revista nós nº2

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Revista colaborativa lançada em novembro de 2010 pelo Programa Rede Cultura Jovem - SECULT ES.

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editorial

Olá, Leitor!

A revista Nós é um espaço para o exercício autônomo e criativo das diversas juventudes capixabas e, se você observar bem, perceberá que a presente edição trata, essencialmente, de espaços:

Do graffiti nos muros e nas paredes da cidade à tatua-gem na pele, do merecido reconhecimento para os jovens músicos instrumentistas à circulação de produtos edito-riais jovens, da presença feminina no funk ao audiovisual feito por jovens no Estado, da percepção do valor histórico à ausência poética dos espaços cotidianos, das paisagens às possibilidades de encontro da cidade.

Na maior parte dos conteúdos da Nós nº 2 você entrará em contato com as tensões e com as potencialidades da ação jovem sobre os mais diversos espaços, sobre os dife-rentes jeitos de experimentar a espacialidade.

Aqui é o lugar – impresso, colorido, imagético, textual e gráfico – para a expressão dos criadores jovens capixabas.

A Nós é o seu espaço!

Prestes a completar um ano de existência, o Programa Rede Cultura Jovem lança o segundo número da revista Nós, embasado pela repercussão positiva e no consequen-te aprimoramento de sua primeira versão.

A ideia de rede, de teia, uma das grandes metáforas de nosso tempo, vem sendo desenvolvida por meio de varia-das ações do Programa, visando a conectar os jovens de nosso estado a partir da valorização e do incentivo à prá-tica da arte e da cultura. Trata-se, como sabemos, de uma forma de organização coletiva que estimula as relações humanas, a conquista de novos espaços de manifestação cultural e a comunicação apoiadas na colaboração e na cooperação entre os grupos, os indivíduos e as comunida-des envolvidas.

O Portal YAH, sua principal ferramenta tecnológi-ca, foi reformulado e adequado às novas exigências de usuários sempre antenados com os avanços dos processos de transmissão de informação e de compartilhamento de experiências pelas redes sociais. Pretendemos oferecer assim condições cada vez mais atualizadas para a troca de experiências e de saberes e para o exercício da consciên-cia crítica.

A revista Nós cumpre o papel fundamental de criar um espaço privilegiado de produção de textos críticos, de jornalismo colaborativo e cultural e de dar visibilidade ao trabalho de inúmeros jovens autores, escritores e criado-res do nosso estado.

Boa leitura a todos!

Dayse Maria Oslegher LemosSecretária de Estado da Cultura do Espírito Santo

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sumárioconheça o perfil dos colaboradoresda Nós nº 2 na página 48 desta edição.

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circuito

Nas férias de verão a galera jovem da Grande Vitória tem o Centro

de Referência da Juventude de Vitória (CRJ) como lugar garantido

para se encontrar. Durante o mês de janeiro, acontecerão ofi cinas

gratuitas para jovens com idade entre 15 e 29 anos. O CRJ conta

com laboratório multimídia, estúdio, equipamentos de som e vídeo,

além de área própria para atividades culturais e esportivas. Mais

informações pelo telefone: (27) 3132-4042.

oficinas de férias

O Portal Espírito Rock nasceu para ser o espaço do rock capixaba. O

site funciona como uma rede social, onde os usuários podem postar

seus trabalhos musicais ou apenas conferir o que está rolando. Lá,

você encontra informações sobre a história do rock capixaba, agenda

de shows e vídeos. Os idealizadores do Portal pretendem lançar uma

coletânea, Espírito Rock vol. 1, com músicas de bandas selecionadas

por meio da rede social. Acesse: www.espiritorock.com.

Lançado em outubro deste ano, o DVD Palavra Ilustrada traz poemas

recitados por jovens participantes da Ofi cina de Teatro do Centro

Cultural Araçá, de São Mateus. A produção também conta com

entrevistas de artistas mateenses envolvidos com a literatura local.

Um retrato da diversifi cada cena musical jovem do Espírito Santo, a

quarta edição do Festival Prato da Casa recebeu inscrições de mais de

100 bandas e acontece no próximo dia 11 de dezembro, em Vitória.

Participam do evento as bandas James, Já Elvis, The Singles, L-20,

Shotgun Corporation, Anti-Milk, Redento, Manfredines, Fernando

Balarini, Hypnotzion, Subversivos, Lis E A Era Briluz e Utruru. O

Festival lança um CD com gravações das bandas selecionadas e é

organizado pelo programa Bandejão 104.7, da Rádio Universitária FM.

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Um projeto ousado e o trabalho de uma galera amadora deram ori-

gem ao longa-metragem La Serena. A ideia foi a seguinte: produzir

um filme de ficção no interior do Estado, sem recurso público e com

a equipe formada exclusivamente por pessoas da região do Caparaó

capixaba. Cerca de 150 moradores de Muniz Freire participaram

da produção. O roteiro gira em torno da história de uma excêntri-

ca senhora que conta sua vida para um novo amigo após a morte

de seu cão. Lançado em outubro, La Serena está disponível para

download no endereço: www.munizfreiretv.com.br/cineinterativo/

laserena.wmv

Alex Reblim (Afonso Cláudio), Eduardo Ojú (São Mateus) e Nata-

nael de Souza (Vitória) foram os três jovens capixabas seleciona-

dos para participarem das Oficinas de Realização Audiovisual da

Galpão. Além deles, outros 13 jovens de diferentes regiões do País

passaram por uma intensiva formação sobre audiovisual, voltaram

para as suas cidades e fizeram as suas produções acontecerem.

Saiba mais: www.oficinasgalpao.org.

produção audiovisual jovemjogo capixaba

A difusão da música erudita esquentou o XVII Festival de Inverno de

Domingos Martins, realizado de 22 de julho a 1º de agosto de 2010.

A cidade contou com uma extensa programação de apresentações

culturais e oficinas musicais. Os cursos contaram com a participação

de jovens músicos de diversos Estados. O Festival teve inspiração no

bicentenário do nascimento do pianista polonês Frédéric Chopin e no

centenário de nascimento do compositor brasileiro Noel Rosa.

mÚsica nas montanhas

O jogo CPI Brasileira ou Corrida Presidencial Infinita Brasileira,

elaborado por estudantes do curso de Tecnologia em Jogos Digitais

da Faesa, foi selecionado para o Festival de Jogos Independentes

que aconteceu este mês durante o IX Simpósio Brasileiros de Jogos e

Entretenimento Digital – o SBGames 2010, em Florianópolis-SC. O

CPI Brasileira funciona como uma sátira ao recente processo eleitoral

e o jogador escolhe ser um “canditato” que competirá com outros

rivais para ser o presidente do Brasil. A versão integral do jogo pode

ser baixada no site oficial www.freiyagames.com.

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NOvELO

É possível ouvir o som das sirenes, dos sorrisos, dos gritos e das

batidas nos muros frios da madrugada urbana, mas os auto-falantes

não estão fora e sim aqui dentro. Fácil encontrar-se com o carrossel

de insinuações multiformes, multicoloridas, multiplicadoras nas vias

principais da cidade. Cada imagem grafi tada é um item (e um mar)

na coleção impossível de sensações e proposições que é a cidade

(amontoado de seres humanos no embate entre individualismo e

carência). Estaria, ali, a superestimada urbanidade do tempo de mortes

prematuras da imagem e da palavra? A resposta são inumeráveis

cliques fotográfi cos, tentativas de retratar um ato sintético, direto e

específi co. Talvez ainda haja um traço de Ficore, interrompido pelo

fl agrante, no alto do antigo Pouso Real, no Centro de vitória. É exata-

mente na correria pelas escadas, nos patamares saltados e tornozelos

torcidos que encontramos a característica básica da geração nascida de

contradições do convívio: audácia.

O graffi ti, detentor da audácia, é também hábil na diplomacia. Por

isso, tem recebido o caloroso abraço das instituições não só do museu,

mas da galeria e do especialista, da ARTE. Abraço repudiado por mui-

tos e astuciosamente retribuído por outros. Na retribuição do abraço,

uma proposta é sussurrada num sorriso: podemos trabalhar ideias

que estão muito além da imagem. Proposta que não é unilateral, pois

ocorre somente quando o sistema de arte repensa seus papéis desem-

penhados até então e decide apontar para fora de seus domínios. O

graffi ti nasce todos os dias sem o compromisso de ser arte. Os museus

aparentemente gostam disso. Tal despretensão faz sorrir também o

mercado. Todo o estereótipo e toda a técnica são vendáveis. Uma boa

técnica que faça um estilo ser reconhecível é moeda de grande valor.

O projeto O sonho de um grafi teiro, de André Martins, pelas indica-

ções de Alecs Power, demonstra a vibração de incontáveis variantes de

se fazer graffi ti.

Procurar uma visão unifi cadora para algo que jamais demonstrou

dissolução – mas pelo contrário, constrói-se sempre com mais solidez

– talvez seja agarrar-se ao olhar simplista ou impróprio da atualidade.

É brincar de recortar manchetes do jornal de ontem para construir

as manchetes de hoje. Teríamos de usar de arbitrariedade e ignorar

práticas necessitadas de novos termos.

No protesto impaciente a chamar pela ousadia, na expressão da

territorialidade e no grito delinquente, na marca efêmera repleta de

referências e na assinatura da arte, em todos e em cada um dos casos,

o graffi ti mantém uma propriedade reconhecível e indefi nida. Não

fosse assim, chegaríamos até tal discussão?

Há galerias de arte exclusivas para o graffi ti, que ainda está no

início da sua caminhada pelas paredes do museu. Apesar de já o

termos visto dentro de museus, ele ainda é um convidado excêntrico

nessa mesa elitista, pois, para fi rmar-se como conteúdo na instituição,

exige-se melhor defi nição dessa expressão artística. A 1º Bienal Inter-

nacional de Graffi ti de Belo Horizonte (2008) pôs o graffi ti na esteira

rolante do sistema de arte e o pacote passou direto por nós, pois não

o reconhecemos como nosso. O olhar turvo é ferramenta para a 1ª

Bienal Internacional Graffi ti Fine Art, encerrada mês passado, no

MuBE (SP), onde debates buscaram evidenciar relações entre graffi ti e

artes plásticas nas particularidades da arte urbana.

No Espírito Santo, a Semana do Graffi ti, evento realizado em mar-

ço deste ano, trouxe uma estrutura formada pelos próprios grafi teiros

para mostrar os valores de suas práticas. Como nas ideias do grafi teiro

Fredone FONE, a cidade tornou-se Galeria, desamarrada de pesos

históricos estranhos a essa geração. Opiniões e desejos confl itantes

unem os ensinamentos do Prof. Fagundes, no Centro de Referência da

Juventude, às intervenções feitas dentro do Museu de Arte do Espírito

Santo pelos grafi teiros do Instituto Tamo Junto, à luta diária de André

Martins, que vive o graffi ti como seu trabalho e identidade, e ainda

a cada marca deixada pela cidade, como as linhas desesperadoras

de Marc1 e Japão nos tapumes da Fábrica 747. Em todos os casos, a

compreensão é o inesperado. A parede do museu dura menos que a

banca de revista transformada em caixa mágica de formas imbatíveis

na Av. Jerônimo Monteiro.

O melhor é que não temos controle sobre o que os olhos alheios

querem ou podem enxergar. Cada graffi ti é imagem e também é lugar.

Ele nos faz enxergar que estamos dentro da cidade dentro de nós.

Surgem como suportes: a cidade visível, tocável; a cidade invisível, o

espírito da urbanidade, o ar da cidade; e o fato de respirarmos esse

ar, experimentarmos ser urbanos. Por esse espírito é que trabalham

Fredone FONE, Alecs, REN, Japão, Somall, Iran, Limão, GRD, AQI,

Fagundes, Giu, Kito, Canela, Ed Brown, Smoke, Cain, James, Moska e

Arme (Cachoeiro do Itapemirim), Dione (Anchieta), Liam (Guarapari),

Ficore e muitos outros.

Aquilo que a cabeça “grafi ta” é a vida que existe no momento em

que o olho insiste em piscar.

as tensões do efêmero no concreto provocadas pela imagem-lugar graffiti

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rodrigo hipólito

[email protected]

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Horas de treino e estudo diários para encontrar um teatro vazio. A

plateia – quando há – se levanta durante o espetáculo, conversa e fala

ao celular. Esta é a realidade de muitos instrumentistas capixabas que

sofrem com o não reconhecimento da música erudita.

Muitos jovens que sonham em fazer parte de uma orquestra po-

dem acabar, na melhor das hipóteses, em uma sala de aula. O melhor

cargo entre as ofertas para esses profi ssionais no Estado pode ser o

de professor, o que frustra a parcela ansiosa pelos palcos. Talentos

com urgência por crescimento não encontram território amigável no

cenário musical do Espírito Santo.

Talvez o problema seja aquela velha mania do brasileiro de preferir

a grama do vizinho. O capixaba também parece seguir essa lógica ao

lidar com a sua música popular e, por isso, trata os músicos de outros

estados como superiores aos seus próprios conterrâneos. Caetano

Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque: gênios da música. Mas quem é

Sérgio Sampaio mesmo?

o nosso gramado é bonito!O violonista e compositor Lucius Kalic (24 anos, foto no alto da

página 11) tenta responder. Ele tem um projeto que consiste em lançar

um songbook do músico capixaba Sérgio Sampaio. Songbook é um

livro que contém as cifras das canções e as melodias da voz e da letra.

É um registro que possibilita a reprodução das canções atendendo às

gravações originais, além de uma referência segura de análise teórica.

Lucius não quer o projeto funcionando apenas como material

científi co. Por trás da ideia existe um desejo de fã: “O songbook é uma

forma de ajudar a perpetuar a memória do artista e de disseminar seu

trabalho. Já existem songbooks de grandes artistas, mas não do Sérgio

Sampaio. Ele não tem a mesma projeção dos grandes músicos, mas está

no mesmo nível de Chico Buarque e de Gilberto Gil”, afi rma Lucius.

Voltando à música erudita, um jovem violonista prova que o

reconhecimento reivindicado para os instrumentistas capixabas não é

mera “patriotada”. Renan Simões (22, primeiro da esquerda para a

direita no canto inferior da página 11) esbanja talento no violão e já

ganhou 14 prêmios, 13 nacionais e um latino-americano, além de ter

participado de um concurso na Tv Cultura.

“Comecei a tocar bem cedo, nem sei precisar quando. Nunca me

prendi a nenhum estilo, sempre tentei tirar o melhor de cada um”,

diz o jovem enquanto abre uma gaveta e retira o livro 1001 discos

para se ouvir antes de morrer (de Michael Lydon e Robert Dimery. Ed.

