revista liga de acadêmicos em medicina
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Revista acadêmica de Medicina Uma revista eletrônica de científico e acadêmico que tem o intuito de transmitir conhecimentos nas diversas áreas afins da Medicina.TRANSCRIPT
Ao leitor
Caríssimos leitores, estamos na nossa 1° Edição da
Revista eletrônica quinzenal da Liga de Acadêmicos
em Medicina. Desejamos que todos apreciem
nossas matérias, pois foram pesquisadas como
muitíssimo esmero e dedicação.
Atualmente precisamos buscar mais academicismo,
não de forma exacerbada, mas como uma meio de
enriquecimento a este tão esplendoroso curso que
é a Medicina.
A medicina é uma das muitas áreas do
conhecimento ligada à manutenção e restauração
da saúde. Ela trabalha, num sentido amplo, com a
prevenção e cura das doenças humanas num
contexto médico.
E esta busca de conhecimento, dependerá muito do
esforço acadêmico de cada aluno. Com isto
desejamos que todos vejam nesta Liga Acadêmica
uma somatória de esforços mútuos, com a nossa
participação e dos mestres conseguiremos obter
êxitos, sem a necessidade de atropelar outros, pois
a humanidade precisa de médicos mais
competentes e dedicados a esta tão nobre
profissão.
Charles Farah - Redação
O Brasil quer está no
patamar nas pesquisas
de ponta do vírus ZIKA
Karina Toledo e Samuel Antenor | Agência
FAPESP – Enquanto os cientistas brasileiros
se preparavam para uma eventual epidemia de
chikungunya e desenvolviam métodos para
diagnosticar rapidamente a doença,
considerada altamente debilitante, o vírus Zika
– até então visto como benigno e causador de
uma espécie de “dengue light” – foi se
espalhando no país de forma quase
despercebida.
Somente quando veio à tona sua possível
associação com os crescentes casos de
microcefalia na região Nordeste, em 2015, as
atenções do país e do mundo se voltaram ao
patógeno originário da Floresta de Ziika, em
Uganda.
O fato de o Brasil ter sido surpreendido por
essa epidemia pode ter ao menos um aspecto
positivo: a criação de mecanismos para agilizar
o financiamento de pesquisas científicas no
país. A avaliação foi feita pelo professor do
Instituto de Ciências Biomédicas da
Universidade de São Paulo (ICB-USP) Paolo
Zanotto, que no último mês de dezembro
ajudou a articular a chamada Rede Zika, uma
força-tarefa para pesquisar e combater o vírus
no Estado de São Paulo.
Segundo Zanotto, quando a FAPESP, em
dezembro de 2015, aprovou em questão de
dias aditivos para projetos em andamento – de
forma que parte das atividades fosse
redirecionada para responder questões
emergenciais relacionadas com a epidemia de
Zika (Leia mais em: agencia.fapesp.br/22671/)
– criou uma reação em cadeia em outros
agentes indutores de pesquisa no Brasil.
“A Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior] viu o que a
FAPESP fez ao aprovar rapidamente os
aditivos para projetos já vigentes, o que encurta
muito a velocidade de indução, irrigando com
recursos o que precisa ser irrigado, e está
buscando agilizar o processo. O Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
acompanhou esse processo e quer fazer o
mesmo, em uma modalidade com
financiamento fast track via FAPs [as
fundações de amparo à pesquisa dos diversos
estados] e via INCTs [Institutos Nacionais de
Ciência e Tecnologia], ou seja, todos
entenderam que não temos tempo a perder”,
afirmou Zanotto.
Se ao final da experiência o saldo for positivo,
avaliou o professor do ICB-USP, pode surgir
uma nova modalidade na indução de ciência no
Brasil: um modelo fast track para casos
emergenciais, acelerando processos de
pesquisa e desenvolvimento
“Quando temos problemas exponenciais, as
respostas têm que ser exponenciais. E isso
começou a ser bem entendido pelos gestores
de ciência e saúde no Brasil”, disse.
Esse e outros temas relacionados aos
crescentes casos de Zika e de microcefalia no
Brasil foram comentados por Zanotto em
entrevista à Agência FAPESP.
Agência FAPESP – Quais temas de pesquisa
foram definidos como prioritários pela Rede
Zika?
Paolo Zanotto – Temos uma visão parecida
com a da União Europeia e do National
Institutes of Health [NIH, principal órgão de
pesquisa dos Estados Unidos]: o ponto crucial
neste momento é criar ferramentas para
diagnóstico rápido, capazes de discriminar o
vírus Zika de outros arbovírus, como o da
dengue. A parte de ácidos nucleicos [exames
do tipo PCR, que identificam o DNA viral no
sangue e servem para a fase aguda] está muito
bem desenvolvida, mas precisamos de
diagnósticos sorológicos [que identificam
anticorpos contra o vírus mesmo após a fase
aguda]. A segunda questão é entender essa
relação do vírus com a microcefalia. São os
dois temas fundamentais do ponto de vista da
urgência. Depois há outros aspectos também
importantes, como o desenvolvimento de uma
vacina, estudos de entomologia, para entender
a genética do mosquito e sua capacidade de
infectar as pessoas. E tem a parte de controle
biológico associado à entomologia. A BR3, uma
empresa do Centro de Inovação,
Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) da
USP, vem trabalhando com o Bacillus
thuringiensis (BTI), uma bactéria cujo esporo
acumula quatro toxinas letais para o Aedes.
Isso é conhecido desde os anos 1980, mas o
grande problema era como fazer o esporo
sobreviver no ambiente. A BR3 criou uma
estrutura chamada bio-oca. É uma pastilha que
quando jogada na água vai para o fundo do
criadouro e forma uma espécie de iglu, que aos
poucos libera os esporos. Com a quantidade
correta de pastilhas, cerca de 50% das larvas
do mosquito morrem nas primeiras cinco horas
e, depois, o nível de letalidade de 100% é
mantido por 120 dias. Mas a questão do
controle biológico, inclusive a produção de
mosquitos transgênicos, enfrenta um problema
de escalonamento. Ainda não há capacidade
de produzir o material em quantidade elevada
para atender a demanda. Outra parte
importante do trabalho da rede é acompanhar o
espalhamento do vírus. Pretendemos isolar os
vírus circulantes, sequenciar e depois estudar a
distância evolutiva entre eles em uma árvore de
família para saber de onde vêm. Tem ainda a
parte de genética humana: investigar fatores
que podem influenciar na gravidade da doença.
E a última tarefa, que é crucial do ponto de
vista de saúde pública, é o acompanhamento
de coortes de caso-controle, ou seja, no
momento em que é confirmada uma gestação,
fazemos o teste para o vírus Zika e
continuamos acompanhando a mãe e o feto
para ver o que acontece. Isso está sendo feito
em Jundiaí, São José do Rio Preto, Ribeirão
Preto e aqui em São Paulo. À medida que
alguma das gestantes é infectada, muda a
forma de seguimento. Depois que tiver ocorrido
alguns ciclos completos de gravidez nessas
populações vamos começar a entender, por
exemplo, qual é o risco de uma mãe infectada
por Zika ter um filho com microcefalia. Pode
haver influência genética ou de exposição a
outros agentes durante a gravidez, outros vírus.
Agência FAPESP – A relação entre o vírus
Zika e a microcefalia já está confirmada? Já se
sabe como o vírus afeta o sistema nervoso?
Zanotto – O anúncio feito pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) sugeriu que o vírus é
culpado até provado inocente. É um raciocínio
extremamente racional, mas inverte a forma
como a ciência funciona. Geralmente, tentamos
estabelecer a relação causal para depois
determinar o que acontece em nível do
processo. O que estamos tentando fazer: pegar
o vírus Zika, jogar no sistema animal e mostrar
que só com a exposição ao vírus ocorre
desenvolvimento de doença equivalente à
microcefalia. Depois infectamos células do
sistema nervoso e avaliamos se o vírus sozinho
causa um determinado tipo de morte celular.
Em seguida, vamos destrinchando o problema
e entendendo qual é o papel do Zika no tecido.
A ciência progride assim. Mas, numa situação
de risco, a gente tem de inverter um pouco as
coisas. Quando há um problema em que a vida
das pessoas está em risco é preciso tomar uma
decisão de ação, assumir que o vírus é culpado
até provado inocente. Há uma superposição
espaço-temporal muito boa entre os casos da
doença e, em seguida, os casos de
microcefalia, tanto na Polinésia Francesa como
no Brasil. No entanto, a presença do Zika no
cérebro de um feto com microcefalia, abortado,
foi demonstrada.
Agência FAPESP – Os casos de microcefalia
que estão sendo associados ao vírus Zika são
semelhantes aos associados a citomegalovírus
(CMV), sífilis e outras doenças?
Zanotto – Parece haver um padrão próprio do
vírus Zika, com algumas características
semelhantes à da infecção por parvovírus B19
[causador de virose conhecida como eritema
infeccioso], como as calcificações no tecido.
Também há fatores semelhantes aos já
observados na infecção por CMV, como a
liquefação do tecido nervoso ocorrendo
tardiamente na gravidez. Por volta do sétimo,
oitavo mês, ocorre uma aparente destruição do
tecido nervoso. O córtex, a parte de cima do
cérebro, praticamente desaparece. Nos casos
que estamos acompanhando, comprovamos
que não houve infecção por CMV. Levamos em
consideração todos os fatores de risco para
malformação congênita.
Agência FAPESP – Crianças pequenas
também são suscetíveis a danos neurológicos
se infectadas?
Zanotto – Não há evidência nesse sentido.
Mas é preciso ficar atento, pois existe sempre o
fator demográfico. À medida que mais pessoas
são infectadas, manifestações severas
começam a ser observadas. Não posso dizer
com certeza que “não”.
Agência FAPESP – Existe um período
gestacional em que a infecção pode ser mais
prejudicial?
Zanotto – Tenho conversado com pediatras e
obstetras no Recife e parece haver certas fases
críticas de desenvolvimento do cérebro. Por
volta de 29 semanas, as células progenitoras
de neurônios começam a se diferenciar em
neurônios de forma muito rápida e esses
neurônios começam a construir sinapses com
outros neurônios. Ao mesmo tempo, os
neurônios que não estão fazendo sinapses
começam a sofrer apoptose [morte celular
programada]. Estamos deduzindo, pelas
observações de múltiplos casos, que essa
semana 29 é importante. Isso precisa ser
estudado com mais detalhes para saber qual é
a janela de tempo que temos para entrar com
uma terapia, por exemplo. Inicialmente,
tínhamos a ideia de que talvez um evento que
acontecesse no primeiro trimestre da gestação
fosse mais perigoso. Depois, começamos a
observar relatos de pessoas que faziam o
exame morfométrico no sexto ou sétimo mês e
a criança aparentemente não tinha problema.
De repente, o cérebro literalmente se
desmanchava. Sabemos também que a pessoa
pode ter sido infectada no primeiro trimestre da
gravidez e a complicação fetal surgir bem mais
tarde. Precisamos entender como ocorre esse
dano tardio.
Agência FAPESP – O senhor acredita haver
alguma relação entre a microcefalia e a vacina
contra rubéola ou entre o surto de Zika com os
mosquitos transgênicos como tem sido
aventado em redes sociais?
Zanotto – O surto de Zika associado ao
mosquito transgênico é uma fábula
interessante, porque há alguma relação com
uma pseudociência, mas vale ressaltar que o
mosquito transgênico é macho e o macho não
é portador do vírus e não infecta ninguém, pois
ele não pica e se alimenta apenas em flores.
