gramas);T = Período de tempo observado

(em dias);C = Total de leitos disponíveis no

hospital;E = Índice de ocupação observado

no período.

Uma maneira simplificada de realizar seu cálculo é dividindo-se o consumo do medicamento pelo produto de sua DDD pelo total de paciente/dia no mesmo período considerado, multiplicando-se o resultado por 100, ou seja 1:

DDD/100 leitos/dia = A x 100 B P

Na qual:P = Pacientes/dia no mesmo perío-

do de tempo observado.

O conhecimento detalhado da situação da resistência aos antibióticos e suas tendências de evolução devem ser o passo inicial para a tomada de decisões que auxiliem sua contenção e elabo-ração de protocolos de tratamento empírico. A DDD tem sido uma ferramenta de relevante impor-tância para estudos de consumo dos antibióticos, facilitando a monitorização do mesmo e con-seqüentemente, minimizando o surgimento e a disseminação da resistência bacteriana.

Estudos baseados em infor-mações coletadas por meio de cálculos de DDD são divulgados no mundo todo, principalmen-te em países europeus, onde a preocupação com a resistência microbiana é mais antiga que nos países em desenvolvimento. Estudos com DDD realizados na Europa demonstraram que o consumo de antimicrobianos não era o ideal. Em Portugal, foi realizado em 2004, um estudo em seis hospitais e o resultado demonstrou que a maior parte dos antimicrobianos foi prescrita para profilaxia cirúrgica 9. Este tipo de prescrição geralmente é realizado de forma empírica e esta é a principal causa de surgimento de cepas multiresistentes 7.

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Especial de Capa / Farmácia

Referências Bibliográficas

1. Silva LC et al. Benchmarking Aplicado ao Controle do uso de an-timicrobiano no hospital da aeronáutica de São Paulo. RMAB. 2002.2. Moreira LB. et al. Princípios para uso racional de antimicrobianos. Revista da AMRIGS. V 48 nº2: 73-152/ Abril - Junho 2004.3. Therre H. Políticas nacionais para a prevenção da resistência aos antibióticos - a situação em 17 países europeus no final do ano 2000 - Eurosurveillance, Volume 6, Issue 1, 01 January 20014. Lima LRS. et al. Automatização da Solicitação de Antimicrobianos como Ferramenta no Processo de Avaliação, Auditoria e Uso Racional. 5. Mazón A. et al. Etiologia y sensibilidad antibiótica de las infecciones extrahospitalares más frecuentes, excepto las del tracto respiratorio inferior. Vol 125. no 3. 20056. Mimica MJ. et AL. Diagnóstico laboratorial da resistência à oxacilina em Staphylococcus aureus J. Bras. Patol. Med. Lab. vol.43 no.6 Rio de Janeiro Dec. 20077. Hogerzeil HV. Perspectiva politicas de la OMS sobre medicamentos - La contención de la resistencia a los antimicrobianos. Organização Mundial da Saúde. Genebra. Abril 2005.8. Pereira AS. et al. Avaliação da acurácia de testes laboratoriais para detecção de amostras de Klebsiella pneumoniae produtora de betalac-tamase de espectro estendido. J. Bras. Patol. Med. Lab. vol.39 no.4 Rio de Janeiro 20039. Caldeira L. et al. Monitorização do consumo de antibióticos nos serviços de cirurgia e de ortopedia de seis hospitais AS. Acta Medica Portuguesa. Portugal, 2006.

Samuel Pereira é graduado em farmácia e bioquímica pela Uni-versidade Nove de Julho (UNINOVE). Atualmente é coordenador da farmácia hospitalar do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo (HBP-SP) .

Lisiane Thomazzi é graduada em farmácia pela Universidade Metropolitanas Unidas (UNI-FMU) e especialista em farmácia hos-pitalar oncológica pela Fundação Antônio Prudente do Hospital A. C. Camargo. Atualmente é farmacêutica do HBP-SP.

Conclusão

A descoberta dos antimicrobianos foi de grande importância para a saúde mundial, porém, a utilização indiscriminada dos mesmos em ambientes hospitalares fez com que os microorganismos desenvolvessem me-canismos de resistência a estes fármacos. Para que se racionalize o uso destes medicamentos é necessária a implantação de políticas de monitorização de consumo, que podem ser por meio de protocolos de utilização, com os quais observa-se, na prática, que os resultados obtidos não são eficazes, pois não garantem a conscientização dos prescritores, ou através da monitorização do consu-mo dos antimicrobianos por DDD, sendo esta segunda uma ferramenta de qualidade que gera subsídios para as ações da SCIH.

Estes programas de racionalização do uso de anti-microbianos, além de otimizar os efeitos terapêuticos clínicos, diminuem as conseqüências indesejáveis da utili-zação destes medicamentos, como a toxicidade, a seleção de microrganismos patogênicos e o desenvolvimento de resistência, que também reduzem os custos com a terapia medicamentosa nos hospitais, sendo este, muitas vezes, o carro chefe para a implantação dos mesmos.

A implantação de políticas de uso racional de antimi-crobianos é um importante início, mas a prescrição cons-ciente é o que fará a diferença no controle da resistência microbiana aos medicamentos.

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Especial de Capa / Enfermagem

Papel do Enfermeiro na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH)Maria de Lurdes Hirato Hasegawa e Viviane Cristina Caetano Nascimento

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Especial de Capa / Enfermagem

esde que o Governo Federal publicou a Portaria nº 196/Ministério da Saúde, em 24 de junho de 1983, obrigando a todos os hospitais brasilei-

ros a manterem uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), os profissionais que atuavam nesta área procuraram aprimorar o serviço realizado para se adequar à legislação vigente.

Em 6 de janeiro de 1997 foi promulgada a Lei nº 9.431 que traz a obrigatoriedade da manutenção de Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) pelos hospitais. Em 13 de maio de 1998, lançou-se a Portaria nº 2616, que reforçou a importância do PCIH, determinando as ações mínimas necessárias a serem desenvolvidas visando à redu-ção da incidência de infecção hospitalar, diretrizes e normas para a prevenção e o controle das infecções hospitalares.

Uma das maiores dificuldades encontradas, talvez até nos dias atuais, seja a adequação do número de profis-sionais atuantes em controle de infecção, proporcional ao número de leitos oficiais da instituição. Conforme a Portaria nº 2616, a cada 200 leitos são necessários, no mínimo, dois membros executores da CCIH.

O enfermeiro é considerado um dos profissionais im-prescindíveis na constituição da CCIH, não apenas pela sua formação, mas por ser o elemento que mantém contato direto com a equipe que presta os cuidados constantes aos pacientes.

Outros profissionais também são fundamentais na participação da CCIH, como o médico infectologista, o farmacêutico, o microbiologista e o administrador.

No Hospital São Joaquim, da Real e Benemérita As-sociação Portuguesa de Beneficência de São Paulo (BP), o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) iniciou suas atividades no final da década de 1970, quan-do foi designado apenas um enfermeiro para realizar um levantamento dos casos de infecção na cirurgia cardía-ca. Com o passar do tempo, o serviço foi crescendo na sua estrutura, em recursos humanos e na melhoria dos processos de trabalho para a prevenção e o controle das infecções na instituição.

Atualmente, o SCIH da BP conta com uma equipe formada por quatro enfermeiros, sendo que um deles

D

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Especial de Capa / Enfermagem

é destinado às atividades de padro-nização de insumos hospitalares e controle de qualidade dos mesmos.

No PCIH desta instituição, a missão é a prevenção da ocorrência de infecções hospitalares e a redução das suas conseqüências, por meio de conhecimento sistemático, inter-venção racional e participativa, com excelência e prioridade na segurança dos pacientes.

Dentro deste PCIH, e de acordo com a Portaria nº 2616, ao enfermeiro compete:• Realizar a busca ativa das infecções

relacionadas à assistência à saúde. Essa prática, a vigilância epidemio-lógica das infecções hospitalares, deve ser incorporada ao dia-a-dia do enfermeiro, pois é a fonte de informação para a elaboração dos indicadores de infecção hospitalar, que é considerado um indicador importante dentro de um programa de qualidade;

• Conscientizar todos os profissionais sobre a importância da higienização das mãos, focando os cinco mo-mentos definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS): antes e após o contato com o paciente, após manipular material biológico, antes da realização de procedimen-to asséptico e após contato com superfícies próximas ao paciente;

• Manter a prática de higiene das mãos como foco primordial para a prevenção das infecções hospitala-res, por meio de campanhas inter-nas e do fornecimento de recursos materiais necessários para essa prática, como banners, cartazes, folders, e outros;

• Manter-se atualizado com relação às melhores práticas de prevenção da infecção relacionada a assistên-cia à saúde. Para tanto, é necessário acompanhar as orientações/reco-mendações do Ministério da Saúde,

participar de eventos, congressos e seminários relacionados ao tema;

• Definir novas práticas de preven-ção de acordo com guidelines internacionais atualizados, ou resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), procurando adequá-los à realidade da instituição;

• Conhecer as melhores práticas de prevenção e implementá-las com os responsáveis de cada área. Após a implementação das práticas é neces-sária a educação dos profissionais diretamente envolvidos, que pode ser realizada por meio de treinamen-tos programados, no próprio setor de trabalho do colaborador, com a finalidade de otimizar o tempo e maximizar a participação do grupo;

• Garantir a educação continuada da equipe de enfermagem direcionada às melhores práticas de preven-ção da infecção, com foco nas principais síndromes infecciosas, tais como, a infecção da corrente sanguínea relacionada ao uso de cateter venoso central, infecção do trato urinário relacionada ao uso de sonda vesical, infecção do trato respiratório relacionada ao uso de ventilador mecânico, além das in-fecções do sítio cirúrgico;

• Manter a educação continuada de todos os profissionais é de extrema importância, não apenas da equipe

de enfermagem, mas de todas as áreas de apoio, como serviço de nutrição e dietética, lavanderia, serviço de higiene e limpeza, labo-ratório, e outros;

• Realizar auditorias de processo nos diversos setores assistenciais para avaliação da adesão às práticas orientadas pela CCIH. Avaliar esses resultados e definir ou traçar um plano de ação para fundamentar uma melhor ação da CCIH, com partici-pação efetiva da área auditada;

• Atuar também em todas as outras áreas da instituição de saúde: labo-ratório de análises clínicas, banco de sangue, lactário, manutenção, central de esterilização e demais áreas críticas de uma instituição. Nestas áreas são programadas visi-tas técnicas, nas quais são utilizados os roteiros de inspeção da ANVISA. Essas visitas são realizadas com a participação do enfermeiro, do infectologista da CCIH e do encarre-gado do setor, no qual são apontadas as não conformidades que deverão ser solucionadas até a próxima visi-ta, agendada com antecedência, em comum acordo, com prazos para as adequações apontadas;

• Participar do processo de avaliação de reformas dentro da instituição. A CCIH deve se manter informada sobre todos os processos de refor-ma, antes do seu início, para que

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Especial de Capa / Enfermagem

as devidas contenções sejam reali-zadas, com a finalidade de reduzir os riscos de infecção decorrentes destes procedimentos;

• Atuar na detecção de surtos infec-ciosos, por meio da vigilância epi-demiológica dos casos notificados;

• Elaborar e divulgar protocolos de prevenção de infecção, protocolos de precauções e isolamentos, reco-mendações de uso de germicidas, dentre outros.

