revista literatura caxiense recente · 2013. 10. 2. · se mais difícil este contato com o livro....
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ARevista
partir de iniciativas como, primeiramente, o AFundoprocultura, que se transformou depois
em Financiarte, e o Programa Permanente de
Estímulo à Leitura (Ppel), além do salto qualitativo que a
Feira do Livro alcançou nos últimos anos, a literatura
caxiense contemporânea encontrou um terreno fértil para o
seu desenvolvimento. Percebe-se que se publica mais do
que nunca, ao mesmo tempo que também é perceptível
que aumentou o número de leitores na cidade. Há ainda
editoras que se consolidaram em Caxias do Sul.
Diante de tal cenário, os alunos da disciplina de
Mídia Impressa Vespertino decidiram que era oportuno
registrar a literatura caxiense recente, o que significava
radiografar a produção dos escritores dos últimos dois anos.
Para isso, sem distinção de gêneros, foram elencados cerca
de 20 livros, que passaram pela leitura atenta e posterior
avaliação crítica e contextual.
Além disso, a turma também promoveu o evento
Literatura Caxiense Recente, que constou da presença e
depoimento de 20 autores, que falaram não só de suas
obras, mas deram suas impressões sobre o panorama
literário da cidade.
O resultado da leitura dos alunos, somados às
falas do evento são promissores. Eles indicam que afora a
distribuição das obras, os demais fatores de um sistema
literário está a pleno vapor em Caxias do Sul. Espera-se que
esta publicação seja um retrato mínimo deste momento
produtivo e de relevância para o futuro cenário de uma
literatura caxiense cada vez mais qualificada.
Expediente EditorialReitor:
Isidoro Zorzi por Paulo Ribeiro
Literatura RecenteCaxiense02
Diretor do Centro deCiências da Comunicação
Jacob Raul Hoffmann
Coordenadores dos Cursosde Comunicação Social:
Jornalismo - ÁlvaroBenevenutto Júnior
Publicidade e Propaganda -Marcelo WassermanRelações Públicas -
Jane Rech
Professor:Paulo Ribeiro
Diagramação e arte:Amanda Bertóglio Dorneles
Ana Cláudia Cislaghi Mutterle
Fotografia:Pauline Gazola
Amanda Bertóglio DornelesAna Cláudia Cislaghi MutterleAndressa Pegoraro ScudieroCamila dos Santos Valentini
Daniele Ramos BalejoDinara Tondo
Diúlit Bernart OldoniGabriela Bregolin GrilloGabriel Buffon Bordin
Karina Catuzzo RodriguesLiliane Fernandes de Oliveira
Marina Vita CompagnoniMayara Pires ZanottoPaola Dalla Chiesa
Pauline GazolaRafael Fandinho Amaral
Tarciana TelesThailize Fontoura Brandolt da Rocha
Redação:
Literatura RecenteCaxiense 03
A Turma
Literatura Caxiense Recente é um produto da disciplina de Mídia Impressa -1º semestre de 2013 da Universidade de Caxias do Sul
FOTO: Flora Simon da Silva
Literatura RecenteCaxiense04
m Cax i a s do Su l , o Emovimento literário que se
e spa l h a p e l a c i d ade
também mostra um pouco da
d i v e r s i d a d e d o s e s c r i t o r e s .
Atualmente, são várias obras, de
muitos jovens e não tão jovens
escritores, mas que no meio de uma
saudável diversidade compõem o
cenário literário. As obras variam no
gênero, na escrita, na abordagem. No
entanto, há um consenso entre os
autores: existe a carência de
divulgação e distribuição na literatura
como um todo. .
Quem é que dá vida à recente
literatura caxiense? São estudantes,
jornalistas, docentes na área de letras,
arquitetos, publicitários, e até
agrônomos, entre tantos escritores
que estão formando literatura a
caxiense recente. Muitos são nascidos
em Caxias, outros adotaram a cidade
Panorama da Literatura de Caxias do Sul 2012/2013serrana como lar. Autores muito
jovens, que estão começando agora e
outros que se dedicam há anos à
produção literária. Alguns que sempre
almejaram a escrita e outros foram
inseridos no ramo literário pelas
oportunidades que a vida possibilitou.
Todas essas particularidades formam
o mosaico do atual cenário literário.
O trabalho dos escritores
sempre existiu, mas hoje, mais do que
nunca, eles estão expondo seus
trabalhos e deixando, assim, os
leitores apreciarem as suas obras. Os
formadores dessa recente literatura
estão de fato mostrando a sua cara,
divulgado seus pensamentos, suas
histórias, suas escritas, que antes
ficavam guardadas, escondidas,
engavetadas. O que proporcionou,
nas últimas décadas, o aumento de
publicações foi o fomento à leitura e às
artes como um todo. A cidade se
destaca pelos programas que tem
desde a década de 80. Com o advento
do “PROLER”, Passaporte da Leitura,
p r o j e t o s g o v e r n ame n t a i s , a
participação das escolas como
auxiliadoras na difusão literária, entre
o u t r o s i n c e n t i v o s , e s t ã o
desenvolvendo cada vez mais os
projetos literários. Dessas iniciativas,
muitas são de permanência, o que
acaba por resultar em uma reposta
positiva para formação de leitores e
também para o aumento do índice de
leitura em Caxias.
O incentivo
O escritor e jornalista Marcos
Fernando Kirst acredita que através do
Concurso Anual Literário, da Lei de
Incentivo à Cultura, dos grupos
literários, como por exemplo, o Órbita
Literária, que acontece na livraria Do
Autores reunidos no evento Literatura Caxiense Recente, que pode ser conferido na página 57. FOTO: Pauline Gazola
por Camila Valentini e Tarciana Teles
Literatura RecenteCaxiense 05
Arco da Velha e a Confraria Reinações,
a lém do própr io F inanc ia r te ,
proporcionaram instrumentos para a
disseminação da literatura na região.
“A organização da Feira do Livro
também desempenha um papel
fundamental transformando em
patrono os escritores locais. Esses são
alguns fatores que transformaram
Caxias em uma cidade literária” –
destaca Marcos.
Marcos Kirst, começou a
publicar seus livros em 2007, comenta
que é necessário concretizar o apoio
aos autores, à compra dos livros de
fato. Os autores têm espaço na mídia,
a imprensa local acompanha os
trabalhos. O escritor acredita que o
leitor caxiense deve ler os autores
locais. ’’Ainda há preconceito com o
autor local. Muitos ainda acreditam
que “santo de casa não faz milagre”,
Panorama da Literatura de Caxias do Sul 2012/2013 diz Marcos.
O a u t o r c o m e n t a a
necessidade de incentivo para os
autores, para que eles busquem cada
vez mais haja a produção literária e, ao
mesmo tempo , i ncen t i vem a
aproximação dos jovens com a leitura.
“O grande desafio é manter os leitores
na adolescência, pois hoje eles se
dispersam muito com as novas
tecnologias”, ressalta Marcos.
Apesar dos incentivos, é
consenso entre os produtores de
conteúdo literário em Caxias que a
distribuição e divulgação editorial
deixam a desejar. As grandes
distribuidoras estão situadas em Porto
Alegre, e essa questão faz com que
h a j a uma ma i o r bu r o c r a c i a ,
prejudicando os autores locais. A
comercialização fica assim carente em
encontrar mecanismos que não
dependa exclusivamente da capital.
As ramificações
É perceptível a existência de
uma ramificação da l i teratura
caxiense. O segmento infanto-juvenil
é um dos gêneros que se destaca no
cenário caxiense, mas também em
nível nacional. Existe uma linha tênue
entre literatura infanto-juvenil e
adulta, pois muitas obras foram
escritas para o público adulto e depois
adaptadas. A literatura infanto-juvenil
também vem sendo muito trabalhada
nas escolas. Corpos docentes e
programas de apoio têm sido
valorizados em sala de aula. A
professora do PPGEd (Programa de
Pós-graduação em Educação) e do
PPGle t ras (P rograma de Pós -
graduação em Letras) da Universidade
de Caxias do Sul e doutora em Letras,
Flávia Ramos, acredita que se o
gênero infanto-juvenil está mais
focado, pode ser em virtude da
colocação das obras no mercado
consumidor. “O artista gosta de ser
lido, comprado e a escola acaba sendo
um espaço certo de colocação da
produção. Há ainda editais do
Governo Federal que podem comprar
obras para escolas como o (PNBE)
Programa Nacional Biblioteca da
Escola. Se a produção para infância é
maior deve ser porque o consumo tem
sido maior também”, comenta Flávia.
D a n i e l a R i b e i r o ,
coordenadora do departamento do
livro e da leitura da Prefeitura de
Caxias do Sul concorda com Flávia,
acreditando que esse é o gênero mais
publicado pelo fato de o escritor
conseguir inserir sua obra facilmente
nas escolas, com as crianças que estão
tendo os primeiros contatos com a
leitura. Desta forma, no momento em
que decide publicar, já tem a certeza
de que irá conseguir trabalhar com a
obra.
A literatura deve ser desde
cedo inserida em um universo de
Marcos Kirst lembra que a literatura é um prazer.FOTO: Pauline Gazola
Literatura RecenteCaxiense06
brincadeira. Nunca como imposição,
mas, sim, buscando utilizar a palavra
como objeto de descoberta para os
jovens e crianças. “Cultivar o hábito da
leitura é uma semente, que se deve
regar, cuidar e florescer. A ideia da
leitura “fácil” de ser assimilada é
menosprezar a criança, pois ela
entende e interpreta e necessita de
subsídios que desperte o interesse da
leitura, nunca trabalhando a leitura no
imperativo, mas conquistando a
criança aos poucos por esse universo”,
relata a escritora, jornalista e
avaliadora de projetos do CASF
(Comissão de Avaliação, Seleção e
Fiscalização do FINARCIARTE),
Adriana Antunes.
A formação do leitor é algo
q u e n e c e s s i t a d e s ub s í d i o s
prematuros. Segundo Salete Susin,
coordenadora de ações de incentivo à
leitura da prefeitura de Caxias do Sul,
a me lho r mane i ra de f o rmar
Panorama da Literatura de Caxias do Sul 2012/2013um leitor é através de seu gosto
pessoal. A leitura, quando introduzida
na vida de uma criança nos primeiros
meses, possibilita a apreciação pelas
palavras desde cedo. Até os 11 anos a
criança aceita a leitura facilmente.
Com a chegada da adolescência torna-
se mais difícil este contato com o livro.
Mas não é só a ramificação no
infanto-juvenil que o cenário caxiense
tem ganhado destaque. A poesia e o
romance são outros gêneros que têm
se destacado na literatura caxiense
recente. Essas ramificações tem
demostrado o talento de grandes
autores, no entanto, ainda há poucos
publicados. Muitos gostam de poesia,
mas o acesso é debilitado. Segundo o
escritor Marco de Menezes, o romance
tem ficado em segundo plano na
recente literatura caxiense, pelo fato
de se tratar de um gênero que traz
textos mais “pesados” e difíceis de
introduzir no leitor.
Te r uma re l ação mais
próxima dos escritores facilita a
inserção destes nas escolas. “O bate-
papo com os autores é algo que vem
sendo trabalhado nos ambientes
formadores de leitores e propicia que
haja uma aproximação tanto da leitura
com os jovens, quanto dos jovens com
os autores, deixando esses de ser
encarados como entidades”, comenta
a contadora de histórias Heloisa Carla
Coin Bacichette. Ela discorda de
quem diz que poesia não é lida. “O que
pode estar acontecendo é que as
pessoas não têm acesso, há um receio
de trabalhar com textos. As pessoas
gostam, talvez falte acesso”, relata a
contadora de histórias.
Ler sempre
A manifestação literária está
crescendo significativamente em
Caxias. Muito está sendo publicado e
escrito. Mas também há outro tanto
que precisa ser aperfeiçoado. E para
isso, ler é fundamental. Ninguém
escreve sem antes ser um bom leitor.
“O hábito da literatura te dá formação
humana. Abre os horizontes para
conhecer mais do mundo e mais do
que a vivência física permite. Te
instrumentaliza para ser um ser
humano melhor, e assim a vida mais
rica mais interessante, porque você
vai ser um ser humano melhor”,
exemplifica Marcos Kirst.A relação dos autores com a produção literária discutiu principalmente a publicação e divulgação das obras.
FOTO: Pauline Gazola
Literatura RecenteCaxiense 07
Adriana Antunes
Poesia ganha vida como
uma personagem, uma princesa que
nasceu com o dom de encantar o
mundo pelo poético e que se
destaca pela breve e profunda
magia falada em versos. Poesia inicia
sua caminhada na Grécia Antiga e ao
chegar ao Brasil passa por um reino
repleto de figuras intrínsecas da
literatura brasileira, os poetas,
aqueles que a veneram e propagam
sua beleza, porém nesta jornada ela
acaba encontrando um vilão, o Senso
Comum, que tenta destruir seu poder. É
delicioso observar como Poesia se
desloca despreocupada de um povo a
outro, conhecendo as diferenças
regionais e seus súditos.
A autora nos permite
conhecer intimamente cada um
destes poetas que descrevem
emoções profundas, como o mineiro
Carlos Drummond de Andrade, ao
sugerir um poema farto de significado,
ou como convida Vinícius de
Moraes a embarcarmos em uma
rítmica e apaixonante dança em seus
poéticos sonetos.
A proposta deste livro faz
despertar o interesse quando a
autora nos oferece um passeio na
companhia de Poesia pelos
arredores do mundo e o desejo de
seguí-la para redescobrir essa fantástica
história poética. Desta forma nos
permitimos a brincar contando histórias e
a passá-las adiante, pois Poesia pede para
estar no centro das atenções e
conhecendo-a intimamente podemos ver que
lhe devemos um espaço especial, merecido
por ocasionar uma transformação, quando
passamos a ser eternas crianças inquietas
e sedentas desta magia que desabrocha a
todo o momento diante de nós.
Ler é arte e a literatura existe
para nos encantar mostrando sua beleza
singular através das palavras e, quando
bem transmitida, se faz apreciar
facilmente e, desta forma, conquista desde os
leitores calouros até os mais veteranos.
Em seu livro intitulado
“Poesia na Escola”,
l ançado em 2012 ,
Adriana Antunes pretende aproximar
o leitor do fazer poético. No primeiro
momento faz uma apresentação da
teoria e posteriormente busca fazer
um passeio pela poesia brasileira,
passando por escritores como Mário
Quintana, Carlos Drummond de
Andrade, Vinícius de Morais, dentre
outros. Uma obra rica em detalhes e
referências que tende a auxiliar na
compreensão das particularidades da
poesia.
A d r i a n a A n t u n e s d e
Almeida, 36 anos, nasceu na cidade de
Caxias do Sul e é conhecida pela sua
formação jornalística, Coordenadora
de Jornalismo da UCSTV, é
professora universitária, mestre e
doutoranda em Letras, além de
possuir especialização em Literatura
Infanto-juvenil. Nesta obra, a
autora aborda a poesia de uma
forma muito curiosa e até mesmo
atraente, inserindo um contexto onde
o gênero literário não só apresenta o
significado bonito da palavra, como
atua diretamente na história da
poesia brasileira, nos oferecendo
uma nova percepção mais íntima
dessa literatura peculiar.
A poesia está prosaAdriana Antunes apresenta na sua obra “Poesia na Escola” a beleza de uma princesa chamada Poesia que nasceu com o dom de encantar o mundo pela sua magia poética
por Dinara Tondo
Literatura RecenteCaxiense08
Adriana Antunes de Almeida, 36 anos, nascida em Caxias do Sul, é jornalista de formação, Coordenadora de
Jornalismo da UCS TV, possui mestrado e agora é doutoranda em Letras em um convênio entre UCS e UniRitter,
especializada em Literatura Infanto-Juvenil e professora universitária.
Apaixonada pela leitura desde criança, especialmente pelo escritor Álvares de Azevedo, teve influência de escritores como
Mario Quintana, Florbela Espanca, Sérgio Capparelli, Jorge Amado, dentre outros tantos. Diz que não possui um estilo de
escrita, pois ainda está se descobrindo.