Portanto, não faz sentido. O segundo aspecto
também é falso, porque desconsidera
completamente certos aspectos fundamentais
em epidemiologia. Há uma questão espaço-
temporal importante que precisa ser observada.
Os lotes de vacina usados na Polinésia
Francesa e no Brasil não foram os mesmos. E
no Brasil, no caso de microcefalia registrado
em São Paulo, há o histórico da paciente, que
foi atendida na mesma Unidade Básica de
Saúde (UBS) desde o seu nascimento, ou seja,
sabemos quais vacinas lhe foram aplicadas e
quando. No caso de surtos de dengue, por
exemplo, há um espalhamento em gradiente.
Para haver relação com a vacina, o mesmo lote
tem que ser repassado de Pernambuco para
Sergipe, Bahia, até São Paulo, da mesma
maneira como os casos estão sendo
registrados, e isso não está acontecendo desse
modo. Se olharmos o padrão de microcefalia e
ou síndrome de Guillain-Barré na Nova
Caledônia, na Polinésia Francesa e no Brasil,
os registros são de espalhamento viral. É
questão de usar bom senso e ter mecanismos
para poder argumentar de forma lúcida sobre
esses aspectos.
Agência FAPESP – O que já se sabe sobre
outras possíveis formas de contágio além da
picada de mosquitos do gênero Aedes?
Zanotto – Já existem dois casos identificados
de transmissão por transfusão de sangue em
Campinas. Na saliva, conseguimos detectar o
vírus mais facilmente que no sangue. Na urina
ele persiste mais tempo que no sangue. Mas
casos de transmissão por essas vias ainda não
foram confirmados. Existem três casos
fortemente associados com transmissão
sexual. São pessoas que viajaram para países
onde há casos de Zika, manifestaram os
sintomas quando regressaram ao país de
origem, no qual não há o vetor, e infectaram o
cônjuge. Então pode sim haver transmissão
sexual. Mas a gente tem que tentar entender
qual é a importância disso do ponto de vista
epidemiológico. Se for um fator importante
muda completamente o cenário. Mas também
pode ser uma exceção, algo sem muito impacto
na dinâmica de espalhamento.
Agência FAPESP – O senhor acredita que a
realização dos Jogos Olímpicos no Brasil pode
contribuir para disseminação do vírus pelo
mundo?
Zanotto – Tenho um pensamento ambíguo em
relação a isso. Assim como a Copa do Mundo,
a Olimpíada acontece no inverno e, em
temperaturas mais baixas, os vetores têm
dificuldade para manter populações suficientes
para sustentar surtos. Claro que isso não vale
para os estados do Nordeste e Norte, onde não
há essa limitação climática. O número de
picadas que a pessoa recebe no inverno
também é muito mais baixo do que no verão e
isso está diretamente relacionado com a
probabilidade de infecção. Mas, por causa do
fenômeno El Niño, estamos em um ano atípico,
com muita precipitação, muita flutuação de
temperatura. Esse é um fator que precisa ser
considerado. Há outra questão importantíssima
que é saber quais vetores o vírus está usando
no país, se é apenas o Aedes aegypti ou
também o A. albopictus ou outras espécies de
mosquitos. Esses estudos começaram há
pouco tempo.
Agência FAPESP – Já há alguma evidência
que mostre que o pernilongo ou algum outro
inseto podem transmitir o vírus Zika?
Zanotto – Na árvore de família dos flavivírus
tem um grupo que é vetorado
pelo Culex [gênero ao qual pertence o
pernilongo], como o vírus da encefalite
japonesa, o vírus do Oeste do Nilo e o vírus da
encefalite de São Luís. Em outro braço da
família estão os vírus associados ao Aedes,
como os causadores de Zika, dengue e febre
amarela. No caso da dengue, não há evidência
de transmissão por Culex, então eu não
esperaria que fosse um problema no caso do
Zika. Mas é preciso testar. Já o A.
albopictuspode ser problemático. É uma das
grandes preocupações dos países do
hemisfério norte. Ele poderia espalhar o vírus
em toda a região continental americana e
entrar acima dos Pirineus e dos Alpes na
Europa.
Agência FAPESP – Por que o calor favorece
os surtos de dengue, Zika e outras
arboviroses?
Zanotto – O metabolismo do Aedes se acelera
à medida que a temperatura ambiente sobe.
Um aumento de 5 graus Celsius pode dobrar a
velocidade de replicação do mosquito e fazer
com que ele produza mais vírus em um menor
tempo. Mas o vírus Zika é uma zoonose com
comportamento atípico. No Senegal, tem sido
observada sua presença ao longo de todo o
ano desde a década passada. Na África, está
sendo investigado qual é esse mecanismo de
manutenção. Pode ser a transmissão vertical
[quando a fêmea do mosquito põe ovos já
infectados com o vírus] ou a presença de
reservatórios virais com ciclos de reprodução
mais rápidos, que não estão sendo detectados.
Na África, há várias espécies
de Aedes infectadas com o vírus Zika e
percebemos que o patógeno se adapta
rapidamente a cada vetor. É um vírus
extremamente plástico, com capacidade
adaptativa adequada para se tornar
pandêmico.
Agência FAPESP – O Brasil hoje tem
condições para controlar o Aedes?
Zanotto – O ministro da Saúde foi criticado por
dizer que o Brasil está perdendo a guerra
contra o Aedes, mas, na verdade, o mundo
está perdendo essa guerra. Se olharmos o
espalhamento do mosquito no globo,
percebemos que ele conquistou toda a parte
equatorial e tropical do planeta. Isso é um
problema mundial, incluindo os países mais
avançados. Talvez se possa pensar na
eliminação do vetor, mas o mais adequado
seria pensar no controle em locais onde seja
possível diminuir significativamente a
infestação, porque a diminuição significa
número menor de surtos. Isso aconteceu, por
exemplo, no Guarujá, em 2013, quando
encontramos focos e fizemos intervenções,
colapsando o surto causado pelo vírus dengue
do sorotipo 4. Existem maneiras de se fazer
intervenção em tempo real, detectar as
pessoas virêmicas, incluindo sua localização
espacial, criando mecanismos de ação
localizados. É caro, mas é mais caro não fazer
isso. Então existem mecanismos que podem
ser feitos localmente, mas envolvendo a
iniciativa privada, a academia, o governo e a
sociedade.
Agência FAPESP – Além dos quatro vírus
mais associados ao Aedes, há possibilidade de
transmissão de outros, como o Mayaro e o
Oropouche?
Zanotto – Sim, são vírus que estão no Brasil e
têm um espalhamento razoável. Ao todo, são
dois milhões de tipos de febres que ocorrem na
região da Amazônia e não estão esclarecidos.
A quantidade de agentes é gigantesca.
O Aedes e sua proximidade com os demais
vírus originários da África pode nos levar a ter
que lidar no futuro com uma lista imensa de
vírus, alguns deles extremamente perigosos.
Atualmente, esses vírus já são bastante
estudados. Nossa experiência com o Zika vai
ser útil para pesquisas a serem desenvolvidas
como parte de um convênio entre a USP, a
Fiocruz e o Instituto Pasteur, que já tem
inclusive uma área alocada na USP de São
Paulo. Uma das atuações que teremos com o
grupo com o qual colaboramos na África será
começar, de forma proativa, a ter plataformas
montadas de detecção molecular e sorológica
desses vírus no Brasil. Se tivéssemos nos
preparado para o Zika há dez anos, talvez a
história fosse diferente. Precisamos aprender
com essa situação. Esse momento nos fez
mudar o entendimento sobre a importância de
acompanhar os vírus de forma proativa, mesmo
que eles não estejam no Brasil.
Agência FAPESP – No caso do chikungunya,
que já provocou morte no Brasil, há
possibilidade de um surto grande como o do
Zika?
Zanotto – Para o vírus da febre chikungunya,
por exemplo, já estávamos mais preparados do
que para o Zika. Existem métodos comerciais
de detecção disponíveis. Parte disso é porque
as manifestações desse vírus são muito mais
severas. Há sete meses, acreditava-se que o
Zika não seria um problema, pois a maior parte
dos casos é assintomática. Mas a microcefalia
mudou totalmente o patamar de gravidade
desse agente. Sabemos de interações entre
chikungunya e Zika, de cocirculação e
sobreposição em várias partes da Ásia e do
Pacífico, então é preciso entender melhor isso.
Agência FAPESP – Se a maior parte das
manifestações de Zika não é percebida, como
uma mulher grávida pode lidar com essas
informações? É possível pensar em um teste já
no pré-natal?
Zanotto – Nesse momento, temos um pedaço
da proteína do vírus que é útil para discriminar
o Zika dos outros flavivírus. Esse material está
chegando agora da África e sendo sintetizado
pelo prof. Luis Carlos Ferreira, no ICB da USP,
que está iniciando a produção de proteínas em
bactérias para testar a reação do soro de
nossos pacientes infectados por Zika. Se tudo
funcionar bem, poderemos ter, em breve, um
sistema para teste imunológico rápido. E isso
pode ser extremamente importante, pois a
mãe, no acompanhamento, poderá saber se já
foi infectada algum dia por Zika. O cenário
confuso gradualmente vai se dissipando,
porque temos conseguido avançar rapidamente
no estado, inclusive com bancos de sangue já
reportando a presença de vírus (Leia mais
em: agencia.fapesp.br/ 22657/). Enquanto não
temos um ensaio simples e rápido que
discrimine o Zika de outros arbovírus, somos
obrigados a usar um teste mais demorado e
soroneutralização, no qual infectamos as
células com os vírus junto com soro de
pacientes que, se neutralizarem a infecção,
indicam que eles foram infectados por
Zika. Temos feito muitas confirmações em
termos acadêmicos, mas ainda não podemos
fazer isso em massa para a população. Por
isso, a chegada desses peptídeos e sua
produção na USP pode nos ajudar a criar
testes diagnósticos rápidos para todos.
Agência FAPESP – A visibilidade que essa
questão dá aos atores envolvidos propicia uma
projeção internacional à pesquisa brasileira?
Zanotto – Há duas maneiras de medir esse
avanço. Uma é a produção científica, que
depende de acesso a materiais e recursos,
inclusive físicos, para desenvolver os trabalhos.
Há dificuldades, mas estamos nos
organizando. A Anvisa [Agência Nacional de
Vigilância Sanitária] está auxiliando, facilitando
a entrada de recursos e de materiais, como
reagentes, que está funcionando bem. Temos
um potencial enorme de geração de ciência no
Estado de São Paulo. Por outro lado, tem um
segundo componente crucial, que é o controle
da epidemia. O fato de estarmos gerando
esses dois componentes, conhecimento
científico e controle, é importante. O Brasil vai
dar uma grande contribuição, até porque é aqui
que temos a maior quantidade de casos.
Percebo, atualmente, pelas várias propostas
que estão surgindo, as modalidades de
interação, de financiamento da comunidade
europeia, financiamento no NIH, que estão
levando em consideração esse aspecto de que
eles têm parceiros aqui, o que é muito bom
para todos. No nosso caso, a postura é a de
parceria, colaboração. A comunidade científica
brasileira é desenvolvida e tem capacidade de
lidar bem com isso, dadas as circunstâncias de
uma boa estrutura, com a academia
funcionando, bom financiamento, boas
articulações entre as instituições para um
trabalho em rede, e boas articulações
internacionais, que são necessárias até pela
velocidade de evolução de certas soluções
fundamentais.
