revista opinias nº 04 - setembro 2014

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Opinias UMA REVISTA DE IDEIAS, PENSAMENTOS E PONTOS DE VISTA CULPADO OU INOCENTE? RIMBAUT Um olhar fotográfico JAPÃO A delicadeza de um povo GRAMSCISMO A revolução silenciosa Ano I - nº. 4 Setembro - 2014 O PODER DO JÚRI PARA FAZER JUSTIÇA EM NOME DA SOCIEDADE

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Page 1: Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014

OpiniasUMA REVISTA DE IDEIAS, PENSAMENTOS E PONTOS DE VISTA

CULPADOOU

INOCENTE?

RIMBAUTUm olharfotográfico

JAPÃOA delicadezade um povo

GRAMSCISMOA revoluçãosilenciosa

Ano I - nº. 4Setembro - 2014

O PODER DO JÚRIPARA FAZER JUSTIÇAEM NOME DA SOCIEDADE

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Opinias - Setembro 2014

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Editorial Sumário

Expediente

Qual o legado que pretendemos deixar para nossosdescendentes a fim de que possamos cumprir a missão detornar melhor a sua vida? Temos realmente essa missão ouisso é um problema das gerações que irão nos suceder?Como, então, pretendemos deixar as marcas de nossapassagem por este mundo? Que temos feito para o bem oupara o mal da perpetuação da humanidade? Qual nossocompromisso, afinal, para com um universo tão vasto ecomplexo, para que nossa passagem por ele tenha valido apena?

Claro que não temos as respostas para tudo isso.Cada um a seu modo imagina estar cumprindo o seu papel.Esse questionamento, no entanto, é vital para queencontremos algum sentido em nossas atitudes eposicionamentos. Nosso grande trunfo, talvez, seja apenaso de termos sido dotados do “ânimo vital”. Temos um poderinimaginável de discernir, discutir e agir, de analisar refletir econjecturar, avaliar, decidir e, enfim, interferir nos destinosde nosso universo. Nossa missão é repleta de paradoxos,dúvidas e medos. Mas é bem por tudo isso que a vida éessa aventura tão maravilhosa.

Novamente OPINIAS convida a todos os seusleitores a algumas reflexões e a uma análise sobre algunspontos de vista de pessoas que pretendem deixar algumaherança possível a seus semelhantes. Por bem ou por mal, ahumanidade caminha. Em meio a guerras, injustiças, doençase todo tipo de surpresas. E ainda assim sobrevivendo e semultiplicando, conforme os desígnios de um GrandeArquiteto, no qual muitos nem acreditam. Mas, ainda assim,somos todos bem semelhantes entre nós e compartilhamoso mesmo habitat, seja lá quem o tenha criado. E quantadiversidade há nisso, não é? Desafios não nos faltam e umdeles é tentar fazer o melhor bem possível à humanidade,pelo aperfeiçoamento de nós mesmos!

OPINIAS - ANO I - nº. 4 - Setembro 2014 - Publicação virtual mensal da Rumo Editorial Produções e Edições Ltda. * Diretores: MarcosGimenes Salun, Luciana Gomes Gimenes e Naira Gomes Gimenes * Editor e Jornalista Responsável:: Marcos Gimenes Salun (MTb20.405-SP) * Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-SP). *Redação e Correspondência: Av. Prof. Sylla Mattos, 652 - conj.12 -Jardim Santa Cruz - São Paulo - SP - CEP 04182-010 E-mail: [email protected] - Tels.: (11) 2331-1351 Celular (11) 99182-4815.BLOG: http://opinias2014.blogspot.com.br/ * Colaboradores desta edição: Carlos Augusto Ferreira Galvão (SP), Adalto Luiz Lupi Barreiros(SP), Eliana Veridiano dos Santos (SP), Luciana Gomes Gimenes (SP), Marcos Seyde (Toyota - Japão), Marlusse Pestana Daher (ES), CarlosEduardo de Oliveira (SP), Paulo Camelo (PE), Luciana Brandão Carreira (PA), Delasnieve Daspet (MS) e Eliana Mora (MG). Matérias assinadassão de responsabilidade de seus autores a quem pertencem todos os direitos autorais. PERMITIDA a reprodução dos artigos desde que citadaa fonte e mencionada a autoria.

MARCOS GIMENES SALUNJornalistaSão Paulo - [email protected]

Herança possível

Participe!Envie seu artigo ou comentários eembarque nesta aventura:[email protected]

10O fotógrafo Marcos Seyde registroumomentos de rara beleza do Japão.

Japão

23EnvelhecerDelasnieve Daspet narra sua própriaexperiência com o envelhecimento numacrônica irreverente e bem humorada.

20 RimbaudLuciana Brandão Carreira faz umestudo sobre este poeta francêsque, ainda jovem, escreveu boaparte de sua obra.

18O falar do povoNo dicionário de Paulo Camelo, tudo oque o povo pernambucano tem depeculiar no seu linguajar do dia a dia.

16Carlos Eduardo de Oliveira tratanesta edição do correto uso dosdecantadores de vinhos

Decanters

12O poder do júriA promotora Marlusse Pestana Daherfala sobre a atuação do júri popularcomo instrumento de justiça.

03 DrogasA análise de Carlos Galvão paraum problema cada dia maispreocupante na sociedade.

04GramscismoAdalto Barreiros descreve e detalha a teoriae o projeto de dominação concebido pelofilósofo italiano Antonio Gramsci.

24 Rito de PassagemA delicada poesia de Eliana Mora vai dapalavra ao silêncio, fechando estaedição com suavidade.

08 YogaElianaVeridiano

09 InternetLuciana GomesGimenes

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PorCARLOS AUGUSTO GALVÃOPsiquiatraSão Paulo - [email protected]

Inicialmente se faz necessário retirar este rótulo dajuventude: há muito que as drogas ilícitas estãodisseminadas por todos os extratos sociais, todas asfaixas etárias, enfim espalha-se por toda ahumanidade. Então é profundamente injusto ver o usode entorpecentes como atividade própria dos jovens.

Em meu consultório, não é raro aparecerem pessoascom mais de 50 anos, em busca de apoio psiquiátricopara livrar-se de dependências químicas, pessoas que,porém, conseguem trabalhar, manter um nível socialadequado, mas que devido à dependência, assustam-se com o futuro e com a possibilidade de “perderem ocontrole”. Todos comungam com o medo do quepode acontecer caso não haja êxito terapêutico.

Morrem de medo do escândalo social caso sejamdescobertos, das implicações jurídico/criminais (quepode arruinar uma reputação), da fragilidade a que seexpõem na hora de comprar estas substâncias, dasbalas dos traficantes... Tenho observado, sim, que oindivíduo, na grande maioria dos casos, chega àmaturidade trazendo um vício adquirido na juventude.

Podemos dizer, no entanto, que os adolescentes sãoos mais expostos à incidência dessas afecções, poruma série de fatores oriundos das própriascaracterísticas da juventude (curiosidade, instabilidadeemocional, imaturidade, aventureirismo etc...) ; entãotodas as formas de combate à drogadição devem ter

como alvo prioritário o público jovem devido àvulnerabilidade desta faixa etária, e aí entra a famíliacomo importante ator tanto na profilaxia quanto naterapêutica deste flagelo da humanidade.

Também é comum receber, em meu consultório, paisalarmados com filhos que mudam bruscamente decomportamento, declinam no rendimento escolar,tornam-se agressivos e irritadiços... Imaginam logoque o rapaz (ou a moça) estão envolvidos comentorpecentes.

Há famílias com dificuldades imensas de comunicaçãoentre as gerações, o que dificulta muito a observação eidentificação de problemas nos mais novos, e aí podeestar o “caldo de cultura” favorito para o surgimentoda afecção.

Manterdiálogo comos filhos,procurarentenderseus gostose desgostos,suas aflições(muitasvezesinsignificantesquando observadas de fora), suas atividades ecomportamentos tanto escolares quanto fora daescola, e, sobretudo, seus amigos e sua “turminha” émuito importante para manter a saúde social de umafamília de uma maneira geral, e detectar o surgimentode problemas com os jovens, inclusive drogadição.

Há, porém, que se manter o bom senso de não agrediro filho com observação muito ostensiva, que podesimplesmente fazer efeito contrário (o jovem passa ase esconder) e quebrar o diálogo.

Não dá para erradicar esta doença do planeta sem oengajamento profundo das famílias, em interação comas autoridades sanitárias.

DrDrDrDrDrooooogggggasasasasas

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PorADALTO LUIZ LUPI BARREIROSMilitar da Reserva doExército BrasileiroSão Paulo - [email protected]

Sobre a revoluçãoGRAMSCISTGRAMSCISTGRAMSCISTGRAMSCISTGRAMSCISTAAAAAno Ocidente

Trata-se de história de como, a partir do ManifestoMarxista de Marx e Engels, começou a opor-se ao capitalismouma teoria que preconizava o fim do capitalismo e a exploraçãodos trabalhadores pelo capital. O cenário era favorável (devidoàs condições dos trabalhadores na Europa) a uma ideia queestava fundamentada em dois princípios: o determinismo

histórico – que apregoava o fim inevitável do capitalismo e amais-valia que preconizava que a força do trabalho era o fatormais importante na produção e, portanto, deveria ter aprevalência sobre ela, devendo toda propriedade pertencer aotrabalhador (ou seja, a um Estado que representasse a classetrabalhadora). Estes princípios implicavam na extinção dapropriedade privada e na coletivização de tudo, não só dosfatores da produção, mas da produção em si. Tudo passaria apertencer ao Estado. Não vou detalhar a história. É precisoconhecer a revolução russa que implantou o comunismo e crioua União Soviética e depois se estendeu para o Leste europeu epara a Ásia com a revolução maoísta na China e na Indochina,até sua derrocada no final do século passado, com a queda doMuro de Berlim. Essa história perpassa a história da 2.ª GuerraMundial e as suas causas e consequências.

