revista plano b #05
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A Revista Plano B #05 mostra a arte do teatro de bonecos e seu papel na cultura popular, o poder rejuvenescedor da pintura, a grandiosidade da arte sacra, e muito mais.TRANSCRIPT
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Artes VisuaisIdosos descobrem o
poder rejuvenescedor da
pintura e mudam de vida
MuseuPeças de origem sacra
revelam a grandiosidade
artística dos séculos XVI,
XVII e XVIII
TE
AT
RO
DE
BO
NE
CO
S
ANO 1 N° 5 Agosto 2012
O entendimento geral a cerca do papel da arte enquanto
instrumento de representação da sociedade, atualmente se
confunde com outra característica que tem chamado a aten-
ção dos estudiosos: o poder da arte como fator de mobilidade
social. Da música erudita ao teatro, todas as representações
culturais têm se mostrado como facilitadoras no processo de
inserção de novos públicos.
Bons exemplos disso são iniciativas que se apropriam de con-
ceitos próprios da educação, da cidadania, permitindi tanto aos
expectadores, quanto aos criadores, a possibilidade de intera-
girem dentro do universo da cultura. Isso tem ocorrido através
de oficinas, workshops, bate-papos, que permitem um fluxo
cada vez mais intenso de informações, amplificando o conhe-
cimento necessário para a democratização da nossa cultura.
Essas ações afirmativas superam a regra geral da “falta de
recursos” e da “dificuldade de acesso a cultura”. Mas será
que é possível continuar, a longo prazo, somente com boas
intenções, visto que os investimentos (da iniciativa privada
e do poder público) são imprescindíveis para a formação de
uma sociedade sábia e culturalmente
desenvolvida? Será que essas políticas,
fomentadas por membros da sociedade
civil, serão suficientes para quebrar a
barreira do senso comum, proporcio-
nando um avanço intelectual a inúme-
ros brasileiros?
Faltam aparatos para que as ações sócio-
-educativas não fiquem apenas no papel
ou que tenham curta duração. Assim
como uma boa leitura, um espetáculo
teatral ou um concerto musical requer
imaginação e conhecimento por parte do
espectador, da mesma forma, o acesso à
cultura requer, na maioria dos casos, ape-
nas interesse e vontade de fazer aconte-
cer. 2012 é um bom ano para refletir so-
bre isso (teremos eleições em breve).
Boa leitura
CoNsElho EDItoRIal GuAxE PRODuçõES E PIPA COMuNICAçãO CooRDENação dE PRoDução GuAxE PRODuçõES E PIPA COMuNICAçãO
atENDIMENto CoMERCIal BRuNO CÁSSIO LEAL E CARLOS DE MIRANDA (71) 3381-4656 | [email protected] RElaçÕEs PÚBlICas KAuANNA
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ExPEDIENtE
EDIção AGOStO 2012
tIragEM 5.000 ExEMPLARES
DIStRIBuIçãO GRAtuItA
CAPACompanhias teatrais apostam na poética da manipulação de bonecos para
alcançar novos públicos
PATRIMÔNIOSímbolo da identidade
nacional, a cachaça
ganha status de
bebida Premium
MÚSICACom pitadas
eletrônicas e sinfonias,
grupos musicais dão
nova cara ao pagode
PROFISSÃOConheça o roadie, o
profissional que atua
nos bastidores dos
espetáculos
MODACabelos afros sugerem
retomada às origens
e fortalecimento da
cultura africana
ENTREVISTAMaria teresa
Matos descreve a
importância histórica
do Arquivo Público
TURISMOCairu, onde belezas
naturais se confundem
com a história secular
do Brasil
OPINIÃOSerginho aposta
na educação para
garantir o acesso do
povo à cultura
MUSEUInstituições baianas preservam vasto acervo de
peças com temática religiosa
ARTES VISUAISEntre tintas e telas, pessoas da terceira idade
recuperam o prazer de viver
CIDADANIAProjetos formam
jovens cidadãos
através do esporte
OPINIÃOPedro Codier explica
o que é Netnografia
e sua aplicação no
mundo vistual
planoB indicaConfira nossas
sugestões sobre o que
rola pela Bahia
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ARTES VISUAIS Arteterapia
Aos 66 anos, Aldinho Mendonça se sente mais leve, mais jovem e mais paciente de-pois que começou a se dedicar integralmen-te à pintura. Mais que um hobby, a paixão pelos pincéis e telas se transformou numa terapia rejuvenescedora!
tExtO PIEtRo RaÑa FOtOS MaRCElo saNtaNa
ARTES VISUAIS Arteterapia
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Arteterapia ARTES VISUAIS
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ARTES VISUAIS Arteterapia
tudo começou na Península Itapagi-
pana, em Salvador, onde nasceu. Aos
13 anos, Aldinho Mendonça deu sua
primeira prova pública de talento, pin-
tando um painel na fachada de uma
casa, retratando pontos turísticos de
Salvador de uma forma bem particular.
“Essa casa fica na Cidade Baixa e até
hoje a fachada está lá do jeito que eu a
pintei”, conta. Do painel passou a artes
em camisetas, depois desenhos de rou-
pas, design em sacolas e muitas outras.
“Eu acho que já nasci com o dom. Nunca
tomei curso, sou autodidata”, explica o
jovem senhor de 66 anos, que esbanja
simpatia e simplicidade.
Quando o assunto é a profissão,
Aldinho mostra personalidade: é ad-
mirador de nomes consagrados como
Carybé, Carlos Bastos, Genaro Carva-
lho, Calasans Neto e conta que em suas
obras, gosta de falar da Bahia sem cair
no lugar comum. “Sempre pinto ima-
gens que falem alguma coisa da Bahia,
mas nada do tipo capoeira, berimbau
e acarajé”.
Morando na Barra desde os 19 anos,
Aldinho resolveu há apenas três anos
se dedicar inteiramente às artes. “Não
queria perder esse dom. Considero que
foi uma espécie de renascimento para
mim. Eu me sinto mais leve, mais bonito,
mais acessível e mais paciente. Espero
que essa adolescência perdure bastan-
te”, brinca. Do primeiro painel pra cá,
muita coisa mudou! Mas a certeza de
que a arte é um meio de inclusão e de
promoção de qualidade de vida, se for-
talece a cada dia.
« Não queria perder esse dom. Considero que foi um renas-cimento pra mim. Eu me sinto mais leve, mais bonito, mais acessível e mais paciente. Espero que essa adolescência per-dure bastante »
aldINho MENDoNça, ARtistA Plástico
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Arteterapia ARTES VISUAIS
ExPOSIçÃOEsbanjando saúde e bem estar após ter
decidido viver em parceria com a arte,
Aldinho Mendonça se prepara agora
para expor seus trabalhos em Brasília.
Para a mostra, ele está selecionando
algumas obras que já apresentou em
Salvador, em setembro de 2011, quando
expôs 48 pinturas em óleo sobre tela,
no Palacete das Artes Rodin Bahia. “Fiz
uma coletiva no Rodin e fui muito bem
aceito. A crítica foi favorável e agora
estou selecionando algumas peças
para levar a Brasília. A expectativa é
a melhor possível. Vou mostrar mais
da Bahia”. Para a exposição na capital
federal, Aldinho antecipa que levará
peças da homenagem que fez aos ar-
tistas baianos das décadas de 1940 e
1950, além de outras que retratam an-
jos barrocos.
ARTETERAPIAQuando fala em “adolescência que perdure”, Aldinho ri e brinca. Mas a brincadei-
ra tem um fundo de verdade! De acordo com a psicóloga Janine Soub, “a arte pode
ser usada como uma ferramenta terapêutica, pois revela potencialidades criati-
vas da pessoa, além de ser um recurso para expressão de suas produções subje-
tivas”. Janine trabalha há aproximadamente cinco anos no Centro de Referência
Estadual de Atenção à Saúde do Idoso (CREASI), que é um centro de especialidade
geriátrica e gerontológica vinculado à Secretaria de Saúde do Estado da Bahia.
“Manter-se ativo é a principal recomendação para a qualidade de vida e o bem
estar do idoso”, completa Janine, confirmando que a postura de Aldinho é mesmo
positiva e rejuvenescedora.
E o melhor de tudo: a arteterapia na terceira idade ajuda também a pessoas em
tratamento de doenças. “Os benefícios estão na descoberta de potencialidades que
muitas vezes não acreditamos existir, algumas suprimidas pela própria condição
de adoecimento. Sabe-se que a arte nos ajuda a enfrentar medos e angústias, como
via simbólica da expressão de nossa subjetividade. Não à toa, é utilizada como um
dispositivo terapêutico na saúde mental. Na arteterapia com idosos, por exemplo,
podemos observar que existe um mundo possível após o luto, a aposentadoria, as
perdas físicas e sociais do envelhecimento, aspectos que o idoso enfrenta nessa
etapa da vida, servindo-se de um recurso terapêutico para a manutenção de suas
capacidades”, conclui a psicóloga.
Para conhecer o trabalho de aldinho
Mendonça, basta ir até o ateliê do artista.
fica na rua teixeira leal, Edifício Embaixa-
dor, na graça, em salvador. o contato é (71)
8844-2212 ou [email protected]
Para saber mais sobre o trabalho desen-
volvido pelo Centro de referência Estadu-
al de atenção à saúde do Idoso (CrEasI),
basta acessar www.saude.ba.gov.br/creasi
ou ligar para (71) 3270-5757. a sede do CrE-
asI fica na av. aCM, s/n, Ed. Prof. dr. josé
Maria de Magalhães Netto, no Iguatemi.
Os estudos atuais na área mostram
que os novos desafios ao longo da
vida estimulam cognitivamente, con-
tribuindo para o desenvolvimento de
habilidades, com aumento e/ou manu-
tenção das capacidades funcionais do
ser humano, o que pode se caracteri-
zar como um fator atenuante nas per-
das decorrentes do processo de enve-
lhecimento. “Aprender algo na velhice
também nos mostra que o desenvolvi-
mento humano é um devir constante”,
diz Janine.