Sextante, 2008). Renan conta que já ouviu todos os discos recomen-

dados. “As pessoas dizem, por exemplo: ‘Eu ouço só reggae!’. Mas se

você ouve só um estilo, você ouve do ruim ao bom. Eu prefi ro ouvir

de tudo e pegar o melhor de cada banda”, completa o músico.

Quando perguntado sobre a qualifi cação necessária para exercer

a profi ssão, Renan responde com uma experiência de fazer inveja a mui-

andreW laureth e leandro reis

entre rosas e espinhos. jovens instrumentistas no cultivo da mÚsica capixaba

NOvELO

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tos veteranos: “Não é preciso estudar muitas horas por dia depois de

certo tempo. O corpo não aguenta. Uma carreira musical não depende

só de você tocar muito bem, mas também de saber administrar a coisa”.

Os caminhos do músico erudito brasileiro não são fáceis. Além

de toda a preparação e a disciplina, necessárias para interpretar peças

complicadas, o artista ainda enfrenta problemas no mercado de traba-

lho. “A preparação na música erudita não é muito valorizada. Além de

o músico clássico se dedicar a tocar a sua música, que não dá retorno,

ele tem que parar para dar aula e resolver uma série de problemas do

trabalho, enquanto o músico popular pode se dedicar totalmente à sua

música e é extremamente valorizado”, diz Renan.

O músico também já tocou fora do Brasil e, como a grama do

vizinho sempre é mais verde, a gente já acha que o povo europeu tem

a cabeça diferente do brasileiro. A imagem de superioridade estrangei-

ra que criamos em nossa cabeça, parece não se confi rmar a partir dos

relatos de Renan, que se apresentou em Portugal: “A gente pensa que

Europa é outro mundo. Aconteceu que lá, no meio do concerto, tocou

um celular. O cara pegou o celular e atendeu, gritando: ‘Alô! Eu não

posso atender agora porque estou no meio de um concerto!’”.

é preciso cultivar nosso jardimPara o professor do Departamento de Música da Universidade Fe-

deral do Espírito Santo, Ernesto Hartmann (40), o não reconhecimento

da música erudita não acontece só no Estado, mas no País inteiro. Se-

gundo ele, nós, brasileiros, achamos legal quando são os europeus que

fazem, mas quando nós fazemos é inferior. “Aqui no Brasil, a gente

não tem um sentido de patrimônio cultural”, completa Hartmann.

Saindo da negatividade – embora real – da projeção que é dada

ao artista erudito, Lucius Kalic fala da importância da qualidade do re-

conhecimento: “Nos locais que eu passei como instrumentista, eu tive

um reconhecimento. Reconhecimento é quando as pessoas que têm

oportunidade de te ver reconhecem o valor do seu trabalho naquele

momento. Acho que a única forma de se avaliar o reconhecimento,

para quem não é famoso, é dizer que isso não tem ligação direta com

a quantidade de pessoas que conhecem o seu trabalho, mas com a

qualidade que elas veem nele.”

A música erudita, embora não tenha raízes fortes no Brasil, faz parte

da expressão cultural de algumas cidades do Espírito Santo. Domingos

Martins, na região serrana do Estado, é um exemplo disso. O jovem

Aloísio Endlich (20, segundo da esquerda para a direita no canto inferior

desta página) faz o resgate da cultura alemã trazida pelos imigrantes

para o seu município por meio do trompete. Além de aprimorar-se

enquanto instrumentista, Aloísio tem feito uma série de apresentações

com um grupo da própria cidade para recuperar o uso dos instrumentos

de sopro típicos da música germânica. Aloísio chama atenção para um

problema que afeta diretamente a cultura musical capixaba: “Acredito

que seja um problema de divulgação. Muita gente de Domingos Mar-

tins não conhecia a música erudita, mas depois que comecei a desenvol-

ver esse projeto as pessoas começaram a dar mais atenção”.

Muitas opiniões, mas todas parecem convergir ao velho problema

da grama. Com tantos jovens talentos ansiosos por lapidação, fi ca

uma impressão que, apesar de velha, ainda é atual: é preciso cuidar

mais do nosso jardim.

tos veteranos: “Não é preciso estudar muitas horas por dia depois de

certo tempo. O corpo não aguenta. Uma carreira musical não depende

só de você tocar muito bem, mas também de saber administrar a coisa”.

uma impressão que, apesar de velha, ainda é atual: é preciso cuidar

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Há quatro anos, nasceu a revista Prego sob o slogan “Quadri-

nhos, Arte Punk & Psicodelia”. A publicação reúne tudo isso, além de

entrevistas, literatura e humor. De acordo com um dos seus idealizado-

res, o estudante de Artes Visuais Alex Vieira (23 anos), “prego” foi o

nome escolhido devido aos seus vários sentidos. “Prego é um objeto,

um macaco, um adjetivo e em italiano signifi ca ‘de nada’. O nome foi

escolhido entre outros pescados aleatoriamente no dicionário, depois

disso fui agregando sentidos à palavra”, conta.

Alex explica que a revista surgiu para dar espaço à produção au-

toral de jovens artistas e é construída de maneira colaborativa: “Cada

artista produz seu trabalho, digitaliza e envia. A partir daí, vamos dan-

do forma às páginas”. Na sua última edição, a revista contou com o

trabalho de 29 colaboradores e foi lançada na Feira do Livro de Cano-

as, no Rio Grande do Sul, em junho deste ano. Em 2008, foi formado

o projeto coletivo Prego Publicações. Em seguida, o grupo também

lançou outros títulos como Ataque Fotocópia, de Alex Vieira, Gente

Feia na T.V., de Chico Félix, e Vulgar Manual, de Guido Imbrosi.

De maneira geral, entende-se revista como uma publicação

impressa. No entanto, cada vez mais a internet abre espaço para esse

tipo de veículo. A prova disso são os sites de publicações já existentes

no mercado – que muitas vezes reproduzem todo o material que sai na

versão impressa – e também as revistas que são idealizadas especial-

mente para a web. É o caso da Strombolli e da Urbano, revistas cria-

das visando a abrir novos espaços para a divulgação de arte e cultura.

A Strombolli, assinada pela designer gráfi ca Sthefany Frassi (22),

tem como foco as artes visuais e é feita “nos moldes” de uma revista

impressa, ou seja, os seus leitores podem folhear virtualmente as pági-

nas da publicação. O nome escolhido faz menção a uma pequena ilha

da região da Sicília, na Itália, onde existe um vulcão de mesmo nome

que tem erupções a cada hora. A proposta é comparar o fenômeno à

efervescência e à expressividade da arte pelo mundo.

A publicação reúne várias formas de expressões artísticas, como fo-

tografi a, artes plásticas, design, moda, entre outros. Sthefany conta que

a ideia de criar a revista veio da internet: “Sempre gostei de fi car na inter-

net vendo desenhos, ilustrações, quadros e tal. Daí, comecei a ver aquilo

com outros olhos, apreciar e anotar nomes de artistas que eu gostava”.

A primeira edição da Strombolli saiu no começo de 2009 enquanto

que a segunda em julho deste ano e a terceira foi lançada neste mês. A

perspectiva é que a revista tenha periodicidade trimestral e que ganhe

uma versão impressa. A Strombolli recebe trabalhos de colaboradores de

vários lugares, como o Reino Unido, a Argentina, Califórnia, a Alema-

nha, o México e, é lógico, o Brasil.

Enquanto a Strombolli optou por estar na internet utilizando o for-

mato de revista impressa, a revista Urbano usa o formato de blog para

veicular seus conteúdos. A publicação começou seus “posts” no início

deste ano e tem como pauta principal a arte e a cultura urbana. De acor-

do com o editor de vídeos Thiago Rocha (22), que compõe a equipe da

Urbano junto com outras cinco pessoas, o foco da publicação é mostrar

as várias manifestações urbanas, principalmente o graffi ti e o skate: “Em

todas as edições da revista, haverá um espaço reservado para esses dois

gêneros”, explica.

Thiago conta que a escolha dos assuntos que virarão matéria vai

de acordo com as demandas do dia a dia: as ideias são repassadas por

e-mail para a equipe e o redator é o responsável por escrevê-las. “Um

edita os vídeos, outro fotografa, outro cobre os shows e por aí vai”,

explica. A revista tem aumentado o número de visualizações e hoje as

visitas ao site estão por volta de mil acessos a cada 15 dias”, completa.

1 o ato de revistar. 2 exame minucioso. 3 publicação periódica

na forma de uma brochura mais ou menos extensa, com escritos

variados e geralmente ilustrada. 4 produtos editoriais de jovens capixabas sobre quadrinhos, artes visuais, cultura urbana e humor

NOvELO

aline alves

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[email protected] | @ALvESALINE

Page 15: Revista Nós nº2

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para além das letrinhasEm 2002, cinco universitários se reuniram para produzir,

de maneira experimental, uma revista. Nascia a Quase #0.

A publicação lançou personagens, como o Homem Galinha

(capaz de derrotar qualquer oponente no ringue) e propagou

um debochado anti-capixabismo em suas páginas.

A partir da segunda edição, chamada de #1, o impresso

começou a tomar forma e trouxe consigo algumas característi-

cas que permaneceriam sempre agregadas à Quase: festas me-

moráveis, camisetas com chacotas e histórias em quadrinhos

envolvendo os costumes e os artistas locais. Os quadrinhos são

o foco principal da revista, mas há também matérias e outras

seções divertidas, como a destinada às cartas.

A última edição foi lançada em 2009 e, atualmente, a

atenção dessa trupe está voltada para o audiovisual. “O

mercado editorial é complicado, depois da internet o hábito de

comprar revistas foi se perdendo, principalmente no humor,

que é bastante perecível. Aí a gente fez essa transição”, diz

Juliano Enrico (26), que integra a equipe da Quase.

A publicação tem um blog, mas existe o projeto de criar

um site dentro do Portal MTv para veicular quadrinhos, maté-

rias e vídeos de humor. A Quase tem aparecido no programa

Fiz na MTv e todo esse conteúdo pode ser visualizado no

canal TV Quase, do YouTube.

Em breve, também deverá ser lançada uma espécie de

almanaque contando a engraçada e bem sucedida trajetória da

Quase nesses oito anos de sua existência.

URBANOrevistaurbano.com.br

[email protected]

QUASErevistaquase.blogspot.com

youtube.com/tvquase

STROMBOLLIstrombolli.com.br

[email protected]

PREGOrevistaprego.blogspot.com

[email protected]

13

Page 16: Revista Nós nº2

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Há oito anos, quando Vitor Graize (27 anos) e Rodrigo de Oli-

veira (25) se conheceram na universidade, os dois amigos já tinham

em comum a paixão pela sétima arte. Agora, eles dividem o desafi o

de dirigir o longa-metragem As Horas Vulgares. O fi lme é o primeiro

projeto desse porte a receber incentivos da Secretaria de Cultura do

Espírito Santo, selecionado via edital em 2009.

O roteiro é uma adaptação feita pelos próprios diretores da obra

literária Reino dos Medas, publicada em 1971, por Reinaldo Santos

Neves. Embalada por muito jazz, a história do fi lme acontece em vi-

tória no início dos anos 2000 e gira em torno das angústias, paixões,

amizades e novas experiências de um grupo de jovens artistas.

A história de jovens envolvidos com arte se repete atrás das câme-

ras. Quase todos da equipe estão na faixa dos 20 e estão dando um

salto grandioso nas suas carreiras. São jovens talentosos e profi ssionais

promissores que já experimentaram parcerias em projetos acadêmicos,

ofi cinas, curtas-metragens ou já estiveram juntos nas aulas de teatro.

“Ao montar a equipe buscamos muito essa afi nidade de pessoas que

pensavam o fi lme no mesmo sentido que a gente. As pessoas trazem

coisas novas e as surpresas são sempre positivas. Acho que é a parte

mais bonita é ver como eles têm se dedicado do mesmo modo que a

gente e se apaixonando pelo projeto como a gente tá apaixonado”,

conta vitor. “Trabalhar com equipe e orçamento reduzidos para um

longa faz com que, naturalmente, todo mundo seja levado a defender

o fi lme com muito mais garra. O fi lme é tanto deles quanto da gen-

te”, enfatiza Rodrigo.

A estudante de Comunicação Social Joyce Castello (21) e a de

Desenho Industrial Camila Torres (23) não perdem o entusiasmo,

mesmo com toda a correria das suas funções de produtora de arte

e assistente de arte e de fi gurino, respectivamente. “É a primeira vez

que faço um trabalho não amador com uma equipe grande onde exis-

tem funções bem defi nidas”, conta Joyce. Para elas, agora é chegado

o momento de se projetarem no mercado profi ssional podendo fazer

o que gostam.

A criatividade também toma conta do set, como nos conta o fi -

a estreia de uma equipe jovem na produção de um longa-metragem representa um momento de renovação e boas expectativas para o cinema capixaba

kamilla custódio e katler dettmann

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gurinista Harrison Medeiros (23), ao expli-

car a ideia da metáfora visual usada como

referência para a concepção da cenografi a

e do fi gurino: “vimos uma cena corriqueira

de uma plantinha que nascia no meio de um

prédio e ligamos isso à personagem Clara,

que tentou resistir a Vitória até não conse-

guir mais e se retirou para o campo a fi m

de respirar”. A trajetória dos personagens

da fi cção é muito próxima da realidade da

equipe. A trama é marcada por despedidas

e mudanças na vida de jovens que buscam

encontrar a si mesmos no momento em que

a cidade parece ser pequena demais. E quem

vive da produção cultural no Espírito Santo

sabe que atuar no meio não é fácil e, por

isso, muitos jovens saem daqui em busca de

horizontes mais amplos.

Os atores capixabas Thaís Simonassi (28)

e Higor Campagnaro (26) foram para o Rio

de Janeiro em busca de novos espaços de

trabalho e agora voltam pelo mesmo motivo

que saíram. Clara, a personagem de Thaís, no

fi lme, parte de vitória para o lugar bucólico

e afastado da cidade chamado “lá mesmo”.

Sobre essa identifi cação ela diz: “Tem a ver

com minha trajetória de vida, de sair, porque

as coisas precisam mudar. É um orgulho voltar

para participar do projeto que é meu primeiro

longa também”. Foi essa realidade que insti-

gou os diretores a adaptarem o romance para

o fi lme, como conta Rodrigo: “Me parece que

a ideia de ser jovem em Vitória, desde a época

de Reinaldo, não mudou muito”.