Agência FAPESP – O que tem sido feito para
acelerar os estudos relacionados à epidemia de
Zika?
Zanotto – Estamos acompanhando alguns
casos de microcefalia em São Paulo e
pretendemos desenvolver pesquisa
básica totalmente inserida num contexto de
utilidade pública quase que imediata. Qualquer
coisa encontrada, potencialmente útil, deve ser
disponibilizada, pois pode ter repercussão no
diagnóstico, no acompanhamento das mães.
Nesse sentido, a Capes viu o que a FAPESP
fez ao aprovar rapidamente aditivos para
projetos já vigentes, o que encurta muito a
velocidade de indução, irrigando com recursos
o que precisa ser irrigado, e está buscando
agilizar o processo. O Ministério da Ciência
Tecnologia e Inovação acompanhou esse
processo e quer fazer o mesmo em uma
modalidade com financiamento via FAPs e
INCTs, ou seja, todos entenderam que não
temos tempo a perder. Se fôssemos fazer os
trâmites nos prazos convencionais, não
teríamos tempo. A Capes está atenta a isso e
quer tentar uma modalidade de fast track. A
FAPESP fez isso e causou uma reação em
cadeia em outros agentes indutores da
pesquisa no Brasil. Isso é muito importante,
pois criou mecanismos de agilização. Se isso
tudo funcionar e tivermos no final dessa
experiência um resultado positivo, podemos
estar criando uma nova modalidade de atuação
na indução de ciência no Brasil. Porque quando
temos problemas exponenciais, as respostas
têm que ser exponenciais. E isso começou a
ser bem entendido pelos gestores de ciência e
saúde no Brasil.
FOSFOETANOLAMINA : A droga
brasileira que promete curar o
câncer.
Fonte : Revista Época
Segundo a legislação, para que a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária reconheça
uma droga como um medicamento legal,
permitindo assim sua fabricação e
comercialização, é preciso que o produto,
através de comprovação científica e de análise,
“seja reconhecido como seguro e eficaz para o
uso a que se propõe, e possua a identidade,
atividade, qualidade, pureza e inocuidade
necessárias”.
Tratando-se de um medicamento novo, é
exigido que sejam oferecidas “amplas
informações sobre a sua composição e o seu
uso, para avaliação de sua natureza e
determinação do grau de segurança e eficácia
necessários”. Essa aprovação só pode ser
alcançada após a realização detestes em
seres humanos, que servirão como base para
a comprovação de que
os benefícios do medicamento superam seus
eventuais riscos.
A complexidade de formas, variações, reações
e transformações através das quais uma
doença como o câncer se manifesta torna
improvável a ideia uma cura definitiva para
essa doença. Ainda assim,
a fosfoetanolamina, composto químico
sintetizada por um brasileiro, que
supostamente possui função antitumoral,
apresentando resultados relevantes no
combate ao câncer, tem colocado a
comunidade médica e os pacientes em natural
polvorosa.
Um tratamento menos invasivo e
debilitador, levando quem sabe à cura dessa
doença, pode
estar na esquina da história, aguardando
somente o cumprimento desses testes e
burocracias para poder ser enfim colocado no
mercado e na corrente sanguínea dos que mais
precisam.
A fosfoetanolamina é um composto orgânico,
presente no organismo de diversos mamíferos,
que ajuda a formar as membranas celulares e
possui ainda função sinalizadora, informando
ao organismo processos e situações
atravessadas pelas células.
No final da década de 1980, uma versão
artificial desse composto foi sintetizada pelo
químicoGilberto Orivaldo Chierice, então
professor do Instituto de Química de São
Carlos (IQSC), hoje aposentado. Por sua
alegada eficiência em combater, reduzir e até
curar tumores, naturalmente que a procura pela
droga por pacientes foi desde então intensa.
Por mais de 20 anos, o químico distribuiu
gratuitamente e por iniciativa própria a
fosfoetanolamina para diversos pacientes que,
em sua maioria, relataram melhoras
significativas e até a cura da doença. Uma
portaria da USP, universidade a qual o IQSC é
ligado, no entanto, proibiu em 2014 a
distribuição do medicamento, justamente pela
falta de testes, pesquisas, registro e
autorização da Anvisa.
A universidade afirmou não possuir meios para
a realização dos testes nem para a produção
em larga escala. Desde então, diversas
liminares foram concedidas pela justiça para
permitir a pacientes o acesso ao medicamento.
Contudo, a fosfoetanolamina não possui
registro na Anvisa e, por isso, ainda não pode
ser comercializada no Brasil.
Trata-se de um dilema labiríntico e angustiante
para os que têm pressa de cura. Para
conseguir o registro e, assim, sua autorização,
o medicamento precisa ter sido testado tanto
em não humanos quanto em humanos, e
cumprir uma série de exigências e
procedimentos documentais. É claro que tais
processos possuem fundos sanitários e de
segurança importantíssimos, mas sua
realização pode ser demorada e caríssima.
Sem tais testes, no entanto, é impossível
afirmar com segurança que um medicamento
seria realmente eficiente, e que não seria uma
ameaça para pacientes em estado terminal, por
exemplo.
Segundo entrevista do próprio Chierice
a EPTV, filiada da Rede Globo, a substância
não teria ainda chegado ao mercado por má
vontade das autoridades. O químico afirma
que procurou por diversas vezes a Anvisa,
que alegou que faltavam dados clínicos em sua
pesquisa, já publicada em diversas das
principais revistas científicas do mundo.
A ausência de dados clínicos, segundo ele, não
impediu que outros medicamento fossem
aprovados no Brasil. “Essa é a alegação de
todo mundo, mas está cheio de remédios
nesse país que não tem dados clínicos”,
afirma o cientista. A agência nega qualquer
contato por parte de Chierice.
Uma das consequências apontadas por
Chierice dessa demora será o interesse de
outros países pelo desenvolvimento do
remédio. “Nós poderemos ter que comprar
esse medicamento a custo de mercado
internacional”, diz Chierice. “Mas, se não for
possível aqui, a melhor coisa é outro país fazer,
porque beneficiar pessoas não é por bandeira”,
afirma, para em seguida categoricamente
enunciar que a fosfoetanolamina é sim uma
possível cura para o câncer.
É inevitável cogitar sobre interesse escusos de
grandes laboratórios em impedir o surgimento
de um medicamento que torne obsoletos os
caríssimos tratamentos contra o câncer já
aprovados e utilizados não só no Brasil, como
em todo mundo, ameaçando as gigantescas
cifras da chamada “indústria do desespero”.
Mexer com tais valores, especialmente em um
mercado tão urgente e, ao mesmo tempo, de
fiscalização tão técnica e especializada
(deixando qualquer aval, proibição, ou até
mesmo entendimento real nas mãos das
agências e especialistas), é necessariamente
adentrar um processo caudaloso.
Negar o poder de fogo do lobby da indústria
farmacêutica seria ingenuidade leviana em
questão tão sensível para a população – o que
pode natural e intuitivamente nos levar a
questionar inclusive os métodos da Agência
para a aprovação de um novo medicamento.
Segundo o testemunho de uma pessoa que
preferiu não se identificar (parente de uma
paciente de câncer, que chegou a utilizar o
medicamento, também apresentando melhoras
significativas), o acesso à fosfoetanolamina
hoje enfrenta problemas similares a qualquer
produto vendido pelo mercado negro. “O custo
é alto e sem controle, e os riscos envolvem não
só a ameaça pela qualidade do produto, como
pela ilegalidade e o perigo do roubo e da
violência, visto que o interesse pelo remédio
por parte da população é imenso”. A incidência
de roubos seria proporcional ao interesse e ao
alto custo da medicação.
Na internet são diversos os relatos de pessoas
que, mesmo com liminares para o recebimento
do medicamento, tiveram dificuldades em
retirar o produto nos correios ou mesmo em
encontrar a encomenda.
Em nota técnica emitida em 2015, a Anvisa
esclarece que não há qualquer registro
concedido ou pedido de registro sequer para
medicamentos com o princípio ativo
fosfoetanolamina, nem mesmo para fins de
pesquisa envolvendo seres humanos. Assim, a
agência não poderia reconhecer, “por absoluta
falta de dados científicos”, segundo a nota, a
eficácia da fosfoetanolamina para o tratamento
do câncer, e por isso não recomenda o uso ou
muito menos a substituição de tratamentos já
prescritos e estudados por um medicamento
ainda não avaliado.
São diversas as academias de medicina,
profissionais e entidades especializadas que se
posicionam de forma semelhante, não
recomendando o uso de uma substância sem
que ela tenha sido devidamente testada e
aprovada pela Anvisa.
Alguns relatos sobre o efeito da droga, no
entanto, podem ser lidos até mesmo pelo
Facebook. Uma usuária, moradora da
Alemanha, conta através de um post que
recebeu a doação da USP e, “para total
espanto dos médicos, o tumor regrediu 3
cm e eu senti melhor do que nunca”.
Segundo a postagem, seu ânimo e apetite
melhoraram sensivelmente, e seu médico
alemão teria recomendado que ela continuasse
o tratamento. Ela, entretanto, afirma que não
pôde mais receber o medicamento e, com isso,
o tumor teria voltado a crescer. “Minha única
chance atualmente é a Fosfo”, ela escreve.
“Minha vida está nas mãos de quem pode ou
não liberar as liminares e aumentar a
produção”.
Em São Paulo, os testes serão realizados em
cinco hospitais da rede estadual, com
participação de até 1000 pacientes. Segundo
David Uip, secretario estadual de saúde do
estado, em paralelo à elaboração dos padrões
para a realização dessas pesquisas, será
enviada uma solicitação à USP e a Gilberto
Chierice, pois a fosfoetanolamina é uma droga
patenteada por Chierice. Os critérios para a
seleção de pacientes envolvidos na pesquisa
ainda não foram divulgados, mas a ideia é
contemplar diversos tipos da doença, para
justamente medir a atuação do medicamento
sobre as variações de atuação do câncer no
corpo humano.
O fato é que, para além de nossas esperanças
e nossos desejos, até que se realizem tais
testes, a fosfoetanolamina é somente uma
promessa aparentemente boa mas ainda muito
arriscada e perigosa. Se essa é uma falsa
promessa ou se o medicamento se tornará de
fato um marco ou até mesmo o ponto de
chegada na busca pela cura do câncer, isso só
os resultados desses testes poderão
responder. Mas é fundamental que os
motivos, os processos e as decisões ao
redor da avaliação do medicamento sejam
objetivos e transparentes.
Da mesma forma, é de suma importância que
as razões de ser de qualquer que seja cada
decisão tomada pela Anvisa e pelos
laboratórios e instâncias governamentais
envolvidas daqui pra frente se deem não em
nome do dinheiro ou do poder, mas sim, das
conquistas científicas e do bem estar da
população como um todo – independentemente
da aprovação ou não do medicamento.
Hipertensão
Um mal silencioso
A hipertensão arterial ou pressão alta é uma
doença caracterizada pela elevação dos níveis
tensionais no sangue. É uma síndrome
metabólica geralmente acompanhada por
outras alterações, como obesidade. Cerca de
20% da população brasileira é portadora de
hipertensão, sendo que 50% da população com
obesidade tem a doença. A hipertensão pode
acontecer quando nossas artérias sofrem algum
tipo de resistência, perdendo a capacidade de
contrair e dilatar, ou então quando o volume se
torna muito alto, exigindo uma velocidade
maior para circular. Hoje, a hipertensão é a
principal causa de morte no mundo, pois pode
favorecer uma série de outras doenças.