• Realizar a padronização dos agen-tes químicos, orientando sobre a forma de uso, tempo de imersão, validade etc.;

• Participar do processo de seleção de novos insumos, equipamentos, produtos e agentes químicos, de acordo com as normas vigentes e oficiais do Ministério da Saúde/ANVISA.

• Participar da validação de novos equipamentos de limpeza, termo-desinfecção, esterilização etc.

O enfermeiro é considerado peça chave dentro de um PCIH, pois é o responsável pela elaboração, imple-mentação, divulgação, treinamento,

manutenção da vigilância constante, sobre as melhores práticas de pre-venção de infecção relacionada à assistência a saúde. Para o sucesso de um PCIH, é fundamental o apoio efetivo da administração, com o fornecimento de recursos humanos, materiais e financeiros, para a efeti-vação da prática de prevenção dese-jada. O apoio de todos os gestores, de todas as áreas de uma instituição, também deve ser considerado, pois deve existir o envolvimento total para o sucesso na adesão das diretrizes definidas pela CCIH.

A comunicação eficaz é impres-cindível não apenas para atingir os objetivos, mas como meio de divul-gação das informações em todos os níveis de uma organização.

O enfermeiro da CCIH necessita possuir visão sistêmica da insti-tuição, de todos os processos com relação à assistência à saúde. Deve manter a flexibilidade, ser dinâmico e manter relacionamento adequado com as diversas áreas, para facilitar o trabalho da CCIH.

Referências Bibliográficas

Portaria nº 196, de 24 de junho de 1983, Minis-tério da Saúde - dispõe sobre as instruções para o controle e prevenção de infecção hospitalarLei nº 9431, de 6 de janeiro de 1997, Ministé-rio da Saúde - dispõe sobre a obrigatoriedade da manutenção de Programa de Controle de Infecção HospitalarPortaria nº 2616, de 12 de maio de 1998, Ministé-rio da Saúde- dispõe sobre as Diretrizes e Normas para a prevenção e controle de infecção hospitalarMonografia da Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar/ APECIH- Como instituir um Programa de Controle de Infecção Hospitalar, 2007Brasil, Agencia Nacional de Vigilância Sani-tária- Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Higienização das Mãos/ Brasília/ 2009 OPAS/ ANVISA - Os cinco momentos para a higienização das mãos, 2008

Maria de Lurdes Hirato Hasegawa é gradu-ada em enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é enfermeira da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCHF) do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Viviane Cristina Caetano Nascimento é gra-duada em enfermagem pela USP, especialista em epidemiologia hospitalar pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e MBA em gestão em saúde e controle de infecção pelo Instituto Nacional de Ensino Superior e Pesquisa (INESP). Atualmenté é enfermeira da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCHF) do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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Especial de Capa / Microbiologia

Relacionamento da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) com o Laboratório de MicrobiologiaMaria Rita Elmor de Araújo

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Especial de Capa / Microbiologia

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Introdução

As infecções hospitalares repre-sentam uma das principais complica-ções dos cuidados em saúde afetando milhões de indivíduos anualmente, sendo responsável por grandes taxas de morbi-letalidade e gerando altos custos direta ou indiretamente. Por este motivo, todas as instituições de saúde devem possuir um programa de controle de infecções em que sejam constantemente monitoradas, prevenidas e de alguma forma con-troladas para que não se disseminem no ambiente hospitalar (e para a comunidade).

Assim sendo, e por saber que o

controle de infecções requer a ca-pacidade de detectar as mesmas ao ocorrerem, o laboratório de micro-

biologia está integralmente ligado a qualquer programa de controle de infecção hospitalar 1, 7.

Idealmente, os laboratórios de microbiologia deveriam estar inseri-dos nos grandes hospitais e oferecer disponibilidade de acesso 24 horas. Para que possa desempenhar papel adequado no controle de infecção hospitalar, os laboratórios devem possuir instalações de qualidade e microbiologistas treinados, possi-bilitando a correta identificação dos microorganismos em nível de espécie e antibiograma. Isto é atingido com um programa de qualidade ativo, em que se garanta que as informações dos testes realizados no laboratório de microbiologia sejam acurados, confiáveis e reproduzíveis. O concei-to de qualidade em microbiologia é

cada vez mais integrado ao processo de monitoração, de avaliação e de melhoria contínua da confiabilidade e da eficiência dos procedimentos re-lacionados ao cuidado aos pacientes.

Integra a rotina do microbiolo-gista clínico a implementação e a atualização constante dos testes diag-nósticos, a supervisão dos técnicos, o contato com os clínicos para discus-são de casos, o auxílio na interpre-tação dos resultados e na orientação no tratamento de infecções e também participar ativamente do controle de infecção, sempre visando a melho-ria do atendimento ao paciente e a manutenção de um ambiente seguro.

O controle destes processos é al-cançado por meio do gerenciamento de técnicas que assegurem que a

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Especial de Capa / Microbiologia

evolução seja previsível, estável e trabalhando em uma faixa sempre muito próxima aos objetivos.

O cenário político tem se modificado e há uma tendên-cia mundial para que as instituições cada vez mais con-trolem seus processos (por meio de selos de acreditação, por exemplo) e mostrem seus dados para o público para que sejam comparados com outras instituições.

Assim, os hospitais são “convidados” a divulgarem seus dados de infecção voluntariamente. Em alguns países, aqueles que submetem seus dados tendem a ser reembolsados com taxas maiores, podem participar de programas de qualidade atualizados gratuitamente, além de outros privilégios 2.

Portanto, a integração entre os microbiologistas e o controle de infecção deve apresentar como objetivos principais desenvolver e aplicar protocolos para a ava-liação diagnóstica rápida e precisa, para o manuseio e o tratamento de pacientes com possíveis infecções, in-cluindo a racionalização do uso de antimicrobianos, para que as metas de melhoria e segurança do atendimento aos pacientes se reflita em indicadores comparáveis aos melhores hospitais, inclusive internacionalmente.

Comunicação

A comunicação entre a CCIH e o laboratório é es-sencial. Peça chave é o conhecimento que cada grupo possui do outro. O grau de entendimento e a sofisticação do conhecimento podem variar enormemente entre as equipes. Quanto mais conhecimento microbiológico a equipe de controle de infecção tiver, melhor será seu tra-balho. É muito importante que os membros executores do controle de infecção estejam a par dos processos e saibam entender a linguagem e a rotina do laboratório, quanto tempo os resultados demoram a ficar prontos, quais são as limitações técnicas e de interpretação de acordo com as metodologias empregadas (por exemplo, resultados de disco-difusão ou concentração inibitória mínima por automação ou Etest), ou por alguns métodos diferenciados (por exemplo, PCR - reação de polimerase em cadeia) podem não ser disponíveis localmente etc 2.

Por sua vez, o laboratório deve possuir via de co-municação rápida com a CCIH a respeito de achados significantes ou não usuais, como isolamento de bactérias multi-resistentes, assim como a presença de patógenos de risco de disseminação como BAAR positivo, C. difficile, rotavirus, além do envio de materiais biológicos para

cultura que estejam em desacordo com os protocolos estabelecidos ou outros que possam sugerir possíveis casos de contaminação exógena (por exemplo, soluções, nutrição parenteral, medicamentos, dispositivos etc.), para que os casos sejam devidamente isolados, orienta-dos e monitorados pela CCIH. Na suspeita de surtos, o laboratório deve ser chamado para orientar sobre a melhor forma de se recuperar o possível patógeno (por exemplo, na suspeita de surto de diarréia por C. difficile pesquisar a toxina e não aceitar pedidos de coprocultura).

Culturas de vigilância

Em geral, as culturas de vigilância são realizadas em hospitais nos quais a incidência de determinados patóge-nos ainda é relativamente baixa e no qual se estabelece vantagem em isolar pacientes colonizados ou infectados com estes microrganismos para evitar disseminação no ambiente hospitalar. Ambos os grupos, CCIH e labora-tório, estabelecem quais são os critérios de inclusão de pacientes (geralmente na admissão de pacientes oriudos de outras instituições, home care ou ainda, pacientes que apresentam histórico de internações anteriores com isolamento de germes multi-resistentes), definem quais os patógenos a serem pesquisados (por exemplo, MRSA, VRE, Enterobacteriaceae produtora de ESBL , P. aeru-

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Especial de Capa / Microbiologia

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ginosa, Acinetobacter e Enterobacteriaceae resistentes a carbapenêmicos etc.), os sítios a serem amostrados, a metodologia empregada, e como os casos serão reporta-dos e comunicados à CCIH.

