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Ministério Público do Estado de Goiás Procuradoria-Geral de Justiça Goiânia 2017 PARQUET em foco Escola Superior do Ministério Público do Estado de Goiás n. 1

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Page 1: Revista Parquet em foco/Escola Superior do Ministério ......e professor de Ciências Penais com especialização em Criminologia no Instituto Nacional de Ciências Penais, bem como,

Ministério Público do Estado de GoiásProcuradoria-Geral de Justiça

Goiânia2017

PARQUETem focoEscola Superior do Ministério Público do Estado de Goiás

n. 1

Procuradoria-Geral de Justiça Procurador-Geral de Justiça: Benedito Torres Neto

Escola Superior do Ministério Público do Estado de Goiás

Escola Superior do Ministério Público do Estado de Goiás

Rua 23, esquina c/ Av. Fued José Sebba, Qd. A 06, Lts. 15/24 Jardim Goiás - Goiânia - Goiás - CEP 74.805-100 fone:324308000

e-mail: [email protected];http://www.mpgo.mp.br;

[email protected];

A responsabilidade dos trabalhos publicados é exclusivamente de seus autores.Pede-se permuta On demande l1échange We ask for exchange

T.G.G. CRB 1842

Editoração, projeto gráfico e diagramação: Coordenação de Editoração da ESMP-GO (Fabiana Figueiredo) Entrevista: Apoio Técnico em Comunicação da ESMP-GO (Elaine Borges)

Revisão ortográfica: Tikinet Créditos fotos: Assessoria de Comunicação do MPGO (João Sérgio) (capa, p.7,15,20,27,40 sup.,47,57,63);

Edição Ltda

banco de imagens (p.17,19,22,28,30,39,42,49, 58 e 61) imagens cedidas pelos autores: 35,40 inf.,44,51,e

Impressão: Cir Gráfica e Editora LtdaTiragem: 500 exemplares

Subprocurador-Geral de Justiça para Assuntos AdministrativosSubprocuradoria-Geral de Justiça: Carlos Alberto Fonseca

Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos InstitucionaisSubprocuradoria-Geral de Justiça: Aylton Flávio Vechi

Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos JurídicosSubprocuradoria-Geral de Justiça: Sérgio Abinagem Serrano

Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de GoiásCorregedor-Geral: Abraão Júnior Miranda Coelho

Ouvidoria de Justiça do Estado de GoiásOuvidora: Orlandina Brito Pereira

Diretor: Flávio Cardoso Pereira

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

54,55,66,68,69 e 70)

Revista Parquet em foco/Escola Superior do Ministério Público de Goiás. -- Goiânia:

ESMP-GO. - v.1.n.1, (set/dez 2017). 20 x 28 cm.Quadrimestral

1. Direito (Ciência Jurídica) - Brasil. I.Goiás (Estado) - Ministério Público. II.Escola Superior do Ministério Público do Estado de Goiás. III. Título.

CDU:34(05)

Editor / Autor corporativo: MPGO

Corpo Editorial da Revista: p.4

Page 2: Revista Parquet em foco/Escola Superior do Ministério ......e professor de Ciências Penais com especialização em Criminologia no Instituto Nacional de Ciências Penais, bem como,

Ministério Público do Estado de GoiásProcuradoria-Geral de Justiça

Goiânia2017

PARQUETem focoEscola Superior do Ministério Público do Estado de Goiás

n. 1

Procuradoria-Geral de Justiça Procurador-Geral de Justiça: Benedito Torres Neto

Escola Superior do Ministério Público do Estado de Goiás

Escola Superior do Ministério Público do Estado de Goiás

Rua 23, esquina c/ Av. Fued José Sebba, Qd. A 06, Lts. 15/24 Jardim Goiás - Goiânia - Goiás - CEP 74.805-100 fone:324308000

e-mail: [email protected];http://www.mpgo.mp.br;

[email protected];

A responsabilidade dos trabalhos publicados é exclusivamente de seus autores.Pede-se permuta On demande l1échange We ask for exchange

T.G.G. CRB 1842

Editoração, projeto gráfico e diagramação: Coordenação de Editoração da ESMP-GO (Fabiana Figueiredo) Entrevista: Apoio Técnico em Comunicação da ESMP-GO (Elaine Borges)

Revisão ortográfica: Tikinet Créditos fotos: Assessoria de Comunicação do MPGO (João Sérgio): p.7,15,20,27,40superior,47,57,63;

Edição Ltda

Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal de Itumbiara (Heber Arantes): p.68superior, 69 e 70);

Impressão: Cir Gráfica e Editora LtdaTiragem: 500 exemplares

Subprocurador-Geral de Justiça para Assuntos AdministrativosSubprocuradoria-Geral de Justiça: Carlos Alberto Fonseca

Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos InstitucionaisSubprocuradoria-Geral de Justiça: Aylton Flávio Vechi

Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos JurídicosSubprocuradoria-Geral de Justiça: Sérgio Abinagem Serrano

Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de GoiásCorregedor-Geral: Abraão Júnior Miranda Coelho

Ouvidoria de Justiça do Estado de GoiásOuvidora: Orlandina Brito Pereira

Diretor: Flávio Cardoso Pereira

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

Revista Parquet em foco/Escola Superior do Ministério Público de Goiás. -- Goiânia:

ESMP-GO. - v.1.n.1, (set/dez 2017). 20 x 28 cm.

1. Direito (Ciência Jurídica) - Brasil. I.Goiás (Estado) - Ministério Público. II.Escola Superior do Ministério Público do Estado de Goiás. III. Título.

CDU:34(05)

Editor / Autor corporativo: MPGO

Corpo Editorial da Revista: p.3

Quadrimestral ISSN 2594-634X

banco de imagens do MPGO/iStock: p.17,19,22,28,30,37,42,49,58 e 61 e imagens cedidas pelos autores: p.35,40inferior,44,51,54,55,66,68inferior.

Page 3: Revista Parquet em foco/Escola Superior do Ministério ......e professor de Ciências Penais com especialização em Criminologia no Instituto Nacional de Ciências Penais, bem como,

COLABORADORES

FLÁVIO CARDOSO PEREIRA

ALEXANDER ARAÚJO DE SOUZA

ANA TERESA SILVA DE FREITAS

FERNANDO BRAGA VIGGIANO

GERMÁN GUILLÉN LÓPEZ

GUSTAVO DOS REIS GAZZOLA

JOÃO PORTO SILVÉRIO JÚNIOR

LAURA ZÚÑIGA RODRÍGUEZ

LEONARDO SCHMITT DE BEM

Presidente do Conselho Editorial da Escola Superior do MPGO. Pós-doutor pela Universidade de Coimbra (Portugal).Doutor em Direito pela Universidade de Salamanca (Espanha).Diretor da ESMPGO e promotor de Justiça do MPGO.

Doutor em Direito Penal e Filosofia do Direito pela Università degli Studi Roma (Itália) e promotor de Justiça do MPRJ.

Doutora em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão e promotora de Justiça do MPMA.

Doutor em Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e promotor de Justiça do MPGO.

Doutor em Direito pela Universidade de Salamanca (Espanha)e professor de Ciências Penais com especialização em Criminologia no Instituto Nacional de Ciências Penais, bem como, da Universidade de Sonora - México.

Pós-doutor pela Ius Gentium Conimbrigae - Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Portugal), doutor em Direito Penal pela PUC-SP e promotor de Justiça do MPSP.

HERMES ZANETI JÚNIORPós-doutor em Direito pela Università degli Studi di Torino (Itália). Doutor e mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e promotor de Justiça do MPES.

Doutor em Direito Processual pela PUC-MG e Università Degli Studi Roma (Itália) e promotor de Justiça do MPGO.

Doutora pela Universidade de Salamanca e Catedrática acreditada de Direito Penal na Universidade de Salamanca (Espanha).

Doutor em Direito Penal Italiano, Comparado e Internacional pela Università degli Studi di Milano (Itália) em cotutela com a Universidad de Castilla La Mancha (Espanha) e professor-adjunto de Direito e Processo Penal na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

NICOLÁS RODRÍGUEZ GARCÍACatedrático de Direto Processual da Universidade de Salamanca (Espanha). Recebeu o Prêmio Extraordinário de Doutorado, e tem desenvolvido estudos nas Universidades de Kansas, Turim e Coimbra. Diretor do curso de doutorado Estado de Direito e Boa Governança e avaliador nacional e internacional de mestrados, doutorados e pós-Graduações, em especial na área de Ciências Jurídicas e Sociais.

CONSELHO eDITORIAL

DELSON LEONE JÚNIORPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

EDILSON MOUGENOT BONFIMProcurador de Justiça Criminal em São Paulo.

FERNANDO REVERENDO VIDAL AKAOUIPromotor de Justiça do Estado de São Paulo.

FLÁVIO CARDOSO PEREIRAPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

IGOR PEREIRA PINHEIROPromotor de Justiça do Estado do Ceará.

LUCIANO MIRANDA MEIRELESPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

MARCELO LAMYAdvogado e consultor jurídico.

PUBLIUS LENTULUS ALVES DA ROCHAPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

REUDER CAVALCANTE MOTTAPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

ROGÉRIO SANCHES CUNHAPromotor de Justiça do Estado de São Paulo.

RÔMULO CORRÊA DE PAULAPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

SIBELE RESENDE PRUDENTEAdvogada.

NICOLAU ELÁDIO BASSALO CRISPINODoutor em Direito Civil pela USP, professor associado do curso de Graduação em Direito e de mestrado em Direito Ambiental e Políticas Públicas da Universidade Federal do Amapá e procurador de Justiça do MPAM.

Doutora em Direito pela Universidade de Salamanca - Espanha e professora e pesquisadora da Área Penal da Universidade Colegio Mayor Nuestra Señora del Rosario (Colômbia).

TARSIS BARRETO OLIVIERADoutor em Direito pela UFBA e professor-adjunto de Direito Penal da Universidade Federal do Tocantins, de Direito Penal e Processo Penal da Unitins e do mestrado em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos da UFT/ESMAT. Coordenador e professor da Especialização em Ciências Criminais da UFT.

PAOLA CASABIANCA

CONSELHO eDITORIAL e colaboradores índice

EDITORIAL .............................................................................................................05

ARTIGOS Lei da Alienação Parental: uma faca de dois gumes ........................................ 15PUBLIUS LENTULUS ALVES DA ROCHA

Pressupostos para uma política de saúde mental do trabalhador.................. 20FERNANDO REVERENDO VIDAL AKAOUI / MARCELO LAMY

A polêmica diferenciação de preço de ingresso entre homens e mulheres .. 27RÔMULO CORRÊA DE PAULA

Inimputabilidade penal em razão da idade: passado, presente e futuro ...... 35ROGÉRIO SANCHES CUNHA

As concepções de meio ambiente como ferramenta da conscientização ambiental .......................................................................................................... 40DELSON LEONE JÚNIOR / SIBELE RESENDE PRUDENTE

A realidade do estupro virtual .......................................................................... 47LUCIANO MIRANDA MEIRELES

A necessidade de readequar a atuação funcional do Ministério Público Comum (Estadual e Federal) às peculiaridades do ano eleitoral ................................... 51IGOR PEREIRA PINHEIRO

Cooptação de agentes públicos: o auge da corrupção? ................................... 57FLÁVIO CARDOSO PEREIRA

ENTREVISTA Para onde caminha o Ministério Público? ..........................................................07EDILSON MOUGENOT BONFIM

PROJETO EM DESTAQUESoluções Cidadãs: a Câmara Municipal e o Ministério Público ouvem a Universidade e você ......................................................................................... 63REUDER CAVALCANTE MOTTA

cursos e eventos Escola Superior do MPGO - mar/nov 2017.......................................................... 72

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COLABORADORES

FLÁVIO CARDOSO PEREIRA

ALEXANDER ARAÚJO DE SOUZA

ANA TERESA SILVA DE FREITAS

FERNANDO BRAGA VIGGIANO

GERMÁN GUILLÉN LÓPEZ

GUSTAVO DOS REIS GAZZOLA

JOÃO PORTO SILVÉRIO JÚNIOR

LAURA ZÚÑIGA RODRÍGUEZ

LEONARDO SCHMITT DE BEM

Presidente do Conselho Editorial da Escola Superior do MPGO. Pós-doutor pela Universidade de Coimbra (Portugal).Doutor em Direito pela Universidade de Salamanca (Espanha).Diretor da ESMPGO e promotor de Justiça do MPGO.

Doutor em Direito Penal e Filosofia do Direito pela Università degli Studi Roma (Itália) e promotor de Justiça do MPRJ.

Doutora em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão e promotora de Justiça do MPMA.

Doutor em Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e promotor de Justiça do MPGO.

Doutor em Direito pela Universidade de Salamanca (Espanha)e professor de Ciências Penais com especialização em Criminologia no Instituto Nacional de Ciências Penais, bem como, da Universidade de Sonora - México.

Pós-doutor pela Ius Gentium Conimbrigae - Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Portugal), doutor em Direito Penal pela PUC-SP e promotor de Justiça do MPSP.

HERMES ZANETI JÚNIORPós-doutor em Direito pela Università degli Studi di Torino (Itália). Doutor e mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e promotor de Justiça do MPES.

Doutor em Direito Processual pela PUC-MG e Università Degli Studi Roma (Itália) e promotor de Justiça do MPGO.

Doutora pela Universidade de Salamanca e Catedrática acreditada de Direito Penal na Universidade de Salamanca (Espanha).

Doutor em Direito Penal Italiano, Comparado e Internacional pela Università degli Studi di Milano (Itália) em cotutela com a Universidad de Castilla La Mancha (Espanha) e professor-adjunto de Direito e Processo Penal na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

NICOLÁS RODRÍGUEZ GARCÍACatedrático de Direto Processual da Universidade de Salamanca (Espanha). Recebeu o Prêmio Extraordinário de Doutorado, e tem desenvolvido estudos nas Universidades de Kansas, Turim e Coimbra. Diretor do curso de doutorado Estado de Direito e Boa Governança e avaliador nacional e internacional de mestrados, doutorados e pós-Graduações, em especial na área de Ciências Jurídicas e Sociais.

CONSELHO eDITORIAL

DELSON LEONE JÚNIORPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

EDILSON MOUGENOT BONFIMProcurador de Justiça Criminal em São Paulo.

FERNANDO REVERENDO VIDAL AKAOUIPromotor de Justiça do Estado de São Paulo.

FLÁVIO CARDOSO PEREIRAPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

IGOR PEREIRA PINHEIROPromotor de Justiça do Estado do Ceará.

LUCIANO MIRANDA MEIRELESPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

MARCELO LAMYAdvogado e consultor jurídico.

PUBLIUS LENTULUS ALVES DA ROCHAPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

REUDER CAVALCANTE MOTTAPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

ROGÉRIO SANCHES CUNHAPromotor de Justiça do Estado de São Paulo.

RÔMULO CORRÊA DE PAULAPromotor de Justiça do Estado de Goiás.

SIBELE RESENDE PRUDENTEAdvogada.

NICOLAU ELÁDIO BASSALO CRISPINODoutor em Direito Civil pela USP, professor associado do curso de Graduação em Direito e de mestrado em Direito Ambiental e Políticas Públicas da Universidade Federal do Amapá e procurador de Justiça do MPAM.

Doutora em Direito pela Universidade de Salamanca - Espanha e professora e pesquisadora da Área Penal da Universidade Colegio Mayor Nuestra Señora del Rosario (Colômbia).

TARSIS BARRETO OLIVIERADoutor em Direito pela UFBA e professor-adjunto de Direito Penal da Universidade Federal do Tocantins, de Direito Penal e Processo Penal da Unitins e do mestrado em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos da UFT/ESMAT. Coordenador e professor da Especialização em Ciências Criminais da UFT.

PAOLA CASABIANCA

CONSELHO eDITORIAL e colaboradores índice

EDITORIAL .............................................................................................................05

ARTIGOS Lei da Alienação Parental: uma faca de dois gumes ........................................ 15PUBLIUS LENTULUS ALVES DA ROCHA

Pressupostos para uma política de saúde mental do trabalhador.................. 20FERNANDO REVERENDO VIDAL AKAOUI / MARCELO LAMY

A polêmica diferenciação de preço de ingresso entre homens e mulheres .. 27RÔMULO CORRÊA DE PAULA

Inimputabilidade penal em razão da idade: passado, presente e futuro ...... 35ROGÉRIO SANCHES CUNHA

As concepções de meio ambiente como ferramenta da conscientização ambiental .......................................................................................................... 40DELSON LEONE JÚNIOR / SIBELE RESENDE PRUDENTE

A realidade do estupro virtual .......................................................................... 47LUCIANO MIRANDA MEIRELES

A necessidade de readequar a atuação funcional do Ministério Público Comum (Estadual e Federal) às peculiaridades do ano eleitoral ................................... 51IGOR PEREIRA PINHEIRO

Cooptação de agentes públicos: o auge da corrupção? ................................... 57FLÁVIO CARDOSO PEREIRA

ENTREVISTA Para onde caminha o Ministério Público? ..........................................................07EDILSON MOUGENOT BONFIM

PROJETO EM DESTAQUESoluções Cidadãs: a Câmara Municipal e o Ministério Público ouvem a Universidade e você ......................................................................................... 63REUDER CAVALCANTE MOTTA

cursos e eventos Escola Superior do MPGO - mar/nov 2017.......................................................... 72

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Cordiais cumprimentos aos leitores da Parquet em Foco. Apresentamos neste primeiro número um projeto que nasce com o propósito de constituir-se em um amplo e dinâmico espaço de debate de temas atuais, e primar-se-á pela busca de temas atinentes à realidade de atuação prática do Ministério Público.

A Escola Superior do Ministério Público de Goiás lança mais esse canal de interlocução e propagação de ideias, com a proposta de disseminar conhecimentos que resultem em aprimoramento intelectual e, consequentemente, no aperfeiçoamento social. Uma publicação, identificada pelo ISSN (International Standard Serial Number), que pretende garantir visibilidade qualificada do pensamento do MP com seus avanços na atuação.

Para esta edição fomos presenteados com a análise direta e complexa do papel do MP diante dos novos desafios institucionais, com a posição fundamentada do procurador de Justiça Criminal em São Paulo, Edilson Mougenot Bonfim, doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri (Espanha). Ele é o entrevistado desta edição da Parquet em Foco, contribuindo com sua mestria argumentativa para destacar os principais avanços históricos e contextuais do Ministério Público, bem como sua atuação relativamente limitada em algumas searas. Edilson Mougenot avalia o desempenho do MP na área criminal, tece considerações sobre o aumento da criminalidade violenta no Brasil e como os ministérios públicos estaduais podem contribuir para mudar o quadro.

A Parquet traz ao foco também artigos de excelência na argumentação que proporcionam interlocuções com a atuação funcional do MP destacando peculiaridades do ano eleitoral que se aproxima, uma forma, segundo sublinha o promotor de Justiça do MP do Ceará, Igor Pinheiro, de suscitar o debate e fomentar uma atuação diferenciada dos promotores de Justiça e procuradores da República nos pleitos vindouros.

Entra em discussão também, com muita propriedade, a ‘‘Inimputabilidade Penal em Razão da Idade’’, texto de autoria do promotor de Justiça do MP de São Paulo, Rogério Sanches, que nos presenteia com sua análise sobre a proposta de Emenda Constitucional nº 171/1993- já aprovada pela Câmara dos Deputados- para alteração do artigo 228 da Constituição Federal de 1988.

‘‘A Realidade do Estupro Virtual’’ é outra temática que será apresentada com excelência para os leitores da Parquet em Foco pelo promotor de Justiça do MPGO e coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal, Luciano Miranda Meireles, que faz considerações sobre o surgimento dessa modalidade de estupro divulgada na mídia, e que ganhou nomenclatura específica e dissociada de sua gravidade em razão de seu modus operandi.

A ‘‘Lei da Alienação Parental’’ (Lei nº 12.318/2010), com seu dilema trazido ao contexto jurídico pátrio, é um tema abordado pelo promotor de Justiça e coordenador do Centro de

editorial

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PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

Apoio Operacional da Infância do MPGO, Publius Lentulus Rocha, que apresenta a evolução da sociedade e os novos moldes do conceito que trazem em seu bojo, como um dos efeitos colaterais, esse comportamento que pode configurar-se em uma faca de dois gumes.

A falta de consenso entre os integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor sobre ‘‘A polêmica diferenciação de preço de ingresso entre homens e mulheres’’ é matéria de análise do promotor de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional do Consumidor e Terceiro Setor, Rômulo Corrêa de Paula. O tema exposto reflete a ruptura de paradigma que deve ocorrer pelas mãos dos operadores do Direito, em função da matéria ser jurídica e não econômica.

A reflexão sobre Ecosofia, Educação Ambiental e as várias concepções de meio ambiente são apresentadas por meio de referencial teórico e estudo de caso, no trabalho produzido pelo promotor de Justiça do MPGO e coordenador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente e Urbanismo, Delson Leone Júnior em coautoria com a advogada e professora, Sibele Resende Prudente. O texto aponta os vários caminhos percorridos pelas concepções de meio ambiente, passando desde a noção simplista, até chegar a um entendimento mais complexo.

A Parquet também traz ao debate os pressupostos para uma Política de Saúde Mental do Trabalhador, em um texto dos doutores em Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Fernando Reverendo Vidal Akaoui e Marcelo Lamy, propondo uma breve reflexão de como o ambiente de trabalho atual conduz a transtornos mentais e a discussão de qual seria a política nacional efetiva de proteção a saúde mental.

No grupo desses articulistas, contribuo com minha reflexão sobre a ‘‘Cooptação de agentes públicos’’ diante do fenômeno da corrupção, que, nos dias atuais, consiste no flagelo destrutivo ao tecido político, econômico e social da grande maioria das civilizações, sejam adeptas de regimes democráticos ou ditatoriais.

Propomos ainda nesta edição o diálogo com iniciativas exitosas, como a compartilhada por meio do projeto Soluções Cidadãs de autoria do promotor de Justiça do MPGO, Reuder Cavalcante Motta, que busca a integração da Universidade, da Câmara Municipal, do Ministério Público e o cidadão em busca da resolução de problemas públicos da cidade, neste foco, Itumbiara, no estado de Goiás.

Outros pensamentos, com certeza, estarão em foco neste espaço reservado ao diálogo atualizado sobre as diversas temáticas que possam surgir e encontrarão terreno fértil.

Uma ótima reflexão a todos qualificados leitores e futuros possíveis colaboradores desta nova publicação que pretende unir pensamentos para enfrentar desafios comuns.

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FLÁVIO CARDOSO PEREIRA

Goiânia, dezembro 2017.

Promotor de Justiça e Diretor da ESMPGO

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A Constituição de 1988, que em 2017 completou 29 anos, revolucionou o Ministério Público brasileiro. O que se pode destacar neste processo evolutivo que quebrou paradigmas e o que não se conseguiu avançar e seria essencial para a defesa da ordem jurídica?

Toda vez que quebramos paradigmas, como ocorreu com o fortalecimento do Ministério Público ao receber do constituinte um novo e importante perfil, precisamos respeitar um tempo de depuração para que se possa avaliar concretamente os resultados das mudanças havidas. Esse tempo, contudo, não é cientificamente definível para tal balanço, uma vez que a complexidade da sociedade atual e a criação de novos mecanismos de proteção social não nos permitem um estabelecimento adequado dessa medida.

Mas não haveria um tempo razoável para essa aferição?

Respondo com a seguinte pergunta: qual seria, assim, um tempo razoável para a aferição do atendimento de demandas, de um novo remédio jurídico, um novo campo de atuação? É de se notar que cada

para onde caminha o ministério pÚblico?

PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

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ENTREVISTA

EDILSONMOUGENOT

BONFIM

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instituto, cada nova área de nossa atuação, terá um tempo de maturação próprio que lhe será inerente, diante de todas as dificuldades de implantação prática, dificilmente antevistas em sua totalidade e, ainda que o fossem, claramente mutáveis ou variáveis, porque a sociedade não avança simetricamente em suas diversas áreas, mas avança – se avança – em movimentos diversos, sinuosos, atabalhoados, por vezes celeremente, por vezes lentamente, noutras vezes, ainda, em vez de avançar, recua. Então aquilo que houvera sido uma aspiração enquanto teoria, mesmo que positivada em lei, muitas vezes não se efetiva na prática, ou se efetiva tíbia ou tardiamente. Desse m o d o , q u a l q u e r e x p e c t a t i v a d e cientificidade em uma tal resposta seria certamente pura especulação. Contudo, arrisco-me a dizer que, em grandes linhas, o Ministério Público avançou forte, clara e efetivamente em suas novas áreas de atuação, sobretudo, a proteção dos direitos difusos, cujo avanço não se deu na mesma medida, a meu sentir, na atuação relativa à área criminal, que é justamente a origem de nosso “parquet” no Brasil e, hoje, nossa mais evidente necessidade. Abraçamos o novo com vigor, mas nos esquecemos um pouco do “velho”, que é tão útil e imprescindível. A necessidade, pois, nada tem a ver com preconceito cronológico: as áreas ditas novas, como as velhas, são necessárias e reclamam

análoga atenção. Esse fenômeno, a meu ver, precisa ser analisado sob a ótica de alguns diversos vetores e levados em consideração: toda área dita “nova”, por ter nascido de uma necessidade e de uma aspiração, pelo simples fato de ser novidade, por mínimo que seja, ainda assim apareceria aos olhos da sociedade, porque eram campos antes demandados, mas de parcas soluções jurídicas, para alguns casos até inexistentes. Aquilo que não existe, não vejo, aquilo que necessito, tão logo apareça, vejo, identifico e aplaudo. Então, os colegas neste campo envolvidos, sentindo o chamado à primazia, investiram e construíram uma nova e bela realidade com muito empenho. Quanta efetividade, quanta ação na proteção ao meio ambiente, na proteção ao consumidor, na proteção ao patrimônio público e seus novos remédios? Fizeram e fazem, pois, um grande trabalho, que por sua vez foi ancorado, protegido e incentivado por diversas áreas conexas e necessárias às nossas aspirações, sobretudo, Legislativo e Executivo – ademais do acatamento responsivo do Judiciário – e que foi igualmente apoiado por diversos organismos da chamada sociedade civil. A força política, para tanto, vem até do estrangeiro, porquanto muitos países de cr iminal idade diminuta investiram fortemente nestas novas áreas, gerando um discurso comum a todos, uma pauta mundial. Houve, assim, um fomento

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cultural e financeiro, um direcionamento de foco e convergência de forças, como também uma política de gestão ministerial que tinha e tem nessas áreas um claro empenho. O progresso, então, foi notável: seja porque se partiu praticamente do zero e todo o crescimento foi evidenciado, seja porque, principalmente, houve um evidente apoio das instituições e poderes envolvidos.

Como avalia o desempenho na área criminal?

Na área criminal, a meu sentir, os avanços não podem se equiparar. E falo com certa tristeza por ser do MP Criminal onde atuo a tanto tempo. Deixe-me ser mais claro: houve avanço, evidentemente, pelas mesmas razões que já apontei, mas em domínios pontuais: havia lei, doutrina, jurisprudência que tratasse do crime organizado? E o discurso de combate à corrupção, não é uma pauta mundial, que antes não havia? E a “Lei Maria da Penha”, apoiada não só no Brasil mas por ONGs internacionais, para f icarmos nos exemplos mais conhecidos?! Assim, todas essas áreas são de criação e estruturação recentes, portanto, e que encontraram o necessário eco no Legislativo e Judiciário, apoio na sociedade civil e um grande e igual chamamento dos colegas que a elas se entregaram com devoção. Constituiram-se os GAECOs, outros grupos e promotorias especializadas, como a promotoria destinada a coibir a violência doméstica, as promotorias que se especializaram no combate à lavagem de dinheiro e à corrupção! Nesses campos, só tivemos progresso, tudo nasceu, cresceu, deu frutos e vivificou.

Então, onde faltou avanço?

Justamente nas áreas clássicas de nossa atuação no combate à criminalidade, aquela que defende a sociedade dos crimes que existiam ontem, hoje e que sempre existirão, ou seja, os crimes cujos bem jurídicos são tutelados pelo direito penal clássico e a que a Constituição impõe claros mandados de criminalização: homicídio, roubo, estupro etc. Estas áreas, se não atrofiaram, não andam ainda pari passu diante da expressiva demanda. Assistimos a uma escalada de violência no Brasil nunca antes vista nesse país nem no mundo. Ou seja, voltamos os olhos para as novas e necessárias demandas, mas nos faltou o fomento de infraestrutura, financeiro, direcionado para áreas de importância visceral de nossa existência e que nos legitima diante de nossa comunidade. Vejamos, o que impacta mais em uma das milhares de comarcas brasileiras, a prisão de um político conhecido, de um grande empresário, alguém que viva na capital da República ou em outra grande cidade, ou a prisão de um estuprador ou assaltante nos pequenos e m é d i o s c e n t r o s u r b a n o s , o n d e conhecemos réu e vítima e, sobretudo, as consequências diretas de tal crime? Choca mais a impunidade de um político corrupto do Poder Central – dentre tantos casos que tivemos e temos – ou a impunidade do assaltante de casas, assaltante nas ruas, dos milhares de homicidas que temos em todo o Brasil? Nossa legitimidade advém, especialmente, do reconhecimento social no combate à criminalidade que nos aflige, e esta tem sido lentamente enfraquecida, a meu sentir, no seio de parte do MP nacional.

ENTREVISTA

... o Ministério Público avançou forte, clara e efetivamente em suas novas áreas de atuação, sobretudo a proteção dos direitos difusos,

cujo avanço não se deu na mesma medida, a meu sentir, na atuação relativa à área criminal, que é justamente a origem de

nosso “parquet” no Brasil e, hoje, nossa mais evidente necessidade.

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PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

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instituto, cada nova área de nossa atuação, terá um tempo de maturação próprio que lhe será inerente, diante de todas as dificuldades de implantação prática, dificilmente antevistas em sua totalidade e, ainda que o fossem, claramente mutáveis ou variáveis, porque a sociedade não avança simetricamente em suas diversas áreas, mas avança – se avança – em movimentos diversos, sinuosos, atabalhoados, por vezes celeremente, por vezes lentamente, noutras vezes, ainda, em vez de avançar, recua. Então aquilo que houvera sido uma aspiração enquanto teoria, mesmo que positivada em lei, muitas vezes não se efetiva na prática, ou se efetiva tíbia ou tardiamente. Desse m o d o , q u a l q u e r e x p e c t a t i v a d e cientificidade em uma tal resposta seria certamente pura especulação. Contudo, arrisco-me a dizer que, em grandes linhas, o Ministério Público avançou forte, clara e efetivamente em suas novas áreas de atuação, sobretudo, a proteção dos direitos difusos, cujo avanço não se deu na mesma medida, a meu sentir, na atuação relativa à área criminal, que é justamente a origem de nosso “parquet” no Brasil e, hoje, nossa mais evidente necessidade. Abraçamos o novo com vigor, mas nos esquecemos um pouco do “velho”, que é tão útil e imprescindível. A necessidade, pois, nada tem a ver com preconceito cronológico: as áreas ditas novas, como as velhas, são necessárias e reclamam

análoga atenção. Esse fenômeno, a meu ver, precisa ser analisado sob a ótica de alguns diversos vetores e levados em consideração: toda área dita “nova”, por ter nascido de uma necessidade e de uma aspiração, pelo simples fato de ser novidade, por mínimo que seja, ainda assim apareceria aos olhos da sociedade, porque eram campos antes demandados, mas de parcas soluções jurídicas, para alguns casos até inexistentes. Aquilo que não existe, não vejo, aquilo que necessito, tão logo apareça, vejo, identifico e aplaudo. Então, os colegas neste campo envolvidos, sentindo o chamado à primazia, investiram e construíram uma nova e bela realidade com muito empenho. Quanta efetividade, quanta ação na proteção ao meio ambiente, na proteção ao consumidor, na proteção ao patrimônio público e seus novos remédios? Fizeram e fazem, pois, um grande trabalho, que por sua vez foi ancorado, protegido e incentivado por diversas áreas conexas e necessárias às nossas aspirações, sobretudo, Legislativo e Executivo – ademais do acatamento responsivo do Judiciário – e que foi igualmente apoiado por diversos organismos da chamada sociedade civil. A força política, para tanto, vem até do estrangeiro, porquanto muitos países de cr iminal idade diminuta investiram fortemente nestas novas áreas, gerando um discurso comum a todos, uma pauta mundial. Houve, assim, um fomento

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cultural e financeiro, um direcionamento de foco e convergência de forças, como também uma política de gestão ministerial que tinha e tem nessas áreas um claro empenho. O progresso, então, foi notável: seja porque se partiu praticamente do zero e todo o crescimento foi evidenciado, seja porque, principalmente, houve um evidente apoio das instituições e poderes envolvidos.

Como avalia o desempenho na área criminal?

Na área criminal, a meu sentir, os avanços não podem se equiparar. E falo com certa tristeza por ser do MP Criminal onde atuo a tanto tempo. Deixe-me ser mais claro: houve avanço, evidentemente, pelas mesmas razões que já apontei, mas em domínios pontuais: havia lei, doutrina, jurisprudência que tratasse do crime organizado? E o discurso de combate à corrupção, não é uma pauta mundial, que antes não havia? E a “Lei Maria da Penha”, apoiada não só no Brasil mas por ONGs internacionais, para f icarmos nos exemplos mais conhecidos?! Assim, todas essas áreas são de criação e estruturação recentes, portanto, e que encontraram o necessário eco no Legislativo e Judiciário, apoio na sociedade civil e um grande e igual chamamento dos colegas que a elas se entregaram com devoção. Constituiram-se os GAECOs, outros grupos e promotorias especializadas, como a promotoria destinada a coibir a violência doméstica, as promotorias que se especializaram no combate à lavagem de dinheiro e à corrupção! Nesses campos, só tivemos progresso, tudo nasceu, cresceu, deu frutos e vivificou.

Então, onde faltou avanço?

Justamente nas áreas clássicas de nossa atuação no combate à criminalidade, aquela que defende a sociedade dos crimes que existiam ontem, hoje e que sempre existirão, ou seja, os crimes cujos bem jurídicos são tutelados pelo direito penal clássico e a que a Constituição impõe claros mandados de criminalização: homicídio, roubo, estupro etc. Estas áreas, se não atrofiaram, não andam ainda pari passu diante da expressiva demanda. Assistimos a uma escalada de violência no Brasil nunca antes vista nesse país nem no mundo. Ou seja, voltamos os olhos para as novas e necessárias demandas, mas nos faltou o fomento de infraestrutura, financeiro, direcionado para áreas de importância visceral de nossa existência e que nos legitima diante de nossa comunidade. Vejamos, o que impacta mais em uma das milhares de comarcas brasileiras, a prisão de um político conhecido, de um grande empresário, alguém que viva na capital da República ou em outra grande cidade, ou a prisão de um estuprador ou assaltante nos pequenos e m é d i o s c e n t r o s u r b a n o s , o n d e conhecemos réu e vítima e, sobretudo, as consequências diretas de tal crime? Choca mais a impunidade de um político corrupto do Poder Central – dentre tantos casos que tivemos e temos – ou a impunidade do assaltante de casas, assaltante nas ruas, dos milhares de homicidas que temos em todo o Brasil? Nossa legitimidade advém, especialmente, do reconhecimento social no combate à criminalidade que nos aflige, e esta tem sido lentamente enfraquecida, a meu sentir, no seio de parte do MP nacional.

ENTREVISTA

... o Ministério Público avançou forte, clara e efetivamente em suas novas áreas de atuação, sobretudo a proteção dos direitos difusos,

cujo avanço não se deu na mesma medida, a meu sentir, na atuação relativa à área criminal, que é justamente a origem de

nosso “parquet” no Brasil e, hoje, nossa mais evidente necessidade.

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Poderia nos esclarecer especificamente esse ponto dada a sua importância?

Primeiramente, deve ser dito que não falta empenho dos colegas do MP em suas atuações nas tradicionais promotorias criminais, aliás, bem ao contrário: vejo-os como abnegados heróis anônimos, valentes membros de nossa instituição que não encontram o devido amparo da chamada academia (as universidades), do Legislativo, por vezes do Judiciário e noutras vezes, ainda, nem dentro do próprio Ministério Público, que vez por outra encontra em algum de seus membros uma forte oposição ao próprio trabalho de aplicação da lei penal vigente, gerando um autofágico conflito de visões. É só um aparente paradoxo, como explicarei. O caminho inicial percorrido por todo promotor, antes de sê-lo, é pela vivência acadêmica. Freud dizia que a criança é o pai do adulto. Onde quer que tenhamos estudado, lá encontramos ordinariamente as marcas de nossa formação. Uns, mais talentosos, resistem e pensam diverso. Mas, das faculdades às pós-graduações, o pensamento ainda predominante é algo que se aproxima da formação do advogado criminalista, porque são eles presenças francamente majoritárias nas cátedras de direito e processo penal. Assim, da academia às instituições e poderes, é um passo, e p a s s a m o s a s s i m a r e p r o d u z i r ideologicamente a perspectiva que aprendemos, não somente nos anos de faculdade, como também nas pós-graduações. Houve, assim, uma verdadeira invasão ou colonização intelectual de um pensamento “anti-direito penal” na academia, maquiado na maior parte das vezes de discurso vanguardista, sempre

propalado por um dístico equivocado: “...porque na Europa é assim... esse é o progresso”! Quem não andasse nessa t o a d a e r a t i d o p o r p a s s a d i s t a , ultrapassado, e assim foram surgindo moços de “luvas brancas e perucas perfumadas” – como Becaria se referiu certa feita a um antecessor – que, tomando de assalto muitas de nossas universidades, produziram um discurso que visava obliterar a ideia do direito penal. O mote, inicialmente, era o chamado “direito penal mínimo”, que nunca ninguém conseguiu explicar claramente o que seria, depois vieram os movimentos “abolicionistas”. Quem ousasse recomendar mais pena e firmeza no trato com os delinquentes, era p r o n t a m e n t e e t i q u e t a d o p e l o s “proprietários do saber”. Desse modo, esse pensamento ideológico, nascido na academia, portanto, parricida do próprio direito penal em que nasceu, logo encontrou eco no Judiciário, espichando ao infinito o discurso da pena mínima e o agigantamento infinito do princípio do in dubio pro reo. Em paralelo, o que se assistia era o crime violento ascendendo assustadoramente, sem que houvesse qualquer hesitação dos delinquentes em seus desideratos, que foram assim praticando crimes com mais e mais requintes de crueldade, exacerbando em quantidade. Os criminosos assim, coesos em seus propósitos, antepunham – como antepõem – com firmeza o discurso melífluo estatal da doutrina da pena mínima ou da “pena nenhuma”. Foi fatal: à falta do devido trato, faltante a seriedade que o momento exigia e exige, a criminalidade cresceu assustadoramente, extrapolou, transcendeu, virou guerra nas favelas, guerra nos presídios e, permitam-me, em muitos lugares, guerra nas ruas.