DIÁRIO DE PRODUÇÃO

O relógio marca cinco horas da manhã de

uma sexta-feira. Chegam ao cais da Ilha das

Caieiras diversas vans trazendo a equipe de As

Horas Vulgares. A mesa de café da manhã é

montada ali mesmo, junto ao arsenal de ma-

quiagem, às muitas bolsas e aos equipamen-

tos de captação.

São cerca de 25 pessoas no set de fi l-

magem, todos empenhados para que tudo

aconteça como o planejado. Para garantir a

continuidade, Manuela Curtis (28), diretora

de arte, fotografa os atores de corpo inteiro,

rosto e detalhes antes que eles entrem em

cena. Enquanto isso, Joyce Castello tenta re-

solver o problema do orelhão. “Dez anos atrás

não existia essa empresa de telefonia. Vamos

ter que trocar o orelhão. Temos que ser fi éis a

esses detalhes”, explica.

Uma delicada voz pede: “Atenção, gale-

ra! Silêncio absoluto, tudo bem? Agora va-

mos gravar”. É a produtora de set Cláudia

Vilarinho (24) falando com os pescadores que

acompanham as gravações desde cedo. Entre

os pescadores, alguns cochicham sobre um

dos atores que corre e pula pelos arredores

enquanto se aquece para entrar em cena.

- Vamos rodar? Silêncio, gente. Prepara.

Som? / Rodando. / Cena 5, Plano 2, Take 1

/ AÇÃO!

Porém, um latido atrapalha os planos da

equipe. Cláudia corre para dar um jeito no

cachorro, que parece querer ser um dos per-

sonagens do fi lme. Resolvido o problema, é

pedido silêncio absoluto e o plano é rodado

novamente. Ficou bom. viva! A equipe vibra

ao assistir à imagem captada no pequeno mo-

nitor de vídeo. Mais alguns takes gravados e

pausa para o almoço.

A equipe ainda tem um longo caminho

pela frente: depois do almoço, mais cenas se-

rão gravadas e, no dia seguinte, outras e mais

outras... Tudo se repetirá até novembro, quan-

do a película será revelada. A partir daí, come-

çam a edição e a fi nalização do fi lme. Agora,

fi ca a expectativa para ver o resultado na telo-

na. A estreia de As Horas Vulgares está prevista

para junho de 2011. Paciência! Já-Já chega!

@ashorasvulgares | ashorasvulgares.com

www.facebook.com/ashoras

[email protected] | @[email protected] | @KATLERDETTMANN

foto

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Page 18: Revista Nós nº2

1616

carolina ruas

NOvELO

16

foto

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teir

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[email protected] | @CAROLRUAS

Page 19: Revista Nós nº2

17

Em um baile funk é comum o uso de ter-

mos não muito amistosos para se relacionar

com as pessoas. Quem costuma “quebrar

tudo” é alguém que está arrasando no baile.

Uma “potranca” pode signifi car uma mulher

sensual. E “esculachar” o amigo é só uma for-

ma bem humorada de interação. Essas expres-

sões podem até soar ofensivas, principalmen-

te, se você for mulher, mas o que nem sempre

está claro é que existem muitas maneiras de

fazer e cantar o funk. Apesar de todos os ma-

neirismos e preconceitos que circundam essa

manifestação cultural, o que impera nos bailes

é a brincadeira e a curtição.

“Fazer funk é, acima de tudo, divertir-se”,

defendem Patrícia Alves (22 anos) e Poliana

Barreto (24). As duas, mocinhas de família e

trabalhadoras, escolheram seguir o complicado

ofício de cantar em baile funk. Elas são a MC

Malvada e a MC Poli Bolada e costumam “que-

brar tudo” com a galera, mostrando uma pro-

posta diferente de funk que adora “esculachar”

com os garotos que acham que as “potrancas”

só servem para rebolar em cima do palco.

As duas garotas são moradoras do muni-

cípio da Serra e fazem parte de uma nova leva

de MC’s que quer levar o funk capixaba a outro

patamar, sem necessariamente envolver vio-

lência, drogas e, principalmente, sem precisar

mostrar o corpo da mulher. “Às vezes a gente

até canta putaria, porque o povo gosta. Mas

é uma ou outra música só porque tá na boca

do povo, mas a nossa proposta é outra”, diz

Poli Bolada. Desconstruir o imaginário negativo

sobre funk não é fácil, mas as jovens funkeiras

tentam ao máximo trazer uma mensagem dife-

rente, principalmente, sobre a mulher.

Cansadas do preconceito contra quem faz

ou curte funk, elas sabem do valor social que

a música pode trazer às comunidades. Poli ex-

plica que diversas vezes as pessoas a olharam

torto quando souberam que ela cantava funk.

“Acham sempre que é coisa de bandido. Mas

isso acontece em qualquer lugar: no pagode,

no forró etc. Se você parar pra pensar tem

muita música aí que faz apologia às drogas e

ao sexo”, termina.

Para se contrapor ao estigma, as garo-

tas decidiram que o funk do bem era o que

queriam fazer da vida. Suas músicas falam de

amizade, futebol, namoros e do cotidiano do

povo. Reconhecimento ainda é difícil, princi-

palmente, porque as rádios capixabas prefe-

rem insistir no funk carioca, que já faz sucesso,

ao invés de oportunizar a produção local. “A

gente tem que crescer aqui, mas se o pesso-

al daqui não investe na gente eu vou ter que

mandar minha música pra fora, pra Minas Ge-

rais, pro interior do estado”, explica Malvada.

Quanto ao público, porém, elas garantem

que a resposta é imediata. “Na minha comu-

nidade, o pessoal sabe quem eu sou e valoriza

o meu trabalho”, diz Poli Bolada. Ela sente

orgulho por ter se tornado referência para

os jovens ao seu redor. “Quando você chega

num baile e a galera reconhece seu trabalho,

é muito gratifi cante. O pessoal vê o que eu

faço e pensa ‘a Poli defende as mulheres, os

gays, os negros’, e com isso olham pra mim

com admiração. Isso te motiva a fazer coisas

diferentes”, explica.

funk da paZO projeto Funk da Paz é uma iniciativa

que tem proporcionado a inserção e o reco-

nhecimento de meninas no funk capixaba. É

o caso de Jéssica da Silva Nunes (18) que diz

categórica: “Sou uma MC que não gosta das

putarias não! Falta espaço para a mulher no

funk ser representada com dignidade, porque

a mídia só investe em ‘proibidão’”.

Isso talvez explique o preconceito que

impede uma maior participação feminina na

cena funk. Para os pais de Jenifer da Vitória, a

MC Jenifer (16), não foi muito fácil aceitar a

vontade da garota de integrar o Projeto. “Até

hoje eles não gostam. Eu também achava que

não era coisa de menina, mas depois fui vendo

que tanto homens quanto mulheres podem

fazer esse trabalho”, explica Jenifer.

Atualmente, de um total de 17 jovens, o

Funk da Paz conta com seis meninas que já

fazem shows nos quais apresentam suas pró-

prias letras e passam uma mensagem de cons-

ciência social a outros meninos e meninas. A

iniciativa consiste na realização de ofi cinas de

canto e rima nas comunidades de periferia

de Vitória, onde os jovens são estimulados a

comporem sobre sua realidade e a se apresen-

tarem em público. Para a produção desta matéria, contamos com a colaboração do MC Tim e do MC Popay.

elas também dão o seu catuque.a participação feminina no funk capixaba

17

Page 20: Revista Nós nº2

1818

bruna andrade

NOvELO

Pele e tinta. Pintura e vida. No corpo e na alma. Arte viva! Em vá-

rios locais do mundo e por diferentes motivos surgiu a tatuagem que,

até hoje, expressa signifi cados individuais e coletivos. Especialmente

entre as juventudes a tatuagem tem, cada vez mais, se consolidado

enquanto um produto de consumo e um campo de atuação profi ssio-

nal. Frente a isso, aventuramo-nos a conhecer um pouco sobre esse

mercado em ascensão no Espírito Santo. Nessa empreitada, contamos

com a contribuição de tatuadores de alguns municípios da região

metropolitana da Grande Vitória.

A entrada dessa galera no ramo da tatuagem tem relação com as

suas habilidades para o desenho e, para a maioria deles, o interesse

pela arte surge após se tatuarem pela primeira vez. E a caminhada

nessa profi ssão não foi fácil. Para muitos, o primeiro desafi o estava

quando o cliente é a vitrineum panorama de como atuam os jovens tatuadores capixabas

dentro de casa: poucos receberam apoio da família para investirem na

atividade. Porém, o acesso ao material de trabalho foi apontado como

a principal difi culdade no início da carreira, pois, há alguns anos, além

do alto custo, não havia fornecedores especializados no Estado. Os

novatos também tinham que enfrentar a resistência dos tatuadores já

estabelecidos no mercado.

Até conquistarem seu próprio espaço, alguns deles vivenciaram

situações pouco convencionais, como usar máquina caseira com agulha

feita de corda de violão, pegar material emprestado e até tatuar em tro-

ca de objetos como bicicleta ou relógio. A chamada tatuagem de verão

traçada com canetas nanquim e a prática em pele de porco fi zeram par-

te das estratégias de aperfeiçoamento usadas no início da carreira, sem

falar nos amigos que serviram de “cobaias” para os primeiros desenhos.18

[email protected]

Page 21: Revista Nós nº2

1919

empreender a arteA maioria dos tatuadores consultados vive exclusivamente da

body art, seja apenas tatuando, seja também com a colocação de

piercing e maquiagem defi nitiva. Graças à habilidade para desenhar,

alguns desenvolvem outros trabalhos como graffi ti, aerografi a, pintura

de telas, ilustração, criação de estampa para camisas e de logotipos.

Outra possibilidade de atuação é na produção e na venda de séries de

desenhos.

Para todos eles, a paixão pela arte de tatuar, a paciência, a

humildade e a dedicação são as principais características para ser um

bom tatuador e permanecer no ramo. E ainda reforçam que, além

de ser uma arte, tatuar é um empreendimento. Por isso, é necessária

uma boa administração para manter o estúdio funcionando. É preciso

ser diligente com os pagamentos, horários e outros compromissos.

Os clientes devem receber um bom atendimento, terem a escolha do

desenho respeitada e sentirem-se seguros quanto ao uso dos materiais

e ao cumprimento das normas de biossegurança. O tatuador também

deve saber executar uma boa pigmentação, conhecer técnicas de

desenho e manter-se atualizado sobre as novidades do setor.

A internet foi indicada como a maior fonte de atualização, seguida

de outros meios como as revistas da área e do contato com outros

tatuadores para observar suas técnicas. Da mesma maneira, as con-

venções de tatuagem são espaços que proporcionam o intercâmbio

entre artistas e estilos diferentes, a divulgação de trabalhos e o acesso

a novas tecnologias em equipamentos e materiais.

Aqui no Estado, dois eventos desse tipo merecem destaque: a 1ª

Expo Tattoo ES, realizada em 2007, e o Vitória INK, que em 2009 che-

gou à sua 3° edição. O idealizador da 1° Expo Tattoo, Márcio Villar,

disse que percorreu vários estúdios de tatuagem do estado, ouvindo

a opinião dos tatuadores, a fi m de montar o evento. A Expo Tattoo

aconteceu na antiga área de eventos do Shopping Praia da Costa e

contou com 35 estandes, 50 tatuadores inscritos e um público de

três mil pessoas por dia, chegando a reunir quase seis mil pessoas no

terceiro e último dia. Incrementando o encontro teve graffi ti ao vivo,

exposição de fotografi as e esculturas, além de uma palestra sobre a

importância da biossegurança para o exercício da atividade.

Menguelle, organizador do Vitória INK, conta que a partir da 1ª

Expo Tattoo percebeu o potencial que o Espírito Santo tinha para esse

tipo de evento. Ele pulou de cabeça na ideia de fazer uma convenção

de tatuagem e no ano seguinte organizou os 1° e 2° Vitória INK.

A terceira edição rolou no fi nal de 2009 e os números falam por si

mesmos: 180 tatuadores inscritos, 11 categorias premiadas e um total

de seis mil pessoas durante três dias de convenção. A programação

contou ainda com a apresentação de bandas locais, exposição de

moda alternativa e graffi ti, além do sorteio de tattoos e piercings.

Comparando com tempos atrás, está mais fácil o acesso aos ma-

teriais e aos equipamentos necessários à body art, porém a profi ssão

ainda precisa ser regulamentada. A formalização legal da atividade de

tatuador tem sido debatida por todo o Brasil. No entanto, a questão

carece de mais participação por pessoas da própria categoria. São

também necessárias a organização e a mobilização dos tatuadores

para defenderem direitos profi ssionais e reivindicarem capacitação

técnica e investimentos públicos que promovam o desenvolvimento do

setor. Para essa galera hábil com agulhas e pigmentos, esse trabalho

criativo exige grande responsabilidade e profi ssionalismo, pois não se

esgota com o fi m da sessão de tatuagem; permanece vivo e impresso

no corpo do tatuado.

Contribuíram para esta matéria: Aline Girl (ArtPele Tattoo Studio),

Barraco, Bill Baumgarten (Bill Tattoo), Chinelo (Carlos Tattoo Studio),

Deivid Tattoo, Fábio Midgard, Felipe Tchulipa, Fuskão Tattoo, Gill

Tattoo, Iran Tattoo, Japão Tattoo, Lindomar Reinholds, Marcelo Ven-

turini, Márcio Villar (Tattoo Art Studio), Mazinho Tattoo, Menguele,

MC Popay, Patrick (Studio Defi nitiva Art´s), Robinho (Tattoo Art

Studio), Sandro Boca (ArtPele Tattoo Studio) e Wand Tattoo (Arte na

Barra Tattoo Studio). 19

fotos Thalita Covre

Page 22: Revista Nós nº2

20

Em novembro, o Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ) comemora o seu primeiro ano de

existência e, ao longo desse período, buscou promover e tornar acessível a produção artístico-

-cultural das diversas juventudes capixabas. Foi um ano cheio de experiências criativas e poten-

tes que continuam a motivar e a justifi car as atividades do Programa enquanto um catalisador

para a constituição da REDE CULTURA JOvEM.

As propostas selecionadas pelos Editais Cultura Jovem são um panorama representativo de

como o público do PRCJ vivencia a arte e a cultura. Foram escolhidas 45 iniciativas protagoni-

zadas por jovens artistas e produtores culturais do Estado. A diversidade e a qualidade dos pro-

jetos demonstram o quanto as juventudes capixabas estão antenadas com as novas tecnologias

e com a produção artístico-cultural contemporânea.