Surtos

O alarme da ocorrência de possíveis surtos de in-fecção hospitalar pode partir de várias fontes, como enfermeiras, corpo clínico ou por meio de visitas e de análises de rotina da própria CCIH. Em geral, é mais pre-cocemente percebida pelo laboratório de microbiologia, quando há o isolamento de microrganismos ou padrões de resistência não usuais. Surtos de microrganismos comumente isolados podem ser mais difíceis de detectar e podem passar despercebidos. Nestes casos, fica mais evidente quando se trabalha com análises periódicas de incidência de germes por sítio anatômico ou unidades de internação.

A elucidação e a contenção de surtos requerem contato muito próximo entre laboratório, CCIH e o corpo clínico e de enfermagem, por meio de definição de estratégia para

identificar as fontes e os pacientes envolvidos assim como o monitoramento da eficácia das intervenções 4.

Arquivo de cepas e tipagem molecular

Para conferir suporte ao controle de infecção, as cepas epidemiologicamente relevantes necessitam ser estocadas. Em casos de suspeitas de surtos ou com a finalidade de estudar a prevalência de mecanismos de resistência emergentes, a CCIH solicita ao laboratório a caracterização genética das cepas envolvidas. Estes testes normalmente são realizados em laboratórios de pesquisa ou de referência e a escolha do método a ser utilizado é consenso entre a CCIH, o laboratório e o especialista em biologia molecular.

Culturas ambientais ou de trabalhadores da área da saúde

Cultura de amostras de trabalhadores e do ambiente (superfícies, água e ar), devem ser realizadas raramente e somente se houver evidências que suportem o envolvimen-to de pessoal ou de ambiente na transmissão de patógenos.

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Especial de Capa / Microbiologia

Geralmente são muito trabalhosas, não padronizadas, difíceis de in-terpretar e em geral não produzem informações úteis. Em alguns casos, a cultura das mãos de pessoal pode ser útil para a confirmação de trans-missão de infecção cruzada, assim como igualmente pode ser apropriada a cultura de swab nasal de pacientes e de trabalhadores em casos de surtos de S. aureus (MRSA) 1. Portanto, a decisão e a indicação das culturas nestas condições devem ser avaliadas e discutidas, avaliando-se o custo- benefício das medidas empregadas e a eficácia no controle dos surtos.

Resultados

Há estudos na literatura demons-trando o impacto favorável na evolu-ção clínica dos pacientes no momento em que a terapia antimicrobiana ade-quada é iniciada precocemente, além dos benefícios de menor tempo de internação, racionalização de custos e diminuição de efeitos adversos 6.

Para ajudar a atingir estes ob-

jetivos, há alguns procedimentos indicados para se obter maior agili-dade dos resultados e incremento na recuperação de patógenos.

Para garantir a qualidade da amostra, é importante que esteja disponível em todas as unidades um manual de coleta de exames micro-biológicos, no qual haja informações sobre os tipos de frascos e aos meios de transporte, assim como qual o mo-mento e a forma de coleta adequados para se obter resultados confiáveis. Se possível, a divulgação de manu-ais contemplando os tipos de testes recomendados e também as noções de interpretação são muito úteis para refrescar o conhecimento médico a respeito dos testes laboratoriais, pois freqüentemente o conhecimento médico a respeito destes testes acaba

sendo restrito 3. O pedido de exames é elemento fundamental para o sucesso do resultado microbiológico:• Bacterioscopia (Gram): A soli-

citação de cultura de secreções deve ser sempre acompanhada do exame bacterioscópico. O re-sultado é presuntivo da presença de microrganismos, assim como auxiliar na avaliação da qualida-de da amostra. O predomínio de leucócitos sugere que o material é mais representativo de infecção. A presença de células epiteliais suge-re contaminação com superfícies (pele ou mucosas). A presença de alguns tipos de bactérias auxilia a confirmar hipóteses e orienta o tratamento inicial. A ausência de bactérias no Gram pode auxilia a afastar um quadro infeccioso, mas o uso prévio de antibióticos pode resultar bacterioscopia negativa com cultura positiva ou vice-versa, bacterioscopia positiva com cultura negativa (inibição “in vitro”). Por isso recomenda-se sempre que possível coletar as amostras antes da antibioticoterapia;

• Cultura e antibiograma: As cultu-ras devem estar sempre acompa-nhadas do pedido de antibiograma, pois em casos positivos o resul-tado é liberado imediatamente

evitando-se atrasos e re-trabalho para solicitação de acréscimos, em casos nos quais não há reembolso pela fonte pagadora se o exame não constar do pedido médico;

• Cultura de anaeróbios: A cultura aeróbia, está indicada para todos os materiais biológicos oriundos de cavidades fechadas, fragmentos de tecido, feridas, secreções ou abs-cessos. A vantagem é a recuperação também de anaeróbios facultativos (por exemplo, S. aureus, Ente-rococcus e Enterobacteriaceae) que se desenvolvem melhor em atmosfera de anaerobiose, além do caldo de cultura promover possível efeito dilucional em antibióticos porventura presentes na amostra, aumentando a chance de recupe-ração de microrganismos inibidos ou em baixa concentração;

• Pesquisa e cultura de fungos ou micobactérias: A pesquisa direta para fungos (micológico direto) ou micobactérias (coloração de Ziehl Neelsen para pesquisa de BAAR) conferem um resultado rápido, po-rém a sensibilidade destes métodos é de cerca de 50%. Portanto, para resultados mais acurados, é impor-tante que na solicitação estejam indicados sempre ambos, pesquisa e cultura, pois são complementares.

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Especial de Capa / Microbiologia

O papel do microbiologista clínico na elaboração de laudos com notas e observações auxilia o clínico a interpretar corretamente os resultados relevantes e os antibiogramas, assim como pode auxiliar a chamar a atenção para possíveis contaminantes, colonizantes ou meramente representantes da microbiota normal, o que contribui para o uso racional de antimicrobianos 3, 5.

Relatórios e indicadores

Os resultados produzidos pelo laboratório são uma importante fonte de dados epidemiológicos que são normalmente revisados diariamente pela CCIH. Estes dados em geral ficam armazenados em bancos de dados e periodicamente podem ser extraídos em formas de relatórios e análises estatísticas relevantes ao controle de infecção. Os programas e formas de acesso são bastante variáveis e podem ser otimizados de acordo com as necessidades de cada instituição. Idealmente, os dados do laboratório de microbiolo-gia deveriam ser acessados prontamente pela CCIH em sistemas de envio de dados on line para moni-toramento dos perfis de sensibilidade, incidência de germes por sítio de infecção e por unidades de in-ternação, prevalência de patógenos multi-resistentes etc. Também serve como ferramenta importante para ofercer subsídio ao levantamento de indicadores de qualidade, por exemplo, índices de contaminação de hemocultura e uroculturas, tendências de resistência versus uso de antibióticos, tempo de liberação de resultados, índices de positividade, incidência e distribuição de patógenos etc.

Todos estes indicadores podem ser utilizados, mas principalmente sem perder a perspectiva de que de-vem ser trabalhados dentro de metas objetivas visando a melhoria da qualidade hospitalar e do atendimento ao paciente.

Conclusões

O laboratório de microbiologia clínica é um com-ponente essencial da CCIH. Esta integração envolve comunicação, colaboração e troca de conhecimento e ferramentas. O resultado final é uma melhor posição da instituição em suas necessidades de documentação, implementação de protocolos e padronizações, além da facilitação do acesso ao diagnóstico, o controle de infecções e o conseqüente aprimoramento dos cuidados e segurança dos pacientes e do ambiente hospitalar.

Referências Bibliográficas

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Maria Rita Elmor de Araújo é graduada em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos (FCMS) e especialista em patologia clínica pelo Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) de São Paulo (SP). Atualmente é médica patologista clínica e coordenadora médica dos setores de microbiologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo (HBP-SP).

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Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica

Therapeutic Outcomes Monitoring (TOM): Aplicação da Atenção Farmacêutica para a Farmácia ComunitáriaDivaldo Pereira de Lyra Júnior e Patrícia Melo Aguiar

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Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica

Introdução

Em 1985, Charles Douglas Hepler 1, professor da Universidade da Flórida, apontou para uma filosofia de prática e para o estabelecimento de um compromisso para desenvolver a farmácia como uma verdadeira profissão clínica: “Deveria haver um pacto entre os farmacêuticos e seus pacientes, e por extensão, entre a profissão farma-cêutica e a sociedade”.

Mais adiante, Hepler (1987) 2 destacou que era es-sencial estabelecer relações com o paciente, em que o profissional deveria controlar o uso dos medicamentos (com habilidade e conhecimentos adequados). Além disso, o mesmo autor descreveu o momento de evolução profissional como a “terceira onda da educação farma-cêutica” e propôs que: “todos os farmacêuticos clínicos deveriam mudar a ênfase voltada para realizar ações isoladas para os pacientes e aceitassem uma parcela de responsabilidade na atenção dos mesmos”.

Hepler (1988) 3, mais uma vez, defendeu que a profissão necessitava acompanhar as transformações tecnológicas, econômicas e sociais que estavam acon-tecendo no mundo, mas ainda havia diversos aspectos não resolvidos nos mais diversos âmbitos. Além disso, advogou a reprofissionalização baseada em quatro pilares: a farmácia como atividade central e com uma função social, definição da filosofia profissional e relação com a sociedade, estruturação organizacional da profissão e marketing da nova profissão. O autor ainda definiu que dependendo do local de trabalho poderia haver muitas profissões farmacêuticas, mas a magnitude do desafio de criar uma nova profissão deveria inspirar admiração, principalmente por que cada força poderia interagir com a outra e se basear no mesmo princípio filosófico.

Na mesma época, Strand et al. (1988) 4 trabalharam no desenvolvimento do Pharmacist’s Workup of Drug Therapy (PWDT), processo racional e sistemático de to-mada de decisão, em que as necessidades dos pacientes, com relação à farmacoterapia pudessem ser abordadas e documentadas de maneira sistemática e global.