O Estado tem perdido essa guerra. A culpa não foi da punição “exagerada” que jamais houve, a culpa foi da infiltração de um pensamento antagônico à realidade e à necessidade brasileiras. Deu no que deu, o mais é pomadismo filosófico dos que não trabalham no combate à criminalidade.

Essa seria a única explicação para o aumento da criminalidade violenta no Brasil?

Pode não ser a única, mas sem dúvida é a explicação mais claramente identificável e, também, o mais estimulante fermento para tal ascensão criminógena. Tudo confluiu negativamente nessa toada, quando muitos órgãos da imprensa, da sociedade civil e tantos outros formadores de opinião acataram e propalaram irresponsavelmente esse discurso, em absoluto descompasso com a necessidade social, e que hoje coloca o Brasil como campeão mundial de homicídios – mais cruel e primitivo dos crimes –, além de

muitos outros crimes violentos. Assistiu-se, quantas vezes, a uma luta fratricida, h a v e n d o m e s m o q u a s e q u e u m “pensamento autofágico coletivo”. O Legislativo foi também legislando em descompasso com os fatos; noutras legislando rápido, mas atabalhoadamente. Os meios de comunicação colocando luzes em uma “superpopulação carcerária”– que precisa ser mais bem estudada –, enquanto silenciava as centenas de milhares de mandados de prisão, cujos destinatários não eram encontrados, e que gerava muitas vezes mais e mais crimes nas ruas. Com um verdadeiro pedido de “ e s v a z i a m e n t o d a s p r i s õ e s ” , paradoxalmente, exigia um eficaz combate ao crime. Mas, como fazê-lo diante dos crimes violentos, senão segregando? Pena alternativa? Qual? Se a prisão já é, efetivamente, a ultima ratio? Li tudo o que havia de inteligente e até pouco inteligente sobre o tema, li experimentos mundiais, e ainda não descobri um só país que abrisse mão do cárcere a réus de crimes violentos. Os presídios estão em m á s c o n d i ç õ e s ? M e l h o r e m o s , construamos outros, mas sempre sabendo que um criminoso não pode merecer tratamento melhor que um não criminoso trabalhador, sob pena do cárcere se tornar um fator vitimógeno, em um país onde tantos trabalham e muitos não têm o atendimento de necessidades básicas. A s s i m , t i v e m o s u m a e v i d e n t e demonstração de causa e efeito, porque enquanto a legislação penal, as políticas criminais se abrandavam, enquanto a mídia mais desculpava o delinquente por seus feitos, mais o crime crescia, mais a ousadia se evidenciava nas mãos perversas da delinquência.

ENTREVISTA

A culpa não foi da punição ‘exagerada’ que jamais houve,

a culpa foi da infiltração de um pensamento antagônico

à realidade e à necessidade brasileiras. Deu no que deu, o mais é pomadismo filosófico

dos que não trabalham no combate à criminalidade.

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Poderia nos esclarecer especificamente esse ponto dada a sua importância?

Primeiramente, deve ser dito que não falta empenho dos colegas do MP em suas atuações nas tradicionais promotorias criminais, aliás, bem ao contrário: vejo-os como abnegados heróis anônimos, valentes membros de nossa instituição que não encontram o devido amparo da chamada academia (as universidades), do Legislativo, por vezes do Judiciário e noutras vezes, ainda, nem dentro do próprio Ministério Público, que vez por outra encontra em algum de seus membros uma forte oposição ao próprio trabalho de aplicação da lei penal vigente, gerando um autofágico conflito de visões. É só um aparente paradoxo, como explicarei. O caminho inicial percorrido por todo promotor, antes de sê-lo, é pela vivência acadêmica. Freud dizia que a criança é o pai do adulto. Onde quer que tenhamos estudado, lá encontramos ordinariamente as marcas de nossa formação. Uns, mais talentosos, resistem e pensam diverso. Mas, das faculdades às pós-graduações, o pensamento ainda predominante é algo que se aproxima da formação do advogado criminalista, porque são eles presenças francamente majoritárias nas cátedras de direito e processo penal. Assim, da academia às instituições e poderes, é um passo, e p a s s a m o s a s s i m a r e p r o d u z i r ideologicamente a perspectiva que aprendemos, não somente nos anos de faculdade, como também nas pós-graduações. Houve, assim, uma verdadeira invasão ou colonização intelectual de um pensamento “anti-direito penal” na academia, maquiado na maior parte das vezes de discurso vanguardista, sempre

propalado por um dístico equivocado: “...porque na Europa é assim... esse é o progresso”! Quem não andasse nessa t o a d a e r a t i d o p o r p a s s a d i s t a , ultrapassado, e assim foram surgindo moços de “luvas brancas e perucas perfumadas” – como Becaria se referiu certa feita a um antecessor – que, tomando de assalto muitas de nossas universidades, produziram um discurso que visava obliterar a ideia do direito penal. O mote, inicialmente, era o chamado “direito penal mínimo”, que nunca ninguém conseguiu explicar claramente o que seria, depois vieram os movimentos “abolicionistas”. Quem ousasse recomendar mais pena e firmeza no trato com os delinquentes, era p r o n t a m e n t e e t i q u e t a d o p e l o s “proprietários do saber”. Desse modo, esse pensamento ideológico, nascido na academia, portanto, parricida do próprio direito penal em que nasceu, logo encontrou eco no Judiciário, espichando ao infinito o discurso da pena mínima e o agigantamento infinito do princípio do in dubio pro reo. Em paralelo, o que se assistia era o crime violento ascendendo assustadoramente, sem que houvesse qualquer hesitação dos delinquentes em seus desideratos, que foram assim praticando crimes com mais e mais requintes de crueldade, exacerbando em quantidade. Os criminosos assim, coesos em seus propósitos, antepunham – como antepõem – com firmeza o discurso melífluo estatal da doutrina da pena mínima ou da “pena nenhuma”. Foi fatal: à falta do devido trato, faltante a seriedade que o momento exigia e exige, a criminalidade cresceu assustadoramente, extrapolou, transcendeu, virou guerra nas favelas, guerra nos presídios e, permitam-me, em muitos lugares, guerra nas ruas.

O Estado tem perdido essa guerra. A culpa não foi da punição “exagerada” que jamais houve, a culpa foi da infiltração de um pensamento antagônico à realidade e à necessidade brasileiras. Deu no que deu, o mais é pomadismo filosófico dos que não trabalham no combate à criminalidade.

Essa seria a única explicação para o aumento da criminalidade violenta no Brasil?

Pode não ser a única, mas sem dúvida é a explicação mais claramente identificável e, também, o mais estimulante fermento para tal ascensão criminógena. Tudo confluiu negativamente nessa toada, quando muitos órgãos da imprensa, da sociedade civil e tantos outros formadores de opinião acataram e propalaram irresponsavelmente esse discurso, em absoluto descompasso com a necessidade social, e que hoje coloca o Brasil como campeão mundial de homicídios – mais cruel e primitivo dos crimes –, além de

muitos outros crimes violentos. Assistiu-se, quantas vezes, a uma luta fratricida, h a v e n d o m e s m o q u a s e q u e u m “pensamento autofágico coletivo”. O Legislativo foi também legislando em descompasso com os fatos; noutras legislando rápido, mas atabalhoadamente. Os meios de comunicação colocando luzes em uma “superpopulação carcerária”– que precisa ser mais bem estudada –, enquanto silenciava as centenas de milhares de mandados de prisão, cujos destinatários não eram encontrados, e que gerava muitas vezes mais e mais crimes nas ruas. Com um verdadeiro pedido de “ e s v a z i a m e n t o d a s p r i s õ e s ” , paradoxalmente, exigia um eficaz combate ao crime. Mas, como fazê-lo diante dos crimes violentos, senão segregando? Pena alternativa? Qual? Se a prisão já é, efetivamente, a ultima ratio? Li tudo o que havia de inteligente e até pouco inteligente sobre o tema, li experimentos mundiais, e ainda não descobri um só país que abrisse mão do cárcere a réus de crimes violentos. Os presídios estão em m á s c o n d i ç õ e s ? M e l h o r e m o s , construamos outros, mas sempre sabendo que um criminoso não pode merecer tratamento melhor que um não criminoso trabalhador, sob pena do cárcere se tornar um fator vitimógeno, em um país onde tantos trabalham e muitos não têm o atendimento de necessidades básicas. A s s i m , t i v e m o s u m a e v i d e n t e demonstração de causa e efeito, porque enquanto a legislação penal, as políticas criminais se abrandavam, enquanto a mídia mais desculpava o delinquente por seus feitos, mais o crime crescia, mais a ousadia se evidenciava nas mãos perversas da delinquência.

ENTREVISTA

A culpa não foi da punição ‘exagerada’ que jamais houve,

a culpa foi da infiltração de um pensamento antagônico

à realidade e à necessidade brasileiras. Deu no que deu, o mais é pomadismo filosófico

dos que não trabalham no combate à criminalidade.

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ser entre MPs em sociedades iguais, e nossas sociedades são diversas, nossas prioridades distintas, o que torna difícil também uma comparação séria. O que penso, nesse terreno, é que diante da evolução só haverá dois caminhos possíveis: ou acabaremos perdendo alguma ou algumas de nossas atribuições e nos concentraremos em áreas que sejam mais importantes, ou “colonizaremos” com o nosso modelo outros países. Existe dúvida nesse porvir? Ora, o mundo caminha para um monismo jurídico, daí o advento da força dos tratados, normativas internacionais, tribunais internacionais, recomendações expedidas pela ONU etc. Não posso dizer se isso acontecer, será bom ou ruim, mas sem dúvida é a clara tendência. A antiga soberania deu lugar à chamada soberania compartilhada e, nesta, há um crescimento para o monismo jurídico tal como antevisto ainda nas décadas de 1930-1940 por Pontes de Miranda. Saímos, pois, do pensar nada-mais-que-brasileiro, para um pensar mundial. A internet encurtou os caminhos, integrou a todos e o tema dos direitos f u n d a m e n t a i s é p a u t a c o m u m internacional a todas as nações civilizadas.

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Como podem os ministérios públicos estaduais contribuírem nesse combate à criminalidade?

É uma questão de vontade política e de foco. Muitos colegas PGJs investiram em f o r m a ç õ e s , a p e r f e i ç o a m e n t o s , especializações de seus membros na área criminal, muitos implementaram uma forte qualificação por meio dos CEAFs, das Escolas Superiores do MP ou outros órgãos, como já dá mostras históricas o próprio MPGO; outros não o fizeram como prioridade, mas, em todos os MPs, o que sempre se viu foram os promotores de just iça trabalharem com afinco, determinação, ainda que lhes falte um melhor aparato legal, um maior incentivo, uma melhor infraestrutura para suas atuações. Por isso lhes chamo heróis, porque muitas vezes foram cobrados diretamente pela sociedade insuflada pela mídia, e o que podiam oferecer em matéria de proteção e amparo era pouco, por definhamento de todo um sistema penal. Quanta prisão preventiva necessária e que f o i d e n e g a d a ? Q u a n t a p r i s ã o imprescindível após uma condenação, mas distante do atual quadro legislativo, não nos colocou em difícil situação de prestação de contas à sociedade?

Qual o paralelo que o senhor faz entre o MP do Brasil e o MP em outros países?

Busquemos paralelo com os diversos m i n i s t é r i o s p ú b l i c o s e u r o p e u s e continental, e se verá que nosso ponto em comum é a atuação na seara criminal, uma vez que muitos países desconhecem tantas atribuições como as temos no Brasil. Portanto, a comparação teria que

Nesse contexto de evolução, o que o senhor vê de necessário para o avanço e a consolidação do Ministério Público?

Não devendo conjecturar em miudezas, tentarei colocar ênfase no ponto macro, conforme me parece. Veja, temos uma clara tendência ao monismo jurídico mundial. Os pactos, tratados, celebrados pelo Brasil mais e mais têm ganhado uma força impositiva, validade e cogência no território nacional. Do ponto de vista prático, vimos que nos países europeus temos em profusão a figura do magistrat de liaison, que são juízes e promotores que pertencendo à justiça de um país, por intercâmbio e interesse comum com outro país, prestam serviço neste outro. Há, a s s i m , t r o c a d e c o n h e c i m e n t o s , experiências, informações, aproximando

MPs de países diversos. Esta é uma realidade que existe há muitos anos na Europa. Aqui no Brasil, ainda se discute se os membros do MP estadual devam ficar só em seus estados, ou se podem permutar. Nesse particular, não analiso o regramento legal – passível de variadas interpretações –, mas vejo nessa permuta o sopro de uma possível resposta à necessidade estatal e coletiva, porque permitiria uma maior interação entre as instituições dos MPs estaduais; seria também um sopro revificador como resposta às necessidades individuais, que refletem no coletivo, ainda que mais prosaicas, porquanto casais de promotores acabam por se separar ou sofrem pelo distanciamento, uma vez que ainda impedidos de permutarem. E o que dizer, então, dessa existência de dois ministérios públicos, o Federal e o Estadual? Como nos integraremos a esse mundo que surge se ainda não adequamos sequer nossa taxonomia para funções análogas? Como pode um ser promotor de Justiça e outro procurador da República? O Ministério Público do futuro terá de fato que ser verdadeiramente “uno e indivisível”, promovendo-se uma fusão de todos e cada um dos MPs. É certo que a configuração constitucional, a legal, ainda é obstáculo. Mas, que grande e necessária mudança haverá, sem que desde logo nos entreguemos à luta, para a devida remoção dos tais obstáculos? Por isso se diz “futuro”, este que mais eficazmente chega e que deve operar em prol da sociedade, e a ele chegaremos mais rápido e eficazmente, quanto mais claras forem nossas aspirações, nossos alvos, projetos e divisas. Quem não sabe para onde vai, muito provavelmente não irá para lugar algum, em tempos de grande mobilidade.

ENTREVISTA

... diante da evolução só haverá dois caminhos possíveis: ou

acabaremos perdendo alguma ou algumas de nossas atribuições e nos concentraremos em áreas

que sejam mais importantes, ou “colonizaremos” com o

nosso modelo outros países.

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...o que dizer, então, dessa existência de dois ministérios

públicos, o Federal e o Estadual? Como nos integraremos a esse mundo que surge se ainda não

adequamos sequer nossa taxonomia para funções análogas?

Como pode um ser promotor de Justiça e outro procurador

da República? O Ministério Público do futuro

terá de fato que ser verdadeiramente “uno e

indivisível”, promovendo-se uma fusão de todos e

cada um dos MPs.

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ser entre MPs em sociedades iguais, e nossas sociedades são diversas, nossas prioridades distintas, o que torna difícil também uma comparação séria. O que penso, nesse terreno, é que diante da evolução só haverá dois caminhos possíveis: ou acabaremos perdendo alguma ou algumas de nossas atribuições e nos concentraremos em áreas que sejam mais importantes, ou “colonizaremos” com o nosso modelo outros países. Existe dúvida nesse porvir? Ora, o mundo caminha para um monismo jurídico, daí o advento da força dos tratados, normativas internacionais, tribunais internacionais, recomendações expedidas pela ONU etc. Não posso dizer se isso acontecer, será bom ou ruim, mas sem dúvida é a clara tendência. A antiga soberania deu lugar à chamada soberania compartilhada e, nesta, há um crescimento para o monismo jurídico tal como antevisto ainda nas décadas de 1930-1940 por Pontes de Miranda. Saímos, pois, do pensar nada-mais-que-brasileiro, para um pensar mundial. A internet encurtou os caminhos, integrou a todos e o tema dos direitos f u n d a m e n t a i s é p a u t a c o m u m internacional a todas as nações civilizadas.

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Como podem os ministérios públicos estaduais contribuírem nesse combate à criminalidade?

É uma questão de vontade política e de foco. Muitos colegas PGJs investiram em f o r m a ç õ e s , a p e r f e i ç o a m e n t o s , especializações de seus membros na área criminal, muitos implementaram uma forte qualificação por meio dos CEAFs, das Escolas Superiores do MP ou outros órgãos, como já dá mostras históricas o próprio MPGO; outros não o fizeram como prioridade, mas, em todos os MPs, o que sempre se viu foram os promotores de just iça trabalharem com afinco, determinação, ainda que lhes falte um melhor aparato legal, um maior incentivo, uma melhor infraestrutura para suas atuações. Por isso lhes chamo heróis, porque muitas vezes foram cobrados diretamente pela sociedade insuflada pela mídia, e o que podiam oferecer em matéria de proteção e amparo era pouco, por definhamento de todo um sistema penal. Quanta prisão preventiva necessária e que f o i d e n e g a d a ? Q u a n t a p r i s ã o imprescindível após uma condenação, mas distante do atual quadro legislativo, não nos colocou em difícil situação de prestação de contas à sociedade?

Qual o paralelo que o senhor faz entre o MP do Brasil e o MP em outros países?

Busquemos paralelo com os diversos m i n i s t é r i o s p ú b l i c o s e u r o p e u s e continental, e se verá que nosso ponto em comum é a atuação na seara criminal, uma vez que muitos países desconhecem tantas atribuições como as temos no Brasil. Portanto, a comparação teria que

Nesse contexto de evolução, o que o senhor vê de necessário para o avanço e a consolidação do Ministério Público?

Não devendo conjecturar em miudezas, tentarei colocar ênfase no ponto macro, conforme me parece. Veja, temos uma clara tendência ao monismo jurídico mundial. Os pactos, tratados, celebrados pelo Brasil mais e mais têm ganhado uma força impositiva, validade e cogência no território nacional. Do ponto de vista prático, vimos que nos países europeus temos em profusão a figura do magistrat de liaison, que são juízes e promotores que pertencendo à justiça de um país, por intercâmbio e interesse comum com outro país, prestam serviço neste outro. Há, a s s i m , t r o c a d e c o n h e c i m e n t o s , experiências, informações, aproximando

MPs de países diversos. Esta é uma realidade que existe há muitos anos na Europa. Aqui no Brasil, ainda se discute se os membros do MP estadual devam ficar só em seus estados, ou se podem permutar. Nesse particular, não analiso o regramento legal – passível de variadas interpretações –, mas vejo nessa permuta o sopro de uma possível resposta à necessidade estatal e coletiva, porque permitiria uma maior interação entre as instituições dos MPs estaduais; seria também um sopro revificador como resposta às necessidades individuais, que refletem no coletivo, ainda que mais prosaicas, porquanto casais de promotores acabam por se separar ou sofrem pelo distanciamento, uma vez que ainda impedidos de permutarem. E o que dizer, então, dessa existência de dois ministérios públicos, o Federal e o Estadual? Como nos integraremos a esse mundo que surge se ainda não adequamos sequer nossa taxonomia para funções análogas? Como pode um ser promotor de Justiça e outro procurador da República? O Ministério Público do futuro terá de fato que ser verdadeiramente “uno e indivisível”, promovendo-se uma fusão de todos e cada um dos MPs. É certo que a configuração constitucional, a legal, ainda é obstáculo. Mas, que grande e necessária mudança haverá, sem que desde logo nos entreguemos à luta, para a devida remoção dos tais obstáculos? Por isso se diz “futuro”, este que mais eficazmente chega e que deve operar em prol da sociedade, e a ele chegaremos mais rápido e eficazmente, quanto mais claras forem nossas aspirações, nossos alvos, projetos e divisas. Quem não sabe para onde vai, muito provavelmente não irá para lugar algum, em tempos de grande mobilidade.

ENTREVISTA

... diante da evolução só haverá dois caminhos possíveis: ou

acabaremos perdendo alguma ou algumas de nossas atribuições e nos concentraremos em áreas

que sejam mais importantes, ou “colonizaremos” com o

nosso modelo outros países.

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...o que dizer, então, dessa existência de dois ministérios

públicos, o Federal e o Estadual? Como nos integraremos a esse mundo que surge se ainda não

adequamos sequer nossa taxonomia para funções análogas?

Como pode um ser promotor de Justiça e outro procurador

da República? O Ministério Público do futuro

terá de fato que ser verdadeiramente “uno e

indivisível”, promovendo-se uma fusão de todos e

cada um dos MPs.

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Se fosse questionado sobre a maior bandeira para o futuro do MP brasileiro, o que diria?

Que desde já se promova um debate para a futura integração dos MPs, que pode e deve ser paulatina, possibilitando ajustes e, assim, um de seus necessários estágios seria que os procuradores-gerais de Justiça pudessem concorrer à Procuradoria-Geral da República. Esse passo a passo é n e c e s s á r i o : h a r m o n i z a ç ã o d a no m e nc l a t u r a d e no s s o s c a r g o s ; possibilidade de permuta dos membros da carreira (já nos avizinharíamos, por ora, da ideia do MP Federal que contempla a possibilidade), daí com estas e outras evoluções, de lege ferenda, certamente, com emendas constitucionais necessárias e adequação legislativa, chegaríamos a uma ideia de um só MP. Nesse tempo futuro, que seja o mais próximo possível, adviria uma política ministerial clara e assertiva, uma gestão verdadeiramente integrada, e falaríamos a linguagem plural de todos os estados, mas por uma só voz representativa nacional, em que os conflitos de atribuições já não existiriam, onde a harmonia da Instituição seria mais facilmente alcançável, e onde não abriríamos mão de termos procuradores-gerais de cada estado, paritariamente elegíveis para o posto máximo da instituição na República. Utopia? Não, utopia é lugar inexistente. Nesse caso, o “lugar” existe, uma vez que é realidade em vários países e para a qual podemos e devemos convergir se quisermos verdadeira evolução. Houve um tempo, centenas de anos, que acreditaram ser impossível a prisão dos potentados

financeiros e fortes líderes políticos nacionais. Daí veio uma juventude e construiu uma nova realidade pela Lava Jato. O MP Federal, ele mesmo de configuração recente e de grande e recentíssimo protagonismo, hoje é visto e aplaudido por toda a sociedade. Os MPs estaduais, heroicos, timoneiros históricos da almejada paz social, precisam, nos rumos do porvir e nesta sua constante renovação, buscar essa integração, para que ambos os MPs possam decuplamente render. O mundo reclama união, somatória de forças, não cisões, sobretudo entre i g u a i s . É a v i g a m e s t r a d e m e u pensamento: é preciso ousar para argamassar as soluçoes. É o dilema shakespereano de renovar-se ou morrer

‘‘

’’

O mundo reclama união, somatória de forças,

não cisões, sobretudo entre iguais.

É a viga mestra de meu pensamento: é preciso

ousar para argamassar as soluções.

É o dilema shakespereanode renovar-se ou morrer.

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LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL: UMA FACA DE DOIS GUMES

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ARTIGOS

PUBLIUSLENTULUS

ALVES DA ROCHA

Promotor de Justiçado Estado de Goiás.

Coordenador do Centro de Apoio Operacional

da Infância e Juventude.

A evolução da sociedade e os novos moldes do conceito de família trazem em seu bojo, como um dos efeitos colaterais, o comportamento denominado “alienação parental”.

O termo "Síndrome da Alienação Parental" (SAP) foi proposto originalmente pelo médico psiquiátrico Richard Gardner, em 1985, e se refere à situação em que um dos pais, ou aqueles responsáveis pela guarda ou vigilância da criança ou do adolescente, deflagra um processo de desmoralização e desprestígio em detrimento do outro genitor.[1]

Há, então, uma batalha psicológica em que o autor da prática do comportamento fixa na mente da criança manipulada menosprezo ou rejeição ao outro genitor, provocando traumas psíquicos naquela pessoa em peculiar condição de desenvolvimento, vitimizando-a pelo processo de alienação parental.

No sentido de retomar a importância de se preservar e priorizar o interesse dos filhos diante da dissolução do vínculo conjugal (mesmo levando-se em conta os vários tipos de núcleos familiares), foi aprovada a Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010,, que trata da Alienação Parental e, apesar de não ser considerado tecnicamente correto, o próprio texto legal define o instituto em seu artigo 2º, estabelecendo que:

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PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

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“Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a autoridade, guarda ou vigilância, para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”.

Os incisos do citado artigo apresentam alguns exemplos de condutas que podem caracterizar o ato, como real izar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; impedir o pai/mãe não-guardião(ã) de obter informações médicas ou escolares dos filhos; criar obstáculos à convivência da criança com o pai/mãe não-guardião(ã) e familiares deste(a); apresentar falsa denúncia contra o genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar sua convivência com a criança ou adolescente e mudar o domicílio para local distante, sem just i f icat iva, v isando d i f icu ltar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

Não há a necessidade de vínculo sanguíneo entre autor da prática e vítima, bastando apenas o interesse em destruir e instigar descrédito ao genitor.

O artigo 3º da Lei, por sua vez, equipara a alienação parental ao abuso moral contra a(o) criança/adolescente, pois prejudica a convivência social e afetiva desta(e) com o grupo familiar pelo descumprimento dos deveres da guarda parental, devido à manipulação emocional do alienador

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artigos

sobre a cr iança, fragi l izando seu psiquismo. Pereira (2009) inclui a SAP dentre as vitimizações psicológicas.

É inegável que o texto legal adveio com o d e s i d e r a t o d e c o n f e r i r a d e v i d a regulamentação aos atos de alienação parental, com olhos no disposto no artigo 227[2] da Constituição Federal[3], no tocante à proteção da incolumidade psicológica da criança e do adolescente, estabelecendo, inclusive, punição quando evidenciada a conduta reprovada pela lei.

Com efeito, caso sejam percebidos ‘‘atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência da criança ou adolescente com o genitor’’, nos termos do artigo 6º da Lei em questão,

Na esteira do comando legal, o plenário do Conselho Nacional do Ministério Público editou a Recomendação nº 32, de 5 de abril de 2016, proposta pelo então conselheiro/presidente da Comissão da Infância e da Juventude do órgão, dispondo sobre a necessidade de “uniformização e atuação do Ministério Público brasileiro, através de políticas e diretrizes administrativas que fomentem o combate à síndrome de Alienação Parental que compromete o direito à convivência familiar criança, adolescente, pessoas com deficiência e incapazes de exprimir a sua vontade’’. [5]

O texto do documento traz uma série de providências a ser adotadas pela administração superior e por seus órgãos do país inteiro para incentivar o enfrentamento a esse tipo de comportamento.

E assim, portanto, é axiomática a intenção do legislador, bem como a do órgão de controle externo do Ministério Público, a pretensão de resguardar a higidez psicológica de crianças e adolescentes.

Alienação parental sempre existiu, desde que o mundo é mundo. Apenas não sabíamos nomeá-la. A partir do momento em que conseguimos dar nome a essa maldade humana, ficou mais fácil proteger as crianças e adolescentes vítimas dessa violência praticada pelos próprios pais. Em alguns casos, a alienação é tão grave que pode até transformar-se em uma síndrome, como inicialmente foi denominada: SAP (Síndrome da Alienação Parental). Mas na evolução do pensamento jurídico, não mais denominamos assim, pois nem sempre há uma síndrome, essa categoria médica de difícil aferição. Por isso, o texto da lei brasileira, com razão, não se refere à síndrome, embora algumas pessoas ainda resistam em assim denominá-la.

em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: “I - declarar a ocorrência de

alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental.[4]

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“Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a autoridade, guarda ou vigilância, para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”.

Os incisos do citado artigo apresentam alguns exemplos de condutas que podem caracterizar o ato, como real izar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; impedir o pai/mãe não-guardião(ã) de obter informações médicas ou escolares dos filhos; criar obstáculos à convivência da criança com o pai/mãe não-guardião(ã) e familiares deste(a); apresentar falsa denúncia contra o genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar sua convivência com a criança ou adolescente e mudar o domicílio para local distante, sem just i f icat iva, v isando d i f icu ltar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

Não há a necessidade de vínculo sanguíneo entre autor da prática e vítima, bastando apenas o interesse em destruir e instigar descrédito ao genitor.

O artigo 3º da Lei, por sua vez, equipara a alienação parental ao abuso moral contra a(o) criança/adolescente, pois prejudica a convivência social e afetiva desta(e) com o grupo familiar pelo descumprimento dos deveres da guarda parental, devido à manipulação emocional do alienador

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artigos

sobre a cr iança, fragi l izando seu psiquismo. Pereira (2009) inclui a SAP dentre as vitimizações psicológicas.

É inegável que o texto legal adveio com o d e s i d e r a t o d e c o n f e r i r a d e v i d a regulamentação aos atos de alienação parental, com olhos no disposto no artigo 227[2] da Constituição Federal[3], no tocante à proteção da incolumidade psicológica da criança e do adolescente, estabelecendo, inclusive, punição quando evidenciada a conduta reprovada pela lei.

Com efeito, caso sejam percebidos ‘‘atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência da criança ou adolescente com o genitor’’, nos termos do artigo 6º da Lei em questão,

Na esteira do comando legal, o plenário do Conselho Nacional do Ministério Público editou a Recomendação nº 32, de 5 de abril de 2016, proposta pelo então conselheiro/presidente da Comissão da Infância e da Juventude do órgão, dispondo sobre a necessidade de “uniformização e atuação do Ministério Público brasileiro, através de políticas e diretrizes administrativas que fomentem o combate à síndrome de Alienação Parental que compromete o direito à convivência familiar criança, adolescente, pessoas com deficiência e incapazes de exprimir a sua vontade’’. [5]

O texto do documento traz uma série de providências a ser adotadas pela administração superior e por seus órgãos do país inteiro para incentivar o enfrentamento a esse tipo de comportamento.

E assim, portanto, é axiomática a intenção do legislador, bem como a do órgão de controle externo do Ministério Público, a pretensão de resguardar a higidez psicológica de crianças e adolescentes.

Alienação parental sempre existiu, desde que o mundo é mundo. Apenas não sabíamos nomeá-la. A partir do momento em que conseguimos dar nome a essa maldade humana, ficou mais fácil proteger as crianças e adolescentes vítimas dessa violência praticada pelos próprios pais. Em alguns casos, a alienação é tão grave que pode até transformar-se em uma síndrome, como inicialmente foi denominada: SAP (Síndrome da Alienação Parental). Mas na evolução do pensamento jurídico, não mais denominamos assim, pois nem sempre há uma síndrome, essa categoria médica de difícil aferição. Por isso, o texto da lei brasileira, com razão, não se refere à síndrome, embora algumas pessoas ainda resistam em assim denominá-la.

em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: “I - declarar a ocorrência de

alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental.[4]

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[1] PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Alienação parental: uma inversão da relação sujeito-objeto. Revista Consultor Jurídico, São Paulo, 25 jun. 2017. [2] ‘‘Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão’’. (BRASIL, 1988). [3] BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.[4] BRASIL. Lei 12.318, de 26 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 ago. 2010. [5] BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Recomendação 32, de 5 de abril de 2016. Brasília, DF, 2016. [6] CHIAVERINI, Tomás. A lei para proteger pais divorciados que expõe suas crianças ao abuso. El País, 28 jan.

Essa situação poderá, inclusive, tornar-se potencialmente mais perigosa, pois tramita no Congresso Nacional um projeto de lei visando criminalizar a conduta

A edição da Lei, porém, não serviu para a r r e f e c e r a a n g ú s t i a v i v e n c i a d a diuturnamente por promotores de justiça e juízes de direito, diante das incertezas ocorridas em situações em que são noticiados fatos de evidente gravidade imputado a um dos genitores, por exemplo, de abuso e/ou violência sexual, que quase sempre ocorre longe dos olhares de terceiros, sem gerar, por vezes, provas materiais e sem o depoimento concreto da criança.

Nessas hipóteses, os supostos autores do crime sexual sustentam a falsidade das imputações, fazendo ocorrer uma reconvenção em detrimento daquele que noticiou o delito original e, neste caso, a falta de provas do estupro de vulnerável ou afim se transforma uma evidente prova de alienação parental.

Considerando que uma das sanções previstas na nova lei é a inversão de guarda, as crianças vitimizadas podem ser (e são efetivamente) colocadas sob os “cuidados” justamente dos suspeitos do abuso sexual.

Numa pesquisa feita nos sites dos 27 tribunais de justiça brasileiros, cruzando-se os termos “alienação parental” e “abuso s e x u a l ” , f o r a m e n c o n t r a d a s 2 4 9

ocorrências número que não abarca os

p r o c e s s o s d e p r i m e i r a i n s t â n c i a , necessariamente mais numerosos. Não é p o s s í v e l a f i r m a r e m q u a i s d e s s a s ocorrências a lei está sendo usada de forma maliciosa, mas os relatos se proliferam.[6]

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artigos

descrita na legislação como alienação parental.

Há vários estudos buscando identificar a alienação parental e as consequências que uma falsa acusação de abuso sexual por um dos genitores acarreta no núcleo famil iar, bem como indicando as providências necessárias para coibir esse tipo de situação, mas pouco se fala sobre a inibição gerada pelas eventuais sanções incidíveis contra o/a noticiante quando não restar comprovado o crime sexual.

Não há dúvida, portanto, que por mais angustiante que seja para um dos pais enfrentar uma falsa acusação de assédio sexual, isso não se compara à temeridade de entregar a guarda de uma criança ao abusador. É notória a extrema dificuldade em se obter provas materiais de abuso, sendo que a vantagem processual, portanto, permanece com os agressores nos tribunais.

É evidente que a Lei nº 12.318/2010 adveio com o fim de regulamentar a alienação parental e aplicar sanções ao genitor alienador, mas não serviu para afastar a insegurança dos operadores do Direito e dos profissionais da Psicologia quando se deparam com a notícia de prática de crimes sexuais contra crianças e adolescentes dentro do contexto familiar, exigindo, assim, maior cautela na atuação diante da comunicação de tais situações, a fim de afastar a álea de revitimizar os filhos h a v i d o s n a q u e l a u n i ã o c o n j u g a l agonizante e proteger a criança e o adolescente mediante das medidas judiciais criminais e cíveis adequadas, bem como tratamento e acompanhamento psicológico exigidos em lei.

Há, contudo, uma certeza,

a de que essa dualidade tem liquidez na determinação

da vida de suas vítimas, quais sejam, os filhos.

‘‘

’’

O dilema trazido, portanto, pela Lei nº 12.318/2010 ao contexto jurídico pátrio se resume, por um lado, a tutelar crianças e adolescentes vítimas de uma situação e x t r e m a m e n t e d a n o s a p a r a s e u desenvolvimento psíquico e, de outro, a favorecer a intimidação nas comunicações verídicas de crimes, em virtude do receio d a u t i l i z a ç ã o d o s i n s t r u m e n t o s disponibilizados pela legislação em comento para punir o noticiante.

E assim, seguimos no cotidiano forense, em que as incertezas prevalecem na atividade dos atores do sistema de garantias dos direitos das crianças e dos adolescentes quando, não raramente, se encontram diante de situação que potencialmente pode ser: a) uma acusação de abuso forjada como recurso por aquele que nutre o interesse de afastar definitivamente o acusado do convívio com a criança, ou b) uma notícia verídica de uma conduta abjeta e lasciva imputada a um dos pais, mas de difícil comprovação.

Há, contudo, uma certeza, a de que essa dualidade tem liquidez na determinação da vida de suas vítimas, quais sejam, os filhos

NOTAS E REFERÊNCIAS

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[1] PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Alienação parental: uma inversão da relação sujeito-objeto. Revista Consultor Jurídico, São Paulo, 25 jun. 2017. [2] ‘‘Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão’’. (BRASIL, 1988). [3] BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.[4] BRASIL. Lei 12.318, de 26 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 ago. 2010. [5] BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Recomendação 32, de 5 de abril de 2016. Brasília, DF, 2016. [6] CHIAVERINI, Tomás. A lei para proteger pais divorciados que expõe suas crianças ao abuso. El País, 28 jan.

Essa situação poderá, inclusive, tornar-se potencialmente mais perigosa, pois tramita no Congresso Nacional um projeto de lei visando criminalizar a conduta

A edição da Lei, porém, não serviu para a r r e f e c e r a a n g ú s t i a v i v e n c i a d a diuturnamente por promotores de justiça e juízes de direito, diante das incertezas ocorridas em situações em que são noticiados fatos de evidente gravidade imputado a um dos genitores, por exemplo, de abuso e/ou violência sexual, que quase sempre ocorre longe dos olhares de terceiros, sem gerar, por vezes, provas materiais e sem o depoimento concreto da criança.

Nessas hipóteses, os supostos autores do crime sexual sustentam a falsidade das imputações, fazendo ocorrer uma reconvenção em detrimento daquele que noticiou o delito original e, neste caso, a falta de provas do estupro de vulnerável ou afim se transforma uma evidente prova de alienação parental.

Considerando que uma das sanções previstas na nova lei é a inversão de guarda, as crianças vitimizadas podem ser (e são efetivamente) colocadas sob os “cuidados” justamente dos suspeitos do abuso sexual.

Numa pesquisa feita nos sites dos 27 tribunais de justiça brasileiros, cruzando-se os termos “alienação parental” e “abuso s e x u a l ” , f o r a m e n c o n t r a d a s 2 4 9

ocorrências número que não abarca os

p r o c e s s o s d e p r i m e i r a i n s t â n c i a , necessariamente mais numerosos. Não é p o s s í v e l a f i r m a r e m q u a i s d e s s a s ocorrências a lei está sendo usada de forma maliciosa, mas os relatos se proliferam.[6]

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artigos

descrita na legislação como alienação parental.

