revista marÍtima brasileira -...

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REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA (Editada desde 1851) R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 131 n. 07/09 p. 1-320 jul. / set. 2011 v. 131 n. 07/09 jul./set. 2011 DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA FUNDADOR Sabino Elói Pessoa Tenente da Marinha – Conselheiro do Império COLABORADOR BENEMÉRITO Luiz Edmundo Brígido Bittencourt Vice-Almirante

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REVISTAMARÍTIMA

BRASILEIRA(Editada desde 1851)

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 131 n. 07/09 p. 1-320 jul. / set. 2011

v. 131 n. 07/09jul./set. 2011

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

FUNDADOR

Sabino Elói PessoaTenente da Marinha – Conselheiro do Império

COLABORADOR BENEMÉRITO

Luiz Edmundo Brígido BittencourtVice-Almirante

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Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha.–– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro:Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943.Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. M A R I N H A — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de DocumentaçãoGeral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359 .005

A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimes-tre de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990,com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portugue-sa, editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos

6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.

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COMANDO DA MARINHAAlmirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto

SECRETARIA-GERAL DA MARINHAAlmirante de Esquadra Eduardo Monteiro Lopes

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHAVice-Almirante (Refo -EN) Armando de Senna Bittencourt

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRACorpo Editorial

Capitão de Mar e Guerra (Refo) Milton Sergio Silva Corrêa (Diretor)Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva

Jornalista Deolinda Oliveira MonteiroJornalista Manuel Carlos Corgo Ferreira

DiagramaçãoArtífice de Artes Gráficas Celso França Antunes

Assinatura/DistribuiçãoTerceiro-Sargento-RM1-ES Mário Fernando Alves Pereira

Cabo-PD Franklin Marinho de CastroArtífice de Artes Gráficas Celso França Antunes

Departamento de Publicações e DivulgaçãoPrimeiro-Tenente (RM2-T) Luiz Cesário da Silveira do Nascimento

Apoio Administrativo e ExpediçãoSuboficial-CN Maurício Oliveira de RezendeSuboficial-MT João Humberto de Oliveira

Segundo-Sargento-SI José Alexandre da SilvaCabo-DA Mariana Rodrigues de Souza

Ilda Lopes Martins

Impressão / TiragemClicheria Cromos Ltda / 8.100

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A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial da MARINHA DO BRASIL desde1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMEN-TAÇÃO DA MARINHA. A opinião emitida em artigo é de exclusiva responsabilidade de seu autor, nãorefletindo o pensamento oficial da MARINHA. As matérias publicadas podem ser reproduzidas. Solicitamos,entretanto, a citação da fonte.

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRARua Dom Manoel no 15 — Praça XV de Novembro — Centro — 20010-090 — Rio de Janeiro — RJ

(21) 2104-5493 / -5506 - R. 215, 2262-2754 (fax) e 2524-9460

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Na internet:http://www.mar.mil.br/dphdm/public/rmb/rmb_revista.htm

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SUMÁRIO

8 NOSSA CAPA – A BUSCA DE GRANDEZA (V)Elcio de Sá Freitas – Vice-Almirante (Refo -EN)Continuação da série. A Corveta Barroso – primeiro navio projetado e construído no

Brasil republicano. Indispensável o complexo técnico-científico-industrial militar – Análiseda década de 1980 e início da de 1990 – o declínio – ciclos de atraso

17 INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO HIDROGRÁFICO E OCEANOGRÁFICOBRASILEIRO – 1931-1942

Helio Leoncio Martins – Vice-Almirante (Refo)Primeiras cartas de navegação. Repartição Hidrográfica. Comandante Nogueira da Gama e

Almirante Graça Aranha. Levantamentos do litoral e da área marítima. Oceanografia e Amazônia Azul

29 FRUTOS DA MADRUGADARuy Barcellos Capetti – Vice-Almirante (Refo)Pensamentos sobre logística. Manutenção é essencial. Necessidade de estudo e adequa-

ção aos princípios

38 ECOS DO IPIRANGA: A CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO E O AMADURECIMEN-TO DA NAÇÃO BRASILEIRA. CONTRIBUIÇÕES DO PODER NAVAL

Domingos Savio Almeida Nogueira – Contra-AlmiranteOtacílio Bandeira Peçanha – Capitão de CorvetaSíntese histórica da formação do País – desenvolvimento e progresso – vulnerabilidades

– aspirações. Exortação

46 A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESAEduardo Italo Pesce – ProfessorReestruturação do Ministério da Defesa – estrutura militar. Implicações imediatas e para

a Marinha. Restrições financeiras

62 AS DEZ MAIORES ECONOMIAS E A ENERGIA NUCLEAR: REFLEXÕES PARAO FUTURO DO BRASIL

Carlos Augusto Feu Alvim da Silva – ProfessorLeonam dos Santos Guimarães – Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN)Brasil entre as dez maiores economias do mundo. Único que não possui armas nucleares,

e que não considera a sua possibilidade de uso na sua estratégia de defesa

71 O ATUAL ORDENAMENTO JURÍDICO E O RESPALDO PARA O EMPREGO DASFORÇAS ARMADAS NA GARANTIA DA LEI E DA ORDEM

Rogério Fortes Pedroso – Capitão de Mar e GuerraA Constituição Federal – decreto e leis complementares. Diretrizes para emprego na

garantia da lei e da ordem – as Forças Armadas nas crises – limitações e implicações

86 INVENÇÃO DE UM NAVIO DE GUERRASérgio Lima Ypiranga dos Guaranys – Capitão de Mar e Guerra (Refo)O patrulhamento por submarino – ineficácia na ação. Proposta de uma barcaça para

ampliar a área de patrulha

93 BERIBÉRI: REVISÃO HISTÓRICA E DOCUMENTAL NA MARINHA DO BRASILRegis Augusto Maia Frutuoso – Capitão de Mar e Guerra (RM1-Md)Erradicação da doença há cerca de 100 anos; atuação na época; registros periciais, a

enfermaria de Copacabana e o sanatório de Friburgo

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104 A PIRATARIA MARÍTIMA MANTÉM-SE “IMPARÁVEL”Henrique Peyroteo Portela Guedes – Capitão de Fragata da Marinha de PortugalAvaliação dos ataques nos últimos anos; 100 milhões de dólares arrecadados pelos resgates

dos piratas somalis. Custos para os armadores – seguros. Atuação da Marinha de Portugal

112 O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE COMANDO COMO FERRAMENTA DEINTEROPERABILIDADE NAS OPERAÇÕES CONJUNTAS

Getúlio de Alvarenga Cidade – Capitão de FragataMétodo para obter interoperabilidade – operação entre forças, juntas e coordenadas. O

processo tem sido aperfeiçoado para orientar as ideias daqueles que as possuem

117 MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 4Gerson de Macedo Soares – Capitão de Fragata (in memoriam)Continuação da série. Incorporação da Divisão de Cruzadores do Brasil à Força Naval

dos EUA. Formação de grupos-tarefas. Ausência de atritos ou suscetibilidades quanto acomando entre americanos e brasileiros durante as operações de guerra. Guaporé e Gurupiforam os primeiros navios da MB dotados de aparelhos de escuta submarina

123 TALENTO: O DESAFIO DA EXCELÊNCIAGeciel Rangel Costa – Capitão de Fragata (RM1-T)As organizaçõs buscam indivíduos com qualidades e competências, os quais recebem a

denominação genérica de talentos. Dom e talento confundem-se na definição e ensejamdiscussão sobre o tema

134 JOGOS MUNDIAIS MILITARESDeolinda Oliveira Monteiro – JornalistaAbertura dos jogos – presença da Presidente da República e de Pelé. Resultados da

competição. Destaque de atletas da Marinha. Melhoria no nível técnico e das instalaçõesdesportivas. Aproveitamento das vilas residenciais pelas Forças Armadas

154 A RETOMADA DO PENSAMENTO ANFÍBIOStewart da Paixão Gomes – Capitão de Corveta (FN)Forças anfíbias e a conjuntura. Operações no século XXI. Conjugado anfíbio –

perspectivas – interesses nacionais

166 APRENDENDO A ENSINAR NO MEIO DA NOITE... COM A AJUDA DO OVNAlessandro Pires Black Pereira – Capitão de CorvetaÓculos de visão noturna – vantagens e desvantagens. Dificuldades para uso. Necessidade

de adestramento – incidentes e acidentes decorrentes

170 GERENCIAMENTO DO RISCO OPERACIONAL APLICADO À OPERAÇÃO DEAERONAVE MONOMOTOR SOBRE ÁGUA

Rafael de Oliveira Dobbin – Capitão-Tenente (FN)Exposição a perigo para aeronave sobre água – probabilidades e possíveis consequências.

Sobrevivência mediante temperatura da água. Riscos elevados

174 UM NOVO HELICÓPTERO DE EMPREGO GERAL DE PEQUENO PORTE PARAA MARINHA DO BRASIL

Eduardo Wilmers de Medeiros – Capitão-TenenteImportância de aeronaves de emprego geral. Situação atual da MB – Opções possíveis

– necessidade de meios

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187 CARTAS DE VILLEGAGNON: REMINISCÊNCIAS DA VIDA DO ALMIRANTEMAXIMIANO FONSECA

Vitor Deccache Chiozzo – AspiranteHomenagem ao Almirante Maximiano da Fonseca; resumo biográfico; exemplo; Minis-

tro da Marinha

196 O MONGE E O MILITARFelipe Praça Siqueira – AspirantePreparação para assumir a Marinha no futuro – a Escola Naval como base; devotamento

à carreira; necessidade de liderança

202 A ATUAÇÃO DO BATALHÃO DE OPERAÇÕES RIBEIRINHAS DE FUZILEIROSNAVAIS NA PROTEÇÃO DA AMAZÔNIA E A ESTRATÉGIA NACIONAL DEDEFESA

Rafael Oliveira Rosback – Aspirante (FN)Síntese sobre o Batalhão de Operações Ribeirinhas de Fuzileiros Navais; defesa do

território nacional na Amazônia; destacamento em Tabatinga desde 2003

207 ARTIGOS AVULSOS207 MAGÉ, MINHA CIDADE NATAL

Dimas Lopes da Silva Coelho – Vice-Almirante (Refo)Resumo sobre a história da cidade. Nome de navio na Guerra do Paraguai. Escravidão

– leis emitidas até a Abolição

209 A MARINHA DE OUTRORARecebimento de óleo –– Manual do Timoneiro –– Aspirante de ontem e de hoje

213 NECROLÓGIO

229 CARTAS DOS LEITORESCorrespondência do Capitão de Mar e Guerra Ronald dos Santos Santiago sobre

publicação da Sociedade dos Amigos da Marinha (SOAMAR) de Campinas com “Histórias deum Soamarino Militar”

230 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVALAinda bem que o Vicentini faleceu... –– O relógio do torreão –– Nem só de pão

vive o homem

235 DOAÇÕES À DPHDM

237 ACONTECEU HÁ CEM ANOSSeleção de matérias publicadas na RMB há um século com o que acontecia em nossa

Marinha, no País e em outras partes do mundo

225 REVISTA DE REVISTASSinopses de matérias selecionadas em mais de meia centena de publicações recebidas e

lidas, do Brasil e do exterior

273 NOTICIÁRIO MARÍTIMOColetânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil e de outras Marinhas,

incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima

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A BUSCA DE GRANDEZA (V)* – Corveta Barroso

ELCIO DE SÁ FREITAS**Vice-Almirante (Refo -EN)

Um grande país constantemente opera e mantém sua Marinhade hoje, projeta e constrói a do amanhã e planeja a do futuro.

* Matéria em continuação à série publicada no 3o trimestre de 2006, no 2o trimestre de 2007 e nos 1o e2o trimestres de 2011. Este artigo foi escrito originalmente em agosto de 2008 complementado erevisado em agosto de 2011, para esta publicação.

** O Almirante Elcio serviu na Diretoria de Engenharia Naval de dezembro de 1981 a agosto de 1990,tendo sido seu diretor de dezembro de 1984 a agosto de 1990.

NOSSA CAPA

SUMÁRIO

Cerimônia raraProtótipos e progressoExperiência únicaQuestão crucialUma nova atitudePoder, defesa, desenvolvimento e projetoRealismoInício promissorO iceberg técnico-financeiroAscensão técnica, inflação destrutiva, lei inadequadaObstáculos, mas avançosInício de declínioProjeto da Barroso: fim de um cicloCaracterísticas de ciclos de atraso crônicos e a década de 1980Defesa e desenvolvimento: contribuiçõesO futuro

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A BUSCA DE GRANDEZA (V) – Corveta Barroso

A Corveta Barroso é oprimeiro navio de guerra

não protótipo queprojetamos e construímosno País em todo o período

republicano

CERIMÔNIA RARA

Dezenove de agosto de 2008. A CorvetaBarroso incorporava-se à Armada.

Lindo dia e raro evento. A manhã, que nas-cera suave, aos poucos se aqueceu. Emares luminosos, o Arsenal estava imponen-te. Um dia e cenárioperfeitos para uma no-tável cerimônia naval.

Junto ao dique, aBarroso resplendia.Era o centro das aten-ções. Mas era, talvez,o prematuro capítulofinal de um esforço vi-tal não prosseguido. Eesse capítulo durou 14anos, somente se concluindo graças à te-nacidade da Marinha.

A cerimônia de incorporação foi ritual,simbólica e elegante, como todas as gran-des cerimônias navais. Vendo a tripulaçãoembarcando e ocupando seus postos e ocomandante recebendo a continência emseu navio, e tendo ouvido a Ordem do Diade Incorporação à Ar-mada, pareceu-me quetudo havia sidobenfeito e bendito.Ainda assim, algo quenão foi dito deve-sedizer.

PROTÓTIPOS EPROGRESSO

O progresso em engenharia só é possí-vel com sucessões ininterruptas de proje-tos, construções, avaliações em serviço ereprojetos. Quanto mais longa e intensa fora experiência nessas sucessões, tanto mai-or será a probabilidade de obter-se um bomprotótipo. Praticamente não existem protó-tipos ótimos.

EXPERIÊNCIA ÚNICA

A Corveta Barroso é o primeiro naviode guerra não protótipo que projetamos econstruímos no País em todo o períodorepublicano, e talvez em toda a nossa his-tória. As quatro corvetas anteriores, da

classe Inhaúma, fo-ram frutos de um mes-mo projeto inicial e,portanto, quatro pro-tótipos iguais. Ne-nhuma das quatroprimeiras corvetas daclasse Inhaúma pôdebeneficiar-se de alte-rações substanciaisno projeto, resultan-

tes da engenharia de avaliação de qual-quer uma das outras três, nem dereformulação dos requisitos ditados pelosetor operativo.

QUESTÃO CRUCIAL

Portanto, a Barroso foi uma realizaçãocerta e indispensável,mas tardia e insufici-ente, para um paíscomo o nosso, que jádeveria ser grande nopresente, não mais de-vendo esperar para sergrande no futuro. Im-põe-se uma pergunta:se já nos atrasamostanto por tentativas

de progresso interrompidas, e se há umasequência indispensável de muitos proje-tos, construções, operações, avaliações ereprojetos a realizar para sermos grandes,e se tudo isso demanda tempo, como evi-tar que fiquemos definitivamente atrasa-dos diante de um mundo que evolui cadavez mais depressa?

É indispensável montar,com o setor privado

nacional, um complexotécnico-científico-industrial-

militar mínimo, útil aodesenvolvimento do País

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A BUSCA DE GRANDEZA (V) – Corveta Barroso

UMA NOVA ATITUDE

Não mais podemos perder oportunidades,ou deixar de criá-las. E elas são grandes quan-do despontam grandes empreendimentos.

Mesmo sendo otimistas, devemos re-conhecer nossos ciclos de atraso crônicose saber que eles tendem a repetir-se. Deve-mos nos convencer de que só podemosevitá-los por reflexão sobre o passado.

É indispensável montar, com o setor priva-do nacional, um complexo técnico-científico-industrial-militar mínimo, útil ao desenvolvi-mento do País. Isso é im-possível sem uma suces-são ininterrupta de pro-jetos, operações, avalia-ções, reformulações derequisitos e reprojetosnacionais.

PODER, DEFESA,DESENVOLVIMENTOE PROJETO

Não há defesa fortee poder sem desenvol-vimento. E não existedesenvolvimento forte sem projeto. Nenhumpaís se fez grande sem projetos próprios deseus meios de defesa.

É impossível criar uma sólida capacida-de de defesa restringindo-nos a construiraqui navios projetados no exterior. Naviosde guerra projetados no exterior têm quasetoda a base cerebral e logística no exterior.E isso é inaceitável para um país como onosso. Pouco contribui para o desenvolvi-mento nacional.

O poder maior reside no projeto e nosfinanciamentos. Nações poderosas chegama abdicar da construção, mas nunca do pro-jeto. Vender projeto é vender dependência ereter a parte cérebro-intensiva do produto.Ofertas de grandes financiamentos implicam

aceitar pacotes técnicos prontos, com en-genharias de projeto totalmente estrangei-ras. A constante aceitação dessas ofertasnos mantém na posição caudatária de paísmontador ou de fabricante sob licença deprodutos estrangeiros.

Projetos de engenharia nacionais per-mitem a maior utilização possível da cadeiade conhecimentos e atividades técnico-ci-entífico-industriais do Brasil e estimulamsua expansão. São a parte mais cérebro-intensiva e valiosa da geração de produ-tos complexos, sem a qual nenhum país che-

ga à vanguarda. Pro-movem simultanea-mente defesa e de-senvolvimento.

Renunciar ao pro-jeto é limitar-se e fi-car dependente. Em1991 tivemos quecancelar nosso pri-meiro projeto de sub-marino, o SNAC-1, jáse iniciando a fase decontratar seus equi-pamentos. Com isso,até hoje somos inca-

pazes de projetar submarinos, embora aquiconstruindo quatro da classe IKL. E inca-pazes permaneceríamos construindo ou-tros, fossem quais fossem, se não perce-bêssemos a importância capital do projeto.Por isso, na recuperação que se inicia, aMarinha volta-se simultaneamente paraprojeto e construção. Porém é indispensá-vel que a ênfase em projeto não se restrin-ja a submarinos.

Quanto a um submarino nuclear, jamaisrealizamos tal projeto de engenharia, nem mes-mo em sua fase de concepção. Nossa realiza-ção, agora revitalizada, foi o enriquecimentode urânio e a tecnologia de reatores nuclea-res, cujas importância e amplitude são deabrangência nacional.

Não há defesa forte epoder sem

desenvolvimento. E nãoexiste desenvolvimento

forte sem projeto. Nenhumpaís se fez grande sem

projetos próprios de seusmeios de defesa

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A BUSCA DE GRANDEZA (V) – Corveta Barroso

A falta de percepção da natureza, im-portância e complexidade do projetopermeia quase todos os setores nacionais.Fora dos círculos técnicos, não se avalia oque é um complexo projeto de engenharia.Isso se depreende de diversos meios dedivulgação. Constitui um obstáculo pode-roso à correta execução de qualquer estra-tégia de defesa e desenvolvimento.

Capacitar-se em projeto de navios de guer-ra não é empresa simples nem rápida. Mas éindispensável a um país que deve ser gran-de. Inclui inevitavelmente erros e correções.

Construção é a parte visível de umiceberg técnico-financeiro. Embora impor-tante, não é a parte principal. Projeto deengenharia é o grande indutor e utilizadorde capacidades técni-co-científico-industri-ais. É fator essencialde desenvolvimento.

Nossos navios deguerra, à exceção das5 corvetas, desde aInhaúma até a Barro-so, foram sempreconstruídos no exteri-or, ou então no Brasilcom projeto estran-geiro. Há uma tendên-cia histórica de igno-rar a importância do projeto. Essa tendên-cia dificulta a redução de dependências eimpede contribuições importantes ao de-senvolvimento nacional.

REALISMO

É necessário realismo na busca de ata-lhos: transferência de tecnologia, queima deetapas, plataformas de exportação. As duasúltimas nem sequer devem ser consideradas.

Transferência de tecnologia pode pare-cer um meio fácil de obter rapidamente algoque de outra forma teríamos que conseguira duras penas. Tem forte atração comerci-

al. Mas é apenas uma possibilidade de ab-sorvermos tecnologia, dependendo das cir-cunstâncias e do nosso empenho, organi-zação e capacidade de absorvê-la.

O empenho em absorver tecnologia co-meça por estabelecermos cláusulas eespecificações contratuais apropriadas,embora de eficácia sempre condicionada aconveniências comerciais e políticas quepodem evoluir durante um longo contrato.

A capacidade de absorver tecnologia éo capital técnico-gerencial que acumula-mos e que não se desfez por desagregaçãode equipes, perda de memória técnica ouinsuficiente exame de realizações anterio-res. Esses fatores tendem a ocorrer quan-do o progresso técnico é descontínuo.

Absorver tecnologiaé importante. Masabsorvê-la sem analisarseus fundamentos téc-nico-científicos para daícriar tecnologia própriaé dar um passo e nova-mente estagnar. É con-tinuar dependente. Porisso, o setor técnico-ci-entífico do País deveparticipar dos empreen-dimentos de absorçãode tecnologia. Quando

tal acontece, multiplicam-se os ganhos e redu-zem-se dependências. Mas ainda não temosfirme percepção desse mecanismo de progres-so nem experiência suficiente em utilizá-lo. Nos-sos setores técnico-científico e industrial nãose relacionam frequentemente. É necessárioinduzir esse relacionamento. Obtenções demeios militares podem e devem ser fortesindutores.

INÍCIO PROMISSOR

A Corveta Barroso é o espécime únicode um esforço vital. Mas não deve ser o

Renunciar ao projeto élimitar-se e ficar

dependente

Por isso, a Marinhavolta-se simultaneamentepara projeto e construção

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A BUSCA DE GRANDEZA (V) – Corveta Barroso

capítulo final desse esforço iniciado na dé-cada de 1970. Ele destinava-se apenas aobter seis fragatas a serem construídas naInglaterra, repetindo iniciativas semelhan-tes da nossa história. Como o estaleiro in-glês não quis construir as seis fragatas,decidiu-se fabricar duas no Brasil, mas comprojeto, documentação, materiais, equipa-mentos e assistência técnica ingleses, istoé, com quase toda a parte cerebral inglesa.

Sufocado por um longo ciclo de atrasocrônico de mais de duas décadas, o Arsenalteve que se atualizar, e para isso adotou-seuma solução até então inédita para nós, masque os japoneses já haviam utilizado quaseum século antes, quan-do decidiram moderni-zar-se e tornar-se umapotência: enviar enge-nheiros e operários afim de capacitar-se, naInglaterra, para as tare-fas que realizariam emseu país. Os resultadosque obtivemos foramótimos, mas esse foi sóum primeiro e pequenopasso para superarmoslongo atraso.

O ICEBERGTÉCNICO-FINANCEIRO

Dado o primeiro passo, restava a grandeparte imersa do iceberg técnico-financeiro:desenvolvimento sustentável, criando ri-queza e capacidade financeira; engenhariade projeto do navio; laboratórios de testese experimentação; engenharia de fabricaçãode equipamentos; análise, testes e provasde sistemas e equipamentos; engenharialogística e apoio logístico integrado;integração de sistemas; avaliações em ser-viço; reanálises de requisitos de operação;e reprojetos.

Mesmo com o sucesso inicial na constru-ção das fragatas, não havia um plano paraprosseguirmos na escalada tecnológica. Fe-lizmente, ele surgiu pouco depois, no limiar dadécada de 1980, com a promulgação de suces-sivas edições do PRM (Plano deReaparelhamento da Marinha). Embora sumá-rio, sem ser propriamente um plano, o PRMestabelecia explicitamente o propósito de pro-jetar e construir navios de guerra no Brasil,com um máximo possível de participação deestaleiros e demais indústrias nacionais. Alémdisso, visava obter capacidade em projeto econstrução de navios de guerra de superfíciee submarinos convencionais e, mais tarde, de

submarinos nucleares.

ASCENSÃOTÉCNICA,INFLAÇÃODESTRUTIVA, LEIINADEQUADA

Entre 1980 e os pri-meiros anos da déca-da de 1990, prossegui-mos a escaladatecnológica, que malse iniciara: fizemostoda a engenharia deprojeto das corvetasclasse Inhaúma, utili-

zando cerca de 7,5% de mão de obra es-trangeira nos projetos de concepção e pre-liminar; construímos duas dessas corvetasno Arsenal e duas em estaleiro civil; espe-cificamos e fabricamos equipamentos e sis-temas principais das corvetas no Brasil, uti-lizando, ou não, consórcios de firmas naci-onais e estrangeiras, com cuidadosas sele-ções dos consórcios e cláusulas e especi-ficações contratuais de nacionalização egarantia de qualidade; realizamos os proje-tos de concepção e preliminar de um sub-marino diesel-elétrico nacional com apenas2% de mão de obra estrangeira e treina-

Absorver tecnologia éimportante. Mas absorvê-la

sem analisar seusfundamentos técnico-

científicos para daí criartecnologia própria é darum passo e novamenteestagnar. É continuar

dependente

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A BUSCA DE GRANDEZA (V) – Corveta Barroso

mento inicial na Alemanha; fizemos os pro-jetos de concepção e preliminar de um na-vio-patrulha de 1.200 toneladas; criamoscapacidade própria em projeto e análise deestruturas de submarinos e em análises etécnicas de controle de choque, vibraçõese ruídos; começamos a nos capacitar emprojeto para redução de assinaturas radare infravermelho; preparamos engenheirose operários para fabricar submarinos noPaís; construímos o primeiro submarino noBrasil, com um mínimo de assistência téc-nica do exterior e utilizando a capacidadeinstalada da Nuclep*; estruturamos equi-pes e métodos iniciais para engenharialogística e garantia de qualidade; projeta-mos, construímos, testamos e utilizamossistemas de controle tático; progredimosem engenharia de sis-temas de controle; edemos passos firmesem tecnologia de enri-quecimento de urânioe reatores nucleares.Tudo isso ocorreu en-volvendo o setor pri-vado nacional e de-senrolou-se num perí-odo extremamente desfavorável, com in-flações anuais entre 60% e 1.800%, alémde legislação que impunha cláusulas dereajuste quase fatais para empreendimen-tos de longo prazo e risco técnico, comoos de construção de navios de guerra enacionalização de seus equipamentos prin-cipais. Esse progresso, porém, era apenasum segundo degrau numa longa ascensãoque precisava ser contínua, ainda que ajus-tada às injunções financeiras do País.

OBSTÁCULOS, MAS AVANÇOS

Não obstante inflações destrutivas e leiinadequada para reajuste de contratos de

alto risco técnico, como os de nacionaliza-ção, os obstáculos foram vencidos. Alémde realizações materiais, ao final da décadade 1980 a Marinha havia formado uma es-trutura e um corpo técnico e gerencial demilitares e civis com experiência média dedez anos em engenharia de projeto, cons-trução e nacionalização de sistemas e equi-pamentos principais. Esse corpo técnico-gerencial ainda teria muito o que aprender erealizar, simultaneamente transmitindo suaexperiência aos elementos mais novos quegradualmente nele ingressariam e o renova-riam, e participando de desafios crescente-mente complexos na ascensão tecnológica.Uma das tarefas iniciais mais importantesera fazer uma detalhada e documentada ava-liação técnica do comportamento em servi-

ço de uma das quatrocorvetas protótipo, edaí reprojetar detalhes,subsistemas, sistemase até mesmo toda acorveta. Reprojetos dedetalhes e de subsis-temas e sistemas pode-riam ser introduzidos,dependendo da impor-

tância, nas outras corvetas da mesma clas-se durante períodos longos de manutençãogeral. O reprojeto das corvetas protótipo,classe Inhaúma, gerou um novo navio, aCorveta Barroso. É esse o mecanismo doprogresso.

INÍCIO DE DECLÍNIO

A partir de 1988 nossa ascensão técni-ca declinou continuamente. A Marinhanão conseguiu recursos para obter equi-pamentos do projeto do submarino nacio-nal, o SNAC-1, e nem pôde permitir quecada licitante estrangeiro obtivesse o fi-

Entre 1980 e os primeirosanos da década de 1990,prosseguimos a escaladatecnológica, que mal se

iniciara

* N.R.: Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep).

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nanciamento em moeda estrangeira para oseu sistema ou equipamento, como ocor-rera para as corvetas da classe Inhaúma.Situação semelhante aconteceu com oprojeto do navio-patrulha de 1.200 tone-ladas. Com isso, os dois projetos manti-veram-se em estado vegetativo até seremcancelados. Escassearam também os re-cursos para manter o ritmo de nossa inici-ativa nuclear em São Paulo. Deteriorou-seo salário dos nossos engenheiros contra-tados, que começaram a demitir-se. A si-tuação financeira do estaleiro privadoconstrutor de duas das corvetas agravou-se perigosamente. Fabricantes de equipa-mentos nacionalizados lutaram para ven-cer os riscos técnicos e entregar seus pro-dutos, diante de infla-ções que reduziamefetivamente o valororiginal dos seus con-tratos. A economianacional iniciava umaqueda que manteriabaixos níveis de cres-cimento durante lon-go tempo.

PROJETO DABARROSO: FIM DEUM CICLO

Durante a década de 1990 quase cessa-ram as atividades de engenharia de projeto,construção e nacionalização de equipamen-tos principais, exceto as de fabricação dossubmarinos IKL-1400, apoiadas num gran-de financiamento alemão que, seguido deoutro, permitiu construir quatro deles noBrasil. No entanto, até mesmo a construçãode submarinos enfrentou dificuldades mai-ores, diante do êxodo de técnicos altamentequalificados, cujos salários reais se reduzi-ram, e da escassez dos necessários aportesfinanceiros nacionais. A partir daí, passa-

mos a comprar alguns navios de guerra usa-dos de outras Marinhas ou a construir noBrasil pequenas unidades de projeto estran-geiro. Encerrava-se assim a fase de ascen-são tecnológica iniciada nos anos 70 e ace-lerada nos anos 80, mas que deveria ser per-manente. Como prematuro capítulo final,restou o reprojeto das corvetas classeInhaúma, determinado pelo então ministroda Marinha, Almirante Ivan da SilveiraSerpa. Dele nasceu a Corveta Barroso.

Embora não mais contando com váriosengenheiros que projetaram a classe Inha-úma, na Corveta Barroso a Diretoria de En-genharia Naval aproveitou a experiência ob-tida no projeto e na engenharia de avaliaçãodas corvetas protótipo, e pôde então usar

equipamentos princi-pais e sistemas nacio-nalizados, mas neces-sariamente modernizan-do alguns deles, comoo de controle emonitoração da pro-pulsão e auxiliares. Al-guns equipamentos,como os hélices depasso variável, antesnacionalizados, foramencomendados direta-mente ao exterior, por

não ser economicamente viável fabricá-lospara um só navio. Certamente também foiútil a sistemática de especificações técnicase formulação de contratos, aperfeiçoada gra-dualmente na geração das corvetas classeInhaúma. Por outro lado, no projeto e naconstrução da Barroso lutou-se constante-mente com reduzidas verbas orçamentárias,o que estendeu até 14 anos a obtenção donavio, e não mais se dispôs de equipesdedicadas exclusivamente à garantia de qua-lidade e ao apoio logístico integrado. Essasdesvantagens podem reduzir os benefíciosvisados no primeiro navio de guerra não

O reprojeto das corvetasprotótipo, classe Inhaúma,

gerou um novo navio, aCorveta Barroso. É esse o

mecanismo do progresso. Apartir de 1988 nossa

ascensão técnica declinoucontinuamente

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protótipo que produzimos em toda a histó-ria do Brasil republicano.

CARACTERÍSTICAS DE CICLOS DEATRASOCRÔNICOS E ADÉCADA DE 1980

Historicamente nos-sos ciclos de atraso crô-nicos começam comprogramas resultantesde grandes financiamen-tos estrangeiros, decli-nando e fenecendoquando passam a de-pender apenas de recur-sos nacionais ou de no-vos financiamentos noexterior. Segue-se umlongo período de estag-nação e perda gradual da capacidade que setenha adquirido, até que um novo ciclo se ini-cie. No caso das corvetas Inhaúma, houveum grande financiamento externo para o siste-ma de armas, a parte mais cara, complexa e demais rápida evolução num navio de guerra. Aplataforma e seus sistemas dependeram es-sencialmente de verbas no País e de financia-mentos no exterior obti-dos por cada firma es-trangeira candidata aconsorciar-se com em-presa nacional. Procedi-mento semelhante seadotaria para obter equi-pamentos e construir oprimeiro submarino na-cional, o SNAC-1, e osnavios-patrulha de1.200 toneladas, bem como para projetar e cons-truir navios não protótipos derivados daInhaúma.

No projeto das corvetas classe Inhaúma,rejeitamos um grande financiamento estran-geiro para todo o sistema da propulsão,

cuja contrapartida seria nossa exclusão daengenharia de projeto desse complexo sis-tema de navio de guerra, além de renúnciaà nacionalização dos seus subsistemas e

equipamentos, e mai-or dependência logís-tica. Optamos pelo de-safio de projetar total-mente e nacionalizarparcialmente o sistemada propulsão, aumen-tando nossa capaci-dade e enfrentandoriscos.

DEFESA EDESENVOLVIMENTO:CONTRIBUIÇÕES

Apesar de ter sidointerrompido o esforço de ascensão técni-ca iniciado na década de 1970 e aceleradonos anos 80, ele proporcionou à Marinhaapoio nacional que antes não seria possí-vel, particularmente em sistemas de con-trole para navios de diversos tipos, e pelomenos num caso vital de sistema de pro-pulsão de fragata. Também ajudou a criar

ou expandir firmas na-cionais que servem aempresas de navega-ção e a outros setoresda economia brasilei-ra e estimulou a fabri-cação de produtos dequalidade superior,como cabos elétricosde alta qualidade, quechegaram a ser adota-

dos na indústria offshore. Como principalcontribuição, gerou capacidade própria deprojetar navios de guerra segundo requisi-tos do nosso setor operativo e com pro-gressiva nacionalização de sistemas e equi-pamentos. Esta última contribuição, po-

Historicamente nossos ciclosde atraso crônicos começamcom programas resultantesde grandes financiamentosestrangeiros, declinando e

fenecendo quando passam adepender apenas de recursos

nacionais ou de novosfinanciamentos no exterior

Não se pode construir umaindústria nacional de defesa

sem demanda contínua, eprincipalmente sem uma

demanda inicial suficiente

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rém, debilitou-se em 20 anos de quase es-tagnação. É indispensável revitalizá-la.

Não se pode construir uma indústria na-cional de defesa sem demanda contínua, eprincipalmente sem uma demanda inicial su-ficiente. As quatro corvetas protótipo per-mitiram uma escala inicial de encomendaspara compensar os custos e os riscos téc-nicos de fabricantesnacionais. Mas issodeveria ter sido ape-nas um início. A conti-nuação e a ampliaçãodesse esforço, e suaconjugação com os detodo o setor de defesanacional e o da Petro-bras, criariam gradual-mente um complexotecnológico-industri-al-militar mínimo, indis-pensável à defesa e aodesenvolvimento do País.

O FUTURO

Ainda uma vez contemplei a Corveta Bar-roso. Já incorporada à Armada, ela flutuava

em águas luminosas sob um céu esplêndido.Mas era talvez o prematuro capítulo final deum esforço vital de defesa e desenvolvimen-to que foi interrompido. É necessário um pla-no para retomar o processo que a gerou: as-censão técnica mediante sucessão inin-terrupta de projetos, construções, avaliaçõesem serviço, reformulações de requisitos de

operação e reprojetos.Esse processo deveriaser permanente, mas oPaís não conseguiumantê-lo.

Novas ideias eoportunidades sur-gem, todas reavivandoexpectativas de pro-gresso e grandeza.Seja qual for o novocaminho ou processoescolhido, será indis-pensável uma estraté-

gia nacional integrada de defesa e desen-volvimento, coerência na sua execução econtinuidade de propósitos, recursos eações. A amplitude das pretensões deveapoiar-se numa alta probabilidade de sus-tentar-se o esforço necessário.

Seja qual for o novo caminhoou processo escolhido, será

indispensável uma estratégianacional integrada de defesae desenvolvimento, coerência

na sua execução econtinuidade de propósitos,

recursos e ações

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<POLÍTICA>; Poder Nacional; Poder Militar; Poder Naval Brasileiro; Ciência e Tecnologia;Corveta;

REFERÊNCIAS

[1] Estratégia Nacional de Defesa – 2a Edição -– Ministério da Defesa – Brasil – Dezembro de 2008.[2] “A Busca de Grandeza” – Vice-Almirante (Refo -EN) Elcio de Sá Freitas – Revista Marítima

Brasileira – Setembro de 2006.[3] “A Busca de Grandeza II” – Vice-Almirante (Refo -EN) Elcio de Sá Freitas – Revista Marítima

Brasileira – Junho de 2007.[4] “A Busca de Grandeza III” – Vice-Almirante (Refo -EN) Elcio de Sá Freitas – Revista Marítima

Brasileira – Março de 2011.[5] “A Busca de Grandeza IV” – Vice-Almirante (Refo -EN) Elcio de Sá Freitas – Junho de 2011.

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SUMÁRIO

Primeiras cartas de navegaçãoRepartição HidrográficaComandante Manoel José Nogueira da GamaA especialidade de Hidrografia e NavegaçãoVice-Almirante Heráclito Graça AranhaNavio Hidrográfico Rio BrancoLevantamento do litoralLevantamento da área marítimaA construção das cartasO Programa CartográficoA OceanografiaHojeA Amazônia Azul

INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇOHIDROGRÁFICO E OCEANOGRÁFICO BRASILEIRO –1931-1942

HELIO LEONCIO MARTINSVice-Almirante (Refo)

PRIMEIRAS CARTAS DENAVEGAÇÃO

O simples olhar a um mapa mostra o obri-gatório relacionamento que existe en-

tre o mar e o Brasil, este com sua imensacosta debruçada sobre o Atlântico. Entre-tanto, no período colonial, o mar foi utiliza-

do somente para o transporte marítimo, semque a segurança da navegação fosse ga-rantida por cartas náuticas, e para a pescaartesanal, como fonte de alimentação. Ha-via apurada cartografia das costas, as cha-madas cartas de marear, mas sem as infor-mações hidrográficas. Os navegadores ba-seavam-se ou em sua experiência ou em

N.R.: O Almirante Leoncio é hidrógrafo, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, conferencista,historiador, autor de vários livros, responsável por vários capítulos da Coleção História NavalBrasileira e colaborador permanente da Revista Marítima Brasileira.

O texto deste artigo serviu de base para a palestra que o autor proferiu no Instituto Histórico eGeográfico, no Rio de Janeiro, em 9/8/2011.

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roteiros que indicavam os rumos a seguir eque continham referências a pontos cons-pícuos do litoral.

A abertura dos portos para as naçõesamigas, primeira determinação do regenteD. João em sua chegada a Salvador, foidocumento político importante, mas nãoteve o efeito, como comumente é conheci-do, de aumentar o movimento comercial emnossos portos. Pelo contrário, com o blo-queio europeu decretado por Napoleão em1806, houve sensível queda da navegaçãointernacional, afetando substancialmentenossa frequência portuária.

Só em 1815, depois de derrotadoNapoleão, os produtos europeus começa-ram a vir para o Brasil. A França, entre ou-tros países, procurava retomar sua presen-ça comercial no mundo, mirando também oImpério português da América. Mas os fran-ceses sentiam falta de rotas seguras quepermitissem a aproximação de nosso litorale a utilização de nossos portos, ou seja, decartas marítimas. Daí terem enviado, em1818, para este lado do Atlântico uma co-missão hidrográfica chefiada pelo Almiran-te René Aubin Roussin, que, usando mé-todos já correntes, em dois anos carteou acosta brasileira de Santa Catarina aoMaranhão. Sucederam-lhe outros dois fran-ceses, Tardy de Montravel e Louis CharlesBarral, que completaram seu trabalho, nonorte até a Guiana, e no sul até o Rio daPrata. Tais cartas foram utilizadas por mui-tos anos, porém, em 1863, estando elasdesatualizadas, outro francês, Comandan-te Ernest Mouchez, foi mandado ao Brasilpara refazer as cartas de Roussin. Mouchez,um grande hidrógrafo, usando métodospráticos, mas com precisão suficiente paraa navegação, levantou toda a costa brasi-leira em 18 meses.

Oficiais brasileiros interessados, Vital deOliveira e Antonio Luiz von Hoonholtz, ofuturo Barão de Teffé, com poucos recur-

sos produziram três cartas do Nordeste,pelo primeiro, e a carta da Ilha de SantaCatarina e da costa fronteira, por Teffé. Aatenção despertada pelas cartas deMouchez levaram a ser criada uma Comis-são das Cartas do Império, sob a chefia deVital de Oliveira, que teve existência curta.Na Guerra do Paraguai, Vital, comandandoum navio, foi morto pelas baterias inimi-gas, e a Comissão não foi adiante.

REPARTIÇÃO HIDROGRÁFICA

Após a guerra, Teffé dedicou-se à Ge-ografia e à Hidrografia. Na primeira des-sas atividades, fez um estudo dos riosamazônicos e dos limites com o Peru, oque lhe valeu ser admitido na Academiade Ciências francesa. Na Hidrografia, apro-veitando-se de sua ligação com o impera-dor, criou, em 1876, a RepartiçãoHidrográfica, cujas atribuições seriam olevantamento do litoral e de suas águasadjacentes. A maior dificuldade da novaRepartição em realizar as grandiosas in-tenções de Teffé, malgrado a operosidadee a dedicação do diretor, foi a falta de re-cursos. Relatório apresentado em 1886,com dez anos de funcionamento da Re-partição, é desolador. Não dispunham dematerial flutuante, hidrógrafos, funcioná-rios, equipamentos. Teffé escreveu: “Suacriação fora um mero ensaio que não sedesenvolvera como seria de desejar”.

A Repartição Hidrográfica, em 1893, pas-sou a se chamar Repartição da Carta Maríti-ma; em 1908, Superintendência da Navega-ção; e, em 1923, Diretoria de Navegação.Mas, com todos esses nomes, chegou a 1930não conseguindo que sua produção fossealém de levantamentos isolados, sem liga-ção entre si, com metodologias diferentes, oque alguém denominou de “HidrografiaItinerante”. Continuávamos a navegar nascentenárias cartas de Mouchez.

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COMANDANTE MANOEL JOSÉNOGUEIRA DA GAMA

Este passeio feito por um século deHidrografia, não muito edificante, servepara frisar o contraste com a evolução queeste Serviço teve nos dezanos entre 1931 e 1941.Tudo começou quando oComandante ManoelJosé Nogueira da Gama,que fora encarregado denavegação de uma via-gem à volta do mundo donavio-escola, interes-sou-se pelos novos equi-pamentos e novos tiposde observações astronô-micas, que aperfeiçoaramas técnicas da Hidrogra-fia. E a esta decidiu dedi-car-se, aguardando umaoportunidade.

Demorou essa oportunidade. Em 1917,Nogueira da Gama comandou um contrator-pedeiro na Divisão Naval, que operou naÁfrica com a Royal Navy. Em 1928, por fim,

foi mandado servir na Diretoria de Navega-ção. Utilizando um velho e obsoletoencouraçado – o Floriano –, conseguiu fa-zer o levantamento de Vitória, no Espírito San-to e, comandando o navio, continuou na Baíada Ilha Grande. Não ficou satisfeito com os

poucos elementos de quedispunha e com a precari-edade das cartas produzi-das. Mais do que equipa-mento e material flutuante,a maior falta sentida era ade auxiliares devidamentepreparados. Ainda aguar-dava as melhoras com quesonhava, quando, em1931, foi procurado porseis tenentes, CT FernandoSaldanha da Gama Frota;1T José Santos Saldanhada Gama, Augusto Lopesda Cruz, Paulo Teles Bardy,

Levy Aarão Reis e Djalma Garnier, que, com aparada da Esquadra depois da Revolução,queriam empregar seu idealismo em outra ati-vidade. Foram, com Nogueira da Gama, oscriadores da nova Hidrografia.

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A ESPECIALIDADE DEHIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO

Utilizando a ligação que tinha com o mi-nistro, Almirante Conrado Heck, Nogueirada Gama conseguiu que fossem os seis em-barcados no Floriano ou incorporados naequipe de Hidrografia. E mais: “vendeu”ao ministro, em 1932, a ideia da legalizaçãoda especialidade de Hidrografia e Navega-ção, e a realização, no ano seguinte, doprimeiro curso que faria especialistas. Fo-ram seus instrutores: CC Antônio Alves Câ-mara, CT Ary dos Santos Rongel – autodi-datas – e o Coronel austríaco Emílio Wolf,contratado pelo Serviço Geográfico do Exér-cito. Esse curso e os quatro que se segui-ram tiveram pouco aspecto didático. Fo-ram mais seminários, nos quais instrutorese alunos debatiam matérias pouco conhe-cidas, e as conclusões e apostilas iam sen-do transformadas em manuais. O levanta-mento da Ilha Grande passou a ser a escolaprática dos novos hidrógrafos e a fixaçãodas melhores metodologias a serem empre-gadas. Relatório finalde Nogueira da Gamadeterminou a seriaçãodos trabalhos neces-sários e as precisõespadrões para a confec-ção de uma cartahidrográfica, que fo-ram seguidas até quedesenvolvimentostecnológicos coman-daram mudanças.

VICE-ALMIRANTEHERÁCLITOGRAÇA ARANHA

Em 1932, o Encouraçado Floriano foimandado para o Alto Amazonas a fim demanter a neutralidade do Brasil na guerra do

Peru com a Colômbia, e Nogueira da Gamapassou para a reserva por idade. Mas a con-tinuidade de seus esforços foi garantida pelodiretor de Navegação que assumiu, o Almi-rante Heráclito Graça Aranha. Era um admi-nistrador inteligente, enérgico e exigente.

Manteve, internamen-te e junto às autorida-des navais, a compre-ensão da importânciado Serviço e obtevemedidas essenciaisque permitiram e ace-leraram seu desenvol-vimento. Conseguiuque os dois alunos doprimeiro curso, Frota eBardy, que haviam ob-tido nota distinta, fos-sem enviados, um paraos Estados Unidos,para atualizar-se emcartografia, e o outro

para a Inglaterra, a fim de familiarizar-se coma segurança da navegação. Das experiênci-as de ambos resultaram rápidas transforma-

Os hidrógrafoslamentavam, desde acriação da Comissão

Hidrográfica, a inexistênciade navio especialmente

preparado para o ServiçoHidrográfico, sendoutilizados pequenosrebocadores e ex-

pesqueiros

Vice-Almirante Heráclito Graça Aranha

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ções na confecção das cartas e na publica-ção de informações de auxílio à navegação.

NAVIO-HIDROGRÁFICO RIO BRANCO

Os hidrógrafos la-mentavam, desde a cri-ação da ComissãoHidrográfica, a inexis-tência de navio espe-cialmente preparadopara o Serviço Hidro-gráfico, sendo utiliza-dos pequenos reboca-dores e ex-pesqueiros.Na Revolução de SãoPaulo, em 1932, foi ad-quirido pelos rebeldesno Canadá, nominal-mente para romper obloqueio de Santos,um navio que patru-lhava o movimentodos icebergs no Árti-co. Naturalmente eleseria incapaz de cumprir a tarefa pretendi-da, pelo que parou em Belém, sendo ocu-pado pela Marinha. Era um excelente bar-

co, resistente, ágil, bom de manobra, ca-racterísticas que o enquadravam bem comohidrográfico. Foi inicialmente destinado aincorporar-se à Flotilha do Amazonas, como nome de Rio Branco, conforme o rio as-

sim denominado. O al-mirante diretor de Na-vegação interveio econseguiu que o na-vio passasse para aHidrografia, tendosido devidamenteadaptado. Veio a ser onavio-escola de algu-mas gerações dehidrógrafos. Na guer-ra, foi transformadoem navio-escolta. Coma paz, voltou àHidrografia. Seu últi-mo trabalho foi na gi-gantesca operação dolevantamento do del-ta do Rio Amazonas. Onome Rio Branco foi

mantido, mas agora como justa homena-gem ao grande geógrafo e ex- ministro dasRelações Exteriores.

O Rio Branco veio a ser onavio-escola de algumasgerações de hidrógrafos.

Na guerra, foitransformado em

navio-escolta. Com a paz,voltou à Hidrografia.

Justa homenagem ao

grande geógrafo eex- ministro das

Relações Exteriores

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LEVANTAMENTO DO LITORAL

Com esse impulso, muito trabalho e aevolução dos conhecimentos, das técni-cas, dos métodos e dos instrumentos, asrealizações do Serviço Hidrográfico nos dezanos seguintes foram impressionantes, ten-do partido do zero. Naturalmente, a suaprimeira tarefa seriacartear as costas e osmares litorâneos, istoé, a abertura das “es-tradas do mar”. Maisimportante, porém, foia institucionalizaçãodo Serviço Hidrográ-fico (e, posteriormen-te, do Serviço Ocea-nográfico). O ideal doTeffé, em 1876, desta vez teve recursos ecompreensão, que permitiram continuida-de até atingir os níveis de hoje.

Vejamos os passos dados nesses dezanos, período das lutas iniciais, como sedesenvolveram e como evoluíram. Depoisdo reconhecimento da área a ser levanta-

da, passava-se a dimensioná-la e, astrono-micamente, a orientá-la em relação ao norte– o azimute – e localizá-la no globo, obser-vando latitudes e longitudes. Isto se faziapor meio da chamada triangulação, queconsistia em selecionar os pontos conspí-cuos da área, ligando-os uns ao outros,formando triângulos. O comprimento de um

lado do primeiro delesera medido com a má-xima precisão, determi-nada sua orientação eobservadas as coorde-nadas de uma extremi-dade. Com a mediçãode todos os ângulosdos triângulos, ia-secalculando o compri-mento dos lados e,

com isso, obtendo-se a orientação e a lo-calização geográfica de todo o terreno. Comvisadas feitas dos vértices da triangulação,desenhava-se o contorno da costa. Era pro-cesso difícil, caro, demorado, desgastante.Os vértices, dos quais se mediriam os ân-gulos, podiam ser de perigosa ou compli-

O ideal de Teffé, de 1876,após a Segunda GuerraMundial teve recursos e

compreensão, quepermitiram continuidade

até atingir os níveis de hoje

Esquema da Triangulação de Angra dos Reis

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cada aproximação, especialmente quandose tratava de regiões desertas ou ilhas oce-ânicas. Os acessos deveriam ser feitos porlanchas, barcos a remo ou, o que não erararo, a nado, rebocando os equipamentosfechados em conteú-dos estanques. E ha-via subidas íngremes,matas a serem derru-badas, às vezes comcobras.

Isso tudo foi sendomelhorado. A intervi-sibilidade dos pontos,necessária para a me-dida dos ângulos, nemsempre era possível,pois dependia da ilumi-nação, embora se erguessem nos vérticesestruturas de madeira de 12 metros de altu-ra. Isso foi resolvido com as medições dosângulos à noite, usando-se refletores. Em1935, a fotografia aérea, na qual se podiareconhecer os pontos de terra, forneceu ocontorno exato do litoral e detalhes topo-gráficos úteis à navegação, e osestereogramas obtidospela superposição par-cial de cada duas fotosinformavam as curvasde nível das elevaçõesda costa. Em fase pos-terior, depois da guer-ra, a triangulação foisubstituída pelas medi-das das distâncias pormeios eletrônicos, e aobservação astronômi-ca de coordenadas deulugar às posições ob-tidas por meio dos sa-télites; e, com o GPS,como se chama, passou-se a localizar geo-graficamente a área levantada com simplesaperto de botões.

LEVANTAMENTO DA ÁREAMARÍTIMA

Conhecida a costa, chegava a vez do mar.Correntômetros e marégrafos distribuídos pelo

litoral, verificados diver-sas vezes por dia, for-neciam elementos paraserem determinadas ascorrentes marítimas queafetavam a região e oprocedimento das ma-rés. E era efetuada a son-dagem, elemento essen-cial do levantamento.Perto de terra, no interi-or de enseadas, atua-vam as lanchas e, ao lar-

go, os navios, ambos seguindo rumos per-pendiculares à costa. Usava-se o prumo ma-nual, um cabo com peso de chumbo na extre-midade, que exigia grande habilidade dossondadores. Em 1936, experimentou-se parasondagens os ecobatímetros eletrônicos, mui-to elementares, que foram se aperfeiçoando.Atualmente já se utilizam os ecomultifeixes,

que sondam não umponto, mas uma faixa domar. O andamento dosnavios e lanchas, antesacompanhado obser-vando-se sinais em ter-ra, com nova aparelha-gem passou a ser con-trolado da terra e, de-pois, usando-se o GPS.Mas sem esses recur-sos, como não os havia,oito, dez horas de son-dagem em lanchas eramexaustivas.Tendo onovo levantamento sido

iniciado em 1931 na Ilha Grande, em 1942 jáchegara no sul, em Santa Catarina, e no norte,no Cabo de São Tomé.

Em 1936, experimentou-separa sondagens os

ecobatímetros eletrônicos,muito elementares, queforam se aperfeiçoando.Atualmente já se utilizam

os ecomultifeixes, quesondam não um ponto, mas

uma faixa do mar

Em 1935, a fotografiaaérea, na qual se podiareconhecer os pontos de

terra, forneceu o contornoexato do litoral e detalhes

topográficos úteis ànavegação

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A CONSTRUÇÃO DAS CARTAS

O passo seguinte, a construção da car-ta, era o mais delicado. Todos os dadosobtidos e registrados a bordo dos navioseram transferidos para o papel, e, obede-cendo a instruções e cuidados rigorosos,era desenhada a carta, e esta impressa. Aprimeira experiência foi a carta deMangaratiba, na Ilha Grande, em 1933, mui-to rudimentar, sendo impressa em tipogra-fia local. Com a vinda do hidrógrafo queestagiara nos Estados Unidos, as cartaspassaram a ser bem desenhadas, mas a im-pressão, feita em tipografias comerciais,deixava a desejar. Em 1939, começou a fun-cionar uma impressora offset importada, eas cartas foram inteiramente confecciona-das na Diretoria de Navegação. Atualmen-te, a construção de cartas chegou a um es-tágio em que, além das feitas em papel, cer-ca de 400, a Diretoria de Hidrografia e Na-vegação – como passou a se denominarem 1969 – produz as chamadas cartas ele-trônicas, um milagre cibernético, podendovariar conforme as necessidades do

utilizador e, vinculadas ao GPS, mostrar arota dos navios. Com os navegadores, de-sempregados, assistindo.

CARTA NÁUTICAELETRÔNICA

INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO HIDROGRÁFICO E OCEANOGRÁFICO BRASILEIRO – 1931-1942

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O PROGRAMA CARTOGRÁFICO

Em 1933, como um desafio, elaborou-se oPrimeiro ProgramaCartográfico, prevendoa construção de cartasmarítimas cobrindotoda a costa brasileira.Este Programa, apesardo interregno da guer-ra, foi concluído em1960, uma prova da con-tinuidade do processo.Cumpre-se agora um se-gundo, obedecendo aoutras exigências.

Com as dificuldadesvencidas entre os anosde 1931 e 1942, com aorganização do Serviçode Hidrografia, o prepa-ro dos hidrógrafos, a seleção de equipamen-tos e a fixação dos métodos adotados logoapareceram excelentes resultados. Estes ex-pandiram-se enormemente depois de 1945.

Com os equipamentos que substituíram atriangulação e facilitaram a sondagem, os heli-cópteros permitindo transporte e acessos rá-

pidos, e a celeridade naconstrução das cartas,aí incluindo as publica-ções de auxílio à nave-gação e cartas especiais,a produção atingiu nú-meros bem altos.

A OCEANOGRAFIA

Com a maior capaci-dade de realizações,maiores foram as atri-buições do ServiçoHidrográfico. Nos anos50, este avançou parao oceano. Foi criado oServiço Oceanográfico,

dominando a largueza e as profundidades doAtlântico Sul. O antigo Navio-Escola Almi-rante Saldanha, devidamente adaptado, tor-nou-se a escola dos oceanógrafos.

O antigo Navio-Escola Almirante Saldanha, devidamente adaptado,tornou-se a escola dos oceanógrafos

Hoje, o ServiçoHidrográfico e

Oceanográfico brasileiroombreia com os maisadiantados do mundo.

Opera oito navios, além demais quatro nos Distritos

Navais paraserviços locais

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HOJE

Hoje, o Serviço Hidrográfico e Oceano-gráfico brasileiro ombreia com os mais adi-antados do mundo, como mostram as ins-talações na Ponta de Armação, em Niterói,

compartilhadas com o Serviço de Faróis eBalizamento, a Meteorologia (que enviasuas previsões para os navios no mar), to-dos sob a mesma direção, e os oito naviosque opera, além de mais quatro nos Distri-tos Navais para serviços locais.

NAVIOSDA

DHN

Ponta da Armação – Niterói

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INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO HIDROGRÁFICO E OCEANOGRÁFICO BRASILEIRO – 1931-1942

Os seus equipamentos são sempre osmais modernos. Mas há dois antigos, exis-tentes desde sua criação, que são conser-vados como os mais importantes e respon-sáveis por seus êxitos: o idealismo e a de-dicação de seu elemento humano.

A AMAZÔNIA AZUL

A Diretoria de Hidrografia e Navegação,além de ter sob sua responsabilidade aHidrografia e a Oceanografia, o serviço defaróis e balizamento e a meteorologia, diri-

ge e apoia o Instituto de Estudos do MarAlmirante Paulo Moreira, em Arraial doCabo (RJ), e a Estação Antártica Coman-dante Ferraz. E realizou trabalho de extre-ma importância nacional.

A 10 de dezembro de 1982, em MontegoBay, na Jamaica, foi assinada por 118 paí-ses a Convenção das Nações Unidas so-bre os Direitos do Mar. Entre as muitas de-terminações relativas ao mar, foram fixadosnovos espaços marítimos pertencentes àsnações costeiras, que havia séculos eramlimitados a 3 milhas. O denominado “mar

interior” passou a ter12 milhas de extensão.Segue-se a zona con-tígua, com 24 milhas,e, contando-se dabase do “mar interior”,por 200 milhas, esten-de-se a “zona econô-mica exclusiva”, naqual a nação costeiratem o direito de pes-quisa, aproveitamen-to, conservação e ges-tão dos recursos natu-rais e, para exploraçãoe utilização, a coloca-ção de ilhas artificiais,instalações e estrutu-ras. Coube às naçõesinteressadas fixar os li-mites dessas zonas esubmeter os resulta-dos a uma comissãointernacional paraaprovação. Foi um tra-balho longo, que le-vou anos, realizadopela Hidrografia a par-tir de 1989, com ajudada Petrobras no quediz respeito à geolo-gia. Fomos a segunda

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INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO HIDROGRÁFICO E OCEANOGRÁFICO BRASILEIRO – 1931-1942

nação a apresentar os resultados e a pri-meira a ter aprovada a maior parte das zo-nas delimitadas, faltando apenas algunspequenos trechos, pelo que o território pro-dutivo brasileiro foi acrescido de área dasmesmas dimensões da Amazônia, a chama-da Amazônia Azul.

Devo desculpar-me por ter imprimido noque disse grande dose de personalismo.Quando se atinge idade avançada, o pas-sado ocupa todos nossos pensamentos,pois o presente é inexpressivo e o futuroduvidoso. E, em minhas lembranças, ocu-

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<ATIVIDADES MARINHEIRAS>; Hidrografia; Oceanografia; Cartografia; Cartas náuti-cas; Sinalização náutica;

pam posição especial os meus primeirosoito anos de atividade profissional, passa-dos na fase da Hidrografia que tentei des-crever, e da qual sou o último sobreviven-te. Tive a sorte de essa estreia ter sido emambiente pleno de sonhos realizados, deidealismo, de dedicação sem limites. E deter visto, como resultado, uma instituiçãoassim alimentada atingir rapidamente o êxi-to que atingiu. Isso me fez acreditar que,com esforços semelhantes, pode-se alcan-çar os mesmos resultados e não se permitirestagnação, definindo a continuidade e ofuturo como faz o Serviço Hidrográfico eOceanográfico, com o lema inscrito no pas-sadiço de seus navios: RESTARÁ SEM-PRE MUITO O QUE FAZER.

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Somente a madrugada, quando as ideiasse organizam melhor na nossa cabeça, per-mite este tipo de devaneio. São 3h45. Meunome é Iuri Kapetieviski Silva. Leio e releioa carta de um amigo com quem mecorrespondo sobre aflições no trabalho.Seu nome é Saladino Ayub.

Depois de ler O Libelo1, Saladino meenviou correspondência, como sempre faz,em que demonstra sua concordância comas ideias ali expressas. Num trecho da suacarta lemos:

“Será que temos que trilhar os velhoscaminhos? Não podemos aproveitar aexperiência dos outros e queimar eta-pas, chegando à modernidade mais ra-

FRUTOS DA MADRUGADA

RUY BARCELLOS CAPETTIVice-Almirante (Refo)

pidamente? Não é assim que o progres-so se materializa e se propaga? Ou va-mos ignorar o resto do mundo e fazernosso próprio caminho?”

Falamos sobre Logística, disciplina queacompanhamos com dificuldades há maisde 40 anos, tanto em virtude da sua própriaevolução como ciência da guerra como dasdificuldades de encontrar obras de refe-rência que auxiliem na difícil tarefa de acom-panhamento dos avanços que ciência etecnologia têm proporcionado ao seu de-senvolvimento. Felizmente a tecnologia dainformação, a internet e a globalização, en-tre tantos outros fenômenos que observa-mos na atualidade, têm facilitado a aquisi-

1 O Libelo, em http://www.submarinosdobr.com.br/Exemplares/Exemplar6.htm. Escrevi quando serviaem Murmansk, na Rússia.

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FRUTOS DA MADRUGADA

ção e a disseminação de muitos conheci-mentos sobre a tal da Logística.

Quanto ao aprendizado da disciplina,tivemos razoável avanço, deixando o gru-po dos inocentes, isto é, das pessoas quenão se dão conta da importância daLogística e da sua evolução e dormem eacordam sem quaisquer sobressaltos emface das suas exigências. Por outro lado,passamos a frequentar o mundo dos igno-rantes em Logística, sentindo-nos como umcomandante no passadiço do seu navio,que num simples olhar em volta se dá con-ta da imensidão dos mares que tem pelafrente e se pergunta: Oque virá depois da-quele horizonte?

Uma das motiva-ções para escrever estetexto é a incontida an-siedade de ver cami-nhar a compreensão daLogística para seu es-tado de conhecimentopor uma instituição queparece perplexa, paradano tempo e espaço emface da evolução deseus conceitos – a ins-tituição militar. A ansie-dade se justifica, talvez ainda mais, quandoobservamos um gap de mais de 30 anos tan-to cultural como de práticas, na aplicação deconceitos fundamentais da Logística.

Como nunca trabalhamos na indústriado petróleo, nem na mineração pesada ouna siderurgia, apenas para citar alguns ce-nários que requerem aplicação intensa dosconhecimentos da Logística, o nosso am-biente de referência para as consideraçõesque seguem só pode ser o de trabalho portoda uma vida – a do serviço na Marinhade guerra do País.

Naquele ambiente, incomoda bastantequando na atualidade se observa profissi-

onais de escalão mais alto que não se pre-ocupam em separar assuntos de teorescompletamente diferentes e sem relevân-cia técnica, como controlar datas de anda-mento de pedidos de serviço, divagar so-bre tipos de pedidos de serviço x ou y, comassuntos de natureza eminentemente téc-nica e altíssima relevância como geren-ciamento de dados logísticos, construçãode submarinos, construção de centrífugascom inovação tecnológica que as naçõesmais avançadas do mundo desejam “rou-bar”, entre tantos outros exemplos.

Essas pessoas não conseguem distin-guir entre o administra-tivo e o técnico. Issocomprova a existênciade uma postura quechega às raias da in-sanidade cultural, prin-cipalmente quandoconsideramos as áre-as das tecnologiascom seus constantesavanços. Possivel-mente, tal postura de-corra de um traumaque perdura na Mari-nha, pelo menos comoobservamos por todo

nosso tempo de serviço naval e, mesmodepois, até os dias atuais – o das dificulda-des no gerenciamento da função logísticamanutenção.

A origem desse fato, administrativamen-te falando, pode ter sido as consideraçõessobre supply no Department of Defensedos EUA que foram trazidas no passadopara o Ministério da Marinha, ocasião emque normas gerais sobre o abastecimentoforam baixadas pelo ministro da Marinha,diferentemente das demais funçõeslogísticas. Ignorou-se o Planejamento daManutenção (talvez até porque tal conhe-cimento não fosse bem disseminado), do

A tecnologia dainformação, a internet e aglobalização, entre tantos

outros fenômenos queobservamos na atualidade,têm facilitado a aquisição ea disseminação de muitosconhecimentos sobre a tal

da Logística

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FRUTOS DA MADRUGADA

qual decorre o pacote de ações de manu-tenção, e que já era reconhecido, naquelaépoca, como o carro-chefe da organizaçãodas funções logísticas, inclusive da pró-pria função logística manutenção.

Sem descer a detalhes técnicos e conside-rando apenas que quase todos os sistemasartificiais, ou seja, aqueles construídos pelohomem, têm uma destinação funcional defini-da, e ao mesmo tempo necessitam ser manti-dos (ver figura 1), pode-se compreender porque o Planejamento da Manutenção é essen-cial e tem prioridade sobre todos os demaiselementos do apoio logístico. Sabe-se quesomente depois que todos os itens sujeitos àmanutenção tiveremsido logisticamente ana-lisados é que as demaisfunções logísticas po-derão ser corretamenteequacionadas.

Pode-se inferir segu-ramente, então, que odesconhecimento decomo é obtido o pacotede manutenção dos sistemas de defesa, com-plexos sistemas artificiais como são os navi-os, submarinos, aeronaves, tanques, viaturasde combate de todos os tipos, entre tantosoutros, possa ser a principal razão para a inefi-ciência de qualquer sistema militar de apoio.

Correndo o risco de ser repetitivo nessaabordagem, tomamos a liberdade de recordaro conhecimento sobre um processo que mui-tos dirão, certamente: “Ah, isso eu já sabia!”Mas não praticam diuturnamente. Trata-sedo processo do qual nasce o conjunto detodas as ações de manutenção necessárias amanter ou restaurar um sistema artificial com-plexo durante todo seu ciclo de vida.

Conforme já mencionado, e valendo-seainda da ajuda da figura 1, na obtenção de

um sistema de defesa, ou em outras pala-vras, de um sistema ou equipamento decombate, observamos que ele nasce segun-do duas preocupações, resumidas de ummodo bem superficial, como a de ser:

(a) operado, isto é, ser capaz de serposto em funcionamento a fim de cumprirsuas destinações funcionais, e, a outra,

(b) mantido, isto é, estar em condiçõesde cumprir todas as missões que lhe forematribuídas.

Essas são considerações genéricas, enão exclusivas para sistemas de armas. Pra-ticamente, elas dizem respeito a todos ossistemas artificias, tanto mais quanto mais

complexos forem.Para que aquelas

duas preocupações se-jam satisfeitas, um sis-tema é desenvolvidotendo sempre em vistatanto a sua capacitaçãopara o cumprimento dasmissões com eficiênciaquanto a capacitação

para assim mantê-lo. Busca-se otimizar amanutenibilidade (facilidade em proceder amanutenção) desses sistemas. Como isso éfeito? Desde o instante da concepção e du-rante todo o design2 (embora não seja só nes-sa fase) são desenvolvidas ações no sentidode atribuir a máxima confiabilidade e otimizar amanutenibilidade, com vistas a garantir a mai-or disponibilidade do sistema ou equipamen-to em desenvolvimento, ao longo de toda suavida útil, com o menor custo possível.

A manutenibilidade é um requisito, oqual será atendido na fase em que o siste-ma estiver operacional por meio de açõesde manutenção. Na sua busca, a meta éidentificar e analisar todas as atividadesdas quais poderão decorrer ações de ma-

2 Favor não confundir com “projeto básico” como definido na nossa Engenharia, pois não é a mesmacoisa, segundo a própria definição de “projeto básico” na engenharia naval.

O Planejamento daManutenção é essencial e

tem prioridade sobre todosos demais elementos do

apoio logístico

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FRUTOS DA MADRUGADA

FIGURA 1

(PARÂMETRO DE PROJETO) (PARÂMETROS DE PROJETOS)

CUSTO/EFICÁCIA

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FRUTOS DA MADRUGADA

nutenção, selecionando aquelas candida-tas ao aprofundamento das consideraçõesapropriadas. Isso é conseguido pela análi-se de tarefas de manutenção, parcela con-siderável do esforço analítico dentro doprocesso de Análise de Apoio Logístico.Esses esforços se concretizam dentro dametodologia ou processo de ApoioLogístico Integrado, universalmente ado-tado pelos países que cultivam as melho-res práticas de engenharia. Somente depoisde concluídas todas as análises de todasas ações que possam requerer manuten-ção, cumprindo-se parte do elementologístico Planejamento da Manutenção, éque se pode ir adiante com consideraçõessobre as demais funções logísticas.

Depois de identificadas todas as ativida-des das quais poderão decorrer ações demanutenção, são conduzidos esforços analí-ticos sobre aqueles itens identificados comocandidatos ao aprofundamento das consi-derações de manutenção, a fim de estabele-cer o pacote de manutenção necessário –são as análises de modos de falhas, efeitos ecriticalidade, FMECA (de Failure Mode,Effects and Criticality Analysis) e a de nívelde manutenção Lora (de Level of RepairAnalysis), esta com a finalidade de identificarqual o melhor nível físico da organização des-tinada à manutenção para a realização dasações de manutenção em cada item.

Todas essas análises técnicas, visandoa identificar o pacote de manutenção maisadequado e o local para serem realizadas,geram uma tremenda quantidade de dados 3

que precisam ser armazenados uma vez eser acessados muitas, por todos os técni-cos (logísticos) envolvidos no desenvolvi-mento de um sistema ou equipamento, ga-

rantindo a coerência das análises e evitan-do duplicidade de esforços pela consistên-cia dos dados. Dessa tremenda base de da-dos nasce a necessidade da criação de umbanco de dados, conhecido na origem4 comoLSAR (de Logistics Support AnalysisRecord). Pelo avanço da Tecnologia da In-formação, o tipo de armazenamento dessesdados foi aperfeiçoado pelo uso da técnicade banco de dados relacional, e já de algumtempo vem essa base de dados evoluindopelo emprego da linguagem XML (deeXtensive Mark-up Language) aplicada àsCSDB (de Common Source Data Base).

A grande vantagem desse tipo de ban-co de dados (cuja principal característica éarmazenar dados e permitir sua fácil recu-peração por meio de consultas – queries) éa facilidade de serem gerados e extraídosrelatórios (sumários) sobre diversas ativi-dades da manutenção e seus elementoslogísticos associados, bem como dadosnecessários a diferentes considerações téc-nicas ou mesmo estatísticas.

Após analisar cada item ou peça candi-datos à manutenção quanto ao modo de fa-lha, efeitos e sua criticalidade, segundo umatécnica conhecida como análise de árvorede falhas, eles passarão por um processológico para determinar o tipo de manuten-ção a que deverão submeter-se, por meio deuma ferramenta conhecida como lógica demanutenção centrada na confiabilidade(RCM), resultando em definir quais partesnecessitarão de ações preventivas de ma-nutenção; quais as máquinas cujas açõesde manutenção serão iniciadas pelomonitoramento de algumas condições de seufuncionamento, como a tribologia5; quaissão os itens que não merecerão atenção

3 Não é só dessa análise que decorrem os dados, pois muitos já foram gerados em fases anteriores, tantodo design como da construção.

4 USA.5 Tribologia é a ciência e engenharia das interações entre superfícies em movimento relativo. Inclui o estudo

e a aplicação dos princípios da fricção, lubrificação e desgaste. É um ramo da engenharia mecânica.

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FRUTOS DA MADRUGADA

quanto à necessidade de manutenção (runto failure). Dessa lógica resultará, finalmen-te, uma taxonomia da totalidade dos itensanalisados de modo a adequá-los aos dife-rentes tipos de manutenção.

Um esforço analítico a mais que se segueao da FMECA, conforme já mencionamos, éa Análise de Nível de Reparo, cuja finalida-de é identificar o nível mais adequado ondeefetuar a manutenção: se orgânico, ou abordo, se num nível intermediário, comobases, oficinas de bases, centrosespecializados de repa-ro e outros, e finalmen-te num nível de fabri-cantes ou de grandesoficinas (depot). Essaanálise é comumenterealizada levando emconsideração fatorespuramente econômi-cos (Lora econômica),ou segundo fatoressupervenientes, queultrapassam as consi-derações econômicas,como a importância damissão (conhecidacomo análise Lora nãoeconômica).

Do processo deAnálise de ApoioLogístico decorrerá,igualmente, a classifi-cação de cada peça/parte segundo sua ori-gem (source), informa-ções sobre sua manutenção (maintenance)e sua recuperabilidade (recoverability).Conhecido como código SMR, este é umcódigo de cinco posições contendo infor-mações de como obter um item, quem podeinstalá-lo, substituí-lo ou usá-lo, quem podeproceder à totalidade das ações destina-das ao seu reparo e quem determina as

ações de eliminação quando ele se tornainservível.

Somente após todo esse esforço analí-tico é criado um pacote de manutençãoconfiável e otimizado. Somente após todoesse esforço analítico é que as demais ne-cessidades logísticas terão sido perfeita-mente analisadas e os recursos logísticosrealmente necessários terão sido identifi-cados. Em outras palavras, as demais fun-ções logísticas, como suprimentos, insta-lações físicas de apoio, equipamentos de

apoio e ferramentasespeciais, necessida-des e equipamentosde treinamento, servi-ços e documentaçãonecessários, força detrabalho e pessoal es-pecializado em opera-ção e manutenção, re-cursos computacio-nais de apoio, e outrosmais, só serão correta-mente identificadas eobtidas depois de ana-lisadas todas as tare-fas de manutenção!

Diante de todosesses processos es-senciais para identifi-car as necessidadeslogísticas e as deapoio, se pode com-preender por que todoesforço de construçãoem cima de projetos já

prontos e compras ocasionais necessitamrevisões em todos os esforços analíticosde definição da manutenção, a fim de ga-rantir a consistência e a coerência dos re-cursos das demais funções logísticas. É poressa razão, também, que tentar corrigir de-ficiências da gerência da manutenção com-batendo suas consequências não surtirá

Diante de todos essesprocessos essenciais paraidentificar as necessidadeslogísticas e as de apoio, sepode compreender por quetodo esforço de construção

em cima de projetos jáprontos e compras

ocasionais necessitamrevisões em todos osesforços analíticos de

definição da manutenção, afim de garantir a

consistência e a coerênciados recursos das demais

funções logísticas

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FRUTOS DA MADRUGADA

efeito eficaz nem duradouro. É preciso ata-car, isso sim, as causas-raízes, ou seja, aque-las decorrentes de deficiências por nãoatender ao que indicam os esforços analíti-cos realizados.

Isso só será conseguido quando a ins-tituição naval adotar um procedimento degerência da manutenção que leve em con-ta seu processo de gênese. Para ser maisclaro, quando a instituição tiver um Pro-grama de Apoio Logístico Integrado e pra-ticar a Análise de Apoio Logístico nos pa-drões modernos, em quaisquer circunstân-cias de obtenção de seus ativos de defesa,seja pela estratégia de pleno desenvolvi-mento ou pela de alteração nos sistemas jáexistentes, passandopela estratégia de ob-tenção de itens comer-ciais ou já desenvol-vidos para outrasagências militares, res-pectivamente citadoscomo produtos COTS6

e NDI (ou MOTS7).Tendo em vista a

Análise de Apoio Logístico tratar-se de umtremendo esforço analítico, dispendioso econsumidor de tempo, implica dimensioná-loadequadamente caso a caso, o que terá queser previsto num Plano de Análise de ApoioLogístico que deverá existir para cada um dossistemas em obtenção (sem excluir os itensque já existem, conforme já alertamos).

Falemos um pouco sobre o processo degerenciamento dos dados que vão sendoproduzidos, enfatizando a importância daescolha de uma referência para administrá-los. Afinal, esses dados são bens valiososque requerem cuidadoso manuseio.

Muito embora a base de todo o sistemade registro de dados gerenciais e técnicosreferentes ao Apoio Logístico Integradosejam as MIL-STD 13888 (já fora de vigor),os países de reconhecida cultura militar asusam fazendo uma série de adaptações deacordo com suas conveniências, não sónos elementos de dados que definem, masprincipalmente nos relatórios finais produ-zidos de acordo com a -2B.

O acima exposto é razão que torna conve-niente aos países de deficiente culturalogística na área de obtenção de sistemasartificiais complexos, ao utilizar essatecnologia, escolherem como referência umpadrão das adaptações conhecidas e dele

derivar as alteraçõesque julgarem de suaprópria conveniência.A grande vantagemdessa atitude é o aportede conhecimentos queela proporciona, pelafarta documentaçãoque já foi produzida.

Para clarear um pou-co mais essa consideração, exemplifiquemoscom o caso da DEF Stan 00-60 (Reino Uni-do). Quando aquele padrão estava sendoaprimorado, verificou-se que a -2B Notice 1tinha os elementos de dados numerados de001 a 518 (a -2B era usada como referência naorganização do Dicionário de Elementos deDados – Data Elements Dictionary DED doReino Unido). Ora, precisando introduzir seuspróprios elementos de dados na INT DEFStan 00-60, o Reino Unido o fez a partir donúmero 601 (que depois foi eliminado pelaalteração 4) e, posteriormente, os renumeroua partir do número 801.

6 COTS – de Comercial Off-The Shelf. Itens comercialmente disponíveis.7 NDI ou MOTS – de Non Developmental Itens ou de Military Off-The Shelf. Itens que já foram

desenvolvidos para outras agências militares e que estão disponíveis comercialmente.8 Referidas abreviadamente como -1A e -2B, quando delas se está tratando.

A instituição naval deveadotar um procedimento de

gerência da manutençãoque leve em conta seu

processo de gênese

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FRUTOS DA MADRUGADA

Ao mesmo tempo, vários elementos dedados da listagem inicial de referência (-2B)foram removidos por não interessarem àque-le país, razão pela qual a numeração dos ele-mentos de dados no dicionário de elementosde dados do Reino Unido tem vários espa-ços vazios na sequência de numeração.

Essas considerações não necessitam,aqui, de aprofundamento em seus aspec-tos técnicos, mas chamam a atenção para aimportância de se es-tar muito atento quan-do recebendo dadosde outro banco de da-dos (de outros paí-ses), pois é precisoque haja compatibili-dade tanto quanto aoselementos de dadosquanto aos relatóriosproduzidos pela ori-gem. É o caso do con-trato para construçãodos submarinos fran-ceses, quando o rela-cionamento no ApoioLogístico Integradodeve prever compatibilidade dos elemen-tos de dados e dos relatórios produzidos.A construtora desses submarinos usa ban-co de dados baseado na -2B, segundo atecno-logia da DEF Stan 00-609, processa-do pelo software SlicWave®, enquantoainda nada se tem organizado quanto aobanco de dados na nossa Marinha.

É importante, também, chamar a aten-ção para o fato de que já evoluiu o uso datécnica de banco de dados relacional e pa-drões de sua transferência. No caso da DEF

Stan 00-60 alteração 6, a UKDID 200410 es-tabelecia os métodos de transferência dedados LSAR e dos resultados dos relatóri-os LSAR por transferência on-line, de acor-do com a sua Part 0 Annex C. Atualmente,por meio de tecnologias mais modernas,que se valem do uso de linguagens de mar-cação específicas como a XML e o uso debase de dados de fonte comum (deCommon Source Data Base CSDB), que

usam Módulos de Da-dos (de Data Modu-le), os dados são digi-talmente transferidoscom maior eficiência.

Essa tecnologiamais moderna contri-bui, igualmente, para aprodução de manuaistécnicos com funcio-nalidades muito maiseficazes, tanto eletro-nicamente (ETM,IETM) como em cópi-as em papel (hard-copy). No DoD (EUA),o padrão -2B já evoluiu

para outro padrão que incorpora astecnologias acima mencionadas11.

Essas são algumas poucas ideias sobreimportância do Planejamento da Manuten-ção. Mas o dia já vai raiando. É hora de parar,não sem antes sintetizar nossa ansiedade.

Na obtenção de um submarino, tomadocomo exemplo de um sistema artificial mui-to complexo (referido até comosupersistema), há duas vertentes de preo-cupações: as de engenharias, das quaisdependerão seu desenvolvimento e sua

9 A DEF Stan 00-60 já está ultrapassada no que diz respeito ao ILS, estando em vigor a DEF Stan 00-600,em conjunto com o Manual JSP 886, The Defence Logistics Support Chain Manual Vol 7 IntegratedLogistics Support Part 1 Integrated Logistics Support (ILS) Policy.

10 Como são conhecidos os relatórios produzidos pela DEF Stan em referência.11 Consultar padrão ANSI/GEIA-STD-0007 Logistics Product Data, que nos EUA substituiu a MIL STD

1388-2B, e as LMI. Sugestão de consulta em https://dbl.lmi.org/index.php/GEIA-STD-0007

Na obtenção de umsubmarino, há duas

vertentes de preocupações:as de engenharias, dasquais dependerão seudesenvolvimento e sua

construção, e as do apoiologístico, do qual

dependerá por toda suavida em operações

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FRUTOS DA MADRUGADA

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<ARTES MILITARES>; Logística; Manutenção; Pensamento Militar; Planejamento Militar;

construção, e as do apoio logístico, do qualdependerá por toda sua vida em operações,e mesmo até por ocasião da sua eliminaçãodo inventário naval.

Essas duas preocupações são como asduas faces da mesma moeda. Não podemser separadas. Eis aqui a razão de nossasperplexidade e ansiedade.

Expliquemos. Para a primeira preocupa-ção, quando, por exemplo, se trata do de-senvolvimentos e da síntese de um ativo dedefesa a ser construído, nosso centro deprojetos navais usa um especializadís-simosoftware de apoio, cuja licença de uso e con-trato de manutenção requerem recursos quecaem na casa de 200 ou 300 milhares de euros.Quando se trata do apoio logístico, osoftware já comprado anos atrás, e que ain-da não foi plenamente utilizado, necessitade recursos na ordem de 10 ou 12 mil dóla-res para atualização e renovação de licença.Ora, se não forem disponibilizados recursosfinanceiros para a atualização dessessoftwares, o que se pode esperar da quali-dade dos produtos daquele centro?

Com relação à engenharia, exemplifique-mos com uma metáfora. A execução do pa-

cote de manutenção periódica indicada pelofabricante do seu automóvel custa x reais.Mas você não dispõe de x e entra em acor-do com a concessionária: “Façamos o queé possível com x/2, que é do que eu dispo-nho. Vamos cortar algumas ações de ma-nutenção. Podem ser do sistema de freiose algumas do sistema de direção”.

Pergunta-se: “Se você assim agisse, di-rigiria o seu automóvel? Ou deixaria paraum terceiro dirigi-lo e iria dormirtranquilamente?”.

Preocupante. Releio um último parágra-fo da carta de Saladino Ayub:

“De minha parte, a mais profunda de-cepção pela falta de consideração paracom nossas vidas, pois trabalhamos emuma atividade potencialmente perigosa,e qualquer medida para amenizar tal ca-racterística que não seja tomada pelasautoridades competentes configura-seem negligência, o que, por sua vez, écrime.”

Saladino, vou dormir, na esperança deque pelo menos Alah nos ajude!

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Na oportunidade em que estamos reu-nidos nesta casa de homens do mar,

instituição centenária fundada pelo insig-ne Almirante Luiz Philippe de Saldanha daGama, discípulo do “Velho Marinheiro”Joaquim Marques Lisboa, para uma sole-nidade alusiva à data magna de nossa Pá-tria, é meu dever agradecer e ressaltar quemuito me honra a oportunidade concedidapelo presidente do Clube Naval de poderproferir algumas palavras neste momento.

Aproveito também para me desculparpor não ser propriamente um especialistaem História do Brasil, como outros nobresoficiais de nossa Marinha, chefes e cole-gas que tanto admiro e que, em outras oca-siões, estiveram à frente deste mesmo púl-pito, privilegiando-nos com seus eruditos

ECOS DO IPIRANGA: A CONSOLIDAÇÃO DOESTADO E O AMADURECIMENTO DA NAÇÃOBRASILEIRA. CONTRIBUIÇÕES DO PODER NAVAL*

DOMINGOS SAVIO ALMEIDA NOGUEIRA1

Contra-AlmiranteOTACÍLIO BANDEIRA PEÇANHA2

Capitão de Corveta

e brilhantes discursos. Para minha remis-são, valho-me das palavras de meu nobrecolega de turma, o Capitão de Mar e GuerraAlves de Almeida, que certa feita afirmou:“[...] em História não existe apenas umaverdade, mas sim diversas verdades”. Apre-sentarei, pois, meu ponto de vista.

Entendo a enorme responsabilidade querecai nos ombros dos verdadeiros patriotasde manter incólume de modismos e revolu-ções culturais a memória dos heróis brasi-leiros e seus feitos, que nos legaram um paíscontinental, riquíssimo por natureza e semdissensões relevantes. O que seria um au-têntico amor à Pátria senão a lembrança delutas e epopeias vividas em comum? Daí atarefa importantíssima de nossas institui-ções militares, patrimônios permanentes

* N.R.: Palestra proferida no Clube Naval, a 1/9/2011, em comemoração ao 7 de Setembro.1 Comandante da Força de Superfície.2 Imediato da Fragata Greenhalgh.

A história ensina o quanto é dura a experiência dasnações que confiam mais nas leis e nas alianças de ocasiãodo que em seus próprios marinheiros e soldados.

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ECOS DO IPIRANGA: A CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO E O AMADURECIMENTO DA NAÇÃO BRASILEIRA.CONTRIBUIÇÕES DO PODER NAVAL

desta Terra de Santa Cruz, de manterem vi-vos e imaculados nosso passado glorioso enossa identidade cultural. E a História desteBrasil, independente das variadas interpre-tações, se necessariamente se deseja au-têntica, sem distorções, por certo não se afas-tará dos anseios de amor à liberdade, à éti-ca, ao progresso e aos valores cristãos, queemanam da maioria avassaladora deste or-deiro povo brasileiro.

Para dar o tom correto da importância dainterpretação honestados fatos históricos,recorro às palavras doAlmirante Bittencourt,que já se pronunciounesta casa, dizendo:“A História serve parapreservar memórias, permitindo que as pes-soas se situem no presente, adquirindo anoção de que são responsáveis, com suasdecisões, para a conformação do futuro”.Essas sábias palavras nos levam a compre-ender que não existe futuro para uma naçãoque negligencia o seu passado.

Remontando ao 7 de Setembro, é precisodiscernir o momento histórico do surgimento

do Estado brasileiro, emancipado politica-mente, do momento do surgimento da Na-ção, traduzido na sedimentação de nossa iden-tidade cultural. Precisamos relembrar, então,alguns conceitos advindos dos compêndiosde Ciência Política.

O Estado, criado na Europa pós-medie-val sob a forma de monarquias absolutis-tas, é conceito essencialmente jurídico, su-bentende a adição de três quesitos: um gru-po social, ou população, que ocupa certa

área geográfica; umterritório; e possuirgoverno próprio.

No Brasil, nas pri-meiras décadas do sé-culo XIX, nossa terraera habitada por cerca

de 4 milhões de pessoas, a maioria analfa-beta, mais da metade de escravos. A colô-nia padecia, juntamente com o pacto colo-nial, do sistema chamado de “clausura in-telectual”, em que ficava proibido o esta-belecimento de instituições de ensino su-perior. De fato, a melhor maneira de manterum povo subjugado, e sem identidade, écondená-lo à ignorância.

Não existe futuro para umanação que negligencia o

seu passado

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O segundo quesito, o território, tem seuprocesso de expansão e conquista iniciadono período da União Ibérica. Espanha e Por-tugal estavam reunidos sob uma única co-roa. Desvaneciam, assim, as limitações im-postas pelo Tratado de Tordesilhas. Maistarde, desbravadores como o militar PedroTeixeira, valendo-se da navegação fluvial noAmazonas e Solimões, expandem nossafronteira para o oeste. A criação da DivisãoNaval do Norte, em 1728, baseada na foz doDelta Amazônico, consolida a conquista da“Amazônia Verde”, garantida pela proteçãode sua interface com a “Amazônia Azul”. Damesma maneira, o reconhecimento da colô-nia portuguesa de Sacramento pela Espanhapermitiu o acesso à foz do Rio da Prata, pos-sibilitando a continui-dade do avanço para ooeste, quase inexpug-nável por terra, masacessível pelos rios.Em suma, um misto devisão estratégica, ca-pacidade de dissuasãoe, principalmente, em-prego de forças navaisconsolidaram o território, que, com a exce-ção da província Cisplatina, expressava-seem um único idioma, em 1822.

O último quesito, o governo, teve seugrande ponto de inflexão na vinda da Fa-mília Real para o Brasil, em decorrência dainvasão napoleônica em Portugal. Paramuitos historiadores a chegada dosBragança, em 1808, assinala o término doperíodo colonial, pela equiparação políticae administrativa a Portugal, no esteio deprovidências como a abertura dos portosàs nações amigas – diga-se, de passagem,à Inglaterra; a revogação do Alvará de 1785de Dona Maria I, instituindo a liberdadeeconômica; a elevação do Brasil à condi-ção de Reino Unido, já em 1815, e, por quenão mencionar, o início do fim da “clausura

intelectual”, com o estabelecimento da Aca-demia Real de Guardas-Marinha, que cru-zara o Atlântico junto com a família real naNau Conde Dom Henrique, instalando-seno Mosteiro de São Bento e inaugurando,assim, o ensino superior no Brasil.

Além dos três quesitos mencionados afundamentar a criação de um Estado, outrosautores ainda acrescentam um quarto elemen-to: a soberania, que consiste, em suma, noexercício do poder sem limitações de origemexterna. A soberania compreende a soma daindependência com a autonomia. A indepen-dência é a capacidade de se fazer representarjunto aos outros Estados. A autonomia en-contra sua quintessência na capacidade deprover sua própria defesa, em síntese, pos-

suir Forças Armadas.Vejamos então

como, no caso brasilei-ro, se logrou alcançarautonomia e indepen-dência em período tãoconturbado, batizadoapropriadamente porEric Hobsbawm de “Aera das revoluções”.

As revoluções liberais, experiências prá-ticas do Iluminismo, convulsionaram a Eu-ropa no início do século XIX, com reflexospercebidos no Novo Mundo. No plano in-terno, deflagrou-se, em Pernambuco, a Re-volução de 1817, influenciada pela Revolu-ção Francesa e de caráter separatista. Foibrutalmente reprimida pelo governo central,multiplicando ressentimentos e hostilidades.Em Portugal, já libertado do jugo francês,eclode a Revolução Liberal do Porto, de ca-ráter antiabsolutista, o que obriga o retornode D. João VI, mantendo aqui, contudo, opríncipe regente D. Pedro de Bragança, e,assim, garantindo ao Brasil o status de rei-no. A Corte portuguesa, insatisfeita com asituação reinante na antiga “Joia da Coroa”,exige também, o retorno de D. Pedro.

Um misto de visãoestratégica, capacidade de

dissuasão e, principalmente,emprego de forças navaisconsolidaram o território

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Nos desdobramentos da situação polí-tica, o príncipe destituiu o antigo gabineteherdado de seu pai e empossou JoséBonifácio de Andrada e Silva como minis-tro do Reino e de Estrangeiros, o equiva-lente ao posto de primeiro-ministro.Bonifácio fora o hábil estrategista que an-tes redigira o ofício que convencera o prín-cipe no episódio conhecido como o Dia doFico. Ainda com o incentivo de Andrada, eda princesa Leopoldina, esposa de D.Pedro, o príncipe proclama, em ato simbóli-co, a independência do Brasil de Portugal.Atende, assim, ao prudente conselho deseu pai, que vira a fragmentação do impé-rio espanhol em pequenas repúblicas e queo conclamara a agir “antes que algum aven-tureiro o fizesse”. Correspondia, ainda, aosanseios da aristocracia e da maçonaria daépoca, desejosas de preservar a monarquiaimplantada em 1808.

A independência política de nosso paísteve seu primeiro apoio advindo dos Esta-dos Unidos da América, em maio de 1824,refletindo a Doutrina Monroe, que objetivamenor ingerência europeia no continente.Com hábil intervenção de Bonifácio, o Rei-no Unido reconhece nossa independência

em 1825, convencendo, em seguida, Portu-gal a fazer o mesmo. Logrou, com isso, privi-légios nas transações comerciais e o paga-mento, pelas arcas brasileiras, de uma dívi-da portuguesa de 2 milhões de libras. Nobalanço geral, entendo que a proteção dopoder naval britânico concedida a Portugale suas colônias durante mais de dois sécu-los gerou mais dividendos do que perdas,refletindo até na expansão territorial dosdomínios ultramarinos lusitanos, a despeitodas perenes acusações de imperialismo im-putados aos ingleses, sustentadas por res-peitados autores. Curioso notar que a pro-teção concedida por um Poder Naval, nocaso o britânico, a Portugal e suas colônias,à época, arrefeceu a eventual cobiça de ou-tras nações marítimas, ensinamento que per-manece atualizado. Por fim, já em 1826, a Fran-ça e a Santa Sé, fazendo-se acompanhar dosdemais Estados europeus, ratificaram de vezo reconhecimento à independência brasilei-ra, que viria somente a ser consolidada em1831, ao desfecho do Primeiro Reinado.

A autonomia, segundo parâmetro a com-por a soberania, foi obtida com aquilo queVon Clausewitz identificava como “a conti-nuidade da política por outros meios”. O

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Brasil era um grande arquipélago. O aces-so às províncias somente se dava pelo mar,pois as vias interiores eram precárias ouinexistiam. Havia o imperativo da criaçãode uma Marinha de Guerra. Um almiranteescocês, convidado por Bonifácio, foi nos-so primeiro comandan-te em chefe, ThomasCochrane, futuro Mar-quês do Maranhão.Apelidado pelo pró-prio Napoleão de Lobodo Mar, era hábil emexplorar a manobrabi-lidade das fragatas, asrápidas belonaves queinfernizaram, com táti-ca revolucionária, osgrandes navios de linhafranceses no Mediter-râneo. Essa experiênciafoi fundamental para aformação de nossa Es-quadra, composta pornavios leves e compoucos canhões, entretanto rápidos eágeis na manobra.

Havia a disposição por parte de parti-dários das cortes portuguesas, mormentenas províncias do Norte e do Nordeste, emresistir às notícias que chegavam do Riode Janeiro. Explica-se a influência maior doslusos naquela região, posto que a navega-ção a vela para a Europa, a partir do salien-te nordestino, apresentava ventos maisfavoráveis do que os encontrados ao sul.É inegável para todos os presentes a im-portância das ações da nossa então nas-cente Marinha nos combates que sucede-ram e no processo de pacificação das pro-víncias que não aderiram celeremente aoimperativo da emancipação. Muito já foifalado nesta casa a respeito de tão rele-vantes fatos históricos. Mencionar as ope-rações navais levadas a cabo à época é

lembrar o Almirante Joaquim Marques Lis-boa. Nosso patrono viveu por quase 90anos, dos quais 78 a serviço da Nação bra-sileira. Esteve presente na quase totalida-de dos embates em que, no seu tempo, oImpério brasileiro se envolveu: desde ado-

lescente, na condiçãode voluntário, a bordoda Fragata Niterói, co-mandada por JohnTaylor, participando dahomérica perseguiçãoa uma esquadra lusita-na de 86 navios peloAtlântico, até a maturi-dade, na Guerra doParaguai, como coman-dante em chefe das for-ças navais brasileirasem operações no Rioda Prata.

As ações de nossaMarinha, formada àépoca por marujos bra-sileiros, ingleses e por-

tugueses, entre outras nacionalidades e,por que não dizer, fuzileiros navais, dadoque havia tropas a bordo sendo transpor-tadas para projetar poder sobre terra, fo-ram fundamentais para a manutenção daautonomia do nascente Estado brasileiro.Legou-nos com a força das ações milita-res, aliada às ações políticas, a totalidadedo território unido pelo idioma comum, ex-ceção feita à Cisplatina, de fala castelhana,que pelas ações diplomáticas, em 1828, for-mou o que Lorde Ponsonby, chanceler bri-tânico, chamou de “algodão entre os cris-tais”, um “estado tampão” a nos separardas Províncias Unidas do Prata.

No início dos anos 30 do século XIX,acirraram-se as contradições entre a pos-tura absolutista do imperador e a elite libe-ral. Já antes, em 1823, o jornal dosAndradas, O Tamoyo (nome referente aos

Almirante Cochrane

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índios famosos por sua hostilidade aosportugueses), explorara o sentimentoantilusitano, ligando D. Pedro à sua terranatal; em 1824, a dura repressão engendra-da contra a Confederação do Equador con-tribuíra sobremaneira para o gradual divór-cio entre imperador e seus súditos.

Com a morte de D. João VI em Portugal e,mais tarde, a usurpação do trono, destinadoà filha de D. Pedro I, por seu irmão D. Miguel,incrementa-se o temor entre os brasileirosde um retorno ao antigo status quo, somen-te desvanecido com a abdicação de D. Pedroa favor de seu filho. Assim, despediu-sedesta terra o homem polêmico e arrojadoque contribuiu para nos legar um Estadoconsolidado. Entretanto, deixou como mai-or herança ao nosso país o pequeno Pedrode Alcântara, um meni-no de 5 anos que tevepor missão, como sím-bolo do Poder Mode-rador, pairar acima detodas as quizílias polí-ticas e manter incólu-me nossa extensãoterritorial. Se havia algoem comum que uniatodos os brasileiros,uma unanimidade quelhes dava o sentido de nacionalidade, essealgo era o pequeno futuro imperador.

Tínhamos, pois, no período regencial,um Estado formado como entidade jurídi-ca. A partir de então, caberia ao presidentede honra de nosso clube, o imperador D.Pedro II, a árdua missão de criar uma Na-ção brasileira, entidade moral.

Há muitas controvérsias a respeito des-se assunto. Alguns estudiosos afirmamque, já no século XVIII, os movimentosnativistas ocorridos neste solo, destacan-do-se a Inconfidência Mineira, resultanteda opressiva política fiscal da metrópoleportuguesa, teriam sido os embriões de

nossa nacionalidade e anseio de indepen-dência. Outros creem que essa nacionali-dade surgiu nas agruras dos cruentos cam-pos de batalha, terrestres e fluviais, daGuerra do Paraguai, onde civis, marinhei-ros e soldados alcançaram pela primeira vezum sentimento de unidade autoconsciente,preservando o território nacional da sanhade um inimigo externo.

O Estado necessita de uma população,a Nação de um povo plenamente conscien-te e que exalte suas diferenças em relaçãoaos demais. O Estado precisa de um terri-tório, a Nação de uma Pátria, que é a nossaterra natal, mesmo que esteja ocupada peloinimigo. O Estado necessita de um gover-no, a Nação de instituições de apreço na-cional a amalgamar seus nativos, como, por

exemplo, as ForçasArmadas, os feitoshistóricos em comum,os costumes, a reli-gião, uma moeda.Como afirma o Almi-rante Diégues em seulivro A RevoluçãoBrasílica: O projetopolítico e a estratégiada independência: “OBrasil não fora criado

para ser uma nação, não era essa, nem sepoderia esperar que fosse, a intenção deseus descobridores”. E completa: “A inde-pendência evoca a Nação como conceito,mas não destrava as medidas necessárias,concretas, para o seu amadurecimento.Deixa de criar as condições, que só maistarde vão emergir, para uma maior igualda-de de direitos, a progressiva sedimentaçãode interesses e aspirações comuns, que sãoa alma e os pressupostos pelos quais a gran-de maioria se reconhece e se comportacomo Nação.”

Penso que, mais tarde, com a sucessãodos fatos históricos, a queda do império e o

Se havia algo em comumque unia todos os brasileiros,

uma unanimidade que lhesdava o sentido de

nacionalidade, esse algo erao pequeno futuro imperador

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exílio do chefe de Estado que nos governoupor quase meio século sob a égide de umaúnica Constituição e que guiou a Pátria nomaior conflito bélico acontecido na Américado Sul, perdia-se o elo comum entre todosos brasileiros naquela época – o fato de se-rem todos súditos de D.Pedro II. Como apon-ta Leandro Narloch: “O Brasil, sem a coroa,tinha ficado sem cara”. A dívida contraídapor ocasião da guerra fora um dos motivos.Ao abolir a escravidão, para “formar empoucas gerações uma Nação homogênea”como planejara antes José Bonifácio, o im-pério se encontrava sem recursos para in-denizar os senhores de escravos. Cabe lem-brar que nosso maior marinheiro expôs todasua admiração, lealda-de e devoção ao impe-rador, como deixou re-gistrado em seu pró-prio testamento, aodeclinar de homena-gens post mortem, pos-to que as mesmas nãoforam dedicadas aoimperador, no trechoem que diz: “(...) nãohavendo a Nação bra-sileira prestado honrasfúnebres de espécie al-guma por ocasião do falecimento do Impe-rador, o Senhor Pedro II, o mais distinto fi-lho desta terra, tanto por sua moralidade,alta posição, virtudes, ilustração, como peladedicação no constante empenho do servi-ço da Pátria durante quase 50 anos que pre-sidiu a direção do Estado”. Ainda no testa-mento, lembrou a única ocasião em que umComandante Supremo das Forças Armadasbrasileiras deslocou-se até o front de bata-lha, visando motivar seus comandados: “So-bre o caixão não desejo que se coloquemcoroas, flores ou enfeites de qualquer espé-cie, e só a Comenda do Cruzeiro que ornavao peito do Sr. D. Pedro II em Uruguaiana,

quando compareceu como primeiro dos vo-luntários da Pátria para libertar aquela pos-sessão brasileira do jugo dos paraguaios”.