Eis então que surge um contrato com a Editora Paulus de São Paulo, que propõe à autora escrever sobre Poesia,
e assim o enredo se constrói e tem sua aprovação.
Exigente quando se põe a escrever, Adriana escreve e retorna para o texto diversas vezes e ressalta que a
escrita não ocorre naturalmente e , sim, é construída aos poucos, da mesma forma deve ser prazerosa mesmo sob a pressão de
um contrato.
Ao falar de sua visão literária de uma forma geral, a autora destaca a maior acessibilidade à publicação nos
dias atuais, o que possibilita a muitos autores realizar seu sonho. A partir dessa explosão editorial se faz necessária a
busca de um estilo diferenciado, tanto em âmbito nacional quanto local. Para ela, não basta publicar um livro para ter nome, é
preciso ter estilo, estudo, apuro linguístico, dedicação e muita leitura. Todavia, ela observa que isso tende a roubar um pouco da
aura romântica, apesar de ser a realidade. Há convenções que precisam ser respeitadas, e se houver interesse em
rompê-las, é preciso ter muito conhecimento.
Em virtude de seu doutorado, vêm lendo Clarice Lispector e acredita que seja uma grande influência para estar
escrevendo alguns contos com foco no universo feminino, porém nada publicável, apenas está se aventurando. Sem muitas
pretensões, sempre escreve deixando o texto sair livremente, pois como dizia Drummond de Andrade, “a poesia já existe
dentro de nós, a gente só precisa ouvi-la”. Desde 2009, vem escrevendo uma longa poesia, baseada em um conto da Lígia
Fagundes Telles, onde volta e meia acaba repousando. Adriana estima que talvez possa render algo a ser publicado.
Adriana Antunes
Literatura RecenteCaxiense 09
Alessandra Rech
ocorre na casa da avó de Lívia: o canário
de estimação da avó sumiu. Como uma
menina criativa que é, Lívia tenta
descobrir uma verdade qualquer para
s o l u c i o n a r o m i s t é r i o d o
desaparecimento do canário E este é o
grande fato do livro, quando o canário
que se encontrava em sua gaiola
simplesmente desapareceu.
Certamente, esta leitura lhe fará
pensar e imaginar o que houve de
fato com o canário, e como diz a
própria autora: “Nem todas as
perguntas têm respostas. Mas toda
história pode ter um fim melhor – nem
que seja inventado.” E isso nos mostra
um pouco o que o livro tenta nos
transmitir, de forma que instigue e dê
asas à imaginação das crianças, e
certamente dos adultos que o lerem
também.
livro nos traz o mistério Oenvolvendo o sumiço de
um velho canário. A
história é narrada por Lívia, uma
menina que convive com o conflito da
separação dos pais
O sumiço do canário é o livro de
estreia da escritora caxiense
Alessandra Rech em infanto-juvenil,
lançado em 2012. A obra também
contou com o trabalho de ilustração de
Carla Pitta, que fez uma arte rica em
detalhes e de forma artesanal.
Alessandra Rech além de
e s c r i t o r a é p r o f e s s o r a n a
Universidade de Caxias do Sul no
curso de jornalismo. O livro foi
baseado em um caso real. Inicialmente
a história era uma crônica escrita por
Aleh em seu espaço semanal do jornal
Pioneiro, que resultou em 32 páginas
escritas e ilustradas.
Durante a narrativa de Lívia
conhecemos a vida de um canário
velho que vivia na casa da avó da
narradora. Ao mesmo tempo, ela
explica como era sua vida desde o
relacionamento familiar, envolvendo o
d i v ó r c i o d o s p a i s e s e u s
relacionamentos familiares mas, em
um dia normal como todos os outros,
em torno da correria das crianças e o
cotidiano de sempre, algo inesperado
O misterioso caso do canário por Daniele Ramos Balejo
Literatura RecenteCaxiense10
lessandra Rech nasceu em 06 de Afevereiro em Mundo Novo, cidade
localizada em Mato Grosso, no
Norte do Brasil. Atualmente, Alessandra mora
em Caxias do sul e é professora na Universidade
de Caxias do Sul. Ela é Graduada em Jornalismo
e fez Doutorado em Letras/ Literatura Brasileira
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS).
Alessandra acredita que a literatura
caxiense se beneficiou amplamente com a
criação do Fundo Procultura e, em seguida, o
Financiarte. Em nível nacional, ela indica que
há editais interessantes para buscar apoio à
criação artística de forma geral.
Ale Rech lançou, além de O Sumiço do
canário (infanto-juvenil), Na entrada das águas
– Amor e liberdade em Guimarães Rosa
(estudos de literatura) e Aguadeiro (livro de
contos e Crônicas). Em breve, lançará seu
segundo livro de contos e crônicas, que terá
uma parceria nas ilustrações.
Alessandra Rech
FOTO: Pauline Gazola
Literatura RecenteCaxiense 11
Alexandro Lima
que também se chamava Dick.
Alexandro afirma que aprendeu a amar
e a ser mais extrovertido com Dick e é
esse o aprendizado que quer passar às
crianças leitoras deste livro.
Meu Amigo Dick é a história
de um menino muito triste que via tudo
cinza e se sentia muito sozinho mesmo
estando em meio a muitas pessoas.
Para ele, nada tinha cor ou brilho. E o
mundo só começou a ter cor e a fazer
sentido para ele quando o seu pai lhe
deu de presente um cachorro chamado
Dick. Os dois eram inseparáveis e muito
felizes. Brincavam muito e eram
parceiros de muitas aventuras, como
por exemplo a aventura de se apaixonar.
O menino virou adulto e, um
dia, Dick se despediu. Ele, então, volta a
ser triste até o dia em que sua esposa
lhe diz que está grávida. Com o
nascimento da filha o mundo volta a ter
cor e a fazer sentido!
O autor finaliza o livro com um
gancho para uma nova história, pois no
fim o personagem dá a sua filha uma
caixa de presente de aniversário, mas
não conta o que tem dentro. Assim, a
criança pode imaginar o que há na
caixa e também terá vontade de esperar
pela próxima história para descobrir
efetivamente o que há.
Alexandro Lima ressalta o quão
gratificante é encontrar uma criança que leu
seu livro e gostou. Ele diz que todo o trabalho
valeu a pena quando uma menina lhe disse
que queria ter uma cãozinho de estimação
igual ao Dick. Alexandro pretende continuar
na l i te ra tura in fanto- juveni l com o
prosseguimento do próprio Meu Amigo Dick,
pois todos já estão ansiosos para descobrir o
que havia naquela caixa.
livro Meu Amigo Dick, de OAlexandro Lima, fo i
lançado em 2012 e faz
parte da literatura que mais vem
crescendo em Caxias do Sul: a infanto-
juvenil. Foi belissimamente ilustrado
pelo próprio autor e é seu primeiro
livro. O que mais chama atenção na
obra é o fato do autor ter quebrado o
paradigma de que os livros infantis
devem ser fictícios e fantasiosos para
trazer a história da sua própria vida.
Alexandro Lima é um jovem
cheio de ideias e criatividade. É
publicitário e ilustrador com larga
experiência neste mercado, porém
como escritor está estreando. E que
grande estreia! O livro Meu Amigo
Dick, que é a história de sua vida e foi
ilustrado por ele mesmo, traz a
importância das crianças terem seu
animal de estimação e como isso
ajuda na evolução e crescimento
delas. Seu primeiro livro nasceu junto
com sua filha Laura, quando ele
começou a esboçar as ilustrações
ainda no hospital. O livro, que teve
“conselhos” do amigo e editor Marcos
Kirst, é uma homenagem ao cachorro
Dick que foi companheiro de
Alexandro em suas aventuras por 12
anos. O nome do seu amigo de
estimação veio do cachorro de seu pai
A estima como sentido da vidaO enredo, que começa triste, traz um simpático cão como personagem principal e uma grande lição para todas as crianças leitoras através de alegres surpresas
por Amanda Bertóglio Dorneles
Literatura RecenteCaxiense12
Alexandro Lima é um jovem cheio
de ideias e criatividade. É
publicitário e ilustrador com larga
experiência neste mercado, porém como
escritor está estreando. Considera como seus
“mestres inspiradores” Will Eisner, Jack Kirby,
John Buscema e Canini. É um apreciador de
quadrinhos e utiliza desta que é considerada a
nona arte como fonte de referência para muitos
de seus trabalhos. Em suas ilustrações, mescla
trabalho à mão com vetorização e colorização
digital. Realiza ilustrações, caricaturas,
logotipos, pinturas e, agora também, escrita.
Seu primeiro livro, Meu Amigo Dick, é
a história de sua vida e foi ilustrado por ele
mesmo. Seu primeiro livro nasceu junto com
sua filha Laura, quando ele começou a esboçar
as ilustrações ainda no hospital.
O livro, que teve conselhos do amigo e
editor Marcos Kirst, é uma homenagem ao
cachorro Dick que foi companheiro de
Alexandro em suas aventuras por 12 anos. Seu
próximo projeto será a continuação do Meu
Amigo Dick, aproveitando o gancho que deixou
no fim deste livro.
FOTO: Pauline Gazola
Alexandro Lima
Literatura RecenteCaxiense 13
Bernardethe Pierina Ghidini Zardo
de estética do belo, incitando o leitor a
a d e n t r a r n e s s e u n i v e r s o d e
encantamento e nele permanecer.
Um dos a spec t o s ma i s
importantes de “A Menina do Arco” é a
expansão dos poemas, que terminam
em questionamentos (perguntas
retóricas), que remetem à Filosofia. São
perguntas que fazem pensar, como
podemos perceber nos poemas “De que
história tu vens?”, em que o poema
finaliza com a pergunta: “O espírito
responde, de que história tu vens?”.
“Em que me transformarei
agora?”, termina com o seguinte trecho:
“Eu vi uma criança indo adiante mundo
afora, quando ela para diante de um
objeto, eu me pergunto: em que me
transformarei agora?”. Estas perguntas
abrem caminhos para os pensamentos,
são consideradas causas para suas
próprias ações. O arco da menina dá
sentido estético porque é uma roda, um
ciclo que a menina participa, mas isso
somente quando se vive o perfeito e o
imperfeito das coisas da vida. O círculo,
para a autora, é um símbolo solar. O ser
humano é um símbolo radial. O cíclico
das coisas é a roda da vida, onde as
coisas existem uma dentro das outras e
não desaparecem. Sobre a capa do livro,
percebe-se que é uma capa de cor
neutra e sem muita escrita e com
apenas uma figura. A ideia era ao invés de
escrever, transcrever.
Há na obra “A Menina do Arco”
também alguns poemas que se referem a
aspectos da natureza, como por exemplo, “O
velho do mar” e “O que fazer com o mar”, os
quais remetem à imensidão do oceano. Estes e
outros estão ali para que o leitor justamente se
desloque para o imaginário, para esta
possibilidade de nos deslocarmos sem sair do
lugar. É viajar através da imaginação. E isso
nada mais é que uma forma de proteção ao
nosso espírito, como forma de obstrução das
coisas, para um “passeio imaginário”, que
permite que você se sinta mais leve.
A autora consegue transparecer em
sua obra a paixão pela literatura e pela leitura.
A leitura do livro é doce e leve e isso fica
obra “A Menina do Arco” Ade Bernardethe Pierina
G h i d i n i Z a r d o é
composta por 43 poemas. A obra é
permeada de encantos poéticos que
se justapõe em aberturas infinitas,
pois “encantada com a lente
transparente a menina da linha
procura os segredos nos versos
afogados e encontra o seu rosto
espelhado no espelho do lago”. A
poética de Bernardethe tinge as
páginas poéticas com suavidade e
com destreza poét ica que se
assemelha à de Cecília Meireles.
O texto possui ritmo, através
das rimas, mas sem se mostrar sisudo
ou excessivamente formal; pelo
contrário, as palavras surgem como
rimas e um ritmo cadenciado, o que
contribui ainda mais para um valor
poético para as poesias de “A Menina
do Arco”: a musicalidade. Carregada
de musicalidade, de magia pelo jogo
de palavras e sons, a linguagem
poética da obra encanta o leitor e o
conduz a uma leitura fluida, que se
derrama proficuamente em sua
sensibi l idade. Os poemas são
delicados, autênticos, intensos, plenos
de luminosidade. São poemas que se
desdobram em movimentos de leveza,
de emoção, de imaginação sensível,
O arco da reflexãoA obra da autora Bernardethe Pierina Ghidini Zardo, “A Menina do Arco”, é repleta de poemasos quais são reflexos de generosidade e conhecimento e que falam sobre a vida e sobre a arte
por Andressa Pegoraro Scudiero
Bernardethe Pierina Ghidini Zardo evidente. Este livro é um exercício de prazer que
faculta sermos profundamente tocados pela
beleza que envolve a existência, levando-nos a
resgatar “coisas” sensíveis que a dureza do dia-a-
dia encobre.
Os poemas de Bernardethe deixam
entrever a artista que explora a carga inspiradora
da palavra com a qual constrói um mundo pleno
de poesia e presenteia seus leitores com imagens
só possíveis pela visão sensível de quem
consegue captar a beleza estética das “coisas”. A
poetisa Nina brinca com as palavras e transforma-
as na mais pura poesia, buscando a imanência de
cada imagem, para urdir universos coloridos
repletos de infância, de natureza, de memória, de
essencialidade. Percebe-se após a leitura do livro,
que a autora Bernardethe constitui uma obra
repleta de maturidade, íntimo, profundo, um
caminho de sensibilidade. A obra “A Menina do
Arco”, para a autora, foi um processo de
maturação literária, pois sua principal intenção
era descobrir o tom da sua voz literária.
É interessante falar sobre “A Menina do
Arco”, pois o leitor consegue capturar a
importância de se ter imaginação sobre as coisas
da nossa vida. É percebido o contato intenso da
relação entre as palavras dos poemas com os
acontecimentos da vida. Entende-se que a leitura
e a literatura hão de caminhar juntas, pois uma é
complementação da outra. A literatura vai dando
vida às imagens, onde é possível se transformar
através de uma ficção e a literatura lida o tempo
todo com a imaginação.
Literatura RecenteCaxiense14
ernardethe Pierina Ghidini Zardo é Bnatural de Nova Prata, no Rio Grande
do Sul. É graduada e pós-graduada
em Educação Artística Desenho e Filosofia. Foi
professora por aproximadamente 30 anos. “A
Menina do Arco” é fruto de um desejo da
apaixonada pelas artes, letras e filosofia,
comprovando-se esta sua predileção pelo
exercício da sua profissão, Arte-educadora.
Atualmente, Bernardethe ocupa a cadeira de
número 31 da Academia Caxiense de Letras. Ao
longo de sua carreira, recebeu diversas
premiações literárias e participou de antologias.
Este é seu primeiro livro.
Bernardethe relata que além de ler,
escrever e desenhar, o que mais gosta de fazer é
largar poemas em folhas soltas em lugares
públicos. A autora entende que um poema solto
não significa que ele está perdido, mas que ele
finalmente está livre.
Algumas de suas influências literárias
FOTO: Pauline Gazola
Bernardethe Pierina Ghidini Zardo
são: Cecília Meirelles, que a autora elogia, considerando-a uma artista de uma vanguarda imensa; outro autor lembrado pela autora é
Walt Whitman, que em sua obra “Folhas de Relva”, escreveu mais de 600 poemas. A autora se inspirou neste autor para escrever o
poema Havia uma criança indo adiante; Emily Dickison (obra: Loucas Noites); Arthur Rimbaud, que a autora demonstrou
reconhecimento, por ter ensinado os poetas a ter coragem (obra: “Eu sou o vento”); Manoel de Barros é o artista brasileiro lembrado pela
escritora.
A visão literária de Bernardethe em vista de âmbito internacional e também nacional, como fundamento primordial é a busca
constante dos efeitos literários, ou seja, é um jogo que se faz o tempo inteiro, considerado pela autora, um jogo com efeitos realizantes.
Os efeitos crescem, reagindo um sobre os outros, até chegar a um mecanismo complexo. E ainda observa que para se fazer literatura
não existe receita, o que existe é um mecanismo de trabalho. O fundamento é, quando você lê ou escreve, você dá vida às imagens.
