revista spese nº2

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NOTA EDITORIAL Neste segundo nmero da revista de Sade Escolar so publicados alguns dos trabalhos apresentados sob a forma de poster no 1 Congresso de Sade Escolar, realizado em Abril de 2009, no Form de Ermesinde. Adicionalmente, temos dois artigos elaborados por dois scios da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Sade Escolar (SPESE). S foi possvel a concretizao desta revista atravs do esforo e dedicao deste grupo dinmico e muito motivado que constitui a SPESE. A SPESE integra profissionais de vrias reas nomeadamente nutricionistas, mdicos de Sade Pblica, fisiologistas do desporto, psiclogos e enfermeiros com prtica em Sade Escolar. O corpo editorial da revista tem como objectivos a divulgao de todos os bons trabalhos que se realizam na rea da Sade Escolar. Aceitem pois o desafio de enviarem os vossos trabalhos para o 1 Congresso da SPESE que depois de revistos sero eles tambm publicados num prximo nmero desta revista.

Ana Paula Alves

Interver no Ambiente ObesognicoLusa Aires Coordenadora do Projecto ACORDA-Escolas

A epidemia da obesidade uma consequncia perfeitamente compreensvel das escolhas modernas marcadas por um decrscimo acentuado nas necessidades de dispndio de energia. Neste sentido, surge uma necessidade natural de contrariar esta tendncia imobilidade - promover o movimento. j do senso comum que os comportamentos sedent rios esto associados ao desenvolvimento da obesidade. A adolescncia parece ser um perodo particularmente vulnervel para a escolha deste tipo de actividades la borais, de lazer ou de socializao. A American Academy of Pediatrics (1) publicou recomendaes no sentido de serem reduzidas as horas de actividade de baixo dispndio energtico como ver televiso (com programas de qualidade) para um mximo de 2 horas em mdia por dia. A obesidade frequentemente discutida em relao aos modelos dietticos aos baixos nveis de actividade fsica ou constituio gentica, mas o envolvimento igualmente determinante (2). Evit-la exige que o indivduo reconhea o poder das influncias ambientais externas e crie um microambiente protector que inclua uma alimentao saudvel e muita actividade fsica. , por isso, fundamental estabelecer um compromisso com o exerccio fsico que se manifeste num continuum entre os valores intrnsecos, como o prazer, o conhecimento, a auto-imagem corporal, e os valores extrnsecos, como as questes de comprometimento e enquadramento social e econmico. Mas ser possvel para as crianas e jovens das ltimas ge raes manterem esse compromisso com o exerccio fsico? As escolas portuguesas destacam-se positivamente a nvel internacional por terem professores especializados, por proporcionarem aos seus alunos actividades fsicas curriculares de participao obrigatria (educao fsica) e extra-curriculares de participao voluntria (desporto escolar). Este cenrio deveria ser suficiente para que os jovens pudessem atingir, no dia-a-dia, um

nvel apropriado de actividade fsica, mas, na realidade, isso no acontece. Vrios estudos mostram que grande parte dos jovens portugueses no atinge os valores internacionais recomendados de 60 minutos por dia de actividades fsicas de intensidade moderadas e vigorosas para obter benefcios para a sade e, para reforar este pro blema, a prevalncia de obesidade continua a aumentar. Por esse motivo, nas ltimas dcadas, tem vindo a crescer o interesse pelo mercado dos projectos de interveno com base na escola e na comunidade. Sabemos que difcil edificar e manter comportamentos saudveis a longo prazo. As investigaes mais recentes tm apresentado resultados pouco animadores para quem tem como objectivo nico a perda de peso, pois o verdadeiro problema reside realmente, na modificao de comportamentos (3). No entanto, so claramente reconhecidos os efeitos benficos para a sade na reduo do peso, como a diminuio da hipertenso, do colesterol (LDL), dos triglicerdeos, e da glicose (4). No que respeita s intervenes cujo objectivo especfico o aumento da actividade fsica, os resultados tm sido promissores. Programas que promovam experincias de sucesso e de prazer podem contribuir mais eficazmente para a prtica regular da actividade fsica. Valorizar e garantir sensaes positivas e enriquecedoras durante e aps a prtica do exerccio assumem-se como aspectos decisivos na alterao de comportamentos saudveis (5). A escola tem todas as condies necessrias para a interveno, pois onde as crianas passam a maior parte do tempo. De forma dialctica, as crianas tambm podem ser uma influncia na famlia levando da escola para casa saberes, transmitindo e impulsionando o prazer pela actividade fsica e pelas escolhas alimentares saudveis. Como local de interveno em horrio ps-curricular, pode ser o meio ideal para ultrapassar factores condicionantes como a falta de transportes ou problemas de segurana, que tanto preocupam os pais.