Em 1990, foi estabelecido um pacto que compre-endeu a visão filosófica de Strand e o pensamento de Hepler 5, sobre a responsabilidade profissional no cuidado aos pacientes, que resultou no conceito clás-sico da Atenção Farmacêutica (AtenFar) e que causou modificações profundas nos rumos da profissão, como sendo: “A provisão responsável da farmacoterapia com

o propósito de obter resultados definidos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes”. Os resultados defini-dos seriam a: cura da doença, a eliminação ou a redução dos sintomas, a interrupção ou retardamento da doença e a prevenção de uma enfermidade ou sintoma. Para os autores, para prestar a AtenFar o farmacêutico deveria dedicar um tempo para entender as necessidades do paciente quanto a sua saúde e as doenças, e ao mesmo tempo colaborar com os outros profissionais de saúde no planejamento, na implementação e na monitorização de uma farmacoterapia segura e efetiva. Assim, foi ini-ciada a superposição gradativa do paradigma dominante (tecnicista) centrado no medicamento, por um novo paradigma emergente (humanístico e social) centrado no paciente e no desenvolvimento de relações terapêuticas.

Penna (1990) 6 afirmou que na década de 1990, a AtenFar seria reconhecida como uma estratégia de provisão de serviços farmacêuticos e de filosofia de reprofissionalização tão revolucionária quanto a far-mácia clínica foi no passado. No mesmo ano, Strand et al. (1990) 5 propuseram a primeira classificação para problemas relacionados aos medicamentos (PRM), com oito categorias, sem a presença de critérios de agrupa-mento entre elas. Os autores, alicerçados no enfoque sistemático de resolução de PRM, os definiram como

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Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica

sendo: “Uma experiência indese-jável do paciente que envolve a farmacoterapia e que interfere real ou potencialmente com os resultados desejados pelo paciente”.

Em 1993, a Organização Mun-dial da Saúde (OMS) 7 reconheceu o papel fundamental do farmacêutico no sistema de atenção à saúde, em colaboração com outros membros da equipe, com respeito a atender as necessidades dos pacientes e assegu-rar o uso correto dos medicamentos. Em razão disso, a AtenFar passou a ser adotada como nova prática profissional e foi conceituada como: “O conjunto de atitudes, valores éticos, funções, conhecimentos, responsabilidades e habilidades do farmacêutico na prestação da farma-coterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade de vida da população. Além disso, o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico.”

Em 1994, o Europharm Forum, entidade de cooperação entre a OMS e diversas organizações nacionais profissionais, fundou a Pharmaceu-tical Care Network Europe (PCNE) com o propósito de implantar e desenvolver a prática da AtenFar na Europa, por intermédio da realização de projetos multicêntricos 8.

No Congresso da Federação In-ternacional dos Farmacêuticos (FIP), realizado em Jerusalém (Cisjordâ-nia), foi discutida a preparação do profissional do terceiro milênio, cuja conclusão foi que a vocação da farmácia do futuro seria a orientação aos pacientes 9. Para tanto, a FIP decidiu se empenhar para difundir a AtenFar, em especial, nos países de terceiro mundo. Outras recomenda-ções internacionais 10, 11 confirmaram a AtenFar como filosofia de prática

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Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica

Reconhecer problemas do paciente “S”, “O” (subjetivo, objetivo)

Avaliar o problema do paciente “A”

Elaborar um plano terapêutico “P”

1. Registrar e interpretar a informação

do paciente

2. Documentar os objetivos terapêuticos

desejados

3. Avaliar os objetivos terapêuticos e o plano

terapêutico4. Elaborar um plano

de monitoramento

5. Dispensar medicamentos e

orientar o paciente

6. Implementar o plano de

monitoramento

6a. Avaliar o progresso do paciente

6b. Responder ao problema (se existir)

Entrada do paciente ou continuidade

do cuidado

e estabeleceram a missão da prática farmacêutica como sendo: “Prover medicamentos, outros serviços e produtos de saúde, bem como, ajudar a sociedade a fazer o melhor uso deles”.

Embora Hepler e Strand (1990) 5 tenham proposto juntamente o con-ceito de AtenFar mais disseminado no mundo, os mesmos seguiram dois modelos de prática diferentes. Hepler e colaboradores trabalharam com a avaliação de enfermidades crônicas e desenvolveram estudos denominados projetos Therapeutic Outcomes Monitoring (TOM), utilizando a asma como piloto 12. Strand e seus colaboradores utili-zam o modelo PWDT, que pode ser aplicado sistematicamente para todos os tipos de situações. Este grupo desenvolveu um projeto de investigação, orientado à prática na farmácia comunitária, denominado Minnesota Pharmaceutical Care Project 13.

Método TOM - Monitoramento de Resultados Terapêuticos

O Método TOM é um processo sistemático, estruturado e documen-tado da prática. Foi desenvolvido para utilização em farmácias comu-nitárias e propõe que a AtenFar seja aplicada a grupos de pacientes que compartilhem de uma mesma doen-ça ou transtorno (asma, hipertensão, diabetes mellitus, dislipidemia, entre outros). Para tanto, torna-se impera-tivo a elaboração de formulários e material educativo específico para cada uma das enfermidades que se pretende investigar 14.

A implementação do serviço de AtenFar voltado para doença-espe-cífíca pode permitir aos farmacêu-ticos identificar pacientes de alto

Figura 1 - Processo da Atenção Farmacêutica (AtenFar) segundo o Método TOM

risco em sua prática, simplificar o treinamento, além de tornar mais fácil aprofundar os conhecimentos sobre as doenças dos pacientes e suas respectivas farmacoterapias 12. No entanto, Hepler enfatizou que o TOM não é apenas um programa de manejo de doença e, portanto, não deve orientar o cuidado para o medicamento ou a doença padrão. O manejo dos pacientes deve ser efetuado de forma holística, o que requer o manejo de todos os aspectos da terapia e não apenas a terapia da doença-específica. Tal abordagem possui como foco a melhora na qualidade de vida por meio de um cuidado integral ao paciente 15.

A criação do programa TOM envolveu o desenvolvimento de um protocolo de manejo e tratamento (TOM protocol), um sistema de documentação, um sistema de monitoramento, material de estudo individual sobre a fisiopatologia e a terapia da doença (para os far-macêuticos), materiais educativos para o paciente, familiares e cuida-

dores, e material para o marketing e pagamento do programa (para os sistemas de saúde).

Processo de cuidado ao paciente

O processo de monitoramento de resultados terapêuticos pode ser descrito como um ciclo de melhoria da qualidade, com foco no manejo de PRM e cuidado in-dividual. O modelo proposto pelo TOM compreende uma série de seis etapas, independentemente da enfermidade. É um processo de coleta de dados subjetivos e objetivos do paciente, de avalia-ção, de estabelecimento de metas, de identificação de problemas e de planejamento. A seqüência mostrada na Figura 1 é apropriada para medicamentos prescritos, no entanto, com pequenas modifica-ções, poderia ser aplicável a me-dicamentos isentos de prescrição recomendados pelo farmacêutico. As etapas de cuidado ao paciente propostas pelo modelo TOM estão apresentadas no Quadro 1.

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Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica

Quadro 1 - Etapas de cuidado do paciente segundo o Método TOM

Etapa Objetivo/Pergunta norteadora Observações

1 Registrar e interpretar as informações relevantes do paciente.O que eu necessito saber sobre esse paciente?

Incluir histórico médico, terapêutico e social do paciente. Tais informações permitem ao farmacêutico a elaboração de estratégias sobre o conhecimento da doença e o tratamento, o controle e “empoderamento”, a adesão e os problemas terapêuticos;

2Documentar os objetivos terapêuticos desejados pelo paciente e documentar o plano terapêutico.O que se pretende atingir com a farmacoterapia do paciente?

O farmacêutico deve considerar dois tipos básicos de objetivos terapêuticos: a) Objetivos clínicos (do aspecto do profissional); b) Objetivos relacionados à qualidade de vida (do aspecto do paciente); Depois de discutir estes objetivos com o médico e o paciente, registrar os objetivos terapêuticos no prontuário do paciente;

3Avaliar os objetivos e o plano terapêutico.Esses objetivos terapêuticos são apropriados? O plano terapêutico é aceitável para atingir os objetivos do paciente?

O farmacêutico avalia possíveis PRM. Com base no problema de saúde do paciente, estilo de vida e as preferências, o farmacêutico:a) Decide se o paciente possui ou pode desenvolver problemas com a farmacoterapia;b) Decide se é necessário modificar o regime, e em caso afirmativo, consultar o médico prescritor;c) Documenta a avaliação, possíveis problemas e qualquer consulta ao prescritor;

4Elaborar um plano de monitoramento.O que deve-se observar para avaliar o sucesso ou a falha terapêutica?

Partindo dos possíveis problemas identificados na Etapa 3, o farmacêutico:a) Elabora um procedimento para obter os dados necessários para monitorar o progresso do paciente em relação aos objetivos terapêuticos;b) Estabelece quando e como os dados de monitoramento serão coletados e docu-menta o plano no prontuário do paciente (um calendário diário ou outro lembrete pode ser necessário);

5 Dispensar medicamentos, orientar o paciente.O paciente pode otimizar o uso de medicamentos?

O farmacêutico inclui informações específicas sobre como o paciente ou o cuidador podem monitorar o progresso da terapia, como detectar problemas farmacotera-pêuticos e quais ações devem ser tomadas se um possível problema é detectado. O farmacêutico fornece material escrito suplementar se necessário. Antes do término da entrevista, o farmacêutico verifica se o paciente ou cuidador concordam com o objetivo terapêutico e o que fazer para alcançá-lo;

6

Implementar um plano de monitoramento (coletar os dados no monitoramento). O paciente está progredindo em direção aos objetivos tera-pêuticos?Que medidas devem ser tomadas agora?

Com base nos dados de vigilância, objetivos terapêuticos e dados do paciente o farmacêutico avalia sistematicamente o progresso do paciente em relação a: disponibilidade, efetividade e reação adversa.O farmacêutico considera os problemas farmacoterapêuticos e acompanha-os. Deve-se exercer julgamento no interesse do paciente. A maioria das respostas segue um dos dois cursos: resolução ou referência a outro profissional de saúde (como por exemplo o médico).