Por que menciono tudo isso? Estaria meestendendo ao falar até do 15 de Novembro,uma vez que estamos comemorando o 7 deSetembro? Entendo que nossa Data Magnafoi apenas o início de uma longa jornada. Acada dia ela se renova. Creio que ainda temosmuito a navegar na busca por uma naçãomais homogênea, mais justa e, por sua vez,mais próspera. Buscamos ainda, em plenoséculo XXI, desvencilharmo-nos de uma certa“clausura intelectual”. Conceder educaçãoprimorosa ao povo e igualar as oportunida-des é o grande atalho a ser tomado para al-

cançarmos o objetivo.Exaltar a nacionalidadealém das casuais come-morações esportivas.Cultuar grandes íconesde nossa Pátria tambémé uma forma de incre-mentar nossa naciona-lidade. Fazer deles sím-bolos de coragem, no-breza, desprendimentoe patriotismo a seremseguidos pela juventu-de. Quem sabe assim

veremos de volta suas efígies às nossas mo-edas, com seus valores monetários salutar-mente estabilizados há 17 anos. Que talBonifácio a compor a nota de 10 reais? Ouentão Marquês de Tamandaré presente nanota de 50 reais? Quiçá a nota de 100 reaisestampando D. Pedro II? Acredito que so-mos carentes das figuras dos fundadores daPátria, cultuados somente por civis maisconscientizados e militares. Falta-nos ummonte com suas esculturas.

Por último, gostaria de ressaltar o queacredito que nos cabe, o que compete àMarinha do Brasil, a mesma que nosgarantiu a soberania no passado, para atu-

Buscamos ainda, em plenoséculo XXI, desvenci-

lharmo-nos de uma certa“clausura intelectual”.

Conceder educaçãoprimorosa ao povo e

igualar as oportunidades éo grande atalho

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ECOS DO IPIRANGA: A CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO E O AMADURECIMENTO DA NAÇÃO BRASILEIRA.CONTRIBUIÇÕES DO PODER NAVAL

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<HISTÓRIA>; História do Brasil; Sete de Setembro;

ar na garantia das prerrogativas do Estadobrasileiro e na manutenção de nossa sobe-rania no presente. A defesa do território ede nossas riquíssimas águas é uma de nos-sas principais tarefas. Ainda, nos dias atu-ais, somos a ponta de lança da consolida-ção de nossas fronteiras ao leste. Algumasáreas da extensão de nossa plataforma con-tinental ainda carecem de definição, postoque são nossas de fato, mas ainda não depleno direito. Façamos valer o antigo prin-cípio do direito romano do Uti Possidetis;para tal, temos queocupar espaços e mar-car presença. Temosque mostrar nossaBandeira, em nossaságuas e no exterior,mostrar o quanto sãoprofissionais e moti-vados aqueles que seespelham no exemplo das gerações passa-das de brasileiros. A Amazônia Azul é ogrande desafio hodierno. A história ensinao quanto é dura a experiência das naçõesque confiam mais nas leis e nas alianças deocasião do que em seus próprios marinhei-ros e soldados. Nossa soberania como ta-

refa, a afirmação de nossa nacionalidadecomo propósito é a nossa missão.

Sou otimista, não tenho como não sê-lo.Estamos sobre território vasto e riquíssimopor natureza, isento de grandes intempéries,habitado por povo cordial e alegre, uma sín-tese de todas as raças e credos, sempre aber-to à confraternização com outros povos.Mahan diria, ao analisá-lo, que lhe falta odesenvolvimento da mentalidade marítima emaior quantidade de homens e mulheres vol-tados para as lides navais para lograrmos um

grande poder sobre osmares. A solução éexequível e aceitável.Mesmo o que nos faltasomente depende denós alcançarmos.

Um viva ao ClubeNaval e à Marinha doBrasil de ontem, hoje

e sempre!Um viva ao Estado brasileiro soberano!Um viva à Nação brasileira!Proclamamos, em um bradouníssono, nosso lema:Tudo pela Pátria!Muito obrigado.

Nossa soberania comotarefa, a afirmação de

nossa nacionalidade comopropósito é a nossa missão

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SUMÁRIO

IntroduçãoAntecedentesReestruturação do Ministério da DefesaEstrutura Militar de DefesaImplicações imediatasImplicações para a MarinhaRestrições financeirasConclusãoAnexo: Organogramas I, II e III

A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURASDE DEFESA(*)

EDUARDO ITALO PESCEProfessor(**)

INTRODUÇÃO

A Lei Complementar no 97, de 9/6/1999,dispõe sobre as normas gerais para a

organização, o preparo e o emprego dasForças Armadas brasileiras. Este texto le-gal, que já havia sido alterado pela Lei Com-

plementar no 117, de 2/9/2004, foi novamen-te revisto pela Lei Complementar no 136, de25/8/2010, que reformulou a estrutura doMinistério da Defesa.1

Além disso, o Decreto no 7.276, de 25/8/2010, aprovou a nova Estrutura Militar deDefesa, em substituição à Estrutura Militar

(*) Trabalho submetido à Revista Marítima Brasileira em junho de 2011.(**) Especialista em Relações Internacionais, professor no Centro de Produção da Universidade do Estado

do Rio de Janeiro (Cepuerj), colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estratégicos daEscola de Guerra Naval (CEPE/EGN) e colaborador assíduo da RMB.

1 Cf. Presidência da República/Congresso Nacional, Lei Complementar no 97, de 9/6/1999 – Dispõe sobre asnormas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas (Brasília, 9 jun. 1999).Alterada pela Lei Complementar no 117, de 2/9/2004, e pela Lei Complementar no 136, de 25/8/2010.

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

de Guerra prevista no Decreto Reservado no

8, de 17/2/1980.2 As modificações na cadeiade comando e na organização da DefesaNacional, introduzidas pela legislação revis-ta, terão profundas implicações para o pre-paro e o emprego das Forças Armadas.3

Em função da perspectiva de criação deComandos Conjuntos em tempo de paz, aestrutura orgânica – em particular o setoroperativo – das três forças singulares de-verá ser repensada. No caso da Marinha,provavelmente haverá necessidade dereavaliar o papel do Comando de Opera-ções Navais (ComOpNav) e de seus com-ponentes subordinados.

O presente artigo examina as alteraçõesmais relevantes, introduzidas recentemen-te, e procura avaliar as possíveis implica-ções de tais alterações para o preparo e oemprego do Poder Naval brasileiro. O textobaseia-se em fontes e bibliografia ostensi-vas, sendo as opiniões e os conceitos decaráter estritamente pessoal.

ANTECEDENTES

A Lei Complementar no 69, de 23/7/1991,que anteriormente dispunha sobre a or-ganização, o preparo e o emprego das For-ças Armadas no Brasil, foi revogada pelaLei Complementar no 97, de 9/6/1999.4 Nodia seguinte à edição da nova legislação,foi ativado o Ministério da Defesa (MD),

em substituição aos antigos ministériosda Marinha, do Exército e da Aeronáutica,ao Estado-Maior das Forças Armadas(Emfa) e à Casa Militar da Presidência daRepública.

A criação do Ministério da Defesa emnosso país poderia privar o comandante su-premo das Forças Armadas (isto é, o Presi-dente da República) de assessoria militar dealto nível. A fim de evitar tal inconveniente,procurando manter a estrutura leve e evi-tando misturar os assuntos operacionais(operativos) com os demais, foram criados,no âmbito do novo ministério, o ConselhoMilitar de Defesa (CMD), o Estado-Maiorde Defesa (EMD) e várias secretarias políti-co-administrativas.5

O CMD, constituído pelo ministro daDefesa, pelos comandantes da Marinha, doExército e da Aeronáutica e pelo chefe doEMD, prestaria assessoria estratégica aoPresidente com relação ao emprego dasForças Armadas. O EMD seria um Estado-Maior operacional (operativo), que coor-denaria as operações conjuntas ou combi-nadas. A coordenação dos demais assun-tos seria atribuição das secretarias do MD.

Após a criação do novo ministério, di-versos documentos doutrinários e de pla-nejamento das Forças Armadas foram edita-dos ou atualizados. A atual Política de Defe-sa Nacional (PDN), aprovada pelo Decretono 5.484, de 30/6/2005, substituiu a anterior,

2 Cf. Presidência da República, Decreto no 7.276, de 25/8/2010 – Aprova a Estrutura Militar de Defesa edá outras providências (Brasília, 25 ago. 2010). Cf. também Presidência da República, DecretoReservado no 8, de 17/1/1980 – Aprova a diretriz para o estabelecimento da Estrutura Militar deGuerra (Brasília, 17 jan. 1980).

3 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Novas estruturas de Defesa”, Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 9, 10 e 11/7/2011, p. 2 (Opinião).

4 Cf. Presidência da República/Congresso Nacional, Lei Complementar no 69, de 23/7/1991 – Dispõesobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas (Brasília, 23jul. 1991). Revogada pela Lei Complementar no 97, de 9/6/1999.

5 Cf. Eduardo Italo Pesce & Iberê Mariano da Silva, “Defesa Nacional e Forças Armadas no sistemapresidencialista”, Revista Marítima Brasileira 129 (10/12): 91-104. Rio de Janeiro, out./dez. 2009.Cf. também Mauro César Rodrigues Pereira, Mudanças no MD (Rio de Janeiro, 30 ago. 2010).Texto divulgado pelo autor na Internet via correio eletrônico.

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divulgada em 7/11/1996 sem edição de ne-nhum decreto ou outra norma jurídica.6

A PDN de 1996 deu suporte à decisãofavorável à Marinha do Brasil, quanto aoseu pleito de voltar a contar com aviação deasa fixa própria.7 Na ocasião, a Marinha edi-tou um documento mostrando a inserçãodo Poder Naval na nova política. Ampla-mente distribuído (inclusive com edição eminglês), aquele documento pode ser consi-derado um precursor do Livro Branco.8

No final de 2008, foi editada a EstratégiaNacional de Defesa (END), aprovada peloDecreto no 6.703, de 18/12/2008.9 Este docu-mento propôs (Diretriz no 7) uma revisão daestrutura do MD, que poderia conferir aoministro da Defesa atribuições privativas e(segundo constitucionalistas) indelegáveisdo Presidente da República10, bem comotransformar o EMD num Estado-Maior Con-junto das Forças Armadas que seria, ao mes-mo tempo, estratégico e operacional.

O texto da END suscitou algunsquestionamentos. Caso os chefes dos es-tados-maiores da Armada, do Exército e daAeronáutica ficassem subordinados, aomesmo tempo, aos seus respectivos co-mandantes e ao chefe do Estado-Maior

Conjunto, a cadeia de comando das For-ças Armadas se tornaria ambígua. Além dis-so, a possível criação de núcleos de co-mandos operacionais unificados em tempode paz consumiria recursos escassos e cri-aria encargos administrativos adicionais.11

REESTRUTURAÇÃO DOMINISTÉRIO DA DEFESA

A proposta centralizadora da END pros-perou. A Presidência da República encami-nhou a matéria ao Congresso Nacional porintermédio da MSG no 988/2009, que na Câ-mara dos Deputados passou a denominar-sePLP no 543/2009. Foi apresentada ao SenadoFederal em 17/3/2010, passando a ser deno-minada PLC no 10/2010. Aprovada em vota-ção nominal em 4/8/2010, foi sancionada peloPresidente da República em 25/8/2010, ge-rando a norma jurídica LCP no 136/2010.12

Apesar das opiniões discordantes e daescassez de recursos, a revisão da legisla-ção relativa à organização, ao preparo e aoemprego das Forças Armadas foi aprovadapelo Congresso e sancionada pelo Presi-dente da República sem dificuldade. A LeiComplementar no 136, de 25/8/2010, intro-duziu diversas modificações:13

6 Cf. Presidência da República, Decreto no 5.484, de 30/6/2005. Aprova e Política de Defesa Nacional(PDN) e dá outras providências (Brasília, 30 jun. 2005). Cf. também Ministério da Defesa, PortariaNormativa no 113/SPEAI/MD, de 1/2/2007 – Dispõe sobre a Doutrina Militar de Defesa MD 51-M-04 (Brasília, 01 fev. 2007). Revoga a Portaria Normativa no 414/MD, de 31/7/2001, publicada noBoletim Reservado MD no 7, de 31/7/2001.

7 Cf. Presidência da República, Decreto no 2.538, de 8/4/1998 – Dispõe sobre os meios aéreos da Marinhae dá outras providências (Brasília, 8 abr. 1998). Revoga o Decreto no 55.627, de 26/1/1965. Cf.também Mauro César Rodrigues Pereira, Como encarar o Livro Branco da Defesa Nacional –Texto preparado para o seminário “O Livro Branco de Defesa” – Escola de Guerra Naval (Rio deJaneiro, 29 jun. 2011).

8 Cf. Pereira, Como encarar o Livro Branco da Defesa Nacional, Op. cit.9 Cf. Presidência da República, Decreto no 6.703, de 18/12/2008 – Aprova a Estratégia Nacional de

Defesa (END) e dá outras providências (Brasília, 18 dez. 2008).10 Cf. Art. 84, item XIII (com redação dada pela Emenda Constitucional no 23/99) e Art. 142, caput – In:

Assembleia Nacional Constituinte, Constituição da República Federativa do Brasil (Brasília, 5 out. 1988).11 Cf. Pesce & Da Silva, Op. cit. Cf. também Eduardo Italo Pesce, “Comentários sobre a Estratégia

Nacional de Defesa”, Segurança & Defesa 25 (93): 24-28. Rio de Janeiro, [abr./jun.] 2009.12 Cf. Senado Federal/Sistema de Tramitação de Matérias, Projeto de Lei da Câmara no 10 de 2010 –

Complementar. Disponibilizado em http://www.senado.gov.br/atividade/materia/. Acesso em 23/6/2011.13 Cf. Presidência da República/Congresso Nacional, Lei Complementar no 136, Op. cit.

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– O Conselho Militar de Defesa (CMD)passa a incluir o chefe do Estado-MaiorConjunto das Forças Armadas (Capítulo I,Seção II, Art. 2o, item II, § 1o).

– Em lugar do EMD, é criado – comoórgão de assessoramento permanente doministro da Defesa – o Estado-Maior Con-junto das Forças Armadas (EMCFA), cujochefe é indicado pelo ministro e nomeadopelo Presidente da República. Sob a coor-denação do chefe do EMCFA, há tambémum comitê integrado pelos chefes de Esta-do-Maior das três forças singulares (Capí-tulo II, Seção I, Art. 3o -A, caput).

– Ao chefe do EMCFA, oficial-generaldo último posto, é assegurado o mesmograu de precedência hierárquica e as mes-mas prerrogativas dos comandantes daMarinha, do Exército e da Aeronáutica (Art.3o -A, §§ 1o, 2o e 3o).

– Os comandantes das três forças sin-gulares passam a ser indicados pelo minis-tro da Defesa, mas continuam sendo nome-ados pelo Presidente da República (Art. 4o).

– Compete agora aos três comandantesde forças singulares apresentar ao ministroda Defesa a Lista de Escolha para promoçãoaos postos de oficial-general, além de pro-por-lhe os oficiais-generais para nomeaçãoaos cargos que lhes são privativos (Art. 7o).

– O ministro da Defesa exerce a direçãosuperior das Forças Armadas, assessora-do pelo CMD, pelo EMCFA e pelos demaisórgãos do MD (Seção II, Art. 9o, caput).

– Cabe ao ministro implantar o Livro Bran-co de Defesa Nacional (LBDN), de caráterostensivo, contendo dados estratégicos, or-çamentários, institucionais e materiais sobreas Forças Armadas (Art. 9o, §§ 1o e 2o).

– O Poder Executivo encaminhará aoCongresso, a cada quatro anos a partir de2012, as atualizações da PDN, da END e doLBDN (Art. 9o, § 3o).

– Compete ao EMCFA elaborar o plane-jamento do emprego conjunto das Forças

Armadas e assessorar o ministro da Defe-sa na condução de exercícios conjuntos equanto à atuação de forças brasileiras emoperações de paz (Art. 11).

– Ao MD compete formular a política eas diretrizes referentes aos produtos de de-fesa (armamento, munições, meios de trans-porte e de comunicações, fardamentos eoutros materiais de uso individual e coleti-vo) empregados em atividades operacionaisdas Forças Armadas (Art. 11-A).

– O orçamento anual da pasta da Defe-sa atenderá às prioridades definidas pelaEND, explicitadas na Lei de Diretrizes Or-çamentárias (Capítulo III, Art. 13, caput).

– A proposta orçamentária das três for-ças singulares será elaborada conjunta-mente com o MD, que a consolidará, se-gundo as prioridades estabelecidas pelaEND e explicitadas na LDO (Art. 13, § 2o).

– O emprego das Forças Armadas sesubordinará ao comandante supremo, porintermédio do ministro da Defesa, no casode Comandos Conjuntos, e diretamente aoministro, para fins de adestramento, emoperações conjuntas ou quando da parti-cipação brasileira em operações de paz (Ca-pítulo V, Art. 15, itens I e II).

– A atuação dos militares nas operaçõesde garantia da lei e da ordem e nas ativida-des de defesa civil é considerada atividademilitar para os fins do Art. 124 da Consti-tuição Federal (Art. 15, item III, § 7o).

– Cabe às Forças Armadas atuar na fai-xa de fronteira terrestre, no mar e nas águasinteriores, executando ações de patru-lhamento, revista de pessoas, veículos ter-restres, embarcações e aeronaves e prisõesem flagrante delito, inclusive ao zelar pelasegurança pessoal de autoridades (Capí-tulo VI, Art. 16-A, itens I, II e III, e Parágra-fo único).

– Cabe à Aeronáutica (Força Aérea) atu-ar contra todo tipo de tráfego aéreo ilícito,podendo efetuar revistas e prisões em fla-

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grante delito. Para o trato de tais assuntos,o comandante da Aeronáutica é designadocomo “Autoridade Aeronáutica Militar”(Art. 18, item VII e Parágrafo único).

ESTRUTURA MILITAR DE DEFESA

Em substituição à antiga Estrutura Mili-tar de Guerra prevista no Decreto Reserva-do no 8, de 17/1/1980, uma nova EstruturaMilitar de Defesa foi aprovada pelo Decre-to no 7.276, de 25/8/2020.14 Esta estruturavisa ao preparo e ao emprego do PoderMilitar de acordo com os preceitos legais(Art. 1o).

A Estrutura Militar de Defesa inclui oPresidente da República, o ministro da De-fesa, o Conselho Militar de Defesa (CMD),os comandantes das três forças singula-res, o chefe do Estado-Maior Conjunto dasForças Armadas (EMCFA) e os comandan-tes dos Comandos Operacionais (Art. 2o,itens I a VI). Conforme as necessidades, osComandos Operacionais poderão ser con-juntos ou singulares (Art. 2o, § 2o).

Ao Presidente da República competedecidir sobre o emprego das Forças Arma-das, determinar a ativação de ComandosOperacionais e designar seus comandan-tes, bem como emitir diretrizes que orien-tem suas ações e aprovar o planejamentoestratégico de emprego (Art. 3o, item I,incisos “a” até “e”).

Além de assessorar o Presidente da Re-pública, cabe ao ministro da Defesa emitirdiretrizes para o emprego das Forças Ar-madas, bem como ativar os ComandosOperacionais e designá-los para planeja-mento de emprego ou para exercícios emoperações conjuntas, aprovar os planeja-mentos estratégicos realizados peloEMCFA e adjudicar meios aos Comandos

Operacionais, de acordo com as necessi-dades (Art. 3o, item II, incisos “a” até “f”).

Ao Conselho Militar de Defesa cabeassessorar, quanto ao emprego de meiosmilitares, o Presidente da República e oministro da Defesa (Art. 3o, item III, incisos“a” e “b”). Aos comandantes da Marinha,do Exército e da Aeronáutica compete for-necer meios, prestar apoio logístico e –quando da ativação de um Comando Sin-gular a eles subordinado – emitir diretrizespara o planejamento operacional de empre-go (Art. 3o, item IV, incisos “a”, “b” e “c”).

Ao chefe do EMCFA, por sua vez, cabeassessorar o ministro da Defesa, propor oplanejamento estratégico para as hipóte-ses de emprego e para operações reais,acompanhar o planejamento e as ações dosComandos Operacionais e propor, coorde-nar e avaliar a realização de exercícios deemprego conjunto (Art. 3o, item V, incisos“a” até “d”).

Aos comandantes dos ComandosOperacionais compete apresentar ao minis-tro da Defesa os planejamentos operacio-nais e as propostas de meios a serem adju-dicados a estes comandos. Cabe-lhes tam-bém planejar, controlar, coordenar e execu-tar o emprego das forças sob seu comando,de acordo com o planejamento estratégico eas diretrizes presidenciais e ministeriais, as-sim como os exercícios, conforme as diretri-zes do ministro da Defesa (Art. 3o, item VI,incisos “a”, “b” e “c”).

A cada Comando Operacional ativadoserá atribuída uma área de responsabilida-de de natureza geográfica (não mencionaáreas funcionais), devendo constar da di-retriz presidencial as circunstâncias e aslimitações de emprego. Quando do empre-go de forças sob a égide de organismosinternacionais, caberá às respectivas au-

14 Cf. Presidência da República, Decreto no 7.276, Op. cit. Cf. também Presidência da República, DecretoReservado no 8, Op. cit.

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toridades (com as ressalvas previstas nalegislação brasileira) a definição da área deresponsabilidade e dos limites de atuação(Art. 4o, §§ 1o e 2o).

O texto prevê ainda que o Ministério daDefesa defina os núcleos de Estados-Maio-res Conjuntos, coordenados pelo EMCFA,que serão ativados, desde o tempo de paz,para a elaboração e a atualização do planeja-mento e do adestramento de níveloperacional, em atendimento aos planos es-tratégicos (Art. 5o, caput e Parágrafo único).

IMPLICAÇÕES IMEDIATAS

O texto final da reestruturação do MD foimenos radical do que algumas das suges-tões e propostas que vinham circulando,desde a divulgação da END no final de 2008.Uma proposta polêmica seria conferir atri-buições demasiadamente amplas ao chefedo EMCFA – em detrimento dos comandan-tes da Marinha, do Exército e da Aeronáuti-ca. Coisas desse tipo ficaram amenizadasno texto aprovado pelo Congresso.

Apesar disso, a substituição do EMD –que tratava exclusivamente dos assuntosde natureza operacional – pelo EMCFA criouum órgão burocratizado, cujas atribuiçõesmisturam outros assuntos com as preocu-pações operacionais.15 Problemas relacio-nados com a complexidade e o excesso deatribuições já comprometiam a eficácia doantigo Estado-Maior das Forças Armadas(EMFA), extinto quando da criação do MD.

O novo EMCFA tem três chefias subor-dinadas, também ocupadas por oficiais-ge-nerais de quatro estrelas: a de Preparo e

Emprego (CPE), que herdou as atribuiçõesdo antigo EMD; a de Assuntos Estratégi-cos (CAE), oriunda da antiga Secretaria dePolítica, Estratégia e Assuntos Internacio-nais (SPEAI); e a de Logística (Chelog), ori-ginária da antiga Secretaria de Logística,Mobilização, Ciência e Tecnologia (Selom).16

A reestruturação manteve as secretariasde Coordenação e Organização Institucional(Seori) e de Pessoal, Ensino, Saúde e Des-porto (Sepesd), criando uma nova Secreta-ria de Produtos de Defesa (Seprod) e umCentro Gestor e Operacional do Sistema deProteção da Amazônia (Censipam). Anteri-ormente subordinada ao MD, a Secretariade Aviação Civil (SAC) ganhou status mi-nisterial no início de 2011.17

Ao contrário do EMCFA e seus compo-nentes, chefiados por militares, todas assecretarias do MD são, após a reformulação,chefiadas por civis. O rodízio entre militarese civis nos cargos não deve mais ocorrer.Com isso, a estrutura balanceada,estabelecida em 1999, é praticamente subs-tituída por duas estruturas paralelas, sendouma civil (gabinete, assessorias e secretari-as) e a outra militar (EMCFA e comandosdas três forças singulares).18

Outra inovação introduzida foi a cria-ção da Seprod, para atuar junto à indústriade defesa, visando ao desenvolvimento detecnologias de interesse para a DefesaNacional. Entretanto, a padronização dosequipamentos empregados pelas ForçasArmadas nem sempre é possível, pois osrequisitos específicos de cada força sin-gular são frequentemente incompatíveiscom os das demais forças.

15 Cf. Pereira, Mudanças no MD, Op. cit.16 Cf. Ministério da Defesa, Portaria no 1.430-MD, de 6/9/2010 (Brasília, 6 set. 2010). Cf. também

Ministério da Defesa, Portaria no 1.423-MD, de 6/9/2010 (Brasília, 6 set. 2010).17 Cf. Daniela Jinkings, “Governo cria Secretaria de Aviação civil com status de ministério”, UOL

Notícias (Brasília, 21/3/2011). Disponibilizado em http://www.noticias.uol.com.br/politica/. Acessoem 25/5/2011.

18 Cf. Pereira, Op. cit.

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

Sem dúvida, constitui medida bastantesalutar a obrigatoriedade legal de produzirum Livro Branco de Defesa Nacional(LBDN) e de submetê-lo ao CongressoNacional, juntamente com uma nova Políti-ca de Defesa Nacional (PDN) e uma novaEstratégia Nacional de Defesa (END), acada quatro anos a partir de 2012.19 Talmedida, porém, não será capaz de assegu-rar um fluxo contínuo de recursos para osinvestimentos em defesa.

A recente reformulação da legislaçãotambém conferiu poder de polícia limitadoàs três forças singula-res, em áreas de fron-teira ou em situaçõesespecíficas.20 Os mili-tares atuando na ga-rantia da lei e da ordemou na defesa civil res-pondem agora à Justi-ça Militar.21 Contudo,isso não pode servirde justificativa para odesvio das Forças Ar-madas de sua ativida-de-fim, que é a DefesaNacional.

É visível a influência anglo-saxônica so-bre a estrutura reformulada do MD e sobrea nova Estrutura Militar de Defesa, inclusi-ve quanto às denominações usadas. Semdúvida, procurou-se valorizar as operaçõessob comando unificado, segundo o Mode-lo Eisenhower, adotado pelos Estados Uni-dos e pelos países da Organização do Tra-tado do Atlântico Norte (Otan).

Para tal está prevista a ativação, em casode necessidade, de Comandos Operacionaisconjuntos ou singulares, assim como a ati-vação, em tempo de paz, de núcleos de Esta-dos-Maiores Conjuntos, coordenados peloEMCFA.22 Um Comando Conjunto é consti-tuído por forças navais, terrestres e aéreasde um mesmo país, sob comando unificado.Um Comando Combinado, por sua vez, éconstituído por forças de diferentes países.23

A partir da END, as Forças Armadas bra-sileiras passaram a empregar os termos “con-junto” (joint) e “combinado” (combined)

com o significado quelhes dá a Otan. Os ter-mos anteriormente em-pregados, “combina-do” e “interaliado”,poderiam causar certaconfusão no planeja-mento de operaçõesmultinacionais.24

Contudo, a inclusãodo ministro da Defesa(normalmente um polí-tico civil) na cadeia decomando da Estrutura

Militar de Defesa, entre os comandantes dosComandos Operacionais (Teatros de Ope-rações) e o Presidente da República, podeprivar este último de assessoria militar pro-fissional, especializada e independente.25

A criação de núcleos regionais de Esta-dos-Maiores Conjuntos também poderáapresentar problemas. A questão da padro-nização de comandos por áreas, dentro davisão de cada força singular, estava entre

19 Ibidem. Cf. também Pereira, Como encarar o Livro Branco da Defesa, Op. cit.20 Cf. Pereira, Mudanças no MD, Op. cit. Cf. também Pesce, “Novas estruturas de Defesa, Op. cit.21 Cf. Pereira, Mudanças no MD, Op. cit.22 Cf. Presidência da República, Decreto no 7.276, Op. cit.23 Cf. Pesce & Da Silva, Op. cit.24 Cf. Presidência da República, Decreto no 6.703, Op. cit. Cf. também Pesce & Da Silva, Op. cit. Cf. ainda

Pesce, “Comentários sobre a END”, Op. cit.25 Cf. Pereira, Op. cit.

Um Comando Conjunto éconstituído por forças

navais, terrestres e aéreasde um mesmo país, sobcomando unificado. Um

Comando Combinado, porsua vez, é constituído por

forças de diferentes países

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

os assuntos que foram examinados na 4a

Reunião do Comitê dos Chefes dos Esta-dos-Maiores das Forças Singulares, emmarço de 2011. Este comitê tem por finali-dade coordenar o planejamento de açõesconjuntas e incrementar a interoperabi-lidade entre as Forças Armadas.26

IMPLICAÇÕES PARA A MARINHA

Com exceção do Comando de DefesaAeroespacial Brasileiro (Comdabra), su-bordinado ao Ministério da Aeronáutica emtempo de paz, a antiga Estrutura Militar deGuerra existia apenas no papel. Já a novaEstrutura Militar deDefesa, ao que tudoindica, deve ser postaem prática. Isso teráprofundas implica-ções para a estruturaorgânica das três for-ças singulares – emparticular quanto aoÓrgão de DireçãoSetorial (ODS) do se-tor operativo.

Na Marinha do Bra-sil, tal órgão é o Co-mando de Operações Navais (ComOpNav),ao qual estão subordinadas as Forças Na-vais, Aeronavais e de Fuzileiros Navais.No Exército Brasileiro e na Força Aérea Bra-sileira existem, respectivamente, o Coman-do de Operações Terrestres (COTer) e oComando-Geral do Ar (Comgar).27 AoComgar está ainda vinculado o Comdabra,único Comando Conjunto ativado em tem-po de paz.

Ao ComOpNav estão subordinados oComando em Chefe da Esquadra(Comemch) e o Comando da Força de Fuzi-leiros da Esquadra (ComFFE), sediados noRio de Janeiro, além dos nove Comandosde Distritos Navais (ComDN), do Coman-do de Controle Naval do Tráfego Marítimo(Comcontram) e do recém-criado Centro deGuerra Eletrônica da Marinha (CGEM). Atu-almente, o Comandante de Operações Na-vais (CON) acumula o cargo de Diretor-Geral de Navegação (DGN).28

O ComOpNav pode ser considerado umembrião de Comando de Teatro, e seu Es-tado-Maior já dispõe de um Centro de Co-

mando de Teatro deOperações Marítimo(CC-TOM). Um nú-cleo de Estado-MaiorConjunto poderia,sem dificuldade, seracrescentado a esseembrião. Só que oComOpNav incluiáreas marítimas e ba-cias fluviais sob suaresponsabilidade – aqual se estende a todoo território nacional e

às águas sob jurisdição brasileira. Issocomplicaria um pouco as coisas.

O Plano de Articulação e Equipamentoda Marinha do Brasil (Paemb) prevê um in-vestimento total de US$ 84,4 bilhões, dosquais US$ 68,8 bilhões na moldura tempo-ral 2010-30 e US$ 15,6 bilhões após 2030.Além da expansão dos meios operativos edo efetivo de pessoal, está prevista a cria-ção de um segundo núcleo operativo de

26 Cf. “4a Reunião do Comitê dos Chefes dos Estados-Maiores das Forças Singulares”, NoMar XLVII (827):5 – Brasília, mar. 2011.

27 Cf. organograma disponível no sítio oficial da Marinha do Brasil em http://www.mar.mil.br/. Cf.também organogramas nos sítios oficiais do Exército Brasileiro em http://www.eb.mil.br/ e da ForçaAérea Brasileira em http://www.fab.mil.br/.

28 Cf. organograma disponível em http://www.mar.mil.br/.

Não há como negar anecessidade de expansãoquantitativa e qualitativa

dos meios navais,aeronavais e de fuzileirosnavais da Marinha, assimcomo de aumento do seuefetivo de pessoal militar

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

Poder Naval, sediado no litoral Norte/Nor-deste do Brasil. Para isso, seria necessáriorever a articulação das forças e ampliar ainfraestrutura de apoio.29

Um horizonte temporal até 2030 talveznão seja realista para a concretização doprojeto de duplicação da Esquadra e daForça de Fuzileiros da Esquadra. Todavia,não há como negar a necessidade de ex-pansão quantitativa e qualitativa dos mei-os navais, aeronavais e de fuzileiros na-vais da Marinha, assim como de aumentodo seu efetivo de pessoal militar.30

De acordo com o espírito da nova legis-lação, a ênfase nas atribuições das forçassingulares passaria a ser o preparo dos com-ponentes do Poder Militar, ficando o em-prego (especialmente no caso de operaçõesreais) a cargo dos Comandos Operacionaisprevistos na Estrutura Militar de Defesa.Dessa maneira, o papel do ComOpNav (e deseus congêneres nas outras duas forças sin-gulares) teria que ser reavaliado.

A possível concretização – em algum mo-mento no futuro – do projeto de criar um se-gundo núcleo operativo de Poder Naval, noNorte/Nordeste do País, tornaria necessáriointroduzir modificações no organograma dosetor operativo da Marinha. Em princípio, issopoderia ocorrer de duas maneiras: (1) man-tendo o atual ComOpNav, acrescido de no-vos componentes; ou (2) substituindo oComOpNav por dois Comandos Navais deÁrea autônomos, com seus respectivos com-ponentes subordinados.

As duas possibilidades estão ilustradasnos Organogramas I e II, em anexo. Em ambosos casos, o emprego das forças em operaçõesconjuntas ficaria subordinado ao comandan-te de um Teatro de Operações Marítimo (TOM),

cuja estrutura é mostrada no Organograma III.O Comando da Marinha e seus componentessubordinados ficariam responsáveis pelo pre-paro das forças e por seu emprego em opera-ções singulares restritas.

No Organograma I, o ComOpNav seriamantido, o Comemch e o ComFFE seriamacrescidos de componentes adicionais eos ComDN seriam agrupados sob dois co-mandos subordinados ao Comandante deOperações Navais, denominados Coman-do Naval Setentrional (Conase) e Coman-do Naval Meridional (Coname). NoOrganograma II, sem o ComOpNav, os com-ponentes operativos estariam subordina-dos ao Conase e ao Coname, que seriamcomandos de quatro estrelas.

A área do Conase incluiria os 3o, 4o e 9o

Distritos Navais, enquanto que a doConame abrangeria os 1o, 2o, 5o, 6o, 7o e 8o

Distritos Navais. Na prática, o Brasil pos-sui dois litorais – separados pela cinturaNatal-Dacar e formando uma cunha queaponta em direção à África. A área marítimasetentrional (ao norte de Natal) defronta-se com o Atlântico Norte e a extremidadesudeste do Caribe, enquanto que a meridi-onal (ao sul de Natal) situa-se inteiramenteno Atlântico Sul.31

Em qualquer das duas situações visuali-zadas, pressupõe-se a ativação – em caso deconflito ou grave crise internacional – de umTeatro de Operações Marítimo (TOM), em cujaestrutura estariam incluídos o Comando doTeatro, com seu respectivo Estado-Maior Con-junto, e os vários componentes subordina-dos – constituídos por elementos das três for-ças singulares e de outros órgãos governa-mentais, conforme as necessidades (verOrganograma III em anexo).

29 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Articulação do Poder Naval brasileiro: dúvidas e comentários”, RevistaMarítima Brasileira 130 (10/12): 50-61 – Rio de Janeiro, out./dez. 2010.

30 Ibidem.31 Ibidem.

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

RESTRIÇÕES FINANCEIRAS

A Lei Orçamentária Anual para 2011 (Leino 12.381, de 9/2/2011) previa uma dotaçãoautorizada de R$ 61,92 bilhões para o Mi-nistério da Defesa. Deste total, R$ 44,32bilhões destinavam-se a pessoal e encar-gos sociais, R$ 8,50 bilhões a outras des-pesas correntes e R$ 6,96 bilhões a investi-mentos. Os encargos financeiros e a reser-va de contingência totalizavam pouco maisde R$ 1,71 bilhão.32

No dia 28 de fevereiro, porém, o Gover-no Federal anunciou cortes de R$ 15,76 bi-lhões nas despesas obrigatórias e de R$36,20 bilhões nas despesas discricionáriasprevistas para este ano. O MD foi o segun-do ministério mais atingido, perdendo R$4,38 bilhões de seu orçamento para cus-teio e investimentos em 2011.33 Os cortesseriam distribuídos pelas três forças sin-gulares, cujos planos de articulação e equi-pamento ficariam seriamente – talvezirreversivelmente – afetados.34

Na melhor das hipóteses, teria que seradiada a construção de um lote inicial de11 belonaves previstas no Programa de Ob-tenção de Meios de Superfície (Prosuper)da Marinha do Brasil – assim como a ob-tenção de um novo caça polivalente para a

Força Aérea Brasileira (Projeto F-X2), uma“novela” que já se estende há pelo menosquatro mandatos presidenciais.35

No Brasil, o Orçamento da União não éimpositivo, mas apenas autorizativo. Osfrequentes cortes e contingenciamentosdificultam muito o acompanhamento da exe-cução orçamentária ao longo do exercício.Em valores atualizados até 27 de julho, adotação autorizada do MD para este anoera de R$ 61,71 bilhões, dos quais haviamsido efetivamente pagos R$ 26,57 bilhões.36

A dotação orçamentária da pasta daDefesa para 2011 inclui diversos encar-gos, determinados pelo Governo Federal.Para a função Defesa Nacional, quecorresponde à atividade-fim das ForçasArmadas, está prevista uma dotação au-torizada de apenas R$ 32,15 bilhões – dosquais haviam sido pagos, até 27/7/2011,um total de R$ 11,76 bilhões.37

Como já advertia Samuel P. Huntingtonem 1957, “sociedades há que podem ser ine-rentemente incapazes de prover eficazmentea própria segurança militar – falta-lhes apre-ço pela sobrevivência numa era de ameaçascontínuas”.38 A advertência serve perfeitamen-te para o Brasil, país cuja elite dirigente apa-rentemente acredita que as Forças Armadassão um luxo caro e desnecessário.39

32 Cf. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão/Congresso Nacional, Lei no 12.381, de 9/2/2011– Lei Orçamentária Anual para 2011 (Brasília, 9 fev. 2011). Cf. também Pesce, “Novas estruturasde Defesa, Op. cit.

33 Cf. Luciana Cobucci, Cortes no Orçamento: Cidades, Defesa e Educação sofrem mais (Brasília, 28 fev.2011). Disponibilizado em http://not.economia.terra.com.br/noticias/. Acesso em 28/2/2011. Cf.também Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão/Congresso Nacional, Op. cit. Cf. tam-bém Pesce, Op. cit.

34 Cf. Pesce, Op. cit.35 Cf. Eduardo Italo Pesce & Iberê Mariano da Silva, “Forças Armadas continuarão na penúria?”, Monitor

Mercantil, Rio de Janeiro, 18/2/2011, p.2 (Opinião).36 Cf. Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi)/Sistema de Informação Geral Atualizado

(Siga Brasil), Orçamento Geral da União – Exercício 2011. Dados e planilhas disponibilizados emhttp://contasabertas.uol.com.br/. Último acesso em 6/8/2011.

37 Ibidem.38 Samuel P. Huntington, O Soldado e o Estado: Teoria e Política das Relações entre Civis e Militares

(Rio de Janeiro: Bibliex, 1996), p. 21.39 Cf. Pesce, Op. cit.

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

CONCLUSÃO

O Ministério da Defesa reformulado e aEstrutura Militar de Defesa constituem as“novas estruturas de defesa” do Brasil. Nocontexto político brasileiro, seria convenien-te evitar que o ministro da Defesa ficassedemasiadamente fortalecido – em detrimentoda autoridade do Presi-dente da Repúblicacomo Comandante Su-premo das Forças Ar-madas. Além disso, onovo EMCFA – cujasatribuições são demasi-adamente amplas – pos-sui características deum Estado-Maior estra-tégico e, ao mesmo tem-po, operacional.40

A valorização dasoperações conjuntaspode ser consideradauma evolução positiva.Entretanto, a possívelativação de ComandosOperacionais ou núcle-os de Estados-Maiores Conjuntos em tempode paz – sem vinculação com ameaças ou hi-póteses de emprego definidas – pode tornar-se problemática. Atualmente, o Comando deDefesa Espacial Brasileiro (Comdabra) é o úni-co Comando Conjunto ativo em tempo de paz.

Talvez a ativação de um Teatro de Ope-rações Marítimo (TOM) no Atlântico Sul –possivelmente associada à percepção deameaças aos recursos naturais (especial-mente petróleo) localizados na PlataformaContinental brasileira – fosse menos pro-

blemática que a de Comandos Conjuntosem outras áreas do nosso entorno estraté-gico. O planejamento de longo prazo daMarinha inclui a perspectiva de criação deum segundo núcleo operativo de Poder Na-val, sediado no litoral Norte/Nordeste doPaís.41

A edição de um Livro Branco de DefesaNacional (LBDN), aexemplo do que já ocor-re em outros países, éoutro aspecto positi-vo. Entretanto, a es-cassez crônica de re-cursos pode transfor-mar o LBDN em maisum “protocolo de in-tenções”, como vemocorrendo com o Or-çamento da União,que, por não serimpositivo, não refle-te as reais prioridadesdo planejamento dosgastos e investimen-tos públicos no Brasil.

Dentro de algunsanos, após uma avaliação do desempenhodas novas estruturas de defesa, talvez setorne necessário revê-las novamente, a fimde corrigir possíveis excessos oudistorções. Uma oportunidade seria porocasião da revisão periódica do LBDN edas políticas e estratégias para o setor. Dequalquer modo, todo o esforço despendidopara a elaboração de tais documentos terásido em vão, se o descaso da elite dirigen-te com relação à defesa no Brasil não forrevertido.

CLASSIFICAÇÃO PARA INDICE REMISSIVO<FORÇAS ARMADAS>; Ministério da Defesa; Missão das Forças Armadas; Poder mili-tar; Legislação; Política nacional;

40 Ibidem.41 Ibidem.

A escassez crônica derecursos pode transformar

o LBDN em mais um“protocolo de intenções”,

como vem ocorrendo com oOrçamento da União, que,por não ser impositivo, nãoreflete as reais prioridadesdo planejamento dos gastose investimentos públicos no

Brasil

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

Organograma I: Setor Operativo da Marinha – 1a hipótese

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

Organograma II: Setor Operativo da Marinha – 2a hipótese

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A MARINHA DO BRASIL E AS NOVAS ESTRUTURAS DE DEFESA

Organograma III: Teatro de Operações Marítimo (TOM)

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SUMÁRIO

As maiores economias do mundoOs dez mais e a energia nuclearConclusão

AS DEZ MAIORES ECONOMIAS E A ENERGIANUCLEAR: REFLEXÕES PARA OFUTURO DO BRASIL

CARLOS AUGUSTO FEU ALVIM DA SILVA1

ProfessorLEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES2

Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN)

1 Professor e pesquisador, editor da revista Economia e Energia e&e (http://ecen.com). Foi o primeirosecretário da Agência Brasil/Argentina de Contabilidade e Controle, de 1992 a 1993.

2 Assistente do diretor-presidente da Eletrobras Eletronuclear S.A. e membro do Grupo Permanente deAssessoria em Energia Nuclear do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica.

O Brasil é a oitava maior economia mun-dial quando se usa o critério de Pari-

dade de Poder de Compra (PPC) e a sétimaeconomia quando se considera o critériodo câmbio nominal. Ambas as apuraçõessão do Fundo Monetário Internacionalpara o ano de 2010. O primeiro critério re-presenta melhor o valor da produção dospaíses e independe das políticas cambiaisnacionais e de suas oscilações bruscas porproblemas conjunturais. De qualquer for-ma, o Brasil está, para ambos os critérios,entre as oito maiores economias mundiais.

AS MAIORES ECONOMIAS DO MUNDO

Na Tabela 1 estão indicadas as dez maio-res economias pelos critérios de PPC e decâmbio nominal. A tabela também inclui oCanadá, que é apenas o 14o na lista por pari-dade do poder de compra, mas é o 9o Produ-to Interno Bruto (PIB) nominal. Esta tabelatambém apresenta o PIB/PPC per capita.

A metodologia de Paridade de Poder deCompra busca indicar o PIB a preços equi-valentes nos EUA. Por essa razão, os valo-

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AS DEZ MAIORES ECONOMIAS E A ENERGIA NUCLEAR: REFLEXÕES PARA O FUTURO DO BRASIL

Tabela 1: Dez maiores economias pelos critérios deParidade de Poder de Compra (PPC) e câmbio nominal

EUAChinaJapãoÍndia

AlemanhaRússia

Reino UnidoBrasilFrançaItália

CanadáMundo

US$bilhão

14.65810.0864.3094.0602.9402.2232.1732.1722.1451.7741.330

74.265

Rank

1234567891014

% Mundo

19,7%13,6%5,8%5,5%4,0%3,0%2,9%2,9%2,9%2,4%1,8%100%

US$bilhão

14.6585.8785.4591.5383.3161.4652.2472.0902.5832.0551.574

62.090

Rank

1231041167589

% Mundo

23,3%9,3%8,7%2,4%5,3%2,3%3,6%3,3%4,1%3,3%2,5%100%

US$/hab

47.2847.519

33.8053.339

36.03315.83734.92011.23934.07729.39239.05710.886

Rank

9942412919522171232812

PIB em PPC PIB NOMINAL PIB PPC/hab

Fonte: FMI 2010 (FMI in Wikipedia, 2010)

res para esse país são idênticos nas duaslistas. Entre os dez maiores, as posiçõesrelativas variam muito para os dois critéri-os, sendo a maior variação a da Índia, quepassa de décimo para quarto quando seconsidera a PPC.

Na composição da lista das dez maioreseconomias do mundo, a Rússia substitui oCanadá quando se passa do câmbio nomi-nal para a PPC. A posição do Brasil variamuito pouco, sendo o sétimo na lista doPIB ao câmbio nominal e oitavo, pratica-mente empatado no sétimo lugar com oReino Unido, pela paridade de poder.

A Figura 1 ilustra a posição dos maiorespaíses em PIB, medido em PPC e valor no-minal. Os 11 países representados ocupamas dez primeiras posições no ranking mun-dial do PIB nominal ou em Paridade de Po-der de Compra.

Quando se usa o critério da renda percapita, a lista incluiria em seu topo umaquantidade de pequenos países ricos. En-tre os maiores PIB, os EUA ficam em 9o lu-gar, o Canadá em 12o e a Alemanha em 19o.As demais maiores economias se encon-tram abaixo do 20o lugar.

O Brasil, que recentemente ultrapassouo limiar da média mundial de PIB/PPC percapita, está em 72o lugar. Note-se que aChina está em 94o e a Índia em 129o. Apesardo baixo valor da renda per capita dessespaíses, isso não reduz seu peso específicono comércio internacional e até mesmo oreforça pelo potencial de mercado existen-te, numa visão de mais longo prazo.

Assim, o Brasil já ocupa hoje posição entreos “dez mais” da economia mundial, sendo ain-da o quinto país em termos de extensão territoriale em população, conforme a Tabela 2.

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AS DEZ MAIORES ECONOMIAS E A ENERGIA NUCLEAR: REFLEXÕES PARA O FUTURO DO BRASIL

Tabela 2: Posição do Brasil no ranking de população e área

EUAChinaJapãoÍndia

AlemanhaRússia

Reino UnidoBrasilFrançaItália

CanadáMundo

mil hab313.232

1.336.718126.475

1.189.17281.471138.73962.698203.42965.31261.01734.039

6.922.600

% Mundo4,5%19,4%1,8%17,5%1,2%2,1%0,9%2,8%0,9%0,9%0,5%100%

km2

9.826.6759.596.961377.915

3.287.263357.022

17.098.242243.610

8.514.877643.801301.340

9.984.670148.680.365

% Mundo6,5%6,5%0,3%2,2%0,2%11,5%0,2%5,7%0,4%0,2%6,7%100%

PopulaçãoRank

31102169225212337

SuperfícieRank

3461762179542712

Fonte: (CIA, 2011)

Figura 1: As dez maiores economias mundiais em 2010 (PIB em PPC)

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AS DEZ MAIORES ECONOMIAS E A ENERGIA NUCLEAR: REFLEXÕES PARA O FUTURO DO BRASIL

Seus recursos naturais, sua força de tra-balho e produção diversificada de bens eserviços permitem projetar a ascensão fu-tura do Brasil nessa lista, conforme vemsendo feito por alguns estudos econômi-cos internacionais. As projeções deGoldman Sachs, 2007, colocam o Brasil naquinta posição de PIB/PPC em 2050, con-forme a Figura 2.

O fato de nossa economia estar entre asdez maiores do mundo ainda não foi incor-porado à percepção dos brasileiros diantedo mundo, mas já é um fato concreto nasrelações internacionais.

Antigamente, tínhamos aquela incômo-da sensação de que o presidente do Brasilera quase um intruso nas fotos das cúpu-las mundiais. Agora, já nos acostumamosa isso e, futuramente, serão os participan-tes do grupo denominado G8 que vão co-meçar a sentir a falta de significado práticode suas reuniões com a ausência de paísescomo China, Brasil e Índia. É provável queisso já esteja de fato ocorrendo.

OS DEZ MAIS E A ENERGIANUCLEAR

O critério adotado para fixar os membrospermanentes do Conselho de Segurança da

Organização das Nações Unidas (ONU) quepossuem o poder de veto (EUA, Rússia,China, Reino Unido e França) não foi o pesorelativo dos países na economia, na popu-lação ou na superfície mundial, mas sim ofato de serem os “vencedores” da SegundaGuerra Mundial. Num primeiro momento,somente os EUA possuíam armamento nu-clear. Muito rapidamente, porém, os demais“vencedores” acederam à posse dessas ar-mas (GUIMARÃES, 2010).

Isso se justificava pelo contexto histó-rico em que esse critério foi adotado, ouseja, imediatamente pós-guerra e, princi-palmente, pós-Hiroshima e Nagasaki. Àépoca e nas décadas que se seguiram, do-minadas pela ideologia da Guerra Fria e daMútua Destruição Garantida (MutualAssured Destruction – MAD), o fator depeso relativo determinante era, inequivo-camente, o poder militar, do qual as armasnucleares constituíam fator fundamental deassimetria de poder pela força bruta.

Hoje, passados mais de 60 anos do fimda guerra, a posse de armamento nuclear e apersistente sobrevivência da ideologia a elaassociada parecem ser o único critério obje-tivo para a manutenção desse status quo.

Felizmente, a posse de armas nucleares e opróprio poder militar vêm deixando de ser os

Figura 2: As dez maiores economias mundiais até 2050 (PIB em PPC)

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AS DEZ MAIORES ECONOMIAS E A ENERGIA NUCLEAR: REFLEXÕES PARA O FUTURO DO BRASIL

determinantes básicos da influência dos paí-ses no cenário mundial. Os fatores econômi-cos se tornam cada vez mais determinantes doque a posse de armamentos nucleares paramedir o peso político dos países.

A ascensão econômica da Alemanha edo Japão e, em menor escala, da Itália e dosdemais países europeus destruídos pelaguerra foi o primeiro sinal dessa mudança,ainda que mitigados pela “nuclearização”da França e da Grã-Bretanha (e posterior-mente da China), pela criação da Organiza-ção do Tratado do Atlântico Norte (Otan),que passou a permitir o “compartilhamento”das armas nucleares entre seus membros, epela abertura do “guarda-chuva” de prote-ção nuclear americano sobre o Japão.

Na Tabela 3 estão indicados os dez mai-ores países em termos de PIB (em PPC) esua situação quanto à posse e ao compar-tilha-mento de armas nucleares. É assina-lada, para o Japão, a existência do “guar-da-chuva” de proteção nuclear oferecidopelos EUA. Também é indicado na tabela o

número de reatores nucleares de pesquisaem operação nesses países, que é um indi-cador do nível da atividade de desenvolvi-mento científico e tecnológico na área nu-clear e da produção de radioisótopos parausos médicos e industriais.

Dos dez maiores países, seis possuem ar-mamento nuclear próprio. Alemanha e Itáliasão membros da Otan, tendo armazenado emseus territórios numerosos artefatos nuclea-res “compartilhados”. As condições detalha-das de como se processa esse compartilha-mento não são exatamente conhecidas. Sabe-se, no entanto, que, por exemplo, existem naAlemanha aviões de combate Tornado daForça Aérea alemã (Luftwaffe) prontos para,sob comando da Otan, serem armados comartefatos nucleares (KRISTENSEN, 2005).Sabe-se, ainda, que cabe ao comandante daOtan, ouvido o comando dos EUA junto àque-la organização, a decisão sobre o uso do ar-mamento nuclear compartilhado (GAO, 2011).

O Japão tem um acordo com os EUA quegarante um “guarda-chuva” de proteção nu-

Tabela 3: Armamentos nucleares e domínio do ciclo de combustívelnos dez países de maior atividade econômica

Reatores dePesquisa

em operação

8213195212094195

Rank PIBPPPC

12345678910

Domínio doCiclo de

Combustível

SimSimSimSimSimSimSimSimSim

Desativado

ArmamentoNuclear

PróprioPróprio

Guarda-ChuvaPróprio

CompartilhadoPróprioPróprio

NãoPróprio

Compartilhado

País

EUAChinaJapãoÍndia

AlemanhaRússia

Reino UnidoBrasilFrançaItália

Fontes: (IAEA , 2010), (World Nuclear Association, 2011)

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AS DEZ MAIORES ECONOMIAS E A ENERGIA NUCLEAR: REFLEXÕES PARA O FUTURO DO BRASIL

clear que implica a existência de armas nu-cleares a uma distância relativamente curtadas potenciais ameaças. Isso faz crer na pre-sença de armamento nuclear em embarca-ções e aeronaves em águas territoriais japo-nesas, senão em seu próprio solo nacional,ainda que controladas pelos americanos. Aomenos no passado, existem indícios claros(documentos liberados em consequência doFreedom of Information Act – FOIA dosEUA) de que armas nucleares estiveram nosespaços territorial, marítimo e aéreo japonês(KRISTENSEN, 1999). A contestação da efi-cácia desse “guarda-chuva” de proteção ea consequente discussão quanto à conve-niência de o país ter suaforça nuclear própriapara defender-se deeventuais ataques sãotemas recorrentes napolítica interna do Ja-pão, que recrudescesempre que ocorremtensões com a China(disputas territoriaispor ilhas) e Coreia doNorte (testes nuclearese de mísseis de longoalcance).

No que concerneao domínio do ciclonuclear e à geraçãoelétrica nuclear, ape-nas a Itália não mantém atualmente ativi-dades na área em virtude de decisão políti-ca tomada (referendum popular em 1987)sob a forte influência emocional do aciden-te de Tchernobyl (1986), tendo sua últimausina nuclear sido desligada definitivamen-te em 1990. No contexto de uma crise polí-tica interna do governo Berlus-coni agra-vada pelo acidente de Fukushima, a reto-mada das atividades nucleares na Itália foi

rejeitada por recente referendum popularem junho de 2011.

Por lei de 2001, a Alemanha se compro-meteu ao desligamento definitivo de todasas suas usinas nucleares até 2022. O gover-no da chanceler Angela Merkel conseguiuaprovar no Bundestag* nova lei que poster-gou tal decisão por dez anos. Essa mudançadeveu-se principalmente às dificuldades téc-nicas que a Alemanha enfrenta para cumprirsimultaneamente essa decisão política e asmetas de redução de emissões de gases deefeito estufa, bem como manter uma razoá-vel segurança energética nacional,minimizando importações de eletricidade

dos países vizinhos ede combustíveis fós-seis, em especial gásnatural da Rússia.

Entretanto, após oacidente de Fukushi-ma (março de 2011) etambém no contextode uma crise políticainterna ligada à proxi-midade de eleições,esse mesmo governovoltou atrás recente-mente, mantendo adata limite de 2022. Ogoverno alemão, po-rém, não tem uma polí-tica de abandono das

atividades ligadas ao ciclo do combustívelnuclear nem de banimento de armas nucle-ares de seu território, atitude essa no míni-mo contraditória.

Essas decisões políticas, porém, não im-pedem que Itália e Alemanha importem sig-nificativas parcelas de seu consumo de ele-tricidade de países geradores de energianuclear, como França, Eslovênia, Hungriae República Tcheca.

Brasil, Rússia e EUA sãoos únicos países do mundo

que possuem grandesreservas de urânio,

domínio tecnológico detodas as etapas de

produção do combustívelnuclear e um parque degeração elétrica nuclear

em operação

* N.R.: Parlamento da Alemanha.

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AS DEZ MAIORES ECONOMIAS E A ENERGIA NUCLEAR: REFLEXÕES PARA O FUTURO DO BRASIL

Note-se que tanto a Itália como a Ale-manha estavam no caminho de desistir darenúncia à geração nucleoelétrica quandoocorreu o acidente de Fukushima num con-texto de crise políticainterna, o que fez es-ses países reafirmaremsua posição anteriorde abandono das usi-nas nucleares.

Na Tabela 4 estãoindicados os dados degeração de energia elé-trica e da participaçãonuclear. A tabela tam-bém indica as reservasestimadas de urâniodos países (só sãoindicadas as reservasrelevantes do pontode vista mundial). A posse de reservas deurânio é, naturalmente, um fator a ser leva-do em conta nas decisões sobre a energianuclear no país.

Cabe ressaltar que Brasil, Rússia e EUAsão os únicos países do mundo que pos-suem grandes reservas de urânio, domíniotecnológico de todas as etapas de produ-

ção do combustívelnuclear e um parquede geração elétrica nu-clear em operação.Rússia e EUA, entre-tanto, possuem capa-cidade industrial insta-lada suficiente paragarantir autossufici-ência na produção decombustível nuclear.O Brasil tem tal capa-cidade nas etapas demineração, benefi-ciamento e fabricação,faltando, porém, insta-

lações industriais como capacidade sufici-ente para atender às necessidades nacio-nais nas etapas de conversão e de enri-quecimento, apesar de possuir unidades-

Tabela 4: Geração de energia elétrica e participação nuclearnos dez países de maior atividade econômica

País

EUAChinaJapãoÍndia

AlemanhaRússia

Reino UnidoBrasilFrançaItália

Usinas Nuclearesem operação

(+ em construção)

104 (+1)11 (+20)54 (+1)18 (+5)

17 (em desativação)31 (+9)

192 (+1)59 (+1)

4 (desativadas)

PotênciaInstalada

Mw(e)

100.7478.43846.8233.98720.48021.74310.1371.88463.260

Participaçãona Geração

Elétrica

20%2%29%3%28%17%16%3%74%

ReservasUrânio(t de U)

339.00067.900

x72.900

x545.700

x278.400

x–

RankPIB

PPPC

12345678910

Fonte: (IAEA , 2010)

O Brasil é, entre as dezmaiores economias

mundiais, o único que nãopossui, não armazena em

seu território e nemconsidera a possibilidade

de uso de armas nuclearesestrangeiras na suaestratégia de defesa

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AS DEZ MAIORES ECONOMIAS E A ENERGIA NUCLEAR: REFLEXÕES PARA O FUTURO DO BRASIL

piloto com capacidade de produção limita-da desde o final dos anos 80.

CONCLUSÃO

O Brasil é, entre as dez maiores econo-mias mundiais, o único que não possui, nãoarmazena em seu território e nem consideraa possibilidade de uso de armas nuclearesestrangeiras na sua estratégia de defesa.Brasil e Nova Zelândia são os únicos paí-ses do mundo que proscreveram os usosnão pacíficos da energia nuclear nas suaspróprias Constituições Federais. O Brasilé, portanto, signatário do Tratado de NãoProliferação Nuclear e do Tratado deTlatelolco, este último estabelecendo aAmérica Latina e o Caribe como zona livrede armas nucleares.

O Acordo Brasil-Argentina, que elimi-nou uma potencial corrida por armas nu-cleares na região e que criou a Agência Bra-sil-Argentina de Contabilidade e Controle(ABACC), de materiais nucleares, comple-ta 20 anos em 2011. O Acordo assegurou oclima político favorável para que oMercosul fosse posteriormente instalado.Esse bloco econômico serviu de base parao avanço da integração econômica do con-tinente sul-americano. O espaço econômi-co que assim se abriu é de grande impor-tância para o continente. O comércio com aArgentina, que era quase desprezível, al-çou nosso vizinho à posição de segundomaior parceiro comercial do Brasil.

Ao Brasil interessa manter sua posiçãode uso apenas pacífico da energia nuclear.Isso dá ao País um caráter único junto aos“dez mais” da economia mundial, que sereflete numa autoridade moral e ética quepode ser explorada politicamente em diver-sas situações, como, por exemplo, na re-forma do Conselho de Segurança da ONUe na arbitragem de crises internacionais.Essa “vantagem competitiva” é muito maisvaliosa do que a posse de armas nuclearesque, ao final das contas, seriam feitas paranunca ser usadas.

Entretanto, os quadros apresentadosmostram de forma inequívoca a importân-cia estratégica de o Brasil se manter ativona exploração dos usos pacíficos da ener-gia nuclear, expandindo seu domíniotecnológico e capacidade industrial insta-lada nos diversos setores associados, comoprodução de radioisóto-pos para medicinae indústria, produção de combustível nu-clear e geração elétrica nuclear.

O Plano Nacional de Energia (PNE), queprevê a conclusão de Angra 3 até 2015 e aimplantação de 4.000 MW nucleares adici-onais até 2030, juntamente com as metasestabelecidas para a autossuficiência naprodução do combustível nuclear, quemantêm nas duas próximas décadas umaparticipação do nuclear na geração elétricapróxima da atual, também é, por necessida-des de diversificação da matriz energética,uma opção sensata do ponto de vistaenergético.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<POLÍTICA>; Política Nacional; Política Nuclear; Economia do Brasil; Energia nuclear;Poder nuclear;

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REFERÊNCIAS

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World Nuclear Association (julho 2011). World Nuclear Power Reactors & Uranium Requirements,Consultado em julho 2011, em http://www.world-nuclear.org/info/reactors.html.

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SUMÁRIO

IntroduçãoA Constituição FederalO Decreto no 3.897/2001As Leis Complementares no 97/1999 e 117/2004 e as Diretrizes para o Emprego em GLOA Brigada GLO e a Força Nacional de Segurança PúblicaA Deficiência Legal no Julgamento de MilitaresAlteração da Lei Complementar no 97/1999 pela Lei Complementar no 136/2010Emprego das Forças Armadas no sistema constitucional de crises – limites e implicações

Da hipótese de intervenção federalDo emprego das Forças Armadas em cenário anômalo

Considerações finais

O ATUAL ORDENAMENTO JURÍDICO E O RESPALDOPARA O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS NAGARANTIA DA LEI E DA ORDEM

ROGÉRIO FORTES PEDROZO*

Capitão de Mar e Guerra

INTRODUÇÃO

Reveste-se de sublime importância, parao Estado e seus agentes, a questão

dos limites do emprego da força para a ma-nutenção da ordem jurídica posta e, por

conseguinte, para a preservação das insti-tuições que espelham o modelo estatal noqual estão inseridas as pessoas.

José Afonso da Silva observou que aConstituição Federal (CF) vigente (1988)dedica às Forças Armadas a tarefa de defe-

* Mestre em Ciências Navais e especializado pelo MBA em Gestão Empresarial do Instituto Coppead deAdministração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Hoje é imediato do Centro de InstruçãoAlmirante Wandenkolk.

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O ATUAL ORDENAMENTO JURÍDICO E O RESPALDO PARA O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIADA LEI E DA ORDEM

sa do Estado e da soberania, ressaltandoque a sua missão essencial é a defesa daPátria e a garantia dos poderes constituci-onais, o que vale dizer defesa contra agres-sões estrangeiras em caso de guerra exter-na e proteção da democracia por meio dasalvaguarda dos poderes legalmente cons-tituídos, que, segundo a Constituição, ema-nam do povo.

Será abordada a problemática do uso de-mocrático das Forças Armadas na defesa dalei e da ordem. Trata-se de hipótese de menordimensão, mas não menos relevante, pois oemprego das Forças Armadas em tais situa-ções ocorre apenas de forma subsidiária e even-tual, já que a missão de garante é reservadapela Carta Magna, emprimeiro momento, aoaparato policial em suaacepção estrita, seja elefederal ou estadual.

O emprego de tro-pas, a partir de diretri-zes presidenciais e emcooperação com go-vernos estaduais, é vi-ável em circunstânciaordinária, que é aquelaem que há dano à or-dem pública sem ame-aça à estabilidadeinstitucional. A matéria insere-se no âmbitoda reserva legal e tem suas diretrizes postasna Constituição Federal de 1988 (artigos 142e 144) e na Lei Complementar no 97/1999,com alterações trazidas pelas Leis Comple-mentares no 117/2004 e no 136/2010.

A CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A competência das Forças Armadas estáprevista no artigo 142 da CF/88: as ForçasArmadas são instituições nacionais perma-nentes e regulares, organizadas sob a hie-rarquia e a disciplina, sob autoridade su-

prema do Presidente da República, e desti-nam-se à defesa da Pátria, à garantia dospoderes constituídos e, por ação destes, àsalvaguarda da lei e da ordem.

Hely Lopes Meirelles assinalou, sobre odireito e dever de autodefesa do Estado, quea defesa da Pátria, a preservação da demo-cracia e a proteção do cidadão e da coletivi-dade são direitos e deveres do Estado. Ne-nhuma nação pode sobreviver com inde-pendência se não lhe for reconhecida a prer-rogativa de defender, com o poder e pelaforça, caso necessário, o povo, o território,o regime político e o sistema vigente contraa violência de inconformadas minorias e oataque das ideologias contrárias à ordem

jurídica vigente.A defesa da Pátria

compreende atividadesde caráter dissuasório ede combate que objeti-vam preservar, princi-palmente, a integridadeterritorial, a soberania ea independência.

A garantia das atri-buições constitucio-nais, de competênciaexclusiva das nossasForças Armadas, con-funde-se com a pró-

pria defesa do Estado Democrático de Di-reito, que se manifesta pelo livre exercíciodos três poderes, pelo correto funciona-mento das instituições e pela manutençãoda autoridade organizacional, típica decada um desses poderes.

O artigo 142 da Constituição Federalprevê claramente o emprego das ForçasArmadas em operações de segurança pú-blica, condicionado à solicitação de um dospoderes constituídos e sob a prévia auto-rização do Presidente da República.

A segurança pública é dever do Estado,sendo exercida para a preservação da or-

A defesa da Pátriacompreende atividades decaráter dissuasório e decombate que objetivam

preservar, principalmente,a integridade territorial, a

soberania e aindependência

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O ATUAL ORDENAMENTO JURÍDICO E O RESPALDO PARA O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIADA LEI E DA ORDEM

dem pública e da incolumidade das pesso-as e do patrimônio. Sua competência origi-nária pertence às polícias: polícia federal,polícia rodoviária federal, polícia ferroviá-ria federal, polícias civis, polícias militarese corpos de bombeiros militares (artigo 144da Carta Magna).

Logo, só eventualmente cabe a militaresfederais a defesa da lei e da ordem, pois taldefesa compete primariamente às forças desegurança pública, à luz do artigo 144 daCF/88. O policiamento ostensivo e a preser-vação da ordem, nos limites territoriais esta-duais, competem às polícias militares, su-bordinadas aos governadores.

Assim, o aludido emprego das ForçasArmadas em ações de Garantia da Lei e daOrdem (GLO), de forma emergencial e tem-porária, almejando a preservação da ordempública e da incolumidade das pessoas edo patrimônio (público e privado), no casode esgotamento dos instrumentos previs-tos no artigo 144 da Constituição, exige-lhes, sempre que necessário, desenvolverações de polícia ostensiva, bem como asdemais, preventivas ou repressivas, que seincluem na competência organizacional elegal das polícias militares, observados ostermos e limites impostos pelo ordenamen-to jurídico a estas polícias.

Segundo o ministro do Supremo Tribu-nal Federal Gilmar Mendes, ao tratar do temano Parecer no 25, de 10 de agosto de 2001, aordem pública é o conjunto de regras for-mais que emanam do ordenamento jurídicoda Nação, tendo por escopo regular as rela-ções sociais do interesse público, estabele-cendo um clima de convivência harmoniosae pacífica, fiscalizado pelo poder de políciae constituindo uma situação ou condiçãoque conduza ao bem comum.

Gilmar Mendes destacou em seu pare-cer que o emprego, emergencial e transitó-rio, das Forças Armadas em ações de GLOocorre depois de esgotados os instrumen-

tos destinados a preservar a ordem públi-ca e a incolumidade das pessoas e dopatrimônio, presentes no artigo 144 daConstituição (segundo a Lei Complemen-tar no 97/1999, art. 15, § 2o).

Resta claro que a manutenção da ordempública compete às polícias militares, asquais conduzem ações geralmente osten-sivas, com o fito de prevenir, dissuadir oureprimir condutas que violem a ordem pú-blica. A elas compete a preservação ou orestabelecimento (CF/88).

A utilização de militares federais na GLOassumiria contornos mais nítidos no perío-do compreendido entre 2001 e 2010.

O DECRETO NO 3.897/2001

Por meio do Decreto no 3.897, de 24 deagosto de 2001, o Presidente conferiu po-der de polícia às Forças Armadas, sempreque seja forçoso desenvolver ações depolícia, as quais pertencem à competênciadas polícias militares. O decreto, referen-dado pelo Parecer no 25 supracitado, fixouas diretrizes para o uso dessas forças nagarantia da lei e da ordem.

As diretrizes fixadas nesse decreto bus-caram orientar o planejamento, a coorde-nação e a execução das ações de militaresfederais, e de órgãos governamentais doExecutivo, nas ações de GLO. Cabe ressal-tar que é de competência exclusiva do Pre-sidente da República a decisão de empre-gar as Forças Armadas na garantia da lei eda ordem.

A decisão presidencial poderá ocorrerpor iniciativa própria ou dos outros pode-res legitimados, representados pelo presi-dente do Supremo Tribunal Federal, pelopresidente do Senado Federal ou pelo pre-sidente da Câmara dos Deputados. Segun-do o decreto, o Presidente, à luz de pleitode governador de Estado ou do DistritoFederal, poderá ordenar a utilização de mi-

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O ATUAL ORDENAMENTO JURÍDICO E O RESPALDO PARA O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIADA LEI E DA ORDEM

litares federais para a garantia da lei e daordem.

Cabe destacar que a turbação da lei e daordem constitui pressuposto básico e pri-maz para o emprego desses militares, resi-dindo no gradiente dessa circunstância –cuja primeira sequela a observar é o risco àestabilidade institucional – o parâmetrocrucial para definir as ações operacionaisforçosas e suficientes à restauração docenário de conformidade.

Apesar da opção de usar as Forças Arma-das em ações de operações internas de se-gurança pública, conclui-se, à luz do Artigo144 da Lei Maior e do artigo 15, § 2o, da LeiComplementar no 97/1999, que esse uso deveser o último recurso de defesa da sociedade.Esses artigos reiteram ocaráter subsidiário douso de militares fede-rais em tais missões.

Esse emprego deve-rá ter a menor duraçãopossível e abranger,ademais da hipóteseanteriormente destaca-da, outras onde se pre-suma ser possível a per-turbação da ordem, taiscomo aquelas atinentesa eventos oficiais ou públicos. Nessas situa-ções, as Forças Armadas atuarão em articu-lação com as autoridades locais.

A decisão presidencial de emprego dasinstituições castrenses será comunicada aoministro de Estado da Defesa por meio dedocumento oficial, que indicará a missão,os demais órgãos envolvidos e outras in-formações necessárias.

Ao realçar que serão promulgadas diretri-zes específicas em caso de intervenção fede-ral, o decreto buscou descaracterizar, comointervenção da União, o uso de militares fede-rais na garantia da ordem interna. Com o fitode regulamentar a Lei Complementar no 97/

1999, o decreto criou uma opção à interven-ção federal e atribuiu poder de polícia às For-ças Armadas, com a anuência do CongressoNacional, atribuindo-lhes a competência parao exercício de atividade que a Carta Magna,no artigo 144, destina às polícias militares, eacolheu o comando dessas corporações porautoridade federal, enquanto perdurarem asações de GLO. Cabe destacar que a Lei Maiorprevê que a responsabilidade sobre aquelesórgãos é do governador.

Entretanto, a constitucionalidade dodecreto é questionável, pois a concessãodo poder de polícia compete ao Poder Cons-tituinte. O Executivo e o Legislativo nãotêm atribuição específica para tal. Portan-to, o decreto não provê um suporte legal

perfeito, por não serinstrumento jurídicoadequado para insti-tuir o poder de polícia.

O emprego das ins-tituições castrensescom a finalidade de ga-rantir a segurança inter-na deve acatar um pedi-do urgente, ser territo-rialmente definido etemporalmente limitado.

O Decreto no 3.897prevê que estarão esgotados os meios pre-vistos no artigo 144 da CF/88 (aborda a ga-rantia da ordem pública interna pelas políci-as estaduais e pela Polícia Federal) quando,em dado momento, os efetivos das institui-ções de segurança estiverem indisponíveisou forem inexistentes ou insuficientes aocumprimento da missão constitucional.

A polícia está indisponível quando nãoatua em uma unidade federativa devido agreve.

O termo inexistente é aplicado às regiõesonde os órgãos de segurança pública estãoausentes, sobretudo nas áreas de fronteira daregião amazônica. Nesse caso, as unidades

O emprego das instituiçõescastrenses com a finalidade

de garantir a segurançainterna deve acatar um

pedido urgente, serterritorialmente definido e

temporalmente limitado

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O ATUAL ORDENAMENTO JURÍDICO E O RESPALDO PARA O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIADA LEI E DA ORDEM

militares lá situadas são a única presença doEstado nessas regiões e, conforme prevê a LeiComplementar no 117/04, devem reprimir osdelitos registrados nas áreas supracitadas.

O termo insuficiente remete à capacida-de operacional de atuação dos órgãos po-liciais diante do agravamento da situação.A falta de capacidade operacional se dápor restrições de pessoal, material ou ades-tramento para anular o oponente.

Caso haja meios disponíveis, conquantoinsuficientes, da polícia militar, esta, com aanuência do governador, atuará, parcial outotalmente, sob o controle operacional docomando militar responsável pelas operações,sempre que as situações assim o exijam.

O controle operacional é a autoridadeconferida a um comandante ou chefe mili-tar para atribuir e coordenar missões outarefas específicas destinadas aos efetivospoliciais sob o seu controle. Tal autorida-de não abrange, a princípio, assuntos dis-ciplinares e logísticos.

As deficiências e a carência de precisãodo decreto presidencial que fixou as diretri-zes para a utilização das Forças Armadas emações de GLO foram notadas pelos militares.

Mudar a tarefa constitucional dessas for-ças para usá-las, sem parâmetros claros, nocombate à criminalidade não soluciona a ques-tão da segurança pública e, ainda, pode afetarnegativamente a sua estrutura organizacionale as especificidades de seu emprego.

A promulgação do aludido decreto guiouo foco das discussões para um projeto de leicomplementar, versando sobre a organizaçãoe o emprego das instituições castrenses.

AS LEIS COMPLEMENTARES NO 97/1999 E 117/2004 E AS DIRETRIZESPARA O EMPREGO EM GLO

A Lei Complementar (LC) no 97/1999 dis-põe sobre as normas gerais para a organi-zação, o preparo e o emprego das Forças

Armadas. Para a restauração e a garantiada lei e da ordem, por meio dessas forças,após a requisição de um dos poderes legi-timados, impõe-se, consoante o artigo 15,§ 2o, da lei supracitada, que a ação ocorraconforme as diretrizes do ato presidencial,se esgotados os instrumentos destinadosà preservação da ordem pública e da segu-rança das pessoas e do patrimônio, previs-tos no artigo 144 da CF/88.

Tal extenuação ocorre se os instrumen-tos forem reconhecidos formalmente pelochefe do Poder Executivo federal ou esta-dual como indisponíveis, inexistentes ouinsuficientes ao desempenho regular damissão constitucional (artigo 15, § 3o, daLC no 97/1999), situação em que haverá osuporte legal para que os militares federaiscumpram a sua missão precípua.

Se a atuação do instrumental militar jus-tifica-se e é autorizada em razão da falênciados órgãos nominados no aludido artigo144, traduzida pela incapacidade de con-servar e restaurar a ordem e a segurançadas pessoas por indisponibilidade de mei-os para conduzir as tarefas que lhes sãoconstitucionalmente reservadas, ilaçãoirresistível é a de que o uso de meios demaior pujança deve sorver as atribuiçõesdas referidas entidades.

Assim, se a Polícia Federal não tiverpossibilidades operacionais de prevenir ereprimir o tráfico ilícito de entorpecentes edrogas, a necessidade de salvaguardar aspessoas, o patrimônio e a ordem públicaestará comprometida. O uso das hostesmilitares, nesta missão, justificar-se-á pelaassunção da missão normalmente destina-da pela Lei Maior àquele órgão.

Afinal, se o elemento autorizador é asupremacia do tráfico ilícito de entorpecen-tes e drogas afins sobre o aparato policialordinário, restaurar-se-á a regularidade ape-nas com a supressão desse fator dedesestabilização, e isso se dará por meio

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do emprego de meios de maior robustez, oque, presumivelmente, somente pode ocor-rer por meio da força bélica.

Essa circunstância parece estar acordecom a possibilidade de emprego do Exérci-to no campo das “outras ações pertinen-tes” previstas no artigo 17, alínea a, da LeiComplementar no 97/1999, e no Decreto no

3.897/2001.Com o fito de aprofundar o estudo so-

bre a natureza jurídica do poder de políciadas Forças Armadas, houve a discussãodo tema na Comissão de Relações Exterio-res e Defesa Nacional do Senado, em 2004.Foi apresentada uma emenda ao texto daLC no 97/1999 pelo senador MarceloCrivella, a qual foi aprovada, com nova re-dação para o artigo 15 dessa lei. Para osenador, as violentas cenas de guerrilhaurbana, com o uso corriqueiro de armamen-to pesado, exigiam a expansão da atuaçãodas instituições castrenses.

Assim, surgiu a Lei Complementar no 117/2004, aprovada em 2 de setembro de 2004,que alterou trechos da LC no 97/1999 e con-feriu novas atribuições às Forças Armadas.

Essa norma jurídica criou duas atribui-ções subsidiárias. A primeira é cooperarcom os órgãos federais no combate aosdelitos, com apoio logístico, de comunica-ções, de instrução e de inteligência. A se-gunda atribuição é atuar, de maneira subsi-diária, via ações preventivas e repressivas,na faixa limítrofe terrestre, contra os deli-tos transfronteiriços e ambientais, isolada-mente ou em coordenação com outros ór-gãos federais, executando patrulhamento,revista de pessoas, veículos terrestres,embarcações e aeronaves, e prisões em fla-grante delito.

Contudo, o texto adotado gerou dúvi-das sobre a autoridade responsável peladeclaração de esgotamento dos mecanis-mos policiais, devido à confusa definiçãoquanto a quem cabe reconhecer a necessi-

dade do uso dos militares. A posiçãocomumente apregoada pelas autoridadesfederais realça que apenas será enviada atropa após pedido do governador.

Outro tópico criticado é a transferênciado controle operacional dos órgãos de se-gurança pública para a autoridade à frentedas operações. O óbice alegado está nasatribuições do poder de polícia previsto naCF/88, que subordina as polícias militaresaos governadores. Porém, é inegável queo comando das operações deve ficar comuma autoridade federal, pois não cabe dei-xar a responsabilidade de conduzir as açõesde GLO nas mãos de quem não reuniu con-dições de manter a ordem no estado.

O deputado Roberto Magalhães, certavez, aludiu que, se por detrás da expressão“por iniciativa do Presidente da República”houvesse intenção outra que não o empre-go das hostes militares em casos de crise e,mesmo assim, quando esgotados todos osmeios, estaríamos desperdiçando recursosna adaptação destas, que poderiam ser apli-cados naqueles órgãos que, constitucional-mente, têm o dever de zelar pela segurançapública, e desviando os militares federaisda principal atividade que a Carta Magnalhes confiou no bojo de sua missão.

A nova lei complementar atribuiu aoExército Brasileiro atuação preventiva erepressiva contra delitos nas áreaslimítrofes transnacionais demarcatórias deterritório e aqueles ambientais, por meio depatrulhamento, revista de pessoas e veí-culos e prisões em flagrante.

A Carta Magna fixou as missões das ins-tituições: as Forças Armadas no artigo 142e a Polícia Federal, a quem compete a pre-venção e a repressão de crimes na faixa defronteira, no artigo 144. Como não é cogi-tada a transferência de atribuições entre asinstituições, a tarefa do Exército Brasileironessas ações exige o fiel acatamento dospreceitos constitucionais.

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O emprego de militares federais para en-frentar questões policiais, não deve ser ba-nalizado, a fim de evitar questionamentospúblicos quanto ao impacto negativo so-bre a autoestima militar, fruto da atuaçãodaquelas forças em ações de apoio às polí-cias militares, o que poderia suscitar inda-gações quanto a uma manifesta inversãodos papéis constitucionais.

O aumento da criminalidade é fator ge-rador de comoção social, porém não é essaa abrangência nem o sentido visado pelaConstituição ao prever os casos de autori-zação do uso das Forças Armadas. Todasessas situações, sem exceção, se circuns-crevem à esfera policial.

Se o governador não consegue admi-nistrar a segurança com eficiência, por meioda polícia a ele subordinada, a primeirasolução a ser adotada é política, não mili-tar. Os poderes Legislativo e Judiciário es-taduais podem afastar o administrador in-competente ou corrupto.

A BRIGADA GLO E A FORÇANACIONAL DE SEGURANÇAPÚBLICA

Cabe às Forças Armadas a garantia dospoderes constitucionais e, por iniciativa dequalquer destes, da lei e da ordem interna,conforme atesta o artigo 142 da Lei Maior.

Todavia, há alguns anos é comum a con-vocação de tropas federais para desempe-nhar ações que, a princípio, não estariamem sua atribuição legal, tais como aquelasdurante os movimentos grevistas de orga-nizações policiais estaduais, em operaçõesque visam ao restabelecimento do poderoficial frente à ousadia do crime organiza-do (hoje, uma ameaça à soberania nacio-nal) e nos casos de graves perturbaçõesque ofereçam risco às instituições.

Dessa forma, o Exército Brasileiro optoupela especialização de uma grande unidade

para agir, quando forçoso e ordenado porautoridades competentes, nas ocasiões ex-cepcionais. Assim, a Força Terrestre se pre-parou para cumprir mais uma tarefa e criouem 2004 uma Brigada com as característicasde emprego em missões de GLO.

A vocação prioritária de emprego dashostes militares é a defesa da Pátria, situa-ção que exige organização própria, equipa-mentos de grande poder letal e adestramen-to voltado para a guerra. Contudo, as for-ças não podem negligenciar as demais mis-sões legais, incluindo a garantia da lei e daordem, e devem estar preparadas para to-das as missões previstas na lei.

Em missões de GLO, o preparo da tropadeve considerar a busca de solução pacífi-ca das discórdias, a presença dos meios mi-litares adequados à proteção da tropa, daspessoas e do patrimônio, e a necessidadede treinamento especial. Utilizar tropas commaior aptidão para as ações de GLO evita oemprego de outros grupos, com um custode adestramento mais alto, nessas missões.Nas ações de GLO, o uso do Exército dar-se-á por ordem presidencial.

A fim de permitir o uso eficiente da força naGLO, o Exército julgou plausível ter uma uni-dade operacional destinada a manter a ordeminterna. O Decreto no 5.261, de 3 de novembrode 2004, converteu a 11a Brigada de InfantariaBlindada, de Campinas (SP), em 11a Brigadade Infantaria Leve – Garantia da Lei e da Or-dem, uma brigada motorizada, sendo-lhe atri-buída a missão complementar de atuar nosestados, em casos de normalidade, para ga-rantir a lei e a ordem, e atender em melhorescondições ao preceito imposto pela Lei Maior,inclusive com o uso de material especializado,como armas não letais, capacetes e escudos.

A nova Brigada continua voltada para oemprego estratégico na defesa da Pátria e, aoser convertida em “leve”, incorpora caracte-rísticas operacionais que lhe permitem sedeslocar com rapidez e oportunidade para

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áreas estratégicas do território nacional. Po-rém, como atividade complementar, possui opreparo voltado também para o uso em açõesde GLO. Todas as unidades operacionais doExército, no programa de instrução anual, têmmatérias voltadas para a capacitação ao em-prego em missões de GLO.

No caso singular da 11a Brigada, foramintensificadas a instrução e a preparaçãopara o uso dos soldados em missões de GLO.A brigada dispõe de meios mais leves e ins-truções específicas, incluindo equipamen-tos não letais. Houve a transformação coma adequação da instrução e, dentro do pos-sível, de equipamentos, pois a natureza datropa permaneceu sendo de infantaria, tan-to no que concerne aos efetivos quanto emsua estrutura organizacional.

Em conformidade com os preceitos le-gais (Constituição Federal, LC no 97/99 eLC no 117/04), que, em síntese, expressamas imposições da sociedade, as Forças Ar-madas devem estar preparadas para o cum-primento de suas missões. Assim, a deci-são de dispor de uma tropa voltada para asações de GLO deveu-se à necessidade deter tropas mais aptas para tais fins.

Ainda em 2004, o então ministro da Justiça,Márcio Thomas Bastos, atuou em outra frentecom vistas à criação de uma força, a ser com-posta por policiais militares dos estados e po-liciais federais. A previsão inicial era a de reu-nir um efetivo de 1.500 policiais. Após o treina-mento, voltariam aos estados de origem, ondepermaneceriam até serem convocados.

O plano era atraente para o governo, poisevitava o óbice da intervenção federal e ve-dava o emprego impróprio de militares emmissão policial. Ademais, o uso político detropas federais não se restringe a ordenarque esses grupos atuem para solucionar cri-ses na segurança pública dos estados.

Além das Forças Armadas e dos órgãosde segurança pública citados no artigo 144da CF/88, haveria uma entidade federal para

atuar no policiamento ostensivo, destinadoa manter a ordem pública e a incolumidadede pessoas e patrimônio. Em novembro de2004, o Decreto no 5.289/04 criou a ForçaNacional de Segurança Pública (FNSP), quenão é um órgão do sistema de segurançapública federal, pois só agirá nos estadosque aderirem ao programa.

A estreia da FNSP ocorreu no EspíritoSanto, em substituição às tropas do Exérci-to, quando dez ônibus foram incendiadosem terminais rodoviários na região metro-politana de Vitória. O governador PauloHartung atribuiu os fatos a organizaçõescriminosas e solicitou o envio de tropas fe-derais. O improviso foi visível, pois houve oanúncio do uso de 150 homens da ForçaNacional na capital capixaba antes da assi-natura do decreto de criação da FNSP.

Quanto às operações de segurança pú-blica, seria uma opção plausível incrementara FNSP, que se adapta bem à necessidadefederal de agir em nosso território para ga-rantir os poderes constituídos, a lei e a or-dem. As instituições militares poderão auxi-liar indiretamente, com apoio ao treinamen-to em táticas especiais, inteligência, logísticae fornecimento de equipamentos de uso res-trito. Nesse caso, não caberia retirar ashostes militares da missão constitucionalbasilar, caso o governo federal carecesse desocorro para atuar nos estados.

Com o escopo de pesquisar, desenvol-ver e consolidar a doutrina, bem como ava-liar o adestramento, foi implantado, em 2007,um Centro de Instrução de Operações deGarantia da Lei e da Ordem, inicialmenteem Pirassununga e, posteriormente, emCampinas, ambos municípios paulistas.

A DEFICIÊNCIA LEGAL NOJULGAMENTO DE MILITARES

Com a edição da Lei do Abate, ou Lei doTiro de Destruição, pelo Decreto no 5.144,

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de 16 de julho de 2004, foi autorizada a der-rubada pela Força Aérea Brasileira (FAB) deaviões que invadam o espaço aéreo do País,almejando o combate ao narcotráfico. Naocasião, houve exaustiva discussão e pres-sões norte-americanas, com a ameaça decortes no programa de ajuda financeira aprojetos nacionais. O texto aprovado desta-ca que os alvos são apenas as aeronavesoriundas de regiões avaliadas como fontesde produção ou distribuição de drogas.

Porém o óbice diante dos pilotos da FAB– a exemplo das ações do Exército nas ruas– é o foro competente para o julgamentoda morte de civis pela destruição da aero-nave suspeita.

Duas questõessempre preocupam osmilitares quando a tro-pa é mandada às ruas:os ilícitos praticadospor civis contra milita-res e os praticados pe-los militares contra ci-vis, nessa hipótese osdolosos contra a vida,cujo julgamento pas-sou a caber à JustiçaComum.

Este último julga-mento teria de ser elucidado por uma novalei, e o Congresso inseriu dispositivo na LeiComplementar no 117/2004, em que se bus-cou retornar ao foro militar o veredito decrimes dolosos praticados por militares con-tra civis. O parágrafo inserido na LC prevêque o emprego e o preparo das Forças Ar-madas em missões de GLO são atividademilitar para a aplicação do art. 9o, item II,alínea c, do Código Penal Militar (CPM). Masa nova redação não afastou a hipótese deque, mesmo nessa atividade ou em serviço,ao praticar crime doloso contra civil, o mili-tar seja julgado pela Justiça Comum, inclu-sive ao abater uma aeronave civil.

O parágrafo único do artigo 9o do Códi-go Penal Militar, com redação conferida pelaLei no 9.299/96, diz: “Os crimes de que trataeste artigo, quando dolosos contra a vidae cometidos contra civil, serão da compe-tência da Justiça Comum”.

O parágrafo inserido na LC no 117/2004poderá ser aplicado ao julgamento de civispela Justiça Militar se houver crime em queo ofendido seja um militar. O uso, todavia,será alvo de interpretação do Supremo Tri-bunal Federal, o qual tem julgado que ocivil comete crime militar quando houver odesempenho de função de naturezacastrense pelo atingido, à luz das tarefas

previstas na CF/88, aíincluída a GLO, e nãoapenas quando em ati-vidade da caserna.

Está claro que ouso das Forças Arma-das para a garantiados poderes constitu-cionais, da lei e da or-dem só poderá ocorrerdepois de esgotadosos instrumentos exis-tentes na Carta Mag-na de 1988. Porém eratransparente que o

emprego das Forças Armadas em GLO, naocasião, enfrentava restrições de ordemlegal quanto ao julgamento de militares, oque suscitava nova alteração da Lei Com-plementar no 97/1999, como será apresen-tado a seguir.

ALTERAÇÃO DA LEICOMPLEMENTAR NO 97/1999 PELALEI COMPLEMENTAR NO 136/2010

Caberia revisar a legislação pertinenteàs operações militares em prol da Garantiada Lei e da Ordem, de modo a consolidarnos instrumentos normativos vigentes, de

O uso das Forças Armadaspara a garantia dos

poderes constitucionais, dalei e da ordem só poderá

ocorrer depois deesgotados os instrumentosexistentes na Carta Magna

de 1988

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forma sólida, transparente e objetiva, oamparo legal para a atuação das ForçasArmadas em ações de GLO, bem como opoder de polícia repressivo que, por vezes,se torna imperioso nas tarefas executadaspela Força, sobretudo no exercício das Pa-trulha Naval e Inspeção Naval.

A Lei Complementar no 136/2010, de 25de agosto de 2010, trouxe alterações rele-vantes em seu bojo, como a nova redaçãodo § 7o, do inciso II, do Art. 15, onde seprevê que a atuação das tropas nos casosprevistos nos Arts. 13, 14, 15, 16-A, nosincisos IV e V do art. 17, no inciso III do art.17-A, nos incisos VI e VII do art. 18, nasações de defesa civil afetas ao Art. 16 dareferida Lei Complementar e no inciso XIV,do art. 23, da Lei no 4.737, de 15 de julho de1965 (Código Eleitoral), é considerada ati-vidade militar, para os fins do Art. 124 daCF/88.

O aperfeiçoamento da redação do pará-grafo 7o do Art. 15, com a inserção de textoque enquadra o emprego e o preparo dasForças Armadas, em prol da GLO como ati-vidade da caserna permite a aplicação doartigo 9o, inciso II, alínea c, do CPM, assimcomo evita o julgamento de militares en-volvidos em crimes contra a vida, cometi-dos durante as ações de GLO, pela JustiçaComum. Isso eliminou, desde então, as res-trições legais quanto ao julgamento porocasião do emprego de tropas federais nagarantia da lei e da ordem.

Esse enquadramento de atribuições sub-sidiárias das hostes castrenses como ati-vidades de natureza militar fixa a compe-tência da Justiça Militar para a avaliação eo julgamento das condutas inerentes àsações, com respaldo jurídico para aplicar oartigo 9o do CPM.

Outra mudança ocorreu no inciso VIIdo Art. 18, em que, preservadas as com-petências exclusivas das polícias judiciá-rias, foi autorizada a atuação contínua e

permanente, via ações de controle do es-paço aéreo nacional, contra o tráfego aé-reo ilícito, com ênfase nos afetos ao tráfi-co de drogas, armas, munições e passa-geiros ilegais, agindo em coordenação comórgãos de fiscalização competentes, aosquais caberá atuar após a aterragem dasaeronaves meliantes.

Os militares federais poderão, na ausên-cia dos órgãos de fiscalização, revistar pes-soas, veículos terrestres, embarcações eaeronaves, bem como efetuar prisões emflagrante delito. Pela especificidade do con-trole do espaço aéreo nacional, competiráao comandante da Aeronáutica o trato dosassuntos, na condição de Autoridade Ae-ronáutica Militar.

Foi incluído o Art. 16-A, detalhando quecabe às tropas castrenses, como atribui-ção subsidiária, mantida a competênciaprópria da Polícia Judiciária, agir, via açõespreventivas e repressivas, na faixa de fron-teira terrestre, no mar e nas águas interio-res, desconsiderando posse, propriedade,finalidade ou outros gravames, contra de-litos de fronteiras e ambientais, isoladamen-te ou em coordenação com órgãos fede-rais, por meio de ações de patrulhamento,revista de pessoas e de veículos terres-tres, navios e aeronaves e prisões em fla-grante delito.

Essa alteração pontual e concisa dasatribuições subsidiárias das forças, delimi-tando o poder de polícia inerente às ativi-dades de GLO, permite à Marinha do Brasilatuar nas águas jurisdicionais brasileiras(AJB), por meio de ações preventivas e re-pressivas, em atividades relativas às suasatribuições legais, sobretudo na PatrulhaNaval e na Inspeção Naval.

Finalmente, é oportuno futuramente le-gitimar a atuação das forças nas operaçõesmilitares de não guerra, nas quais, emborahaja o uso do Poder Militar nos âmbitosinterno e externo, não há o combate, exceto

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em situações especiais, quando esse po-der é utilizado de forma breve, em área limi-tada e previamente definida. Para tal, é for-çoso alterar os artigos 1o e 8o, fixando quecompete às tropas castrenses o cumprimen-to da destinação constitucional, das atri-buições subsidiárias e das tarefasconcernentes às operações militares de nãoguerra.

Igualmente, caberá mudar o parágrafo4o do Art. 15 da LC no 97/ 99, a fim de definir,quando da ativação dos órgãosoperacionais das Forças Armadas, o seuemprego nas ações de caráter preventivo erepressivo, inclusive, se necessário, naque-las que sejam da competência legal e cons-titucional das polícias militares, de modo agarantir o resultado das operações de GLO.

Para o bom uso de hostes militares naGLO, condições relevantes devem existir: oenvolvimento político; o comprometimentoda sociedade; a presença do Ministério Pú-blico e de outros órgãos estatais; a claradefinição das ações a realizar, com a perti-nente base legal; a ação estatal para mantera situação após o desfecho da missão; oemprego da comunicação social nas ativi-dades de GLO; as profícuas defesa e assis-tência de militares pela Advocacia Geral daUnião; e o controle operacional dos órgãosde segurança pública por tropas federais.

EMPREGO DAS FORÇAS ARMADASNO SISTEMA CONSTITUCIONAL DECRISES – LIMITES E IMPLICAÇÕES

Da hipótese de intervenção federal

A Carta Magna destaca que a União nãointervirá nos estados nem no Distrito Fe-deral. Esse princípio indica a discrimina-ção das competências federal e estadual.Quando se adentra a esfera privativa doestado-membro, há a interferência na auto-nomia estadual. As exceções são previstas

na CF/88, e no artigo 34 é admitida, excep-cionalmente, a quebra da autonomia esta-dual, por meio da intervenção federal, a fimde debelar grave ameaça à ordem pública.

A atuação de tropas federais na área desegurança pública, mesmo diante de soli-citação do governador, prevista na Lei Mai-or, resulta em intromissão na esfera esta-dual. E aí surge a indagação no queconcerne à circunstância de a atuação dasForças Armadas, em sítio próprio de açãode outros entes federados, representar ahipótese de intervenção federal.

José Afonso da Silva alerta que “inter-venção é antítese de autonomia. Por ela afas-ta-se o desempenho autônomo de estado,Distrito Federal ou município que a sofra.Uma vez que a Constituição assegura a es-ses entes autonomia como princípio básicodo Estado federativo, decorre que a inter-venção é medida excepcional, e só há deocorrer nos casos previstos na Carta Mag-na e eleitos como exceção ao princípio danão intervenção, consoante o artigo 34”.

A regra é a autonomia política dos en-tes federativos (União, estados e municí-pios), fruto da forma distinta de auto-orga-nização, normatização, autogoverno eautoadministração. A fim de preservar a exis-tência e a unidade da Federação, poderáocorrer a intervenção federal, que configu-ra expressivo elemento de estabilização daordem normativa plasmada na Constitui-ção. É-lhe inerente a condição de instru-mento de defesa dos postulados sobre osquais se estrutura, em nosso País, a ordemrepublicano-federativa.

Alexandre de Moraes destaca, à luz dashipóteses constitucionais, os possíveiscenários de intervenção federal:

– intervenção federal espontânea e de-fesa da unidade nacional (CF, artigo 34, Ie II);

– defesa da ordem pública ou das finan-ças públicas (CF, artigo 34, III e V);

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– por solicitação – defesa dos poderesExecutivo ou Legislativo locais; e

– por requisição do STF, do STJ ou doTSE, conforme o artigo 34 da Constituição.

Assim, conclui-se basicamente que ha-verá intervenção federal quando o uso dasForças Armadas redundar de cenário quenão envolva a admissão, pelo governador,do exaurimento dos recursos citados noartigo 144 da Lei Maior. Se for imperiosa aatuação daquelas forças, será um caso deexcepcionalidade, e o decreto de interven-ção federal é mandatório.

Do contrário, derivando o emprego emcomento de manifestação do poder local,estar-se-á diante de ato autônomo que,embora implique a transferência de “con-trole operacional dos órgãos de segurançapública necessários ao desenvolvimentodas ações para a autoridade encarregadadas operações”, configurará vigência deato de autogoverno inerente ao estado.

A ruptura do equilíbrio constitucional,em face da disputa pelo poder ou do emba-te de forças fora dos limites afetos à CF/88,que implique perigo à estabilidade demo-crática indica cenário que autoriza o em-prego das hostes militares, mas não ape-nas para a defesa da lei e da ordem, que sópode ocorrer em face do esgotamento doaparato policial para o enfrentamento desituações críticas. Se o cenário exigir, asForças Armadas devem ser empregadas,pois a elas compete garantir os podereslegitimados e, a pedido de qualquer deles,a lei e a ordem.

Do emprego das Forças Armadas emcenário anômalo

O Estado Democrático de Direito, con-siderado como força motriz da promoçãodo bem comum, não está livre de turbaçõesoriundas da colisão de forças e interessessociopolíticos, bem como não está a salvo

de situações que ameacem as suas insti-tuições democráticas.

Cabem a previsão e a delimitaçãonormativa de instituições e medidas neces-sárias para a defesa da ordem constitucionalem caso de anormalidade que, não podendoser eliminada ou combatida pelos meios pre-vistos na CF/88, exija meios excepcionais.

Trata-se, assim, de conter as situaçõesde crise e emergenciais (guerra, tumultos ecalamidades) pelo uso de meios extraordi-nários, adequados e proporcionais, previs-tos na Lei Maior e vitais para o “retorno ànormalidade constitucional”.

O agravamento das chances de afrontaao regime constitucional caracteriza a ne-cessária hipertrofia do Poder Executivo,que, no nosso caso, destina ao Presidenteo dever de decretar medidas excepcionaispara enfrentar a situação anômala típica doestado de não normalidade.

Alexandre de Moraes assinala que a Car-ta Magna prevê duas medidas excepcionaispara restaurar a ordem em casos de anorma-lidade, o estado de defesa e estado de sítio,em lugar específico e por certo tempo, apli-cando-se a situações atípicas e transitóriasinstauradas como resposta a uma ameaça àordem democrática, permitindo o aumentodo poder repressivo estatal, justificado pelagrave perturbação da ordem pública. Aexcepcionalidade da suspensão de direitosfundamentais, previstos na CF/88, nas duashipóteses citadas apenas será cabível emuma democracia se almejar a defesa capitaldesses direitos postos em risco.

O ponto inicial da análise repousa na cir-cunstância de haver, como distinção entre oestado de defesa e o estado de sítio, amajoração das medidas de restrição e a pos-sibilidade do emprego de maior poder re-pressivo no caso de sítio. A diferença basilarentre os dois casos reside basicamente nopotencial repressivo das medidas a seremadotadas, e pode-se dizer que o estado de

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defesa é, em última análise, uma variantemenos rigorosa do estado de sítio.

As distinções entre o estado de defesae o estado de sítio, com base na Lei Maior,não se restringem à diferença de gradienterepressivo e de limitação de direitos: noprimeiro, as medidas excepcionais de lega-lidade são menos drásticas; e o Poder Exe-cutivo federal, no estado de defesa, tomaações mais amenas quanto aos direitos fun-damentais e às liberdades públicas. Poroutro lado, quanto mais graves são os fa-tos, mais intensas serão as reprimendas.

Por isso é que, no estado de sítio, o cons-tituinte confere ao Executivo poderes maisamplos. Noutro prisma, o estado de defesase aplica a locais determinados e restritos,porque é proibida a sua decretação em todoo território nacional. E faz sentido, porquemedidas mais enérgicas devem ser toma-das por meio do estado de sítio, que podeabranger o País inteiro.

O artigo 34, III da Constituição pressu-põe a intervenção federal para pôr termo agrave comprometimento da ordem pública.Implica isso que tal interferência, mesmorealizada sob a vigência do estado de defe-sa, deriva de situação já consumada e ja-mais poderá se reputar provocada, deven-do, à luz da classificação doutrináriasupracitada, ser tida como espontânea.