A qualidade do envolvimento familiar tambm determinante atravs do controlo da quantidade de brinquedos do lar ou atravs das actividades estruturadas pelos adultos. Pais e familiares podem proporcionar mais oportunidades s crianas de serem activas e reduzir a exposio s actividades sedentrias. Intervenes mais eficazes exigem portanto uma abordagem em mltiplos nveis, combinando a escola, com a famlia ou comunidade, educao e envolvimento, a curto prazo (6) ou a longo prazo (7). Em sntese, no h um nico factor isolado que esteja consistentemente ligado obesidade, mas sim um conjunto de factores interligados ao nvel sociocultural (famlia, estatuto scio-econmico, gnero), intra e interpessoal (sade psicolgica dos pais, e bem estar em geral) e do envolvimento (segurana, acesso ao desporto e a alimentos saudveis). importante destacar o papel dos programas de interveno direccionados para as crianas com excesso de peso e obesidade com o objectivo de aumentar os nveis de actividade fsica em especial de intensidades moderadas e vigorosas, mas simultaneamente de reeducar e capacitar os jovens de fazerem escolhas autnomas de praticas saudveis nas notinas pessoais. Esto a decorrer no pas inmeras intervenes, mas ainda no existe um conhecimento altaneiro sobre o nmero e eficcia dos programas. No entanto, destaco trs dinmicas de interesse: O programa de Combate Obesidade Infantil na Regio do Algarve, que foi distinguido com o 1 Prmio na categoria Preveno da Obesidade dos Prmios Hospital do Futuro 2008/2009, o programa Pessoa, implementado no concelho de Oeiras e o Projecto ACORDA a decorrer h j 8 anos no Centro de Investigao em Actividade Fsica, Sade e Lazer (Faculdade de Desporto - UP). Como coordenadora do Projecto ACORDA-Escolas, em desenvolvimento h 3 anos na Escola Secundria de Valongo, sinto concretamente as dificuldades de manter e fazer crescer um programa especfico para crianas e adolescentes obesos. Quebrar inrcia, manter a frequncia e estabelecer o compromisso no so tarefas fceis. Mas, ver a adeso aumentar, perceber que os participantes sentemse envolvidos num grupo, vivenciam o sucesso e mantm a participao no ano seguinte, faz aumentar a minha convico de que com pequenos passos, construmos a causa. muito importante haver um trabalho interdisciplinar entre mdicos, jovens, famlia e escola. Porque a par de um problema clnico, a obesidade dever ser reco nhecida como uma questo pedaggica de converter os conhecimentos sobre a sade numa prtica de vida.

Referncias: 1.AAP. American Academy of Pediatrics: Children, adolescents, and television. Pediatrics. 2001 Feb;107(2):423--6. 2.Rennie KL, Johnson L, Jebb SA. Behavioural determinants of obesity. Best practice & research. 2005 Sep;19(3):343--58. 3. Kamath CC, Vickers KS, Ehrlich A, McGovern L, Johnson J, Singhal V, Paulo R, Hettinger A, Erwin PJ, Montori VM. Behavioral interventions to prevent childhood obesity. A systematic review and meta--analyses of randomized trials. The Journal of clinical endocrinology and metabolism. 2008 Sep 9. 4. Harris KC, Kuramoto LK, Schulzer M, Retallack JE. Effect of school--based physical activity interventions on body mass index in children: a meta--analysis. CMAJ. 2009 Mar31;180(7):719--26. 5. Lubans DR, Foster C, Biddle SJ. A review of mediators of behavior in interventions to promote physical activity among children and adolescents. Prev Med. 2008 Nov;47(5):463--70. 6. Shaya FT, Flores D, Gbarayor CM, Wang J. School-based obesity interventions: a literature review. J SchHealth. 2008 Apr;78(4):189--96. 7. Brown T, Summerbell C. Systematic review of school--based interventions that focus on changing dietary intake and physical activity levels to prevent childhood obesity: an update to the obesity guidance produced by the National Institute for Health and Clinical Excellence. Obes Rev. 2008 Jul 30.