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MÚSICA inovação no pagode
CHÃO
Não vale descer
até o
Em meio a uma crise existen-cial, o pagode baiano apre-senta novos artistas que ten-tam desmistificar o caráter apelativo e puramente se-xual das composições, com a inclusão de sonoridades mo-dernas e tratando de temas mais próximos ao cotidiano dos jovens da periferia.
tExtO FaBIo FRaNCo
Marcelo Santana
Foto divulgação
13
inovação no pagode MÚSICA
« O pagode infelizmente não é tratado como merece e decidimos mostrar toda a sua riqueza. Criou-se uma cultura de co-piar o que dá certo e as bandas começam a criar uma homogeneidade (...) Nós so-mos essencialmente diferentes, pois bus-camos fugir dessa mesmice »
Originalmente criado no Rio de Janeiro para designar o sam-
ba que acontecia no melhor estilo “fundo de quintal”, o pa-
gode migrou para os bairros da periferia de Salvador, onde
encontrou terreno fértil para se adaptar e despontar, na últi-
ma década, como o ritmo preferido dos baianos. talvez pela
levada simples, recheada de percussividade, ou pelas compo-
sições do tipo “chiclete”, essa manifestação musical ocupou
o espaço que antes era de domínio exclusivo da Axé Music.
A nova onda se espalhou pela capital e elevou ao status de
estrelas nacionais vários dos músicos que atuavam na divul-
gação do ritmo. Com o crescimento, o foco de atuação mudou: se na sua origem o pagode trazia uma levada mais romântica
e social, atualmente é alvo constante de críticas pelo caráter
ofensivo das composições, pelas coreografias com contexto
sexual e, acima de tudo, por denegrir a imagem da mulher.
O assunto é tão polêmico que foi alvo de investida de legis-
ladores para o não financiamento, com dinheiro público, de
shows com grupos musicais que tratam a mulher de maneira
discriminatória.
Nesse cenário conturbado, alguns nomes têm apostado na
inovação para eliminar um pouco da descrença que envolve
o pagode baiano, a exemplo da Mr. Bobby, banda que nasceu
no bairro de Cajazeiras, sob a batuta do músico Bobby. Ape-
sar de trabalhar com as raízes primordiais do pagode (sensu-
alidade e bom humor), o grupo nutre uma preocupação com
a sonoridade e, principalmente, com aquilo que está sendo
transmitido para o público.
“Costumo dizer que nós viemos para quebrar paradig-
mas. O pagode infelizmente não é tratado como merece e
decidimos mostrar toda a sua riqueza. Criou-se uma cultura
de copiar o que dá certo e as bandas começam a criar uma
homogeneidade, mas infelizmente voltado para um lado que
deprecia o ritmo. Nós somos essencialmente diferentes, pois
buscamos fugir dessa mesmice”, alfineta.
BoBBY, VocAlistA DA MR. BoBBY
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MÚSICA inovação no pagode
PAgODE COM ORqUESTRASe a ideia é inovar, o trombonista Hugo San foi muito mais radical. Integrante da
Orkestra Rumpilezz, que por si só já provocou uma reviravolta em toda a música
baiana, o instrumentista resolveu pincelar seus conhecimentos em música clássica
com a levada do pagodão. O resultado disso é a Sanbone Pagode Orquestra, projeto
criado em 2009 com a participação de 25 músicos e que pretende popularizar a
música erudita. “Nosso grande propósito é oferecer música de boa qualidade e des-
pertar no público o gosto pela música erudita, utilizando o apelo essencialmente
popular do pagode, enquanto gênero musical. Acreditamos que o pagode (Samba),
é tão bom quanto as sinfonias, rondós, concertos, óperas, jazz e qualquer outra ma-
nifestação musical”.
Hugo vê no pagode mais que um ritmo musical. O maestro defende que essa
linguagem tornou-se o meio ideal para levar a música erudita para outros públicos.
“Nossa sociedade, aquela que vive nos guetos, não tem a oportunidade de conviver
e apreciar estas iniciativas e decidir se gosta de um ou de outro estilo. O leque de
opções é muito limitado e a escolha acaba se tornando óbvia. Assim, considerando
o pagode como elemento facilitador, por ser um dos produtos musicais mais consu-
midos pela faixa de público que se quer atingir (jovens em situação de vulnerabili-
dade social e restrição de conhecimento), criamos um cenário propício à ‘sedução’
desse público para o contato e consequente familiarização de uma música que, ao
tempo em que não se afasta do seu universo habitual, traz elementos totalmente
novos e qualitativamente superiores”.
Com participações em festivais como Mercado Cultural e Origem da terra, a
banda já colhe os primeiros frutos: a composição ‘Sinfonia Primeira de Pagode’,
foi premiada no Festival de Música da Educadora FM e no Festival Nacional de
Música da Associação de Rádios Públicas do Brasil. “Após algumas apresentações,
percebemos que o público responde de maneira positiva e entra na nossa viagem
Sobre a incorporação de outros ele-
mentos no repertório, Bobby pontua
que já havia realizado experimenta-
ções, mas ninguém tinha levado isso
muito a sério. “Essa ideia é antiga, mas
tornou-se mais nítida quando um ami-
go meu veio dos EuA. tudo começou
a criar corpo com a ajuda de Nilsinho
Leão. Pesquisamos, criamos e tenta-
mos aplicar num projeto antigo, mas
não deu certo. Continuei estudando e
resolvi criar a Mr. Bobby, assim a ideia
deixou de ser uma ‘maluquice’ e se
transformou numa realidade que vem
dando certo”.
Na linha de frente, Bobby divide os
vocais com Nilo Ramos e com o DJOY
Felipe, um DJ que comanda o som atra-
vés de um joystick. “Quando qualquer
pessoa escuta a palavra DJ, automatica-
mente pensa em um cara com pick-ups,
mixer e notebook. Aí mora a surpresa,
quando se deparam com um cara com
um joystick. Meu irmão faz o papel de
DJOY, controlando e fazendo monta-
gens ao vivo nos nossos shows”, explica
o vocalista.
Marcelo Santana
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inovação no pagode MÚSICA
« Nosso grande propósito é oferecer música de boa qualidade e despertar no público o gosto pela música erudita, uti-lizando o apelo essencialmente popular do pagode, enquanto gênero musical »
hugo saN, cRiADoR dA sANBoNE PAgoDE oRquEstRA
musical, assim como nós, que estamos em cima do palco. Existe uma sintonia entre
orquestra e público que nos leva a crer que o nosso propósito está sendo plenamen-
te atingido”.
Sobre o fato de trabalhar prioritariamente com um estilo musical tão marcado
pelas críticas, Hugo usa da sensibilidade artística para resgatar a verdadeira es-
sência do pagode, que em sua opinião reside no “agrupamento de pessoas para
fazer e ouvir boa música”. Para que essa formula dê o resultado previsto, o maestro
se inspira em nomes como Villa Lobos e Arthur Moreira Lima, que também se uti-
lizaram da cultura popular para difundir a música erudita nacional, e, acima de
tudo, defende uma mudança estrutural
nas camadas sociais através de uma po-
lítica educacional forte.
“Acreditamos que a mudança só acon-
tecerá através da educação e o nosso
instrumento para isso é a música. É pre-
ciso que a base seja consistente. Quere-
mos levar a nossa música também para
aquelas pessoas, notadamente de cama-
das sociais mais baixas, para as quais o
acesso ao conhecimento e à informação
se restringe ao que a grande mídia im-
põe, formando um ciclo vicioso segundo
o qual não se permite o alcance de um
panorama mais amplo de informações e
saberes a uma parte da população, que,
por sua vez, vai progressivamente se
afastando e se desinteressando por no-
vos níveis de conhecimento, tornando-se
reféns”, desabafa Hugo San.
16
TURISMO cairu
Paraíso Cultural no Baixo Sul
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cairu TURISMO
Baixo SulÚnico município arquipélago do Brasil e um dos mais antigos do país, Cairu é palco de ricas manifestações culturais, que o tornam historicamente singular. O Reisado, uma dança de origem portuguesa, é um dos destaques.
tExtO PIEtRo RaÑa FOtOS aCERVo PREFEItuRa DE CaIRu
cairu TURISMO
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TURISMO cairu
Quando se fala em Cairu, muita gente pensa imediatamente
em Morro de São Paulo. De fato, a ilha, que faz parte do mu-
nicípio localizado há 308 quilômetros de Salvador, é um dos
destinos mais lembrados por brasileiros e turistas de todo o
mundo. Praias de águas cristalinas, uma vila movimentada
com bares, barracas de bebidas, muita música, agito e paque-
ra. Mas existem muito mais atrativos culturais espalhados
pelo município.
Cairu, que em tupi Guarani quer dizer Casa do Sol, é um
município-arquipélago fluvial, composto por 36 ilhas e situ-
ado na bacia do Rio una, que possui construções históricas
como a Igreja e o Convento de Santo Antônio – o mais impor-
tante monumento arquitetônico da Ordem Franciscana, um
dos primeiros do Brasil e marco do Barroco brasileiro – data-
dos de 1654; a Igreja de Nossa Senhora da Luz, com imagens
sacras e seus altares de cedro em estilo barroco dos séculos
xVII e xVIII. Sem falar nas três bicas da Fonte Grande, tomba-
das pelo Patrimônio Histórico em 1943.
Além de edificações antigas, que a torna especialmente
única, a cidade respira cultura nas manifestações de rua.
Reinado, Chegança, Congos, Barquinha, Marujada, Dendo-
ca... esses são apenas alguns dos grupos de arte popular que
alimentam o folclore local e preservam
tradições seculares, fazendo bonito
diante de baianos, brasileiros e estran-
geiros. Outro grande destaque é a Filar-
mônica do Centro Popular Cairuense,
que contabiliza 100 anos de história.
