revista portal da ciencia 2013

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Dois novos tipos de orquídeas são identificados no Maranhão Livro de pesquisador da UFMA reúne conhecimento ribeirinho, estudos técnicos e imagens de satélite de um dos principais rios da baixada Maranhense RIO MARACU: conhecendo suas veias para saber de seu futuro + Cientistas selecionam espécies vegetais que aumentam a produtividade agrícola ENTREVISTA Professor fala sobre a relação entre a promoção de Políticas Públicas e a produção científica Revista Ano III | Número III | Outubro de 2013 ISSN 2178-9090

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Revista de Divulgação Cientifica da Universidade Federal do Maranhão | Ano 3 | Número 3 | Outubro de 2013

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Page 1: Revista Portal da Ciencia 2013

Dois novos tipos de orquídeas são identificados no Maranhão

Livro de pesquisador da UFMA reúne conhecimento ribeirinho, estudos técnicos e imagens de satélite deum dos principais rios da baixada Maranhense

RIO MARACU:conhecendo suas veiaspara saber de seu futuro

+

Cientistas selecionam espécies vegetais que aumentam a produtividade agrícola

ENTREVISTA Professor fala sobre a relação entre a promoção de Políticas Públicas e a produção científica

Revista

Ano III | Número III | Outubro de 2013

ISSN 2178-9090

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2 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

PRESIDENTE DA REPÚBLICADilma Rousseff

MINISTRO DA EDUCAÇÃOAloizio Mercadante

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

REITORNatalino Salgado Filho

VICE-REITORAntônio José Silva Oliveira

PRÓ-REITORA DE ENSINOSônia Maria Corrêa Pereira Mugschl

PRÓ-REITOR DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃOFernando Carvalho Silva

PRÓ-REITORA DE EXTENSÃOMarize Barros Rocha Aranha

PRÓ-REITORA DE RECURSOS HUMANOSMaria Elisa Lago Braga Borges

PRÓ-REITOR DE GESTÃO E FINANÇASJosé Américo da Costa Barroqueiro

CIDADE UNIVERSITÁRIA

Av. dos Portugueses, Nº 1966 CEP 65085-580

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

Natalino Salgado FilhoReitor da Universidade Federal do Maranhão

O que antes era uma promessa com um fim imprevisível, agora já é uma rea-lidade perceptível de compartilhar com todos. Temos uma instituição de ensino superior, com oito Campi (São Bernardo, Bacabal, Pinheiro, Imperatriz, Grajaú, Balsas, Chapadinha e Codó), presente em várias regiões do Maranhão, e que atende, ao mesmo tempo, estudantes de graduação e pós-graduação em regime regular e professores da rede de ensino municipal, por meio de projetos especiais de interiorização, e também alunos do ensino a distância, totalizando atualmente uma comunidade acadêmica de quase 50 mil participantes.

A participação da UFMA, para o desenvolvimento socioeconômico do Ma-ranhão, é, atualmente, inquestionável, não somente pela quantidade como pela qualidade das atividades que a instituição oferece. Esta revista, portanto, vem demonstrar o quanto estamos avançando e construindo uma memória institu-cional, a partir dos programas, projetos e ações. Cada projeto de pesquisa, aqui pensado, é o resultado do entrelaçamento das experiências da instituição com a Sociedade Civil; do intercâmbio de experiência entre os Campi e da troca simul-tânea da UFMA com outras instituições de ensino superior do país.

Como resultado de todo esse processo, podemos já perceber alguns indica-dores de qualidade. O mais importante deles, e que eu destaco nesta mensagem, é o volume de estudos, pesquisas (monografias, dissertações e teses) desenvolvi-das, tendo como base as questões endógenas a cada região, isto é, o interesse dos pesquisadores em desenvolver estudos para resolver problemas locais, que envolvem os atores locais e metodologias apropriadas. Ao mesmo tempo em que isso identifica a autonomia dos Campi, em relação à Cidade Universitária, também demonstra a necessidade de pertencimento dos Campi, em relação às regiões em que estão localizados. Desta forma, indicamos esta leitura como pos-sibilidade de interpretação de outra realidade que inclui aqui uma perspectiva para continuar avançando com qualidade e competência.

UMA UNIVERSIDADEVERDADEIRAMENTE INCLUSIVA

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3Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Uma Universidade feita por várias mãos Em um caminho pouco conhecido,

a vontade de fazer mais e a vontade de devolver à Sociedade Civil as suas apostas na educação, fazem muitos se arriscarem no difícil ramo da pesquisa científica. E, faz ver germinar a confiança na constru-ção de um futuro melhor, tendo como base uma Universidade Federal pautada na integração da teoria com a prática, isto é, o ensino, a pesquisa e a extensão – pensada como uma verda-deira rede entrelaçada. Como mãos que se ajudam mutuamen-te na missão assumida pela Instituição, que, no mês em que comemora 47 anos, festeja por colecionar não uma história, mas várias.

A terceira edição da Revista Portal da Ciência tem a alegria de apresentar aos seus leitores um trabalho que, de fato, susten-ta a ideia de união e de entrelaçamento de anseios e perspec-tivas de uma sociedade melhor. Para definir melhor, apresenta-mos uma palavra que já vem sendo utilizada pela UFMA e que, nesta edição, reforça o seu valor: Continente.

O antigo termo, “interior”, denominado para referenciar os municípios localizados fora das regiões metropolitanas, carre-ga consigo uma carga pejorativa e propõe um distanciamento espacial que se contrapõe à periferia. A UFMA vem buscando romper com qualquer paradigma que distancie seus públicos, ou que promova qualquer tipo de diferenciação ou de exclusão. Assim, passamos a utilizar o termo Continente nesta, e em ou-tras publicações, para nos referirmos às práticas, às atividades e as ações que não acontecem na capital, onde está a sede da Instituição. Tal perspectiva busca aproximar os públicos que formam a UFMA como uma instituição única.

Nesta nova perspectiva, apresentamos uma Universidade que assume a vocação de ser, verdadeiramente, de todo o Ma-ranhão. Sem qualquer exclusivismo usual das atividades ligadas

à Instituição que são realizadas na capital, propomos aqui uma experiência diferente, ao longo de 52 páginas, que, certamen-te, será apreciada por todos, despertando as mesmas sensações como quem descobre o Outro e o novo.

Trazemos mais do que as descobertas e estudos desenvolvi-dos pelo seu corpo científico. Cada uma das matérias carrega uma identidade própria, composta de particularidades que, ao mesmo tempo, gera uma pluralidade singular. Classificamos essa edição como um pequeno livro de verdadeiras histórias, de retratos traçados pelas várias mãos que hoje desenham o presente e o futuro da Universidade Federal do Maranhão.

Na baixada maranhense, destacamos a falta de água, como condição alarmante para uma comunidade; o estudo da inefici-ência de inseticidas; a ação de piolhos inofensivos (ou não) no desenvolvimento escolar de crianças; o melhoramento agríco-la por meio da seleção genética; a capacitação de vendedores ambulantes de Imperatriz; em Codó, o tradicionalismo de uma cultura frente aos desafios de assumir sua própria identidade. Estas foram algumas pesquisas escolhidas entre outras tantas, pensadas para apresentar ao leitor uma realidade dos trabalhos desenvolvidos nas cidades do nosso continente.

Este é o resultado de três meses de trabalho de uma equipe de repórteres, revisores, fotógrafos, designer responsável por todo o projeto gráfico desta terceira edição da RPC, e dos edi-tores que hoje compõem a revista Portal da Ciência. Com as mãos entrelaçadas, compreendemos que a Universidade não é feita por um, ou por dois, mas pelas quase 50 mil pessoas que, juntas, tornam possível falar, de fato, numa instituição pública de ensino superior de todos e para todo o Maranhão.

Portal da CiênciaUma publicação da Universidade Federal do Maranhãowww.ufma.br

IDEALIZAÇÃO E PRODUÇÃO [email protected]

ASSESSORA DE COMUNICAÇÃO E EDIÇÃO GERALFrancisca Ester de Sá MarquesProf ª Adjunta do Departamento de Comunicação/UFMA

EDIÇÃOAnissa Ayala Cavalcante, Roberth Meireles

EXPEDIENTE

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICAKleyton Kerlison

REPORTAGENSAnissa Ayala Cavalcante, Anna Caroline Guimarães, Carol Ribeiro, Daryanne Caldas, Edson Igor, Elen Silva, Érica Muniz, Josiane Mendes, Lígia Guimarães, Luan Lima, Luís Felix Rocha, Luciano dos Santos, Marcelo Oliveira, Roberth Meireles, Roseane Cardoso, Sansão Hortegal

REVISÃO DE TEXTOCharles Martins, Patricia Santos, Késia Andrade

FOTOSCarol Ribeiro, Edson Igor, Josiane Mendes, Lanna Silva, Karllany Farias, Luciano dos Santos, Paulo Vale, Roberth Meireles, Sansão Hortegal

ILUSTRAÇÃOKleyton Kelison

IMPRESSÃOMotográfica/CE

Tiragem30 mil exemplares

Boa leitura!

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Cotidiano

desse parecer cristalina. O professor, que reside na cidade de Chapadinha, desde 2006, afirmou que teve problemas de saúde relacionados à ingestão de água. Adquiriu um parasita chamado Giárdia, que lhe causou complicações no intesti-no e, que tem no consumo do líquido o seu principal modo de infecção. O do-cente faz parte de um quadro mais amplo de pessoas que apresentam sintomas de várias doenças ligadas à questão da quali-dade da água, que vão desde as infecções intestinais e viroses até a irritação ocular e da pele, ambas provocadas pela inges-tão de água contaminada.

Consumo racionadoOs pesquisadores concordam que

Chapadinha cresceu a partir de um pro-jeto de desenvolvimento a todo custo, e agora cobra por medidas urgentes, para resolver os seus problemas mais graves. Eles afirmam que, devido à expansão em Chapadinha, é possível inferir, inclusive, que o município, localizado na região do Baixo Parnaíba, já ultrapassou uma vez e meia sua capacidade de abastecimento. No limite, a população sente os efeitos da falta de ações planejadas capazes de abraçar o desenvolvimento e, é na falta de água nas torneiras dos domicílios,

cada vez mais comum, que o problema pode ser sentido de forma mais intensa.

Carmem Silva Rodrigues, de 32 anos, nasceu em Chapadinha e diz que a falta de água, nas torneiras do município já virou rotina. “Nunca sabíamos quan-do íamos acordar e ter água na torneira. Tem dia que temos água, tem dia que não temos. Por isso eu mandei construir um poço e instalei uma bomba que puxa a água, para eu recolher em baldes a água que consumo”.

Uma decisão que é compartilhada com vários moradores, que dividem a aflição gerada pela falta de água em casa. No poço, com cerca de 30 metros, a in-segurança gerada pelo manuseio de um equipamento rudimentar é a única forma que muitos moradores da cidade encon-tram para conseguirem água. Carmem conta que todos os moradores de sua casa já sentiram dores abdominais após o consumo da água. Hoje não bebe mais da água diretamente retirada no poço lo-calizado no quintal da residência, e recla-ma que precisa andar cerca de uma hora para apanhar água na casa da sogra, que julga ser de melhor qualidade para o seu consumo e da família.

Os balcões de farmá-cias, na

cidade de Chapadinha, multiplicam-se à medida em que, atualmente, são regis-trados nessa região, especificadamente, mais de 70 estabelecimentos especializa-dos na oferta de remédios para as mais variadas doenças. Um volume expressi-vo se comparado ao número de pontos igualmente registrados e que fornecem produtos com o mesmo peso simbólico para a saúde, tais como alimentos co-mercializados nas padarias que, neste caso, beiram os 50 pontos de venda, no município. Avaliando a comparação en-tre os dois quadros é possível identificar uma situação eminentemente destoante, que reflete como vem ocorrendo a ex-pansão acelerada e sem planejamento da cidade.

Para quem acompanha a realidade de perto, especialmente os pesquisado-res da Universidade Federal do Mara-nhão, há uma explicação lógica para a situação, que estaria na carência de polí-ticas públicas voltadas para a construção de um plano diretor de desenvolvimento. Mas afinal, o que significa a busca cada vez maior de remédios pela população de Chapadinha? A resposta para esta pergunta vem de dois professores da UFMA o Engenheiro Civil, Telmo José Mendes, e do ecologista, Regis Catarino da Hora. Eles afirmam que a cidade de Chapadinha está enfrentando problemas sanitários graves que estão exigindo uma atenção toda especial tanto por parte do poder público quanto por parte da So-ciedade Civil. “São problemas resultantes da falta de um plano de desenvolvimen-to municipal. Dentre estes problemas, a contaminação da água que abastece a população aparece em destaque”, expli-cou o engenheiro Telmo Mendes.

Na opinião dele, a cidade mais pa-rece um “queijo suíço”, por conta da quantidade de poços, os quais possuem uma qualidade extremamente duvidosa. Destacou para dizer que, desde 2009, desenvolve análise laboratorial da água extraída dos poços da cidade, onde comprovou uma quantidade elevada de coliformes fecais, ainda que a água pu-

TEXTO: ROBERTH MEIRELES

Alerta: Chapadinha podeficar sem água para o consumoO problema já está sendo enfrentado por parte da população da cidade e pesquisadores da UFMA orientam para que sejam tomadas medidas preventivas para evitar maiores estragos no futuro

Técnicas rudmentares são ultilizadas por moradores para extração de água em Chapadinha

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7Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Sistema de abastecimento comprometido

A insatisfação de Carmem, e de ou-tros milhares de Chapadinhenses, é fruto de um sistema de abastecimento consi-derado antigo. Hoje a zona urbana da cidade é abastecida de duas fontes - de uma barragem sob a administração da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (CAEMA) e de poços co-munitários que a prefeitura instalou para abastecimento da população. A água que sai da Itamacaoca, como é reconhecida a represa de água, abastece, atualmente, 70 por cento da população urbana. O trajeto que água leva até as residências é longo e, após ser extraído do aquífero, é conduzida até uma estação de trata-mento localizada na própria cidade para, em seguida, ser distribuída aos oito mil e 700 domicílios contemplados com água encanada no município, isto segundo os dados da companhia de água, em Cha-padinha.

Entretanto, apesar da quantidade de residências que consegue atender, este sistema apresenta muitos problemas. “As ações do governo, na Itamacaoca, são de exploração dos recursos naturais, mas sem que haja qualquer cuidado, por exemplo, como as nascentes. Hoje nós temos uma área verde que deveria ser uma Área de Preservação Permanente (APP), e que está com um nível de água muito abaixo do esperado. Desta forma, do local de onde sai quase toda água en-canada que chega aos lares de Chapadi-nha, além do problema da quantidade de água, temos problemas também quanto à preservação da região, que está sendo comprometida pela ação humana”, ex-plicou o doutor em Ecologia da UFMA, Regis Catarino.

Itamacaoca no limiteRegis Catarino estudou as matas ci-

liares por meio de uma pesquisa, com apoio de órgãos de fomentos públicos, e teve seus trabalhos finalizados na me-tade do último ano. Pesquisando sobre a região que compreende a Itamacaoca, ele registrou uma vegetação destruída pela ação da exploração e traçou, por meio desta, um diagnóstico da área, le-vantando uma previsão preocupante: se não forem tomadas medidas para rever-ter o quadro de desequilíbrio ambiental nas matas que circundam a barragem, em breve Chapadinha vai ficar sem água para o seu abastecimento.

Para o professor, é necessário ga-rantir que a região onde se encontra a Itamacaoca seja totalmente preservada e que novas formas de exploração de água para a distribuição sejam encon-tradas. Isto porque, com um maquinário ultrapassado, a represa conta com dois guardas que protegem o local noite e dia, e uma cerca com portão, que é a principal forma de acesso à área verde e ao reservatório que, apesar de passar a maior parte do tempo fechado, não im-pede o trânsito de pessoas e ações como queimadas e desmatamentos. Abusos que acontecem até mesmo à luz do dia e que são capazes de justificar a dimi-nuição do nível de água no reservatório, pois quando a topografia do terreno é modificada – como é o caso da constru-ção de residências ou o asfaltamento do terreno e até o desmatamento –, o solo passa a absorver uma quantidade cada vez menor de água que, somada às altas temperaturas da região, explicam o bai-xo nível de água que o reservatório vem apresentando nos últimos anos.

Para se ter uma noção da situação, o ecologista expõe que, em apenas cinco anos, a cerca que protege e dá acesso a Itamacaoca já avançou pelo menos cinco vezes adentro, por conta do cres-cimento de uma ocupação irregular, que está, atualmente, localizada a 500 me-tros do reservatório de abastecimento, como destacou o professor Regis Ca-tarino. Segundo o gerente da CAEMA em Chapadinha, Jorge Guimarães, no início do ano a prefeitura da cidade teve um projeto aprovado por meio do Pla-no de Aceleração do Crescimento do Governo Federal (PAC II), do Governo Federal via Ministério das Cidades. Re-cursos da ordem de R$ 25 milhões de reais devem ser aplicados na ampliação da capacidade de armazenamento da Itamacaoca.

Do mesmo modo, a preservação das matas, que compõem a flora do reserva-tório e, por conseguinte, das nascentes que alimentam a represa, necessitam de projetos específicos, com ações de médio e longo prazo, com capacidade para controlar o desmatamento como, por exemplo, a transformação da região em uma APP. “Itamacaoca já não su-porta mais abastecer toda a população de Chapadinha. Com os recursos deste projeto aprovado no início deste ano, esperamos atender 100 por cento da zona urbana de Chapadinha, com água encanada, e isso vai acontecer com a ampliação da represa de Itamacaoca e com a construção de quatro poços com cerca de 300 metros de profundidade”, relatou o responsável pela CAEMA, ao reconhecer o problema que a cidade enfrenta e apontar que situações seme-lhantes podem ser encontradas em ou-tros municípios do Estado.

O reservatório de água que abastece 70% da população de Chapadinha encontra-se com volume abaixo da média desde 2009

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8 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Regis Catarino da HoraPossui graduação em

Ciências Biológicas, pela Universidade Federal do

Mato Grosso do Sul. É mes-tre e doutor em Ecologia

e Recursos Naturais, pela Universidade Federal de São

Carlos. Atualmente é pro-fessor adjunto da Universi-dade Federal do Maranhão, com experiência na área de

Ecologia, com ênfase em ecologia vegetal, atuando

principalmente nas áreas de ecologia, fitossociologia e

florística.

Telmo José MendesÉ graduado em Engenharia

Civil, pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Mestre em Geociências, pela Universi-dade Estadual de Campinas, com doutorado em andamento pela mesma instituição. Atualmente é professor Assistente II da Univer-sidade Federal do Maranhão, atu-ando no campus de Chapadinha.

Professores da UFMA apresentam diagnóstico da água de Chapadinha.

Maria Monteles retira a água que consome de um poço de 30 metros de profundi-dade, que mantém dentro da sua residência

Construir poços vai solucionar o problema?

Maria Monteles é uma moradora da zona urba-na e reside na região próxima à represa de Itama-caoca. Ela, por exemplo, apesar de viver a menos de um quilometro do reservatório não recebe água de abastecimento oferecido pela CAEMA. Na casa que divide com mais quatro pessoas, toda água de consumo vem de um poço que fica em um dos compartimentos de sua residência. Ela afirma nun-ca ter sentido quaisquer problemas com a digestão do líquido e que a instalação de água encanada é uma promessa antiga do governo local.

A abertura de poços para o consu-mo é a saída encontra-

da pela população de Chapadinha e outros tantos municípios do Estado. É uma cultura antiga, e os poços construídos, algumas vezes com ajuda da prefeitura, contam com profundidades que cau-sam problemas, pois atingem os lençóis freáticos impróprios para o consumo, daí a razão da conta-minação da população ao ingerir água em Chapa-dinha que, de curto ou médio prazo, vai interferir na qualidade de vida dos moradores. Desta forma, o consumo por meio de poços e até das águas de torneiras, coexistem quase como questões emer-genciais, cobrando soluções imediatas, isso falando apenas da zona urbana, uma vez que a região rural da cidade não recebe qualquer abastecimento de água pela CAEMA.

Resposta à sociedade

O trabalho de alertar o poder público dos problemas que a cidade vem passando e intervir, muitas vezes apresentando soluções, tem sido realizado por professores da Universidade Federal do Maranhão, como Telmo José e Regis Catarino. “Nós divulgamos os dados e as pesquisas que de-senvolvemos sobre os problemas da cidade. Na verdade, dados isolados são apenas números, mas ao fazermos os seus cruzamentos obtemos infor-mações analisadas em nossos respectivos cam-pos de atuação, e, a partir daí, podemos oferecer interpretações que devem ser levadas ao conheci-mento público, como é o caso do alerta acerca da qualidade e do abastecimento hídrico em Chapadi-nha”, disse Regis Catarino, ao afirmar que o corpo docente em Chapadinha tem realizado um trabalho bastante produtivo quanto à produção de pesqui-sas e levantamento de dados na região.