Fonte: Grainger-Rousseau et al., 1997.

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Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica

Aplicação do TOM na prática

O desenvolvimento e a aplicação do TOM na prática ocorreram, sobretudo, no final da década de 1990 e no início da de 2000. Com base no modelo elaborado por Grainger-Rousseau et al. (1997) 12, diversas pesquisas, inclusive multicêntricas, sobre AtenFar voltadas para pacientes com asma foram desenvolvidos na Áustria, Bélgica, Canadá, Dina-marca, Flórida, Alemanha, Islândia, Irlanda do Norte e Holanda 16, 17, 18, 19, 20, assim como outro estudo dire-cionado à pacientes com problemas cardiovasculares (TOMCOR) na Espanha 21. Vale ressaltar que todos obtiveram resultados significativamente positivos no manejo destas doenças.

Mais recentemente, estudos realizados na Aus-trália, Bélgica, Brasil, Canadá, Estados Unidos da América (EUA), Sudão e Taiwan citaram partes da metodologia TOM, também obtendo resulta-dos positivos no cuidado a pacientes com asma e hipertensão 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28.

Considerações finais

A AtenFar, nas suas dimensões filosóficas e de atuação profissional, tem sido colocada como es-tratégia de reprofissionalização do farmacêutico 29. Ainda segundo Hepler et al. (2002) 30, nos últimos anos, cada vez mais organizações, universidades e farmacêuticos em todo o mundo tem adotado a AtenFar, como um componente essencial da prá-tica profissional. As diversidades e as barreiras enfrentadas em cada país propiciaram distintos entendimentos dos conceitos de cuidados aos pacientes, bem como a criação e a utilização de diferentes métodos (TOM, PWDT, DÁDER, Com-prehensive Pharmaceutical Care, entre outros) que visam à prevenção e resolução de PRM e as suas complicações. Todavia, este objetivo ainda não está sendo cumprido integralmente.

Embora muitos desafios permaneçam, os farmacêuticos possuem os recursos estratégicos essenciais para desenvolver, expandir e consoli-dar a AtenFar enquanto prática profissional. Para Hepler et al. (2002) 30, após duas décadas de trans-formações na prática, consolidar a AtenFar é um compromisso moral da profissão, pois cada paciente possui o direito a uma farmacoterapia indicada, efetiva e segura.

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Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica

Referências Bibliográficas

Divaldo Pereira de Lyra Junior é graduado em farmácia e mestre em ciências farmacêuticas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFP), doutor pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. Atualmente é professor adjunto 2 da Universidade Federal de Sergipe (UFS), orientador no programa de pós-graduação em ciências da saúde e no mestrado em ciências farmacêuticas da UFS, coordenador do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social da UFS, membro da Rede Brasileira de Assistência Farmacêutica e membro da Community Pharmacy Section of International Pharmaceutical Federation.

Patrícia Melo Aguiar é graduada em farmácia e mestre em ciências farmacêuticas pela UFS. Atualmente é doutoranda no programa de pós-graduação em Fármacos e Medicamentos da USP.

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Farmácia Hospitalar

Prevalência de Interações Medicamentosas Relevantes em Pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI)Daniela Vieira Baldini Batista, Bruna Fromhertz, José Jr. Costa, Lina Abechain, Rosilene Giusti, Fábio Zanerato, Firmino Jr. Haag

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Farmácia Hospitalar

Introdução

Interações medicamentosas são definidas como a modulação da atividade farmacológica de um de-terminado medicamento devido à ad-ministração prévia ou concomitante a outro medicamento, algum alimento, bebida ou agente químico 1. Se houver interação, as propriedades farmaco-lógicas (efeito) dos medicamentos se modificam podendo aumentar ou diminuir a ação de um único medica-mento ou de ambos 1, 2.

As interações medicamentosas podem ser classificadas em duas categorias: sinérgica e antagônica, e podem surgir por mecanismos farmacocinéticos, relacionados com a absorção, a distribuição, a meta-bolização e a excreção, mecanismos farmacodinâmicos, relacionados ao efeito alterado do medicamento em um sítio de ação pela presença de um outro medicamento, ou incom-patibilidade físico-química, quando dois medicamentos são incompatí-veis quimicamente. Nas interações sinérgicas, os efeitos combinados dos dois medicamentos são maiores que a soma dos efeitos individuais e nas antagônicas, os efeitos resultantes são menores na combinação dos efeitos dos dois medicamentos isolados ou quando ocorre anulação parcial ou completa das propriedades farmaco-lógicas de cada medicamento 1, 2.

Em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), além da grande quantidade de medicamentos utilizados e da gravidade do quadro clínico, a insta-bilidade do paciente, a alta freqüência de idosos e as diversas disfunções de órgãos, principalmente rins e fígado, são os fatores desencadeantes para o surgimento de interações medica-mentosas potenciais. As interações farmacocinéticas estão relacionadas à alteração da função renal em de-

corrência da dificuldade de excre-ção e a disfunção hepática altera muitas vezes a biodisponibilidade, a distribuição e, conseqüentemente, a ação, e essas ações podem estar relacionadas ou não com a idade do paciente. Nos idosos percebe- se maior prevalência de interações medicamentosas. Esses pacientes sofrem maior alteração farmacoci-nética devido à idade avançada e o emprego de farmacoterapia múltipla que são muitas vezes cruciais para o tratamento de patologias crônicas que os acometem, além de ser requerida durante tratamento intensivo ao qual são submetidos 1, 2, 3.

Objetivo

Identificar a prevalência de inte-rações medicamentosas relevantes, bem como monitorá-las na impossi-bilidade de intervenção clínica.

Método O estudo possui abordagem inter-

vencionista a partir de dados apon-

tados pelo farmacêutico no Hospital Cruz Azul de São Paulo (CRAZ-SP), mais especificamente dentro de um Centro de Terapia Intensiva (CTI). Possui característica prospectiva, não probabilística por contabilização das interações medicamentosas rele-vantes em UTI de terapia intensiva, abrangendo a unidade coronariana.

Na coleta de dados utilizou-se, como instrumento norteador, a ficha de intervenção farmacêutica. Avaliaram-se as prescrições médicas no período de 1º de abril a 31 de maio de 2010.

Resultados

Foram identificadas 43 interações medicamentosas relevantes aos pa-cientes analisados. Dessas interações, em 77% foi possível intervir com a suspensão e/ou ajuste de dose de uma ou de todos os medicamentos envolvidos e 23% tiveram seus parâ-metros monitorados clinicamente ou com o auxílio de exames laboratoriais (Figura 1).

Total = 43 interações

Figura 1 - Percentual de Interações que foram alvo de intervenção e monitoramento

MonitoramentoIntervenção

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

77%

Intervenção Monitoramento

23%

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72 Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010

Farmácia Hospitalar

Dos pacientes que tiveram seus parâmetros monitorados pela ocor-rência de interações medicamentosas, nenhum apresentou complicações relacionadas a este fato.

Discussão

Pacientes de unidades críticas potencialmente desenvolvem eventos adversos. Tal fato está diretamente relacionado ao grande número de medicamentos administrados e a al-terações agudas em múltiplos órgãos.

A atenção por parte de todos os profissionais que atuam em terapia intensiva é essencial para a preven-ção de eventos relacionados ao uso de medicamentos. O farmacêutico clínico deve estar atento à ocorrência de interações medicamentosas, bem como deve conhecer as possíveis alternativas para evitá-las disse-minando informações que possam contribuir para que o paciente possua atendimento seguro sem comprome-timento da efetividade.

Conclusão

A ocorrência de interações medi-camentosas em pacientes de UTI é bastante freqüente, e mesmo na im-possibilidade de intervenção clínica é possível manter uma assistência de alta qualidade a partir do monitoramento clínico e laboratorial dos pacientes.

A intervenção farmacêutica pos-sibilita a prevenção de interações prejudiciais e eventos adversos re-lacionados a interações medicamen-tosas antes mesmo da administração do medicamento.

Daniela Vieira Baldini Batista é graduada em farmácia e bioquímica pela Universidade Camilo Castelo Branco (UCCB), especialista em farmácia hospitalar pela Faculdade Oswaldo Cruz (FOC) e em farmácia clínica pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Atualmente é farmacêutica clínica no Hospital Cruz Azul de São Paulo (CRAZ-SP).

Bruna dos Santos Fromhertz é graduanda do último ano de farmácia pela Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL) e estagiária de farmácia clínica no CRAZ-SP.

José Costa Junior é graduado em farmácia pela Universidade do ABC - módulo Fármaco Indústria, especialista em farmácia hospitalar e clínica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Atualmente é farmacêutico supervisor do CRAZ-SP.

Lina Abechain é graduada em enfermagem pela Faculdade de Enfermagem São José e pós-graduada em administração hospitalar pelo Centro Universitário São Camilo. Atualmente é enfermeira gestora do Centro de Terapia Intensiva e Unidade Coronariana do CRAZ-SP.

Rosilene Giusti é graduada em medicina pela Faculdade de Medicina de Itajubá (FMI), especialista em cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese, especialista em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), especialista em terapia intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e em car-diologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Atualmente é cardiologista do Hospital Emílio Ribas e Hospital Estadual de Diadema e intensivista do CRAZ-SP.

Fábio Zanerato é graduado em medicina pela Universidade São Francisco (USF), espe-cialista em cardiologia clínica pela SBC pós-graduado em cardiologia e cardiogeriatria pela Escola Paulista de Medicina/Universidade Estadual de São Paulo (EPM-UNIFESP) e em nutrição clínica pelo Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo (HBP-SP). Atualmente é médico plantonista do Hospital São Luiz nos setores de pronto atendimento e enfermaria, e é médico diarista do CRAZ-SP no Centro de Terapia Intensiva e Unidade Coronariana do CRAZ-SP.

