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Kukukaya POESIAS

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Kukukaya POESIAS

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Kukukaya POESIAS

Editor José Ivam Pinheiro

Diretor geral Alfredo Neves

Conselho Editorial Thiago Gonzaga

Dalvaci Neves

João Andrade

Fátima Viana

Járdia Maia

Ozany Gomes

Francisco Ramos

PSEUDÔNIMO: Nísia Floresta Brasileira Augusta Dionísia Gonçalves Pinto - Educadora, poetisa e escritora

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Kukukaya POESIAS

Eugen Berthold Friedrich Brecht - BERTOLD BRECHT Poeta, Dramaturgo e encenador Alemão (1898 – 1956)

EDITORIAL De Nísia Floresta a Bertold Brecht, dos

encantados aos Poetas Vivos do RN, eis que surge

a Kukukaya Poesias, parte integrante da Revista

Kukukaya. Pretendemos a cada seis meses

abrilhantar o site Virtual Cult com poesias de

qualidade que fazem parte da história da

humanidade e da nossa vida na província e no

Estado do RN.

Nesta edição homenageamos o saudoso

poeta José Lucas de Barros, “Magnífico Trovador

do Brasil”, onde oportunamente e de forma grata

deixamos aqui os nossos agradecimentos aos

seus familiares.

Agradecemos ainda aos familiares dos

saudosos poetas encantados Pedro Simões Neto e

João Bosco Campos, que autorizaram a

publicação dos seus belos poemas.

Somos gratos ainda a União Brasileira de

Escritores do RN (UBE - RN), a Academia de

Trovas do Rio Grande do Norte – ATRN, a União

Brasileira de Trovadores – Seção Natal (UBT

Natal), a Academia Norte Riograndense de

Literatura de Cordel – ANLiC, ao Clube de

Trovadores do Seridó – CTS Caicó RN, a

Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande

do Norte – SPVA/RN, a Academia Cearaminense

de Letras e Artes Pedro Simões Neto – ACLA

PSN, a Academia Potengiense de Letras e Artes –

APLA São Paulo do Potengi e a Academia Norte

Riograndense de Letras – ANRL.

Todavia, nasce, com esforços do editor

José Ivam Pinheiro, idealizador e organizador

desta edição, um novo veículo de cultura e

divulgação da arte poética como ferramenta de

transformação da humanidade.

Abraços e agradecimentos a todos que

contribuíram para a realização de mais este novo

projeto.

Alfredo Neves - Diretor Geral

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Kukukaya POESIAS

Pág. 04

SE A SUA LEITURA JÁ ERA ÓTIMA E PRAZEROSA LENDO A

revista

KUKUKAYA

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AGORA SEMESTRALMENTE VOCÊ VAI ACHAR AINDA MELHOR COM A

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NOS MESES DE MAIO E NOVEMBRO A SUA NOVA REVISTA DE POEMAS E ARTES POÉTICAS no sítio: http://www.virtualcult.com.br o seu site multicultural.

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Kukukaya POESIAS

SUMÁRIO Pág. 05 Página

Editorial ....................................................................................................................................................... 03

Seção I – Poeta Homenageado:

1 - MARAVILHOSA POESIA, MAGNÍFICA TROVA: José Lucas de Barros ....................................... 07 - 16 1.1 – Texto: A Maravilhosa Poesia do Magnífico Trovador do Brasil: José Lucas de Barros .................... 09 - 10 1.2 – Poesias: Poemas de José Lucas de Barros ............................................................................................ 11 - 12 1.3 – Texto: Zé Lucas, Um Cidadão do Bem ................................................................................................... 13 1.4 – Poesias: Poemas para Zé Lucas ............................................................................................................. 14 1.5 – Texto: A Magnífica Poesia do Mestre Zé Lucas ..................................................................................... 15 1.6 – Poesias: Poemas para Zé Lucas ............................................................................................................. 15 - 16

1.7 – Poesias: Poemas de José Lucas de Barros ........................................................................................... 16

2 - SELEÇÃO DE TROVAS DE POETAS VIVOS DO RN - A Poesia dos Trovadores Potiguares ..... 17 a 20

2.1 – Poetas e suas Trovas: Deth Haak - Djalma Mota - Expedito Jorge - Eva Yanni Garcia - Francisco Garcia de Araújo (Prof. Garcia) - Hélio Alexandre Souza - Hélio Pedro de Souza - Ieda Lima - Isaac Jordão ......18

2.2 – Poetas e suas Trovas: Israel Segundo - Lucélia Santos - Mara Melinni Garcia - Manoel Cavalcante - Marcos Medeiros - Paulo Caldas Neto - Paulo Roberto da Silva - Pedro Grilo – Professor Maia ........... 19

2.3– Poetas e suas Trovas: Rita Maria - Rosa Regis - Wellington Freitas .............................................................. 20

2.4 – Especial Bônus – Encantados Trovadores Potiguares – ATRN Ademar Macedo – Francisco Macedo – Luiz Rabelo – José Lucas de Barros ............................. 20

Seção II – Coletânea de Poemas – POETAS VIVOS DO RN:

1 – Coletânea de Poemas de Poetas Vivos do RN (52 Poetas) .............................................................. 21 a 50

Página

Adélia Costa ........................................................... 23

Alfredo Neves ......................................................... 23

Aluisio Azevedo Júnior ........................................ 24

Aluízio Mathias ...................................................... 24

Antonio Francisco ................................................ 25

Cefas Carvalho ...................................................... 25

Celso Cruz ............................................................... 26

Ciro José Tavares ................................................. 26

Cláudia Borges ...................................................... 27

Clécia Santos ......................................................... 27

Denise Valentim .................................................... 28

Deth Haak ................................................................ 28

Eduardo Gosson .................................................... 29

Emannoel Iohanan ................................................ 29

Erilva Leite .............................................................. 30

Eva Potiguar ........................................................... 30

Ferreira Fontes ...................................................... 31

Franklin Capistrano .............................................. 31

Geralda Efigênia .................................................... 32

Hercília Fernandes ............................................... 32

Horácio Paiva ......................................................... 33

Jania Souza ............................................................ 33

Janilson Dias de Oliveira ................................... 34

Jardia Maia ............................................................. 34

Jeanne Araújo ........................................................ 35

João Andrade ......................................................... 35

Página

José Acaci Rodrigues ...................................... 36

José de Castro ................................................... 36

José Ivam Pinheiro ........................................... 37

Júnior Dalberto .................................................. 37

Leda Marinho Varela ........................................ 38

Leonam Cunha .................................................... 39

Lívio Oliveira ....................................................... 39

Lúcia Helena Pereira ........................................ 40

Maíra Dal’Maz Pinheiro .................................... 41

Marcos Medeiros ............................................... 41

Marcos Antonio Campos ................................. 42

Manoel Cavalcante ........................................... 43

Maria Dalva Dutra .............................................. 44

Maria Maria Gomes ........................................... 44

Maria das Graças Barbalho B. Teixeira ... 45

Matias Verzutti ................................................... 45

Mário Lúcio Barbosa Cavalcanti ................. 46

Nildinha Freitas .................................................. 46

Ozório Ferreira do Lago ................................... 47

Paulo Caldas Neto ............................................. 47

Rita Cruz ............................................................... 48

Roberto Noir ........................................................ 48

Rosa Regis ........................................................... 49

Salizete Freire Soares ...................................... 49

Sandemberg Oliveira ........................................ 50

Zé Martins ............................................................ 50

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Kukukaya POESIAS

SUMÁRIO (Continuação) Pág. 06

Página

Seção III – Seleção de Poemas – POETAS ENCANTADOS DO RN:

1 – Poemas de Poetas Encantados do RN (11 Poetas) ...................................................................... 51 a 58

Seção IV– Seleção de Poemas – POETAS ENCANTADOS DO BRASIL:

1 – Poemas de Poetas Encantados do Brasil (11 Poetas) ...................................................................... 59 a 66

Seção V– Seleção de Poemas – POETAS ENCANTADOS DO MUNDO:

1 – Poemas de Poetas Encantados do Mundo (11 Poetas) .................................................................... 67 a 74

Especial Bônus – Homenagem aos 90 anos do Poeta THIAGO DE MELO – Os Estatutos do Homem............ 75

Especial Homenagem ao Dia das Mães – Tema: MÃE – Poema de José Lucas de Barros...................Contra-Capa

Página

Auta de Souza ....................................................... 53

Ferreira Itajubá ...................................................... 53

Henrique Castriciano ........................................... 54

João Bosco Campos ............................................. 54

Jorge Fernandes ................................................... 55

José Leão Ferreira Souto .................................. 55

Juvenal Antunes ................................................... 56

Lourival Açucena ................................................... 56

Nísia Floresta ......................................................... 57

Moysés Sesyom .................................................... 58

Pedro Simões Neto ............................................... 58

Página

Alphonsus de Guimaraens ................................. 61

Augusto dos Anjos ................................................. 61

Castro Alves ............................................................ 62

Catulo da Paixão Cearense ................................ 63

Cassimiro de Abreu .............................................. 63

Fagundes Varela ................................................... 64

Gonçalves Dias ...................................................... 64

Machado de Assis .................................................. 65

Mário de Andrade .................................................. 65

Olavo Bilac ................................................................ 66

Raimundo Correia ................................................... 66

Página

Bertold Brecht ....................................................... 69

César Vallejo ........................................................... 69

Edgar Allan Poe ...................................................... 70

Federico Garcia Lorca .......................................... 70

Fernando Pessoa ................................................... 71

Florbela Espanca ................................................... 71

Gabriela Mistral ..................................................... 72

Jose Martí ................................................................. 72

Maiakóvski ............................................................... 73

Miguel Hernández ................................................... 74

Pablo Neruda ............................................................ 74

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Kukukaya POESIAS

Pág. 07 HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL

POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM – POETA MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL

POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL – HOMENAGEM JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM – POETA MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM

MARAVILHOSA POESIA, MAGNÍFICA TROVA:

JOSÉ LUCAS DE BARROS “MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL”

(* 12/03/1934; + 04/12/2015)

HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM – POETA MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL

POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL – HOMENAGEM JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM – POETA MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS – MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL - HOMENAGEM

Pág. 08

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Kukukaya POESIAS

MARAVILHOSA POESIA, MAGNÍFICA TROVA

de José Lucas de Barros

POETA HOMENAGEADO

Textos:

José Ivam Pinheiro – UBE-RN - SPVA/RN Marcos Medeiros - UBT Natal - ANLiC - ATRN José Acaci Rodrigues - ANLiC - SPVA/RN

Poemas do Poeta Homenageado (In Memoriam):

José Lucas de Barros

Poemas para Zé Lucas:

� Trovas:

Deth Haak - UBT Natal - ATRN - SPVA/RN Elisabeth Souza Cruz - UBT Nova Friburgo RJ Manoel Cavalcante - UBT Natal - ANLiC - ATRN Marcos Medeiros - UBT Natal - ANLiC - ATRN Paulo Roberto da Silva - CTS Caicó - ATRN Rosa Regis - UBT Natal - ANLiC - ATRN - SPVA/RN

� Pantum:

José Ivam Pinheiro – UBE-RN - SPVA/RN

Seleção de Poemas, Edição e Organização:

José Ivam Pinheiro (Editor e Organizador)– UBE-RN - SPVA/RN Tarcília Carmina Faria de Barros Bezerra – Filha do Poeta Homenageado. Francisco Garcia de Araújo - ANLiC - CTS Caicó - ATRN - UBT Natal

Agradecimentos Especiais:

9 Família do Poeta José Lucas de Barros. 9 Entidades Literárias e Poetas que colaboram com esta homenagem.

Amanhecer no Sertão – Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no sítio: blogdomendesemendes.blogspot.com.br

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Kukukaya POESIAS

HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS Pág. 09

POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS - HOMENAGEM

A MARAVILHOSA POESIA DO MAGNÍFICO TROVADOR DO BRASIL: José Lucas de Barros.

Escrito por: José Ivam Pinheiro.

