revista plano b #05

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a dramaturgia como instrumento de exploração da cultura popular Artes Visuais Idosos descobrem o poder rejuvenescedor da pintura e mudam de vida Museu Peças de origem sacra revelam a grandiosidade artística dos séculos XVI, XVII e XVIII TEATRO DE BONECOS ANO 1 N° 5 Agosto 2012

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A Revista Plano B #05 mostra a arte do teatro de bonecos e seu papel na cultura popular, o poder rejuvenescedor da pintura, a grandiosidade da arte sacra, e muito mais.

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Artes VisuaisIdosos descobrem o

poder rejuvenescedor da

pintura e mudam de vida

MuseuPeças de origem sacra

revelam a grandiosidade

artística dos séculos XVI,

XVII e XVIII

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ANO 1 N° 5 Agosto 2012

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O entendimento geral a cerca do papel da arte enquanto

instrumento de representação da sociedade, atualmente se

confunde com outra característica que tem chamado a aten-

ção dos estudiosos: o poder da arte como fator de mobilidade

social. Da música erudita ao teatro, todas as representações

culturais têm se mostrado como facilitadoras no processo de

inserção de novos públicos.

Bons exemplos disso são iniciativas que se apropriam de con-

ceitos próprios da educação, da cidadania, permitindi tanto aos

expectadores, quanto aos criadores, a possibilidade de intera-

girem dentro do universo da cultura. Isso tem ocorrido através

de oficinas, workshops, bate-papos, que permitem um fluxo

cada vez mais intenso de informações, amplificando o conhe-

cimento necessário para a democratização da nossa cultura.

Essas ações afirmativas superam a regra geral da “falta de

recursos” e da “dificuldade de acesso a cultura”. Mas será

que é possível continuar, a longo prazo, somente com boas

intenções, visto que os investimentos (da iniciativa privada

e do poder público) são imprescindíveis para a formação de

uma sociedade sábia e culturalmente

desenvolvida? Será que essas políticas,

fomentadas por membros da sociedade

civil, serão suficientes para quebrar a

barreira do senso comum, proporcio-

nando um avanço intelectual a inúme-

ros brasileiros?

Faltam aparatos para que as ações sócio-

-educativas não fiquem apenas no papel

ou que tenham curta duração. Assim

como uma boa leitura, um espetáculo

teatral ou um concerto musical requer

imaginação e conhecimento por parte do

espectador, da mesma forma, o acesso à

cultura requer, na maioria dos casos, ape-

nas interesse e vontade de fazer aconte-

cer. 2012 é um bom ano para refletir so-

bre isso (teremos eleições em breve).

Boa leitura

CoNsElho EDItoRIal GuAxE PRODuçõES E PIPA COMuNICAçãO CooRDENação dE PRoDução GuAxE PRODuçõES E PIPA COMuNICAçãO

atENDIMENto CoMERCIal BRuNO CÁSSIO LEAL E CARLOS DE MIRANDA (71) 3381-4656 | [email protected] RElaçÕEs PÚBlICas KAuANNA

ARAÚJO [email protected] EDItoR ChEfE FABIO FRANCO ChEfE DE REPoRtagEM MAIARA BONFIM REPortagEM FABIO FRANCO, MAIARA

BONFIM E PIEtRO RAñA REVIsão PIPA COMuNICAçãO EDIção DE tEXtos PIPA COMuNICAçãO Fotos MARCELO SANtANA PRojEto gRáfICo RAFAELA

PALMA E PIPA COMuNICAçãO DIagRaMação RAFAELA PALMA E PIPA COMuNICAçãO IlustRaçÕEs RAFAELA PALMA E PIPA COMuNICAçãO IMPREssão

GRASB - GRÁFICA SANtA BÁRBARA www.grasb.com.br

REalIZação PatRoCÍNIo

Projeto contemplado pelo EDItAL DE APOIO À PuBLICAçãO DE PERIÓDICOS 2009

guaXE PRoDuçÕEs

Rua Luiz Anselmo, 115, térreo – Luis Anselmo | Salvador, BA | CEP 40260-485

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*A PlanoB não se responsabiliza pelos conteúdos dos artigos assinados e as opiniões e conceitos emitidos não refletem necessariamente a opinião da revista.

ExPEDIENtE

EDIção AGOStO 2012

tIragEM 5.000 ExEMPLARES

DIStRIBuIçãO GRAtuItA

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Page 6: Revista Plano B #05

CAPACompanhias teatrais apostam na poética da manipulação de bonecos para

alcançar novos públicos

PATRIMÔNIOSímbolo da identidade

nacional, a cachaça

ganha status de

bebida Premium

MÚSICACom pitadas

eletrônicas e sinfonias,

grupos musicais dão

nova cara ao pagode

PROFISSÃOConheça o roadie, o

profissional que atua

nos bastidores dos

espetáculos

MODACabelos afros sugerem

retomada às origens

e fortalecimento da

cultura africana

ENTREVISTAMaria teresa

Matos descreve a

importância histórica

do Arquivo Público

TURISMOCairu, onde belezas

naturais se confundem

com a história secular

do Brasil

OPINIÃOSerginho aposta

na educação para

garantir o acesso do

povo à cultura

MUSEUInstituições baianas preservam vasto acervo de

peças com temática religiosa

ARTES VISUAISEntre tintas e telas, pessoas da terceira idade

recuperam o prazer de viver

CIDADANIAProjetos formam

jovens cidadãos

através do esporte

OPINIÃOPedro Codier explica

o que é Netnografia

e sua aplicação no

mundo vistual

planoB indicaConfira nossas

sugestões sobre o que

rola pela Bahia

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ARTES VISUAIS Arteterapia

Aos 66 anos, Aldinho Mendonça se sente mais leve, mais jovem e mais paciente de-pois que começou a se dedicar integralmen-te à pintura. Mais que um hobby, a paixão pelos pincéis e telas se transformou numa terapia rejuvenescedora!

tExtO PIEtRo RaÑa FOtOS MaRCElo saNtaNa

ARTES VISUAIS Arteterapia

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Arteterapia ARTES VISUAIS

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ARTES VISUAIS Arteterapia

tudo começou na Península Itapagi-

pana, em Salvador, onde nasceu. Aos

13 anos, Aldinho Mendonça deu sua

primeira prova pública de talento, pin-

tando um painel na fachada de uma

casa, retratando pontos turísticos de

Salvador de uma forma bem particular.

“Essa casa fica na Cidade Baixa e até

hoje a fachada está lá do jeito que eu a

pintei”, conta. Do painel passou a artes

em camisetas, depois desenhos de rou-

pas, design em sacolas e muitas outras.

“Eu acho que já nasci com o dom. Nunca

tomei curso, sou autodidata”, explica o

jovem senhor de 66 anos, que esbanja

simpatia e simplicidade.

Quando o assunto é a profissão,

Aldinho mostra personalidade: é ad-

mirador de nomes consagrados como

Carybé, Carlos Bastos, Genaro Carva-

lho, Calasans Neto e conta que em suas

obras, gosta de falar da Bahia sem cair

no lugar comum. “Sempre pinto ima-

gens que falem alguma coisa da Bahia,

mas nada do tipo capoeira, berimbau

e acarajé”.

Morando na Barra desde os 19 anos,

Aldinho resolveu há apenas três anos

se dedicar inteiramente às artes. “Não

queria perder esse dom. Considero que

foi uma espécie de renascimento para

mim. Eu me sinto mais leve, mais bonito,

mais acessível e mais paciente. Espero

que essa adolescência perdure bastan-

te”, brinca. Do primeiro painel pra cá,

muita coisa mudou! Mas a certeza de

que a arte é um meio de inclusão e de

promoção de qualidade de vida, se for-

talece a cada dia.

« Não queria perder esse dom. Considero que foi um renas-cimento pra mim. Eu me sinto mais leve, mais bonito, mais acessível e mais paciente. Espero que essa adolescência per-dure bastante »

aldINho MENDoNça, ARtistA Plástico

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Arteterapia ARTES VISUAIS

ExPOSIçÃOEsbanjando saúde e bem estar após ter

decidido viver em parceria com a arte,

Aldinho Mendonça se prepara agora

para expor seus trabalhos em Brasília.

Para a mostra, ele está selecionando

algumas obras que já apresentou em

Salvador, em setembro de 2011, quando

expôs 48 pinturas em óleo sobre tela,

no Palacete das Artes Rodin Bahia. “Fiz

uma coletiva no Rodin e fui muito bem

aceito. A crítica foi favorável e agora

estou selecionando algumas peças

para levar a Brasília. A expectativa é

a melhor possível. Vou mostrar mais

da Bahia”. Para a exposição na capital

federal, Aldinho antecipa que levará

peças da homenagem que fez aos ar-

tistas baianos das décadas de 1940 e

1950, além de outras que retratam an-

jos barrocos.

ARTETERAPIAQuando fala em “adolescência que perdure”, Aldinho ri e brinca. Mas a brincadei-

ra tem um fundo de verdade! De acordo com a psicóloga Janine Soub, “a arte pode

ser usada como uma ferramenta terapêutica, pois revela potencialidades criati-

vas da pessoa, além de ser um recurso para expressão de suas produções subje-

tivas”. Janine trabalha há aproximadamente cinco anos no Centro de Referência

Estadual de Atenção à Saúde do Idoso (CREASI), que é um centro de especialidade

geriátrica e gerontológica vinculado à Secretaria de Saúde do Estado da Bahia.

“Manter-se ativo é a principal recomendação para a qualidade de vida e o bem

estar do idoso”, completa Janine, confirmando que a postura de Aldinho é mesmo

positiva e rejuvenescedora.

E o melhor de tudo: a arteterapia na terceira idade ajuda também a pessoas em

tratamento de doenças. “Os benefícios estão na descoberta de potencialidades que

muitas vezes não acreditamos existir, algumas suprimidas pela própria condição

de adoecimento. Sabe-se que a arte nos ajuda a enfrentar medos e angústias, como

via simbólica da expressão de nossa subjetividade. Não à toa, é utilizada como um

dispositivo terapêutico na saúde mental. Na arteterapia com idosos, por exemplo,

podemos observar que existe um mundo possível após o luto, a aposentadoria, as

perdas físicas e sociais do envelhecimento, aspectos que o idoso enfrenta nessa

etapa da vida, servindo-se de um recurso terapêutico para a manutenção de suas

capacidades”, conclui a psicóloga.