Se a decretação do estado de defesa vi-sar à “preservação” da ordem pública ouda paz social ameaçada por grave e iminen-te instabilidade institucional, ou atingidapor enorme calamidade da natureza, é pos-sível que ela seja considerada como saldoda intervenção federal provocada, ou seja,com o escopo de “defender o Poder Execu-tivo ou o Poder Legislativo local”.

O estado de defesa permite, em sua vi-gência, a adoção de medidas coercitivassegundo o artigo 136 da CF/88: restriçõesao direito de reunião no seio das associa-ções, ao direito de sigilo de correspondên-

cia e ao direito de sigilo de comunicaçãotelegráfica e telefônica.

Todavia, sendo o estado de defesa oriun-do de uma quebra mais suave do estado denormalidade, o uso do aparato militar – econsidera-se que o estado de defesa derivado esgotamento do aparelho ordinário desegurança – deve ser proporcional ao esta-do de tensão instalado e autorizador da me-dida de exceção. A majoração do empregoda força, em face da ineficiência de meiosusados no estado de defesa, sugere a pro-gressão para o estado de sítio, no qual autilização da força é mais abrangente, per-mitindo o controle mais eficaz da situação.

No estado de sítio há as seguintes pre-missas: comoção de grave repercussão na-cional, fato que mostre a ineficácia da ado-ção do estado de defesa, declaração de es-tado de guerra, ou resposta a agressão ar-mada. Comoção de grave repercussão naci-onal é “um estado de crise de rebelião ourevolução que ameace as instituições de-mocráticas e o exercício do governo”.

As hipóteses de intervenção federal tra-tadas nos incisos I e II do artigo 34 da Car-ta Magna almejam a manutenção da inte-gridade nacional e o rebate a invasão es-trangeira ou de uma unidade da federaçãoem outra. Sob tal cenário, no âmbito deconflito interno, é plausível o uso de meiostipicamente militares para a asfixia da situ-ação, pois graves serão os efeitos.

Todavia, o vigor do aparato bélico nãopode ser utilizado em toda a sua intensidade,devendo corresponder o emprego da forçaao tipo de situação que se pretenda debelar.

Isso exige das Forças Armadas o ades-tramento adequado para enfrentar casosvariados, que envolvem desde a conten-ção de um simples distúrbio civil (em que oemprego moderado de violência é sufici-ente) até o combate a levantes revolucio-nários e secessionistas, quando só o em-prego de outros meios (bombardeios e ou-

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O ATUAL ORDENAMENTO JURÍDICO E O RESPALDO PARA O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIADA LEI E DA ORDEM

tras técnicas de combate) será realmenteeficaz.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização das Forças Armadas na ga-rantia da lei e da ordem assumiu contornosmais nítidos no período de 2001 a 2010, con-forme aqui abordado. Ações de grande re-percussão nacional, como a retomada doComplexo do Alemão, no Rio de Janeiro,em novembro de 2010, que marcou durogolpe contra o narco-tráfico e restabeleceua ordem pública no lo-cal, indicam a relevân-cia da ação coordena-da entre entes federaise estaduais.

No entanto, defen-der a bandeira da de-mocracia por meio daelevação da participa-ção das Forças Arma-das em atividadessubsidiárias, como aGLO, é uma visão er-rônea, pois ocorre odesvio de tarefa da-quelas forças em rela-ção à sua missão constitucional.

Deve-se ter cuidado com o amálgamado combate à criminalidade, forçoso emnosso País, já que sinaliza o retorno à or-dem pública e à paz social. Entretanto, cabe-nos enfatizar a importância de preparar ade-quadamente as forças policiais estaduais,com adestramento e apoio ao treinamentoa cargo das Forças Armadas, para que aque-las possam cumprir a sua destinação cons-titucional, qual seja preservar e restaurar aordem pública e a incolumidade das pes-

soas e do patrimônio. Assim, é capital equi-par e bem treinar as polícias estaduais e,sobretudo, desenvolver uma cultura mili-tar que norteie a tropa no combate urbano.

As Forças Armadas, bastião da ordem einstituições com 90% de aprovação da opi-nião pública, devem ser empregadas nasações de GLO sempre que julgado crucialpelo decisor, a fim de estabelecer o EstadoDemocrático de Direito, razão pela qual arevisão da legislação atinente às operaçõesmilitares em prol da GLO, em 25 de agosto

de 2010, consolidandoo amparo legal à atua-ção das Forças Arma-das nessas missões,foi ato normativo as-saz relevante. O exces-so de interferência mi-litar, por questões desegurança pública,apesar de aclamadopelo cidadão, não é asolução adequada.

As alterações nasatribuições subsidiári-as da Marinha, balizan-do o poder de políciarepressivo em ações deGLO, sobretudo na con-

dução de Patrulha Naval e Inspeção Naval,assim como a definição do uso e do preparodas Forças Armadas, em prol da GLO, comoatividade militar, permitindo empregar o arti-go 9o do Código Penal Militar para julgar osmilitares citados por crimes contra a vida,nessas ações, foram capitais.

Caberá futuramente alterar o Art. 15 paradefinir o emprego dos órgãos operacionaisdas Forças Armadas nas ações preventi-vas e repressivas, que garantirão o resul-tado das ações de GLO.

Defender a bandeira dademocracia por meio daelevação da participaçãodas Forças Armadas ematividades subsidiárias,

como a GLO, é uma visãoerrônea, pois ocorre o

desvio de tarefa daquelasforças em relação à sua

missão constitucional

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<POLÍTICA>; Constituição; Legislação; Política Nacional; Segurança;

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SUMÁRIO

IntroduçãoBarcaça litoral Operação da barcaça

INVENÇÃO DE UM NAVIO DE GUERRA

SERGIO LIMA YPIRANGA DOS GUARANYSCapitão de Mar e Guerra (Refo)

INTRODUÇÃO

Naus, fragatas, bi ou trirremes, naviosde linha, ligeiros, auxiliares, corsários,

apoio logístico, encouraçado, aviso, cruza-dor, destróier, mineiro, varredor, aeródromo,submarino, desembarque, de assalto, EDVM,transporte, de comando, barcaça etc. Há no-mes para todos os gostos, ora indicando ta-manho, ora função, ora ainda termo de algu-ma classificação. Alguns tipos surgiram esumiram numa demonstração de haver moda,problemas e soluções governando a dura-ção das denominações, adesões e rejeiçõesde equipamentos. Evolução tecnológica se-parou nações lançadoras de compradoras

desses tipos, podendo ser construídos nopaís comprador, segundo projetos ora maisora menos alterados a pedido do cliente.

Newton, autor da Lei da Similitude;Tesla, criador dos Simuladores Matemáti-cos; e Galileu, com as Duas Ciências, pro-duziram técnicas para situar em planos equi-valentes criadores e clientes. Criadoresconhecem os temas antes dos clientes, masestes podem criar modelos mais acessíveisque o material real e então obter familiari-dade orientadora. A mãe das técnicas é acópia pela simples razão da cautela doschefes ser antes política que técnica, retar-dando mais de uma boa ideia por medo defracasso. Casos históricos dos submarinos

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e porta-aviões, caso também do casco gota-d’água e do míssil Polaris.

Esse medo apoia vendedores de materialbélico, que aceitariam até ponderações nos-sas menos adequadas, mas, percebendo in-segurança dos chefes, mostram argumentosque defendem seus produtos, não contrari-am imediatamente os nossos, mas os dissol-vem sem choque. Iniciam isolando nossosrepresentantes mais bem fundados, tratandocom os demais tão pronto percebem falta demodelos necessários aos brasileiros. A rigor,os produtos deles deveriam sofrer confrontocom levantamento de dados, avaliação deprocedimentos e estimativa de operaçõesexistentes em nossas pastas a fim de convi-rem a usos nossos, mas isso não ocorre de-vido a subjetividade nossa, a persuasão de-les e porque não possuímos essas pastas.

Nem convém em discussões citar falhasnossas, embora todo mundo saiba serindefensável, por exemplo, deixar de passarpelos tanques da Universidade de São Paulo(USP) e da Coppe-UFRJ (instituto de pós-gra-duação da Universidade Federal do Rio deJaneiro) modelos das carenas importadas. Afi-nal, todas vêm com desenhos de forma, e mui-tas com relatório das corridas em tanque deprova. Não possuímos essa diligência, nãoavaliamos as importadas e não temos costu-me de projetar para treinamento e desenvolvi-mento do engenheiro daqui. Caso o leitor es-teja dirigindo o Setor de Material, deveria in-dagar ao diretor de Engenharia Naval por quenão passaram pelos tanques da Coppe e daUSP as carenas de navios importados. Nin-guém da Marinha do Brasil (MB), chefe ousubordinado, conhece as virtudes da carenado São Paulo, opostas às igualmente ignora-das mazelas da carena do Minas Gerais. Aprimeira não caturra nem balança, a segundafez um avião Étendart argentino capotar nopouso. Esse aspecto é tão negligenciado naMB que, durante a primeira docagem aqui, ne-nhum engenheiro naval esteve no interior do

dique, testemunhado pelo ComandanteEspanha, gerente do navio, e por mim, mari-nheiro ex-proprietário de estaleiro.

Levamos nossos chefes a constatarem sermelhor ouvir o vendedor que a própria asses-soria, eternizando assim essa fraqueza. Nemcontamos com situações exclusivas nossas,pois não geram conselhos para nós. Temosnecessidade de esclarecimento tático perene,mas nem podemos somar ao gerado hoje pormeios nossos o produzido por aliados, poisperderíamos independência em obter dados.Inexiste a data de fundação do ingresso nomanejo de esclarecimento, sequer sabemos ne-gociar, registrar e distribuir dados pelos usuá-rios. A MB não precisa possuir satélites, masprecisa saber o trajeto da intercessão Zênite-Nadir (ZN) de algum satélite com a superfícieterrestre, onde esteja indicado um ponto porcoordenadas e data-hora e qual a vista.

Descrevo quadro atual, evolução previs-ta e distribuição para consumo tático a partirdo quadro pretendido pelo Estado-Maior(EM) da Defesa. Hoje, o Sistema de ControleTático mostra aviões, navios, veículos ter-restres, nossos satélites e as vistas a grandealtura centradas nas ZN deles. Ignoro se asvistas serão convertidas para casamento comas cartas de milhão ou padrão a ser definidopelo EM ou se permanecem expostas parausuários que acompanhem deslocamento deintrusos até distarem 60 segundos de voopor mísseis antinavio. Sem exagero, estamosnos primeiros minutos de trocar a expressão“decisão da MB” por “escala de uso de Fula-no”, quem for o maior consumidor da vistaem questão. “Decisão da MB” foi modo se-guro de enaltecer uma decisão sem definir oautor como comandante da Marinha do Bra-sil, chefe do Estado Maior da Armada (Cema),comandante de Operações Navais (CON),comandante em chefe da Esquadra(Comemch), comandante de Divisão de Su-perfície ou comandante de Força, melhor semorientar divergência.

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Não nos interessa saber posição atual dosSNLE (submarinos nucleares lança-mísseis)enquanto soubermos que pelo menos doispaíses os possuem e, portanto, não tememosataque nem argumento oriundo deles. Pior, sepedirmos a um aliado um pedaço de vigilânciaglobal revelaremos interesse e ignorância. Éclaro que a posse exclusiva de um satélite mudanosso peso estratégico e enriquece a pautade esclarecimento oferecido e obtido por nós.O projeto do veículo lançador de satélites devepreterir o projeto de foguete intercontinental.Isso leva o dirigente do Setor de OperaçõesNavais a indagar de seu subchefe de Informa-ções o andamento da Missão AeroespacialBrasileira, onde andari-am os SNLE e se podeacrescentar dados deSubmarinos Nuclearesde Ataque (SNA) per-correndo litoral sem ha-ver declarado passa-gem inocente. Nada im-pede que o subchefetenha subordinadolotado na missão, mor-mente treinado para ha-bilitar a MB em manejaresclarecimento sem terem inventário o meioesclarecedor. Caminha-mos para desfrutar aces-so, assim eliminando o pedido e o atendimen-to. Antes de o Brasil possuir satélites suficien-tes para uso tático, devemos obter acesso adados de mais de um país operador de satéli-tes, desde já comprometendo as vistas queviermos a possuir.

Tratar matéria útil, o esclarecimento, desli-gado do esclarecedor é prática inédita paraorientar acesso mútuo entre países, produzi-do e mantido por algum meio de força singular.Em boa hora ciframos as imagens do CentroIntegrado de Defesa Aérea e de Controle doTráfego Aéreo (Cindacta), breve teremos con-

tatos sonar das plataformas de petróleo ma-nejadas pela Autoridade de Controle de Ope-rações Submarinas (Acos). O Setor de Opera-ções Navais compreende o Centro de Análisede Sistemas de Operações (Casop) e o Centrode Análise de Sistemas Navais (Casnav). Es-taremos melhor caso recebamos automati-camente esses dados.

Nenhum outro meio brasileiro supera a qua-lidade do conhecimento das águas litorâneasque os submarinos patrulhadores delas. Foiassim em todos os mares do mundo com Chi-na, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha eRússia, será assim entre nós e o mundo noPrata e na costa norte. A soma de dados naci-

onais com aliados exce-de a visão subjetiva doMinistério da Defesa efica às vezes aquém daobjetiva da força neces-sitada, porque o Minis-tério opera com dadosde projeto, enquanto aForça julga com a práti-ca, aproveitando deri-vas e batitermografialocais acessíveis, porémdesprezadas por paísesde fora.

Veículos são confi-gurados a juízo do ven-dedor, quase sempre in-

cluindo desvio da versão desejada aqui, masvendedores já não impõem arranjos próprios,embora não se afastem das soluções obtidaspor eles. Projetos de grande porte para merca-do são inconvenientes por não manterem iden-tidade com o espaço nacional. Estrangeirosnão imaginam equipamentos requeridos, po-dem atender requisições totalmente estranhasa seus projetos mediante acréscimo de custospara protótipo, linha de produção, ferramentale sobressalentes. Projetos distintos dos delestêm de custar mais. Não basta haver negócio,mas prováveis termos seguem extensão

Em boa hora ciframos asimagens do Centro

Integrado de Defesa Aéreae de Controle do Tráfego

Aéreo, breve teremoscontatos sonar das

plataformas de petróleomanejadas pela Autoridadede Controle de Operações

Submarinas

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divulgada do conhecimento com parceria sobmedida, a que inclui subcontratantes, lista dematerial, tolerâncias e atas, habilitando o cli-ente a participar do projeto. Nesta hora ficamostrada a agilidade do Setor de OperaçõesNavais e seu contato com o de Material paralevar os vendedores a deslocar suas posiçõesnacionais pelas nossas. Vejamos um caso dedefinir veículos.

O contrato dos Scorpène permite amplagama de pedidos nossos com atendimentofranco, mas deixamos parte da configuraçãoser proposta por eles, que deixam parte daconfiguração ser definida por nós. Ocorremomissões do tipo “deixa que eu deixo”. Assimserá instalado sonar de flanco com bom alcan-ce mercê do tamanho de sua antena, mas nãoserá instalado sonar dereboque com muito mai-or alcance porque, de-pendendo de carga debaterias, medianteesnorquel, não aprovei-tará esclarecimento ob-tido. Em decorrênciadessa decisão, zonas depatrulha por esse sub-marino terão de ser ne-cessariamente peque-nas e próximas. É decep-ção logística possuir um meio (Scorpène eIngenieur Kontor Lubeck – IKL) sem exigirdele a finalidade da aquisição: patrulhar!

BARCAÇA LITORAL

Essa contingência provoca compensa-ção material a ser adquirida ou número desubmarinos proibitivo ou, ainda, mudançade operação como a provisão de barcaçaspara esconder a aspiração do esnorquel,que recarregará bateria, assim restaurandoa capacidade dos Scorpène e IKL patru-lharem discretamente o litoral.

Caso desejemos adotar barcaças a seremfundeadas em litorais, serão nossos o projeto,

a execução e a configuração. O propósito decada barcaça (uma em cada litoral) é aumentara velocidade de trânsito dos submarinos des-providos de Air Independent Propulsion (AIP),mediante cobertura visual da descargaesnorquel e, em consequência, obter zonas depatrulha maiores e mais distantes. Zonas des-se tipo somente seriam viáveis com maior nú-mero de convencionais que o requerido, semdesfrutar as barcaças. Preço de barcaça deveser comparado com preço de base naval, ondea quantidade de bases cai perante fato de des-locar posição da barcaça mais fácil que da base.

O advento da barcaça litoral causa perple-xidade na MB por ser meio inédito, cuja con-cepção afeta operações, acarreta privilégio emlicitações e vantagens táticas. Deveria acarre-

tar, inclusive, ensino, en-saio e adestramento.

Concebidas origi-nalmente para fundeionos dois extremos dolitoral brasileiro, asbarcaças têm muita uti-lidade operando emmovimento, crescendoa sua importância aponto de acarretaremprojetos complementa-res para realizar com-

ponentes por criar. A pesquisa desses com-ponentes é apenas industrial, já estando emuso por empresas brasileiras a tecnologiaenvolvida. Algumas vezes a barcaça seráoperada navegando, com os ferros nosescovéns, pois seus tanques e paióis am-pliam autonomia de navios de superfície alémdos submarinos. Deixar de explorar a capa-cidade de operação aérea do convoo, doesclarecimento aéreo do blimp e da defesaantimíssil providos pela barcaça navegan-do significa que a MB tem outros meios de-dicados a essas tarefas, ou pior, pratica táti-cas e solução de problemas operativos si-milarmente importados.

O advento da barcaçalitoral causa perplexidade

na MB por ser meioinédito, cuja concepção

afeta operações, acarretaprivilégio em licitações e

vantagens táticas

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A concorrência para execução deve oporfornecedores nacionais e estrangeiros semdiferencial de preço, excetuados radomese catapultas desde que desenvolvidos pelaMectron e pela WEG, respectivamente. Es-sas duas empresas e outras brasileiras quetenham na data de hoje habilitação com-provada por produção corrente que dese-jem apoiar a MB como vanguardista nes-ses equipamentos terão diferencial de pre-ço sobre qualquer outro concorrente, poiselas têm identidade com o espaçotecnológico nacional. Concorrência balisapara as empresas o orçamento delas.

As máquinas de suspender, os motoreselétricos de propulsão, os sistemas de içarlanchas, de abrir portas-convés e de acessoa convoo, castelos e tombadilhos tambémterão diferencial de preço caso a MB sejacoprojetista. São sigilosos o transmissor deemissão radar monopulso, com agilidade defrequência e codificação sem repetição dosinal, e também a comutação de frequênciade todas as máquinas elétricas. A MB é par-ceira sob medida dos equipamentos por tersido vanguardista do uso deles no País,devendo apontar empresa diferente da pio-neira para também ser intitulada fornecedo-ra de cada equipamento de vanguarda. Taisequipamentos acarretam entrega deespecificações aptas para réplicas. A repo-sição do estoque de míssil Tomahawk apósKosovo escapou de valor proibitivo por-que duas das quatro vencedoras da originalapresentaram preço razoável de ferramental(que ainda possuíam) e de start up de linhade produção (que foi refeita). A Lei Taft-Harley determina contrato e encomenda deproduto aos três segundos colocados emgrandes concorrências.

Quando estiver operativa, a alaembarcada terá apenas caças por ser defen-siva, somente combaterá adversário presen-te, que dispensa interceptação, reabasteci-mento em voo e controle dianteiro de alvo,

vantagens sobre qualquer outra ala aérea.Sua criação acarreta acréscimo no inventá-rio de caças do País. Embora dedicada aoperações aéreas, a barcaça em movimentocontinua a apoiar submarinos e navios desuperfície, conservando aptidão para o pró-prio reabastecimento, troca de pessoal e fun-deio onde convir. Havendo fundeio, a bar-caça é litoral exclusivo. É uma embarcaçãodedicada a constituir litoral onde não existir,mas convir. Vale um litoral porque tem posi-ção permanente, provê cais para navios epouso para aeronaves. O nome barcaça in-dica embarcação que não está usando pro-pulsão. Caso opere com propulsão, bastaráter tripulação acrescida do pessoal de nave-gação, pois a propulsão diesel-elétrica per-manece operativa. Pretende prover discri-ção à descarga esnorquel de submarinos,para aumentar velocidade de avanço, dis-tância e extensão de Zona de Patrulha a oestede Oiapoque ou ao sul de Chuí. Sendo iné-dita sua operação, requer ensino adrede eaplicação assimilada.

Forma: Catamarã com dois cascos unidospor convoo, cada um com amarra e ferro ex-clusivos, previstos para fundear em lâminad’água de 500-1.200 m em ponto distante até400’ da costa situado um entre Paramaribo eRio Guamá (versão Norte) e outro em pontosituado entre Torres e Maldonado (versãoSul), também distante 400’ da costa.

Descrição: comprimento total 120 m, bocamáxima 32 m, pontal 24 m, calado 8 m. Cadacasco tem comprimento total 120 m, bocamáxima 6 m, pontal 24 m, calado 8 m. Oconvoo tem 100 x 32 m e ancoragem de umblimp, ao qual está suspensa uma antenarotativa de radar; cobre uma coberta de 2,5m de pé direito, abaixo da qual há paióis,corredores, descida para coberta de manejopara cabos, mangueiras, pranchas e cargassólidas. O compartimento abaixo destes écoferdam, paiol da amarra em toda a exten-são até a popa. Entre os cascos há vão cen-

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tral vazio com 20 m de boca. Cada casco temcompartimentos habitáveis para: segurançada barcaça; centro de controle de opera-ções aéreas, de superfície e submarinas; Salade máquinas; rancho; frigoríficas; mantimen-tos e alojamentos; tanques para combustí-veis e água; paióis para material comum emísseis orgânicos. Tem castelo comcabrestante e estativas lança-mísseis etombadilho com estativas lança-mísseis.

Operação da barcaça

Tanto os castelos como os tombadilhossão fechados para acesso humano quandonão há mudança em amarra ou estativa por-que não justifica fazer vigilância local. Torpe-dos antitorpedo são instalados (mesmo fa-bricante dos torpedos antitorpedo dosScorpène) nos costados externos dos cas-cos. Nos costados externos são lançados avante (AV) e a ré (AR) quatro cabos detransdutores de sonar imerso, cujos sinaisatingem o mostrador do analisador de BRS(Boias Rádio Sônicas). Não há permanênciade pessoal em partes externas, exceto nasextremidades durante fundeio ou ataque, eno convoo durante operação aérea, após oque o pessoal gurne cobertas abaixo, sendofechadas as aberturas. Todas as aberturasda barcaça para o exterior são operadas ape-nas por dentro. Não há cais em qualquer doscostados dos cascos, mas pranchas são arri-adas dos costados para o convés da embar-cação atracada, cuja amarração é fixada pormeio de escotilhas dedicadas. Cada pranchaaberta expõe um trilho elevado com gato trans-portador. O manejo de aberturas cabe ao pes-soal da barcaça; o de carga ou mangueiras,ao pessoal do navio. A barcaça possui duaslanchas, estivadas nos cascos AV junto aoteto do recesso provido de guincho, que içaa lancha na doca entre os cascos até ficarsob a 1a coberta. Após estivar a lancha, orecesso é fechado. A barcaça é operada nas

seguintes fainas: fundeio, subida do blimp,plantio de BRS, operação aérea, operação desubmarino, operação de navio, defesaantimíssil, defesa antitorpedo, defesaantiabordagem e serviço de segurança.

As amarras têm quartéis de 30 m, unidospor manilha especial onde se prende umaextremidade de flutuador de 5 m³, cuja outraextremidade é manilhada na amarra. Apóspassar do cabrestante para dentro, a amarraé puxada até o fundo do paiol. Há um telé-grafo de máquinas no castelo. O penúltimoquartel recebe antena emissora de muito altafrequência sonar, replicando boia de nave-gação a fim de avisar submarinos. O blimp éaberto no convoo, engatado em dois cabosde ancoragem passados em molinetes e doiscabos múltiplos de sinal e alimentação. Sãodispostos 20 m abaixo do balão: antena doradar AEW (Air Early Warning), antena dasBRS, antena do radar local, olho de TV, com-pressor de manutenção e cabos de alimen-tação. As BRS são preparadas em comparti-mento vizinho ao alojamento da lancha e, aseguir, embarcadas na lancha. Para pouso edecolagem, os diesel geradores dos dois cas-cos (grupo igual a cada grupo do Scorpàne)serão ligados em paralelo ao quadro princi-pal de luz e força, estando alimentados osseguintes outros circuitos: catapulta/apa-relho de parada (maior utilizador), margensda pista, energia do blimp, carris hidráuli-cos, centro de controle, frigoríficas e habi-tação, mais a carga perene.

A operação de submarino começa comdetecção no centro e resposta à perguntade identificação e intenção, prosseguindocom beacon até atracação do submarino.Aberturas destinadas à amarração são aber-tas, guarnecidas com atracador sob lâmpa-da retraída ou com óculos noturnos. Apósamarrar o submarino, é aberta a prancha pe-dida por ele e ligado o extrator de descargado esnórquel. Terminada a carga de bateriado submarino, a descarga do esnórquel é

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INVENÇÃO DE UM NAVIO DE GUERRA

liberada, ele é desamarrado e imerge. A ope-ração de navio começa com detecção radare resposta de identificação e intenção. Aber-turas para amarração são abertas,guarnecidas com atracador provido ou nãode visão ampliada. Após amarrar o navio, aprancha pedida por ele é arriada sobre o seuconvés. Terminado o transbordo pedido, aprancha é recolhida, o navio é desamarradoe se afasta.

Defesas são acionadas por detecção es-pecífica segundo o alvo. Caso forantitorpédica, estará a cargo do operadorde sonar e do operador do centro, que clas-sifica o agressor, designa os despistadorese vetora os interceptores, cuja ação é prés-selecionada. Caso antimíssil, a ameaça seráenfrentada pelo opera-dor de radar e pelooperador do centro,cuja ação é optar pelaextremidade defenso-ra, se castelo outombadilho, com atu-ação prés-selecio-nada. Caso antiabor-dagem, são anuncia-dos os atacantes, guarnecidas as seteirasde castelo, bordos, tombadilho, vão cen-tral e convoo por atiradores de portáteis,concluindo com expulsão e afastamentodos atacantes. Ao afastamento dos atacan-tes, segue ataque a seus veículos e pedidode apoio distante.

A segurança é feita pelo pessoal de ser-viço. Os quartos de serviço têm duraçãode duas horas porque consistem em ob-servar mostradores de espaço aéreo e desuperfície até 80 milhas e submarino até oalcance do quadro de boias, além dos olhos

de TV externos e internos e dos indicado-res das praças de máquinas. Há cinco quar-tos com chefe mais seis observadores. Atripulação tem comandante, imediato, ou-tros oficiais e 35 subalternos, que perma-necem quatro semanas no mar e quatro emterra. Tripulantes do Sul servem em Itajaí;do Norte, em Belém.

A barcaça participa do domínio do marmediante descomunal presença e anúncio depresença submarina. As luzes de fundeio sãodispostas na amarração do blimp, abaixo doqual está o radome do AEW, a antena local eo olho de TV. Não há no mercado radomependurado em balão. É simples, mas neces-sário desenvolvê-lo e instalar sob ele os ou-tros equipamentos para radar local, antena

receptora das BRS eolho de TV. Tampoucoalguma catapulta elétri-ca está à venda. É pro-blema de solução fácilobter projeto em turmasde mecatrônica. Cata-pulta de 13 MW (a doNavio-Aeródromo SãoPaulo tem 46 MW) bas-

ta para decolar/parar o EMB-120, que tempeso de 14.700 kg na decolagem e stall de 82nós. A potência exigida pela catapulta provêpropulsão superior aos 12 MW suficientepara a barcaça.

Defesa antimíssil pede mastro com dire-tora on-off desguarnecida, laser riderhunting/infravermelho final, mas um dosradares basta para dispensar diretora. Estemastro é back up para o radar do blimp.

Acaba de ser inventado mais um tipo denavio de guerra, desta vez adequado à si-tuação tática e geográfica brasileira.

Acaba de ser inventadomais um tipo de navio de

guerra, desta vez adequadoà situação tática e

geográfica brasileira

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<CIÊNCIA E TECNOLOGIA>; Invenção; Submarino; Poder Marítimo;

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SUMÁRIO

IntroduçãoRevisão históricaEtiologia – um enigma decifradoAspectos clínicosRegistros periciais na Marinha do BrasilConclusão

BERIBÉRI: REVISÃO HISTÓRICA E DOCUMENTAL NAMARINHA DO BRASIL

REGIS AUGUSTO MAIA FRUTUOSO*Capitão de Mar e Guerra (RM1-Md)

* N.R.: Médico formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, chefe do Departamento deAuditoria Médico-Pericial do Centro de Perícias Médicas da Marinha, membro-titular da AcademiaBrasileira de Medicina Militar e membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina.

INTRODUÇÃO

O autor verificou casos de beribéri emnúmero significativo ao revisar os re-

gistros das atas de inspeções de saúde,hoje arquivadas no Departamento de Au-ditoria Médico-Pericial do Centro de Perí-cias Médicas da Marinha, referentes aosanos de 1900 e 1901.

Sendo esta doença, hoje, estatisticamenteinexpressiva, esse fato motivou maior in-vestigação da evolução histórica da patolo-gia, que já representou uma verdadeira ame-aça para as tripulações dos meios navais.

Este artigo faz uma revisão histórica edocumental do biênio, com a finalidade deestudar os procedimentos médico-perici-ais utilizados no início do século XX, no

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curso das avaliações dos militares. Visa,ainda, identificar quais patologias e comque frequência acometiam aqueles deste-midos homens do mar.

Foi constatado na pesquisa que exis-tem documentos médico-periciais produzi-dos pela Diretoria de Saúde da Marinhadesde o ano de 1900 até a presente data,arquivados no atual Departamento de Au-ditoria Médico-Pericial do Centro de Perí-cias Médicas da Marinha.

Foram estudados os registros médico-periciais de 1.017 inspeções de saúde reali-zadas no período de 1900/1901, nas depen-dências do atual Hospital Central da Mari-nha, situado na Ilha das Cobras. As finali-dades dessas inspe-ções eram basicamen-te duas: verificar o es-tado de aptidão para oingresso no ServiçoAtivo da Marinha eVerificação de Defici-ências Funcionais(VDF), ou seja, umaavaliação físico-clíni-ca do militar que, porinfortúnio, adoecia ousofria algum acidente.

Nos anos estuda-dos (1900-1901), foiconstatado que, nasinspeções com a fina-lidade de verificação de deficiências funci-onais, a Junta de Saúde considerou comoincapacidade definitiva para o Serviço Ati-vo da Marinha em 65,4% dos casos. A li-cença para tratamento de saúde foi conce-dida a 34,6% dos inspecionados.

As doenças de maior frequência, queincapacitavam definitivamente, foram, emprimeiro lugar, a tuberculose pulmonar, se-guida pela sífilis, lesões cardíacas deetiologias diversas e as poliartralgias crô-nicas. Em relação às que causavam incapa-

cidade temporária, chamou atenção aprevalência do beribéri.

A pesquisa surpreendeu não só pela iden-tificação de uma patologia que vitimou oshomens do mar nos primeiros anos do sécu-lo XX, bem como pela descoberta de docu-mentos e fatos pouco conhecidos até então.

O beribéri é hoje, estatisticamente, umapágina virada da história, não ocorrendomais no pessoal embarcadiço, desde quefoi desvendada a sua etiologia, possibili-tando a pronta prevenção e tratamento. Nomeio naval, graças aos recursos técnicos(armazenagem e refrigeração), foi totalmen-te erradicado.

REVISÃOHISTÓRICA

As condições deêxito e a própria sobre-vivência nas navega-ções pelos mares nopassado, desde o sé-culo XVI, eram reple-tas de riscos e dificul-dades causados pelaprecariedade dos ins-trumentos astronômi-cos, como tambémpela ocorrência de do-enças de origem entãodesconhecida.

Desde o século XVI, as naus partiam parapermanecer meses no mar. Os alimentos pre-cisavam durar muito tempo sem se deterio-rar e consistiam principalmente de carnessalgadas de boi, porco ou peixe; vegetaissecos, como ervilhas; cebola; vinagre; azei-te; e as “bolachas de marinheiro”, que eramcozidas duas vezes para serem mais durá-veis, sendo conhecidas também como “bis-coito de marear”, constituindo-se numa bo-lacha dura e salgada, cuja fabricação se con-funde com a própria história da navegação.

As doenças de maiorfrequência, queincapacitavam

definitivamente, foramtuberculose pulmonar, sífilis,lesões cardíacas de etiologias

diversas e poliartralgiascrônicas. Em relação às que

causavam incapacidadetemporária foi o beribéri

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Existem relatos de que eram assadas em for-nos reais, como o do Vale do Zebro, em Lis-boa, onde, entre 1505 e 1507, foramfabricadas mais de mil toneladas. (11)

Os historiadores relatam que as principaiscausas de morte das tri-pulações eram os aci-dentes provocados pe-las tempestades, segui-das pelas doenças. Ta-manha era a perda devidas humanas que40% da tripulação nãochegavam ao destino,e, a partir dos séculosXVI e XVII, foramconstruídos hospitaisnas principais rotas denavegação.

O beribéri foi umgrande enigma, aco-metendo as Marinhasde vários países, causando baixas nas guar-nições e permanecendo durante muito tem-po sem a sua etiologia definida, atemori-zando os tripulantes das naus.

O termo beribéri, adotado na terminologiamédica, provém do cingalês (sinhalese), lín-gua originária da Índia e atualmente um dosidiomas em uso no Sri Lanka (antigo Ceilão). Osignificado da palavra beri é fraqueza, e beri-

beri, extrema fraqueza,assim escrito, pois nocingalês o superlativo éformado pela repetiçãoda palavra. (9)

Em 1642, JacobBontius (1592-1631) –em livro publicado emlatim 11 anos após suamorte, na Batávia, porseu irmão, WilliamBontius –, após obser-vação de casos no su-deste asiático, fez o pri-meiro relato científico dadoença no Ocidente, DeMedicina Indorum, lib.

lii., cap i de paralyseos quadam specie quamIndigenae beri-beri vocan. Dez anos mais tar-de, em 1652, outro médico holandês, NicolaasTulp (1593-1674), após ter observado um jo-

O beribéri foi um grandeenigma, acometendo as

Marinhas de vários países,causando baixas nas

guarnições epermanecendo durantemuito tempo sem a sua

etiologia definida,atemorizando os

tripulantes das naus

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vem oriundo das Índias Orientais que sofriade uma doença que os nativos chamavam deberibéri, fez uma descrição da patologia de for-ma detalhada, porém não a associou com defi-ciência alimentar. (8)

No Brasil, entre outros, tiveram desta-que os trabalhos Contribuição ao estudodo beribéri por Dr.Pacheco Mendes, em1889, e o de Jaime Silvado, intitulado Oberibéri na Marinha Militar do Brazil, da-tado de 1907. (7, 10)

ETIOLOGIA – UM ENIGMADECIFRADO

As causas aventadas à época eram diver-sas: os estudos mais antigos responsabiliza-vam os fenômenos físi-cos e os atribuíam aosmiasmas terrestres, àslatitudes, às estações doano, à umidade e, pos-teriormente, às intoxica-ções químicas causadaspelo arsênico, dióxido decarbono, ácido oxálico,evoluindo mais tardepara uma suspeita deetiologia infecciosa.

O beribéri apresenta-va-se, na maioria das vezes, de forma epidêmi-ca e em comunidades fechadas, acreditando-se estar diante de uma doença contagiosa.

A Armada holandesa vinha sendoflagelada pelo beribéri nas suas colônias,principalmente na Indonésia, que era suapossessão no século XIX. Por essa razão,indicou uma comissão para realizar um es-tágio no laboratório Koch, em Berlim, a fimdominar as técnicas bacteriológicas antesde dirigir-se para o local da epidemia.

Observaram mais tarde que o micrococcusisolado não preenchia os postulados deKoch. Dessa forma, a tese de causa infeccio-

sa ficava cada dia mais difícil de ser compro-vada como etiologia do beribéri. (9).

No XXII Congresso de Medicina Tropi-cal e Higiene, realizado em Londres, em 1913,ficou estabelecido que “a vista da prova danão infecciosidade do beribéri, a seção su-gere que em todos os portos as autoridadessanitárias devem abolir as quarentenas e ou-tras medidas restrictivas contra esta molés-tia”*. No Brasil, a partir dessa data, o Depar-tamento Nacional de Saúde Pública tambémexcluiu o beribéri da lista das moléstias denotificação compulsória. (5)

Finalmente, no século XX, ficou esclare-cido que a enfermidade era consequênciade uma deficiência nutricional.

Em 1889, o pesquisa-dor Christiaan Eijkman(1858-1930), oficial-mé-dico holandês, isolou dacutícula do arroz umasubstância que denomi-nou de princípioantineurítico.

Eijkman, após estu-dar os dados obtidosem 101 presídiostotalizando 300 mil pre-sos, observou que a

prevalência de beribéri era 300 vezes maiornas prisões que usavam o arroz polido emrelação àquelas que não usavam. Concluiu,assim, pela existência de uma toxina no ar-roz descorticado, a qual seria neutralizadapelo princípio antineurítico por ele isolado:este foi o seu único equívoco. (9, 15)

Gerrit Grijns, pesquisador holandês que su-cedeu a Eijkman na direção do laboratório, for-mulou a teoria de que o beribéri não era causa-do por uma toxina, mas pela carência de umasubstância existente na cutícula do arroz. (12)

A natureza química dessa substância foiidentificada em 1911 por Casimir Funk (1884-

* N.R.: Preservada a grafia da época.

Casimir Funk (1884-1967),bioquímico polonês, cunhou

a palavra vitamina,formada do latim vita, vida+ amina, por ser um fatoracessório da alimentação,

essencial à vida

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1967), bioquímico polonês, que cunhou apalavra vitamina, formada do latim vita, vida+ amina, por ser um fator acessório da ali-mentação, essencial à vida. (9) Quanto à“amina”, foi uma generalização precipitadado químico e, tempos depois, descobriu-seque, ao contrário do que esse termo dá a en-tender, nem sempre essas substâncias deri-vam da amônia. Na sequência em que essescompostos orgânicos foram descobertos,seguiu-se a nomeação em ordem alfabética.

A vitamina, contida na cutícula do arroz,foi isolada por Jansen e Donath em 1926,que lhe deram o nome de aneurina, e final-mente sintetizada em 1936, simultânea e in-dependentemente por Williams e Cline, nosEstados Unidos, e Andersag e Westphal,na Alemanha, recebendo o nome de tiamina,por conter enxofre emsua molécula (thio emgrego, enxofre). (9)

Por seus méritos,Christiaan Eijkman,formado em Medicinapela Universidade deAmsterdã, realizou oprimeiro trabalho cien-tífico sobre o concei-to de vitaminas e divi-diu, em 1929, o PrêmioNobel de Fisiologia e Medicina comFrederick Gowland Hopkins (1861-1947) porseus estudos sobre as propriedades des-sas substâncias.

No século XIX ocorreram, em nosso país,várias epidemias de beribéri, entre elas a quefoi identificada na Corveta Nictheroy, em 1882,quando em viagem para a Bahia, e, no séculoXX, as ocorridas no Contratorpedeiro RioGrande do Sul, em Dakar, em 1918; a doEncouraçado Minas Gerais, em Nova York,em 1920; e a do Encouraçado São Paulo, tam-bém em 1920, quando demandava à Europaconduzindo Alberto I e Elisabete, reis da Bél-gica, que vieram visitar o Brasil. (5)

O beribéri, como foi relatado, já existia delonga data, porém foi apenas na metade finaldo século XIX que assumiu proporções epi-dêmicas, por causa dos seguintes fatores:

• as viagens longas exigiam um grandeestoque de gêneros, e observou-se, com otempo, que o arroz polido, ou seja, sem apelícula que o envolve, tornava-se maisresistente, podendo, assim, ser armazena-do por longos períodos;

• na época, o comércio internacional esta-va em franca expansão e, assim, o arroz tor-nou-se um produto escasso, devido ao fatode muitos países não o produzirem, e quem ocultivava o fazia para consumo local, neces-sitando que importassem da China; e

• na China, o arroz tinha que ficar arma-zenado longos períodos até que chegasse

aos consumidores,portanto era necessá-rio um grão mais resis-tente – o arroz polido.As primitivas máqui-nas chinesas deprocessamento foramsendo substituídasgradualmente por ver-sões que produzissemum arroz branco, poli-do e com excelente

aparência, sendo este preferido ao não poli-do na alimentação da população. (10)

Os tripulantes dos navios que se lança-vam aos mares tinham o armazenamento ea conservação dos alimentos como um dosmaiores desafios a enfrentar.

ASPECTOS CLÍNICOS

O beribéri, estado de carência nutricional,é desencadeado pela depleção e não reposi-ção das reservas de vitamina B1, ou tiamina.A tiamina é importante para várias reaçõesquímicas do organismo, principalmente nacondução dos impulsos nervosos. (15)

O beribéri, estado decarência nutricional, é

desencadeado peladepleção e não reposiçãodas reservas de vitamina

B1, ou tiamina

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As vitaminas hidrossolúveis, como nocaso da vitamina B1, são armazenadas empequenas quantidades no organismo, re-querendo uma ingesta regular. O iníciodos sintomas de carência são precocesquando comparados com as vitaminaslipossolúveis (A, D, E e K). (14)

A doença se caracteriza sintomatica-mente por fraqueza importante, anorexia,dificuldade de movimentação com rigideznas extremidades dos membros, alteraçõesde sensibilidade, confusão mental, dificul-dade em respirar, edema subcutâneo e dosmúsculos dos membros inferiores, poden-do evoluir para as cavidades serosas. (13)

O início é súbito ou gradual, progredin-do lenta ou rapidamente, apresentandosurpreendente melhora e recaída no cursoda doença. (15)

REGISTROS PERICIAIS NAMARINHA DO BRASIL

O estudo realizado permitiu evidenciarque, na Marinha do Brasil, o beribéri atin-giu muitos tripulantes de navios de guerra.

Os militares acometidos eraminspecionados pela Junta de Saúde queavaliava sua aptidão para o serviço ativo.

Surtos de beribéri ocorriam durante asviagens, com o início dos sintomas após o

12o dia de mar, aproximadamente, e as quei-xas eram inicialmente de parestesias demembros inferiores evoluindo para outrosgrupos musculares, provocando fraquezaintensa, impeditiva para qualquer ativida-de laborativa e que, sem uma alimentaçãoadequada, evoluía com edema, disfunçãocardíaca e transtornos mentais. (5, 7)

Nos registros dos surtos ocorridos abordo dos navios da Marinha do Brasil, aapresentação clínica era distinta, de acordocom as funções desempenhadas. Os mari-nheiros com atividade muscular intensa ealta ingesta de carboidratos desenvolviama forma edematosa, ou seja, iniciavam o qua-dro clínico com dispneia, taquicardia, edemade membros inferiores e falência cardíaca.Aqueles com menor atividade física apre-sentavam mais comumente neuropatia peri-férica ou confusão mental. (7)

Foi observado que as perícias médicaseram transcritas em livros de ata, seguindouma ordem cronológica, com lançamentodo posto ou graduação, nome do inspeci-onado, enfermidade de que era portador eo laudo conclusivo da inspeção de saúde.

Nos casos de verificação de deficiênci-as funcionais, a Junta de Saúde, semprecomposta por três médicos, após inspeci-onar o enfermo, considerava duas condi-ções: exarava o laudo de invalidez, poden-

Observar 6a e 11a linhas – dois militares sofrem de beribéri, necessitando de três meses e um mêsrespectivamente para tratamento. Livro de atas de inspeções de saúde. Marinha do Brasil – 1900.

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Observar 7a linha – “Foguista contratado Joaquim Ferreira da Costa soffre de beriberi devendobaixar à Copacabaña”. Documento inédito. Livro de atas de inspeções de saúde –

Marinha do Brasil – 1900.

Observar de 5a a 9a linhas – “Foguista de 2ª classe extranumerário Theotonio Baptista Caldeirasoffre de beriberi, moléstia que o inhabilita para o trabalho durante trez meses pelo menos. Comoé Foguista e o seu contrato termina a 16 de setembro do corrente anno, é a Junta de parecer que

seja concedida a sua baixa”. Livro de atas de inspeções de saúde – Marinha do Brasil – 1900.

do ou não angariar os meios de vida, ouconcedia um período determinado para li-cença de tratamento de saúde.

Na análise documental das causas deincapacidade temporária para o ServiçoAtivo da Marinha ocorridas no início doséculo XX, constatou-se que o beribéri foia principal causa de afastamento, respon-dendo por 28,5% dos casos, seguido pe-los distúrbios digestivos (23%), distúrbi-

os respiratórios (20%), doenças então de-nominadas como venéreas (12,5%) e ou-tras (16%). Observou-se também que aco-metia principalmente praças, preferencial-mente os foguistas, e poucos oficiais tam-bém foram atingidos.

O tempo de licença para tratamento desaúde concedido pela Junta Médica varia-va de um a três meses, sendo que muitospacientes eram encaminhados para a então

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denominada Enfermaria de Copacabana, cri-ada exatamente para esta finalidade, pois erapensamento da época tratar-se de doençainfectocontagiosa. No final do século XIX,Copacabana era local deserto, de difícil aces-so, com clima esplêndido e salubre, consti-tuindo num excelente sanatório.

Verificou-se ainda, em relação à atividadeprofissional, que a taxa de prevalência foi altanos foguistas, cuja função era cuidar das for-nalhas nas máquinas de propulsão a vapor.Os foguistas desempenhavam intensa ativi-dade física, além de seu ambiente de trabalhoser inóspito, convivendo com elevadas tem-peraturas, ausência de ventilação econfinamento. Para suportar tais condiçõesadversas, ingeriam dieta rica em carboidratos,compensando a perda energética.

Os navios brasileiros no início do sécu-lo XX, a maioria de propulsão a vapor, ti-nham paióis quentes, mal ventilados, úmi-dos e não possuíam sistema de refrigera-ção adequado para conservação de gêne-ros alimentícios frescos, que suportassemmuitos dias de mar.

Para se ter uma ideia das travessias à épo-ca, o Cruzador Almirante Barroso, comanda-do pelo Capitão de Mar e Guerra Custódio deMelo, navegou 72 dias para ir de Valparaíso,no Chile, a Sidney, na Austrália, por ocasiãoda viagem de circunavegação.

Foram inúmeros os surtos da doença abordo dos navios de guerra brasileiros noinício do século XX. Serão descritos dois dosmais significativos de nossa Marinha. (5)

No Contratorpedeiro Rio Grande do Sul,surgiram os primeiros casos de beribéri emnovembro de 1918, atingindo 35% da guar-nição, acometendo 85 militares. Este surtofoi atribuído, à época, ao enfraquecimentodos marinheiros, pois tinham contraídoanteriormente gripe e malária. Um fato curi-oso registrado na ocasião foi que a gripe ea malária atingiam mais os oficiais, enquan-to o beribéri acometia principalmente as

praças, poupando os oficiais, reforçando ahipótese de que a alimentação tinha papelpreponderante. Observou-se, ainda mais,que os taifeiros peculiarmente também nãocontraíam a doença, pois estes ingeriam amesma comida dos oficiais.

Contratorpedeiro Rio Grande do Sul1918 – Dakar

Repatriados

Falecidos

Curados

Total

7

4

74

85

Todos recuperados

2 a bordo e 2 no hospital

Falecidos

Curados

Total

2

95

97

Encouraçado Minas GeraisHospital Naval de Brooklin – 1920 –

Nova York

Ao chegar em Nova York, a bordo doEncouraçado Minas Gerais, foram diag-nosticados os primeiros casos de beribériem 5 de setembro de 1920. Os casos foramaumentando nos dias subsequentes, aco-metendo 97 militares da tripulação, com doisóbitos. Os militares doentes foram encami-nhados ao Hospital Naval de Brooklin,onde foram submetidos a tratamento comreforço alimentar, com evolução para curaem todos os casos.

Em 1923, segundo Erasmo Lima, oficial-médico da Marinha do Brasil, foram implan-tadas as seguintes medidas para profilaxia deberibéri na Marinha do Brasil, obtendo redu-ção drástica na incidência da doença: (5)

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“1 – Nas grandes travessias, onde o usode conservas é inevitável, usar as mais re-centes, e o governo solicitará aos fabri-cantes que mencionem visivelmente, nasembalagens, a data do enlatamento.

2 – Uma vez o navio atracado no porto,dar preferência a carne fresca ou peixe, le-gumes frescos e frutas. Evitar conservas.

3 – Abandonar a praxe do armazenamentoconstante de rações, porque os paióis debordo, em geral quentes, úmidos e mal ven-tilados, não conservam por longo tempo osalimentos em bom estado. Os cereais sãoatacados por parasitas, que os alteram, tor-nando-os inadequados ao consumo.

4 – Nos deslocamentos da Esquadra, osnavios maiores levariam nas suas frigoríficasalimentos frescos, carnes, peixes, legumes efrutas para prover a distribuição durante umprazo igual ou 2/3 ao da maior travessia.

5 – Os navios de menor porte quase nun-ca fazem grandes travessias, porém, quandoo fazem, são apoiadospor um de maior porte,e nestes casos podefazer a transferência dealimentos frescos aoencargo deste.

6 – Deve ser evita-da a prática de recebi-mento de gêneros paraa viagem completa,pois estes vão perden-do o valor nutritivo pelalonga armazenagem.Dar preferência ao rea-bastecimento nos portos de escala.

7 – Está provado que alguns alimentostêm poder preventivo e curativo contra oberibéri, principalmente os vegetais fres-cos e uma variedade de feijão conhecidacomo katjang-idgo (Phaseolus radiatus).

8 – Ter em mente que o cozimento de legu-mes tem ação destrutiva nos nutrientes, pre-ferindo o uso de saladas e de frutos crus. Se

a cocção dos legumes for necessária, apro-veitar a água, pois é rica em nutrientes.

9 – Relembrar sempre as regras básicasde higiene, pois a sua inobservância abreas portas para diversas enfermidades.”

Quando os navios chegavam aos por-tos, eram implementadas medidas dietéticas,como, por exemplo, fornecimento de carnefresca, verduras e frutas, obtendo-se resul-tados muito satisfatórios.

Eram inúmeros os casos da doença aco-metendo nossos marinheiros, sendo estesbaixados em hospital-barraca na Ilha do Go-vernador. A Marinha, diante do número cres-

cente de casos e sendoa doença consideradacontagiosa, necessitoucriar um hospital para osberibéricos – a Enferma-ria de Copacabana –,sendo seu primeiro dire-tor o Capitão de Mar eGuerra (médico)Euclides Ferreira da Ro-cha. Era situado no ca-minho que ligava a RuaReal Grandeza à RuaBarrozo, atual Siqueira

Campos, trajeto onde foi construído um tú-nel para passagem de bondes, facilitandoassim o acesso a Copacabana. (2, 3)

Na Enfermaria de Copacabana, segun-do o cirurgião naval Domingos dos San-tos, foram tratados, de 1890 a 1896, aproxi-madamente 1.266 beribéricos da Marinha.

No início do século XX, foi verificadoque a Enfermaria de Copacabana para os

Na Enfermaria deCopacabana, segundo o

cirurgião naval Domingosdos Santos, foram tratados,

de 1890 a 1896,aproximadamente 1.266beribéricos da Marinha

Enfermaria deCopacabana – 1890

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beribéricos não mais correspondia à suafinalidade, pois, ao supor que se tratava dedoença contagiosa, acreditava-se que osdoentes necessitavam de mudança de am-biente e clima.

Em 22 de março de 1910, sendo presidenteda República o Dr. Nilo Peçanha, e ministroda Marinha o Vice-Almirante AlexandrinoFaria de Alencar, a União adquiriu do Condede Nova Friburgo uma propriedade que foiincorporada à Marinha para nela estabelecerum sanatório para acomodar os doentes deberibéri. (1)

A melhora dos doentes foi logo sentidapela mudança de clima, é certo, mas sobretu-do por uma melhor ali-mentação, rica em vita-minas. A cidade, porém,ficou sobressaltada, te-mendo a possívelindisciplina dos mari-nheiros e o perigo imi-nente de contaminação,pois, na opinião da po-pulação, um hospital deberibéricos seria um po-tencial centro de disse-minação da doença.

No decorrer dos anos, após descoberta acausa do beribéri, que tem sua origem na de-ficiência de vitamina B1, a doença deixou deser um flagelo e desapareceu da Marinha. OSanatório Naval, destituído da sua finalidadeinicial, foi transformado em hospital especi-alizado para convalescentes e tratamento detuberculosos.

A ingesta adequada de tiamina foi confir-mada como sendo capaz de prevenir o beribéri.A cocção do arroz antes da remoção da casca,procedimento conhecido como parbolização,faz com que a vitamina se dissemine por todoo grão, preservando e conservando todasas suas propriedades protetoras.

CONCLUSÃO

O autor procedeu a uma pesquisa históri-ca e documental nos arquivos existentes noDepartamento de Auditoria Médico-Pericialdo Centro de Perícias Médicas da Marinha,consultando o livro de ata que contém as

inspeções de saúdedos servidores civis emilitares da Marinha doBrasil, no período de1900 a 1901 e constatou:

– O beribéri foi umaimportante causa deafastamento temporá-rio de militares do Ser-viço Ativo da Marinha,fato este testemunha-do pelos registros mé-dico-periciais obtidos.

– Nas tripulações vitimadas pelos sur-tos de beribéri, as praças eram a maioria,e havia nítida predominância do pessoalque trabalhava nas máquinas de propul-são a vapor. Os foguistas e maquinistastinham maior predisposição a desenvol-ver a doença, por exercerem atividade fí-sica extenuante e ingerirem grande quan-

Enfermaria de beribéricos no Sanatório NavalSanatório Naval de Nova Friburgo

O Centro de PeríciasMédicas da Marinha é um

real depositário da memóriaviva da história da Marinhado Brasil e guarda em seus

arquivos registros deinestimável valor

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BERIBÉRI: REVISÃO HISTÓRICA E DOCUMENTAL NA MARINHA DO BRASIL

tidade de carboidratos, deficientes emvitamina B1.

– A história do conhecimento da causae a obtenção da cura do beribéri foi dramá-tica e está devidamente documentada naliteratura médica. Não resta dúvida de queuma alimentação deficiente pode matar tan-to quanto os perigos do mar.

– O beribéri, nos dias atuais, é pratica-mente inexistente nas Marinhas de todo omundo, devido à existência de modernasinstalações de refrigeração nos navios esofisticadas técnicas industriais de con-servação alimentar.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<SAÚDE>; Doença; Pesquisa; Orientação ao homem;

– O Centro de Perícias Médicas da Mari-nha é um real depositário da memória viva dahistória da Marinha do Brasil e guarda em seusarquivos registros de inestimável valor. Estesnão possuem apenas relevância histórica, massão úteis para fundamentar decisões técnicas,que, respaldadas no fiel conhecimento dasorigens mais remotas dos problemas de saúdedo militar, resultarão em estratégias acertadas,garantindo a integridade psicofísica de seupatrimônio humano. O resultado será a máxi-ma eficiência da Força, assegurando que aMarinha continue a cumprir com êxito sua mis-são constitucional suprema.

REFERÊNCIAS

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SUMÁRIO

Pirataria – problema nosso?O dinheiro resultante dos resgates na SomáliaOs custos da piratariaSeguranças privados armados a bordoA Marinha portuguesa lidera novamente o combate à piratariaAlguns dos resgates mais mediáticos

– O casal britânico Paul e Rachel Chandler– O M/T Maran Centaurus– O M/T Samho Dream

A PIRATARIA MARÍTIMA MANTÉM-SE “IMPARÁVEL”*

HENRIQUE PEYROTEO PORTELA GUEDES**Capitão de Fragata da Marinha de Portugal

PIRATARIA – PROBLEMA NOSSO?

De um modo geral, todos nós temos umatendência natural para pensar que tudo

o que se passa de mau, em qualquer local dis-tante daquele onde vivemos, raramente nosafeta; contudo, esse pensamento está errado,

pois vivemos numa era global. Nos dias quecorrem, direta ou indiretamente, acabamos sem-pre por sofrer, em maior ou menor escala, asconsequências desses acontecimentos. O queacontece é que raramente conseguimosquantificar o seu impacto, daí não darmos nor-malmente a devida importância aos mesmos.

* Conforme o título original do autor.** N.R.: Colaborador costumeiro da Revista Marítima Brasileira, em especial sobre Pirataria Marítima

(2o e 4o trim./2008; 3o trim./2010).

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A PIRATARIA MARÍTIMA MANTÉM-SE “IMPARÁVEL”

A pirataria marítima se encaixa perfeita-mente no que acima foi dito, pois ocorre nor-malmente no Corno de África, na Nigéria, noSudeste Asiático, locais muito distantes, querda Europa quer do continente americano;logo, tende naturalmente a ser desvalorizadapelo mundo ocidental. No entanto, e se aten-tarmos a que cerca de 90% do comércio mun-dial circula por mar, temos então que a maio-ria dos bens que consumimos são transpor-tados por navios. Ora, se estes, em algumasdas suas rotas, são atacados e por vezes se-questrados, então, de uma forma indireta,estamos a ser afetados ou pelo aumento docusto desses bens ou pela maior demora emos adquirir, ou mesmo pela sua não aquisi-ção, devido ao armador ou fretador ter opta-do por não fazer o frete para não correr riscosde ter o seu navio sequestrado. A piratariamarítima deve ser, pois, encarada como umarealidade, da qual não nos devemos alhearpor completo, apesar dos números da mesmaainda não representarem um verdadeiro peri-go para a indústria marítima, considerando-se o quantitativo de navios, cerca de 50 mil,que asseguram o comércio mundial e que cru-zam diariamente os oceanos.

O ano de 2010, com 445 atos de pirataria,segundo o International Maritime Bureau(IMB)1, foi o segundo pior das duas últimasdécadas no que a este tipo de ilícitos diz res-peito, sendo apenas ultrapassado pelos 469que ocorreram no ano de 2000. Dos 445 atosregistados, 249 (55,9%) foram ataques con-sumados, donde resultaram 53 navios se-questrados e 196 só abordados; os restantes196 foram apenas alvo de tentativa de ata-que. Em termos da localização, 139 (31,2%)tiveram lugar na Bacia da Somália, 78 (17,5%)no Golfo de Adem e Mar Vermelho, 40 (8,9%)na Indonésia, 31 (6,9%) nos mares do sul da

China, 23 (5,1%) em Bangladesh e 19 (4,2%)na Nigéria; ou seja, em apenas seis locais emnível mundial ocorreram cerca de 330 (74,1%)do total destes atos. É de salientar o fato detodos estes lugares estarem associados apaíses africanos e asiáticos.

Os ataques de pirataria não se dão ape-nas com os navios a navegar, pois, dos 249ataques consumados, 115 (46,1%) tiveramlugar com os navios fundeados e 15 (6%)com eles atracados, o que perfaz 130(52,2%) ataques consumados nestas duasúltimas condições, tendo os restantes 119ocorrido em navios a navegar.

Tendo em consideração os 266 atos depirataria do 1o trimestre de 2011, valor muitosuperior aos 196 e 240 atos registados, res-pectivamente, em 2010 e 2009, para o mesmoperíodo de tempo, não se auguram bons re-

1 O International Maritime Bureau (IMB) foi estabelecido pela International Chamber of Commerce, queé uma organização internacional fundada em 1919 e que trabalha para promover e suportar ocomércio internacional e a globalização.

Ataques ou tentativa destes no 1o trimestre de 2011

sultados no combate à pirataria este ano,podendo mesmo, e diante dos valores doprimeiro trimestre, vir a registar-se o maiornúmero de ilícitos da última década e até,quem sabe, das duas últimas. Este aumentodeve-se em muito ao fato de os piratassomalis terem alargado a sua área de atua-

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ção, havendo já ataques ao largo de Oman,do Quênia, da Tanzânia, das Seicheles, deMadagascar e até de Moçambique, entreoutras áreas do Oceano Índico.

O DINHEIRO RESULTANTE DOSRESGATES NA SOMÁLIA

Apesar de ser extremamente difícil de sa-ber, com rigor, o valor total resultante do pa-gamento dos resgates, estima-se, contudo,que nos últimos dois anos os piratas somalispossam ter arrecadado mais de 400 milhõesde dólares americanos, ou seja, cerca de 629,2milhões de reais. A atual situação que se vivenaquele país permite que o dinheiro transitefacilmente no seu inte-rior e para fora dele, semdeixar qualquer rastro,o que tem vindo a alici-ar diversos investido-res, que, uma vez deposse do dinheiro pro-veniente dos resgates,o investem em locaisseguros. No que res-peita aos piratas, estes,depois de amealharem algum, preferem partirpara oeste, pois, passada a fronteira com oQuênia, podem desfrutar de uma vida doura-da, fruto do dinheiro que obtiveram ilegal-mente com a pirataria. Este país passou, as-sim, a ser muito procurado pelos piratas, emmuito devido à forma extremamente fácil delavagem do seu dinheiro. Nairobi, a capitaladministrativa e comercial do Quênia, é umbom espelho dessa situação, pois tem sidopalco de um grande desenvolvimento comer-cial e bancário ao longo dos últimos anos. Achegada a este país de muitos somalis comdinheiro tem permitido o desenvolvimentode uma nova classe média, que aposta muitona compra de terras e propriedades, o quetem incrementado de forma alucinante estetipo de negócio, quer em Nairobi quer em

Mombaça, distorcendo por completo o realpreço das propriedades, a ponto de as pró-prias famílias quenianas terem agora dificul-dade em obter o dinheiro suficiente para com-prar uma casa decente, pois estas triplicaramo seu custo em apenas cinco anos. A regiãode Eastleight, por exemplo, situada nos su-búrbios de Nairobi, e conhecida por ser umlocal onde o comércio está fortemente im-plantado, tem tido uma numerosa entrada deimigrantes ilegais, assim como de dólares,ambos provenientes da Somália. Esta tem-sedesenvolvido de uma forma exuberante nosúltimos anos, apresentando uma elevada taxade construção de hotéis de luxo, de shoppingcenters e de apartamentos, cujos donos

não têm “rosto”, poisas construções sãogeridas por intermediá-rios e advogados.Eastleight, também cha-mada muitas vezes deLittle Mogadishu, temvisto, assim, a sua in-dústria crescer rapida-mente, fruto dos mi-lhões de dólares que

têm entrado da Somália. Mombaça tambémtem sido muito procurada por somalis, quefizeram pequenas fortunas com a pirataria eque têm vindo a adquirir nesta cidade luxuo-sas casas de campo e de praia, vivendo, as-sim, de uma forma luxuriante e começandomuitos deles a constituir família.

A transação do dinheiro, proveniente dapirataria, de um local para outro utiliza mui-tas vezes o sistema de hawallahs, ou seja,um sistema informal de transferência de di-nheiro por meio de uma rede de corretoresque residem nos locais de origem e destinodo dinheiro e cuja atuação se baseia apenasna honra e na confiança, o que permite, des-ta forma, transferir dinheiro de um local paraoutro não deixando qualquer rastro, pois nãohá documentos escritos. Esta rede estende-

Estima-se que nos últimosdois anos os piratassomalis possam ter

arrecadado mais de 100milhões de dólares

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se desde a Somália ao Quênia, assim comoaos países do Golfo Pérsico.

O Quênia está, assim, sendo utilizadocomo local de investimento e de passagemde muito do dinheiroproveniente dos resga-tes obtidos na Somália.Os cabecilhas das redesde pirataria estão espa-lhados pelo mundo. Al-guns residem naSomália, outros noQuênia, em Nairobi eMombaça, outros naregião do Golfo, espe-cialmente no Dubai, eaté mesmo na Europa,em Londres. A maioriadestes encontra-se emlocais seguros, en-quanto a arraia-miúda éque concretiza os ata-ques de pirataria. A dis-tribuição do montante dos resgates normal-mente é feita da seguinte forma: cerca de 30%do valor total vão para quem faz o sequestro;cerca de 10% vão para o pessoal de apoio emterra, que controla e trata das bases; cerca de50% ficam com quempatrocina e financia osatos de pirataria; e os10% que sobram ficampara os anciãos locais.

OS CUSTOS DAPIRATARIA

Segundo a Rand2, em 2009 a pirataria cus-tou entre 1 e 19 bilhões de dólares. Se tiver-mos em conta os cálculos efetuados pela One

World Future,3 a pirataria poderá ter custadoentre 7 e 12 bilhões de dólares no ano de 2010.Hoje em dia, utilizam-se as mais diversas fór-mulas para calcular os custos anuais da pira-

taria; no entanto, essescálculos não passam demeros trabalhos acadê-micos, pois as variáveisutilizadas nos mesmos,assim como os pressu-postos assumidos, es-tão muito longe de tra-duzir com rigor a reali-dade. Nesses, normal-mente, consideram-sesempre os custos asso-ciados aos seguros dosnavios; ao replanea-mento das rotas por for-ma a evitarem, por exem-plo, a passagem peloGolfo de Adem; ao pa-gamento dos resgates;

às negociações para a libertação dos naviossequestrados; ao acompanhamento médicodos reféns após a sua libertação; às váriasdezenas de navios de guerra que têm perma-necido na região do Corno de África e à utili-

zação de equipes de se-gurança a bordo dos na-vios, entre outros. Detodos estes custos, osseguros dos navios sãoos que, de uma forma ge-ral, mais nos afetam a to-

dos, pois o aumento significativo do valor dosprêmios, associado à necessidade de novascoberturas para todos os navios que operamnas zonas mais propensas à pirataria marítima,veio contribuir para o incremento do custo do

2 Rand é uma corporação sem fins lucrativos que efetua pesquisa e análise nas áreas de segurança, com oobjetivo de auxiliar quem tem que tomar decisões.

3 A One World Future é uma fundação não governamental, sem fins lucrativos, que foi fundada em 2007para auxiliar, com seus estudos, quem tem que tomar decisões.

A distribuição do montantedos resgates normalmenteé feita da seguinte forma:cerca de 30% para quemfaz o sequestro; 10% para

o pessoal de apoio emterra, 50% ficam com

quem patrocina e financiaos atos de pirataria; e os10% que sobram ficampara os anciãos locais

Segundo a Rand, em 2009a pirataria custou entre 1 e

19 bilhões de dólares

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transporte marítimo e, consequentemente, damercadoria transportada.

Presentemente, a pirataria marítima é nor-malmente coberta pelo seguro de guerra, quecobre não só perdas devido a situações deguerra, como também a outros tipos de situ-ações de violência, como insurreição e pira-taria. É feito por viagem, competindo ao se-gurado notificar à seguradora caso planejepassar por uma zona de risco, ficando a se-guradora com a opção de aumentar o prê-mio, ou mesmo de suspender o seguro seassim o entender. As áreas de risco de guer-ra são normalmente de-finidas pelo Lloyd’sMarket AssociationJoint War Committee,em Londres, e atualiza-das trimestralmente,servindo de referênciapara todas as segura-doras em nível mundi-al. Em maio de 2008,esse comitê adicionouo Golfo de Áden às zo-nas de risco de guerra.

A pirataria, ao longodos tempos, tem vindo a ser cobertaalternadamente, ora pelo seguro de casco, quecobre danos físicos no navio e normalmenteengloba casco e máquinas, ora pelo seguro deguerra. Em 2005, e para fazer face ao risco as-sociado à pirataria, o Joint War Committee in-troduziu exclusões opcionais no seguro decasco e novas cláusulas no seguro de guerra.Há vantagens significativas para as segura-doras, em detrimento do segurado, em ter apirataria coberta por um seguro de guerra, poislhes permite, assim, para além de uma melhorgestão do risco, ajustar as coberturas ao peri-go associado. Por outro lado, este tipo de se-guro pode ser cancelado em qualquer momen-to pela seguradora, o que lhe confere perma-

nente capacidade decisória no caso de um au-mento significativo do número de atos de pi-rataria numa dada região. A opção, por partedo segurado, deste tipo de seguro também lhetrás algumas vantagens, pois, assim, não temdúvidas sobre quais são as suas coberturas,uma vez que estas, no seguro de guerra, sãoespecíficas. Por outro lado, a sua opção poreste seguro, em detrimento do seguro de cas-co, para cobrir a pirataria tem a vantagem de oprimeiro cobrir terrorismo e pirataria, enquan-to o segundo só cobre pirataria, o que, aten-dendo à linha tênue que separa ambos, pode

vir a trazer problemas noque respeita à indeniza-ção, caso não fique bemesclarecido, no caso deum ataque, qual o tipode ato em presença.

SEGURANÇASPRIVADOSARMADOS ABORDO

Com o crescenteaumento do número deatos de pirataria em al-

gumas regiões do globo, em particular naregião do Corno de África, muitos armado-res optaram por colocar seguranças priva-dos armados a bordo, tentando, assim, evi-tar o sequestro dos seus navios e oconsequente pagamento dos avultadosresgates. Apesar desta iniciativa dos ar-madores, são muitas as organizações quese têm oposto à utilização de segurançaprivada armada a bordo dos navios mer-cantes, nomeadamente a InternationalMaritime Organization (IMO)4 e o IMB, poisreceiam que esta situação venha a provo-car uma escalada de violência, já que nor-malmente violência gera violência, o queaumenta a probabilidade de os piratas, no

4 Organização Marítima Internacional.

É imperativo que os naviosmercantes não andemarmados, pois só dessa

forma, e de acordo com oDireito Internacional,

podem circular livrementeno mar territorial de

qualquer país

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futuro, ao serem confrontados com resis-tência armada por parte dos navios mer-cantes, tornarem-se mais violentos nosseus ataques, utilizando para tal, e com maisfrequência, o armamento que têm ao seudispor. Por outro lado, é imperativo que osnavios mercantes não andem armados, poissó dessa forma, e de acordo com o DireitoInternacional, podem circular livremente nomar territorial de qualquer país.

A ocorrência que a seguir se relata des-creve bem o que pode acontecer quando setem segurança armada a bordo. Este inci-dente foi considerado como sendo o primei-ro do gênero, em que a segurança privadade um navio mercante matou um pirata, eocorreu em 23 de março de 2010, quando onavio panamenho M/V Almezaan, que seencontrava a 60 milhas náuticas a sul deHarardere, na Somália, e que navegava emdireção a Mogadíscio, também na Somália,foi atacado por duas vezes, por sete piratasembarcados em dois barcos. Os agentes desegurança privada, que se encontravam ar-mados a bordo, optaram por disparar tirosde aviso quando do primeiro ataque dosbarcos; no entanto, quando estes atacaramnovamente, estes atiraram para acertar, ten-do na sequência da troca de tiros morridoum pirata. Ao ter conhecimento do ataque, eporque se encontrava relativamente próxi-mo do local, a fragata espanhola SPSNavarra, da Eunavfor, enviou o seu heli-cóptero para junto do navio panamenho,tendo este perseguido os piratas e dispara-do vários tiros de aviso para os obrigar arender, o que veio a acontecer. Os seis pira-tas foram então detidos pela fragata, queaproveitou a oportunidade para destruir o“navio-mãe” que acompanhava os dois bar-cos. Todos os piratas foram libertados nodia seguinte, pois o comandante do M/VAlmezaan, de nacionalidade paquistanesa,assim como a restante tripulação, não semostrou disponível para testemunhar sobre

o sucedido. Esta, foi a terceira vez que estenavio foi atacado desde 2009, tendo sidosequestrado nas duas primeiras vezes, o queobrigou em ambas ao pagamento de um res-gate para a sua libertação.

A França é um dos países que, comoresultado da atual conjuntura, passou a per-mitir, em julho de 2009, a presença de fuzi-leiros a bordo dos seus navios mercantes.Essa decisão já se mostrou proveitosa, pois,em 9 de outubro de 2010, dois navios depesca franceses, o F/V Drennac e o F/VGlenan, que se encontravam a 195 milhasnáuticas a norte das Ilhas Seicheles, comfuzileiros embarcados, foram atacados portrês barcos, tendo o ataque dos piratas sidorepelido por estes militares. Este incidentefoi considerado como sendo o primeiro emque os militares franceses embarcados ti-veram realmente que atuar. No dia 12 deoutubro de 2010, ocorreram novos inciden-tes com dois navios atuneiros franceses, oF/V Via Avenir e o F/V Via Mestral, tendosido necessário, mais uma vez, que os fuzi-leiros embarcados disparassem tiros deaviso sobre os dois barcos com piratas,que tentaram a aproximação, conseguin-do, assim, repelir com sucesso o ataque.

F/V Via Avenir (Foto: Tunaseiners.com)

A MARINHA PORTUGUESA LIDERANOVAMENTE O COMBATE ÀPIRATARIA

Depois de ter estado por duas vezes naregião do Corno de África, entre março de2009 e janeiro de 2010, com duas das suas

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mais importantes unidades navais – primei-ro com a Fragata Corte-Real, na OperaçãoAllied Protector, e posteriormente com a Ál-vares Cabral, na Operação Ocean Shield, aMarinha portuguesa está agora novamentepresente nesta área do globo, até meadosde agosto de 2011, para auxiliar na luta con-tra a pirataria. Enquanto nas anteriores pre-senças os meios navais portugueses esti-veram a serviço da Organização do Tratadodo Atlântico Norte (Otan), integrados naStanding Nato Maritime Group 1, que foicomandada, durante o ano de 2009, pelo con-

ALGUNS DOS RESGATES MAISMEDIÁTICOS

O casal britânico Paul e Rachel Chandler

Este casal, ele com 60 anos e ela com 56à data da sua libertação, foi sequestradopor piratas somalis em 23 de outubro de2009, tendo sido mantido enclausuradodurante cerca de 13 meses, mais exatamen-te 388 dias, e foi libertado em 14 de novem-bro de 2010. Paul e Rachel Chandler foramcapturados quando o seu iate a vela LynnRival se dirigia das Seicheles para aTanzânia. Este, após a transferência do ca-sal para outro navio sequestrado, o M/VKota Wajar, foi posteriormente abandona-do pelos piratas, tendo sido recolhido maistarde pela guarnição do navio britânicoRFA Wave Knight.

O valor do montante pago pelo seu res-gate pode ter variado entre 450.000 (700 milreais) e 1 milhão de dólares (1,55 milhõesde reais) e não foi proveniente do governobritânico, que se recusou sempre a pagarqualquer resgate pela sua libertação.

O M/T Maran Centaurus

Este superpetroleiro de bandeira grega,propriedade da Maran Tankers ManagementInc., com cerca de 332 m de comprimento e58 m de boca, entrou em operação em 1995com o nome Mindoro; posteriormente pas-sou a chamar-se Astro Centaurus e por últi-mo Maran Centaurus. Com uma tripulaçãode 28 elementos, foi sequestrado em 29 denovembro de 2009, pelas 12:12 UTC, por pi-ratas somalis, na posição 03o 09.39´N e 061o

30.3´E, a cerca de 970 milhas náuticas a este-nordeste de Mogadíscio, na Somália. O na-vio foi então levado para cerca de 30 milhasnáuticas a sul da cidade de Hobyo, naSomália, onde ficou fundeado até ser resga-tado. Foi libertado em 18 de janeiro de 2010,

tra-almirante português Pereira da Cunha,desta vez a Marinha portuguesa está pre-sente na Operação Atalanta, que está sen-do levada a cabo pela European Union Na-val Force (Eunavfor), com a Fragata Vascoda Gama, que desempenha as funções denavio chefe desta força, sendo ainda de re-alçar que o comando da Eunavfor está tam-bém entregue à Marinha portuguesa.

A Operação Atalanta acontece, desde odia 9 de dezembro de 2008, nas águas doGolfo de Áden e da Bacia da Somália e é aprimeira do gênero conduzida pela UniãoEuropeia, no âmbito da Política Europeiade Segurança e de Defesa.

Equipe de abordagem portuguesa(Foto: Marinha portuguesa)

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A PIRATARIA MARÍTIMA MANTÉM-SE “IMPARÁVEL”

estimando-se que tenha sido pago um res-gate entre U$ 5,5 e U$ 7 milhões (aproxima-damente entre 8,5 e 10,9 milhões de reais).

Na altura do sequestro, o navio operavapara uma firma sul-coreana, a SamhoShipping Co. O seu proprietário eracingapuriano e transportava uma carga quepertencia à US Refiner Valero Energy Corp.Seguia do Iraque para a Louisiana, nosEUA, e navegava com cerca de 2 milhões debarris de crude (petróleo), avaliados em US170 milhões (cerca de 264 milhões de reais).

O navio foi libertado em 6 de novembro de2010, depois de ter estado 217 dias sequestra-do, após o pagamento de um resgate que, se-gundo algumas fontes, foi de 9,5 milhões dedólares (cerca de 14,8 milhões de reais).

M/T Samho Dream

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<PODER MARÍTIMO>; Pirataria; Segurança no mar; Seguro;

M/T Maran Centaurus(Foto: João Quaresma)

BIBLIOGRAFIA

Piracy and Armed Robbery Against Ships: Annual Report 2010. United Kingdom: ICC InternationalMaritime Bureau [2011].

Piracy and Armed Robbery Against Ships: Report for the period of 1 January – 31 March 2011.United Kingdom: ICC International Maritime Bureau [2011].

International Maritime Bureau. Disponível em http://www.icc-ccs.org. Acedido em 01JUL11.

O M/T Samho Dream

Este navio, com cerca de 333 m de com-primento e 60 m de boca, foi construído em2002. O superpetroleiro, de bandeira dasIlhas Marshall, foi sequestrado em 4 de abrilde 2010, na posição 08o 21´N e 065o 00´E, acerca de 900 milhas náuticas a leste da ci-dade de Eyl, na Somália, com 24 elementosa bordo (cinco sul-coreanos e 19 filipinos).

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SUMÁRIO

IntroduçãoInteroperabilidadeO Processo de Planejamento de ComandoConclusão

O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE COMANDOCOMO FERRAMENTA DE INTEROPERABILIDADENAS OPERAÇÕES CONJUNTAS

GETÚLIO DE ALVARENGA CIDADE*

Capitão de Fragata

INTRODUÇÃO

Planejar e realizar operações conjuntassempre foi um desafio para os coman-

dantes militares desde tempos imemoriais.Os problemas inerentes à coordenação con-junta de diferentes forças militares existemdesde que os Exércitos tornaram-se distin-tos das Marinhas. Assim como ocorreucom os comandos militares da Grécia Anti-ga, ocorre com os comandos militares con-

juntos hodiernos de todas as Forças Ar-madas, quer seja nas regiões montanho-sas do Afeganistão, quer seja em uma Ope-ração de Paz sob a égide da Organizaçãodas Nações Unidas (ONU).

Ao longo da História, as Forças Arma-das que lograram êxito em coordenar suasações em terra, no ar e no mar venceramsuas batalhas, enquanto as que não con-seguiram isso malograram no cumprimentode suas missões. Um bom exemplo foi o

* Instrutor de Planejamento Militar da Escola de Guerra Naval até julho de 2011. Atualmente, é coman-dante da Corveta Jaceguai.

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O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE COMANDO COMO FERRAMENTA DE INTEROPERABILIDADE NASOPERAÇÕES CONJUNTAS

fiasco na Campanha de Galípoli, no Estrei-to de Dardanelos, durante a Primeira Guer-ra Mundial, quando o esforço naval con-duzido pela Grã-Bretanha e a França, semnenhuma coordenação com o emprego dastropas aliadas em terra, acarretou aos alia-dos uma derrota para o Império Otomano.

Uma operação conjunta requer interope-rabilidade, que é a capacidade de diferen-tes forças armadas operarem juntas e coor-denadas, com um único propósito. A pala-vra-chave para se alcançar um bom graude interoperabilidade é colaboração. Quan-to maior a colaboraçãoentre as forças envol-vidas, maior a intero-perabilidade e maior aprobabilidade de su-cesso em uma opera-ção conjunta. O plane-jamento, bem comotodo o processo deci-sório, é inerente àinteroperabilidade.Assim, o Processo dePlanejamento de Co-mando (PPC), métodoelaborado pelo Minis-tério da Defesa (MD),é imprescindível para que se obtenhainteroperabilidade, embora outras variáveisentrem nessa complexa equação.

INTEROPERABILIDADE

De forma bem simples, podemos definirinteroperabilidade como a capacidade dediferentes organizações trabalharem juntas.Ela pode ocorrer no âmbito das Forças Ar-madas ou entre estas e outros órgãos dogoverno brasileiro, ou mesmo de outrospaíses. Torna-se necessário que ocorra emtodos os níveis, permitindo comunicações

eficientes, compartilhamento de informa-ções e colaboração, sempre com vistas aum fim comum.

É preciso, antes de tudo, que haja tam-bém uma interoperabilidade semântica en-tre as organizações. Falar a mesma línguavisando a uma mútua compreensão écrucial para operar conjuntamente.

Embora essencial, a tecnologia não édeterminante para que haja interoperabili-dade. É mister que as forças se adaptem deforma adequada, tenham atitudes favorá-veis, utilizem os mesmos padrões, traba-

lhem e planejem comum processo comum atodos os participan-tes. E é neste pontoque surge o PPC.

O PROCESSO DEPLANEJAMENTODE COMANDO

O PPC começou aser elaborado por oca-sião da criação do MD,em 1999. Quase todoo processo é derivadodo Manual de Plane-

jamento Operativo da Marinha1, ou PPM,como é mais conhecido em nossa força. Osdiversos métodos de planejamento usadospelas Forças Armadas do Ocidente guar-dam correlação com as metodologias con-sagradas pelas forças dos Estados Unidosda América na Segunda Guerra Mundial.Esta metodologia foi desenvolvida pormatemáticos e pesquisadores da Teoria deJogos nos centros de pesquisa operacionalnorte-americanos.

Como fruto de diversos planejamentose operações conjuntas ao longo dos últi-mos anos, o PPC tem sido aprimorado e

1 EMA 331, Vol. I, II e III.

Interoperabilidade é acapacidade de diferentes

forças armadas operaremjuntas e coordenadas, com

um único propósito. Apalavra-chave para se

alcançar um bom grau deinteroperabilidade é

colaboração

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O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE COMANDO COMO FERRAMENTA DE INTEROPERABILIDADE NASOPERAÇÕES CONJUNTAS

refinado a partir de ensinamentos adquiri-dos e do compartilhamento de experiênci-as de inúmeros oficiais das três Forças quetêm passado pelo MD ou participado deseus planejamentos.

Um dos maiores óbices encontrados aolongo de sua implementação foi a falta deuma mesma linguagem entre as Forças, algoque vem sendo amenizado à medida que seintensificam as operações conjuntas. Outrodesafio tem sido o de nivelar os conheci-mentos profissionais dos militares de dife-rentes formações e experiências a fim de for-mar uma massa críticade militares que possacompor não somente oEstado-Maior Conjun-to do MD, mas atenderàs necessidades futu-ras de preparo e em-prego das Forças Ar-madas, quebrandocom as barreiras dassubculturas inerentes a cada Força eformatando uma outra subcultura, peculiarao ambiente operacional conjunto.

Tal subcultura, ainda em processo deformação, permitirá maior sinergia entrenossas Forças Armadas e otimizará seuemprego no amplo espectro das operaçõesmilitares do século XXI, que vai desde ouso convencional da força, passando pelocombate às ameaças transnacionais, comoterrorismo e tráfico de drogas, até as ope-rações de manutenção da paz, uma deman-da crescente no sistema internacional.

Assim como o PPM, o PPC é umametodologia para se resolver problemas mi-litares tanto para o nível operacional quan-to para o tático, podendo conter diversosgraus de complexidade. A necessidade dese sincronizar no tempo e no espaço as di-

versas operações e ações militares das For-ças Armadas envolvidas em uma operaçãoconjunta acentua mais ainda tal complexi-dade, inerente a qualquer processo de pla-nejamento militar das Forças singulares.

No nível operacional, o Estado-MaiorConjunto (EMC) deve fazer uso dametodologia do PPC desde o início do pla-nejamento até o término da campanha, bus-cando a maior flexibilidade possível, o quefacilitará sobremaneira as alterações eimplementação dos planos que inevitavel-mente virão durante o desenrolar das ope-

rações. Ressalta-seque a metodologia doPPC, tal como no PPM,é apenas uma ferra-menta de planejamen-to cujo objetivo écumprir uma missão deforma eficiente, alcan-çando, assim, o Esta-do Final Desejado2.

Não fornece ideias novas a quem não astem, servindo apenas para organizar e ori-entar as ideias daqueles que as possuem.Portanto, um espírito criativo e inovadorunido a tal metodologia será de grande valiapara o planejador.

Embora desenvolvido para a solução deum problema militar clássico, envolvendoforças militares antagônicas, por seu nívelde amplitude, o PPC pode facilmente seradaptado para planejamentos de outrosproblemas que não sejam os de empregomilitar em um conflito armado convencio-nal, tais como ações de caráter humanitá-rio em apoio a órgãos da Defesa Civil, Ga-rantia da Lei e da Ordem (GLO) e Missõesde Paz, entre outros.

No caso de emprego em uma operaçãoconjunta, no nível operacional, o Coman-

2 Entende-se por Estado Final Desejado o conjunto de condições requeridas que definem o alcance dosobjetivos do Comando.

Não fornece ideias novas aquem não as tem, servindoapenas para organizar e

orientar as ideias daquelesque as possuem

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O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE COMANDO COMO FERRAMENTA DE INTEROPERABILIDADE NASOPERAÇÕES CONJUNTAS

do Conjunto detém o comando operacionaldas forças e meios que lhe forem adjudica-dos. Ele os empregará da forma que melhorlhe convier, atribuindo-lhes tarefas, esta-belecendo diretrizes para o planejamentodo EMC, no nível operacional, e das forçassubordinadas no nível tático, coordenan-do a execução das diversas operações notempo e no espaço, sempre com vistas a sealcançar o Estado Final Desejado.

Além da interoperabilidade, responsá-vel pela respiração e saúde de um EMC, oPPC considera outros fundamentos comovitais para um planejamento conjunto. Sãoeles: universalidade, unidade, objetivida-de, economia de meios, segurança, disci-plina, flexibilidade, versatilidade, simplici-dade e coordenação.

O PPC é composto de três etapas, a sa-ber, o Exame de Situação, Elaboração dePlanos e Ordens e Controle da OperaçãoPlanejada.

A primeira etapa, o Exame de Situação, étalvez a mais trabalhosa por contemplar umestudo minucioso do problema militar, quan-do são elaborados levantamentos e cálcu-los como as Características da Área deOperações e a Comparação de PoderesCombatentes, por exemplo, que nortearãotodo o planejamento subsequente. Constade seis fases: Fase 1 – Análise da Missão eConsiderações Preliminares; Fase 2 – A Si-tuação e sua Compreensão; Fase 3 – Pos-sibilidades do Inimigo, Linhas de Ação eConfronto; Fase 4 – Comparação das Li-nhas de Ação; Fase 5 – Decisão; e Fase 6 –

Conceito Preliminar da Operação. Esta últi-ma fase foi incluída recentemente na últimarevisão do PPC, que, em breve, deverá seraprovada pelo MD.

Na segunda etapa, Elaboração dos Pla-nos e Ordens, é desenvolvido o Conceitoda Operação, bem como a forma como secontrolará o curso das ações e operaçõesplanejadas.

E, na terceira e última etapa, o Controleda Operação Planejada, que ganha maiorênfase durante o desenrolar das ações eoperações, o EMC realiza o Exame Corren-te da Situação, verificando o andamento eo resultado das operações com o que foiplanejado, introduzindo as alterações per-tinentes nos planos e tomando as açõesdecorrentes necessárias.

CONCLUSÃO

O PPC é uma ferramenta que orienta, auxi-lia, catalisa e robustece o processo decisóriode um EMC. Seu uso é adequado para umamplo espectro de emprego conjunto dasForças Armadas, e sua força motriz está con-tida na interoperabilidade entre elas.

À medida que o MD amadurece e com orecrudescimento das operações conjuntasno âmbito militar, o PPC cresce de impor-tância gradativamente. O conhecimento, odomínio e a utilização de tal ferramentaserão imperativos para os planejadores dasForças Armadas brasileiras na resoluçãodos complexos problemas militares queserão enfrentados ao longo do século XXI.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<ARTES MILITARES>; Planejamento militar; Doutrina; Estudo de Estado-Maior; Teoria;

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O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE COMANDO COMO FERRAMENTA DE INTEROPERABILIDADE NASOPERAÇÕES CONJUNTAS

REFERÊNCIAS

ANTILL, P. The Gallipoli Campaign 1915-1916. Disponível em: www.historyofwar.org/articles/battles_gallipoli.html. Acesso em: 20 jun. 2011.

BRASIL. Marinha do Brasil. Estado-Maior da Armada. Manual de Planejamento Operativo daMarinha. Brasília, DF, 2006.

BRASIL. Ministério da Defesa. Manual de Processo de Planejamento de Comando para as Opera-ções Combinadas. Brasília, DF, 2001.

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Joint Chiefs of Staff. Joint Publication 5-0, Joint OperationPlanning. Washington D.C. 2006.

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL*

– PARTE 4

GERSON DE MACEDO SOARES**Capitão de Fragata

(in memoriam)

* N.R.: Esta matéria foi encaminhada à RMB pelo Contra-Almirante (Refo) Edgar Hargreaves de Carva-lho e está sendo publicada em seis partes. As edições dos 3o e 4o trimestres de 2010 e 1o trimestre de2011 publicaram as três primeiras partes. A matéria está integralmente disponível no Portal Segun-da Guerra Mundial – Brasil na guerra em www.2guerra.com.br

** N.R.: O autor foi chefe do Estado-Maior do Comando da Força Naval do Nordeste durante a SegundaGuerra Mundial.

O comboio que vinha da Bahia tinhapor escoltas o Cruzador Rio Grande

do Sul e a Corveta Carioca. Ao Capitão deMar e Guerra Soares Dutra, foi transmitidapor mensagem visual a ordem emanada doAlmirante Ingram. O comandante da Divi-são de Cruzadores não atendeu, entretan-to, a essa determinação e entrou no porto,seguido mais tarde pelo Caravelas. Porisso nenhum outro navio saíra mais dali.Julgara ele estarem sendo transmitidas taisordens indevidamente pelo almirante ame-ricano, visto que nenhuma comunicaçãooficial do Estado-Maior da Armada havia

recebido sobre a subordinação de sua for-ça àquele almirante. Ao ir avistar-se comeste, mal atracara seu navio encontrou umaatmosfera carregada, mas que logo se des-fez ao explicar-se sobre o conhecimento,só então, das decisões do Estado-Maiorda Armada em cumprimento aos acordoshavidos em Washington, no seio da Co-missão Militar Mista.

O memorando da Divisão de Cruzado-res, datado de 25 de setembro, em cumpri-mento a uma determinação do Estado-Mai-or da Armada em ofício de 12 de setembro,dava conhecimento aos navios da incorpo-

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 4

ração da Divisão à Força Naval norte-ameri-cana em operações no Atlântico Sul. A dis-tância entre a data deste ofício (12) e a da-quele memorando (25) mostra bem a impor-tância que têm as comunicações, máxime emtempo de guerra, atribuindo-se somente tãogrande falta à desinteligência inicial quehouve entre os dois chefes – o brasileiro e oamericano –, na qual estiveram em jogo, poralgum tempo, o prestígio disciplinar e o bomnome dos oficiais brasileiros.

A 24 de setembro, o comandante da Forçado Atlântico Sul, já promovido ao posto device-almirante, baixava uma Ordem de Ope-rações Combinadas, a de no 1 de 1942, datadado Recife, Pernambuco, citando, ainda, o Cru-zador Memphis como navio capitânia. Essaordem era para as Forças Navais brasileirasdo Nordeste, as quais constituíam, assim, aForça-Tarefa no 1, sob o comando do Capitãode Mar e Guerra Dutra. A Organização porTarefas estabelecia:

– Grupo-Tarefa Afir – Capitão de Mar eGuerra (CMG) Dutra – Rio Grande do Sul;

– Grupo-Tarefa Bala – Capitão deCorveta (CC) Macedo Soares – Caravelas,Carioca, Cabedelo, Cananeia eCamaquã; e

– Grupo-Tarefa Cruz – Capitão de Fra-gata (CF) Cox – CS-1 e CS-2.

“1. Esta Força foi posta sob a direçãooperacional do comandante da Força doAtlântico Sul da Esquadra do Atlântico dosEstados Unidos. Submarinos estão operan-do ao largo da costa nordeste do Brasil con-tra a navegação aliada e neutra. Devem seresperados raids de superfície. É provávelque as proximidades dos portos sejam mi-nadas. O desembarque de agentes e o bom-bardeio de estabelecimentos em terra po-dem ser tentados por submarinos inimigos.

2. Esta Força, em cooperação com a For-ça do Atlântico Sul da Esquadra Americanado Atlântico, protegerá a navegação mer-

cante do Rio de Janeiro até Trinidad. Locali-zará e destruirá forças inimigas que cheguemàs áreas marítimas contíguas à costa dentroda área de operações designada.

3. O Grupo-Tarefa Afir dará escoltas ànavegação mercante e patrulhará as rotasmarítimas, como for determinado.

O Grupo-Tarefa Bala e o Grupo-TarefaCruz fornecerão escoltas para os comboios.

– Localizar e destruir os submarinos ini-migos e navios de superfície que entremna área designada e proteger as cidadeslitorâneas do Brasil.

– O comandante da Força do AtlânticoSul baixará diretivas para o comandante dasForças Navais Brasileiras do Nordeste, oqual solicitará a designação de navios paraoperações específicas.

– Esta Ordem de Operações será torna-da efetiva às 11.00 GCT do dia 25 de setem-bro de 1942.

4. O comandante da Divisão de Cruza-dores será responsável pelas providênci-as logísticas de sua Força, mas todo auxílioserá prestado pelas Forças dos EstadosUnidos, mediante requisição.

5. O comandante da Força do AtlânticoSul não será de modo algum responsável pelocomando administrativo dos navios brasilei-ros. Quando as escoltas forem constituídasde unidades de ambas as Marinhas, o “ofici-al mais antigo presente” será o comandante.

– Um plano de comunicações será pos-teriormente distribuído.

– Fuso de + 3 horas.– O comandante da Força do Atlântico

Sul estará temporariamente no USS Potoka.(a) Jonas H. IngramVice-Almirante, USN – comandante da

Força do Atlântico Sul.”

Nesta Ordem de Operações, o CCMacedo Soares foi designado como coman-dante de um Grupo-Tarefa porque era, na-quele momento, o comandante do navio-

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mineiro mais antigo; desses navios, oCamocim e o Cananeia não estavam atu-ando, na ocasião, no Nordeste: fizeram partedo Grupo-Patrulha do Sul e só mais tardeforam incorporados à Força que agia noNorte. O CF Cox(Harold Reuben Cox)figurava como outrocomandante de Grupo-Tarefa, mas na realida-de ele se achava emMiami, Estados Uni-dos, chefiando a Co-missão de Recebimen-to de Caça-Submari-nos. Os dois primeirosdesses navios (os quefiguram na Ordemcomo CS-1 e CS-2, oGuaporé e o Gurupi)foram, naquela oca-sião, entregues àsguarnições brasileirasem Natal.

Ficou suficientemente esclarecido, desdeessa primeira Ordem de Operações, que asubordinação da nossa Força Naval (ainda aDivisão de Cruzadores) ao Comando Norte-Americano era tão somente quanto a opera-ções de guerra, estrate-gicamente, não se imis-cuindo, de maneira al-guma, o AlmiranteIngram na parte admi-nistrativa; quanto à di-reção tática, poderiapertencer a um oficialbrasileiro ou a um ame-ricano, conforme fosse,no evento, mais antigoeste ou aquele no co-mando da escolta.

Graças a tão sábias e precisas disposi-ções iniciais, jamais houve, em todo o cor-rer das operações até o término da guerra,

qualquer atrito entre americanos e brasilei-ros ou suscetibilidades quanto a coman-do: a harmonia de vistas e de procedimen-tos foi sempre total.

Essa primeira Ordem de Operações, porcujo modelo se pauta-ram todas as demaisque, em reduzido nú-mero, foram baixadasaté ao final, referia-seainda à Divisão de Cru-zadores. Esta foi extin-ta a 5 de outubro de1942, criando-se, poraviso, em seu lugar, namesma data, a ForçaNaval do Nordeste(FNNE), composta ini-cialmente dos cruza-dores Rio Grande doSul e Bahia; dos navi-os-mineiros Carave-las, Cabedelo, Cario-

ca e Camaquã; e dos caça-submarinosGuaporé e Gurupi, de uma classe conheci-da mais tarde por “caças-ferro”, por seremconstruídos de chapas de ferro.

A história desses novos elementos quereforçaram, ainda que tenuamente, a nossa

força naval vinha dealguns meses antes.De acordo com os ter-mos da Lei de Emprés-timos e Arrendamen-tos, os Estados Unidospodiam ceder ao Bra-sil, mediante certoscompromissos de de-volução, navios deguerra de que preci-sássemos para nossadefesa e serviço de

comboios. Nesse sentido, foi criada umaComissão Especial para Recebimento deCaça-Submarinos, cuja chefia foi dada ao

Ficou suficientementeesclarecido, desde essa

primeira Ordem deOperações, que a

subordinação da nossaForça Naval (ainda a

Divisão de Cruzadores) aoComando Norte-

Americano era tão somentequanto a operações de

guerra

Jamais houve, em todo ocorrer das operações até o

término da guerra,qualquer atrito entre

americanos e brasileiros oususcetibilidades quanto a

comando

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 4

dinamismo e operosidade do CF HaroldoReuben Cox. Em breve se instalava essacomissão brasileira em Miami, e para lá se-guiram oficiais, suboficiais e praças, a fimde tirar cursos expeditos, de modo a formaras guarnições especializadas para as novasunidades. Logo se colheram os mais benéfi-cos frutos desses cursos, graças à capaci-dade da gente brasileira em aprender tudo oque havia de mais moderno e adequado aogênero de guerra que possivelmente tería-mos de enfrentar.

Foi devido à notícia dessa Comissão,espalhada a grosso modo pelo povo noBrasil inteiro, que, ao entrar nosso país emguerra, surgiram em todos os recantos osarroubos patrióticosem subscrições edonativos para ofertarà Marinha lanchas-torpedeiras, confusãoque se fazia nos espí-ritos pouco esclareci-dos sobre o assunto,o que seria, afinal, in-teiramente desarrazo-ado, pois a necessidade premente que sur-giu não era a de possuirmos embarcaçõestorpedeiras, mas, ao contrário, das que des-sem caça, sem quartel, aos submarinos tor-pedeiros, devendo, assim, ser armadas, depreferência, com bombas de profundidadee tipos semelhantes.

Graças às providências tomadas pelaComissão Brasileira em Miami, puderamlogo, em setembro de 1942, ser entregues,na Base Naval de Natal, os dois primeiroscaça-submarinos, o Guaporé e o Gurupi.Daí figurarem eles na primeira Ordem deOperações para a Força Naval Brasileira,baixada pelo Almirante Ingram, formandoo Grupo-Tarefa Cruz, sob o comando doCF Cox. Esses navios foram os primeiros,na Marinha brasileira, dotados de apare-lho de escuta submarina.

Como o comboio era a solução únicapara a segurança da navegação mercante,todos os esforços do Almirante Ingram fo-ram desde logo dirigidos, no sentido desua organização e sistematização, para otrecho entre o porto do Recife, a cujo largojá vinham passando os comboios interna-cionais, e o do Rio de Janeiro.

De outubro a dezembro de 1942, três des-ses comboios singraram entre aqueles doisportos, tendo, entretanto, vindo de Trinidad,com escolta exclusivamente americana até aaltura do Recife, a qual foi então substituídapor uma outra mista brasileiro-americana,agregando-se ali novos mercantes ao tremou saindo deste os que se destinavam a

Pernambuco. As escol-tas desses primeiroscomboios eram consti-tuídas do Cruzador RioGrande do Sul, dos mi-neiros Caravelas e Ca-rioca, ou Camaquã, ede um cruzador e umcontratorpedeiro ameri-canos, podendo ser o

Omaha, o Milwaukee e o Greene. Dois doscomandantes desses cruzadores, osCaptains Royal e Chandler (aquele antigoassessor de Ensino na nossa Escola de GuerraNaval), mais tarde, já promovidos a almiran-tes, perderam a vida nas campanhasaeronavais do Pacífico.

No segundo desses comboios, o Na-vio-Mineiro Caravelas, na altura do portode Salvador, foi destacado para escoltaraté ao fundeadouro dois grandes naviospetroleiros, os quais iam abastecer setegrandes transportes que ali se achavam, ea respectiva escolta de apenas um cruza-dor e um contratorpedeiro ingleses, cheiosde algumas dezenas de milhares de homensde tropa britânica.

Como a praxe adotada era designar oscomboios por letras indicativas de seu pon-

Esses navios – Guaporé eGurupi – foram os primeiros,

na Marinha brasileira,dotados de aparelho de

escuta submarina

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 4

to de origem e do de destino, seguidas donúmero de ordem, esses que vinham deTrinidad e iam até ao Rio de Janeiro forambatizados com as letras TJ e chamadosTupi-Joia num sentido e Joia-Tupi (JT)noutro, empregando-se a letra J de Janeiro,pois o R designaria também Recife. Nosseus trens, às vezes bem numerosos, che-gando até mais de 20 navios, incluíam-semercantes de várias nacionalidades – ame-ricanos, ingleses, holandeses, suecos, bra-sileiros vindos da América –, entre os quaisuma boa percentagem de navios-tanquetransportando óleo combustível para o Riode Janeiro e portos do Prata. Alguns des-ses mercantes destinavam-se à África doSul e eram desligados do comboio em pon-tos predeterminados, ao largo da costa daBahia. Em muitas ocasiões, as condiçõesde escolta e de manutenção desses com-boios eram particularmente difíceis, máxi-me para os navios brasileiros que ainda nãodispunham de aparelho de escuta subma-rina nem de radar. Em dezembro, um dessescomboios, com escolta do Rio Grande doSul, Caravelas, Carioca e USS Greece,com 14 mercantes de trem, muitos dosquais foram destacados para a África e parao Rio da Prata, chegou às proximidades doRio de Janeiro com um nevoeirointensíssimo e tenaz, fazendo-se a entradano porto sob condições sobremodo peri-gosas – fato que se havia de repetir porvárias outras vazes.