O pesquisador destacou, ainda, que há total in-teresse em desenvolver projetos com parcerias que visem solucionar o problema da água em Chapa-dinha, em especial no que se refere à preservação das matas que compõem o ecossistema onde está localizada a represa, realizando assim a manuten-ção dos mananciais de onde sai a maior parte da água que abastece a cidade.

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Arena da paz:estabelecendo relações

sociais no âmbito escolarA UFMA no combate à violência nas redes

de ensino público da cidade de Bacabal

Brigas e discursões estão a cada dia tornando-se corriqueiras no ambiente escolar de todo o

Brasil. A violência praticada dentro da escola teve seu primeiro registro enquanto objeto de estudo há mais de 60 anos, nos Es-tados Unidos. Com o passar dos anos, as práticas de violência física, verbal e até mesmo a intimidação dentro do ambiente escolar, transformoram-se em um fenômeno com traços nítidos e de difícil resolução. A prova disso é que este tipo de violência deixou de ser tratada meramente como uma questão disciplinar e agora aparece em pesquisas enquanto expressão da perda progressiva da escola de sua capacidade socializadora, ou seja, de inserir indivíduos numa determinada ordem social, como um reflexo da violência existente neste âmbito, e percebida de va-riadas formas.

Violência escolar: construção permanente de espaços de estudos e diálogos

Com notícias constantes sobre a violência escolar em todo o Brasil, a Universidade Federal do Maranhão desenvolve um trabalho intitulado “Arena da paz: ressignificação dos sentidos atribuídos à violência no cotidiano escolar”, coordenado pela professora Maria José dos Santos e desenvolvido na cidade de Bacabal. O projeto surgiu a partir da ideia de desenvolver uma atividade com a temática voltada ao combate da violência, obje-tivando dar voz ao professor da rede de ensino municipal.

Segundo a professora Maria José, houve uma boa aceita-ção do projeto pela comunidade discente, que se mostrou bas-

tante motivada diante da possibilidade de compreender melhor o fenômeno da violência, bem como de refletir e pensar cole-tivamente sobre possíveis formas de combatê-las no ambiente escolar.

“O Arena da Paz realiza mapeamento do quadro da violên-cia no cotidiano das escolas investigadas, por meio da aplicação de questionários com alunos e comunidade escolar. Além de en-volver os atores da rede de ensino regular, a pesquisa envolve, também, bolsistas e voluntários que, quinzenalmente, realizam sessões de estudos para assimilar teoricamente o tema”, expli-cou a professora Maria José sobre o projeto que desenvolve em Bacabal.

Desta forma, observando de perto o cotidiano da escola, a professora, junto aos alunos da UFMA, pensam as relações que são estabelecidas pelos sujeitos, nele inseridos. Essas relações são alternadas, algumas tensas, outras conflituosas e/ou har-moniosas, que devem ser refletidas no ato de seu surgimento. Assim, o projeto considera prematuro classificar como ressig-nificação qualquer reação positiva advinda de suas ações. “É preciso um amadurecimento e uma apropriação dos sentidos e seus significados a partir da realidade existente, o que a nosso ver exige a construção permanente de espaços de estudos e diálogos da temática em questão”, ressaltou a coordenadora.

Com este trabalho, a professora espera desenvolver uma ação a longo prazo tanto pelos agentes, quanto pelas vítimas e até mesmo pela mídia, já que o trabalho da equipe da UFMA implica mudanças de posturas de todos diante das situações ocorridas no espaço escolar”.

TEXTO: LUIS FELIX ROCHA

Uma pesquisa, divulgada no início deste ano, intitulada “Violência nas escolas: o olhar dos professores”, realizada pelo Centro de Estudos e pesquisas Educacionais (CEPES), Sindicato dos professores do ensino oficial do estado de São Paulo (APEOESP), teve como perfil da amostra, professores da rede estadual, em 167 cidades do Estado de São Paulo. A pesquisa apontou:

75% 24% 35% 62%

Roubados ou furtadosJá presenciarambrigas de alunos

Foram ameaçadosXingados

Ainda de acordo com a pesquisa, a situação é pior em bairros de periferia, onde 63% dos pro-fissionais consideram a escola um espaço violento. A insegurança no trabalho, de acordo com os coordenadores do estudo, é comum entre os docentes.

No Maranhão, o Grupo Especial de Apoio às Escolas (Geape) registrou 69 casos de agressão física entre alunos no ambiente escolar em 2012, no período de janeiro a dezembro. Se compara-do ao ano anterior os danos assustam e preocupam, principalmente por compreender mais que o dobro dos casos registrados em 2011, quando foram computados 32 casos de agressão física. Em relação às ameaças, foram 32 casos em 2012 e 29 ocorrências em 2011.

Maria José dos Santos Graduada em Pedagogia

pela Faculdade de Ciências e Letras de Juazeiro (FFCL J/UNEB). Mestre em Educação. Atualmente é professora da Universidade Federal do Maranhão em Bacabal.

Cotidiano

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10 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Educação

Durante os séculos XIX e XX, a prática obrigató-ria do ensino foi apresentada na maioria

das regiões do mundo como um direito de inclusão para todos os cidadãos. As novas fisionomias geopolíticas mundiais do pe-ríodo demonstraram uma conjuntura que permitiu a institucio-nalização de um modelo de ensino, cuja missão era formar e desenvolver as capacidades cognitivas humanas. Desta manei-ra, a Escola na sua forma contemporânea passou a exercer a função de instruir e educar, a partir de um sistema metodoló-gico específico, enfrentando desafios, num campo de disputas ideológicas, onde a Igreja, por exemplo, exerceu forte influen-cia sobre o campo educacional. A metodologia empregada foi transposta à instituição emergente, tendo como base a lógica de um sujeito que fala e um que ouve, tentando memorizar e assimilar a mensagem, como explicou uma das maiores auto-ridades em Ciência Cognitiva, o pesquisador norte-americano Roger Schanck.

Schanck foi o fundador do Instituto de Ciências do Apren-dizado, e autor de mais de 20 livros sobre a linguagem, sobre a inteligência artificial, sobre a educação, a memória e a leitura. Segundo ele, essa forma de “ensinar” não permite autonomia e originalidade na formulação do pensamento pelos sujeitos, pois estes só aprendem quando fazem questionamentos sobre os assuntos, como destacou o pesquisador norte-americano. Em entrevista à revista da Editora Abril Exame, Roger Schanck afirmou que os “Mecanismos inconscientes são aprimorados quando o sujeito erra, pois tem que descobrir um jeito de re-fazer o que escreveu”, explicou o cientista fazendo referência a uma metodologia que faz com que os estudantes trabalhem arduamente e pensem em algo que nunca viram antes, o que, para ele, é uma tarefa muito difícil. “Há muita teoria nas aulas porque os professores pensam que se aprende ouvindo. Muita teoria dá sono”, complementa o cientista em entrevista conce-dida ao periódico brasileiro.

Para ele, então, a melhor forma do sujeito aprender é fa-zendo, colocando em prática os seus conhecimentos, transfor-mando teorias em atividades práticas e concretas. O modelo defendido pelo teórico das Ciências Cognitivas é compartilha-do por uma professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) do Campus de Bacabal, Maria Raimunda Santos, que utiliza uma matéria prima de acesso facilitado e de baixo custo. Na sua sala de aula, a professora universitária faz com que os seus alunos construam com as próprias mãos as mais variadas estruturas orgânicas dos seres vivos. Em duplas ou em grupos, eles discutem a sua criação, e retiram literalmente, o conheci-mento das páginas dos livros.

Estudantes retiram das páginas dos livros modelos para a construção de estruturas que ajudam na compreensão do conteúdo didático

Uma experiênciacriativa de aprendizagem

TEXTO: SANSÃO HORTEGAL

Estruturas de BiscuitSegundo a professora Maria Raimunda Santos, a metodo-

logia empregada e que utiliza a massa de biscuit tem por obje-tivo explicar a construção e a aplicação de modelos didáticos, estimulando o uso desses objetos produzidos como ferramentas alternativas para um ensino mais criativo dentro da Biologia, além de discutir a necessidade da utilização de práticas pedagó-gicas que permitam aos estudantes expressarem a sua criativi-dade em sala de aula.

A razão do uso da matéria prima biscuit, enquanto peça metodológica educacional, foi escolhida por apresentar maior resistência, durabilidade, propriedades que se assemelham à massa de modelar - a mesma utilizada comumente em escolas de ensino fundamental para a construção de peças que estimu-lam a imaginação, a liberdade e a experimentação das crianças. “Quando o conteúdo é construído desta forma, ele é assimi-lado, entendido e apreendido”, esclarece a professora Maria Raimunda Santos.

O encontro entre o pensamento de Roger Schanck e Maria Raimunda Santos se dá nas opiniões comparti-lhadas. Eles concordam que não é fácil fazer com que os estudantes pensem em algo que nunca viram antes, ou seja, por exemplo, no campo da Biologia existem as células animais, vegetais, mem-branas plasmáticas, entre outras estruturas que nunca saem do quadro ou das páginas dos livros. Daí, a utilização do biscuit para que

Estruturas orgânicas são construídas a partir das ilustrações que os alunos encontram nos livros

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os próprios alunos realizem as montagens dos seus objetos de aprendizagem, permitindo que façam imediatamente uma cor-relação entre a teoria e a prática, vivenciando o aprendizado literalmente nas palmas das mãos.

Os modelos confeccionados pelas turmas da professora são selecionados de acordo com os temas escolhidos durante a dis-ciplina que vão desde a confecção de tabuleiros de célula animal e vegetal até da membrana plasmática, também das organelas citoplasmáticas, núcleos, etapas da mitose e meiose, animais invertebrados e todas as etapas da embriologia.

As novas formas de aprender e ensinar tornam a aula mais dinâmica e aumentam o rendimento dos estudantes, o que possibilita confeccionar modelos metodológicos ativos de boa qualidade para obter uma melhor compreensão das aulas de Biologia, permitindo a visualização e a interação com temas até então abstratos, o que contribui para uma boa compreen-são teórica. “Através dessa metodologia, os estudantes deixam

de ser meros espectadores e se tornam criadores de uma aprendizagem efetiva, criativa e significativa, sen-

do mais duradora que os métodos de ensi-nos tradicionais”, concluiu a professora

dando ênfase de que o entendimen-to da Biologia é necessário a to-

dos os seres humanos. Por isso, receber informa-

ções sobre como entendê-la é imprescindível para o cres-cimento e o desenvolvimento intelectual do estudante que,

em breve, pode vir a ser um pro-fessor, e contribuir para a difusão

deste método, afim de que outras insti-tuições de ensino adotem a metodologia e unam a teoria à prática, contribuindo para uma melhor assimilação do conte-údo ministrado. “Eles utilizam a criativi-dade. Não precisa ser necessariamente igual ao que está no papel ou no qua-dro, mas tem que ter uma visão, saber reconhecer as estruturas pelo seu desen-volvimento ou perfomance. O que eles estão produzindo concretamente é visto na teoria, e o que resta é aplicar, e per-ceber se o estudante assimilou o que foi ensinado. Quando colocamos a mão na massa jamais esquecemos. Pelo menos, tentamos fazer com que o aluno, além da criatividade, assimile melhor o conte-údo que foi aplicado. Essa é sem dúvida a metodologia da prática aliada à teoria”, finalizou a professora Maria Raimunda Santos.

Maria Raimunda Santos Garcia Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Maranhão. É especialista em Ecologia Tropical e mestre em Ciências Biológicas pela Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, e doutorado em Ciências Biológicas, na mesma Instituição. Atualmente é professora da Universidade Federal do Maranhão, com experiência de estudo e pesquisa na área de Genética, atuando com temas tais como abortamento espontâneo, trisomy 12p, trissomia parcial 13q, tetrassomia 18p e trissomia parcial 18q, Biologia celular e Embriologia.

“ “Através dessa metodologia os estudantes deixam de ser meros espectadores e se tornam criadores de uma aprendizagem efetiva, criativa e significativa, sendo mais duradoura que os métodos de ensinos tradicionais.

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Professora orienta estudantes na hora da montagem das estruturas criativas em biscuit

Estruturas orgânicas são construídas a partir das ilustrações que os alunos encontram nos livros

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12 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Empreendedorismo

Melhorar o nível de satisfação e a imagem da empresa diante dos

clientes não é tarefa fácil e rápida, requer um bom rela-

cionamento entre os participantes e bons serviços prestados pela empresa, que devem

suprir as expectativas da clientela, e para isso, o trabalho dentro da empresa precisa

ir muito além da simples compra e venda. Para melhorar esse nível de satisfação é

importante que os gestores do negócio conheçam as necessidades dos seus clientes,

e ofereçam qualidade ao seu público interno e externo, obedecendo ao princípio da

responsabilidade social.

Assim, para garantir um

nível de competitividade satisfa-

tório e um bom relacionamento

entre os vários públicos envol-

vidos, o sistema de gerencia-

mento de uma empresa precisa

se adequar constantemente em

relação às mudanças no cená-

rio econômico, e a adoção de

novos modelos estratégicos que

possibilitem a sua participação

efetiva no topo de um mercado,

cada dia mais acirrado.

Observando as atuais es-

tratégias de logística - área da

gestão responsável por fomen-

tar os recursos, equipamen-

tos e informações para a exe-

cução de todas as atividades e

serviços oferecidos, neste caso

pela distribuidora de bebidas Disbel -, o estudante de Administração, Divair Pires da

Silva, se propôs a investigar na sua pesquisa de conclusão de curso qual é a visão

dos clientes sobre a prestação de serviços da empresa citada, o nível de fidelidade e

como tais ferramentas podem ajudar a melhorar a imagem e aumentar a fidelidade

dos consumidores.

Localizada no centro da cidade de Porto Franco, a distribuidora de bebidas Disbel,

atua no mercado há 11 anos, com um faturamento anual de aproximadamente R$

13 milhões; conta com 45 empregados diretos e uma frota própria de 07 caminhões.

As atividades da empresa são desempenhadas em uma área de 5 mil e 500 metros

quadrados, onde funcionam setores como a direção da empresa, as vendas, o fatura-

mento, o financeiro e a contabilidade, entre outras.

Case de sucesso:novos modelos de gestão

à serviço do clienteO recém-formado em Administração da primeira turma EAD da UFMA, Divair Pires,

trouxe por meio de um projeto de pesquisa uma nova visão sobre os modelos de logística em benefício dos clientes na cidade de Porto Franco

TEXTO: ROSEANE CARDOSO

Trajetória do sucessoTudo

começou quando Divair co-

nheceu a empresa através de seu está-gio curricular supervisionado do curso de Administração da UFMA, na cidade de Porto Franco. Natural do município de Itapuranga, em Goiás, ele foi morar aos 12 anos com o seu pai na cidade de Campestre, no Maranhão. Certo dia, em passagem pelo município Porto Franco viu as instalações do prédio de apoio ao pólo presencial da Universidade Aber-ta do Brasil (UAB) em parceria com a UFMA, e ficou sabendo da implantação do bacharelado em Administração, curso que ele passou a integrar desde dezem-bro de 2007.

Antes de começar o estágio, ele não tinha nenhum contato com a empresa pesquisada, até a seleção e início dos tra-balhos na distribuidora, o que aconteceu em 2012, quando passou a ter contato direto com todos os setores da empresa. Um fato, que permitiu com que iniciasse seu estudo de caso e apresentasse as so-luções pertinentes aos problemas encon-trados durante o diagnóstico realizado na empresa.

O resultado da pesquisa realizada pelo estudante demonstrou sua compe-tência em aplicar uma metodologia espe-cífica que permitiu um olhar diferenciado sobre o trabalho desenvolvido, com o ri-gor necessário que somente uma institui-ção de ensino superior proporciona. O proprietário da distribuidora de bebidas em Porto Franco, Luis Tavares, destacou que a parceria da UFMA com a sua em-presa deu certo e contribuiu para melho-rar o desenvolvimento da empresa junto aos seus vários públicos.

Serviço de logística dentro da empresa começou a ser pensado de forma diferente após análise monográfica do aluno de Administração

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13Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Divair Pires da SilvaÉ bacharel em Administração pela Universidade Federal do Maranhão que em parceria com a Universidade Aberta do Brasil (UAB) oferece o curso de Administração na cidade de Porto Franco desde 2007. Atualmente é coordenador administrativo comercial da distribuidora de bebidas, Disbel, localizada na cidade Porto Franco, Maranhão.

aplicadas para melhorar o relacionamen-to entre os públicos”, ressaltou.Contratado desde abril de 2012, logo após terminar o estágio, o administra-dor tem feito a diferença e mudado a di-nâmica do comércio de bebidas na cida-de e municípios vizinhos contemplados com a distribuição da empresa Disbel. Isso, graças à visão do proprietário que lhe permitiu aplicar os conhecimentos adquiridos no campo acadêmico, me-lhorando o sistema de gerenciamento e logística de atendimento ao cliente. “Pretendo continuar estudando e apli-cando as teorias estudadas para sempre melhorar, uma vez que os clientes se mostraram satisfeitos com os serviços e perceberam o quanto a Disbel zela por essa fidelidade se adequando sempre às necessidades de cada cliente em poten-cial”, concluiu.

Divair Pires e o proprietário da Disbel implantaram novas práticas de gestão dentro da empresa, aliando por fim teoria e prática

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O Divair é muito inteligente, sabe trabalhar e tem boas ideias. Eu o contratei após o es-tágio por gostar do excelente trabalho que ele desempenhou aqui e lhe dei total liber-dade para melhorar a imagem da empresa e o relacionamento com os nossos clientes, afirmou o empresário.

Divair acredita que os resultados alcan-çados só foram possíveis graças à colabo-ração de Luis Tavares que, formado em Logística, soube reconhecer a importân-cia das estratégias de fidelização com os clientes e do administrador para geren-ciar esse relacionamento, permitindo o contato direto dele com o público dirigi-do, como os vendedores e outros setores que lidam com essas questões.Para ele, é importante essa relação en-

tre os alunos com o mercado, pois é o momento em que os futuros administra-dores colocam em prática os conceitos e aprendizados teóricos adquiridos ao lon-go do curso. Para alcançar os seus obje-tivos de pesquisa, o estudante precisou conhecer de perto as principais ativida-des desenvolvidas pela empresa como o desenvolvimento do setor de transporte dos produtos da fábrica para o centro de distribuição da empresa; o armazena-mento adequado dos produtos, o modo

de processamento das vendas e até os critérios da pré-venda, onde os pedidos são coletados e faturados, até a entrega destes nos pontos de venda. “Tudo para observar como melhorar as estratégias de fidelização e comunicação com os clientes das empresas”, esclareceu. O administrador realizou a pesquisa, por meio de uma metodologia prática, que foi a aplicação de um questionário dirigido, por meio do qual buscou saber

o perfil dos revendedo-res donos das mercea-rias das cidades aten-didas pela distribuidora de Porto Franco. No questionário respondi-do, descobriu o nível de escolaridade dos servi-dores; a frequência com que são feitas as visitas dos vendedores e o nível

de satisfação na distribuição das bebidas no tempo solicitado. Um trabalho que ele realizou pessoal-mente em cada estabelecimento comer-cial que a Disbel atende. “Sempre tive contato direto com os clientes e outros setores da distribuidora. A empresa tem que manter essa relação próxima da ges-tão com os clientes, pois assim ela tem uma noção de como a informação circula pelos vários setores. Depois, é perceber quais estratégias de marketing podem ser

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14 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Economia

A pesca é uma das prin-cipais fontes de alimentos da socie-

dade e a sua prática no Maranhão compõe a renda de trabalhadores que vivem da retirada de pescados como mariscos e crustáceos. No Estado, a atividade pesqueira ganha ainda mais força em função deste, ser privilegiado como o segundo maior litoral do país, com 640 quilô-metros de extensão e uma bacia hidrográfica composta de rios perenes, isto é, aqueles que não secam durante o ano. A partir destas características, a estudante de Ciên-cias Biológicas, do Campus de Chapadinha, da Universi-dade Federal do Maranhão (UFMA), Ariana Naiara, sob a orientação da professora Jane Mello Lopes, se propôs a investigar a conjuntura da atividade pesqueira artesa-nal realizada em pequenas embarcações, e em escala não industrial, para fazer uma avaliação acerca do impacto da atividade no âmbito social e econômico e, para isso, utilizou um recorte que partiu de um município, localizado na mesorregião Norte Maranhense.