Para o Subsecretário de Estado da Cultura do Espírito Santo, Erlon José Paschoal, as ações

desenvolvidas pelo PRCJ potencializam o trabalho dos jovens artistas locais. “A cultura é um

campo propício para promover o contato com a diversidade, a valorização da realidade local e a

formação de cidadãos críticos. Por isso, a partir da experimentação artístico-cultural, investimos

na atuação autônoma dos diversos grupos juvenis do Estado”, completa.

Os objetivos do Programa vão além do incentivo aos criadores e produtores culturais. É

preciso fazer circular essa produção; conectar as diversas juventudes; aproximar experiências e

linguagens; e possibilitar a interação entre as diversas juventudes capixabas.

Seguindo a lógica da produção colaborativa em rede, o PRCJ estimulou conexões entre as

iniciativas a ele diretamente vinculadas e também junto a outros parceiros que fazem parte da

Rede Cultura Jovem. Isso foi feito por meio de ações virtuais e presenciais, como a veiculação

de conteúdos midiáticos, a realização de encontros e a participação em eventos. Saiba mais

sobre algumas dessas ações:

PRCJ

20

Page 23: Revista Nós nº2

21

A conexão e a interação foram as marcas dos Encontrões

Rede Cultura Jovem. As duas edições do evento foram sediadas

no Centro de Treinamento Dom João Batista, na Praia do Canto,

em vitória, e aconteceram nos meses de maio e agosto. Esses mo-

mentos serviram para promover uma considerável aproximação

entre a equipe do PRCJ, os Núcleos de Criação, os Bolsistas e os

Agentes Cultura Jovem.

Um notebook, um tripé, uma webcam e acesso à internet.

Pronto! Essa é a estrutura que o PRCJ usou para fazer transmis-

sões ao vivo de som e imagem para o Portal YAH!. Ao longo desse

ano, foi feita a cobertura e a divulgação de diversos acontecimen-

tos como mostras audiovisuais, apresentações musicais, debates

e palestras. A maior parte dessas transmissões estão disponíveis no

Portal YAH!. Acesse www.portalyah.com.br e assista aos vídeos.

A valorização da realidade local das juventudes capixabas por

meio do audiovisual. Isso é que o acontece nas Mostras Capixabas

de Audiovisual (MCA) que, em 2010, exibiram as produções feitas

por jovens de 40 municípios capixabas.

Por meio das Mostras, muitos estudantes têm o seu primeiro

contato com todas as etapas do fazer audiovisual. Além de con-

correm em uma mostra competitiva, os jovens realizadores parti-

cipam de ofi cinas, discutem as suas criações e trocam experiências

com outros jovens.

Em 2010, as MCAs seguiram as temáticas Etnográfi ca, Ambien-

tal e Rural. Cada versão englobou uma região do Estado e aconte-

ceram, respectivamente, nas cidades de Pancas, Guaçuí e Castelo.

Durante as Mostras, as cidades sedes recebem jovens de di-

versos municípios vizinhos e se transformam em um espaço de

intensa movimentação artística. Dessa forma, esses eventos con-

tribuem para a valorização da cultura local e, ao mesmo tempo,

promovem a formação de polos de difusão da produção audiovi-

sual dentro de cada região.

Apostando na criação coletiva possibilitada pelo espaço es-

colar, foram lançados os Núcleos Yah! Escola. A ação consiste na

realização de propostas artístico-culturais protagonizadas por es-

tudantes da rede estadual de educação. Música, dança, desenho,

audiovisual, fotografi a e grafi tti são algumas linguagens experi-

mentadas nesses espaços.

Os Núcleos são iniciados com a realização das Mostras YAH!

Escola nas quais acontecem apresentações das atividades artístico-

-culturais já vivenciadas pela escola. A partir daí, os estudantes, de

modo autônomo, propõem e desenvolvem projetos culturais no

espaço escolar.

A Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo é par-

ceira do PRCJ na realização dessa ação. As escolas estaduais de

ensino fundamental e médio Dom João Batista, na Serra, e Irmã

Maria Horta, em Vitória, foram as primeiras a constituírem seus

Núcleos YAH! Escola.

foto Wanderlan Oliveira foto Gustavo Basílio

foto Maira Rocha

foto Ariny Bianchi

21

Page 24: Revista Nós nº2

2222

Redes sociais, coletivos artísticos, tribos, turmas... A necessidade

de se criarem espaços de convivência para além das instituições tradi-

cionais, como a escola, a família e a religião, move os jovens na dire-

ção de formar coletividades. Os diferentes interesses e afi nidades, bem

como a necessidade de afi rmar o seu lugar e papel no mundo, dão

origem às múltiplas juventudes que marcam o nosso tempo. Muitas

vezes, esse comportamento é associado ao sectarismo, à formação de

guetos e à geração de incompreensões e de confl itos. Contudo, essa

afi rmação não refl ete toda a potencialidade de articulação e realização

do público juvenil.

Essa disposição para estar junto deve ser considerada por todas as

ações que buscam estabelecer interlocuções com as juventudes. Por

isso, para o Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ), ninguém melhor do

que os próprios jovens para identifi car, pensar e acompanhar as ações

de sua geração. Afi nal, eles compartilham das mesmas inquietudes, da

criatividade afl orada e da vontade de fazer acontecer. A ideia de cons-

tituir uma turma de Agentes Cultura Jovem segue essa perspectiva de

dar espaço ao protagonismo e à capacidade de articulação juvenil. Ao

todo, 34 jovens de diferentes municípios do Espírito Santo passaram

pela experiência de ser um Agente.

a primeira experiência O encontro inaugural da ação aconteceu em novembro de 2009,

antes mesmo do lançamento ofi cial do PRCJ. As expectativas eram

gigantes: 14 jovens de diferentes municípios foram identifi cados por

meio de lideranças juvenis e de gestores municipais para comporem 22

PRCJ [email protected]/AGENTES

Ilu

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ção

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AGENTE SOMOS,A GENTE É

os jovens por eles mesmos. os agentes cultura jovem vivenciaram e conectaram as mais diversas experiências artístico-culturais capixabas

* Trecho da letra de funk criado pela Agente Cultura Jovem Laíssa Gamaro.

A GALERA TEM FOMEE TAMBÉM TEM SEDE!OS AGENTES TE CONVOCAMCAI COM TUDO NESSA REDE!VOCÊ JÁ ESTÁ NELANÃO DEIXE DE PERCEBER!A GENTE SOMOSA GENTE É CULTURA JOVEM!

ELE PROVOCA, VIABILIZA ELE É TRANSFORMADORAGENTE CULTURA JOVEMPOTENCIALIZADOR!

A GALERA TEM FOMEE TAMBÉM TEM SEDE!OS AGENTES TE CONVOCAMCAI COM TUDO NESSA REDE!VOCÊ JÁ ESTÁ NELANÃO DEIXE DE PERCEBER!A GENTE SOMOSA GENTE É CULTURA JOVEM!

ELE PROVOCA, VIABILIZA ELE É TRANSFORMADORAGENTE CULTURA JOVEMPOTENCIALIZADOR!

fernanda de castro

Page 25: Revista Nós nº2

2323

a primeira turma. As atribuições dos Agentes já nasceram audaciosas:

mapear os talentos juvenis e mobilizar e dinamizar a cena cultural

da região. Durante três meses, foram discutidos vários temas que

serviram de ponto de partida para a realização de atividades orienta-

das. Ao fi nal da ação, os jovens envolvidos contribuíram com refl exões

sobre as suas próprias atuações e o desenvolvimento dos conteúdos e

das metodologias. As críticas, sugestões e elogios foram devidamente

acolhidos e incorporados à nossa pauta.

A experiência da primeira turma de Agentes foi fundamental para

subsidiar os passos seguintes e apontou o desafi o pela frente: elaborar

um projeto mais consistente e, principalmente, articulado às outras

ações do Programa que estavam em pleno processo de execução.

Foram alguns meses de pesquisas, debates e reuniões até chegarmos a

um novo formato da ação.

Todo o esforço valeu a pena! A Formação Agente Cultura Jovem

foi reorientada para a promoção de uma rede de liderança juvenil, cuja

atuação é voltada, prioritariamente, para o fortalecimento e o acom-

panhamento dos projetos contemplados pelos editais Bolsa Cultura

Jovem e Núcleos de Criação. Uma proposta inovadora e – por que

não dizer – inédita, uma vez que não se trata dos tradicionais cursos

de gestão ou produção cultural, mas sim de uma ação que privilegia

a ampliação do repertório cultural e estimula criticidade, criatividade

e novos olhares a partir da combinação de informações teóricas e

técnicas com experimentações e vivências.

A edição 2010 da ação é cheia de vida, sensações, interações,

trocas e sabores... É a síntese do espírito do Programa!

diversidade, limites, potencialidades e expectativasA segunda turma dos Agentes foi composta por 20 jovens – esco-

lhidos por meio de um processo seletivo – que residem nos municípios

nos quais estão localizadas as iniciativas vinculadas diretamente ao

Programa. Eles representam múltiplas realidades e linguagens artísticas

– reúnem cidade e periferia, urbanidade e ruralidade, contemporanei-

dade e tradição, academia e rua. Em comum, possuem uma expressiva

experiência na articulação e na mobilização da cena cultural local,

ideias em profusão e muita sede de transformação.

No novo formato da ação, os encontros presenciais mensais pas-

saram a ter a duração de um fi nal de semana, ao contrário da primeira

edição que durava apenas um dia. Outro diferencial foi a cessão de

máquinas digitais a todos, ferramenta indispensável para registrar os

processos criativos das iniciativas acompanhadas pelos Agentes.

Para a primeira reunião dessa galera foi proposto um formato de

imersão no qual os Agentes, ao compartilharem um mesmo espaço,

durante dois dias, pudessem estreitar os laços e estabelecer uma 23

Page 26: Revista Nós nº2

2424

PRCJ [email protected]@HOTMAIL.COM

Page 27: Revista Nós nº2

2525

relação mais próxima, solidária e colaborativa. A cumplicidade entre os

Agentes marcou todos os encontros e garantiu a motivação necessária

para a realização dos debates sobre o universo da cultura, comuni-

cação e tecnologia; das discussões sobre estratégias de visibilidade e

conexão e, principalmente, da proposição e do incentivo de vivências

artístico-culturais. Esses momentos fortaleceram a ideia de grupo e

ampliaram a capacidade de intervenção dos ACJ, tornando-os mais

aptos para atuarem junto aos Núcleos e aos Bolsistas.

Por sinal, o acompanhamento das iniciativas se constituiu em um

rico e divertido laboratório de aprendizagem e de experimentações,

ao permitir que os Agentes conhecessem mais de perto a execução

de um projeto e entrassem em contato com o processo criativo de

jovens artistas. Ao se relacionarem com o diferente, os Agentes foram

tencionados a entenderem o outro, a reavaliarem princípios e valores,

a lidarem com o inusitado e com o imprevisto. Mais: registrar os bas-

tidores e propor estratégias de conexão exigiu dos ACJ mudarem de

lugar e reverem pontos de vista. É nesse movimento que reside toda a

complexidade e sabor dessa ação do PRCJ.

Além dos encontros presenciais e do acompanhamento das

iniciativas, os Agentes foram convidados a participarem de atividades

complementares, como mostras audiovisuais, intervenções artísticas

e outros eventos culturais em que puderam exercitar vários papéis.

Atuaram como jornalistas, fotógrafos, cinegrafi stas, ofi cineiros,

apresentadores e até grafi teiros. O dia a dia e suas impressões foram

expressos, em textos e/ou registros audiovisuais, nos Diários de Bordo

– ferramenta virtual que substitui os relatórios e permite apreender

dimensões e sutilezas que muitas vezes são subestimados pelos gesto-

res das políticas voltadas para as juventudes. Os Diários têm o formato

de blogs e permitem que as informações sejam atualizadas constante-

mente, o que confere frescor aos registros postados. Esse dinamismo e

essa liberdade de expressar os momentos vivenciados produzem diver-

sas interpretações e olhares que trazem à tona sensações e percepções

que muitas vezes se perdem (ou desbotam) nos relatórios comuns.

Com o tempo, os espaços de encontro promovidos pelo Programa

se tornaram insufi cientes. Os Agentes, principalmente da região me-

tropolitana da Grande Vitória, passaram a se reunir semanalmente com

o intuito de constituir um coletivo artístico. Essas interações não foram

reduzidas à região metropolitana. Pelo contrário, elas desafi aram e

superaram as distâncias! A ACJ Kamila Lübe (24 anos), de Domingos

Martins, por exemplo, foi convidada pelo ACJ Julio Dettmann (23),

morador do município de Pancas, a repassar os seus conhecimentos

sobre danças alemãs ao Núcleo de Criação Edelstein. O resultado do

trabalho ela conferiu na Wurst Fest (ou Festa da Linguiça), em Afonso

Cláudio, quando todos estiveram juntos novamente. Kamila também

se apresentou no município de Rio Novo do Sul por meio da indicação

da ACJ Ariny Bianchi (19), de Vitória.

O que falar então de wanderlan Xavier (26)? Desde a sua entrada

na ação, o agente tem dinamizado a cena cultural de Pinheiros e, a

partir do contato com a produção e a discussão sobre audiovisual,

proporcionada pelo PRCJ, habilitou um projeto para a realização de

um documentário sobre a Folia de Feis do seu município. Há ainda

casos curiosos, como o do ACJ e bailarino Allan Moscon (20), que se

tornou aluno da bolsista Alana Moreira de Aguiar (17), cujo projeto ele

acompanhava, e da ACJ Drielly Rodrigues (23) que, ao representar o

PRCJ nas Ofi cinas Galpão de Qualifi cação e Intercâmbio Audiovisual

promovidas pela produtora Galpão, foi convidada para ser diretora de

arte de um vídeo produzido em Goiás.

Nesses breves e intensos cinco meses, os Agentes promoveram vá-

rias conexões cujos resultados ainda não podem ser mensurados. Claro

que nem tudo foi fácil. Pelo caminho, além das descobertas, surgiram

obstáculos e questionamentos. Além disso, os Agentes experimenta-

ram e vivenciaram a trajetória percorrida em diferentes intensidades.