Implicaes dos determinantes das escolhas alimentares na interveno em contexto escolar: Uma breve reviso e reflexo.Marina Prista Guerra / Sandra Torres / Filipa Vieira Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade do Porto

O tema da alimentao actualmente um tema bastante discutido na comunidade em geral e tambm na comunidade cientfica. Os extremos, patentes em doenas como a anorexia nervosa e a obesidade, do origem a reflexes vrias que convergem numa mesma questo de base: porque comemos o que comemos? Este o ponto de partida de dois artigos nacionais recentemente publicados (Silva, Pais-Ribeiro, & Cardoso, 2008; Viana, Santos, & Guimares, 2008) e que visam sistematizar as variveis que influem na seleco alimentar, nomeadamente das crianas e jovens. No presente artigo propomos rever sucintamente as principais concluses de ambos os artigos e tirar breves pistas para a interveno em meio escolar. Um importante ponto de partida para esta reflexo o facto das preferncias alimentares na infncia se cingirem simplesmente a um critrio gostar ou no contra riamente ao que se observa nas fases etrias sequentes, nas quais uma panplia de variveis determinam, de forma integrada, o que se escolhe comer. Procuraremos sistematizar estas mesmas variveis organizando-as por categorias. A primeira comummente explanada por Silva et al. (2008) e Viana et al. (2008) e diz respeito s influncias desenvolvimentais. Neste tpico a noo bsica implcita a de que os hbitos alimentares adquiridos na infncia persistem ao longo da vida. na infncia que as preferncias por certos alimentos so em larga escala desenvolvidas, atravs da exposio repetida aos mesmos. Neste contexto, a influncia parental assume-se como um factor preponderante, no apenas pela diversidade de alimentos que poder proporcionar criana, mas tambm pelo modelo de alimentao que poder representar para a mesma. Hoje sabe-se que as atitudes parentais em relao aos alimentos (e.g. os alimentos que compram para ter em casa e os seus prprios hbitos alimentares) podero influenciar as escolhas dos prprios filhos atravs de um processo de aprendi-

zagem social. Como refere Silva et al. (2008, p. 195): O acto de comer um acontecimento social, sendo que outras pessoas que se encontram a comer nossa volta podem servir de modelos (Cutting et al., 1999). Neste cenrio existem ainda outros intervenientes a considerar para alm das figuras parentais; referimonos aos pares. J na idade pr-escolar, a criana desenvolve preferncias por determinados alimentos atravs da observao de outras crianas. Este dado particularmente relevante quando pretendemos fazer a ponte para o contexto escolar, na medida em que reala a importncia de considerarmos a influncia exercida pelos pares, ao invs de considerarmos isoladamente cada criana ou jovem como alvo de interveno. Da mesma forma que a influncia dos pares pode exercer um efeito adverso (se for no sentido de uma alimentao pouco saudvel), a mesma poder ser potenciadora de uma boa alimentao. Tal implica, certamente, uma interveno de largo espectro, ao nvel comunitrio, com implicaes na mudana de mentalidade dos jovens. A mudana de mentalidades centra-se noutro fenmeno social a que vulgarmente chamamos prestgio. Comer determinados alimentos poder ser indicador de prestgio, consoante o preo dos mesmos ou o contexto a que eles so associados. Viana et al. (2008) exemplificam esta influncia contextual com base nos resultados do estudo de Chapman e MacLean (1993): os vegetais cozidos, saladas e outros alimentos considerados saudveis so associados pelos jovens s refeies com os pais e a ficar em casa; em contrapartida, a junk food e a comida considerada menos saudvel associada pelos mesmos a refeies com amigos e ao estar vontade. Desta forma, a comida pode ser usada como indicador de prestgio, como forma de adquirir independncia em relao aos pais ou como meio de integrao no grupo de pares.