“O céu azul de meus sonhos e as flores da mocidade

lembram-me dias risonhos na aquarela da saudade!”.

José Lucas de Barros.

A maravilhosa poesia de José Lucas de Barros era feito, e ainda continuam para a posteridade, da melhor matéria prima que as poéticas inspirações dispõem e utilizam em versos, estrofes e rimas – a palavra lírica simples e bela, que se amalgama nos poemas, tal quais soberanos jeitos que tocam no sentir das mentes e corações. E depois da poesia maravilhosa feita, só tinha uma solução, o saborear da bem feitura no tema apresentado, seja em trovas magnificas, sonetos, hai kais, motes e glosas, poesias de cordel de diversas formas e temas, com suas variações métricas, tais como martelo

agalopado e galope à beira mar, poemas em sextilhas, setilhas, oito pés de quadrão (oitavas) e décimas, além é claro, de muito bem fazer lindos poemas livres, e de alguns anos até o seu encantamento, vinha com muito prazer e contentamento se aventurando com entusiasmo na construção e divulgação de uma forma poética bela chamada pantum, quase sempre utilizando uma trova-

tema selecionada dentre as mais belas dos amigos trovadores, sendo que assim ajudava a divulgar cada vez mais os valores dos poetas trovadores amigos e a bem feita trova.

O pantum é um tipo de poema cujas regras consistem em intercalar versos de forma que o 2º e 4º verso de cada estrofe passem a ser o 1º e 3º verso da estrofe seguinte, numa bem cuidada feitura que culmina no final com a apresentação do último verso do poema, com a repetição do verso que iniciou o pantum. Esta forma poética trata-se de poema de origem malaio, que foi introduzido na Europa por Victor Hugo, sendo que aqui no Brasil foram muito utilizados pelos Poetas Olavo Bilac e Alberto de Oliveira.

Mas, o nosso saudoso amigo Poeta e Mestre Zé Lucas, além de com a sua brilhante mente e dom arquitetar e divulgar a sua qualificadíssima e bela poesia, que se exprime em essência do versejar, também aqui nesta vida terrena, exerceu na plenitude das graças divina, o fazer o bem e amar o próximo, fazendo amizades e semeando amigos, de forma que através da sua extraordinária verve poética se fez parceiro maior da inspiração, e criou lindos poemas durante sua trajetória nesta vida.

Num depoimento a mim, a sua filha, minha amiga e colega de trabalho na Secretaria Municipal de Saúde do Natal - Tarcília Carmina informou que o seu pai, o Mestre Zé Lucas deixou um legado literário de poemas inéditos, equivalente e suficiente para a edição de mais de 27 (vinte e sete) livros de altíssima qualidade.

A poesia fazia parte do viver de José Lucas, que apresentação seu último livro – Pelas Trilhas do Meu Chão – 2014: CJA Edições, ao expressar “Como vejo a poesia”, brinda o leitor com a seguinte declaração:

“Poesia, sentimento que não se traduz, não se

interpreta, não se define. Está na flor, na fonte,

no rio, no sonho, no amor, na vida. Estrofes,

rimas, métrica são formas; poesia é essência. Nasce nos palácios, nas choupanas, nos campos,

nas ruas; não tem pátria, não tem lei, não tem

governo. É liberdade, é sonho, é alegria, é dor, é

revolta, é paz, é amor, é vida. Muitas vezes é chamada e não vem; em outro momento vem

sem ser chamada.”.

O Poeta José Lucas de Barros, pelas graças divinas de Deus, nasceu em 12 de março de 1934, filho de Joaquim Lucas de Araújo e Carmina Maria do Carmo, no Sítio Barro Branco, município de Condado/PB, mas foi batizado e registrado em Serra Negra do Norte/RN, que o acolheu com sua família, bem como posteriormente a cidade de Caicó/RN, e que devido aos vínculos de estima e hospitalidade, ambas foram agraciadas com belos poemas que musicados se tornaram hinos consagrados por todos que conhecem estas belas peças poético-musicais.

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Kukukaya POESIAS

HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS Pág. 10

POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS - HOMENAGEM

A sua trajetória literária se compõe da publicação de 30 títulos, entre cordéis e livros, além é claro da sua herança deixada de 27 inéditos. Se fez advogado, poeta, trovador, escritor e pesquisador de literatura popular, e no mais participou de mais de 40 debates com poetas do RN e do resto do país.

No ano de 2014, José Lucas de Barros conquistou o honroso prêmio da União Brasileira dos Trovadores – UBT de “Magnífico Trovador” em Nova Friburgo, na

categoria “trovas lírico-filosóficas”, premiação esta que

se destinam aos poetas que ficam por três anos consecutivos entre os dez primeiros classificados no Concurso Nacional realizado em Nova Friburgo (RJ), num universo de mais de 2.000 trovas apresentadas.

Ao divulgar o lançamento em maio de 2014, do seu livro “Pelas Trilhas do Meu Chão”, numa entrevista ao jornalista Tiago Rebolo do jornal Potiguar Notícias de Parnamirim/RN, ao ser questionado sobre a variedade de tantas formas poéticas que apresentava nas páginas de sua obra literária, o poeta brincou com muito bom humor, afirmando que: “Eu costumo dizer que é

como um saco de cego: tem feijão de toda cor”, de maneira que na ocasião causou riso a assistência, no caso o poeta Janduhi Medeiros e jornalista José Pinto Júnior presentes no Alpendre do Potiguar Notícias. Na mesma entrevista, o Poeta afirmou ao jornalista, ao tratar do tema da qualidade necessária para um bom poema que: “Não é o verso que faz a poesia; o que faz é a

emoção, o sentimento. Existe por aí muita poesia sem

verso e muito verso sem poesia”, e ainda ementou

dizendo que “Poesia não é para ser interpretada, decodificada; é para ser sentida”, e complementou dizendo que: “Poesia não é para ser interpretada,

decodificada; é para ser sentida”, sendo que na ocasião

reafirmou a sua simpatia pela corrente modernista do verso livre, construção poética que não possui restrição métrica e não se enquadra em critérios pré-definidos.

Também por vontade soberana do Criador Supremo, numa tarde, em 04 de dezembro de 2015, o Poeta fez a sua viagem para a morada celeste de Deus, se encantando, com todo o seu bem da vida aqui vivida e as

graças divinas expressas em outras seletas e magníficas poesias, desta feita, eternamente celestiais, o Mestre Zé Lucas foi versejar no átrio do céu, para residir eternamente no alto.

Aqui na terra fica a sua belíssima obra literária e as saudades da sua postura respeitosa, simples e amiga, de bom pai, tio, avó, enfim, de grande figura humana que no fazer poético, e nas suas lidas diárias muitos amigos e amizades o poeta semeou no seu caminhar na Terra.

E se encanta José Lucas de Barros para ser morador das residências do nosso Deus, Pai Eterno.

No entanto, ficam as saudades do amigo poeta e pesquisador de cultura popular e cidadão integro e digno advogado dessas paragens potiguar, autor das letras/poemas dos belos hinos de Caicó e da família Panelas de Serra Negra do Norte, e foi um dos fundadores, tendo sido o primeiro Presidente do Clube dos Trovadores do Seridó – CTS, bem como Presidente da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte, com amigos em todo o Brasil, devido ao seu talento, respeitabilidade e admiração das boas amizades angariadas junto a União Brasileira de Trovadores – UBT, ficou nacionalmente conhecido, pois conquistou com mérito e foi agraciado, com o concorridíssimo título de Magnífico Trovador do Brasil, na categoria de “trovas

líricas / filosóficas” com láurea no Encontro Nacional da

UBT, ocorrido no final de maio de 2014 em Nova Friburgo – RJ.

PS: A Direção Geral e a Editoria desta Revista agradecem as instituições e pessoas que apoiaram e colaboraram com esta 1ª edição, dentre tantos, as Presidências: da União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte - UBE-RN; da Academia Cearaminense de Letras e Artes Pedro Simões Neto – ACLA Pedro Simões Neto; da Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel - ANLIC; da Academia Potengiense de Letras e Artes – APLA; Clube de Trovadores do Seridó – Caicó/RN; Academia de Trovas do Rio Grande do Norte - ATRN; União Brasileira de Trovadores de Natal – UBT Natal e, aos Poetas da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte – SPVA/RN, bem como um agradecimento especial a família do Poeta homenageado José Lucas de Barros, e família dos Poetas encantados – Pedro Simões Neto e João Bosco Campos.

* José Ivam Pinheiro - Editor da revista KUKUKAYA Poesias. Escritor de crônicas em prosa poética e Poeta de poemas livres, associado da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte (Vice-Presidente – 2013/2015) e União Brasileira dos Escritores – UBE – RN.

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Kukukaya POESIAS

POEMAS DE JOSÉ LUCAS DE BARROS Pág. 11

JOSÉ LUCAS DE BARROS

Trovas

Mais do que fadas e mitos, num cenário encantador, tenho sonhos tão bonitos,

que viram lendas de amor!

Juntei os sonhos dispersos no chão da realidade

e pus na lenda dos versos um poema de verdade!

Encontrei meu grande amor à sombra de um tamarindo... Era a própria vida em flor,

dando vida a um sonho lindo!

Sábio não é quem entende de ciência e de doutrina,

sábio mesmo é quem aprende as lições que a vida ensina.

Se eu, por milagre ou magia,

retornasse à flor da idade, agora, sim, saberia

desfrutar a mocidade!

Onde há praia poluída, presa de interesses loucos,

o mar, que é grandeza e vida, vai perdendo a vida aos poucos!

Eu não sei bem se é loucura,

porém me sinto feliz imaginando a ternura

dos versos que inda não fiz.

Faminta e desprotegida, vagando em busca do nada,

ganha o mundo e perde a vida a criança abandonada.

Mesmo quando a dor persiste,

a trova é tão meiga e santa que o trovador fica triste,

mas chora como quem canta.

Trovas

Afastando espinho e treva

das veredas da velhice, meu sonho sempre me leva aos campos da meninice.

A espera mais desejada,

tem a mulher que engravida: Nove meses mais pesada,

feliz o resto da vida!

Se Deus me fez trovador, não foi para ser tristonho, mas para cantar o amor na alegria do meu sonho.

Em momentos mais risonhos

sei que já fiz trova linda, mas a trova dos meus sonhos

não pude fazer ainda.

A dura realidade que não me dá lenitivo

é que eu morro de saudade, mas, sem saudade eu não vivo.

Poema Livre

SOU O QUE SOU Não sou a causa de nada; talvez somente os efeitos... Um grão de areia na estrada, raiz moída nos eitos... Não quero ser diferente, quero ser eu simplesmente, com todos os meus defeitos. Não sei se vim de algum plano, ou se nasci fora de era; por destino, ser humano, mas ser planta bem quisera, Pra vegetar longo sono, botando frutos no outono e flores na primavera. O bonito juazeiro, lençol de verde folhagem, sempre bom e hospitaleiro, dá colorido à paisagem... Como nós, não sofre tanto; se nunca saiu do canto, também não perdeu viagem. Até a simples raiz, que não tem beleza tanta, não sente, mas é feliz, pela função quase santa de trabalhadora ativa que, no chão, se enterra viva para alimentar a planta. Planta, é certo, não nasci, porque não quis o Senhor; ao contrário do oiti; tenho alma, prazer e dor, e, se guardo a desvantagem, de não ter linda folhagem, posso dar frutos de amor.

Pesquisador e Poeta José Lucas de Barros e dupla de repentistas da poesia de cordel, no I Seminário dos Poetas Potiguares - março de

2011 - SPVA/RN e UFRN – Foto: José Ivam Pinheiro.

Juazeiro – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: www.seivademutambaejua.com.br

Pantum

SONHOS DE CRIANÇA

Trova- tema:

Em meus sonhos de criança, Desejei pescar a lua,

E pus anzóis de esperança Nas poças d’água da rua.

(Delcy Canalles - RS)

Desejei pescar a lua

Pela imagem refletida Nas poças d’água da rua

Que, para mim, tinha vida.

