revista marÍtima brasileira -...

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REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA (Editada desde 1851) R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 130 n. 10/12 p. 1-320 out. / dez. 2010 v. 130 n. 10/12 out./dez. 2010 DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA FUNDADOR Sabino Elói Pessoa Tenente da Marinha – Conselheiro do Império COLABORADOR BENEMÉRITO Luiz Edmundo Brígido Bittencourt Vice-Almirante

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REVISTAMARÍTIMA

BRASILEIRA(Editada desde 1851)

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 130 n. 10/12 p. 1-320 out. / dez. 2010

v. 130 n. 10/12out./dez. 2010

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

FUNDADOR

Sabino Elói PessoaTenente da Marinha – Conselheiro do Império

COLABORADOR BENEMÉRITO

Luiz Edmundo Brígido BittencourtVice-Almirante

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Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha.–– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro:Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943.Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. M A R I N H A — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de DocumentaçãoGeral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359 .005

A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimes-tre de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990,com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portugue-sa, editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos

6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.

ERRATA

Revista Marítima do 3o trimestre de 2010

À pág. 107, na nota de rodapé, onde se lê:Battenberg foi o pai de Lord Louis de Mountbatten, tio da atual Rainha Elizabeth IILeia-se:Battenberg foi o pai de Lord Louis de Mountbatten, tio do Príncipe Philipp

A Redação da Revista Marítima Brasileira pede desculpas aos leitores.

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COMANDO DA MARINHAAlmirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto

SECRETARIA-GERAL DA MARINHAAlmirante de Esquadra Eduardo Monteiro Lopes

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHAVice-Almirante (EN-Refo) Armando de Senna Bittencourt

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRACorpo Editorial

Capitão de Mar e Guerra (Refo) Milton Sergio Silva Corrêa (Diretor)Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva

Jornalista Deolinda Oliveira MonteiroJornalista Manuel Carlos Corgo Ferreira

DiagramaçãoCelso França Antunes

Assinatura/Distribuição3oSG-ES (RM1) Mário Fernando Alves Pereira

CB-PD Franklin Marinho de CastroCelso França Antunes

Departamento de Publicações e DivulgaçãoCapitão de Fragata (T) Ivone Maria de Lima Camillo

Apoio Administrativo e ExpediçãoSuboficial-CN Maurício Oliveira de RezendeSuboficial-MT João Humberto de Oliveira

Segundo-Sargento-SI José Alexandre da SilvaCB-DA Mariana Rodrigues de Souza

Ilda Lopes Martins

Impressão / TiragemMangava Comércio Ltda / 8.000

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A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial da MARINHA DO BRASIL desde1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMEN-TAÇÃO DA MARINHA. A opinião emitida em artigo é de exclusiva responsabilidade de seu autor, nãorefletindo o pensamento oficial da MARINHA. As matérias publicadas podem ser reproduzidas. Solicitamos,entretanto, a citação da fonte.

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRARua Dom Manoel no 15 — Praça XV de Novembro — Centro — 20010-090 — Rio de Janeiro — RJ

(21) 2104-5493 / -5506 - R. 215, 2262-2754 (fax) e 2524-9460

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SUMÁRIO

8 NOSSA CAPA – MUDANÇAS CLIMÁTICAS – OCEANOS, OS PULMÕES DO MUNDORoberto Gama e Silva – Contra-Almirante (Refo)O clima da Terra é dinâmico – o que aconteceu nos últimos 700 milhões de anos. Energia

irradiada pelo Sol – deriva de placas tectônicas – variações da órbita da Terra – variaçõesantrópicas. Efeito estufa – dióxido de carbono. Pulmões do mundo são os oceanos e não aAmazônia. Recursos da Natureza

26 CRIAÇÃO DE UM MITOHelio Leoncio Martins – Vice-Almirante (Refo)A Marinha de 1910. O motim – sem caráter político. João Cândido – líder do motim?

Ação do Congresso e da imprensa. Revide do governo – castigos

38 A ATUAL POSTURA ESTRATÉGICO-MILITAR ESTADUNIDENSEReis Friede – Desembargador FederalPoderio estratégico dos Estados Unidos. Mísseis balísticos intercontinentais e os

lançados de submarinos. Despesas militares dos principais países

50 ARTICULAÇÃO DO PODER NAVAL BRASILEIRO: DÚVIDAS E COMENTÁRIOSEduardo Italo Pesce – ProfessorRecursos financeiros. Orçamento da União – cortes e contingenciamentos – estimativas

e necessidades – limitações que dificultam o fortalecimento do Poder Naval

62 O PAPEL DA ANTAQ NA REGULAÇÃO DA CABOTAGEM BRASILEIRAOsvaldo Agripino de Castro Junior – Professor-DoutorDivisão modal dos transportes – primazia da rodovia; aquavia desconsiderada no cenário

nacional. Questões que obstruem o desenvolvimento da cabotagem. Atitude dos países queprotegem a cabotagem. Diagnósticos e sugestões para o setor

81 GESTÃO DE SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO: DEFESA, CONVERTIBILIDADEOU DUALIDADE?

Sylvio dos Santos Val – ProfessorO problema da sustentabilidade da indústria de defesa em face das limitações

orçamentárias e das demandas pela inovação científica e tecnológica. Sistema de inovação.Problemas decorrentes da aplicação do conceito de convertibilidade para o projeto de forçamilitar

95 PEDAGOGIA DA IMAGEM NA FORMAÇÃO DO AVIADOR NAVALSilvio Ronney de Paula Costa – ProfessorBreve história da Aviação Naval. O CIAAN. A instrução de voo – segurança de aviação

104 O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXIÁthila de Faria Oliveira – Capitão de Mar e Guerra (FN)Marcelo Guimarães Dias – Capitão de Fragata (FN)Síntese histórica. Estratégia sobre questões críticas até 2025. Emprego dos FN para o

século XXI – conceituação, linha básica, planejamento

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117 HERBERT RICHMOND E O PAPEL DA HISTÓRIA E DO HISTORIADOR: UMACOMPARAÇÃO COM ALFRED THAYER MAHAN (II)

Francisco Eduardo Alves de Almeida – Capitão de Mar e Guerra (RM1)Percepções da história segundo Richmond e Mahan. A história e o ofício do historiador.

Influências sobre Richmond: Laughton, Corbett, Mahan

138 REGIME INTERNACIONAL DE NÃO PROLIFERAÇÃO NUCLEAR: SALVAGUAR-DAS ABRANGENTES E PROTOCOLOS ADICIONAIS

Leonam dos Santos Guimarães – Capitão de Mar e Guerra (EN-RM1)O que são salvaguardas nucleares. O caso brasileiro. Inspeções e visitas. Protocolos

adicionais. Soberania atingida

144 NAVIOS MULTIEMPREGOMarcus Vinicius de Castro Loureiro – Capitão de FragataExemplos e caracteristicas – Influência nas Marinhas. Desafios e vantagens

149 MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – Parte 2Gerson de Macedo Soares – Capitão de Fragata (in memoriam)Continuação da série. Ataques e afundamentos de navios mercantes. Esforço da

Marinha. Importância do Nordeste. Ações da Aeronáutica e do Exército

156 NAVIO-HOSPITAL: NECESSIDADE OU LUXO?Alvaro Antonio Cardoso Bastos – Capitão-Tenente (MD)Síntese histórica. Legislação internacional – classificação dos navios. Necessidade e

proposta

168 ARTIGOS AVULSOS168 VARIAÇÃO SAZONAL DE PREÇOS DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS E

IMPACTO NO PROCESSO DE OBTENÇÃO DA MARINHAIgor Assis Sanderson de Queiroz – Capitão-Tenente (IM)Análise de preços de gêneros alimentícios ao longo do ano e sua obtenção pelos órgãos

da Marinha169 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE HIDROGRAFIA NO

IMPÉRIO E NA REPÚBLICAJaqueline Alves – Primeiro-Tenente (T-RM2)Resumo histórico do Serviço Hidrográfico, de Faróis e Meteorológico desde o Império

até os dias atuais

170 NECROLÓGIO

174 CARTAS DOS LEITORESCorrespondência do Contra-Almirante Paulo Cezar de Aguiar Adrião sobre o artigo

“Almirante Braz Dias de Aguiar – Gigante da Nacionalidade”

175 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVALCombate a incêndio – maneira peculiar de iniciar o exercício no porto

176 DOAÇÕES À DPHDM

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179 ACONTECEU HÁ CEM ANOSSeleção de matérias publicadas na RMB há um século com o que sucedia em nossa

Marinha, no País e em outras partes do mundo

195 REVISTA DE REVISTASSinopses de matérias selecionadas em mais de meia centena de publicações recebidas e

lidas, do Brasil e do exterior

203 NOTICIÁRIO MARÍTIMOColetânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil e de outras Marinhas,

incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima

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SUMÁRIO

Mudanças climáticasVariações da energia irradiada pelo SolDeriva de placas tectônicasVariações da órbita da Terra em torno do SolVariações antrópicasCaminhos a trilhar

MUDANÇAS CLIMÁTICAS –OCEANOS, OS PULMÕES DO MUNDO

ROBERTO GAMA E SILVA(*)

Contra-Almirante (Refo)

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O clima da Terra é dinâmico, sujeito avariações constantes. Desde que o

planeta atingiu o estágio atual, dividido emmassas continentais, água e atmosfera, háevidências de alterações contínuas, embo-ra lentas, no seu panorama climático.

Essas variações podem ser percebidasclaramente à luz de dados geológicos, queas retratam como épocas de glaciação sepa-radas por longos períodos quentes. Asglaciações globais ocorreram no decorrer do

Pré-Cambriano, do Devoniano e no final doCarbonífero, respectivamente há 700, 400 e330 milhões de anos. Mais recentemente,durante o Pleistoceno, iniciou-se um novoperíodo de glaciação, conhecido como “Ida-de do Gelo”, que teve início, aproximada-mente, há 1 milhão de anos.

Durante os períodos glaciais, boa parteda superfície da Terra permaneceu cobertade neve, cobertura essa que tendia a avan-çar dos polos para o equador terrestre, che-gando, em casos extremos, a atingir latitu-des da ordem de 40º. Acredita-se que os

(*) O Almirante Gama e Silva se dedica, há duas décadas, a contribuir para conscientizar a sociedadebrasileira em relação à importância da Amazônia e das questões que a afetam. Para apreciação dosnossos leitores, listamos ao final deste artigo as suas matérias publicadas na RMB.

NOSSA CAPA

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS – OCEANOS, OS PULMÕES DO MUNDO

períodos glaciais foram provocados pelasvariações do posicionamento relativo dasmassas continentais, que acompanham omovimento das placas tectônicas sobre asquais se assentam, pelas elevações de ter-ras (geração de montanhas) provocadaspelos choques entre essas placas, pelasvariações da órbita da Terra em torno doSol e, ainda, pelas flutuações no fluxo deenergia irradiada pelo Sol.

VARIAÇÕES DA ENERGIAIRRADIADA PELO SOL

Flutuações da energia irradiada pelo Sol,mais do que qualquer outro fator, são capa-zes de alterar sensivelmente a distribuição dairradiação solar sobre a superfície da Terra.

O Sol, estrela maispróxima da Terra, é umaformidável máquinatérmica que forneceenergia para todos osseus planetas.

O “astro rei” é umcorpo gasoso com-posto majoritariamen-te de hidrogênio (aproximadamente 80% dasua massa), associado ao hélio. Estima-seque a temperatura interna da estrela sejasuperior a 20 milhões de graus centígra-dos, servindo como fonte de energia paraas reações de fusão nuclear que ocorremno seu interior. As reações são provocadaspela junção de quatro núcleos (prótons)de hidrogênio para gerar um núcleo de hélio(partícula alfa). Quando se sabe que a mas-sa dos quatro núcleos de hidrogênio é 0,7%maior do que a massa de um núcleo dehélio, pode-se afirmar que o excesso seráconvertido em energia, de acordo com aequação de Einstein: e=mc2. Como “c”, nocaso, é igual a 300 mil quilômetros por se-gundo (velocidade da luz), a conversão demassa em energia resulta num número mui-

to grande, mesmo que a massa convertidaseja muito pequena. Parte dessa energia éconcentrada, por convecção, na superfíciedo Sol e daí irradiada para o espaço sideral.

A superfície do Sol, conhecida comofotosfera, irradia energia à temperatura de6.000ºC. A Terra recebe apenas doisbilionésimos da energia total transferida doSol para o espaço. Não obstante, a quanti-dade de energia solar interceptada pelaTerra é muito grande, chegando a 3,67 x1021 calorias por dia (uma caloria é a quan-tidade de calor necessária para elevar em1ºC a temperatura de um grama de água).

Basicamente, 45% dessa energia intercep-tada pela Terra é visível (0,3 a 0,8 micrômetros),46% situa-se na faixa infravermelha (0,8 a 100micrômetros) e 9% na faixa ultravioleta (0,0001

a 0,3 micrômetros).Por simplificação, a

energia recebida pelosistema Terra-atmosferaé conhecida como cons-tante solar, não obs-tante as flutuações queexperimenta a irradiaçãosolar. A constante solar

pode ser definida como a energia que incideperpendicularmente sobre a camada mais altada atmosfera. Seu valor é igual a 1,97 caloriaspor centímetro quadrado por minuto, ou en-tão 1.372 watts por metro quarado.

A superfície da fotosfera apresenta umasérie de áreas mais escuras e menos quentes,denominadas manchas solares (sunspots),que se apresentam como borrões negros naface do Sol e de tamanho razoável (algunsmilhares de quilômetros de diâmetro). Asmanchas solares são causadas por camposmagnéticos de grande intensidade que su-primem o fluxo de gases que transportam ca-lor do interior para a fotosfera.

São recentes os estudos que relacionam acirculação geral da atmosfera e o clima com asmanchas solares, embora sejam estas conhe-

A Terra recebe apenas doisbilionésimos da energiatotal transferida do Sol

para o espaço

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS – OCEANOS, OS PULMÕES DO MUNDO

cidas desde o tempo de Galileu Galilei. Pesqui-sa conduzida por Hurd Willet, do Instituto deTecnologia de Massachussets (MIT), sugereque as modulações do clima não são causa-das por variações graduais da radiação solar,mas por variações irregulares associadas àserupções solares. Foi sugerido, outrossim, quehá um ciclo de 80 anos nas variações climáti-cas, correspondentes a ciclo similar de ocor-rência das manchas solares.

No último milênio, o clima variou repeti-damente, não obstante a rapidez com que seprocessaram algumas dessas variações. En-tretanto, houve uma variação de maior ampli-tude e duração, que se prolongou desde oséculo XIV até o século XVIII, denominada,na Europa, Pequena Idade do Gelo.

Os primeiros sinais de queda das tem-peraturas no Hemisfério Norte, onde seacompanhou, com farta documentação, aevolução da Pequena Idade do Gelo, foramregistrados a partir de 1197 pelos norue-gueses, povoadores da Groenlândia, queassistiram à expansão do gelo, que lhes foifechando inúmeras passagens marítimasque permitiam a ligação com a Islândia e aNoruega. Na Islândia, o clima sofreu umresfriamento brusco em 1197 e 1293, atin-gindo o ponto máximo em torno de 1300.

Os sintomas iniciais das mudanças cli-máticas, que já afetavam a Groenlândia e aIslândia, foram sentidos na área continen-tal da Europa a partir do século XIII, sob aforma de vendavais e avanços do mar so-bre terras baixas. O resfriamento aproximouos centros de baixa e de alta pressão naregião do Mar do Norte de modo a aumen-tar sobremaneira a velocidade dos ventos.Há registros de, pelo menos, quatro gran-des invasões do mar nas costas da Alema-nha e da Holanda, responsáveis pela mor-te de 300 mil pessoas. Uma dessas inva-sões foi responsável pela formação doZuider Zee, na Holanda, que só foi drena-do no século passado.

As tempestades no mar tornaram-se tãofrequentes que o Oceano Atlântico passoua ser conhecido pelos navegadores comoMar Tenebroso, na mesma época em que oCabo da Boa Esperança era denominadoCabo das Tormentas. Entre 1400 e 1700, aqueda de temperatura provocou a fome noVelho Continente, em função dos prejuízosimpostos à agricultura. No rastro da fomevieram as guerras, que acabaram por tornaro período conhecido como Dark Age.

Modernamente, atribui-se o resfriamentoocorrido na Pequena Idade do Gelo à dimi-nuição da frequência de manchas solares noperíodo. Em 1893, o astrônomo WalterMaunder, ao pesquisar os arquivos do OldRoyal Observatory de Greenwich, fez umaimportante descoberta: a atividade geradoradas manchas solares foi praticamente nulano período de 1645 a 1715. A geração de man-chas solares no período, denominadoMaunder Minimum, foi menor do que o nú-mero atual de manchas geradas em um ano.

Tal constatação voltou a ser investigadaem 1976, pelo astrônomo norte-americanoJohn A. Eddy, que a confirmou, acrescen-tando, ainda, um episódio anterior de re-dução das manchas solares, para comporum período denominado Spörer Minimum,entre 1450 e 1550, coincidente com dois dosintervalos mais frios da Europa Ocidental.

DERIVA DE PLACAS TECTÔNICAS

A deriva das placas tectônicas e osurgimento de montanhas explicam, fre-quentemente, as mudanças climáticas ocor-ridas em intervalos de centenas de milhõesde anos. A ausência quase total de carvãomineral no subsolo brasileiro, por exemplo,deve-se à posição da placa da América doSul, que, no final do Devoniano e em gran-de parte do Carbonífero, pairava nas proxi-midades do Polo Sul.

O carvão mineral, como é sabido, for-mou-se a partir dos restos acumulados em

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS – OCEANOS, OS PULMÕES DO MUNDO

pântanos de plantas arbóreas, principal-mente aquelas conhecidas como coníferas.Como no período principal de formação dosdepósitos carboníferos o território brasi-leiro experimentava clima frio e árido, nãohouve oportunidade para a geração do car-vão mineral.

O atual território brasileiro, ainda partedo supercontinente conhecido cientificamen-te pelo nome de Gondwana, só se aproximoudas latitudes atuais no final do Triássico,isto é, há uns 200 milhões de anos.

O Brasil no final do Triássico(220 milhões de anos atrás)

O Brasil no final do Devoniano(360 milhões de anos atrás)

danças rotineiras da órbita terrestre em tor-no do Sol. Ainda, o número de manchassolares e as flutuações da energia irradia-da pelo Sol explicam as variações climáti-cas que ocorrem em intervalos de dezenasou centenas de anos.

Um outro exemplo, bem mais recente,das variações climáticas decorrentes daderiva das placas tectônicas é oreaparecimento do gelo no Ártico e na An-tártica, pois desde a glaciação do final doCarbonífero não havia neve na superfícieterrestre. A despeito das baixas tempera-turas reinantes nas calotas polares, estasnão foram, por muito tempo, recobertaspelo gelo. Os primeiros sinais de gelo naAntártica datam do final do Oligoceno (maisou menos há 25 milhões de anos) e forampercebidos por intermédio do transportede rochas e outros minerais pelo gelo (ice-rafting). A cobertura de gelo, semelhante àatual, começou a se formar há uns 14 mi-lhões de anos, embora se acredite que ge-leiras localizadas possam ter sido forma-das antes dessa data.

A despeito da posição polar, já assumi-da, e do frio intenso reinante, não houveformação de gelo em data anterior por faltade umidade no ar. Com efeito, a circulaçãodos oceanos até o Paleoceno (60 milhõesde anos atrás) era muito simples, domina-da que era por uma corrente equatorial quecircundava a Terra. A Austrália estava liga-da à Antártica, bem como à América do Sul,razão pela qual não existia ainda a correntecircumpolar antártica que, mais adiante,contribuiu para a umidificação da atmosfe-ra do continente austral.

A Austrália começou a se afastar daAntártica há uns 40 milhões de anos, abrin-do um canal para o fluxo oceânico, enquan-to que a ligação com a América do Sul foirompida entre 30 e 25 milhões de anos atrás,dando origem à Passagem de Drake, ao suldo Chile. A partir daí surgiu a corrente

As variações climáticas que se repetemde 10 a 100 mil anos são atribuídas às mu-

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circumpolar antártica, umidificando a atmos-fera e dando origem à produção de neveque, aos poucos, iniciou o recobrimentode todo o continente.

A atual cobertura de gelo da Antártica,entretanto, só assumiu a proporção conhe-cida no final do Mioceno, isto é, há menosde 25 milhões de anos. Curiosamente, numintervalo de clima bem ameno no planeta.

O retardamento no aumento do gelo naAntártica, desde o início da formação dacorrente circumpolar, deveu-se à insufici-

ência de umidade na região. A dose com-plementar de umidade surgiu devido a fe-nômenos que ocorreram no Atlântico Nor-te, com a separação entre a Groenlândia e aNoruega, no Mioceno, seguida do afunda-mento da crista entre a Islândia e as IlhasFaroe, última barreira que impedia a circu-lação abissal da água do mar no rumo sul.

Quando essa corrente submarina aflorou àsuperfície no litoral antártico, devido ao fenô-meno da ressurgência, ocorreu um incremen-to na evaporação, já que sua temperatura era

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CIRCULAÇÃO DOS OCEANOS NO CENOZOICO– 66 MILHÕES DE ANOS ATÉ A ATUALIDADE

Paleoceno – 60 m.a. Final do Eoceno – 40 m.a.

Princípio do Miloceno – 20 m.a.

– Equador

– Equador– Equador

Placa da Austrália separa-se da Antártica – 40 m.a. Corrente circum-equatorial em atividade – Abertura dacorrente circumpolar antártica, em torno de 25 m.a.

Interrupção da corrente circumequatorial com aemersão do Istimo do Panamá – 3 m.a.

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS – OCEANOS, OS PULMÕES DO MUNDO

superior às dos mares locais, fato que redun-dou no aumento da precipitação de neve.

No Polo Norte, a história da cobertura degelo é semelhante, embora mais recente. Acausa definitiva foi a ligação final entre asduas Américas pelo Istmo do Panamá, queocorreu no período compreendido entre 3 e5 milhões de anos atrás. A emersão do Istmodo Panamá interrompeu o fluxo da correnteequatorial, que, no Atlântico Norte, foi des-viado para nordeste, com o nome de GulfStream, tornando-se responsável pelaumidificação da atmosfera nas altas latitu-des boreais. A componente da corrente equa-torial global, ao sul do equador, foi a Cor-rente do Brasil, quente e, por esse motivo,responsável pelas chuvas abundantes quecaem sobre o território brasileiro.

Com essa conjugação de eventos, estavaaberto o caminho para o período glacial maisrecente, a Idade do Gelo, que começou há unspoucos milhares de anos e, caso ainda nãotenha chegado ao fim, deu origem ao atualperíodo interglacial. Do início até 10 mil anosatrás, quando o gelo completou o seu recuo,pelo menos 17 períodos de glaciação e 17 pe-ríodos interglaciais ocorreram na Europa, con-forme evidencia o estudo dos sedimentos dofundo do mar. Esses períodos, no entanto,acham-se embutidos em quatro intervalos deglaciação principais, em que as temperaturasna Terra permaneceram, em média, 6ºC abaixodas temperaturas médias atuais.

Como as geleiras têm um efeito extrema-mente destrutivo, apagando sinais anteriores,sabe-se muito do último período glacial, co-nhecido como Wurm, na Europa, e Wisconsin,na América do Norte, e apenas um pouco doperíodo anterior, conhecido como Riss, naEuropa, e Illinoian, na América do Norte.

A Idade do Gelo fez-se anunciar em tor-no de 115 mil anos a.C., com uma queda detemperatura global e dois curtos intervalosainda mais frios. Por volta de 75 mil anosa.C., ocorreu uma queda na temperatura glo-

bal ainda mais intensa. Daí por diante, a tem-peratura passou por várias fases, todas elasgeladas, até atingir o intervalo mais críticoentre 28 mil e 10 mil anos a.C.

Mais ou menos 7 mil anos a.C., as gelei-ras da Idade do Gelo desapareceram comcerta rapidez, e as temperaturas no Hemis-fério Norte passaram a subir, atingindo ní-veis comparáveis aos de hoje. No entanto,em torno de 4 mil anos atrás, a temperaturamédia da Terra manteve-se a uns 5ºC acimada atual, tendo sido considerada o“climatógrafo ótimo” do planeta.

Estima-se que, no período glacial, cercade 58 milhões de quilômetros cúbicos deágua tenham sido removidos dos oceanospara formar as geleiras continentais. Essevolume equivale a 5%, aproximadamente,de toda a água existente na Terra, razãopela qual houve uma retração dos maresde cerca de 120 metros. O volume exato dogelo remanescente na superfície dos con-tinentes devido à Idade do Gelo é conheci-do com razoável precisão e indica que, setodo ele retornasse ao estado líquido, onível dos mares subiria entre 60 e 80 metros,o que faria com que fossem alagadas asprincipais metrópoles do planeta.

VARIAÇÕES DA ÓRBITA DA TERRAEM TORNO DO SOL

O cientista sérvio Milutin Milankovich,especialista em climas, observou que háuma relação direta entre as mudanças re-gulares dos episódios glaciais e intergla-ciais e as variações sistemáticas na relaçãogeométrica entre a Terra e o Sol.

As observações de Milankovich concen-traram-se em três elementos da geometriaTerra-Sol: o movimento de precessão do eixoda Terra; a inclinação do eixo da Terra, quevaria entre 22º06 e 24º30; e a excentricidadeda órbita terrestre, isto é, a variação dos ei-xos da elipse.

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O ciclo de precessão do eixo da Terra,que se completa a cada 23 mil anos, alteraas datas do periélio (ponto de maior proxi-midade do Sol, cerca de 147X106 quilôme-tros) e do afélio (ponto de maior distânciado Sol, 152x106 quilômetros). Destarte, háum aumento dos contrastes sazonais emum hemisfério, enquanto se registra umaqueda dos mesmos contrastes no outro.

A inclinação do eixoda Terra em relação aoequador celeste, além deprovocar a divisão doano em quatro estações,tem um outro efeito para-lelo: à medida que a incli-nação aumenta, aumen-tam os contrastes entreas quatro estações.Quanto maior o ângulo deinclinação, mais frios osinvernos e mais quentesos verões. O ciclo com-pleto da variação do ân-gulo do eixo da Terra dura41 mil anos.

As Quatro Estações (Hemisfério Sul)

Afélio,4 de Julho

Equinócio da Primavera,Setembro

Solistício de Verão,Dezembro

Periélio,3 de Janeiro

Sol

Equinócio de Outono,Março

Solistício de Inverno,Junho

As variações de excentricidade da elipse,que representa o caminho seguido pala Ter-ra em torno do Sol, alteram a distância quesepara os dois astros, provocando varia-ções sazonais na chamada constante solar.Observações recentes demonstram uma es-treita correlação entre as temperaturas e asradiações solares que atingem a superfícieda Terra, dentro do modelo construído comas constantes de Milankovich.

VARIAÇÕES ANTRÓPICAS

O nosso planeta, a Terra, é envolvido poruma camada de gases e aerossóis, a atmosfe-ra, com pouco mais de 180 quilômetros de es-pessura, o que equivale a dizer muito delgadaem relação ao diâmetro terrestre, da ordem de12.472 quilômetros. Não obstante a pequenaespessura, a atmosfera é essencial para a vida

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e para o funcionamento de todos os proces-sos físicos e biológicos da Terra. Ela é a res-ponsável direta pelas temperaturas favoráveisda biosfera, pelo fornecimento dos gases ne-cessários à respiração celular e à fotossíntese,pelo suprimento de água doce e até mesmopela proteção de todos os seres vivos contraas perigosas radiações da faixa ultravioleta.

São dois os principais componentes ga-sosos da atmosfera, o nitrogênio (N2) e o oxi-gênio (O2), cujas participações volumétricasna composição do ar seco são, respectiva-mente, 78,084% e 20,946%. O restante dovolume do ar seco divide-se entre uma dúziade outros gases, em que se destacam, pelaparticipação volumétrica, o argônio (A), com0,934%, e o dióxido de carbono (CO2), com0,0353%. Em adição, participando regional-mente com percentuais variáveis com o tem-po, mas perfazendo uma média global de uns3% do volume total da atmosfera, aparece ovapor de água, vital à sobrevivência de to-das as formas de vida do planeta.

Os aerossóis são minúsculas partícu-las, líquidas ou sólidas, em suspensão nacamada gasosa. Alguns aerossóis, gotícu-las de água e cristais de gelo, são visíveissob a forma de nuvens. Os demais, sóli-dos, muito pequenos para serem vistos aolho nu, são lançados na atmosfera pelovento, como produtos da erosão dos so-los (poeira), de incêndios, de erupções vul-cânicas e de atividades industriais e agrí-colas. Até mesmo partículas de meteoros,vindas do espaço, aparecem na atmosferacomo aerossóis.

A energia solar aciona a atmosfera, fa-zendo-a circular e determinando as condi-ções climáticas. O Sol emite, primariamen-te, uma faixa de radiação de comprimentosde onda situados entre 0,25 e 2,5 micrôme-tros, sendo que o pico da radiação solarexibe um comprimento de onda de 0,5micrômetro (o verde, do espectro visível).Isso porque, para qualquer corpo, o com-

primento da onda de radiação mais intensaé dado pela fórmula: λmax= 2.880/T, onde Té a temperatura do corpo emissor, expressaem graus Kelvin (273+0C). A temperaturado Sol é igual a 6.0000C. A figura abaixoilustra a distribuição da radiação solar, re-lacionando o comprimento de ondas e aintensidade de radiações.

Inte

nsid

ade

de r

adia

ção

sola

r

Comprimento de ondas (micrômetro)0 0,5 1,1 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0

Quando a radiação solar penetra na at-mosfera, há uma interação com os gases eaerossóis, que poderão refleti-la, dispersá-la ou absorvê-la. Obviamente, a quantida-de de energia radiante que não é refletidaou dispersada de volta para o espaço e,também, não é absorvida pelos gases eaerossóis atingirá a superfície da Terra,onde novas interações terão lugar. De acor-do com a lei de conservação da energia, asoma do percentual que é absorvido pelaatmosfera, do que é refletido ou dispersa-do e do que passa para a superfície da Ter-ra será igual a 100%. O balanço anual daradiação solar sobre o sistema Terra-atmos-fera é, normalmente, o seguinte:

Reflexão e dispersão pelo sistema ..... 31%Absorção pela atmosfera ..................... 23%Absorção pela superfície da Terra ..... 46%Total ...................................................... 100%

Pode-se concluir, então, que o albedo,isto é, a razão entre a radiação refletida e a

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radiação incidente do planeta, é da ordemde 31%. Se as radiações do Sol fossem ab-sorvidas continuamente pelo sistema Ter-ra-atmosfera, sem que houvesse qualquerfluxo de calor para fora do sistema, as tem-peraturas da superfície da Terra e da at-mosfera tenderiam a crescer continuamen-te, tornando inexequível a vida na biosfera.

Acontece que a Terra também emite ra-diações, obedecendo às mesmas leis físi-cas que se aplicam atodos os corpos. Oaquecimento do pla-neta, que condiciona asua temperatura exter-na, deve-se à energiarecebida do Sol e àprópria energia inter-na, cujas fontes prin-cipais são as radia-ções dos elementos ra-dioativos do subsolo.

Por exibir tempera-turas externas bem in-feriores às do Sol, ape-nas cerca de 285oK, asradiações terrestres si-tuam-se na faixa infra-vermelha do espectroeletromagnético. Opico de energia das emissões correspondeao comprimento de onda de 10 micrômetros,conforme mostra a figura que se segue.

Pois bem, o aquecimento devido à ab-sorção das radiações solares é compensa-do pela fuga de calor do sistema Terra-at-mosfera para o espaço, por intermédio dasradiações infravermelhas. Para tanto, con-tribui o fato de as radiações solares incidiremapenas sobre a face iluminada do planeta,enquanto que as radiações infravermelhassão produzidas continuamente, dia e noite,pelo sistema Terra-atmosfera.

A temperatura médiada superfície terrestre eda troposfera (camadamais baixa da atmosfe-ra) é estabelecida peloefeito estufa, assimchamado porque se as-semelha ao efeito pro-duzido pelas estufas,construções recober-tas com vidro, onde secultivam plantas nospaíses de clima frio. Nasestufas, os vidros per-mitem a entrada das ra-diações solares, quesão absorvidas e aque-cem o ambiente. O ca-lor irradiado pelos cor-pos conservados na

estufa, na faixa infravermelha, é absorvidopelos vidros que o retêm por algum tempo, osuficiente para manter o ambiente aquecido.

No caso do sistema Terra-atmosfera, aatmosfera, que só captura 23% da radiaçãosolar interceptada pelo planeta, absorve pra-ticamente 94% da radiação infravermelha dasuperfície da Terra, sendo parte dessa ener-gia irradiada de volta para a superfície e aoutra parte lançada no espaço. A absorçãoda radiação solar pelos gases da atmosferaé seletiva: cada gás absorve intensamenteem determinados comprimentos de onda emuito pouco ou nada nos demais. Esse me-canismo retarda a liberação da energia paraComprimento de onda (micrômetros)

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O fenômeno naturaldenominado efeito estufa,

que vem operandocontinuamente há mais de

1 bilhão de anos, não éuma perturbação

atmosférica provocadapelo homem. Muito até

pelo contrário, foi um dosfatores que deram margemao aparecimento do homem

no planeta

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o espaço, por manter uma troca de calor con-tínua no interior do sistema Terra-atmosfe-ra. Consequentemente, a biosfera tem a suatemperatura elevada até o nível compatívelcom as diversas manifestações de vida exis-tentes na Terra.

Com efeito, vista do espaço, a Terra ir-radia numa temperatura da ordem de -18oC,enquanto que a temperatura média dabiosfera pode ser considerada como sen-do 15oC. Então, o efeito estufa eleva a tem-peratura da biosfera em cerca de 33oC.

Eis aí, em resumo, a descrição do fenôme-no natural denominado efeito estufa, que vemoperando continuamente há mais de 1 bilhãode anos, desde que a atmosfera passou a serrica em oxigênio, nãosendo, portanto, umaperturbação atmosféri-ca provocada pelo ho-mem. Muito até pelocontrário, ele, o efeitoestufa, foi um dos fato-res que deram margemao aparecimento dohomem no planeta.

Apenas para nãodeixar escapar a opor-tunidade de ressaltarum outro fenômenoparalelo, cumpre des-tacar o papel termorregulador da hidrosfera,com o que ficará ainda mais realçada a per-feição da obra do Criador.

Os oceanos ocupam mais de dois ter-ços da superfície do planeta. O albedo dosoceanos varia com a altura do Sol, mas, emmédia, é bem inferior ao de qualquer outrasuperfície. A partir da altura do Sol de 30o, aabsorção das radiações solares pelo ocea-no é superior a 94%. Além disso, a misturavertical da água, por convecção, transpor-ta o calor absorvido para profundidadesconsideráveis, bem superiores àquelas emque cada comprimento de onda pode pe-

netrar (as radiações de cor azul são as queatingem maiores profundidades, podendochegar até 200 metros).

Sobrepondo-se a esses fatos, a água é,ainda, a substância que exibe o maior calorespecífico dentre todas as demais. Isso sig-nifica que a água é a substância que absor-ve maior quantidade de calor para elevar asua temperatura e, inversamente, é tambéma substância que libera mais calor para bai-xar a sua temperatura. A área superior ocu-pada pelas águas na superfície do planeta(que bem poderia se chamar Água, em vezde Terra), junto com as propriedades daágua, torna os oceanos coadjuvantes doefeito estufa, no sentido de amenizar o clima

terrestre, evitando sal-tos bruscos de tempe-ratura entre os perío-dos diurno e noturnoe, até mesmo, entredias subsequentes.

Retornando-se aotema principal – o efei-to estufa –, deve sermencionado que o seuprincipal agente é ovapor de água conti-do na atmosfera, tan-to pela concentração,que pode chegar a até

3% do volume do ar, como pela capacidadeque apresenta de absorver radiações emtodo o espectro infra-vermelho. Os demaisgases que atuam no sentido de elevar atemperatura da biosfera, por intensificaçãodo efeito estufa, são: dióxido de carbono(CO2), ozônio (O3), metano (CH4), óxidonitroso (N2O) e os freons ou clorofluor-carbonos (CCl3F, CCl2F2 e C2Cl3F3). A tabe-la que se segue indica a concentraçãovolumétrica desses gases na atmosfera, empartes por bilhão.

A tabela demonstra que o dióxido decarbono deve ter um papel importante na

O vilão principal do atualdesafio com que se

defronta a humanidade,qual seja o de estancar o

aquecimentocontemporâneo da

atmosfera, é o dióxido decarbono

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intensificação do efeito estufa quando com-parado com os outros gases nela listados,devido à sua concentração na atmosfera.Deve ser ressaltado, entretanto, que o me-tano, o óxido nitroso e os clorofluorcarbo-nos são muito eficientes como absorve-dores de radiações infravermelhas por atu-arem numa “janela” existente entre 8 e 10micrômetros, em que a maior parte do caloremitido pela superfície da Terra escapa parao espaço. Todavia, como o fator concen-tração tem maior peso, o vilão principal doatual desafio com que se defronta a huma-nidade, qual seja o de estancar o aqueci-mento contemporâneo da atmosfera, é odióxido de carbono.

A seguir, serão examinados os ciclos deoxigênio e carbono da atmosfera, para sechegar a uma conclusão sobre a causa mai-or do desequilíbrio no segundo ciclo e, porconseguinte, saber como eliminar as emis-sões perniciosas que poderão, em futuroainda distante, provocar uma elevação nonível do mar e, paralelamente, alterar ozoneamento agrícola do planeta. Para ana-lisar a atuação do dióxido de carbono naatmosfera, faz-se necessário conhecer tan-to o ciclo do carbono quanto o ciclo dooxigênio, devido à ligação estreita entre osdois gases na atmosfera.

A presença do oxigênio livre na Terraestá intimamente relacionada com o pro-cesso denominado fotossíntese, medianteo qual as plantas usam a energia solar paraconverter dióxido de carbono e água, oxi-

gênio e açúcares. O gásé liberado para a atmos-fera e os açúcares sãoconvertidos em tecidosvegetais. Admite-seque a fotossíntese pro-duza anualmente 1016

moléculas-grama deoxigênio (1 mol de O2 =32 gramas). Desse to-

tal, três quartos correspondem à produçãoda vegetação continental e um quarto pro-vém dos fitoplânc-tons dos mares.

Há, ainda, uma outra fonte de produçãode oxigênio para a atmosfera, qual seja adissociação do vapor de água pelas radia-ções da faixa ultravioleta, seguida de umafuga de moléculas de hidrogênio para oespaço, antes que tenham elas oportuni-dade de se recombinar com o oxigênio li-vre. Esse processo é mais lento, eis que sólibera 1010 moles de oxigênio por ano. To-davia, ao contrário da fotossíntese, não éum processo reversível e, destarte, acabasendo a principal fonte de abastecimentodo “reservatório” de oxigênio da atmosfe-ra, que tem capacidade para estocar 3,8 x1019 moles de oxigênio, ou seja, 1,216 x 1015

toneladas do gás em foco.Note-se que a produção anual de oxigê-

nio pela fotossíntese representa apenas0,026% do gás armazenado no “reservató-rio” atmosférico, o que significa que, senão houvesse um mecanismo de remoçãodo gás, tal “reservatório” dobraria sua ca-pacidade em 3.800 anos. Tal intervalo re-presenta o tempo de residência do oxigê-nio na atmosfera e dá uma ideia concretada rapidez ou da lentidão, conforme o pon-to de vista, da reação da atmosfera a umamudança brusca na velocidade de produ-ção ou remoção do oxigênio.

Os mecanismos responsáveis pela re-moção do oxigênio atmosférico e, porconsequência, pela manutenção do equilí-

Gás

CO2

CH4

NO2

O3

CFC

Concentraçãoatual

353.000 1.738 31020 a 400,28 a 0,48

Concentração antesda era industrial280.000 790 288 10 0

Incrementoanual

0,70,90,8

0,5 a 2,04,0

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brio do seu ciclo são os processos de res-piração e de decomposição, bem como ode oxidação das rochas, este último bemmais lento. A respiração e a decomposiçãosão reações opostas à fotossíntese, queresultam na remoção do oxigênio atmosfé-rico e do carbono orgânico superficial, paraprodução de água e dióxido de carbono. Aatmosfera, no momento, contém 5,6 x 1016

moles de CO2, que cor-respondem a 0,033%do volume do ar.

Para manter a atmos-fera balanceada, a velo-cidade desse processodeve resultar na produ-ção de 1016 moles dedióxido de carbono porano (1 mol de CO2 = 44gramas), de modo acontrabalançar a produ-ção, pela fotossíntese,das 1016 moles de oxigê-nio. O reservatório su-perficial de carbono or-gânico é igual a 2 x 1017

moles, portanto 200 ve-zes menor do que o re-servatório de oxigênioatmosférico. Como é fá-cil calcular, o tempo deresidência do carbononesse reservatório éigual a 20 anos. Portan-to, por esse lado, bemrápida será a resposta aqualquer tipo de alteração no balanceamentodo dióxido de carbono presente na atmosfera.

Sabendo-se que a atmosfera anterior àatual era rica em dióxido de carbono e des-provida de oxigênio, deduz-se que a pe-quena dimensão do reservatório de carbo-no orgânico da litosfera faz com que nãoseja ele o único responsável pela produ-ção do oxigênio. De fato, se, por hipótese,

a reação fotossintética parasse de repente,a decomposição subsequente de toda amatéria viva e a remoção total do carbonoorgânico da superfície emersa da Terra con-sumiriam apenas meio por cento do oxigê-nio atmosférico (2 x 1017/ 3,8 x 1019=0,00526).Em outras palavras, a liberação de todo ocarbono retido na fauna e na flora poucoafetaria o percentual de oxigênio da atmos-

fera. Tal constatação,por si só, desfaz o mitodo “pulmão do mun-do”, não só em relaçãoà floresta amazônica,mas para toda a vege-tação do planeta.

Quem é então o“pulmão do mundo”?

É o grande volumede água salgada querecobre 71% da super-fície da Terra?

O dióxido de carbo-no é trocado continu-amente entre a atmos-fera e a hidrosfera. Asuperfície dos mareslibera, por evapora-ção, 5,5 x 1015 moles deCO2 por ano, que nãocontribuem para alte-rar o percentual dogás na atmosfera por-que quantidade idên-tica é absorvida e dis-solvida no mesmo pe-

ríodo. A camada superior dos mares, entre-tanto, retém 3,2 x 1018 moles de dióxido decarbono, já transformado em íons de bicar-bonato (HCO3

-). Além disso, os sedimen-tos que capeiam o fundo dos oceanos con-têm 1020 moles de carbono orgânico e 5 x1021 moles de carbonato de cálcio, esta últi-ma substância resultante de uma sequênciade reações químicas, iniciadas a partir da

A liberação de todo ocarbono retido na fauna ena flora pouco afetaria opercentual de oxigênio da

atmosfera. Tal consta-tação, por si só, desfaz omito do “pulmão do mun-do”, não só em relação àfloresta amazônica, maspara toda a vegetação

do planeta

Quem é então o“pulmão do mundo”?

É o grande volume de águasalgada que recobre 71%da superfície da Terra?

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combinação da água com o dióxido de car-bono. Agora sim, apareceram os grandes“reservatórios” de carbono!

Como as reações químicas que se pro-cessam nos oceanos são reversíveis, che-ga-se à conclusão de que a concentraçãode dióxido de carbono na atmosfera é con-trolada pelo grau de acidez dos oceanos,uma vez que a reversi-bilidade atua como umcircuito de realimenta-ção negativa, bem sin-tonizado para equili-brar os ciclos de oxi-gênio e de carbono naatmosfera.

Note-se que os maisantigos sedimentos co-nhecidos na superfícieda Terra datam de 3,8milhões de anos atrás.No fundo do mar, toda-via, a idade máxima dossedimentos é da ordemde 150 milhões de anos,como resultado da suc-ção contínua das pla-cas tectônicas pelasfendas-sumidouros,existentes nas fossasabissais. Portanto, otempo de residência docarbono no maior dosseus “reservatórios” éda ordem de 150 mi-lhões de anos, fato que confere excepcionalestabilidade ao sistema.

Há ainda uma outra fonte de dióxido decarbono: a atividade vulcânica. Anualmen-te, as erupções vulcânicas descarregam naatmosfera 5,5 x 1015 moles de dióxido de car-bono. Para contrabalançar tal descarga, tor-nando a atmosfera estável, entra em açãoum ciclo que opera lenta, mas continua-mente, ao longo da escala geológica de

tempo, envolvendo a intemperização dossilicatos. Os efeitos gerais desse proces-so, alimentado por duas reações químicas,são: a transferência de carbonatos, depo-sitados nos continentes para o fundo dosoceanos, e a conversão de silicatos em car-bonatos. Como resultado da intemperi-zação dos silicatos ocorrerá um pequeno

aumento na alcali-nidade dos oceanos,que suscitará um au-mento na absorção dedióxido de carbono daatmosfera, para que aságuas voltem ao seuestado normal, isto é,ligeiramente ácidas.

Os oceanos, pul-mões do mundo, con-trolam com admirávelperfeição os ciclos na-turais do oxigênio e dodióxido de carbono.

A partir do aumen-to da interferência dohomem sobre a natu-reza, sobretudo após oinício da era industri-al, a atmosfera come-çou a receber quanti-dades adicionais dedióxido de carbonosem que houvessequalquer escoadouroespecial para compen-

sá-las. No afã de gerar energia, o homemcomeçou queimando madeira e carvão ve-getal, mas, tempos depois, passou a usaros combustíveis fósseis, carvão mineral epetróleo, retirados de “arquivos” subter-râneos, onde permaneceram estocados porperíodos da ordem de 350 milhões de anos.Evidente que, após tanto tempo, essesderivados do carbono já haviam deixadode participar do ciclo respectivo.

Levantamento datado de1987 acusou um despejo de5,3 bilhões de toneladas de

dióxido de carbono,resultantes da queima

dessas substâncias.O mesmo levantamentorevelou que uma terçaparte da humanidade,

residente nospaíses desenvolvidos,

contribuiu com 3,9 bilhõesde toneladas, isto é, 73,6%

Com 0,94% que crimeambiental cometeram,então, os brasileiros?

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A queima de combustíveis fósseis, con-vém lembrar, é hoje responsável por 97% daenergia total consumida pela humanidade, masé também culpada pelo despejo na atmosferade 10 x 1014 moles de dióxido de carbono porano. O número citado corresponde à emissãoanual medida no final da década de 70 e jáaumentou bastante, eis que o consumo doscombustíveis fósseis vem crescendo à razãode 7,5% ao ano. Como resultado, a concentra-ção de dióxido de carbono no ar elevou-se de280 para 353 partes por milhão entre o início daera industrial e a época atual.

É interessante mencionar que levanta-mento datado de 1987 acusou um despejode 5,3 bilhões de toneladas de dióxido decarbono, resultantes da queima dessassubstâncias no ano referenciado. O mes-mo levantamento revelou que uma terçaparte da humanidade, residente nos paísesdesenvolvidos, contribuiu com 3,9 bilhõesde toneladas, isto é, 73,6% do total.

Por ordem, os sete maiores poluidoresforam: Estados Unidos da América, com1.224 milhões de toneladas; a finada UniãoSoviética, com 1.013,6 milhões; a EuropaOcidental, com 791,6 milhões; a China, com555,2 milhões; a Europa Oriental, com 365,7milhões; e o minúsculo Japão, com 247,5milhões de toneladas. Nesse contexto per-dulário, os povos que habitam o NovoMundo, da margem direita do Rio Grandeao Estreito de Drake, despejaram tão so-mente 229,7 milhões de toneladas dedióxido de carbono na atmosfera, menosdo que os japoneses o fizeram. Coube aosbrasileiros a responsabilidade nominal pelolançamento de 50,2 milhões de toneladasde dióxido de carbono, isto é, apenas 0,94%do total mundial. Que crime ambiental co-meteram, então, os brasileiros?

No final da década de 60, foram monta-das duas estações para medição da con-centração de dióxido de carbono na atmos-fera, uma no tope do Mauna Loa (Havaí) e

outra na Antártica. A figura que se seguemostra o resultado das observações feitasno Mauna Loa entre 1958 e 1976.

No período, os registros indicam umamédia anual de crescimento igual a 0,74 par-te por milhão, o que corresponde a 0,25%do total de dióxido de carbono contido naatmosfera. Outro aspecto relevante indica-do pelas observações está bem evidente nacurva 1 (pontilhada), que foi traçada com osresultados reais das medições. As variaçõesda curva 1, em torno da curva 2 (cheia), mé-dia das observações, destacam a influênciadecisiva da fotossíntese no ciclo anual dodióxido de carbono.

A concentração diminui nos meses decrescimento das plantas autotróficas e au-menta nos períodos de colheita e de re-pouso compulsório do solo, devido às con-dições climáticas. Tal observação desfaz,sem margem de contestação, a crença deque as queimadas anuais, observadas pe-los satélites no território brasileiro emgeral, contribuem sobremaneira para o au-mento da concentração de dióxido de car-bono na atmosfera. Podem contribuir mo-mentaneamente, por dois ou três meses,porque tão logo começam a brotar os vege-tais plantados nos locais submetidos aofogo para limpeza dos terrenos, o dióxido

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de carbono liberado pela queima é absorvi-do de volta para compor os tecidos das no-vas plantas.

A limpeza de terre-nos com fogo, práticaprimitiva, na verdadesó provocará umdesbalanceamento naatmosfera quando taisáreas não forem usa-das para o plantio. En-tão, o nervosismo comque os “agentes es-trangeiros infiltrados”na sociedade nacional(mormente os repre-sentantes das Organi-zações Não Governa-mentais de fora) vivemdisseminando notíciasdesabonadoras contra os brasileiros pare-ce apenas uma tentativa para esconder asestimativas modernas, que apontam paraum total de 15 milhões de quilômetros qua-drados de áreas florestadas destruídas pelohomem (11,2% das terras emersas, semcontar a Antártica).

A responsabilidade por tamanho sacrilé-gio ambiental cabe,exatamente, aos paísesque expandiram osseus ecúmenos até oslimites extremos dosseus territórios e, nãosatisfeitos com tal fa-çanha, ainda montaramum esquema de domi-nação que lhes permi-te explorar predatoria-mente os recursos na-turais daqueles países que se atrasaram, porvários motivos.

A floresta ombrófila da Amazônia brasi-leira, por exemplo, que só ocupa uma áreade 3,2 milhões de quilômetros quadrados,

é ainda um dos poucos sítios naturais doplaneta, exatamente porque os brasileiros,até algum tempo atrás, vinham impedindo

a intromissão dos es-trangeiros no proces-so de ocupação da re-gião. Daí porque me-nos de 8% da áreaflorestada primitivasofreu modificaçõesaté a presente data.

As grandes exce-ções à regra, como afracassada experiênciada Fordlândia, o cala-mitoso Projeto Jari e,agora, a invasão dasmadeireiras estrangei-ras, foram todas tenta-tivas de exploração

econômica conduzidas por pessoasdesvinculadas da comunhão nacional. Asqueimadas observadas na Amazônia ver-dadeira (não confundi-la com a ficção jurí-dica denominada Amazônia Legal) ocorremnormalmente nas savanas, embutidas naregião, e em áreas de várzea. Têm comofinalidade a limpeza de áreas para plantio.

Como incidem sobreecossistemas gramí-neos, não atingem avegetação arbórea e,como se destinam aoplantio, não contribu-em para o desbalan-ceamento do ciclo decarbono. O resto écampanha insidiosapromovida por quemestá de olho grande na

Amazônia brasileira, paraíso dos recursosnaturais e da biodiversidade.

Como os países ricos preocupam-se tan-to com essas queimadas, está nas mãosdeles evitá-las. Bastaria que acertassem

Ademais, se os países ricossentem tanta falta das

florestas, que modifiquemespaços dos respectivos

territórios, hoje ocupadospara fins diversos, para

recompor as antigasflorestas que os seus

antepassados devastaramem nome do progresso

Toda essa riqueza poderáser perenizada, desde que aexploração econômica da

região Amazônica sejaconduzida comracionalidade

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umas poucas alterações, bem simples mes-mo, nas práticas econômicas que adotam,de modo que fosse eliminada a agiotagemnos financiamentos concedidos aos paí-ses que lutam para sair do subdesenvolvi-mento. Aí, com toda a certeza, os caboclosda Amazônia brasileira, normalmentedescapitalizados, passariam a contar commáquinas para o preparo das áreas de plan-tio, em substituição ao fogo, que, por afe-tar a camada humífera, acaba prejudicandoa fertilidade do solo.

Ademais, se tais países sentem tantafalta das florestas, que modifiquem espa-ços dos respectivos territórios, hoje ocu-pados para fins diver-sos, para recompor asantigas florestas queos seus antepassadosdevastaram em nomedo progresso.

Os brasileiros, umavez liberados do esta-do de servidão em quese encontram e, porconsequência, devi-damente esclarecidossobre as grandesquestões nacionais, serão os primeiros in-teressados em zelar pela hileia, não pelosmitos que a cercam, nem mesmo pelo sim-ples amor à natureza, mas pelo seu valorintrínseco.

Com efeito, o volume total das espécies jáconhecidas no mercado de madeiras, apenas60% do inventário florestal da região, repre-senta um valor superior a 1 trilhão de dólares.Além disso, há que se computar diversas ou-tras dádivas da natureza amazônica, frutos daincomparável biodiversidade regional. Todaessa riqueza, outrossim, poderá ser perenizada,desde que a exploração econômica da regiãoseja conduzida com racionalidade. A racio-nalidade, ademais, impõe a conservação dahileia não pelo diminuto incremento que a sua

substituição poderá causar no efeito estufa,mas sim porque há uma relação biunívoca en-tre a floresta e o clima amazônico. Alteradasubstancialmente a floresta, alterar-se-á o cli-ma, com consequências desastrosas para aregião e para o País.

Discutidos esses detalhes paralelos,contudo de suma importância, volta-se aoassunto principal para uma conclusão so-bre o que foi exposto: a responsabilidademaior pelo aumento da concentração dedióxido de carbono na atmosfera fica porconta da queima de combustíveis fósseis,carvão mineral e petróleo.

Surge, consequentemente, uma pergun-ta: “por que os meca-nismos naturais debalanceamento da at-mosfera não estãocompensando esse ex-cesso de CO2 produ-zido pela nova fon-te?” A resposta é mui-to simples. Como oconsumo desses com-bustíveis cresce cons-tantemente, os taismecanismos de reali-

mentação vêm perseguindo obalanceamento sem jamais alcançá-lo. Au-mentam, por exemplo, a alcalinidade dosoceanos, para que eles sejam capazes deabsorver mais dióxido de carbono. Toda-via, no momento seguinte, a quantidadedo gás despejada na atmosfera é superiorà programada pelo ajuste natural, e assimpor diante.

Então, a dosagem mínima do remédiopara evitar o aquecimento da biosfera, pelaintensificação do efeito estufa, será a limi-tação do uso dos combustíveis fósseis aum determinado valor, que jamais poderáser ultrapassado. No longo prazo, bem me-nor do que 20 anos, essa providênciarecolocaria as coisas no seu devido lugar.

Os brasileiros, serão osprimeiros interessados emzelar pela hileia, não pelosmitos que a cercam, nem

mesmo pelo simples amor ànatureza, mas pelo seu

valor intrínseco.

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Todavia, talvez não seja aconselhável es-perar tanto, uma vez que até lá o nível dosmares poderá sofrer um aumento perigosopara os habitantes das regiões litorâneas eo clima também poderá ter sido afetado osuficiente para alterar o zoneamento agrí-cola do planeta como um todo.

CAMINHOS A TRILHAR

As variações climáticas provocadas porfenômenos naturais são inevitáveis, embo-ra seja possível abrandar os seus efeitos.Tal abrandamento exige, no entanto, oacompanhamento multidisciplinar dos ci-clos desses fenôme-nos, inclusive dafrequência das man-chas solares, de modoa alertar e orientar, emtempo útil, a popula-ção do planeta sobrea alteração que se avi-zinha e as suasconsequências. As va-riações provocadaspelo ser humano, noentanto, poderão sercontidas, desde quehaja mudança no pro-cedimento dos responsáveis pelo aqueci-mento da biosfera.

A solução aceitável para a questão seráa de reduzir ao máximo o uso dos combus-tíveis fósseis, substituindo-os por outrasfontes de energia. A natureza é tão mila-grosa que bastará um pequeno empurrãodo homem para que seja acionado todo ummecanismo natural de restabelecimento dascondições climáticas anteriores. Isso por-que, como se procurou demonstrar, o sim-ples “congelamento” do lançamento de ga-ses perniciosos na atmosfera é suficientepara neutralizar as alterações do clima. Nãoé absolutamente necessário um retrocesso

ao passado, abandonando os resultadosda adoção das práticas atuais.

A troca dos combustíveis fósseis por ou-tras fontes de energia “limpas”, combinadacom o manejo racional dos bens da natureza,afastaria rapidamente o perigo de um aqueci-mento global provocado pelo homem.

O Brasil, por exemplo, mais do que qual-quer outro Estado, tem capacidade parareduzir ao mínimo a emissão de gases tóxi-cos. Por armazenar 21% da água potávelsuperficial do planeta e por ter seu territó-rio inserido na faixa tropical, não terá gran-des dificuldades para eliminar parte do con-sumo de hidrocarbonetos, por substitui-

ção da energia equiva-lente por aquela gera-da pela energia ciné-tica dos rios. Até hoje,menos do que 50% dopotencial hídrico dis-ponível no territóriobrasileiro é aproveita-do para geração deenergia elétrica.

O álcool combustí-vel e o biodiesel, am-bos extraídos de vege-tais, com certeza esta-rão incluídos no leque

de opções que a posição geográfica ofere-ce ao Brasil com tanta generosidade. A ge-ração eólica, tão eficiente, ainda está emestágio inicial de emprego, não obstante afrequência e a intensidade dos ventos quesopram na faixa litorânea do País.

O aproveitamento direto da energia so-lar, que deveria ser obrigatório, em muitoscasos, também não se expandiu como su-gere o ambiente equatorial e tropical donosso território.

Outrossim, a diversificação de fontes,indispensável à confiabilidade e regulari-dade na produção de energia, deverá sercompletada com a instalação de usinas

A natureza é tão milagrosaque bastará um pequeno

empurrão do homem paraque seja acionado todo um

mecanismo natural derestabelecimento dascondições climáticas

anteriores

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ARTIGOS DO ALMIRANTE GAMA E SILVA PUBLICADOS NA RMB

– Possíveis ameaças aos países da América do Sul (4o t 1993, p. 205-205)– Seca no Nordeste, chuva de ouro para os marajás (1o t 1995, p. 254-254)– Amazônia Brasileira (1o t 2000, p. 89-107)– Descobrimento do Brasil (3o t 2000, p. 9-29)– Aquecimento contemporâneo da atmosfera (3o t 2000, p. 173-184)– Antártica ou Antártida (1o t 2001, p. 229-229)– Planeta Água (2o t 2001, p. 147-149)– Braz de Aguiar, o bandeirante das fronteiras remotas (3o t 2001, p. 39-43)– A Amazônia, sua invasão, seu desmatamento e queimadas (4o t 2001, p. 95-103)– As salvaguardas tecnológicas em Alcântara (4o t 2001, p. 105-107)– O nióbio e a Open (4o t 2003, p. 65-76)– A epopeia do Acre (2o t 2004, p. 133-152)– A Amazônia, o Brasil e a dissuasão necessária (3o t 2004, p. 73-75)– Variações climáticas (4o t 2007, p. 109-203)– A Amazônia e a cobiça internacional (2o t 2008, p. 99-133)– Commodities e minerais (3o t 2008, p. 75-82)– Estratégia de defesa da Amazônia Brasileira (2o t 2009, p. 69-75)

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<MEIO AMBIENTE> Clima; Política para o meio ambiente; Ecologia; Ciência e Tecnologia;

nucleares, eis que o subsolo pátrio é ricoem minerais radioativos.

Além disso, ainda há o recurso de seadotar a propulsão nuclear para navios, ouso do hidrogênio como combustível deveículos de grande raio de ação e da eletri-cidade para veículos urbanos, três fontesabsolutamente “limpas” de aproveitamen-to energético, no que diz respeito ao lança-mento de gases poluidores na atmosfera.

Não será, pois, a miopia e a subserviên-cia de dirigentes desqualificados que dete-rão os brasileiros na busca das soluçõesque a Mãe Natureza oferece para a indepen-dência energética, passo importante para aconquista da sonhada independência eco-nômica que, afinal, livrará o Brasil dos gri-lhões centenários que vêm retardando a suatransformação em sede da primeira grandecivilização a florescer nos trópicos.

Imagens das capas: http://marcos.sodre.zip.nethttp://wallpaper.worldsimple.comhttp://wallpapers-diq.com

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SUMÁRIO

A Marinha de 1910O motimRevolta sem caráter político ou ideológicoLíder do motim?Ação do Congresso – A imprensaA anistiaNova insurgênciaRevide do Governo – Os castigosJoão CândidoConclusão

CRIAÇÃO DE UM MITO*

HELIO LEONCIO MARTINSVice-Almirante (Refo)

Não raro a veracidade histórica, as per-sonalidades, os acontecimentos, as

circunstâncias são substituídos por mitosde interesse patriótico, religioso, social ouideológico, os quais, aceitos, tornam-seindestrutíveis, incólumes contra qualquertentativa de se procurar a realidade.

Na atualidade está se criando, se já nãoestá criado, o mito de um marinheiro humil-

de, João Cândido, que, em 1910, à frentedos navios mais poderosos na época, en-frentou o governo e a instituição a quepertencia, obrigando-os a abolir os desu-manos castigos físicos que infringiam. Paraa análise do que aconteceu realmente, émister que, de início, se examine a situaçãodifícil da Marinha quando se deu o motimvitorioso.

* N.R.: Palestra proferida pelo autor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), em 9/9/2010, noSeminário Internacional Revolta da Chibata – 100 anos de história e historiografia.

Outras sete personalidades também proferiram palestras expondo diferentes pontos de vista.

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A MARINHA DE 1910

Seria de prever que as Forças Armadasfossem privilegiadas na passagem do sé-culo, com a República dirigida por milita-res. Mas deu-se o contrário. Disputas pelopoder cindiram-nas, resultando em oitomeses de cruenta guerra civil*. A Marinhadesapareceu material e moralmente. Outrosfatores cooperaram para isso. A Revolu-ção Industrial, que não pudemos acompa-nhar, fez-se sentir nas Marinhas de Guerraao longo da segunda parte do século XIX,com a radical passagem da propulsão vélicapara o vapor e, em seguida, pelos aperfei-çoamentos com a aplicação da hidráulica,da eletricidade, da me-talurgia e da balística.No Brasil, para efetuara reforma que serianecessária, a partemais difícil foi o recru-tamento, com o baixonível cultural e de co-nhecimentos da clas-se na qual era ele fei-to. Ao lado dos pou-cos técnicos que sepodiam conseguir, manteve-se no serviçoativo a maioria do pessoal da vela, os cha-mados “gorgotas”, rudes, muitos deles en-viados pela polícia como se fossem parauma penitenciária, ou ex-escravos que pro-curavam abrigo, pedindo-se deles apenasrobustez e coragem para operar as velas.Essa dualidade de elementos humanos di-ficultava especialmente manter a discipli-na, pois seu procedimento e as exigênciaseram diferentes.

Uma tentativa para se resolver esse pro-blema foi a criação das Escolas de Aprendizese das Escolas Profissionais. Em relação às pri-meiras, o relatório de um inspetor em 1910 di-

zia que os alunos saíam semianalfabetos. NasEscolas Profissionais, o aproveitamento eramínimo. Poucos terminavam os cursos. A situ-ação não era melhor entre o oficialato. A muta-ção para o vapor, a precisão e o alcance daartilharia modificaram não só os necessáriosconhecimentos técnicos, como a tática e a es-tratégia navais, e a Escola Naval não acompa-nhou essas modificações. Piorando a situa-ção, estavam sendo incorporados 14 naviosmoderníssimos, cuja construção fora autori-zada pelo Congresso em 1906. O número deespecialistas em 1910, em comparação com osquadros exigidos (mesmo estes diminutos),mostra a falência do recrutamento paraguarnecê-los. Por exemplo, eram previstos 118

torpedistas e 118 artilhei-ros, e havia apenas cin-co dos primeiros e 70dos segundos. Já ossem especialidade, quedeveriam ser 1.770, so-mavam 3.202.

Era essa a posiçãoda Marinha, afetadapor tais fatores nega-tivos, quando, a 22 denovembro de 1910,

amotinaram-se dois encouraçados moder-nos, o Minas Gerais e o São Paulo; umantigo, o Deodoro; e o Cruzador Bahia.

O MOTIM

No Minas Gerais, a noite corria tran-quila. O comandante chegara de jantar emum cruzador francês e descera para a câ-mara. Naquele momento, um grupo de ma-rinheiros embuçados correu para a popa,aos gritos de “abaixo a chibata”, “liberda-de”, e atacou o oficial de serviço, cravan-do-lhe no peito uma baioneta. O coman-dante, ouvindo os gritos, subiu para o con-

A mutação para o vapor, aprecisão e o alcance da arti-lharia modificaram não só osnecessários conhecimentostécnicos, como a tática e a

estratégia navais

* N.R.: Revolta da Armada/Revolução Federalista em 1893.

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vés, mas foi agredido com objetos lança-dos e, depois, abatido a tiros. Dos três ofi-ciais que apareceram, dois foram atingidospelos tiros e o terceiro lançou-se ao mar.Os matadores fizeram uma exibiçãomacabra, urinando no cadáver do coman-dante e reproduzindo comicamente a ginás-tica a que eram obrigados a fazer para com-pensar a vida mais sedentária nos navios avapor. O avanço dosrebelados não obede-ceu a nenhum líder.João Cândido nãoapareceu. E não evi-tou a mortandade, quenão ocorreu nos ou-tros navios rebeldes.

No São Paulo, ochefe amotinado, ma-rinheiro Manoel Gre-gório, dirigiu-se ao ofi-cial mais graduado abordo, dizendo-lhe es-tarem rebela-dos paraacabar com a chibatae pedindo-lhe que de-sembarcasse com osoficiais. Um tenente,não concordando, es-condeu-se, esperandoreação. Vendo-se iso-lado, suicidou-se.

No Bahia, quando os marinheiros daguarda não quiseram formar, como ordenarao oficial de serviço, este atirou, matando umdos rebeldes. Os marinheiros corriam em tor-no, para evitar seus tiros e cansá-lo. Por fim,Dias Martins, que chefiava o motim doBahia, autorizou o revide, que o matou.

O quarto navio a se amotinar foi oDeodoro, o que só aconteceu de madruga-da, e sua adesão foi provocada... por um ofi-cial. Haviam mandado uma lancha à Praça

XV. Um tenente, que se divertia na noite dacidade, bastante embriagado, soube da su-blevação. Vendo a lancha, ocupou-a, fazen-do valer seu posto, e determinou que rumassepara o Bahia, onde ele servia. Não podendoatracar, foi para o Deodoro e, com gritos eimprecações, disse que a esquadra estavarebelada contra o governo e que ou iria ade-rir, ou guarnecer os canhões e atirar nos su-

blevados. Deu ordens,que foram contrariadaspelo Cabo José Araújo,ligado ao motim. Este,então, assumiu a che-fia dos insurgentes.

Os amotinados en-viaram um rádio* aogoverno, dizendo queexigiam o fim dos casti-gos e que, caso não re-cebessem a respostaem 12 horas, bombarde-ariam a cidade. Passa-ram a noite navegandovagarosamente entreos navios, intimando-os a se sublevarem, ati-rando com canhões depequeno calibre, semacertos. Alguns tirosdirigidos contra a terramataram duas crianças.

Nenhum navio aceitou a intimação; algunsiçaram falsamente bandeiras vermelhas e ou-tros refugiaram-se no interior da baía.

REVOLTA SEM CARÁTERPOLÍTICO OU IDEOLÓGICO

Com a anistia, nenhum processo apurouos aspectos da preparação do motim, peloque pouco se conhece de seus detalhes. Quea revolta não teve caráter político ou ideoló-gico, sem qualquer interferência externa, é

Os amotinados enviaramum rádio* ao governo,

dizendo que exigiam o fimdos castigos e que, caso

não recebessem a respostaem 12 horas,

bombardeariam a cidade

Que a revolta não tevecaráter político ou

ideológico, sem qualquerinterferência externa, é

certo. Tratou-se exclusiva-mente de motim militar

* N.R.: mensagem.

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certo. Tratou-se exclusivamente de motimmilitar, objetivando modificações no regimeinterno da Marinha, com o fim da chibata. Elejá vinha sendo tramado, havendo sinais dedescontentamento em vários navios. Existeminformações de nomes e endereços em reuni-ões conspiratórias, mas nenhuma notícia dealguma na qual líderes determinassem comoseria o movimento. Também deve ter inspira-do o motim o fato demuitos marinheiros,principalmente os téc-nicos, estagiando naInglaterra alguns meses,durante a construçãoda esquadra de 1906,poderem acompanharcampanha da imprensainglesa na época paramelhor tratamento dosmarinheiros. Os “ga-rantias” que embarca-ram nos novos naviosdevem ter ficado es-candalizados com o es-petáculo do chibatea-mento, proibido naRoyal Navy em 1881.

Aos novos técni-cos repugnava princi-palmente a chibata, edevem ter sido os maisinfluentes para a suble-vação, mas não seriamprestigiados o bastante para comandá-la,tendo que apelar para os antigos“gorgotas”, que, além das punições, nãoaceitavam o regime dos navios mecaniza-dos, verdadeiras organizações industriais,ao qual não estavam acostumados.

LÍDER DO MOTIM?

Para todos os efeitos externos, o líder domotim de 1910 foi João Cândido Felisberto,

do Minas Gerais. Foi reconhecido como talpelo governo, enaltecido pela imprensa, acei-to pelo Congresso e até consagrado peloscastigos a que foi submetido. Quanto aopor que de ter sido indicado para ocuparessa posição, só se podem fazer conjecturas,pois, com a anistia, nada ficou registrado.

Em carta apócrifa, endereçada em 1949 aum oficial, seu possível autor, Francisco Dias

Martins, reduz o valorde João Cândido. Masfoi ela escrita visivel-mente em tom deamargor de quem viuseu papel no motim,que considerava oprincipal (talvez fosse),subtraído ante a pro-moção recebida poroutrem. Estava ele abordo do Bahia. Masnem todas as suas afir-mativas coincidem comos acontecimentos co-nhecidos – e, pelo fatode ser a carta apócrifa,só pode ser utilizadacomo mais um elemen-to de análise.

João Cândido nas-ceu em 1880 no muni-cípio de Rio Pardo, noRio Grande do Sul,onde seus pais seriam

escravos já libertos. Era um negro alto, en-corpado, introvertido, de poucas palavrase poucos gestos. Com 15 anos, entrou paraa Escola de Aprendizes. Serviu em diver-sos navios mistos e a vapor, sem exercerfunção que o salientasse. Em 1906, embar-cou no Navio-Escola Benjamin Constant,cruzando pelo norte da Europa. Depois, es-teve no Cruzador Trajano, outro veleiro,navegando pela costa do Brasil. Voltou aoBenjamin Constant, viajando por França,

João Cândido serviu emdiversos navios mistos

e a vapor, semexercer função que o

salientasse. Chegou a cabo,mas perdeu as divisas porexcesso da faltas (quatro),

por luta e por agressão

Francisco Dias Martinsapresenta-se como mentor

intelectual do motim.Era um rebelde por

natureza, o único quecomo tal aparecera

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Portugal e Inglaterra, sendo transferido emNewcastle para o Minas Gerais, em cons-trução. Tentou ser sinaleiro, o que não con-seguiu por haver deficiências em sua leitu-ra. Chegou a cabo, mas perdeu as divisaspor excesso da faltas por luta e por agres-são. Tinha uma cicatriz de navalhada nascostas, cuja origem se desconhece. Real-mente foi bom em duas funções: como ti-moneiro (homem do leme) e manobrandoas velas de um mastro, ambas não exigindoconhecimentos especiais. Seus contempo-râneos consideravam-no, apesar de suasfaltas, todas ligadas àviolência, um tipo cal-mo quando não eraagredido, acomodado,capaz de chegar a umacordo.

Francisco DiasMartins apresenta-secomo mentor intelec-tual do motim. Naturalde Fortaleza, foi matri-culado na Escola deAprendizes como umdos “impossíveis”*,pois era de família comalguns recursos. Tinha curso primário, sa-bia ler e escrever, falava bem. Era um rebel-de por natureza, o único que como tal apa-recera antes do motim, na viagem do Bahiaao Chile, quando fez chegar ao imediato donavio uma carta, assinada “Mão Negra”,dizendo que os marinheiros não deveriamser tão castigados, e ameaçando reação.

Manoel Gregório era trabalhador e in-teligente. Natural de Alagoas, para ser pro-movido seria necessário cursar uma Es-cola Profissional, pelo que nunca se inte-ressou. Sobre o cabo Antônio Araújo,nada se sabe. Depois de anistiados, am-bos desapareceram.

AÇÃO DO CONGRESSO –A IMPRENSA

Na manhã do dia 23, a notícia do motimchegou ao Congresso, provocando grandeindignação. Quintino Bocaiúva, líder do go-verno, apressou-se a dizer que não houverano motim nenhuma interferência política e queo Senado estava ao lado do governo. A se-guir, o senador Alfredo Elis, da oposição, afir-mou “serem suas as palavras do senadorQuintino... que nada era mais deprimente paraa nação do que tal insubordinação!” Rui Bar-

bosa, a grande figurapolítica da época, emlonga oração, expres-sou “a amargura, a ago-nia, diante de fato quemais uma vez visa co-locar em dúvida o valorde nossas instituiçõese a segurança de nossatranquilidade”. Na Câ-mara, tudo se repetiu. Olíder da situação disse:“[...] desgraçadamente,a maruja brasileira, amo-tinada, obedecendo a

interesses inconfes-sáveis, põe em grave ris-co a ordem, o sossego e os próprios créditosda Nação”. A oposição manifestou-se do mes-mo modo: “Se o Governo precisar de algo,além daquilo que a legislação lhe faculta, ve-nha pedi-lo, porque a oposição está com ele;[...] o que se passa é uma extrema manifesta-ção da anarquia da maruja que não pode tersolidariedade alguma da Nação”.

A imprensa manifestou-se nesse dia emseus editoriais. O Correio da Manhã, da opo-sição, escreveu: “[...] não se imaginava que adisciplina de nossas tropas de mar estivesseem tal decadência, a ponto de se apoderaremde seus navios, matando comandante e ofi-

“Não se imaginava quea disciplina de nossas

tropas de mar estivesseem tal decadência,

a ponto de se apoderaremde seus navios, matandocomandante e oficiais”

Correio da Manhã

* N.R.: considerado “rebelde” pela família.

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ciais, impondo condições humilhantes ao Go-verno... que não tem que recuar nesta luta aque foi levado pelos desvairamento e loucu-ra de alguns marinheiros”. O País afirmou:“[...] o simples fato da revolta bastaria paralevar cada brasileiro a ter uma impressão demágoa e de vergonha... não houve exatamenterebelião e sim um ataque inesperado e a trai-ção”. O Diário de Notícias, da oposição,acrescentava: “[...] diversas queixas dos ma-rinheiros contra seus superiores circulavam...de qualquer modo, sejam quais forem as cau-sas que levaram à revolta, os fatos são naverdade lastimáveis”.

Até este momento soprava pelo Con-gresso e pela imprensa um vento forte deindignação, de repulsa, de respeito pelasleis e disciplina militar, expressos tais sen-timentos por palavras candentes e vibran-tes. Tais atitudes iriam mudar de maneirarápida e radical em pouco tempo.

O senador Pinheiro Machado fora o res-ponsável pela vitória de Hermes da Fonsecapara a Presidência da República. Homem deação, não se limitou a discursar. Queria vercomo o movimento poderia prejudicar a polí-tica do Presidente, e como isto seria evitado.Na manhã seguinte à eclosão do motim, man-dou um deputado de seu partido, José Carlosde Carvalho, verificar o que havia. Carlos deCarvalho havia sido oficial da ativa e, tendodeixado o serviço, fora graduado capitão demar e guerra honorário, por ações na procla-mação da República e na Revolta da Armada.Tinha bom conhecimento do que se passa-va. A 27 e 28 de outubro escrevera dois arti-gos no Jornal do Commercio sobre a situa-ção no Minas Gerais e o mau aproveitamen-to nas Escolas de Aprendizes.

Carlos de Carvalho conseguiu uma lan-cha no Arsenal de Marinha, retirou de umdos mortos o lençol que o cobria, para ser-vir de bandeira de trégua, e rumou para oSão Paulo. Cruzou com uma lancha quetrazia mais vítimas e o memorial mandado

pelos marinheiros ao Presidente da Repú-blica, do qual ele se apossou.

A única exigência concreta destememorial, podendo ser atendida de imedia-to, era o fim da chibata. As outras referiam-se a medidas de médio e longo prazos, des-tinadas à correção de todos os erros queafetavam a Marinha de então. Há uma coin-cidência interessante. Nas edições de 7 a 30de julho de 1910, o Jornal do Commerciopublicara uma série de artigos, visivelmentede autoria de oficiais de pouca graduação,relativos à situação e à fraqueza das ForçasArmadas. Listava, entre outras medidas ne-cessárias à reorganização da Marinha, a aten-ção para ela dos órgãos e orçamentos go-vernamentais, e a boa preparação profissio-nal dos oficiais e marinheiros. Uma assem-bleia no Clube Naval discutiu se os artigoseram um retrato da realidade e os aprovou.Tais aspirações aparecem no memorial, o qualterminava de forma enfática: “Se não for-mos atendidos, aniquilaremos a Pátria”. Foiingenuidade dos subscritores este fim tãoameaçador, como a menção do bombardeioda capital. No afã de serem enérgicos emsuas exigências, não perceberam que a dosedo remédio era forte demais. Cumpririam oque prometiam se o governo decidisse de-morar no atendimento?

Do São Paulo mandaram Carlos de Car-valho para o Minas Gerais, capitânia do mo-tim. Foi recebido, conversou com João Cân-dido. Mostraram-lhe um marinheiro que forachibateado na véspera. Dirigindo-se à tardeao Congresso, Carlos de Carvalho descre-veu o que vira e ouvira. Depois de falar dohomem chibateado, cujas costas “pareciamuma tainha lanhada”, ajuntou declaraçãodos marinheiros: “Fizemos tudo porque bas-ta de sofrer e não sabemos ainda o que fare-mos. Pedimos perdão, mas nos sentimos am-parados em nosso degredo quando soube-mos que V. Exa. viria para ser o intermediáriode nosso perdão. Seja nosso benfeitor e nos

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livre da desgraça em que caímos, que nãofoi nossa culpa. E que o Marechal Hermesnos perdoe!” Tais palavras não estavam deacordo com a arrogância do memorial e asameaças pelo rádio. Mostravam os rebeldesem posição humilde. Agora era preciso im-pressionar o Congresso com o que poderiaacontecer quando mostrassem suas garras.Carlos de Carvalho afirmou que os marinhei-ros seriam invencíveis com os cem canhõesatirando sobre a cidade inerme e lembrou asresponsabilidades do Congresso se isso nãofosse coibido. Disse mais: “A gente que estáa bordo é capaz de tudo, quando os chefese marinheiros são indivíduos alucinados peladesgraça em que caí-ram[...] a situação égravíssima”. Os con-gressistas, atordoa-dos, fizeram-lhe gran-de número de pergun-tas a fim de se porem apar da situação. Esta-va descrito o quadro,com as cores às quaisCarlos de Carvalhoacrescentara tonalida-des convenientes.

Sentindo ser garan-tida a aprovação doque pretendia, às 16 horas, depois de confe-renciar com o Presidente e seus ministros,Carlos de Carvalho voltou ao Minas Geraise deu a João Cândido certeza de ser obtida aanistia, e pediu que nada fizessem até elaser sancionada. Daí em diante a evoluçãodos acontecimentos foi de espera – o motimmais curto de que se tem notícia.

Os marinheiros reconheceram a decisãodo governo com vários radiogramas garan-tindo que nada fariam, indo os navios pas-sar a noite fora da barra. E assinaram como“reclamantes”, nome logo adotado peloCongresso e pela imprensa, nos quais sedesencadeara, com inusitado vigor, cam-

panha pela anistia, plena de emoção, ima-ginação... e receio dos canhões.

Rui Barbosa tão veemente, pela manhã,a favor da ordem e da disciplina, à tardevoltou a falar. Concedia “ser a covardia umatriste coisa, mas coisa ainda mais triste é ajactância, é a soberba em situação que sópela transação pode-se resolver”. Elogia-va a pureza das intenções dos marinhei-ros. Dizia: “A força das máquinas de guer-ra são os homens que as manejam e as ar-remessam contra inimigos. E as almas des-ses homens têm revelado virtudes que hon-ram a nossa gente e a nossa raça!” Con-cluía: “Esta é uma revolução honesta!” E

apresentava projetode anistia.

Esse discurso deu otom a tudo o que foidito e escrito, mostran-do pânico, ignorandomortes e ameaças aoreconhecer a própriaculpabilidade e a justi-ficar a ação dosinsurretos. Todas asdeclarações que se se-guiram obedeceram aomesmo teor: respeitoaos “reclamantes”,

anistia incondicional e tudo o mais que fos-se preciso para afastar a mirada dos ca-nhões. Tantas concessões, e a pressa comque estavam sendo feitas, ultrapassaram opundonor gaúcho do senador Pinheiro Ma-chado. Disse: “Creio ser tudo muito justo,mas as reclamações são feitas com os ca-nhões apontados contra a cidade. A situa-ção das autoridades é delicada. Trata-se defatos que precisam ser reparados e não se-rem frutos do temor, do medo, dos grandesperigos que pairam sobre a Capital. A con-cessão da anistia foi dada antes de ser vota-da. Se concedida no momento oportuno, teráresultado, e não quando concessões tão fa-

O discurso de Rui Barbosadeu o tom a tudo o que foidito e escrito, mostrando

pânico, ignorando mortes eameaças ao reconhecer aprópria culpabilidade e a

justificar a ação dosinsurretos

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cilmente obtidas enveredam pelo caminhode exigências sucessivas!” Mas chegou aoCongresso um radiograma de Carlos de Car-valho anunciando que os amotinados sesubmetiam às autoridades. A anistia foi apro-vada. O motim, encerrado, limitou-se, daí emdiante, a aguardar a votação nas duas casasdo Congresso e a sanção presidencial.

O Congresso foi discreto em suas mani-festações. Mas na imprensa elas foram deli-rantes, aprovando a anistia como a salva-ção, acrescentando loas exaltadas aos mari-nheiros e, em especial, à figura de João Cân-dido. Houve agradeci-mentos públicos pelagenerosidade dos re-beldes, que poupavama cidade, embora atéaquela hora o fizessemporque estavam sendoatendidos. E estendi-am-se exagera-damente na admiraçãoà eficiência operativacom que os naviosmanobravam, quandoapenas giravam vaga-rosamente na partemais profunda e segu-ra da baía, do que qualquer timoneiro treina-do seria capaz. Sem dúvida, ceder era a úni-ca coisa a fazer, mas poderia ter havido umpouco mais de dignidade na derrota.

No dia 26, o Diário de Notícias escreveu:“João Batista das Neves, comandante do Mi-nas Gerais, e João Cândido são duas figurasnacionais. O primeiro é o herói do dever, omártir da disciplina; o segundo, o mártir daautoridade, o herói da audácia e da coragem,tipo de bravura admirável, símbolo militar deuma raça... Bendita a providencial revolta.Bendita seja ela. Bendita e glorificada”. O Cor-reio da Manhã era mais cordato: “A anistiafoi a capitulação dos próceres públicos e,como toda capitulação, deplorável. Melhor

teria sido se não viesse a figurar em nossaHistória. Mas, incontestavelmente, foi remé-dio extremo para extremo mal”. Os outros jor-nais afinaram-se pelo mesmo diapasão.

A ANISTIA

A anistia, como foi concedida, sem quais-quer outras concessões de parte do gover-no, mostra que os marinheiros só se preo-cuparam com os efeitos imediatos de suaatitude, sem prever a sequela que pudessehaver. Mantiveram durante o movimento co-

esão de pontos de vis-ta, facilitada, aliás, pelafalta de resistência en-contrada. Além da anis-tia, nada mais era pro-metido. A chibata dei-xou de ser usada, massem que nenhuma de-terminação legal clare-asse o emaranhado deleis que regia a aplica-ção de castigos corpo-rais. A sua proibiçãovinha da Constituiçãode 1824, referendadana República por de-

creto de 1889. Mas, a 12 de abril de 1890,novo decreto, assinado pelo PresidenteDeodoro e pelo ministro da Marinha,Wandenkolk, criou na Marinha a “Compa-nhia Correcional”, onde eram “segregadosos praças de má conduta habitual” e, se co-metessem faltas graves, eram castigadoscom até 25 chibatadas. Códigos e regula-mentos internos da Marinha obedeciam aesse decreto.

Sendo tão simplificada a Lei da Anistia,no dia seguinte à sua sanção, sem desobe-decê-la diretamente, foi autorizada por de-creto a baixa imediata dos praças cuja per-manência se tornasse prejudicial à Mari-nha, para o que a legislação anterior exigia

A anistia, como foiconcedida, sem quaisquer

outras concessões de partedo governo, mostra que os

marinheiros só sepreocuparam com os

efeitos imediatos de suaatitude, sem prever a

sequela que pudesse haver

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condenação formal por um Conselho de Dis-ciplina. Mais de 2 mil marinheiros foramdispensados. Só uma voz levantou-se noCongresso – a de Rui Barbosa –, afirman-do não ser essa medida juridicamente cor-reta, além de ter anulado a anistia, everberando por isso o governo. A impren-sa apenas alegrou-se com o fim da ameaça,aliviada. E, a 27, já se iniciaram, executadospelos ex-rebeldes, a retirada e o desembar-que dos aparelhos de disparo dos canhõese da munição dos navios amotinados, oque significava que, em dois dias, a espi-nha dorsal da sublevação fora quebrada.

A situação dos oficiais recebidos a bor-do depois da anistia foi difícíl. Todas asordens vinham daproa*, por meio de umintermediário. A açãode João Cândido nãose fazia sentir, substi-tuído pelos elementosmais radicais, que sechamavam os “faixas-pretas”. Os marinhei-ros, sentindo-se de-samparados, passaram a recear o ataquedos “caçadores”, como chamavam o Exér-cito. E criam que a permanência dos ofici-ais a bordo poderia defendê-los.

NOVA INSURGÊNCIA

A situação ia se acalmando quando, emdezembro, insurgem-se parte do BatalhãoNaval e o Cruzador Rio Grande do Sul, semque fizessem nenhuma declaração ou rei-vindicação. Não tinham ligação com os na-vios revoltados em novembro. Como haviaalguns sinais de que algo se preparava, ainsurgência foi logo dominada. Só se podeespecular que este segundo levante tenhasido comandado pelo desejo de imitação,

inveja da exaltação e da projeção dos quetomaram parte na primeira rebelião.

REVIDE DO GOVERNO –OS CASTIGOS

Nos quatro navios rebelados em novem-bro, as guarnições ficaram muito excitadas, oque fez as autoridades navais esvaziá-los, semgrande dificuldade. Medida governamental,entretanto, sombreou a já escura página daHistória. Desencadeou-se, por parte das au-toridades, uma ação de revide contra as figu-ras que haviam tido maior projeção em no-vembro. Foram acusadas de terem participadonos dois levantes, perdendo assim o status de

anistiados – isto, entre-tanto, antes de ser con-cluído um Conselho deInvestigação para apu-rar quem o tivesse feito.

Era prática comumna época a chefia daPolícia reunir pequenosladrões, prostitutas,vagabundos, e enviá-

los para a Amazônia, uma espécie de Sibériatropical. Em uma leva deles, embarcada nomercante Satélite, que largou a 25 de dezem-bro, juntaram, com uma escolta de 54 solda-dos do Exército, 96 marinheiros, considera-dos perigosos se ficassem soltos na Capital.Na viagem, houve denúncia de conspiraçãoa bordo. O cabecilha, reconhecido, foi fuzila-do. O navio rumou para o Acre, onde os pri-sioneiros seriam contratados pela EstradaMadeira-Mamoré e pela Comissão Rondon.No caminho, mais quatro marinheiros foramfuzilados; dois outros, algemados, lançaram-se ao mar. Ao chegarem na Amazônia, nem aEstrada de Ferro nem a Comissão quiseramrecebê-los, pelo que foram entregues aosseringueiros. Nada mais se soube deles.

Era prática comum naépoca a chefia da Políciareunir pequenos ladrões,

prostitutas, vagabundos, eenviá-los para a Amazônia

* N.R.: Significa que as ordens provinham dos marinheiros.

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O primeiro a sentir o peso das represáli-as foi João Cândido. Os panegíricos deli-rantes haviam lhe dado tal ênfase que, er-radamente, o colocaram como símbolo domotim, resumindo em sua pessoa tudo oque houve de odioso, de violento. Aprisi-onado a 13 de dezembro, enviaram-no paraa Casa de Detenção, daí para prisões doExército, iniciando-se um longo calvário.Suas provações começaram por castigo quefoi apontado comouma condenação àmorte, do que tevetoda a aparência, em-bora não houvesseessa ideia. No dia 24de dezembro, o Exérci-to remeteu-o para oPresídio Naval, noCorpo de FuzileirosNavais, com 17 outrosprisioneiros, que foramcolocados em umacela pouco ventilada.O comandante dosFuzileiros, não tendoconfiança no carcerei-ro, levou consigo achave da cela. Duran-te a noite, foram ouvi-dos gritos, tendo o ofi-cial de serviço queri-do abri-la, mas não en-controu a chave. Na manhã seguinte, dos18 encerrados, só dois estavam vivos, umdeles João Cândido. Como era de se espe-rar, depois do transe por que passara, apre-sentou perturbações psicossensoriais, con-forme exame feito por médicos da Marinhaa 7 de abril, que, em laudo, consideraram-no vítima de “astenia cerebral, com melan-colia e episódios delirantes”. A 18 de abril,foi transferido para o Hospital Nacional deAlienados, onde, recuperando-se aos pou-cos, permaneceu pouco mais de um mês.

Voltou para o presídio, ali ficando até serabsolvido pelo Conselho de Guerra.

JOÃO CÂNDIDO

Essa vingança, sem razão de ser, serviumais do que qualquer outra coisa para colo-car João Cândido e o motim, sob o foco danotoriedade. Libertado em 1912, empregou-se, com seus conhecimentos de manobra de

velas e de governo denavios, nos veleirosque faziam o comérciocosteiro. E desapare-ceu do noticiário. Nãohá explicação, como vi-mos, de João Cândidoter sido indicado comolíder do motim. Não te-ria capacidade para to-mar decisões se a re-volta evoluísse parauma reação, mesmopassiva. Não teve pres-tígio para evitar o se-gundo motim, queabriu flanco para orevide do governo.

São lamentáveis ossofrimentos, os casti-gos e a injustiça sofri-dos por João Cândido.Mas nem isso, nem os

adjetivos surpreendentes com que a impren-sa o definiu, de herói, bravo, audacioso, ex-cepcional, manobrista excelente, dão-lhe es-tatura para se tornar um mito nacional. Oulhe atribuir conhecimentos e capacidade decomando. Nada disso suplanta a realidade.Sua carreira na Marinha, anterior ao motim,foi amorfa. Com 15 anos de serviço, nuncapassou de marinheiro. Sua presença no pla-nejamento do motim não é conhecida. Comochefe nominal da rebelião, foi figura passi-va. Nem memoriais nem ordens aparecem

Não há explicação de JoãoCândido ter sido indicado

como líder do motim...Nem os sofrimentos, os

castigos e a injustiçasofridos, nem os adjetivossurpreendentes com que aimprensa o definiu, dão-lheestatura para se tornarum mito nacional, ou

lhe atribuir conhecimentose capacidade de

comando. Nada dissosuplanta a realidade

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CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<VALORES>; Conduta; Exemplo; Heroísmo; Liderança; Opinião pública;

como tendo sido escritos por ele. Sua atitu-de rebelde foi inexpressiva, apenas aguar-dando os apressados trâmites burocráticosdo projeto da anistia que a transformariamem lei. Absolvido, como civil não exibiu qua-lidades de líder. Sua presença, bastante mo-desta, se esvaneceu por 40 anos, só sendorestabelecida pelo esforço de um jornalista.

João Cândido teve seu momento de gló-ria. O abandono a que fora relegada suamemória foi substituído pela entronizaçãocomo o defensor dos humildes, o Almiran-te Negro invencível no passadiço docapitânia da esquadra rebelde. Mas, ante oque se passou na verdade, torna-se ummito sem embasamento histórico.

CONCLUSÃO

A Revolta dos Ma-rinheiros de 1910 temsido analisada e deba-tida por historiadores,sociólogos e políticos,considerando-a açãosocial importante – avitória do elemento hu-milde contra a ditadura e a violência dos su-periores, acontecimento guardado na memó-ria histórica como exemplo a ser admirado eseguido. Houve de fato um confronto entresubordinados e dirigentes, com vantagensiniciais para os primeiros. Resta saber em quesegmento social esses acontecimentos sepassaram: uma força armada, a Marinha.

Neste caso, o que aconteceu pode servisto com aspectos mais simplistas. As For-ças Armadas, em um país pacífico como oBrasil, raramente utilizadas em conflitos in-ternacionais, para manter em tempo de pazeficiência que corresponda a seu custo e aoque se espera delas têm que ser defendidas

por uma armadura moral e material que con-trabalance o relativo artificialismo em quevivem, sem evidente necessidade imediata.Se, por efeitos externos ou internos, essaarmadura cede, atingindo os ditames rígi-dos aos quais obedecem as Forças Arma-das, eficiência, cumprimento do dever e dis-ciplina, entram elas em decadência, vivemde exterioridades, o que se reflete obrigato-riamente nas suas atividades e no procedi-mento de seu elemento humano.

No início de século XX, como vimos, fo-ram muitos os fatores negativos que afeta-ram a Marinha, tais como: o abandono emque se encontrava; a crescente estagnaçãode suas atividades; a estrutura orgânica não

atualizada; o recruta-mento do pessoal su-balterno feito em níveisbaixos da população eo preparo deficientedos homens que deve-riam guarnecer os na-vios modernos; o regi-me disciplinar baseadonos castigos corpo-rais; a aquisição de 14

navios de tipos ainda pouco existentes, comexigências técnicas e orgânicas muito acimade nossas possibilidades; a mistura a bordode elementos de má índole com os de me-lhor nível, todos submetidos ao mesmo re-gime disciplinar; o enorme afastamento cul-tural e social existente entre oficiais e pra-ças. Estes foram os ingredientes que, apu-rados no tempo, acumularam-se até chega-rem ao ponto crítico – e deflagraram o motimde 1910.

A comédia de erros que afetou uma tris-te fase da vida da Marinha pode ser lem-brada, analisada, comentada, lamentada –mas nunca comemorada.

A comédia de erros queafetou uma triste fase davida da Marinha pode ser

lembrada, analisada,comentada, lamentada –mas nunca comemorada

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CRIAÇÃO DE UM MITO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MARTINS, Hélio Leoncio. História Naval Brasileira – Volume quinto – tomo I B – págs 101-227,Rio de Janeiro – SDM, 1997.

MARTINS, Hélio Leoncio. A Revolta dos Marinheiros, 1910. Rio de Janeiro: Serviço de Documen-tação Geral da Marinha; São Paulo: Ed. Nacional, 1988. 225 p. (Brasiliana, v. 384).

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SUMÁRIO

Poderio estratégicoMísseis Balísticos Intercontinentais (ICBM’s)Mísseis Balísticos Lançados de Submarinos (SLBM’s)

A ATUAL POSTURA ESTRATÉGICO-MILITARESTADUNIDENSE1

REIS FRIEDE2

Desembargador Federal

Sem a menor sombra de dúvidas, ciên-cia e tecnologia são e continuam a

ser a principal razão da incontrastável su-

perioridade militar norte-americana3, emtermos jamais descritos ou experimenta-dos em qualquer fase de sua própria exis-

1 Trechos de palestra proferida na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), em 4 dejunho de 2009, para os oficiais estagiários do Curso de Política, Estratégia e Alta Administração doExército – CPEAEx; na Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (Ecemar), em 1o deoutubro de 2009, para os oficiais estagiários do Curso de Política e Estratégia Aeroespaciais –CPEA; e na Escola Superior de Guerra (ESG), em 18 de agosto de 2010, para os estagiários do Cursode Altos Estudos de Política e Estratégia – Caepe.

2 Desembargador federal e ex-membro do Ministério Público, mestre e doutor em Direito; professoradjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Autor, entre outras obras, de Curso deCiência Política e Teoria Geral do Estado: Teoria Constitucional e Relações Internacionais, 4a ed.,Ed. Forense Universitária, 2009.

3 Apesar do perceptível (e histórico) atraso tecnológico russo e chinês em relação ao Ocidente e,particularmente, aos Estados Unidos da América (EUA) (calcula-se que, de modo geral, os russos se

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A ATUAL POSTURA ESTRATÉGICO-MILITAR ESTADUNIDENSE

tência ou ainda por qualquer outro Esta-do Soberano em qualquer momento dahistória humana4.

A mencionada supremacia militardeve-se também ao espectro econômicodo poderio estadunidense, em grandemedida suportado pela continuada ma-

nutenção da invejável posição norte-americana como o país mais competitivodo mundo, o que o posiciona – nãoobstante a emergência econômica daChina – como a maior potência econômi-ca do planeta, com um Produto InternoBruto (PIB) próximo a 25%.

encontram com uma defasagem tecnológica superior a dez anos e os chineses superior a 20 anos),deve ser registrado – para melhor compreensão quanto a uma comparação de poderio militar – queo desenvolvimento e a incorporação de importantes (e avançados) sistemas bélicos por estes doispaíses têm sido amplamente compensados, desde o final da Segunda Guerra Mundial, por meio deaquisições diretas de equipamentos dotados de tecnologias sensíveis (como, por exemplo, os moto-res a jato vendidos pelos ingleses aos russos em 1947/48 e que, em última análise, permitiram odesenvolvimento do caça Mig-15, que tanto surpreendeu os EUA durante os primeiros meses naGuerra da Coreia; ou, mais recentemente, a venda, autorizada pelo Governo Bill Clinton, desupercomputadores IBM, que foram fundamentais para o desenvolvimento dos novos (emoderníssimos) Mísseis Balísticos Internacionais (ICBM’s) russos (SS-27, Topol), como bem aindade importantes (e bem planejadas e engendradas) operações de espionagem, como, por exemplo, odesvio dos projetos americanos, por parte dos chineses, da ogiva termonuclear W-88/W-70 (epartes da MK-12A) e dos correspondentes segredos de miniaturização de veículos de reentradamúltiplos, o que permitiu àquele país desenvolver uma nova e aperfeiçoada série de Mísseis BalísticosIntercontinentais – ICBM’s (CSS-9 e CSS-X-10) e de Mísseis Balísticos Lançados de Submarinos –SLBM’s.

Também vale mencionar, em necessária adição, que muitas das concepções de sistemas milita-res norte-americanos ultra-avançados que sequer foram desdobrados (como, por exemplo, oprojeto completo do ICBM M-X, que previa a plena mobilidade dos mísseis, por meio de platafor-mas ferroviárias e rodoviárias, e que acabou se limitando à aquisição de 50 unidades do designadoLCM-118A Peacekeeper, instaladas em silos subterrâneos convencionais), o foram, emcontraposição, pelos russos, com o desenvolvimento e aquisição de diversos sistemas de ICBM’smóveis, a exemplo dos SS-24 em vagões ferroviários especiais e os SS-25 e SS-27 em veículosrodoviários especiais.

4 Não obstante a destacada emergência do poderio militar chinês (e os correspondentes investimentosmaciços no desenvolvimento de avançadas tecnologias), como, igualmente, o nítido esforço dereconstrução do poderio militar russo, bem ainda o surgimento de novos polos de poder militar (exvi Índia, que, inclusive, já dispõe de um submarino nuclear híbrido, com capacidade de portar mísseisbalísticos de curto alcance – 300 km), é cediço reconhecer, todavia, que o advento de um renovadoperíodo de confrontação bipolar confrontativa (especialmente com a China) somente se constitui-rá em uma realidade efetiva a partir de 2020, não obstante a equivocada política militar norte-americana inaugurada com a posse do Presidente Barack Obama, que, em uma abordagem equivoca-da, concluiu pela desnecessidade de se continuar a desenvolver novos sistemas bélicos de altatecnologia, tendo, inclusive, neste diapasão analítico, cancelado precocemente o desdobramento denovos caças FA-22A Raptor (após a construção de 189 unidades), única aeronave de combateoperacional de quinta geração, com o argumento de que os atuais caças de quarta geração emoperação, notadamente o F-15C/E Eagle, continuam a dominar os céus de todo o mundo, além dofato de que os novos sistemas do futuro devem ser não tripulados, apesar de todas as críticas nosentido de que os sistemas tripulados de alta tecnologia continuarão a ser indispensáveis nos cená-rios de guerra previsíveis nos próximos 50 anos.

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Por fim, resta registrar, em necessáriaadição, que os maciços investimentos mili-tares – notadamente em tecnologias ino-vadoras – igualmente viabilizaram a atual edestacada posição relativa auferida pelos

EUA5, o que, em alguma medida, vem sen-do perseguido – no que concerne a umaalmejada perpetuação relativa desta inve-jável situação –, por meio da introdução denovas armas projetadas para o século XXI.

5 Importante ressaltar, nesse sentido, que tanto a China como a Rússia, e também a própria Índia, alémde outros países de menor expressão, vêm ampliando sensivelmente os seus respectivos investimen-tos militares, empatando (e por vezes até mesmo superando), em termos de percentual do PIB, comos correspondentes investimentos estadunidenses.

Ainda que se possa afirmar – à luz da simples comparação estatística no que concerne a cada dólarinvestido a título de despesas militares – que os EUA continuam a se destacar com valores quasequatro vezes superiores aos da China (ou quase seis vezes superiores aos investidos pela Rúsia), écerto que, em uma comparação mais precisa em termos de “paridade de poder de compra”, e, ainda,considerando o fato de que mais da metade dos recursos militares norte-americanos são empregadosna folha de pagamento de seu exército profissional, as diferenças verificadas (em uma avaliaçãomais aprimorada) são muito menos significativas do que aquelas que se podem, em uma análisesuperficial (e apressada), deduzir conclusivamente.

Diagrama 4: Comparação Estatística entre Despesas Militares em2007/2008 (US$ Bilhões) (% PIB)

¹ Considerando a despesa autorizada. A despesa utilizada foi de 690,3 bilhões. Fontes: CIA World Factbook, 2010; The Military Balance 2010, IISS, Londres.2 Considerando o valor efetivamente despendido (estimado).

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PODERIO ESTRATÉGICO

Mesmo com todas as reduções propos-tas (e efetivadas) pelos mais diversos acor-dos russo-americanos, notadamente osdenominados Start I e II, no arsenal nucle-ar estratégico estadunidense, é fato que opoderio nuclear-estratégico norte-america-no – ante o colapso político-militar-econô-mico da antiga URSS (ainda sem resulta-dos satisfatórios no sentido da planejada

reconstrução plena do arsenal russo con-forme previsto no escopo da DoutrinaPutin), bem como da própria ausência detempo hábil para exteriorização efetiva dopoderio estratégico nuclear chinês em ace-lerada expansão (e, em menor grau, tam-bém da Índia) – continua a despontar emtermos globais de forma reconhecidamen-te monolítica, pelo menos no que concerneàs capacidades de prontidão, credibilidadee, sobretudo, efetividade.

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Mísseis Balísticos Intercontinentais(ICBM’s)

O programa de desenvolvimento deMísseis Balísticos Intercontinentais(ICBM’s) norte-americano encontra-se atu-

almente paralisado após a modernizaçãodos veículos de reentrada (MK-12A) in-corporados aos mísseis LGM-30GMinuteman III, único modelo operacional,após a retirada de serviço das 50 unidadesdo foguete LGM-118A Peacekeeper (MX),

¹ 500 LGM-30G Minutemen III (dotados de um a três ogivas MIRV MK-12/MK-12A).2 Considerando 14 submarinos nucleares porta-mísseis (SSBN-730) classe Ohio (cada qual portando 24 mísseis –SLBM’s – UGM-133A Trident D-5).3 Incluindo 71 B-52H (62 na ativa + nove na reserva, além de 18 B-52H não computados em estoque) Stratofortress (cadaum equipado com 20 AGM-86B (ALCM) ou AGM-129A (ACM)); 19 B-2A Spirit (+ 1 reserva) e 64 B-1B Lancer).4 Apesar de não possuir bombardeiros estratégicos, o componente aéreo de dissuasão nuclear francês conta comaproximadamente 60 mísseis ASMP. O Air-Sol Moyenne Portée (míssil ar-solo de médio alcance) pesa 860 kg, temalcance estimado entre 80 e 300 km, dependendo do perfil de voo que é lançado, e é capaz de levar uma única ogivanuclear TN 81com duas opções de potência: 150 e 300 kt.Cinquenta mísseis operados pela Força Aérea francesa, sendo utilizados por meio de caças bombardeiros Mirage 2000N,operados das bases de Luxeuil, Istres e Avord.Dez mísseis operados pela Aviação Naval, sendo utilizados por meio dos aviões de ataque Super Étendar Modernisé,operados da base naval de Landivisiau, quando em terra, e do Porta-Aviões Charles De Gaulle, quando embarcados.A localização exata desses mísseis é um segredo estritamente guardado.Em um futuro próximo, o Rafale poderá substituir todos os Mirage 2000N e Super Étendar Modernisé na função deataque nuclear. Em sua versão F3, o Rafale estará apto a transportar o ASMP-A, uma versão avançada do míssilatualmente empregado, com alcance estendido e características furtivas.5 O governo estadunidense não contabiliza ogivas de reposição como ogivas operacionais, o que representaria um totalde apenas 2.702 ogivas plenamente operacionais, considerando existirem aproximadamente 2.500 ogivas nessa condi-ção. Vale registrar que existem mais 4.200 ogivas no inventário estadunidense aguardando desmantelamento.6 Estimado, não oficial.

Fonte: The Military Balance 2010, IISS, London; Federation of American Scientists; Global Security; Bulletin of theAtomic Scientists.

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1 Multiple Independently Reentry Vehicle (MIRV): ogivas nucleares múltiplas e independentes.2 Multiple Independently and Maneuverable Reentry Vehicle (MARV): ogivas nucleares múltiplas, inde-pendentes e manobráveis (não passíveis de interceptação após a reentrada na atmosfera).3 Reentry Vehicle (Singular Warhead): ogiva singular.4 Também conhecido por RT-2/PM-2.5 Foram construídas 92 unidades (de ambos modelos), sendo que 46 mísseis, baseados em silos na Ucrânia,foram retirados de serviço em função do Tratado Start-1 e os 46 remanescentes (dez em silos e 36 embase ferroviária – UTTH) foram gradativamente desmontados em face dos termos do Tratado Start-2.6 Vale registrar que o desenvolvimento do avançadíssimo ICBM Topol/Topol-M somente foi possívelcom a aquisição pelo governo russo de supercomputador IBM durante o governo Bill Clinton.7 O ICBM DF-31A (CSS-9 MOD2) está armado com uma ogiva nuclear singular copiada da norte-americana W-88/W-70.8 Existem razoáveis suspeitas de que a Coreia do Norte ainda não possua uma ogiva nuclear operacionale apenas explosivos convencionais adicionados a material físsil (“bomba suja”).9 As ogivas termonucleares mais potentes, em grande medida, compensam a ausência de precisão do míssil(elevado CEP). Por esta razão, historicamente, as ogivas nucleares dos ICBM”s soviéticos sempreforam, comparativamente, mais poderosas que seus equivalentes norte-americanos, o mesmo ocorrendocom a atual geração de mísseis chineses.

Diagrama 7: Comparação Esquemática entre Mísseis Balísticos Intercontinentais(ICBMs) Russos, Chineses e Norte-Coreanos (Atuais)

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em face dos exatos termos do acordo delimitação de armas estratégicas – Start.

Trata-se in casu da última geração doconsagrado míssil Minuteman, originaria-mente desenvolvido no início dos anos 60.