Uma das primeiras sugestões do Almi-rante Ingram às autoridades navais brasilei-ras fora a da necessidade de defender efici-entemente os grandes portos do Recife e deSalvador contra ataques de raideres ou sub-marinos vindos à superfície e que lhes bom-bardeassem as instalações portuárias e ou-tras, sem que houvesse possibilidade dereação a tempo. Alvitrava, assim, a ida dosencouraçados São Paulo e Minas Gerais,até então inúteis na espécie de guerra

antissubmarina que se desenvolvia. Essesnavios, com uma bordada de dez canhõesde grosso calibre, poderiam, conveniente-mente dispostos, servir de verdadeiras for-talezas flutuantes. Com esse fim, saiu o SãoPaulo para o Recife em outubro de 1942,escoltado por contratorpedeiros america-nos, e, mais tarde, o Minas Gerais para Sal-vador, nas mesmas condições.

No Recife, o São Paulo ficou subordi-nado ao Comando Naval do Nordeste, maspor um acordo ali se instalou o Comandoda Força Naval de Nordeste, isto é, o Co-mandante Soares Dutra com seu estado-maior, então constituído pelos seguintesoficiais: CF Augusto Pereira, chefe do Es-tado-Maior; CC Aroldo Zany, oficial de Ar-mamento; CC M. Jaime de MagalhãesBarreto, oficial de Máquinas e Reparos; CCGastão Monteiro Moutinho, assistente:Capitão-Tenente (CT) Afrânio de Faria, ofi-cial de Comunicações; e Tenentes Florianode Faria Lima e Carlos Eduardo Neiva, aju-dantes de ordens.

O São Paulo estava, entretanto, amar-rado a quatro ferros junto do molhe, comcomunicações com a terra muito precáriaspara poder atender ao movimento crescen-te da Força. Ficou decidido, então, que oNavio-Oficina Belmonte, até pouco tempotênder da Flotilha de Contratorpedeiros,agora extinta, seguisse para o Recife, ondeserviria de capitânia e base para a ForçaNaval do Nordeste. Aparelhado conveni-entemente, saiu do Rio de Janeiro a 26 dejaneiro de 1943, levando a seu bordo o CMGFelicíssimo Vilanova Machado e o CF Ger-son de Macedo Soares; novos encarrega-do de Reparos e o chefe do Estado-Maiorda Força, chegando a Pernambuco a 2 defevereiro. A escolta foi feita pelas corvetasRio Branco e Carioca. O Belmonte e o RioBranco, este navio-hidrográfico armado emcorveta, foram incorporados à Força Navaldo Nordeste.

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 4

Enquanto se desenrolavam esses acon-tecimentos, até janeiro de 1943, não paravaa ação nefasta dos submarinos alemães eitalianos, transformando as águas da cos-ta do Brasil, desde o Norte até ao Sul de

São Paulo, em ativíssimo teatro de opera-ções de guerra, comparável aos em que,alhures, mais se distinguiam pela virulên-cia dos ataques, seguidos de afundamen-tos, avarias e perdas de vidas.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<GUERRAS>; Segunda Guerra Mundial; História da Marinha do Brasil; História da Mari-nha dos Estados Unidos;

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SUMÁRIO

IntroduçãoObjetivosDesenvolvimento

MetodologiaDom versus talento

Apologia do domA dialética do talentoO limite da excepcionalidadeAmpliando o modelo mental

A marca “talento”A pesquisa

Conclusão

TALENTO: O DESAFIO DA EXCELÊNCIA

GECIEL RANGEL COSTA1

Capitão de Fragata (RM1-T)

INTRODUÇÃO

O processo de agregar pessoas, con-forme Chiavenato (2004), é importan-

tíssimo e delicado para a organização, por-que consiste na aplicação de esforços para

encontrar a pessoa certa para o lugar cer-to. Esse processo de agregar pessoas trans-forma-se no desafio de selecionar, dentreaquelas recrutadas, as que farão a diferen-ça para a organização. O desafio está implí-cito na complexidade representada pelo

1 Pós-graduado em Gestão Estratégica de Pessoas pelo Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG)/Sustentare – Joinville – SC. Licenciado em Letras pela Faculdade de Humanidades Pedro II – Rio deJaneiro – RJ.

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processo de reconhecer, selecionar e reteras pessoas que excelem, que se estremamde outras, ou entre outras ou acima de ou-tras, que são excelentes.

As organizações, nesse processo deagregar pessoas, buscam indivíduos quepossuam qualidades e competências espe-cíficas que atendam às suas necessidades.Esses indivíduos cobiçados recebem a de-nominação genérica de talentos. Mas o quesignifica talento? Existem pessoas comunse pessoas talentosas? O talento já nascecom a pessoa ou pode ser desenvolvido e/ou aprimorado?

OBJETIVOS

O que se objetiva e que será o nortenesse trabalho é definir talento a partir doconhecimento que a Neurociência apresen-ta e, com base na percepção do mercado,por intermédio de pesquisa bibliográfica ede campo. Dessa forma, com o propósitode oferecer respostas aos questionamentossupramencionados, apresentam-se os se-guintes objetivos:

a) desmistificar a marca talento, tornan-do-a adequada a qualquer pessoa;

b) discorrer sobre os principais qualifi-cativos atribuídos a uma pessoa de talento;

c) apresentar aspectos relacionados aoprocesso de recrutamento e seleção depessoas e de retenção de talentos.

DESENVOLVIMENTO

Metodologia

O presente estudo foi realizado a partirde pesquisas bibliográficas e de campo, ten-do-se utilizado técnicas de coleta e análisede dados. Na coleta de dados, empregaram-se como ferramentas o questionário, o for-mulário e a entrevista. Adotou-se o métodoestatístico na elaboração do trabalho, em

função da aplicação de pesquisa relaciona-da ao tema e sua análise consequente. E,tendo-se partido de informações gerais, ob-tidas a partir da pesquisa, para a particulari-zação da informação, empregou-se tambémo método dedutivo. Dessa forma, o trabalhobusca explicitar e apresentar o que foi esta-belecido como objetivos; e, assim, assumea relevância de ser passível de aplicação emprocessos de recrutamento e seleção depessoas e de retenção de talentos, por con-tribuir para a consecução dos propósitosdaqueles processos.

Dom versus talento

Os processos de recrutamento e sele-ção usam e abusam do termo talento emsuas práticas. E, quase sempre, um proces-so de agregar pessoas resulta em proces-so de recrutamento e seleção de talentos.O que é talento ou uma pessoa de talento?Uma busca nos dicionários traz uma varie-dade de significados. Uma acepção possí-vel é que talento é igual a dom. E dom éigual a talento. Porém o que é dom? E o queé talento? Objetivando esclarecer o assun-to, apresentam-se os tópicos a seguir.

Apologia do dom

Ao abordar a anatomia do dom, Oliveira(1996) apresenta uma significativaamostragem do quanto o conceito de domé complexo, especificamente em virtude dadissintonia existente entre estudiosos doassunto.

Colvin (2009) diz que se atribui a pala-vra dom àquelas pessoas que muito se des-tacam em suas atividades, e isto leva à su-posição de que a excelência foi-lhes dadapor motivos inexplicáveis.

Pode-se encontrar a palavra dom ao seler a Bíblia. A partir da visão da Bíblia assu-me-se que dom é uma dádiva, um presente,

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que é representado pelo que se recebe comgratuidade, sem esforço e com propósito.

Consultando os dicionaristas, a acepçãoetimológica da palavra dom é a que se con-sidera como mais adequada. O sentidoetimológico iguala-se àquele da visão daBíblia, ou seja, de gratuidade, de dádiva.

A Neurociência abre novas perspectivasde conhecimento a partir da investigaçãodo funcionamento do cérebro humano. E,considerando-se essa ciência, é possívelconcluir que todos os seres humanos têmuma mesma constituição neuropsíquica, re-cebida como presente, como um dom; e têm,ainda, as mesmas potencialidades diantedos desafios da vida.

Considerando-se o que aponta os estu-dos da Neurociência, as passagens bí-blicas e a etimologia da palavra, aceitar aacepção de dom como um presente, umadádiva, é apropriado e estimulante por ex-cluir do seu significado as excentricidades,as raridades, as limitações culturais, o mo-mento histórico.

Conclui-se, como forma de estimulaçãoe excitação a qualquer um que queira, quedom é uma dádiva, um presente e pode serresumido conforme apresentado porFerreira (apud Manuel Bandeira, Estrelada Vida Inteira, p. 20): “Prova. Olha. Toca.Cheira. Cada sentido é um dom divino.”

A dialética do talento

Talento é um dom?!Conceituar talento é tão difícil quanto

dom, em virtude da diversidade de signifi-cados existentes. Talento e dom alternam-se, fundem-se e confundem-se em um ema-ranhado de circunstâncias.

Os dicionaristas apresentam váriasacepções para a palavra talento.

Chiavenato (2004) diz que, para o su-cesso das organizações, é indispensável agestão do talento humano. Afirma, ainda,

que ter pessoas não significa necessaria-mente ter talentos, pois o talento é um tipoespecial de pessoa. E para ter talento a pes-soa precisa possuir algum diferencial quea valorize. O talento envolve três aspec-tos: o conhecimento, a habilidade e a com-petência. Resume que é preciso saber atra-ir, aplicar, desenvolver, recompensar, retere monitorar o talento, que é o ativo precio-so das organizações.

Stringer e Rueff (2006) dizem que as pes-soas de talento são as que tomam as deci-sões inteligentes, resolvem os problemas,chegam junto, acreditam em alguma coisae fazem a diferença competitiva em qual-quer organização, porque levam o negócioà frente. Em complemento, apresentam otermo Quality Talent, ou Q-Talent, ou seja,Talento de Qualidade (tradução livre). E oque significa o termo Q-Talent? São o co-nhecimento valioso e as habilidades apli-cados às necessidades de uma organiza-ção. Ainda Stringer e Rueff (2006) infor-mam que um dos primeiros olhares dentroda moderna compreensão do talento apa-rece na Bíblia, no livro de Mateus (Mt 25,14-30), que trata da parábola dos talentos.

Para Colvin (2009), é necessário ser cla-ro e específico com o que se pretende dizercom o termo talento. As pessoas muitasvezes usam-no com o significado de de-sempenho excelente ou para descreveraqueles que têm uma performance extraor-dinária. Afirma que, por definição, o talen-to é inato; no entanto, deveria haver umgene (ou genes) para ele. Entretanto, oscientistas ainda não descobriram o que fazcada um dos nossos 20 mil genes. Colvin(2009) afirma, ainda, que são necessáriospelo menos dez anos de muita preparaçãoe de muito esforço para que seja possívelchegar à condição de uma pessoa ser reco-nhecida como um talento.

Mussak (2010) é categórico ao afirmarque talento não é dom, não nasce com a

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pessoa, e sim é desenvolvido com a práti-ca, o que demanda tempo e persistência.

Coyle (2010, p. 21) baseia seus estudos naNeurociência. Define talento, em “nome da cla-reza” e em “sentido estrito”, como “a posse dehabilidades repetíveis que não dependem dotamanho físico”. A habilidade, também con-forme Coyle (2010), está na cabeça. Afirma quedeterminados padrões de treinamentodirecionado constroem uma habilidade, e quan-to mais se desenvolve o circuito de uma habi-lidade menos consciência se tem de estar em-pregando-a, criando-se, assim, umaautomaticidade. Essa automaticidade cria a ilu-são de ser aquela habilidade algo natural, comose desde sempre existisse, como se fosse umdom. O treinamento direcionado também édescrito por Coyle (2010) como treinamentoprofundo. Esse treinamento profundo tem porbase o esforço realizado de maneira direcionadaa um objetivo específico, em que se opera nolimite da habilidade, cometendo-se erros e, emconsequência, tornando-se mais inteligente.

A Neurologia, conforme Coyle (2010),está revolucionando a visão de mundoneurocêntrico, em que a nova concepçãobaseia-se em três fatos simples:

(1) todo movimento, pensamento ousentimento humano é um diminuto sinalelétrico que viaja num tempo exato aolongo de uma cadeia de neurônios – umcircuito formado pelos corpos celularese pelas fibras nervosas dessesneurônios; (2) a mielina é o isolante queenvolve essas fibras nervosas e aumen-ta a força, a velocidade e a precisão dosinal; (3) quanto mais disparamos umcircuito específico, mais a mielina otimizaesse circuito, e mais intensos, rápidos eprecisos se tornam nossos movimentose pensamentos. (COYLE, 2010, p. 43)

Os processos neuronais, as sinapses,são rápidos, como se um interruptor fosseligado. Entretanto, para aprender e ficar

excepcional em alguma habilidade, exige-se muito tempo e esforço, e é neste pontoque a mielina, isolante que envolve fibrasnervosas neuronais, faz toda a diferença.

Coyle (2010) também apresenta um es-quema do código do talento (vide figura1), que é o seguinte: o talento resulta dapresença de um fator de motivação persis-tente (a ignição), aliado à presença circuns-tancial de um exemplo incentivador perti-naz (o treinador) e reforçado intensivamen-te por um ciclo de esforço pleno e repetitivorealizado por um período relativo de 10 milhoras ou dez anos. Esforço este em que seprocura agregar sempre conhecimentos ehabilidades, os quais se tornarão compe-tências observáveis.

Para que o talento se manifeste e sejareconhecido como excepcionalidade ou adiferença, é necessária uma decisão pes-soal, o que implica “assumir as rédeas denossa vida”, e isto “significa aceitar cempor cento a responsabilidade por nós mes-mos” (BOOG, 2000, p. 40). Implica tambémcriar e manter em foco um objetivo no futu-ro. Ainda se deve considerar a aplicaçãode esforços concentrados com focalizaçãono objetivo definido na aquisição de com-petências, por um tempo mínimo de dez anosou 10 mil horas.

Acertadamente, Chiavenato afirma que“ter pessoas não significa necessariamen-te ter talentos” (CHIAVENATO, 2004, p. 52-53), porque existe uma vontade, tempo e

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um esforço concentrado envolvidos noprocesso do ser um talento, e, como afirmaSantos (2001), nem todos estão dispostosou possuem condições para se comprome-terem com a excelência.

Apresenta-se um acrônimo que facilitao entendimento da marca talento, que é:Ação Resultante ou AR. Porque o ar é es-sencial à vida, assim como adotar uma açãoproativa e focalizada em busca da excelên-cia também o é. O termo Ação está vincula-do à ideia de decisão. E Resultante é perti-nente ao resultado possível a partir da apli-cação do esforço necessário para alcançaro objetivo pretendido.

As organizações valem-se de suas práti-cas para “atrair, aplicar, desenvolver, recom-pensar, reter e monitorar” (CHIAVENATO,2004, p. 53) essas pessoas especiais. Faz-se,então, necessário alguns cuidados nesse pro-cesso de constituição e consolidação damarca talento que serão abordados a seguir.

O limite da excepcionalidade

O conceito de Talento de Qualidade (ouQ-Talent) apresentado por Stringer e Rueff(2006) representa um talento com múltiplascompetências. Para o que se quer explicitarneste momento é preciso ir além e se pro-põe o termo e-talento, sendo “e” pertinen-te a estendido, cujo significado é proveni-ente do verbo estender e tem como acepçãoprincipal dar maior superfície a alargar, es-palhar, alastrar (FERREIRA, 2004). O e-ta-lento é aquele que reconhecidamente ex-cede todos os demais em competências, évisto e admirado como excepcional e age,entretanto, em reflexo dessa percepção, deforma excessivamente egoísta, beirando aexcentricidade. É um termo que reconheceo valor da marca talento, porém destacam-se a falta de humildade, o orgulho e, prova-velmente, o preconceito em relação aosoutros.

Principalmente para aqueles que se apre-sentam como e-talentos e os que alcança-ram a marca talento existe um limite, segun-do Colvin (2009), onde a excepcionalidadeperde o seu excepcional, o seu brilhantismo.Apresentam-se alguns desses limites, osquais devem ser sopesados e, sempre quepossível, evitados:

a) Excesso de talento: os talentos, de-pendendo das circunstâncias, passam aser vistos, por suas excentricidades emtermos de resultados, como fora do co-mum, de outro planeta, super-homens,incríveis. Essa visão tende a resultar empercepção de inferioridade, limitação eincompetência por parte dos observado-res; também pode suscitar uma exacer-bação do ego por parte dos talentosos.

b) O pensar diferente: os que possu-em desempenho excelente julgam-se demodo diferente das outras pessoas, sãomais específicos, mais assertivos, con-sideram um padrão mais relevante como qual se comparam, buscam se compa-rar com um melhor resultado seu ou doconcorrente ou de qualquer um no seucampo de atuação. O bom senso diz,entretanto, que um padrão alto demaisdesencoraja e não é muito instrutivo,assim como um padrão baixo demais nãoproduz progresso.

c) O fazer parte de um bando: umaequipe que possua muitos talentos ten-de a ver seus resultados despencaremquando há uma exageração de egos,desse ou daquele. O que era uma con-junção de esforços de todos passa a seruma deliberada altivez de uns em detri-mento de outros. E o que era uma equi-pe transforma-se num amontoado depessoas com objetivos distintos ou nãotão claros.

d) A falta de confiança ou a baixa con-fiança: a confiança é o elemento funda-mental em uma equipe vencedora. Se

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não houver um relacionamento confiávelentre todos, podem ocorrer pensamen-tos de que companheiros da equipe es-tão mentindo ou retendo informaçõesou tramando uns contra os outros. Emfunção da transitoriedade das pessoas,principalmente com relação aos talen-tos, o tempo para o estabelecimento daconfiança pode não ser o suficiente. Ostalentos são constantemente assedia-dos por outras organizações e/ou ou-tras equipes internas, e isto reduz o tem-po de convívio e, consequentemente, aconfiança que se pode ter neles.

Sendo percebido ereconhecido como umtalento ou não, é pre-ciso estar atento aoslimites próprios e aosdos outros. Conside-rando-se a importânciada empatia e da humil-dade, é possível tor-nar-se uma pessoamelhor e ser um cons-trutor de outras pes-soas melhores.

Ampliando o modelo mental

Por todos os lados veem-se indícios demodernismos.

No campo tecnológico é possível acom-panhar as frequentes inovações e lançamen-tos de recursos mecânicos, eletroeletrônicose digitais diversos, que permeiam as pági-nas de revistas e jornais todos os dias.

Nas ciências também se podem perce-ber constantes novidades.

A ciência, conforme Schmidt e Santos(2007), sempre se ajustou com a busca do sa-ber absoluto, o que significava a verdade aci-ma de qualquer suspeita. No entanto, no alvo-recer do século XX a comunidade científica

ficou perplexa com a derrubada da teoria, queparecia incontestável, do sistema teórico dafísica newtoniana. E destaca-se, neste momen-to, a teoria da falseabilidade de Karl Popper,que afirma que o erro “constitui componenteinevitável de qualquer teoria científica, sendona realidade o motor pelo qual a ciência semove” (2007, p. 4). Ao contestarem oposicionamento de Thomas S. Khun, profes-sor da Princeton University, o principalopositor das propostas de Popper, os autoresafirmam que “devemos partir sempre da ideiade que a ciência é crítica e falível” (2007, p. 13).

A estatística proporciona o aspecto decientificidade a todas as ciências. No entan-

to, considerando a in-formação de Casta-nheira (2006), destaca-se que o erro é possí-vel no estudo estatís-tico, levando-se emconta que uma pesqui-sa pode ter sido feita econduzida erradamen-te, pode ter sido inter-pretada erroneamente,pode ter sido conside-rado um número insu-

ficiente de elementos que representassem atotalidade do conjunto em estudo. Mencio-na-se também a perspectiva de que uma pes-quisa pode ter sido encomendada para aten-der a um fim específico, em prejuízo de ou-tros interesses e/ou grupos.

Bianco (2009), ao apresentar a crítica àmodernidade de Weston A. Price (1870-1948),cujo tema central reside nas transformaçõesque a industrialização causou na relação hu-mana com o ambiente – o solo, as plantas, osanimais e os alimentos –, afirma que, apesardo desenvolvimento científico e tecnológico,as consequências do distúrbio ecológicotransparecem como degeneração física do serhumano. Menciona que as críticas àmodernidade mais conhecidas nas ciências

O erro “constituicomponente inevitável dequalquer teoria científica,

sendo na realidade o motorpelo qual a ciência se

move”Karl Popper

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dizem respeito aos aspectos político, econô-mico, moral e filosófico. A modernidade éapresentada como degeneração física.

Podem existir interesses pouco transpa-rentes dessa ou daquela corrente de conhe-cimentos. É possível ainda, conforme Bianco(2009), que a decadência decorrente damodernidade deva-se à manipulação gros-seira das coisas da natureza, não levando emconta, entretanto, a sua real complexidade.

São tantos os óbices relativos às conheci-das modernidades e tantos outros aparecemque falar em modernidade pode soar comocoisa do passado. Para distanciar dessaacepção, prefere-se a adoção da palavrasupramodernidade,objetivando atribuir umsentido de continuida-de às coisas que se apre-sentam como modernas.Também pode servircomo um sinal para quese possa sair doautomatismo das açõesdecorrentes de estímu-los externos, buscando-se um controle maior in-terno quanto às deci-sões que se deseja to-mar. Com as supramodernidades, quer-se des-tacar que o que é pertinente ao humano é pas-sível de falha, de duplo sentido, de tergiversa-ção, de interesses outros que não aqueles es-pecificamente declarados etc. É necessárioestar atento a essas possibilidades, e deve-secriticar as eventuais verdades que são apre-sentadas como absolutas.

Todas as estruturações e simplificaçõesda realidade podem ser válidas no processode ensino-aprendizagem. Entretanto, não sedeve entender, aceitar e/ou acreditar que oque se vê e/ou se estuda de forma simplistae/ou estruturada seja a realidade. É apenasuma ilustração, a partir da qual se podemfazer inferências de acordo com o modelo

mental que se tiver construído. O modelomental representa a redução da realidade e,acima de tudo, o espaço dentro do qual sevive a realidade. Em outras palavras, o mo-delo mental é a forma como se percebe e serepresenta o mundo. E, para reforçar o en-tendimento da percepção do desafio dassupramodernidades, afirma-se que o mun-do, especialmente o ser humano, é muitomais complexo do que se pode conceber.

O que foi apresentado tem por objetivodestacar o quanto as supramodernidades con-tribuem para distorcer a realidade, explicandoo homem de forma simplista e não consideran-do a complexidade do todo. Também apresen-

tam facilidades, comose tudo se resumisse empaz, amor, muito colori-do e muita diversãoinconsequente.

É preciso armar-se,então, com a coragem ea determinação de Davienfrentando Goliaspara manter-se atentoàs supramodernidadese criticá-las, saindo doautomatismo latente. Acrítica deve ser no sen-

tido de se desconsiderar e de se afastar dequaisquer facilidades e/ou simplificações querestrinjam, minimizem e/ou limitem aspotencialidades do ser humano.

A marca “talento”

De tudo quanto foi visto, depreende-seque a marca talento é circunstancial, ocor-re em determinado momento e por um perí-odo de tempo.

Exemplificando: um talentoso gerentecomercial de uma determinada organização,com mais de três anos de exercício da fun-ção, conhece todas as rotinas dos proces-sos relacionados à sua atividade. Em decor-

A marca talento écircunstancial, ocorre emdeterminado momento e

por um período de tempo.Está ao alcance de todos, emais próxima daqueles quese predisponham a fazer o

que deve ser feito

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rência de seus resultados, recebe uma pro-moção e é transferido para um outro cargo.Por mais talento que tenha esse profissio-nal, os seus conhecimentos pertinentes àsnovas responsabilidades são incipientes.Precisará, assim, de um período de tempopara que possa desenvolver-se nas novastarefas e responsabilidades, e quiçá obte-nha sucesso. Esse esforço na busca do de-senvolvimento pessoal e profissional éconstante. Uma pessoa que tenha recebidoa marca talento poderá ter maiores facilida-des, em função das competências e atitudesque possui. Entretanto, o insucesso é pos-sível. Considerando-se que tenha alcança-do a marca talento na nova atividade, aque-le profissional usufruirá dessa situação atéque uma nova necessidade apareça e desa-fie as suas competências.

O processo de aprendizagem é meritó-rio, conforme Colvin (2009). Dessa forma,quanto mais se buscam a informação, o co-nhecimento, a habilidade, mais se aprende,mais se automatizam as competências. En-tretanto, o que se espera é o resultado, ouseja, a entrega que se dispõe para a organi-zação. Quanto mais se excede na entregade resultados para a organização, tantomais se recebe a marca talento.

Conclui-se que a marca talento está ao al-cance de todos, e mais próxima daqueles quese predisponham a fazer o que deve ser feito.

A pesquisa

A partir de pesquisa bibliográfica e decampo e por inferência estatística, confor-me Castanheira (2006), tendo-se poramostragem um número significativo deprofissionais das mais diversas áreas deatuação, chegou-se ao seguinte:

– Uma pessoa de talento (e seus princi-pais atributos) é aquela que:

(1) Quanto ao modo de agir: possui umconhecimento sistêmico da organização, age– por iniciativa própria, proativamente, comcriatividade, comprometimento, responsabi-lidade, coragem, dedicação, dinamismo e fle-xibilidade – mobilizando todos os seus recur-sos de competências (CHA: Conhecimentos,Habilidades e Atitudes) e executa as ativida-des de forma organizada e persistente.

(2) Quanto ao modo de ser: é comunica-tiva, se relaciona muito bem com as pesso-as e, principalmente, é resiliente*, ou seja,sabe resistir e lidar adequadamente com aseventuais pressões por resultados.

O desenvolvimento e o aprimoramentode uma pessoa passam pela necessidade dadefinição e focalização de um ponto futuro,pela dedicação intensiva na busca de com-petências, pela verificação e/ou redefiniçãoconstante dos passos dados, objetivandoatingir o objetivo definido. Aqui se omitiu areferência à “pessoa de talento”, porque seassume que qualquer pessoa, desde queesteja disposta a fazer o que deve ser feito,pode receber a marca talento.

CONCLUSÃO

As organizações, em seus processos deagregar pessoas, buscam aquelas às quaisintitula de talentos, com o objetivo de encon-trar a pessoa certa para o lugar certo. Esseprocesso de recrutamento e seleção trans-forma-se em um desafio, o qual se caracterizapela necessidade de criar condições de atra-ção de pessoas em um mercado crescente eglobalizado, a obrigatoriedade por estabele-cer critérios claros e objetivos para a seleção

* N.A.: Resiliência é um termo originário da Física e, conforme o Dicionário Aurélio (FERREIRA,2004), é a “propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quandocessa a tensão causadora duma deformação elástica”.

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TALENTO: O DESAFIO DA EXCELÊNCIA

de talentos e também pela imposição em pro-porcionar condições adequadas para a re-tenção dos profissionais que fazem a dife-rença e são a excelência na organização.

Neste estudo buscou-se a atribuição designificados às palavras dom e talento, as quaispudessem representar possibilidades paraquaisquer pessoas. Disso depreende-se a eli-minação de rotulações, limitações e impossi-bilidades. Considera-se que toda e qualquerpessoa tem em si o potencial necessário para aexcelência. O exceler, conforme afirma Ferreira(2006), é caracterizadopelo extremar-se em re-lação a outro, ser exce-lente, destacar-se. Opotencial representa odom, a dádiva, o presen-te de ser o que se é. Adiferença do resultadode uma pessoa em rela-ção a outra reside es-sencialmente no esfor-ço que se aplica na bus-ca da realização pesso-al em todos os camposde relacionamento e ati-vidade. O talento é ca-racterizado por esse es-forço, o qual é meticulo-samente aplicado embase constante e fre-quente para se alcançarum objetivo previamente definido.

Abordou-se o limite da excepcionalidade,especificamente referindo-se à eventual fal-ta de humildade e/ou criatividade que rondaas pessoas de talento e também às preocu-pações pertinentes à ampliação do modelomental, como forma de não se deixar limitarpelas questões das supramodernidades.

Buscou-se, por fim, a partir de uma funda-mentação baseada na Neurociência, retirar damarca talento o envoltório mítico e irreal deque o mesmo seja inato, que nasça com o indi-

víduo, assemelhando-o a dom, e que seja parauns poucos predestinados e afortunados. Aocontrário, enquanto o dom é o presente quese recebe de graça, que corresponde àspotencialidades que cada um possui, o talen-to é decorrente da Ação Resultante, ou seja, adecisão, que implica a ação de tomar as rédeasda vida, estabelecendo-se um objetivo claro eespecífico e esforçando-se para alcançá-lo.

Uma pessoa que recebe a marca talentoapresenta um conjunto de qualificativos quea distingue das demais. Com base na percep-

ção do mercado e con-siderando os resulta-dos da pesquisa, umapessoa de talento é aque, quanto ao modode agir, possui um co-nhecimento sistêmicoda organização, age –por iniciativa própria,proativamente, comcriatividade, compro-metimento, responsabi-lidade, coragem, dedi-cação, dinamismo e fle-xibilidade – mobilizan-do todos os seus recur-sos de competências(CHA: Conhecimentos,Habilidades e Atitudes)e executa as atividadesde forma organizada e

persistente; e, quanto ao modo de ser, é co-municativa, se relaciona muito bem com aspessoas e, principalmente, é resiliente.

A partir do conhecimento que aNeurociência apresenta, talento é o ato dedecisão pessoal, orientado a partir de defini-ção e focalização intensiva de um objetivomotivador no tempo/espaço, e o emprego deesforços consecutivos no desenvolvimento,aprimoramento e/ou acumulação de compe-tências, com uma constante reavaliação deresultados, de forma a emendar, se necessária,

O dom é o presente que serecebe de graça, que

corresponde àspotencialidades que cada

um possui, o talento édecorrente da Ação

Resultante, ou seja, adecisão, que implica a açãode tomar as rédeas da vida,

estabelecendo-se umobjetivo claro e específico e

esforçando-se paraalcançá-lo

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132 RMB3oT/2011

TALENTO: O DESAFIO DA EXCELÊNCIA

a energia aplicada na consecução do objetivodefinido, que resulta na percepção de exceler.

Resumidamente, uma pessoa de talentoé o profissional com competências, quali-dades várias e atitude que excede a expec-tativa da organização quanto às entregasque proporciona.

Como forma de ampliar esse estudo, suge-rem-se abordagens específicas quanto ao pro-cesso de recrutamento e seleção de pessoas etambém de retenção de talentos. Alguns tópi-cos serão aqui apresentados como forma deinstruir quanto a eventuais estudos futuros.

– Aspectos relacionados ao processode recrutamento e seleção de pessoas

A partir da compreensão da circunstan-cialidade da marca talento, todo processode recrutamento e seleção deve prender-sena atração e seleção de pessoas que melhorpreencham os requisitos que o cargo exige.

Um processo de recrutamento e seleçãode pessoas deve passar, necessariamente, porum planejamento sistematizado e dinâmicoque contemple a metodologia de seleção porcompetências, com o emprego de entrevistacomportamental com foco em competências.

Aráoz et al (2009), ao referir-se à contrataçãode gerentes de alto nível, afirma que é neces-sário um processo de recrutamento e seleçãorigoroso para a atração dos melhores profissi-onais e a retenção dos talentos que existam naorganização. Apresenta alguns passos desseprocesso, que são: (1) antecipar as necessida-des futuras de pessoal com base no que foiestabelecido no planejamento estratégico daorganização; (2) identificar as competênciasespecíficas requeridas ao cargo, a partir de umprocesso sistematizado, e empregar entrevis-tas comportamentais com foco em competên-

cias no processo de seleção; (3) desenvolveruma lista suficientemente extensa de eventu-ais candidatos, a partir de interessados inter-nos e externos.

– Aspectos relacionados ao processode retenção de talentos

Mendes (2002, p. 38) ressalta que reter ostalentos é “o maior desafio das organizações”.Apresenta o coach (o líder no papel decoaching) como o elemento dentro da organi-zação em condições de auxiliar as pessoas naobtenção de novos conhecimentos, no de-senvolvimento de novas habilidades e na bus-ca do aprendizado constante. O coach podeestimular a trajetória do profissional, reforçan-do positivamente os comportamentos deseja-dos e estimulando cada vez mais a busca daaplicabilidade de seus conhecimentos.

Stringer e Rueff (2006) afirmam que, emqualquer nível na organização, encontrar, con-tratar e reter talentos de qualidade (Q-Talent)são enormes desafios, repletos de intangíveise críticos para o sucesso. Complementa queatrair e reter são atividades associadas, e, parareter as melhores pessoas, os líderes do negó-cio devem pensar em recrutar seus própriostalentos todos os dias.

O processo de retenção é complexo e am-plo, pois, além das preocupações com os fato-res materiais e com as pertinentes à organiza-ção social do trabalho, um acompanhamentofrequente e um relacionamento interpessoalque envolva comunicação e confiança sãomandatórios. E, considerando o aspecto cir-cunstancial que caracteriza o talento, se fazemnecessários a especificação de objetivo futu-ro e o desenvolvimento e aprimoramento cons-tante de competências, com o emprego do es-forço repetitivo da ação do aprender.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<VALORES>; Qualidade; Seleção; Preparo do homem;

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RMB3oT/2011 133

TALENTO: O DESAFIO DA EXCELÊNCIA

REFERÊNCIAS

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3, 208 p.CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: Campus, 2004. 529 p.COLVIN, Geoff. Desafiando o talento. Tradução de Helena Londres. São Paulo: Editora Globo,

2009. 287 p. Título original: Talent is overrated – What really separates world-class performersfrom everybody else.

COYLE, Daniel. O código do talento. Tradução de Bluma Waddington. Rio de Janeiro: Agir, 2010.271 p. Título original: The Talent Code.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3. Ed.São Paulo: Editora Positivo, 2004. 1 CD-Rom.

MENDES, Judas Tadeu Grassi. Gestão do Capital Humano. Curitiba: Associação Franciscana deEnsino Senhor Bom Jesus, 2002. 72 p.

MUSSAK, Eugenio. “Afinal, qual é o seu talento?”: Artigos – Papo de líder. Revista Você SA, SãoPaulo, ed. 142, p. 114, abr. 2010.

OLIVEIRA, José Zula de. O estereótipo do músico: um estudo comparativo a partir do julgamentode musicistas e leigos à prática musical. 1996. 45 p. Dissertação (Mestre em Psicologia ) –Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.

SANTOS, Patrícia Nascimento dos. A aplicabilidade de testes atitudinais para a identificação dascaracterísticas intraempreendedoras. 2001. 134 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia deProdução). UFSC, Florianópolis, 2001. Disponível em: <www.scribd.com/doc/10218863/johari> . Acesso em: 5/2/2010.

SCHMIDT, Paulo; SANTOS, José Luiz dos. O pensamento epistemológico de Karl Popper. ConTexto,Porto Alegre, v. 7, n. 11, 1o semestre 2007. Disponível em:<http://www.belbute.com.br/ulbra/livros/Karl_Popper.pdf>. Acesso em 28/04/2010.

STRINGER, Hank; RUEFF, Rusty. Talent Force – A new manifesto for the human side of business.New Jersey: Prentice Hall, 2006. 168 p.

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SUMÁRIO

Abertura dos jogosEstreia do BrasilMarinha em destaque

Judô masculino e femininoBoxeTaekwondoParaquedismoAtletismoFutebol femininoNataçãoPentatlo naval

Campeonato de vela dos JMM Rio 2011Vôlei, vôlei de praia e basqueteFutebol masculinoTriatloMaratona Rio 2011Vila Branca da MarinhaNa cobertura, o CCSMCerimônia de encerramento

JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

Os atletas do Brasil alcançaram o 1o lu-gar no quadro geral de medalhas nos 5o

Jogos Mundiais Militares (JMM) do Conse-lho Internacional do Esporte Militar – Cism*,

os Jogos Rio 2011, também chamados de Jo-gos da Paz disputados no Rio de Janeiro en-tre os dias 16 e 24 de julho último. Após a 33a

posição conquistada na edição anterior dos

DEOLINDA OLIVEIRA MONTEIROJornalista

* Cism – Conseil International du Sport Militaire.

O Brasil subiu ao pódio em 19 das 20 modali-dades disputadas, com um total de 114 medalhasconquistadas – 45 de ouro, 33 de prata e 36 debronze –, obtendo o 1o lugar no quadro geral demedalhas.

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RMB3oT/2011 135

JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

Jogos Militares – que aconteceu emHyderabad, na Índia, em 2007, quando ape-nas duas medalhas de prata e uma de bronzeforam ganhas –, as Forças Armadas investi-ram em um projeto de longo prazo, com focona atual edição dos Jogos e nas Olimpíadasde 2012 e 2016, por meio do recrutamento deatletas de elite para os seus quadros.

O resultado mostrou que o investimen-to deu certo. Depois de ultrapassar os chi-neses no número de medalhas de ouro nopenúltimo dia dos Jogos, o Brasil consoli-dou a dianteira no último dia e encerrou asua participação subindo ao pódio em 19das 20 modalidades disputadas – a exce-ção foi a esgrima –, com um total de 114medalhas conquistadas, sendo 45 de ouro,33 de prata e 36 de bronze.

Antes mesmo do encerramento das com-petições, o comandante da Marinha, Almi-rante de Esquadra Julio Soares de MouraNeto, fez um balanço positivo do evento ecomemorou os resultados alcançados como projeto, garantindo a sua continuidade:“Esse é o berço dos atletas que irão dispu-tar as Olimpíadas de 2012, em Londres, ede 2016, no Rio de Janeiro. A Marinha con-tinuará com o seu Projeto Olímpico, apoi-ando todos os atletas que tenham condi-ções de bem representar o nosso país emOlimpíadas”.

Das medalhas conquistadas, os atletasda Marinha contribuíram, individualmenteou participando das equipes, com um totalde 47 medalhas, das quais 20 foram de ouro,13 de prata e 14 de bronze.

Relação de medalhas conquistadas por atletas brasileirosnos 5o Jogos Mundiais Militares

MODALIDADE

Atletismo

Basquete

Boxe

Futebol

NOME/PAÍS

SILVA AnaCOUTINHO GeisaFERNANDES RaphaelCOSTA KeilaSABINO JeffersonBrasilBrasilBrasilSILVA AnaSELES VanessaCOSTA KeilaANDRÉ NilsonLIMA JailmaGOMES da SILVA F.

Brasil

JESUS RobenilsonCONCEIÇÃO RobsonLOPES EvertonOLIVEIRA GidelsonCARVALHO MykeLIMA Rafael

BrasilBrasil

PROVA

200m feminino400m feminino400m Obstáculo masculinoSalto em Distância femininoSalto Triplo masculino4 x 100m Revezamento masculino4 x 100m Revezamento feminino4 x 400m Revezamento feminino100m femininoSalto em Distância femininoSalto Triplo feminino100m masculino400m femininoSalto com Vara masculino

Equipe masculina

Masculino Galo 56kgMasculino Ligeiro -60kgMasculino Meio-Médio Ligeiro/-60kgMasculino +91kg/SuperpesadoMasculino 69kg/Meio-MédioMasculino 91kg/Peso-Pesado

FemininoMasculino

MEDALHA

OuroOuroOuroOuroOuroOuroOuroOuroPrataPrataPrata

BronzeBronzeBronze

Ouro

OuroOuroOuroOuro

BronzeBronze

OuroBronze

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

MODALIDADE

Hipismo

Judô

Natação

NOME/PAÍS

ALMEIDA LuízaSGNAOLIN JeffersonBrasilBrasilBrasilGOGGIA Claudio

PORTELA Maria de L.GUILHEIRO LeandroCORREA LucianoBrasilBrasilMENEZES SarahFERNANDES AndressaQUADROS KetleynALTHEMAN MariaCUNHA LeandroMENDONÇA Bruno S.SILVA Rafael

SILVA FernandoMANGABEIRA GabrielMANGABEIRA GabrielCERDEIRA TalesMANGABEIRA GabrielMANGABEIRA GabrielMOLINA FabíolaYABE DiogoYABE DiogoBrasil

ARAPIRACA LuísMARANHÃO JoannaMARTINS HenriqueMOLINA FabíolaMARTINS HenriqueCERDEIRA TalesMARIN JulianaMOLINA FabíolaMOLINA FabíolaSALATTA Lucas V.Brasil

Brasil

LENHARDT MichelleCASTRO Rodrigo O.ANTONIO DandaraRODRIGUES RaphaelSAKEMI TatianeMARANHÃO JoannaSALATTA Lucas V.Brasil

PROVA

Individual AdestramentoCCE IndividualEquipes SaltoEquipes AdestramentoCCE EquipesIndividual Salto

Feminino -70kgMasculino -81kgMasculino -100kgFeminino EquipesMasculino EquipesFeminino -48kgFeminino -52kgFeminino -57kgFeminino +78kgMasculino -66kgMasculino -73kgMasculino +100kg

Masculino 50m Estilo LivreMasculino 50m BorboletaMasculino 100m BorboletaMasculino 200m PeitoMasculino 50m CostasMasculino 100m CostasFeminino 100m CostasMasculino 200m Individual MedleyMasculino 400m Individual MedleyMasculino 4 x 100m Medley

RevezamentoMasculino 1500m Estilo LivreFeminino 800m Estilo LivreMasculino 50m BorboletaFeminino 50m BorboletaMasculino 100m BorboletaMasculino 100m PeitoFeminino 200m PeitoFeminino 50m CostasFeminino 200m CostasMasculino 200m Individual MedleyMasculino 4 x 100m Estilo

Livre RevezamentoFeminino 4 x 100m Medley

RevezamentoFeminino 50m Estilo LivreMasculino 200m Estilo LivreFeminino 100m BorboletaMasculino 50m PeitoFeminino 50m PeitoFeminino 200m Individual MedleyMasculino 400m Individual MedleyFeminino 4 x 100m Estilo

Livre Revezamento

MEDALHA

OuroOuroOuroPrataPrata

Bronze

OuroOuroOuroOuroOuroPrataPrataPrataPrata

BronzeBronzeBronze

OuroOuroOuroOuroOuroOuroOuroOuroOuroOuro

PrataPrataPrataPrataPrataPrataPrataPrataPrataPrataPrata

Prata

BronzeBronzeBronzeBronzeBronzeBronzeBronzeBronze

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

MODALIDADE

Orientação

Paraquedismo

PentatloAeronáutico

Pentatlo Militar

PentatloModerno

Pentatlo Naval

Taekwondo

Tiro

Triatlo

Vela

Vôlei

Vôlei de Praia

NOME/PAÍS

Brasil

Brasil

UTZIG EduardoBrasilKUROSWISKI AndréXAVIER Rafael

BrasilBrasilBrasil

BrasilMARQUES YaneBrasilBrasil

SG SANTOS MaxMN LIMA SimoneBrasilBrasil

SILVA DiogoNUNES DéboraSANTOS LeonardoREIS TaliscaFERREIRA MarcioSOARES AparecidaPEREIRA RaphaellaARAKAKI KatiaSOARES MichaelLIMA Josiane

BrasilBrasil

Brasil

MORENO CarlaBrasilBrasilBrasil

BrasilBrasilBrasil

BrasilBrasil

BrasilBrasilBrasilBrasil

PROVA

Revezamento feminino

Formation Skydiving feminino

Provas MistasProva Esporte Mistas EquipesProvas MistasProvas Mistas

Masculino RevezamentoMasculino EquipesFeminino Equipes

Feminino EquipesFeminino IndividualMasculino EquipesRevezamento Mistos Equipes

Masculino IndividualFeminino IndividualMasculino EquipesFeminino Equipes

Masculino -68kgFeminino -73kgMasculino +87kgFeminino -53kgMasculino -58kgFeminino -62kgFeminino -67kgFeminino -46kgMasculino -54kgFeminino -57kg

Fogo Central 25m Equipe masculinoPistola Tiro Rápido Militar 25m

Equipe masculinoPistola 25m Equipe feminino

FemininoEquipes masculinoEquipes mistasEquipes feminino

HPE25 – Feminino Fleet RaceJ24 – Open Match RacingHPE25 – Open Fleet Race

MasculinoFeminino

MasculinoFemininoMasculinoFeminino

MEDALHA

Bronze

Bronze

OuroOuroPrata

Bronze

BronzeBronzeBronze

OuroPrataPrata

Bronze

BronzeBronzeBronzeBronze

OuroOuroOuroPrataPrataPrataPrata

BronzeBronzeBronze

OuroPrata

Bronze

PrataPrataPrata

Bronze

OuroOuroPrata

OuroOuro

OuroOuro

BronzeBronze

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

ABERTURA DOS JOGOS

Em ritmo de festa e com a entusiasmadaparticipação dos visitantes e moradores doRio de Janeiro, o Estádio Olímpico JoãoHavelange, conhecido como Engenhão, foipalco da Cerimônia de Abertura dos 5o Jo-gos Mundiais Militares (5o JMM), terceiromaior evento esportivo do mundo.

O espetáculo de abertura contou com inú-meras atrações, com destaque para a Esqua-drilha da Fumaça, o desfile das delegações, ascoreografias dos bailarinos e crianças e a apre-sentação da Banda Marcial do Corpo de Fuzi-leiros Navais, que encantou os presentes comsuas canções e evoluções, formando no pal-co figuras simbólicas, representando um na-vio, uma âncora e a marca “Rio 2011”.

Durante o evento, o gramado tambémse transformou em umgrande telão, onde fo-ram projetadas ima-gens que remetiam aospaíses participantes e àpaz, tema dos jogos.Crianças se juntaram àsimagens de barcos egaivotas, compondoum quadro ao som damúsica “Aquarela”.

A Marinheira IsabelSwan, competidora davela, representou oPresidente da República abriu os 5o Jogos Mundiais Militares

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

zada no Estádio de São Januário, a seleçãobrasileira venceu a da Argélia por 1 x 0,com gol do Soldado Renildo Gomes da Sil-va, do Exército Brasileiro.

Presente à partida, que contou com aproxi-madamente 2 mil torcedores, o ex-jogador defutebol e tetracampeão mundial e atual depu-tado federal Romário deu o pontapé inicial eacompanhou o jogo da tribuna de honra.

MARINHA EM DESTAQUE

Os atletas da Marinha do Brasil tiveramparticipação de destaque nos Jogos, com de-sempenhos individuais significativos em vá-rias modalidades, como futebol feminino, boxe,judô, taekwondo, atletismo, natação. A Forçatambém se destacou nas competições de vela,pentatlo naval e na Maratona Rio 2011.

Judô masculino e feminino

No penúltimo dia das competições indi-viduais do judô, que aconteceram no giná-sio da Universidade da Força Aérea (Unifa),localizada no Campo dos Afonsos, o Brasilconquistou duas medalhas de ouro. Umadelas foi ganha pela Marinheira Maria deLourdes Portela, que disputou na catego-ria até 70 kg, depois de ter passado pelasatletas da Alemanha e de Luxemburgo. Nafinal, a brasileira ganhou da eslovena notempo extra, com um yuko, pontuação com-

Brasil, e fez o juramento dos atletas, en-quanto o Sargento Fuzileiro Naval Marce-lo de Lima Henrique realizou o juramentodos árbitros.

A Presidente da República, DilmaRousseff, abriu oficialmente a quinta edi-ção dos Jogos Mundiais Militares, dandoas boas-vindas ao nosso país e desejandoboa sorte a todos os atletas e envolvidosnas competições.

Como ponto alto da festa, Pelé acendeu apira dos Jogos, sob os aplausos de cerca de30 mil pessoas presentes ao estádio. O even-to durou aproximadamente três horas e foiencerrado ao som de samba, com Alcione,Diogo Nogueira, Dudu Nobre e Jorge Aragão.

ESTREIA DO BRASIL

O Brasil estreou nos Jogos no dia 16,com o futebol masculino. Na partida, reali-

Maria de Lourdes Portela,após o término da disputa do ouroRomário assiste à partida da tribuna de honra

Pelé acende a Pira

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

putada quando o adversário cai de lado. Ooutro ouro da noite foi do Sargento Lean-dro Guilheiro, do Exército Brasileiro, na ca-tegoria individual até 81 kg.

No primeiro dia de competições indivi-duais no judô, todos os atletas do Brasilfinalizaram as disputas com medalhas. AsMarinheiras Sarah Menezes e AndressaFernandes conquistaram a prata e o Sar-gento do Exército Brasileiro Leandro Cu-nha levou o bronze.

do Pan-Americano Júnior e do Sul-Ameri-cano, derrotou as atletas da Bélgica e daFinlândia e, na luta final, também enfren-tou uma atleta da Coreia do Sul, conquis-tando outra medalha de prata para o Brasil.

Único homem brasileiro no individual, ca-tegoria até 66 kg, Leandro Cunha, vice-cam-peão mundial, venceu três das quatro lutasdo dia e, à noite, disputou o bronze na final.Venceu e conquistou mais uma medalha.

No dia 18, após emocionante disputaentre atletas de 20 países, o Brasil conquis-tou a medalha de ouro nas categorias mas-culina e feminina do judô por equipes.

As judocas do Brasil, todas elas atletasda Marinha, foram as primeiras a levantar opúblico. A equipe brasileira feminina foicomposta pelas marinheiras SarahMenezes, Ketleyn Quadros, Mariana Sil-va, Maria Portela e Maria Suelem Altheman.

Após passar por Itália, França e Sri Lanka,a disputa do ouro foi contra a equipe daChina. No masculino, o Brasil enfrentou osEstados Unidos da América, a China e aPolônia, chegando à final com a Coreia doSul e conquistando para o País o segundoouro da noite. Na equipe masculina, o Mari-nheiro Bruno Mendonça foi o representan-te da Marinha. Compuseram a equipe, ain-da, os Sargentos Leandro Cunha, LeandroGuilheiro, Hugo Pessanha, Luciano Correa

Equipe de ouro do judô brasileirona entrega da medalha

Equipe masculina de judô entrando no tatamepara a final contra a Coreia do Norte

A primeira brasileira a subir ao tatamefoi Sarah Menezes, na categoria até 48 kg.Campeã mundial, da Copa do Mundo, doGrand Slam e Pan-Americano, ela venceuas adversárias da Itália e do Congo e, nafinal, enfrentou a atleta da Coreia do Sul,ficando com a prata.

Disputando na categoria até 52 kg, aMarinheira Andressa Fernandes, campeã

MN Bruno Mendonça na luta pelo Ourocom a Coreia do Norte

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

e Rafael Silva, além do Soldado FelipeKitadai, atletas do Exército Brasileiro.

Boxe

O Brasil garantiu o lugar mais alto dopódio do boxe, conquistando quatro me-dalhas de ouro nas finais. Os atletas res-ponsáveis pelas conquistas eram todos daMarinha do Brasil: Marinheiro (MN)Robenilson Jesus, na categoria Galo 56 kg;MN Robson Conceição, na categoria Li-geiro 60 kg; MN Everton Lopes, na cate-goria Meio-Médio Ligeiro até 64 kg; e MNGidelson Oliveira, na categoria Superpe-sado, acima de 91 kg. No dia anterior, osMN Mike Carvalho e Rafael Lima garanti-ram o bronze. As lutas aconteceram no Gi-násio Poliesportivo Gorro de Fita, localiza-do no Centro de Instrução AlmiranteMilcíades Portela Alves (Ciampa).

Robenilson Conceição venceu, por 12 a8, a luta contra Mohamed-Amine Ouadahi,

Brasil leva quatro medalhas de ouro na final do boxe

da Argélia. Robson Conceição ganhou dotunisiano Alaa Shili por 13 a 10. EvertonLopes saiu vencedor da luta com omarroquino Abdelhak Aatanari, em dueloque terminou por 13 a 6. Entretanto, a lutamais disputada foi a do MN Gidelson contrao chinês Yushan Nijiati, que terminou com oplacar apertado de 14 a 13, a favor do Brasil.

Os lutadores brasileiros que disputaram os5o Jogos Mundiais Militares têm histórias devida parecidas, são baianos e se inspiraram nolutador e atual deputado federal Acelino deFreitas, o Popó, para iniciar os treinos de boxe.Popó, ex-campeão mundial, esteve presenteno local para prestigiar os atletas e incentivara nova geração: “Agradeço e parabenizo asForças Armadas por darem oportunidade aestes talentos brasileiros”, disse.

Taekwondo

O Marinheiro Diogo Silva conquistou amedalha de ouro para o Brasil no taekwondo,

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

Soares lutou na categoria até 62 kg e ficoucom a prata. O País ainda conquistou maisduas medalhas de bronze no esporte, com osMarinheiros Michael Soares e Josiane Lima.

Paraquedismo

O Suboficial Noel Carlos da Silva Bar-bosa, único atleta da Marinha na equipebrasileira de paraquedismo, conquistou amedalha de bronze na categoria Formaçãoem Queda Livre, atuando como cinegrafistado time feminino.

na categoria até 68 kg, em uma disputa con-tra o atleta iraniano Abbas Sheikki, em lutarealizada no Centro de Educação Física Al-mirante Adalberto Nunes (Cefan). Diogo fezuma luta de superação, pois havia se ma-chucado na semifinal e, durante o combatefinal, recebeu por três vezes atendimentomédico, deixando o público apreensivo.

A Marinheira Talisca Reis (-53kg) ficoucom a medalha de prata em disputa com achinesa Yiling Li. Já a Marinheira Aparecida

Diogo Silva vibra após a vitória

Aparecida Soares (à esquerda) recebe a medalha de prata

Nesta modalidade, desenvolvida em oitorodadas, os times, compostos por quatroparaquedistas, precisam formar umasequência predeterminada de figuras em

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

queda livre, valendo a maior quantidadeformada corretamente. O trabalho docinegrafista é fundamental, pois cabe a elecapturar adequadamente as imagens du-rante a queda livre, como parte integrantedo time, e entregá-las ao quadro de árbi-tros para a realização dos julgamentos.

O Suboficial Noel é mergulhador de com-bate, serve atualmente na Força de Submari-nos e possui mais de 6.200 saltos na carreira.

Atletismo

O Brasil conquistou oito medalhas de ouro,três de prata e três de bronze. Os atletas daMarinha tiveram destaque na modalidade,contribuindo para este bom desempenho.

O Marinheiro Rafael Fernandes conquis-tou o ouro na final dos 400m com barreiras.No salto em distância, o Brasil garantiu amedalha de ouro com Keila Costa e a deprata com a Marinheira Vanessa Seles. KeilaCosta e a marinheira Ana Cláudia Silva ga-nharam as medalhas de prata no salto triploe nos 100m rasos, respectivamente.

No revezamento masculino 4x100m, osbrasileiros disputaram uma prova emocionan-te na final e venceram. Os marinheiros BasílioMorais e Ailson Feitosa fizeram parte da equi-pe que ganhou o ouro. O Brasil também con-seguiu o lugar mais alto do pódio norevezamento feminino. Na equipe, estavamas marinheiras Geisa Coutinho e Ana Silva.

Futebol feminino

Vencendo a Alemanha por 5 x 0 em SãoJanuário, as brasileiras levaram a Medalha deOuro na modalidade. O destaque da SeleçãoBrasileira foi a Marinheira Kátia Cilene, auto-ra de dois gols da partida. Ela foi artilheira dacompetição, com nove gols. O comandanteda Marinha esteve no estádio e participouda cerimônia de entrega de medalhas.

Seleção Brasileira posa para atradicional foto antes do jogo

Medalha de ouro para oMN Rafael Fernandes, nos 400m rasos

Brasileiras comemoram a conquistada medalha de ouro

Composta apenas por integrantes daMarinha, a equipe já havia goleado a Fran-ça por 4 x 1, também com destaque paraKátia Cilene, que marcou dois gols.

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

Natação

O Marinheiro André Daudt conquistoumedalha de ouro para o Brasil norevezamento 4x100m medley masculino. Asfinais de natação foram realizadas no Par-que Aquático Maria Lenk, com a conquis-ta de dez medalhas ao todo: três de ouro,quatro de prata e três de bronze.

ra (RM1) Ciro Coelho, o Brasil pode come-morar: “Conseguimos um resultado fantás-tico e, apesar de estarmos competindo emcasa, os nórdicos são muito fortes”.

O comandante da Marinha e o coman-dante-geral do Corpo de Fuzileiros Navais,Almirante de Esquadra (FN) Marco Anto-nio Corrêa Guimarães, entregaram, no Cefan,as medalhas de ouro, prata e bronze dopentatlo naval, nas modalidades individuale por equipes, no feminino e no masculino.

No individual feminino, a Marinheira Si-mone Lima ganhou o bronze. O ouro ficoucom a Noruega e a prata com a Finlândia. Nofeminino por equipes, Suécia e Noruega fica-ram com o ouro e a Prata, respectivamente.

No individual masculino, o atleta brasi-leira premiado com o bronze foi o SargentoMax Santos. A Alemanha levou o ouro e aPolônia, a prata. Polônia (ouro), Alemanha(prata) e Brasil (bronze) subiram o pódiono masculino por equipes.

O Cefan sediou todas as competiçõesde pentatlo naval dos Jogos. As instala-ções são de última geração e estão entre asmelhores do mundo.

O Pentatlo Naval foi criado em 1949, quan-do a Marinha italiana, preocupada com apti-dão física de seus marinheiros, estabeleceuum programa de treinamento que culminouem uma competição com cinco provas detécnica naval, realizada em 1951. Atualmen-te, a modalidade é disputada nas seguintesprovas: pista de obstáculos, natação de sal-vamento, natação utilitária, habilidade na-val e cross-country anfíbio.

CAMPEONATO DE VELA DOS JMMRIO 2011

Acompanhar o torneio de vela, na Baía deGuanabara, a bordo do Navio-Veleiro (NVe)Cisne Branco foi uma oportunidade únicapara os 30 repórteres do País e do exteriorque cobriram os Jogos Mundiais Militares.

MN André Daudt posa com a medalha de ouro

Atletas do revezamento 4 x 100m medleymasculino no lugar mais alto do pódio

Entre os atletas da Marinha do Brasil, aMarinheira Michele Lenhardt conquistoua medalha de prata no revezamento 4 x 100mmedley feminino.

Pentatlo naval

A seleção brasileira de pentatlo naval,formada somente por atletas da Marinhado Brasil, subiu a todos os pódios, semprecom medalhas de bronze. Na opinião dotécnico da seleção, Capitão de Mar e Guer-

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

Aviso de Instrução Aspirante Nascimento(U10) acompanha a regata na

Baía de Guanabara

Atletas da equipe feminina do Brasil.Da esq. para a dir. – Isabel Swan,Juliana Mota, Fernanda Decnop,Renata Decnop e Martine Grael

Seleção militar feminina de voleibol ecomissão técnica

Bloqueio brasileiro foi fundamental para aconquista do ouro

Ginásio do Maracanãzinho, as duas meda-lhas de ouro em disputa na modalidade.Ambas as vitórias foram sobre as equipes daChina. No feminino, as brasileiras vencerampor 3 sets a 1; no masculino, por 3 sets a 0.

Comandado pelo Capitão de Mar e GuerraRenato Melo, o tradicional navio da Marinhado Brasil conduziu a imprensa em seu traba-lho, na largada das regatas, no dia 19.

Enquanto a imprensa registrava a regata abordo do navio, as equipes brasileiras se es-meravam na água, fechando o segundo diamuito bem posicionadas. Na final, ocorridadia 22, o Brasil obteve o ouro no femininofleet race e no open match racing. No openfleet race, ficou com a prata.

VÔLEI, VÔLEI DE PRAIA EBASQUETE

As seleções brasileiras militares de volei-bol, feminina e masculina, conquistaram, no

No vôlei de praia, as duplas masculina efeminina do Brasil ganharam as medalhas deouro, também em disputa contra a China. Asfinais aconteceram na Arena de Copacabana.

As brasileiras Vanilda Leão e ÂngelaVieira, sargentos do Exército Brasileiro, fe-charam o jogo com uma contundente vitó-ria por 2 sets a 0.

A dupla masculina da modalidade tam-bém levou o primeiro lugar e a cobiçadamedalha de ouro, novamente por 2 sets a 0.Porém, dessa vez, sem folga no placar. Noprimeiro set, o Brasil fechou por 22 a 20 e,no segundo, os chineses chegaram a ficar

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

Ângela Vieira comemora a vitória

à frente, mas nos minutos finais da partidaa dupla verde e amarela virou o jogo, con-quistando o lugar mais alto do pódio.

Ainda no vôlei de praia, a dupla demarinheiras Camila Bertozzi e Rachel Nunesconquistou a medalha de bronze, assimcomo a dos sargentos do Exército RogérioFerreira e Roberto Pitta.

Jogadores da seleção brasileira comemorammais um ponto conquistado na partida

A seleção brasileira militar de basquetemasculino conquistou a medalha de ouroao vencer a Grécia por 76 a 64, na Arena da

Pódio do vôlei de praia masculino

Partida final contra a Grécia

O Marinheiro Shilton Santos soube donascimento do filho horas antes

do início da partida

Marinheiro (MN) Audrei Parisotto arremessadurante a partida

O técnico Alberto Bial, em entrevistaapós o jogo

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

Barra. A equipe comandada pelo técnicoAlberto Bial venceu todas as parciais dojogo (18-14, 35-29, 56-49 e 76-64) e superoua marcação cerrada dos gregos.

Na semifinal, o Brasil venceu a forteequipe dos Estados Unidos.

FUTEBOL MASCULINO

A seleção brasileira ficou com a meda-lha de bronze, derrotando o Catar por 1 a 0no Engenhão. A vitória dos anfitriões veiona prorrogação, após empate sem gols notempo regulamentar.

O gol que decretou o triunfo brasileiro emais uma medalha para o País nos Jogosfoi marcado por Francis Coutinho, de ca-beça, aos nove minutos do segundo tem-po da prorrogação.

TRIATLO

No último dia dos 5o JMM, a prova detriatlo resultou em mais quatro medalhaspara o Brasil. Doze atletas representaram oPaís em categorias coletivas e individuais,na competição realizada na manhã do dia24 de julho, na Praia de Copacabana. AMarinha foi a responsável pela organiza-ção do evento. A estrutura foi montada aolado do Forte de Copacabana e reuniu umpúblico de quase 15 mil pessoas.

A equipe feminina foi a primeira a com-petir. Às 8 horas foi a largada da natação.Um total de 46 militares de 13 países per-correu 1,5 km em duas voltas na áreademarcada no mar. Entre as brasileiras, asargento do Exército Brasileiro FláviaFernandes foi a primeira a concluir a nata-ção e sair da área de transição para o ciclis-mo. Ao longo dos 40 km distribuídos emdez voltas, as marinheiras Fernanda Garciae Carolina Pereira e as sargentos do Exérci-to Vanessa Gianinni, Carla Moreno ePâmella Oliveira pedalaram em comboioprotegendo umas as outras e mantendouma posição privilegiada. Mas foi na corri-da dos 10 km que a Sargento Carla Morenodisparou, abriu uma grande diferença econseguiu finalizar a disputa em 2o lugarna categoria individual, levando a medalhade prata. Por causa das boas posições dechegada das demais brasileiras, o grupoganhou medalha de bronze na categoriafeminino coletivo.

Do triatlo masculino individual e coleti-vo participaram 102 atletas de 26 países.Ao final da prova, os triatletas do Brasilsubiram ao pódio para receber duas meda-lhas de prata, na categoria masculino cole-tivo e na categoria mista, que une os trêsmelhores colocados do masculino indivi-dual com a melhor colocada do femininoindividual em um só grupo.

MARATONA RIO 2011

O evento aconteceu no dia 17 de julho,com largada da Praça Tim Maia, no Recreiodos Bandeirantes, e chegada no Aterro doFlamengo, totalizando um percurso de 42km. Por cerca de 2h30, 54 atletas de distin-tas nações buscavam a melhor colocação.A competição, que aconteceu junto com aMaratona Caixa da Cidade do Rio de Janei-ro, atraiu um público de aproximadamente60 mil pessoas para o Aterro do Flamengo.

Brasil comemora pratano masculino coletivo do triatlo

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

Dentre as atletas brasileiras na compe-tição, a melhor colocação na categoria fe-minina foi para a Cabo Denise Campos, MB,que chegou em 7o lugar, concluindo a pro-va em 2h52. Na sequência, ocupando a 9a

posição, estava a Soldado Gisele de Jesus,da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ).No masculino, a melhor colocação ficoupara o Cabo João de Souza, do ExércitoBrasileiro (EB), que chegou em 11o.

Tambone Ngoie e Rachid Ghamnoumi) e a ter-ceira com o Quênia (Paul Kosgei).

VILA BRANCA DA MARINHA

A Vila Naval do Guandu do Sapê, co-nhecida como Vila Branca da Marinha, cum-priu bem seu propósito de oferecer como-didades, facilidades e programação de lazera cerca de 1.500 atletas. A Vila Branca foiconstruída especialmente para abrigar de-legações participantes dos Jogos da Paz, eos que lá se hospedaram puderam treinar

Premiação da categoria femininana Maratona Rio 2011

Fachada da Vila BrancaO nível da competição foi bastante alto,trazendo atletas olímpicos que participaramdas Olimpíadas de Pequim em 2008, como foi ocaso de Kum Kim, da Coreia do Norte. Nopódio, o ouro para a categoria feminina ficoucom Kum Kim, a prata com Yanan Wei (China)e o bronze com Helaria Johannes (Namíbia).Na categoria masculina, a primeira e a segun-da colocações ficaram com a França (Patrick

Direita para esquerda: Gisele de Jesus, daPMRJ; João de Souza, do EB; e

Denise Campos, da MB

nas academias cobertas e a céu aberto, alémde utilizar toda a infraestrutura do local:telefones públicos, lojas para venda dechips e baterias de celular, agência de câm-bio e correio, lavanderia, restaurante, lanhouse, loja de souvenirs e conveniência eagência de turismo para venda de pacotesde passeios pelo Rio de Janeiro.

A Vila Branca, construída em uma áreatotal de 81.836,99 m², fica em Campo Gran-

Área interna dos apartamentos

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

de, Zona Oeste do Rio, em um terreno naárea do Centro de Instrução AlmiranteMilcíades Portela Alves (Ciampa). Com umaárea construída de 65.982,28 m², ela é com-posta por blocos de três pavimentos e dis-põe de 476 vagas de estacionamento.

O projeto arquitetônico, além de excep-cional área verde e de lazer, permite agra-dável insolação e ventilação das unida-des, gerando economia de energia elétri-ca, principalmente no uso de condiciona-dores de ar. Com o fim dos jogos, as insta-lações servirão como moradia para milita-res da Marinha.

Ao lado da Vila Branca foi inaugurado oGinásio Gorro de Fita, projetado para aten-der aos requisitos das competições olímpi-cas, e que abrigou a modalidade de boxenos 5o JMM.

Em área coberta de70m x 40m, possui fa-cilidades como: vesti-ários independentespara duas equipes epara arbitragem; amplasala de musculação eárea para aquecimen-to; instalações para posto médico, salaspara anti-dopping, árbitros, informática esegurança; arquibancada para 300 pesso-as, instalações para mídia televisiva, sala

de imprensa e local para entrevistas; trêslanchonetes independentes; amplo estaci-onamento; e circulação atendendo aos pa-drões olímpicos para público, equipes, ar-bitragem e serviços.

NA COBERTURA, O CCSM

O Centro de Comunicação Social da Ma-rinha (CCSM) mobilizou sua estrutura paraa cobertura dos 5o Jogos Mundiais Milita-res. Com o propósito de manter os públi-cos interno e externo da Marinha bem in-formados de todo o desenrolar das compe-tições, o CCSM elaborou o Plano de Co-municação Social Rio 2011 e programouuma ampla cobertura do evento, de forma acontemplar o atendimento das demandas

da imprensa especi-alizada e a produçãode conteúdo para a TVMarinha na Web, Rá-dio Marinha FM, pá-ginas da Marinha naInternet e na Intranet,periódicos Nomar eMarinha em Revista,

Nomar Online e endereços oficiais da For-ça nas redes sociais, como o Facebook,Flickr e Twitter.

Equipes de Imprensa e do Serviço deNotícia dos Jogos

A Vila Branca, com o fimdos jogos servirá como

moradia para militares daMarinha

Ringue de boxe no Ginásio PoliesportivoGorro de Fita

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

Equipes de Produção e Divulgação do Centro de Comunicação Social da Marinha

Repórter da TV Marinha na Webentrevistando atletas após a

competição de triathlon

Desse modo, foi deslocada para o Riode Janeiro uma equipe de dez oficiais e seispraças, que se somou aos militares atual-mente sediados no Núcleo de Implantaçãodo CCSM-Rio. No total, 30 profissionaisficaram diretamente envolvidos no even-to, distribuídos em equipes com atribuiçõespré-definidas:

Na produção e divulgação de conteúdotrabalharam: quatro equipes jornalísticas,responsáveis pela cobertura das competi-ções selecionadas; uma equipe de produ-ção, responsável pelo levantamento diárioda situação dos jogos e atualização dosresultados, prestando suporte às equipesde campo; uma equipe de edição, respon-sável pela prontificação final dos vídeosda TV Marinha na Web; uma equipe deInternet, responsável pela atualização daspáginas oficiais da Marinha, das redes so-ciais e do hotsite criado especialmente paraos jogos; e uma equipe de coordenação edireção, responsável pela elaboração da

pauta, seleção do conteúdo, revisão e apro-vação do material produzido.

Para realizar, de maneira tempestiva, oatendimento à imprensa e o acompanha-mento da mídia, foi destacado pessoal ope-rando a partir do Centro Principal de Mídia(MPC) e junto aos Centros Integrados deAções Locais (Cial), apoiando as suasações, por meio de visitas de coordenaçãoe orientação técnica.

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

No Serviço de Notícia dos Jogos (SNJ),uma equipe ficou responsável pelo acom-panhamento diário de notícias dos jogos eo encaminhamento de sugestões de pautapara postagens nas redes sociais da MB.

Além disso, as Organizações Militaresda Marinha responsáveis pelos locais decompetição receberam pessoal específicoda área de Comunicação Social, de forma areforçar a capacidade de atendimento à im-prensa, aos atletas e ao público em geral.

Como resultado, no período dos Jogosforam produzidos 37 vídeos para a TV Ma-rinha na Web, postados 41 álbuns de fotosdo evento, publicadas 51 edições do NomarOnline, elaborados dez sitreps diários dascompetições e postadas mais de uma cente-na de mensagens nas redes sociais.

CERIMÔNIA DE ENCERRAMENTO

Na festa de encerramento dos 5o JogosMundiais Militares, dos quais participaram111 delegações esportivas de diferentespaíses, a Esquadrilha da Fumaça fez um

show de acrobacias aéreas. O mascote Arione a sua tropa, símbolos da Paz entre as Na-ções, fizeram a última aparição, enquanto olocutor da festa anunciava a liderança ofi-cial do Brasil no quadro de medalhas.

Fogos de artifício marcaram o início danoite. Com a presença do então ministroda Defesa, Nelson Jobim, e dos comandan-tes da Marinha, Almirante de Esquadra Ju-lio Soares de Moura Neto, do Exército, Ge-neral de Exército Enzo Martins Peri, e daAeronáutica, Tenente-Brigadeiro do ArJuniti Saito, subiram ao palco os pianistas

O mascote Arion e sua tropa na cerimônia de encerramento dos 5o Jogos Mundiais Militares, noEstádio João Havelange

Delegação da Indonésia leva faixa agradecendoao povo brasileiro pela amizade

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

Arthur Moreira Lima, Hamilton Godoy,João Carlos Assis Brasil, Nelson Ayres,Antônio Adolfo e Wagner Tiso, que pre-parou um arranjo especial com seis pianospara a execução do Hino Nacional.

A primeira Banda de Música a entrar nogramado do Estádio João Havelange foi a daMarinha do Brasil, executando a canção “Cis-ne Branco”, seguida pelas bandas do Exérci-to Brasileiro, da Força Aérea Brasileira, daPolícia Militar do Estado do Rio de Janeiro edo Corpo de Bombeiros Militar do Estado doRio de Janeiro.

Após as bandas, foi avez de as delegações to-marem conta do gramado.A delegação da Indonésialevou uma faixa agrade-cendo ao povo brasileiropela amizade: “Vocês esta-rão sempre em nossos co-rações”. A última delega-ção a entrar foi a brasileira.

Esta foi a primeira vezem que o país que sediouos Jogos Militares ficouem primeiro lugar no qua-

dro geral de medalhas.O Brasil foi o primeiroem 11 modalidades.

Durante o encerra-mento, o ministro NelsonJobim se pronunciou pe-dindo que todos fizes-sem um minuto de silên-cio em memória dos no-ruegueses mortos no úl-timo fim de semana. Emseguida, o presidente doCism, Coronel HamadKalkaba Malboum, anun-ciou o próximo país asediar os Jogos: a Coreiado Sul. Foi exibido umvídeo mostrando as be-

lezas naturais daquela região e a infraestruturaplanejada para os estados que sediarão os 6o

Jogos Mundiais Militares, em 2015.Foi realizada, ainda, uma apresentação

de taekwondo em um tatame montado nopalco do Estádio João Havelange, por seresta modalidade esportiva originada naCoreia do Sul, próximo país a sediar os Jo-gos. Um grupo de percussão daquele paístambém se apresentou no palco.

A esportista e apresentadora de TVGlenda Kozlowski anunciou com emoção

Esquadrilha da Fumaça faz um show de acrobacias aéreasna festa de encerramento

Grupo de Percursionistas da Coreia do Sul

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JOGOS MUNDIAIS MILITARES – Marinha em destaque

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<EDUCAÇÃO>; Esporte; Educação física; Olimpíada;

um momento especial da noite: a chamados Jogos foi apagada e, logo após, teveinício o show de encerramento com JorgeBen Jor.

A organização dos Jogos fez um agra-decimento especial aos voluntários, afir-

mando que sem eles não teria sido possí-vel a realização do evento com brilhantis-mo. O Cism afirmou ter conseguido, duran-te os nove dias de competições, realizarseu propósito principal, que era o de uniros povos por meio dos esportes.

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SUMÁRIO

IntroduçãoForças anfíbias e a conjuntura atualAs operações anfíbias no século XXIO conjugado anfíbioOperações anfíbias – perspectivasConclusão

A RETOMADA DO PENSAMENTO ANFÍBIO

INTRODUÇÃO

A edição de abril de 2011 do periódicoJane’s Navy International (JNI) pu-

blicou um artigo1 que apresenta a análisede alguns programas e de revisões doutri-nárias, em desenvolvimento no UnitedStates Marine Corps2 (USMC), voltadaspara o futuro da maior tropa anfíbia do

mundo, que tem inspirado aqueles que sededicam às operações anfíbias e suas pe-culiaridades ou têm algum interesse.

Tal artigo ressalta a preocupação doUSMC na retomada do foco em sua voca-ção anfíbia e a necessária reaproximaçãocom a United States Navy3 (USN). Essarevisão é decorrente da sua dedicação pormais de dez anos aos combates terrestres

* O autor serve no Departamento de Pesquisa e Doutrina do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais.1 O referido artigo foi escrito pelo repórter da JNI especializado em assuntos marítimos Sam LaGrone.2 Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA.3 Marinha dos EUA.

STEWART DA PAIXÃO GOMES*Capitão de Corveta (FN)

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A RETOMADA DO PENSAMENTO ANFÍBIO

no Iraque e no Afeganistão e pretende cor-rigir o rumo da tropa anfíbia estadunidense,com a reavaliação de suas prioridades deemprego, voltando a direcionar seu esfor-ço principal para a execução de operaçõesanfíbias.

Em 2010, o Corpo de Fuzileiros Navais(CFN) da Marinha do Brasil (MB) publicou naedição extra4 de seu peri-ódico, O Anfíbio (Fig. 1),uma série de considera-ções doutrinárias no in-tuito de estabelecer umdirecionamento geralpara o seu desenvolvi-mento, apresentando a“Visão de futuro doCFN”, em alguns aspec-tos, coincidente com arevisão do USMC. Essavisão de futuro está fun-damentada em tradiçõeshistóricas, característicasoperacionais e valoresessenciais dos FuzileirosNavais que moldaram, aolongo de mais de dois sé-culos de existência, suavocação para a realizaçãode operações anfíbias epara o desenvolvimento de atividades volta-das à segurança de meios navais e de áreas einstalações no Brasil ou no exterior5.

A seguir, serão apresentados os pontosmais relevantes desse artigo da JNI, comalgumas particularidades das Forças Anfí-bias e considerações, presentes na revi-são do USMC e no “A próxima singradura”,que poderão ajudar o leitor a compreendera importância estratégica das operaçõesanfíbias, em particular no século XXI.

FORÇAS ANFÍBIASE A CONJUNTURAATUAL

Segundo Clause-witz6, “a guerra é a con-tinuação da política poroutros meios”, e, assim,o Poder Militar serveaos interesses de seuEstado, devendo adap-tar-se às necessidadesvigentes.

Nos últimos dezanos, desde o atenta-do às Torres Gêmeas eà consequente “decla-ração” de Guerra con-tra o Terror7, promovi-da pelo então presi-dente dos Estados Uni-

dos da América (EUA), George W. Bush, oUSMC tem se dedicado aos combates ter-restres no Iraque e no Afeganistão. Em de-

4 O Anfíbio, edição extra de 2010 – “A próxima singradura”, disponível em: <https://www.mar.mil.br/cgcfn/downloads/oanfibio/oanfibio_esp.pdf>.

5 Os Fuzileiros Navais realizam a segurança de áreas e instalações de interesse do Poder Marítimo, denavios da MB, de autarquias como o Ministério da Defesa e o Ministério das Relações Exteriores e,ainda, de representações diplomáticas brasileiras no exterior.

6 Carl von Clausewitz (1780-1831), um dos precursores do pensamento estratégico contemporâneo, foimembro da nobreza e militar prussiano. Suas obras foram baseadas nos estudos das campanhas deFrederico, “O Grande”, e Napoleão Bonaparte. Autor do livro Da Guerra, na sua concepção aguerra é um instrumento da política dos Estados, um ato de força para compelir o inimigo a fazernossa vontade, que tem, em sua essência, o combate.

7 War on Terror – expressão cunhada por George W. Bush, então presidente dos EUA, para apresentarações, em diversos campos, deflagradas contra organizações e regimes considerados terroristas queameaçassem os EUA e seus aliados.

Fig. 1 – O Anfíbio – “A próxima singradura”

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A RETOMADA DO PENSAMENTO ANFÍBIO

corrência, as forças-tarefa anfíbiasestadunidenses sofreram um afastamentoentre suas Marine Air-Ground Task For-ces8 (MAGTF) e seus Amphibious ReadyGroups9 (ARG), desviando o foco do USMCe da USN das operações anfíbias, fazendorecair sobre os Fuzileiros Navais dos EUAduras críticas, algumas vezes até mesmolevando-os a serem classificados como um“segundo exército”.

Algumas condicionantes desses comba-tes, como, por exemplo, o amplo emprego dosartefatos explosivos improvisados contra asforças estadunidenses, trouxeram ao USMCacréscimo excessivo de peso pela necessi-dade de blindagem dos meios (Figs. 2 e 3) edo pessoal, fato ressaltado por seu ex-co-mandante-geral, General James Conway.

O General Conway alertou o Congressodos EUA que o aumento de peso, aliado àrobusta cadeia de suprimentos, alterouconsideravelmente importantes caracterís-ticas das forças do USMC, entre elas suamobilidade estratégica, com reflexos expres-sivos em sua capacidade expedicionária10.

Apesar da retirada de suas forças doIraque, o empenho do USMC no Afeganistãocontinua, o que pode ser comprovado pelasOrientações de Planejamento do atual coman-dante-geral (Commandant’s PlanningGuidance 2010), General James F. Amos, queapresenta como prioridade “continuar a for-necer as mais bem treinadas e equipadas uni-dades do USMC para o Afeganistão”.

Esse empenho do poder militarestadunidense no Oriente Médio, na últi-ma década, fez com que o USMC e a USNcolocassem em segundo plano sua dedica-ção às operações anfíbias. Porém em ne-nhum momento suas forças deixaram deestar aprestadas para executar tais opera-ções, tendo realizado cerca de cem delasnos últimos 20 anos, o dobro do que foirealizado durante o período da Guerra Fria(1947-1989).

Em junho de 2011, o presidente dos EUA,Barack Obama, declarou11 que até 2014 de-verá estar concluída a retirada das tropasestadunidenses do território afegão. Comisso, já começam a surgir questionamentos,

8 MAGTF é a denominação doutrinária empregada pelo USMC para o que a MB caracteriza como GrupamentoOperativo de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav). Cabe ressaltar, como diferença significativa entreeles, a existência de meios aéreos orgânicos, de asa fixa e rotativa, do USMC nas MAGTF.

9 ARG são os meios navais da USN necessários para embarcar os elementos das MAGTF.10 Declaração feita ao Comitê das Forças Armadas dos EUA, de 24 fevereiro de 2010, disponível em:

<http://www.au.af.mil/au/awc/awcgate/usmc/posture_feb10.pdf>11 Remarks by the President on the Way Forward in Afghanistan, disponível em: <http://

www.whitehouse.gov/the-press-office/2011/06/22/remarks-president-way-forward-afghanistan>

HUMVEE blindado(Vtr leve do USMC)

Fig. 3Fig. 2

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A RETOMADA DO PENSAMENTO ANFÍBIO

como o do próprio secretário de Defesa,Robert Gates, sobre qual deverá ser o pa-pel do USMC no período pós-Afeganistão.

Desde a criação da Missão das NaçõesUnidas para a Estabilização do Haiti(Minustah) (Fig.4), em 2004, a MB partici-pa com um GptOpFuzNav, nucleado em umBatalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais.Apesar de as ações desenvolvidas nessamissão serem preponderantemente terres-tres e com viés similar ao da Garantia da Leie da Ordem, têm sido realizadas as adapta-ções necessárias às especificidades da mis-são sem, contudo, descaracterizar o perfiloperacional dos GptOpFuzNav, voltadopara a realização de operações anfíbias. Doponto de vista doutrinário, essas adapta-ções, como, por exemplo, a redução do efe-tivo dos Grupos de Combate, visam àefetividade das ações do GptOpFuzNav.

As variações na conjuntura haitiana,como as decorrentes do terremoto de 2010,foram seguidas de rápidas mudanças depostura da tropa que reafirmaram a flexibi-lidade e a versatilidade do Poder Naval bra-sileiro, permitindo que não houvesse pre-juízo para o cumprimento de suas tarefas.

A manutenção desse GptOpFuzNav na-quele país possibilita à MB exercitar suacapacidade expedicionária, com o desenvol-vimento da estrutura logística para o aten-dimento das necessidades de uma Força

Naval operando a grandes distâncias debases no Brasil. E os desafios enfrentadospelos Fuzileiros Navais na Minustah nãotêm exigido transformações significativas napolítica de material do CFN, o que vem per-mitindo adquirir equipamentos e recursosoutros que também atendam ao desenvolvi-mento das operações anfíbias, proporcio-nando, assim, um incremento no inventárioda Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE).

AS OPERAÇÕES ANFÍBIAS NOSÉCULO XXI

Respostas aos questionamentos sobreo emprego do USMC após sua retirada doAfeganistão são estudadas há algum tem-po. O artigo “As Operações Anfíbias noséculo XXI”, publicado na RMB do 1o tri-mestre de 2010, apresenta a preocupaçãodos Fuzileiros Navais dos EUA com o“renascimento intelectual” do pensamen-to anfíbio como ponto de partida para aretomada e o subsequente aprimoramentode suas capacidades anfíbias. Dessa for-ma, o USMC pretende criar melhores con-dições para lidar com instabilidades e in-certezas deste século.

Em 2010, o então comandante-geral doUSMC, General James Conway, estabeleceuum grupo de trabalho para revisar a estrutu-ra do USMC e apresentar sugestões para ofuturo da tropa anfíbia dos EUA. Essa revi-são, concluída em 2011, na gestão do atualcomandante-geral, General James Amos, pro-pôs ações para tornar o USMC uma forçamilitar “peso-médio” (middlewheight force),com mobilidade estratégica, a ser emprega-da como força avançada, de presença glo-bal, capaz de responder rapidamente a situ-ações de crise. Essa Força deverá ser apro-priada para o embarque nos meios navais,leve o suficiente para garantir flexibilidadenas ações, porém forte o bastante para ocumprimento das missões.

Fig. 4 – A MB no Haiti

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A RETOMADA DO PENSAMENTO ANFÍBIO

Outras propostas importantes foram ex-plorar o emprego de Fuzileiros Navais apartir dos navios da USN, mesmo daque-les que não sejam anfíbios, e aumentar aintegração do USMC com as forças de ope-rações especiais e com os demais órgãosde segurança dos EUA.

Nos EUA, a preocupação com a capaci-dade anfíbia não está restrita ao USMC.Recentemente, o Almirante John C. Harvey,comandante da US Fleet Forces Command12,enviou uma mensagem a todos os seus co-mandos subordinados considerando que,nos últimos dez anos, devido aoenvolvimento dos EUA no Iraque e noAfeganistão, a USN e o USMC não realiza-ram exercícios de grande vulto voltados paraa execução de operações expedicionárias13

conduzidas por forças anfíbias. Considera,ainda, que a capacidade de conduzir taisoperações é fundamental e de responsabili-dade exclusiva de forças-tarefa compostaspor unidades da USN e do USMC.

Para revigorar essa capacidade, o Almi-rante Harvey determinou a ampliação doexercício anfíbio Bold Alligator 2012 paraque seja o maior exercício anfíbioestadunidense nos últimos dez anos e di-vulgou, na mesma mensagem, o seu pro-grama de leitura pessoal. Recomendou, ain-da, a seus subordinados diversos livros14

e publicações doutrinárias relacionadas aotema Operações Anfíbias. Na percepção doAlmirante Harvey, essa bibliografia servirá

de base para a retomada da cultura anfíbiada USN e do USMC.

Ao final de sua mensagem, o AlmiranteHarvey conclui: “O entendimento da his-tória, doutrina e táticas das operações an-fíbias é importante para todos nós (USN),não apenas para aqueles que servem nosnavios anfíbios ou na força de superfície.A execução efetiva das operações anfíbiasenvolve toda a USN e o USMC.”

As operações anfíbias desenvolvidas peloUSMC ultrapassaram os limites das opera-ções militares clássicas, em que se emprega-va o poder militar com uma abordagem mera-mente clausewitzniana, apenas associado aouso da força para impor nossa vontade aoinimigo. Para o General (USMC) George Flynn,comandante do Marine Corps CombatDevelopment Command15 (MCCDC), nesteséculo as forças anfíbias dos EUA atenderãoprincipalmente aos seguintes propósitos:cooperar para a segurança internacional, pormeio da dissuasão e rápida resposta em situ-ações de crise; contribuir para a capacitaçãode seus aliados, para que possam efetiva-mente implementar a segurança regional; eprojetar poder militar, a partir do mar, para adefesa dos interesses estadunidenses. E,assim, as operações anfíbias extrapolaram osquatro tipos consagrados no século passa-do – assalto, incursão, demonstração e reti-rada anfíbia – e incorporaram um quinto tipo,o amphibious engagement, que vem sendotratado na MB como “projeção anfíbia”16.

12 Comandante das Forças Navais dos EUA no Atlântico.13 Operações expedicionárias são “operações militares que podem iniciar-se com curto pré-aviso, inte-

gradas por forças antecipadamente desdobradas ou de desdobramento rápido, autossustentáveis,configuradas para atingirem objetivos claramente definidos em um país estrangeiro”. (Till, 2007 p.297).

14 Vale ressaltar que foi dada grande ênfase à bibliografia relacionada à Guerra das Malvinas (1986), comos livros One hundred days, The Batlle of San Carlos e No picnic.

15 Comando de Desenvolvimento do Combate do USMC.16 Este tipo de operação anfíbia foi inicialmente classificado pelo USMC como “outras operações

anfíbias” e hoje tem sido tratado por engagement, podendo ser exemplificado, entre outras, pelasoperações de evacuação de não combatentes e pelas operações humanitárias, conduzidas por forças-tarefa anfíbias.

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A RETOMADA DO PENSAMENTO ANFÍBIO

De acordo com o Marine CorpsOperating Concepts, publicado em 2010,nas últimas duas décadas, das mais de 120operações anfíbias realizadas pelas forças-tarefa anfíbias estadunidenses, 78 delasforam classificadas nesse quinto tipo.

Fatos como a promulgação da Estraté-gia Nacional de Defesa brasileira e o atualposicionamento da comunidade internaci-onal em relação aos assuntos ligados àsegurança marítima17 fizeram com que osFuzileiros Navais da MB reafirmassem suavocação anfíbia e apresentassem, na suaVisão de Futuro, como esperam poder con-tribuir para a defesa da Amazônia Azul18.

O GptOpFuzNav no Haiti, o Grupo deApoio Técnico de Fuzileiros Navais, pres-tando assessoria para a criação da Marinhada Namíbia, e a Operação Atlântico-2010, como desembarque anfíbio na Ilha de Fernandode Noronha, são exemplos da capacidade de

projeção do PoderNaval brasileiro so-bre terra como ferra-menta para aumen-tar a influência doBrasil no AtlânticoSul e em seu entor-no estratégico.

Além disso, oCFN vem capacitan-do seu pessoal para,a bordo dos naviosda MB, inclusive osescolta e os patru-

lha, contribuir com os Grupos de Visita e Ins-peção (GVI) e as Guarnições de Presa (GP)durante o cumprimento de tarefas relaciona-das ao Controle de Área Marítima (Fig. 5). Tam-bém têm sido estudados procedimentos quepermitam o emprego dos Fuzileiros Navais nasegurança física dos navios, quando atraca-dos ou operando em áreas próximas ao litoral,

17 Em outubro de 2010, durante o 8th Regional Seapower Symposium for the Navies of the Mediterraneanand Black Sea, na cidade de Veneza, Itália, como resultado do consenso dos representantes dos paísesparticipantes, foram publicadas as seguintes recomendações, no sentido de incrementar a segurançamarítima internacional: encorajar o compartilhamento de informações, de forma a alcançar umamaior acurácia nos aspectos concernentes à Consciência Situacional do Ambiente Marítimo; pro-mover a participação internacional nas Operações de Segurança Marítima para salvaguardar aliberdade de navegação; e apoiar países litorâneos no desenvolvimento das capacidades necessáriaspara que possam contribuir de maneira efetiva.

18 Área marítima do Atlântico Sul que engloba a Zona Econômica Exclusiva e a Plataforma Continentalbrasileiras, medindo quase 4,5 milhões de quilômetros quadrados, equivalente a cerca de 50% doterritório nacional e de maior extensão que a “Amazônia Verde”. (VIDIGAL, 2006, p. 31)

Fig. 5 – GVI/GP

Fig. 6 – Grupo de Resposta contraAmeaças Assimétricas

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onde possam vir a se tornar alvos de ameaçasassimétricas, contra as quais não se disponhade sistemas de defesa apropriados (Fig. 6).

O CONJUGADO ANFÍBIO

O fim da Guerra Fria trouxe o aumentoda desordem, causada pelo término dabipolaridade que continha os Estados me-nos desenvolvidos sob o controle dasduas grandes potências àquela época, EUAe URSS. Além disso, a intensificação doprocesso de globalização fez com que ainstabilidade em determinadas áreas domundo pudesse se refletir diretamente so-bre a segurança mundial (TILL, 2007).

Esses fatores levaram à necessidade deum maior comprometimento da comunidadeinternacional com problemas internos deoutros Estados para a garantia da estabili-dade política local, regional e, em última aná-lise, global, a fim de permitir a manutençãodas relações interestatais. Com cerca de 75%da população mundial vivendo na faixa quese estende a até 300 quilômetros do litoral(BULLARD, 2010) emais de 95% de todo ocomércio sendo realiza-do por meio de navios(GROVE, 1990) (Fig. 7),crescem de importânciaas regiões litorâneas.

Para melhor compre-ensão do impacto des-ses fatores, a demandapor forças-tarefa anfíbi-

as estadunidenses entre 2007 e 2010 cresceucerca de 86%, de acordo com dados da USN.

Tais forças, compostas por meios na-vais, aeronavais e de fuzileiros navais,harmonicamente integrados, são conheci-das na MB como o Conjugado Anfíbio e“possibilitam o emprego tempestivo de for-ça autossustentável, para cumprir missãopor tempo limitado, sob condições auste-ras e em área operacional distante de suabase” (BRASIL, 2010).

Para o cumprimento dessas missões naMB, os Fuzileiros Navais organizam-se comoGptOpFuzNav. O conceito empregado paraorganização dos GptOpFuzNav é o de com-ponentes (Fig. 8), em que os meios são con-centrados de acordo com as atividades quedesempenham durante uma operação, per-mitindo a centralização do planejamento e aconcentração de esforços em uma mesmaatividade, porém possibilitando flexibilida-de e descentralização das ações. Normal-mente, um GptOpFuzNav possui os compo-nentes de comando, de combate terrestre,de combate aéreo e de apoio de serviços aocombate, mas, de acordo com a natureza desuas tarefas, poderão ser criados outroscomponentes (BRASIL, 2003).

O GptOpFuzNav é um dos pilares doconjugado anfíbio e dispõe de capacida-des operacionais únicas para a realizaçãode operações expedicionárias que atendamàs demandas políticas das relaçõesinterestatais do século XXI.

Fig. 7 – Linhas de comunicação marítimas

Fig. 8 – A organização do GptOpFuzNav

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Porém a singularidade das capacidadesdos GptOpFuzNav é decorrente de recur-sos materiais e humanos adaptados aosmeios navais e capazes de realizar desem-barques para a projeção de poder sobreterra. Tais recursos são desenvolvidos emconjunto com uma doutrina específica paraas operações anfíbias que devem ser exer-citadas constantemente, com a realizaçãode planejamentos e adestramentos volta-dos para o emprego do conjugado anfíbio.

OPERAÇÕES ANFÍBIAS –PERSPECTIVAS

A segurança mundial já não está à sombrado temido holocausto nuclear, ameaça cons-tante durante a Guerra Fria, mas o ambienteglobalizado está repleto de “novas ameaças”19

com potencial para deflagrarem crises locais.Os riscos de essas crises tomarem proporçõesglobais são menores que no passado, porémelas têm ocorrido com maior frequência e apre-sentado naturezas variadas (EUA, 1998).

Tais crises podem evoluir para confli-tos que, mesmo não se tornando regionaisou globais, ameaçam a segurança e a liber-dade dos Estados e suas relações com seuspares no sistema internacional. Além dis-so, com a globalização, é cada vez maiscomum a presença de empresas, represen-tações e inúmeras organizações, governa-mentais ou não, de um Estado hospedadasem território estrangeiro, aumentando ain-da mais a responsabilidade internacionalpela busca de soluções para essas crises.

A conectividade do mundo moderno, pro-movida pelos avançados meios de comunica-

ção, faz com que o apelo internacional porsoluções às crises seja quase imediato, suge-rindo forças prontas para lidarem com essaspotenciais ameaças à estabilidade global.

A experiência de países como os EUAtem mostrado que as forças navais, na mai-oria dos casos, são as primeiras a se apre-sentarem em regiões onde, na atualidade,desenvolvem-se as crises. Dessa forma,proporcionam uma primeira resposta, commeios apropriados à vasta gama de situa-ções, permitindo-lhes evitar, ou ao menosreduzir, os efeitos danosos dessas crises.

A prontidão operativa do conjugado an-fíbio é fundamental para garantir que essaprimeira resposta seja oportuna. Países comoos EUA e o Reino Unido mantêm ForçasAnfíbias prontas para enfrentar os desafiosdeste século, permitindo a seus governoscapacidade para empregarem o poder militarapropriado aos respectivos interesses polí-ticos. No entanto, a manutenção dessasForças vem enfrentando dificuldades comos cortes orçamentários, comuns às pastasda defesa de diversos Estados.

Nos EUA, está em estudo a redução deaproximadamente 16 mil militares (cerca de 8%)no USMC, em decorrência da retirada das for-ças estadunidenses do Afeganistão. Além dis-so, a USN, em abril deste ano, descomissionouo USS Nassau, um Navio de Propósitos Múl-tiplos (NPM) do tipo Landing HelicopterAssault (LHA) da classe Tarawa, e está pre-visto ainda o descomissionamento do USSPeleliu, da mesma classe. Porém, dada a ver-satilidade dos NPM para as demandas atu-ais20, o USS Peleliu deverá permanecer na ati-va até que seja entregue o USS América (LHS-

19 Este termo tem sido usado para caracterizar atividades ilícitas como o tráfico de drogas, armas epessoas, o terrorismo, a pirataria, o roubo armado, a imigração ilegal, as ameaças ambientais, entreoutras (PINTO, 2010). Porém algumas dessas chamadas “novas ameaças” já ocorrem há bastantetempo, como é o caso da pirataria, tratada na declaração de Paris de 1856, e do terrorismo. Anovidade reside na associação desses delitos entre si, com a criação de redes organizadas, pararealizar atos contra os interesses dos Estados no sistema internacional (RUDZIT, 2005).

20 Ver o artigo “Navio de Propósitos Múltiplos” na RMB do 2o trimestre de 2011.

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6). Dessa forma, mesmo com as reduções or-çamentárias previstas para a defesa, o secre-tário de Defesa dos EUA, Robert Gates, decla-rou à JNI que “o governo dos EUA pretendemanter a capacidade anfíbia de projeção deduas Marine Expeditionary Brigades (MEB)21,em face da comprovada importância estratégi-ca das forças anfíbias neste século”.

Os cortes no orçamento também atingi-ram os principais programas estadunidensesrelacionados às operações anfíbias. O de-senvolvimento do Expeditionary FightingVehicle22 (EFV) (Fig. 9) foi cancelado devi-

do aos elevados custos previstos para suaconclusão (cerca de US$ 15 bilhões). Comoalternativa, estão sendo realizados estudospara definir os requisitos para três novosprogramas: um para o desenvolvimento deoutra viatura anfíbia, com o desempenhoinferior ao que estava previsto para o EFV;outro visando a desenvolver uma viaturade transporte de pessoal; e por último, umque permita a ampliação da vida útil dos atu-ais Carros-Lagarta Anfíbios (CLAnf) (Fig.10) do USMC, que são uma versão moderni-zada do modelo 7A1, que está atualmenteem uso na MB. O programa do novo caçapara apoio aéreo às tropas em terra, o F-35BLightning II, com capacidade para decola-gem vertical, também sofreu um atraso dedois anos em seu desenvolvimento, obri-gando o USMC a manter na ativa seus anti-gos Harriers e Hornets. O conceito inicialda estratégia do seabase23 foi reajustado aonovo panorama orçamentário, com um cortede cerca de 20% na capacidade de opera-

Fig. 10 – CLAnf 7A1 (MB) CLAnf RANS/RS (USMC) CLAnf 7A1 (MB)

Fig. 9 – EFV (protótipo)

21 A MEB é uma MAGTF (GptOpFuzNav) do USMC, tipo Brigada Anfíbia, composta por até 20 mil militares.22 Veículo expedicionário de combate. Este veículo estava sendo desenvolvido para permitir o seu

lançamento, a partir dos navios anfíbios, além do horizonte, transportando até 17 fuzileiros navaise garantindo velocidade na água de aproximadamente 50 km/h e de 70 km/h em terra, commobilidade superior à do carro de combate M1 Abrams.

23 A doutrina do Seabase – “Base no Mar” – propõe o estabelecimento de plataformas marítimas, a partirdas quais seja possível apoiar logisticamente operações no litoral, além do horizonte, reduzindo anecessidade do estabelecimento de instalações logísticas em terra, permitindo o emprego de tropasmais leves para os combates terrestres e possibilitando até mesmo a organização de forças no mar.

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ção. Em contrapartida, o custo final foi re-duzido em 60%. Foi mantida a ideia principalde navios semissubmersíveis para seremempregados como “portos flutuantes” emalto-mar, com capacidade para permitir atransferência de pessoal e carga geral denavios logísticos para os navios anfíbios edemais meios navais, capazes de realizar omovimento navio-para-terra (MNT), além deoperarem meios aéreos (Fig. 11 e 12).

No caso britânico, os cortes no orça-mento provocaram a revisão de sua estra-tégia nacional de defesa e segurança24,concluída em 2010. Nela, foi propostacomo solução a criação de uma força deemprego rápido25, previamente desdobra-da, eliminando a permanência de forçasem standby no próprio país. Sua concep-ção está fundamentada nos princípios daeconomia de meios, mantendo-se forçaspara atender aos compromissos do país

nos exercícios, adestramentos e opera-ções em curso, ao mesmo tempo em quepermanecem em condições de serem con-centradas e reorganizadas para o cumpri-mento de novas missões.

Essa solução aproveita as possibilidadesoferecidas pelo ambiente marítimo que,consonante com os conceitos corbettianos26,permite condições únicas para a concentra-ção estratégica dos meios, com o desloca-mento rápido e a reunião de forças que, apartir de diferentes posições geográficas,conseguem somar esforços para a conduçãode novas operações.

Dessa maneira, o poder naval britânicotenta adequar-se aos cortes orçamentári-os, porém sem abrir mão de sua capacida-de de realizar operações anfíbias, mostran-do que experiências do passado, como nasMalvinas em 198227, em Serra Leoa em200028, no Iraque em 200329 e no Líbano em

Fig. 11 – Logística nas operaçõesanfíbias convencionais

Fig. 12 – O conceito do seabase aplicado àlogística nas operações anfíbias

24 Strategic Defence and Security Review.25 Response Force Task Group (RFTG).26 Sir Julian Corbett (1854-1922), assim como Clausewitz, foi um precursor do pensamento estratégico

contemporâneo. Historiador naval britânico, lecionou no British Naval War College. Sua maisconhecida obra, Some principles of Maritime Strategy, apresenta conceitos de concentração táticae estratégica e estabelece a correlação entre a guerra no mar e a guerra em terra.

27 Assalto anfíbio na Baía de São Carlos durante a Guerra das Malvinas, contra a Argentina, em 1982.28 Operação Palliser, para realizar a evacuação de não combatentes e apoiar o governo local, ameaçado

por forças insurretas.29 Operação Telic, em 2003, para proteger diversas instalações petrolíferas na Península de Al Faw, no sul

do Iraque, durante a campanha das forças aliadas na Guerra do Iraque.

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200630, continuam a orientar o pensamentoestratégico de líderes políticos e militaresnaquele país.

