revista movimento medico nº 16

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Novo Código de Ética Médica Transplantes: a procura por doação de órgãos Entrevista com o novo presidente do Sindicato dos Médicos/PE Poço da Panela, bairro que ainda conserva ar bucólico Revista das entidades médicas de Pernambuco – Ano VII – Nº 16 –Mai/Jun/Jul 2010 O que muda na relação médico/paciente CONTRATO IMPRESSO ESPECIAL DR/PE CREMEPE Nº 4065.010.73.9 CORREIOS

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Page 1: Revista Movimento Medico nº 16

Novo Código de Ética Médica

Transplantes: a procura por doaçãode órgãos

Entrevista com o novo presidente do Sindicato dos Médicos/PE

Poço da Panela, bairro que ainda conserva ar bucólico

Revista das entidades médicas de Pernambuco – Ano VII – Nº 16 –Mai/Jun/Jul 2010

O que muda na relação médico/paciente

CONTRATOIMPRESSO ESPECIAL

DR/PECREMEPE

Nº 4065.010.73.9CORREIOS

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A revista Movimento Médico traz na capa um destaque todo especial para o novo Código de Ética Médica, que começou a vigorar no dia 13 de abril deste ano. É nosso dever mostrar para a categoria médica e para a

população em geral que o Cremepe apoia integralmente a nova edição do Código que rege a nossa profississão e estabelece nor-mas e critérios na relação médico/paciente.

O objetivo é tornar essa relação mais humana, um clamor dos médicos e de toda a sociedade. Esse foco do novo Código é uma bandeira de luta histórica do Cremepe. Sempre pautamos nossa agenda por uma medicina mais humanizada e, consequentemente, mais próxima do paciente. Foram vários os congressos e encontros realizados pelo Cremepe com o objetivo de discutir as formas de melhorar a relação médico/paciente e torná-la mais uma humana e mais próxima.

O novo Códio de Ética Médica do Brasil já está sendo conside-rado, nacional e internacionalmente, como um dos mais avançados do mundo. Na reportagem, você vai conhecer os pontos principais e a opinião de especialistas sobre o novo Código.

Movimento Médico traz também uma reportagem especial sobre o transplante de órgãos em Pernambuco, como está a fila de espera, o que fazer para salvar mais vidas e quais as dificuldades para se conseguir um órgão. Veja também uma entrevista com o novo presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, o médico-pediatra Sílvio Rodrigues, que foi eleito em chapa única para um mandato de dois anos.

E, para descontrair, um passeio pelas ruas de um dos bairros mais bucólicos do Recife, o Poço da Panela, e uma radiografia do seu cotidiano, que nos remete à vida pacata de uma cidadezinha do Interior.

Errata: Na edição passada nós publicamos que o valor da consulta pe-diátrica paga aos médicos pelo plano de saúde Assefaz era de R$ 38,00. O

valor correto é R$ 42,00.

EXPEDIENTE

CremepePresidente: André LongoVice-presidente: Helena Carneiro LeãoAssessoria de Comunicação: Mayra Rossiter - DRT/PE 4081Estagiários: Maria Eduarda Vaz e Anderson BarrettoWebdesigner: Luiz Henrique

SimepePresidente: Silvio Rodrigues Vice: Mário Jorge LoboAssessoria de Imprensa: Chico Carlos - DRT/PE 1268

AmpePresidente: Jane LemosVice: Silvia CarvalhoCoordenação Editorial: Sirleide Lira Assessoria de Imprensa: Elizabeth Porto - DRT/PE 1068

FecemPresidente: Carlos Japhet

APMRCoordenação: Maria Aléssio (HC) e Marieta Carvalho (Cisam)

Redação, publicidade, administração e correspondência:Rua Conselheiro Portela, 203, Espinheiro,CEP 52.020-030 - Recife, PE Fone: 81 2123 5777www.cremepe.org.br

Projeto Gráfico/Arte Final: Luiz Arrais - DRT/PE 3054

Tiragem: 15.000 exemplares

Impressão: CCS Gráfica e Editora

Coordenação Editorial: André Longo

Conselho Editorial: André Longo e Ricardo Paiva.

Todos os direitos reservados.

Copyright © 2010- Conselho Regional de Medicina Seção Pernambuco

Todos os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

Nº 16• Ano 07 • Mai/Jun/Jul 2010

EditorialCapa: Reprodução da pintura The Doctor,de Samuel Luke Fildes, 1891

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Page 4: Revista Movimento Medico nº 16

Editorial

Opinião

Entrevista

Capa

Científica

Patrimônio

Notícias do CFM

Cremepe

Simepe

Fecem

Ampe

Diretórios

APMR

Academia

Sumário

Seções

12PatrimônioBairro do Poço da Panela tenta manter clima bucólico em meio ao caos urbano

18 CremepeTransplantes: uma corrida não só contra o tempo, mas também à procura de doadores

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O novo Código de Ética Médica propõe novas discussões sobre a profissão

6Capa

34AmpeEspecialista comenta os distúrbios do sono e suas consequências na saúde

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Entrou em vigor o novo Código de Ética Médica, no dia 13 de abril, delineado pelo desenvolvimento científico e tecnológico, com o reconhecimento das grandes mudanças que envolveram o homem,

nas últimas décadas. No entanto, também é tempo em que o cidadão tem mais

acesso à informação e consciência de seus direitos e deveres. O novo Código vem contribuir para nortear um equilíbrio dessas transformações, exigindo da sociedade, sobretudo dos médicos, gestores, pesquisadores e professores, o compromisso com a qualificação das relações sociais e com o ensino médico.

No seu conteúdo, o Código oferece o compromisso voluntário, assumido individual e coletivamente com o exercício da medicina. "Evidentemente que os códigos não eliminam a possibilidade da falha, do erro. Mas oferecem ao profissional e ao paciente a indicação de uma boa conduta, amparada por princípios éticos da autonomia, da beneficência, da não maleficência, da justiça, da dignidade, da veracidade e da honestidade", como comentado por Roberto d’Avila, presidente do CFM.

Durante dois anos a Comissão Nacional de Revisão do Código de Ética Médica analisou 2515 sugestões encaminhadas por médicos, instituições e pela sociedade, que resultaram no novo Código, aprovado na IV Conferência Nacional de Ética Médica, em agosto de 2009, em São Paulo.

Ocorreram mudanças na forma e foram introduzidos novos artigos, definidos em: 25 princípios fundamentais do exercício da medicina, dez normas diceológicas (direitos dos médicos), 118 normas deontológicas (deveres dos médicos) e cinco disposições gerais. Mantém regras tradicionais da profissão, como a proibição do caráter mercantilista na prática médica, o direito e o dever do médico de apontar falhas em normas, contratos e práticas ilícitas nas instituições de saúde, as omissões, faltas ou abandono de plantões...

Os novos artigos ressaltam a relação médico/paciente com a questão da ortotanásia, que está sendo utilizada com a expressão “Cuidados Paliativos”, visando aliviar o sofrimento do paciente e evitar o cruel e desnecessário prolongamento da morte, naturalmente com o consentimento esclarecido do paciente e da família (representante legal). Assim ressalta

a importância da autonomia do paciente favorecendo a um melhor diálogo.

Na era "genômica", a terapia genética contemplada pelos artigos 15 e 16 sobre a Responsabilidade Profissional, refere-se à proibição de criar embriões com a finalidade da escolha de sexo ou eugenia. Já a terapia gênica está prevista como forma de tratar doenças, com grandes expectativas de desenvolvimento.

Outros artigos tratam da relação do médico com a indústria, com a publicidade, com a pesquisa e com a questão da segunda opinião, a que o paciente tem direito e o médico a favorecer esse entendimento.

Este Código de Ética é abrangente, humanitário, compatível com as possibilidades desse novo mundo e que certamente auxiliará a classe médica na prática da medicina, pelo menos, nos próximos dez anos. O Código tem sido reconhecido, nacional e internacionalmente como um dos melhores códigos de ética que regem o profissional médico.

*Secretário-geral do Cremepe

Veja reportagem sobre o assunto na pág. 7.

O novo Código de Ética

OpiniãoLuiz Domingues*

Reprodução

Movimento Médico 3

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4 Movimento Médico

CAPA

SÍLVIO RODRIGUES Presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco

"Defendemos a saúde como uma atividade essencial"

O médico pediatra Sílvio Rodrigues, 42 anos, foi eleito em chapa

única para presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) pelos próximos dois anos. Ele se formou em medicina pela Universidade de Pernambuco (UPE), em 1992, no Recife. Hoje é plantonista da UTI Pediátrica do Hospital da Restauração (HR), além de pertencer à equipe pediátrica da Unidade da Criança do Hospital Memorial São José. No Instituto de Medicina Integral Profº Fernando Figueira (IMIP), é médico diarista da UTI Pediátrica e coordenador da UTI de Oncologia Pediátrica. Participou do movimento estudantil entre 1986 e 1992, construindo histórias de lutas em defesa da UPE e dos estudantes de medicina. Há oito anos integra a diretoria do Simepe, sendo os dois últimos como vice-presidente, onde lutou por melhores salários, condições de trabalho para os médicos e saúde digna para a população do Estado.

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Movimento Médico 5

Quais são os seus planos para os próximos dois anos à frente da presi-dência do Simepe?

A próxima gestão terá a respon-sabilidade de encaminhar no estado as lutas nacionais como a carreira de estado nos serviços públicos, adoção plena da CBHPM com reajuste anual (PL 39/07), fixação do piso nacional dos médicos em 7 mil reais com re-ajuste anual pelo INPC. No estado, prosseguiremos com a campanha de valorização do médico e de defesa da saúde pública nos municípios, valo-rizando os salários, lutando por cria-ção de carreiras públicas estatutárias e PCCV. No Governo do Estado e nas cidades onde já houve negociação, ire-mos cobrar o cumprimento do termo de compromisso ratificado entre as entidades médicas e a gestão.

O Simepe tem hoje cerca de sete

mil associados. Há um projeto para filiar mais médicos ao sindicato?

O motivo principal para associa-ção do médico ao Simepe é resultante das lutas vitoriosas no estado e nos municípios. Daremos continuidade e ampliaremos as campanhas, na Região Metropolitana e no interior do estado. Por outro lado, pretendemos incre-mentar os benefícios do PROBEM e ampliar as ações da Defensoria Médica do Simepe que são os carros-chefes na associação dos médicos.

Como o senhor vê a política de

saúde da Prefeitura do Recife? No pacto firmado através de termo

de compromisso com a Prefeitura do Recife, Simepe e Cremepe em junho de 2009, encaminhamos vários problemas referentes à estrutura física, recursos humanos, gestão e assistência. Em fe-vereiro deste ano os médicos estavam insatisfeitos pelo não cumprimento destes itens. Espero que retomemos os debates com a Secretaria de Saúde para a melhoria da atenção à saúde. A parti-cipação nas decisões pelo controle social é fundamental para essa evolução.

Os médicos do Recife estão sa-

tisfeitos com os salários pagos pela prefeitura?

O movimento médico nacional encampa uma luta por um piso nacio-nal e por uma Carreira de Estado no Congresso. Esse piso e a carreira são a nossa referência atual. Logicamente que tivemos um movimento recente (2009) vitorioso no Recife e em outros municípios como Caruaru, Petrolina, Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão, onde houve, no mínimo, uma equipa-ração ao salário do estado e a assinatura de um termo de compromisso que deu início à formação de grupos liderados pelos médicos e PCR para discutir a situação da saúde na cidade. Acredita-mos que com a resolução desses pontos apontados no termo, uma grande parte dos problemas na saúde do Recife seja resolvida.

Como está a situação dos postos

de saúde da Região Metropolitana? O Simepe, unificado às entidades

médicas, começou no final de 2009 e início de 2010 campanhas em vários municípios da Região Metropolitana como Olinda, Camaragibe, entre ou-tros. O que se viu foi uma rede ex-tremamente sucateada, várias delas denunciadas ao Ministério Público. São unidades de saúde com estrutu-ras precárias, algumas passíveis até de interdição por falta de condições de trabalho, contratos precarizados e SPAs e unidades de saúde da família desfalcadas.

Qual a sua opinião sobre o traba-

lho feito pelo Samu?Sem dúvida a criação do SAMU

pelo Ministério da Saúde em 2003 foi um grande salto na qualidade do atendimento de urgência e de inclusão social para população mais carente que sofria na hora deste atendimento e com o transporte e transferência para as unidades de referência. Os problemas atuais do SAMU são vários: sucate-amento das unidades móveis, apare-lhos de reanimação incompletos ou quebrados, contratos das equipes em vários municípios precários e baixos salários, além do problema crônico re-ferentes à regulação dos atendimentos de urgência.

"Vamos prosseguir com a campanha de valorização do médico e de defesa da saúde pública nos municípios, valorizando os salários, lutando por criação de carreiras públicas estatutárias e PCCV"

Como o senhor vê a superlotação das emergências públicas, principal-mente a do Hospital da Restauração?

Sabemos que as causas da superlo-tação nos grandes hospitais do estado são multifatoriais. Vários pontos para resolução deste problema estão no termo de compromisso firmado com o estado.

A intervenção do governo do esta-

do no Hospital do Câncer de Pernam-buco foi renovada por mais um ano. o senhor acha necessário?

A intervenção aconteceu no iní-cio de 2007 com apoio das entidades médicas e do corpo funcional em um momento que o Hospital do Câncer estava em uma crise estrutural e fi-nanceira séria. Defendemos que a in-tervenção tem que ter um prazo para terminar. Acreditamos que está na hora de discutirmos de forma transparente e democrática com o seu coletivo a forma de administração e o futuro da instituição como referência em onco-logia no estado.

O Governador Eduardo Campos

afirmou que 2010 será o ano da saúde. Como o senhor analisa a decisão dele de transferir a administração do Hos-pital Miguel Arraes e das UPAs da Região Metropolitana para as Orga-nizações Sociais (OS)?

Manteremos a posição contrária à iniciativa do Governo Estadual de terceirizar as unidades e hospitais pú-blicos. Defendemos a saúde como ati-vidade essencial e a carreira estatutária através de concurso público em todos os níveis, fundamental para resolução dos problemas no estado.

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CAPA

O novo Código Vigente desde o mês de abril, entre outros avanços, conjunto

de normas torna a relação médico/paciente mais humanaMarcionila Teixeira* | Fotos: Marcos Michael

CAPA

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de Ética MédicaDra. Maria das Neves (Nevinha), coordenadora da Emergência Cardiológica do Procape

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8 Movimento Médico

CAPA

Os tumores no cérebro e na coluna não permitem que Marilene de Oliveira, 49 anos, passe os dias sem

fortes dores. Assim, entre medicações que aliviam o sofrimento e o sorriso companheiro do filho, a dona de casa vai levando a vida internada no espaço de cuidados paliativos Saber Cuidar, no Hospital do Câncer, no bairro de Santo Amaro, no Recife. Marilene escolheu uma das camas da unidade para pas-sar seus dias porque nesse momento essa tem sido a opção mais confortá-vel. “Aqui, se sinto dor, logo peço uma ajuda”, conta. A dona de casa sabe que não há mais possibilidade de cura para a própria doença. Sabe também que tem o direito de opinar sobre como pretende passar suas próximas horas, dias, meses ou anos de vida que ainda lhe restam.

Entre outros avanços, o novo Có-digo de Ética Médica, que entrou em vigor no último dia 13 de abril, reforça o direito de pessoas como Marilene de Oliveira. “Nas situações clínicas irre-versíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diag-nósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropria-dos”, diz um trecho do capítulo I, que versa sobre princípios fundamentais.

Geraldo Pereira, da Academia Per-nambucana de Medicina, destaca esse respeito à opinião do paciente como um dos maiores avanços do atual código. Para ele, trata-se da morte no tempo certo, ou ortoeutanásia. “Na prática, já acontece, mas não estava referendada pelo Conselho Federal de Medicina como está agora, o que dá outro peso ao assunto. Disse certa vez o papa Pio 12: ‘De nada serve para a vida eterna o prolongamento da dor’”, cita.

Uma relação médico paciente mais humana. Essa é a tônica do código novo, que traz um conjunto de nor-mas que regem o exercício da atividade no Brasil. É como se o doente ganhas-se mais voz ativa nas decisões sobre a própria saúde. Isso não significa dizer que o profissional vai deixar de lado a solução correta do ponto de vista téc-

Espaço interno de uma Emergência pública do Estado

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nico em uma situação de emergência. “Nesse caso, ele tem que salvar vidas e nunca abandonar o paciente mesmo que ele não aceite o procedimento de forma absoluta”, ressalta Helena Car-neiro Leão, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe).