Desde o advento conclusivo do proje-to MX – ainda que se cogite no desenvol-vimento de uma nova geração de mísseisbalísticos intercontinentais – ICBM’s daclasse atualmente operacional, provisori-amente nominada por Minuteman IV –, averdade é que a chamada Tríade Estraté-gica norte-americana passou a basear seuprincipal vértice nuclear nos MísseisBalísticos Lançados de Submarinos(SLBM’s) Trident D-5, muito embora con-tinuem tanto a Rússia como a China e, emalguma medida, a Coreia do Norte, a pro-

jetar e desdobrar novos e modernosICBM’s.

Mísseis Balísticos Lançados deSubmarinos (SLBM’s)

Conforme já afirmado, optou reconheci-damente os EUA por apoiar o núcleo cen-tral de sua tríade estratégica em uma forçade SLBM’s, com fundamento na padroni-zação do sofisticado Sistema Trident II(SSBN Ohio Class / SLBM UGM-133A D5)com um total de 14 submarinos (Boomer) e336 mísseis (24 mísseis por cada submergí-vel), com um total potencial de 2.688 ogivasnucleares (oito unidades por míssil) e umtotal desdobrado de 1.680 ogivas nuclea-res (1.300 W-76 com rendimento de 100 kt e

Diagrama 9: Míssil Balístico Lançado de Submarino (SLBM) SS-NX-30 (RSM-56)Bulava (VERSÕES)

Alcance: 8/10.000 kmOgivas: 6/10 MARV’sOperação: 2010/2015SSBN classe Borei (Yuri Dolgoruky –lançado ao mar em abril de 2008)CEP: 350M

Bulava-M Bulava-47Bulava-30

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380 W-88 com rendimento de 475 kt), insta-lados em veículos de reentrada múltiplos,independentes e manobráveis (MARV’s),não obstante algumas unidades ainda con-tinuarem operacionais no padrão de veícu-los de reentrada múltiplos e independen-tes (MIRV’s) MK-5.

Ainda que seja cediço reconhecer a ab-soluta supremacia tecnológica (e,consequentemente, de efetividade) do men-cionado sistema de armas norte-americano– destacando-se não somente a superiori-dade dos SLBM’s UGM-133A D5 (que pos-suem uma excepcional precisão, com CEP(Circular Error Probability) inferior a 90m),como também dos submarinos (SSBN) Clas-se Ohio –, sistema esse que, frise-se, seencontra plenamente operacional, não sepode subestimar o enorme esforço, espe-cialmente por parte da Rússia, emimplementar um inovador sistema béliconaval, baseado no moderníssimo míssilSLBM-NX-30 (RSM-56) Bulava (projetadoa partir dos ICBM’s SS-27 Topol e SS-27M

Topol-M) a ser instalado na nova classede Submarinos Porta-Mísseis (SSBN’s)Borei, bem como – ainda que em menorgrau – idênticos esforços chineses em des-dobrar o seu novo Míssil SLBM CSS-N-4XJulang II, ou, simplesmente, JL-II (versãonaval do Míssil Balístico Internacional(ICBM) CSS-9 (DF-31)), dotado de umaogiva nuclear de 250 kt e com excepcionalalcance de 9.000 km, a ser instalado nosnovos SSBN Tipo 094.

O Bulava é uma versão naval do ICBMSS-27 (RT-2/PM-2) Topol (lançado de silosfixos de mísseis SS-18 e SS-19 modificadosou de lançadores móveis, utilizando o veí-culo militar MAZ-79221) dotado de umaogiva termonuclear singular manobrável de550 kt (com capacidade de ampliação paraaté seis ogivas MARV’s) com CEP de 350m,com alcance de 11 mil km e com 54 unida-des em operação (com projeção de 69 uni-dades até 2015) e do modelo aperfeiçoadoSS-27M (RS-24M) Topol-M, com capaci-dade de dez ogivas MARV’s.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<POLÍTICA> Estratégia; Política internacional; Política dos EUA; Gastos militares; Podermilitar; Ciência e Tecnologia; Míssil;

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SUMÁRIO

IntroduçãoRecursos financeirosEstimativas e necessidadesPropostas de articulação das forçasInfluências estrangeirasAbordagem incrementalConclusãoBibliografia

ARTICULAÇÃO DO PODER NAVAL BRASILEIRO:DÚVIDAS E COMENTÁRIOS(*)

EDUARDO ITALO PESCEProfessor(**)

INTRODUÇÃO

Em trabalhos anteriores publicados pelaRevista Marítima Brasileira, examina-

mos as perspectivas de renovação do Po-der Naval brasileiro, decorrentes da ediçãoda Estratégia Nacional de Defesa (END) nofinal de 20081 e da divulgação do Plano de

(*) Trabalho submetido à Revista Marítima Brasileira em agosto de 2010.(**) Especialista em Relações Internacionais, professor no Centro de Produção da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj), colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estra-tégicos da Escola de Guerra Naval (Cepe/EGN) e colaborador assíduo da RMB.

1 Cf. Presidência da República, Decreto no 6.703, de 18/12/2008 – Aprova a Estratégia Nacional deDefesa e dá outras providências (Brasília, 18/12/2008, pp.12-14). Texto disponibilizado emhttp://www.defesa.gov.br/. Acesso em 19/12/2008.

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Articulação e Equipamento da Marinha doBrasil (PAEMB) em meados de 2009.2

Os meios operativos mencionados noPAEMB3 resultam de estudo de necessida-des, não constituindo – ao contrário doque supõem alguns –um programa de enco-mendas. Os planos doMinistério da Defesapara as três forças sin-gulares só terão forçade lei após serem apro-vados pelo CongressoNacional e sanciona-dos pelo Presidenteda República.4

O PAEMB prevêum total de investimen-tos de US$ 84,4 bi-lhões, dos quais US$68,8 bilhões na moldu-ra temporal 2010-30 eUS$ 15,6 bilhões após2030. As necessidadesde médio e longo pra-zo incluem 282 navios e embarcações, 288aeronaves e diversos tipos de armamento emunição, além de material para o Corpo deFuzileiros Navais (CFN).5

Além da expansão dos meios operativose do efetivo de pessoal, está prevista a cria-ção de uma 2a Esquadra e de uma 2a Divisão

Anfíbia, sediadas no litoral norte/nordestedo Brasil. Para isso, seria necessário rever aarticulação das forças navais, aeronavais ede fuzileiros navais, com alterações na es-trutura e criação de novas bases e instala-

ções de apoio.6

O presente artigoexamina as possibilida-des de revisão da arti-culação dos compo-nentes do Poder Navalbrasileiro, tendo emvista as estimativas doPAEMB, as necessida-des mais prementes dadefesa nacional e apossível evolução darealidade orçamentária.O texto baseia-se emfontes e bibliografiaostensivas, sendo asopiniões e os concei-tos de caráter estrita-mente pessoal.

RECURSOS FINANCEIROS

A dotação orçamentária do Ministérioda Defesa para 2010 (em valoresatualizados até 20 de julho) é de R$ 61,28bilhões, dos quais R$ 42,85 bilhões (69,9%)correspondem à despesa com pessoal e

2 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Plano de Equipamento e Articulação da Marinha do Brasil (PEAMB) 2010-2030: Perspectivas”, Revista Marítima Brasileira, 130 (04/06): 73-88 – Rio de Janeiro, abr./jun.2010. Cf. também Eduardo Italo Pesce, “Marinha do Brasil: Perspectivas”, Revista MarítimaBrasileira, 129 (04/06): 104-120 – Rio de Janeiro, abr./jun. 2009. Cf. ainda Eduardo Italo Pesce,“Uma segunda Esquadra para o Brasil?”, Revista Marítima Brasileira, 129 (01/03): 153-160 – Riode Janeiro, jan./mar. 2009.

3 NA – A denominação original era PEAMB (Plano de Equipamento e Articulação da Marinha do Brasil),mas foi alterada por razões doutrinárias.

4 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Um projeto de potência para o Brasil do século XXI”, Monitor Mercantil, Riode Janeiro, 23/04/2010, p. 2 (Opinião).

5 Cf. Pesce, “PEAMB 2010-2030: Perspectivas”, Op. cit. Cf. também Coordenação do PRM/Grupo deTrabalho PEAMB, Programa de Reaparelhamento da Marinha – Apresentação para ABIMAQ/ABIMDE (São Paulo, 05/08/2009). Cópia disponibilizada em http://www.abinee.org.br/informac/arquivos/marin09.pdf. Acesso em 09/01/2010.

6 Ibidem.

As necessidades de médio elongo prazo incluem 282

navios e embarcações, 288aeronaves e diversos tiposde armamento e munição

Está prevista a criação deuma 2a Esquadra e de uma2a Divisão Anfíbia, sediadas

no litoral norte/nordestedo Brasil

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encargos sociais, R$ 7,32 bilhões (11,9%) aoutras despesas correntes e R$ 9,27 bilhões(13,6%) a investimentos.7

A divisão dos recursos destinados àstrês forças singulares confirma a predomi-nância da folha de pagamento de pessoal.Até 20 de julho, a dotação orçamentáriaautorizada da Marinha do Brasil era de R$16,31 bilhões, sendo R$ 10,91 bilhões(66,9% do total) destinados a pessoal eencargos sociais, R$ 0,97 bilhão (5,95%) aoutras despesas correntes e R$ 4,43 bilhões(27,2%) a investimentos.

O Exército contavacom um total de R$24,56 bilhões, dosquais R$ 21,92 bilhões(89,3%) para gastoscom pessoal, R$ 1,92bilhão (7,82%) paradespesas correntes eR$ 0,72 bilhão (2,93%)para investimentos. Jáa Força Aérea Brasilei-ra (FAB) contava comR$ 13,90 bilhões, dosquais R$ 9,64 bilhões(69,4%) para pessoal,R$ 1,28 bilhão (9,21%)para gastos correntes e R$ 1,47 bilhão(10,6%) para investimentos.

Até 20 de julho (transcorridos 201 diasdo exercício fiscal), o valor total pago doorçamento do Ministério da Defesa foi deR$ 24,09 bilhões (39,3% do autorizado). NaMarinha, tal valor foi de R$ 6,79 bilhões(41,6% da dotação da força), enquanto queno Exército foi de R$ 10,78 bilhões (43,9%)e na FAB de R$ 5,23 bilhões (37,6%).8

O Orçamento da União para este ano já foiobjeto de cortes e contingenciamentos. Ape-sar disso, a Marinha encontra-se em situa-ção relativamente favorável, no conjunto dasForças Armadas. Dispõe da segunda maiordotação orçamentária, além da menor porcen-tagem em gastos com pessoal e do maiorvolume de recursos para investimento.

No Brasil, os baixos orçamentos anuais dedefesa tornam necessário lançar mão de recur-sos extraorçamentários (tais como emprésti-mos e financiamentos provenientes do exteri-or) para investir na modernização das Forças

Armadas. Como o Orça-mento da União não éimpositivo, a continui-dade do fluxo de recur-sos financeiros está sobpermanente ameaça,podendo inviabilizar oreaparelhamento dasForças Armadas.

Em dissertação demestrado defendida naUniversidade Federaldo Rio de Janeiro(UFRJ) no final de 2009,o pesquisador VitélioMarcos Brustolin ob-

servou que o orçamento anual de defesa doBrasil vem se caracterizando por uma path-dependency (dependência da trajetória). Noperíodo coberto pelo trabalho (1995-2008), amédia das despesas primárias com a defesaem relação ao Produto Interno Bruto (PIB)do País foi de 1,59%.9

Os valores mais elevados (1,79% em 1995)da série apresentam-se no início do períodoestudado. A efetivação da END, segundo o

7 Cf. Siafi/SIGA Brasil, Exercício 2010. Dados disponibilizados em http://contasabertas.uol.com.br/.Último acesso em 27/07/2010.

8 Ibidem.9 Cf. Vitélio Marcos Brustolin, Abrindo a “caixa-preta”: O desafio da transparência dos gastos militares

no Brasil – Dissertação de mestrado apresentada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (Rio deJaneiro, dez. 2009), pp. 83-84.

Como o Orçamento daUnião não é impositivo, acontinuidade do fluxo derecursos financeiros estásob permanente ameaça,

podendo inviabilizar oreaparelhamento das

Forças Armadas

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atual ministro da Defesa, consumiria 0,7%do PIB anual durante duas décadas. Issoelevaria o percentual dos gastos com defe-sa do Brasil para 2,29%, o que jamais ocor-reu durante o período pesquisado porBrustolin. O histórico de tais gastos nãoautoriza a previsão de uma mudança deparadigma em futuro previsível.10

ESTIMATIVAS E NECESSIDADES

O PAEMB sucede ao Programa deReaparelhamento da Marinha (PRM) exis-tente anteriormente e visa a orientar a reno-vação dos meios e adistribuição espacialdas forças, segundoprioridades estabeleci-das pela END. Ao con-trário do que ocorriaanteriormente, esta es-tratégia passou a admi-tir uma hierarquizaçãodas tarefas e dos objetivos.11

A fim de cumprir sua destinação consti-tucional, a Marinha do Brasil passaria, as-sim, a dar às tarefas básicas do Poder Navala seguinte ordem de prioridade: (1) negaçãodo uso do mar; (2) projeção de poder sobreterra; e (3) controle de áreas marítimas. Acapacitação para o desempenho de tais ta-refas deve contribuir para a dissuasão.12

O desenvolvimento dos meios operativosseria sequencial, priorizando inicialmente anegação do uso do mar. Apesar disso, opreparo do Poder Naval brasileiro visaria aodesempenho de todas as tarefas – na defe-

sa de áreas estratégicas e instalações vitaisnas águas sob jurisdição nacional e na pro-teção das rotas marítimas de interesse parao País, assim como na realização de opera-ções de paz no exterior.13

Como assinalamos em trabalhos anterio-res, a transformação da Marinha do Brasilnuma réplica da Marinha soviética do finaldos anos 50 do século XX poderia motivar apercepção errônea de que seu adversáriopotencial seria a Marinha dos Estados Uni-dos. O Brasil deve buscar ser percebidocomo aliado ou parceiro confiável, e nãocomo provável adversário.

O sequenciamentodas prioridades, porém,pode ser visto comouma imposição das limi-tações orçamentárias.Assim, as inovações in-troduzi-das pela END epelo PAEMB não diver-giriam em demasia das

diretrizes de planejamento vigentes em nossaMarinha, procurando apenas compatibilizar aaplicação dos recursos disponíveis com asmetas de curto, médio e longo prazo.14

As ambiciosas propostas contidas noPAEMB – em particular as relativas à fu-tura criação de uma 2a Esquadra e de uma2a Divisão Anfíbia15 para atuar no norte/nordeste do País (acima da cintura Natal-Dacar) – levaram alguns céticos a classi-ficar tal plano como uma “lista de pedidosa Papai Noel”. As metas anunciadas po-dem ser consideradas muito otimistas parao horizonte temporal 2010-30.

10 Ibidem, pp. 83-84. Cf. também Pesce, “Um projeto de potência para o Brasil do século XXI”, Op. cit.11 Cf. Presidência da República, Op. cit., pp. 12-14.12 Ibidem, pp. 12-14. Cf. também Aurélio Ribeiro da Silva Filho, “Aula inaugural dos Cursos de Altos

Estudos da Escola de Guerra Naval”, Revista da Escola de Guerra Naval (13): 174-200 – Rio deJaneiro, jun. 2009.

13 Cf. Presidência da República, Op. cit., pp. 12-14. Cf. Pesce, “Uma segunda Esquadra para o Brasil?”, Op. cit.14 Cf. Pesce, Op. cit.15 N.A.: – Estas denominações são empregadas no texto do PAEMB, mas futuramente poderiam ser

adotadas denominações diferentes.

O Brasil deve buscar serpercebido como aliado ouparceiro confiável, e não

como provável adversário

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Numa estimativa conservadora, o perí-odo 2010-50 talvez fosse mais realista, ten-do em vista o volume de investimentosanunciado. De fato, vários projetos pre-vistos devem ter sua execução prorrogadapara além de 2030. Po-demos destacar a ob-tenção de submarinosde propulsão conven-cional (2010-37) e nu-clear (2010-47), de na-vios-aeródromo (2010-32) e de navios de es-colta (2010-34), assimcomo a de aeronavesde diversos tipos.16

Tal impressão demodo algum invalida onotável trabalho reali-zado pela Marinha.Pelo contrário, o cor-reto é que uma avalia-ção estratégica de lon-go prazo não se limitea projetar no futuro astendências atuais, masleve em conta a possí-vel evolução das ne-cessidades no períodode tempo considera-do, procurando, inclu-sive, antecipar possí-veis rupturas.

De início, devem ser consideradas asreais necessidades do Poder Naval, pormaiores que sejam os recursos necessári-os para atendê-las. Os cortes que se fize-rem necessários só devem ser realizadosmais tarde. O procedimento é esse. Casocontrário, renunciaremos ao pensamento

estratégico proativo e passaremos tão so-mente a “racionalizar a penúria”.

PROPOSTAS DE ARTICULAÇÃODAS FORÇAS

Além da constitui-ção de um segundonúcleo de Poder Navalno norte do País, a am-pliação dos meios pre-vista no PAEMB deve-rá incluir o reforço dasforças distritais e a cri-ação de novas organi-zações militares (OM)operativas e do Siste-ma de Segurança doTráfego Aquaviário(SSTA).

Para monitoramentoe controle das águasjurisdicionais brasilei-ras, o PAEMB contem-pla a implementaçãodo Sistema de Geren-ciamento da AmazôniaAzul (SisGAAz), quepossibilitará o empre-go integrado de aero-naves, radares fixos,veículos aéreos não

tripulados (Vant) e satélites de comunica-ções e de vigilância marítima. O SisGAAzincorporará sistemas já existentes e outrosque serão criados.17

No futuro, até 15 submarinos de propulsãoconvencional (S-BR) e seis de propulsão nu-clear (SN-BR) poderão operar a partir de umanova base em Itaguaí, no litoral sul do estado

16 Cf. Pesce, “PEAMB 2010-2030: Perspectivas”, Op. cit. Cf. também Coordenação do PRM/Grupo deTrabalho PEAMB, Op. cit.

17 Cf. Rodrigo Otávio Fernandes de Hônkis, Poder Naval na Amazônia Oriental: Situação atual, perspec-tivas e consequências para a defesa nacional (Belém: Com 4o DN, 2010). Monografia disponibilizadaem http://www.sae.gov.br/seminarioamazonia/. Acesso em 10/08/2010.

Uma avaliação estratégicade longo prazo que não selimite a projetar no futuroas tendências atuais, masleve em conta a possível

evolução das necessidadesno período de tempo

considerado, procurando,inclusive, anteciparpossíveis rupturas

Caso contrário,

renunciaremos aopensamento estratégicoproativo e passaremos

tão somente a“racionalizar a penúria”

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do Rio de Janeiro, apoiados por um navio desocorro submarino (NSS) e por um esquadrãode quatro navios caça-minas (NCM).18

A 1a Esquadra, sediada em Niterói (RJ),poderá incluir um navio-aeródromo (NAe),três navios de propósitos múltiplos(NPM)19, 18 navios de escolta, três naviosde apoio logístico (NApLog), dois reboca-dores de alto-mar (RbAM), um navio-hos-pital (NH) e três navios-transporte de apoio(NTrA), além de várias embarcações dedesembarque. Estes meios de superfícieserão apoiados por aeronaves (aviões ehelicópteros) de diversos tipos.20

Por sua vez, a 2a Esquadra – possivel-mente sediada em São Luís (MA) – pode-ria ser constituída por um NAe, um NPM,12 navios de escolta, dois NApLog, umNSS (para apoio a submarinos operandona área), um RbAM e um NTrA, além deembarcações de desembarque e aeronavesde vários tipos.21

A Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE),sediada no Rio, poderá incluir quatro Bata-lhões de Infantaria de Fuzileiros Navais(BtlInfFuzNav), a fim de prover uma Briga-da Anfíbia (BAnf) para operações expedi-cionárias. É possível que, no litoral norte/nordeste, seja criada uma força menor, ca-paz de fornecer uma Unidade Anfíbia

(UAnf) de pronto emprego. Devem ser cri-ados também novos Batalhões de Opera-ções Ribeirinhas (BtlOpRib) distritais.22

Na prática, o Brasil possui dois litorais –separados pela cintura Natal-Dacar e forman-do uma cunha em direção à África. A áreamarítima setentrional (ao norte de Natal) de-fronta-se com o Atlântico Norte e a extremi-dade sudeste do Caribe, enquanto que a me-ridional (ao sul de Natal) situa-se inteiramen-te no Atlântico Sul. Estas duas áreas têm ca-racterísticas geopolíticas dissimilares.23

Se for criada uma segunda Esquadra,sediada no litoral norte/nordeste do Brasil,esta terá por atribuições principais a defesada Amazônia pelo mar e a proteção dos inte-resses nacionais na área marítima situada aonorte de Natal-Dacar. Logo, sua composiçãonão deve ser necessariamente igual à da Es-quadra balanceada sediada no Rio de Janei-ro.24 O mesmo raciocínio pode ser aplicado àcomposição das forças de fuzileiros navais.

INFLUÊNCIAS ESTRANGEIRAS

A ideia de criação de uma segunda Es-quadra em nossa Marinha foi cogitada du-rante os anos 70 do século passado, tendosido posteriormente abandonada, devidoà crônica falta de recursos.25 Seu ressurgi-

18 Cf. Pesce, “PEAMB 2010-2030: Perspectivas”, Op. cit. Cf. também Secretaria de Ciência, Tecnologia eInovação da Marinha, A Estratégia Nacional de Defesa e a Base Industrial de Defesa – Palestra do Vice-Almirante Ney Zanella dos Santos no Simpósio “A Estratégia Nacional de Defesa e o Poder Marítimo”(Rio de Janeiro: EGN, 30/10/2009). Disponível em http://www.egn.mar.mil.br/. Acesso em 01/12/2009.

19 N.A.: Designação provisória de uma futura classe de navios-aeródromo de helicópteros de assalto(NAeHA) para apoio a operações anfíbias. O termo “navio de propósitos múltiplos” foi umneologismo cunhado pela END. Cf. Presidência da República, Op. cit., p. 13.

20 Cf. Pesce, “PEAMB 2010-2030: Perspectivas”, Op. cit. Cf. também Secretaria de Ciência, Tecnologiae Inovação da Marinha, Op. cit.

21 Ibidem.22 N.A.: Tais metas estão incluídas na visão de futuro do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Cf. palestra

apresentada em Secretaria de Assuntos Estratégicos/Marinha do Brasil, Seminário de Desenvolvi-mento da Doutrina Naval (Rio de Janeiro: EGN, 03 e 04 ago. 2010).

23 Cf. Pesce, “Uma segunda Esquadra para o Brasil?”, Op. cit.24 Ibidem.25 Ibidem.

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mento, em decorrência da END, pode estarassociado às repercussões da reativaçãoda IV Esquadra (4th Fleet) pela Marinhados EUA em 2008.26

O autor do texto da END aparentementese inspirou na estrutura organizacional daU.S. Navy, com suas grandes Esquadrasdo Atlântico e do Pacífico – subdivididasem forças-tipo para o aprestamento dosmeios e em Esquadras componentes(numbered fleets) para o seu emprego. Nocaso do Brasil, acreditamos que uma estru-tura complexa desse tipo seria demasiada-mente onerosa, pelo menos até meados doséculo XXI.

Contudo, a atual organização de nossaEsquadra – constituída por três forças-tipo(Aeronaval, de Submarinos e de Superfí-cie) e por duas Divisões operativas – mos-tra nítida influência norte-americana. Omesmo se aplica à estrutura da FFE, cujosprincipais componentes operativos inte-gram a Divisão Anfíbia (DivAnf) e a Tropade Reforço (TrRef).

A influência norte-americana sobre opensamento naval brasileiro, cujas origensremontam à criação da Missão Naval dosEUA em 1922, foi intensa durante a maiorparte do século XX. Esta suplantou, porampla margem, a tradicional influência bri-tânica herdada da época do Império, noséculo anterior. Ao longo da última déca-da, porém, as Marinha do Brasil e da Fran-ça vêm estreitando seus laços de coopera-ção e amizade.

A Marine Nationale é hoje uma forçanaval oceânica capaz de operar em áreas

marítimas distantes em defesa dos interes-ses nacionais da França. O comando dasunidades que compõem os quatro ramoscombatentes (navios de superfície, subma-rinos de propulsão nuclear, aviação navale fuzileiros navais) daquela Marinha é exer-cido por intermédio de duas cadeias dis-tintas: a orgânica (administrativa) e aoperacional.27

A cadeia de comando orgânica está su-bordinada ao chef d’état-major de lamarine, que tem por encargo o preparo e oaprestamento das forças marítimas. O co-mando operacional, por sua vez, subordi-na-se ao chef d’état-major des armées, res-ponsável pelo emprego das Forças Arma-das francesas no âmbito do Ministério daDefesa.28

Na cadeia operacional, os mares e ocea-nos do mundo são divididos em dez zonasmarítimas, cinco das quais (Índico, Pacífi-co, Atlântico, Mediterrâneo e Canal daMancha/Mar do Norte) correspondem aextensas áreas marítimas e oceânicas e ascinco outras (Antilhas, Guianas, Ilhas Reu-nião, Nova Caledônia e Polinésia France-sa), aos departamentos e territórios ultra-marinos da França.29

O sistema francês de presença navalpermanente caracteriza-se pela manutenção,nas zonas marítimas oceânicas e nos de-partamentos e territórios de ultramar, degrupamentos navais reduzidos, os quaispodem receber reforços em caso de neces-sidade.30 Esta prática difere do sistema bri-tânico de presença intermitente (caracteri-zado pelo envio periódico de grupos-tare-

26 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Atlântico Sul: Aumento da presença naval norte-americana?”, RevistaMarítima Brasileira, 128 (07/09): 98-103 – Rio de Janeiro, jul./set. 2008.

27 Cf. sítio oficial da Marinha francesa em http://www.defense.gouv.fr/marine/. Último acesso em 31/07/2010.

28 Ibidem. N.A.: Observar que na França, como na maioria dos países ocidentais, o comando de cada forçasingular é exercido pelo respectivo chefe de estado-maior.

29 Cf. sítio oficial da Marinha francesa, Op. cit.30 Ibidem.

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fa ao exterior), assim como do sistema nor-te-americano de presença global.

ABORDAGEM INCREMENTAL

Ao propor a hierarquização dos objetivose o desenvolvimento sequencial dos meios, aEND indiretamente sugere uma abordagemincremental para a modernização e a amplia-ção do Poder Naval bra-sileiro.31 Tal empreendi-mento tornará necessá-rio mobilizar recursoshumanos, tecnológicos,materiais e financeirosconsideráveis por maisde uma geração.

A fim de viabilizar acriação de uma 2a Es-quadra e de uma 2a Divi-são Anfíbia até 2050,deverão ser considera-dos – além do elevadoinvestimento em meiosnavais, aeronavais e defuzileiros navais – os re-cursos significativos aserem aplicados na im-plantação da infraestru-tura de apoio, assimcomo na manutenção ena operação dos meios.

Enquanto tais re-cursos não estiveremdisponíveis, a solução seria manter umaEsquadra e uma FFE completas e bemdimensionadas, contando com bases deapoio ao longo de todo o litoral brasileiro(e, possivelmente, no exterior), mas capa-zes de destacar periodicamente frações

para a realização de operações em áreasdistantes de suas bases principais.

Uma modesta ampliação da infraestru-turaexistente no norte/nordeste do País permitiriaestacionar naquela área – em caso de necessi-dade – uma força pronta da Esquadra. Domesmo modo, poderia ser estacionado no nor-te do Brasil um grupamento operativo da FFE.Tais medidas necessitariam de investimentos

iniciais relativamentemodestos, compatíveiscom a provável realida-de orçamentária dospróximos anos.32

Dentro dos limitesdo orçamento, seriapreciso “mobiliar” pri-meiro as forças atuaiscom meios operativosmodernos, nas quanti-dades necessárias parao cumprimento dasmissões previstas. So-mente então seria pos-sível pensar em expan-dir as forças e o esco-po das missões. Decerta forma, nossa Ma-rinha já está procuran-do fazer isso.

O PAEMB é com-posto por diferentesprojetos, voltadospara a articulação das

forças, assim como para o equipamento eos recursos humanos. Este plano englobaações de curto (2010-14), médio (2015-22) elongo prazo (2023-30). Contudo, a execu-ção de vários projetos deverá prolongar-se até depois de 2030.33

31 Cf. Presidência da República, Op. cit., pp. 12-14.32 Cf. Pesce, “Uma segunda Esquadra para o Brasil?”, Op. cit.33 Cf. Pesce, “PEAMB 2010-2030: Perspectivas”, Op. cit. Cf. também Coordenação do PRM/Grupo de

Trabalho PEAMB, Op. cit.

A modernização e aampliação do Poder Naval

brasileiro tornarãonecessário mobilizarrecursos humanos,

tecnológicos, materiais efinanceiros consideráveispor mais de uma geração

O PAEMB é composto pordiferentes projetos, engloba

ações de curto (2010-14),médio (2015-22) e longo

prazo (2023-30), devendoprolongar-se atédepois de 2030

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Para a criação de uma 2a Esquadra e deuma 2a Divisão Anfíbia, acreditamos queum horizonte de concretização até 2050seria razoavelmente realista. Entretanto, osestudos para a possível implantação de taisprojetos já se iniciaram. Provavelmente,incluem a análise dos modelos de estrutu-ra adotados pelas principais Marinhas, es-pecialmente as que mantêm intercâmbiomais intenso com a Marinha do Brasil.34

Podemos afirmar que, de certa forma, osistema adotado pela Marinha francesa,para manutenção de uma presença perma-nente nas águas metropolitanas e no ultra-mar é semelhante ao já utilizado pela Mari-nha do Brasil nas águas sob jurisdição na-cional (conhecidas como Amazônia Azul).As diferenças residem, sobretudo, nos fa-tores de natureza geográfica.

No caso do Brasil, a área a ser patrulha-da não é dispersa, mas compacta, corres-pondendo a uma faixa de 200 (podendoestender-se a 350) milhas marítimas de lar-gura ao longo do litoral. Aí operam, em mis-sões de patrulha naval de rotina, os meiosque constituem as forças distritais, subor-dinadas aos Distritos Navais. Caso sejanecessário, tais meios podem ser reforça-dos por grupos-tarefa da Esquadra, atual-mente sediada no Rio de Janeiro.

Vale observar que uma Esquadra dota-da de meios suficientes para atender a to-das as demandas seria capaz de atuar ondefosse necessário (o que, na prática, podesignificar em qualquer lugar do mundo),operando a partir de suas bases principaisou utilizando, em caráter temporário, basesde apoio situadas nas proximidades da áreade operações.

Para isso, seria necessário, além de in-vestir na ampliação do quantitativo de mei-os operativos, elevar progressivamente onível de capacitação das bases navais paraprestar apoio logístico a unidades da Es-quadra que estejam operando em sua áreade cobertura. No caso brasileiro, talcapacitação está hoje praticamente limita-da à área Rio.

Está prevista no PAEMB a construção, nolitoral norte/nordeste, de um complexo navalcomparável ao existente no Rio de Janeiro. ABaía de São Marcos, em São Luís (MA), éapontada por especialistas como o local maisconveniente para isso.35 Tal perspectiva che-gou a criar um clima de “disputa” sobre a me-lhor localização, envolvendo os estados doPará (defendendo a opção por Belém) e doMaranhão.36

A construção de tal base não deve terprioridade maior que a conferida à obten-ção dos meios operativos. Pode-se atémesmo especular que a implantação de umabase naval de grande porte naquela área –sem que nossa Marinha dispusesse de for-ças para operar a partir dela – poderia darmargem a pressões diplomáticas sobre oBrasil no sentido de que este cedesse taisinstalações para uso pelos EUA e seus prin-cipais aliados.

A área marítima de interesse estratégicodo Brasil não se limita à Amazônia Azul,mas inclui a totalidade do Atlântico Sul, aÁfrica Ocidental e Meridional e a Antárti-ca, assim como o Caribe e parte do PacíficoSul. As limitações do apoio logístico (loca-lização das bases e número reduzido denavios de apoio logístico móvel) têm leva-do nossa Marinha a operar em áreas relati-

34 N.A.: – As Marinhas dos EUA e da França encontram-se entre as que mantêm intenso intercâmbio comnossa Marinha. Cf. palestras em Secretaria de Assuntos Estratégicos/Marinha do Brasil, Op. cit.

35 Cf. Pesce, “PEAMB 2010-2030: Perspectivas”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Marinha do Brasil:Perspectivas”, Op. cit.

36 Cf. “Jobim cancela visita a Belém e levanta suspeitas”, Diário do Pará, Belém, 14/08/2010. Matériadisponibilizada em http://www.defesanet.com.br/.

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vamente próximas do litoral brasileiro. Talquadro precisa ser revertido.

CONCLUSÃO

Apesar da divulgação da END e doPAEMB, as limitações orçamentárias que di-ficultam a modernização e o fortalecimentodo Poder Naval brasileiro permanecem. Ape-sar do modesto aumento dos recursos desti-nados a investimentos, o orçamento da Ma-rinha para 2010 ficou aquém do que seria de-sejável, a fim de garan-tir a continuidade darenovação e a amplia-ção dos meios.

O histórico da rea-lidade orçamentária dadefesa no Brasil – ca-racterizado pelo fenô-meno da path-depen-dency (dependênciada trajetória) – nãoautoriza previsões oti-mistas em relação àpossível alteração doquadro vigente.37 A concretização das me-tas ambiciosas do PAEMB depende da ga-rantia de um fluxo contínuo de investimen-tos por mais de duas décadas. Sem tal ga-rantia, o novo plano não passará de maisum “protocolo de intenções”.

Embora o PAEMB admita a hierarqui-zação das tarefas e o desenvolvimentosequencial dos meios, o Brasil necessitade uma Marinha polivalente com capaci-dade oceânica – apta a desempenhar to-das as tarefas básicas do Poder Naval, naAmazônia Azul ou fora dela. A complexida-de de tais tarefas só tende a aumentar, de-

vido ao crescimento econômico e o aumen-to da projeção internacional do País.

A infraestrutura e as instalações locali-zadas em áreas costeiras ou nas águasjurisdicionais brasileiras podem ser facilmen-te atacadas por mar. As rotas marítimas sãovulneráveis às “novas ameaças” (pirataria,terrorismo e outras formas de crimetransnacional), assim como às ameaças detipo clássico. A proteção de nossas ativida-des marítimas representará um enorme de-safio, em tempo de paz ou na eventualidade

de um conflito armado.A posse, pelo Brasil,

de um Poder Naval mo-derno e bem aparelhadocontribuirá significati-vamente para aumentarsua capacidade dedissuasão clássica (nãonuclear). Ainda quepossam ser considera-das otimistas para o pe-ríodo 2010-30, as metasque constam doPAEMB – inclusive a

criação da 2a Esquadra e da 2a Divisão Anfíbia– resultam de criteriosa avaliação de necessi-dades e devem ser consideradas factíveis.

Talvez um horizonte temporal até 2050seja mais realista para a concretização doprojeto de criação de um segundo núcleode Poder Naval no norte/nordeste do Brasil.Todavia, não há como negar a necessidadede expansão quantitativa e qualitativa dosmeios navais, aeronavais e de fuzileiros na-vais da Marinha, assim como de aumentodo seu efetivo de pessoal militar.38

A mobilidade e a versatilidade são qua-lidades intrínsecas do Poder Naval, não

37 Cf. Brustolin, Op. cit., pp. 83-84. Cf. Pesce, “Um projeto de potência para o Brasil do século XXI”,Op. cit.

38 N.A.: – O aumento de efetivo autorizado será de 36% até 2030, passando de 59,6 mil para 80,5 miloficiais e praças. Cf. Pesce, “PEAMB 2010-2030: Perspectivas”, Op. cit.

Apesar da divulgação daEND e do PAEMB, as

limitações orçamentáriasque dificultam a

modernização e ofortalecimento do Poder

Naval brasileiropermanecem

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havendo necessidade de criar novas es-truturas para “ocupar” áreas marítimas. Paraassegurar uma presença naval frequente,uma Esquadra balanceada, dotada de mei-os modernos em quantidades apreciáveis,será capaz de operarlonge de suas basespor longos períodosde tempo, desde quedisponha de uma ade-quada capacidade deapoio logístico móvel.

A situação dos di-versos segmentos dadefesa nacional noBrasil é crítica. A ex-pressão militar do Po-der Nacional encon-tra-se defasada em re-lação ao desenvolvi-mento alcançado pe-las demais expressões– em especial a econô-mica. O aumento daprojeção do País no exterior vem levando aum aumento de seus compromissos inter-nacionais nas áreas de defesa e seguran-ça. Tudo indica que tal tendência deve seaprofundar no futuro imediato.

No final dos anos 80 e início dos 90 doséculo XX, a crise econômica e o fim da Guer-ra Fria inviabilizaram a continuidade do pro-jeto de potência que o Brasil vinha desenvol-vendo, levando sua indústria de defesa à

estagnação.39 A recu-peração da capacidadeprodutiva dessa indús-tria é um dos objetivosda END.40 Além da in-dústria de construçãonaval militar, o reapa-relhamento da Marinhaenvolve diversos seg-mentos industriais liga-dos à defesa.

Durante a “décadaneoliberal” (anos 90 doséculo passado), o Bra-sil negligenciou suadefesa, permitindo quea defasagem tecnoló-gica das Forças Arma-das brasileiras se acen-

tuasse. É preciso reverter os efeitos nefastosdaquela política, assegurando o fluxo de re-cursos necessário para dar continuidade aosprogramas de renovação e modernização dastrês forças singulares.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS> Missão das Forças Armadas; Marinha do Brasil; Poder marítimo;Poder militar; Esquadra; Base Naval; Corpo de Fuzileiros Navais;

39 Cf. Roberto Lopes, “Brasil Potência: O sonho que insiste em não morrer”, Leituras da História II (32):26-33 – São Paulo, jul. 2010.

40 Cf. Presidência da República, Op. cit., p. 3.

A expressão militar doPoder Nacional encontra-se defasada em relação aodesenvolvimento alcançadopelas demais expressões. Épreciso assegurar o fluxo

de recursos necessáriopara dar continuidade aosprogramas de renovação e

modernização das trêsforças singulares

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ARTICULAÇÃO DO PODER NAVAL BRASILEIRO: DÚVIDAS E COMENTÁRIOS

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SUMÁRIO

IntroduçãoA Antaq e a regulação da cabotagemProblemas que obstruem o desenvolvimento da cabotagemPropostas para desenvolver a cabotagemConsiderações finais

O PAPEL DA ANTAQ* NA REGULAÇÃO DACABOTAGEM BRASILEIRA

OSVALDO AGRIPINO DE CASTRO JUNIOR**

Oficial de Náutica – Professor-Doutor

INTRODUÇÃO

O presente artigo objetiva contribuirpara o desenvolvimento da cabota-

gem brasileira, por meio da apresentação

dos principais aspectos jurídicos da suaregulação, ora conceituada como aquelarealizada entre os portos ou pontos doterritório brasileiro, utilizando o transpor-te aquaviário (marítimo, fluvial e lacustre)

* Antaq – Agência Nacional de Transporte Aquaviário.** Oficial de Náutica formado pelo Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga-1983), advogado

(www.adsadvogados.adv.br), professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Ciência Jurídica daUniversidade do Vale do Itajaí – Univali (www.univali.br/ppcj) e doutor em Direito (UniversidadeFederal de Santa Catarina – UFSC), onde coordena o Grupo de Pesquisas Regulação da Infraestruturae Juridicidade da Atividade Portuária (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico – CNPq). Pós-doutor em Regulação da Infraestrutura – Harvard University, comrecursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Autor de váriasobras sobre Direito Marítimo, Direito Portuário, Direito Regulatório e Direito Internacional.Endereço eletrônico: [email protected].

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O PAPEL DA ANTAQ NA REGULAÇÃO DA CABOTAGEM BRASILEIRA

ou estas e as vias navegáveis interioresno Brasil.1

Trata-se, portanto, juntamente com a ge-ração de energia renovável, de um dos ele-mentos mais relevan-tes da infraestrutura(física) brasileira, deforma que o texto pre-tende, assim, contri-buir para a inteligên-cia marítima dacabotagem brasileira,ou melhor, infraes-trutura intelectual, es-sencial para a constru-ção do Poder Maríti-mo nacional.2

O tema se justificapelo grande déficit demaritimidade do litoralbrasileiro3 e pela pe-quena quantidade decarga transportadapela cabotagem noBrasil, vez que, “atu-almente, a divisãomodal dos transpor-tes mostra 61% dosfluxos no modal rodo-viário, 30% no ferroviário, 4% nohidroviário e no dutoviário e 1% nacabotagem (...), desconsiderando o modalaéreo”.4

De acordo com Meira Mattos:O Atlântico, com a sua imensa

massa líquida, oferece-nos não ape-nas a melhor via de comunicação en-

tre grandes centroscosteiros do País oua rota indispensávelao nosso comércioexterior, propicia-nos também umafonte de recursoseconômicos da mai-or importância. (...) Avalorização econômi-ca dos mares resulta,inequivocamente, nasua maior expressãoestratégica.5

Com a criação dasagências reguladorasindependentes a par-tir de 1996, por meio daAgência Nacional deEnergia Elétrica(Aneel), o Brasil aco-lhe um modelo. Pelomenos no âmbito for-mal, há maior eficiên-

cia na implementação de políticas de Esta-dos para setores relevantes dainfraestrutura como o de transporteaquaviário e portos, regulada pela Agên-

1 Conceituada como: “navegação de cabotagem: a realizada entre portos ou pontos do território brasilei-ro, utilizando a via marítima ou esta e as vias navegáveis interiores”, conforme art. 2o, inciso IX, daLei no 9.432/97.

2 Sobre o tema, na perspectiva do transporte aquaviário no mundo globalizado e do papel do Direito e dasRelações Internacionais: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. Introdução. In: CASTRO JUNIOR,Osvaldo Agripino de. (org.) Direito Marítimo Made In Brasil. São Paulo: Lex, 2007, p. 11-31.

3 Acerca do assunto: FOULQUIER, Éric. “Le déficit de maritimeté du littoral portuaire sud-américain”.In: GUILLAUME, Jacques. Les transports maritimes dans la mondialisation. Paris: Harmattan,2008, p. 211-244.

4 Plano Nacional de Logística de Transportes – Relatório Executivo. Brasília: Ministério dos Transpor-tes, Ministério da Defesa, Centran, abr. 2007, p. 158.

5 MEIRA MATTOS, General. A Geopolítica e as Projeções do Poder. Prefácio de Luís Vianna Filho.Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 89-90.

A cabotagem, juntamentecom a geração de energia

renovável, é um doselementos mais relevantes

da infraestrutura(física) brasileira

A divisão modal dos

transportes mostra 61%dos fluxos no modalrodoviário, 30% noferroviário, 4% no

hidroviário e no dutoviárioe 1% na cabotagem (...),

desconsiderando omodal aéreo

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cia Nacional de Transportes Aquaviários(Antaq).6

A Antaq surgiu no Brasil, em um con-texto de crise, diretamente inspirada nomodelo norte-americano, e, tal como ocor-re nos Estados Unidos, a própria lei queinstitui esta agência já lhe confere podernormativo ou regulador. Criada pela Lei no

10.233, de 5 de junho de 2001, a Antaq temnatureza de autarquia especial e está dire-tamente vinculada ao Ministério dos Trans-portes, sendo uma entidade reguladora efiscalizadora das atividades portuárias edos transportes aquaviários. A sua esferade atuação consiste nas navegações delongo curso, de interior, de cabotagem, deapoio marítimo e portuário.

Nesse quadro, o artigo objetiva discor-rer sobre a competência da Antaq para re-gular a cabotagem por meio de três partes.O Capítulo 1 apresenta um breve históricodas normas editadas pela Antaq que regu-lam a cabotagem. O Capítulo 2 trata dosproblemas da cabotagem. Já o Capítulo 3discorre sobre propostas para desenvol-ver o setor. Nas considerações finais, sãofeitas outras sugestões.

A ANTAQ E A REGULAÇÃO DACABOTAGEM

Dentro das atribuições que foramauferidas à Antaq está a liberdade de criarnormas que incidam sobre os setores nosquais a Agência tem competência para atu-ar, conforme o art. 27, inciso IV, combinadocom os arts. 43, 44 e 68 da Lei no 10.233, de5 de junho de 2001, com a redação dada

pela Medida Provisória no 2.217/3, de 4 desetembro de 2001. Algumas normas queinterferem diretamente na navegação decabotagem no País, portanto, a seguir se-rão abordadas.

No conjunto das resoluções que outorgam,indeferem, aplicam penalidades ou advertên-cias, extinguem ou cancelam pedidos paraempresas atuarem na navegação decabotagem, a Antaq publicou outras normasque são interessantes ao estudo em questão.

A Resolução no 024, de 8 de agosto de2002, aprovou projeto para a norma de ou-torga de autorização à pessoa jurídica paraoperar como empresa brasileira de navega-ção nas linhas de longo curso, de cabota-gem, de apoio portuário e de apoio maríti-mo. A norma determinava a realização deaudiência pública, com prazo de 21 dias acontar da data da publicação no Diário Ofi-cial da União, com o escopo de obter sub-sídios e informações para aprimorar o atoregulamentar em questão.

Os requisitos para outorga de autoriza-ção consistiam em a empresa possuir no mí-nimo uma embarcação que arvorasse ban-deira brasileira, adequada ao tipo de navega-ção à qual se dispunha e que estivesse emplenas condições de operabilidade (em casode paralisação superior a 180 dias contínuos,deveria apresentar justificativa à Antaq).7

Como alternativa a esta regra, a empresapoderia ter contrato de afretamento a casconu de propriedade de brasileiro, conforme aLei no 9.774/98,8 ou mediante apresentaçãode contrato de construção de embarcaçãoem estaleiro nacional, preenchendo algunsrequisitos, ou caso tivesse o fim específico

6 Sobre a análise comparativa da Antaq e da Federal Maritime Commission, com 22 recomendações paraaperfeiçoar a Antaq, fruto das nossas pesquisas de pós-doutoramento na Harvard University: CASTROJUNIOR, Osvaldo Agripino de. Direito Regulatório e Inovação nos Transportes e Portos nos EstadosUnidos e Brasil. Prefácio Prof. Ashley Brown. Harvard University. Florianópolis: Conceito, 2009.

7 Resolução no 24, art.10. Disponível em:<www.antaq.gov.br>.8 Lei no 9.774/98, altera a Lei no 7.652, de 3 de fevereiro de 1988, que dispõe sobre o Registro da

Propriedade Marítima.

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de obter financiamento junto ao Fundo deMarinha Mercante (FMM) para construçãode embarcação em estaleiro brasileiro.9

Nesse quadro, a situação financeira da pes-soa jurídica deveria ser considerada boa, noparâmetro de possuir pelo menos patrimôniolíquido de R$ 6 milhões para a navegação decabotagem.10 Ressalte-se que a empresa queapresentasse objetivo de atuar na navegaçãode cabotagem unicamente com embarcaçõesde capacidade inferior a mil toneladas de portebruto (TPB), ficaria isenta de preencher o pré-requisito estipulado de patrimônio líquido.11

A Resolução em estudo ainda exigiadocumentos que, no caso da cabotagem,deveriam ser enviados anualmente até odia 30 de junho;12 e, caso a empresa fosseautorizada, ficaria submetida ao princípioda livre concorrência e teria que satisfazercertos requisitos. Como exemplo, podemser citadas a regularidade e a preservaçãodo meio ambiente. As penalidades, no casodo descumprimento de qualquer disposi-ção legal, regulamentar ou nos termos oucondições expressas ou implícitas nos ter-mos de autorização, consistiam em: adver-tência, multa, suspensão, cassação e de-claração de inidoneidade.13

A citada norma dispunha sobre o térmi-no da autorização, que poderia ocorrer porrenúncia, falência ou extinção da pessoajurídica autorizada, ou pela Antaq, por anu-lação ou cassação, mediante processo re-gular, preenchidas as hipóteses menciona-das nos incisos I e II do art. 17. Acrescen-tava, nas disposições finais e transitórias,que a autorização provisória perduraria noprazo máximo de 180 dias.14

Em seguida, a Resolução no 032, de 2 desetembro de 2002, prorrogava o prazo paraa aprovação do projeto de norma estabele-cido pela Resolução no 24 para 8 de agostode 2002. Por sua vez, em 19 de novembrode 2002, foi editada a Resolução no 052 daAntaq, sobre o mesmo tema, com altera-ções do projeto inicial; em seguida, a Re-solução no 090, de 26 de maio de 2003, pror-rogou o prazo previsto na Resolução no

052, para convocar as empresas de nave-gação que já tivessem autorização a reno-var a concessão: aos 180 dias previamenteestipulados, concedeu mais 90 dias, a se-rem contados após o término daqueles.

Mencione-se que, em 11 de agosto de2003, a Resolução no 107 viria para aprovara proposta de alteração da norma feita pelaResolução no 052 e submetê-la à audiênciapública. Esta norma ainda foi aprovada pelaResolução no 492, de 19 de setembro de2005, depois aprovada pela Resolução no

843, de 14 de agosto de 2007 e, posterior-mente, foi alterada finalmente pela Resolu-ção no 879, de 26 de setembro de 2007.

Desde o primeiro projeto demonstrado naResolução no 024 até a norma finalmente apro-vada pela Resolução no 843, com as alteraçõesda Resolução no 879, inúmeras mudanças ocor-reram. Dentre elas podem ser salientadas:

a) nas definições de que trata o art. 2o,foi incluído o inciso VII, com aconceituação de “proprietário” comosendo aquela pessoa física ou jurídicaque tenha em seu nome inscrita ou re-gistrada a embarcação;b) acrescentou o parágrafo único do art.3o, que dispunha sobre a autorização

9 Resolução no 24, art. 5o e incisos.10 Resolução no 24, art. 4o, inciso II, alínea “b”.11 Resolução no 24, art. 4o, §1o.12 Resolução no 24, art. 12, inciso I.13 Resolução no 24, art. 16 e incisos.14 Resolução no 24, art.18 e parágrafos.

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para operar, declarando ser elaintransferível e decretando o prazo parasua vigência;c) na seção sobre o requerimento, antestratava diretamente de autorização, con-tudo, a norma passou a tratar de pedidopara a autorização;d) passou a exigir que o contrato deafretamento a casco nu, realizado porempresa brasileira, tivesse prazo de nomínimo um ano;e) no art. 5o, §1o, atualizou a autorizaçãonos casos de pré-registro de embarca-ção em construção, bem como para asespecialidades do Registro Especial Bra-sileiro (REB);f) no art. 5o, §2o passou a exigir docu-mentos sobre a embarcação;g) ainda acrescentou mais algumas exigên-cias, no que diz respeito à embarcação emconstrução, exigindo mais requisitos e cer-tificados sobre o andamento da obra;h) formulou mais alguns requisitos, visan-do assegurar a comprovação da situaçãofinanceira e econômica da empresa;i) condicionou a continuidade da auto-rização a verificações periódicas paracertificar se as condições para explora-ção do serviço autorizado continuamadequadas;j) sobre a operação, dispôs que a Antaq,ao tomar conhecimento de fato que con-figure ou que venha a configurar infra-ção à ordem econômica, deverá informá-lo ao Conselho Administrativo de Defe-sa Econômica (Cade), à Secretaria deDireito Econômico do Ministério da Jus-tiça ou à Secretaria de Acompanhamen-to Econômico do Ministério da Fazen-da, conforme o caso;k) adicionou regras específicas para otransporte a granel de petróleo, seus de-rivados e gás natural, que deverão aten-der às normas estabelecidas pela Agên-cia Nacional do Petróleo (ANP);

l) estipulou que só poderia operar a em-presa de navegação nacional que tives-se apólice de seguro de responsabilida-de civil vigorando;m) nos casos de extinção, contemploumais a hipótese de ficar constatado queas condições da empresa nacional nãomais satisfazem às condições para asquais foi concedida a outorga;n) estabeleceu a hipótese de revoga-ção da autorização, nos casos de fi-nanciamento com a Marinha Mercan-te, quando a obtenção deste não restarcomprovada;o) firmou regras para a aplicação pro-porcional das penalidades;p) instituiu a seção sobre infrações, dis-pondo sobre quais são elas e suas res-pectivas multas;q) registrou que as disposições da nor-ma em pauta serão aplicáveis aos pro-cessos em tramitação na Antaq na datada sua publicação no Diário Oficial e de-terminou que a Resolução passasse avigorar desde a data da sua publicação.Ademais, a Resolução no 133 da Antaq,

de 4 de novembro de 2003, aprovou a pro-posta da norma para o afretamento de em-barcação por empresa brasileira de navega-ção na navegação de cabotagem, com a fi-nalidade de submetê-la à audiência pública.

A Resolução no 142, de 27 de novembrode 2003, veio com intuito de prorrogar oseu prazo, que entrava em vigor na data dasua publicação, para o dia 8 de dezembrode 2003. Em 16 de fevereiro de 2004, a Re-solução no 193 aprovou a norma, promo-vendo algumas alterações. Em 24 de maiode 2005, a Resolução no 431 aprovou algu-mas alterações para fins de submissão àaudiência pública, a Resolução no 496.

Segundo as regras desta Resolução,independe de autorização o afretamento deembarcação de bandeira brasileira e daque-las submetidas ao REB, conforme anterior-

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mente estudado. A citada norma dispõesobre os requisitos que tornam possível aautorização de embarcação estrangeiraafretada por tempo ou viagem atuar na na-vegação de cabotagem, sendo esta uma re-gra especial dependente de determinadosfatores, conforme dispostos na Resolução,como, por exemplo, quando for constata-do que não existe ou que não há disponí-vel navio com bandeira brasileira com o tipoe o porte necessário, a fim de que se faça otransporte desejado.

Esta Resolução dispõe sobre a circula-rização da consulta, definida por ela, comoo procedimento para a consulta feita pelaempresa nacional que deseje o afretamentode embarcação estrangeira para a cabo-tagem, feita a todas as empresas nacionais,os procedimentos pelos quais as consul-tas devem ser efetuadas e suas formas deconfirmação.

A Resolução em análise cita os requisi-tos para se proceder com a solicitação deautorização do afretamento de embarcaçãoestrangeira, desde sua forma até as informa-ções que devem ser prestadas à Antaq. Es-tabelece como se darão a oferta e o blo-queio de embarcação para o afretamento.

A citada Resolução menciona que o Cer-tificado de Autorização de Afretamento(CAA) – documento emitido pela AgênciaNacional dos Transportes Aquaviários queserve para comprovar a autorização deafretamento de empresa estrangeira paraoperar na cabotagem – só será deferidoquando a empresa informar à Antaq o locale a data em que a embarcação será recebida.

Ressalte-se que a citada Resolução de-fine quais são as penalidades, infrações esuas respectivas multas e salienta que, noscasos especiais em que esteja comprova-do o interesse público e de emergência, aAntaq poderá autorizar o afretamento deembarcação de bandeira estrangeira para acabotagem.

Deve-se mencionar que, em 30 de se-tembro de 2009, a Antaq publicou a Reso-lução no 1.499, que aprova a Proposta deNorma para disciplinar o afretamento deembarcação por empresa brasileira de na-vegação na navegação de cabotagem, a fimde submetê-la à audiência pública, que so-freu várias contribuições do Sindicato Na-cional das Empresas de Navegação Maríti-ma (Syndarma), visando aperfeiçoar a fu-tura Resolução. Nesse sentido, deve-semencionar o art. 5o da citada Resolução,que trata da autorização para afretamentode embarcação estrangeira:

Da Autorização de Afretamento – Art. 5o

– A empresa brasileira de navegação decabotagem poderá obter autorizaçãopara afretar embarcação estrangeira: I –por viagem, no todo ou em parte, ou portempo para uma única viagem: a) quan-do constatada a inexistência ou aindisponibilidade de embarcação de ban-deira brasileira, do tipo e porte adequa-dos para o transporte pretendido; b)quando verificado que as ofertas para otransporte pretendido não atendem aosprazos consultados ou que as condiçõesda taxa de afretamento não são compatí-veis com o mercado; II – por tempo, acasco nu ou por viagem, no todo ou emparte, ou por tempo para uma única via-gem, em substituição a embarcação emconstrução no País, em estaleiro brasilei-ro, com contrato em eficácia, enquantodurar a construção, até o limite da tone-lagem de porte bruto contratada. § 1o – Aautorização para afretamento de que tra-ta o inciso II deste artigo independe decircularização. § 2o – A autorização parao afretamento de que trata o inciso II,nas modalidades por tempo ou a casconu, somente será outorgada pelo prazode até doze meses. § 3o – Os afretamentosautorizados com base no inciso II, feitosem substituição a uma mesma embarca-

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ção, não poderão exceder a duração acu-mulada de 36 meses.

Após a análise das principais normasque influem diretamente na navegação decabotagem no Brasil, adiante serão expos-tas as principais fragilidades, as perspecti-vas e as possíveis soluções analisadassobre o setor.

PROBLEMAS QUE OBSTRUEM ODESENVOLVIMENTO DACABOTAGEM

No que tange aosprincipais problemasda cabotagem no Bra-sil, podem ser citadosos seguintes:

a) A captura (fenô-meno que geradisfuncionalidadena regulação do se-tor, com externali-dades negativas)da classe política(Legislativo e Exe-cutivo) e dos ór-gãos públicos res-ponsáveis pela po-lítica de transportes no Brasil pelos gru-pos de interesse (lobby) da indústria detransportes terrestres, especialmente orodoviário, construtoras e empresasoutorgadas que operam rodovias, indús-tria de combustíveis, distribuidoras (pos-tos de gasolina) e fábricas de pneus.b) Os políticos cujas campanhas são fi-nanciadas por esse lobby são os maio-res responsáveis. Infelizmente, a maioriada classe política não olha para o mar.Observe-se o descaso com a nãoimplementação do Conselho Nacional deIntegração de Políticas de Transporte(Conit), que precisou de uma pressão do

Tribunal de Contas da União (TCU) paraque funcionasse, e com a Antaq, que, noinício da primeira gestão de FernandoFialho, ficou vários meses sem poder de-liberar porque o Executivo e o Congres-so não nomeavam diretores. Trata-se deum descaso do Executivo à regulação detransporte, com omissão do Congresso,tal como ocorreu com a Agência Nacio-nal de Aviação Civil (Anac) pouco de-pois. Isso se dá porque o analfabetismoregulatório ainda é grande, não obstanteo esforço do governo federal, com a cri-

ação do Programa deRegulação, vinculadoà Casa Civil.c) Verifica-se, ainda, fal-ta de organização políti-ca (associativismo) epressão política dosusuários de transportes,não obstante o papel daAssociação Nacionaldos Usuários do Trans-porte de Carga (Anut) edas empresas brasilei-ras de navegação, algu-mas ainda ligadas a gru-pos transnacionais.d) Mencione-se a falta

de política de longo prazo (de Estado)que transforme as vantagens comparati-vas ambientais da cabotagem em incen-tivos econômicos.

Tais problemas decorrem, em parte, dahipertrofia do modal rodoviário e da suaindústria (automobilística e de caminhões),que, junto com uma falta de política decabotagem, inserida num contexto maior,de navegação marítima, conseguiram atraircargas da cabotagem e acabar com as em-presas que havia no setor. Isso se deu pelafalta de uma política de Estado, de longoprazo, já que os políticos são reféns do

Infelizmente, a maioria daclasse política não olha

para o mar

A falta de política de longoprazo (de Estado) que

transforme as vantagenscomparativas ambientais

da cabotagem emincentivos econômicos

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curto prazo (mandato de quatro anos), emrelação à modalidade de transporte adota-da no País.

Esse processo é histórico e decorreu deuma política que vislumbrava ser benefici-ada com o investimento em rodovias e avenda de automóveis, mas não deu certo.No entanto, em um país como o Brasil, comcaracterísticas continentais, dotado de umextenso litoral, obviamente o tipo de trans-porte mais indicado não é o rodoviário esim a cabotagem e o ferroviário.

Assim, deve-se, é claro, promover aintegração das três modalidades de trans-porte, visando alcan-çar a excelência notransporte de cargascom o esquema cha-mado de transporte“porta a porta”, pro-porcionando eficiên-cia, segurança, meno-res taxas de poluiçãoambiental, rapidez,custos menores aotransporte e a comodi-dade aos usuários. Nesse contexto, o Conitdeve funcionar e dar as diretrizes para aAntaq, a Agência Nacional de Transpor-tes Terrestres (Antt), a Anac e o Departa-mento Nacional de Infraestrutura de Trans-porte (DNIT).

Por sua vez, alguns segmentos, princi-palmente o graneleiro, pressionam o go-verno para abrir a navegação de cabotagemàs embarcações estrangeiras, alegando afalta de navios adequados disponíveis debandeira brasileira e suas linhas pouco re-gulares e escassas. No entanto, conclui-seque esta não é a medida mais adequada,uma vez que se aniquilaria com a indústrianacional, em face da sua poucacompetitividade, sendo fatal para os esta-leiros brasileiros, que já não usufruem deuma boa posição no mercado atual e,

consequentemente, maléfica para algunssetores empresariais.

Essa rodoviarização insensata do Brasildecorre de um processo histórico e temraízes na cultura política brasileira, muitodependente do Estado. Os problemas sãocausados, entre outras razões, pela natu-reza dos sistemas: a) político – aindaclientelista, que se aproveita do baixo índi-ce de educação do eleitorado que elege,em regra, políticos com baixo grau de edu-cação e péssima conduta ética, aliada ain-da a uma forte ingerência do Executivo napolítica de transporte; e b) tributário – o

brasileiro é o pior daAmérica Latina, e semincentivos para talmatriz de transporte.

Quanto aos cami-nhos, sustenta-se quesão necessárias algu-mas medidas, entre asquais: a) maior partici-pação dos usuáriosdesses serviços, queprecisam se organizar

e conhecer o papel da Antaq na regulaçãosetorial da cabotagem; b) adoção de umapolítica que transforme os portos e termi-nais em locais de lazer e de acesso ao pú-blico, sem a visão marginalizada da popu-lação, bem como que os transforme em lo-cais familiares, como acontece em váriaspartes do mundo, permitindo às crianças,desde cedo, o acesso aos navios, para que,a partir disso, floresça a afeição a esta mo-dalidade de transporte.

A Antaq e o Syndarma realizaram, no fi-nal de 2009, um seminário inédito em Brasíliapara o desenvolvimento da cabotagem, doqual participamos num painel sobre o valorda cabotagem, juntamente com MarianneLachmann, do Syndarma. Nele foram feitasvárias propostas, que precisam sair do pa-pel, tal como o Porto Sem Papel, da Secretá-

A rodoviarização insensatado Brasil decorre de umprocesso histórico e temraízes na cultura política

brasileira, muitodependente do Estado

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ria de Portos (SEP).15 Além disso, a Câmarados Deputados, em 2009, também realizououtro seminário sobre transporte decabotagem, em que foram feitas várias su-gestões. Propostas não faltam.

Ademais, a educação pode aumentar acompreensão dos problemas do setor, comdiagnóstico científico dos problemas, econtribuir para o aumento da participaçãoe da pressão no Estado, via Congresso,Antaq, Conit, Antt, SEP (porque não hácabotagem sem portos eficientes) e Minis-tério dos Transportes (MT). Contudo, háavanços, tais como o Plano Nacional deLogística e Transportes (PNLT) 2007, amaior abertura daAntaq para o setor, osconcursos públicospara as agências e apossibilidade deinstitucionalização doConit.

No que tange àAntaq, essa agência surgiu no Brasil hádez anos, em um contexto de pós-crise, emface dos escândalos de ineficiência ecorrupção, especialmente da Superinten-dência Nacional da Marinha Mercante(Sunamam), que levaram ao seu naufrágioe que são de triste memória. Essa agênciafoi diretamente inspirada no modelo norte-americano e, tal como ocorre nos EstadosUnidos, a própria lei que a instituiu já lheconfere poder normativo ou regulador.

A Antaq e Antt, sob coordenação doConit, devem assumir a liderança desseprocesso, mas isso não depende somentedesses órgãos. Assim, é preciso que usu-ários dos serviços de transportes e em-presários do setor participem ativamentedo processo.

O Conit deve identificar os pontos deconexão dos vários modais a fim demaximizar o intermodalismo, o que deman-dará transporte de cabotagem. Além daspropostas acima mencionadas, por exem-plo, seria importante a criação de uma Su-perintendência de Cabotagem para cuidarsomente do tema. Assim, haveria mais focoda Antaq e uma melhor gestão dessa im-portante política pública.

Ressalte-se que a cabotagem no Brasilnão é fechada. Em quase todos os paíseshá algum tipo de exigência para entrar nes-se mercado. Todos os países, de algumaforma, protegem a sua cabotagem. O capi-

tal mínimo integra-lizado de R$ 6 mi-lhões, e não são mui-tos os outros requisi-tos exigidos pela le-gislação para obter aoutorga de autoriza-ção para operar na

cabotagem brasileira.Nesse quadro, os Estados Unidos da

América são um país que confere proteçãocom características draconianas à sua na-vegação de cabotagem, uma vez que exi-gem que em todos os navios que nela ope-ram arvorem bandeira e tenham sidoconstruídos em estaleiros americanos, com75% de tripulação nacional. A UniãoEuropeia também adota uma política de pro-teção da sua cabotagem.

Já no Brasil, a proteção é um pouco maisbranda, abrindo-se certas exceções, quepermitem que o navio não tenha sidoconstruído em estaleiro brasileiro, mas que,mediante as exigências feitas pelo Regis-tro Especial Brasileiro, esteja a embarca-ção afretada a casco nu, enquanto promo-

15 CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de; LACHMANN, Marianne Von. O valor da cabotagem brasi-leira na visão dos transportadores. Apresentação realizada no I Seminário Nacional sobre Cabotagem.Realização Antaq e Syndarma. Disponível em: <www.regulacao.gov.br>. Acesso em: 20 dez. 2009.

Todos os países, de algumaforma, protegem a sua

cabotagem

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O PAPEL DA ANTAQ NA REGULAÇÃO DA CABOTAGEM BRASILEIRA

ve o transporte interno no país, e recolha abandeira do seu país de origem e arvore abandeira nacional.

A Antaq aprovou ainda resoluções que,mediante o preenchimento de alguns re-quisitos, permitem, inclusive, que a embar-cação estrangeira contratada por empresabrasileira esteja sob o regime de afretamentopor tempo ou viagem, salientando, nova-mente, se observadas algumas circunstân-cias impostas pela legislação.

A abertura dos portos para embarcaçõesestrangeiras na navegação de cabotagemnão proporcionaria a redução dos fretesconforme alegado, mas massacraria o se-tor nacional, pois as embarcações estran-geiras fariam este percurso apenas comoum trajeto de sua viagem, que seguiria paraoutros lugares, e utilizar-se-iam de benefí-cios como combustível mais barato, tripu-lação menos onerosa, entre tantos outros,que impossibilitariam as embarcações na-cionais de competir em um mercado sobestas condições.

Sendo assim, a Antaq poderia incentivarmaiores investimentos no setor portuário, vi-sando galgar-lhe maior eficiência e celeridade,criar normas que dessem preferência nos por-tos para os navios de cabotagem, não os dei-xando parados e promovendo a sua atracaçãoe operação antes dos demais, advindos danavegação de longo curso.

A desburocratização do setor é essenci-al, uma vez que não se pode conferir o mes-mo tratamento de cargas provenientes danavegação de cabotagem e de cargas advindasda importação, o que não quer dizer que nãodeve existir controle – sim, ele deve existir,mas de maneira mais prática e mais eficien-te, que confira maior agilidade ao setor, con-forme acontece no modal rodoviário.

Outro ponto que merece incentivo é o res-surgimento do mercado da indústria naval,dando fôlego para que os estaleiros nacio-nais sobrevivam e para que consigam cum-

prir seus contratos, construindo embarcaçõesadequadas e com qualidade. Para tanto, deve-se salientar que o Brasil necessita de mão deobra qualificada, para, mais uma vez, o mer-cado não ser dominado por estrangeiros quevendem serviços com alto valor agregado.Deve-se, portanto, investir na qualificaçãode pessoal para trabalhar nesse setor.

Ocorreu um grande avanço com a CartaMagna de 1988, que tornou constitucionala disposição sobre quem serão os respon-sáveis pela regulação da navegação decabotagem e interior. Por sua vez, o Decre-to no 2.256, ao regulamentar o Registro Es-pecial Brasileiro, concedeu vantagens su-ficientes aos usuários para poderem con-tar com embarcações adequadas para anavegação de cabotagem.

Sustenta-se que a Antaq deve regular osfretes na cabotagem, sem arbitrar valores,como forma de promover a competitividade,combater a concorrência desleal, que é mui-to comum no setor, bem como zelar pelamodicidade tarifária, dentre outras compe-tências. Nesse sentido, o artigo 11 da Reso-lução no 843 da Antaq é pertinente:

Art. 11. A operação nas navegações delongo curso, de cabotagem, de apoiomarítimo e de apoio portuário pela em-presa brasileira de navegação seráexercida em regime de liberdade de pre-ços dos serviços, tarifas e fretes e emambiente de livre e aberta competição,conforme disposto nos artigos 43 e 45da Lei no 10.233, de 5 de junho de 2001,cabendo à Antaq reprimir toda práticaprejudicial à competição, bem como oabuso do poder econômico.Parágrafo único. A Agência, ao tomar co-nhecimento de fato que configure ou pos-sa configurar infração à ordem econômi-ca, deverá comunicá-lo ao Conselho Ad-ministrativo de Defesa Econômica – Cade,à Secretaria de Direito Econômico do Mi-nistério da Justiça ou à Secretaria de Acom-

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panhamento Econômico do Ministério daFazenda, conforme o caso.

Essa é ainda uma das fragilidades daAntaq, que está procurando aumentar a efi-cácia da regulação econômica, o que vemsendo feito, ainda que lentamente. Todavia,verifica-se que a diretoria atual está procu-rando ouvir mais o setor, especialmente pormeio de audiências públicas e seminários.

Nesse sentido, sustenta-se que a Antaqprecisa saber quais os valores de fretes, tari-fas e preços usados pelos operadores. Os re-gulados precisam saber que há essemonitoramento; isso inibe abusos, cartéis, pre-ços predatórios, enfim,concorrência desleal.

A Federal MaritimeCommission (FMC),nos EUA, faz isso, e aAgência Nacional dePetróleo (ANP) tam-bém, com relação aospreços dos combustí-veis. Monitorar não éarbitrar valores. Issonão significa tambémque ela não possa in-tervir em determinadassituações. No Brasil, osprincípios da livre inici-ativa e da liberdade de preços, tarifas e fretesnão são princípios absolutos. Eles encon-tram óbice no interesse público, tal como abusca da competitividade. Se não houver li-mites, tais princípios criam assimetrias quese tornam abuso do poder econômico.

Nesse setor, com forte influência do capi-tal transnacional, regra geral, quem está den-tro (incumbente) não quer sair, mas tambémnão quer deixar o outro entrar, e muitas vezesaqueles se aliam e fazem preços predatóriospara eliminar os pequenos, possíveisentrantes. Nessa hora, a Antaq deve intervir;afinal, regular também é arbitrar conflitos, vi-

sando sempre ao interesse público (não, aodo governo, cujo mandato é de curto prazo –quatro anos). Não é isso o que ocorre noBrasil ainda. Observe-se o que aconteceu comvárias empresas de navegação que foramadquiridas por grupos transnacionais que assufocam, mas que não deixaram que elas seextinguissem, porque interessa àquelas aaquisição das mais frágeis.

Assim, para garantir que não haja concor-rência desleal e evitar as chamadas bandei-ras de conveniência, o monitoramento dospreços, tarifas e fretes pela Antaq pode aju-dar, bem como a maior articulação com o Cade,que precisa conhecer as especificidades do

setor.A fiscalização alea-

tória também pode serútil, porque inibe oscartéis. A Justiça Fede-ral e a Divisão Anti-truste dos EUA conde-naram recentementeduas empresas estran-geiras a multa de maisde US$ 60 milhões eprisão de diretores porcartéis no transportede químicos que preju-dicavam usuários nor-te-americanos. Não se

deve, contudo, criminalizar os agentes eco-nômicos, mas às vezes há excessos, e o Es-tado precisa intervir. No Brasil já há legisla-ção para isso.

Ademais, não há transporte de longo cur-so sem cabotagem forte. Assim, é importantetambém combater a concorrência desleal dasbandeiras de conveniência, e o setor devefazer estudos para tomar medidas no âmbitoda Organização Mundial do Comércio (OMC)para combater os cartéis de shippingtransnacionais, por meio do Gats (AcordoGeral sobre Serviços, em que se encontramos serviços de transportes marítimos).

Não há transporte de longocurso sem cabotagem forte

... é importante tambémcombater a concorrênciadesleal das bandeiras deconveniência, e o setordeve fazer estudos para

tomar medidas no âmbitoda OMC

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Esse é um problema que os países emdesenvolvimento como o Brasil, com fortedependência de transporte marítimo, vez que66% da frota mundial está registrada em paí-ses de bandeira de conveniência,16 preci-sam solucionar no âmbito da OMC.17 Nãodá para aguardar a Organização MarítimaInternacional (IMO) porque essa, nãoobstante o princípio da igualdade entre osEstados (um voto para cada país), é forte-mente financiada pelos países de bandeirasde conveniência e a regulação dela é social(segurança da navegação e meio ambiente),não econômica (concorrência leal).

Sustenta-se, ainda, um Plano Geral deOutorgas (PGO) da cabotagem, que con-siste na proposta de que a Antaq e o Mi-nistério dos Transportes identifiquem osprincipais fluxos de carga doméstica, a partirda pesquisa sobre cabotagem recomenda-da (mas ainda não implementada) peloPNLT 2007 e pelo PGO da Antaq.

Assim, a partir dessa identificação dosfluxos e da coleta de dados, a Antaq poderiaconvocar uma conferência com todo o setorpara debater e identificar as linhasprioritárias de cabotagem, a fim de que sefaça uma política de incentivos para que hajaempresas brasileiras de navegação operan-do navios nesses fluxos. Depois, sugere-sea elaboração de um plano de metas para que,dentro de dez a 20 anos, o percentual decarga doméstica dos fluxos identificados

seja prioritariamente de cabotagem (> 50 %)em detrimento dos demais modais.

Recomenda-se também que o governoelabore uma campanha de âmbito nacionalpara conscientizar acerca da importânciado meio de transporte aquaviário, com ên-fase na sustentabilidade, redução de cus-tos e de acidentes nas estradas.

Há uma grande injustiça na indústria deshipping mundial, e o Brasil precisa lideraro processo para a criação de uma NovaOrdem Marítima Internacional18 com maiorequidade entre os países que possuem fro-ta mercante e os que têm alto grau de de-pendência, como o nosso país. Criar mus-culatura por meio do desenvolvimento dacabotagem é um importante passo nesseprocesso de ruptura com a Ordem Maríti-ma Internacional atual.

Entre os vários problemas enfrentadospela Antaq, pode-se citar o que diz respeitoao transporte de granéis sólidos via navega-ção de cabotagem. O diretor da Antaq, Murillode Moraes Rego Corrêa Barbosa, afirma que,tratando-se de contêineres, a frota nacional ésuficiente para suprir a demanda.

No entanto, quanto ao granel sólido, émais difícil ter navios disponíveis, tendo emvista a falta de regularidade da carga. Execu-tivos de empresas mineradoras do Brasil con-cordam que realmente existe uma dificuldadeespecífica para conseguir navios de bandei-ra brasileira para o transporte de granel.19

16 www.imo.org17 www.wto.org18 Essa Nova Ordem deverá ser implementada por meio de cooperação internacional liderada pela Antaq e

pelas agências dos países que sofrem a concorrência desleal das bandeiras de conveniência e que devembuscar na OMC o foro para combater tal prática, em face da violação do Acordo Geral sobre Serviços(Gats). Sobre o tema, com maior aprofundamento teórico e sugestões, bem como diversos temas deinteresse da navegação marítima brasileira: CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. (org.) DireitoMarítimo, Regulação e Desenvolvimento. Prefácio Wesley Collyer. Belo Horizonte: Fórum, 2011.

19 BURSZTEIN, Valéria. “Retomando o curso: Investimentos em embarcações e na regularidade dosserviços e a aproximação com a multimodalidade garantem à cabotagem maior participação namatriz de transportes”. In: Global Comércio Exterior e Logística. v. 10. no 116. São Paulo: OTMEditora, jun./2008, p. 22-23.

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Como solução para o problema, oempresariado do ramo de granéis sólidospropõe a adoção de uma legislação maisbranda, que permita o transporte de gra-néis sólidos, na cabotagem, por navios debandeira estrangeira.

No entanto, a Antaq enfatiza que a re-gra é idêntica para todo tipo de carga eargumenta que tornar flexível a regra paraos granéis sólidos,permitindo que acabotagem seja feitapor navios estrangei-ros, não é viável, poisacabaria por eliminar anavegação nacional,uma vez que os cus-tos são muito maioresno que diz respeito atripulação e combustí-vel, por exemplo, sen-do que para os naviosde bandeira estrangei-ra tudo é menos one-roso. Ademais, acres-centa que, quandohouver mudança no mercado asiático, porexemplo, estes navios migrarão para lá e osetor nacional terá de arcar com umsignificante prejuízo.20

Em análise técnica, especialistas no se-tor21 afirmam que, apesar do crescimentoque ocorreu na cabotagem, o seu desen-volvimento foi muito inferior quando com-

parado ao da navegação de longo curso.Para suprir este deficit, segundo eles, sãonecessárias, especialmente, ações gover-namentais fortes e perenes, o que, aparen-temente, não é o foco das autoridades, ex-cetuando ações isoladas e de caráter pre-dominantemente político, mas que pade-cem de uma visão de conjunto que sejaamplamente divulgada pela mídia.

Entre os principaisproblemas que obstru-em o desenvolvimentoda cabotagem e suasrespectivas soluçõespodem ser citados: a)alto custo dos combus-tíveis – desonerar ospreços dos combustí-veis por meio do esta-belecimento do mesmotratamento tributáriopara os navios que ope-ram na cabotagem e osque operam na navega-ção de longo curso,conforme estabelece a

Lei no 9.432, de 1997; b) mau acesso aos por-tos e terminais – estabelecer tratamento dife-renciado para os navios empregados nacabotagem, de modo a não comprometer a re-gularidade das escalas programadas;22 c) nãorenovação e ampliação da frota – criar instru-mentos e condições específicas e temporáriaspara a obtenção de novos navios para a

20 Idem, p. 24.21 SILVA REIS, Manoel de Andrade e; MACHLINE, Claude. “As dificuldades para o transporte de carga

geral na cabotagem brasileira”. In: Global Comércio Exterior e Logística. v. 10. no 118. São Paulo:OTM Editora, ago./2008, p. 64 e 66.

22 Acerca dos problemas portuários no Brasil, com diversas propostas para melhoria, decorrentes daspesquisas do Grupo de Regulação da Infraestrutura e Juridicidade da Atividade Portuária, por nóscoordenado, que atua no Programa de Mestrado e Doutorado em Ciência Jurídica da Univali(www.univali.br/ppcj): CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de; PASOLD, Cesar Luiz. (org.). Direi-to Portuário, Regulação e Desenvolvimento. Belo Horizonte: Fórum, 2010, 474 p.; COLLYER,Wesley O. Lei dos Portos – O Conselho de Autoridade Portuária e a Busca da Eficiência. SãoPaulo: Lex, 2007, 212 p.

Entre os principaisproblemas que obstruem o

desenvolvimento dacabotagem: alto custo doscombustíveis, mau acesso

aos portos e terminais, nãorenovação e ampliação dafrota, e burocracia em face

da legislação parafacilitação do transporte

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cabotagem no exterior, enquanto o processode retomada da construção naval no País nãoestiver consolidado; d) burocracia em face dalegislação para facilitação do transporte – sim-plificar e racionalizar os procedimentos admi-nistrativos e o trâmite da documentação rela-cionada com o transporte de mercadorias rea-lizado pela navegação de cabotagem.23

Por sua vez, a superintendente de Nave-gação Marítima e de Apoio Portuário e Marí-timo da Antaq, Ana Maria Canellas, argu-menta que uma das principais dificuldadespara a navegação de cabotagem é a burocra-cia e que, apesar de defender a harmonizaçãono procedimento de controle de carga, issonão ocorre na prática, o que acarreta um des-perdício de tempo que gera custos maiores,uma vez que o navio fica parado.

Canellas alega, ainda, que houve efeti-vamente o aumento da oferta de navios paracarga conteinerizada; no entanto, a navega-ção de cabotagem possui um potencial ain-da muito maior e, por esse motivo, continuasubutilizada. Outro problema para o setorpor ela salientado consiste na mentalidaderodoviária existente no País, onde os usuá-rios sequer conhecem a alternativa ofereci-da pela cabotagem. Nesse quadro, enfatizaque a solução para o problema está em mai-or divulgação dos benefícios da cabotagem,como o descongestionamento das rodovi-as e menor emissão de poluentes.24

Segundo José A. C. Balau, presidente daAliança Navegação e Logística, os princi-pais entraves para a cabotagem são a faltade estrutura dos portos e a burocracia. Sobeste ponto de vista, o setor necessitaria ape-nas contar com terminais mais eficientes elegislação mais ágil, como, por exemplo, osprocedimentos do Siscomex Carga, ao qualestá submetida a cabotagem.25

O executivo informa que a solução nãoestá em suspender o controle, mas sim emdesenvolver sistemas específicos e com-patíveis com a cabotagem, que atualmen-te, é submetida ao mesmo nível de controledas importações, o que provoca a fuga declientes do modal. O gerente nacional devendas da Mercosul Line, Paulo T. Gomes,pensa no mesmo sentido e salienta que ascargas provenientes da cabotagem, taiscomo as vindas da importação, necessitamser depositadas em terminal alfandegado einseridas no novo Siscarga.26

Outro fator que torna a cabotagem me-nos atrativa que o setor rodoviário é aonerosidade do combustível marítimo nacosta brasileira. O combustível para acabotagem é 38% mais oneroso que o ro-doviário27 e 37% mais caro do que aqueleutilizado na navegação de longo curso.

O governo, recentemente, tentou sanar esteproblema retirando o encargo do Programa deIntegração Social (PIS)/Contribuição para o

23 BARBOSA, Murillo de Moraes Rego Corrêa. Palestra “A Expansão da Cabotagem e os Reflexos naGestão da Cadeia Logística dos Usuários de Transporte”. 9a Conferência Nacional Portos Brasil2008. São Paulo, 28 maio 2008.

24 BURSZTEIN, Valéria. “Retomando o curso: Investimentos em embarcações e na regularidade dosserviços e a aproximação com a multimodalidade garantem à cabotagem maior participação namatriz de transportes”, p. 24-25.

25BALAU, José A. C. Transporte de contêineres na cabotagem – Limitação dos terminais portuários.Palestra proferida no Seminário de Modernização dos Portos – Transportes Marítimos. 10 mar. 2008.

26 BURSZTEIN, Valéria. “Retomando o curso: Investimentos em embarcações e na regularidade dosserviços e a aproximação com a multimodalidade garantem à cabotagem maior participação namatriz de transportes”, p. 26.

27 BALAU, José A. C. Transporte de contêineres na cabotagem – Limitação dos terminais portuários.Palestra proferida no Seminário de Modernização dos Portos – Transportes Marítimos. 10 mar. 2008.

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Fomento da Seguridade Social (Cofins) naaquisição do combustível visando baixar ocusto. Porém, o Imposto sobre Circulação deMercadorias e Prestação de Serviços(ICMS),28 que de fato é o imposto considera-do o grande inimigo do custo do combustível,continuou sem sofrer alteração alguma.29

A atribuição do Ministério dos Trans-portes no que diz respeito à política de trans-portes ferroviário, rodoviário e aquaviário,além dos portos, da Marinha Mercante edas vias navegáveis, consiste na formula-ção, organização e supervisão das suas po-líticas, na participação do planejamento es-tratégico, no estabelecimento de limites paraa sua prática e na definição de quais são asprioridades que requerem recursos.

Tais prioridades deverão constar nosprogramas de investimentos, na admissãodos planos de outorgas, no estabelecimen-to de diretrizes para a representação doBrasil nos organismos internacionais e emconvenções, acordos e tratados referen-tes aos meios de transportes.

Mencione-se, ainda, a importância doFundo de Marinha Mercante, do Ministériodos Transportes, que é destinado à formula-ção e à supervisão do cumprimento da políti-ca do setor, especialmente voltado para a re-novação, recuperação e aumento da frotamercante nacional, a ser feita em conjuntocom os Ministérios da Fazenda, do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Exterior, edo Planejamento, Orçamento e Gestão, noestabelecimento de diretrizes paraafretamento de embarcações estrangeiras por

empresas brasileiras de navegação e para li-beração do transporte de cargas prescritas.30

PROPOSTAS PARA DESENVOLVERA CABOTAGEM

A Antaq, em evento para debater os pro-blemas da cabotagem brasileira, fez os se-guintes diagnósticos e propôs soluçõespara o setor, quais sejam: a) alto custo docombustível marítimo na costa brasileira –falta implementar o incentivo previsto naLei no 9.432, de 1997; b) entre os fatoresque diminuem a competitividade dacabotagem em relação ao modal rodoviá-rio, podem ser enumerados: b.1) combustí-vel para a cabotagem é 30% mais caro queo rodoviário e cerca de 37% mais que ousado no longo curso; b.2) diferencial decustos operacionais do navio e altos cus-tos portuários incidentes sobre o valor dofrete; b.3) dificuldade de contratação denovos navios no País para atender à reno-vação e à ampliação da frota em operaçãona cabotagem (garantias e exigências dosagentes financeiros); b.4) baixa prioridadede acesso aos portos, dificultando a regu-laridade das escalas, e excesso de burocra-cia no despacho das cargas; c) como refle-xos dos portos sobre a competitividade dacabotagem tem-se: c.1) capacidade insufi-ciente de terminais de contêineres einfraestrutura de acesso, além de profun-didades limitadas nos canais de acesso,compromisso da regularidade das escalasprogramadas e utilização parcial da capaci-dade dos navios.31

28 Mais outro óbice que poderia ser solucionado por meio do Conit, que poderia editar diretriz para que oConselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) criasse isenção.

29 BURSZTEIN, Valéria. “Retomando o curso: Investimentos em embarcações e na regularidade dosserviços e a aproximação com a multimodalidade garantem à cabotagem maior participação namatriz de transportes”, p. 26.

30MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES. Competência e Estrutura. Disponível em:<www.transportes.gov.br>. Acesso em: 21 de out. 2008.

31BARBOSA, Murillo de Moraes Rego Corrêa. Palestra “A Expansão da Cabotagem e os Reflexos naGestão da Cadeia Logística dos Usuários de Transporte”.

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Nesse sentido, são relevantes, no que tan-ge à gestão da cadeia logística dos usuários:a) oferta regular de capacidade de transportede carga; b) obtenção de menores custos detransporte; c) confiabilidade dos prazos es-tabelecidos para o transporte; d) redução docusto com seguros em função da alta segu-rança no transporte; e e) garantia de integri-dade da carga transportada.32

Por sua vez, no seminário realizado emBrasília em 2009, juntamente com o Syndarma,para desenvolver a cabotagem brasileira, aAntaq fez as seguintes sugestões: a) igualaro preço do combustível e de lubrificantes dasembarcações inscritas no REB aos autoriza-dos nas operações de exportação; b)desonerar as empresas brasileiras de nave-gação dos custos com encargos sociais dostripulantes de navios do REB; c) desonerar esimplificar a importação de navipeças semsimilar nacional para navios inscritos no REB;d) isentar de Imposto de Renda de PessoaFísica (IRPF) o tripulante de navio REB du-rante o período em que o mesmo estiver efe-tivamente embarcado; e e) estudar a criaçãode tributo único, nos moldes do tonnage tax,para navios do REB.33

Acerca do tonnage tax, segundoHeleno Taveira Tôrres:

A análise dos aspectos fiscais da proprie-dade das embarcações, da gestão dessesbens ou modalidades de usos na logísticarefletirá, necessariamente, as peculiarida-des trazidas do direito privado ou dos regi-mes públicos envolvidos, segundo os con-tratos admitidos e as modalidades de trata-

mentos especiais adotadas em tratados ouconvenções internacionais. Mas isso nãoimpede, contudo, de surgirem novas pro-postas específicas. Dentre as mais relevan-tes, o tonnage tax é uma das mais debati-das na atualidade. Trata-se de mecanismoespecial de apuração da base de cálculodo imposto sobre a renda de pessoas jurí-dicas que leva em conta, por presunção,um percentual definido conforme a tonela-gem de registro da embarcação multiplica-do pelos dias do seu fretamento, uso oudisponibilidade. Assim, há uma determina-ção das alíquotas segundo medidas fixasdecorrentes do fator de tonelagem regis-trada do navio, multiplicando-se esta pe-los dias de operação do navio. E em algunspaíses, com progressividade ouregressividade, segundo a tonelagem. Essaé uma orientação da União Europeia, comsistema alternativo de tributação, que sedeveria prestar para reduzir a grande quan-tidade de incentivos fiscais e recuperar acapacidade de concorrência das empre-sas,34 e que já se encontra em vigor emInglaterra, Alemanha, Grécia, Noruega eHolanda, mas também em estudos pela Bél-gica e a Itália.35

Devem ser mencionadas, por fim, as su-gestões feitas pelo diretor da MercoShipping, Arsênio Nóbrega, no citado se-minário, quais sejam:

Como se pode depreender pelo presenteestudo, as principais medidas paraviabilizar a sobrevivência e a expansão da

32 Idem.33 BARBOSA, Murillo de Moraes Rego Corrêa. “Cabotagem – Competitividade da Marinha Mercante

Brasileira”. Apresentação realizada no I Seminário Nacional sobre Cabotagem. Realização Antaq eSyndarma. Disponível em: <www.antaq.gov.br>. Acesso em: 20 dez. 2009.

34 Sobre o tema na União Europeia, inclusive com sugestão para debate da extensão do instituto para acabotagem e acerca de uma definição mais precisa dos serviços auxiliares (ancillary): ADONNINO,Pietro. “Aspectos Impositivos de las Empresas de Transporte Aéreo y Marítimo”. In: TÔRRES,Heleno Taveira. Comércio Internacional e Tributação. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 480-482.

35 TÔRRES, Heleno Taveira. “Regime Jurídico das Empresas de transporte aéreo e marítimo e suas impli-cações fiscais”. In: TÔRRES, Heleno Taveira (coord.). Comércio Internacional e Tributação, p. 399.

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atividade de transporte marítimo decabotagem passam pelas seguintes medi-das específicas e a serem implementadaspor meio de modelação efetiva das opera-ções de transporte por tipo de carga:contêineres, granéis líquidos e granéis só-lidos – a) condições para compensar osdiferenciais de custo operacional e de ca-pital em relação à média internacional, demodo a viabilizar a renovação e a expan-são da frota brasileira; b) facilitar atramitação do transporte marítimo de car-gas, eliminando as vantagens relativas aotratamento dispensado aos modais rodo-viário e ferroviário; c) revisão da legisla-ção de fomento (Leino 10.893/2004 doFMM e do Adicio-nal de Frete para Re-novação da Mari-nha Mercante(AFRMM) para tor-nar as suas provi-sões adequadas àcompensação efetiva de custos, para cadasegmento de transporte de carga nacabotagem e para voltar a incentivar a in-dústria de construção naval para compen-sar também as suas desvantagens em re-lação à indústria dos países que lideram osetor; d) revisão da legislação que insti-tuiu o REB (Lei no 9.432/1997) para conce-der incentivos e auxílios de Estado efeti-vos, em especial para a cabotagem, paranivelá-los às práticas internacionais; e) in-centivar tratamento diferencial e a práticade preços reduzidos para operação portu-ária das cargas transportadas pelacabotagem e pelo sistema feeder na costabrasileira; f) revisão do tratamento fiscalpara a importação de navios novos e para

a tributação federal dos resultadoscorporativos obtidos com a operação denavios inscritos no REB por meio da ado-ção do imposto único sobre o lucro virtu-al vinculado à tonelagem líquida de ar-queação da frota mercante brasileira(tonnage tax).36

A Lei no 10.233/97 atribuiu boas condi-ções para que a Antaq pudesse, efetiva-mente, contribuir para o setor, dando-lheautonomia suficiente para ter um papel efe-tivo no desenvolvimento deste. É impor-tante estimular a competitividade na área;todavia, a Antaq não possui qualquer con-

trole das tarifas e dofrete. Enfatize-se: re-gistrar e conhecer osvalores do mercado re-gulado não é contro-lar ou arbitrar valoresde tarifas e fretes.

Os valores cobra-dos pelos prestadores

não são conhecidos pela Antaq. Uma formade conhecer as tarifas, por exemplo, é aper-feiçoar o modelo norte-americano de NSA(NVOCC Service Arrangement), a fim de quea Antaq domine o mercado no qual atua.Esse acordo é registrado on-line, na páginada FMC, e mantido sob confidencialidade.Trata-se de um incentivo para que os opera-dores de transporte mais competitivos pos-sam ser conhecidos, e que contribui para aeficiência do mercado.

O último ponto que deve ser fundamental-mente destacado é a necessidade de criar umamentalidade marítima de cabotagem que di-funda o intermodalismo no Brasil, onde o modalaquaviário tem papel relevante. Deve-se bus-car uma cooperação com a cultura rodoviarista,

36 NÓBREGA, Arsênio. “Um Novo Modelo Institucional para o transporte marítimo de cabotagem”.Merco Shipping Marítima Ltda. In: Seminário Portos e Hidrovias Navegáveis – Um olhar sobre ainfraestrutura. Brasília: Câmara dos Deputados, dez. 2009.

Estimular a cabotagem nãoé combater os demais

modais. Todos sebeneficiam

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O PAPEL DA ANTAQ NA REGULAÇÃO DA CABOTAGEM BRASILEIRA

a fim de conscientizar os empresários usuári-os e operadores do setor, cuja maioria nãoconhece a alternativa da navegação decabotagem, para que haja sinergia ecomplementaridade entre os modais, a fim detransformar as vantagens ambientais em eco-nômicas. Estimular a cabotagem não é comba-ter os demais modais. Todos se beneficiam.

Mudar a mentalidade da população bra-sileira acerca dos transportes é essencialpara o País, uma vez que haveria a mudan-ça de toda uma indústria, como, por exem-plo, nas embalagens dos produtos. Estas,em vez de serem adequadas para as carre-tas de caminhão, deveriam ser repensadase adequadas ao transporte em contêineres.Essa mentalidade da população é a maiortrava do desenvolvimento da cabotagem doPaís, pois é ela que elege a classe políticaque governa de costas para o mar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, para que haja o desenvolvimen-to da cabotagem brasileira, reitero que sãonecessárias as seguintes medidas, entreoutras já abordadas neste trabalhointrodutório:

a) maior participação dos usuários des-ses serviços que precisam se organizar e

conhecer o papel da Antaq na regulaçãosetorial da cabotagem;

b) A Antaq e o Ministério dos Trans-portes devem identificar os principais flu-xos de carga doméstica, a partir da pesqui-sa sobre cabotagem recomendada (mas ain-da não implementada) pelo PNLT 2007 e doPGO da Antaq;

c) a partir dessa identificação dos flu-xos e da coleta de dados, a Antaq deveconvocar uma conferência com todo o se-tor para debater e identificar as linhasprioritárias de cabotagem, a fim de que sefaça uma política de incentivos para quehaja empresas brasileiras de navegaçãooperando navios nesses fluxos;

d) elaboração de um plano de metas paraque, dentro de dez a 20 anos, o percentualde carga doméstica dos fluxos identificadosseja prioritariamente de cabotagem (> 50 %)em detrimento dos demais modais;

e) que o governo elabore uma campa-nha de âmbito nacional para conscientizaracerca da importância do meio de trans-porte aquaviário, com ênfase nasustentabilidade, redução de custos e deacidentes nas estradas; e

f) adotar uma política que transforme osportos e terminais em locais de lazer, comojá dito anteriormente.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<PODER MARÍTIMO> Marinha Mercante; Navegação de cabotagem; Legislação da Ma-rinha Mercante;

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O PAPEL DA ANTAQ NA REGULAÇÃO DA CABOTAGEM BRASILEIRA

REFERÊNCIAS

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SUMÁRIO

A ideia do Sistema Nacional de InovaçãoO Sistema de Inovação para a DefesaO Projeto de Força diante da mudança de paradigmaConclusão

GESTÃO DE SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO:DEFESA, CONVERTIBILIDADE OU DUALIDADE?

SYLVIO DOS SANTOS VAL*Professor

A IDEIA DO SISTEMA NACIONALDE INOVAÇÃO

O modelo da sociedade industrial con-temporânea se apoia indiscutivelmente

no padrão tecnológico e científico. O valoragregado dos produtos de grande compo-sição de conhecimento tem determinado oestado de desenvolvimento e autonomiadas unidades nacionais, sua capacidade deatender às necessidades de sua popula-ção e a possibilidade dos Estados Naçãode incrementar políticas públicas indepen-dentes ou autônomas. No que se refere à

gestão científico-tecnológica para o incre-mento de eficácia e eficiência, alguns fatosdevem ser assinalados para distinguir en-tre uma ordenação de uso da pesquisatecnológica e a institucionalização de umarotina científica de inovação.

No que se refere a uma institucionali-zação da gestão inovadora científico-tecnológica para o incremento de eficácia eeficiência de um sistema científico etecnológico, devem-se assinalar previamen-te alguns fatos relativos à ordenação deuso da pesquisa tecnológica e a institucio-nalização de uma rotina científica.

* N.R.: Bacharel em História, mestre em Ciências Políticas pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

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Primeiro, o esforço tecnológico não re-quer, necessariamente, uma estrutura cien-tífica de pesquisa sistemática, ainda quese apoie em paradigmas gerais e conheci-mentos testados ou admitidos como “ver-dade” ou “eficazes”. Tecnologia é, antesde qualquer coisa, solucionar problemasem nível técnico, isto é, aplicado.

“Tecnologia: é o conjunto organiza-do de todos os conhecimentos científi-cos, empíricos ou intuitivos emprega-dos na produção e comercialização debens e serviços.”1

Nesse ponto, mes-mo na sociedade in-dustrial, o esforçotecnológico apoiou-se, em muitos momen-tos, em conjunturas eexperimentos de en-saio e erro, inclusiveno que se refere àconstrução naval bra-sileira. Os arsenais deMarinha, empreendi-mento originado nacolônia, foram criadospara atender à rota ori-ental do império colonial português e àdemanda de navios para a defesa e o co-mércio coloniais. A ampliação das rotas e osurgimento do vapor no século XIX esti-mularam o envio de oficiais do Arsenal daCorte para a Europa a fim de aumentar aespecialização em manutenção, acabandopor gerar uma memória técnica essencialpara os projetos e algumas inovações atéo advento da República.2

Segundo, a ciência, por seu turno, podeser entendida como uma atividade intangí-

vel, que pode ser base de um esforçotecnológico, mas não necessariamente enem num momento imediato. Segundo Lon-go (2007), “ciência é uma atividade dirigidaà aquisição e ao uso de novos conhecimen-tos sobre o universo, compreendendometodologia, meios de comunicação e crité-rios de sucesso próprios”3. Entretanto, omesmo autor classifica como ciência “o con-junto organizado dos conhecimentos relati-vos ao universo, envolvendo fenômenosnaturais, ambientais e comportamentais”, oque se pode realmente classificar como co-nhecimento científico.

O esforço científi-co não precisa resul-tar em um projeto apli-cado instantaneamen-te e desdobrado numdesenvolvimento téc-nico, isto é, passar daintangibilidade do va-lor da descoberta parao invento ou técnicaem produtos tangí-veis. Conhecimento é,antes de tudo, umincubador. Entretanto,é desejável que um

esforço combinado em C&T produza, alémde bens e serviços tangíveis, alguma for-ma de novidade revolucionária ou inova-dora, que solve os problemas que o pró-prio desenvolvimento da sociedade indus-trializada produz.

Por extensão, a combinação científico-tecnológica não opera qualquer sentidosem que resulte num progresso tanto naeficácia (resultado) quanto na eficiência(custo ou economia de meios). Esse exercí-cio é comumente denominado inovação.

1 LONGO(A – 2007) Conceitos especiais sobre Ciência, Tecnologia e Inovação.2 TELLES (2001); p. 16; 18-19.3 LONGO (2007); p. 17.

O esforço científico nãoprecisa resultar em um

projeto aplicadoinstantaneamente e

desdobrado numdesenvolvimento técnico.Conhecimento é, antes de

tudo, um incubador

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GESTÃO DE SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO: DEFESA, CONVERTIBILIDADE OU DUALIDADE?

Em geral, é possível distinguirem-se doistipos ou patamares de inovação.

São rotuladas de inovações incre-mentais aquelas que melhoram produ-tos ou processos sem alterá-los na suaessência, por exemplo, a evolução doautomóvel. São chamadas de inovaçõesde ruptura aquelas que representam umsalto tecnológico e que mudam as ca-racterísticas dos setores produtivos nosquais são utilizadas, por exemplo, o lasere o transistor4.

O modelo da sociedade industrial con-temporânea se apoia indiscutivelmente nopadrão tecnológico e científico, que temdeterminado o estado de desenvolvimentoe autonomia das unidades nacionais, suacapacidade de atender às necessidades desua população e a possibilidade dos Esta-dos Nação de incrementar políticas públi-cas independentes ou autônomas.

O peso da inovação impôs uma evolu-ção para o conceito de ciência e tecnologiacomo um sistema.

“A expressão ‘sistema nacional deinovação’ foi forjada na literatura paradesignar os atores e instituições que par-ticipam do processo de inovação e a na-tureza e vínculos entre os mesmos. Esteconjunto mostra-se como um sistemaefetivo ou não, a partir dos resultadoseconômicos e sociais que são extraídosdestas relações e iniciativas conjuntas”5.

Segundo Jorge Sábato, cientista argenti-no que pensou o problema da integraçãoda América Latina sob a ótica de ciência etecnologia – preocupação que permanecena posteridade pela Fundação Jorge Sábato–, ciência e tecnologia (e inovação) articu-lam-se num sistema que é nacional, envol-vendo três setores principais: governo,

educação e empresas. Esse sistema podeser representado na figura de um triânguloequilátero, cujos vértices são ocupadospelos citados setores principais.

Fig. 1 – Sistema de Inovação de Sábato

Governo

Empresas Educação

O triângulo representativo do sistemaé, hoje, conhecido como Triângulo deSábato. Nessa concepção, inovação é pro-duto da articulação e do equilíbrio entre ostrês subsistemas. A ideia foi aperfeiçoadapara um sistema mais articulado, denomi-nado triple hélix.

Fig. 2 – Triple hélix

4 LONGO (2007); p. 17.5 LONGO (A-2007); p 16.

Governo

Empresas Educação

Nesse esquema, as áreas de interseçãorepresentam a “área cinzenta da inovação”.Isto é, quando o esforço em C&T conjuga-do produz linearmente, em maior ou menorescala, uma inovação para o restante dos

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atores implicados do sistema, para que hajauma “espiral ascendente” inovadora. Mes-mo que não exista um esforço conjugado,as ações combinadas sempre resultam numdesenvolvimento (área cinzenta) que con-tamina, em maior ou menor grau, os demaissetores do hélix. Segundo Dudziak (2007),a discussão concreta sobre o sistema naci-onal de inovação ganha força nos anos1980, a partir das elaborações de econo-mistas evolucionistas neoshumpterianos edos debates sobre o modelo industrial eu-

ropeu6, sendo a Finlândia o primeiro país aincorporar o conceito de “inovação comproblema de política pública nacional”. Odebate sobre o sistema nacional de inova-ção também se dá numa percepção holística6 DUDZIAK (2007); p. 50.7 DUDZIAK (2007); p. 50-51.8 MIRELES (2008); p. 41; 42.

Setor de Educação:Universidades, Escolas

Técnicas GráficasSetor Governo:Ministérios ouSecretariasde C&T,Conselhos ,Órgãos defomento eapoio,Organizaçõesde peso,Empr. deprestação deserviços Comunidade Científica:

Pesquisa, endividamento,Associações, Academias,

Revistas

SetorEmpresas:

Centros deP&D,

EmpresasConsultoria,

Engenharia,Serviçosde C&T,

Infor-mações

AM

BIEN

TE E

XTE

RNO

AM

BIEN

TE E

XTE

RNO

Fig. 3 – Tetra hélix da integração científico-tecnológica (ESG)

“que substitui o sistema linear pela incli-nação sistêmica”7. Vários modelos procu-ram capturar essa percepção da complexi-dade do sistema de inovação, atribuindo-lhe uma integralidade própria, consideran-do setores sociais de natureza distinta den-tro de um ambiente “nacional”.

O tetra modelo da Escola Superior deGuerra (ESG) procura, mais do que pres-crever, evidenciar que o agregado de fato-res implicados em cada um dossubsistemas possui um arcabouço de ato-

res derivados, relativamente assinalados,mas de complexo controle e gestão. Os trêsmodelos concebem a inovação como umsistema dinâmico ostensivo8: não é essen-cial o planejamento central, se não em ní-

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vel de subsistema, e a guindagem podeestar em atividades de ponta distintas (mer-cado, ação governamental, descobertas).

Sob esse prisma, a tipificação Patel &Pavitt (1994)9 graduou os Sistemas Nacio-nais de Inovação por sua capacidadeendodinâmica (plena capacidade de pes-quisa independente e inovação integrada):

i. Maduros: capazes de gerar platafor-mas de C&T, I completas e integradas. Ape-nas EUA, Alemanha e Japão.

ii. Próximos: capazes de gerar platafor-mas de C&T, I integradas em determinadossetores e absorver transferências comple-xas. Caso da França, Inglaterra e Itália.

iii. Intermediárias: capazes de gerar pla-taformas de C&T; capacidade de determina-das ações de inovação e absorção de trans-ferências. Alguns europeus (Suécia, Dinamar-ca, Holanda, Suíça), Coreia do Sul e Taiwan.

iv. Incompletos: capacidade de gerarplataformas determinadas em C&T, e limi-tadas capacidades de inovação e absor-ção de transferências complexas. Brasil,Índia, Argentina, México e China.

Assume-se que a tipificação de Patel ePavitt – à exceção hoje de China e Índia – écorreta no escalonamento, mas peca no prin-cípio. O tetra hélix da ESG assemelha-se aoutros modelos esquemáticos ambivalen-tesque “atribuem foco aos sistemas de inova-ção nacionais como uma construçãoinstitucional, ou de um somatório de açõesnão planejadas e desarticuladas, que impul-sionam o progresso tecnológico em econo-mias capitalistas complexas”.10 Admite-se queesse sistema existe, e que, como hipótese,pode-se operar uma relação razoável entreatores implicados no que puder ser nomeadode Subsistema da Inovação para a Defesa.

Os três modelos concebem a inovaçãocomo um sistema dinâmico ostensivo11 (focona ação): não é essencial o planejamentocentral, se não em nível de subsistema, e aguindagem pode estar em atividades deponta distintas (mercado, ação governamen-tal, descobertas).

No Brasil, a ideia do sistema nacional deinovação como política de Estado surgiupela Lei 10.973 (2/12/2004), modificada pelaLei 11.196, regulamentada pelo Decreto 5.798(7/6/2006) e pela Lei 1.1487 (15/6/2007), re-gulamentada pelo Decreto 6.260 (20/11/2007).A Lei 11.196 estabeleceu como inovação:

“...a concepção de novo produto ouprocesso de fabricação, bem como aagregação de novas funcionalidades oucaracterísticas ao produto ou processoque implique melhorias incrementais eefetivo ganho de qualidade ou produti-vidade, resultando mais competitividadeno mercado”.

A Lei 10.973 institucionalizou os instru-mentos e critérios de uma gestão de políti-ca de inovação ao regulamentar os agen-tes e elementos próprios do processo:

“Art. 2o Para os efeitos desta Lei,considera-se:

I – agência de fomento: órgão ou insti-tuição de natureza pública ou privada quetenha entre os seus objetivos o financia-mento de ações que visem a estimular epromover o desenvolvimento da ciência,da tecnologia e da inovação;

II – criação: invenção, modelo de utili-dade, desenho industrial, programa de com-putador, topografia de circuito integrado,nova cultivar ou cultivar essencialmentederivada e qualquer outro desenvolvimen-

9 LONGO (B-2007).10 MEIRELES (2008); p. 40.11 MEIRELES (2008); p. 41; 42.

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to tecnológico que acarrete ou possa acar-retar o surgimento de novo produto, pro-cesso ou aperfeiçoamento incremental,obtida por um ou mais criadores;

III – criador: pesquisador que seja in-ventor, obtentor ou autor de criação;

IV – ........V – Instituição Científica e

Tecnológica – ICT: órgão ou entidade daadministração pública que tenha por mis-são institucional, entre outras, executar ati-vidades de pesquisa básica ou aplicada decaráter científico ou tecnológico;

VI – núcleo de inovação tecnológica:núcleo ou órgão constituído por uma oumais ICT com a finalidade de gerir sua po-lítica de inovação;

VII – instituição de apoio: instituições cri-adas sob o amparo da Lei no 8.958, de 20 dedezembro de 1994, com a finalidade de darapoio a projetos de pesquisa, ensino e exten-são e de desenvolvimento institucional, ci-entífico e tecnológico;

VIII – pesquisador público: ocupante decargo efetivo, cargo militar ou emprego pú-blico que realize pesquisa básica ou aplica-da de caráter científico ou tecnológico; e

IX – inventor independente: pessoa fí-sica, não ocupante de cargo efetivo, cargomilitar ou emprego público, que seja inven-tor, obtentor ou autor de criação.”