A publicação da obra “A Menina do Arco” partiu de um projeto apresentado ao Financiarte.
Literatura RecenteCaxiense 15
Cesar Mateus & Maikel de Abreu Couro, pele, vidas legítimas
Tão múltiplas quanto cruéis, tão teimosas quanto apaixonadas, tão singulares quanto melancólicas, são as histórias de uma periferia caxiense evidenciada em Couro Legítimo.
por Thailize Brandolt
e dá nome ao livro, narra a trajetória de
um casal numa madrugada fria de
Caxias do Sul, em uma lanchonete, em
que mentes e destinos se encontram
depois de mais um dia de trabalho, para
pensar em como chegaram até lá e
perceber o sinal do tempo em suas
vidas. O conto serve de abertura para
os outros 10 escritos por Cesar, que
apesar de serem curtos, são bastante
intensos e profundos, parecendo
combinar com a vida cotidiana, em que
muitas coisas podem acontecer de
forma veemente em um curto espaço de
tempo. O romântico Tamires de costa
a costa lembra-nos que em cada
esquina de uma cidade tumultuada,
sempre haverá um amor do passado
para nos assombrar, e fugir disso é
praticamente impossível.
Ler os contos escritos por
Cesar é viajar por uma cidade mais
lírica e poética, se identificar com cada
ponto de sentimentalismo que, às
vezes, se escondem no frenético
urbanismo e que sempre estarão lá no
interior de cada um.
Mercito Bad Bass é um
metalúrgico do parque industrial de
Caxias do Sul que vive uma rotina de
trocar de emprego com facilidade, se
drogar com frequência e ir para
Florianópolis no final do ano. Um
personagem criado por Maikel, mas que
facilmente é encontrado em um ambiente
urbano como o de Caxias. Assim como a
misteriosa Vanessa, que ao invés de visitar
túmulos de parentes , revive os seus falecidos
casos amorosos durante o feriado de Finados.
Drogas, vida noturna agitada, sexo e
romances, tornam os contos escritos por
Maikel tanto quanto melancólicos, mas não
menos vivos e significativos para o leitor. Uma
linguagem mais crua e corriqueira que a de
Cesar, faz com que nos deparemos com
pensamentos que passam facilmente por
nossas cabeças e que sempre precisam de um
ponto de escape para a liberdade. Em 11
contos muito bem escritos, Maikel explora as
inquietações e sonhos de uma juventude
engolida pelo cenário industrial e louca para
ter seu lugar marcado na história caxiense.
O último conto é escrito a quatro
ersonagens reais com Ph i s t ó r i a s imag i ná r i a s
levam a uma Caxias
do Sul terrivelmente urbana e
cheia de incríveis protagonistas
em seu cotidiano. Este é ocenário
do livro Couro Legítimo e outros
contos, escrito por Cesar Mateus e
Maikel de Abreu. Com 11 contos
produzidos por cada um deles, e um
último escrito a quatro mãos, a obra
revela dois jovens escritores dispostos
a romper com as barreiras da mesmice
e buscar uma literatura renovada para
a região.
Nascidos em Caxias do Sul,
Cesar e Maikel foram apresentados
por amigos em comum e se tornaram
próximos depois de uma bebedeira em
um posto de gasolina. Unidos pela
música, inicialmente criaram uma
banda e mais tarde começaram a
escrever no extinto blog Interurbanos,
que serviu de berço para os contos do
livro. Percebe-se essa ligação entre os
autores em cada linha de Couro
Legítimo. Apesar de Cesar ter um
estilo mais poético e lírico, e Maikel
optar por uma escrita mais crua,
ambos levam personagens urbanos
com uma leitura alternativa e leve de
se acompanhar.
Couro Legítimo, conto que inicia
Literatura RecenteCaxiense16
mãos . Cesa r e Ma ike l unem
personagens distintos em uma só
h i s t ó r i a , f a z e m a l i g a ç ã o
surpreendente e nos levam a perceber
que todos são arte da mesma vida de
um homem, Breno, cujas lembranças
amorosas se confundem com as
Pequenas Falsidades e decisões
insanas que tomou ao longo de sua
trajetória e que, a cada dia que passa,
ficam mais claras para o seu futuro.
Ao fim da leitura de
Couro Legítimo, percebe-se que o
livro apresenta uma linguagem
bas t an t e l í r i c a e uma v i s ão
intensamente poética de coisas
rotineiras da sociedade caxiense.
Essa visão de altos e baixos, com um
sentimentalismo aflorado sobre o
cotidiano de um polo industrial, nos
faz curar a cegueira para certas coisas
em nosso caminho.e dá voz a quem
geralmente não é ouvido nas
esquecidas periferias urbanas. As
histórias de Cesar e Maikel nos levam
a crer que nunca uma noite fria e
cinzenta estará imune a personagens
reais, viçosos e ardentes, capazes de
aquecer até mesmo a brisa fina de
uma cidade da Serra Gaúcha.
Cesar Mateus & Maikel de Abreu
Literatura RecenteCaxiense 17
A cegueira cinza e fria
de Caxias do Sul
esar Mateus nasceu em Caxias do CSul em 1983, e Maikel de Abreu em
1981. Ambos residem na cidade e
escrevem no blog Invernos Cegos, onde
produzem contos inspirados em histórias
caxienses, por puro prazer de escrever. Os dois
jovens escritores começaram a parceria em um
posto de gasolina, na época em que a juventude
se encontrava em tais estabelecimentos para
tomar, não apenas cervejas, mas também um
pouco mais de liberdade. Encontraram
afinidades nas músicas que ouviam e amavam,
trocaram discos e formaram uma banda, para
mais tarde colocar suas histórias em um blog chamado Interurbanos. De lá saíram os contos selecionados para o livro Couro legítimo e
outros contos, o primeiro livro publicado pela dupla.
São claras as influências da geração Beatnik em cada linha de suas produções. O gosto aventureiro, anti-materialista é
evidenciando em seus contos. Roberto Bolaño, Philip Roth são apenas alguns dos escritores que levaram Cesar e Maikel a escrever
histórias com personagens reais em situações, que provavelmente poderiam acontecer com qualquer um que vive em um cenário
urbano frio e úmido, mas mesmo assim bastante intenso como o de Caxias do Sul.
Para os dois jovens escritores, a literatura caxiense ainda está presa às academias, às raízes culturais da imigração italiana, o
que torna o meio bastante "perverso". Mas também há o ponto positivo, destaca Maikel, em um mundo onde as redes sociais e o
virtual permitem aos jovens um acesso mais fácil à literatura, faz com que a juventude se interesse também por escrever livros e
divulgar suas obras. Blogs também são literatura, que concretizam o anseio de se publicar um livro. Foi assim que aconteceu com os
dois, Cesar e Maikel, e possivelmente acontecerá com muitos outros jovens que buscam essa identidade pessoal e cultural em cada
linha que escrevem.
Cesar Mateus & Maikel de Abreu
Literatura RecenteCaxiense18
Literatura RecenteCaxiense 19
Cláudio Abreu
disconcordâncias constantes do
homem, em busca de uma conciliação
entre o agir politicamente correto, e as
reviravoltas pelas quais se passa nas 24
horas do dia.
O primeiro episódio que nos é
apresentado traz Marta, i lustre
arquiteta, dona do próprio escritório,
líder de equipe e inflexível em relação a
seus valores. Preocupada com questões
c o m o s u s t e n t a b i l i d a d e e
responsabilidade social, aplica aos
princípios de sua empresa soluções que
possam melhorar a relação entre
progresso e meio-ambiente. Essa
preocupação desmorona na busca por
um lugar para estacionar numa rua
lotada, onde saídas de garagem e vagas
para deficientes são sempre uma opção.
Mais curioso ainda é o dilema
de Vitor, publicitário bem-sucedido,
seguro de si mesmo e de suas atitudes,
ativo na busca por um mundo melhor, e
que se considera inabalável. Em uma
viagem de férias acompanhado de sua
mulher e um casal de amigos, ele se
depara com experiências totalmente
desconhecidas, incentivadas por sua
mulher e uma amiga, que estão sempre
um passo à frente na busca por novos
horizontes. Ele percebe quão frágil é o
controle de si e das situações que os
cercam.
O policial Bira traz uma contrariedade
conhecida a todos nós: a vontade de mudar o
mundo, começando pelos outros, nunca por
nós mesmos. Inimigo declarado dos bandidos,
é admirado por colegas, chefes e amigos.
Despende o esforço que for preciso para coibir
o crime, mas ausenta-se quando a própria
família precisa de ajuda.
Fagundes, o mecânico, utiliza seu
tempo livre para discutir com Seu Andrade,
ex-sindicalista, sobre a corrupção existente na
política, e as mordomias de que desfrutam os
sindicatos, enquanto os trabalhadores que eles
representam têm condições de trabalho cada
vez piores. Ao passo que defende veemente o
sindicato, Seu Andrade reflete sobre as falhas
do corpo sindicalista, e os princípios impostos
aos que o incorporam.
O Flanelinha traz em suas discussões
o preconceito existente com relação à classe
screver é uma arte que Erequer muitas faculdades,
das quais destaca-se como
primordial a habilidade de observar.
Não há como ter uma boa história sem
um olhar diferenciado com relação ao
mundo e às pessoas que se têm ao
redor. Em Pequenas Indulgências,
Cláudio Abreu domina essa arte com
maestria, mostrando as constantes
contradições e falsos moralismos do
homem no cotidiano e várias histórias,
sem deixar nenhuma atitude passar
despercebida.
Cláudio Abreu, nascido em
Caxias do Sul, transitou pelas áreas da
comunicação durante a carreira,
trabalhando em diversos jornais
caxienses e criando sua própria
agência de publicidade. Pequenas
Indulgências é seu primeiro livro,
retomada de um antigo projeto que
visa mostrar o hábito social que se tem
de alardear valores que não são
praticados.
Ao longo do l ivro, nos
deparamos com histórias ao mesmo
tempo corriqueiras e marcantes,
apresentadas nas figuras de seis
diferentes personagens, cada qual
com seus dilemas moralísticos. Marta,
Vitor, Bira, Fagundes, Flanelinha e
Andarola nos mostram os impasses e
Contrastes do CotidianoPequenas Indulgências, de Cláudio Abreu traz sábias alfinetadas ao moralismo superficial
tão presente no cotidiano, quando se permite julgar a todos, mas ser indulgente consigo própriopor Gabriela Bregolin Grillo
Cláudio Abreusocial e econômica. Ele chama a
atenção, também, à falsa ideia de que a
classe mais abastada é maior detentora
de conhecimento na sociedade.
Tendo como tema a religião, apresenta-
se a história de encerramento da obra.
No cenário da missa de fim de ano da
comunidade, o Andarola traz, se não a
maior, uma das mais inquietantes
contradições humanas. Ele observa, em
seus pensamentos de adolescente, o
contraste entre as figuras que vê na
missa, compenetradas em sua relação
com Deus, e as mesmas pessoas, seus
vizinhos, no dia-a-dia, praticando ações
totalmente contrárias à doutrina cristã.
Com observações apuradas que só o
bom escritor sabe fazer, Pequenas
Indulgências traz grandes reflexões
acerca do moralismo no convívio social.
A t r a v é s d e u m a a b o r d a g e m
contemporânea, Cláudio Abreu
consegue tratar de assuntos como
hipocrisia e ética, com muita leveza, e
um tanto de ironia. Leitura muito
indicada para fazer pensar sobre muitas
atitudes que são tomadas no decorrer
do dia.
Literatura RecenteCaxiense20
láudio Abreu, 62 anos, nasceu e Cr e s i d e em Ca x i a s d o S u l .
Apaixonado por comunicação, se
interessou pela área desde pequeno, ouvindo o
programa Venha Prá Cancha Amigo, na Rádio
Caxias. Jornalista e publicitário, atuou por mais
de 30 anos na imprensa caxiense, e foi dono do
próprio escritório de publicidade.
Ele trabalhou no jornal Pioneiro como
gerente de circulação e assinaturas, no Jornal
do Comércio como repórter e redator, e na
revista Gente in Foco, como diretor e editor.
Também participou das rádios Princesa, São
Francisco e Rádio Difusora Caxiense, tanto
como repórter quanto na área comercial. Além
disso, foi presidente da TV Caxias e âncora no
programa Vitrine, da mesma emissora.
Pequenas Indulgências, seu primeiro
livro, é a retomada de um antigo projeto
literário. Observando as tantas contradições
das pessoas, em uma época na qual muito se
fala de preconceito, ética e cidadania, sem uma
noção correta do significado destas, ele havia
pensado num projeto chamado Limites da
Sensibilidade. No decorrer da produção do livro,
as ideias foram aprimoradas, dando origem às
seis histórias reunidas sob o título de Pequenas
Indulgências.
O autor trabalha, atualmente em
outros três projetos. Ninho do Condor e
Escravos Modernos, duas obras literárias, além
de O Poço, um roteiro que será adaptado para a
televisão.
FOTO: Pauline Gazola
Cláudio Abreu
Literatura RecenteCaxiense 21
Fernando Bins
Robbins – sabendo que ele tem um
talento incrível para desvendar cenas de
crimes - e Brenda Menegaro, a médica
legista.
Até eles desvendarem o crime,
outros assassinatos ocorrem em locais
diferentes da cidade: todas as mortes
são de mulheres. Eles passam a
investigar o que estas mulheres têm em
comum.
Enquanto isso, Miguel levanta
de manhã, se entope de remédios e vai
para o trabalho. Sem interesse nenhum
em conhecer as pessoas que o cercam,
ele não sabia nem o nome de sua
própria secretária. Quando ela tenta
conversar, Miguel simplesmente a
ignora com um sorriso falso que lhe
cobre o rosto.
O i r m ã o d e M i g u e l é
esquizofrênico e fica em casa comendo
e dormindo. Aí é que está a surpresa do
livro: na verdade este irmão, de 38 anos,
que se chama Rafael, só existe na
imaginação de Miguel. Depois da morte
de seu pai, o protagonista ficou louco e
solitário, criando a imagem desse
suposto irmão como forma de superar a
perda. Certo dia, a polícia bate na porta
de Miguel e encontra o corpo de uma
mulher morta no andar de cima. Miguel,
então, transtornado e não sabendo que
sempre viveu sozinho, acha que o
culpado da morte era Rafael. Finalmente é
revelado que ele não tem irmão algum, e que
na verdade o assassino é ele próprio.
Fernando Bins, em Contagem dos
Inocentes se revela um excelente criador de
situações próprias do romance policial. É uma
boa estreia. Espera-se que continue nesta
trilha.
ernando Bins, 22 anos, é Fnovo no ramo da escrita.
Estudante de Psicologia, ele
escreveu seu primeiro livro, Contagem
dos Inocentes, 314 páginas, no gênero
policial, em apenas 13 dias.
O enredo do livro é um
misterioso assassinato que ocorre em
Caxias do Su l , em f rente ao
Monumento Imigrante. A história
envolve Flavio Cunha, um detetive
aposentado, Erik Robbins, um gênio
de 20 anos filho de assassinos, Brenda
Menegaro, uma jovem médica legista
muito talentosa, apesar da pouca
idade. Em paralelo a isso, acontece a
história de Miguel e Rafael Eyng, dois
irmãos que sofrem com a perda do pai.
O autor descreve Miguel como um
personagem perturbado, triste e
solitário, que não se interessa por
mulheres, não tem amigos e nem
parentes, somente o irmão Rafael.
Ainda pequeno Erik Robbins
viu seus pais serem condenados por
múltiplos assassinatos e, nesse dia, no
tribunal, conheceu Flavio Cunha e
começa uma grande amizade.
Passaram-se alguns anos e ocorre o
assassinato no Monumento Imigrante.
O departamento de polícia recorre a
Flavio Cunha para desvendar o acaso.