Pela imagem refletida Embalei doce quimera,

Que, para mim, tinha vida Como a flor na primavera.

Embalei doce quimera

Buscando o que sempre quis, Como a flor na primavera,

E fui, de fato, feliz.

Buscando o que sempre quis, Fiz com Deus uma aliança,

E fui, de fato, feliz Em meus sonhos de criança.

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Kukukaya POESIAS

POEMAS DE JOSÉ LUCAS DE BARROS Pág. 12

JOSÉ LUCAS DE BARROS

Pantum

MULHER FORMOSA

Trova- tema:

Mulher, joia primorosa, Sinal de vida e de amor Tens o perfume da rosa E a formosura da flor.

(Djalma Mota - RN)

Sinal de vida e de amor Tens no ventre feminino

E a formosura da flor Marca-te o rosto divino.

Tens no ventre feminino

O dom da humana esperança; Marca-te o rosto divino Um sorriso de criança.

O dom da humana esperança;

Em ti, é santo reflexo: Um sorriso de criança. És, de fato, o belo sexo.

Em ti, é santo reflexo

Essa fragrância de rosa. És, de fato, o belo sexo, Mulher, joia primorosa.

(In: Pelas Trilhas do meu chão – CJA

edições, Natal/RN: 2014)

Trovas

Quando o meu cabelo for da cor da espuma do mar

inda terei muito amor para viver e sonhar.

O passarinho é um menino que desconhece a maldade

e não merece o destino de cantar sem liberdade!

O Potengi deita a lua no seu leito sedutor

e, ao tê-la formosa e nua, mergulha em sonhos de amor.

Ó meu Deus, a chuva avança

e essa chuva continua molhando a pobre criança que está dormindo na rua!

A medicina fracassa

quando pensa ter completa ciência do que se passa

no coração de um poeta.

Quando a jangada flutua sobre as águas, ao luar, é uma lágrima da lua

nos olhos verdes do mar.

Mendigava na avenida, mas não foi tão pobre assim:

tinha o amor de sua vida numa esteira de capim.

Sonetos

A CRIANÇA E AS ESTRELAS

Dormitava a criança com febre junto às margens de doce regato... Um cicio de folhas do mato levantava as orelhas da lebre. Para que na parede não quebre a corrente da rede, em recato a mãe reza ao Senhor, e, de fato, dorme em paz o silente casebre. Apesar do inocente martírio, corre o dia sem febre e delírio... Cai a noite risonha nas telhas, e as estrelas, em hora tão bela, entram pela pequena janela como enxame de louras abelhas!

(In: Pelas Trilhas do meu chão – CJA edições,

Natal/RN: 2014).

Hai Cai’s

Foi-se a primavera, levando as flores mais lindas,

mas o amor espera.

Longe da cidade

dos meus sonhos outonais, resta-me a saudade.

Hoje vi nascer

um lírio cheio de amor: era o amanhecer.

Grito ao Norte e ao Sul:

por que ninguém olha mais para o céu azul?

Mulher e Céu Estrelado - Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no sítio: pixabay.com

Trovas

Esses luminosos traços, que no céu deitam fulgores,

são estrelas ou pedaços de sonhos dos trovadores?

Gravei a frase divina,

que do meu peito não sai, quando a filha pequenina

Me disse: - Eu te amo, meu pai!

Pobre canário indefeso na gaiola, sem um ninho! Mas deveria estar preso

quem prendeu o passarinho!

Quando tranquilas gaivotas me acenam da imensidade

meu coração tira notas no bandolim da saudade.

Jangada - Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no sítio: www.jangadashow.com.br

Ave de Arribaçã - Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no sítio:

faunaefloradorn.blogspot.com.br

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Kukukaya POESIAS

HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS Pág. 13

ZÉ LUCAS, UM CIDADÃO DO BEM.

Escrito por: Marcos Medeiros - ANLiC – UBT Natal – ATRN.

Falar sobre o poeta José Lucas de Barros é fácil, pois se destacou na arte de poetar em todo Brasil e em alguns outros países de língua portuguesa e hispânica. Sobre o homem de caráter, professor, cavalheiro, visionário, religioso, ponderado, pacificador, só pode fazê-lo quem o conheceu de perto. Esta oportunidade ímpar surgiu para mim quando Álvaro Barros, seu filho, acompanhando a esposa, no ensaio do Biochorus (coral que criei na UFRN), ao conversar comigo, sugeriu que eu precisava conhecer o pai, pois tinha certeza que seria do seu agrado.

Não perdi tempo. Em certo domingo do ano de 2007, estando na praia de Pirangi, em visita a amigos, resolvi pedir informações sobre a localização da casa de José Lucas. Os anfitriões informaram e eu rumei, de imediato, para o endereço obtido. Foi fácil. Parecia até que Deus me guiava naquele momento. Lembro como se fosse hoje que, naquela oportunidade, ocorria uma reunião de amigos e familiares, que depois pude descobrir que fazia parte da rotina domingueira daquele que viria a se tornar um grande amigo.

Entre tantos convidados e pessoas queridas, ali estava, Zé de Souza, seu amigo de infância, com o qual chegara a formar dupla na viola cantada pelos sertões seridoenses. Após ser apresentado a todos e ouvir o relato de Zé Lucas e do amigo sobre causos, além de um rico recital poético de ambas as partes, ousei mostrar um pequeno cordel que eu fizera. Tive a felicidade de ser ouvido pela distinta plateia e, para minha surpresa e gratificação, ouvi a aprovação de José Lucas. Dali para frente, as visitas ficaram frequentes e nossos laços de amizade se estreitaram.

Em pouco tempo eu era convidado por José Lucas, com o aval do meu “quase conterrâneo”

Ademar Macedo, para concorrer a uma vaga na Academia de Trovas do Rio Grande do Norte. Aprovado em sessão solene e empossado

posteriormente, tornei-me confrade e depois liderado de José Lucas, visto que se tornou Presidente da egrégia Academia.

Relembro aqui, com muita alegria, do dia em que estando viajando recebi a ligação de José Lucas para noticiar-me que eu havia sido premiado em meu primeiro concurso de trovas. Sua vibração era tremenda, que dela se podia aquilatar o altruísmo daquele que já era uma excelente referência para mim e tantos outros que puderam desfrutar da sua amizade.

Ah, falando de viagens, quantas fizemos juntos, eu, minha esposa, ele e sua esposa Rose, quando em muitas delas fui dirigindo o carro dele para ter a oportunidade de aproveitar, ao máximo a sua conversa agradável e mansa. Um dos nossos destinos preferidos era o seu Seridó, mais precisamente Caicó, onde José Lucas estudou e residiu durante boa parte da sua juventude e idade adulta.

Tenho orgulho desse amigo que combinava e discordava de mim com a mesma gentileza, sempre com seu sorriso presente. Teria muito mais coisas a dizer sobre o amigo, mas faço questão de encerrar dizendo que ele foi o amigo, mestre e companheiro, das horas boas e das horas difíceis. Pela sua simplicidade e bom trato com as pessoas, e comigo em especial, é que digo: pude conviver e desfrutar da amizade de um santo homem a quem amei como um pai e a quem chamei carinhosamente de ZÉ LUCAS.

PS.: Escrevi este texto ouvindo o CD, da pianista Nalva Nóbrega,

com o qual Zé Lucas me presenteou dizendo ser de uma grande amiga sua. Pena que não tivéssemos podido conversar, os três juntos, numa boquinha de noite, pois só vim a conhecer Nalva,

depois do falecimento de Zé Lucas.

* Marcos Medeiros – Poeta Cordelista e Trovador, sócio efetivo da Associação Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel – ANLiC/RN e Membro associado da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte – ATRN e União dos Trovadores do Brasil – Seção Natal – UBT Natal.

JOSÉ LUCAS DE BARROS - HOMENAGEM

Pôr do Sol – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: www.poemasefrases.com.br

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Kukukaya POESIAS

POEMAS DE JOSÉ LUCAS DE BARROS Pág. 14

JOSÉ LUCAS DE BARROS

Trovas

Sei que deste mundo lindo vou partir só não sei quando, mas quero morrer dormindo para entrar no céu sonhando.

Aquela estrela distante

que guarda o encanto de um mito parece meu sonho errante

nas veredas do infinito.

Carcará desce do pico, pega a vítima e condena,

pois, sendo de pena e bico, bica e mata sem ter pena.

Sábio não é quem entende de ciência e de doutrina,

sábio mesmo é quem aprende as lições que a vida ensina.

Quando revi, monte a monte,

os campos de minha terra, parece que a alma da fonte cantava no altar da serra.

Foram tão duros os trilhos

que pisei até aqui, mas peço a Deus que meus filhos

não sofram como eu sofri!

Cascudo, ao fim do milênio morreu, mas deixou seu rastro,

a terra perdeu um gênio, o céu ganhou mais um astro.

No rancho que me agasalha não tenho dias tristonhos: deito na esteira de palha

e a musa me embala os sonhos!

O colibri, pra mostrar toda a leveza do amor,

se mantém suspenso no ar enquanto beija uma flor.

No rancho que me agasalha não tenho dias tristonhos: deito na esteira de palha

e a musa me embala os sonhos!

Eu bebo o néctar da oferta que Deus manda para mim,

no cálix da flor aberta do lírio de meu jardim.

Casa no Céu - Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada.

Disponível no sítio: humbertodealmeida.com.br

Poema Livre

MINHA SAUDADE**

Minha saudade Vem das bandas do sertão,

da cidade pequenina onde está meu coração.

O rio, alegre,

vem cantando lá da serra, as antigas melodias

das canções de minha terra.

Noite de lua, a pracinha estava em flor com estrofes perfumadas, inflamando o trovador.

Dia de festa,

toca o sino na matriz, acordando as esperanças

de outro mundo mais feliz.

A gente cresce, ganha as rotas do destino,

mas, nas horas de saudade, nasce outra vez o menino.

Minha saudade

vem das bandas do sertão, da cidade pequenina

que eu guardei no coração.

*Musicado por Carlos Zens. Natal/RN, 11.11.1990.

**(In: Pelas Trilhas do meu chão – CJA edições, Natal/RN:2014)

Poema Livre

MEU PIÃO**

Meu pião Rodou, Rodou,

Até C A I R

Tonto, Cambaleante.

A terra Gira, Gira

Eternamente, Mas Não C A I

Porque não tem onde cair.

Poema Livre

SONHO**

Meu Sonho

Se Derramou

No Cálice Vazio

Do Amanhecer.

Brincando com o pião - Imagem sem

identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no sítio: www.folhadaestancia.com.br

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Mestre José Lucas, ladeados pelos Poetas José Acaci e Ivam Pinheiro em debates no I Seminário

dos Poetas Potiguares – 2011 – SPVA/RN – foto: Deth Haak.

HOMENAGEM – POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS Pág. 15

POETA – JOSÉ LUCAS DE BARROS - HOMENAGEM

A MAGNÍFICA POESIA DO MESTRE ZÉ LUCAS

Escrito por: José Acaci Rodrigues – Presidente ANLiC.

“O amor e o sonho, querida, são graças que Deus nos deu... Quem não ama não tem vida, quem não sonha já morreu.”

José Lucas de Barros.

Estar na presença de um mestre é usufruir de um privilégio. Mestre é aquele que ensina, e a quem os seus discípulos dedicam verdadeira alegria simplesmente por estar na sua presença, pois sentem ao seu redor uma aura de conhecimento e de energia boa. Assim era estar na presença de José Lucas de Barros.

E assim, de repente, o amigo José Ivam Pinheiro me pede para escrever algumas linhas sobre este homem a quem eu sempre chamei de Mestre Zé Lucas. Homem franzino, de fala educada e compassada. Um manancial de conhecimento e cultura. Já o conheci aposentado e dedicado à poesia e a trova, e especialmente ao estudo das obras de grandes repentistas nordestinos.

Como muitos que o conheceram, virei seu fã ao primeiro contato. Trovador, poeta, escritor e advogado, autor dos hinos do Centenário de Caicó e dos “Panelas”, de Timbaúba dos Batistas.