O SISTEMA DE INOVAÇÃO PARA ADEFESA

Um sistema nacional de inovação cien-tífico e tecnológico (SINCT) pode desdo-brar outros subsistemas ou sistemas con-gregados, como é o caso de um sistema deciência, tecnologia e inovação para a Defe-sa (SICTID). Os requisitos de gestão des-se eventual sistema são:

1) Dimensão Diretiva: plano nacionalpara defesa;

2) Dimensão Normativa: legislação comnormas de competência;

3) Dimensão Integradora: ministérios,setores da economia e a política declaratória.

Como exemplos emblemáticos de ges-tão de pesquisa e inovação (P&I) para osetor de Defesa estão a Defense AdvancedResearch Projects Agency (Darpa) do De-partamento de Defesa (DoD) dos EUA; e oInnovative Concept of DisruptiveTechnologies (Inec) do Departament forR&T (Research and Technology) daEropean Defense Agengy (EDA), que subs-tituiu a Western European ArmamentGroup (WEAG), de 1974, que era apenasum modelo de gestão de negócios, produ-ção e trocas para os países coligados. Damesma forma, esses modelos centralizadosabsorvem subsistemas ou estruturas degestão complementares. No Complexo Mi-litar dos EUA, destaca-se o Air ForceInstitute of Technology (AFTI)12, respon-sável pela lista de competência etecnologias para a força aeroespacial, quedivide as tecnologias em alta prioridade,tecnologias para capacitação e tecnologiasemergentes; descrevendo significadospara cada área, os princípios físicos de en-genharia envolvidos e impacto provávelsobre futuros sistemas de C&T. No com-plexo europeu, o Ministério da Defesa doReino Unido (UKMD), o quinto orçamentode Defesa do mundo, congrega pesquisadas três forças (Exército, Marinha e ForçaAérea)13 com 11 unidades de negócios (top-level gadgets), sob um centro de pesquisae desenvolvimento diretamente ligado aoGabinete (White Hall). O UKMD conseguegerar verba independente, principalmenteem patentes e direitos autorais.

12 DoD. (2009).13 PEREIRA (2008); p. 52; EDA (2009).

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Fig. 4 – BID – Setores Implicados vista as extraordinárias contribuições paradiversos setores produtivos, entre as quaisa implantação da indústria aeronáutica bra-sileira (fundação da Embraer), a participa-ção na implantação do programa do álcoolautomotivo e o enriquecimento do urânio,dentro do Programa Nuclear Brasileiro apartir dos projetos da Marinha do Brasil(Projeto Aramar). Apesar dos percalços deépocas seguintes, a matriz foi preservada.

De fato, em estudo feito pelo Institutode Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) emconjunto com o Ministério da Ciência eTecnologia, publicado em 2010, constatou-se que, entre 2001 e 2009, a participação dosetor de defesa nos desembolsos dos fun-dos setoriais do Brasil cresceu para cerca de10 %15. Dos mais de 13 mil projetos analisadospelo instituto, 258 estavam relacionados como setor de Defesa. Esses projetos receberamR$ 479 milhões no período determinado, num

total de 11% dos desem-bolsos dos fundossetoriais. Segundo omesmo estudo, “o orça-mento dos fundossetoriais para inovaçãosubiu de R$ 300 milhõespor ano para R$ 2 bi-lhões”, tendo em vistaque no ano 2000 os pro-jetos nessa área respon-diam por menos de 1%do total liberado parapesquisas e desenvolvi-mento em inovação.

O aumento dos in-vestimentos é resultado dos incentivos dogoverno em projetos de Defesa do Plano deAção em Ciência, Tecnologia e Inovação doMinistério da Ciência e Tecnologia (MCT),que prevê o apoio a uma série de ações na

14 ARRUDA (et al), 2007.15 SILVEIRA (2010).

PolíticasPúblicas

Base deC&T

Sociedade

MarcosRegulatórios

Projeto deForça:Forças

Armadas

BaseIndustrial

P&DBase

Industrialpara a Defesa

(BID)

Porém, enquanto a matriz científico-tecnológica tornou-se o padrão das econo-mias industrializadas após a Segunda Guer-ra Mundial, refletindo no ambiente da pro-dução para o setor mi-litar e dos projetos deforça, a industrializa-ção brasileira cami-nhou em descompassocom a pesquisa e ainovação14, principal-mente entre as agênci-as públicas e privadas.Dentre as instituiçõespúblicas, podemos se-guramente destacar,como acresceria LON-GO (A-2007), as milita-res e coligadas.

Na história contem-porânea do Brasil, é possível, numa leiturageral, constatar a inquestionável importân-cia do papel desempenhado pela pesquisae a indústria bélica nacional no desenvol-vimento científico-tecnológico do País, haja

Na história contemporâneado Brasil, é possível, numaleitura geral, constatar a

inquestionável importânciado papel desempenhado

pela pesquisa e a indústriabélica nacional no

desenvolvimento científico-tecnológico do País

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área de Defesa, com destaque para os siste-mas computacionais complexos, tecnologiade sensoriamento remoto, fabricação e em-prego de propelentes e explosivos, veículosautônomos, estruturas resistentes e eficien-tes, sensores, ações de defesa química, bio-lógica e nuclear e integração de sistemas.

Dos 258 projetos relacionados com osetor de Defesa, 99 foram desenvolvidoscom a participação de 44 empresas, repre-sentando 46% do valor desembolsado pe-los fundos ou R$ 223 milhões. E, das cemempresas da base industrial de defesa rela-cionadas no estudo, 40% são apoiadaspelos fundos setoriais.

A pesquisa do Ipea também mostra que osistema setorial de inovação no setor de De-fesa está bastante concentrado nos estadosde São Paulo e do Rio de Janeiro, devido àlocalização das instituições de pesquisa dasForças Armadas nessas regiões. Pelo expos-to, destacam-se a Força Aérea Brasileira(FAB), e seu complexo de pesquisa aeroes-pacial, e a Marinha do Brasil, pela tradição deincubadora da pesquisa científica.

Com a criação do Ministério de Defesado Brasil (MD), objetivou-se tanto preen-cher a lacuna referente ao controle civil doplanejamento da Defesa nacional quantodar ao tema a consistência e centralizaçãoque não existia pelo status ministerial queas Forças Armadas desfrutavam.

Além da Constituição e do Plano Nacio-nal de Defesa (PND), de 2005, a regulamenta-ção da gestão da Defesa Nacional se faz pormais dois documentos: a Estratégia Nacionalde Defesa (END), Decreto 6.073 (18/2/2008);e o Programa Nacional de Gestão Pública eDesburocratização, Decreto 5.378 (23/2/2005),que introduziu a Gespública16. O Modelo de

Excelência em Gestão Pública (MEGP)17 esta-belece, entre outros princípios, a ação dosórgãos públicos na agilidade, inovação e foconos resultados eficientes18, que é “fazer oque precisa ser feito com o máximo de quali-dade ao menor custo. Não se trata de redu-ção de custo de qualquer maneira, mas debuscar a melhor relação entre qualquer servi-ço e a qualidade do gasto”19.

A orientação da pesquisa e inovação(P&I) para a Defesa é estabelecida a partirda Concepção de Estratégia para a C&T,I deInteresse da Defesa, elaborado em conjun-to pelo MD e MCT desde 2003 e periodica-mente revisado. A própria END definiu asbases de orientação para a revisão dessedocumento em quatro requisitos:maximização e otimização dos esforços depesquisa nas instituições científicas etecnológicas [ITC] civis e militares; domí-nio de tecnologias consideradas estratégi-cas e medidas para o financiamento de pes-quisas; integração dos esforços dos cen-tros de pesquisa militares; e parcerias estra-tégicas visando a tecnologias de ponta20.

A centralização civil deparou-se com umaestrutura de longa duração, descentralizada ebem institucionalizada, de organizações e ór-gãos militares encarregados de suprir as ne-cessidades operativas e de planejamento dasforças singulares. Ao mesmo tempo, essa es-trutura, aparentemente inalterada, convive commanutenção de escassez crônica de recursos.A recém-instituída Lei de Inovação Científicae Tecnológica (2008) contribui para dar umaorientação coerente às atividades de C&T, pelomenos no setor de pesquisa sensível.

Além do controle do orçamento e planeja-mento, o MD tem desenvolvido programas,inclusive com parceiras de outros setores do

16 Decreto 5.378-23/2/2005; art. 2o Gespública.17 PEREIRA (2008); p. 21. Programa e Qualidade e Produtividade na Administração Pública.18 PEREIRA (2008);p. 21; 23;29.19 PEREIRA (2008); p. 27.20 END; p. 52; 53.

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GESTÃO DE SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO: DEFESA, CONVERTIBILIDADE OU DUALIDADE?

Estado, como MCT, BNDES e Ministério doDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exte-rior, para melhorar a interação e integração dastrês forças, destacando-se a ação daFinanciadora de Estudos e Projetos (Finep),que, nos últimos anos, ampliou consideravel-mente sua área de atuação no setor.

Gráfico 1 – Dispêndio da Finep à C&T,I daDefesa (milhões de reais/ano)

O aumento exponencial das verbas emsubvenção que são aplicações de fundoperdido, portanto de risco, caracteriza tan-to um comprometimento sério com a ativi-dade da inovação quanto o incrementosobre os resultados dos projetos, especi-almente nas três Forças.

sa, mas ampliou as verbas de subvenção deR$ 80 para mais de R$ 270 milhões 21, aplica-dos em sete projetos da Marinha, cinco daForça Aérea e três do Exército. A interaçãodos esforços de pesquisa ocorre na iniciati-va de procurar controlar as aquisições de ma-terial das três Forças, privilegiando, na medi-da do possível, itens comuns às três Armas.

Por esse quadro, percebe-se que existeum grande desafio à gestão de uma estra-tégia de defesa nacional soberana e inte-grada, como preconizado pela END, de queuma estratégia de defesa “é inseparável daestratégia nacional de desenvolvimento”,que “esta motiva aquela”, e que “cada umareforça as razões da outra”22. O montanteavassalador de itens adquiridos de plata-formas de conhecimento estrangeiras éagravante para um projeto de autonomiatecnológica. As dificuldades se aprofun-dam ao considerar-se que os maiores con-sumidores de itens são as duas Forças (Ma-

21 Finep, 6/10/2009.22 END; p. 8.

Finep-06/10/2009

Finep-06/10/2009

Ano2005200620072008

Totais

Marinha12137

Exército111–3

FAB21115

Tabela 1 – Programas de Inovação da Finep por Forças Armadas

No período de 2005-08, a Finep elevou deR$ 70 para R$ 90 milhões as verbas do FundoNacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico (FNDCT) para o setor de Defe-

Tabela 2 – Distribuição percentual de aquisição de itens pelas Forças Armadas

Itens Comuns às três Forças

Itens Comuns MB/EB

Itens Comuns MB/FAB

Itens Comuns EB/FAB

Percentual de Itens Comuns dos Itens Totais

Itens Exclusivos MB

Itens Exclusivos EB

Itens Exclusivos FAB

Itens Nacionais sob o total de itens

Itens Estrangeiros sob o total de itens

Secretaria de Logística e Mobilização do MD (2006/2007)

14,16%

16,58%

51,43%

17,83%

2,96%

55,56%

14,66%

24,44%

0,76%

99,24%

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rinha e a Aeronáutica), que têm nos seusdesenhos de força o maior número de com-ponentes e insumos de tecnologias sensí-veis e de alto valor agregado. Ao mesmotempo, os gastos militares continuam a re-presentar uma parte restrita do orçamentoe os recursos financeiros alocados quaseque se consomem em gastos com pessoalou em atividades não necessariamente li-gadas ao esforço de defesa23. A presenteadministração federal adotou uma estraté-gia: ampliar a não realização de verbas emregime de contingência, restringindo asverbas empenhadas (de destinação espe-cífica para um projeto) a uma fração aindamenor dos recursos rubricados para a De-fesa, mesmo que aumentando o orçamentopara compras de itens.

Ministério da Defesa, mas a maior parte daverba de investimento foi destinada à sim-ples compra de armamentos, o que elevará ogasto operacional, em detrimento dos gas-tos com projetos, alguns em estado críticode desenvolvimento – como é o caso dosubmarino nuclear nacional, objeto de re-cente acordo com a República da França. Arubrica de Defesa separa da verba de con-tingência uma parte em retorno para paga-mento de dívida geral do Estado “que nãofoi produzida por projetos de Defesa”. In-vestimentos, inversão e custeio – o que foirealmente destinado ao reequipamento, pro-jetos, preparação e aprestamento de arma-mentos – alcançam algo próximo de 17%.

O PROJETO DE FORÇA DIANTE DAMUDANÇA DE PARADIGMA

O Projeto de Força pretende-se a desig-nação de estrutura militar como foi concebi-da, para que se destina e como os meiosestão dispostos para o estabelecimento damissão ou alcançar um objetivo. Trata-se deum sumário técnico-militar que abrange onível de preparo do pessoal (adequação,nível instrucional), a organicidade (hierar-quia, funcionalidade, agilidade), capacida-de dos meios de força (armas, equipamen-tos), a inteligência estratégica (doutrina, es-tratégia de emprego, estrutura de informa-ção e inteligência), meios da logística geralda sociedade (estrutura industrial ad hoc,logística, meios mobilizáveis) e a estruturade Estado (poder político formal, ordemconstitucional)24. Com evidentes variações,constata-se que “projeto de força” é um es-forço bem racional, importante e complexo.

A verticalização tecnológica e o conse-quente incremento do valor agregado dos

Tabela 3 – Composição do Orçamento de Defesa

Reserva Contingenciada

Investimentos e Inversão

Amortização e Juros da Dívida

Custeio

Pessoal

Total

Seori – Secretaria de OrganizaçãoInstitucional, BRASIL, DF

2%

5%

6%

11%

76%

100

23 Na rubrica de 2008, previram-se R$ 10 bilhões para o MD. Contudo, essa verba inclui, por exemplo, R$1,3 bilhões para a gestão dos aeroportos pela Infraero.

24 PROENÇA Jr. (1999).

Finalmente, o Orçamento Geral da Uniãocontinua puramente autorizativo. Em 2008,os gastos com pessoal, inclusive pensio-nistas e da reserva ou aposentados civisdas Forças Armadas, continuavam em 75%das despesas rubricadas para a Defesa. Narubrica de 2009, foram R$ 15 bilhões para o

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produtos militares ocasionaram dois movi-mentos convergentes sobre os projetos deForça: a escassez das possibilidades damaioria dos orçamentos nacionais em man-ter uma constante inovação, ou mesmo umarazoável modernização, e a concentraçãoda indústria militar nos países que podiamsustentar as encomendas do setor25.

As fábricas de aviões militares, tanquese navios acompanharam a mutação dosprincipais vetores dos diferentes ambien-tes operacionais (terra, mar e ar), indepen-dentemente da doutrina de como combinarvetores e ambientes. As fábricas militarestornaram-se assembling factory lines (li-nhas congregadas), de componentes vari-ados, não dominando ou sendo responsá-veis pela qualidade dos componentes quereúnem para o produto final – o qual é umamálgama de tecnologias complexas encer-radas na maioria de seus componentes. Aquantidade de produtos e processos quese montam no desenvolvimento e produ-ção de um armamento, seja um dispositivode comunicação e controle individual atéum veículo de transporte militar ou um bar-co de guerra, demanda redes de produçãode altíssima escalade valores agrega-dos, cuja maioriados componentesestruturais está atre-lada em equivalenteem linhas de produ-ção civis. Dessa for-ma, o setor da in-dústria aeronáuti-ca26 está para a FABcomo a indústria militar naval está para a

Marinha do Brasil. E aqui encontramos umproblema para um futuro projeto de Forçanos moldes da convertibilidade.

Como consequência, ao conceito dadualidade tecnológica (capacidade de umalinha de produção servir tanto ao setor civile militar) foi agregado o conceito deconvertibilidade ou conversão, “processoque permite que um bem ou serviço de usoem princípio estritamente militar seja tam-bém absorvido por demandas civis” 27. Essacomplexa reversão, produto da escassez derecursos para o setor de Defesa, impõe ainovação como estratégia corporativa que,mais do que reduzir o peso do Estado comocliente – ainda que não o exclua –, implicarever a cultura local das estruturas de ges-tão de pesquisa e inovação28.

Tomando como verdade a assemblingfactory lines, as indústrias de armas ficamrestritas a duas: as que produzem osvetores de armas que hoje são plataformasde sistemas ou de conhecimento e as quegeram processos e sistemas que as fazemfuncionar. Modernamente, o que temosnuma base industrial de defesa é uma con-cepção piramidal:

Fig 5 – A pirâmide da conversão militar

25 LONGO (A-2007).26 OLIVEIRA (2009); p. 106.27 AZULAY, LERNER E TISHER (2002).28 Em 2009, a indústria naval do Brasil tornou-se a quinta do planeta, à frente dos EUA, com 25

estaleiros, 45 mil empregados de todos os níveis e um faturamento de R$ 16 bilhões (Ver Ministériodo Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Balanço Anual da Indústria, 2009).

Convertibilidade

Indústrias civis que geramprocessos e produtos civis de apoio à

matriz militar

Indústrias devetores

Dualidade

Indústrias de sitemasmilitares de apoio

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A pirâmide reflete a escala das empresasenvolvidas em número e pessoal mobilizado,mas não em agregados de valores e conheci-mento, que implicaria uma pirâmide invertida.No último nível estão indústrias ou empre-sas dependentes financeiramente apenas deencomendas, e não no envolvimento de pro-jetos, que é um compromisso de longo prazoe de alto risco. A conversão é assunto dobloco intermediário, cuja dependência da in-dústria de vetores éproporcional à espe-cificidade dos proces-sos e vínculos de C&Tou P&D.

No que tange à ino-vação num ambiente dealta tecnologia, os doisprimeiros níveis sãostate push, enquanto oúltimo é market push.Então, sob o conceitoda conversão, é possível retrair as linhascongregadas sem prejuízo geral de pesquisae desenvolvimento (P&D), porque estas sãotocadas por incentivo estatal. O efeito no ní-vel intermediário poderia ser amenizado pelaconversão, e o último nível seria adaptável –mas apenas se e somente se o movimento forexecutado em duas possibilidades: a) se omercado civil não estiver em dificuldades oufor passível de apoio por estratégias indire-

tas (manobras fiscais, supressão de dívidas);e b) não estiver muito comprometido pela ex-tensão exagerada do parque militar.

Podemos estabelecer que as linhascongregadas e os vetores são os nós de umaestratégia de conversão, pois absorvem osdemais níveis. Os principais vetores por am-biente são aqueles que agregam maior valorpelo acumulado de conhecimento básico (ci-ência pura) e aplicado (nível tecnológico),

sendo então: 1) os veí-culos militares pesados(rodas ou lagartas), oshelicópteros e as muni-ções no ambiente ter-restre; 2) os veículosaéreos de transporteou combate e seus ar-mamentos, no setor aé-reo; 3) as embarcaçõesou belonaves pesadase seus armamentos, no

ambiente naval.Primeiro, não se reconhece nenhum par-

que militar autônomo que seja capaz de gerarplataformas de inovação sem que haja, mini-mamente, um sistema nacional de inovação,sequer em níveis de subsistema, ou sustenta-do apenas pelas compras e inversões do Esta-do; ou a partir de uma indústria militar gover-namental – sem que isso produza anomaliasquase fatais. A ex-URSS é o exemplo negativo

A ex-URSS é o exemplonegativo de estar aferradoapenas à pesquisa militar.

Os EUA, por seu turno, sãoo exemplo do preço do

sucesso

Tabela 4 – Investimento governamental em P&D civil e DefesaPaís

EUAFrançaAlemanhaReino Unido

ItáliaBrasilCoreiaEspanhaCanadá

Ano

2005200420042003

20012004200420032004

%US$ milhões (paridadepoder de compra – PPC)

131.906,118.765,817.741,213.549,5

10.318,97.830,67.817,27.712,46.471,9

Civil

43,477,3 93,968,1

96,098,886,676,196,5

Militar

56,622,76,1

31,9

4,01,2

13,423,93,5

(MCT 2007)

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de estar aferrado apenas à pesquisa militar. OsEUA, por seu turno, são o exemplo do preçodo sucesso. Tendo um complexo militar de-pendente das pesquisas bancadas pelo Esta-do, e das compras pela sua máquina militar, osestadunidenses apresentam uma anomaliacuriosa, em que as empresas do complexo mi-litar estão nos três níveis da pirâmide sugerida,estando o braço militar sustentando acompetitividade nos demais níveis. De fato,os EUA apresentam uma relação desproporci-onal de dependência dainovação pelo setor mi-litar/Estado.

Enquanto a fragilida-de dos soviéticos sematerializou no aprofun-damento de uma corri-da militar, a dos EUAestá ameaçada pela de-terioração dos níveis deameaça, ou por umaindesejada “ampliaçãodos riscos de paz”.

Em segundo lugar,aprofunda-se um des-nível considerável en-tre as possibilidadesde conversão nos diferentes setores docomplexo militar. Não é necessária umaamostragem estatística – ainda que fossedesejável, caso alguém se interesse em fazê-lo – para perceber que o setor aeronavalestá mais bem situado para a conversão doque a arma terrestre. Os vetores aéreos enavais consomem para a arquitetura de seusprodutos quase tudo em equivalentes naindústria civil. À exceção dos programas dearmas, alguns aviônicos e equipamentos ele-trônicos específicos, toda a estrutura, com-ponentes e propulsão são requisitados de

encomenda na linha de produção civil, comalgumas adaptações necessárias.

A estrutura básica dos vetores da arma ter-restre não possui equivalentes na indústriacivil. Basta observar que a liga da couraça deum carro de combate ou tanque principal debatalha é secreta e não é consumível no mer-cado. Da mesma forma, as segundas peças noorçamento desses vetores/plataformas – peçade artilharia, munição pesada ouautopropelida, lançadores – são de desenho

exclusivamente milita-res29. Apesar de os veí-culos terrestres pesa-dos serem menos cus-tosos que os vetores doambiente aéreo e naval,sua operação é quasetão dispendiosa quan-to, e nenhuma força mi-litar séria do planeta ba-searia sua defesa em lar-gos exércitos, nem mes-mo no mecanizado, semum suporte aéreo. Defato, a fuga para o veí-culo sobre rodasmultiuso não é apenas

uma questão tática, mas a constatação de que,em tempo de paz, manter um efetivo blindadoexagerado é um suicídio orçamentário quasetanto quanto estratégico.

CONCLUSÃO

É de notar que, se observarmos a posi-ção dos programas militares chineses e in-dianos, as escolhas acompanharam a evo-lução dos sistemas nacionais de inovação.O dispêndio em gastos militares cresce nomomento em que ambos os países são ca-

29 Nos anos 1980, as Forças Armadas dos EUA abriram concorrência para um veículo multifunção para substituiro Jeep. As características do Hummer eram de tal ordem que a fábrica Willis, fabricante original do Jeep,nem pode competir por conta da impossibilidade econômica da adaptação de sua linha de motores.

Construir submarinonuclear ou comprar avião de

caça não pode estardeslocado do estado da

indústria, do capitalacumulado e do que

pretendemos: comprarbrinquedos caros ou gestar

plataformas deconhecimento para o futuro?

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pazes de absorver tecnologias e agregarinovações, após um longo período de ges-tação em pesquisa e desenvolvimento. Am-bos preparam-se para produzir um aviãode combate e um tanque principal nacio-nais, depois de um longo período de pro-dução sob licença e adaptação das matri-zes locais. O submarino atômico hindu élançado após a maturação de meio séculode seu programa nuclear, e consequenteindústria de componentes locais.

Índia e China não são apenas exemplosde decisão política e disposição orçamentá-ria, mas de uma gestão de longo prazo nãolimitada ao aspecto da Base Industrial deDefesa (BID) ou do Desenho de Força, masda periferia conexa, que é o sistema nacio-nal de inovação. O sucesso dos EUA e da

União Europeia está em apostar em um capi-tal acumulado de Pesquisa e Desenvolvi-mento (P&D), uma cultura inovativa e a arti-culação de uma estratégia nacional sobreum projeto de força determinado. Antes deoptar-se pela convertibilidade deve-se terem foco uma política de uso do poder mili-tar, arquitetar sua forma e como se integranum projeto de desenvolvimento pautadona força inovativa de nossas estruturas depesquisa instaladas e pro-jetadas. Construirum submarino nuclear ou comprar um aviãode caça não pode estar deslocado do exatodiagnóstico do estado de nossa indústria, edo nosso capital acumulado, e do que pre-tendemos: comprar brinquedos caros ougestar plataformas de conhecimento para ofuturo?

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<ADMINISTRAÇÃO> Administração governamental; Forças Armadas; Ciência eTecnologia; Desenvolvimento; Economia; Ministério da Defesa;

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SUMÁRIO

IntroduçãoBreve história da Aviação Naval no BrasilO Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval

Almirante José Maria do Amaral OliveiraPedagogia da imagem como ferramenta educacional

na instrução de vooA promoção da segurança de aviação por meio do

uso de vídeo científico educativoConclusão

PEDAGOGIA DA IMAGEM NA FORMAÇÃODO AVIADOR NAVAL

SILVIO RONNEY DE PAULA COSTA*Professor

* N.R.: Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente, Desenvolvimento Social ePolíticas Públicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor da área de CiênciasHumanas e Sociais das universidades Estácio de Sá e Veiga de Almeida e da Fundação Educacional daRegião dos Lagos (Ferlagos).

INTRODUÇÃO

O vídeo científico educativo já faz parteda práxis docente dentro de universi-

dades, escolas e cursos técnicos. Falar decomunicação significa, em primeiro lugar, re-conhecer que estamos numa sociedade em

que o conhecimento e a informação têm tidoum papel fundamental, tanto nos processosde desenvolvimento econômico quanto nosprocessos de democratização da educação.Os mais jovens têm maior empatia cognitivae expressiva com as tecnologias e com osnovos modos de perceber o espaço e o tem-

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PEDAGOGIA DA IMAGEM NA FORMAÇÃO DO AVIADOR NAVAL

po, a velocidade e a lentidão, o próximo e odistante. Trata-se de uma experiência cultu-ral nova ou, como chamou Walter Benjamin,um sensorium novo – novos modos de per-ceber e de sentir; uma nova sensibilidadeque, em muitos aspectos, se choca e rompecom o sensorium dos adultos1. Este projetode pesquisa visa desenvolver um estudocientífico sobre a promoção da segurançade voo por meio da implementação, discus-são e análise dessa nova ferramenta peda-gógica que será utilizada na práxis docenteem uma instituição de ensino militar, forma-dora de pilotos de asa rotativa (helicópte-ros). O presente estudo está sendo realiza-do durante todo o Estágio Básico de aero-naves de Asa Rotativa (Ebar) dentro do De-partamento de Instrução de Voo, do Depar-tamento de Segurança de Aviação e da Di-visão de Ensino, que estão auxiliando naformulação de questionários, relatórios téc-nicos, análises de dados, reuniões pedagó-gicas, roteiros de filmagem e materiais edita-dos, que serão disponibilizados para os alu-nos em mídia digital.

Os oficiais-alunos dão início ao curso depilotagem no Estágio de Familiarização coma Aeronave de Instrução (FAM) com as se-guintes unidades de ensino: Aerotécnica(Aero), Limitações (LIM), Procedimentos(Proc), Manobras (MAN), Emergências(Emerg), Segurança (SEG) e Inspeções(Insp). Este estágio dura, em média, um mês.

No Ebar, a duração média do curso é deoito meses, com disciplinas para a InstruçãoPrática de Voo, que será subdividida nas se-guintes fases: Instrução Teórica Pré-Estágio,Inicial (Alfa), de Precisão (Bravo), de Nave-gação por Contato (Charlie), de Instrumen-tos Básicos (Delta), de Radioinstrumentos(Echo), de Radionavegação (Foxtrot), de For-

matura (Golf), de Armamento (Hotel),Operativo (Índia), de Viagem Operativa(Juliet). O Ebar, coordenado pelo Centro deInstrução e Adestramento Aeronaval(CIAAN), é ministrado no 1o Esquadrão deHelicópteros de Instrução da Marinha, loca-lizado na Base Aérea Naval de São Pedro daAldeia, no Estado do Rio de Janeiro, consti-tuindo-se na parte prática do Curso de Aper-feiçoamento de Aviação para Oficiais (Caavo).

BREVE HISTÓRIA DA AVIAÇÃONAVAL NO BRASIL

A história da Aviação Naval brasileirainicia-se em 23 de agosto de 1916, com aassinatura, pelo Presidente Wenceslau Braz,do decreto de criação da Escola de AviaçãoNaval, primeira escola militar de aviação doPaís e, portanto, o berço da nossa aviaçãomilitar e o marco de nascimento da AviaçãoNaval. Com suas instalações iniciais na car-reira do antigo Arsenal de Marinha, a Esco-la de Aviação Naval passou depois para aIlha das Enxadas, e posteriormente para aPonta do Galeão, onde funcionou até 1941,quando, em função da criação do Ministé-rio da Aeronáutica, a Marinha se viu priva-da do seu componente aéreo2.

Este período inicial de 25 anos – 1916 a1941 –, conhecido como a primeira fase daAviação Naval, registra a ocorrência de di-versos fatos marcantes, pelo pioneirismodas atividades desenvolvidas, tais como:realização dos primeiros raids aéreos entreas cidades do Rio de Janeiro e Angra dosReis, e entre o Rio de Janeiro e Campos;transporte da primeira mala aérea civil e daprimeira mala aérea militar; primeiro voo deSantos Dumont, como passageiro, em umaaeronave militar brasileira; primeiro voo de

1 MARTÍN-BARBERO, Jesús. “Desafios culturais da comunicação à educação”. In: Comunicação &Educação. Ano VI, no 18, maio/setembro, 2000.

2 Comforaernav. “Aconteceu”. A Macega. São Pedro da Aldeia, no 1, p. 8, nov/dez. 2001.

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PEDAGOGIA DA IMAGEM NA FORMAÇÃO DO AVIADOR NAVAL

um Presidente da República em uma aero-nave militar brasileira; e a participação deaviadores navais brasileiros em operaçõesreais de patrulha, durante a Primeira GuerraMundial, integrando o 10o Grupo de Ope-rações de Guerra da Royal Air Force (RAF).

Com a extinção da Aviação Naval em 1941,a Marinha participou da Segunda GuerraMundial sem o seu componente aéreo orgâ-nico, componente este que se mostrou in-dispensável para a condução das operaçõesde guerra no mar, como a história daqueleconflito tão bem demonstrou.

Somente em 1952, portanto após um in-tervalo de 11 anos, ressurge a AviaçãoNaval, dando início à sua segunda fase coma criação da Diretoria de Aeronáutica daMarinha, prevista na Lei no 1.658, de 4 deagosto de 1952, que estabelecia uma novaorganização administrativa para o Minis-tério da Marinha. Mais do que uma sim-ples ação de reestruturação ditada apenaspor questões administrativas, aquela lei naverdade refletia o reconhecimento da ne-cessidade de a Marinha voltar a possuir asua Aviação Naval Orgânica. Somente em1958 a Marinha receberia suas primeirasaeronaves, e em 1961 chegaria ao Brasil oNavio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais.Até então não havia na Marinha um Co-mando Operativo Superior que centralizas-se as tarefas inerentes à Aviação Naval.Esta falta foi suprida quando, em 5 de ju-nho de 1961, pelo Aviso Ministerial no 1.003,foi criada a Força Aérea Naval. Por esteaviso, o comandante em chefe da Esqua-dra exercia cumulativamente o comando daentão Força Aérea Naval, ficando sediadoa bordo do NAeL Minas Gerais. Esta se-gunda fase se estendeu até 1965, quando,por força de decreto presidencial, a Mari-nha ficou restrita apenas às aeronaves deasa rotativa, os helicópteros.

De 1965 até 1998, a Aviação Naval viveu asua terceira fase, e o fez com muito orgulho,pois a Marinha do Brasil é uma das poucasMarinhas do mundo que opera com helicóp-teros embarcados, inclusive no período no-turno, em navios de porte relativamente pe-queno. A partir de 8 de abril de 1998, com aassinatura do Decreto Presidencial no 2.538,começamos a viver a quarta fase da AviaçãoNaval, passando a Marinha a ter a capacidadede operar aeronaves de asas fixas. Mais umavez pôde a Marinha contar com o idealismo ea abnegação de uma nova geração de pionei-ros, que, partindo praticamente do nada, cons-truíram as bases sólidas da estrutura técnico-operativa de que hoje dispõe a Aviação Naval.A criação e a construção do Centro de Instru-ção e Adestramento Aeronaval (CIAAN),nome dado à época, em um terreno no quilô-metro 11 da Avenida Brasil; a formação de pes-soal; a construção do Complexo Aéreo Navalem São Pedro da Aldeia, para onde foi posteri-ormente transferido o CIAAN; a aquisição deunidades aéreas; a incorporação do NAeL Mi-nas Gerais e, posteriormente, do NAe SãoPaulo, são apenas alguns poucos exemplosdo muito que foi feito3.

Atualmente, a Aviação Naval é compos-ta, basicamente, do Comando da ForçaAeronaval, sediado em São Pedro da Aldeia,ao qual estão subordinados a Base AéreaNaval de São Pedro da Aldeia, o CIAAN, aPoliclínica Naval de São Pedro da Aldeia, oDepósito Naval de São Pedro da Aldeia, cin-co Esquadrões de Helicópteros e um Esqua-drão de Aviões, e mais três Esquadrões deHelicópteros distritais, sediados em Manaus(Comando Naval da Amazônia Ocidental), emLadário (Comando do 6o Distrito Naval) e noRio Grande do Sul (Comando do 5o DistritoNaval), na Cidade de Rio Grande.

Além dos exercícios operativos que re-alizam com os nossos fuzileiros navais ou

3 História da Aviação Naval Brasileira – http://www.mar.mil.br/foraer/historico.htm

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embarcados nos navios da Esquadra e dasForças Distritais, os nossos helicópterostambém participam de comissões hidrográ-ficas em navios da Diretoria de Hidrografiae Navegação (DHN), nas Operações An-tárticas e, ainda, de diversas missões deapoio, destacando-se as de caráter huma-nitário, tais como as de busca e salvamen-to e as de transporte em programas sociaisdo governo federal.

O CENTRO DE INSTRUÇÃO EADESTRAMENTO AERONAVALALMIRANTE JOSÉ MARIA DOAMARAL OLIVEIRA

Em 1955, com sede provisória na Rua doAcre (Centro do Rio de Janeiro), foi criadoo Centro de Instrução e AdestramentoAeronaval (CIAAN), responsável por mi-nistrar Cursos de Especialização,Subespecialização e Aperfeiçoamento emAviação para oficiais e praças, bem comoadestrar o pessoal para a operação dosmeios aéreos, a fim de capacitá-lo para odesempenho das atividades relacionadascom as operações aeronavais a bordo e emterra. Foi, em 1957, transferido para a Ave-nida Brasil, onde hoje fica a Casa do Mari-nheiro. Por determinação da Presidência daRepública, no ano de 1961 os voos de ins-trução nas proximidades do Galeão foramsuspensos, e o CIAAN foi transferido paraa cidade de São Pedro da Aldeia, onde es-tava sendo construída a base aérea e navale suas futuras instalações4.

Em 21 de dezembro de 2009, por meio daPortaria do Comandante da Marinha no 456,o CIAAN sofreu alteração de denomina-ção para Centro de Instrução e Adestra-mento Aeronaval Almirante José Maria do

Amaral Oliveira. Hoje, suas instalações esalas de aula contam com o que há de maismoderno em termos de acessórios de ensi-no para a formação dos seus alunos, des-tacando-se os simuladores de asa fixa (avi-ões) e rotativa (helicópteros), os laborató-rios de Aviônica e Línguas e o recém-cria-do Laboratório de Comunicação, localiza-do no 1o Esquadrão de Helicópteros de Ins-trução (HI-1), que opera com o ensino téc-nico e prático na formação final do pilotode asa rotativa (helicóptero).

Desde a sua fundação até março de 2010,foram formados 688 pilotos (534 aviadoresnavais, 51 para o Exército Brasileiro, 37médicos da Aviação, 23 para a Polícia Mili-tar e Corpo de Bombeiros e 43 para as Ma-rinhas de outros países) e 13 psicólogosda Aviação5.

PEDAGOGIA DA IMAGEM COMOFERRAMENTA EDUCACIONAL NAINSTRUÇÃO DE VOO

No primeiro semestre de 2010, a turmade alunos do Caavo utilizou em fase expe-rimental a nova ferramenta pedagógica“vídeos científicos educativos”, duranteas primeiras etapas do curso de pilotagem.Na Instrução Teórica Pré-Estágio, com ên-fase nas manobras a serem realizadas nosrespectivos estágios, os instrutores utili-zam pontos do recurso tecnológico paraque os alunos tenham familiarização com aaeronave de instrução. O Estágio Inicial(Estágio Alfa) tem por finalidade permitirque o aluno se familiarize com a aeronave,realizando manobras básicas tais comopouso, decolagem e voo librado, em queas imagens visuais, sonoras e textos repre-sentam de forma objetiva todos os compo-

4 BRASIL. Marinha do Brasil. Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval. CIAAN-101 – A Organi-zação e Administração Naval. São Pedro da Aldeia, 2000.

5 Livro de Registro do Caavo/CIAAN - 2010.

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nentes técnicos da aeronave e a localiza-ção das áreas de instrução (quadrado deinstrução). Já o Estágio de Precisão (Está-gio Bravo) permite um incremento no con-trole da aeronave por parte do aluno, reali-zando estas manobras mais complexas eque exijam maior habilidade psicomotoracom detalhe dos movimentos, da atitude eda percepção dentro e fora da aeronave.

O estágio seguinte, Estágio de Navega-ção por Contato (Estágio Charlie), tem porfinalidade o emprego dos conhecimentosde navegação por contato adquiridos noCIAAN e no HI-1, bem como adestrar osalunos nos procedimentos em outrosaeródromos. O Estágio de InstrumentosBásicos (Estágio Delta) tem por finalidadepermitir ao aluno uma ambientação inicialcom os procedimentos do voo por instru-mentos, realizando manobras básicas epadrões preestabelecidos. Os voos destafase são realizados no simulador e na aero-nave. Os voos no simulador podem sersubstituídos por voos na aeronave, casoaquele equipamento fique indisponível.

O Estágio de Radioinstrumentos (Está-gio Echo) prepara o aluno para o voo porinstrumentos propriamente dito, permitin-do-lhe situar a aeronave em condições devoo por instrumento dentro do espaço aé-reo. Os voos desta fase são realizados nosimulador e na aeronave. Os voos no si-mulador também podem ser substituídospor voos na aeronave, caso aquele equi-pamento fique indisponível.

O Estágio de Radionavegação (EstágioFoxtrot) permite que o aluno empregue osconhecimentos adquiridos nos estágios Deltae Echo, numa viagem de instrução, simulan-do, durante a derrota, o voo por instrumento.

O Estágio de Formatura (Estágio Golf) pre-para o aluno para realização de voos em for-matura com duas ou quatro aeronaves, en-

quanto o Estágio de Armamento (EstágioHotel) prepara para o emprego do armamen-to previsto para o IH-6B. No EstágioOperativo (Estágio Índia), o aluno é ensina-do e adestrado em missões de emprego geralmais comuns, compreendendo algumas ma-nobras operativas. Após o Estágio de Nave-gação por Contato (Charlie), o EstágioOperativo (Índia) poderá ser realizado junta-mente com os outros estágios. Finalizando oCurso, No Estágio de Viagem Operativa (Es-tágio Juliett) são consolidados todos os co-nhecimentos adquiridos pelos alunos duran-te todo o curso, com a realização de uma via-gem de instrução. Estes estágios já estão emfase de produção no Laboratório de Comuni-cação da Divisão de Ensino do HI-1.

O lado construtivo do trabalho em vídeodigital é a flexibilidade da edição não linear,que permite modificações em materiais jáfinalizados de acordo com as mudanças nosmanuais de instrução de voo e solicitaçõesde instrutores ou alunos para melhorar odesempenho/eficiência das manobras vi-sando sempre minimizar os riscos fatais eprover a segurança do voo.

O professor Arlindo Machado, em seulivro A Arte do Vídeo, afirma:

Com a codificação digital, entretanto,atribui-se um valor numérico a cada pon-to de luz da imagem, de forma que esteúltimo pode ser colocado na memória deum computador, manipulando à vonta-de, copiando quantas vezes for preciso edepois convertido novamente em ima-gem, sem qualquer perda de definição6.

O crescimento da atividade aérea noPaís criou a necessidade de dinamizar asatividades de segurança de voo. Concei-tos foram atualizados, e, conforme o De-creto no 87.249, de 7 de junho de 1982, arti-go 3o, que determina as competências do

6 MACHADO, Arlindo. A Arte do Vídeo. São Paulo. Brasiliense, 1988.

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PEDAGOGIA DA IMAGEM NA FORMAÇÃO DO AVIADOR NAVAL

Centro de Instrução e Prevenção de Aci-dentes Aeronáuticos (Cenipa), é interes-sante que seja destacado o previsto nasexta alínea:

Art. 3o – Ao Cenipa compete:[...]

6 – a busca permanente do desen-volvimento e da atualização de técnicasa serem adotadas pelo Sistema, em faceda constante evolução tecnológica daatividade aérea; (BRASIL, 1982).

A experiência vivida com aimplementação dessa nova ferramenta pe-dagógica no Esquadrão confirma a teoriaapresentada acima e constata que os alu-nos, além de utilizarem os computadoresda Divisão de Ensino, transferem os vídeosvia download para os seus computadoresportáteis, o que faz do seu estudo teórico/prático uma linguagem extremamente de-mocrática e personalizada.

Segundo o Aviation Instructor’sHandbook (1999):

Interactive video solves one the mainproblems of passive video in that itincreases involvement of the student inthe learning process. Well-designedinteractive video, when properly used,is highly effective as an instructionalaid. Each student essentially receivesa customized learning experience7.

A estrutura escolar deve proporcionaraos docentes e discentes alternativasmultidisciplinares ligadas às novastecnologias para que sejam facilitadoras darelação professor/aluno. E a pedagogia daimagem, ou seja, a arte de ensinar por meioda imagem visual e sonora, é um grandedesafio na educação, principalmente na

educação tecnológica. E a professora AnitaLeandro, que ministra a disciplina Pedago-gia da Imagem no Laboratório de Comuni-cação do Núcleo de Tecnologia Educacio-nal em Saúde da UFRJ, afirma em artigoseu que uma imagem que justifique sua in-serção num contexto de aprendizagem deveser capaz de provocar um questionamentoao mesmo tempo ético e estético8. Dentrodesse novo modelo pedagógico, os vídeoseducativos são transformados em arquivosdigitais, com disponibilidade nos compu-tadores da sala de aula dos alunos e nasala do briefing (computador com projetormultimídia) para os instrutores. Todo ma-terial digital pode ser transferido viadownload para os computadores portáteis,facilitando o acesso e o estudo dentro oufora da unidade militar.

A PROMOÇÃO DA SEGURANÇA DEAVIAÇÃO POR MEIO DO USO DEVÍDEO CIENTÍFICO/EDUCATIVO

O referido projeto analisa e discute osaspectos da segurança de voo naimplementação da uma nova metodologiade ensino que une educação, comunicação,tecnologia e aviação militar, por meio de reu-niões com o Departamento de Instrução,Divisão de Segurança, Divisão de Ensino eInstrutores do Esquadrão. Além disso, irásuprir o processo educacional da organiza-ção militar, com a elaboração de questioná-rios que serão respondidos por instrutorese alunos, confecção de relatórios para co-lher dados sobre as observações das aulasteóricas e práticas (voos de instrução e ava-liação), pesquisa bibliográfica (livros, arti-gos e periódicos) e pesquisa de campo nosarquivos do Departamento de Ensino do

7 U.S. Department Of Transportation Federal Aviation Administration. Aviation Instructor’s Handbook– 1999.

8 LEANDRO, Anita. “Da imagem pedagógica à pedagogia da imagem”. Revista Comunicação&Educação.São Paulo, Edusp, p. 29 a 36, maio/ago 2001.

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Esquadrão para mensurar, por meio de umgráfico estatístico, a possível evolução doconhecimento técnico e o desenvolvimentodos alunos a partir das suas médias nas dis-ciplinas, relatórios de voo, conceito dos ins-trutores, análise dos questionários e relató-rio e discussões com a Divisão de Ensinodo Esquadrão. Esses dados obtidos ao tér-mino da turma de 2010 serão comparadoscom as turmas dos anos 2009, 2008 e 2007(análise da média de cada disciplina, con-ceito dos instrutores, alunos reprovados erelatório dos instrutores). Sendo positivo oresultado dos dados em uma análise esta-tística, ratifica a importância da pedagogiada imagem (uso adequado da imagem emmovimento em atividades pedagógicas) naconstrução do conhecimento técnico do alu-no aviador naval e destaca a otimização do

aprendizado no preparo do aluno para o de-sempenho de suas funções futuras, vistoque a profissão a ser exercida envolve inú-meros riscos, que podem ser até fatais. E,segundo José Manuel Moran, toda educa-ção aponta para uma visão de futuro, e comela analisa o presente, seja para repeti-lo oupara transformá-lo9.

CONCLUSÃO

A preocupação com o risco de aciden-tes com aeronaves é permanente. Com vis-tas a minimizar esse tipo de problema, o 1o

Esquadrão de Helicópteros de Instrução,em conjunto com a UFRJ, implementa comoferramenta pedagógica no Estágio Básicode Asa Rotativa (Ebar) a utilização de vídeocientífico educativo durante todo proces-

9 MORAN, José Manuel. Leituras dos meios de comunicação. São Paulo: Pancast, 1993.

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so de formação do aluno aviador naval paraque este vivencie em sala de aula e no com-putador experiências práticas que envol-vam habilidades técnicas, psicomotoras,perceptivas e tomada de decisão em situa-ção hostil.

Para Francisco Gutiérrez, os métodostradicionais de ensino não mais atendemàs necessidades atuais e os meios de co-municação estão colocando em xeque oprocesso de escolarização. Ele afirma:

Estabelecer uma comunicação mais in-tensa, mais viva, no processo educativo éum dos objetivos primordiais da pedago-gia da linguagem total. É fundamental quenós, como educadores, proporcionemosao “homem novo” uma capacidade paraque emerja de seu mutismo. A educaçãodeve proporcionar técnicas de aprendiza-gem, autoexpressão e participação. Esteserá, sem dúvida, um passo seguro queobrigará a sociedade a modificar os meiosde informação em meios de comunicação.10

A escola deve proporcionar aos alunose professores estratégias pedagógicas quepermitam o desenvolvimento dos conteú-dos por meio de novas metodologias deensino com o apoio de recursos tecnológicosque estimulem a construção do conhecimen-to técnico e desenvolvam habilidades ne-cessárias para o seu crescimento intelectu-al. Segundo o Professor José Manuel Moran(1993), devemos educar sempre dentro deuma visão de totalidade11. A nova metodo-logia de ensino aplicada para a formação doaluno aviador naval necessita de uma análi-se crítica dentro de uma pesquisa científicapara constatar, por meio de dados coletados,resultados que apontem para o desenvolvi-mento do conhecimento técnico, aumentodo rendimento do aluno aviador naval emsuas atividades de instrução de voo e,consequentemente, a promoção da segu-rança de aviação, visando minimizar possí-veis riscos fatais em suas atividades profis-sionais futuras.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<EDUCAÇÃO> Formulação de oficial; Simulação; Recurso instrucional; Aviação naval;

10 GUTIÉRREZ, Francisco. Linguagem Total: uma pedagogia dos meios de comunicação. Tradução deWladimir Soares, direção e edição de Fanny Abramovich. São Paulo: Sumus, 1978.

11 MORAN, José Manuel. “Interferências dos meios de comunicação no nosso conhecimento”. RevistaIntercom – Revista Brasileira de Comunicação. São Paulo, Vol. XVII, no 2, Julho/Dezembro de2004.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto no 87.249, de 7 de junho de 1982. Dispõe sobre o Sistema de Investigação ePrevenção de Acidentes Aeronáuticos e dá outras providências.

BRASIL. Marinha do Brasil. Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval. CIAAN-101 – AOrganização e Administração Naval. São Pedro da Aldeia, 2000.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Comando-Geral de Operações Aéreas. Grupo de InstruçãoTática e Especializada. Manual do Instrutor de Voo CPIV. Rio de Janeiro, 2004.

COMFORAERNAV. “Aconteceu”. A Macega. São Pedro da Aldeia, no 1, p. 8, nov/dez. 2001.GUTIÉRREZ, Francisco. Linguagem Total: uma pedagogia dos meios de comunicação. Tradução

de Wladimir Soares, direção e edição de Fanny Abramovich. São Paulo: Sumus, 1978.LEANDRO, Anita. “Da imagem pedagógica à pedagogia da imagem”. Revista

Comunicação&Educação. São Paulo, Edusp, p. 29 a 36, mai/ago 2001.MACHADO, Arlindo. A Arte do Vídeo. São Paulo: Brasiliense, 1988.MARTÍN-BARBERO, Jesús. “Desafios culturais da comunicação à educação”. In:

Comunicação&Educação. Ano VI, no 18, maio/setembro, 2000.MARTINS, H. L. “Forças combatentes”. In: ______ (Coord.). História Naval Brasileira. Rio de

Janeiro: SDM, v. 5, tomo II, p. 111-119, 1985.MORAN, José Manuel. Leituras dos meios de comunicação. São Paulo: Pancast, 1993.PINNA, Carla Maria Corrêa Aguiar. A Gestão do Conhecimento na Formação de Pilotos Militares.

Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal Fluminense, Riode Janeiro, 2003.

U.S. Department Of Transportation Federal Aviation Administration – Aviation Instructor´s Handbook– 1999.

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SUMÁRIO

IntroduçãoAntecedentes históricosPensamento estratégico sobre as questões críticas até 2025

Densidade urbana e explosão demográficaA dicotomia demográficaProsperidade desigualCrescimento da China e da ÍndiaLuta para legitimar a soberaniaAceleração na escassez de recursosDescaracterização das formas de guerra

A evolução dos GptOpFuzNav para o século XXIConceitos básicosO que se espera dos GptOpFuzNav?GptOpFuzNav – A ideia centralDesenvolvendo uma linha de base para a inovação dos GptOpFuzNavFatores-chave de planejamento

Conclusão

O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI1

ÁTHILA DE FARIA OLIVEIRA2

Capitão de Mar e Guerra (FN)MARCELO GUIMARÃES DIAS3

Capitão de Fragata (FN)

1 Tema proposto pelo Departamento de Pesquisa e Doutrina do Comando-Geral do Corpo de FuzileirosNavais.

2 O CMG (FN) Áthila é o chefe do Centro de Estudos do Corpo de Fuzileiros Navais.3 O CF (FN) Guimarães é oficial de Intercâmbio junto ao US Marine Corps Combat Development

Command (MCCDC).

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

O emprego de Forças de Fuzileiros Na-vais está sendo repensado, de uma for-

ma geral, pelas principais Marinhas do mun-do. Em particular, a Marinha dos EstadosUnidos da América (EUA) e seu Corpo deFuzileiros Navais, o United States MarineCorps (USMC), estão desenvolvendo umasérie de estudos visando a repensar o em-prego dos seus soldados-marinheiros deuma forma mais útil aos interesses navais,visando a fazer frenteaos novos desafiosque o século XXI temapresentado.

Neste sentido, oCentro de Estudos doCorpo de FuzileirosNavais elaborou o pre-sente artigo, que con-siste de trechos tradu-zidos de literatura es-pecializada e versa so-bre os determinantesestratégicos estabele-cidos por centros deestudos do USMC e asnecessárias evoluções na organização e noemprego de seus Grupamentos Operativosde Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav), co-nhecidos pela sigla em inglês MAGTF(Marine Air Ground Task Force).

Um dos artigos tomados como referên-cia foi o publicado pelo USMC com o títulode “A evolução dos GptOpFuzNav para oséculo XXI”4, em que é destacada a impor-tância de se repensar o emprego e a orga-nização dos GptOpFuzNav para passarema valorizar o nível de Companhia de Fuzi-

leiros Navais. O nosso Corpo de FuzileirosNavais já trabalha com esse tipo de organi-zação, com a formação denominada de Ele-mento Anfíbio (ElmAnf). Conforme esseartigo, o século XXI reserva muita açãopara esses ElmAnf.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Por mais de duas décadas, o USMC temtestemunhado o surgimento de desafios hí-bridos, os quais combinam a obscuridadedas guerras convencionais, dos conflitos

irregulares, do terroris-mo e da criminalidade.

Exemplificando, em2003 a I MarineExpeditionary Force5

(1a MEF) participou dafase inicial da Opera-ção Iraqi Freedom(OIF), atacando a par-tir do Kuwait em dire-ção ao Iraque por 17dias, a uma distânciade 500 milhas. Nas ci-dades, ao longo des-se avanço, a MEF

combateu forças regulares do Exércitoiraquiano, forças paramilitares FedayeenSaddam, além de jihadistas estrangeiros.Em fases subsequentes à OIF, aos marinesfoi atribuída a tarefa de estabilizar a pro-víncia de Al Anbar – uma área de aproxima-damente 53.208 milhas quadradas, ondemais de 1,2 milhão de pessoas vivem emcerca de 40 cidades e vilas. Como se nãobastasse, os marines tiveram de conter in-surgentes sunitas, além de terroristas daAl Qaeda e elementos do crime local.

4 FLYNN, Lieutenant General, George J. U.S. Marine Corps, Evolving the MAGTF for the 21st Century,Marine Corps Gazette, jul. 2009.

5 A MEF é um GptOpFuzNav no valor de Força Anfíbia, nucleado, normalmente, em uma Divisão deFuzileiros Navais com nove Batalhões de Infantaria de Fuzileiros Navais.

Por mais de duas décadas,o USMC tem testemunhado

o surgimento de desafioshíbridos, os quais

combinam a obscuridadedas guerras convencionais,dos conflitos irregulares,

do terrorismo e dacriminalidade

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

Já em 2006, a 24a Marine ExpeditionaryUnit6 (MEU), embarcada no USS Iwo Jima,evacuou cidadãos americanos de uma guer-ra devastadora no Líbano e, posteriormen-te, prestou assistência humanitária à po-pulação local. A equipe formada pela Mari-nha dos EUA e pelo USMC planejou e exe-cutou essas operações com base em umapossível ameaça – o Hezbollah havia, re-centemente, utilizado um míssil de cruzei-ro, a partir de terra, contra um navio deguerra de Israel.

Tais eventos revelaram algumas, porémnão todas, tendências associadas aos de-safios híbridos. Pode-se esperar que osatores, não pertencentes ao Estado e quepossuem armas antiaéreas e antinavios sig-nificativas, ameacem o acesso ultramarino.Os adversários irão se dispersar intencio-nalmente ao longo de extensas áreas geo-gráficas e misturar-se-ão com a populaçãolocal, a fim de negarem capacidades milita-res convencionais, tais como grandes for-mações e poder de fogo. Esses adversári-os usarão seletivamente a população localcomo uma máscara para auxiliar ou ser oobjeto de suas operações. A dispersão e amistura produzirão um campo de batalhanão linear, projetado para ultrapassar asforças amigas e vulnerabilizar suas linhasde comunicação. Os adversários procura-rão explorar essa vulnerabilidade usandoarmas baratas e de fácil acesso. Evoluirão,continuamente, os dispositivos improvisa-dos que usam a tecnologia da informaçãomoderna para detonar explosivos simples.Além disso, a tecnologia da informaçãocontinuará a fornecer os meios para quetais adversários transmitam informação edesinformação, em uma escala local, regio-nal e global, a fim de manipular a percep-ção pública dos eventos.

Com base no amplo espectro das ten-dências associadas aos desafios híbridos,o Strategic Vision Group (SVG) do MarineCorps Combat Development Command(MCCDC) e o Center for Emerging Threatsand Opportunities (CETO) do Marine CorpsWarfighting Laboratory (MCWL) realizaramestudos que versam sobre os determinantesestratégicos, que irão balizar o rumo doUSMC até o ano de 2025. Tais determinantes,obviamente, têm sido considerados na pre-paração de seus GptOpFuzNav, as MarineAir Ground Task Forces (MAGTFs), para oséculo XXI, pois evidenciam a ampla gamade desafios vindouros que definirão as ne-cessidades de adequação dessas MAGTFspara enfrentá-los.

PENSAMENTO ESTRATÉGICOSOBRE AS QUESTÕES CRÍTICASATÉ 2025

O MCCDC tem a tarefa de orientar ocontínuo aperfeiçoamento do USMC pormeio do estabelecimento e do desenvolvi-mento, de forma integrada, de todas as ca-pacidades operacionais das MAGTFs, paraatuar em todo o espectro de conflitos.

Para tal, o MCCDC conta com o SVG,que concentra suas atenções em avaliaçõesde longo prazo – 20 anos – sobre a evolu-ção do ambiente e a identificação dos futu-ros desafios operacionais. Sua composi-ção envolve militares (da ativa e da reser-va), membros da comunidade acadêmica,bem como representantes de outros seto-res do governo, proporcionando ampla vi-são sobre o trabalho a ser realizado. Paratodos os seus estudos são levados em con-sideração os pilares do desenvolvimentodo combate – Doctrine, Organization,Training, Materiel, Leadership and

6 A MEU é um GptOpFuzNav no valor de Unidade Anfíbia (UAnf), nucleado, normalmente, em umBatalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais.

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

Education, Personnel and Facilities(DOTMLPF).

Com o propósito de obter uma avaliaçãoatualizada das tendências globais e seuspotenciais reflexos para o USMC, foram rea-lizados uma extensa coleta de dados e le-vantamentos bibliográficos que permitiramidentificar uma ampla gama de conclusõessobre os determinantes estratégicos e suasimplicações, cuja apreciação servirá para de-linear o projeto de Força nos próximos anos.Sete tendências destacaram-se dentre as de-mais, por serem particularmente relevantespara o USMC, conside-rando-se o horizontede 2025.

Cada determinanteestratégico é apresen-tado com um breve ele-mento conceitual e asprováveis circunstân-cias por meio das quaistais aspectos irão evo-luir, além das implica-ções e oportunidadespara o USMC posi-cionar-se de maneiraproativa no tocante àsua organização, seleção de meios e for-mação de pessoal, fatores esses que influ-enciam diretamente as MAGTFs.

Densidade urbana e explosãodemográfica

Claros padrões demográficos e migra-tórios indicam o aumento das populaçõesurbanas e de polos de infraestrutura locali-zados em áreas costeiras, principalmentenos países desenvolvidos. Atualmente,aproximadamente metade da populaçãomundial já vive em áreas urbanas e, de acor-do com as projeções da Organização dasNações Unidas (ONU), essa parcela deve-rá ser ainda maior.

Além da natureza predominantemente ur-bana do ambiente ocupado, também é dignade nota a característica da distribuição espa-cial: hoje, 60 % da população mundial viveno litoral, até uma distância média de 100 kmda costa. Até 2035, esse valor deverá evoluirpara 75 %, e a distância média da costa seráreduzida para 60 km.

Esse processo de urbanização ocorrerá deforma sem precedentes e, especialmente naÁsia e na África, apresentará enormes desafi-os, como a dificuldade para a criação de no-vos empregos, a obtenção de recursos e a

implementação das po-líticas públicas de saú-de. Tais desafios serãoimpostos não somenteàs instituições locais,mas também às esferasnacionais de governo,tendo em vista as difi-culdades advindas dafalta de capacitação dosrecursos humanos, dadeficiente capacidadeadministrativa e da ade-quação do porte dainfraestrutura.

Implicações:

Tamanha carga de obrigações para opoder público causará aumento do riscode instabilidade social (stress) ou de maci-ços movimentos migratórios. Futuros con-flitos ocorrerão com maior frequência emambientes urbanos, envolvendo gruposnativos e questões étnicas, o que sugeremaior probabilidade de ocorrência da guer-ra irregular.

Oportunidades:

O USMC terá a necessidade de se manterativamente engajado na preparação de mate-rial, técnicas e recursos humanos para atuar

Futuros conflitos ocorrerãocom maior frequência em

ambientes urbanos,envolvendo grupos nativose questões étnicas, o que

sugere maior probabilidadede ocorrência da guerra

irregular

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

em litorais densamente povoados. Além dis-so, deverá ter condições de prestar assistên-cia a problemas focais, tanto para reduzir aviolência organizada quanto para conduzir aguerra irregular em litorais urbanizados.

A dicotomia demográfica

A dicotomia é caracterizada por duastendências bem polarizadas nas populaçõesdos países. De um lado, surge o envelheci-mento das populações dos países desen-volvidos: levando-se em consideração astaxas de natalidade ede mortalidade, as pro-jeções demográficasapontam para um en-velhecimento e dimi-nuição da populaçãodesses países, parti-cularmente na Europa,bem como na Rússia eno Japão. Cumpredestacar que, no mes-mo período da previ-são, a China tambémpassará pela experiên-cia de um significati-vo envelhecimento de sua população, comcerca de 400 milhões de cidadãos com ida-de superior a 60 anos.

Por outro lado, o mundo subdesenvol-vido será inundado por adolescentes oci-osos, como reflexo da condição de pobre-za. As projeções demográficas indicam umaumento súbito do número de jovens nospaíses subdesenvolvidos, em especial naÁfrica e em alguns países da Ásia, a me-nos que ocorram grandes pandemias ounovos conflitos prolongados.

Implicações:

Para os países desenvolvidos, a pres-são orçamentária sobre os governos pro-

vavelmente causará aumento nos gastoscom os direitos sociais, em detrimento dasdespesas com a Defesa, a menos que asocorrências de conflitos entre Estados jus-tifiquem maiores investimentos em suasForças Armadas. Além disso, em virtudeda redução da população jovem, conside-ra-se que a dificuldade para recrutar pes-soal a fim de se integrar aos contingentesmilitares será ainda maior. Um provável re-sultado da conjugação desses fatorespode acarretar a relutância, por parte dealguns países, em participar de coalizões

ou em prover efetivosdevidamente treina-dos e bem equipados.

Caso os países emdesenvolvimento nãoproporcionem educa-ção e oportunidadespara sua juventude,outros atores, que nãoo Estado, surgirão parapreencher essa lacuna.

Oportunidades:

A necessidade demissões de interven-

ção, assistência e estabilização nos paísesem desenvolvimento será cada vez maisfrequente.

Prosperidade desigual

Em função do ritmo acelerado do pro-cesso de globalização, as facilidades parao desenvolvimento da população mundialserão ampliadas; entretanto, o fosso entrea sociedade globalizada e as diversas con-centrações populacionais, excluídas dascondições básicas, aumentará ainda mais.

A globalização retirou centenas de mi-lhares de pessoas da pobreza. No entanto,mais de 1 bilhão de indivíduos ainda vivemem condições de extrema pobreza (definida

Os Fuzileiros Navaisdeverão ter condições de

prestar assistência aproblemas focais, tantopara reduzir a violênciaorganizada quanto para

conduzir a guerra irregularem litorais urbanizados

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

pela renda inferior a 1 dólar por dia), sendoque existem quase 3 bilhões vivendo commenos de dois dólares por dia. Assim, algu-mas sociedades não poderão usufruir os ele-mentos positivos da globalização.

Implicações:

O histórico de disparidades de riqueza e deoportunidades e a diferença dos valores cul-turais entre o mundo globalizado e as socieda-des tradicionais dos países subdesenvolvi-dos serão fontes de frustração e conflito.

A violência generalizada decorrente des-sa frustração será, cada vez mais, prolonga-da por meio de uma narrativa emocional con-tra os valores ocidentais ou seus interessese, potencialmente, prejudicará a estabilida-de entre as nações, o que pode reduzir ainfluência norte-americana de várias formas.

Por isso, o governo norte-americanoconfrontar-se-á com a necessidade de aju-dar indiretamente ou intervir com o empre-go do poder militar, fato que poderá serexplorado em pronunciamentos contráriosa tais iniciativas. Devido à difusão e à di-versidade das comunicações modernas,essas situações poderão atingir relevânciaglobal e atrair a atenção internacional.

Oportunidades:

Isso proporciona ao USMC a oportuni-dade de inovar na execução das operaçõespsicológicas que, efetivamente, já possu-em seus próprios desafios.

Crescimento da China e da Índia

Os modelos econômicos e políticos con-firmam a consistência da ascensão da Chi-na e da Índia, com a decorrente ampliaçãode suas influências nos campos político,diplomático, econômico e militar, como ex-pressões do poder nacional.

A taxa de crescimento dependerá dasdemandas internas por serviços, recursosde toda ordem, infraestrutura e oportuni-dades, como forma de preservação da coe-são política e social.

Em especial, a meteórica ascensão eco-nômica da China merece destaque. Apesarde a economia norte-americana ainda ocu-par o primeiro lugar no cenário mundial, asprevisões indicam que a China assumiráessa liderança por volta de 2035 e que exis-tem condições para, até mesmo, dobrar essacapacidade até meados deste século.

Implicações:

A China e a Índia sentir-se-ão compeli-das a proteger ativamente suas fontes desuprimento, bem como o acesso aos mer-cados e às linhas de comunicações. Confli-tos entre Estados, intervenções internas ea ocorrência de conflitos nas proximidadesdas suas áreas de interesse poderão seconstituir em ameaças de interrupção nofluxo de recursos materiais e econômicos.Como os interesses comerciais e os inves-timentos estrangeiros continuam se ampli-ando na região, esses países serão parcei-ros atraentes e, naturalmente, acumularãoforte influência diplomática.

Oportunidades:

Por ser o principal componente expedici-onário do Departamento de Defesa norte-americano, o USMC deve assegurar a capa-cidade de emitir uma pronta resposta em am-bientes distantes e hostis, cobrindo integral-mente a extensa variedade de requisitosoperacionais como forma de garantir a liber-dade de manobra e o acesso a essas regiões.

Luta para legitimar a soberania

Devido à dinâmica da política, aos refle-xos econômicos e aos próprios efeitos da

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

velocidade da informação no mundoglobalizado, a tradicional concepção de so-berania do Estado-Nação será posta à prova.A interdependência global reduz a capacida-de dos Estados de controlar ou exercer influ-ência sobre os efeitos de deslocamentos so-ciais e econômicos gerados pela globalização.A autoridade do Estado fica enfraquecida porgrupos e facções internas, que, por muitasvezes, são apoiadas em identidades étnicasou religiosas. A legiti-midade, fundamentadaem laços étnicos ou deordem religiosa, tendea aumentar as tensõese provocar uma dispu-ta com os governosconstituídos.

Implicações:

As nações devemse adaptar rapidamen-te para assegurar suacapacidade de gover-nar e, assim, preservara legitimidade. Casocontrário, os atoresnão governamentaisou outras facções am-pliarão suas capacida-des, chegando a pro-mover grandes mobi-lizações ou conflitosinternos.

Oportunidades:

Para o USMC, isso exigirá umengajamento proativo, contínuas ações depresença, planejamentos flexíveis, elevadaconscientização dos aspectos culturais e aconstrução de sólidas ligações entre asdiversas agências do governo em prol dasegurança e dos esforços de cooperação.

Aceleração na escassez de recursos

Haverá um aumento de 80% na deman-da por energia, especialmente na China ena Índia. Atualmente, os EUA importam 13,7milhões de barris de petróleo por dia, comuma projeção de aumento para 17,7 milhõesde barris em 2030. Existe a expectativa deque o consumo global aumente 45 %, pas-sando para 121 milhões de barris por dia.

O percentual da po-pulação mundial comacesso a um sistema deabastecimento de águaaumentou de 78 %, em1990, para 83%, em2004. No entanto, a de-manda continua a su-perar a oferta. Em todoo planeta, 1,2 bilhão depessoas não têm aces-so ao referido sistemae aproximadamente 2,8bilhões não contamcom serviços sanitáriosbásicos (dados de2004). A maior partedesses grupos vive naÁsia e na África.

Implicações:

A economia globale a estabilidade eco-nômica norte-america-

na serão ainda mais dependentes do aces-so ao petróleo e a outras fontes de energia.Conflitos nos países em desenvolvimentoprovocarão uma disputa ainda maior porrecursos, especialmente por energia e água.

Oportunidades:

O USMC terá oportunidade constantepara inovar suas parcerias em operações

Conflitos, nos paísesem desenvolvimento,

provocarão uma disputaainda maior por

recursos, especialmentepor energia e água

* * *Os Fuzileiros Navais

deverão buscar inovarsuas parcerias em

operações conjuntas eesforços de coalizão paraenfrentar esses desafios

que, inevitavelmente,serão recorrentes

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

conjuntas e esforços de coalizão para en-frentar esses desafios que, inevitavelmen-te, serão recorrentes.

Descaracterização das formas de guerra

Tanto os padrões históricos já regis-tradosquanto as tendências identificadas apontampara relevantes ajustes do caráter e das for-mas da guerra. A mudança mais marcante seráa desca-racterização daquilo que, anteriormen-te, pensávamos ser distintas formas de guerraou de conflitos humanos – guerra convencio-nal, conflitos irregulares, terrorismo e açõescriminais.

Apesar de se consi-derar que a natureza daguerra não irá se modifi-car e que as forças con-vencionais continuarãosendo empregadas, no-vas formas de combaterdeverão ser adaptadaspara a combinação des-sas categorias distintas.O SVG se refere a essadescaracterização comoameaças ou desafios hí-bridos. A guerra híbridaincorpora uma gama dediferentes formas deguerra, incluindo os re-quisitos convencionais,táticas e formação para a guerra irregular, atosterroristas com emprego indiscriminado decoação e violência, além de ações criminosas.

Esses conflitos híbridos podem ser con-duzidos por unidades independentes oupor uma mesma unidade no campo de bata-lhas para alcançar os efeitos sinérgicosproporcionados por essa coordenação.

Implicações:

O aumento da disponibilidade de armas porparte de alguns grupos com motivação religi-

osa e com acesso aos aprendizados obtidosno Iraque e no Líbano resultará em um incre-mento no número de conflitos entre Estados eatores não governamentais. A incontestávelsuperioridade militar americana será desafiadapor Estados e opositores não governamen-tais, que empregarão uma única ou híbridasameaças, especificamente designadas paraatingir vulnerabilidades do Ocidente.

A contínua difusão tecnológica reforçará aletalidade das armas utilizadas por atores nãogovernamentais, e os países continuarão ad-quirindo armas de destruição em massa. Con-correm para essa rápida disseminação o longo

alcance das redes de in-formação, a crescentefacilidade de acesso e oexponencial progressotecnológico e científico.Os revolucionáriosavanços tecnológicoscontribuem ainda maispara inovações no em-prego assimétrico des-sas novas armas, utili-zando o duplo uso detecnologias, combinan-do explosivos conven-cionais, biotecnologia enanotecnologia.

Espera-se que asações caracterizem

uma guerra irregular no ambiente urbano,ou seja, eventos perturbadores ou aciden-tes catastróficos que afetem a ordem pú-blica ou que comprometam a infra estrutu-ra existente – inclusive no território norte-americano. O aumento da frequência de taisataques criará uma crescente demanda porcapacidade de resposta militar.

Oportunidades:

O USMC não pode se restringir a umaúnica forma de operar nos conflitos, pois não

Os Fuzileiros Navais nãopodem se restringir a umaúnica forma de operar nosconflitos, pois não existirão

fórmulas rígidas para osucesso no campo militar.

O futuro demandaorganizações militares que

tenham a agilidade e aflexibilidade como suas

maiores virtudes

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

existirão fórmulas rígidas para o sucesso nocampo militar. O futuro demanda organiza-ções militares que tenham a agilidade e a fle-xibilidade como suas maiores virtudes.

Em função de seu vulto relativamentepequeno, de sua estrutura flexível, de suacaracterística marítima e do potencial au-mento de seus vínculos não militares, sur-ge a oportunidade de testar respostas des-centralizadas e ágeis para um espectro cadavez maior de contingências na ampla gamadas operações militares.

A EVOLUÇÃO DOS GptOpFuzNavPARA O SÉCULO XXI

Conceitos básicos

As tropas do USMC são empregadassegundo o conceito de GptOpFuzNav/MAGTF e podem ser estruturadas de acor-do com um dos seguintes escalões: MEU(Marine Expeditionary Unit), MEB7 (MarineExpeditionary Brigade) e MEF (MarineExpeditionary Force). Em todos os esca-lões, os GptOpFuzNav são compostos pe-los seguintes elementos: Componente de Comando – É constitu-

ído por um comandante, designado por au-toridade competente, e por um estado-maiorintegrado, com requisitos de comunicaçõesque permitam exercer o comando e o controledas operações. Caso o GptOpFuzNav estejaembarcado, o seu comandante também co-mandará a Força de Desembarque.

O comandante do GptOpFuzNav deter-mina as ações de combate de sua força,devendo os elementos que a integram tra-balharem juntos em busca de objetivos co-muns. Para tanto, o comandante estabele-ce objetivos para o planejamento e a con-dução das operações. Na análise de sua

missão, as suas intenções e orientaçõesaos comandos subordinados permitem quea unidade de esforços seja alcançada. Componente de Combate Terrestre –

É uma organização estruturada para a con-dução das operações terrestres, com baseem uma unidade de infantaria, podendo oseu escalão variar entre pelotão e divisãoreforçada, estando incluídas as unidadesorgânicas de apoio ao combate e de apoiode serviços ao combate.

Normalmente, o Componente de Com-bate Terrestre de um GptOpFuzNav é com-posto por apenas um elemento de manobrano esforço principal. Quando circunstân-cias excepcionais exigirem mais de um ele-mento de manobra, a eles serão atribuídasas suas próprias missões, bem como osseus setores de responsabilidade. Nessecaso, o Elemento de Comando deverá pre-ver o incremento da necessidade de apoiode fogo, além de maior demanda de coman-do, controle e coordenação. Componente de Combate Aéreo – É

também uma organização estruturada paraa condução tática das operações aéreas.Somente aquelas funções julgadas neces-sárias ou previstas com razoável antecipa-ção deverão ser incluídas no cumprimentoda missão do GptOpFuzNav.

Na composição do GptOpFuzNav, nor-malmente são incluídas unidades aéreas decomando (abrangendo as agências de con-trole aéreo), unidades de combate, unida-des de apoio ao combate, bem como aque-las destinadas ao apoio de serviços aocombate. Tanto as capacidades da aviaçãode asa fixa quanto aquelas de asa rotativapodem ser incluídas na estrutura do Com-ponente de Combate Aéreo de qualquer umdos escalões básicos dos GptOpFuzNav(MEU, MEB, MEF).

7 A MEB é um GptOpFuzNav no valor de Brigada Anfíbia (BAnf) nucleado, normalmente, em umregimento com três Batalhões de Infantaria de Fuzileiros Navais.

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

Componente de Apoio de Serviços aoCombate – Da mesma forma, é uma organi-zação estruturada para prover o apoio queextrapola a capacidade orgânica dos de-mais componentes do GptOpFuzNav, nãosendo, entretanto, destinada a prover ca-pacidades redundantes. Esse componentetem a capacidade de suprir a força-tarefapor um determinadoperíodo de tempo comtodas as classes desuprimentos.

O que se espera dosGptOpFuzNav?

Os GptOpFuzNavpermanecem sendo umaconstrução fundamentalpara as organizaçõestáticas, considerando-se a natureza híbrida dosdesafios vividos em re-centes experiênciasoperacionais, bem comoos ensinamentos histó-ricos colhidos ao longoda existência do USMC. As operações recen-tes têm valorizado o emprego de unidades comalto nível de mobilidade e autossuficiência.Além disso, tem havido o aumento da deman-da pela habilidade de se empregarem forças-tarefa no escalão companhia de forma maisautônoma. Operações recentes têm demons-

As operações recentes têmvalorizado o emprego de

unidades com alto nível demobilidade e autos-

suficiência. Além disso, temhavido o aumento da

demanda pela habilidadede se empregarem forças-

tarefa no escalãocompanhia de forma mais

autônoma

Organização básica de um GptOpFuzNav/MAGTF

trado que as companhias de fuzileiros reque-rem mais recursos e apoio para operar dessamaneira. Essas observações não pressupõemque os pelotões, grupos de combate e esqua-dras de tiro não executem missões indepen-dentes. A distinção está na necessidade de ascompanhias de fuzileiros conduzirem opera-ções com autossuficiência, implicando maior

capacidade e controleorgânico da inteligência,da logística e da capaci-dade de fogo.

Dessa forma, táti-cas, técnicas e proce-dimentos devem seraprimorados, a fim deassegurar que osGptOpFuzNav possu-am suficiente habilida-de para: superar os desa-

fios de acessibilidadee mobilidade; empregar e apoi-

ar as unidades de ma-nobra subordinadas,atuando a grandes dis-

tâncias ou em terrenos compartimentados,criando, assim, uma separação física do es-calão superior ou das unidades adjacentes; interagir eficazmente com a popula-

ção local para compreender a situação reale assegurar a realização de ações táticaspara atingir os objetivos estratégicos; e

executar tarefasmúltiplas e simultâneasdentro do espectro dasoperações militares.

GptOpFuzNav – Aideia central

Com base nas habili-dades desejadas, oUSMC analisará, além de

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

táticas, técnicas e procedimentos, as revi-sões das tabelas de organização e equipa-mento8 dos GptOpFuzNav a fim de prepará-los para os desafios do século XXI.

Essa investigação começará no nível dacompanhia de fuzileiros, que fornecerá umalinha de raciocínio para o melhor entendimen-to da linha de evolução. De forma simplificada,o aumento da capacidade para realizar opera-ções com autossuficiência pelas companhi-as de fuzileiros irá balizar as mudanças a se-rem realizadas nas MAGTFs. As melhoriasprevistas incluem a provisão dos fogos, amobilidade, a logística, as comunicações e ainteligência, além da capacidade para realizaroperações de caráter civil-militar, mesmo emescalões inferiores de comando. Ao consi-derar tais melhorias, deve-se determinar quecapacidades deveriam: ser orgânicas; ser organizadas taticamente para o ci-

clo de preparação e emprego ou campanha; ser incorporadas ou em apoio direto/

geral para uma operação particular ou nafase de uma campanha; e ter habilidade para realizar o coman-

do e o controle pelo escalão considerado.

Desenvolvendo uma linha de base paraa inovação dos GptOpFuzNav

A ampliação das capacidades dos esca-lões mais baixos de comando trará implica-ções para o contexto dos GptOpFuzNav. As-sim, o aumento das capacidades orgânicasdas companhias de fuzileiros proporcionarávantagens operacionais, implicando, entre-tanto, novos requisitos que afetarão todosos níveis dos GptOpFuzNav no tocante aoadestramento, à logística, ao comando e aocontrole. Além disso, o aumento imprudenteda autossuficiência de uma unidade poderá,

mesmo que de forma não intencional, com-prometer a sua mobilidade. Dessa forma, de-ver-se-á buscar um equilíbrio adequado en-tre a inovação e a experimentação, com o pro-pósito de determinar quais capacidades de-vem ser orgânicas às companhias de fuzilei-ros para que se possa visualizar o adequadoprocesso evolutivo dos GptOpFuzNav. Nosentido dessa evolução, cabe registrar que oUSMC tem buscado promover, seja pelo de-senvolvimento profissional individual ou poriniciativas de adestramento nas unidades, aconscientização cultural e a efetiva interaçãocom as populações locais e forças inseridasnas áreas de operações.

Fatores-chave de planejamento

A exploração das melhorias doGptOpFuzNav deve ser orientada por meiodo estabelecimento de um planejamento defatores que fornecerão um ponto de parti-da comum e promoverão a unidade do es-forço. Entre esses fatores de planejamen-to, encontra-se, principalmente, o papel doUSMC como sendo uma força expedicio-nária de pronto emprego, bem como capazde projetar forças estrategicamente, emfunção de seu caráter naval, sendo osGptOpFuzNav desembarcados emprega-dos e apoiados por meios navais a partirdo mar, sem a necessidade de portos ouaeroportos localizados na nação anfitriã.Meios navais com característica anfíbiaatribuem tal capacidade aos GptOpFuzNav.

A Marinha dos EUA e o USMC estabe-leceram fatores de planejamento no tocan-te à capacidade de transporte dos meiosanfíbios. Entre os referidos fatores, foi con-siderado o embarque do escalão de assal-to de uma MEB, o qual exige 17 navios,devendo cinco deles serem do tipo navio

8 A tabela de organização e equipamento (TOE) é um documento publicado pelo Departamento de Defesados Estados Unidos, o qual descreve a organização, os funcionários e os equipamentos das unidades.

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

de assalto anfíbio. Já o embarque de umaMEU, normalmente, requer o emprego detrês navios anfíbios. Quaisquer revisõesinerentes aos GptOpFuzNav devem serefetuadas levando-se em consideraçãocomo esses GptOpFuzNav afetarão a ca-pacidade de transporte a bordo dos meiosanfíbios. Por mais deuma década, o USMCtem empregado maisveículos e equipamen-tos em suas opera-ções sem, no entanto,verificar as considera-ções de embarque, oque agravou a defici-ência dos meios anfí-bios existentes. Essaquestão tornou-se tãoextrema que, nos últi-mos anos, os cinco fa-tores consideradospara o planejamentodo embarque efetivoda tropa, da área totaldos veículos, do volu-me da carga, do núme-ro de aeronaves e donúmero de embarca-ções de desembarqueforam acrescidos deum sexto fator: peso.A aquisição de um nú-mero crescente de ve-ículos dos mais varia-dos tipos, incluindo veículos resistentes aminas, bem como o emprego de aeronavesde assalto ainda maiores, têm agravado ain-da mais o fator peso. De forma similar, deve-se estabelecer uma relação entre as altera-ções dos GptOpFuzNav e a capacidade decarga dos meios navais e anfíbios, tantona atualidade como no futuro.

Embora os fatores de planejamento as-sociados aos navios anfíbios e de pré-

posicionamento marítimo já estejam bem es-tabelecidos, outros fatores ainda precisamser determinados. Caso sejam apoiadas, asoperações independentes das companhiasde fuzileiros serão a base para os avançosdos GptOpFuzNav. Assim, torna-se mister adeterminação dos parâmetros-chave de de-

sempenho para permi-tir o prosseguimentoda experimentação. Talprocesso inclui a defi-nição dos seguintespontos: A qual a distância

e com que velocidadeos grupamentos de de-sembarque de compa-nhias devem ser lança-dos a partir do mar? Em quais ambien-

tes geográficos – urba-no, deserto, montanhaou selva – as companhi-as de fuzileiros deveri-am ser organicamenteotimizadas para atuar? Qual o raio de

operação, uma vez emterra? Por quanto tem-

po as companhiasoperarão de forma in-dependente? Com que rapidez

as companhias preci-sam se reunir para atuar em novas missõesque exijam massa? Que requisitos devem possuir os

GptOpFuzNav que possibilitem a realizaçãode operações independentes por parte dasequipes de desembarque das companhias? Que capacidade de reação e tempo de

resposta os GptOpFuzNav devem possuir?Para determinar parâmetros como os an-

teriormente relacionados devem-se, inicial-

Os GptOpFuzNavcontinuam sendo a forma

fundamental deorganização e de emprego

do USMC no amploespectro das operaçõesmilitares; entretanto, asexperiências vividas aolongo de sua história,

associadas aosdeterminantes estratégicos

para os próximos anos,revelam a necessidade desua evolução, dotando os

grupamentos decapacidades para atuar em

uma imensa gama dedesafios híbridos

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O EMPREGO DE FUZILEIROS NAVAIS NO SÉCULO XXI

mente, avaliar as capacidades atuais e, emseguida, estabelecer novos parâmetros queconduzam ao desempenho superior. Esses,em um primeiro momento, podem ser cons-tituídos por apenas estimativas iniciais. Asestimativas evoluirão com o tempo, da mes-ma forma que a experiência operacional de-fine os requisitos e a experimentação revelaa arte do possível. Os fatores do planeja-mento formalmente estabelecidos, se con-sagrados ou fruto da evolução, serão es-senciais para garantir o desenvolvimentocoeso e integrado dos GptOpFuzNav.

CONCLUSÃO

Os GptOpFuzNav continuam sendo aforma fundamental de organização e deemprego do USMC no amplo espectro dasoperações militares; entretanto, as experi-ências vividas ao longo de sua história,

associadas aos determinantes estratégicospara os próximos anos, revelam a necessi-dade de sua evolução, dotando os grupa-mentos de capacidades para atuar em umaimensa gama de desafios híbridos.

Assim, o USMC considerará o incre-mento das capacidades das companhias defuzileiros como sendo a base para a inova-ção. Tais incrementos serão expandidos deforma integrada (Marinha dos EUA, USMCetc.), visando ao aperfeiçoamento dosGptOpFuzNav como um todo.

As simulações, experimentações e apli-cações práticas permitirão explorar as no-vas ideias. Essa exploração definirá osparâmetros para o estabelecimento de no-vas tabelas de organização e equipamen-to, bem como as novas táticas e técnicas eos novos procedimentos, os quaisotimizarão os GptOpFuzNav, com vistas asuperar os desafios híbridos do século XXI.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS> Corpo de Fuzileiros Navais; Força Anfíbia; Operação Anfíbia;Estratégia; Preparo do homem;

BIBLIOGRAFIA

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SUMÁRIO

As percepções da história segundo Herbert Richmond e Alfred MahanA história e o ofício do historiador segundo Herbert RichmondAs influências sobre Herbert Richmond

– Sir John Knox Laughton– Sir Julian Stafford Corbett– Alfred Thayer Mahan

HERBERT RICHMOND E O PAPEL DA HISTÓRIA EDO HISTORIADOR: UMA COMPARAÇÃO COMALFRED THAYER MAHAN (II)

FRANCISCO EDUARDO ALVES DE ALMEIDA*Capitão de Mar e Guerra (RM1)

Herbert Richmond e Alfred ThayerMahan foram dois importantes histori-

adores e teóricos da história e da estratégianaval. Embora tenham utilizado como campode observação a história naval britânica, cadaum percebia a história de modo particular.Provindos de meios, formações e países di-ferentes, Richmond da Inglaterra e Mahandos Estados Unidos da América (EUA), exis-tiam poucos pontos concordantes e muitospontos discordantes entre esses dois inte-lectuais. Da mesma maneira, percebiam o pa-

pel do historiador naval de modo distinto,fruto das influências que cada um sofreudurante seus períodos produtivos. O que sepretende discutir neste artigo são as diferen-tes percepções de como deveria ser a histó-ria para esses dois teóricos, apontando asconcordâncias e discordâncias de seus pon-tos de vista. Em seguida pretende-se analisarde que modo Richmond considerava o papeldos historiadores e suas principais influênci-as, dentre os quais se destacava o próprioAlfred Mahan.

* Foi diretor do Serviço de Documentação da Marinha no período de 2005 a 2007. É graduado emHistória pela UFRJ (2007) e mestre em História Comparada (2009). Atualmente, é Doutorando emHistória pela UFRJ, instrutor na Escola de Guerra Naval (EGN) e Membro do Centro de Estudos dePolítica e Estratégia da EGN.

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AS PERCEPÇÕES DA HISTÓRIASEGUNDO HERBERT RICHMOND EALFRED MAHAN

O professor Donald Schurman, ao des-crever as diferenças principais entre Mahane Richmond, comentou que o último nãoestava preocupado com a questão do mé-rito da história como o norte-americano.Richmond sempre se percebeu como ummarinheiro que escrevia história ao invésde um historiador que era obrigado a ir parao mar, uma clara alusão a Mahan. Para ele ahistória era um veículo e não o destino fi-nal.1 Em que pese essa sua declaração, ostrabalhos historiográficos de Richmondprimavam pela pesquisa acurada, sofisti-cação, balanceamento de análise e pela pro-fundidade da conclusão.

Richmond tinha todas as qualidadesnecessárias para ser um bom historiador.Como dizia Arthur Marder, ele possuía uma“paixão pela descoberta e disseminação doque considerava a verdade, um lúcido esucinto estilo, profundidade de percepção,uma habilidade para analisar situações ededuzir delas princípios fundamentais”.2

Nesse comentário de Marder já se percebeo primeiro ponto de contato com Mahan: ainstrumentalização de princípios funda-mentais deduzidos do estudo da história.

Richmond leu atentamente Mahan e con-cordou com diversas de suas conclusões,no entanto nem todos os pontos lhe eramcoincidentes. Ele trouxe, como Mahan, àordem do dia a discussão sobre a impor-tância do poder marítimo na história, atécom maior abrangência analítica queMahan, ao iniciar sua discussão a partir doperíodo imediatamente anterior a ElizabethTudor, em torno de 1540, quando reinava

na Inglaterra seu pai, Henrique VIII. Suaabrangência foi até ao final da SegundaGuerra Mundial. Como visto, Mahan ini-ciou sua análise, a partir do período anteri-or à Primeira Guerra Anglo-Holandesa, emtorno do final da Guerra dos Trinta Anos,em 1648, assim mesmo com pouca discus-são analítica. O que lhe interessava princi-palmente era a guerra naval ao final do sé-culo XVII e, em especial, a guerra no mardos dois séculos seguintes, com incursõesnas campanhas navais do início do séculoXX. Mahan morreu logo no início desseséculo e não pôde perceber as influênciasque a tecnologia naval faria no modo de secombater no mar.

Outro ponto que o distinguiu de Mahanfoi o estilo bem mais agressivo de seus es-critos, não poupando nada nem ninguém.Isso lhe causou dissabores e, em última ins-tância, o seu afastamento do serviço ativoda Marinha britânica. Sua pena ferina lhetrouxe muitos inimigos, ao contrário deMahan, que possuía um estilo mais ameno,evitando grandes choques de opiniões.Richmond apreciava a controvérsia e queriainfluenciar os seus pares com suas opini-ões, muitas vezes agressivas e descorteses.

Richmond era um produto da sociedadeinglesa vitoriana, preocupado com a perdada capacidade britânica de projetar poder e,mais que isso, um observador da ascensãodos EUA e do rearmamento da Alemanhaapós a subida de Hitler ao poder. Por outrolado, Mahan era um produto direto da as-censão de seu país como um poderperturbador, dotado de enorme capacidadeindustrial e fortalecendo-se militarmente.Além disso, defendia a expansão dos EUAem direção ao Pacífico e ao Caribe, chegan-do a declarar explicitamente que se conside-

1 SCHURMAN, Donald. The Education of a Navy. London: Cassell and Co, 1965, p. 131.2 MARDER, Arthur. Portrait of an Admiral. The life and papers of Sir Herbert Richmond. Cambridge:

Harvard University Press, 1952, p. 36.

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rava um imperialista. Disse ele o seguinte:“Eu sou com certeza um imperialista, no sen-tido que acredito que nenhuma nação, e cer-tamente nenhuma grande nação, deveria,daqui por diante, manter uma política de iso-lamento”.3 Uma percepção diferente da es-posada por Theodore Roosevelt e CabotLodge, imaginava ele. Margaret Sprout apon-tou, inclusive, confrontando as palavras deMahan, que em verdade ele era “um propa-gandista da recriação do imperialismo do fi-nal do século XIX”.4

Richmond, em certa medida, também eraum imperialista5, embora não o declarasseexplicitamente. Em seu livro ImperialDefence and Capture at Sea in War, descre-veu as medidas que deviam ser seguidaspela Grã-Bretanha (GB) para a defesa de seuvasto e indefeso Império. Ele acreditava queas colônias do Império serviam para doispropósitos: o primeiro como uma comuni-dade distante para o comércio com a metró-pole, e o segundo como uma base avançadade defesa e de interesse daquela6. Ele nãodiscutia o mérito do colonialismo, emboratemesse o que chamou de state-patriotism,uma ameaça à cooperação de defesa entre oReino Unido e as colônias7.

Tanto Mahan como Richmond tinhampercepções idênticas no que diz respeito ao

papel de seus países no contexto internaci-onal. Mahan acreditava que os EUA esta-vam se projetando para trazer a civilizaçãoaos povos “pouco evoluídos”, e a interven-ção norte-americana em Cuba tinha o pro-pósito de expulsar os colonialistas espa-nhóis dessas paragens – uma visãoenviesada do que era “libertar” os cubanosdo colonialismo. Por outro lado, Richmondacreditava que a GB tinha o mesmo papelcivilizador, embora não o afirmasse explici-tamente. Sua preocupação com a questãodo nacionalismo em diversos rincões doImpério bem indicava para ele a necessida-de de fortalecer essas regiões. Assim, am-bos espelhavam posições comuns: Mahancomo um produto de um Estado que surgiano papel de um poder emergente na arenainternacional, dotado de grande poderioeconômico e industrial; Richmond como umproduto de uma comunidade que perdiaprestígio e poder rapidamente no século XX,procurando, assim, com suas ideias, pro-longar o mais possível essa queda.

Richmond, como Mahan, não teve umaformação acadêmica formal em história. Elecriou-se no rígido regime da Marinha britâ-nica de organização e formalismo, alheio aocampo da história; no entanto, ao contráriode Mahan, recebeu diretamente de John

3 MAHAN, Alfred. From Sail to Steam. Recolections of a naval life. New York: Harper and BrothersPub, 1907, p. 324.

4 SPROUT, Margaret. “Mahan: evangelist of Sea Power”. Makers of modern strategy: military thoughtfrom Machiavelli to Hitler. Princeton: Princeton University Press, 1973, p. 415.

5 Aqui o imperialismo deve ser indicado como restrito à atividade de aquisição de colônias e/ou a açõespolíticas e militares de um governo no sentido de proteger os investimentos externos de seus cidadãos.Considerando desse modo, o conceito de imperialismo fica restrito a um estreito âmbito de práticas epolíticas. Estas são simples casos especiais de uma realidade muito mais complexa na busca de novosmercados extraeuropeus, um subproduto da industrialização, uma corrida por novas colônias, na qualexiste o entrelaçamento do comércio com a bandeira. Fonte: MAGDOFF, Harry. A Era do Imperia-lismo. São Paulo: Hucitec, 1978, p.188 apud MENDONÇA, Nadir Domingues. Uma questão deinterdisciplinaridade. O Uso de conceitos. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 153. Em verdade, tanto Mahancomo Richmond defendiam esse conceito clássico de imperialismo como definido por Harry Magdoff.

6 RICHMOND, Herbert. Imperial Defence and Capture at Sea in War. London: Hutchinson & Co Ltd,1932, p. 32.

7 Ibidem, p. 35.

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Knox Laughton e Julian Corbett8 o treina-mento, o incentivo e as técnicas de trabalhocom fontes que lhe seriam muito úteis quan-do escrevesse seus livros e lecionasse emCambridge anos depois. Seu cunhadoGeorge Trevelyan, historiador renomado emCambridge, também teve destacada partici-pação na sua preparação intelectual.

Ao contrário, Mahan foi um autodidata,aprendendo mais pela leitura do que pelocontato com profissionais da história. Aimportância da procura por fontes primári-as por parte de Richmond lhe foi incutidapor Laughton, embora se baseasse tambémem obras de outros autores, das quais sedestacavam as de Julian Corbett e as dopróprio Mahan. Outros autores que lheserviram de referência foram Laird Clowes,Holland Rose, John Fortescue, JamesGraham e alguns teóricos militares france-ses, como Raoul Castex e Marechal Foch,sem esquecer Antoine Henri Jomini.

Como se sabe, a obra de Mahan trazia emseu bojo o aspecto de regras práticas, a exem-plo dos escritos de Jomini, procurando trans-formar o fenômeno da guerra como algo com-preensível e de fácil entendimento para to-dos. “Aplique os princípios, e tudo se resol-verá”, induzia Mahan. Richmond, ao contrá-rio, apesar da convicção de que a históriadeveria instruir e mostrar o caminho, procu-rou demonstrar que a guerra possuía sua pró-pria dinâmica e que nem sempre as “regraspráticas” ao estilo mahaniano podiam serusadas. Schurman afirmou, sobre esse fato,que “suas investigações históricas corrobo-ravam as suas apreciações profissionais deque existia um sem-número de forças que fa-ziam com que as decisões estratégicas se di-ficultassem”.9 A guerra era complexa e assim

deveria ser estudada, apesar de existirem prin-cípios seguidos pelos vencedores.

A análise conduzida por Richmond tran-sitava preferencialmente nos camposoperacionais e estratégicos, com incursõesfrequentes ao campo da política, ao con-trário de Mahan, que primava pelo detalhetático das batalhas e de ações operacionais,com algumas incursões na estratégia e napolítica. Richmond não se preocupava coma descrição das ações táticas, embora con-siderasse necessário descrevê-las para acompreensão do que ocorria nos níveis dedecisão mais altos nos campos opera-cionais e estratégicos. A estratégia era asua grande fonte de pesquisa e de explica-ção. Ele estudava a história da Marinhabritânica como parte de seu treino comoestrategista e educador, e ela servia paraindicar caminhos no futuro, a partir deexemplos do passado, de modo a seremformuladas políticas navais condizentespara o tempo em que ele vivia. Queria, alémdisso, compreender por que houve suces-sos e fracassos britânicos a partir de deci-sões pessoais, circunstâncias históricas epolíticas adotadas ou deixadas de seradotadas. Acreditava que existiam condi-cionantes políticos, geográficos, tecnoló-gicos e militares que desafiavam as visõesdos historiadores navais que limitavam oalcance de seus estudos do poder maríti-mo nas simples operações das esquadras10,numa clara crítica à visão mahaniana.

A obra de Richmond é pouco menor quea de Mahan. Seus livros podem ser dividi-dos em três grandes grupos: o primeiro, deobras históricas, em um total de sete livros;o segundo, de obras de estratégia e políticanavais, com um total também de sete livros;

8 Essas duas influências sobre o modo de proceder de Richmond como pesquisador e historiador serãoapresentadas à frente.

9 SCHURMAN, op. cit. p. 140.10 HUNT, Barry. “The Oustanding Naval Strategic Writers of the Century”. The Naval War College

Review. Newport: Naval War College Press, set-out 1984, p. 98.

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e, por fim, o terceiro, de edição de documen-tos históricos, com três volumes. Foram es-critos por ele, em complemento, mais de 200artigos e resenhas de livros lançados nomercado editorial inglês, basicamente nosperiódicos The Naval Review, Journal ofthe Royal United Service Institution, TheTimes, Fortnightly Review e Foreign Affairs.

As referências mais usadas por ele emsuas obras históricas foram os atos do Par-lamento e escritos de almirantes proemi-nentes, tais como os dos almirantes Norris,Hawke e Sandwich, devidamente arquiva-dos em instituições públicas, tanto do go-verno como da própria Marinha Real. Adocumentação francesa também foi muitoconsultada por Richmond.

Sua percepção da história era certamen-te determinista como a visão de Mahan quan-do defendia a questão da “lição histórica”para as gerações seguintes; no entanto, seusinstrumentos de pesquisa foram bem maissofisticados e suas conclusões bem maiselaboradas. Além disso, era um nacionalista(como Mahan era com os EUA) que acredi-tava na grandeza do Império Britânico e pro-curava apontar para os políticos de seu paísmétodos para resguardar não só a integri-dade imperial como também para defenderos interesses da GB, ameaçados por outrospoderosos contendores.

Além dessa visão nacionalista,Richmond tinha uma percepção parecidacom a de Jomini sobre a moralidade da guer-ra. Jomini disse o seguinte sobre a percep-ção da moral na guerra:

Como um soldado, preferindo a guerraleal e cavalheiresca ao assassínio orga-nizado, se fosse necessário fazer uma

escolha, gostaria que meus preceitosestivessem a favor dos bons velhos tem-pos quando as guardas francesa e in-glesa convidavam uma a outra a atirarprimeiro, como em Fontenoy, em 1745,na Guerra de Sucessão da Áustria, pre-ferindo aqueles tempos à época em quepadres, mulheres e crianças em todo oterritório da Espanha tramavam o assas-sínio de soldados franceses.11

Richmond lera atentamente Jomini e comele concordava em diversos pontos. Alémdisso, essa visão romântica da guerra deambos os teóricos indicava que a guerramudara nos diferentes períodos históricosvividos por ambos. Para Jomini, a guerra tra-vada na Espanha contra as tropas invaso-ras francesas era um assassinato premedi-tado contra os soldados de Napoleão, en-quanto, para Richmond, a travada no marpela Alemanha, em 1917, era infamante. Tan-to para Jomini como para Richmond, as vi-sões de guerra total viriam a modificar suaspercepções sobre a guerra. Para Richmond,principalmente, a travada por seu país con-tra a Alemanha se transformaria em conflitode vida ou morte, e isso modificaria o seumodo de pensar a guerra naval.

De que maneira Richmond percebia a his-tória e como via o ofício do historiador? Quaisforam os seus principais influenciadores?

A HISTÓRIA E O OFÍCIO DOHISTORIADOR SEGUNDO HERBERTRICHMOND

Richmond costumava citar o eminentehistoriador inglês Lord Acton, que dizia queo conhecimento sobre o passado e a compi-

11 JOMINI, Antoine Henri. A Arte da Guerra. Trad: Napoleão Nobre. Rio de Janeiro: Bibliex, 1947, p. 55.Jomini mencionou a Batalha de Fonteroy, travada na Guerra de Sucessão da Áustria, em 1745, quandoas forças francesas, sob o Marechal Maurice de Saxe, derrotaram as forças anglo-holandesas ehanoverianas, sob o comando do Duque de Cumberland, em um período da história militar chamadopor John Frederick Charles Fuller de “guerras limitadas de reis e príncipes do século XVIII”.

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lação de “verdades” reveladas pela experi-ência deviam ser eminentemente práticos.Devia ser, também, um instrumento de açãoe um poder que podia alterar o próprio futu-ro.12 Essa era a visão que Richmond tinhasobre a história naval. Dizia ele que a histó-ria naval era a descri-ção, tão acurada quan-to possível, da maneirana qual a Marinha tinha,até aquele momento,sido utilizada pelo ho-mem de Estado nos di-versos períodos histó-ricos para alcançar osobjetivos nacionais.Essa sua percepçãocompreendia tambémos métodos de empre-go das armas navaispara conquistar essesobjetivos nacionais e aconduta de operaçõesque resultaram dessesmétodos.

Para ele, a histórianaval incluía os por-quês da estratégia emtodas as suas fases,da esfera política atéa tática de esquadrase esquadrões e dossucessos e fracassos,incluindo aí como es-sas ações se desen-volviam. Ela engloba-va todos os elementos que entravam nosproblemas e métodos empregados, istoé, das relações diplomáticas entre Esta-dos, da economia e comércio, do direito

internacional, das posições e princípiosde guerra, da administração, da naturezadas armas empregadas e, por fim, daspersonalidades envolvidas13.

A história naval, por meio de seus textos,procurava descrever e analisar a conduta

da guerra no mar, e essaconduta era governadapor “princípios”; noentanto, o simples co-nhecimento de que elesexistiam não era sufici-ente. Os princípios ne-cessitavam de ilustra-ção, de modo a seremcorretamente compre-endidos. Richmondtranscrevia exatamenteMahan no que dizia res-peito aos princípios. Ahistória, para ele, forne-cia a objetividade na ex-pressão do pensamen-to. As ilustrações des-ses princípios proveri-am vida e vigor nassuas aplicações e, omais importante, provo-cariam uma forte im-pressão no leitor e es-tudante de história.Richmond apontou al-guns desses princípioscomo sendo a concen-tração, a economia deforças, a segurança e a

surpresa14. Para ele, a estratégia derivava deconsiderações científicas, baseadas na his-tória. No estudo do poder marítimo residiamos princípios de guerra, e esses princípios

12 RICHMOND, Herbert. “The Importance of the Study of Naval History”. The Naval Review.London;Naval Review, n. xxvii, mai-1939, p. 201.

13 Idem.14 Ibidem, p. 205.

Almirante Herbert William Richmond

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eram para ser descobertos na história dasguerras.15 A tecnologia mudava, os princípi-os continuavam inalteráveis.

A história naval era a base do estudo daestratégia e um estimulante mental para análi-se de campanhas do passado. Um exemplomuito citado por Richmond sobre esse estí-mulo que a história naval poderia prover era ocaso de bloqueio e controle dos portos deOstend e Zeebrugge edos diversos portos doCanal da Mancha. Paraqualquer historiadornaval, era fundamentala percepção de quemanter esses portos erade vital importância paraa GB. Oliver Cromwell eseus sucessores tive-ram grandes dificulda-des com os corsáriosfranceses que infesta-vam as águas do Canal,agindo principalmente apartir de Dunquerque,Mardyk e Saint Malo,atacando incessante-mente o comércio marí-timo inglês no Mar doNorte e no Canal. Nomescomo DuGuay-Trouin,Jean Bart e Forbin erampreocupantes para os al-mirantes ingleses. A his-tória apontava, assim, anecessidade de controlar esses portos, demodo a se proteger o comércio marítimo britâ-nico; no entanto, apesar disso, em 1914 osalemães ocuparam os portos de Ostend eZeebrugge sem maiores dificuldades e, o pior,encontraram suas instalações intactas. As di-

ficuldades inglesas, dessa maneira, aumenta-ram consideravelmente. Richmond aproveita-va para dizer: “A história tremulou a bandeiravermelha em nossas caras e fechamos os olhospara ela. Tivemos que pagar o preço”.16

Muitos céticos, que não acreditavam queexemplos históricos eram fundamentais, ale-gavam que o mais importante para os che-fes navais era ter bom senso. Richmond con-

tra-argumentava di-zendo que bom sensosomente não era o su-ficiente. Para ele, o bomsenso também era rarona história. O uso deprincípios básicoscomplementaria a utili-zação do “bom senso”,daí a história ser fun-damental. Como exem-plo, citava o caso daexpedição aos Darda-nelos na Grande Guer-ra, quando o bom sen-so apontava para aconquista dessa posi-ção como fundamentalpara a estratégia alia-da no Mediterrâneo.Até aí nenhuma novi-dade, o bom senso pre-valecera realmente.Faltou, no entanto, aaplicação correta doprincípio da surpresa

na operação. Tudo foi feito para que os tur-cos soubessem com antecedência o localdo desembarque, a ocasião e os meiosalocados para a operação. Sem aplicação doprincípio da surpresa, a operação foi um fra-casso retumbante.17

15 RICHMOND, Herbert. Sea Warfare. In: ASTON, George. The Study of War: For Statesmen andCitizens. London: Longmans, Green, Co, 1927, p. 118.

16 RICHMOND, Herbert. The Importance of the Study of Naval History op. cit, p. 207.17 Ibidem, p. 208.

Richmond criticava osanalistas que consideravamque as “lições da história”

do tempo da Marinha avela não poderiam seraplicadas à Marinha avapor, com navios maissofisticados, modernos

encouraçados, cruzadores,contratorpedeiros velozes,

submarinos e aviação naval... o uso da força e a

natureza humanacontinuavam os mesmos,resultando nos mesmosmétodos de comando

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Richmond criticava os analistas que con-sideravam que as “lições da história” do tem-po da Marinha a vela não poderiam ser apli-cadas à Marinha a vapor, com navios maissofisticados, modernos encouraçados, cru-zadores, contratorpedeiros velozes, subma-rinos e aviação naval. Para esses críticos, atecnologia suplantava o estudo histórico develhas batalhas ou mesmo batalhas maisrecentes que espelhavam outras contingên-cias. Para Richmond, essa visão era total-mente distorcida. Considerava que realmen-te os procedimentos táticos eram diferen-tes, as formaturas parao combate mudaram,as comunicações seaperfeiçoaram e os mo-vimentos ocorrerammais rapidamente; noentanto, a aplicaçãodos princípios não ha-via mudado, e, assim,o uso da força e a natureza humana continu-avam os mesmos, resultando nos mesmosmétodos de comando. A base do conheci-mento, para ele, era aplicar os princípios cor-retamente, e a história indicava os exemplosa serem seguidos. De Ruyter, Suffen e Nel-son eram os seus exemplos mais notáveis.Sabiam concentrar, economizar as forçasquando necessário e utilizar o tempo a seufavor. A tecnologia mudava. Os princípios,não. A negligência desses princípios con-duziria à derrota.18 A história proporcionavaa chance de se pensar claramente, diziaRichmond.19 Considerava que a história

prescrevia “lições” que não estavam confi-nadas apenas à estratégia. Elas se estendi-am igualmente à tática. Sua concordânciacom Mahan era explícita nesse aspecto.