Quando o seu coração bate, ele contrai e
bombeia sangue pelas artérias para o resto do
seu corpo. Esta força cria uma pressão sobre as
artérias. Isso é chamado de pressão arterial
sistólica, cujo valor normal é 120 mmHg
(milímetro de mercúrio). Uma pressão arterial
sistólica de 140 ou mais é considerada
hipertensão. Há também a pressão arterial
diastólica, que indica a pressão nas artérias
quando o coração está em repouso, entre uma
batida e outra. Um número normal de pressão
arterial diastólica é inferior a 80, sendo que
igual ou superior a 90 é considerada
hipertensão.
Tipos
A hipertensão pode ser dividida em três
estágios, definidos pelos níveis de pressão
arterial. Esses números, somados a condições
relacionadas que o paciente venha a ter,
como diabetes ou histórico de AVC ,
determinam se o risco de morte cardiovascular
do paciente é leve, moderado, alto ou muito
alto. Além disso, quanto mais alta a pressão
arterial, maior a chance de o paciente precisar
usar medicamentos.
• Estágio I: hipertensão acima de 140 por
90 e abaixo que 160 por 100
• Estágio II: hipertensão acima de 160 por
100 e abaixo de 180 por 110
• Estágio III: hipertensão acima de 180
por 110.
Fatores de risco
A hipertensão é herdada dos pais em 90% dos
casos. Em uma minoria, a hipertensão pode ser
causada por uma doença relacionada, como
distúrbios da tireoide ou em glândulas
endocrinológicas, como a suprarrenal.
Entretanto, há vários outros fatores que
influenciam os níveis de pressão arterial, entre
eles:
• Fumo
• Consumo de bebidas alcoólicas
• Obesidade
• Estresse
• Grande consumo de sal
• Níveis altos de colesterol
• Falta de atividade física
• Diabetes
• Sono inadequado.
Além desses fatores de risco, sabe-se que a
incidência da hipertensão aumenta com a
idade. Isso porque com o passar do tempo
nossas artérias começam a ficar
envelhecidas, calcificadas, perdendo a
capacidade de dilatar - são chamados
de vasos menos complacentes. Com isso
a hipertensão arterial é mais fácil de
acontecer - cerca de 70% dos adultos
acima dos 50 ou 60 anos possuem a
doença.
Diagnóstico de Hipertensão
O diagnóstico de hipertensão é feito pela
medida da pressão. A forma mais comum é a
medida casual, feita no consultório com
aparelhos manuais ou automáticos. A
hipertensão também pode ser diagnosticada
por aparelhos que fazem aproximadamente 100
medidas de pressão durante 24 horas.
Tratamento de Hipertensão
A hipertensão não tem cura, mas tem
tratamento para ser controlada. Somente o
médico poderá determinar o melhor método
para cada paciente, que depende das
comorbidades e medidas da pressão. É
importante ressaltar que o tratamento para
hipertensão nem sempre significa o uso
de medicamentos - mas se estes forem
indicados, ela deve aderir ao tratamento e
continuar a tomá-lo mesmo que esteja se
sentindo bem. Mas mesmo para quem faz uso
de medicação é imprescindível adotar um estilo
de vida saudável:
• Manter o peso adequado, se necessário,
mudando hábitos alimentares
• Não abusar do sal, utilizando outros
temperos que ressaltam o sabor dos
alimentos
• Praticar atividade física regular
• Aproveitar momentos de lazer
• Abandonar o fumo
• Moderar o consumo de álcool
• Evitar alimentos gordurosos
• Controlar o diabetes e outras
comorbidades.
Medicamentos para Hipertensão
Os medicamentos mais usados para o
tratamento de hipertensão são:
• Aldactone
• Apresolina
• Aradois
• Atenolol
• Atenolol + Clortalidona
• Atensina
• Besilato de Anlodipino
• Benicar
• Clortalidona
• Co-Pressotec
• Captopril
• Captopril + Hidroclorotiazida
• Carvedilol
• Concor
• Diovan
• Diurix
• Doxazosina
• Duomo
• Enalapril + Hidroclorotiazida
• Enalapril
• Espironolacton
• Furosemida
• Hidroclorotiazida
• Higroton
• Indapen SR
• Lasix
• Lisinopril
• Losartana Potássica
• Losartana Potássica +
• Hidroclorotiazida
• Metildopa
• Nebilet
Somente um médico pode dizer qual o
medicamento mais indicado para o seu
caso, bem como a dosagem correta e a
duração do tratamento. Siga sempre à
risca as orientações do seu médico e
NUNCA se automedique. Não interrompa
o uso do medicamento sem consultar um
médico antes e, se tomá-lo mais de uma
vez ou em quantidades muito maiores do
que a prescrita, siga as instruções na
bula.
Complicações possíveis
As principais complicações da hipertensão são
AVC, por infarto agudo do miocárdio ou
doença renal crônica. Além disso, a hipertensão
pode levar a uma atrofia do músculo do
coração, causando arritmia cardíaca. É
importante ressaltar que qualquer combinação
de fatores de risco é sempre muito mais grave,
pois o risco das comorbidades é multiplicado.
Em média, uma pessoa com hipertensão que
não controla o problema terá uma doença mais
grave daqui 15 anos.
Prevenção
Pessoas em idade adulta meçam a pressão pelo
menos uma vez por ano como forma de
acompanhamento (a medidas que vamos
envelhecendo a pressão vai aumentando). Além
disso, outros hábitos de vida saudáveis podem
ser adotados para prevenir a hipertensão:
• Evite ficar parado: caminhe mais, suba
escadas em vez de usar o elevador
• Diminua ou abandone o consumo de
bebidas alcoólicas
• Tente levar os problemas do dia a dia de
maneira mais tranquila
• Mantenha o peso saudável: procure um
profissional de saúde e peça orientação
quanto à sua alimentação
• Tenha uma alimentação saudável
• Diminua o sal da comida.
fontes e referências
• Ministério da Saúde
• Weimar Sebba Barroso, cardiologista
presidente do Departamento de
Hipertensão da SBC – Sociedade
Brasileira de Cardiologia;
• Marly Uellendahl, cardiologista do
Lavoisier Medicina Diagnóstica;
Eutanásia: A favor
ou contra?
De um lado estão aqueles que
defendem a vida como bem supremo.
De outro, os que sustentam a
liberdade de escolha como direito
inerente. Por trás deste embate está
um pensamento dualista que opõe
vida e morte e não distingue viver de
sobreviver.
A eutanásia tornou-se uma questão central nos
debates de Bioética na atualidade. Em geral,
distingue-se a eutanásia da ortotanásia e da
distanásia. Por eutanásia entende-se a conduta
médica que apressa a morte de um paciente
incurável e em terrível sofrimento.
Por ortotanásia designa-se a suspensão dos
meios medicamentosos ou artificiais de
manutenção da vida de um paciente em coma
irreversível. E, por distanásia, aponta-se o
emprego de todos os meios terapêuticos
possíveis, inclusive os extraordinários e
experimentais, num paciente terminal.
Enquanto com a ortotanásia se aceita o
processo natural de morrer, com a distanásia,
pela obstinação terapêutica, se provocam
distorções. Num caso, permite-se ao paciente ir
ao encontro da morte; no outro, a ele se impõe
um tratamento insistente, desnecessário e
prolongado, sem nenhuma certeza de sua
eficácia.
Com a eutanásia, adianta-se a morte,
atendendo à vontade expressa e manifesta do
paciente, no sentido de evitar sofrimentos que
ele julga insuportáveis ou de encurtar uma
existência que acredita penosa e sem sentido.
Vista por alguns como um suicídio assistido, a
eutanásia inscreve-se numa situação em que o
paciente quer morrer, mas, por incapacidade
física, não consegue realizar sozinho o seu
desejo. Aliás, no seu sentido etimológico,
eutanásia significa "boa morte". Ela se
diferencia radicalmente da distanásia, que
importa em submeter o paciente a quaisquer
condições para mantê-lo vivo.
Mas também se diferencia da ortotanásia que,
chamada às vezes de eutanásia por omissão,
implica decidir não conservar a vida do
paciente por meios artificiais. Distinguem-se
ainda diversos tipos de eutanásia: ativa, se a
morte é provocada, ou passiva, se ela advém
por omissão; voluntária, quando o paciente
expressa e manifesta a vontade de morrer, ou
involuntária, quando um indivíduo, grupo ou
sociedade decide pôr fim à vida do paciente,
sem que este exprima e manifeste a sua
vontade (é o caso, por exemplo, de deficientes
mentais, dementes ou inconscientes).
Entre nós, aceita-se a distanásia; no direito
brasileiro, não se considera, neste caso, a
conduta médica ilícita nem culpável. Admite-se,
sob condições, a ortotanásia; julga-se a
conduta médica lícita do ponto de vista jurídico,
quando não significa a redução do período
natural de vida do paciente nem caracteriza
abandono do incapaz. Rejeita-se
categoricamente a eutanásia; como conduta
típica, ilícita e culpável, ela caracteriza
homicídio, sendo indiferente que o paciente
com ela concorde ou mesmo por ela implore.
"Se quiseres poder suportar a vida, fica
pronto para aceitar a morte"
FREUD
Na antiguidade greco-romana, reconhecia- se o
direito de morrer; era o que permitia aos
doentes desesperançados pôr fim à própria
vida, contando por vezes com o auxílio de
outrem. Com o cristianismo introduziu-se a
noção de sacralidade da vida, passando-se a
concebê-la como um dom de Deus a ser
preservado; foi o que levou à extinção das
práticas dos antigos.
No século XVII, com Francis Bacon, a questão
da eutanásia migrou para o domínio da
medicina; começou-se a usar o vocábulo para
expressar a ideia de que cabia ao médico
aliviar os sofrimentos dos doentes tanto para
curá-los quanto para proporcionar-lhes uma
morte tranquila.
Mas com o direito moderno, a eutanásia
assume caráter criminoso, uma vez que viola a
proteção irrecusável da vida. Concebendo-se a
vida como o bem jurídico mais valioso, o bem
inalienável e intransferível por excelência,
entende-se que ela é o direito primeiro da
pessoa humana, direito esse que se deve
proteger acima de todos os demais. Tutelado
pelo Estado até contra a vontade do indivíduo,
julga-se tratar-se de um direito absolutamente
indisponível.
Ora, impondo-se como dogma, "a vida a
qualquer preço", contribui bem mais para
encerrar a discussão do que para promovê-la.
Não quero dizer com isso que julgo ilegítimo ou
inadequado recorrer aos valores religiosos para
refletir sobre a questão da eutanásia. Pretendo
apenas assinalar que não é o meu propósito
aqui levá-los em conta.
Vida como dever
Seja por julgar que se deve preservar um dom
de Deus ou por entender que se tem de fazer
jus à dignidade humana, há quem defenda que
toda vida humana merece ser vivida.
Ora, tomar a vida como bem supremo implica
não só proibir categoricamente a eutanásia,
impedindo o paciente de pôr termo a
sofrimentos insuportáveis, como também aderir
à distanásia, impondo a ele sofrimentos ainda
maiores causados pelos tratamentos fúteis e
pela obstinação terapêutica.
Considerar a vida o direito primeiro da pessoa
humana implica, também, que não se permita
que tomem parte da discussão acerca da
eutanásia todos os que são por ela afetados
(além do paciente, os familiares e amigos, os
grupos e segmentos sociais).