Ele chama então sua “equipe”, Erik
O assassino do Monumento ImigranteA obra Contagem dos Inocentes de Fernando Bins prende o leitor por apresentar uma
incrível história que mistura um assassinato com um suposto personagem esquizofrênico por Pauline Gazola
Literatura RecenteCaxiense22
escritor Fernando Bins Sandi, 22 Oanos, é natural de Maravilha (SC),
mas mudou-se para Caxias do Sul
ainda jovem. Desde os 14 anos se interessou por
livros e foi assim que amadureceu a sua futura
escrita. Os primeiros livros que ele teve contato
foram O Caso dos Negrinhos, de Agatha
Christie e Juízo Final, de Sidney Sheldon. Foi
então que além de escrever, surgiu o hábito da
leitura.
Acadêmico do curso de Psicologia,
Fernando desde muito cedo se interessou pelas
peculiaridades da humanidade e da leitura. A
partir dessa primeira produção, escrever se
tornou um hábito cada vez mais presente em
sua vida, uma paixão cada vez mais pulsante.
Estimulado pela namorada, Stefany Godoy,
surge então o livro Contagem do Inocentes.
FOTO: Pauline Gazola
Fernando Bins
Literatura RecenteCaxiense 23
Ione Grillo As intrigas das bruxas
Um distante reino encantado que se chama Abeceus, habitado por bruxas e seres mágicos,é um universo onde manter a paz é prioridade e castigar os malfeitores também
por Paola Dalla Chiesa
um passeio pelo mundo das bruxas,
repleto de lições e intrigas, versos e
poesias, onde a bagunça e a fantasia
andam juntas.
Na obra, que transcorre em
uma montanha mais alta que as demais,
um reino chamado Abeceus, habitado
por bruxas e feiticeiros, vivia na paz
absoluta, graças às regras impostas pelo
rei. Quem ousasse desrespeitar e
devastar a boa convivência dos que ali
viviam, era mandado para a floresta,
lugar mais temido pelos bruxos, onde
diziam que qualquer um que entrasse,
nunca mais retornaria.
Certo dia, por causa da
rebeldia de uma tribo de bruxelunos da
Esco la Gr imo i re , a p ro fesso ra
Graméthica resolveu criar um projeto,
chamado As Abecenas, que envolvia
todos aqueles que a desobedeceram.
Neste trabalho, os alunos deveriam criar
um livro de poemas sobre as bruxas que
moravam no reino, descrevendo suas
profissões, hábitos e aparências. A tribo
que, antes só cometia erros, tornou-se
correta e amável como todos os outros
bruxelunos, trazendo novamente a paz
ao reino de Abeceus.
Apesar das poucas páginas e a
leitura ser de um só fôlego, Ione Grillo,
ao criar o projeto As Abecenas, teve a
intenção de auxiliar as crianças a
descobrirem o que cada profissão faz e o que,
principalmente, a mulher pode fazer,
facilitando de certa forma na escolha da
carreira que os jovens leitores irão exercer
futuramente.
As lembranças da escritora são
relatadas com tanta minúcia, que o leitor
consegue passar pelas mesmas sensações já
vividas por Ione na infância, criando um forte
vínculo entre ambos. Enfim, por mais que os
leitores da obra não acreditem em contos de
bruxas, a autora conduz o enredo de maneira
tão convincente que largar a leitura não é uma
opção. O Reino de Abeceus é um
excelente livro para aqueles que
adoram magia, poemas e pretendem adentrar
por inteiro no universo fictício criado por Ione
Grillo de forma tão inventiva.
Reino de Abeceus, de OIone Grillo, é um livro de
gênero infanto-juvenil, de
linguagem simples e objetiva, que
explora o universo mágico das bruxas.
As ilustrações são de Karen Basso e o
livro foi lançado em 2012.
F o rmada em Re l a çõe s
Públicas pela Universidade de Caxias
do Sul desde 2004, Ione Grillo é
escritora por teimosia, afinal, segundo
ela, sempre foi apaixonada pela leitura
desde seus quatro anos de
idade. Escreveu, em 2007, Minhas
Memórias Contam Histórias e, logo
após, no ano de 2009, escreveu o
Armazém de Versos. Em breve será
lançado sua nova obra, O Verso da
Fotografia, que contém imagens
fotografadas por ela mesma e poemas
escritos no verso da folha, refletindo o
que diz na imagem.
Ione Grillo veio de uma
família humilde, morava juntamente
com suas irmãs na casa de sua avó,
uma velha senhora contadora de
histórias sobre bruxas e gnomos. Foi a
partir das lembranças daquela época
que as ideias foram surgindo para a
construção do enredo, que durou
aproximadamente dois anos para ser
concluído. Dentro deste contexto, O
Reino de Abeceus conduz o leitor a
Literatura RecenteCaxiense24
ormada em Relações Públicas pela FUniversidade de Caxias do Sul, Ione
Grillo sempre foi apaixonada por
leitura desde seus quatro anos. De criança
sonhadora à mulher corajosa, Ione não nega que
teve uma infância humilde, porém, rica em
histórias e brincadeiras.
Erudita de poesia, Ione publicou a obra
Minhas Memórias Contam Histórias e, logo
após, em 2009, escreveu o livro Armazém de
Versos. Em 2012, divulgou O Reino de Abeceus,
muito elogiado pela SMED (Secretaria
Municipal da Educação) e, em breve, pretende
lançar O Verso da Fotografia. Divulga suas
obras por meio de redes sociais e nos encontros
que realiza em escolas, onde conta histórias e
poemas para as crianças.
Ione Grillo tem como escritores
favoritos Jorge Amado, Gregório de
Matos, Mario Quintana, Paulo Leminski,
Machado de Assis, Gabriel García Márquez,
Pablo Neruda, entre outros. Sobre a literatura
caxiense, a autora afirma que ela está
ganhando espaço no mercado, mas defende a
ideia de que deveria ser melhor conhecida pelos
leitores de todo o Brasil e, principalmente, mais
incentivada por todos.
“Aprender a ler qualquer pessoa pode
te ensinar. Aprender a gostar de ler só você
pode te ensinar”. Segundo Ione, é com esta
reflexão que ela gostaria de atingir a todos os
admiradores da literatura.
FOTO: Pauline Gazola
Ione Grillo
Literatura RecenteCaxiense 25
José Otávio Carlomagno A Poética Corrosiva
O principal norte do livro “Desacreditações Recreativas”, de José Otávio Carlomagno, conta que tudo na vida muda a todo instante e o que é agora não é mais daqui a um minuto: somos a realidade
por Karina Catuzzo Rodrigues
poema. (“Já acabou a distração sem
rumo: o trinco da porta da casa ao lado
fez barulho, passos saem...”).
Carlomagno conta que escreve
no seu dia a dia e, para a criação de
“Desacreditações Recreativas”, juntou
vários poemas prontos e guardados. O
ambiente dessa obra foi basicamente o
jardim e a horta que possui em casa. Os
títulos muitas vezes são criados antes
dos livros, na leitura de uma frase, por
exemplo, por isso, nem sempre o título
fica coerente com a escrita.
A estratégia de escrita de José
O t á v i o C a r l o m a g n o é m u i t o
interessante. Lemos um poema na
página 58, “mas se o dia é belo, ou não,
deve-se rir do câncer...”, e ele é
retomado na 127, “cura do câncer:
nunca. Não se iluda...”. Assim, não se
passa despercebido cada página da
obra. Se realmente ler, lembrará da
anterior. Para o autor, poesia não é só de
amor, romance e ficção. Poesia é
realidade, é o formato, como música, um
rótulo.
Os poemas de Carlomagno
fazem também com que o leitor o
conheça melhor e possa interpretá-lo,
como neste trecho da página 75: “Se eu
souber que morrerei amanhã, mando
tudo às favas: não perderei tempo com
poemas. Sentarei no chão e passarei
esse derradeiro dia a observar as formigas, as
lesmas...”.
C o m o u m a o b r a r e a l i s t a ,
“Desacreditações Recreativas” conta o
impacto da morte e reflete para outros
problemas atuais que muitas vezes não são
percebidos e, não são menos importantes, mas
a mídia só dá a devida importância quando o
desastre mata milhares de pessoas. “Quanto
mais estrondosa a morte, tanto mais sorte:
maior o valor comercial: mais valorosa a
notícia... Se os sobreviventes de desastres
morrerem aos bocados, durante um mês, a
notícia não tem a mínima graça. Deve ser por
isso que ninguém liga para as epidemias da
África.”
Carlomagno escreve para sacudir as
pessoas, para mostrar a realidade e não para
passar despercebido. Adora a mistura de
humor e tragédia. Conta que nunca escreveria
Desacreditações Recreativas” é “um livro de poemas do cotidiano
e dos mais variados temas. Seu
autor, José Otávio Carlomagno é
natural de São Paulo, mas mora em
Caxias do Sul desde 2002. Em um
ramo de atividades completamente
diferente, Carlomagno é engenheiro
agrônomo, mas já publicou contos
(“Bodas de Ouro”) e outros poemas
(“Antropologia de Mim”).
E m “ D e s a c r e d i t a ç õ e s
Recreativas”, o autor escreve a
verdadeira realidade: “Gosto de
histórias que iniciam por 'um belo
dia'... Um belo dia apareceu-lhe um
câncer...”, e conta que não teve uma
influência literária para escrever, que
sua inspiração vem do aprendizado
diário. Sendo engenheiro agrônomo,
nada teria a ver com a literatura.
No entanto, a grande empatia
pela natureza fez com que a inspiração
de Carlomagno se tornasse ainda
maior. Em um dos trechos do livro,
logo se percebe isso: “O boi, o sapo, o
gafanhoto, a cobra... Enfim, todas as
espécies animais, incluindo o
homem...”
“ D e s a c r e d i t a ç õ e s
Recreativas” é escrito em minuciosos
detalhes que fazem parar a leitura e
ficar imaginando a cena dentro do
Literatura RecenteCaxiense26
José Otávio Carlomagno algo que o leitor leu, passou e desapareceu.
Gosta que seus livros tornem-se um bordão,
que quando a pessoa vê o livro, lembre de
um trecho, de alguma frase.
José Otávio Carlomagno explora
ainda aspectos temáticos recorrentes, como
a preocupação e interação com as forças do
cotidiano (“A preguiça é uma grande
virtude: faz-nos concisos e claros...”),
interrogações sobre questões sociais da
atualidade (“O que mais me irrita nas
religiões não é a arrogância dos ministros,
ou as mentiras com segundas intenções...”),
a natureza (“Mas há o porco, a galinha, a
cobra, o casal...”), aproximações com
filosofia (“A filosofia se mantém. Os filósofos
se findaram. Tornaram-se prisioneiros dos
conceitos e teorias acadêmicas...), entre
outros.
P o d e - s e d i z e r q u e
“Desacreditações Recreativas” é uma
obra bastante abrangente. Carlomagno é
um autor que gosta de mostrar a realidade,
que escreve para o leitor enxergar, escreve
de forma visual, gosta das segundas
intenções, da ironia e do sarcasmo. Ele
confessa que não gosta da forma
psicológica, que não sabe escrever como
Machado de Assis e Clarice Lispector, por
exemplo. Pensa que literatura é para
poucos, já que é necessário saber
interpretá-la. “Poesia é a música da palavra”,
diz.
Literatura RecenteCaxiense 27
osé Otávio Carlomagno é natural de São JPaulo, Capital, mas mora em Caxias do
Sul desde 2002. É autor do livro de
contos “Bodas de Ouro” (Editora Argos –
Universidade de Chapecó, Santa Catarina), dos
romances “Espelho”, “Sangue Nosso de Cada
Dia”, “Brisal”, “O Fotógrafo do Silêncio”, “O
Arrumador de Ossos”, dos livros de poemas
“Desacreditações Recreativas” (Editora Modelo
de Nuvem), “Antropologia de Mim” (Editora
Multifoco, Rio de Janeiro), “Exercício de
Impregnação” e do volume de novelas “Remo-
Reino”. Além disso, possui um blog, o “Mania de
Escrever.”. Também já participou da “Antologia
Poética” da Flipoços.
Antes de ser escritor, Carlomagno
formou-se em Agronomia pela Unesp/Botucatu FOTO: Pauline Gazola
José Otávio Carlomagno
em 1980, tendo trabalhado em fazendas, plantações de soja e exportação de cítricos. Só depois de um tempo mudou sua maneira de
viver, dedicando-se à produção textual. Não possui uma influência literária para escrever. Sua inspiração normalmente é a natureza e o
cotidiano.
As comparações com a escrita de José Otávio são muitas, principalmente com o escritor matogrossense Manoel Barros. Mas,
para ele, essa comparação é apenas dedutiva, já que Barros tem sua vivência no Pantanal e conversa com jacarés, bois, e ele dialoga
com insetos e formigas.
Costuma escolher os títulos dos livros antes de escrevê-los. Por ser realista, afirma que as pessoas vêm buscando uma vida
perfeita, que tudo vai dar certo e na verdade não vai. O final é sempre trágico, sempre o mesmo. Vai acabar num hospital, com alguma
doença. “O mundo cor de rosa não existe. Existe na imaginação das pessoas.”. Para ele, poesia é a música da palavra e é o formato do
texto. Costuma escrever à noite, na varanda, olhando para a horta e o jardim de sua casa.
Literatura RecenteCaxiense28
Literatura RecenteCaxiense 29
Lourdes Curra
crianças os bons valores morais e
espirituais e também a vontade de ler e
aprender.
A história de Sapolândia se
passa em um povoado de sapos que fica
às margens da Lagoa Dourada e traz
como personagens uma simpática
família de sapos que são: Vovô Verdão,
papai Verdinho, mamãe Verdinha e os
filhos Plimplim, Nina, Pop e Soc (os
dois últimos sendo gêmeos). A história
toda se desenrola através das histórias
do vovô Verdão que é o maior contador
de histórias do povoado. Trata-se de
uma homenagem da autora aos avôs,
avós, pais e mães que ainda contam
histórias para seus netos e filhos, e é
uma forma de chamar a atenção para a
importância que isso tem na educação
das crianças.
Os temas das h is tó r ias
contadas por vovô Verdão são os mais
variados, desde temas mais didáticos,
como a vida dos sapos, o uso da
internet, as obras de grandes escritores
brasileiros, até temas mais morais,
como acontecimentos que ilustrem as
grandes lições que as crianças devem
levar consigo como amor, respeito e
solidariedade.
Duas coisas muito peculiares
do livro são: a inserção das obras de
Ferreira Gullar e Mario Quintana no
meio da história, que tem o objetivo de aguçar
a curiosidade da criança sobre quem são estes
autores e o que mais produziram; e, no fim do
livro, duas páginas que ensinam a fazer um
sapo de origami, com o objetivo de fazer a
criança se envolver mais e também se divertir.
Lourdes Curra ressalta o quão
gratificante é encontrar uma criança que leu
seu livro e gostou. Ela diz que todo o trabalho
vale a pena quando as crianças se identificam
com as histórias, quando aprendem com as
histórias e até quando querem fazer parte das
histórias. Ela continuará na literatura infanto-
juvenil com uma continuação de seu livro
Esperança (seu primeiro livro, escrito ainda
quando ela estava no magistério e publicado
tempos depois), onde abordará o método de
alfabetização de Glenn Doman e as
e x p e r i ê n c i a s d a s c r i a n ç a s c om a
Espiritualidade.
livro Sapolândia, de OLourdes Curra, foi lançado
em 2012 e faz parte da
l i teratura infanto- juveni l . Traz
belíssimas ilustrações da ilustradora
Karen Basso e é apenas um dos vários
livros infantis da autora. O que mais
chama atenção no livro é o fato da
autora trazer toda a estrutura familiar e
s o c i a l p a r a d e n t r o d e uma
comunidade de sapos, aproximando a
criança ao mundo de fantasias.
Lourdes Curra é uma senhora
extremamente simpática e atenciosa.
Um verdadeiro ser de luz com quem se
tem muito a aprender e com quem se
tem vontade de passar uma tarde
inteira só ouvindo-a contar histórias.