Para conhecer o trabalho de aldinho

Mendonça, basta ir até o ateliê do artista.

fica na rua teixeira leal, Edifício Embaixa-

dor, na graça, em salvador. o contato é (71)

8844-2212 ou [email protected]

Para saber mais sobre o trabalho desen-

volvido pelo Centro de referência Estadu-

al de atenção à saúde do Idoso (CrEasI),

basta acessar www.saude.ba.gov.br/creasi

ou ligar para (71) 3270-5757. a sede do CrE-

asI fica na av. aCM, s/n, Ed. Prof. dr. josé

Maria de Magalhães Netto, no Iguatemi.

Os estudos atuais na área mostram

que os novos desafios ao longo da

vida estimulam cognitivamente, con-

tribuindo para o desenvolvimento de

habilidades, com aumento e/ou manu-

tenção das capacidades funcionais do

ser humano, o que pode se caracteri-

zar como um fator atenuante nas per-

das decorrentes do processo de enve-

lhecimento. “Aprender algo na velhice

também nos mostra que o desenvolvi-

mento humano é um devir constante”,

diz Janine.

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MÚSICA inovação no pagode

CHÃO

Não vale descer

até o

Em meio a uma crise existen-cial, o pagode baiano apre-senta novos artistas que ten-tam desmistificar o caráter apelativo e puramente se-xual das composições, com a inclusão de sonoridades mo-dernas e tratando de temas mais próximos ao cotidiano dos jovens da periferia.

tExtO FaBIo FRaNCo

Marcelo Santana

Foto divulgação

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inovação no pagode MÚSICA

« O pagode infelizmente não é tratado como merece e decidimos mostrar toda a sua riqueza. Criou-se uma cultura de co-piar o que dá certo e as bandas começam a criar uma homogeneidade (...) Nós so-mos essencialmente diferentes, pois bus-camos fugir dessa mesmice »

Originalmente criado no Rio de Janeiro para designar o sam-

ba que acontecia no melhor estilo “fundo de quintal”, o pa-

gode migrou para os bairros da periferia de Salvador, onde

encontrou terreno fértil para se adaptar e despontar, na últi-

ma década, como o ritmo preferido dos baianos. talvez pela

levada simples, recheada de percussividade, ou pelas compo-

sições do tipo “chiclete”, essa manifestação musical ocupou

o espaço que antes era de domínio exclusivo da Axé Music.

A nova onda se espalhou pela capital e elevou ao status de

estrelas nacionais vários dos músicos que atuavam na divul-

gação do ritmo. Com o crescimento, o foco de atuação mudou: se na sua origem o pagode trazia uma levada mais romântica

e social, atualmente é alvo constante de críticas pelo caráter

ofensivo das composições, pelas coreografias com contexto

sexual e, acima de tudo, por denegrir a imagem da mulher.

O assunto é tão polêmico que foi alvo de investida de legis-

ladores para o não financiamento, com dinheiro público, de

shows com grupos musicais que tratam a mulher de maneira

discriminatória.

Nesse cenário conturbado, alguns nomes têm apostado na

inovação para eliminar um pouco da descrença que envolve

o pagode baiano, a exemplo da Mr. Bobby, banda que nasceu

no bairro de Cajazeiras, sob a batuta do músico Bobby. Ape-

sar de trabalhar com as raízes primordiais do pagode (sensu-

alidade e bom humor), o grupo nutre uma preocupação com

a sonoridade e, principalmente, com aquilo que está sendo

transmitido para o público.

“Costumo dizer que nós viemos para quebrar paradig-

mas. O pagode infelizmente não é tratado como merece e

decidimos mostrar toda a sua riqueza. Criou-se uma cultura

de copiar o que dá certo e as bandas começam a criar uma

homogeneidade, mas infelizmente voltado para um lado que

deprecia o ritmo. Nós somos essencialmente diferentes, pois

buscamos fugir dessa mesmice”, alfineta.

BoBBY, VocAlistA DA MR. BoBBY

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MÚSICA inovação no pagode

PAgODE COM ORqUESTRASe a ideia é inovar, o trombonista Hugo San foi muito mais radical. Integrante da

Orkestra Rumpilezz, que por si só já provocou uma reviravolta em toda a música

baiana, o instrumentista resolveu pincelar seus conhecimentos em música clássica

com a levada do pagodão. O resultado disso é a Sanbone Pagode Orquestra, projeto

criado em 2009 com a participação de 25 músicos e que pretende popularizar a

música erudita. “Nosso grande propósito é oferecer música de boa qualidade e des-

pertar no público o gosto pela música erudita, utilizando o apelo essencialmente

popular do pagode, enquanto gênero musical. Acreditamos que o pagode (Samba),

é tão bom quanto as sinfonias, rondós, concertos, óperas, jazz e qualquer outra ma-

nifestação musical”.

Hugo vê no pagode mais que um ritmo musical. O maestro defende que essa

linguagem tornou-se o meio ideal para levar a música erudita para outros públicos.

“Nossa sociedade, aquela que vive nos guetos, não tem a oportunidade de conviver

e apreciar estas iniciativas e decidir se gosta de um ou de outro estilo. O leque de

opções é muito limitado e a escolha acaba se tornando óbvia. Assim, considerando

o pagode como elemento facilitador, por ser um dos produtos musicais mais consu-

midos pela faixa de público que se quer atingir (jovens em situação de vulnerabili-

dade social e restrição de conhecimento), criamos um cenário propício à ‘sedução’

desse público para o contato e consequente familiarização de uma música que, ao

tempo em que não se afasta do seu universo habitual, traz elementos totalmente

novos e qualitativamente superiores”.

Com participações em festivais como Mercado Cultural e Origem da terra, a

banda já colhe os primeiros frutos: a composição ‘Sinfonia Primeira de Pagode’,

foi premiada no Festival de Música da Educadora FM e no Festival Nacional de

Música da Associação de Rádios Públicas do Brasil. “Após algumas apresentações,

percebemos que o público responde de maneira positiva e entra na nossa viagem

Sobre a incorporação de outros ele-

mentos no repertório, Bobby pontua

que já havia realizado experimenta-

ções, mas ninguém tinha levado isso

muito a sério. “Essa ideia é antiga, mas

tornou-se mais nítida quando um ami-

go meu veio dos EuA. tudo começou

a criar corpo com a ajuda de Nilsinho

Leão. Pesquisamos, criamos e tenta-

mos aplicar num projeto antigo, mas

não deu certo. Continuei estudando e

resolvi criar a Mr. Bobby, assim a ideia

deixou de ser uma ‘maluquice’ e se

transformou numa realidade que vem

dando certo”.

Na linha de frente, Bobby divide os

vocais com Nilo Ramos e com o DJOY

Felipe, um DJ que comanda o som atra-

vés de um joystick. “Quando qualquer

pessoa escuta a palavra DJ, automatica-

mente pensa em um cara com pick-ups,

mixer e notebook. Aí mora a surpresa,

quando se deparam com um cara com

um joystick. Meu irmão faz o papel de

DJOY, controlando e fazendo monta-

gens ao vivo nos nossos shows”, explica

o vocalista.

Marcelo Santana

Page 15: Revista Plano B #05

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inovação no pagode MÚSICA

« Nosso grande propósito é oferecer música de boa qualidade e despertar no público o gosto pela música erudita, uti-lizando o apelo essencialmente popular do pagode, enquanto gênero musical »

hugo saN, cRiADoR dA sANBoNE PAgoDE oRquEstRA

musical, assim como nós, que estamos em cima do palco. Existe uma sintonia entre

orquestra e público que nos leva a crer que o nosso propósito está sendo plenamen-

te atingido”.

Sobre o fato de trabalhar prioritariamente com um estilo musical tão marcado

pelas críticas, Hugo usa da sensibilidade artística para resgatar a verdadeira es-

sência do pagode, que em sua opinião reside no “agrupamento de pessoas para

fazer e ouvir boa música”. Para que essa formula dê o resultado previsto, o maestro

se inspira em nomes como Villa Lobos e Arthur Moreira Lima, que também se uti-

lizaram da cultura popular para difundir a música erudita nacional, e, acima de

tudo, defende uma mudança estrutural

nas camadas sociais através de uma po-

lítica educacional forte.

“Acreditamos que a mudança só acon-

tecerá através da educação e o nosso

instrumento para isso é a música. É pre-

ciso que a base seja consistente. Quere-

mos levar a nossa música também para

aquelas pessoas, notadamente de cama-

das sociais mais baixas, para as quais o

acesso ao conhecimento e à informação

se restringe ao que a grande mídia im-

põe, formando um ciclo vicioso segundo

o qual não se permite o alcance de um

panorama mais amplo de informações e

saberes a uma parte da população, que,

por sua vez, vai progressivamente se

afastando e se desinteressando por no-

vos níveis de conhecimento, tornando-se

reféns”, desabafa Hugo San.

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TURISMO cairu

Paraíso Cultural no Baixo Sul

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cairu TURISMO

Baixo SulÚnico município arquipélago do Brasil e um dos mais antigos do país, Cairu é palco de ricas manifestações culturais, que o tornam historicamente singular. O Reisado, uma dança de origem portuguesa, é um dos destaques.

tExtO PIEtRo RaÑa FOtOS aCERVo PREFEItuRa DE CaIRu

cairu TURISMO

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18

TURISMO cairu

Quando se fala em Cairu, muita gente pensa imediatamente

em Morro de São Paulo. De fato, a ilha, que faz parte do mu-

nicípio localizado há 308 quilômetros de Salvador, é um dos

destinos mais lembrados por brasileiros e turistas de todo o

mundo. Praias de águas cristalinas, uma vila movimentada

com bares, barracas de bebidas, muita música, agito e paque-

ra. Mas existem muito mais atrativos culturais espalhados

pelo município.

Cairu, que em tupi Guarani quer dizer Casa do Sol, é um

município-arquipélago fluvial, composto por 36 ilhas e situ-

ado na bacia do Rio una, que possui construções históricas

como a Igreja e o Convento de Santo Antônio – o mais impor-

tante monumento arquitetônico da Ordem Franciscana, um

dos primeiros do Brasil e marco do Barroco brasileiro – data-

dos de 1654; a Igreja de Nossa Senhora da Luz, com imagens

sacras e seus altares de cedro em estilo barroco dos séculos

xVII e xVIII. Sem falar nas três bicas da Fonte Grande, tomba-

das pelo Patrimônio Histórico em 1943.