de salientar que a representao elaborada sobre cada alimento tambm fortemente influenciada pela publicidade. Crenas sobre o estatuto que o seu consumo proporciona, bem como as suas qualidades nutricionais so veiculadas nos anncios e condicionam a motivao para determinadas escolhas. A extensa bibliografia revista por Viana et al. (2008) unnime em concluir que as crianas e os jovens parecem ser particularmente sensveis aos anncios sobre alimentos calricos e ricos em acar. No espectro dos factores motivacionais ainda de considerar, obviamente, os aspectos relacionados com os sentidos (e.g. o sabor e o aroma dos alimentos) mas tambm outras questes mais prticas como o preo (e.g. ser barato) e a convenincia (ser fcil de preparar). Abordados os aspectos desenvolvimentais, sociais e motivacionais resta-nos enfatizar os, no menos importantes, factores psicolgicos que regulam as escolhas alimentares. Um dos aspectos refutados em alguns estudos como estando na base de uma dieta pobre a falta de conhecimento sobre a composio dos alimentos. Na realidade, reconhece-se a pertinncia desta dimenso mas, paralelamente, tambm se considera que a mesma insuficiente para explicar isoladamente a presena de uma alimentao pouco saudvel. As implicaes para a prtica que daqui advm resumem-se ao facto da interveno a este nvel dever contemplar uma vertente informativa sobre as qualidades dos alimentos, mas no se centrar nica e exclusivamente neste aspecto. Incluir uma vertente informativa ao nvel da educao alimentar justifica-se pelo facto das informaes veiculadas sobre os alimentos exercerem influncia ao nvel das crenas formadas em relao ao comportamento alimentar. As crenas, por sua vez, orientam as decises. Silva et al. (2008) salientam no seu artigo de reviso alguns dos principais modelos cognitivos (Modelo de Crenas da Sade; Modelo da Motivao Protectora; Modelo da Aco Planeada) que ajudam a compreender a forma como as crenas podem influenciar as decises, concluindo que os diferentes modelos focam, em comum, a importncia de algumas dimenses cognitivas na implementao de um determinado comportamento, entre elas, a percepo do risco (vulnerabilidade), percepo da gravidade do problema, avaliao de custos e benefcios de determinado comportamento, auto-eficcia e a percepo de controlo do comportamento. Todavia, uma das principais crticas apontadas o facto de estes modelos pressuporem que o comportamento consequncia de pensamentos racionais, ignorando, consequentemente, o papel dos afectos, apesar de emoes como o medo (do aumento de peso, de doenas), prazer e culpa (por exemplo, por ter comido em excesso) poderem contribuir para a seleco de alimentos (Ogden, 2003 cit in Silva et al., 2008, p.199). de salientar, pois, que nos ltimos anos a relao entre a alimentao e as emoes tem sido alvo que crescente