Há vários estudos buscando identificar a alienação parental e as consequências que uma falsa acusação de abuso sexual por um dos genitores acarreta no núcleo famil iar, bem como indicando as providências necessárias para coibir esse tipo de situação, mas pouco se fala sobre a inibição gerada pelas eventuais sanções incidíveis contra o/a noticiante quando não restar comprovado o crime sexual.

Não há dúvida, portanto, que por mais angustiante que seja para um dos pais enfrentar uma falsa acusação de assédio sexual, isso não se compara à temeridade de entregar a guarda de uma criança ao abusador. É notória a extrema dificuldade em se obter provas materiais de abuso, sendo que a vantagem processual, portanto, permanece com os agressores nos tribunais.

É evidente que a Lei nº 12.318/2010 adveio com o fim de regulamentar a alienação parental e aplicar sanções ao genitor alienador, mas não serviu para afastar a insegurança dos operadores do Direito e dos profissionais da Psicologia quando se deparam com a notícia de prática de crimes sexuais contra crianças e adolescentes dentro do contexto familiar, exigindo, assim, maior cautela na atuação diante da comunicação de tais situações, a fim de afastar a álea de revitimizar os filhos h a v i d o s n a q u e l a u n i ã o c o n j u g a l agonizante e proteger a criança e o adolescente mediante das medidas judiciais criminais e cíveis adequadas, bem como tratamento e acompanhamento psicológico exigidos em lei.

Há, contudo, uma certeza,

a de que essa dualidade tem liquidez na determinação

da vida de suas vítimas, quais sejam, os filhos.

‘‘

’’

O dilema trazido, portanto, pela Lei nº 12.318/2010 ao contexto jurídico pátrio se resume, por um lado, a tutelar crianças e adolescentes vítimas de uma situação e x t r e m a m e n t e d a n o s a p a r a s e u desenvolvimento psíquico e, de outro, a favorecer a intimidação nas comunicações verídicas de crimes, em virtude do receio d a u t i l i z a ç ã o d o s i n s t r u m e n t o s disponibilizados pela legislação em comento para punir o noticiante.

E assim, seguimos no cotidiano forense, em que as incertezas prevalecem na atividade dos atores do sistema de garantias dos direitos das crianças e dos adolescentes quando, não raramente, se encontram diante de situação que potencialmente pode ser: a) uma acusação de abuso forjada como recurso por aquele que nutre o interesse de afastar definitivamente o acusado do convívio com a criança, ou b) uma notícia verídica de uma conduta abjeta e lasciva imputada a um dos pais, mas de difícil comprovação.

Há, contudo, uma certeza, a de que essa dualidade tem liquidez na determinação da vida de suas vítimas, quais sejam, os filhos

NOTAS E REFERÊNCIAS

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fERNANDOREVERENDO

VIDAL AKAOUI

Apesar de existirem evidências de não poder haver saúde sem saúde mental, mundialmente estima-se que são destinados menos de 7% dos orçamentos da saúde para essa seara[1]. Longe se está, portanto, de alguma paridade na atenção dispensada aos transtornos mentais. Ademais, os investimentos existentes concentram-se ainda em estruturas de atenção psiquiátrica, raramente em ações promocionais. O esforço para políticas de promoção de vidas saudáveis é insignificante.

A resistência em superar o modelo de atenção focado no tratamento de casos individuais leva inevitavelmente a políticas, sistemas e serviços com resultados limitados e ainda enraizados em paradigmas superados, como o de enxergar apenas a via do tratamento medicamentoso, associado ao isolamento.

A coação, a medicação e a exclusão, paradigmas da atenção tradicional, devem substituir-se por uma concepção moderna de recuperação nos entornos familiares, escolares, profissionais, comunitários[1]. O tratamento medicamentoso e o isolamento podem ser úteis e até mesmo necessários em alguns casos, mas tendem a ser ineficazes sem intervenções psicossociais. A ciência atual recomenda que o tratamento psicossocial e a psicoterapia sejam utilizados em primeira instância[1]. Recomenda que os pacientes mentais sejam conduzidos a tornarem-se agentes da mudança e não que adotem o lugar de sujeitos passivos receptores da atenção[1].

O modelo psicossocial, além disso, volta seu olhar para os fatores de risco, para os condicionantes, para o tratamento em comunidade e da comunidade. O que ainda parece um desafio[1].

Há profundos vínculos entre a saúde mental e o entorno físico, psicossocial, político e econômico, com os condicionantes sociais da saúde[1] – com a violência, a discriminação, o desrespeito e outros tipos de abusos no cotidiano, nos entornos familiares, nas escolas, no trabalho: “Las crisis en la salud mental no deberían gestionarse como crisis de los trastornos individuales, sino como una crisis de los obstáculos sociales’’[1].

21

artigos

PRESSUPOSTOS PARA UMA POLÍTICADE SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR

MARCELO LAMY

Promotor de Justiça do Estado de São Paulo.

(PUC - SP).

p

(Unisanta, Santos/SP).

(PUC - SP).

Unisanta Direitos Humanos

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fERNANDOREVERENDO

VIDAL AKAOUI

Apesar de existirem evidências de não poder haver saúde sem saúde mental, mundialmente estima-se que são destinados menos de 7% dos orçamentos da saúde para essa seara[1]. Longe se está, portanto, de alguma paridade na atenção dispensada aos transtornos mentais. Ademais, os investimentos existentes concentram-se ainda em estruturas de atenção psiquiátrica, raramente em ações promocionais. O esforço para políticas de promoção de vidas saudáveis é insignificante.

A resistência em superar o modelo de atenção focado no tratamento de casos individuais leva inevitavelmente a políticas, sistemas e serviços com resultados limitados e ainda enraizados em paradigmas superados, como o de enxergar apenas a via do tratamento medicamentoso, associado ao isolamento.

A coação, a medicação e a exclusão, paradigmas da atenção tradicional, devem substituir-se por uma concepção moderna de recuperação nos entornos familiares, escolares, profissionais, comunitários[1]. O tratamento medicamentoso e o isolamento podem ser úteis e até mesmo necessários em alguns casos, mas tendem a ser ineficazes sem intervenções psicossociais. A ciência atual recomenda que o tratamento psicossocial e a psicoterapia sejam utilizados em primeira instância[1]. Recomenda que os pacientes mentais sejam conduzidos a tornarem-se agentes da mudança e não que adotem o lugar de sujeitos passivos receptores da atenção[1].

O modelo psicossocial, além disso, volta seu olhar para os fatores de risco, para os condicionantes, para o tratamento em comunidade e da comunidade. O que ainda parece um desafio[1].

Há profundos vínculos entre a saúde mental e o entorno físico, psicossocial, político e econômico, com os condicionantes sociais da saúde[1] – com a violência, a discriminação, o desrespeito e outros tipos de abusos no cotidiano, nos entornos familiares, nas escolas, no trabalho: “Las crisis en la salud mental no deberían gestionarse como crisis de los trastornos individuales, sino como una crisis de los obstáculos sociales’’[1].

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artigos

PRESSUPOSTOS PARA UMA POLÍTICADE SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR

MARCELO LAMY

Promotor de Justiça do Estado de São Paulo.

(PUC - SP).

p

(Unisanta, Santos/SP).

(PUC - SP).

Unisanta Direitos Humanos

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Apesar de tudo isso, a prevenção e a promoção são componentes que têm muito pouco destaque nas iniciativas públicas de saúde mental[1].

O problema da saúde mental é grave e multifacetado. Parece-nos, no entanto, que para enfrentar com eficácia e resolutividade os transtornos mentais, há que se dedicar prioritariamente a consolidar políticas de saúde mental preventivas no âmbito das relações trabalhistas, pois, na sociedade atual, esse espaço constitui o principal âmbito de nossa vivência.

Por isso, no presente estudo fez-se uma incursão exploratória sobre a saúde mental no ambiente de trabalho. A pesquisa confirmou que cerca de 35% dos trabalhadores são acometidos por transtornos mentais, sendo que muitos adoecem por depressão, estresse e ansiedade.

A Organização Mundial da Saúde estima que, em 2020, a depressão representará 5,7% e a ansiedade, 3,6% da carga de doenças mundiais. A Organização Internacional do Trabalho, por sua vez, adverte que aumentam as doenças mentais em função da tensão no local de trabalho.

O objetivo deste trabalho é, portanto, apresentar uma breve reflexão de como o ambiente de trabalho atual conduz a transtornos mentais. Somente assim poder-se-á discutir uma política nacional efetiva de proteção da saúde mental do trabalhador, que coloque acima dos interesses econômicos a dignificação do trabalho e do homem[2].

MODELO DE TRABALHO INSALUBRE

A Organização Mundial da Saúde estima que os transtornos mentais menores[3] a c o m e t a m p e r t o d e 3 0 % d o s trabalhadores, os transtornos mentais graves de 5 a 10%. No Brasil, dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) sobre a concessão de benefíc ios previdenciários de auxílio-doença (por incapacidade para o trabalho superior a 15 dias) e de aposentadoria por invalidez (por incapacidade definitiva para o trabalho) apontam que os transtornos mentais ocupam a terceira posição entre as causas dessas ocorrências[5].

Somente esses dados seriam suficientes para atestar que vivemos um modelo de trabalho insalubre. É necessário, no entanto, compreender um pouco mais as dimensões fundantes dessa insalubridade.

Espírito de competitividade

Os empreendimentos industr ia is , comerciais ou de serviços dos nossos tempos estão inexoravelmente inseridos no espírito de nosso tempo, no espírito de competitividade (filho primogênito do sistema capitalista e de mercado). Para

[4]

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sobreviverem, precisam sobressair aos demais, apresentar resultados excepcionais de produção.

Por essa razão pela qual é comum que as empresas, para produzirem mais, exijam que o empregado contribua com os esforços necessários. Nascem daí as jornadas excepcionais e a sobrecarga de tarefas, o que, por si só, cimentam o terreno para a fadiga, primeira entrada para os transtornos mentais do trabalhador.

A pressão sobre o tempo que se leva para executar um trabalho, sobre o ritmo dos afazeres profissionais, sobre a eficácia ou os resultados dos trabalhos empreendidos torna-se necessária em um sistema ancorado na economia de escala.

Humano em segundo plano

Como os empreendimentos estão com o foco apurado nos resultados econômicos, o humano cede ao segundo plano.

Para economizar na linha de produção, que tem de ser contínua (consequência da economia de escala), ao invés de contar com forças de trabalho para os turnos que se fizerem necessários, consolidou-se a inquestionável necessidade de o trabalhador estar disponível. O paradigma tornou-se a flexibilidade.

O trabalhador tem de se sujeitar a horários flexíveis, a jornadas descontínuas. E iludem-se os trabalhadores de que isso lhe dá liberdade (trabalha-se em plantões ou escalas extenuantes, mas fica livre outros dias).

O efeito desse modelo de trabalho no âmbito da saúde mental é preocupante. Em função dos diferentes horários de trabalho, decorrentes das escalas ou plantões, a vida pessoal e familiar do trabalhador sofre alterações. O descanso diário fica afetado pela falta de rotina. Dessa forma, a vida pessoal e familiar fica em segundo plano, e somente nas brechas do trabalho é possível planejar a vida.

artigos

‘‘

’’

O problema da saúde mental é grave e multifacetado. Parece-nos, no entanto, que para enfrentar com eficácia e

resolutividade os transtornos mentais, há que se dedicar prioritariamente a consolidar políticas de

saúde mental preventivas no âmbito das relações trabalhistas, pois, na sociedade atual,

esse espaço constitui o principal âmbito de nossa vivência.

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Apesar de tudo isso, a prevenção e a promoção são componentes que têm muito pouco destaque nas iniciativas públicas de saúde mental[1].

O problema da saúde mental é grave e multifacetado. Parece-nos, no entanto, que para enfrentar com eficácia e resolutividade os transtornos mentais, há que se dedicar prioritariamente a consolidar políticas de saúde mental preventivas no âmbito das relações trabalhistas, pois, na sociedade atual, esse espaço constitui o principal âmbito de nossa vivência.

Por isso, no presente estudo fez-se uma incursão exploratória sobre a saúde mental no ambiente de trabalho. A pesquisa confirmou que cerca de 35% dos trabalhadores são acometidos por transtornos mentais, sendo que muitos adoecem por depressão, estresse e ansiedade.

A Organização Mundial da Saúde estima que, em 2020, a depressão representará 5,7% e a ansiedade, 3,6% da carga de doenças mundiais. A Organização Internacional do Trabalho, por sua vez, adverte que aumentam as doenças mentais em função da tensão no local de trabalho.

O objetivo deste trabalho é, portanto, apresentar uma breve reflexão de como o ambiente de trabalho atual conduz a transtornos mentais. Somente assim poder-se-á discutir uma política nacional efetiva de proteção da saúde mental do trabalhador, que coloque acima dos interesses econômicos a dignificação do trabalho e do homem[2].

MODELO DE TRABALHO INSALUBRE

A Organização Mundial da Saúde estima que os transtornos mentais menores[3] a c o m e t a m p e r t o d e 3 0 % d o s trabalhadores, os transtornos mentais graves de 5 a 10%. No Brasil, dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) sobre a concessão de benefíc ios previdenciários de auxílio-doença (por incapacidade para o trabalho superior a 15 dias) e de aposentadoria por invalidez (por incapacidade definitiva para o trabalho) apontam que os transtornos mentais ocupam a terceira posição entre as causas dessas ocorrências[5].

Somente esses dados seriam suficientes para atestar que vivemos um modelo de trabalho insalubre. É necessário, no entanto, compreender um pouco mais as dimensões fundantes dessa insalubridade.

Espírito de competitividade

Os empreendimentos industr ia is , comerciais ou de serviços dos nossos tempos estão inexoravelmente inseridos no espírito de nosso tempo, no espírito de competitividade (filho primogênito do sistema capitalista e de mercado). Para

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sobreviverem, precisam sobressair aos demais, apresentar resultados excepcionais de produção.

Por essa razão pela qual é comum que as empresas, para produzirem mais, exijam que o empregado contribua com os esforços necessários. Nascem daí as jornadas excepcionais e a sobrecarga de tarefas, o que, por si só, cimentam o terreno para a fadiga, primeira entrada para os transtornos mentais do trabalhador.

A pressão sobre o tempo que se leva para executar um trabalho, sobre o ritmo dos afazeres profissionais, sobre a eficácia ou os resultados dos trabalhos empreendidos torna-se necessária em um sistema ancorado na economia de escala.

Humano em segundo plano

Como os empreendimentos estão com o foco apurado nos resultados econômicos, o humano cede ao segundo plano.

Para economizar na linha de produção, que tem de ser contínua (consequência da economia de escala), ao invés de contar com forças de trabalho para os turnos que se fizerem necessários, consolidou-se a inquestionável necessidade de o trabalhador estar disponível. O paradigma tornou-se a flexibilidade.

O trabalhador tem de se sujeitar a horários flexíveis, a jornadas descontínuas. E iludem-se os trabalhadores de que isso lhe dá liberdade (trabalha-se em plantões ou escalas extenuantes, mas fica livre outros dias).

O efeito desse modelo de trabalho no âmbito da saúde mental é preocupante. Em função dos diferentes horários de trabalho, decorrentes das escalas ou plantões, a vida pessoal e familiar do trabalhador sofre alterações. O descanso diário fica afetado pela falta de rotina. Dessa forma, a vida pessoal e familiar fica em segundo plano, e somente nas brechas do trabalho é possível planejar a vida.

artigos

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O problema da saúde mental é grave e multifacetado. Parece-nos, no entanto, que para enfrentar com eficácia e

resolutividade os transtornos mentais, há que se dedicar prioritariamente a consolidar políticas de

saúde mental preventivas no âmbito das relações trabalhistas, pois, na sociedade atual,

esse espaço constitui o principal âmbito de nossa vivência.

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Não bastasse a flexibilidade, que já é por si só um fator perturbante da vida pessoal e familiar do trabalhador, consolida-se em n o s s o s t e m p o s o p a r a d i g m a d a disponibilidade. A qualquer momento, durante ou fora da jornada de trabalho, o empregado pode ser acionado para as mais diversas questões. O avanço das telecomunicações permitiu isso. Com poucas linhas, em um WhatsApp, o empregado é acionado para resolver o que for, em qualquer dia ou horário. Este fator faz com que muitas pessoas se tornem seus trabalhos, perdendo outros referenciais. A vida se torna trabalho.

Ademais, nos tempos atuais convivemos com diversos trabalhos que exigem mobilidade. Um dia se está aqui outro acolá. A contínua alteração de locais de trabalho impede que o trabalhador fixe rotinas, alicerce para o equilíbrio pessoal e familiar.

Ta n t o a f l e x i b i l i d a d e q u a n t o a disponibilidade e a mobilidade (tanto valorizadas para alcançar ou manter-se no emprego) facilmente transformam o homem num objeto, numa máquina. O humano fica em segundo plano.

Clima organizacional de pressão

Para garantir o ritmo e os resultados do trabalho, para gerenciar a flexibilidade e assegurar a disponibilidade, consolidam-se e m n o s s o t e m p o p r á t i c a s m u i t o equivocadas. Pouco se investe em treinamento, pouco se investe em estruturas de suporte ao trabalhador e sua família fora do trabalho. Ao contrário, firma-se a prática da pressão.

Pressão que se reveste das mais variadas formas. Seja pela cíclica ameaça da demissão, seja pelo controle policialesco do desempenho do trabalhador, seja pelo tom autoritário e agressivo de contínua insatisfação, o cotidiano trabalhista se reveste de pressão.

Parece que estamos no paraíso quando nos deparamos com um ambiente de trabalho onde o clima organizacional é leve, onde o tema central não é quem está ou deveria estar na lista de demissão, onde a pauta não é o que alguém fez ou não fez.

PRESSUPOSTOS PARA UM POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR

A Organização Mundial da Saúde há muito propugna que as políticas de saúde sejam políticas de todas as políticas. A saúde, como outros direitos, depende de ações não apenas da saúde. Por esse motivo, em primeiro plano, a Política de Saúde Mental do Trabalhador deve ter em conta aspectos que não são tão e somente de saúde. Não se pode pensar nessa política apenas com o olhar em estruturas do SUS para a Saúde Mental. Não será eficaz uma Política de Saúde Mental do Trabalhador q u e d e s c u i d e , e m e s p e c i a l , d o s condicionantes sociais da saúde.

Essa é a questão que buscamos chamar atenção neste trabalho. A política necessária é a que leve em conta os desafios de alterar o modelo de trabalho insalubre que outrora consolidamos.

Diretrizes Gerais para a Política de Saúde Mental do Trabalhador

P a r a e n f r e n t a r o e s p i r i t o d e competitividade, não basta estabelecer um limite de horas extras diárias e uma carga horária semanal máxima. Nem mesmo é adequado que o direito consolide a lógica de que o trabalhador pode vender sua saúde: não descansa, não possui rotina, mas ganha financeiramente com i s s o . É p r e c i s o p e n s a r e m macromecanismos que alterem a cultura do ritmo e da produtividade, que consolidem o espírito de conduzir a vida mais lentamente. Pequenas comunidades e associações parecem estar mais inseridas nessa lógica. É preciso investir nesse modelo de trabalho.

Para re-humanizar as relações de trabalho, é p r e c i s o t o r n a r e x c e p c i o n a l a flexibilidade, a disponibilidade e a mobilidade do trabalhador. Se em primeiro plano estão os homens, essas exigências têm de ser excepcionais.

Para eliminar o clima organizacional de pressão, o direito precisa caracterizar normativamente as atitudes descritas como assédio moral e impor sanções rigorosas para essas atitudes danosas à saúde mental de qualquer trabalhador.

Recomendações para a Política de Saúde Mental do Trabalhador

A atual prevenção de doenças no campo das relações de trabalho está focada na identificação de fatores de risco físicos e biológicos à saúde física. Por isso nasceram diversas medidas de proteção aos

trabalhadores, como as que exigem equipamentos individuais de proteção.

Essas medidas são úteis e necessárias. Há que se dar, no entanto, mais atenção aos fatores de risco à saúde mental do trabalhador, muitas vezes relacionadas à forma de organização do trabalho, à forma em que se estabelecem as relações humanas.

Há que se atacar, em primeiro plano, as causas dos ambientes insalubres: sobrecarga de informações; intensificação da carga de trabalho; pressão sobre o tempo, ritmo e resultado; exigências de mobilidade; exigências de flexibilidade; d e m a n d a s d e d i s p o n i b i l i d a d e ; inseguranças quanto à manutenção do emprego.

A intensa atmosfera de pressão (pela produtividade), de competição (para destacar-se diante dos demais colegas) e de medo (pela perda do emprego) é extremamente tóxica ao trabalhador[6]. Essa conjuntura é propicia ao sofrimento psíquico, a repercussões psicossomáticas de instabilidade, de medo, de insegurança, de fadiga, o que facilmente desdobra em transtornos mentais[6].

A simples organização do trabalho (se a divisão e parcelamento de tarefas é desiqui l ibrada, se as pol ít icas de gerenciamento de pessoas são agressivas, se a estrutura hierárquica se reveste de autoritarismo) pode atingir o corpo de trabalhadores produzindo processos psicopatológicos.

artigos

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Não bastasse a flexibilidade, que já é por si só um fator perturbante da vida pessoal e familiar do trabalhador, consolida-se em n o s s o s t e m p o s o p a r a d i g m a d a disponibilidade. A qualquer momento, durante ou fora da jornada de trabalho, o empregado pode ser acionado para as mais diversas questões. O avanço das telecomunicações permitiu isso. Com poucas linhas, em um WhatsApp, o empregado é acionado para resolver o que for, em qualquer dia ou horário. Este fator faz com que muitas pessoas se tornem seus trabalhos, perdendo outros referenciais. A vida se torna trabalho.

Ademais, nos tempos atuais convivemos com diversos trabalhos que exigem mobilidade. Um dia se está aqui outro acolá. A contínua alteração de locais de trabalho impede que o trabalhador fixe rotinas, alicerce para o equilíbrio pessoal e familiar.

Ta n t o a f l e x i b i l i d a d e q u a n t o a disponibilidade e a mobilidade (tanto valorizadas para alcançar ou manter-se no emprego) facilmente transformam o homem num objeto, numa máquina. O humano fica em segundo plano.

Clima organizacional de pressão

Para garantir o ritmo e os resultados do trabalho, para gerenciar a flexibilidade e assegurar a disponibilidade, consolidam-se e m n o s s o t e m p o p r á t i c a s m u i t o equivocadas. Pouco se investe em treinamento, pouco se investe em estruturas de suporte ao trabalhador e sua família fora do trabalho. Ao contrário, firma-se a prática da pressão.

Pressão que se reveste das mais variadas formas. Seja pela cíclica ameaça da demissão, seja pelo controle policialesco do desempenho do trabalhador, seja pelo tom autoritário e agressivo de contínua insatisfação, o cotidiano trabalhista se reveste de pressão.

Parece que estamos no paraíso quando nos deparamos com um ambiente de trabalho onde o clima organizacional é leve, onde o tema central não é quem está ou deveria estar na lista de demissão, onde a pauta não é o que alguém fez ou não fez.

PRESSUPOSTOS PARA UM POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR

A Organização Mundial da Saúde há muito propugna que as políticas de saúde sejam políticas de todas as políticas. A saúde, como outros direitos, depende de ações não apenas da saúde. Por esse motivo, em primeiro plano, a Política de Saúde Mental do Trabalhador deve ter em conta aspectos que não são tão e somente de saúde. Não se pode pensar nessa política apenas com o olhar em estruturas do SUS para a Saúde Mental. Não será eficaz uma Política de Saúde Mental do Trabalhador q u e d e s c u i d e , e m e s p e c i a l , d o s condicionantes sociais da saúde.

Essa é a questão que buscamos chamar atenção neste trabalho. A política necessária é a que leve em conta os desafios de alterar o modelo de trabalho insalubre que outrora consolidamos.

Diretrizes Gerais para a Política de Saúde Mental do Trabalhador

P a r a e n f r e n t a r o e s p i r i t o d e competitividade, não basta estabelecer um limite de horas extras diárias e uma carga horária semanal máxima. Nem mesmo é adequado que o direito consolide a lógica de que o trabalhador pode vender sua saúde: não descansa, não possui rotina, mas ganha financeiramente com i s s o . É p r e c i s o p e n s a r e m macromecanismos que alterem a cultura do ritmo e da produtividade, que consolidem o espírito de conduzir a vida mais lentamente. Pequenas comunidades e associações parecem estar mais inseridas nessa lógica. É preciso investir nesse modelo de trabalho.

Para re-humanizar as relações de trabalho, é p r e c i s o t o r n a r e x c e p c i o n a l a flexibilidade, a disponibilidade e a mobilidade do trabalhador. Se em primeiro plano estão os homens, essas exigências têm de ser excepcionais.

Para eliminar o clima organizacional de pressão, o direito precisa caracterizar normativamente as atitudes descritas como assédio moral e impor sanções rigorosas para essas atitudes danosas à saúde mental de qualquer trabalhador.

Recomendações para a Política de Saúde Mental do Trabalhador

A atual prevenção de doenças no campo das relações de trabalho está focada na identificação de fatores de risco físicos e biológicos à saúde física. Por isso nasceram diversas medidas de proteção aos

trabalhadores, como as que exigem equipamentos individuais de proteção.

Essas medidas são úteis e necessárias. Há que se dar, no entanto, mais atenção aos fatores de risco à saúde mental do trabalhador, muitas vezes relacionadas à forma de organização do trabalho, à forma em que se estabelecem as relações humanas.

Há que se atacar, em primeiro plano, as causas dos ambientes insalubres: sobrecarga de informações; intensificação da carga de trabalho; pressão sobre o tempo, ritmo e resultado; exigências de mobilidade; exigências de flexibilidade; d e m a n d a s d e d i s p o n i b i l i d a d e ; inseguranças quanto à manutenção do emprego.

A intensa atmosfera de pressão (pela produtividade), de competição (para destacar-se diante dos demais colegas) e de medo (pela perda do emprego) é extremamente tóxica ao trabalhador[6]. Essa conjuntura é propicia ao sofrimento psíquico, a repercussões psicossomáticas de instabilidade, de medo, de insegurança, de fadiga, o que facilmente desdobra em transtornos mentais[6].

A simples organização do trabalho (se a divisão e parcelamento de tarefas é desiqui l ibrada, se as pol ít icas de gerenciamento de pessoas são agressivas, se a estrutura hierárquica se reveste de autoritarismo) pode atingir o corpo de trabalhadores produzindo processos psicopatológicos.

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A ameaça da perda do emprego, prática desumana, mas corriqueira em diversos ambientes profissionais, gera sofrimento psíquico incomensurável ao trabalhador, pois no trabalho está a sua subsistência e de sua família. Sentimentos de menos-valia, insegurança, desânimo e desespero podem despertar e propiciar quadros ansiosos e depressivos.

Além da insegurança no emprego, o subemprego tolerado por necessidade e os processos de reestruturação e enxugamento do quadro funcional costumeiramente são projetados sobre a classe trabalhadora. Tais pressões produzem uma constante pressão, propiciando quadros favoráveis à propagação da tensão, da ansiedade e do estresse.

O espírito de competitividade que faz nascer as sobrecargas no trabalho, a desumanização do trabalho que exige flexibilidade, disponibilidade e mobilidade desmedidas, bem como o clima organizacional de pressão precisam ser reestudados para que se consolidem medidas públicas de fundo, capazes de efetivamente alterar o ambiente de trabalho cotidiano. É preciso enfrentar os fatores estressores, diretamente relacionados à organização e à gestão do trabalho.

As ações públicas em prol da saúde mental precisam revestir-se da feição preventiva, é preciso investir em ações que alterem os condicionantes sociais que estão na raiz dos transtornos mentais. Enquanto as ações públicas continuarem focadas no tratamento e não na prevenção, dificilmente modificar-se-á a estimativa da Organização Mundial da Saúde de que a depressão e a ansiedade serão as doenças desse século

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[1] ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Informe del Relator Especial sobre el derecho de toda persona al disfrute del más alto nivel posible de salud física y mental (A/HRC/35/21). Genebra: ONU, 2017.[2] TEIXEIRA, Márcia Cunha. A invisibilidade das doenças e acidentes do trabalho na sociedade atual. Revista de Direito Sanitário, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 102-131, mar./jun. 2012.[3] Transtornos mentais graves são o estresse, a ansiedade e a depressão. Sejam episódicos ou crônicos, afetam também o sistema circulatório (hipertensão arterial) e o digestivo (úlcera gástrica).[4] Transtornos mentais menores são a alteração da memória, as dificuldades de concentração, de tomar decisões, irritabilidade, fadiga, que costumam vir acompanhados de doenças físicas, somatização desses problemas (cefaleia, falta de apetite, tremores, desconfortos gastrointestinais, insônia).

NOTAS E REFERÊNCIAS

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artigos

A POLÊMICA DIFERENCIAÇÃODE PREÇO DE INGRESSO ENTRE

HOMENS E MULHERES

RÔMULOCORRÊA

DE PAULA

Especialista em Direto Civil e Processual Civil pela Universidade

Cândido Mendes.

Especialista em Direito Processual pela Fundação do Ensino

Superior de Rio Verde (Fesurv).

Promotor de Justiça do Estado de Goiás.

Coordenador do Centro de Apoio Operacional do Consumidor e

Terceiro Setor do Ministério Público do Estado de Goiás.

Talvez nenhum outro tema consumerista recente tenha ocupado tanto espaço na mídia, nas faculdades, nos artigos acadêmicos e até mesmo em rodas de amigos quanto a polêmica vedação à diferenciação de preço de ingressos entre homens e mulheres para entrada em boates e casas de eventos.

Longe de estar pacificado, o assunto aguarda solução definitiva dos tribunais pátrios e não encontra consenso nem mesmo entre os integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC).

Esse tema ganhou foco quando um estudante ajuizou demanda no Poder Judiciário do Distrito Federal veiculando a pretensão de adquirir ingresso de evento festivo pagando o mesmo valor cobrado das mulheres. Em decisão liminar, a MM. Juíza Caroline Santos Lima, do Juizado Especial e do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania de Brasília (Cejusc-BSB) e do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Te r r i t ó r i o s ( TJ D F T ) , d e s t a c o u q u e a diferenciação de preços pelo gênero é incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro. Porém, não concedeu a medida de urgência por ausência de “perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo"[1].

Com a ampla cobertura midiática do caso, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon),

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órgão federal vinculado ao Ministério da Justiça, emitiu a Nota Técnica nº 2/2017[2] r e c o n h e c e n d o a i l e g a l i d a d e n a diferenciação de preço de ingressos entre homens e mulheres e recomendando aos Programas de Proteção e Defesa do Consumidor (Procons) de todo o Brasil que fiscalizem e combatam essa prática.

Posteriormente, em Goiás, foi expedida Recomendação Conjunta assinada pela 12ª Promotoria de Justiça de Goiânia, Procon Goiás e Procon Goiânia, na qual ficou c o n s i g n a d a a o r i e n t a ç ã o a o s e s t a b e l e c i m e n t o s d e l a z e r e e n t r e t e n i m e n t o , b e m c o m o a o s responsáveis por eventos congêneres localizados no estado, para se absterem de cobrar valores diferenciados por ingressos para homens e mulheres ou efetuarem quaisquer cobranças que adotem o gênero como fator de discriminação[3].

Contextualizado o leitor, inicia-se a análise do tema pelo direito internacional e comparado.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, prevê que

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Na mesma linha, a Convenção Americana de Direitos Humanos define que

artigos

Na União Europeia, a Diretiva 2004/113/CE [6], do Conselho da União Europeia, aprovada em 13 de dezembro de 2004, estabelece um conjunto de normas de combate à discriminação em função do gênero no acesso a bens e serviços com vistas a concretizar, nos Estados-Membros, o princípio da igualdade de tratamento entre homens e mulheres.

O artigo 2° da referida Diretiva[6] define como

O mesmo dispositivo define discriminação indireta do seguinte modo:

todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição[4].

os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que

esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social[5].

discriminação directa: sempre que, em função do sexo, uma pessoa seja sujeita a tratamento menos favorável do que aquele que é, tenha sido ou possa vir a ser dado a outra pessoa em situação comparável.

sempre que uma disposição, critério ou prática aparentemente neutra coloque pessoas de um dado sexo numa situação de desvantagem comparativamente com pessoas de outro sexo, a não ser que essa disposição, critério ou prática se justifique objectivamente por um objectivo legítimo e que os meios utilizados para o alcançar sejam adequados e necessários[6].

Nota-se, pois, que na Europa o tratamento desigual entre os sexos é vedado, salvo se a prática se justificar por um objetivo legítimo e desde que os meios utilizados para alcançá-lo sejam adequados e necessários.

Nos Estados Unidos o tema já foi enfrentado pelo Poder Judiciário em New Jersey. No caso concreto, o cidadão David Gillespie foi ao bar Coastline, na denominada “noite das mulheres” e, além de terem cobrado pelo dinheiro da entrada, não obteve os mesmos descontos no consumo de bebidas que as mulheres. Alegando discriminação pelo seu sexo, ajuizou em 22 de junho de 1998 demanda ao bar e, em junho de 2004, obteve êxito[7]. Além de New Jersey, há outros estados norte-americanos que possuem proibições semelhantes.

No Direito brasileiro as vedações ao tratamento desigual entre os sexos residem em normas constitucionais, legais e infralegais. Merece destaque, de início, a violação ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Conforme bem salientado na Nota Técnica n° 2/2017 da Senacon, a diferenciação de preço de ingressos entre homens e mulheres em eventos festivos traduz nítida afronta à dignidade da mulher, pois, “ao utilizá-la como forma de atrair consumidores masculinos para aqueles ambientes, o mercado a considera como um produto que pode ser usado para arrecadar lucros, ou seja, obter vantagens econômicas [2].”

Sobre a violação à dignidade da mulher, de forma emblemática, a MM. Juíza Caroline Santos Lima, na decisão judicial que deu origem a toda essa polêmica, salientou brilhantemente [1]:

Fato é que não pode o empresário-fornecedor usar a mulher como “insumo” para a atividade econômica, servindo como “isca” para atrair clientes do sexo masculino para seu estabelecimento. Admitir-se tal prática afronta, de per si, a dignidade das mulheres, ainda que de forma sutil, velada. Essa intenção oculta, que pode travestir-se de pseudo-homenagem, prestígio ou privilégio, evidentemente, não se consubstancia em justa causa para o discrímen. Pelo contrário, ter-se-á ato ilícito.

Poder-se-ia dizer que a diferenciação de preços pelo gênero não viola a dignidade humana, pois a mulher, suposta vítima, a aceita e, muitas vezes, simpatiza com essa prática.

Contudo, a dignidade da pessoa humana constitui valor constitucional supremo que deve guiar todas as relações jurídicas existentes, sejam públicas ou privadas. O preço constitui cláusula do contrato de consumo firmado entre a empresa produtora do

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órgão federal vinculado ao Ministério da Justiça, emitiu a Nota Técnica nº 2/2017[2] r e c o n h e c e n d o a i l e g a l i d a d e n a diferenciação de preço de ingressos entre homens e mulheres e recomendando aos Programas de Proteção e Defesa do Consumidor (Procons) de todo o Brasil que fiscalizem e combatam essa prática.

Posteriormente, em Goiás, foi expedida Recomendação Conjunta assinada pela 12ª Promotoria de Justiça de Goiânia, Procon Goiás e Procon Goiânia, na qual ficou c o n s i g n a d a a o r i e n t a ç ã o a o s e s t a b e l e c i m e n t o s d e l a z e r e e n t r e t e n i m e n t o , b e m c o m o a o s responsáveis por eventos congêneres localizados no estado, para se absterem de cobrar valores diferenciados por ingressos para homens e mulheres ou efetuarem quaisquer cobranças que adotem o gênero como fator de discriminação[3].

Contextualizado o leitor, inicia-se a análise do tema pelo direito internacional e comparado.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, prevê que

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Na mesma linha, a Convenção Americana de Direitos Humanos define que

artigos

Na União Europeia, a Diretiva 2004/113/CE [6], do Conselho da União Europeia, aprovada em 13 de dezembro de 2004, estabelece um conjunto de normas de combate à discriminação em função do gênero no acesso a bens e serviços com vistas a concretizar, nos Estados-Membros, o princípio da igualdade de tratamento entre homens e mulheres.

O artigo 2° da referida Diretiva[6] define como

O mesmo dispositivo define discriminação indireta do seguinte modo:

todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição[4].

os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que

esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social[5].

discriminação directa: sempre que, em função do sexo, uma pessoa seja sujeita a tratamento menos favorável do que aquele que é, tenha sido ou possa vir a ser dado a outra pessoa em situação comparável.

sempre que uma disposição, critério ou prática aparentemente neutra coloque pessoas de um dado sexo numa situação de desvantagem comparativamente com pessoas de outro sexo, a não ser que essa disposição, critério ou prática se justifique objectivamente por um objectivo legítimo e que os meios utilizados para o alcançar sejam adequados e necessários[6].

Nota-se, pois, que na Europa o tratamento desigual entre os sexos é vedado, salvo se a prática se justificar por um objetivo legítimo e desde que os meios utilizados para alcançá-lo sejam adequados e necessários.

Nos Estados Unidos o tema já foi enfrentado pelo Poder Judiciário em New Jersey. No caso concreto, o cidadão David Gillespie foi ao bar Coastline, na denominada “noite das mulheres” e, além de terem cobrado pelo dinheiro da entrada, não obteve os mesmos descontos no consumo de bebidas que as mulheres. Alegando discriminação pelo seu sexo, ajuizou em 22 de junho de 1998 demanda ao bar e, em junho de 2004, obteve êxito[7]. Além de New Jersey, há outros estados norte-americanos que possuem proibições semelhantes.