Além de edificações antigas, que a torna especialmente

única, a cidade respira cultura nas manifestações de rua.

Reinado, Chegança, Congos, Barquinha, Marujada, Dendo-

ca... esses são apenas alguns dos grupos de arte popular que

alimentam o folclore local e preservam

tradições seculares, fazendo bonito

diante de baianos, brasileiros e estran-

geiros. Outro grande destaque é a Filar-

mônica do Centro Popular Cairuense,

que contabiliza 100 anos de história.

Cercada por manguezais, a cidade

reserva bons pontos de mergulho, em

especial nas Pedras da Benedita, tati-

ba e tatimirim, localizadas, respectiva-

mente, a cinco, sete e três milhas da cos-

ta. Com extensão de 452,9 quilômetros

quadrados, o município tem população

aproximada de 15 mil habitantes (Senso

IBGE 2010), número que chega a tripli-

car na alta estação. A atividade econô-

mica da localidade está baseada na pes-

ca, na agricultura e, principalmente, no

turismo. Para acolher seus visitantes,

possui uma infraestrutura hoteleira

com cerca de 300 hotéis e pousadas, e

mais de 20 mil leitos.

Festejos com

conotação religiosa

resgatam tradições

de séculos passados.

Page 19: Revista Plano B #05

19

cairu TURISMO

Além de edificaçõesantigas, que a torna especialmente única, a cidade respira cultura nas manifestaçõesde rua.

19

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20

TURISMO cairu

REISADO DE SÃO BENEDITO UMA CElEBRAçÃO DA CUlTURAtodos os anos, o dia 09 de janeiro é dedicado ao Reisado de

São Benedito, festa em louvor ao padroeiro da cidade, que é

uma tradição desde os tempos do Brasil Império. Rica em sin-

cretismo religioso, onde gente simples vira rei, com vestimen-

tas abundantemente adornadas com miçangas e lantejoulas,

e os negros relembram através da dança seus antepassados,

simulando o combate entre mouros e cristãos.

Para conservar a tradição centenária, a administração

municipal de Cairu prepara sempre uma programação espe-

cial para o Reisado, que começa com uma missa solene em

louvor ao padroeiro na Igreja Matriz de Nossa Senhora do

Rosário. A celebração atrai moradores e turistas em agradeci-

mento aos feitos do santo protetor. Além da programação reli-

giosa, a festa conta também com a apresentação de diversos

grupos folclóricos da região, animando as ruas e praças da

cidade, gratuitamente.

Depois da cerimônia eucarística, os grupos de cultura

popular Reinado, Chegança, Congos, Barquinha, Marujada

e Dendoca desfilam pelas ruas da cidade, mostrando todo o

seu colorido e musicalidade, seguidos pela filarmônica. Du-

rante a celebração do Reisado, outras manifestações cultu-

rais da região, como a Fanfarra de Cairu, grupos de capoeira

e puxada de rede Samba Nossa Senhora da Penha, o Samba

Quilombola, o Zambiapunga e o Boi Malhado também abri-

lhantam a festa. O ponto alto da programação é a tradicional

descida da bandeira de São Benedito, que ocorre na praça

central da cidade, em frente ao centenário Convento de San-

to Antônio.

reisado rei.sa.do

sm (reis+ado) Dança popular profano-religiosa de ori-

gem portuguesa, com que se comemora a véspera e o Dia

de Reis. também conhecido como Folia de Reis, o festejo

instalou-se no Brasil no período colonial. Atualmente é

dançado em qualquer época do ano e os temas variam de

acordo com o local e a época em que são encenados. Amor,

guerra e religião são os mais comuns. O Reisado se com-

põe de várias partes e tem diversos personagens como o

rei, o mestre, contramestre, figuras e moleques. Os instru-

mentos que acompanham o grupo são violão, sanfona, za-

bumba, triângulo e pandeiro.

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Page 22: Revista Plano B #05

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PROFISSÃO

Os roadies se valorizaram e provaram seu profissionalismo, mostrando que são muito mais do que meros carregadores de equipamentos. Esses profissionais atualmente passeiam por diferentes funções e são considerados verdadeiros magos que ajustam as engrenagens para que os grandes artistas se apre-sentem ao público.

Sabe aquele show perfeito que você assistiu, daquele artista que você é fã?! E aque-

la peça de teatro do tipo “megaprodução” que esteve em cartaz e foi linda?! Sabe

quem estava lá e, mesmo sendo tudo impecável, você não percebeu? Pois é... o roa-

die. Ele é o personagem que quase sempre passa despercebido, mas é indispensá-

vel para que os aplausos venham no final de qualquer espetáculo artístico.

O nome é meio estranho, mas se justifica bem. A expressão vem do inglês Road,

que quer dizer estrada, associada à terminação diminutiva “ie”. Seria, ao pé da le-

tra, algo como “estradinha”. É uma apologia ao fato de os roadies estarem sempre

nas estradas, durantes as turnês de

grandes artistas nos Estados unidos e

na Europa, nas décadas passadas. Nes-

se tempo, a função primordial era car-

regar equipamentos e montar toda a

aparelhagem nos palcos. O tempo pas-

sou e o sentido mudou...

“Hoje o roadie pode e deve ser res-

ponsável por tudo! Pode chegar a fazer

a Direção de Palco”, explica Jefferson

Rasta, que hoje é roadie do grupo Cabe-

ça de Nós todos, mas que na bagagem

tem 14 participações Festival de Verão,

16 no PercPan e apresentações ao lado

de nomes nacionais e internacionais,

como Gilberto Gil. “O roadie é o primei-

tExtO PIEtRo RaÑa FOtOS josÉ sIlVa E arQuIVo PEssoal jEFFErsoN Rasta

PRotAgoNistAs do

SUCESSO

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23

PROFISSÃO

ro a chegar e o último que volta para casa. Ele se prepara para

o show, administra o equipamento, segue o mapa, aguarda o

horário do show e depois desmonta tudo e deixa no estúdio”.

ROTINA PESADAO ponto de vista é ratificado por outro grande personagem

dessa história, o roadie Antônio Carlos dos Santos, mais co-

nhecido como Cobra. “um roadie tem que ter habilidades es-

pecíficas. Precisa saber afinar e tocar os instrumentos, para a

passagem de som; precisa saber como funcionam os equipa-

mentos; saber que tipo de microfone é melhor para cada ins-

trumento e por aí vai. É um trabalho que exige muita atenção,

muita inteligência e muita tranquilidade”.

Há 14 anos na profissão, Cobra conta um pouco de sua his-

tória. “Meu irmão era percussionista da banda tiete Vip´s e

na época ele sempre contava sobre a rotina. Eu, muito curio-

so, resolvi acompanhá-lo e fiquei encantado com o dia a dia.

Resolvi então ser um roadie. Pedi demissão da empresa que

trabalhava e me joguei”, explica Cobra, que há quatro anos é

roadie da banda Seu Maxixe, chamando a atenção para um

fato que nem todos atentam. “O trabalho do roadie não é im-

portante apenas no momento do show, mas em todos os mo-

mentos de uma banda. temos que estar sempre nos ensaios

e também em apresentações como rádio, tevê e também nas

famosas canjas”, conta.

No Brasil, a profissão tem apenas 50 anos, mas definitiva-

mente cresceu. Dos grandes grupos até artistas de barzinho,

hoje todos contam com pelo menos um roadie para auxiliar e

viabilizar as apresentações. E para quem quer seguir a área,

já existem cursos profissionalizantes. A dica fundamental, se-

gundo Rasta, é simples: “batalhe, seja pontual e lembre-se de

tudo (supermemória)”.

PROFISSÃO

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26

CAPA teatro de bonecos

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teatro de bonecos CAPAteatro de bonecos CAPA

Técnica apurada e muita dedicação são elementos im-prescindíveis para quem trabalha com a manipulação de bonecos no teatro. Atuando para a plateia através de um personagem cênico, quem domina essa arte precisa ter muita sensibilidade no trabalho corporal e uma mente bastante criativa.

tExtO FaBIo FRaNCo

Rejane Carneiro

Page 28: Revista Plano B #05

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CAPA teatro de bonecos

“Comecei a construir bonecos quando cheguei ao Brasil, há 26 anos. um amigo ti-

nha um ateliê no Forte de Santo Antônio e me emprestava as ferramentas. Depois

pensei em fazer com eles uma peça de teatro e escolhi um cordel que me pareceu

cheio de imagens. Foi um processo lento que nunca teria acontecido se não tivesse

encontrado as pessoas certas para realizar o trabalho”. As palavras definem bem

as inquietações artísticas de Olga Gómez, diretora e fundadora da Cia. A Roda, gru-

po baiano que trabalha desde 1997 com o teatro de bonecos.

Nascida na Argentina, Olga fez do ofício um prazer diário. Das suas mãos sur-

gem pássaros, homens, insetos, flores e um sem-número de personagens que agu-

çam a imaginação de jovens e adultos durante os espetáculos. “trabalhamos com

bonecos de tamanhos variados e construídos de maneiras diferentes. Desde minús-

culas figuras dentro de caixas cênicas até bonecos em escala humana”.

Nesses 15 anos de formação, a companhia acumulou prêmios, inclusive o de ‘Me-

lhor Espetáculo Infantil’ como a montagem "O Pássaro do Sol", em 2010, no Prêmio

Braskem de teatro. “O grupo surgiu a partir do encontro de quatro artistas visuais

– apaixonados por animação – que queriam fazer teatro de bonecos. Atualmente

Olga e eu estamos à frente das ações da companhia que, além da pesquisa tenta

difundir o teatro de animação de bonecos por meio da produção de espetáculos

e também por meio de atividades de formação como oficinas, estágios e laborató-

rios”, conta Marcus Sampaio, integrante da Cia. A Roda.

Outra representante baiana, igualmente premiada – acaba de ser escolhida

como o Melhor Espetáculo Infantil de 2012, a peça "As Rimas de Catarina", também

se debruça pelas inúmeras possibilidades artísticas da manipulação de marione-

tes no palco. Sob a batuta de Bira Freitas e Jorge Baía, da Cia. Rapsódia de teatro,

surge o boneco Disposto, um verdadeiro encrenqueiro, que dialoga durante todo o

tempo com os atores, numa mescla de técnicas circenses e do Clown.