E seria possível ainda argumentar que, em
nossa sociedade, o "valor sagrado da vida" não
evitou que se aceitassem as guerras, a pena
de morte e a legítima defesa, sem falar no
extermínio dos animais.
É preciso ainda notar que, ao defender "a vida
a qualquer preço", adota-se um modo de
pensar dualista, opondo-se a vida à morte.
Privilegia-se um dos termos da oposição em
detrimento do outro, dispondo-se a tudo fazer
pela vida contra a morte. Excluindo-se o seu
contrário, converte- se então o direito de viver
em dever.
Defensores da eutanásia, por sua vez,
argumentam em favor do direito de morrer.
Usa-se, atualmente, esta expressão para
remeter a situações variadas; a ela se recorre
inclusive para referir-se ao direito do paciente
de recusar-se às terapias que julgue
inapropriadas ou inoportunas e de solicitar
medicamentos que lhe aliviem as dores ainda
que corram o risco de abreviar-lhe a vida.
O direito de morrer se basearia antes de
qualquer coisa no princípio de autonomia. Toda
pessoa tem o direito de tomar decisões acerca
da própria vida; é capaz de decidir o que ela
quer fazer e o que quer que outrem lhe faça.
Não cabe, pois, à lei vir tolher tal direito nem
limitar a sua liberdade; ninguém sabe melhor
do que ela o que lhe convém.
Este mesmo argumento valeria para o aborto
provocado e para o suicídio; constituiria um
desrespeito ao princípio de autonomia
penalizar criminalmente quem decidisse
provocar um aborto ou tentasse o suicídio.
Assim, toda pessoa gozaria, dentre os seus
direitos, do privilégio de dispor de sua
existência em quaisquer circunstâncias, desde
que, por livre e espontânea vontade, desistisse
de viver.
E ainda mais nos casos de doença incurável,
acrescida de dores insuportáveis e sofrimentos
inúteis. Há quem argumente, porém, que uma
coisa é deixar morrer e outra é matar.
Entendem por matar qualquer ação ou omissão
que vise a pôr termo à vida; e entendem por
deixar morrer a não aplicação ou interrupção
de um tratamento desproporcional e oneroso,
de modo que a natureza possa seguir o seu
curso.
Dessa perspectiva, a ortotanásia seria
admissível, mas a eutanásia intolerável. Em
que pese a atuação de grupos que hoje
reivindicam, em vários países, mudanças legais
que permitam a sua prática, tendo em vista
sempre a eutanásia voluntária, não haveria por
que descriminalizá-la.
Importa frisar que, ao distinguir entre matar e
deixar morrer, parte-se mais uma vez deste
dualismo primeiro, que opõe a vida à morte.
Por isso mesmo, torna-se preciso investigar
mais de perto o que está em causa quando se
fala da vida. E, ainda que o apelo às definições
possa parecer, aos olhos de alguns, uma
exigência escolar, é imprescindível recorrer a
elas para situar o terreno em que se dá a
discussão.
Aqui, uma distinção se faz necessária: a que se
estabelece entre viver e sobreviver. Lançando
mão do pensamento de Nietzsche, não seria
desmedido dizer que é a vida, ela mesma, que,
vencida, se reduz à sobrevivência, quando não
suporta a doença nem tolera a dor. Dessa
óptica, apressar a morte de um paciente
incurável e em terrível sofrimento, atendendo à
sua vontade expressa e manifesta, não
equivaleria a tirar-lhe a vida, mas a abreviar-lhe
a sobrevivência.
Estudiosos colocam, em outros termos, essa
questão, ao distinguir entre estar vivo, no
sentido biológico da palavra, e ter vida, na
acepção biográfica da expressão. Sustentam
que a saúde do paciente não se limita à
dimensão físicocorporal de sua existência, mas
abrange também seu estilo de vida, seus
valores e suas crenças.
Advogam a ideia de que a conduta médica
deve levar em conta essas duas dimensões e
empenhar-se em aliar a processos da natureza
biológica a dignidade de uma história pessoal.
Nesse contexto, matar não significaria pôr fim
ao estar vivo, mas pôr termo à vida.
Ao trabalhar com duas dimensões da
existência humana, essa maneira de ver acaba
por pensar o homem como um composto de
corpo e mente, aceitando, assim, a distinção
que Descartes estabeleceu entre pensamento
(res cogitans) e matéria (res extensa).
Enquanto aqui se trata de tentar juntar o que
Descartes havia separado, no quadro do
pensamento de Nietzsche importa antes de
qualquer coisa recusar todo e qualquer
dualismo. Em todo caso, tanto a distinção entre
ter vida e estar vivo quanto aquela outra entre
viver e sobreviver nos remete à questão acerca
da qualidade de vida.
Num mundo marcado pela crise de valores,
amplia-se o debate entre os que advogam o
caráter sagrado da existência humana e os que
defendem os seus aspectos qualitativos.
Enquanto uns julgam que a medicina tem de
estar a serviço da vida, outros entendem que
ela deve prezar antes de tudo a pessoa. Se
aqueles condenam a eutanásia, estes podem
vir a admiti-la.
Cabe lembrar,
porém, que é a
partir dos anos
1970 que a
questão da
qualidade de vida
se impõe. Entre
nós, sua
emergência
coincide com o
momento em que
a medicina de
ponta começa a
migrar da esfera
pública para o
setor privado.
Os hospitais beneficentes, que eram
praticamente os únicos centros de excelência
no País, cedem lugar às empresas de saúde.
Com a crescente incorporação tecnológica,
deixa-se de conceber a medicina como um
serviço a ser prestado; passa-se a vê-la como
um negócio a ser realizado.
De ação filantrópica, ela converte- se em
contrato comercial. Torna-se comum discutir,
nas ações médicas, a relação de custo e
benefício. Entende-se por custos de uma
determinada intervenção, antes de qualquer
coisa, os financeiros, não se levando em conta
os emocionais e psicológicos, os sociais e
éticos que possam dela advir.
Entende-se por benefícios acima de tudo os
percebidos pela empresa de saúde, relegando-
se a segundo plano os que possam reverter
para o paciente, os familiares e amigos, os
grupos e segmentos sociais. Fazendo- se do
paciente um cliente, a ele se oferece, como
bens de consumo, a saúde e até mesmo a
vida. Aprofunda-se, assim, o abismo que
separa saúde e doença, vida e morte.
A eutanásia no Brasil
No Brasil, a eutanásia é considerada uma
forma de homicídio. A lei não faz qualquer
referência específica a ela, mas a prática é
julgada de acordo com o artigo 121 do Código
Penal, que pune crimes de homicídio com
penas de seis a 20 anos de reclusão. Há
projetos tramitando no Congresso para mudar
tal situação.
Um deles faz parte da própria reforma do
Código Penal. Parte do anteprojeto que está
sendo elaborado para dar lugar à legislação
penal atual prevê a alteração de dispositivos do
Código Penal, legislando sobre a eutanásia em
dois itens do artigo 121. No parágrafo 3º,
buscando reduzir a pena de reclusão, caso o
autor do crime tenha agido por compaixão e a
pedido da vítima. No 4º, tentando
descriminalizar o ato de deixar de manter a
vida de alguém por meios artificiais, caso a
morte tenha sido atestada como iminente e
inevitável, desde que solicitado pelo paciente
ou parentes próximos
Lado financeiro
Daí, o impasse teórico em que nos
encontramos hoje. Ou advogamos o valor
sagrado da existência humana e acabamos
atrelados a posições dogmáticas, que
encerram a discussão em vez de promovê-la,
ou então defendemos a qualidade de vida e,
embora talvez mais aparelhados para refletir
sobre questões que se impõem hoje nos
A palavra eutanásia foi
introduzida pelo filósofo
Francis Bacon (1561-1626),
no seu Organon (1623),
com o sentido de "boa
morte" - suave e sem
sofrimento. Não está ligada
à acepção atual
debates de Bioética, como a da eutanásia,
corremos o risco de engrossar o discurso das
empresas de saúde.
E, assim, nos vemos outra vez prisioneiros de
um modo de pensar dualista que, ao que
parece, não nos deixa alternativa. Ora, a meu
ver, se a ideia de que a vida é um dom de Deus
a ser preservado nos impede de levar adiante a
discussão acerca da eutanásia, a questão da
qualidade de vida só merece ser posta se
alertarmos para a apropriação que dela fazem
os interesses privados.
Atualmente, a morte torna-se um tema a ser
evitado. Inexorável, ela representa para o
homem, que se quer senhor e dominador da
natureza, o maior desafio. Obriga-o a deparar-
se com a própria fragilidade; contrange-o a
defrontar-se com a finitude. Nos nossos
tempos, a situação agrava-se. Na sociedade
em que vivemos, o ser humano que está à
morte é tido por um insucesso. Nesta
sociedade que preconiza a produtividade e o
lucro, que prega a eficácia a qualquer preço,
que promove o espírito de competição e a
lógica da exclusão, o moribundo é visto como
um malogro.
É recente na história da medicina a ideia de
que é preciso levar a vida biológica custe o
que custar até o limite
Imersos nessa atmosfera cultural, é comum
que os profissionais da saúde, em particular os
médicos, julguem que se deve evitar a morte a
todo custo. Estranha à vida, ao ocorrer, ela
evidencia um fracasso.
Nesse contexto, compreende-se que os
médicos se sintam tentados a abandonar os
pacientes terminais, uma vez que a morte foge
de seu âmbito de atuação. Compreende-se
igualmente que procurem minimizá-la,
disfarçando-a graças à tecnologia de ponta.
Compreende-se, por fim, que recorram a
tratamentos fúteis, considerando o paciente
uma oportunidade terapêutica, um desafio
clínico ou mesmo um
caso rentável.
Imbuídos da ideia de que
a medicina tem por
objetivo principal sanar
enfermidades, em geral
eles se deixam nortear
bem mais pelo
diagnóstico da doença
do que por seu
prognóstico. Ocorre,
também, que lancem
mão de tratamentos que,
situados por vezes na
fronteira entre o
experimental e o já
consolidado, não
chegam a contribuir para
melhorar as condições
encontradas.
Desse modo, são levados a cuidar de
pacientes terminais guiados bem mais pela
tecnologia de ponta do que pelas preferências
que estes possam manifestar. Não é raro que,
nas suas decisões, tenham em conta a
situação socioeconômica dos que estão sob
seus cuidados, acentuando com isso a
Cenas do filme "Mar
Adentro" mostram
protagonista antes e
depois de se tornar
tetraplégico.
Sabendo que sua
condição era
irreversível, ele
decide morrer e
tenta conseguir
ajuda para realizar
tal ato
discrepância entre os rentáveis e os não
rentáveis.
Mas não é raro tampouco que sejam
pressionados por pacientes, que só se sentem
tratados quando submetidos aos expedientes
modernos mais invasivos, que se limitam a
prolongar o processo da morte.
Voltando-se para o sucesso da cura, o avanço
médico-tecnológico não tem como contribuir
para uma reflexão sobre a morte. Por isso
mesmo, cumpre avaliar os benefícios e
malefícios por ele produzidos, investigando os
aspectos éticos presentes nas situações por
ele geradas
Em vez de conceber a morte como um
acontecimento a evitar a qualquer preço, torna-
se imprescindível inscrevê-la em situações
econômico-político-sociais determinadas e em
contextos culturais precisos. Torna-se
igualmente indispensável discutir a questão da
eutanásia, levando em conta aspectos de
ordem cultural, social, política e econômica.