Os dados do estudo, que correspondem ao trabalho das pesquisadoras, foram colhidos no município de Tu-tóia, entre os anos de 2010 e 2012, na forma de ques-tionários aplicados, com perguntas objetivas, fechadas, subjetivas, específicas e pessoais em localidades da cida-de, tais como Porto de Areia, Arpoador e as redondezas do Porto Central, principais eixos da pesca artesanal na cidade.

Com os dados tabulados, Jane Mello Lopes e Ariana Naiara apresentaram dados inéditos sobre a quantidade de pescadores, espécies de peixes capturadas, o preço, o nível de escolaridade, os métodos de conservação e os tipos de embarcações utilizadas na atividade pesqueira, e que ganhou o nome de Análise da Atividade Pesqueira e perfil socioeconômico dos produtores de pesca artesanal no município de Tutóia.

Tradicionalismo versus capacitação e tecnologia: desafios para estruturação da indústria pesqueira no MaranhãoLevantamento de pesquisadora da UFMA faz um panorama do perfil do pescador e aponta para as melhorias que o setor precisa receber

TEXTO: EDSON IGOR ILUSTRAÇÃO: KLEYTON KERLISON

Escala em produção artesanal ainda é a modalidade depesca mais praticada no Maranhão

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15Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Um dos dados encontrados no trabalho de pesquisa corresponde à participação de homens e mulheres na produção da pesca artesanal no município, e até que ponto o trabalho desses profissionais compõe a renda familiar. Segundo o levantamento, 91 por cento do pú-blico entrevistado é do sexo masculino e tem a média de idade compreendida entre 20 e 40 anos. Deste gru-po, 46 por cento dos pescadores informaram que tem a pesca como a única fonte de renda para a família.

Em relação ao nível de escolaridade, a estudante constatou que a realidade brasileira dos pescadores também tem características semelhantes às dos traba-lhadores do mesmo ramo, em Tutóia. No levantamen-to, os dados revelam deficiências de políticas públicas do Estado, tanto na parte escolar quanto no nível técni-co, que requer a boa utilização da atividade pesqueira. Destes, cerca de 47 por cento disseram que concluíram apenas o ensino fundamen-tal, e em relação à profissão, a participação do Estado é percebida de forma ausente, pois os pescadores afirma-ram que o conhecimento adquirido da pesca é oriundo da tradição e da experiência repassada de geração em ge-ração.

Essa falta de acesso ao conhecimento e ao uso de ferramentas tecnológicas, marcada pela ausência de ações do governo, geram problemas que dificultam o desenvolvimento da ativi-dade e reduzem o lucro dos trabalhadores que vivem da pesca. Nesta região, por exemplo, são encontrados poucos pescadores que utilizam apetrechos como a malhadeira, zangaria e espinhéis – equipamentos mo-dernos que dinamizam o trabalho da pesca. Em geral, eles optam pelo uso das tradicionais redes de pesca. Desta forma, a interpretação de todos os dados obtidos na pesquisa caracterizou a atividade como artesanal, por conta da simplicidade dos meios de produção, des-cartando a possibilidade de estruturação da atividade para que haja algum vínculo com indústrias.

O que é o pescador artesanal?

Secretário Estadual de Pesca e Aquicultura pondera acerca da situação da pesca no estado

No Maranhão, uma das principais instâncias públicas respon-sáveis pela atividade pesqueira é a Secretaria de Pesca e Aqui-cultura (SEPAq), criada em 2012, com o objetivo de fomentar políticas para desenvolver o setor econômico. O secretário da SEPAq, Davyson Franklin de Souza, reconhece as dificuldades que envolvem a atividade pesqueira no estado, sobretudo na produção artesanal. Entre estas dificuldades, o secretário esta-dual aponta que as tradições culturais dos pescadores também influenciam o Estado na proposição de ações para modernizar a prática dos trabalhadores, deixando a produção destes à mar-gem de uma alta produtividade. “Um dos grandes entraves, no Maranhão, ainda é cultural, por isso a meta da Secretaria não é gerar um impacto imediato. É um trabalho que deve ser feito aos poucos, inserindo a capacitação com novas práticas, que vão

tornar a pesca mais moderna, aumen-tando a produtividade. Isso tudo ao lada da regulamentação da atividade pes-queira como forma do Estado conhecer onde estão esses profissionais, tal como a professora da UFMA fez, fornecendo em seguida o suporte a eles”, afirmou.

O secretário afirma que pretende levar profissionais especializados até as regiões onde a pesca artesanal é desen-volvida, para oferecer ao público conhe-cimentos para serem implementados às suas práticas profissionais. “Tutóia é uma dessas cidades que vai ter cursos ministrados para que os pescadores

artesanais se tornem empreendedores com o nível competitivo melhor, visando que, nos próximos 15 anos, nós tenhamos um mercado de pesca mais forte“, explicou o Secretário.

Dentre as ações, que a Secretaria pretende oferecer aos pescadores, estão projetos que envolvem a alfabetização, como o Pescando Letras, além da implantação de unidades de aten-dimento médico aos trabalhadores, visando ofertar, sobretudo, consultas de visão e pele, devido à natureza do ofício. “Eles pos-suem maior suscetibilidade de adquirir uma doença relacionada com essas partes do corpo. Além disso, a Secretaria Estadual de Pesca e Aquicultura está trabalhando para levar aos pescadores o conhecimento sobre o ‘Plano Safra’”, disse.

Um programa que o responsável da SEPAq destacou como uma parceria entre Governo Federal e instituições financeiras do País, com a intenção de oferecer crédito para que os pescadores possam investir na produção de pescados. “Os pescadores que tiverem acesso a estas ações vão aplicar conhecimento adquirido e recursos financeiros em meios para potencializar a sua produ-ção, o que deve tornar a atividade altamente lucrativa, como já demonstram experiências semelhantes a esta desenvolvida em outros estados do Brasil”, explicou o secretario estadual.

Metas parao futuroda pesca

Para o Ministério de Pesca e Aquicultura, o Pescador Artesanal é o profissional licenciado pelo órgão para ex-plorar a pesca, por meio de produção própria ou mesmo pelo estabelecimento de contratos com terceiro, de forma autônoma ou em regime familiar, utilizando pequenas em-barcações nas atividades. Geralmente, esses profissionais têm acesso ao conhecimento a partir da instrução dada pela própria família, ou seja, as informações são passadas de geração em geração.

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16 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Janne Melo LopesÉ graduada em Zootecnia pela

Universidade Federal de Santa Maria e mestre na mesma área. Tem doutorado em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal de São Carlos. É professora da Universidade Federal do Maranhão, na cidade de Chapadinha, onde atua na sua área de formação com linhas de pesquisa na área de piscicultura e tecnologias da comercialização de pescado.

Ariana Naiara de Sousa AlmeidaÉ graduada em Ciências Biológicas

pela Universidade Federal do Maranhão. Possui experiência na área de educação ambiental e estudos sobre piscicultura.

Quantidade Mensal - 91 Unidades

Peso médio - 0,30 Kg

Preço: R$ 6,00

TAINHA

Quantidade Mensal - 30 Unidades

Peso médio - 0,60 Kg

Preço: R$ 2,50

ESPADA

Quantidade Mensal - 75 Unidades

Peso médio - 0,04 Kg

Preço: R$ 6,00

CAMARÃO

Quantidade Mensal - 20 unidades

Peso médio - 0,32 Kg

Preço: R$ 5,00

CORÓ

Quantidade Mensal - 1000 Unidades

Peso médio - 0,36 Kg

Preço: R$ 3,50

BAGRE JEREMIAS

Quantidade Mensal - 24 Un.

Peso médio - 1,00 Kg

Preço: R$ 3,00

PACAMÃO

Quantidade Mensal - 14 unidades

Peso médio - 3,00 Kg

Preço: R$ 4,00

ARRAIA

Quantidade Mensal - 65 unidades

Peso médio - 0,40 Kg

Preço: R$ 5,00

CORVINA

Registro de espécies de maior ocorrência na mesorregião maranhense, especialmente em Tutóia

Page 17: Revista Portal da Ciencia 2013

17Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Meio Ambiente

TEXTO: ÉRICA MUNIZ ILUSTRAÇÃO: KLEYTON KERLISON

Pesquisa identifica doisnovos tipos de orquídeas,no MaranhãoDurante dois anos, pesquisador da UFMA catalogou várias espécies da Flora Orquidológica local, e agora oferece uma base de dados para novas pesquisas científicas na área, assim como a preservação do bioma na região da Baixada Maranhense.

A Baixada Maranhense é uma região

surpreendente, com mais de 20 mil km², composta por municípios que, juntos, totalizam cerca de um milhão de habi-tantes. Neste ambiente, planícies e lagos fazem parte de um habitat considerado uma das 11 áreas úmidas do Brasil, apre-sentando particularidades, que fazem com que a região seja incluída na cha-mada Amazônia Legal - uma área que engloba nove estados brasileiros perten-centes à grande Bacia Amazônica e ou-tras áreas de ocorrência das vegetações típicas desta região.

Apesar de toda a riqueza e diversida-

de de formas e de vegetação, o desen-

volvimento de estudos científicos ainda é

muito reduzido em todas as áreas do co-

nhecimento. Por isso, o ato de reconhe-

cimento do bioma das planícies baixas

e alagadas do Maranhão ainda está por

explorar. Para reverter este quadro, o

mapeamento pode ser apontado como o

primeiro passo para o trabalho de levan-

tamento de espécies da fauna e da flora

desta região. Catalogar espécies endêmi-

cas ajudaria a compreender, por exem-

plo, como tem se dado o desenvolvimen-

to do patrimônio natural, que

a Baixada Maranhense possui,

como afirma o pesquisador da

Universidade Federal do Ma-

ranhão (UFMA), Alessandro

Wagner Coelho Ferreira.

Ele, que é Biólogo e pro-

fessor da UFMA no campus

da cidade de Pinheiro, iniciou,

no ano de 2011, um projeto

de pesquisa para realizar o le-

vantamento das espécies Orchidaceae,

conhecidas como orquídeas, enfocando

os aspectos de distribuição e as relações

ecológicas que estas estabelecem com o

meio ambiente, tais como o importante

papel na disseminação de pólen para a

reprodução e no suporte, em ambos os

casos, para outras plantas, contribuindo

ativamente para a conservação da biodi-

versidade local.

Ornithocephalus cujetifolia Barb. Rodr

Galeandra baueri Lindl

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18 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Alessandro Wagner Coelho FerreiraPossui bacharelado e licenciatura plena

em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É mestre e doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela UFSCar. É professor da Universidade Federal do Maranhão, no campus de Pinheiro, e tem trabalhado com temas tais como Orchidaceae, cultivo, florística, taxonomia e propagação in vitro.

Para a realização desta pesquisa, foram coletados

fragmentos florestais e estes materiais foram utilizados

para a elaboração de exsicatas – amostras de plantas

prensadas e secas em uma estufa fixada numa carto-

lina rotulada com as informações sobre o vegetal e

o local de coleta, para fins de estudos botânicos. O

trabalho desenvolvido pelo pesquisador identificou 29

espécies de orquídeas, sendo 27 consideradas epífitas,

ou seja, que se desenvolvem em cima de outras plan-

tas, e duas terrícolas, aquelas que brotam diretamente

do solo, identificadas como Galeandra baueri Lindle e

Ornithocephalus cujetifolia Barb. Rodr. “Essa desco-

berta mostra o quão válido é este trabalho e como ele

tem potencial para inclusão de novas ocorrências na

região”, disse.

Para o pesquisador, a área de estudo está cada

vez mais perturbada pelas atividades humanas e, por

isso, é urgente a ampliação de trabalhos como este,

sobretudo, quando pensamos na preservação dessas

espécies, que estão seriamente ameaçadas de desapa-

recer dessa região. As amostras das novas orquídeas,

encontram-se no herbário básico da UFMA, em Pi-

nheiro, guardadas para futuros estudos, e está sendo

construído um jardim experimental para plantar algu-

mas mudas de árvores nativas que servirão para colo-

car orquídeas epífitas. “Com a coleção de orquídeas

que já temos, e também com as espécies de árvores

nativas reunidas, esperamos preservar um pouco do

que restou da Flora Maranhense da Baixada e, com

base nessa coleção, reproduzir em laboratório as or-

quídeas para reintroduzi-las em áreas preservadas, que

já são bem raras na região”, ressaltou.

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19Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Cultura

TEXTO: EDSON IGOR

A cidade de Codó, situada no Leste Maranhense, é reconhecida no Brasil, e tam-bém no mundo, como a terra de cultos e crenças influenciadas pelas

religiões de matriz africana. Estima-se que existam no município mais de 300 terreiros e tendas, segundo a Associação de Umbanda, Candomblé e Religiões Afro de Codó e, dados da Secreta-ria Municipal de Igualdade Racial. Nestes lugares, as manifestações acontecem em um território simbólico onde as suas práticas tornaram-se parte da cultura local e que, com o passar dos anos, desenvolveram contornos próprios, como foi o caso do Terecô, Tambor da Mata ou ainda de Mina como passou a ser conhecida a manifestação religiosa que só é encontrada no Maranhão.

Tanto conhecimento, sem qualquer registro científico e sem a identificação sistemática dos locais onde acontecem as manifestações religiosas, foi o que chamou atenção da professora do curso de Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão, do campus de Codó, Ilka Cristina Pereira.

No início do ano, a professora pesquisadora deu início a um grupo de trabalho denominado “Identidade, Gênero e Educação na Religião de Matriz Africana Terecô de Codó”, que está fazen-do uma investigação acerca da religiosidade na área, partindo do ponto focal de onde esta se manifesta – nos terreiros, nos rituais e nos festejos – e que são realizados durante todo o ano na cidade, o que acabou se transformando em um estudo pontual sobre o Terecô, uma vertente religiosa que se diferencia das demais manifestações de matriz africana, como o da Umbanda, por não ter ritual de iniciação, além da simplicidade nas roupas e tendas utilizadas.

A pesquisa desenvolvida em terreiros tem permitido com que os integrantes do grupo de pesquisa conheçam de perto as práticas e os atores que compõem os terreiros e casas de festa, paralelo ao levantamento bibliográfico de obras sobre a temática das manifestações religiosas afro-brasileiras. Tudo isso foi necessário para que eles pudessem compreender os fenômenos que envolvem o sincretismo religioso deste tipo.

Por trás dossegredose magiasdo TerecôParticularidades da manifestação estão sendo o objeto de pesquisa de um grupo que vai mapear tradição, modernidade, identidade e gênero dentro dos terreiros e tendas

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20 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Umamanifestaçãoreligiosaímpar

Todos estes pontos de manifestação do Terecô apre-sentam uma figura em comum – a Mãe de Santo, que tem recebido destaque na pesquisa da professora Ilka Pereira. Considerada a liderança dentro das tendas e terreiros, esta mesma figura, chamada também de ze-ladora de santos, é quem organiza as manifestações do Terecô e, em geral, desenvolve uma relação caracteri-zada por uma devoção que ultrapassa até mesmo os limites do seu próprio domicílio, já que as mães de santo residem no mesmo espaço onde acontecem as manifestações religiosas do Terecô. “Eu me interessei pelas histórias das mães de santo da cidade - ou zeladoras de santo- como a maioria prefere ser chamada. Entrevistei e captei imagens e histórias de seis ‘zeladoras’ entre os meses de maio, junho e julho des-te ano. O que eu descobri foi uma riqueza tão grande de informações sem nenhum registro, pelo menos na perspectiva da pesquisa, o que fez com que após ouvir todos os relatos orais, eu tomasse um novo caminho na pesquisa”, esclareceu.

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Historicamente, o Terecô, na forma como o conhe-cemos hoje, pode ter a explicação de sua origem na ocupação da região leste maranhense por escravos fu-gidos das fazendas de algodão que se estabeleceram na região onde hoje estão situados os municípios de Codó e Caxias. Nestes locais, os escravos criaram comunida-des quilombolas e ainda absorveram traços culturais in-dígenas, povos que também habitavam aquela região. A professora Ilka Cristina Pereira explicou que o Terecô é, na verdade, uma mistura cultural entre os índios e os qui-lombolas que culminou numa manifestação singular que pode ser encontrada de forma mais marcante na cidade de Codó, embora existam outras manifestações religiosas na localidade.

Desta forma, para dar conta da variedade de mani-festações e nuances que as tornam diferentes umas das outras, a equipe de pesquisa da UFMA vem se valendo durante todo o desenvolvimento de seu trabalho de uma metodologia diferenciada. Divergente da maior parte dos trabalhos científicos, que precisam de um planejamen-to severo para que estes se tornem exequíveis, o estudo empreendido em Codó sobre o Terecô utiliza uma lógica bastante singular.

Com ideias e objetivos claros sobre a investigação das dimensões do Terecô, os pesquisadores tem demonstra-do que é possível fazer pesquisa cientifica afastando-se do que Ilka Cristina Pereira considera como “dogmas científicos”, lançando uma proposta inovadora a fim de captar o que muitas vezes foge aos olhos devido a sis-tematização e ao tratamento do objeto de pesquisa de forma genérica, como acontece muitas vezes no campo da pesquisa científica.

Esta metodologia desenvolvida pelos pesquisadores ao estudar o Terecô em Codó é, de acordo com a pro-fessora, o grande diferencial deste projeto de pesquisa, que apesar de não acontecer dentro de um cronogra-ma, acompanhado de muitos “rituais acadêmicos” como a mesma descreve, é uma prática científica que não isenta o estudo de sua legitimidade própria do discurso científico, já que afirma não abrir mão das referências teóricas que tem capacitado o grupo, para que eles mate-rializem as atividades de pesquisa na cidade.

Em uma proposta que se baseia em áudio e vídeo, os pesquisadores registram cenas e entrevistas únicas de uma das manifestações mais particulares do Brasil. Ape-sar do pouco tempo, a pesquisa já reúne algumas infor-mações curiosas e inéditas sobre o Terecô coletadas na cidade a partir das visitas ao Terreiro Ilé Axé- Mãe Nilza de Odé e Mãe Ana Ruth (mãe pequena da casa); Tenda Espírita Rainha de Santa Bárbara – Mãe Maria dos San-tos; Tenda Espírita de Umbanda Santo Antônio - Mãe de Santo Iracema (mais antiga de Codó- Terreiro da Dona Maria Piaui); Tenda Espírita Santa Filomena (Mãe Tere-za); e a Tenda Espírita Santa Bárbara em Santo Antonio dos Pretos (Mães Suzana Vieira e Vanda Maria).

Mães de Santo: as zeladoras do Terecô

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Ilka Cristina Diniz PereiraPossui graduação em Peda-

gogia e mestrado em Educação, ambos pela Universidade Federal do Maranhão. Atualmente é pro-fessora da Universidade Federal do Maranhão, e atua no campus de Codó, onde leciona no curso de li-cenciatura em Ciências Humanas. Tem experiência na área de Educa-

ção, atuando principalmente nos na área de educação formal e não formal, currículo, ensino aprendizagem, história, identidade, arte, leitura, teatro, mídias na educação, movimentos sociais, saberes tradicionais, geração de renda e questões de gênero.

Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Isso se deu pelo fato de que nesta região de mui-to sincretismo páira o imaginário coletivo de quem vê a manifestação do lado de fora. As surpresas apresenta-das ao grupo de pesquisadores estão permitindo trocas e estimulado a afirmação da identidade de um povo que agora encontra na academia, a oportunidade de ver o seu trabalho registrado, por meio das histórias e expe-riências, mesmo que ainda exista, por parte da Ciência, alguma resistência e dificuldade em assumir, identificar e delimitar objetos tais como o Terecô, que só encontram explicação para si no campo metafísico, ou seja, aquele que foge a matéria simples e concreta.

Geração em geraçãoCom relação à transmissão de como o Terecô é re-

produzido ao longo do tempo entre os participantes, a docente identificou “uma circularidade de informações e práticas educativas”, perpetuadas principalmente no ber-ço da própria família que é responsável por identificar os filhos que entram em transes, recebendo os encantados – entidades que tiveram outrora vida terrena e que são os responsáveis pela determinação da festa e orientação aos seus devotos.

No entanto, a docente chama atenção para o que ela denomina como “mistério” por trás do Terecô, do qual os praticantes são resistentes na hora de falar com outras pessoas que não fazem parte da religião. “É tudo um mistério. Há coisas que não se comentam, não se falam, porque é própria da religião”, afirmou a pesquisadora.