No Direito brasileiro as vedações ao tratamento desigual entre os sexos residem em normas constitucionais, legais e infralegais. Merece destaque, de início, a violação ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Conforme bem salientado na Nota Técnica n° 2/2017 da Senacon, a diferenciação de preço de ingressos entre homens e mulheres em eventos festivos traduz nítida afronta à dignidade da mulher, pois, “ao utilizá-la como forma de atrair consumidores masculinos para aqueles ambientes, o mercado a considera como um produto que pode ser usado para arrecadar lucros, ou seja, obter vantagens econômicas [2].”

Sobre a violação à dignidade da mulher, de forma emblemática, a MM. Juíza Caroline Santos Lima, na decisão judicial que deu origem a toda essa polêmica, salientou brilhantemente [1]:

Fato é que não pode o empresário-fornecedor usar a mulher como “insumo” para a atividade econômica, servindo como “isca” para atrair clientes do sexo masculino para seu estabelecimento. Admitir-se tal prática afronta, de per si, a dignidade das mulheres, ainda que de forma sutil, velada. Essa intenção oculta, que pode travestir-se de pseudo-homenagem, prestígio ou privilégio, evidentemente, não se consubstancia em justa causa para o discrímen. Pelo contrário, ter-se-á ato ilícito.

Poder-se-ia dizer que a diferenciação de preços pelo gênero não viola a dignidade humana, pois a mulher, suposta vítima, a aceita e, muitas vezes, simpatiza com essa prática.

Contudo, a dignidade da pessoa humana constitui valor constitucional supremo que deve guiar todas as relações jurídicas existentes, sejam públicas ou privadas. O preço constitui cláusula do contrato de consumo firmado entre a empresa produtora do

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Art. 9. Configuram infrações ao direito básico do consumidor a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, sujeitando o infrator às penalidades previstas na Lei no 8.078, de 1990, as seguintes condutas: [...] VII - atribuir preços distintos para o mesmo item[9].

Art. 36. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: [...] X - discriminar adquirentes ou fornecedores de bens ou serviços por meio da fixação diferenciada de preços, ou de condições operacionais de venda ou prestação de serviços[10].

evento e a mulher. Prevendo esta cláusula conteúdo obrigacional que afronte a dignidade da pessoa humana, ela é nula de pleno direito, ainda que exista consentimento expresso da consumidora. “Incontroverso que as pessoas são livres para contratarem, mas essa autonomia da vontade não pode servir de escudo para justificar práticas abusivas [1]”.

A diferenciação de preços entre homens e mulheres também esbarra no princípio da igualdade, materializado no artigo 5º, caput e inciso I, da Constituição Federal. Na mesma linha, o legislador consumerista taxou a isonomia material como direito básico do consumidor: “Art. 6º São direitos básicos do consumidor: II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações”[8].

Deve-se compreender a igualdade nas contratações, prevista no texto legal anteriormente transcrito, como o direito do consumidor em receber o mesmo tratamento que recebe outro consumidor que esteja nas mesmas condições. Dito de outro modo: nenhum consumidor pode ser desfavorecido em relação a outro consumidor em situação semelhante na contratação de produtos e serviços.

Desse modo, o fornecedor de serviços deve conferir aos consumidores em situação de paridade as mesmas condições de contratação. Para deixar ainda mais claro: pelo mesmo serviço, deve ser cobrado o mesmo preço.

A propósito, o Decreto Federal nº 5.903/2006, que regulamenta o Código de Defesa do Consumidor, veda expressamente a cobrança de preços distintos pelo mesmo serviço:

Na mesma trilha, a Lei nº 12.529/201 tipifica como infração à ordem econômica a discriminação de adquirentes de serviços por meio da cobrança diferenciada de preços:

...nenhum consumidor pode ser desfavorecido em relação a

outro consumidor em situação semelhante na contratação de

produtos e serviços.

‘‘

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É em razão de tais normas que em praticamente todos os segmentos do mercado de consumo há tratamento isonômico entre homens e mulheres. É o que ocorre, por exemplo, quando se contrata o serviço de um lava-jato, lavanderia ou quando se adquire o ingresso para teatro, cinema, um produto em uma loja de eletrodomésticos ou supermercado: não há nenhuma distinção de preços em razão do gênero do consumidor. O mesmo, porém, não ocorre na maioria das casas noturnas e de eventos.

Veja-se, por exemplo, o cotidiano caso de uma boate que cobra pela entrada masculina o valor de R$ 150 e pela entrada feminina, R$ 50. Ao pagarem o valor do ingresso, homem e mulher entram no estabelecimento. Ambos vão utilizar a mesma estrutura física e humana da casa, vale dizer, o mesmo espaço com banheiros semelhantes, os mesmos bares para aquisição de bebidas, os mesmos sofás e mesas disponíveis. Os dois escutarão a mesma música e apreciarão a mesma banda musical. Os garçons, que atenderão o homem, serão os mesmos que atenderão a mulher. Ou seja, o serviço prestado pela boate é o mesmo para o homem e para a mulher. Daí a dúvida: Qual motivo do preço diferenciado? A resposta é simples: não há motivo justificável.

Há quem diga que a mulher, em geral e historicamente, possui salário com valor inferior ao do homem. Por isso, ao cobrar mais barato dos consumidores do sexo feminino, o fornecedor praticaria uma ação afirmativa que busca nivelamento de renda.

Com a devida venia, não é por um propósito paternalista ou no afã de promover uma melhor distribuição de riqueza que o empresário do ramo do entretenimento cobra um valor inferior da mulher.

O empresário, por óbvio, visa ao lucro. Seu único objetivo ao cobrar um valor menor pelo ingresso feminino é atrair mais mulheres, pois sabe que a presença destas garante um maior número de homens, o que, por sua vez, representa maior consumo no evento e, portanto, mais lucro.

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Art. 9. Configuram infrações ao direito básico do consumidor a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, sujeitando o infrator às penalidades previstas na Lei no 8.078, de 1990, as seguintes condutas: [...] VII - atribuir preços distintos para o mesmo item[9].

Art. 36. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: [...] X - discriminar adquirentes ou fornecedores de bens ou serviços por meio da fixação diferenciada de preços, ou de condições operacionais de venda ou prestação de serviços[10].

evento e a mulher. Prevendo esta cláusula conteúdo obrigacional que afronte a dignidade da pessoa humana, ela é nula de pleno direito, ainda que exista consentimento expresso da consumidora. “Incontroverso que as pessoas são livres para contratarem, mas essa autonomia da vontade não pode servir de escudo para justificar práticas abusivas [1]”.

A diferenciação de preços entre homens e mulheres também esbarra no princípio da igualdade, materializado no artigo 5º, caput e inciso I, da Constituição Federal. Na mesma linha, o legislador consumerista taxou a isonomia material como direito básico do consumidor: “Art. 6º São direitos básicos do consumidor: II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações”[8].

Deve-se compreender a igualdade nas contratações, prevista no texto legal anteriormente transcrito, como o direito do consumidor em receber o mesmo tratamento que recebe outro consumidor que esteja nas mesmas condições. Dito de outro modo: nenhum consumidor pode ser desfavorecido em relação a outro consumidor em situação semelhante na contratação de produtos e serviços.

Desse modo, o fornecedor de serviços deve conferir aos consumidores em situação de paridade as mesmas condições de contratação. Para deixar ainda mais claro: pelo mesmo serviço, deve ser cobrado o mesmo preço.

A propósito, o Decreto Federal nº 5.903/2006, que regulamenta o Código de Defesa do Consumidor, veda expressamente a cobrança de preços distintos pelo mesmo serviço:

Na mesma trilha, a Lei nº 12.529/201 tipifica como infração à ordem econômica a discriminação de adquirentes de serviços por meio da cobrança diferenciada de preços:

...nenhum consumidor pode ser desfavorecido em relação a

outro consumidor em situação semelhante na contratação de

produtos e serviços.

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É em razão de tais normas que em praticamente todos os segmentos do mercado de consumo há tratamento isonômico entre homens e mulheres. É o que ocorre, por exemplo, quando se contrata o serviço de um lava-jato, lavanderia ou quando se adquire o ingresso para teatro, cinema, um produto em uma loja de eletrodomésticos ou supermercado: não há nenhuma distinção de preços em razão do gênero do consumidor. O mesmo, porém, não ocorre na maioria das casas noturnas e de eventos.

Veja-se, por exemplo, o cotidiano caso de uma boate que cobra pela entrada masculina o valor de R$ 150 e pela entrada feminina, R$ 50. Ao pagarem o valor do ingresso, homem e mulher entram no estabelecimento. Ambos vão utilizar a mesma estrutura física e humana da casa, vale dizer, o mesmo espaço com banheiros semelhantes, os mesmos bares para aquisição de bebidas, os mesmos sofás e mesas disponíveis. Os dois escutarão a mesma música e apreciarão a mesma banda musical. Os garçons, que atenderão o homem, serão os mesmos que atenderão a mulher. Ou seja, o serviço prestado pela boate é o mesmo para o homem e para a mulher. Daí a dúvida: Qual motivo do preço diferenciado? A resposta é simples: não há motivo justificável.

Há quem diga que a mulher, em geral e historicamente, possui salário com valor inferior ao do homem. Por isso, ao cobrar mais barato dos consumidores do sexo feminino, o fornecedor praticaria uma ação afirmativa que busca nivelamento de renda.

Com a devida venia, não é por um propósito paternalista ou no afã de promover uma melhor distribuição de riqueza que o empresário do ramo do entretenimento cobra um valor inferior da mulher.

O empresário, por óbvio, visa ao lucro. Seu único objetivo ao cobrar um valor menor pelo ingresso feminino é atrair mais mulheres, pois sabe que a presença destas garante um maior número de homens, o que, por sua vez, representa maior consumo no evento e, portanto, mais lucro.

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No intuito de alcançar o lucro perseguido, não é raro presenciar casas noturnas realizando promoções que liberam gratuitamente a entrada de mulheres até determinado horário. Aliás, em muitos casos, em vez de liberar a entrada imediata das mulheres, o estabelecimento as deixa em fila indiana na porta para transmitir aos homens a impressão de que a casa está repleta de pessoas do sexo oposto.

Ações afirmativas visando à igualdade de rendimento entre homens e mulheres devem sempre existir. Contudo, a diferenciação de preço de ingressos entre homens e mulheres em eventos com certeza não constitui política pública e não é medida apta a atenuar a diferença de rendimento existente entre os sexos, até porque o ingresso em eventos não é serviço de primeira necessidade.

Cabe deixar claro que, se o fornecedor assumisse o valor do desconto que incide sobre o ingresso feminino, não haveria problemas na diferenciação de preços. Por óbvio, entretanto, não é isso o que ocorre. O desconto concedido no valor do ingresso feminino entra na planilha de custos do proprietário do estabelecimento e é integralmente transferido para o homem.

Ao repassar ao homem o valor do desconto concedido às consumidoras do sexo feminino, o fornecedor está exigindo daquele vantagem manifestamente excessiva, prática abusiva vedada pelo Código de Defesa do Consumidor[11].

Ao mesmo tempo a cláusula contratual que fixa o preço masculino em patamar superior ao feminino coloca aquele em desvantagem exagerada, o que a torna

abusiva e, por conseguinte, nula de pleno direito[12].

É certo que a igualdade entre homens e mulheres é a regra, sendo a distinção uma medida excepcional. Dessa forma, qualquer tratamento desigual entre sexos deve ser compatível com os princípios previstos na Constituição Federal.

É o que ocorre, por exemplo, com as normas relacionadas ao tempo de aposentadoria da mulher, ao prazo da licença-maternidade e a própria Lei Maria da Penha que, diante de uma situação de vulnerabilidade feminina, traça regras diferenciadas de proteção às mulheres.

Nesse prisma, exceções ao princípio da isonomia, ainda que ventiladas por lei, se submetem a um rigoroso controle de c o m p a t i b i l i d a d e c o m a s n o r m a s constitucionais.

Nada impede, porém, que o particular ou (ou seja, o fornecedor) excepcione o princípio da igualdade. Todavia, nessas situações, defende-se que devem ser exigidos requisitos semelhantes aos traçados pela Diretiva 2004/113/CE da União Europeia já mencionada. Vale dizer: (i) compatibilidade com os princípios constitucionais; (ii) objetivo legítimo e lícito; (iii) meios adequados e necessários para atingir esse objetivo.

É o caso, por exemplo, de vagões de metrô destinados apenas ao sexo feminino e dos veículos de transporte individual de passageiros para uso exclusivo das mulheres. Em ambos os casos, o objetivo perseguido é proteger a mulher contra violência física e sexual. Tal objetivo

encontra amparo no texto constitucional, que garante igualdade material entre os sexos. Além disso, não há dúvida de que ações afirmativas como as citadas são meios adequados e necessários para reduzir a violência a que são submetidas as mulheres.

O mesmo não se pode dizer a respeito da cobrança diferenciada de ingressos entre homens e mulheres. Em primeiro lugar porque tal prática não encontra guarida no texto constitucional. Como já foi explicado, não se trata de uma ação afirmativa, mas de uma estratégia comercial que visa apenas aumentar os lucros do produtor do evento. Em segundo lugar porque tal diferenciação não é meio adequado e necessário para corrigir qualquer distorção entre os sexos, nem mesmo as diferenças salariais, pois se trata de serviço de natureza não essencial.

Assim, vale mencionar argumento levantado por alguns no sentido de que a vedação a respeito da diferenciação de preço de ingressos constitui indevida intromissão do Estado na iniciativa privada.

Ao tratar sobre a ordem econômica, o legislador constituinte elencou a livre- iniciativa como um de seus fundamentos. Porém, foi claro ao definir a defesa do consumidor como um de seus limites (art. 170, inciso V, CF/88). Mesmo rumo seguiu o CDC em seu artigo 4º.

Dessa forma, conforme explica Gilberto Bercovici[13],

a Constituição de 1988, assim como várias outras constituições contemporâneas, não exclui nenhuma forma de intervenção estatal, nem veda ao Estado atuar em nenhum domínio da atividade econômica. A amplitude maior ou menor desta atuação econômica do Estado é consequência das decisões políticas democraticamente legitimadas, não de alguma determinação constitucional expressa.

Nada impede, portanto, a intervenção pontual do Estado na atividade econômica quando os direitos do consumidor estão sendo violados.

A propósito, cita-se como exemplos de intervenção estatal nas relações privadas: a Lei nº 12.529/2011, que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica; as práticas e cláusulas abusivas, previstas nos artigos 39 e 51 do CDC; o artigo 421 do Código Civil, que define que a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato; entre outros.

No caso tratado neste artigo e com base em tudo o que já foi dito, as casas de eventos, ao diferenciarem preços entre homens e mulheres, violam os direitos do consumidor, o que autoriza a intervenção do Estado na livre-iniciativa para conter esse abuso.

É certo que tal prática é longeva e, em muitos lugares, até socialmente aceita. Contudo, como é sabido, o costume não inova no ordenamento jurídico e não tem o condão de revogar normas constitucionais e infraconstitucionais. Como bem disse a MM. Juíza Caroline Santos Lima, do TJDFT, na já mencionada decisão judicial sobre esse tema [1]:

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No intuito de alcançar o lucro perseguido, não é raro presenciar casas noturnas realizando promoções que liberam gratuitamente a entrada de mulheres até determinado horário. Aliás, em muitos casos, em vez de liberar a entrada imediata das mulheres, o estabelecimento as deixa em fila indiana na porta para transmitir aos homens a impressão de que a casa está repleta de pessoas do sexo oposto.

Ações afirmativas visando à igualdade de rendimento entre homens e mulheres devem sempre existir. Contudo, a diferenciação de preço de ingressos entre homens e mulheres em eventos com certeza não constitui política pública e não é medida apta a atenuar a diferença de rendimento existente entre os sexos, até porque o ingresso em eventos não é serviço de primeira necessidade.

Cabe deixar claro que, se o fornecedor assumisse o valor do desconto que incide sobre o ingresso feminino, não haveria problemas na diferenciação de preços. Por óbvio, entretanto, não é isso o que ocorre. O desconto concedido no valor do ingresso feminino entra na planilha de custos do proprietário do estabelecimento e é integralmente transferido para o homem.

Ao repassar ao homem o valor do desconto concedido às consumidoras do sexo feminino, o fornecedor está exigindo daquele vantagem manifestamente excessiva, prática abusiva vedada pelo Código de Defesa do Consumidor[11].

Ao mesmo tempo a cláusula contratual que fixa o preço masculino em patamar superior ao feminino coloca aquele em desvantagem exagerada, o que a torna

abusiva e, por conseguinte, nula de pleno direito[12].

É certo que a igualdade entre homens e mulheres é a regra, sendo a distinção uma medida excepcional. Dessa forma, qualquer tratamento desigual entre sexos deve ser compatível com os princípios previstos na Constituição Federal.

É o que ocorre, por exemplo, com as normas relacionadas ao tempo de aposentadoria da mulher, ao prazo da licença-maternidade e a própria Lei Maria da Penha que, diante de uma situação de vulnerabilidade feminina, traça regras diferenciadas de proteção às mulheres.

Nesse prisma, exceções ao princípio da isonomia, ainda que ventiladas por lei, se submetem a um rigoroso controle de c o m p a t i b i l i d a d e c o m a s n o r m a s constitucionais.

Nada impede, porém, que o particular ou (ou seja, o fornecedor) excepcione o princípio da igualdade. Todavia, nessas situações, defende-se que devem ser exigidos requisitos semelhantes aos traçados pela Diretiva 2004/113/CE da União Europeia já mencionada. Vale dizer: (i) compatibilidade com os princípios constitucionais; (ii) objetivo legítimo e lícito; (iii) meios adequados e necessários para atingir esse objetivo.

É o caso, por exemplo, de vagões de metrô destinados apenas ao sexo feminino e dos veículos de transporte individual de passageiros para uso exclusivo das mulheres. Em ambos os casos, o objetivo perseguido é proteger a mulher contra violência física e sexual. Tal objetivo

encontra amparo no texto constitucional, que garante igualdade material entre os sexos. Além disso, não há dúvida de que ações afirmativas como as citadas são meios adequados e necessários para reduzir a violência a que são submetidas as mulheres.

O mesmo não se pode dizer a respeito da cobrança diferenciada de ingressos entre homens e mulheres. Em primeiro lugar porque tal prática não encontra guarida no texto constitucional. Como já foi explicado, não se trata de uma ação afirmativa, mas de uma estratégia comercial que visa apenas aumentar os lucros do produtor do evento. Em segundo lugar porque tal diferenciação não é meio adequado e necessário para corrigir qualquer distorção entre os sexos, nem mesmo as diferenças salariais, pois se trata de serviço de natureza não essencial.

Assim, vale mencionar argumento levantado por alguns no sentido de que a vedação a respeito da diferenciação de preço de ingressos constitui indevida intromissão do Estado na iniciativa privada.

Ao tratar sobre a ordem econômica, o legislador constituinte elencou a livre- iniciativa como um de seus fundamentos. Porém, foi claro ao definir a defesa do consumidor como um de seus limites (art. 170, inciso V, CF/88). Mesmo rumo seguiu o CDC em seu artigo 4º.

Dessa forma, conforme explica Gilberto Bercovici[13],

a Constituição de 1988, assim como várias outras constituições contemporâneas, não exclui nenhuma forma de intervenção estatal, nem veda ao Estado atuar em nenhum domínio da atividade econômica. A amplitude maior ou menor desta atuação econômica do Estado é consequência das decisões políticas democraticamente legitimadas, não de alguma determinação constitucional expressa.

Nada impede, portanto, a intervenção pontual do Estado na atividade econômica quando os direitos do consumidor estão sendo violados.

A propósito, cita-se como exemplos de intervenção estatal nas relações privadas: a Lei nº 12.529/2011, que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica; as práticas e cláusulas abusivas, previstas nos artigos 39 e 51 do CDC; o artigo 421 do Código Civil, que define que a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato; entre outros.

No caso tratado neste artigo e com base em tudo o que já foi dito, as casas de eventos, ao diferenciarem preços entre homens e mulheres, violam os direitos do consumidor, o que autoriza a intervenção do Estado na livre-iniciativa para conter esse abuso.

É certo que tal prática é longeva e, em muitos lugares, até socialmente aceita. Contudo, como é sabido, o costume não inova no ordenamento jurídico e não tem o condão de revogar normas constitucionais e infraconstitucionais. Como bem disse a MM. Juíza Caroline Santos Lima, do TJDFT, na já mencionada decisão judicial sobre esse tema [1]:

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[1] BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Juíza mantém preço diferenciado de ingresso, mas aponta ilegalidade na forma de cobrança. Brasília, DF, Poder Judiciário, 16 jun. 2017. Disponível em: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2017/junho/juiza-do-tjdft-aponta-ilegalidade-em-cobranca-de-ingressos-diferenciada-entre-homens-e-mulheres>. Acesso em: 13 nov. 2017.[2] BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Nota técnica 2/2017/GAB-DPDC/SENACON. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/nota-tecnica-homem-mulher.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2017.[3] Em obediência aos limites territoriais da atribuição da 12ª Promotoria de Justiça de Goiânia e por absoluto respeito à independência funcional dos demais membros do Parquet, foi expressamente consignado em aditamento à referida recomendação que “em relação ao Ministério Público do Estado de Goiás, o seu conteúdo vigora no âmbito da comarca de Goiânia”.[4] ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração universal dos direitos humanos. Rio de Janeiro: UNIC; ONU, 2009. Disponível em: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2017.[5] CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. San José de Costa Rica, 22 nov. 1969.[6] CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA. Directiva 2004/113/CE. Bruxelas, 2004. Disponível em: <http://cite.gov.pt/imgs/directivas/Directiva%202004-113.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2017.[7] Informação colhida em despacho prolatado pelo Exc. Promotor de Justiça Paulo Roberto Binicheski, titular da 2ª Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, na representação 08190.053944/17-22. O ilustre promotor cita como fonte a seguinte obra: GREWAL, Dhruv; LEVY, Michael. Marketing. 2. ed. Série A. Tradução Bryan Taylor. Porto Alegre: AMGH, 2012, p. 266.[8] BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.[9] BRASIL. Decreto 5.903, de 20 de setembro de 2006. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 set. 2006.[10] BRASIL. Lei 12.529, de 30 de novembro de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1º dez. 2011.[11] BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 set. 1990.[12] "Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: [...] IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade" (BRASIL, 1990).[13] BERCOVICI, Gilberto. Artigos 170 ao 173. In: BONAVIDES, Paulo; MIRANDA, Jorge; AGRA, Walber de Moura. Comentários à Constituição Federal do Brasil. São Paulo: Forense, 2009, p. 1943.

NOTAS E REFERÊNCIAS

Embora polêmico, o tema em foco representa a ruptura de um paradigma, o que deve ocorrer pelas mãos dos operadores do Direito, uma vez que a matéria é jurídica, e não econômica.

Para concluir, salienta-se que o cavalheirismo e os velhos hábitos, como abrir a porta do carro para a mulher e pagar seu jantar, sempre estarão em alta. Porém, a beleza de tais condutas reside na voluntariedade do homem que as pratica. É esta voluntariedade que garante o prestígio feminino.

Não há, entretanto, nenhum prestígio às mulheres quando o fornecedor impõe ao homem o pagamento de um ingresso com valor mais alto. Neste caso, o que existe é uma mera estratégia de mercado que utiliza a mulher como objeto de marketing

Ocorre que no caso das mulheres a situação é ainda mais delicada, já que uma prática repetida há tanto tempo pode traduzir uma (falsa) aparência de regularidade, de conformidade. No entanto, felizmente, o tempo não tem o condão de convalidar nulidades de tal porte. Não é “porque sempre foi assim” que a prática discriminatória haverá de receber a chancela do Poder Judiciário, pois o mau costume não é fonte do direito. De forma alguma.

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Inimputabilidade penalem razão da idade:

passado, presente e futuro

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ARTIGOS

ROGÉRIOSANCHES

CUNHA

No Código Criminal do Império[1] (1830), o artigo 10 dispunha que os agentes menores de 14 anos não podiam cometer crimes. Com a entrada em vigor do primeiro Código Penal da República[2] (1890), a capacidade penal era tratada da seguinte forma: a) eram inimputáveis os menores de 9 anos; b) e os que, entre 9 e 14 anos, agissem sem discernimento.

A Consolidação das Lei Penais[3] (1932) modif icou novamente a idade para a imputabilidade penal, estabelecendo que não podiam ser punidos os menores de 14 anos (art. 27). Reproduzia o que já dispunha o Código de Menores de 1927 (art. 68), que, no entanto, estabelecia um processo especial para os autores de crimes que ainda não haviam completado 18 anos. Segundo esse processo, a autoridade judicial deveria reunir precisas informações a respeito do estado físico, mental e moral do menor, e da situação social, moral e econômica de seus representantes legais. As consequências da prática criminosa variavam conforme a condição do menor: a) se sofresse de deficiência mental, fosse epiléptico, surdo-mudo, cego ou necessitasse de cuidados especiais em virtude de seu estado de saúde, era submetido a tratamento adequado à sua condição; b) se fosse abandonado, pervertido ou estivesse em perigo de o ser, era colocado em estabelecimento adequado ou era confiado a pessoa idônea pelo tempo necessário para sua educação – desde que esse tempo não ultrapassasse a idade de 21 anos; c) se não fosse abandonado ou pervertido, nem estivesse em

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perigo de o ser, e também se não necessitasse de tratamento especial, era deixado com os pais, com tutor ou com alguém que tivesse sua guarda, mediante condições estabelecidas pela autoridade judicial, se fosse o caso.

Até que o Código de Menores[4] de 1927 entrar em vigor, era comum que menores autores de crimes fossem colocados em prisões na companhia de adultos, mesmo em virtude da prática de infrações menos graves. Talvez um dos episódios mais famosos tenha sido o de Bernardino, engraxate que, aos 12 anos, envolveu-se em um entrevero com um dos clientes e atirou tinta nas roupas deste, o que lhe rendeu um mês de prisão entre adultos, que lhe agrediram física e sexualmente. Quando saiu da prisão, Bernardino foi encaminhado ao hospital, com enorme repercussão diante de suas péssimas condições de saúde. Aliás, foi isso que provocou os debates em torno da elevação da idade para a imputabilidade penal e que possibilitou a aprovação do Código de Menores.

Somente com a entrada em vigor do C ó d i g o P e n a l e m 1 9 4 0 é q u e a i m p u t a b i l i d a d e s e e s t a b e l e c e u expressamente aos dezoito anos (art. 23), e assim permaneceu após a reforma da Parte Geral[5] em 1984 (art. 27), na Constituição Federal de 1988 (art. 228) e no Estatuto da Criança e do Adolescente[7] (art. 104). De acordo com as regras atuais, os menores de 18 anos são absolutamente inimputáveis, ainda que concretamente possam ter discernimento.

Os menores de 18 anos não cometem crime, mas um comportamento análogo denominado ato infrac ional . São

submetidos ao procedimento especial do Estatuto da Criança e do Adolescente, que lhes aplicam, até os 12 anos incompletos, as medidas de proteção do artigo 101; dos 12 aos 18 anos, são aplicadas as medidas socioeducativas do artigo 112 (advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade e i n t e r n a ç ã o e m e s t a b e l e c i m e n t o educacional). Se necessário, também são aplicáveis as medidas de proteção do artigo 101, incisos I a VI.

Diante, no entanto, da escalada de crimes cometidos por menores de idade nos últimos anos, especialmente aqueles violentos e revestidos de maior gravidade (como latrocínios), e em virtude da baixíssima eficácia das medidas corretivas estabelecidas na legislação especial, que trata com injustificável lassidão autores de infrações gravíssimas, é crescente o movimento para que o Legislativo altere a regra da imputabilidade.

O tema é objeto de extenso debate, não somente sobre a viabilidade da medida em t e r m o s p r á t i c o s , m a s t a m b é m relativamente à constitucionalidade da proposta.

Há quem sustente que a norma constitucional sobre a imputabilidade seja cláusula pétrea. Assim se manifestam com base no entendimento de que os direitos e as garantias fundamentais não se restringem ao rol do artigo 5º da CF/1988, mas podem ser encontrados em outros d i s p o s i t i v o s c u j o c o n t e ú d o s e j a materialmente relacionado ao núcleo da Constituição. Por isso, voltado à proteção integral da pessoa do adolescente, o artigo 228 não poderia ser objeto de proposta de

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e m e n d a t e n d e n t e a a b o l i r s u a s disposições. Por outro lado, há aqueles que argumentam não se tratar de cláusula pétrea, pois a inimputabilidade não está no e l e n c o d e d i r e i t o s e g a r a n t i a s fundamentais do artigo 5º da CF/1988.

Ainda noutra perspectiva, há quem considere não haver óbice à emenda mesmo que se conclua se tratar de cláusula pétrea, que não é imodificável, mas refratária tão somente à abolição ou ao completo desvirtuamento de seu núcleo, o que não ocorre com a proposta de emenda que somente modifica o artigo 228 para possibilitar a devida resposta estatal à prática de crimes por indivíduos que demonstrem pleno discernimento. É o que ensina Pedro Lenza, para quem

Nessa esteira, tramita no Congresso N a c i o n a l a p r o p o s t a d e E m e n d a Constitucional[9] nº 171/1993 – já aprovada pela Câmara dos Deputados – para alteração do artigo 228 da CF/1988. De acordo com o texto aprovado, o artigo 228

artigos

apenas não se admite a proposta de emenda (PEC) tendente a abolir direito e garantia individual. Isso não significa, como já interpretou o STF, que a matéria não possa ser modificada. Reduzindo a maioridade penal de 18 para 16 anos, o direito à inimputabilidade, visto como garantia fundamental, não deixará de existir. A sociedade evoluiu, e, atualmente, uma pessoa com 16 anos de idade tem total consciência de seus atos, tanto é que exerce os direitos de cidadania, podendo propor ação popular e votar. Portanto, em nosso entender, eventual PEC que reduza a maioridade penal de 18 para 16 anos é totalmente constitucional. O limite de 16 a n o s j á e s t á s e n d o u t i l i z a d o e é fundamentado no parâmetro do exercício do direito de votar e à luz da razoabilidade e maturidade do ser humano.[8]

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d i s p õ e , c o m o r e g r a , s o b r e a inimputabilidade dos menores de 18 anos, sujeitos às normas da legislação especial (Lei 8.069/1990). Excepcionalmente, os menores com 16 anos completos podem ser responsabilizados penalmente, caso sejam autores dos chamados crimes graves, como os hediondos, de homicídio doloso e de lesão corporal seguida de morte.

Parece-nos, todavia, haver inconsistência na proposta que, tudo indica, será aprovada. Efetivamente, a emenda permite que o agente com 16 anos completos seja responsabilizado pelo cometimento de apenas algumas figuras criminosas. Trata-se, claramente, de solução política em que se busca o meio-termo em razão da resistência sofrida pela proposta no âmbito do próprio Legislativo.

Há, no entanto, um aspecto técnico r e l a t i v o à i m p u t a b i l i d a d e , c u j o f u n d a m e n t o é a c a p a c i d a d e d e discernimento, que não pode ser ignorado: como se sustenta que alguém tenha discernimento para cometer um cruel homicídio mas não o tenha para furtar uma bicicleta?

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perigo de o ser, e também se não necessitasse de tratamento especial, era deixado com os pais, com tutor ou com alguém que tivesse sua guarda, mediante condições estabelecidas pela autoridade judicial, se fosse o caso.

Até que o Código de Menores[4] de 1927 entrar em vigor, era comum que menores autores de crimes fossem colocados em prisões na companhia de adultos, mesmo em virtude da prática de infrações menos graves. Talvez um dos episódios mais famosos tenha sido o de Bernardino, engraxate que, aos 12 anos, envolveu-se em um entrevero com um dos clientes e atirou tinta nas roupas deste, o que lhe rendeu um mês de prisão entre adultos, que lhe agrediram física e sexualmente. Quando saiu da prisão, Bernardino foi encaminhado ao hospital, com enorme repercussão diante de suas péssimas condições de saúde. Aliás, foi isso que provocou os debates em torno da elevação da idade para a imputabilidade penal e que possibilitou a aprovação do Código de Menores.

Somente com a entrada em vigor do C ó d i g o P e n a l e m 1 9 4 0 é q u e a i m p u t a b i l i d a d e s e e s t a b e l e c e u expressamente aos dezoito anos (art. 23), e assim permaneceu após a reforma da Parte Geral[5] em 1984 (art. 27), na Constituição Federal de 1988 (art. 228) e no Estatuto da Criança e do Adolescente[7] (art. 104). De acordo com as regras atuais, os menores de 18 anos são absolutamente inimputáveis, ainda que concretamente possam ter discernimento.

Os menores de 18 anos não cometem crime, mas um comportamento análogo denominado ato infrac ional . São

submetidos ao procedimento especial do Estatuto da Criança e do Adolescente, que lhes aplicam, até os 12 anos incompletos, as medidas de proteção do artigo 101; dos 12 aos 18 anos, são aplicadas as medidas socioeducativas do artigo 112 (advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade e i n t e r n a ç ã o e m e s t a b e l e c i m e n t o educacional). Se necessário, também são aplicáveis as medidas de proteção do artigo 101, incisos I a VI.

Diante, no entanto, da escalada de crimes cometidos por menores de idade nos últimos anos, especialmente aqueles violentos e revestidos de maior gravidade (como latrocínios), e em virtude da baixíssima eficácia das medidas corretivas estabelecidas na legislação especial, que trata com injustificável lassidão autores de infrações gravíssimas, é crescente o movimento para que o Legislativo altere a regra da imputabilidade.

O tema é objeto de extenso debate, não somente sobre a viabilidade da medida em t e r m o s p r á t i c o s , m a s t a m b é m relativamente à constitucionalidade da proposta.

Há quem sustente que a norma constitucional sobre a imputabilidade seja cláusula pétrea. Assim se manifestam com base no entendimento de que os direitos e as garantias fundamentais não se restringem ao rol do artigo 5º da CF/1988, mas podem ser encontrados em outros d i s p o s i t i v o s c u j o c o n t e ú d o s e j a materialmente relacionado ao núcleo da Constituição. Por isso, voltado à proteção integral da pessoa do adolescente, o artigo 228 não poderia ser objeto de proposta de

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e m e n d a t e n d e n t e a a b o l i r s u a s disposições. Por outro lado, há aqueles que argumentam não se tratar de cláusula pétrea, pois a inimputabilidade não está no e l e n c o d e d i r e i t o s e g a r a n t i a s fundamentais do artigo 5º da CF/1988.

Ainda noutra perspectiva, há quem considere não haver óbice à emenda mesmo que se conclua se tratar de cláusula pétrea, que não é imodificável, mas refratária tão somente à abolição ou ao completo desvirtuamento de seu núcleo, o que não ocorre com a proposta de emenda que somente modifica o artigo 228 para possibilitar a devida resposta estatal à prática de crimes por indivíduos que demonstrem pleno discernimento. É o que ensina Pedro Lenza, para quem

Nessa esteira, tramita no Congresso N a c i o n a l a p r o p o s t a d e E m e n d a Constitucional[9] nº 171/1993 – já aprovada pela Câmara dos Deputados – para alteração do artigo 228 da CF/1988. De acordo com o texto aprovado, o artigo 228

artigos

apenas não se admite a proposta de emenda (PEC) tendente a abolir direito e garantia individual. Isso não significa, como já interpretou o STF, que a matéria não possa ser modificada. Reduzindo a maioridade penal de 18 para 16 anos, o direito à inimputabilidade, visto como garantia fundamental, não deixará de existir. A sociedade evoluiu, e, atualmente, uma pessoa com 16 anos de idade tem total consciência de seus atos, tanto é que exerce os direitos de cidadania, podendo propor ação popular e votar. Portanto, em nosso entender, eventual PEC que reduza a maioridade penal de 18 para 16 anos é totalmente constitucional. O limite de 16 a n o s j á e s t á s e n d o u t i l i z a d o e é fundamentado no parâmetro do exercício do direito de votar e à luz da razoabilidade e maturidade do ser humano.[8]

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d i s p õ e , c o m o r e g r a , s o b r e a inimputabilidade dos menores de 18 anos, sujeitos às normas da legislação especial (Lei 8.069/1990). Excepcionalmente, os menores com 16 anos completos podem ser responsabilizados penalmente, caso sejam autores dos chamados crimes graves, como os hediondos, de homicídio doloso e de lesão corporal seguida de morte.

Parece-nos, todavia, haver inconsistência na proposta que, tudo indica, será aprovada. Efetivamente, a emenda permite que o agente com 16 anos completos seja responsabilizado pelo cometimento de apenas algumas figuras criminosas. Trata-se, claramente, de solução política em que se busca o meio-termo em razão da resistência sofrida pela proposta no âmbito do próprio Legislativo.

Há, no entanto, um aspecto técnico r e l a t i v o à i m p u t a b i l i d a d e , c u j o f u n d a m e n t o é a c a p a c i d a d e d e discernimento, que não pode ser ignorado: como se sustenta que alguém tenha discernimento para cometer um cruel homicídio mas não o tenha para furtar uma bicicleta?

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artigos

A principal razão da presunção de inimputabilidade é a política criminal, como reconhecida pela doutrina desde Tobias Barreto. Atualmente, o ponto 23 da Exposição de Motivos da Nova Parte Geral do instituto faz referência clara à oportunidade de educação que deve ser dada ao jovem, ao convívio social sem sua necessária submissão ao tratamento do delinquente adulto, expondo-o à contaminação

Ora, a culpabilidade é o juízo de reprovação que recai na conduta típica e ilícita que o agente se propõe a realizar. É fundamentada, basicamente, em dois aspectos, que, embora sejam aparentemente contraditórios, na verdade se complementam: o livre-arbítrio e o determinismo.