interesse ao nvel da investigao. Com consistncia tm emergido posies tericas que conceptualizam as perturbaes do comportamento alimentar como uma perturbao ao nvel da auto-regulao, com especial predomnio dos dfices da regulao dos afectos. Tambm na obesidade a dificuldade em lidar com os afectos tem sido realada. As descries clnicas do suporte a esta perspectiva, relatando que indivduos com problemas alimentares vivenciam as suas emoes de uma forma confusa e manifestam dificuldade em distingui-las e descrev-las. O comportamento alimentar poder surgir, ento, como um mecanismo regulador de estados emocionais intensos e negativos (Clinton, 2006; McManus & Waller, 1995; Meyer, Waller, & Waters, 1998; Milligan & Waller, 2000; Overton, Selway, Stongman, & Houston, 2005; Torres, 2005). Frequentemente, o consumo de determinados alimentos, sobretudo os alimentos doces e ricos em gordura, so utilizados como automedicao para atenuar a vivncia de emoes negativas. Contudo, esta relao entre alimentos e emoes dever ser encarada num sentido bidireccional, pois se as emoes determinam o que comemos, tambm os alimentos podem determinar o nosso estado emocional. Os estudos com estudantes revistos por Silva et al. (2008) apontam concluses que reforam a relao estreita entre estas variveis. Em especfico, analisando os perodos de maior stress associados aos exames escolares, os estudantes tendem a alterar o seu padro alimentar, demonstrando uma tendncia para comer de forma mais emocional e aumentando a ingesto de alimentos tipo-snack. Perante nveis de stress extremamente elevados, a reduo da quantidade de alimentos ingerida tambm uma caracterstica patente. No mbito das variveis psicolgicas ainda de realar o papel que a insatisfao com a imagem corporal pode ter na motivao para seleccionar os alimentos a ingerir. Esta dimenso parece constituir um determinante de peso no comportamento alimentar adoptado pelos jovens. Os estudos nacionais evidenciam esta relao com dados bem expressivos. O desejo dum peso inferior uma caracterstica marcante nas amostras de estudantes analisadas, mesmo perante pesos normais ou baixos; a distoro da imagem corporal ascende a prevalncias na ordem dos 10%, e a insatisfao com a imagem corporal est bem patente na frequente operacionalizao de estratgias para controlo de peso (Baptista, Sampaio, Carmo, Reis, & GalvoTeles, 1996; Gonalves, 1998; Queirs, 2001). A principal concluso a retirar para a prtica a pertinncia de trabalhar a relao com o prprio corpo na interveno com os jovens. Tal poder contribuir para a adopo de uma alimentao equilibrada e, consequentemente, para a preveno de perturbaes do comportamento alimentar.

Reflexes finais No presente artigo vismos sistematizar, de forma sumria, os principais determinantes das escolhas alimentares, tomando como base a reviso de dois artigos nacionais recentemente publicados. Estes artigos (Silva et al., 2008; Viana et al., 2008) do um excelente contributo na compilao dos dados mais recentes ao nvel da investigao e, como tal, constituem um excelente ponto de partida para o leitor que pretenda aprofundar o tema. Procurmos retirar das principais concluses cientficas as implicaes para a interveno em contexto escolar no que concerne educao para a sade e, em especfico, ao comportamento alimentar. Das variveis revistas fica claro que a famlia tem um papel preponderante no desenvolvimento e alterao dos hbitos alimentares, sendo pertinente que se veicule a informao de que o consumo de refeies em famlia um meio potencial para fomentar uma alimentao saudvel. Obviamente, que tal pressupe que a famlia seja um modelo positivo. neste ponto que a interveno comunitria, a um nvel mais global, bem-vinda. No obstante a importncia da famlia, a escola tambm parece ter um contributo a dar neste domnio, rentabilizando de forma positiva a influncia social, alterando crenas erradas sobre a alimentao, trabalhando as atitudes, promovendo a mudana de conceitos no que concerne aos alimentos prestigiantes, e rentabilizando o reforo social perante as mudanas positivas. Estes pontos podem ser abordados nas aulas, em diferentes disciplinas, com tcnicas activas que promovam a reflexo. Uma Interveno mais formal, com recurso a profissionais externos no domnio da educao para a sade, poder ser igualmente uma estratgia complementar. No ser tambm de descurar as medidas prticas, que impliquem o acesso mais restrito a alimentos no saudveis, e o acesso generalizado e fcil a alimentos de melhor qualidade nutricional. Por ltimo, gostaramos de deixar um breve apontamento, em jeito de paradoxo. Consideramos que trabalhar o tema da alimentao junto dos jovens requer a ponderao suficiente para evitar uma focalizao excessiva neste tema. Debater exaustivamente este assunto comporta riscos, podendo contribuir para a formao de um padro de imagem corporal e alimentao inflexveis, e fomentando consequentemente a obsesso com o corpo; dimenses estas que actualmente j manifestam nveis preocupantes no nosso pas. Referncias Bibliogrfica