O respeito entre médico e paciente não passa somente pelo dever do profis-sional de comunicar sobre as possibili-dades terapêuticas e ouvir do doente seu consentimento sobre qualquer proce-dimento a ser realizado. Passa também pela letra legível nas receitas, atestados e prontuários médicos. A agente co-munitária de saúde Edilene de Lima, 37, sabe o quanto uma letra ilegível de um médico pode atrapalhar até mesmo no andamento de todo um serviço de saúde. “Trabalhava em um posto de saúde da Região Metropolitana do Re-

cife que tinha um médico conhecido por sua letra ilegível. Os pacientes já sabiam disso e procuravam direto a auxiliar dele, que decifrava os garranchos”, lembra. O resultado é que o comportamento do profissional virou chacota na equipe.

Farmácias - E o que diz o documento sobre a relação do médico com as far-mácias? Na realidade, o código veda essa situação. Além disso, o profissional não pode participar de propaganda e é obrigatório incluir o número do Conse-lho Regional de Medicina em anúncios próprios. É vedado ao médico “exercer a profissão com interação ou dependência de farmácia, indústria farmacêutica, óp-tica ou qualquer organização destinada à fabricação, manipulação, promoção ou

comercialização de produtos de prescri-ção médica, qualquer que seja a nature-za”, reza o artigo 68.

Para o advogado Nilzardo Carneiro Leão, que participou do grupo regio-nal que revisou o código, o documento aprovado no ano passado está adequado aos avanços científicos e tecnológicos da medicina. “Ele inova em textos le-gais um código de vigência anterior à Constituição Federal e se adequa a novas realidades, novos avanços científicos, um novo tempo”, destaca.

Nesse aspecto, entram os artigos que tratam sobre transplante de órgãos ou de tecidos, esterilização, fecunda-ção artificial, abortamento, manipula-ção ou terapia genética. O médico, por exemplo, não deve realizar a procriação

A paciente Marilene de Oliveira optou por continuar se tratando no setor de cuidados paliativos do Hospital do Câncer, onde tem medicação contra dor e a companhia do filho

A médica Maria das Neves Dantas, 43 anos, fez uma escolha. Não uma escolha comum aos profissionais da sua área, mas é dela, sem arrependimentos até agora. Por conta

disso, costuma dizer que ganha menos que a maioria dos colegas e não está preocupada em viajar para a Europa. Mas quem disse que não está feliz?

Conhecida como Nevinha nos corredores da emergência cardiológica do Pronto So-corro Cardiológico de Pernambuco (Procape), sob a coordenação dela há quatro anos, a médica fala que é apaixonada pelo serviço público e trabalha, em média, oito horas por dia. “Sempre tive um grande amor e compaixão pelo paciente que está sofrendo agudamente. Não sei negar atendimento a quem está com dor e pedindo socorro”. Uma consulta de Nevinha dura, em média, uma hora e pode aumentar de tempo a depender do estado de saúde do paciente.

Coordenar uma emergência como ela faz também implica em encarar problemas como falta de médicos ao plantão. “Se algum médico faltar, pode ter certeza que alguém vai trabalhar por ele. A maioria dos profissionais não deixa o barco afundar”, destaca, elogiando a equipe que, segundo ela, falta muito pouco ao serviço, a não ser por motivo de doença.

Além disso, Nevinha se reúne constantemente com a equipe de médicos para discutir as condutas em determinados casos clínicos e para avaliarem, em conjunto, o trabalho desenvolvido no Procape.

A escolha pelo serviço público

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10 Movimento Médico

CAPACAPA

Veja as principais mudanças no Código de Ética Médica

1 - LETRA LEGÍVELA receita e o atestado médico têm de ser legíveis e devem ter a identificação do médico

2 - DIREITO DE ESCOLHAO médico deve apresentar todas as pos-sibilidades terapêuticas – cientificamen-te reconhecidas – e aceitar a escolha do paciente

3 - CONSENTIMENTO ESCLARECIDOO paciente precisa dar o consentimento a qualquer procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte

4 - ABANDONO DE PACIENTEO médico não pode abandonar seu pa-ciente

5 - PACIENTES SEM PERSPECTIVA DE CURAO médico deve evitar procedimentos desnecessários nesses pacientes. Em caso de doenças incuráveis, deve ofere-cer todos os cuidados paliativos disponí-veis, levando sempre em conta a opção do paciente

6 - PRONTUÁRIO MÉDICOO paciente tem direito a receber a cópia do prontuário médico

7 - SEGUNDA OPINIÃOO paciente tem direito a uma segunda opinião e a ser encaminhado a outro médico

8 - ANÚNCIOS PROFISSIONAISÉ obrigatório incluir o número do CRM em anúncios dessa natureza

9 - PARTICIPAÇÃO EM PROPAGANDAO médico não pode participar de pro-paganda

10 - RECEITA SEM EXAMEO médico não pode receitar sem ver o paciente, seja por meio de veículo de comunicação ou internet

11 - RELAÇÕES COM FARMÁCIASO médico não pode ter relação com o comércio e a farmácia

12 - SIGILO MÉDICOO sigilo médico deve ser preservado, mesmo após a morte do paciente

13-CONDIÇÕES DE TRABALHO O médico pode recusar a exercer medi-cina em locais inadequados

14 - DENÚNCIA DE TORTURAO médico é obrigado a denunciar tortu-ra, isso vale para atendimento de possí-veis vítimas de violência doméstica, por exemplo

15 - DESCONTOS E CONSÓRCIOSO médico não pode estar vinculado a cartões de descontos e consórcios, em especial na área de cirurgia plástica

16 - FALTA EM PLANTÃOAbandonar plantão é falta grave

17 - MANIPULAÇÃO GENÉTICAO médico não pode participar de mani-pulação genética

18 - SEXAGEMA escolha do sexo do bebê é vedada na reprodução assistida

19 - MÉTODOS CONTRACEPTIVOSO paciente tem direito de decidir sobre os métodos contraceptivos que deseja usar

Fonte: Conselho Regional de Medicina de Per-nambuco (Cremepe)

medicamente assistida com os objetivos de criar seres humanos geneticamente modificados, criar embriões com finali-dade de escolha de sexo, eugenia ou para originar híbridos. O médico também não pode intervir, sob a luz do novo código, sobre o genoma humano com vista à sua modificação, exceto na terapia gênica, excluindo-se qualquer ação em células germinativas que resulte na modificação genética da descendência. “É a garantia da dignidade das gerações presentes e futuras”, ressalta Helena Carneiro Leão.

Plantão médico - No capítulo que trata da responsabilidade profissional, um as-pecto polêmico é a falta ao plantão. A par-tir de agora, o código rege essa situação com mais rigor. É vedado ao médico “afas-tar-se das atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar outro mé-dico encarregado do atendimento de seus pacientes internados ou em estado grave”, diz o artigo 8º. Também está proibido “deixar de comparecer ao plantão em horário preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por justo impedimento”. A grande novidade é que, a partir de agora, a direção técnica do estabelecimento deve providenciar a substituição do médico faltoso, sob pena de também estar praticando falta grave.

Baixa remuneração, falta de infra-estrutura de atendimento e excesso de trabalho são alguns dos aspectos citados quando o assunto é plantão, principal-mente nas grandes emergências. “No mercado de trabalho, os estudantes se deparam com todas as distorções da prá-tica médica. Dessa forma, eles acabam naturalizando as práticas ruins. A carreira de estado é uma coisa importantíssima para acabar com essas distorções”, destaca Oscar Coutinho, coordenador do curso de medicina da Universidade Federal de Pernambuco.

Para o médico César Lyra, 37, cinco deles atuando como plantonista na emergência do Hospital da Restauração, “os atrasos e as faltas não acontecem com frequência no setor privado porque o chefe está lá cobrando e anotando tudo. Isso se chama gerenciamento”.

*Jornalista

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Movimento Médico 11

CIENTÍFICA

M-e-n-i-n-g-i-t-e. Apenas nove letras e quatro síla-bas. Uma miríade de signifi cados, mas sem dúvida, uma palavra capaz de provocar arrepios. E não é à toa. Poucas doenças têm a capacidade de surgir e

evoluir de forma tão rápida e fulminante, quase sem aviso pré-vio. É ainda capaz de produzir surtos e epidemias e, como se não bastasse, muitos de nós albergamos os agentes (meningococos) em nossa garganta, onde vivem pacatamente e não devem ser incomodados. Portanto, mais que arrepios, a meningite pode provocar o medo desenfreado e a histeria coletiva. A julgar por episódios em que o pânico fez dissipar a racionalidade, não seria exagero falar em meningofobia. Fenômeno antigo, mas que tem antídoto efi caz: a informação. O propósito deste artigo é por-tanto prestar informações sobre a doença e discutir brevemente as boas notícias relativas à introdução de duas novas vacinas no Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil.

A meningite pode ser defi nida como uma infl amação das meninges, que são as delicadas membranas que recobrem o te-cido nervoso. Esta infl amação pode ser causada por grande nú-mero de agentes: desde vírus e bactérias até mesmo parasitas e fungos. É importante dizer que a gravidade e a contagiosidade da meningite variam enormemente de acordo com a sua etio-logia (causa). Por exemplo, via de regra as meningites causadas por vírus não são trasmitidas diretamente de pessoa para pes-soa, e levam a quadros mais leves, que às vezes até dispensam o internamento. No outro extremo, as meningites tuberculosa, por fungos e parasitas são mais raras, costumam acometer in-divíduos imunodeprimidos (com defesas baixas) e surgem mais insidiosamente (lentamente).

Como é difícil diferenciar quadros agudos de meningites vi-rais das bacterianas, é imprescindível que o paciente com sinto-mas seja avaliado por um médico. Caso haja suspeita, o médico poderá solicitar o estudo do líquor, que é um exame seguro, com poucas contraindicações, e de extrema utilidade no diagnóstico das meningites.

Mas como ocorrem os sintomas e quando suspeitar? Nor-malmente, as meninges são resguardadas por uma verdadeira rede de proteção, a barreira hemato-encefálica. Só ocorre a in-vasão de agentes infecciosos quando esta barreira está compro-metida, ou quando os agentes são particularmente virulentos, como no caso de algumas cepas de bactérias encapsuladas. A resposta infl amatória à presença do agente infeccioso provoca edema (inchaço) e irritação do encéfalo e das raízes dos ner-vos. Assim, além da febre, há dor de cabeça, vômitos e pode haver rigidez de nuca (dor que impede o indivíduo de mover amplamente o pescoço, como quando tenta encostar o queixo no esterno). Pode ainda haver sensibilidade à luz (fotofobia), sonolência e/ou irritabilidade.

Em casos mais graves, pode haver convulsões, hemipa-resias (paralisias de um lado do corpo), paralisias de nervos cranianos e coma. Casos de meningite bacteriana podem estar acompanhados de grave envolvimento sistêmico, com choque (taquicardia, pulsos fi nos, sudorese fria, hipotensão). Dores pelo corpo (mialgias) podem preceder o choque e devem ser-vir de alerta. Independentemente de haver sintomas de rigidez de nuca, o rápido surgimento de manchas arroxeadas (pur-púricas) na pele, em presença de febre, deve ser tratado como uma emergência médica pela possibilidade da forma sistêmica da infecção pelo meningococo (meningococcemia). Carac-teristicamente, são lesões purpúricas que não desaparecem à vitropressão (quando se observa a lesão através de um obje-to transparente, como um copo de vidro, pressionado sobre a mancha).

Em recém-nascidos e lactentes jovens, o quadro clínico da meningite é inespecífi co e o diagnóstico deve ser lembrado em qualquer doença febril que repercuta sobre o estado geral do bebê. Nesta faixa etária, são comuns os agentes reacionados à colonização do canal de parto, como por exemplo Escherichia coli, Streptococcus agalactiae e Listeria monocytogenes. A par-tir daí, considerando a era após a introdução da vacina anti-hemófi lo, dois agentes passam a responder pela maioria dos casos: o meningococo e o pneumococo.

O meningococo (Neisseria meningitidis) é uma bactéria que vive exclusivamente no hospedeiro humano. Portanto, cerca de dez por cento da população adulta carreia o menin-gococo na orofaringe por algum tempo, sem que isso cause qualquer dano. A doença ocorre quando uma cepa mais viru-lenta encontra um indivíduo susceptível, e pode se manifestar com meningite, com o sem a forma sistêmica descrita acima (meningococcemia). Há vários sorogrupos de meningococos, como o B, C, A, Y, X e W135, mas no Brasil, os principais são o B e o C. A vacina a ser introduzida no PNI é a anti-menin-gocócica C. É uma vacina segura e efi caz. Entretanto, é preciso não esquecer que não oferece proteção para o sorogrupo B, que ainda ocorre no Brasil. A vacina para o sorogrupo B só está recomendada em casos de surtos.

O pneumococo (Streptococcus pyogenes) é um dos prin-cipais agentes causadores de pneumonia bacteriana adquirida na comunidade em qualquer faixa etária. Além disso, pode provocar uma forma de meningite particularmente grave, que com frequência deixa graves sequelas neurológicas nos sobre-viventes. O Brasil introduziu recentemente uma vacina tam-bém efi caz e segura, que apresenta cobertura para 10 dos mais importantes sorotipos do pneumococo.

Em conclusão, pouco mais de dois séculos após Gaspar Viesseux descrever pela primeira vez, em plena Genebra de 1805, um surto do que ele chamou de “febre cerebral”, hoje te-mos razão para comemoração. A introdução ao PNI no Brasil de duas vacinas contra formas de meningite bacteriana deve ser motivo de esperança no controle desta doença devastado-ra. Esperança sim, mas sem baixar a guarda! Como vimos, há ainda tipos importantes de meningite sem prevenção efetiva, e é preciso monitorar o que vai ocorrer após a introdução das va-cinas, além de investir no treinamento para o reconhecimento precoce e adequado manejo das formas graves.

*Diretor de Pesquisa do IMIP

MeningiteMuitos significados e palavra capaz de provocar arrepiosJaílson de Barros Correia*

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PATRIMÔNIO

O Poço da Panela, apesar das mudanças que vem passando nos últimos anos, mantém o clima interiorano que lhe é característico Mariana Oliveira*| Fotos: Hans Manteuffel

Um nostálgico recanto recifense

Suas ruas são calçadas com pedras irregulares, seu casa-rio antigo harmoniza-se com a riqueza natural da área às

margens do rio Capibaribe, seus mo-radores conhecem os vizinhos, conver-sam nas soleiras das portas no fim da tarde, compram alguns artigos numa pequena mercearia, jogam pelada num campo improvisado e passeiam pelos recantos do local. O ar nostálgico e bucólico atrai há anos muitos artistas,

escritores e famílias que buscam en-contrar no bairro do Poço da Panela, incrustado em plena cidade, o clima interiorano. Situada entre Casa Forte, Monteiro e Santana, a localidade abran-ge uma área de cerca de 90 hectares e reúne uma população de pouco mais de quatro mil pessoas. A região, que começou a ser habitada no final do século 18, vem passando por algumas mudanças nos últimos anos, mas ainda preserva a aura do passado

Conta-se que a história do bairro teve início quando uma epidemia de febre atingiu uma grande parcela da população recifense, por volta de 1746. Na busca da cura, eram recomendados banhos terapêuticos no rio Capibaribe, sendo os trechos localizados entre o Poço da Panela e Apipucos ideais para a prática. Naquele período, o local era habitado por palhoças de lavadeiras que ali trabalhavam para garantir seu susten-to. Gravemente enferma, um mulher,

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esposa de um rico coronel com terras na região, começou a tratar-se com os banhos terapêuticos e prometeu a Nossa Senhora que se conseguisse se curar doaria um terreno para a construção de uma capela. Curada, ela cumpriu sua promessa e ergueu, a poucos metros do rio, uma capela em homenagem à Nossa Senhora da Saúde. O templo se tornou uma paróquia por volta de 1820 e assim permaneceu por quase um século até que a matriz de Casa Forte fosse cons-

truída e se tornasse a sede religiosa da região.

Porém, o nome que batiza o bairro não tem relação com os banhos terapêu-ticos. Durante muito tempo, o povoado não contava com uma boa fonte de água potável. Até que uma nascente foi en-contrada e um poço escavado, garantin-do o abastecimento da população. Para dar sustentação às bordas, foi colocada uma parede de barro, sem fundo, que se assemelhava muito a uma panela e pro-

tegia a fonte. Daí a localidade terminou batizada como Poço da Panela.