“No espetáculo quem manipula o boneco Bené, que é um artista de circo cha-

mado Disposto, é o ator Jorge Baía utilizando a técnica do ventriloquismo. O bone-

« Trabalhamos com bonecos de tamanhos variados e construídos de maneiras diferentes. Desde minúsculas figuras dentro de caixas cênicas até bonecos em escala humana»

olga gÓMEZ

DiREtoRA E FuNDADoRA DA ciA A RoDA

CAPA teatro de bonecos

Rejane Carneiro

Rejane Carneiro

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Page 29: Revista Plano B #05

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teatro de bonecos CAPA

as primeiras impressões sobre a arte

de manipular marionetes datam de

3.000 anos atrás. Essa expressão ar-

tística se desenvolveu principalmen-

te no oriente e na Europa, onde se

encontram alguns dos importantes

tipos de teatro de bonecos do mundo.

Em território americano, as primei-

ras aparições dessa manifestação

ocorreram no século XVI, no período

das grandes Navegações.

No Brasil, os primeiros exempla-

res apareceram na época colonial,

baseadas nos bonecos de luva por-

co sempre desperta um encanto e essa

característica fica evidenciada especial-

mente por ser uma peça infanto-juvenil.

A forma como o boneco foi inserido na

estória pela dramaturga Ilma Nasci-

mento, e como os outros personagens

se relacionam com ele, é muito harmo-

niosa. Então o público recebe muito

bem”, diz o ator Bira Freitas.

Sem papas na língua, Bira é categóri-

co ao afirmar que a cena teatral baiana

ainda carece, e muito, de investimentos

e divulgação. Se o cenário fosse outro,

as diversas formas de fazer teatro, in-

cluído o teatro de bonecos, aparece-

riam de forma mais pungente. “No nos-

so caso, o Prêmio Braskem possibilitou

novas temporadas já que o espetáculo

foi montado de forma independente,

sem apoio financeiro de empresas ou

órgãos oficiais. E foi muito bom obser-

var o olhar desta comissão para o tea-

tro infantil, pois ‘As Rimas de Catarina’

recebeu indicação em cinco categorias

do Prêmio (texto, direção, espetáculo, fi-

gurino e ator) a mesma quantidade do

espetáculo adulto com maior número

de indicações”.

« O boneco sempre desperta um en-canto e essa característica fica eviden-ciada especialmente por ser uma peçainfanto-juvenil »

BIRa FREItas, AtoR DA ciA RAPsóDiA

tugueses e espanhóis. Pouco tempo depois chegaram os

primeiros modelos alemães. Essa mescla de diferentes

orientações teatrais fez nascer, no Nordeste, a versão bra-

sileira dessa arte: o mamulengo – que inclusive serviu de

base para um espetáculo recente da Cia. rapsódia de tea-

tro, intitulado a ‘a árvore dos Mamulengos’.

No caso da Cia. a roda, essa integração de culturas

também se torna evidente. “o nosso último espetáculo

‘o Pássaro do sol’, veio satisfazer uma antiga vontade de

pesquisar o universo do teatro de sombras, que é de ori-

gem asiática. assim voltamos os olhares para esta estéti-

ca de comunicação indireta, onde nem sequer é o objeto

que é mostrado ao público, senão um fenômeno, sua som-

bra”, pontua olga.

teatro de bonecos CAPA

Alessandra Nohvais

29

Page 30: Revista Plano B #05

30

CAPA teatro de bonecos

ARTE SOCIAlA Cia. A Roda também realiza um trabalho de desenvolvimento cultural com crian-

ças de escolas públicas através do projeto Caminhos da Arte, promovido pela Se-

cretaria Municipal de Educação de Salvador. A iniciativa, que no primeiro semestre

de 2012 chegou a aproximadamente 10 mil estudantes, promove a integração entre

o público potencial e as artes cênicas, abordando uma linguagem nova, em se tra-

tando de teatro de bonecos, e ao mesmo tempo comum para a garotada.

“Essa ação é bem mais ampla do que parece porque insere as crianças em um

contexto que muitas vezes elas jamais experimentariam. E não falo apenas de

quando a peça começa, mas desde o momento em que eles se sentam nas poltronas

vermelhas da sala de espetáculo e um universo completamente novo se descor-

tina para eles. O resultado foi tão bom

que recebemos um novo convite para

continuar apresentando ‘O Pássaro do

Sol’ no próximo mês de setembro, desta

vez no teatro SESC-SENAC Pelourinho”,

revela, entre sorrisos, Marcus.

Outro projeto que merece comen-

tários são as oficinas de manipulação

e criação de bonecos. A última aconte-

ceu entre março e abril deste ano, com

Oficinas promovem

integração de jovens

com o universo da

criação de bonecos.

CAPA teatro de bonecos

Rejane Carneiro

30

Page 31: Revista Plano B #05

a presença de 25 pessoas que participaram gratuitamente

de aulas com bonecos de madeira originais que estiveram

nos espetáculos da Cia. A Roda. “No momento não estamos

realizando as oficinas. Mas gostaria de realizar uma ação

onde o resultado fosse a construção de um processo de tra-

balho coletivo, que reunisse dentre os participantes, diferen-

tes capacidades e finalizasse com apresentações públicas.

Isto demanda um período de trabalho maior e um esforço

por entender o que significa animar bonecos ou figuras de

sombra”, idealiza Olga Gómez.

Diversidade de

técnicas permeia

trabalho de

companhias baianas.

Rejane Carneiro

Marcio Lima

Page 32: Revista Plano B #05

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OPINIÃO

Reconhecendo a cultura baiana

Sergio Nunes (Seginho)Vocalista da banda Adão Negro e Bacharel em

Letras pela universidade Federal da Bahia

@BandaAdaoNegroFoto divulgação

O filósofo Friederich Von Schiller (1759–1805) proferiu a se-

guinte frase: “Para amar a sabedoria, você já tem que ser

sábio”. uma analogia com esta máxima pode servir para res-

ponder o que está faltando para o baiano ter acesso à diversi-

dade cultural. Para valorizar a cultura, você tem que ser culto

em alguma extensão.

Imaginemos um cidadão comum que não teve acesso a

uma sólida formação acadêmica e que está sujeito a uma ex-

tensa e intensa publicidade que não considera a ética como

um critério. O que ele (a) verá na televisão aberta? Big Bro-

ther? Novela? Não tendo igualmente recursos também para

comprar CDs ou DVDs de diversos artistas, ele (a), consequen-

temente, ouve o que se toca nas rádios e demais instâncias

publicitárias do país. Que estilo de música ouvirá com assus-

tadora regularidade? Pagode? Sertanejo?

Se ele (a) olha para a sua comunidade e todos, ou quase

todos, valorizam o que se vê e se ouve nos veículos midiáticos,

seu juízo, em termos do estilo artístico, que é efetivamente va-

lorizado, não terá parâmetros para projetar um desejo de ob-

servar as alternativas e desfrutar de uma extensa produção

cultural já existente no nosso estado.

Ele (a) não irá ao tCA quando houver um espetáculo de

apenas R$1,00. Mas irá ao camarote no carnaval por R$

300,00 ou mais. Ele (a) pagará a perder de vista. Mas fará

isso amarradão(ona) e feliz da vida. Com o tempo, fixa-se nas

cabeças desses pobres, mas felizes cidadãos, a noção de que

tudo o que vai para a tV, para a rádio e demais instâncias

publicitárias é bom por definição.

Portanto, o que não se vê, nem se ouve, não existe ou é me-

nor e não vale tanto quanto. Vejam, por exemplo, os anúncios

atuais de shows de música na Bahia: quase invariavelmente,

a expressão “open bar” figura como protagonista, com os ca-

racteres maiores do que os nomes dos artistas. O que mostra

que as pessoas se relacionam cada vez menos com o resulta-

do estético produzido pelo artista.

Outro aspecto novo é o resultado do impacto das novas tec-

nologias na fruição estética da música per si. Com a chegada do

áudio digital, as formas de ouvir música mudaram, à medida

que rapidamente extinguia-se a empresa fonográfica e, com

ela, um vultoso investimento de gravadoras, causando devasta-

doras consequências na circulação do capital na cadeia de ati-

vidades em torno da música, desde o processo de sua criação

até as formas do consumidor pagar pelo produto música.

Com isso, apelando para o ditado que diz “farinha pouca,

meu pirão primeiro”, vemos que o decimal investimento res-

tante ficou reservado a uma plutocracia artística, dificultando

ainda mais a sobrevivência daqueles que não tocam os estilos

vigentes do mercado. Do ponto de vista do público, tomo o co-

mentário de um amigo, lembrando como nos reuníamos para

apenas ouvir (sem a experiência visual, hoje quase indissoci-

ável) o último lançamento daquele artista de quem gostáva-

mos, enquanto degustávamos o prazer sensorial de tocar, ver

e rever a capa e o encarte do álbum, num processo (ou ritual)

de reflexão e compartilhamento de ideias... Imersos em um

processo de introspecção tão necessário para o crescimento

e desenvolvimento de nós mesmos enquanto GENtE. Encare-

mos os fatos: isso não existe mais.

Agora, completamente imbuído de grande cinismo, apre-

sento dois finais alternativos para esse texto. O primeiro é: o que falta para ter acesso à diversidade cultural na Bahia é

o que sempre faltou ao povo brasileiro: educação pública de

qualidade, o senso crítico decorrente de tal processo e uma

certa dose de vontade de fazê-lo. O segundo é: tudo está em

seu lugar, graças a DEuS. Façam as suas apostas...

Page 33: Revista Plano B #05

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CIDADANIA

Projetos sociais desenvolvidos na capital utilizam o esporte como mecanismo para despertar em

jovens carentes o interesse em educação e no-vas possibilidades profissionais. Mesmo com

poucos recursos, as ações conseguem formar cidadãos e verdadeiros campeões, que tam-

bém passam adiante todo o conhecimento adquirido ao longo dos anos.

tREiNANDoPARA A

VIda tExtO FaBIo FRaNCo

Amante das ondas desde a infância, o surfista João Cerqueira – pra-

ticante da modalidade há mais de 20 anos, foi buscar na garotada

que ficava ociosa pela orla de Salvador a inspiração para a criação

do projeto “Ondina Surf Show”. Com pouco dinheiro, mas com boa

vontade de sobra, João dá aulas para um grupo de aproximadamente

12 jovens, todos os fins de semana. “Já atendemos mais de 300 crianças.