Ao final do trabalho, a pesquisadora pretende di-vulgar as informações colhidas por meio de fotografias, vídeos dos rituais e depoimentos dos religiosos em for-ma de publicação e, também, na produção de um docu-mentário que deverá enfocar principalmente o papel das Mães de Santo no Terecô. “Estamos acompanhando os rituais no tempo próprio destas pessoas. Neste sentido, penso que a nossa capacidade criativa não tem ‘muros suspensos’, já que o tempo de execução do nosso pro-jeto está comprometido com o tempo destas pessoas”, finaliza a pesquisadora da Universidade Federal do Mara-nhão, Ilka Cristina Pereira.

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22 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Cultura

Vô nada, hoje eu tô

Pesquisa cataloga perfil linguístico da Baixada Maranhense, e já reúne mais de duas mil palavras e expressões.

amuadoLá na baixa da égua?

“Vindo de uma cidadezinha qualquer, esperava encontrar mulheres entre laranjeiras, casas entre ba-naneiras, pomar, amor, cantar. Deparou-se com uma multidão qualquer, e com cara de burro olhando para palácio, amuou-se com a situação, e a gritar como se estivesse . Sendo um homem lá , como era possível deixar de ser em cidade grande como aquela? , o jovem tinha lá seus segredos, e assim tentou escondê-los. Em vão, colecionou inimigos, como o seu João, o prefeito que achava Sebastião demais para as da cidade de Taboão.”

desimbestou brisado

Escabriado apatachadocorda rastada baixa da égua

moças de regra

O texto acima demonstra a dinâmica que a língua pode adquirir ao carregar consigo palavras, vo-

cábulos e expressões sob uma nova roupagem, ou até mesmo quando são criadas, relacionando os seus sentidos com as práticas sociais do cotidiano. Analisando des-ta forma, é perceptível o quão cheio de particularidades o universo linguístico pode se apresentar. No fragmento textual, alguns casos nos levam a pensar de que forma a palavra ‘escabriado’, por exemplo, passou a ser a qualidade de uma pessoa des-confiada. A linguagem tem suas particularidades, e por carregar consigo o fato de ser um objeto do campo social, encontramos expressões que ganham variabilidade de sentido ao sabor de fatores históricos, regionais e sociais.

Uma pesquisa realizada na Baixada maranhense está catalogando o vocabulário próprio da região, em especial das comunidades tradicionais. Até agora, a pesquisa já conseguiu reunir cerca de 2 mil e 500 palavras, entre vocábulos e expressões linguísticas encontradas especialmente nesta região do Maranhão. Esse montante inclui desde as expressões mais antigas, que já se encontram em desuso, como as mais recentes que ainda permanecem no cotidiano da cultura popular.

O responsável por este projeto é o professor e pesquisador da Universidade Federal do Maranhão, Campus de Pinheiro, José Raimundo Campelo Franco. A ideia, de colecionar os ditos e os dialetos populares das comunidades da região da Baixada, é tanto de reconhecimento quanto de preservação da cultura, resultante de um trabalho de oito anos, após o início do projeto. O estudo reafirmou a sua importância ao traçar o perfil linguístico da região da Baixada e, entre os achados, o estudo da variabilidade linguística proporcionou ao pesquisador colecionar vocá-bulos curiosos.

TEXTO: DARYANNE CALDAS ILUSTRAÇÃO: KLEYTON KERLISON

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‘Da baixa da égua’, ‘amuar’ e ‘moças de regra’ são algumas expressões encontradas pelo professor durante a pesquisa. Elas se referem a lu-gar distante, ao ato de zangar-se e às moças jovens, respectivamente. Para colher os dados que compu-seram o arcabouço de sua pesquisa, o professor José Raimundo Campelo Franco utilizou o método de observação para a coleta de dados, sobretudo de pessoas idosas, que moram nos Pólos de Pinhei-ro, São Bento, Viana e Monção e as análises destes dados envolveram conhecimentos de Geografia, Linguística e Antropologia.

O trabalho final vai envolver várias áreas, e apresentar também conhecimentos de Geografia, pois a obra discutiu a identidade da Baixada Ma-ranhense, baseando-se nos pilares naturais, histó-ricos e religiosos, principalmente do saber popular, estruturado nestes três aspectos. “Eu percebo que a base cultural mais forte da população da Baixada é a sua relação com a natureza. Os ditos deles re-montam muito à ideia de que a interação deles com a natureza, é muito forte”, constatou José Raimun-do Campelo Franco.

Nas cidades onde está sendo realizado o ma-peamento, uma das conclusões, que ele obteve, foi a de que muitas expressões estão deixando de ser utilizadas pelos públicos mais jovens, fato esse que se deve, sobretudo, ao deslocamento do homem da zona rural para a zona urbana, num processo de desaculturação permanente, em especial nas regiões mais distante das capitais, o que provocou também uma mudança na linguagem destes.

O pesquisador destaca que muitas palavras e expressões remontam a um passado bem distante, enquanto outras estão sendo recuperadas no seu sentido etimológico. São expressões que, outrora, já fizeram parte da norma culta, mas que ao longo do tempo sofreram variações em função dos mais variados vícios de linguagem. “É como se, de tanto errar, as comunidades acabassem convencionando a expressão como certa, resultando muitas vezes num novo vocábulo, ou expressão da linguagem local”, afirmou o professor.

“Alguns vocábulos causam estranheza por conterem elementos silábicos desconexos e serem vazios de uma resposta imediata para os ouvidos do interlocutor. Porém, em boa parte das constru-ções linguísticas, é percebida uma relação peculiar, a onde algumas mostram proximidade com a his-tória das gerações antigas que povoaram o lugar; outras com o modelo local de natureza que se faz irradiante ou com os preceitos religiosos, que são bem pontuais nas comunidades. Às vezes, as cons-

truções se mostram simplesmente mescladas nas relações sociais que estão em constante dinamis-mo”, explicou.

Este ensaio, que ainda está em construção, leva o nome de Inventário do Etnoconhecimento Linguístico da Baixada Maranhense. Agora, no estágio de definição de significados, o pesquisador da UFMA pretende, em médio prazo, transformar o inventário em um dicionário regional e, em longo prazo, depois de concluir sua tese de doutorado, submeter o dicionário ao reconhecimento da cultu-ra como patrimônio imaterial do Maranhão.

Estudos convergentesUm dos primeiros projetos realizados no Ma-

ranhão, com o objetivo de descrever a realidade do português falado no Estado maranhense, é de-senvolvido pelo Projeto Atlas Linguístico do Ma-ranhão (ALIMA). O projeto, que já foi premiado internacionalmente, visa identificar os fenômenos fonéticos, prosódicos, morfossintáticos, lexicais e semânticos que caracterizam diferenciações ou definem a unidade linguística do Maranhão. A pes-quisa e a coleta de dados do ALIMA são realizadas em localidades de regiões representativas das falas, como nas cidades de São João dos Patos, Balsas, Carolina, Alto Parnaíba, Tuntum, Caxias, Codó, Bacabal, Santa Luzia, Brejo, Araioses, São Luís, Raposa, Carutapera e Turiaçu.

Assim como a pesquisa do professor José Rai-mundo Campelo Franco, o Atlas está fazendo um retrato falado da língua portuguesa no Maranhão, mas o foco da pesquisa está mais voltado para as questões linguísticas do Estado, especialmente o léxico (conjunto de palavras organizadas em uma língua), as diversidades fonéticas e a sonoridade es-pecifica de cada região.

Capturandoos dados

José Raimundo Campelo FrancoÉ graduado em Geografia.Mestre em

Sustentabilidade de Ecossistemas pela Universidade Federal do Maranhão, e especialista em Metodologia do Ensino da geografia Aplicada à Questão Ambiental pela Universidade Estadual do Maranhão. Atualmente é professor de Geografia da Universidade Federal do Maranhão, e membro da Academia Vianense de Letras. Realiza pesquisas sobre a Baixada Maranhense, Recursos Hídricos, Cultura e Identidades, sendo o coordenador do grupo de pesquisa : Estudos Socioambientais das regiões úmidas da Baixada Maranhense.

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Saúde

Sob investigação,pesquisadores apontam que o uso de inseticidas pode não ser tão eficaz quanto pensamosPesquisa desenvolveu ações e estudos biológicos acerca do vetor da dengue em Chapadinha, contribuindo para a dimi-nuição dos casos da doença na cidade

TEXTO: JOSIANE MENDES ILUSTRAÇÃO: KLEYTON KERLISON

diminuição da incidência da doença em alguns pontos.

Pesquisar e identificar as condições e a vida biológica dos vetores da den-gue, para melhor agir contra a doença, é uma destas ações. Em Chapadinha, o pesquisador, Cláudio Gonçalves, que integra o corpo docente da Instituição desde 2006, junto com alguns estudan-tes e com o apoio dos setores governa-mentais, interessados em solucionar o problema, articulou um projeto realizado em várias etapas, visando, além da oferta de palestras, uma avaliação sistemática do comportamento do Aedes Aegypti – principal ser vivo capaz de transmitir o vírus causador da dengue.

O professor conta que ao chegar à cidade de Chapadinha, para trabalhar na docência do ensino superior no curso de Ciências Biológicas, encontrou uma série de problemas vividos pela popula-ção e boa parte deles era resultante da falta de planejamento urbano no local. “Apesar da ação da prefeitura, junto aos moradores, para conscientizá-los sobre a doença, nada estava sendo resolvido, ou melhor, havia ações que se mostravam ineficazes para a resolução do problema de saúde, que se instaurou no município maranhense”, disse.

Desta forma, bastou o convite do então secretário municipal de saúde de Chapadinha, para que uma forte parce-ria fosse firmada, e a doença se transfor-mou no objeto de pesquisa de um grupo de pesquisadores da UFMA, tornando-se o primeiro grande projeto realizado na cidade para diminuir a epidemia do ví-rus. Como primeira ação do projeto, a equipe se reuniu para ministrar palestras aos moradores. Paralelo a isso, buscaram

Uma equipe formada por pes-quisadores, profissionais da

Secretaria Municipal de Saúde e da Fun-dação Nacional de Saúde (FUNASA), re-solveu enfrentar um desafio antigo: com-bater os vetores do vírus que causa a den-gue, especificadamente, no município de Chapadinha. A cidade, localizada a 247 quilômetros da capital maranhense, teve, em 2011, um sinal de alerta devido ao elevado número de casos registrados da doença à época. Por isso, o professor da Universidade Federal do Maranhão, Cláudio Gonçalves, do Centro de Ciên-cias Agrárias e Ambientais, assumiu o compromisso de propor estudos sobre a ocorrência da doença na cidade.

Considerada um problema de saú-de pública, a dengue teve seus primeiros casos registrados no Brasil em 1846, e 135 anos depois, mais precisamente no verão de 1981, a doença foi documen-tada clinicamente, já como uma epide-mia, em vários estados do País. Desde então, de norte a sul, as políticas públi-cas na área de saúde coletiva, voltadas para combater a doença, se alastraram do mesmo modo que a doença passou a fazer um número cada vez maior de vítimas. Centenas de campanhas foram levadas às ruas, e o principal objetivo era a contínua conscientização da popula-ção, sobre os cuidados para não permitir a proliferação dos vetores da doença.

Hoje, apesar dos resultados emitidos anualmente em forma de relatórios pelo Ministério da Saúde, que apontam para um declínio do número de registro de ca-sos da doença – sobretudo nas capitais do Brasil –, são nos municípios que o problema persiste e precisa de ações que vão além da conscientização, apesar da

Reservatórios e lixo acumulam água parada, epodem ser encontrados tanto na rua quanto dentrodas casas como focos para o mosquito da dengue

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levar infor-mação às co-munidades e bair-ros da cidade sobre a doença e os cuidados necessários para evitá-la.

De 2007 a 2009, a equipe procurou conhecer a diversidade dos veto-res da dengue, assim como a sua distribuição dentro do territó-rio de Chapadinha, realizando estudos na região de cerrado e na zona urbana da cidade, uma etapa onde a análise de mate-rial científico foi o foco central dos pesquisadores. O professor afirmou não descartar as campanhas de conscientização, mas o controle e a prevenção de uma epidemia provocada pelo vírus causador da dengue precisava prever também uma sistematiza-ção das particularidades da região e dos vetores que transmitem a doença no espaço pesquisado.

Chapadinha é, de acordo com sua descrição de relevo, uma chapada baixa com vegetação composta de campos e cerrados. O clima, que é caracterizado como tropical úmido, possui tem-peratura média de 29° à 37º graus Celsius. Considerando estas condições, o grupo de pesquisadores descobriu que a cidade está localizada num território propício ao desenvolvimento dos vetores do vírus da dengue. Embora não haja necessidade de um conheci-mento profundo para chegar a esta conclusão, ela foi fundamental para a equipe delimitar o espaço pesquisado.

O grupo da UFMA passou a estudar locais de prevalência dos vetores da dengue, e, entre esses, o espaço urbano de Chapadi-nha e a sua região de cerrado. A partir de então, uma segunda observação saltou aos olhos: a relação estabelecida entre os dois

Clima, relevo e desenvolvimento urbano: condições propícias para a ocorrência dos casos de dengue

espaços – o urbano e o cerrado – cada um com um conjunto de características próprias para o de-senvolvimento humano. A cidade e boa parte da região do Baixo Parnaíba, de onde Chapadinha faz parte, estão experimentando, nas últimas três décadas, um crescimento desor-denado, o que levou os pesquisadores a identificar a grande pre-sença do Aedes Aegypti numa zona habitada por 74 mil e 400 habitantes, que compõem a população total da cidade, segundo o censo realizado em 2011, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na zona urbana, a doença se desenvolve, mas os cuidados básicos para frear a proliferação do mosquito não são reali-zados pela população, inclusive em relação ao abastecimento de água. De acordo com Cláudio Gonçalves, o armazenamen-to de água, para consumo, em depósitos sem proteção, é a maior causa da incidência da doença, em Chapadinha. Por não possuírem oferta de água encanada, a população costuma construir poços e, da água extraída dali, realizar o seu armaze-namento em caixas d’água, cisternas ou em outros recipientes. Esta água é guardada na maioria das vezes de forma imprópria, sem qualquer cobertura no local de depósito – condição que pode resultar num ambiente propício para o desenvolvimento do Aedes Aegypti, aumentando a prevalência dos casos da doença, uma vez que o mosquito da dengue precisa de água limpa e parada para se reproduzir.

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Enquanto isso, na outra área focal da pesquisa – região de cerrado –, foi observado, pelos estu-diosos, que os vetores da dengue se reproduzem em ambiente natural. Nesta área, o problema de saúde ganha proporções ainda maiores por conta do desenvolvimento urbano que avança em dire-ção ao cerrado. Instalados em espaço limítrofe do cerrado, os bairros da zona urbana de Chapadinha desmatam a vegetação nativa e fazem com que o mosquito, que deveria limitar sua sobrevivência àquele ambiente, avance em sentido rumo aos bairros e demais regiões urbanas chapadinhenses. “Hoje, a região do cerrado de Chapadinha fica a cerca de 600 metros de distância de alguns bair-ros do município”, explicou.

Esta proximidade, resultante do crescimento urbano, acelera a proliferação cada vez que a área é desmatada, ou seja, os insetos devem migrar para a zona urbana, em busca de alimento, au-mentando a incidência da doença, já que na re-gião de cerrado é onde se encontra o maior foco dos vetores que podem carregar consigo o vírus que causa a dengue, destacou o professor.

Cerrado e vegetação nativa Você sabia?Aedes aegypti possui um inimigo natural, trata-se

do Toxorhynchites, também conhecido como mosqui-to elefante, que se alimenta da fase larval do Aedes, fazendo a regulação populacional em condições naturais, sem a utilização de produtos químicos, podendo se alimentar de até 30 larvas do mos-quito da dengue por dia.

Os estudos realizados sobre o Toxorhynchites visam conhecer a bio-logia do inseto, a duração de cada fase larval e sua viabilidade, para que, futuramente, seja desenvolvido um projeto de criação do vetor a ser distri-buído nos bairros com maior índice de casos de dengue, sendo estudada em campo, sua efetividade quanto ao controle da doença, reduzindo em condições naturais o vetor Aedes aegypti.

eficaz no combate à doença. “O que a maioria das pes-soas pensa é que basta a pulverização do veneno, que combate o inseto, ou a sua aplicação para exterminar o mosquito. Na realidade não funciona assim, pois como o estudo que desenvolvi aponta, em determinado está-gio de vida do mosquito, os produtos químicos não são capazes de exterminá-los. Estes resultados devem ser levados em conta, pois em outras regiões do país, já fo-ram encontrados até mesmo tipos de larvas que se mos-traram resistentes aos inseticidas”, destacou o biólogo.

Este grande projeto de pesquisa, que abraçou dife-rentes estudos ao longo de sua realização, foi finalizado em 2013. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde e a FUNASA, houve uma diminuição de casos de dengue após os projetos e atividades realizadas, consta-tando a eficiência do trabalho desenvolvido na cidade.

Para Cláudio Gonçalves, estas pesquisas tornaram possíveis à equipe a reorganização das palestras, com explicações mais concretas e eficazes; o desenvolvimen-to de atividades e oficinas para conscientização, princi-palmente em escolas da rede pública municipal. “O prin-cipal objetivo desse trabalho é conscientizar a sociedade que a proliferação do vírus só pode ser controlada no ‘dia D’ – Projeto Nacional contra a Dengue – mas por meio de uma conscientização de práticas que devem vi-rar rotina entre as pessoas em suas áreas domiciliares”.

Dengue se combate todos os diasde nossas vidas, concluiu.

Um alerta sobre o uso dos inseticidas

Do exercício científico dos alunos e do professor, questionamentos estiveram presentes durante a produ-ção de toda a pesquisa. Em cada resposta encontrada, o desdobramento para outros questionamentos iam surgindo ao ponto do grupo colocar em cheque a efi-cácia das substâncias químicas utilizadas no combate ao vetor. A pesquisa, com este tema sobre a resistência dos vetores da dengue aos inseticidas, se transformou em trabalho monográfico para conclusão do curso do aluno de Ciências Biológicas, Layo Araújo Almeida. Na pesquisa, “Suscetibilidade do Aedes aegypti e Aedes albopictus aos Inseticidas em Chapadinha – Mara-nhão”, Layo Almeida realizou uma análise das larvas e das pupas – estágio mais avançado do desenvolvimento imaturo do Aedes aegypti e do Aedes albopictus, as duas espécies mais comuns de vetores da dengue encon-trados na cidade de Chapadinha.

Ele coletou amostras imaturas do mosquito em oito bairros da cidade, numa pesquisa que durou cerca de três meses comprovando que, expostas aos inseticidas comumente utilizados pelos programas de combate à dengue no Brasil, as larvas se mostraram suscetíveis. Isto é, quando a aplicação do inseticida na fase inter-mediária do inseto foi realizada, as duas espécies de Ae-des não apresentaram qualquer resistência. Entretanto, nas demais situações as larvas e as pupas mostraram-se resistentes aos produtos químicos utilizados, já que con-tinuaram a se desenvolver mesmo após a exposição às substâncias químicas.

O resultado dessa pesquisa confirmou a hipótese de que, além de conscientização, os estudos sobre os veto-res da doença podem ajudar a combater, de forma ativa, uma possível epidemia da doença na cidade, e soa o alerta de que o uso de inseticidas não é completamente

Cláudio Gonçalves da SilvaProfessor Adjunto do Curso de Ciências Biológicas do

Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal do Maranhão. Coordena o Laboratório de Entomologia Básica e Aplicada – LEBA. Possui Mestrado em Entomologia Agrícola, pela Universidade Federal de Lavras, e Doutorado em Entomologia Agrícola, pela Universidade Federal de Lavras. É pesquisador do Grupo Entomologia Básica e Aplicada, e possui experiência na área de Entomologia Forense, Controle Biológico, Insetos vetores, Taxonomia e Entomologia Agrícola.