Nesses primeiros anos, o bairro já chamava a atenção e demonstrava sua vocação de reduto cultural do Recife. “É raro encontrar margens mais risonhas do que as do Capibaribe, quando se o sobe em canoas até o povoado do Poço da Panela”, escreveu em seu diário, em 1817, o françês Louis François de Tolle-nare. Segundo o historiador Leonardo Dantas Silva, o viajante inglês Henry Koster registrou a mais antiga notícia da presença de um piano em terras per-nambucanas, durante um novenário de Nossa Senhora da Saúde, em 1810.

“Esse antigo balneário da aristocra-cia recifense tem sua vida retratada em romances de Mário Sette, Os Azevedos do Poço, em suas festas registradas em partituras de compositores do século 19, como Francisco Libânio Colás, e também no imaginário popular, que não esqueceu a luta de José Mariano em favor da libertação dos cativos da raça negra”, destaca o historiador. O abolicionista, que viveu no bairro, foi o fundador do Clube do Cupim, ins-tituição que lutava pela libertação dos escravos. Em 1938, o Instituto Arque-ológico, Histórico e Geográfico Per-nambucano ergueu, nas proximidades da igreja, um busto de José Mariano e um escravo com grilhões rompidos, em homenagem a sua luta.

Modernização – Com o passar dos anos, o Poço da Panela mudou, acompanhando o progresso da cidade, mas, segundo Leonardo Dantas Silva, o processo de descaracterização mais perceptível começou a acontecer quando se desenvolveu o interesse imobiliário por essa região. “Isso só vai acontecer por volta de 1975, quando as barragens do Carpina foram inauguradas e torna-ram-se fundamentais na prevenção de enchentes na cidade. Antes as pessoas não se arriscavam a viver às margens do Capibaribe. Mas com o problema das cheias resolvido, começou a pro-cura por essas regiões. A construção de condomínios e edifícios há muito vem descaracterizando o bairro, que é um verdadeiro Santuário”, explica.

Largo da Igreja de N. Sra. da Saúde, no Poço, considerado uma Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural

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PATRIMÔNIOA tradição interiorana de conversar na soleira das portas sobrevive no bairro

Busto do abolicionista José Mariano e de um escravo, erguido no ano de 1938

A despeito das recentes mudanças que vêm acontecendo, o encantamento dos moradores com o bairro permanece intacto

O Poço da Panela faz parte da Área de Reestruturação Urbana, que compre-ende 12 bairros da cidade, e é regida, desde 2001, por uma legislação urba-nística especial, com destaque para os terrenos próximos ao rio Capibaribe. Os empreendimentos imobiliários nessas áreas não podem exceder oito andares e devem manter 60% do solo natural livre de qualquer construção. Dentro do próprio bairro, a área localizada no entorno da igreja é considerada uma Zona Especial de Preservação do Patri-mônio Histórico Cultural – ZEPH, cujos parâmetros são ainda mais restritivos.

Para o ex-vereador Luiz Helvécio, atualmente atuando na ONG Terra Viva, o bairro não está passando por um processo de descaracterização, mas está faltando um maior cuidado com a localidade. “Creio que deveria ser ampliada a área da ZEPH do Poço da Panela para ser restringido o potencial construtivo numa área maior. Deveria ser feito também um novo estudo nos imóveis na área, de forma a ser verifica-

da a situação dos Imóveis Especiais de Preservação (IEP), ampliando a relação de imóveis classificados como tal e que devem ter suas características originais preservadas”, opina.

Entre as polêmicas mais recentes envolvendo o bairro, está a possível construção de um supermercado na localidade. Luiz Helvécio, quando ainda estava na Câmara de Vereadores do Re-cife, liderou um movimento contrário ao projeto. Os moradores também de-monstram preocupação. É o caso de Andréa Massa, proprietária de uma

academia de ginástica no bairro há sete anos e que há três fez da localidade tam-bém sua casa. “Penso que deve haver um equilíbrio entre o que já existe concreta-mente realizado com o que está por vir. Quanto ao supermercado, desde que não interfira na estrutura que temos, mantendo as ruas e casas do jeito que são, tudo bem. Mas sou completamente contra se precisar mexer na estrutura do bairro para isso acontecer”, pondera a empresária e moradora que está sempre ajudando e participando das iniciativas da Associação dos Moradores e Amigos do Poço da Panela – AMAPP.

Criada há 10 anos, a associação tem como objetivo a preservação da iden-tidade do bairro e o desenvolvimento de ações e projetos para a melhoria da qualidade de vida da população e para a preservação do meio ambiente. Segundo o presidente da AMAPP, Al-cides Tedesco, uma das últimas con-quistas do bairro foi a inauguração da Praça Professor Rui Antunes (em janeiro deste ano), projeto que existia

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A recém-inaugurada Praça Professor Rui Antunes

desde os anos 1990 e que só saiu do papel a partir de uma parceria entre a Associação, o governo municipal e a Chesf. O terreno de 1.578,87m², na esquina entre a Estrada Real do Poço e Rua Médico Mário Guimarães, abri-ga agora uma quadra poliesportiva, a Academia Nossa Senhora da Saúde e uma área infantil, chamada de Peque-no Príncipe.

Amor incondicional – A despeito das mudanças que vem acontecendo, o encantamento dos moradores com o bairro parece permanecer intacto. O Poço da Panela continua congregando famílias, artistas, escritores e intelectuais que fazem pulsar sua vocação cultural. É o caso da escritora e poeta Luzilá Gon-çalves, que vive há 40 anos no Poço. Para ela, o Recife está perdendo seus bairros, as pessoas não se conhecem, nem tro-cam pratos de bolo com os vizinhos, ou frequentam a mesma feira.

Lá, essas práticas ainda ocorrem naturalmente. “Eu sou encantada com as marcas do passado, a harmonia do conjunto, a pureza do ar, a vegetação. Gosto de sentir a quase presença do poeta Olegário Mariano ao lado da Igre-ja. Do poeta Maciel Monteiro, e de Dona

Olegarinha, que escondia escravos em sua casa, ainda milagrosamente de pé, ao lado da igreja”.

O clima descrito pela escritora pare-ce atrair outros artistas que instalam no poço seus ateliês e buscam nesse clima bucólico inspiração para seus trabalhos. Há também aquelas figuras apaixonadas pelo Poço e que, mesmo que não vivam por lá, estabelecem uma relação toda especial com a localidade. É o caso do

escritor e jornalista Samarone Lima, que já não mora no Poço, mas continua a frequentá-lo e a preservar as amizades construídas. Sua paixão é tanta que seu casamento foi celebrado ali, no largo da igreja, tendo como ponto de apoio apenas a famosa bodega ou mercearia do seu Vital – figura folclórica, que mora no bairro desde 1964, e há mais de 40 anos abriu sua venda, ponto de encontro dos moradores até hoje.

A Bodega/Mercearia do Seu Vital há quarenta anos é ponto de encontro dos moradores

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pudessem receber os moradores e os visitantes que se aventuram em passeios no fim da tarde. A empresária e moradora preocu-pou-se em levar para o interior de seu estabelecimento o clima bucólico e nostálgico do bairro, utilizando mobiliário antigo na decoração. “Estamos recebendo muitos clientes que ficam encan-tados com as grandes janelas do casarão abertas dando possibili-dade deles avistarem a rua”, diz Silvana, destacando que o obje-tivo é transformar o lugar num espaço cultural movimentado, com exposições e apresentações musicais. Na parte superior do casarão, já está funcionando o ateliê da artista Valéria Macêdo, que ministra cursos de arte.

Para Silvana Antunes, só um empreendimento assim poderia dialogar com o es-

pírito do bairro. “É muito agradável viver aqui, é tranquilo, ainda parece que estamos numa cidade do interior”, conclui, destacando a característica do Poço da Panela que mais apaixona tanto os seus moradores quanto os seus admiradores.

*Jornalista e editora da revista Continente

PATRIMÔNIO

Num passeio pelo Poço da Panela, o visitante pode encontrar alguns lugares atrativos, seja para comer ou para apreciar trabalhos artísticos.

Circulando pelo Poço

BARES E RESTAURANTESBar/Bodega do Seu Vital Est. Real do Poço, em frente à igrejaBar da Beata II Rua Marechal Bittencourt,185-A Fone: 3268.0478Chez Georges Av. 17 de Agosto, 1.483 (Acesso pela Est. Real do Poço da Panela). Fone: 3226-1879Creperia Marias de Mila Est. Real do Poço, 558. Fone: 3269.3957Real Botequim Av. Dezessete de Agosto, 1761Fone: 3269.2930

Thaal Cuisine Rua Marquês de Tamandaré, 203Fone: 3034.0770 ATELIÊS Astrobelo ProduçõesRua Luís Guimarães, 126Ateliê Augusto FerrerEst. Real do Poço, 546. Fone: 9966.7107Ateliê Fernando GuerraRua dos Arcos, 253. Fone: 3441.4284 Ateliê do PoçoRua Antônio Vitrúvio, 113. Fone: 9136.3305

Ateliê dos Arcos – Joelson GomesRua dos Arcos, 260. Fone: 3441.9746Ateliê Valéria MacêdoEst. Real do Poço, 558. Fone: 8836.2002Poço Cultural - Ateliê Jobson FigueredoEst. Real do Poço, 568, Fone: 3304. 0139 DIVERSOSAcademia SaluteRua Luiz Guimarães, 235. Fone: 3267.0652Editora BagaçoRua dos Arcos, 150. Fone: 3205.0132Pescadero Rua dos Arcos, 1.745. Fone: 3268-0020.

Praticamente na frente da recém-inaugurada Praça Professor Rui Antu-nes, na Estrada Real do Poço, está a casa de Silvana Antunes, nora do jurista que dá nome a praça. Ela mora no bairro desde 1994, quando seu sogro faleceu e deixou para família não apenas o imóvel, mas uma vasta biblioteca, com títulos de áreas diversas, instalada num casarão an-

tigo, que fica ao lado de sua casa. Silvana tem dado continuidade à tradição da família com o Poço e acaba de inaugurar a creperia Marias de Mila, bem próxima a sua casa, no número 558, ao lado do ateliê Poço das Artes, do artista Jobson Figueredo, no largo da igreja.

Segundo ela, a ideia da creperia sur-giu pela falta de opções na região que

Silvana Antunes acabou de inaugurar a Creperia Marias de Mila, toda decorada dentro do clima bucólico do bairro

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CFM Conselho Federal de Medicina

Carreira de Estado é discutida em FlorianópolisA proposta de criação de uma carreira de Estado para médicos figurou entre os principais temas do I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina de 2010, pro-movido pelo Conselho Federal de Medi-cina (CFM) entre os dias 3 e 5 de março, em Florianóplois. Essa proposta tramita na Câmara dos Deputados como um projeto de emenda constitucional apre-sentado pelos deputados Eleuses Paiva (DEM-SP) e Ronaldo Caiado (DEM-GO). Paiva, que também participou da reunião, disse que tem trabalhado para que a PEC ganhe caráter de urgência para votação e defendeu que os profissionais – por meio de suas entidades represen-tativas – atuem de forma articulada para sensibilizar os parlamentares.

Temas do Enem são definidosA Comissão Organizadora do XII En-contro Nacional de Entidades Médicas (Enem) aprovou em março os três eixos temáticos que orientarão a agenda dos de-bates previstos para ocorrer em julho, em Brasília. Os temas refletem as principais reivindicações e anseios do movimento médico nacional. São questões ligadas à formação profissional, ao mercado de tra-balho e a políticas públicas para o setor, que poderão embasar mudanças estrutu-rais no futuro. A importância da carreira médica no SUS, a situação dos médicos conveniados a planos de saúde, o finan-ciamento e a gestão do sistema de saúde também merecerão a atenção do Enem.

MS assume compromissos com entidades médicasDurante audiência realizada em seu ga-binete em 17 de março, em Brasília, o ministro José Gomes Temporão acatou duas reivindicações de representantes

de entidades médicas –CFM, Associa-ção Médica Brasileira (AMB) e Federa-ção Nacional dos Médicos (Fenam). O primeiro compromisso assumido pelo ministro foi o de convidar representantes das entidades médicas para participar de dois grupos de trabalho que cuidará de definir os critérios e os parâmetros para a criação de uma carreira nacional de mé-dicos do Sistema Único de Saúde (SUS). O outro foi o de incluir representantes das entidades médicas nos grupos que estabelecem os protocolos e as diretrizes assistenciais para o SUS.

Parecer do CFM sobre prontuário de paciente falecidoO parecer CFM nº 6/10, emitido recen-temente, reafirma que o direito ao sigilo, garantido por lei ao paciente vivo, tem efeitos projetados para além da morte. Assim, o prontuário médico de pacien-te falecido não deve ser liberado aos parentes. A liberação do prontuário só deve ocorrer por decisão judicial ou por requisição dos Conselhos de Medicina (Federal ou Regionais). “Os direitos da personalidade são intransmissíveis, não cabendo cogitar, portanto, a transmissão sucessória de um direito personalíssimo como a intimidade e a vida privada”, de-fendeu o relator do parecer, conselheiro federal Renato Fonseca.

Comissões vão elaborar regras de publicidadeA Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (CODAME) do CFM reuniu-se em 31 de março com representantes de CODAMEs regionais para discutir re-gras de publicidade médica, identificação profissional e nomenclatura de procedi-mentos e instrumentos. As CODAMEs vão agora trabalhar em uma proposta de Resolução, que deve ser concluída

Notícias do CFMCarlos Vital, de Brasília*

até novembro. O coordenador dos tra-balhos, conselheiro federal Emmanuel Fortes, acredita que em peças publicitá-rias a medicina deve deixar de ser tratada como um fim e também que os pacientes devem sempre ter acesso a informações precisas sobre os profissionais que os atendem, como nome, número de regis-tro e especialidade, em carimbos, jalecos, placas de identificação, propagandas etc.

CFM fiscalizará processo de revalidação de diplomasO Conselho Federal de Medicina anun-ciou que pretende acompanhar a execu-ção do projeto piloto que pretende abrir espaço para a implantação de um sistema nacional para revalidação dos diplomas de médico obtidos no exterior. O CFM quer que sejam cumpridos todos os crité-rios estabelecidos na Portaria Interminis-terial 865/2009 dos ministérios da Saúde e da Educação. A entidade é contrária à revalidação automática de diplomas que beneficia algumas nacionalidades ou que é estabelecida em convênio.

Senado aprova reajuste anualO Senado aprovou, em fevereiro, um projeto que prevê reajuste anual para os médicos que atuam em saúde suple-mentar. Emenda do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) ao PLS 276/04 esta-belece que o reajuste seja realizado dentro de 90 dias a contar do início de cada ano calendário. Caso se ultrapasse esse período, o índice será estabelecido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Agora, o projeto será discutido na Câmara dos Deputados.

Resolução que trata de cirurgia bariátrica é atualizadaO CFM atualizou as normas para o trata-mento cirúrgico da obesidade mórbida. Dentre as mudanças, está a previsão de que o paciente deve apresentar obesida-de mórbida por dois anos para, então, ser submetido à cirurgia bariátrica; pela norma antiga, eram necessários cinco anos. A resolução que trata do tema, 1.942/10, foi publicada no Diário Oficial da União no dia 12 fevereiro.

*Vice-Presidente do CFM

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Uma corrida não só contra o tempo. Mas também contra a distância entre a descober-ta de um potencial doador

de órgãos e a efetiva doação. Enquan-to na Espanha o número de doações chega a 34 por milhão de pessoas, no Brasil, no ano passado, essa conta foi de apenas 8,7 doações por milhão. Ao contrário do que se possa imaginar, o gargalo não está na resistência das fa-mílias em doar os órgãos. Isso também. Mas principalmente, na ausência de diagnósticos para identifi car potenciais doadores. De acordo com o Ministério da Saúde, pelo menos 10% das mortes nas Unidades de Tratamento Intensivo

(UTI) são de morte encefálica. Desse universo, uma média de 30% a 50% não têm a confi rmação da morte encefáli-ca a tempo de se fazer a captação dos órgãos. Em Pernambuco, a Central de Transplantes, a primeira do Nordeste, começou a funcionar em 1995. De lá pra cá já se vão 15 anos. No primeiro ano foram feitos 100 transplantes. No ano passado, 1076. Parece muito, mas a lista de espera é três vezes maior.

A estratégia para reduzir essa dis-tância tem pelo menos duas frentes: capacitar as pessoas e buscar a profi s-sionalização dessa área, que compreen-de desde o diagnóstico até a abordagem correta junto às famílias. Para o diretor

da Associação Brasileira de Transplan-tes de Órgãos (ABTO), Joel de Andra-de, 45 anos, médico intensivista, e à frente da ABTO há 5 anos, de todos os componentes que envolvem a logística do sistema de transplante, a mais frágil é a coordenação hospitalar, que se tra-duz nas comissões intra-hospitalares de transplantes (CIHDOTT). São essas comissões que devem funcionar dentro dos hospitais com a missão de identifi -car os potenciais doadores.