Cercada por manguezais, a cidade
reserva bons pontos de mergulho, em
especial nas Pedras da Benedita, tati-
ba e tatimirim, localizadas, respectiva-
mente, a cinco, sete e três milhas da cos-
ta. Com extensão de 452,9 quilômetros
quadrados, o município tem população
aproximada de 15 mil habitantes (Senso
IBGE 2010), número que chega a tripli-
car na alta estação. A atividade econô-
mica da localidade está baseada na pes-
ca, na agricultura e, principalmente, no
turismo. Para acolher seus visitantes,
possui uma infraestrutura hoteleira
com cerca de 300 hotéis e pousadas, e
mais de 20 mil leitos.
Festejos com
conotação religiosa
resgatam tradições
de séculos passados.
19
cairu TURISMO
Além de edificaçõesantigas, que a torna especialmente única, a cidade respira cultura nas manifestaçõesde rua.
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20
TURISMO cairu
REISADO DE SÃO BENEDITO UMA CElEBRAçÃO DA CUlTURAtodos os anos, o dia 09 de janeiro é dedicado ao Reisado de
São Benedito, festa em louvor ao padroeiro da cidade, que é
uma tradição desde os tempos do Brasil Império. Rica em sin-
cretismo religioso, onde gente simples vira rei, com vestimen-
tas abundantemente adornadas com miçangas e lantejoulas,
e os negros relembram através da dança seus antepassados,
simulando o combate entre mouros e cristãos.
Para conservar a tradição centenária, a administração
municipal de Cairu prepara sempre uma programação espe-
cial para o Reisado, que começa com uma missa solene em
louvor ao padroeiro na Igreja Matriz de Nossa Senhora do
Rosário. A celebração atrai moradores e turistas em agradeci-
mento aos feitos do santo protetor. Além da programação reli-
giosa, a festa conta também com a apresentação de diversos
grupos folclóricos da região, animando as ruas e praças da
cidade, gratuitamente.
Depois da cerimônia eucarística, os grupos de cultura
popular Reinado, Chegança, Congos, Barquinha, Marujada
e Dendoca desfilam pelas ruas da cidade, mostrando todo o
seu colorido e musicalidade, seguidos pela filarmônica. Du-
rante a celebração do Reisado, outras manifestações cultu-
rais da região, como a Fanfarra de Cairu, grupos de capoeira
e puxada de rede Samba Nossa Senhora da Penha, o Samba
Quilombola, o Zambiapunga e o Boi Malhado também abri-
lhantam a festa. O ponto alto da programação é a tradicional
descida da bandeira de São Benedito, que ocorre na praça
central da cidade, em frente ao centenário Convento de San-
to Antônio.
reisado rei.sa.do
sm (reis+ado) Dança popular profano-religiosa de ori-
gem portuguesa, com que se comemora a véspera e o Dia
de Reis. também conhecido como Folia de Reis, o festejo
instalou-se no Brasil no período colonial. Atualmente é
dançado em qualquer época do ano e os temas variam de
acordo com o local e a época em que são encenados. Amor,
guerra e religião são os mais comuns. O Reisado se com-
põe de várias partes e tem diversos personagens como o
rei, o mestre, contramestre, figuras e moleques. Os instru-
mentos que acompanham o grupo são violão, sanfona, za-
bumba, triângulo e pandeiro.
22
PROFISSÃO
Os roadies se valorizaram e provaram seu profissionalismo, mostrando que são muito mais do que meros carregadores de equipamentos. Esses profissionais atualmente passeiam por diferentes funções e são considerados verdadeiros magos que ajustam as engrenagens para que os grandes artistas se apre-sentem ao público.
Sabe aquele show perfeito que você assistiu, daquele artista que você é fã?! E aque-
la peça de teatro do tipo “megaprodução” que esteve em cartaz e foi linda?! Sabe
quem estava lá e, mesmo sendo tudo impecável, você não percebeu? Pois é... o roa-
die. Ele é o personagem que quase sempre passa despercebido, mas é indispensá-
vel para que os aplausos venham no final de qualquer espetáculo artístico.
O nome é meio estranho, mas se justifica bem. A expressão vem do inglês Road,
que quer dizer estrada, associada à terminação diminutiva “ie”. Seria, ao pé da le-
tra, algo como “estradinha”. É uma apologia ao fato de os roadies estarem sempre
nas estradas, durantes as turnês de
grandes artistas nos Estados unidos e
na Europa, nas décadas passadas. Nes-
se tempo, a função primordial era car-
regar equipamentos e montar toda a
aparelhagem nos palcos. O tempo pas-
sou e o sentido mudou...
“Hoje o roadie pode e deve ser res-
ponsável por tudo! Pode chegar a fazer
a Direção de Palco”, explica Jefferson
Rasta, que hoje é roadie do grupo Cabe-
ça de Nós todos, mas que na bagagem
tem 14 participações Festival de Verão,
16 no PercPan e apresentações ao lado
de nomes nacionais e internacionais,
como Gilberto Gil. “O roadie é o primei-
tExtO PIEtRo RaÑa FOtOS josÉ sIlVa E arQuIVo PEssoal jEFFErsoN Rasta
PRotAgoNistAs do
SUCESSO
23
PROFISSÃO
ro a chegar e o último que volta para casa. Ele se prepara para
o show, administra o equipamento, segue o mapa, aguarda o
horário do show e depois desmonta tudo e deixa no estúdio”.
ROTINA PESADAO ponto de vista é ratificado por outro grande personagem
dessa história, o roadie Antônio Carlos dos Santos, mais co-
nhecido como Cobra. “um roadie tem que ter habilidades es-
pecíficas. Precisa saber afinar e tocar os instrumentos, para a
passagem de som; precisa saber como funcionam os equipa-
mentos; saber que tipo de microfone é melhor para cada ins-
trumento e por aí vai. É um trabalho que exige muita atenção,
muita inteligência e muita tranquilidade”.
Há 14 anos na profissão, Cobra conta um pouco de sua his-
tória. “Meu irmão era percussionista da banda tiete Vip´s e
na época ele sempre contava sobre a rotina. Eu, muito curio-
so, resolvi acompanhá-lo e fiquei encantado com o dia a dia.
Resolvi então ser um roadie. Pedi demissão da empresa que
trabalhava e me joguei”, explica Cobra, que há quatro anos é
roadie da banda Seu Maxixe, chamando a atenção para um
fato que nem todos atentam. “O trabalho do roadie não é im-
portante apenas no momento do show, mas em todos os mo-
mentos de uma banda. temos que estar sempre nos ensaios
e também em apresentações como rádio, tevê e também nas
famosas canjas”, conta.
No Brasil, a profissão tem apenas 50 anos, mas definitiva-
mente cresceu. Dos grandes grupos até artistas de barzinho,
hoje todos contam com pelo menos um roadie para auxiliar e
viabilizar as apresentações. E para quem quer seguir a área,
já existem cursos profissionalizantes. A dica fundamental, se-
gundo Rasta, é simples: “batalhe, seja pontual e lembre-se de
tudo (supermemória)”.
PROFISSÃO
26
CAPA teatro de bonecos
27
teatro de bonecos CAPAteatro de bonecos CAPA
Técnica apurada e muita dedicação são elementos im-prescindíveis para quem trabalha com a manipulação de bonecos no teatro. Atuando para a plateia através de um personagem cênico, quem domina essa arte precisa ter muita sensibilidade no trabalho corporal e uma mente bastante criativa.
tExtO FaBIo FRaNCo
Rejane Carneiro
28
CAPA teatro de bonecos
“Comecei a construir bonecos quando cheguei ao Brasil, há 26 anos. um amigo ti-
nha um ateliê no Forte de Santo Antônio e me emprestava as ferramentas. Depois
pensei em fazer com eles uma peça de teatro e escolhi um cordel que me pareceu
cheio de imagens. Foi um processo lento que nunca teria acontecido se não tivesse
encontrado as pessoas certas para realizar o trabalho”. As palavras definem bem
as inquietações artísticas de Olga Gómez, diretora e fundadora da Cia. A Roda, gru-
po baiano que trabalha desde 1997 com o teatro de bonecos.
Nascida na Argentina, Olga fez do ofício um prazer diário. Das suas mãos sur-
gem pássaros, homens, insetos, flores e um sem-número de personagens que agu-
çam a imaginação de jovens e adultos durante os espetáculos. “trabalhamos com
bonecos de tamanhos variados e construídos de maneiras diferentes. Desde minús-
culas figuras dentro de caixas cênicas até bonecos em escala humana”.
Nesses 15 anos de formação, a companhia acumulou prêmios, inclusive o de ‘Me-
lhor Espetáculo Infantil’ como a montagem "O Pássaro do Sol", em 2010, no Prêmio
Braskem de teatro. “O grupo surgiu a partir do encontro de quatro artistas visuais
– apaixonados por animação – que queriam fazer teatro de bonecos. Atualmente
Olga e eu estamos à frente das ações da companhia que, além da pesquisa tenta
difundir o teatro de animação de bonecos por meio da produção de espetáculos
e também por meio de atividades de formação como oficinas, estágios e laborató-
rios”, conta Marcus Sampaio, integrante da Cia. A Roda.
Outra representante baiana, igualmente premiada – acaba de ser escolhida
como o Melhor Espetáculo Infantil de 2012, a peça "As Rimas de Catarina", também
se debruça pelas inúmeras possibilidades artísticas da manipulação de marione-
tes no palco. Sob a batuta de Bira Freitas e Jorge Baía, da Cia. Rapsódia de teatro,
surge o boneco Disposto, um verdadeiro encrenqueiro, que dialoga durante todo o
tempo com os atores, numa mescla de técnicas circenses e do Clown.
“No espetáculo quem manipula o boneco Bené, que é um artista de circo cha-
mado Disposto, é o ator Jorge Baía utilizando a técnica do ventriloquismo. O bone-
« Trabalhamos com bonecos de tamanhos variados e construídos de maneiras diferentes. Desde minúsculas figuras dentro de caixas cênicas até bonecos em escala humana»
olga gÓMEZ
DiREtoRA E FuNDADoRA DA ciA A RoDA
CAPA teatro de bonecos
Rejane Carneiro
Rejane Carneiro
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29
teatro de bonecos CAPA
as primeiras impressões sobre a arte
de manipular marionetes datam de
3.000 anos atrás. Essa expressão ar-
tística se desenvolveu principalmen-
te no oriente e na Europa, onde se
encontram alguns dos importantes
tipos de teatro de bonecos do mundo.