Referncias Bibliogrficas: Baptista, F., Sampaio, D., Carmo, I., Reis, D., & Galvo-Teles, A. (1996). The prevalence of disturbances of eating behaviour in a Portuguese female university population. European Eating Disorder Review, 4, 260-270. Chapman, G. & MacLean, H. (1993). Junk food and healthy food: Meanings of food in adolescent womens culture. Journal of Nutrition Education, 25, 108-113. Clinton, D. (2006). Affect regulation, object relations and the central symptoms of eating disorders. European Eating Disorders Review, 14, 203-211. Gonalves, S. (1998). Perturbaes do Comportamento Alimentar: Estudo da prevalncia junto de uma populao universitria feminina. Tese de mestrado no publicada, Instituto de Educao e Psicologia, Universidade do Minho. McManus, F., & Waller, G. (1995). A functional analysis of binge-eating. Clinical Psychology Review, 8, 845-863. Meyer, C., Waller, G., & Waters, A. (1998). Emotional states and bulimic psychopathology. In H. W. Hoek, J. L. Treasure, & M. A. Katzman (Eds.), Neurobiology in the treatment of eating disorders (pp.271-289). Chicester, UK: Wiley. Milligan, R. J., & Waller, G. (2000). Anger and bulimic psychopathology among nonclinical women. International Journal of Eating Disorders, 28, 446-450. Overton, A., Selway, S., Strongman, K., & Houston M. (2005). Eating disorders The regulation of positive as well as negative emotion experience. Journal of Clinical Psychology in Medical Settings, 12, 39-56. Queirs, L. P. (2001). Autoimagem quanto aparncia fsica da populao feminina em idade escolar: Abordagem na ptica da capacitao para autogerir a sade e seus factores. Tese de mestrado no publicada, Escola Nacional de Sade Pblica, Universidade de Lisboa. Silva, I., Pais-Ribeiro, J. L., & Cardoso, H. (2008). Porque comemos o que comemos? Determinantes psicossociais da seleco alimentar. Psicologia: Sade & Doenas, 9, 189-208. Torres, S. (2005). O corpo e o silncio das emoes: Estudo da alexitimia na anorexia nervosa. Tese de doutoramento no publicada, Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao, Universidade do Porto. Viana, V., Santos, P. L., & Guimares, M. J. (2008). Comportamento e hbitos alimentares em crianas e jovens: Uma reviso da literatura. Psicologia: Sade & Doenas, 9, 209-231.

Associao entre a prtica de actividade fsica, comportamentos sedentrios e obesidade em crianas do 1 Ciclo do Ensino Bsico.Andreia Carlos Nutricionista CEIDSS/Universidade Atlntica Ana Rito Investigadora Instituto Nacional de Sade Dr. Ricardo Jorge

Resumo Alguns estudos tm evidenciado uma associao positiva entre o visionamento televisivo e a obesidade infantil, devido substituio da prtica de actividade fsica por comportamentos sedentrios. No entanto, a obesidade infantil est relacionada com mltiplos factores de carcter individual, familiar e ambiental, e a interaco e complexidade dos comportamentos infantis ainda est por esclarecer. Objectivos Este estudo tem como objectivo descrever alguns hbitos e comportamentos que caracterizam os estilos de vida de crianas em idade escolar, relativamente prtica de actividade fsica, comportamentos sedentrios e a sua associao com a obesidade infantil. Mtodos Trata-se de um estudo do tipo transversal. A populao em estudo compreendeu todas as crianas do 1 ciclo do ensino bsico, da Fundao Bissaya Barreto, tendo sido avaliadas atravs de parmetros antropomtricos de peso e altura. Os critrios utilizados para a classificao do estado nutricional consideraram o IMC em relao aos Percentis 85 e 95 das tabelas do CDC e a informao sobre os comportamentos das crianas foi obtida atravs de questionrios. Resultados: Foram avaliadas 123 crianas (59,3% do sexo masculino e 40,7% do sexo feminino) com idades entre os 6 e os 11 anos. A prevalncia de pr-obesidade (P85 IMC P95) foi de 20,3% e de obesidade (IMC P95) foi de 13%. As crianas com excesso de peso despendiam, tendencialmente, mais tempo em actividades sedentrias, como ver televiso, jogar vdeo-jogos, utilizar a internet e fazer os trabalhos de casa ou ler. Em contrapartida, a prtica de actividade fsica revelou-se insuficiente (< 60 minutos dirios, 2 dias por semana), principalmente nas crianas mais velhas. Concluso Com a elaborao deste estudo conclui-se que os comportamentos sedentrios esto associados a obesidade infantil. necessria mais interveno no sentido de reduzir o tempo gasto em comportamentos sedentrios integrando cada vez mais a prtica regular de actividade fsica, como factor fundamental no desenvolvimento das crianas.