O problema é que esses profi ssio-nais acumulam outras funções e não recebem nenhum tipo de remuneração para atuar nas comissões. “Além das adversidades das condições de traba-

Transplante: o tempo é um aliado parasalvar vidas Tânia Passos* | Fotos: Hans Manteuffel

CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

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lho, há uma certa difi culdade na hora de dar o diagnóstico. A maior parte dos médicos que estão nas emergên-cias não completou a residência médi-ca”, alertou o presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), André Longo. Segundo o diretor da ABTO, uma portaria minis-terial garante a presença das coordena-ções hospitalares, mas não prevê como função a ser remunerada. “Não adianta só capacitá-los. A intenção é profi ssio-nalizar essa área. O profi ssional precisa atuar como parte de um trabalho e não apenas por boa vontade”, alertou Joel de Andrade. Das 49 comissões constituí-das no Estado, sendo 26 em hospitais

públicos e 23 em hospitais privados, somente oito funcionam efetivamen-te. “O ideal seria ter profi ssionais com dedicação exclusiva. Mas não é o que acontece na prática”, explicou Zilda Cavalcanti, presidente da Central de Transplante do Estado. Segundo ela, a central disponibiliza pessoal nas prin-cipais emergências do Estado: Hospital da Restauração, Osvaldo Cruz, Hos-pital Getúlio Vargas e Hospital Aga-menon Magalhães. São enfermeiros, assistentes sociais ou auxiliares de en-fermagem. O trabalho deles é chamar a atenção dos médicos sobre a necessida-de do diagnóstico.

“Nem sempre o médico quer ou-vir que precisa fazer o diagnóstico de morte encefálica. O trabalho dos membros da comissão é sensibilizar

para que isso possa ser feito”, afi rmou Zilda. Para fazer o diagnóstico são necessários dois encefalogramas com intervalo de seis horas cada. O exame deve ser acompanhado por um neuro e um neurocirurgião e ainda apresen-tar um método gráfi co para confi rmar a morte. “Na maioria dos casos o pa-ciente em coma no grau 3, que é indi-cativo da morte encefálica, morre sem que o diagnóstico seja feito”, revelou Zilda. Além da predisposição do mé-dico há, nesses casos, a interferência da família. “A família quer acreditar em um milagre até o fi m. Cabe ao pro-fi ssional ter a certeza que o paciente já sofreu morte encefálica para que o paciente possa vir a ser um doador”. A outra etapa, ela explica, é trabalhar a acessibilidade junto à família.

Mesmo sem uma remuneração es-pecífi ca, há os profi ssionais que fazem a diferença na hora de salvar vidas. Um número ainda pequeno diante do tamanho da necessidade, mas de uma grandeza ímpar. Claro, que não se ensina boa vontade. Ou se tem ou não. Mas é possível tornar melhor a boa intenção. Nos cursos de capaci-tação, os profi ssionais que integram as comissões hospitalares aprendem com a experiência dos outros como agir, por exemplo, na hora de abordar uma família que perdeu um ente que-rido, e que pode se tornar um doador. Em um curso promovido pela Central

de Transplantes, a enfermeira Prisci-la Fukunaga, 30 anos, coordenadora de enfermagem do serviço de capta-ção de órgãos e tecidos dos hospitais ligados à Santa Casa, em São Paulo, trouxe a sua experiência de oito anos para repassar aos profi ssionais daqui. “O profi ssional precisa ser honesto e transparente. O que for falado na en-trevista com os familiares tem que ser cumprido”, afi rmou.

O mais importante antes de qual-quer abordagem é conhecer o históri-co do paciente e ter absoluta certeza do diagnóstico de morte encefálica antes de pedir a doação. A enfermeira

A diferença do fazer

Curso promovido pela Central de Transplantes de PE estimula profi ssionais a lidar com as famílias na hora de pedir a doação de órgãos

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CAPA

Em 1985, um desmaio foi o sinal de alerta de que algo não estava

bem. Depois o inchaço, resultado da perda de proteína e pressão alta. Um dos rins não estava funcionando. O professor de história e pesquisador, Charles Albuquerque, 34 anos, tinha na época apenas 9 anos de idade. E passou de 1985 a 2004 sob trata-mento intensivo. Uma vida limitada. Mas nunca parou de estudar e de so-nhar. Somente a partir de 2004, teve que enfrentar a hemodiálise. Era a falência do órgão e a entrada para a lista de espera por uma doação.

O sonho da pós-graduação na Suécia foi adiado. “Consegui uma bolsa de estudo para uma pós-gra-duação na Suécia, mas por causa da minha doença o meu visto foi ne-gado”, contou. Durante quatro anos Charles viu seu corpo defi nhar. “A

CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

também orienta que a família precisa se sentir acolhida e nesse caso, vai pe-

sar muito a forma como ela foi aten-dida no hospital. “Cerca de 30% das famílias se recusam a fazer a doação. Ou porque não tiveram uma boa acolhida ou uma abordagem equivocada ou sim-plesmente porque

são contrários à doação”, explicou Priscila Fukunaga. Se houver recusa,

não adianta insistir. “O nosso papel não é convencer as famílias, mas ex-plicar sobre a importância da doação que irá salvar outras vidas”, ressaltou.

Um dos maiores equívocos na re-cusa da doação de órgãos por parte dos familiares, segundo o presidente do Cremepe, André Longo, é o mito de que o médico vai apressar a morte do paciente. “Infelizmente esse mito ainda persiste. É difícil para qual-quer família que sabe que o coração ainda bate acreditar que a pessoa está

Uma vida que renasce

pessoa fi ca muito debilitada. Em um dia fi ca preso à máquina e no outro mal consegue se mover”. A vida dele começou a mudar às 5h do dia 24 de outubro de 2007 quando recebeu a li-gação da Central de Transplantes. Ele estava concorrendo a um rim com ou-tros quatro pacientes. Os exames iriam defi nir quem fi caria com o órgão.“Eles disseram para eu fi car em jejum e ir para o hospital fazer os exames. Mi-nhas pernas tremiam de tão nervoso que fi quei. É uma emoção muito forte. Só quem faz hemodiálise pode ter uma idéia do que isso representa”, afi rmou.

A angústia se prolongou até o iní-cio da tarde quando teve a confi rmação que receberia o rim. Dois anos depois e gozando de plena saúde, Charles lembra das difi culdades que passou. Espalha as fotos do seu corpo franzino e exibe o sorriso de quem deixou para

trás os momentos ruins. Da expe-riência que teve, o aprendizado ele dedica para ajudar outras pessoas que hoje se encontram na mesma si-tuação que um dia esteve. É voluntá-rio na Central de Transplantes. Um velho conhecido. Mais do que isso, um amigo. “Eu ligo todos os dias para cá e pergunto se precisam de ajuda. Quando é para dar uma pa-lestra eles me chamam. Eu me sinto muito bem em poder ajudar”, disse sorrindo.

O sorriso, aliás, parece ser a marca registrada desse professor que agradece todos os dias pela vida que renasceu. Só por um momento seus olhos marejaram ao lembrar da mãe, que morreu há dois meses vítima de um câncer. “O sonho dela era que eu conseguisse o transplante antes dela morrer. E graças a Deus ela pôde partir em paz e me deixan-do bem”, afi rmou. Charles trabalha atualmente como pesquisador e consultor de uma empresa particu-lar. “Minha vida agora é viajar. Esta semana vou à Bahia fazer um traba-lho por lá”, contou. Outra luta dele é para conseguir nos coletivos a gra-tuidade dos pacientes renais crôni-cos. “Existe a lei 12.115 que não vem sendo cumprida pelas empresas e a gente quer chamar atenção das auto-ridades e do Ministério Público para fazer valer a lei”, ressaltou.

Recuperado, Charles Albuquerque ajuda em campanha de doação de órgãos

Os números do transplante em Pernambuco

1995 2000 2005 2010* Coração 4 4 7 2Fígado 0 5 48 16Rim 58 85 98 37Córnea 48 203 391 50Medula 0 23 96 13Total 110 320 640 118

* Janeiro/fevereiro de 2010

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Caravana 2010 vai ao agresteA Caravana Cremepe-Simepe 2010 pega a estrada novamente e parte rumo

ao Agreste pernambucano. Com o objetivo de aproximar o médico do interior com o da capital, promover a cidadania da população e fi scalizar a prática da medicina em regiões mais afastadas do estado, a Caravana vem ultrapassando expectativas desde 2005, ano da sua fundação.

Buscando a melhoria de vida da população, a Caravana já teve a dinâmi-ca modifi cada várias vezes, sempre guiada pelas necessidades observadas no cotidiano de cada região. “No começo, a proposta do projeto era outra, mas vimos que os problemas iam muito além do que nós pensávamos e fomos nos adequando a isso”, disse Ricardo Paiva, coordenador geral da Caravana.

Neste ano, 40 municípios serão visitados pelos Caravaneiros (responsá-veis pela prática da ação), onde será exibido o fi lme “Pela Vida, Pelo Tem-po”, produzido em 2008, pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Conselho Federal de Medicina (CFM), Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) e Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe). Além disso, pesquisas serão realizadas pelos agentes espalhados na cidade e a população terá acesso a debates.

Para Paiva, a iniciativa é muito importante para elevar a auto-estima da população, que, antes, vivia sem nenhuma perspectiva de vida. “Hoje nós colhemos os frutos da Caravana e isso é muito gratifi cante para todos os que fazem parte dela”, afi rmou.

morta”, ressaltou. Quanto mais pre-parados estiverem os profi ssionais de saúde, maiores são as chances. O médico Reginaldo Boni, responsável pela coordenação das comissões hos-pitalares da Santa Casa de São Paulo, revelou que houve um aumento de 50% nas doações dos 22 hospitais que integram a rede da Santa Casa, com a inclusão de um médico em cada uma das comissões com dedicação exclusi-va, a partir de 2006. “É diferente você ter um profi ssional com dedicação exclusiva nessa função. Ainda mais sendo um médico que tem condições de falar em pé de igualdade”, afi rmou.

Em Pernambuco os hospitais ainda não dispõem de médicos com dedica-ção exclusiva nas comissões hospita-lares. Mas alguns passos começam a ser dados. Um curso promovido pela ABTO, no mês passado, reuniu médi-cos intensivistas de todas as comissões hospitalares do Estado. “Quando a gen-te faz esse tipo de ação, percebe que há um aumento no número de doações. Assim como as campanhas também ajudam”, afi rmou Zilda Cavalcanti. A luta é transformar o que é “ocasional” em regra. Criar uma sistemática com a profi ssionalização. “Quando a pessoa age apenas com o coração, mais cedo ou mais tarde isso acaba. Quando a ação é movida pelo dever profi ssional ela ocorre independente do estado de espírito. Passa a ser um trabalho sis-temático. É o que queremos”, afi rmou Joel Andrade, da ABTO, remunerado na função que exerce há 5 anos.

*Jornalista

O presidente da ABTO, Joel de Andrade

Momento de exibição do fi lme "Pela vida, pelo tempo", durante a Caravana 2009

Veja todos os detalhes da caravana acessando o site: www.cremepe.org.br

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22 Movimento Médico

CAPACREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

Integrantes do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cre-mepe), Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) e Associa-

ção Médica de Pernambuco (AMPE), além de representantes de entidades nacionais, como o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, colocaram em discussão, no Recife, assuntos de extrema relevân-cia para médicos de todo o País durante o Pré-Enem, realizado nos dias 25 e 26 de março.

A noite de abertura do evento foi marcada pelas palestras do deputado federal Paulo Rubem Santiago (PDT-PE), e do professor do curso de Gestão e Saúde Pública da Universidade Esta-dual do Rio Grande do Sul (UERGS), Aragon Dasso Júnior.

O professor fez um breve histórico da Constituição Brasileira de 1988 e a sua importância na conquista dos direi-tos humanos, principalmente, à saúde. Para ele, esse direito está sendo negado à população devido ao modelo ultrali-

beral da economia que favorece as Or-ganizações Sociais (OSs), por exemplo. "A saúde vem sendo privatizada nos últimos anos de forma mascarada e dis-simulada", afi rmou Aragon Júnior. Para ele, enquanto houver a saúde suplema-tar, que trata a saúde como um serviço, "o inimigo estará consumindo o siste-ma", disparou.

Já o deputado Paulo Rubem res-saltou a importância dos movimentos sindicais no processo de conquista dos direitos. A questão da alta carga tribu-tária aplicada no Brasil foi o tema mais explorado por Rubem. Na opinião dele, "os impostos só servem para fi nanciar a concentração de renda no País".

Outro assunto abordado foi a “For-mação Médica”. Para a professora da Universidade de Pernambuco (UPE) e conselheira do Cremepe, Valdecira de Lucena, “os modelos propostos são imediatistas, com muito discurso e pouca operacionalidade". Na opinião dela, “o Brasil continua sem rumo na saúde”.

Já o ex-presidente da Associa-ção Brasileira de Educação Médica (ABEM), Guido de Araújo, avaliou que “em Pernambuco não houve prolifera-ção de escolas médicas como no resto do Brasil”. O presidente do Cremepe, André Longo, atribuiu a conquista apontada por Araújo como “resultado do trabalho das entidades médicas do Estado”.

O tema “Mercado de Trabalho e Remuneração” também entrou na pau-ta de discussões do Pré-Enem. Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS), Lista de Procedimentos Médicos, Clas-sifi cação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) e condições de trabalho foram exausti-vamente discutidos pelos participantes.

“Defendemos reajuste anual dos sa-lários, condições de trabalho e educação médica continuada”, afi rmou o Secre-tário-geral da Fenam, Mário Fernando Lins. Ele também cobrou a aprovação do Projeto de Lei 3734/08, que fi xa em R$ 7 mil o piso salarial dos médicos.

Pré-Enem discute temas de relevância para médicos de todo o País

ETAPA PERNAMBUCOFo

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Da esq. para a dir., Carlos Medeiros, presidente da Apemol, Jane Lemos, presidente da Ampe, o então presidente do Simepe, Antonio Jordão, o presidente do Cremepe, André Longo, o vice-presidente do CFM, Carlos Vital, e Mário Fernando Lins, secretário-geral da Fenam

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Movimento Médico 23

O Cremepe deu início, no dia 25 de março, às comemorações dos 50

anos do Instituto de Medicina Integral Profº Fernando Figueira (Imip) com a abertura do I Encontro Regional de Bioé-tica, no auditório Alice Figueira, no Imip.

A mesa de trabalho foi composta pelo presidente do Cremepe, André Longo, pelo presidente em exercício do Imip, Bertoldo Kruse e pelo coordena-dor do Comitê de Estudo de Ética e Pes-quisa do Imip, José Eulálio Cabral. Em sua fala inicial, Longo destacou os avan-ços nas discussões no campo da bioética nas últimas décadas e o trabalho de re-visão do Código de Ética Médica.

As exposições iniciais sobre o tema “Vida – Aspectos Legais” fi caram a car-go do professor da Universidade Fede-ral de Pernambuco (UFPE), advogado e membro do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfi co de Pernambuco, Nilzardo Carneiro Leão, que abordou o sentido amplo da vida, desde a sua concepção, pela ótica do Direito. Car-neiro Leão ressaltou, ainda, o papel do médico nesse processo e condenou vee-mentemente o aborto. “O compromisso do médico é com a vida, e não com a morte”, afi rmou.

Dando continuidade ao evento, o presidente da Sociedade de Bioética (Regional de Pernambuco) e integrante da Câmara Técnica de Bioética do Cre-mepe, Josimário Silva, abordou o tema “Bebês mal formados e prematuro ex-tremo: dilemas éticos de vida e morte”.

Em seguida, o presidente da Fe-

deração Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e Coordenador da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do Cremepe, Olímpio Moraes, falou sobre “Aborto: implicações éticas, médicas e sociais”. E fi nalizando a programação da manhã, a palestra do professor da Universidade de Pernambuco (UPE) e integrante da Câmara Técnica de Bioética do Creme-pe, Aurélio Molina, sobre "Embriões Excedentários".

As atividades da tarde foram inicia-das com a palestra do 1º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina e Conselheiro Federal do Cremepe, Car-los Vital, intitulada de "O Novo Código de Ética Médica: uma visão da auto-nomia". Durante a palestra, ele fez um resgate histórico da ética na medicina e afi rmou que “o novo Código marca a entrada da medicina no século 21”.