Mestre Zé Lucas nasceu em Condado/PB, aos 12 de março de 1934, mas foi registrado e batizado em Serra Negra do Norte/RN. Autodidata do primário, ele fez o curso secundário em Caicó e o superior em Caruaru/PE, em Direito.

Extremamente habilidoso em todos os gêneros poéticos, publicou “Cantigas do Meu Destino” – trovas (1974), “Repentes e Desafios”

(1985) e muitos outros livros, folhetos e cadernos escritos em duetos com grandes nomes da poesia popular nordestina. Um dos dirigentes mais atuantes da ATRN (Academia de Trovas do Rio Grande do Norte).

Em 2014 conquistou o honroso título de “Magnífico Trovador”,

em Nova Friburgo, na categoria “trovas lírico-filosóficas”. Encantou-se no dia 04 de dezembro de 2015, deixando um vazio enorme no coração daqueles que o conheceram e um nome que será eternamente lembrado na história da poesia potiguar.

* José Acaci Rodrigues – Poeta Cordelista e Trovador, estando atualmente Presidente da Associação Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel – ANLiC e Membro Associado da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte – ATRN e da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte – SPVA/RN.

POEMAS PARA ZÉ LUCAS

Trovas

Seus cabelos cor de neve

nos mostram, sem ter esbarros, o quanto a poesia deve a José Lucas de Barros.

Manoel Cavalcante

(Pau dos Ferros/RN) ATRN e UBT Natal

Adeus meu mestre querido!

Aqui neste nosso chão jamais serás esquecido!

Digo-te de coração.

Rosa Regis ATRN - UBT Natal – SPVA/RN

Se a Terra ficou sombria, no além a luz aumentou...

somou-se mais alegria pois José Lucas chegou!

Elisabeth Souza Cruz

UBT- Nova Friburgo - RJ (Participação Especial).

Morre o vate... e deixa a prova, dos gestos simples, bizarros...

- E fica dorida a trova sem José Lucas de Barros!

Paulo Roberto da Silva

CTS - Caicó RN

O sonhar dos trovadores nesses pequeninos traços, é aos céus deitar louvores nestas trovas que a ti faço!

Deth Haak

ATRN – UBT Natal – SPVA/RN UBE-RN – Poetas Del Mundo

Zé Lucas será lembrado

Por ter com a trova contrato, Por sua finura e trato

E por seu grande legado.

Rosa Regis ATRN – UBT Natal – SPVA/RN

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POEMAS DE JOSÉ LUCAS DE BARROS - HOMENAGEM - POETA - JOSÉ LUCAS DE BARROS Pág. 16

JOSÉ LUCAS DE BARROS

Mote & Glosa

Mote: Você levará da vida A vida que você leva Glosa:

Faça do peito a guarida para abrigar as pessoas, que o fruto das obras boas você levará da vida; não deixe a alma decaída na sordidez e na treva; todo o amor puro, que eleva, seja a luz dos dias seus, pois é julgada por Deus a vida que você leva.

Mote: Não canto por ser feliz, mas sou feliz quando canto. Glosa:

Qual desolado concriz que perdeu a liberdade, canto por necessidade, não canto por ser feliz; se a fatalidade quis que eu provasse o desencanto, destino bondoso e santo pelas mãos de Deus me assiste... às vezes meu canto é triste, mas sou feliz quando canto.

Mote: Todos nós somos palhaços no picadeiro da vida. Glosa:

Batendo pernas e braços, alcançamos a era atômica, mas dentro da peça cômica, todos nós somos palhaços; na anedota dos fracassos, cai do riso a flor batida E uma plateia aguerrida nos apupa com chacotas quando damos cambalhotas no picadeiro da vida.

Poema Livre

PIRANGI Uma jangada a brincar como criança no mar, o lindo céu que sorri, são feitiços de sereia, encantos de lua cheia, da lua de Pirangi. Graciosos e altaneiros, acenam belos coqueiros, ternura que jamais vi; o vento namorador recita versos de amor, do amor de Pirangi. Nas incertezas do mar, jangadeiros a pescar velejam longe daqui, mas, vencendo a imensidade, voltam cantando saudade, saudade de Pirangi. Há sonhos pelo arrebol, saúde loura de sol, rastos curvos de siri; na praia a gente vagueia sobre carícias de areia, da areia de Pirangi, E o lindo mar, velho monge, vem de longe, muito longe, galopando até aqui; as ondas trazem desejos, ansiedade de beijos, dos beijos de Pirangi.

POEMAS PARA ZÉ LUCAS

Pantum

MAGNÍFICO TROVADOR

Zé Lucas, Vate Magnífico! Sua trova flui viçosa, tal qual amor específico do jardim sonho da rosa. Sua trova flui viçosa, congregando paz e amor do jardim sonho da rosa brotando vida na flor. Congregando paz e amor a trova aqui já resiste. Brotando vida na flor, ausente o mestre, que assiste. A trova aqui já resiste desde que se foi o poeta. Ausente o mestre que assiste, vem lá do céu a trova certa. Desde que se foi o poeta, os seus poemas indico. Vem lá do céu a trova certa: Zé Lucas, Vate Magnífico!

José Ivam Pinheiro UBE - RN – SPVA/RN

Poema Livre O MENINO E OS PASSARINHOS

Menino da minha terra, larga a “espingarda de soca”, vai brincar pelos caminho! vai tomar banho de rio, vai colher flores no campo, deixa em paz os passarinhos! se matas nossos cantores, quem cantará para nós? quem vai cuidar de seus ninhos?

POEMAS PARA ZÉ LUCAS

Trovas

Erga-se... Oh, filha de Orfeu! Verse para o encantado.

Que Zé Lucas não morreu. Floresceu do outro lado.

Deth Haak

ATRN – UBT Natal – SPVA/RN UBE-RN – Poetas Del Mundo

Zé Lucas de Barros fez A trova virar troféu

E hoje, a trova da vez, Ele premia no céu!

Marcos Medeiros

ATRN – UBT Natal – ANLIC

Menino com passarinho- Imagem sem identificação de autoria. Disponível no

sítio: www.folhadaestancia.com.br

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Kukukaya POESIAS

Pág. 17

POEMAS DE POETAS DO RIO GRANDE DO NORTE

Seleção de Trovas de Poetas Vivos do RN

Homenagem a José Lucas de Barros.

A POESIA DOS TROVADORES POTIGUARES Seleção: Francisco Garcia de Araújo (Prof. Garcia) – Clube de Trovadores do Seridó (Caicó – RN).

José Ivam Pinheiro – Editor da Revista Kukukaya Poesias.

Deth Haak

Djalma Mota

Expedito Jorge

Eva Yanni Garcia

Francisco Garcia de Araújo (Prof. Garcia)

Hélio Alexandre Souza

Hélio Pedro de Souza

Ieda Lima

Isaac Jordão

Israel Segundo

Lucélia Santos

Mara Melinni Garcia

Manoel Cavalcante

Marcos Medeiros

Paulo Caldas Neto

Paulo Roberto da Silva

Pedro Grilo

Professor Maia

Rita Maria

Rosa Regis

Wellington Freitas

Seleção de Poetas Trovadores Vivos

vos

ESPECIAL Bônus: ENCANTADOS TROVADORES POTIGUARES

Ademar Macedo - Francisco Macedo – Luiz Rabelo (“O Príncipe dos Trovadores Potiguares”) – José Lucas de Barros

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Kukukaya POESIAS

TROVADORES POTIGUARES Pág. 18

Deth Haak – Djalma Mota – Expedito Jorge

Eva Yanni de A. Garcia – Francisco Garcia de Araújo (Prof. Garcia) – Hélio Alexandre Souza

Hélio Pedro de Souza – Ieda Lima – Isaac Jordão

TROVADORES DO RIO GRANDE DO NORTE

Adotando bons conselhos das faculdades morais, os filhos serão espelhos da retidão de seus pais.

Entre a caatinga florida arrefecida de orvalho, a relva verde, crescida,

esconde o chão de cascalho.

Sorrir pra vida é preciso, o riso espanta a maldade;

bendito seja o sorriso no rosto da humanidade!

Djalma Mota

ATRN - CTS (Caicó – RN)

Num alvorecer bonito tingindo o amanhecer, o sol redimiu conflito.

No horizonte pude ver.

Raios alagando visagens aromando para chover.

E no embaçar das nuvens li o que não quis abranger.

Era chegada do amor

na estação de meu ser. No vergel tudo era flor despertei e pude crer.

Deth Haak

ATRN – UBT Natal – SPVA Consul Poetas Del Mundo

Nem sempre a gente consegue todo disfarce emplacar;

mesmo que o artista empregue talento, pode falhar!

O papa, não só nos templos,

mas, nas praças e favelas deu ao mundo seus exemplos de ações simples e singelas!

Expedito Jorge

ATRN - CTS (Caicó – RN)

Na areia, os meus pés cansados, procuram-te, sem parar...

Mas logo são afogados pelas pegadas do mar!

Ame a vida, simplesmente,

sem disfarce em seu caminho... Quem ama a ida não sente

a dor de viver sozinho!

Passarinho, volta logo que eu quero escutar teu canto...

Nas tuas notas me afogo para afastar o meu pranto!

Eva Yanni de Araújo Garcia

ATRN - CTS (Caicó – RN)

Minha terra!... Vinde e vede! Seca, pobre e sem bonança, onde a esperança com sede, perdeu a própria esperança!

Mãe que tem fé, não se esquece,

de orar pelos filhos seus!... Pois, no silêncio da prece, toda mãe, fala com Deus!

O velho nauta, em seus passos,

olha o céu, põe-se a vogar... Como se a força dos braços, fosse a das ondas do mar!

Francisco Garcia de Araújo

(Professor Garcia) ATRN – UBT Natal - CTS (Caicó RN)

Teu amor, num mar de ausências, proferiu tantos "depois",

que a espera pôs reticências no romance entre nós dois.

Em tantos prêmios perdidos venci mágoas e dissabores,

que, sorrindo entre os vencidos, ganhei mais que os vencedores.

Quis da vida a plenitude

de infindos prêmios sonhados... Não ganhei tudo o que pude, mas vivi sonhos dourados.

Hélio Alexandre Souza

ATRN – UBT Natal CTS (Caicó RN) - ANLIC

Numa singela palhoça, uma família roceira

senta, reza e até almoça sobre as palhas de uma esteira.

Ainda lembro a estação,

lindas flores... Primavera... O trem levando a paixão

e alguém sofrendo na espera.

Passarinho, volta logo que eu quero escutar teu canto...

Nas tuas notas me afogo para afastar o meu pranto!

Hélio Pedro de Souza

ATRN - CTS (Caicó – RN) - ANLIC

Na natureza, os espinhos, não causam somente dor,

pois entre alguns passarinhos tornam-se ninhos de amor!

O bilro, velho instrumento,

que entrelaçou tantas rendas, tece, agora, num momento, as rimas de minhas lendas.

Não há pensamento incerto

quando a resposta se espalha nas ações ao ver, de perto,

que Deus tarda, mas na falha!

Ieda Lima CTS (Caicó – RN)

Seu “talvez” que me iludia, falemos bem a verdade, hoje inspira a melodia

dos meus versos de saudade.

Serena a sabedoria, no silêncio sempre aposta,

dando à pergunta vazia a mais perfeita resposta.

Isaac Jordão

CTS (Jucurutu – RN)

Caneta e Mãos- Imagem sem

identificação de autoria. Disponível no sítio: blog.kanitz.com.br

Longe ao Luar - Imagem sem identificação de autoria. Disponível no

sítio: aproximacurva-maria.blogspot.com

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TROVADORES POTIGUARES Pág. 19

Israel Segundo – Lucélia Santos – Mara Melinni Garcia

Manoel Cavalcante – Marcos Medeiros – Paulo Caldas Neto

Paulo Roberto da Silva – Pedro Grilo – Professor Maia

TROVADORES DO RIO GRANDE DO NORTE

Vagando em meu padecer, tantos delírios, eu tinha;

que eu até podia ver tua sombra junto a minha.