Como qualquer outra atividade, a ação Agente Cultura Jovem

não é um produto acabado e está sujeita a avanços e recuos, a novas

reformulações, a erros e a acertos. Seu atual formato foi concebido num

contexto em que a Rede ainda era um embrião em fase de construção e

de fortalecimento. Após um ano de Programa, temos outro cenário que

impõe novas demandas e infl uencia diretamente os rumos da Forma-

ção. Hoje, se a Rede Cultura Jovem é uma realidade, isso se deve, em

boa parte, à adesão, ao entusiasmo e à energia dos Agentes. De manei-

ra criativa, desde a primeira turma, essa galera contribuiu para atar nós

entre as diferentes juventudes capixabas que fazem parte da Rede. 25

Page 28: Revista Nós nº2

26

CROCHÊ LITERÁRIO

Talvez seja isto: uma literatura embalada num formato cilíndrico

em que a cada momento sejam retirados da embalagem textos de

forma exata, mas de sabores distintos. Isso é o que eu entendo por

Mainá e pelos seus poemas, todos muito breves e, em contraparti-

da, leitura longa. Explico: é tudo milimetricamente posto, colocado,

aposto, de forma que cada leitura permite uma nova forma de

compreensão, uma nova possibilidade.

Sobretudo, aos finais. A própria autora, em conversas aqui e

ali, define esses desfechos com uma onomatopeia ideal: blá. E é

exatamente isso. São finais de conversa na ponta da mesa para a

discussão que são abertos, indecisos, mas nunca indiferentes e que

pontuam sua escrita e a tornam própria para o consumo imediato e

compulsivo.

Tão doce quanto essas pequenas doses de guloseima literária

são os textos da Barata, ou melhor, Fernanda Barata. Precisos e

irrepreensíveis, eles trazem à tona encontros impensáveis de uma es-

crita madura, adulta, com uma gama de sensações e de sentimentos

tão velozes quanto os de quem passa pela vida aos cinco anos.

Intenso, mas não fugaz. O que Fernanda constrói é um convite

a passear por itinerário próprio, repleto das grandes paixões pela

arte e pelo próprio homem, até os pequenos momentos de um

cotidiano pleno, do gosto do arroz misturado ao feijão, do barulho

das garfadas e do atrito do sapato.

Creio que, aqui, não caiba um convite à escrita das meninas.

Não precisam de apresentações. Ao contrário, elas estão preparadas

para estamparem os muros de papel, concreto ou carne e osso.

Irrepreensíveis, ou quase.

daniel fernandes

cronópio apresenta mainá loureiro ferreira & fernanda barata

[email protected]

[email protected]

A mão desliga o despertador e os olhos abrem com má vontade.

As olheiras e a boca se rabiscam antes de sair

E os braços se preparam pra colidir, com quem quer que seja.

Os dedos conhecem todos os caminhos que levam a Roma.

Os pés não pensam,

Se carregam tortos e esquizofrênicos por lugar nenhum.

Os ouvidos, escondidos, espiam conversas mesquinhas.

As papilas não têm consideração pelo estômago,

E o sangue sofre as consequências calado.

Os ombros se dão às perguntas, nunca respondem.

O coração só quer quem não pode estar aqui

E o cérebro esquece as promessas que a língua fez.

mainá loureiro

o cronópio é um projeto de extensão do departamento de comunicação da ufes que edita mensalmente a revista online graciano voltada para a literatura produzida no espírito santo. uma das seções da revista é a valise, que veicula textos inéditos produzidos pelos cronópios. aqui, apresentamos dois desses autores: mainá loureiro ferreira (21 anos) e fernanda barata (20), ambas estudantes de publicidade. a resenha sobre as duas autoras é de daniel fernandes vilela (20), outro de nossos integrantes.

Page 29: Revista Nós nº2

27

a crise do sujeitoNum belo dia de colorido céu, pince-

lado nervosamente com nuvens esfuma-

çadas, Joãozinho largou da casa determi-

nado a dar sua contribuição diária àquele

alvoroço de azul com branco misturado no

cinza. Ajuntou amarelo-limão com laranja

de cádmio, mais azul-cerúleo com verde-

-inglês nº 05. Um tiquinho de lilás e tratou

de explorar aquele mundaréu infinito des-

provido do receio de, por acaso, borrar um

pedacinho ou exagerar um tom. Rabiscava

tão abestalhado que mal percebeu ter se

deixado até aquela amarelice toda.

Terminado o serviço, enquanto reunia

os trequinhos, percebeu estar sendo ob-

servado e comentado, pelo visto há algum

tempo. O grupo de observadores achegou-

-se e admitiu impressionado com a agili-

dade e talento do moleque. Propuseram,

então, a Joãozinho, que voasse mais baixo,

bem discreto, em troca de cores especiais

e ingressos para o cinema.

Imaginou se não estava muito novo

para o risco da arte. Mas que mal fariam

algumas pipas?

o mundo em redeEra dia de comemoração, pois João

dispunha de novas peripécias, que fez

questão de expor aos convidados. Com-

pareceu gente de todo o tipo interessada

em seu trabalho: amigos, desconhecidos

de alguns conhecidos e até estrangei-

ros de passagem pelo país. O anfitrião

fazia questão de cumprimentar a todos e

oferecia peças raras a preços inicialmente

modestos. Estava orgulhoso de si mesmo,

mas preferia falar pouco sobre as dificul-

dades do ofício.

Propôs um brinde inusitado; entretan-

to, a surpresa ainda estava por vir – coisas

de gente famosa...

Decola, João! Passa sebo nessas cane-

las e pinta ligeiro! Se manda, rapaz, en-

quanto o negro ainda não secou! Acelera,

senão! ... te pintam permanente escuro.

Coberto mofo.

Quadriculado.

O Sentir em Detrimento do Entender

Houve uma proposta de intervenção

coletiva em agradecimento ao artista.

Muita gente que já admirava os traços

estava disposta a contribuir de alguma

forma. E partiram para a ação.

A tela crua foi desvirginada sem prepa-

ro algum: sem banho químico, sem conver-

sa – ao que o burburinho coletivo deu lugar

ao murmúrio ordenado: um de cada vez.

Logo de início sobressaiu o avermelhado, a

que, aos poucos, se juntou o laca gerânio –

mais para o final consolidado em carmim.

Tons de roxo espalharam-se com rapidez:

a obra parecia pulsar. O vinho tinha até

gosto quente e o pretume soava frio.

Não houve fio descoberto. Nem houve

poro inexplorado.

Satisfeitos, deixaram a tela secar na

sombra, para, somente depois, dar os

retoques finais.

o sujeito fragmentadoAo final de três dias, tudo havia

ocorrido como o combinado. A encomen-

da foi executada com maestria, esvaindo

colorido. Van Gogh não ousaria tão vivo.

Nem Picasso deformaria tanto.

O artista estava sem condições de se

manifestar.

CROCHÊ LITERÁRIO

27

fernanda barata

[email protected]

Page 30: Revista Nós nº2

2828

O brasileiro nunca pôde ler tanto. Com

cerca de 70 milhões de usuários no país,

a internet tem alterado signifi cativamente

a forma como consumimos e produzimos

informação, seja por meio da leitura online de

jornais e revistas, seja por meio de redes sociais

como o Orkut e o Facebook ou blogs (o Brasil

é o quarto do mundo em número de leitores

de blogs), alimentados por novos produtores

de conhecimentos e devorados por leitores

vorazes.

Não poderia ser diferente quando fala-

mos em Literatura. Há onze anos os blogs

contribuem com a produção literária brasileira

lançando novos nomes. A internet nos tem fei-

to acreditar em espaços de leitura que estavam

deixando de existir, como os círculos do livro,

e tem gerado ambientes que democratizam o

pensamento crítico sobre literatura.

Enquanto os veículos jornalísticos conven-

cionais têm diminuído o espaço reservado à

cobertura especializada de artes, o meio virtual

tem se tornado referência para leitores que

buscam análises mais profundas e guias para

leitura e também para aquelas que fazem da

literatura uma profi ssão e não se inquietam

com as mudanças possibilitadas pelas novas

ferramentas digitais.

Como se não bastasse, hoje, qualquer um

pode lançar seus escritos, seja por meio de

um blog, seja por meio de livros digitais que já

circulam com facilidade pela rede.

Conheça alguns desses espaços:

portal literalCriado em 2002, o Portal Literal conta

com espaços para colunistas fi xos, especiali-

zados em Literatura e para qualquer um que

queira postar críticas, entrevistas ou textos

literários. Conforme o grau de relevância e

a qualidade do material postado, os leitores

da página pontuam o texto fazendo com

que os conteúdos mais relevantes fi quem em

destaque.

A quantidade de textos publicados, a

multiplicidade de opiniões e a segurança das

informações postadas que passam por avalia-

ção e que podem ser corrigidas, possibilitam

que o site reúna vasto material para pesquisa.

www.portalliteral.terra.com.br

blogs das editoras cia das letras e cosac naifY

As grandes editoras têm possibilitado

o debate entre os seus leitores e postado

informações em blogs sitiados em seus portais.

Exemplos disso são os da Cosac Naify e da Cia

das Letras. Esses sites apresentam um ponto

de vista mais pessoal e ganchos mais factuais

sobre Literatura. Nesses espaços, os leitores

não se cansam de discutir as novidades sobre a

produção literária que não aparece na cobertu-

ra dos jornais.

www.blogdacompanhia.com.brwww.editora.cosaicnaify.com.br/blog/

germina literatura e escritoras suicidas

Um contraponto à escassez de material

na mídia impressa, as revistas literárias há

tempos têm feito bonito na rede. A Germina,

além de trazer textos inéditos de autores, é

referência em jornalismo cultural de qualida-

de. Com uma proposta semelhante, a Escrito-

ras Suicidas veicula textos que tratam, quase

sempre, do universo feminino – um projeto

vitorioso que deu origem ao livro Dedo

de Moça, compilação dos melhores textos

publicados na página. O mais importante:

as duas não estão sozinhas – são diversas as

experiências como estas.

www.germinaliteratura.com.brwww.escritorassuicidas.com.br

skoob – o que você está lendo?

O Skoob é uma rede social totalmente

dedicada à Literatura. Nela, os usuários com-

partilham experiências sobre suas leituras,

postam críticas, sugerem livros aos amigos

relacionados, montam sua estante e avaliam

os títulos lidos. O mais: interessante é que

o site é um ótimo espaço para fazer amigos

com gostos afi ns e conhecer novos títulos em

circulação.

www.skoob.com.br

buscam análises mais profundas e guias para

leitura e também para aquelas que fazem da

literatura uma profi ssão e não se inquietam

com as mudanças possibilitadas pelas novas

Como se não bastasse, hoje, qualquer um

pode lançar seus escritos, seja por meio de

, seja por meio de livros digitais que já

conta

com espaços para colunistas fi xos, especiali-

zados em Literatura e para qualquer um que

queira postar críticas, entrevistas ou textos

literários. Conforme o grau de relevância e

a qualidade do material postado, os leitores

não se cansam de discutir as novidades sobre a

produção literária que não aparece na cobertu-

ra dos jornais.

www.blogdacompanhia.com.brwww.editora.cosaicnaify.com.br/blog/

germina literatura e escritoras suicidas

Um contraponto à escassez de material

na mídia impressa, as revistas literárias há

tempos têm feito bonito na rede. A Germina,

com gostos afi ns e conhecer novos títulos em

circulação.

www.skoob.com.br

OBSERvATÓRIO [email protected] | @HAROLDOLIA

28

haroldo lima

Page 31: Revista Nós nº2

29

CRÍTICA EMARANHADA [email protected] | @BUBOUS_IDEIAS

Lembro-me bem, por volta de 2004 e 2005, como a Praia de Itaparica, em vila velha – mais precisamente

no point conhecido como 1º Quiosque –, era movimentada nos fi nais de semana à noite. No entanto, não

me refi ro aos frequentadores noturnos da praia; pessoas que aproveitam o calçadão para caminhar, correr

ou curtir a brisa. Refi ro-me ao Bar Entre Amigos 2.

O Bar foi um dos mais badalados da cena underground da Grande vitória. Eram shows todos os fi nais

de semana com bandas dos mais variados estilos como punk rock, hard core, trash metal, heaven metal

e por aí vai. Sendo espaço de toda essa movimentação, o Entre Amigos (como era mais conhecido) foi

desativado devido à construção de condomínios residenciais em seus arredores e, desde 2008, passou a

funcionar um restaurante no mesmo lugar.

O início dos anos 2000 foi uma época em que a cena musical capixaba estava em ascensão e,

consequentemente, bandas underground também começaram a ganhar representatividade e público.

Em meio a essa efervescência de som pesado em que Stage dive, ReadWalk e Morsh eram ingredientes

fundamentais de uma boa noite de rock, começaram a despontar também bandas cristãs underground.

Claro que esse ambiente não era nada habitual para evangélicos transitarem. Os jovens que

frequentavam esse tipo de show tinham um posicionamento muito crítico em relação a valores sociais mais

conservadores. Eram donos de um estilo de roupa pouco convencional, com muitas tatuagens e piercings, e

de uma postura radical que ia além do consumo deliberado de drogas. Era óbvio que ia haver discriminação

com os “crentes” e entre os próprios “crentes”.

Se levarmos em consideração os estereótipos, perceberemos esses universos como antagônicos. Há um

imaginário sobre o jovem evangélico que o defi ne como alguém que não curte rock, veste-se de maneira

muito recatada, não possui um senso crítico sobre a sociedade, é careta e canta apenas “hinos” da Harpa

Cristã. Obviamente tal percepção confl ita com a imagem da galera metaleira que cultiva um visual mais

“agressivo” e que, por vezes, defende o slogan “o diabo é pai do rock”, como cantou Raul Seixas.

Para a galera cristã que fazia parte da cena underground, a escolha religiosa não interferia em suas

preferências musicais. O negócio era fazer barulho, fazer som, tocar rock n’ roll, mas eles não abriam mão

de expressar os seus valores religiosos nas letras. Dessa forma, a produção musical, além de abordar os temas

de crítica social, tornou-se instrumento de evangelização, postura essa que demorou a ser reconhecida pelas

igrejas mais tradicionais. No entanto, em 2000 surgiu em Vitória a Comunidade Milícia, igreja que, quando

comparada às denominações mais convencionais, permite ao jovem se expressar mais livremente, visual ou

musicalmente.

O White Sheep foi uma das bandas que surgiram no período áureo do Entre Amigos 2. Todos os seus

integrantes são membros da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e passaram por difi culdade de aceitação

dentro e fora do meio cristão. Foram necessários alguns anos de labuta para conseguirem respeito e valorização

de seu trabalho. Hoje, eles fi nalizam o segundo álbum da banda, previsto para ser lançado em 2011.

Nessa trajetória as bandas cristãs ascenderam qualitativamente, ganharam espaço e começaram a

dividir o palco com bandas não-cristãs. No início, foram recebidas com receio, mas hoje sua presença no

meio underground é encarada com naturalidade e respeito. Alguns produtores de shows undergrounds

enxergam nessa relação uma possibilidade de diálogo em que o que importa mesmo é o som.