O importante é que estas revoluções comunistas seguiamo princípio da “tomada do poder pela força, com uma insurreiçãoarmada da classe trabalhadora contra a classe dita dominante –Revolução do Proletariado”. Isto era feito seguindo orientaçõesdas Internacionais que disseminavam as ideias marxistas, dandoà Revolução do Proletariado seu caráter internacionalista. Apalavra de ordem era: Trabalhadores do mundo uni-vos! Nomeu testemunho à História Oral do Exército, conto como ocorreuesse internacionalismo no Brasil.

Antonio Gramsci foi um filósofo, político, cientistapolítico, comunista e antifascista italiano. Nasceu em 22 dejaneiro de 1891 e morreu em 27 de abril de 1937. Em 8 de novembrode 1926, a polícia fascista prendeu Gramsci e, apesar de suaimunidade parlamentar, levaram-no à prisão. Recebeu umasentença de cinco anos de confinamento e, no ano seguinte,uma sentença de 20 anos de prisão em Turi, perto de Bari. Umprojeto para trocar prisioneiros políticos entre a Itália e a UniãoSoviética falhou em 1932. Dois anos depois de ser libertado porMussolini, ele morreu sem ver a sua teoria comunista para aEuropa dominar as Internacionais. Depois do colapso da UniãoSoviética é que suas ideias foram ressuscitadas e dos “Cadernosdo Cárcere” cuja teorização fora expandida nos meiosintelectuais por marxistas tradicionais e notórios pelo mundoafora, é que os comunistas passaram a adotar a nova metodologia

de conquista do poder.

ANTECEDENTES IMEDIATOSEm 1922, devido à corrupção política e às eleições

fraudadas, bem como a situação do país, os chamados“tenentes” que já haviam se revoltado contra o governo com omovimento dos “18 do Forte Copacabana”, acabaram porprovocar nova revolta que visava pôr fim à corrupção políticae aos costumes fraudulentos nos governos do país. Essarevolta acabou por desembocar na Revolução de 24 em SãoPaulo e na Coluna Prestes que durou cerca de 4 anos e percorreu26.000 km pelo país, lutando contra as Forças Legais doGoverno. É desse movimento dos Tenentes que surgiu LuizCarlos Prestes - um Capitão do EB que se converteu aocomunismo e acabou sendo o principal líder comunistabrasileiro. Cumprindo a orientação da III Internacional efinanciado por ela, ele acabou chefiando e gerando a RevoluçãoComunista de 35, um triste episódio de traição e assassinatosnos quartéis, visando a tomada do governo pelos comunistassob a inspiração dos princípios da Revolução do Proletariado.É história que conheço bem, mas que precisa ser pesquisadapara entender como foi e o que causou, bem como suasconsequências. A Revolução de 35 ocorreu na ditadura Vargasque fora implantada com a Revolução de 30, apoiada pelosTenentes e acabou prolongando a ditadura Vargas que durouaté 45, quando as Forças Armadas, voltando da Itália, depuseramGetúlio e deram eleições livres no Brasil. Os “tenentes” de

Antonio Gramscis

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22/24 deram origem aos líderes militares que derrotaram oscomunistas em 35 e que, também, deram fim ao chamado EstadoNovo sob a ditadura Vargas que havia se consolidado com aCarta Constitucional outorgada por ele - a chamada Carta doEstado Novo de 1937. Essa Constituição foi o resultado dogolpe comunista de 35, bem como a prorrogação do EstadoNovo até o fim da guerra.

Em 64, o que houve foi nova tentativa dos comunistastomarem o poder e houve a contrarrevolução de 64, impedindode novo esse assalto ao poder que contava com a conivênciado próprio Vice-Presidente que acabara na função presidencialcom a renúncia do Presidente Jânio Quadros (outro que queriaimplantar uma ditadura). Jango Goulart era um herdeiro políticode Getúlio que se comprometera com as tais reformas de basedefendida pelos comunistas e com eles mesmos que o apoiavam.Eles diziam que já estavam no poder e só faltava tomá-lo. Éhistória sobre a qual é preciso conhecer. Não vou detalhar. Éassunto para se estudar história, com isenção e livre depropaganda ideológica que voltou a todo vapor hoje nogramscismo.

ENFOQUE DIFERENCIALAqui trataremos do diferencial como o Ocidente interpreta

a estrutura da sociedade (ou nação), os preceitos da democraciarepresentativa e como é tratada e operada pela metodologiagramscista. Este diferencial é básico para se entender o processo.Além disso, permite que se identifique nos fatos da conjunturanacional cada um desses mecanismos que são aplicados.

O espaço nacional de uma nação na democracia é vistocomo um agrupamento de cidadãos numa área territorialorganizada pelo Estado nacional, com uma língua, um destino einteresse comuns, identificados pela sua herança histórica. Jáno gramscismo é apenas um espaço não estatal onde se disputaa hegemonia sobre os grupos privados onde a identidadecoletiva deve ser fragmentada para se controlar os diversosaparelhos privados desses grupos. É um lugar de luta pelahegemonia sobre as classes ditas subalternas e a partir destecontrole projetar essa hegemonia sobre o Estado. A sociedadeé um “ringue” de lutas de classes e não o lugar de exercício dasoberania popular que é garantida pelos direitos e obrigaçõesindividuais que os tornariam iguais perante as leis. Nademocracia a sociedade dita nacional é o lugar onde se busca aredução das desigualdades, a liberdade (em seu sentidofilosófico), a dignidade humana, e onde a individualidade decada um é imaculada. No gramscismo é a arena de luta pelahegemonia onde se dá a primeira etapa do processo.

Na sociedade civil gramscista, desenvolvem-se osaparelhos privados de hegemonia política e cultural. É ondenasce a direção política dos intelectuais orgânicos que são oscondutores do processo e onde se cria as bases para ahegemonia e para a gestão popular do poder – uma utopia, poissempre uma classe privilegiada vai ser selecionada para dirigir– a nomenklatura!

Ela existiu em todos os países onde há o regimecomunista. Basta olhar para dois exemplos atuais. China e Cuba.Só o membro do partido hegemônico tem prerrogativa plena decidadania. É fundamental entender essas diferenças de comouma sociedade na democracia (a nacional) e no gramscismo (acivil) é interpretada. Esse é o princípio básico para se entendero que é o processo! Uma das razões de se ouvir hoje falar muitoem sociedade civil decorre deste fundamento. Pode-se facilmente

identificar em fatos cotidianos essas diferenças de enfoqueentre mecanismo de democracia e de gramscismo. Por exemplo:responder por que há tanto conflito social no Brasil em tornode centenas de temas e grupos sociais! Seria porque asociedade é uma “arena” de lutas de classes e não um espaçode busca de consenso e paz social?

FATORES DETERMINANTESSão cinco os fatores determinantes do processo:1) Organizar um centro de irradiação (o partido das

classes subalternas) capaz de disputar a hegemonia com asclasses dominantes e dentro dela com a classe dirigente. Isto éfeito a partir de diretrizes dos núcleos de “intelectuaisorgânicos” que são encarregados das “impregnações” culturaisque visam basicamente o que se conhece por “controlehegemônico das classes subalternas”.

2) Mudar o consenso social, pela preparação ideológicadas classes subalternas, criando as condições para disputar ahegemonia pelas classes subalternas e neutralizar o poder decoerção do Estado. Isto é feito pela infiltração de executoresdas diretrizes dos “intelectuais orgânicos” em todos osorganismos da nação, em particular nas escolas, na mídia, naschamadas “comunidades” etc.

3) Usar a estrutura (a economia) e a superestrutura (oestado) para criar o que se chama de Estado Ampliado, deforma que possa haver a CATARSE. No momento em que opoder estiver sob controle da sociedade civil “modificada” eda sociedade política devidamente aparelhada, será realizada atomada do poder e mudança da estrutura vigente e dos valores,criando a sociedade coletiva. Assim, se usa os instrumentosdo capitalismo vigente para se aparelhar o estado (asuperestrutura) e para criar associações entre essasuperestrutura e os entes econômicos, de forma que sejampreservados os princípios capitalistas, até que possa ocorrer a“catarse”. Isto é feito por etapas.

4) Usar as instituições nacionais e os parâmetros docapitalismo, para mudar o sistema político e o regimedemocrático a partir de suas próprias entranhas. Este é o fatordirecional básico e fundamental. Fala-se permanentemente emdemocracia e ampliação de benefícios à sociedade subalternaaté que ela seja instrumento controlado do partido hegemônicoque é responsável pela condução política do processo.

5) Assumir o controle do Estado. Aparelhar esse Estadocom os intelectuais orgânicos e com os militantes do partidohegemônico das classes subalternas. Isto garante não só acondução do processo, como minimiza o uso da força. Oaparelhamento do Estado implica em infiltrar os executores do

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GELADA

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processo em todas as instituições do Estado e nele implantaros mecanismos e instrumentos que garantam o controle dasuperestrutura (o Estado).

Todos esses fatores estão baseados na definição daHEGEMONIA. Veja cuidadosamente o conceito de hegemoniaque envolve duas “sociedades” – a civil e a política. Asociedade civil é a classe subalterna. É a arena da luta. Asociedade política que será posteriormente alvo do controlena etapa seguinte é a “superestrutura” do Estado. A primeira– a civil – é objeto dos aparelhos privados de controle e asegunda – a política – é objeto do partido hegemônico. Adireção política diz respeito à superestrutura e a direçãocultural, numa primeira etapa, aos aparelhos privados e numasegunda etapa passará a receber direção da própria“superestrutura”. Veja o caso, por exemplo, do MEC passar adistribuir cartilhas de homossexualismo nas escolas de1.º Grau, a título de combate à homofobia!

A hegemonia é obtida por vários meios. A quebra daherança histórica é uma alavanca mestra. Quinhentos anosde história são “o lixo” a ser oxigenado. A fomentação dedissensos sociais entre minorias étnicas, de opção sexual,segmentos religiosos, de costumes etc., bem como dedesconstrução de mitos históricos para substituí-los pormitos ideológicos. Entre outros meios está, também, afomentação de debates sobre “falhas” das instituições doestado e ataques permanentes àquelas que são, por herançahistórica ou por fundamento democrático, mais adversas aoprocesso de poder.