Apesar da grande procura, precisei limitar o número de alunos para dar

uma qualidade maior ao trabalho”.

Do início despretensioso, o Ondina Surf Show conseguiu projetar gran-

des valores no esporte. “O projeto começou com três garotos que estavam de

bobeira na praia tentando surfar com um pedaço de prancha. Quando ofere-

ci uma prancha usada, um deles pediu para que eu os ensinasse as técnicas.

tempos depois, um desses moleques (Adilsinho), participou da seletiva Billabong

Mundial Amador de Surf, em 2005. Fiquei muito feliz, porque naquela época eu

não pensava em trabalhar com o social, foi tudo meio que espontâneo”, conta.

Durante as aulas, a turma também recebe noções

de educação ambiental e cidadania. Para participar

do projeto é necessário estar matriculado na escola

e frequentar regularmente as aulas. “Sou muito ri-

goroso com o lance da escola. Quem não estiver

estudando não pode participar das atividades

do projeto”, sentencia João. Mas o que tira

mesmo o sono do surfista é a falta de investi-

mento do poder público. “O que impede a li-

gação com algum órgão público é a falta de

interesse deles com projetos de trabalho

sócio-educativo. Meu trabalho é total-

mente voluntário e bastante acolhedor

para as crianças, mesmo com as difi-

culdades encontradas”, desabafa.

Acervo Ondina Surf Show

CIDADANIA

Page 34: Revista Plano B #05

34

CIDADANIA

CIDADANIA NO RINgUEtrajetória semelhante teve o lutador

uanderson Carvalho, hoje com 26

anos, que enxergou no Kickboxing a

chance de oferecer um destino melhor

a jovens e crianças carentes de Salva-

dor. Com apenas 16 anos, deu início a

primeira turma do que hoje é o projeto

Operação kickboxing, iniciativa desen-

volvida para inclusão social de crian-

ças, adolescentes e adultos moradores

dos bairros da Liberdade, Barbalho e

Mata Escura.

“Na época, com 16 anos, ensinava

apenas para que meu professor perce-

besse meu desempenho. Meu amadu-

recimento foi rápido e logo me vi em

situações adversas e conflitos. Ainda

muito jovem solucionava problemas fa-

miliares de alunos, envolvimento com

drogas, dificuldades na escola e até

abuso sexual. todos esses fatores in-

fluenciaram na forma de aplicar meus

métodos”, revela o instrutor.

uanderson conta que teve que ven-

cer vários obstáculos para alcançar

bons resultados no projeto, a começar

pelo preconceito em torno do esporte.

“Era complicado lidar com essa situ-

ação, agravada pelo nome da minha

equipe (Associação Desportiva Pit-

bull). Mas com o passar dos anos, nos-

so trabalho se tornou referência e hoje

somos convidados para ensinar em

escolas e espaços sociais. Atualmente

a arte marcial não é foco do meu traba-

lho, e sim um instrumento, pois é muito

difícil, aqui na Bahia, o professor inves-

tir no alto rendimento de um atleta. O

retorno, principalmente para o atleta,

nem sempre acontece. Não há apoio

nem patrocínio”.

Reunindo seus alunos sempre nos

fins de semana em escolas públicas dos

bairros de atuação do projeto, o profes-

sor dedica suas aulas ao ensinamento

de dois estilos de luta (Light Contact e

Full Contact), contando com o acompa-

nhamento de instrutores e professores

« Alguns projetos eliminam alunos que não possuem boas notas, nem bom his-tórico de conduta. É exatamente esse pú-blico que queremos, pois se não dermos oportunidade de inserção desses jovens num contexto social, quem o fará? »

uaNDERsoN CaRValho, lutADoR E iNstRutoR DE KicKBoXiNg

formados no Operação Kickboxing. “Meu maior objetivo sempre foi favorecer a

inclusão social de pessoas carentes através do esporte, desenvolvendo, sobretu-

do, a conscientização dos jovens praticantes sobre o seu papel enquanto cidadão.

Alguns projetos eliminam alunos que não possuem boas notas, nem bom histórico

de conduta. É exatamente esse público que queremos, pois se não dermos oportu-

nidade de inserção desses jovens num contexto social, quem o fará?”, questiona

o professor.

Acervo Ondina Surf Show

Page 35: Revista Plano B #05

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CIDADANIA

BASE NA EDUCAçÃOSe falta apoio de órgãos públicos locais para que projetos baseados no esporte dêem

certo, a situação se inverte quando o incentivo vem de fora do país. No bairro de Pla-

taforma funciona um projeto que mescla reforço escolar e atividades esportivas, tudo

isso com apoio da entidade italiana Fondazione umano Progresso. O Centro Educati-

vo João Paulo II atende (atualmente) cerca de 180 alunos, da 1ª a 6ª série, complemen-

tando o ensino da escola regular (pública, na maioria das vezes) com 3 horas de aula

por dia, além de desenvolver atividades semanais com arte, esporte e informática.

“As atividades desportivas complementam o reforço escolar, que é o nosso foco

principal. Estaremos dando um enfoque mais forte na área esportiva em outubro.

Estamos criando três times de futebol masculino (cada uma de faixa de idade di-

ferente) e três times de handball feminino (seguindo o mesmo critério da idade).

E num segundo momento, facilitaremos a participação em torneios escolares na

cidade de Salvador. Hoje as atividades de esporte acontecem na forma de torneios

de futebol internos, sem o apoio de profissional qualificado”, revela Paola Cigarini,

coordenadora geral do centro.

A ideia de criar uma atividade exclusivamente esportiva nasceu do alto envolvi-

mento dos alunos nas ações propostas pelos professores no horário do recreio. “En-

tendemos que o jogo em time possui muitas conotações educativas: ensina a con-

siderar o outro um recurso, além de criar senso de solidariedade e de competição.

Durante os jogos, agrupamos alunos de

faixas etárias diferentes, justamente

para ensiná-los a respeitar os menores

e para aprender a lidar com todos”.

Assim como tantas outras iniciativas,

o Centro Educativo João Paulo II também

carece de recursos financeiros para se

manter em funcionamento. Paola comen-

ta que os recursos ofertados dependem

de projetos, que são breves e não conti-

nuativos. “Além da dificuldade orçamen-

tária, também é complicado conseguir a

participação da sociedade civil, pois exis-

te uma grande distância entre as realida-

des da cidade de Salvador e nem sempre

é fácil criar pontes. Sem falar que achar

profissionais que topam participar de

trabalhos sociais não é tarefa das mais

fáceis, visto que esse tipo de iniciativa

exige muita dedicação pessoal”.

« o jogo em time possui muitas cono-tações educativas: ensina a considerar o outro um recurso, além de criar senso de solidariedade e de competição »

Paola CIgaRINI

cooRDENADoRA gERAl Do cENtRo

EDucAtiVo JoÃo PAulo ii

Centro Educativo joão Paulo II

Rua 1º de novembro s/n - Plataforma

tel.: (71) 3398-0382

operação Kick Boking

(71) 8892-7240 ou 8146-4621

[email protected]

ondina surf show

(71) 9116-2086 ou 9997-3217

[email protected]

PA

RA A

JUD

AR

Acervo Centro Educativo João Paulo II

Page 36: Revista Plano B #05

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MUSEU

Page 37: Revista Plano B #05

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MUSEU

As imagens de deuses mitológicos, quase sempre celestiais, há tempos povoam a imaginação dos artistas, especialmen-te dos escultores e pintores. O apogeu desse culto ao sagrado aconteceu séculos atrás, mas esse legado não foi esquecido e hoje, peças baseadas na religião cristã, tais como oratórios, santos e crucifixos, se integraram aos acervos de importan-tes museus baianos.

religiosidadeEM ExPOSIçÃO

O privilégio de ser a primeira capital brasileira deu a Salvador mais que desenvol-

vimento social e econômico. Ainda no período colonial, a cidade recebeu milhares

de peças de arte, oriundas do continente europeu, cunhadas com base na estética

religiosa, evidenciando o cuidado com as formas e a nobreza dos materiais utiliza-

dos. Essa migração cultural fez efervescer entre os artistas locais o desejo de criar

seguindo esse conceito. Como resultado, entre os séculos xVI e xVII, a produção

cultural-religiosa baiana alcançou crescimento expressivo entre os artistas sacros

e membros do clero, tais como beneditinos, freiras e monges.

“De maneira geral, as peças de arte sacra produzidas no Brasil seguiram os mes-

mos padrões estéticos adotados na Europa, fato que se justifica pelo processo de

colonização e pelas relações comerciais que foram estabelecidas na época, assim

como, pela implantação do Catolicismo como religião oficial do Brasil. Na Regência

de D. João VI, foram criadas escolas de arte e ofícios na Colônia, as primeiras ins-

taladas no Rio de Janeiro e na Bahia, onde artistas franceses ministravam aulas

para a elite da sociedade colonial e trabalhavam, por encomenda, para as famí-

lias abastadas”, comenta a museóloga e coordenadora do Solar Ferrão, Osvaldina

Cézar Soares.

tExtO FaBIo FRaNCo

Sérg

io B

enu

tti

Page 38: Revista Plano B #05

38

MUSEU

Séculos depois, tais peças deixaram o ambiente restrita-

mente religioso e passaram a compor o acervo de vários mu-

seus locais, espalhados por todo o estado da Bahia. Na capital,

o principal expoente dessa vertente artística é o Museu de Arte

Sacra da universidade Federal da Bahia (MAS/uFBA), localiza-

do entre as ruas com calçamento de pedra do bairro do Dois de

Julho. O próprio edifício onde ficam expostas as peças já reve-

la a riqueza dos elementos religiosos em sua composição, que

tem características renascentistas: o museu está instalado no

Convento de Santa teresa D'Ávila, tombado pelo Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e declarado

“Patrimônio da Humanidade” pela uNESCO, em 1985.

Grande parte dos exemplares expostos no museu per-

tence à Arquidiocese de São Salvador. Datadas dos séculos

xVI, xVII, xVIII e parte do século xIx, as obras apresentam

características do estilo neoclássico e Barroco. “O MAS/uFBA

encontra-se consolidado e reconhecido como um dos mais

importantes museus do gênero nas Américas, não somente

pela sua rara e preciosa coleção de Arte Sacra Cristã, como

também por ela estar abrigada em um dos mais destacados

conjuntos arquitetônicos seiscentistas do país”, pontua a co-

ordenadora do Setor de Exposição do MAS, Edjane Cristina

Rodrigues da Silva.