Meu coração navegante,

num turbilhão de emoções, viu-se um náufrago errante

em turvo mar de ilusões.

Lucélia Santos CTS (Patu – RN)

Em segredo, eu durmo e sonho que ponho o céu numa trova... O céu na trova eu não ponho, mas o meu sonho ela prova!

É tanta a minha tristeza,

ao sentir que não me queres, que por vingança e baixeza

me entrego a outras mulheres.

Israel Segundo CTS (Caicó – RN)

A passagem mais sofrida, que nós fazemos a sós... É ver o alcance da vida, sair do alcance de nós!

Num gesto mudo, meu lenço,

sem disfarce, ao chão lançado, falava aquilo que penso

caindo, lento ao seu lado...!

Tempo que reparte a vida, faz o meu destino assim: Vida é lenda dividida...

Parte é começo, outra é fim!

Mara Melinni Garcia ATRN - CTS (Caicó – RN)

Não vens. Sozinha na sala, na espera à luz do ciúme, meu coração despetala,

mas não perde o teu perfume.

Pus um fim em nossa história...! Mas, o tempo me cobrou o preço da promissória

que meu orgulho assinou.

Morre o amor... e, em árduas cenas, toda a herança que eu carrego

é a dor de ter sido apenas um descuido do seu ego.

Manoel Cavalcante ATRN – UBT Natal

CTS (Pau dos Ferros – RN) - ANLIC

Quando, na realidade, percebo dias tristonhos, esqueço a triste verdade

e parto em busca dos sonhos!

Quem promove uma viagem, nas asas do pensamento, segue sem tirar passagem

no rumo do encantamento.

Se cada pessoa usasse uma gota de bondade,

não tinha quem evitasse um mar de felicidade.

Marcos Medeiros

ATRN – UBT Natal - ANLIC

Doce amor que me fascina! Por ti, vi terras além.

Lucrei minha alegre sina na lisura de outro alguém.

Neste chão de tantas raças,

ficaram esperas vãs, que viraram só as traças no roçado das manhãs.

Paulo Caldas Neto

UBE-RN – SPVA/RN

Em meus refúgios tristonhos... passo o tempo a prantear,

pelos segredos e sonhos que não tive a quem contar!...

Traçadas pela quimera...

as rugas que hoje pranteio, são marcas da minha espera de um amor que nunca veio!

Paulo Roberto da Silva

ATRN - CTS (Caicó – RN) - ANLIC

A usurpação destruiu, toda Paz e todo Amor... Hoje onde o bem existiu, reina, ódio e o terror...

Praça; sem estardalhaços... O tempo abastema ruim, ao tirar de ti pedaços...

Tirou pedaços de mim!...

Em meu baú de ilusões, trago, entre tristes heranças,

adormecidas paixões e andrajosas esperanças.

Pedro Grilo

ATRN- UBT Natal – SPVA/RN

Aquele casebre pobre, todo em palha ornamentado,

oculta um coração nobre que o tempo deixou marcado!

Duas mãos entrelaçadas,

mesmo em um tom bicolor; suas sombras projetadas

mostram somente uma cor.

Professor Maia CTS (Caicó – RN)

Livro Borboleta- Imagem sem

identificação de autoria. Disponível no sítio: sgc.bernoulli.com.br

Rocas - Natal RN (antigamente) – Foto

reprodução Tribuna do Norte da tela de Pedro Grilo Borratela. Disponível no sítio:

www.tribunadonorte.com.br

Rede na beira-mar – Foto sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: www.luardapraia.com.br

Relato – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio:www.livrosepessoas.com

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Kukukaya POESIAS

TROVADORES POTIGUARES Pág. 20

Rita Maria dos Santos – Rosa Regis – Wellington Freitas

ENCANTADOS TROVADORES POTIGUARES – Especial Bônus Trovadores da ATRN – Associação de Trovadores do Rio Grande do Norte

Ademar Macedo – Francisco Macedo – Luiz Rabelo*– José Lucas de Barros

José Lucas de Barros (* 12/03/1934; + 04/12/2015).

Ao falar da educação pública do nosso país,

Eu sinto o meu coração Emudecido, infeliz.

Singrando os mares da vida

no meu barco da ilusão, vi-me com a alma perdida

nas ondas da solidão.

Num mundo de violência o homem está infiltrado,

onde quem ama a decência de bobo é classificado.

Rosa Regis

ATRN – UBT Natal SPVA/RN - ANLIC

Mar: Amigo confidente... A ti, conto meus segredos, que vão em água corrente descendo sobre os lajedos!

Foi tão longa aquela espera que me fez perder a calma fiz de mim uma quimera

para assim salvar minha alma.

Rita Maria dos Santos ATRN - CTS (Caicó – RN)

A resposta que eu preciso para outra vez ser feliz... Resume-se num sorriso

que teu rosto não me diz.

Protegendo os meus segredos, talvez, lhes dando um adeus, guardei-os por entre os dedos

das mãos divinas de Deus.

Eis um contraste na terra: Papai Noel, bom rapaz,

tem roupa da cor da guerra e a barba da cor da paz!

Wellington Freitas

ATRN - CTS (Caicó – RN)

Quando o amor se consolida, mesmo que vire rotina...

termina tudo na vida mas esse amor não termina!...

Visita pra meter medo,

que nem vassoura adianta, é aquela que chega cedo e só sai depois que janta!

Dançando com Maristela lá no forró do Tampinha, roçando nas "partes" dela

saiu faísca da minha!

Ademar Macedo (* 10/09/1951; + 15/01/2013).

O mártir da Galiléia esta verdade traduz:

não morre nunca uma idéia, mesmo pregada na cruz!

Jangada, por que navegas? Ó alma, por que sonhais? - Perguntas tolas e cegas que já fiz, não faço mais.

Todo tempo tem seu tempo, que ao tempo certo convida. Há tempo de perder tempo, tempo de ganhar a vida...

Luiz de Carvalho Rabelo

(* 04/03/1921; + 29/11/1996).

Contemplo à noite, à janela... e entre as estrelas e a lua, eu sinto o perfume dela

que no meu quarto flutua.

Só uma prisão eu respeito, quando rendo-me à paixão... Qualquer castigo eu aceito,

se a cela é o teu coração!

Proibido proibir, esse beijo de nós dois. Eu beijo e vou assistir o que acontece depois!

Francisco Macedo

(* 14/01/1948; + 17/03/2012).

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Kukukaya POESIAS

Pág. 21

Coletânea de Poemas

POETAS VIVOS DO RIO GRANDE DO NORTE

Organização e Seleção: JOSÉ IVAM PINHEIRO.

Apoio Colaborativo e de Mobilização dos Poetas:

União Brasileira dos Escritores – UBE/RN. Academia Cearaminense de Letras e Artes Pedro Simões Neto - ACLA PSN

Academia Potengiense de Letras e Artes – APLA Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel - ANLiC

Poetas da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte - SPVA/RN.

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Kukukaya POESIAS

Pág. 22

Coletânea de Poemas de Poetas Vivos do RN

Adélia Costa

Alfredo Neves

Aluisio Azevedo Júnior

Aluízio Mathias

Antonio Francisco

Cefas Carvalho

Celso Cruz

Ciro José Tavares

Cláudia Borges

Clécia Santos

Denise Valentim

Deth Haak

Eduardo Gosson

Emannoel Iohanan

Erilva Leite

Eva Potiguar

Ferreira Fontes

Franklin Capistrano

Geralda Efigênia

Hercília Fernandes

Horácio Paiva

Jania Souza

Janilson Dias de Oliveira

Jardia Maia

Jeanne Araújo

João Andrade

José Acaci Rodrigues

José de Castro

José Ivam Pinheiro

Júnior Dalberto

Leda Marinho Varela

Leonam Cunha

Lívio Oliveira

Lúcia Helena Pereira

Maíra Dal’Maz Pinheiro

Manoel Cavalcante de Souza Castro

Marcos Antonio Campos

Marcos Medeiros

Maria Dalva Dutra

Maria das Graças Barbalho B. Teixeira

Maria Maria Gomes

Mário Lúcio Barbosa Cavalcanti

Matias Verzutti

Nildinha Freitas

Ozório Ferreira do Lago

Paulo Caldas Neto

Rita Cruz

Roberto Noir

Rosa Regis

Salizete Freire Soares

Sandemberg Oliveira

Zé Martins

Blowing Dreams (Soprando Sonhos) – Arte de Nanda Corrêa. Imagem disponível no sítio:

amandagendron.tumblr.com

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Kukukaya POESIAS

ADÉLIA COSTA

SEGREGADOS Ser cão sem plumas... Ser rio sem lua, Ser meandros ao anoitecer... Segregado! Aonde anda os teus? É de pó como os meus? Os becos sem saídas, Os ossos em que viveu, Tornaram secos riachos zeus! Aonde estão os brios teus? Andarilhando com os meus? Tudo em mim arde: A ausência da paternidade, A tua presença saudade, E tua ausência natividade. De um rio secante, Teus parentes são errantes. Tão perto distantes... Plumagem em orfandade Rio sem irmandade, Sangrante erosão! Murcham suas plumagens, Hidrografia triste: Juntos, segregados em solidão!

NOTURNO

Da janela da cama Escuto:

Saturno me ama!

AMANTE

Entre ponte e precipício Prefiro ser

Presente particípio...

ADÉLIA COSTA

ALFREDO NEVES Pág. 23

TERRA SALGADA

É tanto sal em Macau Que ao pisar descalço Nessa terra salitrada

Rasgo a planta dos pés É tanto sal em Macau De infinita brancura

Que cega de doer É tanto sal em Macau

Que ao passar a língua Em sua boca salgada

Salivo-me por completo É tanto sal em Macau

Que fico preso No tempo-espaço

E perdido sem esperança Em meus pensamentos.

A QUIETUDE DA TARDE

Arrepias todo o teu corpo Com o vento que vem do mar. Nessa tarde de neblina Estou pronto para te amar. O gozo que me domina É imenso e delirante. Mas o teu fingimento, menina, Tão sem maldade e ardente, É que me faz delirar.

TRISTE ILUSÃO

Carregas algum código? Ao menos um? De mulher cúmplice, De segredo mágico, De doce frenesi Que furta forças E endoidece homens sãos? Se não possuis um código, Ao menos tens juízo? Desliza em teu corpo Mãos sublimes e trêmulas, E une a ti um suado corpo Implorando o próximo ato Nesse jogo de faz de conta Onde tu apenas sorris.

ALFREDO NEVES

Salinas de Macau – Pintura de Newton Navarro. Imagem disponível no sítio: papjerimum.blogspot.com.br

Casas e Amor – Imagem sem autoria identificada. Disponível no sítio: http://ilovehtml.tumblr.com

Soltando Borboletas – Imagem sem autoria identificada. Disponível no sítio:

www.casadecolorir.com.br

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Kukukaya POESIAS

ALUÍSIO AZEVEDO JÚNIOR

QUIZUMBA PRA ZORBA (Ao amigo Ruben G. Nunes)

Um passo transpassado Outro que se enfinca Cirandando na praia Agarro a mão de um De outro, de alguém Dos que vão, dos que vêm Ondo a corda mansa Embalo meu corpo Embolo na roda Maresia e areia É dança que me dá no pé Vai-se-embora, na quizumba. Zorba de Caboré.

LUA AMARELA

Bela, nascida somente Para ser possuída Para o meu olhar. Passagem, Por onde passo E me perco. Avoado, arremetido Meu perto é caminho Seu longe embranquece E foge.

SEM RIMA

Arrastado, somente

Por tudo, juro Nada desejando

Eis o meu desdenhar Que coisa nenhuma inspira

Que revive das sobras Do sentir apoucado

Do que era Mera complacência De mais, amainado

Quimera, sem estima, sem Sem nome, sem rima.

ALUÍSIO AZEVEDO JÚNIOR

ALUÍZIO MATHIAS Pág. 24

VALSA NA CASA DE FARINHA

Foi uma sinfonia no fim da estrada

era uma trilha livre e sensação liberta

os passos do velho xote mote, poesia e sons de fim de tarde.