É recente na história da medicina a ideia de
que é preciso levar a vida biológica custe o que
custar até o limite. Tratando a fase terminal
como uma luta a qualquer preço contra a
morte, tende-se hoje a condenar inúmeros
enfermos a um sofrimento sem perspectiva.
Recorrendo a procedimentos desproporcionais
aos resultados esperados, acabase por
confiná-los em centros de terapia intensiva.
Optando por prolongar indefinidamente o
processo de morte por que estão passando,
criam-se situações desumanas. Pensando
segundo categorias abstratas, tais como a
saúde e a normalidade, e operando segundo
uma lógica dualista, venera-se a vida.
Isolamento
E assim a idolatria da vida acaba por revelar
sua outra face; ela é uma verdadeira "cultura
da morte". Nas sociedades ditas mais
avançadas, impregnadas pela ideia de
eficiência, a "cultura da morte" configura-se
pelo confinamento das pessoas idosas e
debilitadas.
Excluídas do convívio familiar e social, elas
acabam com frequência isoladas, relegadas
aos cuidados de profissionais treinados para
lidarem com vidas desprovidas de valor. Na
nossa sociedade, a "cultura da morte"
manifesta-se antes de qualquer coisa no
descaso pela vida.
E não me refiro aqui aos que morrem no âmbito
médico-hospitalar, mas aos milhares de
indivíduos a quem se nega o direito de viver.
Refiro-me à morte imposta a todos aqueles que
se acham abaixo da linha de pobreza.
É notável, pois, a discrepância entre a idolatria
da vida de que se beneficiam alguns e a cultura
da morte a que se condenam tantos. No limite,
são faces da mesma moeda. Se o direito
brasileiro considera a eutanásia um crime, por
reputar o respeito à vida um valor fundamental,
em nosso país há muitos que parecem não se
orientar por esse mesmo princípio.
Ignorando a disparidade econômica entre os
diferentes segmentos de nossa sociedade, eles
não hesitam em pôr em prática uma política de
exclusão, que colide justamente com os valores
fundamentais que estruturam o seu
ordenamento jurídico.
Mas por que não perseguir a utopia de que,
numa outra sociedade, todo ser humano teria
assegurado o seu direito a uma morte digna,
porque veria antes respeitado o seu direito a
uma vida digna? Então, aceitando a condição
humana em sua fragilidade e finitude, não mais
se pensaria em vida e morte como termos
opostos. E, nesse quadro, a questão da
eutanásia talvez não se colocasse mais em
primeiro plano nos debates de Bioética.
Por Scarlett Marton
MEDICINA COMO VOCAÇÃO
OU PROFISSÃO?
O estudo da vocação médica abrange desde a
história da profissão, até a personalidade do
profissional, com seus aspectos conscientes e
inconscientes, variáveis como a família, a
origem, a raça e a classe social, além do perfil
econômico. O maior obstáculo para a sua
realização é a inexistência de um instrumento
capaz de abranger todos esses aspectos e,
tampouco, de algum que possa detectar,
especificamente, a vocação médica. Além
disso, é possível que o conceito de vocação
médica seja tão abstrato que comprometa sua
expressão – ou seja, estaria incluído na
categoria dos conceitos inefáveis, assim como
acontece com os sentimentos, dos quais todos
sabem o significado, mas ninguém é capaz de
defini-los, contentando-se em descrever as
situações em que se tornam presentes.
E por que estudar vocação e gênero seria
interessante? Desde a Grécia Antiga proibiu-se
a presença de mulheres na profissão, com
raras exceções. No século XIX uma mulher
surpreendeu a todos ao dar um exemplo de
vocação médica: simulou ser homem para ser
admitida como cirurgiã no exército britânico e
só teve a verdadeira identidade revelada após
sua morte, depois de ter realizado uma carreira
de sucesso!
Com o intuito de estudar a vocação médica e
sua relação com o gênero, realizamos uma
pesquisa com estudantes do primeiro ano da
Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (FMUSP). A grande dificuldade que
enfrentaram para ser aprovados no vestibular,
demonstra, a princípio, a existência de uma
forte determinação para estudar Medicina.
Evidentemente, tal determinação não garante
que todos sejam possuidores de vocação
médica. Além disso, por estarem no início do
curso, esses alunos ainda não haviam sido
influenciados pela faculdade e, por isso, o
aspecto vocacional “puro” poderia ser
observado com maior clareza.
No estudo foram utilizados quatro diferentes
instrumentos de pesquisa, aplicados em 30
alunos e em 30 alunas da FMUSP, com idade
entre 17 e 21 anos. Optou-se por uma
metodologia mista, quantitativa e qualitativa, o
que possibilitou observar a questão vocacional
por diferentes ângulos e a realização de um
estudo de gênero. Inicialmente, aplicou-se um
questionário socioeconômico, seguido de
entrevista sobre a escolha da profissão e de
um teste de personalidade (16 PF). E, no final,
um teste projetivo capaz de detectar aspectos
inconscientes que poderiam estar ligados à
escolha da profissão (TAT – Teste de
Apercepção Temática).
A média de idade foi em 18,5 anos, todos
brasileiros e solteiros, predominando os
nascidos em São Paulo (capital), de religião
católica. Chama a atenção o fato de que 32%
dos alunos declararam-se ateus. A maioria dos
pais e mães desses alunos possui curso
superior e pertence à classe média. Apenas um
dos pesquisados cursou o segundo grau em
escola pública. Aproximadamente 63% dos
alunos têm algum médico na família, apenas
27% conseguiram passar no vestibular em sua
primeira tentativa e poucos (5%) iniciaram,
antes disso, um outro curso superior.
Em geral, alunos de ambos os gêneros optam
pela Medicina precocemente, enquanto que um
número maior de alunos do gênero masculino
identificou-se com alguém para a escolha da
profissão. Quanto às motivações conscientes
para a escolha da profissão, alunos e alunas
destacaram o altruísmo, a curiosidade
intelectual, o interesse pela relação humana e o
perfil da profissão. A maioria procurou obter
informações sobre o curso médico antes do
vestibular, enquanto que 1/3 foi desencorajado
a estudar Medicina por familiares ou amigos,
mas não desistiram. Embora apenas 10%
possuam uma imagem inteiramente favorável
da profissão e acreditem que terão a vida
privada afetada pelo cotidiano profissional, em
geral, as expectativas são otimistas.
Também acham que, durante o curso, terão
dificuldades quanto à falta de tempo, à relação
médico-paciente, ao excesso de matérias, ao
estudo, ao estresse e ao exame de residência.
Para eles o bom médico deve ser altruísta em
primeiro lugar. Além de humano, esforçado,
responsável, humilde, calmo e honesto,
também deve ser habilitado tecnicamente, ter
boa relação com o paciente e gostar da
profissão.
O teste projetivo mostrou que alunos de ambos
os gêneros são altruístas, possuem bom
contato com a realidade, estão elaborando as
perdas inerentes à adolescência, têm uma
expectativa ligada principalmente à realização
profissional e ao reconhecimento pessoal, são
perseverantes e possuem um superego tenaz.
Alunos do gênero feminino possuem maior
maturidade emocional e boa capacidade de
insight, buscam corresponder às expectativas
parentais, possuem grande necessidade de
serem amadas e apresentam uma leve
tendência a quadros depressivos. Por sua vez,
alunos do gênero masculino apresentam maior
dificuldade em lidar com o seu mundo mental,
principalmente com impulsos agressivos, que
são mais intensos, possuem grande
necessidade de diferenciação do pai, são mais
competitivos e ambiciosos, porém inseguros
quanto à própria capacidade.
O teste de personalidade mostrou que as
alunas tendem a ser mais sensíveis, delicadas
e empáticas, enquanto os alunos são mais
práticos, independentes, objetivos e criativos.
Porém, quando se leva em conta todos os
fatores de personalidade estudados, não há
diferença entre os dois grupos. Os dois grupos
estudados apresentaram poucas diferenças e
demonstraram que possuem uma verdadeira
predisposição altruísta hipocrática, que os
levou à escolha da profissão médica.
Conclui-se, finalmente, que a vocação médica
transcende o gênero. No início do século XXI,
quando as atenções estão dirigidas cada vez
mais para os avanços tecnológicos da
Medicina, ficando os aspectos humanísticos em
segundo plano, torna-se premente dar
continuidade ao estudo da vocação médica.
Como perspectiva, seria interessante realizar
estudos comparativos em diferentes escolas
médicas, com alunos de outras áreas e,
também, com vestibulandos.
Mulheres na Medicina
Médicas engravidam tardiamente e têm menor
número de filhos do que o restante da
população, participam menos da vida
acadêmica e de publicações científicas
Até o século XIX, as mulheres eram
consideradas incapazes para o exercício da
profissão médica, possivelmente por suas
características de personalidade, consideradas
frágeis para essa função. Ainda no final do
século XIX, começaram a surgir faculdades de
Medicina exclusivas para mulheres.
Segregadas, era como se não existissem...
O preconceito em relação a elas era tanto que
para ter chance de concorrer a prêmios
científicos, enviavam trabalhos com
pseudônimos masculinos porque as
sociedades médicas não as aceitavam. Além
disso, as cátedras das universidades eram
ocupadas exclusivamente por homens,
médicas não eram admitidas nos bons
hospitais e tampouco em especialidades como
cirurgia, ortopedia e urologia entre outras.
Foi apenas a partir da segunda metade do
século XX que, gradativamente, as mulheres
tornaram-se mais presentes na Medicina.
Porém, apesar de apresentarem desempenho
acadêmico tão bom quanto os homens,
continuam a ser alvo de preconceito até os dias
de hoje. A leitura de extensa bibliografia para
elaborar a tese sobre a vocação médica,
permitiu conhecer um pouco sobre as
condições em que as mulheres exercem a
Medicina. Felizmente, não foi mais preciso
chamar a polícia para que pudessem assistir às
aulas, mas são boicotadas em muitas
especialidades, ganham menos do que seus
colegas homens e raramente exercem funções
de destaque no mundo acadêmico.
Para piorar, não é raro que sejam vistas com
maior desconfiança pelos pacientes quando
exercem determinadas especialidades, como a
cirurgia. Sobrecarregadas, engravidam
tardiamente e têm menor número de filhos do
que o restante da população, participam menos
da vida acadêmica e de publicações científicas,
recebem menos apoio de seus superiores e
progridem, diante disso tudo, mais lentamente
na profissão. É interessante observar que,
enquanto em outras áreas já se discute o
impacto que as conquistas das mulheres
provocaram na população masculina, há,
ainda, na profissão médica, uma grande
resistência para aceitar as mulheres, sem
discriminá-las.
LIGA
Você vê uma modelo linda e magra desfilando
e quer ter aquele corpo. Para isso, deixa de
comer ou vomita tudo o que você come.
Quando isso acontece, está na hora de
procurar ajuda de um médico, pois o problema
pode ficar sério. Alguns hábitos alimentares
são considerados doentios, pois causam
problemas na saúde física, emocional e mental
da pessoa. E engana-se quem pensa que os
distúrbios alimentares são transtornos
modernos. A anorexia, por exemplo, começou
a ser identificada na Idade Média, onde várias
moças deixavam de comer para entrar em
comunhão com Deus e por isso eram
santificadas.
No livro Do altar às passarelas da anorexia
santa à anorexia nervosa , a psicanalista
Cybelle Weinberg e o psiquiatra Táki Cordas,
autores do livro, relatam que depois da Idade
Média, a Igreja começou a ver com maus olhos
o caso das santas jejuadoras e o hábito caiu
em desuso. Histórias à parte, esses transtornos
afetam hoje cerca de 1% da população
mundial, sobretudo mulheres adolescentes.