O Museu de Arte Sacra reúne aproximadamente 5.000

peças, apresentadas em coleções que estão sob sua guarda

pelo regime jurídico de comodato, pertencentes a Igrejas e

Irmandades Religiosas de todo o Estado. Composto por peças

representativas dos séculos xVI ao xx, o acervo está dividido

em categorias: Imaginária, Pintura, Ourivesaria, Mobiliário,

têxteis e Azulejaria, dentre outros.

Longe da capitalFora de Salvador, outros museus também atuam de maneira

a difundir essa tipologia de arte. Na cidade de Cachoeira, o

visitante pode conhecer o Museu de Arte Sacra do Recônca-

vo ou da Ordem terceira do Carmo, com acervo composto por

obras com clara influência oriental. No litoral sul da Bahia

está o Museu de Arte Sacra de Porto Seguro, instalado na

Igreja de Nossa Senhora de Misericórdia, construída no sécu-

lo xVI, e o Museu de Arte Sacra São Jorge dos Ilhéus, situada

na Igreja Matriz de São Jorge, uma das mais antigas do país

e tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da

Bahia (IPAC), onde é possível vislumbrar uma imagem secu-

lar de São Jorge, além de documentos e artefatos dos

séculos xVI, xVII e xVIII.

Ma

theu

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reir

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Sérgio Benutti

Page 39: Revista Plano B #05

39

MUSEU

Outro importante santuário de preservação das artes sa-

cras é o museu Abelardo Rodrigues, situado no Pelourinho. O

acervo – organizado pelo advogado pernambucano Abelardo

Rodrigues, totalizando 808 peças, entre imaginária, oratórios,

telas, crucifixos, entre outros, todos de origem brasileira – foi

alvo de disputa judicial pelos estados da Bahia e Pernambuco,

após a morte de seu fundador. De acordo com documentos da

época, o Governo da Bahia fez uma proposta de compra das

peças e a concretizou junto à família de Abelardo. Contudo, o

então governador de Pernambuco, Eraldo Gueiros, determi-

nou, por meio de decreto, que as peças deveriam ser desapro-

priadas. O embate chegou à justiça e somente em 1975 foi deci-

dido que todo o acervo deveria ficar em terras baianas.

“O Museu Abelardo Rodrigues, assim como as demais

coleções abrigadas no Solar Ferrão (Arte Africana Claudio

Masella, Arte Popular, Instrumentos Musicais tradicionais

Emília Biancardi) é bastante frequentado pelo público e,

pelo caráter didático que apresenta, viabiliza a realização de

atividades educativas com as escolas do Centro Histórico do

Pelourinho e de outras localidades”, avalia Osvaldina Soares.

Matheus Pereira

Page 40: Revista Plano B #05

40

MODA

“Agora até na novela estão colocando. também os canto-

res, vários músicos estão usando. Mas ainda tem gente com

preconceito, metida a dondoca, que acha que trança/dread

estraga o cabelo, que fica fedendo... Quem não lava que fica

fedendo. Isso tudo é história”, dispara Valda.

Há 12 anos nesse ofício, a trançadeira Valda conta que não

teve professor. “Ninguém quer ensinar nada a ninguém. Eu

aprendi sozinha, olhando os outros e fazendo na minha filha.

Naquela época eu não tinha condição de pagar um curso”,

relata sem pudores.

Atualmente, ela arruma uns sete cabelos por dia e conta

que em época de festa, como o carnaval, fica uma fila espe-

rando. “Aí você tem que ser rápida porque é a oportunidade

de ganhar mais dinheiro”, explica a trançadeira, que trabalha

quase todos os dias da semana, das nove horas da manhã até

quase dez da noite, no Pelourinho.

“Aqui a gente vai trançando, olhando quem passa, admi-

rando a paisagem. Meus clientes gostam”, revela. E em se-

guida afirma: “É preciso conquistar o cliente. Se eu pudesse,

botava um cafezinho e fechava para ninguém tomar sol”.

Para fazer um tererê (trancinha decorada com fios coloridos

e miçanga), Valda cobra R$10. Os penteados mais elaborados

chegam a custar R$200. Já para fazer um dread, ela conta: “tem gente que cobra até R$500”.

“Eu achava que por ser Pelourinho seria mais caro. Mas

estava errado. E ela ainda trança bem melhor”, justifica Na-

dson Conceição que, há mais de um ano, sai de Simões Filho

para vir arrumar o cabelo com Valda.

lIVRE E lINDAAos dez anos de idade, Viviane Carvalho começou a alisar o

cabelo. Entre as justificativas estão a facilidade em pentear

as madeixas e a ditadura da moda que aproxima o conceito

de belo ao padrão branco. “tinha a necessidade adolescente

de me afirmar na sociedade”, relembra a fisioterapeuta, que

atualmente trabalha com estética.

Nesse meio tempo, ela já fez de tudo um pouco: perma-

nente afro, tranças com fibra, tintura, relaxamento com gua-

nidina, escova inteligente e progressiva. “Difícil mesmo é

dizer o que eu nunca fiz!”, brinca Viviane. Durante 13 anos,

esteve dependente de salões de beleza e fazia escova e cha-

pinha todos os fins de semana.

“Quando a gente coloca um penteado afro, a gente se transforma”, assim a trançadei-ra Luzinete de Jesus, ou melhor, Valda – que não é seu nome de batismo, mas foi o deseja-do por sua mãe – revela o “Black Power” ou o poder do cabelo afro na afirmação da identi-dade africana e valorização da autoestima.

na cabeçaPOWER

BLACK

MODA

tExtO

FOtOS

MaIaRa BoNFIM

MaRCElo saNtaNaSAlÃO YAlOBÊ

Rua da Paciência, 223

tel: (71) 3321-5301

Page 41: Revista Plano B #05

41

MODA

Vendo o desgaste causado pelos processos químicos e

diante de uma necessidade de mudança, Viviane radicali-

zou. “Sempre dizia que quando terminasse a faculdade iria

cortar meu cabelo, deixar natural, mudar mesmo. E assim eu

fiz”. E acrescenta: “Me sinto quebrando regras. Sou mulher,

negra, fisioterapeuta e de cabelos cacheados. tenho matu-

ridade e personalidade suficientes para ser ‘diferente’”.

Hoje, aos 25 anos, ela está livre da química e vive seu me-

lhor momento. “Meu cabelo mostra exatamente como

me sinto, porque ter uma beleza natural encanta, fas-

cina e ilumina!”.

RASTA, NÃO. MEU CABElO é ENROlADO!Jean Santos, 30 anos, pedagogo, não

corta o cabelo há mais de sete anos, mas

não gosta de ser chamado de rasta. “A

palavra rasta remete ao movimento Ras-

tafári que surgiu na Jamaica em meados

da década de 1920. Eles tinham crenças e

ideologias próprias. Eu respeito a singulari-

dade deste povo, mas penso que aqui nós te-

mos cabelo enrolado ou trançado”, defende

seu ponto de vista.

O pedagogo se queixa que muitas pessoas

fazem associações com os estereótipos que são

difundidos e falam sempre dos mesmos temas na

hora de puxar uma conversa. “Não sou obrigado

a usar sandália de couro, curtir reggae, frequentar

terreiros ou fumar. As pessoas acham que eu sou ca-

poeirista, cantor, dançarino, percursionista ou grafi-

teiro”, pontua.

Jean conta que fica reflexivo quando as pessoas o ‘idea-

lizam’. “Não é porque sou negro e uso meu cabelo assim que

estou limitado a ter uma dessas profissões. Respeito, gosto e

curto o cenário artístico baiano, mas uma parte da humani-

dade vê isso como um produto folclórico da Bahia. Eu tenho

uma identidade, me reconheço como baiano, soteropolitano,

negro e morador de uma localidade periférica. Não sou um

folclórico”, arremata.

drEad amarrado (com cabelo natural ou sintético) e original

(com o próprio cabelo). Podem ser feitos com agulha de cro-

chê ou cera. Ainda podem ser usados fios de lã para decorar.

traNças trançado solto, trançado camaleão (vários dese-

nhos diferentes, rente à raiz) e tiara (mais rápido de fazer).

Page 42: Revista Plano B #05

42

ENTREVISTA Arquivo público

Em 16 de janeiro de 1890, no alvorecer da insta-lação do regime republicano no Brasil, o então governador, Manoel Victorino Pereira, criou o Arquivo Público da Bahia (APB). Tinha como finalidade primeira “[...] recolherem-se, quanto antes, em certo e determinado lugar todos os papéis e documentos históricos, administra-tivos, judiciários, e legislativos deste Estado, disseminados nos diversos arquivos públicos das diferentes repartições [...]”. Atualmente, o APB ocupa a posição de segunda mais impor-tante instituição arquivística do Brasil. Maria Teresa de Britto Matos, doutora em Educação e especialista em Arquivologia, que dirige, há cinco anos, o Arquivo Público da Bahia, é quem fala a Plano B sobre o órgão.

BAHIA

guardIão do PatrIMÔNIo doCuMENtal da

tExtO MaIaRa BoNFIM FOtOS aRCERVo aPB

Page 43: Revista Plano B #05

43

Arquivo público ENTREVISTA

Em termos gerais, qual a principal importância do aPB?

Desde 1890, o Arquivo Público da Bahia é o guardião do

patrimônio documental da Bahia. Ao longo desses 122 anos

foram integrados acervos públicos (dos Poderes Executivo,

Judiciário e Legislativo) e privados. São documentos raros,

manuscritos originais, produzidos à época do Brasil Colonial,

quando Salvador foi sede do Governo Geral do Estado do

Brasil (1549-1763). A condição de capital aliada à localização

geográfica estratégica fez da Cidade do Salvador, também, a

capital do Atlântico Sul, para onde convergiam documentos

oficiais provenientes da Coroa Portuguesa.

o arquivo Público da Bahia possui título de segunda

mais importante instituição arquivística do Brasil, o que

isso significa?