A zabumba nem fazia alarde.

Os acordes rasantes da rabeca com meu coração, pandeiro, fez um triângulo, amoroso,

e levantou a poeira da farinha.

Braços, rimas, suores musicantes essa felicidade não será como antes

e o nosso afeto se acendeu por toda noite...

BARTÍRIO

Não aprendi dizer chorar,

porque chorar é a incapacidade de sentir

sede. Sedento de calor

vou me baldear nessas cervejas e jogar essa suposta dor,

debaixo dessas mesas. Bebo, não nego,

choro quando puder, e não venham dizer

que estou de roedeira, esse é um jeito de me apaixonar.

Por falar nisso, enquanto entorno outro gole

nesse escuro bar, escuto Fernando Mendes

copiosamente, no meu celular...

ENCANTO

Encantado, nem sabia, que no fundo da poesia existia uma sereia. Sei que por aqui permeia um canto forte de magia arrebatador de versos, todos floridos, impressos, num mural de ventania...

ALUÍZIO MATHIAS

Casa de Farinha – Foto: Adelso Oliveira. Imagem

disponível no sítio: http://saireonline.blogspot.com.br

Árvore Passarinho – Imagem sem autoria identificada, estando disponível no sítio: http://tulipasnajanela.blogspot.com.br

Árvore e Lua Amarela – Imagem sem identificação de autoria na fonte. Disponível no sítio: http://anacristinaabbade.com.br

Sereia (fuxico) – Desenho Hello Cohen inspirado nas pinturas do artista Romero

Britto - Poesia em papel de pão. Disponível no sítio: http://poesiaempapeldepao.tumblr.com

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Kukukaya POESIAS

ANTONIO FRANCISCO

TRÊS MARTELOS DE AMIZADE

Pra nós sermos amigos de verdade, Precisamos amar e querer bem; Repartir nosso pão pela metade; Dividir nossos sonhos com alguém; Plantar uma semente de amizade No jardim onde nasce a solidão E dizer no ouvido do ermitão: Plante um pé de amizade em sua horta! Amizade é a chave que abre a porta Do castelo onde mora o coração. Dê uma volta no carro da amizade, Puxe 80 km de amor! Se desvie da estrada do rancor; Dê banguela descendo a humildade; Acenda os faróis da caridade; Ilumine a estrada do irmão; Baixe o vidro da porta e dê com a mão, Esse gesto é tão simples mais conforta. Amizade é a chave que abre a porta Do castelo onde mora o coração. Se afaste do caos da vaidade; Nunca pise na beira desse abismo Nem se mele com a lama do egoísmo; Beba água da fonte da verdade... Só assim entraremos na cidade Batizada com o nome de Sião. Vamos todos, amigos, dar a mão! Uma amizade sincera ninguém corta. Amizade é a chave que abre a porta Do castelo onde mora o coração.

UM BAIRRO CHAMADO LAGOA DO MATO (trecho)

Nasci numa casa de frente pra linha, Num bairro chamado Lagoa do Mato.

Cresci vendo a garça, a marreca e o pato, Brincando por trás da nossa cozinha. A tarde chamava o vento que vinha

Das bandas da praia pra nos abanar. Titia gritava: está pronto o jantar!

O Sol se deitava, a Lua saía, O trem apitava, a máquina gemia,

Soltando faísca de fogo no ar.

A lua entrava na casa da gente, Batia com força nas quatro paredes. Seus cacos caíam debaixo das redes Pintando na sala um céu diferente.

Quando ela saía chegava o sol quente E com ele Zequinha pra gente brincar,

Comer melancia, depois se banhar Nas águas barrentas daquela lagoa. A vida era simples, barata, tão boa,

Que a gente nem via o tempo passar.

ANTONIO FRANCISCO

CEFAS CARVALHO Pág. 25

CEFAS CARVALHO

O Poeta de Bicicleta – Imagem sem

autoria identificada, estando disponível no sítio: http://potiguarte.blogspot.com.br

PESO

de cansaço em cansaço envergo-me

nem de aço

nem de ferro... (enxergo-me

aos pedaços)

não grito

nem berro silencio

do fruto, o bagaço regurgito

(de cio em cio copulo

e reproduzo

aflito vazio

me anulo e acuso))

ENÓLOGO

de vinhos, sei do tanino e da embriaguez nada sei de sermões, de leis, missais... sei dos vãos abissais das fendas nas rochas das erosões e dos corais de vinhos, sei das garrafas que aprisionam devaneios sei de umbrais de obsessões e de receios nos entremeios, pisoteio as uvas e nada mais

SISMOLOGIA

entendo de vazios de fomes e de cios alimento bestas engulo abelhas e trovões sei de abismos desfiladeiros, depressões de sismos, de frações e de inteiros entre terremotos abalos sísmicos e devaneios forjo meu paraíso nos escombros e nos entremeios

Copos – Vinho - Coração – Imagem sem autoria identificada, estando disponível no

sítio: http://4.bp.blogspot.com

Poesia ao Luar – Pintura José Eugenio. Disponível no sítio: pintordequadros.blogspot.com

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Kukukaya POESIAS

CELSO CRUZ

UMA VOZ, E UM VIOLÃO. Acredito ser a voz O instrumento mais completo Se com amor e com afeto Em dueto um violão Aí sim, meu coração Transborda de sentimentos Os meus sentidos atentos Trabalham em harmonia E juntos em sincronia Fazem lembrar bons momentos. Lembro a infância, meu sertão O canto dos passarinhos Lembro rosas, esqueço espinhos Só o bom vem na memória E a saudade é notória Posto que é filha do passado E sempre tem ajudado A iluminar meu escuro Alicerça meu futuro Caminha sempre ao meu lado.

A PAZ, O POVO E A POESIA

Pragmáticos pesarosos pedimos Precisamos prioritariamente pensar Positivamente processar Progressivos positivos pensamentos Para o povo promover o provimento Preterindo, portanto plutocracia Por isso propor primazia Propondo planos políticos progressistas Para poetas, pesquisadores e pacifistas Pois esse povo quer paz e quer poesia Prefiro pensar por prazer Que parafrasear pensadores Perdoe-me plagiadores Políticos populistas Pseudos progressistas Patifes que o povo premia Privem-nos da patifaria Poupe-nos pedimos em pranto Priorizem e protejam, portanto A paz, o povo e a poesia.

EU SOU FÃ DE BOTEQUIM (trecho)

Reclamo ou mudo de bar Exerço o meu direito Eu quero tudo perfeito E se puder... ser encantado Garçons limpos, arrumados Cerveja boa e gelada Só a conversa é fiada Comigo sempre é assim Eu sou fã de botequim E minha mesa é na calçada.

CELSO CRUZ

CIRO JOSÉ TAVARES Pág. 26

ODE PARA NÃO DIZER ADEUS

“Deixa que este silêncio de mulher Meu amor de mulher possa provar. Vê: a insistência não me faz ceder.”

Elizabeth Barrett Browning, in Silêncio de Mulher.

Silenciosa despedida a de Amarílis, no bonde de Piedade rumo à Boca do Mato.

Deixou-me no olhar a farda do colégio, a saia grená plissada, a blusa branca, cabelos à altura dos ombros limitados.

Sob o doce frescor das amoreiras que flanqueavam a rua principal,

retornei à casa numa transversal de incertezas, seguindo um bando de aves noturnas fugidias,

alma na penumbra, partida pela mulher indiferente. Diante do portão fez-se mais intenso o som

do violino da vizinha tocando uma sonata de Beethoven. Então, compreendi, ao despertar da letargia,

que Amarílis despareceu num labirinto construído pela própria paixão adolescente.

E não disse adeus porque queria sua lembrança assombrando meus passos por toda eternidade.

ODE AO ABANDONO

Quando alegre atravessaste portais do universo estive à tua espera no outro lado do céu. E porque me apaixonei num instante de luz, não nos encontramos, algemados, os dois, como fantasmas perdidos nas dobras do tempo. Talvez, entre as lembranças, essa tenha escorregado para eclipsar-se num abismo da memória. Sempre quis presente em mim esse passado e fui buscar-te nos caminhos magnificentes das luas das constelações. Andei nas ruas e avenidas abençoadas por teus pés, esmurrei portas e janelas dos casarões abandonados, gritei até compreender o comprometimento da tua vida nova numa dimensão inalcançável. Não eras Beatriz, Heloisa, Guenevere, nem a doce Briseis que Aquiles, em Tróia, sequestrou. Ao som de miríades de liras voltei aos portais da estrela Vega e vi com os olhos teus a renovação de auroras e poentes, sem ninguém, sem tempo, como antigamente.

MADRIGAL E BACHIANO

“Estranha é a coragem que me dás, estrela amiga:

Brilha sozinha na aurora para a qual nada representas!”

William Carlos Williams, in Hombre.

Que o teu saudoso olhar não se fatigue correndo atrás dos sonhos que no tempo,

dias após dias morrem e são inalcançáveis. Devolve teu olhar à luz e na estrela cadente matutina

viaja sob o sol para esquentar o coração. Adormece teu melancólico olhar

nos verdes misturados aos azuis do oceano, deixa que no sono orvalho abandone a noite e venha cobrir de rosas e dálias vermelhas teu esquecido vestido branco de organdi.

CIRO JOSÉ TAVARES

Botequim – Imagem sem autoria identificada, colhida no sítio: http://poesiasdecelsocruz.blogspot.com.br

Lua e Violão - Imagem disponível no sítio: www.pinterest.com, sem

identificação de autoria.

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Kukukaya POESIAS

CLÁUDIA BORGES

RETALHOS DE MIM...

Retalhos de mim, Lançados ao vento Dispersos pelo tempo... Extensos nevoeiros de sonhos, Desdenham de fragmentos dissipados Minúsculas partículas, Juntam-se como um todo, Cerzindo um tecido Que o tempo rasgou Formando uma manta De retalhos puídos... Retalhos de mim!!

QUEM ÉS TU?

Quem és tu, que teima em existir Enquanto só desejo te sonhar? Em meu mundo de quimeras te imagino, E você, ser real, vem me tentar... Quem és tu que incendeia minha pele, Com o brilho fugaz do teu olhar? Se és sonho bom ou pesadelo, Tal enigma anseio decifrar. Decifra-lo ou por ti ser devorada... Fantasias reais que acalento, Mil fagulhas de paixão me alucinam Quem és tu, portador desse tormento??

PENSAMENTOS MEUS

Ao olhar-me no espelho hoje cedo, Encontrei uma mensagem bem singela Escrita na íris do meu sonho Fosco olhar tristonho dentro dela. Os olhos que o espelho refletia Eu os vi, opacos e sombrios Retratos de meu interior Recipientes sem vida e vazios. Vislumbrei nas pupilas dilatadas Fantasmas que habitam o meu ser Meus lábios desenharam um sorriso, Vermelho escarlate de sofrer... Nos recônditos de minha alma, eu vislumbro Um arco-íris sem cor sem fantasia, Jardim estéril que floresce Nas estrofes "duma bela poesia!!.

CLÁUDIA BORGES

CLÉCIA SANTOS Pág. 27

MENINA

Claramente sinto-me assim A infância brota e enaltece Meu rosto, meu corpo carmim Cada momento me rejuvenesce. Minha alma é essência feminina Energia em segredo, guardada Fada que carrego minha mina Divina luz de pirilampo e fada. Ah! Se todos me visse assim! Lapidada em mistérios prontos Tecido de puro e leve cetim. Ah! Se a eternidade fosse assim! Uma angélica infância e ponto. Certamente o céu não teria fim!

O MAR COMPLEMENTA

Nas madrugadas indeterminadas

Estou beirando um mar Horas e horas a fio.

As ondas negras Ausentes da lua... Fazem contornos

De vaivém Absolutas e dançantes.

Estou anestesiada Observo o nada...

Do nada para percorrer Percebo-me minada

Ancorada a mim.

Nas madrugadas sou inquieta Um mar de ondas agitadas

Sentindo a maresia... Que agora é saudade

Dormindo ao lado da poesia.