IntroduoDe acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), desde 1980 que a proporo de crianas com excesso de peso, entre os 6 e os 11 anos de idade, cresceu quatro vezes mais em algumas regies da Unio Europeia (25 pases).(3, 4) Segundo o International Obesity Task Force (IOTF), os nmeros de crianas obesas tm aumentado rapidamente, a prevalncia aumenta aproximadamente 0,5% cada ano.(6) Em Portugal, as crianas com idades compreendidas entre os 7 e os 9 anos, apresentam nveis de excesso de peso e obesidade superiores a 30%.(5) Segundo Must e Strauss (1999 cit in Chapman, Nicholas e Supramaniam, 2006), as crianas obesas tm entre 25 e 50% de probabilidade de progresso para adultos obesos, aumentando a probabi-

lidade para 78%, para os adolescentes obesos. O risco significativo de a obesidade infantil continuar na idade adulta, torna a aco preventiva numa prioridade.(7) Alguns estudos tm evidenciado uma associao positiva entre o visionamento televisivo e a obesidade infantil, devido substituio da prtica de actividade fsica por comportamentos sedentrios. No estudo National Health Examination Survey (NHES), com 13000 crianas, verificou-se que existiam associaes significativas entre a quantidade de tempo de visionamento televisivo e a prevalncia de obesidade.(4) Os autores concluram que 29% dos casos de obesidade podem ser prevenidos diminuindo o visionamento televisivo para 1 hora de televiso por semana.(4) Segundo um estudo da Media Monitor, cada criana portuguesa entre os 4 e os 14 anos, v cerca de trs horas de televiso por dia.(8) A televiso, os vdeos e os computadores tm contribudo de forma decisiva para a inactividade infantil.(15) Segundo Dietz e Gortmaker (1985), por cada hora diria de visionamento televisivo, a prevalncia de obesidade aumentava de 1 a 3% e num estudo de Bernard et al. (1995), constatou-se que as crianas obesas despendiam significativamente mais tempo a ver televiso (14,2 horas/semana) do que crianas no obesas (11,6 horas/semana).(15) Estudos antropolgicos indicam que hoje, somos mais sedentrios do que em qualquer momento da evoluo da histria.(9) Hoje em dia, as crianas gastam menos 600 kcal/dia do que os nossos ancestrais h 50 anos atrs.(9) As caractersticas do ambiente obesognico que envolve as crianas so hipotticos determinantes dos seus hbitos alimentares e prtica de actividade fsica.(10) Apesar de a maioria das crianas passar o seu dia fora de casa, o ambiente familiar um dos principais ambientes, onde existem regras familiares, preferncias e opinies que determinam a disponibilidade alimentar e as oportunidades para a prtica de actividade fsica.(10) A obesidade infantil est relacionada com mltiplos factores de carcter individual, familiar e ambiental, e a interaco e complexidade dos comportamentos infantis ainda est por esclarecer. Existindo assim, uma necessidade de desenvolvimento de investigao com enfoque na famlia, identificando os aspectos fsicos e sociais do ambiente em casa, que possam ter impacto na prtica habitual de actividade fsica e na alimentao das crianas. (11) Neste sentido, o presente estudo pretende descrever alguns hbitos e comportamentos que caracterizam os estilos de vida de crianas em idade escolar, relativamente prtica de actividade fsica, comportamentos sedentrios e a sua associao com a obesidade infantil.