Em território americano, as primei-
ras aparições dessa manifestação
ocorreram no século XVI, no período
das grandes Navegações.
No Brasil, os primeiros exempla-
res apareceram na época colonial,
baseadas nos bonecos de luva por-
co sempre desperta um encanto e essa
característica fica evidenciada especial-
mente por ser uma peça infanto-juvenil.
A forma como o boneco foi inserido na
estória pela dramaturga Ilma Nasci-
mento, e como os outros personagens
se relacionam com ele, é muito harmo-
niosa. Então o público recebe muito
bem”, diz o ator Bira Freitas.
Sem papas na língua, Bira é categóri-
co ao afirmar que a cena teatral baiana
ainda carece, e muito, de investimentos
e divulgação. Se o cenário fosse outro,
as diversas formas de fazer teatro, in-
cluído o teatro de bonecos, aparece-
riam de forma mais pungente. “No nos-
so caso, o Prêmio Braskem possibilitou
novas temporadas já que o espetáculo
foi montado de forma independente,
sem apoio financeiro de empresas ou
órgãos oficiais. E foi muito bom obser-
var o olhar desta comissão para o tea-
tro infantil, pois ‘As Rimas de Catarina’
recebeu indicação em cinco categorias
do Prêmio (texto, direção, espetáculo, fi-
gurino e ator) a mesma quantidade do
espetáculo adulto com maior número
de indicações”.
« O boneco sempre desperta um en-canto e essa característica fica eviden-ciada especialmente por ser uma peçainfanto-juvenil »
BIRa FREItas, AtoR DA ciA RAPsóDiA
tugueses e espanhóis. Pouco tempo depois chegaram os
primeiros modelos alemães. Essa mescla de diferentes
orientações teatrais fez nascer, no Nordeste, a versão bra-
sileira dessa arte: o mamulengo – que inclusive serviu de
base para um espetáculo recente da Cia. rapsódia de tea-
tro, intitulado a ‘a árvore dos Mamulengos’.
No caso da Cia. a roda, essa integração de culturas
também se torna evidente. “o nosso último espetáculo
‘o Pássaro do sol’, veio satisfazer uma antiga vontade de
pesquisar o universo do teatro de sombras, que é de ori-
gem asiática. assim voltamos os olhares para esta estéti-
ca de comunicação indireta, onde nem sequer é o objeto
que é mostrado ao público, senão um fenômeno, sua som-
bra”, pontua olga.
teatro de bonecos CAPA
Alessandra Nohvais
29
30
CAPA teatro de bonecos
ARTE SOCIAlA Cia. A Roda também realiza um trabalho de desenvolvimento cultural com crian-
ças de escolas públicas através do projeto Caminhos da Arte, promovido pela Se-
cretaria Municipal de Educação de Salvador. A iniciativa, que no primeiro semestre
de 2012 chegou a aproximadamente 10 mil estudantes, promove a integração entre
o público potencial e as artes cênicas, abordando uma linguagem nova, em se tra-
tando de teatro de bonecos, e ao mesmo tempo comum para a garotada.
“Essa ação é bem mais ampla do que parece porque insere as crianças em um
contexto que muitas vezes elas jamais experimentariam. E não falo apenas de
quando a peça começa, mas desde o momento em que eles se sentam nas poltronas
vermelhas da sala de espetáculo e um universo completamente novo se descor-
tina para eles. O resultado foi tão bom
que recebemos um novo convite para
continuar apresentando ‘O Pássaro do
Sol’ no próximo mês de setembro, desta
vez no teatro SESC-SENAC Pelourinho”,
revela, entre sorrisos, Marcus.
Outro projeto que merece comen-
tários são as oficinas de manipulação
e criação de bonecos. A última aconte-
ceu entre março e abril deste ano, com
Oficinas promovem
integração de jovens
com o universo da
criação de bonecos.
CAPA teatro de bonecos
Rejane Carneiro
30
a presença de 25 pessoas que participaram gratuitamente
de aulas com bonecos de madeira originais que estiveram
nos espetáculos da Cia. A Roda. “No momento não estamos
realizando as oficinas. Mas gostaria de realizar uma ação
onde o resultado fosse a construção de um processo de tra-
balho coletivo, que reunisse dentre os participantes, diferen-
tes capacidades e finalizasse com apresentações públicas.
Isto demanda um período de trabalho maior e um esforço
por entender o que significa animar bonecos ou figuras de
sombra”, idealiza Olga Gómez.
Diversidade de
técnicas permeia
trabalho de
companhias baianas.
Rejane Carneiro
Marcio Lima
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OPINIÃO
Reconhecendo a cultura baiana
Sergio Nunes (Seginho)Vocalista da banda Adão Negro e Bacharel em
Letras pela universidade Federal da Bahia
@BandaAdaoNegroFoto divulgação
O filósofo Friederich Von Schiller (1759–1805) proferiu a se-
guinte frase: “Para amar a sabedoria, você já tem que ser
sábio”. uma analogia com esta máxima pode servir para res-
ponder o que está faltando para o baiano ter acesso à diversi-
dade cultural. Para valorizar a cultura, você tem que ser culto
em alguma extensão.
Imaginemos um cidadão comum que não teve acesso a
uma sólida formação acadêmica e que está sujeito a uma ex-
tensa e intensa publicidade que não considera a ética como
um critério. O que ele (a) verá na televisão aberta? Big Bro-
ther? Novela? Não tendo igualmente recursos também para
comprar CDs ou DVDs de diversos artistas, ele (a), consequen-
temente, ouve o que se toca nas rádios e demais instâncias
publicitárias do país. Que estilo de música ouvirá com assus-
tadora regularidade? Pagode? Sertanejo?
Se ele (a) olha para a sua comunidade e todos, ou quase
todos, valorizam o que se vê e se ouve nos veículos midiáticos,
seu juízo, em termos do estilo artístico, que é efetivamente va-
lorizado, não terá parâmetros para projetar um desejo de ob-
servar as alternativas e desfrutar de uma extensa produção
cultural já existente no nosso estado.
Ele (a) não irá ao tCA quando houver um espetáculo de
apenas R$1,00. Mas irá ao camarote no carnaval por R$
300,00 ou mais. Ele (a) pagará a perder de vista. Mas fará
isso amarradão(ona) e feliz da vida. Com o tempo, fixa-se nas
cabeças desses pobres, mas felizes cidadãos, a noção de que
tudo o que vai para a tV, para a rádio e demais instâncias
publicitárias é bom por definição.
Portanto, o que não se vê, nem se ouve, não existe ou é me-
nor e não vale tanto quanto. Vejam, por exemplo, os anúncios
atuais de shows de música na Bahia: quase invariavelmente,
a expressão “open bar” figura como protagonista, com os ca-
racteres maiores do que os nomes dos artistas. O que mostra
que as pessoas se relacionam cada vez menos com o resulta-
do estético produzido pelo artista.
Outro aspecto novo é o resultado do impacto das novas tec-
nologias na fruição estética da música per si. Com a chegada do
áudio digital, as formas de ouvir música mudaram, à medida
que rapidamente extinguia-se a empresa fonográfica e, com
ela, um vultoso investimento de gravadoras, causando devasta-
doras consequências na circulação do capital na cadeia de ati-
vidades em torno da música, desde o processo de sua criação
até as formas do consumidor pagar pelo produto música.
Com isso, apelando para o ditado que diz “farinha pouca,
meu pirão primeiro”, vemos que o decimal investimento res-
tante ficou reservado a uma plutocracia artística, dificultando
ainda mais a sobrevivência daqueles que não tocam os estilos
vigentes do mercado. Do ponto de vista do público, tomo o co-
mentário de um amigo, lembrando como nos reuníamos para
apenas ouvir (sem a experiência visual, hoje quase indissoci-
ável) o último lançamento daquele artista de quem gostáva-
mos, enquanto degustávamos o prazer sensorial de tocar, ver
e rever a capa e o encarte do álbum, num processo (ou ritual)
de reflexão e compartilhamento de ideias... Imersos em um
processo de introspecção tão necessário para o crescimento
e desenvolvimento de nós mesmos enquanto GENtE. Encare-
mos os fatos: isso não existe mais.
Agora, completamente imbuído de grande cinismo, apre-
sento dois finais alternativos para esse texto. O primeiro é: o que falta para ter acesso à diversidade cultural na Bahia é
o que sempre faltou ao povo brasileiro: educação pública de
qualidade, o senso crítico decorrente de tal processo e uma
certa dose de vontade de fazê-lo. O segundo é: tudo está em
seu lugar, graças a DEuS. Façam as suas apostas...
33
CIDADANIA
Projetos sociais desenvolvidos na capital utilizam o esporte como mecanismo para despertar em
jovens carentes o interesse em educação e no-vas possibilidades profissionais. Mesmo com
poucos recursos, as ações conseguem formar cidadãos e verdadeiros campeões, que tam-
bém passam adiante todo o conhecimento adquirido ao longo dos anos.
tREiNANDoPARA A
VIda tExtO FaBIo FRaNCo
Amante das ondas desde a infância, o surfista João Cerqueira – pra-
ticante da modalidade há mais de 20 anos, foi buscar na garotada
que ficava ociosa pela orla de Salvador a inspiração para a criação
do projeto “Ondina Surf Show”. Com pouco dinheiro, mas com boa
vontade de sobra, João dá aulas para um grupo de aproximadamente
12 jovens, todos os fins de semana. “Já atendemos mais de 300 crianças.
Apesar da grande procura, precisei limitar o número de alunos para dar
uma qualidade maior ao trabalho”.
Do início despretensioso, o Ondina Surf Show conseguiu projetar gran-
des valores no esporte. “O projeto começou com três garotos que estavam de
bobeira na praia tentando surfar com um pedaço de prancha. Quando ofere-
ci uma prancha usada, um deles pediu para que eu os ensinasse as técnicas.
tempos depois, um desses moleques (Adilsinho), participou da seletiva Billabong
Mundial Amador de Surf, em 2005. Fiquei muito feliz, porque naquela época eu
não pensava em trabalhar com o social, foi tudo meio que espontâneo”, conta.