Cremepe celebra os 50 anos do IMIP

I ENCONTRO REGIONAL DE BIOÉTICA Em seguida, foi a vez do ex-presi-dente da Sociedade Brasileira de Bioé-tica (2005-2007) e professor de Clínica Médica e Bioética da Universidade Es-tadual de Londrina, José Eduardo de Siqueira. Com o tema "Cuidados Palia-tivos e autodeterminação", ele abordou questões referentes à autonomia do ser humano, à ética na relação médico/pa-ciente e aos avanços da tecnociência. “Nós estamos formando médicos espe-cialistas em tratar doenças. Temos que formar médicos especializados em tra-tar pessoas e não somente enfermida-des”, afi rmou.

O tema "Obstinação terapêutica e implicações éticas" fi cou sob a respon-sabilidade do preceptor da Residência de Clínica Médica do HR e integrante da diretoria da Sociedade de Terapia In-tensiva de Pernambuco (Sotipe), Odin Barbosa. Em sua fala, ele abordou vários temas, como a difi culdade de aceitação da morte e os princípios da boiética. "Muitas vezes a obstinação terapêutica traz muito sofrimento e dor aos pacien-tes terminais, principalmente, os que es-tão nas UTIs", avaliou Barbosa.

A última palestra do evento foi pro-ferida pela fundadora da Academia Na-cional de Cuidados Paliativos e integran-te da Câmara Técnica de Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do CFM, Maria Goretti Maciel. Ela abordou a Le-gislação brasileira e suas implicações na terminalidade da vida. “Nós precisamos reconhecer que a pessoa com enfermi-dade terminal tem o direito à assistência adequada”, afi rmou.

Da esq. para a dir., José Eulá-lio Cabral e Bertoldo Kruse, do Imip e o presidente do Cremepe, André Longo

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CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

Assessoria de Comunicação do CremepeAGENDÃO

Falso médico é flagrado no município de Mirandiba, Sertão do EstadoO Cremepe, com apoio da Polícia Federal, flagrou um falso médico em plena atividade no dia 23 de março no município de Mirandiba, Sertão de Pernambuco, a 476 quilômetros do Recife. Ademir Guerreiro Barbosa foi autuado por exercício ilegal da medicina enquanto prestava atendi-mento a pacientes na Unidade Mista Municipal Ana Alves de Carvalho. O Cremepe abriu sindicância para apurar o caso. Além dele, outros dois nomes são suspeitos de atuar como médicos plantonistas na mesma uni-dade de saúde, ambos sem o regis-tro no Conselho. O Cremepe levou, ainda, o caso ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) para responsabilizar os gestores municipais pelo mau uso de dinheiro público.

Cremepe aprova curso de medicina em GaranhunsO presidente do Cremepe, André Longo, elogiou a atitude do governa-

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dor do Estado, Eduardo Campos, em anunciar um projeto de ampliação do curso de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE) para o Agreste do Estado. “Apoiamos esse movimen-to de interiorização do ensino médico e avaliamos como um sinal de que é possível transformar a medicina do interior e atender aos anseios de toda a população daquela região”, avaliou Longo.

Cremepe suspende interdição ética no Dom Malan Dois dias após decretar a interdição ética no Hospital Dom Malan, em Petrolina, o Cremepe decidiu suspen-der a decisão tendo em vista a ação por parte da prefeitura que corrigiu as irregularidades apontadas na unidade de saúde, garantindo assim, uma assis-tência digna à população e o exercício ético da medicina. “A intervenção foi uma medida extrema, mas se mos-trou eficaz no sentido de mobilizar a prefeitura a corrigir rapidamente as deficiências”, afirmou o presidente do Cremepe, André Longo. No dia da interdição, 5 de abril, os fiscais do Cremepe apontaram inúmeras defici-ências no hospital tais como redução do número de pediatras nos plantões; falta de material básico como álcool, luvas e seringas; diminuição de leitos de pediatria e UTI sem ventilado-res mecânicos, monitores, além de número insuficiente de bombas de infusão.

FCM completa 60 anos e homenageia as entidades médicas de PernambucoA diretoria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (FCM-UPE), na ocasião da comemoração dos 60 anos da instituição, homenageou o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) e a Associação Médica de Pernambuco (AMPE).Durante a solenidade, realizada na própria faculdade, o presidente do Cremepe, André Longo, recebeu uma placa comemorativa do diretor da instituição, Marcelo Azevedo, e da vice-diretora, Maria Helena Kovacs.Em seu discurso, André Longo, que é ex-aluno da FCM, destacou a impor-tância da instituição para a medicina pernambucana. “Nesses 60 anos, a FCM já formou mais de sete mil médicos. Para mim, é uma alegria enorme receber essa homenagem em nome do Cremepe e fortalecer a par-ceria na educação médica”.

A presidente da AMPE, Jane Lemos, e o presidente do Cremepe, André Longo, ladeados pelo diretor da FCM, Marcelo Azevedo, e pela vice-diretora, Maria Helena Kovacs

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Movimento Médico 25

Posição do Cremepe sobre o Projeto da TamarineiraDesde que surgiram especulações sobre o futuro do espaço onde está instalado o Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano, no bairro da Tamarineira, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco vem se posi-cionando em defesa do hospital e da preservação do meio ambiente. É tanto que em duas edições da revista Movimento Médico (a anterior e a de número nove), que representa as enti-dades médicas de Pernambuco, já foi explanada a nossa posição favorável à manutenção do patrimônio histórico e ambiental do Estado.Com a divulgação no dia 22 de feverei-ro pela imprensa de que o Hospital da Tamarineira vai deixar de existir naque-le local para dar lugar à construção de um shopping center e à instalação de um parque de lazer aberto ao público, nos dirigimos à sociedade pernambu-cana para colocar os seguintes pontos:1 – O Cremepe não abre mão de acom-panhar todo o processo de transferên-cia dos pacientes que estão internados atualmente e que merecem ser tratados com dignidade e respeito. 2 – O Cremepe também quer participar das discussões que vão definir o espa-ço para onde os pacientes do Hospital Ulysses Pernambuco serão transferidos.3 – Com o objetivo de manter nossa coerência na luta pela preservação do meio ambiente, ficaremos atentos para impedir que exista devastação daque-la área verde, que é de fundamental importância para o bem estar da popu-lação recifense.4 – Em relação ao prédio do hospital, considerado uma referência na psiquia-tria pernambucana, nosso intuito é tam-bém o de evitar que haja qualquer dano ao patrimônio histórico e arquitetônico do Estado de Pernambuco.

Pernambucanos doaram 350 toneladas de mantimentos às vítimas do Haiti Durante dois meses de campa-nha em Pernambuco, o Comitê de Solidariedade ao Haiti arrecadou 350 toneladas de donativos não perecíveis.

Uma parte dos mantimentos foi levada de avião no mês de fevereiro. Outra parte – cujo prazo de validade estava perto do vencimento – foi doada às cidades pernambucanas em estado de emergência por causa da seca. A iniciativa dos pernambucanos fez parte da ajuda humanitária oferecida pelo Brasil aos sobrevi-ventes do terremoto que devastou o país matando mais de 220 mil pessoas no dia 12 de janeiro.

Convênio firmando entre Cremepe e FCM-UPEApoiar as atividades especializadas desenvolvidas pelo projeto Escolinha de Iniciação Musical e Artes do Hospital Oswaldo Cruz (HUOC). Esse é o obje-tivo do convênio firmado entre o Cremepe e a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (FCM-UPE). Com a doação de R$ 20 mil, o Conselho espera colaborar apoiando oficinas de atividades artísticas para a huma-nização da medicina e contribuindo com a ação terapêutica destinada a crianças e adolescentes que fazem tratamento no HUOC.

Cremepe lança novo portal

O site do Cremepe está de cara nova. O canal de comunicação entre a enti-dade, o médico e a sociedade está mais moderno, bonito e atrativo. Todo seu conteúdo foi revisado e atualizado, buscando atender melhor as necessidades dos internautas. As notícias, os acontecimentos e os eventos da área da saúde continuam sendo a prioridade do portal. Além disso, vídeos e áudios foram adicionados ao site para que o visitante fique por dentro de tudo que diz respeito ao Cremepe. Acesse e confira: www.cremepe.org.br

Vista aérea do Hospital da Tamarineira

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SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

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Posse festiva do novo presidente do Simepe

Asolenidade de posse da nova diretoria (biênio 2010/2012) do Sindicato dos Médicos de Pernam-

buco foi realizada no dia 21 de abril, às 21h, na Usina Dois Irmãos, Praça Farias Neves, Apipucos/Recife. Em grande es-tilo e com o espaço superlotado, a fes-tividade começou com a apresentação do “Balé Arco-Íris do Sonho”, integrado por crianças portadoras de defi ciências do Centro de Reabilitação e Valoriza-ção da Criança (CERVAC), localizado no Morro da Conceição/Casa Amarela.

A apresentação contagiante do grupo formado há quatro anos trans-formou a noite num show de simpli-cidade e emoção. Vale salientar que a CERVAC existe desde 1988 e atende a 250 crianças. Em seguida, o cerimonial compôs a mesa com os representantes do Simepe, Governo do Estado, Fenam, CFM, Ministério das Relações Institu-cionais, OAB-PE, Cremepe e AMPE. Ao lado os convidados de honra: Fe-nam, reitoria da UFPE, reitoria da UPE, AMBL, Sindicato dos Médicos de Ala-goas e do Conselho Estadual de Saúde. Registradas as presenças de dirigentes de entidades sindicais, de cooperativas e associações médicas, além de organi-zações não governamentais, parlamen-tares e convidados especiais.

Balanço de gestão – O presidente do Simepe, Antonio Jordão, saudou os convidados e apresentou o balanço de gestão, pautando seu discurso nas ações realizadas durante seu mandato à frente da entidade médica. Jordão comentou

O novo presidente do Simepe (o 4º da esq. para a dir.,) ao lado de amigos e diretores

também sobre planejamento, concurso público, resgate da cidadania, carreira médica, remuneração, direitos e SUS. Fez ainda questão de ressaltar a impor-tância do trabalho unifi cado com as en-tidades médicas, a relação próxima com a sociedade e os movimentos sociais. Por fi m, agradeceu aos familiares, fun-cionários e diretores do Simepe, bem como a categoria médica.

Logo depois, o secretário-geral da Federação Nacional dos Médicos (Fe-nam), Mário Fernando Lins, analisou a conjuntura, o SUS, as tentativas de privatização da rede pública de saúde, além das lutas empreendidas por melho-res condições de trabalho, remuneração e dignidade. Ressaltou que a entidade nacional tem por meta uma atuação eminentemente política, haja vista a sua representatividade no seio da categoria médica brasileira. “A Fenam sente um imenso orgulho por estar presente nessa festa. Aproveitamos esse momento para desejar sucesso e grandes realizações a todos os membros da diretoria que hoje toma posse”, declarou.

A solenidade prosseguiu com a as-sinatura do termo de transmissão de posse pelo novo presidente eleito Silvio Rodrigues que foi homenageado com um vídeo simbólico, marcado por sua

Classe médica e outras entidades de destaque prestigiaram o evento

história de lutas e compromissos com o movimento médico. (Veja as fotos do discursso e da posse no site www.simepe.org.br)

Financiamento e trabalho médi-co - Em seu discurso, Sílvio Rodrigues, fez uma avaliação da conjuntura nacio-nal, questionando as políticas públicas de saúde, o fi nanciamento indefi nido, além da situação crônica dos hospitais públicos, caracterizados pela superlota-ção, falta de medicações e equipamen-tos, ausência de leitos de UTI, equipes incompletas e difi culdade na regulação dos leitos. Na esfera municipal, apon-tou para a precarização do trabalho médico, os problemas na atenção bási-ca, nos serviços de pronto atendimento, nas maternidades e no SAMU.

“Lutaremos por uma política que defenda o interesse público. A união tem papel central, estratégico na saúde. Mas, para efetivamente desempenhar esse papel tem que ser reformado em torno da esfera pública, tornando-se um Estado para todos os brasileiros”, frisou. Destacou que a mobilização ampla e a capacidade de negociação são importantes nestas vitórias e não será diferente nesta gestão “Participação e Luta", que chega ao Simepe.

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Movimento Médico 27

Três eventos em noite única. A sexta-feira, 26 de março, vai fi car na história do Sindicato dos Médicos de Per-

nambuco (Simepe) quando foram realizados os eventos da entrega da “Medalha de Honra ao Mérito Professora Naíde Teodósio”, da premiação dos Concursos de Poesia e Foto-grafi a, e a tão esperada inauguração do mural “Tributo a Gaudí”.

A mesa foi composta por Antonio Jordão e André Lon-go, a representante da Associação Médica/PE, Helena Car-neiro Leão, , a vereadora Vera Lopes e o diretor do Simepe, Assuero Gomes. Jordão saudou todos os presentes desta-cando, principalmente, a importância dos eventos como parte do calendário ofi cial da entidade médica. Em seguida fez um resgate histórico de Naíde Teodósio, que não arre-feceu da luta, tornando exemplo de dignidade e referência para todas as mulheres.

Medalhas e satisfação – Neste ano, a “Medalha de Hon-ra ao Mérito Professora Naíde Teodósio” homenageou as médicas – Maria das Graças Carlos de Araújo – da saúde da família, e Maria Ângela Rocha, do Hospital Universitá-rio Oswaldo Cruz (HUOC). Ambas receberam as meda-lhas das mãos das diretoras do Simepe, Claudia Beatriz e Carla Bezerra. Em seguida, foram presenteadas com um buquê de fl ores pelo então presidente do Simepe, Antônio

Jordão. Esta foi a quarta edição do prêmio, que homenageia personalidades femininas dedicadas e atuantes no serviço prestado à população e no envolvimento das causas sociais.

Na ocasião, as médicas agradeceram a homenagem. Bas-tante emocionada, Maria das Graças explicou que o segredo de executar bem sua profi ssão e através dela ajudar as pes-soas, é o amor àquilo que faz. Já Maria Ângela afi rmou ser um orgulho receber a homenagem em função do reconheci-mento de seu trabalho. “Hoje tenho certeza e me alegro, pois acredito ter acertado mais vezes que errado”, afi rmou.

Premiação e mural – A segunda edição dos concursos de poesia e fotografi a teve como vencedores os médicos Luiz Carlos Albuquerque, Arthur Bruno Medeiros, Helder Vinicios Medeiros, Ronaldo Figueira e Ana Cláudia Longo. As fotografi as e poesias classifi cadas já estão disponíveis em nosso site. Clique e confi ra: www.simepe.org.br.

Para fi nalizar a noite, o diretor de Imprensa Assuero Gomes promoveu inauguração do mural “Tributo a Gau-dí”. Este mural de 60 metros quadrados, se encontra no pátio interno do Simepe e tem estruturas em mosaico com azulejos antigos inspirado na obra do mestre catalão An-toni Gaudí.

*Assessor de Imprensa do Simepe

Homenagens, prêmios e inauguração de mural

Da esq. para a dir., Assuero Gomes, diretor do Simepe, Vera Lopes, vereadora, André Longo, presidente do Cremepe, o então presidente do Simepe, Antonio Jordão e a vice-presidente do Cremepe, Helena Carneiro Leão

Chico Carlos*

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SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

Entre a loucura do asilo e a loucura das ruas

Oprocesso de reforma psiquiátrica é complexo e profundo. Precisa

articular e compartilhar todas as polí-ticas públicas sociais: saúde, assistência social, previdência, educação, lazer e cultura, trabalho e emprego, e notada-mente a família, quando houver. Pre-cisa envolver de fato a sociedade. Pes-soas não são números. Nossos doentes oscilam entre duas loucuras: a loucura do asilo e a loucura do abandono nas ruas. As masmorras e a morte intra-hospitalar por desassistência, desafeto e inanição é genocídio. Crime doloso de lesa humanidade.

A retirada dos doentes do hospital também não pode ser criminosa. A reinclusão social é necessária. Porém precisa ser monitorada, caso a caso, qual o destino e quem dará o apoio a cada paciente. Responsabilidade com nomes. Que pessoa da família receberá o paciente e dele cuidará. Quem asse-gurará o suporte fi nanceiro assistencial/previdenciário. Qual a residência tera-pêutica. A qual CAPS estará vinculado e qual o leito que o receberá de volta em

eventual intercorrência. Os nomes dos profi ssionais que lhe darão cuidados. Que instância de lazer, cultura e ocupa-ção lhe permitirá o retorno ao convívio social e lhe proporcionará a auto-esti-ma de sentir-se importante e valoriza-do. E quem fi scalizará tudo isto? Para que a lógica da rehumanização não seja substituída pela lógica economicista de simplesmente cortar ainda mais custos impondo outro abandono.