LIMITE

Neste embaraço Deixo alma livre O corpo pede espaço. CLÉCIA SANTOS

A Menina e o Espelho – Imagem sem autoria identificada, colhida no sítio:

www.tumblr.com

Arco Íris– Imagem sem autoria identificada, colhida

no sítio: sininhonasasasdosonho.blogspot.com.br

Linda Paisagem – Imagem sem autoria identificada, colhida no Blog de Márcia Costa - sítio: http://mt.costa.zip.net

Mar – Imagem sem autoria identificada,

colhida no sítio: www.tumblr.com

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Kukukaya POESIAS

DENISE VALENTIM Pág. 28

DENISE VALENTIM DETH HAAK

DETH HAAK

O TEMPO O tempo nos leva em braços, Nos laços da ilusão... Faz-nos pequenos em grandes sonhos, Adormece coração... Triste não é o passar do tempo! Mas os abraços que se vão... Não dizem sequer adeus! Deixando o beijo da ingratidão... Penhoram o coração, Sem planos de resgates... Mas acordamos ao meio do tempo! Antes que tudo seja tarde... Vemos: Como é bom atravessar os rios, Que cortam o coração da gente... E afogam nossos dias! Esse tempo passa tão de repente... Às vezes não passa! Leva nosso mundo e deixa a mente... Enxergamos o quase nada que fica Respiramos! Fundo... Sobrou a vida... Muita sabedoria Percebemos que não precisamos de mais nada! Apenas existir... De verdade! Todo momento como manda a realidade... Sem descuidar de si, na estrada que se segue.

NÃO SEJAS METADES

Metades não, sou inteira. Dou-me toda a ti,

Em troca, recebo gorjetas... Metades de vidas inteiras,

Vendo tudo partir! Meu bem! Não me faz mal,

Dá-me inteiro em banho de mar... Sou toda, teu oceano!

Não bebes de mim gotas... Se a ti, todo amo.

Preenche meus espaços Vazia... Transbordo!

Estou em ressaca de março, Vejo um olhar de amigo.

Afoga-me sendo mar, em beijos! Não sejas metade comigo... Ou serei inteira sozinha!

“BUSCA INTERIOR”

Há quem se ache em se perder! Ou virar-se ao avesso da vida...

Em busca de se conhecer! E se perde ao se encontrar...

Somos um começo, meio e fim! Um ciclo eterno de nós... Onde fazemos caminhos,

Traçados tantas vezes a sós... Às vezes acho que apenas sou,

Alma gêmea do meu eu interior... Alguém que na busca do amor

cansou! E só é feliz louca, no próprio mistério.

Os beijos silenciaram de medo... Ou o amor anda cansado de mim!

Mas tantas vezes juras amor eterno, Em tantos momentos de fins.

casal (a)mar – Imagem sem autoria identificada,

colhida no sítio: bruxapoetisa.wordpress.com

ÓRFÃ DE POESIA

Envolve o imo a pendida fadiga E as estrofes imortais dos versos Que a insônia mórbida enfatiza O confiscar dos traços impressos. Disto de luas que o pensar abriga Secos lençóis em catres imersos, Ornam frestas entortando a viga Emoldurando segundos dispersos. Calar que rasgo, silencio à revelia Ao partilhar amores implorados Suturando a andrajosa melodia; Alvoram os minutos enamorados Que insones bocejam noite e dia Órfãos de poesia revés madrugados.

DADIVOSA “POESIA”

Pepita de ouro no charco achado Com banhar da chuva ao constatar A gratidão de um olhar abençoado Que o viver intui, há de se brindar! Que é o ofício da alma revelado Que se mostra no lodo a brilhar Como riacho que fora represado A terra rasgando a buscar o mar. Para erguer um templo de oração No ver estilar de um grão de areia Ao exorar dos ancestres o perdão. Se amordaças o verso da epopeia E trancafias no imo a inspiração, Sois abelha sem asas na colmeia!

INSIGHT

Na penumbra penetrada do vão Rasgam-se os conceitos da noite E as ardidas sombras da solidão Vingam-se da vida, no pernoite; Calcinam as ambições da tentação Quando ruge o trovão no açoite E as margens bramidas da dedução Cariam os dentes da boca da noite. Moendo da alva o que tarda chegar Nos rocios perenes, que na face da lua Enlameiam os seixos, e onde pisar??? Se pelas veredas que esboça a rua Flamejam as insones desse penar Pelos lençóis puídos da amargura.

Poesia Livre Livro – Imagem sem autoria identificada. Disponível no

sítio: papodefran.com

Poesia – Imagem sem autoria identificada. Disponível no sítio: blogvivafeliz.com.br

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Kukukaya POESIAS

EDUARDO GOSSON

PALOMA

Para a minha nova vizinha, que também chama-se Paloma.

Todos te queremos porque és filha espiritual Do grande Pablo Picasso que deu vida

A Espanha com sua Guernica E as bárbaras touradas

Todos te queremos: o poeta Federico Lorca, Dom

Quixote, Salvador Dali e Almódovar

Eu, Paloma, te quero Perto por que te tenho longe

DEVOCIONAL

Para o Amigo Horácio Paiva

Obrigado, Senhor Por este generoso café da manhã

Senhor, Sei que por essas horas

Milhares e milhares de pessoas no Planeta Terra

Não tem o que comer E nem sabe para onde irão...

Obrigado, Senhor por mais um dia

Obrigado, Senhor pela vida que nos deste Em abundância

E que nós, muitas vezes, Desperdiçamos

Obrigado, Senhor, por existir Obrigado, Senhor, por aqueles que praticam

As suas palavras À espera de Ti

Para gozarmos as delícias do Paraiso Estamos todos nós

Vem, Senhor!

[CANTO] ÀS AMÉRICAS

“Foi um sonho medonho, Desses que a gente quer sufocar”

Chico Buarque de Hollanda

4h da madrugada As gaivotas, temerosas, não

Querem levantar voo Há perigos no Oceano Pacífico e na Cordilheira dos

Andes:

Allende volta, Guevara também

Pablo Neruda Escreve um novo Canto Geral

E o poeta Diógenes um novo livro das respostas Todos querem transformar

A América do Sul na América do Sim

Por que não?

EDUARDO GOSSON

EMANNOEL IOHANAN Pág. 29

POEMINHA AS MULHERES

Palavras só não bastam Para dizer

O quanto és importante Mulher! És vida

Que gera vida, És mãe, esposa e companheira,

És força que nunca cessa... Parabéns mulher guerreira!

O CORPO, A VIDA E O TEMPO

O meu corpo está cansado

Está frágil e desgastado Pois o tempo não perdoa,

Ele não caminha... voa!

As rugas envolvem o meu rosto Mas, eu não tenho desgosto.

Eu sei. O tempo é cruel!... A vida nem sempre é mel!

O que é novo envelhece.

O que é velho perece. A vida é assim!...

Tem começo, tem meio e tem fim!

A MATA QUE O HOMEM MATA

A mata que o homem mata Morre o homem, morre a mata

Mata morre, homem mata A mata que o homem mata.

Quem mata a mata morre

E morre quem mata a mata Num efeito de cascata

Quem mata a mata morre.

Sem mata a natureza Não é natureza nata

Pois a mata é natureza E a natureza é mata.

7

EMANNOEL IOHANAN

Floresta Amazônica – Imagem sem autoria identificada,

colhida no sítio: http://www.achetudoeregiao.com.br

Café da manhã – Imagem sem autoria identificada.

Disponível no sítio: http://treviturismo.com.br

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Kukukaya POESIAS

ERILVA LEITE Pág. 30

ERILVA LEITE

EVA POTIGUAR

EVA POTIGUAR

ENCANTAMENTO Abra as janelas da alma e deixe o sol entrar o colibri sobrevoa o tempo do meu encantamento como o rio que corre e a apedra que nele - silenciosamente canta planta nos portões da minha alma teus botões de rosa - da esperança!

LAMENTO DOS SINOS Os sinos ao revés Do tempo Seus cordões de prata. Cantam, pranteiam Silhuetas tristes Vagam sinuosamente. Comumente opostas Sangra o peito e arde Como que por lanças transpassadas. Seria do outeiro o vento triste Das trilhas, a curva incerta De tuas vagas e poeirentas estradas?! Estarias nas varandas do ócio Produzindo ósculos Em que se fragmentam teus poemas? Ou nos cordéis do inferno Que embalam o grão podre Tétrico, mórbido de teu infinito. Jaz na sombra e ânsia Teu frêmito e para sempre Teu desesperado grito!.

Tintinabulação (Toque de Sinos) – Imagem sem autoria identificada, colhida no sítio http://obutecodanet.ig.com.br

PÉS DE PASSARINHO

O amor é feito Desavisado passarinho Que de tão completo

Em estar Esquece-se

De levantar voo E pisa leve E nem nota

Que está preso Neste laço solto

Que é amar.

Canário – Imagem sem autoria identificada,

estando disponível no sítio: cdn1.mundodastribos.com

Mãos Fraternais – Imagem sem autoria identificada, colhida no sítio crertambemepensar.files.wordpress.com

A COMPLEXIDADE DO POETAR A Arte é filha de uma mãe, que não tem nada de pura. Ela trás um DNA de muitas filosofias casadas ou putas. A poesia é arte impura, Sem dogmas ou fidelidade. Ela não se prende a um único amor, para ser arte de sua realidade. A poesia insana pode enojar. A poesia sacra pode incomodar. Mas, quem nunca pecou em palavra ou palavrão? Levante o primeiro verso ou aponte alguém nesse salão. Arte também arde, bem mais que pimenta nos olhos. Ser poeta é apreciar diversos temperos ou fechar sua janela e seus ferrolhos.

LIBERDADE ENCOBERTA Liberdade é uma mulher Mal falada, de seios nus E roupas surradas. Ela vive na rua de teus direitos E morta na cruz de teus preceitos. Vem, corre até a rua! Vem descobrir esta Mulher nua! Ela clama seus direitos Humanos e sociais! Deixa ela viver sua história, Com autonomia e tudo o mais!

INQUILINO Sou dona de mim, mas te aluguei meu coração para você morar sem juros ou correção. Fiz do meu corpo, tua cama, mesa e banho. A ti me ofereci como cobertor e de pão e água me entreguei por amor. Se não fosse essa escritura lavrada por tua memória impregnada em mim, recolheria esses versos molhados para te afogar e eu me desocupar de ti.

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Kukukaya POESIAS

FERREIRA FONTES

CAÇADOR DE POESIAS, HISTÓRIA E FILOSOFIA

É neste lugar em que vivo, para sonhar sem pesar

Reflito tudo, sinto e converso com Deus plenamente Leio muitos filósofos, dos sofistas à Raimon Panikkar

Creio que neste mundo, tudo se renova alternadamente.

Pois, faço valer o dito: “Tudo flui e nada é permanente” Os Fantasmas e neuras existem, a vida não é só amor Mas é neste espaço que poesia aflora eminentemente

Que o prazer de cada dia aparece com muito esplendor.

Em várias localidades fui e várias pessoas eu conheci Artistas, malandros, poetas e contadores de histórias Todos tinham amores e artes, nos cantos em que vivi.

Estive bem pertinho, aqui e ali, você não quis entender Agora sabe: O filósofo quer Sophia, com perplexidade Pois ama na mesma intensidade quando quer absolver.

RENOVAR

Tivemos banhos ensebados Nossos corpos massageados Só com as essências naturais Isto por que somos normais Já os ignotos escarnecem...

Vivem o nada: “Esvanecem”. Não sabem o que é um carinho Nem pedaço de bom caminho.

SORRISO NO ROSTO

Felicidade tá engrenada Não tem muita frescura Aceita qualquer loucura Com atitude serenada Toda ação é normal Descanso n’uma cabana Longe da área urbana Fico imune: "Sou natural".