A história naval indicava que existiam duasescolas de pensamento tático. A primeira erabaseada no indivíduo, que orientava o seumétodo de ataque sob linhas gerais na ofensi-va, sempre que as condições permitissem, agin-do sobre o inimigo de modo a produzir a con-dição tática que melhor lhe aprouvesse e de-pendente de seus subordinados para o cum-primento de suas ideias previamente acorda-

das. A impetuosidadeera estimulada, e os ris-cos, considerados ante-cipadamente e perfeita-mente aceitos. A segun-da escola de pensamen-to tático baseava-se naimpossibilidade de sedeixar à fortuna qual-

quer chance para o fracasso. O plano táticonão era somente preparado antecipadamente,ele deveria ser seguido rigidamente e contro-lado pelo chefe-geral. Os subordinados nãodeveriam ter liberdade de criar e não deveriamse afastar do plano concebido em hipótesealguma. Richmond advogava pela primeiraescola, pois a história “demonstrava” que elahavia sido mais vitoriosa. Citou o caso da re-clamação do Almirante Calder para Lorde Jervisapós a Batalha Naval de São Vicente20 dizen-do que Nelson não obedecera às suas ordens.O sábio Almirante Jervis respondeu a Calderque era verdade que Nelson lhe desobede-

18 Ibidem, p. 212.19 Ibidem, p. 213.20 Travada entre as esquadras espanhola e inglesa em 14 de fevereiro de 1791. O comandante naval

britânico era o Almirante John Jervis, e o Almirante Calder era o comandante de uma divisão navalà qual o comodoro Nelson era subordinado. Nelson desobedeceu à ordem de Calder de se manter emformatura. Resolveu, a bordo de seu navio HMS Captain, investir contra a linha espanhola, sendoseguido por outros navios, demonstrando, com essa atitude, independência tática, agressividade eespírito ofensivo. Essa manobra em muito contribuiu para a vitória britânica. Fonte: PEMSEL,Helmut. A history of war at sea. Annapolis: USNI, 1989, p. 80.

A história proporcionava achance de se pensar

claramente, diziaRichmond

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ceu, “e se alguma vez você desobedecer damesma forma, eu prometo perdoá-lo tam-bém”.21 Existiam diferenças entre personalida-des dos combatentes envolvidos em uma guer-ra; no entanto, para Richmond, aquele queseguia a primeira escola ia para a batalha coma determinação de derrotar o inimigo, enquan-to a segunda escola indicava para o chefe quenão queria ser derrotado, e aí a história descre-via a diferença de atitudes mentais.

Outro aspecto por ele apontado na histó-ria era a capacidade de diversos combaten-tes assumirem respon-sabilidades. Dizia oLorde Saint Vincentque “o teste de cora-gem de um homem ésua capacidade de as-sumir responsabilida-des”.22 A capacidade deinstigar, criar e desen-volver o hábito de assumir responsabilida-des era difícil, segundo Richmond. Isso re-queria o uso de diversos meios, e um dessesmeios era a história. A descrição de exemploshistóricos de personagens que fracassarame venceram ao assumir as responsabilidadesdeveria ser analisada. Era fácil, para um per-sonagem histórico, se esconder atrás de or-dens recebidas e, assim, eximir-se de fracas-sos. Para Richmond, o estudo da histórianaval era um tônico necessário para a fraque-za humana23.

Para Richmond, era somente incentivan-do a assunção de responsabilidades peloscombatentes navais, com todas as suasconsequências, que se esperava que es-

ses personagens adquirissem a coragemmoral esperada, geralmente derivada de si-tuações críticas. Era pelas páginas da his-tória que seriam encontrados o estímulo eo exemplo.24 Seu grande exemplo deassunção de responsabilidades era LordeNelson. Nelson não somente assumia res-ponsabilidades, mas também encorajavaseus oficiais a seguirem seu exemplo.

Para Richmond, a história apontava igual-mente para outra questão ligada à respon-sabilidade, que era a importância de infor-

mar os subordinadosde todos os planos eintenções, o que podeparecer óbvio. Contu-do, segundo ele, issonão foi seguido muitasvezes na história, comresultados incertos e,muitas vezes, catastró-

ficos. Novamente Nelson foi seu grandeparadigma, principalmente antes deTrafalgar.

Richmond era um crítico mordaz da limita-da ênfase dada ao estudo da história na Mari-nha Real, indicando que essa disciplina nãotinha nenhuma importância para os almirantesda ativa e que inexistia a crença no valor dareflexão crítica que o estudo da história podiaoferecer.25 Dizia que o ensino de história mi-nistrado na Escola Naval de Osborne26 eraessencialmente biográfico, em que os cadetesaprendiam as vidas dos grandes personagensnavais, com uma visão apologética evocativado passado, o que, para ele, era um erro grave.O correto era dar aos jovens cadetes uma ideia

21 RICHMOND, Herbert. The Importance of the Study of Naval History op. cit, p. 214.22 Ibidem, p. 215.23 Idem.24 Ibidem, p. 216.25 RICHMOND, Herbert. National Policy and Naval Strenght and other essays. London: Longmans &

Green, 1928, p. 255.26 A Escola Naval de Osborne era para cadetes recentemente entrados na Marinha Real, com idades

variando entre 13 e 16 anos.

Para Richmond, o estudoda história naval era umtônico necessário para a

fraqueza humana

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geral do papel exercido pelo poder marítimo,com o propósito de criar questionamentos e,assim, estimular a curiosidade e o esforço in-dividual ao invés de insistir na fixação de fatoshistóricos. O significado da história naval e osmétodos adotados pelos diferentes países oupor indivíduos deveriam ser apresentados aoscadetes, de modo que compreendessem osobjetos da disciplina histórica.27 Suas críticasferinas foram dirigidas especialmente ao pro-fessor de Osborne (e depois de Greenwich, naEscola de Guerra Naval Real – EGNR) GeoffreyCallender. Richmond considerava o ensino deCallender “arqueológico”28 e ultrapassado aoministrar aulas poucoprofundas, sem análisee essencialmente enal-tecedoras dos fatospassados. Queria eleuma história problema enão apenas descritiva eapologética, como espo-sada por Callender.

Nas escolas maisavançadas na carreira,procurava-se discutira estratégia e a táticasem nenhuma funda-mentação metodológica, o que para ele erainsuficiente. Afirmava Richmond que o jo-vem se tornaria um almirante sem ser capazde definir os princípios básicos de estraté-gia naval ou mesmo saber como as Mari-nhas no passado lutaram no mar.29

O sistema educacional da Marinha Realera para ele deficiente, pois nos estágiosiniciais as humanidades não tinham impor-tância e existiam poucos incentivos para o

desenvolvimento analítico do raciocínio.O que se ministrava eram questões dememorização de eventos e datas, cobrindotópicos parciais, com um método pedagó-gico totalmente inadequado. Dizia-se naocasião que os oficiais ingleses necessita-vam de “formação científica”, estando apalavra “ciência” confinada aos limites dasciências naturais ou matemáticas, sendoignorado que existiam ciências da guerra.Conheciam-se noções sobre armas, naviose assuntos correlatos, porém nenhuma dis-cussão sobre a conduta da guerra era mi-nistrada. Tampouco na EGNR a história era

conduzida de formacrítica. O mais impor-tante para os oficiaisde estado-maior, diziaele, era compreender acorrelação existenteentre a Marinha comoinstituição e o seu pa-pel como instrumentoda política nacional.Acreditava que o en-sino de um historiadornaval profissional de-veria ser complemen-

tado pelo de um oficial de estado-maior,com amplo conhecimento dos conceitos deestratégia naval. Ambos, trabalhando emconjunto, poderiam expor, de modo maiscompleto e amplo, o papel do mar nas guer-ras e o curso das campanhas navais30. Di-zia ainda que:

Pelo estudo da história, empregando amesma metodologia empregada na

27 RICHMOND, Herbert. Diário do dia 21 de setembro de 1916. Fonte: MARDER, Arthur. Portrait ofan Admiral. op. cit. p. 223.

28 HATTENDORFF, John; GOLDRICK, James. Mahan is not enough.The proceedings of a conferenceon the works of sir Julian Corbett and sir Herbert Richmond. Newport: Naval War College Press,1933, p. 107.

29 RICHMOND, Herbert. National Policy and Naval Strenght, op. cit , p. 256.30 Ibidem, p. 272.

O mais importante para osoficiais de estado-maior,

dizia ele, era compreendera correlação existente entrea Marinha como instituição

e o seu papel comoinstrumento da política

nacional

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microbiologia, treinamos para ponderaresses fatores, e enquanto fazemos issotreinamos nossos raciocínios para atu-ar em situações similares quando acon-tecerem conosco, instintivamente sele-cionando os fatores críticos e colocan-do nossos dedos sobre aqueles elemen-tos do problema, do qual tudo depende,e dessa maneira guiando nossos pas-sos verdadeira e diretamente para ocerne da questão.31

Richmond acreditava que o estudo dahistória naval serviapara separar a grandeconfusão de dados,considerados inúteis esem finalidade, do ob-jeto a ser pesquisadoe aplicar os princípiospreviamente estuda-dos. Esse tipo de apro-ximação requeria trei-namento no estudo in-tensivo da guerra. Re-petia, assim, Mahan,que dizia que a Grã-Bretanha foi a “rainhados mares” motivadamais por falhas de seus inimigos do que porestudos sistemáticos da história naval.32

Dizia que os seus críticos pensavam que eleera somente um historiador naval e não co-nheciam suas ideias e nem por que ele estu-dava a história. Eles não observavam, con-cluía, que ele utilizava a história como ummeio de aprender algo sobre a estratégianaval e não a história por si própria.33

O papel do historiador naval devia ser ode registrar os fatos históricos, tendo emvista existirem três sujeitos principais aquem deveriam ser dirigidos os seus tex-tos: o público em geral, os políticos e osoficiais navais.

Ao público em geral, a história naval eraou deveria ser uma parte integral da histórianacional. Com isso Richmond não queria di-zer que o “homem comum”34 deveria conhe-cer os detalhes pertinentes a batalhas oucampanhas, mas que deveria conhecer o pa-pel que a Marinha tinha na vida nacional, de

como e por que as ne-cessidades de se pre-servar a superioridadenaval influenciaram apolítica externa de seupaís. Richmond, ao de-finir o papel que a his-tória naval teria, estavarealmente se referindoà GB. Repetindo o his-toriador Sir EdwardGrey, Richmond disseque “o que realmentedetermina a políticadeste país [a Grã-Bretanha] é a questão

do poder marítimo. É a questão naval quedetermina a nossa política europeia”.35 O his-toriador deveria, então, descrever para o ho-mem comum, com a maior acuidade possível,a relação existente entre a Marinha e a políti-ca nacional, de modo a que ele entendesse ahistória de seu país.

Aos políticos, a história naval não eramenos importante, em virtude de eles se-

31 Ibidem, p. 261.32 MAHAN, Alfred. The Influence of Sea Power upon History 1660-1783.New York: Dover, 1987, p.

269.33 RICHMOND, Herbert. Diário de 18 de novembro de 1919. Fonte: MARDER, Arthur. The Portrait of

an Admiral. op. cit. p. 359.34 ‘Commom Man’ foi traduzido como ‘homem comum’ pelo autor.35 RICHMOND, Herbert. The Importance of the Study of Naval History. op. cit, p. 203.

Richmond citava Bismarck,que afirmava que “tolos

dizem que aprendem com aexperiência. Prefiro

aprender com a experiênciade outros”. A experiência de

outros só podia serapreendida por meio do

estudo da história

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rem os condutores da política e, quando aguerra ocorresse, da própria guerra. Os al-mirantes, com suas esquadras, seriam me-ros instrumentos nas mãos dos políticos.A eles, políticos, cabia decidir quando, ondee como atacar. Nesse ponto Richmond sebaseava muito naquilo que Mahan apon-tou em uma de suas obras: de que caberiaao político “determinar e indicar aos milita-res os interesses nacionais mais vitais quedeveriam ser defendidos, tão bem como osobjetivos de conquista ou destruição maisdanosos ao inimigo, tendo em vista as exi-gências políticas a que o poder militar de-veria somente servir”36. As palavras deMahan eram as palavras de Richmond.

Os políticos, como condutores das po-líticas nacionais, deveriam conhecer a his-tória naval para melhor conhecerem asmudanças ocorridas no ambiente naval,tendo em vista que os objetos do podermarítimo permaneciam inalteráveis.Richmond acreditava ser impossível queum político que conhecesse as possibili-dades e limitações do poder marítimo fos-se igualado a um outro político que nuncativesse aberto um livro de história naval37.Ambos eram muito diferentes em essência.

Por fim, o terceiro sujeito a quem o his-toriador naval deveria se dirigir era o ofici-al de Marinha. Para Richmond, a simplesleitura de textos históricos por parte do ofi-cial de Marinha seria insuficiente. A postu-ra correta deveria ser de estudo e reflexão.O oficial naval deveria perceber o texto es-crito pelo historiador diferentemente. Ini-cialmente, ele deveria entender os elemen-tos do poder marítimo que forneceriam abase necessária para a compreensão da im-

portância desse poder. Em segundo lugar,apontar os princípios de guerra que foramou não aplicados pelos contendores. Emterceiro lugar, ele deveria mesclar esses co-nhecimentos acumulados com a própriaexperiência adquirida em campanhas navaispelas quais passou. Nesse ponto,Richmond reconhecia a dificuldade de seadquirir experiência de combate se não exis-tissem guerras. Acreditava, no entanto, que,no caso da impossibilidade de se obter daprópria experiência, a experiência de ou-tros deveria ser estudada. Citava comfrequência Bismarck, que afirmava que “to-los dizem que aprendem com a experiência.Prefiro aprender com a experiência de ou-tros”38. A experiência de outros só podiaser apreendida por meio do estudo da his-tória. Richmond reclamava sempre da ne-gligência do sistema educacional, que nãocriava uma cadeira específica de histórianaval nas universidades britânicas. A queexistiu em Cambridge durou apenas algunsanos e foi depois descontinuada, amalga-mada na cadeira de história imperial, da qualfoi titular por dois anos, mas sem a ênfasena área naval que ele considerava neces-sária.39 Sendo a GB uma comunidade quedependia do mar, Richmond consideravainconcebível essa negligência.

Richmond foi um historiador mais sofis-ticado que Mahan, fruto exatamente dasinfluências recebidas de dois grandes his-toriadores que vieram antes, Sir John KnoxLaughton e Sir Julian Stafford Corbett, seusimportantes mentores. Não deve ser esque-cida, tampouco, uma influência importanteno seu pensamento analítico, a do próprioAlfred Mahan, lido por ele com muito cui-

36 MAHAN, Alfred. The Influence of Sea Power on the French Revolution and Empire. V.ii. Boston:Little Brown, 1892, p. 392.

37 RICHMOND, Herbert. The Importance of Study of Naval History. op. cit. p. 203.38 Ibidem, p. 204.39 MARDER, Arthur. The Portrait of an Admiral. op. cit.p. 34.

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dado. Esses três personagens moldaram oseu pensamento e sua escrita da história eda estratégia.

AS INFLUÊNCIAS SOBRE HERBERTRICHMOND

O principal influenciador de Richmond foio historiador naval britânico Sir John KnoxLaughton, considerado por Andrew Lambertcomo um dos principais intelectuais inglesesdo século XIX e elemento central na moder-na concepção de como deveria ser um histo-riador naval como profissional da disciplina.

– Sir John Knox Laughton

“Considero-me afortunado de vir comfacilidade às suas mãos, uma vez que eleconhece mais história naval que qualquercriatura viva de língua inglesa”.40 Com es-sas palavras Alfred Mahan escreveu para oseu mentor Stephen Luce em 1890 sobre umaresenha redigida por John Laughton noEdinburgh Review a respeito do seu TheInfluence of Sea Power upon History. Cer-tamente Mahan estava, naquela carta,espelhando um sentimento generalizadoentre os historiadores navais de respeito aovelho mestre de história do King’s Collegede Londres, Sir John Knox Laughton.

Laughton nasceu em Liverpool, na In-glaterra, em 1830, vindo posteriormente a seintegrar, com 23 anos de idade, na MarinhaReal, após graduar-se em matemática pelaUniversidade de Cambridge. Serviu a seguirem navios ingleses no Báltico e na China,atuando como instrutor de ciências mate-máticas e navegação a bordo, prosseguin-

do em 1866 para uma função docente noColégio Naval Real de Portsmouth, lá per-manecendo até 1873, quando foi transferidopara Greenwich como chefe do Departamen-to de Meteorologia e Assuntos Marítimos.

Até 1874 suas atividades docentes fo-ram voltadas para a meteorologia e assun-tos técnicos navais, sem conotação com aatividade de historiador naval; no entanto,nesse ano, com 44 anos de idade, proferiusua primeira palestra sobre história, não in-terrompendo essa atividade até o seu faleci-mento. Essa palestra se tornaria muito co-nhecida, pois foi realizada na Royal UnitedServices Institution (RUSI) e versou sobrea importância de se analisar e não somentedescrever os eventos históricos. Um fatointeressante foi que, em 1870, Laughton co-nheceu o então Capitão de Mar e GuerraStephen Luce na RUSI e ambos discutiram,na ocasião, a importância da história na edu-cação naval.41 Laughton acreditava que oobjetivo da educação naval era adquirir co-nhecimentos e desenvolver a capacidadede se autoeducar, que era vital para a carrei-ra dos jovens oficiais ingleses.

Seu interesse pela disciplina históricacomeçara anos antes, no EncouraçadoHMS Algiers, quando travou uma forteamizade com o então Capitão-TenenteCyprian Bridge42, que mais tarde seria umreconhecido estrategista inglês. As discus-sões entre Laughton e Bridge sobre táticanaval e a importância da história naval fi-cariam gravadas na mente do primeiro deforma definitiva. Greenwich ofereceria aLaughton a oportunidade para se dedicarà história anos depois.

40 Carta de Alfred Thayer Mahan para Stephen Luce de 20 de dezembro de 1890, escrita de Nova Iorque.Fonte: SEAGER II, Robert; MAGUIRE, Doris. Letters and papers of Alfred Thayer Mahan. V. 2,Annapolis: USNI, 1975, p. 34.

41 LAMBERT, Andrew. The Foundations of Naval History. John Knox Laughton, the Royal Navy andthe historical profession. London: Chatham, 1998, p. 30.

42 O futuro Almirante Cyprian Bridge foi diretor de Inteligência Naval, comandante em chefe da Divisãoda Austrália e da China. Fonte: Ibidem, p. 20.

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Em 1885 Laughton retirou-se da Mari-nha e se tornou professor de História Mo-derna no King’s College até 1914. Em 1893tornou-se secretário e fundador da NavalRecords Society (NRS), juntamente comBridge. Em 1907 foi elevado a cavaleiro daOrdem do Banho. Em 1910 a ele foi ofertadaa Medalha de Ouro Chesney, conferidapelo Conselho da RUSI, em consideraçãoa sua valiosa contribuição no campo daliteratura naval43. Faleceu em 1915, com 85anos de idade.

Laughton, talvez devido a sua forma-ção matemática, acreditava que a histórianaval deveria ser “científica” e que o pro-pósito de se estudar a história emGreenwich era desenvolver doutrinas e in-culcar liderança.44 Quando Laughton men-cionou o caráter científico do estudo dahistória, ele queria dizer que:

Ciência é conhecimento, conhecimentoacurado e exato, distinto do conhecimentovago, indefinido e empírico, e nisso o ver-dadeiro sentido da palavra história deveser o estudo científico, como tudo o mais.Se a gênese de uma planta ou os hábitosde um inseto são coisas importantes paraserem estudadas, imaginem as palavras,realizações e destinos de nossos mais no-bres e distintos personagens.45

Para ele a história naval continha “liçõesde extrema importância”, e sua percepçãodessa história incluía o modo como as es-quadras foram organizadas e utilizadas, ocurso dos eventos históricos que conduzi-ram a vitórias ou derrotas e os princípios detática observados. Isso não significava que

essas lições se traduzissem em dogmas. Paraele, os dogmas eram perigosos para qual-quer disciplina de estudo. Para a condutada guerra eles eram o desastre. DonaldSchurman lembrou que Laughton se dirigia,em suas palestras, a almirantes do séculoXIX, ainda arraigados à tradição e aoconservadorismo, por isso “sua coragem emtocar nesses assuntos se eleva”.46 O estu-do científico da história, para ele, era o estu-do da tática, da estratégia, da organização eda disciplina. Ele considerava que a histórianaval só seria compreendida por aquelesque combinavam a preocupação do histori-ador pela acuidade e estudo acadêmico como “olho” para o mundo do combate naval.47

O resultado desse estudo seria uma coeren-te doutrina escrita, para o “benefício pereneda Marinha e dos oficiais a ela pertencen-tes”48, segundo Andrew Lambert. Lambertvai mais adiante ao afirmar que Laughtonpodia ser chamado justamente de o “pai damoderna historiografia naval”.49

Laughton utilizava um método crítico deanálise documental, servindo-se muitas ve-zes da comparação e de seus conhecimen-tos navais para apontar “lições” que deve-riam ser obtidas de suas pesquisas. A críticadocumental de Laughton baseava-se nametodologia científica introduzida porLeopold Von Ranke, que ele admirava imen-samente. Acreditava convictamente que ohistoriador não deveria conjeturar o futuro,tarefa que imputava aos políticos. Para ele,o passado e o presente eram os instrumen-tos de trabalho do historiador profissional.

Interessante que, como Mahan,Laughton via em Horatio Lorde Nelson o

43 Ofertada também a Mahan e Richmond.44 Ibidem, p. 39.45 Ibidem, p. 48.46 SCHURMAN, op. cit. 86.47 LAMBERT, Andrew. The Foundations of Naval History. op. cit. p. 57.48 Ibidem, p. 47.49 Ibidem, p. 61.

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exemplo de chefe naval modelo e herói, emrazão de seu supremo profissionalismo, suagrande capacidade tática e estratégica, alémde soberba liderança e humanidade.Laughton apreciava sobremaneira a obra deMahan, chegando a afirmar aos seus alu-nos que os livros do autor norte-americanodeveriam ser lidos, depois lidos novamentee depois relidos pela terceira vez, porqueneles seriam encontradas as vitórias e osfracassos de seus antecessores e a melhorexplicação da importância do poder maríti-mo.50 Entusiasmou-se com Mahan princi-palmente por ser um norte-americano escre-vendo sobre a história inglesa, embora con-siderasse que faltava em Mahan a acuidadedocumental e crítica necessária para apre-sentar um trabalho historiográfico de quali-dade. Considerava, no entanto, que a obrade Mahan era importante para os oficiais deMarinha, leigos e profissionais de históriapor ser uma bela síntese da estratégia naval.

Laughton teve também uma grande par-cela de responsabilidade em estabelecer ahistória naval como parte integrante da his-tória e no reconhecimento do profissionalde história naval no Reino Unido. Além dis-so, devido a suas conexões políticas, con-seguiu disponibilizar e organizar diversosarquivos históricos que estariam perdidosou mesmo indisponíveis para pesquisa.Schurman mencionou que, no obituário deLaughton, publicado no periódico The Ti-mes, dizia que “ele tinha muito a ver com ahistória naval ter sido tirada das mãos de‘meros especialistas ou analistas’. Isso sedevia muito à aplicação de métodos críticosem fontes primárias. Laughton encorajou acrítica pelo exemplo e, por meio de seu tra-balho, grandes quantidades de material

historiográfico foram disponibilizadas”51.Laughton tornou-se, assim, um referencialpara todos os pesquisadores de histórianaval ligados ao NRS, entre os quais se en-contrava Richmond.

Richmond, no prefácio de sua obra TheNavy in the War of 1739-1748, afirmou queera “afortunado em receber a ajuda do fale-cido Sir John Laughton, que estava sempredisponível para transmitir aos outros umaboa parte de seu vasto conhecimento”.52

Richmond não estava apenas agradecendoo auxílio de Laughton na confecção do li-vro. Ele estava agradecendo, efetivamente,a sua formação como historiador acadêmi-co, forjada pela orientação do velho mestredo King’s College de Londres.

Sua associação com Laughton intensi-ficou-se no NRS. Em 1913, Richmond foiincentivado por Laughton a compilar e edi-tar pela NRS um volume do PapersRelating to the Loss of Minorca in 1756,um trabalho de pesquisa arquivística defôlego que foi publicado nesse mesmo ano.Laughton não mais exercia a função de se-cretário da sociedade, mas permanecia noseu conselho editorial. Essa importantecompilação de documentação primária, in-cluindo cartas, memorandos, ordens deoperação e despacho, foi conduzida porRichmond sob a atenta supervisão deLaughton. Além disso, essa obra tinha umcaráter dramático para a Marinha Real, poisdescrevia um acontecimento trágico, quefoi o fuzilamento do Almirante Sir JohnByng em 1757, em plena Guerra dos SeteAnos. Byng fora mandado para o Mediter-râneo com um pequeno esquadrão navalpara auxiliar a defesa de Minorca, em poderda GB. O governo britânico designara pou-

50 Ibidem, p. 132,51 SCHURMAN, op. cit. p. 109.52 RICHMOND, Herbert. The Navy in the War of 1739-1748. v. 1, Cambridge: Cambridge University

Press, 1920, p. Vii.

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cos navios sob o seu comando, acreditan-do que os franceses não atacariam a basede Minorca. Ao lá chegar, Byng verificouque os franceses já haviam desembarcadoe tomado quase toda a ilha, com exceçãode um forte com tropas inglesas. Uma es-quadra francesa semelhante encontrava-seno ancoradouro. Byng, então, engajouessa força, porém, por falta de experiênciade combate, não obteve a esperada vitória.Resolveu, então, recuar para Gibraltar, dei-xando que toda Minorca caísse nas mãosdos franceses. Byng acabou preso e sub-metido a corte marcial. O tribunal conside-rou-o culpado de covardia e de não defen-der Minorca como determinado, no entan-to solicitou clemência ao Almirantado e aorei. Ambos recusaram o perdão, e Byng foiexecutado a bordo de seu próprio capitânia,o HMS Monarch, em Portsmouth.

Esse evento foi traumático, e Richmondconseguiu transcrever a documentaçãopertinente de um modo muito preciso e pro-fissional. Esse trabalho lhe conferiu a esta-tura intelectual suficiente para escrever seupróximo livro, The Navy in the War of 1739-1748. Laughton foi um de seus incenti-vadores nessa nova empreitada, juntamentecom Corbett.

A capacidade de criticar as fontes e de-las tirar aquilo que era pertinente ao objetoproposto foi um legado deixado a Richmondpor Laughton. Outro ponto apreendido porRichmond foi a capacidade de detalhareventos históricos, em uma sequência ló-gica, e, desse detalhamento, apontar liçõestáticas e estratégias, exatamente comoLaughton preconizava. A sua procuraexaustiva por fontes primárias, de acordo

com a metodologia utilizada por Laughton,foi outro legado que acompanhariaRichmond até o seu falecimento.

Apesar de todas essas qualidades,Laughton não foi um historiador revolucio-nário nem foi um autor prolífico, com umaobra-prima relevante. Ele escreveu poucoslivros; no entanto, sua capacidade de per-ceber talentos em outros historiadores eencorajá-los e sua percepção de que a his-tória naval deveria ser escrita comparâmetros científicos o tornaram umparadigma relevante. O historiador RogerKnight, ao descrever as qualidades dessevelho mestre inglês, afirmou que “a força desua personalidade foi fundamental naquiloque ele conseguiu, disponibilizando acessodo povo a arquivos públicos e fundandouma sociedade acadêmica [NRS]”.53

Outro historiador importante que muitoinfluenciou Richmond foi Sir Julian Corbett,membro do NRS juntamente com Laughton.

– Sir Julian Stafford Corbett

Filho de um próspero arquiteto londri-no, Corbett nasceu em 12 de novembro de1854, em Surrey, Inglaterra. Formou-se emDireito por Cambridge, contudo preferiuuma carreira literária, escrevendo inicial-mente novelas históricas e viajando exten-sivamente. Em 1882, desistiu de seguir acarreira de advogado e voltou-se integral-mente para a história naval, que sempre oatraiu, em especial o período de reinado deElizabeth I.

Juntamente com Laughton, foi um dosmembros fundadores do NRS e com elecomeçou uma ligação que se estenderia até

53 O hisitoriador Roger Knight escreveu uma resenha muito interessante do livro do professor AndrewLambert, do King’s College, The Foundations of Naval History, que é utilizado em algumas passa-gens nessa pesquisa, em especial quando é analisado o papel de Sir John Knox Laughton na formaçãode Richmond. Fonte: KNIGHT, Roger. Book Review. Reino Unido. Resenha de LAMBERT, Andrew.The Foundations of Naval History. London: Chatham Publishing, 1998, 256 pag. Site eletrônico.http://www.history.ac.uk/ihr/focus/sea/reviews/knight.html. Acesso em: 29 jul 2008.

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a morte de Laughton, em 1915, tornando-se, inclusive, um de seus protegidos e maischegados amigos.

Em 1896, incentivado por Laughton, ini-ciou a edição dos documentos relativos àGuerra Espanhola de 1585 a 1587,54 que se-guramente foi o início de sua carreira dehistoriador naval e teórico respeitável. Emparalelo, começou uma vasta pesquisa so-bre o corsário inglês Sir Francis Drake noperíodo elizabetano, publicando, dois anosdepois, uma obra-prima, muito lida até hojepelos historiadores navais, chamada Drakeand the Tudor Navy, em dois volumes. Essaobra se destaca das demais por demons-trar um equilíbrio de análise e uma “maestrianas técnicas de investigação histórica sur-preendente para um virtual iniciante”, se-gundo Schurman55. A orientação deLaughton foi importante para o seu primei-ro grande trabalho em história naval.

Corbett passou, então, a ser reconheci-do como um dos mais influentes intelectu-ais que escreviam e pesquisavam histórianaval, vindo a associar-se ao Almirante JackFisher, que se impressionou com um de seusartigos sobre educação naval. Fisher, naocasião segundo lorde do mar, convidou-opara ser professor de história e estratégiada recém-fundada EGNR. Em suas palestrasaos oficiais alunos, chamava a atenção parao uso indiscriminado dos princípios deMahan como um dogma a ser atendido eseguido por todos. Considerava que os es-critos de Mahan eram importantes, no en-tanto não deveriam ser tomados como regrageral, pois a guerra tinha uma dinâmica pró-pria que extrapolava a “simplicidadejominiana” esposada por Mahan.

Suas palestras foram um sucesso, o queo fez se aproximar cada vez mais de Fisher,que, logo em seguida, assumiu o cargo deprimeiro lorde do mar, iniciando uma refor-ma radical na Marinha Real. Corbett, alémdas atividades na EGNR, passou a proferirconferências de história na Universidadede Oxford, a partir de 1903.

Corbett percebeu claramente que muitosde seus alunos oficiais careciam de leiturasem história e estratégia, principalmente nasquestões teóricas da guerra no mar. Assim,utilizando as ideias de Carl Von Clausewitz,iniciou uma série de palestras, que seriamposteriormente compiladas em um livro cha-mado Green Pamphlet, que se desdobrariaem 1911 no seu livro mais famoso e lido nasescolas de altos estudos militares, SomePrinciples of Maritime Strategy.

A ligação estreita de Corbett com Fisher olevou a ser uma figura importante nos altosescalões navais, tornando-se, assim, um ele-mento essencial no nível decisório mais eleva-do na Marinha Real. E seus escritos passarama ser praticamente, embora não explicitamen-te, a doutrina estratégica naval britânica.56

O principal propósito de Corbett era efeti-vamente formalizar uma doutrina que congre-gasse teorias e princípios de guerra naval, ten-do a formulação teórica de Clausewitz de guerraterrestre como marco referencial. Sua teoriapossui uma consistência formal e teórica nãoencontrada em Mahan, mais prescritivo e me-nos analítico. Isso não significa afirmar neces-sariamente que Jomini fosse por ele despreza-do; longe disso, considerava, no entanto,Clausewitz como um teórico mais consistentee dele utilizou muitas ideias, devidamente apli-cadas à guerra naval.

54 Trata-se do volume XI do NRS, com o título Papers relating to the Spanish War, 1585-1587, por eleeditado em 1897.

55 SCHURMAN, op. cit. p. 148.56 PROENÇA, Domicio; DINIZ, Eugenio; RAZA, Guelfi. Guia de Estudos de Estratégia. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 1999, p. 108.

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HERBERT RICHMOND E O PAPEL DA HISTÓRIA E DO HISTORIADOR:UMA COMPARAÇÃO COM ALFRED THAYER MAHAN (II)

Quando a Grande Guerra foi deflagrada,Corbett foi selecionado pelo Comitê Impe-rial de Defesa para escrever a história ofici-al da guerra naval, no entanto constantesinterferências com o seu texto sobre a guer-ra o deixaram muito decepcionado e abor-recido, atingindo aos poucos a sua saúde,o que, por fim, contribuiria para a sua mor-te por ataque cardíaco em 1922.

Em 1914, assim como Mahan, Laughtone Richmond, recebeu a Medalha de OuroChesney da RUSI e, em 1917, recebeu aOrdem do Banho, no grau de cavaleiro.

Corbett, um especialista do períodoelizabetano, acreditava que foi nessa épocaque a Inglaterra, por meio de seus estadis-tas, formulou uma estratégia naval que seriao pontapé inicial do futuro grande ImpérioBritânico a ser estabelecido 150 anos de-pois. Defendia a ideia de que o ataque nãosistemático contra o comércio do inimigoera uma perda de tempo, o que o fazia seaproximar de Mahan, que assim tambémpensava. Certamente correlacionava essefato à guerra de atrição ao comércio maríti-mo espanhol, realizado pelos corsários in-gleses no século XVI, quando se destacouSir Francis Drake. Da mesma forma queMahan enaltecia Nelson, Corbett enalteciaDrake como o verdadeiro herói inglês.

Afinal, de que maneira Corbett influen-ciou Richmond? Inicialmente Richmond tra-vou contato com Corbett quando ambasas famílias, oriundas da abastada classemédia inglesa, com conexões nas altas es-feras sociais, mantiveram vínculos sociaiscomuns. Em seguida, em 1902, Corbett es-creveu dois artigos para o periódicoMonthly Review comentando sobre asinadequações do sistema de ensino naval,assunto que muito interessava a Richmond

e que o impressionou pela clareza das ar-gumentações e conclusão. Essas ideiastambém lhe foram transmitidas em conver-sações pessoais entre os dois.

Com a aproximação entre Corbett eFisher, Richmond, assistente do último noAlmirantado, se viu mais próximo do pri-meiro. Naquela oportunidade, Corbett já eraum historiador consagrado, e o interessede Richmond em se aproximar dele foi na-tural. Logo depois, Richmond se agregouao NRS, no qual pontificava Laughton e,como seu sucessor, Corbett.

Ambos tornaram-se amigos íntimos econfidentes. Corbett, então, incentivouRichmond a estudar e discutir a histórianaval britânica de um modo sistemático.Corbett indicou Richmond para compilaros volumes 3 e 4 dos papéis de LordeSpencer57 pelo NRS, que levaram mais dedez anos para serem lançados, uma vez queRichmond estava envolvido em seu gran-de projeto do conflito naval na Guerra deSucessão da Áustria, publicado em 192058.Nessa grande obra de três volumes, pode-se perceber a habilidade de Richmond emlidar com assuntos de política e de estraté-gia naval, ao analisar detalhadamente osmemorandos e ordens de operação das for-ças navais envolvidas no conflito, inter-pretando minuciosamente as ações e oscombates entre os contendores. Sua preo-cupação excessiva com o detalhe e o valorde mencionar personagens envolvidos noprocesso histórico, por meio da análise dedocumentação primária, utilizando métodosque lhe foram transmitidos por Laughton eCorbett, lhe fez herdeiro dos dois historia-dores. Corbett foi um grande incentivadorpara que Richmond se dedicasse à escritadessa grande obra de história naval.59 Seu

57 Trata-se do livro Private papers of George, Second Earl Spencer, First lord of the Admiralty.Publicado pela Naval Records Society em 1924.

58 Trata-se da The Navy in the War of 1739-1748.59 TILL, Geoffrey. Maritime Strategy and Nuclear Age. New York: St Martin Press, 1982, p. 44.

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HERBERT RICHMOND E O PAPEL DA HISTÓRIA E DO HISTORIADOR:UMA COMPARAÇÃO COM ALFRED THAYER MAHAN (II)

julgamento sobre essa pesquisa deRichmond foi que aquela [Guerra de Su-cessão da Áustria] era a “guerra deHerbert” e que nada deveria ser alterado.60

Corbett denegria o valor da históriaaprendida “meramente de livros-texto” emcomparação com a história compreendidade um longo estudo de “papéis confiden-ciais de Estado” apoiado por uma obser-vação direta das políticas e deliberaçõesdos detentores do poder.61

Corbett veio a falecer em 1922, o queatingiu seriamente Richmond, que, lamen-tando sua morte no periódico NavalReview, disse que “[a morte de Corbett]tinha sido um duro golpe na história naval,e como a história é matéria bruta da qual setira o conhecimento dos princípios de es-tratégia e de tática, o estudo dessas artesmuito sofrerá”.62

Richmond perdia um amigo, confidente,incentivador e mentor.

– Alfred Thayer Mahan

Mahan teve grande influência no pen-samento de Richmond. Em toda a obra deRichmond, Mahan aparece com indicaçõesde referências e comparação de percepçõessobre batalhas e campanhas navais. Issonão significa necessariamente subordina-ção do pensamento de Richmond ao deMahan, no entanto demonstra, pelo me-nos, o conhecimento do primeiro sobre aobra e as ideias do autor norte-americano.

Nenhum dos dois teve formação acadê-mica formal em história, no entanto Richmondrecebeu orientação acadêmica de Laughton

e de Corbett, enquanto Mahan foi essencial-mente um autodidata. O ponto central coin-cidente de ambos os autores foi, inicialmen-te, a questão dos princípios e das lições dahistória. Richmond concordava inteiramentecom Mahan, chegando a afirmar que o aten-dimento dos princípios e de leis estabeleci-dos pela história e a estratégia no estudo daguerra deveria ser complementado pela ex-periência individual, como Mahan afirmara.

Ambos utilizavam o mesmo tipo de nar-rativa direta e determinista ao analisar a es-tratégia naval e a história. Richmond, em-bora não tão religioso quanto Mahan, per-cebia a guerra naval com condicionantesmorais que chegavam a ser ingênuos com-parados com as visões de Mahan, que acre-ditava que a guerra era um “mal necessário”determinado por Deus. Ambos imputavama guerra no mar como sendo a “guerra” de-cisiva, embora Richmond considerasse quea função da Marinha, por si só, não fossesuficiente. Ele pregava com ardor aintegração entre as Forças Armadas, en-quanto Mahan apregoava a centralidade domar no conflito. Isso não significa afirmarque Mahan desprezasse a força terrestre.Muito pelo contrário. As diferenças entreambos estavam mais na intensidade que naforma. Para Richmond, a guerra tinha umacomplexidade própria, menos simplista doque para Mahan, que afirmava sobre a his-tória e a guerra, em um tom jominiano, que“os ensinamentos da história têm um evi-dente e permanente valor porque as condi-ções permanecem imutáveis”.63

Para ambos a história era uma ferramentapara o estabelecimento de conceitos estraté-

60 SCHURMAN, op. cit. 132.61 SUMIDA, Jon. “The Historian as Contemporary analyst. Sir Julian Corbett and Admiral Sir John

Fisher”. In: HATTENDORF, John; GOLDRICK, James. Mahan is not enough. The proceedings ofa conference on the works of sir Julian Corbett and sir Herbert Richmond. Newport: Naval WarCollege Press, 1993, p. 131.

62 LAMBERT, op. cit. p. 220.63 MAHAN, Alfred. The Influence of Sea Power upon History. op. cit. p. 7.

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HERBERT RICHMOND E O PAPEL DA HISTÓRIA E DO HISTORIADOR:UMA COMPARAÇÃO COM ALFRED THAYER MAHAN (II)

64 Navalismo era uma teoria estratégica que estabelecia que quem dispusesse de uma grande Marinhaoceânica obteria o atributo essencial para se tornar uma grande potência mundial. Mahan, semdúvida, foi o seu principal representante. Fonte: KEEGAN, John. The price of the admiralty.London: Penguim, 1988, p. 333.

O homem comum,imaginava Richmond,

deveria ser “convencido”da pertinência das políticas

adotadas pelos homenspúblicos do passado. Ospolíticos, que lhe eram

contemporâneos, deveriamolhar para o passado ereconhecer que o poder

marítimo deveria continuarprevalente

gicos, e nesse ponto Mahan veio primeiro.Richmond foi aqui muito influenciado por ele.O historiador deveria ser para ambos um edu-cador. A função educacional da história e daestratégia era percebida por eles da mesmaforma. Acreditavam que deveria existir umamudança por parte das respectivas Marinhasno modo como se estudavam e se discutiamessas duas disciplinas. Para Mahan, a históriaera prescritiva, enquanto para Richmond elaera para ser analisada ecriticada. Diferentes per-cepções para um modocomum de perceber ahistória, a ferramentaessencial para a estraté-gia. Mahan, com certe-za, orientou Richmondnessa questão.

Ambos procuraram,com seus livros, influ-enciar o “homem darua”, os seus pares eos políticos sobre aimportância do podermarítimo para os paí-ses. Mahan considera-va que os seus compa-triotas não possuíamum elemento funda-mental para a expansão do poder marítimodos EUA, que era o caráter do povo voltadopara as lides do mar. Richmond, por sua vez,reconhecia que os ingleses eram atraídospara o mar, entretanto temia que eles esque-cessem o passado da Inglaterra e se voltas-sem para outras formas de defesa do Impé-rio que não fosse a marítima. O homem co-mum, imaginava Richmond, deveria ser “con-vencido” da pertinência das políticas

adotadas pelos homens públicos do passa-do. Os políticos, que lhe eram contemporâ-neos, deveriam olhar para o passado e reco-nhecer que o poder marítimo deveria conti-nuar prevalente na GB. A necessidade deinfluenciar foi uma característica fundamen-tal apreendida por Richmond provinda deMahan.

Para o desgosto de Richmond, Mahan foimuito mais bem aceito que ele, fruto com cer-

teza do período históri-co vivido pelo norte-americano, no qual onavalismo64 assumia umpapel preponderante,enquanto contingênci-as econômicas limita-vam a expansão do jácombalido Império britâ-nico, acrescido da anti-patia de políticos e almi-rantes com a virulênciade suas observações.

Os pontos discor-dantes entre ambos,no que diz respeito àpercepção da história,são mais de métodosde pesquisa e escritado que propriamente

de conteúdo, embora a discussão dessesconteúdos fosse diferente. O método deMahan partia de uma ideia predetermina-da, que chamou de ideia central, obtendoconclusões que os fatos históricos iriamcorroborar. Essas conclusões eram obtidastendo em vista a aplicação de seus princí-pios, afirmando, dogmaticamente, que, aten-didos os princípios, tudo estaria sob con-trole. Sua aproximação do problema era mais

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moderada, sem críticas exageradas a situa-ções ou fatos, embora não pudesse, em cer-tas situações, delas se esquivar. As fontesprincipais eram preferencialmente secun-dárias, e o detalhamento excessivo de fa-tos era por Mahan criticado. Um métodoinadequado certamente. Richmond, ao con-trário, era mais sofisticado. Ele começava asua pesquisa com um objeto e um proble-ma a ser resolvido. A pesquisa, baseadaem extensa documentação primária,gravitava em torno dessa questão funda-mental. Ele buscava analisar também o pa-pel social dos indivíduos envolvidos nes-sa questão. Em seguida, procurava aplicaros princípios nas questões históricaspesquisadas e concluir pela validade des-ses princípios em um estilo mais agressivoe profundo do que o de Mahan, e nesseponto ambos tinham conclusões parecidas,porém com métodos distintos.

Mahan temia escrever sobre a chamadahistória do tempo presente, embora algu-mas vezes isso fosse inevitável, principal-mente na análise das guerras hispano-ame-ricana e russo-japonesa. Richmond, pelocontrário, escrevia com grande frequênciasobre assuntos classificados como do tem-po presente, principalmente questões con-temporâneas de projeto de força e assun-tos navais da Segunda Guerra Mundial.

Não existem dúvidas de que Mahan foi uminfluenciador e teve um papel importante naformação intelectual e no modo comoRichmond abordava a história e a estratégia,no entanto pode-se questionar se essa influ-ência estendeu-se na sua concepção de po-der marítimo. Quais os pontos teóricos con-cordantes e discordantes com Mahan no modocomo Richmond percebia o poder marítimo?

No próximo número da Revista MarítimaBrasileira serão discutidos esses pontos.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<ARTES MILITARES>; Pensamento militar; Estratégia marítima; Poder naval;

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SUMÁRIO

O que são salvaguardas nuclearesO que são salvaguardas abrangentesO caso brasileiroComo são aplicadas as salvaguardasInspeções e visitas de salvaguardasO que são protocolos adicionaisMedidas no âmbito dos acordos de salvaguardas abrangentesMedidas no âmbito dos protocolos adicionaisConclusões

REGIME INTERNACIONAL DE NÃO PROLIFERAÇÃONUCLEAR: SALVAGUARDAS ABRANGENTES EPROTOCOLOS ADICIONAIS

LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES*Capitão de Mar e Guerra (EN-RM1)

* Chefe de gabinete do presidente da Eletrobras Termonuclear S/A (Eletronuclear).

O QUE SÃO SALVAGUARDASNUCLEARES

Salvaguardas nucleares são atividadesrealizadas pela Agência Internacional

de Energia Atômica (AIEA) para verificarse um Estado estaria violando seus com-promissos internacionais pelo desenvol-vimento de programas de armas nucleares.

O Tratado de Não Proliferação Nuclear(TNP) e outros tratados internacionais con-

tra a proliferação de armas nucleares, como oTratado de Proibição de Armas Nucleares naAmérica Latina (Tratado de Tlatelolco), dele-gam à AIEA essas atividades de inspeção.

Hoje, as salvaguardas da AIEA sobre ati-vidades e materiais nucleares são aplicadas amais de 140 Estados-Membros no âmbito dosdiversos acordos internacionais de não pro-liferação em vigor. Note-se, entretanto, que aAIEA não aplica salvaguardas aos seus Es-tados-Membros que não aderiram ao TNP

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REGIME INTERNACIONAL DE NÃO PROLIFERAÇÃO NUCLEAR:SALVAGUARDAS ABRANGENTES E PROTOCOLOS ADICIONAIS

(Israel, Índia e Paquistão). A Coreia do Norteé um caso à parte, porque, tendo aderido ini-cialmente ao TNP, o denunciou, passando adesenvolver declaradamente um programa dearmas nucleares.

Dentro do regime mundial de não proli-feração nuclear, o sistema de salvaguardasda AIEA funciona como uma medida deconfiança, um mecanismo de alerta anteci-pado, e um gatilho que aciona outras res-postas da comunidade internacional, emespecial resoluções do Conselho de Segu-rança da ONU, se e quando surgir uma su-posta necessidade.

Durante a última década, as salvaguardasda AIEA foram reforçadas em áreas-chave. Asmedidas visam aumentar a probabilidade dedetectar um programaclandestino de armasnucleares e para cons-truir a confiança de queos Estados estão cum-prindo os seus compro-missos internacionais.

Esse reforço foi es-tabelecido pelo Mode-lo de Protocolo Adicio-nal, estabelecido em re-ação à identificação deatividades e materiaisnucleares não declara-dos pelo Iraque em decorrência das inspe-ções que se sucederam à sua derrota na 1a

Guerra do Golfo.

O QUE SÃO SALVAGUARDASABRANGENTES

A AIEA aplica três tipos de acordos desalvaguardas:

1. salvaguardas abrangentes (modeloINFCIRC-153), aplicável a todos os países nãonuclearmente armados que aderiram ao TNP;

2. salvaguardas parciais (modeloINFCIRC-66), aplicável aos países que não

aderiram ao TNP e que possuem armas nu-cleares (Índia, Paquistão, Israel);

3. acordos de oferta voluntária, aplicá-veis aos cinco países nuclearmente arma-dos reconhecidos pelo TNP (EUA, Rússia,Grã-Bretanha, França e China).

Todos os países, ao assinarem o TNP,têm que assinar com a AIEA um acordo desalvaguardas abrangentes, ou seja, queinclua todas as instalações e os materiaisnucleares no país.

Esse acordo segue o modelo estabelecidopela AIEA denominado INFCIRC-153, conhe-cido como o “Acordo do TNP”. Esse acordopode receber da AIEA outro número; comono caso da Euratom, Agência Nuclear da Co-munidade Europeia (INFCIRC-193) e no caso

de Brasil e Argentina –INFCIRC-435.

O CASOBRASILEIRO

O INFCIRC-435,acordo associado aotratado dito “Quadri-partite”, assinado porAIEA, Agência Brasil-Argentina de Contabi-lidade e Controle(ABACC), Brasil e Ar-

gentina, entrou em vigor em 1994, quando osdois países não haviam firmado nem ratifica-do o TNP. Ele constitui um acordo de salva-guardas abrangente.

Note-se que o formato original do Tra-tado, firmado em 1991, era Tripartite(ABACC, Brasil e Argentina, sem AIEA).

Mais tarde, respectivamente em 1997 e1999, Argentina e Brasil ratificaram o TNP.Como já tinham com a AIEA um acordo desalvaguardas abrangentes, o INFCIRC 435,não foi necessário assinar outro acordo,sendo este usado para os fins de atendi-mento às obrigações do TNP.

Dentro do regime mundialde não proliferação

nuclear, o sistema desalvaguardas da AIEA

funciona como uma medidade confiança, um

mecanismo de alertaantecipado

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O acordo INFCIRC 435, associado aoTratado Quadripartite, substituiu os anti-gos acordos firmados pelo Brasil segundoo modelo INFCIRC-66 da AIEA (salvaguar-das parciais, de aplicação a instalações es-pecíficas) usados para importação de sis-temas, como Angra 1 e as instalações con-tratadas dentro do escopo do Acordo Nu-clear Brasil-Alemanha (Angra 2, Fábrica deElementos Combustíveis, entre outras).

COMO SÃO APLICADAS ASSALVAGUARDAS

As salvaguardas são baseadas em ava-liações de exatidão e integridade da conta-bilidade e do controle do material nuclear edas atividades nucleares declaradas peloEstado-Membro. As medidas de controleincluem inspeções in loco e visitas de acom-panhamento e avaliação.

Basicamente, dois conjuntos de medidassão aplicados, em conformidade com os ter-mos dos acordos de salvaguardas abrangen-tes em vigor para cada Estado-Membro.

Um conjunto diz respeito à verificaçãodos relatórios sobre materiais e atividadesnucleares declarados pelo Estado-Membro.Estas medidas, autorizadas pelos acordosde salvaguardas abrangentes firmados emdecorrência do TNP, em grande parte sãobaseadas na contabilidade e no controle dosmateriais nucleares, complementadas portécnicas de contenção e vigilância, tais comoselos invioláveis e câmeras nas instalações.

Outro conjunto acrescenta medidas des-tinadas a reforçar as capacidades de ins-peção da AIEA. Elas incluem aquelas in-corporadas pelo Modelo de um ProtocoloAdicional, que é um documento legal com-plementar aos acordos de salvaguardas.Estas medidas visam verificar não só o des-vio não declarado de material nuclear, mastambém dar garantias quanto à ausênciade material e atividades nucleares não de-claradas em um Estado-Membro.

INSPEÇÕES E VISITAS DESALVAGUARDAS

A AIEA realiza diferentes tipos de ins-peções e visitas ao abrigo dos acordos desalvaguardas:

• Inspeções ad hoc são normalmente fei-tas para verificar um relatório inicial dematerial nuclear do Estado-Membro ou re-latórios sobre suas eventuais alterações, everificar o material nuclear envolvido emtransferências internacionais.

• Inspeções de rotina são as mais utiliza-das, podendo ser realizadas de acordo comum cronograma definido; estas inspeções derotina normalmente não se realizam sem avi-so prévio, mas podem ocorrer com comuni-cação de curto prazo. O direito de a Agênciaefetuar inspeções de rotina sob acordos desalvaguardas abrangentes limita-se a locaisdentro de uma instalação nuclear, ou outroslocais que contenham material nuclear, ou nosquais algum fluxo de material nuclear é espe-rado (pontos estratégicos).

• Inspeções especiais podem ser realiza-das em circunstâncias específicas previstaspelos acordos de salvaguardas abrangentes.A AIEA pode levar a cabo inspeções se con-siderar que as informações disponibilizadaspelo Estado-Membro em causa, incluindo asexplicações e informações obtidas através dasinspeções de rotina, não são adequadas paraque a Agência cumpra suas responsabilida-des definidas no âmbito do acordo de salva-guardas em vigor.

• Visitas de salvaguardas podem serfeitas em instalações declaradas durantetodo seu ciclo de vida para verificar as in-formações sobre o projeto em causa. Porexemplo, essas visitas podem ser realiza-das durante a construção, para determinara integridade das informações de projetodeclaradas, durante operações de rotinadas instalações e na sequência de ativida-des de manutenção, para confirmar que

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REGIME INTERNACIONAL DE NÃO PROLIFERAÇÃO NUCLEAR:SALVAGUARDAS ABRANGENTES E PROTOCOLOS ADICIONAIS

nenhuma modificação foi feita, que permi-tiria atividades não declaradas terem lugar,e durante o descomissionamento da insta-lação, para confirmar que o equipamentosensível foi inutilizado.

As atividades que os inspetores da AIEArealizam durante e em conexão com inspe-ções ou visitas às instalações podem incluira auditoria de contabilidade do material nu-clear e os registros de funcionamento da ins-talação, comparando estes registros com osrelatórios de contabilidade do Estado-Mem-bro apresentados à Agência, a verificaçãodo inventário de material nuclear e de suasalterações, com base em amostras ambientaise aplicação de medidas de confinamento evigilância, por exemplo, a aplicação de selose a instalação de equipamentos de vigilância.

O QUE SÃO PROTOCOLOSADICIONAIS

O Protocolo Adicional é um documentolegal que concede à AIEA autoridade de ins-peção complementar àquela prevista nos acor-dos de salvaguardas subjacentes. De carátervoluntário, ele é, por princípio, aplicável aostrês tipos de acordos de salvaguardas.

Seu objetivo principal é permitir que osserviços de inspeção da AIEA ofereçamgarantias não só sobre os materiais e ativi-dades declarados pelos Estados-Membros,mas também sobre possíveis materiais eatividades não declarados. Ele concede àAIEA direitos ampliados de acesso a infor-mações e locais.

O Protocolo Adicional recebeu da AIEA adesignação de INFCIRC-540 e tem que ne-cessariamente ser um acordo adicional a umacordo de salvaguardas abrangente previa-mente existente. Não é possível um país assi-nar somente o Protocolo Adicional sem terassinado antes um acordo compreensivo.

Uma visão geral das medidas de salvaguar-das previstas pelos acordos de salvaguardas

abrangentes e sua ampliação pelos Protoco-los Adicionais são apresentadas a seguir:

MEDIDAS NO ÂMBITO DOSACORDOS DE SALVAGUARDASABRANGENTES

Prestação de informações pelo Esta-do-Membro sobre novas instalações e al-terações em instalações existentes, logoque suas autoridades decidirem construir,autorizar a construção ou modificar umainstalação; a Agência tem continuamenteo direito de verificar as informações de pro-jeto ao longo do ciclo de vida da instala-ção, incluindo seu descomissionamento. Coleta de amostras ambientais nas ins-

talações e em locais onde os inspetorestêm acesso durante as inspeções, com aná-lise de amostra no laboratório de referên-cia da AIEA e/ou em laboratórios certifica-dos nos Estados-Membros e verificaçãode informações de projeto das instalações. Avaliação aprimorada de informações

provenientes de declarações do Estado-Mem-bro, das atividades de verificação da Agênciae de uma vasta gama de fontes abertas. Controle autônomo e remoto de movi-

mentos de materiais nucleares declaradosem instalações e a transmissão dos dadosrelevantes de salvaguardas autenticadose criptografados à Agência. Prestação de formação avançada para

inspetores e pessoal de salvaguardas daAgência e de pessoal do Estado-Membroresponsável pela aplicação de salvaguardas. Uma cooperação mais estreita entre a

AIEA e os sistemas nacionais (e regionais)para contabilização e controle de materiaisnucleares nos Estados-Membros. Utilização expandida de inspeções não

anunciadas dentro do regime de inspeçãode rotina programadas. Comunicação voluntária pelo Estado-

Membro das importações e exportações de

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material nuclear e a exportação de equipa-mentos e materiais não nucleares especifi-cados (novos componentes deste relató-rio foram incorporados ao modelo de pro-tocolo adicional).

MEDIDAS NO ÂMBITO DOSPROTOCOLOS ADICIONAIS

Fornecimento de informações pelo Es-tado-Membro e acesso dos inspetores daAgência a todas as etapas do ciclo de com-bustível nuclear, incluindo minas de urânio,fabricação de combustível e instalações deenriquecimento e locais de armazenagem deresíduos nucleares, bem como a qualqueroutro local onde os materiais nucleares es-tão ou poderão estar presentes (os acordosde salvaguardas abrangentes não incluemas minas). Estado-Membro fornece informações

e permite à Agência acesso em curto prazoa todos os edifícios em um sítio nuclear (osacordos de salvaguardas abrangentespreveem acesso apenas às instalações de-claradas em um sítio). O Protocolo prevê que os inspetores

da AIEA tenham acesso “complementar”para garantir a ausência de materiais nu-cleares não declarados ou para resolverquestões ou inconsistências nas informa-ções que um Estado-Membro forneceu so-bre suas atividades nucleares. O acessocomplementar, entretanto, não é algo quepossa ser aplicado de maneira sistemáticae/ou indiscriminada, mas somente nos ca-sos em que houver dúvidas razoáveis porparte da Agência. A antecedência, na maioria dos casos,

é de pelo menos 24 horas. O aviso prévio émenor, pelo menos duas horas, para aces-so a qualquer lugar de um sítio quando so-licitado em conjunto com a verificação deinformações de projeto ou em inspeçõesad hoc e de rotina nesse sítio.

As atividades realizadas durante o aces-so complementar podem incluir exame dosregistros, observação visual, coleta de amos-tras ambientais, utilização de dispositivosde detecção e medição da radiação e a apli-cação de selos e outros dispositivos deidentificação e indicação de adulterações. Coleta de amostras ambientais em áre-

as fora dos locais declarados quando con-siderada necessária pela Agência (os acor-dos de salvaguardas abrangentes preveemcoletas apenas nas instalações declaradas). A coleta de amostras ambientais em

área mais vasta exige aprovação da Juntade Governadores da AIEA e consultas aoEstado-Membro em questão. Direito de os inspetores fazerem uso dos

sistemas de comunicações estabelecidos in-ternacionalmente, incluindo sistemas de sa-télites e outras formas de telecomunicação. Aceitação pelo Estado-Membro da

designação de inspetores pela Agência eemissão de vistos de entrada múltiplos,válidos para pelo menos um ano, para osinspetores (os acordos de salvaguardasabrangentes preveem vistos específicospara cada entrada, válidos somente peloperíodo previsto da inspeção ou visita). Prestação de informações pelo Estado-

Membro e estabelecimento de mecanismosde verificação pela Agência sobre atividadesde pesquisa e desenvolvimento relacionadascom o ciclo do combustível nuclear declara-das pelo Estado-Membro (os acordos de sal-vaguardas abrangentes não preveem decla-ração de atividades de P&D, a não ser quehaja manipulação de “quantidades significa-tivas” de “materiais físseis especiais”). Prestação de informações sobre fabri-

cação e exportação de tecnologias nuclea-res sensíveis e mecanismos de verificaçãoda Agência em locais de fabricação e noslocais de importação declarados pelo Esta-do-Membro (os acordos de salvaguardasabrangentes não preveem declaração de lo-

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REGIME INTERNACIONAL DE NÃO PROLIFERAÇÃO NUCLEAR:SALVAGUARDAS ABRANGENTES E PROTOCOLOS ADICIONAIS

cais de fabricação nem de importação detecnologias sensíveis, a não ser que hajamanipulação de “quantidades significati-vas” de “materiais físseis especiais”).

CONCLUSÕES

Conforme pode ser visto, o modelo deprotocolo adicional proposto pela AIEApara adesão voluntária de seus Estados-Membros muda o objeto e amplia o escopodas salvaguardas abrangentes.

Estas são focadasna contabilidade e nocontrole dos materiaisnucleares contidos eminstalações em quehaja manipulação de“quantidades signifi-cativas” de “materiaisfísseis especiais” ecuja existência é decla-rada pelo próprio país.

O Protocolo Adicio-nal, por sua vez, esten-de estas salvaguardasà mineração e aobeneficiamento de urâ-nio, para instalaçõesque não teriam sido de-claradas pelo Estado-Membro, mas que supostamente manipulemmateriais nucleares, e para instalações em quenão ocorre manipulação destes materiais, masque são consideradas como de interesse paraa garantia de não proliferação, como labora-tórios de pesquisa e fábricas de componen-tes e equipamentos.

Evidentemente, a abordagem do Protoco-lo Adicional é muito mais intrusiva, dandomargem a interpretações de livre acesso, ain-da que não plenamente explícitas no texto do

Protocolo, muitas vezes vago e genérico, quepoderiam ferir tanto o princípio da soberanianacional (acesso arbitrário a qualquer partedo território de um país), como o princípio dapropriedade industrial (acesso arbitrário a in-formações tecnológicas protegidas).

Portanto, a eventual adesão de um paísao Protocolo Adicional, decisão de cunhoeminentemente político, só seria aceitávelse fosse feita no contexto de um processode negociação que, do ponto de vista téc-

nico, garantisse a im-possibilidade do usoindevido de tais inter-pretações. Essa é aprática adotada pelamaioria dos 102 paísesque a ele aderiram.

O processo históri-co que levou Brasil eArgentina a firmarem eratificarem o TNP podeaportar ensinamentosimportantes sobre po-tenciais rumos de ne-gociação que levemem conta os interessesnacionais, não se limi-tando à adesão pura esimples a um sistema

predefinido internacionalmente.Inicialmente, os dois países não aderi-

ram ao Tratado (1968). Bilateralmente, osdois países instituíram um sistema de sal-vaguardas regionais (1991). Em seguida, fir-maram um acordo de salvaguardasabrangentes com a AIEA (1994). Somentedepois de estabelecido esse sistema regio-nal, reconhecido pela AIEA e do qual ela éparte ativa, os países aderiram ao TNP (Ar-gentina, em 1998, e Brasil, em 1999).

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<CIÊNCIA & TECNOLOGIA> Energia Nuclear; Relações Internacionais; Tratado; Protoco-lo; Política Nuclear;

A abordagem do ProtocoloAdicional é muito mais

intrusiva, dando margem ainterpretações de livreacesso, ainda que não

plenamente explícitas notexto do Protocolo, que

podem ferir tanto oprincípio da soberania

nacional como o princípioda propriedade industrial

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SUMÁRIO

IntroduçãoExemplos e característicasInfluência deste “Novo Conceito” nas Marinhas do século XXIDesafios e vantagens envolvidasConsiderações finais

NAVIOS MULTIEMPREGO*

MARCUS VINICIUS DE CASTRO LOUREIROCapitão de Fragata

INTRODUÇÃO

Aliando-se as ideias de funcionalidade,operatividade e economia de recursos,

uma nova geração de navios se apresentana atualidade: os multirole vessels ou ge-neral-purpose vessels, navios multiempre-go. O meio civil e muitas Marinhas no mun-do estão desenvolvendo navios que po-dem desempenhar, dependendo de suaconfiguração, um variado número de tare-

fas ou operações que vão desde as maissimples, como o controle de pequenos aci-dentes/incidentes ambientais, às mais com-plexas, como a guerra antissubmarino(guerra A/S) e as contramedidas de mina-gem (CMM).

Este novo conceito estabelece que umamesma plataforma, quer por deter “organi-camente” um número significativo de equi-pamentos, dispositivos e sistemas, querpor características modulares de seus equi-

* Artigo classificado em 1o lugar na Revista Passadiço de 2010.

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pamentos/sistemas, possa, por meio des-tas capacidades adicionais, proporcionargrande flexibilidade de emprego eotimização de utilização do meio.

Na opinião de especialistas da área mili-tar naval, esta alteração se justifica peloaumento da responsabilidade sobre as ati-vidades de exploração nas Zonas Econô-micas Exclusivas (ZEE), proteção ao litorale defesa contra as atividades terroristas.

Ressalta-se que alguns dos exemplosque serão apresentados neste artigo, alémde exercer as Operações de Patrulha Naval(Patnav), efetuam as atividades da Guerrade Minas (GueM), o que os enquadra nasnecessidades atuais da Marinha do Brasil.

EXEMPLOS E CARACTERÍSTICAS

O conceito predominante na maioriadesses navios é o modular, ou seja, a utili-zação de um casco padrão, no qual podemser instalados diferentes contêineres, sis-temas de armas ou equipamentos que per-mitem ao meio atuar no cumprimento dediferentes tarefas ou operações.

Pode-se dizer que os navios da classeFlyvefisken (Large Patrol/Attack Craft andMinehunters/Layers), da marinha dinamar-quesa, construídos em GRP1, foram os pio-neiros dessa nova geração. Utilizam este ino-vador design modular, com sucesso, há apro-ximadamente 20 anos. Possuem proa e popaalongadas, nas quais contêineres e/ou dife-rentes sistemas de armas2 podem ser inseri-dos, permitindo a rápida mudança de tarefas.

Na Dinamarca, os navios vêm sendoutilizados nas seguintes atividades/opera-ções: Controle de Poluição, Patnav, CMM

(varredura e caça de minas), Minagem ePesquisa Hidrográfica/Balizamento.

Também conhecido como Standard Flex300 (SF300), o Flyvefisken, dentre os seuspares, é merecedor de maior destaque, devi-do ao reconhecido desempenho nas ativi-dades da GueM, nas comissões da Organi-zação do Tratado do Atlântico Norte (Otan),e às múltiplas operações que desempenha.

A classe MJ 2000, da Marinha alemã, éoutro exemplo interessante, apresentando-se como “revolucionária” para as CMM.Composta por pequenos navios, cons-truídos com a tecnologia Swath3, concedemaior estabilidade em condições de maradversas, significando a continuidade dasatividades de CMM, mesmo em condiçõesdo mar acima de Beaufort 04 (melhor manu-tenção de posição e estabilidade durante olançamento e o recolhimento dos ROV*,sidescan sonar e outros equipamentos sen-síveis). Acrescenta-se que esta tecnologiadiminui as assinaturas acústica, magnéticae de pressão do meio, além de aumentar asua resistência às explosões.

A característica modular do MJ 2000, alémde atribuir agilidade na substituição de suaequipagem, de acordo com as necessidadesda operação (Minagem, Caça de Minas ouVarredura), permite a disposição de drones,controlados remotamente, para a diminui-ção do risco à tripulação em um campo mi-nado de grande ameaça. Atualmente, já efe-tuam operações de Patrulha Costeira e ativi-dades relacionadas à praticagem.

Na Royal Navy (RN), o projeto do FutureMCM/Hydrografic/Patrol Capability(FMHPC), com início de construção previs-to para 2010, contemplará uma plataforma,

1 GRP – Glass Reinforced Plastic. Camadas de fibra de vidro com um núcleo de espuma de PVC.2 Permite a instalação de mísseis sup-sup Harpoon; sup-ar Sea Sparrow; canhão de 76mm Oto Melara e

dois lançadores de torpedo Bofors-TP613 (533mm).3 Swath – Small Waterplane Area Twin Hull. Um catamarã com flutuadores em formato cilíndrico.* N.R.: Remotely Operated Underwater Vehiche – robô submarino.

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ainda de dimensões desconhecidas, compropósito de modernizar a sua Força deCMM. Entretanto, possuirá capacidadesadicionais que atendam às necessidades dossetores de Hidrografia e Patnav. O Coman-dante Mackey (2010), do Ministério da De-fesa daquele país, menciona que a RN pla-neja inserir uma plataforma única para o cum-primento dessas diferentes tarefas, reduzin-do o número de classes/navios.

INFLUÊNCIA DESTE “NOVOCONCEITO” NAS MARINHAS DOSÉCULO XXI

Segundo Junior(2009), a evolução daglobalização está modi-ficando o poder navaldas grandes potências,indo do domínioirrestrito dos vastosoceanos para o domí-nio da Plataforma Con-tinental, a fim de secontrapor às “ameaçasassimétricas” que têmsido enumeradas desdeo início do século XXI.

Nesse contexto, aversatilidade opera-cional atribuída pelamodularização aparececomo solução, fazendocom que muitas Marinhas do mundo invis-tam em projetos semelhantes, de tal sorteque agora, influenciados pelo sucesso des-se conceito modular em navios menores,programas de reestruturação de algumasdelas estejam contemplando seu empregoem navios com maior deslocamento.

As Marinhas da Dinamarca e da Norue-ga apresentam-se como precursoras nestaconcepção de sistemas e equipamentosintercambiáveis em meios de maiores di-mensões, chegando a denominar alguns de

seus navios de “híbridos”, como a classeAbsalon e a Visby, respectivamente.

Segundo Scott (2009), consultor da revis-ta Jane’s, a comparação das edições do Jane’sFighting Ship de 1990 com as de 2009-2010nos dá a real indicação de que o tamanho e aforma dos navios das três maiores Marinhasnórdicas (Noruega, Dinamarca e Suécia) foialterada, em muito, nas últimas duas déca-das. Afirma, ainda, que “hoje os navios sãomenores e mais capazes. As modificações es-truturais ocorridas buscam deixá-los maisbem equipados e preparados para os diver-sos tipos de operações e missões caracterís-

ticas do aumento dosinteresses de seguran-ça globalizados, e a pro-liferação das diversasameaças assimétricas”.

Já o Joint SupportShip (JSS), da Marinhado Canadá, será capazde atuar como navio-tanque (reabasteci-mento no mar), apoiologístico (material eoficinas), comando econtrole, navio-hospi-tal, bem como operar eefetuar manutençãoem helicópteros.

Com configuraçãosemelhante, em no-

vembro de 2008, a Empresa Austal, atual-mente construindo o Litoral Combat Ship(LCS) para os EUA, foi contratada pelo De-partamento de Defesa para desenvolver econstruir o Joint High Speed Vessel(JHSV), apontado como a nova geração deplataformas multifunção.

Outros programas e projetos contemplamgrandes plataformas para exercer as ativida-des da GueM. É o caso do New GenerationNavy (NGN), programa de reforma cultural eestrutural, da Royal Australian Navy (RAN),

As Marinhas daDinamarca e da Noruega

apresentam-se comoprecursoras nesta

concepção de sistemas eequipamentos

intercambiáveis em meiosde maiores dimensões,chegando a denominar

alguns de seus navios de“híbridos”

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que pretende construir, entre outros meios,20 unidades do Multirole OffshoreCombatant Vessels, capazes de efetuar astarefas de Patnav, Hidrografia e CMM.

O LCS, um dos mais modernos navios daatualidade, reúne todas as característicasdessa nova concepção. Foi desenvolvidocom o propósito de eliminar a dependênciados navios varredores e caça-minas conven-cionais. Apresentam-se em duas plataformasdiferenciadas, uma de casco convencional eoutra, trimarã, com dimensões equivalentesa uma fragata (127m), desenvolvem 40 nósde velocidade, são ca-pazes de efetuar opera-ções A/S, de superfíciee minagem, possuemdefesa antiaérea e, alémde equipamentos e sis-temas modulares, pos-suem um conjunto deequipamentos “orgâni-cos4” para as CMM.Isto é, além de poderefetuar operações depatrulha do litoral ecompor e acompanhar uma esquadra, detêmequipamentos de última geração da GueM,que representam a retirada total do homemdo interior de um campo minado.

DESAFIOS E VANTAGENSENVOLVIDAS

O investimento em “módulos” aumentaos custos iniciais de desenvolvimento econstrução dos meios e equipamentos/sis-temas, que exigem soluções inovadoraspara a sua integração. Esses navios sãoprojetados para acomodar uma gamadiversificada de tarefas, frequentementecom equipamentos plug and playconectados a painéis de interface padrão.

A “modularização” também é muito exigenteem termos de capacitação de pessoal. O em-prego do navio em variadas funções deman-da maior qualificação da tripulação, o que im-plica tempo e necessidade de aperfeiçoamen-to dos instrutores e dos centros de treinamen-to para ser atingida. Em contrapartida, oferecedinamismo, flexibilidade e agilidade à forçanaval que a utiliza, possibilita a redução doquantitativo de pessoal embarcado, do núme-ro de meios a serem apoiados e, consequen-temente, dos custos logísticos.

CONSIDERAÇÕESFINAIS

Deduz-se que osnavios multiempregopermitem maximizar acapacidade de qual-quer Marinha, pela am-pla diversidade deoperações e missõesque são capazes deexecutar. Adicional-mente, observa-se quea transição para esta

concepção modular encontra-se em plenaexpansão, sendo utilizada tanto no meiomilitar quanto no civil.

Existem óbices envolvidos, contudo nãotêm inibido o planejamento e o investimen-to de significativas forças navais em navioscom funções cada vez mais sofisticadas.

Para a MB, cujos programas de apare-lhamento e reaparelhamento vislumbram ainclusão de navios-patrulha, varredores ecaça-minas ao seu inventário, responsávelpela defesa dos interesses no mar do país,e com crescente demanda de tarefas ne-cessárias à manutenção da soberania so-bre a “Amazônia Azul”, os navios multi-emprego seriam o incremento ideal.

4 Drones, ROV, AUV e CMM Aéreas (Aeronave MH-60S com as OAMCM – Organic Airborne MineCountermeasures).

Deduz-se que os naviosmultiemprego permitem

maximizar a capacidade dequalquer Marinha, pela

ampla diversidade deoperações e missões quesão capazes de executar

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Mesmo expressando um aumento inici-al de custos, em virtude da alta tecnologiaenvolvida, e a necessidade de criação/implementação de um plano de capacitaçãode pessoal, a identificação antecipada dasnecessidades de qualificação e apoiologístico, bem como a flexibilidade de utili-zação em variadas funções, implicarão, emmédio/longo prazo, a redução dos custosde manutenção e de operação de um núme-ro menor de navios.

No futuro, a possível criação de Conselhode Defesa da Unasul5 e nossos compromis-sos com a Área Internacional do Atlântico Sule Equatorial6, sem sombra de dúvida, aumen-tarão as obrigações da MB sobre o espaçomarítimo. Nossos interesses “globalizados”com os novos relacionamentos “além-mar” e,em especial, a defesa do Atlântico Sul contranovas ameaças exigirão da MB a posse demeios mais bem equipados e preparados, quemsabe, com esta nova abordagem.

REFERÊNCIAS

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MACKEY, Martin. The Royal Navy’s Capability Plan for Mine Countermeasures, Hydrographic &Patrol Vessels. Offshore Patrol & Security 2010. Disponível em: <http://offshore-patrol-security.com/news-archives/item/10-commander-martin-mackey-discusses-the-royal-navy%E2%80%99s-capability-plan-for-mine-countermeasures-hydrographic—patrol-vessels.html>. Acesso em: 05mai. 2010.

MORRIS, Deam. Canadian Forces Joint Support Ship – System Requirement Definition andValidation. 2007. Disponível em: <http://media.bmt.org/bmt_media/resources/98/CanadianForcesJointSupportShip-SystemRequirementsDefinitionandValidation-AndyCarran-Nov2007.pdf>. Acesso em: 31mar. 2010

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SCOTT, Richard. Nordic Shake-up. Jane’s Fighting Ships. Virginia, no 10, p. 26, out. 2009. Mensal.SCOTT, Richard. Sweden set to sail ahead with multirole support ship. 2009. Disponível em:

<http://www.militaryphotos.net/forums/showthread.php?168103-Sweden-set-to-sail-ahead-with-multirole-support-ship>. Acesso em: 31mar. 2010.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS> Marinha; Navio multiemprego;

5 União de Nações Sul-Americanas – com o propósito de integração entre elas nas áreas econômica,social e política.

6 Proposta do ministro da Defesa, Nelson Jobim, a Portugal, a Angola e aos outros países lusófonos, paracooperação regional.

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL*

– PARTE 2

GERSON DE MACEDO SOARES**Capitão de Fragata

(in memoriam)

* N.R.: Esta matéria foi encaminhada à RMB pelo Contra-Almirante Edgar Hargreaves de Carvalho eserá publicada em seis partes. A RMB do 3o trimestre deste ano publicou a parte 1. A matéria estáintegralmente disponível no Portal Segunda Guerra Mundial – Brasil na guerra em www.2guerra.com.br

** N.R.: O autor foi o chefe do Estado-Maior do Comando da Força Naval do Nordeste durante a SegundaGuerra Mundial.

A situação para o nosso país, em facedas consequências do avultamento gi-

gantesco do conflito, tornava-se, assim,cada vez mais delicada e logo se foi tor-nando mais e mais insustentável com otorpedeamento e afundamento de naviosmercantes nossos que navegavam em zo-nas de guerra, embora neutros a princípio,e depois nas próprias águas territoriais,quando ainda sustentávamos a nossa neu-tralidade dentro dos postulados mais rígi-dos do Direito Internacional.

Assim é que o mercante nacionalCabedelo desapareceu em condições miste-riosas, nunca mais se lhe conhecendo a sortedesde que deixou o porto de Filadélfia, a 14de fevereiro de 1942. Logo no dia 15 desse

mesmo mês, o grande navio de passageiros ecarga Buarque, do Lloyd Brasileiro, em via-gem de Curaçau para Nova York, era torpe-deado e posto a pique por submarinogermânico, salvando-se passageiros e tripu-lantes. Três dias depois, a 18 de fevereiro, eraainda o cargueiro Olinda, da Companhia Bra-sileira de Comércio e Navegação, torpedea-do e afundado ao largo da costa leste dosEstados Unidos, salvando-se a tripulação.

Tão insólita agressão, considerado oMare Liberum, mostrava já claramente odesfecho desses acontecimentos para oBrasil, que não poderia por muito tempomais sofrer o insulto deliberado.

Entrementes, e já de algum tempo, sevinham concertando medidas de seguran-

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 2

ça mútua entre o nosso país e os EstadosUnidos, às quais muitas vezes não eramestranhos países outros da América, naprevisão de fatos que podiam dar-se e quea sequência acelerada das ocorrências seencarregou de confirmar em cheio. Assim éque, já em fins de 1940, sentindo-se a ne-cessidade da organização de um códigodestinado às comunicações das forças na-vais das repúblicas americanas, o minis-tro da Marinha fez seguir, em dezembro,para os Estados Unidos o então Capitão deFragata Dídio Iratim Afonso da Costa,*para um trabalho de colaboração com oNavy Department americano naquele sen-tido. O código foi concluído com êxito, mas,muito complexo, sua aplicação prática noperíodo propriamente da guerra não che-gou a acontecer. Assim foi também que, a10 de maio de 1941, seguiu, por via aérea,para os Estados Unidos, a convite do Al-mirante Harold Stark, chefe do Estado-Maior da Armada americana, o Vice-Almi-rante José Machado de Castro e Silva, che-fe do Estado-Maior da Armada do Brasil. Oconvite tinha por finalidade uma reuniãoem Washington dos chefes navais das re-públicas americanas, tendente naturalmen-te a firmar doutrina sobre modos de proce-der em face da guerra na Europa e de suasfuturas consequências para a América.

Logo que os Estados Unidos entraramno conflito, mediante normas estabelecidasentre aquele país e o nosso, foram criadosescritórios navais em todos os portos im-portantes do território brasileiro, chefiadospor oficiais da reserva norte-americanos,designados “observadores navais”, paraobtenção de informações de toda sorte eseu fornecimento às autoridades navaisamericanas, assim como para tratar de cer-

tas medidas de interesse para a sua esqua-dra. Tais escritórios funcionavam como umdesdobramento dos serviços que incumbi-am a um adido naval em cada porto onde,tendo ação semelhante à das capitanias deportos brasileiros, dispunham de todo oaparelhamento de comunicações necessá-rio ao perfeito desempenho de sua missão.Esses observadores navais tiveram, cadavez mais, ligação com as nossas própriasautoridades navais, à proporção que a nos-sa situação caminhava para o estado deguerra. Alguns deles, oficiais de certa ida-de e muito tirocínio, prestaram relevantesserviços às duas Marinhas, tal como o ob-servador naval no Recife (PE), Capitão deMar e Guerra W. A. Hodgman.

Logo também ao se envolver a Américano conflito, o Comando da Esquadra Norte-Americana do Atlântico destacou uma for-ça subordinada para manter o domínio daságuas no Atlântico Sul, de pronto sulcadaspelas belonaves que cedo começaram a pro-curar nossos portos do Norte e do Nordes-te para reabastecimento de víveres e com-bustível e para o descanso permitido pelasleis internacionais da neutralidade.

Era essa a Força-Tarefa 23 da Esquadrado Atlântico, ao mando do Contra-Almi-rante Jonas Howard Ingram, que tinha seupavilhão no Cruzador Memphis e que jáencontrava, nas águas do Nordeste, algunsde nossos navios de guerra no seu serviçode patrulhamento e de polícia nas águasterritoriais.

A base dessa Força-Tarefa 23, que tãoíntima ligação devia ter com as forças na-vais brasileiras, era ainda a Ilha de Trinidad,possessão inglesa demorando no Hemis-fério Norte e, portanto, bastante inadequa-da, mas imposta pelas necessidades. Por

* N.R.: Dídio Iratim Afonso da Costa, que galgou ao posto de almirante, foi diretor da Revista MarítimaBrasileira durante cerca de 20 anos, desde 1933. Autor de vários livros sobre a história naval, entreeles Barroso, Inhaúma, Marcílio Dias, Noronha etc.

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isso o Brasil se mantinha neutro e faziamanter sua neutralidade de acordo com oscânones consagrados. A fase era inadequa-da principalmente para facilidade do cum-primento da missão dessa Força, a qual eramanter em alto-mar a segurança das rotascomerciais da e para a América do Sul, in-clusive até ao meridiano de 20°, numa áreaamplíssima que ali ia limitar-se com a daesfera de ação da esquadra inglesa, des-dobrando-se esta para leste até a costa daÁfrica. Ficava, entretanto, a Ilha de Ascen-são incluída na área sob a proteção dosamericanos – até lá iriam também, em bre-ve, os próprios navios da minguada esqua-dra brasileira.

Em face do perigoque corriam nossasunidades mercantesno mar, na iminênciade sacrifícios conti-nuados de bens mate-riais e de vidas, o ser-viço de vigilância e depolícia naval, ao lon-go dos extensos lito-rais brasileiros, onde,ainda atentados ànossa neutralidade,podiam dar-se a cadamomento, tinha que se fazer o mais ativopossível, apesar do reduzidíssimo núme-ro de navios mais ou menos adequadosde que dispúnhamos.

Assim, a princípio, os cruzadores e osseis contratorpedeiros antiquados, cincodos quais, da classe Amazonas, ainda quei-mavam carvão, continuaram com sua baseno Rio de Janeiro, onde poderiam contarcom as grandes oficinas de reparos do Ar-senal de Marinha da Ilha das Cobras (Amic),com os diques e outros recursos necessári-os às suas atividades de patrulhamento, osquais, infelizmente, só na capital da Repú-blica, sede permanente da Esquadra, podi-

am ser obtidos. Os navios-mineiros da clas-se Carioca, embora não apropriados a cru-zeiros de patrulha, porém novos e não ca-rentes de reparos, senão eventuais, forammandados para os portos do Leste e doNordeste. A esses navios foram, pelo Esta-do-Maior da Armada, atribuídos “setoresde patrulha”, devendo servir-lhes de baseos portos de Salvador, do Recife e de Natal,onde receberiam combustível, mantimentos,água e sobressalentes, valendo-se, paraquaisquer reparos eventuais em máquinas ematerial em geral, das oficinas das Compa-nhias das Docas de cada um desses portos.A Base Naval de Natal ainda estava em cons-trução e, apesar dos esforços verdadeira-

mente extraordináriosde seu competente cri-ador, o Almirante AryParreiras, longe depossuir um aparelha-mento eficientementemontado para poderatender às múltiplasnecessidades de umaforça naval.

O rompimento derelações diplomáticase comerciais com ospaíses do Eixo ocorreu

logo após a entrada dos Estados Unidosna guerra. Foi, então, concedido a este país,pelo nosso governo, o privilégio de se ser-vir das nossas bases aeronavais em váriospontos do litoral brasileiro, de norte a les-te, para o salto, através do Atlântico, deNatal para a África, ampliando mais tardeessas bases, até então insignificantes, oumesmo construindo outras inteiramentenovas, em proporções consideráveis e ade-quadas ao uso intensíssimo que deviamter. Assim, todo o setor do Nordeste assu-miu repentinamente uma importância talque o levou às culminâncias de um dospontos mais importantes do mundo para o

Os navios-mineiros daclasse Carioca, embora nãoapropriados a cruzeiros de

patrulha, porém novos enão carentes de reparos,foram mandados para os

portos do Leste e doNordeste

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 2

prosseguimento, com êxito, da guerra con-tra os países do Eixo. Natal emergiu, de umsalto, da pacatez de cidade modesta, capi-tal de um estado de limitados recursos, eda tranquilidade de um porto acanhado ede pequeno movimento para a situação de“ponto focal” do mundo, para o qual todasas atenções e esperanças se voltavam.

De nossa parte, continuávamos ativose atentos aos acontecimentos, não vies-sem eles, por culpa nossa, arrastar o Brasilao fogaréu crepitante. Havia certas medi-das que já vinham sendo tomadas paramelhor aparelhar os navios que deviam fa-zer o serviço de patrulha para coordenartodas as providênciasde vastas zonas do li-toral de característicasacentuadamente dife-rentes umas das ou-tras, acima da ação daCapitania de Portos,mais regionais, adstri-tas às águas e costasde cada Estado. Umadessas medidas foi acriação dos Coman-dos Navais, ideia anti-ga que então se con-substanciava. Um de-creto-lei de outubrode 1941 criava, por exemplo, o ComandoNaval do Amazonas, ao qual se deviam jun-tar os Comandas Navais de Pernambuco(decreto-lei de 5 de junho de 1942), da Bahiae do Rio de Janeiro, posteriormente desig-nados respectivamente Comandos Navaisdo Norte, do Nordeste, do Leste e do Cen-tro. Medidas complementares iam sendotomadas de modo a dar plena eficiência aesses órgãos da administração, subordi-nados ao Estado-Maior da Armada, e quetinham, nos seus dilatados setores da cos-ta, atribuições análogas às dos observa-dores navais americanos.

A organização da Esquadra brasileira com-preendia, em princípios de 1942, o Comandoem Chefe, exercido pelo Contra-AlmiranteDurval de Oliveira Teixeira, com o pavilhão noEncouraçado Minas Gerais, estando-lhe su-bordinado diretamente o outro encouraçado,o São Paulo; uma Divisão de Cruzadores, aomando do Contra-Almirante Jorge DodsworthMartins; uma Flotilha de Contratorpedeiros,sob o comando do então Capitão de Mar eGuerra Alfredo Carlos Soares Dutra, tendo oTransporte Belmonte por capitânia e, eventu-almente, no mar, o ContratorpedeiroMaranhão; uma Flotilha de Navios-Mineirosque estava sob a chefia do Contra-Almirante

Gustavo Goulart; e umaFlotilha de Submarinos,ao mando do Coman-dante Attila MonteiroAché. Havia ainda umaflotilha de pequenosnavios-mineiros de ins-trução sob as ordens doComandante Jorge PaesLeme; os navios hidro-gráficos Rio Branco eJaceguai, subordina-dos à então Diretoria deNavegação; e os navi-os-auxiliares José Bo-nifácio e Vital de Oli-

veira, o Navio-Tanque Marajó, o Navio-Es-cola Almirante Saldanha e um reduzido nú-mero de rebocadores, subordinados todos aoEstado-Maior da Armada. As flotilhas fluviaisdo Amazonas (sede em Belém do Pará) e deMato Grosso (sede em Ladário) eram forçasregionais de utilização difícil e precária, paraemergência.

Os navios que agiam nos setores de patru-lha recebiam ordens diretas do Estado-Maiorda Armada, relativas às suas operações.

Enquanto isso, outras medidas de gran-de importância vinham sendo tomadas,entre as quais a ocupação militar das ilhas

Todo o setor do Nordesteassumiu repentinamente

uma importância tal que olevou às culminâncias de

um dos pontos maisimportantes do mundo para

o prosseguimento, comêxito, da guerra contra os

países do Eixo

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de Fernando de Noronha (tornada territó-rio federal por decreto-lei de 9 de fevereirode 1942) e da Trindade, aquela por contin-gentes do Exército que a artilharam conve-nientemente para repelir ataques por mar epelo ar, e esta por forças da Marinha, paraas quais era necessário um serviço cons-tante de reabastecimento e substituição depessoal, muito mais penosamente feito doque para aquele outroarquipélago do Nor-deste, mais próximo dacosta e de condiçõesde desembarque maisà feição.

Ainda em fins de1941, sentindo nossasautoridades navais anecessidade de maiorcontato com os norte-americanos que se ser-viam de nossas insta-lações portuárias doNordeste, e de haver aliuma autoridade navalde alta patente com aqual aqueles melhor seentendessem e que, aomesmo tempo, estives-se à frente do serviçode patrulhamento dossetores incumbidosaos navios-mineiros daclasse Carioca, comorepresentante direto doEstado-Maior da Arma-da, ficara resolvido que para o Recife partis-se a Divisão de Cruzadores. Concretizandoessa medida, seguiu então do Rio de Janeirorumo a Pernambuco, no dia 2 de janeiro de1942, o Cruzador Bahia, a cujo bordo se iça-va o pavilhão do Contra-Almirante JorgeDodsworth Martins, comandante daquelaDivisão, o qual não tardou a entrar em conta-to com o Contra-Almirante Ingram, o

Comsolant, isto é, o comandante do SouthAtlantic.

Este fato marcou positivamente o iníciode um mais estreito entendimento entre aMarinha de Guerra brasileira e o almiranteamericano Jonas Howard Ingram, coman-dante da Força-Tarefa 23 da Esquadra doAtlântico, operando no Atlântico Sul mascom base ainda em Trinidad, cujo pavilhão

continuava a flutuarno Cruzador Memphis.Os dois comandantesde Força, o brasileiroe o americano, este jáem operações de guer-ra, aquele agindo ain-da para manter a neu-tralidade de seu país,avistaram-se duas ve-zes no Recife, no mes-mo mês de janeiro, eacertaram os seus pla-nos de ação.

A respeito desseentendimento com oAlmirante Ingram, es-crevia em relatório o Al-mirante Dodsworth: “Oconhecimento que estealmirante (Ingram) estáprocurando ter das nos-sas necessidades dedefesa da zona do Nor-deste vai facilitar, estoupersuadido, a entregado material pedido ao

governo norte-americano. Há agora uma per-feita compreensão de que nós precisamossomente de material para a nossa defesa”.

Estas palavras foram proféticas, pois, nodecorrer dos tempos, sempre à ação pesso-al profícua desse grande amigo do Brasildeveu-se a solução de vários problemas re-lativos ao enriquecimento de nosso materi-al flutuante e de suas múltiplas necessida-

Outras medidas de grandeimportância vinham sendotomadas, entre as quais aocupação militar das ilhasde Fernando de Noronha e

da Trindade

A Força Aérea Brasileirapatrulhava também as

rotas marítimas,agindo em colaboração

com os comandantesdas forças navais

brasileiras e americanas etendo à frente, no

Nordeste, o BrigadeiroEduardo Gomes

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des para manutenção e eficiência. Foi, porassim dizer, um executor, in loco, com per-feito conhecimento de causa e atividade, daspromessas feitas em Washington quandoda reunião da Comissão Militar Mista quese criara nos Estados Unidos e na qual fo-ram nossas representantes as brilhantes fi-guras do General Estevão de Carvalho, doAlmirante Álvaro Rodrigues de Vasconce-los e do então Coronel-Aviador Vasco AlvesSeco. Entre os vários assuntos tratados poressa Comissão, estavaa Lei de Empréstimos eArrendamentos (Lendand Lease), segundo aqual podiam ser conce-didas à nossa Marinhade Guerra certas uni-dades necessárias aopatrulhamento de nos-sas águas costeiras epara o serviço de com-boios ao largo delas, oque já se ia cogitando.

Antes que esta úl-tima medida fosse con-cretizada, outras hou-ve que foram um tantoprematuramente toma-das pela Administra-ção Naval, concorren-do talvez para a supo-sição, por parte dosdirigentes alemães, de que estávamos dan-do aos norte-americanos ajudas e conces-sões muito acima das realmente feitas. Taisforam a pintura de todos os navios mer-cantes brasileiros de cinzento, a ordem denavegarem às escuras à noite, e oartilhamento de muitas unidades que parti-am para zonas de guerra, quando, realmen-te, não estando o nosso país em guerra,não havia razão para isso.

A ação do Almirante Dodsworth no Nor-deste foi bastante intensa. Indo, em com-

panhia do Brigadeiro do Ar Eduardo Go-mes, comandante da 2a Zona Aérea, a Na-tal, ali foi recebido pelo Almirante Ary Par-reiras, que construía a Base Naval, escre-vendo então em relatório: “Notei tambémem Natal o que se verifica no Recife – gran-de cordialidade entre as autoridades brasi-leiras e os funcionários e militares america-nos, sendo estes atenciosos, respeitadoresda nossa soberania e das nossas leis, pron-tos a colaborar conosco em tudo”.

O Almirante Ingramvisitou aquela inci-piente base na mesmaépoca, no Contrator-pedeiro Winslow. Aseguir, com ele confe-renciou o AlmiranteDodsworth, seguindoinstruções do Estado-Maior da Armada, so-bre os seguintes as-suntos: problemas re-lativos aos inconveni-entes de concentra-ção, já àquele tempo,de forças navais nu-merosas no Recife; vi-gilância permanenteno mar, à entrada dosportos considerados“pontos focais”,onde, além dos ata-

ques dos submarinos, ainda podiam serlançadas minas; abastecimentos; melhora-mentos no aparelhamento de nossos pró-prios navios; colocação de redesantitorpédicas e antissubmarinos em vári-os de nossos portos, a começar pelo doRecife etc.

Nessa época já a Força Aérea Brasilei-ra patrulhava também as rotas marítimas,agindo em colaboração com os coman-dantes das forças navais brasileiras eamericanas e tendo à frente, no Nordes-

Nessa ocasião também já oExército Nacionalaumentava os seus

contingentes espalhadospor vários pontos da costa

do Nordeste, montandobaterias que repelissem

quaisquer insólitos ataquese vigiando para que

desembarques clandestinosnão fossem feitos nas

ermas praias e em pontosacessíveis

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CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<GUERRAS>; Segunda Guerra Mundial; História da Marinha do Brasil; História da Mari-nha dos Estados Unidos;

te, a figura tranquila, mas dinâmica, doBrigadeiro Eduardo Gomes. A Força Aé-rea norte-americana, subordinada tam-bém à autoridade do Almirante Ingram,era reforçada com vários aviões Catalinae estabelecia uma rede de patrulha aéreaquase ininterrupta em todo o litoral bra-sileiro e águas do oceano adentro, desdeo norte até ao leste. Nós, porém, não tí-nhamos estabelecido nenhum plano sis-temático de colaboração entre as forçasaéreas e as navais, limitando-se umas a

atender às solicitações das outras, quan-do necessários os seus serviços, comonas coberturas aéreas para certas escol-tas de navios ou comboios.

Nessa ocasião também já o Exército Na-cional aumentava os seus contingentesespalhados por vários pontos da costa doNordeste, montando baterias que repelis-sem quaisquer insólitos ataques e vigian-do para que desembarques clandestinosnão fossem feitos nas ermas praias e empontos acessíveis.

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SUMÁRIO

IntroduçãoHistóricoLegislação internacionalClassificaçãoDa necessidadeDa propostaConclusão

NAVIO-HOSPITAL: NECESSIDADE OU LUXO?

ALVARO ANTONIO CARDOSO BASTOS*

Capitão-Tenente (MD)

INTRODUÇÃO

Um navio-hospital é um navio com afunção primária de instalação de tra-

tamento médico ou hospitalar. A maioria éoperada por forças militares ou navais devários países ao redor do mundo, pois elesfrequentemente são destinados a utiliza-ção em ou perto de zonas de guerra.

Como meios de apoio operativo, são na-vios capazes de ser usados tanto em opera-ções conjuntas ou combinadas, em grandeparte devido à sua autossustentabilidade,como também em operações em tempo depaz, tais como assistência humanitária e alí-vio a desastres.

Apesar de tais utilidades, poucas Marinhasao redor do mundo mantêm navios-hospitais

* Aluno do Curso de Aperfeiçoamento da Clínica de Cirurgia Cardíaca do Hospital Naval Marcílio Dias(HNMD).

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NAVIO-HOSPITAL: NECESSIDADE OU LUXO?

operando permanentemente. Excepcionalmen-te, a Marinha do Brasil encontra-se em umaposição híbrida. A despeito da presença per-manente de três navios de assistência hospi-talar (NAsH) nos rios da Amazônia e de um noPantanal, até o presente momento não se vêno rol de embarcações dessa Força um navioque apresente essa função.

Felizmente, o futuro parece promissor.Em 2009, foi elaborado o Plano de Equipa-mento e Articulação da Marinha do Brasil(PEAMB) de 2010-2030, que, junto com oProjeto de Lei de Aparelhamento e Articu-lação da Defesa Nacional (Pleadn), a sersubmetido à aprovação do Presidente daRepública e do Congresso Nacional, prevêa incorporação de um navio-hospital parao lustro 2024-2029.[1]

Entretanto, este e outros projetos po-dem ser inviabilizados pelas crônicas limi-tações orçamentárias impostas, trazendo àtona o questionamento sobre a real neces-sidade desse meio de apoio e sua onerosasuperfluidade.

Portanto, o objetivo do presente traba-lho é discutir o papel estratégico de umnavio-hospital em uma Marinha de guerra,analisando suas funções, sua classi-ficação e a legislação internacional so-bre o assunto. Outrossim, analisa-sea necessidade de aquisição de umnavio com tais qualidades à luz da atu-al conjuntura de reaparelhamento dopoder naval brasileiro.

HISTÓRICO

A grande maioria dos exércitos an-tigos tinha equipes médicas para pro-curar após a batalha os enfermos eferidos, mas parece que a sua princi-pal responsabilidade era atender aosoficiais e príncipes.[2]

A remoção dos doentes e feridosdo campo de batalha provavelmente

não foi reconhecida de imediato como umadas funções da equipe médica, mas simcomo a resolução de um grande problemalogístico: os mortos e moribundos no cam-po de batalha interferiam no desenlace docombate. Essas considerações motivaramo primeiro caso documentado de evacua-ção de que se tem notícia, em 202 a.C., quan-do o general romano Cipião Africano tevede interromper temporariamente um ataquebem-sucedido a Aníbal na famosa batalhaem Zama pela Segunda Guerra Púnica,como relata Políbio: “O espaço entre os doisexércitos que ainda permaneciam no cam-po foi até agora coberto com sangue, ca-dáveres e feridos, e os obstáculos físicoscriados pela derrota do inimigo apresenta-vam um problema para o general romano.Tudo combinado para tornar difícil seuavanço sem perder a formação: o terrenoescorregadio com sangue, os corpos amon-toados deitados em poças de sangue, e osespaços sobrecarregados com armas quehaviam sido jogadas fora de forma aleató-ria. No entanto, Cipião primeiro trouxe seusferidos para a retaguarda...”[3]

Ilustração mostra o avanço dos elefantes de guerra cartaginesescomandados por Aníbal sobre a infantaria romana na derradeirabatalha de Zama, travada em 19 de outubro de 202 a.C. Cena

desenhada por Henri-Paul Motte em 1890 mostra a quantidadede elefantes, soldados e armas atirados ao campo de batalha

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Não está claro quando a razão para aevacuação foi vista como um fator médicoe não como o simples ato logístico de “lim-par o campo de batalha”, mas o uso de em-barcações para realizá-la é antigo. Os pri-meiros relatos da utilização de embarcaçõespara a transferência de feridos surgiramdurante a Oitava Cruzada, em 1270, quan-do galés foram usadas para removê-los atéo porto de Damieta, 191 km ao norte doCairo.[2]

Já durante o século XIX, FlorenceNightingale foi providencial em organizarnavios-hospitais para evacuar os mais de100 mil doentes e feridos durante a Guerrada Crimeia (1853-1856).[4]

A experiência brasileira também impres-siona. Em pesquisa recente, foi descrito ouso de três embarcações com função denavios-hospitais pela Marinha do Brasil.[5]

Desses três navios, dois deles, o NHOnze de Junho e o NH Eponina, foram em-pregados com êxito na Guerra do Paraguai(1864-1870), quando parte da estratégia daTríplice Aliança passava por negar o aces-so ao mar aos paraguaios, dificultando oestabelecimento do controle dos rios peloinimigo, além de que a única rota verdadei-ra de evacuação era por via fluvial.

O primeiro navio participou das opera-ções de cerco a Uruguaiana e ao Rio Paraná,quando ainda era um vapor auxiliar, sendodesativado somente em 1933. Já o segun-do, que foi destruído por um incêndio em1867, participou ativamente do conflito,tendo inclusive realizado tentativa infrutí-fera de evacuação do General de BrigadaAntônio Sampaio, que morreu a bordo víti-ma de ferimentos infligidos na famosa Ba-talha do Tuiuti.[6] [7]

Nesse ínterim, a assistência aos feridosde guerra teve grande avanço, principal-mente a partir de 1864, quando foi realizadaa Convenção de Genebra para a melhoriadas condições de amparo aos feridos, e em

1899, a partir da Convenção de Haia, quedisciplinava as “normas” de guerra terres-tre e marítima.[8] [9]

Entretanto, com o desenvolvimento deferrovias e a utilização de avião, o uso deembarcações específicas para este fim ficouem segundo plano e, embora o transporteaéreo tenha se tornado o modo dominantede evacuação, sua utilidade se baseou sem-pre em um pressuposto frequentementedespercebido de que uma base aérea próxi-ma ao front estaria sempre disponível parauso como centro de triagem e evacuação.

A experiência britânica na Guerra dasMalvinas (ou Falklands), em 1982, mostrouque isso nem sempre é verdade. Não hou-ve uma base aérea disponível inicialmente,o que impossibilitou a retirada aérea dasvítimas já tratadas para fora da zona decombate. Isso teria sido difícil, mesmo setivesse um campo de pouso disponível,porque a distância entre as Ilhas Malvinase a base aérea britânica mais próxima, naIlha de Ascensão, é de 6.400 km. A soluçãopara este problema foi evacuar feridos dehelicóptero para um navio-hospital, que emseguida partiu para um território neutro(Uruguai), de onde as vítimas foram eva-cuadas por via aérea.[10]

Naquele momento, o navio-hospital foiobtido pela conversão do Navio de Cruzei-ro Uganda, esta realizada em apenas quatrodias. Equipado com um heliponto, instala-ções hospitalares completas e uma Unidadede Tratamento Intensivo, esteve apenas a15 minutos de voo do Teatro de Operações(TO) terrestres. Uma regulamentação da CruzVermelha Internacional exigiu que, uma veza bordo do navio-hospital, todas as vítimasdeveriam ser evacuadas da zona de guerra.Sua repatriação necessitaria do apoio dasautoridades uruguaias, que permitiram a suatransferência por via marítima (em peque-nas embarcações de pesquisa), por mais de1.500 km das Ilhas Malvinas até Montevi-

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déu, e por transporte aéreo para o ReinoUnido. Quinhentas e oitenta vítimas foramevacuadas desse modo. A experiência doSS Uganda constitui um dos poucos casosrecentes em que um navio-hospital foi utili-zado como veículo de evacuação além defuncionar como um hospital. Muito mais co-mum é o uso de navios-hospitais como hos-pitais destacáveis.[10]

A experiência britânica nas IlhasMalvinas levou a uma reavaliação do pa-pel dos navios-hospitais em qualquer con-flito futuro, resultando na conversão dedois superpetroleiros pela Marinha ameri-cana em navios-hospitais: o USNS Mercy(T-AH 19) e o USNS Confort (T-AH-20),dois hospitais flutuantes de instalaçõescompletas, com mil leitos cada. Apenascomo exemplo de sua importância, durantea Guerra do Golfo Pérsico eles foram dota-dos com recursos para receber 200 vítimaspor dia durante 30 dias.

LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL

Os navios-hospitais são abrangidospela Convenção de Haia X de 1907 e pela

Convenção de Genebra de 1949.O artigo 4o da Convenção de HaiaX descreve as restrições para umnavio-hospital:

a) o navio deve ser claramenteidentificado e iluminado como umnavio-hospital (pintado de bran-co com uma faixa horizontal ver-de de cerca de 1 metro e meio delargura, devendo ostentar a cruzou o crescente vermelho);

b) o navio deverá dar assistên-cia médica ao pessoal ferido de to-das as nacionalidades;

c) o navio não deve ser utili-zado para fins militares;

d) o navio não deve interferirou impedir a ação de navio com-

batente inimigo; ee) os beligerantes, como designados

pela Convenção de Haia, podem procurarqualquer navio-hospital para investigar asviolações das restrições acima.

Se qualquer uma das restrições acimafor violada, o navio passa a ser determina-do como um combatente inimigo e podeser legalmente atacado. No entanto, dispa-rar ou afundar deliberadamente um navio-hospital em conformidade com a legisla-ção é considerado como crime de guerra.

Apesar da proteção pelas leis da guerra,um ataque aéreo britânico em 1945 afundouo navio-hospital alemão SS Deutschland,com perda substancial de vidas; aparente-mente ele não tinha sido adequadamentemarcado como um navio-hospital, em meioao caos dos dias finais da guerra.

Mesmo marcados, os navios não estãocompletamente seguros. As marcações nãoimpediram o naufrágio dos navios-hospi-tais AHMS Centaur, australiano, em 14 demaio de 1943, ao largo da costa deQueensland, por um submarino japonês;Tübingen, alemão, em 18 de novembro de1944, em Pula, pelos caças-bombardeiros

Um CH-47 (Chinook) na final para o convoo do SS Ugandadurante suas manobras na Guerra das Malvinas (1982). O

Uganda era um dos poucos capazes de receber um Chinook.Foto cortesia de Geoff Kimber

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da Royal Air Force, e do Buenos AiresMaru, japonês, em 26 de novembro de 1943,por um bombardeiro americano B-24.

CLASSIFICAÇÃO

Atualmente, os navios com a funçãomédico-assistencial podem ser convenien-temente divididos em cinco tipos: [11]

1 – Lanchas-hospitais (YH) – Um bomnúmero de países, incluindo, pelo menos,Bolívia, Brasil, Camarões, Chile, Peru eTailândia, opera pequenas lanchas-hospi-tais que prestam assistência médica às po-pulações locais que vivem às margens derios ou lagos. Essas embarcações ribeiri-nhas e lacustres não vão para o mar e po-dem ser operadas pela Marinha do país oupor algum outro órgão governamental.Nesta categoria se enquadrariam os qua-tro NAsH brasileiros, que, apesar de nãoserem brancos, ostentam uma cruz verde.

2 – Navios de Apoio Médico (AHL) –Pelo menos três países, Índia, Indonésia e

México, operam navios militares oceânicos,que estão equipados para fornecer serviçosmédicos assistenciais humanitários, além deservir à soberania nacional com a função depresença. Estes navios não funcionam pri-mariamente como navios-hospitais, nem osão pela lei internacional. Entre essas em-barcações, os navios da Índia (San-dhayak)e do México (Zapoteco) nem são pintadosde branco nem apresentam as marcaçõesindicativas. O navio indonésio Teluk Endenão é branco, mas é marcado por uma gran-de cruz vermelha; entretanto, é também ar-mado, o que desqualifica sua proteção comoum navio-hospital nos termos da legislaçãointernacional.