O CFN tem procurado manter seu focona realização de operações anfíbias, segu-ro de que, estando aprestado para estas,terá condições de rapidamente se adaptaràs demais operações militares. Tal condi-ção de aprestamento garante o desempe-nho do GptOpFuzNav no Haiti, assim comopossibilitou o recente apoio aos órgãos desegurança pública do Estado do Rio deJaneiro durante as ocupações do Comple-xo do Alemão (Fig. 13) e da Mangueira,quando foram desenvolvidas tarefas típi-cas de apoio de serviços ao combate.

proporcionando mobilidade tática às fraçõesda tropa. Continuam também estudos e aqui-sições de novos meios, como, por exemplo,as viaturas Blindadas Sobre Rodas modeloPiranha IIIC (Fig. 14), já em operação. Alémdisso, os antigos M-113A1 estão com seuprojeto de modernização em andamento noCentro de Reparos e Suprimentos Especiaisdo CFN, visando ampliar a mobilidade e aproteção blindada dos GptOpFuzNav.

CONCLUSÃO

O panorama geoestratégico global sofreuconsideráveis mudanças nos últimos 20 anos.A bipolaridade do período da Guerra Fria ce-deu lugar a um mundo instável e repleto deameaças imprevisíveis, capazes de afetar obalanço de poder na governança global.

As forças-tarefa anfíbias têm se apre-sentado como uma excelente solução paraenfrentar tais ameaças, ora de maneira co-operativa, contribuindo com a “constru-ção” das capacidades necessárias aos Es-tados em desenvolvimento para que pos-sam assumir seus papéis na busca de umambiente internacional mais seguro, oraimpondo medidas pragmáticas, com o em-prego da força, necessárias à garantia des-sa segurança, visando à defesa dos inte-resses de seus Estados.

30 Operação Highbrow, em 2006, para a evacuação de não combatentes do Líbano durantes os combatesentre Israel e os rebeldes do Hizbollah.

Fig. 13 – CLAnf no Complexo do Alemão

Fig.14 – Viatura Piranha IIIC

Apesar das dificuldades enfrentadas pe-los meios navais, particularmente pelos na-vios anfíbios, decorrentes das restriçõesorçamentárias e dos altos custos de manu-tenção envolvidos, a Força de Fuzileirosda Esquadra (FFE) tem mantido seus exer-cícios, procurando planejar e desenvolveroperações anfíbias em situações simuladas.

No campo do material de Fuzileiros Na-vais, está em estudo a modernização dosCLAnf modelo 7A1 para a versão em uso noUSMC, modelo RAM/RS. Tais meios orgâni-cos da FFE garantem proteção blindada aosFuzileiros Navais durante o movimento na-vio-para-terra e nos deslocamentos em terra,

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A RETOMADA DO PENSAMENTO ANFÍBIO

Para os Estados, a manutenção dessa ca-pacidade de projeção de poder militar a partirdo mar garante a seus governantes forçascapazes de enfrentar crises de diferentes na-turezas, por meio da realização de operaçõesmilitares, desde as de caráter humanitário, emque não se espera o combate, até aquelas emambiente hostil, em que o enfrentamento deforças opositoras é iminente.

O Brasil, “para assegurar sua capacida-de de projeção de poder”, estabeleceu em

sua Estratégia Nacional de Defesa (2008)que “a Marinha possuirá meios de Fuzilei-ros Navais em permanente condição depronto emprego” e, ainda, incluiu no Planode Articulação e Equipamento da MB a in-corporação de quatro navios de propósi-tos múltiplos. Tais meios, aliados à atualcapacidade expedicionária do CFN, criarãomelhores condições para enfrentar as in-certezas deste século e contribuirão para adefesa dos interesses nacionais.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<ARTES MILITARES>; Pensamento militar; Política militar; Corpo de Fuzileiros Navais;Estratégia Nacional de Defesa; Poder Naval;

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O uso de óculos de visão noturna (OVN),ou comumente chamados de NVG (do

inglês night vision goggles), tem contribuí-do para o incremento das operações aéreasem ambientes terrestres e marítimos, na esfe-ra civil ou militar. Nesse ponto, minha recenteoportunidade, ao realizar o curso AdvancedHelo Instructor, na Marinha dos EstadosUnidos (US Navy), permitiu visualizar umagrande novidade em termos de aviação na-val: o processo de instrução de voo noturnoem curso de formação de pilotos com o auxí-lio desse tipo de equipamento. Junto comesse treinamento vem toda uma preocupa-ção na sua operação com segurança, o queme levou a escrever este artigo.

Como parte integrante do currículo docurso Advanced, o instrutor de voo deve

APRENDENDO A ENSINAR NO MEIO DA NOITE...COM A AJUDA DO OVN*

“Não basta colocar o OVN no capacete e sair voandopor aí. Muitos acidentes e incidentes ocorreram por causadesse conceito errado.”

ALESSANDRO PIRES BLACK PEREIRACapitão de Corveta

ter a capacidade de incorporar informaçõestécnicas e operacionais relativas ao usodos OVN com o intuito de se transformarem um instrumento facilitador para o alunocom pouca experiência e muitas dúvidas.Não basta colocar os OVN no capacete esair voando por aí. Muitos acidentes e in-cidentes ocorreram por causa desse con-ceito errado. A solução é simples: treina-mento teórico e prático e investimento eminstrução. A sua operacionalização e a nos-sa realidade orçamentária nem sempre per-mitem essa simplicidade.

Nesse ponto, a formação do instrutorcomo elemento facilitador no uso dos OVNdeve ser muito bem montada, em grau cres-cente de dificuldade e com material didáti-co adequado. Tive a oportunidade de rea-

* N.R.: Publicado na Revista Aviação Naval – julho/2011, págs. 16-18.

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lizar cerca de 12 horas de voo em diferen-tes cenários táticos e meteorologia. Comoexemplo desse material de apoio, possoexemplificar a “mesa de sombras”. A didá-tica ocorre em uma maquete de ter-reno na qual a intensidade e aaltura da luminosidade simu-lam as áreas de sombra elevam a uma interpreta-ção daquele pela tripu-lação em treinamento.Esse é um excelenteexemplo como uma ins-trução com os recursoscertos serve para au-mentar o limitado enten-dimento sobre as caracte-rísticas e limitações dessetipo de equipamento, elevan-do o alerta situacional dasequipagens e o nível de segurança nas ope-rações noturnas. O conhecimento e as ha-bilidades sobre os OVN são bastante volá-teis e requerem frequente prática para a suasustentação em um nível adequado.

Como podemos observar, os OVN po-dem aumentar os níveis de segurança, a evo-lução operacional e o alerta situacional ànoite, mas o seu usotem grande potencialpara o aumento na car-ga de trabalho do pilo-to, já que agora ele serásolicitado a realizar ta-refas que antes só rea-lizava durante o dia, epara o aumento dacomplacência a bordo,pois o piloto acha quevai ver “tudo” com osOVN. Como medidaspreventivas e educativas durante o curso,os alunos são levados a desenvolver a pos-tura necessária para superar esses proble-mas e, ao longo do tempo e do treinamento,

diminuir gradativamente a carga de trabalhoe o cansaço causados pelos novos hábitosnoturnos adquiridos ao longo dessa fasede voos no curso. Esse aspecto afeta espe-

cialmente os instrutores “Batman”(instrutores escalados para re-

alizar de forma padronizada ainstrução em OVN) e que

cumprem uma rotina com-pletamente diferente, al-terando o seu ritmocircadiano na tentativade aumentar o alertasituacional no períodonoturno e reduzir o des-

gaste físico. O movimen-to repetido e continuado da

cabeça na tentativa de au-mentar o campo de visão limi-

tado do equipamento e a acuidade vi-sual e “gerar” profundidade na imagemlevam ao elevado desgaste físico e mentaldurante esse tipo de voo.

Quando equipamentos intensificadoresde imagem são adicionados à cabeça doaviador naval para permitir o voo noturnoem locais com pouca iluminação, a noitenão “se torna dia”, como muitos pensam.

O auxílio visual queesses sistemas forne-cem não é igual às ex-periências vividas du-rante o voo diurno. Di-ficuldade em distin-guir cores e percepçãode profundidade sãoos maiores problemasencontrados quandoda operação dessesequipamentos. Pen-sando no futuro e nos

novos equipamentos que têm sido desen-volvidos para a cabine, como os brilhantespainéis MFD coloridos, outra solução deveser procurada para a utilização dos OVN.

Dificuldade em distinguircores e percepção deprofundidade são osmaiores problemas

encontrados quando daoperação desses

equipamentos

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APRENDENDO A ENSINAR NO MEIO DA NOITE... COM A AJUDA DO OVN

Imagine tudo isso somado ao aluno emfase de desenvolvimento, na qual todo vooconta para a sua avaliação final. Ele aindanão tem a maturidade desejável, mas essasdificuldades todas se amplificam. Aluno éaluno em qualquer lugar do mundo, mesmona terra do Tio Sam.

Uma grande variedade de auxílios à ins-trução pode ser implantada de forma a faci-litar a transição: aulas multimídia em salade aula, treinamentono modelo de terreno,adaptação ao equipa-mento com voo em si-mulador e treinamen-to baseado em compu-tador. Esses auxíliosdevem ter objetivossimples de aumentar aefetividade do treinamento de voo na ae-ronave, criar “experiências” com o desem-penho do equipamento e apresentar de for-ma clara as suas limitações, todos eles in-seridos de forma a permitir que o pilotovolte para casa são e salvo.

Outro aspecto que deve ser levado emconsideração nos voos com OVN é o incre-mento do peso nos capacetes de voo. Oscomponentes extras do sistema (baterias,contrapesos e equipamento auxiliar) elevam

o peso na cabeça e podem ser fator de au-mento significativo de problemas no pes-coço. Ao longo do estágio como IUT(Instructor Under Training) foram apresen-tadas diversas estatísticas nas quais apare-ce a grande incidência de sintomas visuaisposteriores ao voo e desconfortos associa-dos, dores no pescoço durante e após ovoo e dores de cabeça, sendo esse tambémum problema a ser estudado pela nossa me-

dicina de aviação.Vários relatórios de

incidentes abordadosna forma de estudo decaso ao longo do está-gio apontaram comofator principal a falhado equipamento ou de-ficiência de projeto.

Procedimentos bem elaborados e treinamen-to adequado devem ser então desenvolvi-dos para proteger o operador quando douso desses sistemas. Combater a limitaçãodo equipamento com treinamento é um ex-celente exemplo de como evitar a realidadeinconveniente da “teoria do sangue”.

Outro fator fundamental quando pen-samos em OVN é o fator meteorológico eambiental. Em vários incidentes esse fatorteve alguma parcela de culpa. Esse tipo de

Esse tipo de equipamentonão trabalha de forma

adequada em tempo ruim ecom muita umidade no ar

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APRENDENDO A ENSINAR NO MEIO DA NOITE... COM A AJUDA DO OVN

equipamento não trabalha de forma ade-quada em tempo ruim e com muita umidadeno ar. Esse exemplo, infelizmente, nós játivemos na Marinha do Brasil.

Durante o curso também foi bastanteabordada a questão do treinamento recor-rente. Não adianta o piloto se qualificar enão manter um treinamento em um espaçotemporal adequado. O bom uso do equipa-mento virá de experiência adquirida e davariedade de situações vividas, comometeorologia e condições de luminosidadediferentes. Fui apresentado a diversas esta-tísticas que mostravam quanto o fator peri-odicidade no uso do equipamento foi con-tribuinte para um incidente ou acidente.

A Marinha está se modernizando e ad-quirindo novos meios operativos. Mas seráque estamos acompanhando essa “novi-dade” no nosso processo de formação doaviador naval no Centro de Instrução eAdestramento Aeronaval Almirante JoséMaria do Amaral Oliveira (CIAAN) ou no1o Esquadrão de Helicópteros de Instrução(EsqdHI-1)? Ou vamos deixar essas difi-culdades e dúvidas aparecerem quandoestiverem nossos pilotos sentados em ae-ronaves de milhões de dólares? As Mari-

nhas e demais forças armadas que já pas-saram por esse problema sabem que o ca-minho da inserção dos OVN nos cursos deformação é a solução para a consolidaçãoe economia, sendo o melhor caminho a serseguido. Vamos usar a teoria do sangue...o sangue dos outros!

O estudo de casos de acidentes durantevoos noturnos, usando ou não os NVG, levaa uma reflexão sobre o modo como ele deveser abordado nos cursos de formação depilotos militares. Conhecemos casos de aci-dentes causados em voos noturnos sem ouso de óculos em que o fator principal te-nha sido a falta de consciência situacionalsobre o ambiente e a operação, mas, emcontrapartida, também temos acidentes cau-sados pela complacência originada pela “fal-sa sensação de segurança” com o uso dosOVN. Para isso, nossos instrutores, com adidática e processo de ensino-aprendizagemjá conhecidos por eles, deverão ter a capa-cidade de forjar no aviador naval do futuroa mentalidade de segurança necessária paraque eles não caiam nessas armadilhas, se-jam elas causadas pela deficiência do equi-pamento, pela meteorologia ou pela falta detreinamento adequado.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Aviação; Visão noturna; Adestramento; Análise Operacional;

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Na verdade, as condições de operaçãocitadas na epígrafe podem ser consi-

deradas como marginais. Porém essas sãoas condições em que opera o 5o Esquadrãode Helicópteros de Emprego Geral na Re-gião Sul do Brasil, durante boa parte doano.

Conviver com tal realidade me fez refletirsobre a operação de helicópteros monomo-tores sobre água na Marinha do Brasil (MB).Durante tais momentos de reflexão, vieram àminha mente alguns conceitos doGerenciamento do Risco Operacional. An-tes de avaliar os riscos envolvidos na ope-ração monomotor sobre água, procurei adefinição de risco, que é “uma quantificaçãoda ameaça decorrente da exposição a umperigo, variando em função da gravidade

GERENCIAMENTO DO RISCO OPERACIONALAPLICADO À OPERAÇÃO DE AERONAVEMONOMOTOR SOBRE ÁGUA*

RAFAEL DE OLIVEIRA DOBBINCapitão-Tenente (FN)

das possíveis consequências e respectivaprobabilidade”.

Qual seria, então, a gravidade de umaoperação monomotor sobre água? Para fa-cilitar, poderíamos dividir em fatores mate-rial e pessoal. Em relação ao fator material,a perda total da aeronave seria inevitávelcaso ocorresse um pouso ou colisão naágua. Já em relação ao fator pessoal, existegrande probabilidade de pelo menos umdos ocupantes, considerando piloto,copiloto, fiel, médico/enfermeiro ou mer-gulhador e enfermo/náufrago, não conse-guir escapar da aeronave submersa após opouso ou queda na água. Mesmo conse-guindo escapar, os acidentados teriam queresistir à temperatura do ar e água do marbaixa para sobreviverem. A probabilidade

Operar com um helicóptero monomotor sobre água não é algoque se pode considerar confortável, especialmente com a tempera-tura da água do mar em torno de 10oC e a temperatura do ar emtorno de 8oC.

* N.R.: Publicado na Revista da Aviação Naval – julho/2011, págs. 8-10.

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GERENCIAMENTO DO RISCO OPERACIONAL APLICADO À OPERAÇÃO DEAERONAVE MONOMOTOR SOBRE ÁGUA

de ocorrer uma situação de emergência querequeira um pouso na água é difícil de sercalculada. Porém o simples fato de se ope-rar uma aeronave monomotor é um grandediferenciador. Sem entrar em detalhes ma-

Na MB, são adotadas algumas medidasde controle em relação ao voo monomotorsobre água, conforme listado abaixo emordem crescente de eficácia:

– # –

• evitar, sempre que possível, sobrevoode água;

• utilização de flutuadores de emergência;• treinamento de escape por aeronaves

submersas (Unidades de Treinamento deEscape por Aeronaves Submersas ‘Utepas’e Cadeira de Escape);

• utilização do colete MK-15, com uni-dade de respiração autônoma HEED III;

• utilização da balsa individual de so-brevivência LR-1; e

• utilização do macacão antiexposiçãoMAC-11.

– # –

Para melhor ilustrar, podemos supor umasituação na qual em uma aeronavemonomotor sobrevoando água ocorresseuma pane no motor, levando a uma situa-ção de necessidade de pouso em emergên-cia ou queda na água. O ideal seria quehouvesse tempo para que os flutuadoresde emergência fossem inflados previamen-te, apesar de não existir relato na MB deque isso já tenha ocorrido. Uma vez naágua, com os flutuadores inflados ou não,os ocupantes teriam que abandonar a ae-

Temperatura daÁgua (ºC)

menor que 2

2 a 4

4 a 10

10 a 15

15 a 20

maior que 20

Tempo deSobrevivência

Menos de 15 minutos

Menos de 1,5 hora

Menos de 3 horas

Menos de 6 horas

Menos de 12 horas

Indefinido (dependendodo organismo)

temáticos/estatísticos, possuir dois moto-res diminui bem mais do que pela metade aprobabilidade de ocorrer um pouso na águadevido a uma pane de motor (ocorrer umapane simultânea em cada um dos motoresde uma aeronave bimotor é muito menosprovável do que ocorrer uma pane no mo-tor de uma aeronave monomotor).

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GERENCIAMENTO DO RISCO OPERACIONAL APLICADO À OPERAÇÃO DEAERONAVE MONOMOTOR SOBRE ÁGUA

ronave submersa utilizando o colete MK-15 com unidade de respiração autônomaHEED III, sendo de extrema importância,nesse momento, os ensinamentos obtidospor ocasião dos adestramentos Utepas eCadeira de Escape. Os que conseguissemescapar precisariam, então, da balsa indi-vidual de sobrevivência LR-1 e do maca-cão antiexposição MAC-11 para suportaras intempéries do meio e do clima, especi-almente em condições climáticas adversas,sendo de extrema importância, agora, osensinamentos obtidos nos adestramentosde sobrevivência no mar.

Ao avaliá-las em conjunto, percebe-mos que todas as medidas de controlediminuem somente a gravidade dasconsequências, exceto a medida de con-trole evitar, sempre que possível,sobrevoo de água, que diminui a exposi-ção. Entretanto, “a redução da exposi-

ção só deve ser considerada como medi-da de controle do risco depois de esgo-tadas as possibilidades de reduzir-se agravidade ou a probabilidade.”

Com o objetivo de se quantificar o riscodo voo monomotor sobre água, podemosutilizar a Matriz de Gerenciamento do Ris-co, visando a obter uma classificação pa-dronizada para o mesmo, o Código de Ava-liação do Risco (CAR). Para tal, podemosconsiderar que a probabilidade de ocorrên-cia seja classificada como “pouco prová-vel” ou “provável”. Já a gravidade dasconsequências pode ser classificada comonível I, já que ocorreria a perda total domeio em um pouso ou colisão sobre água,fora a possibilidade de morte de algum dostripulantes. De posse de tais dados, obte-remos, na Matriz de Gerenciamento do Ris-co, CAR 2 – Alto ou CAR 1 – Crítico para ovoo monomotor sobre água.

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GERENCIAMENTO DO RISCO OPERACIONAL APLICADO À OPERAÇÃO DEAERONAVE MONOMOTOR SOBRE ÁGUA

Enfim, resta-nos avaliar e refletir sobreos seguintes questionamentos:

• Será que as medidas de controle em-pregadas atualmente na MB para voomonomotor sobre água são realmenteeficazes?

Gravidade das Consequências Códigos de Avaliação do Risco (CAR)

Gra

vida

de d

asC

onse

quên

cias

• Será que o risco residual (risco remanes-cente após a implementação das medidas decontrole) de se operar com uma aeronavemonomotor sobre água é realmente aceitável?

• Será que a relação custo x benefício érealmente favorável à realização do voomonomotor sobre água?

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Helicópero; Sobrevivência;

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SUMÁRIO

IntroduçãoA importância de aeronaves de emprego geral – Aeronaves LUHA situação atual da MBOpções de aeronaves UHP para a MBConclusão

UM NOVO HELICÓPTERO DE EMPREGO GERAL DEPEQUENO PORTE PARA A MARINHA DO BRASIL

EDUARDO WILMERS DE MEDEIROS(*)Capitão-Tenente

INTRODUÇÃO

O presente ensaio tem o propósito demostrar a necessidade da substitui-

ção de Helicópteros de Emprego Geral dePequeno Porte (UHP), atualmente em ope-ração na Marinha do Brasil (MB), por aero-naves disponíveis no mercado internacio-nal. Para isso, será apresentado um brevepanorama da aviação militar de asa rotativamundial, no que tange à operação de heli-

cópteros de emprego geral no âmbito dasoperações navais. Em seguida, será mos-trada a situação atual da MB, para entãoserem abordados modelos de helicópterosUHP adequados à Marinha. Por fim, umconjunto de considerações sobre as pers-pectivas da aquisição de uma nova aero-nave UHP é analisado como conclusãodeste trabalho, à luz do Plano de Articula-ção e de Equipamento da Marinha do Bra-sil (Paemb).

(*) O autor é capitão-tenente do Corpo da Armada, aviador naval e serve atualmente no 1o Esquadrão deHelicópteros de Emprego Geral.

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UM NOVO HELICÓPTERO DE EMPREGO GERAL DE PEQUENO PORTE PARA A MARINHA DO BRASIL

A IMPORTÂNCIA DE AERONAVESDE EMPREGO GERAL –AERONAVES LUH

A aviação de asa rotativa tem provadoseu imenso valor ao longo dos anos noapoio direto ou indireto a duas tarefas bá-sicas do Poder Naval, quais sejam: a proje-ção de poder sobre terra e o controle deárea marítima.

Na projeção de poder sobre terra, umatarefa de suma importância para o desem-barque anfíbio é o Apoio Aéreo Aproxima-do (Close Air Support) e o helitransporte.O United States Marine Corps (USMC)1 tema tarefa do Apoio Aé-reo Aproximado muitobem definida, sendolargamente utilizadapor meio de aerona-ves de asa rotativaBell Sea Cobra e tam-bém por aeronaves deasa fixa Boeing AV-8B, versão americanado jato inglês Harrier.A tropa, devidamenteapoiada pelo escalãoaéreo, se vê, dessaforma, em condições de avançar sobre oterreno enquanto posições inimigas podemser alvejadas e neutralizadas rapidamente,evitando a exposição prolongada ao fogoinimigo. Isso se faz com uso de armamentodas aeronaves Light Utility Helicopters(LUH), termo internacional que equivale aoUHP, tais como: foguetes, mísseis de curtoalcance ar-terra antimaterial e metralhado-ras/canhões para saturação de área.

O Movimento Navio para Terra (MNT) éextremamente relevante para infiltração econsolidação de tropas do Corpo de Fuzi-leiros Navais (CFN) em uma cabeça de praia

inimiga. A utilização de helicópteros moder-nos de médio porte de emprego geral(UHM), como as futuras aeronaves UH-15(EC-725 MB Super Cougar), aumentará acapacidade de transporte de fuzileiros na-vais, quer baseados em terra ou embarca-dos, com destino a uma Base de OperaçõesAéreas (BOA) ou outra área que necessitede um desembarque rápido. Todavia, taisaeronaves necessitam de uma escolta du-rante seu deslocamento e o assalto propria-mente dito, de modo que possa ser revidadoo fogo inimigo contra aquelas aeronaves(está previsto também o emprego de metra-lhadoras laterais a bordo daqueles meios).

Atualmente, essatarefa (escolta) podeser desempenhada poraeronaves Esquilomonomotor AS-350BA (UH-12) ou Esqui-lo bimotor AS-355 F1(UH-13), armadas comfoguetes SBAT-70 e/ou com metralhadorasaxiais e laterais MAG-FN 7,62 mm. Tais arma-mentos, de concepçãopara saturação de área

e de não tão acurada precisão, se mostramobsoletos se comparados aos novos siste-mas de detecção móveis e de artilharia em-pregados na guerra moderna. Ademais, osnovos UH-15 poderão operar em condiçõesnoturnas ou sob visibilidade reduzida pormeio de óculos de visão noturna, o que con-tribuiria sobremaneira para o elemento sur-presa nas ações militares empreendidas poraqueles meios aeronavais. Os helicópterosEsquilo mono e bimotores não possuempainel de instrumentos adaptado ao usodesses mesmos óculos, não podendo, por-tanto, realizar o apoio aos UH-15 nas condi-

1 Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos da América.

A aviação de asa rotativatem provado seu imenso

valor ao longo dos anos noapoio direto ou indireto aduas tarefas básicas do

Poder Naval, a projeção depoder sobre terra e o

controle de área marítima

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UM NOVO HELICÓPTERO DE EMPREGO GERAL DE PEQUENO PORTE PARA A MARINHA DO BRASIL

ções citadas anteriormente. Dessa forma, oemprego de helicópteros UHP em apoio àstarefas supracitadas requer aeronaves maisbem equipadas, de forma a não restringir ouso dos UHM por falta do adequado com-ponente escolta.

Aeronaves de asa rotativa são empre-gadas em apoio às ações de Controle deÁrea Marítima por navios de superfície oubaseadas em terra (o que exige uma grandeautonomia desses vetores). Por ocasião deuma operação naval que necessite o em-prego tanto de navios operando em con-junto quanto isoladamente (navios esco-teiros em patrulhas oceânicas, por exem-plo), aeronaves UHP orgânicas poderiamser lançadas com a tarefa de fazer uma lim-peza de área, esclarecimento visual ou ra-dar, inspeção naval em bacias petrolíferase patrulha naval.

O emprego de LUH também pode serrealizado em apoio a atividades subsidiári-as empreendidas pela Marinha, como otransporte de pessoal, material (missões deabastecimento), Evacuação Aeromédica(Evam) e Busca e Salvamento (do inglêsSearch And Rescue – SAR), em proveitode unidades da Esquadra, do CFN e de Or-ganizações Militares da Diretoria de Por-tos e Costas (DPC) e da Diretoria deHidrografia e Navegação (DHN).

Missões nas quais aeronaves do 1o Es-quadrão de Helicópteros de Emprego Geral(HU-1) embarcam em navios da DHN sãode suma importância para o Serviço de Si-nalização Náutica (SSN) brasileiro, bemcomo para o abastecimento e apoio a pon-tos longínquos de terra, como o Posto deObservação da Ilha da Trindade (Poit).Soma-se às tarefas citadas a previsão, emcurto prazo, do emprego dessas aerona-ves em voos de aerofotogrametria, tambémda DHN. Aeronaves modernas, providasde um sistema de pilotagem automática ede baixo consumo de combustível, se com-

paradas a aeronaves maiores, estariam ap-tas a realizar os inúmeros voos que essasmissões exigem a um custo mais aceitávelpara a Marinha.

O Programa Antártico brasileiro(Proantar) também recebe o apoio de aero-naves de emprego geral da MB, que forne-cem suporte logístico a pesquisadores emilitares embarcados no Navio Polar Almi-rante Maximiano (H-41) e no Navio deApoio Oceanográfico Ary Rongel (H-44) eaos brasileiros pertencentes ao contingen-te da Estação Antártica Comandante Ferraz(EACF). As missões do Proantar exigemmuito das aeronaves no que diz respeitoao transporte de material e pessoal. Taishelicópteros (esquilos bimotor) poderiamser substituídos por outros com capacida-de de carga superior e com motores maispotentes, o que conferiria maior segurançaem voo numa área inóspita como é o Conti-nente Gelado.

É possível citar também o emprego dosUHP nos Distritos Navais. Esses vetoresrealizam missões de extrema importância paraa sociedade brasileira em casos de calami-dade pública em proveito da defesa civil,como o ocorrido recentemente nosdeslizamentos de terra ocasionados por for-tes chuvas na Região Serrana do Rio de Ja-neiro. Na Amazônia, os esquilos monomo-tores (UH-12) do 3o Esquadrão de Helicóp-teros de Emprego Geral realizam, entre ou-tras missões, apoio logístico a atividadesde Assistência Cívico-Social (Aciso) e As-sistência Hospitalar (Ashop) em proveitode comunidades ribeirinhas e indígenas, asquais estão afastadas de qualquer suportemédico-odontológico comum às grandescidades. Na Região Sul do País, onde o maré mais agitado e os ventos mais fortes, sãocomuns buscas SAR realizadas por aerona-ves UH-12 do 5o Esquadrão de Helicópterosde Emprego Geral (HU-5). Na regiãopantaneira do Brasil, helicópteros Bell Jet

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UM NOVO HELICÓPTERO DE EMPREGO GERAL DE PEQUENO PORTE PARA A MARINHA DO BRASIL

Ranger III (IH-6B) são utilizados em apoioao Comando do 6o Distrito Naval e em ope-rações de Fuzileiros Navais naquela região,além das missões de Aciso/Ashop.

Nas Marinhas estrangeiras, as aerona-ves LUH também são largamente utilizadas.Os franceses operam com o AérospatialeAlouette III, primeiro helicóptero militar aser equipado com um motor tipo turbo eixo,sendo operado em eventos SAR, Evam,apoio logístico e guarda de aeronaves, en-tre outros. Aquela nação amiga também uti-liza o Eurocopter Dauphin e o Gazelle, sen-do este último uma aeronave antiga, proje-tada para o apoio de fogo a Operações An-fíbias, missões de Emprego Geral Leve e Ins-trução de Voo.

Os ingleses possuem uma versão deemprego geral do Agusta-WestlandWestland Super Lynx e voam também como Gazelle. Os italianos e espanhóis se va-lem do Bell 212 como aeronave SAR, deEvam e para tarefas diversas. A guarda cos-teira americana tem como vetores de asarotativa de pequeno porte o MH-68Stingray e o Eurocopter Dauphin.

Aquela nação, por sua vez, sempre ope-rou com aeronaves maiores e mais comple-xas. Todavia, devido à necessidade de eco-nomia de recursos e à flexibilidade e versati-lidade de aeronaves LUH no combate àguerra assimétrica, foi iniciado em 2004 umprograma para se definir qual seria o modelode LUH padrão do Exército americano (US

Army). Dessa forma, os concorrentes apre-sentaram seus produtos, sendo os princi-pais selecionados os americanos Bell 210(conhecido no Brasil carinhosamente como“Sapão”), o Bell 212 (vertente bimotora doBell 210, com algumas diferenças) e o MDExplorer (aeronave sem rotor de cauda). Aempresa ítalo-britânica Agusta-Westlandentrou na disputa com o AW 139, e amultinacional europeia Eurocopter ofereceu

o EC-645, que foi ogrande vencedor. NosEstados Unidos, essaaeronave recebeu onome de UH-72 Lakota.

A classificação ame-ricana difere da brasilei-ra no que tange a heli-cópteros UHP. O AW139, de categoria maiorque os Esquilos, por

UH-72 Lakota, do U.S. Army (Exército americano)Foto: American Eurocopter

Aeronaves LUH da Guarda Costeira americanaMH-68 Stingray (versão do AW-109)

Foto: United States Coast Guard

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UM NOVO HELICÓPTERO DE EMPREGO GERAL DE PEQUENO PORTE PARA A MARINHA DO BRASIL

exemplo, segundo a classificação brasileiraseria UHM. O Brasil considera como aero-naves UHP que operam na MB o Esquilomono e bimotor e o Bell Jet Ranger III (IH-6B). As Marinhas da América Latina, porsua vez, possuem como principais UHP oEurocopter AS555 Fennec, uma versão doUH-13 com motor mais potente, e o Agusta/Bell 212, também bimotor. À exceção do EC-645, do Super Lynx utilitário da MarinhaReal Britânica (Royal Navy) (em suas maisrecentes versões, como o Super Lynx 300 eLynx Wildcat) e do AW-109 (nas versõesmilitarizadas), todas asdemais aeronaves sãode uma geração ultra-passada e, em curtoprazo, deverão sofrerrevitalizações/moder-nizações ou serãosubstituídas por ou-tras mais modernas.

O custo de manu-tenção de um helicóp-tero, à medida que elevai envelhecendo,tende a subir exponen-cialmente. Isso decor-re da descontinuidadena produção de peças e diminuição do seuestoque disponível nas empresas fornece-doras. Dessa forma, muitas vezes a moder-nização de uma aeronave se torna inviávelperante o custo total a termo que, por di-versas ocasiões, se compara à aquisiçãode uma unidade nova.

Atualmente, as empresas dominantes datecnologia de fabricação de helicópterostêm adotado o conceito de fabricação dual,ou seja, voltada para o mercado civil e comopção de adaptação para o mercado mili-

tar. Todas as aeronaves LUH citadas ante-riormente, à exceção do Super Lynx, pos-suem sua versão civil, sendo geralmente aversão original.

A SITUAÇÃO ATUAL DA MB

A Aviação Naval brasileira possui novasperspectivas na operação de helicópteros demédio porte. A aquisição das novas aerona-ves ASW S-70 Seahawk, cuja denominaçãona MB será MH-16 e dos EC-725 MB SuperCougar (UH-15 e UH-15A) culminará com uma

verdadeira revoluçãonas operações aerona-vais. A Aviação Navalentrará na era digital doglass cockpit2. Mode-los de última geração,dotados de tecnologiade ponta, esses apare-lhos introduzirão novaspráticas e novos méto-dos na operação dasequipagens e na manu-tenção dos componen-tes de bordo, principal-mente na área deaviônica3.

Todavia, como as novas aeronaves de asarotativa da MB são de médio porte, certasmissões que exigem aeronaves menores emais versáteis não poderiam ser cumpridaspelos UHM, como é o caso, por exemplo, dasmissões embarcadas em navios da DHN, nosdiversos navios-escolta de nossa Esquadra,nos navios-patrulha fluviais classe PedroTeixeira, nos navios de assistência hospita-lar classe Oswaldo Cruz ou, ainda, nos futu-ros navios-patrulha oceânicos de 1.800 to-neladas, que estarão presentes operando em

2 Glass cockpit – Painel digital, composto de telas de cristal líquido multifunção.3 Aviônica – Área de manutenção de aeronaves afeta aos instrumentos e seus sistemas, equipamentos de

comunicação e de navegação.

Atualmente, as empresasdominantes da tecnologia

de fabricação dehelicópteros têm adotado o

conceito de fabricaçãodual, ou seja, voltada para

o mercado civil e comopção de adaptação para o

mercado militar

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Comparativo entre aeronaves Esquilo monoturbina e AW-109Especificações técnicas: American Eurocopter e Agusta/Westland

Comparativo das dimensões de um Esquilo monoturbina e EC-645Especificações técnicas: American Eurocopter

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nossa Amazônia Azul4, principalmente nasáreas das bacias petrolíferas.

A MB utiliza como aeronave padrão depequeno porte de emprego geral oEurocopter Esquilo mono e bimotor (UH-12 e UH-13, respectivamente) e o Bell JetRanger III (IH-6B). As aeronaves UH-12estão em operação na MB há mais de 30anos, e os IH-6B e UH-13 há mais de 20anos. Tais modelos já estão antigos,desgastados pelo uso, com MTBF5 reduzi-do, o que eleva os custos de manutenção.A partir de 2015, de acordo com o Paemb,os Esquilos têm previ-são de iniciarem seuprocesso de baixa, cul-minando em 2030,quando perfarão pra-ticamente 50 anos debons serviços presta-dos a Aviação Naval.Dessa forma, é mistera substituição dessasaeronaves, bem comoa do Bell Jet RangerIII. Como a missão bá-sica dos IH-6B é a ins-trução de voo, quenão é o escopo desseensaio, não serão tratados aspectos relaci-onados com o emprego desse helicóptero.

Devido ao desgaste já acentuado denossas aeronaves, muitas avarias têm ocor-rido com maior frequência, como panes deequipamentos e aviônicos, comprometen-do significativamente sua disponibilidade.Devido à descontinuidade na produção decomponentes substitutos e peças sobres-salentes, os helicópteros permanecem, emalguns casos, indisponíveis, aguardandoa chegada de um item novo. Essa

indisponibilidade se estende também de-vido à escassez de peças em estoque oudemora no trâmite logístico. Dessa forma,uma das soluções encontradas ecomumente praticada é a “canibalização”prematura de alguma aeronave, que con-siste na retirada de uma peça, a qual seráinstalada em outro meio.

O ambiente de operação de uma aerona-ve é algo que deve ser levado em conside-ração quando da escolha de um modelopara operar em uma determinada área. Am-bientes úmidos e de elevada temperatura

tendem a acelerar oprocesso de desgastede componentes, prin-cipalmente osaviônicos. Isso ocor-re no ambiente amazô-nico, por exemplo.

Ademais, o voo naAmazônia exige ou-tros cuidados especi-ais. Por diversas oca-siões, as aeronavesUH-12 que lá operamprecisam decolar nomáximo de sua capaci-dade, tendo que reali-

zar pousos intermediários em localidadesremotas para reabastecer de tambores es-trategicamente distribuídos, a fim de con-ferir maior alcance aos voos. Os UH-12 queoperam naquela floresta tropical são aero-naves monomo-toras – dessa forma, esseshelicópteros ficam sujeitos a panes de mo-tor que podem ocorrer sobre a copa dasárvores, ficando, portanto, sem uma árealivre para poder realizar um pouso emautorrotação6. Tal limitação seria facilmen-te resolvida se essas aeronaves fossem

4 Amazônia Azul – Área marítima adjacente à costa brasileira, rica em recursos minerais e naturais, noseu leito, solo e subsolo.

5 MTBF (Medium Time Between Failures) – Tempo Médio Entre Falhas de componentes de aeronaves.6 Autorrotação – Condição de voo em emergência, na qual a aeronave planeia sem motor até o pouso.

As aeronaves UH-12 estãoem operação na MB há

mais de 30 anos, e os IH-6B e UH-13 há mais de 20

anos. Tais modelos já estãoantigos, desgastados pelouso, com MTBF reduzido,o que eleva os custos de

manutenção

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substituídas por outros modelos com mai-or autonomia e com dois motores.

Na Região Sul do País, o 5o Esquadrãode Helicópteros de Emprego Geral contatambém com aeronaves monomotoras UH-12 Esquilo. Sua missão principal é a Buscae Salvamento. Como o Esquadrão fica in-serido numa região sujeita a consideráveisvariações climáticas advindas do sul docontinente, as quais produzem grandes ra-jadas de vento e queda brusca da visibili-dade, seria importante que sua aeronavepadrão fosse aquela homologada para ope-rações IFR7, que não é o caso do UH-12.Contudo, com a chegada do UH-15, essasituação tende a se reverter.

No Pantanal, o Esquadrão HU-4 precisaenfrentar dificuldades ainda maiores. Apósa substituição, no início dos anos 2000, doEsquilo monomotor pelo Bell Jet RangerIII, aquela unidade aérea passou a ter maisdesafios na operação de suas aeronaves.Como o IH-6B é mais limitado em potênciae carga que o Esquilo mono e as distânciasenvolvidas nas missões são grandes, pordiversas vezes as equipagens têm que sercuidadosamente escaladas, de modo queseu peso, combinado com o máximo decombustível embarcado, seja suficientepara se chegar ao destino. Esse viés seriaresolvido com a substituição por uma ae-ronave com maior autonomia e maior capa-cidade de carga.

OPÇÕES DE AERONAVES UHPPARA A MB

As opções de helicópteros militares depequeno porte disponíveis no mercadomundial de defesa não são tão grandescomo se pode imaginar. A tecnologia deprodução de helicópteros é mais complexa

do que a de aviões, e são poucos paísesno mundo que a dominam. Nos EstadosUnidos, a empresa Bell Helicopters cons-trói um modelo chamado Kiowa, utilizadona espotagem de tiro terrestre por blinda-dos do Exército americano. Essas aerona-ves serão substituídas pelo EurocopterEC-645. Outra empresa, a McDonnellDouglas Aviation, possui um pequeno mo-delo, bastante ágil e leve, que é utilizadona escolta dos Sikorsky Blackhawk UH-60 para transporte de tropas reduzidas. Talaeronave (série MD 500) não seria adequa-da à nossa Aviação Naval devido a sualimitada autonomia e pequena capacidadede transporte de pessoal e material. Toda-via, esse renomado fabricante americanopossui modelos de helicópteros, como oMD Explorer, equipados com um disposi-tivo que substitui o rotor de cauda, conhe-cido como Notar (NO TAil Rotor), o quecausa incremento em segurança de voo.

Uma opção passível de também ser ana-lisada seria o ítalo-britânico Agusta-Westland AW-109. É uma aeronave rápidae moderna. Sua cabine é maior que a dosEsquilos e possui trem de pouso com ro-das, o que favorece seu emprego a bordo.Porém, seu comprimento é mais de 1 metro

7 IFR (Instrument Flight Rules) – Voo seguindo regras que regem a navegação por instrumentos.

Aeronave AW 109 LUH da Força Aérea sul-africanaFoto: SAAF (South African Air Force)

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superior ao do Esquilo, além de ser maisalto. Tais dimensões não são favoráveispara o emprego a bordo de navios-escolta,devido à elevada altura de seu estabilizadorvertical. Contudo, sua operação em navio-patrulha (NPa) de 1.800 toneladas não teriarestrições, visto que aqueles navios, a prin-cípio, não disporão de hangar.

Essas aeronaves têm sua versão militari-zada, cuja denominação, segundo o fabri-cante, é AW-109 LUH, podendo ser arma-das com metralhadoras 7.62mm, 12.7mm,ponto 50, foguetes ar-terra antimaterial eaté mísseis ar-ar. O modelo em questão vemequipado com um sistema chamado AMS(Aircraft Management System), ou Siste-ma Gerencial da Aeronave, o qual operacomo um controle centralizador, integran-do navegação, comunicação e sistemas dearmas. Essas aeronaves, abastecidas emsua capacidade plena, teriam o alcance deaté 500 milhas náuticas e autonomia máxi-ma de quatro horas e 46 minutos de voo(segundo dados do fabricante). Sua velo-cidade de cruzeiro é de cerca de 150 nós,ou seja, 50% mais veloz que a velocidadede cruzeiro planejada de aeronaves Esqui-lo. Dispondo de dois modernos propulso-res turbo-eixo Turbomeca Arrius 2K2, aaeronave conta com até 711 SHP de potên-cia máxima na decolagem.

Esse helicóptero ítalo-britânico possuimotorização que o inclui em Categoria A,ou seja, permite voos monomotores mes-mo em condições de emergência e em alti-tudes mais elevadas. O AW-109 LUH foiprojetado para cumprir missões de Patru-lha, Reconhecimento, Escolta Aérea, Trans-porte, Ataque Leve (inclusive contra car-ros de combate), Evam, entre outros. A ae-ronave dispõe de Chaff e Flare, alarme con-tra tracking de radar e laser e contra apro-ximação de mísseis. Esse helicóptero dis-põe também de jammer contrainfravermelho, ou seja, bloqueia esse dis-

positivo em outras aeronaves que estive-rem “iluminando” o alvo.

Substituir os atuais Esquilos mono ebimotor pelos mesmos modelos, mas no-vos, não chegaria a ser um retrocesso, con-tudo não haveria ganho em tecnologia e asmesmas limitações operacionais dessas ae-ronaves ainda continuariam a existir, prin-cipalmente no volume de carga em seu in-terior. A modernização dos Esquilos seriacustosa, chegando praticamente ao preçode uma nova aeronave, a ponto de não sejustificar tal opção.

Restam ainda alternativas a serem ana-lisadas, como o Eurocopter EC-645. Umdado importante a ser citado é que essaaeronave foi escolhida para ser o helicóp-tero padrão UHP do Exército americano, a

Aeronave AW-109 LUH da Marinha Real neozelandesaFoto: airliners.net

EC-645 na versão Armed Aerial Scout AAS-72XFoto: Eurocopter North America

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Painel Glass Cockpit do EC-145/645: estadoda arte. Apresenta todas as funções e

informações necessárias ao piloto, diminuindosua carga de trabalho – Foto do autor

despeito desse país possuir a tradição deoperar equipamentos nacionais.

Pela primeira vez um grande contrato,de 345 helicópteros estrangeiros, foi fecha-do com o U.S. Army. Firmou-se um acordopara a construção dessas aeronaves deorigem europeia em solo americano, na fá-brica da Eurocopter North America. Essasaeronaves substituirão o Bell UH-1 do Exér-cito daquela nação. Além dos modelos en-comendados para o Exército, cinco unida-

des de Lakota foram adquiridas pela U.S.Navy para a instrução de voo de asasrotativas avançadas no United StatesNavy Pilot Test School (USNPTS). Outrosexemplares foram comprados para servir àUnited States National Guard (USNG).

Para atender às tarefas básicas ineren-tes a uma aeronave UHP na Marinha doBrasil, o EC-645 dispõe de dois motoresTurbomeca Arriel 1E2, desenvolvendocada um deles aproximadamente 770 SHPde potência máxima na decolagem. A aero-nave foi projetada para ser monopilotada,e seu painel de instrumentos é moderno,de fácil leitura das informações e adaptadoinclusive para operar com óculos de visãonoturna (OVN), possibilitando, portanto,o emprego dessa aeronave em apoio a voosnoturnos das aeronaves UH-15 SuperCougar.

O EC-645 tem velocidade de cruzeirode 130 nós, superior em 30 nós à velocida-de de planejamento de cruzeiro dos Esqui-los. A autonomia máxima na configuraçãostandard é de três horas e 35 minutos, oque lhe confere um alcance de 370 milhas

Esquerda: tipos de armamento empregados: mísseis ar-terra, foguetes,metralhadoras e cargas de profundidade

Direita: capacidade máxima de transporte de pessoal: dez (assentos anti-crash).Concepção artística: Eurocopter

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náuticas (cerca de 680 quilômetros). Confi-gurada com tanque extra, a aeronave podevoar até quatro horas e 30 minutos, comalcance máximo de 460 milhas náuticas. Seupeso vazio médio é de 1.792 quilos, e seupeso máximo de decolagem é de 3.585 qui-los, inclusive com car-ga externa. Comparan-do-se com um Esqui-lo, a capacidade decarga do EC-645 éimensamente maior,para um tamanho en-tre aeronaves muitoparecido. O trem depouso do EC-645 é deesqui, de manutençãomais barata que o tremde pouso de rodas emais adequado a ope-rações em terrenosacidentados. Todavia,não é o tipo de trem depouso projetado paraoperações a bordo.

Devido ao seu for-mato de cabine, o EC-645 tem a capacidade de embarcar até 6,04m³ de carga útil, o que possibilita a coloca-ção de duas macas e mais dois assentos,sem contar com os dois pilotos. Há tam-bém a possibilidade de, por ocasião de umaOperação Especial, configurar a aeronave

com seis assentos e ainda armá-la com umametralhadora 7,62 mm ou ponto 50.

O EC-645 é um pouco menor do que oEsquilo, devido ao seu cone de cauda cur-to, e possui altura de dez centímetros a maisque o UH-12 e o UH-13 na sua parte mais

alta, conhecida como“chapéu chinês”.Dessa forma, conclui-se que a aeronave temdimensões que propi-ciam sua operação e“hangaragem” emqualquer navio da MBque esteja homologa-do para operações aé-reas. Atualmente, adobragem das quatropás da aeronave é fei-ta “penteando-se”duas pás para vante eduas para ré. A confi-guração destas páspara “hangaragem”nos navios da MB fi-caria em função deferramental do fabri-

cante que possibilitaria pentear as quatropás para ré. Além disso, há a opção de seretirar duas pás com apenas dois militares,faina que demoraria cerca de dez minutospara ambas as pás, segundo fontes dofabricante.

Quadriciclo e maca embarcando na porta de ré da aeronave EC-645 – Fotos: Eurocopter

É imperiosa a trocadas aeronaves UHP em

operação na Marinha doBrasil

Leveza, agilidade ealta confiabilidade,

aliadas a uma elevadadisponibilidade e opções

variadas de configuração,são característicasfundamentais para

a escolha

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MEIOS NAVAIS

Navio-Aeródromo (NAe)

Navio de Propósitos Múltiplos (NPM)

Navio Escolta (NEsc)Navio-Patrulha (NPa) 1.800 t

Navio de Apoio Logístico (NApLog)

Navio de Assistência Hospitalar (NAsH)

Navio-Patrulha Fluvial (NaPaFlu)

Navio-Transporte de Apoio (NTrA)

EMPREGO

Busca e Salvamento (SAR), Guarda deANV, Apoio Logístico (ApLog), Apoioàs Operações Anfíbias (OpAnf) e Ope-rações Especiais (OpEsp) e EvacuaçãoAeromédica (Evam).

SAR, ApLog, Apoio às OpAnf e OpEsp,Transporte de Tropa, Esclarecimento (ra-dar e visual), Patrulha Naval (PatNav) eEvam.

SAR, Apoio Logístico, Esclarecimento(radar e visual), PatNav e Evam.

SAR, ApLog, Transporte de Tropa eEvam.

SAR, ApLog e Evam.

SAR, ApLog, Evam, Apoio às OperaçõesRibeirinhas (OpRib), OpEsp e Transpor-te de Tropa.

SAR, ApLog, Apoio às OpAnf eOpEsp,Transporte de Tropa e Evam.

A operação dessas aeronaves na An-tártica seria de grande valor para oProantar. Como o EC-645 possui maior ca-pacidade de transporte de carga que os UH-13, não seria necessário um grande núme-ro de surtidas para transportar as cargasdo navio para terra e vice-versa, se compa-rado ao número de surtidas de um UH-13.

O EC-645 tem sua versão civil, o EC-145, aeronave voltada para o mercado exe-cutivo, setor parapúblico e offshore. Dessaforma, em termos de logística, a aeronaveteria o suporte da Helibras, que vende asaeronaves EC-145 no mercado nacional. AHelibras é uma empresa subsidiária daEurocopter, a qual pertence à multinacionaldo setor aeroespacial EADS. Todavia, coma chegada dos novos UH-15/15A, haverá

transferência de tecnologia, e a maior partedaquelas aeronaves será construída em ter-ritório nacional, com considerável índice denacionalização de peças. Assim, aquele for-necedor, em teoria, possuiria condições dedar o suporte logístico necessário à manu-tenção das aeronaves, promovendo a en-trega de sobressalentes e realização de cur-sos técnicos de capacitação.

CONCLUSÃO

É imperiosa a troca das aeronaves UHPem operação na Marinha do Brasil. Esseshelicópteros atenderiam a um sem-númerode missões de toda sorte, em proveito deForças Navais, de Fuzileiros Navais, deDistritos Navais e demais Organizações

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Militares da MB. Leveza, agilidade e altaconfiabilidade, aliadas a uma elevada dis-ponibilidade e opções variadas de confi-guração, são características fundamentaispara a escolha de uma nova aeronave UHP.O emprego dessas aeronaves nos naviosda Marinha poderia ser de acordo com odescrito no quadro na página anterior.

É possível concluir que não basta termosaeronaves de ponta de médio porte para cum-primento de missões específicas. As aerona-ves de multipropósito são o futuro da avia-ção nas Forças Armadas e cada missão temsua peculiaridade. É preciso combinar o em-prego desses vetores de modo que lacunassejam preenchidas da melhor forma possível,alocando as aeronaves ideais para cada mis-são determinada pelo setor operativo. Paraisso, é necessário que a Marinha do Brasil

disponha em seu inventário de uma quanti-dade adequada de aeronaves, cujas caracte-rísticas de operação atendam às necessida-des previstas segundo o Paemb.

Racionalização dos custos e padroniza-ção da frota são fatores que também devemser levados em conta. Devido às dimensõesde uma nova aeronave UHP, seu empregonão seria restrito a determinadas plataformas;pelo contrário, atenderia aos atuais convoosem operação na Marinha do Brasil.

Assim, a missão de “prover os meios aére-os em apoio às Organizações Militares da MB,a fim de contribuir para a consecução do apoioaéreo adequado às operações navais”, teriaum novo vetor, inserido em um novo cenárioque é a Aviação Naval de hoje e amanhã. É aíque entra em cena o novo Helicóptero de Pe-queno Porte de Emprego Geral (UHP).

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Aviação Naval; Helicóptero;

REFERÊNCIAS

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Maryland: USNI, 2007.6. GKN INDUSTRIES – Disponível em: <http://www.gkn.com>. Acesso em 20 set. 2010.7. HELI FIGHT PACIFIC – Disponível em: <http://www.helifightpacific.com>. Acesso em 20 ago.

2010.8. HELIBRAS – Disponível em: <http://www.helibras.com.br>. Acesso em 19 set. 2010.9. MARINHA DO BRASIL – Disponível em: <http://www.mar.mil.br>. Acesso em 17 set. 2010.10. MUNARETTO, Heitor M. S. “Novos Meios. Novas Práticas?”. Rio de Janeiro: Revista da

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DO MAR (SECIRM) Disponível em: <http://secirm.mar.mil.br>. Acesso em 19 set. 2010.14. US. COAST GUARD – Disponível em: <htpp://www.uscg.com>. Acesso em 19 set. 2010.15. US. NAVY – Disponível em: <htpp://www.usn.com>. Acesso em 18 set. 2010.

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“Além da simpática e risonha simplicidade e do sólido e esperanço-so patriotismo, a nós, da família, marcava-nos a sua autenticidade.Gostava de agir sempre de acordo com a sua natureza. E foi com essafidelidade a ela (sua natureza) que ganhou a admiração de todos quecom ele conviveram e que, de Taboas, foi parar em Brasília. Ansioso eavesso a rodeios, eram comuns seus ‘...vá direto ao assunto!’, que,apesar de nos preocuparem pela aparente rispidez, logo percebemos,soavam ao interlocutor como garantia de confiabilidade e terminavampor gerar admiração. (...) A Marinha foi sua vida. Desde a aventura najangada, improvisada para travessuras de menino, e referida como degrande influência para sua vocação naval, até seus últimos dias, ele aviveu intensa e prazerosamente. Em casa, já na reserva, preparava-secom animação para atender aos convites a qualquer tipo de cerimônianaval. Sempre que nos víamos, mesmo já doente, recebia-me com a

mesma ávida pergunta: ‘Quais são as novidades na Marinha?’ Para todas, continuava a ter convic-ta e, quase sempre, arrojada opinião. Costuma-se dizer que para a Marinha só se entra, e que delanunca mais se sai.

Assim aconteceu com o meu pai.”1

Luiz Fernando Palmer Fonseca Vice-Almirante

CARTAS DE VILLEGAGNON: REMINISCÊNCIAS DAVIDA DO ALMIRANTE MAXIMIANO FONSECA*

VITOR DECCACHE CHIOZZOAspirante

* N.R.: Publicado inicialmente na Revista Villegagnon – 2010, págs. 8-13.1 N.A.: Maximiano Fonseca, De Taboas a Brasília, Rio de Janeiro, Editora ao Livro Técnico, 1999.

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CARTAS DE VILLEGAGNON: REMINISCÊNCIAS DA VIDA DO ALMIRANTE MAXIMIANO FONSECA

SUMÁRIO

HomenagensNotícias da Marinha do Brasil: ontem, hoje e para sempre

Escola NavalCarreira naval

Segunda Guerra Mundial, o início do oficialato e o aperfeiçoamento em HidrografiaNavio Hidrográfico (NHi) Rio Branco (14 de novembro de 1951 a 3 de julho de 1953)Estágios nos Estados Unidos (fevereiro a outubro de 1954)Comandos e direção na DHNUm novo horizonte repleto de desafios: oficial-generalMinistro de Estado da Marinha: lealdade e trabalho

Agradecimentos e palavras finaisConclusão

Villegagnon, em 4 de abril de 2010.Excelentíssimo Almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca,Hoje, passa-se doze anos que Vossa Excelência atendeu à convocação de Nosso

Supremo Comandante em Chefe para seguir em sua derradeira comissão. Tomei a liberdadede escrever, pois sempre em sua carreira “adotou uma política de ‘portas abertas’ recebendoa todos que quisessem lhe falar, sem maiores formalidades e sem discriminação de posto ougraduação, mantendo, assim, contato estreito com pessoas de todos os níveis hierárqui-cos, dando a todos a oportunidade de se manifestarem livremente sobre o que considera-vam importante.”2

Participo, por meio dessa missiva, como o senhor sempre desejava saber, as novida-des na Marinha e, sem rodeios e pormenores, sigo direto ao assunto.

“Navegante, por onde singrares, /louvarás nossa nobre missão.”

2 Idem.

Fruto de uma visãoarrojada para a época,admitiu as mulheres em

nossas fileiras, criando oCorpo Auxiliar Femininoda Reserva da Marinha,fazendo com que nossa

instituição fosse pioneiraem contar com a presençafeminina em seus quadros

HOMENAGENS

O senhor fora alça-do ao posto dePatrono das MulheresMilitares da Marinha,pois em sua gestão,fruto de uma visão ar-rojada para a época,admitiu as mulheresem nossas fileiras, cri-ando o Corpo AuxiliarFeminino da Reservada Marinha (Lei no 807,de 7 de julho de 1980),fazendo com que nos-sa instituição fosse pi-

oneira em contar coma presença femininaem seus quadros.

Hoje, não maisexiste este Corpo, e asoficiais e praças en-contram-se nas maisdiversas funções nasdiversas Organiza-ções Militares, contri-buindo sobremaneirapara o profissiona-lismo e a eficácia denossa Força.

No dia de seu nas-cimento, 6 de novem-bro, comemora-se o

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Dia Nacional do Amigo da Marinha, do qualo senhor foi o grande incentivador, por meioda Sociedade de Amigos da Marinha(Soamar), quando incrementou um melhore mais estreito relacionamento da Marinhacom os soamarinos e a sociedade, incenti-vando-os a divulgarem seu meio a impor-tância do Poder Navalpara o País e a seremsentinelas avançadasda Marinha com a res-ponsabilidade, afetuo-sa e livremente assu-mida, de defendê-la eengrandecê-la.

O nome do termi-nal da Baía da IlhaGrande, em Angra dosReis (RJ), da Petrobras, empresa da qualfoi diretor (30 de abril de 1985 a 10 de ju-nho de 1991), alterou-se, desde junho de1998, para Terminal Marítimo AlmiranteMaximiano.

Não poderia me furtar de mencionar anovidade, da que acredito gostar mais.

Quando exerceu ocargo de Ministro daMarinha, Vossa Exce-lência homenageouseu grande amigo, oCapitão de FragataArnaldo da CostaVarella, dando-lhe onome ao Navio Bali-zador ComandanteVarella (H18). Hoje, osenhor nomeia nossonavio polar, o Almi-rante Maximiano (H41). Um dos quatronavios mais modernos de pesquisa antár-tica do mundo é brasileiro! Quanto orgu-lho! Muito superior ao destemido e saudo-so Navio de Apoio Oceanográfico Barãode Teffé adquirido em 1982 e que prestou à

Marinha, à Hidrografia Brasileira, ao Pro-grama Antártico e às suas pesquisas ines-timável serviço.

A tripulação do H-41, “Cadência Máxi-ma”, possui o mesmo entusiasmo, na exe-cução das Operações Antárticas, dos pri-

meiros que iniciaramessa aventura, man-tendo a elevada tradi-ção de nosso Progra-ma Antártico Brasilei-ro (Proantar) no conti-nente glacial, onde,desde 1983 (recordas-se-se) tremula nossopavilhão nacional naEstação Antártica Co-mandante Ferraz(EACF), na Ilha Rei

George, consolidando, dessa forma, nossaparticipação no Tratado Antártico.

Na praça-d’armas do navio polar, cari-nhosamente chamado de “Tio Max” pelatripulação, encontra-se sua espada de ofi-cial da turma de 24 de dezembro de 1941,por desejo de sua esposa, Sra. Heloísa

Palmer. Lembra-se dequando o senhor as-sumiu o Ministério,dia 15 de março de1979? Na profusão depensamentos, um sesobressaía...

“Aquele modestogaroto de Taboas,cujos melhores so-nhos eram atingir oposto de almirante,chegava a Brasília e

assumia o mais alto cargo da Marinha doBrasil. Atingindo o mais alto cargo da Ma-rinha, tal fato contribuiu para aumentar ain-da mais meu otimismo e minha crença nofuturo do Brasil, uma vez comprovando queas oportunidades estão abertas a todos os

O nome do terminal daBaía da Ilha Grande, emAngra dos Reis (RJ), da

Petrobras, alterou-se,desde junho de 1998, para

Terminal MarítimoAlmirante Maximiano

Nosso navio polar, oAlmirante Maximiano(H41). Um dos quatro

navios mais modernos depesquisa antártica domundo é brasileiro!

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brasileiros, que podem galgar, honestamen-te, as mais elevadas posições.”3

É uma pena que o senhor não esteja aquipara compartilhar conosco essas alegrias esucessos de nossa Força e de nosso Brasil.Mas nosso Comandante em Chefe na Esfe-ra Celeste o chamou. Acredito piamente queno céu também se segue o lema da Diretoriade Hidrografia e Navegação (DHN): “Resta-rá sempre muito o que fazer...”.

NOTÍCIAS DA MARINHA DOBRASIL: ONTEM, HOJE E PARASEMPRE

Escola Naval

Nas palavras do Al-mirante Paulo Bonosode Duarte Pinto, seucontemporâneo, paraquem passou a Presi-dência do Clube Na-val, após exercê-la de11 de junho de 1977 a15 de março de 1979, aEscola Naval:

“Tu [Escola] és como um velho mari-nheiro, nesta pedra cinza, pedaço de cais.E o teu coração não se cansa de conceber,de alimentar, de preparar novas almas parao duro combate, meninos que se fazem ho-mens, homens do mar, homens para o mar...e com a alta responsabilidade de preservara vocação marítima de nosso povo,despertá-lo para seu futuro de grandezaque não pode prescindir do mar.”

Aqui em Villegagnon, as instalações fo-ram modernizadas e reformadas. Dispomosde uma infraestrutura digna das grandesacademias navais do mundo.

Almirante, permanecemos vigilantes eprontos para o combate e a nos “dedicarinteiramente ao serviço da Pátria”4, tais comoo aspirante do então Curso Prévio (1o ano)de 5 de abril de 1937, declarado guarda-ma-rinha (no 22) em 24 de dezembro de 1941, oqual fora extremamente entusiasmado pelasmatérias relacionadas à navegação, instru-mentos náuticos e hidrografia.

Afinal, é em nossa Escola que inicia-mos nossa vocação e para ela nos des-pertamos, a de homens do mar. E já quefalei sobre os homens do mar, acredito quecabem aqui alguns comentários sobre as-pectos importantes de sua carreira, quegostaria de relembrar, pois, como o senhordizia, “os exemplos e ensinamentos de ex-

chefes e comandan-tes moldam nossa for-mação militar e nospreparam para desem-penhar os diversoscargos ao longo denossa carreira”5.

Almirante Maxi-miano, peço-lhe per-missão para, a partir

deste momento, interromper as notícias so-bre nossa Força e lhe mostrar um pouco doartigo que pretendo escrever sobre o se-nhor para publicação na Revista Acadêmi-ca da Escola Naval, a Villegagnon, e seporventura omitir alguma função exercida,perdoe-me a falta.

CARREIRA NAVAL

“Se, em batalha, o feroz inimigo/tu com-bates, altivo e sem medo,/na esquadra, es-taremos contigo,/desvendando do mar osegredo.”

3 Ibidem.4 N.A.: Juramento à Bandeira Nacional.5 Maximiano Fonseca, De Taboas a Brasília, Rio de Janeiro, Editora ao Livro Técnico, 1999.

O Almirante Maximianoera um dos 25 oficiais denossa Marinha com mais

de 300 dias de mar emoperações de guerra

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Segunda Guerra Mundial, o início dooficialato e o aperfeiçoamento emHidrografia

No início da carreira, o então Segundo-Tenente Maximiano, embarcado no Cruza-dor Rio Grande do Sul, participou dopatrulhamento do Atlântico Sul durante aSegunda Guerra Mundial. Sendo um dos25 oficiais de nossa Marinha com mais de300 dias de mar em operações de guerra,foi laureado com a Medalha de ServiçosRelevantes e a Medalha de Bronze da For-ça Naval do Nordeste.

Após o conflito, foi designado para o NTDuque de Caxias e, em seguida, para oEncouraçado MinasGerais. Apesar de que-rer ir para a Base Fluvi-al de Ladário para teralguma experiência coma “Marinha do interior”,teve o pedido negado,pois em breve cursariaHidrografia (1949), osétimo curso da espe-cialidade na Marinha,como era seu desejo, jácomo capitão-tenente.Após o curso, solicitousua ida para Natal (RN), e, apesar da dificul-dade de oficiais com que lutava a DHN, odiretor concordou em liberá-lo.

Navio Hidrográfico (NHi) Rio Branco (14de novembro de 1951 a 3 de julho de 1953)

Cerca de oito meses após estar servin-do na Base Naval de Natal, onde exerceraas funções de comandante do Centro deFormação de Reservistas de Natal e de en-carregado da Divisão Militar da Base, foi,com grata surpresa, designado comandan-

te do NHi Rio Branco, participando de umadas maiores efemérides da história daHidrografia de nosso país, o Primeiro Le-vantamento Hidrográfico (LH) da BarraNorte do Rio Amazonas (1952).

Nesta comissão, com pouco mais de 340dias de duração, até então a mais longaexecutada pelo nosso serviço hidrográficoem tempos modernos, pôde compreendera “solidão do comandante”6, distante dafamília e do porto sede.

Vale ressaltar que as cartas náuticas daregião eram baseadas em LHs efetuados pelohidrógrafo francês Tardy de Montravel en-tre 1842-1848. Ainda sem dispor de equipa-mentos eletrônicos de posicionamento, e uti-

lizando-se pela primei-ra vez do ecobatí-metro em LHs, o Capi-tão-Tenente Maxi-miano e sua tripulaçãorealizaram admiráveistrabalhos, executandoo LH e produzindo ascartas náuticas quepermitiram a aberturado Canal Norte doAmazonas a navios degrande porte, em pro-veito da exploração de

manganês na região. Apesar das dificulda-des e intempéries, o serviço fora executadocom sucesso.

“Sentirá ao teu lado o serviço e a gran-deza da hidrografia... brasileira!”

Estágios nos Estados Unidos (fevereiroa outubro de 1954)

Em reconhecimento e como prêmio pelonotável LH na Barra Norte, foi designado paraestágios no United States Hydrographic Officee no Coast and Geodesic Survey, ambos afe-

6 Idem.

Como comandante do NHiRio Branco, participou de

uma das maioresefemérides da hidrografia,o Primeiro Levantamento

Hidrográfico da BarraNorte do Rio Amazonas

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tos às técnicas aplicadas à Hidrografia e àconstrução de cartas náuticas. Entre outrastarefas determinadas pela DHN, estava a es-colha de um equipamento de posicionamentoeletrônico.

Sua proposta de aquisição do sistemaRaydist fora aceita e, a partir de 1955, acele-rou-se substancialmente a execução do Pla-no Cartográfico Brasileiro, sendo este equi-pamento de coleta de dados geodésicos mui-to utilizado nos LHs até a década de 1980.Posteriormente, fora encarregado da Divi-são de Levantamentos da DHN (novembrode 1954 a dezembro de 1956).

“Já conheces do fundo a prumada/semhaveres lançado o teu prumo/pois nave-gas em área sondada,/pela carta indicamosteu rumo.”

Comandos e direção na DHN

Teve a oportunidade de comandar, ain-da, os navios hidrográficos Caravellas (12/1956 a 7/1957), Sirius e Canopus e o NavioOceanográfico Almirante Saldanha (6/1969 a 1/1970), além de dirigir o Centro deSinalização Náutica e Reparos AlmiranteMoraes Rego (CAMR). No Comando doNHi Sirius (1/1958 a 3/1959), o qual teve aoportunidade de receber no Japão comoimediato, voltou a realizar levantamento naBarra Norte do Rio Amazonas. Dispondode muito mais recursos, avaliou que pode-ria ter executado o LH de 1952 em metadedo tempo. Em 1961, foi designado instrutorno Curso de Aperfeiçoamento deHidrografia. Já no comando do NHiCanopus (7/1963 a 11/1964), completou olevantamento da costa sul do Brasil e ini-ciou o do Arquipélago de Abrolhos.

Promovido a capitão de mar e guerra,tornou-se o primeiro diretor do CAMR (1/1966 a 2/1967), antes um departamento da

DHN. Elaborou o planejamento para recu-peração e melhoramento do serviço de si-nalização náutica no Brasil, que seconsubstanciou como o primeiro plano delongo prazo para o mesmo, servindo debase para a elaboração da parte do PlanoDiretor da Marinha pertinente à sinaliza-ção náutica.

Posteriormente, foi delegado da Capita-nia dos Portos do Rio Grande do Sul emPorto Alegre (12/1964 a 12/1965) e membrodo Estado-Maior da Junta Interamericanade Defesa, em Washington, Estados Uni-dos da América (5/1967 a 4/1969).

Um novo horizonte repleto de desafios:oficial-general

No comando do Navio OceanográficoAlmirante Saldanha, foi promovido a con-tra-almirante. Do elogio concedido pelodiretor da DHN, o então Contra-AlmiranteJúlio de Sá Bierrenbach, transcrevo o se-guinte trecho: “A DHN perde um grandecomandante, mas lucra, e com ela toda aMarinha, com o acesso de S. Exa. ao círcu-lo dos oficiais-generais”7.

Nomeado diretor de Administração daMarinha (4/2/1970), contribuiu para a cria-ção de uma nova mentalidade administrati-va na Marinha. Promovido a vice-almiran-te, fora comandante do 1o Distrito Naval(5/5/1975 a 1/1977), onde se destacou pelaimplantação da Estação Naval do Rio deJaneiro, na Ilha de Mocanguê.

Promovido a almirante de esquadra (25/11/1976), tomou posse como diretor-geraldo Material da Marinha (18/1/77 a 15/3/79).Escolhido pelo então Presidente da Repú-blica João Figueiredo para ministro de Es-tado da Marinha, foi empossado no cargoem 15 de março de 1979, exercendo-o até odia 22 de março de 1984.

7 Ibidem.

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Ministro de Estado da Marinha:lealdade e trabalho

Ao ser honrado com o convite do Presi-dente Figueiredo para exercer o cargo deministro da Marinha, fez apenas duas pro-messas ao chefe: lealdade e trabalho. E pro-curou seguir à risca o integral cumprimen-to das mesmas.

De forma empreendedora e dinâmica,implementara doutrinas e ideias que iriamse refletir na eficáciade nossa Força nosanos vindouros. Paraum relato mais com-pleto de sua gestão, oMinistro MaximianoFonseca escreveu umlivro-relatório sob o tí-tulo Cinco anos naPasta da Marinha.

Visionário, percebeua relevância estratégicapara a Marinha em do-minar a tecnologia daenergia nuclear, sendoum dos idealizadores doPrograma Nuclear Brasi-leiro. Decorrência pos-sivelmente do que ou-vira do notável cientis-ta Almirante ÁlvaroAlberto, como capitão-tenente, na década de1950, numa conferência no Clube Naval.8

Ainda durante sua gestão na Diretoria-Geral do Material da Marinha, o então Ca-pitão de Fragata (EN) Othon Luiz Pinheiroda Silva regressara dos Estados Unidos,onde concluíra um curso sobre energianuclear. Após confecção de relatório deta-lhado, este preconizara que a Marinha de-veria desenvolver um projeto de enrique-

cimento de urânio, com o propósito de do-minar a obtenção de tecnologia para umsubmarino nuclear.

Sabiamente, a Alta Administração Na-val compreendeu a importância dessatecnologia, e hoje a propulsão nuclear estápróxima de ser alcançada por nossa Força.

Ainda sobre submarinos, preconizou oMinistro Maximiano de possuirmos capa-cidade tecnológica para o projeto, a cons-trução e a manutenção dos mesmos, crian-

do o programa paraconstrução de subma-rinos convencionais,que resultou em trans-ferência de tecnologiapara o Arsenal de Ma-rinha do Rio de Janei-ro e na construção dosclasse Tupi IKL-209.

Na área da Hidro-grafia e SinalizaçãoNáutica, além da incor-poração de novos mei-os flutuantes, foramadquiridos novos equi-pamentos, notada-mente o Sistema deAutomação Cartográ-fica, que veio colocara DHN no mesmo ní-vel dos melhores ser-viços hidrográficos.Ao deixar a pasta, con-

távamos com 414 faróis e faroletes; destes,nada menos de 116 haviam sido acrescenta-dos na sua gestão. Sua ação culminou coma transferência da DHN para a Ponta da Ar-mação, em Niterói, o que vem permitindo,hoje, a contínua expansão da Diretoria e desuas organizações militares subordinadas.

Teve a iniciativa, e mesmo a tomada dadecisão, em realizações das quais se desta-

8 Maximiano Fonseca, Cinco anos na Pasta da Marinha, Rio de Janeiro, Editora Independente, 1985.

De forma empreendedora edinâmica, implementou

doutrinas e ideias que iriamse refletir na eficácia de

nossa Força nosanos vindouros

Visionário, percebeu a

relevância estratégica paraa Marinha em dominar a

tecnologia da energianuclear, sendo um dos

idealizadores do ProgramaNuclear Brasileiro

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cam: a transferência do 5o Distrito Naval dacidade de Florianópolis (SC) para a do RioGrande (RS), após complexo e minucioso es-tudo do Vice-Almirante Caminha, então co-mandante do 5o Distrito, em 1983; criação doComando Naval de Manaus, hoje 9o DistritoNaval; transformação do Projeto Cabo Frioem Instituto Nacional para os Estudos doMar Almirante Paulo Moreira (IEAPM); cria-ção do posto de almirante de esquadra doCorpo de Fuzileiros Navais, ocasião na qualrecebeu do ex-ministro Almirante AugustoHamann Rademaker Grünewald o seguintetelegrama: “Felicitações justa iniciativa cria-ção posto Almirante de Esquadra CFN AltoComando da MarinhaPT Cumprimentos”.

Em alto nível, foramrealizadas frequentesreuniões do Almiran-tado para decidir sobregrandes problemas daMarinha. Além disso,instituiu reuniõesanuais do Conselhode Almirantes, duran-te as quais qualqueralmirante tinha a oportunidade de expor seuponto de vista sobre os problemas da Ma-rinha. Também se instituiram reuniões anu-ais de confraternização com os oficiais dareserva e reformados, quando, após umapalestra durante a qual o ministro expunhaos problemas da Marinha, concedia a pala-vra aos que dela quisessem fazer uso paraemitir suas opiniões e sugestões.

Em sua gestão, apenas deixou de visitardois estados que tinham órgãos da Mari-nha, Sergipe (Capitania dos Portos) e Acre(Delegacia da Capitania em Boca do Acre),o que pretendia fazer em 1984, não concreti-zando tais visitas em virtude de ter deixadoo Ministério antes da data prevista. Visitoupraticamente todos os órgãos da Marinhanas diversas áreas, de delegacia de capita-

nia para cima, tendo inclusive visitado algu-mas agências de capitanias.

Em 1984 foi agraciado com o título dedoutor honoris causa pela Fundação Uni-versidade Federal do Rio Grande.

AGRADECIMENTOS E PALAVRASFINAIS

Almirante, quando o senhor assumiu oMinistério, proferiu as seguintes palavras:“(...) Sinceramente, não posso me vanglori-ar de ser alçado a tão elevado cargo exclusi-vamente por méritos pessoais, se eles exis-tiram, pois, salvo meu amor à Marinha, mui-

tos foram os que con-tribuíram para que eupudesse reunir as qua-lidades que me habili-taram a concorrer auma indicação tãohonrosa (...)”. Em se-guida, agradeceu aosseus pais, mestres, es-posa e subordinados.

À semelhança deVossa Excelência, ao

finalizar este artigo, agradeço ao Exmo.Vice-Almirante Luiz Fernando Palmer Fon-seca, diretor de Hidrografia e Navegação,pela maneira cortês e simpática com a qualsempre respondeu, durante as raras opor-tunidades que a Marinha me concedeu, ainúmeras curiosidades levantadas por mimsobre o Ministro Maximiano, seu pai.

Ao comando e à tripulação do NavioPolar Almirante Maximiano, na figura deseu comandante, Capitão de Mar e GuerraSegóvia, agradeço a fidalguia com que fuirecebido a bordo.

CONCLUSÃO

Pretendi, com este artigo, mostrar umpouco da vida deste chefe naval e líder que

Na Marinha, foi tenente,comandante, almirante.Mas, sobretudo, foi umbrasileiro que sempre

acreditou na grandeza e nofuturo de seu país

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REFERÊNCIAS

FONSECA, Maximiano. De Taboas a Brasília, Rio de Janeiro, Editora ao Livro Técnico, 1999.______. O que segura este país. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987.______. Cinco anos na Pasta da Marinha. Rio de Janeiro, Edição Independente, 1985.SEPULVEDA, Antonio Cesar Martins. Canção do Hidrógrafo, 1981.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<NOMES>; Fonseca; Maximiano; Ministro;

foi o Almirante Maximiano Eduardo da Sil-va Fonseca, de maneira a manter viva suamemória e seu exemplo.

Vivendo e amando a Marinha e o Brasil,com entusiasmo e dedicação ao serviço doinício ao fim de nossas vidas, seremosmuito felizes na vocação que escolhemos,pois “na Marinha só se entra, e dela nuncamais se sai”.

“Penso que o homem poderá conside-rar-se realizado na vida se, mesmo sem terfeito grandes coisas, ao se aproximar doseu final, não tenha arrependimento doscaminhos trilhados ao longo da mesma, istoé, caso fosse possível recomeçá-la, os tri-lharia novamente.”

Almirante Maximiano Fonseca

O sonho de menino simples do interiorfoi, na realidade, muito além daquilo queele conscientemente poderia imaginar. A

Marinha ofereceu-lhe oportunidades sempar, as quais lhe permitiram galgar todosos postos da carreira e ocupar posiçõesque nunca ousara ambicionar, culminandocom a indicação para o cargo de ministrode Estado.

Na Marinha, foi tenente, comandante,almirante. Mas, sobretudo, foi um brasilei-ro que sempre acreditou na grandeza e nofuturo de seu país.

Parafraseando as palavras do grandechefe naval Almirante Pedro Max Fernandode Frontin, patrono da minha turma, “quan-do não se pode fazer tudo o que se deve,deve-se fazer tudo o que se pode”. Esperoter feito tudo o que se pode.

“Saberás ser o nosso desejo/Que jamaistu navegues sozinho...”.

Obrigado Almirante Maximiano.Respeitosamente,Vitor Deccache Chiozzo, aspirante.

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SUMÁRIO

IntroduçãoEscola NavalO contexto contemporâneo e a vida militarLiderançaPoder socialLíder x chefeConclusão

O MONGE E O MILITAR*

FELIPE PRAÇA SIQUEIRAAspirante

INTRODUÇÃO

Motivado pelas questões de relacio-namento entre líder e subordinado, o

autor começou a estudar e refletir sobre otema da liderança, considerando esse conhe-cimento imprescindível ao aspirante que seprepara para o futuro e tão sonhado oficialato.É no período de quatro anos de internato emVillegagnon que aprendemos as bases para

décadas de carreira e adquirimos senso críti-co para que possamos associar os conheci-mentos ministrados em sala de aula ao nossodia a dia. Certos pontos das aulas técnicas,eventualmente, talvez até por inexperiênciado aspirante, há dificuldades de se identifi-carem no cotidiano; entretanto, todos osexemplos podem ser fonte de aprendizageme, assim, contribuir para o aperfeiçoamentodas gerações vindouras de oficiais.

* N.R.: Publicado inicialmente na Revista Villegagnon – 2010, págs. 40-44.

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O MONGE E O MILITAR

Somos a Marinha do futuro e, para isso,temos que ser agentes positivos de mu-dança. Muitas vezes as pessoas que recla-mam do que sofrem repetem com os outrosas mesmas atitudes que as fizeram sofrer.Temos que manter nossas tradições, masdevemos conciliá-las com a evolução e,para isso, temos que nos preparar. Utilizar-se apenas da coerção ou da posição hie-rárquica talvez não seja mais modo por sipróprio suficiente, pois temos que sercompetentes e hoje, sobretudo, humanos.

ESCOLA NAVAL

Segundo a Doutrina de Liderança da Ma-rinha (EMA-137), no que se refere ao ensinoda Liderança na Escola Naval, além da forma-ção básica, deverãoconstar no currículo opreparo humanístico, aliderança de pequenosgrupos, a condução detarefas administrativase operativas, a consoli-dação da capacidadede julgamento e, funda-mentalmente, a capaci-dade de comunicação.

Nos cursos da Escola Naval, deverãoser desenvolvidas habilidades e conheci-mentos que, além de facultar oautoconhecimento, permitirão o entendi-mento mais aprofundado da natureza hu-mana, enfocando as suas necessidades,carências e motivações. Esse desenvolvi-mento visa a dotar os futuros oficiais demaior capacidade para perceber, familiari-zar-se e compreender o perfil daqueles queestarão sob suas ordens, a fim de que pos-sam influenciar adequadamente o compor-tamento dos seus subordinados.

Nesse processo de transformar os futu-ros oficiais em líderes, é importante que oseducadores se lembrem de que é preciso

conhecer o educando, fazendo com que eledescubra seu caminho e o rumo necessáriopara se adequar ao cumprimento da missão.

Complementando a ideia anterior, pode-se citar ainda o autor Burns, que ressalta aimportância de o líder ser um eterno apren-diz: “Nunca deveríamos fingir sobre aquiloque não sabemos, não deveríamos ter medode perguntar e aprender com as pessoasque estão em posições inferiores e devería-mos ouvir cuidadosamente os pontos devista dos quadros de pessoal nos mais bai-xos níveis. Ser um aluno antes de tornar-seum professor; aprender com os quadros in-feriores antes de expedir ordens”.

O CONTEXTO CONTEMPORÂNEO EA VIDA MILITAR

Para que se apliqueda melhor forma a lide-rança em uma determi-nada época, faz-se ne-cessário compreendersuas principais pecu-liaridades, pois, enten-dendo o comporta-mento desta socieda-

de e das pessoas que fazem parte dela, po-dem-se tomar decisões de forma conscien-te e sensata. O mundo passou por muitastransformações, e as principais começaramdurante a Revolução Industrial, no séculoXVII, quando, com o advento das máqui-nas, houve uma aceleração da linha tempo,que até então andava de uma forma prati-camente contínua. A partir daí, as coisasforam andando cada vez mais rapidamentee velocidade tornou-se sinônimo de pro-dutividade. Essa aceleração teve reflexosfantásticos no século XX, com a revolu-ção tecnocientífica, o encurtamento dasdistâncias e o fenômeno da globalização.Hoje, com a internet, pode-se ter acesso auma infinidade de informações, comunicar-

Temos que manter nossastradições, mas devemos

conciliá-las com a evoluçãoe, para isso, temos que nos

preparar

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O MONGE E O MILITAR

se com pessoas do outro lado do mundo,entre outras facilidades. Com a televisão, ocinema e a internet, a imagem tem tomadocada vez mais o lugar das palavras. Estamosvivendo uma época em que se prega quenão se pode perder tempo pensando, poissão muitas informações simultâneas, quetêm de ser filtradas e absorvidas o maisrápido possível.

Este é o mundo atual, e, com ele, vem a“geração analgésico”, acostumada com fa-cilidades e que não aceita sofrer, só queren-do prazer e aproveitar cada segundo comose fosse o último. Por isso não conseguecriar planos em conjunto com outras pesso-as, só pensando em si. Este contexto gerauma desestabilizaçãode valores cruciais paraa profissão militar. OMajor Falvey Jr., doCorpo de FuzileirosNavais (CFN) dos Es-tados Unidos da Amé-rica (1996), propõe oCódigo de Ética para oCFN, a partir de suaconstatação de que,no passado, os pa-drões éticos de condu-ta estavam amplamen-te difundidos e eram aprendidos desde oberço, mas atualmente a cultura, de uma for-ma geral, tende para o relativismo e para arejeição de verdades objetivas ou univer-sais. Assim, cada vez mais, o certo e o erra-do são relativos aos fatos e circunstânciasde uma dada situação.

Então, o líder pós-moderno tem que sa-ber como trabalhar em meio à liberdade in-condicional, à crise de autoridade e à faltade limites. Ele tem que ser altamente flexí-vel para que possa compreender rapida-mente as mudanças e, assim, se adequar eencontrar os melhores caminhos a seremtrilhados pelo grupo. Adequar-se sem, con-

tudo, abrir mão daqueles valores que se-jam essenciais.

Na carreira militar, os profissionais seentregam inteiramente, até o sacrifício daprópria vida, e juram cumprir rigorosamen-te as ordens das autoridades a que estãosubordinados. Portanto, as ordens emana-das têm grande influência sobre quem asrecebe, o que torna ainda maior a respon-sabilidade do líder para com seus lidera-dos. Deve, por isso, existir um compromis-so de lealdade recíproca entre eles, umavez que o comportamento de um se refletediretamente na vida do outro.

Pesquisas da Diretoria de AssistênciaSocial da Marinha (Dasm), bem como dis-

sertações de mestradode oficiais na áreapsicossocial, compro-vam a importância daliderança e apontam orelacionamento chefee subordinado como omaior motivo de insa-tisfação no trabalho,superando quesitosimportantes como re-muneração, entre ou-tros. É nesse contextode dificuldades inter-

pessoais que se torna necessária a figurado líder: alguém que represente os anseiosdo grupo e constitua um fator de união embusca de alternativas e soluções.

LIDERANÇA

Estudiosos do comportamento psicosso-cial dizem que a liderança tem sua origem li-gada ao gregarismo como peça importantede sustentação do grupo. O líder desempe-nha um papel integrador entre seus membros,transmitindo-lhes ideias, normas e valoressociais, ao mesmo tempo em que representaos interesses e valores do grupo.

Na carreira militar, osprofissionais se entregam

inteiramente, até osacrifício da própria vida, e

juram cumprirrigorosamente as ordens

das autoridades a queestão subordinados

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O MONGE E O MILITAR

Desde os primórdios, o ser humano temnecessidade de estar em grupo e, para man-ter a ordem, elege alguém para representara vontade comum e garantir que esta pre-valeça sobre o desejo individual. Essa hie-rarquia é uma constante na história da so-ciedade desde as comunidades mais sim-ples, como as dos patriarcas hebreus, pas-sando por faraós, egípcios, reis, até os che-fes de Estado modernos das repúblicas,com formas mais amplas de escolha de seusrepresentantes. E esses líderes, em qual-quer época, exercem ou exerceram algumpoder sobre o grupo, o que faz com que osoutros indivíduos o sigam. Ao contrárioda noção que prevalece no senso comum,não existe uma liderança perfeita ou umafórmula a ser seguida em qualquer situa-ção. As maneiras de se liderar variam deacordo com o grupo ou circunstâncias, fatocomprovado pelas teorias situacionais deliderança. Segundo Smith & Peterson,“quando se abandona a ideia de que deveexistir uma melhor forma de liderar, todasas teorias subsequentes devem sersituacionais, isto é, devem definir as cir-cunstâncias que afetam o comportamentoe a eficácia dos líderes”.

Liderança é a arte e a ciência de influen-ciar pessoas em prol de um objetivo. Al-guns indivíduos nascem com o dom de ca-tivar pessoas, são carismáticos, mas ou-tros desenvolvem atributos de liderança nodecorrer da vida, por meio da experiênciaou estudo que os torna excelentes líderes.

A pesquisa de Lewin, Lippitt e Whitesobre climas sociais (autocrítico, democrá-tico e laissez-faire) e desempenho grupaldeu comprovação notável de que o mesmogrupo se comportará de formas diferentessob diferentes estilos de liderança. A se-guir será abordada a liderança transforma-cional, além das bases de poder e dos para-doxos entre os valores do líder militar eaqueles da sociedade pós-moderna, para

que assim se possa compreender melhor opapel do líder e perceber sua necessidadeem nossas mentes.

PODER SOCIAL

O poder social seria o recurso que per-mite a um líder influenciar outros indivídu-os, provocando mudanças psicológicas –valores, comportamentos, atitudes, neces-sidades, objetivos e motivações. As for-mas mais fáceis e conhecidas de se influ-enciar uma pessoa, ou seja, exercer seupoder sobre ela, é por meio da recompensae da punição. São formas simples, porémsuperficiais, uma vez que os objetivos sósão alcançados pela troca (LiderançaTransacional) ou pelo medo. O subordina-do só faz algo para ser premiado ou não serpunido; ele não entende a necessidade doseu serviço ou sua importância perante ogrupo.

Porém, se o subordinado vê seu lídercomo exemplo a seguir, caso se identifiquecom os seus valores e admire suas quali-dades e competências, passará então a exis-tir um vínculo interpessoal que fará comque o subordinado trabalhe motivado, comamor e não por ganância ou medo. Por meiodessas diferenças é que iremos começar adiferenciar o líder do chefe.

Enquanto o líder exerce o poder de refe-rência sobre o subordinado, por meio dainspiração de admiração e da perspectivade identificação com o líder, o chefe limitasua influência ao poder formal ou legítimo.

LÍDER X CHEFE

Falou-se muito sobre liderança, poismuitas pessoas confundem essa caracte-rística com o simples fato de delegar tare-fas. Como vimos, liderar é algo mais amploe complexo, uma vez que o líder não estáfocado somente em resultados ou tarefas,

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O MONGE E O MILITAR

mas tem como plano principal as pessoas eseu bem-estar. Ele pensa no grupo e nãosomente nele. O líder acredita que a moti-vação e a boa relação interpessoal com ossubordinados significam sucesso nas ta-refas, uma vez que alguém feliz com o queestá fazendo e que se sente importante emsua função trabalhará com empenho, afin-co e fará o melhor possível com amor.

Preocupar-se com pessoas, seus senti-mentos e dificuldades é bem mais compli-cado do que lidar com constantes e núme-ros. Portanto, o líder tem que estar prepa-rado para trabalhar com as diversas variá-veis que irão surgir etem que ser criativo einovador. Por isso,muitas vezes as pes-soas preferem ser so-mente chefes, impon-do seu poder de formaautoritária e sem ob-servar as circunstân-cias em que seu subor-dinado se encontra.Isso provoca estressee desmotivação, quesão refletidos direta-mente nas tarefas e nos números tão im-portantes para o chefe.

O verdadeiro líder desenvolve o subor-dinado, ele se preocupa com o aperfeiçoa-mento e o preparo desse e de meios paraque cresça intelectualmente, delegando edando responsabilidades ao mesmo paraque possa, assim, desenvolver suas capa-cidades. Pode-se dizer que a liderança é oincremento de influência que uma pessoaexerce, além de sua autoridade formal. Im-plica algo mais que responsabilidade desupervisão ou poder legítimo.

O autor Warren Bennis ilustra bem essadiferença com a seguinte definição:“Gerenciar (poder formal) é fazer com que aspessoas façam o que é preciso. Liderar (po-

der de referência e de competência) é fazercom que as pessoas queiram fazer o que épreciso”. Agora que já sabemos as diferen-ças entre o chefe e o líder, vemos que, noâmbito militar, baseado na hierarquia e dis-ciplina, liderança e chefia devem ser concili-adas. É impossível falar de hierarquia sempoder formal ou legítimo. Daí surge a possi-bilidade de liderança e chefia não serem pro-cessos mutuamente exclusivos.

Então, o comandante deve possuir osdois atributos: ele deve ser chefe (autori-dade advinda da responsabilidade atribuí-da à função, associada com aquela decor-rente de seu posto ou graduação) e líder

(influenciar e inspiraros seus subordina-dos), a fim de condu-zir eficazmente a orga-nização no cumpri-mento da missão.

Chefia e liderançanão são processos alter-nativos e, sim, simultâ-neos e complementares.

CONCLUSÃO

A seguinte citação consegue sintetizaras diferenças entre chefe e líder, afirmandoa importância da liderança para os desafi-os atuais: “Nesse contexto, ressalto nãoter dúvidas de que temos excelentes ge-rentes. Mas a experiência tem mostrado queser gerente não significa, obrigatoriamen-te, ser líder. Gerentes administram, mantême focalizam-se em sistemas. Os líderes, porsua vez, inovam, desafiam o status quo,correm riscos e focalizam-se em pessoas. Epara as dificuldades que este novo milênioparece nos reservar, mais do que nuncaprecisamos de ótimos líderes, homens que,além de tudo o que foi dito, observem aética, sejam firmes, apreciem a justiça, exer-citem a coerência e sejam excelentes indu-

Gerentes administram,mantêm e focalizam-se emsistemas. Os líderes, por

sua vez, inovam, desafiamo status quo, correm riscose focalizam-se em pessoas

Almirante Kleber

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O MONGE E O MILITAR

tores do sentimento de poder dos subordi-nados”. (Almirante Kleber).

Sabe-se que a liderança é a arte ou ciên-cia de influenciar pessoas, uma vez que podeser uma característica nata de alguns comespírito agregador e carisma ou pode seradquirida no decorrer da vida, por meio doestudo: de teorias, casos e problemas. En-tretanto, não existe nenhuma fórmula mila-grosa ou cientificamente comprovada, poiscada grupo possui um comportamento es-pecífico decorrente de diversas contingên-cias. Na verdade, o líder pode exercer seupoder de influência de diversas formas.

Não existe mais aquele chefe isolado emseu gabinete, que só faz cobranças semestar preocupado com o bem-estar e com

as condições de trabalho apropriadas. Ele,como gestor (chefe e líder), também temcomo prioridade o ser humano por trás dosnúmeros, seu aperfeiçoamento, bem comoa modernização dos meios operativos fa-zem com que ele alcance os melhores re-sultados e a satisfação do grupo.

O artigo chega a seu fim material; o au-tor, porém, pretende que ele tenha conti-nuidade na mente dos leitores que façamdo texto um motivo de reflexão e de futuraação. Retoma-se a introdução, reforçandoque somos eternos aprendizes, a Marinhado futuro e elementos positivos de mudan-ça. Se houve sofrimento no passado, tra-balhe para que ninguém mais proceda detal maneira.

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Estado-Maior da Armada. EMA – 137. Doutrina de Liderança da Marinha. Brasília: EMA,2004.

NOBRE, Erica B. Crenças de superiores e subordinados sobre perfil do líder militar-naval brasilei-ro neste final de século. Rio de Janeiro: Curso de Mestrado em Psicologia da UFRJ, 1998(dissertação).

NOVO, Damáris Vieira. Gestão e Liderança. Rio de Janeiro: Curso de Administração de Empresas daFundação Getúlio Vargas.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<VALORES>; Liderança; Princípios militares; Conduta; Espírito de corpo; Vocação;

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SUMÁRIO

O Batalhão de Operações Ribeirinhas (BtlOpRib) de Fuzileiros NavaisA logística de suprimentos para o BtlOpRibO Sistema de Proteção da AmazôniaO Batalhão de Operações Ribeirinhas e a estratégia nacional de defesa

A ATUAÇÃO DO BATALHÃO DE OPERAÇÕESRIBEIRINHAS DE FUZILEIROS NAVAIS NAPROTEÇÃO DA AMAZÔNIA E A ESTRATÉGIANACIONAL DE DEFESA*

RAFAEL OLIVEIRA ROSBACKAspirante (FN)

Este trabalho destina-se a apresentar oBatalhão de Operações Ribeirinhas de

Fuzileiros Navais: sua missão, como é oestágio de formação do combatente anfí-bio ribeirinho, sua área de atuação, os mei-os navais e aeronavais que utiliza e o apoiologístico prestado pelo depósito regional.Para tanto nos utilizamos de fontes oriun-das de sites da internet e da Estratégia Na-cional de Defesa. Nossa metodologia en-volveu uma breve apresentação sobre todaárea e meios envolvidos no conceito de

Operação Ribeirinha; a partir disso mos-tramos o apoio logístico e o apoio forneci-do pelo Sistema de Proteção da Amazônia(Sipam) para, assim, mostrar o vínculo en-tre a atuação do Batalhão e a EstratégiaNacional de Defesa. Nossa conclusão foi ade que as diretrizes propostas pela Estra-tégia Nacional de Defesa que englobam aatuação do Batalhão de Operações estãosendo devidamente executadas.

A Amazônia é uma região da América doSul englobada pela área na qual está situa-

* Publicado inicialmente na Revista Villegagnon – 2010, págs. 84-87.

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da a bacia do Rio Amazonas. Seus ecossis-temas estão divididos em 23 ecorregiões,que no Brasil englobam os estados Acre,Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia,Roraima e pequena parte de Maranhão,Tocantins e Mato Grosso. Além disso, échamado também de Amazônia o bioma que,no Brasil, ocupa 49,29% do território, sen-do o maior bioma terrestre do país. Temos,assim, uma reserva biológica inigualávelno mundo.

A bacia hidrográfica amazônica possuimais de sete milhões de km2, compreenden-do terras de vários países: Peru, Colômbia,Equador, Venezuela, Guiana, Bolívia e Brasil.A área coberta por água no Rio Amazonas eseus afluentes mais do que triplica duranteas estações do ano. Emmédia, na estação seca,110 mil km² estãosubmersos, enquantoque na estação daschuvas essa área che-ga a ser de 350 mil km2.No seu ponto mais lar-go, atinge na boca seca11 km de largura, que setransformam em 45 kmna estação das chuvas.

Toda essa abundância de recursos e suaextensa área, que faz fronteira com diver-sos países, nos trazem à tona problemasno âmbito da defesa nacional, como amea-ças de invasão de potências estrangeirasou a expansão de conflitos armados paradentro de nossas fronteiras – como a queestá ocorrendo entre as Forças ArmadasRevolucionárias da Colômbia (Farc) e aColômbia. Percebemos também que orga-nizações não-governamentais e governosde outros países já deixaram claro que nãoabrem mão de participarem da conserva-ção da maior floresta do planeta.

Diante da atuação e da presença da Ma-rinha do Brasil (MB) na região, é percebido

que, para a manutenção da plena posse edefesa da Amazônia, é necessário o con-trole das hidrovias interiores e das áreasque lhes são adjacentes. Nesse contexto, aOperação Ribeirinha é a forma de se execu-tar a ocupação dessas áreas. Uma Opera-ção Ribeirinha, no Brasil conhecida tam-bém por OpRib, se desenvolve em uma áreaRibeirinha (conhecida como ARib), que éuma área interior, compreendendo hidroviafluvial ou lacustre e terreno, caracterizadapor comunicações terrestres e visibilidadelimitadas e pela existência de extensa su-perfície hídrica ou rede de hidrovias interi-ores, que servem como via de penetraçãoestratégica ou rotas essenciais ou princi-pais para o transporte de superfície. A

OpRib tem como obje-tivo controlar e man-ter uma ARib ou par-cela desta, a fim denegá-la ao inimigo ouser um instrumentopara uma ofensiva auma tropa inimiga.

Na Operação Ribei-rinha, é necessária aatuação integrada dosmeios navais e aerona-

vais durante toda a sua execução, diferen-te de uma Operação Anfíbia, na qual, apóso Desembarque Anfíbio, há uma separaçãoorganizacional entre a Força de Desembar-que e a Força-Tarefa Anfíbia. São utiliza-das também pequenas embarcações, asLanchas de Assalto Rápido (LAR), que sãoos vetores dos fuzileiros navais entre osnavios e a margem e que também são utili-zadas durante a operação para proteçãodos navios.

Essa atuação conjunta dos meios pro-porciona uma rápida penetração e retiradada tropa. O navio proporciona apoiologístico e possibilita a atuação dos fuzilei-ros em áreas mais distantes. O fuzileiro na-

Para a manutenção daplena posse e defesa da

Amazônia, é necessário ocontrole das hidrovias

interiores e das áreas quelhes são adjacentes

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val é quem efetivamente faz a ocupação emterra. O vetor aéreo permite grande mobili-dade à tropa e a possibilidade de introduzira tropa em áreas mais afastadas da margem.

O BATALHÃO DE OPERAÇÕESRIBEIRINHAS DE FUZILEIROSNAVAIS

A Amazônia está inserida administrati-vamente, para a Marinha do Brasil, no 9o

Distrito Naval. Entre as tarefas do Coman-do do 9o Distrito Naval, consta executarOperações Navais, Aeronavais e de Fuzi-leiros Navais e terrestres de caráter naval eapoiar as Unidades e Forças Navais,Aeronavais e de Fuzileiros Navais, subor-dinadas ou não, em operação na AmazôniaOcidental. Para a execução das atividadesatinentes ao Corpo de Fuzileiros Navais naregião amazônica, foi criado, em 1985, oGrupamento de Fuzileiros Navais deManaus (GptFNMa).

Em decorrência de a Política de DefesaNacional considerar como fundamentalmaior ação de presença da Marinha naAmazônia, a MB decidiu pela reestrutura-ção do GptFNMa em uma unidade de valorbatalhão, para uma melhor atuação em ope-rações ribeirinhas. Dessa forma, o Grupa-mento de Fuzileiros Navais de Manaus tor-nou-se, em 2002, o Batalhão de OperaçõesRibeirinhas (BtlOpRib).

A missão atual do BtlOpRib é realizar ope-rações ribeirinhas, prover guarda e proteção ainstalações navais e civis de interesse daMarinha na região e realizar ações de seguran-ça interna, a fim de contribuir para a segurançada área sob jurisdição do Comando do 9o Dis-trito Naval (Com9oDN) e para a garantia douso dos Rios Solimões, Negro e Amazonas edas hidrovias secundárias, atingíveis a partirda calha principal desses três rios. O BtlOpRibé localizado estrategicamente na extremidadesul de Manaus, próximo ao encontro daságuas, onde se forma o Rio Amazonas.

Devido às características do ambienteribeirinho, que são diferentes das de umacabeça de praia, foi criado em 2005 o Cursode Operações Ribeirinhas, que visa adap-tar e moldar o combatente ao ambiente e àexecução da Operação Ribeirinha. No cur-so já se formaram mais de 500 combatentesribeirinhos, incluídos fuzileiros navais, mi-litares de outras forças, policiais militaresda Amazônia e agentes da Polícia Federal.No curso são ensinados conceitos de so-brevivência na selva, combate na selva,primeiros socorros, navegação e orienta-ção fluvial e terrestre, natação utilitária,rapel, fast hope, helocasting, comunica-ção, armadilhas, técnicas de patrulha e co-nhecimentos básicos de motores de popa.

Terminado o curso, os fuzileiros navaismantêm seu adestramento realizando exercíci-os internos no Batalhão e em algumas opera-

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A ATUAÇÃO DO BATALHÃO DE OPERAÇÕES RIBEIRINHAS DE FUZILEIROS NAVAIS NA PROTEÇÃO DAAMAZÔNIA E A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA

ções, por vezes com outras forças. Além des-sas atividades, o BtlOpRib mantém de formapermanente um destacamento de fuzileirosnavais em Tabatinga desde julho de 2003, como efetivo de 45 militares. Fazendo parte da For-ça de Emprego Rápido – FER, sua tarefa écontribuir para a ampliação da capacidade derealização de patrulha fluvial, inspeção navale de operações ribeirinhas na área de fronteiraem cooperação com os meios navais eaeronavais estacionados na região, além deprover a guarda e a proteção às instalaçõesnavais e outras de interesse da Marinha naárea de Tabatinga. Esses militares permane-cem por um mês no local, quando então ocor-re um revezamento. Para o transporte terres-tre, o pelotão possui duas Viaturas 2 1/2 TonTNE LAK e, para os deslocamentos fluviais,utiliza-se das LAR, orgânicas dos navios-pa-trulha fluviais estacionados na área.