Aliás, ela parece adorar contar uma
história, assim como o faz o Vovô
Verdão, um dos personagens de seu
livro Sapolândia. Lourdes ocupa a
cadeira 26 da Academia Caxiense de
Letras e é autora de mais de 10 livros
pela Editora Maneco, obras infanto-
juvenis e de mensagens canalizadas,
que são poemas e romances escritos
mediunicamente com o auxílio de
espíritos desencarnados. Além disso,
está sempre no meio de discussões
literárias e o que mais aprecia são os
encontros escritor-aluno, pois o
objetivo de seus livros é despertar nas
Uma história cheia de encantos e liçõesAs crianças leitoras irão divertir-se e aprender muito com os personagens destaobra que são sapos muito bacanas vivendo num povoado chamado Sapolândia
por Amanda Bertóglio Dorneles
Literatura RecenteCaxiense30
Lourdes Curra é uma senhora
extremamente simpática e atenciosa.
Ocupa a cadeira 26 da Academia
Caxiense de Letras e é autora de mais de 10
livros pela Editora Maneco. São eles obras
infanto-juvenis e de mensagens canalizadas
mediunicamente (poemas e romances
auxiliados por espíritos desencarnados). Além
disso, está sempre no meio de discussões
literárias e o que mais aprecia são os encontros
escritor-aluno, pois o objetivo de seus livros é
despertar nas crianças os bons valores morais e
espirituais e também a vontade de ler e
aprender.
Lourdes começou a escrever para
crianças quando alguém lhe falou sobre a
importância de escrever para este público, para
ajudá-lo a evoluir desde cedo. Suas obras são
Esperança (infantil - 2005), Um Sonho de
Esperança (infantil – 2007), Heitor Curra (sobre
a trajetória de seu pai – 2006), O Jogo da Vida
(infanto-juvenil – 2008), A Princesinha Marta
(infantil – 2007), Rapa Nui (infanto-juvenil –
2001), Autobiografia de Titi (infantil – 2011),
Sapolândia (infantil – 2012), Saga do
Caminhante do Céu, A Luz dos Anjos, O
Coração Vê Além do Horizonte e Primavera do
Coração.
Seu próximo projeto será uma
continuação de seu primeiro livro, Esperança.
Ela o escreveu quando estava no magistério e
publicou-o tempos depois. Neste projeto, ela
abordará o método de alfabetização de Glenn
Doman e as experiências das crianças com a
Espiritualidade.
FOTO: Pauline Gazola
Lourdes Curra
Literatura RecenteCaxiense 31
Lúcio Saretta, Marcos Kirst, Tiago Marcon & Uili Bergamin
jogador do Corinthians recebe um
busto em sua homenagem, alocado no
Parque São Jorge. Lembra ainda, que,
do outro lado da metrópole, anos depois,
Waldemar Fiúme, popular jogador do
Palmeiras nos anos 40, também
recebera seu busto feito por um artista.
Na sequência, estão as crônicas de
Marcos Kirst, nas quais podemos
encontrar um final interativo.
Inspiradas na Divina Comédia, de
Dante Alighieri, Kirst retrata ao longo
dos textos situações corriqueiras,
vividas por seus personagens Virgílio e
Beatriz. Com uma pitada de humor,
tais cenas nos levam a refletir os
fatos que acontecem em nossas
vidas e que, desatentos, perdemos a
oportunidade de aprender com eles.
Na crônica “Esconde-esconde com o
motoboy”, Virgílio e Beatriz se
sentem muito descontentes com o
atendimento prestado pelas empresas
que oferecem o serviço de tele-
entrega em Caxias do Sul, pois
embora expliquem cada detalhe de
c o m o c h e g a r a t é s u a c a s a ,
recentemente adquirida em um bairro
novo da cidade, nunca recebem seu
lanche como o esperado. Ao final,
quem decide é o leitor: se quer
interpretar no “inferno de Dante” é
acreditar que nunca vai melhorar tais
serviços; no “purgatório de Dante”, induz a
optar por dois ou três fornecedores
específicos, na esperança de que esses
dois ou três acertem a localização de sua
residência; ou no “paraíso de Dante”, que é
entender como uma conspiração do
universo, e quer ver os dois partilhando
momentos de romantismo, preparando seus
próprios pratos, vivendo momentos a dois na
cozinha.
Tiago Marcon é quem assina as
doze crônicas seguintes. Em um estilo
bastante misto, ele busca trazer reflexões
bem humoradas do cotidiano, como na
crônica “A inocência cruel das crianças”,
onde retrata uma pérola da filha, Brenda, de
três anos, em uma conversa normal, até certo
ponto, com sua tia, irmã de Tiago, que deu um
ursinho à Brenda, e pensou agradar a sobrinha
obra Tetraedro é a Ajunção de quatro
escritores caxienses,
que, embora tenham uma maneira
bem particular de se expressar em
suas crônicas, e propriamente,
influências literárias por vezes
muito diferentes, possuem uma
mesma paixão: a literatura e a escrita.
Composto por 48 textos, Tetraedro é
capaz de divertir e informar ao mesmo
tempo.
Você pode viajar ao universo
do esporte, em especial ao mundo do
futebol, ao ler as crônicas de Lúcio
Saretta, que relata através de
experiências vividas ou induzidas,
algumas passagens das vidas de
grandes craques dos anos 80 e 90,
em especial.
A l é m d a v i a g e m
futebolística, Saretta nos situa em
diversos acontecimentos históricos, e
insere neste cenário pela riqueza
de detalhes com a qual descreve
cada gesto ou ação dos
personagens. Na crônica Pedra Viva,
por exemplo, Saretta revela que, ao
longe, percebeu que o artesão
trabalhava madrugada adentro,
fazendo um busto de algum rosto
conhecido. Nisto, ele viaja para a
década de 20, quando Neco,
Um múltiplo olhar A obra que reune quatro cronistas de Caxias, Tetraedro, de Lúcio Saretta, Uili
Bergamin, Marcos Kirst e Tiago Marcon, revela um olhar diversificado para a cidadepor Mayara Pires Zanotto
Lúcio Saretta, Marcos Kirst, Tiago Marcon & Uili Bergamin ao simular uma conversa entre a pelúcia e ela. Por parte da tia a conversa vinha
evoluindo, mas a menina não dava bola, até que resolve levantar, dar umas
batidinhas no ombro da tia e mandar: “Dinda, ele não fala...”. São crônicas de
tal leveza e pitadas de mundo real que Tiago nos apresenta, e esse caráter
volta a ser reproduzido na crônica “Como comprar absorventes femininos”. O
nome é bastante sugestivo, e Tiago faz uma crítica à complexidade do
mundo moderno, propondo uma analogia com o tempo da idade das cavernas, onde
era tudo tão mais simples. Mas, como o progresso não oferece opção, depois do
baque inicial da chegada à farmácia e conversa inicial com o atendente, ele resolve
ir embora sem fazer a compra solicitada por sua namorada, porém, em algum
momento se dispõe a aprender sobre tal alienígena, acessório indispensável
na vida feminina.
Adotando um estilo diferente dos demais cronistas de Tetraedro,
Uili Bergamin expõe em suas crônicas, falando na primeira pessoa do singular, suas
visões de mundo. Voltado em muitos momentos à literatura e ao valores
humanos, propriamente ditos, ele procura falar em uma linguagem que fique
impregnada, que dê teor de conhecimento para aqueles que buscam por suas
crônicas. Nos textos “A implosão da ética” e “A implosão da ética II”, ele
enfatiza o quanto esta questão vem ganhando espaço em nossas vidas nos
últimos anos, e embora muito se fale nela, parece que nunca ela esteve tão
sumida, ao se analisar as ações de muitos políticos, em especial, e demais
profissionais em geral. Ele nos leva a refletir o quanto nós deixamos de ser
éticos pela própria facilidade com a qual determinadas coisas chegam até nós.
Através destes pequenos trechos do livro Tetraedo, é possível compreender
porque este livro é tão especial para aqueles que o escreveram, compondo com um
pouco de cada um, e podendo atingir leitores com gostos diferentes, visto que
a composição destes textos é abrangente e encantadora. Quando se tem em mãos
um livro com o qual é possível se imaginar vivendo as situações que o mesmo
retrata, ele deixa de ser apenas uma leitura corriqueira. É como uma mágica
ver-se vivendo aquelas histórias, imaginando o diálogo ali ocorrendo, fazendo
entonações de voz diferentes a cada novo parágrafo, e é isso que a
literatura, como um todo deve proporcionar: experiências de vida fictícia em
uma vida real e cada dia menos controlável.
Literatura RecenteCaxiense32
través do cronista Uili Bergamin, reuniram-se os amigos Lúcio Saretta, Marcos Kirst e Tiago Marcon. A ideia de reunir os Aquatro cronistas e produzir um livro eclético, por isso, inédito, surgiu na cerimônia de entrega de troféus do Concurso
Anual Literário de Caxias do Sul e foi imediatamente comprada pelos demais envolvidos, que já escreviam para veículos e
em blogs pessoais.
Baseados em personagens reais e fictícios, Tetraedro retrata Caxias do Sul sob o ponto de vista de cada um de
seus autores, e busca informar e divertir ao mesmo tempo, misturando humor, história (local, regional e nacional) e com o toque
pessoal desses autores, que atuam há cerca de dez anos, em média, no cenário literário caxiense.
Os autores possuem influências literárias bastante diversificadas, como os clássicos Cervantes e Machado de
Assis até contemporâneos como Saramago e García Márquez. Destacam ainda Luis Fernando Veríssimo, Sérgio Faraco,
Rubem Braga, Julio Cort’Azar, Borges, Kafka, Philip Roth, Jimmy Rodrigues, Fabrício Carpinejar, Moacyr Scliar, Edgar Allan
Poe, Érico Veríssimo, entre outros, e destacam que estamos sendo diariamente influenciados pelas mais diversas fontes,
basta abrir os horizontes e se permitir vivenciar as experiências que batem à nossa porta.
De um modo geral, pode-se dizer que todos são unânimes ao afirmar que a literatura brasileira, em especial a literatura
caxiense, se encontram em plena expansão, e nessa chuva de autores e produções, vem surgindo muita gente realmente
boa. Porém, embora hoje não seja como antigamente, os autores e artistas em geral, como podemos dizer de um modo mais
abrangente, podem se destacar através da internet, e ter sua obra publicada ou reconhecida de um modo diferenciado tem
um sabor especial. Destacam ainda que produzir um livro é de fato como gerar um filho, desde seu planejamento, passando
pela sua concepção até o momento em que nasce.
Os autores vêm se mantendo no ritmo, no sentido de que não pararam por aí. Embora para alguns tenha sido o primeiro
livro, para nenhum deles será o último, pois consideram escrever uma paixão, e alimentam seu fogo constantemente. Uili está
lançando A Mordaça. Tiago pretende lançar um livro de crônicas ainda em 2014, e também vem “cozinhando em fogo
brando” um romance. Marcos Kirst vem produzindo em conjunto com o artista plástico caxiense, Antônio Giacomin, o livro
intitulado Serra Gaúcha: O Passado Presente. Lúcio Saretta deve lançar seu terceiro livro de crônicas esportivas ainda nesse ano, e em
paralelo, segue colaborando com o site "Olá! Serra Gaúcha". Os quatro autores cogitam ainda o lançamento de um livro de contos.
FOTO: Pauline Gazola
Lúcio Saretta, Marcos Kirst, Tiago Marcon & Uili Bergamin
Marcos Kirst, Lúcio Saretta e Tiago Marcon
Literatura RecenteCaxiense 33
Luis Narval
situações em que a sobrevivência está
em jogo.
A história seguinte chama-se
O que Agora o Ensurdece, e trata do
drama vivido pelo padre Paolo Romani,
que se culpa pelo assassinato de seu tio
e por ter dado às costas a um amor de
infância. O cenário da trama é
composto pelos impactos da 2ª Guerra
Mundial no Brasil, e Narval ilustra
perfeitamente a submissão das pessoas
ao governo e a terrível e inevitável
convivência de uma pessoa com seus
demônios internos, que faz com que
cada dia se torne uma batalha.
Abaixo da Linha D'Água é a
história que encerra o livro, e tem como
foco a raiva que o protagonista,
Alejandro Nierbes, sente de sua cidade,
pois credita ao espaço o suicídio de seu
idolatrado tio. O modo de interpretar as
pessoas, revelado na última fala do tio
de Alejandro, é indubitavelmente regido
por profundas ideologias e fatos
implícitos da sociedade, que estimula o
leitor a questionar o rumo de sua vida e
o comodismo que marca seu cotidiano.
Com suas t r ê s nove l a s
multifacetadas e consideradas como as
melhores do ano, Narval alcança o
objetivo de construir uma literatura
séria e que agregue conhecimento aos
leitores. Os dilemas vividos pelos
personagens fazem com que a leitura seja,
além de prazerosa, uma experiência de vida.
Ela amplia os horizontes e convida o leitor a
sair do comodismo e da alienação.
livro Era em Pleno Dia a OAscensão da No i te ,
escrito por Luis Narval e
lançado em 2012, conquistou neste
ano o Prêmio Vivita Cartier, como livro
do ano, no 47º Concurso Anual
Literário de Caxias do Sul. A obra é
composta por três histórias que
trazem a política como pano de fundo
e retratam os conflitos internos vividos
pelos personagens. O objetivo é incitar
o leitor a refletir sobre suas ideologias
e mudar sua forma de ver a vida.
Luis Narval já publicou dois
livros. Além disso, está trabalhando
em um romance, um livro de poesias e
d o i s l i v r o s d e c o n t o s , u m
independente e um coletivo. Decidiu
não cursar faculdade, pois crê que a
vida é a melhor professora que alguém
pode ter. Narval é um grande
admirador de livros que engrandeçam
a mente dos leitores, e é com essa
finalidade que escreve.
A primeira história, que leva
o mesmo título do livro, retrata de
forma singular os horrores da 2ª
Guerra Mundial através da amizade
inabalável entre um judeu e um
alemão “puro”. Essa afeição proibida
entre eles incita o leitor a pensar sobre
como é difícil manter a lealdade com
os outros e consigo mesmo em
A Convivência dos ContráriosComposto por três histórias de âmbito político, com personagens marcantes e realistas,
o livro Era em Pleno Dia a Ascensão da Noite conquistou o Prêmio Vivita Cartierpor Diúlit Bernart Oldoni
Literatura RecenteCaxiense34
escritor Luis Narval tem 47 anos e Onasceu em São José dos Ausentes,
antigo distrito de Bom Jesus. Há 30
anos mora em Caxias do Sul. Narval não tivera
contato com um livro até começar a frequentar
a escola. Ele optou por não adquirir uma
formação acadêmica, tendo, então, a vida e a
literatura como suas únicas professoras.
Narval tem dois livros publicados, Era
em Pleno Dia a Ascensão da Noite e A Mansão
da Rue Lafayette, e tem trabalhado em um
romance, dois l iv ros de contos , um
independente e um coletivo, e um livro de
poesias, que julga ser o mais difícil de elaborar,
pois afirma que a poesia deve ser a
representação escrita da alma de quem a
escreve.
Sua obra Era em Pleno Dia a Ascensão FOTO: Pauline Gazola
Luis Narval
da Noite, publicada em 2012, foi a vencedora da principal categoria, Vivita Cartier, conquistando, merecidamente, o título de livro do
ano.
Narval também é um grande admirador de filosofia, literatura francesa, russa e norte americana, ou seja, prefere manter
contato com livros que, além de adicionar conhecimento aos leitores, também os estimulem a questionar a vida, as pessoas e a
sociedade, acarretando, consequentemente, em uma mudança positiva em suas formas de interpretar o mundo.
Seus livros caracterizam-se pelos seus cenários, nos quais a maioria das histórias acontece fora do Brasil. Narval justifica essa
preferência por outros países dizendo que os livros devem ser como uma porta para o resto do mundo, fazendo com que seus
leitores viajem e vivam novas experiências. Ele ressalta que a mente do ser humano, ao contrário de seu corpo, não tem limites, e
é isso que o torna poderoso.
Literatura RecenteCaxiense 35
Márcia Tolotti A base do sonho é a determinação
A lenda da gralha azul de Márcia Tolotti oferece a oportunidade de pensar sobre suaindependência financeira e afetiva, como defender um sonho e buscar sua realização
por Rafael Fandinho
tempo de plantar a esperança que é
simbolizada pela reconstrução da
floresta. Assim, quando a gralha
conquista seu sonho, ela se depara com
seu bando que também ficou azul. Isso
quer dizer que nossos desejos podem
alcançar outras pessoas, ainda que não
tenhamos noção disso. Um grande
empenho pode gerar grandes ganhos,
para além de nós.