3 – Navio de Transporte/Evacuação dePessoal (APH) – Três países, Alemanha,Reino Unido e China, operam grandes na-vios de apoio anfíbio multiuso que podemser utilizados tanto para a evacuação debaixas como para prestar apoio de assis-tência médico-humanitária. Esses naviosnão funcionam primariamente como navi-os-hospitais, nem são marcados como tais

sob a lei internacional.4 – Navios-Hospitais Ci-

vis (AH) – Existem atualmen-te dois navios hospitais in-teiramente civis. O Ministé-rio do Trabalho espanholopera o Juan de la Cosa paraapoiar a frota pesqueira es-panhola no mar. A organiza-ção mundial humanitárianão governamental MercyShips opera o M/V AfricaMercy, que presta assistên-cia médica nos portos deescala na África.

5 – Navios-Hospitais(AH) – Apenas três países,Rússia, China e EstadosUnidos, operam atualmentenavios-hospitais. Os trêsExemplos de navios de apoio médico e suas bandeiras

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navios russos da classe Ob’ (o Irtysh, oSvir’ e o Yenisey) estavam praticamente ina-tivos nos últimos anos, embora tenha sidoproposto seu uso para fins comerciais. Noinício dos anos 90, aMarinha do Exército deLibertação Popular daChina (ELP) converteuum navio de transpor-te de tropas da classeQiongsha em um na-vio-hospital. O Nan-kang (casco 832) foipintado de branco coma cruz vermelha em suachaminé. Pelo menosoutro casco, o Nanyun(casco 833), foi poste-riormente convertido

para realizar o mesmo papel. Além disso, aRepública Popular da China pode ter ad-quirido recentemente o navio russo Ob’,da classe de mesmo nome. Em agosto de

Exemplos de navios de transporte/evacuação de pessoal que são empregados como navios-hospitais

Os navios-hospitais civis ativos pelo mundo

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Os grandes navios-hospitais e suas bandeiras. Todos em conformidade com a Convenção de Haia.O Ob’ foi adquirido pela China e ainda não foi rebatizado

2008, um novo navio-hospital da classe920, o Daishandao (866), teve sucesso emseu teste de mar. Este é o terceiro maiornavio-hospital do mundo, depois dos doisnavios americanos, fornecendo à Chinauma nova e importante capacidade paraapoiar suas operações anfíbias. Já os Esta-dos Unidos operam dois grandes navios-hospitais da classe Mercy, originalmentesuperpetroleiros de 80 mil toneladas dedeslocamento. Durante meados dos anos1980 eles foram convertidos em navios-hospitais, com 50 leitos de recepçãoemergencial, 12 salas de cirurgia, 500 leitospara pacientes graves (distribuídos em 20de recuperação, 80 de terapia intensiva e400 de cuidados intermediários) e 500 lei-tos de enfermaria.

DA NECESSIDADE

Conforme se demonstrou, o emprego deum navio-hospital no contexto militar e hu-manitário é amplo. Entretanto, como qual-

quer projeto, apresenta seus pontos posi-tivos e negativos.

Entre as inúmeras vantagens, o empre-go deste meio em uma situação de exce-ção, como em desastres naturais ou em aci-dentes com grande número de baixas, émuito desejável.[12]

E, apesar de no Brasil haver uma ocor-rência baixa de eventos catastróficos, comoterremotos ou vulcões, não estamos isen-tos de outros desastres, como inundaçõese ciclones extratropicais.

Apesar do consenso, no meio científicomundial, de que o clima muda gradualmen-te, de forma dependente ou independentedas ações humanas, a previsão de que aTerra vai aquecer de 1,4ºC a 5,8ºC até o ano2100 é inquietante. A maioria dos cientis-tas culpa – pelo menos em parte – o au-mento da quantidade de gases emitidospela queima de combustíveis fósseis.

Esse problema começou a ser sentidonos microclimas, com o aumento da tempe-

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NAVIO-HOSPITAL: NECESSIDADE OU LUXO?

ratura nos grandes centros urbanos, e, maisrecentemente, no macroclima, com o au-mento do nível do mar (no caso do Brasil, auma taxa de elevação de 4,1 milímetros porano), tornando-se uma ameaça em escalaglobal que causará, por sua vez, aumentoda quantidade e frequência de chuvas, es-cassez de alimentos e graves problemassociais, incluindo neste caso as inunda-ções e doenças que acompanhariam talevento.[13] [14]

Nesse contexto, calamidades como ociclone extratropical Catarina, ocorrido emmarço de 2004, poderiam se tornar cons-tantes, trazendo mais destruição ao litoralsul-sudeste do Brasil.

Deve ser levadotambém em considera-ção o grande tráfegode navios em nossacosta, assim como apresença das nossas“ilhas” flutuantes emmar aberto.

Segundo a Petro-bras, só em 2009 nos-sas reservas atingiram 13,75 bilhões de bar-ris de petróleo e gás equivalente, com umaprodução de 2,078 milhões de barris por diade óleo e gás natural liquefeito (GNL), alémde 44 milhões de m3 de gás natural.[15] Paratoda essa produção, atualmente, encontram-se sobre nossa plataforma continental 113plataformas de petróleo, além de navios pe-troleiros e de apoio, criando uma quantida-de absurda de brasileiros e estrangeiros ex-posta a uma série de intempéries.

Além do mais, segundo especialistas,a navegação de cabotagem sem dúvida éconsiderado um modal muito promissor.No Brasil, país que apresenta aproxima-damente 7.400 km de extensão de costanavegável, onde as principais cidades,seus polos industriais e os grandes cen-tros consumidores se localizam no litoral

ou em cidades próximas a ele, o segmentode cabotagem surge como uma alternati-va viável para compor uma cadeia de su-primentos diversa.

Outrossim, o crescimento do trânsito denavios de cruzeiro em nossos portos trazmais riscos. Segundo a Associação Brasi-leira de Representantes de Empresas Marí-timas (Abremar), só na última temporada(2008/2009) mais de 500 mil pessoas em-barcaram em 16 navios para viagens pelacosta brasileira e por costas internacionais,com 907 escalas e visitas a 18 portos.[16]

Em vista desses fatos, deve-se ponde-rar sobre as vantagens humanitárias douso de meio naval tão complexo, que, a

despeito das demaisações empregadas,poderia atuar comoagente coordenador ecentralizador deações de salvamentoe resgate (Search andRescue – SAR), aten-dimento e remoção deferidos em calamida-

des litorâneas ou marítimas, como tambémem eventos catastróficos em outros paí-ses, desta forma, projetando influência di-plomática, estreitando laços de amizade erealizando ação de presença nos portosvisitados.

De outra forma, apesar de o Brasil sersignatário do Tratado de Não Proliferaçãode Armas Nucleares desde 1968 como umestado não nuclear e, de acordo com a Cons-tituição de 1988, o país renunciou ao de-senvolvimento de armas nucleares, um na-vio-hospital moderno poderia contar cominstalações que lhe permitissem atuar emeventos Nucleares, Biológicos e Químicos(NBQ), tanto em tempos de guerra comoem tempos de paz, participando como umarota auxiliar de evacuação em caso de aci-dentes. Basta lembrar a posição estratégi-

Poucos países podem sedar ao luxo de manter

navios-hospitaispermanentemente e

totalmente equipados

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ca que as usinas nucleares de Angra dosReis ocupam no centro-sul do país.

Por último, a presença de um meio comoeste proporcionaria capacidade de atendi-mento próximo ao TO para as forças com-batentes brasileiras destacadas em regiõesde guerra ou em operações de paz. Promo-veria a prestação de um serviço móvel, fle-xível, de rápida resposta, com capacidademédica para fornecer assistência emergen-cial clínica e cirúrgica de apoio à força-ta-refa anfíbia, ao Exército, aos elementos daForça Aérea, aos meios marítimos e às ati-vidades da esquadralocalizadas em áreasonde as hostilidadespodem ser iminentes.

No entanto, pou-cos países podem sedar ao luxo de manternavios-hospitais per-manentemente e total-mente equipados.

Por um lado, a as-tronômica quantia ne-cessária para a cons-trução do navio e paraa aquisição de equipa-mentos e aparelhagemmédica e, por outro, oalto custo de manuten-ção de aparato navaltão especializado são os dois fatores ne-gativos costumeiramente apontados.[4]

Pensando no alto custo de aquisição,como alternativa, um sistema menos carofoi desenvolvido, onde as instalações hos-pitalares como enfermarias, salas de opera-ções, unidades de radiografia, laboratóriose instalações de cuidados intensivos forammodularizados em contêineres com base emnormas internacionais. O número de unida-des pode variar conforme o necessário, eestas serem rapidamente instaladas em umnavio adequado.

Outra solução, como a costumeira con-versão de meios marítimos nos momentosde crise, poderia em princípio parecer atra-ente, entretanto mostra-se sempre morosa,dispendiosa e quase nunca adequada àsreais necessidades.

Em relação à manutenção, esse tipo denavio poderia atuar conforme um conceitojá adotado pela Marinha americana,[17] al-terando sua configuração de acordo com anecessidade, reduzindo assim os custos fi-xos de conservação de material e pessoal:quando ativado para uma missão, no for-

mato de EstadoOperacional Completo(EOC), e entre essesperíodos, no EstadoOperacional Reduzido(EOR), mantendo opessoal militar lotadoem hospitais em terraaté que o navio sejaativado.

No entanto, a prio-ridade do pessoal EORseria ativar completa-mente o navio ao ní-vel EOC dentro do pra-zo previsto de cinco asete dias. Após conhe-cimento da nova mis-são, o pessoal do EOR

desempenharia as seguintes funções:• serviria como o núcleo crítico neces-

sário para executar as ativações;• desenvolveria, testaria e manteria sis-

temas e procedimentos para apoiar o pro-cesso de ativação;

• orientaria e treinaria o pessoal embar-cado após a ativação; e

• monitoraria/avaliaria a capacidade glo-bal da unidade de tratamento médico paraativação/realização da missão.

De outra forma, caso se opte pelo usopermanente do navio-hospital em missões

Em relação à manutenção,este tipo de navio poderia

atuar conforme umconceito já adotado pela

Marinha americana,alterando sua configuração

de acordo com anecessidade, reduzindoassim os custos fixos de

conservação de material epessoal

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NAVIO-HOSPITAL: NECESSIDADE OU LUXO?

de atendimento à população civil em loca-lidades carentes, os recursos poderiam virde fundos estaduais locais destinados àcompra de insumos e materiais necessári-os para a promoção de saúde, trazendo alen-to àquelas populações e desafogando oSistema Único de Saúde naqueles estados.

DA PROPOSTA

Para alcançar suapolivalência de empre-go e flexibilidade emmissões civis ou mili-tares, esse tipo de na-vio seria um meio deauxílio com um valorincalculável em opera-ções de calamidadenatural, apoio humani-tário e de evacuaçãode cidadãos nacionaisno estrangeiro.

Após análise de di-versos meios empre-gados por outros paí-ses ao longo da histó-ria, a proposição da construção ou adapta-ção de um navio tipo Roll-on/Roll-off (Ro-Ro) seria adequada para o emprego comonavio-hospital. Inspirado nesse conceito,foi desenvolvido um modelo esquemáticomostrado na figura à frente.

Primeiro, grandes vantagens neste tipode navio seriam a capacidade de transpor-te e o espaço interno, que poderia ser adap-tado às exigências de uma unidade de saú-de de nível terciário.

Segundo, haveria destacada agilidadeno embarque e desembarque de veículos,quais sejam ambulâncias e hospitais decampanha modulados em contêineres, que,transportados em seu bojo, desembarcari-am nas áreas de exceção, melhorando a rotade evacuação de feridos do TO terrestre.

Deveria contar com:• enfermarias para os feridos já esta-

bilizados;• Unidade de Terapia Intensiva (inclu-

indo ala de isolamento para feridos NBQ);• Unidade de Tratamento de Queimados;• salas para consultas médicas nos

portos;• sala para peque-

nas cirurgias e de rea-nimação de feridosgraves;

• sala de cirurgião-dentista com equipa-mento portátil;

• sala de triagem;• centro cirúrgico

completo (incluindosala híbrida comtecnologia para reali-zação de cirurgias re-motas por robótica –telemedicina);[18] [19]

• área de esteriliza-ção de material cirúr-gico e laboratório deanálises;

• câmara hiperbárica multiplace (paraapoio a mergulhadores);

Para alcançar suapolivalência de emprego eflexibilidade em missões

civis ou militares, esse tipode navio seria um meio de

auxílio com um valorincalculável em operações

de calamidade natural,apoio humanitário e deevacuação de cidadãos

nacionais no estrangeiro

Modelo representando proposta de navio-hospital desenvolvido em um navio Roll-on/Roll-off. Nota-se no convés superior o(s) heliponto(s)

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NAVIO-HOSPITAL: NECESSIDADE OU LUXO?

• equipamentos de radiologia (radiografiasimples e tomografia axial computadorizada);

• usina produtora de oxigênio;• usinas destiladoras de água;• heliponto com capacidade de operar

qualquer aeronave de asa rotativa;• área de armazenamento, coleta e

processamento de hemoderivados, farmá-cia e paiol de medicamentos.

Estaria provido demeios próprios (lan-chas de desembarquee helicópteros orgâni-cos) para fazer a liga-ção com terra ou comoutros navios, sem anecessidade de mon-tagem prévia ou dis-ponibilidade de locaisadequados, mesmoquando as instalaçõesportuárias se encon-trem danificadas ouinexistentes.

A organização in-terna das instalaçõesde tratamento médicodo navio e o plano defluxo de pacientes, apartir do convés devoo, passando pelasáreas de tratamento echegando às enfermarias, deverão ser sim-ples e racionais. Embora um navio-hospi-tal seja um meio notável, com extraordiná-ria capacidade de tratamento, os oficiaismédicos devem se lembrar que, como qual-

Uma Força Armadamoderna deve ter um

sistema hospitalaracompanhando-a. Para serútil, esse sistema deve teralgum grau de mobilidadeestratégica e tática ... comcapacidade de intervençãorápida para atendimento de

saúde pleno e complexo,apoio às operações anfíbias

e navais e, ainda, paraassistência às populações

civis

quer hospital, é útil somente se for alcan-çável pelas vítimas. Para um ferido graveque requeira uma cirurgia reanimadora, umnavio-hospital só é útil se o combate ocor-rer próximo a uma zona costeira.[20]

CONCLUSÃO

Portanto, conclui-se que uma Força Ar-mada moderna deve terum sistema hospitalarlhe acompanhando-a.Para ser útil, esse sis-tema deve ter algumgrau de mobilidade es-tratégica e tática. Amobilidade tática é es-sencial para esses mei-os de apoio que cuida-rão das baixas, umavez que, para ser oti-mamente eficaz, o tra-tamento cirúrgico deveser provido o mais pró-ximo possível do cam-po de batalha. Aliada aisso, a grande exten-são costeira de nossopaís aconselha a incor-poração de um navio-hospital com vocaçãopara proporcionar essa

mobilidade estratégica por via marítima, comcapacidade de intervenção rápida para aten-dimento de saúde pleno e complexo, apoioàs operações anfíbias e navais e, ainda, paraassistência às populações civis.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Navio-hospital; Assistência médica; Primeiros socorros; Assis-tência humanitária;

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NAVIO-HOSPITAL: NECESSIDADE OU LUXO?

BIBLIOGRAFIA

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ARTIGOS AVULSOS

Esta seção divulga os artigos que não puderam ser publicados– na íntegra – na RMB e que passarão a fazer parte do acervo daBiblioteca da Marinha.

Aqui são apresentados o título, o autor, posto ou título, númerode páginas do trabalho completo, classificação para índice remissi-vo e o resumo do artigo.

VARIAÇÃO SAZONAL DE PREÇOS DE GÊNEROSALIMENTÍCIOS E IMPACTO NO PROCESSO

DE OBTENÇÃO DA MARINHA

IGOR ASSIS SANDERSON DE QUEIROZCapitão-Tenente (IM)

Número de páginas: 15Identificação: AV 035/10 – # 1855 – RMB 4o/10CIR: <ADMINISTRAÇÃO>; Alimentos; Comércio; Agricultura;

Estudo apresentado na 63a Reunião da Comissão Técnica de Material de Símbolo deJurisdição “M” e que tem como objetivo analisar a variação de preços de gêneros alimentí-cios praticados ao longo do ano, os fatores que influenciam esta flutuação e seus impactosna obtenção no que tange à Marinha do Brasil, na qualidade de consumidor final daquelesitens.

Para a execução da análise em questão, foram selecionados itens básicos para aalimentação dos militares da MB. Alguns deles, classificados como commodities, têm de-mandas consideradas praticamente inelásticas, ou seja, a variação de preço não alteraconsideravelmente as quantidades demandadas. Por meio da comparação das curvas depreços médios no varejo praticados na Região Sudeste do Brasil, para onde ainda convergeuma boa parte do excedente da produção de outros estados, por ser um grande consumidore parque processador, fornecedor das grandes redes de supermercados do País, foramavaliadas possibilidades a fim de determinar o momento ótimo para realização dos proces-sos de obtenção em função dos períodos de safra.

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ARTIGOS AVULSOS

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DEHIDROGRAFIA NO IMPÉRIO E NA REPÚBLICA

JAQUELINE ALVESPrimeiro-Tenente (T-RM2)

Número de páginas: 5Identificação: AV 038/10 – #1864 – RMB 4o/10CIR: <ATIVIDADES MARINHEIRAS>; Hidrografia; Sinalização Náutica; Meteorologia;

O artigo faz um resumo histórico do Serviço Hidrográfico desde o Império, citandoos atos e documentos que o instituíram. Da mesma forma, resume o Serviço de Faróis, oServiço Meteorológico e a Hidrografia na República.

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NECROLÓGIO

† VA João Carlos Gonçalves Caminha† CMG João Paulo Moreira Brandão† CMG Fernando Paulo de Oliveira† CMG Paulo Faria Guimarães† CT (MD) Sylvio Martin Molina

JOÃO CARLOS GONÇALVESCAMINHA

11/06/1923 † 06/09/2010

Nasceu no Rio de Janeiro, filho de Ama-do Pedro Rodrigues Caminha e deConstança Stoll Gonçalves Caminha. Pro-moções: a segundo-tenente em 24/08/1945,a primeiro-tenente em 03/09/1946, a capi-tão-tenente em 22/03/1952, a capitão decorveta em 04/05/1955, a capitão de fragataem 13/12/1961, a capitão de mar e guerraem 29/09/1966, a contra-almirante em 31/07/1973, a vice-almirante em 31/03/1977. Foitransferido para a reserva em 17/03/1981.

Em sua carreira exerceu cinco coman-dos: Caça-Submarinos Guaporé; CorvetaCabedelo; 2o Esquadrão de Contratorpe-deiros; Força de Contratorpedeiros; 5o Dis-trito Naval.

Comissões: Encouraçado São Paulo;Navio-Escola Duque de Caxias; Encoura-çado Minas Gerais; ContratorpedeiroBabitonga; Base Almirante Castro e Silva;Comissão de Recebimento de Cruzadores;Corveta Barroso; Escola Naval (vice-dire-tor); Contratorpedeiro Pará; Comando daFlotilha do Amazonas; Diretoria do Pesso-al Militar; Centro de Informações da Mari-

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NECROLÓGIO

nha; Navio-Escola Custódio de Mello;Comissão Naval Brasileira em Washington;Comando do 5o Distrito Naval (chefe doEstado-Maior); Estado-Maior da Armada;Comando de Operações Navais; Comandodo 1o Distrito Naval (chefe do Estado-Mai-or); Escola Superior de Guerra; ComandoNaval de Brasília; Gabinete do Ministro daMarinha; Estado-Maior das Forças Arma-das (subchefe da Marinha).

Em reconhecimento aos seus serviços,recebeu inúmeras referências elogiosas eas seguintes condecorações: Medalha deServiços de Guerra com 2 estrelas; Meda-lha da Força Naval do Nordeste – bronze;

Ordem do Mérito Naval – Grande Oficial;Ordem do Mérito Militar – Grande Oficial;Ordem do Mérito Aeronáutico –Comendador; Ordem de Rio Branco – Gran-de Oficial; Medalha Militar e passador deouro – Terceiro Decênio; Medalha MéritoTamandaré; Medalha Mérito Marinheiro –4 âncoras; Medalha do Pacificador; Meda-lha Mérito Santos Dumont; Medalha Hu-manitária – ouro (1a classe); e MedalhaComemorativa Centenário Nascimento deRui Barbosa.

À família do Almirante João Carlos Gon-çalves Caminha, o pesar da Revista Marí-tima Brasileira.

Em dezembro de 1959, três recém-promo-vidos a segundo-tenentes foram apresenta-dos ao Contratorpedeiro (CT) Pará: Braga,Carvalho Rocha e eu. O CT Pará tinha aca-bado de chegar da América. Fomos entãoconduzidos por um oficial ao imediato, Ca-pitão de Corveta (CC) Caminha, para ser-mos apresentados. O referido oficial disseentão: “Imediato, esses três garotos estãose apresentando a bordo”. O imediato repli-cou: “Garotos não, segundo-tenentes”. Foiassim que conheci o CC Caminha.

Passei então a aprender gradativamenteo que é um imediato, e mais ainda um se-nhor marinheiro, na plenitude da palavra.Era ele grande navegador, disciplinado,austero e dedicado inteiramente ao navio.Certa vez, na saída de Mar del Plata, naprimeira Operação Unitas, ele salvou o na-vio quando ia encalhar num banco no ca-nal, tomando a manobra e dando máquinasatrás.

Em 1976 fui convidado por ele para serseu oficial de Operações na Força deContratorpedeiros, e mais tarde acumulan-do aquela função com a de chefe do Esta-

VICE-ALMIRANTE JOÃO CARLOS GONÇALVES CAMINHA

do-Maior da referida Força. O seu alto graude profissionalismo revelou-se várias ve-zes, inclusive assumindo a manobra docomandante de um navio para evitar umsério acidente entre dois contratorpedeiros.

Outra característica sua era de ser umexcelente escritor. Esse talento, juntando-se ao seu alto conhecimento marinheiro,tornou suas instruções para a Força deContratorpedeiros, chamadas de “Torpe-normas”, extremamente elucidativas e, tam-bém, deliciosas de serem lidas.

Para a Marinha, num trabalho de pes-quisa e de estudo profundo, ele escreveuo melhor livro de estratégia que conheço:Delineamentos da Estratégia, que me ser-viu de consulta em diversos comandos edireções de minha carreira, especialmenteno meu comando do ContratorpedeiroAlagoas, durante a Guerra das Malvinas,quando os navios da Força se deslocarampara o Sul, ficando alguns dias fundeadosem Anhatomirim, aguardando o desfechoda citada guerra.

Também escreveu um romance precioso,A Bordo do Contratorpedeiro Barbacena,

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NECROLÓGIO

Caminha, um grande oficial de Marinha!Mas isso todos sabem.

Gostaria de escrever sobre outros Ca-minhas que eu conheci.

Embora o nosso relacionamento não te-nha sido muito constante, foram inúmerasas vezes que nós e nossas esposas nosencontramos, com grande satisfação e ale-gria para todos nós.

O nosso conhecimento vem da EscolaNaval, ele ultimanista e eu calouro. Cami-nha era daqueles veteranos que não da-vam muita atenção ao calourame, mas tam-bém não dava trote.

Mais tarde, servimos juntos no Cruza-dor Barroso, eu encarregado da Divisão Fe ele da Navegação e depois encarregadodo Material do Convés (Manobra de Proa).

Em 1974, estivemos juntos, mais umavez, como colegas de turma, então no Cur-so Superior da Escola Superior de Guerra.

Mais recentemente, ambos na reser-va, eu à frente da Revista MarítimaBrasileira, tive o privilégio de publicar

CAMINHA, UM ESTIMADO LOBO DO MAR

em que narra passagens da Segunda GuerraMundial. Se este livro fosse editado numpaís com maior cultura marítima, teria sidoum best-seller, como foram vários outros nosEstados Unidos e na Inglaterra, alguns de-les até transformados em filmes, como MarCruel e Raposa dos Mares.

Em 1998, ainda na ativa, pedi ao Capitãode Fragata Zambão, comandante do“novo”, na época, CT Pará, que convidas-se todos os oficiais do recebimento do an-tigo CT Pará para conhecer o navio e al-moçar a bordo. Fizemos então uma home-nagem ao nosso antigo imediato, pois nos-so comandante Sílvio Figueiredo já era fa-lecido. Acredito que foi a derradeira ho-menagem prestada a ele pela Marinha, e

coube a mim, seu antigo segundo-tenente,agora almirante de esquadra, organizá-la.

No seu velório, entre as razões das mi-nhas tristezas, uma foi a de constatar a velo-cidade do tempo, pois parece que foi ontemque, no passadiço do “Galo” (CT Pará), acom-panhava meu respeitado imediato com osextante para determinar a posição do navio.

Almirante Caminha, seu amor pelas coisasdo mar e pela Marinha, seu profissionalismo esua dedicação integral à sua carreira deixamum legado para todos aqueles que tiveram ahonra de servir sob suas ordens.

Descanse em paz, meu querido chefe.

José Alberto Accioly Fragelli Almirante de Esquadra

uns tantos artigos de sua autoria, sem-pre interessantíssimos.

Entretanto, o Caminha escritor me im-pressionou sobremaneira, não de artigosou livros técnico-profissionais sobre as-suntos de Marinha (o que todos conhe-cem), mas o novelista sensacional!

Caminha é autor de A Bordo do Con-tratorpedeiro Barbacena, um livro de fic-ção de mais de 800 páginas cheias de emo-ção e ensinamentos preciosos, não só téc-nicos como também para uma vida melhor.

O herói do livro é um oficial que coman-da o Contratorpedeiro Barbacena, da Ma-rinha do Brasil, incorporado à Força Navaldo Nordeste durante a Campanha do Atlân-tico Sul, na Segunda Guerra Mundial, emmissões de escolta de comboio, de caça acorsário de superfície, de caça a raider sub-marino que se encontrava avariado e algu-mas outras imaginadas por Caminha.

Entre uma missão e outra, Caminha rela-ta inúmeras “ações” da politicagem naval,inspirado em fatos reais.

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NECROLÓGIO

O livro prende a atenção do leitor sem amenor cerimônia. Eu, como vários colegasque também o leram, perdi o sono inúme-ras noites por não conseguir interromperno meio o relato de uma ação criada peloautor. E me perguntei, várias vezes: como éque o Caminha, desta vez, vai safar o heróido livro?

E aí, mais uma noite perdida (perdida?Não, não...) lendo o capítulo até o seu sem-pre surpreendente desfecho.

O que mais me empolgou no livro foi osuporte técnico do qual Caminha não seafastou um milímetro sequer. E, mesmoassim, as ações do herói, vencedor detodos os desafios que Caminha imagi-nou, foram ganhas de maneira não orto-doxa, não prevista nos manuais da Mari-nha norte-americana, mas absoluta e tec-nicamente corretas.

O livro, contando, ainda, inúmeras pas-sagens inspiradas em fatos reais, retrata,assim, a Marinha do Brasil da época daSegunda Guerra Mundial. Além disso, con-sidero o livro como sendo um excepcionalmanual de liderança, marinharia, tática, es-tratégia e muitas outras disciplinas neces-sárias à formação do oficial de Marinha. Aobra adapta-se, perfeitamente, a uma fonteinesgotável para “estudo de caso”.

Este foi o Caminha que mais apreciei eque mais me impressionou. Na realidade,para mim, o livro condensa em um só lugartodos os excelentes Caminhas que conhe-cemos, eu e todos os que tiveram a ventu-ra de com ele conviver de algum modo.

Ficarei saudoso do velho lobo do mar!

Luiz Edmundo Brígido BittencourtVice-Almirante (Refo)

24/06/1939 † 27/07/201023/02/1941 † 06/09/201006/10/1946 † 08/09/201002/07/1940 † 15/07/2010

A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos assinantes:

CMG 55.0136.19 – João Paulo Moreira BrandãoCMG 56.0052.11 – Fernando Paulo de OliveiraCMG 63.0057.19 – Paulo Faria GuimarãesCT (MD) 73.1000.21 – Sylvio Martin Molina

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CARTAS DOS LEITORES

Esta seção destina-se a incentivar debates, abrindo espaço ao leitor paracomentários, adendos esclarecedores e observações sobre artigos publicados. Ascartas deverão ser enviadas à Revista Marítima Brasileira, que, a seu critério,poderá publicá-las parcial ou integralmente. Contamos com sua colaboraçãopara realizarmos nosso objetivo, que é o de dinamizar a RMB, tornando-a umeficiente veículo para ideias, pensamentos e novas soluções, sempre em benefí-cio da Marinha, mais forte e atuante. Sua participação é importante.

A DIREÇÃO

A 8 de novembro último, foi recebidacorrespondência do Contra-Almirante(Refo) Paulo Cezar de Aguiar Adrião, queabaixo é transcrita:

“A edição de jul./set. de 2010 da RevistaMarítima Brasileira publicou o artigo “Al-mirante Braz Dias de Aguiar – Gigante daNacionalidade”.

Há alguns anos fui procurado pelo Almi-rante Roberto Gama e Silva, meu amigo há 75anos (nossa amizade começou em Manaus,quando eu tinha dois anos de idade), que mepediu elementos para escrever um artigo so-bre o Almirante Braz de Aguiar, meu avô, aser publicado em um livro da Bibliex – Biblio-teca do Exército Editora – que seria intitulado“Gigantes da Nacionalidade”.

O artigo do Almirante Gama e Silva –“O bandeirante das fronteiras remotas” –

é a melhor síntese biográfica que conhe-ço do meu avô. No início do ano, consul-tei a Wikipédia e constatei que as infor-mações nela contidas sobre o AlmiranteBraz de Aguiar, além de muito reduzidas,continham erros. Resolvi, então, elaborarum texto que substituísse aquele. Utilizeicomo base o trabalho do meu amigo Almi-rante Gama e Silva, com quem converseidiversas vezes sobre o assunto. O seutexto, trabalhado por mim e publicado nareferida enciclopédia, foi enviado por elea essa revista como sendo de minha auto-ria exclusiva. Na realidade, trata-se de umtrabalho a quatro mãos, cuja parcela maissubstantiva foi por ele elaborada. Emconsequência, solicito que sejam dadosao Almirante Roberto Gama e Silva os cré-ditos a que faz jus.”

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

As histórias aqui contadas reproduzem, com respeitoso humor, oque se conta nas conversas alegres das praças-d’armas e dos conveses.Guardadas certas liberdades, todas elas, na sua essência, são verídicase por isso caracterizam várias fases da vida na Marinha.

São válidas, também, histórias vividas em outras Marinhas.Contamos com sua colaboração. Se desejar, apenas apresente o caso

por carta, ou por e-mail ([email protected]).

Este fato ocorreu a bordo da FragataDefensora – F41 Deusa.

Por volta de 1985, em torno das 20 ho-ras, alguns sargentos e eu, do quarto deserviço, estávamos no nosso local de re-creação (“cafofo dos sargentos”), na ex-pectativa de que a qualquer momento terí-amos o rotineiro exercício de combate a in-cêndio (CBINC), disparado pelo oficial deserviço.

Cada oficial tinha a sua maneira peculi-ar de iniciar o exercício: às vezes por telefo-ne, às vezes chegava a um determinadolocal e falava etc.

Evitava-se o uso do fonoclama para nãoser mal interpretado pelos demais naviosno porto, como já havia acontecido, quan-do em uma ocasião alguém se esqueceu defalar a palavra “exercício”, ou não foi ouvi-da, e grupos de socorro externo foramindevidamente acionados.

O oficial de serviço daquele dia entrouno recinto, entregou um papel a um colega

COMBATE A INCÊNDIO

sargento e ficou esperando uma reação quenão aconteceu.

Esse sargento, eletricista e excelentetocador de violão e de uma paciência dedar inveja a qualquer monge, olhou aquelepedaço de papel e, quase sussurrando, dis-se ao oficial, que por sinal era o seu encar-regado de divisão:

– Efe-ó-sessenta... efe-ó-sessenta... nãoentendi, chefe...

Depois de alguns segundos, o oficialde serviço, frustrado porque sua ideia nãoatingia o ponto de ignição, disparou:

– É fogo, sargento!... É fogo!Nesse momento, saímos todos para guar-

necer os postos de cada um no exercício.Sabemos que um exercício de CBINC é

coisa séria, mas naquela noite participei doexercício CBINC mais divertido da minhavida. Chorei de rir.

Francisco Edvaldo Pereira de Freitas Capitão-Tenente (AA RM1) (na época 2o SG-DT Freitas

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DOAÇÕES À DPHDMOUTUBRO E NOVEMBRO/2010DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORES

Almirante de Esquadra João Afonso Prado Maia de FariaCentro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW)Centro de Comunicação Social da MarinhaCorpo de Fuzileiros NavaisSenador Paulo DuqueInternational Maritime Organization (IMO)

FundacentroABS American Bureau of ShippingAssociação Brasileira de Energia NuclearFapespInstituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)Musée de L’Armée

National Museum of IrelandMusée National de La MarineMuseu de Astronomia e Ciências afinsInstituto ButantanUniversidade de Sorocaba (Uniso)Fundação Alexandre de Gusmão

Voluntárias Cisne BrancoChave MestraMar OceanaCentro Universitário Vila Velha (UVV)Armada Del EcuadorArmées d’aujourd’hui

PERIÓDICOS RECEBIDOS – JUNHO A AGOSTO/2010

CHILELos libros de la defensa nacional de Chile 1997-2002 como instrumentos de política

pública – (livro) nov./2009Los aportes del mercosur a la seguridade subregional um enfoque desde la seguridad

y defensa nacional de Chile – (livro) nov./2009

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DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

EQUADORInstituto Oceanográfico de La Armada, génesis y trayectoria (livro)Revista Libertador O’Higgins (livro)

ESPANHAMar Oceana – no 27, 2010

ESTADOS UNIDOSActivities – August, 2010Surveyor – Fall/2010Sea History – no 114, Spring 2006

FILIPINASInternational PORTfolio – jul./2010

FRANÇAICOM news – v. 63, no 1 jun./2010Connaissance des Arts – no 443/1, 2010Neptunia – 2010Armées d’aujourd’Hui – no 353, set./2010

INGLATERRAShip’s Routeing – 2010 editionGlobal Maritime Distress and Safety Manual (GMDSS) – 2009 editionIamsar Manual Vol. I – Organization and Management – 2010 editionIamsar Manual Vol. II – Mission Co-Ordination – 2010 editionIamsar Manual Vol. III – Mobile Facilities – 2010 editionISM Code – 2010 edition

IRLANDANational Museum of Ireland – Soldiers and Chiefs 2009

PORTUGALRevista de Marinha – v. 73 no 957 ago./set. 2010Revista da Armada – v. 40 no 444, ago./2010; v. 40, no 445 set./out. 2010;

v. 40 no 446, nov./2010

TURQUIATecnologia Militar – v. 32, no 2, 2010

BRASILO Anfíbio – v. 29, no 28, 2010Anais Hidrográficos – no 59, 2002Âncoras e Fuzis – v. 9, no 40, jul./2010Arte de Portas Abertas – 20a ed., set./2010

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DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

Brasil Nuclear – v. 15, no 36, 2010Cadernos de História da Ciência (Inst. Butantan) – no 5, no 2, jul./dez. 2010Cadernos do CHDD – v. 9 no 17, 2o semestre/2010Confluência: Revista do Instituto de Língua PortuguesaContando o Hino Nacional (livro) – 2a edição, 2010O Corujão – v. 5, 2008Marinha em revista – v. 1, no 2, ago./2010Navigator – v. 5, no 10, dez./2009Passadiço – v. 22, no 29, 2009Pesquisa Fapesp – no 175, set./2010; no 176, out./2010; supl. esp. no 176, out./2010;

no 177, nov./2010Piauí 48 – set./2010RBSO Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – v. 35, no 121, jan./jun. 2010Revista de Estudos Universitários – v. 36, no 1, jun./2010Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – v. 170, no 445, out./dez. 2009Scientia Revista do Centro Universitário Vila Velha – v. 9, no 2, jul./dez. 2010Peço a Palavra, Pela Ordem! (livro) – 2007Antologia de Verso & Prosa (livro) – 2007

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ACONTECEU HÁ 100 ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças enotícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partesdo mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reporta-dos pela nossa sesquicentenária Revista Marítima Brasileira.

Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observa-remos a grafia então utilizada.

Nas principaes potencias maritimas,Inglaterra, Allemanha, França, EstadosUnidos e recentemente em Italia,funccionam ha mais ou menos tempo esco-las navaes de guerra, ou institutos analogos,para instrucção superior dos officiaes.

Estes institutos são:Em Inglaterra, o Royal Naval War

College.Na Allemanha, a Marineakademie.Em França, a École Superieure de

Marine.

ESCOLAS NAVAESESCOLAS NAVAESESCOLAS NAVAESESCOLAS NAVAESESCOLAS NAVAES(RMB, out./1910, p. 631-659)

Transcripto dos Annaes do Club Militar Naval

Nos Estados Unidos, o War College.Em Italia, a Scuola Navale di Guerra.Considerando-se a estructura intima

dessas instituições comprehende-se facil-mente que ellas podem ser classificadas emtres grupos distinctos, tendo cada um umafeição especial que, influindo directamentena modalidade do seu funccionamento, temtambem uma alta importancia, pois é umindicio verdadeiro e formal do objectivo aque essas escolas se propõem. No primeirogrupo podemos reunir a academia de mari-

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

nha allemã e a escola superior franceza; nosegundo os collegios de guerra inglez eamericano; no terceiro, a escola naval deguerra italiana que, tendo affinidade comas do segundo grupo, apresentam comtudoalguns caracteristicos especiaes.

Vamos fazer uma breve descripção dofunccionamento dessas instituições, consi-derando-as separadamente e segundo a or-dem chronologica da sua creação, quecorresponde tambem á divisão em grupos jámencionada.

(...)Passámos uma rapida revista a varios

caracteristicos das escolas navaes de guer-ra dos diversos paizes que as têm até agoraestabelecido.

Sejam de indole organica, sejam pura-mente didacticos, esses caracteristicos, con-siderados no seu conjunto, indicam re-almente a differença que distingue cadatypo de escola.

A Marineakademie e a ÉcoleSuperiéure de Marine são verdadeiras es-colas, tendo bastantes pontos de contactocom as que, nos exercitos das grandespotencias, servem para formar os officiaesdo estado-maior; pelo contrario, os doisWar College, inglez e americano, são ins-titutos onde as sciencias navaes encon-tram o seu desenvolvimento por meio deconferencias e discussões, com vasta eabundante applicação pratica. Não são,portanto, verdadeiras escolas, mas antesacademias, no significado classico e nãomoderno desta palavra, que nos nossos diastem exacta traducção historica naquellasInstitutions que em Inglaterra e nos Es-tados Unidos servem, por assim dizer, deescola aos technicos e aos eruditos de to-dos os ramos da arte e sciencia navaes.

Mas, mais do que o nome, interessa-nosconhecer a differença essencial entre es-tas escolas.

Póde-se affirmar que a Akademie allemãe a École Supérieure franceza têm por fimcrear um corpo de officiaes (officiersbrevètés de l’École Supérieure e osAdmiralstabs Offiziere) que formam os es-tados-maiores dos almirantes, a bordo ouem terra, constituindo a maioria do pesso-al aggregado ao État Major de Paris e aoAdmiralstab de Berlim; representam, fi-nalmente, um deposito donde sahem oscommandantes dos navios e das forçasnavaes. Assim, esses institutos têmfuncções quasi identicas ás das Escolas deGuerra para o exercito.

Ao contrario, tanto os dois War Collegecomo a “Scuola Navale di Guerra” não creampara a marinha um corpo de officiaes cor-respondente ao corpo do estado-maior doexercito, mas tratam de promover o aper-feiçoamento da cultura profissional dosofficiaes de todas as graduações e levar aoconhecimento de todos o resultado dos es-tudos dos que num dado assumpto têmcompetencia especial, de modo que todo opessoal da marinha, considerado no seuconjunto, possa aproveitar elevando assimo seu nivel intellectual.

A “Scuola di Guerra” apresenta, alémdisso, caracteristicos especiaes que confe-rem a esta instituição uma physionomiapropria e mais conforme á indole italianae, necessitando de uma coadjuvação maisampla na hierarchia militar, estende os seusbeneficios a todos, ao mesmo tempo que asidéas, aperfeiçoadas e valorisadas pela dis-cussão, deixam mais profunda e permanen-te a impressão de um pensamento navalnacional.

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

MARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIII(RMB, out./1910, p. 691-702)

Primeiro-Tenente Lucas A. Boiteux

INACTIVIDADE DO NOSSO ALMIRANTE – ESTRATEGIA DO INIMIGO –ATAQUES Á COLONIA DO SACRAMENTO – PERDAS AVULTADAS DO

INIMIGO – ABANDONO DE MARTIN GARCIA(...)

O COURAÇADO E O AEROPLANO – BREVES CONSIDERAÇÕESO COURAÇADO E O AEROPLANO – BREVES CONSIDERAÇÕESO COURAÇADO E O AEROPLANO – BREVES CONSIDERAÇÕESO COURAÇADO E O AEROPLANO – BREVES CONSIDERAÇÕESO COURAÇADO E O AEROPLANO – BREVES CONSIDERAÇÕES(RMB, nov./1910, p. 911-914)

Oscar Pacheco

Está hoje geralmente estabelecido que aunidade de combate por excellencia, na guer-ra naval, é o couraçado de alto deslocamentoe que a artilharia é de todas as armas a maisefficiente, pelos seus resultados promptos eefficazes. Dahi a tendencia natural de to-das as potencias em possuir nas suas esqua-dras os chamados dreadnoughts, armados, oquanto possivel, de poderosa artilharia.

O valor offensivo de um couraçado éavaliado pelo numero e calibre de seus ca-nhões e a unidade será tanto mais podero-sa quanto em maior numero e de maior cali-bre forem elles.

Ora, o deslocamento é funcção da artilha-ria e dahi nasce logicamente o dreadnoughtque, repito, é considerado hoje como o typomais completo do navio de combate.

Entretanto, essa idéa vencedora começaa encontrar inimigos. Os commandantesVignot, da marinha franceza, e Adda, damarinha italiana, em poderosos trabalhos deindiscutivel valor technico, já se manifesta-ram contrarios á construcção dosdreadnoughts, e quem lê o que escrevem es-ses dois illustres profissionais, é levado areflectir profundamente sobre o problema.

A sua idéa é que os couraçados devemser de menor tonelagem que os actuaes, comartilharia poderosissima, mas relativamen-te diminuta, e de grande couraçamento.

Tentemos, defeituosamente embora, re-sumir em traços geraes o que dizem os doiscommandantes.

Todos sabem quanto é dispendiosa aconstrucção naval e, por mais rico que sejaum paiz, a acquisição de um grande coura-çado representa sempre uma despezaconsideravel. Ora, quanto maior for umnavio, quanto mais numerosa for a sua arti-lharia, tanto mais terá despendido o go-verno para possuil-o; em caso de perda, oupor accidente de navegação ou pelos aza-res da guerra, maior será o prejuizosoffrido, quer pelo lado militar quer pelolado financeiro.

Sob o ponto de vista technico, odreadnought actual sacrifica ocouraçamento á artilharia e, si consegueum grande poder offensivo, enfraquece opoder defensivo.

Um navio menor, custando menos por-tanto, com artilharia diminuta, maspoderosissima, dotado de machinas de com-

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

bustão interna, que representam peso mui-to menor do que as machinas actuaes, pode,ao contrario, possuir couraçamento maisespesso e, portanto, maior poder defensi-vo. A sua artilharia, si bem que pouco nu-merosa, poderá ser, por isso mesmo, de mai-or calibre. Demos a esse navio uma veloci-dade superior á do dreadnought ereflictamos sobre a sua efficiencia.

A nós, si bem que a nossa competenciasobre o assumpto seja discutivel, quer nosparecer que num encontro entre os dois cou-raçados as desvanta-gens serão quasi todaspara o dreadnought.

De facto, si a sua ar-tilharia é mais numero-sa, a do inimigo é de mai-or alcance e, como a ve-locidade deste é superi-or, elle dominará a dis-tancia, podendo attingirsem ser attingidoefficazmente. Nahypothese de se encon-trar ao alcance da arti-lharia do dreadnought,será alvejado por ca-nhões de poder inferior e terá como defesa umcouraçamento maior. Os seus tiros serão maisespaçados, é verdade, porém mais poderosos esobre uma couraça mais fraca.

Dahi nos parece que a unica vantagemdo dreadnought será de fazer maior nume-ro de disparos que o inimigo no mesmo es-paço de tempo, vantagem aliás bemdiscutivel, dadas essas differenças de arti-lharia e de couraçamento.

Outra superioridade de grande valortactico: esse couraçado, dotado de machinasmotoras de combustão interna, despenderá

muito menor quantidade de combustivel,tendo, portanto, um raio de acção prodigi-osamente dilatado.

Accresce ainda que, no caso de perda deum desses navios, o prejuizo pecuniario emilitar será muito menor do que no da per-da de um dreadnought.

Os progressos vertiginosos da aviaçãodão direito a que seacredite que em épocar e l a t i v a m e n t eproxima o homem do-minará com segurançao ar.

E dahi então o pa-pel estrategico doaeroplano será de umvalor indiscutivel,tanto no mar como emterra.

Uma guerra que,porventura, se realisenessa época, terá umafeição inteiramente

nova e lamentavelmente empolgante.O aeroplano será o esclarecedor por

excellencia e talvez o mais poderoso auxi-liar de uma esquadra.

As fortificações de costas e portos terãosobre si um inimigo formidavel e invencivel!E os combates mortaes em pleno ar, termi-nando em quedas espantosas, darão ás cam-panhas do futuro uma feição arrepiadora.

É provavel que então a prudencia dasnações requinte, tornando a mais remotapossivel essa dura e cruel necessidade quese chama – a guerra.

Os progressos vertiginosos daOs progressos vertiginosos daOs progressos vertiginosos daOs progressos vertiginosos daOs progressos vertiginosos daaviação dão direito a que seaviação dão direito a que seaviação dão direito a que seaviação dão direito a que seaviação dão direito a que se

acredite que em épocaacredite que em épocaacredite que em épocaacredite que em épocaacredite que em épocarelativamente proxima orelativamente proxima orelativamente proxima orelativamente proxima orelativamente proxima o

homem dominará comhomem dominará comhomem dominará comhomem dominará comhomem dominará comsegurança o ar.segurança o ar.segurança o ar.segurança o ar.segurança o ar.

E dahi então o papelE dahi então o papelE dahi então o papelE dahi então o papelE dahi então o papelestrategico do aeroplano seráestrategico do aeroplano seráestrategico do aeroplano seráestrategico do aeroplano seráestrategico do aeroplano será

de um valor indiscutivel,de um valor indiscutivel,de um valor indiscutivel,de um valor indiscutivel,de um valor indiscutivel,tanto no mar como em terratanto no mar como em terratanto no mar como em terratanto no mar como em terratanto no mar como em terra

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Tão cedo se não desvanecerá da alma na-cional a dolorosa impressão que lhe produ-ziram os tristes acontecimentos occorridosem nossa Marinha nas tetricas noites de 22para 23 de novembro ultimo e de 9 para 10do corrente.

Abatidos como ain-da nos sentimos, fal-tam-nos expressõescom que possamos tra-duzir devidamentetoda a nossa dor e in-dignação ante a inso-lita selvageria, tãoinesperadamente reve-lada pela nossa marujade guerra, á que atéagora todos nós noscompraziamos e ufana-vamos em só attribuiros mais alevantadossentimentos de amor ápatria e á bandeira, que juraram defender ácusta até da propria vida.

Não commentaremos, pois, nem mesmorelembraremos tão deprimentes occur-

rencias, já assás divulgadas pela imprensadiaria. Com isso nada fariamos aliás do queaggravar o immenso pezar que neste mo-mento acabrunha não só a todos quantovestimos a nobre farda da Marinha, como

igualmente a numero-sa phalange de since-ros patriotas que cla-rividentemente en-xergam nas nossas for-ças de terra e mar, esobretudo nestas ulti-mas – por ser, como é,o Brazil um paiz es-sencialmente mari-timo – os mais fortessustentaculos de suapaz interna e externa,bem como de suaindependencia e inte-gridade politica, semas quaes elle jamais

poderia attingir o alto gráo de prosperida-de e grandeza a que felizmente está fada-do pela prodiga natureza e pelo patriotis-mo de seus filhos.

MARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIII(RMB, nov./1910, p. 923-932)

Primeiro-Tenente Lucas A. Boiteux

COMBATES DE MONTEVIDEO E BARRA DE SANTA LUZIA – TOMADADA “ISABEL MARIA” – A DEFESA DA FRAGATA “IMPERATRIZ” –

COMBATES DA EMBOCADURA DO PRATA E BANCO ORTIZ – OUTRASNOTÍCIAS

(...)

HEROES DO DEVERHEROES DO DEVERHEROES DO DEVERHEROES DO DEVERHEROES DO DEVER(RMB, dez./1910, p. 1.043/1.044)

Preito de eterna saudade ePreito de eterna saudade ePreito de eterna saudade ePreito de eterna saudade ePreito de eterna saudade eprofunda veneração áprofunda veneração áprofunda veneração áprofunda veneração áprofunda veneração á

memoria dos impavidosmemoria dos impavidosmemoria dos impavidosmemoria dos impavidosmemoria dos impavidoscompanheiros que tão altocompanheiros que tão altocompanheiros que tão altocompanheiros que tão altocompanheiros que tão altosouberam manter o renomesouberam manter o renomesouberam manter o renomesouberam manter o renomesouberam manter o renome

da nossa valenteda nossa valenteda nossa valenteda nossa valenteda nossa valenteofficialidade, sacrificandoofficialidade, sacrificandoofficialidade, sacrificandoofficialidade, sacrificandoofficialidade, sacrificando

nessas horriveis conjunturas,nessas horriveis conjunturas,nessas horriveis conjunturas,nessas horriveis conjunturas,nessas horriveis conjunturas,sem a menor hesitação,sem a menor hesitação,sem a menor hesitação,sem a menor hesitação,sem a menor hesitação,

abnegada e heroicamente, asabnegada e heroicamente, asabnegada e heroicamente, asabnegada e heroicamente, asabnegada e heroicamente, assuas preciosissimas vidassuas preciosissimas vidassuas preciosissimas vidassuas preciosissimas vidassuas preciosissimas vidas

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Traçando estas sentidas linhas, temossimplesmente por fito prestarmos por nossavez o devido preito de eterna saudade e pro-funda veneração á memoria dos impavidoscompanheiros que tão alto souberam mantero renome da nossa valente officialidade, sa-crificando nessas horriveis conjunturas, sema menor hesitação, abnegada e heroicamen-te, as suas preciosissimas vidas.

O brioso e intemerato capitão de mar eguerra João Baptista das Neves e os seusdenodados companheiros de infortunio ca-pitães-tenentes José Claudio da SilvaJunior e Mario Carlos Lahmayer e primei-

ros-tenentes Mario Alves de souza,Americo Alves de Carvalho e FranciscoXavier Carneiro da Cunha, succumbindo nadefesa dos principios inquebrantaveis dadisciplina militar, base essencial de todaorganisação armada ao serviço da ordempublica, nos legaram o mais bello exemplode abnegação patriotica, digno da mais fer-vorosa admiração dos contemporaneos e deser por nos zelozamente guardado comouma das mais gloriosas tradições da nossaMarinha de guerra.

Honra, pois, e eterna gloria a tãobenemeritos brazileiros!

MARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIVMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIVMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIVMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIVMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL – XXIV(RMB, dez./1910, p. 1.133-1.144)

Primeiro-Tenente Lucas A. Boiteux

O ALMIRANTE PINTO GUEDES E A REORGANISAÇÃO DA ESQUADRA –COMBATES DE VALIZAS E RADA EXTERIORES – APRESAMENTO DA

“ESCUDERA” – COMBATES DOS POZOS E LARA-QUILMES – VOLTA DA“ISABEL MARIA”

(...)

RUSSOS E JAPONESESRUSSOS E JAPONESESRUSSOS E JAPONESESRUSSOS E JAPONESESRUSSOS E JAPONESES(RMB, dez./1910, p. 1.145-1.156)

Capitão-Tenente Ernesto da Cunha

Os numerosos trabalhos publicados so-bre a campanha russo-japoneza, na sua ge-neralidade impeccaveis quanto á formaliteraria, apresentam entretanto, muitosdelles, um grave defeito a nosso vêr: umaanalyse imperfeita, sob o ponto de vistatechnico-profissional, das diversas opera-ções militares, e, sob o ponto de vistapsychologico, uma apreciação erronea dasqualidades moraes dos dois adversarios,

derivantes ou de sua educação ou de umatavismo de raça.

Esse defeito comporta uma explicaçãofacil. Escriptos, uns por pessoas alheias ásquestões militares e outros por profissionaesde valor, mas que não tiveram o ensejo deacompanhar a campanha como espectadores,seguindo as suas differentes phases, taeslivros não podem dar ao leitor uma idéa com-pleta e fiel da mesma.

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Accresce ainda que elles foram escriptoslogo em seguida á luta. Não estavam de todoacalmados os odios e as paixões suscitadaspelo terrivel duello, entre dois povos tãodiversos e representantes de raças tãodifferentes. Dahi um partidarismo mal dis-simulado, que ressalta de sua leitura attenta,sobretudo no que se refere ao estudo docaracter dos dois belligerantes e á aprecia-ção das causas e consequencias da guerra.

Esses senões acabam de ser remediados,segundo nossa opinião, por um opusculo desessenta paginas editado pela livrariaCasanova de Turim e intitulado, Dopo laguerra russo-japoneza.

Seu autor, distinctoofficial superior do exer-cito italiano, não quizpor um escrupulo bemcomprehensivel, attentaa sua posição official,assignar a obra. Limitou-se a recommendal-a aoleitor, juntando-lhe aotitulo a phrase Notetattiche di unospettatore.

De facto, especta-dor foi elle e de valorsem duvida, tendo sido um dos primeiros aseguir para o theatro de operações, ondepermaneceu até o successo final das armasjaponezas.

No pequeno opusculo soube o autor, cujonome não estamos autorizadosa declinar,condensar com uma rara faculdade desynthese tudo quanto possa interessar oleitor, não só na parte relativa á tactica,instrucção e preparo dos dois exercitos,como na que se refere ás qualidades moraese defeitos dos dois povos.

Da obra, de caracter puramente technico,escolhemos o capitulo menos profissional,isto é, aquelle onde o autor revela-se fino einsuspeito observador das qualidades e de-feitos dos dois adversarios. Julgamos que asua inserção nesta revista deverá interessaro leitor, visto tratar-se da classe donde igual-mente sahe o marinheiro.

(...)Pelas razões que vimos de mencionar, logo

em seguida á primeira batalha a tacticajaponeza ficou essencialmente caracterisadado seguinte modo: preparação prudente e se-creta; desenvolvimento e movimento das tro-pas durante a noite, e extrema rapidez das

mesmas quando ascircumstancias exigiam ocombate durante o dia;decisão e resistencia fir-me e illimitada durantea acção e, porfim, perse-guição obstinada e tenazdo inimigo, a ponto deconservaram-se a poucasdezenas de metros domesmo durante horas,até que elle finalmentecedesse, diante de talpressão.

Por parte dos russos, varias circumstan-cias concorreram para tornar de facilapplicação a tactica japoneza. No princi-pio da campanha, surprehendidos e dispon-do de poucas tropas mobilisadas, não pu-deram emprehender uma offensivaenergica; em seguida a Yalu e antes deLiao-Yang, obedecendo a um programmaprestabelecido, não quizeram ou não sou-beram aproveitar a longa situação favoravelque lhes se antolhava, limitando-se a ope-rações secundarias e pouco vigorosas; mais

Os japonezes puderamOs japonezes puderamOs japonezes puderamOs japonezes puderamOs japonezes puderamsempre, e de modo facil,sempre, e de modo facil,sempre, e de modo facil,sempre, e de modo facil,sempre, e de modo facil,applicar a sua tacticaapplicar a sua tacticaapplicar a sua tacticaapplicar a sua tacticaapplicar a sua tactica

predilecta, desenvolvendo-apredilecta, desenvolvendo-apredilecta, desenvolvendo-apredilecta, desenvolvendo-apredilecta, desenvolvendo-anas suas diversas phases enas suas diversas phases enas suas diversas phases enas suas diversas phases enas suas diversas phases e

executando-a depois deexecutando-a depois deexecutando-a depois deexecutando-a depois deexecutando-a depois demadura discussão e completomadura discussão e completomadura discussão e completomadura discussão e completomadura discussão e completo

preparopreparopreparopreparopreparo

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

tarde, quando puderam alinhar em campoforças iguaes e algumas vezes superioresás inimigas, já se achavam sob a impressãodesmoralisadora das derrotas precedentese na triste espectativa de uma longa demo-ra em serem reforçados e providos de mu-nições. Ao mesmo tempo, a distancia de oitomil kilometros da base de operações, á qualse achavam ligados pela via ferreatransiberiana, de capacidade insufficiente,exercia uma influencia deleteria sobre ocommando supremo, paralysando sua liber-dade de acção e em grande parte subordi-nando as manobras á defesa daquelle unicomeio de locomoção.

Si a estas circumstancias desfavoraveisao exito juntarmos as condições anormaesdas relações entre os commandos das gran-des unidades, anteriormente citadas, tere-mos as razões principaes que impuzeramaos russos, durante toda a campanha, umaattitude essencialmente defensiva e umaacção direta e mal orientada, nas raras ten-tativas de offensiva que emprehenderam.

Em taes condições, os japonezes pude-ram sempre, e de modo facil, applicar a suatactica predilecta, desenvolvendo-a nas suasdiversas phases e executando-a depois demadura discussão e completo preparo.

Tokio, 19 de maio de 1910.

REVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTAS

OUTUBRO – 1910

TELEPHOTOGRAPHIA E TELEVI-SÃO – A transmissão da photographia pelosfios telegraphicos e telephonicos é um proble-ma que devia tentar os inventores. Designou-se essa nova applicação combinada das leis daoptica, da chimica e daelectricidade pelo nomede telephotographia.

(...)Não contente de ter

conseguido telegrapharphotographias, o Sr.Belin procura photo-graphar pelo telegrapho. Graças a um novoapparelho, inteiramente diverso do preceden-te e que denominou telegraphoscopio, pensaelle que chegará proximamente a tornar visivelem uma chapa installada em Bordeaux, Berlimou Roma um personagem ou um objecto qual-quer collocado diante da objectiva, á partida.

Será o primeiro passo para a televisão, quehontem ainda a sciencia suppunha irrealisavel,como si existisse um impossivel absoluto, comosi a humanidade não tivesse tido tantas provasde que ha somente um impossivel relativo, sim-ples signal de nossa ignorancia momentanea.

NOVEMBRO –1910

O OFFICIAL DEQUARTO MODER-NO – Ha uma eventu-alidade que dia e noi-te, quer faça bom ou

máo tempo, o official de quarto deve tersempre presente ao espirito: a queda deum homem ao mar.

Da iniciativa do official de quarto de-pende, á maior parte das vezes, salvar-seuma existencia em semelhante accidente,felizmente raro.

Primeiro passo para aPrimeiro passo para aPrimeiro passo para aPrimeiro passo para aPrimeiro passo para atelevisãotelevisãotelevisãotelevisãotelevisão, que hontem ainda, que hontem ainda, que hontem ainda, que hontem ainda, que hontem ainda

a sciencia suppunhaa sciencia suppunhaa sciencia suppunhaa sciencia suppunhaa sciencia suppunhairrealisavelirrealisavelirrealisavelirrealisavelirrealisavel

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Si hesita, si se engana, sobre elle recahirácom razão a tremenda responsabilidade daperda de uma vida.

Afim de que tal não aconteça, o official dequarto, conscio de seusdeveres, estará sempreprompto a dar com pre-cisão e sem a mais levehesitação ordens comoestas: – “Pára!” –“Leme contra!” –“Atrás a toda força!”

Nada de preoccu-pações quanto a mandarchamar o commandante.Não haverá tempo paraisso: outros se incumbi-rão de o fazer.

Acima de tudo, tra-ta-se de salvar um homem prestes a afogar-se: a acção do official deve ser immediata,sem auxilio de superior, mesmo docommandante.

Si no intervallo de uma manobra á ou-tra houver tempo para isso, far-se-á pre-venir a primeira auto-ridade a bordo, caso jánão o esteja.

De modo algum seincorra na santaignorancia, para nãodizer outra coisa, doofficial encanecido noserviço que, inquiridosobre o que faria emtão premente caso,respondeu compenetrado: – “Prevenir ocommandante!...”

Aos officiaes noviços, quando de quar-to, muitas vezes ocorre passar proximo deobjectos que deve evitar: louca tentação,que lhes póde custar o desmoronamento,

quiçá a perda total desuas mais caras e jus-tas aspirações.

Esses officiaes maisuma vez esquecem detomar na devida consi-deração coisas essen-ciaes, taes como: a mu-dança de rumo no mes-mo sentido de um navioque navega pela alhêta:uma avaria no servo-motor; um descuido dohomem do leme, fazen-do o navio guinar para

o bordo em que, proximo, outro navega – duasou tres malaguetas da roda do leme fóra docaminho; um nada, emfim, basta para produ-zir uma collisão que acarreta a perda de mui-tas e preciosas existencias.

O jovem official de quarto procederásempre com prudenciasi considerar achar-seno passadiço do vaporque navega proximoum individuo louco,selvagem, ignoranteem absoluto da maiscomesinha regra deevitar abordagens.Das embarcações é quemais se deve desconfi-

ar: os marinheiros que as dirigem são, nasua grande maioria, descuidados eimprevidentes.

Ha uma classe de homens do mar – nu-merosa por signal – que, ao avistar outra

Aos officiaes noviços,Aos officiaes noviços,Aos officiaes noviços,Aos officiaes noviços,Aos officiaes noviços,quando de quarto, muitasquando de quarto, muitasquando de quarto, muitasquando de quarto, muitasquando de quarto, muitas

vezes ocorre passar proximovezes ocorre passar proximovezes ocorre passar proximovezes ocorre passar proximovezes ocorre passar proximode objectos que deve evitar:de objectos que deve evitar:de objectos que deve evitar:de objectos que deve evitar:de objectos que deve evitar:

louca tentação, que lhes pódelouca tentação, que lhes pódelouca tentação, que lhes pódelouca tentação, que lhes pódelouca tentação, que lhes pódecustar o desmoronamento,custar o desmoronamento,custar o desmoronamento,custar o desmoronamento,custar o desmoronamento,quiçá a perda total de suasquiçá a perda total de suasquiçá a perda total de suasquiçá a perda total de suasquiçá a perda total de suas

mais caras e justasmais caras e justasmais caras e justasmais caras e justasmais caras e justasaspiraçõesaspiraçõesaspiraçõesaspiraçõesaspirações

Não se está de quarto paraNão se está de quarto paraNão se está de quarto paraNão se está de quarto paraNão se está de quarto parasómente dizer aossómente dizer aossómente dizer aossómente dizer aossómente dizer aos

marinheiros o que devemmarinheiros o que devemmarinheiros o que devemmarinheiros o que devemmarinheiros o que devemfazer, mas para vigiar quefazer, mas para vigiar quefazer, mas para vigiar quefazer, mas para vigiar quefazer, mas para vigiar queelles cumpram as ordenselles cumpram as ordenselles cumpram as ordenselles cumpram as ordenselles cumpram as ordens

dadasdadasdadasdadasdadas

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embarcação a vapor, manobra de modo a pol-a por BB, afim de ficar livre de qualquerresponsabilidade. Desconfie-se de seme-lhante gente!

Confiar em si emtudo que directamentelhe diz respeito écomesinho dever doofficial de quarto.Nunca responda ao su-perior, afim de esqui-var-se de determinaçãomal cumprida, procu-rando “descarregar para a esquerda”, comose diz em linguagem vulgar: – “Peço descul-pa, dei-lhe tal ordem”.

Não se está dequarto para sómentedizer aos marinheiroso que devem fazer,mas para vigiar queelles cumpram as or-dens dadas.

Importante attri-buição do official dequarto é a de providenciar quanto a delictos.Não lhe competindo fixar pena, o seu papel ésobremodo simplifica-do, podendo, por isso,com um pouco de prati-ca, desempenhal-o per-feitamente.

Tenha sempre comoregra que nunca sedeve discutir com umhomem embriagado; que não é prudente ecortez dirigir-se a um subordinado como sifôra um criminoso e, muito menos, exploral-

o com acrimonia, caso esteja em falta e simescutal-o com animo desprevenido e sem ma-nifestação de colera.

Ouça primeiro a queixa, depois a defesa,nunca consentindo que as duas partes falemao mesmo tempo e muito menos se invec-

tivem. Jámais conside-re como infallivel aqueixa, menos confieem uma ou outra daspartes. Si o facto é gra-ve, a obrigação doofficial de quarto é in-terrogar logo as teste-munhas: sob pretextoalgum se deve adiar a

syndicancia.

O official, quandode quarto, entre os seusmuitos deveres, tem ode conservar intacta aboa fama de hospitali-dade de que gosa o na-vio. Cumpre desdobrar-

se em amabilidades para com estranhos eofficiaes dos outros navios, quando venham

a bordo; caso o visitan-te tenha de esperar al-gum tempo, deve instarcom elle para descer ápraça d’armas, preve-nindo ou mandandoprevenir os collegasque alli se achem, afim

de que elles, por sua vez, continuem a dis-pensar ao visitante as gentilezas a que temdireito.

Ouça primeiro a queixa,Ouça primeiro a queixa,Ouça primeiro a queixa,Ouça primeiro a queixa,Ouça primeiro a queixa,depois a defesa, nuncadepois a defesa, nuncadepois a defesa, nuncadepois a defesa, nuncadepois a defesa, nunca

consentindo que as duasconsentindo que as duasconsentindo que as duasconsentindo que as duasconsentindo que as duaspartes falem ao mesmo tempopartes falem ao mesmo tempopartes falem ao mesmo tempopartes falem ao mesmo tempopartes falem ao mesmo tempoe muito menos se invectiveme muito menos se invectiveme muito menos se invectiveme muito menos se invectiveme muito menos se invectivem

O official, quando de quarto,O official, quando de quarto,O official, quando de quarto,O official, quando de quarto,O official, quando de quarto,entre os seus muitos deveres,entre os seus muitos deveres,entre os seus muitos deveres,entre os seus muitos deveres,entre os seus muitos deveres,tem o de conservar intacta atem o de conservar intacta atem o de conservar intacta atem o de conservar intacta atem o de conservar intacta aboa fama de hospitalidade deboa fama de hospitalidade deboa fama de hospitalidade deboa fama de hospitalidade deboa fama de hospitalidade de

que gosa o navioque gosa o navioque gosa o navioque gosa o navioque gosa o navio

Nunca se deve ter como certoNunca se deve ter como certoNunca se deve ter como certoNunca se deve ter como certoNunca se deve ter como certoseja o que for. No mar seseja o que for. No mar seseja o que for. No mar seseja o que for. No mar seseja o que for. No mar se

aprende mais do que algures,aprende mais do que algures,aprende mais do que algures,aprende mais do que algures,aprende mais do que algures,e á propria custa...e á propria custa...e á propria custa...e á propria custa...e á propria custa...

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Si o cozinheiro do almirante chegar abordo com as botas enlameadas, dê-se or-dem a um grumete para passar um lambazno convés: nunca, po-rém, se obrigue o cria-do a fazel-o por si mes-mo. Um dia um officialde quarto julgouasado lançar mão des-te expediente; bemcaro lhe custou aexperiencia, poisaprendeu á sua custa ser preferivel deixartranquillos os criados dos almirantes.

Não ha inconveniencia em escutar sem-pre um conselho: nada se perde com isso;algumas vezes póde seganhar e muito. Con-vém ou não seguil-o?Eis a questão.

Na duvida, convémdesprezal-o, visto a res-ponsabilidade dos pro-prios actos recahir sem-pre inteira sobre quemos pratica. Si se faz umatolice, é preferivel tel-acommetido por siproprio do que por con-selho de outrem.

Nunca se deve ter como certo seja o quefor. No mar se apren-de mais do que algu-res, e á propria custa,que tal infallibilidadeé algumas vezes sobre-modo fallivel.

Jámais se diga serimpossivel executaruma ordem até que se adquira a convicçãode que ninguem a poderia executar.

Corre-se no mar bastantes e inevitaveisperigos para ainda nos guardarmos dos quepodemos evitar. Nada se perde por ser pru-

dente; isso não inhibede, si o serviço assim oexigir, affrontar comimpavidez os maioresperigos.

A responsabilida-de é o pesadelo de to-dos, principalmentedos que envelheceram

no serviço. É homem liquidado o que nãoconsegue dominar semelhante apprehen-são. O official que evita a responsabilida-de hombrea-se com o que nada ousa fazer

sobre si mesmo, men-digando apoio de ter-ceiros ou exigindo or-dens por escripto.

É criminoso o quecorre em tempo de pazperigos inevitaveis emtempo de guerra. Issonão quer dizer que se

supprima em si todo o instincto audacioso,sem o que nada aprenderá. Um molleirão é

sempre alvo da risotados que com elle con-vivem, tenha ou nãogalão nos punhos.

Os preceitos acima exarados foramrespigados de precioso livro ha pouco pu-

Nada se perde por serNada se perde por serNada se perde por serNada se perde por serNada se perde por serprudente; isso não inhibe de,prudente; isso não inhibe de,prudente; isso não inhibe de,prudente; isso não inhibe de,prudente; isso não inhibe de,

si o serviço assim o exigir,si o serviço assim o exigir,si o serviço assim o exigir,si o serviço assim o exigir,si o serviço assim o exigir,affrontar com impavidez osaffrontar com impavidez osaffrontar com impavidez osaffrontar com impavidez osaffrontar com impavidez os

maiores perigosmaiores perigosmaiores perigosmaiores perigosmaiores perigos

A responsabilidade é oA responsabilidade é oA responsabilidade é oA responsabilidade é oA responsabilidade é opesadelo de todos... O officialpesadelo de todos... O officialpesadelo de todos... O officialpesadelo de todos... O officialpesadelo de todos... O officialque evita a responsabilidadeque evita a responsabilidadeque evita a responsabilidadeque evita a responsabilidadeque evita a responsabilidadehombrea-se com o que nadahombrea-se com o que nadahombrea-se com o que nadahombrea-se com o que nadahombrea-se com o que nadaousa fazer sobre si mesmo,ousa fazer sobre si mesmo,ousa fazer sobre si mesmo,ousa fazer sobre si mesmo,ousa fazer sobre si mesmo,

mendigando apoio demendigando apoio demendigando apoio demendigando apoio demendigando apoio deterceiros ou exigindo ordensterceiros ou exigindo ordensterceiros ou exigindo ordensterceiros ou exigindo ordensterceiros ou exigindo ordens

por escriptopor escriptopor escriptopor escriptopor escripto

Um molleirão é sempre alvoUm molleirão é sempre alvoUm molleirão é sempre alvoUm molleirão é sempre alvoUm molleirão é sempre alvoda risota dos que com elleda risota dos que com elleda risota dos que com elleda risota dos que com elleda risota dos que com elleconvivem, tenha ou nãoconvivem, tenha ou nãoconvivem, tenha ou nãoconvivem, tenha ou nãoconvivem, tenha ou não

galão nos punhosgalão nos punhosgalão nos punhosgalão nos punhosgalão nos punhos

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blicado pelo tenente Plunkett, da marinhade guerra ingleza.

O conjunto fórma proveitosa compila-ção de conselhos praticos para uso de jo-vens officiaes. Desde o inicio da sua car-reira, um official de marinha acha-se empresença de graves responsabilidades, quedeve assumir com coragem.

A instrucção theorica e mesmo praticaque recebe nas escolas não basta para collocal-o na altura da nobre e honrosa missão quelhe compete desempenhar. Tem ainda ne-cessidade de conselhos esclarecidos dos queencaneceram no serviço, cumprindo-lheadoptar os grandes principios que aexperiencia ha de-monstrado serem osmais seguros para a for-mação do caracter deum official e de ummarinheiro.

DEZEMBRO – 1910

EDUCAÇÃO PHYSICA DO MARI-NHEIRO – Antigamente, no tempo damarinha a vela, os marinheiros desenvolvi-am as suas musculaturas nos constantesexercicios a bordo nas variadas manobrasdas velas, ou remando nas embarcações pe-quenas que faziam o transporte do pesso-al, mantendo as communicações com a terranos portos de escala.

Attrahiam, então, a attenção de todos aapparencia herculea dos marinheiros, a suapelle requeimada pelas intemperies e asmãos calosas pelos punhos dos remos eattritos dos cabos de manobra.

A marinha a vela, porém, desappareceu enos poderosos navios modernos tudo é movi-do pelos mais complicados mechanismos. Tor-

na-se, portanto, indispensavel estabelecer agymnastica e os exercicios athleticos para semanter as guarnições fortes, sadias e com arijesa physica necessaria á profissão maritima.

Assim, é que, em quasi todas as mari-nhas de guerra, a gymnastica e os jogosphysicos são mantidos regularmente.

Os marinheiros inglezes jogam o box e,quando nos portos desembarcam, para seentreter, fazem torneio de cricket.

Os americanos são apaixonados pelofoot-ball.

Os japonezes têm a sua gymnastica na-cional, o jiu-jitsu, já adoptado entre nós.

Finalmente, em synthese, o que sedeve ter em vista é oconstante desenvol-vimento physico, mo-ral e intellectual domarinheiro.

Na Revista de ju-lho o nosso illustre ca-marada 1o tenenteAlfredo Colonia pu-

blicou um brilhante artigo intitulado “Edu-cação physica na marinha”.

Tratando-se portanto de um assumpto deinteresse palpitante para a nossa marinha,julgamos opportuno transcrever aqui o inte-ressante trabalho do sr. Alfredo Mesquita,intitulado – O Nervo e o Musculo, publica-do ha dias em um dos jornaes desta capital:

(...)

MISCELLANEAMISCELLANEAMISCELLANEAMISCELLANEAMISCELLANEA

NOVEMBRO – 1910

OS THESOUROS DA ILHA DATRINDADE – A Macmillan’s Review pu-blicou o seguinte interessante artigo sobre a

O que se deve ter em vista é oO que se deve ter em vista é oO que se deve ter em vista é oO que se deve ter em vista é oO que se deve ter em vista é oconstante desenvolvimentoconstante desenvolvimentoconstante desenvolvimentoconstante desenvolvimentoconstante desenvolvimento

physico, moral e intellectualphysico, moral e intellectualphysico, moral e intellectualphysico, moral e intellectualphysico, moral e intellectualdo marinheirodo marinheirodo marinheirodo marinheirodo marinheiro

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solitaria ilha, que nestes ultimos tempos tempreoccupado a attenção publica:

“A mineração cahio a um nivel tão pro-saico como a do carvão; a pesca da perola éhoje um negocio de caracter pesado e arduo;a produção de diamantes chegou ao pontode se calcular de antemão até os quilates;mas a caça aos thesouros ainda é umaoccupação tão fascinante como sempre.

Os dias dos romanescos piratas já lá fo-ram, mas o ouro e as gemmas dos senhorisgaleões hespanhoes, ou saqueados das ar-cas de Panamá e Cartagena, permanecemoccultos nas alvas praias de ignoradasilhotas. Thesouros extorquidos aos vassalosesfaimados, por soberanos selvagens, jazemsob as ruinas dos seus baluartes, e grandecopia de metaes preciosos dorme no fundodo mar entre os destroços carcomidos denavios que sossobraram.

Alguns desses thesouros são certamen-te mythicos, mas de outros a existencia estáfóra de duvida. De tempos a tempos,apparece uma circumstancia que espalhanovas esperanças pelos caçadores.

As duas mais celebres ilhas de thesourossão: a da Trindade e a de Cocos. Têm sidovisitadas por dezenas de expedições destina-das a descobrir thesouros; mas, com uma sóexcepção, nenhum caçador veio de lá mais rico.

A historia da Trindade (que não sesupponha ser uma das Antilhas, mas umailhota rochosa e fronteira á costa do Brazil)é curiosa. Corre que muitos thesouros setêm escondido nos carrancudos penedos daTrindade, o ultimo sendo-o em 1864, pelocapitão de um navio negreiro americano quese tornara pirata.

Mr. E. F. Knight, o conhecido correspon-dente de guerras, sempre deu muito creditoá authenticidade do thesouro da Trindade.

Em junho de 1889, escrevia ao jornal lon-drino, propondo fazer equipar uma expedi-ção, afim de procurar o famoso thesouro cujovalor estimava em um milhão esterlino, pelomenos. A sua idéa encontrou prompta aceita-ção e a 31 de agosto nove cavalheiros e quatrohomens de ganho partiram de Southamptonno barco Alerte. Era uma pequena embarca-ção a hiate, apenas de 56 toneladas, em ver-dade muito debil para affrontar o revoltoAtlantico. Sem embargo, os aventureiros che-garam á ilha a salvo, e puzeram mãos á obratenazmente, durante tres longos mezes, massem vislumbres de exito. Posteriormente Mr.Knight descreveu em seu livro ‘A travessiado Alerte’ as varias aventuras da expedição.Desde então muitas outras se têm organisadoe visitado a Trindade, mas, que se saiba, ne-nhuma regressou mais rica.

(...)”

CURIOSA APPLICAÇÃO ELECTRICA– No mez de agosto fizeram-se em um peque-no lago em Nuremberg interessantesexperiencias para verificar technicamente apraticabilidade da invenção do professorChristian Wirth, que desde muitos annos sepreoccupa com o problema de dirigir de terraos movimentos de uma embarcação por meio datransmissão de ondas electricas e independen-te de qualquer fio conductor.

Nessa invenção, o mais original é acircumstancia de poder a electricidadetransmittida de terra promover a bordo daembarcação uma serie de funcções inteiramen-te differentes umas das outras. Essa faculda-de é obtida por meio de apparelhos engenho-sos, adaptados ao navio, os quaes, como os trans-formadores da illuminação publica, vãoapplicando successivamente as ondas electricasrecebidas ao fim desejado na occasião.

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Causa alto prazer esthetico ver-se comonão muito pequeno bote denominadoPrincipe Luiz, que costuma conduzir duziasde passeantes por sobre as ondas escuras dolago, obedece incondicionalmente aos dese-jos do “regente”, que se acha sobre a peque-na ponte que conduz ao pharol.

O contacto de um botão ou transmissorbasta para encher de vida mysteriosa a em-barcação que, abandonada e inerte, sem ca-pitão e sem tripulação, se acha em meio dasaguas. Um tiro parti-do de bordo e que resoaao longe, acorda forçasque parecem estar dor-mindo: uma campainhaelectrica se faz ouvir,o bote começa a mover-se vagarosamente; de-pois vae tomando for-ça, vae descrevendoarcos e circulos e guina para a direita epara a esquerda, avança e recúa, desvia-sede outras embarcações e pára, segue denovo, etc.

As experiencias tiveram successo dignode nota e despertaram em alta escala o in-teresse de leigos e entendidos.

O alcance do invento para fins de umamoderna defesa de costas e outros é da maiorrelevancia. Mostra-o a circumstancia deque as autoridades da marinha lhe deram

sympathico acolhimento e já entraram emcommunicações com o inventor.

DEZEMBRO – 1910

CONFERENCIA INTERNACIO-NAL DE DIREITO MARITIMO – O “Ti-mes”, abalisado orgão da imprensa londrina,publicou o seguinte interessante artigo:

“As noticias recentemente recebidas deBruxellas mostram que a Conferencia In-

ternacional de Direi-to Maritimo tem dadogrande adiantamentoa uma obra que foi pa-cientemente prepara-da durante muitosannos pela esforçadatenacidade de algunsemeritos juizes. Aperspectiva de que um

dia todos os paizes civilisados adoptem umdireito maritimo uniforme não é mais umamera fantasia de theoricos e idealistas. Éprovavel que esse desideratum seja alcan-çado dentro de pouco tempo. Na Confe-rencia de Bruxellas deu-se um grande pas-so nesse sentido e tanto na Grã-Bretanhacomo no continente ha homens de valor,decididos a proseguir na realisação da gran-de obra.

(...)”

A perspectiva de que um diaA perspectiva de que um diaA perspectiva de que um diaA perspectiva de que um diaA perspectiva de que um diatodos os paizes civilisadostodos os paizes civilisadostodos os paizes civilisadostodos os paizes civilisadostodos os paizes civilisados

adoptem um direito maritimoadoptem um direito maritimoadoptem um direito maritimoadoptem um direito maritimoadoptem um direito maritimouniforme não é mais umauniforme não é mais umauniforme não é mais umauniforme não é mais umauniforme não é mais uma

mera fantasia de theoricos emera fantasia de theoricos emera fantasia de theoricos emera fantasia de theoricos emera fantasia de theoricos eidealistasidealistasidealistasidealistasidealistas

NOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMOOUTUBRO – 1910

MARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONAL

ESCOLA DE APRENDIZES DEPIRAPORA – Proseguem com

actividade os trabalhos da construcçãodo edificio da Escola de Aprendizes, emPirapora, á margem do rio S. Francisco,no prospero e futuroso estado de MinasGeraes.

(...)

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

IDADE PARA MATRICULA NASESCOLAS DE APRENDIZES – Comomedida de caracter provisorio foi resolvi-do que a idade para a admissão de menoresnas Escolas de Aprendizes Marinheirosfica estabelecida no minimo de 14 annos eno maximo de 18 annos.

(...)

NOVEMBRO/1910

MARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONAL

NOVAS ORDENANÇAS DA ARMA-DA – Foi assignado no dia 11 de outubro odecreto approvando as“Novas ordenanças daArmada”, que forampublicadas no DiarioOfficial no dia 12 domesmo mez.

NOVO REBOCA-DOR – Chegou aonosso porto, no dia 29de outubro, o reboca-dor Laurindo Pitta,de 1000 toneladas de deslocamento e des-tinado á manobra do dique fluctuante denossos couraçados.

DEZEMBRO/1910

MARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONAL

BANDEIRA DESTINADA AO COU-RAÇADO “S. PAULO” – A bandeira quevae ser offerecida ao couraçado S. Paulo

esteve exposta no Jardim da Infancia, nacapital paulista*.

Segundo publicou um diario dessa capital,é um trabalho riquissimo que honra as senho-ras que o executaram.

A bandeira é confeccionada de bellissimogorgorão de seda, fabricado expressamenteem Lyon.

As dimensões das partes componentesda bandeira são as seguintes:

O rectangulo verde mede 5m,50 de com-primento e 3m,35 de altura; o losangoamarello, 2m,5 nos lados; comprimento damaior diagonal, 4m,60, comprimento da me-nor diagonal, 2m,95; o globo central 1m,92

de diametro.As lettras do distico

“Ordem e Progresso”,medindo cada uma 198m/m de altura por trescentime-tros de largu-ra, foram bordadas aseda verde e sombrea-das a ouro crespo fosco,crespo brilhante e bri-lhante liso, como si to-das surgissem douradas

pelo aureo fundo, pelo campo rhombiforme.As 21 estrellas do campo azul foram

cautelosa e pacientemente bordadas a pra-ta brilhante, excepção feita da estrella“Spica”, situada na parte superior daesphera, e que, devido ao seu brilho parti-cular, foi trabalhada a prata fosca.

Todas ellas foram feitas com o “ponto tre-mido” sendo os seus raios formados por umacadeia de lentejoulas presas a prata e ouro.

Chegou ao nosso porto, noChegou ao nosso porto, noChegou ao nosso porto, noChegou ao nosso porto, noChegou ao nosso porto, nodia 29 de outubro, odia 29 de outubro, odia 29 de outubro, odia 29 de outubro, odia 29 de outubro, o

rebocador rebocador rebocador rebocador rebocador Laurindo PittaLaurindo PittaLaurindo PittaLaurindo PittaLaurindo Pitta, de, de, de, de, de1000 toneladas de1000 toneladas de1000 toneladas de1000 toneladas de1000 toneladas de

deslocamento e destinado ádeslocamento e destinado ádeslocamento e destinado ádeslocamento e destinado ádeslocamento e destinado ámanobra do dique fluctuantemanobra do dique fluctuantemanobra do dique fluctuantemanobra do dique fluctuantemanobra do dique fluctuante

de nossos couraçadosde nossos couraçadosde nossos couraçadosde nossos couraçadosde nossos couraçados

* N.R.: Atualmente, a bandeira permanece em bom estado de conservação e em tratamento técnico, no qual receberáhigienização e acondicionamento respeitando normas museológicas internacionais. No momento não há previsãopara sua exposição. A fotografia da bandeira e da arca que a contém pode ser vista no livro “Relíquias Navais doBrasil”, à página 58.

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

A estrella maior, “Sirius”, mede 17centimetros de diametro e a menor, “Sigma”do “Qlitante”, 55 m/m de diametro.

Os angulos do lado interno têm resistentescontrafortes pospontados e entretelados. Todoo lado interno é terminado em uma bainha deentretela quadrupla e ao longo dessa bainhacorre um cordão de dois centimetros dediametro e de 12 metros de comprimento, for-mado por uma corda de linho coberta de sedaverde.

A extremidade que se adapta ao angulo su-perior da bandeira é rematada por um argolãode ouro massiço, movel sobre uma peça seme-lhante a um mosquetãode corrente de relogio efabricada do mesmo me-tal. A peça toda pesaaproximadamente 200grammas.

No angulo internosuperior foi inscripto a ouro o seguintedistico: “Bordada pelas alumnas da EscolaNormal de S. Paulo – 4 de junho de 1909.”

NECROLOGIANECROLOGIANECROLOGIANECROLOGIANECROLOGIA

DEZEMBRO 1910

Temos hoje de cumprir o dolorosissimo de-ver de registrar nesta secção os nomes dos nos-sos queridos irmãos de armas, tombados duran-te os execraveis levantes que acabam de cobrir

de luto a Marinha e a Nação em peso e á cujamemoria já prestámos em singelas phrases,inscriptas na primeira pagina da presente Re-vista, a mais sincera homenagem de saudade ede gratidão pelo seu heroico procedimento.

Resta-nos agora dar aqui em breves traços,como de costume, os apontamentos biographicosdos alludidos companheiros, cujos nomes vãoantecedidos dos postos a que o governo daRepublica tão justamente os promoveu, afimde dar uma publica demonstracção do apreçoem que aquilatou os seus serviços e o nobreexemplo de abnegação civica e bravura militarque nos legaram.

Contra-almiranteJoão Baptista das Ne-ves – (...)

Capitão de corvetaMario CarlosLahmeyer – (...)

Capitão de corvetaJosé Claudio da Silva Junior – (...)

Capitão-tenente Americo Salles deCarvalho – (...)

Capitão-tenente Mario Alves deSouza – (...)

Capitão-tenente Francisco XavierCarneiro da Cunha – (...)

A Revista Maritima, profundamente con-tristada com a morte desastrosa desses illustrese dignos camaradas, apresenta ás suas Exmas.familias as mais sinceras condolencias.

Nobre exemplo de abnegaçãoNobre exemplo de abnegaçãoNobre exemplo de abnegaçãoNobre exemplo de abnegaçãoNobre exemplo de abnegaçãocivica e bravura militar quecivica e bravura militar quecivica e bravura militar quecivica e bravura militar quecivica e bravura militar que

nos legaramnos legaramnos legaramnos legaramnos legaram

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REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dosleitores matérias que tratam de assuntos de interesse maríti-mo, contidas em publicações recebidas pela Revista MarítimaBrasileira e pela Biblioteca da Marinha.

As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadasao acervo da Biblioteca, situada na Rua Mayrink Veiga, 28 –Centro – RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

CONGRESSOSFEIRA

SMM 2010 Hamburgo – Megashow e “tecnologia verde” no palco central (196)

FORÇAS ARMADASCORVETA

Corvetas – uma alternativa para as sofisticadas e dispendiosas fragatas? (196)FUZILEIROS NAVAIS

A próxima singradura/O combatente anfíbio (197)MARINHA DO CHILE

A Marinha do Chile hoje (198)Resgate dos mineiros chilenos com apoio da Marinha do Chile (199)

GUERRASGUERRA DAS FALKLANDS

Cambaleando para a guerra nas Falklands (200)

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REVISTA DE REVISTAS

Foi realizada de 7 a 10 de setembro pas-sado, em Hamburgo, Alemanha, a 27ª FeiraInternacional Comercial de Construção Na-val, Máquinas e Tecnologia Marítima (SMM2010 Hamburgo). A feira, bianual, teve seu

SMM 2010 HAMBURGO –MEGASHOW E “TECNOLOGIA VERDE”

NO PALCO CENTRALHartmut Manseck

(Naval Forces, no V/2010, Vol. XXXI, pág. 124-127)enfoque, nesta versão,em temas, tecnologias eprodutos não agressi-vos ao meio ambiente.

Em programa parale-lo, pela primeira vez,ocorreram o CongressoGlobal Marítimo deMeio Ambiente (GMEC)e o Diálogo Offshore,que abordou temas rela-tivos a fazendas de ven-to e minagem offshore.Mais de 2 mil exibidoresde 58 países se apresen-

taram em 11 salas e áreas externas, perfazen-do cerca de 90 mil m2 de área de feira e expo-sição. Foram realizadas aproximadamente150 conferências, workshops, simpósios ereuniões.

“Há poucos anos, se você perguntasse aum oficial de Marinha o que era uma corveta, aresposta imediata e confortável que receberiaseria, mais ou menos: um navio de escoltamenor, apropriado para operação costeira.”

Com essa assertiva, Massimo Annati ini-cia este seu artigo em que, além de buscardefinir claramente o que uma corveta repre-

CORVETAS – UMA ALTERNATIVA PARA AS SOFISTICADAS EDISPENDIOSAS FRAGATAS?

Massimo Annati*(Naval Forces, no V/2010, Vol. XXXI, pág. 42-52)

* Capitão de Mar e Guerra da ativa da Marinha italiana. É diretor do Bureau Regional (Norte) paraComunicações e Tecnologia da Informação em Milão, uma agência conjunta das Forças Armadasitalianas. Pertence também ao grupo de trabalho europeu para armamento não letal.

senta em nossos dias, indica quais papéispodem desempenhar em Marinhas modernas.

Segundo ele, por muitos anos, corvetasforam alternativas para as fragatas – muitomais capazes, mas mudanças de requisitostáticos e evolução tecnológica estão, gra-dualmente, vindo permitir que esses peque-nos combatentes assumam papéis signifi-

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REVISTA DE REVISTAS

cativos à medida que substituem oucomplementam as funções de fragatas emvariadas missões. A disponibilidade desensores, armamento e helicóptero/Vant fazcom que sejam superiores a navios meno-res e menos armados, provendo uma alter-nativa às fragatas em diversos cenários.

Ao longo de seu texto, Annati analisaas capacidades das corvetas modernas,citando, inclusive, a corveta brasileira Bar-roso, e vislumbra a chegada da corvetamultifunção modular, como a F2M2, umnovo conceito de navio de alta tecnologiada Navantia, estaleiro espanhol.

A PRÓXIMA SINGRADURAAlmirante de Esquadra (FN) Alvaro Augusto Dias Monteiro*

O COMBATENTE ANFÍBIOAlmirante de Esquadra (FN–Refo) Luiz Carlos da Silva Cantídio**

(O Anfíbio – Considerações Doutrinárias, Ano XXIX, Edição Extra 2010,pág. 9-65 e 68-109, respectivamente)

* Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais desde 2006.** Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais de 1990 a 1994.

O Anfíbio, como órgão de divulgaçãodo Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), exis-te desde 1939, tendo recebido a denomina-ção de O Naval por curto período, até 1943.A revista destina-se a divulgar a doutrina

anfíbia e o moderno emprego de forças defuzileiros navais e a difundir a história e astradições do CFN. Também se constitui emforo para debate de ideias que estimulem oaperfeiçoamento técnico-profissional.

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REVISTA DE REVISTAS

Os artigos ora publicados em ediçãoextra de 2010 da revista têm o propósito detraçar um direcionamento geral para o de-senvolvimento do CFN – cuja necessidadefoi pressentida pelo comandante-geral doCFN em função de novos fatos e conjun-ções com que o Corpo vem se deparando,tais como a Estratégia Nacional de Defesae o impacto que a participação na Missãodas Nações Unidas para Estabilização doHaiti (Minustah) vem exercendo no perfiloperacional do CFN.

No artigo “A Próxima Singradura”, o AEMonteiro, a partir de análise da história,das vocações e dos valores dos FuzileirosNavais, realiza estudo estratégico do em-prego de forças anfíbias para, então, esta-belecer uma visão de futuro do CFN e seusimpactos na doutrina, no material e nos re-cursos humanos. Nas palavras do autor:“Contribuir para a proteção das ÁguasJurisdicionais Brasileiras passará a ser aprincipal tarefa do CFN”.

No artigo “O Combatente Anfíbio”, ori-ginalmente escrito em 1992, o AE Cantídioanalisou os cenários então previsíveis edefiniu o rumo a navegar, destacando-se anecessidade de integração do CFN à visãoestratégica da Marinha e, como seu corolá-

rio, o alerta do comandante de OperaçõesNavais à época, que apresentou o traba-lho, para a “ingenuidade perigosa de so-nhar, isoladamente, com um componenteque venha a ser incoerente com as reaispossibilidades do nosso Poder Naval”.

A Marinha do Chile, possuidora de gran-de capacidade de operação em águas azuis,demonstrada ao longo dos seus 190 anosde existência, vem empreendendo um subs-tancial processo de reequipamento e mo-dernização na última década. Ele inclui aentrada em serviço de novos e avançadossubmarinos diesel-elétricos e a renovaçãodos principais navios combatentes que in-

A MARINHA DO CHILE HOJEJose Higuera

(Naval Forces, no V/2010, Vol. XXXI, pág. 117-123)

tegram o esquadrão de batalha de águasazuis e dos navios de apoio logístico, alémda expansão da capacidade da Marinha decontrolar e proteger seus recursos natu-rais na Zona Econômica Exclusiva do país.Há, ainda, a previsão do crescimento dacapacidade de projeção de poder sobre ter-ra, por meio da aquisição de navios anfíbi-os que representarão também acréscimo na

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REVISTA DE REVISTAS

capacidade de prover apoio a desastresnaturais, em um país que sofre com terre-motos, tsunamis e erupções vulcânicas.

É desse processo que trata o autor nes-te detalhado artigo em que, iniciando poranálise histórica da própria criação da Ma-rinha chilena, aborda a visão estratégia quevem sendo implementada, especialmente

no que diz respeito ao preparo do pessoale material para desincumbirem-se de suasresponsabilidades. Realiza, além disso, ba-lanço detalhado quantitativo e qualitativodos equipamentos que compõem aquelaMarinha, passando pelo esquadrão de com-bate principal de superfície, pelos naviosde reabastecimento, pelas forças de sub-marinos e aérea e demais integrantes daforça, como os navios-patrulha rápidos ar-mados com mísseis, navios de pesquisa eo Corpo de Fuzileiros Navais.

Jose Higuera finaliza sua análise inves-tigando a capacidade de projeção interna-cional da Marinha do Chile, abordando asua participação em missões de paz inter-nacionais, na exploração da Antártica e emoperações com Marinhas de outros países.

É pouco sabido, mas três oficiaissubmarinistas da Marinha do Chile integra-vam a equipe de resgate de cinco pessoas quedesceu na cápsula Fenix os 624 metros antesda subida do primeiro mineiro chileno presona mina de ouro e cobre de San José, quehavia colapsado em 5 de agosto deste ano.

Segundo o artigo publicado na revistaNaval Forces, a Marinha do Chile partici-pou ativamente das operações de resgatedesde os primeiros momentos, provendoequipamentos e assessoria técnica em so-brevivência. Submarinistas são preparadose treinados para operar em espaços confi-nados e que são claustrofóbicos para ou-tras pessoas. Além disso, esses militaresrecebem treinamento de como aumentarsuas chances de sobrevivência em casos

RESGATE DOS MINEIROS CHILENOSCOM APOIO DA MARINHA DO CHILE

Wolfgang Legien*(Naval Forces, no V/2010, Vol. XXXI, pág. 8)

* Correspondente.

de sinistros com submarinos mergulhadose na economia do ar respirável.

Em outra participação da Marinha dopaís, engenheiros navais chilenos, junto aespecialistas da agência espacial norte-americana Nasa, projetaram a cápsula que

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REVISTA DE REVISTAS

foi construída pelo estaleiro chileno Asmar.Os mineiros receberam também nutrição lí-quida usada por astronautas americanos

para evitar enjoos, já que a Fenix, em seutrajeto de subida, tenderia a girar dentrodo tubo escavado.

CAMBALEANDO PARA A GUERRA NAS FALKLANDS?Capitão de Mar e Guerra (Reserva, EUA) William Dempsey*

(Proceedings, EUA, outubro/2010, pág. 52-58)

“Hoje, um submarino nuclear britânicoarmado com mísseis Tomahawk de alta pre-cisão ronda a costa argentina. Um esqua-drão de Eurofighter Typhoons, uma dasmais avançadas aeronaves supersônicasmilitares, permanece em stand-by constan-te para eliminar em minutos, mediante or-dem de Londres, qualquer alvo terrestre ouaéreo argentino. Uma corveta argentinatranspassa as águas britânicas ao largo dasIlhas Falklands, sem aviso prévio. O queestá acontecendo lá?” Essa é a questãoque o autor busca responder neste artigo.

Segundo Dempsey, o mundo, em suamaior parte, já esqueceu que uma guerrafoi travada em 1982 entre a Grã-Bretanha ea Argentina. Entretanto, as feridas conti-nuam abertas e, recentemente, as tensõesentre os dois países voltaram a crescer. Ocerne do contencioso é um grupo de ilhaslocalizado a 300 milhas náuticas da costaargentina conhecido pelos britânicos comoFalklands e pelos argentinos comoMalvinas. O autor adota o nome Falklandsalegando o interesse da clareza e simplici-dade, reconhecendo, porém, a complexida-de da questão.

Ao longo da primeira parte de seu arti-go, ele aborda diversos aspectos da for-mação da consciência nacional dos ilhéus,tais como os geográficos, os históricos, ospopulacionais e os linguísticos. Identificaque, na década de 1970, ocorreram negoci-ações entre os dois países para a transfe-

* O comandante Dempsey escreve regularmente sobre assuntos navais e esteve na Argentina e nasFalklands realizando entrevistas para escrever este artigo.

rência da soberania sobre as ilhas para aArgentina, desde que os seus habitantescom isso concordassem. Na época foiestabelecida a ligação aérea com as ilhaspor meio de aeronaves anfíbias a partir de

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REVISTA DE REVISTAS

Dempsey salta então sua análise para oano de 2010 e passa a discutir aspectos re-centes envolvendo aquela região a partir dadescoberta de depósitos de petróleo no fun-do marinho da ordem de 60 bilhões de bar-ris. Para estabelecer parâmetro de compara-ção da importância dessa descoberta, elecita que a reserva britânica atual é de 3,4bilhões e a argentina de 2,2 bilhões. As ex-plorações iniciais já autorizadas e realizadasconfirmaram a existência de reservas de altaqualidade. Os argentinos, logicamente, se-gundo o autor, clamam a posse dos recur-sos minerais, inclusive o petróleo.

Surge então a questão de como a Ar-gentina poderá tomar o controle das ilhas,o que, para o autor, vem sendo tentado porestratégia com três diferentes vias, que eleanalisa detidamente e em separado: aimplementação da diplomacia, a imposiçãode sanções econômicas e o aumento dopoder militar.

Dentro deste último aspecto, ressaltaque o Brasil, até 2020, terá desenvolvido oseu submarino nuclear de ataque e que,por meio de conversa com o ex-comandan-

te em chefe da esqua-dra argentina, Almiran-te Pedro de la Fuente,soube que, há muitosanos, teria sido feitoconvite por parte doBrasil para que a Argen-tina participasse doempreendimento. Elahavia declinado. Para oautor, ao completar oseu projeto, o Brasil di-ficilmente compartilha-rá a tecnologia com seuvizinho. Entretanto, se-gundo ele, o Brasil po-derá prover vigilânciasubmarina em caso denovo conflito militar

Comodoro Rivadavia, em voo de cerca de50 minutos. Em 1972, os argentinos cons-truíram uma pista de pouso em Port Stanley,abrindo um mundo novo para os ilhéusque, apesar de tudo, continuavam resis-tentes à adoção da soberania argentina.Para o autor, isso se deveu ao históricopouco democrático e de desrespeito aosdireitos humanos da Argentina de então.

Em 1981, no governo da junta militar li-derada pelo general argentino LeopoldoGaltieri, enfraquecido por uma economiadecadente e por um quadro de desvalori-zação monetária, decide-se que era chega-da a hora de se tomar as ilhas à força, bus-cando a unificação nacional em torno dotema.

O autor passa a abordar aspectos doplanejamento e do início do processo queredundou na guerra, que, paradoxalmente,poderia não ter ocorrido em circunstânciaslevemente diferentes. Assim, ele analisadetalhes da invasão em si, quando ambosos lados lutaram corajosamente, e a vitó-ria, que poderia ter sido de qualquer umdeles, redundou para a coroa britânica.

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REVISTA DE REVISTAS

com a Grã-Bretanha. Além disso, prosse-gue, como o Brasil apoia as pretensões ar-gentinas em relação às Falklands, ele po-derá prover suporte militar junto com ou-tros países das América do Sul, e cita opresidente da Venezuela, Hugo Chávez:“Não estamos mais em 1982. Se o conflitoromper, tenham a certeza de que a Argenti-na não estará sozinha, como esteve naque-la ocasião”.

Dempsey sumariza esta parte de sua aná-lise afirmando que o perigo dessa estratégiaé de que redunde não em acordos, mas emguerra. E acrescenta: “O que separa os 41milhões de argentinos dos 3 mil ilhéus dasFalklands? Os militares britânicos”. Passa,então, o autor a investigar as forças britâni-cas existentes na área, suas bases e seusequipamentos. Busca também identificarquais alianças e com que países elas pode-riam ser esperadas em caso de conflito. E,num balanço, alerta que os argentinos, emcaso de crise, irão se defrontar hoje com umesquadrão de aeronaves Typhoon com ca-pacidade de engajamento com múltiplos al-vos simultâneos, com uma fragata da classe23, um navio-patrulha, um submarino nu-

clear de ataque e um batalhão de infantariaaltamente adestrado. Além disso, aerona-ves de transporte C-17 poderão ser rapida-mente mobilizadas com reforços.

O autor conclui indicando que o proble-ma encontra-se latente e que a populaçãoargentina, no momento, ainda se preocupamais com a estabilização econômica e de-seja que seu governo invista na melhorado sistema educacional e no desenvolvi-mento dos recursos já existentes mais doque na situação das Falklands, que sãoconsideradas um problema político. Emcontrapartida, os ilhéus veem a Argentinacomo um bully, especialmente em funçãodo bloqueio a eles imposto, e são gratospela presença de forças militares britâni-cas nas ilhas.

Finalizando o artigo, Dempsey senten-cia: “Os tambores de guerra seguem rufan-do. Continuará o mundo civilizado envian-do a mensagem ‘esse problema não é meu’ou mentes racionais se dedicarão a contri-buir para que essas nações se afastem daguerra e sigam em direção a uma nova erade harmonia? Poderemos ser forçados adecidir antes do que se supõe”.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos importan-tes da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída aMercante, dar aos leitores informações sobre a atualidade e per-mitir a pesquisadores visualizarem peculiaridades da Marinha.

Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas comfotografias.

SUMÁRIO(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃOATIVAÇÃO

Ativação do Centro de Adestramento Almirante Newton Braga (207)BATIMENTO DE QUILHA

Batimento de quilha de mais um NPa da classe Macaé (209)BATISMO

Recebimento, batismo e transferência para o Setor Operativo do AviPa Albacora (210)CERTIFICADO DE QUALIDADE

CFAT recebe certificação ISO 9001:2008 (212)COMEMORAÇÃO

20 anos de incorporação do NDD Rio de Janeiro (213)Aniversário da RPB-IMO (214)Armistício da Primeira Guerra Mundial (215)Dia da criação da Força Naval do Nordeste (217)Dia do Inativo (219)Dia do Marinheiro (219)Dia do Marinheiro no Espaço Cultural da Marinha (223)Dia Marítimo Mundial (223)Dia Nacional do Amigo da Marinha (226)Espaço Cultural comemora o Dia da Criança (227)Jubileu de Ouro da ERMB (228)

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204 RMB4oT/2010

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CONTRATOSecretaria-Geral da Marinha difunde o conceito de offset na Força (229)

FISCALIZAÇÃOFrágil fiscalização nas fronteiras (229)

INAUGURAÇÃOInauguração da nova sede do Casnav (231)Praça Marinha do Brasil é revitalizada no Rio de Janeiro (231)

INCORPORAÇÃONavio-Patrulha Macau é incorporado à Marinha do Brasil (232)

LANÇAMENTO AO MARLançamento do Log-In Jatobá (234)

MOSTRA DE ARMAMENTOMostra de Armamento do NAsH Soares de Meirelles (235)

NOME DA OMAlteração de denominação do Cadim (238)

POSSEAssunção de cargos por almirantes (238)Transmissão do cargo de CEMA (239)Transmissão do cargo de SGM (244)Transmissão dos cargos de CON/DGN (248)

PRÊMIOPrograma Memória do Mundo (252)Rebocador Laurindo Pitta é membro honorário da Classic Yacht Association (254)

PROMOÇÃOPromoção de almirantes (255)

VISITAÇÃOComandante da Marinha da China visita o Brasil (255)Laboratório Farmacêutico da Marinha recebe visita do Comitê Nacional de Biotecnologia (256)Ministro da Defesa da China visita o Brasil (257)Projeto social da Escola de Samba Portela visita a Marinha (258)Projeto Visitando a História (258)

APOIOAPOIO LOGÍSTICO

Marinha apoia aplicação de provas do Enem (260)CONSTRUÇÃO NAVAL

Setor naval ganha norma com foco em segurança e meio ambiente (261)LOGÍSTICA

Resposta e prontidão a vazamentos de petróleo no mundo (261)MANUTENÇÃO

Marinha realiza manutenção na ECASPSP (262)

ATIVIDADES MARINHEIRASPESQUISA

Nova Estação Científica da Ilha da Trindade (263)REGATA

Escola Naval é sede da maior regata da América Latina (264)

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RMB4oT/2010 205

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T)NACIONALIZAÇÃO

Nacionalização da bomba de incêndio portátil P-100 (265)TINTA

Intersleek 900 inova no mercado de tintas marítimas (265)

CONGRESSOSCONFERÊNCIA

Conferência Naval Interamericana (266)CONGRESSO

Congresso Nacional de Transporte Aquaviário, Construção Naval e Offshore e a Exponaval (273)ENCONTRO

3o DN promove o IV Encontro de Amigos Especiais (274)FEIRA

MB participa da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (275)TOC Américas 2010 (277)

SEMINÁRIOEND prevê reaparelhamento das Forças Armadas e novo mercado nos próximos anos (277)Seminário Amazônia Azul (278)Seminário Mulher na Carreira Militar (280)

EDUCAÇÃOCOLÉGIO NAVAL

Colégio Naval é sede da XLII NAE (281)CURSO

CFN conduz Curso de Formação de Fuzileiros Navais na Namíbia (281)ESPORTE

Arion, mascote dos Jogos Mundiais Militares Rio 2011, é apresentado ao público (281)Resultados esportivos (283)

FORÇAS ARMADASAVIAÇÃO NAVAL

Comandante da Marinha voa em aenorane AF-1A (287)Convênio entre a MB e a FAB para formação de pilotos (288)

MISSÃO DE PAZBrasil enviará militares ao Líbano (288)

OPERAÇÃO2o DN realiza Retrex LE-II (289)Apoio da Marinha às Forças de Segurança do Estado do Rio de Janeiro (290)Brasil, Índia e África do Sul realizam a Operação Ibsamar II (293)Operação Amazônia 2010 (294)Operação Formosa 2010 (296)

SUBMARINO NUCLEARSubmarino Nuclear (297)

MEIO AMBIENTELITORAL

Edital Costa Atlântica beneficia mais um projeto do Rio de Janeiro (302)

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206 RMB4oT/2010

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

PODER MARÍTIMOAGÊNCIA

Ecoagência Fluvial de Humaitá (303)Reforma e ampliação da Agência Fluvial de Cáceres (304)

ESPORTE E RECREIOSetor náutico confirma ascensão em Santa Catarina (304)

PORTOTerminal de contêineres de Paranaguá anuncia ampliação e compra (305)

SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃODCNS escolhida pela UE para programa em segurança marítima (306)

POLÍTICAPOLÍTICA NACIONAL

Política nacional de segurança de barragens (306)

PSICOSSOCIALASSISTÊNCIA SOCIAL

Bebê nasce a bordo do NAsH Oswaldo Cruz (307)Marinha apoia TSE nas eleições no Amazonas (307)

COMUNICAÇÃO SOCIALNPa Macaé chega ao RJ e divulga a Construção Naval Brasileira (308)

LANÇAMENTO DE LIVRO1910 – O fim da chibata – Vítimas ou algozes (309)Fronteiras Abertas (310)Segurança Internacional: Perspectivas Brasileiras (311)Série Sustentabilidade (316)Yatch Design (317)

RELAÇÕES INTERNACIONAISACORDO

Comandante da Marinha assina Acordo internacional (318)Inglaterra apresenta proposta ao governo brasileiro (319)

VALORESANTIGUIDADE

DPHDM realiza oficina em Natal (319)

VIAGENSVISITA

Mostrando nossa bandeira: Presidente do Chile visita a Corveta Barroso (320)

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RMB4oT/2010 207

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Presidida pelo secretário-geral da Mari-nha, Almirante de Esquadra João Afonso Pra-do Maia de Faria, foi realizada, em 29 de se-tembro último, a cerimônia de Ativação doCentro de Adestramento Almirante NewtonBraga (CAANB). A solenidade aconteceu noPátio Almirante Newton Braga, na Base deAbastecimento da Marinha no Rio de Janei-ro. Assumiu o cargo de diretor o Capitão deMar e Guerra (IM) Rogério Cirilo.