A rede psicossocial não pode ser apenas fi gura de retórica. Depois de montada, precisa ser mostrada. A As-sembleia Legislativa pode ter papel de destaque neste acompanhamento e evi-denciação. As Câmaras de Vereadores também. A partir do trabalho efetivo dos conselhos de saúde, utilizando-se de estatísticas e planilhas mensais com duas bases: a primeira, o número de leitos desativados nos últimos anos, e os em vistas de desativação; a segunda, os serviços extra-hospitalares implan-tados, atualmente em funcionamento ideal e os que colapsaram no meio do caminho. Aspectos esses devidamente

acompanhados pelos respectivos dados fi nanceiros – recursos estes que vem sofrendo redução – e pela obrigatória auditoria (controle e avaliação), hoje inexistente em relação aos CAPS, SRTs, ambulatórios e programas específi cos.

A Assistência Social não pode re-sumir-se aos benefícios pecuniários previstos na LOAS e pagos pela Previ-dência Social. Entendemos que é mui-to mais. E que as ações a ela atribuídas devem ter instâncias de coordenação e articulação com saúde, previdência, cultura e lazer, habitação. E tudo sob a fi scalização do Ministério Público, con-soante a Lei Federal 8742, entre outras.Necessário lembrar o papel da estratégia saúde da família. Certamente não é o de responder pela saúde mental. Pode par-ticipar em sentido amplo de controle de seu território, porém, jamais fará o pa-pel do psiquiatra. É importante lembrar porque alguns problemas não resolvi-dos na saúde acabam sendo repassados à absurdamente sobrecarregada estraté-gia saúde da família. E isto é inaceitável.

O trabalho dos profi ssionais nos

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28 Movimento Médico

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CAPS, SRTs, e outros dessa nova rede é diferenciado. Envolve não só o paciente, mas seus familiares, ou afi ns; reuniões; outros atores, como assistentes sociais, educadores , artistas. A reinserção social é multifacetária e demanda acompa-nhamento. Não é uma atividade eletiva convencional, mas um processo com-plexo. Porisso, podemos dizer que não faltam psiquiatras no mercado, o que falta é a condição adequada para este trabalho diferenciado.

Por outro lado, os leitos para agrava-mento e agudizações sempre existirão. Esperamos que na proporção necessá-ria. Visitar os atuais hospitais psiquiátri-cos agora. E depois visitar os doentes em suas casas e espaços de recuperação. Ver antes e depois. Nos parece ser a honrosa tarefa do momento. Fazer a coisa certa dá muito trabalho, não tenhamos dú-vida, mas dá resultados maravilhosos. Precisa de planejamento, recursos e, so-bretudo, decisão política.

Sobre o fechamento dos hospitais psiquiátricos

Apolêmica envolvendo o fecha-mento dos hospitais psiquiátricos

de Pernambuco foi discutida no dia 9 de março, em reunião plenária na As-sembléia Legislativa, que reuniu os re-presentantes das instituições públicas e privadas do setor de saúde do Re-cife e representantes da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco. A audiência foi solicitada pelo deputado Antônio Moraes, questionando a me-dida do Governo Federal de encerrar as atividades dos centros psiquiátricos e devolver os pacientes para suas fa-mílias. Na ocasião, estavam presentes o então presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Antônio Jordão, e a diretora da enti-dade, Tilma Belfort.

O cenário da saúde mental no Estado expõe preocupação. Muitos hospitais psiquiátricos já fecharam as portas, como por exemplo, o Dom Vi-dal, Casa de Saúde São José e Hospital Psiquiátrico de Paulista. Este parece ser também o destino do Hospital Psi-quiátrico Alberto Maia, onde não são mais realizados novos internamentos, dos hospitais da Tamarineira e Nossa Senhora das Graças, em Aldeia.

De acordo com Antônio Jordão, o fechamento desses hospitais complica ainda mais a precariedade no sistema. “É dever do Estado assegurar a saúde do cidadão, e principalmente daque-les que são por inteiro dependentes.

Lavar as mãos só vai levar ao caos. Fechar não irá resolver, é necessário investimento e seriedade ao tratar de um assunto tão importante” ressaltou.

O deputado Antônio Moraes (PSDB) indagou sobre a ajuda fi nan-ceira que essas famílias receberão, no valor de um salário mínimo, achando a verba inviável para o tratamento do doente no domicílio, uma vez que o governo gasta em média vinte e sete reais por dia com os pacientes, além do alto custo dos medicamentos. Da mesma opinião, compartilha Tilma Belfort, ao relatar que muitas famí-lias não estão preparadas e não sabem como proceder no momento das cri-ses do portador da doença mental. “Alguns pacientes são abandonados pelas famílias, o que será deles?” ques-tiona a diretora do Simepe.

A respeito das questões que vi-sam extinguir o Hospital da Tamari-neira, o então presidente do Simepe se posicionou em consonância com as outras entidades médicas do Es-tado, veementemente contra esta medida. “A defesa intransigente do cuidado da saúde de nossos doentes psiquiátricos, de nossas crianças e da população em geral, requer que seja revertida tal desapropriação com fi ns mercantilistas, inclusive tendo em vista a imensa área verde, que oxige-na um grande entorno do terreno”, concluiu Antônio Jordão.

*Antônio Jordão é ex-presidente do Sin-dicato dos Médicos de Pernambuco

O Ulysses Pernambucano, um dos hospitais ameaçados de extinção

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30 Movimento Médico

SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

Arealização da audiência pública sobre a falta de leitos nas UTIs

dos hospitais recifenses e o exame das causas dessa falha no atendimento de saúde inaugurou o debate público em torno da questão. Realizada no Plena-rinho da Câmara do Recife, a inicia-tiva foi da médica e vereadora Vera Lopes (PPS), que chamou a atenção para o crescimento do número de motociclistas acidentados, fato que ultimamente vem exigindo um maior número de leitos nas UTIs, o que não vem acontecendo.

A audiência reuniu representantes do Cremepe, Simepe, secretarias de saúde do Estado e do Recife, a vere-adora de Jaboatão, Edna Mathias, o presidente do PPS estadual, Marcelo Gadelha e representantes de diversas comunidades da capital.

Traduzindo o que a classe médica e atendente vem exigindo, Vera Lopes, ao abrir a audiência, adiantou que esse é o passo inicial para que seja criada uma frente social e parlamentar para criar políticas públicas de saúde para ampliar a capacidade de atendimento das UTIs, desde os casos neonatais até os atendi-mentos a adultos. Ao mesmo tempo, tal frente deverá propor soluções para di-minuir os acidentes de motos na cidade, a partir da educação e prevenção.

Direito e cidadania - O então pre-sidente do Simepe, Antônio Jordão, lembrou que a Constituição de 1988 garante que a saúde é um pleno direi-to dos cidadãos. “Portanto, garantir a saúde não é uma caridade, mas sim uma obrigação pública. No caso das UTIs, o que foi feito até agora foi um

dimensionamento para menos. Em Pernambuco, deveríamos ter 1.200 leitos de UTIs, mas temos apenas 500”. Em seguida, Jordão revelou que em Petrolina, por exemplo, não há nem dois leitos de UTI. “Precisamos acabar com esse faz-de-conta!”, desabafou.

Pelo Cremepe, o médico José Car-los Alencar reforçou que saúde pública tem que ser tratada pelo poder público (numa posição oposta ao que os pode-res municipal e estadual vem fazendo ao conceder a gestão das UPAs a enti-dades sociais). Também referiu-se ao fl agelo dos acidentes de motos como fator que exige o aumento de leitos; e disse que, nesse ano eleitoral, a socieda-de deve eleger pessoas comprometidas com a saúde e as políticas públicas.

*Jornalista

Falta de leitos nas UTIs em discussão

A mesa de debate foi composta por representantes do Simepe, Cremepe, Câmara de Vereadores do Recife e Secretarias de Saúde do Estado e do Município e de comunidades da capital

O encontro foi na Câmara de Vereadores do Recife Sérgio Augusto*

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OSindicato dos Médicos de Alagoas realizou nos dias 25 e 26 de março

o I Encontro Médico-Mídia da Região Nordeste. O evento reuniu assessores de imprensa de sindicatos médicos, di-rigentes sindicais, jornalistas e estudan-tes de medicina e de jornalismo, com o objetivo de integração, auxiliando os profi ssionais de saúde no seu relacio-namento com a mídia, simplifi cando o trabalho da imprensa e ajudando os jornalistas a entenderem melhor o se-tor de saúde. O evento aconteceu na sede da entidade – rua Teonilo Gama, Trapiche da Barra, em Maceió/AL e foi aberto com palestra da jornalista e pro-fessora universitária Silvia Falcão, que falou sobre “O papel das assessorias de imprensa e o embate Sindicato X Go-verno”.

Na sexta-feira (26), segundo dia do evento, a participação do jornalista Chico Carlos, assessor de imprensa do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), que dividiu a mesa com o di-retor da entidade médica pernambuca-na, José Tenório. Eles comentaram so-

bre a crise na saúde de Pernambuco, o relacionamento com a Mídia (aspectos positivos e negativos), estratégias de co-municação do Simepe, além de temas relacionados com o SUS e as Organiza-ções Sociais.

No período da tarde, os palestran-tes foram o secretário de Comunicação da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Waldir Cardoso, o presidente do Sinmed/AL, Wellington Galvão, e

os jornalistas Marco Aurélio Melo, re-pórter da TV Pajuçara/Record, e Odi-lon Rios, de O JORNAL. Eles deram sequencia às discussões sobre comuni-cação sindical, papel da mídia, o traba-lho dos jornalistas, geração de pautas, entre outros. Este é o primeiro evento regional oriundo do Seminário Nacio-nal Médico/Mídia, que a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) realiza desde 2005.

Médico/Mídia Nacional – Nos dias 15 e 16 de abril, a FENAM realizou no Rio de Janeiro, o V Seminário Nacional Médico/Mídia. O evento debateu temas relacionados à ética, papel e importân-cia da mídia, meio ambiente, novas tec-nologias, entre outros. O Sinmed foi re-presentado pelo presidente Wellington Galvão, pela diretora Edilma Barbosa e pelos integrantes da Assessoria de Co-municação.

Fonte: Ascom Sinmed, com informações complementares da Assessoria de Imprensa do Simepe

Encontro em Maceió discute relação entre médicos e mídia

O assessor de imprensa do Simepe, Chico Carlos

Insegurança atormenta médicos da Policlínica Amaury Coutinho

Médicos plantonistas da Poli-clínica Amaury Coutinho, na

Campina do Barreto, denunciaram ao Simepe que, durante atendimento a uma paciente, com a entrada de seis acompanhantes, houve agressões aos funcionários e usuários, provocando revolta, desentendimento e tumulto.

A confusão se generalizou com a chegada de viaturas da Polícia Militar, inclusive com a formação de barrica-

da, além de depredações no comércio local. Assustados com o clima de terror e sitiados naquela unidade do Recife, os médicos encaminharam ofícios à Pre-feitura do Recife, Conselho Regional de Medicina, Ministério Público Estadual, Secretaria de Saúde do Recife e Secreta-ria de Defesa Social.

Garantias – Os médicos cobraram medidas que possam garantir condições

mínimas necessárias para o exercício profi ssional e atendimento da popula-ção com segurança e tranquilidade. A categoria não descarta a possibilidade de apenas trabalhar nos próximos plantões mediante essas reivindicações atendidas.

Não é a primeira vez que fatos como esses acontecem nessa unidade de saú-de da Prefeitura do Recife. Histórias de ameaças e perseguições aos médicos e outros profi ssionais de saúde se torna-ram rotineiras. Na policlínica Amaury Coutinho/Campina do Barreto não existe controle da entrada e saída de pa-cientes e acompanhantes, a insegurança é total, além da falta de medicamentos e equipamentos. Vale salientar que a uni-dade é referência no tratamento de de-pendentes químicos, violência contra a mulher, à criança e o adolescente.

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possíveis tratamentos e medicamentos que lhe serão ministrados.” Ou seja, os olhares já estavam voltados para a atividade médica, exigindo dos seus operadores um grau de profi ssiona-lismo cada vez mais acurado, e agora irão mais além, dadas as vedações ca-tegóricas advindas do novo CEM em seu artigo 22 que veda ao médico “dei-xar de obter consentimento do pacien-te ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte” e em seu artigo 24, que veda-o “deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de de-cidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo”, tendo ain-da o paciente o direito de decidir li-vremente (art. 31), após informação pormenorizada (art. 34).

SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

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trina de que em qualquer atividade médica deveria-se realizar o dever de informar, documentando-se , solici-tando ao paciente que assinasse um termo de consentimento para a rea-lização do ato onde constem todas as informações prestadas, o assim cha-mado "termo de consentimento infor-mado" ou “termo de consentimento livre e esclarecido”. No tocante a abran-gência do conteúdo informacional na relação médico-paciente, a partir des-te direito básico à informação, mesmo os autores de manuais fazem questão de referir-se a peculiar atividade mé-dica: “Ademais, o médico deve sempre cumprir o disposto no art. 6º, inciso III, do Código de Defesa do Consu-midor, informando o paciente sobre os procedimentos viáveis, as conse-qüências e opções de tratamento, bem como as vantagens e desvantagens dos

O Código de Ética Médica – CEM – vigente desde 13 de abril de

2010 – trouxe uma nítida preocupação com a autonomia do paciente, contex-tualizando o exercício da sua vontade com recebimento de informações ade-quadas e claras, na mesma linha prin-cipiológica do Código de Defesa do Consumidor – CDC e das decisões do Superior Tribunal de Justiça – STJ.

Nas relações de consumo, e a re-lação médico-paciente é hoje tida como tal, a acepção de informação ganha contornos principiológicos que a envolvem, fazendo com que este ato (informar) seja complexo e seu sen-tido seja construído na prática social (contextual). Nas palavras de Cláudia Lima Marques: “nestes momentos in-formar é mais do que cumprir com o dever anexo de informação: é cooperar e ter cuidado com o parceiro contratu-al, evitando os danos morais e agindo com lealdade (pois é o fornecedor que detém a informação) e boa fé.”

Mesmo antes da vigência do novo CEM já havia certo consenso na dou-

O direito à informação como direito fundamental do paciente

O Código de Ética traz princípios e regras que devem ser observadas pelos médicosVinicius de Negreiros Calado*

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Esta obrigação de bem informar do médico é justamente o cerne da questão fático-jurídica implicada, pois se liga fortemente a qualidade da interação discursiva entre enunciador (médico) e receptor (paciente). Em outras pala-vras, se o que foi dito, foi compreendi-do por quem deveria do modo como o enunciador esperava que fosse. Logo, esta comunicação deve ter instrumen-tos que permitam a checagem do dito e do compreendido como forma de aferir a conclusão do processo comu-nicacional, incorrendo o médico em responsabilidade civil acaso exista falha neste processo. Esta também é a lição que vem do professor da Universidade de Évora, Dr. João Vaz Rodrigues, para quem o dever de respeitar o paciente possui tríplice escopo, quais sejam, o de informar, confi rmar e, por fi m, obter o consentimento . Relevante para o cam-po da aplicação prática é a observação de Brunello Stancioli, em sua disser-tação de mestrado: “primeiramente, a informação deve ser fornecida, prefe-rencialmente, de forma oral. A oralida-de da comunicação, em regra, facilita o entendimento do paciente /.../ É certo que o registro gráfi co do consentimen-to informado deve ser feito (por vários motivos, inclusive para efeitos proba-tórios), mas o medium comunicativo deve ser, sempre que possível, oral.” Dito de outra forma, o uso do instru-mento escrito não dispensa o diálogo com o paciente, o que, de fato, ocorre mais frequentemente , e sendo discur-sivo o processo que visa a atender a tríplice fi nalidade do dever (informar, confi rmar e obter o consentimento) se-ria este impossível de ser realizado por simples entrega de documento escrito , muito menos por formulários .

Em suma, o CEM agasalhando doutrina e jurisprudência sobre a maté-ria, consagra o direito fundamental do paciente à informação, trazendo prin-cípios e regras que devem ser obser-vadas pelos médicos nas relações com paciente e familiares, preservando-se assim sua autonomia.

Em 23 de março de 2010, às 19h, na sede da FECEM, foi realizada a Assembleia Geral Ordinária, que con-

tou com a presença de represen-tantes das Cooperativas associadas, advogados e departamento contábil para apresentação do relatório da gestão e prestação de contas / 2009.