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Saúde

Piolho:Inofensivo ou Vilão?Estudo realizado apresenta a percepção de escolas acerca da doença

Coceira, feridas e irritação ca-pilar são alguns dos

sintomas de quem sofre com o Pediculus humanus capitis – nome científico que se refere à doença caracterizada pela presença do piolho no couro cabeludo, uma parasito-se que atinge, por falta de higiene, qualquer pessoa, mas principalmente as crianças em fase escolar. A doença, bastante popular em todas as camadas da Sociedade, pode oca-sionar desde lesões e infecções secundárias na pele até complicações mais graves, como as miíases – provocadas pela presença de larvas de moscas no local da picada, cau-sando feridas no couro cabeludo. Pensando nisso, o professor do Campus da Universi-dade Federal do Maranhão, em Chapadi-nha, Cláudio Gonçalves, desenvolveu uma pesquisa que verificou o grau de infestação de piolhos entre meninos e meninas, e o

seu conhecimento sobre a doença.Para desenvolver a pesquisa, o

professor selecionou três escolas da rede urbana

de Chapadi-nha e tra-balhou com

uma amostra composta por 370 alunos, sendo 183

do sexo masculino e 187 do sexo femini-no. Durante o desenvolvimento do projeto de pesquisa, as crianças eram deslocadas até uma sala reservada dentro dos próprios complexos escolares em que estudavam e, em seguida, a equipe examinava criança por criança, para classificá-las de acordo com o grau de infestação da parasitose.

Claúdio Gonçalves explica que a pedi-culose pode gerar desde problemas de con-centração nas crianças, portadoras de pio-lho, até um quadro anêmico agudo, já que o parasita se alimenta por meio da sucção de sangue, destacou o professor, afirmando que a doença não recebe a devida atenção, por falta de conhecimento das crianças e dos seus responsáveis sobre a gravidade dela na saúde das crianças.

“ “Existe a possibilidade de a criança passar a apresentar um quadro de anemia e, além disso, a presença do parasita pode ocasionar o aparecimento de bicheiras, isto é, feridas que se abrem proporcionando as condições para o desenvolvimento de larvas e insetos.

TEXTO: CAROL RIBEIRO ILUSTRAÇÃO: KLEYTON KERLISON

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A história explica que o aparecimento dos piolhos data de, pelo menos, três mil anos antes de Cristo, ou seja, quando foram identificados ovos em múmias egípcias, o que leva a concluir que a pediculose não se trata de uma novidade para o ser humano, o que justifica a sua manifestação em pessoas de qualquer idade, raça ou classe social. Cláudio aponta que, por se tratar de uma doença conhecida popularmente, a maior parte das pessoas trata o inseto transmissor como inofensivo.

A falta de conhecimento, sobre os danos que podem ser causados, leva os pais a utilizarem, até mesmo, mecanismos não recomendados para conter a pediculose. “Muitas vezes o inseto é tratado como algo inofensivo e que não poderá gerar nenhum tipo de problema. E quando aparecem são utilizadas metodologias de controle culturalmente apreendidas e muitas delas inadequadas como, por exemplo, o uso de querosene, venenos do tipo ‘remédios para matar pernilongo’, álcool, ga-solina, dentre outros, que podem ocasionar danos à saúde do indivíduo, pois não são recomendados para esse fim”, ressaltou o pesquisador.

A percepção sobre a doençaDesta forma, a pesquisa constatou que, quando questiona-

dos a respeito da conceitualização sobre o ectoparasita, 42 por cento, das crianças, desconheciam a verdadeira denominação do transmissor, classificando-o como “um bichinho”, enquanto 40 por cento identificaram o parasita como inseto; e 10 por cento não souberam responder a esta questão. O estudo tam-bém apontou que a prevalência de infestação por pediculose é maior nas meninas, com 65 por cento, enquanto 27 por cento dos meninos apresentaram o ectoparasita. Segundo a pesqui-sa, essa diferença pode estar relacionada ao comprimento do cabelo das crianças, já que a transmissão se dá pelo contato direto de uns com os outros, e também pela transferência dos piolhos imaturos ou lêndeas.

Por isso, Cláudio aponta que o melhor remédio ainda é a prevenção. “Um bom monitoramento por parte dos pais, visan-do impedir a presença e o aumento da densidade populacional do inseto, na cabeça do indivíduo, ainda é o melhor remédio. Porém, caso seja necessário, deve-se utilizar corretamente um produto químico específico e recomendado por um profissional da área de saúde para o controle de piolho. Deve-se evitar tam-bém o ato de raspar a cabeça, no caso dos meninos, porque além de gerar vergonha ao aluno, que pode ser apelidado de ‘piolhento’, pode ocasionar, inclusive em alguns casos, desis-tência ou ausência do ambiente escolar”, recomenda.

Um inimigoantigo

Cláudio Gonçalves da SilvaÉ graduado em Ciências

Licenciatura Plena, com habilitação em Biologia pelo Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara.Possui doutorado em Agronomia/Entomologia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras. Atualmente é professor da Universidade Federal do Maranhão, e atua no Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, na cidade de Chapadinha. Tem experiência na área de Zoologia com ênfase em Entomologia Agrícola, Médica e Veterinária; e Forense.

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Extensão

Observando a intensa movimentação na Avenida Beira Rio de Impera-

triz, principal ponto de lazer e turístico da cidade, é fácil per-ceber que esta decorre da grande quantidade de comerciantes informais e transeuntes que circulam pela área. Atraídos pela chance de comercialização de seus produtos neste ponto, eles se instalam diariamente e manipulam os alimentos ali mesmo, ao longo da avenida, nas calçadas e sem os devidos cuidados com a higiene. Uma oportunidade captada pela equipe da pro-fessora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Adriana Crispim, que observando esta realidade propôs, em julho de 2012, a criação do projeto de extensão Práticas Alimentares na Beira Rio.

Desde então, por meio do projeto, os vendedores ambulan-tes de Imperatriz aprendem e aprimoram as práticas de higie-nização e manipulação, para reduzir os riscos de contaminação dos produtos comercializados por eles. A ação extensionista de ofertar palestras, debates e oficinas, para os vendedores de co-midas e bebidas da Beira Rio, se transformou em um trabalho social que conta com três bolsistas estudantes do curso de Enge-nharia de Alimentos da UFMA. “O contingente de pessoas que visitam a Beira Rio é muito grande. Pessoas de outras cidades e crianças vão passear, conhecer e comer. Então é importante essa iniciativa tanto para os vendedores quanto para a imagem da cidade”, comenta a bolsista do projeto, Erivania Patrocínio.

TEXTO: ELEN SILVA/LÍGIA GUIMARÃES

Projeto de extensão do curso de Engenharia de Alimentos

melhora a qualidade dos produtos oferecidos em um dos pontos mais

agitados da cidade

Vendedores ambulantes de

Imperatriz aprendem sobre

boas práticas alimentares

Vendedores ambulantes se distribuem ao longo de toda avenida Beira Rio de Imperatriz

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Na primeira etapa do trabalho foi necessá-rio mapear os ambulantes, apresentar a eles o projeto e convidá-los a participar das atividades. Depois, com os vendedores que aceitaram a pro-posta, foi feito um “check list” – uma lista de ve-rificação de itens, para entender as necessidades de cada um, encontrar as falhas mais comuns, verificar os problemas mais graves na hora do manuseio e da higiene dos alimentos para, pos-teriormente, passarem à fase de qualificação. O estudo mostrou que a manipulação dos alimen-tos era a principal carência dos vendedores e era justamente isso que aumentava os riscos de con-taminação.

De acordo com a orientadora Adriana Cris-pim, dos 71 ambulantes convidados, 43 aceita-ram participar das atividades, depois da execu-ção de um planejamento de 15 dias de visitas em dias e horários alternados. “A dificuldade desse primeiro contato foi conseguir mapear todos eles. Por não ter um local físico próprio, o vendedor ambulante podia estar aqui hoje e amanhã em outro lugar. Além disso, foi difícil eles entenderem que nós não estávamos queren-do receber dinheiro deles”, relatou Adriana. Se-gundo observações do estudo, os comerciantes não recebiam nenhum apoio institucional, nem possuíam outras oportunidades, além de serem mal vistos por exercerem um trabalho informal e não possuírem alvará de funcionamento. Neste processo, foi fácil perceber que todos tinham o sonho de ter um estabelecimento dentro das nor-mas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Negócio de SucessoNesta perspectiva, eles estão estabelecendo

uma parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) que, desde o início, já apoia e abre suas portas para a realização das palestras e das demais atividades do projeto. Mas, o que são denominadas de Boas práticas Alimentares? As recomendações do ma-nual começam com a aquisição dos alimentos no mercado, em que a qualidade dos produtos comprados influencia diretamente no resultado do prato vendido nas barracas. O comportamen-to do comerciante em relação ao cliente na hora da venda também é um ponto avaliado. “A ma-neira como você se comporta na hora de vender algo para o cliente diz muito sobre você. Assim, certos procedimentos ou comportamentos como estar com as unhas cortadas, cabelo preso, barba feita, roupas adequadas e sempre com as mãos lavadas, deixam o cliente satisfeito e fiel a sua barraca”, aconselha a orientadora, acrescentan-do ainda que a propaganda feita de uma pessoa para outra é de fundamental importância para o sucesso do negócio.

A realização das oficinas é outro momen-to importante do projeto porque é nessa etapa que os comerciantes possuem um contato maior com o projeto, expondo suas ideias e dúvidas, estreitando a relação entre eles. “Proporcionar um trabalho de qualidade para os meus clien-tes, evitar qualquer problema de saúde e mos-trar a eles que estou buscando me especializar, é a motivação que me faz participar”, declarou o vendedor ambulante Frankson dos Santos. Na etapa final das atividades, um membro da ANVI-SA será convidado para ministrar uma palestra e tirar dúvidas. Um certificado, emitido pela Pró--Reitoria de Extensão da UFMA, será entregue a todos os participantes. Esta é uma forma de incentivar e mostrar que os ambulantes são capa-zes de se tornar empreendedores no futuro. “Só perde quem não participa”, finalizou o vendedor Frankson dos Santos.

Conhecendoo projeto

Adriana Crispim de Freitas Possui graduação em Engenharia

de Alimentos pela Universidade Federal do Ceará (2006), mestrado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará (2009) e doutorado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará (2013). Atualmente é professora auxiliar da Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos, com ênfase em Ciência e Tecnologia de Alimentos, atuando principalmente nas áreas de fermentação semi-sólida, protease, aspergillus oryzae, torta de canola e bio reator instrumentado.

Os alunos Erivânia dos Santos, Iago Hudson e Herlane Miranda sensibilizam vendedores ambulantes para integrarem o projeto, e recolhem informações quantitativas para a pesquisa

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32 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Extensão

O trabalho de mapeamento, que levou cerca de quatro a cinco meses, foi realizado com a participação de três monitoras do Projeto, que entrevistaram 40 mulheres das comunidades de São José dos Mouras e Monte Alegre, como explicou a moni-tora Aldina da Silva Melo. “As entrevistas serviram para mape-armos os principais problemas de violência e de saúde, porque a ideia do Projeto é analisar a violência a partir da perspectiva das mulheres, sem trazer conceitos prontos. Por isso, pegamos o conceito que essas mulheres têm sobre isso, e, a partir deste, construímos uma nova perspectiva de pensamento”, disse.

Aldina explicou que as oficinas eram realizadas a partir do resultado das análises. “Na oficina de Saúde, levamos dois en-fermeiros de São Luís para as comunidades. Munidos de equi-pamentos, eles realizaram aferição de pressão arterial, exames de colesterol, glicemia e outros procedimentos. Pretendemos voltar a essas comunidades com a oficina, para realizar o exame preventivo”, declarou a estudante.

Sobre a oficina que abordou a questão da Violência Do-méstica, a estudante contou que uma funcionária da Dele-gacia da Mulher, do município de Bacabal, explicou para as quebradeiras de coco sobre a Lei Maria da Penha e as várias formas de denúncia em casos de violência doméstica. “As oficinas eram pensadas como rodas de conversa. As mulheres falavam sobre suas experiências na questão da violência doméstica e os principais problemas de saúde que acometem as quebradeiras de coco. O que mais nos cha-mou a atenção, durante o levantamento que realizamos, foi a percepção acerca da opressão simbólica sofrida por essas mulheres, essa violência que não deixa a marca física no corpo, mas sim no psicológico, que agride tal qual a própria violência física”.

Grupo de pesquisa e extensão realiza ações em prol do enfrentamento da violência e da saúde entre mulheres

quebradeiras de coco no município de Bacabal

Enfrentando oproblema de frente

TEXTO: CAROL RIBEIRO ILUSTRAÇÁO: KLEYTON KERLISON

““

Toda mulher goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhes asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar a sua saúde física e mental, e o seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Esta citação faz parte da Lei nº 11.340, conhecida como a Lei Maria da Penha, que criou mecanismos para coibir a vio-lência doméstica e familiar contra a mulher. Criada em 2006, a Lei alterou o Código Penal Brasileiro, estabelecendo um maior rigor na punição aos agressores de mulheres no País.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a taxa média de homicídios entre mulheres por ano é de 5 mil e 664 vítimas, o que corresponde a 15,52 mortes por dia. Ainda segundo a pesquisa, o Nordeste é a região com maior ocorrência de óbitos decorrentes da vio-lência doméstica. Pensando em diminuir esses índices, diversas políticas de proteção, prevenção e acolhimento às mulheres vítimas de violência doméstica, têm combatido essa prática em todo o Brasil. No Maranhão, o projeto de extensão da Universi-dade Federal do Maranhão, intitulado “Violência e saúde: ques-tões de enfrentamento entre mulheres rurais maranhenses” tem verificado e prestado atendimento às mulheres quebradeiras de coco do município de Bacabal e das comunidades do Médio Mearim em situação de violência doméstica.

O projeto, coordenado pela professora Viviane Barbosa, é articulado em três fases: mapeamento dos principais casos de violência e dos problemas de saúde que acometem as quebra-deiras de coco; realização de oficinas nas comunidades, para exposição e discussão dos dados encontrados; e a elaboração de uma cartilha informativa para auxiliar as mulheres, reforçan-do as discussões levantadas durante as oficinas.

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Segundo os dados resultantes do mapeamento, a opressão simbólica e a violência doméstica são constantes entre as mu-lheres quebradeiras de coco, como relata a quebradeira de coco da comunidade de São José dos Mouras, Antônia Gomes de Sousa, “A gente sabe que a violência doméstica existe em to-dos os setores, principalmente nas comunidades rurais, e que acontece de várias formas. Este projeto da UFMA nos fez per-ceber, por meio dos seminários e das oficinas, que a violência vai muito além da agressão física. Muitas das vezes até um olhar diferente, uma humilhação, é uma forma de violência. Nós per-cebemos o quanto somos violentadas constantemente”, relatou a quebradeira de coco.

Dona Antônia, que já trabalhava com a temática da violên-cia doméstica em sua comunidade, por meio da Associação em Áreas de Assentamento do Estado do Maranhão (ASSEMA), contou ainda que, apesar do grande número de casos de violên-cia doméstica, as mulheres já começam a se impor e não per-mitir esse tipo de comportamento. “Eu acredito que, na maioria das comunidades, as mulheres já não se permitem mais sofrer esse tipo de violência. Embora os companheiros ainda tentem, nós já conseguimos um grande avanço. Nas comunidades em que a ASSEMA articula ações mais permanentes, nós já conse-guimos muitas mudanças”, pontuou.

Ela relembra, ainda, que os casos de violência contra as mu-lheres quebradeiras de coco vêm desde os conflitos por espaços territoriais. “Durante os conflitos territoriais, as mulheres foram proibidas pelos fazendeiros de coletar os frutos do babaçu, e então elas começaram uma luta para defender e preservar os babaçuais. Até porque para nós, na verdade, para a maioria das mulheres, o babaçu é mais do que uma fonte de renda, é uma fonte de vida”, orgulha-se.

As primeiras ações do projeto visavam mapear as situações vividas pelas participantes para conhecer o cenário e oferecer orientação às mulheres rurais. A orientação foi tão bem aceita que as ações aos poucos foram expandidas para as comuni-dades dos municípios de Lago do Junco, Lima Campos e São Luís Gonzaga do Maranhão, como explicou a coordenadora, Viviane Barbosa. Sobre os resultados, Viviane relatou que o projeto percebeu que as formas de violência e os problemas

Violência dentroe fora de casa

de saúde são variados. “Verificamos que as formas de violência são diversas, envolvendo desde a violência física, passando pela simbólica, chegando até mesmo àquela de cunho patrimonial. Em relação à saúde, as trabalhadoras rurais se queixaram prin-cipalmente da falta de acesso ao atendimento básico, à neces-sidade de deslocamento para a sede de seus municípios em busca de algum tipo de atendimento, e à falta de médicos e pessoas qualificadas para um atendimento que fosse coerente e humanitário”.

No que diz respeito à saúde, segundo o diagnóstico levanta-do pela equipe do projeto, os principais problemas que acome-teram as quebradeiras de coco são a diabetes, a hipertensão ar-terial, os problemas gastrointestinais, as dores nas articulações e complicações na coluna, e as Doenças Sexualmente Trans-missíveis (DST’s). “Para melhorar as condições dessas mulhe-res, temos buscado parcerias, e envolvido profissionais especí-ficos da área da Saúde, para realizar as atividades que incluem essa temática. A perspectiva é a de trabalhar com a prevenção e com esclarecimentos a respeito do tipo de tratamento de al-gumas doenças encontradas”, explicou a pesquisadora, Viviane Barbosa. Atualmente, o projeto de extensão já está em fase de conclusão, nas comunidades São José dos Mouras e Monte Alegre. O próximo passo é a elaboração de uma Cartilha In-formativa, que irá auxiliar as mulheres quebradeiras de coco, reforçando as discussões realizadas durante as oficinas. Para a coordenadora, Viviane Barbosa, projetos de extensão como esse são cada vez mais necessários, interferindo positivamente nos problemas sociais. “Projetos, especialmente os de exten-são, possibilitam uma interação importante com comunidades da microrregião do Médio Mearim e tem sido um canal necessá-rio para a ampliação do conhecimento que é produzido dentro dos muros da Universidade”, esclareceu a professora.

Viviane de Oliveira BarbosaÉ graduada em História, pela

Universidade Federal do Maranhão. Tem mestrado em Estudos Étnicos e Africanos (Pós Afro), pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente é doutoranda em História na Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal do Maranhão, onde leciona no curso de Ciências Humanas, atuando em projetos de pesquisa e extensão na área de mobilização rural, identidades e relações de gênero, movimento de mulheres e questões agrárias.

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Cenár io

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Livro de pesquisador da UFMA reúne conhecimento ribeirinho, estudos técnicos e imagens de satélite deum dos principais rios da Baixada Maranhense

RIO MARACUconhecendosuas veiaspara saberde seu futuro

TEXTO: LUCIANO DOS SANTOS

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RIO MARACUconhecendosuas veiaspara saberde seu futuro

As primeiras impressões geográficas da história do Brasil foram feitas pelo escrivão Pedro Vaz de

Caminha e pelo navegador, cosmógrafo, mercador e geógrafo Américo Vespúcio. Enquanto o primeiro era encarregado de realizar o diário de bordo da esquadra de Pedro Álvares Cabral, no ano de 1.500, Vespúcio foi enviado um ano depois na expedição de Gaspar Lemos para identificar as potencialidades comerciais da terra recém-descoberta. Mais de 500 anos depois, ainda não há registros geográficos fiéis de boa parte do planeta, o que torna necessária a ação de pesquisadores locais para identificar as características destas diversas regiões e auxiliar as sociedades a criar condições de desenvolvimento sustentável sem agredir os recursos naturais que as sustentam.

Em uma de suas visitas às escolas da rede básica de Viana, cidade localizada a 217 quilômetros da capital maranhense, o professor da Universidade Federal do Maranhão, do Campus de Pinheiro, José Raimundo Campelo Franco, perguntou aos alunos de várias idades do ensino fundamental e do ensino médio, o que eram terras úmidas. Na época, todos se encontravam na Baixada Maranhense, uma região cercada por rios e lagos e, por isso, a questão deveria ser respondida facilmente ou ter uma indicação por aproximação. Mas, a resposta que poderia parecer fácil acabou por se tornar um problema de difícil resolução.

O embaraço do professor e dos alunos é o embaraço da grande parte da sociedade brasileira que desconhece o local e as características geográficas e sociais de sua própria região e cultura. Crianças, jovens, adultos e idosos, desde os alunos até os gestores públicos, ficam à mercê da falta de informações sobre o local em que residem. E, para completar, existe o receio do mau emprego de verbas públicas e particulares para a execução de projetos e políticas públicas voltadas para as questões que envolvem essa área.