Não há, de fato, entre tais conceitos, incompatibilidade, senão complementaridade. É fato que, no geral, vigora o livre-arbítrio, identificando-se nos indivíduos a capacidade de avaliar a correção de sua conduta e, portanto, de agir conforme o direito. Não se pode ignorar, todavia, a existência de fatores sociais que podem tornar certos indivíduos menos aptos a escolher livremente e passíveis de se submeter a influências externas que acabam inspirando sua linha de conduta. É evidente que uma pessoa bem formada, educada em ambiente que prestigie valores morais e éticos, que lhe foram incutidos ao longo da vida, tem menos chances de praticar um ato criminoso do que outra formada numa família de delinquentes, sem referências próximas de honestidade e decoro. Embora, mesmo no segundo caso, não se afaste por completo a capacidade de escolha (afinal, a maior parte das pessoas submetidas a condições sociais desfavoráveis – às vezes nefastas – optam pela conduta honesta), não se pode deixar de considerar a influência negativa daí advinda para a formação do caráter do indivíduo.

A culpabilidade tem entre seus elementos a imputabilidade, que é a capacidade de imputação, ou seja, a possibilidade de se atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de uma infração penal. É elemento sem o qual “entende-se que o sujeito carece de liberdade e de faculdade para comportar-se de outro modo, como o que não é capaz de culpabilidade, sendo, portanto, inculpável"[10]. São dois os elementos que devem se fazer presentes para que haja imputabilidade: intelectivo, consistente na higidez psíquica que permita ao agente ter consciência do caráter ilícito do fato; e volitivo, em que o agente domina sua vontade, ou seja, exerce controle sobre a disposição surgida com o entendimento do caráter ilícito do fato, e se determina de acordo com esse entendimento.

A exclusão da imputabilidade em razão da idade tem como fundamento a incapacidade presumida de agir de acordo com a norma. Nas palavras de Günther Jakobs, o fundamento para essa presunção “é a experiência de que as crianças [e adolescentes, no nosso caso] não são definidas como iguais e, por isso, não são competentes para questionar a validade da norma"[11]. Tanto é assim que o critério usado no Brasil para a inimputabilidade em razão da idade é o denominado biológico, que leva em conta apenas o desenvolvimento mental do agente em virtude de sua idade, independentemente de qualquer apuração acerca da capacidade de entendimento e de autodeterminação no momento da conduta.

É verdade que essa presunção está fundada em orientações de política criminal, não em postulados científicos. Como explica Víctor Gabriel Rodríguez:

[1] BRASIL. Lei de 16 de dezembro de 1830. Manda executar o Código Criminal. Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, 8 jan. 1831. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078compilado.htm>. Acesso em: 5 set. 2017.[2] BRASIL. Câmera dos Deputados. Decreto 847, de 11 de outubro de 1890. In:______. Coleção de Leis do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1890. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 5 set. 2017.[3] BRASIL. Decreto 22.213, de 14 de dezembro de 1932. Aprova a Consolidação das Leis Penais, da autoria do Sr. Desembargador Vicente Piragibe. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1932.[4] BRASIL. Decreto 17.943-A, de 12 de outubro de 1927. Consolida as leis de assistência e proteção a menores. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1910-1929/d17943a.htm>. Acesso em: 5 set. 2017.[5] BRASIL. Lei 7.209, de 11 de julho de 1984. Diário do Congresso Nacional, 1º jul. 1983. Seção 1.[6] BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.[7] BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Seção 1. [8] LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 872-873.[9] BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Emenda à Constituição 171, de 1993. Diário do Congresso Nacional, 27 out. 1993. Seção 1. p. 23062-23064. [10] BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 434.[11] JAKOBS, Günther. Tratado de direito penal: teoria do injusto penal e culpabilidade. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 743.[12] RODRÍGUEZ, Víctor Gabriel. Fundamentos e direito penal brasileiro. São Paulo: Atlas, 2010, p. 282.

Mas, independentemente do fundamento utilizado, é inequívoco – e óbvio – que a inimputabilidade é analisada da perspectiva do autor do fato típico e ilícito, não da perspectiva do fato em si, ou seja, é absolutamente impróprio estabelecer a imputabilidade fundamentada na natureza do crime se, como vimos, todo o sistema de imputação – desde os fundamentos mais elementares da culpabilidade até os elementos fundantes da imputabilidade – tem como objeto o autor da conduta. Isso quer dizer que, mesmo diante de uma presunção adotada com base em diretrizes de política criminal, ou o agente tem a capacidade biológica de se determinar de acordo com a lei (para qualquer crime) ou não a tem (para nenhum crime). A consciência não varia de acordo com a figura criminosa, mas conforme a condição biológica do próprio agente.

A ser aprovada nos termos em que tramita até o momento, a emenda constitucional criará mais uma aberração jurídica que despreza princípios comezinhos da teoria do delito a pretexto de recrudescer o combate ao crime. O combate deve ser feito, evidentemente, mas de forma apropriada, lógica e concernente ao arcabouço teórico no qual se sustenta o ordenamento jurídico

carcerária. Em outras palavras [...], é de dizer-se que a legislação penal decidiu consagrar ao jovem a oportunidade de estar afastado das garras do Direito penal, ou ao menos daquele Direito penal idêntico ao aplicado ao adulto, embora ele possa ser de fato responsável por seus atos, embora em última análise seu desenvolvimento mental não seja de fato incompleto.[12]

NOTAS E REFERÊNCIAS

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A principal razão da presunção de inimputabilidade é a política criminal, como reconhecida pela doutrina desde Tobias Barreto. Atualmente, o ponto 23 da Exposição de Motivos da Nova Parte Geral do instituto faz referência clara à oportunidade de educação que deve ser dada ao jovem, ao convívio social sem sua necessária submissão ao tratamento do delinquente adulto, expondo-o à contaminação

Ora, a culpabilidade é o juízo de reprovação que recai na conduta típica e ilícita que o agente se propõe a realizar. É fundamentada, basicamente, em dois aspectos, que, embora sejam aparentemente contraditórios, na verdade se complementam: o livre-arbítrio e o determinismo.

Não há, de fato, entre tais conceitos, incompatibilidade, senão complementaridade. É fato que, no geral, vigora o livre-arbítrio, identificando-se nos indivíduos a capacidade de avaliar a correção de sua conduta e, portanto, de agir conforme o direito. Não se pode ignorar, todavia, a existência de fatores sociais que podem tornar certos indivíduos menos aptos a escolher livremente e passíveis de se submeter a influências externas que acabam inspirando sua linha de conduta. É evidente que uma pessoa bem formada, educada em ambiente que prestigie valores morais e éticos, que lhe foram incutidos ao longo da vida, tem menos chances de praticar um ato criminoso do que outra formada numa família de delinquentes, sem referências próximas de honestidade e decoro. Embora, mesmo no segundo caso, não se afaste por completo a capacidade de escolha (afinal, a maior parte das pessoas submetidas a condições sociais desfavoráveis – às vezes nefastas – optam pela conduta honesta), não se pode deixar de considerar a influência negativa daí advinda para a formação do caráter do indivíduo.

A culpabilidade tem entre seus elementos a imputabilidade, que é a capacidade de imputação, ou seja, a possibilidade de se atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de uma infração penal. É elemento sem o qual “entende-se que o sujeito carece de liberdade e de faculdade para comportar-se de outro modo, como o que não é capaz de culpabilidade, sendo, portanto, inculpável"[10]. São dois os elementos que devem se fazer presentes para que haja imputabilidade: intelectivo, consistente na higidez psíquica que permita ao agente ter consciência do caráter ilícito do fato; e volitivo, em que o agente domina sua vontade, ou seja, exerce controle sobre a disposição surgida com o entendimento do caráter ilícito do fato, e se determina de acordo com esse entendimento.

A exclusão da imputabilidade em razão da idade tem como fundamento a incapacidade presumida de agir de acordo com a norma. Nas palavras de Günther Jakobs, o fundamento para essa presunção “é a experiência de que as crianças [e adolescentes, no nosso caso] não são definidas como iguais e, por isso, não são competentes para questionar a validade da norma"[11]. Tanto é assim que o critério usado no Brasil para a inimputabilidade em razão da idade é o denominado biológico, que leva em conta apenas o desenvolvimento mental do agente em virtude de sua idade, independentemente de qualquer apuração acerca da capacidade de entendimento e de autodeterminação no momento da conduta.

É verdade que essa presunção está fundada em orientações de política criminal, não em postulados científicos. Como explica Víctor Gabriel Rodríguez:

[1] BRASIL. Lei de 16 de dezembro de 1830. Manda executar o Código Criminal. Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, 8 jan. 1831. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078compilado.htm>. Acesso em: 5 set. 2017.[2] BRASIL. Câmera dos Deputados. Decreto 847, de 11 de outubro de 1890. In:______. Coleção de Leis do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1890. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 5 set. 2017.[3] BRASIL. Decreto 22.213, de 14 de dezembro de 1932. Aprova a Consolidação das Leis Penais, da autoria do Sr. Desembargador Vicente Piragibe. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1932.[4] BRASIL. Decreto 17.943-A, de 12 de outubro de 1927. Consolida as leis de assistência e proteção a menores. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1910-1929/d17943a.htm>. Acesso em: 5 set. 2017.[5] BRASIL. Lei 7.209, de 11 de julho de 1984. Diário do Congresso Nacional, 1º jul. 1983. Seção 1.[6] BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.[7] BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Seção 1. [8] LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 872-873.[9] BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Emenda à Constituição 171, de 1993. Diário do Congresso Nacional, 27 out. 1993. Seção 1. p. 23062-23064. [10] BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 434.[11] JAKOBS, Günther. Tratado de direito penal: teoria do injusto penal e culpabilidade. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 743.[12] RODRÍGUEZ, Víctor Gabriel. Fundamentos e direito penal brasileiro. São Paulo: Atlas, 2010, p. 282.

Mas, independentemente do fundamento utilizado, é inequívoco – e óbvio – que a inimputabilidade é analisada da perspectiva do autor do fato típico e ilícito, não da perspectiva do fato em si, ou seja, é absolutamente impróprio estabelecer a imputabilidade fundamentada na natureza do crime se, como vimos, todo o sistema de imputação – desde os fundamentos mais elementares da culpabilidade até os elementos fundantes da imputabilidade – tem como objeto o autor da conduta. Isso quer dizer que, mesmo diante de uma presunção adotada com base em diretrizes de política criminal, ou o agente tem a capacidade biológica de se determinar de acordo com a lei (para qualquer crime) ou não a tem (para nenhum crime). A consciência não varia de acordo com a figura criminosa, mas conforme a condição biológica do próprio agente.

A ser aprovada nos termos em que tramita até o momento, a emenda constitucional criará mais uma aberração jurídica que despreza princípios comezinhos da teoria do delito a pretexto de recrudescer o combate ao crime. O combate deve ser feito, evidentemente, mas de forma apropriada, lógica e concernente ao arcabouço teórico no qual se sustenta o ordenamento jurídico

carcerária. Em outras palavras [...], é de dizer-se que a legislação penal decidiu consagrar ao jovem a oportunidade de estar afastado das garras do Direito penal, ou ao menos daquele Direito penal idêntico ao aplicado ao adulto, embora ele possa ser de fato responsável por seus atos, embora em última análise seu desenvolvimento mental não seja de fato incompleto.[12]

NOTAS E REFERÊNCIAS

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artigos

AS CONCEPÇÕES DE MEIO AMBIENTE COMO FERRAMENTA DA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL

SIBELERESENDE

PRUDENTE

delson leone

jÚnior

Conceituar ‘‘meio ambiente’’ é tarefa árdua, diante da diversidade de definições, iniciando-se com o entendimento da própria morada do homem, o que inevitavelmente contribui com a educação ambiental. As concepções de meio ambiente já percorreram vários caminhos, passando desde a noção simplista, fundamentada apenas em aspectos biológicos e físicos, até chegar a um e n t e n d i m e n t o m a i s c o m p l e x o , considerando também os aspectos sociais, culturais, econômicos e éticos.

É preciso contextualizar, ainda, no tempo e no espaço que o homem é natureza e a g e n t e t r a n s f o r m a d o r d e s t a e , consequentemente, intervém de forma decisiva no meio ambiente, em especial, no qual está diretamente inserido. Contudo, a ação humana loca l também traz interferências globais, o que leva as ações i n d i v i d u a i s p r o d u z i r e m r e f l e x o s sistêmicos, seja positivos ou negativos.

Necessário entender o meio ambiente de forma plural, porque o conhecimento de apenas um reino não basta para entender a complexidade dos sistemas[1]. Alguns conceitos cientificamente importantes integram o valor essencial da ética e da interferência do homem no meio. Para pensar em educação ambiental, nessa perspectiva, é necessário envolver vários

PUC Goiás.

campos do saber de forma transversal, sem nenhum tipo de barreira e com o emprego de metodologias diversas, como a história de vida.

Cabe, ainda, o questionamento acerca do termo ‘‘conscientização ambienta’’l, relacionado à proposta pedagógica de Paulo Freire, uma vez que uma pessoa não conscientiza outra com mera transmissão de conhecimento, a própria pessoa se conscientiza e com seu exemplo pode influenciar atitudes e comportamentos alheios[2].

Para refletir sobre meio ambiente, é necessário analisarmos um campo do conhecimento denominado ecosofia, do qual faz parte das concepções de educação ambiental e é composta de três espécies de ecologia: mental, com base na subjetividade humana e na paz do homem com ele mesmo; social, fundamentada nas relações sociais e na vontade de estabelecer a paz entre os homens; ambiental, alicerçada na busca por um meio ambiente sadio e na paz entre o ser humano e a natureza.

A ecosofia é uma filosofia do meio ambiente, com a qual procura dialogar três vertentes de ecologia: mental, social e ambiental[3]. Esse campo do saber busca resgatar, estabelecer e fortalecer a

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artigos

AS CONCEPÇÕES DE MEIO AMBIENTE COMO FERRAMENTA DA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL

SIBELERESENDE

PRUDENTE

delson leone

jÚnior

Conceituar ‘‘meio ambiente’’ é tarefa árdua, diante da diversidade de definições, iniciando-se com o entendimento da própria morada do homem, o que inevitavelmente contribui com a educação ambiental. As concepções de meio ambiente já percorreram vários caminhos, passando desde a noção simplista, fundamentada apenas em aspectos biológicos e físicos, até chegar a um e n t e n d i m e n t o m a i s c o m p l e x o , considerando também os aspectos sociais, culturais, econômicos e éticos.

É preciso contextualizar, ainda, no tempo e no espaço que o homem é natureza e a g e n t e t r a n s f o r m a d o r d e s t a e , consequentemente, intervém de forma decisiva no meio ambiente, em especial, no qual está diretamente inserido. Contudo, a ação humana loca l também traz interferências globais, o que leva as ações i n d i v i d u a i s p r o d u z i r e m r e f l e x o s sistêmicos, seja positivos ou negativos.

Necessário entender o meio ambiente de forma plural, porque o conhecimento de apenas um reino não basta para entender a complexidade dos sistemas[1]. Alguns conceitos cientificamente importantes integram o valor essencial da ética e da interferência do homem no meio. Para pensar em educação ambiental, nessa perspectiva, é necessário envolver vários

PUC Goiás.

campos do saber de forma transversal, sem nenhum tipo de barreira e com o emprego de metodologias diversas, como a história de vida.

Cabe, ainda, o questionamento acerca do termo ‘‘conscientização ambienta’’l, relacionado à proposta pedagógica de Paulo Freire, uma vez que uma pessoa não conscientiza outra com mera transmissão de conhecimento, a própria pessoa se conscientiza e com seu exemplo pode influenciar atitudes e comportamentos alheios[2].

Para refletir sobre meio ambiente, é necessário analisarmos um campo do conhecimento denominado ecosofia, do qual faz parte das concepções de educação ambiental e é composta de três espécies de ecologia: mental, com base na subjetividade humana e na paz do homem com ele mesmo; social, fundamentada nas relações sociais e na vontade de estabelecer a paz entre os homens; ambiental, alicerçada na busca por um meio ambiente sadio e na paz entre o ser humano e a natureza.

A ecosofia é uma filosofia do meio ambiente, com a qual procura dialogar três vertentes de ecologia: mental, social e ambiental[3]. Esse campo do saber busca resgatar, estabelecer e fortalecer a

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solidariedade entre os indivíduos, para que essa atitude possa ser estendida às relações do homem com a natureza e o meio ambiente, desde esferas meramente domésticas até uma nova forma de se articular social e politicamente.

Não é ocioso destacar que a ecosofia tem uma função social forte e urgente. As relações familiares, profissionais e estatais pecam por deixar de lado princípios basilares de aceitação, solidariedade e respeito. Exemplo disso é a falta de tolerância entre vizinhos, ilação que se confirma pela proliferação de ações judiciais relacionadas a essa temática, que poderiam ter sido evitadas com o estabelecimento de diálogo e de bom senso entre as partes envolvidas, havendo a necessidade premente do indivíduo reconhecer o outro como seu semelhante.

CONCEPÇÕES DE MEIO AMBIENTE

A concepção naturalística do meio ambiente defende que o equilíbrio ambiental está diretamente relacionado à responsabilidade de cada indivíduo, e que o equilíbrio natural depende da igualdade entre todos os elementos da natureza.

Essa concepção leva à reflexão do homem com seu corpo, de suas relações com a família, da forma como percebe a si mesmo, dentro da coletividade, diante da natureza e do meio ambiente. Isso nos leva a fazer um paralelo entre essa concepção e a ecosofia. Contudo, não se pode pensar em meio ambiente de uma forma romântica e quase mágica, porque os p r o b l e m a s a m b i e n t a i s e x i g e m racionalidade e eficiência.

42

É simplista, ingênuo e inócuo acreditar que a solução dos problemas ambientais se encontra apenas com a mudança do homem, de querer ser o dominador para ocupar o lugar de apenas mais um dos elementos natureza[4]. É necessária a construção de um novo relacionamento entre o homem e o meio ambiente, por meio da ética e da conscientização ambiental, respaldada em mudanças de atitudes e comportamentos. E a educação ambiental pode contribuir para se alcançar uma postura crítica individual e social.

Já na concepção racionalista, natureza é vista como algo que necessita de intervenção, de forma racional, com o objetivo de resolver os problemas ambientais por meio do desenvolvimento técnico-científico. Esse posicionamento merece atenção, uma vez que o domínio do conhecimento não está disponível para todos, o que, consequentemente, gera desigualdade. Portanto, pode-se concluir

artigos

que a concepção racionalista de meio ambiente anda de mãos dadas com a estagnação de um modelo social hierárquico e capitalista, com base no lucro e na competitividade do desenvolvimento a qualquer custo.

A concepção histórica de meio ambiente, por sua vez, questiona a visão cartesiana e analisa o meio ambiente a partir da relação sociedade-natureza, e não tão somente homem-natureza, vendo a sociedade a partir do aspecto cultural e histórico, por isso o sujeito aqui figura como ser social, sendo ator de uma relação com a natureza. A visão histórica vai ao encontro da ecosofia, e propõe um reexame da relação do homem com a natureza e dele consigo mesmo e seus pares.

Já a visão planetária do meio ambiente é o conjunto de princípios, valores, atitudes e comportamentos que trabalham com uma concepção unificadora do planeta e da sociedade mundial. Nela, a relação homem-mundo é fundamentada no diálogo, o homem se mostra consciente dos problemas ambientais, considera-se responsável por eles e pela busca de soluções, tendo as políticas públicas e os movimentos sociais como articuladores importantes nessa conquista de consciência ecológica profunda.

ESTUDO DE CASO

As concepções de meio ambiente são ferramentas importantes na conscientização ambiental, tendo o estudo, realizado em 2014, contemplado uma análise de dados a partir de 1.000 trabalhos (redações e desenhos), selecionados de forma aleatória, do total de 9.578 apresentados para concorrerem ao concurso O Meio Ambiente da Minha Escola, realizado com alunos das escolas municipais e estaduais de Ensino Fundamental do município goiano de Trindade. Os referidos trabalhos selecionados foram corrigidos pelo Instituto de Desenvolvimento Tecnológico do Centro-Oeste, levando-se em consideração oito critérios técnicos [5] elaborados para se mensurar o nível de consciência ambiental do aluno inscrito no mencionado concurso.

O desenvolvimento dos estudos teve como principal intuito buscar elementos para auxiliar a tomada de ações proativas por parte das autoridades públicas, que impactem numa maior conscientização da causa ambiental perante a comunidade estudantil escolhida.

Essa concepção mostra, ainda, que apesar do elevado nível de informação sobre as problemáticas ambientais, perduram até hoje a inércia e a ausência de atitudes cidadãs comprometidas com o meio ambiente, deixando claro o paradoxo atual.

Page 43: Revista Parquet em foco/Escola Superior do Ministério ......e professor de Ciências Penais com especialização em Criminologia no Instituto Nacional de Ciências Penais, bem como,

PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

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solidariedade entre os indivíduos, para que essa atitude possa ser estendida às relações do homem com a natureza e o meio ambiente, desde esferas meramente domésticas até uma nova forma de se articular social e politicamente.

Não é ocioso destacar que a ecosofia tem uma função social forte e urgente. As relações familiares, profissionais e estatais pecam por deixar de lado princípios basilares de aceitação, solidariedade e respeito. Exemplo disso é a falta de tolerância entre vizinhos, ilação que se confirma pela proliferação de ações judiciais relacionadas a essa temática, que poderiam ter sido evitadas com o estabelecimento de diálogo e de bom senso entre as partes envolvidas, havendo a necessidade premente do indivíduo reconhecer o outro como seu semelhante.

CONCEPÇÕES DE MEIO AMBIENTE

A concepção naturalística do meio ambiente defende que o equilíbrio ambiental está diretamente relacionado à responsabilidade de cada indivíduo, e que o equilíbrio natural depende da igualdade entre todos os elementos da natureza.

Essa concepção leva à reflexão do homem com seu corpo, de suas relações com a família, da forma como percebe a si mesmo, dentro da coletividade, diante da natureza e do meio ambiente. Isso nos leva a fazer um paralelo entre essa concepção e a ecosofia. Contudo, não se pode pensar em meio ambiente de uma forma romântica e quase mágica, porque os p r o b l e m a s a m b i e n t a i s e x i g e m racionalidade e eficiência.

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É simplista, ingênuo e inócuo acreditar que a solução dos problemas ambientais se encontra apenas com a mudança do homem, de querer ser o dominador para ocupar o lugar de apenas mais um dos elementos natureza[4]. É necessária a construção de um novo relacionamento entre o homem e o meio ambiente, por meio da ética e da conscientização ambiental, respaldada em mudanças de atitudes e comportamentos. E a educação ambiental pode contribuir para se alcançar uma postura crítica individual e social.

Já na concepção racionalista, natureza é vista como algo que necessita de intervenção, de forma racional, com o objetivo de resolver os problemas ambientais por meio do desenvolvimento técnico-científico. Esse posicionamento merece atenção, uma vez que o domínio do conhecimento não está disponível para todos, o que, consequentemente, gera desigualdade. Portanto, pode-se concluir

artigos

que a concepção racionalista de meio ambiente anda de mãos dadas com a estagnação de um modelo social hierárquico e capitalista, com base no lucro e na competitividade do desenvolvimento a qualquer custo.

A concepção histórica de meio ambiente, por sua vez, questiona a visão cartesiana e analisa o meio ambiente a partir da relação sociedade-natureza, e não tão somente homem-natureza, vendo a sociedade a partir do aspecto cultural e histórico, por isso o sujeito aqui figura como ser social, sendo ator de uma relação com a natureza. A visão histórica vai ao encontro da ecosofia, e propõe um reexame da relação do homem com a natureza e dele consigo mesmo e seus pares.

Já a visão planetária do meio ambiente é o conjunto de princípios, valores, atitudes e comportamentos que trabalham com uma concepção unificadora do planeta e da sociedade mundial. Nela, a relação homem-mundo é fundamentada no diálogo, o homem se mostra consciente dos problemas ambientais, considera-se responsável por eles e pela busca de soluções, tendo as políticas públicas e os movimentos sociais como articuladores importantes nessa conquista de consciência ecológica profunda.

ESTUDO DE CASO

As concepções de meio ambiente são ferramentas importantes na conscientização ambiental, tendo o estudo, realizado em 2014, contemplado uma análise de dados a partir de 1.000 trabalhos (redações e desenhos), selecionados de forma aleatória, do total de 9.578 apresentados para concorrerem ao concurso O Meio Ambiente da Minha Escola, realizado com alunos das escolas municipais e estaduais de Ensino Fundamental do município goiano de Trindade. Os referidos trabalhos selecionados foram corrigidos pelo Instituto de Desenvolvimento Tecnológico do Centro-Oeste, levando-se em consideração oito critérios técnicos [5] elaborados para se mensurar o nível de consciência ambiental do aluno inscrito no mencionado concurso.

O desenvolvimento dos estudos teve como principal intuito buscar elementos para auxiliar a tomada de ações proativas por parte das autoridades públicas, que impactem numa maior conscientização da causa ambiental perante a comunidade estudantil escolhida.

Essa concepção mostra, ainda, que apesar do elevado nível de informação sobre as problemáticas ambientais, perduram até hoje a inércia e a ausência de atitudes cidadãs comprometidas com o meio ambiente, deixando claro o paradoxo atual.

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EstadualMunicipalNI

3,66%1,98%0,00%

Excelente

23,31%14,07%7,69%

Bom

55,49%45,27%50,00%

Regular

17,53%38,68%42,31%

Insuficiente

Tabela 6 - Estimativas do Nível de Consciência Ambiental por Tipo de Escola

Total 2,80% 18,70%

Tipo de Escola

100,00%100,00%100,00%

Total

2,131,791,65

Escore

50,70% 27,80% 100,00% 1,97

DesenhoRedação

0,76%4,15%

Excelente

6,05%27,03%

Bom

45,34%54,23%

Regular

47,86%14,59%

Insuficiente

Tabela 7 - Estimativas do Nível de Consciência Ambiental por Tipo de Trabalho

Total 2,80% 18,70%

Tipo de Trabalho

100,00%100,00%

Total

1,602,21

Escore

50,70% 27,80% 100,00% 1,97

FemininoMasculinoNI

3,53%1,78%7,69%

Excelente

21,19%15,59%23,08%

Bom

50,93%51,22%23,08%

Regular

24,35%31,40%46,15%

Insuficiente

Tabela 8 - Estimativas do Nível de Consciência Ambiental por Sexo

Total 2,80% 18,70%

Sexo

100,00%100,00%100,00%

Total

2,041,881,92

Escore

50,70% 27,80% 100,00% 1,97

* O escore geral foi de 1,97, ou seja, de forma geral o nível médio de conscientização ambiental dos trabalhos avaliados é muito próximo do nível ‘‘Regular’’.

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4544

artigos

ExcelenteBom RegularInsuficiente

Nível

28187507278

Freq.

2,80%18,70%50,70%27,80%

%

1,83%16,40%47,80%25,20%

LI

3,77%21%

53,60%30,40%

LS

Tabela 4 - Estimativas do Nível de Consciência Ambiental

Excelente / BomRegular / Insuficiente

Nível

215785

Freq.

21,50%78,50%

%

19,10%76,10%

LI

23,90%80,90%

LS

Tabela 5 - Estimativas do Nível de Consciência Ambiental Agrupado

Total 1000 100%

LI: Limite Inferior LS: Limite Superior

Total 1000 100%

LI: Limite Inferior LS: Limite Superior

Algumas curiosidades chamaram atenção na conclusão dos trabalhos, pois o critério mais atendido (53,90%) foi o relacionado a: “observar se o aluno compreende o meio ambiente como sua própria casa, sendo indício de cuidado, porque normalmente gostamos e zelamos do nosso lar"[6] e o menos atendido (10,90%) foi: “observar se o aluno compreende que o homem deve viver em harmonia dentro do meio ambiente, sendo a tolerância entre seus pares uma ferramenta importante, que no ambiente da escola se traduz em respeito e solidariedade’’[6].

Figura 1: Tabelas com valores sobre o nível de consciência ambiental e um dos desenhos concorrentes

Com base no referencial teórico apresentado, conjugado com o estudo de caso proposto, convidamos o leitor a refletir sobre ecosofia, educação ambiental e as várias concepções de meio ambiente.

Ao abordar a ecosofia, o trabalho evidenciou o quanto esse campo do saber está interligado com a noção que o homem tem de natureza e meio ambiente. Os indicadores apontados deixam claro a concepção que o indivíduo tem sobre meio ambiente, interferindo diretamente norespeito, no cuidado e na solidariedade seus pares.

A partir da análise das informações obtidas, pode-se concluir que o público pesquisado, em sua maioria, demonstra não se preocupar com a harmonia, com a tolerância, respeito e solidariedade para com o meio ambiente. Dessa forma, percebe-se o distanciamento com a ecosofia, um dos pilares da educação ambiental. No que se refere às concepções de meio ambiente, os resultados também demonstram ideias contrárias às concepções

Visando resumir a distribuição dos níveis de consciência ambiental, criou-se o escore médio que é a média ponderada considerando a distribuição percentual dos níveis pelos valores associados. Os valores foram definidos da seguinte forma: Excelente(4), Bom(3), Regular(2) e Insuficiente(1). Esse novo indicador serviu para ordenar o nível de consciência por quesito analisado:

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EstadualMunicipalNI

3,66%1,98%0,00%

Excelente

23,31%14,07%7,69%

Bom

55,49%45,27%50,00%

Regular

17,53%38,68%42,31%

Insuficiente

Tabela 6 - Estimativas do Nível de Consciência Ambiental por Tipo de Escola

Total 2,80% 18,70%

Tipo de Escola

100,00%100,00%100,00%

Total

2,131,791,65

Escore

50,70% 27,80% 100,00% 1,97

DesenhoRedação

0,76%4,15%

Excelente

6,05%27,03%

Bom

45,34%54,23%

Regular

47,86%14,59%

Insuficiente

Tabela 7 - Estimativas do Nível de Consciência Ambiental por Tipo de Trabalho

Total 2,80% 18,70%

Tipo de Trabalho

100,00%100,00%

Total

1,602,21

Escore

50,70% 27,80% 100,00% 1,97

FemininoMasculinoNI

3,53%1,78%7,69%

Excelente

21,19%15,59%23,08%

Bom

50,93%51,22%23,08%

Regular

24,35%31,40%46,15%

Insuficiente

Tabela 8 - Estimativas do Nível de Consciência Ambiental por Sexo

Total 2,80% 18,70%

Sexo

100,00%100,00%100,00%

Total

2,041,881,92

Escore

50,70% 27,80% 100,00% 1,97

* O escore geral foi de 1,97, ou seja, de forma geral o nível médio de conscientização ambiental dos trabalhos avaliados é muito próximo do nível ‘‘Regular’’.

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artigos

ExcelenteBom RegularInsuficiente

Nível

28187507278

Freq.

2,80%18,70%50,70%27,80%

%

1,83%16,40%47,80%25,20%

LI

3,77%21%

53,60%30,40%

LS

Tabela 4 - Estimativas do Nível de Consciência Ambiental

Excelente / BomRegular / Insuficiente

Nível

215785

Freq.

21,50%78,50%

%

19,10%76,10%

LI

23,90%80,90%

LS

Tabela 5 - Estimativas do Nível de Consciência Ambiental Agrupado

Total 1000 100%

LI: Limite Inferior LS: Limite Superior

Total 1000 100%

LI: Limite Inferior LS: Limite Superior

Algumas curiosidades chamaram atenção na conclusão dos trabalhos, pois o critério mais atendido (53,90%) foi o relacionado a: “observar se o aluno compreende o meio ambiente como sua própria casa, sendo indício de cuidado, porque normalmente gostamos e zelamos do nosso lar"[6] e o menos atendido (10,90%) foi: “observar se o aluno compreende que o homem deve viver em harmonia dentro do meio ambiente, sendo a tolerância entre seus pares uma ferramenta importante, que no ambiente da escola se traduz em respeito e solidariedade’’[6].

Figura 1: Tabelas com valores sobre o nível de consciência ambiental e um dos desenhos concorrentes

Com base no referencial teórico apresentado, conjugado com o estudo de caso proposto, convidamos o leitor a refletir sobre ecosofia, educação ambiental e as várias concepções de meio ambiente.

Ao abordar a ecosofia, o trabalho evidenciou o quanto esse campo do saber está interligado com a noção que o homem tem de natureza e meio ambiente. Os indicadores apontados deixam claro a concepção que o indivíduo tem sobre meio ambiente, interferindo diretamente norespeito, no cuidado e na solidariedade seus pares.

A partir da análise das informações obtidas, pode-se concluir que o público pesquisado, em sua maioria, demonstra não se preocupar com a harmonia, com a tolerância, respeito e solidariedade para com o meio ambiente. Dessa forma, percebe-se o distanciamento com a ecosofia, um dos pilares da educação ambiental. No que se refere às concepções de meio ambiente, os resultados também demonstram ideias contrárias às concepções

Visando resumir a distribuição dos níveis de consciência ambiental, criou-se o escore médio que é a média ponderada considerando a distribuição percentual dos níveis pelos valores associados. Os valores foram definidos da seguinte forma: Excelente(4), Bom(3), Regular(2) e Insuficiente(1). Esse novo indicador serviu para ordenar o nível de consciência por quesito analisado:

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[1] KLOETZEL, Kurt. O que é meio ambiente. São Paulo: Brasiliense, 1998.[2] REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.[3] GUATTARI, Félix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990.[4] TOZONI-REIS, Marília Freitas de Campos. Educação ambiental, natureza, razão e história. Campinas: Autores Associados, 2004.[5] GOIÁS. Ministério Público do Estado de Goiás. MP-GO entrega premiação a vencedores do concurso de redação e desenho de Trindade. 2014. Disponível em: <http://www.mpgo.mp.br/portal/noticia/mp-go-entrega-premiacao-a-vencedores-do-concurso-de-redacao-e-desenho-de-trindade#.Wgn8FmhSzIU>. Acesso em: 13 nov. 2017.[6] GOIÁS. Ministério Público do Estado de Goiás. Projeto o Meio ambiente na minha escola. Goiânia, 2014.

NOTAS E REFERÊNCIAS

naturalística, histórica e planetária. Fica, portanto, demonstrado a necessidade da adoção de políticas púbicas eficazes, relacionadas à educação ambiental, resgatando conceitos, solidificando comportamentos ambientalmente saudáveis e atitudes conscientes.

Podemos apontar a educação ambiental como uma forma importante de contribuir com o entendimento ‘‘plural’’ de meio ambiente e suas concepções mais relevantes para a formação das gerações futuras.

O entendimento individual que o homem tem influencia diretamente suas atitudes, não só com o meio ambiente, mas em todos os aspectos da vida cotidiana, inclusive com ele mesmo. É importante observar que essas reflexões são interligadas, pois o que é realmente importante para uma pessoa, em geral, ela valoriza e quer cuidar.

Por isso, se o homem valoriza a natureza, o meio ambiente, e se sente parte deles, consequentemente terá atitudes de zelo e responsabilidade para com eles, e também para com seus pares que também estão inseridos no mesmo contexto, uma vez que todos fazem parte dessa cadeia viva e necessitamos dela para sobreviver

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A REALIDADE DO ESTUPRO VIRTUAL

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ARTIGOS

LUCIANOmIRANDA

meireles

Promotor de Justiçado Estado de Goiás.

Coordenador do Centro de Apoio Operacional

Criminal.

O desenvolvimento tecnológico e científico, valendo-se de uma plataforma virtual, trouxe uma revolução na forma das pessoas se comunicarem, possibilitando uma interligação quase instantânea entre todos os habitantes do planeta. Essa nova realidade transformou a sociedade atual e com ela sugiram significativos avanços, mas que logo foram acompanhados pelos criminosos que encontraram no mundo virtual o meio ideal para a prática de ilícitos, já que poderiam com enorme facilidade ocultar suas verdadeiras identidades pela inexistência de protocolos de segurança adequados neste novo ambiente.

Inicialmente,o foco eram os crimes patrimoniais, como furto e estelionato, praticados com extrema facilidade pela simples captação de dados e senhas das vítimas, possibilitando transferência de valores e manipulação das contas. Nesse sentido, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul no Conflito de Jurisdição - CJ70050578194RS [1].

Num segundo momento, foram os crimes de dano e extorsão, que ganharam os holofotes relacionados à propagação de vírus de computadores e “sequestro” de sítios eletrônicos, que só voltariam a ser utilizados com o pagamento de vultuosas quantias [2].

Já recentemente fomos inundados por informações nos jornais e na televisão, bem como nas redes sociais com o surgimento de uma nova modalidade de estupro, o virtual.

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O estupro virtual é uma das modalidades de “sextorsão” [3], expressão derivada da aglutinação entre “sexo” e “extorsão”, denotando uma espécie de exploração sexual na qual a vítima é chantageada com imagem ou vídeo de si mesma desnuda ou realizando atos sexuais.

Os primeiros casos surgiram no Piauí e em Minas Gerais, sendo que em ambos o modus operandi era o mesmo, consistente no fato do agressor possuir em seu poder fotos ou vídeos íntimos das vítimas e obrigá-las, sob pena de divulgação desse conteúdo, a se masturbarem enquanto gravam ou transmitem o ato por meio de uma webcam ou câmera de celular.

No ordenamento jurídico pátrio, o crime de estupro (art. 213, CP) se encontra dentre aqueles que tutelam a liberdade sexual, possuindo como objetividade jurídica a faculdade de livre escolha do parceiro sexual. Vale frisar, ademais, a existência de figura autônoma de estupro, que desconsidera de forma absoluta o consentimento do ofendido, qual seja, o estupro de vulnerável, cuja previsão se encontra no artigo 217-A, CP.

Diante disso, devemos observar o que diz o Código Penal a respeito do artigo 213:

48

artigos

Antes de abordarmos o tema central, merece uma análise, ainda que superficial, os meios de execução do crime, seja pela utilização da violência ou por grave

ameaça. De tal sorte, aquela se traduz no emprego da força física, enquanto esta numa força intimidativa (violência moral), voltada a anular ou minar a vontade da ofendida, que pode se materializar por gestos, palavras, atos, escritos ou qualquer outro meio simbólico[4].

Quanto aos demais elementos que constituem o tipo penal, estes possibilitam a punição do agressor em duas situações: quando a vítima é forçada, em razão da violência ou grave de ameaça contra ela exercida, à prática da conjunção carnal (coito vagínico); e, numa segunda situação, quando o ofendido em razão da violência psicológica ou física é obrigado a praticar ou permite que com ele se pratique outro ato libidinoso.