Outra mensagem importante do
livro é a relação que a gralha tem com
seu alimento. Ela come assim que o
encontra, outra parte armazena nas
fendas dos pinheiros, e alguns grãos ela
planta com suas bicadas. Esse fato pode
ser traduzido para a relação do homem
c om s u a s i t u a ç ã o f i n a n c e i r a ,
demonstrando o consumo em curto
prazo, que se armazenar estará
poupando e, quando planta, está
investindo.
Conclui-se então que A Lenda
da Gralha Azul é uma história que faz o
leitor refletir sobre a busca dos seus
sonhos, mostrando diversos valores
dessa trajetória. Ressalta que não se
deve desistir nas primeiras dificuldades,
que sempre se deve manter determinado
e focado na conquista . É uma
interessante forma que Márcia Tolotti
encontrou para que reflitamos sobre a
situação financeira de nossas vidas.
livro A lenda da gralha Oazul, de Márcia Tolotti,
lançado em 2012, é uma
obra destinada ao publico adulto, mas
com uma pequena diferença na
linguagem: é mais lúdica, ela retrata
através de uma metáfora a relação do
homem com a vida financeira e
afetiva. Na obra se abordam valores
como pe r s i s t ênc i a , co r agem,
determinação e a defesa de um sonho.
Márcia tolotti é professora,
psicanalista, escritora e fundadora da
empresa MODDO, que oferece
soluções inovadoras de gestão para
escolhas pessoais.
A Lenda da Gralha Azul e
baseado em uma história já escrita em
o u t r o l i v r o , O d e s a f i o d a
independência. A editora acreditou
ser interessante fazer um livro
somente da lenda e com gravuras. A
lenda narra que a gralha tenta
conquistar o sonho de se tornar azul,
porém passa por alguns desafios,
como a derrubada de sua floresta e a
grande dificuldade de realizar seu
sonho.
Apesar das dificuldades
encontradas a gralha não desiste do
seu sonho, continua voando o mais
alto que pode, dia após dia, sem
d e s i s t i r e a i n d a e n c o n t r a
Literatura RecenteCaxiense36
árcia Tolotti é fundadora da Me m p r e s a M O D D O
conhecimentos estratégicos,
que oferece soluções inovadoras de gestão para
escolhas pessoais sustentáveis integrando os
conhecimentos da psicanálise, psicologia,
empreendedorismo e economia, sendo a
primeira empresa a ter programa continuado de
educação financeira com metodologia
especialmente desenvolvida. Responsável pela
implementação dos primeiros programas de
educação financeira in company do Brasil,
Márcia Tolotti é Pós-Graduada no MBA em
Marketing pela FGV, Psicanalista pelo CEL e
EEP (vinculada a Associação Lacaniana
Internacional – ALI), graduada em psicologia
pela UCS e Mestre em Letras e Cultura pela
UCS. Leciona em MBAs, é palestrante, e
escritora com mais de 20 mil exemplares
vendidos. Dentre suas obras estão: O Desafio da
Independência, Passageiros do outono, A lenda
da gralha azul, Empreendedorismo – Decolando
para o futuro, As armadilhas do consumo.
Márcia Tolotti
Literatura RecenteCaxiense 37
Marcos Fernando KirstSilêncio em poemas
Obra do escritor Marcos Fernando Kirst, vencedora do Concurso Anual Literário de Caxias do Sulde 2011, apresenta poesias que revelam o que acontece com quem vive momentos de total silêncio
por Ana Cláudia Mutterle
Por ter s ido a pr imeira
experiência com poesia, Kirst não se
deteve na estrutura poética. Segundo
ele, optou por versos livres e levou em
conta o ritmo, a temática única e a
imagem que os versos iam formando.
De certo modo, a forma irregular
combina com as histórias diferentes
que se ligam apenas pelo tema, de uma
forma bem sutil. Forma-se um bonito
conjunto, entre ritmo, conteúdo e
formato. No entanto, o que mais se
destaca na obra é a profundidade em
que o autor mergulha ao narrar fatos
corriqueiros que acontecem durante
momentos de silêncio.
O simples cair da última pétala
de uma rosa morrendo se transforma, no
mesmo poema, em algo sublime, ao
olhar sob o ponto de vista da flor, e algo
cotidiano, se olhado pelo homem que
está atrasado indo pegar ônibus. Além
de revelar o que ocorre por trás do
silêncio, essa contradição apresentada
nos poemas Florais e Florais II critica a
correria do homem moderno, que não se
encanta mais com os espetáculos da
natureza.
Outra contradição interessante
que Kirst revela são os momentos de
certeza que o ser humano tem. Está
narrado no poema In/Certeza o ato da
pessoa dizer algo confiante, mas que
dentro da alma se lança a um imensurável
vazio cheio de dúvidas. Da mesma forma
ocorre no poema Discurso, em que alguém
desabafa com raiva, mas em frente a um
espelho. Por mais que o sujeito tenha
conseguido colocar para fora o que ela queria
dizer, o desabafo tratou-se apenas de um
ensaio em frente ao espelho.
Em Devoção, o autor percebe um
silêncio cheio de significados que sempre é
despercebido. A fé que está implícita nas
frações de segundos de silêncio, após todos
pronunciarem no fim da missa o último
'Amém'. No poema Insight, Kirst destaca a
substituição da fala por um olhar como forma
de aprovação de uma nova ideia ou de um
sentimento que dois indivíduos estavam
gerando.
A poesia mais surpreendente da obra
talvez seja Obrigação. A chama da vela é
ausência de som em Acertos momentos pode
d i z e r m u i t o . P a r a
pe r c ebe r e s s a mensagem , é
necessário abrir mão dos cinco
sentidos e compreender o que
acontece em situações de silêncio. É
isso que a coletânea de poemas Em
Silêncios, do escritor gaúcho Marcos
Fernando Kirst, consegue fazer. De
uma forma sólida, realista e às vezes
até irônica, o escritor traz à tona fatos
por trás do silêncio cotidiano que,
muitas vezes, passam despercebidos
em uma sociedade barulhenta.
O livro com 79 poemas foi o
primeiro de poesia de Kirst, e mesmo
sendo estreante no gênero, ganhou o
Concurso Anual de Literário de Caxias
do Sul, promovido pela Biblioteca
Pública Municipal Dr. Demetrio
Niderauer em 2011. Como prêmio,
teve a obra publicada em 2012. A ideia
de escrever um livro de poemas não foi
feita deliberadamente. Segundo o
autor, os primeiros 20 poemas da obra
vieram de uma espécie de 'surto
criativo' que ele teve durante uma
noite, há alguns anos. Ao acordar,
passou a limpo do caderno para
computador e, ao longo da semana,
surgiram os demais que completaram
a coletânea.
Literatura RecenteCaxiense38
Marcos Fernando Kirstcolocada em quatro situações
totalmente diferentes em que ela
ganha distintos significados: em um
corte de luz, em um velório, em um
bolo de aniversário e em um jantar
romântico. Situações importantes e
absolutamente diversas da vida do ser
humano, em que a vela tem o mesmo
papel: fornecer luz.
Kirst foi motivado a escrever sobre
coisas tão imperceptíveis aos olhos e
ouvidos por gosto pessoal. “Aprecio o
silêncio e defendo que o mundo
moderno anda proporcionando cada
vez menos espaço para ele, o que é
u m a p e r d a h u m a n a m u i t o
preocupante. É no silêncio que nos
encontramos com nós mesmos e é
nele que refletimos sobre o que somos,
o que fazemos. E as pessoas hoje
fogem muito disso”, coloca o escritor.
Em silêncios revela que, por trás das
ações humanas, há o subconsciente
humano, que dota tudo o que faz de
sentido e de significado. Olhar sob o
ponto de vista dele é uma experiência
reveladora. Kirst comprova em seus
poemas que, para entender o que
acontece em momentos de silêncio, só
com reflexões, tempo e, talvez, muito
silêncio.
Literatura RecenteCaxiense 39
arcos Fernando Kirst é escritor e Mjornalista, nascido em Ijuí, em
1966, e radicado em Caxias do
Sul desde 1992. Na município, trabalhou no
jornal Pioneiro como editor, durante 10 anos.
Em 2002,ajudou a criar o impresso
Diário de Santa Maria, veículo da RBS na
cidade. Nos anos seguintes, até maio de 2004,
foi editor do jornal O Farroupilha e, após,
encerrou sua atuação em redações.
Em 2007, publicou seu primeiro livro A
História nas Estantes: 60 Anos da Biblioteca
Pública Municipal Dr. Demétrio Niederauer. Em
seguida, publicou oito resgates históricos, uma
biografia, um infanto-juvenil, um romance, um
de poemas e uma antologia de crônicas, além
de continuar publicando crônicas em jornais e
revistas. Em 2010, foi Patrono da Feira do Livro
de Caxias do Sul e, desde dezembro de 2012,
ocupa a cadeira 11 da Academia Caxiense de
Letras.
Atualmente, Kirst está escrevendo
uma obra com o artista plástico Antônio
Giacomin, chamada Serra Gaúcha: O Passado
Presente. Os autores visitaram toda a região da FOTO: Pauline Gazola
Marcos Fernando Kirst
Serra, registrando a arquitetura, os utensílios e os hábitos antigos que seguem vivos nos dias de hoje. Além da obra, a pesquisa
resultará em uma mostra de aquarelas de Giacomin. O livro tem previsão de ser publicado no início de 2014.
Kirst pretende escrever, no segundo semestre de 2013, uma pesquisa sobre a vida da poetisa Vivita Cartier, que morreu em
1919, em Criúva, onde se tratava de tuberculose. Ela morreu aos 26 anos. Vivita é patrona da cadeira que Kirst ocupa na Academia
Caxiense de Letras.
Kirst conta que, como leitor e produtor, no âmbito da literatura ficcional, é um grande apreciador de prosa, como romances,
contos e crônicas. Suas referências de poesia são Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Manuel Maria Du Bocage e Carlos
Drummond de Andrade. Na opinião do autor, a produção literária atual é formada por obras boas e ruins, como em todas as épocas. A
facilidade da publicação tornou mais fácil circular o que tem pouca qualidade. No entanto, cabe aos leitores saberem separar o joio do
trigo.
Literatura RecenteCaxiense40
Maristela Scheur Deves Os biscoitos com sabor de infância
Contando um pouco de sua própria história, Maristela Scheuer Deves publica o seu terceiro livro,o qual ela diz ter iniciado como uma brincadeiras entre amigos e que logo virou um novo projeto
por Liliane Fernandes de Oliveira
Mariazinha se depara com Kerb, o gato
da avó, lendo as receitas do livro
enquanto ela prepara a comida. A
garota, espantada, questiona a avó
sobre o felino, que por sua vez fica
indignado com a menina.
A avó, com muita calma,
explica que esse era o segredo dos
doces que prepara. Contou-lhe que se
tratava de um livro de receitas mágico
escrito com tinta invisível e que o
gatinho, que vinha de uma linhagem
especial de gatos poderia ler, e que
somente ele conhecia as palavras
mágicas para finalizar as guloseimas.
Percebendo que Mariazinha ficara
encantada com tudo que estava vendo,
a Vó achou que já era hora da menina
aprender a fazer os doces e a ter seu
próprio gatinho.
Todo esse “conto de fadas”,
segundo a autora, é parte de sua vida, e
bastante familiar à região da Serra
Gaúcha. A história é curta e de fácil
entendimento, o que faci l i ta a
compreensão das crianças, e também
muito didático, já que vem carregada de
expressões em alemão como “ Oma”,
que significa avó, “kinder” é criança,
entre outras que se encontram em um
glossário no final do livro.
Apesar das palavras em língua
estrangeiras o livro tem uma linguagem
fácil, o que o torna singelo, porém dá abertura
para muitas possibilidades de discussões e
trabalhos em sala de aula. Maristela Deves
pretende trabalhar a obra em escolas de forma
pedagógica , com o intuito das novas gerações
valorizarem e manterem vivas as tradições dos
povos que ajudaram a colonizar nossa região.
aristela Scheuer Deves Mtraz em sua nova obra,
Os deliciosos biscoitos
de Oma Guerta, uma história
carregada de lembranças da infância,
que encanta não só as crianças mas
também aos adultos. De forma
simples, Maristela consegue despertar
sentimentos que remetem ao tempo
das nossas avós. Publicado em 2013,o
livro é a realização do sonho da
escritora que começou por acaso, em
um grupo de amigos que gosta de
literatura.
Formada em jornalismo pela
Universidade Federal de Santa Maria,
Maristela trabalha no jornal Pioneiro .
Ela nasceu em Pirapó, na região das
Missões, e retrata no livro parte da sua
i n f â n c i a v i v i d a e m m e i o a
descendentes da cultura alemã.
A delicadeza das memórias
infantis são destacadas no livro, que
acaba remetendo ao tempo de criança
de muitos moradores da região Sul. A
história fala de Mariazinha, uma
menina que adorava visitar a avó e
deliciar-se com as guloseimas que a
“Oma” preparava. Durante uma dessas
visitas a menina descobre o grande
segredo dos quitutes da avó serem tão
bons.
Ao ent ra r na coz inha ,
Literatura RecenteCaxiense 41
screver sempre foi o sonho de EMaristela Scheuer Deves, 38 anos,
que desde pequena fazia dos livros
seus grandes companheiros. Ela nasceu em
Pirapó, nas Missões, e há mais de dez anos está
radicada na Serra Gaúcha. Por meio da
formação em jornalismo, fez da escrita sua
profissão, já que , segundo ela, não havia
faculdade para escritor. Trabalha desde 1997 no
jornal Pioneiro, de Caxias do Sul. Nesse período,
já atuou como repórter e editora dos mais
diversos assuntos, e atualmente atua como
editora assistente de Variedades . Desde 2009,
mantém o blog Palavra Escrita, voltado ao
mundo dos livros.Começou escrevendo contos,
crônicas e poesias até, finalmente, chegar aos
romances. Fã dos bons romances policiais
como os de Agatha Christie, estreou na
literatura em 2010 com o livro deste gênero, A
Culpa é dos Teus Pais, e depois O caso do
Buraco lançado em 2012, voltado para o publico
infanto- juvenil.
No seu terceiro livro Os deliciosos
biscoitos de Oma Guerta, voltado para as
crianças, Maristela Deves retrata partes de sua
vivência, e diz que no livro há mais elementos
verdadeiros do que fictícios.
Maristela Deves pretende trabalhar a
história junto com escolas, para divulgar a
cultura alemã e despertar o gosto pela leitura
nas crianças. Sobre a nova obra, Maristela diz
que houve bastante aceitação da história,
apesar de não abordar a cultura italiana, que é
predominante na região, e que escrever para
crianças é apostar na formação de uma nova
geração de leitores.
FOTO: Pauline Gazola
Maristela Scheur Deves
Literatura RecenteCaxiense42
Pedro Guerra Revelando o mistério
O jovem escritor Pedro Guerra conseguiu realizar o sonho que almejava desde os 12 anos. O romance policial Você pode guardar um segredo foi a sua primeira obra publicada
por Camila Valentini
Ped r o Gue r r a t e ve sua
inspiração na autora Agatha Christie,
que é considerada a "Rainha do Crime”,
por aliar uma imaginação brilhante à
sua grande habilidade como narradora,
que conquistou gerações com
suas histórias de mistério e
suspense. A escritora inglesa recebeu
a mais alta condecoração do Reino
Unido em 1971, tornando-se "Dame
Agatha Christie".
Você pode guardar um segredo
é um l i v r o q u e t r a n sm i t e a
personalidade do autor. O leitor que
prestar atenção percebe que número
“13” está presente em todo o livro. Nos
capítulos, nas datas, inclusive no
número das páginas. Como se deve
imaginar, essa questão é alusiva ao
número da sorte do escritor. Percebe-se
também que o título dos 13 capítulos
são nomes de cores, fato também
obse r v ado no s ob r enome do s
personagens.