Durante as aulas, a turma também recebe noções
de educação ambiental e cidadania. Para participar
do projeto é necessário estar matriculado na escola
e frequentar regularmente as aulas. “Sou muito ri-
goroso com o lance da escola. Quem não estiver
estudando não pode participar das atividades
do projeto”, sentencia João. Mas o que tira
mesmo o sono do surfista é a falta de investi-
mento do poder público. “O que impede a li-
gação com algum órgão público é a falta de
interesse deles com projetos de trabalho
sócio-educativo. Meu trabalho é total-
mente voluntário e bastante acolhedor
para as crianças, mesmo com as difi-
culdades encontradas”, desabafa.
Acervo Ondina Surf Show
CIDADANIA
34
CIDADANIA
CIDADANIA NO RINgUEtrajetória semelhante teve o lutador
uanderson Carvalho, hoje com 26
anos, que enxergou no Kickboxing a
chance de oferecer um destino melhor
a jovens e crianças carentes de Salva-
dor. Com apenas 16 anos, deu início a
primeira turma do que hoje é o projeto
Operação kickboxing, iniciativa desen-
volvida para inclusão social de crian-
ças, adolescentes e adultos moradores
dos bairros da Liberdade, Barbalho e
Mata Escura.
“Na época, com 16 anos, ensinava
apenas para que meu professor perce-
besse meu desempenho. Meu amadu-
recimento foi rápido e logo me vi em
situações adversas e conflitos. Ainda
muito jovem solucionava problemas fa-
miliares de alunos, envolvimento com
drogas, dificuldades na escola e até
abuso sexual. todos esses fatores in-
fluenciaram na forma de aplicar meus
métodos”, revela o instrutor.
uanderson conta que teve que ven-
cer vários obstáculos para alcançar
bons resultados no projeto, a começar
pelo preconceito em torno do esporte.
“Era complicado lidar com essa situ-
ação, agravada pelo nome da minha
equipe (Associação Desportiva Pit-
bull). Mas com o passar dos anos, nos-
so trabalho se tornou referência e hoje
somos convidados para ensinar em
escolas e espaços sociais. Atualmente
a arte marcial não é foco do meu traba-
lho, e sim um instrumento, pois é muito
difícil, aqui na Bahia, o professor inves-
tir no alto rendimento de um atleta. O
retorno, principalmente para o atleta,
nem sempre acontece. Não há apoio
nem patrocínio”.
Reunindo seus alunos sempre nos
fins de semana em escolas públicas dos
bairros de atuação do projeto, o profes-
sor dedica suas aulas ao ensinamento
de dois estilos de luta (Light Contact e
Full Contact), contando com o acompa-
nhamento de instrutores e professores
« Alguns projetos eliminam alunos que não possuem boas notas, nem bom his-tórico de conduta. É exatamente esse pú-blico que queremos, pois se não dermos oportunidade de inserção desses jovens num contexto social, quem o fará? »
uaNDERsoN CaRValho, lutADoR E iNstRutoR DE KicKBoXiNg
formados no Operação Kickboxing. “Meu maior objetivo sempre foi favorecer a
inclusão social de pessoas carentes através do esporte, desenvolvendo, sobretu-
do, a conscientização dos jovens praticantes sobre o seu papel enquanto cidadão.
Alguns projetos eliminam alunos que não possuem boas notas, nem bom histórico
de conduta. É exatamente esse público que queremos, pois se não dermos oportu-
nidade de inserção desses jovens num contexto social, quem o fará?”, questiona
o professor.
Acervo Ondina Surf Show
35
CIDADANIA
BASE NA EDUCAçÃOSe falta apoio de órgãos públicos locais para que projetos baseados no esporte dêem
certo, a situação se inverte quando o incentivo vem de fora do país. No bairro de Pla-
taforma funciona um projeto que mescla reforço escolar e atividades esportivas, tudo
isso com apoio da entidade italiana Fondazione umano Progresso. O Centro Educati-
vo João Paulo II atende (atualmente) cerca de 180 alunos, da 1ª a 6ª série, complemen-
tando o ensino da escola regular (pública, na maioria das vezes) com 3 horas de aula
por dia, além de desenvolver atividades semanais com arte, esporte e informática.
“As atividades desportivas complementam o reforço escolar, que é o nosso foco
principal. Estaremos dando um enfoque mais forte na área esportiva em outubro.
Estamos criando três times de futebol masculino (cada uma de faixa de idade di-
ferente) e três times de handball feminino (seguindo o mesmo critério da idade).
E num segundo momento, facilitaremos a participação em torneios escolares na
cidade de Salvador. Hoje as atividades de esporte acontecem na forma de torneios
de futebol internos, sem o apoio de profissional qualificado”, revela Paola Cigarini,
coordenadora geral do centro.
A ideia de criar uma atividade exclusivamente esportiva nasceu do alto envolvi-
mento dos alunos nas ações propostas pelos professores no horário do recreio. “En-
tendemos que o jogo em time possui muitas conotações educativas: ensina a con-
siderar o outro um recurso, além de criar senso de solidariedade e de competição.
Durante os jogos, agrupamos alunos de
faixas etárias diferentes, justamente
para ensiná-los a respeitar os menores
e para aprender a lidar com todos”.
Assim como tantas outras iniciativas,
o Centro Educativo João Paulo II também
carece de recursos financeiros para se
manter em funcionamento. Paola comen-
ta que os recursos ofertados dependem
de projetos, que são breves e não conti-
nuativos. “Além da dificuldade orçamen-
tária, também é complicado conseguir a
participação da sociedade civil, pois exis-
te uma grande distância entre as realida-
des da cidade de Salvador e nem sempre
é fácil criar pontes. Sem falar que achar
profissionais que topam participar de
trabalhos sociais não é tarefa das mais
fáceis, visto que esse tipo de iniciativa
exige muita dedicação pessoal”.
« o jogo em time possui muitas cono-tações educativas: ensina a considerar o outro um recurso, além de criar senso de solidariedade e de competição »
Paola CIgaRINI
cooRDENADoRA gERAl Do cENtRo
EDucAtiVo JoÃo PAulo ii
Centro Educativo joão Paulo II
Rua 1º de novembro s/n - Plataforma
tel.: (71) 3398-0382
operação Kick Boking
(71) 8892-7240 ou 8146-4621
ondina surf show
(71) 9116-2086 ou 9997-3217
PA
RA A
JUD
AR
Acervo Centro Educativo João Paulo II
36
MUSEU
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MUSEU
As imagens de deuses mitológicos, quase sempre celestiais, há tempos povoam a imaginação dos artistas, especialmen-te dos escultores e pintores. O apogeu desse culto ao sagrado aconteceu séculos atrás, mas esse legado não foi esquecido e hoje, peças baseadas na religião cristã, tais como oratórios, santos e crucifixos, se integraram aos acervos de importan-tes museus baianos.
religiosidadeEM ExPOSIçÃO
O privilégio de ser a primeira capital brasileira deu a Salvador mais que desenvol-
vimento social e econômico. Ainda no período colonial, a cidade recebeu milhares
de peças de arte, oriundas do continente europeu, cunhadas com base na estética
religiosa, evidenciando o cuidado com as formas e a nobreza dos materiais utiliza-
dos. Essa migração cultural fez efervescer entre os artistas locais o desejo de criar
seguindo esse conceito. Como resultado, entre os séculos xVI e xVII, a produção
cultural-religiosa baiana alcançou crescimento expressivo entre os artistas sacros
e membros do clero, tais como beneditinos, freiras e monges.
“De maneira geral, as peças de arte sacra produzidas no Brasil seguiram os mes-
mos padrões estéticos adotados na Europa, fato que se justifica pelo processo de
colonização e pelas relações comerciais que foram estabelecidas na época, assim
como, pela implantação do Catolicismo como religião oficial do Brasil. Na Regência
de D. João VI, foram criadas escolas de arte e ofícios na Colônia, as primeiras ins-
taladas no Rio de Janeiro e na Bahia, onde artistas franceses ministravam aulas
para a elite da sociedade colonial e trabalhavam, por encomenda, para as famí-
lias abastadas”, comenta a museóloga e coordenadora do Solar Ferrão, Osvaldina
Cézar Soares.
tExtO FaBIo FRaNCo
Sérg
io B
enu
tti
38
MUSEU
Séculos depois, tais peças deixaram o ambiente restrita-
mente religioso e passaram a compor o acervo de vários mu-
seus locais, espalhados por todo o estado da Bahia. Na capital,
o principal expoente dessa vertente artística é o Museu de Arte
Sacra da universidade Federal da Bahia (MAS/uFBA), localiza-
do entre as ruas com calçamento de pedra do bairro do Dois de
Julho. O próprio edifício onde ficam expostas as peças já reve-
la a riqueza dos elementos religiosos em sua composição, que
tem características renascentistas: o museu está instalado no
Convento de Santa teresa D'Ávila, tombado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e declarado
“Patrimônio da Humanidade” pela uNESCO, em 1985.
Grande parte dos exemplares expostos no museu per-
tence à Arquidiocese de São Salvador. Datadas dos séculos
xVI, xVII, xVIII e parte do século xIx, as obras apresentam
características do estilo neoclássico e Barroco. “O MAS/uFBA
encontra-se consolidado e reconhecido como um dos mais
importantes museus do gênero nas Américas, não somente
pela sua rara e preciosa coleção de Arte Sacra Cristã, como
também por ela estar abrigada em um dos mais destacados
conjuntos arquitetônicos seiscentistas do país”, pontua a co-
ordenadora do Setor de Exposição do MAS, Edjane Cristina
Rodrigues da Silva.
O Museu de Arte Sacra reúne aproximadamente 5.000
peças, apresentadas em coleções que estão sob sua guarda
pelo regime jurídico de comodato, pertencentes a Igrejas e
Irmandades Religiosas de todo o Estado. Composto por peças
representativas dos séculos xVI ao xx, o acervo está dividido
em categorias: Imaginária, Pintura, Ourivesaria, Mobiliário,
têxteis e Azulejaria, dentre outros.