Firmino Haag Junior é graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Valen-ça (FMV), especialista em medicina intensiva pela AMIB e especialista em cardiologia pela SBC. Atualmente é médico supervisor de equipe técnica da UTI do Hospital Geral de São Matheus, médico coordenador e sócio diretor do Serviço de Terapia Intensiva e Cardiologia (SETIC), responsável pela unidade de pós-operatório de cirurgia cardía-ca e docente do curso de pós-graduação lato sensu em cardiologa do HBP-SP, diretor técnico da clínica Serviços Integrados Tratamento do Coração (SITICOR) e responsável pelos serviços de cardiologia do grupo Notre-Dame Intermédica, Transmontano e Saú-de ABC, além de coordenador do Centro de Terapia Intensiva e Unidade Coronariana do CRAZ-SP

Referências Bibliográficas

1. Kawano DF, Pereira LRL, Ueta JM, Freitas O. Acidentes com os medicamentos: como minimizá-los?. Rev. Bras. Cienc. Farm., São Paulo, v. 42, n. 4, p.487-495, 2006.2. Rossignoli PS, Guarido CF, Cestari IM. Ocorrência de Interações Medicamentosas em Unidade de Terapia Intensiva: avaliação

de prescrições médicas. Rev. Bras. Farm. São Paulo, v.87, n.4, p.104-107, 2006.3. Hammes JA, Pfuetzenreiter F, Silveira F, Koenig A, Westphal GA. Potential drug in-teractions prevalence in intensive care units. Rev. Bras. Ter. Intensiva, São Paulo, v. 20, n. 4, p.349-354, 2008.

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74 Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010

Revista Racine, dando continuidade à publicação dos resumos dos trabalhos

premiados na 20ª Semana Racine - Congresso de Farmácia traz, na 119ª edição, os resumos dos trabalhos da Categoria Acadêmica - Graduação.

Foram mais de cem trabalhos ins-critos, sendo 87 deles selecionados para exposição em pôster. Todos os trabalhos foram avaliados por uma Comissão de Avaliação de Trabalhos Científicos, e foram premiados nove trabalhos no total: seis Trabalhos Aca-dêmicos (três de Graduação e três de Pós-Graduação) e três Trabalhos Pro-fissionais, além de um Trabalho ven-cedor geral, agraciado com o Prêmio Maria Aparecida Pourchet-Campos, homenageada devido à sua importante história para a área farmacêutica.

A versão completa destes trabalhos está disponível no Portal Racine (www.racine.com.br).

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1º Colocado: Pôster 010

Farmácias e Drogarias Como Locais de Promoção à Saúde

Leonardo Hansen Laranja, Tales de Miranda Coelho, Paula Fernanda Sirineu e Monike Gomes Carvalho

Farmácias e drogarias são estabe-lecimentos que possuem limitação de atividades embora ocorra dispensa e comércio de medicamentos, de insu-mos farmacêuticos e de correlatos, que não abriga atividades de mani-pulação de medicamentos. Farmácias e drogarias são locais de promoção à saúde e não devem ser banalizados com comércio de produtos que não apresentam relação a sua finalidade. Atualmente, vários produtos são co-mercializados nesses estabelecimen-tos, servindo de atrativo e seduzindo o paciente em adquirir medicamento que não necessita.

Desse modo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) instituiu a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 44/09, a qual estabelece condições mínimas para cumprimento das Boas Práticas Far-macêuticas (BPF). A Instrução Norma-tiva (IN) nº 09/09 contemplada nesta resolução, fornece relação de produtos permitidos para dispensação e comer-cialização em farmácias e drogarias.

O objetivo da pesquisa foi diag-nosticar a adequação das farmácias e drogarias de Juiz de Fora (MG), perante a RDC nº 44/09. Vinte far-mácias e drogarias foram visitadas em dois momentos: o primeiro antes do prazo de adequação, e o segundo após o término do mesmo. Para tal, utilizou-se um instrumento

elaborado a partir da legislação, contendo 22 itens considerados de comercialização ilegal nas farmá-cias e drogarias e que foram distri-buídos em cinco classes, a saber:

a) Alimentos, bebidas ou gulo-seimas;

b) Cine, foto, vídeo ou eletroe-letrônico;

c) Vestuário ou acessórios; d) Produtos sazonais; e) Utilidades.

Na primeira visita, cinco farmá-cias e drogarias (25%) apresentavam conformidade perante a resolução. Alimentos, bebidas e guloseimas (classe 1) foram encontrados em 50% da amostra, assim como cine,

Especial

20ª Semana Racine - Congresso de Farmácia: Trabalhos Premiados Categoria Acadêmica: Graduação

A

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Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010 75

Anúncio

Especial

benjamim “T”, cloro, brinquedos e merendeira foram encontrados, não comercializados na primeira visita. Percebeu-se notável negligência dos estabelecimentos e até mesmo ínfimo impacto da Legislação. Esta ainda encontra diversas barreiras de aceitação e várias críticas, sabendo--se da existência de liminares que prolongam o prazo para adequação. Em 05 de maio de 2010, o próprio Supremo Tribunal de Justiça liberou a venda de produtos de conveniência nas farmácias, o que complica muito a ANVISA em exigir o cumprimento da RDC nº 44/09. Cabe ressaltar que farmácias e drogarias são estabele-cimentos diferenciados e por isso, ambientes que não devem ser bana-lizados com produtos não relaciona-dos ao seu objetivo. Transgredi-lo constitui violação do princípio da

legalidade e exige ação exemplar da autoridade sanitária.

Leonardo Hansen Laranja é graduando em farmácia pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (SUPREMA).

Tales de Miranda Coelho é graduando em farmácia pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (SUPREMA).

Paula Fernanda Sirineu é graduanda em farmácia pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (SUPREMA).

Monike Gomes Carvalho é graduanda em farmácia pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (SUPREMA).

Eliana Maria Alonso de Carvalho Fioravante é docente da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (SUPREMA).

foto, vídeo e eletroeletrônicos (classe 2). Produtos de vestuário, acessórios e utilidades (classes 3 e 5) estiveram presentes em 10% da amostra. As farmácias e drogarias comercializavam chicletes, balas, loteria local, palmilha, meias, néces-saire, piercing, saboneteira, casinha de passarinho, recarga de celular, pilhas e baterias. Na segunda visita, sete drogarias (35%) apresentaram--se em conformidade. Produtos clas-se 1, foram encontrados em 25% dos estabelecimentos. Produtos classe 2, em 35% da amostra. Classes 3 e 5 foram diagnosticados em 15% das drogarias e produtos de utilidade em 10%. Verificou-se permanência do comércio de chicletes, balas, recarga de celular, pilhas, baterias. Produtos como óculos de sol e de natação, bonés, mata-baratas,

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76 Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010

2º Colocado: Pôster 050 Monitoramento Glicêmico no Pós-Transplante Renal em Pacientes Hospitalizados

Isabela Miguez Almeida, Andressa Seixas M. Leite e Lígia Maria C. Oliveira

Introdução

A aparição e a persistência da hiperglicemia após o transplante, durante a internação hospitalar, em pacientes que não possuíam histórico de diabetes mellitus é denominada New-onset Diabetes. Esse estado provoca um impacto negativo no enxerto em longo prazo e no quadro clínico do paciente. Exis-tem fatores que predispõem ao desenvolvimento do New-onset Diabetes, tais como idade, peso, etnia, histórico familiar, entre outros. Esses fatores associa-dos ao estresse cirúrgico e ao uso de medicamentos imunossupressores provocam efeitos no metabolis-mo favorecendo o aumento ou desenvolvimento de hiperglicemia.

Métodos

Para pacientes sem histórico de glicemia foram de-terminados dias da semana específicos (terças-feiras, quintas-feiras e sábados) para dosagem de glicemia de jejum e de dextro pós-prandial. Essas medidas permitem determinar o perfil glicêmico do paciente. Pacientes diagnosticados com New-onset Diabetes foram orientados pela equipe farmacêutica quanto ao automonitoramento glicêmico e condutas para o controle do diabetes mellitus. Para pacientes com histórico de diabetes mellitus anterior ao transplante renal utilizou-se insulina NPH a critério médico e a correção da glicemia foi realizada com insulina regular de acordo com sliding scale.

Resultados

Em relação aos pacientes acompanhados de recep-tores de transplante renal sem histórico de diabetes 26% apresentaram hiperglicemia durante a primeira internação. Destes, 33% tiveram o diagnóstico de diabetes mellitus. Em relação aos pacientes trans-plantados renais com histórico de diabetes mellitus

Especial

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Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010 77

Anúncio

aqueles que fizeram uso do sliding scale apresenta-ram melhor controle glicêmico quando comparados aos pacientes sem o escalonamento da insulina.

Conclusão

O monitoramento da glicemia durante a interna-ção hospitalar de pacientes receptores de transplante renal sem histórico de diabetes permitiu identificar precocemente quadros hiperglicêmicos e apontar pacientes em potencial para o desenvolvimento de New-onset Diabetes. Com a confirmação do diagnós-tico foi possível orientar estes pacientes quanto ao conhecimento e manejo da nova patologia. Para os pacientes com histórico de diabetes mellitus, além de orientá-los, foi possível manter os níveis glicêmicos dentro de valores aceitáveis em uma maior parte do tempo da internação hospitalar.

Isabela Miguez Almeida é graduada em em farmácia e bioquímica pela Faculdade Oswaldo Cruz (FOC). É membro fundador do Grupo Nacional de Farmácia Clínica (GNFC), membro fundador da Comissão Assessora de Farmácia

Clínica do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) e responsável pela área de farmácia clínica do Hospital do Rim e Hipertensão.

Andressa Seixas M. Leite é graduada emfarmácia e bioquímica pela FOC.

Lígia Maria C. Oliveira é graduada em farmácia e bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é membro fundador do GNFC, membro fundador da Comissão Assessora de Farmácia Clínica de CRF-SP e Supervisora de Farmácia do Hospital do Rim e Hipertensão. É aluna do Curso de Pós-Graduação - Especialização Profissionalizante em Farmácia Hospitalar e Farmácia Clínica no Instituto Racine.