O CAANB, criado pela Portaria 86, de 15de março de 2010, do comandante da Mari-nha, está situado na Base de Abastecimen-to da Marinha do Riode Janeiro. Tem o pro-pósito de contribuirpara o aperfeiçoamentodo pessoal que exerceos serviços de inten-dência, contribuindopara a capacitação, soba supervisão técnica daDiretoria de Ensino daMarinha, nas áreas deconhecimento das Organizações MilitaresOrientadoras Técnicas (OMOT) do setor daSecretaria-Geral da Marinha (SGM), taiscomo: abastecimento, administração, con-tabilidade, controle interno, direito (aplica-do a licitações, contratos, tributos,patrimônio e direito financeiro), economia,finanças, orçamento, estatística e práticasde rancho, além das voltadas para gestão(de material; de sistemas aplicados a licita-ções, contratos, tributos e patrimônio; pú-blica; de projetos e do conhecimento).

Transcrevemos abaixo a Ordem do Diado secretário-geral da Marinha alusiva aoevento:

“Em cumprimento ao disposto na Porta-ria no 86, de 15 de março de 2010, do coman-

ATIVAÇÃO DO CENTRO DE ADESTRAMENTOALMIRANTE NEWTON BRAGA

dante da Marinha, realiza-se, na presentedata, a cerimônia de Mostra de Ativaçãodo Centro de Adestramento AlmiranteNewton Braga (CAANB).

Esta cerimônia conclui a materializaçãode um anseio do Corpo de Intendentes daMarinha, o que motivou a decisão do co-mandante da Marinha de criar uma organi-zação voltada para a manutenção e o aper-feiçoamento constante do conhecimentona sua área de atuação.

Na permanente busca pelo aprimoramen-to dos seus serviços, a Intendência neces-

sitava de uma organi-zação central para con-gregar os adestramen-tos, cursos e conclavesa serem oferecidos aosmilitares e servidorescivis da nossa Mari-nha. Com isso, fica aptaa captar o conhecimen-to gerado no âmbito dosetor da Secretaria-Ge-

ral da Marinha (SGM) e propagá-lo paratodas as OM da Marinha do Brasil, cola-borando em caráter complementar com asorganizações do Sistema de Ensino Naval.Deverá ser também instrumento de trocade experiências, informações e conhecimen-to com as demais Forças, nos moldes doSeminário de Comércio Exterior, que recen-temente realizamos.

O CAANB é parte da proposta dereestruturação organizacional do SetorSGM, que previa a criação de um Centro deAdestramento de Intendência da Marinha,decorrente de estudos conduzidos pela Di-retoria de Administração da Marinha, com oapoio e a orientação da Diretoria de Ensinoda Marinha. Tem como propósito aprimorar

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

a qualificação do pessoal que exerce os ser-viços de intendência, dando continuidadeao incremento dos conhecimentos técnico-profissionais dos militares e servidores ci-vis que atuam nessas áreas, com vistas àexcelência na qualificação do pessoal.

Foram reunidos, em um mesmo local, oscursos e adestramentos ministrados pelasDiretorias Especializadas de Intendência,visando à melhoria do atendimento das ne-cessidades das OM, empregando pessoalqualificado em técnicas de ensino e instala-ções apropriadas, a fim de contribuir para aampliação e aplicação do conhecimento. Avelocidade com que o mundo se modificaimpõe novos conceitos e métodos, e a exi-gência que a administração pública seja cadavez mais eficiente torna necessária a exis-tência de uma organização que mantenhapermanente acompanhamento dos assun-tos relacionados à gestão do conhecimentodo setor da Secretaria-Geral da Marinha.Tenho certeza de que tal iniciativa vai nostrazer, em curto prazo, resultadosauspiciosos no aprimoramento das compe-tências de nosso pessoal.

O nome do CAANB rende homenagemao Almirante de Esquadra Newton Bragade Faria, ilustre chefe naval que ingressouna Escola Naval em 1940, sendo promovi-do a oficial em 1944, a contra-almirante em1971 e a almirante de esquadra em 1979.

Em sua carreira, destacaram-se as se-guintes comissões:

– comandante do ContratorpedeiroParaná;

– comandante da Escola de Aprendizes-Marinheiros do Ceará;

– comandante do 2o Esquadrão deContratorpedeiros;

– comandante Naval de Natal;– diretor do Centro de Instrução Almi-

rante Graça Aranha;– diretor de Portos e Costas;– comandante do 1o Distrito Naval;

– comandante em chefe da Esquadra;– secretário-geral da Marinha; e– comandante de Operações Navais.Participou em Operações de Guerra no

Atlântico Sul durante a Segunda GuerraMundial e, como secretário-geral da Mari-nha, atuou de maneira inovadora em im-portantes áreas afetas aos setores de apoiologístico e gestão administrativa. E, nãoobstante as severas restrições impostaspela conjuntura da época, contribuiu so-bremaneira para a manutenção daoperacionalidade de nossos meios navais,aeronavais e de fuzileiros navais.

No momento em que ativamos este Cen-tro e acrescentamos um marco à atividadede capacitação do pessoal na Marinha, cum-pre-me conclamar aos componentes de suatripulação que se espelhem no exemplo des-te chefe naval, cuja brilhante carreira de-monstrou suas qualidades pessoais e pro-fissionais. Marcantes foram sua liderançaamiga, suave, porém firme; sua cultura pes-soal e profissional, que aplicava em suastarefas mas que, em função do seu tempera-mento simples, não as ostentava; o seu sin-cero carinho por seus subordinados e suasfamílias; o amor à Marinha e o seu desape-go à pompa e circunstância dos cargos queexerceu, voltado que era para servi-la.

Em seu período como secretário-geral,cercou-se de excelentes diretores subordi-nados e assessores que o ajudaram a in-troduzir, na Marinha, novos conceitos, prá-ticas e métodos. Fruto dessa fase extrema-mente feliz em sua carreira naval, passou adivulgar à Marinha como haviam crescidoo respeito e a admiração que tinha pelosoficiais, praças e servidores civis que com-punham o Setor SGM, por ter visto de per-to o admirável trabalho que produziam,baseado em tecnologia, forte base teóricae admirável flexibilidade intelectual para,cumprindo a legislação, alcançar e concre-tizar as metas da Marinha.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A recíproca foi a primeira homenagemao ser criado o Centro de Instrução Almi-rante Newton Braga, que, apesar de seupouco tempo de existência, deixou impor-tante contribuição às carreiras de váriosmilitares e civis do setor e da Marinha e, aoser desativado, deixou a semente que hojefloresce materializada no CAANB. Posteri-ormente, talvez não querendo que seunome se desvinculasse desta importanteárea para a Intendência da Marinha, o pá-tio onde nos encontramos recebeu a deno-minação de Pátio Almirante Newton Braga.

Ao diretor e à tripulação do CAANB ficao compromisso de se motivarem pelo exem-plo do Almirante Newton Braga, prestando“sempre o melhor serviço à Marinha”, pro-pósito de todos nós e que foi o seu farolnos dois anos em que desempenhou o car-go de secretário-geral da Marinha.

Cabe-me, como representante da famíliado Almirante de Esquadra Newton Bragade Faria, agradecer ao comandante da Ma-rinha, Almirante de Esquadra Julio Soaresde Moura Neto, a homenagem que hoje seconcretiza em um estabelecimento de ensi-no, onde serão capacitados os homens eas mulheres que conduzirão a Marinha emseu futuro, prosseguindo em sua secular einvicta existência de sucesso e realizações,associando o seu nome ao centro de exce-lência do setor que tanto orgulho e realiza-ções lhe deu.

Ao Centro de Adestramento AlmiranteNewton Braga desejo todo sucesso e êxitona singradura que ora se inicia. Seja muitobem-vindo ao Serviço Ativo! Bons ventose mares à feição!”

(Fonte: www.mar.mil.br e Bonos nos 673,de 22/9/2010, e 699, de 29/9/2010)

Em cerimônia nas dependências do Es-taleiro Ilha S.A (Eisa), no Rio de Janeiro-RJ, presidida pelo diretor-geral do Materialda Marinha, Almirante de Esquadra ArthurPires Ramos, foi batida a quilha do quartonavio-patrulha (NPa) da clas-se Macaé, o segundo a serconstruído por esse estaleiro.

A cerimônia marcou o efe-tivo início da construção donavio, decorrente do contratoassinado pela Diretoria de En-genharia Naval (DEN) e o Eisa.A nova embarcação deverá serincorporada à Armada em se-tembro de 2012.

A construção desse lote dequatro navios-patrulha de 500toneladas faz parte da conti-nuação do Programa de

BATIMENTO DE QUILHA DE MAIS UMNPa DA CLASSE MACAÉ

Reaparelhamento da Marinha e da buscado desenvolvimento da indústria nacionalde Defesa.

(Fonte: Bono no 651, de 15/9/2010 ewww.mar.mil.br)

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210 RMB4oT/2010

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi realizada em 24 de setembro último,em Fortaleza (CE), a Cerimônia de Recebi-mento, Batismo e Transferência para o Se-tor Operativo do Aviso de Patrulha(AviPa)Albacora. No mesmo dia e local, onavio foi incorporado à Marinha.

A cerimônia foi presidida pelo diretor-ge-ral do Material da Marinha, Almirante de Es-quadra Arthur Pires Ramos. Estiveram pre-sentes o comandante do 1o Distrito Naval(Rio de Janeiro-RJ), Vice-Almirante CarlosAugusto de Sousa; o comandante do 3o Dis-trito Naval (Natal-RN), Vice-Almirante AirtonTeixeira Pinho Filho; o diretor de Sistemas deArmas da Marinha, Vice-Almirante ElisTreidler Öberg; o comandante da 10a RegiãoMilitar (Fortaleza-CE), General de DivisãoHélio Chagas de Macedo Júnior; o coorde-nador do Programa de Reaparelhamento daMarinha, Contra-Almirante Afrânio de PaivaMoreira Júnior; e o diretor-presidente doInace, Antônio Gil Fernandes Bezerra.

Atracada ao píer, a nova embarcação re-cebeu o tradicional banho de champanhe,após o acionamento do dispositivo por suamadrinha, a Sra. Vera Lucia Afonso Ramos,esposa do Almirante de Esquadra ArthurPires Ramos.

Lançado ao mar em 9 de agosto último,o AviPa Albacora contribuirá nas ações

RECEBIMENTO, BATISMO E TRANSFERÊNCIA PARA OSETOR OPERATIVO DO AviPa ALBACORA

de patrulha e inspeção naval e deve tam-bém ser utilizado em manobras de reboquede embarcações de porte semelhante, emtarefas de busca e salvamento (SAR) e emapoio a operações de mergulho livre e au-tônomo, ao longo do litoral sob jurisdiçãodo Comando do 1o Distrito Naval.

O nome da embarcação é originário de umpeixe semelhante ao atum, encontrado em todaa costa brasileira, especialmente no Nordeste.O aviso de patrulha possui casco e superes-trutura construídos em alumínio, 22,80 metrosde comprimento e alcança uma velocidademáxima de 25 nós. A uma velocidade de 15nós, o navio tem autonomia de três dias e umraio de ação de 300 milhas náuticas (cerca de777 quilômetros). A sua tripulação é formadapor um oficial e cinco praças.

Trancrevemos abaixo as Ordens do Diado diretor-geral do Material da Marinha,Almirante de Esquadra Arthur Pires Ramos,e do comandante do 1o Distrito Naval, Vice-Almirante Carlos Augusto de Sousa, rela-tivas ao assunto.

PALAVRAS DO DIRETOR-GERALDO MATERIAL DA MARINHA

“Em cumprimento às tradições navais,ao término da edificação de um navio, é rea-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Palanque de autoridades durante a solenidade deincorporação do AviPa Albacora

lizada marcante cerimônia em que o meio ébatizado por uma madrinha e recebe seunome oficial, costume simbolizado com aquebra em seu costado de uma garrafad’água ou de licor, que representa sorte àvida do navio. Em seguida é lançado ao mar.

Na Marinha do Brasil, o passo seguinteao batismo é a incorporação, quando, pelaprimeira vez, é hasteado o Pavilhão Nacio-nal a bordo. A partir desse momento, suatrajetória passará a ser registrada em livropróprio, onde serão lançados os dados re-levantes e de interesse da vida de bordo.Em tempos passados, tais registros termi-navam com a frase ‘Deus Nos Guie’.

A decisão da Alta Administração Navalem adquirir, em 26 de dezembro de 2007, umlote de cinco avisos de patrulha, por meio decontrato celebrado entre a Empresa Gerencialde Projetos Navais (Emgepron) e a IndústriaNaval do Ceará (Inace), mostrou-se extrema-mente acertada, dando prosseguimento aoPrograma de Reaparelhamento da Marinha e,consequentemente, seguindo os ditames pre-vistos na Estratégia Nacional de Defesa, noque diz respeito à reestruturação da indústriabrasileira de material de defesa.

O recebimento do Aviso de PatrulhaAlbacora evidencia o sucesso da Inace nocumprimento de mais uma etapa na cons-trução dos avisos de patrulha paraa Marinha do Brasil. É, sem dúvi-da, mais uma prova de competên-cia e seriedade desse estaleiro que,hoje, é um dos líderes da constru-ção militar naval no Brasil.

O Aviso de Patrulha Albacora,após a sua incorporação, irá se uniraos meios do Comando doGrupamento de Patrulha Naval doSudeste para ser empregado em tare-fas de patrulha e inspeção naval, emáguas sob jurisdição nacional, deven-do também ser utilizado em manobrasde reboque de embarcações de porte

semelhante, além de realizar fainas de busca esalvamento (SAR) e dar apoio a operações demergulho livre e autônomo.

Nesta ocasião, em que entrego o Aviso dePatrulha Albacora ao Comando do 1o Distri-to Naval, não poderia deixar de registrar osmeus sinceros cumprimentos à Indústria Na-val do Ceará, à Empresa Gerencial de Proje-tos Navais e às Diretorias Especializadas,participantes ativas no processo de acaba-mento desse meio, bem como aos operários,homens e mulheres que tornaram este sonhouma realidade.

Aviso de Patrulha Albacora, que sejasrápido, lutador e que tenhas o teu valor re-conhecido, tal qual o peixe que te dá o nome,e que Deus permita, doravante, executar tuastarefas com eficácia, profissionalismo, ver-satilidade e confiança. Finalmente rogo aoSenhor dos Navegantes que te concedasempre bons ventos e mares tranquilos emtua singradura!

Bravo Zulu!”

PALAVRAS DO COMANDANTE DO1O DISTRITO NAVAL

“O Aviso de Patrulha Albacora é o quar-to da classe Marlim e o terceiro de cincoprevistos para total construção na Indús-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

tria Naval do Ceará (Inace). É a segundaembarcação da Marinha do Brasil a osten-tar esse nome. O primeiro foi o brigue-es-cuna de casco de madeira que se fez devela de Lisboa, no século XIX, com desti-no ao Rio de Janeiro e escala pela Bahia,sob o comando do Primeiro-TenenteHenrique José de Carvalho e Melo. Seunome de batismo faz referência a um peixe.O albacora é da família dos escombrídeos,semelhante ao atum e conhecido como oatum brasileiro. É um peixe de porte acimade mediano que habita na costa do Nor-deste, especialmente na Paraíba e no RioGrande do Norte. Formam cardumes quan-do jovens, solitários ou em pequenos gru-pos quando adultos. É oceânico, comumalém das 40 milhas náuticas e muito voraz,características essas que certamente serãoa marca registrada do AviPa Albacora.

Com o casco e superestrutura construídosem alumínio, apresenta um deslocamentopadrão de 45 toneladas, com acomodaçõesque permitem alojar dois oficiais e oito pra-ças. Navegando a velocidade de 15 nós, oraio de ação é de 300 milhas náuticas, comautonomia para três dias de mar. Sua perma-nência em operações poderá ser ampliada,quando empregado em conjunto com os de-mais navios do Grupamento de Patrulha Na-val do Sudeste, dos quais receberá apoio

logístico móvel. Em essência, deverá estarpronto para executar tarefas de Patrulha eInspeção Naval, em águas sob jurisdiçãonacional, podendo também ser utilizado emmanobras de reboque de embarcações deporte semelhante, além de realizar fainas debusca e salvamento (SAR) e dar apoio a ope-rações de mergulho livre e autônomo.

Além dessas tarefas, deverá estar apto aatuar nas demais atividades subsidiáriasatinentes à Marinha do Brasil, contribuindopara a salvaguarda da vida humana no mar,segurança do tráfego aquaviário e na pre-venção da poluição hídrica, no contexto dasatribuições do Grupamento de Patrulha Na-val do Sudeste. Assim, a incorporação doAviPa Albacora reveste-se de especial sig-nificado para o Comando do 1o Distrito Na-val, principalmente dadas as crescentes ati-vidades relacionadas à exploração petrolí-fera no mar, que tem significado expressivoe ampla concentração na região de nossaresponsabilidade no Sudeste do País.

Aviso de Patrulha Albacora! Seja bem-vindo ao Comando do 1o Distrito Naval.Bons ventos, mares tranquilos e que o Se-nhor dos Navegantes ilumine seus cami-nhos, o acompanhe e sempre proteja suassingraduras no porvir.”

(Fontes: Bono nos 677, de 21/9/2010; 682e 684, de 24/9/2010)

A Capitania Fluvial do Araguaia-Tocantins(CFAT) recebeu a Certificação na NormaABNT NBR ISO 9001:2008 na sua Divisão deEnsino Profissional Marítimo, após auditoriarealizada no período de 1o a 3 de setembropela BSI Brasil Sistemas de Gestão Ltda.

A certificação obtida pela CFAT é o re-sultado da dedicação, planejamento, pes-quisas, comprometimento com a melhoriacontínua e, acima de tudo, a busca pelasatisfação dos clientes, colocando-a no

CFAT RECEBE CERTIFICAÇÃO ISO 9001:2008

mesmo patamar dos melhores órgãos deexecução do Ensino Profissional Marítimo.

Tal conquista foi fruto dos investimen-tos em sua estrutura organizacional,remodelagem na metodologia de trabalhoe comprometimento da Alta Direção e doscolaboradores, atendendo a requisitos es-tabelecidos pela International MaritimeOrganization – IMO.

A Certificação afiança a qualidade dosserviços prestados pela CFAT na forma-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ção, qualificação e registro de aquaviários,bem como demonstra o aprimoramento naqualidade do atendimento ao público, con-tribuindo com a consolidação da imagem

positiva da Marinha do Brasil junto à soci-edade, em particular, na área de jurisdiçãoda Capitania.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Navio de Desembarque-Doca (NDD)Rio de Janeiro completou, em novembroúltimo, 20 anos de incorporação à Marinhado Brasil (MB).

Construído em Pascagoula, Mississipi(EUA), o navio (ex-USS Alamo) teve suaquilha batida em 11 de outubro de 1954 e foilançado ao mar em 20 de janeiro de 1956.Enquanto esteve a serviço da Marinha dosEstados Unidos da América, participou demissões relevantes, como os testes nuclea-res no Atol de Bikini, em 1957, e o resgate eapoio aos sobreviventes do terremoto noAlasca e do furacão em Guam, em 1962. En-tre as principais condecorações recebidas,destacam-se a Arleigh Burke, por ter sido onavio mais adestrado da Esquadra do Pací-fico, e os distintivos de Eficiência relativosao setor do Armamento e Máquinas.

Em 15 de agosto de 1990 foram inicia-dos os reparos com vistas à prontificaçãodo navio para a transferência para a Mari-nha do Brasil e, em 21 de novembro domesmo ano, na U.S. Naval Station de SanDiego, Califónia, foi realizada a Mostra deArmamento para sua incorpo-ração à MB.

O NDD Rio de Janeiro des-tina-se a transportar e lançarembarcações de desembarquee veículos anfíbios com suastripulações e tropa e efetuar odesembarque de pessoal e ma-terial por movimento helitrans-portado em operações anfíbiasem praias hostis. Tem como ta-refas subsidiárias prestar auxí-lio de docagem a pequenas em-

20 ANOS DE INCORPORAÇÃO DO NDD RIO DE JANEIRO

barcações em caráter de emergência e ser-vir como navio de controle principal devagas de embarcações anfíbias.

Desde sua incorporação, o NDD Rio deJaneiro tem se mostrado um meio de gran-de valor pela sua capacidade na manuten-ção do adestramento de militares em ope-rações anfíbias. O navio também pode ades-trar pessoal em operação de plantas a va-por, já que é um dos únicos três naviosremanescentes da Marinha com esse tipode propulsão, o que possibilitará a forma-ção de militares que futuramente poderãotripular os submarinos nucleares, cuja pro-pulsão contém similaridades importantescom as plantas a vapor.

Nos últimos dois anos, participou, en-tre outras, da comissão de apoio logísticoao contingente brasileiro da Missão dasNações Unidas para a Estabilização no Haiti(Minustah - Haiti VII); da operação de bus-cas ao avião acidentado da Air France (voo447) e das operações combinadas Laçadore Atlântico. No momento, se prepara paraparticipar da Operação Aderex-II/2010.

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214 RMB4oT/2010

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Representação Permanente do Brasiljunto à Organização Marítima Internacio-nal (RPB-IMO) completou, em 5 de novem-bro último, dez anos de atuação. O chefeda Representação, Almirante de Esquadra(RM1) Aurélio Ribeiro da Silva Filho, expe-diu a seguinte Ordem do Dia alusiva à data:

“A Representação Permanente do Bra-sil junto à Organização Marítima Internaci-onal (RPB-IMO) celebra hoje dez anos deatividades, reafirmando seu valor e suacondição ímpar, uma vez que não foi prece-dida por qualquer Organização da Marinhado Brasil com finalidade semelhante.

É o momento de recordarmos sua gênese eevolução e destacar algumas realizações des-te decênio, não sob a forma de um balançocompleto, mas uma síntese de sua singradura.

Desde a adesão do Brasil à Convençãosobre a Organização Marítima Internacio-nal (IMO), em 1963, foi mantida uma Repre-sentação Permanente, exercida pelo próprioembaixador brasileiro acreditado no ReinoUnido ou por outro embaixador especial-mente designado. Compunham esta Repre-sentação apenas diplomatas, e o apoio aotrabalho era provido por setores da Embai-xada do Brasil em Londres.

Embora a Marinha não tivesse a respon-sabilidade pela Representação, integralmen-te a cargo do Ministério das Relações Ex-teriores, passou a manter um representan-te, a partir de 1981, com o título de conse-lheiro para Assuntos Marítimos.

Após entendimentos entre o Ministériodas Relações Exteriores e a Marinha doBrasil, o Governo Federal decidiu transfe-rir a responsabilidade pela representaçãobrasileira na Organização Marítima Inter-nacional do Itamaraty para a Marinha. Foientão expedido o Decreto no 3.402, de 4 deabril de 2000 e, em consequência, nomeou-se o primeiro almirante como Representan-

ANIVERSÁRIO DA RPB-IMO

te Permanente do Brasil junto à Organiza-ção Marítima Internacional, por Decreto de22 de maio de 2000.

A 15 de agosto de 2000, o Almirante deEsquadra Mauro Cesar Rodrigues Pereirainiciou a ativação da Representação. A 12de setembro de 2000, apresentou a Carta deCredencial ao secretário-geral da IMO, jun-tamente com a carta de dispensa do embai-xador Sérgio Silva do Amaral, que exercia ocargo cumulativamente com o de embaixa-dor do Brasil junto ao Reino Unido. A 8 denovembro de 2000, foi, enfim, ativada a Re-presentação Permanente do Brasil junto àOrganização Marítima Internacional.

No período de dez anos de existência, vi-mos o Brasil ser reeleito para o Conselho daIMO por cinco vezes consecutivas (2001,2003, 2005, 2007 e 2009), o que reafirma acredibilidade e o reconhecimento de nossanação como uma peça-chave no trabalhoparlamentar da Organização, estando sem-pre presente nos debates de grandes temas,como Preservação do Meio Ambiente Marí-timo, Segurança Marítima e Salvaguarda daVida Humana no Mar, Reciclagem de Navios,Água de Lastro, Sistema de Acompanhamen-to de Navios Mercantes a Distância (LRIT),o Estabelecimento de Padrões de Treinamentode Marítimos e a Regulamentação de suasHoras de Repouso, e muitos outros acompa-nhados pela Representação, sempre cotejan-do a defesa dos interesses nacionais.

O espírito pioneiro é característica denossa Representação, uma tradição quevem do mar e coaduna-se com as ações deum Brasil cada vez mais atuante e madurono cenário internacional, um ator consci-ente de sua grandeza, expressa não só nostermos geográficos de sua imensa Amazô-nia Azul, mas no potencial de riqueza dassuas águas jurisdicionais. Neste sentido,podemos citar a Assinatura da Convenção

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

para o Controle e Gerenciamento da Águade Lastro e Sedimentos de Navios, a Ratifi-cação do Protocolo à Convenção para Su-pressão de Atos Ilícitos contra a Seguran-ça da Navegação (SUA) e a ativação doCentro Nacional de Dados do LRIT e suahomologação como Centro Regional. Ti-vemos a honra, ainda, de conceber e apoi-ar o evento paralelo ao Dia Marítimo Mun-dial, pela primeira vez no continente ameri-cano, realizado em Salvador no ano de 2007.

A RPB-IMO reafirma, neste decênio, ocompromisso de sua missão – a defesa per-manente dos interesses nacionais perantea Comunidade Marítima Internacional.Cabe, então, nesta data, enaltecer e reco-nhecer os esforços de seus chefes navais,os Almirantes de Esquadra Mauro CesarRodrigues Pereira, Sérgio Chagasteles,Mauro Magalhães de Souza Pinto, MiguelÂngelo Davena e Carlos Augusto SaraivaRibeiro. Muito me honra suceder a tão se-leto grupo de líderes.

Por dever de justiça, é preciso consignarque nada seria possível sem o fundamentalapoio de nossos parceiros: a Comissão Coor-denadora dos Assuntos da IMO (CCA-IMO)e sua Secretaria-Executiva (SEC-IMO), o Gru-po Interministerial e a Confederação Nacionaldos Trabalhadores em Transportes Aquaviárioe Aéreo, na Pesca e nos Portos (Conttmaf),que, em operação conjunta por meio de con-vênio com a Marinha do Brasil, se faz presenteno dia a dia de nossa casa por intermédio deseu representante desde 2002. Agradeço tam-bém o apoio das demais Organizações Milita-res da Marinha do Brasil, que interagem com anossa Representação, deixando de citá-laspara não cometer injustiça. Ressalto, ainda, a

valiosa contribuição recebida da Petrobras eda Companhia Vale do Rio Doce pelos comen-tários aos documentos da IMO e pela cons-tante presença dos seus representantes nassessões em Londres.

À Comissão Naval Brasileira na Europa(CNBE), o nosso especial agradecimentopelo indispensável apoio prestado e a sa-lutar convivência de nossas tripulações.Evidentemente, nada teria sido possívelsem o trabalho silencioso e dedicado dasnossas assistentes técnicas, responsáveispela preparação dos briefings para o re-presentante permanente, pavimentando ocaminho por meio dos statements que de-fendem nossa posição nas sessões da IMO.Por dever de justiça e em reconhecimentoà sua atuação, estão recebendo hoje o di-ploma e a medalha de Amigo da Marinhana cerimônia que será realizada a seguir,razão pela qual as cumprimento e agradeçopelo apoio prestado.

Finalmente, relembro os ensinamentosdo Almirante Alfred Thayer Mahan, estra-tegista naval norte-americano, segundo oqual “quem ganha as batalhas são os ho-mens e não os navios”, em alusão à peque-na e combativa tripulação da RPB-IMO, aquem exorto a manter o entusiasmo e ocompromisso do aprimoramento contínuo,de modo a estarmos todos preparados parasuperar os atuais e futuros desafios, con-tribuindo para elevar cada vez mais acredibilidade conquistada pelo nosso paísjunto à Comunidade Marítima Mundial.

Feliz aniversário, RPB-IMO, e parabénspelos dez anos de profícua existência.

Bravo Zulu!”(Fonte: Bono Especial no 796, de 5/10/2010)

Foi comemorado, em 11 de novembro últi-mo, o aniversário do armistício que pôs fim àPrimeira Guerra Mundial. Para lembrar a data,

ARMISTÍCIO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

o comandante de Operações Navais, Almi-rante de Esquadra Luiz Umberto de Mendon-ça, expediu a seguinte Ordem do Dia:

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

“O armistício que pôs fim à Primeira Guer-ra Mundial foi firmado há exatos 92 anos,em Rethondes, na França.

A Grande Guerra, iniciada como resulta-do de antagonismos crescentes entre asgrandes potências da época, eclodiu a pre-texto do assassinato do herdeiro do Impé-rio Austro-Húngaro em 1914, na Bósnia.Teve como atores principais a Tríplice Ali-ança – Alemanha, Áustria-Hungria e Itália– e a Tríplice Entente – França, Grã-Bretanha e Rússia –, além de países da Ásiae das Américas, entre estes os EstadosUnidos e o Brasil.

O Brasil declarou-se neutro ao início doconflito. No entanto, sem prévia manifes-tação, o Império alemão iniciou uma sériede ataques ao nosso tráfego marítimo. Em5 de abril de 1917, o navio mercante nacio-nal Paraná foi torpedeado e afundou nacosta ocidental francesa. A partir de então,foram torpedeados e afundados os naviosmercantes Tijuca, Lapa e Macau, este últi-mo em áreas distantes da costa brasileira,nas proximidades do Cabo Finisterra, cos-ta espanhola.

Em consequência desses atos, invoca-do pela sociedade brasileira, o governobrasileiro reconheceu e proclamou o esta-do de guerra contra o Império alemão em26 de outubro de 1917, alinhando-se àsnações da Tríplice Entente. Com isso, as-sumiu compromissos, dentre os quais des-tacamos a tarefa de patrulhar a área maríti-ma compreendida pelo triângulo Dakar-SãoVicente-Gibraltar, o que tornou necessárioaprestar e enviar uma força naval à costanoroeste da África. Como consequência,foi ativada a Divisão Naval em Operaçõesde Guerra (DNOG) em 30 de janeiro de 1918,constituída pelos cruzadores Bahia e RioGrande do Sul; contratorpedeiros Piauí,Rio Grande do Norte, Paraíba e SantaCatarina, Tênder Belmonte e RebocadorLaurindo Pitta.

Seu comandante, o Contra-AlmirantePedro Max Fernando de Frontin, oficial delarga experiência profissional demonstra-da nas suas comissões (desde o embarqueem veleiros aos comandos do Contratorpe-deiro Piauí, Cruzador Rio Grande do Sul,encouraçados Deodoro e São Paulo e Di-visão de Cruzadores), superou todos osdesafios encontrados, cabendo destacar,dentre eles: a prontificação para um longoperíodo de permanência no teatro de ope-rações, superando a carência de sobressa-lentes; a logística do carvão (combustívelempregado pelos meios à época); e o ades-tramento das tripulações, com o propósitode atuar em situação real de combate. ADNOG suspendeu do Rio de Janeiro emmaio de 1918, demandando Dakar, a fim deincorporar-se à Força Naval inglesa, a quemficaria subordinada.

A determinação do Almirante Frontin ede seus comandantes subordinados e o es-forço heroico das tripulações viabilizaram atravessia, visto que os navios, movidos acarvão, necessitavam ser reabastecidos nomar, conduzindo fainas insalubres e muitoperigosas. O ‘batismo de fogo’ de nossaforça naval ocorreu na véspera da chegadaa Dakar, quando, após um submarino ale-mão, sem sucesso, lançar um torpedo namarcação do Tênder Belmonte, foi detecta-do e atacado pelo lançamento de bombasde profundidade. Essa ação conduzida peloContratorpedeiro Rio Grande do Norte foiexitosa, fato confirmado, posteriormente,pela Marinha britânica. Os inimigos daDNOG não foram apenas as forças navaisda Tríplice Aliança, mas também a gripe es-panhola, que assolava Dakar. Esse episódiomais uma vez destacou a capacidade de su-peração de nossas tripulações que, mesmoatingidas pela epidemia, valendo-se de ho-mens ainda em convalescença, guarnece-ram seus postos e viabilizaram a operaçãodos navios, permitindo com isso que a nos-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

sa força realizasse o patrulhamento da áreaque lhe foi atribuída.

Com o armistício de 11 de novembro de1918, termina a guerra e se encerra a mis-são da nossa Divisão Naval em Operaçõesde Guerra, o trabalho de aviadores navaise médicos no teatro europeu. Seus lega-dos são exemplos de patriotismo e abne-gação, marcados pelo sacrifício da vida dedez oficiais e 146 praças.

Hoje, inspirados na imagem do Reboca-dor Laurindo Pitta, um veterano da DNOG,que ainda singra altivo as águas da Baía de

Guanabara, renovamos nosso preito de gra-tidão aos marinheiros do passado e o com-promisso de que, se necessário, inspiradosem sua bravura, estaremos prontos a atuarem defesa de nosso país e sua liberdade.

Que a venerável memória dos marinhei-ros da Divisão Naval em Operações deGuerra mantenha-se acesa em nossos es-píritos, balizando o moral dos homens emulheres integrantes da Marinha do Brasilde hoje e de sempre.”

(Fonte: Bono Especial no 813, de11/11/2010)

Foi comemorado, em 5 de outubro últi-mo, o Dia da Criação da Força Naval doNordeste (FNNE). Por ocasião da data, ocomandante de Operações Navais, Almi-rante de Esquadra Luiz Umberto de Men-donça, expediu a seguinte Ordem do Dia:

“Há exatos 68 anos, pelo Aviso no 1.661,de 5 de outubro de 1942, era criada a ForçaNaval do Nordeste. O momento histórico erao da Segunda Guerra Mundial, inicialmentelimitada ao continente europeu, mas que ra-pidamente se espalhou por todos os ocea-nos, incluído o Oceano Atlântico, por suaimportância estratégica para os beligerantes.

De início o Brasil manteve-se neutro emrelação ao conflito, só reorientando suaposição após o ataque realizado por forçasjaponesas ao Arquipélago do Havaí, em 7de dezembro de 1941, quando declarou suasolidariedade aos Estados Unidos da Amé-rica na reação ao covarde ato de agressão.

Assim, em janeiro de 1942, cerca de ummês após o ataque, o governo brasileiro, aten-dendo aos reclames da opinião pública, aban-donava sua postura de neutralidade rompen-do relações diplomáticas e comerciais com ospaíses do eixo, Alemanha, Itália e Japão, e ali-nhando-se aos países aliados. Em razão dessa

DIA DA CRIAÇÃO DA FORÇA NAVAL DO NORDESTE

atitude, a nossa Marinha Mercante passou asofrer ataques de submersíveis alemães aolongo de todo o nosso litoral, ocasionandoafundamentos e a perda de mais de 600 vidas,entre seus tripulantes e passageiros.

Esta continuada agressão levou maisuma vez à escalada da crise já instalada, e oBrasil ao estado de guerra contra as potên-cias do Eixo.

No ato da declaração de guerra, a Marinhado Brasil possuía insipientes conhecimentossobre doutrina de guerra antissubmarino, bemcomo insuficiência de meios adequados a con-duzi-la, pois só dispúnhamos de navios rema-nescentes da Esquadra de 1910, que não dis-punham dos modernos sonares e armamen-tos antissubmarinos.

Era uma mudança de paradigma a ne-cessidade de engajamento da Marinha doBrasil em uma guerra predominantementecontra submarinos.

Somente com o suporte político-militardos Estados Unidos da América pudemosdar início a uma reestruturação da nossaforça com o propósito de adequar-nos ànova situação de conflito. Inicialmente emdecisão conjunta na Comissão Mista deDefesa Brasil-Estados Unidos, foi estabe-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

lecida a criação de um Comando Naval úni-co responsável por conduzir as operações,o Comando da Força do Atlântico Sul, cujocomando foi atribuído ao Almirante JonasH. Ingram, e em sequência a Força Navaldo Nordeste – FNNE, a ele subordinada.

Não tardou então a ser aprovada peloCongresso norte-americano a Lend and leaseAct – Lei de Empréstimos e Arrendamento –,que permitiu nos fossem transferidos naviosmodernos e transmitida doutrina de opera-ções imprescindíveis para condução de nos-sas ações no mar, consequentementeviabilizando o cumprimento de nossa tarefade proteção ao tráfego marítimo.

Assim estava posto mais um desafio ànossa Marinha. A necessidade de operarnovos meios e disseminar sua doutrina deemprego era uma atividade extremamente di-fícil e ficaria a cargo da nossa Força Naval doNordeste. Para comandá-la exigia-se a pre-sença de um homem de fibra e autêntico che-fe naval, o então Capitão de Mar e GuerraAlfredo Carlos Soares Dutra, posteriormentepromovido a contra-almirante, cujos atribu-tos de liderança e profissionalismo, aliados àsua habilidade, foram essenciais para a supe-ração dos obstáculos a serem ultrapassadosna prontificação de uma força naval que sóglórias e vitórias trouxe à Marinha, conformenossa história comprova.

Inicialmente constituída pelos cruzadoresBahia e Rio Grande do Sul; navios mineirosCarioca, Caravelas, Camaquã e Cabedelo –posteriormente reclassificados como corvetas;e caça-submarinos Guaporé e Gurupi, maistarde a ela se incorporaram o Tênder Belmonte,novos caça-submarinos, contratorpedeiros deescolta, contratorpedeiros Classe M e subma-rinos Classe T para constituírem a Força-Tare-fa 46 da Força do Atlântico Sul, responsávelpor realizar o maior esforço operacional no mar,naquele momento tendo como suas principaistarefas realizar patrulha antissubmarina nosportos brasileiros e efetuar a escolta de com-

boios nas derrotas Trinidad-Bahia-Trinidad,bem como no trecho dessa derrota para Belém.

Dentre essas missões, destaca-se a es-colta dos transportes americanos GeneralMahn e General Meig, que conduziram aForça Expedicionária Brasileira – FEB – paraos campos de batalha na Itália. Sob prote-ção da FT 46, foram realizados 575 comboi-os, o que garantiu a atracação segura emseus portos de destino de mais de 3.100navios. Para isso muito se fez e muito tra-balharam verdadeiros marinheiros que, comseus sangue e suor, escreveram páginasde abnegação e heroísmo no cumprimentodo dever, entre eles 486 com o sacrifício daprópria vida.

Assim a Força Naval do Nordeste escre-veu sua história, nos legando magnífico exem-plo de superação sustentado no elevado es-pírito de seus navios e na busca incansáveldo cumprimento de sua missão, exemplosesses que ainda prevalecem como fundamen-tais no preparo de nosso Poder Naval.

Essas razões me levam à convicção deque, ao comemorarmos hoje a criação daForça Naval do Nordeste, devemos fazê-lorendendo homenagem a todos aqueles bra-vos e dedicados marinheiros que a inte-gravam, alguns aqui presentes, que, comamor à Marinha, coragem e perseverança,superando as adversidades, defenderamcom valentia nossa Pátria, assegurando aexistência de um mundo mais justo e livre.Que o valoroso exemplo de nossos mari-nheiros da Força Naval do Nordeste nãose apague de nossas mentes, orientandohomens e mulheres que hoje integram aMarinha em sua conduta no cumprimentode sua missão.

Sua bravura nos faz lembrar a guerra e,ao nos encher de orgulho, nos projeta odever de estarmos prontos a atender à de-fesa de nossa Pátria.”

(Fonte: Bono Especial no 714, de 5 deoutubro de 2010)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O comandante da Marinha instituiu odia 10 de outubro como o Dia do Inativo.A data, que será comemorada a partir de2011, foi criada como forma de reconheci-mento aos militares e servidores civis ina-tivos da Marinha, que ao longo de suasvidas contribuíram para a construção e ofortalecimento da imagem institucionalperante a sociedade, e cujos legados semantêm ativos e perenes para a Força. Essadata foi escolhida por ter sido o dia dapromulgação do Decreto 49.096/1960, queaprovou o Regulamento da Lei de Pen-sões Militares.

DIA DO INATIVONa comemoração, serão realizados even-

tos socioculturais para os inativos, em âmbi-to nacional, com a prestação de serviços derecadastramento e de identificação. Tambémhaverá execução de programas de saúde e deassistência social, incluindo palestras relaci-onadas ao Serviço Integrado de Atendimen-to Domiciliar (Siad), aos Centros de Convi-vência e ao Banco de Oportunidades.

O evento constará do Plano de Comuni-cação Social da Marinha/2011, contendoas Organizações Militares envolvidas e res-pectivas atribuições.

(Fonte: Bono no 725, de 8/10/2010)

Foi comemorado, em 13 de dezembro últi-mo, o Dia do Marinheiro. Na ocasião, o Presi-dente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,enviou mensagem à Marinha do Brasil.

MENSAGEM DO PRESIDENTE DAREPÚBLICA

“É com grande satisfação e orgulho queme dirijo, mais uma vez, aos integrantes daMarinha do Brasil para apresentar os cum-primentos pelo Dia do Marinheiro.

A Nação se orgulha de todos vocês que,incansavelmente, se dedicam ao desenvol-vimento e ao emprego de um Poder Navalvoltado à defesa dos interesses do País emsuas águas jurisdicionais.

Hoje lembramos o nascimento, em 1807, doAlmirante Joaquim Marques Lisboa, o Mar-quês de Tamandaré, Patrono de nossa Mari-nha. Brasileiro incomum, deu provas de abne-gação, coragem e amor à Pátria em uma carrei-ra de mais de 70 anos. E, por suas relevantesparticipações na Guerra da Independência enas demais campanhas do período imperial,foi consagrado Herói da Pátria no dia 13 dedezembro de 2004.

DIA DO MARINHEIRONa atualidade, o cenário mundial é bem

diferente daquele do século XIX. As diver-gências de fronteiras, no nosso continente,já foram equacionadas há muito tempo. Orelacionamento com nossos vizinhos é regi-do pela paz e a cooperação, concretizadasem parcerias sólidas e virtuosas. Vivemos emprofunda estabilidade democrática e ninguémcontesta nossa independência e nossa so-berania.

Nos últimos anos, o Brasil vem ganhan-do destaque cada vez maior no cenário in-ternacional. Nossa economia cresce,estamos superando desigualdades histó-ricas e conquistamos uma voz cada vez maisativa entre as nações.

Vivemos um momento de grande eufo-ria com as descobertas das reservas depetróleo e gás da camada pré-sal, fontesfundamentais de energia e riqueza que con-solidarão um longo ciclo de desenvolvi-mento para nosso país.

Ainda não conhecemos totalmente aextensão do imenso patrimônio que aindaestá guardado em nossa ‘Amazônia Azul’.E por isso mesmo é imprescindível contar-mos com uma Marinha adequadamente

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equipada, com efetivo poder de dissuasãoe presente nos mais distantes pontos denosso mar e águas interiores.

No decorrer deste ano, acompanhei osesforços efetuados para finalizar o proces-so de manutenção e modernização do Na-vio-Aeródromo São Paulo, com o objeti-vo de restabelecer a sua capacidade opera-cional, em conjunto com os demais meiosda Esquadra.

Acompanhei também o constante apri-moramento científico e tecnológico daMarinha do Brasil, com ênfase no desen-volvimento do Prosub – o programa quedará ao País a capacidade de projetar e cons-truir submarinos de propulsão nuclear. E oPrograma Nuclear da Força, que inclui aconcepção de um reator capaz de gerarenergia nucleoelétrica. O conhecimento eas tecnologias decorrentes desses doisprogramas irão beneficiar toda a socieda-de brasileira.

A instituição também está envolvida emoutros projetos de pesquisa, como oProárea, que tem o intuito de identificar eavaliar a potencialidade mineral de regiõeslocalizadas além das 200 milhas marítimasda Zona Econômica Exclusiva; o Proantar,importante incentivador do desenvolvi-mento científico no continente antártico; eo Leplac, que possibilitará o aumento daextensão de nossa plataforma continental.

Além disso, o Aviso de Pesquisa Aspi-rante Moura – que funcionará como umlaboratório embarcado, voltado para as ci-ências do mar – foi recentemente incorpo-rado à Armada, graças a uma parceria como Ministério da Ciência e Tecnologia.

Dentre as muitas ações da Marinha quetanto me orgulharam, destaco a ativa e lou-vável participação de nossos marinheirosno apoio às vítimas dos terremotos no Haitie no Chile, contribuindo para amenizar a dore o sofrimento de milhares de famílias queperderam seus lares e seus entes queridos.

Nessas ocasiões, os senhores e as se-nhoras levaram para os povos irmãos omesmo auxílio e a mesma solidariedade quenunca negaram aos brasileiros que moramem comunidades distantes ou enfrentamsituações de catástrofes.

Como Comandante Supremo das For-ças Armadas, tenho a grande honra de rea-firmar minha confiança e minha admiraçãopor essa instituição exemplar. Estou certode que o Brasil poderá contar, em todos osmomentos, com a total cooperação dessaForça nas suas diversas áreas de atuação.

Que os exemplos do Almirante Tamandaréestejam sempre presentes na memória dosmarinheiros, fuzileiros navais e servidorescivis, continuando a nortear os rumos daMarinha do Brasil.

Parabéns a todos!”

ORDEM DO DIA DO COMANDANTEDA MARINHA

O comandante da Marinha, Almirantede Esquadra Julio Soares de Moura Neto,emitiu a seguinte Ordem do Dia sobre adata.

“Hoje unimo-nos a diversos segmentosda sociedade para prestarmos uma justa ho-menagem àqueles que, no passado e no pre-sente, seguem se doando, diuturnamente,para garantir os interesses nacionais no mare nas águas interiores, simbolizados pelo‘marinheiro’, representando todos os homense mulheres, militares e civis, que labutam in-cansavelmente em nossa instituição.

Com essa visão, é justo relembrar eenaltecer uma destacada personalidade, oAlmirante Joaquim Marques Lisboa, oMarquês de Tamandaré, que traduz, com anotoriedade de sua biografia, todo essesentimento. Dotado de incontestes quali-dades, ele tem um lugar de honra junto aosque contribuíram para preservar a nossaintegridade política e territorial.

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Com uma trajetória de atos de bravura eabnegação, iniciada em 1822, aos 15 anos deidade, teve participação decisiva na Guerrada Independência e na Campanha Cisplatina.

Durante a Regência, tomou parte ativana pacificação de diversas insurreições: aSetembrada, em 1831; a Abrilada, em 1832;a Balaiada, entre 1838 e 1841; além dorestabelecimento da ordem na Província doPará, em 1835.

No Segundo Reinado, já como almiran-te, atuou na Guerra da Tríplice Aliança,comandando as unidades navais na Toma-da de Paissandu e organizando a linhalogística necessária para a manutenção dasembarcações que atuavam muito distantede sua sede.

Em 1925, em consideração à sua vidaexemplar, o 13 de Dezembro foi instituídocomo Dia do Marinheiro, homenageando-o em sua data natalícia e alçando-o a nossoPatrono. Em 13 de dezembro de 2004, foiconsagrado como Herói da Pátria.

Repassar os seus feitos e exemplos devesuscitar nos cidadãos reflexões no sentidode que todos têm um papel relevante a de-sempenhar perante a Nação, contribuindopara torná-la cada vez melhor. Na atualida-de, inspirados pelo espírito que dele emana,buscamos construir um Poder Naval à altu-ra de nossas responsabilidades institucio-nais. Nesse sentido, ressalto algumas açõesque demonstram essa postura.

Prossegue o esforço para a moderniza-ção e a obtenção de novos meios, poden-do ser citadas algumas conquistas:

– a prontificação da Corveta Barroso,de projeto e construção autóctones, quedemonstrou um excelente desempenho emsua primeira longa viagem, visitando por-tos da África;

– a incorporação à Armada do Navio-Patrulha Macau, de 500 toneladas, segun-do da classe Macaé e que contribuirá parapotencializar as ações de presença, vigi-

lância, proteção e defesa da nossa área deresponsabilidade;

– a aquisição, em parceria com o Minis-tério da Saúde, do Navio de AssistênciaHospitalar Soares de Meirelles, que sededicará à nobre missão de levar o apoiomédico às populações ribeirinhas; e

– a chegada ao Brasil do primeiro heli-cóptero EC 725, UH-15 Super Cougar.

Com os olhos voltados para o futuro elevando em conta as orientações da Estra-tégia Nacional de Defesa, seguimos empe-nhados em construir uma Força capaz deproteger o patrimônio brasileiro.

Destaco os esforços que vêm sendo em-preendidos para sermos dotados, medianteum acordo governamental, de unidades desuperfície, incluindo fragatas, navio de apoiologístico e navios-patrulha oceânicos.

Deve ser priorizado o Sistema deGerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz),ferramenta vital para o monitoramento e a vi-gilância de nossas águas jurisdicionais.

Além disso, julgo fundamental darcontinuidade à construção de navios-pa-trulha de 500 toneladas, garantindo a suapresença permanente junto às bacias pe-trolíferas mais importantes.

Por oportuno, gostaria de salientar osavanços do Prosub. Em maio último, foiiniciada a construção do primeiro submari-no convencional, com a participação efeti-va de nossos operários, e começaram asobras do estaleiro e da base em Itaguaí.Friso também que um grupo de engenhei-ros já se encontra na França, realizando oscursos e estágios destinados a capacitá-los a projetar e construir no Brasil o sub-marino de propulsão nuclear.

A concretização de um projeto dessa mag-nitude significará a prova inconteste dapotencialidade tecnológica brasileira e o for-talecimento de nossa capacidade dissuasória.

Finalmente, na busca permanente davalorização do nosso pessoal, foram con-

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cedidas, recentemente, as últimas parcelasdo reajuste salarial estabelecido em 2008, oqual, mesmo estando aquém das necessi-dades, minimizou as dificuldades financei-ras e contribuiu para reduzir a acentuadadefasagem em relação às outras carreirasde Estado. Ademais, continuam as obrasde revitalização do Hospital Marcílio Dias,a expansão da Odontoclínica Central e aconstrução da Policlínica de Niterói.

Marinheiros, fuzileiros navais e servi-dores civis!

Exorto-os uma vez mais a renovarem oentusiasmo e a perseverança para que, ins-pirados em nosso Patrono, continuemos,juntos, a envidar os maiores esforços nadireção do aperfeiçoamento da Marinha,buscando torná-la suficientemente forte,aprestada e preparada para a defesa da so-berania em nossas águas.

Aos agraciados com a Medalha MéritoTamandaré, cujas cerimônias de imposiçãoestão ocorrendo nos diversos Distritos Na-vais e no exterior, transmito os meus cumpri-mentos pelos relevantes serviços prestados,motivo pelo qual obtiveram o justo reconhe-cimento, e concito-os a fortalecer a mentali-dade marítima junto à sociedade, ressaltan-do a devida importância da ‘Amazônia Azul’para um país predestinado a ser grande e re-conhecido no cenário internacional.”

(Bonos nos 899 e 900, de 10/12/2010)

HOMENAGEM DO CONGRESSONACIONAL

A Marinha do Brasil foi homenageada,no dia 9 de dezembro, em uma sessão sole-ne, no Congresso Nacional, para celebrar oDia do Marinheiro, comemorado em 13 dedezembro, data de nascimento do AlmiranteJoaquim Marques Lisboa, o Marquês deTamandaré, Patrono da Marinha do Brasil.

Militares da Marinha, do Exército Brasi-leiro e da Força Aérea Brasileira lotaram o

Plenário da Câmara dos Deputados. Entreas autoridades militares presentes estavamo Comandante da Marinha, Almirante deEsquadra Julio Soares de Moura Neto; oChefe do Estado-Maior da Armada, Almi-rante de Esquadra Luiz Umberto de Men-donça; o Secretário de Ensino, Logística,Mobilização, Ciência e Tecnologia do Mi-nistério da Defesa, Almirante de EsquadraGilberto Max Roffé Hirschfeld; o Generalde Exército José Elito Carvalho Siqueira; eo Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica,Tenente-Brigadeiro do Ar João ManoelSandim de Rezende. O Deputado FederalMarco Maia (PT-RS), 1o secretário da Câ-mara dos Deputados, presidiu a sessão.

Durante a sessão, o Senador Acir Gurgacz(PDT-RO) destacou a presença da Marinhana desocupação do tráfico no Complexo doAlemão, no Rio de Janeiro. “Esse trabalhode apoio às Forças de Segurança merecenossa admiração”. Entre os desafios futu-ros, ele citou o papel a ser desempenhadopela Marinha na proteção das riquezas dopré-sal. “O futuro guarda uma importância euma missão ainda mais grandiosa, referenteà necessidade da guarda e da defesa dasplataformas de petróleo do pré-sal, a defesado que hoje a Marinha de Guerra já chamaacertadamente de Amazônia Azul”, afirmouo autor do requerimento para a homenagem,realizado, também, a pedido da DeputadaFederal Rebecca Garcia (PP-AM).

As ações sociais da Marinha no apoioàs populações ribeirinhas e somente aces-síveis por via fluvial, como as da Amazô-nia, foram citadas como uma das importan-tes contribuições ao País. Mereceu tam-bém registro a participação da Marinha emmissões de paz no exterior, lideradas pelaOrganização das Nações Unidas.

Discursaram em homenagem à Marinhado Brasil os Deputados Federais Marco Maia(PT-RS), Paes De Lira (PTC-SP), Aldo Rebelo(PcdoB-SP) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Como parte das comemorações pelo Diado Marinheiro, celebrado em 13 de dezem-bro, a Diretoria do Patrimônio Histórico eDocumentação da Marinha (DPHDM) pro-moveu, no dia 12, uma série de atividadesculturais, educativas e recreativas no Es-paço Cultural da Marinha (ECM), no Riode Janeiro.

A programação constou de visita guia-da ao circuito expositivo “30 Anos da Mu-lher Militar na Marinha”, Navio-MuseuBauru, Submarino-Museu Riachuelo, He-licóptero Rei do Mar e Nau dos Descobri-mentos; passeio marítimo no RebocadorLaurindo Pitta; visita à Ilha Fiscal; apre-sentação da peça teatral “O Passeio Mági-co”, do projeto Conhecendo e Brincandono ECM; Oficina de Nós; e pescaria comdistribuição de brindes.

O Comando Geral do Corpo de Fuzilei-ros Navais integrou-se ao evento com ex-posição de material militar, incluindo o Car-ro Anfíbio (JipAnf) e visita ao Museu doCorpo de Fuzileiros Navais, situado naFortaleza de São José. Já o Comando daForça de Fuzileiros da Esquadra, o Coman-do da Divisão Anfíbia e o Batalhão de Ope-rações Especiais expuseram mostruário erealizaram atividades lúdicas.

DIA DO MARINHEIRONO ESPAÇO CULTURAL DA MARINHA

O Comando do Pessoal do Corpo deFuzileiros Navais e o Centro de InstruçãoAlmirante Silvio de Camargo (Ciasc) pro-moveram apresentação da Banda do Ciasc.A educação para a saúde também não foiesquecida, com orientações sobre higienebucal e prevenção de problemas odontoló-gicos, a cargo da Diretoria de Saúde daMarinha. A Base de Adestramento Almi-rante Castro e Silva expôs material relacio-nado ao adestramento e atividades de mer-gulho, e o Centro de Educação Física Almi-rante Adalberto Nunes fez apresentação deeducação física e dos atletas da Marinhado Brasil que farão parte dos Jogos Olím-picos Militares.

A Diretoria de Ensino da Marinha ficouencarregada da distribuição dos folhetosinformativos “Como ingressar na Marinha”e também da Escola Naval. As criançaspuderam tirar fotografias em painéis vaza-dos com motivos navais e participar de ofi-cina de pintura, atividades supervisiona-das pelo Serviço de Seleção de Pessoal daMarinha. Já o Centro de Comunicação So-cial da Marinha exibiu clips da Canção doMarinheiro e sobre a Amazônia Azul. OGrupo de Escoteiros do Mar também parti-cipou da programação.

Foi realizado no Centro de Instrução Al-mirante Graça Aranha (Ciaga), Rio de Janei-ro-RJ, em 23 de setembro último, a cerimôniacomemorativa do Dia Marítimo Mundial, pre-sidida pelo comandante da Marinha, Almi-rante de Esquadra Julio Soares de MouraNeto. Durante a cerimônia, o presidente doCentro de Capitães da Marinha Mercante,Capitão de Longo Curso Álvaro José de

DIA MARÍTIMO MUNDIAL

Almeida Junior, leu a mensagem do secretá-rio-geral da Organização Marítima Mundial(IMO), Efthimios Elias Mitropoulos.

Em sua Ordem do Dia, o diretor de Portose Costas, Vice-Almirante Leal Ferreira,enfatizou a importância da formação de no-vos oficiais da Marinha Mercante do Brasilem seus cursos no Ciaga e no Centro deInstrução Almirante Braz de Aguiar (Ciaba).

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

enalteceu a homenagem feita a todos osmarinheiros mercantes, destacando o valore a importância da Marinha Mercante.

Transcrevemos abaixo a Ordem do Diado diretor de Portos e Costas:

“Os que têm o mar como profissão sen-tem por ele uma atração que fascina, seja pelabeleza, seja pelo respeito que inspira. Essessentimentos são comuns a toda uma comu-nidade de bravos que enfrentam diretamentea inconstância das ondas, unidos pela labu-ta constante ao sol, ao sal e às intempéries,bem como pelas atitudes de solidariedade,universais entre todos os marinheiros.

Ao mesmo tempo que nos sensibiliza, des-pertando profundas emoções, o mar represen-ta um desafio àqueles que nele operam, exigin-do esforço, resistência, conhecimento e umcriterioso uso das informações e recursos dis-poníveis para superar as adversidades.

Ainda durante a cerimônia, o comandan-te da Marinha fez aposição floral no bustode Irineu Evangelista de Souza, o Viscondede Mauá, Patrono da Marinha Mercante,acompanhado do presidente da Transpetro,José Sérgio de Oliveira Machado, e do pre-sidente do Sindicato Nacional das Empre-sas de Navegação Marítima (Syndarma),Hugo Pedro de Figueiredo.

Na sequência, foi inaugurado o Memorialem Homenagem aos Mortos da MarinhaMercante na Segunda Guerra Mundial, como descerramento da placa pelo comandanteda Marinha, acompanhado pelo presidentedo Centro dos Capitães da Marinha Mer-cante e pelo Coronel (RM) Antônio FragaEsteves, sobrinho do primeiro militar daMarinha Mercante morto na Segunda Guer-ra Mundial. Em seu discurso, o Almirante deEsquadra Julio Soares de Moura Neto

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Experimentamos hoje notável desenvol-vimento do nosso tráfego marítimo. Maisde 95% do volume do comércio exterior doPaís é realizado pelo mar e mais de 85% detodo o nosso petróleo é extraído da plata-forma continental. A descoberta de novasjazidas de petróleo e gás na camada do pré-sal possibilitou a alocação de grandes in-vestimentos em estaleiros, voltados para aconstrução de navios petroleiros e de apoiomarítimo. O crescimento da navegação deinteresse nacional também se reflete positi-vamente no nosso transporte de cabotagem,contribuindo em muito para a ampliação danossa frota de porta-contêineres.

Destaca-se também o significativo cres-cimento da navegação interior em nossasprincipais bacias hidrográficas, decorren-te do aumento verificado nas nossas ex-portações, particularmente no que se refe-re às commodities.

Fazendo parte desse cenário, a Autori-dade Marítima Brasileira acompanha o cres-cimento que vem ocorrendo na navegaçãoem nossa Amazônia Azul e está preparadapara atender à demanda gerada com o in-cremento previsto pelo transporte de pe-tróleo e seus derivados, pela contínua evo-lução da navegação de apoio marítimo, pelaexpansão do comércio exterior, pelo pro-missor aumento da frota pesqueira, bemcomo pelo rápido desenvolvimento de nos-sa navegação interior.

Assim sendo, veio a ser muito apropria-da e oportuna a proposta da OrganizaçãoMarítima Internacional (IMO) para o temadas comemorações do Dia Marítimo Mun-dial deste ano – “2010: Ano do Marítimo”–, conforme mensagem do secretário-geralda IMO, que acabamos de ouvir.

Consciente da importância da navegaçãopara o desenvolvimento nacional, a Marinhado Brasil vem adotando uma série de medidasvisando a aumentar a capacidade de formaçãode oficiais da Marinha Mercante nos nossos

Centros de Instrução – o Ciaga e o Ciaba – ,bem como no sentido de aprimorar a forma-ção, o aperfeiçoamento, a atualização e o ades-tramento dos profissionais que conduzemnossas riquezas pelos mares do mundo.

As obras de modernização dos Centrosde Instrução, que vêm sendo realizadas como apoio da Petrobras e da Agência Nacio-nal do Petróleo, permitem antever para bre-ve o aumento significativo do número deoficiais da Marinha Mercante a ser forma-do a cada ano, atendendo às necessidadesde pessoal da Comunidade Marítima e àcrescente demanda por profissionaisespecializados nas novas tecnologias em-pregadas nos navios.

Além disso, outras medidas tomadas nosentido de aumentar a capacidade de for-mação de oficiais dos nossos Centros deInstrução já estão surtindo o efeito deseja-do. A nossa expectativa é que, neste ano,ocorrerá um aumento de 25% do númerode praticantes-alunos formados em relaçãoa 2009 e que em 2011 ocorra um acréscimode 87% em relação a 2009.

Ainda na área do Ensino ProfissionalMarítimo (EPM), alcançamos em 2009 umexpressivo incremento na oferta de cursosde formação e capacitação de aquaviários.Além disso, a obtenção das CertificaçõesISO 9001:2008 pelos setores do EPM doCiaga, do Ciaba e de várias Capitanias dosPortos comprova o acerto de uma políticade qualidade voltada para o aprimoramentocontínuo da formação da mão de obraaquaviária. Trabalhando em parceria comdiversos órgãos representativos da Comu-nidade Marítima, a Diretoria de Portos eCostas alterou, neste ano, as Normas da Au-toridade Marítima para o Uso de Uniformesda Marinha Mercante, instituindo o distin-tivo de comodoro como forma de reconhe-cimento do mérito alcançado pelos capitãesde longo curso durante o desenvolvimentode suas carreiras. Durante esta solenidade,

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serão entregues os distintivos de comodoroaos dois primeiros capitães de longo cursoindicados pelo Centro dos Capitães da Ma-rinha Mercante a esta Diretoria, o Capitãode Longo Curso Francisco Cesar MonteiroGondar e o Capitão de Longo Curso RobertoLuiz do Nascimento, aos quais transmito osmeus efusivos cumprimentos.

Com o propósito de enaltecermos a me-mória da Marinha Mercante brasileira, bemcomo expor aos jovens alunos da Escola deFormação de Oficiais da Marinha Mercantedo Ciaga exemplos dignos de lembrança,como a do conferente de carga José Francis-co Fraga, que faleceu a bordo do Navio Mer-cante Taubaté em 22 de março de 1941, devi-do ao ataque de um avião alemão, será inau-gurado, logo após o encerramento desta ce-rimônia, o Memorial em Homenagem aosMortos da Marinha Mercante na Segunda

Guerra Mundial. Esse Memorial permitirá tam-bém lembrar à Nação os atos de bravura edeterminação perpetrados pelos valorososmarinheiros da nossa Marinha Mercante.

É, pois, com satisfação que me congratu-lo com todos os membros da ComunidadeMarítima aqui presentes, bem como com oshomens e mulheres que exercem atividadesno mar e nas nossas águas interiores, con-tribuindo para o desenvolvimento da Na-ção brasileira. Expresso os meus cumprimen-tos aos senhores pela data e apresento osmeus agradecimentos pelas suas presenças.

Por fim, não poderia deixar de destacara honrosa presença do comandante daMarinha, que preside esta cerimônia, Au-toridade Marítima Brasileira, que bem re-trata a importância deste evento.”

(Fonte: www.mar.mil.br e Bono Especialno 677, de 23/9/2010)

Foi comemorado, em 6 de novembro úl-timo, o Dia Nacional do Amigo da Mari-nha. Na ocasião, o comandante da Mari-nha, Almirante de Esquadra Julio Soaresde Moura Neto, enviou a seguinte mensa-gem às Sociedades dos Amigos da Mari-nha (Soamar) de todo o Brasil:

“É com orgulho, satisfação e gratidãoque a Marinha do Brasil exalta e parabeni-za todos homens e mulheres pertencentesàs Soamar pelo transcurso do Dia Nacio-nal do Amigo da Marinha.

Tendo origem com a criação, em 1972,da Associação Santista dos Amigos da Ma-rinha (Asam), as Soamar congregam hojemais de 14 mil membros, em 54 associações(além de uma entidade nacional, a Soamar-Brasil) localizadas em diversos pontos donosso território.

Sua atuação tem sido de inestimável va-lor na imprescindível tarefa de fomentar a

DIA NACIONAL DO AMIGO DA MARINHA

tão necessária mentalidade marítima, quebusca ressaltar a importância de estarmoscada vez mais atentos aos assuntos relaci-onados ao mar e às nossas baciashidrográficas.

Um país como o nosso, possuidor deum litoral de 8.500 km, com uma área maríti-ma de 4,5 milhões de km2, que costumamoschamar de “Amazônia Azul”, e contandocom 40 mil km de rios navegáveis, necessi-ta de uma Marinha forte, bem equipada ebem adestrada, à altura de sua projeçãopolítico-estratégica no cenário internacio-nal e capaz de garantir a sua soberania e osseus interesses. Dentro desse enfoque,ressalto o trabalho dedicado, despretensi-oso, voluntário e muito significativo dosnossos amigos que, diuturnamente, bus-cam aproximar a Força da sociedade brasi-leira, em prol da qual desenvolvemos to-dos os nossos esforços.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A data de 6 de novembro, Dia Nacional doAmigo da Marinha, é também muito significa-tiva, pois marca o aniversário de nascimentodo Almirante de Esquadra Maximiano Eduar-do da Silva Fonseca, ex-ministro da Marinha epatrono das Soamar, sendo uma justa home-nagem àquele insigne chefe naval, possuidorde uma reconhecida visão de futuro e de uminegável empreendedorismo, e que foi o gran-

Para comemorar o Dia da Criança, o Es-paço Cultural da Marinha, no Rio de Janei-ro, promoveu, em 9 e 10 de outubro último,uma programação especial que incluiu des-de apresentação de jipe anfíbio até brinca-deiras com atletas olímpicos militares. Oevento, organizado pela Diretoria doPatrimônio Histórico e Documentação daMarinha (DPHDM), contou com o apoiode várias outras organizações militares daMarinha.

ESPAÇO CULTURAL COMEMORA O DIA DA CRIANÇA

de incentivador da consolidação e ampliaçãodas Soamar em nível nacional.

Estimados soamarinos e soamarinas!Recebam o profundo reconhecimento detodos os marinheiros, fuzileiros navais eservidores civis pelo belo trabalho que re-alizam em prol da Marinha e do Brasil! Nóslhes agradecemos. Sejam muito felizes!”

(Fonte: Bono no 795, de 5/11/2010)

operativos e históricos. Houve tambémapresentação da sua Banda de Música. Aárea de Medicina Operativa, responsávelpelas ações de saúde nas missões de apoiohumanitário em situações de desastre, jun-to com a equipe de Odontologia, fez simu-lações de resgate, primeiros-socorros e

As ações foram montadas para expor asdiversas atividades e carreiras dentro daMarinha, de forma dinâmica, curiosa eeducativa e com muita brincadeira e músi-ca. Entre as atividades programadas, osFuzileiros Navais intercalaram a exibiçãodo jipe anfíbio com um bate-papo sobre osequipamentos que utilizam nas operaçõesespeciais e exposição dos materiais

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palestras educativas, e os mergulhadoresministraram aulas sobre tudo o que envol-ve a atividade de mergulho, explicando emostrando seus equipamentos.

Já a Comissão de Desportos da Marinhaparticipou do evento com uma série de brin-cadeiras envolvendo as crianças e os atle-tas de diversas categorias que participarãodos Jogos Mundiais Militares em 2011.

Além dessas ações, o Espaço Culturalda Marinha manteve os passeios à Ilha Fis-cal, as apresentações de teatro infantil e asatividades da oficina de recreação, que fa-zem parte das programações normais doEspaço Cultural.

Foi realizada, em 23 de novembro últi-mo, a cerimônia oficial de abertura das co-memorações dos 50 anos (Jubileu de Ouro)da Estação Rádio da Marinha em Brasília(ERMB). Estiveram presentes autoridadescivis e militares, além de ex-comandantes eimediatos. Na ocasião, foi lançado o livrocomemorativo e selo personalizado Jubi-leu de Ouro da ERMB.

Como parte das comemorações, acon-teceu, em 27 de novembro último, a I Corri-da Cross Country Jubileu de Ouro daERMB. Os percursos foram realizados nastrilhas das instalações daquela Organiza-ção Militar.

Outro evento esportivo comemorativodos 50 anos da ERMB foi o Torneio de Fu-tebol de Campo Jubileu de Ouro da ERMB,com a participação dos times do Centro deInstrução e Adestramento de Brasília(Ciab), Centro de Inteligência da Marinha(CIM), Clube Naval de Brasília, ERMB, Po-lícia Militar do Distrito Federal, Polícia Ro-doviária Federal, Universidade Estadual deGoiás (Unidade de Luziânia) e Secretaria

JUBILEU DE OURO DA ERMB

Nacional de Segurança Pública. Sagrou-secampeã a equipe da Polícia Militar do Dis-trito Federal.

A Estação Rádio da Marinha em Brasília(ERMB) foi criada pelo Decreto no 49.324,de 23 de novembro de 1960, para ser a Esta-ção Central do Serviço Fixo da Marinha doBrasil. Entretanto, as primeiras transmissõesforam realizadas em abril de 1960 a partir deum prédio da Caixa Econômica Federal(CEF), e em maio do mesmo ano a ERMBiniciou provisoriamente suas atividades.

Devido ao aumento do tráfego de men-sagens e à atribuição de novas tarefas,surgiu a necessidade da construção denovas instalações, passando a ERMB aoperar na atual sede a partir de 13 de no-vembro de 1985.

Em junho de 1987, a ERMB assumiu afunção de estação rádio principal do servi-ço fixo da Marinha do Brasil (MB) e pas-sou a operar a Rede Naval Interamericanade Telecomunicações (RNIT), a Rede Luso-Brasileira e a Rede Operativa da Marinha(Reomarinha).

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A missão da ERMB, conforme a Portariano 0023 de 2003, do Comando de OperaçõesNavais, é proporcionar comunicações entreas OM da Marinha do Brasil ou entre estase outras organizações de interesse da MB,pela operação das redes e circuitos do Sis-tema de Comunicações da Marinha(Siscom); cumprir e fiscalizar a doutrina, as

normas, os procedimentos e as demais ins-truções de comunicações vigentes na MB,em suas jurisdições, a fim de contribuir parao pleno exercício do comando pelas autori-dades navais, o controle das comunicaçõesnavais e as atividades de Inteligência da MB.

(Fontes: Bono no 795, de 5/11/2010,www.cdm.mar.mil.br e www.ermb.mb)

A Secretaria-Geral da Marinha promo-veu, em 1o de setembro, a palestra “Práti-cas de offset no âmbito da Marinha do Bra-sil – síntese histórica, situação atual e pers-pectivas”, proferida pelo coordenador doOrçamento da Marinha, Contra-Almirante(IM) Anatalicio Risden Júnior. O offset é aprática, geralmente utilizada por um gover-no, de obter compensações de fornecedo-res estrangeiros pela compra de bens e ser-viços de vulto.

O evento foi realizado no auditório doComando do 7o Distrito Naval, em Brasília,para um público de cerca de 120 pessoas,entre oficiais e servidores civis das Orga-nizações Militares sediadas na capital doPaís. De acordo com o secretário-geral daMarinha, Almirante de Esquadra João Afon-so Prado Maia de Faria, que proferiu as

SECRETARIA-GERAL DA MARINHA DIFUNDE O CONCEITODE OFFSET NA FORÇA

palavras finais do encontro, o propósitoprincipal foi conscientizar o público inter-no da importância do tema para a Marinha.

O offset pode ser definido como toda equalquer prática compensatória acordadaentre as partes, como condição para a im-portação de bens e serviços, com a inten-ção de gerar benefícios de natureza indus-trial, tecnológica ou comercial ao importa-dor. É uma prática bastante comum nas re-lações comerciais internacionais, tendo emvista os ganhos embutidos que, eventual-mente, conseguem ser superiores aos dosvalores dos contratos negociados entre aspartes. A prática consta hoje, inclusive,como cláusula obrigatória em contratos queenvolvem valores superiores a 5 milhõesde dólares, realizados pela Marinha.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O combate à insegurança no País passaobrigatoriamente pela ampliação da presen-ça da Receita Federal do Brasil (RFB) nasfronteiras. Essa é uma das conclusões doestudo Fronteiras Abertas, apresentado emoutubro último aos representantes do go-verno federal, parlamentares, autoridades

FRÁGIL FISCALIZAÇÃO NAS FRONTEIRAS

1 N.R.: As Forças Armadas não participaram do referido estudo.

das áreas de segurança pública e comércioexterior, governos dos estados fronteiriçose representantes de setores produtivos daeconomia nacional. O estudo foi produzi-do pelo Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil(Sindireceita).1

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Durante dez meses, uma equipe percor-reu mais de 15 mil km de rodovias federaise estaduais, estradas vicinais e rios quemarcam a fronteira do Brasil com Uruguai,Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Colôm-bia, Venezuela, Guiana, Suriname e GuianaFrancesa. “Nesses pontos, caminhões car-regados com carvão, madeira, bebidas eprodutos agrícolas entram no Brasil diaria-mente, sem passar por nenhuma fiscaliza-ção. Em veículos leves, motoristas tambémaproveitam a fragilidade no controle na fron-teira para transitar livremente. Embarcaçõescruzam rios que marcam as fronteiras brasi-leiras nas regiões Norte, Centro-Oeste eSul sem serem fiscalizados”, constatou oestudo.

Para cobrir uma extensão de mais de 16,8mil quilômetros de fronteiras com essespaíses, a Receita Federal do Brasil mantém31 postos aduaneiros, distribuídos pelosestados do Rio Grande do Sul, SantaCatarina, Paraná, Mato Grosso do Sul,Mato Grosso, Acre, Rondônia, Amazonas,Amapá e Roraima. Nessas unidades, o efe-tivo de servidores é de 596 funcionários,245 auditores fiscais e 351 analistas-tribu-tários, um número considerado baixo peloSindireceita. Esse contingente representa3% da força de trabalho da Receita Fede-ral, que atualmente conta com cerca de19.600 servidores – 12.300 auditores fis-cais e 7.300 analistas-tributários.

Segundo a legislação brasileira, a ReceitaFederal tem a precedência sobre os demaisórgãos no controle aduaneiro, ou seja, cabeprioritariamente à RFB e seus servidores con-trolar a entrada, a permanência, a movimenta-ção e a saída de pessoas, veículos e merca-dorias de portos, aeroportos, pontos de fron-teira e recintos alfandegados, ou o embarquee desembarque de viajantes procedentes doexterior ou a ele destinados.

A própria Receita Federal admite quepara atender somente às 31 inspetorias se-

riam necessários 1.032 servidores, sendo380 auditores e 652 analistas-tributários.Nesses postos de controle, o deficit deanalistas-tributários passa de 70%, confor-me estudo da Subsecretaria de GestãoCorporativa (Sucor) e da Coordenação-Ge-ral de Gestão de Pessoas (Cogep) da Re-ceita Federal.

Algumas conclusões do estudo paraampliação do controle aduaneiro são:

– ampliação do quadro atual de servi-dores para atuar especificamente na áreaaduaneira;

– ampliação do número de postos adua-neiros nas fronteiras e nas estradas quedão acesso aos países vizinhos;

– estabelecimento urgente de outorgalegal aos analistas-tributários da ReceitaFederal da área aduaneira para porte de armade fogo visando à defesa funcional e pes-soal (quanto a este item, ressalte-se que,mesmo após o cumprimento de seus expedi-entes de trabalho, os servidores ficam sujei-tos a ameaças e retaliações de fiscalizadose, principalmente, do crime organizado);

– inserção da Receita Federal naabrangência do art. no 144 da ConstituiçãoFederal, que trata da segurança pública,pois faz-se necessário que o órgão tenhatambém prerrogativas especiais para fazerfrente à pirataria, à lavagem de dinheiro, aonarcotráfico e a outras ações requintadasdo crime organizado; e

– desenvolvimento de estudos para acriação, no âmbito da Receita Federal, deum corpo de agentes especializados, comcaracterísticas de polícia, para atuar na vi-gilância ostensiva de instalações aduanei-ras e mercadorias, acompanhamento emtrânsitos aduaneiros e apoio tático policialno combate e repressão ao contrabando,descaminho e outros ilícitos que possamocorrer na área aduaneira.

(Fonte: Press release da Assessoria deComunicação do Sindireceita)

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Foi inaugurada, em 4 de novembro últi-mo, a nova sede do Centro de Análise deSistemas Navais (Casnav), no Edifício 23,localizado nas dependências do Arsenal deMarinha do Rio de Janeiro (AMRJ). Comuma área de 5.200 m² distribuídos no tér-reo, parte do 3o pavimento e os novos 5o e6o andares que foram construídos sob otelhado do edifício 23, a nova área otimizaráo aproveitamento do espaço disponível,sem alteração de sua fachada. As instala-ções dispõem de auditório e salas adequa-damente projetadas para o efetivo doCasnav, com sistema de ar condicionadocentral, energia estabilizada e moderna redede distribuição de dados. A obra teve iní-cio em novembro de 2008.

O Núcleo do Centro de Análises de Sis-temas Navais, que completou 35 anos deexistência neste ano, foi criado para funci-onar, inicialmente, na antiga Diretoria deComunicações e Eletrônica da Marinha.Pouco depois, o Casnav passaria a funcio-nar nas dependências da Escola de GuerraNaval, até ser transferido, em junho de 1995,para o 3o andar do edifício 8 do AMRJ, ondeocuparia uma área de 1.700 m².

A partir do primeiro desafio, lançado em1975, que foi a avaliação do desempenhooperacional e otimização do emprego dasfragatas classe Niterói, o Casnav, nas dé-cadas seguintes, ampliou a atividade de

INAUGURAÇÃO DA NOVA SEDE DO CASNAV

Avaliação Operacional para outros meios,como aeronaves, submarinos e sistemas dearmas dos fuzileiros navais, e estendeu suaatuação para outras áreas de competência,tais como a simulação de guerra naval, sis-temas de comando e controle, sistemas deapoio à decisão, sistemas administrativoscorporativos e desenvolvimento de recur-sos criptográficos.

Nesse processo de evolução, o Casnavtransformou-se em uma Organização Mili-tar Prestadora de Serviços de Ciência eTecnologia (OMPS-C), passando a ser res-ponsável pela sua autossustentabilidade;formalizou, com a Secretaria-Geral da Mari-nha, o Contrato de Autonomia de Gestão,adotando um modelo de gestão contempo-râneo, com metas estratégicas a serem atin-gidas; certificou seus processos finalísticospela norma ISO 9001:2008; obteve o nívelG pelo método MPS.BR, na qualidade deseus produtos de software; e alcançou aclassificação, na faixa bronze, do Prêmiode Qualidade do Governo Federal, nosanos de 2004, 2005, 2007 e 2010.

A produção tecnológica do Casnav au-mentou de 12 projetos em 2003 para 45 nes-te ano, atendendo a Marinha do Brasil eoutros órgãos e instituições do País e em-pregando cerca de 250 militares, servido-res civis e assessores especializados.

(Fonte: Bono Especial no 794, de 4/11/2010)

Foi concluída a execução do primeiroprojeto do programa “A Praça é Sua”, derevitalização de praças públicas pela Pre-feitura do Rio de Janeiro. A Praça Marinhado Brasil, localizada em Botafogo, Zona Sul

PRAÇA MARINHA DO BRASIL É REVITALIZADANO RIO DE JANEIRO

do Rio, foi entregue ao Comando do 1o Dis-trito Naval (Com1oDN) pela Secretaria deConservação e Serviços Públicos, em umacerimônia realizada no dia 27 de outubroúltimo.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Representação do Comando do 1o DistritoNaval na cerimônia de entrega da praça

Secretário de Conservação e Serviços Públicos (dir.),presidente da Rio Luz (esq.) e representante doCom1oDN descerram a placa alusiva ao evento

A Banda do Grupamento de FuzileirosNavais do Rio de Janeiro e uma represen-tação do Com1oDN compareceram à sole-nidade, que também contou com as pre-senças do secretário de Conservação eServiços Públicos da Prefeitura do Rio deJaneiro, Carlos Roberto Osório, e do presi-dente da Rio Luz, Henrique Pinto.

Além da limpeza, pintura, instalação derefletores e recuperação do mobiliário ur-bano do local, a gerência responsável pe-

los reparos ainda fará a limpeza do monu-mento em homenagem ao AlmiranteTamandaré, Patrono da Marinha do Brasil.

No programa de revitalização de praçasestão previstas, ainda, ações de conscien-tização junto à população para mostrar aimportância do cuidado com os espaçospúblicos.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Foi realizada, em 30 de novembro últi-mo, nas instalações da Indústria Naval doCeará (Inace), Fortaleza-CE, a cerimônia deBatismo e Mostra de Armamento do Na-vio-Patrulha Macau. O comandante daMarinha, Almirante de Esquadra Julio Soa-res de Moura Neto esteve presente comvárias outras autoridades e a senhora Ali-ce Martha Chaves Rodrigues Pereira (es-posa do Almirante de Esquadra MauroCesar Rodrigues Pereira, ex-ministro daMarinha), foi a madrinha do navio. Na oca-sião, assumiu o comando do Macau o Ca-pitão de Corveta Mauricio do NascimentoPinto.

NAVIO-PATRULHA MACAU É INCORPORADOÀ MARINHA DO BRASIL

Em construção desde 2007 pelo Inace, oNavio-Patrulha Macau recebeu este nomeem homenagem à cidade do litoral potiguar,famosa por suas salinas e pela produçãode petróleo. O navio teve seu batimento dequilha realizado em 17 de julho de 2007 e éo segundo de uma nova classe de navios-patrulha em construção. Utilizou-se o pro-jeto do navio-patrulha francês classe Vigi-lante 400 CL54, que foi alterado e aperfei-çoado, incorporando desenvolvimentostecnológicos e melhorias no desempenho.

Sua construção faz parte de um estudorealizado pela Marinha do Brasil em novem-bro de 2005 para a construção de uma nova

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

classe de navios-patrulha que realiza,prioritariamente, fiscalização das ÁguasJurisdicionais Brasileiras (AJB), atividade depatrulha, inspeção naval e salvaguarda davida humana no mar, contribuindo para asegurança do tráfego marítimo nacional edefesa dos interesses estratégicos do Bra-sil. A tripulação do navio é composta por 34militares, sendo quatro oficiais e 30 praças.

O navio tem as seguintes características:Comprimento total – 55,6 mBoca máxima – 8,0 mCalado máximo – 2,5 mDeslocamento – 500 tSistema de propulsão – 2 MCP MTU

16V 4000 M90Geração de energia – três grupos die-

sel-geradores MTUVelocidade maxima – 21 nósRaio de ação a 15 nós – 2.500 MNAutonomia – 10 diasArmamento – 1 canhão 40mm L70 (AOS)

e 2 metralhadoras 20mm GAM B01-2Operações aéreas: capacidade de ope-

rar com aeronaves em fainas de recebimen-to de cargas e de pessoal.

O chefe do Estado-Maior da Armadaexpediu a seguinte Ordem do Dia:

“Fruto do Programa de Reaparelhamen-to da Marinha e em cumprimento ao dis-

posto na Portaria no

411, de 10 de novembrode 2010, do comandan-te da Marinha, realiza-mos, hoje, a Mostra deArmamento do Navio-Patrulha Macau, con-forme preconizado naOrdenança Geral para oServiço da Armada.

A escolha da deno-minação Navio-Patru-lha Macau é uma justahomenagem ao Municí-pio de Macau, localiza-

do em região salineira do Rio Grande doNorte, na várzea terminal do Rio PiranhasAçu, e distante 180 km de Natal. O nome“Macau” é originário da corruptela da pala-vra Chinesa “A-ma-kao”, que significa “Por-to de Ama”, a deusa dos navegantes. Im-pulsionado pela grande produção de sal ma-rinho, o então povoado de Macau foi cres-cendo e, no dia 2 de outubro de 1847, tor-nou-se Município do Rio Grande do Norte.

O Navio-Patrulha Macau, construído noEstaleiro Inace (Indústria Naval do Ceará),cujo batimento de quilha ocorreu em 17 dejulho de 2007, é o primeiro navio da Mari-nha do Brasil a ostentar este nome e, embreve, estará patrulhando o setor nordestede nossa imensa Amazônia Azul.

Possuidor de tão significativo nome, comcerteza, este segundo integrante da novaclasse de Navios-Patrulha, que paulatina-mente começa a ser incorporada à Marinha,terá, aos moldes da promissora cidade demesmo nome, uma importante participaçãono processo de desenvolvimento de nossoPaís, seja na geração de empregos durantesua construção e nos períodos de manuten-ção, bem como na proteção de nossas águasjurisdicionais que, com as recentes desco-bertas ocorridas na camada pré-sal, se tor-nam cada vez mais cobiçadas.

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Nesse contexto, teremos intensificadasnossas ações de patrulha naval, fiscaliza-ção do tráfego aquaviário em águas cos-teiras e oceânicas, além do aumento da ca-pacidade de Busca e Salvamento (SAR),ao longo da extensa área sob a responsa-bilidade do Brasil.

O Navio-Patrulha Macau atuará na áreamarítima sob jurisdição do Comando do 3o

Distrito Naval, compreendendo o litoral doEstado do Ceará até Alagoas, bem como aárea marítima correspondente aos arquipéla-gos de Fernando de Noronha, de São Pedroe São Paulo e Atol das Rocas, ficando subor-dinado diretamente ao Comando doGrupamento de Patrulha Naval do Nordeste.

Neste especial momento em que, comalegria, começamos a ver concretizar-semais uma etapa do nosso programa dereaparelhamento, congratulo-me com os

tripulantes desse brioso navio, formulan-do ao comandante, oficialidade e guarni-ção votos de saúde, sucesso e felicidadesno cumprimento de suas futuras missões eos exorto a manter em elevado patamar osvalores, princípios e tradições dos homensdo mar, na certeza de que a atual e as futu-ras tripulações terão pleno êxito na execu-ção de sua nobre tarefa. Cumprimento, ain-da, o Estaleiro Inace pelo empenho comque conduziu este projeto, permitindo aconstrução, mais uma vez, em territórionacional, de um excelente navio para aMarinha do Brasil.

Navio-Patrulha Macau, bons ventos emares tranquilos! Que Nosso Senhor dosNavegantes o proteja em todas as suascomissões!”

(Fontes: Bono no 853, de 25/11/10, e Cen-tro de Comunicação Social da Marinha)

O Estaleiro Ilha S/A (Eisa) lançou ao mar,em 25 de outubro último, o navio Log-InJatobá, um porta-contêiner de 218 metrosde comprimento e com capacidade máximade 2.700 contêineres de 20 pés. Esse é osegundo navio da Log-In lançado peloEisa, de um total de cinco porta-contêinerese dois graneleiros.

LANÇAMENTO DO LOG-IN JATOBÁ

O Presidente da República, Luiz InácioLula da Silva, participou da cerimônia de lan-çamento do porta-contêiner, no Rio de Janei-ro, sendo a madrinha do navio a primeira-dama, Marisa Letícia Lula da Silva. O Presi-dente, na ocasião, comentou sobre areativação da indústria naval, com a geraçãode empregos, e a importância do transporte

de cargas por via marítima.As características do Jatobá

são semelhantes às do Jaca-randá, lançado em maio último.Os 2.700 contêineres de 20 pésserão armazenados em seus po-rões de carga com 271 cavernasem seus 218 metros de compri-mento, 29,8 m de boca, alturatotal acima da quilha de 51,5 m ecalado de 11,6 metros. O núme-ro total de acomodações é para30 pessoas.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Em 2010, foram totalizados 132 projetosde construção nos estaleiros brasileiros, in-cluindo rebocadores, plataformas, empur-radores, navios e outros, o que deixa os esta-leiros nacionais com sua capacidade máxima.O Eisa atualmente emprega direta e indireta-mente cerca de 3 mil pessoas.

Devido ao grande numero de naviosprogramados para serem construídos na

carreira do Eisa, atualmente o controle dequalidade conta com um grupo próprio deaproximadamente 30 inspetores técnicos eengenheiros, todos capacitados a respon-der e resolver qualquer situação diante dosclassificadores da Lloyd’s, ABS e armado-res da Log-In.

(Fonte: Marcelo Sá, inspetor de UltraSom N. II do Eisa, por e-mail)

Foi realizada na Estação Naval do RioNegro, Manaus-AM, em 23 de novembroúltimo, a Mostra de Armamento do Naviode Assistência Hospitalar (NAsH) Soaresde Meirelles.

A solenidade contou com a presença docomandante da Marinha, Almirante de Es-quadra Julio Soares de Moura Neto. Na oca-sião, a Diretoria-Geral do Material da Mari-nha transferiu o navio para o setor do Co-mando de Operações Navais. Assumiu o co-mando do NAsH Soares de Meirelles o Ca-pitão de Corveta Rubinei dos Santos Silva.

ORDEM DO DIA DO CHEFE DOEMA

A seguir, transcrevemos a Ordem do Diado chefe do Estado-Maior daArmada (EMA), Almirante deEsquadra Marcus Vinicius Olivei-ra dos Santos, sobre a Mostrade Armamento:

“Em cumprimento ao dispos-to na Portaria no 431, de 17 denovembro de 2010, do coman-dante da Marinha, e conformeprevisto no artigo 1-3-1 da Orde-nança Geral para o Serviço daArmada, se realiza, na presentedata, a Mostra de Armamento do

MOSTRA DE ARMAMENTO DONAsH SOARES DE MEIRELLES

Navio de Assistência Hospitalar (NAsH)Soares de Meirelles.

A aquisição do navio foi motivada pelanecessidade de ampliar, de forma quantitati-va e qualitativa, a capacidade de prover oatendimento médico-odontológico e o apoiosanitário em geral às populações ribeirinhasda região amazônica, tarefas essas executa-das há anos, fruto de parceria entre a Mari-nha do Brasil e o Ministério da Saúde.

Será empregado em conjunto com ou-tros três ‘Navios da Esperança’, como ca-rinhosamente são conhecidos na região osnavios que já realizam Assistência Hospi-talar (Asshop): navios de assistência hos-pitalar Oswaldo Cruz, Carlos Chagas eDoutor Montenegro. Atuam em todos osrios navegáveis dos estados do Acre, Ama-

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zonas, Pará, Rondônia, Roraima e Amapá,atendendo cerca de 500 localidades,contabilizando, anualmente, mais de 150 milprocedimentos ao ano, nas mais variadasvertentes, tais como: vacinação, exameslaboratoriais, palestras sobre higidez físicae saúde bucal, orientações às gestantes eoutros assuntos não menos importantes.

O navio teve seu início de construçãoem 2004, pela empresa W. A. Companhia eTransporte e Navegação Ltda, tendo ocor-rido sua primeira viagem em 5 de outubro de2008. Ostentava o nome Ludovico Celani eera empregado, pela mesma empresa que oconstruiu, como embarcação de passagei-ros e carga no trecho Tefé-Manaus. Foramrealizados no navio, até agora, pequenasalterações estruturais e serviços simples,existindo a previsão de um futuro períodode conversão, para uso pela Marinha doBrasil. É hoje incorporado à Armada comonavio de 3a Classe, ficando subordinado aoComando da Flotilha do Amazonas, exibin-do o indicativo de costado U-21.

A escolha da denominação Soares deMeirelles é uma justa homenagem ao Dr.Joaquim Cândido Xavier Soares deMeirelles, nascido em 5 de novembro de1797, que foi cirurgião-mor da Armada, po-lítico brasileiro e médico de Dom Pedro I eDom Pedro II. Foi o fundador, idealizador eprimeiro presidente da Sociedade de Me-dicina do Rio de Janeiro (hoje AcademiaNacional de Medicina) e realizou doutora-do em Medicina Cirúrgica pela Faculdadede Medicina de Paris. Foi médico do Servi-ço de Saúde do Exército Brasileiro, chefiouo Corpo de Saúde da Armada Imperial en-tre 1849 e 1868, notadamente por ocasiãoda Guerra do Paraguai. Foi patrono e mem-bro titular da Cadeira Número 1 da Acade-mia Nacional de Medicina e patrono da Ca-deira Número 28 da Academia Brasileira deMedicina Militar. Destacou-se também nasseguintes ações: exigência de vacinação

antivariólica no pessoal dos navios, quar-téis e hospitais; recomendação de profilaxiade doenças venéreas e sifilíticas; manifes-tação contrária a castigos corporais e máalimentação do pessoal dos navios; e de-fesa da criação de uma Escola de Ginásticae Natação para desenvolver o físico dosrecrutas admitidos como grumetes. Foi oprimeiro médico da Corte a tratar da lepra.Merecidamente, foi, posteriormente, esco-lhido como patrono do Corpo de Saúde daMarinha do Brasil.

Neste especial e solene momento, comorgulho e alegria, expresso ao comandan-te, oficialidade e guarnição do Soares deMeirelles votos de felicidades em suas fu-turas comissões e de pleno êxito em suanobre e relevante missão. Tenho a certezade que serão dedicados, profissionais eextremamente zelosos com esse belopatrimônio que lhes é entregue pela naçãobrasileira e, acima de tudo, concito que si-gam o exemplo de seriedade, denodo, pa-triotismo e destemor daquele que hoje temo seu nome gravado na popa deste navio.

Nesta oportunidade, ressalto ainda a co-laboração e o particular esforço do Ministé-rio da Saúde em proporcionar à Marinha doBrasil mais um meio naval para colaborar comesta gratificante missão, que requer trabalhoárduo, continuado e incansável.

NAsH Soares de Meirelles, que o Se-nhor dos Navegantes seja integrante per-manente em suas ‘partes de saída’, paraque bons ventos sempre o acompanhem eque o lema dos ‘Navios da Esperança’ pai-re sempre em todas as ações executadaspelo navio: ‘Saúde onde houver vida!’.”

ORDEM DO DIA DO DIRETOR-GERAL DO MATERIAL DAMARINHA

Palavras do diretor-geral do Material daMarinha, Almirante de Esquadra Arthur

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Pires Ramos, sobre a Transferência de Su-bordinação do NAsH Soares de Meirelles:

“A data de hoje se reveste de especialsignificado para todos aqueles que partici-param direta ou indiretamente da obtençãodo Navio de Assistência Hospitalar Soa-res de Meirelles, não só pela concretizaçãodos esforços desenvolvidos durante esseprocesso, mas também pelo êxito da parce-ria entre a Marinha do Brasil e o Ministérioda Saúde, por meio de Termo de Coopera-ção, assinado no presente exercício, entreo Comando do 9o Distrito Naval e o FundoNacional de Saúde.

O Navio de Assistência Hospitalar Soa-res de Meirelles, ex-Ludovico Celani, jáincorporado à Marinha do Brasil, será sub-metido a um processo de conversão, a fimde adaptá-lo ao serviço naval e às ativida-des de saúde.

Como um breve histórico, cabe ressal-tar que a extensão territorial e as particu-laridades geográficas da Amazônia dificul-tam a expansão, ou mesmo a utilização, dosserviços do Sistema Único de Saúde (SUS)por parte da população carente dos muni-cípios da região. A dificuldade de trans-porte, a dispersão da população e as gran-des distâncias entre as localidadesinterioranas e os grandes centros limitam oacesso aos recursos de saúde, além dainteriorização das facilidades médicas e dasações de saúde.

Os meios de transporte, particularmen-te os fluviais (navios e lanchas) e aéreos(helicópteros) são de extrema valia na re-gião, por permitirem que sejam levados re-cursos e ações de saúde até as localidadesmais remotas.

A Marinha do Brasil, por operar estesvetores na região e possuir pessoal de saú-de capacitado em seu contingente, é par-ceira natural das autoridades sanitáriasdos governos federal, estaduais e munici-pais, no suporte logístico às ações a se-

rem empreendidas na Amazônia, em espe-cial aquelas direcionadas às populaçõesribeirinhas.

Com a aquisição de mais um navio deassistência hospitalar para a área do Co-mando do 9o Distrito Naval, será ampliadaa capacidade de assistência hospitalar àpopulação ribeirinha, e de remoção de feri-dos em situações de calamidade públicana região amazônica. O navio também con-tribuirá, prioritariamente, com a ampliaçãoda presença da Marinha na Amazônia, atu-ando como mais um ‘Navio da Esperança’.

Na qualidade de diretor-geral do Mate-rial da Marinha, apresento ao Ministérioda Saúde, que disponibilizou os recursosnecessários para a aquisição do meio, oreconhecimento do mérito e do bom servi-ço prestado à Marinha do Brasil e ao País.

Ressalto também o trabalho das Orga-nizações Militares responsáveis por todosos processos que envolveram a obtençãodo meio, desde a busca e seleção do navioaté a assinatura do termo de cooperação ea preparação para a incorporação.

Nesta ocasião, em que transfiro a subor-dinação do Navio de Assistência Hospita-lar Soares de Meirelles ao Comando deOperações Navais, não poderia deixar decongratular-me com seus tripulantes, for-mulando ao comandante, oficialidade e guar-nição os melhores votos de felicidades noprocesso de conversão do navio e, posteri-ormente, em suas futuras singraduras, de-sejando pleno êxito na sua nobre e principalmissão – a de promover o atendimento mé-dico e odontológico e ações cívico-sociaisàs populações ribeirinhas.

Navio de Assistência Hospitalar Soa-res de Meirelles, que o Senhor dosNavegantes, em sua infinita bondade, lheconceda sempre bons ventos e águastranquilas!”

(Fontes: Bonos no 843, de 2/11/2010; 847e 848, de 23/11/2010)

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Foi alterada, por meio da Portaria no 377/MB, de 27 de setembro último, a denominaçãodo Centro de Adestramento da Ilha daMarambaia, localizado no Rio de Janeiro-RJ,

ALTERAÇÃO DE DENOMINAÇÃO DO CADIM

para Centro de Avaliação da Ilha da Marambaia(Cadim). Permaneceram inalterados a sigla e oindicativo naval da OM.

(Fonte: Bono no 711, de 4/10/2010)

– Almirante de Esquadra João AfonsoPrado Maia de Faria, comandante de Ope-rações Navais e diretor-geral de Navega-ção, em 26/11;

– Contra-Almirante José Luiz Ribeiro Fi-lho, diretor do Departamento de Política eEstratégia da Secretaria de Política, Estra-tégia e Assuntos Internacionais, em 26/11;

– Almirante de Esquadra EduardoMonteiro Lopes, secretário-geral da Mari-nha, em 2/12;

– Contra-Almirante (FN) Alexandre JoséBarreto de Mattos, comandante do Materi-al de Fuzileiros Navais, em 3/12;

– Almirante de Esquadra Luiz Umbertode Mendonça, chefe do Estado-Maior daArmada, em 6/12;

– Contra-Almirante (FN) WashingtonGomes da Luz Filho, comandante da Divi-são Anfíbia, em 7/12;

– Contra-Almirante (FN) Paulo MartinoZuccaro, comandante da Tropa de Refor-ço, em 7/12;

– Vice-Almirante Wilson Barbosa Guerra,comandante em chefe da Esquadra, em 8/12;

ASSUNÇÃO DE CARGOS POR ALMIRANTES

– Contra-Almirante Edervaldo Teixeirade Abreu Filho, subchefe de Organizaçãodo Estado-Maior da Armada, em 8/12;

– Contra-Almirante Carlos AlbertoMatias, subchefe de Estratégia do Estado-Maior da Armada, em 8/12;

– Vice-Almirante (FN) Fernando Anto-nio de Siqueira Ribeiro, comandante daForça de Fuzileiros da Esquadra, em 10/12;

– Contra-Almirante Renato Rodriguesde Aguiar Freire, diretor do Instituto de Es-tudos do Mar Almirante Paulo Moreira, em10/12;

– Vice-Almirante (FN) Carlos AlfredoVicente Leitão, Comando do Pessoal de Fu-zileiros Navais, em em 14/12;

– Contra-Almirante Marcos Nunes deMiranda, chefe do Estado-Maior do Co-mando de Operações Navais, em 16/12;

– Contra-Almirante (FN) Nélio deAlmeida, comandante do Centro de Instru-ção Almirante Sylvio de Camargo, em 16/12.

– Almirante de Esquadra (FN) Marco An-tonio Corrêa Guimarães, comandante-geraldo Corpo de Fuzileiro Navais, em 17/12.

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Foi realizada em 6 de dezembro último,no Grupamento de Fuzileiros Navais deBrasília, a cerimônia de transmissão do car-go de chefe do Estado-Maior da Armada(Cema). Assumiu o Almirante de EsquadraLuiz Umberto de Mendonça, em substitui-ção ao Almirante de Esquadra MarcusVinicius Oliveira dos Santos.

DESPEDIDAS E AGRADECIMENTOSDO AE VINICIUS

“Às vésperas de completar 48 anos deServiço Ativo na Marinha, vejo que é che-gada a hora de arriar o meu pavilhão e afas-tar-me da labuta diária dos assuntos danossa querida Marinha e da convivêncialeal e fraterna das nossas praças-d’armas.

Foram 48 anos de completa felicidade, ple-na realização profissional e permanente retri-buição à instituição por tudo aquilo que delarecebi nestes longos anos. E ainda hoje, maisuma vez, me vejo contemplado com uma novae dignificante tarefa: representá-la como mi-nistro do Superior Tribunal Militar.

Foram 48 anos vividos intensamente eque, agora, me trazem a feliz dúvida de iden-tificar quais teriam sido os melhores anos eas melhores comissões.

Não pretendo fazeraqui uma recordação detoda a minha carreiranaval, mas gostaria decompartilhar com todosos senhores e senhorasum pouco dessas expe-riências que, por si só,justificam a minha inqui-etação, anteriormentemencionada.

Retornando no tem-po, e acredito que hojeseja o momento adequa-do para isto, não pode-

TRANSMISSÃO DO CARGO DE CEMA

ria esquecer do período da minha formaçãoacadêmica, iniciada aos 15 anos de idade, noColégio Naval, nos idos de 1963, sequenciadonos bancos escolares da Ilha de Villegagnone complementada na viagem de instrução deguardas-marinha, a bordo do saudoso Na-vio-Escola Custódio de Mello.

As minhas dúvidas aumentam quandovêm à minha mente os primeiros anos dooficialato, anos especiais e inesquecíveis,vividos nas praças de máquinas do CruzadorTamandaré, e que me levaram a optar, comorgulho, pela carreira de oficial de Máquinas.

Seguiram-se os anos operativos a bordodos eficientes contratorpedeiros Sergipe,Alagoas e Mato Grosso. Tudo lá era desafi-ador, instigante e gratificante. Foi a realiza-ção como oficial operativo que viria a sercoroada, anos mais tarde, ao assumir o co-mando do Contratorpedeiro Sergipe. Erafeliz, sabia disso e aproveitei ao máximo.

Um pouco mais antigo e experiente, passeipor outras tantas comissões em que, igual-mente, só colhi alegrias e agreguei novos co-nhecimentos. Fui capitão dos portos do esta-do da Paraíba e depois capitão dos portos dosestados do Pará e Amapá; fui adido naval naInglaterra, Suécia e Noruega e fui oficial de

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estado-maior por diversas vezes. Continuo arefletir, e as minhas dúvidas só aumentam.

Seguiram-se os anos como oficial-gene-ral, e exerci maravilhosas direções e coman-dos: Centro Tecnológico da Marinha em SãoPaulo, a bordo do Projeto Aramar; Coman-do da Força de Superfície; diretor da Escolade Guerra Naval; Comando do 4o DistritoNaval; e Comando em Chefe da Esquadra.Não poderia ter esperado carreira mais dig-na e completa, exercendo funções nas áreasoperativas, de pessoal e de ciência etecnologia. Medito e ainda assim não con-sigo concluir onde fui mais feliz e realizado.Foram todas extraordinárias oportunidades.

E eis que, finalmente, recebo a quarta es-trela, símbolo maior da carreira militar e aspi-ração permanente de todo oficial. Com elavieram os exercícios de diretor-geral do Ma-terial da Marinha, comandante de OperaçõesNavais e diretor-geral de Navegação e ocoroamento, com a chefia do Estado-Maiorda Armada, minha penúltima comissão. Fo-ram todos cargos de extrema responsabilida-de, em que pude contribuir para as decisõesdos rumos da nossa instituição e nos quais,além de grandes realizações, pessoais e pro-fissionais, pude conviver com os meus paresdo Almirantado num clima sempre deintegração, cooperação e muito respeito eamizade. Sou extremamente grato por isto.

E agora, sim, posso olhar para trás, comum quadro completo da minha vida na Ma-rinha e dizer que não me restam mais dúvi-das e inquietudes. Eu, agora, posso afirmarque sempre fui, pura e simplesmente, umoficial de Marinha; que tive a ventura e ahonra de ter envergado o nosso uniformebranco; que fui feliz, não em um ou outroperíodo, mas sim por todos os 48 anos, eque a minha grande comissão foi uma só:ter servido à Marinha do Brasil.

Senhoras e senhores, não tenho mais dú-vidas, e a conclusão obtida me leva à gratidãoe a alguns necessários agradecimentos finais.

Ao ministro de Estado da Defesa, Dr.Nelson Jobim, agradeço o privilégio de tertrabalhado sob sua orientação, pelas repeti-das provas de apreço e, particularmente, pelaindicação do meu nome ao ExcelentíssimoSenhor Presidente da República.

Ao comandante da Marinha, Almirantede Esquadra Julio Soares de Moura Neto,agradeço a consideração e a amizade sem-pre demonstradas e, em particular, a minhaindicação para o Superior Tribunal Militar.Foi um privilégio o convívio com Vossa Ex-celência durante tantos anos, especialmen-te no nosso harmonioso Almirantado.

Aos senhores comandante do Exército,General de Exército Enzo Martins Peri; co-mandante da Aeronáutica, Tenente-Briga-deiro do Ar Juniti Saito; e ao General deExército José Carlos de Nardi, chefe doEstado-Maior Conjunto das Forças Arma-das, o meu reconhecimento pela cordiali-dade e fidalguia com que sempre fui distin-guido, especialmente no período em queexerci o Comando Interino da Marinha.

Aos membros do Almirantado, agradeçoa amizade sempre recebida e o clima de cor-dialidade e cooperação com que trabalha-mos durante todos esses anos. Sejam muitofelizes na condução da nossa Marinha.

Aos almirantes subordinados: o represen-tante permanente do Brasil junto à IMO; o se-cretário de Ciência, Tecnologia e Inovação daMarinha; o diretor da Escola de Guerra Naval; odiretor do Centro de Análises de Sistemas Na-vais; o diretor do Instituto de Pesquisas daMarinha; o diretor do Instituto de Estudos doMar Almirante Paulo Moreira; e o secretário daComissão de Promoções de Oficiais e às suastripulações, agradeço pela excelência na execu-ção das suas respectivas tarefas.

Aos meus almirantes, oficiais e praças doEstado-Maior da Armada, cuja proficiência elealdade me permitiram levar a bom termo aminha derradeira etapa da carreira naval, omeu muito obrigado pelo magnífico trabalho.

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Aos oficiais e praças do meu Gabinete, quepor tanto tempo têm me acompanhado, o meureconhecimento pelo convívio, lealdade,profissionalismo e perfeito relacionamento.

Aos componentes da querida turma Al-mirante Cox, que estiveram ao meu ladotodos esses anos, com incentivo e amiza-de, manifesto o meu agradecimento e o or-gulho em tê-los representado.