A concepção de liberdade está restrita à “libertação”das classes subalternas depois de ocorrer o controlehegemônico. Enquanto essa libertação não ocorre não existeliberdade. Diferente do conceito na democracia, a liberdadesó é inerente a ela quando as classes subalternas e seu partidohegemônico tiverem conquistado a sociedade civil e a política(ou seja, a hegemonia sobre a sociedade civil e asuperestrutura, o estado). Tanto nessa concepção de liberdadecomo de democracia o partido é o centro diretivo doprocesso e instrumento ativo do processo. Ele é aexpressão da sociedade civil libertada do conceitode liberdade e democracia, tal como essesconceitos são vistos nas democracias ocidentais.

CATARSEAcima dei o exemplo do MEC passar a distribuir

cartilhas de homossexualismo nas escolas de 1.º Grau, a títulode combate à homofobia, para ilustrar como, após oaparelhamento do Estado, ele mesmo passa a atuar em reforçoaos aparelhos privados de hegemonia! Veja um exemplo emhttp://www.youtube.com/watch?v=S63PlEIHdnA .

Nesta etapa a “superestrutura” já aparelhada passa areforçar os “aparelhos privados” de hegemonia. Podem seraparelhos privados de hegemonia os sindicatos, movimentossociais (com personalidade jurídica própria ou clandestinos,como o MST, M sem Teto, Força Campesina etc.), ONGs,associação de classe (como a UNE, a UBES ou qualquer outrade qualquer tipo), instituições de classe (como o é a OAB),grupos representativos de minorias (como os movimentosGBLST, Blogues, mídias virtuais etc.). Relembro que aliberdade, cujo conceito na cultura judaico-cristã se refere aoindivíduo como ser único, é regido pelo princípio fundamental

das democracias. O cidadão pode fazer tudo o que a lei nãoproíba e o Estado só pode fazer o que a Lei manda. A liberdadeno gramscismo se refere ao ser coletivo que emerge da classesubalterna quando é ela sujeita ao controle hegemônico. Só esseser coletivo é livre e a liberdade a ele se refere.

O binômio “sociedade civil + sociedade política” é objetoassim de um conceito estratégico que preconiza etapas até aCATARSE. Desse conceito estratégico, decorrem as diferençasentre princípios da “Revolução do Proletariado” tal com ocorreuem 1917 na Rússia e era preconizado pelo Movimento ComunistaInternacional (MCI) e a Revolução na forma atual, para implantarregimes comunistas. Estas diferenças podem ser resumidas:

No marxismo-leninismo tradicional, as condições objetivasse situam nas condições da classe trabalhadora (nas injustiçassociais do capitalismo e na exploração da mais-valia na força detrabalho) e as subjetivas nas formas da democracia burguesa ena inércia e conformismo das “classes subalternas”. Com estascondições, cria-se a crise institucional e se sujeita o capitalismoao “determinismo histórico” (seu fim porque contém o DNA daautoextinção).

Através da violência revolucionária, criam-se os focos deinsurreição e se assalta o poder pela força das armas, expropriadasdas instituições do Estado que detém o monopólio do uso daforça. Cria-se o Exército Revolucionário constituído das “classessubalternas”. Este exército atuará contra as “burguesias”esmagando-as e expropriando os seus bens privados.

É esse uso da força das armas que cria o Estado Ampliadoonde, da crise orgânica surge o Estado Classe (a do proletariado),onde é implantada a “ditadura do proletariado”. Nesta fase estatalé que se vai ao socialismo e dele para a catarse. Na experiência

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prática dos regimes comunistas, esta fase estatal, como asucessiva – a do comunismo – é que se instala anomenklatura (ou classe dirigente) que são os membros dopartido comunista. Todos os partidos são extintos e surge oPartido Único. Nessa fase é que sucedem as exterminaçõesem massa e as depurações.

No gramscismo a primeira fase – econômico-corporativa – o regime mantém a face do regime liberaldemocrático, enquanto se luta pelo controle hegemônicoatravés da penetração cultural que envolve todas as formas,instrumentos e mecanismos que foram citados no “conceitoda hegemonia”, acima, e como eles agem. A ação é, portanto,sobre o binômio “sociedade civil x sociedade política”. Naprimeira agem os aparelhos privados de controleinicialmente, na busca do novo consenso e na segunda agemo partido hegemônico e os intelectuais orgânicos. Ambasbuscam a direção moral e cultural do binômio, a partir docontrole hegemônico e para completar esse controle. Desse“consenso” se vai então criar o Estado Ampliado, onde acrise orgânica decorrente vai fazer surgir o Estado-Classe ea Ditadura do Proletariado, exatamente como na metodologiado marxismo-leninismo. Esse “consenso” implica em destruirvalores para substituí-los por novos!

A primeira fase, que é diferente em cada uma dasformas de implantação de regime comunista, mostra a criaçãodo partido hegemônico (o partido-classe) que através dosintelectuais orgânicos implanta e dá curso à fase“econômico-corporativa” usando todas as franquias doregime liberal democrático, seus princípios, fundamentos,mecanismos e instrumentos.

CONSENSOVejamos como se dá a 2.ª Fase, a partir do regime

liberal democrático, seus princípios, fundamentos,mecanismos e instrumentos. Nesta fase se reiterainsistentemente os valores democráticos e as lutas pelaredemocratização. Tudo é feito em nome da democracia. Nelaos aparelhos privados que se inseriram em toda e qualquerinstituição da sociedade começam a “organizar” a sociedadecivil – onde se vai buscar a hegemonia sobre as classessubalternas – a arena onde se disputa o controle sobre asclasses ditas dominantes.

Nela a hegemonia é buscada pela superação dosenso-comum, ou seja, pela superação dos valores em quese baseou a herança cultural na formação da nação e, aomesmo tempo, pela conscientização política ideológica dasclasses subalternas. Na primeira “reforma intelectual e moral”– a superação do senso-comum – se busca a virtual e realdestruição dos mitos, heróis, versão histórica e/ouconsciência histórica que formou a nacionalidade, bem comodos valores judaico-cristãos em que se baseou. Na segundaforma de “reforma intelectual e moral” – a conscientizaçãoideológica – se implanta por todos os meios possíveis,exatamente usando os princípios democráticos fundamentais(liberdade de expressão, liberdade da imprensa, direitoshumanos etc.) a nova ideologia. Nesta área de busca decontrole hegemônico, é comum o uso das “falhas” do sistemaeconômico e das instituições do Estado para “vender” avisão da “utopia da igualdade absoluta” e do paraíso“socialista” que é prometido. Nela começam a se intensificarä “luta de classe” e a fragmentação social tanto pela ruptura

dos valores do senso-comum, como pelo confronto de minoriasétnicas, de opção sexual, religiosa etc. É uma fase em que asinstituições que são óbices a esse esforço, pela sua doutrina oupela sua sujeição aos dispositivos legais, ou, ainda, pela sua herançahistórica ideológica (como é o caso das FFAA, por exemplo) sãoalvo de esforços sucessivos de separação da população (quebrade consenso sobre o que elas representam à nação e sobre oconceito que gozam junto a ela).

Com estes dois instrumentos da reforma intelectual e moralda sociedade se constrói o CONSENSO. O que seria esseconsenso? É a nova estrutura de valores em que a sociedade civilse organiza, na medida em que os valores deteriorados do senso-comum foram alijados da cultura nacional. É o surgimento da novacultura. É preciso ressaltar que não se trata de evolução dessaestrutura, decorrente das mudanças sociais a que toda sociedadese sujeita ao longo da vida. Trata-se de construir uma nova tábuade valores que visa tão somente a neutralização do aparelhohegemônico do Estado nacional enquanto este organiza a nação.O que se visa é a desestruturação do próprio Estado, de forma queele se torne (como superestrutura) presa do mesmo esforço,quando as “trincheiras” da sociedade liberal-democráticaestiverem enfraquecidas.

Formado o novo consenso, o esforço irá se dirigir àneutralização desse aparelho do estado – a superestrutura, umavez que ele detém o monopólio da força e da violência que lhe dáo poder de coerção. Assim, o que se identifica por “grupodominante” (a massa crítica da nação) estará sujeita à tomada e àderrota. Quando isto ocorre temos o Estado Ampliado.

Nele a sociedade civil e a sociedade política estarãointegradas. Estão sob o mesmo tipo de controle hegemônico. Ouseja, o binômio se unifica sob o controle do partido hegemônicoque passa a deter a direção moral e política. Nesse binômio jáunificado tanto uma como outra (sociedade civil e sociedadepolítica) estarão sob domínio da Sociedade Ampliada, condiçãonecessária para a 3.ª Fase. Sociedade Ampliada é sinônimo deEstado Ampliado e é o objetivo desta fase.

Em todos os casos de aplicação desse processo de poder,são identificáveis os 4 (quatro) meios de aparelhamento do estado.Esse aparelhamento ocorre não só por integrantes do partidohegemônico, mas também por “forças aliadas” que, muitas vezes,dissimulam uma “oposição política” ao partido hegemônico etambém por “forças” e “organizações sociais” que podem ou nãoestar de acordo com as leis ainda vigentes. Neste processo écomum o próprio Estado Ampliado passar a financiar estas “outras”forças, tanto por meios legais como por meios ilegais, bem comoreceber financiamentos de centros de poder externo. A corrupçãonesta fase assola o Estado e alimenta, com essa forma decriminalidade institucional, a criminalidade social que vai ajudar afragmentar a sociedade civil, mantendo-a sob controle hegemônico.

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Equilíbrio para oPorELIANA VERIDIANOPersonal TreinerSão Paulo - [email protected]

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Yoga

A expectativa de vida aumentou nos últimos tempos. As pessoas vivemmais, seja graças ao avanço de tecnologias que propiciam melhorqualidade de vida, seja graças às campanhas que visam motivar as pessoasa cuidarem melhor da saúde e do bem-estar.Contudo, diante de influências culturais, sociais ou financeiras, o serhumano às vezes se perde em angústias decorrentes da agitação do dia adia e de seus afazeres, o que acaba causando o estresse. E com issodesenvolve ou adquire doenças, inclusive as psicossomáticas.Daí a importância de procurar alternativas como a prática da atividadefísica, bem como a conscientização de viver com qualidade e bem-estarfísico, mental, emocional e espiritual. Uma dessas alternativas está naprática do Yoga. A utlização de suas técnicas auxilia no autoconhecimentocom maturidade, consciência e com respeito à integridade física,influenciando nos aspectos comportamentais.