Da leitura do exposto, a primeira modalidade do delito mostra-se incabível pela via virtual, pois a própria noção de conjunção carnal indica a necessidade de introdução do pênis na vagina, o que exigiria contato físico presencial entre sujeitos ativo e passivo. Vale lembrar que era esta a única modalidade de estupro prevista no ordenamento jurídico, situação que perdurou até o advento da Lei nº 12015/2009.

Já na análise da segunda modalidade, surge uma nova e abrangente gama de hipóteses para o enquadramento do crime de estupro, punindo-se aquele que compele a vítima a praticar ou permitir que com ela se pratique qualquer ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Neste prisma, qualquer ato praticado por vis compulsiva ou vis corporalis para satisfazer a lascívia do agressor, salvo a conjunção carnal, delineia a figura típica.

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos[4].

Neste diapasão, verifica-se a possibilidade de distensão dessa segunda modalidade em duas matizes distintas (praticar e permitir): uma em que a vítima é constrangida a praticar o ato libidinoso, exercendo, portanto, uma posição ativa, como ocorre quando é obrigada a se automasturbar, masturbar o agente ou nele realizar sexo oral; noutra, afigura-se a vítima num papel passivo, permitindo que nela se pratique o ato libidinoso (receber sexo oral, coito anal ou permitir que o agente introduza o dedo em seu ânus ou vagina).

Dito isso, nesta segunda modalidade de estupro, mais precisamente na matiz praticar, nem sempre será necessária a presença física do sujeito ativo para sua consumação, uma vez que a grave ameaça pode ser exercida a distância, por meios t rad ic iona is (carta , te lefone) ou ressaltando-se que nestas hipóteses o ato libidinoso para ser praticado exige apenas a participação da(s) vítima(s), como é o caso da automasturbação ou quando se obriga que dois ofendidos mantenham relação sexual entre si.

N e s t a m e s m a e s t e i r a c a m i n h a o entendimento do STJ: “a maior parte da doutrina penalista pátria orienta no sentido de que a contemplação lasciva

... ‘estupro virtual’ traz em seu bojo um grave equívoco

semântico e jurídico, pois o estupro é real.

‘‘

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O estupro virtual é uma das modalidades de “sextorsão” [3], expressão derivada da aglutinação entre “sexo” e “extorsão”, denotando uma espécie de exploração sexual na qual a vítima é chantageada com imagem ou vídeo de si mesma desnuda ou realizando atos sexuais.

Os primeiros casos surgiram no Piauí e em Minas Gerais, sendo que em ambos o modus operandi era o mesmo, consistente no fato do agressor possuir em seu poder fotos ou vídeos íntimos das vítimas e obrigá-las, sob pena de divulgação desse conteúdo, a se masturbarem enquanto gravam ou transmitem o ato por meio de uma webcam ou câmera de celular.

No ordenamento jurídico pátrio, o crime de estupro (art. 213, CP) se encontra dentre aqueles que tutelam a liberdade sexual, possuindo como objetividade jurídica a faculdade de livre escolha do parceiro sexual. Vale frisar, ademais, a existência de figura autônoma de estupro, que desconsidera de forma absoluta o consentimento do ofendido, qual seja, o estupro de vulnerável, cuja previsão se encontra no artigo 217-A, CP.

Diante disso, devemos observar o que diz o Código Penal a respeito do artigo 213:

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artigos

Antes de abordarmos o tema central, merece uma análise, ainda que superficial, os meios de execução do crime, seja pela utilização da violência ou por grave

ameaça. De tal sorte, aquela se traduz no emprego da força física, enquanto esta numa força intimidativa (violência moral), voltada a anular ou minar a vontade da ofendida, que pode se materializar por gestos, palavras, atos, escritos ou qualquer outro meio simbólico[4].

Quanto aos demais elementos que constituem o tipo penal, estes possibilitam a punição do agressor em duas situações: quando a vítima é forçada, em razão da violência ou grave de ameaça contra ela exercida, à prática da conjunção carnal (coito vagínico); e, numa segunda situação, quando o ofendido em razão da violência psicológica ou física é obrigado a praticar ou permite que com ele se pratique outro ato libidinoso.

Da leitura do exposto, a primeira modalidade do delito mostra-se incabível pela via virtual, pois a própria noção de conjunção carnal indica a necessidade de introdução do pênis na vagina, o que exigiria contato físico presencial entre sujeitos ativo e passivo. Vale lembrar que era esta a única modalidade de estupro prevista no ordenamento jurídico, situação que perdurou até o advento da Lei nº 12015/2009.

Já na análise da segunda modalidade, surge uma nova e abrangente gama de hipóteses para o enquadramento do crime de estupro, punindo-se aquele que compele a vítima a praticar ou permitir que com ela se pratique qualquer ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Neste prisma, qualquer ato praticado por vis compulsiva ou vis corporalis para satisfazer a lascívia do agressor, salvo a conjunção carnal, delineia a figura típica.

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos[4].

Neste diapasão, verifica-se a possibilidade de distensão dessa segunda modalidade em duas matizes distintas (praticar e permitir): uma em que a vítima é constrangida a praticar o ato libidinoso, exercendo, portanto, uma posição ativa, como ocorre quando é obrigada a se automasturbar, masturbar o agente ou nele realizar sexo oral; noutra, afigura-se a vítima num papel passivo, permitindo que nela se pratique o ato libidinoso (receber sexo oral, coito anal ou permitir que o agente introduza o dedo em seu ânus ou vagina).

Dito isso, nesta segunda modalidade de estupro, mais precisamente na matiz praticar, nem sempre será necessária a presença física do sujeito ativo para sua consumação, uma vez que a grave ameaça pode ser exercida a distância, por meios t rad ic iona is (carta , te lefone) ou ressaltando-se que nestas hipóteses o ato libidinoso para ser praticado exige apenas a participação da(s) vítima(s), como é o caso da automasturbação ou quando se obriga que dois ofendidos mantenham relação sexual entre si.

N e s t a m e s m a e s t e i r a c a m i n h a o entendimento do STJ: “a maior parte da doutrina penalista pátria orienta no sentido de que a contemplação lasciva

... ‘estupro virtual’ traz em seu bojo um grave equívoco

semântico e jurídico, pois o estupro é real.

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[1] BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Conflito de Jurisdição 70050578194 RS. Rel.: Min. José Conrado Kurtz de Souza. Julgado em: 29/11/2012. DJe 6/12/2012.[2] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência 40569 SP 2003/0187145-1. Rel.: Min. José Arnaldo da Fonseca. Julgado em: 10/03/2004. DJe 5/4/2004.[3] O termo “sextorsão” é tradução direta da expressão sextorsion, que, por sua vez, decorre da aglutinação de duas expressões inglesas, sex e corruption. Frise-se a existência de outra espécie de sextorsion, consistente no fato do agente criminoso exigir pagamentos em dinheiro para não divulgar eventuais vídeos ou imagens do ofendido que tenha em seu poder.[4] BITENCOURT, Cesar Roberto. Código penal: comentado. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 973.[5] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus 70976-MS. Rel.: Min. Joel Ilan Paciornik. Julgado em: 2/8/2016. DJe 10/8/2016.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial. 6. ed. Bahia: JusPodivm, 2014.GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte especial. vol. 4. 6. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010.GONÇALVES, Victor Eduardo Rios; LENZA, Pedro (Coord.). Direito penal esquematizado: parte especial. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. (Coleção esquematizado).MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado: parte especial. vol. 3. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2011.

configura o ato libidinoso constitutivo dos tipos dos artigos 213 e 217-A do Código Penal, sendo irrelevante, para a consumação dos delitos, que haja contato físico entre ofensor e ofendido"[5].

Feitas essas breves considerações, é de fácil percepção que a nomenclatura “estupro virtual” traz em seu bojo um grave equívoco semântico e jurídico, pois o estupro é real. O seu aspecto virtual limita-se somente ao modo de execução (grave ameaça), já que os atos libidinosos praticados são realizados fisicamente, assim como a dor e o sofrimento causados à vítima. Assim, em outras palavras, trata-se de estupro real (físico) que ganhou uma nomenclatura específica e dissociada de sua gravidade em razão do seu modus operandi utilizar o ambiente virtual, o qual muitas vezes serve como manto protetor da impunidade

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NOTAS E REFERÊNCIAS

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A NECESSIDADE DE READEQUAR A ATUAÇÃO FUNCIONAL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO COMUM (ESTADUAL E FEDERAL)

ÀS PECULIARIDADES DO ANO ELEITORAL

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ARTIGOS

IGORPEREIRA

PINHEIRO

A cada dois anos, ocorre no Brasil o processo “democrático” [1] voltado para a escolha dos representantes populares, o que faz com que o ano eleitoral seja visto de modo diferenciado pelos políticos, bem como pelas instituições de fiscalização e julgamento.

Por conta dessa proeminência temática (eleições), criou-se um vício de atuação funcional, fruto até de uma “bitolação” doutrinária , no sentido de que a responsabilidade pela fiscalização da lisura do pleito é exclusiva do Ministério Público Eleitoral e da Polícia Federal.

Precisamos avançar, pois , mesmo reconhecendo que o Parquet eleitoral é quem possui de direito a legitimidade para o ajuizamento das ações tipicamente eleitorais, bem como a titularidade exclusiva da ação penal eleitoral (resguardada a hipótese da ação penal privada subsidiária), não se pode esquecer que diversas condutas tipificadas na legislação eleitoral representam também

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ilícitos cíveis ou criminais de competência da Justiça Comum e, portanto, dentro da incumbência fiscalizatória do Ministério Público Comum (Estadual ou Federal) e igualmente de competência da Justiça Comum (Federal ou Estadual). Há um singelo exemplo dessa circunstância a seguir:

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Ocorre que, não obstante a interdisciplinaridade dos ilícitos eleitorais, não se vê na prática um planejamento específico de atuação do Ministério Público Comum para as eleições, ficando tudo a cargo do Ministério Público Eleitoral. Trata-se de uma medida a ser adotada urgentemente.

Nesse sentido, apresentamos sugestão a ser implementada no âmbito dos ministérios públicos dos estados, a partir de iniciativa pioneira que tivemos no estado do Ceará: a criação de um Grupo de Apoio Eleitoral (Gapel), composto exclusivamente por membros da Instituição, que teria as seguintes atribuições: a) monitorar condutas suspeitas a partir de dados públicos acessíveis a qualquer pessoa e obtidos sem qualquer prerrogativa funcional [2] (portanto, sem exercer atividade de substituição fiscalizatória do promotor eleitoral natural), remetendo a documentação pertinente ao membro com atribuição para atuar no caso concreto; b) receber denúncias em geral sobre o pleito, com o fim de fomentar a atuação do membro eleitoral e também articular uma ação por parte do Ministério Público Estadual na seara que lhe fosse pertinente; c) auxiliar, quando solicitado pelo Promotor Natural, na propositura e execução de medidas judiciais. [3]

Providência semelhante já foi implementada no âmbito do estado do Rio de Janeiro, mediante Enunciados Conjuntos aprovados em 27 de agosto de 2010 pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual, tudo nos seguintes termos:

Pois bem, analisada essa questão preliminar, gostaríamos de suscitar o debate e fomentar uma atuação diferenciada dos Promotores de Justiça e Procuradores da República nos pleitos vindouros, tirando-os da condição de meros ouvintes/observadores do que ocorre na seara eleitoral, para que possam, de preferência ou independente dos colegas que exerçam a função eleitoral, assumir uma posição ativa na fiscalização do pleito, em especial no tocante aos atos de improbidade administrativa, cuja competência não pertence à Justiça Eleitoral.

É de se ressaltar que essa atuação contemporânea aos fatos praticados durante o ano eleitoral possui muitos benefícios (jurídicos, sociais e institucionais), como: a) obtenção de provimentos jurisdicionais efetivos e aptos a cessar a conduta ilícita, preservando, assim, o estado de legalidade e a higidez do pleito; b) aumento do ônus processual e o custo financeiro para os que, no afã de conquistar um mandato eletivo na base do “vale tudo”, pratiquem condutas ilícitas e nocivas à higidez do processo eleitoral; c) diminuir o fenômeno cultural da “institucionalização da corrupção”, segundo o qual as práticas antijurídicas vão se sedimentando no imaginário popular como algo normal, o que é altamente prejudicial para o fortalecimento da democracia e, sobretudo, para o respeito à legalidade, pois as pessoas passam a crer que vale a pena tentar tirar vantagem de alguma conduta ilícita que lhes possa trazer algum benefício; d) trará ao Ministério Público (como Instituição una e indivisível) maior visibilidade e, sobretudo, respaldo social superior ao que já goza atualmente, fatores determinantes para a manutenção das garantias e prerrogativas conferidas aos membros, que, dia após dia, são alvos de ataques por políticos processados pela atuação firme e imparcial do Parquet.

ALGUNS EXEMPLOS PRÁTICOS DE FISCALIZAÇÃO DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA NAS ELEIÇÕES QUE NÃO SÃO FISCALIZADOS, VIA DE REGRA, PELO MINISTÉRIO PÚBLICO COMUM

Neste tópico, iremos apresentar algumas experiências realizadas no estado do Ceará nas eleições de 2014 e que possam servir de amostra para a fiscalização dos atos eleitorais pelo Ministério Público Comum sem que isso represente invasão de atribuição dos Promotores Eleitorais.

Uso de bens públicos em ano eleitoral

Diante da tradição patrimonialista da política brasileira, é fato recorrente o uso de bens públicos nos pleitos eleitorais, sendo os atos dessa natureza tipificados pela legislação eleitoral como crimes (art. 11, V, da Lei nº6091/1974 ou arts. 346 e 377 do Código Eleitoral), conduta vedada (art. 37, I, da Lei nº9504/1997) ou abuso de poder político (art. 22, da Lei Complementar nº64/1990), sem embargo do ato de improbidade administrativa.

Vejamos, pois, como se deu o uso de ginásios municipais e prédios públicos para a realização de atos de pré-campanha.

artigos

ATO: Prefeito realiza, após o pedido de registro de candidatura e em troca de votos, a distribuição de brindes adquiridos com dinheiro público em comunidade carente.

Conduta Vedada SIM, conforme artigo 73, § 10, da Lei 9504/97.

Captação Ilícita de Sufágio SIM, conforme artigo 41-A, da Lei 9504/97.

Crime Eleitoral SIM, conforme artigo 299, do Código Eleitoral, sem prejuízo da conexão.

Abuso de Poder PolíticoDEPENDE, pois para a configuração do ato abusivo, não será considerada a pontencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravi-dade das circunstâncias que o caracterizam (art. 22, XVI, da LC nº 64/90)

Crime de Responsabilidade SIM, conforme artigo 1º, II, do Decreto-Lei nº 201/67.

Improbidade Administrativa

Infração Política-Administrativa

SIM, conforme artigo o §7º, do artigo 73, da Lei nº 9504/97.

SIM, conforme artigo 4º, VII e X, do Decreto-Lei 201/67.

Enunciado nº 04: Podem ser implementados, no âmbito dos Ministérios Públicos Estaduais, os Núcleos de Apoio às Promotorias Eleitorais, objetivando a concentração, celeridade, aprimoramento e interligação dos trabalhos eleitorais, ressalvada a atribuição do Procurador Regional Eleitoral, prevista no artigo 77 da LC nº75/1993; Enunciado nº09: Nas eleições nacionais, estaduais e municipais, os Promotores Eleitorais podem ser designados e indicados para auxílio recíproco, mediante a concordância de todos os interessados e em prol da necessidade e avaliação da melhor atuação em determinada circunscrição eleitoral. [4]

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ilícitos cíveis ou criminais de competência da Justiça Comum e, portanto, dentro da incumbência fiscalizatória do Ministério Público Comum (Estadual ou Federal) e igualmente de competência da Justiça Comum (Federal ou Estadual). Há um singelo exemplo dessa circunstância a seguir:

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Ocorre que, não obstante a interdisciplinaridade dos ilícitos eleitorais, não se vê na prática um planejamento específico de atuação do Ministério Público Comum para as eleições, ficando tudo a cargo do Ministério Público Eleitoral. Trata-se de uma medida a ser adotada urgentemente.

Nesse sentido, apresentamos sugestão a ser implementada no âmbito dos ministérios públicos dos estados, a partir de iniciativa pioneira que tivemos no estado do Ceará: a criação de um Grupo de Apoio Eleitoral (Gapel), composto exclusivamente por membros da Instituição, que teria as seguintes atribuições: a) monitorar condutas suspeitas a partir de dados públicos acessíveis a qualquer pessoa e obtidos sem qualquer prerrogativa funcional [2] (portanto, sem exercer atividade de substituição fiscalizatória do promotor eleitoral natural), remetendo a documentação pertinente ao membro com atribuição para atuar no caso concreto; b) receber denúncias em geral sobre o pleito, com o fim de fomentar a atuação do membro eleitoral e também articular uma ação por parte do Ministério Público Estadual na seara que lhe fosse pertinente; c) auxiliar, quando solicitado pelo Promotor Natural, na propositura e execução de medidas judiciais. [3]

Providência semelhante já foi implementada no âmbito do estado do Rio de Janeiro, mediante Enunciados Conjuntos aprovados em 27 de agosto de 2010 pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual, tudo nos seguintes termos:

Pois bem, analisada essa questão preliminar, gostaríamos de suscitar o debate e fomentar uma atuação diferenciada dos Promotores de Justiça e Procuradores da República nos pleitos vindouros, tirando-os da condição de meros ouvintes/observadores do que ocorre na seara eleitoral, para que possam, de preferência ou independente dos colegas que exerçam a função eleitoral, assumir uma posição ativa na fiscalização do pleito, em especial no tocante aos atos de improbidade administrativa, cuja competência não pertence à Justiça Eleitoral.

É de se ressaltar que essa atuação contemporânea aos fatos praticados durante o ano eleitoral possui muitos benefícios (jurídicos, sociais e institucionais), como: a) obtenção de provimentos jurisdicionais efetivos e aptos a cessar a conduta ilícita, preservando, assim, o estado de legalidade e a higidez do pleito; b) aumento do ônus processual e o custo financeiro para os que, no afã de conquistar um mandato eletivo na base do “vale tudo”, pratiquem condutas ilícitas e nocivas à higidez do processo eleitoral; c) diminuir o fenômeno cultural da “institucionalização da corrupção”, segundo o qual as práticas antijurídicas vão se sedimentando no imaginário popular como algo normal, o que é altamente prejudicial para o fortalecimento da democracia e, sobretudo, para o respeito à legalidade, pois as pessoas passam a crer que vale a pena tentar tirar vantagem de alguma conduta ilícita que lhes possa trazer algum benefício; d) trará ao Ministério Público (como Instituição una e indivisível) maior visibilidade e, sobretudo, respaldo social superior ao que já goza atualmente, fatores determinantes para a manutenção das garantias e prerrogativas conferidas aos membros, que, dia após dia, são alvos de ataques por políticos processados pela atuação firme e imparcial do Parquet.

ALGUNS EXEMPLOS PRÁTICOS DE FISCALIZAÇÃO DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA NAS ELEIÇÕES QUE NÃO SÃO FISCALIZADOS, VIA DE REGRA, PELO MINISTÉRIO PÚBLICO COMUM

Neste tópico, iremos apresentar algumas experiências realizadas no estado do Ceará nas eleições de 2014 e que possam servir de amostra para a fiscalização dos atos eleitorais pelo Ministério Público Comum sem que isso represente invasão de atribuição dos Promotores Eleitorais.

Uso de bens públicos em ano eleitoral

Diante da tradição patrimonialista da política brasileira, é fato recorrente o uso de bens públicos nos pleitos eleitorais, sendo os atos dessa natureza tipificados pela legislação eleitoral como crimes (art. 11, V, da Lei nº6091/1974 ou arts. 346 e 377 do Código Eleitoral), conduta vedada (art. 37, I, da Lei nº9504/1997) ou abuso de poder político (art. 22, da Lei Complementar nº64/1990), sem embargo do ato de improbidade administrativa.

Vejamos, pois, como se deu o uso de ginásios municipais e prédios públicos para a realização de atos de pré-campanha.

artigos

ATO: Prefeito realiza, após o pedido de registro de candidatura e em troca de votos, a distribuição de brindes adquiridos com dinheiro público em comunidade carente.

Conduta Vedada SIM, conforme artigo 73, § 10, da Lei 9504/97.

Captação Ilícita de Sufágio SIM, conforme artigo 41-A, da Lei 9504/97.

Crime Eleitoral SIM, conforme artigo 299, do Código Eleitoral, sem prejuízo da conexão.

Abuso de Poder PolíticoDEPENDE, pois para a configuração do ato abusivo, não será considerada a pontencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravi-dade das circunstâncias que o caracterizam (art. 22, XVI, da LC nº 64/90)

Crime de Responsabilidade SIM, conforme artigo 1º, II, do Decreto-Lei nº 201/67.

Improbidade Administrativa

Infração Política-Administrativa

SIM, conforme artigo o §7º, do artigo 73, da Lei nº 9504/97.

SIM, conforme artigo 4º, VII e X, do Decreto-Lei 201/67.

Enunciado nº 04: Podem ser implementados, no âmbito dos Ministérios Públicos Estaduais, os Núcleos de Apoio às Promotorias Eleitorais, objetivando a concentração, celeridade, aprimoramento e interligação dos trabalhos eleitorais, ressalvada a atribuição do Procurador Regional Eleitoral, prevista no artigo 77 da LC nº75/1993; Enunciado nº09: Nas eleições nacionais, estaduais e municipais, os Promotores Eleitorais podem ser designados e indicados para auxílio recíproco, mediante a concordância de todos os interessados e em prol da necessidade e avaliação da melhor atuação em determinada circunscrição eleitoral. [4]

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Uso dos materiais ou serviços custeados pelo poder público:

Outra prática também muito comum em anos eleitorais é o uso do serviço de internet do poder público para dar visibilidade aos projetos de poder dos aliados políticos do gestor de plantão. Vejamos um exemplo concreto.

artigos

Tal conduta, sem sombra de dúvidas, representou violação ao disposto no artigo 73, II, da Lei n°9504/97, porquanto fora utilizado o serviço de internet do Município para fins de beneficiar a pretensão política do PT e do respectivo filiado. Igual caso foi analisado pelo TRE/MA, cuja decisão consignou que a “utilização pelo representado, Governador do Estado do Maranhão, de serviço público (site oficial do governo) como meio de se fazer propaganda eleitoral em benefício do pré-candidato. Hipótese que configura a infração ao art. 73, II, da Lei nº 9.504/97 e 36, II, § 7º da Resolução n.º 22.158/2006 do Tribunal Superior Eleitoral. Recursos conhecidos e não providos.”

CASO CONCRETO NAS ELEIÇÕES DE 2014: AS “CARAVANAS DO PMDB”

No estado do Ceará, durante o período pré-eleitoral de 2014, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) intensificou a realização de eventos no interior do Estado do Ceará, denominados “Encontros Regionais do PMDB”, que, sob a bandeira de diálogo com a sociedade à respeito dos problemas sociais, tinham o objetivo explícito de legitimação da pré-candidatura de membro da agremiação ao cargo de Governador do Estado do Ceará.Em duas ocasiões monitoradas pela Procuradoria Regional Eleitoral do Ceará, especificamente nos municípios de Croatá e Russas, percebeu-se que os eventos ocorreram em espaços públicos, que foram utilizados para fins de propaganda antecipada ao referido projeto político.Diante disso (pelo fato de ter realizado eventos denominados “Encontros Regionais” em bens públicos sob a dissimulada forma de reuniões autorizadas nos moldes do artigo 36-A, da Lei nº9504/94, bem como pelas mesmas terem se caracterizado como atos de manifesta propaganda antecipada), o Ministério Público Eleitoral ajuizou ação cautelar de conduta vedada por descumprimento ao disposto no artigo 73, I, da Lei nº9504/97, tendo o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE/CE) concedido medida liminar nos autos do Processo n°205-67.2014.6.06.0000) com o fim de suspender os referidos eventos, tendo, posteriormente, sido autorizada a realização dos mesmos, desde que sem o uso de bens públicos.

Distribuição gratuita de bens no ano eleitoral:

No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa. Essa é a diretriz do artigo 73, §10, da Lei das Eleições. Não obstante isso, o que se verifica é que os gestores aproveitam-se de datas festivas (dia das mães, dos pais ou das cr ianças) para promover um verdadeiro “feirão de caridade” com fins eleitorais.

“Neste sábado (14), o prefeito Cirilo Pimenta recebeu a caravana do Partido dos Trabalhadores (PT), no município de Quixeramobim. Este momento vem sendo realizado em várias cidades do Estado do Ceará.O evento foi um encontro estadual do partido, tendo como pauta a reeleição da Presidenta Dilma Rousseff. Na oportunidade, estiveram presentes lideranças nacionais do partido. Nomes como o de Ilário Marques, uma das lideranças do PT do sertão central, o ex-presidente do PT Joaquim Cartaxo, o d e p u t a d o D e d é T e i x e i r a e d e m a i s representantes do legislativo estadual, assim como também representantes do MST e do FETRAECE.O Prefeito Cirilo Pimenta, juntamente com seus assessores, esteve no evento recebendo também o Ministro Ricardo Berzoini. Aproveitando o momento, foi lançada a pré-candidatura do quixeramobiense José Nobre Guimarães a uma vaga no Senado Federal pelo estado do Ceará.”

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CASO CONCRETO NAS ELEIÇÕES DE 2014: “AS CARAVANAS DO PT”

Durante o período pré-eleitoral de 2014, o Partido dos Trabalhadores (PT) realizou diversas incursões no interior do estado do Ceará, denominadas “Caravanas do PT”, com o objetivo explícito de legitimar a pré-candidatura de filiado ao cargo de Senador da República. A despeito da suposta propaganda eleitoral antecipada realizada, verificou-se que o evento realizado na cidade de Quixeramobim, no dia 14/06/2014, foi acompanhado pessoalmente pelo prefeito da cidade e teve como consequência a publicação de diversas fotos do citado evento no site da Prefeitura de Quixeramobim, realizando, inclusive, propaganda antecipada lida por 149 (cento e quarenta e nove) pessoas, como se vê da notícia que constava no site http://www.quixeramobim.ce.gov.br/noticias/caravana-do-pt-visita-quixeramobim/448/6#Menu:

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Municipal

Caravana do PT visita Quixeramobim

Governo14 de Junho, 2014

A +A -

(Representacao nº 3855, Acórdão nº 6884 de 06/07/2006, Relator(a) ROBERTO CARVALHO VELOSO, Publicação: SESSAO - Publicado em Sessão, Data 6/7/2006, p. 184-98 ). No que diz respeito à responsabilização do Chefe do Executivo, consigna-se que o TRE/RO decidiu que “não há responsabilidade objetiva em atribuir ao chefe do Poder Executivo Municipal, assim como o seu vice, a divulgação de propaganda institucional em período vedado na medida em que a eles cabia tomar todas as providências no sentido de impedir ou retirar a publicidade em tempo razoável. (RECURSO ELEITORAL nº 24662, Acórdão nº 375/2013 de 05/12/2013, Relator(a) SANSÃO SALDANHA, Publicação: DJE/TRE-RO - Diário Eletrônico da Justiça Eleitoral, Tomo 230, Data 12/12/2013, p. 5 ).Assim, diante desse quadro, o Ministério Público Eleitoral postulou medida cautelar (Processo nº3902.2014.606.0011) para determinar a retirada do ar da citada publicação e proibição de divulgação de qualquer outra em benefício de qualquer candidato registrado no pleito de 2014, o que foi deferido. [5]

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Uso dos materiais ou serviços custeados pelo poder público:

Outra prática também muito comum em anos eleitorais é o uso do serviço de internet do poder público para dar visibilidade aos projetos de poder dos aliados políticos do gestor de plantão. Vejamos um exemplo concreto.

artigos

Tal conduta, sem sombra de dúvidas, representou violação ao disposto no artigo 73, II, da Lei n°9504/97, porquanto fora utilizado o serviço de internet do Município para fins de beneficiar a pretensão política do PT e do respectivo filiado. Igual caso foi analisado pelo TRE/MA, cuja decisão consignou que a “utilização pelo representado, Governador do Estado do Maranhão, de serviço público (site oficial do governo) como meio de se fazer propaganda eleitoral em benefício do pré-candidato. Hipótese que configura a infração ao art. 73, II, da Lei nº 9.504/97 e 36, II, § 7º da Resolução n.º 22.158/2006 do Tribunal Superior Eleitoral. Recursos conhecidos e não providos.”

CASO CONCRETO NAS ELEIÇÕES DE 2014: AS “CARAVANAS DO PMDB”

No estado do Ceará, durante o período pré-eleitoral de 2014, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) intensificou a realização de eventos no interior do Estado do Ceará, denominados “Encontros Regionais do PMDB”, que, sob a bandeira de diálogo com a sociedade à respeito dos problemas sociais, tinham o objetivo explícito de legitimação da pré-candidatura de membro da agremiação ao cargo de Governador do Estado do Ceará.Em duas ocasiões monitoradas pela Procuradoria Regional Eleitoral do Ceará, especificamente nos municípios de Croatá e Russas, percebeu-se que os eventos ocorreram em espaços públicos, que foram utilizados para fins de propaganda antecipada ao referido projeto político.Diante disso (pelo fato de ter realizado eventos denominados “Encontros Regionais” em bens públicos sob a dissimulada forma de reuniões autorizadas nos moldes do artigo 36-A, da Lei nº9504/94, bem como pelas mesmas terem se caracterizado como atos de manifesta propaganda antecipada), o Ministério Público Eleitoral ajuizou ação cautelar de conduta vedada por descumprimento ao disposto no artigo 73, I, da Lei nº9504/97, tendo o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE/CE) concedido medida liminar nos autos do Processo n°205-67.2014.6.06.0000) com o fim de suspender os referidos eventos, tendo, posteriormente, sido autorizada a realização dos mesmos, desde que sem o uso de bens públicos.

Distribuição gratuita de bens no ano eleitoral:

No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa. Essa é a diretriz do artigo 73, §10, da Lei das Eleições. Não obstante isso, o que se verifica é que os gestores aproveitam-se de datas festivas (dia das mães, dos pais ou das cr ianças) para promover um verdadeiro “feirão de caridade” com fins eleitorais.

“Neste sábado (14), o prefeito Cirilo Pimenta recebeu a caravana do Partido dos Trabalhadores (PT), no município de Quixeramobim. Este momento vem sendo realizado em várias cidades do Estado do Ceará.O evento foi um encontro estadual do partido, tendo como pauta a reeleição da Presidenta Dilma Rousseff. Na oportunidade, estiveram presentes lideranças nacionais do partido. Nomes como o de Ilário Marques, uma das lideranças do PT do sertão central, o ex-presidente do PT Joaquim Cartaxo, o d e p u t a d o D e d é T e i x e i r a e d e m a i s representantes do legislativo estadual, assim como também representantes do MST e do FETRAECE.O Prefeito Cirilo Pimenta, juntamente com seus assessores, esteve no evento recebendo também o Ministro Ricardo Berzoini. Aproveitando o momento, foi lançada a pré-candidatura do quixeramobiense José Nobre Guimarães a uma vaga no Senado Federal pelo estado do Ceará.”

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CASO CONCRETO NAS ELEIÇÕES DE 2014: “AS CARAVANAS DO PT”

Durante o período pré-eleitoral de 2014, o Partido dos Trabalhadores (PT) realizou diversas incursões no interior do estado do Ceará, denominadas “Caravanas do PT”, com o objetivo explícito de legitimar a pré-candidatura de filiado ao cargo de Senador da República. A despeito da suposta propaganda eleitoral antecipada realizada, verificou-se que o evento realizado na cidade de Quixeramobim, no dia 14/06/2014, foi acompanhado pessoalmente pelo prefeito da cidade e teve como consequência a publicação de diversas fotos do citado evento no site da Prefeitura de Quixeramobim, realizando, inclusive, propaganda antecipada lida por 149 (cento e quarenta e nove) pessoas, como se vê da notícia que constava no site http://www.quixeramobim.ce.gov.br/noticias/caravana-do-pt-visita-quixeramobim/448/6#Menu:

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Caravana do PT visita Quixeramobim

Governo14 de Junho, 2014

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(Representacao nº 3855, Acórdão nº 6884 de 06/07/2006, Relator(a) ROBERTO CARVALHO VELOSO, Publicação: SESSAO - Publicado em Sessão, Data 6/7/2006, p. 184-98 ). No que diz respeito à responsabilização do Chefe do Executivo, consigna-se que o TRE/RO decidiu que “não há responsabilidade objetiva em atribuir ao chefe do Poder Executivo Municipal, assim como o seu vice, a divulgação de propaganda institucional em período vedado na medida em que a eles cabia tomar todas as providências no sentido de impedir ou retirar a publicidade em tempo razoável. (RECURSO ELEITORAL nº 24662, Acórdão nº 375/2013 de 05/12/2013, Relator(a) SANSÃO SALDANHA, Publicação: DJE/TRE-RO - Diário Eletrônico da Justiça Eleitoral, Tomo 230, Data 12/12/2013, p. 5 ).Assim, diante desse quadro, o Ministério Público Eleitoral postulou medida cautelar (Processo nº3902.2014.606.0011) para determinar a retirada do ar da citada publicação e proibição de divulgação de qualquer outra em benefício de qualquer candidato registrado no pleito de 2014, o que foi deferido. [5]

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PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

Diante do que foi exposto brevemente neste artigo, vê-se que para uma adequada e fiscalização da lisura e regularidade do pleito eleitoral, o Ministério Público Comum deve atuar na fiscalização dos respectivos atos de improbidade administrativa.

É de se ressaltar que essa atuação contemporânea aos fatos praticados durante o ano eleitoral possui muitos benefícios (jurídicos, sociais e institucionais), como: a) obtenção de provimentos jurisdicionais efetivos e aptos a cessar a conduta ilícita, preservando, assim, o estado de legalidade e a higidez do pleito; b) aumento do ônus processual e o custo financeiro para os que, no afã de conquistar um mandato eletivo na base do “vale tudo”, pratiquem condutas ilícitas e nocivas à higidez do processo eleitoral; c) diminuir o fenômeno cultural da “institucionalização da corrupção”, segundo o qual as práticas antijurídicas vão se sedimentando no imaginário popular como algo normal, o que é altamente prejudicial para o fortalecimento da democracia e, sobretudo, para o respeito à legalidade, pois as pessoas passam a crer que vale a pena tentar tirar vantagem de alguma conduta ilícita que lhes possa trazer algum benefício; d) trará ao Ministério Público (como Instituição una e indivisível) maior visibilidade e, sobretudo, respaldo social superior ao que já goza atualmente, fatores determinantes para a manutenção das garantias e prerrogativas conferidas aos membros, que, dia após dia, são alvos de ataques por políticos processados pela atuação firme e imparcial do Parquet

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CASO CONCRETO NAS ELEIÇÕES DE 2012Analisando caso referente à temática sob estudo, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE/RJ) declarou a inelegibilidade de agentes públicos responsáveis e beneficiados por “distribuição gratuita de 1150 cestas básicas e diversos eletrodomésticos na principal Praça do Município de Aperibé em meados do ano eleitoral (em 11/5/12) a diversos eleitores presentes em festa de ‘Dia das Mães’ promovida pela prefeitura, [posto que] comprovado uso promocional da festa em favor da candidatura à reeleição dos mandatários recorrentes mediante farta distribuição gratuita de bens de caráter social custeados pelo Poder Público. (RECURSO ELEITORAL nº 71923, Acórdão de 09/12/2013, Relator(a) MARCUS HENRIQUE NIEBUS STEELE, Publicação: DJERJ - Diário da Justiça Eletrônico do TRE-RJ, Tomo 266, Data 18/12/2013, p. 17-21).

[1] Coloca-se entre aspas, porque a experiência profissional do autor, confirmada recentemente pela Operação Lava Jato

demonstra que as campanhas eleitorais brasileiras, em qualquer nível federativo que seja, representam um factoide quanto à sua real legitimidade e espontaneidade, uma vez que são financiadas às custas de muita corrupção, desvio de dinheiro público, investimento de empresários inescrupulosos em candidatos na expectativa da obtenção de futuros favores governamentais (via de regra contratações), com o fim de comprar o voto de milhões que se vendem consciente ou inconscientemente, achando que a eleição “é a hora de tirar a vantagem’’, uma vez que os políticos só aparecem de quatro em quatro anos para pedir e/ou comprar votos.

[2] Exemplo disso são notícias retiradas da internet dando conta de fatos possivelmente ilícitos, ou a obtenção de dados

dos sites de transparência pública etc.

[3] Importa registrar que o Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu que “a Constituição vigente não veda a designação,

no Ministério Público, de grupos especializados por matéria, na medida em que a atribuição aos seus componentes da condução dos processos respectivos implica a previa subtração deles da esfera de atuação do Promotor genericamente incumbido de atuar perante determinado juízo” (HC 69599, Rel.: Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 30/06/1993), sendo referido entendimento seguido fielmente pelo Superior Tribunal de Justiça, para quem “a criação de grupo especializado por meio de Resolução do Procurador-Geral da Justiça, com competência e membros integrantes estabelecidos previamente ao fato criminoso, não ofende o art. 29, IX da Lei 8.625/96, nem o princípio do Promotor Natural” (REsp 495.928/MG, Rel.: Min. José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 04/12/2003, DJ 02/02/04, p.

347).[4] RIO DE JANEIRO (estado). Ministério Público da União. Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Enunciado 04. In: ENCONTRO INSTITUCIONAL: EM BUSCA DE UNIDADE, 1., 2010, Rio de Janeiro. Atas... Rio de Janeiro: MPRJ, 2010.[5] BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Representação 380773 DF. Rel.: Min. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello. Julgado em: 20/3/2014. DJe 13/5/2014. Tomo 87, p. 70.

NOTAS E REFERÊNCIAS

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COOPTAÇÃO DE AGENTES PÚBLICOS: O AUGE DA

CORRUPÇÃO?