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O livro Veias do Rio Maracu é a segunda publicação do professor Raimundo Campelo Franco e será concluído no final do ano quando se tornará o mais preciso e completo levantamento sobre o Rio Maracu - referência fluviométrica em Viana, localizado entre a região do Pindaré e os Lagos - e suas ligações. A obra surgiu justamente da curiosidade do pesquisador em obter mais dados sobre o rio e a região de terras úmidas que alimentam sua cidade natal. Franco queria saber mais sobre a geografia do lugar, a partir de relatos e histórias sobre a entrada dos jesuítas na Baixada, recontadas pelos pescadores locais há centenas de anos. Queria conhecimento, além do que, os geógrafos Raimundo Lopes e Ozimo de Carvalho registraram, nos períodos de 1920 a 1940 e na década de 50 do século XX, respectivamente. “Há 58 anos que informações sobre a geografia local não eram atualizadas” destacou, sobre a falta de atualização nos dados, problema comum em várias partes do país.

O ponto de partida para a produção do livro foi a dissertação defendida em 2008 para obtenção do grau de mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas, cujo tema Sistema Lacustre Vianense: ensaios de modelos conceituais para os lagos do município de Viana, parecia ousado demais na época, mas que atualmente serve de base para a sua pesquisa. Foi preciso escrever o livro Segredos do Rio Maracu: sistema de lagos e mitos, para aprofundar a pesquisa e adequá-la à linguagem mais coloquial, apesar do conteúdo trabalhar com o uso de termos técnicos. Ainda nessa época, ele detectou falhas entre as informações repassadas pelo satélite e o diagnóstico feito no local, tendo como base a sua experiência. E, assim, embora tivesse dados suficientes para desenvolver a sua pesquisa, ele não conseguia atingir a excelência. Faltava a peça chave.

A simplicidade de um filho de pescador revelou ao professor as respostas de que precisava. O homem que o ajudou foi o microempresário de 42 anos, César Augusto Costa, que acompanhava seu pai desde os cinco anos na pesca pelos “corgos” (termo popular regional para “córregos”), experiência que o tornou um dos maiores conhecedores das terras úmidas dos arredores de Viana. O conhecimento construído pelo tempo nas pescarias virou o elemento mais valioso da pesquisa do professor Franco. “O etnoconhecimento é a informação

do pescador sistematizada dentro de Teoria dos Geossistemas na Planilha de Análise de Inundação, que vai explicar como a água chega e como sai na região. Consegui mapear todos os principais recursos que compõem o Sistema Lacustre, graças à ajuda de Augusto. Ele foi fundamental e, sem ele, a pesquisa não poderia ser concluída”, ressalta o professor.

O microempresário, por sua vez, lembra que há muito tempo, o deslocamento de Viana para qualquer local era feito quase que exclusivamente por embarcações. De família ribeirinha, César conta que os “corgos”, rios e lagos são seu habitat natural desde a infância. O seu conhecimento foi adquirido a partir da troca de experiência entre as gerações. “Quando há uma nascente, a terra fica bem fria e, normalmente, existe sempre uma lagoa próxima que não seca e, mesmo na época de estiagem, a terra ainda fica molhada”, disse.

A falta de dados precisos sobre o rio Maracu foi a motivação para o desenvolvimento da pesquisa pelo professor da UFMA

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Segundo o professor, o livro e os estudos têm a finalidade de servir como referência para o desenvolvimento da cidade de Viana com sustentabilidade e proteção ambiental. Franco quer evitar o que ocorreu na década de 60, no município. Nessa altura, o poder público distribuiu cabeças de búfalo para famílias de baixa renda para colaborar no combate à desnutrição, fazendo com que vários lagos fossem contaminados, prejudicando o crescimento de peixes e de plantas utilizadas no sustento local.

Na época, não havia possibilidade de realização de um estudo adequado para antever o impacto da política no meio ambiente vianense, situação que tem reflexos até os dias atuais. “Na estiagem, os búfalos contaminam as poções, que são faixas de água que se desprendem de um lago e que antigamente alimentavam as famílias carentes. Hoje, estas poções não servem mais como fonte de alimentação”, lamentou o pesquisador.

Com o conhecimento preciso dos recursos hídricos do sistema Lacustre, sua origem e a movimentação hídrica, o livro poderá ser a principal referência para o conhecimento da região, aplicação de políticas públicas e planejamento urbano e ambiental para Viana, assim como poderá colaborar para um crescimento ordenado e sustentável do município, melhoramento da situação de bairros não planejados, criação de parques e reservas ambientais, planejamento e fiscalização de áreas protegidas e auxílio no desenvolvimento do pólo turístico local, uma vez que a Baixada Maranhense é considerada como a região de Lagos e Campos Floridos no turismo.

José Raimundo Campelo FrancoProfessor da Universidade Federal do

Maranhão. Obteve graduação em Geografia Licenciatura e mestrado em Sustentabilidade de Ecossistemas pela UFMA. É membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e integrante da Academia Vianense de Letras, com pesquisas relacionadas à Baixada Maranhense, Recursos Hídricos, Cultura e Identidades. É Coordenador do grupo de pesquisa “Estudos Socioambientais das Regiões Úmidas da Baixada Maranhense GES-BM” e integrante do grupo de pesquisa “Cultura, Memória e Identidades na região da Baixada Maranhense”, ambos aprovados por Colegiado do Curso de Ciências Humanas do Campus de Pinheiro da UFMA.

Bases Curriculares para a BaixadaA educação é uma dimensão fundamental para um programa de

estruturação ambiental e econômica da região na visão de Franco. Para ele, é preciso criar o que chama de Bases Curriculares Regionais para a Baixada Maranhense. Na sua perspectiva, o plano educacional promoveria a conscientização de jovens da rede educacional dos municípios da Baixada para a preservação ambiental, além de inserir disciplinas sobre o local na grade curricular, criando a noção de pertencimento regional entre os estudantes.

O professor acrescentou que o plano seria uma ação que teria reflexos num prazo mínimo de 10 a 15 anos, quando as gerações instruídas estivessem à frente das ações públicas da região. Num curto prazo, a preservação ambiental seria estimulada na população com programas de conscientização e uma fiscalização rígida da área. “A educação tem que ser feita dentro e fora da sala de aula. As políticas de conscientização não darão certo se não houver rigor”, afirmou. Ele acrescentou que, após o término do livro, irá se concentrar na produção de uma cartilha pedagógica para os jovens

Proteçãoambiental

A união entre o conhecimento coloquial, os estudos científicos e as imagens de satélite, tem colaborado para que o professor Franco termine o livro Veias do Rio Maracu, onde mostrará com mais precisão as ligações do rio e seus subsistemas com o Rio Pindaré e a região dos Lagos, que formam os componentes hidrográficos das terras úmidas da Baixada Maranhense.

de Viana, em que pretende esclarecer o Sistema Lacustre de Viana, e, ao mesmo tempo, ressaltar a importância da preservação ambiental.

O pensamento coletivo viria como outro fator essencial para a proteção ambiental da Baixada Maranhense, uma vez que o sistema hídrico funciona com interligações entre os rios, os lagos e os subsistemas, tornando necessário o mapeamento não somente da região do torno de Viana, mas de toda a região. De acordo com Franco, será preciso conscientizar populações de vários municípios para que a conservação dos recursos naturais, que as abastecem, seja eficaz.

Na época do descobrimento, o mapeamento do território brasileiro serviu, principalmente, para a exploração econômica das riquezas naturais. Na atualidade, a elucidação geográfica é feita pelas instituições de ensino superior, por meio de seus professores, muitos deles com trabalhos voltados para o desenvolvimento da região e a sociedade de origem. A questão, no caso é: o poder público do século XXI irá explorar o conhecimento para conservar as riquezas que sobreviveram? Em relação a Viana, é esperar para ver.

Para desenvolver a pesquisa foi preciso ouvir também os ribeirinhos da Baixada Maranhense

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Tecnologia

Projeto já possui mais de cem monografias, dissertações e teses que ajudam a compreender a região da Baixada Maranhense de forma interdisciplinar

Produção científicasobre a Baixada Maranhense

em acervo digitalTEXTO: DARYANNE CALDAS

Um grande potencial em recursos naturais, além de uma cultura rica em iden-

tidades. Estamos falando da Baixada Maranhense, uma região do estado modificada ao longo dos últimos anos por meio de po-líticas públicas de desenvolvimento que impactam e promovem transformações no modo de vida das populações que compõe o que conhecemos como a Macrorregião da Baixada Maranhense.

O trânsito de culturas na região, que acontece desde o seu povoamento, foi se acentuando nos últi-mos 40 anos por conta de mudanças socioeconômi-cas, o que tornou o terreno fértil para o desenvolvi-mento de estudos endógenos. De forma transversal, pesquisas de todos os campos utilizaram essa região alagada do Maranhão como referência para produção e atualização de conhecimentos. E, foi justamente o grande interesse de pesquisadores pelo desenvolvimen-to de estudos sobre a região que chamou a atenção de estudiosos da Universidade Federal do Maranhão, que resolveram criar uma biblioteca científica com pesquisas inéditas e interdisciplinares sobre os vários temas de inte-resse das populações.

Se nos cursos de graduação e pós-graduação as pes-quisas sobre a Baixada saltam aos olhos, o principal ques-tionamento era para onde iam tantos registros preciosos em forma de trabalhos científicos. Pensando dessa forma foi possível lançar pela primeira vez uma iniciativa que pro-mete reunir, em uma mesma plataforma digital, as pesqui-sas na área das Ciências Humanas sobre a Macrorregião. Um trabalho que começou em 2010 e congrega, hoje, uma equipe multidisciplinar em que professores e alunos promo-vem a recuperação de pesquisas realizadas desde a década de 90 do século XX.

Com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pes-quisa e Desenvolvimento Científico do Maranhão (FAPEMA), os pesquisadores têm encontrado em suas buscas, imagens ofi-ciais em acervos particulares, além de documentos e depoimen-tos de representantes das múltiplas territorialidades que com-põem o espaço físico e cultural dessa região.

Segundo o professor Raimundo Inácio Souza Araújo, o pro-jeto está em fase de identificação das obras que serão disponibi-lizadas em uma biblioteca virtual já em construção, tendo hoje 110 obras entre monografias, teses, dissertações de autores de diferentes áreas do conhecimento.

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Raimundo Inácio Souza AraújoÉ doutorando em História da

Universidade Federal de Pernambuco. Possui graduação em História e mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão. Atualmente é professor de ensino básico, técnico e tecnológico no Colégio de Aplicação da UFMA. Tem experiência na área de Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: História do Maranhão, Maranhão colonial, Igreja Católica e Cultura Popular.

Para que seja possível o trabalho de campo nos municípios,

cerca de 20 bolsistas de Iniciação Cientifica – estudantes de

Colégio Aplicação da UFMA -, dois bolsistas de graduação, seis

professores do COLUN, dois professores de História e três pro-

fessores de Ciências Sociais estão identificando de perto uma

realidade que, muitas vezes, só é possível ver nas páginas de

livros. “Foi à primeira vez que fui à Baixada. Eu já tinha estuda-

do a região nos livros, mas foi uma experiência completamente

nova e que serviu pra agregar valor ao que é estudado em sala

de aula. Fomos às cidades de Viana, São Bento e Pinheiro e

tivemos contato com a população. Pude perceber a questão da

seca que está se manifestando lá” afirmou a aluna do 9º ano do

Colégio Universitário, Alécia Costa.

Já a aluna Bianca dos Santos, também do 9º ano, destacou

as belezas do local. “Foi um trabalho muito proveitoso para

todos nós, porque precisávamos conhecer esse espaço, que é

uma região tão rica, principalmente em recursos hídricos, e tão

próxima de nós, mas que ninguém valoriza. Existem pessoas

que viajam para outros países para admirar as belezas naturais,

enquanto que aqui no Maranhão possuímos paisagens belas e

que não recebem o merecido valor”, considerou a estudante.

Por outro lado, a aluna Willaine da Silva Rodrigues observou

que a viagem foi a etapa do projeto que possibilitou a ela um

aprendizado diferenciado. “Temos que adquirir conhecimento

sobre tudo o que acontece na vida. Nós tivemos a oportuni-

dade de vivenciar um dos nossos objetos de estudos na escola.

Houve a aproximação e uma troca de ideias com a população

da Região”, disse ela.Ela ressaltou ainda que, além de conhecimento científico,

aprendeu como respeitar mais outras culturas. “Quando vamos para outro lugar, com uma cultura diferente, aprendemos a respeitar as diferenças, e isso eu vou levar para o meu dia a dia. Como é o meu primeiro projeto de pesquisa, tudo o que eu aprender vai colaborar para a minha formação científica e

também para a minha experiência cotidiana”, afirmou.

Oportunidadede iniciaçãociêntifica

A Biblioteca Digital, integrada à Rede de Pesquisas da Bai-

xada Maranhense (REBAX), pretende também contribuir como

facilitadora das pesquisas sobre a região, disponibilizando infor-

mações atualizadas sobre essa localidade e possibilitando uma

interdisciplinaridade entre os estudos de diferentes áreas como

a História, as Ciências Sociais e a Geografia. “Esse trabalho

interliga dados referentes que até então estavam isolados, como

por exemplo, dados geográficos que não são conhecidos em

outras áreas do conhecimento e que são importantes, inclusive

para que sejam propostas políticas públicas. Por isso, o site

é uma biblioteca temática, mas que não considera fronteiras

tradicionais nas áreas do conhecimento”, explicou o professor

Raimundo Inácio Souza Araújo sobre o projeto de pesquisa.

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Alunos do Colun aproximam-se de uma das regiões mais importantes do Maranhão por meio de projeto, onde eles estão reunindo todas as informações científicas sobre a Baixada em um repositório digital

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Expansão

O Centro Universitário de Pinheirofoi instituído, através da Resolução em 1981, como parte do Programa de Interiorização implementado pela Universidade Federal do Maranhão, com o propósito de viabilizar sua atuação no continente.

Em parceria com a prefeitura desenvolveu ações em forma de seminários, e passou a oferecer cursos de extensão, ou seja, cursos de curta duração, até por fim, em 1991, im-plantar o curso de Letras Licenciatura Plena, a fim de atender às necessidades de professores nessa região. Uma turma que foi concluída em 1997.

A UFMA em Pinheiro

Imperatriz, localizada a 639 km da capital São Luís, é a segunda maior cidade do estado do Maranhão, com cerca de 250 mil habitan-tes. Recebe constantemente pessoas de di-versas partes do Brasil, atraídas pela força da economia, que é impulsionada pelos setores de agricultura, pecuária, extrativismo vegetal, comércio, indústria e serviços. E é dentro des-te desenvolvimento, que a dimensão educacio-nal desponta em Imperatriz.

Interiorização da UFMA em ImperatrizNa década de 80, época em que foram

implantados os primeiros cursos da UFMA do continente, Imperatriz recebeu, as suas pri-meiras instalações da Universidade, passando a funcionar ainda em uma escola da cidade. O curso de Direito foi o primeiro deles, e em seguida o curso de Pedagogia. Mais tarde, em 1993, chega a Imperatriz o curso de Ciências Contábeis, o terceiro curso da UFMA, na ci-dade do sul do Maranhão.

Já instalado em prédio no centro de Im-peratriz, em 2005, o campus da UFMA se tornou uma unidade acadêmica e passou a ser denominado como Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia (CCSST). Isso

Entre 1997 e 2007, após a oferta do curso de Letras Licenciatura Plena, apenas cursos de extensão funcionaram no Campus V da UFMA de Pinheiro. Dez anos depois, em 2008, teve início um novo cenário para este Campus, pois, através de um convênio com a Universidade de Brasília foi possível a instalação de dois cursos de graduação, voltados para a formação de professores da área de Artes Visuais e Teatro, ambos de especialização.

Neste sentido, compreendendo as diversidades de composição populacional da região, em 2009 a Universidade instalou no Campus de Pinheiro o Curso de Especialização em Saúde da Mulher Negra, iniciativa pioneira no Estado brasileiro.

No ano seguinte, em 2010, a UFMA em Pinheiro deu a largada aos maiores investimentos na área de sua consolidação na cidade, começando pela construção do prédio para abrigar os novos cursos de graduação, em seguida a construção do muro em volta de todo o Campus, além de outras obras que permitem, hoje, com que a vivência universitária aconteça de forma plena como parte das atividades que permitem a inclusão social na cidade de Pinheiro, por meio da Instituição de Ensino Superior.“Hoje, a Universidade Federal em Pinheiro atende a 255 alunos nos cursos de Ciências Naturais e Humanas. Para 2014, garantimos a instalação de um curso de Medicina, e estamos pleiteando um curso de mestrado em Estudos Ambientais”.

Rickley Leandro MarquesDiretor do Campus de Pinheiro

Em Imperatriz, uma universidade em expansão

permitiu de 2006 à 2010, a nova unidade implementasse os cursos de Comunicação So-cial, Enfermagem e Engenharia de Alimentos e mais dois cursos, sendo estes de licenciatura em Ciências Humanas e Ciências Naturais, além da oferta de cursos na modalidade ensi-no a distância em Artes Visuais e Teatro.

Em 2013, a fim de atender a demanda social, refletida por meio do déficit de profis-sionais de saúde no continente, anunciou a instalação de um curso de Medicina no seu mais novo prédio em funcionamento, com mais conforto e espaço para o desenvolvi-mento do que é a proposta da Universidade, desenvolver-se tanto no ensino, na pesquisa e na extensão.

Investindo para crescerVisando aprimorar o ensino e as pesqui-

sas científicas nas áreas das Ciências da Saúde e Tecnológica, no primeiro semestre de 2013, foi entregue a Unidade Avançada da UFMA na cidade. A estrutura do novo campus in-clui: 22 laboratórios; 17 salas de aula; cinco salas de professores; dois laboratórios de in-formática; uma biblioteca; um auditório; um ginásio poliesportivo e o prédio de Unidade de Preparação e Caracterização de Materiais e Bicombustíveis.

Estes novos antigos e novos espaços, são ocupados pelos 3 mil alunos matriculados na modalidade de ensino presencial e a distância, e pelos 135 professores que atuam na UFMA de Imperatriz.“A instituição, em Imperatriz, bus-ca consolidar a missão de continuar crescendo com inovação e inclusão social. Com os pés na história e os olhos voltados para futuro, a Univer-sidade busca, cada vez mais, desen-volver a região, formando profissio-nais éticos e qualificados, e contribuir para o desenvolvimento científico, social e tecnológico do Maranhão”.

Marcos Fábio Belo MatosDiretor do Centro de CiênciasSociais, Saúde eTecnologia da UFMA

O processo de interiorização da Univer-sidade Federal do Maranhão no município de Codó teve início em 1972, com a instalação do Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária – CRUTAC. Com uma estrutura simples, as ações desenvolvidas nas três primeiras décadas na UFMA de Codó fo-ram basicamente nas linhas de estágio rural, assessoramento à administração pública muni-cipal e apoio às entidades comunitárias.

Somente desde 2007, é que chegam até o Campus de Codó os avanços como a conclusão da construção do prédio sede da Instituição, aquisição de equipamentos, labo-ratório de informática, sistema de vídeo confe-rência e acervo bibliográfico. Hoje o Campus de Codó oferece o curso de licenciatura em Ciências da Natureza, e Licenciatura em Ci-ências Humanas.

José Carlos AragãoDiretor do Campus de Codó

A Universidade também está em Codó

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O município de Grajaú, seguindo a mar-cha da revolução educacional, em que se encontra nosso país, rumo a uma educação de qualidade, coroou a comemoração de seu bicentenário com a implementação e cons-trução do campus da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que atende áreas do centro-sul do Estado do Maranhão.

O Campus da UFMA em Grajaú, em fun-cionamento desde 2010, ocupa atualmente uma área de dois hectares. Conta com um prédio próprio composto por oito salas de aulas, biblioteca, laboratório de informática, laboratório de física, química e biologia, audi-tório e salas administrativas. Tudo concebido sobre um projeto arquitetônico dentro dos pa-drões de acessibilidade.

Atualmente, seu quadro docente é com-posto por 18 professores entre mestres e doutores, que lecionam em dois cursos regula-res, Licenciatura Interdisciplinar em Ciências

Uma UniversidadeFederal em Grajaú

Humanas e Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais. O Campus também é sede de três Cursos do Programa de Formação de Professores da Educação Básica – PROFE-BPAR. Desta forma, atende a 426 alunos por meio da oferta de cursos regulares e do pro-grama de especial de interiorização.