YOGASurgiu há mais de 5.000 anos na Índia, e foitransmitido oralmente até próximo do ano 400 a.C.,quando foi codificado por PATANJALI nos YogaSutra, onde dizia: “Saber relaxar bem é saberviver bem.”É o equilíbrio perfeito entre o corpo e a mente,autossuficiência, bem-estar e satisfação.Integração, união e prática; a força, o poder e aenergia. É uma ciência ancestral, que auxilia noautoconhecimento, com maturidade e consciência.

BENEFÍCIOS DA PRÁTICA*Melhora da força muscular;*Melhora da flexibilidade articular e postura corporal;*Aumento da capacidade de concentração e percepção;*Afloramento da sensibilidade, espiritualismo,autoestima e desinibição;*Prevenção de doenças;*Influencia o indivíduo a adquirir um estilode vida mais saudável;*Promove o bem-estar e a qualidade de vida.

HATHA YOGAO “Yoga Vigoroso” ou “Hatha Yoga” é oriundoda época medieval. Seu objetivo supremo éidêntico ao de todas as formas autênticas de Yoga:“transcender a consciência egoica e realizar o SiMesmo, a Realidade Divina”.“Ha” é o princípio solar e “Tha” é o princípio lunar– é portanto uma fusão dos princípios positivo enegativo, masculino e feminino. Trabalha parafortalecer o corpo.

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PARA OUVIR ANTES DE MORRERA rádio romena 3 Net disponibiliza os álbuns do projeto “1001 Álbuns Para OuvirAntes de Morrer.” do livro homônimo do jornalista Robert Dimery. Do rock ao pop,são apresentados os melhores álbuns dos últimos 50 anos. Você vai encontrar deFrank Sinatra a Arcade Fire. Artistas brasileiros como João Gilberto, Tom Jobim,Caetano Veloso, Astrud Gilberto, Bebel Gilberto, Mutantes, Chico Buarque, ElisRegina, Jorge Ben Jor e Sepultura também estão presentes.Para ouvir, basta clicarno CD desejado e aguardar o player no canto superior direito do site. O projetoainda não está disponível para plataformas móveis. OUÇA:

http://www.radio3net.ro/play#

Nesta edição selecionamos mais três opções para você se divertir passeando narede: uma para quem gosta de música e poderá curtir 1001 álbuns diferentes,altamente recomendados, tudo on-line; outra para quem tem curiosidade sobre(quase) tudo, inclusive cultura inútil; e finalmente uma dica para quem quer

saber mais sobre a grande Clarice Lispector. Navegue à vontade e boa diversão!

PARA TODOS OS CURIOSOSSe há um lugar na internet onde você vai encontrar informações e

curiosidades sobre praticamente tudo, este se chama“Guia dos Curiosos”. Alí o jornalista Marcelo Duarte juntou, como parte

de seu amplo projeto editorial que abrange livros e outras midias, todotipo de notas sobre animais, cultura e entretenimento, literatura, esporte,

variedades, futebol, datas e comemorações, enfim... É um universo a serexplorado por quem tem curiosidade e pretende matar a curiodidade com

diversão garantida e bons momentos de lazer. BISBILHOTE:

http://www.guiadoscuriosos.com.br/

PARA OS FÃS DE CLARICEO Instituto Moreira Sales criou um site dedicadoexclusivamente a Clarice Lispector. Em suas páginas, há umacronologia ilustrada; obras comentadas; destaques do acervoque está sob a guarda do instituto; aulas especialmentepreparadas por José Miguel Wisnik; traduções comparadas emuitas outras informações que certamente serão úteis eagradarão aos fãs da escritora. VISITE:

http://claricelispectorims.com.br/

PorLUCIANA GOMES GIMENESAdministradora de empresas eCoordenadora de comprasSão Paulo - [email protected]

Dicas e links NETNETNETNETNET

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JJJJJAPÃOAPÃOAPÃOAPÃOAPÃOa delicadezade um povo Por

MARCOS SEYDEFotógrafoToyota (Aichi - JAPÃO)[email protected]

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Sakura Street

Kyoto Arashiyama - Floresta de Bambu

O festival da Flor deCerejeira é comemoradocom muito entusiasmo.

Monte Fuji

Olá! Sou Marcos Seyde, carioca, e moro no Japão há 12anos. Quero recomendar um pouco das maravilhas doNihon que conheci e fotografei para quem vier para cá apasseio ou a trabalho!

Monte FujiÉ um dos símbolos mais conhecidos do Japão. Está localizadonas Províncias de Shizuoka e Yamanashi. É a mais altamontanha do arquipélago japonês com 3.776 m. Trata-se, naverdade, de um vulcão ativo, mas com baixo risco de erupção, eque, em junho de 2013, entrou para a lista de PatrimônioMundial da Unesco devido à inspiração que este vulcãodespertou em diversas gerações de artistas ao longo dosséculos. Existem cinco lagos ao redor do Monte Fuji. Acredita-se que sua formação deu-se quando as lavas vulcânicasinterromperam o curso do rio. No local existe uma variedadeenorme de comércio e atrações que variam entre parquestemáticos, passeios de barcos e jardins imensos que abrigam umnúmero muito grande de flores e plantas.

Floresta de BambuSagano Bamboo Forest é uma linda floresta de bambu quecobre uma área de aproximadamente 16 km. quadrados,localizada em Arashiyama, Kyoto.O lugar encanta não só pelasua beleza natural, mas pelos sons produzidos pelo ventosoprando por entre as árvores do bambu. Visto como símbolo deresistência, o bambu está presente em todo o Japão, nas artes,nas paisagens, na arquitetura e nos jardins dos Templos.

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Saiba mais sobre o Japão

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http://viajeaqui.abril.com.br/materias/atracoes-turisticas-no-japao-especial

Matsumoto Castel

SakuraO festival da Flor de Cerejeira (Sakura), écomemorado com muita ênfase por toda apopulação japonesa com seus Hanami(apreciação das flores) ou piqueniques sob aflorada. Esse festival é cercado de muitashistórias e crendices do povo japonês queparticipa sempre com muito entusiasmo eempenho. Essa tão esperada florada dura só de 2a 3 semanas. Também há as glicíneas,conhecidas como Flor de Fuji, com suas flores eárvores centenárias.

Castelo de MatsumotoO Castelo de Matsumoto é um dos 12 Castelosdo país que mantém a construção originalpreservada. Está listado como Tesouro Nacionaldo Japão. Construído no século 16, tem seisandares e cerca de 30 metros de altura. Outroscastelos que devem ser vistos são os de Nagoya,Osaka e de Himeiji, esse usado para asfilmagens de “O Último Samurai”.

Templo KiyomizuderaÉ o segundo templo mais antigo da Cidade deKyoto que abriga 2.000 templos de muitaimportância religiosa. Esse templo é destaque porser Patrimônio da Unesco e o salão principal, denome Hondo, possui uma varanda em umprecipício apoiada por 139 pilares e 90 vigas quesão encaixadas umas às outras, sem utilizarpregos! Em Kioto também se localiza o pavilhãode ouro Kinkakuji que tem suas paredesfolheadas de ouro e seu pavilhão todo dourado,composto de 3 andares com estilos diferentes. Oprimeiro andar, com estilo de palácio, o segundocom estilo de casa de samurai e o terceiro comestilo de templo zen.

Templo Kiyomizudera - Pavilhão Dourado

Jardins do Castelo de Nagoya

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PorMARLUSSE PESTANA DAHERPromotora de Justiça, radialista,jornalista e escritoraVitória – [email protected]

OOOOOJÚRIJÚRIJÚRIJÚRIJÚRI

Com a feição mais aproximada da que conhecemos hoje, o júrioriginou-se na Inglaterra, no período sucessivo ao Concílio de Latrão. Remontaentretanto, ao período áureo do direito romano com os seus judices juratis.Entre os gregos era formado dos diskatas e entre os germanos pelos centeni

comites.De início, revelava forte conotação mística e religiosa, tanto que era

formado de doze jurados, número que corresponde ao dos doze apóstolos,seguidores do Cristo nos seus dias da Galileia.

Chegado à Gália, logrou ser ali rapidamente adotado, uma vez querepresentou a forma de na época da revolução burguesa, ser manifestado orepúdio e aversão tributada à classe dos magistrados, historicamente vinculadaà nobreza e artífice de toda sorte de arbitrariedades. Foi a época das práticasirracionais dos chamados “juízos de Deus” de que os combates judiciários,a imersão em água fervente, a aplicação do ferro em brasa foramalgumas das mais bárbaras demonstrações.Da França, disseminou-se portodo o continente.

Data deste tempo o direito de dizer, por parte de um Juiz togado, seo réu devia ou não ser submetido ao crivo do julgamento popular.

No Brasil, a instituição do júri data de 18 de junho de 1822 e seencarregava do julgamento dos crimes de imprensa. Em 1824, inserido naConstituição do Império, passou a integrar o Poder Judiciário. Pelo Códigode Processo Criminal de 1832 e pela reforma de 1871, foi alterado em suaestrutura e competência. Foi mantido na Constituição de 1891 e nas sucessivas,até 1937, quando a Carta foi omissa sobre ele, razão que a fez vir a sercorrigida por um Decreto-Lei, o de n.º 167 de 5 de janeiro de 1938, o qualdelimitava a soberania dos veredictos.

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No capítulo dos direitos e garantiasindividuais, sua soberania voltou a ser assegurada, sejana Constituição de 1946, seja na de 1967.

Consolidado na sua razão de ser, permaneceu,na Constituição de 1988, no título que assegura os nossosDIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS –

CAPÍTULO I – DOS DIREITOS E DEVERESINDIVIDUAIS E COLETIVOS; inciso XXXVIII - éreconhecida a instituição do júri, com a organizaçãoque lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude dedefesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dosveredictos; d) a competência para o julgamento doscrimes dolosos contra a vida.