Longe da capitalFora de Salvador, outros museus também atuam de maneira
a difundir essa tipologia de arte. Na cidade de Cachoeira, o
visitante pode conhecer o Museu de Arte Sacra do Recônca-
vo ou da Ordem terceira do Carmo, com acervo composto por
obras com clara influência oriental. No litoral sul da Bahia
está o Museu de Arte Sacra de Porto Seguro, instalado na
Igreja de Nossa Senhora de Misericórdia, construída no sécu-
lo xVI, e o Museu de Arte Sacra São Jorge dos Ilhéus, situada
na Igreja Matriz de São Jorge, uma das mais antigas do país
e tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da
Bahia (IPAC), onde é possível vislumbrar uma imagem secu-
lar de São Jorge, além de documentos e artefatos dos
séculos xVI, xVII e xVIII.
Ma
theu
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Sérgio Benutti
39
MUSEU
Outro importante santuário de preservação das artes sa-
cras é o museu Abelardo Rodrigues, situado no Pelourinho. O
acervo – organizado pelo advogado pernambucano Abelardo
Rodrigues, totalizando 808 peças, entre imaginária, oratórios,
telas, crucifixos, entre outros, todos de origem brasileira – foi
alvo de disputa judicial pelos estados da Bahia e Pernambuco,
após a morte de seu fundador. De acordo com documentos da
época, o Governo da Bahia fez uma proposta de compra das
peças e a concretizou junto à família de Abelardo. Contudo, o
então governador de Pernambuco, Eraldo Gueiros, determi-
nou, por meio de decreto, que as peças deveriam ser desapro-
priadas. O embate chegou à justiça e somente em 1975 foi deci-
dido que todo o acervo deveria ficar em terras baianas.
“O Museu Abelardo Rodrigues, assim como as demais
coleções abrigadas no Solar Ferrão (Arte Africana Claudio
Masella, Arte Popular, Instrumentos Musicais tradicionais
Emília Biancardi) é bastante frequentado pelo público e,
pelo caráter didático que apresenta, viabiliza a realização de
atividades educativas com as escolas do Centro Histórico do
Pelourinho e de outras localidades”, avalia Osvaldina Soares.
Matheus Pereira
40
MODA
“Agora até na novela estão colocando. também os canto-
res, vários músicos estão usando. Mas ainda tem gente com
preconceito, metida a dondoca, que acha que trança/dread
estraga o cabelo, que fica fedendo... Quem não lava que fica
fedendo. Isso tudo é história”, dispara Valda.
Há 12 anos nesse ofício, a trançadeira Valda conta que não
teve professor. “Ninguém quer ensinar nada a ninguém. Eu
aprendi sozinha, olhando os outros e fazendo na minha filha.
Naquela época eu não tinha condição de pagar um curso”,
relata sem pudores.
Atualmente, ela arruma uns sete cabelos por dia e conta
que em época de festa, como o carnaval, fica uma fila espe-
rando. “Aí você tem que ser rápida porque é a oportunidade
de ganhar mais dinheiro”, explica a trançadeira, que trabalha
quase todos os dias da semana, das nove horas da manhã até
quase dez da noite, no Pelourinho.
“Aqui a gente vai trançando, olhando quem passa, admi-
rando a paisagem. Meus clientes gostam”, revela. E em se-
guida afirma: “É preciso conquistar o cliente. Se eu pudesse,
botava um cafezinho e fechava para ninguém tomar sol”.
Para fazer um tererê (trancinha decorada com fios coloridos
e miçanga), Valda cobra R$10. Os penteados mais elaborados
chegam a custar R$200. Já para fazer um dread, ela conta: “tem gente que cobra até R$500”.
“Eu achava que por ser Pelourinho seria mais caro. Mas
estava errado. E ela ainda trança bem melhor”, justifica Na-
dson Conceição que, há mais de um ano, sai de Simões Filho
para vir arrumar o cabelo com Valda.
lIVRE E lINDAAos dez anos de idade, Viviane Carvalho começou a alisar o
cabelo. Entre as justificativas estão a facilidade em pentear
as madeixas e a ditadura da moda que aproxima o conceito
de belo ao padrão branco. “tinha a necessidade adolescente
de me afirmar na sociedade”, relembra a fisioterapeuta, que
atualmente trabalha com estética.
Nesse meio tempo, ela já fez de tudo um pouco: perma-
nente afro, tranças com fibra, tintura, relaxamento com gua-
nidina, escova inteligente e progressiva. “Difícil mesmo é
dizer o que eu nunca fiz!”, brinca Viviane. Durante 13 anos,
esteve dependente de salões de beleza e fazia escova e cha-
pinha todos os fins de semana.
“Quando a gente coloca um penteado afro, a gente se transforma”, assim a trançadei-ra Luzinete de Jesus, ou melhor, Valda – que não é seu nome de batismo, mas foi o deseja-do por sua mãe – revela o “Black Power” ou o poder do cabelo afro na afirmação da identi-dade africana e valorização da autoestima.
na cabeçaPOWER
BLACK
MODA
tExtO
FOtOS
MaIaRa BoNFIM
MaRCElo saNtaNaSAlÃO YAlOBÊ
Rua da Paciência, 223
tel: (71) 3321-5301
41
MODA
Vendo o desgaste causado pelos processos químicos e
diante de uma necessidade de mudança, Viviane radicali-
zou. “Sempre dizia que quando terminasse a faculdade iria
cortar meu cabelo, deixar natural, mudar mesmo. E assim eu
fiz”. E acrescenta: “Me sinto quebrando regras. Sou mulher,
negra, fisioterapeuta e de cabelos cacheados. tenho matu-
ridade e personalidade suficientes para ser ‘diferente’”.
Hoje, aos 25 anos, ela está livre da química e vive seu me-
lhor momento. “Meu cabelo mostra exatamente como
me sinto, porque ter uma beleza natural encanta, fas-
cina e ilumina!”.
RASTA, NÃO. MEU CABElO é ENROlADO!Jean Santos, 30 anos, pedagogo, não
corta o cabelo há mais de sete anos, mas
não gosta de ser chamado de rasta. “A
palavra rasta remete ao movimento Ras-
tafári que surgiu na Jamaica em meados
da década de 1920. Eles tinham crenças e
ideologias próprias. Eu respeito a singulari-
dade deste povo, mas penso que aqui nós te-
mos cabelo enrolado ou trançado”, defende
seu ponto de vista.
O pedagogo se queixa que muitas pessoas
fazem associações com os estereótipos que são
difundidos e falam sempre dos mesmos temas na
hora de puxar uma conversa. “Não sou obrigado
a usar sandália de couro, curtir reggae, frequentar
terreiros ou fumar. As pessoas acham que eu sou ca-
poeirista, cantor, dançarino, percursionista ou grafi-
teiro”, pontua.
Jean conta que fica reflexivo quando as pessoas o ‘idea-
lizam’. “Não é porque sou negro e uso meu cabelo assim que
estou limitado a ter uma dessas profissões. Respeito, gosto e
curto o cenário artístico baiano, mas uma parte da humani-
dade vê isso como um produto folclórico da Bahia. Eu tenho
uma identidade, me reconheço como baiano, soteropolitano,
negro e morador de uma localidade periférica. Não sou um
folclórico”, arremata.
drEad amarrado (com cabelo natural ou sintético) e original
(com o próprio cabelo). Podem ser feitos com agulha de cro-
chê ou cera. Ainda podem ser usados fios de lã para decorar.
traNças trançado solto, trançado camaleão (vários dese-
nhos diferentes, rente à raiz) e tiara (mais rápido de fazer).
42
ENTREVISTA Arquivo público
Em 16 de janeiro de 1890, no alvorecer da insta-lação do regime republicano no Brasil, o então governador, Manoel Victorino Pereira, criou o Arquivo Público da Bahia (APB). Tinha como finalidade primeira “[...] recolherem-se, quanto antes, em certo e determinado lugar todos os papéis e documentos históricos, administra-tivos, judiciários, e legislativos deste Estado, disseminados nos diversos arquivos públicos das diferentes repartições [...]”. Atualmente, o APB ocupa a posição de segunda mais impor-tante instituição arquivística do Brasil. Maria Teresa de Britto Matos, doutora em Educação e especialista em Arquivologia, que dirige, há cinco anos, o Arquivo Público da Bahia, é quem fala a Plano B sobre o órgão.
BAHIA
guardIão do PatrIMÔNIo doCuMENtal da
tExtO MaIaRa BoNFIM FOtOS aRCERVo aPB
43
Arquivo público ENTREVISTA
Em termos gerais, qual a principal importância do aPB?
Desde 1890, o Arquivo Público da Bahia é o guardião do
patrimônio documental da Bahia. Ao longo desses 122 anos
foram integrados acervos públicos (dos Poderes Executivo,
Judiciário e Legislativo) e privados. São documentos raros,
manuscritos originais, produzidos à época do Brasil Colonial,
quando Salvador foi sede do Governo Geral do Estado do
Brasil (1549-1763). A condição de capital aliada à localização
geográfica estratégica fez da Cidade do Salvador, também, a
capital do Atlântico Sul, para onde convergiam documentos
oficiais provenientes da Coroa Portuguesa.
o arquivo Público da Bahia possui título de segunda
mais importante instituição arquivística do Brasil, o que
isso significa?
Isso acontece em razão de custodiar um acervo documen-
tal – 25 km aproximadamente – de valor inestimável, sobretu-
do aquele produzido e acumulado ao longo de 214 anos, pe-
ríodo em que a cidade do Salvador foi a sede do governo do
Estado do Brasil, de 1549 a 1763. Os Conjuntos Documentais
“tribunal da Relação do Estado do Brasil (1652-1822)” e “Livros
de Registros de Entrada de Passageiros no Porto da Cidade
de Salvador (1855-1964)” são exemplos da importância do
patrimônio documental custodiado pelo Arquivo Público da
Bahia. Em face dos seus significados, o Ministério da Cultura,
reconheceu a inscrição dos mesmos no Registro Nacional do
Brasil do Programa Memória do Mundo da uNESCO.
sobre a questão da preservação do material, já existe
muita coisa digitalizada?