Anorexia:
A endocrinologista do Centro Clínico da
PUCRS, Patrícia Santafé, explica que a
anorexia ocorre mais frequentemente em
adolescentes e jovens que estão em fase de
busca de sua personalidade. Geralmente,
neste período, o adolescente tem dificuldade
em definir o corpo. Este distúrbio ocasiona um
medo incontrolável de engordar. As meninas
deixam de comer mesmo estando magras ,
diz. O quadro consiste na perda voluntária de
peso. Pessoas com anorexia nervosa sempre
possuem o peso abaixo do normal e recusam-
se a se alimentar de forma correta, negando os
riscos que correm na ausência de uma
alimentação saudável. Para avaliar esta perda
exagerada de peso, usa-se o cálculo do IMC
(índice de massa corpórea, que é igual ao peso
dividido pela altura ao quadrado). Por exemplo,
uma mulher normal o índice varia de 18 a 25, já
no anoréxico o número pode ser abaixo de 17,
ou seja, é gravíssimo. A palavra que define a
anorexia é medo. Medo de engordar ou de ficar
igual a alguém da família que tenha sobrepeso
leve. E até mesmo para se inserir em um grupo
de amigos, que não aceitam a 'gordura' ,
lembra. A médica explica que o tratamento
para o distúrbio não é fácil, mas pode dar
resultado: não existe um tratamento objetivo.
Não há medicações específicas para curar a
anorexia e, sim, um tratamento multidisciplinar,
que abrange psicólogos, endocrinologistas e
nutricionistas , explica. Em alguns casos, a
psicoterapia pode ajudar a melhorar a visão
que se tem do seu próprio corpo, mas é um
transtorno que exige paciência, cautela e
perseverança, já que na cabeça do anoréxico,
é certo não comer . A anorexia pode causar
vários problemas de saúde como:
• Palidez;
• Pele seca e amarelada;
• Desnutrição;
• Tonturas;
• Alterações hormonais;
• Perda do apetite sexual;
• Queda de cabelo;
• Maior chance de ter infecções devido a
falta de nutrientes no organismo;
• Alteração na memória;
• Amolecimento dos dentes;
• Infertilidade.
É bom lembrar que a reintrodução dos
alimentos na dieta dos anoréxicos deve ser
gradativa, principalmente pelo fato do equilíbrio
calórico da nova dieta. Aconselha-se, às vezes,
que seja feita a internação hospitalar, para que
a ingestão das calorias sejam acompanhadas
por um nutricionista.
Bulimia:
Neste caso, não é a magreza excessiva que
chama atenção, muitas vezes é exatamente o
contrário. Alguns bulímicos comem grandes
quantidades de calorias. Uma pessoa normal,
por exemplo, come, em média, 2 mil calorias
durante o dia, já um bulímico, pode,
aproximadamente, comer até 4 mil calorias em
uma única refeição, o que é muito , explica
Patrícia. Quem sofre com este problema,
ingere uma quantidade exagerada de comida e,
logo em seguida, vomita o que comeu. Devido
ao grande volume alimentar, a pessoa não
conseguem eliminar 100%, não ocorrendo
necessariamente perda ou ganho de peso
diz. E isso pode acontecer por vários fatores
como explica a endocrinologista: Às vezes
acontecem alguns fatos na vida desta pessoa e
ela acaba descontando na comida aquele
problema que deixou ela em desequilíbrio, em
depressão e ansiosa , explica. Se a palavra
que define a anorexia é medo de comer, no
caso da bulimia, é compulsão alimentar
seguida de culpa. Culpa por comer demais e
por engordar. Mas as meninas bulímicas
muitas vezes tem um peso normal ou estão
com sobrepeso . O uso indiscriminado de
laxantes e diuréticos, o não tratamento de
distúrbios depressivos, de ansiedade, vômitos
autoinduzidos e, em alguns casos, auto-
mutilação são alguns dos sintomas da doença.
A especialista afirma que o tratamento para a
bulimia é mais fácil do que a anorexia.
Geralmente é feito com terapias e uso de
medicamentos como ansiolíticos,
antidepressivos e remédios para evitar esta
compulsão alimentar , diz.
A prevenção da bulimia e anorexia pode ser a
melhor maneira de a combater, no entanto,
ninguém sabe a melhor maneira de prevenir
estes distúrbios alimentares. Mas algumas
regras de estilo de vida podem fazer reduzir o
risco de uma pessoa desenvolver a doença,
pois muitos factores podem influenciar o
desenvolvimento o seu desenvolvimento,
incluindo a genética que não se escolhe.
Comer saudavelmente e manter uma boa
saúde mental é fundamental. Ter um equilíbrio
saudável na vida significa que uma pessoa é
capaz de equilibrar o trabalho / escola na sua
vida pessoal, deve-se conciliar uma
alimentação saudável e exercício com uma
quantidade apropriada de descanso e
relaxamento.
A educação e estar consciente sobre os
distúrbios alimentares podem ajudar a
identificar precocemente os problemas e
oferecer mais probabilidades no tratamento de
distúrbios alimentares.
Como fazer a prevenção da bulimia e
anorexia:
• Ter uma educação e sensibilização para a
doença e os riscos associados
• Ter um conhecimento e hábitos alimentares
saudáveis
• Cultivar uma imagem positiva do corpo
• Sentir-se bem psicologicamente
• Reduzir os factores de stress
• Conciliar o descanso com a escola ou o
trabalho.
• Desenvolver amizades
Pais, familiares e amigos podem prevenir
um distúrbio alimentar, tomando estas
medidas:
• Não inserir tendências que leve ao
perfeccionismo
• Gostar do seu filho incondicionalmente
• Elogiar o seu talento e capacidades
• Não enfatizar a boa aparência como a coisa
mais importante na vida
• Monitorizar os tempos stressantes na vida do
seu filho
• Apoiar os seus sonhos e esperanças
• Incentivar a praticar actividades ou passantes
que o seu filho mostre interesse
• Promova uma boa saúde, que inclui uma dieta
sensata, exercícios e actividades agradáveis.
• Tentar compreender o seu filho enquanto é
jovem
• Ter uma intervenção precoce se os factores de
risco foram identificados
• Os disturbios alimentares muitas vezes
afectam os indivíduos com baixa auto-
estima e uma auto-confiança baixa, e
que se sentem reprimidos pela vida.
Essas pessoas muitas vezes fazem
corresponder a magreza e o físico como
sucesso.
• Se sentes ou sabes de alguém que pode
ser susceptível a um distúrbio alimentar
deves contactar o seu médico ou um
profissional de saúde mental qualificado
para obter mais informações e
aconselhamento.
HUMOR MÉDICO
MEU CORPO, SUAS REGRAS.
A QUESTÃO DO ABORTO.
No Brasil, o aborto é crime. A prática só é
admitida (não é punida) em casos de estupro
ou riscos à vida da mulher. A descriminalização
vem sendo reivindicada pelo movimento de
mulheres e outras forças sociais. Mas a
proposta está longe do consenso. Setores da
sociedade ligados a diversas religiões são
contrários à idéia e vão mais além: defendem o
aprofundamento das punições e a proibição da
prática, inclusive em casos de estupro.
O debate é acirrado e tem se caracterizado por
posições que oscilam entre o direito à vida do
feto e o direito à autonomia reprodutiva da
mulher. A questão é delicada e as reflexões se
multiplicam, envolvendo concepções de valores
morais e religiosos, o funcionamento do
sistema público de saúde e o desenvolvimento
de políticas sociais . No centro das discussões
estão premissas jurídicas e científicas e o
ponto de vista da genética e da medic
"O aborto gera mais desacordo político e social
do que qualquer outro assunto", diz o diretor-
geral da Federação Internacional de
Planejamento Familiar (IPPF, na sigla em
inglês) no relatório Morte e Negação:
Abortamento Inseguro e Pobreza, divulgado em
maio de 2007 no Brasil. Para ele, o tema é
singularmente passional e complicado em
muitos países, às vezes sem espaço para a
discussão equilibrada. "É necessária e urgente
a discussão aberta e informada para resolver
as injustiças que fundamentam as causas e
conseqüências do abortamento inseguro",
defende, na introdução do mais recente
panorama mundial sobre o assunto.
O abortamento inseguro é reconhecido pela
comunidade internacional como um grave
problema de saúde pública desde a década de
1990. O termo "inseguro" é definido pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) como o
procedimento para interromper a gravidez não
desejada realizado por pessoas sem as
habilidades necessárias ou em um ambiente
que não cumpre com os mínimos requisitos
médicos, ou ambas as condições. Segundo o
relatório, ocorrem aproximadamente 211
milhões de gravidezes anuais em todo o
mundo; 87 milhões de mulheres engravidam de
maneira não intencional e, desse total, 31
milhões resultam em abortamentos
espontâneos ou em natimortos; 46 milhões de
gravidezes terminam em abortamento induzido,
sendo que 19 milhões são feitos de forma
insegura, implicando 70 mil mortes maternas.
Ainda de acordo com o estudo feito pela
entidade, mais de 96% das mulheres mortas ou
prejudicadas por abortos inseguros vivem nos
países mais pobres do mundo.
A América Latina registra 17% do total de
abortos clandestinos realizados no mundo
inteiro, a África, 58%. O Brasil aparece no
relatório com uma das maiores taxas da
ocorrência entre os países em vias de
desenvolvimento. O estudo da IPPF não
apresenta números absolutos de mortes
maternas decorrentes de aborto no Brasil, em
razão da subnotificação. Baseado em
estimativas, o documento aponta que o aborto
inseguro é responsável por 9,5% das mortes
maternas diretamente relacionadas à gravidez
no país. Dados do Ministério da Saúde
mostram que o aborto é a quarta causa de
óbito materno e a curetagem (raspagem uterina
feita após abortos), o segundo procedimento
obstétrico mais praticado no Sistema Único de
Saúde (SUS), superado apenas pelos partos.
Em 2004, cerca de 240 mil mulheres foram
atendidas nos hospitais públicos por
complicações derivadas de abortos. Em 2006,
o SUS registrou 2.200 abortos e 220 mil
curetagens. Segundo o ministro da Saúde,
José Gomes Temporão, não é possível saber
quantos desses procedimentos foram
resultantes de aborto em situação insegura,
mas o número indica que o assunto tem de ser
discutido dentro de uma política de direitos
sexuais e reprodutivos (veja quadro Política
nacional de planejamento familiar). O ministro
tem insitado a sociedade brasileira a debater o
tema como problema de saúde pública. Em
abril de 2007, defendeu a realização de um
plebiscito para decidir se essa prática deveria
ou não ser legalizada.
O Projeto de Lei (PL) que propõe a
descriminalização do aborto é o 1.135/91, de
autoria dos ex-deputados petistas Eduardo
Jorge e Sandra Starling. O projeto revoga o
artigo 124 do Código Penal, que prevê
detenção de um a três anos para "a gestante
que provocar aborto em si mesma ou consentir
que outro o faça". Junto a esse PL estavam
dezesseis outras proposições que foram
desapensadas, permanecendo apenas o PL
176, de 1995, proposto pelo deputado José
Genoíno (PT/SP), que permite o aborto por
livre opção da gestante até o nonagésimo dia
de gravidez e obriga a rede hospitalar pública a
realizar o procedimento.