A lei que organiza o júri, na verdade o Decreto--Lei de n.º 3.689, datado de 03 de outubro de 1941,sofreu no decurso desse tempo algumas modificações.No entanto, não no que a ele se refere. Esse decreto é oCódigo de Processo Penal e estabelece comocompetência privativa do Tribunal do Júri, o julgamentodos crimes de homicídio, simples ou qualificado, oinfanticídio, o aborto; na forma consumada, isto é, coma culminação do evento morte, ou apenas tentada. Porfim, a conduta tem que ter sido praticada de forma dolosa,isto é, quando há deliberação para sua prática, com olançar mão ou valer-se de meio idôneo, utilizá-lo e colimaro intento, ou não o colimando que tenha sidoindependente da vontade do agente.

Assim, quando acontece um homicídio, mortede alguém por outrem, a polícia judiciária adotará asprovidências preliminares. Dirigindo-se ao local,providencia análise das diversas circunstâncias emotivações do delito, identifica o autor e testemunhasque possam informar sobre o fato, remove o corpo paraefeito de necropsia, no Instituto Médico Legal, ondeexiste, na ausência deste, o médico que, sobcompromisso, emitirá o laudo respectivo, detalhando aslesões e atestando-as como causa da morte.

Tais diligências compõem o inquérito policialque é instaurado mediante PORTARIA de competênciado Delegado de Polícia, hoje, bacharéis em direito ecom preparação específica ao desempenho do misterjudiciário. Quando o inquérito é concluído, o Autor dodelito é indiciado e os autos são remetidos ao Juiz deDireito que, por sua vez, determina abertura de vista aoPromotor de Justiça, o qual, formando seu juízo, denunciao autor.

Denúncia é a peça mediante a qual o Órgão doParquet se dirige ao Estado Juiz, e depois de qualificar oindiciado de forma a tornar inequívoca sua identidade,narra a partir da hora, dia e local em que o delito tiversido praticado, as circunstâncias em que se deu, asmotivações que o rodeiam, o modo com que agiu e todosos demais detalhes, de tal forma que não pairem motivosde suposição ou dúvida, até porque, é nos termos dadenúncia que se vai arrimar o contraditório. Vale para adefesa o que estiver escrito. Finalmente, aponta osdispositivos do Código Penal infringidos e requer citaçãodo denunciado para que promova sua defesa comomelhor entender; nesta oportunidade, ainda, apresentao rol de testemunhas a serem ouvidas na fase instrutóriaprocessual.

O Juiz, recebendo a denúncia, determina acitação do denunciado e seu comparecimento à suapresença para ser interrogado. Nesta oportunidade, eletoma conhecimento formal dos termos da acusação quelhe é feita, apresenta a própria versão para o fato ou desua conduta, nomeia o Advogado que vai defendê-lo,ou se for pobre, no sentido da lei, tem conhecimento doque lhe é nomeado. É um grande momento do processo,é o momento em que pode falar, depois, estará limitadoa ouvir. Tanta é sua importância que só deve ser feito deforma presencial, quando, além de através das palavras,o Juiz pode analisar o interrogando lendo no seu ânimo,deduzindo pelo como se comporta.

Quando o inquérito é concluído, o Autordo delito é indiciado e os autos são

remetidos ao Juiz de Direito que, por suavez, determina abertura de vista ao

Promotor de Justiça, o qual, formandoseu juízo, denuncia o autor.

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Em seguida, o advogado, respaldando ostermos do interrogatório, não concorda ou concordaapenas em parte com a denúncia, apresenta o rol detestemunhas ou requer outras diligências. Geralmente,reserva-se o direito de só fazer conhecida sua tese, afinal. Tem início o contraditório, fundamental para avalidade de todos os atos. O próprio Promotor queentender pela não defesa de quem é acusado, na suafunção de fiscalizar a correta aplicação da lei, deve vigiarneste sentido, ou seja, no sentido de que ocontraditório seja potencialmente exercido.

São ouvidas as testemunhasarroladas pelo Ministério Público, emseguida, as que a defesa apresentou. Findaesta fase, são feitas as alegações finais pelaspartes e mediante o que tiver concluído, àvista do que tiver sido provado, o Juizproferirá uma decisão de impronúncia ou depronúncia. No primeiro caso, decide pelaabsolvição do denunciado e julgaimprocedente a denúncia; no segundo,reconhece a presença dos elementosconstitutivos do dolo, sem aprofundar-se nomérito, mesmo que paire alguma dúvida,neste caso, o in dubio é pro societate, eremete o julgamento ao Tribunal Popular doJúri.

Em certos casos, até menos, mas o tempo detramitação de um processo está legalmente previsto, paraacontecer em noventa dias.

Em toda Comarca, anualmente, são alistadoscidadãos entre 21 (vinte e um) a 60 (sessenta) anos deidade, pessoas indicadas pelas diferentes repartições emque trabalham e que vão estar a serviço do júri o que éobrigatório. O exercício efetivo da função de juradoconstitui serviço público relevante, estabelecepresunção de idoneidade moral, assegura prisãoespecial, em caso de crime comum, até o julgamentodefinitivo, bem como preferência, em igualdade decondições, nas concorrências públicas.

Os jurados representam a sociedade da qualfazem parte. Quando investidos da função, decidem emnome dos demais. É portanto, o júri, expressão

eminentemente democrática, intérprete da vontade dopovo, competindo aos que o integram agir de formaindependente e magnânima. Por isto, conta com avotação secreta e seu veredicto é soberano.

Os sete integrantes do conselho de sentença,sorteados entre os vinte e um convocados para cadasessão, são Juízes de fato. Podem requerer diligências,mais que simplesmente ouvir respostas formuladas peloJuiz, pela defesa ou pelo Ministério Público, inquirir as

testemunhas, valerem-se de quaisquer recursos que osconduzam a um juízo preciso a respeito da decisão a sertomada. Assim, formam a própria convicção e medianteresposta por um NÃO ou um SIM, cédula que vãodepositando numa pequena urna, após cada uma dasquestões que lhe são propostas, decidem pela inocênciaou pela culpa de quem devem julgar.

É a eles que se dirigem o Ministério Público e adefesa, cada qual apresentando sua versão da condutaem julgamento. Em número de sete, jamais correm orisco de ocorrência de um empate na votação. O Juiz deDireito que ali está preside a sessão, vela pela ordem epela normalidade dos atos, mas quando, ao final, vaiprolatar a sentença, estará condicionado ao que lhe tiversido prescrito pelos jurados, nem mais, nem menos.

 Júri popular é, portanto, julgamento de

alguém do povo, pelo próprio povo.

Júri popular é, portanto, julgamento dealguém do povo, pelo próprio povo.

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Aqui em Vitória, acabamos de acompanhar um julgamento cuja duração, três dias, só tem precedentecom o do esquadrão da morte. Refiro-me ao julgamento do líder dos “sem-terra”, José Rainha Júnior.(*)

A imputação que lhe é feita data de 1989.As opiniões se dividem. Para uns, é inocente; para outros, é culpado. Culpado ou não, o povo que estava

representado pelos componentes do Conselho de Sentença por 4 votos contra 3, pressionado ou não, dizem queatemorizado pela multidão que postou-se na frente e dentro da Catedral Metropolitana, (onde se permitiu fazernada menos que tudo), disse que é inocente e só restou, ao Juiz Presidente, absolvê-lo.

Uma das duas eram as hipóteses do que sucederia: Rainha é culpado ou Rainha é inocente. Condenado,pairaria a dúvida sobre a efetiva realização da justiça, mas não é que não subsista, agora que foi absolvido.

Ai é que, ainda que haja divergências entre a culpa e a inocência, num ponto há unanimidade e está naconsciência dos longos onze anos que se passaram os quais nos autorizam a voltar a repetir como o fizera RuiBarbosa, na sua Oração aos Moços, (exortação a paraninfados de um curso de Direito): “Mas justiça atrasadanão é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”.

(*) Julgamento realizado em abril de 2000.

DAHER, Marlusse Pestana. O júri. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 42, 1 jun. 2000.Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/1070>. Acesso em: 4 ago. 2014.

Muitos já devem tervisto uma imagem ou umaestátua de uma mulhervendada representando aJustiça. O que a maiorianão sabe é que essa mulheré a representação de umadeusa greco-romana;chamada pelos gregos

antigos de Têmis e pelos romanosde Justiça.

Esta era filha de Urano (o deus-céuou o próprio céu personificado) e de Gaia(a deusa-terra ou sua personificação),sendo, portanto, filha do céu e da terra.

Têmis era a deusa da justiça, da leie da ordem, sendo também a protetora dosoprimidos, e a própria personificação doDireito, apoiada nos costumes e nas leis.Em regra, é representada por uma mulhervendada, onde a cegueira significa que ajustiça não diferencia as pessoas, ideia quejá era concebida pelos romanos antigos eque se encontra manifesta em nossaConstituição Federal (lei maior quedetermina todo o funcionamento do Estadobrasileiro e o modo de suas leis):

Art. 5.º, caput : Todos são iguais

perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aosestrangeiros residentes no País a inviolabilidadedo direito à vida, à liberdade, à igualdade, àsegurança e à propriedade (…).

Na figura de Têmis, ainda podemosencontrar outros elementos de forte simbolismoe o segundo que merece ser mencionado é abalança, que, assim como a venda, sempre estápresente em sua representação. A balança temo significado do equilíbrio (equidade) que aJustiça deve ter, representa o próprio conceitode justiça como pensado por Aristóteles nadistante Grécia antiga: dar a cada um o que éseu proporcionalmente as suas necessidades.

Colocando pessoas de níveis diferentesem situação equivalente. São exemplosclássicos da manifestação deste conceito najustiça brasileira o direito do trabalho e doconsumidor, que têm o objetivo de protegeraquele mais fraco na relação (o trabalhador eo consumidor). Há ainda outros dois elementosna figura de Têmis de significado pertinente: oque ela segura na outra mão, que às vezes é aespada e outras a lei. Quando é a espada, diz-se que é o próprio peso da lei (ou seus meiosde punição) aguardando para atuar diante deseu descumprimento; quando é a lei, osignificado não muda muito, pois esta tambémé utilizada para fazer valer a justiça.