Fornecem também apoio ao BtlOpRib osnavios do Com9oDN e o 3o Esquadrão deHelicópteros de Emprego Geral – EsquadrãoHU-3, composto por aeronaves HelibrasEsquilo, de fabricação nacional. Como exem-plo de atuação conjunta, podemos citar aOperação Negro, que mobiliza os navios-patrulha fluviais (NaPaFlu), os navios deassistência hospitalar (NAsH) e as LAR.

A LOGÍSTICA DE SUPRIMENTOSPARA O BTLOPRIB

Observando a realidade, podemos notarque existe uma grande dificuldade para su-prir tropas, principalmente em ambientes deselva. Ao longo da história, ficou bastanteevidente a dificuldade encontrada em con-flitos, como no Vietnã e na Segunda GuerraMundial (Guerra no Pacífico).

Dificuldades muito semelhantes os mili-tares brasileiros enfrentam atualmente naselva amazônica. Podemos mencionar o fatode haver pouquíssimas rotas terrestres e agrande distância dos polos industriais como

os principais obstáculos para o apoio efici-ente das tropas. A Marinha do Brasil possuinessa região o Depósito Naval de Manaus,que visa estocar e distribuir gêneros alimen-tícios, combustíveis, sobressalentes,fardamento e desenvolver tráfego de carga.

A tarefa principal do depósito é contri-buir para que os meios navais, aeronavaise de fuzileiros navais estejam sempre pron-tos para atuar de forma eficaz. Para quehaja o suprimento para o militar no fim delinha, ou seja, aquele que está na ponta doabastecimento, é necessária uma complexarede de abastecimento que vai desde a de-terminação da necessidade, aquisição doitem, estocagem e distribuição.

Em suma, a tarefa de apoiar é de extremaimportância, pois sem itens de suprimento aexecução das operações ribeirinhas seriainviável. Para isso é necessário um trabalhoárduo, complexo, que envolve muita dedi-cação e apropriada gerência de recursos fi-nanceiros, visto que estoques custam caroe representam imobilização de capitais.

O SISTEMA DE PROTEÇÃO DAAMAZÔNIA

O Sistema de Proteção da Amazônia(Sipam), iniciado em julho de 1997, foi cria-do para integrar informações, gerar conhe-cimento atualizado para articulação, plane-jamento e coordenação de ações globais dogoverno na Amazônia, visando à proteção,à inclusão social e ao desenvolvimento sus-tentável da região. Para tanto, o Sistema uti-liza dados gerados por uma complexainfraestrutura tecnológica, composta porsubsistemas integrados de sensoriamentoremoto, radares, estações meteorológicas eplataformas de dados, instalada na região.

A integração das informações e a gera-ção do conhecimento atualizado pelo Sipampermitem a cada órgão parceiro planejar comsegurança sua atuação em campo e tam-

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bém um melhor monitoramento e controledas operações. Podemos citar a OperaçãoTimbó como exemplo de atuação conjuntaentre o Sipam e as Forças Armadas. Nelarealiza-se um adestramento combinado dedefesa da soberania, com a preservação daintegridade territorial, do patrimônio e dosinteresses nacionais.

O BATALHÃO DE OPERAÇÕESRIBEIRINHAS E A ESTRATÉGIANACIONAL DE DEFESA

As Operações Ribeirinhas são realizadaspor uma Força-Tarefa Ribeirinha. Estas ge-ralmente são baseadas no trinômio navio-fuzileiro naval-helicóptero. As embarcaçõese os helicópteros fornecem flexibilidade emobilidade, além de transporte de carga,pessoal e comando e controle necessários àexecução de uma Operação Ribeirinha.

À Marinha do Brasil, por meio do fuzileironaval, cabe a tarefa de projetar poder sobreterra (tarefa básica do Poder Naval), garan-tindo a conquista de objetivos como locali-dades, instalações de interesse e ocupação

de margens para a passagem de navios ouelementos combativos do Exército. Essa pro-jeção de poder é necessária para o efetivocontrole das margens das vias navegáveis.

Como conclusão, o aumento da partici-pação de órgãos governamentais, milita-res e civis no plano de vivificação e desen-volvimento da faixa de fronteira amazôni-ca, empregando a estratégia da presença,juntamente com essas ações e atividadesestão inseridos nas diretrizes básicas daEstratégia Nacional de Defesa, sendo elasa dissuasão da concentração de forçashostis nas fronteiras terrestres, organiza-ção das forças armadas sob a égide dotrinômio monitoramento/controle, mobili-dade e presença, mobilidade estratégica –capacidade de responder prontamente aqualquer ameaça ou agressão.

“Conservar esse incomparável patrimônioe, ao mesmo tempo, fazer dele alavanca estra-tégica para o desenvolvimento do Brasil édesafio de alta complexidade. E somos nós,brasileiros, os únicos que podem e devemdefinir em que termos isso será feito.”(LULA, 2007, grifo próprio)

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Fuzileiros Navais; Amazônia; Estratégia;

BIBLIOGRAFIA

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ARTIGOS AVULSOS

Esta seção divulga os artigos que não puderam ser publicados– na íntegra – na RMB e que passarão a fazer parte do acervo daBiblioteca da Marinha.

Aqui são apresentados o título, o autor, posto ou título, númerode páginas do trabalho completo, classificação para índice remissi-vo e o resumo do artigo.

MAGÉ, MINHA CIDADE NATAL

DIMAS LOPES DA SILVA COELHOVice-Almirante (Refo)

Número de páginas: 25Identificação: AV 042/11– # 1932– RMB 3o/2011CIR: <ÁREAS>; Magé; Corveta; História do Brasil; Guerra do Paraguai; Lei; Política; Escravidão; Caxias;

É feito um resumo histórico sobre a cidade de Magé e a origem deste nome.É realçada a importância da região interior da Baía de Guanabara, que desenvolveu

atividades agrícolas – plantação de banana, mandioca e cana-de-açúcar, com consequenteexpressividade da sociedade local e regional no período do Império e início da República.

Derivada dessa expressão político-econômica, a Marinha deu o nome Magé a umacorveta, por vezes também classificada de canhoneira, de casco de madeira e propulsãomista a vela/vapor, mandada construir na Inglaterra, em 1850. Junto com esta, outras três –Beberibe, Jequitinhonha e Viamão – foram inicialmente empregadas na repressão ao tráfi-co de escravos da África para o Brasil.

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ARTIGOS AVULSOS

A Grã-Bretanha exercera, desde o tempo de D. João VI no Brasil, pressão política paraproibir o mencionado tráfico, e atuara com base em Ato de 1845, conhecido como BillAberdeen, que atentava contra a soberania do Brasil, como entrar em nossas águas territoriais,até mesmo em portos e baías. Tais atos provocaram a criação da Lei Eusébio de Queiroz, de4 de setembro de 1850, determinando o término de tráfico de escravos e atribuindo à Mari-nha a tarefa de reprimir a atividade que passara a ser ilegal. No entanto, os nossos navioseram “de certo porte e com propulsão a rodas e, por vezes, mistos, de panos redondos,portanto de um certo vulto e lentos, e os navios negreiros eram menores e de panos latinos,portanto mais rápidos, o que dificultava a identificação e a interceptação, gerando, emconsequência, uma condição que dificultava a apreensão dos mesmos”, razão da encomen-da das quatro corvetas à Inglaterra.

Logo depois os navios foram movimentados para a Bacia do Prata, devido à situaçãopolítica que se agravara e, mais tarde, na própria Guerra do Paraguai, especialmente a Magé,a Beberibe e a Jequitinhonha. As duas últimas participaram da Batalha de Riachuelo,quando se perdeu a Jequitinhonha.

A respeito da repressão ao tráfico, o autor listou Autos de Apreensão promovidos pelaAuditoria de Marinha, bem como os Termos de Viagem correspondentes de nossos navios,hoje guardados no Arquivo Nacional, em precárias condições de conservação.

É citado também o fato de o Duque de Caxias ter nascido em Magé, na Fazenda SãoPaulo, hoje inexistente. Dois de seus tios receberam títulos: Barão de Magé e Barão de Suruí(hoje é nome de um distrito de Magé).

Ainda é mencionada a construção da Fábrica de Pólvora da Estrela do Exército e aprimeira estrada de ferro de Magé para Petrópolis.

A atuação da Marinha fez reduzir o tráfico de escravos e houve a criação de leisalusivas ao assunto, até culminar com a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, que extinguiu aescravatura.

O artigo completo apresenta como anexos:– Lei Eusébio de Queiroz; decreto e relação de leis e decretos;– Referências utilizadas pelo autor;– Fotografias e cópias de aquarelas da região e de navios;– Artigo sobre a repressão ao tráfico;– Histórico do navio Magé;– Relação do Arquivo Nacional – Livro de Bordo, de Partes;– Cópias de desenhos da Guerra do Paraguai;– Cópia da relação de Força do Rio da Prata, desde 1864; e– Relação do Arquivo Histórico do Itamaraty sobre o tráfico de escravos.

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A MARINHA DE OUTRORA

AS LIÇÕES DE ONTEM PARA A MARINHADE HOJE E DE AMANHÃ

– Recebimento de óleo– Manual do Timoneiro– Aspirantes de ontem e de hoje

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A MARINHA DE OUTRORA

RECEBIMENTO DE ÓLEO

Contratorpedeiro Ajuricaba recebendo óleo combustível doNavio-Aeródromo Minas Gerais – 1961

Recebida a publicação Manual do Ti-moneiro, por doação de familiares do aspi-rante de Marinha Carvalho Serejo, no 15,do 1o ano da Escola Naval em 1918. Passaráa fazer parte do acervo da Biblioteca daMarinha, na seção de Obras Raras.

O manual foi organizado por ordem doVice-Almirante Julio Cesar de Noronha, mi-nistro da Marinha, por comissão compostapelo Capitão de Mar e Guerra João Baptistadas Neves, Capitão de Corveta Filinto Perrye Capitães-Tenentes Francisco José Pereiradas Neves e Amphiloquio Reis.

A obra foi aprovada e mandada publicarem 1909 pela Imprensa Nacional, com 347páginas.

MANUAL DO TIMONEIRO

O título do manual não induz a compreen-der o teor dos assuntos que são abordados,como se observa no próprio índice/ sumário:

Livro Primeiro, com 138 páginas1a parte – Cosmografia; atmosfera; ven-

tos; instrumentos meteorológicos2a parte – Mares; águas do mar – correntes,

marés; sondagem; balizamento dos portos3a parte – Magnetismo terrestre; agulhas

de marear, agulha azimutal; compensaçãode agulhas; marcha do navio; carta marítima

Livro Segundo, com 102 páginas1a parte – Sinais, classificação – ban-

deiras; códigos internacional e da Armada2a parte – Sinais luminosos; códigos in-

ternacional e da Armada

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A MARINHA DE OUTRORA

3a parte – Sinais sonoros; códigos in-ternacional e da Armada

4a parte – Sinais para grandes distânci-as; códigos internacional e da Armada

5a parte – Bandeira Nacional e distinti-vos usados pelas embarcações da União,pelas embarcações estrangeiras, embandei-ramentos, honra, salvas e continências;cerimonial

6a parte – Acondicionamento e conserva-ção do material de sinais, preparação, confec-ção e conserto, boias de salvamento, faróis denavegação e luzes; binóculo, telêmetro

7a parte – Serviço de Sinaleiro e sua dis-tribuição; sinaleiro de serviço e cadernode deveres

Livro Terceiro, com 88 páginasParte Única – Embarcações miúdas, classi-

ficação, nomenclatura e dotação; manobrasde escaleres a remo e a vela; embarcações sal-va-vidas; lancha a vapor; deveres dos patrões.

A obra pode ser considerada bastantecompleta, abordando assuntos muito maisamplos do que seria tarefa de um timonei-ro, assemelhando-se, sim, ao que hoje estácontido no livro Arte Naval, de MaurílioM. Fonseca, edição de 1982, com 900 pági-nas. A nova edição, revista e ampliada, foipublicada pela Diretoria de Patrimônio His-tórico e Documentação da Marinha, em2005, em dois volumes, o primeiro com 518páginas e o segundo com 930.

Houve uma época em que o termo “cade-te” exercia um fascínio todo especial sobre asmoças. Para elas, cadete era o aluno das esco-las militares, aquele que andava fardado, como espadim na cintura. Frequentava os chama-dos bailes a rigor, nos quais os civis trajavamsmoking ou summer, e o uniforme equivalia aesses trajes especiais. Mais precisamente,eram os bailes de formatura que aconteciamno Hotel Glória, no Clube Ginástico Portugu-ês, nos clubes da Aeronáutica e Militar, e ou-tros, nos quais as moças usavam vestidos lon-gos, no estilo “tomara que caia”, e os rapazes,os citados trajes a rigor. Mas os cadetes iamfardados e faziam sucesso na festa, desper-tando inveja nos civis, pois a preferência femi-nina pelos uniformizados era algo gritante. Nachegada ao local da festa, acontecia o ritual dese dirigir à chapelaria, onde eram deixados oboné, o espadim e as luvas, ritual esse admira-do com ansiedade pelo chamado sexo frágil.Afinal, era o momento em que os cadetes sepreparavam para se entregar à disputa pelosexo oposto.

ASPIRANTES DE ONTEM E DE HOJE

Mas nós, da Escola Naval, fazíamos ques-tão de afirmar que não éramos cadetes. Éra-mos aspirantes. Algumas moças insistiam emse referir a nós como “cadetes da Naval”,com o que não concordávamos, insistindoque éramos aspirantes e não cadetes.

E por que essa diferença? Primeiro, por-que aspirante é aquele que aspira, que al-meja algo, e nós aspirávamos ao galão deguarda-marinha, passo intermediário paraalcançar o oficialato. Depois, porque nãoéramos melhores nem piores. Éramos dife-rentes. Pertencíamos à Marinha do Brasil,mais precisamente a essa instituição secu-lar chamada Escola Naval.

Nosso uniforme, incômodo às vezes,azul-marinho de sarja com colarinho bran-co, duro e engomado, se destacava dosdemais. A capa do boné, feita de brim, eraengomada e modelada pelo Rocha e peloTorterolli (acho que o nome era esse), quetrabalhavam na rouparia da Escola.

Às vezes, trocávamos o jaquetão pelobranco, conhecido como “branco pirulito”,

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A MARINHA DE OUTRORA

menos quente, mas também incômodo pelofechamento no pescoço.

Entretanto, o orgulho de vestir aque-les uniformes nos permitia superar o des-conforto que eles eventualmente podiamcausar.

Aliás, aspirantes éramos, de certo modo,desde o Colégio Naval ou da vida civil, namedida em que sonhávamos com o dia emque baixaríamos à terra, portando orgulhosa-mente nosso espadim.

Chamávamos aten-ção nas ruas, ao cami-nhar ou embarcar emlotações, transportecoletivo da época, poiséramos admirados eolhados por todos, tala beleza e o garbo denosso uniforme.

Aos sábados, antesdo licenciamento, éra-mos submetidos a umarigorosa inspeção, naqual os oficiais verifica-vam cabelo, barba, co-larinho duro, capa doboné e sapato, entreoutros detalhes.

Nos desfiles milita-res, Parada de 7 de Setembro por exemplo,usávamos nossa jaqueta de parada, outrouniforme de uma elegância incomparável, enosso grupamento era motivo de realce.

Esses eram os aspirantes da Escola Na-val: admirados, invejados, motivos de or-gulho para a família.

Agora, almoçando na praça-d’armas doClube Naval, vejo entrarem os aspirantes àpaisana, trajando calças jeans e tênis, e meponho a refletir: serão eles ainda aspiran-tes como nós éramos? Qual será para eles

o significado da palavra “aspirante”? Éobvio que eles ainda aspiram ao oficialato.Mas e o espadim? E a admiração da socie-dade por aquele uniforme jaquetãoinigualável? E as luvas de couro marromque levávamos dobradas, mas que éramosobrigados a vestir quando passávamospela sala de estado da Escola Naval? E arivalidade saudável com os cadetes das ou-tras Escolas, na disputa pela preferênciafeminina? E o destaque nas ruas, que nos

fazia admirados? Anu-almente, aconteciamas competições entreas escolas militares,com provas na pisci-na do Vasco da Gamae jogos no Ginásio doTijuca Tênis Clube e,posteriormente, noMaracanãzinho. Asmoças compareciamem peso, dividindo-seentre as torcidas dastrês escolas. Mas a Es-cola Naval tinha seulugar de destaque.Sem dúvida, um dosresponsáveis por issoera o uniforme.

Com tristeza, constato que, ao que pare-ce, tudo isso acabou. Os aspirantes entramna Escola Naval e dela saem à paisana. Nãosão mais reconhecidos e admirados nas ruas.Será saudosismo? Estarei eu esquecendo deme adaptar aos tempos atuais? Pode ser etomara que seja. Só peço a Deus que essamudança de comportamento não altere o amor,a dedicação e a vibração pela Marinha.

Gilberto PereiraCapitão de Mar e Guerra (Refo)

Chamávamos atenção nasruas, ao caminhar ou

embarcar em lotações,transporte coletivo da

época, pois éramosadmirados e olhados, tal abeleza e o garbo de nosso

uniforme. Eram osAspirantes da Escola

Naval: motivo de orgulhopara a família

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NECROLÓGIO

† AE Ivan da Silveira Serpa† VA Alberto dos Santos Franco† VA Floriano Peixoto Faria Lima† VA (FN) Olavo Freire da Rocha† VA Luiz Sanctos Döring† CA (IM) Joffre Gonçalves de Magalhães† CA (MD) Eimar Delly de Araújo† CMG Alfredo Mário Mader Gonçalves† CMG Roberto dos Santos Vicentini† CMG (IM) André Vitor Valavicius† CF Lafayete Pereira Gomes Filho† 3o SG José Valdy Henrique† MN Nestor da Silva Patrício

Nasceu no Rio de Janeiro, filho deGastão da Silveira Serpa e de Ida de Carva-lho Serpa. Promoções: a segundo-tenenteem 30/03/1954, a primeiro-tenente em 26/10/1955, a capitão-tenente em 04/11/1958,a capitão de corveta em 22/12/1962, a capi-tão de fragata em 28/12/1967, a capitão demar e guerra em 25/12/1973, a contra-almi-rante em 25/11/1980, a vice-almirante em31/03/1985 e a almirante de esquadra em31/03/1990. Foi transferido para a reservaem 26/11/1992.

Foi ministro da Marinha de 08/10/1992 a01/01/1995.

Em sua carreira, exerceu oito comandos:Centro de Instrução Almirante Tamandaré,Contratorpedeiro Piauí, 2o Esquadrão deContratorpedeiros, Força de Contratorpe-deiros, Escola Naval, 2o Distrito Naval, Es-quadra e Operações Navais.

Exerceu quatro direções: de Ensino, dePessoal, de Navegação. Foi Chefe do Esta-do Maior da Armada.

IVAN DA SILVEIRA SERPA 30/11/1932 † 26/05/2011

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NECROLÓGIO

Comissões: Cruzador Ligeiro Barroso,Navio-Escola Duque de Caxias, Estado-Mai-or da Armada, Centro de Adestramento Almi-rante Marques de Leão, ContratorpedeiroPernambuco, Centro de Instrução AlmiranteWandenkolk, Comissão Naval Brasileira emWashington, Escola Naval, Comando emChefe da Esquadra, Comando da Força deContratorpedeiros, Comando do 2o DistritoNaval, Comando de Operações Navais e Es-tado-Maior da Armada (vice-chefe).

Em reconhecimento aos seus serviços,recebeu inúmeras referências elogiosas eas seguintes condecorações: Ordem doMérito da Defesa – Grande Oficial, Ordemdo Mérito Naval – Grã-Cruz, Ordem do Mé-rito Militar – Grande Oficial, Ordem do

Mérito Aeronáutico – Grande Oficial, Or-dem do Rio Branco – Grã-Cruz, Ordem doMérito Judiciário Militar – Alta Distinção,Medalha Militar e passador de platina –Quarto Decênio, Medalha Naval de Servi-ços Distintos, Medalha Mérito Tamandaré,Medalha Mérito Marinheiro – 3 âncoras,Medalha do Pacificador, Medalha MéritoSantos Dumont, Medalha MarechalTrompowsky, Portugal – Medalha do Mé-rito Militar de 2a Classe, Chile – EstrelaMilitar, Bélgica – Ordem de Leopoldo II,Equador – Condecoração Abdon Calderon,e França – Ordem do Mérito Marítimo.

À família do Almirante Ivan da SilveiraSerpa, o pesar da Revista MarítimaBrasileira.

Ao transpormos orgulhosamente, em fe-vereiro de 1949, a ponte da históricaVillegagnon, o meu colega e amigo Ivan daSilveira Serpa concretizou a sua determi-nação de se tornar um oficial da Marinha.Começava, então, uma brilhante carreira,marcada por sucessivos êxitos.

Após excepcional viagem de instrução,em que, por mais de nove meses, visitamos32 portos estrangeiros, fomos promovidosa segundos-tenentes, sendo interessanteregistrar que as nossas cartas patentes fo-ram assinadas pelo Presidente Vargas nodia 23 de agosto de 1954, véspera de seutrágico suicídio.

A Marinha sempre procura recompensar omérito do seu pessoal e isto faz para ter melho-res condições de bem desempenhar a sua mis-são, sendo muito exigente em suas avaliaçõesao selecionar oficiais para servir no exterior.Por essa razão, o Capitão de Corveta Serpa foiescolhido para ser instrutor na Academia Na-val de Annapolis, tendo, ao final da comissão,recebido elogio de seu almirante diretor pelocompetente desempenho de suas funções.

ALMIRANTE IVAN DA SILVEIRA SERPA

Também pelas suas qualificações, o Ca-pitão de Fragata Serpa foi designado paraser oficial de ligação com a oficialidade doIate Real Britannia, que trouxe a RainhaElizabeth em visita oficial ao Brasil. Aindacomo capitão de fragata, exerceu o coman-do do Contratorpedeiro Piauí, e no postode capitão e mar e guerra foi comandante doCorpo de Aspirantes da Escola Naval, a elaretornando mais tarde como vice-diretor.

Como contra-almirante, comandou a For-ça de Contratorpedeiros e, a seguir, voltouà sua querida Escola Naval, para ser o seucomandante.

Dando continuidade à sua magníficacarreira, o Vice-Almirante Serpa assumiua direção de Ensino da Marinha, o Co-mando do 2o Distrito Naval e o cargo decomandante em chefe da Esquadra, fun-ção sempre sonhada pelos oficiais do Cor-po da Armada.

Promovido a almirante de esquadra em31 de março de 1990, assumiu o Comandode Operações Navais e, em seguida, a che-fia do Estado-Maior da Armada.

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NECROLÓGIO

No dia 7 de outubro de 1992, convidadopelo Presidente Itamar Franco, passou a exer-cer o cargo de ministro da Marinha até o finaldaquele governo, em 2 de janeiro de 1995.

O ministro Serpa, assessorado pelos mem-bros do Almirantado, pôde, em tão curto es-paço de tempo, muito realizar para fortalecera Marinha. Naqueles dois anos e dois meses,conseguiu obter significativos recursos fi-nanceiros – da ordem de US$ 1bilhão –, re-sultado da sua capacidade de persuasão eda boa acolhida por parte do Presidente daRepública.

Com tais recursos,pôde adquirir: quatro fra-gatas da classe Gree-nhalgh, o Navio de De-sembarque de Carrosde Combate MattosoMaia, quatro naviosbalizadores/patrulha, oNavio de Apoio Oceano-gráfico Ary Rongel, seishelicópteros SH-3D enove helicópteros Super-Lynx (projeto criado peloministro Flores).

Dando prossegui-mento ao esforço daMarinha na área daconstrução naval, o mi-nistro Serpa iniciou aconstrução da Corveta Barroso, que teve oseu projeto de engenharia totalmente feitopela Marinha, e do Submarino Tikuna, am-bos também criados pelo Ministro Flores.Também iniciou a construção de dois navi-os-patrulha da classe Grajaú e a moderni-zação do Monitor Parnaíba.

Decidida na gestão dos ministros queantecederam o Almirante Serpa, foi inicia-da por ele a modernização das seis fraga-tas da classe Niterói.

Na área das obras civis, foram construídoso novo Hospital Naval de Salvador, o pré-dio do Comando do 8o Distrito Naval e oauditório da Escola Naval. Também foramexecutados períodos normais de reparos(PNR) nas áreas dos distritos navais.

Foram inúmeras as suas realizações emtão curto período de tempo. Isto se deveuprincipalmente a uma característicamarcante de sua personalidade, que era afirmeza das suas opiniões, que, contudo,não impedia que elas fossem mudadas sem-pre que lhe apresentassem argumentações

convincentes, permi-tindo, deste modo, queo apoio recebido dosmembros do Almiranta-do e de seus principaisauxiliares se tornasseeficaz. Além disso, o ri-gor de suas atitudesera moralmente refor-çado pelo rigor que ti-nha com o seu própriocomportamento.

O Almirante Serpa ti-nha tão grande amor àMarinha que ao deixá-la tornou-se nitidamen-te taciturno. A tristezaprovocada por ter tidoque se afastar dela só

foi amenizada pela companhia carinhosa desua esposa, Solange, e de seus dedicadosfamiliares, e também pela consideração quegranjeou de seus amigos.

Como marinheiro, foi digno da nossa ad-miração; como homem, do nosso respeito;e como cristão, certamente foi acolhido porDeus.

Aloysio Ferreira dos SantosVice-Almirante (Refo - EN)

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NECROLÓGIO

ALBERTO DOS SANTOS FRANCO 05/12/1913 † 03/05/2011

Nasceu no Rio de Janeiro, filho de Luizde Araújo Franco e de Adelina dos San-tos Franco. Promoções: a segundo-tenen-te em 26/12/1934, a primeiro-tenente em30/07/1936, a capitão-tenente em 01/06/1940, a capitão de corveta em 09/05/1945,a capitão de fragata em 05/09/1952, a capi-tão de mar e guerra em 22/08/1958, a con-tra-almirante e a vice-almirante em 03/12/1960. Foi transferido para a reserva namesma data.

Em sua carreira exerceu três comandos:Navio-Hidrográfico Rio Branco, Escola deAprendizes-Marinheiros de Santa Catarina,e Navio-Auxiliar José Bonifácio.

Foi diretor do Escritório de Compras daMarinha em São Paulo e da Comissão Na-val em São Paulo.

Comissões: Encouraçado Minas Gerais,Encouraçado São Paulo, Tênder Ceará,Contratorpedeiro Maranhão, Navio-Faro-leiro Tenente Lahmeyer (imediato), Navio-Hidrográfico Jaceguai, Diretoria de Nave-gação, Navio-Hidrográfico Itacurussá, Di-retoria de Engenharia Naval, CorvetaCabedelo (imediato), Comissão Naval Bra-sileira em Miami, Contratorpedeiro Beberibe(imediato), Diretoria de Hidrografia da Ma-rinha, Diretoria de Ensino Naval, Navio-Escola Almirante Saldanha, Escola deGuerra Naval e Estado-Maior da Armada.

Em reconhecimento aos seus serviços,recebeu inúmeras referências elogiosas eas seguintes condecorações: Medalha Na-val do Mérito de Guerra – Serviço de Guer-ra – 1 Estrela, Medalha da Força Naval doNordeste, Medalha da Vitória e MedalhaMilitar e Passador de Ouro – 3o Decênio.

Também em reconhecimento ao serviçoque produziu teve vários “trabalhos julga-dos de utilidade para a Marinha”. Junto como Capitão-Tenente Alexandrino, organizouo trabalho intitulado “Tábuas para previsãoharmônica da maré”, tendo recebido prêmiopecuniário do ministro da Marinha. Organi-zou os trabalhos “Tábuas para previsão har-mônica da maré” e “Análise harmônica damaré”, pelo método Doodson, tendo recebi-do prêmio pecuniário do ministro. Tambémfoi organizador do trabalho “Astronomia deCampo”, de uso no curso de Hidrografiapara Oficiais. Foi mandado, ainda, adotarpelo ministro, oficialmente na Marinha, o tra-balho “Modificação da distância do planomédio de projeção do aeromultiplex”.

À família do Almirante Alberto dos San-tos Franco, o pesar da Revista MarítimaBrasileira.

ALBERTO DOS SANTOS FRANCOO meu querido amigo Alberto Franco,

também colega de especialidade, destacou-se no Serviço Hidrográfico, que é pleno de

excelentes técnicos, por atingir um nível di-ferente, podendo ser considerado um cien-tista em assuntos vinculados à Hidrografia.

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NECROLÓGIO

No curso da especialidade que fizemosem 1938, ele já teve presença especial. Na-queles primórdios da criação do novo e efe-tivo Serviço Hidrográfico, tinham os cursospouco aspecto didático. Constituíam-se,preferencialmente, em seminários, nos quaisdesbravava-se com a orientação dos instru-tores, mais adiantados, os caminhos de no-vos conhecimentos pouco conhecidos naMarinha, perscrutando-se métodos, técni-cas, uso de equipamentos, que nos levas-sem diretamente a executar levantamentosdos quais resultassem as cartas marítimas.Nos debates travados, as considerações doFranco sobre os problemas em estudo avan-çavam nitidamente sobre a maneira comoencarávamos os tópicos necessários para oque se tinha em vista.

Como tenente hidrógrafo, Franco natu-ralmente cumpriu bem as tarefas de execu-tivo no campo, mas dedicava-se também aestudar com profundidade os pontos quecareciam de maior aproximação científica,como aerofotogrametria, precisãogeodésica das triangulações e marés. Exa-minando-se os Anais Hidrográficos, publi-cação existente desde 1933, verifica-se amudança para melhor dos artigos inseri-dos nos primeiros volumes, sobressaindoos assinados pelo Franco sobre seus as-suntos preferidos.

Problemas sérios em sua vida pessoal –a esposa e um filho doente, que provoca-vam, além das perturbações morais e senti-mentais, grande dispêndio financeiro – pre-ocuparam seus amigos, entre os quais eume alinhava, numa amizade nascida duranteo curso. A difícil situação o obrigava a tra-balhar à noite na seção de aerofotogrametriada Condor Sindikat, o que abalava visivel-mente sua saúde física e seu equilíbrio ner-voso. Naquele momento, eu cumpria pedi-do feito à Marinha, por uma Comissão Inte-restadual de Estudo das Bacias do Paraná eUruguai, com sede em São Paulo, para que o

Serviço Hidrográfico executasse a sonda-gem do Alto Paraná. Soube que procuravamquem pudesse examinar e fiscalizar os con-tratos dos muitos trabalhos que mantinhamcorrelatos com Hidrografia. Lembrei-me quepudesse ser uma solução para o Franco.Apresentei-o, fiz uma verídica descrição desua capacidade, e ele foi aceito. Com licen-ça, mais tarde ampliada pela passagem paraa reserva, e bom subsídio, mudou-se paraSão Paulo. E começou outra fase de sua vida.Não se prendeu por muito tempo à rotina derever relatórios. Em pouco, sua capacidadeintelectual envolveu-o com universidades ecentros da intelectualidade paulista.

Uma de suas características de estudio-so era apaixonar-se pelos problemas queprocurava resolver. Vivia-os permanente-mente, deles não se desligava em momentoalgum. Episódio passado comigo teve ca-racterística de certo humor, que não combi-na com a tristeza de seu desaparecimento,mas que, por outro lado, bem define a devo-ção que dedicava ao que estava fazendo.Certa noite bem paulista – úmida, chuvosa–, encontrei-o com o espírito em baixo. Nãohaviam ainda se atenuado seus problemasfamiliares e financeiros, e estava sozinho emSão Paulo, sentindo a solidão. Convidei-opara uma bebida, bom jantar e, em seguida,um cinema exibindo filme movimentado ealegre. Em dada passagem, quando a músi-ca gritava o “rock around the clock”, elebateu-me no ombro e disse: “Eu sempre acheique aquele diferencial de M (ou coisa pare-cida) não levava a coisa nenhuma!”

A atividade paulista, entretanto, não oafastava da Hidrografia. As conclusões emtorno de assuntos a ela vinculados, trazia-as para a Diretoria de Hidrografia e Nave-gação (DHN). E um livro sobre marés, suaúltima paixão, há menos de um ano foi lan-çado na DHN. E também a DHN escolheu-o, ao indicar representante que disputasseuma diretoria do Bureau Hidrográfico de

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NECROLÓGIO

Mônaco, autoridade mundial máxima so-bre o assunto, exigindo que seus diretorespertençam a organismo de bom nível e te-nham, eles mesmo, mérito correspondente.Em votação internacional, foi eleito. Os cin-co anos de sua presença em Mônaco dei-xaram um rastro de admiração e respeito.

O interessante é que o Franco em absolu-to não apresentava o perfil do cientista, quesó vive com seus cálculos e equações. Lon-ge de se alienar, era bem presente em qual-quer ambiente, inclusive com certo radicalis-

mo. Tinha opiniões firmes e bem defendidas,apoiadas em caráter reto e criterioso.Sua per-da não é sentida somente como um intelectu-al de alto nível, que muito contribuiu para aHidrografia brasileira, com sua visão e seusconhecimentos elevados. Também desapa-receu um homem digno, amigo sincero econfiável, que deixa um triste claro em minhajá tênue roda de contemporâneos.

Helio Leoncio MartinsVice-Almirante (Refo)

FLORIANO PEIXOTO FARIA LIMA 15/11/1917 † 09/07/2011

Nasceu no Rio de Janeiro, filho de JoãoSoares de Lima e de Castorina Faria deLima. Promoções: a segundo-tenente em06/10/1939, a primeiro-tenente em 12/12/1941, a capitão-tenente em 17/12/1943, acapitão de corveta em 26/10/1950, a capi-tão de fragata em 22/03/1954, a capitão demar e guerra em 27/07/1960, a contra-almi-rante em 24/09/1966 e a vice-almirante em31/12/1969. Foi transferido para a reservaem 16/11/1971.

Em sua carreira exerceu quatro coman-dos: Caça-Submarinos Javari; Escola de

Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco;Contratorpedeiro Mariz e Barros e Cruza-dor Barroso.

Comissões: Tênder Belmonte, EncouraçadoSão Paulo, Cruzador Rio Grande do Sul, Co-mando da Força Naval do Nordeste, Comis-são Naval Brasileira em Miami, Estado-Maiorda Armada, Gabinete do Ministro da Marinha,Escritório do Adido Naval em Washington,Contratorpedeiro Bertioga (imediato),Contratorpedeiro Mariz e Barros (imediato),Diretoria do Pessoal, Navio-Escola Duque deCaxias, Escola de Guerra Naval, Gabinete Mi-litar da Presidência da República (subchefe),Estado-Maior das Forças Armadas, Escola Su-perior de Guerra, Gabinete do Ministro da Ma-rinha (subchefe) e Comissão Naval Brasileiraem Washington (Adido Naval).

Em reconhecimento aos seus serviços, re-cebeu inúmeras referências elogiosas e asseguintes condecorações: Medalha de Ser-viços de Guerra com 3 estrelas, Ordem doMérito Naval – Cavaleiro, Medalha MéritoMarinheiro – 3 âncoras, Medalha MéritoTamandaré – Portugal, Medalha do MéritoMilitar de 1a Classe – Portugal, MedalhaMérito Militar – Espanha, Cruz de MéritoNaval e Medalha – Prêmio Conde de Anadia.

À família do Almirante Floriano PeixotoFaria Lima, o pesar da Revista MarítimaBrasileira.

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Nasceu no Rio de Janeiro em 1917, a 15de novembro, o que explica a escolha deseu nome pelo seu pai, luso, reconhecidocomo gesto de apreço à história de suasegunda pátria.

A simplicidade paterna não permitiriaimaginar o quanto poderia vir a ser neces-sário, em personalidade ou qualificaçãopessoal para o filho, enfrentar e superareventuais reflexos dessa homenagem. Po-deriam surgir de não simpatizantes,opositores políticos ou na própria Mari-nha ante recordações amargas ou sangren-tas da parte de certos meios ou de perso-nalidades navais cujos ascendentes, cor-religionários ou conterrâneos deixaram tris-tes recordações do homenageado e guar-davam justos motivos e sentimentos pes-soais para tanto.

Sem estar mais bem informado e não po-dendo prever o futuro, teria tropeçado naescolha. Era esse o pensamento daquelesque tinham restrições à figura histórica doeleito para marcar o registro civil reserva-do ao filho. Na pia batismal, por óbvia limi-tação aos prenomes, não precisou ficarevidente o complemento familiar do gene-ral homenageado.

Nunca soube do sentimento pessoal doentão Capitão-Tenente Faria Lima que conhe-ci já no comando do Caça-Submarino Javariao nome que recebera. E minha admiração porele sempre foi tanta que nem mesmo agora meinteresso em sabê-lo. Melhor assim.

A forma como se dedicou à Marinha, seutemperamento singular e grande valor pes-soal, as qualidades aprimoradas desde aEscola Naval, permitiram que a homenagemque lhe podia ser peso a carregar em algumasituação fosse esquecida e superada.

Sabe-se: jamais encontrou dificuldadesque não ultrapassasse com habilidade e ga-

VICE-ALMIRANTE FLORIANO PEIXOTO FARIA LIMA

lhardia. Sempre foi feliz profissional, exitosochefe e administrador tranquilo ao enfrentá-las no dia a dia. Suas marcas evidentes lheabriam um futuro feliz, que foi longo e bri-lhante. E merecido, para proveito de suaMarinha, de sua pátria e, em seus últimosdias de fecunda atividade, de seu Estado!

Calmo, jamais arrogante. Plagiando meucaro Cascudo, seria correto dizer-se queamealhava como riqueza “seus sucessosmiúdos”, fortuna de uma mente sadia e fér-til. Riqueza que via brilhar como pedrinhasde cristal no escuro do passado quandoele furtivamente olhava para trás para mi-rar rápido seus dias vividos. Grande fortu-na e a perder de vista!

Para os bem íntimos era o Floriano hábi-to em que embarcavam alguns amigos, pou-cos, e os serviçais circunstanciais guarne-cido do “Seu” de consideração. Para a “pra-ta da casa” era melhor usar – a seu sabor,com a lembrança do sal do mar – só o “Al-mirante”, ou “Seu Almirante”, como gosta-va de ser chamado e como lhe ficava justoe muito bem. Assim sempre o tratou comatenção e carinho a dedicada e incompará-vel Isa, a “caverna-mestra” em casa... amerecer barreta de três estrelas.

Os amigos em roda brindavam-no comum “Faria” e, ocasionalmente, um “FariaLima”. E o mesmo ocorria nas referênciasformais de superiores ou inferiores. Nomecompleto só em diplomas e atos oficiais.

Chefe de classe de uma turma que reunialargo número de oficiais com invulgaresqualidades profissionais, seu nome a ela sevinculou como elemento de referência: a“Turma Faria Lima”. Foi a primeira turma aterminar o curso na nova Escola Naval, emVillegagnon, nomeados guardas-marinha emdezembro de 1938. Sua chefia foi posiçãomuito disputada entre os que com ele in-

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gressaram e foram praças de abril de 1935,ainda na Escola Naval da Ilha das Enxadas.Ela reúne um número expressivo de valoresprofissionais com destaque entre seus pa-res. Isso serviu a que com frequência seouvisse que tal ou qual oficial pertencia à“Turma do Faria” ou “Turma Faria Lima”,como forma de expressar um bom conceitopara o oficial. Isso bem serve para reforçar oreconhecimento do destaque de que des-frutou seu chefe de classe.

Com cinco outros guardas-marinha, pordesignação do ministro da Marinha viajouem 1939 (maio a agosto) no La Argentina,navio-escola em viagem de instrução decem dias no exterior, com guardas-marinhaargentinos de mesmo ano. Fora uma formade corresponder a convite da Marinha ar-gentina oferecendo embarque para toda asua turma, tendo em vista que o Navio-Escola Almirante Saldanha não faria via-gem naquele ano, por estar retido em PortoRico com avarias.

Em dezembro de 1941, foi promovido aprimeiro-tenente, posto em que se aproximoudos comandantes de Força por ser designa-do ajudante de ordens e oficial de Comunica-ções, cargos que exerceu nos comandos daFlotilha de Contratorpedeiros (julho/1942), daDivisão de Cruzadores e da então criada For-ça Naval do Nordeste (FNNE) para as opera-ções decorrentes do reconhecimento do es-tado de beligerância pelo governo brasileiro(Decreto de 22/8/1942).

Embarcado no Cruzador Rio Grande doSul, participou das primeiras operações depatrulha desse navio no Nordeste, partin-do do Recife, e, em agosto de 1942, do re-colhimento de 159 sobreviventes dos na-vios mercantes Itagiba e Arará, afunda-dos por submarino.

Prosseguiu em operações de patrulha eescolta até março de 1943, quando, aindaprimeiro-tenente, foi servir no Comando daFNNE, no capitânia (Tênder Belmonte), no

Recife, como ajudante de ordens do co-mandante da FNNE, Contra-AlmiranteAlfredo Carlos Soares Dutra, assumindo,cumulativamente, as funções de oficial deComunicações do Comando da FNNE. EssaForça já integrara operativamente a USN4thFleet, Atlantic, comandada pelo Contra-Almirante (USN) Jonas Inghram.

Em julho de 1944, quando já contavaexatos dois anos de suas primeiras patru-lhas no Cruzador Rio Grande do Sul, teveoportunidade de participar de memorávelevento: escoltar o navio-transporte norte-americano que levava o 1o Grupo da ForçaExpedicionária Brasileira (FEB) para a Itália(Nápoles). Recebeu ordem do Com4thFleetpara embarcar, a 4 de julho de1944, no USNOmaha, que arvorava o pavilhão deComGruTF-41-1, e saiu do Recife no mes-mo dia para render a escolta que viera doSul. A 15 de julho foi destacado para o USNRaybold, regressando ao Recife a 23 domesmo mês.

Em agosto e setembro deixou suas fun-ções no Comando da FNNE e foi mandadopara Curso, Estágio e Adestramento Em-barcado de Tática Antissubmarina emMiami, Estados Unidos, na Fleet SoundSchool, e em outubro e novembro realizouperíodo de Instrução Geral sobre Materialde Radiotelegrafia, de Som e Radar no Cen-tro de Instrução de Miami.

Regressou e, por curto período de 1945,disseminou, como instrutor e encarregadoda Escola de Instrutores de TáticaAntissubmarina, no Recife, conhecimen-tos e material de instrução obtidos, até seuprimeiro comando – o do Caça-SubmarinoJavari –, exercido de 12 de março a 12 denovembro do mesmo ano. Realizou escol-tas em comboio e patrulhas oceânicas. Em1o de setembro, escoltou o USN Mariposa,que transportou o 2o Escalão da FEB deregresso ao Brasil até sua entrada no Riode Janeiro.

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Após exercer os cargos de ajudante deordens do chefe do Estado-Maior da Ar-mada (EMA), auxiliar da EMA-3 e ajudantede ordens do ministro da Marinha, em 1945e 1946, volta aos Estados Unidos para, “emcolaboração com o Estado-Maior da USNavy e sede em Washington”, selecionare traduzir para português filmes de nature-za técnica a serem usados na instrução dopessoal da Marinha do Brasil.

Extensa foi a participação do Vice-Almi-rante Faria Lima nas atividades da Escolade Guerra Naval (EGN), muito além dos exa-mes, concursos e cursos de que participoucomo todos os oficiais superiores, por im-posições regulamentares. Foi sucessiva-mente, em oportunidades distintas, adjun-to da Divisão de Operações e chefe doDepartamento de Administração (1959),nomeado instrutor da Escola (1960), desig-nado instrutor chefe e encarregado da Di-visão de Operações e, depois, para inte-grar a Comissão Examinadora para Examesde Admissão à EGN.

Aos trabalhos no EMA levou, em vári-as ocasiões, o valor de sua vivência emoperações, nos estágios no exterior e emtrabalhos que realizou reunindo materialpara instrução e adestramento. Após suapassagem pelo gabinete do chefe do EMA,em algumas oportunidades foi exercer fun-ções na Seção de Adestramento e de auxi-liar do Gabinete, em dezembro de 1949 atéabril de 1951, após ser promovido a capitãode corveta, em outubro de 1950. Voltou aoEMA após concluir o Curso de Comando,em 3 de maio de 1955, e lá permaneceu atéjaneiro de 1956.

Retornou ao EMA ao regressar dos EUA,após deixar os cargos de adido naval e dedelegado na Junta Interamericana de Defesa.Assumiu, em 1969, os cargos de subchefe ede vice-chefe do órgão. A 14 de novembropassou a subchefia e deixou a vice-chefia a27 do mesmo mês, quando exonerado.

Ainda no final de 1969, o Presidente daRepública recorreu ao VA Faria Lima, e esteaceitou sua nomeação para o cargo de dire-tor da Petrobras. Foi a porta para sua saídado Serviço Ativo. Foi agregado ao quadrodo Corpo de Oficiais da Armada e promovi-do a vice-almirante.

Sua atuação no Governo do Estado doRio de Janeiro merece um estudo à parte.Merece uma pesquisa mais demorada e umavariedade de fontes. Isso para que se façatrabalho à altura do Faria Lima que conhe-cemos como marinheiro e militar; oficial,comandante e chefe; amigo e colega.

Íamos tentar com os elementos disponí-veis. Entretanto, para tentar fazer algo me-lhor com os poucos dados que possuía-mos protelamos nosso trabalho. Isso por-que fomos surpreendidos por uma unani-midade na imprensa e agências. Nas notasem que era divulgado o falecimento do Al-mirante Faria Lima – ex-governador do Es-tado do Rio de Janeiro – uma referênciarara se fazia em jornais do Norte, do Nor-deste, do Centro-Leste, do Centro-Oeste edo Sul do País: a honradez, ou honorabi-lidade, do ilustre morto, considerada comrespeito e proclamada por todos.

Fernando Carvalho ChagasVice-Almirante

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OLAVO FREIRE DA ROCHA 16/01/1928 † 16/05/2011

Nasceu no Rio de Janeiro, filho de An-tônio Oliveira da Rocha e de ClariceBevilaque Freire da Rocha. Promoções: asegundo-tenente em 29/12/1950, a primei-ro-tenente em 29/06/1952, a capitão-tenen-te em 29/07/1955, a capitão de corveta em19/04/1960, a capitão de fragata em 14/01/1964, a capitão de mar e guerra em 24/09/1969, a contra-almirante em 31/03/1976, avice-almirante em 25/11/1982. Foi transferi-do para a reserva em 09/01/1987.

Em sua carreira exerceu sete comandos:1a Companhia da Guarnição do Quartel Cen-tral, 6a Companhia Regional em Uruguaiana,

Grupamento de Fuzileiros Navais emUruguaiana, Batalhão Humaitá, Divisão An-fíbia, Força de Fuzileiros da Esquadra e Co-mando de Apoio do Corpo de FuzileirosNavais (CFN).

Comissões: imediato da 6a CompanhiaRegional em Uruguaiana, instrutor dos Cur-sos de Pessoal Subalterno, Comissão da Di-retoria de Hidrografia e Navegação, encar-regado da Divisão de Fuzileiros Navais einstrutor da Escola de Guerra Naval, Coman-do de Reforço da Força de Fuzileiros da Es-quadra, subchefe do Estado-Maior do Co-mando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais,assessor do Comando-Geral do CFN, presi-dente do Conselho Econômico do CGCFN,chefe do Estado-Maior do CFN, comandan-te da Força de Fuzileiros da Esquadra e co-mandante do Comando de Apoio do CFN.

Em reconhecimento aos seus serviços, re-cebeu inúmeras referências elogiosas e asseguintes condecorações: Medalha do Mé-rito Militar – Grande Oficial, Medalha Navaldo Mérito Guerra de Serviços de Guerra,Medalha Mérito Tamandaré, Estrela das For-ças Armadas do Equador, Ordem do MéritoMilitar – Comendador, Ordem do Mérito Ae-ronáutico – Comendador, Medalha do Méri-to Santos Dumont, Ordem de Rio Branco –Comendador, Medalha do Pacificador, Ordemde Rio Branco – Grande Oficial, Ordem doMérito Naval – Grande Oficial e MedalhaMilitar e Passador de Platina – 4o Decênio.

À família do Almirante Olavo Freire da Ro-cha, o pesar da Revista Marítima Brasileira.

Peço desculpas pela linguagem emoci-onada; estou buscando as palavras com ocoração e não com a minha mente. Frisobem que foram dias de constante aprendi-zado como assistente do Almirante Olavo,no Comando da Divisão Anfíbia, no Co-mando da Força de Fuzileiros da Esquadra

ALMIRANTE OLAVO, MEU CHEFE E MEU LÍDERe no Comando de Apoio do Corpo de Fuzi-leiros Navais, na ocasião. Durante todoesse período, mais ou menos seis anos,aprendi a admirar o nosso almirante pelasua coragem, seu profissionalismo e, porque não dizer, sua invulgar liderança. Pudepresenciar, em diversas ocasiões, a preo-

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cupação do grande fuzileiro naval com seussubordinados.

O exemplo, a justiça, a autoconfiança ea capacidade de decisão eram os atributosque mais sobressaíam em nosso líder.

Também não podemos deixar de citar oseu profissionalismo exemplar, aliado à suacoragem física e moral. Como, por exemplo,tive o privilégio de presenciar, no Tijupádo Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Ge-rais, por ocasião de uma Operação Dra-gão, o Almirante Olavo, então comandanteda Força de Desembarque, e o saudosoAlmirante Henrique Saboia, na ocasiãocomandante da Força-Tarefa Anfíbia, deci-direm pelo desembarque helitransportadoda Tropa Anfíbia à noite, apesar das con-dições adversas de mar e de tempo. Lem-bro bem quando o Almirante Saboia disse:“Olavo, a situação está difícil, vamos de-sembarcar a Força de Desembarque?” E oAlmirante Olavo, sem titubear, respondeu:“Vamos lá, Saboia, a minha tropa é profis-sional e preparada”. O Almirante Olavosempre ensinava aos seus subordinados:“Quem não corre riscos, não vive”.

Não posso deixar de lembrar que o nossoalmirante enaltecia sobremaneira a verdadeiralealdade, reconhecendo que esta é cheia deriscos e depende de caráter forte e resoluto.

Passei a admirar ainda mais o AlmiranteOlavo quando nos deu exemplo de vida porocasião do trágico falecimento de seu filhoadolescente, Felipe. Buscou o pai, com ocoração partido, força interior assombrosaao reagir e continuar lutando contra tama-nha adversidade. Durante os momentos di-fíceis é que se conhece um grande homem.

Tenho absoluta certeza de que o Corpo deFuzileiros Navais é extremamente grato aosensinamentos deixados pelo nosso honrosofuzileiro naval. Como seu corpo foi cremado,não há uma sepultura. Se houvesse, sugeririaque a família mandasse escrever na lápide,estendendo a famosa frase do nosso PatronoAlmirante Tamandaré: “Aqui jaz o Velho Mari-nheiro, um Fuzileiro Naval líder de escol!”

Que o bom Deus o tenha, estimado che-fe, líder e, acima de tudo, amigo.

Sergio Marques SoaresCapitão de Mar e Guerra (RM1-FN)

LUIZ SANCTOS DÖRING 12/01/1938 † 12/07/2011

Nasceu no Rio de Janeiro, filho de LuizGonzaga Döring e de Nair Sanctos Döring.Promoções: a segundo-tenente em 12/12/1959, a primeiro-tenente em 12/01/1961, acapitão-tenente em 13/07/1963, a capitãode corveta em 08/08/1969, a capitão de fra-gata em 31/08/1975, a capitão de mar e guer-ra em 30/04/1983, a contra-almirante em 31/07/1988, a vice-almirante em 25/11/1992. Foitransferido para a reserva em 12/03/1997.

Em sua carreira, exerceu dois comandos:Fragata Defensora e Força Aeronaval.

Comissões: Navio-Transporte de TropaCustódio de Mello, Contratorpedeiro Ama-zonas, Comando do 2o Esquadrão deContratorpedeiros, Centro de Instrução Al-mirante Wandenkolk, Escola Naval, Coman-

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do em Chefe da Esquadra, Centro de Instru-ção Almirante Alexandrino, ContratorpedeiroPiauí, Estação Rádio da Marinha em Brasília,Diretoria de Aeronáutica da Marinha, Direto-ria de Finanças da Marinha, Corveta Imperi-al Marinheiro, Gabinete Militar da Presidên-cia da República, Comando do 7o DistritoNaval, Comissão Naval Brasileira na Europa,Diretoria do Pessoal Militar da Marinha, Es-cola de Guerra Naval, Gabinete do Ministroda Marinha, Comando da Força de Fragatas,Comando do 1o Distrito Naval, ComissãoNaval em São Paulo (presidente) e EscolaSuperior de Guerra (subcomandante).

Em reconhecimento aos seus serviços,recebeu inúmeras referências elogiosas e as

O momento é de lembrar o bom amigo quepartiu e de exaltar alguns aspectos da sua vida.

O Döring era uma pessoa especial: sim-ples, discreto, educado, harmonizador, leal,escrupuloso, honesto, companheiro, éticoe perseverante no seu modo de ser. Casa-do com Maria de Lourdes, tinha três filhas:Valéria, Viviane e Rosane.

Como marinheiro, herdou de seu pai o fogosagrado pela Marinha e angariou, com suaslições de liderança, sua competência profissi-onal e dedicação ao serviço, a admiração dosseus pares, subordinados e superiores. O re-conhecimento profissional dos amigos daTurma Dedo e dos superiores traduz-se pelasinúmeras funções e pelos cargos importantesque exerceu ao longo da sua carreira, tantocomo oficial subalterno, intermediário e supe-rior, como almirante. Foram funções e cargoscomo ajudante de ordens, assistente, oficialde gabinete, chefe de estado-maior, diretor, co-mandante em terra e comandante no mar.

Além do ser humano incrível e do mari-nheiro exemplar, ele se destacava como ointelectual da Turma pela sua admirável eabrangente cultura. Era o poeta, o prosa-

A PARTIDA DO BOM AMIGO DÖRINGdor e o escritor, tendo deixado um grandeacervo literário. Todas essas virtudes o fi-zeram um dos expoentes da Turma Dedo.

Como testemunha de grande parte da suahistória naval, lembro-me que nos conhece-mos em 1954, no Colégio Naval, onde todosda Turma começaram a forjar uma sólida ami-zade. Naquela ocasião, conheci seus pais emum dos licenciamentos, quando houve umareunião dançante na cobertura do apartamen-to em que moravam, na Avenida Maracanã,no bairro da Tijuca. Com a amizade iniciadano convívio profissional, durante o curso naEscola Naval, fui acolhido inúmeras vezespelos seus pais como filho em sua casa, noslicenciamentos de fins de semana, quandoíamos ao cinema e às reuniões dançantes emcasas de pais de amigos. Éramos do mesmocamarote nos dois últimos anos do curso daEscola Naval, além do Villaça e do saudosoRonald Rocha Barros.

Fizemos a Viagem de Instrução de Guar-das-Marinha e, no retorno ao Rio de Janei-ro, embarcamos em contratorpedeiro da clas-se Amazonas, pois queríamos os quatro jáassumir maiores responsabilidades como te-

seguintes condecorações: Ordem do Méri-to da Defesa – Grau de Grande Oficial, Or-dem do Mérito Naval – Grande Oficial, Or-dem do Mérito Militar – Oficial, Ordem doMérito Aeronáutico – Oficial, Ordem de RioBranco – Oficial, Ordem do Mérito Judiciá-rio Militar – Distinção, Peru – Ordem do Mé-rito por Serviços Distintos, Medalha Militare Passador de Platina – 4o Decênio, Meda-lha Mérito Tamandaré, Medalha Mérito Ma-rinheiro – 2 âncoras, Medalha do Pacifica-dor, Medalha do Mérito Santos Dumont eMéxico – Ordem da Águia Asteca.

À família do Almirante Luiz SantosDöring, o pesar da Revista MarítimaBrasileira.

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nentes. Ao fim do período embarcado emcontratorpedeiros, fomos fazer especializa-ção. Três foram ser oficiais submarinistas, eo Döring, oficial de eletrônica.

Daquele momento em diante, a carreira nosafastou por conta das comissões de cada um,mas sempre que podíamos arranjávamos umjeito de nos falar. Meu convívio com seus paiscontinuou, pois fui do Almirante Luiz GonzagaDöring ajudante de ordens, no Gabinete doMinistro da Marinha; ajudante de ordens eoficial de Comunicações no Comando da For-ça Aeronaval e adjunto do vice-chefe do Esta-do-Maior da Armada. A indicação para servircom seu pai partira do bom amigo.

Com o passamento de seu pai, a carreiranos afastou, ainda mais por força do fora desede. Döring para Brasília, e eu Salvador.

Ao realizar o Curso de Altos Estudos daEscola de Guerra Naval, em 1983, se desta-cou com “distinção” entre seus pares.

Chegamos juntos ao posto de almirante,em 1988. Nos postos de contra-almirante evice-almirante, o Döring exerceu três cargosde direção: diretor de Informática da Mari-nha, presidente da Comissão Naval em SãoPaulo (hoje Comando do 8o Distrito Naval);subcomandante da Escola Superior de Guer-ra; e comandante da Força Aeronaval, um

dos mais importantes comandos de força daMarinha. Ele sucedia a seu pai 25 anos de-pois naquele Comando de Força.

Entráramos juntos na Marinha, e deixá-vamos o Serviço Ativo em 1997, conscien-tes do dever bem cumprido.

Quero, ainda, destacar o brilhante tra-balho do amigo como diretor cultural doClube Naval, na administração do Almiran-te de Esquadra José Júlio Pedrosa. Era deuma dedicação extrema, procurando con-duzir os trabalhos com muito saber intelec-tual, equilíbrio e harmonia.

Busquei em seus escritos algo sobre oDestino, divindade da mitologia grega. Ele,em sua oração por ocasião dos 45 anos daTurma, dizia que “o Destino determinava,inexoravelmente, o curso existencial das pes-soas” e citava as três irmãs Moiras que exe-cutam a determinação do Destino: a primeiratece o fio da vida de todo mortal, a segunda oenrola e a terceira o corta. E acrescentavaque a Terceira Moira havia ignorado as nos-sas preces e súplicas em favor dos amigosque baixaram terra prematuramente.

O amigo também filosofou sobre a vida.Seu pensamento foi traduzido neste belosoneto que dedicara aos Dedônicos quehaviam baixado terra prematuramente:

A CEIA PERPÉTUAOs amigos se vão! Chorar por quê,se no Céu nos veremos, no futuro?Se nos choca o voo prematuro,cuja lógica logo não se vê,

Chegará o momento d’alegriade rever tantos quantos, sem aviso,nos deixaram, buscando o Paraíso,sem querer aguardar a Parusia.

Todos nós subiremos. No portão,nossos idos amigos estarão,a mostrar-nos: a vida não se encerra!

Das agruras terrenas redimidos,lá no Céu seguiremos reunidosnuma ceia mensal, como na Terra.

Amigo Döring, nós embarcados um dia nos veremos, pois lá no Céu seguiremos reuni-dos. A vida não se encerra.

José Luiz Feio Obino Vice-Almirante (Refo)

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JOFFRE GONÇALVES DE MAGALHÃES 08/10/1934 † 23/05/2011

Nasceu no Rio de Janeiro, filho de Joséde Magalhães e de Alzira Gonçalves deMagalhães. Promoções: a segundo-tenen-te em 30/12/1956, a primeiro-tenente em 28/01/1959, a capitão-tenente em 28/01/1961,a capitão de corveta em 12/10/1966, a capi-tão de fragata em 30/04/1975, a capitão demar e guerra em 25/12/1979 e a contra-almi-

rante em 31/03/1988. Foi transferido para areserva em 22/05/1991.

Em sua carreira, exerceu três comandos:Depósito de Material Comum da Marinhano Rio de Janeiro, Serviço de Auditoria daMarinha e Caixa de Construções de Casaspara o Pessoal da Marinha.

Comissões: Centro de Instrução Almiran-te Wandenkolk, Cruzador Ligeiro Barroso,Secretaria-Geral da Marinha, Comando do 2o

Distrito Naval, Diretoria de Comunicações eEletrônica da Marinha, Comissão Naval Bra-sileira em Washington, Gabinete do Coman-dante da Marinha, Depósito de Material Co-mum da Marinha no Rio de Janeiro (vice-diretor), Escola de Guerra Naval, Diretoria deAbastecimento da Marinha e Centro de Con-trole e Estoque da Marinha (vice-diretor).

Em reconhecimento aos seus serviços,recebeu inúmeras referências elogiosas e asseguintes condecorações: Ordem do Méri-to Naval – Cavaleiro, Ordem do Mérito Mili-tar – Comendador, Ordem do Mérito Aero-náutico – Comendador, Medalha Militar ePassador de Ouro – 3o Decênio, MedalhaMérito Tamandaré, Medalha do Pacificadore Medalha do Mérito Santos Dumont.

À família do Almirante Joffre, o pesar daRevista Marítima Brasileira.

Foi um amigo muito especial durante essesquase 60 anos passados desde 22 de abril de1952, quando nos apresentamos à Marinha.

Tivemos momentos de afastamento, porforça das trajetórias distintas trilhadas noserviço, mas lembro com grande carinho asexperiências vividas em sua companhia, des-de o Colégio Naval e da Escola Naval aostempos do Centro de Instrução AlmiranteWandenkolk (CIAW) como jovens tenentese, principalmente, no ambiente de grandesresponsabilidades, no Almirantado. Durantetoda a vida profissional e mesmo após dei-

O AMIGO JOFFRE

xarmos o serviço ativo, sempre tivemos mo-mentos de delicioso e profícuo contato.

Sua personalidade o tornou único entretantos amigos. Não encontrei jamais alguémque se referisse a ele com restrições. A sim-ples menção de seu nome traz à tona seuspeculiares e mui conhecidos atributos deeducação, cordialidade, bom humor, corte-sia e solidariedade. E, o mais marcante, semabrir mão da seriedade no trato das coisassérias e da firmeza das atitudes.

Certamente por isso tudo o Joffre con-quistou um posicionamento singular e pri-

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NECROLÓGIO

vilegiado entre aqueles com quem teve con-tato em sua trajetória pela vida: admiradopelos superiores, amado pelos colegas erespeitado pelos subordinados.

Minha amizade com o Joffre nasceu logoque nos conhecemos, no Colégio Naval. Foi,no entanto, no período passado juntos naIlha das Enxadas (CIAW) que ela se consoli-dou. Numa grande organização como aque-la, em que só de nossa Turma éramos cinco(Rossi, Ney Marino, Zoroastro, eu e ele), de-senvolveram-se fortes laços fraternais, amal-gamados pelo auxílio mútuo no desempenhodas tarefas funcionais. De forma muito pecu-liar, senti a importância daquele amigo que,comigo e com o Zoroastro, se lançava a ven-cer o primeiro grande desafio da carreira: in-tegrar, de fato, à Marinha, os marginalizadostaifeiros, por meio das atividades curricularese extracurriculares do recém-criado Grupo deEscolas de Taifeiros (GET). Foi gratificanteencontrar-nos, segundos-tenentes,ombreados aos demais grupos de escolas,mobiliadas por oficiais superiores muito maisantigos. A atuação do Joffre foi determinantedo sucesso. Com sua gentileza e entusiasmomotivador, emoldurados por seu sorriso sem-pre presente, soube mostrar àqueles profis-sionais o quanto era importante a luta diária

pela afirmação, obtendo os resultados dese-jados. Entre outras medidas adotadas, foi delea ideia de explorarmos as qualidades marciaisdos taifeiros – quase todos transferidos doCorpo de Fuzileiros Navais para o Quadro deTaifeiros após o término do tempo deengajamento naquela tropa – na formação deuma Companhia do GET para o desfile do 7de Setembro. A experiência foi convincente,tendo o comandante do CIAW determinadoa sua incorporação imediata ao Batalhão doCentro de Instrução. E a motivação decor-rente logo se refletiu nos índices escolares.Pouco tempo depois, os taifeiros adquiriramo direito de acesso às graduações de sargen-to e suboficial, com um desenvolvimento decarreira igual ao das demais praças da Mari-nha; não há dúvida de que a sua atuação foidecisiva para que se atingisse essa meta.

Fico a imaginar a chegada do Joffre lá emcima. O Senhor, de imediato, deve tê-lo nome-ado para o cargo de chefe do Grupo de Recep-ção e Boas-Vindas. Já pensaram na felicidadedaqueles que, daí em diante, vierem a bater àsportas do céu, sendo recebidos por ele? Nãoterão dúvida de que chegaram ao paraíso...

Luiz Henrique GrimmerVice-Almirante (Refo -IM)

Inicialmente, desejamos agradecer aDeus por termos tido o privilégio da suadoce e fraterna presença em nossa Tur-ma. Você conseguiu mostrar como é pos-sível conciliar a mandatória rudeza da car-reira militar com a lhaneza e a polidez deum cavalheiro.

Sua simplicidade e o seu sorriso, sem-pre presentes em nosso convívio, deixa-vam transparecer a importância e a riquezada união duradoura dos colegas que o des-tino uniu e o tempo consolidou.

HOMENAGEM AO COLEGA E AMIGO JOFFRE

Agora que, na inevitável sequência da vida,o Senhor lhe convocou para uma nova comis-são no seu reino, certamente para você estáreservada uma das suas mais importantesmoradas, destinadas aos que cumpriram comhonradez e fraternidade a sua missão terrena.

Descanse em paz, caro colega, leve anossa saudade, mas deixe para sempre emnós a sua marcante lembrança.

Ney Marino MonteiroCapitão de Mar e Guerra (Refo -IM)

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NECROLÓGIO

EIMAR DELLY DE ARAÚJO 05/10/1928 † 20/03/2011

Nasceu no Maranhão, filho de JoséGervásio de Araújo e de Alice Maria deAraújo. Promoções: a primeiro-tenente em30/06/1955, a capitão-tenente em 1958, acapitão de corveta em 1962, a capitão defragata em 1966, a capitão de mar e guerraem 1970 e a contra-almirante em 25/11/1982.

Exerceu a direção do Hospital NavalMarcílio Dias. Comissões: Hospital Cen-tral da Marinha, Navio-Escola Custódio deMello e Diretoria de Saúde da Marinha.

Representou a Marinha em inúmeros con-gressos na área profissional da Medicina efoi professor em universidades do Brasil e doexterior e membro titular e associado de aca-demias e sociedades de Medicina nacionaise estrangeiras. Foi conferencista e palestrante

de invulgar relevo, em especial sobre cirurgiacardiovascular. Teve publicadas várias ma-térias de teor científico.

Em reconhecimento aos seus serviços,recebeu inúmeras referências elogiosas e asseguintes condecorações: Ordem do Méri-to Naval – Comendador, Medalha Militar ePassador de Ouro – 3o Decênio, MedalhaMérito Tamandaré, Medalha do Pacificador,Medalha Santos Dumont, Ordem do MéritoMilitar – Comendador, Ordem do MéritoAeronáutico – Comendador e Ordem doMérito Judiciário Militar – Alta Distinção.

À família do Almirante Eimar Delly deAraújo, o pesar da Revista MarítimaBrasileira.

09/05/1919 † 16/06/201104/05/1940 † 15/06/201123/06/1963 † 24/06/201104/11/1927 † 19/06/201104/02/1939 † 19/04/201115/12/1925 † 20/05/2011

A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos assinantes:

CMG 37.3722.11 – Alfredo Mário Mader GonçalvesCMG 60.1000.10 – Roberto dos Santos VicentiniCMG (IM) 81.1060.17 – André Victor ValaviciusCF 45.0020.11 – Lafayete Pereira Gomes Filho3o SG 60.3140.44 – José Valdy HenriqueMN 43.5949.30 – Nestor da Silva Patrício

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CARTAS DOS LEITORES

Esta seção destina-se a divulgar ideias e pensamentos e incentivar debates,abrindo espaço ao leitor para comentários, adendos esclarecedores e observa-ções sobre artigos publicados. As cartas deverão ser enviadas à Revista Maríti-ma Brasileira, que, a seu critério, poderá publicá-las parcial ou integralmente.Contamos com sua colaboração para realizar nosso propósito, que é o de dina-mizar a RMB, tornando-a um eficiente veículo em benefício de uma Marinhamais forte e atuante. Sua participação é importante.

Recebemos do Capitão de Mar e Guerra (RM1) Ronald dos Santos Santiago publica-ção da Sociedade dos Amigos da Marinha (Soamar) de Campinas com “Histórias de umSoamarino Militar”, da qual destacamos:

CRIAÇÃO DA SOAMAR EM CAMPINAS-SP

Em 1979, assumiu o Ministério da Mari-nha o Almirante de Esquadra MaximianoEduardo da Silva Fonseca, com novasideias. Entre elas, ele considerou a existên-cia em Santos, desde 1972, de uma associ-ação congregando personalidades conde-coradas pela Marinha em São Paulo e su-geriu a criação de uma Sociedade dos Ami-gos da Marinha (Soamar) em nívelnacional. A partir daquele mo-mento, diversas sociedades fo-ram sendo criadas.

Surgiu no horizonte umaideia para que os atos solitá-rios de divulgação da Mari-nha em Campinas, fossem or-ganizados mediante a partici-pação ativa em sociedade dosapaixonados pela Marinha.

Campinas, importante cidade do inte-rior de São Paulo, mas sem ter acesso aomar ou rio navegável e sem possuir Orga-nização Militar da Marinha, aparentemen-te não tinha os requisitos básicos para acriação de uma Soamar de forma a atenderàs suas finalidades estatutárias. Mas tinhaum histórico da presença dos seus filhos

na Marinha e contava com a iniciativa e oentusiasmo de Juarez Alves, que convidoumeu pai, João Rodrigues Santiago, e PlínioSoares, todos com filhos oficiais da Mari-nha, e mais alguns proeminentes persona-gens da sociedade campineira, como CaioMagalhães, para fundarem a Sociedade dosAmigos da Marinha em Campinas, em 1982.

Não sei precisar a data, masJuarez Alves levou a Campinas

o ministro da Marinha, Almi-rante Maximiano, por ocasiãoda inauguração de um Mu-seu Naval, com material ce-dido pelo Serviço de Docu-mentação da Marinha, a bor-

do da Caravela Anunciação,localizada no Parque Portugal.Este é um resumo das iniciati-

vas isoladas que, no meu entendimento,resultaram na fundação da querida Soamar-Campinas. Hoje, é formada por pessoas semvínculos de sangue com militares da Mari-nha, mas com ideais claros da importânciada divulgação da mentalidade marítima vin-culada à proteção da nossa “AmazôniaAzul” para o desenvolvimento do Brasil.

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

As histórias aqui contadas reproduzem, com respeitoso humor, oque se conta nas conversas alegres das praças-d’armas e dos conveses.Guardadas certas liberdades, todas elas, na sua essência, são verídicase por isso caracterizam várias fases da vida na Marinha.

São válidas, também, histórias vividas em outras Marinhas.Contamos com sua colaboração. Se desejar, apenas apresente o caso

por carta, ou por e-mail ([email protected]).

AINDA BEM QUE O VICENTINI FALECEU...

Hum! Lá vem crítica. Vão me chamar desacrílego, irreverente e outros que tais.

Conto.Em 1971, Vicentini era o imediato da

Corveta Solimões, em Belém (PA). Imedia-to e comandante interino, pois o titular,Capitão de Corveta Pamplona, QEPD(1),estava em uma faina qualquer no Rio.

Eu e meu estimado amigo Daltro, imedia-tos dos Avisos Hidrográficos Paraibano eRio Branco, fomos designados para embar-car na corveta e fazer o levantamento da par-te marítima do braço sul do Rio Amazonas,posto que era uma área de mar aberto nãoadequada para operação dos avisoshidrográficos da Comissão de Levantamen-

tos da Amazônia (Colam). Oitenta por centodo braço já tinham sido sondados, havia qua-se um ano, pelos avisos hidrográficos, nostrechos mais protegidos. Esse braço fica en-tre a Ilha Mexiana e a costa norte de Marajó.

“Descobrir” a navegabilidade completado braço sul era, à época, o grande objeti-vo da Diretoria de Hidrografia e Navega-ção (DHN), nas mãos da Colam.

A corveta tinha uma oficialidade com-posta por gente muito boa: Banana Goulart,Quintão, Miyoshi, um “segundo-tango” (se-gundo-tenente) por nome Jorge, que viria aser hidrógrafo, e um médico destacado.

Tudo ia muito bem. Vicentini praticamen-te deixou o navio em minhas mãos. Ele era

(1) – Que Estea em la Paz de Diós (expressão chilena)

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

muito calmo, muito tranquilo de atitudes. En-tretanto, terminada a parte de mar aberto dobraço, vinha o difícil da missão: sondar umlongo e estreito canal, no sentido este-oeste,que passava por entre dois bancos, que nãodescobriam inteiramente, na preamar. A téc-nica exigia “tangenciar corredores”, ou seja,navegar sobre arcos de círculo, o que ali eramuito perigoso, uma vez que esses corredo-res cortavam, quase que ortogonalmente, oestreito canal. O espaço para fazer a curvaera limitado; a corrente, forte.

Convenci Vicentini de que teria que serassim, e assim fomos. Penso ser desneces-sário dizer que a corveta não era nem delonge um navio apropriado para sondagemnesse tipo de área, uma vez que suamanobrabilidade é restrita. Os problemáti-cos compressores relutavam em dar parti-da nos motores.

Resumo da ópera: por duas vezes, quan-do nos aproximávamos de um dos bancos,a corveta tocou no fundo. O gradiente eramuito acentuado, não dava para prever. Azona era não hidrografada. Vicentini, semestardalhaço, assumiu a manobra, e o na-vio saiu sem maiores mossas. Claro que elenão estava à vontade. Que comandante,titular ou interino, estaria?

E aí veio uma terceira vez. Foram bemuns dez minutos para sair. Ou mais. Ten-são. Mas não da parte dele. Ou melhor, nãoda parte visível dele.

Colocou o navio no eixo do canal, bas-tante fundo, chamou-me e, com inexcedíveleducação e tranquilidade, avisou-me que

ia aplicar um santuário entre os dois ban-cos, para não nos aproximarmos muito.Aceitei, claro. E retirou-se por alguns mi-nutos. Aí vi a cena que muito me marcou.Sentado no camarim de navegação,Vicentini estava lívido, suando muito. Al-guém com um copo d’água apareceu e elesacou do bolso “um torpedão”, algo paraacalmar sua “bomba”, que deu sinais de“ratear”.

A tensão, para mim, mudou de foco.Bem, continuamos, e o canal foi total-

mente sondado.Em nenhum momento ouvi da parte dele

uma única palavra ou gesto de pessimis-mo, indignação, desrespeito, queixa, nada.

As Folhas de Bordo(2) resultantes da-quele levantamento, assinadas por mim epelo Daltro, levaram também o nome dele.

No ano seguinte, o Canopus, com to-dos seus recursos (lanchas, helicóptero,mergulhadores etc.), lá chegou e realizouum magnífico levantamento que gerou aprimeira edição da Carta 232 – Braço Sul doRio Amazonas. O canal sondado está nelae levou o nome de Canal do Solimões.

Não sei se algum dia, nos mares do ou-tro mundo, voltarei a navegar. Ficarei felizse o fizer sob as ordens do Vicentini.

Voltemos à primeira frase deste texto,digo, ao título. Por favor, substituam as re-ticências por uma vírgula e acrescentem aexpressão “somente agora”.

Fernando Marinho Mattos Capitão de Mar e Guerra

(2) – Documento cartográfico resultante de um levantamento hidrográfico, embrião da carta náutica.

O RELÓGIO DO TORREÃO

Corria o mês de janeiro de 1966. Nosúltimos dias do referido mês foi marcada adata de apresentação do diretor-geral de

Hidrografia e Navegação recém-nomeado– o então Vice-Almirante (VA) Ernesto deMello Baptista.

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

No ano anterior, tinha entrado em vigoro novo Estatuto dos Militares, por meio doqual se estabeleceu um período de carên-cia para que os militares com direito adqui-rido usufruíssem das promoções, entãovigentes, ao serem transferidos para a Re-serva Remunerada (RRm) por terem parti-cipado ativamente da Segunda GuerraMundial e/ou por contarem com mais de 25anos de efetivo serviço. Ao fim do referidoperíodo, estariam extintos tais benefícios.Por esse motivo, à época foi grande o nú-mero de militares com direito às referidasvantagens que solicitaram transferênciapara a RRm a fim de poderem ter efetivadastais promoções. Esse foi o caso do entãoDiretor-Geral de Hidrografia e Navegação,o então Vice-Almirante Hélio GarnierSampaio, que, ao ser transferido para aRRm, foi promovido a dois postos acima,ou seja, a almirante (cinco estrelas).

Na data aprazada para a apresentaçãodo VA Mello Baptista, logo após o almoço,foi determinado o uniforme 5.1 (“pirulito”)para toda a Ilha Fiscal – local onde, à épo-ca, funcionava a Diretoria-Geral deHidrografia e Navegação (DGHN). Cumpremencionar que o autor deste artigo, entãocapitão-tenente, assumiu o serviço às 12horas, sendo, portanto, testemunha oculardo que passa a ser relatado.

A apresentação estava prevista para as15 horas. Desta forma, como anteriormenteprevisto, foi determinado “guarnecer pos-tos de continência”. Todos esperavam achegada do novo diretor de carro, atravésda pista que corre sobre o molhe. Foi, en-tão, formado o cerimonial em frente à salade estado, que se situava logo após o portãode entrada, constante de guarda, boys ecorneteiro. Além disso, todos os oficiaisformaram nas proximidades do cerimonial.A propósito, foi a única vez em minha car-reira que vi um oficial (o Almirante Garnier

Sampaio) com as platinas de almirante decinco estrelas.

Perto das 15 horas, todos formados, de olhona pista por onde deveria surgir o carro con-duzindo o VA Mello Baptista, ouve-se o bradodo sinaleiro, vindo da estação de sinais queficava no torreão da Ilha Fiscal: “Lancha compavilhão de vice-almirante aproximando-separa atracar na escada de portaló!”

O Almirante Mello Baptista, sem avi-sar, resolveu utilizar-se de lancha para suaapresentação.

Imediatamente, o Almirante GarnierSampaio determinou que o cerimonial sedeslocasse para o outro lado da Ilha Fis-cal, onde se situava a escada de portaló(escada com degraus de pedra escavadana rocha que servia de base à Ilha Fiscal).Em acelerado, todos os oficiais (incluindoo almirante) mais o oficial de serviço, osboys, a guarda e o corneteiro se desloca-ram para o local de atracação da lancha,chegando, a bem da verdade, a tempo.

Atracada a lancha e dado o “pronto” docerimonial ao diretor, este determinou quefosse aberto o toque e prestado o cerimo-nial de chegada para o novo diretor-geral.

Para os que não o conheceram, o Almi-rante Mello Baptista era um oficial extre-mamente educado e competente; era, tam-bém, um homem de personalidade marcantee singular, além de muito exigente.

Ao término do cerimonial, antes mesmoque o Almirante Garnier Sampaio pudesseapertar-lhe a mão, dando-lhe as boas vin-das, o VA Mello Baptista colocou a mãodireita no interior do dólmã, de lá retirandoum relógio de algibeira. Após consultá-lo eolhar para o torreão, arrematou de súbito epara surpresa geral: “O relógio do torreãoestá atrasado dois minutos.”

Egberto Baptista SperlingComandante

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

As gaivotas cruzavam o céu como emum balé. Faziam movimentos de circulaçãode forma ritmada, vez em quando descen-do em rasantes, pegando em seus bicospequenos peixes desavisados que nada-vam próximo ao espelho-d’água.

José Felipe caminhava pelo cais, ob-servando os pássaros e sua dança, o mo-vimento da maré que suspendia e arriavaos navios, estalando as espias que os pren-diam e ouvindo o chiado característico dovazamento de algumas canalizações de va-por. Usava um simples terno preto, comuma gravata azul-marinho, decorada comlistras amarelas no sentido diagonal. Car-regava, bem preso sob o braço, um exem-plar da Bíblia Sagrada, com capa de couroe zíper, e já se aproximava da prancha deseu navio.

Era assim todos os dias. Os pássaros, omovimento das marés, o chiado do vapor eo respeitável e indefectível Cabo JoséFelipe, o cozinheiro do navio. Os oficiaischamavam-no de exemplo a ser seguido.Era muitíssimo educado, cumpridor deseus deveres e ótimo militar.

Terminou de subir a prancha e cumpri-mentou os militares de serviço na popa daembarcação.

– A paz do Senhor!– Bom dia, Felipe! – disseram todos.Era impossível imaginar que Felipe fosse

capaz de qualquer delito. Foi exatamente issoque o oficial do dia pensou quando lá pelas2 da tarde um marinheiro, auxiliar de Felipe,o procurou para lhe falar em particular.

– Permissão para falar, tenente! – disse,fazendo uma continência.

– Pode falar, Valença – disse o oficial,respondendo à continência.

– Desculpe, mas eu sei que o senhornão vai acreditar em mim – disse o mari-nheiro, aguçando ainda mais a curiosidade

NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM

do superior. O que seria tão importante esério que ele poderia não acreditar?

– Continue, Valença. Em que eu possote ajudar? – perguntou ele, agora olhandodiretamente nos olhos do subalterno. Nãoque suas palavras não tivessem importân-cia no início, mas é que isso tinha viradoquestão de honra em poucos minutos. Eleprecisava fazer valer os deveres de um ofi-cial de Marinha, acima de tudo.

– Tenente, é que o Cabo Felipe – disseisso quase sussurrando – está fazendo“gato” – completou o militar.

Gato, na gíria marinheira, era o objetodo furto, e isso era uma contravenção mui-to séria.

– Mas isso não é possível – disse ooficial ao mover o olhar para o balé dospássaros, como se tentasse imaginar o queo marujo estava lhe confidenciando.

– É possível, sim senhor.– Está bem. Então como ele leva o gato,

se ele sai de bordo sem nenhuma bolsa,apenas com uma Bíblia sob o braço?

– Exatamente.– Vai me dizer que ele leva o gato na

Bíblia? Escute aqui marinheiro – disse apon-tando o dedo em riste –, eu não estou debrincadeira.

– Eu também não, senhor. Sabia que nãoia acreditar em mim, mas eu mesmo vi! Naverdade, ele não traz a Bíblia para bordo,apenas a capa dela. Corta alguns pedaçosde carne, embrulha em um plástico e de-pois coloca na capa da Bíblia, põe embaixodo braço e sai tranquilamente, acima dequalquer suspeita.

– É de certa forma engenhoso – disse ooficial pensativo, com o olhar distante.

– Posso me retirar senhor?– Sim, sim – disse o jovem tenente, ace-

nando com a mão ainda pensativo, visivel-mente perturbado.

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

– Só mais uma coisa, Valença. Por queme disse isso?

– Era meu dever, senhor – disse ele, vol-tando-se para trás. – Não podia ver umacoisa dessas e ficar quieto – completou, fa-zendo uma continência e indo para a parteinterna do navio. Mas o Tenente Araújo sa-bia que poderia haver muitos outros moti-vos para que o marinheiro fizesse tal afirma-ção. Eles trabalhavam juntos na cozinha, e omarinheiro podia estar querendo se vingarpor uma razão qualquer. E, nesse caso, elemesmo podia ter plantado a tal carne na Bí-blia. Contudo, qualquer que fosse o motivoou a razão, era o dever de Araújo averiguar.Mas como? Passou o resto do dia pensan-do em como apanhá-lo.

No horário da licença, os militares apro-ximavam-se do portaló, a saída do navio, játrajando à paisana, para a tradicional ins-peção. Foi quando o Tenente Araújo avis-tou o respeitável e indefectível Cabo JoséFelipe com seu terno e gravata listrada e aBíblia embaixo do braço, ostentando em seurosto um sorriso sereno. O oficial chamou-o a um canto da popa, próximo à balaustra-da do lado contrário ao do cais, visivel-mente abalado e nervoso.

– Pois não, tenente? – disse ele, comsua já conhecida calma.

– Sabe o que é Felipe – disse Araújo, tiran-do o chapéu e passando a mão nos cabelos,com uma expressão grave. – É que estou cheiode problemas. Acho que minha esposa me traie já pensei em me separar, em me matar. Porfavor, abra sua Bíblia e leia uma palavra deDeus para mim. Talvez isso possa me acalmar– disse, com um leve sorriso, olhando nosolhos do cabo. O semblante do subalterno foicaindo gradualmente enquanto ouvia as pala-vras do superior e pareceu ainda empalidecer.

– Imagino o que deve estar passando,tenente, mas... – disse Felipe, desviando oolhar – nem eu estou acreditando mais nis-so aqui – completou, pegando a Bíblia eatirando-a ao mar, para surpresa do oficial,que assistia à cena boquiaberto.

Jamais foi descoberta qualquer provacontra o irrepreensível, respeitável eindefectível Cabo José Felipe. Ele sempresoube que nem só de pão vive o homem,porém toda palavra poderá ser usada con-tra ele em um tribunal.

George dos Santos Pacheco Terceiro-Sargento

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DOAÇÕES À DPHDMJUNHO A AGOSTO DE 2011DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORESAlmirante de Esquadra Arlindo Vianna FilhoSr. Gerson Antonio FonsecaAmerican Bureau of Shiping (ABS)Capitania dos Portos do Espírito SantoCentro Universitário Francisco de VitóriaDiretoria de Portos e CostasEscola de Guerra NavalFundação Konrad AdenauerSenado Federal

PERIÓDICOS RECEBIDOSALEMANHA

Tecnologia Militar – v. 33, no 1/2011ARGENTINA

Boletín del Centro Naval – v. 129, no 829, jan./abr. 2011CANADÁ

Canadian Naval Revew – v. 7, no 1, spring 2011ESPANHA

Mar Oceana, Revista del Humanismo EuroamericanoRevista General de Marina – no 260, jan./fev. 2011; no 260, mar./2011

ESTADOS UNIDOSActivies – mai./2011Annual Review – 2010Naval War College Review – v. 64, no 1, winter 2011Surveyor – spring 2011

FILIPINASInternational PORT folio – fev./2011

ITÁLIARivista Marittima – v. 144, jan./fev. 2011; supl. jan./fev. 2011

PERÚMiguel Grau (livro) – 2003

PORTUGALBicentenário da partida da Família Real para o Brasil (livro) 2011Fundamentos da Organização Fabril do Estaleiro Naval – 1984

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DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

Os Grandes Exploradores de todos os tempos (livro) – 1980Os sete únicos documentos de 1500, conservados em Lisboa, referentes à

viagem de Pedro Álvares Cabral (livro) – 1939Revista da Armada – v. 40, no 453, jun./2011Revista de Marinha – v. 74, no 961, mai./jun. 2011

TURQUIATecnologia Militar – v. 33, no 2/2011

BRASIL50 anos do Comando da Força Aeronaval (livro) – 2011200 anos de Polícia Militar do Rio de Janeiro (livro) – 2010A Defesa Nacional – v. 96, no 816, jan./fev./mar./abr. 2011A Fantástica Ilha da Trindade (livro) – 2010A Macega – v. 10, no 45, jan./mar. 2011; ed. especial abr./2011ASAS Revista de Cultura e Historia da Aviação – v. 10, no 60, abr./mai. 2011Cadernos de História da Ciência do Instituto Butantan – v. 6, no 1, jan./jul. 2010Catálogo de Obras Raras e Valiosas da Coleção Luiz Viana Filho (livro) – 2011CNT Transporte Atual – v. 17, no 189, mai./2011; v. 17, no 191 jul./2011Flap Internacional – v. 48, no 466, jul./2011 ed. especialFundamentos da Organização Fabril do Estaleiro Naval – 1984Guia dos Museus Brasileiros (livro) – 2011Idéias em Destaque – no 35, jan./abr. 2011INCAER – 2011Informativo Antiaéreo – 6/2011MPMG Jurídico – Ed. especial 2011Museu Aeroespacial (livro) – jul./2010New’s – v. 7, no 39, mai./2011O Brasil no contexto político regional (livro) – v. 11, no 4, 2010O Periscópio – v. 46, no 64, 2011O Rio que eu amo (livro) – 2011Pesquisa Fapesp – no 184, jun./2011; supl. especial no 184, jun./2011; no 185, jul./2011Portos e Navios – v. 53, no 605, jun./2011Revista da UnifaRevista de Administração em Saúde – v. 13, no 50, jan./mar. 2011Revista de Estudos Universitários – v. 36, no 3, dez./2010Revista do Clube Naval – v. 119, no 357, jan./fev./mar. 2011Revista do Exército Brasileiro – v. 147, 1o quadrim. de 2011; v. 147, 2o quadrim. de 2011Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia – v. 105, jan./dez. 2010Revista Militar de Ciência e Tecnologia – v. 27, 1o ao 3o quadrimestre de 2010Suplemento Especial de Tecnologia & Defesa – v. 28, no 22, jan./2011Tecnologia & Defesa – v. 28, no 125, 2011Vocábulos e topônimos Brasileiros de Etimologia Tupi-Guarani (livro) – 2011

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ACONTECEU HÁ 100 ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças enotícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partesdo mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reporta-dos pela Revista Marítima Brasileira.

Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observa-remos a grafia então utilizada.

MARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXI(RMB, jul./1911, p. 71-80)

Capitão-Tenente Lucas A. Boiteux

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CORSO – COMBATE DA LAGOA-MIRIM –APRESAMENTO DO CORSARIO “FELIZ” – ENCONTRO DE AREGUI – FALADO THRONO – O NOSSO MATERIAL NAVAL EM 1928 – NOVOS MINISTROS

DA MARINHA – PERFIDIA ARGENTINA – OUTRAS NOTICIAS

(...)

DIVISÃO DO BRAZIL EM DISTRICTOS NAVAESDIVISÃO DO BRAZIL EM DISTRICTOS NAVAESDIVISÃO DO BRAZIL EM DISTRICTOS NAVAESDIVISÃO DO BRAZIL EM DISTRICTOS NAVAESDIVISÃO DO BRAZIL EM DISTRICTOS NAVAES(RMB ago./1911, p.197-222)

No passado, dividia-se o problemamaritimo das nações em duas partes: a pri-meira tinha por fim proteger as costas dosataques provenientes do mar independen-

temente do concurso da esquadra, e a se-gunda, a creação de uma força naval capazde proteger inteira e completamente osinteresses sobre o mar. As nações que não

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

tinham commercio maritimo, que nãopossuiam colonias, não se preoccupavamcom as suas forças navaes, nem com as doinimigo provavel, porque a defesa das cos-tas, sustentada ainda pelos corpos de exer-cito, era sufficiente para arcar com vanta-gem contra esquadras á vela, incapazes deenergica offensiva costeira.

A separação radical que havia entre aoffensiva do mar e a defesa das costas se-parava assim o problema marítimo, dividin-do-o em duas facesperfeitamente dis-tinctas. Tal divisãoteria perdurado até osnossos dias, si o vapornão houvesse modifi-cado a natureza dasesquadras. É precisoattentar neste inte-ressante aspecto dosystema defensivo doperíodo velico, por-quanto é commum seouvir dizer que as ar-mas têm transformadoo problema! As armas,forçoso é confessar,têm turbado algumas vezes o equilíbrio de-fensivo-offensivo, mas por si só ellas nãoteriam forças para transformar o systemadefensivo que sempre se há de concretizarnos seguintes princípios:

1o – As esquadras são eminentementeoffensivas.

2o – O seu caracter defensivo é maisillusorio que real, e só quando defronte dosportos inimigos, é que sua acção defensiva semanifesta indirectamente e efficazmente.

3o – Por mais fortes no mar que se sin-tam as nações, não podem inteiramente con-

fiar, para a defesa de suas costas, exclusi-vamente nas suas forças navaes, salvo ahypothese do principio precedente.

4o – O problema defensivo não pode serresolvido completa e eficazmente, sem aprotecção das fortificações das costas eauxilio do exercito.

Estes quatro principios consubstanciamde uma maneira positiva o problema geralda defesa das nações, transformando-o emum problema offensivo e defensivo, modali-

dades estas para cujasolução são precisoscontinuos e ingentesesforços na paz. Essesesforços visam a prepa-ração parallela do exer-cito e da armada, paraum único objectivocommum – a guerra.

As forças navaes eas forças terrestres sãoelementos indispen-saveis de defesa e deataque, quando juntas,guiadas por um espi-rito de concordia e har-monia de vistas, coope-

ram efficazmente para o anniquilamento doinimigo, procurando-o, enfrentando-o no seuproprio territorio.

O periodo hodierno que muito se asse-melha ao periodo remico pela sua paridadenaval e costeira, no ponto de vistaestrategico, tende ainda mais a favorecer,obriga mesmo, o contacto intimo dos ele-mentos continentaes e maritimos. E essecontacto é tanto mais essencial quanto sesabe, que os navios modernos, por maioresque sejam, na sua immensa potencia demachinas, canhão e couraça, são por sua vez

Com o passar e o perpassarCom o passar e o perpassarCom o passar e o perpassarCom o passar e o perpassarCom o passar e o perpassardo tempo, este grandedo tempo, este grandedo tempo, este grandedo tempo, este grandedo tempo, este grande

constructor e este grandeconstructor e este grandeconstructor e este grandeconstructor e este grandeconstructor e este grandedestruidor, surgio a theoriadestruidor, surgio a theoriadestruidor, surgio a theoriadestruidor, surgio a theoriadestruidor, surgio a theoria

do dominio do mar, cujodo dominio do mar, cujodo dominio do mar, cujodo dominio do mar, cujodo dominio do mar, cujopatrono, Alfredo Mahan,patrono, Alfredo Mahan,patrono, Alfredo Mahan,patrono, Alfredo Mahan,patrono, Alfredo Mahan,

burilou em letras doiradas doburilou em letras doiradas doburilou em letras doiradas doburilou em letras doiradas doburilou em letras doiradas doseu estylo fulgurante, asseu estylo fulgurante, asseu estylo fulgurante, asseu estylo fulgurante, asseu estylo fulgurante, as

bases dessa theoria,bases dessa theoria,bases dessa theoria,bases dessa theoria,bases dessa theoria,assentadas sobre a força dasassentadas sobre a força dasassentadas sobre a força dasassentadas sobre a força dasassentadas sobre a força das

esquadras de oceanoesquadras de oceanoesquadras de oceanoesquadras de oceanoesquadras de oceano

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os mais humildes dependentes dos arsenaese dos portos de armamento. A mythologiajá nos ensinava, que filho de Neptuno daTerra, o combatente Anteo da propria Ter-ra recebia sempre nova força; taes são hojeas esquadras de batalha.

Mas, essa verdade, pela natureza dascoisas de então, só veio a ser reconhecidadepois de 1872. Antes dessa epoca eram asesquadras consideradas, todavia, como ele-mentos offensivos contra outras esquadras,podendo eventualmente cooperar na defe-sa, mas sem dependencia aos portos de guer-ra, o que tanto hoje as caracterisa.

Com o passar e o perpassar do tempo,este grande constructor e este grande des-truidor, surgio a theoria do dominio do mar,cujo patrono, Alfredo Mahan, burilou emletras doiradas do seu estylo fulgurante,as bases dessa theoria, assentadas sobre aforça das esquadras de oceano.

Da leitura a que com avidez os estadis-tas, os politicos e os militares se entrega-

ram, resultou um abuso extraordinario nasmedidas de caracter effectivo postas empratica para a implantação das bases dochamado – Sea Power. – Dahi a resultan-te inevitavel do afan em que se entregaramalgumas nações, principalmente os Esta-dos-Unidos, negligenciando a defesa dascostas e, sobretudo, dos grandes portos, semse lembrarem de que as esquadras nem sem-pre bastam á defesa e á tranquilidade dasfronteiras maritimas, quando muito dila-tadas. É exemplo disso a guerra russo-japoneza, na parte relativa aos brilhantesraids da divisão naval russa deVladivostok. Entretanto, o grande Imperionipponico não se havia descurado jamaisda defesa de seus principaes centros deactividade maritima, canaes e golfos, e, sios resultados daquelles raids não forammais frutuosos ainda, deve o Japão ao seulargo descortino em tudo quanto diz res-peito aos processos de defesa nacional.

(...)

MARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXII(RMB, ago./1911, p. 251-259)

Primeiro-Tenente Lucas A. Boiteux

COMBATES DE PUNTA LARA – MANIFESTO DE BROWN – PEQUENAESCARAMUÇA – APRESAMENTO DO CORSARIO “GENERAL DORREGO” – A

PAZ – ULTIMO FRACASSO DO INIMIGO – CONSIDERAÇÕES FINAES SOBREA GUERRA

(...)A Republica Argentina conseguio, afi-

nal, os fins que tinha em vista, atirando-seloucamente a esta guerra cruenta edesnecessaria?

Na nossa fraca opinião nenhuma vanta-gem lhe adveio, ou melhor, serias desvan-tagens ella lhe occasionou.

Sinão, vejamos. Perdeu a Cisplatina quepretendia acorrentar ao seu poderio, vio a ricaprovincia de Tarija arrebatada pela Bolivia,perdeu a sua incipiente marinha, e com ella odominio do mar, vio os seus campos taladospela guerra civil, e cahiu afinal sob a abjectatyrannia de Rosas, sob a qual ficou por longosannos retardada a sua unidade politica.

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

E nós, los derrotados brasileros (tolos quefomos!), consumidos por um sentimentalis-mo doentio, cheios de piedade pelo orgulho-so vencedor na passada campanha, ainda fo-

mos derramar o nosso nobre e generoso san-gue em Tonelero e na batalha de Moron ouMonte Caceros, para auxilial-o a afugentaro negregado abutre que o devorava...

PESCA NACIONALPESCA NACIONALPESCA NACIONALPESCA NACIONALPESCA NACIONAL(RMB, set./1911, p. 385-401)

Instituir e desenvolver a pesca noBrazil sob bases scientificas e de molde aque essa industria assuma o caracter quenaturalmente lhe competiria deinexgotavel fonte de immensa riqueza na-cional, é infelizmente, emprehendimentoque parece estar acima das posses de nossagente, atrophiada por tres seculos de su-jeição a um povo já de si eminentementerotineiro e pouco industrioso e, simultane-amente, abastardada pela mescla de san-gues improprios para imprimir-lhe a virili-dade que devia ter, como nova que ainda é,si outros tivessem sido os factores que en-trassem na sua composição ethnica.

Tal é, pelo menos, o triste prisma porque será levado a enxergar as nossas coisasquem considerar nas inuteis tentativas queHA BEM UM SECULO, desde o tempode D. João VI, tem de vez em quando sur-gido no intuito de tornar uma realidadeesse grande desideratum nacional.

Por fortuna nossa, porém, por essa quasiescandalosa protecção que – no dizer doscrentes – nos tem prodigalisado a DivinaProvidencia, nem a todos avassala o desa-nimo que, em vista dessa fatalidadehistorica, opprime a maioria reluctante emacreditar que mais cedo ou mais tarde sehão de ir tomando medidas tendentes amodificar esse estado de coisas e a permittirque fujamos com relativa celeridade do atra-so em que ainda vivemos a respeito não so-

mente do assumpto destas linhas, como demuitissimos outros.

Assim é, por exemplo, que entre os maisextremos propugnadores de remodelaçãodo mais que rotineiro systema de pesca deum paiz, como é o nosso, de extensissimacosta maritima e de inextricavel e immensarede fluvial, muito se tem salientado, des-de alguns annos já, o nosso illustre camara-da sr. capitão-tenente Frederico Villar.Insuflado por uma especie de fogo sagra-do, movido por incomparavel ardorpatriotico, tem elle propugnado semdescanço por uma medida de tanta utilida-de para a nação inteira, despertando comgrande copia de substanciosos artigos, se-meados pela imprensa do paiz, a attençãopublica, abalando a nossa proverbialindifferença para os themas mais vitaes,concitando emfim os nossos poderespublicos a não mais retardarem a realisaçãode um instituto de tão incommensuraveisvantagens para a nossa cara patria; retar-damento que, alem de tudo mais, é até umavergonha para nós, em comparação com oque se ha feito nesse sentido no estrangei-ro, e com especialidade na Republica Ar-gentina, onde se não descuidam de promo-ver todas as medidas que affectem a gran-deza e o progresso da patria, como quecaprichando ao mesmo tempo em mostrar-se em tudo e por tudo mais adiantados doque nós.

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

E essa campanha do nosso incansavel eardoroso collega não tem sido improficua.Ainda não ha muito, impressionado de certocom os seus vibrantes artigos e com a suapertinacia em proclamar a urgencia de setratar seriamente de implantar de vez en-tre nós tão necessaria e util instituição, ooperoso sr. ministro da Agricultura, Dr.Pedro de Toledo, que com tanta clarividenciaestá impulsionando os diversos ramos de suaimportantissima pasta, mostrou decididoempenho em realisar quanto antes essa im-plantação, conforme o demonstra aincumbencia dada ao mesmo capitão-tenen-te Frederico Villar de apresentar-lhe umrelatorio a respeito.

Entretanto, tão le-vantado e patrioticointuito parece estarentravado – si não,ainda uma vez, adiadoad kalendas – pelaeterna questão de umamal entendida econo-mia, a qual, no fim decontas, redunda, nocaso que nos occupa, emUM PREJUIZOANNUAL DE MUITAS DEZENAS DEMILHARES DE CONTOS; prejuizo quevamos de longa data soffrendo com a mesmaresignação com que se deixam tosquiar man-sas ovelhas, ao mesmo tempo que vamos in-gerindo peixes importados, muito mais ca-ros e incomparavelmente inferiores, quercomo sabor, quer como nutrição, quer aindacomo inocuidade, aos innumeros productosque, por preço muito mais baixo, nos poderiafornecer ainda frescos e em quantidadesuperabundante a riquissima fauna dos nos-sos feracissimos rios e mares territoriaes.