Independente da dicotomia suscitada, o fechamento do Bar Entre Amigos 2 contribuiu para um

esfriamento da cena underground capixaba, mas como pra Deus nada é impossível, foi inaugurada uma

nova casa de shows que pretende suprir essa carência: o bar Águia Marcante situado na Praia de Itapuã,

também em vila velha. Estamos ansiosos por esse milagre!

ADRIANO MONTEIRO

Contribuíram com esse texto Paulo Carvalho e Raphael Pegoretti.

Page 32: Revista Nós nº2

30

CRÍTICA EMARANHADA

O grupo Teatro Empório mais uma vez nos brinda com um belo espetáculo. Liderado por Leandro

Bacellar, o grupo trouxe a lume ao palco do Teatro Galpão a peça Rosa Negra – do próprio diretor, cujo

enredo se estabelece no caos apocalíptico, no fi m do mundo pensado pelo cristianismo. Até agora, apenas

a cidade de vitória contou com a montagem do texto: nos meses de Julho e Agosto, no Teatro Galpão, e

em Outubro no Teatro José Carlos de Oliveira, no Centro Cultural Carmélia, durante o vI Festival Nacional

de Teatro Cidade de vitória.

Na trama, Céu e Inferno se juntam para tentar salvar o ser humano, que aqui faz parte de uma

sociedade regida por um governo mundial e dividida entre os que seguem as normas do Estado e os que

não concordam, mas que também não suscitam alternativas para se sair do caos. Nura (Luana Eva) e

Pecamino (Leandro Barcellar), representantes de Deus e o Diabo, respectivamente, materializam esta cena

no acordo que fazem logo no início do espetáculo.

Não há dúvidas que se percebem alguns problemas de estrutura. E isso, acredito, faz parte de todo

um desencontro que insiste em ocorrer entre a arte e a cultura, a arte e o poder público, que não brinda a

cidade de Vitória com um teatro autêntico, com um núcleo de produção cênica que possibilite os elementos

necessários para se fazer um espetáculo. Não temos isso no Espírito Santo: o incentivo é pouco, o aluguel

dos espaços teatrais não costuma ser barato, não há um volume representativo de peças sendo encenadas

na capital e, com efeito, não temos um público representativo e constante nos teatros da cidade. A

consequência disso é a não possibilidade de se desenvolver espetáculos de conforto – tanto para a produção

quanto para o público – com frequência por aqui.

Rosa Negra possui méritos no espaço cênico, sobretudo, pela paixão pelo teatro visível em cada

componente do grupo. O elenco se mostra apaixonado pela arte dramática ao debruçar-se sobre o

texto com devoção e clareza, demonstrando fi delidade ao enredo pensado por Bacellar. Os personagens

Pecamino, Nura, Morte (Camila Bautz) e Nogo (welersson Grassi) mostram não só o domínio do texto, mas

uma completa sintonia com a ribalta, seja na interpretação forte, marcada pelo toque pessoal de cada ator,

seja nos diversos diálogos com o público disseminados ao longo da encenação.

A peça faz parte do teatro contemporâneo principalmente pela escritura não convencional, que inova

a partir de temas já bastante encenados e, por vezes, batidos – como “Deus e Diabo”, “céu e inferno”,

“bem e mal”. O texto mostra um autor empenhado em um exercício constante de trazer o novo. Ainda

que por vezes a escrita pareça movediça, em raras desestabilidades, ela nos apresenta um exercício estético

interessante, que pode nos apresentar a um grande dramaturgo num futuro bem próximo.

Merece destaque o tratamento musical dado à peça. Com uma trilha sonora bastante contemporânea,

marcada também pela sensação apocalíptica, a peça ainda traz a intercalação com tambores afros. Um

músico toca congas em momentos pontuais – alguns cômicos –, criando uma atmosfera cênica bastante

peculiar e própria. Iluminação e fi gurino não fi cam para trás, distinguidos pela sintonia e ousadia, que dão

ao espetáculo a sensação de se estar no fi m do mundo – mas não aquele convencional, marcado somente

pelo medo, a agonia, a dor. Por aqui, essas formas de recepção até são sentidas, mas numa busca incessante

pelo não clichê.

MOISÉS NASCIMENTO

[email protected]

Page 33: Revista Nós nº2

31

Casé Lontra Marques é autor de quatro livros exaustivamente elogiados pela crítica: Mares Inacabados

(Editora Flor&Cultura, 2008), Campo de Ampliação (Lumme Editor, 2009), A densidade do céu sobre a

demolição (Confraria do Vento, 2009) e Saber o sol do esquecimento (Aves de Água, 2010). Em sua obra

publicada, como em toda grande obra, a profusão de linhas mestras evita um delineamento muito pontual,

uma definição que se encerra em um núcleo temático. O estilhaço existencial que se dilui na língua impede

a fixação de um único pilar que sustente a potência dessa poesia.

Supomos, entretanto, que a escrita de Casé Lontra Marques tenha como movimento maior o de

intensificar uma desorientação (ou uma “reorientação dos atos de distração”); o passo que rompe o silêncio

do sujeito (ora expressão minimalista da contenção da fala, ora uma repetição imoderada e tautológica) e

conduz ao desconforto da proposição de novas estruturas de fala: uma possibilidade de alargamento da

intensidade, a imposição dos ilimitados mares inacabados ou de um campo de ampliação.

Encontramos na obra do poeta uma contundente proposição de fala; o poeta persegue “tanto ritmos

quanto cores” e compõe – em movimento de procura por sintaxes, repetições, ressignificaçõe –, uma ácida

e sofisticada crítica política da subjetividade: a poesia propõe uma extensão da experiência, a possibilidade

de “conhecer com mais braços para criar”, como afirma em A densidade do céu sobre a demolição; e o

leitor é com-vocado (convidado a tomar a palavra e romper a fala ausente).

Nos livros de Casé Lontra Marques chama atenção uma subjetividade que, longe de toda assepsia

impessoal, encena e é encenada, como garante Maria Esther Maciel, “ora através de um ‘nós’ cauteloso, ora

através de um jogo de aparecimento/desaparecimento”, a consciência de uma “outridade” que se revela a)

no edifício temático (violência, cidade, corpo, desconforto, apatia); b) na ressignificação e no diálogo com

a tradição literária (há densos diálogos e discussões, principalmente, com a poesia de Fiama Hasse Brandão,

Herberto Helder, Camões, João Cabral de Melo Neto); e c) numa arqueologia do sujeito – o “eu” na poesia

de Casé Lontra Marques suscita demasiado interesse, pois se revela e se oculta com exatidão, ao mesmo

tempo que se configura ciente da crise de uma subjetividade privatizada, é pós-cabralino, porque não nega

um sujeito. Ao contrário, assume, pontualmente, uma subjetividade demarcada, como podemos observar

nos versos de seu primeiro livro: “Aluguei um quarto, falta / agora a solidão. Serei / todo paredes / para o

incêndio / prestes / a respirar”. Ou ainda, “Agora / que encontrei para onde / voltar, pretendo / apenas ter

passos de prosseguir”. E em diversos outros momentos.

Não é difícil perceber que, pelo menos em seu primeiro momento, a poesia de Casé Lontra Marques

oferece elementos que apontam para uma íntima relação com o sujeito que se estabelece na escrita cabralina

e essa pode ser uma interessante chave de leitura. O que significa, no verso, “o sol do sarcasmo”, “o sol

(...) simulado na dispensa da distração”, “o sol (...) estritamente calcário”, “o sol inchado na palma do

paladar”, “o sol do sexo”, “o sol do suor”? Qual sua relação com “o sol do deserto”, o sol que seca a flauta

de Anfion, o sol que “não intumesce a vida / como a um pão”, o sol lúcido de João Cabral de Melo Neto?

Enquanto o sujeito em Cabral silencia na assepsia da coisa, no texto de Casé a cidade se corporifica e

goza de um rosto, de vários rostos: “Através da vidraça trincada, dá pra ver a cara calma \ da calçada” ou

“Mas a língua vibra \ com o sol inchado na palma do paladar”. Entretanto, procurar na perseguição da

metáfora uma chave comum de decodificação é neste último declinar em consumo – “O poema ensina

a cair \ sobre os vários solos”, nos diz Luiza Neto Jorge. Não é outra coisa senão a própria escrita poética

que indica o método, ou seja, o caminho de uma apreensão nunca exata, sempre uma “arquitetura da

instabilidade”: Como sugere o próprio poeta: “Será preciso aceitar o movimento para talvez espetar a ponta

da língua na fibra efêmera que dilata a potência do paladar”.

Tatear o longo poema ora se aproximando do sarcasmo ora da atenção é como devemos aceitar esse

movimento.

[email protected]

MARCOS RAMOS

[email protected]

Page 34: Revista Nós nº2

32

[email protected]ÍTICA EMARANHADA

O nosso diálogo com a realidade é, em boa medida, intermediado pelo patrimônio cultural que ajudamos

a construir e a manter. Isso nos incita a, cada vez mais, tomarmos consciência de que a preservação e a

valoração da nossa cultura implicam, em última análise, a preservação e valoração de nós próprios.

Atualmente, temos muitos espaços de cultura cujo acesso é um direito de todos. Entretanto, nem

sempre foi assim. Da década de 1920 (quando foram apresentados os primeiros projetos de lei que visavam

à preservação do patrimônio cultural no Brasil) à Constituição de 1988 (que forneceu um conceito bem

abrangente do patrimônio cultural) um grande esforço foi feito para garantir a preservação e nosso contato

com o patrimônio cultural.

Vejamos como tem sido a promoção desse tipo de contato com os bens culturais em Vitória. Um

bom exemplo é o Instituto Goia que, há alguns anos, prepara jovens para trabalharem na restauração

de monumentos arquitetônicos. Igrejas coloniais e a Catedral Metropolitana são alguns dos imóveis

contemplados pelas ações do Instituto. Outra faceta do Goia, desenvolvida em parceria com a Prefeitura

Municipal de Vitória, revela-se nos roteiros do Projeto Visitar que, ao mostrar uma releitura da história da

cidade a partir de construções de datações variadas, tem resgatado a relevância histórico-cultural do Centro

da Capital. Muitas escolas têm utilizado o roteiro do Projeto como uma ação de educação patrimonial para

os seus alunos.

Em se tratando de escolas, os estudantes têm sido o público mais visado pelos programas ligados ao

patrimônio cultural. Tal fato pode ser constatado pelas ações promovidas no/pelo Palácio Anchieta que

desde o começo de 2009 tem recebido grandes exposições. Durante toda a semana, centenas e centenas de

estudantes visitam o prédio para conhecerem o acervo do próprio Palácio, além das exposições itinerantes.

Grande parte dos grupos escolares vem do interior do estado. Esse tipo de contato possibilita intercâmbios

culturais entre o conteúdo das exposições e a bagagem cultural dos estudantes. Por vezes, essas visitas

constituem a única oportunidade que alguns estudantes têm de conhecer o patrimônio cultural. Muitos

sequer conhecem os espaços e patrimônios de suas próprias cidades.

Percebemos que existe um fl uxo grande de visitantes vindo do interior e dos outros municípios da

Grande Vitória em direção à Capital, porém a recíproca não é verdadeira. É justamente isso que falta

atualmente. A divulgação e o acesso a espaços culturais localizados fora de vitória ainda são defi cientes.

Naturalmente que há esforços para equilibrarem essa relação, que podem ser vistos em sites e blogs, mas

esse tipo de mobilização ainda é, por demais, limitado e pontual.

A preservação de elementos de nosso patrimônio cultural está diretamente ligada à divulgação e ao

número de visitantes. Basta lembrar que o Palácio Anchieta, espaço cultural que mais recebe visitantes na

capital, foi restaurado entre 2004 e 2009. O excelente estado do prédio após as obras, somado ao trabalho

de divulgação e às exposições itinerantes, atrai muitos visitantes. A mesma lógica se aplicaria ao patrimônio

cultural contido no interior do estado: melhor divulgação e acessibilidade atrairiam visitantes, o fl uxo de

visitação seria muito benéfi co para o patrimônio e para grandes contingentes de visitantes que seriam cada

vez mais atraídos pelo desejo e pelas oportunidades de conhecerem nossa cultura.

E se, atualmente, constatamos que a maior parte do público que frequenta os espaços culturais da Capital

são jovens estudantes, torna-se latente a necessidade de ampliarmos o contato com o patrimônio cultural

contido fora de Vitória para que os horizontes desse grupo de visitantes sejam cada vez mais ampliados.

LELLISON SOUZA

Page 35: Revista Nós nº2

33

COSTURA A DOIS

Page 36: Revista Nós nº2

34

Certa manhã acordou sozinha, com uma mancha verde entre

os dedos do pé. Ficou olhando. Levou o indicador até a mancha,

sentiu a textura aveludada de musgo. Acolheu com inusitada ter-

nura aquele verde bolorento, o corpo estranho que depois de dias

tornou-se conhecido, familiar. A mancha alastrou-se pelo peito

do pé com a candura e a vagareza de oceano que engole beiras de

continentes cada ano uns centímetros mais. Deixou-a ser, passava

as horas deitada de lado com os olhos fixos sobre o pé esquerdo,

tentando divisar o preciso momento em que a coisa se alastraria

mais um pouco rumo a tomar-lhe a perna inteira. Decidiu livrar-

-se das roupas, os cabelos cresciam, pelos, cutículas. Ficou assim,

estática. Desabitou-se. Respirava silenciosa, casa abandonada de

janelas abertas. Desaprendeu a falar como se voltasse ao estado

primeiro dos seres todos, silêncio de matéria bruta. A ausência co-

meçou a descascá-la em vários pontos. A espinha dorsal vergalhão

escuro à mostra, e os joelhos, semi-dobrados, deixavam ver os ti-

jolos sob a pele que se fora, como acontece com as quinas das pa-

redes quando o tempo passa demais. Na virilha brotaram liquens

acinzentados, alguma lembrança de umidade, mar. Passaram-se

séculos. Por dentro todo o reboco havia desabado, tacos de madei-

ra nunca mais pisados haviam perdido a função de chão e guar-

davam, quietos, seu potencial para afundamentos. A vida se reor-

ganizava em novas disposições, explodia por entre vãos, brotava,

impossível folha verde, dos interiores de canos empoeirados. Os

buracos penetraram mais fundo nos tijolos, cavados por mãos invi-

síveis, até comunicar todos os cômodos com um profundo desdém

ao segredo imposto pelas antigas paredes. A ausência não quer

nenhum segredo pra competir com aqueles engendrados por si

mesma: a resposta misteriosa do eco, os bichos rastejantes que se

escondem bem, sua função mesma no mundo – disfarçada de falta,

casualidade. A ausência invisível e desencadeadora. Presença.