TêmisTêmisTêmisTêmisTêmis

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PorCARLOS EDUARDO DE OLIVEIRAEngenheiroSanto André - [email protected]

decantandoO VINHOO VINHOO VINHOO VINHOO VINHO

Devemos partir do princípio de que a grande maioria dos vinhos pode serperfeitamente servida diretamente da garrafa para a taça. Poucos vinhostêm a real necessidade de serem decantados devido à presença dedepósitos de material sólido nas garrafas, o que pode prejudicar umaperfeita degustação – essa “borra” tem o gosto amargo e pode turvar olíquido, prejudicando sua aparência. A decantação pode então melhoraros vinhos sob dois aspectos: eliminando essas partículas indesejáveis ouservindo para “aerar” o líquido, fazendo com que os aromas de vinhos“fechados” se desprendam com mais facilidade.

Os decanters são recipientes de vidro ou cristal, em diversos formatos dejarra ou garrafa, onde se verte o vinho proveniente de outro recipiente –de outras garrafas, das chamadas bag in box ou diretamente de barris –pois antigamente o vinho da casa nos estabelecimentos era comprado agranel direto do produtor e armazenado em barril, devendo então sercolocado em uma jarra menor para ir à mesa. Com o aumento daprodução de vidro, no final da Idade Média, as garrafas deste materialpassaram a ser utilizadas com esta finalidade (pois só viriam a ser“popularizadas” muitos anos mais tarde, no século XVIII). Com o usodesse expediente ao longo do tempo, verificou-se que alguns vinhos erambeneficiados pela agitação do líquido, pois “abriam” seus aromas, que sevolatizavam mais facilmente após o contato com o ar. A decantação dessetipo (que não significa propriamente uma decantação no sentido deconcentração de partículas) beneficia em maior parte os vinhos tintosjovens, aqueles mais concentrados, tânicos e alcoólicos.

Salut les amis!Na coluna de hoje, vamos falar um pouco sobre a decantação dos vinhos. Algumas vezes vamos a

restaurantes ou algum evento de degustação e os vinhos nos são apresentados naqueles belos

recipientes cristalinos. Mas, afinal, o que são, para que servem e quando devem ser usados os

decanters?

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http://www.conservadonovinho.blogspot.com.br/SAIBA MAIS EM “CONSERVADO NO VINHO”

Normalmente, uma ou duas horas de decantação éo suficiente para que os aromas explodam; equando necessário, o decanter pode repousarsobre um recipiente ou dentro de um balde comágua gelada, para que o vinho seja servido natemperatura ideal. Além dos tintos “saradões”,alguns vinhos brancos mais encorpados, como osBorgonhas e chardonnays do Novo Mundo (EUA,Austrália, Nova Zelândia, América do Sul),também podem se beneficiar com esse tipo dedecantação. Hoje em dia são vendidos artefatosque prometem aerar instantaneamente o vinho aoser vertido para a taça, o que  eliminaria a funçãoda decantação. Mas convenhamos que servir umbom vinho, límpido e brilhante, em uma bela garrafade cristal também traz uma grande vantagemestética, não é mesmo?

Depois de algum tempo, o sedimento sólido seacumula no fundo da garrafa, e deve-se sacar a rolhao mais cuidadosamente possível, evitando agitar olíquido - o que  revolveria novamente a borra – everte-se o vinho em um decanter. Pode-se utilizarpara isso acessórios como funis ou peneiras, mas omais importante é posicionar o gargalo da garrafacontra uma fonte de luz – que pode ser uma vela, umalâmpada ou lanterna – o que vai facilitar a observaçãodo movimento das partículas pela garrafa, e aoperação de transvase deve ser interrompida quandoa borra atingir o gargalo. Ao contrário dos vinhosnovos e concentrados, os vinhos velhos – já“amaciados” pela ação do tempo – não se beneficiamcom a oxigenação, e então devem ser manuseadoscom lentidão e delicadeza, sem grande agitação, e depreferência devem permanecer em recipientes maisestreitos, com uma pequena superfície de contato como ar.

A princípio pode parecer um pouco complicado, mascomo tudo – ou quase tudo – nesta vida, com o tempoe a experiência a prática da decantação e todo o ritualque se segue à abertura da garrafa de vinho tornarãoainda mais prazeroso o culto a essa bebida com queBaco nos presenteou! No próximo mês, começaremosa conversar sobre a geografia do vinho.

Santé, et à la prochaine!

Neste caso, recomenda-se o usode recipientes bojudos, de formaque se obtenha a maior superfíciede contato possível entre o líquidoe o ar. Quanto mais agitação naoperação de transvase, maisoxigenação, melhor para este tipode vinho. Depois, deixa-se o vinhoem repouso por um pouco detempo antes da degustação.

Outro caso onde se utiliza a decantação é para eliminarpartículas suspensas nas garrafas de velhos vinhos, aquelesque não passaram por filtração ou que acumularam ao longodo tempo partículas provenientes da polimerização dostaninos. Esse processo pede um pouco de paciência: comuma boa antecedência devemos colocar a garrafa em pé, demodo que a borra depositada na lateral da garrafa – quedeve ter sido armazenada deitada – se acumule no fundo dorecipiente – aquele fundo côncavo de algumas garrafastambém tem como objetivo concentrar o acúmulo da borra nofundinho do recipiente.

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O jeito de falar

perperperperpernambnambnambnambnambucanoucanoucanoucanoucanoPorPAULO CAMELOMédico e escritorRecife - [email protected]

O Brasil é um país de dimensões continentais eum único idioma. Embora alguns linguistas falem em“dialetos”, o idioma é o mesmo e as regras se mantêmem qualquer região. O que muda – e é muito em algunsaspectos – é a maneira de falar, é o vocabulário próprio,é o aspecto fonético e fonológico de cada região.

Alguns aspectos me fazem renunciar à tese dedialeto: a gramática única, a coincidência da maioria daspalavras e expressões em todas as regiões e apossibilidade de diálogo inteligível entre habitantes deregiões diferentes. Mesmo assim, há característicasregionais que levam os especialistas a manter tal tese dedialeto. E isso se dá no âmbito do falar, e não no doescrever.

Eu nasci e me criei em Pernambuco. E semprefalei como se fala em Pernambuco. Mas eu achavaengraçado ouvir as pessoas falando com corruptelas, etais fatos me levaram a iniciar um rudimento de pesquisalinguística para saber por que assim eram pronunciadasas palavras, quais os significados originais ou de ondeprovinham.

Como em todo idioma, vemos, em nosso, umadiferença entre o idioma escrito, ou culto, e o idiomafalado, ou vulgar. A variante do idioma vulgar que chamaatenção é o falar errado, que dá lugar a uma deturpaçãodo idioma escrito, fazendo aparecer pseudoidiomas (que

mais se parecem dialetos) em cada região do país, comoo denominado pernambuquês, que nada mais é do quea expressão escrita do falar errado do pernambucanoinculto.

É sempre bom fazer uma diferenciação entre ofalar pernambucano e o chamado pernambuquês, poiseste mostra um pseudoidioma deturpado, depreciado ecaricato. Ao contrário, o pernambucano médio – emesmo o inculto – fala de uma maneira que a maioriados falantes lusófonos entende.

É caricata e depreciativa a grafia insistentementeerrada feita por alguns escritores, quando só o que mudaé algum fonema, mais fechado aqui ou ali, aberto emoutras ocasiões, sibilado ou com exclusão de sílabas oudo “s”, “r” ou “l” finais.

Assim, se em alguns momentos o nativo fazconcordância falha, o que mais se pode fazer é mostraressa falha de concordância, e não grafar erradamenteuma ou outra pronúncia mais fortemente denunciadora.

Quando o pernambucano diz “nós vamos falar”,deprecia-se seu falar escrevendo “nóis vamu falá”. Issoé inversão de valores, parecendo que a forma vulgarinterfere na culta, ao invés de ser sua variante.

Vemos isso em várias ocasiões. Até um blococarnavalesco envereda por esse erro. Ao querer registrara variante vulgar de não concordância nominal e uso defonemas característicos, escreveu “Nóis sofre mais nóisgoza”, quando o “Nós sofre mas nós goza” mostrariaessa variante sem assassinar o léxico.

O falar pernambucano sofreu influência dosidiomas nativos indígenas, mormente o tupi e sua vertentetupi-guarani. Os termos dali advindos estão maisarraigados em uma ou outra região e, desses termos,tomamos propriedade, como nossos. Assim são:catapora, tipoia, pereba etc. São de nosso uso desdesempre, porém não se limitam a nossa região.

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Sofreu, também, influência dos idiomas africanosque vieram com os escravos. Recebeu carga linguísticados holandeses, dos americanos e, por tabela ouindiretamente, de outros povos e outros idiomas, taiscomo o árabe, o francês, o espanhol, entre outros.

Com o tempo e as várias influências, algumaspalavras ou expressões foram se apagando e, se nãopostas em uma obra e publicadas, podem desaparecerpor completo. E esta foi uma das razões por que eu mepropus a escrever o “Dicionário do falar pernambucano”.

A internet, o mais recente meio de comunicação,faz com que se globalizem os termos, as palavras, asexpressões. E muitas daquelas que antes eramcaracterísticas ou exclusivas de uma região, um estado,uma comunidade, passaram a ser ditas e escritas poroutras pessoas, de rincões tão distantes dos locais deorigem. Isso faz com que utilizemos, muitas e muitasvezes, termos que nem parecem mais ser de origem

regional, e também capturemos outros originários emoutras regiões e já encravados em nosso falar de tal modoque nos parecem familiares desde criancinhas.

A globalização trouxe três fenômenos no modode falar de um povo: a exportação, a importação e asubstituição de termos. Dessa forma, corroborando odito acima, podem ser encontrados termos de origemem outras plagas, como podem também existir aquelesjá do conhecimento de muitos. Há, também, aquelestermos que, substituídos, saíram de circulação, e muitosdos que hoje usam o falar pernambucano talvez não osconheçam, por arcaísmo, por desuso.