Urge, portanto, que para tão magno pro-blema volte patriotica vista o CongressoNacional, concedendo ao illustre sr. minis-tro da Agricultura os meios necessariospara levar a effeito, em bem de todos nós,esse seu alludido empenho, já demonstra-do, como acima dizemos, na incumbenciade que encarregou o nosso citado collegasr. Villar, e de que elle tão proficiente-mente deu conta apresentando o relatorioque com prazer aqui vamos reproduzir, paradivulgal-o ainda mais, como merece pelomomentoso assumpto de que cogita.

_______

“Rio de Janeiro, 20de abril de 1911. – AoExmo. Sr. Dr. Pedro deToledo, Dignissimo Mi-nistro da Agricultura.

Na conformidadedo que V. Ex. houvepor bem determinar-me, tenho a honra deexpôr aqui qual o meumodo de ver sobre aorganisação pratica,

immediata e pouco dispendiosa que deve-mos dar ás ‘Pescarias Nacionaes’.

As medidas que me parecem mais urgen-tes são:

1a – A creação da Directoria Geral dePesca;

2a – A organisação de Escolas de Pesca;3a – A formação de Colonias de

Pescadores;4a – A instituição do Credito Maritimo;5a – A decretação de isenção de direitos

e de impostos durante dez annos, pelo me-nos, para as industrias da pesca;

Vamos ingerindo peixesVamos ingerindo peixesVamos ingerindo peixesVamos ingerindo peixesVamos ingerindo peixesimportados, que, por preçoimportados, que, por preçoimportados, que, por preçoimportados, que, por preçoimportados, que, por preço

muito mais baixo, nosmuito mais baixo, nosmuito mais baixo, nosmuito mais baixo, nosmuito mais baixo, nospoderia fornecer aindapoderia fornecer aindapoderia fornecer aindapoderia fornecer aindapoderia fornecer ainda

frescos e em quantidadefrescos e em quantidadefrescos e em quantidadefrescos e em quantidadefrescos e em quantidadesuperabundante a riquissimasuperabundante a riquissimasuperabundante a riquissimasuperabundante a riquissimasuperabundante a riquissimafauna dos nossos feracissimosfauna dos nossos feracissimosfauna dos nossos feracissimosfauna dos nossos feracissimosfauna dos nossos feracissimos

rios e mares territoriaes.rios e mares territoriaes.rios e mares territoriaes.rios e mares territoriaes.rios e mares territoriaes.

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

6a – A instituição de premios e facilida-des –: tarifas minimas, direito a um logarno caes do porto, etc; e

7a – A creação de portos de pesca devi-damente preparados.

Para poupar tempo e despezas, quer meparecer que V. Ex. adiantaria considera-velmente a grande obra patriotica que vaeter a gloria de realisar, dividindo o Brazilem ‘zonas de pesca’, assim:

1a zona: Amazonas e Pará, séde em Belém;

2a zona: Maranhão, Piauhy e Ceará,séde na Fortaleza;

3a zona: Rio Grande do Norte, Parahyba,Pernambuco e Alagoas, séde no Recife;

4a zona: Sergipe, Bahia e Espirito San-to, séde na Bahia;

5a zona: Rio de Janeiro, Districto Fede-ral e São Paulo, séde no Districto Federal;

6a zona: Paraná, Santa Catarina e RioGrande do Sul, séde em Santa Catarina.

(...)

MARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXIIIMARINHA DE GUERRA DO BRAZIL XXXIII(RMB, set./1911, p. 479-489)

Primeiro-Tenente Lucas A. Boiteux

SUCCESSOS EM PORTUGAL – RECLAMAÇÃO FRANCEZA – A NOSSA MARINHA– MOTINS MILITARES – CHEGADA DA IMPERATRIZ – NOVOS MINISTROS –ABDICAÇÃO DE DOM PEDRO I E SUA PARTIDA – FIM DA PRIMEIRA PARTE

(...)Eis-me chegado ao final da primeira par-

te do arduo trabalho a que me impuz, poruma falsa apreciação de sua magnitude. Oenthusiasmo de momento atirou-me á difficilempreza de fazer reviver as primeiras pagi-nas, tão esquecidashoje, da historia denossa Marinha deguerra. Foi isso umaverdadeira lucta, cheiade desfallecimentos edesanimos, que mais seaccentuavam deanteda carencia de informa-ções e documentos.

Quantos documen-tos, inaccessiveis paramim, modesto rebuscador, não existem porahi, roidos pelas traças, embolorados pelotempo, em archivos publicos e particula-res, que, publicados, viriam dar mais vida,

maior realce, mais colorido á narrativahistorica de nossa Marinha!

Resente-se não só dessa falta o meu fra-co trabalho, como tambem de pouca habili-dade do autor em manejar a penna.

Apesar disso, porém, eu sei que mereço operdão do leitor amigo epatriota, pois, si meabalencei a organisareste modesto trabalho,foi com o louvavel intui-to de relembrar, com ver-dade e carinho, as pri-meiras e gloriosas pagi-nas de nossa Marinhade outr’ora, que a gera-ção de hoje desconheceou procura esquecer.

“O verdadeiro patriotismo, nos diz Fustelde Coulanges, não consiste somente no amor áterra natal, mas também no amor ao passado, norespeito pelas gerações que nos precederam.”

“O verdadeiro patriotismo,“O verdadeiro patriotismo,“O verdadeiro patriotismo,“O verdadeiro patriotismo,“O verdadeiro patriotismo,nos diz Fustel de Coulanges,nos diz Fustel de Coulanges,nos diz Fustel de Coulanges,nos diz Fustel de Coulanges,nos diz Fustel de Coulanges,

não consiste somente nonão consiste somente nonão consiste somente nonão consiste somente nonão consiste somente noamor á terra natal, masamor á terra natal, masamor á terra natal, masamor á terra natal, masamor á terra natal, mas

também no amor ao passado,também no amor ao passado,também no amor ao passado,também no amor ao passado,também no amor ao passado,no respeito pelas geraçõesno respeito pelas geraçõesno respeito pelas geraçõesno respeito pelas geraçõesno respeito pelas gerações

que nos precederam.”que nos precederam.”que nos precederam.”que nos precederam.”que nos precederam.”

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

JULHO – 1911

LLOYD BRAZILEIRO – O ShippingIllustrated de 27 de maio diz-nos:

“Varios navios pertencentes ao LloydBrazileiro foram hypothecados aoThesouro Nacional do Brazil. Os naviosem questão são os vapores de carga Purus,Tocantins e Tapajós, da linha de New York,e costeiros Amazonas, Bragança, Guajará eMarajó.”

São tantas e entristecedoras as notici-as que se ouvem e se leem sobre esta com-panhia, digna aliás de melhor sorte, queparece indicativa uma providencia qual-quer por parte do Governo afim de quecessem de vez os inconvenientes que o casoacarreta, sobretudo com relação ácabotagem nacional.

Não falemos das linhas de New-York ede Matto Grosso, sendo que esta atravessaquatro republicas visinhas. A impressão queo Lloyd deixa por essas plagas estrangei-ras é altamente deploravel, não só quantoá irregularidade dos serviços como quantoá pontualidade de compromissos.

A logica dos factos ahi está diariamentea reclamar uma qualquer providencia.

ENSINO NAVAL – De La VieMaritime et Fluviale de 25 de abrilextrahimos as seguintes linhas:

“Antes do anno de 1875 não existia no Ja-pão escola de ensino naval propriamente dito;só a partir dessa data um particular, TashimichiOkubo, suggerio ao governo a idéa de crear umCollegio Naval e construir um vapor para daraos alumnos o ensino complementar nautico.Em fevereiro de 1875 foi creado o Shosen

Gakko ou Collegio Naval Japonez, de ondesahiram dois annos depois 50 alumnos com co-nhecimentos nauticos relativamentesufficientes, de accordo com os inicios destainstituição. O governo de Mikado vendo queeste Collegio Naval comportava entre seusalumnos jovens de boa condição, augmentou oprogramma de estudos e collocou a escola sobas attribuições do Ministerio da Marinha, desorte que no fim de seus estudos podessemestes jovens entrar no serviço da Marinha deguerra. A partir dessa epoca, o programma dosestudos foi sempre se ampliando e equipou-seuma meia duzia de pequenos vapores nos quaescompletavam os alumnos sua instrucção nauticano mar. Em 1895 o governo publicou um decre-to abrindo as portas desse collegio, sem examede admissão, a todos os diplomados das diver-sas universidades do Imperio, entre os limitesde idade de 15 a 21 annos. A partir desse mo-mento, a Marinha poude contar annualmentecom mais de cem moços, aos quaes, depois deum curso de dois annos em terra, elle dava nomar o complemento da instrucção nautica quelhes era necessario.

O primeiro navio escola construido comeste objecto foi lançado ao mar em 1899.Era o veleiro Tsukushima-Marú, que é umnavio de aço de 270 pés de comprimento ede 2287 tons. de deslocamento, o mais bellonavio escola que existe talvez. É mixto,podendo portanto navegar a vapor e á vela.Suas machinas lhe proporcionam uma velo-cidade de 10 milhas. Interiormente pos-sue este navio todo conforto possível e éprovido de todas as installações scientificasmodernas. É illuminado á luz electrica.

Os alumnos do primeiro anno são encar-regados das manobras das velas. As horas

REVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTAS

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244 RMB3oT/2011

ACONTECEU HÁ CEM ANOS

de estudo ahi são criteriosamente reparti-das. A duração dos estudos navaes é de cin-co e meio annos para officiaes de marinha ede cinco annos apenas para officiaesmachinistas. Em terra o ensino é divididoem seis classes e ahi permanecem dois annos,findos os quaes passam a frequentar du-rante seis mezes a escola de tiro emYokosuka. Em seguida embarcam por doisannos a bordo do Taisei-Marú.

Terminados estes dois ultimos annos sãoembarcados durante o periodo de um annoem cruzadores como alumnos officiaes. Emdefinitiva, os cinco annos e meio de estudosdo programma da Escola Naval se decompoempela seguinte forma: 2 annos de estudos emterra, seis mezes na escola de tiro, dois annosa bordo do Taisei-Marúe um anno a bordo doscruzadores. A sommade trabalho que se re-clama dos alumnos émuito elevada e a disci-plina muito severa. Foidesta escola quesahiram os brilhantes officiaes que tomaramparte na guerra russo-japoneza.”

Observa-se nesta noticia que osjaponezes não abandonaram, como pensamque se deva alguns profissionaes, ainstrucção á vela, e tal é a importancia quea ella ligam que, dos cinco annos e meio decurso para officiaes de marinha, dois dellessão passados a bordo do Taisei-Marú. Na-turalmente estes dois annos não são para ainstrucção exclusiva de mar á vela mas simconcomitantemente com outras disciplinasdo officio, para os quaes, como diz a noticia

supra, está o navio apparelhado. O officialde marinha tem no mar o seu campo deactividade, e uma escola preparatoria paradar ao joven official o tombo do marinhei-ro, o pied marin, sem prejuizo dos cursosnecessarios á bagagem technica do officio,só pode concorrer para o seu perfeito pre-paro. A instrucção á vela é o melhor meiode adaptação do official, do marinheiro, aoelemento em que tem que agir.

Fui, sou e serei partidario daimprescindibilidade da escola á vela para ohomem do mar.

ASSUMPTOS NAVAES* – Minhashumildes divergencias sobre tres das mui-tas idéas pelas quaes, sob o titulo supra, vem

pugnando illustradocollaborador do Jornaldo Commercio, merece-ram longa replica pelonumero de 20 de agos-to do citado jornal.

Das tres divergen-cias apenas uma tem

caracter de verdadeira importancia em umaorganisação naval – a fusão dos quadrosdos officiaes machinistas e de marinha.

As outras duas idéas – denominação decombatente é uma questão de simplesadjectivação.

A da suppressão do posto de capitão defragata pertence ás de feição convencio-nal. Poderiamos mesmo discutir aconveniencia da reducção dos postos a ape-nas tres – officiaes subalternos, superio-res e generaes – deixando ás antiguidadesna escala a hierarchia no serviço.

A instrucção á vela é oA instrucção á vela é oA instrucção á vela é oA instrucção á vela é oA instrucção á vela é omelhor meio de adaptação domelhor meio de adaptação domelhor meio de adaptação domelhor meio de adaptação domelhor meio de adaptação do

official, do marinheiro, aoofficial, do marinheiro, aoofficial, do marinheiro, aoofficial, do marinheiro, aoofficial, do marinheiro, aoelemento em que tem que agirelemento em que tem que agirelemento em que tem que agirelemento em que tem que agirelemento em que tem que agir

* N.R.: O assunto abordado é de relevância especial tendo em vista o que deverá ocorrer nestes próximos anos com aintrodução, na Marinha, do submarino com propulsão a energia nuclear. A preparação do pessoal e as consequentesalterações em currículos e especialidades são fundamentais e carecem de revisão e adaptação a curto prazo.

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Não percamos, pois, tempo em discutil-as e entremos no assumpto “fusão”.

É a este que devemos dedicar especialcuidado, razão pela qual apparece esta re-plica ao artigo de meu competentecontendor, do qual ainda fico á espera deargumentos mais convincentes e capazesde me fazerem mudar de opinião.

Vejo, com pesar, que o meu modo de enca-rar a questão não foi plenamenteapprehendido pelo meu caro collega. De for-ma alguma eu pensaria excluir da bagagemdos conhecimentos technicos do official demarinha o complemento – machinas –necessario á sua proficiencia. O que combatoé a fusão dos dois quadros porque julgoimpraticavel a funcçãosimultanea dos deveresdo official de marinhae do official machinista.

Para melhor seguiro curso de minhadepretenciosa contes-tação vou analysar, naintegra, mas por partes, o bello artigo doprovecto camarada cujo afastamentotemporario a classe tanto deplora.

“Passemos á fusão dos quadros – deofficiaes de marinha e machinistas.

Nesta parte, o illustre commandanteSampaio, permitta a liberdade, não queracompanhar a corrente moderna que indi-ca a percepção do navio cada vez mais –machina, nem mesmo levado pelo exemploda Inglaterra, que a generalidade, com so-bejas razões, tanto desejaria imitar nomaximo possivel.”

Poderei ter grande numero de defeitos,mas cego é que supponho não ser. Não pre-ciso ser levado pela Inglaterra para ver(para o que basta ter olhos) que o navio é

cada vez mais – machina. Mas, sendo cadavez mais machina, nunca, no entretanto,deixará de ser navio.

“Nós continuamos a pensar que a fusãodos cursos de marinha e machinas da EscolaNaval, sobre ter sido quasi levada a effeitono ultimo regulamento, é um objectivo fataljá reconhecido até pela administração, e des-vendado no proprio Congresso.

O corollario do facto não pode deixar deser a fusão dos quadros cujos elementos deformação procedem da mesma fonte.”

O corollario não parece verdadeiro. Porter sido quasiquasiquasiquasiquasi levada a effeito a fusão doscursos, não parece acertado concluir-se dahia fusão dos quadros. Esse quasiquasiquasiquasiquasi, que propo-

sitalmente griphei, en-cerra o motivo da sepa-ração dos quadros.Esse quasiquasiquasiquasiquasi significaque ao official de ma-rinha moderno não de-vem faltar os elemen-tos que o tornen conhe-

cedor do desenvolvimento que tem tido aapplicação das machinas, em geral, ao navio.Esse quasiquasiquasiquasiquasi significa que ao officialmachinista não devem faltar os conhecimen-tos precisos para poder comprehender e di-rigir com segurança essas mesmas machinas.

Dahi a necessidade de um curso commumaté um dado limite, limite esse que define oinicio das duas especialidades e onde come-ça a separação de suas distinctas applicações.

“Depois o commandante Sampaio é pro-fundamente systematico neste assumpto,porque S. S. sabe bem que os officiaes arti-lheiros, os torpedistas, os electricistas, ostelegraphistas não sahem formados em suasimportantes especialidades desde que com-pletam o curso da Escola Naval.

Julgo impraticavel a funcçãoJulgo impraticavel a funcçãoJulgo impraticavel a funcçãoJulgo impraticavel a funcçãoJulgo impraticavel a funcçãosimultanea dos deveres dosimultanea dos deveres dosimultanea dos deveres dosimultanea dos deveres dosimultanea dos deveres do

official de marinha e doofficial de marinha e doofficial de marinha e doofficial de marinha e doofficial de marinha e doofficial machinistaofficial machinistaofficial machinistaofficial machinistaofficial machinista

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

As especialidades formam os cursosprofissionaes de especialisação.

Não é impossivel o que pretendemos,como pensa S. S., porque nunca dissemosque o official de marinha deva ser um ‘es-pecialista de todos os conhecimentos acom-panhados de tirocinio’. Não.

A nossa these é simplesmente a seguin-te: O commando de um moderno navio exi-ge officiaes que sejam, antes de tudo,officiaes de marinha, nauticos ou de nave-gação, além de machinistas; e que, sobreesse preparo, sejam especialistas – artilhei-ros, torpedistas ou telegraphistas, etc.

Ora, daqui por deante, todo official demarinha, formado preliminarmente na Es-cola Naval, traz uma bagagem de conheci-mentos muito mais adequada e conducenteao nosso objectivo do que antes.

A especialidade machinas foi até maisfavorecida que outra qualquer, e tudo in-duz a crer que o será crescentemente, pe-los motivos anteriormente expostos.

Impossivel é ser nautico, artilheiro,torpedista, telegraphista e machinista –ao mesmo tempo – como crê S. S., muitodiversamente do que queremos, com umaboa parte de nossa officialidade.

O que se quer é a subdivisão de especialida-des que cabem ao official de marinha; especia-lidades que devem ser todas aquellas a que osofficiaes de marinha sejam chamados nautilisação da arma que dirigem que é o navio.(Hoje, o conjuncto de machinas – a machina.)

Todos precisam, essencialmente, sernauticos e machinistas, o que é muitocomprehensivel; a demais de ter – umaespecialidade.

A subdivisão natural do trabalho nãoencontra uma solução mais pratica do queessa que S. S. não deseja ver.”

Talvez tivesse sido um pouco exaggeradono meu modo de argumentar. Agradecendoa lembrança que me faz sobre a forma porque obtemos as especialidades de artilha-ria, torpedos, telegraphistas, etc., nem porisso os periodos que se seguiram alteraram,por emquanto, a opinião, que alimento, so-bre a improductividade da fusão.

É da these de S. S. justamente que eudivirjo. Penso que um official de marinhanunca poderá ser um bom officialmachinista e vice-versa.

A especialidade – official machinista – éa negação completa da de official de marinha.

O official de marinha tem de manobrarcom o navio e seus accessorios de guerra, decombate; ao official machinista competeapenas manobrar com as machinas do navioe respectivos accessorios.

Quando o official de marinha manobracom o navio, é justamente quando o officialmachinista manobra com as machinas. Es-tar ao mesmo tempo no passadiço e na pra-ça das machinas constituiria domimpossivel de ubiquidade.

Sendo assim, para que o official de ma-rinha – ao mesmo tempo official machinista– tivesse o tirocinio das duas funcções, se-ria preciso dividir o tempo em duas meta-des – uma para a machina, outra para opassadiço.

O quarto que fizesse nas machinas pre-judicaria o que pudesse aprender estandono passadiço e vice-versa.

Ora, nós todos sabemos o que se aprendetanto num passadiço quanto em umamachina funccionando. De onde facil é con-cluir que as duas funcções não se adaptam auma simultaneidade de aprendizagem. Umaenfraquece a outra, sendo a consequenciadisso uma diminuição na efficiencia de dois

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

elementos principaes no navio de combate –o movimento e a direcção.

Ninguem contesta que todas as funcçõessó se desenvolvem e aperfeiçoam por meiode constante exercicio.

O habito continuo de trabalharmachinas, de dirigil-as, mais, portanto, de-senvolverá as qualidades technicas de umofficial machinista.

Ocorre ainda a circumstancia de que ofacto de cuidar exclusivamente dasmachinas de um navio proporciona uma se-gunda natureza que leva o officialmachinista a affazer-se ao interior do na-vio de modo a viver ali sem extranhar. Essasegunda natureza lhe será summamenteutil em combate, porque impedirá que selhe desperte o desejo, que outro teria, na-tural, humano, de querer vir para cima; nãopassando de desejo, não deixaria, mesmoassim, de poder proporcionar inconvenien-te serio em um momento critico da acção,quando á machina coubesse o salvar umasituação difficil.

E, si do simples desejo passassemos ánecessidade ou obrigação de subir ao pas-sadiço para assumir de um momento paraoutro durante o combate funcções nauticas– inteiramente diversas das que estavaexercendo pouco antes e num meio inteira-mente differente – facil é de apprehenderos immensos inconvenientes de que talconjectura poderiam, ou antes, deveriamforçosamente decorrer, não só para a segu-rança e bom governo do navio como para apropria vida de todos os seus tripulantes.

Por motivos materiaes e moraes, portanto,a fusão dos quadros será contraproducente.

“A proposito offerecemos aocommandante Sampaio as transcripções aseguir:

Do relatorio do saudoso almiranteCustodio José de Mello, publicado em1893:

‘Para manobrar as modernas machinas deguerra, verdadeiras maravilhas da industria,de uma delicadeza e complicação infinitas,é necessario um pessoal especial, cuja pro-fissão tornou-se por isso demasiado comple-xa. Outr’ora, na epoca dos navios de vela, osconhecimentos do official de marinha limi-tavam-se á manobra de velas, ao manejo sim-ples de pequenos canhões de alma lisa e ánavegação; hoje, porém, esses conhecimen-tos tornaram-se mais amplos e complexos,pois, além da manobra de velas e navegação,O OFFICIAL PRECISA SABER MANE-JAR DIFFERENTES TYPOS DEMACHINAS E RESPECTIVOS GERA-DORES; o manejo da artilharia raiada mo-derna, de tiro lento e rapido e composta decanhões de pequeno, medio e grosso calibre,verdadeiras maravilhas, com seus reparosmovidos por agua, vapor e ultimamente pelaelectricidade; os torpedos fixos e moveis; osmodernos explosivos, a meteorologia, etc.;assumptos estes que constituem, cada um,uma sciencia.

Á vista de tal complexidade que impos-sibilita o official de marinha de ter perfei-to conhecimento de todas as materias desua profissão, entendo que o melhorsystema a seguir em sua instrucção deveser o que se basear na divisão do trabalho.Para isso os alumnos da Escola Naval de-vem estudar a fundo certas materias quesão communs a todos os officiaes de mari-nha e, de outras, só o necessario para dellasterem ligeiro conhecimento.

O estudo aprofundado destas se faráem escolas especiaes por individuos já en-tão officiaes, que serão considerados espe-

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cialistas, para serem distribuidos pelos na-vios da esquadra, e aos quaes se abonaráuma gratificação, como está estabelecidona marinha ingleza.’

Em 1893!O que diria o almirante Custodio se hou-

vesse de encarar o mesmo problema em1911, deante dos dreadnoughts, e inspira-do nas lições da Inglaterra que, primeiro,decretou esse novo typo de navio?”

O almirante Custodio de Mello em 1911diria isso mesmo sem receio de errar, diria oque meu caro collega gryphou, e que humil-demente subscrevo. Diria que aos officiaesde marinha deveria ser administrado umcurso mais completo de machinas, em geral,não para dirigir as motoras do navio, masunicamente para poder conhecel-as e nãoestar assim á mercê da vontade abosluta dosofficiaes machinistas: conhecer machinaspara bem comprehender o torpedo, os meca-nismos que manobram a artilharia, etc., etc.No tempo do saudoso almirante Saldanhada Gama, os navios, se bem que não de tãocomplicados machinismos como hoje,comtudo não eram desprovidos delles.

Saldanha conhecia todas as machinas deseu navio, mas não era, nunca foi um officialmachinista. Si o Brazil tivesse a ventura deainda contal-o entre os seus almirantes, euestou sentindo que o peso de sua opiniãopenderia para o lado da anti-fusão.

“De um livro recente, cujas theorias re-volucionarias não nos quadram, mas queconsidera com estudo e felicidade muitasdas nossas necessidades mais momentosas,extrahimos para offerecer ao illustreredactor da Revista das Revistas os seguin-tes trechos curiosos:

‘Por outro lado, o almirante Douglas,em discurso pronunciado na Academia

Real, em 6 de maio de 1906, dizia: A edu-cação dos officiaes de marinha deve ser com-pletamente refeita. Um cerebro deacademico e golpe de vista de marinheirosão necessarios ao official moderno, desti-nado a ser o guia competente dos homens,elles proprios competentes; deve ter osconhecimentos theoricos e praticos dosmecanismos complicados no meio dos quaesvive e deve fazer a aprendizagem comple-ta de muitos assumptos scientificos: arti-lharia, torpedos, machinas e navegação. Ocommando supremo deve pertencer-lhe,sem o que onde iremos buscar os nossoscommandantes?

Mas, o exercicio de commando não pódeser sinão facilitado por uma educação mui-to eclectica estendendo-se ás machinas’.”

Esta citação é contraproducente. O al-mirante Douglas quer educação eclecticaestendendo-se ás machinas; limitou os co-nhecimentos geraes, agrupando o que demelhor houvesse nas especialidades.

Abolio, portanto, estas fazendo doofficial de marinha um technico eclectico.

“O almirante Fitz Gerald é ainda maisexplicito.

‘É certo que modificação radical deveser feita na formação dos marinheiros ecreio que esta modificação deva ser indus-trial e mecanica para substituir o estudodos mastros e das velas que se tornouinutil’.”

Este trecho refere-se simplesmente amarinheiros; é discutivel, mas por não terparidade com o assumpto que analysamos– entre officiaes – perde sua applicação aocaso vertente.

“O Engineer de 12 de dezembro de1902 diz igualmente: ‘Na occasião do com-bate é preciso que cada official sobreviven-

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te possa tirar do seu navio o rendimentomaximo, o que não poderia ter logar sinãoquando os machinistas saibam commandarno passadiço e o official de marinha movi-mentar a machina’.”

O Engineer de 12 de dezembro de 1902estabelece uma these, emite apenas uma opi-nião toda sua, que é justamente a que eu con-testo e que meu contendor dá como provada.

É isso justamente que estamos discu-tindo. A these sei qualé – faltam os argumen-tos que a sustentem.

“Muitas e muitasoutras opiniões quenos parecem estar coma imposição do pro-gresso que ninguemparalysará no mesmocaminho pelo qual vemchegando.

Finalmente:O illustre almiran-

te Lord Beresford,que foi encarregadopelo governo inglez deestudar as reformasamericanas, que ante-cederam as da marinhabritannica assim seexprime:

‘Os officiaes de marinha devem conhe-cer todos os deveres inherentes aocommando dos navios ou das esquadras.Além da sciencia de administrar os homens,elles possuem já as da artilharia, dos tor-pedos e da navegação, mas não é muitoacrescentar ainda, a de reparar e fazer an-dar uma machina.’ E tres annos antes:

‘Os chefes das modernas esquadras nãodevem ser simplesmente conductores de

homens: elles devem ainda possuir os co-nhecimentos scientificos que se tornaramnecessarios com a invenção da machina avapor.

Os officiaes de marinha devem ajuntaraos conhecimentos proprios os dosmachinistas; e o estado actual destesultimos não pode durar mais tempo, feliz-mente para elles e para o serviço publico’.”

Sinto-me acanhado por divergir da opi-nião de lord CharlesBeresford. Mas devodizer ao meu illustrecollega que essa opiniãotambem ahi se vê emthese; não dá as razõesdo seu modo de ver.

E, para mim, são asrazões que valem; nãoas opiniões soltas aovento.

“É, pois, possivel anossa sem razão; en-tretanto, temos ajustifical-a as opiniõesindicadas. Guardamosainda boa reserva demuitas outras.

E, prezado comman-dante, por que motivosfomos nós levados, ha

talvez tres annos, a reorganisar a composi-ção das nossas companhias de marinheiros-foguistas, incorporadas a um mesmo corpode marinheiros especialistas?

Já vê: Temos marinheiros que sãofoguistas; não parece demasiado que tenha-mos officiaes de marinha que sejammachinistas; embora o foguista não venhaa ser mestre, e o machinista, ao que julga-mos, deva poder commandar.”

Desejoso de que estaDesejoso de que estaDesejoso de que estaDesejoso de que estaDesejoso de que estacontroversia chegue ao termocontroversia chegue ao termocontroversia chegue ao termocontroversia chegue ao termocontroversia chegue ao termo

collimado – o de saber-secollimado – o de saber-secollimado – o de saber-secollimado – o de saber-secollimado – o de saber-sequal a mais vantajosa dasqual a mais vantajosa dasqual a mais vantajosa dasqual a mais vantajosa dasqual a mais vantajosa dasduas medidas a adoptar –duas medidas a adoptar –duas medidas a adoptar –duas medidas a adoptar –duas medidas a adoptar –fusãofusãofusãofusãofusão ou ou ou ou ou não fusãonão fusãonão fusãonão fusãonão fusão – me é – me é – me é – me é – me é

grato aqui lembrar agrato aqui lembrar agrato aqui lembrar agrato aqui lembrar agrato aqui lembrar asatisfação de que me possuosatisfação de que me possuosatisfação de que me possuosatisfação de que me possuosatisfação de que me possuo

em travar polemica comem travar polemica comem travar polemica comem travar polemica comem travar polemica comcavalheiro que sabe trazercavalheiro que sabe trazercavalheiro que sabe trazercavalheiro que sabe trazercavalheiro que sabe trazer

sempre o assumpto dentro desempre o assumpto dentro desempre o assumpto dentro desempre o assumpto dentro desempre o assumpto dentro desuas linhas restrictas e dassuas linhas restrictas e dassuas linhas restrictas e dassuas linhas restrictas e dassuas linhas restrictas e das

do fino trato que odo fino trato que odo fino trato que odo fino trato que odo fino trato que ocaracterisacaracterisacaracterisacaracterisacaracterisa

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Os marinheiros-foguistas são apenasfoguistas do corpo de marinheiros.

E por ter-se distrahido nessa concepção,foi que paradoxalmente o meu illustre camara-da terminou as referencias a esta divergencia.

Como o foguista não vem a ser mestre,assim a um machinista nunca caberá bemum commando.

Desejoso de que esta controversia che-gue ao termo collimado – o de saber-se quala mais vantajosa das duas medidas aadoptar – fusão ou não fusão – me é gratoaqui lembrar a satisfação de que me possuoem travar polemica com cavalheiro que sabetrazer sempre o assumpto dentro de suaslinhas restrictas e das do fino trato que ocaracterisa.

NOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMO

JULHO – 1911

MARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONAL

ESCOLA DE PIRAPORA – A Escolade Aprendizes Marinheiros construida emPirapora, á margem do rio São Francisco,Estado de Minas Geraes, foi inauguradano dia 13 de junho, fazendo-se represen-tar o sr. ministro da Marinha a essasolemnidade, pelo seu ajudante de ordens1o tenente Eugenio de Castro.

De uma completa noticia publicada no Paizde 19 de junho sobre essa escola extrahimos asseguintes notas que nos parecem de algum in-teresse para os nossos leitores:

(N.R.: Segue descrição das instalaçõesda escola e dos feitos militares associadosaos nomes das edificações.)

AGOSTO – 1911

MARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONAL

MEDIDA NECESSARIA – O sr. mi-nistro da marinha submetteu á assignaturado sr. presidente da Republica o seguintedecreto abolindo o castigo corporal na Ar-

mada, permittido pela lettra c do art. 8o doRegulamento da Companhia Correccional:

“Considerando ser de todo ponto incon-veniente a bordo dos navios e estabeleci-mentos de Marinha a presença de praçassujeitas ao regimen correccional a que serefere a 13ª observação do art. 5º do CodigoDisciplinar da Armada;

considerando que o afastamento dessaspraças se impõe não só em beneficio da dis-ciplina, como dos proprios correccionais;

considerando que em diversas epocas esempre que as circumstancias o teem exigi-do, presos militares teem sido recebidos emestabelecimentos civis;

considerando que as circumstancias pre-sentes mais uma vez indicam aconveniencia dessa medida:

Decreta como medida de caracterprovisorio:

Art. 1o – As praças dos corpos de Mari-nha que tiverem de cumprir a penacorreccional definida na 13a observação doart. 5o do Codigo Disciplinar da Armada,serão enviadas para a Colonia Correccionalde Dois Rios.

Art. 2o – As praças ahi depositadas se-rão mantidas a expensas do Ministerio da

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Marinha, mas sujeitas ao regimen commumdo estabelecimento, continuando suspensa,até ulterior deliberação do Congresso Na-cional, a pena estipulada no art. 8o lettra c,das instrucções que baixaram com o decre-to no 328 de 12 de abril de 1890.

Art. 3o – Revogam-se as disposições emcontrario.”

MARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRAS

ALLEMANHA

DIRIGIVEIS EAEROPLANO – ARevista Maritimaallemã, orgão doministerio da marinha,publicou um artigocondensando a opiniãodos mais abalisados en-genheiros e officiaessobre os dirigiveis eaeroplanos e seu papelem um combate naval.Desse artigo transcre-vemos os seguintes tre-chos que nos parecemmerecer a attenção dos nossos leitores:

“Um dirigivel difficilmente destruiráum couraçado, porque os poderosos canhõesdos dreadnoughts modernos impedirão asua approximação. Em relação aos subma-rinos, porém, os seus effeitos podem serformidaveis, utilisando projectis especiaes.

O submarino não dispõe de meio algumde ataque contra uma aeronave.

Contra as minas submarinas ainda maisimproficuo se torna o emprego dosdirigiveis.

O seu principal papel será vigiar as costas.

Ligados pela telegraphia sem fio aos gran-des portos, poderão reconhecer a posição doinimigo, passando incolume sobre a linha doscruzadores, e communicar depois com segu-rança a situação do grosso das forças doadversario e qual ponto que de preferenciadeve ser atacado. Poderão igualmente – e istointeressa mais particularmente á marinhaallemã – no caso de bloqueio das embocadu-ras dos rios, informar exactamente a uma es-quadra que precise sahir para operar, sobre aimportancia das unidades que a enfrentarão.Pode-se também admittir que essas machinas

aereas auxiliem, de cer-to modo, uma acçãooffensiva, lançando an-tes de qualquer mano-bra a confusão nos por-tos inimigos, destruin-do as docas, os arsenaes,etc.

Os aeroplanos po-dem ser transportadosa bordo dos couraça-dos, aos quaes presta-rão serviços importan-tes de reconhecimen-to e exploração.

E, aliás, é o que esperam conseguir osfrancezes dentro de pouco tempo, diz oautor do artigo, e foi precisamente com esteobjectivo que transformaram o Foudre emnavio estação de aeroplanos.”

“O aeroplano, diz ainda o articulista,eleva-se mais alto e voa mais rápido e umdia será, provavelmente, para o dirigivel oque o navio a vapor é para o de vela.

Nessa occasião o dirigivel deixará deser uma machina de guerra.

Presentemente, entretanto, devemosnos abster de proferir um julgamento.”

“O aeroplano, diz ainda o“O aeroplano, diz ainda o“O aeroplano, diz ainda o“O aeroplano, diz ainda o“O aeroplano, diz ainda oarticulista, eleva-se maisarticulista, eleva-se maisarticulista, eleva-se maisarticulista, eleva-se maisarticulista, eleva-se mais

alto e voa mais rápido e umalto e voa mais rápido e umalto e voa mais rápido e umalto e voa mais rápido e umalto e voa mais rápido e umdia será, provavelmente, paradia será, provavelmente, paradia será, provavelmente, paradia será, provavelmente, paradia será, provavelmente, para

o dirigivel o que o navio ao dirigivel o que o navio ao dirigivel o que o navio ao dirigivel o que o navio ao dirigivel o que o navio avapor é para o de vela.vapor é para o de vela.vapor é para o de vela.vapor é para o de vela.vapor é para o de vela.

Nessa occasião o dirigivelNessa occasião o dirigivelNessa occasião o dirigivelNessa occasião o dirigivelNessa occasião o dirigiveldeixará de ser uma machinadeixará de ser uma machinadeixará de ser uma machinadeixará de ser uma machinadeixará de ser uma machina

de guerrade guerrade guerrade guerrade guerra

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Não deixa de ser interessante esta opi-nião manifestada por um official allemão,escrevendo para uma revista official.

ESTADOS UNIDOS

ESCOLA DE AVIAÇÃO – Vai serestabelecida, annexa á escola naval deAnnapolis, uma escola de aviação.

SETEMBRO – 1911

MARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONAL

PORTO MILITAR – O sr. vice-almiranteministro da Marinha,vivamente empenhadoem dar uma solução aeste importante proble-ma, ao qual intimamen-te se prende a reor-ganisação da nossa que-rida esquadra e o agru-pamento de elementosindispensaveis á defesanacional, em succintaexposição de motivos aoexmo. Sr. Presidente daRepublica salientou anecessidade inadiavel de encarar a magna ques-tão resolutamente, procurando-se uma solu-ção definitiva de accordo com a posiçãogeographica que o Brazil occupa nesta parteda America.

O sr. presidente da Republica, per-feitamente esclarecido sobre o assumpto,não se deteve em exames e investigaçõesprotelatorias e patrioticamente dirigioao Congresso Nacional uma mensagempedindo autorisação para que o Governopossa iniciar os trabalhos preliminares

para a construcção do nosso primeiro por-to militar.

Eis a exposição feita pelo sr. almiranteMarques de Leão:

“Sr. Presidente da República – Naintroducção do relatorio que tive a honrade apresentar-vos, disse que, em caso deguerra, os navios adquiridos á custa de tantosacrificio não terão onde fazer o minimoconcerto, uma base onde se refugiarem, umponto de apoio siquer ao longo de costa tãovasta, e essa triste realidade perdura.

Não limitei-me, porém, a assignalar esseprecario estado; argumentei sobre os inconve-nientes da escolha da bahia do Rio de Janeiro

para o nosso primeiroporto militar e propuzas bases para o contratode um arsenal e portomilitar, dizendo ser deabsoluta necessidadeque o Poder Legislativoautorise o Governo aconstruir um arsenal eporto militar onde forconveniente, a alienar osproprios nacionaes quejulgar desnecessarios e anegociar com os

cessionarios das obras contratadas quaesqueracordos que se tornarem precisos.

Affirmei que, sem retirar do Thesouroquantia igual á que a Republica Argentinadestina só á ampliação de seu porto mili-tar, poderiamos ter o nosso, e autorisadoque fosse pelo Congresso a fechar negocia-ções, muito mais poder-se-á fazer, deaccordo com as bases a que já alludi.

Volto agora a tratar de novo desta ques-tão, pedindo que vos digneis de para ellapedir a attenção do Congresso Nacional,

No dia 29 de agosto o sr.No dia 29 de agosto o sr.No dia 29 de agosto o sr.No dia 29 de agosto o sr.No dia 29 de agosto o sr.almirante ministro daalmirante ministro daalmirante ministro daalmirante ministro daalmirante ministro da

Marinha partio, a bordo doMarinha partio, a bordo doMarinha partio, a bordo doMarinha partio, a bordo doMarinha partio, a bordo docruzador cruzador cruzador cruzador cruzador BarrosoBarrosoBarrosoBarrosoBarroso, com, com, com, com, comdestino á bahia de ilhadestino á bahia de ilhadestino á bahia de ilhadestino á bahia de ilhadestino á bahia de ilha

Grande, onde provavelmenteGrande, onde provavelmenteGrande, onde provavelmenteGrande, onde provavelmenteGrande, onde provavelmenteserá escolhido o local para serserá escolhido o local para serserá escolhido o local para serserá escolhido o local para serserá escolhido o local para ser

estabelecido o porto militarestabelecido o porto militarestabelecido o porto militarestabelecido o porto militarestabelecido o porto militar

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

renovando o pedido já uma vez feito emmeu relatorio.

Occupando-me de novo do assumpto,sinto-me feliz em consignar que a propostaassignalada em meu relatorio, apesar demuito mais vantajosa para o Estado que adelineada tambem em relatorio por um demeus illustres antecessores, chamou aattenção de firmas e sociedades estrangei-ras, que se dizem dispostas a executar oque planejei de accordo com as condiçõespublicadas e sendo, talvez, mesmo possivelobter ainda algumas vantagens.

Permitti-me, sr. Presidente, que maisuma vez insista em affirmar que a ‘necessi-dade de resolver-se a questão do porto mi-litar é imperiosa, pois que a grande maio-ria de medidas urgentes que dizem respei-to ao material prende-se á fixação do pon-to e á construcção daquelle porto’.

E para resolver esta questão faz-se misterque o Poder Executivo fique autorisado á:

1o Contratar a construcção de um grandeporto militar e respectivo arsenal, usinas paraconstrucção de armamento e munições, etc.,onde julgar conveniente e de accordo com aslinhas geraes estabelecidas nas bases apre-sentadas no relatorio do ministro da Mari-nha no corrente anno, bases que somente po-derão ser alteradas para a obtenção de maio-res vantagens para o Estado.

2o Desapropriar por utilidade publica, naforma da lei, por si ou pelos concessionarios,os terrenos, edificios, quedas d’agua, e o maisque for necessario para a realisação das obrase efficiencia da defesa do porto.

3o Alienar os proprios nacionaesdesnecessarios, ou que se tornemdesnecessarios ao Ministerio da Marinha,applicando as quantias disso provenientesna amortisação das obras de defesa, na

installação de outras officinas no arsenal,ou na compra de material fluctuante.

4o Realisar as operações de credito queforem necessarias.

5o Negociar com os constructores das obrasem execução na ilha das Cobras quaesqueraccordos que julgue convenientes.

Gabinete do ministro da Marinha, 28de agosto de 1911.”

No dia 29 de agosto o sr. almirante mi-nistro da Marinha partio, a bordo do cruza-dor Barroso, com destino á bahia de ilhaGrande, onde provavelmente será escolhidoo local para ser estabelecido o porto militar.

MARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRAS

ESTADOS UNIDOS

EFFICACIA DOS SUBMARINOS –A imprensa americana referio-se comenthusiasmo ás experiencias ultimamenterealisadas por uma flotilha de submarinosem um ataque simulado á esquadra doAtlantico norte, composta de dez couraça-dos, sob o commando do almirante HugoOsterhaus.

Os submarinos conseguiram approximar-se sem ser percebidos a uma distancia de457 metros, mais ou menos, de forma que amaioria dos couraçados poderiam ter sidofacilmente attingidos pelos torpedos, inclu-sive o navio chefe, couraçado Connecticut.

Os submarinos que tomaram parte nestesexercicios são todos do typo Holland e foramconstruidos pela “Eletric Boat Company”.

A New York Daily Tribune em brilhan-te artigo aconselha o governo a pedir aoCongresso os recursos necessarios para oaugmento da flotilha de submarinos “por-que a serie de brilhantes resultados obti-

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

dos nas ultimas manobras impõe-nos o de-ver inadiavel de augmentar consideravel-mente o numero dos submarinos. Em tem-po de guerra uma esquadra inimiga não

ousará jamais fundear á vista das costas,em cujas enseadas e portos num raio de 25milhas possam estar installadas estaçõesde submarinos”.

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REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dosleitores matérias que tratam de assuntos de interesse maríti-mo, contidas em publicações recebidas pela Revista MarítimaBrasileira e pela Biblioteca da Marinha.

As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadasao acervo da Biblioteca, situada na Rua Mayrink Veiga, 28 –Centro – RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

APOIOCONSTRUÇÃO NAVAL

Corte no programa de submarinos (257)

ARTES MILITARESESTRATÉGIA

Qual o problema com Mahan? (257)

CIÊNCIA E TECNOLOGIAPESQUISA

Revista Veja Rio destaca pesquisas realizadas pelas Forças Armadas (259)SENSOR

O renascimento do sonar ativo (263)

FORÇAS ARMADASNAVIO-AERÓDROMO

O desenvolvimento do navio-aeródromo com convés em ângulo (263)PODER NAVAL

Marinhas do mundo em revista (267)

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SUBMARINO NUCLEARDissuasão a partir das profundezas no século XXI (268)

GUERRASGUERRA DE MINAS

Contramedidas de minagem – O que há de novo (269)Minas navais e conceitos de minagem (270)

PODER MARÍTIMOPIRATARIA

Somália: há um caminho? (271)

RELAÇÕES INTERNACIONAISDIPLOMACIA

Reconhecimento da soberania argentina nas Malvinas (272)

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Segundo nota publicada na RevistaGeneral de Marina, como era previsível, orecente ajuste fiscal que afetou o progra-ma de aquisição de aeronaves para a ForçaAérea Brasileira e a compra de navios-pa-trulha oceânicos agora afeta significativa-mente o programa de construção de sub-marinos, Prosub, que prevê a construçãode seis da classe Scorpène/Merlim e o de-senvolvimento de uma unidade nuclear.

CORTE NO PROGRAMA DE SUBMARINOS(Revista General de Marina, Espanha, junho 2010, p. 908)

Dessa forma, segue a nota, o finan-ciamento para o corrente ano designa-do para os estaleiros da DCNS e paraa Odebrecht, firma responsável pelaconstrução do estaleiro de Itaguaí, seráreduzido em 15%. Não obstante, a en-trega do novo estaleiro e da nova basenaval de Itaguaí, ao sul do Rio deJaneiro, continua prevista para 2015 e2016, respectivamente.

“Nunca a estrela de Alfred Thayer Mahanbrilhou tão fraca quanto hoje. Isso é verdadeaté mesmo na Escola de Guerra Naval (NavalWar College – NWC) dos Estados Unidos daAmérica (EUA), instituição que ele presidiu eexpoente do pensamento estratégico maríti-mo norte-americano.”

Essa assertiva inicia este artigo, no qualo autor busca identificar as razões que le-varam ao ocaso da filosofia de Mahan eindicar que a Marinha dos EUA precisaráredescobrir seus fundamentos mais dura-douros para moldar a Marinha do futuro.

Holmes verifica que o pensamento dasMarinhas de hoje é tático e centrado emplataformas. Para ele, “à medida que os ho-mens do mar sobem na escala hierárquica,eles devem elevar sua visão acima das ativi-dades do dia a dia como táticas, manobras emáquinas, apesar de elas serem essenciaispara a prontidão para o combate. É precisa-mente então que grandes trabalhos comoos de Mahan podem fazer a diferença. Dei-

QUAL O PROBLEMA COM MAHAN?James R. Holmes*

(Proceedings, EUA, maio/2011, p. 34-39)

* Professor de Estratégia no Naval War College (NWC) dos EUA. Coautor de Estrela Vermelha sobre oPacífico, melhor livro de 2010 segundo a revista Atlantic Monthly. Colaborador frequente da revistaProceedings.

xar de ser fiel aos preceitos mahanianos foiruim. Caminhar em direção ao extremo opos-to é ainda pior”, garante o autor.

Em sua análise, centrada na observação dealunos do NWC, Holmes identifica algumasrazões para o abandono daqueles preceitos.Destaca, inicialmente, que uma delas é de ori-gem prática: o estilo por demais intrincado eprolixo (admitido, no seu tempo, pelo próprioMahan, que temia não se fazer entender) tor-na a leitura difícil de ser penetrada.

A seguir, indica que outra razão seria aredução, frequentemente realizada, de todaa filosofia mahaniana de Poder Naval à pos-se de grandes encouraçados, o que teria“sido reprovado no teste do tempo”. Nova-mente Mahan pode ser culpado, já que de-fendia o “comando do mar” e a “batalhadecisiva” entre navios capitais, e, como nãoexistem mais os grandes navios capitais, osestudantes do NWC “relegaram Mahan àlixeira da história”. Entretanto, para Holmes,Mahan foi muito além da tática. Ele exami-

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nou não somente a condução da guerra nomar, mas também os motivos de as naçõesse fazerem ao mar, estabelecendo filosofiade Poder Naval baseada no comércio, trans-porte e em bases. Ele também examina temasde alto nível e discorre longamente sobreaspectos geopolíticos, comerciais, políticose militares.

Holmes passa então a argumentar con-tra o que identificou como sendo uma “fal-sa escolha entre teó-ricos”, verdadeiracompetição entreMahan (autor de A in-fluência do PoderMarítimo na Histó-ria) e Sir JulianCorbett (autor de Al-guns Princípios daEstratégia Marítima)na cabeça dos alunosdo NWC. Segundo oautor, o currículo doNWC impõe a leituraquase simultânea dasduas obras, e isso fa-vorece a obra deCorbett por ser ela deleitura mais leve e, seinterpretada nos seusaspectos operacio-nais e táticos, por con-ter orientações relevantes para combaten-tes. Holmes resume seu pensamento sobreesse tema afirmando que “um renascimentoda teoria do Poder Marítimo que integras-se o melhor dos teóricos faria um bem enor-me à Marinha, ajudando-a a se manter àaltura de uma conjuntura geopolítica emperpétuo fluxo”.

Como última razão para o descrédito dateoria de Mahan, Holmes identifica a suaaparente irrelevância para as operaçõescontemporâneas. Porém, além de apresen-tar outros argumentos, o articulista ressal-

ta que, por exemplo, o documento estraté-gico norte-americano From the Sea, de 1992,considera tacitamente que já existe o co-mando do mar ao afirmar que a Marinhados EUA deve – e pode – operar nos lito-rais estrangeiros com impunidade.

James Holmes depreende de sua análiseque a Marinha deve buscar a explicação paraa necessidade de se possuir uma esquadrapreponderante e para como ela deve ser uti-

lizada além do “aqui eagora” e das opera-ções correntes. Paraele, os escritos deMahan podem auxiliara visão de longo pra-zo, muito além daspreocupações imedia-tas com hardware equantidade de navios.Para que isso aconte-ça, argumenta que aobra de Mahan deveser redescoberta, exa-minando-se os váriostrabalhos que publi-cou antes e depois deA influência do PoderMarítimo na História.“A bibliografia deMahan consome cer-ca de cem páginas. Li-

vros com temas geopolíticos, como O Pro-blema da Ásia e O Interesse da América noPoder Marítimo, entre outros, são indis-pensáveis para o pleno entendimento dateoria mahaniana”, afirma o autor.

Em conclusão do artigo, Holmes defendeessa redescoberta do pensamento estratégi-co lembrando que “por mais fora de épocaque possa parecer a gramática de Mahan decombate entre dreadnoughts encouraçadosem nossos tempos de magias tecnológicas,sua lógica e filosofia de Poder Marítimo se-guem importantes como sempre”.

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REVISTA VEJA RIO DESTACA PESQUISAS REALIZADASPELAS FORÇAS ARMADAS

(Veja Rio, 13 de julho 2011)

A revista Veja Rio publicou matéria, naedição de 13 de julho último, intitulada“Muito além dos quartéis”, em que descre-ve “um surpreendente conjunto de centrosde pesquisas ligados à Marinha, ao Exérci-to e à Aeronáutica” localizados no Rio deJaneiro. Transcrevemos o texto a seguir.

“A sala gélida mostrada na foto ao lado[foto 1], totalmente revestida de placas deespuma verde, lembra um filme de ficção ci-entífica. Absolutamente silenciosa, tem dis-positivos de alta sensibilidade que identifi-cam o menor sinal defumaça e calor. Uma sim-ples fagulha provoca aliberação de um gásinibidor de chamas idên-tico ao utilizado nosprincipais centros detecnologia do mundo —uma pequena ampola dasubstância, chamadaFM 200, custa 10 mil dó-lares. Para chegar até asala, é preciso atraves-sar um galpão de aces-so restrito, ser identifi-cado por diversascâmeras de vigilância epassar por uma portablindada de aço pelaqual poucas pessoas,quase todas Ph.Ds., têm trânsito livre. Oespaço descrito acima, chamado de câmaraanecoica, fica no Instituto de Pesquisas daMarinha (IPqM), na Ilha do Governador.

Lá são realizados testes de precisão dasantenas receptoras de sinais eletromagné-ticos, usadas nos navios para identificarradares. A instalação é tão avançada que,para fazer uma parecida em sua sede, nos

Estados Unidos, a fabricante de computa-dores Apple gastou 100 milhões de dóla-res. ‘Os principais sistemas de radares denossa frota são regulados aqui nesta sala’,explica o Contra-Almirante MaurilloEuclides Ferreira da Silva, diretor do IPqM.Além de realizarem provas de antenas, os416 cientistas do instituto se dedicam adesenvolver sistemas para controle emonitoração de embarcações, guerra ele-trônica e armamentos.

Centro político do País durante dois sé-culos, período em quefoi capital da colônia,do Império e da Repú-blica, o Rio de Janei-ro tem uma forte tra-dição militar entra-nhada em seu passa-do. Com um efetivoestimado em 330 milhomens e mulheresem todo o país, apro-ximadamente 80 milmembros das ForçasArmadas batem con-tinência aqui. Apenasa Marinha mantémquase 70% de seucontingente em basesfluminenses. Ao ladodos quartéis, a cida-

de concentra importantes polos detecnologia e ensino, como o IPqM, o Insti-tuto de Medicina Aeroespacial (Imae), man-tido pela Aeronáutica, e o Instituto Militarde Engenharia (IME), do Exército. Tal pre-sença evidencia uma vocação rara em com-paração a outras cidades brasileiras, papelque será reforçado a partir do próximo dia16, quando a cidade sediará os Jogos Mun-

Câmara anecoica, no IPqM

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Treinamento no Instituto de Medicina Aeroespacial (Imae)

No IPqM, pesquisadoressão obrigados a assinar um

contrato deconfidencialidade e

trabalham, nas salas maisrestritas, sob a vigilância

de câmeras

diais Militares e receberá 6 mil atletas vin-dos de 112 países. Diz o Almirante de Es-quadra Julio Saboya, secretário do Minis-tério da Defesa: ‘A opção pelo Rio parasediar as competições era óbvia. É um lu-gar estratégico por sempre ter sido um cen-tro de formação de grandes oficiais’.

Esses surpreendentes e pouco conhe-cidos núcleos de alta performance, instala-dos em solo carioca, são tão diversos en-tre si quanto as trêsArmas que os man-têm. O IPqM, para co-meçar, cultiva o sigiloabsoluto em relaçãoaos estudos que con-duz. Os computado-res de seus laborató-rios não estão conec-tados em rede para di-ficultar o vazamentode arquivos. Os pes-quisadores são obri-gados a assinar um contrato de confi-dencialidade e trabalham, nas salas maisrestritas, sob a vigilância de câmeras. Masa forma mais radical de controle das infor-mações se dá da seguinte maneira: nin-guém, nem mesmo o comandante de cadaunidade, tem domínio de todas as etapasdos projetos em andamento. É o que se

chama de conhecimento compartimentado.‘Cada especialista controla uma área, e exis-tem senhas específicas para os diferentestipos de arquivo’, explica o Capitão de Fra-gata Guilherme Sineiro, chefe do setor desistemas digitais. Há um motivo. Atecnologia produzida ali é resultado de al-tos investimentos e tem grande valor es-tratégico. Um caso notório é o Sistema deControle e Monitoração (SCM), já em ope-

ração em navios dafrota de guerra nacio-nal. Trata-se de umaespécie de cérebro dasembarcações, capazde identificar e corrigiras falhas mais imper-ceptíveis. Seu custode desenvolvimentoatingiu a cifra dos 5milhões de reais. Sefosse comprado no ex-terior, um aparelho se-

melhante poderia sair por um valor cincovezes maior.

Extremamente rigorosos na instalaçãoda Marinha, a vigilância e o controle sãoum pouco menos rígidos em centros comoo Instituto de Medicina Aeroespacial(Imae), da Aeronáutica. Isso não significaque o ambiente seja, digamos, descontraí-

do. Na base, localizadano Campo dos Afon-sos, treinam todos ospilotos militares dopaís, incluindo os daMarinha e do Exército.Por ano, são prepara-dos cerca de 1.500 avi-adores, entre eles 150estrangeiros. O Imae éo maior núcleo de es-tudos sobre o impactoque as condições ad-versas do voo têm so-

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Centro de controle de uma corveta daMarinha: criação do IPqM

O Imae é o maior núcleo deestudos sobre o impacto

que as condições adversasdo voo têm sobre a saúde

humana

bre a saúde humana. Em câmaras que si-mulam o ambiente de uma aeronave, cha-madas de hipobáricas, os alunos experimen-tam os efeitos da hipóxia (baixo teor de oxi-gênio). Em meio ao teste, eles devem res-ponder a questionári-os com perguntas ba-nais. Quando alguémnão consegue lembrarmais o nome da própriamãe, por exemplo, éhora de interromper oexercício. ‘Os pilotosprecisam se prepararpara agir rapidamenteem casos assim, poisnesse momento estão prestes a perder aconsciência’, diz o Coronel EduardoCamerini, diretor do Imae. Ali também seinvestigam os acidentes aéreos do país,com base na análise dos corpos das víti-

mas. Na tragédia do voo 447 da Air France,em 2009, o Coronel Camerini foi ao Recifeacompanhar as autópsias dos corpos re-colhidos no Oceano Atlântico. Três anosantes, no choque entre o jato Legacy e oavião da Gol, já havia sido o primeiro aconstatar que o Boeing se desintegrara noar. ‘Percebi isso ao ver que os corpos dospassageiros estavam nus. As roupas sesoltaram durante a queda livre’, afirma.

Não é de hoje que os militares desempe-nham um papel de destaque no avanço ci-entífico. Tecnologias nascidas no sigilo dacaserna beneficiam toda a sociedade. Acomida enlatada e o café solúvel surgiramda necessidade de os soldados se alimen-tarem no front na primeira metade do sécu-lo XX. A propulsão a jato, o uso de rada-res, o domínio da energia nuclear e as pri-meiras gerações de antibióticos e anti-in-flamatórios são consequências diretas daII Guerra Mundial. Com a mesma desen-voltura com que atuam em conflitos, enge-nheiros fardados costumam trabalhar igual-mente em obras civis. É o caso do U.S. ArmyCorps of Engineers, uma das unidades doExército americano. A frenética atividadena ocupação do Iraque nos últimos anosnão impediu que o grupo fosse designado

para obras domésticasde emergência, como areconstrução dos di-ques rompidos pelofuracão Katrina na ci-dade de Nova Orleans,em 2005. Por aqui, se-gue-se a mesma carti-lha, com engenheirosdo Exército dando ex-pediente tanto na mis-

são de paz em meio à devastação do Haitiquanto no projeto de transposição do RioSão Francisco. No caso brasileiro, eles sa-íram do prestigiado Instituto Militar de En-genharia (IME).

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REVISTA DE REVISTAS

Não é de hoje que osmilitares desempenham um

papel de destaque noavanço científico.

Tecnologias nascidas nosigilo da casernabeneficiam toda a

sociedade

Na imensa maioria das universidades bra-sileiras, os alunos frequentam as aulas sem sepreocupar com o comprimento dos cabelos,se usam bermudas ou jeans, tênis ou chinelos— afinal, certa dose de rebeldia, ao menos naaparência, é normal na vida acadêmica. Nasescolas militares, e par-ticularmente no IME, ascoisas não funcionamassim. Sediado em umprédio sisudo na PraiaVermelha, o institutocultiva um regime rigo-roso. Os estudantesenvergam o uniformecompleto da corpora-ção, sempre impecável.Não existem as salasdos centros acadêmicosnem bares barulhentospara a farra do pós-aula.A disciplina é, mais do que conduta,indissociável do ensino. Regularmente, os alu-nos participam de acampamentos militares queduram uma semana e envolvem missões rela-cionadas à especialidade que estudam. O quaseinsignificante índice de evasão — menos de5% — mostra que a linha dura é aceita, atéporque eles não têm alternativa. Mas há com-

pensações no horizonte. ‘Quando saí do IME,pude escolher o emprego que eu queria’, dizLucas Bittencourt, 25 anos, diretor do site decompras coletivas Peixe Urbano.

Herdeiro de uma história que remonta a1792, o IME é descendente direto da Real

Academia de Artilharia,Fortificação e Dese-nho, a primeira escolade engenharia dasAméricas. Após diver-sas mudanças de nomee endereço, assumiu oformato atual em 1959.Com mais de 100 enge-nheiros formados porano, sem contar os 300alunos que cursammestrado e doutorado,o instituto investe fir-me em pesquisa. Nos

últimos dois anos, patenteou treze projetos.Um deles, liderado pelo Tenente-CoronelAlaelson Gomes, é revolucionário: uma for-ma de blindagem, mais leve e barata, que uti-liza blocos convexos de cerâmica e é capazde suportar tiros de munição antiaérea. ‘Aquidentro há uma cultura fortíssima de inova-ção’, orgulha-se ele. Em meio a pequenos blo-

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REVISTA DE REVISTAS

cos do material que criou, Gomes é apenasum exemplo do conhecimento que avançapara além dos muros dos fortes e quartéis.”

De fundo eminentemente técnico, esteartigo busca perscrutar um mundo domi-nado por submarinos diesel-elétricos ope-rando em águas rasas, forma como o autorvê o futuro da guerra antissubmarino (AS).

Friedman realiza detalhada análise daevolução dos submarinos, dos sonarese do armamento desde o fim da Guerra

O RENASCIMENTO DO SONAR ATIVONorman Friedman*

(Naval Forces, no III/2011, Vol. XXXII, p. 22-27)

* Autor do Naval Institute Guide to World Naval Weapons, Fifth Edition (Guia de Sistemas de ArmasNavais do Instituto Naval, 5a Edição), que pode ser consultado para detalhamento de alguns siste-mas. Entre seus outros livros encontram-se The U.S. Maritime Strategy – 1988 (A EstratégiaMarítima dos EUA) e Seapower as Strategy: Navies and National Interests – 2001 (Poder Navalcomo Estratégia: Marinhas e Interesses Nacionais). É colaborador regular da revista Naval Forces.

** Thomas Hone é professor no Center for Naval Warfare Studies no Naval War College dos EstadosUnidos da América (EUA). Norman Friedman lançou nos EUA mais de 35 livros sobre o temasegurança naval e nacional. Mark Mandeles é fundador e presidente do The J. de Bloch Group,companhia de consultoria independente que assessora o Comando Militar dos EUA (U.S. JointForces Command) e outras agências governamentais e é autor de vários livros.

Fria, na busca de identificar o futuro dosonar.

Ele finaliza o artigo apresentando visãofuturista de guerra AS em que poderão serempregados veículos submarinos não tri-pulados (UUV, unmanned underwatervehicle) para detectar e acompanhar sub-marinos e, até mesmo, para atacá-los.

O DESENVOLVIMENTO DO NAVIO-AERÓDROMO COMCONVÉS EM ÂNGULO

Inovação e adaptação(Naval War College Review, EUA, primavera/2011,

volume 64, número 2, p. 63-78)Thomas C. Hone, Norman Friedman e Mark D. Mandeles**

– Por que a Marinha Real britânica (RN)desenvolveu o convés em ângulo, acatapulta a vapor e o aparelho ótico depouso em seus navios-aeródromos (NAe)antes da Marinha dos EUA (USN)?

– Por que a USN não desenvolveu es-sas inovações “que transformaram a arqui-tetura dos NAe e tornaram viável o empre-go de aeronaves de alta performance a re-ação (jato)” em paralelo com a RN?

– Após seu desenvolvimento pela RN,como essas três inovações chegaram à USN?

As respostas a essas questões, formu-ladas pelo Ministério da Defesa dos Esta-dos Unidos da América (EUA), foram sub-metidas pelos autores em estudo detalha-do encaminhado àquele órgão. Neste arti-go, eles buscaram sumarizar a “complexa erelevante história” contida no estudo e de-senvolver algumas inferências sobre ino-vação a partir de suas descobertas.

Assim, os autores buscaram inicialmentedescrever o problema com que a RN se de-frontava no final de 1944 quando um comitê

(Revista Veja Rio, 13/7/2011, por CaioBarreto Briso, em www.mar.mil.br)

Fotos: Fernando Lemos

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sênior de oficiais decidiu que o futuro da avi-ação embarcada seria de jatos e que a arqui-tetura dos NAe deveria ser modificada, adap-tando-se às seguintes características dosprimeiros modelos de aeronaves a reação:

– Os jatos pousavam com velocidadesmaiores do que as aeronaves com motoresa pistão. De fato, para melhor controle, opiloto deveria pousar com a aeronave de-senvolvendo potência em vez de desligaro motor.

– Os jatos aceleravam mais lentamentedo que os aviões com motores a pistão nadecolagem. Eles necessitariam sercatapultados do convés do NAe.

– As primeiras turbinas dos motores ajato consumiam mais combustível do queos motores a explosão, o que significava serimportante descobri-rem-se maneiras demanter as aeronaves areação no ar por maistempo, especialmentese elas fossem usadasem patrulha aérea decombate (PAC).

Para obtenção demétodos detalhados de se desincumbiremdos problemas apresentados pelo comitê,foram designados técnicos da RN do RoyalAircraft Establishment (RAE). Além disso,já havia desde 1938 uma Seção de Catapulta,subdivisão da Main Drawing Office, com-posta por engenheiros com alta qualifica-ção, técnicos e outros especialistas em de-senho e arquitetura de catapultas e de apa-relhos de parada. Essa equipe contava ain-da com a assistência de pilotos de teste ex-perientes. A partir de 1945, a Seção deCatapulta passou a ser denominada Depar-tamento de Aviação Naval e, em junho da-quele ano, apresentou um programa de tra-balho experimental subdividido em váriasetapas abrangendo testes intensivos, con-forme descrito no artigo.

Para que possa ocorrerinovação, deve-se admitir aincerteza e com ela lidar deforma aberta e sistemática

Em conclusão ao programa, estabeleceram-se as seguintes soluções: implantar modifica-ções no convés de voo e criar equipamentospara pouso e decolagem assistidos em todasas condições. Segundo os autores, “essas três

ideias fariam o NAe mo-derno viável”. E elas jáexistiam desde o verãode 1945, mas, conformeverificaram, levar-se-iaainda dez anos para sepassar desse admirávelinsight até a construçãodo primeiro NAe moder-

no, o USS Forrestal.Passaram então os articulistas a inves-

tigar se a USN e seus especialistas vinhamtrilhando o mesmo processo de pensamen-to que a RN. Eles identificaram que o pen-samento que motivou a USN se baseou,entre 1945 e 1946, na busca da capacidadede operar aviação embarcada com possibi-lidade de bombardeio pesado, até mesmonuclear, numa tentativa de se mostrar ca-paz de se igualar à força aérea baseada emterra com atribuição de realizar ataque nu-clear (no que a força aérea americana haviase tornado a partir de 1947).

Isso significava que a Marinha america-na necessitava adaptar seus NAe e avia-ção embarcada a essa nova missão, en-quanto que a RN precisava superar pro-

USS Ticonderoga (CV-14) em 1944

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USS Philippine Sea (CV-47), em 1953

bos de parada poderia acelerar, decolandonovamente para realizar novo circuito depouso e nova tentativa. No lado america-no, o Contra-Almirante Alfred M. Pride,diretor do NATC (Naval Air Test Center),que havia recusado outras ideias britâni-cas, abraçou rapidamente a do convés emângulo (ela já havia sido considerada nadécada de 1930 para a arquitetura de cruza-dores e de pequenos NAe).

USS Midway (CV-41), do original à últimaversão. O navio operou de 1945 a 1992

blemas que praticamente impossibilitavama operação segura de aviões a jato a partirdos NAE existentes. Portanto, os especia-listas da RN percebiam que havia a neces-sidade de inovação, o que era também vá-lido para a USN, mas de forma e nível dife-rentes. À USN cabia também provar que sepodia lançar um bombardeiro pesado, demais de 60 mil libras, a partir de um NAe. Eisso havia se tornado a missão primária dacomunidade de navios-aeródromos da USNapós meados de 1946. Assim, a RN e a USNtrilharam caminhos diferentes na busca desoluções para os respectivos problemastestando diferentes configurações de NAee de aeronaves. Apesar de os avanços ob-tidos pelas Marinhas serem independen-tes, ambas acompanhavam estudos e tes-tes recíprocos.

A solução se aproxima quando é apre-sentada a ideia do convés em ângulo porDennis Cambell, capitão de mar e guerra eaviador naval experiente que servia comorepresentante no Ministério de Logísticainglês. Isso se deu em reunião realizada em7 de agosto de 1951 com a presença deoficiais de Marinha e técnicos experientes.Na sequência dessa reunião, concluiu-sepela construção de convés de tal formaangulado para bombordo que permitisseque qualquer aeronave em manobra de pou-so que não conseguisse enganchar os ca-

Em verdade, a forma como se deu a apro-ximação dos conceitos entre as duas Mari-nhas varia dependendo da fonte consulta-da, afirmam os autores. O fato é que testespreliminares foram realizados, a partir daprimavera de 1952, a bordo do NAeMidway, no qual foi pintado um convés emângulo no seu convés axial. Com o suces-so dessas experiências preliminares, foi ini-ciada a conversão do Antietam no verãodaquele mesmo ano. Os testes no mar rea-lizados em janeiro de 1953 a bordo doAntietam foram também bem-sucedidos epassou-se, então, por mais de dois meses,a aprender como usar a nova configuraçãode convés. Segundo aviadores navais daépoca, “pousar um avião a jato em um con-vés em ângulo é uma verdadeira benção”.

Ressaltam os autores que, em paralelo aodesenvolvimento do convés em ângulo, hou-ve a introdução da catapulta a vapor na USN.

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USS Antietam (CV-36), em 1945

Detalhe do convoo do USS Antietam

Desde a Segunda Guerra Mundial, haviam sidotestados três tipos básicos de catapultas: hi-dráulicas, elétricas e a gás (criada por enge-nheiros alemães durante a guerra). O desen-volvimento de aeronaves cada vez mais pesa-das dificultava os avanços. Os americanos ti-nham conhecimento dos experimentos ingle-ses com o vapor, mas classificavam essa for-ma de catapulta em terceiro plano, atrás desuas duas ideias. Entretanto, a partir de 1951, aRN vinha lançando aviões com sucesso a par-tir de catapulta experimental instalada no con-vés de voo do ex-HMS Perseus e foram reali-zadas demonstrações para autoridades norte-

O próximo passo para a USN, segundo o arti-go, foi instalar as inovações nos NAe existen-tes e naqueles que se encontravam em cons-trução. Enquanto isso, a RN vinha desenvol-vendo um sistema reflexivo de pouso que tor-nasse possível criar um cone ótico de aproxi-mação para pouso em navios-aeródromo.

americanas em janeiro de 1952. A partir daí,diante de evoluções de pressão de vapor eoutros testes realizados, os americanos se con-venceram de que a catapulta a vapor da RNserviria para os navios da USN, acelerandoseus pesados aviões até a velocidade de voo.

USS Forrestal (CV-59) – o primeiro com astrês inovações

Em 1951, o Capitão de Corveta (CC) bri-tânico Hilary “Nick” Goodhart imaginou ummétodo engenhoso de orientação para queaviões a jato adotassem o perfil correto paraaproximação ao convés em ângulo. A ideiaera de se usar uma fonte luminosa na popado NAe que projetasse uma “bola” de luzem um espelho estabilizado posicionadoao lado do convés de pouso. A bola indi-caria ao piloto em aproximação se a postu-ra da aeronave estava correta para descen-der no ângulo adequado para pouso segu-

Recolhimento de FA-18F Super Hornet peloUSS Carl Vinson (CVN-70)

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ro. O primeiro protótipo foi testado em mar-ço de 1952. Em 1953, por meio de uma reco-mendação do CC Donald D. Engen, entãorealizando intercâmbio na RN, a USN reco-nheceu o valor do equipamento e passou aadotá-lo, entrando em operação plena abordo do NAe Bennington em 1955.

A USN, devido a maior disponibilidadede verba, pôde tornar operacionais as trêsinovações – convés em ângulo, catapultaa vapor e auxílio ótico ao pouso – a bordodo seu novo NAe, o USS Forrestal(comissionado em outubro de 1955), antesda RN, no seu Ark Royal.

Sistema ótico de pouso do FS Charles deGaulle, da Marinha da França

USS Enterprise (CVN-65) operando suacatapulta 2

Por meio de abordagem regional, com cadaMarinha analisada em ordem alfabética, EricWertheim apresenta neste artigo um panora-ma das atividades e desenvolvimentos dasprincipais Marinhas do mundo durante 2010.

Em destaque, cita as restrições de orça-mentos das quais são vítimas muitas Mari-nhas, em especial as integrantes da Organi-zação do Tratado do Atlântico Norte (Otan),enquanto que a outras é possível investir,projetar, construir e operar forças modernasde submarinos, de navios de superfície e de

MARINHAS DO MUNDO EM REVISTAEric Wertheim*

(Proceedings, EUA, março/2011, p. 60-72)

* Consultor de Defesa em Washington, D.C. Autor do Guide to Combat Fleets of the World, 15a edição,do Naval Institute.

aeronaves. O artigo está dividido nos se-guintes tópicos: Austrália e Ásia; Europa;Oriente Médio/África; e Américas.

Em relação às Américas, são enfocados:Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colôm-bia, Honduras, México, Panamá, Peru,Trinidad Tobago, Estados Unidos da Amé-rica e Venezuela.

Sobre o Brasil, Wertheim aborda o “am-bicioso plano de renovação e moderniza-ção” no qual estão planejados pelo menoscinco fragatas de 6 mil toneladas e cinco

Em conclusão ao estudo realizado, osautores apresentaram as suas respostas àsquestões formuladas adotando um formatode “lições aprendidas” durante o processode evolução das operações de aeronaves areação a bordo de navios-aeródromos.

Dentre essas lições, em seu artigo, res-saltaram o valor da composição de comitêse da realização de reuniões entre as partesenvolvidas, o que facilita a integração deorganizações e processos. E, principalmen-te, destacaram que “para que possa ocorrerinovação, deve-se admitir a incerteza e comela lidar de forma aberta e sistemática”.

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navios-patrulha offshore a seremconstruídos no País a partir de 2012. Se-gundo ele, também estaria em fase de pro-jeto um grande navio de apoio logístico, epoderão ser adquiridos hovercrafts paraoperar na Amazônia, enquanto seguemsendo incorporados navios-patrulha comoparte do projeto NaPa 500, estando os pró-ximos previstos para entrega em 2012.

No que se refere à aviação naval, o autorcita a aquisição de novos aviões C-295 paratransporte e patrulha marítima, e que foi en-tregue o primeiro helicóptero EC-725, sendoesperadas outras 16 unidades. Afirma, ain-da, que os upgrades no Navio-Aeródromo(NAe) São Paulo estão quase completos.

Afirma também que o primeiro submari-no de ataque com propulsão nuclear estáem desenvolvimento e que estão planeja-das até seis unidades. O submarino serábaseado nos projetos do Scorpène e doBarracuda, franceses de propulsão con-vencional, e a França proverá a constru-ção dos cascos e a tecnologia eletrônicapara o programa de construção. O reatornuclear do submarino, ressalva ele, seráprojetado e construído no Brasil.

Wertheim finaliza suas observações so-bre o Brasil asseverando que quatro ver-sões não nucleares modificadas doScorpène deverão ser prontificadas entre2017 e 2021.

“Os submarinos americanos, há muito,reprimem potenciais agressores. Entretan-to, à medida que a força submarina envelhe-ce, manter nossa dianteira será um desafio”,afirma o Comandante Hay neste artigo, emque busca identificar os rumos adequadospara a força de submarinos de seu país, osEstados Unidos da América (EUA).

Hay inicia sua análise abordando o con-ceito de dissuasão, tido como objetivo primá-rio da política nacional de segurança dos EUA.Na sua opinião, esse conceito é, muitas vezes,exageradamente ampliado ou simplificado. “Averdade sobre a dissuasão é a seguinte: detodas as forças de que uma nação precisa,apenas aquelas capazes de tomar a ação ade-quada na hora adequada são efetivamentedissuasórias. A força de dissuasão é a forçade combate que mantém a paz. Ela é, portanto,uma força crítica”, afirma.

DISSUASÃO A PARTIR DAS PROFUNDEZAS NO SÉCULO XXICapitão de Mar e Guerra (Reserva – EUA) James C. Hay*

(Proceedings, EUA, junho/2011, p. 30-35)

* Oficial submarinista da reserva. Serviu em sete diferentes submarinos, sendo dois balísticos nucleares, ecomandou dois deles. Serviu no Ministério da Defesa, comandou base naval de submarinos, foi chefede estado-maior do Grupo 8 de submarinos no Mediterrâneo e é atualmente editor da revista TheSubmarine Review.

Para ele, o reconhecimento da necessida-de de dissuasão é importante, mas defendeque ela não deve ser tratada em termos subje-tivos, como é feito pela maioria. “Está na horade se reavaliar custos de programas versusnecessidades de nossa sociedade”, declara.Ele advoga que todos os aspectos da estrutu-ra de segurança nacional devem ser examina-dos em detalhe, buscando-se obter pleno en-tendimento da natureza da dissuasão neces-sária e, a partir daí, devem ser estabelecidos osrequisitos em termos políticos e de hardware.

“A natureza da dissuasão é subjetiva.Aqueles que estão sendo dissuadidos de-vem entender que de suas ações resultarãoconsequências sérias e inaceitáveis”, alertao Comandante Hay ao defender que se podeusar a experiência da Guerra Fria como mode-lo, apesar de reconhecer que a situação hojee a esperada no futuro sejam diferentes.

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1 Sigla da Marinha dos EUA na qual o SS significa submersible ship (navio submersível), o B denotaballistic missile (míssil balístico) e o N representa nuclear powered (propulsão nuclear).

* Serviu por 38 anos na Marinha italiana, principalmente nas áreas de aquisição de armamento e decooperação internacional. Atualmente integra o grupo de trabalho europeu para armamento não letal.

Após seu exame de alguns requisitos daGuerra Fria, Hay passa a enfocar a necessida-de de capacidade militar real e objetiva emcontrapartida ao conceito subjetivo dedissuasão, abordando detalhadamente tantoa eficácia quanto a capacidade de sobrevi-vência do pessoal e material militar em termosquantitativos e qualitativos. Dessa análise, res-salta Hay que “a mobilidade dasarmas baseadas em submarinosas torna únicas em eficácia paradissuasão”. Passa então a deta-lhar o emprego do submarino, aevolução de seu papel desde aGuerra Fria, a quantidade exis-tente nos EUA por classe denavio e a capacidade de sobre-vivência dos SSBN1, entre ou-tras informações.

O autor aborda então o ou-tro lado da questão, ou seja, aameaça: “As ameaças comque podemos nos defrontar hoje e no futu-ro próximo não são tão definidas como aque-las da Guerra Fria. Um fator adicional ób-vio é a ameaça difusa não estatal, comoaquela que ocorreu tragicamente no 11 deSetembro. Tais tipos de inimigo e ataquepodem não ser suscetíveis à dissuasão porforças armadas nucleares”. Em seguida,analisa detidamente a ameaça que Rússia eChina podem representar, juntas ou em se-

parado, ressaltando que no caso chinês háum grande fator de desconhecimento a serconsiderado e busca indicar as várias for-mas com que os submarinos podem contri-buir para sua dissuasão.

A seguir, o autor indica sua visão do fu-turo, tanto para o planejamento como para aconstrução dos navios e armas necessários

em 2020 e 2030. Para ele, a ca-pacidade de dissuasão deverápoder “convencer aqueles quedesejarem algum mal aos EUAou a seus aliados que asconsequências de suas açõesserão reais, tempestivas e drás-ticas, tornando-as inaceitáveispara si e seus povos”.

Após ainda fazer recomen-dações em relação a grandesprogramas de construção desubmarinos já em andamento,Hay conclui seu artigo com a

seguinte observação: “Provavelmente a me-lhor dissuasão será obtida pela existência,pré-posicionamento e prontidão para o com-bate da força com maior probabilidade devencer a batalha final – triunfando decisi-vamente – ao primeiro sinal de combate. Oagressor deve ser capaz de ver o resultadofinal antes de iniciar sua ação. Os submari-nos da Marinha dos EUA desempenhampapel primordial nessa dissuasão.”

CONTRAMEDIDAS DE MINAGEM– O QUE HÁ DE NOVO?

Contra-Almirante (Reserva-Itália) Massimo Annati*(Naval Forces, no III/2011, Vol. XXXII, p. 14-21)

A evolução da ameaça de minas e asmodificações nos cenários, nos quais atémesmo atores não estatais utilizam estas

armas letais e baratas, vêm causando umagrande renovação nas linhas dos Veículosde Contramedidas de Minagem (Mine

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Counter Measure Vehicles, MCMV), geran-do um dos segmentos mais ativos do mer-cado de tecnologia naval, conforme des-crito neste artigo.

Nele são abordados upgrades de em-barcações, equipamentos, novas técnicas,incluindo o retorno da varredura de mi-nas, e alguns dos mais importantes pro-gramas nacionais e multinacionais de aqui-sições em andamento, cuja maioria se ba-seia no uso de sistemas não tripulados eem soluções modulares.

MINAS NAVAIS E CONCEITOS DE MINAGEMDr. Milan Vego*

(Naval Forces, no III/2011, Vol. XXXII, p. 8-13)

* Professor de Operações no Naval War College desde 1991. Serviu por 12 anos como oficial da Marinha daex-Iugoslávia e por três anos e meio na Marinha alemã. É Ph.D. em História Moderna pela UniversidadeGeorge Washington. É autor de oito livros e de numerosos artigos para publicações profissionais.

“Como no passado, a guerra de minasserá intensamente usada no mar tanto pelolado poderoso como pelo fraco. Minas são

As minas de hoje

baratas, requerem pouca manutenção. Elaspodem ser produzidas ou adquiridas emgrande quantidade. Mesmo as minas anti-

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gas podem ser muito letais. As novas mi-nas ‘inteligentes’ representam uma amea-ça crescente para a qual não foi encontra-da solução satisfatória. As minas represen-tam, provavelmente, a arma de maior eficá-cia inventada para a guerra naval. Elas po-dem ser usadas ofensivamente como partede esforço para obter controle do ambien-te submarino ou para negá-lo. O lado maisfraco pode usar as minas com efeito de-vastador contra um oponente muito maispoderoso. Apesar de todos os avançostecnológicos para contraposição às minas,elas representam um problema enorme edifícil de resolver, especialmente em teatrorestrito ou semirrestrito. A ameaça de mi-nas às forças navais e ao transporte mer-cante aumentará no futuro previsível.” Es-tas são as conclusões a que chega MilanVego neste artigo bastante completo emque analisa as minas navais e os conceitospara sua utilização.

Segundo Vego, estima-se a existência de250 mil minas de 300 tipos diferentes nosinventários de cerca de 50 países – cerca de30 as produzem e de 20 as exportam.

São números que impressionam e, porisso, o autor dedica uma parte de seu textoà investigação do por que serem as minasnavais tão atrativas para as Marinhas. Exa-mina também as características das minasque as fazem alterar as condições geográ-ficas de um mar ou área oceânica devido àsimples suspeita de sua existência. A se-guir, ele apresenta e analisa as diversas pla-taformas capazes de lançar minas ou deestabelecerem campos minados e os ambi-entes físicos que impactam o uso e a efici-ência dessa arma.

Vego aborda, ainda, os empregos táticoe operativo de minas, que afetam o tamanhoda área a ser minada, e o seu uso tanto ofen-sivo como defensivo além dos diversos for-matos possíveis para campos minados.

“Duas metas mobilizam a política de se-gurança atual dos Estados Unidos da Amé-rica (EUA) e da comunidade internacionalem relação à Somália: eliminar a pirataria noOceano Índico e no Golfo de Áden e inter-romper o crescimento de grupos terroris-tas capazes de conduzir, facilitar ou apoiarataques internacionais. A raiz de ambos osproblemas está na anarquia. A Somália estáhá 20 anos sem governo central, desde aqueda da ditadura de Siad Barre, em 1991”,afirma o autor na introdução deste artigo,

SOMÁLIA: HÁ UM CAMINHO?*Capitão de Corveta (EUA) Mark B. Munson**

(Proceedings, EUA, julho/2011, p. 52-57)

* N.R.: Sobre pirataria é conveniente observar o que está publicado nesta edição, e também nas RMB dos1o trim. 2001, p. 151; 2o trim. 2003, p. 159; 3o trim. 2003, p. 265; 4o trim. 2007, p. 95; 2o trim.2008, p. 276; 4o trim. 2008, p. 159; 1o trim. 2010, p. 47; e 3o trim. 2010, ps. 133 e 141.

** Oficial de inteligência do Naval Special Warfare Group Four. Serviu no USS Essex (LHD-2) e no Officeof Naval Intelligence. Possui mestrado em estudos de segurança de assuntos do Oriente Médio daEscola de Pós-Graduação Naval dos EUA.

em que analisa detalhadamente as amea-ças à segurança naquela região da África.

Munson lista algumas das inúmeras ocor-rências das duas últimas décadas que levaramo país a ser considerado internacionalmentecomo um estado falido. Destacam-se, dentreelas, a intervenção dos EUA sob a égide hu-manitária da Organização das Nações Unidas(ONU), em 1993, e a invasão etíope em 2006.Da revisão que empreendeu desses diversoseventos e da complexidade da situação atualque verificou, o autor concluiu que as iniciati-

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A Somália representa umatripla ameaça no Corno daÁfrica: seus vizinhos Etiópiae Quênia se preocupam com otransbordamento do conflito;seus piratas ameaçam cadavez mais as linhas de trans-porte marítimo; e seu grupoterrorista al-Shabaab está setornando a franchise oficial daal Qaeda na região

vas ora em andamento – repressão à piratariae programas de treinamento – trarão tão so-mente uma esperança de que os sintomas nãose espalhem para outras regiões. Para o articu-lista, o problema maior não será resolvido pormeio de medidas que enfoquem apenas essesaspectos e que alcançarão somente algumaspequenas vitórias táticas.

De acordo com nota publicada na RevistaGeneral de Marina, reunião ocorrida entreos ministros da Defesa da Argentina e doBrasil, Arturo Puricelli e Nelson Jobim, res-pectivamente, resultou em afirmação de Jobimcom respeito à soberania das Ilhas Malvinas.

Segundo a nota, Jobim teria assegu-rado: “Temos uma posição muito clara

RECONHECIMENTO DA SOBERANIA ARGENTINANAS MALVINAS

(Revista General de Marina, Espanha, junho 2010, pág. 908)

sobre a soberania das Malvinas e umcompromisso histórico regional com aArgentina”. Nessa linha, o ministro bra-sileiro teria agregado que seu país nãodaria qualquer apoio a navios da Mari-nha Real britânica que sigam para aque-las ilhas ou que lá tenham realizadoescala.

O artigo do Comandante Munson nãose propõe a sugerir solução à complexaquestão da Somália, mas, ao final de suaelucidativa matéria, ele indica que a verda-deira saída para o combate à pirataria seráencontrada pela própria população do país,sem imposição ocidental e quando tiver osmeios adequados.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos importan-tes da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída aMercante, dar aos leitores informações sobre a atualidade e per-mitir a pesquisadores visualizarem peculiaridades da Marinha.

Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas comfotografias.

SUMÁRIO(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃOATIVAÇÃO

Ativação do 15o Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais no Haiti (276)Ativação do Centro de Guerra Eletrônica da Marinha (276)Ativado o Centro de Produção de Equipagens Operativas (278)

BATISMOPorta-Contêineres Santa Rita é batizado em Sepetiba (278)

COMEMORAÇÃOAniversário de criação do Comando da Marinha (279)Colégio Naval completa 60 anos (280)Comando da Força Aeronaval comemora 50 anos (281)Fragata Independência completa 2.500 dias de mar (282)Presidente Dilma participa da cerimônia de início da construção do

primeiro submarino S-BR (282)SSPM comemora 60 anos (283)

CONTRATOAssinado contrato para construção de avisos hidroceanográficos fluviais (284)Assinado contrato para delineamento da arquitetura do Sistema de

Gerenciamento da Amazônia Azul (285)MP assina contrato para construção de chatas para transporte de óleo combustível (286)

DOCUMENTOA carteira de identidade da MB e o acordo sobre documentos de viagem no Mercosul (286)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

PRÊMIOPrêmios CNTM-2010 (287)Vencedora da Operação Cisne Branco 2010 é premiada na Bahia (288)

UNIFORMECriação do Distintivo de Militar Inativo da MB (289)Criação do Distintivo Operativo para Oficial de Superfície (289)

VISITAÇÃOECM e Museu Naval recebem mais de 10 mil visitantes em quatro dias (290)FTM da Unifil recebe visita de comitiva do Ministério das Relações Exteriores (290)Marinha do Brasil recebe visita do comandante de

Operações Navais da Marinha dos EUA (291)

APOIOMODERNIZAÇÃO

NAsH Soares de Meirelles é adaptado para ajudar ribeirinhos (292)

ATIVIDADES MARINHEIRASARQUEOLOGIA

Marinha acompanha retirada de objetos de naufrágio do século XVI (293)BUSCA E SALVAMENTO

Fragata Bosísio realiza evacuação aeromédica de navio mercante (294)Marinha resgata homem que caiu no Rio Amazonas (295)Navio-Patrulha Parati participa do resgate de náufragos em Macapá (295)NPa Guanabara resgata pescador (296)

SALVAMENTOMulher é resgatada pela Capitania dos Portos do Paraná (296)

CONGRESSOSCONFERÊNCIA

Navalshore 2011 apresenta soluções para a área de corte e soldagem (297)ENCONTRO

IX Encontro de bioincrustação, ecologia bêntica e biocorrosão (298)REUNIÃO

Marinha realiza reunião bilateral de estados-maiores com a Armada do Chile (299)SEMINÁRIO

I Seminário Internacional Livro Branco de Defesa Nacional (300)EGN participa de seminário internacional na Índia (302)

SIMPÓSIOII Simpósio de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha (303)XIV Simpósio de Pesquisa Operacional e Logística da Marinha (303)

FORÇAS ARMADASATIVIDADE SUBSIDIÁRIA

Marinha e PF realizam grande apreensão de cocaína no Amazonas (304)OPERAÇÃO

Amazônia – A Marinha do Brasil na Operação Ágata I (305)Força-Tarefa Marítima da Unifil realiza a maior operação conjunta com a

Marinha libanesa (310)Marinha apoia Governo do Estado do Rio de Janeiro em nova operação na Zona Norte (310)Marinha realiza a Comissão Negro I/2011 (311)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

MB na Operação de Ajuda Umanitária Continuing Promise 2011 (311)Submarino Timbira atravessa Canal do Panamá (312)

PODER MARÍTIMOPLATAFORMA CONTINENTAL

Femar apoia projeto de pesquisa sobre a potencialidade de recursos minerais no mar (313)PORTO

Paranaguá começa a receber navios de mais de 7.400 TEUs (314)SISTEMA PORTUÁRIO

Unisys é selecionada para auxiliar a reduzir o tempo de espera nos portos nacionais (314)

PSICOSSOCIALAJUDA HUMANITÁRIA

Marinha auxilia vítimas de enchente em Roraima (315)ASSISTÊNCIA SOCIAL

DPHDM apoia o projeto “Construindo a Cidadania nas Escolas” (316)LANÇAMENTO DE LIVRO

Lançamento do livro A Marinha Imperial na Guerra do Paraguai não foi só Riachuelo (317)MB e Academia Brasileira de Belas Artes lançam A Arte de Sansão C. Pereira (318)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi realizada na manhã do dia 11 de ju-lho último, no Comando da Divisão Anfí-bia, no Rio de Janeiro, a Cerimônia de Ati-vação do 15o Grupamento Operativo deFuzileiros Navais no Haiti. Cerca de 300militares foram efetivados para atuar naMissão das Nações Unidas para a Estabili-zação de Paz no Haiti (Minustah) a partirdo dia 2 de agosto deste ano, data marcadapara o início do revezamento de tropas defuzileiros navais naquele país.

Durante seis meses, os militares passa-ram por uma preparação que envolveu trei-namento em primeiros socorros, controle dedistúrbios, patrulhas mecanizadas e a pé,controle de comboio, segurança de autori-dade, realização de ações cívico-sociais eem ocupação e operação de Ponto Forte.

ATIVAÇÃO DO 15o GRUPAMENTO OPERATIVO DEFUZILEIROS NAVAIS NO HAITI

A Marinha do Brasil participa daMinustah desde o seu início, há sete anos.Desde então, 4 mil militares da Força inte-graram a Missão de Paz.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Fuzileiros navais durante a cerimônia

Presidida pelo comandante de Opera-ções Navais e diretor-geral de Navegação,Almirante de Esquadra João Afonso PradoMaia de Faria, foi realizada, em 28 de julhoúltimo, a cerimônia de ativação do Centrode Guerra Eletrônica da Marinha (CGEM).A solenidade aconteceu no Pátio do CGEM,na Base Naval do Rio de Janeiro. Assumiuo cargo de diretor o Capitão de Mar e Guer-ra Wagner Antonio de Lima Gonçalves.

Transcrevemos abaixo a Ordem do Diarelativa ao evento, assinada pelo Almiran-te Prado Maia:

“Em cumprimento à Portaria no 372/MB,de 23 de outubro de 2009, do comandanteda Marinha, realiza-se, na presente data, acerimônia de Mostra de Ativação do Cen-tro de Guerra Eletrônica da Marinha.

ATIVAÇÃO DO CENTRO DE GUERRAELETRÔNICA DA MARINHA

Consolida-se hoje mais uma etapa na bus-ca pelo controle do espectro eletromagnéti-co na Marinha do Brasil. Esse processo foiiniciado há mais de 104 anos com a criaçãodo Serviço Radiotelegráfico da Marinha, pas-sando pelo recebimento dos primeiros rada-res em plena Segunda Guerra Mundial, com achegada dos bravos “caça-ferro” e, posteri-ormente, dos primeiros Mage. Nessa cami-nhada, a Marinha foi a pioneira no Brasil nodesenvolvimento de equipamentos nacionaisde guerra eletrônica e de muitos conceitoshoje já incorporados às outras Forças, taiscomo o uso de bibliotecas de missão eletrô-nica e a edição de um manual específico dedi-cado à guerra eletrônica.

Em face da estruturação da sociedadedo conhecimento na qual vivemos e da de-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Descerramento de placas na ativação do CGEM

pendência cada vez maior do uso das emis-sões eletromagnéticas, que atingiu inclusi-ve o nosso cotidiano com os celulares eredes sem fio, fazia-se mister dar esse novosalto. Sem a supremacia no espectro é im-possível seu controle, comprometendo asegurança das comunicações necessáriaspara o emprego eficiente do Poder Naval,com suas preponderantes características demobilidade e de permanência, vitais para aproteção do tesouro brasileiro no mar, co-nhecido como Amazônia Azul, centro de gra-vidade da estratégia brasileira no mar.

Este Centro terá a importante responsa-bilidade de gerenciar o conhecimento daMarinha na área de guerra eletrônica. Acapacitação técnica da sua tripulação per-mitirá ampliar a sinergia entre o SetorOperativo e os diversos órgãos técnicos.Esse conhecimento será aplicado, ainda, emapoio às operações e à inteligênciaoperacional, bem como em áreas de ciência,tecnologia e inovação ainda não exploradaspor outros órgãos. Além disso, será possí-vel otimizar o emprego dos complexos siste-mas previstos no Plano de Articulação e deEquipamento da Marinha do Brasil, dos no-vos investimentos em andamento, como a

aquisição de navios, aeronaves e submari-nos, incluindo os de propulsão nuclear, alémdo Sistema de Gerenciamento da AmazôniaAzul (SisGAAz). A subordinação deste Cen-tro ao Comando de Operações Navais bemreflete essa importância de integrar e apoiar,indistintamente, os meios navais, aeronavaise de fuzileiros navais existentes ou que ve-nham a ser adquiridos pela Marinha.

Ao ativar o CGEM, desejo ao seu dire-tor e à sua tripulação votos de sucessonessa nova fase da jornada da Guerra Ele-trônica na Marinha. Que a águia de Júpiter,reproduzida no brasão dessa nova OM,que já representou o poder das legiões ro-manas, possa ser um norte para os guerrei-ros eletrônicos do presente e do futuro.Que ela sempre os lembre de se manterematentos ao que se propaga no éter. Acimade tudo, que esse poder, conquistado compioneirismo e profissionalismo, contribuapara assegurar a continuidade da paz queo nosso país tem experimentado há tantosanos, e da qual tanto precisamos para aconstrução de uma nação cada vez maispróspera e justa para o povo brasileiro.”

(Fontes: Bono no 518, de 21/7/2011 eBono Especial no 534, de 28/7/2011)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi ativado recentemente o Centro de Pro-dução de Equipagens Operativas (CPEO), doCentro de Reparos e Suprimentos Especiaisdo Corpo de Fuzileiros Navais (Cresumar),no Rio de Janeiro (RJ). O CPEO tem capacida-de de produção de diversos itens deequipagens individuais, como cinto simples,mochila, edredom, suspensório, porta carre-gador, coldre e saco de dormir, entre outros.

Com moderna instalação, equipamentostêxteis de última geração e pessoal qualifica-do pelo Serviço Nacional de AprendizagemIndustrial/Centro de Tecnologia da IndústriaQuímica e Têxtil (Senai-Cetiqt), o Cresumarestá capacitado a inovar e desenvolver mate-riais de qualidade, contribuindo para

ATIVADO O CENTRO DE PRODUÇÃO DEEQUIPAGENS OPERATIVAS

prontificação dos Grupamentos Operativosde Fuzileiros Navais e apoio na demanda deoutros setores da Marinha do Brasil.

(Fonte: Bono no 524, de 25/7/2011)

O Porta-Contêineres Santa Rita foi ba-tizado, em 7 de julho último, em Sepetiba,Rio de Janeiro (RJ). O navio de 7,1 mil TEUs,da Hamburg Süd, será empregado no ser-viço entre Ásia e África do Sul/Costa Les-te da América do Sul.

O Santa Rita é o terceiro de uma série dedez navios idênticos com capacidade para 7,1mil TEUs e equipado com 1,6 mil tomadasreefer. Isso os coloca entre os maiores naviosjá construídos para a Hamburg Süd. O SantaRita é o segundo navio da empresa utilizadopara treinamento, ao lado do Monte Tamaro.A bordo dessas embarcações, são treinadasas futuras gerações de oficiais, engenheiros emarinheiros para a frota que está em constan-te crescimento. A implantação de dois naviosde treinamento representa um marco nos 140anos de história da Hamburg Süd.

São as seguintes as características doSanta Rita:

– Capacidade: 93.430 tdw;

PORTA-CONTÊINERES SANTA RITA ÉBATIZADO EM SEPETIBA

– Capacidade de contêineres: 7.100TEUs;

– Plugs para contêineres refrigerados:1.600;

– Comprimento total: 299.9 m;– Comprimento entre perpendiculares:

286,8 m;– Largura: 42,8 m;– Calado máximo: 13,5 m;– Velocidade: 22,2 nós;– Potência do motor principal: 41.180 kW.A Hamburg Süd é especializada no

transporte de cargas congeladas e refrige-radas com tecnologias inovadoras. O mai-or fluxo de mercadorias da empresa con-centra-se nos trechos Brasil e Argentinapara a Europa. Nessa rota, os produtos maistransportados são: café, tabaco, autopeças,carne, frango e frutas. Na rota inversa apa-recem os produtos químicos e autopeças.

(Fonte: Press release da DFreire Comu-nicação e Negócios)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Comemoraram-se, em 28 de julho últi-mo, os 275 anos de criação do Comando daMarinha. Na ocasião, o comandante daMarinha, Almirante de Esquadra Julio Soa-res de Moura Neto, expediu a seguinte Or-dem do Dia:

“A gênese da Marinha remonta a 28 dejulho de 1736, quando, por alvará de D. João V,rei de Portugal, foi criada a Secretaria de Esta-do dos Negócios da Marinha e Domínios Ul-tramarinos, a ele diretamente subordinada.

Mais tarde, em 1808, como consequênciadas invasões napoleônicas, a Corte Real lu-sitana deslocou-se para o Rio de Janeiro e oPríncipe Regente, D. João VI, nomeou D.João Rodrigues de Sá e Menezes, Conde deAnadia, como titular daquela Secretaria, for-malizando a sua transferência para o Brasil.

Já em 1821, antes de seu retorno a Por-tugal, D. João VI indicou o Chefe de Es-quadra Manoel Antônio Farinha como se-cretário de Estado da Repartição da Mari-nha no Brasil.

Não obstante a importância dos marcosdescritos, que consubstanciam o arcabouçolegal de nossa Instituição, releva mencionarque a primeira atuação de um GrupamentoNaval, em missão tipicamente militar e sendoconduzido por um brasileiro, foi registrada 123anos antes do alvará de D. João V. Assim éque, em 1613, dentro do contexto da ocupa-ção francesa no Maranhão, coube a Jerônimode Albuquerque, nascido em Olinda,Pernambuco, o comando de uma expediçãode aproximadamente cem homens, a bordo detrês ou quatro embarcações, aqui construídase conhecidas como “caravelões”, que, partin-do do Recife e contando com o auxílio dosindígenas, teve papel de destaque na expul-são daqueles invasores.

Com a proclamação da República e a re-organização da Administração Federal, em1891 surgiu o Ministério da Marinha em

ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO DO COMANDO DA MARINHA

lugar da antiga Repartição, permanecendocom essa designação até 9 de junho de1999, quando, por meio da Lei Complemen-tar no 97, passou a compor o Comando daMarinha, subordinado ao então criado Mi-nistério da Defesa.

Apesar das diferentes denominações aolongo desses 275 anos de existência, asnossas atribuições básicas não sofreramalterações substanciais, mas sim adapta-ram-se e modernizaram-se. Nesse período,aqui resumido em poucos parágrafos, mui-tos foram os acontecimentos que nos le-vam a reverenciar o passado.

Durante a Guerra de Independência, aMarinha teve atuação primordial na con-solidação do território nacional, com açõesimportantes em São Luís e Salvador, res-saltando-se a perseguição à esquadra por-tuguesa da Bahia até Lisboa. Na Campa-nha da Tríplice Aliança, nossas unidadesforam vitoriosas na Batalha Naval doRiachuelo, o que foi fundamental para odesfecho favorável naquele conflito. Tam-bém tivemos participação nas duas gran-des guerras, sendo que, na primeira, fomosa única Força Armada a participar, por meioda Divisão Naval em Operações de Guerra(DNOG); e, na segunda, demos proteçãoao tráfego marítimo entre Trinidad, noCaribe, e Florianópolis, em Santa Catarina,totalizando 575 comboios formados por3.164 navios mercantes, incluindo, ainda, aescolta do transporte da Força Expedicio-nária Brasileira (FEB) até Gibraltar.