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ARTIGOS

FLÁVIOCARDOSOPEREIRA

O fenômeno da corrupção, nos dias atuais, consiste em flagelo destrutivo ao tecido político, econômico e social da maioria das civilizações, sejam elas adeptas a regimes democráticos ou ditatoriais.

Trata-se de um sistema de comportamento ou de redes, no qual participa um poder fático (individual ou coletivo), portador de interesses particulares e com poder de influência para garantir condições de impunidade, a fim de lograr que agentes públicos ou até mesmo privados, portadores de capacidade de decisão ou de intervenção, exerçam atos ilegítimos e/ou ilegais que afetem valores éticos de integridade e justiça, violentando muitas das vezes normas legais para a obtenção de benefícios econômicos, políticos e sociais.

Nesse diapasão, certo é que o esquema de corrupção é por definição um plano de segurança de rendimentos ilícitos. Tudo é pensado e concebido para minimizar riscos antes, durante e depois da transação ilegal. A segurança passa por mecanismos de lavagem de capitais ou de eliminação de registros, compra de proteção, silêncio ou cumplicidade e outras técnicas para despistar detalhes da trama. [1]

Professor e conferencista nacional e internacional.

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A corrupção constitui, em síntese, uma ameaça para a primazia do direito, da democracia e dos direitos humanos, uma vez que atropela os princípios de uma boa administração, da equidade e da justiça social, prejudicando a livre concorrência, obstaculizando o desenvolvimento econômico e colocando em perigo a estabilidade das instituições democráticas e os fundamentos morais da sociedade.

D e l i n e a d a s e s s a s o b s e r v a ç õ e s introdutórias e necessárias, torna-se irrefutável afirmar que a corrupção vem at ingindo níveis de atrocidade e danosidade nunca antes conjecturados. Embora já se tenha notícias de práticas corruptivas desde a Antiguidade[2], vale ressaltar que contemporaneamente referido fenômeno se dissemina movido por uma força galopante, assemelhando-se a uma endemia que atinge a todas as sociedades, provocando prejuízos irreparáveis.

Por conseguinte, imagina-se ser possível ou não idealizar o provável auge desse fenômeno globalizado e transnacional.

Tarefa hercúlea a meu sentir.

Creio, a priori, ser difícil apontar um limite para esse estado de degeneração institucionalizada. Porém, eis que nos últimos anos surgem os primeiros estudos sobre uma fase altamente drástica no processo de evolução dessa forma de quebra irrestrita da confiança entre a sociedade e as instituições públicas (Estado), ou seja, começa-se a tratar da temática da infiltração da criminalidade organizada no aparato estatal (instituições governamentais).[3]

Embora se tenham notícias acerca de tal situação fática desde muitos anos atrás, pouco se escreveu em doutrina sobre esse grave processo de rompimento dos laços de confiança entre a sociedade e as instituições, o qual provoca robusta debilidade institucional do Estado, culminando ainda com degradação ética daquele cidadão que cede aos encantos e à sedução das vantagens obtidas pela prática de atos de corrupção.

Dentro desse cenário, são fortalecidas as organizações criminosas que, por meio de cooptação e do suborno, passam a ter, em seus quadros, pessoas (muitas das vezes servidores públicos) que passam a laborar criminosamente em prol da obtenção de lucros advindos da corrupção e de outros tantos crimes, como a lavagem de dinheiro, a fraude a processos de licitações, o narcotráfico etc.

Tecnicamente, poder-se-á denominar esta n o v a f a c e t a d a c o r r u p ç ã o c o m o “reconfiguração cooptada do Estado”.[4]

58

Dentro de uma perspectiva inicial do tema, cabe ressaltar uma raiz emblemática para a melhor compreensão desse estágio atingido no contexto do fenômeno da corrupção: a existência de limites morais do mercado e a influência do dinheiro no contexto das relações sociais.

A discussão desses pontos fundamentais poderá ser buscada em Sandel[5], por meio da constatação de algumas verdades incontestáveis, a saber: a) O dinheiro é sempre uma forma de poder social e um instrumento de disciplina nas relações sociais; b) O dinheiro nos dias atuais passou a ser o valor supremo na configuração da ideologia da sociedade Ocidental; c) Vivemos e enfrentamos uma situação perceptível de “degeneração moral institucionalizada”, marcada pela destruição do senso de moralidade pública, em nome da defesa, quase religiosa, do mercado e do capital.

Diante desse nefasto panorama desenhado pelo filosofo norte-americano, surgem como consectário natural algumas consequências extremamente preocupantes como o fato de agentes públicos eventualmente cederem a propostas de corrupção (suborno), passando a colaborar criminosamente com redes ilícitas de criminosos. Nesse sentido, quebra-se a confiança entre os cidadãos e o Estado, configurando-se um cenário de debilidade institucional em razão do aumento dos índices de percepção da corrupção.

A propósito, a questão monetária torna-se fator de destaque nas relações sociais e no cotidiano da maioria dos cidadãos, e muito especialmente se destaca a questão da vulnerabilidade por parte de algumas pessoas vinculadas, de forma empregatícia, a organismos estatais, que muitas das vezes se deixam “vender” pelo apelo financeiro, comprometendo o ideal ético e moral correspondente ao exercício das funções públicas.[4]

Mas, no que efetivamente consiste o fenômeno da reconfiguração cooptada do Estado?

Tecnicamente falando seria a ação de agentes sociais legais ou ilegais, que mediante práticas legais ou ilegais, porém, algumas vezes legítimas, buscam sistematicamente modificar dentro do regime e influir na formulação, modificação, interpretação e aplicação das regras do jogo social e das políticas públicas.[6]

Dito de modo mais claro, a reconfiguração cooptada do Estado se refere a processos nos quais setores criminosos cooptam ou são cooptados por agentes privados ou públicos para modificar e utilizar as instituições de determinado Estado.

artigos

Mas, no que efetivamente consiste o fenômeno da reconfiguração cooptada do Estado?

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A corrupção constitui, em síntese, uma ameaça para a primazia do direito, da democracia e dos direitos humanos, uma vez que atropela os princípios de uma boa administração, da equidade e da justiça social, prejudicando a livre concorrência, obstaculizando o desenvolvimento econômico e colocando em perigo a estabilidade das instituições democráticas e os fundamentos morais da sociedade.

D e l i n e a d a s e s s a s o b s e r v a ç õ e s introdutórias e necessárias, torna-se irrefutável afirmar que a corrupção vem at ingindo níveis de atrocidade e danosidade nunca antes conjecturados. Embora já se tenha notícias de práticas corruptivas desde a Antiguidade[2], vale ressaltar que contemporaneamente referido fenômeno se dissemina movido por uma força galopante, assemelhando-se a uma endemia que atinge a todas as sociedades, provocando prejuízos irreparáveis.

Por conseguinte, imagina-se ser possível ou não idealizar o provável auge desse fenômeno globalizado e transnacional.

Tarefa hercúlea a meu sentir.

Creio, a priori, ser difícil apontar um limite para esse estado de degeneração institucionalizada. Porém, eis que nos últimos anos surgem os primeiros estudos sobre uma fase altamente drástica no processo de evolução dessa forma de quebra irrestrita da confiança entre a sociedade e as instituições públicas (Estado), ou seja, começa-se a tratar da temática da infiltração da criminalidade organizada no aparato estatal (instituições governamentais).[3]

Embora se tenham notícias acerca de tal situação fática desde muitos anos atrás, pouco se escreveu em doutrina sobre esse grave processo de rompimento dos laços de confiança entre a sociedade e as instituições, o qual provoca robusta debilidade institucional do Estado, culminando ainda com degradação ética daquele cidadão que cede aos encantos e à sedução das vantagens obtidas pela prática de atos de corrupção.

Dentro desse cenário, são fortalecidas as organizações criminosas que, por meio de cooptação e do suborno, passam a ter, em seus quadros, pessoas (muitas das vezes servidores públicos) que passam a laborar criminosamente em prol da obtenção de lucros advindos da corrupção e de outros tantos crimes, como a lavagem de dinheiro, a fraude a processos de licitações, o narcotráfico etc.

Tecnicamente, poder-se-á denominar esta n o v a f a c e t a d a c o r r u p ç ã o c o m o “reconfiguração cooptada do Estado”.[4]

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Dentro de uma perspectiva inicial do tema, cabe ressaltar uma raiz emblemática para a melhor compreensão desse estágio atingido no contexto do fenômeno da corrupção: a existência de limites morais do mercado e a influência do dinheiro no contexto das relações sociais.

A discussão desses pontos fundamentais poderá ser buscada em Sandel[5], por meio da constatação de algumas verdades incontestáveis, a saber: a) O dinheiro é sempre uma forma de poder social e um instrumento de disciplina nas relações sociais; b) O dinheiro nos dias atuais passou a ser o valor supremo na configuração da ideologia da sociedade Ocidental; c) Vivemos e enfrentamos uma situação perceptível de “degeneração moral institucionalizada”, marcada pela destruição do senso de moralidade pública, em nome da defesa, quase religiosa, do mercado e do capital.

Diante desse nefasto panorama desenhado pelo filosofo norte-americano, surgem como consectário natural algumas consequências extremamente preocupantes como o fato de agentes públicos eventualmente cederem a propostas de corrupção (suborno), passando a colaborar criminosamente com redes ilícitas de criminosos. Nesse sentido, quebra-se a confiança entre os cidadãos e o Estado, configurando-se um cenário de debilidade institucional em razão do aumento dos índices de percepção da corrupção.

A propósito, a questão monetária torna-se fator de destaque nas relações sociais e no cotidiano da maioria dos cidadãos, e muito especialmente se destaca a questão da vulnerabilidade por parte de algumas pessoas vinculadas, de forma empregatícia, a organismos estatais, que muitas das vezes se deixam “vender” pelo apelo financeiro, comprometendo o ideal ético e moral correspondente ao exercício das funções públicas.[4]

Mas, no que efetivamente consiste o fenômeno da reconfiguração cooptada do Estado?

Tecnicamente falando seria a ação de agentes sociais legais ou ilegais, que mediante práticas legais ou ilegais, porém, algumas vezes legítimas, buscam sistematicamente modificar dentro do regime e influir na formulação, modificação, interpretação e aplicação das regras do jogo social e das políticas públicas.[6]

Dito de modo mais claro, a reconfiguração cooptada do Estado se refere a processos nos quais setores criminosos cooptam ou são cooptados por agentes privados ou públicos para modificar e utilizar as instituições de determinado Estado.

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Mas, no que efetivamente consiste o fenômeno da reconfiguração cooptada do Estado?

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Ocorre nesse caso a manipulação das instituições do Estado para lograr sua própria transformação em função de interesses criminosos.

Uma verdadeira infiltração do crime organizado dentro do aparato estatal, utilizando-se normalmente do suborno e de suas variáveis relativas à corrupção, c o m a f i n a l i d a d e d e q u e e s s a s organizações criminosas possam estender seus tentáculos para dentro de setores sensíveis do arcabouço estatal, seja dentro do ramo Legislativo, Executivo ou judicial.[7]

Essa infiltração gravíssima do crime para dentro das instituições apresenta algumas características bastante destacadas, a saber: a) etapa de maior complexidade no processo de corrupção; b) participação de indivíduos ou grupos sociais legais e ilegais; c) os benefícios a ser atingidos não são somente de caráter econômico, mas também penais e inclusive de legitimação social; d) uso de coação e estabelecimento de alianças políticas que complementam ou substituem o “suborno”; e e) busca de influência e infiltração nos mais diferentes ramos do poder público e em distintos níveis da administração.

E surge nesse contexto uma dúvida interessante: como as redes ilícitas de criminosos organizados se infiltram nas instituições públicas?

A meu ver, seriam basicamente dois mecanismos de entrada insidiosa do crime no Estado. O primeiro, pelo ingresso nas carreiras jurídicas mediante concursos públicos. Nessa espécie, organizações

criminosas patrocinam a preparação intelectual de criminosos para adentrarem em postos de destaque dentro do aparato de persecução penal ou do sistema de justiça criminal como em concursos para admissão ao cargo de magistrados, membros do Ministério Público, quadros policiais, tribunais de contas e outros órgãos de fiscalização no enfrentamento à corrupção e ao crime organizado). Outras vezes promovem fraudes para obtenção dos exames de admissão dos candidatos ou se utilizam de suborno para promover a facilitação do ingresso do candidato no certame. Da mesma forma para o ingresso público a cargos na Administração Pública em geral.

Na segunda hipótese, seria pelo ingresso de agentes criminosos na política por i n t e r m é d i o d o f i n a n c i a m e n t o d e campanhas eleitorais. No caso brasileiro, muito especialmente, já se vem noticiando pela imprensa, há tempos, tentativas do grupo criminoso denominado PCC (Primeiro Comando da Capital), de se infiltrarem no campo político pelo financiamento ilegal de campanhas eleitorais para vários cargos políticos.[8]

Outro exemplo clássico de instalação do fenômeno da reconfiguração cooptada do Estado, já em nível bastante avançado,

seria o do Estado mexicano em razão do domínio político e sobre praticamente todas as instituições públicas pelos cartéis de drogas de Sinaloa, Ciudad Juárez e outras regiões. Nesse sentido, bastante conhecido o poderio financeiro e político do traficante conhecido pela alcunha de “El Chapo”.[9]

Da mesma forma, a trajetória de Pablo Escobar e seu cartel de Medellín, quando no seu auge chegaram a cooptar e ter em seus quadros, várias autoridades e agentes políticos que prestavam serviços ao bom andamento dos negócios ligados ao tráfico de drogas na Colômbia, bem como laboravam em prol da não edição de uma lei de extradição que pudesse levar o rei do tráfico para julgamento nos Estados Unidos.[10]

Dessa sorte, quer nos parecer estar muito clara a incidência de alguns fatores contributivos a tal situação narrada. Seriam fatores indiretos ou remotos a exemplo de uma inexpressiva valorização salarial do funcionário público, uma deficiente fiscalização relativa ao ingresso em cargos públicos, um reduzido incentivo e reconhecimento meritório daqueles servidores públicos especializados e, por fim, a ausência de controles eficazes relativos a evoluções patrimoniais suspeitas.

Ainda outros fatores mais graves ou diretos, como debilidade institucional dos Estados, a ausência de reforço ético junto com o servidor público e a expansão da criminalidade organizada e da corrupção.

Ao fim, dever-se-á concluir este escrito com uma resposta à indagação lançada no introito. Exist ir ia um auge a ser considerado em se tratando do fenômeno da corrupção?

Parece-me até o momento, difícil imaginar a possibilidade de existência de alguma modalidade mais grave de corrupção além da reconfiguração cooptada do Estado.

As instituições governamentais e de modo destacado a Administração Pública estão a p r e s e n t a n d o u m q u a d r o d e contaminação endógena pelo crime organizado, o que supera, em muito, todas as expectativas acerca do limite de danosidade social provocada pela corrupção.

Por tal razão, o cidadão comum ao se deparar com instituições corrompidas, destroçadas e eivadas de “bandas podres” em seus quadros, perde a confiança no Estado, surgindo como consequência o desestímulo ao ingresso na função pública das pessoas honestas e estímulo das pessoas desonestas. Ademais, denota-se c o m c l a r e z a e t r a n s p a r ê n c i a a institucionalização e conformação com o modo “corrupto” de se viver, fator este que contribuirá para a expansão de uma c u l t u r a d a c o r r u p ç ã o e p a r a o fortalecimento do crime organizado, principalmente aquele que apresenta um viés empresarial e político.

artigos

E surge nesse contexto uma dúvida interessante:

como as redes ilícitas de criminosos organizados

se infiltram nas instituições públicas?

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Ocorre nesse caso a manipulação das instituições do Estado para lograr sua própria transformação em função de interesses criminosos.

Uma verdadeira infiltração do crime organizado dentro do aparato estatal, utilizando-se normalmente do suborno e de suas variáveis relativas à corrupção, c o m a f i n a l i d a d e d e q u e e s s a s organizações criminosas possam estender seus tentáculos para dentro de setores sensíveis do arcabouço estatal, seja dentro do ramo Legislativo, Executivo ou judicial.[7]

Essa infiltração gravíssima do crime para dentro das instituições apresenta algumas características bastante destacadas, a saber: a) etapa de maior complexidade no processo de corrupção; b) participação de indivíduos ou grupos sociais legais e ilegais; c) os benefícios a ser atingidos não são somente de caráter econômico, mas também penais e inclusive de legitimação social; d) uso de coação e estabelecimento de alianças políticas que complementam ou substituem o “suborno”; e e) busca de influência e infiltração nos mais diferentes ramos do poder público e em distintos níveis da administração.

E surge nesse contexto uma dúvida interessante: como as redes ilícitas de criminosos organizados se infiltram nas instituições públicas?

A meu ver, seriam basicamente dois mecanismos de entrada insidiosa do crime no Estado. O primeiro, pelo ingresso nas carreiras jurídicas mediante concursos públicos. Nessa espécie, organizações

criminosas patrocinam a preparação intelectual de criminosos para adentrarem em postos de destaque dentro do aparato de persecução penal ou do sistema de justiça criminal como em concursos para admissão ao cargo de magistrados, membros do Ministério Público, quadros policiais, tribunais de contas e outros órgãos de fiscalização no enfrentamento à corrupção e ao crime organizado). Outras vezes promovem fraudes para obtenção dos exames de admissão dos candidatos ou se utilizam de suborno para promover a facilitação do ingresso do candidato no certame. Da mesma forma para o ingresso público a cargos na Administração Pública em geral.

Na segunda hipótese, seria pelo ingresso de agentes criminosos na política por i n t e r m é d i o d o f i n a n c i a m e n t o d e campanhas eleitorais. No caso brasileiro, muito especialmente, já se vem noticiando pela imprensa, há tempos, tentativas do grupo criminoso denominado PCC (Primeiro Comando da Capital), de se infiltrarem no campo político pelo financiamento ilegal de campanhas eleitorais para vários cargos políticos.[8]

Outro exemplo clássico de instalação do fenômeno da reconfiguração cooptada do Estado, já em nível bastante avançado,

seria o do Estado mexicano em razão do domínio político e sobre praticamente todas as instituições públicas pelos cartéis de drogas de Sinaloa, Ciudad Juárez e outras regiões. Nesse sentido, bastante conhecido o poderio financeiro e político do traficante conhecido pela alcunha de “El Chapo”.[9]

Da mesma forma, a trajetória de Pablo Escobar e seu cartel de Medellín, quando no seu auge chegaram a cooptar e ter em seus quadros, várias autoridades e agentes políticos que prestavam serviços ao bom andamento dos negócios ligados ao tráfico de drogas na Colômbia, bem como laboravam em prol da não edição de uma lei de extradição que pudesse levar o rei do tráfico para julgamento nos Estados Unidos.[10]

Dessa sorte, quer nos parecer estar muito clara a incidência de alguns fatores contributivos a tal situação narrada. Seriam fatores indiretos ou remotos a exemplo de uma inexpressiva valorização salarial do funcionário público, uma deficiente fiscalização relativa ao ingresso em cargos públicos, um reduzido incentivo e reconhecimento meritório daqueles servidores públicos especializados e, por fim, a ausência de controles eficazes relativos a evoluções patrimoniais suspeitas.

Ainda outros fatores mais graves ou diretos, como debilidade institucional dos Estados, a ausência de reforço ético junto com o servidor público e a expansão da criminalidade organizada e da corrupção.

Ao fim, dever-se-á concluir este escrito com uma resposta à indagação lançada no introito. Exist ir ia um auge a ser considerado em se tratando do fenômeno da corrupção?

Parece-me até o momento, difícil imaginar a possibilidade de existência de alguma modalidade mais grave de corrupção além da reconfiguração cooptada do Estado.

As instituições governamentais e de modo destacado a Administração Pública estão a p r e s e n t a n d o u m q u a d r o d e contaminação endógena pelo crime organizado, o que supera, em muito, todas as expectativas acerca do limite de danosidade social provocada pela corrupção.

Por tal razão, o cidadão comum ao se deparar com instituições corrompidas, destroçadas e eivadas de “bandas podres” em seus quadros, perde a confiança no Estado, surgindo como consequência o desestímulo ao ingresso na função pública das pessoas honestas e estímulo das pessoas desonestas. Ademais, denota-se c o m c l a r e z a e t r a n s p a r ê n c i a a institucionalização e conformação com o modo “corrupto” de se viver, fator este que contribuirá para a expansão de uma c u l t u r a d a c o r r u p ç ã o e p a r a o fortalecimento do crime organizado, principalmente aquele que apresenta um viés empresarial e político.

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E surge nesse contexto uma dúvida interessante:

como as redes ilícitas de criminosos organizados

se infiltram nas instituições públicas?

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[1] SOUSA, Luís de. Corrupção. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2011, p. 25.[2] Sobre alguns dados históricos do fenômeno da corrupção, vid., ROCHA FURTADO, Lucas. As raízes da corrupção no Brasil: estudo de casos e lições para o futuro. Belo Horizonte: Editora, 2015.[3] De forma embrionária sobre o tema da “captura do Estado” (fase prévia à reconfiguração cooptada do Estado), cf., HELLMAN, Joel; KAUFMANN, Daniel. La captura del Estado em las economias em transición. Revista Finanzas y Desarrollo, v. 38, n. 3, 2001, p. 31-35.[4] Com riqueza de detalhes, cf. nosso recente trabalho: PEREIRA, Flávio Cardoso. Crime organizado e sua infiltração nas instituições governamentais. São Paulo: Atlas, 2015.[5] SANDEL, Michael. O que dinheiro não compra: os limites morais do mercado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.[6] Vide com detalhes sobre essa conceituação: SALCEDO-ÁLBARÁN, Eduardo; GARAY-SALAMANCA, Luis. Macro-criminalidad: complejidad y resiliencia de las Redes Criminales. Bloomington: iUniverse, 2016.[7] Interessante sobre esta temática, cf. SHELLEY, Louise. The penetration of state and private sector structures by criminal networks: its impact on governance in Russia and other states of the former Soviet Union. In: SEMINAR ON THE IMPACTO OF ORGANIZED CRIME AND CORRUPTION ON GOVERNANCE IN THE SADC REGION, 2002. Pretoria, 18-19 April, 2002.[ 8 ] V i d e c o m o m e r o s e x m p l o s n o t i c i a d o s p e l a m í d i a n a c i o n a l , http://www.estadao.com.br/noticias/geral,pcc-quer-se-infiltrar-na-politica-e-financiar-campanhas,148613; http://www.valor.com.br/politica/3506546/gilmar-mendes-diz-que-pcc-faz-doacoes-partidos-politicos; http://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/ 3318/policia-identifica-articulacao-para-estreia-do-pcc-na-politica#facebook-exit-screen; http://liberal.com.br/cidades/regiao/pcc-realizou-doacao-para-vereador-eleito-na-regiao-de-campinas-457983.[9] Cf., BUSCAGLIA, Edgardo. Vacíos de poder en México. Bogotá: Debate, 2013.[10] AGUILLAR, Alonso Salazar. Pablo Escobar: el patrón del mal. Bogotá: Castellano, 2012.

Cabe-nos esperar o desenrolar dos novos tempos para constatarmos se de fato atingimos o patamar máximo de concretização do fenômeno da corrupção

NOTAS E REFERÊNCIAS

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SOLUÇÕES CIDADÃS: A CÂMARA MUNICIPAL E O

MINISTÉRIO PÚBLICO OUVEM A UNIVERSIDADE E VOCÊ

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REUDERCAVALCANTE

MOTTA

O projeto Soluções Cidadãs nasceu em Itumbiara em 2017 buscando a integração da Universidade, da Câmara Municipal, do Ministério Público e do cidadão para a solução de problemas da cidade. As universidades parceiras escolhem e estudam um problema público. Com seu conhecimento, professores e graduandos apresentam soluções aos vereadores, aos promotores de Justiça, aos convidados escolhidos e à comunidade em um encontro mensal na Câmara. Após acolher sugestões presenciais e virtuais, a universidade apresenta um documento-proposta de política pública aos vereadores e aos promotores de Justiça para melhoria de suas atuações, análises e articulações para implementação das soluções criadas. Convido o leitor a descobrir um pouco desta proposta, por meio de meu testemunho e memórias.

Em um final de tarde, na 3ª Promotoria de Justiça em Itumbiara recebi um professor da Universidade Estadual de Goiás com atuação local. Em nossa atuação, principalmente no interior, fazemos muitos atendimentos ao público, algo que permite ao promotor de Justiça conhecer as angústias da população a que serve e sobre elas refletir. Pois bem, em meio à conversa, o professor orgulhoso relatara que uma aluna da graduação havia feito uma excelente monografia acerca da feira livre da

Promotor de Justiça do Estado de Goiás.

Mestre no Programa de Mestrado em Direito da Universidade de Ribeirão

Preto – área de concentração em Direitos Coletivos e Função Social do

Direito.

Máster Universitário en Corrupción y Estado de Derecho pela Universidade

de Salamanca (Espanha).

Graduado em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos e em Ciência

da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Autor da obra Tutela do patrimônio público

e da moralidade administrativa.

Especializado em Gestão de Contas públicas pela UEMG e em

Contabilidade e Auditoria aplicada ao setor público (IPECON-PUC/GO).

PROJETO EM DESTAQUE

Page 64: Revista Parquet em foco/Escola Superior do Ministério ......e professor de Ciências Penais com especialização em Criminologia no Instituto Nacional de Ciências Penais, bem como,

cidade, identificando o perfil dos feirantes, os aspectos econômicos do micronegócio, a atuação municipal . Tudo muito interessante. Ao final, perguntei-lhe: ‘‘Onde está o trabalho’’. A resposta: ‘‘Na prateleira da biblioteca da universidade’’. Esta resposta me trouxe uma profunda inquietação. Como é que poderia a cidade de Itumbiara e sua administração municipal, sempre necessitada de mais servidores com qualificações técnicas, prescindir de conhecer aquele estudo? “Está na prateleira”. Para aquele conhecimento que foi conquistado pela universidade, para o qual houve dispêndio de horas de trabalho e estudo da estudante e de professores. Quantos outros estudos que as universidades locais realizaram estariam também na prateleira? Muitos que trariam novos olhares para os problemas locais, que poderiam identificar s u a s c a u s a s e p r o p o r s o l u ç õ e s , minimizando o sofrimento das parcelas desfavorecidas da nossa cidade. Esta m a r c a d a p e l o a l t í s s i m o n í v e l d e desigualdade social e, como muitas, pela ausência de efetividade dos direitos sociais que para os quais o Ministério Público foi talhado a defendê-los.

Parecia provável que também as universidades locais não deviam estar satisfeitas com o fato de que os conhecimentos ali gerados para a solução dos problemas estivessem nas suas prateleiras. A atividade de extensão dessas instituições também busca realizações para a cidade. Acredito que o maior sucesso é ver seu trabalho avaliado pela sociedade, admirado e convertido em uma política pública. A inquietação parecia ter provocado um desafio. Para que o saber da universidade sobre um problema não

ficasse somente na prateleira era preciso colocá-lo na agenda política local, termo utilizado nos estudos das políticas públicas e também na ciência política.

O MP do Estado de Goiás nos idos de 2008, por meio de sua Escola Superior, sob as direções das colegas Estela Rezende e Alice Freire, já haviam criado o programa ‘‘O MP ouve a Academia’’ por meio do qual a nossa Escola publicava artigos de professores e alunos das universidades, bem como realizava cursos sobre temas sociais, que pudessem trazer mais conhecimento aos promotores de Justiça em sua atuação. Esse projeto da ESMP era uma grande inspiração. Igualmente, as audiências públicas, instrumentos de atuação dos membros do Ministério Público – inclusive com previsão legal – para a solução de grandes temas sociais, eram uma fonte de informação. As audiências promovidas em Itumbiara, para a construção do seu plano diretor, também deviam ser consideradas. Nelas há a participação direta da população.

Um fato novo local, ainda, merecia ser considerado. A Câmara Municipal iniciava o ano com um novo presidente, o médico Marcello Gomes, que, de plano, anunciava o interesse de abrir a Casa para a população com o intuito de conhecer seus problemas. A inquietação e circunstâncias já nos davam material suficiente para sonhar um novo projeto que trouxesse ideias para a solução dos problemas da cidade. E ainda, uma outra ideia, que surgiu um pouco depois, após leitura de um texto de ciência política: a desafeição do jovem para política era um fenômeno atual em várias democracias do mundo. O projeto deveria tentar mudar este quadro.

Para se ir mais longe, é preciso estar acompanhado. O Ministério Público precisaria de parcerias para levar adiante o novo projeto que pudesse trazer o conhecimento da universidade para a agenda pública municipal. A Câmara Municipal e o MP seriam os atores prováveis a contribuir para o avanço da atividade de extensão da universidade com a finalidade de buscar soluções dos problemas coletivos da cidade com a Administração Pública e outros policy makers, com potencial de se tornar uma política pública. Delineada as primeiras ideias, caberia um primeiro encontro com o presidente da Câmara Municipal. Cheguei sem agendar no início da manhã. Não havia tempo a perder. Quase que de um só fôlego, durante minutos seguidos, expus a ele a ideia inicial do projeto. Marcello Gomes me ouviu atentamente, talvez surpreso com tamanho entusiasmo com que eu falava do novo projeto. A aprovação dele foi imediata e a empolgação idem. Tínhamos o primeiro parceiro. Combinamos em marcar a reunião com todos os diretores das unidades de ensino superior na cidade e também com seus coordenadores do departamento de extensão em dez dias no máximo, na sede do Ministério Público, eu redigiria o convite, e assinaríamos juntos.

Haveria de ser um convite atraente para que todos os diretores e coordenadores de extensão estivessem presentes. Haveria de ser uma reunião convincente. Era preciso que se enamorassem do projeto. O o f í c i o a o s d i r e t o r e s f o i f e i t o , completamente fora do padrão frio dos of íc ios minister ia is , transbordava entusiasmo e promessas de que a reunião

seria importante e do interesse das universidades. O presidente da Câmara assinou comigo o documento.

O projeto precisava de uma identidade visual urgente, bem como um nome antes da reunião. Já conhecia o talento da coordenadora de editoração da ESMP, Fabiana Figueiredo. Após o contato inicial com a então diretora da Escola Superior, Ana Paula Antunes Vieira Nery e, em seguida, com a autorização do atual diretor, Flávio Cardoso Pereira, a

PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

64 65

PROJETO EM DESTAQUE

.

Benefícios e impactos esperados:

Objetivo geral:

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cidade, identificando o perfil dos feirantes, os aspectos econômicos do micronegócio, a atuação municipal . Tudo muito interessante. Ao final, perguntei-lhe: ‘‘Onde está o trabalho’’. A resposta: ‘‘Na prateleira da biblioteca da universidade’’. Esta resposta me trouxe uma profunda inquietação. Como é que poderia a cidade de Itumbiara e sua administração municipal, sempre necessitada de mais servidores com qualificações técnicas, prescindir de conhecer aquele estudo? “Está na prateleira”. Para aquele conhecimento que foi conquistado pela universidade, para o qual houve dispêndio de horas de trabalho e estudo da estudante e de professores. Quantos outros estudos que as universidades locais realizaram estariam também na prateleira? Muitos que trariam novos olhares para os problemas locais, que poderiam identificar s u a s c a u s a s e p r o p o r s o l u ç õ e s , minimizando o sofrimento das parcelas desfavorecidas da nossa cidade. Esta m a r c a d a p e l o a l t í s s i m o n í v e l d e desigualdade social e, como muitas, pela ausência de efetividade dos direitos sociais que para os quais o Ministério Público foi talhado a defendê-los.

Parecia provável que também as universidades locais não deviam estar satisfeitas com o fato de que os conhecimentos ali gerados para a solução dos problemas estivessem nas suas prateleiras. A atividade de extensão dessas instituições também busca realizações para a cidade. Acredito que o maior sucesso é ver seu trabalho avaliado pela sociedade, admirado e convertido em uma política pública. A inquietação parecia ter provocado um desafio. Para que o saber da universidade sobre um problema não

ficasse somente na prateleira era preciso colocá-lo na agenda política local, termo utilizado nos estudos das políticas públicas e também na ciência política.

O MP do Estado de Goiás nos idos de 2008, por meio de sua Escola Superior, sob as direções das colegas Estela Rezende e Alice Freire, já haviam criado o programa ‘‘O MP ouve a Academia’’ por meio do qual a nossa Escola publicava artigos de professores e alunos das universidades, bem como realizava cursos sobre temas sociais, que pudessem trazer mais conhecimento aos promotores de Justiça em sua atuação. Esse projeto da ESMP era uma grande inspiração. Igualmente, as audiências públicas, instrumentos de atuação dos membros do Ministério Público – inclusive com previsão legal – para a solução de grandes temas sociais, eram uma fonte de informação. As audiências promovidas em Itumbiara, para a construção do seu plano diretor, também deviam ser consideradas. Nelas há a participação direta da população.

Um fato novo local, ainda, merecia ser considerado. A Câmara Municipal iniciava o ano com um novo presidente, o médico Marcello Gomes, que, de plano, anunciava o interesse de abrir a Casa para a população com o intuito de conhecer seus problemas. A inquietação e circunstâncias já nos davam material suficiente para sonhar um novo projeto que trouxesse ideias para a solução dos problemas da cidade. E ainda, uma outra ideia, que surgiu um pouco depois, após leitura de um texto de ciência política: a desafeição do jovem para política era um fenômeno atual em várias democracias do mundo. O projeto deveria tentar mudar este quadro.

Para se ir mais longe, é preciso estar acompanhado. O Ministério Público precisaria de parcerias para levar adiante o novo projeto que pudesse trazer o conhecimento da universidade para a agenda pública municipal. A Câmara Municipal e o MP seriam os atores prováveis a contribuir para o avanço da atividade de extensão da universidade com a finalidade de buscar soluções dos problemas coletivos da cidade com a Administração Pública e outros policy makers, com potencial de se tornar uma política pública. Delineada as primeiras ideias, caberia um primeiro encontro com o presidente da Câmara Municipal. Cheguei sem agendar no início da manhã. Não havia tempo a perder. Quase que de um só fôlego, durante minutos seguidos, expus a ele a ideia inicial do projeto. Marcello Gomes me ouviu atentamente, talvez surpreso com tamanho entusiasmo com que eu falava do novo projeto. A aprovação dele foi imediata e a empolgação idem. Tínhamos o primeiro parceiro. Combinamos em marcar a reunião com todos os diretores das unidades de ensino superior na cidade e também com seus coordenadores do departamento de extensão em dez dias no máximo, na sede do Ministério Público, eu redigiria o convite, e assinaríamos juntos.

Haveria de ser um convite atraente para que todos os diretores e coordenadores de extensão estivessem presentes. Haveria de ser uma reunião convincente. Era preciso que se enamorassem do projeto. O o f í c i o a o s d i r e t o r e s f o i f e i t o , completamente fora do padrão frio dos of íc ios minister ia is , transbordava entusiasmo e promessas de que a reunião

seria importante e do interesse das universidades. O presidente da Câmara assinou comigo o documento.

O projeto precisava de uma identidade visual urgente, bem como um nome antes da reunião. Já conhecia o talento da coordenadora de editoração da ESMP, Fabiana Figueiredo. Após o contato inicial com a então diretora da Escola Superior, Ana Paula Antunes Vieira Nery e, em seguida, com a autorização do atual diretor, Flávio Cardoso Pereira, a

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PROJETO EM DESTAQUE

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Benefícios e impactos esperados:

Objetivo geral:

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PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

identidade visual do projeto foi construída e escolhido o nome do projeto: Soluções Cidadãs. E um subtítulo: A Câmara Municipal e o Ministério Público ouvem a universidade e você. O cidadão que também participaria da construção das soluções estava lembrado.

PELAS PESSOAS DO BEM(Priscila Pacheco & R.Motta)

Parte I - Pop rock

Aqui vive meu amorAqui plantei o meu jardim

Meus amigos estão aliE meu filho sorri pra mim

Esta é a minha cidade e não quero me mudar

Mas não me iludoHá um monte de problemas

Violência, exploração Saúde e educação

Meu ambiente sofre tantoA riqueza é pra poucos

Sozinho não consigoMas se você está comigo

Vamos mudar essa história Com fé e capacidade Transformar a cidade

Com as pessoas do bem

Nossa cidade melhorEu e você cidadão

Nossa cidade melhorVirá com a nossa união

Parte II - Rap

Nosso futuro escritopelas pessoas do bem.

A enfermeira e o pedreiro,A médica e o engenheiro.

O juiz e a agricultora,Fazendeiro e a promotora.

O prefeito e o vereador,O advogado e o servidor.A técnica e a estudante.

Empresária e a ambulante.Policial e pianista.

Dona de casa, jornalista.Gari e ambientalista.

Trabalhador, capitalista.A professora e o artesão.Tenha atitude, cidadão!

Nossa mudança virá.Virá com a nossa União!

Eu preciso me mudar... pra não ter que me mudar.

O projeto precisava de uma música tema. Ela seria um fator a mais de convencimento dos diretores das unidades. Música sempre abre portas. Fiz a letra. Com minha insuportável i n s i s t ê n c i a p a r a a g r a n d e m u s i c i s t a itumbiarense, professora Priscila Caixeta, ela fez a melodia – adorei –, tudo dentro dos dez dias. A p r o f e s s o r a g r a v o u u m á u d i o c o m a interpretação da música por uma criança – sua aluna – e me enviou. Para a reunião-chave com os diretores das escolas tínhamos uma apresentação por escrito do projeto bem aos moldes da linguagem utilizada na academia, uma identidade visual e uma música.