As expressões e os ditos são outros aspectosimportantes no falar regional, e o falar pernambucanonão se diferencia disso. Utilizando termos de uso nãonecessariamente pernambucano, formamos expressõesque na maioria das vezes só por essas terras sãopronunciadas e entendidas.

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Dicionário do falar pernambucanode Paulo CameloEditora Paulo Camelo - Recife - PE - 2014 - 288 páginasI.S.B.N.: 978-85-904262-9-5Preço: R$40.00Sinopse: 2.280 verbetes correspondendo ao falarpernambucano. Substantivos, adjetivos, verbos,locuções, expressões que estão no falar cotidiano dopernambucano. Explicações, citações, etimologia.288 páginas ilustradas. Capa e ilustrações do desenhis-ta Fábio Maia. Acompanham referências bibliográficas eíndice onomástico de autores citados.AQUISIÇÕES: [email protected]

aboiar » v. t. d. - cantar um aboio; » s. m. - aboio.“Onde o forte aboia a sorteno seu canto de lutar.”(Janduhy Finizola - “Glória”)

até Mané chegar » expr. - sem tempodeterminado; sem hora para terminar.

“Agora, Mestre Bentevi, pegue a sua violapra nós cantar repente até Mané chegar, emhonra da minha patroa e do mestre QuincaTomaz...” (Zé Limeira, apud Orlando Tejo -“Prestando contas ao mestre”)bigu » s. m. - carona.

ETIMO - Inglês: be good (seja bom).Expressão utilizada pelos americanos,em trabalho no Recife durante aSegunda Guerra, ao pedir carona.

“Do Colégio Pio X onde me hospedava àuniversidade, caminhei por uns vinte anos,somente aceitando bigu nos seis quilômetrosse o tempo fazia-se chuvoso.” (José Rafaelde Menezes - “Memórias de um escritor”)

caçoar » v. int. e t. i. - fazer caçoada; galhofar.caçoleta » s. f. - medalhão com local para se

colocar retrato, geralmente usado penduradono pescoço.bater a caçoleta » morrer.

escuma » s. f. - espuma.ETIMO - germ.: skuma = espuma.

“Cervejinha é essa, Sá Marica? Só temescuma!” (Luiz Gonzaga - “Karolina comK”)

mel-de-furo » s. m. - mel resultante da decantação domel-de-engenho não cristalizado na preparação doaçúcar-bruto; melaço; cabaú.

melé » s. m. - curinga do baralho.passista » adj. e s. 2 gên. - dançarino do frevo.“Ao ouvir um frevo tocado por alguma orquestra, opassista parte para algum lugar que nem ele sabequal será.” (Reinaldo de Oliveira - “O frevo”)

pei » interj. - exprime ação imediata; » conj. aditiva –exprime ação imediata; então.pei bufe » acertou!; na mosca!

piojota » s. f. - 1) cepa de cana-de-açúcar; 2) (fig.)bebedeira.

ETIMO - var. de peojota, da sigla POJ - Postode Observação de Java.

piripaque » s. m. - mal súbito; desmaio.“Por que uma pessoa, gozando de boa saúde, tem umpiripaque e morre?” (José Urbano de Andrade Almeida- “Quase”)

PEGANDO BIGU

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Ruptura e reinvenção:PorLUCIANA BRANDÃO CARREIRAPsicanalista, Professora eEscritoraBelém - [email protected]

O que

RIMBRIMBRIMBRIMBRIMBAAAAAUDUDUDUDUDtem a nos ensinarsobre o Ato

Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud começou a escrever o livro Illuminations em1873, quando estava prestes a completar 20 anos de idade, enquanto percorria aBélgica, a Inglaterra e toda a Alemanha, ao lado de seu amante, o também poeta PaulVerlaine.

Ao meio de muito haxixe, álcool, violência e escândalos, Rimbaud tambémchocava a sociedade com a sua homossexualidade. E, quando encerra a obra citada,o escritor se afasta da literatura por quase dez anos, entrando numa espécie de exíliovoluntário, deixando o Ocidente ao partir para uma vida no deserto da Etiópia e doEgito.

Finalizado em 1875, tal livro é composto por pequenos textos (prosas, emsua maioria), parecendo desprovido de tema, tamanha a liberdade com a qual opoeta o concebera. Talvez por esse motivo o escritor tenha denominado os anos nosquais escrevera Illuminations como um período de “desregramento de todo o sentido”.

Jean-Michel Espitallier considera Illuminations como a primeira compilaçãode videoclips da história, “rodada” vinte anos antes do nascimento do cinema e umséculo antes dos primeiros clips televisuais. Considerados por tal crítico como “prosasrasgadas”, tais textos parecem surgir de uma urgência furiosa de Rimbaud emreproduzir com palavras as cenas do mundo que o capturavam, registradas em seusversos tal como se a escrita jorrasse dos olhos fotográficos de um jovem homemapressado. Esse caráter faz que Jean-Michel Espitallier considere o seu “modelo de

À une raisonUn coup de ton doigt sur le tambour décharge tousles sons et commence la nouvelle harmonie.Un pas de toi, c’est la levée des nouveaux hommeset leur en-marche.Ta tetê se détourne: le nouvel amour!Ta Tetê se détourne – le nouvel amour!“Change nos lots, crible les fléaux, à commencerpar le temps” te chantent ces enfants. “Elèven’importe où la substance de nos fortunes et denos voeux” on t’en prie.Arrivée de toujours, qui t’en iras partout. Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud.

À uma RazãoUm toque de teu dedo no tambor desencadeia todosos sons e dá início a uma nova harmonia.Um passo teu recruta novos homens, e os põe emmarcha.Tua cabeça se vira: o novo amor! Tua cabeça se volta,– o novo amor!“Muda nossos destinos, acaba com as calamidades, acomeçar pelo tempo”, cantam estas crianças, diantede ti. “Semeia não importa onde a substância de nossasfortunas e desejos”, pedem-te.Chegada de sempre, que irás por toda parte.Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud (tradução livre daautora).

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poema em prosa” como tendo sido o pioneiro – overdadeiro pioneiro”, “inventado” quarenta anos antesdo que se estima ter nascido com Bertrand, tendoinfluenciado, enfim, muitos dos grandes poetas do séculodezenove, dentre os quais, Baudelaire.

Em Rimbaud a prosa não visa à narrativa. Oenredo, este se precipita sobre zonas visuais,consideradas pelo próprio Rimbaud como “fotografiasdo tempo passado” – como a grafia de um instante tãoinfinitamente fugaz que a escrita dele suscitada ésimplesmente a memória de um átimo que não se deixaapreender.

Rimbaud inaugurou-se na poesia extremamentejovem, escrevendo em Latim aquilo que foram os seusprimeiros versos, apenas quatro anos antes doIlluminations. Trazendo a luz para o título com o qualele nomeou tal obra – utilizando-se de uma palavra que,em inglês, quer dizer “gravuras coloridas” – Rimbaudentão vincularia sua poesia à ruptura e à reinvenção,definitivamente, desestabilizando assim o pilar racionalistado pensamento francês. Deste livro pinçamos o curtopoema em prosa À une raison, tantas vezes citado porLacan ao longo de seu ensino. Por que o fazemos?Porque no contexto em que surge, esse texto nos permiteapreender o giro discursivo, enquanto efeito delinguagem, que se opera na passagem de um discurso aoutro, em cujas bases encontramos o amor que enlaça.Afinal, ao desestabilizar o racionalismo francês, Rimbaudaponta que o Eu não é senhor de seus atos, indicandoque há uma suspensão do Eu no ato da criação, liberdadeà qual todo artista está condenado.

Entusiasmado pela Comuna de Paris, lembremosque o poeta francês parecia ansiar por uma nova ordemsocial, esperançoso que estava por uma renovação dasociedade e de seus costumes, que seriam alcançadaspor via de uma revolução. Contudo, podemos dizer queo texto À une raison anuncia uma outra espécie derevolução; reviravolta que convoca o homem, em suamarcha pelo mundo, a semear o desejo por onde querque ele passe. A nosso ver, o poeta convida e estabeleceuma torção no eixo do amor num sentido ainda maisradical, tal como Lacan a propôs ao discorrer sobre oNovo amor em seu seminário Mais, ainda (1972-1973),pois, para Lacan, o Novo amor nada mais é do que osigno da emergência de um novo discurso, indicandoum novo laço social, inédito e original. Disso decorre apassagem do discurso da histérica ao discurso do analista,no final de análise, quando um amor novo no laçopsicanalítico se estabelece. Ao acompanharmos os passosdo poeta, bem como os de Lacan, encontramos assim odesejo de semear o desejo.

Pouco antes, em seu seminário sobre O atoanalítico (LACAN, 1968-1969), foi também a partirdesse poema, no qual um Novo amor é evocado, queLacan propôs a fórmula do ato, uma vez que o atoanalítico suscita o novo, um novo desejo, um novo amortransferencial. Na imprevisibilidade de um encontro como Real, eis a essência do desejo do analista: transmitir ointransmissível de uma experiência limite (o Realinapreensível pelo significante) que provoca um girodiscursivo e uma ruptura no saber, pois “o intransmissívelestá no coração do desejo de transmitir” (PORGE, 2009,p.15). Afinal, como Rimbaud persevera em seu verso,basta “Um toque do dedo no tambor” para que sedesencadeiem “todos os sons” e se inicie “uma novaharmonia”; basta “um passo” para que se recrutem novoshomens e estes, a partir daí, enveredem por esta novatrilha. Rimbaud associa o novo ao movimento capaz demudar destinos e direções, reinventando caminhos, e,mais importante, semeando o desejo ao longo dessaerrância pelo mundo afora.

Mas de que maneira Lacan trabalha a partir dessepoema no seminário Mais, ainda (1972-1973)?

Para acompanharmos os desenvolvimentos deLacan em tal contexto, situemos, em primeiro lugar, quetodo amor é narcísico. Os laços sociais, que são laçosamorosos em sua essência, propiciam toda sorte defenômenos imaginários de massa, uma vez que se pautamem ideais identificatórios do eu.