Em 2007, o PL 1.135/91 foi discutido em três
audiências públicas na Comissão de
Seguridade Social e Família (CSSF). Em
novembro, o relator do PL, deputado Jorge
Tadeu Mudalen (DEM-SP) apresentou parecer
rejeitando a proposta. Depois de ser votado
pela (CSSF), o projeto seguirá para a
Comissão de Constituição e Justiça e irá para
votação no plenário da Câmara dos Deputados,
onde tramita há 17 anos (veja quadro Projetos
de Lei).
O RECENTE ESTUDO
Abortamento, um grave problema de saúde
pública e justiça social, elaborado pela
Organização não-governamental Ipas (o que
é?) e o Instituto de Medicina Social da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(IMS/UERJ), avaliou a magnitude desse
procedimento no Brasil e reuniu informações
sobre onde e para quem o abortamento
inseguro representa um grave risco à saúde.
Realizado pelos pesquisadores Leila Adesse,
mestre em Saúde da Mulher e da Criança e
diretora da Ipas/Brasil, Mário F.G. Monteiro,
Ph.D. em Demografia Médica e professor
IMS/UERJ, e Jacques Levin, analista de
sistema do Datasus e doutorando em Saúde
Coletiva do IMS, o estudo mostra a incidência
do aborto nas diferentes regiões e evidencia as
diferenças socioeconômicas, culturais e
regionais. Revela, por exemplo, que, em
comparação com as mulheres do Sul, as que
vivem no Nordeste e Centro-Oeste estão
expostas ao dobro de riscos de seqüelas e de
mortalidade em conseqüência do aborto
clandestino, e a população de mulheres negras
e pardas está submetida a um risco de
mortalidade em conseqüência de abortamento
inseguro três vezes maior em relação ao que
acomete as mulheres brancas.
Segundo os pesquisadores, as mulheres em
situação de aborto incompleto ou com
complicações, geralmente, sentem
constrangimento e/ou medo em declarar a
situação nos serviços de saúde, resultando em
subnotificação. Não é difícil presumir que, ao
juntar tal constrangimento à falsa idéia de que
abortar é sangrar, muitas mulheres enfrentam
graves hemorragias, não procuram um serviço
de saúde e sangram até morrer. A pesquisa
mostra que entre os fatores de maior risco
estão quedas, socos, atividades físicas
excessivas, substâncias cáusticas (cloro, cal,
sais de potássio) inseridas na vagina e objetos
pontiagudos (arame, agulhas de tecer, cabides,
entre outros) inseridos no útero.
O ESTUDO CONSTATOU que a tipificação do
aborto como um delito não desestimula o
procedimento. Pelo contrário, as práticas de
risco prosseguem e se intensificam, como
declarou o Comitê sobre a Eliminação da
Discriminação contra a Mulher das Nações
Unidas (Comitê) (CEDAW), em sua 39.ª
sessão, realizada em Nova York em agosto de
2007. Os autores da pesquisa sugerem que o
problema da gravidez não desejada seja
enfrentado por políticas públicas que
reconheçam os direitos humanos reprodutivos
das mulheres. "Que se incluam aí os homens",
dizem eles, e criem, nos municípios brasileiros,
a cultura de ações de educação sexual e de
atenção à anticoncepção.
Segundo a socióloga Dulce Xavier, integrante
da coordenação da entidade Católicas pelo
Direito de Decidir (CDD), criminalizar a mulher
por interromper uma gravidez indesejada é
uma grande injustiça, considerando que, na
maioria das vezes, as condições não permitem
que ela se utilize de quaisquer meios para se
prevenir. "O acesso à informação e aos
métodos contraceptivos não estão garantidos;
o índice de violência doméstica e sexual é
muito alto - a cada segundo uma mulher sofre
alguma forma de violência no Brasil -, o
mercado de trabalho simplesmente descarta
mulheres com filhos, o Estado não garante o
apoio para o cuidado e educação. Diante disso,
a descriminalização do aborto é uma questão
de justiça social", defende.
"Do ponto de vista religioso, entre os valores
cristãos mais propagados e aceitos estão o não
julgamento, o amor ao próximo e a
solidariedade. Baseadas nisso, acreditamos
que a mulher - personagem de um contexto
social tão desigual e injusto como o nosso -
não precisa de julgamento e/ou cadeia, e sim
de acolhimento e respeito, com a atenção
digna que todo ser humano merece", sustenta
a socióloga. Ela acredita que uma forma de
reduzir as mortes por aborto e o próprio
procedimento é oferecer condições para que as
mulheres sejam atendidas no sistema de saúde
público e tenham uma prática de planejamento
da reprodução.
A personalidade civil começa com o
nascimento, mas os seus direitos estão
garantidos desde a concepção
EM SEU VOTO
A favor da liberação desses estudos, na sessão
do SFT de 5 de março, o ministro Carlos Ayres
Britto, relator da Adin, foi objetivo: "O embrião é
o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é
a pessoa humana", e "não há pessoa humana
embrionária, mas embrião de pessoa humana".
Ele definiu o conceito de criança, citando o
Estatuto da Criança e do Adolescente, que
afirma ser criança a pessoa que ainda não
atingiu os 12 anos de idade, a contar "do
primeiro dia de vida extra-uterina".
Esse assunto, porém, não é consensual no
meio jurídico. A Associação Brasileira dos
Magistrados Espíritas (Abrame) - que congrega
ministros dos Tribunais Superiores,
desembargadores, juízes federais e estaduais
de todo o Brasil, defende o direito à vida como
o primeiro dos direitos naturais com base em
argumentos, de acordo com seu
presidenconsagrados por legislações de todos
os povos civilizados. Baseado no artigo 5.º da
Constituição e nos artigos 1.º e 2.º do Código
Civil, ele afirma que "a personalidade civil
começa com o nascimento, mas os seus
direitos estão garantidos desde a concepção,
exatamente como proclama o pacto de São
José da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, ratificado pelo Brasil, em 1992".
Segundo o juiz, o artigo 1798 da Lei Civil
dispõe que a pessoa já concebida legitima-se,
tal qual a pessoa nascida, no momento da
abertura da sucessão. "Nascido ou não
nascido, o ser humano, como pessoa, é sujeito
de direitos. A pessoa não nascida pode receber
doação; ser reconhecida como filho antes do
nascimento; tem direito à indenização por dano
moral, no caso de ofensa à sua integridade
física e moral; tem, enfim, direito a alimentos, à
imagem e à honra."
SALVAGUARDAR os direitos do nascituro não
significa conferir-lhe capacidade processual,
tampouco elevá-lo à condição de pessoa",
disse a professora Samantha Buglione, mestra
em direito e membro do Comitê Latino-
Americano e do Caribe para a Defesa dos
Direitos da Mulher (CDD) em artigo publicado
no jornal Correio Braziliense, em 26 de
novembro de 2007. Segundo explicou, o que a
lei faz é assegurar que os genitores possam
defender possíveis direitos do nascituro. "Trata
se, na verdade, de uma conseqüência dos
direitos reprodutivos dos genitores. Quem tem
o direito é a mulher, o homem ou o casal, e não
o feto; ele só tem expectativa de direito",
assegura.
"O Código Civil não trata de um 'direito à vida',
tampouco define que o feto tem personalidade
jurídica; ele se refere apenas à proteção de
direitos que estão condicionados ao
nascimento com vida. Isso é completamente
diferente do reconhecimento de uma
personalidade apenas pelo critério da
existência da potencialidade de nascer. O
ponto é que não há consenso na doutrina
jurídica sobre o início da vida, tampouco há
norma jurídica que traga essa definição. O
direito não informa o que é a vida, apenas
define o que é morte: morte é a morte
encefálica, conforme a Lei 9.434/97 (Lei de
Transplantes)", sustenta a mestra em direito.
"Como avaliar a definição de vida entre um
embrião ou feto e uma mulher? questiona o
teólogo Leonardo Boff , no artigo O processo
da vida e o aborto, publicado em 19 de março,
no site da CDD, em que diz: "Se inserirmos a
vida no processo global da evolução, não nos
podemos contentar com essa visão assumida
oficialmente pela Igreja nos dias atuais".
"Na Idade Média, não era assim, pois para
Tomás de Aquino a humanização começava
apenas após 40 dias da concepção. A Igreja,
para efeito de sua ética interna, pode
estabelecer um momento da concepç
aziliense, em 26 de
novembro de 2007. Segundo explicou, o que a
lei faz é assegurar que os genitores possam
defender possíveis direitos do nascituro. "Trata-
se, na verdade, de uma conseqüência dos
direitos reprodutivos dos genitores. Quem tem
mulher, o homem ou o casal, e não
o feto; ele só tem expectativa de direito",
"O Código Civil não trata de um 'direito à vida',
tampouco define que o feto tem personalidade
jurídica; ele se refere apenas à proteção de
direitos que estão condicionados ao
nascimento com vida. Isso é completamente
diferente do reconhecimento de uma
sonalidade apenas pelo critério da
existência da potencialidade de nascer. O
ponto é que não há consenso na doutrina
jurídica sobre o início da vida, tampouco há
norma jurídica que traga essa definição. O
direito não informa o que é a vida, apenas
que é morte: morte é a morte
encefálica, conforme a Lei 9.434/97 (Lei de
Transplantes)", sustenta a mestra em direito.
"Como avaliar a definição de vida entre um
embrião ou feto e uma mulher? questiona o
teólogo Leonardo Boff , no artigo O processo
a e o aborto, publicado em 19 de março,
no site da CDD, em que diz: "Se inserirmos a
vida no processo global da evolução, não nos
podemos contentar com essa visão assumida
oficialmente pela Igreja nos dias atuais".
"Na Idade Média, não era assim, pois para
Tomás de Aquino a humanização começava
apenas após 40 dias da concepção. A Igreja,
para efeito de sua ética interna, pode
ncepção da
vida humana. Mas ela deve estar consciente de
que está entrando num campo no qual não tem
competência específica, o campo da ciência.
Se entendermos a vida como um processo
cósmico que culmina na fecundação do óvulo,
então devemos cuidar de todos os processos
necessários para a emergência da vida, como
a infra-estrutura ambiental e social. (...) Nã
para pensar a vida humana fora do contexto
maior da vida em geral, da biosfera e das
condições ecológicas que sustentam o
processo inteiro", discorreu o teólogo.
E assim, na difícil tarefa de abordar o assunto,
tenta-se analisar todos os lados da moed
chegar nunca a um consenso ou julgamento
adequado que possa ser embasado em uma lei
que assegure o direito da mulher e do feto. O
tabu do aborto está longe de ser solucionado,
seja no campo moral ou na prática social.
CAFÉ DO
Alejo Garcia - Al lado del Mini CentroCiudad del Este +595 39 393939
vida humana. Mas ela deve estar consciente de
que está entrando num campo no qual não tem
etência específica, o campo da ciência.
Se entendermos a vida como um processo
cósmico que culmina na fecundação do óvulo,
então devemos cuidar de todos os processos
necessários para a emergência da vida, como
estrutura ambiental e social. (...) Não dá
para pensar a vida humana fora do contexto
maior da vida em geral, da biosfera e das
condições ecológicas que sustentam o
processo inteiro", discorreu o teólogo.
E assim, na difícil tarefa de abordar o assunto,
se analisar todos os lados da moeda sem
chegar nunca a um consenso ou julgamento
adequado que possa ser embasado em uma lei
que assegure o direito da mulher e do feto. O
tabu do aborto está longe de ser solucionado,
seja no campo moral ou na prática social.
Al lado del Mini Centro