A reunião ocorreu na sede das promotorias de Itumbiara. Vieram todas as universidades convidadas, o chamado diferenciado deve ter ajudado. Na ocasião estavam presentes: este promotor, representando o MPGO; Marcello Gomes, a Câmara Municipal; Jeferson André Samuelsson e Nara Rúbia Borges, o Instituto Luterano de Ensino Superior; Aline Barroso e Blyeny Hatalita Alves, o Instituto Federal de Goiás; Raphael Augusto Sousa, a Universidade

câmara municipal e ministério público ouvem a univerSIdade e você

#

DEFEsA DO consumidor

alimentação

tributos

sAÚDE política públicAprevidência sOCIAL

família

transporte

comunicação sOCIAL

de renda

culturalazer

meio ambientecriança

POLÍTICA fundiária

defesa

orçamentos e gastos públicos

pobrezadesnutrição

desporto

desenvolvimento

política urbana

moradia ciênciaservidor PÚBLICO

DIsTRIBUIÇÃO DE renda POLÍTICA AGRÍCOLA

idoso

JOVEM

TRABALHO

EDUCAÇÃO

segurança pública

distribuição política agrícola

violênciaassistência sOCIAL assistência jurídica regional

POLÍTICA AGRÍCOLA

DEFEsA DO consumidor

família

transporte

de renda

culturalazer

POLÍTICA fundiária

defesa

orçamentos e gastos públicos

desnutrição

desenvolvimento

ciência

idoso

JOVEM

EDUCAÇÃO

distribuição política agrícola

assistência jurídicaregional

desporto

meio ambienteDEFEsA DO consumidor

transporte

POLÍTICA fundiária

culturafamília

lazer

orçamentos e gastos públicos

ciênciafamíliasAÚDE

pobrezacomunicação sOCIAL

violência

do Estado de GoiásCabral, o Instituto de Ensino Superior Santa Rita de Cássia; e, Alfredo Araújo, a Universidade do Norte do Paraná polo Itumbiara. Após a exposição do projeto e perspectiva de viabilidade, um a um, cada participante manifestou sua opinião. Lembrei-me das expectativas nas apurações de concursos das escolas de samba do Rio de Janeiro. Tínhamos todas cinco universidades parceiras, um time. Isso merecia uma canção e assim foi tocada pela primeira fez a música- tema do projeto “Pelas pessoas do bem”. Agendou-se uma nova reunião com a presença apenas dos coordenadores da área de extensão das universidades parceiras.

Neste novo encontro, acolhemos várias ideias interessantes dos presentes para a melhoria do projeto, em especial, quanto à dinâmica que seria adotada pelas universidades, na Câmara Municipal, em suas exposições. A primeira agendada para o dia 18 de maio de 2017 e ficaria a cargo da Universidade Estadual de Goiás, as demais nos meses seguintes, exceto os meses de férias nas universidades.

Não foram necessárias mais reuniões. As tarefas estavam distribuídas, e as diretrizes para a exposição também. A Câmara Municipal se encarregara de ceder o plenário para a realização das exposições, com data show, designação dos servidores para auxílio na recepção dos convidados. A Câmara Municipal adquiriu banners e backstages com a identidade visual do projeto. Um atrativo a mais foi a divulgação das sessões ao vivo pelo You Tube, serviço existente seria estendido pela Câmara Municipal para o projeto Soluções Cidadãs.

; Marta Freire e Gerson

66 67

Gravação em estúdio do coral de crianças

PROJETO EM DESTAQUE

A condução da exposição seria realizada por apresentadores. A Câmara Municipal já conta em seus quadros com o experiente apresentador Heber Arantes, acostumado ao ofício. Melhor seria que o Ministério Público tivesse também alguém na apresentação. Tínhamos a competente assessora jurídica na 4ª Promotoria de Justiça, Taís Alves, apaixonada pela defesa dos interesses coletivos. Explicado o projeto, realizado o convite, ambos a c e i t a r a m , t o r n a n d o - s e n o s s o s apresentadores oficiais em 2017. Michella Rossi, diligente secretária auxiliar do Ministério Público, gentilmente, atuou em substituição a Taís Alves quando das férias desta em setembro.

Para as explanações do projeto Soluções Cidadãs se previu que entre a exposição dos professores e alunos e a fase de debates teríamos uma apresentação de artistas locais. Para a estreia do projeto, a professora de música se prontificou a levar o grupo Boa Nova de crianças do projeto social da Escola de Música Sacra Santa Cecília mantido pela empresa AlcaFoodsde Itumbiara. Em junho, estas mesmas crianças adoraram gravar a música do projeto no estúdio da Rádio Difusora de Itumbiara, gentilmente cedido pela senhora Cleusa Guimarães. Nos demais eventos apresentaram-se artistas locais: Coral Incantus do IFG, Wytalo inácio (Assessor jurídico do MPGO), Eduardo e Davi, adoráveis crianças cantoras, João Rocha e o Coral Ulbra.

Além dos certificados de participação, era preciso presentear os expositores, algo que lhes marcasse o evento. Daí surgiu a ideia da mascote do projeto. Com a ajuda do publicitário de Itumbiara, Jorge Abdalla,

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PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

identidade visual do projeto foi construída e escolhido o nome do projeto: Soluções Cidadãs. E um subtítulo: A Câmara Municipal e o Ministério Público ouvem a universidade e você. O cidadão que também participaria da construção das soluções estava lembrado.

PELAS PESSOAS DO BEM(Priscila Pacheco & R.Motta)

Parte I - Pop rock

Aqui vive meu amorAqui plantei o meu jardim

Meus amigos estão aliE meu filho sorri pra mim

Esta é a minha cidade e não quero me mudar

Mas não me iludoHá um monte de problemas

Violência, exploração Saúde e educação

Meu ambiente sofre tantoA riqueza é pra poucos

Sozinho não consigoMas se você está comigo

Vamos mudar essa história Com fé e capacidade Transformar a cidade

Com as pessoas do bem

Nossa cidade melhorEu e você cidadão

Nossa cidade melhorVirá com a nossa união

Parte II - Rap

Nosso futuro escritopelas pessoas do bem.

A enfermeira e o pedreiro,A médica e o engenheiro.

O juiz e a agricultora,Fazendeiro e a promotora.

O prefeito e o vereador,O advogado e o servidor.A técnica e a estudante.

Empresária e a ambulante.Policial e pianista.

Dona de casa, jornalista.Gari e ambientalista.

Trabalhador, capitalista.A professora e o artesão.Tenha atitude, cidadão!

Nossa mudança virá.Virá com a nossa União!

Eu preciso me mudar... pra não ter que me mudar.

O projeto precisava de uma música tema. Ela seria um fator a mais de convencimento dos diretores das unidades. Música sempre abre portas. Fiz a letra. Com minha insuportável i n s i s t ê n c i a p a r a a g r a n d e m u s i c i s t a itumbiarense, professora Priscila Caixeta, ela fez a melodia – adorei –, tudo dentro dos dez dias. A p r o f e s s o r a g r a v o u u m á u d i o c o m a interpretação da música por uma criança – sua aluna – e me enviou. Para a reunião-chave com os diretores das escolas tínhamos uma apresentação por escrito do projeto bem aos moldes da linguagem utilizada na academia, uma identidade visual e uma música.

A reunião ocorreu na sede das promotorias de Itumbiara. Vieram todas as universidades convidadas, o chamado diferenciado deve ter ajudado. Na ocasião estavam presentes: este promotor, representando o MPGO; Marcello Gomes, a Câmara Municipal; Jeferson André Samuelsson e Nara Rúbia Borges, o Instituto Luterano de Ensino Superior; Aline Barroso e Blyeny Hatalita Alves, o Instituto Federal de Goiás; Raphael Augusto Sousa, a Universidade

câmara municipal e ministério público ouvem a univerSIdade e você

#

DEFEsA DO consumidor

alimentação

tributos

sAÚDE política públicAprevidência sOCIAL

família

transporte

comunicação sOCIAL

de renda

culturalazer

meio ambientecriança

POLÍTICA fundiária

defesa

orçamentos e gastos públicos

pobrezadesnutrição

desporto

desenvolvimento

política urbana

moradia ciênciaservidor PÚBLICO

DIsTRIBUIÇÃO DE renda POLÍTICA AGRÍCOLA

idoso

JOVEM

TRABALHO

EDUCAÇÃO

segurança pública

distribuição política agrícola

violênciaassistência sOCIAL assistência jurídica regional

POLÍTICA AGRÍCOLA

DEFEsA DO consumidor

família

transporte

de renda

culturalazer

POLÍTICA fundiária

defesa

orçamentos e gastos públicos

desnutrição

desenvolvimento

ciência

idoso

JOVEM

EDUCAÇÃO

distribuição política agrícola

assistência jurídicaregional

desporto

meio ambienteDEFEsA DO consumidor

transporte

POLÍTICA fundiária

culturafamília

lazer

orçamentos e gastos públicos

ciênciafamíliasAÚDE

pobrezacomunicação sOCIAL

violência

do Estado de GoiásCabral, o Instituto de Ensino Superior Santa Rita de Cássia; e, Alfredo Araújo, a Universidade do Norte do Paraná polo Itumbiara. Após a exposição do projeto e perspectiva de viabilidade, um a um, cada participante manifestou sua opinião. Lembrei-me das expectativas nas apurações de concursos das escolas de samba do Rio de Janeiro. Tínhamos todas cinco universidades parceiras, um time. Isso merecia uma canção e assim foi tocada pela primeira fez a música- tema do projeto “Pelas pessoas do bem”. Agendou-se uma nova reunião com a presença apenas dos coordenadores da área de extensão das universidades parceiras.

Neste novo encontro, acolhemos várias ideias interessantes dos presentes para a melhoria do projeto, em especial, quanto à dinâmica que seria adotada pelas universidades, na Câmara Municipal, em suas exposições. A primeira agendada para o dia 18 de maio de 2017 e ficaria a cargo da Universidade Estadual de Goiás, as demais nos meses seguintes, exceto os meses de férias nas universidades.

Não foram necessárias mais reuniões. As tarefas estavam distribuídas, e as diretrizes para a exposição também. A Câmara Municipal se encarregara de ceder o plenário para a realização das exposições, com data show, designação dos servidores para auxílio na recepção dos convidados. A Câmara Municipal adquiriu banners e backstages com a identidade visual do projeto. Um atrativo a mais foi a divulgação das sessões ao vivo pelo You Tube, serviço existente seria estendido pela Câmara Municipal para o projeto Soluções Cidadãs.

; Marta Freire e Gerson

66 67

Gravação em estúdio do coral de crianças

PROJETO EM DESTAQUE

A condução da exposição seria realizada por apresentadores. A Câmara Municipal já conta em seus quadros com o experiente apresentador Heber Arantes, acostumado ao ofício. Melhor seria que o Ministério Público tivesse também alguém na apresentação. Tínhamos a competente assessora jurídica na 4ª Promotoria de Justiça, Taís Alves, apaixonada pela defesa dos interesses coletivos. Explicado o projeto, realizado o convite, ambos a c e i t a r a m , t o r n a n d o - s e n o s s o s apresentadores oficiais em 2017. Michella Rossi, diligente secretária auxiliar do Ministério Público, gentilmente, atuou em substituição a Taís Alves quando das férias desta em setembro.

Para as explanações do projeto Soluções Cidadãs se previu que entre a exposição dos professores e alunos e a fase de debates teríamos uma apresentação de artistas locais. Para a estreia do projeto, a professora de música se prontificou a levar o grupo Boa Nova de crianças do projeto social da Escola de Música Sacra Santa Cecília mantido pela empresa AlcaFoodsde Itumbiara. Em junho, estas mesmas crianças adoraram gravar a música do projeto no estúdio da Rádio Difusora de Itumbiara, gentilmente cedido pela senhora Cleusa Guimarães. Nos demais eventos apresentaram-se artistas locais: Coral Incantus do IFG, Wytalo inácio (Assessor jurídico do MPGO), Eduardo e Davi, adoráveis crianças cantoras, João Rocha e o Coral Ulbra.

Além dos certificados de participação, era preciso presentear os expositores, algo que lhes marcasse o evento. Daí surgiu a ideia da mascote do projeto. Com a ajuda do publicitário de Itumbiara, Jorge Abdalla,

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PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

68 69

Poluição rio Paranaíba

Kethlem Reis Sinval Almeida CecílioProf. Gerson Cabral de Freitas NetoProf. Roosevelt Gonçalves Moreira

17/05

Edição: Resíduos Sólidos - 17/05/2017

Edição: Poluição do rio Paranaíba - 22/11/2017

Mascote Cida Dã e aplicativo do projeto.

Edição: Lodo de esgoto nas ETEs - 21/06/2017

Edição especial - Palestra: Acertos e erros no crescimento das cidades - 16/08/2017

Edição: Logística das Escolas Municipais - 20/09/2017

PROJETO EM DESTAQUE

que materializou a ideia e criou com a ajuda de Francisca Lima, a “Cida Dã”. Então, estilista itumbiarense, Aline de Paula, incrementou a boneca com seu olhar de moda.

A estreia do projeto ocorreu em 17 de maio de 2017. Cada universidade, a Câmara e o Ministério Público fizeram os seus convites, uma semana antes. O tema-problema escolhido foi “resíduos sólidos” e ficou sob as responsabilidades dos professores e alunos da Universidade Estadual de Goiás. Muita expectativa, ensaio na véspera.

Conseguimos espontaneamente a atenção da imprensa local. Participamos de programas nas rádios Difusora, Mega e Paranaíba. A emissora de televisão local TV

Rio Paranaíba, afiliada da Globo, deu grande cobertura da estreia e atendeu ao nosso pedido: as alunas jovens expositoras do projeto foram entrevistadas. A imagem delas na TV reforçou a mensagem de que o jovem precisa se interessar pelos problemas da cidade e da política. Enfim, a primeira exposição foi muito próxima do ideal. Fomos quase pontuais, um dos objetivos do projeto. Vários promotores de Justiça, vereadores, universidades e a comunidade estiveram presentes. A participação do público foi intensa.

A assessoria de Comunicação do MPGO, com o apoio de seu coordenador Leandro Rodrigues, fez questão de fazer a cobertura in loco por meio das nossas jornalistas Cristina Rosa e Ana Cristina. A divulgação nas redes virtuais ficou a cargo da servidora Sarah Mohn. O Gabinete de Gestão Integrada do MPGO, com o apoio dos coordenadores José Augusto Falcão e Alice Freire, adotaram o projeto. O analista do GGI, Márcio Junqueira, também foi à estreia e fez um relatório de sugestões.

Sim, o projeto nascera e tinha tudo para prosseguir . Recebemos elogios e perguntas de órgãos e pessoas até de fora do Estado. Em 22 de novembro ocorreu nossa última exposição até aqui.

A cada exposição verificamos novas maneiras de melhorá-lo, todos os coordenadores têm auxiliado nessa tarefa. Os documentos-proposta de políticas públicas estão sendo encaminhados à Câmara e ao Ministério Público, mas ainda não chegamos ao modelo ideal. Inclusive começamos uma conversa para receber a

Ulbranas ETEs

Unopar

Unifasc

* Nesta data, excepcionalmente, não houve exposição de uma universidade. Mas a comunidade foi presenteada com uma palestra do professor doutor Maurício Nardini, promotor de Justiça em Goiânia: Acertos e erros no crescimento das cidades: o papel dos atores sociais para uma cidade sustentável.

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PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

68 69

Poluição rio Paranaíba

Kethlem Reis Sinval Almeida CecílioProf. Gerson Cabral de Freitas NetoProf. Roosevelt Gonçalves Moreira

17/05

Edição: Resíduos Sólidos - 17/05/2017

Edição: Poluição do rio Paranaíba - 22/11/2017

Mascote Cida Dã e aplicativo do projeto.

Edição: Lodo de esgoto nas ETEs - 21/06/2017

Edição especial - Palestra: Acertos e erros no crescimento das cidades - 16/08/2017

Edição: Logística das Escolas Municipais - 20/09/2017

PROJETO EM DESTAQUE

que materializou a ideia e criou com a ajuda de Francisca Lima, a “Cida Dã”. Então, estilista itumbiarense, Aline de Paula, incrementou a boneca com seu olhar de moda.

A estreia do projeto ocorreu em 17 de maio de 2017. Cada universidade, a Câmara e o Ministério Público fizeram os seus convites, uma semana antes. O tema-problema escolhido foi “resíduos sólidos” e ficou sob as responsabilidades dos professores e alunos da Universidade Estadual de Goiás. Muita expectativa, ensaio na véspera.

Conseguimos espontaneamente a atenção da imprensa local. Participamos de programas nas rádios Difusora, Mega e Paranaíba. A emissora de televisão local TV

Rio Paranaíba, afiliada da Globo, deu grande cobertura da estreia e atendeu ao nosso pedido: as alunas jovens expositoras do projeto foram entrevistadas. A imagem delas na TV reforçou a mensagem de que o jovem precisa se interessar pelos problemas da cidade e da política. Enfim, a primeira exposição foi muito próxima do ideal. Fomos quase pontuais, um dos objetivos do projeto. Vários promotores de Justiça, vereadores, universidades e a comunidade estiveram presentes. A participação do público foi intensa.

A assessoria de Comunicação do MPGO, com o apoio de seu coordenador Leandro Rodrigues, fez questão de fazer a cobertura in loco por meio das nossas jornalistas Cristina Rosa e Ana Cristina. A divulgação nas redes virtuais ficou a cargo da servidora Sarah Mohn. O Gabinete de Gestão Integrada do MPGO, com o apoio dos coordenadores José Augusto Falcão e Alice Freire, adotaram o projeto. O analista do GGI, Márcio Junqueira, também foi à estreia e fez um relatório de sugestões.

Sim, o projeto nascera e tinha tudo para prosseguir . Recebemos elogios e perguntas de órgãos e pessoas até de fora do Estado. Em 22 de novembro ocorreu nossa última exposição até aqui.

A cada exposição verificamos novas maneiras de melhorá-lo, todos os coordenadores têm auxiliado nessa tarefa. Os documentos-proposta de políticas públicas estão sendo encaminhados à Câmara e ao Ministério Público, mas ainda não chegamos ao modelo ideal. Inclusive começamos uma conversa para receber a

Ulbranas ETEs

Unopar

Unifasc

* Nesta data, excepcionalmente, não houve exposição de uma universidade. Mas a comunidade foi presenteada com uma palestra do professor doutor Maurício Nardini, promotor de Justiça em Goiânia: Acertos e erros no crescimento das cidades: o papel dos atores sociais para uma cidade sustentável.

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ACEMOGLU, Daron; ROBINSON, James A. Why nations fall. Danvers: Crown Business, 2012.ACKERMAN, Bruce. Nós, o povo soberano: fundamentos do direito constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.HAMEL, Gary. O futuro da administração. Rio de Janeiro: Campus, 2007.HURSON, Tim. Pense melhor: um guia pioneiro sobre o pensamento produtivo. São Paulo: DVS Editora, 2008.ROSENBERG, Tina. Bem-vindo ao clube: como o poder dos grupos pode transformar o mundo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.VALLÈS, Josep María. Ciencia política: una introducción. 8. ed. Barcelona: Ariel, 2010.

Roteiro dos eventos do Projeto Soluções Cidadãs: A Câmara de Vereadores e o Ministério Público ouvem a Universidade e você

PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

70 71

¹ A intervenção popular ocorrerá mediante ordem de pedido. O cidadão será informado que sua intervenção abordará um dos seguintes aspectos do problema: causas, consequências, soluções. Ele receberá uma placa indicativa sobre a abordagem que fará. (CAU., CONS., SOLUC.). O cidadão pode fazer uso da palavra se quiser. ² Sugestões até 15 dias após o evento por e-mail: Exemplo [email protected] ou, no futuro, pelo aplicativo de celular Soluções Cidadãs.

Artistas itumbiarenses que colaboraram no projeto.Edição: Transporte Públcio - 18/10/2017

PROJETO EM DESTAQUE

NOTAS E REFERÊNCIAS

atenção e o apoio do mestrado de políticas públicas da UFG, por meio do professor Saulo Coelho. Esperamos que com o olhar dos especialistas em Políticas Públicas nosso projeto melhore mais.

A partir do mês de julho de 2017, uma nova frente de trabalho foi aberta. Com o apoio do diretor do ILES/Ulbra, professor Jeferson Samuelssom, da coordenadora de extensão Nara Rúbia e dos professores do curso de informática Roger Luz, Hugo Andrade e Bruno Borges, estamos construindo um aplicativo de celular (android/Iphone) do projeto Soluções Cidadãs. Já em fase beta, o aplicativo é a cara do projeto. Nele o cidadão pode se cadastrar, conhecer os problemas debatidos, apresentar, apoiar sugestões, e inclusive ver as apresentações anteriores. A participação via app é mais um

instrumento para divulgação do projeto e participação virtual especialmente da juventude, e, mais que isso, aumentar a possibilidade de que o trabalho da universidade aumente o número de ideias de soluções-ações para os projetos a p r e s e n t a d o s . O a p l i c a t i v o s e r á gerenciado pela Superintendência de Informática do Ministério Público de Goiás, que tem dado todo apoio por meio de seu coordenador Leandro Mendonça e equipe.

Continuamos sonhando, inclusive, para replicar o projeto em outras cidades do estado em 2018. Como? Ousando e trabalhando em parcerias. Agradecendo a todas essas pessoas dedicadas referidas no texto e que nos têm permitido sonhar juntos por um Brasil melhor com a participação do jovem e de todas as pessoas do bem

EXTINÇÃO

TOMADA DEDECISÃO

4

7

PROJETOSOLUÇÕES CIDADÃS

FORMULAÇÃO DE ALTERNATIVAS

CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

3

FORMAÇÃO DO PROBLEMA2

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

1

IMPLEMENTAÇÃO

5

AVALIAÇÃO

6

(gravidade, urgência, tendência)

-

-

Ouvindo a Universidade (43 minutos)

: Ouvindo você (42 minutos)

Page 71: Revista Parquet em foco/Escola Superior do Ministério ......e professor de Ciências Penais com especialização em Criminologia no Instituto Nacional de Ciências Penais, bem como,

ACEMOGLU, Daron; ROBINSON, James A. Why nations fall. Danvers: Crown Business, 2012.ACKERMAN, Bruce. Nós, o povo soberano: fundamentos do direito constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.HAMEL, Gary. O futuro da administração. Rio de Janeiro: Campus, 2007.HURSON, Tim. Pense melhor: um guia pioneiro sobre o pensamento produtivo. São Paulo: DVS Editora, 2008.ROSENBERG, Tina. Bem-vindo ao clube: como o poder dos grupos pode transformar o mundo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.VALLÈS, Josep María. Ciencia política: una introducción. 8. ed. Barcelona: Ariel, 2010.

Roteiro dos eventos do Projeto Soluções Cidadãs: A Câmara de Vereadores e o Ministério Público ouvem a Universidade e você

PARQUET EM FOCO - VOL. 1 - N. 1

70 71

¹ A intervenção popular ocorrerá mediante ordem de pedido. O cidadão será informado que sua intervenção abordará um dos seguintes aspectos do problema: causas, consequências, soluções. Ele receberá uma placa indicativa sobre a abordagem que fará. (CAU., CONS., SOLUC.). O cidadão pode fazer uso da palavra se quiser. ² Sugestões até 15 dias após o evento por e-mail: Exemplo [email protected] ou, no futuro, pelo aplicativo de celular Soluções Cidadãs.

Artistas itumbiarenses que colaboraram no projeto.Edição: Transporte Públcio - 18/10/2017

PROJETO EM DESTAQUE

NOTAS E REFERÊNCIAS

atenção e o apoio do mestrado de políticas públicas da UFG, por meio do professor Saulo Coelho. Esperamos que com o olhar dos especialistas em Políticas Públicas nosso projeto melhore mais.

A partir do mês de julho de 2017, uma nova frente de trabalho foi aberta. Com o apoio do diretor do ILES/Ulbra, professor Jeferson Samuelssom, da coordenadora de extensão Nara Rúbia e dos professores do curso de informática Roger Luz, Hugo Andrade e Bruno Borges, estamos construindo um aplicativo de celular (android/Iphone) do projeto Soluções Cidadãs. Já em fase beta, o aplicativo é a cara do projeto. Nele o cidadão pode se cadastrar, conhecer os problemas debatidos, apresentar, apoiar sugestões, e inclusive ver as apresentações anteriores. A participação via app é mais um

instrumento para divulgação do projeto e participação virtual especialmente da juventude, e, mais que isso, aumentar a possibilidade de que o trabalho da universidade aumente o número de ideias de soluções-ações para os projetos a p r e s e n t a d o s . O a p l i c a t i v o s e r á gerenciado pela Superintendência de Informática do Ministério Público de Goiás, que tem dado todo apoio por meio de seu coordenador Leandro Mendonça e equipe.

Continuamos sonhando, inclusive, para replicar o projeto em outras cidades do estado em 2018. Como? Ousando e trabalhando em parcerias. Agradecendo a todas essas pessoas dedicadas referidas no texto e que nos têm permitido sonhar juntos por um Brasil melhor com a participação do jovem e de todas as pessoas do bem

EXTINÇÃO

TOMADA DEDECISÃO

4

7

PROJETOSOLUÇÕES CIDADÃS

FORMULAÇÃO DE ALTERNATIVAS

CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

3

FORMAÇÃO DO PROBLEMA2

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

1

IMPLEMENTAÇÃO

5

AVALIAÇÃO

6

(gravidade, urgência, tendência)

-

-

Ouvindo a Universidade (43 minutos)

: Ouvindo você (42 minutos)

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28 de AGOSTO

AULA INAUGURAL (CURSO DE FORMAÇÃO PARA MEMBROS

O VALOR DA ATUAÇÃO DO MEMBRO DOMINISTÉRIO PÚBLICO

INGRESSANTES NO MPGO - 59º CONCURSO - 1ª TURMA)

7372

CURSOS E EVENTOSESCOLA SUPERIOR DO MPGO - MAR/NOV 2017

14 de MARÇO

CURSO ASPECTOS ESSENCIAIS DA LEI 12.850/13

28 de ABRIL

JORNADA (OFICINA II)

30 e 31 de MARÇO

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO UTILIZAÇÃO DO PROTOCOLO NICHD EM ENTREVISTAS INVESTIGATIVAS DE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

12 de MAIO

PALESTRAREFORMA PREVIDENCIÁRIA

FÓRUM COMBATE À EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E OS PLÚRIMOS EFEITOS

CURSOS E EVENTOSESCOLA SUPERIOR DO MPGO - MAR/DEZ 2017

26 de MAIO

CURSO (MÓDULO I)

ATUAÇÃO PRÁTICA DO PROMOTOR

18 de MAIO 5 de JUNHOCURSO

DE JUSTIÇA CRIMINAL

ABORDAGENS:

teorica

praticae

29 e 30 de MAIO

SEMINÁRIORESPONSABILIZAÇÃO DO(A) AUTOR(A) DE DE VIOLÊNCIAS SEXUAIS: AÇÃO IMPRESCINDÍVEL NA ATENÇÃO INTEGRAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

2 de JUNHO

MINICURSODIREITO À SAÚDE:DIMENSÕES INDIVIDUAIS E COLETIVA

20 de JUNHOSEMINÁRIO

23 de JUNHO

CURSOPREVENÇÃO E COMBATE À IMPROBIDADEADMINISTRATIVA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

QUEBRANDO O SILÊNCIO:VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA

5 de MAIO

CURSO TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

ABORDAGENS:

teorica

praticae

4 de AGOSTO

CURSO ATUAÇÃO DO PROMOTOR DE JUSTIÇANO JÚRI: A PROVA INDICIÁRIA NO CRIME DE HOMICÍDIO

11 de AGOSTO

SEMINÁRIOFUNDAMENTOS PARA PREVENÇÃO EENFRENTAMENTO À CORRUPÇÃO NO BRASIL

11 de AGOSTOCURSOMINISTÉRIO PÚBLICO NO VELAMENTODAS FUNDAÇÕES PROVADAS

21 de AGOSTOMINICURSOCADASTRO AMBIENTAL RURAL (CAR):TEORIA E PRÁTICA

EVENTOS PRESENCIAIS

MEDIAÇÃO E NEGOCIAÇÃO NO MINISTÉRIO PÚBLICO

19 de MAIO

JORNADA (OFICINA III)

MEDIAÇÃO E NEGOCIAÇÃO NO MINISTÉRIO PÚBLICO

ABORDAGENS:

teorica

praticae

NO SISTEMA JURÍDICO

ABORDAGENS:

teorica

praticae

ABORDAGENS:

teorica

praticae

NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

25 de AGOSTO

CURSO1º ANO DE VIGÊNCIA DO

1º de SETEMBRO

SEMINÁRIOATUAÇÃO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA DA EDUCAÇÃO

ABORDAGENS:

teorica

praticae

EVENTOS PRESENCIAIS

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28 de AGOSTO

AULA INAUGURAL (CURSO DE FORMAÇÃO PARA MEMBROS

O VALOR DA ATUAÇÃO DO MEMBRO DOMINISTÉRIO PÚBLICO

INGRESSANTES NO MPGO - 59º CONCURSO - 1ª TURMA)

7372

CURSOS E EVENTOSESCOLA SUPERIOR DO MPGO - MAR/NOV 2017

14 de MARÇO

CURSO ASPECTOS ESSENCIAIS DA LEI 12.850/13

28 de ABRIL

JORNADA (OFICINA II)

30 e 31 de MARÇO

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO UTILIZAÇÃO DO PROTOCOLO NICHD EM ENTREVISTAS INVESTIGATIVAS DE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

12 de MAIO

PALESTRAREFORMA PREVIDENCIÁRIA

FÓRUM COMBATE À EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E OS PLÚRIMOS EFEITOS

CURSOS E EVENTOSESCOLA SUPERIOR DO MPGO - MAR/DEZ 2017

26 de MAIO

CURSO (MÓDULO I)

ATUAÇÃO PRÁTICA DO PROMOTOR

18 de MAIO 5 de JUNHOCURSO

DE JUSTIÇA CRIMINAL

ABORDAGENS:

teorica

praticae

29 e 30 de MAIO

SEMINÁRIORESPONSABILIZAÇÃO DO(A) AUTOR(A) DE DE VIOLÊNCIAS SEXUAIS: AÇÃO IMPRESCINDÍVEL NA ATENÇÃO INTEGRAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

2 de JUNHO

MINICURSODIREITO À SAÚDE:DIMENSÕES INDIVIDUAIS E COLETIVA

20 de JUNHOSEMINÁRIO

23 de JUNHO

CURSOPREVENÇÃO E COMBATE À IMPROBIDADEADMINISTRATIVA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

QUEBRANDO O SILÊNCIO:VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA

5 de MAIO

CURSO TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

ABORDAGENS:

teorica

praticae

4 de AGOSTO

CURSO ATUAÇÃO DO PROMOTOR DE JUSTIÇANO JÚRI: A PROVA INDICIÁRIA NO CRIME DE HOMICÍDIO

11 de AGOSTO

SEMINÁRIOFUNDAMENTOS PARA PREVENÇÃO EENFRENTAMENTO À CORRUPÇÃO NO BRASIL

11 de AGOSTOCURSOMINISTÉRIO PÚBLICO NO VELAMENTODAS FUNDAÇÕES PROVADAS

21 de AGOSTOMINICURSOCADASTRO AMBIENTAL RURAL (CAR):TEORIA E PRÁTICA

EVENTOS PRESENCIAIS

MEDIAÇÃO E NEGOCIAÇÃO NO MINISTÉRIO PÚBLICO

19 de MAIO

JORNADA (OFICINA III)

MEDIAÇÃO E NEGOCIAÇÃO NO MINISTÉRIO PÚBLICO

ABORDAGENS:

teorica

praticae

NO SISTEMA JURÍDICO

ABORDAGENS:

teorica

praticae

ABORDAGENS:

teorica

praticae

NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

25 de AGOSTO

CURSO1º ANO DE VIGÊNCIA DO

1º de SETEMBRO

SEMINÁRIOATUAÇÃO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA DA EDUCAÇÃO

ABORDAGENS:

teorica

praticae

EVENTOS PRESENCIAIS

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CURSOS E EVENTOSESCOLA SUPERIOR DO MPGO - MAR/DEZ 2017

CURSOS E EVENTOSESCOLA SUPERIOR DO MPGO - MAR/DEZ 2017

5 de OUTUBROII SEMINÁRIOBOAS PRÁTICAS NO CUIDADO COM A PESSOA IDOSA: CIDADE AMIGA DO IDOSO

EXECUÇÃO PENAL

29 de SETEMBRO

CURSOARGUMENTAÇÃO JURÍDICA

6 de NOVEMBROMINICURSOEMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS

25 ANOS DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

15 de SETEMBROSEMINÁRIO

25 de SETEMBRO

MINICURSOPARCELAMENTO DO SOLO URBANO

6 de OUTUBRO

MINICURSOSISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL E

31 de OUTUBROTALK SHOWPOLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS:CONCEPÇÕES E CONTRADIÇÕES

17 de NOVEMBROMINICURSO AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

17 de NOVEMBRO

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO (MÓDULO I)

MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO

20 de NOVEMBRO

SEMINÁRIOATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO SISTEMA DOESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

E TUTELA DO MEIO AMBIENTE

17 e 18 de NOVEMBRO

CURSO BÁSICOARMAMENTO E TIRO

24 e 25 de NOVEMBROCURSOSOBREVIVÊNCIA URBANA

EVENTOS PRESENCIAIS EVENTOS EAD

ABORDAGENS:

teorica

praticae

ABORDAGENS:

teorica

praticae

ABORDAGENS:

teorica

praticae

ABORDAGENS:

teorica

praticae

SEMINÁRIO

16 de NOVEMBROSEMINÁRIOCONSCIÊNCIA NEGRAUMA CONSTRUÇÃO COLETIVA

EVENTOS PRESENCIAIS

MARÇO, ABRIL, MAIO E AGOSTO

MAIO

AGOSTO

SETEMBRO

SETEMBRO

24 de NOVEMBROCURSO (MÓDULO II)

APERFEIÇOAMENTO PARA MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO

17 de NOVEMBROCURSO (MÓDULO I)

APERFEIÇOAMENTO PARA MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO

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CURSOS E EVENTOSESCOLA SUPERIOR DO MPGO - MAR/DEZ 2017

CURSOS E EVENTOSESCOLA SUPERIOR DO MPGO - MAR/DEZ 2017

5 de OUTUBROII SEMINÁRIOBOAS PRÁTICAS NO CUIDADO COM A PESSOA IDOSA: CIDADE AMIGA DO IDOSO

EXECUÇÃO PENAL

29 de SETEMBRO

CURSOARGUMENTAÇÃO JURÍDICA

6 de NOVEMBROMINICURSOEMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS

25 ANOS DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

15 de SETEMBROSEMINÁRIO

25 de SETEMBRO

MINICURSOPARCELAMENTO DO SOLO URBANO

6 de OUTUBRO

MINICURSOSISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL E

31 de OUTUBROTALK SHOWPOLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS:CONCEPÇÕES E CONTRADIÇÕES

17 de NOVEMBROMINICURSO AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

17 de NOVEMBRO

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO (MÓDULO I)

MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO

20 de NOVEMBRO

SEMINÁRIOATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO SISTEMA DOESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

E TUTELA DO MEIO AMBIENTE

17 e 18 de NOVEMBRO

CURSO BÁSICOARMAMENTO E TIRO

24 e 25 de NOVEMBROCURSOSOBREVIVÊNCIA URBANA

EVENTOS PRESENCIAIS EVENTOS EAD

ABORDAGENS:

teorica

praticae

ABORDAGENS:

teorica

praticae

ABORDAGENS:

teorica

praticae

ABORDAGENS:

teorica

praticae

SEMINÁRIO

16 de NOVEMBROSEMINÁRIOCONSCIÊNCIA NEGRAUMA CONSTRUÇÃO COLETIVA

EVENTOS PRESENCIAIS

MARÇO, ABRIL, MAIO E AGOSTO

MAIO

AGOSTO

SETEMBRO

SETEMBRO

24 de NOVEMBROCURSO (MÓDULO II)

APERFEIÇOAMENTO PARA MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO

17 de NOVEMBROCURSO (MÓDULO I)

APERFEIÇOAMENTO PARA MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO

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CURSOS E EVENTOSESCOLA SUPERIOR DO MPGO - MAR/DEZ 2017

ESPECIALIZAÇÃO (MÓDULO I) DIREITO PROCESSUAL CIVIL E MINISTÉRIO PÚBLICO

31 de MARÇO (MÓDULO II)

ATO PROCESSUAL E TUTELA PROVISÓRIA NO NOVO CPC

ESPECIALIZAÇÃO O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL EM PERSPECTIVA E AS TUTELAS COLETIVAS COMO INSTRUMENTOS DE DEFESA DA CIDADANIA

28 de ABRIL (MÓDULO III)

TEMAS DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

19 de MAIO (MÓDULO IV)

PROCESSO DE CONHECIMENTO: PROCEDIMENTO COMUM

9 de JUNHO (MÓDULO V)

TEORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS PROCESSUAIS

7 de JULHO (MÓDULO VI)

O NOVO CPC E OS RECURSOS

18 de AGOSTO (MÓDULO VII)

DECISÃO, COISA JULGADA E PRECEDENTE

15 de SETEMBRO (MÓDULO VIII)

METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA

20 de OUTUBRO (MÓDULO IX)

TEMAS DE PROCESSO COLETIVO

10 de NOVEMBRO (MÓDULO X)

EXECUÇÃO CIVIL FORÇADA E RESISTÊNCIA DO DEVEDOR NO NOVO CPC

E PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

E PROCESSO CONSTITUCIONAL

4 e 5 de AGOSTO (MÓDULO I)

SOCIOLOGIA JURÍDICA

25 e 26 de AGOSTO (MÓDULO II)

SOCIOLOGIA JURÍDICA

6 e 7 de OUTUBRO (MÓDULO III)

FILOSOFIA DO DIREITO

20 e 21 de OUTUBRO (MÓDULO IV)

FILOSOFIA DO DIREITO

24 e 25 de NOVEMBRO (MÓDULO V)

O NOVO CPC E SEUS REFLEXOS NA ATUAÇÃO DO MP

9 de JUNHO (TURMA I)

CURSOELABORAÇÃO DE ESTUDO DE PESQUISA

10 de NOVEMBRO (TURMA II)

EVENTOS DE PÓS-GRADUAÇÃO