Mtodo Trata-se de um estudo do tipo transversal, realizado entre Outubro de 2007 e Junho de 2008, em Coimbra. Participantes A populao em estudo compreendeu 123 crianas do 1 ciclo do ensino bsico, da Fundao Bissaya Barreto (59,3% do sexo masculino e 40,7% do sexo feminino) com idades entre os 6 e os 11 anos e dos respectivos pais obtiveram-se 76 questionrios (taxa de resposta de 62%). Foram consideradas 8 turmas do 1 ao 4 ano de escolaridade do Colgio Bissaya Barreto (Fundao Bissaya Barreto Coimbra). Material Os questionrios aplicados s crianas e Encarregados de Educao/Pais foram elaborados com base num questionrio de Rito (2007) e um questionrio da Harvard Medical School (2003). Os comportamentos sedentrios foram avaliados atravs de questes sobre ver televiso, jogar vdeo-jogos, ver filmes/DVDs, utilizao da internet e tempo dispendido a fazer trabalhos de casa. Procedimento Todas as crianas entregaram, por escrito, um consentimento informado dos pais/Encarregados de Educao para a realizao das avaliaes antropomtricas. Para obter o IMC, procederam-se s medidas de peso e altura (medies feitas com base na metodologia de Rito, 2004). A altura foi medida com as crianas descalas, num estadimetro (modelo SECA 206), com uma preciso de 0.1 cm, e o peso foi medido com roupa interior, sem calado, numa balana electrnica porttil (modelo SECA 840) com uma preciso de 0.1 kg. Os critrios utilizados para a classificao do Estado Nutricional (EN) consideraram o IMC em relao aos Percentis 85 e 95 das tabelas do CDC (2000) sendo valores superiores aqueles percentis, pr-obesidade e obesidade, respectivamente. Para efeitos de anlise foram consideradas trs classes de Estado Nutricional (EN): normoponderal, pr-obesidade e obesidade. Anlise Estatstica Foi utilizada estatstica descritiva na anlise dos dados deste estudo, com recurso a medidas de tendncia central (mdias), utilizao de crosstabs para separar variveis por sexo, coeficiente de correlao de Pearson para variveis mtricas, estatstica do tipo no paramtrico (teste qui-quadrado) e alfa de cronbach para avaliar a possibilidade de aglutinar variveis e utiliz-las para posteriores associaes.

Resultados Avaliao do Estado Nutricional: Ao avaliar o estado nutricional (EN) das crianas observmos que a prevalncia de pr-obesidade (P85 IMC P95) foi de 20,3% e de obesidade (IMC P95) foi de 13%, sendo a prevalncia de pr-obesidade maior nas raparigas (26% nas raparigas e 16,4% nos rapazes) e de obesidade ligeiramente superior nos rapazes (13,7% nos rapazes e 12% nas raparigas). Verificmos tambm, uma tendncia crescente com a idade, em que as crianas mais velhas (10 anos de idade) apresentaram uma maior prevalncia de excesso de peso relativamente s crianas mais novas (6 anos de idade). No geral, a prevalncia conjunta de excesso de peso e obesidade foi de 33,3%. Actividade Fsica Em 123 crianas, apenas 3 no se deslocavam de carro para a escola. A maioria das crianas (95,1%) praticava Educao Fsica na escola, duas vezes por semana, durante 1 hora, excepto as do 4 ano que praticavam apenas 1 vez por semana. Constatmos que 43,9% das crianas gostava de ter aula de Educao Fsica 5 ou mais vezes por semana e, no geral, associavam-na a uma parte divertida dos seus dias. Quando questionadas sobre o motivo pelo qual gostavam de praticar Educao Fsica, as crianas responderam com maior frequncia: Porque divertido (26,8%), Porque faz bem ao corpo (5,7%), Porque giro (4,9%), Porque gosto de me mexer (4,9%), Porque serve para ficarmos com mais msculos (4,1%), Porque me faz sentir bem (3,3%), Porque muito bom e faz bem

mou andar de bicicleta 2 dias por semana e 67,4% afirmou utilizar 1 dia da semana para jogar futebol. Verificmos que as classes do EN no eram independentes da prtica de futebol (p=0,031) e de algumas brincadeiras fora de casa, indicando que as crianas normoponderais praticavam com maior frequncia futebol e 4 tipos de brincadeiras fora de casa, comparativamente s crianas nas outras classes do EN (Fig. 1). Verificou-se que o gnero est associado ao tipo de actividade fsica praticada, em que os rapazes jogavam mais vezes por semana futebol (x(1)=28.305, p