A digitalização foi institucionalizada no ano passado
(2011), após a aquisição de uma máquina digitalizadora/mi-
crofilmadora, tamanho A0. Até o momento, o percentual de
documentos digitalizados é bastante reduzido.
Existe política de aproximação do público com o aPB?
além de pesquisadores, quem pode se interessar pelos
documentos aí guardados?
Existem ações educativas e culturais que visam sensibili-
zar novos públicos. As ações educativas, com o atendimento
das instituições educacionais, são visitas guiadas que ressal-
tam a importância do acervo custodiado pelo APB para a so-
ciedade, tanto no seu potencial para pesquisa, quanto na sua
utilidade pública. E as ações culturais, notadamente por meio
de exposições virtuais, a exemplo da “Independência do Bra-
sil na Bahia” e “Insurreição de Escravos Malês”.
Acervo guarda
relíquias históricas
como o registro de
imigrantes chegados
à Bahia em 1855
44
ENTREVISTA Arquivo público
um documento lido fora do contexto em que foi criado
pode provocar interpretações errôneas por parte do leitor.
Para equilibrar essa diferença de épocas, existe no aPB
uma política de arquivamento tendo como base a conjun-
tura do período em que os documentos foram preparados?
O acervo custodiado pelo APB/FPC encontra-se organi-
zado em conformidade com o princípio de proveniência,
estabelecido pela teoria arquivística. Os documentos de
arquivo apresentam-se sob inúmeras formas e nos mais va-
riados suportes materiais. Não é o tipo, nem a forma, nem o
conteúdo informativo, que caracterizam um documento de
arquivo, mas sim a sua origem. A proveniência é, portanto,
o elemento mais importante a identificar em um conjunto
de documentos.
Quais documentos do aPB, em sua opinião, podem ser
classificados como os mais importantes?
temos a Coleção de Regimentos Reais, século xVI ao xIx;
a Conjuração Baiana de 1798; os registros sobre captura e pe-
dido de soltura de escravos (século xIx); Dossiê sobre alde-
amentos e missões indígenas (1770-1807); a Independência
do Brasil na Bahia (1822-1823); a Rebelião Escrava dos Malês
(1835); a Revolta da Sabinada (1837); as Falas e os Relatórios
de Presidentes da Província da Bahia; Auto de perguntas da
Revolta de Canudos (1897); Marcas e patentes de fábricas
(1888-1924); além da coleção de periódicos, como o Diário
Oficial do Estado da Bahia (1915-2008), A Bahia (1899-1911), A
tarde (1915-1988), Diário da Bahia (1833-1945), Idade d’Ouro
do Brazil (1821) e O Imparcial (1847-1947).
O Arquivo Nacional realizará de 12 de setembro a 31
de dezembro de 2012, em sua sede no Rio de Janeiro,
exposição comemorativa em homenagem aos 20
anos de existência do programa Memória do Mundo
da UNESCO e aos cinco anos de instalação do Comitê
Nacional do Programa Memória do Mundo. O Arquivo
Público da Bahia / Fundação Pedro Calmon foram
convidados a participar em razão de custodiar dois
conjuntos documentais que estão registrados.
Atendimento presencialSala de Consulta de Manuscritos e Impressos; Sala
de Consulta de Microfilmes e Biblioteca Francisco
Vicente Vianna.
Atendimento à distânciaRealiza levantamento preliminar do acervo nos
instrumentos de pesquisa disponíveis para consulta
presencial.
Atendimento àsinstituições educacionaisSão oferecidas visitas técnicas ou monitoradas.
Transcrição paleográficae emissão de certidõesAtendem demanda para a comprovação de direitos e
esclarecimentos de situações, predominando os pedidos
decorrentes de exigências administrativas e judiciais.
Atendimento e orientação aos órgãos da administração pública direta e indireta do poder executivo estadualOrientação na área da sua especialidade - a arquivística.
Endereço: Ladeira das Quintas dos Lázaros, 50 Baixa
de Quintas
Contato: (71) 3116-2160 | [email protected]
Serviços
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PATRIMÔNIO
Água que passarinho não bebe... Marvada... Branquinha... Cana... Pinga... Aguardente... Seja qual for o nome, a cachaça já faz parte do imaginário popular e se tornou obrigatória em botecos e restaurantes dos mais sofisticados. E pensar que nas suas origens, esse símbolo nacional era relegado aos animais, em forma de ração, e chegou a ter a venda proibida pela monarquia portuguesa.
TRÓPICOS
tExtO FaBIo FRaNCo
O elixir dos
PATRIMÔNIO
46
PATRIMÔNIO
Criada a partir da moenda da cana-de-açúcar, a cachaça brasileira tem uma
história que se confunde com a própria formação do país. Nos tempos do Brasil
Colônia, a produção açucareira despontou como principal manufatura agrícola,
afinal de contas os portugueses já dominavam a sua exploração em outros ter-
ritórios colonizados. E a bebida típica do novo país surgiu meio que por acaso,
durante o fabrico do açúcar: no processo restava um subproduto, que, depois de
fermentado, ganhava considerável teor alcoólico e era dado aos animais.
Logo os odores e sabores chamaram a atenção dos escravos, que então passa-
ram a consumir o caldo de gosto adocicado (batizado de cagassa, como afirmam
alguns pesquisadores). A notícia se es-
palhou e a cachaça angariava seus pri-
meiros apreciadores.
Mas onde originalmente a cachaça
foi criada? A disputa pelo titulo é acirra-
da: os primeiros engenhos foram ergui-
dos na região Sudeste, inicialmente no
litoral de São Paulo, espalhando-se de-
pois pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Bahia, onde foi instalado o engenho Ce-
regype, o mais importante do período co-
lonial. Em pouco tempo, os engenhos ou
“casas de cozer méis”, como eram cha-
madas, se alastraram por todo o territó-
rio nacional. Era o empurrão que faltava
para a “marvada” cair no gosto popular!
Por consequência do crescimento
do consumo, a fabricação da cachaça
precisou ser melhorada, sendo incor-
porados o alambique e os processos de
filtragem e destilação. Hoje, só para se
ter uma ideia, estima-se que o número
de produtores de cachaça em todo país
ultrapasse a marca dos 40 mil.
“A produção brasileira de cachaça
supera a marca de um bilhão de litros
por ano e a Bahia é o segundo maior
produtor do país. O consumo por aqui
só cresce e muita gente já aprendeu a
apreciar nossa cachacinha”, brinca Ed-
son Souza, bartender especializado em
Mixologia Molecular (processo de cria-
ção de drinques com base em técnicas
da gastronomia molecular, que incluem
combinação e intensidade de sabores,
aromas, texturas, entre outros).
A aguardente produzida por aqui
tem chamado mesmo a atenção dos
apreciadores, principalmente pela qua-
lidade. Quem afirma isso é o comercian-
te José Oliveira, conhecido como Zé,
que trabalha há anos num dos boxes
da Feira de São Joaquim. “Quem mais
compra cachaça baiana é o pessoal do
sul do país. também tem a turma dos
navios, que estão de passagem. Costu-
mo vender em média 20 garrafas por
mês. E olha que a branquinha baiana é
a melhor”, confirma entre risos.
A coloração da cachaça pode mu-
dar a depender do tipo de levedu-
ra utilizada na fermentação e do
material onde foi armazenada ou
envelhecida. Aquelas que não passam pelo
processo de envelhecimento são as chamadas
branca, prata ou amarela (que recebe a adição
de extratos de madeira ou caramelo). Já aque-
las conhecidas como cachaça ouro, incorpora-
ram a coloração da madeira em que estiveram,
após a destilação. O processo é semelhante
ao armazenamento do whisky. E além da co-
loração, a cachaça também acaba adquirindo
aromas e sabores, decorrentes do processo de
envelhecimento nos tonéis de madeira.
Acervo Cachacaria Água Doce
46
47
PURAMENTE NACIONAlOs tempos mudaram e o consumo dessa bebida tipicamen-
te brasileira também. Assim como o whisky, o gin, a vodca
e o rum, o aguardente de cana-de-açúcar se transformou
em objeto de adoração por especialistas e ganhou um ar de
requinte e sofisticação. Prova disso é que foi-se o tempo em
que o termo “cachaceiro” era apenas uma maneira pejora-
tiva para denominar os consumidores. Hoje, esses mesmos
apreciadores são chamados cachaciers (nome inspirado na
palavra sommelier, que denomina os profissionais especiali-
zados em vinhos).
“Comecei a me interessar pela cachaça há muito tempo
atrás. Viajei pelo país para conhecer as variedades da bebida.
Sou daqueles que apostam no produto nacional. tem gente
que prefere whisky, vodca, mas porque não consumir a be-
bida que é genuinamente brasileira? É engano achar que a
cachaça é de segunda categoria. Existem exemplares brasi-
leiros que são vendidos a R$ 500,00 a garrafa. E falo sem
sombra de dúvidas que hoje os principais apreciadores da
cachaça são das classes A e B, pessoas que inclusive montam
bares próprios em casa”, conta Edson.
O advogado Paulo Cesar Freitas, 53 anos, faz parte des-
sa estimativa. Acostumado a bebericar nas horas de lazer,
Paulo reitera que a cachaça baiana não deixa a desejar em
nenhum aspecto quando comparada com destilados de ou-
tros países. “Existem exemplares artesanais que são maravi-
lhosos, mas são pouco conhecidos. Alguns até com produção
orgânica. E também existem detalhes que influenciam no
sabor da bebida, especialmente o terreno e o clima onde a
cana-de-açúcar foi cultivada, além dos locais de armazena-
mento do produto final”.