Isso acontece em razão de custodiar um acervo documen-

tal – 25 km aproximadamente – de valor inestimável, sobretu-

do aquele produzido e acumulado ao longo de 214 anos, pe-

ríodo em que a cidade do Salvador foi a sede do governo do

Estado do Brasil, de 1549 a 1763. Os Conjuntos Documentais

“tribunal da Relação do Estado do Brasil (1652-1822)” e “Livros

de Registros de Entrada de Passageiros no Porto da Cidade

de Salvador (1855-1964)” são exemplos da importância do

patrimônio documental custodiado pelo Arquivo Público da

Bahia. Em face dos seus significados, o Ministério da Cultura,

reconheceu a inscrição dos mesmos no Registro Nacional do

Brasil do Programa Memória do Mundo da uNESCO.

sobre a questão da preservação do material, já existe

muita coisa digitalizada?

A digitalização foi institucionalizada no ano passado

(2011), após a aquisição de uma máquina digitalizadora/mi-

crofilmadora, tamanho A0. Até o momento, o percentual de

documentos digitalizados é bastante reduzido.

Existe política de aproximação do público com o aPB?

além de pesquisadores, quem pode se interessar pelos

documentos aí guardados?

Existem ações educativas e culturais que visam sensibili-

zar novos públicos. As ações educativas, com o atendimento

das instituições educacionais, são visitas guiadas que ressal-

tam a importância do acervo custodiado pelo APB para a so-

ciedade, tanto no seu potencial para pesquisa, quanto na sua

utilidade pública. E as ações culturais, notadamente por meio

de exposições virtuais, a exemplo da “Independência do Bra-

sil na Bahia” e “Insurreição de Escravos Malês”.

Acervo guarda

relíquias históricas

como o registro de

imigrantes chegados

à Bahia em 1855

Page 44: Revista Plano B #05

44

ENTREVISTA Arquivo público

um documento lido fora do contexto em que foi criado

pode provocar interpretações errôneas por parte do leitor.

Para equilibrar essa diferença de épocas, existe no aPB

uma política de arquivamento tendo como base a conjun-

tura do período em que os documentos foram preparados?

O acervo custodiado pelo APB/FPC encontra-se organi-

zado em conformidade com o princípio de proveniência,

estabelecido pela teoria arquivística. Os documentos de

arquivo apresentam-se sob inúmeras formas e nos mais va-

riados suportes materiais. Não é o tipo, nem a forma, nem o

conteúdo informativo, que caracterizam um documento de

arquivo, mas sim a sua origem. A proveniência é, portanto,

o elemento mais importante a identificar em um conjunto

de documentos.

Quais documentos do aPB, em sua opinião, podem ser

classificados como os mais importantes?

temos a Coleção de Regimentos Reais, século xVI ao xIx;

a Conjuração Baiana de 1798; os registros sobre captura e pe-

dido de soltura de escravos (século xIx); Dossiê sobre alde-

amentos e missões indígenas (1770-1807); a Independência

do Brasil na Bahia (1822-1823); a Rebelião Escrava dos Malês

(1835); a Revolta da Sabinada (1837); as Falas e os Relatórios

de Presidentes da Província da Bahia; Auto de perguntas da

Revolta de Canudos (1897); Marcas e patentes de fábricas

(1888-1924); além da coleção de periódicos, como o Diário

Oficial do Estado da Bahia (1915-2008), A Bahia (1899-1911), A

tarde (1915-1988), Diário da Bahia (1833-1945), Idade d’Ouro

do Brazil (1821) e O Imparcial (1847-1947).

O Arquivo Nacional realizará de 12 de setembro a 31

de dezembro de 2012, em sua sede no Rio de Janeiro,

exposição comemorativa em homenagem aos 20

anos de existência do programa Memória do Mundo

da UNESCO e aos cinco anos de instalação do Comitê

Nacional do Programa Memória do Mundo. O Arquivo

Público da Bahia / Fundação Pedro Calmon foram

convidados a participar em razão de custodiar dois

conjuntos documentais que estão registrados.

Atendimento presencialSala de Consulta de Manuscritos e Impressos; Sala

de Consulta de Microfilmes e Biblioteca Francisco

Vicente Vianna.

Atendimento à distânciaRealiza levantamento preliminar do acervo nos

instrumentos de pesquisa disponíveis para consulta

presencial.

Atendimento àsinstituições educacionaisSão oferecidas visitas técnicas ou monitoradas.

Transcrição paleográficae emissão de certidõesAtendem demanda para a comprovação de direitos e

esclarecimentos de situações, predominando os pedidos

decorrentes de exigências administrativas e judiciais.

Atendimento e orientação aos órgãos da administração pública direta e indireta do poder executivo estadualOrientação na área da sua especialidade - a arquivística.

Endereço: Ladeira das Quintas dos Lázaros, 50 Baixa

de Quintas

Contato: (71) 3116-2160 | [email protected]

Serviços

Page 45: Revista Plano B #05

45

PATRIMÔNIO

Água que passarinho não bebe... Marvada... Branquinha... Cana... Pinga... Aguardente... Seja qual for o nome, a cachaça já faz parte do imaginário popular e se tornou obrigatória em botecos e restaurantes dos mais sofisticados. E pensar que nas suas origens, esse símbolo nacional era relegado aos animais, em forma de ração, e chegou a ter a venda proibida pela monarquia portuguesa.

TRÓPICOS

tExtO FaBIo FRaNCo

O elixir dos

PATRIMÔNIO

Page 46: Revista Plano B #05

46

PATRIMÔNIO

Criada a partir da moenda da cana-de-açúcar, a cachaça brasileira tem uma

história que se confunde com a própria formação do país. Nos tempos do Brasil

Colônia, a produção açucareira despontou como principal manufatura agrícola,

afinal de contas os portugueses já dominavam a sua exploração em outros ter-

ritórios colonizados. E a bebida típica do novo país surgiu meio que por acaso,

durante o fabrico do açúcar: no processo restava um subproduto, que, depois de

fermentado, ganhava considerável teor alcoólico e era dado aos animais.

Logo os odores e sabores chamaram a atenção dos escravos, que então passa-

ram a consumir o caldo de gosto adocicado (batizado de cagassa, como afirmam

alguns pesquisadores). A notícia se es-

palhou e a cachaça angariava seus pri-

meiros apreciadores.

Mas onde originalmente a cachaça

foi criada? A disputa pelo titulo é acirra-

da: os primeiros engenhos foram ergui-

dos na região Sudeste, inicialmente no

litoral de São Paulo, espalhando-se de-

pois pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais e

Bahia, onde foi instalado o engenho Ce-

regype, o mais importante do período co-

lonial. Em pouco tempo, os engenhos ou

“casas de cozer méis”, como eram cha-

madas, se alastraram por todo o territó-

rio nacional. Era o empurrão que faltava

para a “marvada” cair no gosto popular!

Por consequência do crescimento

do consumo, a fabricação da cachaça

precisou ser melhorada, sendo incor-

porados o alambique e os processos de

filtragem e destilação. Hoje, só para se

ter uma ideia, estima-se que o número

de produtores de cachaça em todo país

ultrapasse a marca dos 40 mil.

“A produção brasileira de cachaça

supera a marca de um bilhão de litros

por ano e a Bahia é o segundo maior

produtor do país. O consumo por aqui

só cresce e muita gente já aprendeu a

apreciar nossa cachacinha”, brinca Ed-

son Souza, bartender especializado em

Mixologia Molecular (processo de cria-

ção de drinques com base em técnicas

da gastronomia molecular, que incluem

combinação e intensidade de sabores,

aromas, texturas, entre outros).

A aguardente produzida por aqui

tem chamado mesmo a atenção dos

apreciadores, principalmente pela qua-

lidade. Quem afirma isso é o comercian-

te José Oliveira, conhecido como Zé,

que trabalha há anos num dos boxes

da Feira de São Joaquim. “Quem mais

compra cachaça baiana é o pessoal do

sul do país. também tem a turma dos

navios, que estão de passagem. Costu-

mo vender em média 20 garrafas por

mês. E olha que a branquinha baiana é

a melhor”, confirma entre risos.

A coloração da cachaça pode mu-

dar a depender do tipo de levedu-

ra utilizada na fermentação e do

material onde foi armazenada ou

envelhecida. Aquelas que não passam pelo

processo de envelhecimento são as chamadas

branca, prata ou amarela (que recebe a adição

de extratos de madeira ou caramelo). Já aque-

las conhecidas como cachaça ouro, incorpora-

ram a coloração da madeira em que estiveram,

após a destilação. O processo é semelhante

ao armazenamento do whisky. E além da co-

loração, a cachaça também acaba adquirindo

aromas e sabores, decorrentes do processo de

envelhecimento nos tonéis de madeira.

Acervo Cachacaria Água Doce

46

Page 47: Revista Plano B #05

47

PURAMENTE NACIONAlOs tempos mudaram e o consumo dessa bebida tipicamen-

te brasileira também. Assim como o whisky, o gin, a vodca

e o rum, o aguardente de cana-de-açúcar se transformou

em objeto de adoração por especialistas e ganhou um ar de

requinte e sofisticação. Prova disso é que foi-se o tempo em

que o termo “cachaceiro” era apenas uma maneira pejora-

tiva para denominar os consumidores. Hoje, esses mesmos

apreciadores são chamados cachaciers (nome inspirado na

palavra sommelier, que denomina os profissionais especiali-

zados em vinhos).

“Comecei a me interessar pela cachaça há muito tempo

atrás. Viajei pelo país para conhecer as variedades da bebida.

Sou daqueles que apostam no produto nacional. tem gente

que prefere whisky, vodca, mas porque não consumir a be-

bida que é genuinamente brasileira? É engano achar que a

cachaça é de segunda categoria. Existem exemplares brasi-

leiros que são vendidos a R$ 500,00 a garrafa. E falo sem

sombra de dúvidas que hoje os principais apreciadores da

cachaça são das classes A e B, pessoas que inclusive montam

bares próprios em casa”, conta Edson.

O advogado Paulo Cesar Freitas, 53 anos, faz parte des-

sa estimativa. Acostumado a bebericar nas horas de lazer,

Paulo reitera que a cachaça baiana não deixa a desejar em

nenhum aspecto quando comparada com destilados de ou-

tros países. “Existem exemplares artesanais que são maravi-

lhosos, mas são pouco conhecidos. Alguns até com produção

orgânica. E também existem detalhes que influenciam no

sabor da bebida, especialmente o terreno e o clima onde a

cana-de-açúcar foi cultivada, além dos locais de armazena-

mento do produto final”.