Foram abordados inúmeros assuntos entre eles, a eleição dos membros do Conselho Fiscal, a par-ticipação ativa em reunião do Ramo Saúde em PE, CONFEMED – Con-federação Brasileira de Cooperativas Médicas, Congresso Médico Esta-dual de PE e na Comissão Estadual de Honorários Médicos (CEHM).

Atualmente congrega cinco Co-operativas: Copepe, Copego, Co-opecir, Coopeclin e Coopecárdio, somando aproximadamente 1.700 médicos qualificados nas suas mais diversas especialidades: pediatria, toco-ginecologia, cirurgia, especiali-dades clínicas diversas e cardiologia.

Os nossos cooperados estão ap-tos a proporcionarem segurança e credibilidade aos usuários e maior excelência no atendimento.

Agradecemos a todos os colabo-radores pelo companheirismo e de-dicação prestados à Federação.

Conselho de AdministraçãoDiretora PresidenteAspásia Pires

Diretor AdministrativoAmaro Gusmão Guedes

Diretor FinanceiroPedro Geraldo de Sousa Passos

Conselho de PresidentesAspásia Pires (Copego)

Analíria Moraes Pimentel (Copepe)Sirleide de Oliveira Costa Lira (Coopeclin)Mauro Pedro Chaves Sefer (Coopecir)Carlos Japhet da Matta Albuquerque (Coopecárdio)

Conselho Fiscal: TitularesAlexandre Jorge de Queiroz e Silva (Coopeclin)Mauro Pedro Chaves Sefer (Coopecir)Walmir Leonardo Pinheiro da Silva (Copepe)

Conselho Fiscal: SuplentesMaria de Lourdes Carneiro David de Souza (Coopecárdio)Antônio Barreto de Miranda (Coopecir)George Meira Trigueiro (Copego).

DelegadosCatorze das Cooperativas filiadas.

Contato/Informações:Fone: (81) 2125-7461Fone/Fax: (81) 2125-7460E-mail: [email protected]: www.fecem.com.br

Endereço:Av. Gov. Agamenon Magalhães, 4.775 – Empresarial Thomas Edi-son, 14º andar, salas 1402 e 1404, Ilha do Leite – Recife/PE.CEP: 50.070-160

Errata: Na edição anterior no fi nal da matéria sobre o encontro das Coo-perativas foi escrito Dra. Sirleide Lira como Coordenadora. Na verdade, Dra. Sirleide é presidente da Coopeclin.

CooperativismoMédico

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*Advogado do Simepe, professor universitário, mestrando pela UNICAP

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O ronco é um distúrbio perigoso?Tradicionalmente, aceitava-se o roncar durante o sono como uma fatalidade in-tratável e como algo banal, humorístico, inocente e inócuo. Mas é preciso entender a sua complexidade. O médico francês Christian Guilleminault diagnosticou a Síndrome da Hiper- Resistência das Vias Aéreas Superiores que é uma alerta de que a pessoa está saindo do ronco e fazendo esforço nas vias respiratórias e, possivel-mente, terá apneia do sono. É aí que surge o perigo do ronco. Como é o tratamento do ronco?O tratamento do ronco pode ser bastante simples. Para os casos iniciais, a mudança de posição pode ser suficiente. Uma bola de tênis costurada nas costas do pijama força a pessoa a deitar de lado. Pode ser qualquer objeto que impeça de dormir de barriga para cima, a posição que mais causa ronco. Elevar a cabeceira, com tacos sob os pés da cama soma-se ao efeito da posição. Evitar álcool e refeições lautas antes de dormir pode resolver o problema por algum tempo.

E a cirurgia contra o ronco é satisfatória?A cirurgia a laser para o ronco é prova-velmente o método mais eficaz. O proce-dimento é chamado também de uvulopa-latoplastia LAUP e é feito com anestesia local. Fatores anatômicos como obesidade, queixo pequeno, mordida estreita, céu da boca (palato) em formato de ogiva, amígdalas e adenóides aumentadas, em suma tudo que estreite a passagem do ar e facilite o contato entre as paredes da garganta provoca o ronco que ocorre mais nos homens.

E a injeção contra o ronco é favorável?A injeção roncoplástica é recomendável. É um procedimento que só serve para alguns tipos de ronco. O médico é que determina se o paciente pode usar esse tratamento.

O senhor poderia falar sobre as apneias ?Apneias são interrupções da respiração por mais de 10 segundos. Durante o sono, um pequeno número de apneias, geralmente de 7 a 20 por noite, pode aparecer em in-divíduos normais. Quando ocorrem com frequência maior que cinco apneias por

Cuide bem do seu sonoElizabeth Porto*

A insônia atinge mais o sexo feminino, atual-mente, devido ao ex-cesso de responsabili-

dades que muitas mulheres, hoje, enfrentam. Além disso, um terço da humanidade tem distúrbios do sono, porém, a maioria das pessoas que sofrem desse pro-blema, não procura o médico.

Quem garante isto é o cirur-gião de cabeça e pescoço, Dr. Jorge Pinho, lembrando que a apneia merece cuidado especial porque pode provocar hiperten-são e até matar o portador dessa doença, quando está dormindo.

Jorge Pinho informa que todos os distúrbios do sono têm tratamento especializado.

Nesta entrevista ele fala sobre os procedimentos contra o ronco, a apneia, o terror no-turno, o fuso horário (jet-lag) e a narcolepsia.

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hora, ou 30 apnéias por noite, são con-sideradas anormais. Os malefícios da doença decorrem da soma de apneias ao longo de anos. O risco de morrer durante uma única apneia é pequeno, porque após 20 ou 30 segundos ocorre o despertar e a respiração retorna. Quais os sintomas de quem sofre de apneia? Roncar no sono e sonolência diurna. O ronco indica a obstrução da garganta e a sonolência é consequência dos múlti-plos despertares para voltar a respirar. A tendência, ao longo do dia, será de adormecer em qualquer situação mo-nótona. Mesmo quem dorme mais de oito horas tenderá a cochilar durante o dia se permanecer quieto. Por mais que descanse, a recuperação nunca é suficiente. Como o processo da doença se desenvolve em anos ou décadas, as pessoas acostumam-se a essa sonolên-cia excessiva e passam a considerá-la "normal". Outros sintomas da apneia são redução da memória, déficit de atenção, dor de cabeça pela manhã, sono agitado, boca seca ao acordar, pressão alta, falta de ar, levantar para urinar ou urinar na cama, disfunção sexual e depressão.

Há tratamento eficaz para apneia? O tratamento das apneias do sono varia conforme o caso. Depende da causa, da idade, da gravidade, da acei-tação e da adesão às medidas propos-tas. Pode-se usar aparelhos, cirurgias e medicamentos. Quem sofre de apneias deve evitar qualquer relaxante muscu-lar como o álcool ou medicamentos sedativos, calmantes e antialérgicos. O tratamento mais eficaz é a Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas - CPAP que tem maior comprovação científica para a síndrome das apneias obstrutivas do sono. O aparelho de CPAP consiste em uma turbina que, girando a uma rotação controlada, gera pressão positiva com alto fluxo. A pressão é transmitida à faringe através de uma máscara de silicone colocada sobre o nariz. E as cirurgias para apneias?Antes da popularização do CPAP, o

tratamento das apneias do sono era cirúrgico ou medicamentoso. Nos últimos anos, as evidências sobre a eficácia do CPAP se impuseram, le-vando a menor indicação de cirurgia e medicamentos. Apesar de novas dro-gas estarem em desenvolvimento pela indústria farmacêutica, não existe um medicamento específico para apnéias. A indústria abandonou as caríssimas pesquisas sobre a eficácia das drogas já existentes, em busca de alguma que pudesse tratar apneias. Hoje, reserva-se o tratamento com medicações para os casos leves ou para quem não aceita CPAP nem cirurgia.

O que é terror noturno? É diferente do pesadelo?Os terrores noturnos (também chama-dos de terrores do sono) são momen-tos assustadores em que a pessoa grita, chora e até pula da cama enquanto, ainda, está totalmente adormecida. Esses episódios podem ser muito de-sagradáveis para quem estiver próximo da vítima do terror do sono que pode até ferir alguém. A pessoa pode acor-dar somente depois de ter ocorrido o incidente e não se lembrar de nada. Não é um pesadelo. Os terrores no-turnos ocorrem no sono não-REM, enquanto os pesadelos (também cha-mados de ataques de ansiedade no sonho) ocorrem no REM, e o corpo não se move. No pesadelo a pessoa não tem amnésia. E o tratamento para o terror no sono?O tratamento também deve ter como objetivo proteger o paciente de pos-síveis danos. É um distúrbio do sono muito complicado. Agressão a outras pessoas pode ser evitada deixando o

indivíduo dormir sozinho e dispositi-vos eletrônicos podem ser usados para despertar o paciente com um alarme de som alto quando o movimento do corpo indicativo de um episódio de terror noturno ocorrer. Psicoterapia a longo prazo frequentemente é necessá-ria. Técnicas de hipnose e biofeedback também podem ajudar. Certas drogas psicoativas tais como os antidepres-sivos tricíclicos e benzodiazepinas podem ser usados para o controle a curto prazo do terror noturno.

A mudança de fuso horário pode prejudicar o sono? A síndrome de mudança rápida de fuso horário ("jet-lag") é um mal-estar em algumas pessoas, comum depois de longos vôos internacionais e, apesar de não se saber o motivo, ocorre mais em quem viaja para Ásia.Quem sofre mais com jet-lag são os idosos. Percebemos que esse problema acontece mais com quem se esconde do sol. O sol é muito bom para o cérebro a fim de orientar para onde está indo. As pessoas que são vítimas do jet-leg têm fadiga, in-sônia, dor de cabeça, irritabilidade e sintomas intestinais. Para evitar que isso aconteça, o viajante quando estiver dentro do avião deve acordar a cada duas horas e colocar o ponteiro do relógio no horário do lugar que está indo visitar. Não dormir na mesma hora que chegar no País, que ficará hospedado, e procurar sempre relaxar para se adaptar ao novo local.

Na sua opinião, qual o distúrbio do sono mais difícil de ser tratado?É a Anarcolepsia, que é um distúrbio do sono conhecido há muito tempo. Foi descrito por Gelineau em 1881 e até hoje desconhece-se sua causa. Têm pessoas que não conseguem nem fazer sexo. Caracteriza-se por sonolência excessiva associada a cataplexia e outros fenôme-nos do sono REM tais como paralisia do sono e alucinações hipnagógicas. A sonolência é muito intensa, incapacitan-te. Cochilos diurnos recorrentes ou sono involuntário acontecem diariamente em qualquer situação.

*Jornalista

Um terço da humanidade tem difi culdades de sono, porém, a maioria das pessoaas que sofrem com o problema, não procuram o médico especializado

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AMPE Associação Médica de Pernambuco

Prof. Anacleto de Carvalho*

Na era da história (3.000 a.C.), as veias são mencionadas pela primeira vez

no ano de 1500 a.C. Foi escrito em papiro e descoberto pelo egipitólogo alemão Eber (1878). Citação verificada no código de Hammurabi – rei da Assíria – no ano de 1790 a.C.

Na medicina Helênica, Hipocrátes, pertencente à escola de Cos, no seu “Cor-pus Hipocraticum” – 87 livros escritos ou ditados – 460 – 375 a.C. escreveu: incisões nas veias não cicatrizavam, punções múl-tiplas provocavam trombose, as flebites obstruíam as veias e reconhecia a com-pressão como “Terapia Magna” e atribuía, humildemente, esses conhecimentos aos Escitas (povo que viveu 1.000 anos a.C.). Ainda na medicina Helênica com Aris-tóteles 384 – 322 a.C., aparece a primeira representação gráfica ou plástica de uma veia, em membro inferior (IV século a.C.). Trata-se de uma perna com uma variz pertencente ao arconte Lysimachides. Encontra-se no museu arqueológico de Atenas, na cidade de Acrópoles, um san-tuário religioso e curativo. Foi descoberto por Köert em 1893.

Herófilo de Alexandria 335 – 280 a.C. pai da anatomia, descreveu as veias como seis vezes mais fracas que as artérias e o seu sistema foi chamado de Prensa de He-rófilo. Os progressos foram acumulando ainda na era Helênica quando surge o livro “Vidas Paralelas”, escrito por Plutarco 155 – 86 a.C. referindo a primeira descrição de uma cirurgia venosa. O paciente chamava-se Caio Marius, simplesmente, Cônsul e General do Império Romano, portador de varizes em membros inferiores (bilateral). O cirurgião desconhecido. A anestesia não existia e o instrumental cirúrgico era o cautério – ferro quente. Relata o autor que o primeiro membro foi operado e o paciente não reclamou e não externou

Varizes, mitos e

verdades

nenhum sofrimento. Entusiasmado com o aparente sucesso e diante de uma autorida-de romana, tão diferenciada, o cirurgião, de pronto, propôs a segunda intervenção, naquele mesmo ato. O paciente respon-deu, simplesmente: “A dor não vale a cura”.

Inúmeros comportamentos médicos empregados ainda hoje remontam da me-dicina da Idade Média (até o século X), como Galeno (130 a 200 a.C.), Aetio de Amida, Paulo Egina, Avicena, Albucasis, Guy de Chauliac e outros.

Na idade moderna, o universo médico se ilumina como se fosse o sol nascente com Ambroise Parré (1500 a 1590). O cirurgião dos príncipes e o príncipe dos cirurgiões, Leonardo da Vinci – (1452

– 1519), Miguel Servet e tantos outros. Lembrando apenas Mayo, Keller e Ba-bcok (1905 – 1907) marcam esta longa história com a “Flebo Extração” ainda praticada nos tempos atuais, com inú-meras variantes, e Robert Müller (1960) preconiza, finalmente, a Microcirurgia também chamada, atualmente, de cirurgia Minimamente Invasiva, nascendo assim a Flebologia Estética.

Todas as veias tortuosas e dilatadas patologicamente são chamadas de varizes. As varizes constituem uma entidade que desagrada profundamente as mulheres, de modo particular. Há mudanças de com-portamento em relação a maneira de vestir além de postura retrativas.

A sintomatologia pertinente a varizes nos membros inferiores são: dor, edema, sensação de peso, fadiga, dormência, for-migamento, queimor, cãimbra, prurido, pernas inquietas, manchas equimóticas, hipercromia, vergonha das varizes e alte-rações comportamentais.

Os portadores de varizes são ator-mentados por inúmeras informações não verdadeiras, constituindo os mitos e são transferidas de geração a geração. Entre eles, os que mais se destacam são: cruzar as pernas, sapato alto, subir escadas, vesti-mentos apertados e atividade física. * Angiologista e membro da Diretoria da AMPE

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Movimento Médico 37

A Associação Médica de Pernambuco – AMPE comemo-rou no dia 6 de abril, deste ano, o 169º de sua fundação.

Na noite de festa do seu aniversário, a AMPE homenageou com a outorga Medalha do Mérito Maciel Monteiro o cirur-gião Luiz Antônio Wanderley Domingues, a reumatologis-ta Ângela Luzia Branco Pinto Duarte e o pediatra Fernando José Rodrigues Soares de Azevedo (foto ao lado).

O prêmio é dado aos profi ssionais que se destacam na Medicina respeitando os princípios do Código da Ética Mé-dica. O orador do evento foi o médico Francisco Atanásio Morais Neto que proferiu discurso descontraído e marcan-te, homenageando os contemplados da noite na AMPE. Por sua vez, representando os medalhados falou o médico Fer-nando Azevedo, transmitindo muita emoção na presença do público que lotou o auditório da Associação.

Além da solenidade das medalhas, a AMPE contemplou com o prêmio Diva Montenegro as acadêmicas Marília Ávi-la Acioly, da Universidade Federal de Pernambuco e Juliana Fernanda Holanda Bezerra, da Faculdade de Ciências Mé-dicas que se destacaram na pesquisa científi ca. Marília foi laureada pelo trabalho Correlações/ Radiologia/ Anatomia Patológica nas Lesões Mamárias Provavelmente Malignas

Entre as verdades destacamos prin-cipalmente:

– As origens das varizes são: herança, hormônio e posição de pé (antropológica)

– As varizes não se curam, são melho-radas e administradas

– Para resultados terapêuticos confiá-veis, precisa-se de um bom diagnóstico e uma programação minunciosa para tratar cada tipo de veia varicosa.

– Outras patologias relacionadas com as artérias, linfáticas, músculos, tendões, articulações, ossos, coluna e nervos podem ter sintomas semelhantes aos das varizes.