A rede discursiva é tecida por esses fios, aindaque o amor, que faz laço, demande simplesmente o amor.Mas o amor é impotente, pois a relação complementarentre os sexos é impossível, uma vez que, havendoreciprocidade, tal amor é guiado pelo desejo de fazerunidade, própria ao amor fusional que aliena. Ao indicarque o seu aforismo “o inconsciente é estruturado comouma linguagem” não é do campo da linguística, e sim da

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linguisteria, eis então que Lacan avança, circunscrevendouma modalidade amorosa nova, própria ao seu discurso.

Ainda que o amor seja um signo, Lacancircunscreve, assim, que o amor de que se trata é signode uma mudança discursiva. Lacan pouco a pouco vaidelineando uma modalidade de amor que não é alienante,e que tampouco escraviza. Amor que está num mais alémdo narcisismo, capaz de romper e esvaziar asidentificações imaginárias. Um puro amor. Amor que épura potência criativa, inovadora, que nos “constrangea decidir uma nova maneira de ser”, como bemestabelece Alain Badiou ao se referir ao que é da ordemde um acontecimento. (BADIOU, 1993, p.38). Logo,o gozo do Outro não é, em absoluto, um signo do amor.Ao contrário, o que é signo de amor é a torção que aí seproduz, no lugar onde tal gozo é vislumbrado eentrevisto.

BIBLIOGRAFIA:FORESTIER, L. Oeuvres complètes/correspondance. Paris:Robert Lafont, 2004.BADIOU, A. L´étique; essai sur la conscience du Mal. Paris:Hatier, 1993.BERNARDES, A. Um amor reinventado: a arte do poeta e odiscurso do analista. In. MELLO, M e JORGE, M. (org).Psicanálise e Arte: saber fazer com o Real. Rio de Janeiro:Cia de Freud, 2009, p. 99-107.BERNARD, S. Rimbaud et la création d´une nouvelle languepoétique, in Le poème em prose de Baudelaire à nos jours.

Paris: Nizet, 1959.BRUNEL, P. Éclats de violence; pour une lecturecomparatiste des Illuminations d´Arthur Rimbaud. Paris :José Corti, 2004.LACAN, J. (1968-69) O ato analítico. (Seminário inédito)LACAN, J. (1972-1973) O seminário, livro 20: Mais, ainda.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.PORGE, E. Trasmettre la Clinique Psychanalytique – Freud,

Lacan, aujourd’hui. Toulouse: Éditions Érès, 2005.PORGE, E. Transmitir a clínica psicanalítica. Tradução:Viviane Veras e Paulo Souza. Campinas, S.P: Editora daUnicamp, 2009.

Mas apesar de todos esses elementos listados,compartilhamos da ideia de que a razão cantada nosversos de Rimbaud não equivale à descoberta freudianado inconsciente; assim, sua “razão poética não é nem osenso cartesiano nem o inconsciente freudiano”.(BERNARDES, 2009, p.102).

De todo modo, o fazer poético, próprio ao atodo poeta, desvela que o material com o qual o poetatrabalha, – ao esbarrar no gozo do sem-sentido que seinfiltra em Lalangue –, é o mesmo do qual o inconscientese serve. Território do desconhecido onde a razão nãotem vez, justamente porque o sentido aí se desfaz,constrangendo o artista e impelindo-o a fazer algo comisso que lhe escapa.

Seja como for, Rimbaud rompeu com as formasclássicas da poesia metrificada e versificada, reinventandoa lógica e a sintaxe, inaugurando uma nova maneira defazer poesia. Fazer poético que muito nos lembra otrabalho operado por Clarice Lispector, cuja potênciasubverteu o campo literário, reinventando-o, enquantosigno de um novo amor que fez emergir um laço novo;um novo laço social que aflora enquanto acontecimentode discurso, efeito do encontro com o Real.

Acontecimento que impulsiona uma torção naordem vigente, de maneira imprevista, determinando umnovo começo, novamente. Fruto de um amor que é puracontingência, capaz de transformar nossos destinos, comobem profetizou Rimbaud.Sendo assim, a “razão” sobre a qual Rimbaud

se refere em seu poema À une raison é signo de umnovo amor, pois “o amor, nesse texto, é o signo,apontado como tal, de que se troca de razão, e é porisso que o poeta se dirige a essa razão. Mudamos derazão, quer dizer – mudamos de discurso”. (LACAN,[1972-73] 1985, p.26).

Pois bem, dito isto, voltemos a Rimbaud umavez mais.

Apontando ao que se opera na emergência deum novo laço social, Rimbaud sacode as bases doracionalismo cartesiano, subvertendo-o, uma vez que,ao invés de louvar uma racionalidade amparada na razão,ao contrário, Rimbaud se dirige, nesse poema, a umaRazão que é de outra ordem. (BRUNEL, 2004, p.218).

Numa de suas cartas endereçadas a PaulDémeny, Rimbaud deixa clara a sua discordância emrelação ao “penso, logo sou” cartesiano, propondo, emcontrapartida, a máxima “Eu é um outro”. Para ele, afórmula “Eu penso” é um grande engodo, pois consideraque, ao invés disso, o que se passa na verdade é daordem de um “Pensam-me”. Ou seja, o Eu, – dizRimbaud antes mesmo que Freud o faça –, é pensadopor um outro.

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PorDELASNIEVE DASPETPoeta, Advogada e Ativista Cultural e SocialCampo Grande - [email protected]

Que botox, que cirurgia, que nada! Cheguei aos 62anos completamente com 62 anos... Ninguém me dáum dia a menos ou a mais. E que bom chegar aos 62anos com a cabeça e o corpo de 62 anos. Eu nãomalho. Não tenho saco para isso. Não ando, soupreguiçosa... Mas adoro dançar – já quis fazer váriasvezes um curso de dança... mas, dançar sozinha, oucom aqueles meninos... não me dá nenhum tesão,então, fico aqui – eu e os  meus livros, minhas canetas,computador, agenda, e, meu cérebro. Gosto deexercitá-lo e faço isso em todos os momentos. Crio,recrio, fantasio, valseio, falseio, pazeio... Não bebo,não fumo, até comer – não abuso. Não me preocupo,nunca me preocupei com qualquer glamour... Masadoro pensar que tenho um pote de ouro no final doarco-íris: os meus sonhos, os meus ideais,as minhas conquistas.Nestes tempos, ridículos, do politicamente correto, mepego com saudades do passado quando podíamosbrincar sem acusações de intolerâncias, de racismo, ede tantos outros “ismos” e modismos. Eu, porexemplo, acho que todas as diferenças podemconviver em perfeita harmonia, e, que o direito de umcomeça onde termina o do outro. Qualquer um tem deconquistar o seu espaço respeitando o dos outros, istoé, não se pode obrigar ninguém a aceitar nada... pode-se esclarecer as coisas, a aceitação ou não vai de cadaum. Assim é, e, assim deveria ser, sempre.Filhos, tenho dois. Um me paparica todos os dias, ooutro, ocasionalmente. Mas não posso mudar os fatos–  cada um é como é. Os amigos, conto-os e osreconto e alguns podem ser chamados como tais  –mas com tantos conhecidos – como são poucos, osamigos! Mesmo assim, eu continuo a chamá-los paraque não se olvidem de que estamos juntosna caminhada.

Gosto de movimento... Do vento que balança as folhase faz tilintar os sinos da varanda. Gosto de gatos –quando eles  ouvem a minha voz  – me rodeiam comseus miados doces e interesseiros... eu, também, souinteresseira, adoro receber seus carinhose acarinhá-los.E, o melhor de tudo, é que sou soberana nas minhasatitudes e dos meus atos, ainda mais quando nunca mepreocupei com o que podiam dizer ou pensar de mim.Já dei  sonoras bananas sem me importar a quem...Tenho orgulho de dizer que piorei, sempre faleipalavrões... com a idade, como bom vinho, melhorei eaperfeiçoei... o vocabulário em guarani,espanhol, francês...Não sou, totalmente, tola... percebo com clarezaquando me usam... às vezes me deixo trampolim pormeu interesse. E, quando oportuno, deixo claro, paraque não pairem dúvidas, sobre o meu realizar. Porém,nunca, nunca, nunca, deixo porém o “pé na minhaonça” e tirar foto... Se fui eu quem a abateu, digo emalto e bom som... Não divido meu chapéu.Que o tempo continue passando... Que eu possacontar ao espelho a história de cada ruga, dos cabelosbrancos, das mãos envelhecidas, da gordura queacumulei, do olhar faceiro; que eu tenha a ventura decontar os dias vividos em tão boa companhia eparceria, eu tive a sorte de achar o parceiro perfeito –que sempre respeitou meus espaços.Que eu me complete neste ir e vir, como ondas domar, que vai e vem e sempre morre na praia, comolágrimas de espuma que a areia branca se encarregade guardar. Que seja assim, no último alento, quandomisturada ao vermelho de minha terra, possa voar,voar,  voar... e, integrar-me ao verde de nossoscerrados, à pureza de nossos rios, ao cantar dospássaros e, quem sabe, camuflada como um urutau,cantar em noites de lua cheia as saudadesque deixei na terra.

EnEnEnEnEn v v v v velheelheelheelheelhe cendo cendo cendo cendo cendo

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Rito dePPPPPAAAAASSSSSSSSSSAAAAAGGGGGEEEEEMMMMM

PorELIANA MORAJornalista e poetaJuiz de Fora - [email protected]

A palavra espera

tem o poder de transformar-se em

algo

líquido

quase amorfo

consegue adaptar-se às paredes do

cérebro

da garganta

do coração

escorrer pelas veias e concentrar-se

em local desconhecido

a palavra pede

precisa transformar-se novamente em

algo

que possui sons e feitios

para logo após diluir-se no ar

não sem ter encontrado

seu destino

[ao menos o daquele momento]

o silêncio se arruma em torno dela

novamente

e as construções das letras aí iniciam

sua expansão

concentram-se

dilatam-se

até sua generosa saída para o mundo

aí, então, completamente

amadurecidas.