Em Grajaú, a Universidade Federal de-senvolve projetos de pesquisa e extensão, que envolvem diversos alunos entre voluntários e bolsistas. Destes, metodologias para o de-senvolvimento de pesquisas interdisciplinares voltadas, sobre tudo, para o meio ambiente, permitem aos alunos práticas de estudos sob a proposta de contribuir diretamente para o desenvolvimento da cidade e região.“Grajaú é cantada por seus poetas e con-sagrada em seu hino como sendo uma ‘rica pérola do Maranhão. Não há título mais justo e verdadeiro a esse local de incontáveis riquezas e contrastes. O mu-nicípio é detentor de importantes bacias hidrográficas, isso somado a suas riquezas econômicas, históricas e culturais’. En-tretanto apresenta também adversidades, onde a Universidade Federal do Maranhão encontrou o convite, em forma de um enorme desafio que está justamente na possibilidade de se trabalhar em todos os setores da Sociedade Civil, exercendo o papel primordial de uma Instituição de en-sino, que é de desenvolver pesquisas, dia-logar com a sociedade, aprendendo tudo o que for possível com esse lugar”.

Sandra Maria Barros Alves MeloDiretora do Campus de Grajaú

Por dentro do Campus de São Bernardo

A história do Campus de São Bernardo, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ini-ciou em 2008, e teve suas primeiras atividades de acordo com o seguimento do processo de in-teriorização da UFMA em 2010, quando as suas atividades acadêmicas tiveram início por meio da oferta de 180 vagas divididas em três cursos: Li-cenciatura em Ciências Naturais, Licenciatura em Ciências Humanas e Licenciatura em Linguagens e Códigos.

Três anos e meio depois, e em pleno funcio-namento de atividades, é evidente o progresso alcançado por este Campus, que hoje conta com 30 professores, sendo 24 efetivos e 6 substitutos.

InfraestruturaO Campus da UFMA, em São Bernardo,

possui 31 hectares, próximo à zona urbana da cidade. Atualmente conta com uma estrutura de treze salas de aulas, biblioteca, quadra polies-portiva, laboratórios, auditório, além de obras em processo de licitação, como a do Centro de Música de São Bernardo e de um Restaurante Universitário.“Desde 2011, o Campus de São Bernar-do participa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. Aliado a isto, na extensão sempre de forma arti-culada com o ensino e a pesquisa, desen-volvemos um conjunto de ações de cará-ter educativo, social, cultural, científico e tecnológico. Uma relação bilateral com a comunidade externa, e que tem permitido a troca de saberes e aplicação de meto-dologias participativas da comunidade na atuação da Instituição.

Lorena Carvalho Martiniano de AzevedoDiretora do Campus de São Bernardo

A criação do Campus da Universidade Federal do Maranhão em Chapadinha tem início na década de 80, quando a Instituição instalou a primeira turma de um curso de ensino superior na cidade. 20 anos depois, o processo de interiorização da UFMA encontra-se consolidado com a oferta dos cursos de Agronomia, Biologia e Zootecnia e um mestrado na área de Ciência Animal.

Hoje, a Universidade Federal do Maranhão atende a toda a mesorregião do Leste Maranhen-se. Conta com o maior prédio público da região, com mais de 20 laboratórios, dois prédios ex-clusivos para laboratórios, entre eles, o espaço onde está localizado o Museu de História Natural, além do prédio do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal. Isso tudo, junto a 18 salas de aulas, salas de multimídia, e um auditório.

“O Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal do Ma-ranhão é um campus universitário que vem se consolidando como uma institui-ção de inclusão social, permitindo a sociedade maranhense o acesso ao ensino superior, ao mesmo tempo servindo como polo de desenvolvimento científico e tecnológico que contribui para melhorar os indicadores educacionais da me-sorregião do leste maranhense”.

Jocélio Santos AraújoDiretor do Centro de CiênciasAgrárias e Ambientais da UFMA

Chapadinha: Contribuindo para o desenvolvimento regional sustentável, a qualidade de vida ambiental e a inclusão social

A Universidade Federal do Maranhão mantém em Bacabal um campus onde desen-volve a experiências das novas licenciaturas por meio da oferta dos cursos de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Em funcio-namento desde 2010 a Instituição de Ensino Superior tem contribuído para o desenvolvi-mento da região, e sobre tudo da cidade de Bacabal por meio da formação que tem ofere-cido aos estudantes beneficiados pelo projeto de expansão da Universidade.

Antonio Evaldo Almeida BarrosDiretor do Campus de Bacabal

Em Bacabal mais umCampus Avançado

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Acessibi l idade

Já não é nenhuma novidade que o papel da inclusão é o de fazer com que todas

as pessoas, independentemente de suas limitações, sejam atuantes na sociedade como produtores de conhecimento. O que poderia ser novo, de fato, seria a materialização, tan-to física quanto humana, desta inclusão. Mas, para que isso aconteça, se faz necessário estabelecer uma relação da Edu-cação Inclusiva com a Educação Especial, uma vez que, atra-vés desta última, todos serão assistidos e terão uma educação de qualidade, com respeito e responsabilidade.

No Maranhão, assim como em todo o país, são poucas as escolas de ensino regular preparadas para atender as ne-cessidades dos alunos com deficiência, que em geral são as-sociações ou escolas voltadas para esse público e, enquanto isso acontece, a

inclusão não é realizada, em sua totalidade, e o direito dessas crianças não é respeitado.

O processo complica ainda mais em pequenas cidades, que raramente possuem aplicação de verbas voltadas para constituir e manter uma estrutura que dê suporte à esse trabalho de educação. Neste caso, a situação consegue ser revestida com a preocupação das universidades em formar docentes capacitados e prepará-los para lidar com todas as especificidades dos alunos, assim como desenvolver projetos específicos.

A Universidade Federal do Maranhão tem sido condutora de vários projetos realizados pelo seu corpo docente e dis-cente. Com base em discussões pautadas sobre problemas

sociais, a Universidade visa contribuir com a forma-ção dos estudantes em teoria e prática e auxiliar no desenvolvimento social.

Entre tantos, destaca-se o projeto desenvolvido na cidade de Codó, intitulado “Alfabetização e Letra-mento na Educação Especial, na escola de educação especial Associação Pestalozzi”, coordenado pela pro-fessora Cristiane Dias Martins da Costa, com partici-pação de bolsistas e voluntários. Desde 2011, o proje-to vem realizando atividades com alunos da Pestalozzi no intuito de melhorar suas competências de leitura e escrita, defendendo que o domínio dessas capacidades é uma condição para que esses alunos possam partir para vivências que garantam, cada vez mais, a sua in-clusão na comunidade em que vivem.

Contribuindo para a inclusão na edu-cação em Codó

A Associação Pestalozzi é uma unidade que, há 35 anos, vem desenvolvendo um trabalho de ensino-apre-dizagem e socialização para crianças e jovens deficientes e carentes na cidade de Codó. Sob a direção da peda-

TEXTO: JOSIANE MENDES

Educaçãoque inclui,inclusãoque educaPrática de “contação de histórias” estimula e incentiva jovens e adolescentes com deficiência, na cidade de Codó

Práticas educacionais permitem trocas entre acadêmicos

da UFMA e crianças com dificiência na Pestalozzi em Codó

Maria Janaina Silva é uma das alunas da Pestalozzi que

participa das atividades promovidas pelo projeto da UFMA

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Cotidiano

goga, Diana Maria Rabêlo de Almeida – diretora há quase 10 anos – a unidade busca contribuir com edu-cação e saúde para pessoas que não possuem condi-ções ou oportunidades para estarem em escolas de ensino regular, além de inseri-los na sociedade como indivíduos críticos, participantes e atuantes.

O projeto, coordenado pela professora Cristia-ne Dias Martins da Costa, é desenvolvido semanal-mente na Associação Pestalozzi – atendendo atu-almente 180 alunos – com a proposta de contar histórias literárias incentivando o hábito de ler e compreender, sempre prezando as limitações de cada aluno. Para isso, utilizam-se a caracterização dos personagens de cada história contada e o uso de recursos audiovisuais, como filmes e vídeos didáticos, que auxiliam na melhor fixação das atividades desenvolvidas.

Todas as histórias contadas são preparadas no início da semana para que os bolsistas selecionem os personagens e produzam todos os materiais necessários. Em acordo com os professores da Pestalozzi, as histórias contadas devem acom-panhar as atividades da escola.

Os intervalos de todas as quintas-feiras já é um momento esperado pelos estudantes, que aproveitam seu momento de lazer de uma forma bem interessante, como relatou a adoles-cente de 14 anos, Maria Janaína Silva (deficiente visual), que só este ano já leu mais de 30 livros. “O projeto acrescentou bastante para nosso aprendizado na Pestalozzi e eu, que já gostava de ler, ganhei um incentivo muito maior. Todas as quintas-feiras ficamos ansiosos esperando e tentando imagi-nar qual será a história da semana, que sempre é contada com muita criatividade”.

Durante as atividades, os bolsistas buscam estimular a par-ticipação dos alunos fazendo perguntas e levantando algumas hipóteses em relação à narrativa contada. O trabalho com os jovens e adolescentes da Associação Pestallozi tem permitido aos discentes da UFMA perceber que as pessoas, as famílias e os espaços sociais não são homogêneos e que as diferenças

são enriquecedoras para o ser humano. Assim, a perspectiva da indisso-

ciabilidade ensino--pesquisa-extensão, tem sido de extre-ma relevância para a formação do fu-turo profissional, que vai construir o conhecimento a partir de sua própria prática, pautando-se na reflexividade e devendo retornar à sociedade o saber construído de forma estruturada, mobilizando conhe-cimentos para uma ação direcionada e contextualizada.

Associação Pestalozzi: uma força tarefa para incluir sem excluir

Atualmente, a escola conta com profissionais distribuídos nas áreas de educação e saúde, sendo 19 professores, dois fo-noaudiólogos, um odontólogo, um fisioterapeuta, um enfer-meiro, uma auxiliar de enfermagem e uma assistente social. A Pestalozzi possui parceria com o Governo do Estado do Maranhão e com a Secretária de Educação do Município de Codó. Entre os alunos, estão deficientes intelectuais, visuais, auditivos e cadeirantes. Todos assistidos de acordo com suas necessidades e especificidades, garantidos com uma boa edu-cação e assistência médica. A diretora da escola, professora Diana Rabêlo, comentou que todos os alunos são preparados para frequentar a escola de ensino regular, mas que, “a difi-culdade que encontram é muito grande, por isso fazemos o acompanhamento dos nossos alunos em outras escolas, não os abandonamos, estamos sempre em contato com a escola, avaliando o desempenho dos estudantes e assistindo-os no que for necessário, pois as escolas daqui não são preparadas e por isso precisamos auxiliá-los. Inclusive, já aconteceu de alguns alunos, ao chegarem às escolas regulares, desistirem dos estudos, e nós não podemos permitir que isto aconteça”.

Segundo a professora Cristiane Dias Martins da Costa, a Associação Pestalozzi foi escolhida por trabalhar com alu-

nos deficientes, tanto físico quanto intelectual. “O projeto tem contribuído de forma significativa tanto para os alunos da Pestalozzi quanto para os acadêmicos envolvidos, possibilitando o processo de desenvolvimento, aqui-sição de conhecimentos e interpretação da leitura a partir da literatura”, destacou a pesquisadora.

Dessa forma, entende--se que a aprendizagem não consiste apenas na exposição de conteúdos, mas sim, na pro-moção de momentos dentro do ambiente escolar que sejam enriquecedores e que dê prazer. “Este projeto faz com que todos os envolvidos percebam o valor da leitura como um instrumento

Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Foto Josiane Mendes

Crianças recebem acompanhamento e são estimuladas à prática

da leitura

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chave para alcançar as competências necessá-rias para uma vida produtiva com realização e conhecimento. Certificamos que as práticas de leitura são importantes e que devem estar in-cluídos no ensino para a formação de leitores competentes e de um indivíduo crítico e atuante na sociedade”, completou a professora Cristiane Dias.

Todos os profissionais da Associação são pre-parados e estão sempre buscando se aprimorar, fazendo cursos e participando de eventos relacio-nados à educação inclusiva para pessoas com de-ficiência. “Essa deveria ser a atitude tomada pelos profissionais da escola regular, que costumam colo-car a culpa no governo e não procuram se estruturar, esquecendo que eles são tão responsáveis quanto”, destaca o presidente da Associação Pestalozzi de Codó, Eliel dos Santos Lima.

Uma questão antigaO conceito de Educação Inclusiva surge com maior evidência no Brasil, em 1994.

A ideia de incluir pessoas com necessidades especiais em escolas de ensino regular transformou antigos paradigmas por meio de uma luta com um objetivo bastante claro: assegurar direitos a estas pessoas. Mas para isso, uma longa jornada precisou ser percorrida, e ao longo de quase 20 anos, o país tem buscado implementar leis, decretos e resoluções, a fim de permitir um tratamento mais respeitoso, à luz, pelo menos na teoria, de uma sociedade que, em primeiro lugar, reconhece e, em seguida, busca respeitar as pessoas com deficiência.

Dentre os direitos sociais que todo cidadão tem salvaguardado universalmente, o direito a Educação é um deles. E sendo considerada enquanto base para todo o indiví-duo, esta aparece com um adjetivo sobreposto para se referir a um ramo que se ocupa exclusivamente ao atendimento de pessoas com deficiências, a Educação Especial.

Entretanto hoje, mesmo com o crescimento de instituições especializadas na oferta de educação especial para crianças e adolescentes, a demanda ainda não consegue ser completamente atendida. Sem conseguir contemplar a totalidade de público, o quadro de educação especial no Brasil enfrenta de um lado, o despreparo de professores por conta de falhas no próprio sistema educacional brasileiro e, do outro, a falta de uma orientação e conhecimento de pais e responsáveis. Um quadro que tem inviabilizado um projeto de tornar a educação brasileira inclusiva.

Cristiane Dias Martins da CostaDoutora e mestre em Educação da

Universidade Federal de Minas Gerais, onde também realizou sua graduação em Pedagogia (2006). Atua como pesquisadora do CEALE Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da FaE/UFMG. Atualmente é Professora Assistente do Curso de Licenciatura em Ciências Naturais do Campus VII de Codó da Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência nos níveis da Educação Básica, Ensino Superior e Educação a Distância (EAD), atuando principalmente nas seguintes áreas: Alfabetização e Letramento, Literatura Infantil e Fundamentos da Educação.

Educação especial é enfrentada por profissionais especializados no atendimento e na promoção de políticas para uma educação inclusiva

Associação Pestalozzi dá exemplo deEducação Inclusiva no município de Codó

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Entrevista

RPC: As Políticas Públicas correspondem a direitos assegurados constitucional-mente. No entanto, diante do contexto das matérias que a Portal da Ciência traz, o que se observa é a falta, ou redução, desse dever, por quem de fato deveria propor isto, que é o próprio Estado. Você acredita que esta situação se dá pela fal-ta de recursos ou conheci-mento das necessidades da própria realidade?

JRS: Na verdade, isso reflete no que eu chamo de estágio civilizatório da ges-tão pública. Com a constituição de 88, nós tivemos um esforço de dar mais po-der aos municípios, para que as pessoas, estando mais próximas da unidade admi-nistrativa, pudessem administrar melhor esses recursos. Apesar de ter um aspecto positivo, em determinado contexto isto é ruim, pois precisaríamos ter gestores públicos comprometidos com a gestão pública, ou seja, gestores que exerçam seu papel de equipar municípios e cida-des com tudo que é necessário para uma comunidade existir. Lamentavelmente, o que nós assistimos no estado do MA, e em grande parte do país, foi uma bus-ca por criar novos municípios, desmem-brando os municípios de 144 para 217. É como se algumas pessoas estivessem interessadas em acessar o recurso que vai para os município e, a partir disso, você pode observar que, em embora os re-cursos sejam destinados aos municípios, pouco de fato tem apresentado evolu-ção, mesmo em um índice mais conven-cional, como Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). No caso do Maranhão temos grande parte dos muni-cípios ocupando as piores posições neste índice, nos seus três aspectos: renda, co-nhecimento e o padrão de vida.

RPC: As PPs voltadas para Saúde, Educação e Meio Ambiente preci-sam ser ainda frequentemente re-vistas a fim de garantir sua melhor aplicabilidade na sociedade. O papel das universidades, por meio do de-senvolvimento de pesquisas científi-cas gerando novos conhecimentos, consegue reverter a carência da falta dessas ações, no que diz respeito ao reconhecimento e enfrentamento dos problemas dos municípios?

JRS: Existem duas frentes. Uma das funções de qualquer programa de PP é formar pessoal para atuar na gestão pú-blica. Se você tem uma gestão pública qualificada, para entender as demandas da sociedade e viabilizá-las, você tem chances que esses problemas sejam sa-nados. A outra frente nas PPs seria a da produção de conhecimento sobre essa realidade. Os gestores vão precisar sa-ber quais as causas do problema, quais as possibilidades de resolução e quais os sujeitos envolvidos. Quando isso acon-tece você junta a obrigação que tem o Estado de resolver o problema, com aquilo que há de aspiração nos indiví-duos e isto vale para todos os cursos de nível superior, não é apenas conhecer para descrever a realidade. A função da ciência é criar instrumentos de transfor-mação na sociedade.

RPC: A formulação das PPs parte, principalmente, por ini-ciativa dos poderes executivo ou legislativo, separado ou conjun-to, a partir de demandas e pro-postas da sociedade, em seus diversos segmentos. Como fica a participação da sociedade na formulação, acompanhamento e avaliação dessas políticas pú-blicas?

JRS: Existem vários modelos de participação, mesmo numa sociedade democrática formal como é a socieda-de dominante hoje no mundo. Você poderia ter, por exemplo, um modelo de participação na elaboração das prio-ridades, para isso é preciso entender que, para ter uma ação é preciso ter um recurso e toda ação pública precisa de uma previsão orçamentária. Para que esta ação entre na previsão orçamentá-ria é preciso ter havido um movimento de mobilização e para isso os meca-nismos de participação precisam ser bem ativos. Hoje nós temos diferentes mecanismos já previstos pelo governo, que são os diferentes conselhos de área (Assistência Social, Saúde, Seguran-ça Alimentar, entre outros) que devem ser constituídos pelos municípios para que estes, possam receber recursos do governo federal. Havendo um respeito do interesse de diferentes segmentos da sociedade, um determinado conselho vai estar representado pelos diferentes interesses, elegendo quais os problemas daquele município é prioridade para se

resolver e isso você poderia ter através do orçamento participativo, das audi-ências públicas, conferências, entre as diferentes formas de debates que são levantadas.

Em grande parte das matérias publicadas nesta edição da Revista Portal da Ciência, pode-se observar que as ideias e propostas compartilham um denominador comum: são pesquisas científicas que auxiliam a posição de Políticas Públicas. Estas, caracteri-zam-se como informações e diagnósticos capazes de esclarecer e retratar, aos gestores públicos, os problemas enfrentados que precisam ser sanados nos municípios.

Para entender melhor como funciona na prática, a promoção de Políticas Públicas em âmbito geral e local, sempre em consonância com a produção de pesquisas cien-tíficas, a Revista Portal da Ciência (RPC) convidou o professor doutor em Políticas Públicas, José de Ribamar Sá Silva, para um bate papo a respeito deste cenário. Confira:

A função da Ciênciaé criar instrumentos

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46 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

RPC: Nesta edição da RPC, a cidade de Chapadinha foi alvo de muitas pes-quisas que abordaram, quase como maioria, questões ambientais. Por exemplo, a contaminação da água, oriunda de poços está acarretando problemas que agora já afetam a saú-de da população. Políticas de ações como a Política Nacional de Recursos Hídrico (Lei Federal nº 9.433) não funcionam para o Maranhão?

JRS: Todo o ordenamento jurídico que é feito para cuidar de uma PP, tan-to de recursos hídricos quanto a outros, depende muito de como os sujeitos inte-ressados tem o poder de implementação. Chapadinha é um caso típico, porque é uma área de expansão de monocultivo de soja e de “florestas plantadas” do plantio de eucalipto e essas lavouras precisam de agrotóxicos. Daí você tem de um lado, as pessoas que estão discutindo a polí-tica de recursos hídricos ou a política de recursos naturais de um modo geral e, de outro lado, o interesse econômico de quem está plantando soja ou eucalipto. O próprio governo fica dividido entre a produção econômica e a proteção dos recursos naturais e nesta quebra de braço no Maranhão, quem está ganhando são os interesses econômicos.

RPC: Pesquisadores da UFMA, em parceria com o governo do Estado e com a Secretaria de Educação do município de Codó, desenvol-vem atividades com alunos de uma Associação, voltada para atender crianças e adolescentes com defici-ências. No entanto, os funcionários afirmam que se preocupam quando o aluno parte para escolas públicas, visto que estas não estão preparadas para lidar com esse público. A Edu-cação Inclusiva reflete uma realidade ainda distante?