Inúmeros são os tratamentos atual-mente praticados: medicamentoso, fisio-terapêutico, escleroterapia química com liquido e espuma (técnica de Air Block), erroneamente chamado de “espuminha”, radiofrequência e Laser. O maior desta-que, atualmente, para tratamento de vari-zes está no uso do Laser. É um tratamento que veio para ficar. Existem dois tipos de Laser: Endolaser utilizado nas veias de

grande calibre (safenas, perfurante e tri-butárias grandes) e Laser Transdérmico (veias telangiectásicas). Algumas das van-tagens do Laser: não causa lesão linfática e nervosa e constitui um procedimento minimamente invasivo, a sintomatologia pós-operatória é mínima, não havendo necessidade de uso de analgésico, não provoca hematoma e manchas na pele. A recuperação pós-operatória é mais rápida. O Laser Transdérmico é usado para as veias telangiectásica e comple-mento de tratamento esclerosante tra-dicional. Uma das principais utilizações desta arma terapêutica, lembramos os pacientes portadores de fobias ao uso de agulha e seringas. Entre os tratamentos de varizes de maior destaque utilizados, atualmente, citamos a Terapia Comple-xa Combinada que pode ser realizada em regime hospitalar ou ambulatorial, com redução substancial do tempo do tratamento. Utilizam-se vários procedi-mentos no mesmo momento operatório

com benefícios estéticos e de rapidez. As varizes não devem ser tratadas ape-nas como estéticas, pois elas complicam com hipercromia, erosão cutânea, flebite, trombose, hemorragia, eczema, edema, indurácio e ulceração além de ser um elemento coadjuvante das linfangites.

O Vein View também chamado de Fleboscópio é um equipamento auxiliar de grande relevância no diagnóstico e de apoio tático durante o tratamento, nos dias atuais.

Para finalizar, gostaria de lembrar que Albucasis (936 d.C.) foi o maior cirurgião islâmico cujo trabalho influenciou o tra-tamento das varizes por centenas de anos, idealizou os ganchos usados na avulsão de veias e retiradas de pontos, usou a ligadura e contenção no tratamento das varizes sangrantes e praticou a fleboextração na coxa como o “Stripring” de Mayo realizado em 1905, e aconselhava a ter precaução na cirurgia para não cair em “mãos vulgares e sem experiência”.

Médicos recebem Medalha Maciel Monteiro

e Juliana com o estudo da Leucemia Linfóide Aguda do Adulto e do Idoso por Geoprocessamento.

A AMPE também parabenizou os 50 anos de ativida-des do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira - IMIP e a médica Suedi Dias de Albuquerque pelo seu desempenho na Associação Médica de Pernam-buco - Regional de Caruaru.

A solenidade do evento foi encerrada pela presidente da AMPE, médica Jane Lemos, descerrando a placa com o nome dos homenageados. Em seguida , medalhados e convidados participaram de um excelente coquetel com o som musical do grupo Class.

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Ao primeiro olhar, nada mudou. De um dicionário antigo (1952) filantropia significa: “Caridade; benfei-

toria; dedicação humana”; de um mais recente (2002): “Sentimento que leva os homens a ajudar aos outros; amor à humanidade”. Porém, no mundo da política, tudo está se transformando; é bem verdade que nem sempre pra melhor.

Até 1935, a filantropia se dava infor-malmente – ajudava-se o outro sem nenhum reconhecimento Estatal, ou por real amor à humanidade ou por um interesse objetivo de reconhecimento. A partir dessa data, a segunda moti-vação ganhou cada vez mais espaço e foi instituído o título de Entidade de Utilidade Pública para as organizações que atendiam aos “interesses da coleti-vidade”. Esse título facilitava a angaria-ção de doações da sociedade civil e era concedido sem nenhum rigor formal (não muito diferente do que ocorre hoje); as relações político/pessoais dita-vam as regras e o setor privado tomava posse de um volume cada vez maior de recursos públicos.

Desde então, o título de Instituição Filantrópica vem sendo cada vez mais desejado. Aumentaram-se as benes-ses: os prêmios vão de isenções fiscais até financiamentos públicos a fundo perdido enquanto a regulamentação praticamente não se alterou. Ser filan-trópico virou o sonho das instituições privadas: hospitais, instituições de ensi-no e prestadoras de serviço em geral iniciaram uma corrida em busca desse título; quem ficou para traz foi o con-ceito de filantropia visto nos dicioná-rios. Aqui muitos são os exemplos de Instituições “filantrópicas”: A Unicap e suas mensalidades irrisórias; o mais rico hospital pernambucano – Real

Hospital Português; o IMIP e seus 3300 reais de mensalidade da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS); dentre outros riquíssimos hospitais privados.

Hoje, fica cada vez mais difícil acreditar que algo privado prestará, em larga escala, serviços verdadeira-mente públicos sem ganhar nada em troca. É difícil acreditar na parte do “sem fins lucrativos”. Apesar disso, a cada dia a saúde do nosso Estado vem sendo entregue a essas Instituições; os hospitais verdadeiramente públicos vão de mal a pior; os investimentos já têm endereço certo enquanto os nos-sos hospitais estatais nunca entram na lista; a administração pública já ganhou nome de ultrapassada; tudo conflui cui-dadosamente para uma única foz.

Enquanto estudantes de Medicina da UFPE, olhamos para a nossa pró-pria casa e nos perguntamos: quan-tos professores nossos deixaram o HC para compor o serviço de um Hospital Filantrópico? E quantos só fingem que ainda estão no serviço? Aonde foi parar aquele antigo centro de referência? E nossas Residências Médicas que estão sendo fechadas? Qual impacto o HC tem na Saúde Pública e qual impacto nosso serviço pode ter? E a conclusão a que chegamos é de que na Saúde Pública, a filantropia perde o lirismo conceitual e se distorce em uma mano-bra política essencialmente antagônica ao conteúdo semântico encontrado nos velhos ou novos dicionários.

Organizações Sociais – Sob o recor-rente argumento de que a administra-ção pública está fadada ao fracasso, a partir de FHC, uma onda privatizante cobriu quase todo o Brasil. Essa onda chegou inclusive aos grandes mar-cos da Constituição Cidadã de 88, a saúde e a educação, porém esbarrou na oposição e nas pressões popula-res que temiam o retrocesso das suas conquistas. Perseverantes, entretanto, o setor privado e o governo encontraram uma saída – outra fantasia foi costu-rada a exemplo das instituições filan-trópicas: As Organizações Sociais - “Se não podemos privatizar diretamente a estrutura física, privatizemos então a gestão!”

Antes de falar propriamente das OSs, vale desmistificar o argumento fonte de toda essa onda privatizante. Pensemos na administração pública que é fundamental para se continuar ganhando dinheiro no Brasil: o setor financeiro público (Caixa Econômica, Banco Central, Banco do Brasil, etc.); setores do judiciário (diversos tribu-nais, supremos, procuradorias); o fisco – Receita Federal; a Polícia Federal; etc. Sem contar a Petrobrás, de administra-ção primordialmente pública, e a antiga Vale do Rio Doce, vendida a preço irrisório numa época de crescimento exponencial dos lucros. Todas essas instituições são fundamentais para a engrenagem do sistema, todas possuem administração pública, todas possuem um funcionamento de referência inclu-

DIRETÓRIOS

A arte de tornar privado aquilo que é público

38 Movimento Médico

Público Recurso Privado

Serviço

Lucro

Diretório Acadêmico de Medicina Umberto Câmara Neto – Damuc (UFPE)

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Movimento Médico 39

Residente valorizadoAPMR

Maria M. Alessio*

Em abril tivemos um alegre des-pertar dos residentes de Per-nambuco e do Brasil. No dia 14, os residentes do País parali-

saram suas atividades por 24 horas como marco do início da Campanha de Valo-rização do Médico Residente, lançada em março pela Associação Nacional dos Médicos Residentes, a ANMR.

Em Pernambuco, mais de 300 re-sidentes de praticamente todos os hospitais que abrigam programas de residência foram às ruas demonstrar insatisfação com a remuneração paga atualmente pelas 60h semanais. No mesmo dia da paralisação, Gerson Sal-vador, presidente da ANMR, esteve em Brasília reunido com autoridades para discutir as pautas de reivindicações que, alem do reajuste imediato das bolsas, incluem a proposta de uma data base de reajuste anual, a criação da 13ª bolsa e a expansão para 6 meses de licença mater-nidade para a residente. Aos residentes médicos, se uniram residentes da mais variadas áreas de saúde, que comparti-lham a mesma fonte fi nanciadora para suas bolsas. As semanas que se seguem ao ato serão de expectativa em relação às negociações em nível central e de mo-bilizações constantes localmente, o que Pernambuco demonstrou poder fazer com tranquilidade.

Além disso, os residentes puderam dar-se conta da força que têm e da sua capacidade de mobilização. No entanto,

é preciso não deixar essa energia acu-mulada na manifestação dissipar-se, mas que cada residente possa canalizá-la para a luta por melhorias no seu programa de residência em cada serviço de saúde desse estado e estar sempre atento aos anseios e necessidades inerentes ao resi-dente: melhores condições de trabalho, de ensino e de vida, sempre! Ao longo de todo o ano de 2009 e ainda em 2010, a Associação Pernambucana de Médicos Residentes (APMR) trabalhou no senti-do de construir instrumentos que viabili-zassem a comunicação com os residentes e entre eles – o que se concretizou na for-ma da caminhada de cerca de 400 resi-dentes ao longo da Avenida Agamenon Magalhães na manhã do dia 14 de abril.

A lista de discussões da APMR já conta com cerca de 200 residentes e cres-ce a cada dia, assim como os acessos ao site da associação. Ainda este semestre deve ocorrer eleição de nova diretoria da APMR, assim como diversas outras ati-vidades envolvendo os residentes e seus interesses, locais e nacionais. Junte-se a esta entidade que cresce e se fortalece a cada dia e luta por um segmento nada desprezível da mão de obra do nosso sis-tema de saúde; conheça o site www.apmr.org.br e inscreva-se na lista de discussões [email protected]. Por re-presentar tão variados programas de re-sidência, a participação de cada um tor-na-se fundamental para construir uma APMR cada vez mais representativa!

*Presidente da APMR

sive para instituições privadas, ou seja, o que é do interesse funciona e o que não é, está condenado à venda

Dentro do grupo de fadados à privatização está a Saúde, para isso, então, criou-se a fórmula: tenha boa relação com o poder executivo para receber o título de OS; funde uma Instituição sem fins lucrativos; ven-cida a licitação, drene do Estado o maior volume de recursos, estrutu-ra física e de funcionários públicos (você não vai querer investir!); faça um bom Contrato de Gestão: restrinja ao máximo seus atendimentos – você não vai querer cuidar de pacientes de risco, esses são prejuízo certo; explore seu funcionário, economize no aten-dimento, o que importa é atingir as metas do Contrato de Gestão, e se alguém reclamar é só demitir; essa história de plano de carreira já ficou pra trás!; Nas Agências Reguladoras só entra gente da sua confiança, e se não for, compre a confiança, e não esqueça: nada de usuário na regulação – esses são pedra no sapato. Pronto! Essa é a fórmula da OS, no mais é lucrar, angariar mais e mais recursos, investir em propaganda e fazer com que a administração pública vá de mal a pior, só assim você conseguirá outras instituições.

No nosso Estado, alguns já seguem essa fórmula. Os três hospitais e as UPAs construídos pelo governo serão administrados por OSs. O Miguel Arraes já é do IMIP, e a fórmula foi seguida ao pé da letra: excelen-tes relações com o PSB, partido do governador; título de OS na mão; não entraram com um centavo e “Abracadabra, faça-se a mágica!” em suas mãos o mais novo hospital do Estado! O Contrato de Gestão é res-tritivo – mínimo de paciente de risco ou de emergência direta – esse conti-nuará superlotando os velhos hospi-tais públicos. A Agência Reguladora é uma farsa – o mínimo de participação popular. E o resto da história vocês já conhecem: continuarão sugando, a cada dia, mais e mais dinheiro públi-co, e rumo à administração de novos serviços de saúde. E tudo isso sem fins lucrativos!

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A importância da integração das entidades médicas

V ive-se um momento de exercício profi ssional extremamente difícil. As péssimas condições de trabalho, o aviltamento do salário do mé-dico, as promessas nunca cumpridas de re-

cursos adequados para o SUS, o bloqueio parlamentar à emenda nº 29, os obstáculos públicos e privados à cria-ção da Carreira de Estado. Carreira necessária para que o médico possa atender com dignidade às necessidades dos pacientes, apoiado por laboratório, planejamento do atendimento escalonado por nível de complexidade da doença do paciente, uma atenção primária de saúde in-terligada com outros Centros de Atendimento à Saúde e Hospitais Públicos de Ensino e instituições assim perten-centes ao Estado.

Enquanto isso, a saúde permanece como o principal problema do país, como apontam as últimas pesquisas de opinião pública. Contudo a Saúde e a Educação continu-am longe de serem consideradas prioridades, permane-cendo o investimento público em saúde em 3,5% do PIB brasileiro, que ultrapassou 1 trilhão de dólares america-nos e a educação, única esperança de atingirmos o desen-volvimento, com apenas 4% do PIB. Alguns progressos foram feitos como as iniciativas recentes da criação em Pernambuco de dois novos Hospitais e várias Unidades de Pronto Atendimento (UPA) estrategicamente locali-zadas, passando o atendimento médico a contar com um mínimo de hierarquização.

Alguns percalços, entretanto, permanecem. As OS e OSCIPS não estão sujeitas a fi scalização dos Conselhos de Saúde, não submetem suas contas a essa instância e muito menos ao Tribunal de Contas do Estado, e os pla-nos de cargos e salários são inexistentes e na contramão do que propõe a Associação Médica Brasileira e todas as Entidades Médicas. E aí chegamos à importância da In-tegração das Entidades Médicas incluindo a Academia Pernambucana de Medicina (APM).

A Academia Pernambucana de Medicina, a Casa de Fernando Figueira, exemplo maior de todo pensamen-to médico social, precursor de quase tudo isso de bom,

quando poucos cogitavam sequer desses assuntos. A pas-sagem de Fernando Figueira pela Secretaria de Saúde do Estado foi um exemplo de premonição, ainda na década de 70, após a criação do IMIP. Criou a Fundação Amaury de Medeiros (FUSAM), como órgão executor da política de saúde. Traçou com seus colaboradores o Plano Esta-dual de Saúde, instrumento de gestão baseado no perfi l epidemiológico dos problemas do Estado, passando a Se-cretaria a ser o órgão regulador e de controle do Estado sobre a prestação do serviço de saúde através das DIRES (Diretorias Regionais de Saúde) para o acompanhamen-to regional das ações executadas pela FUSAM. Não sa-tisfeito, criou ainda o HEMOPE, o CISAM e a Academia Pernambucana de Medicina. A Academia, então, forma-da por médicos ilustres, que se destacaram no seu campo de conhecimento e inspirado no seu Patrono, foi funda-da com o objetivo de continuar a estudar, discutir, pon-derar e sobretudo participar da discussão dos problemas de saúde em nosso país e em Pernambuco.

No alvorecer do século XXI, com a velocidade da in-corporação de novos conhecimentos, sentimos, particu-larmente na gestão atual do presidente, Geraldo Pereira, a necessidade de participar da organização de uma re-fl exão e ação integrada de nossas Entidades Médicas em defesa do Sistema Único de Saúde, que atende 145 mi-lhões de brasileiros, o qual aos 22 anos de criação passa por uma crise de identidade ocasionada por insufi ciência de recursos, má gestão e falta de adequação de sua políti-ca aos tempos atuais.

Consideramos assim da maior importância a integra-ção de pensamentos e ações das Entidades Médicas. Iso-ladamente nada conseguiremos. Juntos representamos uma enorme força de persuasão com nosso compromis-so com o exercício correto da Medicina, particularmente para os pacientes mais necessitados do Sistema Único de Saúde.

* Membro da Academia Pernambucana de Medicina

Academia Pernambucana de Medicina

Juntas, representam uma enorme força de persuasão para o exercício correto da Medicina

Edmundo Machado Ferraz*

40 Movimento Médico

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Novo Código de Ética Médica

Transplantes: a procura por doaçãode órgãos

Entrevista com o novo presidente do Sindicato dos Médicos/PE

Poço da Panela, bairro que ainda conserva ar bucólico

Revista das entidades médicas de Pernambuco – Ano VII – Nº 16 –Mai/Jun/Jul 2010

O que muda na relação médico/paciente

CONTRATOIMPRESSO ESPECIAL

DR/PECREMEPE

Nº 4065.010.73.9CORREIOS

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