Outro dos mistérios era aquele bater na porta, alguma porta

oculta, ou seria uma janela? Um bater insistente, de urgências. Em

primeira pessoa observam-se os cômodos, não se encontra a causa.

O barulho cada vez mais alto, menos espaçado. Continua a busca

daqueles olhos suspensos – olhos da própria ausência? Todos os cô-

modos giram ao redor deles, mais rápido, ainda mais. Foco no teto.

Acordou sozinha, sobressaltada. E com uma mancha verde en-

tre os dedos. Passou os olhos do teto ao pé esquerdo. Ficou olhan-

do, levou o indicador até a mancha e esfregou bem até que tudo

saísse. Foi atender à porta.

COSTURA A DOIS [email protected]@HOTMAIL.COM

Texto Milena PaixãoFotografia Yury Aires

Page 37: Revista Nós nº2

35

Manhã de domingo, a luz lembrava o

outono, mas já era o início da primavera,

quando Yury Aires (23 anos) e Milena Pai-

xão (26) se encontraram. Ela, uma jovem

poetisa de Cachoeiro do Itapemirim, via-

jou a Vitória para conhecer mais de perto

o trabalho dele, um fotógrafo e estudante

de Artes Visuais que busca a poesia, não

nas palavras, mas em imagens de lugares

que deixaram de ser.

O local do encontro foi no Terminal

Aquaviário de Vitória. No imóvel, situado

à Avenida Beira Mar, não acontece mais

a atividade para a qual foi construído.

Desde julho de 2010, Yury tem feito

imagens de espaços abandonados, vazios,

sem uso ou esquecidos da Grande Vitória

como parte do seu projeto ] Ensaio sobre

ausência [. Parte desse trabalho mutimidi-

ático já foi disponibilizada sob a forma de

quatro vídeos em stop-motion que resul-

taram da produção fotográfica de algumas

dessas visitas.

Depois de produzir as fotos no Termi-

nal Aquaviário, o destino foi o terreno de

uma casa demolida na Av. Vitória. Ali é

também outro lugar que deixou de ser, é

um não-lugar – conceito perseguido por

Yury na sua criação.

Na páginas 33 e 34 estão algumas das

imagens feitas por Yury para seu projeto

e na página 34 se encontra o texto de Mi-

lena Paixão criado a partir do contato da

escritora com a obra do fotógrafo.

Yury conta que o conceito de ausência

é trabalhado e definido, paradoxalmen-

te, de maneira muito ampla e particular

pelos autores e artistas os quais acessou

para subsidiar sua produção. “Isso torna o

projeto potente para dialogar com outras

artes. Eu assumi isso na forma de mostrar

o trabalho: as fotografias dão origem

a vídeos em stop-motion, que, por usa

vez, trazem uma música instrumental

orientando a edição. O ensaio também

conta com ações de performance. Uma

vídeo-instalação será ainda outra forma

de apresentar essa produção”, diz.

Segundo Yury, o desdobramento no

campo da literatura já era uma potencia-

lidade almejada e percebida durante a

concepção e o desenvolvimento inicial do

projeto e, de acordo com Milena, a temáti-

ca do trabalho de Yury lhe instigou ainda

mais a conceber tal produção literária. “É

desafiador escrever sobre algo que já es-

tabelecido, pois o meu processo de escrita

é sempre muito espontâneo, é sempre

quando sinto a necessidade de escrever.

Confesso que o tema me atraiu bastante”,

conta a escritora.

Conhecer mais intimamente a propos-

ta artística de Yury Aires naquela manhã

de domingo foi uma forma de se “impreg-

nar desse sentimento”, diz Milena. Assim,

também paradoxalmente, trazemos im-

pressa nas páginas anteriores a presentifi-

cação de toda essa ausência.

do contato com as imagens à criação literária. a ausência é o tema do projeto multimidiático do fotógrafo que inspira a escritora

COSTURA A DOIS

35

foto

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Page 38: Revista Nós nº2

3636

onde um encontra o outro

fabrício noronha

[email protected] @FABRICIONORONHAARTIGO

O novo. A descoberta do novo. A arte como experiência

transcendental. O contato com a produção artística como

determinante nos movimentos e nos pensamentos: cada

qual. Relativo. Incrível. O prazer do gole do vinho ruim na praia

da Barra do Jucu: tudo isso tem a ver com o mergulho na liberdade

– do corpo, agora suspenso, móvel na cidade e no planeta. Tem a

ver com meus 16 anos.

É indo e vindo que esse nosso rastro vai aos poucos nos

redesenhando. Os espaços – os encontros. Estávamos em quatro

ou cinco na porta da casa de shows de rock Gueto, em 1999,

conversando sobre o que seríamos. Somos onde vamos hoje. Somos

a nossa mobilidade (fora das férias). Tem a ver com meus 26 anos.

N’hoje estou atento às grandes e pequenas aglomerações de

gente querendo felicidade. Online e offline. Espaços espontâneos,

como atrás do Shopping Vitória, no Final Feliz, nas mesinhas do

Restaurante Universitário da Ufes, na rua do Bar Bwana. Espaços-

espaços, como o Teacher´s Pub, Antimofo, Baile de Cobilândia,

CEMUNI II, Cine Metrópolis. Lugares abertos ao trabalho autoral.

Tão raros num Espírito Santo adolescente, vento e poupa –

minguado de palcos livres.

Precisa-se de produtor cultural atento à internet e honesto com

o novo século. Inserir de vez os nossos assuntos culturais locais

no momento propenso do país. Isso é se mostrar, colocar a cara a

tapa, circular com a sua produção para além. A rede é inteligente e

precisa ser alimentada com produção consistente; com qualidade,

risco e ousadia. Expor seu trabalho e suas ideias - ter ideias.

O legado da gestão Gilberto Gil no Ministério da Cultura

recoloca esse papo dez patamares acima: caminho que deve

ser seguido no governo da presidenta Dilma. Democratizar e

desburocratizar o acesso aos recursos públicos, estimulando ações

no calor de suas inspirações e seguir expandindo os conceitos de

cultura (games, rede social, cultura livre). Os editais da Secretaria

de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult) amadurecem a

cena local nesse sentido.

Com relação ao processo de avaliação de propostas, os

editais da Secult se mostram mais aperfeiçoados e são menos

burocratizados, o que facilita a elaboração de projetos. Também

envolvem, na comissão de seleção, profissionais com isenção

necessária para medirem a capacidade de plena realização e da

pertinência das propostas concorrentes. Por vezes, chegou a

realocar recursos de categorias onde nenhum inscrito atingiu o

mínimo esperado.

Modelo de mecenato caduco, a Lei Rubem Braga ensaia uma

reformulação ao passo que temos ainda quem defenda a criação

de uma lei estadual baseada na velha troca de bônus – onde é

legado ao interesse da empresa o uso de dinheiro público nesse

ou naquele projeto. Retrocesso: nivela por baixo o trato artístico

e a capacidade de um possível mercado autossustentável. Outro

retrocesso: “distensiona” a rigidez do júri.

(Os critérios de avaliação de projetos da Lei Rubem Braga são 36

Page 39: Revista Nós nº2

3737

ARTIGO

falhos e, por muitos, questionados, desde a composição do júri até

a seleção de repetidos agentes culturais. Consequência: aprova-se

muito projeto ruim.)

Outras duas ações que vão dar o que falar: a chegada do

primeiro Sesc Cultural no Espírito Santo e a implementação dos

20 novos Pontos de Cultura. De um lado, o primor do padrão Sesc,

oferecendo aos artistas, aos produtores e, principalmente, ao

público uma programação criteriosa com bom trato profissional

e artístico. Do outro, os Pontos de Cultura que tocam e estimulam

a espontaneidade do poder de transformação da cultura,

instrumentalizando grupos e projetos potentes que vão reverberar

ainda mais em suas regiões.

O caminho está na rapaziada. As políticas públicas são um

braço que deve estimular essa produção, quiçá sustentável e

acessível à maioria da população.

O que não pode é truculência: a reitoria da Ufes, há mais de

cinco anos, proíbe shows no interior dos campi, uma afronta à

importância histórica da Universidade na cena musical local, um

desrespeito aos estudantes que são “obrigados” a organizarem

suas festas na surdina.

Os lugares/encontros não são para sempre. Com a rapaziada

sem caretices e com uma queda para a pluralidade. Organizações

coletivas, horizontais, troca de ideias, contato direto. O corpo-

muitos transbordando pela infinita arte. Sozinho até os mais-

do-mesmo já sacaram que não se vai muito longe. Os lugares/

encontros são para sempre.37

Page 40: Revista Nós nº2

38

[email protected] | _@PAULOGOIS

[email protected]

Na infância, Rafael Schultz (21 anos)

passava muitas horas desenhando ou

construindo casinhas. Ele dedicou-se a

essa prática ao ponto de copiar as plantas

baixas e croquis de imóveis veiculados em

revistas. E o que era um capricho de crian-

ça se transformou em uma ocupação pro-

fissional e também em um instrumento

para a valorização histórica da emigração

pomerana no município de Vila Pavão,

onde o rapaz nasceu e mora.

Descendente de pomeranos, Rafael

tem feito um trabalho de levantamento

dos imóveis construídos pelos seus ante-

passados, vindos do sul do Espírito Santo

para o município na década de 1940. Ele

usa sua habilidade com o desenho técnico

e arquitetônico para promover o resgate

e a preservação da sua cultura e impedir

a perda do patrimônio arquitetônico pre-

sente nas casas dos colonos.

Quando chegaram, os colonos tiveram

que construir as suas próprias habitações

utilizando, principalmente, a madeira de

lei existente em abundância nas matas da

região. A qualidade da madeira empregada

nessas construções faz desses imóveis uma

excelente fonte de material para a pro-

dução de móveis artesanais rústicos. Em

virtude desse uso, desde a década de 1980,

muitas casas já foram demolidas na região.

“Quando era criança, eu via o

PAULO GOIS BASTOS

jovem usa habilidade com o desenho para promover a preservação das edificações dos emigrantes pomeranos no norte capixaba

ENTREvISTA

38

Page 41: Revista Nós nº2

39

desenhar aquela planta de casa. Quando

chegou o boletim, vi minha primeira

nota vermelha e, por incrível que pareça,

era bem na matéria de Artes. Nem me

preocupei, pois, para mim, aquela planta

era mais que uma arte, era o início de um

sonho”.

Aos 16 anos, enquanto estudava à

noite, o jovem trabalhou como caixa em

uma sorveteria e lanchonete. No trabalho,

aproveitava o tempo ocioso para dese-

nhar. Essa insistência fez com que ele

fosse descoberto por uma dupla de servi-

dores da Prefeitura na área de Engenha-

ria, que frequentavam a sorveteria. Um

deles viu os desenhos e resolveu investir

no talento do adolescente. Após isso, foi

convidado a atuar em um escritório de

arquitetura recentemente instalado na

cidade. “Nunca tinha feito um desenho de

casa no computador, nem conhecia o pro-

grama específico para isto. Mas comecei a

mexer no programa até aprender”. Graças

a essa experiência, aos 18 anos, Rafael foi

contratado para trabalhar como desenhis-

ta de projetos pela Prefeitura Municipal

de Vila Pavão, função que exerce até hoje.

a descoberta da arquitetura pomerana

Rafael conta que, ao ver as casas

modernas e futuristas em revistas de ar-

quitetura, sentia-se incomodado por não

encontrar aquele tipo de edificação onde

morava, mas “com o tempo, percebi que

nasci em lugar com uma arquitetura rica,

porém pouco valorizada localmente”.

Desde o início deste ano, o jovem tem

feito o registro em desenho das habitações

dos colonos pomeranos. Ele visita os imó-

veis e conversa com os proprietários sobre

a importância de se preservar esse tipo de

construção para a valorização da forma-

ção cultural e histórica do município.

município sofrendo essa degradação.

Frequentemente, a gente via caminhões

passando com material retirado a partir

da demolição dessas casas. Hoje, eu busco

pesquisar quantas casas existem, qual

a situação delas a fim de preservá-las”.

Estima-se que o município tenha cerca

de 100 imóveis construídos por colonos

pomeranos. “Muitas e muitas casas foram

vendidas a empresas, principalmente, de

Minas Gerais, e transformadas em móveis.

Uma peça dessas chega a valer muito mais

do que aquilo que se paga pelas próprias

casas”. É para impedir o processo de de-

molição e conscientizar os seus proprietá-

rios a respeito do valor histórico e cultural

dessas habitações que Rafael tem feito o

desenho desses imóveis.

o envolvimento com o desenho“Na minha infância, o que mais

gostava de fazer era desenhar e brincar de

construir casinhas de barro. Como meu

pai era pedreiro, gostava de acompanhá-

-lo em algumas obras, para brincar, e com

isso aprender vendo ele trabalhando”,

conta-nos Rafael. Por volta dos 11 anos,

o rapaz participava de um grupo que

fazia apresentações de danças folclóri-

cas pomerana, italiana e africana – as

três expressões étnico-culturais mais

presentes em Vila Pavão. Nessa idade, ele

também já trabalhava como vendedor de

picolé e de jornal e, ainda, como lavador

de carros.

Aos 15 anos, após assistir um comer-

cial publicitário sobre apartamentos na

TV, Rafael se aventurou a desenhar, pela

primeira vez, uma planta de casa. “Me

deu uma vontade de inventar como pu-

desse ser uma casa para mim se eu fosse

construir. Fiz simples rabiscos. Nem ima-

ginava ser arquiteto ou engenheiro, mas

queria melhorar cada vez mais aquele

desenho. Assim, comprei várias revistas

sobre plantas de casas para aprender

sobre técnicas de desenho de uma planta

arquitetônica”.

Rafael chegava a desenhar uma mes-

ma planta baixa por diversas vezes. “Em

uma aula de Artes, tinha um trabalho para

fazer, mas nem me preocupei, só queria

39

Page 42: Revista Nós nº2

40

[email protected]

Alguns desses desenhos são emoldurados

e entregues aos moradores dos imóveis.

Como trabalha durante a semana, Rafael

faz essa atividade durante os sábados e os

domingos de maneira voluntária.

Parte da nossa entrevista aconteceu

em uma dessas casas que foi descoberta

enquanto Rafael fazia um trabalho para

a Prefeitura naquela área. “Eu terminei

meu trabalho e vim correndo pra cá. Eu

tava doido para ver essa casa. É quase

um tesouro, né, que estava perdido?