é a incompreensão da necessidade do outro. A falta de conhecimento gera o preconceito. Nós passamos por um sério problema de valores da sociedade e se demora muito para discutir essa questão. Apesar de ser uma necessidade, hoje, não temos condições de capacitar edu-cadores para lidar com pessoas com de-ficiência, do mesmo modo que também não temos condições de ofertar a educa-ção do campo, do modo como deve ser. Tudo isso porque, simplesmente, não te-mos o acúmulo de informação e nem a quantidade suficiente de educadores para exercer essa tarefa, atualmente.

RPC: Os planos, programas, ações e as atividades, são instrumentos que compõem as Políticas Públicas e que asseguram o bem-estar co-mum . O que precisa ser feito para reverter o quadro de aparente des-caso com as condições básicas para um desenvolvimento socioeconômi-co e sustentável?

Nós somos uma espécie que ainda está se humanizando.

JRS: O que nós queremos ser daqui a 20 anos? Daqui a 20 anos eu vou ter uma geração inteira que nem nasceu e hoje, eu tenho que criar as condições e os programas que melhor atendam a essa sociedade. Se eu considero que a educação é fundamental, visto que o pleno desenvolvimento da condição hu-mana depende de uma capacidade de abstração e, se o homem não tem uma boa educação ele não consegue desen-volver essa capacidade criativa, eu tenho que ter bons professores para essa nova geração e fazer da escola um ambiente atraente para os alunos. Para que isso aconteça, a escola tem que ser boa e os professores têm que ser humanos. Hoje podemos ter isto? Não, pois não temos educadores com formação humana su-ficiente para trabalhar numa educação humanizadora. Se achamos que saú-de é importante, mais do que construir hospitais, temos que construir ações de qualidade de vida entre as famílias para que elas não precisem tanto recorrer aos hospitais e sobrecarregar o sistema de atendimento básico.

JRS: Sim. Tudo o que é novo vai levar algum tempo até ser superado. O problema maior é o que está na cabeça de cada pessoa, ou seja, os preconceitos tanto de quem está lidando diretamente com pessoas que tem deficiência, quanto das que terão de viver com elas espora-dicamente. Sempre corremos o risco de achar que a pessoa com deficiência pre-cisa de uma superproteção, assim como achar que estamos fazendo um favor de incluir aquela pessoa nas atividades. De modo geral, as nossas aulas são prepa-radas para pessoas que não tem defici-ência e precisamos aprender a lidar com as diferenças. De certo modo, achamos que o mundo é nosso e não observamos que temos a pior das deficiências que

RPC: Se ainda estamos em processo de humanização qual é a direção des-sa evolução?

JRS: Costumamos pensar que a dire-ção correta é a de se tornar um país mais rico nos padrões dos países desenvolvi-dos. Daí você tem que olhar para estes países e saber se realmente lhe interessa. Será que desejamos daqui a 20 anos ser uma réplica, por exemplo, dos Estados Unidos da América? Pesquisas mostram que, quanto maior a riqueza na socieda-de americana maior é a infelicidade. Será que eu quero uma população infeliz? São esses tipos de questionamento que de-vem embasar a decisão de Políticas Pú-blicas. Essa avaliação precisa ser feita e o governo precisa tomar uma decisão, caso contrário, as pessoas tomarão a decisão nas ruas. Se você observar, as escolas priorizam a história de outros países e esquecem de que precisam re-passar a própria memória da sua região. Isso nos torna mais vulneráveis à influên-cia de fora. Por exemplo, se optar entre um modelo de produção econômica, que produz alimentos para as pessoas, ou um modelo empresarial que produz merca-dorias, esta última pode ser vista como a mais importante, moderna e evoluí-da. As atividades que são desenvolvidas pelas pessoas passam a ser vistas como coisas menores e estas passam a imitar um padrão de consumo vinculado a uma realidade exterior. É muito importante que os saberes locais sejam discutidos e compreendidos pela população porque, conhecer suas próprias lutas e cultura, sabendo o quanto isto é importante para construção da sua própria história, forta-lece essa população na luta por melhores condições de vida.

José de Ribamar Sá SilvaÉ economista. Doutor em Políticas

Públicas pela Universidade Federal do Maranhão e possui mestrado na área de Economia rural pela Universidade Federal da Paraíba. Em seu currículo, coleciona experiência com ensino, pesquisa e gestão. Estuda a área de Economia, Políticas Públicas e Educação do Campo com interesse principalmente nos seguintes temas: segurança alimentar e nutricional, desenvolvimento socioeconômico, economia maranhense, assentamentos de reforma agrária e formação da

sociedade brasileira.

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47Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Mapeamento

A Ilha dos Lençóis é localizada nas reentrâncias maranhenses, no litoral norte do Estado, e faz parte do município de Cururupu, que fica

a, aproximadamente, 170 quilômetros de São Luis. É um lugar conhecido por suas lendas, como a do rei São Sebastião, e por sua bela paisagem de dunas que se assemelham aos Lençóis Maranhenses. Um local que ain-da não faz parte do mapa turístico do Estado e que preserva uma pacata rotina, essencialmente caracterizado como uma vila de pescadores.

Essa ilha paradisíaca, e habitada por algumas famílias muito carentes, foi escolhida por alunos e pro-fessores, do Campus de Imperatriz da Universidade Federal do Maranhão, para a realização de um projeto interdisciplinar de pesquisa e extensão. Durante dois anos alunos e professores pretendem pesquisar sobre o local e desenvolver atividades ligadas às áreas de pesquisa como Antropologia, Ciências Sociais e Psicologia, acompanhados por serviços como orientações sobre prevenção da saúde e hábitos saudáveis à população lo-cal. Um trabalho que vai culminar em um mapeamento sobre o perfil e identidade de aproximadamente 400 famílias que lá vivem. “Estender as ações da Universidade para a comunidade é também abrir um leque para novas linhas de pesquisa na região. Trata-se de um projeto interdisciplinar que reúne vários cursos, e que tem o intuito de prestar assistência para as carências que existem no local”, explicou o coordenador do projeto, o sociólogo e professor do curso de Comunicação Social da UFMA, Carlos Claudino.

No primeiro semestre de 2013 foram feitas duas viagens ao arquipélago, uma no mês de março e outra no mês de junho. O grupo pretende fazer visita ao local a cada dois meses para realizar o mapeamento e, após o término da pesquisa, lançar um livro relatando as ações feitas na comunidade, juntamente com a produção de um vídeo documentário que vai retratar o exercício de imersão na realidade da comunidade que a equipe da

UFMA escolheu para desenvolver o projeto.

Estudantes e professores realizam mapeamento e ações sociais em vilade pescadores na Ilha dos Lençóis

Estabelecendotrocas eredescobrindoum paraíso

TEXTO: LUAN LIMA E LÍGIA GUIMARÃES

Na primeira viagem à Ilha, os 30 alunos dos cursos de Di-reito, Enfermagem, Engenharia de Alimentos, Comunicação Social e mais três professores da UFMA saíram de Imperatriz por volta das três da madrugada e viajaram de ônibus por cerca de 510 quilômetros até o primeiro ponto de parada, que foi a cidade de Apicum-Açu, onde ficaram instalados em casas de famílias da localidade.

Às cinco horas da manhã seguinte, quando o sol já começa-va a nascer o grupo utilizou barcos de pesca para chegar até a Ilha, onde os moradores já esperavam ansiosos pelo grupo. À primeira vista, os olhares curiosos se cruzaram, dos alunos para os moradores e destes para os alunos e professores, confirman-do um longo caminho do que viria pela frente. Nas horas que se seguiram, a equipe da UFMA ofereceu, para a comunidade, várias atividades nas áreas da saúde, recreação com as crianças e palestras de conscientização num processo de aproximação sistemática para os dois lados.

Diário de bordo

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Na Ilha dos Lençóis a equipe da UFMA desenvolve trabalho multidisciplinar

Memorial do Rei Dom Sebastião. O projeto tem sido oportunidade de trocas de conhecimentos e cultura entre a população local e os pesquisadores

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48 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Uma das intervenções que o grupo

realizou foi a distribuição de brinquedos,

que foram arrecadados meses antes em

campanha, na Universidade Federal,

em Imperatriz, juntamente com ativida-

des de recreação como brincadeiras de

roda, produção de desenho e pinturas.

Os demais moradores receberam roupas,

preservativos e hipoclorito de sódio, re-

comendado para a purificação da água

e uso humano. “O uso do hipoclorito é

de extrema necessidade já que a comuni-

dade não possui uma rede de tratamento

de água nas residências e o hipoclorito

é uma substância líquida que elimina os

vermes e purifica a água”, explicou o

estudante do quinto período de Enfer-

magem e integrante do Projeto, Marcelo

Vilarinho de Morais.

Dando prosseguimento aos trabalhos, como a comunidade não possui uma rede que faça o recolhimento

do lixo, os alunos também ministraram uma palestra sobre como incinerar o lixo corretamente, e também como

separar os resíduos sólidos e líquidos, que podem ser reciclados, cujo resultado seria um adicional na renda

da população. O estudante do quarto período de Enfermagem, Vitor Pachelle, contou que se sente bem em

poder ajudar de alguma forma os moradores da Ilha dos Lençóis. “Essas ações são importantes porque alguns

serviços básicos, que a comunidade precisa, não são oferecidos e os moradores precisam ir a locais distantes

para buscar estes serviços”, contou.

Durante os primeiros cinco dias em que os integran-

tes estiveram na Ilha dos Lençóis, além da satisfação de

missão cumprida, os alunos destacaram a grande valia da

troca de experiência com os moradores. “São pessoas

que vivem em uma realidade completamente diferente da

nossa e o choque cultural foi muito grande. Nós aprende-

mos muito com essa experiência”, destacou o estudante,

Marcelo Vilarinho. Cansados e bronzeados pelo forte sol

da região, os pesquisadores retornaram para casa, com

a sensação de missão cumprida, já que a partir de agora

tendo este primeiro contato e aproximação com a comu-

nidade será mais fácil realizar o mapeamento, conhecer,

orientar e, principalmente, aprender com as famílias des-

te paraíso chamado Ilha dos Lençóis.

Carlos Claudino SilvaPossui graduação em

Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão e mestre em Políticas Públicas pela mesma instituição. Atualmente é professor da Universidade Federal do Maranhão em Imperatriz, e atua no curso de Comunicação Social. Tem experiência nas áreas de Sociologia, Ciência Política e Antropologia.

Fabio Cardias GomesÉ graduado em Psicologia, pela

Universidade Federal do Pará. Mestre em Saúde e Ciências do Esporte e Atividade Física, pela Universidade Nacional de Tsukuba. Doutor em Educação, pela Faculdade de Educação da USP. É professor da Universidade Federal do Maranhão e também atua na área de psicologia educacional na mesma instituição. Coordena o projeto Laboratório Experimental em Psicologia e Cultura (LIBER-ARTE).

Maria Neyrian FernandesEnfermeira graduada pela

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Especializada em Enfermagem do Trabalho pela Universidade Potiguar. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós Graduação de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. É professora do departamento de Enfermagem da UFMA. Durante a graduação desenvolveu pesquisas na área clínica como aluna de iniciação científica. Tem experiência na atenção básica com atuação em áreas indígenas e ensino.

Alunos realizam ação social com moradores da Ilha dos Lençóis

Estudantes da UFMA levam informação por meio do projeto à comunidade distante da ilha dos lençois

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49Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Inovação

Projeto realiza experimentos com diferentes espécies cultivadas e seleciona aquelas que produzem cada vez mais e com características agronômicas desejáveis no Maranhão

Aumentando aprodutividadeagrícola por meioda seleção vegetal

Há três anos um grupo de pesquisadores do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, da Universidade Federal do

Maranhão (CCAA/UFMA), vem descobrindo que a seleção de espécies para o plantio com base na sua variabilidade produtiva, de acordo com as propriedades de solo e clima, entre outras características, pode ser a melhor forma de aumentar o desenvolvi-mento agrícola do Maranhão. Por meio do Programa de Seleção e Melhoramento de Espécies Vegetais, cientistas de Chapadinha estão contribuindo para que o conheci-mento obtido por meio de ensaios e experimentos com vegetais, depois de verificado sua veracidade, chegue especialmente até os agricultores maranhenses, que recebem nas conclusões dos estudos desenvolvidos pelo grupo, o conhecimento necessário, permitindo produzir cada vez mais e melhor, já que passam a conhecer a variedade e o sistema de cultivo mais adequado para as condições locais.

Coordenado pela professora da UFMA em Chapadinha, Maria Moura Cruz, o Programa, que conta com a participação de estudantes de agronomia, e já realizou parceria com a Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF), localizada no Campo dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, que desenvolveu junto a UFMA um projeto de pesquisa para o melhoramento do mamão.

Neste projeto, o grupo selecionou cinco tipos de mamão, dentre eles, uma espé-cie conhecida como “Tainung 1” obteve maior desempenho produtivo ao apresentar frutos com maior espessura de polpa e mais pesados. Portanto, com características agronômicas e de qualidade do fruto que atendem ao produtor, ao consumidor e ao mercado nacional e internacional. “Os resultados foram exitosos, uma vez que indicaram a Calimosa, como a variedade mais produtiva e também, importante no combate de certas doenças. O principal reflexo desse resultado de pesquisa é que, a partir desses dados, o Brasil não importará mais sementes de mamão da China que, por exemplo, gasta 3 mil reais com a compra de 300g de semente”, ressaltou a professora que coordena o projeto de pesquisa, Maria da Cruz Moura.

TEXTO: ANNA CAROLINE GUIMARÃES

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50 Revista Portal da Ciência :: Edição Continente:: Ano III Número III :: Outubro de 2013

Cada vez mais diversificada, a indústria da produção de grãos encontra na competitividade o seu diferencial. No Brasil, país considerado um dos maiores produtores de alimentos do mundo, a corrida cada vez maior pelo cultivo de cereais acon-tece na busca por novas regiões que ofereçam condições para o desenvolvimento de culturas deste tipo. Entre estas culturas agrícolas, a soja e o milho são antigos conhecidos que a cidade de Chapadinha, apesar de não ser a maior produtora do esta-do, já conhece de perto. Agora, os pesquisadores da UFMA descobriram que a região do Baixo Parnaíba, onde o município de Chapadinha se inclui, tem sim potencial para a produção dos valiosos grãos, desta vez, comprovado cientificamente.

No caso do milho, por exemplo, a equipe do projeto de pesquisa estudou o desempenho produtivo de 17 genótipos de milho, sob três sistemas de cultivo para a região leste mara-nhense. Foram realizados dois experimentos, um no município de Chapadinha e outro no município de Brejo.

Durante a pesquisa, foi avaliada a altura de plantas, a altura de inserção da primeira espiga, o peso de números de plantas, o número de fileiras de grãos, assim como o índice de colheita e produtividade. Desta maneira, o sistema de cultivo com cober-tura do solo proporcionou ganho de produtividade superior a 11% em relação aos demais. O rendimento médio foi de 8.180 quilogramas por hectare em Chapadinha e 7.490 quilograma por hectare no experimento realizado no município de Brejo, o que confirmou de uma vez por todas o potencial regional para cultivo dos grãos. “Hoje, vivemos em um cenário em que importamos tudo o que consumimos. Com os resultados que temos obtido, é possível afirmar que essa importação irá di-minuir e, consequentemente, baratear, de forma considerável, os custos para a sociedade não só maranhense, mas também brasileira”, ponderou a pesquisadora, Maria da Cruz Moura, so-bre os resultados que têm sido obtidos com a seleção de vegetal visando a produção agrícola.

O programa de melhoramentoPara desenvolver estudos desta natureza o Programa de

Melhoramento de Vegetais, trabalha com diferentes linhas de pesquisa, dentre elas está o grupo que trata da seleção de grãos, tais como soja, milho, feijão-caupi e também raízes, como é caso da macaxeira para consumo in natura, ou seja, do mes-mo modo que é encontrada na natureza.

Há também o grupo que estuda uma espécie de planta que, em seus frutos e condimentos, proporciona um sabor picante; trata-se do Programa de Melhoramento de pimenta, onde os pesquisadores, durante o desenvolvimento da pesquisa, selecio-naram dez genótipos da espécie, ou seja, dez espécies apresen-tando variações nos seus genes, que constituem suas caracte-rísticas biológicas.

O experimento com a pimenta foi realizado na comunidade rural da Vila União, em Chapadinha, a cerca de 9 km da sede do município, onde as espécies de pimentas foram cultivadas e estudadas, cada uma com quatro repetições experimentais recebendo dez tratamentos. Os tipos de pimentas que estive-ram no estudo são da espécie Luna, Cumari-do-Pará, Biquinho, Ardilosa, Roxa, Coração, De cheiro, Balão, Esporão de Galo, e Bicuda.

Durante a pesquisa, foram observadas as características da flor da pimenta quanto a cor da corola – parte formada pelas pétalas, caracterizada como uma espécie de coroa com função de atrair os chamados agentes polinizadores –; cor das anteras – estrutura da flor que forma uma espécie de “saco”, onde o pó-len para reprodução é armazenado –; número de flores por nó;

e a posição da flor. Constatou-se que, nas mesmas condições de plantio, as espécies apresentaram, quanto a altura da planta até o comprimento do fruto, peso médio e número de frutos satisfatórios, com destaque para o cultivo das espécies Ardilosa, Roxa, Bicuda e Coração.

A partir da análise e interpretação dos dados coletados durante o cultivo do experimento com pimentas, os pesqui-sadores agrônomos da UFMA chegaram a conclusão de que, das dez espécies de pimentas estudadas, três tipos de pimenta são indicados para uso ornamental, sete para produção co-mercial, sendo indicada a Pimenta de Cheiro para consumo in natura, a Bicuda para produção de páprica e a Luna para uso em conservas e molho.

Impulsionando a produção de grãos:Pesquisadores comprovam potencialda região para este tipo de produção

“É válido frisar que os estudos e pesquisas são realizados em aulas práticas, e desenvolvidos juntamente com os produtores da região, o que facilita a condução dos experimentos e, por conseguinte, faz com que o projeto vá da pesquisa à extensão. Normalmente, para divulgar os resultados obtidos, ou então ve-rificar algum processo dos experimentos empregados nos estu-dos, o Programa realiza ações, como o “Dia de Campo”, visitas técnicas, palestras e oficinas que, geralmente, são apresentadas em importantes eventos de cunho tecnológico e ambiental”, explica a professora coordenadora do projeto, professora Maria da Cruz Moura.

Falando nisso...A agência da Organização das Nações Unidas para a Alimen-

tação e a Agricultura (FAO) estima que a produção mundial de trigo para 2013 será de 704  milhões  de toneladas, o que cor-responde a um aumento de 6,8 %, com relação ao ano anterior.

Maria da Cruz Lima MouraÉ graduada em Agronomia pela Uni-

versidade Estadual do Maranhão. Possui Mestrado em Agronomia (Horticultura) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Doutorado em Agrono-mia pela Universidade Federal de Viçosa, Pós-doutorado em melhoramento gené-tico vegetal pela Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes/RJ. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em bio-metria e melhoramento plantas e recursos genéticos vegetais. É editora técnica, au-tora e coautora de sete livros. Atualmente é professora da Universidade Federal do Maranhão, e atua no curso de Agronomia na cidade de Chapadinha.

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Cultivo de uma das espécies de pimenta do Programa de Melhoramento de Espécies Vegetais

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Expansão

Pouco mais de 80 mil habitantes com traços distintos, em um município maranhense caracterizado por sua acele-

rada e volumosa produção agrícola e mecanizada. Tudo isso, junto a uma diversidade cultural que pode ser experimentada devido às origens do povoamento da região do centro sul do Maranhão.

Está é Balsas, localizada a 810 km da capital do estado. Agora, para desenvolver e elevar os seus índices educacionais, a cidade conta com a mais nova unidade da Uni-versidade Federal do Maranhão. A concretização de um projeto pensado há mais de 30 anos e que agora vira realidade.

A instalação da Universidadevai solucionar problemasantigos e impulsionar aeconomia do Estado

Em Balsas, a Universidade conta com duas turmas do Bacharelado em Ciência e Tecnologia, totalizando 80 alunos. A infraestrutura para as atividades acadêmicas foram viabilizadas por meio de parceria entre a UFMA, governo municipal e iniciativa privada, permitindo que o curso pudesse funcionar ainda este ano.

Desta forma, uma escola no centro do município foi equipada com laboratórios es-pecíficos de química e física, sala de informática e auditório, onde as atividades da Insti-tuição devem acontecer pelo menos nos próximos dois anos. Isto por que, depois deste período, será entregue um novo campus para Balsas, que já está em fase de construção na cidade em um terreno de 120 mil hectares.

Ciência e Tecnologia na formação de engenharias

TEXTO: MARCELO OLIVEIRA

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