Aos meus pais, que me ensinaram osvalores fundamentais e que, tenho a certe-za, lá de cima olharam por mim em toda essajornada, ofereço a minha gratidão.

À minha querida esposa Tania, compa-nheira, amiga e amorosa nos dias de presen-ça e mãe zelosa nos muitos e muitos dias deausência, o meu eterno agradecimento. Serámuito bom tê-la comigo nesta nova fase quese inicia.

Aos meus filhos Guilherme, Sabrina eMaurício, o reconhecimento pelos semprepresentes estímulos, amor e apoio.

Finalmente, o agradecimento maior ao bomDeus e a Nossa Senhora de Nazaré pela pro-teção recebida e por me permitirem exercercom extremo orgulho essa singradura e, comotimismo e energia, iniciar uma nova derrota.

Ao grande amigo Almirante de Esqua-dra Luiz Umberto de Mendonça, a quemmais uma vez transmito o timão, os meusvotos de muitas felicidades, bons ventos emares tranquilos.

Seja muito feliz.”

AGRADECIMENTO E BOAS-VINDASDO COMANDANTE DA MARINHA

“Estamos participando hoje da passagemda chefia do Estado-Maior da Armada, oca-sião em que o Almirante de Esquadra MarcusVinicius Oliveira dos Santos prepara-se paradeixar o cargo, após um período relativa-mente curto, porém repleto de eficazes ativi-dades à frente daquele Órgão de DireçãoGeral. O presente momento, no entanto, re-

presenta bem mais do que a despedida desua Organização Militar, pois envolve o en-cerramento de uma brilhante carreira de maisde 47 anos dedicados à Marinha do Brasil.

Ao comandante da Marinha, cabe a difí-cil tarefa de transmitir ao Almirante Viniciusa tristeza da nossa instituição em vê-lo par-tir. Por outro lado, como sabemos que eleestá próximo de assumir o importante cargode ministro do Superior Tribunal Militar, talsentimento é minimizado e somos envoltos,paradoxalmente, por um clima de alegria, re-sultante do sucesso de sua nomeação.

Declarado guarda-marinha em 13 de de-zembro de 1968, sua trajetória, entretanto,remonta ao ano de 1963, quando ingres-sou no Colégio Naval, seguindo, posteri-ormente, para a Escola Naval, locais ondelhe foram ministrados os primeirosensinamentos em sua formação.

Iniciou sua vida como oficial a bordo doCruzador Ligeiro Tamandaré, amealhando co-nhecimentos no Contratorpedeiro Alagoas,Navio-Escola Custódio de Mello e Contrator-pedeiro Mato Grosso, entre outras OM.

Como oficial superior, esteve à frentede duas Capitanias dos Portos, no estadoda Paraíba e nos estados do Pará e Amapá,tendo sido também adido naval na Ingla-terra, Suécia e Noruega.

Exerceu o comando no mar ao timão doContratorpedeiro Sergipe, onde pode con-solidar, plenamente, a sua liderança.

Em 31 de julho de 1999, teve a satisfaçãode compartilhar, com todos do seu conví-vio, a satisfação de ser promovido a contra-almirante, fruto da excelência de sua atua-ção e de suas competência e capacidade.

Seu pavilhão tremulou nos mastros dediversas organizações, com destacadaspassagens nos Centro Tecnológico daMarinha em São Paulo; Escola de GuerraNaval; Comandos da Força de Superfície,do 4o Distrito Naval e da Esquadra; Direto-ria-Geral do Material; Comando de Opera-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ções Navais/Diretoria-Geral de Navegação;e, por fim, no Estado-Maior da Armada,coroando sua trajetória de notórias contri-buições à Marinha e ao Brasil.

Como Cema, seus evidentes atributos,realçados ao longo de uma singradura vi-toriosa, dentre os quais gostaria de citardinamismo, inteligência, criatividade,tranquilidade, objetividade, seriedade e le-aldade, garantiram-lhe, mais uma vez, umaatuação segura e irretocável na conduçãodos trabalhos inerentes ao ODG, cabendoressaltar as seguintes realizações:

– a orientação do posicionamento daMarinha do Brasil no Grupo de Trabalhode Medidas de Incentivo à Cabotagem, pre-sidido pela Casa Civil da Presidência daRepública; na revisão da Política MarítimaNacional; e quanto à minuta de decreto queinstitui o Plano Nacional de Contingênciapara Incidentes de Poluição por Óleo nasÁguas Jurisdicionais Brasileiras;

– a condução da Comissão Coordena-dora dos Assuntos da Organização Maríti-ma Internacional (CCaimo), estabelecendoa posição brasileira sobre os assuntos tra-tados naquele fórum;

– a realização de reuniões de Estados-Maiores com as Marinhas da África do Sul,Canadá, França e Paquistão; a VIII Reu-nião de Conversações entre o Estado-Mai-or de Defesa do Brasil e as Forças Milita-res da Colômbia; e a VI Reunião daSubcomissão Naval do Grupo de TrabalhoConjunto Brasil-Argentina;

– a realização da XXIV Conferência Na-val Interamericana (CNI);

– a incorporação à Armada do Navio deAssistência Hospitalar Soares de Meirellese do Navio-Patrulha Macau;

– o aditamento ao contrato de obtençãodos Helicópteros de Múltiplo Emprego(HME), para a aquisição de mais duas ae-ronaves S-70B Seahawk, aprovado peloComandante da Marinha e em tratativas

com a Marinha dos Estados Unidos daAmérica; e

– a concretização de três Termos deCooperação com a Força Aérea Brasileira,para a qualificação de pilotos para a Mari-nha do Brasil.

Almirante Vinicius! Esse breve resumonão faz jus a todo o histórico da sua longajornada de quase meio século de doaçãoexclusiva à nossa instituição. Estou certode que a sua liderança e a sua maneira gen-til de relacionar-se com todos os setoresda Força levaram a resultados concretosna implantação das orientações da AltaAdministração Naval, trazendo-me muitatranquilidade.

O ato singelo do arriar de seu pavilhãopela última vez certamente lhe trará à men-te os bons momentos de convivência nasdiversas praça-d’armas; a camaradagem; alembrança dos chefes, pares e subordina-dos; as ocasiões felizes, assim como as di-fíceis; os desafios superados; as tarefasrealizadas; e tantas outras experiênciasvivenciadas. Resta-me garantir-lhe a certe-za do dever cumprido e a satisfação de ter-mos compartilhado de sua companhia nes-sa feliz singradura.

Apresento ao prezado amigo os mais sin-ceros votos de alegrias e continuado su-cesso nas funções que exercerá em brevecomo ministro do Superior Tribunal Militar,extensivos à sua esposa Tania e família.

Bons ventos, Almirante de EsquadraMarcus Vinicius Oliveira dos Santos, e queDeus o acompanhe. Seja muito feliz!”

Ao Almirante de Esquadra Luiz Umbertode Mendonça, apresento as boas-vindas,com a convicção de que, respaldado em suasólida bagagem marinheira, suas qualidadespessoais e profissionais e seu elevado tirocí-nio, V.Exa. obterá pleno êxito na missão queora lhe é confiada, implementando o ritmoadequado e garantindo a continuidade dostrabalhos desenvolvidos pelo EMA.”

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

PALAVRAS INICIAIS DO AEMENDONÇA

“É com extrema satisfação que, apósquatro anos, retorno ao Estado-Maior daArmada, nesta oportunidade como seu che-fe. Órgão de Direção-Geral com a atribui-ção básica de assessorar adequadamenteo comandante da Marinha na condução danossa Força, representa o coroamento deuma carreira iniciada em 3 de março de 1966,quando ingressei na Escola Naval.

Honrado pela indicação para o cargo,confiança depositada e oportunidade ím-par que me concede, sou grato ao coman-dante da Marinha, Almirante de EsquadraJulio Soares de Moura Neto, a quem reno-vo minha disposição em exercê-lo com de-dicação, profissionalismo e lealdade.

Tenho plena consciência da responsa-bilidade que me é confiada em face do rele-vante papel das atividades de assessorianos processos de decisão do mais alto ní-vel da Marinha, sejam de ordem política,diplomática, militar ou administrativa.

Para conduzi-las, tenho certeza que po-derei contar com o profissionalismo, a de-dicação e a criatividade de meus ofici-ais, praças e servidores civis, que, associ-ados ao elevado espírito de equipe que en-contrei no EMA e nas Organizações Mili-tares subordinadas, me permitirão contri-buir para o engrandecimento da Marinhacom proficiência.

Por abrilhantarem, partilhando comigoeste significativo momento da minha vida,não poderia deixar de agradecer:

– aos estimados chefes navais, ex-che-fes do Estado-Maior Armada e comandan-tes, dentre os quais destaco o ex-ministroda Marinha Almirante de Esquadra AlfredoKaram, pelas suas presenças, que me tra-zem no momento lembrança dos grandesexemplos de liderança e autoridade marcasde suas carreiras;

– ao Excelentíssimo Senhor Chefe doEstado-Maior Conjunto das Forças Arma-das, General de Exército José Carlos deNardi, e senhores secretários do Ministé-rio da Defesa;

– ao Excelentíssimo Senhor Chefe doEstado-Maior da Aeronáutica, Tenente-Bri-gadeiro do Ar João Manoel Sandim deRezende;

– ao Excelentíssimo Senhor General deExército Antônio Gabriel Esper, comandantede Operações Terrestres, neste ato repre-sentando o comandante do Exército;

– aos Excelentíssimos Senhores mem-bros do Almirantado;

– aos Excelentíssimos Senhores minis-tro-presidente do Superior Tribunal Mili-tar, Dr. Carlos Alberto Marques Soares, eministros dessa egrégia corte;

– aos senhores almirantes, generais ebrigadeiros;

– às autoridades civis e militares pre-sentes ou representadas;

– aos adidos navais e de defesa dasnações amigas;

– aos oficiais e colegas da Turma Almi-rante Grenfell;

– amigos, senhoras e senhores, pelademonstração de amizade e consideraçãoao se fazerem presentes; e

– a minha família, em especial minha es-posa Albertina, parceira inseparável de mi-nha singradura.

Ao Almirante de Esquadra MarcusVinicius Oliveira dos Santos, estimadoamigo desde os bancos escolares doCurso Brasil, a quem mais uma veztenho o privilégio de suceder, muitoagradeço pela fraterna recepção e pelaforma cordial, profissional e detalhadacom que me transmitiu o cargo. Desejoque Vossa Excelência seja muito felizcomo ministro do Superior Tribunal Mi-litar, votos estes extensivos a sua espo-sa Tania e família.”

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Foi realizada, em 2 de dezembro último,em Brasília, a cerimônia de passagem docargo de secretário-geral da Marinha. As-sumiu o Almirante de Esquadra EduardoMonteiro Lopes, em substituição ao Almi-rante de Esquadra João Afonso Prado Maiade Faria. A cerimônia foi presidida pelo co-mandante da Marinha, Almirante de Esqua-dra Julio Soares de Moura Neto.

AGRADECIMENTOS E DESPEDIDADO ALMIRANTE PRADO MAIA

“Inicialmente, devo agradecer ao co-mandante da Marinha, Almirante de Esqua-dra Julio Soares de Moura Neto, peloapoio, irrestrita confiança e constantes ori-entações, permitindo que pudesse condu-zir o setor da Secretaria-Geral da Marinha,neste período em que estive no seu timão,da melhor maneira que minha capacidadepermitiu.

Foram também de importante participa-ção os Almirantes de Esquadra MarcosMartins Torres e Marcus Vinicius Oliveirados Santos, chefes do Estado-Maior da Ar-mada, pois juntos pude-mos levar ao coman-dante da Marinha as li-nhas de ação iden-tificadas para enfrentaros diversos óbices quesurgiram na execuçãodo orçamento, e delesrecebi as diretrizes emetas necessárias parao exercício da Secreta-ria-Executiva.

Aos demais mem-bros do Almirantado,agradeço a colabora-ção, a compreensão

TRANSMISSÃO DO CARGO DE SGM

com as eventuais restrições de crédito e decaixa, o fraterno convívio e os ensinamen-tos. Atuamos sempre de forma sinérgica econsensual, somando esforços, fazendonossas divergências convergirem no inte-resse da Marinha e no propósito de bemassessorar o comandante da Marinha.

Em minha cerimônia de posse no cargo,afirmei que tinha plena noção das respon-sabilidades que assumia, do desafio queseria o exercício do cargo de secretário-geral da Marinha e das dificuldades a se-rem transpostas. Acrescentei que tinha acerteza da competência de meus subordi-nados, de todas as organizações militaresdo setor e de meus assessores diretos.

Comprovei, no dia a dia, que estavacerto. Vi de perto a competência dos ofici-ais do setor, sua dedicação, conhecimen-to técnico, criatividade, a liderança de seuschefes, a lealdade de seus subordinados.Não tenho qualquer dúvida de que, sealgo realizei, devo ao fato de terem efeti-vamente engajado nos assuntos, temas,aprimoramentos e inovações com entusi-asmo e persistência.

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Desde o momento em que fui nomeadopara o cargo, recebi de vários oficiais quetambém tiveram a honra de exercê-lo depoi-mentos em que afirmavam ter sido este umdos períodos mais felizes de sua vida pro-fissional. E referências as mais elogiosas comrelação aos oficiais do setor, em especial osdo Corpo de Intendentes da Marinha.

Creio que nós, do Corpo da Armada, aolongo de nossas carreiras, procuramos, cor-retamente, manter o foco de nossas aten-ções e de nossos estudos na atividade fim,em nossas qualificações como oficial em-barcado, no aprimoramento dos conheci-mentos técnicos de nossas especialidades.Mas nada mais enganoso do que a expres-são ‘isto é coisa de intendente’, nada maisdanoso para nossas futuras responsabili-dades como comandantes, chefes, direto-res ou oficiais-generais. Pois o oficial deMarinha completo deve possuir um nível deprofundidade razoável no entendimento dosassuntos orçamentários, de administração,finanças, controle interno e de abastecimen-to. O pleno exercício do comando dependede termos a visão abrangente de todos osaspectos que envolvem as tarefas de nossaOrganização Militar.

Apesar de minha experiência de carreirana área de logística, tive nesse período umproveitoso aprendizado em que recebi in-formações, novos conhecimentos e técni-cas. Sou grato a todos e, não há dúvida, notempo que me resta no Serviço Ativo daMarinha, vou aplicar o que aprendi, praticaro que vi, mas, principalmente, serei mais umdivulgador do Corpo de Intendentes daMarinha, cujos componentes podem se con-siderar como dignos do orgulho e do reco-nhecimento dos demais marinheiros pelo quesão, pelo que fazem e pelo legado que jádeixaram na história de nossa instituição.

Cabe registrar os contatos externos àMarinha, importantes e necessários, e osdevidos agradecimentos: à Secretaria de

Organização Institucional, na pessoa de seutitular, Dr. Ari Matos Cardoso, que, com seusassessores, sempre me distinguiu com suaamizade, com o acolhimento de nossos plei-tos, o pleno entendimento das bases denossas solicitações, as atendendo na medi-da do possível e na necessária visão do con-junto das Forças. À Dra. Célia Corrêa, se-cretária do Orçamento Federal, que não me-diu esforços para que esse difícil primeiroano do Programa de Desenvolvimento doSubmarino Nuclear fosse assimilado na es-trutura orçamentária federal, sabedora deque é um Programa de Estado, ratificado peloPresidente da República, e de vital impor-tância para o futuro da Marinha e do País.Aos meus correspondentes no Exército Bra-sileiro, General de Exército Arantes, e naForça Aérea Brasileira, Tenente-Brigadeirodo Ar Azevedo, pela irrepreensível colabo-ração, lealdade e amizade que demonstra-ram nas lides dos orçamentos de nossasForças, quando trabalhamos juntos, visan-do sempre ao interesse comum e ao cresci-mento de todos. Aos senhores ministros doTribunal de Contas da União, a quem agra-deço na pessoa de seu presidente, Dr.Ubiratan Diniz de Aguiar, e ao titular da Se-cretaria de Controle Interno do Ministérioda Defesa (Ciset-MD), Dr. SebastiãoEurípedes Rodrigues, pela importante con-tribuição para o aprimoramento do ControleInterno da Marinha e pela maneira profissi-onal com que conduziram suas atividadesde controle externo e interno na Marinha,demonstrando claramente o seu interesseno bem do País e de nossa instituição.

Ao Almirante de Esquadra EduardoMonteiro Lopes, cujos méritos e qualifica-ções o Almirantado recentemente reconhe-ceu ao incluí-lo em lista de escolha parapromoção, desejo que seja muito feliz notimão da Secretaria-Geral da Marinha, poislhe sobram competência e liderança paraalcançar o sucesso que almeja.

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Finalmente, que o Senhor dos Navegantesabençoe e ilumine os homens e mulheres dosetor da Secretaria-Geral da Marinha e lhesproporcione mares e ventos à feição.”

AGRADECIMENTO E BOAS-VINDASDO COMANDANTE DA MARINHA

“O Almirante de Esquadra João AfonsoPrado Maia de Faria deixa, no dia de hoje, ocargo de secretário-geral da Marinha, apóscerca de nove meses de proficiente admi-nistração à frente daquele importante Ór-gão de Direção Setorial.

Durante esse período, o Almirante Pra-do Maia teve uma destacada atuação, mer-cê da dedicação e do profissionalismo quelhe são peculiares. Ademais, proeminentesvirtudes, entre as quais ressaltam serieda-de, dinamismo, inteligência, criatividade e,sobretudo, lealdade, aliadas ao seu tirocí-nio, permitiram-lhe suplantar, de forma cor-reta e muito eficiente, as dificuldades ine-rentes às complexas tarefas e atribuiçõesdo setor, dando prosseguimento a uma sé-rie de projetos essenciais para a Marinha.

Sob sua orientação segura, a SGM logroudiversos êxitos na busca incessante por pata-mares orçamentários mais elevados, não sócapazes de atender às crescentes necessida-des dos diversos setores da Força, como tam-bém permitindo dar cumprimento aos compro-missos financeiros internacionais assumidospelo País, dentre os quais desponta o Progra-ma de Desenvolvimento de Submarinos(Prosub), de grande magnitude e importância.

Das realizações ocorridas durante a suagestão, cabe-me apontar:

– a ativação do Centro de AdestramentoAlmirante Newton Braga, materializando umanseio do Corpo de Intendentes da Marinhade, em complemento ao Sistema de EnsinoNaval, possuir uma organização voltada paraa manutenção e o aperfeiçoamento constan-te do conhecimento na sua área de atuação;

– a realização do 1o Simpósio de Farda-mento, com foco em qualidade e segurança,tendo a participação do Exército e da ForçaAérea, além de diversos órgãos técnicos eempresas das áreas têxtil e de calçados;

– o recebimento da primeira chata detransporte de óleo combustível, a Biguá,construída no Arsenal de Marinha do Riode Janeiro;

– a inauguração, no Espaço Cultural daMarinha (ECM), da exposição temporáriacomemorativa dos 30 anos da mulher mili-tar na Marinha do Brasil, complementadapela realização do seminário ‘Mulheres naCarreira Militar’, ocorrido no Instituto His-tórico e Geográfico Brasileiro;

– a idealização e o desenvolvimento doprojeto ‘Visitando a História’, que preten-de despertar o interesse pela história na-val, suas conquistas e seus vultos notá-veis, por meio de visitas guiadas ao Mu-seu Naval e ao ECM;

– a modernização conceitual etecnológica do Sistema de Pagamento dePessoal (Sispag-2), tendo sido concluídasas fases de concepção e elaboração do pro-jeto e iniciada a última fase de construção;

– a participação ativa na implementaçãodas novas diretrizes para compensaçãocomercial, industrial e tecnológica (offset)na Força, por meio da divulgação do temano âmbito da instituição e do empenho paraque o Conselho de Compensação da Mari-nha do Brasil se torne efetivo; e

– o incremento do número de financia-mentos imobiliários, concedidos pela Cai-xa de Construções de Casas para o Pesso-al da Marinha, aos nossos militares e ser-vidores civis.

Almirante Prado Maia! Reitero o meu reco-nhecimento pelo excelente trabalho realizadoe registro meus sinceros agradecimentos pe-los resultados granjeados, certo de poder con-tinuar contando com o seu imprescindívelapoio e oportuno assessoramento no Coman-

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do de Operações Navais/Diretoria-Geral de Na-vegação, cujo timão assumiu recentemente.

Desejo-lhe bons ventos e marestranquilos e que Deus o acompanhe!

Ao Almirante de Esquadra EduardoMonteiro Lopes, dou as boas-vindas eapresento os meus cumprimentos no mo-mento em que assume o seu primeiro cargocomo almirante de esquadra, seguro de queseus reconhecidos atributos profissionaise morais, somados aos seus conhecimen-tos e vivência, garantirão a continuidadedas atividades desenvolvidas pela SGM,formulando votos de pleno sucesso na mis-são que lhe está sendo confiada.”

PALAVRAS INICIAIS DO AEEDUARDO MONTEIRO LOPES

“Ao assumir o importante cargo de secre-tário-geral da Marinha, creio ser tempo demuito ouvir e pouco falar. Entretanto, é tem-po também de agradecer. Assim, farei da gra-tidão o norte das minhas poucas palavras.

Primeiramente, torno público meus agra-decimentos ao Exmo. Sr. comandante daMarinha, Almirante de Esquadra Julio Soa-

res de Moura Neto, pela confiança em mimdepositada ao indicar-me para este cargo.Ao prezado chefe retribuirei com a dedica-ção de sempre e a indispensável lealdade.

Aos Exmos. Srs. membros do Almiran-tado, apresento a minha gratidão por meterem aceito entre os membros do Alto-Co-mando da Marinha. É uma honra fazer par-te de grupo tão seleto.

Aos meus antigos chefes e subordina-dos, alguns aqui presentes, que me derama régua e o compasso com os quais traceios rumos da minha carreira na Marinha,desejo externar meus agradecimentos pe-los ensinamentos, orientações e ajudasprestadas. Tê-los como companheiros desingraduras foi uma grande satisfação.

À minha esposa Neilda, amiga e compa-nheira, agradeço a extrema dedicação quegarantiu sempre ao longo da minha vida a che-gada a portos seguros. Sem você tudo teriasido muito mais difícil ou mesmo impossível.

A todos aqueles que aqui comparecen-do emprestaram a mim parte do seu precio-so tempo, dando a esta cerimônia um bri-lho todo especial, apresento meu emocio-nado ‘muito obrigado’.”

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Foi realizada, em 26 de novembro últi-mo, no Navio-Aeródromo São Paulo, acerimônia de transmissão dos cargos decomandante de Operações Navais e de di-retor-geral de Navegação. O Almirante deEsquadra João Afonso Prado Maia de Fa-ria assumiu os cargos, em substituição aoAlmirante de Esquadra Luiz Humberto deMendonça. A cerimônia foi presidida pelocomandante da Marinha, Almirante de Es-quadra Julio Soares de Moura Neto.

DESPEDIDA E AGRADECIMENTOSDO AE MENDONÇA

“Por apenas três meses exerci o Coman-do de Operações Navais e a Direção-Geralde Navegação, missão que, apesar de cur-ta, me permitiu avaliar a dimensão dos car-gos e a responsabilidade a mim atribuída.Contribuir para garantir ao nosso país ouso do mar, destacada forma de afirmaçãode soberania das nações ao longo da his-tória, foi para mim um privilégio, razão pelaqual agradeço ao comandante da Marinhaa oportunidade que me conferiu ao me in-dicar para os cargos.

Ao assumi-los, externei minha crença deque poderia contar coma dedicação e oprofissionalismo demeus subordinados eseu elevado espírito deequipe, essenciais nabusca do preparo e apli-cação de nossas forçasnavais, aeronavais e defuzileiros navais, bemcomo no atendimentoàs atividades da Auto-ridade Marítima.

Hoje tenho certezade que fui atendido.

TRANSMISSÃO DOS CARGOS DE CON/DGN

Foram cem dias, durante os quais pudeobservar inquestionáveis demonstraçõesde lealdade, elevado profissionalismo eextrema dedicação ao serviço de marinhei-ros e fuzileiros navais, oficiais, praças e deservidores civis que tive o privilégio decomandar e dirigir.

Ressalto a forma acurada e irrepreensívelpela qual meus comandantes diretamente su-bordinados compreenderam e implementaramminhas decisões. Ela foi fundamental para oexercício dos meus cargos, e se hoje tenho aconsciência do dever cumprido devo-lhes gra-tidão e reconhecimento, razão pela qual tam-bém externo meu orgulho de tê-los liderado.

Mas este é um momento de despedida,oportunidade na qual devo reconheceràqueles que contribuíram para que eu vi-vesse essa magnífica experiência pessoale profissional.

Portanto agradeço:– ao comandante da Marinha, Almirante

de Esquadra Julio Soares de Moura Neto,pelo apoio, liberdade no trato dos assuntosdeste órgão de direção setorial, orientaçãosegura, permanente deferência e amizade;

– aos senhores membros do Almiranta-do, pelas demonstrações de apreço, cordi-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

al convivência e contribuição na soluçãode minhas dificuldades;

– a todos os demais setores, pela especialcolaboração e irrestrito apoio, sem o que nãoteria sido possível levar a cabo as múltiplasatribuições do Comando de Operações Na-vais e da Diretoria-Geral de Navegação;

– ao meu chefe do Estado-Maior, Vice-Almirante Paulo José Rodrigues de Carva-lho, aos meus subchefes, aos titulares deOM direta ou indiretamente subordinadase às suas tripulações, militares e servido-res civis, pelo muito que fizeram;

– ao meu Gabinete, do seu chefe, Capi-tão de Mar e Guerra José Carlos BatistaFerreira, à praça mais moderna, pela aten-ção, profissionalismo e excelente ambientede trabalho; e

– a minha família, em especial a minhaesposa Albertina, mais uma vez, pelo estí-mulo e compreensão.

Finalmente, externo minha satisfação emtransmitir os cargos de CON e DGN ao meucolega da Turma Grenfell e amigo Almirantede Esquadra João Afonso Prado Maia deFaria, na certeza de deixá-los em mãos segu-ras e competentes. Seja muito feliz, votosestes extensivos à sua esposa Magali.”

AGRADECIMENTO E BOAS-VINDASDO COMANDANTE DA MARINHA

“Os compromissos e os desafios que aForça tem enfrentado, nestes últimos tem-pos, vêm colaborando para que se tenha asensação de que o tempo está transcor-rendo de maneira muito célere. Assim é que,por ter sido nomeado chefe do Estado-Maior da Armada, o Almirante de Esqua-dra Luiz Umberto de Mendonça despede-se, na presente data, do Comando de Ope-rações Navais e da Diretoria-Geral de Na-vegação, após um breve, mas intenso, pe-ríodo à frente daqueles Órgãos de DireçãoSetorial.

Possuidor de uma bagagem profissio-nal invejável, o Almirante Mendonça va-leu-se de seus reconhecidos atributos pro-fissionais e morais, dentre os quais permi-to-me ressaltar competência, objetividade,segurança, dedicação e lealdade, para su-perar os obstáculos que se apresentaram,alcançando significativos êxitos na con-dução de relevantes atividades e proporci-onando a necessária tranquilidade ao co-mandante da Marinha, para a sua tomadade decisão.

Dentre algumas importantes realizações,destacam-se:

– a participação nas operaçõesmultinacionais Ibsamar II, na África do Sul;Atlasur VIII, na Argentina; e Cruzex V,conduzida pela FAB;

– o planejamento da Operação VigiarAtlântico, que é o primeiro exercício de quea Marinha do Brasil participa em conjuntocom a Joint Interagency Task Force-South(JIATF-S), visando combater o narcotráfico;

– a participação em uma operação con-junta conduzida pelo Ministério da Defe-sa, envolvendo as três Forças, denomina-da Operação Amazônia;

– a coordenação do primeiro exercíciode Guerra Cibernética, com apoio do Setordo Material;

– o lançamento de dois mísseis superfí-cie-ar Mistral e seis mísseis anticarro Billpelo Comando da Força de Fuzileiros daEsquadra, em Formosa-Goiás;

– o início da implantação e moderniza-ção do link operacional que integra o Co-mando e Controle do Teatro de OperaçõesMarítimo (CCTOM), os Centros de Coman-do e Controle Distritais e o Centro de Co-mando e Controle da Força no Mar;

– o início da implantação dos CentrosLocais de Tecnologia e Informação nosComando do 4o e do 9o Distritos Navais;

– a realização de obras de modernizaçãodas instalações do CCTOM;

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– a realização da Jornada de Manuten-ção do Setor Operativo; e

– a realização do Seminário do Plano deDesenvolvimento do Programa Oceano(Pladepo/2010), na Diretoria de Hidrografiae Navegação.

Prezado Almirante Mendonça! Gostaria deexpressar o meu apreço e a minha considera-ção pelo exemplar desempenho à frente dosSetores Operativo e da DGN, garantindo-lhea certeza de ter executado um trabalho muitobem feito e desejando-lhe novas conquistase realizações no cargo que assumirá em bre-ve, de chefe do Estado-Maior da Armada. Seique o seu assessoramento oportuno e corre-to naquele Órgão de Direção-Geral em muitoauxiliará o comandante da Marinha.

Muito boa sorte, Almirante de Esqua-dra Luiz Umberto de Mendonça, e queDeus continue iluminando o seu caminho!

Apresento as boas-vindas ao Almirantede Esquadra João Afonso Prado Maia deFaria, formulando os meus sinceros votosde felicidades e sucesso na sua nova e rele-vante comissão. Estou convicto de que osseus inegáveis conhecimentos profissionaise suas qualidades pessoais, que todos co-nhecem, permitirão alcançar o êxito espera-do na missão que lhe está sendo confiada.”

PALAVRAS INICIAIS DO AE PRADOMAIA

“Minhas primeiras palavras são de agra-decimento ao comandante da Marinha, Al-mirante de Esquadra Julio Soares de MouraNeto, ao ministro da Defesa, Dr. NelsonJobim, e ao Presidente da República, LuizInácio Lula da Silva, pela proposição, indi-cação e nomeação para os cargos de co-mandante de Operações Navais e de dire-tor-geral de Navegação.

A dimensão da responsabilidade doscargos que assumo pode ser medida peladispersão das Organizações Militares

(OM) subordinadas de norte ao sul do País,os Distritos Navais, que, com suas forçasdistritais, executam as tarefas de patrulhanaval por toda a Amazônia Azul, e em nos-sas bacias fluviais na Amazônia e no Pan-tanal. Pela inclusão, em suas tarefas, da-quelas essenciais do Poder Naval, ligadasà defesa da soberania. Por ter, no Coman-do de Operações Navais, a essência doPoder Naval: a Esquadra e a Força de Fuzi-leiros da Esquadra.

O dia a dia das atividades de socorro esalvamento tem mostrado nossa capacida-de de resposta, pela participação em ope-rações como o resgate do voo da Air Franceou do veleiro de treinamento canadense. Asociedade nos vê e nos percebe, e a medi-da dessa percepção está na última pesqui-sa de opinião da Fundação Getúlio Vargas,que colocou as Forças Armadas como ainstituição de maior credibilidade dentretodas, resultado direto de nosso trabalho.

Como diretor-geral de Navegação, che-fiarei dois setores de suma importância paraa Marinha e para o País, a Diretoria de Por-tos e Costas e a Diretoria de Hidrografia eNavegação. As atividades que exercitam,além da contribuição vital para o desen-volvimento e aprimoramento do PoderMarítimo, são as que mais expõem nossainstituição aos olhos da sociedade. Os seustripulantes sabem desta responsabilidadee têm respondido aos anseios do povo bra-sileiro e aos investimentos e incentivos quea Alta Administração Naval lhes dedica.Será minha responsabilidade toda a estru-tura da Autoridade Marítima, com suasmúltiplas atividades que têm importantecontribuição para a segurança da navega-ção e salvaguarda da vida humana no mar.

À comunidade marítima, aí entendida emtoda sua abrangência, os vejo como par-ceiros na busca da eficiência e da eficácianas tarefas que a tem como foco de suasatenções. Além dos objetivos comuns, nos

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une o mesmo instrumento de trabalho, osmares, que, na linguagem da CâmaraCascudo, não guardam vestígios das qui-lhas que os atravessaram, mas infundemnos marinheiros a ilusão cordial do desco-brimento. Em visão objetiva, mares doAtlântico Sul, carregados de dúvidas,encapelados de desafio.

A certeza de que nossas tarefas serãocumpridas vem da qualidade dos mais de 40mil homens e mulheres, marinheiros, fuzilei-ros navais e servidores civis que guarne-cem os meios e OM de terra do Comando deOperações Navais e da Diretoria-Geral deNavegação. Homens e mulheres que estãorespondendo aos desafios, especialmentenesta época em que a Marinha está nave-gando por novos mares, novas tecnologias,buscando novos horizontes e vendo o cres-cimento contínuo dos bens e recursos quedeve proteger e cuidar.

Tenho consciência do impacto, em umaorganização, da mudança de seu chefe. Devofazer o que puder para que as alterações derumo e velocidade sejam as necessárias, poiscompetentes e profissionais foram os timo-neiros que me antecederam. Planejamentos,planos, diretivas, regras, normas e procedi-mentos estão prontos e entendidos. Cabe-me exercer a liderança; trabalhar com os de-mais membros do Almirantado no sentidode contribuir para suas metas e deles rece-ber o necessário apoio; seguir a esteira docomandante da Marinha, mantendo o Co-mando de Operações Navais e a Diretoria-Geral de Navegação, com suas OM subor-dinadas, no rumo do guia.

Devo registrar e agradecer o compareci-mento de distintos chefes navais, de auto-ridades civis e militares presentes ou re-presentadas, da família e amigos, pois suaspresenças trazem o calor da distinção e doreconhecimento, da amizade e do carinho,e a certeza de seus apoio e incentivo, quenunca me faltaram.

Especial menção cabe à querida TurmaGrenfell, companheiros de 46 anos de tra-vessias, que vem testemunhar uma inéditapassagem entre grenfellianos no cruzamen-to de duas carreiras que derivam desse gru-po unido e entusiasmado de amigos e com-panheiros, agora agregados de esposas,filhos e netos. Não duvidem da importân-cia de sua participação, de sua distante,mas intensa, torcida, de sua antiga, masforte, amizade.

Ao Almirante de Esquadra Luiz Umbertode Mendonça, agradeço a acolhida, a orga-nizada e meticulosa passagem e desejo, jáem nome do Comando de Operações Na-vais e da Diretoria-Geral de Navegação, queseu período no Estado-Maior da Armada,que em breve assumirá, seja pleno de reali-zações e alegrias. Fique certo de que, emsua passagem por este Comando e esta Di-reção-Geral, Vossa Excelência deixoumarcadas sua competência e sua liderança;pude acompanhar no Almirantado as açõesempreendidas em seu comando e as sábiasdecisões que tomou, embasadas em sua ex-periência ao longo de sua brilhante carreira.Aceite os nossos votos de felicidades, ex-tensivos a minha amiga de infância Tininha,filhos e ao querido neto Miguel.

Mais uma vez, sigo os passos de meupai, Almirante de Esquadra Newton Bragade Faria, e novamente me vejo na obriga-ção de citar as palavras que proferiu aoassumir este cargo há 30 anos:

“O comandante de Operações Navaisdeseja dividir o desafio entre comandan-tes, tenentes e subalternos.

Aos comandantes, sobraçando os co-mandos e as chefias, eu apregoo odespojamento da vaidade e da presunção,em benefício da arte de conduzir.

Aos tenentes, eu invoco a vontade, a emo-ção e a criatividade, sem a superestima dasnovas descobertas, sem a soberba dos jovens,sem a autossuficiência dos prodígios.

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Aos subalternos, eu arregimento para otrabalho organizado e duradouro, que nãose dissipa no tempo fugidio de umainvestidura.

As Bases, as Forças e os Distritos Na-vais, distribuídos em todo o País, deverãorepresentar a vontade do chefe. Que nãoseja, porém, a vontade-capricho, a vonta-de-gosto ou a vontade-prazer. Que sejam avontade-ânimo e a vontade-desígnio, aopé das quais estarei sempre presente, nosaconselhamentos e nas decisões.”

O então Vice-Almirante Arthur Ricart daCosta, que substituiu meu pai quando de

seu falecimento, em gesto digno dos ver-dadeiros oficiais de Marinha, cavalheiroque era, entregou-me o pavilhão de coman-dante de Operações Navais, que recebeuao passar o cargo ao Almirante de Esqua-dra Paulo de Bonoso Duarte Pinto.

No ato da troca de pavilhões agora execu-tado, aquele foi o pavilhão içado na adriça doNavio-Aeródromo São Paulo, capitânia daEsquadra. Que eu seja digno dele enquantoao timão do Comando de Operações Navaise da Diretoria-Geral de Navegação, e que oSenhor dos Navegantes me abençoe e ilumi-ne nesta nova singradura que ora inicio.”

O Comitê Nacional do Brasil do Progra-ma Memória do Mundo da Unesco apro-vou os conjuntos arquivísticos propostospela Diretoria do Patrimônio Histórico eDocumentação da Marinha (DPHDM) epela Diretoria de Hidrografia e Navegação(DHN) à nominaçãono registro do referi-do Programa.

Os dois conjun-tos foram “ArquivoTamandaré uma ja-nela para o EstadoImperial Brasileiro”,da DPHDM, e“Abrindo Estradasno Mar: Folhas debordo e relatórios de levantamentohidrográfico da Costa do Brasil concluídoem 1975 – 1901 a 1975”, da DHN.

O Programa Memória do Mundo (MOW)da Unesco registra conjuntos notáveis dopatrimônio documental, à semelhança daLista do Patrimônio Mundial, do mesmoórgão. Grande parte dessa Memória doMundo está nos arquivos, bibliotecas,museus e outros locais e abrange opatrimônio documental ao longo de toda a

PROGRAMA MEMÓRIA DO MUNDOHistória, seja textual (manuscrito ou impres-so), audiovisual (filme, vídeo ou arquivosonoro), iconográfico (fotografia, gravuraou desenho) ou cartográfico, tanto em su-porte convencional quanto digital.

O Programa reconhece patrimônio docu-mental de significa-do internacional, re-gional e nacional.Para o Brasil, existeum Comitê Nacionalda MOW, criadopela Portaria no 259,de 2 de setembro de2004, do Ministériode Estado da Cultu-ra. Esse comitê é

composto por um máximo de 17 membros,representantes dos diversos principais se-tores nacionais referentes a arquivos ou in-teressados neles, o que inclui a representa-ção permanente do Arquivo Nacional, daComissão Nacional da Unesco/Instituto Bra-sileiro de Educação, Ciência e Cultura –Ibeec/Ministério das Relações Exteriores, doConselho Nacional de Arquivos, da Funda-ção Biblioteca Nacional, do Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional

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(Iphan) e do Ministério da Cultura. Alémdesses, são também representados os seto-res do audiovisual, da história militar, da his-tória eclesiástica e religiosa, dos arquivosestaduais e municipais, dos arquivos priva-dos, das associações de ensino e pesquisa.Há também especialistas convidados comrenomado conhecimento.

Cabe ao Comitê Nacional da MOW “as-segurar a preservação das coleções docu-mentais nacionais de importância mundial,por meio de seu registro na lista dopatrimônio documental da humanidade,democratizar o seu acesso e criar a consci-ência sobre a sua importância e a necessi-dade de preservá-lo”. Tem, entre outrasatribuições, a de trabalhar em consonânciacom o Comitê Regional da América Latinae do Caribe (Mowlac) e com o Comitê Mun-dial, inclusive indicando as nominaçõesque possam ter valor regional ou mundial.

Todos os anos, o Comitê Nacional Bra-sil da Memória do Mundo vem publicandoeditais que estabelecem as regras para acandidatura de acervos de documentos ànominação brasileira do MOW. Podem pro-por candidatura, individualmente ou emgrupo, pessoas físicas ou jurídicas, de di-reito público ou privado. Dos documentose conjuntos documentais candidatos, sãoescolhidos os que são julgados merecedo-res da nominação, de acordo com as Dire-trizes do Programa MOW/Unesco, citadasnos editais.

Destacam-se dentre os critérios deavaliação:

– a autenticidade, que significa que suafidedignidade e procedência são atestáveis;

– a unicidade e a singularidade, o fato deser único e insubstituível, ou seja, algo cujadeterioração ou desaparição constituiria umaperda para o patrimônio da humanidade; nãose qualificam para a nominação os que ape-nas traduzam atividades rotineiras de umainstituição pública, pois isso indicará a exis-

tência de documentação semelhante emoutros acervos congêneres;

– a relevância para a história, a cultura epara a sociedade, levando-se em conta aspessoas ou atores envolvidos em sua ge-ração, os assuntos, os temas tratados e suaforma e estilo;

– a organicidade do conjunto documen-tal de natureza arquivística, que deve res-peitar os limites do fundo ou coleção a quese refere, de maneira que sua formação or-gânica e integridade sejam identificáveis;

– a acessibilidade ao público, ressalva-das as limitações necessárias à sua preser-vação e segurança; e

– a integridade do documento ou con-junto documental, de natureza arquivísticaou bibliográfica.

A nominação é um título a ser conside-rado ao se concorrer a um patrocínio noBanco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social (BNDES), por exemplo, paramelhorar as condições de conservação oupara divulgação.

Ao todo, foram recebidas 12 proposiçõesde diversas organizações nacionais, dasquais oito foram nominadas, de acordo como disposto no Regulamento do Edital, emSessão Plenária do Comitê Nacional do Bra-sil, reunido com maioria de seus membros,no dia 27 de setembro do corrente ano, nacidade do Rio de Janeiro. São elas, além dasjá citadas da DPHDM e da DHN:

– “Agência Nacional”, do Arquivo Na-cional/Fundação Cinemateca Brasileira;

– “Atlas Vingboons: mapas e cartas dacosta atlântica da América do Sul no sécu-lo XVII”, do Instituto Arqueológico, His-tórico e Geográfico Pernambucano – IHGP(Recife);

– “Viagem Filosófica: expedição cientí-fica de Alexandre Rodrigues Ferreira nascapitanias do Grão-Pará, Rio Negro, MatoGrosso e Cuiabá – 1783-1792”, da Funda-ção Biblioteca Nacional/Museu Nacional;

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– “Diário das viagens do Imperador D.Pedro II pelo Brasil e pelo mundo”, doMuseu Imperial;

– “Fundo Secretaria de Governo da Ca-pitania: Período Colonial do Brasil – 1649-

1823”, do Arquivo Público do Estado doPará;

– “Registros de Entrada de Passageirosno Porto de Salvador (Bahia) – 1855-1964”,do Arquivo Público do Estado da Bahia.

Neste ano em que comemora um cen-tenário de plena atividade, o RebocadorLaurindo Pitta, navio da Marinha querealiza passeios marítimos e culturais naBaía de Guanabara, no Rio de Janeiro,ganhou o título de Membro Honorárioda Classic Yacht Association (CYA).Com sede em Seattle (EUA), desde 1970a CYA promove e apoia a preservação,restauração e manutenção de embarca-ções antigas a motor que ainda estejamem funcionamento.

REBOCADOR LAURINDO PITTA É MEMBRO HONORÁRIODA CLASSIC YACHT ASSOCIATION

O diretor do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, Vice-Almirante (EN-Refo)Armando de Senna Bittencourt (esquerda), recebe a placa da Classic Yacht Association

Além da participação efetiva na PrimeiraGuerra Mundial (1914-1918), o Laurindo Pittaprestou serviços ao Arsenal de Marinha doRio de Janeiro e à Base Naval do Rio de Ja-neiro até a década de 90. Em 1997, passou poruma adaptação para acomodar 90 passagei-ros em passeio pela Baía de Guanabara.

Mais detalhes sobre o RebocadorLaurindo Pitta e os navios-museus daMarinha podem ser obtidos no sitewww.dphdm.mar.mil.br.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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Foram promovidos por decreto presiden-cial, contando antiguidade a partir de 25 denovembro de 2010, os seguintes oficiais:

– no Corpo da Armada: ao posto de Al-mirante de Esquadra, o Vice-Almirante Eduar-do Monteiro Lopes; ao posto de Vice-Almi-rante, os Contra-Almirantes Paulo Cezar deQuadros Küster e Antônio FernandoMonteiro Dias; e ao posto de Contra-Almi-rante, os Capitães de Mar e Guerra RenatoRodrigues de Aguiar Freire, EdervaldoTeixeira de Abreu Filho, Carlos Henrique Sil-va Seixas e Carlos Alberto Matias.

PROMOÇÃO DE ALMIRANTES

– no Corpo de Fuzileiros Navais: ao pos-to de Almirante de Esquadra, o Vice-Almi-rante Marco Antonio Corrêa Guimarães; aoposto de Vice-Almirante, o Contra-Almiran-te Fernando Antonio de Siqueira Ribeiro;ao posto de Contra-Almirante, os Capitãesde Mar e Guerra Jorge Armando Nery Soa-res e Cesar Lopes Loureiro.

– no Corpo de Engenheiros da Mari-nha: ao posto de Contra-Almirante, os Ca-pitães de Mar e Guerra Luciano PaganoJunior e Sydney dos Santos Neves.

(Fonte: Bono Especial no 854, de 25/11/2010)

O comandante da Marinha do ExércitoPopular de Libertação da China, Almirantede Esquadra Wu Shengli, esteve no Brasil,entre os dias 3 e 7 de novembro útimo, co-nhecendo a Esquadra brasileira e discutindoassuntos estratégicos de interesse das duasMarinhas. A visita da Comitiva da Marinhada China ao Brasil foi mais uma etapa do pro-cesso de aproximação entre as duas nações,que vem acontecendo nos últimos anos.

Na manhã do dia 3, no Comando do 1o

Distrito Naval, no Rio de Janeiro, o coman-

COMANDANTE DA MARINHA DA CHINA VISITA O BRASIL

dante da Marinha do Brasil, Almirante deEsquadra Julio Soares de Moura Neto, pre-sidiu a cerimônia de imposição da Comendada Ordem do Mérito Naval ao AlmiranteWu Shengli. Após a solenidade, seguirampara uma audiência reservada sobre temasde interesse das Forças, visando elaboraruma agenda de trabalho conjunta.

Apontada pelo comandante da Marinhada China como local prioritário no roteiro,a Escola Naval (Rio de Janeiro) foi a Orga-nização Militar (OM) visitada no período

Comandante da Escola Naval (esq.), CA Puntel,apresenta as instalações da instituição ao Almirante

Wu Shengli (centro), acompanhado do comandante daMarinha do Brasil, AE Moura Neto, e do diretor-

geral do Pessoal da Marinha, AE Wiemer (dir.)

Comandante da Marinha do Brasil, AE Moura Neto(esq.), cumprimenta o comandante da Marinha do

Exército Popular de Libertação da China, AE Wu Shengli

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da tarde. Na instituição, os convidadosassistiram a uma palestra sobre o sistemade ensino da Marinha brasileira e conhe-ceram camarotes e laboratórios. Ao finalda tarde, uma homenagem especial encer-rou a visita: o Desfile Escolar do Corpo deAspirantes, em continência ao comandan-te da Marinha do Exército Popular de Li-bertação da China.

Na manhã do dia 5, a comitiva foi rece-bida pelo comandante em chefe da Esqua-dra, Vice-Almirante Eduardo Monteiro

Chegada do comandante da Marinha do ExércitoPopular de Libertação da China ao Submarino Tamoio

Lopes, no Centro de Adestramento Al-mirante Marques de Leão, também noRio de Janeiro, onde conheceu simula-dores de treinamento. “A visita dessaDelegação complementa a ida de umnavio brasileiro à China, em virtude dascomemorações do aniversário da Mari-nha chinesa em 2009”, explicou o Almi-rante Monteiro Lopes.

Por fim, a comitiva chinesa visitouos meios navais brasileiros de maior in-teresse para o grupo: o SubmarinoTamoio, a Corveta Barroso e o Navio-Aeródromo São Paulo.

AE Wu Shengli em visita aoNavio-Aeródromo São Paulo

O Laboratório Farmacêutico da Marinha(LFM) recebeu, em 4 de outubro último, a visi-ta de integrantes do Comitê Nacional deBiotecnologia (CNB). A comitiva foi acompa-nhada pelo diretor do Departamento de Ciên-cia e Tecnologia do Ministério da Defesa,Major-Brigadeiro do Ar Álvaro Knupp dosSantos, e pelo diretor do Centro de MedicinaOperativa da Marinha, Contra-Almirante (Md)José Antonio Rodrigues Cordeiro.

Os membros da comitiva tiveram a opor-tunidade de conhecer as instalações do LFM,sendo informados dos medicamentos emdesenvolvimento no laboratório, tais como:

LABORATÓRIO FARMACÊUTICO DA MARINHA RECEBEVISITA DO COMITÊ NACIONAL DE BIOTECNOLOGIA

a pomada cicatrizante à base do extrato deaçaí, projeto em parceria com a Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado do Rio de Ja-neiro (Faperj); o Ofloxacino, um antibacte-riano com início de processo de certificaçãoperante a Organização Mundial da Saúde; oAzul da Prússia, utilizado em emergênciasnucleares e radiológicas; o Raloxifeno, paratratamento da osteoporose; e o antipsicóticoZiprasidona, os dois últimos em parceria como Ministério da Saúde.

O Comitê foi criado em 2007, sendo com-posto por representantes da Casa Civil daPresidência da República; dos Ministérios

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Comitiva do CNB em visita ao Laboratório Farmacêutico da Marinha

da Saúde, da Ciência e Tecnologia, da Agri-cultura, do Meio Ambiente, da Educação,do Desenvolvimento Agrário e da Justiça,além de órgãos como o Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social(BNDES), a Financiadora de Estudos e Pro-jetos (Finep), o Instituto Nacional da Pro-priedade Industrial (INPI) e a Agência Na-cional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Quatro setores recebem investimentosdo CNB: saúde, agropecuária, indústria e

meio ambiente. Na área de saúde, o propó-sito é estimular a geração e controle detecnologias e a consequente produção na-cional de itens estratégicos, posicionandocompetitivamente a bioindústria brasileira,com potencial para gerar novos negóciose estimulando novas demandas por produ-tos e processos inovadores, levando emconsideração as atuais políticas de saúdedo País.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O ministro da Defesa da RepúblicaPopular da China, General LiangGuanglie, esteve em visita oficial ao Bra-sil em setembro último. No dia 8, ele foirecebido pelo ministro da Defesa, Nel-son Jobim, e pelos comandantes milita-res brasileiros. À noite, foi realizado umjantar oficial para o general no Clube doExército.

Na oportunidade, foram estabelecidospontos para aprofundar as relações políti-co-militares entre os dois países. Essespontos já haviam sido discutidos quando

MINISTRO DA DEFESA DA CHINA VISITA O BRASIL

da visita do ministro Nelson Jobim à Chi-na, em novembro de 2009.

Os dois lados decidiram aumentar osgrupos de visitas entre os dois países efortalecer a troca de oficiais jovens e demeia idade (até capitães de corveta). Elestambém procuraram expandir a cooperaçãoem treinamento de pessoal e a condução ecoordenação de Operações de Paz.

A China e o Brasil fortalecerão tambéma cooperação na área de indústrias de de-fesa, ciência e tecnologia.

(Fonte: http://www.defesanet.com.br)

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Sambistas da 3a idade, 120 jovens e ins-trutores ligados às oficinas de arte do “Proje-to Gente que Samba é Feliz”, da Escola deSamba Portela, participaram, na manhã do dia12 de novembro, de uma visita ao EspaçoCultural da Marinha e à Ilha Fiscal, no Com-plexo Cultural da Marinha, no Rio de Janeiro.

PROJETO SOCIAL DA ESCOLA DE SAMBA PORTELAVISITA A MARINHA

Crianças sendo transportadas de escunaaté a Ilha Fiscal

Sambistas da terceira idade visitam o EspaçoCultural da Marinha

O grupo, recebido por oficiais da Marinhae monitores, visitou a exposição “30 Anos daMulher Militar na Marinha do Brasil”, o Na-vio-Museu Bauru, a Nau dos Descobrimen-

tos, o Submarino-Museu Riachuelo e o He-licóptero-Museu Rei do Mar, todos no Espa-ço Cultural. Em seguida, a comitiva fez umpasseio de escuna até a Ilha Fiscal, onde co-nheceu a história do último baile da monar-quia brasileira, realizado no local dias antesda Proclamação da República.

Atendendo a sugestão da Marinha, aPortela estuda um meio de inserir o conceito“Amazônia Azul” em um dos segmentos doenredo de 2011, “Rio, azul da cor do mar”. (Fo-tos: Revista da Portela/Luiz Antônio Soares)

(Fonte: www.mar.mil.br)

PROJETO VISITANDO A HISTÓRIA

Por orientação do comandante da Mari-nha, Almirante de Esquadra Julio Soaresde Moura Neto, a Diretoria do PatrimônioHistórico e Documentação da Marinha

(DPHDM) vem desenvolvendo o projeto“Visitando a História”, que visa despertaro interesse do pessoal da Marinha pela his-tória naval, suas conquistas e seus líderes.

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Isso vem sendo feito por meio de visitasguiadas ao Museu Naval e ao Espaço Cul-tural da Marinha. Entre as OrganizaçõesMilitares (OM) que já participaram do pro-jeto estão o Gabinete do Comandante daMarinha, o Centro de Apoio a SistemasOperativos (Casop), a Diretoria de Comu-nicações e Tecnologia da Informação daMarinha (DCTIM) e oColégio Naval.

No Museu Naval,os visitantes podemconhecer a exposiçãoprincipal, “O Poder Na-val na formação doBrasil”, com os seguin-tes módulos:

– Rumo à Terra Pres-sentida – as grandesnavegações realizadaspelos portugueses, incluindo o descobri-mento do Brasil pela segunda armada quePortugal enviou à Índia;

– Intrusos e Invasores – diversos cor-sários, piratas e outros intrusos que desa-fiaram os interesses ultramarinos de Portu-gal durante os séculos XVI, XVII e iníciodo XVIII;

– Expansão e Independência – duranteo século XVIII, o futuro território brasileirose expandiu para o sul, em frequentesdisputas com os espa-nhóis. Em 1808, che-gou ao Brasil a famíliareal portuguesa e o Riode Janeiro se tornou asede do império colo-nial português. Com oretorno de D. João VI aPortugal, D. Pedro pro-clamou a independên-cia em 1822, e a Marinha do Brasil, recém-criada, levou essa independência para asprovíncias que ainda não haviam aderido aela, como o Maranhão, o Pará e a Cisplatina.

A ação eficaz da Marinha garantiu a inte-gridade territorial do Brasil;

– O Poder Naval como Instrumento daPolítica Nacional – após a independência,o poder naval brasileiro foi empregadocomo instrumento da política nacional doImpério, projetando o poder militar para de-belar as rebeliões que poderiam ter

fracionado o Brasil,atuando na região doRio da Prata e coibindoo tráfego negreiro;

– A Guerra daTríplice Aliança (1865-1870) – o maior e maissangrento conflito daAmérica do Sul, compapel relevante da Ma-rinha, já que os rios daregião, o Paraná e o

Paraguai, eram as principais vias da comu-nicação. A Batalha Naval do Riachuelo,primeira grande vitória dos aliados nessaguerra, foi decisiva, garantindo o bloqueioque impediu o Paraguai de receber arma-mentos do exterior;

– O Emprego Permanente do Poder Na-val – participação da Marinha nas duasGuerras Mundiais: na Primeira, com a Divi-são Naval de Operações de Guerra, cujatarefa era o patrulhamento de um trecho da

costa africana, e, na Se-gunda, com a proteçãoaos comboios de navi-os mercantes que asse-guravam o abasteci-mento das cidades bra-sileiras e transporta-vam matérias-primasvitais para o esforço deguerra aliado.

No Espaço Cultural da Marinha, o visi-tante tem a oportunidade de ir a bordo doContratorpedeiro-Escolta Bauru, que ope-rou na Segunda Guerra Mundial, conhecer

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um modelo da Nau dos Descobrimentos evisitar o Submarino-Museu Riachuelo, oHelicóptero-Museu Sea King e, ainda, aexposição temporária “30 Anos da MulherMilitar na Marinha”.

As OM interessadas podem agendarvisita na Seção de Ação Educativa,pelos telefones 2104-6851 ou 8110-6851 (Retelma) e pelo [email protected].

A Marinha prestou apoio à realizaçãodo Exame Nacional do Ensino Médio 2010(Enem 2010) em localidades remotas naRegião Norte do País.

O Navio-Patrulha Bracuí, do Grupa-mento de Patrulha Naval do Norte, trans-portou para as cidades de Monte Alegre eAlenquer, no Pará, as provas do exame,aplicadas em 6 e 7 de novembro.

MARINHA APOIA APLICAÇÃO DE PROVAS DO ENEM

Navio-Patrulha Bracuí em Alenquer (PA)

Equipe da Marinha em apoio ao Enem 2010

Recolhimento dos malotes com oscartões-resposta pelo Roraima

Devido ao baixo nível dos rios naquelaépoca do ano, não foi possível oabarrancamento do navio nas margens.Dessa forma, a embarcação se mantevefundeada próximo às localidades, enquan-to as provas foram transportadas até o seulocal de destino por pequenas embarca-ções. Aproveitando a presença nessasduas cidades, o Navio-Patrulha Bracuí re-alizou ações de Inspeção Naval, em pro-veito da Segurança do Tráfego Aquaviário.

Já o Navio-Patrulha Fluvial Roraima, daFlotilha do Amazonas, suspendeu deManaus (AM), em 3 de novembro, com fun-cionários da Empresa Brasileira de Correiose Telégrafos, transportando os malotes dasprovas do Enem para as cidades de Anamã,

Anori e Codajás, às margens do RioSolimões. A bordo, os funcionários dos Cor-reios puderam conhecer um pouco das ati-vidades do navio e da Marinha do Brasil.

Depois da aplicação das provas, o Na-vio-Patrulha Fluvial Roraima recolheu osfuncionários dos Correios e os malotescontendo os cartões-resposta, atracandoem Manaus em 9 de novembro.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Desde outubro último, a indústria daconstrução e reparação naval brasileira contacom a Norma Regulamentadora sobre Con-dições e Meio Ambiente de Trabalho na In-dústria Naval (NR-34), que visa evitar aci-dentes nas diversas áreas do setor.

Segundo fonte do setor naval, a ausên-cia de norma própria impunha a utilizaçãoda Norma Regulamentadora 18, elaboradapara a construção civil, que não atende às

SETOR NAVAL GANHA NORMA COM FOCO EMSEGURANÇA E MEIO AMBIENTE

especificidades do setor naval. “A NR-34estabelecerá uma regulamentação para, porexemplo, o trabalho a quente, montagem edesmontagem de andaimes, jateamento ehidrojateamento, movimentação de cargas,instalações elétricas provisórias e traba-lhos em altura”, afirma Cristiana Souto, deescritório com experiência no setor.

(Fonte: Press release da In Press PorterNovelli Assessoria de Comunicação)

A empresa finlandesa Lamor Corporationteve papel preponderante na operação decontenção e limpeza no vazamento de petró-leo no Golfo do México, em abril de 2010. Aempresa prontamente colocou seus planosde ação em movimento e, em 36 horas, pormeio de sua rede global, enviou equipamen-tos e funcionários qualificados ao local.

A explosão do poço em águas profundasda Lousiana ameaçou todo o ecossistema naárea, assim como a subsistência de dezenasde milhares de pessoas, com uma taxa de va-zamento de mais de 5 mil barris de petróleopor dia.

Barreiras de contenção e recolhedores deóleo foram enviados pela Lamor para auxiliar

RESPOSTA E PRONTIDÃO A VAZAMENTOS DEPETRÓLEO NO MUNDO

nas operações de limpeza. A fim de respon-der à urgência dos equipamentos necessári-os, a empresa aumentou os turnos de suaforça de trabalho globalmente para que hou-vesse maior disponibilidade de produção dasbarreiras de contenção de óleo necessáriasno local. Cerca de 300 mil metros de barreirasde contenção foram enviados ao Golfo.

As barreiras de contenção da empresaconcentram o óleo na (e abaixo da) superfí-cie da água, e seus recolhedores são mon-tados em embarcação para recuperá-lo.Recolhedores menores foram utilizados naspraias. Além disso, a Lamor forneceuconsultoria ao centro de comando que foimontado para incumbir-se das operações.

Na mesma época do acidente no Golfo,três outros vazamentos ocorreram: na Chi-na, em Cingapura e em Michigan (EUA). ALamor atuou em todos esses acidentes. Aempresa possui instalações ao redor domundo com estoque de equipamentos quegarante sua resposta e prontidão, oferecesoluções industriais para otimizar a recu-peração de óleo e prepara planos de con-tingência e organiza operações de rápidaresposta a derramamentos.

(Fonte: http://ins-news.com)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O Rebocador de Alto-Mar (RbAM) Tri-unfo realizou, de 9 a 19 de agosto, comissãode apoio à manutenção da Estação Científi-ca do Arquipélago de São Pedro e São Pau-lo (ECASPSP), em Pernambuco. O naviochegou ao Arquipélago transportando ma-terial e pessoal para a execução de serviços.

A comissão contribuiu para que a Secre-taria da Comissão Interministerial para osRecursos do Mar (Secirm), a Diretoria deObras Civis da Marinha (DOCM) e a BaseNaval de Natal (BNN) conduzissem impor-tantes reformas estruturais na estação.

MARINHA REALIZA MANUTENÇÃO NA ECASPSP

espécies de aves marinhas, a caranguejose diversos tipos de insetos.

A área marítima circunvizinha, em virtu-de do fenômeno da ressurgência, abrigasurpreendente biodiversidade e tem imen-so potencial para o desenvolvimento deatividade pesqueira sustentável.

A Convenção das Nações Unidas sobreos Direitos do Mar (CNUDM), assinada peloBrasil em 1982 e ratificada em dezembro de1988, instituiu o direito dos Estados costei-ros de soberania para fins de exploração eaproveitamento, conservação e gestão dosrecursos naturais, vivos ou não vivos, daságuas sobrejacentes ao leito do mar, do lei-to e seu subsolo, presentes na sua ZonaEconômica Exclusiva (ZEE).

No entanto, em relação ao “Regime dasIlhas”, o artigo 121 da Convenção estabele-ce que “os rochedos que, por si próprios,não se prestam à habitação humana ou àvida econômica não devem ter Zona Econô-mica Exclusiva nem Plataforma Continental”.

Diante disso e da importância estratégi-ca do arquipélago para a projeção do Paísno mar, afigura-se imperativo promover ahabitação do local em caráter permanente.Como resposta a esse desafio, foi inaugu-rada, em 25 de junho de 1998, na IlhaBelmonte, a Estação Científica do Arqui-

O Arquipélago

O Arquipélago de São Pedro e São Pau-lo (ASPSP) é um conjunto de pequenasilhas rochosas localizado a cerca de milquilômetros da cidade de Natal. Foi desco-berto acidentalmente em 20 de abril de 1511,quando uma frota portuguesa compostapor seis caravelas com destino à Índia aliregistrou seu primeiro naufrágio.

Com área total emersa de 17 mil m2 ealtitude máxima de 18 metros, é um dos lu-gares mais inóspitos do País. Apenas amaior das ilhas possui vegetação, rasteirae rala, estando todas elas sujeitas a abalossísmicos e a condições muito severas demar e vento, servindo de abrigo a diversas

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

pélago de São Pedro e São Paulo, dandoinício ao Programa Arquipélago de SãoPedro e São Paulo (Proarquipélago), sob acoordenação da Secirm.

Desde então, a presença permanente dequatro pesquisadores na Estação Científi-ca, além de viabilizar a realização de pes-

quisas de alto nível em diversos ramos daciência, conferiu ao Brasil o direito a 450mil km2 de Zona Econômica Exclusiva emtorno do Arquipélago, área equivalente acerca de 15% de toda a ZEE brasileira ou6% do território nacional.

(Fonte: www.mar.mil.br)

As atividades científicas na Ilha da Trin-dade ganham um novo rumo com a cons-trução, este ano, da nova Estação Científi-ca da Ilha da Trindade (Ecit) pela Marinhado Brasil. Por sua localização, próxima àsprincipais bacias petrolíferas e à região demaior desenvolvimento econômico do país,Trindade é um posto avançado vital para adefesa nacional, o que torna a nova Esta-ção peça importante dentro da EstratégiaNacional de Defesa.

A nova Estação Científica faz parte doPrograma de Pesquisas Científicas da Ilhada Trindade (Protrindade), criado no âmbi-to da Comissão Interministerial para osRecursos do Mar (Cirm) com o objetivo depromover e gerenciar o desenvolvimentode pesquisas na área. O Protrindade aten-

NOVA ESTAÇÃO CIENTÍFICA DA ILHA DA TRINDADEde às diretrizes da Política Nacional paraos Recursos do Mar, de Defesa Nacional eNacional de Meio Ambiente. Localizada a1.167 quilômetros de Vitória (ES) e a 1.416quilômetros do Rio de Janeiro, Trindade,além de ser estratégica para a defesa naci-onal, vai propiciar a obtenção de dados es-senciais para a previsão meteorológica.

A Marinha conta hoje com 30 militaresna ilha, operando uma estação meteoroló-gica para o serviço de previsão do tempoque conta com geração de energia, refeitó-rio, frigorífico, telefone, televisão e acessoà internet. Trindade é a única ilha oceânicabrasileira com água potável.

A cada dois meses são realizadas via-gens de reabastecimento, ocasião em queos militares selecionados embarcam para

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

lá servir durante quatro meses. A seleçãodo pessoal para servir na estação leva emconta a capacitação específica e a vocaçãopara a situação peculiar de se ficar longotempo afastado da família.

Para a construção da estação foram su-perados diversos desafios, entre eles a di-ficuldade de acesso à ilha. Não há praiasque facilitem o desembarque por superfí-cie, em função da existência de um anel decorais. É necessário cuidado também coma arrebentação e com a mudança repentinado tempo. Cem toneladas de material foramembarcadas no navio Mattoso Maia, emVitória, com destino à ilha. Após quatrodias de viagem, foram necessários 126 des-locamentos de helicóptero entre o navio ea terra, com duração de mais quatro dias. Aconcepção do projeto da Estação Científi-

ca foi feita por uma equipe da Universida-de Federal do Espírito Santo (Ufes), comlarga experiência em construções em luga-res inóspitos.

Assessor da Secretaria da Cirm, o Capi-tão de Mar e Guerra Camilo de Lellis de Sou-za explica que o projeto buscou soluçõesarquitetônicas para minimizar os impactosambientais, como ventilação natural e siste-ma de energia solar. O PVC foi usado comomaterial para a construção, por ser mais efi-ciente para obras em locais de difícil acesso.

A ilha possui uma extensão de 8,2 quilô-metros quadrados e é fortemente acidenta-da, com elevações de até 600 metros. Surgiuhá três milhões de anos. Devido à sua ori-gem vulcânica, a presença de lavas, cinzas eareias vulcânicas pode ser constatada, masa última erupção ocorreu há 50 mil anos.Desde 1700, a ilha foi intermitentemente usa-da como ponto de apoio marítimo.

Em 1916, foi ocupada pela primeira vezpor brasileiros, em função da Primeira Guer-ra Mundial. Ao término da guerra, foidesguarnecida. Em 1941, durante a Segun-da Guerra Mundial, foi novamenteguarnecida para impedir que submarinos ale-mães a utilizassem como base de apoio epara garantir a sua posse efetiva pelo Brasil.

(Fonte: http://www.naval.com.br/blog/category/estrategia/)

Mais de 5 mil pessoas foram à EscolaNaval (Rio de Janeiro-RJ) em 10 de outu-bro último prestigiar a 65a edição da tradi-cional regata organizada anualmente peloGrêmio de Vela da Escola Naval. O eventocontou com o apoio de vários iates clubese com a participação das Marinhas de Chi-le, Colômbia, Estados Unidos da América(EUA) e Itália, além das Escolas de Mari-nha Mercante do Rio de Janeiro e do Pará.

ESCOLA NAVAL É SEDE DA MAIOR REGATADA AMÉRICA LATINA

Velas navegando no momentoda competição

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Durante o dia aconteceram dois even-tos: pela manhã, a 21a Meia Maratona deCanoagem; à tarde, a 65a Regata da EscolaNaval. A regata contou com mais de 800barcos de 80 categorias diferentes, numtotal de 2 mil competidores e mais de 3.500pessoas participando do evento.

Diversas atividades paralelas foram reali-zadas na Escola Naval: apresentação de nadosincronizado, exposição de patrocinadores,feira de artesanato da Casa do Marinheiro,encontro de nautimodelismo, exposição decarros antigos, exposição de aeronave e ma-terial de Aviação Naval, sessões no planetá-rio e visita ao museu, entre outras. O evento

Meninas de oito anos em apresentaçãode nado sincronizado

Largada da 21a Meia Maratona de Canoagem

contou com o apoio e patrocínio de diversasentidades públicas e privadas.

De acordo com o comandante da EscolaNaval, Contra-Almirante Leonardo Puntel,a regata era, originalmente, um evento pe-queno; ao longo dos anos, foi crescendoaté se tornar a maior regata da América La-tina. Para ele, ela traduz o espírito marinheiroque é ensinado aos futuros oficiais e é umaótima oprtunidade para mostrar ao públicoexterno algumas das atividades da EscolaNaval e da Marinha.

(Fonte: www.mar.mil.br)

A Diretoria de Engenharia Naval (DEN)homologou e cadastrou, no Sistema de In-formações Gerenciais de Abastecimento (Sin-gra), a bomba portátil MB-100, CodeqC01D270027193 e NSN 19-003-6121. Esta bom-ba é dotada com as mesmas característicasda motobomba importada P-100 e é resultadode um longo período de desenvolvimento doproduto, realizado pela empresa BombasTriglau Indústria e Comércio Ltda., Codemp01BZK, com sede em Caçador, Santa Catarina.

NACIONALIZAÇÃO DA BOMBA DEINCÊNDIO PORTÁTIL P-100

A nacionalização desse equipamen-to de segurança dos meios da Mari-nha do Brasil é resultado do esforçoda DEN, com o apoio do Centro deAdestramento Almirante Marques Leão(CAAML), para suprir as necessida-des logísticas da Força, incentivandoa participação de empresas genuina-mente nacionais no projeto e desen-volvimento de equipamentos.

(Fonte: Bono no 818, de 12/11/2010)

INTERSLEEK 900 INOVA NO MERCADODE TINTAS MARÍTIMAS

O Brasil já pode contar com umproduto pioneiro no mercado de tintas:o Intersleek 900, um revestimento de

desprendimento de incrustações livrede biocidas. O produto é da Inter-national Paint, marca da unidade de

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

até a 9% em um ano. Considerando que, deacordo com um estudo da IMO (Inter-national Maritime Organization – Organi-zação Marítima Internacional), as embar-cações do mundo consomem cerca de 300milhões de toneladas de combustíveis aoano e emitem 1 milhão de toneladas de gáscarbônico (CO2) na atmosfera, a ecoefici-ência do produto representa um grandepasso ambiental para o setor.

Além disso, o Intersleek 900 possui du-rabilidade de 10 anos e pode ser aplicadoem embarcações que navegam por todos ostipos de mares e de águas (densas ou leves;quentes, mornas ou frias). Mais de cem na-vios no mundo já contam com a tecnologiado produto, que, recentemente, tem sidoaplicado também em monoboias que ficamno mar e em plataformas marítimas.

(Fonte: Press release da PerspectivaComunicação)

Foi realizada no Rio de Janeiro, de 13 a 17de setembro último, a 24a edição da Conferên-cia Naval Interamericana (CNI). O evento acon-tece a cada dois anos1, desde 1959, e esta é aterceira vez que é realizado no Brasil2. Esteano a CNI comemora 50 anos de existência.

A CNI foi criada para proporcionar umforo para intercâmbio de ideias, conhecimen-to e entendimento mútuo dos problemasmarítimos que afetam o continente america-no. Seu propósito fundamental tem sido es-timular os contatos profissionais permanen-tes entre as Marinhas dos países partici-pantes, a fim de promover a solidariedadehemisférica. Fazem parte da CNI as Mari-nhas dos seguintes países: Argentina, Bolí-

CONFERÊNCIA NAVAL INTERAMERICANA

via, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Equa-dor, El Salvador, Estados Unidos da Améri-ca (EUA), Guatemala, Honduras, México,

1 N.R.: Este ciclo pode ser alterado se, na opinião da CNI, a situação político-militar estiver sinalizandopara tal. E, a pedido de três ou mais membros, poderá ser convocada uma reunião extraordinária aqualquer momento.

2 N.R.: As outras foram em 1964 e 1976, ambas no Rio de Janeiro.

Revestimentos Marítimos e Industriaisda AkzoNobel.

As tintas anti-incrustantes convencio-nais possuem biocidas, que são liberadospara a redução e controle de incrustação. Onovo produto não possui biocida, ou seja,não libera material químico no meio ambien-te marinho. O mecanismo de controle deincrustação é físico. Ele atua por meio dalisura e da tensão superficial do filme seco,facilitando o desprendimento dasincrustações. Com tecnologia patenteada,o produto é à base de fluorpolímero, queapresenta melhor propriedade de despren-dimento em velocidades menores (abaixo de15 nós) e em condições estáticas.

O Intersleek 900 também melhora o de-sempenho da embarcação significativa-mente, pois, por amenizar o atrito com aágua causado pela incrustação, propiciauma economia de combustível que chega

Logotipo dos 50 anos da CNI

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Repú-blica Dominicana, Uruguai e Venezuela.

Dezessete das 19 delegações que com-põem a CNI foram recepcionadas pela Ma-rinha do Brasil no dia 133. Também estive-ram presentes à recepção de boas-vindasrepresentantes das delegações da JuntaInteramericana de Defesa (JID) e da RedeNaval Interamericana de Telecomunicações(RNIT). Como convidado especial da noi-te, o designer Hans Donner autografouexemplares da sua última obra, o livro foto-gráfico Rio de Janeiro, ofertado aos che-fes de delegações pela Marinha.

Na ocasião, o comandante da Marinha,Almirante de Esquadra Julio Soares de

Moura Neto, ressaltou a importância dapromoção de debates como os que ocor-rem na CNI para fortalecer o diálogo entreMarinhas amigas. “Essa conferência visajuntar as Marinhas dentro de um mesmofórum para que nós possamos aproximarposições”, afirmou.

CERIMÔNIA INAUGURAL

A cerimônia que abriu oficialmente a 24a

Conferência Naval Interamericana aconte-ceu na manhã do dia 13, no Hotel WindsorBarra. Oficiais das Marinhas participantes,os representantes da JID e da RNIT e con-vidados assistiram a um vídeo apresenta-do pela Marinha do Brasil, ao som do HinoNacional, contendo imagens da cultura,fauna, flora e riqueza brasileiras.

Em seguida, o ministro da Defesa, Nel-son Jobim, por meio de um pronunciamentoem vídeo, solicitou aos chefes de delega-ções e demais membros das comitivas ou-sadia na formulação de ideias referentes aosdesafios a serem superados com relação àconsciência marítima. Segundo o ministro,os países das Américas puderam estabele-cer uma convivência pacífica, sendo conhe-cido e admirado o caráter não belicoso docontinente americano, mas ele ressaltou quea melhor maneira de cultivar a paz é não des-cuidar da capacidade de dissuasão.

“No mundo de hoje, as forças navaisnecessitam estar preparadas para garantira defesa da pátria, que é sua tarefa princi-pal, e para se impor perante as novas ame-aças, como os delitos transnacionais, as-sim como o narcotráfico, o contrabando dearmas, a pirataria e a biopirataria e os cri-mes ambientais”, afirmou Nelson Jobim.

O comandante da Marinha disse acredi-tar que esse seria um foro que contribuiriapara que as Marinhas participantes forta-

3 N.R.: Não compareceram os representantes da Guatemala e do Uruguai.

Comandante da Marinha do Peru, Almirantede Esquadra Rolando Navarrete, ao lado do

comandante da Marinha do Brasil e dodesigner Hans Donner

Comandante da Marinha, Almirante deEsquadra Moura Neto, discursa na sessão

oficial de abertura da CNI

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

leçam suas relações políticas e estratégi-cas, por meio da troca de experiências. “Ointercâmbio de ideias e o debate franco,que teremos aqui, fortalecerão os laços queunem nossos países e nossas Marinhas”.

Ao final da manhã, aeronaves da Mari-nha cortaram o céu, enquanto o Navio-Pa-trulha Macaé, a Fragata Independência eo Navio Oceanográfico Antares marcarampresença na orla da Barra da Tijuca, em fren-te ao hotel onde ocorreu o evento.

EXPOSIÇÃO DE DEFESA

Em seguida à Cerimônia Inaugural, foi aber-ta a exposição sobre Defesa, com o tradicio-nal corte de fita pelo comandante da Mari-nha. Acompanhado pelos 16 chefes de dele-gações dos países participantes e dos repre-sentantes da JID e da RNIT, o Almirante

Moura Neto caminhou pela exposição e mos-trou os temas apresentados em cada estande.

A mostra contou com 11 estandes de in-dústrias ligadas à Defesa e um da Marinha doBrasil, composto por seis Organizações Mili-tares que apresentaram temas e produtos derelevância, como a Diretoria de Hidrografia eNavegação (DHN), que levou Cartas Náuti-cas eletrônicas e convencionais; a Secretariada Comissão Interministerial para Recursosdo Mar (Secirm), que tratou do tema “Amazô-nia Azul”; e o Centro de Análises de SistemasNavais (Casnav), que apresentou o Sistemade Informações Sobre o Tráfego Marítimo(Sistram), que acompanha e monitora diver-sos tipos de embarcações em rotas de longocurso, cabotagem ou em águas interiores.

Também fizeram parte do estande daMarinha o Instituto de Pesquisa da Mari-nha (IPqM), com seus sistemas navais; oInstituto de Estudos do Mar Almirante Pau-lo Moreira (IEAPM), que abordou ques-tões relacionadas ao Sistema de Previsãodo Ambiente Acústico para o Planejamen-to das Operações Navais (Sispres) e ao Sis-tema Tático de Fatores Ambientais (STFA);o Centro Tecnológico da Marinha em SãoPaulo (CETMSP), que, por meio demaquete, apresentou ao visitante o funci-onamento interno de um submarino de pro-pulsão nuclear; e, por fim, a EmpresaGerencial de Projetos Navais (Emgepron),

Comandante da Marinha, Almirante deEsquadra Moura Neto, inaugura a

Exposição de Defesa

Marinhas das Américas conhecem estande daMarinha do Brasil

Comandante da Marinha, Almirante deEsquadra Moura Neto, apresenta o tema

proposto pelo Brasil

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

que levou para a exposição exemplares demunições e maquetes de navios que retra-tam a construção naval no Brasil.

Do setor privado, estiveram presentesas empresas Thissenkrupp, Logsub, Con-sórcio Baía de Sepetiba, Agusta Westland,Condor, Athec, Aeroeletrônica, CBC, San-tos Lab, Embraer e HB Defense.

OS TEMAS DAS DELEGAÇÕES

Na tarde do primeiro dia, teve início a ex-posição dos temas propostos para a 24a CNI,pelos chefes das Delegações da JID, da Ar-gentina, do Brasil e do Canadá, a saber:

– JID – “Junta Interamericana de Defe-sa: sua interação em assuntos navais e dedefesa”;

– Argentina – “A cooperação regionalpara o controle do tráfego marítimo comobase da segurança e proteção das linhasde comércio oceânicas”;

– Brasil – “A Segurança Marítima Intera-mericana: a consciência do domínio marítimoregional e mecanismos para seu fomento; oemprego do Poder Naval na segurança maríti-ma e na defesa dos recursos naturais; e asquestões do ordenamento jurídico; e

– Canadá – “Atingindo consciênciado domínio marítimo integrado”.

No dia 14, foi a vez dos seguintes países,além da RNIT, abordarem os seus temas:

– Chile – “O papel da Marinha do Chileno controle e vigilância das atividades pes-queiras na Zona Econômica Exclusiva-ZEEe alto-mar adjacente”;

– Colômbia – “A importância de domi-nar o conhecimento marítimo na luta con-tra o narcotráfico: a experiência da Mari-nha da Colômbia”;

– Equador – “A consciência do domíniomarítimo regional e mecanismos para seu fo-mento; o emprego do Poder Naval na segu-rança marítima e na defesa dos recursos natu-rais; e as questões do ordenamento jurídico”;

– EUA – “Consciência do domínio ma-rítimo e desastres naturais: coordenaçãoe colaboração melhoram o processo derecuperação”;

– México – “Visão da Marinha do Méxi-co em relação à segurança regional”;

– El Salvador – “Gangues em El Salva-dor: uma ameaça transnacional”;

– Peru – “Contribuição da Marinha doPeru na segurança marítima internacionalinteramericana mediante o emprego do Po-der Naval no âmbito aquático”;

– Venezuela – “O emprego do PoderNaval de Estados americanos na manuten-ção da segurança no mar: uma visão daArmada Bolivariana de Venezuela”; e

– RNIT – “Utilização da capacidade daRNIT de colaborar no apoio interamericanode segurança marítima”.

AS OPINIÕES DOSREPRESENTANTES

Para os participantes da 24a CNI, as ile-galidades no mar e a preservação dos re-cursos naturais foram temas preocupantes,merecendo a atenção dos chefes das Dele-gações. O propósito dos assuntos discor-ridos durante os painéis foi nortear os pa-íses em ações de segurança marítima inter-nacional ao longo dos próximos anos.

O chefe da Delegação do Canadá, Vice-Almirante Dean McFadden, destacou a im-

Chefes de Delegações iniciam os trabalhos na24a Conferência Naval Interamericana

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

portância do enfoque na legislação interna-cional para o combate às ações ilegais nomar. “Nós criamos um regime de leis interna-cionais regulado pela Convenção das Na-ções Unidas, que permite aos Estados te-rem o controle exclusivo de suas áreas cos-teiras com autoridade reguladora para a pre-servação dos seus recursos naturais”.

Echandía Durán. Ele conta que, no anopassado, a Força conquistou uma cifra re-corde na Colômbia – encontrou 97,4 tone-ladas de cocaína. Uma outra atividade quetem ocupado aquela Marinha é a caça aossemissubmersíveis, embarcações clandes-tinas usadas para o transporte de drogadesde a América do Sul até a América doNorte. Segundo a autoridade colombiana,em 1993 foram encontrados pela primeiravez no país 56 deles. No ano passado, onúmero caiu para 20. “Interrompemos gran-de parte dessas embarcações ainda na faseda construção. Outras que já estavam na-vegando, carregadas com drogas, logo fo-ram interceptadas.” O Almirante Echandíarevelou, ainda, que seu país possui uma leique penaliza com cárcere o uso de qual-quer tipo de semissubmersível.

A pesca ilegal também teve atenção es-pecial dos participantes da CNI, pois con-centra uma série de danos ambientais poroperar, quase literalmente, fora do radar dequalquer fiscalização. Diversas ações paracontrolar essa atividade acontecem em todoo mundo. Segundo o Capitão de Navio JuanAntonio Calderon Gonzalez, em El Salvador,ampliou-se o contingente de militares daMarinha de seu país para assumir o contro-le das áreas costeiras e portuárias.

Os países participantes da 24a Confe-rência Naval Interamericana (CNI) possu-

Fragata Independência fundeada em frente aohotel onde acontece a conferência

Chefes de delegações discutem assuntos desegurança em águas marítimas e fluviais

O tema narcotráfico é um assunto de pre-ocupação mundial e dos organismos inter-nacionais de saúde e segurança. Segundo orepresentante da Nicarágua, Capitão de Na-vio Ángel Eugenio Fonseca Donaire, ele éum flagelo mundial: “Estamos atuando emconjunto para enfrentar essa ameaça”.

“A Marinha colombiana tem uma vastaexperiência na luta contra o narcotráfico”,afirmou o chefe da delegação da Marinhada Colômbia, Vice-Almirante Alvaro

O chefe da Delegação da Marinha da Colôm-bia, Vice-Almirante Alvaro Echandía Durán, é

entrevistado pela TV Marinha na Web

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

em extensões de costa marítima variadas.Nem por isso essas nações se preocupammenos com a segurança nos mares que cir-cundam o continente.

“Somos um país muito pequeno, comrecursos limitados, mas podemos somarforças e colaborar com os demais”, argu-mentou o chefe da Delegação da Marinhade Honduras, Capitão de Mar e GuerraDemn Ochoa. Ele acredita que a discussãodos temas em pauta, relevantes tanto paraas grandes potências quanto para as na-ções em desenvolvimento, pode culminarem estratégias únicas de combate às amea-ças marítimas.

O chefe da delegação da Marinha da Bolí-via, Contra-Almirante Hugo Gonzalo ContrerasLlanos, disse que a prioridade da sua Força émanter os vínculos com o mar. “O acesso àhidrovia Paraguai-Paraná, hoje, é fundamen-tal para nós. No futuro, pensamos em umasaída via Amazonas, pelo lado do Brasil, até oAtlântico”, revelou. Já o chefe da delegaçãoda Marinha do Paraguai, Contra-AlmiranteEgberto E. Orue Benegas, demonstrou maiorinteresse pelos problemas relacionados àságuas interiores, visto que seu país é comple-tamente fluvial e destacou: “Além do esforçopara livrar nossos rios da contaminação, luta-mos para combater o tráfico ilegal”.

O principal representante do México naconferência, Almirante de Esquadra Jose

Jesús Marte Camarena, ressaltou a importân-cia do intercâmbio de informações entre asForças e da operação conjunta com todas asMarinhas da América. “Por isso estamos aqui.Para expor nosso ponto de vista e conheceros pontos de vista dos demais”.

TV Marinha na Web entrevista o chefe daDelegação da Marinha da Bolívia

Delegado da Marinha americana,Almirante Jonathan W. Greenert

Diante das catástrofes naturais ocorridaseste ano no Haiti e no Chile, que mobilizaramForças Armadas de diversos países, discu-tiu-se, ainda, como a coordenação e a contri-buição entre as Marinhas podem melhorar oprocesso de reconstrução nos casos de de-sastres naturais. De acordo com o chefe daDelegação da Marinha dos EUA, Almirantede Esquadra Jonathan W. Greenert, é impres-cindível obter o máximo de informações daMarinha que estiver mais bem informada so-bre o desastre. “Quanto antes tivermos da-dos para formular ações conjuntas no mo-mento crítico, mais rápido conseguiremostranquilizar as pessoas e cuidar delas, o queé o mais importante”, concluiu.

PARADA APÓS O PÔR DO SOL EVISITA À ESQUADRA

Na noite do dia 15, os chefes das dele-gações assistiram à Parada após o Pôr doSol no Comando-Geral do Corpo de Fuzi-leiros Navais, na Ilha das Cobras. Convi-dados pelo comandante da Marinha, ospresentes tiveram a oportunidade de as-

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sistir a uma cerimônia cívico-militar queacontece poucas vezes no ano.

Conforme explicou o comandante-geral doCorpo de Fuzileiros Navais, Almirante de Es-quadra (FN) Álvaro Augusto Dias Monteiro,a tradição da Parada após o Pôr do Sol teveinício há cerca de 15 anos. A cerimônia é umararidade, sendo realizada quando ocorre um

dante da Marinha, os 18 delegados conhece-ram as instalações internas dos navios, atra-cados na Base Naval de Mocanguê, em Niterói.

Na ocasião, os comandantes dos navi-os, respectivamente, o Capitão de FragataEduardo Augusto Wieland e o Capitão deCorveta Marcio Gonçalves MartinsAssumpção Taveira, apresentaram, em umavisita de proa a popa, os principais compar-timentos de seus navios, bem como explica-ram as características desses meios navais.

De acordo com o comandante do NPaMacaé, os convidados ficaram bem impres-sionados com as características do naviobrasileiro. Para ele, olhando de fora todonavio é parecido. “As pessoas só conhe-cem verdadeiramente um navio quandoentram e têm a oportunidade de explorar oscompartimentos”.

COOPERAÇÃO ENTRE ASMARINHAS – DESTAQUE NOENCERRAMENTO

“Os delegados dos países participan-tes saíram daqui plenamente conscientesde que devemos trocar informações e coo-perar uns com os outros.” Foi com essaafirmação que o comandante da Marinhado Brasil avaliou os resultados obtidos na24a Conferência Naval Interamericana. Emsua opinião, todos estavam focados notema principal do evento: a SegurançaMarítima Interamericana.

Fragata Independência em postosde continência

evento de importância para a Marinha, comoa comemoração dos 50 anos da ConferênciaNaval Interamericana. Durante a apresenta-ção, foram realizadas pelos Fuzileiros Navais,no histórico pátio da Fortaleza de São José,demonstrações da Banda Marcial, de ordemunida silenciosa e da Banda Sinfônica. Naplateia, cerca de 350 convidados prestigiaramo evento.

A Comitiva de Delegados visitou, na ma-nhã do dia 16, dois navios da Marinha do Bra-sil: a Fragata Independência e o Navio-Patru-lha (NPa) Macaé. Juntamente com o coman-

Chefes das Delegações participam daParada após o Pôr do Sol

Mesa no dia do encerramento da CNI

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Durante a cerimônia de encerramento daCNI, também foram comemorados os 50anos de sua existência. O comandante daMarinha do Brasil e o decano da Conferên-cia, Almirante de Esquadra Jorge OmarGodoy, chefe da Delegação da Argentina,descerraram uma placa alusiva à data. Emseguida, foram entregues réplicas da pla-ca, como lembrança, a cada chefe de Dele-gação e ao representante da Rede NavalInteramericana de Telecomunicações.

No Plenário, o Almirante Godoy parabeni-zou a Marinha do Brasil, em nome de todas asdelegações, pela maneira como a Conferência

foi organizada. “Parabéns pela dedicação,profissionalismo e compromisso daqueles quetrabalharam na produção deste evento”, ex-pressou-se. Em seguida, foi anunciado que opróximo país a sediar a Conferência será oMéxico e, por fim, as atas foram assinadas.

O secretário-geral da 24a CNI, Contra-Almirante Wagner Lopes Moraes Zamith,da Marinha do Brasil, confirmou ter sidoalcançado o propósito da conferência: au-mentar a interoperabilidade entre as Mari-nhas da América, a fim de estabelecer asegurança e a paz dos povos.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Foram realizados, de 25 a 29 de outubroúltimo, na sede da Federação das Indústri-as do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o23o Congresso Nacional de TransporteAquaviário, Construção Naval e Offshore

CONGRESSO NACIONAL DE TRANSPORTE AQUAVIÁRIO,CONSTRUÇÃO NAVAL E OFFSHORE E A EXPONAVAL

e a Exponaval. Os eventos acontecem acada dois anos, promovidos pela Socieda-de Brasileira de Engenharia Naval(Sobena). O tema do Congresso foi “In-dústria Naval: Os desafios da competitivi-

Foto oficial de encerramento da 24a CNI

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dade e sustentabilidade”. O evento con-tou com o apoio do Sindicato Nacional daIndústria da Construção e Reparação Na-val e Offshore (Sinaval).

A Sobena foi fundada nos primórdiosda fase moderna da construção naval bra-sileira, em 15 de março de 1962, com o obje-tivo de congregar engenheiros, técnicos eoutros profissionais que atuam na indús-tria marítima nacional.

Paralelamente ao Congresso, foi reali-zada a Exponaval 2010, que divulgou pro-dutos e serviços da área naval e offshore.

O Congresso Nacional de TransporteAquaviário, Construção Naval e Offshoreé o mais tradicional e importante foro paraapresentação e discussão de pesquisas emandamento e desenvolvimentos técnicosem projeto, construção e operação de na-

vios e estruturas marítimas, assim como emengenharia oceânica para a produção deóleo e gás.

Em sua 23a edição, o congresso reali-zou-se em fase de grande impulso da ativi-dade marítima no País, abrangendo um am-plo programa de construção naval e de ex-ploração e produção offshore.

Nesta edição, o evento incluiu:– sessões técnicas com mais de cem tra-

balhos técnicos, abrangendo os principaistópicos de interesse do setor marítimo;

– painéis de debates sobre os temasmais relevantes do cenário atual, com aparticipação de especialistas; e

– conferências apresentadas porrenomados especialistas nacionais e es-trangeiros;

(Fonte: www.sinaval.org.br)

O Comando do 3o Distrito Naval (Natal-RN) promoveu, em 28 de agosto último, oIV Encontro de Amigos Especiais, realiza-do no Grupamento de Fuzileiros Navais deNatal. O evento, que reuniu 4 mil pessoas,trouxe como tema “Sou como Você: Dife-rente” e teve a finalidade de estimular asações de inclusão social, dar orientaçãoaos familiares e, sobretudo, proporcionaràs crianças e adolescentes portadores de

3o DN PROMOVE O IV ENCONTRO DE AMIGOS ESPECIAIS

Criança se diverte com tirolesa

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necessidades especiais uma tarde de lazere alegria.

Durante o encontro, os participantesusufruíram de várias atrações, entre elasapresentações circenses, performancesmusicais, oficinas lúdicas, visitação aosnavios-patrulha da Marinha atracados naBase Naval de Natal e distribuição de pi-pocas e algodão doce pelas Voluntárias Cis-ne Branco.

Para alegrar ainda mais a garotada, fo-ram disponibilizados brinquedos infláveis,mesas para tênis de mesa, pista de obstá-culos, parede de escalada e tirolesa. Já paraos adultos, houve uma exposição de arte-sanato, com artigos confeccionados pelasparticipantes do Projeto Artesamar, doNúcleo do Serviço de Assistência Integra-do ao Pessoal da Marinha (N-SAIPM), doComando do 3o Distrito Naval.

Helicóptero da Força Aérea Brasileiratambém atraiu o público

O evento contou também com o apoio dediversas instituições, entre elas o ExércitoBrasileiro, que instalou no local um estandecom material militar, e a Força Aérea Brasilei-ra, que manteve um helicóptero pousado nocampo principal do Grupamento, permitindoaos visitantes ter contato com a aeronave.

(Fonte:www.mar.mil.br)

A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ino-vação da Marinha participou da Semana Na-cional de Ciência e Tecnologia, em Brasília. Oevento aconteceu de 18 a 24 de outubro últi-mo, e seu tema principal foi “Ciência para oDesenvolvimento Sustentável”. Esta feira de

MB PARTICIPA DA SEMANA NACIONAL DECIÊNCIA E TECNOLOGIA

Representantes das três Forças assistindo àpremiação “Destaque do Ano na

Iniciação Científica”

ciência debate estratégias e maneiras de seutilizarem os recursos naturais brasileiros esua rica biodiversidade de forma sustentávele conjugada com a melhoria das condiçõessocioeconômicas da população.

No dia 19, o secretário de Ciência,Tecnologia e Inovação da Marinha, Vice-Almirante Ilques Barbosa Junior, compare-ceu à cerimônia de premiação “Destaquedo Ano na Iniciação Científica” e ressaltouque eventos como estes são uma forma delevar à população o conhecimento no cam-po da ciência. O ministro da Ciência eTecnologia, Sérgio Rezende, falou das con-quistas no campo da educação e citou oAlmirante Álvaro Alberto, um dos pionei-ros na criação do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq). O ministro fez também uma com-paração da evolução acadêmica ao longo

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de 20 anos. “Há 20 anos formávamos 5 milmestres e doutores. No ano passado, for-mamos cerca de 50 mil. Multiplicamos onúmero de pós-graduados”, lembrou.

O professor Roberto Germano Costa,Amigo da Marinha, falou que a parceria comas Forças Armadas, especialmente com aMarinha, é importante para agregar conhe-cimento. “O mar sempre foi um grande des-conhecido, e nada melhor do que a Marinhapara travar uma parceria em prol da constru-ção do conhecimento em conjunto”, afir-mou. Para o professor, a Semana Nacionalde Ciência e Tecnologia é uma grande inici-ativa para mostrar à sociedade que a tecno-logia não está apenas nas grandes desco-bertas, mas no cotidianodas pessoas.

A Marinha do Brasilparticipou do evento comestandes do CentroTecnológico da Marinhaem São Paulo (CTMSP), doInstituto de Estudos doMar Almirante PauloMoreira (IEAPM) e da Se-cretaria da Comissão Inter-ministerial para os Recur-sos do Mar (Secirm). Nosestandes, houve exposi-ções sobre a AmazôniaAzul, o Programa Antárti-co Brasileiro e o Programa

Professor Roberto Germano Costa, diretordo Instituto Nacional do Semiárido

do Submarino com Propulsão Nuclear. Opúblico maior, por ocasião da abertura daSemana Nacional de Ciência e Tecnologia,foi o de estudantes, que chegavam em ôni-bus lotados para prestigiarem o evento.

Existe hoje, no mundo inteiro, a preocu-pação em associar o crescimento econômi-co à proteção do meio ambiente, à preser-vação da vida no planeta e à melhoria daqualidade de vida das pessoas. A SemanaNacional de Ciência e Tecnologia possibi-litou, com suas ações de popularização daciência, a divulgação e a discussão do tema“Ciência para o Desenvolvimento Susten-tável” junto à sociedade brasileira.

(Fonte:www.mar.mil.br)

Estande do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo

Alunos visitando os estandes da Marinha

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Foi realizada no Rio de Janeiro (RJ), entre9 e 11 de novembro último, a TOC Americas2010, feira itinerante focada no setor portu-ário. O evento, um dos principais do setor,constou de exposição em que empresas detodo o mundo trouxeram as novidades emprodutos e soluções para portos e navios.

TOC AMÉRICAS 2010

Também foram realizadas palestras abor-dando o papel brasileiro no comércio marí-timo e as atuais problemáticas e possíveissoluções para melhorar o rendimento por-tuário das Américas, entre outros temas.

(Fonte: Press realease da SD&PressConsultoria)

Com o intuito de promover uma aproxi-mação entre as Forças Armadas e as in-dústrias nacionais, o Departamento da In-dústria de Defesa (Comdefesa) realizou, em6 de outubro último, no Centro CulturalFiesp Ruth Cardoso, em São Paulo (SP),um seminário com a presença do ministroda Defesa, Nelson Jobim, e uma rodada denegócios para que os industriais conhe-çam as demandas das Forças Armadas. AMarinha, o Exército e a Aeronáutica vãoreceber investimentos na ordem de 27 bi-lhões de dólares ao longo dos próximosdez anos. O projeto de reaparelhamento,previsto na Estratégia Nacional de Defesa,também promete abrir um novo mercadopara as indústrias nacionais.

END PREVÊ REAPARELHAMENTO DAS FORÇAS ARMADASE NOVO MERCADO NOS PRÓXIMOS ANOS

Ministro Nelson Jobim explica a EstratégiaNacional de Defesa

Empresários e representantes da Marinha narodada de negócios

Também estiveram presentes os coman-dantes das três Forças – Almirante de Es-quadra Julio Soares de Moura Neto (Mari-nha), General de Exército Enzo Martins Peri(Exército) e Tenente-Brigadeiro do Ar JunitiSaito (Aeronáutica).

No seminário, o ministro da Defesa res-saltou, entre outros temas, a posição es-tratégica de cooperação do Brasil na Amé-rica do Sul, detalhando que a EstratégiaNacional de Defesa está apresentada emtrês vertentes: reorganização das ForçasArmadas, reestruturação da indústria dedefesa e composição do efetivo daquelas.

Nelson Jobim adiantou também algumasações que estão sendo planejadas. “Entre es-sas medidas, podemos citar a criação de um

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quadro de especialistas em defesa e o fomen-to de pesquisa de materiais e equipamentoscom a utilização de tecnologia nacional”, dis-se. Ele ressaltou, ainda, a importância de valo-rizar a atividade da indústria nacional e previuuma mudança na lei, na qual os critérios de

contratação sejam voltados para o aproveita-mento dos produtos desenvolvidos no Brasil.

Os integrantes do seminário prestigiarama exposição das Forças Armadas e partici-param da rodada de negócios.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Divulgar e fortalecer o conceito de“Amazônia Azul” junto a líderes e forma-dores de opinião da sociedade. Foi comesse propósito que a Marinha do Brasilpromoveu o Seminário Amazônia Azul, em14 e 15 de outubro último, no auditório daEscola Naval, no Rio de Janeiro (RJ). Bus-cou-se identificar as potencialidades cien-tíficas, econômicas e energéticas dasÁguas Jurisdicionais Brasileiras (AJB),como também as demandas por proteçãodesses interesses nacionais no mar.

O público foi de aproximadamente 800pessoas. As palestras também foram trans-mitidas ao vivo pela intranet da Marinha, pormeio da TV Marinha da Web, com a possibi-lidade de participação dos internautas nosdebates. Foi a primeira vez que a Força reali-zou esse tipo de transmissão.

De acordo com a Convenção das Na-ções Unidas sobre o Direito do Mar(CNUDM), as AJB somam 3,5 milhões dekm2. O Brasil está pleiteando junto à Co-missão de Limites da Plataforma Continen-tal (CLPC) a extensão da demarcação da

SEMINÁRIO AMAZÔNIA AZUL

área de sua Plataforma Continental, alémdas 200 milhas náuticas (370km), corres-pondente a uma área de 960 mil km2, quepoderá atingir até 4,5 milhões de km2. Naopinião do diretor do Sistema de Armas daMarinha, Vice-Almirante Elis TreidlerÖberg, é importante conscientizar a socie-dade sobre o valor da Amazônia Azul. “Atébem pouco tempo, o Brasil vivia de costaspara o mar. É importante que criemos umacultura marítima e que a população reco-nheça a necessidade e a dependência quenós temos do mar”.

O pré-sal foi colocado em pauta pelorepresentante da Petrobras, José AlbertoBucheb. Segundo ele, a descoberta de ri-quezas naturais na região valorizou aindamais as águas marítimas brasileiras. Provadisso é que o assunto permanece comofoco das atuais atividades do ex-ministroda Marinha, Almirante de Esquadra MauroCésar Rodrigues Pereira. “Tenho um relaci-onamento estreito com o Núcleo de Estu-dos Estratégicos da Universidade Federal

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Almirante de Esquadra Mauro CésarRodrigues Pereira aborda aspectos políticos e

estratégicos da Amazônia Azul

Almirante de Esquadra (FN) Alvaro AugustoDias Monteiro discursa para o público

Ministro Nelson Jobim chega ao auditórioda Escola Naval para sua palestra

de encerramento

Fluminense. Sempre me convidam para de-bates”, afirmou. “Meu esforço é colaborarpara que os acadêmicos, formadores deopinião, se preocupem em desenvolver es-tudos sobre a Amazônia Azul e disseminaros resultados à sociedade”.

O ministro da Secretaria de AssuntosEstratégicos, embaixador Samuel PinheiroGuimarães, e o secretário de Infraestruturae Fomento do Ministério de Pesca eAquicultura, José Claudenor Vermohlen,também participaram do seminário comoconferencistas. O comandante-geral doCorpo de Fuzileiros Navais, Almirante deEsquadra (FN) Alvaro Augusto DiasMonteiro, falou sobre o emprego do PoderNaval na defesa da Amazônia Azul em suapalestra, enquanto o secretário do Centrode Estudos Estratégicos para os Recursosdo Mar, Contra-Almirante Marcos José deCarvalho Ferreira, destacou o trabalho dedivulgação que tem realizado em universi-dades do Brasil e do exterior.

A apresentação do coordenador-geral doPrograma de Desenvolvimento de Submari-no com Propulsão Nuclear, Almirante deEsquadra José Alberto Accioly Fragelli, ge-rou discussões sobre o aumento da deman-da de emprego na área de engenharia navale a necessidade de as universidades e esco-las técnicas se prepararem para supri-la.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim,encerrou o evento com uma explanaçãosobre a Estratégia Nacional de Defesa comfoco na Amazônia Azul.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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Sob coordenação da Diretoria doPatrimônio Histórico e Documentação daMarinha, foi realizado, em 10 e 11 de novem-bro último, o Seminário Mulher na CarreiraMilitar. O evento, parte das comemoraçõesdo 30o aniversário do ingresso da mulhermilitar na Marinha, aconteceu no Salão No-bre do Instituto Histórico e Geográfico Bra-sileiro (IHGB), no Rio de Janeiro.

Da programação constaram as seguin-tes palestras: “30 anos da Mulher Militarna Marinha do Brasil”, pelo diretor doPatrimônio Histórico e Documentação daMarinha, Vice-Almirante (EN-Refo) Arman-do de Senna Bittencourt; “Característicasdo processo decisório sobre o ingresso damulher militar na Marinha do Brasil”, pelaCapitão de Corveta (T) Mariza Ribasd’Ávila de Almeida, da Diretoria de Assis-tência Social da Marinha; “As mulheres e

SEMINÁRIO MULHER NA CARREIRA MILITAR

Tenente-Brigadeiro do Ar R1 Paulo Roberto Cardoso Vilarinho – Diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica; Professor-Doutor Arno Wehling – Presidente do Instituto Histórico eGeográfico Brasileiro; Vice-Almirante (EN-Refo) Armando de Senna Bittencourt – Diretor do

Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha; e General Juarez Aparecido de Paula Cunha –Diretor do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército

a luta pela profissionalização nas primeirasdécadas do século XX”, pela professoradoutora Ismênia de Lima Martins, da Uni-versidade Federal Fluminense; “O históri-co da participação da mulher junto às For-ças Armadas e o pioneirismo da Marinha”,pela doutoranda Suellen Borges de Lannes,da Universidade Federal do Rio de Janei-ro; “Mulher Militar na Marinha do Brasil:percepção da práxis feminina e suas impli-cações para a Gestão de Pessoas incluin-do Gênero e Cultura Organizacional”, pelaCapitão de Fragata (T) Janaina Silvestre daSilva, da Diretoria de Pessoal Militar daMarinha; e “Contribuições para a constru-ção de uma agenda de gênero nas ForçasArmadas”, pela professora doutora MariaCelina D’Araujo, da Pontifícia Universida-de Católica do Rio de Janeiro.

(Fonte: Bono no 795, de 5/11/2020)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi realizada no Colégio Naval (CN), emAngra dos Reis (RJ), de 17 a 24 de setem-bro último, a 42a edição da NAE, tradicio-nal competição esportiva entre o CN, a Es-cola Preparatória de Cadetes do Exército(EsPCEx) e a Escola Preparatória de Cade-tes do Ar (EPCAr). A XLII NAE foi coorde-nada pela Comissão Desportiva Militar doBrasil.

A competição inclui a disputa de dezmodalidades esportivas. O Colégio Navalconquistou 46 medalhas, a EsPCEx 29 e aEPCAr, 28.

O CN obteve a primeira colocação nasmodalidades de futebol, orientação (indi-vidual geral), triatlo, voleibol, judô (porequipe e categoria ligeiro), esgrima (indivi-

COLÉGIO NAVAL É SEDE DA XLII NAEdual geral), natação (100m costas, 200mmedley e revezamento 4 x 4 estilos).

Todos os resultados da competição es-tão disponíveis na página do CN, endere-ço: http://www.cn.mar.mil.br ou intranethttp://www.cn.mb.

(Fonte: Bono no 735, de 14/10/2010)

Teve início, em 11 de agosto último, oCurso de Formação de Soldados FuzileirosNavais da Namíbia 2010, realizado no Cen-tro de Instrução de Fuzileiros Navais deRooikop, em Walvis Bay, Namíbia. O cursovisa à formação de 126 soldados fuzileirosnavais.

A equipe de instrutores brasileiros doCorpo de Fuzileiros Navais (CFN), chefi-ada pelo Capitão de Corveta (FN)Henrique Amaral, conta com dez praçasinstrutores que conduzem e apoiam o de-senvolvimento do curso e certificam ocorreto andamento das instruções e au-

CFN CONDUZ CURSO DE FORMAÇÃO DEFUZILEIROS NAVAIS NA NAMÍBIA

las que serão proferidas aos recrutasnamibianos.

(Fonte: Notanf , jul/ago/set 2010)

“Era uma vez um menino chamado Arion,que adorava praticar esportes e sempreandava na companhia de uma pomba bran-

ARION, MASCOTE DOS JOGOS MUNDIAIS MILITARES RIO2011, É APRESENTADO AO PÚBLICO

ca. Uma experiência incrível aconteceu: aave se tornou um símbolo mágico, trans-formou o jovem em um superatleta militar

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Arion e a Tropa da Paz

No picadeiro do Unicirco, o ator MarcosFrota apresenta a mascote Arion e seu

criador, Mauricio de Sousa

futurista e deu vida aos seus desenhos desoldadinhos da infância. Assim surgiu oherói Arion e a Tropa da Paz, cuja missão épromover a paz entre as nações, por meiodo esporte”.