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3º Colocado: Pôster 032Desenvolvimento de Sabonete Glicerinado de Calendula Officinalis L a Partir de Resíduo de Óleo Vegetal Comestível

Karime Hauqui Tonin

Especial

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78 Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010

O setor de cosméticos assumiu considerável importância para a economia brasileira, devido à alta demanda do País pelos produtos de higiene pessoal, de perfumaria e de cosméticos. Um mer-cado crescente que necessita adequar-se à realidade ambiental na qual a questão do lixo está se tornan-do um dos problemas mais graves da atualidade. Assim, a reciclagem tornou-se uma forma muito atrativa de gerenciamento de resíduos, e com uma visão de sustentabilidade ambiental, transformar resíduos em insumos, tornou-se o grande desafio da sociedade moderna. No intuito de minimizar o impacto do descarte de resíduos no meio ambiente e na saúde humana, o objetivo desta pesquisa foi de-senvolver um sabonete glicerinado em barra a partir do Resíduo de Óleo Vegetal Comestível ROVC).

Quanto às metodologias empregadas, iniciou-se pela caracterização do óleo até a transformação do mesmo em insumo para sabonete através da purificação preconizada por Solomons (1996) e Miler (1998), adaptadas. Realizou-se a caracteri-zação físico química do ROVC através de ensaios que determinaram o índice de iodo, o índice de acidez, índice de peróxidos, pH, características organolépticas e índice de saponificação. A partir desta caracterização desenvolveu-se uma massa base utilizando como insumo principal o ROVC e outras gorduras de origem vegetal formando um produto intermediário 76,25% de óleo vegetal. Desenvolveu-se a partir desta massa base a formu-lação do sabonete glicerinado, com a incorporação da Calendula officinalis L, como ativo, na forma de óleo essencial e pétalas. Assim, realizou-se o estudo de estabilidade acelerada do sabonete de-senvolvido nos tempos zero, sete, 15, 30, 60 e 90 dias, em diferentes condições de armazenamento: temperatura ambiente, estufa, geladeira e luz solar. Durante todo o período de análise, observaram-se as alterações quanto aos caracteres organolép-ticos como cor, odor, aspecto, teste de mush e jelly, aspereza, granizo, teste de rachaduras, teste de performance sensorial após uso excessivo, e verificou-se que os mesmos mantiveram-se inal-terados e quanto as análises físico-químicas, nas diversas condições, verificou-se que o pH médio foi de 7,73 (± 0,12) e índice de espuma manteve-se entre 0,741-0,782(±0,049).

Desta forma, por meio das metodologias empre-gadas, o sabonete desenvolvido manteve-se estável

durante 90 dias. Como produto final, o sabonete glicerinado de calêndula a base de ROVC atendeu perfeitamente as tendências do mercado cosméticos sustentáveis, possibilitando a incorporação de trigli-cerídeos de ácidos graxos, reduzindo o uso de agentes químicos e mantendo o respeito pela biodiversidade. Não obstante, buscou-se adotar uma política favo-rável ao mercado de produtos ecológicos, demons-trando que isto é possível, que as necessidades do homem moderno podem ser conciliadas com o uso de recursos naturais renováveis e que a ecologia, tem que ser encarada como fator de cidadania.

Karime Hauqui Tonin é graduada em farmácia pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e MBA em cosmetologia pelo Instituto Ipupo. Possui experiência em farmácia de manipulação na área de Garantia da Qualidade, Qualificação de Fornecedores, Treinamento de Funcionários e Padronização de Excipientes. Atualmente é pesquisadora na área de cosméticos sustentáveis.

Especial

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80 Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010

Legislação

O que Prevê a RCD nº 44/2010, Publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e como as Farmácias e Drogarias Devem Adaptar-se para Cumprir as Novas Determinações?

uso inadequado de medi-camentos antimicrobia-nos, principalmente os

antibióticos, tornaram-se um grave problema de saúde pública, devido ao desencadeamento da resistência bacteriana. A resistência bacteriana é um fenômeno biológico natural decorrente da introdução de agentes microorganismos na prática clínica, porém o referido problema é também resultado de práticas como a autome-dicação e a ‘empurroterapia’ somadas à desinformação do paciente quanto à correta utilização do antibiótico, à fal-ta de adesão ao tratamento e à grande disponibilidade do medicamento sem a exigência da prescrição médica.

Apesar de haver obrigatoriedade por lei da apresentação de receituário para a aquisição de tais medicamentos que possuem venda sob prescrição médi-ca, foi necessária haver medida mais restritiva. Neste contexto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (AN-VISA) publicou a RDC nº 44/2010 que estabelece novos mecanismos para a prescrição e o controle da dispensação.

Em vigor desde 28 de novembro de 2010, a RDC no 44/2010 apresenta como principais objetivos coibir a venda indiscriminada de antimi-crobianos no País, promover o uso racional de medicamentos e contri-buir para o combate à resistência bacteriana na comunidade, além de

Envie para o e-mail [email protected] sua dúvida ou questão relacionada ao setor farmacêutico, com seu nome completo, nome da instituição em que estuda e/ou da empresa em que trabalha, cargo que ocupa, cidade e estado.

evitar a exposição da população aos riscos da automedicação.

A partir desta data, tais medicamen-tos serão dispensados somente ao serem prescritos por profissional habilitado, mediante apresentação e retenção da prescrição original na farmácia ou drogaria.

O profissional prescritor que indicar um tratamento com antibiótico deverá emitir uma receita em duas vias, que deve conter informações do emitente, nome do paciente, identificação do comprador e identificação do atendi-mento, conforme a norma. A primeira via deverá ser retida no estabeleci-mento e a segunda devolvida ao com-prador. Ainda com relação às receitas, são válidas por dez dias a contar da data de emissão e somente podem ser dispensadas quando apresentadas de forma legível e sem rasuras.

A dispensação de antimicrobianos deve atender exatamente ao tratamento prescrito, mediante entrega de apresen-tação comercial na quantidade exata de unidades farmacotécnicas ou por meio do fracionamento de medicamentos.

A partir de 25 de abril de 2011, far-mácias e drogarias privadas e públicas deverão reter as receitas e escriturar as entradas e saídas dos medicamentos antimicrobianos no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Con-

Quem responde é Márcia Gonçalves Oliveira, coorde-nadora do Sistema Nacional de Geren-ciamento de Pro-dutos Controlados (SNGPC) da Gerência Geral de Medica-mentos (GGMED) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

trolados (SNGPC). Somente em casos excepcionais, como localidades sem internet, a Vigilância Sanitária local deverá autorizar o controle da escritu-ração em Livro de Registro Específico para medicamentos antimicrobianos ou por meio de sistema informatizado, previamente avaliado e aprovado pela autoridade sanitária competente. Os procedimentos de controle específi-cos para os medicamentos, em geral existentes nas farmácias de unidades hospitalares ou em quaisquer outras de unidades equivalentes de assistência médica, atendem adequadamente.

O período compreendido entre o início das retenções de receitas (28 de novembro de 2010) até o início da escrituração (25 de abril de 2011) não necessitará ser escriturado.

As novas regras também se aplicam à embalagem e à rotulagem cujo prazo de adequação para empresas produtoras é de até 180 dias a partir da publicação da norma.”

“O

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Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010 81

Acontece

Instituto Racine amplia sua área de atuação, sempre com foco no aprimoramento dos profissionais das áreas farma-cêutica, química, cosmética e da saúde em geral, e lança

novos Cursos de Pós-Graduação - Especialização Profissionalizante e Cursos Intensivos em 2011, inclusive na área de Enfermagem. Conheça a relação completa e atualizada dos Cursos no site www.racine.com.br/institutoracine.

As matrículas estão abertas e há descontos especiais para inscrições antecipadas. Mais informações pelo telefone (11) 3670-3499.

Campanha Amigo Que Indica, iniciativa do Instituto Racine, vem ganhando adeptos. Os alunos que indicarem um amigo para partici-

par dos Cursos de Pós-Graduação - Especialização Profissionalizante e dos Cursos Intensivos, cujas inscrições para 2011 estão abertas, podem receber uma premiação em dinheiro. Além dos amigos ganharem competências para crescerem profissionalmente, a cada inscrição efetivada aquele que fez a indicação ganha 200 reais (Cur-sos de Pós-Graduação) e 100 reais (Cursos Intensivos).

“Escolhi participar de Cursos no Instituto Racine por esta ser uma instituição séria e comprometida com a formação de seus alunos. Esta foi a principal razão de ter indicado alguns colegas para que estudem no Instituto Racine. Após a conclusão da graduação, é de extrema impor-tância buscar especialização em instituições renomadas, pois somente assim o profissional é mais valorizado”, conta Tamy Emily de Freitas França, aluna do Curso de Pós-Graduação - Especialização Profissio-nalizante em Farmacologia e Toxicologia Clínica do Instituto Racine.

A indicação, que pode ser para os Cursos de Pós-Graduação - Especiali-zação Profissionalizante e/ou Intensivos, sejam eles Cursos tradicionais ou os novos Cursos com início em 2011, pode ser realizada por alunos inscritos em Cursos em andamento ou em cursos que irão se iniciar. Os descontos são cumulativos e adicionais a outros eventuais descontos obtidos pelo aluno e cada aluno indicador obterá o valor somado das indicações que resultarem em inscrições efetivas. É importante destacar que o aluno pode indicar quantas pessoas desejar, pois não há limite máximo de indicações por aluno. Tammy, por exemplo, indicou dois amigos para o mesmo Curso em que está inscrita e receberá 400 reais pela indicação. “A Campanha Amigo Que Indica é bem interessante, pois além da indicação incentivar que amigos se especializem profis-sionalmente, quem indica ainda ganha com isso. É uma motivação a mais e aumenta a confiança no Instituto Racine”, complementa Tamy.

O interessado em indicar amigos e participar pode acessar o for-mulário eletrônico disponível no Portal Racine (www.racine.com.br) ou entrar em contato pelo telefone (11) 3670-3499, tendo em mãos Nome Completo, Curso no qual está inscrito (Nome do Curso, Turma e Local), além dos dados dos indicados: Nome Completo, Telefone(s) com DDD, E-mail e Curso(s) Indicado(s).