« Tem gente que prefere whisky, vodca, mas porque não consumir a bebida que é genuinamente brasileira? É engano achar que a cacha-ça é de segunda categoria. Existem exemplares brasilei-ros que são vendidos a R$ 500,00 a garrafa »EdsoN souZa
BARtENDER EsPEciAlizADo EM MiXologiA MolEculAR
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PATRIMÔNIO
Um fato curioso sobre a cachaça aconteceu na déca-
da de 1630. Com o crescimento do consumo, os pro-
dutores portugueses sentiram-se ameaçados com a
possibilidade do produto nacional ocupar o posto da
bagaceira, uma bebida de origem lusitana, feita do bagaço da
uva. No ano de 1635, por decreto real, foi proibido o comércio
e produção da cachaça, para garantir a exclusividade do con-
sumo da bagaceira. Mesmo assim, a cachaça continuou circu-
lando clandestinamente, tornando-se inclusive moeda de troca
entre os comerciantes.
Em 1659, um novo decreto de proibição foi estabelecido, com
restrições mais severas ao produto nacional. O resultado foi
imediato: em 1660, os produtores do Rio de Janeiro iniciaram
uma revolta que culminou na tomada do governo geral da ci-
dade, fato esse que ficou conhecido como a Revolta da Cachaça.
Um ano depois, em 13 de Setembro de 1661, o decreto foi anulado
e a cachaça foi finalmente legalizada como produto genuina-
mente brasileiro. Para relembrar a data, em 2009, o Instituto
Brasileiro da Cachaça (Ibrac), criou o Dia Nacional da Cachaça,
comemorado no dia 13 de setembro.
qUAlIDADE INDISCUTíVElPara saber se a cachaça é realmente de qualidade, vale partir
do básico, que é a leitura do rótulo. “Ali estão as informações
principais, como origem, processo de fabricação, local de ar-
mazenagem, etc.”. Com o tempo, outra característica funda-
mental a ser avaliada é o sabor. “Normalmente a cachaça de
boa procedência costuma manter o sabor por mais tempo na
boca. também tem a questão da acidez, do aroma, mas so-
mente com o hábito é possível adquirir o paladar apurado”,
sugere o bartender.
E uma informação valiosa surge em meio a conversa: a
melhor cachaça do Brasil é baiana. Em 2011, uma importante
revista de circulação nacional reuniu um grupo de especia-
listas, além de consumidores amadores, que, numa eleição
às cegas, apontaram a Serra das Almas, produzida em Rio de
Contas, na Chapada Diamantina, como a melhor cachaça do
país. “temos outras cachaças de extrema qualidade produzi-
das por aqui, em cidades como Abaíra e Itarantim. Elas ainda
seguem aquele preceito da produção artesanal, com alambi-
ques revestidos com parafina, para não haver alteração de
sabor”, confirma Edson Souza.
Se você ficou com vontade de tomar aquele trago no fim
de semana, vale uma dica importante do nosso especialista
em cachaça. “Para conhecer cachaça boa é preciso curiosi-
dade. Você precisa conhecer a cultura da região na qual a
bebida foi produzida. Cada cidade tem suas particularida-
des, suas técnicas. Vale inclusive viajar e fazer tours por fa-
zendas de produção espalhadas pelo interior. um bom lugar
para começar é pela cidade de A baíra. O pessoal de lá sabe
o que faz”.
Acervo Cachacaria Água Doce
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49
planoB indica
MÚSICA
Choro do Uirapuru
O grupo Choro do uirapuru, formado
pelos violões de Carlos Chenaud e Rob-
son Barreto, pelo saxofonista Marcelo
Bagano e pela cantora e pandeirista Ana
tomich, se apresenta na Varanda do SESI
com o melhor do samba e do choro ins-
trumental. Os músicos trazem um reper-
tório inspirado no melhor do cancioneiro
nacional, com destaque para canções
como “1 x O” de Pixinguinha, “São Jorge”
de Hermeto Pascoal, “Alma dos Violinos”
de Alcir Pires e Lamartine Babo, e “Você
Abusou” de Antonio Carlos e Jocafi.
Varanda do sesi - rio Vermelho
27 de setembro, às 22h
r$ 10
SHOw
III CACHOEIRADOC
ExPOSIçõES
Capoeira – luta, dança e jogo da liberdade
Entre 04 e 08 de dezembro, acontece no
Centro de Artes, Humanidades e Letras
(CAHL), da universidade Federal do Re-
côncavo da Bahia, a terceira edição do
Festival de Documentários de Cachoeira.
Com foco em documentários de curta,
média e longa-metragem, produzidos a
partir de 2011, o evento abrigará quatro
exibições – Mostra Competitiva Nacional,
Mostra Competitiva Bahia, Mostras Es-
peciais, Ciclo de Conferências e Oficinas.
Centro de artes, humanidades e le-
tras (Cahl)
04 a 08 de dezembro
gratuito
A mostra itinerante “Capoeira – luta, dança e jogo da liberdade” apresenta fotografias
de André Cypriano, fruto de uma pesquisa para o livro homônimo – com textos de Ro-
drigo de Almeida e Letícia Pimenta – lançado em 2009. Os trabalhos resgatam a histó-
ria da capoeira, desde seu surgimento no Brasil Colonial até os dias de hoje, ressaltan-
do aspectos de promoção e valorização da cultura nacional, além de sua função de
agregação social. A exposição é composta por 40 fotografias, além de 10 ilustrações
(de autoria de Debret e Auguste Earle, entre outros) e de textos explicativos.
solar ferrão
até 30 de setembro
gratuito - acesso para deficientes físicos
TEATRO
Ópera Carmem
Entre os dias 13 e 17 de setembro, o
tCA recebe a ópera “Carmem”, do
compositor francês Georges Bizet, em
celebração aos 30 anos de fundação
da Associação Lírica da Bahia (ALBA).
A montagem mantém texto original e
aborda a história de uma bela cigana
que enxerga o amor e a paixão como
sentimentos livres. Carmen é vivida
pelas mezzo-sopranos Aurhelia Varak
(França) e Mere Oliveira (São Paulo). O
cast conta com 15 solistas e um elenco
formado por quase 200 pessoas.
teatro Castro alves
13 a 17 de setembro
r$ 50,00 (inteira) e r$ 25,00 (meia)
Foto divulgação Foto divulgação Foto divulgação
Foto divulgação
50
OPINIÃO
Netnografia:o estudo da influência do consumidor 2.0Pedro CordierFormado em Marketing, Pós-Graduado em
Jornalismo Digital e Especialista em Comunicação,
Criatividade e Conectividade. CEO da Startup
Equilibra Digital, apontado como "o melhor perfil
de Profissional de Comunicação no twitter", pelo
site Midiatismo | @PedroCordierArquivo pessoal
Com o crescimento e a evolução do mercado digital, as em-
presas estão começando a perceber que a internet não é um
modismo passageiro. Muito pelo contrário! Faz-se necessário
aprofundar o conhecimento sobre essa revolução nos hábi-
tos, gostos, culturas e, até mesmo, das crenças do novo con-
sumidor. Enquanto algumas empresas ainda parecem estar
paralisadas diante de tamanhas mudanças, outras já estão
buscando monitorar e, principalmente, entender o que está
se falando a respeito da sua marca, seus produtos e serviços,
além, é claro, do que está sendo dito sobre a concorrência.
A evolução natural de todo esse processo (que iniciou por
volta de 1970 e começou a alcançar a população em 1990,
quando tim Bernes-Lee desenvolveu a World Wide Web, pos-
sibilitando a utilização de uma interface gráfica e a criação
de sites mais dinâmicos e visualmente interessantes) trouxe
novas possibilidades de análise e, junto com elas, surgiu a
Netnografia, que, segundo a Wikipedia, “é o ramo da Etnogra-
fia que analisa o comportamento de indivíduos na Internet”.
Através do método netnográfico, as conversas nas redes
sociais online são analisadas para que o sentimento e o com-
portamento de um determinado público, em relação a um
assunto específico (marca, serviço, produto, tema), seja cons-
truído, gerando uma fonte de inteligência para as empresas.
A comunicação, criatividade e conectividade que pulsam nos
ambientes digitais online, evidenciam as possibilidades de
colaboração e aprendizado coletivo. Por isso, esses ambien-
tes são bastante propícios para encontrar pessoas reunidas
em prol de interesses comuns. O Orkut, por exemplo, ainda
sobrevive graças às milhares de comunidades que ainda con-
centram atividades intensas sobre marcas, eventos, artistas e
comunidades de interesses comuns.
Além das redes sociais mais “tradicionais”, como Orkut
e Facebook, começam a surgir diversas outras redes como o
Instagram (fotografia) e o Pinterest (imagens), que agregam
interesses de pessoas sobre os mais diversos assuntos, tendo
como ponto em comum, o estímulo visual. Outro hábito bas-
tante inerente ao estudo netnográfico é a motivação que as
pessoas têm em discutir a informação e a compartilhar suas
percepções (interesses, dúvidas, sugestões, preferências e in-
satisfações) sobre ela. O grau de conhecimento dessas pes-
soas e o conteúdo proveniente desse compartilhamento de
ideias é tamanho, que chega ao ponto de superar o próprio
conhecimento dos desenvolvedores dos produtos.
A UTIlIzAçÃO DA NETNOgRAFIA Se uma empresa deseja realizar um estudo netnográfico,
deve definir o tema para a investigação e o objetivo para a
pesquisa. Ao lançar um novo aplicativo na área de música,
por exemplo, pode definir como tema de investigação, a uti-
lização desse aplicativo pelas pessoas e buscar comentários
e opiniões sobre o assunto em fóruns, blogs especializados e
em menções nas redes sociais online.
A netnografia tem um grande potencial para fornecer
informações interessantes que podem culminar em insights
para a estratégia de comunicação e atuação de uma marca
no ambiente digital e, até mesmo, no mundo dos átomos. Se a
sua empresa ainda não percebeu o potencial colaborativo e o
poder de compartilhamento do consumidor 2.0, é bom enco-
mendar uma boa pesquisa netnográfica e começar a prestar
atenção nesse “pequeno detalhe” que está fazendo toda a
diferença no resultado de negócios dos mais diversos tama-
nhos e áreas de atuação. #FicaDica