Arion, nome de origem grega, significa“o que tem energia”. O personagem é amascote dos V Jogos Mundiais Militares(JMM) – Rio 2011. Na companhia de per-sonagens que representam as Forças Ar-madas (Marinha, Exército e Força Aérea) eForças Auxiliares (Corpo de Bombeiros ePolícia Militar), Arion foi apresentado a 650crianças e à imprensa em 14 de novembro,no Rio de Janeiro. O evento aconteceudurante o espetáculo “Trapézio”, encena-do na Universidade do Circo (Unicirco), doator Marcos Frota, no Parque da Quinta daBoa Vista.

Criada pelo desenhista Mauricio deSousa, a nova família de personagens en-globa uma série de produtos: desenho ani-mado 3D, revista em quadrinhos e brinque-dos. “Conseguimos criar uma galeria desuper-heróis que levam mensagens de paz,força, velocidade e amor”, disse o dese-nhista, conhecido como o criador da Tur-ma da Mônica. Marcos Frota, apresenta-dor do evento, expressou seu entusiasmo:“Emprestar um pouco da alegria do circo aesta atividade é contribuir para a culturada paz que o esporte propõe e que os Jo-gos Mundiais Militares querem consolidarno Rio de Janeiro”.

Atletas militares e crianças integrantesdo Programa Força no Esporte – SegundoTempo, dos Ministérios do Esporte e daDefesa, também se encontraram no Parqueda Quinta da Boa Vista para praticar ativi-dades esportivas. Foi o caso da MarinheiraAparecida Santana, atleta de taekwondo,

A menina Mayara treina com a atleta detaekwondo e marinheira Aparecida Santana na

Quinta da Boa Vista

que ensinou técnicas da arte marcial à es-tudante Mayara Cordeiro, de 12 anos.

A última atividade do evento foi a cole-tiva de imprensa com o presidente da Co-missão Desportiva Militar do Brasil, Vice-Almirante Bernardo José PierantoniGambôa; o coordenador-geral do Comitê

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Da esq. para a dir.: VA Gambôa, Mauricio deSousa, Marcos Frota, General Megid e CA

Fernando

dos Jogos Mundiais Militares, General deBrigada Jamil Megid Junior; o desenhistaMauricio de Sousa; e o comandante doCentro de Educação Física AlmiranteAdalberto Nunes, Contra-Almirante (FN)Fernando Cesar da Silva Motta. Os entre-vistados falaram sobre as ações de divul-gação do JMM, explicaram como foi o pro-cesso de criação da mascote e destacaram,ainda, a atual fase de treinos e competi-ções dos atletas.

(Fonte: www.mar.mil.br)

CAMPEONATO PAN-AMERICANOSUB-20

A competição foi realizada pela Confe-deração Pan-Americana de Judô em 4 e 5de setembro, na cidade de Orlando-EUA.A Marinheira (RM2-EP) Giullia Penalber,integrante da equipe brasileira militar dejudô e pertencente ao Centro de EducaçãoFísica Almirante Adalberto Nunes (Cefan)obteve o 1o lugar na Categoria “até 57kg”.

CIRCUITO OCEÂNICO DE NITERÓIO Marinheiro (RM2-EP) Pedro Trouche,

integrante da equipe militar de vela e per-tencente ao Cefan, obteve o 1o lugar naClasse Benneteau 40.7 e o 3o na classeORC-Internacional. A competição foi reali-zada pelo Clube Naval Charitas, em Niterói-RJ, de 4 a 7 de setembro.

WOMEN’S INVITATIONAL MATCHRACING REGATTA

Na competição realizada pelo RoyalCanadian Yacht Club, de 4 a 6 de setembro,em Toronto-Canadá, as Marinheiras (RM2-EP) Renata Decnop e Fernanda Decnop,atletas integrantes da equipe brasileira mi-litar de vela e pertencentes ao Cefan, obti-veram o 2o lugar na Classe Sonar.

RESULTADOS ESPORTIVOS

XI CAMPEONATO BRASILEIRO DEKARATÊ FBK

Realizado de 10 a 12 de setembro, noRio de Janeiro-RJ. Os atletas integrantesda equipe de Karatê da Marinha obtiveramos seguintes resultados: – CategoriaKumitê Adulto – Faixa Verde a Marrom até80Kg: 1o lugar, Soldado (FN) Dione ManoelFerreira (2o Batalhão de Infantaria de Fuzi-leiros Navais – 2o BtlInfFuzNav); – Cate-goria Kumitê Adulto – Faixa Verde a Mar-rom acima de 80Kg: 1o lugar, Cabo (FN)Romulo Cesar Santos (Base de FuzileirosNavais da Ilha do Governador – BFNIG); e

– Categoria Kata – Adulto – Faixa Preta:1o lugar, Cabo (FN) Victor Hugo Maciel (Ba-talhão de Controle Aerotático e DefesaAntiaérea – BtlCtAetatDAAe).

COPA DO MUNDO DE NATAÇÃO2010

Competição organizada pela FederaçãoInternacional de Natação e realizada de 10a 12 de setembro, no Parque Aquático Ma-ria Lenk, Rio de Janeiro-RJ. Os atletas inte-grantes da seleção militar de natação e per-tencentes ao Cefan obtiveram os seguin-tes resultados: MN Tatiana Lemos – 200mLivre Feminino, 1o lugar e 100m Livre Femi-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

nino, 1o lugar; MN Larissa Cieslak – 400mMedley Feminino, 2o lugar e 200m MedleyFeminino, 3o lugar; MN Carolina Mussi –200m Peito Feminino, 2o lugar; MN AndréDaudt – 100m Livre Masculino, 3o Lugar;MN Julia Siqueira – 400m Medley Femini-no, 3o Lugar; e Cabo Yana Cléris – 200mBorboleta Feminino, 3o lugar.

CAMPEONATO MUNDIAL SÊNIORDE JUDÔ

Competição realizada de 8 a 13 de setem-bro, em Tóquio-Japão. A MN Mayra Aguiarobteve o 2o lugar na Categoria “ – 78 kg” e aMN Sarah Menezes, o 3o lugar na Categoria “– 48 kg”. Ambas integram a seleção brasileiramilitar de judô e pertencem ao Cefan.

XXIX TROFÉU BRASIL/CAIXA DEATLETISMO 2010

Realizada em São Paulo-SP, de 15 a 19 desetembro. As atletas integrantes da SeleçãoBrasileira Militar de Atletismo e pertencen-tes ao Cefan obtiveram os seguintes resul-tados: MN Ana Claudia Lemos –100m ra-sos, 200m rasos e 4x100m – 1o lugar; MNGeisa Aparecida Muniz Coutinho – 400mrasos e 4x400m – 1o lugar; MN VanessaChefer Spinola – 4x400m – 2o lugar; MN AnaPaula Carvalho Pereira – 400m c/barreira –2o lugar; MN Joana Ribeiro Costa – Saltocom vara – 2o lugar; MN Juliana da SilvaMoreira – 4x100m – 3o lugar; e MN VanessaVieira Seles – 4x100m – 3o lugar.

6a CORRIDA FAESA INTERCAMPIA CB Denise Paiva Lucas Campos, do

Cefan, obteve o 3o lugar na competição,realizada em 19 de setembro, em Vitória-ES.

CORRIDA E CAMINHADA DA PRI-MAVERA/ILHA DO GOVERNADOR

Competição realizada em 12 de setem-bro, no Rio de Janeiro-RJ. A CB DenisePaiva Lucas Campos obteve o 1o lugar.

50o CAMPEONATO MUNDIAL MI-LITAR DE BASQUETE 2010

Contando com a participação de trezepaíses (Brasil, Coreia do Sul, Lituânia, Chi-na, Qatar, EUA, Cazaquistão, Uzbequistão,Síria, Índia, Chipre, Canadá e Sri Lanka), foirealizado de 8 a 18 de setembro, em Seul-Coreia do Sul. A Seleção Brasileira Militarde Basquete conquistou a medalha de bron-ze na competição.

CAMPEONATO ESTADUAL DE FU-TEBOL FEMININO

A equipe Marinha do Brasil/Vasco daGama sagrou-se campeã em 24 de setem-bro, jogando contra o clube Volta Redon-da, no Estádio Raulino de Oliveira, VoltaRedonda-RJ. Com o resultado nessa com-petição, cuja participação serviu como pre-paração para os V Jogos Mundiais Milita-res, a equipe classificou-se para disputar aCopa do Brasil de Futebol Feminino 2011,organizada pela Confederação Brasileira deFutebol.

I CAMPEONATO BRASILEIRO DEREMO ABERTO

Organizado pela Confederação Brasilei-ra de Remo (CBR). Reuniu durante uma se-mana, no Rio de Janeiro-RJ, representan-tes das equipes de todos os estados brasi-leiros. As finais das diversas categorias fo-ram realizadas em 25 e 26 de setembro, naLagoa Rodrigo de Freitas. Sagraram-se cam-peãs brasileiras em escaler as guarniçõesdo Corpo de Fuzileiros Navais-CFN(Sênior) e do Centro de Instrução Almiran-te Graça Aranha-Ciaga (Feminino).

X REGATA BAÍA DE GUANABARARealizada em 2 de outubro, sob organi-

zação do Centro de Instrução AlmiranteWandenkolk (CIAW) e coordenação daComissão de Desportos da Marinha, comoparte do X Circuito Poder Marítimo. Parti-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ciparam 450 atletas, entre militares da Ma-rinha do Brasil e civis de clubes de Remodo Rio de Janeiro. Resultado final: – EscalerSUB-24: 1o – Ciaga, 2o – Centro de Instru-ção Almirante Alexandrino (CIAA), 3o –Colégio Naval (CN), 4o – Escola Naval;

– Escaler Aspirante 500m: 1o – Esqua-dra, 2o – Ciaga, 3o – EN, 4o – CIAW, 5o –Centro de Instrução e Centro de Instruçãoe Adestramento Aeronaval Almirante JoséMaria do Amaral Oliveira (CIAAN), 6o –CN e 7o – CIAA;

– Escaler Mista 500m: 1o – Flamengo, 2o

– Ciaga, 3o – Esquadra, 4o – CIAA, 5o –Centro de Inteligência da Marinha (CIM) e6o – CIAW;

– Escaler Veterano 500m: 1o – Esquadra,2o – CIAA, 3o – Diretoria de Hidrografia eNavegação (DHN), 4o – Ciaga, 5o – CIAANe 6o – Comando-Geral do Corpo de Fuzilei-ros Navais (CGCFN).

– Escaler Feminino: 1o – Esquadra, 2o –CIAW, 3o – CIAGA, 4o – Diretoria-Geral doMaterial da Marinha (DGMM), 5o – DHN,6o – CFN, 7o – CIAA-A e 8o – CIAA-B;

– Escaler Senior: 1o – Esquadra, 2o –CGCFN, 3o – EN e 4o – Ciaga.

COPA DO MUNDO DE BIRMIN-GHAM DE JUDÔ

Realizada em 2 e 3 de outubro, na cida-de de Birmingham-Inglaterra. As atletas in-tegrantes da Seleção Brasileira Militar deJudô e pertencentes ao Cefan conquista-ram os seguintes resultados: MN TacianaLima, 2o lugar na Categoria “até 48kg”; MNCamila Minakawa, 3o lugar na Categoria“até 63kg”.

COPA DO MUNDO DE ROMA DEJUDÔ

Realizada em Roma-Itália, em 2 e 3 e ou-tubro. Os atletas integrantes da SeleçãoBrasileira Militar de Judô e pertencentesao Cefan conquistaram os seguintes resul-

tados: MN Bruno Mendonça, 2o lugar naCategoria “até 73kg”; MN Walter Santos,3o lugar na Categoria “+100kg”.

II TROFÉU SUDESTE DE ORIENTAÇÃOCompetição realizada em 25 e 26 de se-

tembro, em Tiradentes-MG. O 1o Tenente(RM2-T) Ronaldo André Castelo obteve o1o lugar na Categoria Elite e o Soldado (FN)Paulo Michel Belarmino ficou com o 1o lu-gar na Categoria Iniciante. Ambos integrama equipe de Orientação da Marinha do Bra-sil e pertencem ao Cefan.

VIII FARJ TOP 16 SWIM MEET – IIRODADA

Na competição de natação, realizada em2 de outubro no Parque Aquático doBotafogo Futebol e Regatas, Rio de Janei-ro-RJ, o 1oT (RM2-T) Leonardo Dias da Sil-va, da Equipe Militar de Natação e perten-cente ao Cefan, obteve o 1o lugar nos 50mpeito (30"47) e o 2o lugar nos 200m peito(2’29"02) e 100m peito (1’07"15).

SEMANA DO CADETE NAVAL EMCOMEMORAÇÃO AO BICENTENÁRIODA REPÚBLICA DA ARGENTINA

Na Regata a Remo, realizada em 6 deoutubro na Escola Naval Militar em La Plata-Argentina, os aspirantes da Marinhasagraram-se campeões em todas as moda-lidades (8COM, 4COM e Single Skiff). Alémdo Brasil, participaram as Escolas Navaisde Argentina, Chile e Peru.

IX CAMPEONATO NACIONAL MI-LITAR E TORNEIO INTERNACIONALDE PENTATLO NAVAL

A competição, realizada de 4 a 8 de ou-tubro, em San Fernando-Espanha, contoucom a participação das principais forçasmundiais da modalidade (Brasil, Espanha,Suécia, Alemanha, Noruega e Dinamarca).Os atletas integrantes da Seleção Brasilei-

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286 RMB4oT/2010

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ra Militar de Pentatlo Naval e pertencentesao Cefan obtiveram os seguintes resulta-dos: – Individuais: Pista de obstáculos –CB (FN) Alessandro Barreto, 2o lugar e MNSimone Gomes de Lima, 2o lugar; Nataçãode Salvamento – MN Simone Gomes deLima, 2o lugar e CB Ana Brena KleinschmiditMilitão, 3o lugar; Habilidade Naval – CB(FN) Alessandro Barreto, 1o lugar e MNSimone Gomes de Lima, 2o lugar; Cross-Country Anfíbio – SG Ernesto Geisel Nas-cimento, 3o lugar; Geral Individual Femini-no – MN Simone Gomes de Lima, 1o lugar.– Equipes: Geral Masculino – Brasil, 2o lu-gar; Geral Feminino – Brasil, 2o lugar.

53o CAMPEONATO MUNDIAL MI-LITAR DE BOXE

Realizado pelo Conselho Internacionaldo Esporte Militar (Cism), de 10 a 16 deoutubro, na Carolina do Norte-EUA. Osatletas integrantes da Seleção BrasileiraMilitar de Boxe e pertencentes ao Cefanobtiveram os seguintes resultados: MNPedro Lima, 1o lugar na Categoria “75kg”;MN Rafael Duarte Lima, 1o lugar na Cate-goria “91kg”; MN Julião Neto, 2o lugar naCategoria “52kg”; MN Gidelson Silva deOliveira, 2o lugar na Categoria “+91kg”; eMN Elber Passos, 3o lugar na Categoria“81kg”.

III ETAPA DO CAMPEONATO BRA-SILEIRO DE ORIENTAÇÃO

Na competição, realizada de 8 a 10 deoutubro em Canela-RS, os atletas integran-tes da Equipe de Brasileira Militar de Ori-entação e pertencentes ao Cefan obtive-ram os seguintes resultados: SD (FN) Pau-lo Michel Belarmino, 2o lugar na CategoriaIniciante; CB Mirian Ferraz Pasturiza, 3o

lugar na Categoria Elite; 3oSG (FN) Antô-nio Cláudio Lins Souza, 2o lugar noRevezamento Masculino; CB Tânia Mariade Jesus Carvalho, 2o lugar na Categoria

Elite; e SD (FN) Sidnaldo Farias Sousa, 2o

lugar no Revezamento Masculino. O SD(FN) Paulo Michel Belarmino e a CB MirianFerraz Pasturiza sagraram-se campeões bra-sileiros da modalidade.

1o CAMPEONATO MUNDIAL DECADETES DO CISM

Realizado na cidade de Ankara, na Tur-quia, com a presença de delegações de 23países, durante o período de 17 a 24 de ou-tubro de 2010. Participaram aspirantes daEscola Naval, cadetes da Academia Militarde Agulhas Negras (Aman) e da Academiada Força Aérea (AFA). Foram disputadasprovas de atletismo, orientação, pentatlomilitar, tiro e voleibol. Os aspirantes da ENobtiveram as seguintes classificações: 1o

lugar no Revezamento 4x100m e 3o lugar noRevezamento 4x400m – ASP RobertoHypollito da Costa; 3o Lugar na Orientaçãopor Equipe – ASP (FN) Paulo Vitor de SouzaAlbuquerque; e 1o lugar no Revezamento4x100m e 3o lugar no Revezamento 4x400m –ASP Felipe Maciel Sarmento.

CAMPEONATO MUNDIAL DE JUDÔPOR EQUIPE

Realizado pela Federação Internacio-nal de Judô, de 28 a 31 de outubro, nacidade de Antalya-Turquia. Os atletas in-tegrantes da Seleção Brasileira Militar deJudô e pertencentes ao Cefan conquista-ram os seguintes resultados: MN BrunoMendonça – Categoria “-73kg”, 2o lugar;e MN Walter Santos – Categoria “+90kg”,2o lugar.

41o CIRCUITO RIO DE VELAA MN Juliana Senfft, integrante da Se-

leção Brasileira Militar de Vela e perten-cente ao Cefan, conquistou o 1o lugar naClasse J/24. A competição aconteceu de 28de outubro a 2 de novembro, na cidade doRio de Janeiro-RJ.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

COPA BRASIL DE CANOAGEMEQUIPE DE CANOAGEM OCEÂNICA

Após a realização da 3a e última etapa dacompetição, a equipe do Colégio Naval obte-ve os seguintes resultados no ranking de 2010da Confederação Brasileira de Canoagem:Classe I Júnior – 6o lugar Aluno Caio; ClasseI Duplo Júnior – 1o lugar Alunos Bryan eCurcino; Classe I Duplo Sênior – 3o lugar Alu-no Leone e Prof. Carlos Eduardo; Classe IIJúnior – 1o lugar Aluno Gian, 2o lugar AlunoLucas Amaral, 4o lugar Aluno Diogo e 5o lu-gar Aluno Dutra; Classe II Sênior – 6o lugarAluno Serradas e 8o lugar Aluno Félix.

MUMBAI INTERNATIONAL MATCHRACE

Competição realizada de 31 de outubroa 4 de novembro, em Mumbai-Índia. A equi-pe formada por integrantes da Seleção Bra-sileira Militar de Vela e pertencentes aoCefan conquistou, na Classe J-24, o 2o lu-gar da prova, com a seguinte tripulação:Marinheiros Henrique Haddad, Mario Trin-dade, Felipe Haddad e Pedro Caldas.

SOLDIER MARATHON (MARATO-NA DO SOLDADO)

O 3o SG Alex Passos Barbosa, atleta mi-litar pertencente ao CEFAN, competindo

entre 356 atletas, sagrou-se o 1o campeãoda prova, com o tempo de 2:35’:54". A com-petição foi realizada pela primeira vez em15 de novembro, no Museu Nacional deInfantaria dos Estados Unidos, localizadona cidade de Columbus, Geórgia-EUA.

CAMPEONATO MILITAR DE FUTE-BOL DAS AMÉRICAS

A Seleção Militar Brasileira de FutebolMasculino, competindo entre 11 paísesparticipantes, sagrou-se campeã vencen-do na final a equipe de Trinidad e Tobago.A competição, organizada pelo CISM, acon-teceu de 5 a 15 de novembro em Paramaribo– Suriname.

43o CAMPEONATO MUNDIAL MI-LITAR DE MARATONA DO CISM

Competição realizada junto com a Ma-ratona de Atenas-Grécia, em comemora-ção aos 2.500 anos da prova. Disputadaem 30 e 31 de outubro, com a participaçãode 25 países. A Delegação Brasileira Mili-tar de Atletismo, coordenada pela Comis-são de Desportos da Marinha, obteve osseguintes resultados: equipe feminina –2o lugar geral e equipe masculina – 4o lu-gar geral.

(Fontes: Bonos diversos)

O comandante da Marinha, Almirantede Esquadra Julio Soares de Moura Neto,realizou, em 8 de novembro último, seu pri-meiro voo a bordo da aeronave AF-1A. OAlmirante Moura Neto foi recebido no 1o

Esquadrão de Aviões de Interceptação eAtaque (EsqdVF-1) pelo comandante emchefe da Esquadra, Vice-Almirante Eduar-do Monteiro Lopes, e pelo comandante daForça Aeronaval, Contra-Almirante LiseoZampronio.

COMANDANTE DA MARINHA VOA EM AERONAVE AF-1A

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Aeronave AF-1A (N-1022), tripulada pelocomandante da Marinha, AE Moura Neto, epelo comandante do EsqdVF-1, Capitão de

Fragata Fonseca Junior

Após o briefing, em que foram repassa-dos os procedimentos de segurança e asmanobras a serem executadas, decolaramduas aeronaves AF-1A. A N-1022 foi tripu-lada pelo comandante da Marinha e pelocomandante do EsqdVF-1, Capitão de Fra-gata Fonseca Junior.

Foram demonstradas as seguintes ma-nobras para o comandante da Marinha:decolagem na ala (em formatura), voo emformatura, manobras básicas, break e cir-cuito de pouso em porta-aviões.

Em seguida, o Almirante Moura Netoesteve na praça-d’armas do EsqdVF-1,onde recebeu como recordação o capaceteusado durante o voo. No local, ele agrade-ceu a acolhida e teceu elogios aoprofissionalismo demonstrado por todosos pilotos da Marinha do Brasil.

A Sra. Sheila Royo Soares de Moura,esposa do Comandante da Marinha, inte-grou a comitiva e, na ocasião, visitou as ins-

talações das Voluntárias Cisne Branco (VCB)– Seccional São Pedro da Aldeia e o EdifícioTamoio I, empreendimento com 36 unidadesresidenciais destinado a suboficiais e sar-gentos e inaugurado em 17 de maio último.

(Fonte: www.mar.mil.br)

A Marinha do Brasil (MB) e a Força AéreaBrasileira (FAB) assinaram, em 18 de novem-bro último, dois Termos de Cooperação paraqualificação de aviadores navais em lideran-ça de esquadrilha e em aeronave multimotore um Termo Aditivo para a participação deum oficial da MB nas atividades de instruçãode voo na Academia da Força Aérea (AFA).

CONVÊNIO ENTRE A MB E A FAB PARAFORMAÇÃO DE PILOTOS

Além do atendimento das capacitaçõesnecessárias aos componentes da AviaçãoNaval para operar os meios aeronavais emfase de modernização e obtenção, os re-sultados alcançados contribuem para o in-cremento da interoperabilidade e dos la-ços de camaradagem entre a MB e a FAB.

(Fonte: Bono no 843, de 22/11/2010)

O Brasil poderá integrar uma nova mis-são de paz da Organização das NaçõesUnidas (ONU) no Líbano. A informação foidada pelo ministro da Defesa, NelsonJobim, em outubro último. Segundo o mi-nistro, inicialmente o País pretende enviarapenas alguns oficiais da Marinha.

BRASIL ENVIARÁ MILITARES AO LÍBANO

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva jáautorizou o envio dos oficiais, e o Brasilnegocia com o Departamento de Operaçõesde Manutenção da Paz da ONU uma defini-ção da data de embarque do grupo que in-tegrará a Força de Paz Interina das NaçõesUnidas para o Líbano (Unifil).

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A participação do Brasil na Unifil nãoserá nas bases da Missão das Nações Uni-das para a Estabilização do Haiti(Minustah), onde atuam 2.300 militares bra-sileiros, incluindo um batalhão de enge-nharia para ajudar na reconstrução do país,atingido por um terremoto no início do ano.Hoje, o Brasil está presente em missões em11 países – em dez deles apenas como ob-servador.

“Inicialmente teremos uma participaçãocom militares do Estado-Maior da Marinha.Em um segundo momento, podemos pen-sar em enviar tropas”, disse Jobim, ao co-

mentar que “a ONU está interessada nacapacidade dos brasileiros em atuar em si-tuação de conflito, em defesa da paz”.

Criada em 1978, a Unifil tinha por objeti-vos permitir à ONU acompanhar a retiradadas tropas israelenses do Líbano, ajudarna restauração da paz e da segurança naregião e prestar assistência ao governo li-banês. As afirmações de Jobim foram fei-tas durante a abertura da 2a Oficina de Tra-balho Diagnóstico da Base Industrial daDefesa.

(Fonte: www.basemilitar.com.br e O Es-tado de S. Paulo)

O Comando do 2o Distrito Naval(Com2oDN-Salvador/BA) realizou, de 18 a22 de outubro, o exercício Retrex LE-II. Oexercício aconteceu na bacia petrolífera deSergipe, com o propósito de adestrar osmeios navais, aeronavais e de fuzileirosnavais, distritais e adjudicados, na realiza-ção de ações de resgate de reféns e de re-tomada de instalações de interesse daMarinha do Brasil.

Para a realização do exercício foi esco-lhida a plataforma PCM-4, disponibilizadapela Petrobras. A plataforma fica no campode Camorim, a cerca de 4 milhas náuticasda costa, próxima à cidade de Aracaju.

Uma força-tarefa, composta por militaresdo Com2oDN, um destacamento do

2o DN REALIZA RETREX LE-II

Grupamento de Fuzileiros Navais de Salva-dor e quatro navios (Corveta Caboclo, Na-vio-Patrulha Guaratuba e navios-varredoresAlbardão e Araçatuba), foi deslocada deSalvador para a área do exercício.

Adicionalmente, foram mobilizados peloComando em Chefe da Esquadra um heli-cóptero Super Puma e um destacamento deMergulhadores de Combate. Militares doGrupamento de Fuzileiros Navais de Natal,empregados como figurativo inimigo, e lan-chas da Capitania dos Portos de Sergipecomplementaram o exercício.

Cerca de 310 militares estiveram envol-vidos na execução da Retrex LE-II.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Marinha do Brasil (MB) está prestando,desde 25 de novembro último, apoio logísticode transporte ao Governo do Estado do Riode Janeiro, conforme solicitado ao ministro daDefesa, Nelson Jobim, em face de problemasde segurança pública ocorridos no Estado.

Para tanto, foi ativado um GrupamentoOperativo de Fuzileiros Navais (GptOpFuz-Nav), com os meios necessários a prestaro apoio solicitado.

Em menos de 12 horas após a solicita-ção, os meios já estavam atuando em apoioàs Forças de Segurança do Estado do Riode Janeiro. A rápida mobilização foi decor-rente da prontidão operativa e da capaci-dade expedicionária do Corpo de Fuzilei-ros Navais da Marinha do Brasil.

APOIO DA MARINHA ÀS FORÇAS DE SEGURANÇA DOESTADO DO RIO DE JANEIRO

Foram disponibilizadas seis ViaturasBlindadas sobre Lagartas M113, cinco Via-turas Blindadas sobre Rodas Piranha, qua-tro Carros Lagarta Anfíbios (CLAnf), duasViaturas Blindadas Socorro, além de carre-tas, caminhões e viaturas leves.

O efetivo de pessoal empregado na ope-ração atualmente foi de 127 fuzileiros na-vais. Inicialmente, a partir de 25 de novem-bro, foi prestado apoio ao Batalhão deOperações Policiais Especiais (Bope) naocupação da Vila Cruzeiro. A partir de 28 denovembro, na ocupação do Complexo doAlemão, o apoio foi também estendido àCoordenadoria de Operações e RecursosEspeciais (Core) da Polícia Civil do Estadodo Rio de Janeiro.

OPERAÇÃO POLICIAL PENHA-ALEMÃOÁrea: 43,9 km2 – População: 100 mil – Traficantes: 500

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Os Grupamentos Operativos deFuzileiros Navais

Os Fuzileiros Navais são uma tropa ex-pedicionária de pronto emprego, que sedesdobra por meio de GptOpFuzNav, osquais, em decorrência de suas estruturasorganizacionais predefinidas, garantemrespostas imediatas, além de possibilita-rem posterior expansão da força inicialmen-te empregada, caso a evolução da situaçãoassim o exija. Os GptOpFuzNav são prepa-rados para atuar nos mais variados ambi-entes, dentro de condições de severa aus-teridade. A capacidade expedicionária éassegurada pela autossuficiência dosGptOpFuzNav, que são estruturados comtodos os meios necessários ao cumprimen-to da missão.

Os veículos

– Carro Lagarta Anfíbio (CLAnf) – éempregado em desembarques anfíbios,

dando proteção e mobilidade aos Fuzilei-ros Navais. Guarda grande similaridadecom o veículo de combate de infantaria,porém é anfíbio, feito e pensado para serdesembarcado a alguma distância da costae dar proteção aos Fuzileiros Navais e tro-pas no ataque a praias.

– Viatura Blindada sobre Lagartas M113– veículo com capacidade para transpor

CLAnf (CFN 7A1) – Blindado anfíbiousado pela Marinha em operações na costa.

Desenvolve grande velocidade mesmo emterrenos difíceis

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

pequenos cursos d’água e tem grande po-der de deslocamento e alta velocidade emestradas de terra batida. Pode chegar a 64km/h e levar até dez militares armados eequipados. O peso máximo para combate éde 12.809 kg. Possui como armamento or-gânico uma metralhadora calibre 12,7 mm.

para transporte de Fuzileiros Navais (éempregado na missão de paz no Haiti). Dis-põe de uma torre aberta com blindagem,onde é instalada uma metralhadora de12,7mm e outras armas, como um lançadorde granadas de 40 milímetros e metralha-doras de 7,62mm ou 5,56mm.

– Viatura Blindada Socorro (SK 105) –possui uma torreta com canhão de l05mm esua tripulação é de três homens. Seu ca-nhão é de alma raiada calibre 105mm de fa-bricação francesa com um tubo de 3,68mcom freio de boca de duplo defletor, provi-do de camisa térmica. Pode disparar muni-ções de carga oca com capacidade de perfu-rar blindagens de aço. O fato de possuir seu

– Viatura Blindada sobre Rodas Piranha– veículo blindado sobre rodas utilizado

M113 – Blindado de transporte de tropas.Pode atingir grande velocidade em estradasde terra ou no asfalto. A blindagem resiste

a tiros de armas calibre 50

Blindado Piranha – Veículo blindado leve,ágil e com grande capacidade de manobra.

Possui proteção especial antiminas esistema de reenchimento de pneus

SK-105 Adaptado – Blindado leve comescavadeira adaptado para operações de

resgate e socorro

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

canhão quase que no teto da torre reduz emmuito as superfícies expostas ante o inimi-go, quando dispara de locais protegidos.

Transcrevemos abaixo a íntegra da notada Marinha sobre o apoio solicitado pelogoverno do Estado do Rio de Janeiro:

“Marinha do Brasil – Força de Fuzilei-ros da Esquadra

Marinha apoia Governo do Estado doRio de Janeiro

Em face dos recentes problemas de Se-gurança Pública ocorridos no Estado do Riode Janeiro, a Marinha do Brasil (MB) estáprestando, a partir desta data (25 de novem-bro), apoio logístico ao Governo do Estadodo Rio de Janeiro, conforme solicitado aoMinistro da Defesa. Trata-se de cessão tem-porária de uso de material logístico e trans-

porte, em apoio às Operações Policiais noRio de Janeiro, em atendimento aos requisi-tos operacionais da Polícia Militar do Esta-do do Rio de Janeiro (PMERJ).

Serão empregadas viaturas blindadas esuas respectivas guarnições para operá-las. Os efetivos da MB serão limitados àstripulações que conduzirão as viaturas.

Foram disponibilizados, inicialmente,para prestar apoio logístico de transporteao Batalhão de Operações Especiais (Bope)da PMERJ, os seguintes meios do Corpode Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil:Viaturas Blindadas sobre Lagartas M-113,Viaturas Blindadas sobre Rodas Piranha eCarros Lagarta Anfíbios (CLAnf).”

(Fontes: www.mar.mil.br/ffe, www.g1.come www.defesanet.com.br)

Entre 10 e 26 de setembro último, asMarinhas de Brasil, Índia e África do Sulrealizaram, na zona do Cabo da Boa Espe-rança, a Operação Ibsamar II.

A operação, cuja sigla significa IndiaBrazil South África Maritime Exercises –Exercícios Marítimos de Índia, Brasil e Áfri-ca do Sul, repetiu o sucesso da sua primei-ra edição, que ocorreu na costa da provín-cia do Cabo Ocidental, em 2008.

Os governos dos três países acordaramque as operações Ibsamar acontecerãosempre na África do Sul, devido à sua po-sição geográfica, e que o comando será al-

BRASIL, ÍNDIA E ÁFRICA DO SUL REALIZAMA OPERAÇÃO IBSAMAR II

ternado. Dois anos atrás, a Marinha daÁfrica do Sul esteve à frente; neste ano,foi a vez da Marinha indiana. A frota oesteda Marinha da Índia foi representada porquatro de seus navios de primeira linha: oContratorpedeiro Mysore, as fragatas Tabare Ganga e o Navio-Tanque Aditya.

O Brasil enviou a Fragata Niterói e umhelicóptero orgânico Super Lynx do 1o Es-quadrão de Helicópteros de Esclarecimen-to e Ataque (Esqd HA-1). O país anfitrião,África do Sul, esteve presente com as fra-gatas Amatola e Spioenkop, o Navio-Pa-trulha Oceânica Galeshewe, o Submarino

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Queen Modjadji I e o Navio-TanqueDrakensberg, além dos helicópteros Oryxe Lynx e das aeronaves Gripen C/D, Hawke Impala, da Força Aérea daquele país.

Os esforços para desenvolver uma co-nexão multidimensional forte e duradouraentre as principais economias da Américado Sul, África e Ásia Meridional obtiveram

apoio e sucesso e são resultado da criaçãodo Fórum de Diálogo IBSA (Índia, Brasil eÁfrica do Sul) em Brasília, em 2003. O obje-tivo principal é promover o diálogo Sul-Sule a cooperação e adoção de posições co-muns quanto aos assuntos de importânciainternacional.

(Fonte: www.tecnodefesa.com.br)

OPERAÇÃO AMAZÔNIA 2010A Marinha, o Exército e a Força Aérea

iniciaram, em 13 de setembro último, suasparticipações na Operação Amazônia. Tra-ta-se de uma operação de adestramentoconjunto, conduzida pelo Ministério daDefesa, com duração de 14 dias, desenvol-vida ao norte das calhas dos Rios Amazo-nas e Solimões, em áreas dos Estados doAmapá, Amazonas e Roraima. O propósitofoi promover o treinamento das Forças Ar-madas para a defesa da Pátria em uma áreaprioritária do território brasileiro. Participa-ram cerca de 5 mil militares das três Forças.

Ação de Inspeção Naval

Atendimento na Aciso

Distribuição de cestas básicas

cia hospitalar, um rebocador de alto-mar,um navio-auxiliar, um dique flutuante, umabarca-oficina e três aeronaves pertencen-tes ao Comando em Chefe da Esquadra eaos Comandos do 9º e 4º Distritos Navais.

A Marinha do Brasil realizou, entre ou-tras atividades, as seguintes ações: con-trole de tráfego fluvial, defesa de portos,apoio logístico e ações de assistência hos-pitalar à população ribeirinha. Foram em-pregados um navio-desembarque de car-ros de combate, seis navios-patrulha (sen-do três fluviais), dois navios de assistên-

O Navio-Auxiliar (NA) Pará iniciou AçãoCívico-Social (Aciso) na região de Mazagão(AP), realizando atendimentos médicos,odontológicos e farmacêuticos para a po-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Apresentação do mamógrafo aoTenente-Brigadeiro do Ar Juniti Saito (esq.)

durante a visita

pulação local. Na ocasião, foram distribuí-das cestas básicas, obtidas por meio do tra-balho das Voluntárias Cisne Branco do Co-mando do 4º Distrito Naval (Belém-PA). Nasações do controle do tráfego fluvial, foraminspecionadas, nas proximidades do portode Santana (AP), 319 embarcações em trêsdias de operação. Dessas, 53 foram apreen-didas por violação às normas da Segurançado Tráfego Aquaviário.

Trem Logístico, composto pela Barca-Ofi-cina Alecrim, pelo Dique-Flutuante Almi-rante Jerônimo Gonçalves e pela balsa daEstação Naval do Rio Negro (ENRN), deManaus até o Terminal de Solimões (Tesol),num total de 235 milhas náuticas navega-das pelo Rio Solimões.

Após abarrancar nas proximidades doTesol, foi realizada a docagem operativado Navio de Assistência Hospitalar(NAsH) Carlos Chagas no Dique-Flutu-ante Almirante Jerônimo Gonçalves. ONAsH permaneceu no dique de 19 a 21 desetembro, sendo realizada, nesta ocasião,manutenção programada de substituiçãodos hélices. A desdocagem também ocor-reu de maneira segura, sendo o teste demáquinas considerado satisfatório. Oapoio logístico móvel é imprescindível nosrios da Amazônia em apoio a força-tarefaribeirinha operando a muitas milhas náuti-cas do seu apoio fixo.

Participaram também da Operação Ama-zônia 2010 cerca de 500 fuzileiros navaisdo Comando da Força de Fuzileiros da Es-quadra, do Batalhão de Operações Especi-ais de Fuzileiros Navais, do Batalhão deOperações Ribeirinhas e do Grupamentode Fuzileiros Navais de Belém.

O NA Pará recebeu uma comitiva de 22oficiais-generais, entre eles o comandanteda Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do ArJuniti Saito, no exercício do cargo de minis-tro da Defesa; o comandante do Exército,General de Exército Enzo Martins Peri; e ocomandante de Operações Navais, Almiran-te de Esquadra Luiz Umberto de Mendonça,representando o comandante da Marinha,Almirante de Esquadra Julio Soares deMoura Neto. Durante a visita, foi realizadauma videoconferência do Sistema de Co-mando e Controle (SisC2) com todos osComandos de Força Componente do Teatrode Operações Amazonas. Também ocorreu,a bordo de uma Lancha de Ação Rápida(LAR), a demonstração de uma Ação de Vi-sita e Inspeção (AVI), ocasião em que foiabordada uma embarcação regional.

Outra atividade desenvolvida durante aOperação Amazônia foi o deslocamento do

NAsH Carlos Chagas, Dique-FlutuanteAlmirante Jerônimo Gonçalves e Barca-Oficina Alecrim em docagem operativa

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A realização de uma operação conjuntavem a ser a aplicação de um moderno con-ceito de emprego coordenado de forçasmilitares para atingir um propósito defini-do de interesse para o País.

Assim, a Operação Amazônia decorre deum complexo planejamento realizado por um

estado-maior conjunto, sendo executadacom o emprego de material e pessoal dastrês Forças, que, por meio dessa ação, forta-lecem suas capacidades para a defesa dosinteresses nacionais relativos à AmazôniaBrasileira e seus vínculos com a sociedade.

(Fonte: www.mar.mil.br)

AF-1 Skyhawk passando sobre o públicodurante a apresentação

O Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) re-alizou, entre 5 e 13 de outubro último, noCampo de Instrução de Formosa (perten-cente ao Exército Brasileiro e a aproxima-damente 70 quilômetros de Brasília), a Ope-ração Formosa 2010. O exercício tem porfinalidade contribuir para a manutenção dacondição de pronto emprego dos meios dosFuzileiros Navais, sendo o maior treinamen-to já realizado pela Marinha do Brasil noPlanalto Central.

OPERAÇÃO FORMOSA 2010

Helicóptero Super Puma, da Força Aeronaval

Participaram dos trabalhos o BatalhãoLogístico (BtlLogFuzNav), Batalhão de Arti-lharia (BtlArtFuzNav), Batalhão de Engenha-ria (BtlEngFuzNav), Batalhão de OperaçõesEspeciais (BtlOpEspFuzNav – BatalhãoTonelero), Batalhão de Controle Aerotático eDefesa Antiaérea (BtlCtAetatDAAe), o 1o

Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ata-que (Esqd VF-1, com a aeronave AF-1Skyhawk, utilizada para prover apoio aéreo.

O exercício simulou uma Operação An-fíbia, considerada por muitos como sendoa de execução mais complexa entre todasas operações militares. Priorizando asse-gurar o máximo realismo durante o exercí-cio, todo o armamento foi empregado coma utilização de munição real.

O cenário consistiu em uma tomada decabeça de praia por meio de desembarquee operações anfíbias para a chegada de re-forços. Para treinar os comandantes e ofi-

Cerca de 2.000 homens foram desloca-dos para a operação, que empregou, emmanobras militares ofensivas e defensivas,os seguintes meios: carros de combate,veículos anfíbios, veículos blindados anfí-bios sobre lagartas, veículos blindados detransporte de tropas, mísseis superfície-ar,baterias de artilharia, veículos aéreos nãotripulados (Vant) e aeronaves, entre outros,que foram usados de forma integrada.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Cenário de ação daOperação Formosa 2010

Visão aérea do local dos exercícios eacampamento dos Fuzileiros Navais Demonstração de exercício de tiro

ciais de unidades na tomada rápida eassertiva de decisões, foi criado um revés,no qual uma unidade do Exército ficou iso-lada dentro do campo inimigo e precisavade um canal logístico para receber muni-ção, víveres e reforços.

Segundo o comandante da Força deFuzileiros da Esquadra (FFE), Contra-Al-mirante (FN) Carlos Alfredo Vicente Lei-

tão, o resultado da operação anfíbia foisatisfatório. O comandante ressaltou, tam-bém, que devido ao caráter expedicionárioda FFE, esse tipo de exercício é necessárioe precisa ser contínuo, para que as tropasestejam sempre adestradas e preparadas.

O Corpo de Fuzileiros Navais, conformedetermina a Estratégia Nacional de Defesa,é a força de caráter expedicionário por ex-celência. Assim, a manutenção de sua con-dição de pronto emprego exige treinamen-to em vários ambientes operacionais, taiscomo áreas urbanas, selva, áreas ribeiri-nhas e cerrado. Essa condição de pronti-dão constante materializa a capacitação daMarinha do Brasil na proteção da Amazô-nia Azul e na defesa das instalações na-vais e portuárias, de arquipélagos e de ilhasoceânicas, além de assegurar a capacidadede atuação em Operações Internacionaisde Paz e em Operações Humanitárias.

(Fonte: www.tecnodefesa.com.br ewww.mar.mil.br)

Inauguração da Escola de Projeto deSubmarinos

Em cerimônia realizada em 16 de setem-bro último em Lorient, na França, foi oficial-mente inaugurada a Escola de Projeto de

SUBMARINO NUCLEAR

Submarinos (École de Conception des Sous-Marins), construída pela empresa francesaDCNS (Direction des Constructions Navaleset Services) para efetuar a transferência detecnologia de projeto de submarino nuclearaos engenheiros navais da Marinha do Bra-

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Escola de Projetos de Submarinospara brasileiros

sil (MB), conforme previsto em contrato doPrograma de Desenvolvimento de Submari-nos (Prosub).

A cerimônia de inauguração foi presidi-da pelo coordenador-geral do Programa deDesenvolvimento de Submarino com Pro-pulsão Nuclear, Almirante-de-Esquadra (Ref)José Alberto Accioly Fragelli, e contou coma presença do prefeito de Lorient, NorbertMetairie; do comandante Naval em Lorient,Contra-Almirante Christophe Prazuck; doencarregado do Escritório Técnico do Pro-grama de Desenvolvimento de Submarinosna França, Capitão de Mar e Guerra Francis-co Antonio de Oliveira Junior; de autorida-des locais e da Comissão de Defesa no Par-lamento francês, além do diretor da Divisãode Submarinos da DCNS, Pierre Quinchon,e do diretor do Programa Prosub da empre-sa, Philippe Poirier.

Nessa escola, está em andamento umprograma de preparação de 26 engenhei-ros navais brasileiros, aos quais se junta-rão futuramente outros dois grupos de en-genheiros da Marinha do Brasil, que reali-zarão cursos e exercícios práticos de proje-to por um período de 18 meses, conformeprevisto no Contrato de Transferência deTecnologia de Projeto do Submarino Nu-clear. O Prosub tem, entre seus propósitos,o de projetar o primeiro submarino de pro-pulsão nuclear do Brasil, a ser inteiramente

construído no futuro Estaleiro Naval deItaguaí, no litoral do Rio de Janeiro.

O contrato entre a MB e a DCNS é de 6,7bilhões de euros (8,765 bilhões de dóla-res), constituindo-se num dos mais impor-tantes assinados pela empresa francesa.Ele prevê a construção de quatro submari-nos convencionais, um submarino nuclearde ataque (SNA), uma base de submarinose um estaleiro que estará pronto em 2012em Sepetiba, no estado do Rio de Janeiro.

O primeiro submarino convencional (70metros de comprimento), cuja construçãocomeçou na fábrica da DCNS em Cherbourg,com a participação de 130 engenheiros etécnicos brasileiros, será concluído emSepetiba em 2012, onde outros três naviosserão construídos. O futuro SNA brasileiro,também construído em Sepetiba, deve estaroperando em 2025. Os submarinos conven-cionais deverão estar prontos em 2017.

Por ocasião da cerimônia de inauguração,o coordenador-geral do Programa de Desen-volvimento de Submarinos com PropulsãoNuclear proferiu o seguinte discurso:

“Excelentíssimos senhores e senhoras,Toda inauguração de uma Escola, ou mes-

mo de um prédio escolar, é um passo na dire-ção de um futuro maior e mais grandioso.

A festa de hoje tem um sabor muito espe-cial, pois reafirma os laços de amizade quesempre ligaram culturalmente o Brasil e aFrança. Foi a França, durante muito tempo,um exemplo de conhecimento em que gera-ções passadas de brasileiros se espelharam.Era na França que muitos jovens brasileirosprocuravam se aprimorar culturalmente, nãosó nos conhecimentos técnicos, mas em di-versas artes, como na literatura e no teatro.

Foi em solo francês que um jovem brasi-leiro, Santos Dumont, no início do séculopassado, veio fazer as suas experiênciasno campo aeronáutico, na busca de alcan-çar o caminho dos pássaros, criando uminstrumento voador mais pesado que o ar.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi também a França que, nos meadosdo século XVI, procurando um local nonovo continente, aventurou-se em águasde terras recentemente descobertas atédescobrir uma baía de grande beleza, aindanão explorada, para tentar criar a FrançaAntártica, escolhendo, entre muitas ilhas,uma onde se estabeleceu por um bom perí-odo e que, por coincidência, hoje aloja anossa Escola Naval, guardando nos seusumbrais o nome do almirante francês quelá esteve há mais de quatro séculos,Villegagnon.

Muito mais ligações sempre tivemos ir-manando brasileiros e franceses, e no diade hoje mais um laço será acrescido com ainauguração da Ecole de Conception desSous-Marins, que acolherá um sem-núme-ro de engenheiros brasileiros, procurandoobter gradativamente a transferência deuma tecnologia de ponta para, obtendo-a,alcançar um dos altos objetivos do Brasil,de dominar a tecnologia de poder projetare construir um submarino nuclear.

Foi pelo mar que o Brasil foi descobertoe é por ele que nos unimos a tantas outrasnações no livre comércio de um crescimen-to incessante e que já nos alçou ao 8o lugarentre nações economicamente ricas. Maisdo que nunca o mar tem uma importânciavital para o nosso país. Ele não é uma bar-reira a nos separar de outros continentes,mas sim uma grande ponte, por onde trafe-gam mais de 90% de nossas riquezas ex-portadas ou importadas. É nele que estãoas grandes reservas de petróleo recente-mente descobertas. Tudo isto nos obriga acrescer também no segmento de defesa, embusca de uma tecnologia que permita ter-mos meios de proteção de grande valorestratégico, como é o caso do submarinonuclear.

Esta parceria com a França é extrema-mente importante, pois nos trará não sógrande incremento nos nossos conheci-

mentos de projetos e construção de sub-marinos, mas também uma grandeeconomicidade no tempo, onde a veloci-dade do relógio tecnológico gira muito maisrapidamente do que o do passar das horas.

Quero, neste momento, deixar meus sin-ceros agradecimentos a todos aqueles que,na DGA, na DCNS e na nossa Odebrecht,nos ajudam de maneira extremamente profis-sional e, mais do que isso, com companhei-rismo. Essa maneira de ser nos leva à certezade que dentro do tempo previsto obteremoso primeiro submarino com propulsão nuclearconstruído no hemisfério sul.”

Seminário sobre Apoio LogísticoIntegrado no âmbito do Prosub

Com a finalidade de aprimorar o Prosub,a Coordenadoria-Geral do Programa deDesenvolvimento de Submarino com Pro-pulsão Nuclear (Cogesn) promoveu, entre23 de agosto e 2 de setembro últimos, umseminário sobre Apoio Logístico Integra-do (ALI). O evento buscou otimizar a trans-ferência de tecnologia na área logística pelaempresa francesa DCNS. A ideia é gerarsubsídios relevantes para a adequação dotreinamento aos engenheiros e técnicos daMB a ser conduzido pela DCNS na França.

A primeira etapa teve uma semana deduração, em que foram apresentadas pa-lestras sobre o tema por parte da equipe daDCNS e de representantes da MB cujas

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Máquina de perfuratriz para estacas

Demarcação da área onde serão construídos aBase Naval e o Estaleiro de Submarinos

Organizações Militares exercem atividadesrelevantes no campo de ALI. Participaramdo evento representantes da Diretoria-Ge-ral do Material da Marinha (DGMM), daDiretoria de Sistemas de Armas da Mari-nha (DSAM), da Diretoria de Comunica-ções e Tecnologia da Informação da Mari-nha (DCTIM), da Diretoria de EngenhariaNaval (DEN), da Diretoria de Abastecimen-to da Marinha (DAbM), do Arsenal deMarinha do Rio de Janeiro (AMRJ), doComando da Força de Submarinos(ComForS), do Centro de Controle de In-ventário da Marinha (CCIM), da Base Al-mirante Castro e Silva (BACS), do Centrode Projetos de Navios (CPN), do Centro deManutenção de Sistemas da Marinha(CMS) e do Centro de Apoio a SistemasOperativos (Casop). Nesse período, osparticipantes da MB tiveram a oportunida-de de conhecer a estrutura de ALI da DCNSe vice-versa.

A segunda semana foi dedicada a visi-tas ao AMRJ, ao ComForS, à BACS, aoCCIM, ao Depósito Naval no Rio de Janei-ro (DepNavRJ), ao Depósito de Sobressa-lentes da Marinha no Rio de Janeiro(DepSMRJ) e ao CMS.

Mão de obra local nas obras doEstaleiro e Base de Submarinos emItaguaí

Em um canteiro de obras com 90 mil m2,localizado na região de Itaguaí (RJ), 320

homens da Construtora Odebrecht inicia-ram uma longa jornada de trabalho, sob afiscalização permanente da Marinha. O pro-jeto é construir a Unidade de Fabricaçãode Estrutura Metálica (Ufem), primeira eta-pa do novo Complexo Militar-Naval. OComplexo é composto também por um Es-taleiro e pela Base Naval de Submarinos.

Na Ufem serão produzidas as estrutu-ras internas de submarinos, além da pré-moldagem dos materiais e equipamentosque irão dentro do meio. Responsável pe-las obras da Unidade, o engenheiro civilMarcelo Vieira conta que, desde julho de2010, foram executadas 700 estacas, de umtotal de 1,6 mil. “Trabalhamos hoje comquatro máquinas de perfuratriz para as es-tacas do tipo escavada e outras duas paraas estacas do tipo hélice”.

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Além da importância estratégica,tecnológica e industrial do Programa deDesenvolvimento de Submarino com Pro-pulsão Nuclear, existe uma latente preocu-pação com o aspecto social. Por esse moti-vo, foi implementado o Programa de Quali-ficação Profissional Continuada Acreditar,que seleciona, capacita e forma a mão deobra da própria região, com o intuito decontratá-la para atuar nas obras. “Muitosdos carpinteiros, pedreiros e armadoresque estão aqui foram alunos do programa”,revelou o diretor do Contrato da Odebrechtcom a Marinha, Fábio Gandolfo. “Eles pas-saram por aulas teóricas, práticas e por umbreve estágio antes de se formarem e se-rem efetivados”, disse.

O gerente executivo do Projeto e da Obrade Construção da Base Naval e do Estalei-ro, Capitão de Mar e Guerra (EN) ÁlvaroRodrigues Fernandez, declarou que, na fasede elaboração do projeto, a Marinha não sepreocupou apenas com às questões técni-cas, mas também em interferir o mínimo pos-sível na vida da comunidade local.

“Está prevista a construção de um cen-tro de informações e esclarecimentos para

os moradores de Itaguaí e a quem se inte-resse pelo que existe aqui”, anunciou. Elefalou, ainda, da preocupação da Força empreservar as residências próximas à áreado Complexo e acrescentou: “A populaçãoserá beneficiada pelo incremento que aconstrução trará à região”.

Comandante da Marinha visita as obras

O comandante da Marinha, Almirantede Esquadra Julio Soares de Moura Neto,visitou, em 18 de agosto último, as obrasde construção da Ufem e conheceu, a bor-do de uma lancha, a área marítima onde seráinstalado o Estaleiro e a Base Naval deSubmarinos, em Itaguaí.

Acompanharam o comandante da Mari-nha o então chefe do Estado-Maior da Ar-mada, Almirante de Esquadra MarcosMartins Torres, hoje ministro do SuperiorTribunal Militar; o diretor-geral do Materialda Marinha, Almirante de Esquadra ArthurPires Ramos; o coordenador-geral do Pro-grama de Desenvolvimento de Submarinocom Propulsão Nuclear, Almirante de Esqua-dra (Refo) José Alberto Accioly Fragelli; odiretor de Obras Civis da Marinha, Vice-Al-mirante Luiz Guilherme Sá de Gusmão; e opresidente da Nuclebrás Equipamentos Pe-sados S.A. (Nuclep), Jaime Cardoso.

A Ufem possibilitará à Marinha do Bra-sil realizar os serviços iniciais de equipagem

Comandante da Marinha visita obras da Ufem

(Da esq. para a dir.) No canteiro de obras daUfem, o gerente do Empreendimento

Modular de Obtenção da Ufem, Base eEstaleiro, CA Alan Paes Leme Arthou; o

diretor do Centro de Comunicação Social daMarinha, CA Paulo Mauricio Farias Alves;

o CMG Álvaro Fernandez e oengenheiro José Luiz, da Odebrecht

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das seções dos submarinos convencionaise nuclear, provenientes da Nuclep, que,posteriormente, serão destinados ao Esta-leiro Naval. As obras da Ufem encontram-se na fase de estaqueamento das funda-ções. A previsão de término é para o 1º se-mestre de 2012.

Comitiva da Cogesn visita o EscritórioTécnico do Prosub

Uma comitiva da Cogesn, da Diretoria-Geral do Material da Marinha, visitou, em15 de setembro último, as instalações doEscritório Técnico brasileiro do Programa

de Desenvolvimento de Submarinos naFrança (ET-Prosub), em Houilles, na baseda Marinha francesa Centre CommandantMille.

A comitiva, formada pelo coordenador-geral do Programa de Desenvolvimento deSubmarino com Propulsão Nuclear; pelocoordenador executivo, Vice-Almirante(RM1-EN) César Pinto Corrêa; por mem-bros da Cogesn e por representantes doConsórcio Baía de Sepetiba, foirecepcionada pelo encarregado do ET-Prosub e, após conhecer a sede do escritó-rio, assistiu a uma apresentação sobre asações empreendidas pelo Escritório Técni-co na França.

Inaugurado em 1o de julho deste ano, oET-Prosub foi criado no contexto da parce-ria estratégica entre a França e o Brasil. Aprincipal atividade do escritório é a trans-ferência de tecnologias ligadas à concep-ção de submarinos e apoio ao pessoal. Efe-tivamente, o ET-Prosub assegura apoio aosengenheiros que se encontram em locali-dades como Loriente, Cherbourg, Toulone Saint-Tropez, todas na França. O Escritó-rio Técnico funcionará enquanto durar ocontrato de submarinos entre o Brasil e aFrança, ou seja, por mais de 20 anos.

Comandante da Cogesn visita o EscritórioTécnico do Prosub

Um projeto da Fundação Coordenaçãode Projetos, Pesquisas e EstudosTecnológicos (Coppetec/Coppe/UFRJ), doRio de Janeiro, foi selecionado pelo IVEdital Costa Atlântica, da Fundação SOSMata Atlântica. O Edital foi lançado peloPrograma de Conservação das Zonas Cos-teira e Marinha sob influência do BiomaMata Atlântica da Fundação e selecionoucinco projetos que receberão, ao todo, cer-ca de R$ 200 mil para as duas linhas de

EDITAL COSTA ATLÂNTICA BENEFICIA MAIS UM PROJETODO RIO DE JANEIRO

apoio: “Criação e Consolidação de Unida-des de Conservação (UCs) Marinhas” e“Conservação e Uso Sustentável de ambi-entes marinhos e costeiros”. Os recursossão patrocinados por Bradesco Capitaliza-ção, Fundação Toyota do Brasil e Repsol.

Com esse resultado, o Rio de Janeiropassa a ter três projetos apoiados pela Or-ganização Não Governamental (ONG). Osoutros dois foram: “Centro de InformaçõesAmbientais da Estação Ecológica Tamoios:

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Contribuindo com a Conservação daBiodiversidade e a Sustentabilidade SocioAmbiental da Baía da Ilha Grande”, da So-ciedade Angrense de Proteção Ecológica– Sape, contemplado no I Edital; e, “Servi-ços Ambientais em Ecossistemas Costei-ros: o papel dos manguezais na mitigaçãodo aquecimento global”, do Instituto Ma-rés, contemplado no III Edital na linha deconservação de manguezais ou restingas.

Desta vez, o projeto escolhido formarámultiplicadores de uma inovadora ferramentainterativa que ajuda a implementar planosde manejo participativo em UCs costeiras emarinhas. Trata-se da “maquete interativa”,uma representação tridimensional da unida-de de conservação. O projeto se baseia emnovas tendências da etnoconservação,aquela onde há cooperação entre os conhe-cimentos científicos e os tradicionais dospescadores artesanais em cursos de forma-ção inicial e técnicos voltados para a gestãoambiental. A capacitação dos multiplicadores– para a criação e uso das maquetes intera-tivas como ferramentas didáticas e de ges-tão de áreas protegidas costeiro-marinhas –será feita com a participação de pescadorese gestores de UCs. A ideia é também contri-buir com a inserção de conhecimentos eco-lógicos tradicionais dos pescadores noscurrículos da rede pública de ensino de Ar-raial do Cabo (RJ).

O Programa Costa Atlântica surgiu paraapoiar o poder público e as demais organi-zações na ampliação da representatividadedas Unidades de Conservação Marinha noBrasil e contribuir com a conservação dabiodiversidade, a manutenção do equilíbrioambiental, a integridade dos patrimôniosnaturais, históricos e culturais e o desen-volvimento sustentável dos territórios cos-teiros e marinhos.

O Programa é constituído por dois fun-dos, o Fundo Costa Atlântica e o FundoPró-Unidades de Conservação Marinhas.O Fundo Costa Atlântica foi criado paraapoiar projetos que visam ao desenvolvi-mento regional na zona costeira com in-centivo ao estabelecimento de novos ne-gócios e atividades sustentáveis, de formaa promover a melhoria na qualidade de vidadas comunidades locais. Já o Fundo Pró-Unidades de Conservação Marinhas foiestabelecido como um fundo de perpetui-dade, com vistas a garantir a proteção, ges-tão e sustentabilidade das áreas marinhasprotegidas existentes, já com projetos sen-do desenvolvidos na Reserva BiológicaMarinha do Atol das Rocas (RN) e na Esta-ção Ecológica Guanabara (RJ) em parceriacom o Instituto Chico Mendes de Conser-vação da Biodiversidade.

(Fonte: Press-release da Lead Comuni-cação e Sustentabilidade)

Foi plantada a árvore fundamental daEcoagência Fluvial de Humaitá (AgFluHu-maitá), na margem esquerda do Rio Madei-ra, 250 km a jusante de Porto Velho (RO).Sua área de jurisdição compreenderá osmunicípios de Humaitá, Manicoré, NovoAripuanã e Apuí.

O projeto de construção da Ecoagênciacontempla as mais modernas tecnologias desustentabilidade, no que tange à utilização

ECOAGÊNCIA FLUVIAL DE HUMAITÁ

Construção da Ecoagência de Humaitá

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Projeto da Eco-Agência Fluvial de Humaitá

de água de chuvas e de energia solar, bemcomo de prevenção da poluição com um sis-

tema próprio de tratamento de seus afluen-tes. A AgFluHumaitá e as 11 residências se-rão construídas com madeira provenientede manejo sustentável, o que significa ocorte controlado de árvores em sintonia como ciclo de renovação da natureza, que nãocompromete a pujança das florestas para asgerações futuras.

A Agência de Humaitá será subordina-da à Capitania Fluvial da Amazônia Oci-dental e contribuirá para a segurança dotráfego aquaviário e para a prevenção dapoluição hídrica na mais promissora dashidrovias brasileiras.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O comandante do 6o Distrito Naval(Ladário-MS), Contra-Almirante DomingosSavio Almeida Nogueira, realizou, em 13 desetembro último, visita à Agência Fluvialde Cáceres (AgCáceres), no Mato Grosso.O propósito foi inspecionar a agência apóso término da obra de reforma e ampliação,que consistiu em um acréscimo de 316 m2

em sua área construída e criação de umagaragem de 240 metros quadrados para vi-aturas e embarcações.

No decorrer da visita, o Contra-Almi-rante Savio concedeu entrevistas, oportu-nidade em que pôde divulgar para a socie-dade local as atividades que norteiam a atu-

REFORMA E AMPLIAÇÃO DA AGÊNCIA FLUVIALDE CÁCERES

ação da Marinha do Brasil naquela região.Houve também a realização de um encon-tro com autoridades de diversos segmen-tos, realizado a bordo do Barco-Hotel PatoBravo.

Durante o encontro, o comandante do 6o

Distrito Naval apresentou as peculiaridadesda Hidrovia Paraguai-Paraná, destacandosua importância para o desenvolvimento daregião e as atividades realizadas pela Mari-nha do Brasil em prol de sua manutenção. Aviagem a Cáceres incluiu, ainda, visita ao 2o

Batalhão de Fronteira (Cáceres), o BatalhãoGeneral José Miguel Lanza.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Foi realizada, em 25 e 26 de setembroúltimo, em Balneário Camboriú (SC), a se-gunda etapa do brasileiro de Stock CarBoat, o campeonato nacional de motonáu-tica. Participaram da atividade náutica gran-

SETOR NÁUTICO CONFIRMA ASCENSÃOEM SANTA CATARINA

des nomes do esporte, num total de 12 pi-lotos que competiram na Barra Sul.

O evento reforçou a constatação de queo setor náutico a cada dia ganha mais espa-ço em Santa Catarina. Essa percepção é cla-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ra com os investimentos voltados a essesegmento. A Tedesco Marina, pioneira emBalneário Camboriú, por exemplo, já estácom todas as vagas lotadas e projeta a am-pliação de seu espaço. No setor da constru-ção civil, a construtora Mendes Sibara lan-çou recentemente o Marina Beach Towers,empreendimento com todos os serviços demarina exclusivos aos seus moradores.

Dados da Associação Catarinense deMarina, Garagens Náuticas e Afins (Acatmar)apontam que existem mais de 30 marinas epíeres, 17 oficinas especializadas no setor ná-utico e 15 estaleiros que constroem barcos elanchas dos mais variados portes em SantaCatarina. A indústria catarinense é a maior pro-dutora de lanchas maiores de 30 pés.

O estado oferece, ainda, medidas tribu-tárias para favorecer a competitividade com

São Paulo e Rio de Janeiro. O programa Pró-Naútica, que beneficia a indústria de embar-cações de lazer, vai conceder redução decarga tributária, com alíquota de ICMS pas-sando de 25% para 7%. O objetivo é fomen-tar o polo náutico catarinense. As embarca-ções utilitárias já possuem outros benefíci-os específicos anteriores a 2009, data emque foi acordado o programa.

Vale destacar que o mercado náuticomovimenta mais de US$ 400 milhões porano, segundo dados da Associação Brasi-leira dos Construtores de Barcos e seusImplementos (Acobar). Estudos apontamque esta indústria tem em Santa Catarinapotenciais emergentes que tendem a fazerdo Estado um polo do setor.

(Fonte: Press release da Oficina dasPalavras)

O Terminal de Contêineres de Paranaguá(TCP), no Paraná, vai investir R$ 141 mi-lhões em obras civis e na aquisição de no-vos e modernos equipamentos de opera-ção portuária. Esse valor vem se somar aosR$ 343 milhões já investidos pelo TCP des-de sua fundação, em 1998.

O projeto de investimento foi aprovadopela Agência Nacional de TransportesAquaviários (Antaq) e pelo Conselho da Au-toridade Portuária (CAP) e contempla a ampli-ação do cais em 315 metros (totalizando 880metros), com a construção na extremidade les-te de três dolphins de atracação e um de amar-ração, seguindo e replicando o modelo atual.Quando concluída, a ampliação permitirá aoperação simultânea de três navios porta-contêineres, transformando o TCP num dosmaiores terminais da América do Sul.

TERMINAL DE CONTÊINERES DE PARANAGUÁANUNCIA AMPLIAÇÃO E COMPRA

As obras de ampliação do cais deverãogerar aproximadamente 200 empregos dire-tos e 100 indiretos, além de 90 empregosdiretos e 500 indiretos permanentes depoisde concluídas.

O Terminal de Contêineres de Paranaguámovimentou em 2009 um total de 606.624TEUs. Esse volume representou um cres-cimento de 3,8% em relação a 2008 (o TCPfoi o único terminal brasileiro a registrarcrescimento naquele ano de crise mundial)e um crescimento de 75% em relação a 2004(quando foram movimentados 345.743TEUs). Em 2010, até setembro, o TCP mo-vimentou 485.410 TEUs, o que representaum crescimento de 12% em relação a igualperíodo do ano passado.

(Fonte: Press release da Página 1Comunicação)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A União Europeia (UE) escolheu o pro-jeto I2C, liderado pela empresa francesaDCNS e apoiado por 20 parceiros europeus,para servir de base a um programa de pes-quisa e desenvolvimento visando atenderaos desafios da UE no campo da seguran-ça marítima no Mediterrâneo.

O projeto I2C de pesquisa e demonstra-ção de tecnologia se estenderá por quatroanos. O sistema detectará (em tempo real,

DCNS ESCOLHIDA PELA UE PARA PROGRAMAEM SEGURANÇA MARÍTIMA

sob quaisquer condições meteorológicase em distâncias de até 400 km da costa)qualquer comportamento anormal por par-te de navios cooperativos e não cooperati-vos. Exemplos de comportamentos anor-mais serão velocidades altas ou baixas de-mais, parada em alto-mar, navios navegan-do (ou parados) juntos e súbitas mudan-ças de direção.

(www.segurançaedefesa.com)

Foi estabelecida, pela Lei no 12.334,publicada no Diário Oficial da União em 21 desetembro último, a Política Nacional de Segu-rança de Barragens (PNSB). O novo docu-mento refere-se às barragens destinadas àacumulação de água para quaisquer usos, àdisposição final ou temporária de rejeitos e àacumulação de resíduos industriais.

A PNSB será aplicada nas barragens queapresentarem características específicas,como, por exemplo, dimensões superioresa 15 metros de altura, capacidade total doreservatório maior ou igual a 3 milhões demetros cúbicos, reservatório que contenharesíduos perigosos conforme normas téc-nicas aplicáveis ou apresentem danos po-tenciais ao meio ambiente ou à segurançae saúde das pessoas.

O principal objetivo da lei é a regula-mentação de ações de segurança a seremadotadas nas fases de planejamento, pro-jeto, construção, primeiro enchimento eprimeiro vertimento, operação, desativaçãoe de usos futuros de barragens em todo oterritório nacional, bem como promover ins-

POLÍTICA NACIONAL DESEGURANÇA DE BARRAGENS

trumentos para se monitorar e fiscalizar taisáreas. O empreendedor responsável pelabarragem fica obrigado a promover os ele-mentos necessários para a plena seguran-ça da barragem, informando ao respectivoórgão fiscalizador qualquer alteração quepossa acarretar redução da capacidade dedescarga da barragem.

De acordo com o texto da lei, a AgênciaNacional das Águas (ANA) fica encarrega-da de organizar, implantar e gerir o SistemaNacional de Informações sobre Segurançaem Barragens. A ANA deverá, ainda, promo-ver a articulação entre órgãos fiscalizadoresdas barragens e coordenar a elaboração doRelatório de Segurança de Barragens eencaminhá-lo anualmente ao Conselho Naci-onal de Recursos Hídricos (CNRH).

A nova lei também instituiu o SistemaNacional de Informações sobre Segurançade Barragens (SNISB), que será o responsá-vel pela efetivação do registro informatizadodas condições de segurança de barragensem todo o território nacional.

(Fonte: www.almeidalaw.com.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A bordo do Navio de Assistência Hos-pitalar (NAsH) Oswaldo Cruz, nasceu, em6 de outubro último, o menino Daniel deAlmeida Valcasse. Com 49 centímetros e3,08 quilos, Daniel foi a sétima criança anascer em um navio da Marinha do Brasil,sendo a segunda no Oswaldo Cruz. O par-to aconteceu quando o navio estava fun-deado nas proximidades da cidade deCaiambé, no Rio Solimões, distante 742quilômetros de Manaus (AM).

O nascimento da criança foi motivo dealegria, comemoração e incentivo para a equi-pe médica e a tripulação do navio. Uma equi-pe de nove profissionais participou do par-to: o encarregado da Divisão Hospitalar, Pri-meiro-Tenente Fujiyama; os segundo-te-nentes médicos Vitor Ribeiro, RaphaelGenevícius e Thaís Valente; os segundo-sargentos enfermeiros Vitorino e CarlosHenrique; e os cabos, também enfermeiros,Noronha, Maurício e Fabiano.

BEBÊ NASCE A BORDO DO NAsH OSWALDO CRUZ

A mãe, Deuzilene, e sua filha maior observamo cuidado dos Tenentes Vitor Ribeiro (esq.),Thaís Valente (centro) e Raphael Genevícius

(dir.) com o recém-nascido

Ao longo da comissão, foram presta-dos, além do parto, 4.302 atendimentos desaúde à população da região, sendo 1.059atendimentos médicos, 2.883 atendimentosodontológicos, 104 atendimentos de enfer-magem, 113 vacinações, uma radiografia euma cirurgia.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Para assegurar a tranquilidade e a regu-laridade do processo eleitoral no primeiroturno da eleição de 2010, a Marinha do Bra-sil esteve presente em seis municípios do

MARINHA APOIA TSE NAS ELEIÇÕES NO AMAZONAS

Agentes, em Tefé, durante a Operação“Eleições 2010”

Amazonas, por solicitação do TribunalSuperior Eleitoral (TSE).

Ao todo, seis lanchas com tripulaçãoforam disponibilizadas para atuar emManaus, Parintins, Eirunepé, Boca do Acre,Itacoatiara e Tefé. Nesses locais, militaresapoiaram a prevenção de crimes eleitoraise o transporte aquaviário ilegal de eleito-res. Não houve registro de ocorrências.

Em paralelo, foram realizadas inspeçõesnavais para garantir a segurança da nave-gação. Em Parintins, a Marinha, em parce-ria com a Polícia Federal, abordou 34 em-barcações, e quatro delas estavam comexcesso de passageiros. Em Eirunepé, fo-ram constatadas infrações referentes àfalta de material de salvatagem, tripulante

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Lancha de apoio às eleições 2010

não habilitado e embarcações sem docu-mentação completa. Já em Itacoatiara, aMarinha, em parceria com a Polícia Mili-tar, abordou dez embarcações, e em umadelas ficou constatado excesso de passa-geiros. Em Tefé, foram verificadas irregu-laridades quanto à falta do uso de coletessalva-vidas. Já em Boca do Acre, não fo-ram observadas irregularidades.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Atracou na Base Almirante Castro e Silva(Niterói-RJ), em 8 de setembro último, o Na-vio-Patrulha (NPa) Macaé, procedente deFortaleza-CE, onde estava sendo construído.O navio, primeiro da classe dos navios-pa-trulha de 500 toneladas, permaneceu no Riode Janeiro, subordinado à Diretoria-Geral doMaterial da Marinha, para comissionamentodo armamento e do Sistema de Controle eMonitoração (SCM) de Máquinas.

De 13 a 17 de setembro, o Macaé parti-cipou, também no Rio de Janeiro, de even-tos relativos à XXIV Conferência NavalInteramericana, dentre os quais a visita docomandante da Marinha e dos chefes dasdelegações dos países participantes.

NPa MACAÉ CHEGA AO RJ E DIVULGA A CONSTRUÇÃONAVAL BRASILEIRA

Em Brasília, com o objetivo de divulgaro lançamento do NPa Macaé, a Marinhapublicou um anúncio em outdoor naEsplanada dos Ministérios, ao lado de seuedifício-sede.

O Macaé marca o início da atuação deuma nova classe de navios da Marinha doBrasil – os navios-patrulha de 500 tonela-das. Sua incorporação vem contribuir paraa defesa do patrimônio brasileiro no mar,com a participação em atividades de patru-lha, inspeção naval, salvaguarda da vidahumana no mar, fiscalização de poluiçãomarítima, proteção de campos petrolíferose segurança do tráfego marítimo nacional.

No total, planeja-se construir 27 dessesnavios, que trazem evidentes benefíciosestratégicos e operacionais, tais como:

– intensificação da ação de presença, vi-gilância, proteção e defesa das áreas ondese encontram as instalações marítimas depesquisa e exploração de petróleo e gás, quese estende até a Zona Econômica Exclusivade 200 milhas (cerca de 370 km do litoral);

– contribuição para a formação de umaIndústria Nacional de Defesa com capaci-dade autônoma, pela produção nacional denavios de guerra e pelo desenvolvimentono País de uma cadeia logística de reparos e

Outdoor na Esplanada dos Ministérios,em Brasília

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

suprimentos independentes (peças de re-posição e serviços especializados);

– aumento da capacidade de Socorro eSalvamento nas Águas Jurisdicionais Bra-sileiras (AJB);

– potencialização da capacidade de pa-trulha marítima, com o emprego coordena-do dos NPa na fiscalização do cumprimen-to das leis e regulamentos nas AJB; e

– aumento do poder de dissuasão daMarinha do Brasil, no combate a crimestransnacionais, pela combinação dos fato-res acima mencionados.

O NPa Macaé representa também a bus-ca da nacionalização na execução do proje-to, tendo sido alcançado um índice de 60%.

(Fonte: Bono no 639, de 10/9/2010 ewww.mar.mil.br)

Foi lançado no Clube Naval (Rio de Ja-neiro-RJ), em 26 de agosto último, o livro1910 – O fim da chibata - Vítimas oualgozes, de autoria de Cláudio da CostaBraga. A obra, com 435 páginas distribuídasem 18 capítulos, Conclusão e quatro ane-xos, é “baseada em do-cumentação levantadaem arquivos e relatos daimprensa e, principal-mente, de pessoas”,conforme esclarece oautor na Introdução.

Da orelha extraímos:“Em 1910, o Brasil

viveria uma das maio-res crises da história desua Marinha de Guerracom a deflagração deduas revoltas na Arma-da, em 22 de novembroe em 9 de dezembro. Aprimeira, conhecidacomo ‘Revolta dosMarinheiros’ ou ‘Re-volta da Chibata’, en-tre outras reivindica-ções exigia o fim da aplicação do cruel edesumano castigo da chibata a bordo dosnavios da Armada.

Sete dias após assumir a Presidência daRepública, depois de tumultuada campa-nha política, o Marechal Hermes da Fonse-

1910 – O FIM DA CHIBATA – VÍTIMAS OU ALGOZES

ca se veria diante da ameaça de bombar-deio da capital da República pelos canhõesmais poderosos até então construídos,provenientes de sua própria Armada. Semcunho ideológico ou qualquer motivaçãoracial ou política declarada, os revoltosos,

numa ação brutal e cri-minosa, cometeram as-sassinatos, expulsarama oficialidade de bordo,assumiram os navios epassaram a ameaçar debombardeio as cidadesdo Rio de Janeiro e deNiterói, levando pânicoàs populações indefe-sas. Exigiram que suasreivindicações fossematendidas sem abriremmão de permanecercom os meios de inti-midação: os poderososcanhões dos navios emrevolta.

Pressionado pelascircunstâncias, o Go-verno cede e no tercei-

ro dia o Presidente sanciona o Decreto deAnistia, isentando de culpa todos osrevoltosos das mortes e crimes praticados eatendendo todas as demais reivindicações.

Estavam quebrados os dois pilares –hierarquia e disciplina – que sustentavam

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essa Instituição do Estado que tanto fizerapela integração territorial e a manutençãoda paz no Brasil.

A segunda, em 09 de dezembro, sem umamotivação específica, provocaria muito maismortes e destruições, tendo sido o fator es-sencial para que o Governo abrisse os inqu-éritos necessários a fim de levantar respon-sabilidades, que a anistia concedida na pri-meira não permitira, além de dar elementospara a decretação do estado de sítio.

Aspectos deficientes no recrutamentoe formação de seus marinheiros, aefetivação de uma só vez do ambicioso Planode Reaparelhamento da Marinha, com aaquisição dos mais modernos navios deguerra já construídos, foram fatores con-tribuintes para a deflagração de tão violen-

tas revoltas, ficando a ser respondida porcada leitor se os marinheiros revoltososteriam sido vítimas ou algozes.”

Cláudio da Costa Braga é oficial da re-serva da Marinha e autor de mais dois li-vros: A Guerra da Lagosta (2006) e O Últi-mo Baile do Império – O Baile da IlhaFiscal (2008-2a edição), que foi publicadotambém em espanhol na 27a Feira Interna-cional do Livro, em Santiago-Chile. Tam-bém escreveu “Tamandaré nas Guerras daIndependência e Cisplatina”, trabalho ven-cedor do Prêmio Marquês de Tamandarépor ocasião da comemoração do Bicente-nário de Nascimento do Patrono da Mari-nha do Brasil (2007) e o trabalho que insti-tuiu o Patrono e o Dia das ComunicaçõesNavais na Marinha do Brasil (2008).

O Sindicato Nacional da Carreira Audito-ria da Receita Federal do Brasil (Sindireceita)lançou, com o apoio da Frente Parlamentarpela Modernização da Aduana Brasileira, olivro-reportagem Fronteiras Abertas – Umretrato do abandonoda Aduana Brasileira.

Por dez meses, o jor-nalista da assessoria decomunicação doSindireceita RafaelGodoi e o analista tribu-tário e diretor da entida-de, Sérgio de Castro,percorreram mais de 15mil km e visitaram os 31postos aduaneiros man-tidos pela Receita Fede-ral do Brasil (RFB) na fronteira com Uruguai,Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Colômbia,Venezuela, Guiana e Guiana Francesa.

A equipe do Sindireceita percorreu ro-dovias federais e estaduais, estradas

FRONTEIRAS ABERTAS

vicinais e rios que marcam a fronteira doBrasil. Nesses pontos, caminhões carrega-dos com carvão, madeira, bebidas e produ-tos agrícolas entram no Brasil diariamentesem passar por nenhuma fiscalização.

Para cobrir uma ex-tensão de mais de 16,8mil quilômetros defronteiras, a ReceitaFederal do Brasil man-tém apenas 31 postosaduaneiros. Nessasunidades, o efetivo deservidores é de apenas596 funcionários – 245auditores fiscais e 351analistas tributários, oque representa ape-

nas 3% da força de trabalho da ReceitaFederal. Com esse efetivo e os poucos pos-tos aduaneiros, destaca o presidente doSindireceita, Paulo Antenor de Oliveira, nãohá como manter ações efetivas de fiscali-

Sem um reforço efetivo noquadro de servidores e,

principalmente, sem tratara aduana como uma

prioridade, o Brasil nãoconseguirá vencer a guerracontra o crime organizado

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zação, vigilância e controle de veículos,cargas e pessoas que entram e saem doPaís. Sem um reforço efetivo no quadro deservidores e, principalmente, sem tratar aaduana como uma prioridade, o Brasil nãoconseguirá vencer a guerra contra o crimeorganizado.

O objetivo do livro Fronteiras Abertasé apresentar à sociedade e às autoridadesum retrato das condições de trabalho naaduana e mostrar como essas falhas na ad-ministração aduaneira causam impacto navida de toda a população.

(Fonte: Vera Moreira Comunicação)

O Ministério da Defesa e a FundaçãoGetúlio Vargas lançaram, em outubro últi-mo, o livro Segurança Internacional: Pers-pectivas Brasileiras, que reúne 39 artigosrepresentativos da diversidade do pensa-mento estratégico do País. A obra é resul-tado de um inédito ci-clo de seminários reali-zado entre março e ju-nho de 2010 no Rio deJaneiro, São Paulo eBrasília, com patrocí-nio do Ministério daDefesa em parceriacom instituições públi-cas e privadas de exce-lência (Fundação Getú-lio Vargas, FundaçãoArmando Álvares Pen-teado, Federação dasIndústrias do Estadode São Paulo – Fiesp,Comando do Exército eComando da Marinha).

O livro, organizadopelo ministro da Defesa, Nelson Jobim; porseu assessor militar, General SergioEtchegoyen; e pelo diplomata João PauloAlsina, foi lançado em eventos em São Pauloe no Rio de Janeiro, com a presença dosorganizadores e de vários dos autores.

A publicação apresenta abrangente re-flexão sobre o lugar do Brasil no mundo sob

SEGURANÇA INTERNACIONAL:PERSPECTIVAS BRASILEIRAS

o prisma das relações de segurança preva-lecentes no sistema internacional. Trata-sede amplo e qualificado painel produzido noPaís sobre o assunto, com o confronto dasmais diversas visões. O espectro de temasabordados, que vão de indagações sobre o

futuro das guerrasinterestatais à militari-zação do espaço e suasconsequências para aspotências médias,soma-se à qualidade doconjunto de autoresque contribuíram paraesse trabalho.

Além de sua utilida-de como subsídio paraa formulação de políti-cas públicas no campoda defesa nacional, Se-gurança Internacio-nal: Perspectivas Bra-sileiras pode ser con-siderado elemento deconsulta indispensá-

vel para estudantes e professores de gra-duação e pós-graduação em Relações In-ternacionais, Ciência Política, Sociologia eEstudos Estratégicos.

De modo também inédito, o livro conta-rá com distribuição nacional e poderá seradquirido por qualquer cidadão interessa-do por preço acessível.

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A obra, com introdução do ministro daDefesa e prefácio do presidente da Funda-ção Getúlio Vargas, Carlos Ivan SimonsenLeal, possui cinco partes, a saber: O Cená-rio Global de Segurança; Desafios Contem-porâneos de Segurança; A CircunstânciaRegional de Segurança; Perspectivas Bra-sileiras de Segurança; e As Realidades Re-gionais de Segurança.

Os autores e os temas abordados emcada uma dessas partes são os seguintes:

Parte 1 – Grandes tendências da seguran-ça internacional contemporânea, Héctor LuisSaint-Pierre; Guerras e doutrinas militares noséculo XX e em face da Nova Ordem Mundi-al, Francisco CarlosTeixeira da Silva; Asguerras interestataissão coisa do passado?,Domício Proença Jú-nior; Guerras de quartageração ou mais uma fa-lácia travestida de sa-piência?, Luiz EduardoRocha Paiva; A China eo sistema internacionalde segurança, Henri-que Altemani de Olivei-ra; O futuro das opera-ções de paz das NaçõesUnidas, Antonio JorgeRamalho da Rocha; Blo-cos regionais, democracia e conflito, RenatoG. Flôres Jr.

Parte 2 – O conceito de segurança climá-tica: reflexos para os países em desenvolvi-mento, Sergio Amaral; Dever de proteger ounova forma de intervencionismo?, GelsonFonseca Jr.; Soberania e intervenção emquestões ambientais, Aldo Rebelo; Terro-rismo catastrófico: inimigo real ou imaginá-rio?, Eugenio Diniz; A proliferação de armasde destruição massiva: mito ou realidade?,William Waack; O futuro das armas nuclea-res, Rex Nazaré Alves; O avanço da tecnolo-

gia militar e a compressão do espaço estra-tégico em escala global, Mário Alberto deAlmeida, Daílson Mendes de Oliveira eTarcísio Takashi Muta; A militarização doespaço: desafios para as potências médias,Cleonilson Nicácio Silva.

Parte 3 – Recursos naturais e conflito naAmérica do Sul, Marco Aurélio Garcia; Elespacio sudamericano como “zona de paz” apreservar frente a factores de turbulencia intray extra-regionales, Fabián Calle; Segurança in-ternacional na América do Sul, Monica Herz;O Conselho de Defesa Sul-Americano e suainstrumentalidade, Marcos Vinicius PintaGama; e É viável a formação de um cluster de

indústrias de defesa naAmérica do Sul, Marce-lo Odebrecht.

Parte 4 – Vulnerabi-lidades do atual desen-volvimento brasileiro:esboço de diagnósticoe de indicação de polí-ticas de superação, LuizAlfredo Salomão; Di-plomacia, defesa e adefinição política dosobjetivos internacio-nais: o caso brasileiro,Maria Regina Soares deLima; As capacidadesmilitares necessárias,

Alberto Cardoso; O papel do Congresso nasquestões de defesa: entre a abdicação e ocomprometimento, Octavio Amorim Neto; De-fendendo o pré-sal, Julio Soares de MouraNeto; Construindo hipóteses de emprego naAmazônia, Eduardo Villas Bôas; Financiamen-to de longo prazo em defesa, Ibsen Pinheiro eEstratégia Nacional de Defesa (END), RaulJungmann.

Parte 5 – América Central e do Norte – Asrealidades regionais de segurança: a recria-ção da Quarta Esquadra e seu significado,José Alberto Accioly Fragelli; O narcotráfico

Ao Estado cabe o papel defomentar a pesquisa de

temas de seu interesse combase em critérios de

pluralidade, liberdade deexpressão e excelência –,afastando ao máximo os

perigos da particularizaçãoe dos dogmatismos político-

ideológicos

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e a segurança nacional mexicana, AlbertoPfeifer; África – A presença da China naÁfrica, Williams Gonçalves; O Atlântico Sule a costa ocidental da África: os interessesbrasileiros e a questão energética, José Ser-gio Gabrielli; Europa – O futuro da Otan,Darc Costa; A França e a sua inserção nasegurança europeia, Antônio Carlos Lessa;Oriente Médio – Perspectivas de resoluçãodos conflitos no Oriente Médio, ReginaldoNasser; Armas nucleares no volátil OrienteMédio: algumas interpretações, MárcioScalercio; Ásia-Pacífico – A China como po-tência militar global: se, quando e como?,Severino Cabral; e As opções estratégicasdo Japão, Carlos Lessa.

Na Introdução, o Ministro da Defesaassim se manifestou:

“Os artigos que compõem este livro re-sultam de duas ordens de demandas bási-cas e inter-relacionadas do ponto de vistados interesses do Estado e da sociedadebrasileiros. A primeira tem a ver com a ne-cessidade de minimizar a carência de refle-xão sobre segurança internacional preva-lecente no País. A segunda, com aconstatação de que o maior protagonismoassumido pela política externa brasileira nopassado recente coloca em relevo o papela ser assumido pela política externa brasi-leira no passado recente coloca em relevoo papel a ser assumido pela política de de-fesa nesse contexto.

Sobre a política de defesa, valeria teceralgumas considerações que balizem as suascondicionantes atuais. A associação entre aideia de segurança e a de repressão política– na esteira das sequelas do regime militar –tolheu a capacidade de Estado e academiarefletirem sobre o tema. No entanto, pareceóbvio que não pode haver políticas públi-cas consistentes sem massa crítica queembase solidamente as escolhas políticasinerentes à sua condução. Nesse sentido,ao Estado cabe o papel de fomentar a pes-

quisa de temas de seu interesse com baseem critérios de pluralidade, liberdade de ex-pressão e excelência –, afastando ao máxi-mo os perigos da particularização e dosdogmatismos político-ideológicos.

É de interesse primordial do Estado bra-sileiro, por meio do Ministério da Defesa(MD), aprofundar a reflexão sobre seguran-ça internacional como forma de instruir aação desse Ministério no seu relacionamentocom governos estrangeiros e organismosinternacionais e na tomada de posições re-ferentes à política externa brasileira latosensu. Logo, os insumos contidos neste tra-balho servirão futuramente de base, a des-peito de seu caráter não oficial, para a ela-boração do Livro Branco de Defesa e mes-mo para a revisão dos instrumentosnormativos ora existentes, como a Estraté-gia Nacional de Defesa (END) e a Política deDefesa Nacional (PDN). Adicionalmente,este livro, que terá distribuição em todo oPaís, servirá de referência incontornável paraum número enorme de estudantes e profes-sores de graduação e pós-graduação inte-ressados em aprofundar seus conhecimen-tos sobre a inserção do Brasil no sistemainternacional de segurança, consideradasob perspectivas brasileiras.

Pensar a defesa, e mesmo a política exter-na do País, sem qualquer reflexão aprofundadasobre o sistema internacional de segurançaconstitui uma impossibilidade. Nessa linha,pode-se afirmar que a incerteza constituiriauma característica definidora das relaçõesinternacionais contemporâneas. Se as ima-gens do plano internacional como domíniohobbesiano, em que a anarquia entendidacomo ausência de hierarquia entre unidadessoberanas conduziria inevitavelmente àrecorrência do conflito, são em grande medi-da exageradas, não há como negar que a in-certeza sobre a dinâmica do relacionamentoentre os Estados – considerados como osatores mais relevantes – induz à adoção por

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parte dos estadistas do princípio da precau-ção. Precaução que, dado o potencialdestrutivo dos armamentos hoje existentes,sejam eles convencionais ou não, se traduzmuitas vezes em posturas estratégicasdissuasórias – como no caso brasileiro.

Assim, o grande dilema enfrentado pe-los responsáveis pelas políticas de defesa éo de projetar no futuro a força que, a um sótempo, garanta capacidade dissuasória emcontextos cambiantes e respalde os interes-ses internacionais de um determinado paíssem fomentar percepções adversariais emoutros Estados – o que poderia prejudicar oseu relacionamento com as nações que sesentissem ameaçadas. Esse dilema não sedá no vácuo, dependendo de uma complexateia de fatores domés-ticos e internacionaisque plasmarão o con-texto em que as deci-sões serão tomadas.

Passemos, então, aconsiderar o sistemainternacional de segu-rança tal qual ele se es-trutura no presente e assuas implicações parauma potência regionalcomo o Brasil. Temoscomo eixo central do sistema os EstadosUnidos da América, superpotência militarincontrastável que mantém intacta sua polí-tica de pesados investimentos em defesa,buscando aprofundar a “dissimetria” (enten-dida como o aumento de diferencial de podermilitar entre os Estados Unidos e os demaisatores estatais e não estatais do sistema) quedesfruta hoje em relação a todos os demaisEstados e grupos subnacionais. Ainda noplano das capacidades militares, há que seconsiderar a União Europeia, a Rússia, a Chi-na, o Japão e a Índia como atores relevantesno campo da segurança internacional. No en-tanto, nenhum desses atores poderá aspirar

a equiparar-se militarmente aos Estados Uni-dos no médio prazo, o que determina a per-manência de unipolaridade nesse plano aomenos por uma geração (até 2035).

Deve-se notar que as capacidades mili-tares representam apenas a moldura a serpreenchida pela estrutura social dos relaci-onamentos entre os principais atores do sis-tema. Nessa linha, pode-se inferir que umsistema capitaneado pelos Estados Unidose pela União Europeia teria um grau de con-vergência civilizacional bastante mais acen-tuado do que outro presidido pelos Esta-dos Unidos e pela China. Ainda que a men-cionada convergência não represente em simesma garantia de maiores ou menores ten-sões sistêmicas, há que se considerar a pos-

sibilidade de que a as-censão gere movimen-tos profundos de pla-cas tectônicas, sobre-tudo em função da for-te implantação dos Es-tados Unidos na Ásiae do apoio esta-dunidense a Taiwan eao Japão.

Além do possívelaumento da confliti-vidade interestadual

decorrente da eventual transição de um sis-tema unipolar para outro bipolar (ou mesmomultipolar), há que se abordar a temática dosditos conflitos assimétricos, envolvendoEstados e grupos subnacionais (organiza-ções terroristas, guerrilhas, movimentosmessiânicos, senhores da guerra, movimen-tos separatistas e radicais de toda natureza,entre outros). Assim, tem-se falado muitosobre uma suposta mudança estrutural danatureza da guerra, em que haveria a transi-ção do paradigma calusewitziano (o daracionalidade do ato de força capitaneadoessencialmente por Estados nacionais) paraoutro em que a irracionalidade da violência

Não faz sentido do pontode vista de um país

relevante em termosinternacionais como o

Brasil adotar asprescrições intelectuais do

dito Primeiro Mundo

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praticada por grupos subnacionais solapa-ria a lógica suposta pelo General prussiano.Nesse contexto, estariam condenados a umanota de pé de página na história não só asguerras totais entre grandes potências, mastambém todo o aparato de defesa dos prin-cipais atores do sistema tal qual ele se apre-senta estruturado nos dias de hoje. De acor-do com essa visão, os exércitos nacionaisdeveriam abandonar o paradigma da guerraindustrial – apropriado para conflitosinterestatais – e partir para a sua transfor-mação em forças de contrainsurgência comforte ênfase em tarefas desenvolvimentistase de nation-building. Em suma, para ven-cer grupos subnacionais altamente virulen-tos, os Estados deveriam transformar suasForças Armadas em um misto degendarmerias, forças de paz e agências dedesenvolvimento – forma apropriada de con-quistar corações e mentes das populaçõesinfiltradas por grupos insurgentes ou da-quelas assoladas pelas mazelas decorren-tes de convulsões domésticas.

Sem desconsiderar a importância da fle-xibilidade na determinação de um projeto deforças, não faz sentido do ponto de vista deum país relevante em termos internacionaiscomo o Brasil adotar as prescrições intelec-tuais do dito Primeiro Mundo que pregamesse tipo de transformação estrutural dasForças Armadas. Além do fato evidente deque os países desenvolvidos não modifica-ram substancialmente suas políticas de de-fesa no sentido da negação do paradigmaclausewitziano, cabe salientar que o Brasilnão abre mão de garantir a sua própria defe-sa de maneira autônoma – algo expresso demaneira cabal na Estratégia Nacional deDefesa. Por essa razão e pelos desafios quese apresentam ao País no que tange às suasvulnerabilidades estratégicas, à dimensãodo patrimônio nacional a ser preservado(Amazônia, pré-sal, infraestrutura energética,capacidade industrial etc.) e às ambições

brasileiras de exercer um papel relevante naconstrução de um mundo mais justo emultipolar, o Brasil não pode, e sobretudonão deve, abrir mão de possuir Forças Ar-madas capazes de garantir o poder dedissuasão necessário à defesa de sua sobe-rania e ao avanço de seus interesses no pla-no estratégico global.

Feitas essas considerações sobre o sis-tema internacional de segurança e seus con-tornos genéricos, caberia acrescentar que oBrasil do futuro, um país cada vez mais im-portante no plano mundial, muito provavel-mente não poderá se eximir de enfrentar si-tuações em que o choque de interesses con-trapostos apresente-se de forma mais agu-da do que o ocorrido no passado recente.Da mesma forma, a perspectiva de degrada-ção ambiental generalizada, a escassez deágua potável em escala global, a progressi-va evidência da preservação do meio ambi-ente como elemento do discurso securitáriodos países desenvolvidos, a redução dasreservas de petróleo, o aumento do níveldos oceanos e o aumento da viabilidadecomercial da exploração de recursos natu-rais localizados no leito marinho, entre ou-tros fatores, podem contribuir para o au-mento da conflitividade sistêmica.

Todos os fatores aqui elencados fazemcom que o Brasil tenha necessidade pre-mente de incrementar sua capacidade dedefesa, levando em conta o caráter eminen-temente dissuasório de nossa política dedefesa. O aumento dessa capacidade trarácomo corolário o acréscimo de nosso po-tencial para contribuir pontualmente comoperações de paz, garantir assistência hu-manitária a outros países em situações decatástrofes naturais e salvaguardar a vidahumana no Atlântico Sul. Isso sem falar noaumento das possibilidades de estabeleci-mento de parcerias industriais (por exem-plo, no âmbito do Conselho de Defesa Sul-Americano) e tecnológicas com nações

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amigas (por exemplo, França), sobretudoaquelas que se encontram em nosso entor-no estratégico imediato: a América do Sul.

Diante do exposto, não resta dúvidaacerca das significativas implicações inter-nacionais do esperado aumento do pesoda política de defesa no contexto mais am-plo das relações internacionais do Brasil.Por esse motivo, a boa articulação entre oMinistério da Defesa e o Ministério dasRelações Exteriores (MRE) adquire relevotranscendente, inclu-sive em projetos delargo espectro como oda conquista pelo Bra-sil de um assento per-manente no Conselhode Segurança das Na-ções Unidas – con-quista essa que dificil-mente será obtida ape-nas pela nossa diplo-macia, por mais com-petente que ela seja,sem que haja, entre outros, um incrementoda estrutura político-estratégica brasileirarelativamente ao presente.

Ainda que a natureza mais contundentedo militar contraste com a natureza maiscautelosa do diplomata, é preciso que oBrasil institucionalize canais formais de di-álogo que permitam a melhor sintonia pos-sível entre a perspectiva internacional doMinistério da Defesa e do Itamaraty. Comovetores tradicionais da política externa dosEstados, militares e diplomatas devem atu-ar harmonicamente em prol dos interessesnacionais. Isso precisa dar-se não somen-te com base na flexibilidade dos mecanis-mos informais, mas também com a criação

de estruturas formais que permitam dar es-tabilidade e coerência sistêmica de longoprazo às instâncias de interlocução.

É preciso haver também uma unidade depropósitos consubstanciada em conhecimentorecíproco profundo e não em desconhecimen-to e em estereótipos superficiais de parte aparte. Se Clausewitz permanece atual, a distin-ção entre militares e diplomatas encontra-seapenas na forma e não na substância, uma vezque a missão de ambos é a defesa dos interes-

ses nacionais por inter-médio da política enten-dida em sentido lato.Portanto, como políticade Estado que deve tra-balhar em harmonia coma política externa, a de-fesa deve contribuirpara o alargamento damargem de manobra in-ternacional do País –ampliando a autonomiado Ministério das Rela-

ções Exteriores, tarefa em que devemos avan-çar juntos em prol de um futuro melhor para onosso amado país.

O livro que se segue oferece inúmeros ele-mentos para a reflexão sobre o lugar do Brasilno mundo, permitindo pensar, de distintasperspectivas, a inserção internacional do País.Constitui, portanto, uma fonte de consulta ines-timável para todos aqueles interessados emtravar contato com o assunto. Quando o Bra-sil assume responsabilidades crescentes noplano global, nada mais apropriado do queoferecer ao público em geral esta obra de ex-trema relevância. Tenho convicção de que opresente trabalho corresponderá às expectati-vas de seus leitores.”

Quando o Brasil assumeresponsabilidades

crescentes no plano global,nada mais apropriado do

que oferecer ao público emgeral esta obra de extrema

relevância

Foi lançado, em dezembro último, o li-vro Energia Nuclear e Sustentabilidade,

SÉRIE SUSTENTABILIDADE

volume 10 da série “Sustentabilidade”,publicada pela Editora Edgard Blücher sob

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coordenação do Prof. José Goldemberg. Aobra, de 146 páginas, é dividida em oitocapítulos mais um anexo.

A série Sustentabilidade surgiu a partirda análise do panorama histórico com oinício do conceito de desenvolvimentosustentável formulado pela ComissãoBrundtland, em 1970, e que se estendeuaté o evento da Agenda 21, com enormeinfluência no mundo em todas as áreas,reforçando o movimento ambientalista.

Escrita por renomados pesquisadoresnacionais que apresentam análises do im-pacto do conceito de desenvolvimentosustentável no Brasil, tem como objetivoanalisar o que está sendo feito para evitar

um crescimento populacional sem contro-le e uma industrialização predatória, em quea ênfase seja apenas o crescimento econô-mico, bem como o que pode ser feito parareduzir a poluição e os impactos ambientaisem geral, aumentar a produção de alimen-tos sem destruir as florestas e evitar aexaustão dos recursos naturais por meiodo uso de fontes de energia de outros pro-dutos renováveis.

O Volume 10 é de autoria de JoãoRoberto Loureiro de Matos e Leonam dosSantos Guimarães. Este último é autor dediversos artigos publicados na RevistaMarítima Brasileira.

(Fonte: [email protected])

Foi lançado em São Paulo (SP), em 18 deoutubro último, o livro Yacht Design, doengenheiro e yacht designer Fernando deAlmeida. Esta é a primeira obra da coleção“Design & Processo” (no total serão qua-tro), lançada pela C4 Editora. A cada volu-me da coleção, um tema será abordado, ex-

YATCH DESIGN

plorando as mais diversificadas facetas dodesign brasileiro.

Yacht Design mostra ao leitor como sedá a criação de embarcações de uso recre-ativo e alguns conceitos empregados emsua construção. Além do design, enfocatambém a história da náutica no Brasil e a

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história dos estaleiros e dá um perfil doautor, mostrando seis projetos seus. A obraé em edição bilingue, com 120 páginas.

Segundo a diretora da C4 Editora, CrisCorrea, a escolha de Fernando de Almeidase deu principalmente pela sua vasta expe-riência em importantes escritórios de pro-jeto e estaleiros do mundo. Formado emEngenharia Mecânica pelo Mackenzie (SP),aos 24 anos partiu para a Europa, dandoinício à sua carreira no setor náutico, aotrabalhar no estúdio de projetos YankeeDelta, em Monza, Itália. De lá para cá, suacarreira foi marcada por importantes atua-ções no segmento, sendo uma referênciaem projetos de barcos. Projetou, no esta-leiro Wally Yachts, em Mônaco, o veleiroWally 80, laureado em 2008 com o Compas-so d’Oro ADI, prêmio máximo do designitaliano.

Atualmente, Fernando de Almeida tra-balha em escritório de projetos próprio. NoBoatshow de São Paulo, realizado de 14 a

19 de outubro, foi exposto pela Intermarineum novo projeto com sua participação. AIntermarine, cliente do yatch designer, élíder na fabricação de lanchas de altaperformance e marca de prestígio nos ma-res brasileiros.

(Fonte: Marqueterie Assessoria deComunicação)

O comandante da Marinha, Almirante deEsquadra Julio Soares de Moura Neto, assi-nou um Acordo Operacional voltado para oaprimoramento da segurança marítima, sobuma perspectiva global. O documento foiassinado durante o 8o Simpósio Regionalde Poder Naval das Marinhas do Mediterrâ-neo e do Mar Negro, realizado entre os dias20 e 22 de outubro, em Veneza (Itália).

Por meio do acordo, de importância es-tratégica, a Marinha foi admitida como mem-bro de uma rede transregional de troca deinformações marítimas, a Trans-RegionalMaritime Network (T-RMN). A rede é con-solidada pela interligação do Sistema deInformações sobre o Tráfego Marítimo(Sistram) – sistema brasileiro; do Open and

COMANDANTE DA MARINHA ASSINAACORDO INTERNACIONAL

Analysed Shipping Information System(Oasis), sistema de Cingapura; e do Virtu-al-Regional Maritime Traffic Center (V-RMTC), elaborado pela Marinha Militar ita-liana. O simpósio contou com a participa-ção de delegações de 43 países, além de 18

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organizações internacionais, civis e milita-res, relacionadas à segurança marítima.

O processo de admissão do Brasil foiprecedido pela aprovação unânime dos 23países que compõem o sistema V-RMTC. Aassinatura desse acordo e a consequenteadmissão da Marinha do Brasil nesse fórum

internacional confirmam o êxito dos esfor-ços empreendidos pela Marinha do Brasildesde o final de 2007. Durante o período,inúmeros testes e exercícios foram realiza-dos, visando ao interfaceamento entre oSistram e o V-RMTC.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Brasil e a Inglaterra assinaram, em 14de setembro último, um amplo acordo decooperação na área de Defesa entre os doispaíses. O ministro-adjunto britânico paraSegurança e Estratégia Nacional, GeraldHowarth, esteve no Brasil para uma visitade três dias, quando também entregou aocomandante da Marinha, Almirante JulioSoares de Moura Neto, a oferta de cons-trução de novos navios para a Marinha bra-sileira. A bordo do HMS Ocean, maior na-vio de guerra da Marinha britânica, atraca-do no Píer Mauá, no Rio de Janeiro,Howarth concedeu entrevista coletiva so-bre o assunto. O navio realizou exercíciosconjuntos com a Marinha do Brasil.

O ministro enfatizou que o acordo decooperação de defesa foi projetado parareforçar o compromisso de longo prazo doReino Unido com o Brasil. Na sua opinião,a Marinha brasileira requer cinco naviosde patrulha de costa, um navio de apoiologístico e cinco navios de escolta. A pro-posta inclui um novo navio de combateglobal, com defesa antiaérea, com o qual oBrasil poderá se beneficiar de transferên-cia de tecnologia.

INGLATERRA APRESENTA PROPOSTA AOGOVERNO BRASILEIRO

Em relação ao acordo, Howarth lembrouque o ambiente marítimo é absolutamente crí-tico e apontou para os atos de pirataria queacontecem atualmente no Oceano Índico:“Cerca de 90% do comércio do Reino Unidoe do Brasil é realizado pelo mar, o que tornaextremamente importante manter as linhasmarítimas abertas.” O acordo estabelece umarcabouço de cooperação na área de defesapara os campos de tecnologia, informação,logística e treinamento, entre outros.

(Fonte: http://www.defesanet.com.br)

Após encontro com o comandante daMarinha do Brasil, o ministro da Defesa

Gerald Howarth (centro); o embaixador doReino Unido, Alan Charlton; e Richard

Paniguian, da Defence & SecurityOrganisation, concederam entrevista coletiva

a bordo do HMS Ocean

DPHDM REALIZA OFICINA EM NATAL

O Comando do 3o Distrito Naval (Natal-RN) recebeu, em outubro último, a visita daDiretoria de Patrimônio Histórico e Documen-

tação da Marinha (DPHDM), que promoveuuma oficina sobre como preservar o patrimôniohistórico, enfocando a higienização, a conser-

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vação e a limpeza de peças dos acervos e bensculturais da Marinha.

Na ocasião, a Capitão-Tenente (T)Miriam Benevenute Santos descreveu o

A Corveta Barroso foi visitada pelo Pre-sidente do Chile, Sebastian Piñera, em 20 desetembro último, quando participou da Re-vista Naval, ocorrida na cidade de Valparaíso,em comemoração ao Bicentenário da Repú-blica do Chile. O evento contou com a parti-cipação de 21 meios da Armada chilena, en-tre fragatas, submarinos, navios-patrulha enavios anfíbios, além de navios das Mari-nhas de Argentina, Brasil, Canadá, EstadosUnidos da América e Inglaterra.

As 26 embarcações compuseram umaformatura em coluna e prestaram honrasao Presidente chileno, que se encontravaembarcado no Navio-Veleiro Esmeralda.Paralelamente à Revista Naval, houve umdesfile aéreo, composto por diversas aero-naves de asa fixa e rotativa das Forças Ar-madas chilenas.

Após a atividade, foi oferecido, naCorveta “Barroso”, um Vinho de Honrapelo comandante da Marinha do Brasil, Al-mirante de Esquadra Julio Soares de MouraNeto, em homenagem ao Bicentenário daIndependência do país e ao povo chileno.Além do Presidente do Chile, estiverampresentes ao evento o comandante em che-fe da Armada daquele país e diversas auto-

MOSTRANDO NOSSA BANDEIRA: PRESIDENTE DO CHILEVISITA A CORVETA BARROSO

ridades locais e de outras Marinhas. O Pre-sidente Piñera foi presenteado pelo coman-dante da Marinha com uma placa alusivaao evento.

No dia seguinte, a Corveta Barrosoiniciou sua viagem de regresso para oBrasil, tendo como paradas os portos dePunta Arenas (Chile), Mar Del Plata(Argentina), Montevidéu (Uruguai), RioGrande (RS) e Santos (SP), com chegadano Rio de Janeiro em 19 de outubro.

(Fonte: www.mar.mil.br)

que é considerado “bem cultural”, as ma-neiras de gerenciamento destes, as atribui-ções do setor e como deve ser a captação,o controle e a preservação do acervo.

A oficial discorreu, ainda, sobre comodeve ser formado o acervo, as principaiscausas de degradação e a maneira comodevem ser descritas as obras. “Temos aobrigação de manter os acervos da melhorforma possível, não permitindo que umapeça pereça por falta de cuidados”, expli-cou a tenente.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Da esquerda para a direita: o embaixador doBrasil no Chile, Mario Vilalva; o presidenteda Repúblca do Chile, Sebastian Piñera; e o

comandante da Marinha, Almirante deEsquadra Julio Soares de Moura Neto