O suspense que desperta a
curiosidade em saber o enredo da
história está presente desde o inicio do
livro, no primeiro capítulo intitulado
“vermelho” e segue até o capítulo “outro
tom de cinza”, em que se dá o desfecho
da obra. Nos primeiros capítulos o leitor
quer saber o porquê que uma moça
visita frequentemente o psicoterapeuta
Giles Brown, e assim percebe-se uma relação
“diferente” entre ambos. As lembranças já
começam aí.
A personagem principal da
história, uma mulher de 27 anos,
Christine Reed, trabalha no laboratório
fotográfico Revelando Sorrisos, no
Condado de Greenpack, apelidada
carinhosamente de “Avelã”, em virtude de
seus cabelos castanhos, pela amiga e chefe
Rebecca White. O suspense se intensifica na
história quando a laboratorista começa a
receber fotos de um suspeito cliente. Ao
revelar as fotos, Reed percebe que as imagens
trazem mensagens que a deixam receosa e a
faz pensar se alguém descobriu o seu segredo.
Em meio a perseguições, Avelã conhece (em
um encontro às escuras, que em certo
momento articulou de escapar pela janela
do toalete de um restaurante), uma pessoa
u s p e n s e , c r i m e s , Sperseguição, mistério. É
praticamente senso comum
a curiosidade, querer saber o segredo
alheio, principalmente se este
esconde um enredo que não deveria
ser revelado. É nesse contexto de
romance policial que o autor do livro
Você pode guardar um segredo, Pedro
Guerra, constrói o cenário da sua obra.
Pedro é estudante de Jornalismo e de
Letras pela Universidade de Caxias do
Sul e, desde seus 12 anos almejava
publicar um livro. Seu desejo se
concretizou em 2012, quando lançou
oficialmente sua obra.
Apesar da pouca idade, 21
anos, essa não é a primeira vez que
escreve para o público. Pedro já havia
escrito “O menino debaixo da minha
cama”, em 2010, o qual o autor encarou
como um teste, para verificar se
conseguiria organizar de forma clara
suas ideias e gerar um material
uniforme. O livro não foi publicado,
mas o jovem escritor disponibilizou,
em 2011, a obra para download em seu
blog santacretinice.com. Pedro relata
que teve um feedback positivo e isso
lhe incentivou ainda mais a continuar
a escrever . O que rea lmente
aconteceu e, assim, Você pode
guardar um segredo foi publicado.
Literatura RecenteCaxiense 43
pela qual se encantou, o charmoso John Gray. E
ao que tudo indica, existe a reciprocidade desse
sentimento. Mas na situação em que se
encontra Christiane não pode se envolver e
correr o risco de mais alguém se machucar.
Para desvendar o mistério, Christiane
Reed, depois de passar um período em uma
clínica de reabilitação, pede ajuda à Rebecca
White. Elas precisam saber quem está enviando
as fotos antes que algo ruim possa acontecer, ou
voltar a acontecer. Mas para tanto, Reed precisa
confessar o que fez em 13 de março. Mas até
quando se pode guardar um segredo?
O desejo de saber o que vai acontecer
nos capítulos é algo que prende claramente o
leitor. Os detalhes são muito bem escritos, o que
faz com que se possa imaginar toda a cena e,
muitas vezes, questionando-se sobre o que se
faria se estivesse na mesma situação. O
desfecho só se dá no último capítulo e é
realmente surpreendente.
Pedro anuncia que este ano vai lançar
um novo livro. A obra é intitulada como A
Rainha está Morta. É um romance policial que
conta a história da Rainha da Festa da Uva de
Caxias do Sul que foi assassinada. O autor foi
contemplado em um projeto de literatura no
Financiarte, que financia projetos relacionados à
cultura de Caxias do Sul e ajuda os diversos
meios artísticos. Pedro Guerra é um dos nomes
que compõem a Literatura Caxiense Recente, e
não é segredo para ninguém que ainda
ouviremos falar muito sobre ele.
Pedro Guerra
Literatura RecenteCaxiense44
edro Guerra, 21 anos, natural de PCaxias do Sul, é estudante de
Jorna l i smo e de Let ras pe la
Universidade de Caxias do Sul (UCS). Desde
pequeno, o autor se interessa muito pelo
universo literário. Autores consagrados como
Ágata Christie, Stephen King e Sidney Sheldon
são suas inspirações. Desde os 12 anos Pedro
nutria a vontade de publicar uma obra.
Em maio de 2012, em formato digital
para download, lançou seu primeiro livro
chamado “O menino debaixo da minha cama”.
A história relata a vida de uma adolescente com
problemas incomuns que, de repente, se
depara com uma situação inusitada:
esconder um garoto fugitivo debaixo da sua
cama. A obra foi bem recebida pelos leitores e
recebeu críticas positivas.
Desde então Pedro escreveu outros
livros. O primeiro intitulado O atalho para uma
mente compilada é uma reunião de crônicas,
contos e poesias. O outro é um romance policial
publicado, Você pode guardar um segredo? O
próximo livro do autor será A Rainha está
Morta.
Pedro Guerra
FOTO: Pauline Gazola
Literatura RecenteCaxiense 45
Pedro Suita Ekman A Escuridão de Ekman
A obscura e surpreendente trilogia 'Cidade das Trevas', recente obra da literatura de terror de Caxias do Sul, apresenta aos fãs do gênero uma história de proporções inimagináveis
por Gabriel Buffon Bordin
Ekman, que está presente no livro
em d e t e rm i n a d o s momen t o s .
Percebendo que as pessoas estão cada
vez mais interessadas em publicações
nacionais, Ekman viu uma boa
opo r t un i dade de mos t r a r s ua
capacidade em uma obra carregada de
magia, mortes, criaturas malignas,
sangue e batalhas. A história que
conduz a trilogia acompanha um grupo
de campistas que, acidentalmente,
entra em uma misteriosa cidade tomada
pela destruição e pelo mal, e se veem ali
presos, em meio a uma intensa guerra
que dura séculos. Com isso, o grupo de
jovens é levado aos mais altos perigos,
procurando sobreviver em território
inimigo consumido de poder e magia,
para poderem enfim saírem da Cidade
das Trevas, ou morrer tentando.
O primeiro livro “Cidade das
Trevas: A Busca ao Espírito do Bem”,
lançado oficialmente em julho de
2011 é, sem dúvida, o que mais
perfeitamente se enquadra dentro da
categoria terror/horror. Afinal, aqui o leitor vai
se deparar com muito sangue, duelos, mortes,
perigos, criaturas mortais, além de uma boa
dose de suspense. O ponto alto dessa primeira
parte é ver como a narrativa evolui prendendo
o leitor a cada capítulo, criando uma atmosfera
de tensão e mistério, apesar das várias
bizarrices que vão surgindo no caminho do
grupo de campistas. “A Busca ao Espírito do
Bem” também não escapa de alguns clichês,
algo que é compensado ao introduzir muito
bem seus personagens e inseri-los na Cidade
das Trevas. Ao final dessa edição, a
incógnita deixada em aberta, com a história
dividindo-se em dois núcleos, certamente
provoca de imediato o desejo de ler o volume
seguinte.
A continuação da trilogia,
publicada logo três meses depois da
divulgação do primeiro volume, recebeu o
nome de “Ataque dos Vampiros”. E é nessa
literatura de terror/horror An a c i o n a l n u n c a
conseguiu obter um
profundo apreço entre o público, ou
mesmo em grandes casas
editoriais. Apesar de influentes nomes
internacionais como Edgar Allan Poe,
Lovecraft e, talvez, o maior ícone do
gênero, Stephen King, inovarem e
transformarem a categoria, além de
terem conseguido ganhar imensa
notoriedade com suas brilhantes
histórias de horror, a realidade
brasileira para com esse estilo não é
das mais favoráveis. Contudo, Rochett
Tavares e André Vianco são bons
exemplos de que é possível, sim, no
Brasil, fazer literatura de terror com
qualidade, trabalhando muito para
contribuir com a classe. E é seguindo
esse caminho, com muita serenidade,
que vem o ainda muito jovem
escritor, Pedro Suita Ekman.
Ekman, de imediato, tem a seu favor
um grande diferencial: não só criou e
lançou um livro de terror, como em
pouco tempo, publicou três — uma
extensa e interessante tri logia
denominada “Cidade das Trevas”.
A trilogia de Cidade das
Trevas foi toda lançada em apenas
dois anos pela editora Novo Século,
em Caxias do Sul, terra natal de
Literatura RecenteCaxiense46
Pedro Suita Ekman segunda parte que Ekman amadurece em sua escrita, focando mais no relacionamento
de seus personagens diante de todo o mal existente. As cenas que fazem jus ao terror,
diminuem, mas consequentemente os poucos momentos realmente assustadores trazem
um bom volume de suspense e temor ainda maior do que em relação à Busca do Espírito do
Bem, deixando a história ainda mais eficiente. O marcante dessa parte é o
surgimento, surpreendente e inesperado, da grande vilã da Cidade das Trevas,
Phantomas, que contribui para um melhor desenvolvimento da trama, dando início para
grandes e futuras reviravoltas e questionamentos.
Publicado em 2012, “Cidade das Trevas: A Terra Sagrada”, conclusão da saga, é
certamente o melhor e mais complexo livro, estabelecendo ao longo de seus 18 capítulos
perguntas que vão sendo respondidas, amarrando devidamente as pontas soltas, até então, da
história, com o auxílio de interessantes flashbacks. Aos poucos a derradeira batalha vai se
aproximando, testando seus personagens emocionalmente e fisicamente, deixando tudo ainda
mais dramático, emocionante e apreensivo. A trilogia chega ao fim com muita simplicidade e
delicadeza, dando ao seu protagonista um destino gratificante e ao leitor uma sensação de
vazio. Depois de tantos acontecimentos e reviravoltas desta apreciável literatura de Ekman,
infelizmente, tudo acaba.
O grande destaque de toda narrativa fica por conta dos excelentes personagens e suas
características. No decorrer da leitura fica difícil não se importar com Dambros, Tebaldi
e Jordana, por exemplo. Apesar da história deixar de ser tão assustadora em relação ao
início e focar mais nas relações e conflitos dos personagens, os quais procuram ultrapassar
cada obstáculo em busca da sobrevivência, isso acaba contribuindo impecavelmente
para a trama, mostrando o quanto Ekman amadureceu e cresceu no desenrolar de cada
capítulo. Contando com mais de um núcleo a partir do segundo livro, tudo é muito bem
estruturado para provocar ainda mais curiosidade. Afinal, não é fácil prender o leitor do início
ao fim em uma longa história com quase 1000 páginas.
Pedro Ekman pode não ter um forte reconhecimento e ser ainda pouco conhecido pelo
público, mas seu livro de linguagem fácil, contribui e muito para a recente e nova literatura
caxiense, e a nível nacional também. É admirável e respeitável ver um jovem de muito
potencial ir aos poucos buscando seu lugar ao sol, ou talvez nas sombras,
considerando a escuridão de sua obra-mestra. O caminho de Ekman ainda é longo. Resta
aguardar e torcer para que o seu novo, e já em andamento projeto, firme seu nome como
escritor.
Literatura RecenteCaxiense 47
edro Suita Ekman é natural de Caxias Pdo Sul – Rio Grande do Sul. Estudante
de Publicidade e Propaganda na
Universidade de Caxias do Sul, nasceu em 8 de
outubro de 1991, e ainda muito novo, com
apenas 12 anos, começou a escrever por puro
prazer pequenas histórias de terror, sua
verdadeira paixão.
Tem profunda admiração pelo escritor
e roteirista Sidney Sheldon, seu autor favorito,
por conseguir deixar sempre em suas obras
aquele gostinho de quero mais ao final de cada
capítulo. Segundo o próprio Ekman, sua escrita
absorveu um pouco do estilo do paulista André
Vianco.
Viciado em mangás e animes, exerce a
função de crítico no site Elfen Lied Brasil,
resenhando sobre a cultura pop asiática, em
especial a japonesa. Suas reviews levam a
assinatura de Critico Nippon, como é
gentilmente chamado. Aprecia também o
melhor do cinema, da literatura e da televisão,
que o influenciaram a ter profunda admiração
por histórias de terror/horror.
Ekman, com todas estas referências,
tinha em mente escrever uma grande narrativa
de terror. Na época, só lhe ocorriam duas
locações: a famosa “Casa Mal Assombrada” ou a
“Cidade Fantasma”. Acabou optando pela
segunda opção por parecer claramente mais
ampla. Sendo assim, não demorou muito para
escrever uma grande história, que depois de
três anos da sua conclusão, foi lançada para
todo Brasil em forma de trilogia, intitulada
“Cidade das Trevas”.
Pedro Suita Ekman
Literatura RecenteCaxiense48
Literatura RecenteCaxiense 49
Regyna de Queiroz Gazzola
histórias que vivenciou, como o
falecimento de seu marido, que fez com
que escrevesse sobre seu luto e a
saudades que tinha naquele momento.
Ela desabafa o que sentiu naqueles
momen t o s d e s o l i d ã o , p o r ém
compreende que sua dor não era maior
ou menor do que de outra pessoa que
passasse por situação semelhante.
As crônicas de Regyna ajudam
em situações que geralmente geram
constrangimentos. A forma com que ela
escreve é leve e de fácil compreensão.
Suas experiências foram bem refletidas
provocando a sensação de que o leitor
faz parte das situações narradas.
Arte de Conviver é uma Asérie de crônicas que
foram publicadas por
Regyna de Queiroz Gazzola na revista
caxiense Acontece nos ultimos quatro
anos. A coletânea, em sua maior parte,
traz dicas de etiqueta, que podem ser
usadas em qualquer situação pelos
leitores. O livro é complementado por
experiências do seu cotidiano e
sentimentos da autora.
R e g y n a f a z p a r t e d a
academia caxiense de letras onde
ocupa a 7ª cadeira e foi presidente nas
gestões de 96 e 97. Também é
fundadora da Confraria da Etiqueta A
Arte de Conviver há mais de 6 anos
com um grupo de alunas. Além dessas
atividades, Regyna ministra aulas e
palestras sobre etiqueta em entidades,
particular e em grupos.
O livro A Arte de Conviver
mostra dois lados da autora. Um deles,
expõe a sua profissão e paixão que é
ensinar como se portar diante de
situações como jantares, entrevistas
de emprego, visitas e reuniões de
negócios. São dicas de etiqueta para
não cometermos gafes quando
estamos entre amigos ou colegas.
As crônicas também trazem
seus sentimentos mais íntimos e
Emoção, graça e requinteA Arte de Conviver de Regyna Gazzola oferece experiências em etiqueta e ensina comose comportar em diversas situações, desde festas de casamento a reuniões de negócios.
por Marina Compagnoni
Literatura RecenteCaxiense50
egyna de Queiroz Gazzola é natural Rde Caxias do Sul, filha de professora,
em quem se inspirou na vida e
aprendeu português. Regyna se formou em
francês na escola Dinaci na França e no curso
de Letras na Universidade de Caxias do Sul,
possui mais de nove livros publicados.
Suas maiores influencias literárias
foram Leo Buscaglia e Roberto Shinyashiki,
ambos escrevem sobre afeto. Já o Dr. Claudio
Rhein, com quem fez um curso de auto -
conhecimento por quase13 anos, foi quem lhe
inspirou a falar de como vivemos em um mundo
onde existe os outros a quem devemos respeitar
e saber conviver.
Regyna escreve semanalmente
crônicas para a revista caxiense Acontece há
mais de quatro anos. Ministrou aulas para
candidatas à rainha e princesas da Festa da
Uva e frequentemente é convidada para ensinar
às debutantes do Clube Juvenil e Recreio da
Juventude de Caxias do Sul.
Regyna de Queiroz Gazzola
Rejane Romani Rech O valor de nossas antepassadas
Escritora caxiense lança seu primeiro romance através de uma mescla entre ficção erealidade, desvendando os mistérios e a força de uma geração de mulheres de origem italiana
por Tarciana Teles
contando o quanto era admiradora de
seu pai, um homem amoroso e dedicado
com a família. Ela desejava que Deus
colocasse em seu caminho um homem
como ele e que pudesse ser tão feliz
quanto foi sua mãe. Entretanto, ela
sofreu com a mágoa de viver na colônia.