Instituto Racine Lança Novos Cursos em 2011

Campanha Amigo Que Indica Ganha Adeptos

O

ACursos com Início em 2011

Pós-Graduação - Especialização Profissionalizante

Intensivos

Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica Abril/2011 - Turma 1 - Itajaí (SC) Abril/2011 - Turma 9 - São Paulo (SP) Setembro/2011 - Turma 1 - Belo Horizonte (MG)

Farmácia Hospitalar e Farmácia Clínica Abril/2011 - Turma 6 - São Paulo (SP) Maio/2011- Turma 5 - Rio de Janeiro (RJ) Setembro/2011 - Turma 1 - Belo Horizonte (MG)

Farmacologia e Toxicologia Clínica Agosto/2011 - Turma 2 - São Paulo (SP)

Manipulação Magistral Alopática Abril/2011 - Turma 12 - São Paulo (SP) Maio/2011 - Turma 6 - Rio de Janeiro (RJ) Agosto/2011 - Turma 1 - Florianópolis (SC)

Pesquisa & Desenvolvimento de Produtos Cosméticos - Cosmetologia Avançada Abril/2011 - Turma 1 - Rio de Janeiro (RJ) Abril/2011 - Turma 4 - São Paulo (SP) - Aulas semanais Setembro/2011 - Turma 5 - São Paulo (SP)

Vigilância Sanitária de Medicamentos, Cosméticos e Saneantes Domissanitários Agosto/2011 - Turma 1 - São Paulo (SP)

Análise de Risco, Segurança do Paciente e Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde (Ênfase em sistemas de qualidade, processo de acreditação e gerenciamento de riscos) Maio/2011 - Turma 1 - São Paulo (SP)

Assistência Domiciliar Abril/2011 - Turma 1 - São Paulo (SP)

Assuntos Regulatórios em Vigilância Sanitária de Produtos para Saúde (Correlatos) Foco na RDC 59/00 Março/2011 - Turma 1 - Porto Alegre (RS) Maio/2011 - Turma 2 - São Paulo (SP)

Complicações Crônicas do Diabetes Setembro/2011 - Turma 1 - São Paulo (SP)

Cosmetologia - Desenvolvimento de Produtos Cosméticos Março/2011 - Turma 38 - São Paulo (SP) Maio/2011 - Turma 1 - Rio de Janeiro (RJ)

Farmacologia Básica Aplicada ao Processo de Uso de Medicamentos Agosto/2011 - Turma 2 - São Paulo (SP)

Farmacoterapia para Profissionais da Saúde Setembro/2011 - Turma 1 - São Paulo (SP)

Farmacovigilância Pré e Pós-Comercialização Abril/2011 - Turma 1 - São Paulo (SP)

Fitoterapia Clínica Aplicada Março/2011 - Turma 1 - São Paulo (SP)

Garantia e Controle da Qualidade Aplicado Vagas disponíveis - Turma 2 - São Paulo (SP) Maio/2011 - Turma 1 - Rio de Janeiro (RJ)

Gestão de Farmácias e Drogarias Março/2011 - Turma 1 - São Paulo (SP)

Semiologia Geral para Profissionais da Saúde Maio/2011 - Turma 1 - São Paulo (SP)

Serviços Farmacêuticos em Farmácias e Drogarias (Foco na RDC 44/2009) Abril/2011 - Turma 1 - São Paulo (SP)

Garanta a sua vaga entrando em contato pelo site www.racine.com.br/institutoracine ou pelo telefone (11) 3670-3499.

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82 Revista Racine 119 - Novembro/Dezembro de 2010

Orientações para Publicação de Artigos na Revista Racine

Envie seu trabalho para o e-mail [email protected] (limite máximo de tamanho: 5 megabytes).

A Revista Racine é um periódico que publica temas relacionados às ciências farmacêuticas, nas categorias:•Artigosoriginais- Textos com conhecimento originado por pesquisas

desenvolvidas pelos autores;- Devem ser apresentados com a seguinte estrutura:

introdução, objetivos, métodos, resultados, discussão e conclusões. A introdução deve delimitar o problema a ser abordado, embasando teoricamente a relevância do tema e as questões a serem respondidas com o estudo. A descrição dos métodos utilizados deve ser clara e objetiva, de modo a permitir sua reprodutibili-dade. Para os estudos realizados em humanos deve-se citar a aprovação no Comitê de Ética correspondente. Os resultados obtidos devem ser comparados com os dados existentes na literatura;

- Resumo: até 350 palavras contendo objetivos, méto-dos, resultados e conclusões.

•Artigosderevisão- Textos com o objetivo de responder a uma pergunta

específica, por meio de uma compilação de resultados de estudos publicados;

- Devem descrever detalhadamente o processo de busca dos estudos que darão origem à revisão;

- Resumo: até 300 palavras.

•Relatosdecaso- Relatos de caso que apresentem prática inovadora,

relevante ou desconhecida até então, em se tratando de farmacoterapia.

•Outros- Textos que não se enquadram nas categorias descritas

acima. TamanhoNão há limite de tamanho, sendo que pode ser solici-tada uma versão resumida para publicação, conforme informado acima.

AutoresDevem ser listadas como autores do artigo todas as pessoas que participaram diretamente da elaboração de seu conteúdo. O autor principal será considerado o responsável pela correspondência e o primeiro citado na lista de autores.

TítuloDeve traduzir a idéia geral do conteúdo do artigo.

DescritoresouPalavras-ChaveTermos relacionados ao tema do artigo. Poderá conter até seis descritores e deve-se evitar termos genéricos.

TextoO texto deve ser elaborado em fonte Arial, corpo 11, com espaçamento simples entre linhas e parágrafos.

Para facilitar a diagramação, não devem ser utilizados títulos e intertítulos somente com letras maiúsculas. Para fazer marcações no texto, deve-se utilizar o sinal traço (-) ao invés de setas, asterisco, quadrados e outros objetos do Word.

Nova OrtografiaO novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrou em vigor em janeiro de 2009, mas as duas normas ortográficas - a anterior e a prevista no acordo - pode-rão ser utilizadas e aceitas como corretas nos exames escolares, vestibulares, concursos públicos e demais meios escritos até dezembro de 2012. O Grupo Racine prevê adotar em breve as novas regras, inclusive em seus meios de comunicação, como as publicações, o que informará assim que ocorrer, inclusive a articulistas e colaboradores das revistas, sendo que ainda não é necessário que os artigos e demais conteúdos enviados respeitem as novas regras.

AbreviaturasAbreviaturas e siglas podem ser utilizadas, desde que descritas integralmente na primeira vez em que aparecem no texto.

TabelasAs tabelas devem ser numeradas consecutivamente na ordem em que aparecem no texto, em algarismos arábicos seguidos pelo título. No texto, a tabela deve ser citada em negrito, com inicial maiúscula, seguida apenas pelo número correspondente. As tabelas devem ser dispostas ao final do texto.

FigurasFotografias, ilustrações e gráficos serão considerados figuras. Assim como as tabelas, devem ser numerados, em algarismos arábicos, na ordem em que aparecem no texto. Não é necessário enviar fotografias apenas com a função de ilustrar o tema, pois a Revista Racine possui um banco de imagens apropriado para esta finalidade. As figuras devem ser enviadas nos programas originais onde foram feitas (Excel, Powerpoint, Corel Draw etc.), e não coladas no Word, o que inviabiliza sua utilização.

NomenclaturaeUnidadesdeMedidaOs medicamentos devem ser citados pelo nome gené-rico, sempre com iniciais minúsculas, obedecendo à Denominação Comum Brasileira, para textos nacionais, e à Denominação Comum Internacional, para textos internacionais. Caso necessário, os nomes comerciais poderão ser citados, com inicial maiúscula e seguido pela marcação de registrado (®) sobrescrita.

Medidas como altura, peso e volume devem ser citadas de acordo com o sistema métrico (metro, kilograma, litro) ou seus múltiplos decimais.

As temperaturas devem ser em graus Celsius e a pressão

sanguínea em milímetros de mercúrio (mmHg).

ReferênciasBibliográficasAs referências bibliográficas, se utilizadas, devem ser citadas no texto, numeradas, em algarismos arábicos sobrescritos, na ordem em que são citadas pela primeira vez.

Devem ser elaboradas de acordo com as normas de Vancouver e os periódicos devem ser citados pelo nome abreviado, conforme lista de jornais indexados para o MEDLINE. Outras informações podem ser adquiridas no documento referência Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Biomedical Publication, disponível em www.icmje.org.

Exemplos:•Artigo de periódico: listar todos os autores, até

seis. Acima de sete autores, listar os seis primeiros e acrescentar a expressão et al.

- Hepler CD, Strand LM. Opportunities and responsi-bilities in pharmaceutical care. Am J Hosp Pharm 1990;47(3):533-43.

•Livro- Greenblatt DJ, Shader RI. Benzodiazepines in clinical

practice. New York: Raven press, 1974:28.- Morrison R, Boyd R. Química Orgânica. Lisboa:

Calouste Gulbenkian; 1996.

•Capítulodelivro- Scheife RT, Levy M, Greenblatt DJ. Antimicrobial

agents. In: Miller RR, Greenblatt DJ, editores. Drug effects in hospitalized patients. New York: John Wiley and Sons, 1976:227–64.

•Documentoon-line- Sociedade Brasileira de Diabetes. Tratamento e

acompanhamento do Diabetes Mellitus: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2007. Disponível em http://www.diabetes.org.br/educacao/docs/Diretrizes_SBD_2007.pdf. Acesso em 25 de fevereiro de 2009.

PrazosO prazo para resposta sobre a aceitação do artigo será de até um ano após a data de seu recebimento conforme as normas apontadas. Já o prazo para a publicação será de até um ano após a confirmação da aceitação.

DadosCadastraisOs trabalhos aceitos serão comunicados através de resposta ao e-mail do remetente, com uma ficha cadastral que deve ser preenchida no prazo solicitado ao menos pelo autor principal, para o posterior envio de exemplares da publicação.

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