« Tem gente que prefere whisky, vodca, mas porque não consumir a bebida que é genuinamente brasileira? É engano achar que a cacha-ça é de segunda categoria. Existem exemplares brasilei-ros que são vendidos a R$ 500,00 a garrafa »EdsoN souZa

BARtENDER EsPEciAlizADo EM MiXologiA MolEculAR

Page 48: Revista Plano B #05

48

PATRIMÔNIO

Um fato curioso sobre a cachaça aconteceu na déca-

da de 1630. Com o crescimento do consumo, os pro-

dutores portugueses sentiram-se ameaçados com a

possibilidade do produto nacional ocupar o posto da

bagaceira, uma bebida de origem lusitana, feita do bagaço da

uva. No ano de 1635, por decreto real, foi proibido o comércio

e produção da cachaça, para garantir a exclusividade do con-

sumo da bagaceira. Mesmo assim, a cachaça continuou circu-

lando clandestinamente, tornando-se inclusive moeda de troca

entre os comerciantes.

Em 1659, um novo decreto de proibição foi estabelecido, com

restrições mais severas ao produto nacional. O resultado foi

imediato: em 1660, os produtores do Rio de Janeiro iniciaram

uma revolta que culminou na tomada do governo geral da ci-

dade, fato esse que ficou conhecido como a Revolta da Cachaça.

Um ano depois, em 13 de Setembro de 1661, o decreto foi anulado

e a cachaça foi finalmente legalizada como produto genuina-

mente brasileiro. Para relembrar a data, em 2009, o Instituto

Brasileiro da Cachaça (Ibrac), criou o Dia Nacional da Cachaça,

comemorado no dia 13 de setembro.

qUAlIDADE INDISCUTíVElPara saber se a cachaça é realmente de qualidade, vale partir

do básico, que é a leitura do rótulo. “Ali estão as informações

principais, como origem, processo de fabricação, local de ar-

mazenagem, etc.”. Com o tempo, outra característica funda-

mental a ser avaliada é o sabor. “Normalmente a cachaça de

boa procedência costuma manter o sabor por mais tempo na

boca. também tem a questão da acidez, do aroma, mas so-

mente com o hábito é possível adquirir o paladar apurado”,

sugere o bartender.

E uma informação valiosa surge em meio a conversa: a

melhor cachaça do Brasil é baiana. Em 2011, uma importante

revista de circulação nacional reuniu um grupo de especia-

listas, além de consumidores amadores, que, numa eleição

às cegas, apontaram a Serra das Almas, produzida em Rio de

Contas, na Chapada Diamantina, como a melhor cachaça do

país. “temos outras cachaças de extrema qualidade produzi-

das por aqui, em cidades como Abaíra e Itarantim. Elas ainda

seguem aquele preceito da produção artesanal, com alambi-

ques revestidos com parafina, para não haver alteração de

sabor”, confirma Edson Souza.

Se você ficou com vontade de tomar aquele trago no fim

de semana, vale uma dica importante do nosso especialista

em cachaça. “Para conhecer cachaça boa é preciso curiosi-

dade. Você precisa conhecer a cultura da região na qual a

bebida foi produzida. Cada cidade tem suas particularida-

des, suas técnicas. Vale inclusive viajar e fazer tours por fa-

zendas de produção espalhadas pelo interior. um bom lugar

para começar é pela cidade de A baíra. O pessoal de lá sabe

o que faz”.

Acervo Cachacaria Água Doce

48

Page 49: Revista Plano B #05

49

planoB indica

MÚSICA

Choro do Uirapuru

O grupo Choro do uirapuru, formado

pelos violões de Carlos Chenaud e Rob-

son Barreto, pelo saxofonista Marcelo

Bagano e pela cantora e pandeirista Ana

tomich, se apresenta na Varanda do SESI

com o melhor do samba e do choro ins-

trumental. Os músicos trazem um reper-

tório inspirado no melhor do cancioneiro

nacional, com destaque para canções

como “1 x O” de Pixinguinha, “São Jorge”

de Hermeto Pascoal, “Alma dos Violinos”

de Alcir Pires e Lamartine Babo, e “Você

Abusou” de Antonio Carlos e Jocafi.

Varanda do sesi - rio Vermelho

27 de setembro, às 22h

r$ 10

SHOw

III CACHOEIRADOC

ExPOSIçõES

Capoeira – luta, dança e jogo da liberdade

Entre 04 e 08 de dezembro, acontece no

Centro de Artes, Humanidades e Letras

(CAHL), da universidade Federal do Re-

côncavo da Bahia, a terceira edição do

Festival de Documentários de Cachoeira.

Com foco em documentários de curta,

média e longa-metragem, produzidos a

partir de 2011, o evento abrigará quatro

exibições – Mostra Competitiva Nacional,

Mostra Competitiva Bahia, Mostras Es-

peciais, Ciclo de Conferências e Oficinas.

Centro de artes, humanidades e le-

tras (Cahl)

04 a 08 de dezembro

[email protected]

gratuito

A mostra itinerante “Capoeira – luta, dança e jogo da liberdade” apresenta fotografias

de André Cypriano, fruto de uma pesquisa para o livro homônimo – com textos de Ro-

drigo de Almeida e Letícia Pimenta – lançado em 2009. Os trabalhos resgatam a histó-

ria da capoeira, desde seu surgimento no Brasil Colonial até os dias de hoje, ressaltan-

do aspectos de promoção e valorização da cultura nacional, além de sua função de

agregação social. A exposição é composta por 40 fotografias, além de 10 ilustrações

(de autoria de Debret e Auguste Earle, entre outros) e de textos explicativos.

solar ferrão

até 30 de setembro

gratuito - acesso para deficientes físicos

TEATRO

Ópera Carmem

Entre os dias 13 e 17 de setembro, o

tCA recebe a ópera “Carmem”, do

compositor francês Georges Bizet, em

celebração aos 30 anos de fundação

da Associação Lírica da Bahia (ALBA).

A montagem mantém texto original e

aborda a história de uma bela cigana

que enxerga o amor e a paixão como

sentimentos livres. Carmen é vivida

pelas mezzo-sopranos Aurhelia Varak

(França) e Mere Oliveira (São Paulo). O

cast conta com 15 solistas e um elenco

formado por quase 200 pessoas.

teatro Castro alves

13 a 17 de setembro

r$ 50,00 (inteira) e r$ 25,00 (meia)

Foto divulgação Foto divulgação Foto divulgação

Foto divulgação

Page 50: Revista Plano B #05

50

OPINIÃO

Netnografia:o estudo da influência do consumidor 2.0Pedro CordierFormado em Marketing, Pós-Graduado em

Jornalismo Digital e Especialista em Comunicação,

Criatividade e Conectividade. CEO da Startup

Equilibra Digital, apontado como "o melhor perfil

de Profissional de Comunicação no twitter", pelo

site Midiatismo | @PedroCordierArquivo pessoal

Com o crescimento e a evolução do mercado digital, as em-

presas estão começando a perceber que a internet não é um

modismo passageiro. Muito pelo contrário! Faz-se necessário

aprofundar o conhecimento sobre essa revolução nos hábi-

tos, gostos, culturas e, até mesmo, das crenças do novo con-

sumidor. Enquanto algumas empresas ainda parecem estar

paralisadas diante de tamanhas mudanças, outras já estão

buscando monitorar e, principalmente, entender o que está

se falando a respeito da sua marca, seus produtos e serviços,

além, é claro, do que está sendo dito sobre a concorrência.

A evolução natural de todo esse processo (que iniciou por

volta de 1970 e começou a alcançar a população em 1990,

quando tim Bernes-Lee desenvolveu a World Wide Web, pos-

sibilitando a utilização de uma interface gráfica e a criação

de sites mais dinâmicos e visualmente interessantes) trouxe

novas possibilidades de análise e, junto com elas, surgiu a

Netnografia, que, segundo a Wikipedia, “é o ramo da Etnogra-

fia que analisa o comportamento de indivíduos na Internet”.

Através do método netnográfico, as conversas nas redes

sociais online são analisadas para que o sentimento e o com-

portamento de um determinado público, em relação a um

assunto específico (marca, serviço, produto, tema), seja cons-

truído, gerando uma fonte de inteligência para as empresas.

A comunicação, criatividade e conectividade que pulsam nos

ambientes digitais online, evidenciam as possibilidades de

colaboração e aprendizado coletivo. Por isso, esses ambien-

tes são bastante propícios para encontrar pessoas reunidas

em prol de interesses comuns. O Orkut, por exemplo, ainda

sobrevive graças às milhares de comunidades que ainda con-

centram atividades intensas sobre marcas, eventos, artistas e

comunidades de interesses comuns.

Além das redes sociais mais “tradicionais”, como Orkut

e Facebook, começam a surgir diversas outras redes como o

Instagram (fotografia) e o Pinterest (imagens), que agregam

interesses de pessoas sobre os mais diversos assuntos, tendo

como ponto em comum, o estímulo visual. Outro hábito bas-

tante inerente ao estudo netnográfico é a motivação que as

pessoas têm em discutir a informação e a compartilhar suas

percepções (interesses, dúvidas, sugestões, preferências e in-

satisfações) sobre ela. O grau de conhecimento dessas pes-

soas e o conteúdo proveniente desse compartilhamento de

ideias é tamanho, que chega ao ponto de superar o próprio

conhecimento dos desenvolvedores dos produtos.

A UTIlIzAçÃO DA NETNOgRAFIA Se uma empresa deseja realizar um estudo netnográfico,

deve definir o tema para a investigação e o objetivo para a

pesquisa. Ao lançar um novo aplicativo na área de música,

por exemplo, pode definir como tema de investigação, a uti-

lização desse aplicativo pelas pessoas e buscar comentários

e opiniões sobre o assunto em fóruns, blogs especializados e

em menções nas redes sociais online.

A netnografia tem um grande potencial para fornecer

informações interessantes que podem culminar em insights

para a estratégia de comunicação e atuação de uma marca

no ambiente digital e, até mesmo, no mundo dos átomos. Se a

sua empresa ainda não percebeu o potencial colaborativo e o

poder de compartilhamento do consumidor 2.0, é bom enco-

mendar uma boa pesquisa netnográfica e começar a prestar

atenção nesse “pequeno detalhe” que está fazendo toda a

diferença no resultado de negócios dos mais diversos tama-

nhos e áreas de atuação. #FicaDica

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