Gostei muito e, nesse estilo, ela é a única

na cidade”, revela-nos entusiasmado. A

edificação possui dois pavimentos, o que a

torna diferente da maioria das habitações

já levantadas pelo desenhista. Estamos na

sede do sítio do Seu Moacir Bening e Dona

Irla Volz Bening, cuja propriedade é atra-

vessada pelo Córrego Grande, que já deu

nome ao distrito antes de se emancipar de

Nova Venécia, em 1990, e passar a ser Vila

Pavão. O riacho já não faz jus adjetivo.

A aridez do noroeste capixaba certa-

mente é bem distinta do clima da Pomerâ-

nia europeia. Por isso, os colonos fizeram

adequações arquitetônicas para terem ca-

sas bem arejadas. A edificação suspensa e

as frestas nos telhados são algumas dessas

tecnologias. “Eles não estavam acostu-

mados com esse calor. Então, acabaram

fazendo uma arquitetura própria. As casas

ENTREvISTA

“comecei a visitar essas casas e a pesquisar

sobre elas para orientar aos moradores

sobre a importÂncia de preservá-las”

Page 43: Revista Nós nº2

41

são suspensas do chão, o que possibilita

a entrada de ventilação pelo assoalho. Os

forros da casa também contam com siste-

ma de ventilação”, aponta-nos Rafael. “As

janelas são grandes e a maioria das casas

pomeranas tem varanda na frente”.

Rafael tem consciência de que o

caminho até o reconhecimento oficial do

valor histórico-cultural dessas casas ainda

é longo. “Por enquanto, a gente quer saber

quantas casas existem, qual a situação de-

las. As famílias devem saber que acabam

ganhando ao preservar o patrimônio e que

não irão perder a casa com esse processo”.

A perspectiva é que esse levantamento

seja o ponto de partida para o processo de

tombamento dessas edificações.

Essa ação de resgate do patrimônio

pomerano ganhou repercussão na mídia

e a comunidade local tem recebido positi-

vamente a iniciativa. Alguns proprietários

passaram a procurar Rafael para terem

suas casas desenhadas, pois já conseguem

perceber a importância que esses imóveis

têm, tanto para a comunidade, quanto

para eles próprios. “Quando eu chego na

casa, os proprietários já sabem o que eu

vou fazer. Pois já se comenta isso entre

eles. Quem tem uma casa pomerana já

fala um com o outro. A primeira coisa que

eles comentam é sobre a recuperação dela

mesmo. Por isso, a gente não chega falan-

do do tombamento, mas eles já entendem

que um dia pode ser tombado. Algumas

famílias também estão reformando a suas

casas por conta própria”.

os usos futuros do patrimônioRafael defende que a preservação

patrimonial deve respeitar o uso atual

dos imóveis, ou seja, as famílias devem

continuar residindo em suas casas. Para

ele, o resgate cultural pode ser aliado a

outras atividades, como o agroturismo,

que possibilitem aos pequenos proprie-

tários, a maior parte deles agricultores, a

comercializarem a sua produção.

Outro aspecto a ser promovido com

a preservação é o conhecimento desse

patrimônio pela própria comunidade de

Vila Pavão, pois “tem muita gente aqui na

cidade que nem conhece o que é uma casa

típica de pomerano. Outros até conhecem,

mas não dão a devida a atenção”.

Talvez uma das maiores dificuldades

das culturas tradicionais seja a de desper-

tar o interesse pela preservação de suas

tradições e pela valorização da história da

sua comunidade nas gerações mais novas.

Assim como Rafael, o que se percebe é um

engajamento cada vez maior dos jovens de

Vila Pavão nesse processo. O município

tem se destacado pelos usos das mídias,

como o rádio e o audiovisual, para a pro-

moção de aspectos histórico-culturais da

emigração pomerana numa clara demons-

tração de que a cultura tradicional pode

ENTREvISTA

estabelecer diálogos com possibilidades

tecnológicas da nossa época.

É nesse sentido que Rafael pensa o

impacto da sua ação para futuro: “Espero

que a gente possa conseguir recuperar es-

sas casas e que os jovens também possam

fazer construções pensando na cultura.

Possam colocar traços da arquitetura

típica em novas construções deixando a

casa moderna”.

Contribuíram com a concepção e produção desta entrevista a historiadora e integrante da equipe do PRCJ, Fernanda de Castro, a cientista social Gabriela Lacerda, e o Agente Cultura Jovem Julio Carlos Dettmann Sandro Silva.

Page 44: Revista Nós nº2

4242

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NOSSA GALERIA

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IGNEz CAPOvILLA

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RAPHAEL ARAúJO

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vITOR SANTOS

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LUCAS ABOUDIB

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Aline AlvesManauara e estudante de Jornalismo. Já desenvolveu atividades de rádio, internet, fotografia e TV. Trabalha no projeto Entre Jovens, do Instituto Unibanco.@alvesaline | [email protected]

AdrIAno MonTEIroCapixaba roots e jornalista. Graduando em Ciências Sociais pela Ufes. de vez quando, poeta e cronista. É compositor e guitarrista da banda [email protected]

Ariny BiAnchiGraduanda em Artes Visuais pela Ufes, cursa Crítica Teatral pela Faculdade de Teatro e dança. Trabalha como fotógrafa e faz parte da segunda turma de Agente cultura [email protected]/arinybianchi

AndressA reisGraduanda em Artes Visuais pela Ufes. Fotógrafa e arte-educadora. desenvolve um trabalho Fotodocumen-tal e um Projeto de Fotografia para Crianç[email protected]

AndrEw LAUrEThCantor e compositor. Cursa Música na Ufes. Participou da produção dos Cds das bandas Sexto Comando, Altitude e Talentos do Interior. Foi vocalista da banda holandesa narrow e trabalha em um projeto solo.www.myspace.com/[email protected]

BrunA AndrAdeBacharel em Serviço Social. É diretora administrativa do Instituto TamoJunto, associação criada por jovens para desenvolver intervenções urbanas por meio da arte, cultura, esporte e lazer.institutotamojunto.blogspot.combrunaandrademartins@yahoo.com.br

cArolinA ruAsJornalista, pesquisa Cinema e gosta de revistas engra-çadinhas sobre música e literatura. Integra o coletivo FoiaFeira e o Grupo de Estudos Audiovisuais - [email protected]

dAnIEL FErnAndES VILELAJornalista, ilustrador e estudante de Comunicação da Ufes. Faz parte do Cronópio, tendo criado o projeto gráfico da revista Graciano. no momento, rouba memórias alheias para escrever um [email protected]/blog

FABríCIo noronhAArtista, escritor e realizador audiovisual. É vocalista da banda Sol na Garganta do Futuro e um dos fundadores do Cine Falcatrua e do Coletivo Multi. Autor do livro de poemas Sangue Som Fogo (2007).garganta.blog.br | [email protected]

FErnAndA dE CASTroGraduada em história pela Ufes. desenvolve trabalhos sobre cultura afro-brasileira. Pesquisa a trajetória do Museu Capixaba do negro (Muncane) e é coordenado-ra da Formação Agente Cultura [email protected]@redeculturajovem.com.br

hAroldo liMAJornalista e membro do Coletivo Foi à Feira. Integra o Grav – Grupo de Estudos Audiovisuais da Ufes. [email protected] | @haroldolia

irAn soAresdesenhista, graffiteiro e tatuador. É idealizador do núcleo de Criação Graffiteria e rabiscou vários muros e corpos dessa Grande Vitória.www.flickr.com/[email protected]

JuliAnA lisBoADesigner e ilustradora. Mantém uma incubadora de design gráfico. Faz parte do Coletivo Foi à Feira. desen-volve um projeto de fanzines com o público infantil. Foi selecionada para a 3ª Bienal Brasileira de design (2010).www.juuz.com.br | infantozines.wordpress.com

JULIAnA CoLLI TonInIBolotas, designer e malabarista. Pesquisa a memória gráfica capixaba, participa do coletivo Foi à Feira e investe sua criatividade em uma incubadora de design.www.juuz.com.br | @bolotas

KATLEr dETTMAnnGraduanda em Comunicação Social pela Ufes. Assesso-ra de imprensa do núcleo Afro odomodê da Prefeitura Municipal de Vitória. desenvolve um projeto de televi-são sobre juventude e cultura da periferia.@katlerdw | [email protected]

KAMILLA CUSTódIoEstudante do 3º ano do Ensino Médio. Twitteira assí-dua. Apaixonada por cultura japonesa e games. Geek em tempo integral e desenhista nas horas [email protected]

leAndro reisCursa Jornalismo na Ufes e escreve na revista Graciano. Mantém um blog pessoal onde tenta fugir das amarras do jornalismo [email protected]

lellison souzACursa história na Ufes. Aprecia cinema. Ex-corneteiro de banda marcial, ama música. ouvinte paciente e bom competidor em discussõ[email protected]

LUArA MonTEIroFotógrafa e artista plástica formada pela Ufes. Parti-cipou das exposições Incomunni (2009) e Um outro olhar (2008). Em 2010, teve o seu projeto rota 101

contemplado pela Bolsa Cultura [email protected]/luaramonteiro

MArCELo hILArIno (Voodoo)Aluno do curso de Artes Visuais na Ufes. Faz beatbox e participa dos coletivos Bolor e a Expurgação. Faz pate da segunda turma de Agentes Cultura Jovem. Teve criações selecionadas pelo site da revista zupi.flavors.me/vuduzimbolorarts.blogspot.com/

MArcos rAMosÉ pesquisador, poeta e editor da Água da Palavra – revista de Literatura e Teorias. Tem textos publicados em diversas revistas literárias e perió[email protected]

MAriAnA de MorAesArtista, pesquisadora, professora. Trabalha a partir do conceito de [hnA] molécula multiplicadora de arte. Com-partilha encantamentos sobre arte, fotografia e [email protected]

MilenA PAixãoProfessora de Língua Inglesa e graduada em Letras. dedica-se à leitura por vocação e à escrita por neces-sidade. Autora do livro de poesias Catar-se (2009). É uma das organizadoras do Sarau Verbo Intransitivo e colabora com a revista Cachoeiro [email protected]

MoISÉS nASCIMEnToGraduado em Letras-Português e mestrando em Letras pela Ufes. Professor de Literatura, compositor e músico. É um dos fundadores da banda Zamba’Bem e faz parte da segunda turma de Agentes cultura Jovem.redeculturajovem.com.br/agentes/diario-bordo-moises/ @moinascimento

rodrIGo hIPóLIToArtista, crítico e poeta. É autor do blog Seleta Envelhe-cida e atua no Coletivo Monográ[email protected]

ThALITA CoVrEFotógrafa, poeta, pintora, professora, musicista. Tudo pela metade. Uma curiosa em expansão. Possui um blog onde guarda palavras e silêncios e uma máquina fotográfica que tem nome de melhor amiga: Esmeralda.www.flickr.com/thalita_covre | [email protected]

yury AiresÉ técnico em Comunicação Visual pela Contec e estu-dante de Artes visuais pela ufes. no audiovisual, atua como assistente de câmera e direção de arte. Também faz trabalhos como desenhista gráfico.www.youtube.com/user/[email protected]

colaboradores

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49

Governo do Estado do Espírito SantoPaulo César Hartung Gomes – Governador

Ricardo Rezende Ferraço – Vice-Governador

Secretaria de Estado da Cultura do Espírito SantoDayse Maria Oslegher Lemos – Secretária

Erlon José Paschoal – Subsecretário

Anna Luzia Lemos Saiter – Subsecretária de Patrimônio Cultural

Instituto SincadesIdalberto Luiz Moro – Presidente

Dorval Uliana – Gerente Executivo

ONG Universidade Para TodosRicardo Trazzi – Presidente

Programa Rede Cultura JovemErlon José Paschoal – Coordenador

Vânia Tardin de Castro – Coordenadora da Plataforma de Projetos

Marcelo Maia – Coordenador da Plataforma Digital

Roberto Alves Santos - Coordenador Administrativo-Financeiro

Equipe Técnica

Fernanda de Castro Barbosa

Filipe Alves Borba

Gustavo Rocha Pereira de Souza

Ivo Godoy

Kênia Lyra

Maira Rocha Moreira

Paulo Gois Bastos

Revista NósJornalista Responsável e Editor– Paulo Gois Bastos (MTB/ES 2530)

Projeto Editorial – Orlando Lopes e Paulo Gois Bastos

Projeto Gráfico Original – Alex Vieira e Vinícius Guimarães

Revista Nós – edição nº 2Direção de Arte, Diagramação e Capa - JUUZ

Ilustração – Iran Soares, Juliana Colli Tonini, Juliana Lisboa e

Marcelo Voodoo

Textos – Adriano Monteiro, Aline Alves, Andrew Laureth, Bruna

Andrade, Carolina Ruas, Daniel Fernandes Vilela, Fabrício Noro-

nha, Fernanda Barata, Fernanda de Castro, Haroldo Lima, Katler

Dettmann, Kamilla Custódio, Laíssa Gamaro, Leandro Reis, Lellison

Souza, Mainá Loureiro Ferreira, Mariana de Moraes, Marcos Ramos,

Milena Paixão, Moisés Nascimento, Paulo Gois Bastos e Rodrigo

Hipólito.

Revisão – Luiz Cláudio Kleaim

Direção de fotografia – Luara Monteiro

Fotos – Andressa Reis, Ariny Bianchi, Bianca Pimenta, Drielly

Rodrigues, Gustavo Basílio, Ignez Capovilla, Luara Monteiro, Lucas

Aboudib, Maira Rocha, Paulo Gois, Raphael Araújo, Thalita Covre,

Victorhugo Amorim, Vitor Santos, Yury Aires e Wanderlan Oliveira

Conselho Editorial da Revista NósCarolina Ruas Palomares, Ítalo Galiza, Max Dias, Milena Paixão e

Vítor Lopes

Especificações gráficasTipografia - Emona, Sintax e Existence

Papéis - Offset e Pólen

Impressão – GSA Gráfica e Editora

Tiragem – 5 mil exemplares

A revista Nós é uma publicação do Programa Rede Cultura Jovem.

Rua José Alexandre Buaiz, nº 160 – sala 703/705 – Ed. London Office Tower – Enseada do Suá – Vitória-ES

CEP: 29.050-545 | (27) 3026-2507 | [email protected] | www.portalyah.com.br

Vitória-ES

Novembro de 2010

Estagiárias

Maíra Tristão e Samara Amorim

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ANIME FEST GO!Estas fotos foram feitas nos dias 18 e 19 de setembro deste ano, durante o 5º Anime Fest. O evento foi realizado no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em vitória, e contou com o público de 3.500 pessoas. Quem esteve lá conferiu a paixão dessa galera pela cultura japonesa e uma variada programação de apresentações, concursos e oficinas.

ARREMATE

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