Casou-se muito jovem e teve muitos
filhos. Além de padecer com as
dificuldades da época para conseguir
criar seus filhos (seis filhos de sangue e
um adotado) e cuidar de sua casa,
também tinha que suportar o machismo
daquele tempo. Naquela época, os
homens tinham mais liberdade do que
as mulheres, frequentavam bodegas,
davam suas “escapadas” noturnas.
Essas atitudes eram vistas com
normalidade pela sociedade. Antônia
sofreu com um casamento mal
sucedido. Seu marido agia de forma
indiferente, por vezes desumana. Além
disso, acredita que não poderia oferecer
a seus filhos menos do que lhe foi
oferecido pelos seus pais. Ao final do
relato, conclui que aprendeu a dançar
conforme a música, e afirma que
envelhecer trouxe, de alguma forma,
paz de espírito.
Durante a narrativa, Rejane
torna-se íntima do leitor falando de
características de Caxias do Sul.
Exemplos disso são o momento em que
ela cita a fundadora do bairro Ana Rech,
hábitos gaúchos, como o chimarrão, fala da
religiosidade que os imigrantes italianos
trouxeram, deixando claro o amor que existia
entre os casais. A autora foca no romantismo,
citando como os casais se conheciam e
envolviam-se.
A terceira mulher, Roma, vem para
romper barreiras. Roma cresceu com a certeza
de que não gostaria de levar uma vida sofrida
como foi a de sua mãe. Então, agarrou-se ao
amor que sentia pelo marido e à vontade de ter
uma vida melhor. Após morar um tempo com a
sogra, tempo esse em que passou por
dificuldades na convivência, ousou vir à
Caxias do Sul. Com Roma, não foi diferente:
passou por necessidades financeiras para se
manter na nova cidade. Ela e Nestor, seu
marido, tinham pouco estudo e, em função
disso, não conseguiam bons empregos.
ulheres e destinos é a Mm a i s r e c e n t e
publicação de Rejane
Romani Rech. Trata-se de um
romance, um gênero que a escritora
não havia publicado até então. O livro
conta a trajetória de uma geração de
cinco mulheres: trisavó, bisavó, avó,
mãe e filha.
A narrativa inicia contando a
trajetória de Maria, a trisavó, vinda da
Itália juntamente com seu marido,
Ermino, um homem muito culto, que
trouxe em sua mala livros e alfabetizou
seus próprios filhos. Ermino foi um dos
fundadores da maçonaria em nosso
país. A maçonaria é uma organização
discreta e restrita a algumas pessoas,
que tem como um dos princípios a
bu s c a p e l o a p e r f e i ç o amen t o
intelectual. Nessa primeira parte do
livro, pode-se ver o que essa mulher,
que teve o norte da Itália como berço,
encontrou ao sair de seu país e
encaminhar-se ao sul do Brasil,
juntamente com aquele que fora seu
amor e companheiro. Chegando à
nova morada, sofreu com a falta de
recursos. Mesmo assim, lidou com isso
tudo e foi uma mãe muito preocupada
com a criação de seus filhos e netos.
Em seguida, surge Antônia, a
bisavó. Antonia começa a narrativa
Literatura RecenteCaxiense 51
Rejane Romani Rech Tiveram quatro filhos. Sua morada era simples, sem luxos.
Aos poucos, com muita dedicação e trabalho, essa forte
mulher conquistou seus sonhos: primeiro uma casa
própria, depois um banheiro com chuveiro e água
encanada, em seguida uma máquina de lavar. Aos
cinquenta anos, ela foi uma mulher realizada, conseguiu
conquistar praticamente tudo o que almejou.
Na sequência, conhecemos Roxane, a mulher
característica dos dias de hoje. A personagem fala através
de um diário. Para isso, a autora emprestou à personagem
suas anotações pessoais, Rejane sempre foi uma grande
leitora, além disso, guardou anotações de suas vivências.
Roxane representa a mulher atual na fase em que passa
por mudanças corporais e mentais. Conta como perdeu
sua mãe para a diabetes e o quanto sofreu quando seu pai
decidiu se casar novamente. Via a união dos pais como
algo que não deveria acabar mesmo após a morte de um
deles. No decorrer da história, ela vai citando
acontecimentos importantes em sua vida, como foi a
formatura de sua filha Emanuela. Suas anotações são
devaneios de uma mulher que se sente sozinha e tenta
entender o sentido da vida e dos acontecimentos ao seu
redor.
Emanuela é a quinta mulher da história, filha de
Roxana, uma jovem que saiu de casa cedo para estudar na
capital e se formou em medicina, fala vários idiomas e
adora viajar. A jovem se compara às mulheres citadas
anteriormente. Ela vem de uma grande evolução feminista,
herdando muita força de suas antepassadas para chegar
onde chegou. Emanuela finaliza o ciclo dessa geração de
fortes damas, fazendo uma viagem à Itália, voltando para
Canetos, a cidade de onde veio a primeira mulher da
história.
Literatura RecenteCaxiense52
asceu em fevereiro de 1957, em NCaxias do Sul onde reside, é
f o r m a d a e m L e t r a s p e l a
Universidade de Caxias do Sul, atuou no
magistério durante 15 anos, Rejane sempre foi
uma grande leitora, além de apreciar um bom
livro sentia a necessidade de manter-se
atualizada para estar apta a ministrar aulas de
qualidade aos seus alunos. Aposentou-se aos 35
anos, devido a um problema de saúde. Após ter
parado de trabalhar precocemente começou a
escrever, no início eram pequenos textos, que
logo se tornaram crônicas e contos foi então que
ela decidiu arriscar-se e participar de concursos
literários.
Após ser premiada em alguns
concursos, sentiu-se à vontade para começar a
publicar. Suas obras são: “Amor de Estudante” ,
novela de temática adolescente, publicado em
2004, “Antes que seja tarde” , coletânea de
contos intimistas, publicado em 2006, “Sê como
Sândalo”, traz uma dúzia de contos que
percorrem caminhos da infância, maturidade e
velhice, lançado em 2008, foram adotados em
escolas no ensino fundamental e médio. Sua
mais recente publicação é “Mulheres e
Destinos”, lançado em 2012.
Rejane é casada, mãe de dois filhos,
uma pessoa simples e caseira que ama a
literatura, jardinagem, enfim, sossego.
Rejane Romani Rech
FOTO: Pauline Gazola
Literatura RecenteCaxiense 53
Tiago André Vargas Sangue e Amor
Uma faca. Um alvo. Um suspeito. Promessas, ciúmes e amores enlouquecedores. Um livro pra ficarna cabeça. Um vício. Relato de muito suspense que marca a boa estreia de Tiago Vargas
por Karina Catuzzo Rodrigues
vida: “Coisas frágeis podem ser tristes,
mas também bonitas, dependendo o
ponto de vista.”.
E o romance traz muitos
personagens: Josh, Andréia, Débora,
Mayara, Roberto, Afonso... Mariposas
no Útero começa com um encanto por
uma garçonete, passa por assassinatos,
confusões, ameaças e quase “roemos”
as unhas para descobrir qual o final
deste enredo que hipnotiza.
O interessante é que, na
leitura, o autor volta no tempo para
entender a historia dos personagens, da
onde vieram, quem são, por que estão
ali. No Capítulo XV, por exemplo,
Vargas interrompe o relato da vida de
Josh e sua loucura por uma garçonete
para contar as trajetórias de Afonso e
Roberto, que também são personagens
chave no desfecho do romance: “Foi
assim que o homem que não havia mais
nome, o homem que se considerava
uma sombra e atendia apenas por duas
formas, filho e anjo, concebeu seu
quarto ao acordar e permanecer
sentado na cama”.
Mariposas no Útero pode ser
considerado um livro de certa forma
confuso, pois o enredo é misturado de
propósito pelo autor. Assim, o leitor
deve redobrar a atenção ao ler. “Fora
queimado o plano divino, descrente o
destino, restou apenas o acaso. E o acaso é um
velho bêbado de revólver empunhando
mirando nos teus rins, exigindo que uma
música inexistente seja dançada.”.
Em muitas vezes, o mistério ronda a
historia, faz mergulhar em um misto de medo e
curiosidade: “Tratava-se da mulher de cabelo
castanho claro que apeava da moto. Tratava-
se de uma mulher que tinha a pele clara sem
ser morta, uma mulher que tinha algum
demônio dentro do corpo...”.
Mas, o romance, também traz
passagens que bem relatam as relações
sentimentais. “Sim, ela era um doce. Olhou
para Josh por um vasto momento enquanto ele
babava sutilmente no canto do travesseiro e
depois de um pequeno sorriso, decidiu fazer-
lhe um chá. Que tipo de mulher faz isso?
Talvez uma mulher apaixonada.”.
Mar iposas no Ú te ro f i l t r a a
ariposas no Útero é a Mobra de estreia do
caxiense Tiago André
Vargas. Um romance misterioso,
aventureiro e emocionante. O
envolvimento familiar, amor de pai pra
filho, paixões e loucuras faz o leitor
participar da história de forma intensa.
Já no começo da trama um
assassinato misterioso faz com que o
leitor fique imaginando quem poderia
ter cometido a maldade: “Com as mãos
sobre o estômago o jovem caiu de
joelhos no chão e sua boca que antes
irradiava aquele belo e jovial sorriso
agora era berço de um pequeno filete
de sangue...”
Vargas é minucioso, faz
descrições em detalhes, e isso leva os
leitores a se prenderem cada vez mais
na historia: “Quando você acorda e a
primeira sensação que tem é um
objeto estranho dentro das suas
narinas, antes mesmo de ser banhado
com a claridade ou escutar algum
som...”.
Tiago Vargas teve inspiração
para escrever desde quando leu uma
obra e não gostou do final. Percebeu,
ali, que ele próprio poderia criar uma
história. Começou então a escrever o
romance Mariposas no Útero, lançado
em 2012, voltado para a fragilidade da
Literatura RecenteCaxiense54
Tiago André Vargas imaginação, encanta, amedronta. Usa
um acontecimento do cotidiano, que
pode acontecer com qualquer pessoa e
desvenda mistérios... um leitor que vai
a um bar e esbarra em uma garçonete
e, no fim, descobre que ela é peça
fundamental na sua vida. O suspense
prende a atenção e, como se fosse um
filme, carrega no suspense: “Nenhum
pintor mostra seu quadro inacabado.
Se você entende o processo, o
resultado perde o valor.”
Literatura RecenteCaxiense 55
iago André Vargas é natural de TCaxias do Sul, do distrito de Vila
Cristina. É autor do livro Mariposas
no Útero, um romance que traz humor,
banalidade e, não raras vezes, o amor. Foi
premiado no concurso nacional Associação
Nacional dos Escritores, ANE – 50 Anos, com o
conto O Violinista e contemplado no 4º Prêmio
Literário Sérgio Farina com o conto E Assim se
Fez o Mar. Tiago trabalha no seu segundo
romance com previsão de lançamento para
início de 2014.
Sua inspiração para escrever surgiu
quando leu um livro e o final o desagradou.
Mesmo sendo imaturo na época, ele queria um
outro final para a obra. Percebeu então que seria
capaz de escrever quando sentiu que não
poderia viver sem criar o “seu” final.
Para Tiago, o importante não é poder
escrever, e sim, querer escrever. É quando
querer escrever não é uma escolha, é uma
necessidade. É como amar alguém. Assim, as
significativas aprendizagens acontecem
somente durante a caminhada e toda escolha é
certeira se feita com o coração.
Para o autor: “Todos os livros que eu li,
pessoas que eu conheci, eu acredito que todo e
nenhum detalhe da minha vida me colocaria
um dia em frente de uma página em branco
dizendo: Seja agora quem tu és. Desde então,
eu tento ser.”.
FOTO: Pauline Gazola
Tiago André Vargas
Literatura RecenteCaxiense56
riqueza de opiniões sobre Ao mundo da literatura foi o
pr incipal atrat ivo do
evento Literatura Caxiense Recente,
que ocorreu no dia 14 de junho, no
auditório do Bloco E, na Universidade
de Caxias do Sul (UCS). Promovido
pelos alunos da disciplina de Mídia
Impressa, ministrada pelo professor
Paulo Ribeiro, o bate-papo contou com
a presença de um público de cerca de
70 pessoas que prestigiaram 18
escritores de Caxias do Sul, que tiveram
suas obras recentemente publicadas.
A faixa etária dos escritores
Divulgação é o entrave da literatura caxienseEncontro inédito indicou a distribuição dos livros como a maior dificuldade
para os autores de Caxias do Sul que publicaram obras nos últimos dois anos
Literatura RecenteCaxiense 57
Os autores aguardam junto à plateia na abertura do evento. FOTO: Pauline Gazola
era variada, o que tornou ainda mais
interessantes seus depoimentos sobre a
literatura de Caxias do Sul, o mercado
atual e suas ideias com relação à
criação literária de maneira geral. A
paixão pela escrita foi evidente em
todas as falas, visto que a maioria
ressaltou que, apesar de o mercado ser
difícil e de o retorno deixar a desejar, a
necessidade de escrever fala mais alto.
Lourdes Curra, uma das
escritoras com mais experiência nesse
mercado, afirmou em seu relato
emocionante que escreve quase por
teimosia, uma vez que o retorno
financeiro que recebe é muito pequeno.
A autora, que escreve ha mais de 60
anos, diz que não pensa em parar de
escrever, pois a literatura, que foi
descoberta em seu magistério, é o que
dá sentido a sua vida.
Pode-se perceber que grande
quantidade de obras do novo cenário da
literatura caxiense são voltados ao
público infantil, o que ocorre, de acordo
com os autores, por existir maior
incentivo à leitura e valorização das
obras nas escolas para as turmas que se
enquadram nessa fa ixa etár ia .
Maristela Sheuer Deves relata que
por Diúlit Oldoni e Liliane de Oliveira
Divulgação é o entrave da literatura caxiense
Antes do evento, aconteceu um bate-papo entre os autores. FOTO: Pauline Gazola
escrever para o público infanto-juvenil, é apostar em uma nova leva de leitores.
As opiniões em relação ao mercado literário caxiense diferem entre si. Alguns
dos autores afirmam que as livrarias não valorizam seus autores, dedicando suas vitrines
apenas aos best-sellers. O jovem escritor Pedro Guerra, que terá seu segundo livro
publicado em setembro, afirma que a culpa não é apenas das livrarias, visto que o próprio
escritor também deve se responsabilizar pelo marketing de suas obras.
Apesar da dificuldade que encontram para poder publicar suas obras, todos
concordam que escrever é uma parte essencial de suas vidas. “Escrever me salva da mais
completa loucura”. Foi com essa frase que o escritor Tiago André Vargas iniciou seu
depoimento, explicando seu apreço pela criação literária.
Ao longo do evento todos os escritores, além de ressaltar a importância do
O bate-papo foi cercado de discussões sobre o mercado literário e o processo criativo. FOTO: Pauline Gazola
processo de escrita,
t a m b é m d e r a m
conselhos aos que
pretendem escrever.
No f ina l , vár ias
o b r a s f o r a m
sorteadas. Após o
bate-papo restou um
s e n t i m e n t o
genera l i zado da
necessidade de uma
segunda edição do
evento.
FOTO: Pauline GazolaLourdes Curra, a mais experiente do grupo,apresentou seu primeiro livro, escrito há 60 anos.
Literatura RecenteCaxiense58
Bastidores
Literatura RecenteCaxiense 59
Os Autores
Marcos Fernando Kirst, Luis Narval, Lúcio Saretta, Lourdes Curra, Tiago Marcon, Maristela Scheur Deves,Rejane Romani Rech, Ione Grillo, Cláudio Abreu, Alessandra Rech e Bernardethe Pierina Ghidini Zardo
José Otávio Carlomagno, Tiago André Vargas, Pedro Guerra, Maikel Abreu, Cesar Mateus,Fernando Bins e Tiago Marcon
Alexandro Lima,
FOTO: Pauline Gazola
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