Dessa forma, por uma questão de justi-ça, devemos agradecer e homenagear to-dos aqueles que nos antecederam e deixa-ram um sólido legado de realizações eensinamentos. Às personalidades de vul-to da história, como Tamandaré, Barroso,Alexandrino, Frontin e Saldanha da Gama,dentre muitos outros insígnes chefes e res-

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peitados líderes, juntam-se inúmeros mari-nheiros e fuzileiros navais, militares e ci-vis, homens e mulheres, que colaboraramna formação e construção da Força a que,hoje, temos o orgulho de pertencer.

A nossa Instituição nunca parou de cres-cer. Cabe-nos, portanto, continuar esse tra-balho, buscando, incessantemente, dar anossa contribuição para a construção da

Marinha do amanhã, que desejamos sejamoderna, balanceada e equilibrada, prontapara cumprir sua missão, e constituída deprofissionais entusiasmados, dedicados,competentes e, acima de tudo, conscien-tes de seu dever para com a Marinha doBrasil e com a Pátria.”

(Fonte: Bono Especial no 533, de28/7/2011)

O Colégio Naval (CN), instituição de En-sino Médio da Marinha do Brasil, localiza-do em Angra dos Reis (RJ), comemorou, em15 de agosto último, 60 anos de atividades.

Para relembrar a pioneira chegada a An-gra dos Reis a bordo dos contratorpedeirosde escolta Beberibe e Bracuí, a turma de1951 (fundadora do Colégio), embarcada nosavisos de instrução do CN, foi recebida naEnseada Batista das Neves com Honras dePassagem, prestadas pelas tripulações doNavio-Veleiro Cisne Branco, dos navios-patrulha Macaé e Gurupá, do Rebocadorde Alto-Mar Tritão, do Aviso de InstruçãoGuarda-Marinha Britto e dos veleiros doGrêmio de Vela do Colégio Naval.

A cerimônia militar comemorativa, presi-dida pelo comandante da Marinha, Almiran-

COLÉGIO NAVAL COMPLETA 60 ANOS

AE Mauro César Rodrigues Pereira comanda o desfilemilitar dos componentes da Associação de Alunos do

Colégio Naval de 1951

te de Esquadra Julio Soares de MouraNeto, contou com as presenças dochefe do Estado-Maior da Armada,Almirante de Esquadra Luiz Umbertode Mendonça; do comandante deOperações Navais, Almirante de Es-quadra João Afonso Prado Maia deFaria; do diretor-geral do Pessoal daMarinha, Almirante de EsquadraFernando Eduardo Studart Wiemer;do comandante-geral do Corpo deFuzileiros Navais, Almirante de Esqua-dra (FN) Marco Antonio Corrêa Gui-marães; do diretor de Ensino da Mari-nha, Vice-Almirante Ademir Sobrinho;e de outras autoridades militares e ci-

vis, como o prefeito de Angra dos Reis, ArturOtávio Scapin Jordão Costa.

O Almirante de Esquadra Mauro CésarRodrigues Pereira, ex-ministro da Marinha,

Almirante Moura Neto (E) e ex-ministroMauro César Rodrigues (D), acompanhados

do aluno João Paulo Sabbatino (C), descerramplaca alusiva à turma fundadora

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

comandou o desfile militar dos componen-tes da Associação de Alunos do ColégioNaval de 1951, emocionando os presentes.

Ao final da solenidade, o comandanteda Marinha e o ex-ministro Mauro César

Rodrigues Pereira, acompanhados do Alu-no 1001 do Colégio, João Paulo de AndradeSabbatino Silva, descerraram uma placa alu-siva à turma fundadora do Colégio Naval.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Comando da Força Aeronavalcompletou, em 5 de junho último,50 anos de sua criação. Os eventoscomemorativos ao Jubileu de Ouroforam realizados em 8 de junho. Umacerimônia inter-religiosa, conduzidapelo capelão-chefe da Marinha, Ca-pitão de Mar e Guerra (CN) NelsonDendena, e uma cerimônia militar,presidida pelo comandante de Ope-rações Navais, Almirante de Esqua-dra João Afonso Prado Maia de Fa-ria, contaram com a presença do co-mandante em chefe da Esquadra,Vice-Almirante Wilson Barbosa Guerra, ede ex-comandantes da Força Aeronaval,dentre outras autoridades. Na ocasião, foilançado o livro comemorativo dos 50 anosdo Comando da Força Aeronaval.

A Força Aeronaval foi criada pelo AvisoMinisterial no 1.003, de junho de 1961, como intento de organizar os meios aeronavaissob um comando operativo, inicialmente a

COMANDO DA FORÇA AERONAVAL COMEMORA 50 ANOS

bordo do Navio-Aeródromo Ligeiro MinasGerais. Em 1971, sua sede foi transferidapara a cidade de São Pedro da Aldeia, naRegião dos Lagos, no estado do Rio deJaneiro, onde está até os dias atuais.

No decorrer desses 50 anos, foram cri-adas e ativadas diversas OrganizaçõesMilitares (OM) subordinadas ao Coman-

do da Força Aero-naval, que contahoje com cincoesquadrões dehelicópteros, umesquadrão deaviões e quatroOM de apoio,sendo uma Base,um Centro de Ins-trução, um Centrode Intendência euma Policlínica.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Cerimônia inter-religiosa em comemoração aoJubileu de Ouro

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Fragata Independência completou,em 19 de julho último, 2.500 dias de mar e572.599 milhas navegadas. É um marco his-tórico, que representa os aspectos de con-servação do navio e o potencial de seupessoal, ao longo de 32 anos, ressaltandoa capacidade e a competência do Brasil noPrograma de Renovação e Ampliação deMeios Flutuantes, desenvolvido pelo Ar-senal de Marinha do Rio de Janeiro na dé-cada de 70.

A Independência, construída no Brasil,foi lançada ao mar, pela primeira vez, em 11de dezembro de 1978 e incorporada à Mari-nha em 1979. Representou o País em diver-sas comissões operativas importantes, tais

FRAGATA INDEPENDÊNCIA COMPLETA 2.500 DIAS DE MAR

como: Fraterno, Unitas, Tapón, Atlasur,Expo 98, Passex, Panamax e Joint Warrior.Seu lema é: “A Independência de todosdepende de cada um”.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Fragata Independência

A Presidente Dilma Rousseff participou,em 16 de julho último, da cerimônia de iní-cio das obras do submarino convencionalS-BR, parte do Programa de Desenvolvi-mento de Submarinos (Prosub) da Mari-nha do Brasil. A cerimônia foi realizada nasinstalações da Nuclebrás EquipamentosPesados (Nuclep), em Itaguaí (RJ).

Estiveram presentes ao evento o gover-nador do Estado do Rio de Janeiro, SérgioCabral; o ministro da Defesa, Nelson Jobim;o ministro da Ciência e Tecnologia, AloísioMercadante; o ministro dos Esportes,Orlando Silva; o ministro da Pesca eAquicultura, Luiz Sérgio; a ministra-chefeda Secretária de Direitos Humanos, Mariado Rosário; a ministra-Chefe da Secretariade Comunicação Social da Presidência daRepública, Helena Chagas; e o comandanteda Marinha, Almirante de Esquadra JulioSoares de Moura Neto. Dentre as autorida-des estrangeiras estavam o embaixador da

PRESIDENTE DILMA PARTICIPA DA CERIMÔNIA DE INÍCIODA CONSTRUÇÃO DO PRIMEIRO SUBMARINO S-BR

França no Brasil, Yves Saint-Geours, e o mi-nistro da Defesa da França, Gérard Longuet.

A Presidente Dilma afirmou que o proje-to marca um momento estratégico para oBrasil, “que dá mais um passo em direção àafirmação da sua condição de país desen-volvido, com uma indústria sofisticada, queé capaz de absorver, dominar e utilizartecnologias avançadas”. Ressaltou, ainda,a importância da modernização da Marinhado Brasil e do domínio da tecnologia de pro-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

dução do submarino com propulsão nucle-ar para a segurança e proteção das riquezasdo País, notadamente na área do pré-sal.

“Hoje é um dia importante para este pro-grama, pois marca o início efetivo da cons-trução do primeiro de um total de quatro sub-marinos, e consolida a primeira etapa da trans-ferência de tecnologia da França para o Bra-sil”, expressou-se o presidente da ItaguaíConstruções Navais (ICN), Gérard Solve.

O presidente da Nuclep, Jaime Cardoso,agradeceu à Marinha do Brasil e à ICN aconfiança depositada na empresa: “Todoesse apoio fortalece a nossa consciênciade estarmos contribuindo diretamente paraa manutenção da soberania nacional”.

“A Marinha do Brasil é uma grande pro-pulsora do desenvolvimento econômico e

social ao longo da história do Estado doRio de Janeiro”, lembrou o governador doRio de Janeiro.

(Fonte: Bono no 502 de 15/7/2011 ewww.mar.mil.br)

Presidente Dilma aciona máquina de corte daprimeira chapa de aço para construção dos

submarinos S-BR no Brasil

O Serviço de Seleção do Pessoal daMarinha (SSPM), criado em 1951, comple-tou seu 60o aniversário em 28 de julho últi-mo. O evento comemorativo teve início coma Celebração Inter-Religiosa de Ação deGraças, com a participação do grupo musi-cal Seleto Louvor, integrado por militaresdo SSPM. A cerimônia militar foi presididapelo diretor de Ensino da Marinha, Vice-Almirante Ademir Sobrinho, com a presen-ça de ex-diretores do SSPM. Na ocasião,

SSPM COMEMORA 60 ANOS

foi realizada também a entrega do PrêmioMilitar e Servidor Civil Padrão.

Outro momento marcante foi o lança-mento do selo comemorativo, criado peloSuboficial (RM1-ET) José FranciscoRodrigues. O ato solene foi conduzido porJoão Rangel Gonçalves e Adriana Siviliano,representantes da Empresa Brasileira deCorreios e Telégrafos. No encerramento dacerimônia, foi realizado o tradicional cortedo bolo de aniversário pela diretora doSSPM, Capitão de Mar e Guerra (T) AldnerPeres de Oliveira, acompanhada pelo Vice-Almirante Ademir Sobrinho e pelo ex-dire-tor do SSPM mais antigo presente, Capi-tão de Mar e Guerra (Refo) Ayrton SilveiraBittencourt.

O Serviço de Seleção do Pessoal daMarinha realiza, entre suas múltiplas atri-buições, a aplicação de exames psicológi-cos com o propósito de aferir a compatibi-lidade do perfil dos candidatos com aquelerequerido pela atividade objeto do proces-so seletivo, tanto para ingresso na Mari-

Corte do bolo: CMG (T) Aldner (esq.),VA Ademir Sobrinho (centro) e

CMG (Refo) Ayrton Silveira Bittencourt

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

nha do Brasil como para indicação a cur-sos e missões especiais de âmbito interno,exigindo criteriosa coordenação, minucio-so planejamento e detalhado controle detoda a logística envolvida. Realiza, ainda, aavaliação de personalidade e de aptidõesespecíficas dos testes e técnicas aplica-dos, o acompanhamento do pessoal sele-cionado, visando à coleta sistemática dedados de desempenho para a validação dosexames psicológicos e, também, a pesqui-sa, que garante o caráter científico e acredibilidade de suas atividades de natu-reza técnico-profissionais.

Para enfrentar os novos desafios no to-cante à seleção de pessoal, de modo a aten-der às demandas oriundas do aumento doefetivo da Marinha, o SSPM tem se dedicadoà elaboração dos perfis profissiográficos re-queridos para o adequado guarnecimento dosmeios operativos e das Organizações Milita-res de terra, à formulação de modelos própri-

os para a gestão por competência, bem comoao aprimoramento dos exames psicológicos,além da implementação da OrientaçãoVocacional para os alunos das escolas deaprendizes-marinheiros, visando aprimorar oprocesso de indicação de especialidades paraas praças da Marinha.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Lançamento do selo personalizado comemo-rativo aos 60 anos de criação do SSPM

A Diretoria de Engenharia Naval (DEN)e a Indústria Naval do Ceará (Inace) firma-ram contrato, em 26 de maio último, para aconstrução de quatro avisos hidroceano-gráficos fluviais (AvHoFlu). O documentofoi assinado em Fortaleza (CE), pelo diretorde Engenharia Naval, Contra-Almirante(EN) Francisco Roberto Portella Deiana, eo diretor-presidente da Inace, Antonio GilFernandes Bezerra.

Os navios serão construídos a partir deespecificações de aquisição, de acordo comos requisitos técnicos de projeto e de desem-penho elaborados pela DEN. Eles possuirãocomprimento total de 25 metros, boca molda-da máxima de 8,0 metros e calado máximo de1,40 metro, comportando 12 tripulantes e de-vendo ser dotados de laboratório seco e pai-ol de material hidroceanográfico.

ASSINADO CONTRATO PARA CONSTRUÇÃO DEAVISOS HIDROCEANOGRÁFICOS FLUVIAIS

Os quatro avisos hidroceanográficosfluviais serão entregues até novembro de2012 e suas construções estão inseridas noProjeto Cartografia da Amazônia, realizadoem parceria com o Exército, a Aeronáutica eo Serviço Geológico do Brasil e coordenadopelo Centro Gestor e Operacional do Siste-ma de Proteção da Amazônia, subordinadoao Ministério da Defesa.

Aviso hidroceanográfico fluvial

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Os AvHoFlu destinam-se à execução doslevantamentos hidroceanográficos emáguas interiores na Bacia Amazônica, soba responsabilidade da Diretoria deHidrografia e Navegação (DHN). A finali-dade é atualizar de forma contínua a carto-grafia náutica das principais hidrovias naregião, sendo de fundamental importânciao conhecimento preciso e atualizado docanal de navegação dos rios amazônicos,o que possibilitará melhoria na segurançada navegação.

(Fonte: www.mar.mil.br)

CA Deiana e o diretor-presidente da Inaceassinam contrato de construção de quatro

avisos hidroceanográficos fluviais

O diretor de Sistemas de Armas da Ma-rinha, Vice-Almirante Elis Treidler Öberg,e o presidente da Fundação de Aplica-ções de Tecnologias Críticas (Atech),Tarcísio Takashi Muta, assinaram, em 7de julho último, o contrato para o deline-amento da arquitetura do Sistema deGerenciamento da “Amazônia Azul”(SisGAAz).

ASSINADO CONTRATO PARA DELINEAMENTO DAARQUITETURA DO SISTEMA DE GERENCIAMENTO DA

AMAZÔNIA AZUL

O SisGAAz é um sistema integradorde outro sistemas que visa ampliar a ca-pacidade de monitoramento das águasjurisdicionais brasileiras e das regiõesde Socorro e Salvamento (SAR – Searchand Rescue) sob a responsabilidade doBrasil. Além disso, possibilita uma rápi-da reação às ameaças identificadas, con-tribuindo para a proteção e a defesa

dessa imensa área marí-tima. Trata-se de um sis-tema de monitoramento,controle, proteção e de-fesa, composto pelosmeios operativos da Ma-rinha e por diversossensores, que integramsistemas de informação ede apoio à decisão. To-das as informações com-piladas, nos vários ní-veis atuantes, contribu-em para a construção daconsciência situacionalmarítima.

(Fonte: www.mar.mil.br)Almirante Öberg e Tarcísio Takashi Muta assinam contrato para o

delineamento da arquitetura do SisGAAz

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O diretor de Engenharia Naval, Contra-Almirante (EN) Francisco Roberto PortellaDeiana, e o representante da empresa B3Boat Indústria de Embarcações Ltda,Danilton Camilo da Cunha, assinaram noRio de Janeiro (RJ), em 17 de junho último,contrato para a construção de quatro cha-tas para transporte de óleo combustível.

As chatas, que serão produzidas nasinstalações da B3 Boat, em Salvador (BA),serão construídas a partir de Especificaçãode Aquisição de acordo com os requisi-tos técnicos de projeto e de desempenho,elaborado pela Diretoria de EngenhariaNaval (DEN). As embarcações terão com-primento total entre 33 e 36 metros, bocamoldada máxima de 10 metros e capacida-de para transportar cerca de 400 tonela-das de combustível.

As quatro chatas serão entregues atédezembro de 2012 e sua construção estáinserida no Plano Plurianual de Obtenção

MB ASSINA CONTRATO PARA CONSTRUÇÃO DE CHATASPARA TRANSPORTE DE ÓLEO COMBUSTÍVEL

Assinatura do contrato deconstrução de chatas

de Embarcações de Apoio, com recursosfinanceiros previstos no Plano. Os novosnavios destinam-se a restaurar a capacida-de operativa do Depósito de Combustíveisda Marinha no Rio de Janeiro, atendendo àlegislação atual nos aspectos de seguran-ça ambiental no transporte e fornecimentode combustível para a Marinha do Brasil.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Em virtude do elevado número de con-sultas, o Serviço de Identificação da Mari-nha (SIM) esclareceu que a identidadeexpedida pela Marinha do Brasil tem valida-de somente no território nacional, conformeinciso 1.15.39, das Normas sobre Identifica-ção na Marinha (DGPM-304-2aRev. Mod1).

O SIM também informou que, para trân-sito nos países-membros do Mercosul, foiassinado o documento Mercosul/CMC/DEC no 18/2008, que aprova o texto do pro-jeto de “Acordo sobre Documentos de Vi-agem dos Estados Partes do Mercosul eEstados Associados”, no qual se reconhe-ce a validade dos documentos de identifi-

A CARTEIRA DE IDENTIDADE DA MB E O ACORDO SOBREDOCUMENTOS DE VIAGEM NO MERCOSUL

cação pessoal de cada estado parte comodocumento de viagem hábil para o trânsitode nacionais e/ou residentes regulares dosestados partes e associados do Mercosulem seus territórios (Argentina, Brasil,Paraguai, Uruguai, Bolívia, Chile, Colôm-bia, Equador, Peru e Venezuela).

Assim, são aceitos pelos países-mem-bros todas as cédulas de identidadeexpedidas pelos estados da federação comvalidade nacional, motivo pelo qual alertaao pessoal, quando em viagem aos esta-dos partes do Mercosul e associados es-pecificados, que porte a carteira de identi-dade expedida por Secretaria de Seguran-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ça Pública de Estado da Federação. A car-teira de identidade não deve ter sidoexpedida há mais de dez anos. Documen-

tos nessa condição exigirão atualização daidentificação por parte do portador.

(Fonte: Bono no 527 de 26/7/2011)

Foi realizada, em 12 de julho último, acerimônia de entrega dos prêmios Coman-do do Controle Naval do Tráfego Marítimo– 2010 (CNTM-2010). A solenidade acon-teceu no Salão Nobre do Edifício Almiran-te Tamandaré, no Rio de Janeiro (RJ), pre-sidida pelo comandante de Operações Na-vais e diretor-geral de Navegação, Almi-rante de Esquadra João Afonso Prado Maiade Faria. Foram premiados as OrganizaçõesMilitares (OM), navios mercantes e barcosde pesca que se destacaram em suas ativi-dades exercidas no período entre 1o de maiode 2010 e 30 de abril de 2011.

– PRÊMIO ORGACONTRAM-2010 – ADelegacia da Capitania dos Portos em Itajaíobteve o melhor desempenho nos exercíci-os de Controle Naval do Tráfego Marítimo.

– PRÊMIO CONTATO CNTM-2010 – Asseguintes organizações foram distinguidaspor prestarem ao Sistema de Informaçõessobre o Tráfego Marítimo (Sistram) o mai-or número de informações de contatos emsuas áreas:

– Prêmio Contato – CNTM Esquadra– navios soltos (navio-aeródromo,

navio-escola, navios de socorro subma-rino e navio-veleiro) – Navio-EscolaBrasil – 5.216 contatos.

– Comando do 1o Esquadrão de Es-colta: Fragata Niterói – 1.357 contatos.

– Comando do 2o Esquadrão de Es-colta: Fragata Bosísio – 523 contatos.

– Comando do 1o Esquadrão de Apoio:Navio de Desembarque de Carros de Com-bate Mattoso Maia – 163 contatos.– Prêmio Contato – CNTM Distrital

– Comando do 1o Distrito Naval: Navio-Patrulha (NPa) Gurupá – 523 contatos.

PRÊMIOS CNTM-2010

– Comando do 2o Distrito Naval: NPaGuaratuba – 333 contatos.

– Comando do 3o Distrito Naval: Rebo-cador de Alto-Mar Triunfo – 413 contatos.

– Comando do 4o Distrito Naval: NPaBocaina – 261 contatos.

– Comando do 5o Distrito Naval: NPaBabitonga – 1.666 contatos.

– Comando do 9o Distrito Naval: Na-vio de Assistência Hospitalar CarlosChagas – 42 contatos.– Prêmio Contato – CNTM Diretoria de

Hidrografia e Navegação (CNTM DHN)– Navio Hidroceanográfico Cruzei-

ro do Sul – 1.510 contatos.– Prêmio Contato – CNTM Esquadrão

de Helicópteros– 1o Esquadrão de Helicópteros de

Esclarecimento e Ataque – 47 contatos.– Prêmio Contato – CNTM II Força

Aérea 2010– 2o Esquadrão do 7o Grupo de Avia-

ção – 441 contatos.– PRÊMIO SEGURANÇA NO MAR-

2010 – Os seguintes navios mercantes clas-sificaram-se em 1o lugar em suas respecti-vas categorias por terem enviado informa-ções para o Sistema de Informações sobreo Tráfego Marítimo (Sistram), com as se-guintes pontuações.

– Navio mercante (NM) brasileiro de lon-go curso: NM Aliança Europa, da AliançaNavegação e Logística Ltda. – 260 pontos.

– NM brasileiro de cabotagem: NMNorsul Caravelas, da Companhia de Na-vegação Norsul – 717 pontos.

– NM estrangeiro afretado de longocurso: NM Hambisa, da Petrobras – 274pontos.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– NM estrangeiro afretado de cabota-gem: NM Gas Premiership, da Petrobras –311 pontos.

– NM estrangeiro: NM CMA CGMQingdao, da CMA CGM do Brasil AgênciaMarítima Ltda.– 238 pontos.

– PRÊMIOS ESPECIAIS – Os seguintesnavios mercantes e barcos de pesca (BP)distinguiram-se pela participação efetiva em

busca e salvamento no mar: NM JagLakshita, da G.E. Shipping; NM LittlePrince, da Brazshipping Marítima Ltda;Navio Rebocador Pampo, da PetrobrasTransporte S/A (Transpetro); BP Vô Sil-vestre I, de José Silvestre Marques; BPFerreira XXI, de Rogério Córdova Diniz; eBP Marília IV, de Pedro Paulo Leal.

(Fonte: Bono Especial no 443, de 20/6/2011)

A aluna Amanda Assis Ferreira, vencedo-ra nacional da Operação Cisne Branco 2010no Ensino Fundamental, recebeu mais umprêmio, em 29 de julho último. A cerimôniaaconteceu na Agência Fluvial de Bom Jesusda Lapa, na Bahia, subordinada ao Comandodo 2o Distrito Naval (Salvador-BA).

Aluna da Escola Promove, localizada emBom Jesus da Lapa, Amanda ganhou umnotebook, que foi entregue pelo subchefeda Fundação Habitacional do Exército FHE/Poupex em Salvador, Coronel (RM1) LuísCelso, e pelo agente fluvial de Bom Jesus daLapa, Capitão-Tenente (T) Severino dosSantos Pedrosa. Também como prêmio pelaconquista, a estudante já havia participadode uma viagem a bordo do Navio-VeleiroCisne Branco, com um acompanhante, em16 de fevereiro deste ano, no Rio de Janeiro.

Durante a cerimônia, o Capitão-TenentePedrosa fez um agradecimento aos Amigosda Marinha de Bom Jesus da Lapa peladoação dos prêmios do concurso no âmbi-to municipal e por terem propiciado o apoiono transporte da estudante e acompanhan-te para Salvador para receber os prêmiosnos âmbitos Distrital e Nacional.

Compareceram ao evento colegas de tur-ma da estudante, seus pais, familiares e ami-gos, além de membros da Sociedade Amigosda Marinha e autoridades do município.

VENCEDORA DA OPERAÇÃO CISNE BRANCO 2010É PREMIADA NA BAHIA

Capitão-Tenente (T) Pedrosa (esq.), Amanda(centro) e Coronel Luís Celso (dir.)

O concurso de redação Operação CisneBranco é promovido anualmente pela Ma-rinha do Brasil, e dela podem participar es-tudantes de todo o território nacional, do6o ao 9o ano do Ensino Fundamental e detodas as séries do Ensino Médio. O con-curso tem como propósito despertar nosalunos, pais e professores o interesse pe-los assuntos ligados ao Poder Naval, Po-der Marítimo, Amazônia Azul e HistóriaNaval do Brasil, contribuindo para o de-senvolvimento da mentalidade marítima napopulação brasileira.

O tema da redação indicado pela Mari-nha do Brasil para o Ensino Fundamentalem 2010 foi “Navegando em um navio daMarinha do Brasil na Amazônia Azul”.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi criado, conforme alteração no Re-gulamento de Uniformes da Marinha(Rumb), aprovada pelo comandante daMarinha, Almirante de Esquadra Julio Soa-res de Moura Neto, o Distintivo de MilitarInativo (DMI) da Marinha do Brasil (MB).O referido distintivo será para o uso dosmilitares da reserva remunerada e reforma-dos (praças e oficiais), contendo a identifi-cação do Corpo para os oficiais.

Os primeiros distintivos serão outorga-dos na Cerimônia do Dia do Inativo, em 10de outubro de 2011. O novo distintivo po-derá ser utilizado facultativamente por mi-litares inativos da MB, aposto sobre trajecivil de gala, rigor, passeio completo, pas-seio e esporte fino, admitindo-se, neste úl-timo traje, o uso da camisa de manga curta.Poderá ser ostentado no interior de OM daMB ou em ocasiões especiais, no âmbitoexterno das OM da MB, no comparecimen-to a cerimônias cívicas ou a atos sociais

CRIAÇÃO DO DISTINTIVO DE MILITAR INATIVO DA MB

solenes, ficando autorizado o uso rotinei-ro pelo militar prestador de Tarefa por Tem-po Certo (TTC) em seu respectivo local detrabalho.

(Fontes: Bono no 558, de 9/8/2011, ewww.dabm.mb)

O comandante da Marinha, Almirantede Esquadra Julio Soares de Moura Neto,autorizou alteração no Regulamento deUniformes da Marinha (Rumb) criando oDistintivo Operativo para Oficial de Su-perfície. Para fazer jus aouso do distintivo, o oficialdeverá possuir os seguin-tes requisitos:

– ter sido aprovado no Curso de Aper-feiçoamento de Superfície para Oficiais (C-Ap-Sup); ou

– ter comandado navios da Força deSuperfície, Grupamentos de Patrulha Na-val, Flotilhas ou Força de Minagem e Var-redura ou ter sido qualificado para serviço

CRIAÇÃO DO DISTINTIVO OPERATIVOPARA OFICIAL DE SUPERFÍCIE

no passadiço ou CIC/COC desses navios,desde que devidamente publicado em Or-dem de Serviço e ter sido aprovado em umdos seguintes cursos: Curso de Aperfei-çoamento em Eletrônica para Oficiais

(CAEO); Curso de Aperfei-çoamento em Comunicaçõespara Oficiais (CACO); Curso

de Aperfeiçoamento em Máqui-nas para Oficiais (CAMO); Curso de Aper-

feiçoamento em Armamento para Oficiais(CAAO); ou Curso de Aperfeiçoamento emHidrografia para Oficiais (CAHO).

O distintivo representa a silhueta deproa de um navio escolta, apoiado sobreum trecho de mar ondulado e ladeado por

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duas figuras que representam águas já tra-balhadas, em metal dourado.

(Fonte: Bono no 549, de 3/8/2011 ewww.dabm.mb)

O Espaço Cultural da Marinha (ECM) eo Museu Naval, no Rio de Janeiro, rece-bem, em média, 6 mil pessoas por semana.Mas nos últimos quatro dias das férias es-colares do mês de julho, mais de 10 mil visi-tantes passaram por esses lugares. Entreos visitantes estavam moradores da cida-de do Rio de Janeiro e turistas nacionais eestrangeiros.

No ECM, além dos passeios marítimospara a Ilha Fiscal e pela Baía de Guanabara,o visitante pôde entrar em um modelo daNau dos Descobrimentos, no Submarino-Museu Riachuelo, no Helicóptero-MuseuRei do Mar e no Navio-Museu Bauru, esteum contratorpedeiro participante da Segun-da Guerra Mundial e o mais procurado. Nolocal, há ainda a Galeota Real de D. João VIe as sessões de teatro para as crianças,que também atraem os pais.

Próximo à estação das barcas, o MuseuNaval dobrou a visitação entre os dias 28 e 31de julho. Nele, está a exposição “O Poder Na-val na Formação do Brasil”, que visa propagara consciência marítima no País. A proximidade

ECM E MUSEU NAVAL RECEBEM MAIS DE10 MIL VISITANTES EM QUATRO DIAS

entre o ECM e o Museu Naval permite que opúblico vá de um local a outro a pé.

O Espaço Cultural da Marinha e o Mu-seu Naval têm entrada franca e fazem parteda Diretoria do Patrimônio Histórico e Do-cumentação da Marinha. Para outras infor-mações, agendamentos de passeios e pro-jetos educativos, acesse o sitewww.dphdm.mar.mil.br ou entre em conta-to por meio dos telefones (21) 2233-9165 /2104-5592 / 2104-6025 / 2104-6851.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Visitantes no Espaço Cultural da Marinha

A Força-Tarefa Marítima (FTM) da For-ça Interina das Nações Unidas no Líbano(Unifil) recebeu, em 8 de agosto último, avisita do subsecretário-geral para África eOriente Médio do Ministério das RelaçõesExteriores, Embaixador Paulo Cordeiro deAndrade Pinto, acompanhado pelo embai-xador do Brasil em Beirute, Paulo RobertoCampos Tarrisse da Fontoura.

FTM DA UNIFIL RECEBE VISITA DE COMITIVA DOMINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

A comitiva foi transportada entre Beirutee o Quartel-General da Unifil em Naqoura, suldo Líbano, por um helicóptero da Organiza-ção das Nações Unidas (ONU). Durante avisita, foram realizadas duas palestras noCentro de Conferências da Unifil: a primeirasobre as atividades operacionais e a segun-da abordando os aspectos políticos da mis-são. Após as palestras, a comitiva foi recebi-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

da pelo force commander e chefe da missão,Major-General Alberto Asarta Cuevas.

Esq. para a dir.: Contra-Almirante Luiz Henrique Caroli(camuflado), comandante da FTM da Unifil; EmbaixadorPaulo Roberto Fontoura; Embaixador Paulo Cordeiro e

Major-General Alberto Asarta Cuevas

Na segunda fase da visita, osembaixadores tiveram a oportu-nidade de conhecer o Quartel-General da Unifil e as instalaçõesem terra do Comando da Força-Tarefa Marítima, onde assistirama uma breve apresentação sobreo trabalho realizado pela FTM.Na ocasião, o embaixador PauloCordeiro conheceu os militaresda Marinha do Brasil integran-tes do contingente brasileiro.

Dentre os vários assuntostratados durante a visita, os demaior destaque foram os relaci-onados à missão da FTM e àquestão política da delimitaçãodas fronteiras marítimas entre o

Líbano e Israel.(Fonte: www.mar.mil.br)

A Marinha do Brasil recebeu no Rio deJaneiro, de 10 a 12 de agosto último, o co-mandante de Operações Navais (CNO) daMarinha dos Estados Unidos da América(EUA), Almirante de Esquadra GaryRoughead, que foi recepcionado pelo coman-dante da Marinha do Brasil (MB), Almirantede Esquadra Julio Soares de Moura Neto.

O comandante de Operações Navais daMB, Almirante de Esquadra João AfonsoPrado Maia de Faria, acompanhou o Almi-rante Roughead nas visitas. No período queesteve no País, o Almirante reuniu-se como ministro da Defesa, Celso Amorim, e di-versas autoridades da MB para tratar dequestões comuns às duas Marinhas. Fo-ram visitados o Comando em Chefe da Es-quadra, o Centro de Adestramento Almi-rante Marques de Leão, a Fragata Consti-tuição e o Comando da Divisão Anfíbia. O

MARINHA DO BRASIL RECEBE VISITA DO COMANDANTEDE OPERAÇÕES NAVAIS DA MARINHA DOS EUA

AE Moura Neto (esq.) condecora o AE GaryRoughead (dir.) com a Ordem do Mérito Naval

propósito das visitas foi proporcionar co-nhecimentos adicionais sobre a Força eseus meios.

No primeiro dia no Rio de Janeiro, o Al-mirante Gary Roughead foi condecoradocom a Ordem do Mérito Naval, medalha quese destina a premiar os militares da Mari-nha que se houverem distinguido no exer-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

cício da profissão e, excepcionalmente, asorganizações militares e instituições civis,nacionais e estrangeiras, suas bandeirasou estandartes, assim como personalida-des civis e militares, brasileiras ou estran-geiras, que prestarem relevantes serviçosà Marinha do Brasil.

A cerimônia de imposição da condeco-ração foi seguida de uma coletiva de im-prensa. Na ocasião, o Almirante Rougheadafirmou ter muito respeito e admiração pelaMarinha do Brasil. “Desejo que continue-mos trabalhando juntos, pois temos muitoem comum e um ótimo relacionamento. Acooperação entre as Marinhas é extraordi-nária e com essa nossa relação daremos asegurança necessária aos nossos mares”.

Acompanhado pelo Almirante de Esqua-dra Prado Maia; pelo comandante-geral doCorpo de Fuzileiros Navais, Almirante deEsquadra (FN) Marco Antonio Correa Gui-marães; e pelo comandante da Força de Fu-zileiros da Esquadra, Vice-Almirante (FN)Fernando Antonio de Siqueira Ribeiro, oCNO norte-americano conheceu o Coman-do da Divisão Anfíbia, onde acompanhouuma demonstração anfíbia de desembarquede diversos meios de combate, realizada na

área do 1o Batalhão de Infantaria de Fuzilei-ros Navais, e uma simulação de resgate derefém, realizada pelo Grupo Especial de Re-tomada e Resgate do Batalhão de Opera-ções Especiais de Fuzileiros Navais, comemprego de aeronaves da Força Aeronaval.

Ao final da visita, o Almirante Rougheadacompanhou, ao lado do comandante daMarinha, a demonstração de uma unidadeanfíbia com cerca de 800 militares, que des-filaram os meios e equipamentos emprega-dos por um Grupamento Operativo de Fu-zileiros Navais.

(Fonte: www.mar.mil.br)

AE Gary Roughead (ao centro) visita osimulador de passadiço do Centro de

Adestramento Almirante Marques de Leão

O Navio de Assistência Hospitalar(NAsH) Soares de Meirelles encontra-seem fase de conversão, com o intuito deaprimorar sua capacidade de operar naságuas interiores da área do Comando do 9o

Distrito Naval (AC, AM, RO, RR), auxilian-do as comunidades ribeirinhas da região.Nos dias 23 e 24 de maio último, o maisnovo navio da Flotilha do Amazonas rece-beu a visita técnica do diretor de Engenha-ria Naval, Contra-Almirante (EN) Francis-co Roberto Portella Deiana, que buscou

NASH SOARES DE MEIRELLES É ADAPTADOPARA AJUDAR RIBEIRINHOS

identificar e planejar a execução das obrasde engenharia naval e mecânica a seremrealizadas para a prontificação do navio.

Incorporado à Marinha do Brasil em 17de setembro de 2010, o NAsH vaidisponibilizar consultórios médicos,odontológicos, farmácia, sala de vacina-ção, sala de raios X, centro cirúrgico, en-fermaria e laboratório de análises clínicas,entre outros.

A tripulação do Soares de Meirelles seráformada por sete oficiais e 40 praças. Ao

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

lado de outros NAsH, como o OswaldoCruz, o Carlos Chagas e o DoutorMontenegro, além da assistência médica eodontológica, contribuirá com as ativida-des de Defesa Civil e com ações cívico-sociais em benefício das populações ca-rentes, tais como palestras sobre preven-ção de doenças, primeiros socorros, higie-ne bucal, conscientização para a seguran-ça do tráfego aquaviário e atendimentosde emergência.

No mês de julho, foram realizadas, ain-da, inspeções de máquinas, comunicações,combate a incêndio e navegação, a fim de

verificar o aprestamento das equipes debordo e seus equipamentos.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Docagem do NAsH Soares de Meirelles

A Marinha do Brasil vem acompanhan-do o trabalho de retirada de objetos do sí-tio arqueológico localizado na Baía Sul, emSanta Catarina. A ação começou no dia 23de junho último, quando a Capitania dosPortos de Santa Catarina (CPSC) partici-pou da atividade de retirada do fundo domar de um dos objetos descobertos e cata-logados pela Organização Não Governa-mental (ONG) Projeto Barra Sul.

Na ação foi encon-trada uma lápide de cer-ca de 800 quilos, cominscrição do então reinode Castela e León, hojeEspanha. Acredita-seque a lápide pertenceuà Nau Santa Maria deLa Concepción, umadas mais antigas embar-cações naufragadas noBrasil e que pertenceu àfrota do navegadorSebastián Cabotto, quepartiu da Espanha em1583.

MARINHA ACOMPANHA RETIRADA DE OBJETOS DENAUFRÁGIO DO SÉCULO XVI

Uma equipe da CPSC acompanhou asduas lanchas de convidados e a imprensaaté o local, e a embarcação que levou osmergulhadores retirou o objeto. O diretor daONG, Gabriel Corrêa, acredita que o resgatedo objeto é uma oportunidade de mostrar àsociedade a importância do projeto e alertarpara a necessidade de preservar o patrimôniopúblico subaquático, “grande fonte de co-nhecimento para entender a história”.

Lápide de 800 quilos é resgatada do fundo mar

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O diretor do Instituto do Patrimônio His-tórico e Artístico Nacional (Iphan), DalmoVieira, afirma que o processo de retiradadeste material é uma página nova, tantopara a história quanto para a arqueologia.“Trata-se de uma ação com consequênciasimportantes para os cidadãos conheceremsua própria história”, disse. Para Vieira, éimportante aumentar e qualificar as pes-quisas na área, além de planejar os espa-ços de exposição e estudo.

No dia 8 de agosto, os mergulhadores/pesquisadores do Projeto Barra Sul resga-

taram mais objetos. Acompanhados do ca-pitão dos portos de Santa Catarina, Capi-tão de Mar e Guerra Claudio da CostaLisbôa, de um representante da Diretoriade Patrimônio Histórico e Documentaçãoda Marinha, Primeiro-Tenente (T) DanielMartins Gusmão, e da equipe de arqueólo-gos da Universidade do Sul de SantaCatarina, os mergulhadores retiraram umapedra triangular com escritos em latim me-dindo cerca de 1 m2 e duas esferas comaproximadamente 21 cm de diâmetro.

(Fonte: www.mar.mil.br)

A Fragata Bosísio realizou, em 8 de ju-lho último, a evacuação aeromédica de umtripulante de navio mercante que se encon-trava gravemente doente. O Navio-Mercan-te (NM) Ever Shining, de bandeira pana-menha, navegava a 610 milhas náuticas (cer-ca de 1.200 km) do porto do Rio de Janeiroquando reportou ao Serviço de Busca eSalvamento brasileiro, na madrugada de 7de julho, a necessidade de evacuação ur-gente de um de seus tripulantes.

Em razão do grave quadro de saúde dotripulante, em estado de coma devido a umtraumatismo no dorso, o Salvamar Brasildeterminou a abertura do Incidente SAR-

FRAGATA BOSÍSIO REALIZA EVACUAÇÃO AEROMÉDICADE NAVIO MERCANTE

SSE 019, sob responsabilidade do Coman-do do 1o Distrito Naval (Salvamar Sueste).Foi então acionado o navio de serviço daEsquadra, a Fragata Bosísio, com um heli-cóptero AH-11A Super Lynx embarcado.

A fragata desatracou no início da ma-nhã de 7 de julho da Base Naval do Rio deJaneiro e, na madrugada do dia seguinte,encontrou com o NM a cerca de 380 milhas(700 km) da costa. No nascer do sol, foilançada a aeronave orgânica com uma equi-pe médica para pousar no NM e resgatar otripulante enfermo.

Na tarde do mesmo dia, quando a dis-tância de terra já permitia, o helicóptero

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

decolou com destino ao Aeroporto SantosDumont, no Rio de Janeiro. Do aeroporto,o paciente foi encaminhado por ambulân-

cia ao hospital designado pela sua Compa-nhia de Navegação.

(Fonte: www.mar.mil.br)

A Agência Fluvial de Itacoatiara, subor-dinada à Capitania Fluvial da AmazôniaOcidental (CFAOC), resgatou com vida

MARINHA RESGATA HOMEM QUE CAIUNO RIO AMAZONAS

Bruno Marlus de Souza, que caiu da em-barcação B/M Cidade de Santarém I noRio Amazonas, na madrugada do dia 1o deagosto. Relatos indicam que o homem teriacaído no rio nas proximidades da comuni-dade Augusto Montenegro.

O resgate de Bruno aconteceu no mes-mo dia, por volta das 17h45, na Costa doIcurucauá, próximo ao município deItacoatiara (AM). Na ocasião, ele se en-contrava agarrado a um tronco dentro doRio Amazonas. O homem, debilitado e apa-rentemente desidratado, foi encaminhadopara o hospital de Itacoatiara. A CFAOCinstaurou inquérito administrativo paraapurar as causas do acidente.

(Fonte: www.mar.mil.br)Momento em que Bruno é resgatado

no Rio Amazonas

Durante patrulha naval nas proximida-des da Ilha de Marajó (PA), o Navio-Patru-lha (NPa) Parati apoiou as buscas aos so-breviventes do naufrágio da embarcaçãoDiamante Negro, que emborcou quandofazia a travessia de Chaves, naquela ilha,para Macapá (AP), com 41 pessoas a bor-do, entre tripulantes e passageiros.

O pedido de apoio chegou no dia 12 dejulho. O NPa Parati navegou em toda a áreafluvial entre Macapá e a Ilha do Bailique, tam-bém no Amapá, e encerrou a ação no dia 20 dejulho. Uma pessoa continuou desaparecida.

Durante a patrulha naval, o Parati, que ésubordinado ao Comando do Grupamento de

NAVIO-PATRULHA PARATI PARTICIPA DO RESGATE DENÁUFRAGOS EM MACAPÁ

Navio-Patrulha Parati apoia as buscas aossobreviventes do naufrágio da embarcação

Diamante Negro

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Patrulha Naval do Norte, unidade operativado Comando do 4o Distrito Naval (Belém-PA),também participou da apreensão de três em-

barcações por descumprimento da Lei de Se-gurança do Tráfego Aquaviário (Lesta).

(Fonte: www.mar.mil.br)

A Marinha do Brasil resgatou, na manhãdo dia 6 de julho último, o pescador Helmutdos Santos, de 38 anos, que navegava noBarco Pesqueiro Raymi, a 600 milhas náuti-cas (1.000 km) da Ilha do Marajó (PA).

Para o resgate, foi acionado o Navio-Patrulha (NPa) Guanabara, subordinadoao Comando do Grupamento de PatrulhaNaval do Norte, unidade operativa do Co-mando do 4o Distrito Naval (Belém-PA).

Helmut dos Santos foi gravemente feri-do no olho esquerdo ao ser atingido por umanzol enquanto pescava. Após receber os

NPA GUANABARA RESGATA PESCADOR

Primeiros cuidados recebidos na ambulânciado Hospital Naval de Belém

primeiros socorros de uma equipe de saúdedo Hospital Naval de Belém (HNBe)embarcada, o pescador foi transferido parao NPa Guanabara, regressando para Belém.Helmut foi encaminhado para o HNBe.

Após ser inspecionado pelo NPaGuanabara, o Barco Pesqueiro Raymi foiliberado para prosseguir viagem por nãoapresentar quaisquer irregularidades se-gundo a Lei de Segurança do TráfegoAquaviário (Lesta).

(Fonte: www.mar.mil.br)

NPa Guanabara atracando no píer da BaseNaval de Val de Cães, em Belém

A Capitania dos Portos do Paraná(CPPR) resgatou na manhã do dia 9 de agos-to último, em Guaraqueçaba (PR), a donade casa Sandra Cordeiro Morais, de 23anos, que apresentava um quadro delica-do em função de uma grave anemia.

A Marinha foi acionada pelo Corpo deBombeiros de Guaraqueçaba e enviou umade suas lanchas ao município, distante 30quilômetros de Paranaguá pelo mar. Depois

MULHER É RESGATADA PELA CAPITANIA DOSPORTOS DO PARANÁ

de receber o pri-meiro atendimentono hospital local,Sandra precisouser removida, porordem médica,para Paranaguá,onde recebeu mai-ores cuidados(foto ao lado).

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Mãe de três filhos, a dona de casa se quei-xava de fortes dores no peito e dificuldadeem se locomover, por isso foi transportadade maca pelos marinheiros até a ambulância.

Esta foi a terceira vez este ano que mili-tares da Capitania dos Portos de Paranaguá

atuaram na remoção de moradores deGuaraqueçaba. Além de Sandra Morais,eles resgataram uma idosa com problemasde saúde e uma recém-nascida de uma al-deia indígena.

(Fonte: www.mar.mil.br)

A Navalshore 2011 (Feira e Conferênciada Indústria Naval e Offshore), realizadaentre 3 e 5 de agosto último na cidade doRio de Janeiro, apresentou, entre váriasnovidades da área, a solução parasoldagem MAG Pulsada Sinérgica de AçosInoxidáveis Superduplex, da WhiteMartins. Trata-se de soldas com excelen-tes propriedades e isentas de porosidades.

Inédita no mercado, esta aplicação con-siste na utilização da mistura gasosaStargold SD juntamente com uma curvasinérgica especificamente desenvolvidapara essa mistura, a MAG WM-SD. Essepacote é o que há de mais inovador e eco-nômico na soldagem MAG de aços inoxi-dáveis superduplex, por proporcionar al-tos níveis de produtividade, redução docusto do processo e do número de cilin-dros na área de produção.

A mistura Stargold SD é a mais versátilpara essa aplicação porque pode ser utiliza-da tanto no processo TIG, quanto no proces-so MAG, e também como gás de purga nasoldagem de aços inoxidáveis superduplex.Essa versatilidade simplifica bastante a ope-ração de soldagem e a logística no pipeshop(área de fabricação dos tubos), além de redu-zir significativamente o custo total.

Este lançamento foi desenvolvido noCentro de Tecnologia Rio da WhiteMartins, reconhecido como uma referên-cia mundial no desenvolvimento detecnologias de soldagem e corte térmico. A

NAVALSHORE 2011 APRESENTA SOLUÇÕES PARA A ÁREADE CORTE E SOLDAGEM

White Martins tem uma parceria de longadata com a indústria naval, fruto de um tra-balho focado na pesquisa e desenvolvi-mento de soluções que melhorem a produ-tividade deste setor.

A nova mistura Stargold Pipe, especial-mente desenvolvida para a soldagem MAGutilizando arames Metal Cored na união detubulações de aços ao carbono da raiz atéo acabamento, garante maior produtivida-de e melhor qualidade à peça final.

O público do evento também pôde co-nhecer a nova máquina de corte CNCAutocut HDX, equipada com a soluçãoHypertherm para corte de plasma de altaperformance (HPR), que garante alta preci-são e excelente desempenho no corte dechapas metálicas com espessuras variadas.As novidades deste equipamento ficam porconta do segundo carro transversal mo-triz, que permite cortes simétricos ouassimétricos simultâneos com dois siste-mas de corte plasma de alta performance(HPR), da ampliação da capacidade de cor-te oxicombustível e da maior precisão esuavidade do novo conjunto deengrenamento do sistema de motorização.Estas características proporcionam preci-são inigualável nos cortes simétricos eassimétricos de peças de geometria com-plexa, aumentando assim a produtividadeda Autocut HDX.

Destinada a estaleiros, indústriasmetalúrgicas, caldeirarias e prestadores de

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

serviços de corte de chapas, a AutocutHDX, também desenvolvida pela WhiteMartins, está disponível em duas versões,com larguras que permitem o corte de umaou de duas chapas simultaneamente.

Outro lançamento da linha CNC Autocut éa máquina de corte CNC Autocut Uno, ideal

para aplicação de corte oxicombustível ou corteplasma. Este é um equipamento mais leve ecapaz de atender às mais diferentes faixas demercado que necessitem cortar chapas de açoao carbono, inoxidável e alumínio.

(Fonte: Press release da In Press PorterNovelli)

Com o propósito de compartilharmetodologias e resultados preliminares deprojetos existentes na área deBioincrustação, Ecologia Bêntica eBiocorrosão, aconteceu, entre 25 e 29 dejulho último, no Hotel A Ressurgência, emArraial do Cabo (RJ), o IX Encontro deBioincrustação, Ecologia Bêntica eBiocorrosão (Bioinc). O evento tem caráterinternacional, reunindo mestres e douto-res dos países participantes, e é promovi-do anualmente pelo Instituto de Estudosdo Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM),Organização Militar subordinada à Secre-taria de Ciência, Tecnologia e Inovação daMarinha (SecCTM).

Neste ano, seis países participaram: Ar-gentina, Brasil, Chile, França, Omã e Suécia.O Brasil contou com palestrantes de váriasuniversidades brasileiras e do IEAPM, queexpuseram seus estu-dos científicos e experi-ências bem-sucedidasnas áreas de Biotecno-logia, com ênfase emBioincrustação.

Pesquisas indicamque a Bioincrustaçãose mantém como umimportante vetor notransporte de espéciesincrustantes, gerandoprejuízos considerá-veis, já que está rela-

IX ENCONTRO DE BIOINCRUSTAÇÃO, ECOLOGIA BÊNTICAE BIOCORROSÃO

cionada com o aumento do consumo decombustível em navios, sobrecarga dosmotores e maior tempo de manutenção elimpeza.

O tema principal do IX Bioinc foi “A con-solidação de redes de pesquisa emBioincrustação” e contou com a participa-ção do secretário de Ciência, Tecnologia eInovação da Marinha, Vice-Almirante IlquesBarbosa Júnior, que frisou a importânciadesses estudos para a capacidade logísticado Poder Naval, mencionando a conexãoentre a Bioincrustação e a mobilidade navale seus efeitos sobre a economia, já que tam-bém atinge a Marinha Mercante.

O encontro recebeu, ainda, representan-tes das empresas de tinta Akzo Nobel,Renner e WEG. A estudante MariannaLanari, da Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), foi contemplada com o prê-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

mio Almirante Paulo Moreira pelo trabalho“Efeitos da biodiversidade sobre a produ-ção primária de macroalgas do infralitoralda Ilha de Cabo Frio (RJ)”.

TECNOLOGIA ANTI-INCRUSTANTE

Várias tintas com composições anti-incrustantes já foram testadas, entre elasas tintas a base de tributil-estanho, que,apesar de sua eficiência, foram banidas porvários países, inclusive o Brasil, devido àalta toxidade e persistência no ambiente.

Diante da inexistência no mercado de umproduto menos degradante ao ambientemarinho, desde 1995 o IEAPM vem traba-lhando em um projeto de desenvolvimentode tinta anti-incrustante à base de biocidanatural. O projeto, coordenado por RicardoCoutinho, conta com a participação de pes-quisadores da UFRJ e da Universidade Fe-

deral Fluminense (UFF) e é realizado em par-ceria com a empresa de tintas Akzo Nobel-International, sediada em São Gonçalo (RJ).

Desde seu início foram feitas coleta, iden-tificação e extração de substâncias de orga-nismos marinhos de Arraial do Cabo, testan-do sua atividade anti-incrustante em labora-tório e em campo (UFF e IEAPM). As subs-tâncias com melhor desempenho foramselecionadas para síntese em laboratório, e asubstância sintetizada foi, então, enviada paraa Akzo Nobel-International, onde foi feita acompatibilização do biocida com matrizes detintas, além de uma série de outros testes.

Em maio de 2008, foi produzida a primei-ra tinta contendo o biocida sintetizado eforam pintados corpos de provas coloca-dos na Baía de Guanabara e no Campo deProvas do IEAPM, na Ilha de Cabo Frio,que obtiveram resultados satisfatórios.

(Fonte: www.mar.mil.br)

No período de 6 a 10 de junho, foi reali-zada em Valparaíso (Chile) a III Reunião deEstados-Maiores entre a Marinha do Bra-sil e a Armada do Chile. A atividade ocor-reu nos salões do Estado-Maior da Arma-da, localizado no Edifício Armada do Chile.

A comitiva brasileira foi chefiada pelosubchefe de Estratégia do Estado-Maior daArmada, Contra-Almirante Flávio Soares

MARINHA REALIZA REUNIÃO BILATERAL DEESTADOS-MAIORES COM A ARMADA DO CHILE

Ferreira, que foi recebido pelo chefe do Es-tado-Maior Geral da Armada do Chile, Vice-Almirante Francisco Javier Guzmán Vial.

A reunião confirmou a parceria entre asduas Marinhas na realização de cursos,embarques, visitas e troca de informaçõesa serem realizadas nos anos de 2012 e 2013.A iniciativa também contará com essa par-ceria nas áreas de pessoal, material, opera-ções, ciência e tecnologia, envolvendo

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

marinheiros, fuzileiros, intendentes, enge-nheiros navais e o pessoal civil das duasMarinhas.

Durante a visita oficial ao Chile, o Almi-rante Flávio teve a oportunidade de visitaras instalações do Sistema Nacional de Alertade Maremotos, na sede do ServiçoHidrográfico e Oceanográfico da Armada

do Chile, que passou por grandereestruturação após o terremoto e tsunamide 27 de fevereiro de 2010. Foi apresenta-da, na ocasião, a nova sistemática dedetecção, avaliação e divulgação das in-formações sobre sismos ou catástrofes cominfluência sobre o mar.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Com o tema principal “A transformaçãoda Defesa Nacional – estrutura, recursos ecapacidades para enfrentar os desafios doséculo XXI”, foi realizado, em 27 e 28 dejulho último, o I Semi-nário Internacional Li-vro Branco de DefesaNacional. Promovidopelo Ministério da De-fesa, o evento aconte-ceu nas dependênciasdo Vivo Rio, Rio de Ja-neiro, sob patrocínioprincipal da EmbraerDefesa e Segurança.

O seminário foiaberto pelo então ministro da Defesa, Nel-son Jobim, e contou com militares da Mari-nha, do Exército e daForça Aérea, profissi-onais civis e 12 reno-mados palestrantes,sendo seis nacionais eseis internacionais, di-vididos em painéistemáticos das áreas dedefesa, relações inter-nacionais, política etecnologia. Eles deba-teram sobre a políticaestratégica e as priori-dades da defesa do País, num horizonte demédio e longo prazos. Em discurso, o Almi-

I SEMINÁRIO INTERNACIONAL LIVRO BRANCODE DEFESA NACIONAL

rante de Esquadra Mauro Cesar RodriguesPereira, ex-ministro da Marinha, falou sobreo controle da fronteira oriental do Brasil.

O Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN)é um documento públi-co que expõe a visão doGoverno sobre o temada defesa para a comu-nidade nacional e inter-nacional, permitindoaos cidadãos o acessoao contexto da Estraté-gia Nacional de Defesa.Seu propósito é nortearos rumos do setor de de-fesa nacional diante dos

desafios que o País tem pela frente, como apreservação das riquezas nacionais, destacan-

do a Amazônia e as re-servas de petróleo dopré-sal.

Os assuntos discu-tidos para a construçãodo Livro Branco têmcomo base os seguin-tes temas: Estado bra-sileiro e identidade na-cional, ambiente estra-tégico do século XXI,defesa e instrumentomilitar, sinergia entre

defesa e sociedade, transformação da defesanacional e financiamento da defesa nacional.

O Livro Branco é umdocumento público quepermite aos cidadãos oacesso ao contexto dadefesa e também um

instrumento de prestaçõesde contas

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O LBDN será produzido após amplasconsultas dentro e fora do governo. Elevisa refletir um consenso de base amplacom respeito à Defesa do País, no contextodas prioridades nacionais, do marco jurídi-co e dos recursos dis-poníveis. Nos LivrosBrancos se registramas análises realizadaspelo governo sobre oentorno de segurança,tanto na esfera domés-tica como na interna-cional. Este trabalhopode incluir uma avaliação dos riscos e dosfatores tradicionais e não tradicionais queafetam a segurança do País. O documentodestaca questões da mais alta prioridade eproporciona uma visão geral do modo comoa Política de Defesa será implementada paraenfrentar esses desafios. Também descre-ve, em termos amplos, as capacidades efunções, atuais e planejadas, das forças dedefesa.

O Livro Branco da Defesa é também uminstrumento de prestações de contas. É es-sencial que as políticas e os objetivos deleconstantes reflitam os níveis de recursosque o governo disponibilizará às forças de

defesa e sejam coeren-tes com eles. Podeconter critérios de me-dição de desempenho,como prazos para areestruturação dasForças Armadas. Istotorna o Estado brasi-leiro responsável pe-

los objetivos declarados e o capacita a jus-tificar as alocações dos recursos orçamen-tários necessários para alcançar os níveisde desempenho exigidos para cumprir a Po-lítica de Defesa do Governo.

A elaboração do LBDN requer, portan-to, para sua efetivação uma cooperaçãocom a sociedade brasileira, respeitando-se,assim, os pilares da democracia. Dessemodo, a sua preparação não é atividade aser executada somente no âmbito do Mi-nistério da Defesa, mas sim por diversosatores da sociedade brasileira, sob a coor-denação deste órgão.

Com o propósito de discutir os temas egerar subsídios para a elaboração do seuconteúdo, o Ministério da Defesa realizou,ao longo deste ano, seminários em váriascidades brasileiras, como Campo Grande(MS), Porto Alegre (RS), Manaus (AM),Recife (PE) e São Paulo (SP), além do Riode Janeiro. No sétimo seminário, a ser rea-lizado em Brasília, em novembro de 2012,os trabalhos serão encerrados e haverá olançamento do LBDN. A primeira edição doLivro Branco brasileiro será, então, apre-sentada ao Congresso Nacional.

Além dos seminários, também estão pre-vistas seis oficinas temáticas, cada uma tra-tando de um tema específico do Livro Bran-co de Defesa do Brasil. Elas serão compos-

A primeira edição do LivroBranco brasileiro será

apresentada ao CongressoNacional em 2012

AE Mauro Cesar discursa no seminário

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

tas por militares e especialistas nas áreas dediscussão. Os profissionais irão trabalharpor três meses consecutivos e deverão apre-sentar trabalhos sobre o tema. Esses traba-lhos servirão de insumos para o LBDN. Se-rão realizados, ainda, seis workshops paradiscutir as questões pertinentes ao Livro,além de mesas redondas e entrevistas. Osworkshops serão integrados pelos profissi-onais das oficinas temáticas e também es-pecialistas convidados. Essas atividadesnão serão abertas ao público. Sugestões epropostas para as oficinas podem ser envi-adas para: [email protected].

A legislação sobre Livro Branco de De-fesa pode ser encontrada nos seguinteslinks: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp136.htm (Lei Complementar136 de 25 de agosto de 2010) e http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7438.htm (Decreto nº7.438, de 11 de fevereiro de 2011)

(Fontes: Bono no 524 de 25/7/2011, www.mar.mil.br, https://www.defesa.gov.br/projetosweb/livrobranco/oquee_livrobranco.php e http://www.defesa.gov.br/projetosweb/livrobranco/seminario-transformacao-defesa-nacional.php)

A Escola de Guerra Naval (EGN) partici-pou, no período de 12 a 14 de julho último,do Seminário International de Aquisiçõespara Defesa, realizado no Institute forDefence Studies and Analyses, em NovaDéli, na Índia. A EGN foi representada peloCapitão de Mar e Guerra (RM1) William deSousa Moreira, que apresentou o trabalhointitulado “Estrutura Organizacional e Qua-dro Processual para Aquisição de Defesano Brasil: O desafio de transferência detecnologia”, escolhido pelo Ministério daDefesa em processo seletivo.

O seminário foi uma oportunidade paradebater as grandes questões ligadas àDefence Acquisition1, expressão que sin-tetiza toda a dinâmica dos grandes proces-sos de obtenção de produtos de defesanecessários ao adequado equipamento dasForças Armadas.

No seminário, foram analisadas experi-ências e tendências internacionais de di-versos países, entre eles Brasil, China,Coreia do Sul, Estados Unidos da América,

EGN PARTICIPA DE SEMINÁRIO INTERNACIONALNA ÍNDIA

1 N.R.: Em português, Aquisições para Defesa.

França, Malásia, Reino Unido e Rússia. Ahipótese central da discussão é que o mo-delo e a estrutura organizacionais, a basenormativa e as práticas metodológicas afe-tam a eficiência e os resultados da aplica-ção dos vultosos recursos envolvidos nasgrandes obtenções.

O Comandante William Moreira é do-cente da EGN, pesquisador do Centro deEstudos Político-Estratégicos da EGN e doNúcleo de Estudos Estratégicos da Uni-versidade Federal Fluminense, onde tam-bém é doutorando em Ciência Política.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Sob organização e coordenação da Se-cretaria de Ciência, Tecnologia e Inovaçãoda Marinha (SecCTM), foi realizado, de 21 a23 de setembro último, o II Simpósio de Ci-ência, Tecnologia e Inovação da Marinha,com o tema “A importância presente e futu-ra do mar”. O evento aconteceu no Centrode Pesquisas da Petrobras (Cenpes), Rio deJaneiro. O simpósio visou aprofundar e am-pliar os debates sobre áreas de conhecimen-to ligadas às ciências do mar, apresentar oestado da arte no desenvolvimento científi-co-tecnológico e propor ações com o obje-tivo de assegurar as riquezas de um imensoespaço oceânico, a “Amazônia Azul”, paraas futuras gerações de brasileiros.

Na abertura do evento, foi proferida aconferência “A inserção do espaço oceâ-nico na política de Estado para Ciência,Tecnologia e Inovação (CT&I)”, a cargodo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ino-

II SIMPÓSIO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃODA MARINHA

vação (MCTI). No mesmo dia, foi apresen-tada pela SecCTM a conferência acadêmi-ca “O valor geopolítico do espaço oceâni-co brasileiro – A Oceanopolítica”.

Durante os três dias, foram exibidos pai-néis por Organizações Militares (OM) daMarinha e órgãos como Ministério das Re-lações Exteriores, Serviço Geológico do Bra-sil, MCTI, Universidade Federal do Rio Gran-de do Sul, Petrobras, Universidade Federaldo Rio de Janeiro, Centro de Gestão e Estu-dos Estratégicos, Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq), Financiadora de Estudos e Proje-tos (Finep), Coordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Superior (Capes)e Universidade Federal Fluminense. Tam-bém foram apresentadas palestras por re-presentantes dessas instituições.

(Fontes: Bono no 558, de 9/8/2011, ewww.secctm.mar.mil.br)

“A Pesquisa Operacional e Logística naAmazônia Azul” foi o tema do XIV Simpósiode Pesquisa Operacional e Logística da

XIV SIMPÓSIO DE PESQUISA OPERACIONALE LOGÍSTICA DA MARINHA

Marinha (Spolm). O evento foi realizadonos dias 15 e 16 de setembro último, naEscola de Guerra Naval, Rio de Janeiro.

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304 RMB3oT/2011

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Organizado pelo Centro de Análisesde Sistemas Navais (Casnav), osimpósio teve a participação de inte-grantes das Forças Armadas, órgãos dogoverno, do setor produtivo de bens eserviços, de empresas privadas do seg-mento de Pesquisa Operacional eLogística e de acadêmicos e pesquisa-dores, que tiveram a oportunidade decompartilhar informações e experiênci-as, identificar sinergias para a execu-ção de projetos de desenvolvimentotecnológico, formar parcerias e captar re-cursos humanos qualificados.

Foram realizados minicursos, workshope mesa-redonda de aplicações militares e

também apresentados trabalhos relaciona-dos ao tema.

(Fontes: Bono no 558, de 9/8/2011, ewww.casnav.mar.mil.br/spolm/)

O Comando do 9o Distrito Naval(Manaus-AM), em conjunto com a PolíciaFederal (PF), realizou, em 24 de julho últi-mo, uma operação integrada no Amazonas,na qual foram presos dois traficantes e apre-endidos 300 quilos de cocaína pura, emba-lada em pacotes e avaliada em R$ 4,5 mi-lhões. A apreensão de cocaína foi a maiorrealizada este ano no Estado do Amazonas

MARINHA E PF REALIZAM GRANDE APREENSÃO DECOCAÍNA NO AMAZONAS

e envolveu oito policiais federais e 70 ho-mens da Marinha.

Participaram dessa ação de apoio o Na-vio-Patrulha Fluvial Amapá e um destaca-mento de Fuzileiros Navais do Batalhão deOperações Ribeirinhas de Manaus, queacompanhou a ação da PF desde o dia 19 dejunho. A apreensão da droga foi realizadanas proximidades de Anori, no Rio Solimões,

a 195 km de Manaus. Durantea ação, um outro homem, nãoidentificado, se jogou no rioe está foragido.

Além da droga, foramapreendidas 30 munições depistola 9mm e 25 muniçõesde escopeta calibre 12. Ospresos foram encaminhadospara a Cadeia Pública Desem-bargador Raimundo VidalPessoa e autuados por tráfi-co de entorpecentes e porteilegal de munição.

(Fonte: www. mar.mil.br)Navio-Patrulha Fluvial Amapá

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Com o objetivo de combater delitostransfronteiriços e ambientais na faixa defronteira da Amazônia, o Ministério da De-fesa e as Forças Armadas brasileiras reali-zaram, de 5 a 19 de agosto último, a Opera-ção Ágata I. As ações fizeram parte do Pla-no Estratégico de Fronteiras (PEF), lança-do pela Presidente Dilma Rousseff em ju-nho de 2011, para estabelecer alianças comos países que fazem fronteira com o Brasil.

A Marinha do Brasil integrou a opera-ção com três navios-patrulha fluviais, doisnavios de assistência hospitalar e duas ae-ronaves, em ações de patrulha e inspeçãonaval e em atividades cívico-sociais. A For-ça Naval Componente empregada na Ope-ração Ágata I contou com o apoio jurídicode oficiais da Marinha do Brasil. Um oficialsuperior, mestre em Direito InternacionalMarítimo e especialista em Direito Interna-cional dos Conflitos Armados, e um oficialbacharel em Direito embarcado em unidadeoperativa prestaram assessoria jurídica àsatividades que se desenrolaram no teatrode operações.

A Operação Ágata I teve como propósi-tos, ainda, reduzir os índices de criminalida-de, coordenar o planejamento e a execução

AMAZÔNIA – A MARINHA DO BRASILNA OPERAÇÃO ÁGATA I

de operações militares e policiais, intensi-ficar a presença do Estado brasileiro na re-gião e incrementar o apoio à população re-sidente na faixa de fronteira. Buscou-setambém a cooperação com países amigosvizinhos ao Brasil no combate a ilícitos.

Em 4 de agosto, na cidade de Tabatinga(AM), o Brasil e a Colômbia firmaram um acor-do para a Criação da Comissão BinacionalFronteiriça (Combifron) e para a adoção doPlano Binacional de Segurança Fronteiriça.A cerimônia contou com a participação dovice-presidente da República, Michel Temer;do então Ministro da Defesa, Nelson Jobim;

do ministro da Justiça, José EduardoCardozo; e do ministro da Defesa Nacionalda Colômbia, Rodrigo Rivera Salazar. Tam-bém estiveram presentes autoridades milita-res e civis, entre as quais o comandante daMarinha do Brasil, Almirante de Esquadra

Julio Soares de MouraNeto; o comandante doComando Militar daAmazônia, General deExército Luiz Carlos Go-mes Mattos; o coman-dante do 9o Distrito Na-val (Manaus-AM),Vice-Almirante AntonioCarlos Frade Carneiro; eo comandante do VIIComando Aéreo Regio-nal, Major BrigadeiroNilson Soilet Carminati.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O acordo prevê operação conjunta dasForças Armadas brasileiras com a partici-pação de órgãos federais e estaduais, taiscomo Polícia Federal (PF), Instituto Brasi-leiro de Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis (Ibama), Secretaria daReceita Federal (SRF), Sistema de Prote-ção da Amazônia (Sipam), Força Nacionalde Segurança (FNS), Agência Brasileira deInteligência (Abin), além de órgãos de se-gurança pública do estado do Amazonas.

As ações de patrulha naval, patrulha einspeção naval da Ágata I foram desenvol-vidas nas calhas dos rios Solimões, Içá,Japurá e Negro pelos navios-patrulha fluvi-ais Pedro Teixeira, Amapá e Roraima e

co-sociais ocorreram nas comunidades ca-rentes das calhas dos rios Solimões, peloNavio de Assistência Hospitalar Dr.Montenegro, e Negro, pelo Navio de Assis-tência Hospitalar Oswaldo Cruz.

NPaFlu Pedro Teixeira

NPaFlu Amapá

NPaFlu Roraima

embarcações do Destacamento de SãoGabriel da Cachoeira, além de meios da Ca-pitania Fluvial de Tabatinga e do Grupamentode Fuzileiros Navais. Já as atividades cívi-

Durante a operação, o Navio de Assistên-cia Hospitalar (NAsH) Doutor Montenegrorealizou, em Tabatinga (AM), atendimentosmédicos e odontológicos e exames de pre-venção do câncer de mama. Além do atendi-mento às comunidades ribeirinhas, o navioapoiou o grupo-tarefa de navios da área emcomunicações via satélite.

O NAsH Oswaldo Cruz, um dos cincomeios destacados pelo Comando do 9o Dis-trito Naval (Com9oDN) para a Operação, re-alizou 505 procedimentos médicos em ape-nas dois dias de operação. No dia 5 deagosto, foram atendidas cem pessoas domunicípio de Santa Isabel do Rio Negro(AM), sendo realizados 314 procedimen-tos: 39 atendimentos médicos, 245odontológicos, dez de enfermagem, cincoexames laboratoriais, seis exames gineco-lógicos, quatro exames dermatológicos,uma intervenção cirúrgica e quatro examesde raios X. Além disso, foram ministradaspalestras sobre Doenças SexualmenteTransmissíveis/Aids e higiene bucal para287 pessoas. No dia 8, o navio atendeu 50pessoas na comunidade Samaúma, locali-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

NAsH Osxaldo Cruz

NAsH Doutor Montenegro

Acusado de assassinato é detido

zada a 32 quilômetros de Santa Isabel doRio Negro. Foram feitos 191 procedimen-tos, entre atendimentos médicos, odonto-lógicos, de enfermagem, dermatológicos evacinações.

Além disso, o NASH Oswaldo Cruzapreendeu uma balsa com carga de peixesornamentais, irregularidade comprovadapor equipe do Ibama. Segundo o superin-tendente regional do órgão, esse tipo deoperação serve para dinamizar as ações doInstituto em relação à pesca ilegal, ao com-bate a garimpos não autorizados e à extra-ção irregular de madeiras. No município deTabatinga, uma das regiões que mais ne-cessita de atenção e que teve o maior nú-mero de militares destacados, foi apreendi-da uma tonelada de mercadoria irregularpela Receita Federal.

Outra ocorrência de destaque durante aOperação Ágata I foi a abordagem da em-

barcação Oliveira V por uma lancha daAgência Fluvial de Tefé (AM). Naquelaembarcação, foi reconhecido um homemforagido da Justiça. O fato aconteceu nodia 12 de agosto, na altura do município deAlvarães (AM). Durante a inspeção naembarcação, um militar identificou o ho-mem como condenado na Justiça por as-sassinato. A Agência Fluvial de Tefé acio-nou a Polícia Militar e o entregou aos poli-ciais. A embarcação foi liberada.

O fato demonstra a importância de serealizarem operações conjuntas entre asForças Armadas e órgãos federais e esta-duais como aconteceu na Operação, naqual ações de repressão ao tráfico de dro-gas, de fiscalização do tráfego aquaviárioe de apoio à população foram desenvolvi-das com eficácia e rapidez.

No décimo dia da Operação Ágata I,mais de 2 mil embarcações já tinham sidoabordadas pelas lanchas de ação rápida daMarinha do Brasil no Rio Solimões. Essaslanchas são lançadas pelos navios-patru-lha fluviais que realizam patrulhas e inspe-ções navais nos rios da Amazônia.

Além de orientar e autuar embarcaçõesque trafegam ilegalmente e comprometema segurança da navegação, o Navio-Patru-lha Fluvial (NPaFlu) Pedro Teixeira com-bateu o tráfego de ilícitos nas fronteiras.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Abordagem e inspeção

Coletiva de imprensa

O NPaFlu Roraima realizou ação de pre-sença, patrulha e inspeção naval em todacalha do Rio Japurá, com a participação do3o Pelotão Especial de Fronteira de VilaBittencourt e do Esquadrão 1o/12 – Esqua-drão de Veículos Aéreos não Tripulados(Vant), com sede em Santa Maria (RS). OVant observou, ao longo de três dias devoos na região, indícios de um grupo depessoas isoladas em atividades suspeitasnas proximidades da fronteira do Brasilcom a Colômbia. Ao ser acionado, o naviodesatracou de Vila Bittencourt, juntamentecom quatro lanchas orgânicas do ExércitoNacional da Colômbia, duas embarcaçõesde transporte de tropas do Exército Brasi-leiro e duas lanchas de ação rápida daMarinha do Brasil, com dois Grupos deCombate, guarnecidos por fuzileiros navaisdo Batalhão de Operações Ribeirinhas.

A Marinha também apoiou a ReceitaFederal, recebendo dois agentes do órgãoa bordo do Pedro Teixeira. Os agentes re-alizaram inspeção no porto de Tabatinga abordo da lancha de ação rápida, acompa-nhados de seis militares subordinados aoComando do 9o Distrito Naval. De acordocom o auditor fiscal da Receita FederalRoberto Vaz Goes, o trabalho da Marinhafoi fundamental para complementar as ati-vidades de fiscalização da Receita durantea Operação Ágata I.

No dia 9, no Comando Militar da Ama-zônia, foi realizada coletiva de imprensa

sobre a Operação. Estiveram presentes ocomandante da Área de Operações Ama-zônia, General de Exército Luiz Carlos Go-mes Mattos; o comandante da Força NavalComponente e comandante do 9o DistritoNaval, Vice-Almirante Antonio Carlos Fra-de Carneiro; o comandante da Força AéreaComponente, Coronel José Maurilo Macha-do de Lima; o superintendente da PolíciaFederal no Amazonas, Sérgio Lúcio dosSantos Fontes; o superintendente da Re-ceita Federal, Maurício Fernandes Moreira;e o superintendente regional do Ibama,Mário Lúcio da Silva Reis.

Na ocasião, o General Mattos esclare-ceu que os maiores desafios de uma opera-ção na região de fronteira são a logística e ocomando e controle. Segundo ele, os resul-tados em relação à inibição de delitostransfronteiriços e ambientais, bem como aocrime organizando, estavam sendo alcança-dos. O general disse, ainda, que o mesmoempenho da operação no Brasil estava sen-do desenvolvido pelas Forças Armadas daColômbia no outro lado da fronteira.

O Almirante Frade ressaltou as dificul-dades enfrentadas pela população que ha-bita nas regiões fronteiriças, principalmen-te na área de saúde, e por isso destacou aimportância dos atendimentos cívico-so-ciais que a Marinha do Brasil desenvolvenas regiões ribeirinhas por meio dos navi-os de assistência hospitalar.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

De acordo com o CoronelMachado, os meios da ForçaAérea Brasileira (FAB) foramdesdobrados em maior quan-tidade para São Gabriel da Ca-choeira e Tabatinga, aumen-tando a presença do Estadona fronteira.

O superintendente da Po-lícia Federal comentou que,na fase preparatória da Ope-ração Ágata 1, contou como apoio da Marinha do Bra-sil na apreensão de 300 kgde cocaína. “O apoio recebi-do das Forças Armadas éfundamental para visitar edesativar garimpos ilegais, entre outras ati-vidades da Polícia Federal na faixa de fron-teira”, disse.

Na tarde do dia 11 de agosto, uma equipedo programa Fantástico, da TV Globo, este-ve no Comando Militar da Amazônia (CMA),sendo recebida pelo Almirante Frade, quediscorreu sobre as ações que estavam sen-do conduzidas pelas Forças Armadas e pe-los órgãos de Segurança Pública e sobre aabrangência de atuação desses órgãos go-vernamentais em toda a área da Operação.Acompanhado de representantes do Exér-cito Brasileiro e da FAB, o almirante apre-sentou o Centro de Operações, no CMA,local onde foi exercida a coordenação, ocomando e o controle das atividadesconduzidas na área de atuação da Ágata I.Para realizar uma reportagem sobre as açõestáticas desenvolvidas, os repórteres do Fan-tástico se deslocaram, no período de 13 a 16de agosto, para o local das manobras, acom-panhados de uma equipe de divulgação doComando da Operação.

Jornalistas da imprensa local tambémcobriram a atuação das Forças Armadasdurante a Operação Ágata I, visitando osmunicípios de São Gabriel da Cachoeira e

Tabatinga. Os jornalistas conheceram osnavios da Marinha e aeronaves das trêsForças Armadas. Foram visitados o NAsHDoutor Montenegro e o NPaFlu PedroTeixeira. A imprensa acompanhou as ativi-dades de patrulha e inspeção naval e asações cívico-sociais prestadas pelos “Na-vios da Esperança” aos ribeirinhos. Alémdisso, os cinegrafistas embarcaram na ae-ronave pertencente ao Esquadrão de Heli-cópteros de Emprego Geral – HU-3 paraobter imagens aéreas.

Na Operação, coube à MB o papel pre-ponderante de prover apoio médico,logístico e, principalmente, demonstrar su-perioridade diante das possíveis ameaças,navegando 46 km do Rio Apaporis e mais29 km no Rio Traíra. Toda a navegação foiconcluída com sucesso, cabendo ressaltarque o Rio Traíra, de característicasmarcantes em sua sinuosidade, larguraaproximada de 70 metros e sondagens va-riando entre 1,9 e 6,5 metros, com média de4,5 metros de profundidade, permitiu que oNPaFlu Roraima atingisse com sucesso aCachoeira do Jacamin, limite natural do rio,nunca antes navegado pela Marinha.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Cachoeira do Jacamin

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Força-Tarefa Marítima (FTM) da ForçaInterina das Nações Unidas no Líbano (Unifil)realizou, nos dias 29 e 30 de junho último, naárea marítima compreendida entre o Líbano eChipre, a maior Operação Conjunta com aMarinha libanesa desde a sua criação, em2006. Além do adestramento das unidadesnavais, a viagem teve como propósito o trei-namento dos cadetes da LAF-Navy(Lebanese Armed Forces – Navy). A opera-ção contou com a participação de seis navi-os, sendo três da FTM e três da LAF-Navy.

Segundo o mandato estabelecido pelaResolução do Conselho de Segurança dasNações Unidas 1.701/2006, uma das tare-fas da FTM é treinar a Marinha libanesa.Para isso, durante a comissão, foram con-duzidos diversos exercícios, tais como:manobras táticas, transferência de cargaleve, tiro de superfície sobre o alvo à deri-va, combate a incêndio e lançamento realde chaff com simulação de reação rápidacontra ataque aéreo.

Para acompanhar a Operação, embarca-ram no navio de apoio logístico alemão FGSMosel, pertencente à FTM, o comandante

FORÇA-TAREFA MARÍTIMA DA UNIFILREALIZA A MAIOR OPERAÇÃO CONJUNTA

COM A MARINHA LIBANESA

Navios da Força-Tarefa Marítima e daMarinha libanesa em formatura

da Força da Unifil, Major-General AlbertoAsarta Cuevas; o director of missionsupport (DMS), Girish Sinha; o comandan-te da FTM, Contra-Almirante Luiz HenriqueCaroli; e o comandante da LAF-Navy, Con-tra-Almirante Nazih Baroudi.

Como parte das atividades protocola-res em terra, a delegação visitou as instala-ções da Base de Apoio Logístico da Mari-nha da Alemanha, no porto de Limassol,responsável pelo apoio aos navios alemãesda Unifil, assim como a Missão de Paz daOrganização das Nações Unidas (ONU) noChipre, na cidade de Nicosia.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Em 19 de junho último, a Marinha doBrasil, a exemplo do que aconteceu no Com-plexo do Alemão e nos Morros do SãoCarlos e da Mineira, apoiou o Governo doEstado do Rio de Janeiro na operação queculminou com a ocupação de quatro comu-nidades na Zona Norte da cidade: Man-

MARINHA APOIA GOVERNO DORIO DE JANEIRO EM NOVA OPERAÇÃO

NA ZONA NORTE

gueira, Tuiuti, Telégrafo e Parque daCandelária.

Por volta das 6 horas da manhã, carrosde combate da Marinha transportaram for-ças policiais para pontos estratégicos dascomunidades ocupadas. Para esta opera-ção de apoio logístico, foi ativado um

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

grupamento operativo de fuzileiros navais,com um efetivo de 18 oficiais e 149 praças.Também foram empregadas seis viaturasblindadas especiais M-113 e três carrosLagarta anfíbios para transporte de pesso-al, além de viatura de comando e controle eum carro SK Socorro. Além disso, viaturasblindadas e outros meios de Fuzileiros Na-vais estavam disponíveis para melhor aten-der às necessidades da Secretaria Estadu-al de Segurança Pública, que instalou naregião a 18a Unidade de Polícia Pacificado-ra (UPP).

(Fonte: www.mar.mil.br)

Carros de combate da Marinha transportaramforças policiais para pontos estratégicos das

comunidades ocupadas

Os navios-patrulha fluvial (NPaFlu)Roraima, Rondônia e Amapá formaram, emjulho último, um Grupo-Tarefa para realizara Comissão Negro I/2011. Os navios sãosubordinados ao Comando da Flotilha do

MARINHA REALIZA A COMISSÃO NEGRO I/2011

Amazonas, organização operativa do Co-mando do 9o Distrito Naval – Manaus (AM).

Foram realizadas atividades de PatrulhaNaval, Inspeção Naval e patrulhapatrimonial; exercícios de fase de adestra-mento, em especial tiro com canhão de40mm e metralhadora de 20mm na raia detiro de Velho Airão, além de tiro com lanchade ação rápida/embarcação de transportede tropa; manobras táticas; e transferênciade carga leve, executada entre três naviosnavegando a contrabordo.

A comissão visou manter o preparo dastripulações quanto às especificidades doemprego dos meios navais no ambienteamazônico. Dessa forma, elas estarão pron-tas para superar os desafios impostos pelaregião.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Navios-patrulha fluvial Amapá (esq.), Rondônia(centro ) e Roraima (dir.) navegando a

contrabordo durante a Comissão Negro I/2011

Como resultado do Comitê NavalOperativo formado entre as Marinhas doBrasil (MB) e dos Estados Unidos da Amé-

MB NA OPERAÇÃO DE AJUDA HUMANITÁRIACONTINUING PROMISE 2011

rica (EUA), a MB participa, desde abril de2011, da Operação de Ajuda HumanitáriaContinuing Promise 2011, exercício anual

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Atendimento odontológico

Navio-Hospital USNS Comfort

Atendimento médico

sob controle operativo do Comando dasForças Navais do Comando Sul dos EUA,com sede em Mayport, na Flórida.

Até 4 de setembro, a bordo do Navio-Hos-pital USNS Comfort, encontram-se embarcadasduas oficiais – uma médica e uma cirurgiã-dentista – pertencentes ao Centro de Medici-na Operativa da Marinha e à Unidade MédicaExpedicionária da Marinha. Elas prestam as-sistência à população de países da Américado Sul, da América Central e do Caribe.

Neste ano, a Operação ContinuingPromise conta com cerca de 500 militares ecivis que realizam assistência médica,odontológica e veterinária, serviços deengenharia, ações cívico-sociais e inter-

câmbios nos seguintes países: Colômbia,Costa Rica, El Salvador, Equador,Guatemala, Haiti, Jamaica, Nicarágua e Peru.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Submarino Timbira cruzou o Canaldo Panamá em 24 de maio último, em cum-primento à sub-rota da comissão em dire-ção ao Peru, a fim de participar das come-morações em homenagem ao centenário da

SUBMARINO TIMBIRA ATRAVESSA CANAL DO PANAMÁ

Força de Submarinos daquele país. O traje-to foi transposto pela última vez por sub-marino brasileiro na década de 60, quandoa Marinha do Brasil recebeu os submari-nos da classe Guppy.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Submarino Timbira durante a travessia doCanal do Panamá

Após ser autorizado a adentrar o que-bra-mar de Cristóbal, no Atlântico, o Timbiracruzou o Lago Gatun, o Corte de Gaillard, aEclusa de Pedro Miguel, o Lago e os Di-ques de Miraflores, movimentando-se den-tro das eclusas com suas próprias máqui-nas até descer ao Oceano Pacífico.

Toda a travessia foi acompanhada aovivo pelo Comando da Força de Submari-nos, com o uso de sites do Canal do Panamáe do Sistema de Identificação Automática.

O comandante do Timbira, Capitão deFragata Thadeu Marcos Orosco CoelhoLobo, classificou a travessia como um su-cesso e uma oportunidade única de ades-tramento. Segundo ele, a comissão tem ge-rado muitos benefícios à tripulação do na-vio. “As atracações em portos de Marinhasamigas permitem a troca de experiências emdiversos âmbitos do campo operacional”,disse o comandante. O planejamento de co-

missões de longa duração, a execução doapoio logístico em ambientes operacionaisdiversos e a condução de longos períodosde trânsito são alguns exemplos.

O submarino seguiu rumo à cidade deGuayaquil, no Equador, último porto notrânsito até Callao, no Peru.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Após quase dois anos de tratativas, aFundação de Estudos do Mar (Femar) esta-beleceu parceria com a Companhia de Pes-quisa de Recursos Minerais (CPRM) paraapoiar o Projeto de Pesquisa sobre aPotencialidade de Recursos Minerais no Mar.Este projeto faz parte do Programa deProspecão e Exploração de Recursos Mine-rais na Plataforma Continental Brasileira e naÁrea Internacional do Atlântico Sul e Equa-torial (Proarea). O objetivo principal é realizaro reconhecimento geológico e o levantamen-to da potencialidade mineral de uma área de95 mil km2 que representa interesses econô-micos, geológicos e ambientais.

O projeto é importante para o Brasil, ten-do em vista que os países que apresenta-rem seus trabalhos de pesquisa científicana Organização das Nações Unidas (ONU)

FEMAR APOIA PROJETO DE PESQUISA SOBRE APOTENCIALIDADE DE RECURSOS MINERAIS NO MAR

poderão pleitear os direitos de extraçãomineral dessas áreas internacionais.

Como resultado da parceria com a CPRM,em 3 de junho último zarpou do Porto deRio Grande (RS) o navio francês MarionDufresne, contratado pela Femar para apoi-ar a fase de coleta de dados do projeto,com três toneladas de equipamentos depesquisas e 41 brasileiros a bordo, entrepesquisadores, alunos de universidades efuncionários da CPRM.

A Fundação de Estudos do Mar, alémde utilizar a sua estrutura de Gerenciamentode Projetos, de Licitações e Contratos, deCompras e Financeira, alocou dois funcio-nários com dedicação exclusiva paragerenciar e apoiar as atividades logísticasdo projeto. Um funcionário é graduado emCiências Náuticas e aperfeiçoado em

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Hidrografia. O outro tem graduação emOceanografia.

Todo o esforço logístico de aquisiçãodos equipamentos e transporte das pesso-as e dos itens adquiridos, a partir de diver-

sos pontos do Brasil até o porto de RioGrande, bem como a coordenação dos even-tos necessários ao desembaraço alfande-gário, foram executados pela Femar.

(Fonte: Assessoria de Imprensa da Femar)

O Terminal de Contêineres de Paranaguá(TCP), no porto de Paranaguá (PR), rece-beu, em 1o de julho último, o navio decontêineres Maersk Lirquen, com capaci-dade para 7.410 TEUs (unidade decontêiner de 20 pés). Trata-se do navio commaior boca (largura) a atracar naquele por-to. De acordo com a gerente de trade emarketing da Maersk no Brasil, AnnaMendes, esta é a primeira viagem do navioa portos brasileiros. “Este navio integrauma nova classe, a Sammax, composta por16 navios com até 20% a mais de capacida-de e que possuem uma característica espe-cial: são mais largos e de menor calado,adaptados para operar nos portos brasilei-ros”, disse.

Em função de suas proporções, oMaersk Lirquen atraca apenas emParanaguá (PR), Santos (SP), Sepetiba (RJ),Itapoá (SC) e Suape (PE). Ele atende a linhada Ásia e a costa leste da América do Sul,passando por Brasil, Argentina e Uruguai.Em Paranaguá, o navio fará escalas sema-nais e, nesta primeira operação, foram car-regados 2 mil TEUs.

PARANAGUÁ COMEÇA A RECEBER NAVIOSDE MAIS DE 7.400 TEUS

O Maersk Lirquen faz parte da nova sériede porta-contêineres de grande porte queestão sendo implantados pela Maersk Line.São navios da classe Sammax, sendo seisdeles da Maersk e outros seis da HamburgSüd. Em novembro do ano passado, o por-to de Paranaguá recebeu o navio SantaClara, da Hamburg Süd e que integra aclasse Sammax. Foi o maior navio porta-contêineres que já atracou na América doSul e o maior a atracar em Paranaguá. OSanta Clara tem 299 metros de comprimen-to, 43 metros de largura e pode transportaraté 7.154 TEU’s. Já o Maersk Lirquen tam-bém tem 299 metros de comprimento, maspossui 45,20 metros de largura.

O TCP é o terceiro maior terminal portu-ário de contêineres do Brasil, e, desde 1998,opera sob regime de concessão no portode Paranaguá. Com capacidade de aproxi-madamente 700 mil TEUs por ano em 2010,o terminal deve aumentar sua capacidade,após os novos investimentos em curso,para mais de 1,5 milhão TEUs por ano.

(Fonte: Press release da MedialinkComunicação)

A Secretaria de Portos do Brasil (SEP) se-lecionou a Unisys (empresa mundial detecnologia da informação) para prover servi-ços de consultoria para o projeto de Sistemade Gerenciamento de Tráfego de Navios (em

UNISYS É SELECIONADA PARA AUXILIAR A REDUZIR OTEMPO DE ESPERA NOS PORTOS NACIONAIS

inglês, conhecido pela sigla VTMS – VesselTraffic Management System), que irá ajudaros portos a monitorar de maneira mais efici-ente o tráfego hidroviário, rastreando a che-gada, saída e trânsito de navios no Brasil.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O projeto irá tratar de problemas taiscomo o congestionamento de navios nosportos brasileiros e dificuldades relaciona-das à entrada e saída de embarcações e car-gas pelo mar. O VTMS faz parte do progra-ma Porto sem Papel, criado pela SEP em abrilde 2010 para reduzir a burocracia dos proce-dimentos portuários, melhorar o intercâm-bio de informações no setor e aprimorar aeficiência das operações dos navios.

Em janeiro de 2011, a Unisys finalizou ostrabalhos do projeto Carga Inteligente – a pri-meira fase do Porto sem Papel, que oferecerámonitoramento da carga a fim de melhorar asegurança do transporte de cargas que en-tram e saem do Brasil. Com este novo contratocom o projeto VTMS, a Unisys ajudará a SEPa estabelecer procedimentos para reduzir otempo de espera dos navios, integrar os de-partamentos responsáveis pelo seumonitoramento, facilitar a troca de informaçõese proporcionar uma navegação segura e pro-teger a vida e o ambiente marinhos nas áreasonde há intensa movimentação de navios.

O projeto está sendo patrocinado pelaAgência dos Estados Unidos para Comér-

cio e Desenvolvimento (USTDA) com ointuito de estreitar as relações comerciaiscom o Brasil. Durante o desenvolvimentodo projeto, a Unisys analisará as opera-ções, documentações, fluxos de informa-ções e negócios de portos e navios e de-senvolverá uma solução para o quadro ge-ral de VTMS utilizando as melhores práti-cas do mercado. Os primeiros portos con-templados serão Rio de Janeiro (RJ), Itaguaí(RJ), Salvador (BA) e Rio Grande (RS).

O programa Porto sem Papel é divididoem vários módulos, entre eles o VTMS(para rastreamento de navios) e Carga In-teligente (monitoramento de cargas). Eletambém ajuda a tratar de temas tais comocomércio ilícito, crimes e terrorismo.

O programa foi desenvolvido de modoa criar um Portal de Informações Portuári-as, integrando em apenas um banco de da-dos as informações de interesse dos agen-tes de navegação e dos órgãos públicosque acompanham e controlam as embarca-ções nos portos marítimos do País.

(Fonte: Press release da Rosa ArraisComunicação)

Em atendimento a solicitação do gover-no de Roraima, a Marinha do Brasil pres-tou apoio, no período de 8 a 17 de junho,nos trabalhos junto às vítimas de enchen-te. Roraima teve decretado estado de cala-midade pública, com nove dos seus 15municípios em situação de emergência.

O capitão dos Portos da Amazônia Oci-dental, Capitão de Mar e Guerra Odilon Leitede Andrade Neto, integrou o Gabinete deCrise do Governo de Roraima, no qual par-ticipou da coordenação dos trabalhos daDefesa Civil daquele Estado.

O Comando do 9o Distrito Naval(Manaus-AM) enviou força-tarefa para oestado, composta por um navio-patrulha

MARINHA AUXILIA VÍTIMAS DE ENCHENTE EM RORAIMA

fluvial (NaPaFlu), um navio de assistênciahospitalar (NAsH) e duas lanchas. A equi-pe embarcada no NAsH realizou diversosatendimentos médicos, odontológicos eexames de saúde. A força-tarefa também

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

possuía um helicóptero embarcado noNAsH e uma equipe de fuzileiros navais

treinados em operações especiais e comequipamentos para o resgate de pessoasilhadas ou em quaisquer dificuldades oca-sionadas pelo regime de enchente.

A equipe da Marinha do Brasil realizou1.171 atendimentos de saúde e distribuiu omaterial recebido do Governo de Roraima,composto de 1.136 cestas básicas, mil co-bertores, 2 redes, mil mosquiteiros, 1.680fraldas descartáveis, oito caixas de remédi-os e 650 litros de água. Receberam o mate-rial 20 abrigos distribuídos por Boa Vista,Caracaraí e Santa Maria do Boiaçu.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Em 21 de junho último, a Diretoria doPatrimônio Histórico e Documentação daMarinha (DPHDM) recebeu, no auditóriodo Museu Naval, no Rio de Janeiro, estu-dantes e professores de escolas públicasparticipantes do projeto “Construindo aCidadania nas Escolas”.

DPHDM APOIA O PROJETO“CONSTRUINDO A CIDADANIA NAS ESCOLAS”

Apresentação da judoca Edinanci Silva (esq.)

Estudantes participam do projeto“Uma Aula no Museu”

Organizado pela Defesa Civil do Estadodo Rio de Janeiro, o evento foi presididopelo diretor da DPHDM, Vice-Almirante(Refo -EN) Armando de Senna Bittencourt,e contou com autoridades de outras insti-tuições públicas e o mascote dos JogosMundiais Militares, Arion.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Além de músicas e palestras, o eventocontou, ainda, com a judoca e marinheiraEdinanci Silva, que relatou sua história devida e seu início de carreira no esporte e naMarinha, enfatizando a importância de pre-servar a memória dos esportes nos museus.Divididos em grupos, os alunos também

tiveram a oportunidade de passear pelaBaía de Guanabara a bordo do Rebocadorde Alto-Mar Laurindo Pitta e participardo projeto “Uma Aula no Museu”, daDPHDM, que inclui aulas de História doBrasil ministradas por oficiais graduados,mestres e doutorandos em História.

Foi lançado em 9 de agosto último, na sedesocial do Clube Naval, Rio de Janeiro, o livro AMarinha Imperial na Guerra do Paraguainão foi só Riachuelo, do Vice-Almirante (Refo)Luiz Edmundo Brígido Bittencourt. A obra, como subtítulo “Um breve relato sobre o épico daGuerra Naval”, teve o apoio cultural do ClubeNaval. Conforme ressalta o Almirante em suaapresentação aos leitores, o livro surgiu da“ideia de se produzir um pequeno trabalho deleitura fácil sobre a Guerra do Paraguai, ressal-tando os feitos da Marinha Imperial”. Com168 páginas e fartamente ilustrado, baseia-sena obra História da Guerra entre a TrípliceAliança e o Paraguai, de autoria do GeneralAugusto Tasso Fragoso, editada em 1934, eno livro La Guerra del Paraguay, do enge-nheiro civil inglês George Thompson (a servi-ço do Exército de Solano López) e reeditadono Paraguai em 2003 (original editado em in-glês em 1869).

“Esta publicação visa também motivar osmais jovens a empreenderem novas pesqui-sas para divulgar esta belíssima página dahistória da Marinha, pois sua participaçãonão se resumiu à Batalha Naval do Riachuelo.O presente trabalho se propõe a trazer a lumeos nomes e feitos heroicos de outras pesso-as, para que possam ser cultuados e diferen-ciados por nós. Assim, a ênfase recai em igual-mente em outros heróis que se somam àsfiguras maiores de Tamandaré, Barroso,

LANÇAMENTO DO LIVRO A MARINHA IMPERIAL NAGUERRA DO PARAGUAI NÃO FOI SÓ RIACHUELO

Inhaúma, Mariz e Barros, Marcílio Dias,Frontin, Soares Dutra, Ary Parreiras e algunsoutros mais”, explica o autor.

O Almirante Luiz Edmundo BrígidoBittencourt serviu à Marinha de 1949, quan-do foi declarado guarda-marinha, até 1984,ano em que passou para a reserva. Em 1985,foi convidado para dirigir a Revista Marí-tima Brasileira, onde permaneceu por 20anos. Em 1989, recebeu o diploma de mes-tre em Educação pela Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro. Também é autor deinúmeros artigos publicados.*

* N.R.: Sobre a matéria do livro, a Revista Marítima Brasileira publicou uma série de oito artigos escritospelo autor nos trimestres de 2008 e de 2009.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Promover, estimular e incentivar a arteno País. Esse é um dos propósitos do livroA Arte de Sansão C. Pereira, lançado nanoite de 29 de julho, na Escola Naval, Riode Janeiro. Inédita no Brasil pela sua formae conteúdo, a obra reúne reproduções depinturas óleo sobre tela do artista.

Durante a cerimônia de lançamento, ocomandante da Marinha, Almirante de Es-quadra Julio Soares de Moura Neto, mos-trou a satisfação da Força em promover ahomenagem. “Quando nasceu a ideia deproduzir esse livro, a Marinha fez o levan-tamento das obras e Sansão Pereira esco-lheu as que queria publicar. Sua arte temuma característica muito importante: maisda metade de suas telas estão ligadas aomar. Assim, levamos a sociedade a pensarque o Brasil é um país marítimo e a enten-der a importância do mar que nós defende-mos. Além disso, Sansão nasceu em 11 dejunho, Data Magna da Marinha. A obra deleé universal e estamos aqui para parabenizá-lo”, disse o Almirante Moura Neto.

A Arte de Sansão C. Pereira reúne 813reproduções de telas e está dividido nastemáticas: Amazônia, Brasil e o Mundo;Acervo Artístico; Barcos e Marinheiros;Paisagens, Cesários e Igrejas; Flores e Na-tureza Morta e Expressões Humanas. Alémde valorizar a arte nacional, a publicaçãoserve como instrumento de pesquisa e de

MB E ACADEMIA BRASILEIRA DE BELAS ARTES LANÇAMA ARTE DE SANSÃO C. PEREIRA

estudos para os interessados na área. AMarinha do Brasil (MB) acolheu o projetodesde o início, propiciando a edição do li-vro por meio de apoio institucional.

A presidente da Sociedade Brasileira deBelas Artes (SBBA), Therezinha Hillal, co-mentou que o evento era a realização de umsonho do artista. “É uma emoção muito gran-de. Sansão será o eterno presidente da So-ciedade Brasileira de Belas Artes. Sua arte éum beijo de Deus nos corações”, disse.

A presidente da Academia Brasileira deBelas Artes (ABBA), Iracy Carise, aprovei-tou a ocasião para agradecer em nome detodos os artistas da Academia pelo papelde Sansão no órgão.

Na ocasião, Sansão Pereira foi homena-geado com o descerramento do busto ofe-recido pela SBBA e esculpido pela artistaÁurea Maria Pereira Martins. Emociona-do, o pintor encerrou o evento: “É uma sa-tisfação muito grande ter esse livro lança-do. É uma evidência sutil de uma carreiraque se estende por mais de 65 anos e issograças à parceria com a Marinha. Esse tra-balho vai me dar mais vida!”

Inspirado na beleza da Amazônia e doBrasil, Sansão Pereira logo se destacou nocenário nacional e internacional. Participou

Sansão Pereira (esq.) e o comandante daMarinha (dir.) durante o lançamento

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de exposições em Alemanha, Argentina, Ca-nadá, Chile, Espanha, Estados Unidos daAmérica, França, Japão, México, Paraguai,Portugal e Uruguai, além de diversas expo-sições individuais por todo o Brasil.

O artista tem em seu currículo a realizaçãode mais de 30 mil obras de arte. Seus qua-dros, suas pinturas e seus murais estão dis-tribuídos por museus, pinacotecas, aeropor-

tos, igrejas e coleções particulares. Em seusmais 60 anos de carreira, recebeu expressivonúmero de medalhas e menções honrosas,tornando-se um dos artistas mais laureadosdo panorama da arte internacional.

O livro será distribuído em acervos na-cionais e internacionais, bibliotecas públi-cas e centros culturais do País.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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A SEGUNDA MAIS ANTIGA DO MUNDO

A Revista Marítima Brasileira completou 160 anos em 1o de março de 2011. Fundada em 1851 pelo

Primeiro Tenente Sabino Elói Pessoa,foi a segunda revista mais antiga do mundo

a tratar de assuntos marítimos e navais.Conforme os registros obtidos, a Rússia foi o primeiro

país a lançar uma revista marítima,a Morskoii Sbornik, (1848).

Depois vieram:Brasil – Revista Marítima Brasileira (1851),

França – Revue Maritime (1866),Itália – Rivista Marittima (1868),

Portugal – Anais do Clube Militar Naval (1870),Estados Unidos – U.S Naval Institute Proceedings (1873)República Argentina – Boletín Del Centro Naval (1882).