FERREIRA FONTES

FRANKLIN CAPISTRANO Pág. 31

POEMA DA SEGUNDA-FEIRA

Ao invés da poesia diurna Velejo na noite da segunda-feira Na rota do barco da luz Em qual Porto aportarei? Na ilha do silêncio madrugada afora pelo caminho Da boca da barra Assim que se faça a paz Na liturgia dos vagalumes!

POEMA DA TERÇA-FEIRA

O Operário da poesia Catador de sonhos Auroras, rios, mares e montanhas Busca na intimidade Da alegria O silêncio do amanhecer.

CAPISTRANO, Franklin. Poemagens. Edição comemorativa do Centenário de Nascimento de E. E. Cummings 1894-1994. Natal, RN: Edições A Margem, 1994. s.p. 15x21,5 cm. Poesia visual. Col. A.M. (EA).

FRANKLIN CAPISTRANO

O Poeta e o Pôr-do-Sol – Foto: Andyara Andrade.

Disponível na página pessoal da rede social Facebook de Washington Ferreira Fontes

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Kukukaya POESIAS

GERALDA EFIGÊNIA

SAUDADES DE MEU PAI

*Ao Meu Pai – Poeta José Milanez (In Memoriam). Parece que foi ontem E, entretanto não foi. Já faz mais de vinte anos Que fiquei sem sua presença. Vinte anos que fiquei Sem acalanto, curtindo muita tristeza. Sofrendo muito essa orfandade Nunca pensei de sentir tanta dor. Mas hoje, dia dos pais. Eu fico ainda mais sofrida E as lembranças mais doloridas Pois eras um pai presente Que muito me ensinou que muito me ajudou Por isso inda hoje choro de muitas saudades e dor.

MOTE & GLOSA Mote

Dia e noite pediria Para ter de novo você.

Glosa

Seja orando, Pedindo ou implorando Toda minha agonia Dia e noite pediria. Então eu decantaria E por você eu faria Um cântico de amor e paz Para em teus braços voltar. Dia e noite pediria Pra ter de novo você.

EU SOU VIDA

Sou movimento, Sou momento,

Sentimento.

Rosa, Cravo Desagravo, Flor, lírio.

Pacata,

Sou poesia. Sou mulher!

GERALDA EFIGÊNIA

HERCÍLIA FERNANDES Pág. 32

MAR VAGABUNDO Há um mar em mim. Um mar de águas revoltas. Nuvens pesadas circulam passageiras Areias, em fileiras, atiram-me ao fundo quase sempre certeiras. Há um mar em mim. E eu tantas vezes nada entendi: Da cor que me veste olhos d'agua E do vento que me sopra à maré baixa. Pois há um mar em mim. E eu não tive sequer escolhas Não pude dizer (ao mar) que parasse com esses cantos sombrios Nem que me deixasse a não mercê de tais desafios. Por que esse mar é fora da lei Não sabe o que é sorte, nem teme solidez Tudo sente, nada sofre e me move à embriaguez. Por que esse mar é poço sem fundo Quanto mais arrasta, mais revira tão doce mundo Secando-me as águas claras em tons cinza profundos. Isso tudo porque esse mar é vagabundo!...

PROVIDÊNCIA Busco-te... como quem prende âncora ao mar como quem cai abismo sem fim como quem peleja a vagar. Sabendo que é trabalho sem termo: se me vens, contemplo, apavoro, esmoreço. Porque o meu olhar se perdeu no horizonte E a cegueira, se providência, é límpida, é monte. Busco-te, para me silenciar...

IMPRESSÃO

Águas alargam-se... E eu emoldurada à última paisagem, evasão, sentido. Desejava um sol noturno, um verso original. Mas quando a emoção é imensa, ínfimas são as palavras. Mal sinto a tua vastidão... Pois necessito-me mãos, dedos, lábios, movendo-me o espírito. Já não escondo sentimentos, também não os vivo... Desalinhados são meus passos Desafinadas agem-me as ondas Haverá, no alto, música? No mar, ela entoa-me desconhecida. E eu alinho/desalinho raios então impressos/dispersos em mim.

HERCÍLIA FERNANDES

Mar e Cais – Imagem sem autoria

identificada, colhida no sítio: http://www.imagensgratis.blog.br

Mulher e Mar – Imagem sem autoria identificada, colhida no sítio: pixabay.com

Poeta José Milanez (In Memorian) – Foto do Acervo

Pessoal da sua filha – Poeta Geralda Efigênia.

Arrastão e Gaivotas em Maracajaú/RN.

Foto: Iara de Freitas Oliveira Pinheiro (Acervo Pessoal).

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Kukukaya POESIAS

HORÁCIO PAIVA

O TRÍPTICO DO PÃO O pão metafísico

PÃO E LUZ com lápis invisível descrevo na escuridão o que não vejo e posto sobre a mesa creio haver um pão à espera da luz

O pão da fraternidade

PÃO E MEL

*(Ao adentrar-me nos azulejos do Mosteiro dos Jerônimos) a poesia está no simples e no mistério transfigurado lembro da emoção que me causou o relato antigo do encontro de dois povos: o navegante que extenuado chegava à terra após a longa viagem oceânica e o nativo que lhe oferecia pão e mel O pão da esperança

A ÚLTIMA CEIA à mesa tomam assento os convidados e pães verdes são servidos - pães e vinho verdes na última homenagem à esperança

HORÁCIO PAIVA

JÂNIA SOUZA Pág. 33

SER

Em mim, há imenso céu azul Puro sussurro de anjo de luz. Há também profundo oceano Fruto da melancolia do mundo Com meus segredos, meus medos Murmúrio de ondas - sonhos. Há também em mim frágil pássaro Soberano em vôo – liberdade! Sem limite em seu horizonte Em busca de paz e felicidade. Em mim ainda há este ser Eterno aprendiz, até que seu sopro Se torne apenas o resto do fim.

S(C)EM PALAVRAS

Na união encontro

palavra coração No aconchego

barco na boca do rio No varal

verso do povo trás pão e café à mesa

Na rua a consciência refugia-se

Liberdade quimera dos novos dias.

INVISÍVEL TRAÇO Efêmero esse ser dito macho esvai-se em pequeninas partículas no coração do mundo Empresta-lhe vida amor e destruição Invisível traço Do destino borrão em papel crepom.

JANIA SOUZA

Pão – Imagem sem autoria identificada. Disponível

no sítio: http://www.editoraannodomini.com.br

Santa Ceia – Pintura de Leonardo da Vinci. Imagem sem autoria identificada, colhida no sítio: www.infoescola.com

tio://www.infoescola.comwww.infoescola.comhttp://juniorbonfim.blogspot.com.br

Anjinha – Imagem sem autoria identificada.

Disponível no sítio: anjodeluz.org

Pão e Café – Imagem sem autoria

identificada, estando disponível no sítio: http://www.conexaojornalismo.com.br

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Kukukaya POESIAS

JANILSON DIAS DE OLIVEIRA

FOLHAS

Esta saudade que me invade com este crepúsculo Tem a sensação de ser outono com suas folhas mortas

Como os versos dolentes do poeta descritos num opúsculo No silêncio do adeus de mãos absortas.

Folhas que rolam ao léu levadas pelo vento Poemas escritos num papel jogado no chão

Folhas que giram no ar feito cata-vento Papel que ao vento ficam rolando amassados pelas mãos.

Estas folhas que num dado momento alegraram a vida

Hoje nada são que folhas perdidas rolando no chão São folhas da vida morta que voam num vai e vem esquecidas As mesmas folhas hoje sem vida que me trazem recordação.

CONTEMPLAÇÃO

Sentada naquela mesa Não me cansava de olhar Uma mulher de rara beleza Digna de se admirar. Seus gestos sutis e delicados Com requinte de nobreza Por todos eram notados Parecia ser uma princesa. Contemplando-a do meu canto Seu rosto semicoberto por um véu Parecia ser mais um anjo. Que por um milagre da natureza Conseguiu fugir do céu Para na terra mostrar sua beleza.

LÁGRIMA

Lágrima materialização de um sentimento

Que emerge do coração A lágrima muitas vezes é imperceptível

Discreta e indecifrável. Lágrima sincera é como uma pérola

E bela como uma flor A lágrima é a mais sublime

Forma de expressão Pela qual externamos

As mágoas do coração. A lágrima ao contrário da flor não tem cor

É como a chuva fina que a terra molha Formada de lágrimas dos anjos que chora

A lágrima que hoje na minha face rola Não molha a terra, mas lava minha alma

E alivia minha dor. Já derramei muitas lágrimas

Lágrima de saudade Lágrima de felicidade

Lágrimas de amor Lágrimas que o tempo enxugou.

JANILSON DIAS DE OLIVEIRA

JARDIA MAIA Pág. 34

ACABADO

Quando o coração é apunhalado, As boas oportunidades se escondem,

A solidão toma conta da alma e O sorriso torna-se inapropriado.

PARTIDA DE AMOR

Sofro ao observar o lacrimejar de seus olhos

A cama permanece arrumada seus folhos Seu silêncio me causa asfixia

Nostalgia sua ausência mixia* Nas trevas da saudade aonde estou Todo meu amor você conquistou

Suspiro agoniante sua partida Espero alcançar a revertida.

*mixia – saudade. Quando alguém faz falta em qualquer aspecto ou parâmetro.

MILEIDY

As lembranças, não serve-me de companhia Sua ausência já tornou-se melancolia O doce desejo do seu beijo, Transformou-se na tristeza de sua partida Sofro por amor todos os dias O refúgio para essa dor é a bebida, Montarei os destroços do meu coração Mostrarei a quimera de minha alma severa, O encantamento de uma flor Indeferir o amor é cair no tenebroso abismo A resiliência da existência não divina do meu ser, Fez-me perceber que não sei viver sem você.

JARDIA MAIA

Coração partido – Imagem sem autoria identificada.

Disponível no sítio: www.borongaja.com

“The Bouquet” – Pintura de John Frederick Lewis (Londres, Inglaterra, 14/07/1804 – Walton-on-Thames, Inglaterra, 15/08/1876).

Imagem disponível no sítio: rceliamendonca.wordpress.com

Mulher e véu flor – Imagem sem identificação de autoria. Disponível

no sítio: www.partes.com.br

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Kukukaya POESIAS

JEANNE ARAÚJO

QUANDO ME DEITAS

Quando me deitas vais abrindo meus caminhos lentamente

tocando os vãos, desvãos inacabados, cheios de silêncios mórbidos.

Teu olhar me suga, vertiginosamente, enquanto murmuras águas marinhas,

algas e um tanto de sal. Pareces pequeno.

No entanto, consegues envolver-me despojada e extrema

no teu peito vasto.

Quando me deitas e percorres lentamente meus caminhos,

minhas flores se entregam nesse claustro de anseios e sussurros.

E as tuas palavras, as mais doces, vão queimando os muros,

lençóis e o pequeno quarto. Pareces pequeno.

No entanto, abranges inocente, todos os meus cantos e recantos. E tudo é gozo de tanto tempo.

E tudo é cio e umidade.

(In: Monte de Vênus)

JEANNE ARAÚJO

JOÃO ANDRADE Pág. 35

Acalantos Para Um Dia Sem Sol

ACALANTO - DEVORO Devoro diariamente a sólida solidão de minhas verdades. Exponho, cruelmente, através de palavras as minhas metas, as minhas metades. Mazelo o que amo e me entrego ao engano de ser mais do que sou. Rimo palavras vulgares e navegando por amares tantas vezes navegado, naufrago no que em mim foi nau, no que em mim foi amor.

ACALANTO – É TARDE É tarde em mim, entardeço. Nessas horas, perco-me menino em meus grandes sertões. Estou sempre no começo. É noite em mim, meianoiteço no fogo em asas das paixões. Nessas horas, gostaria de deixar minha vida escorrer passiva e plena nos versos dos sonetos de camões.

ACALANTO – DEDICATÓRIA Meu grito é dedicado aos mudos, aos inválidos, aos imundos, aos parcos, aos poucos, aos que não sabem quem são. Meu verso é dedicado aos que pastam, aos que empestam os esgotos, aos esgotados que seguem sem saber para onde vão. Meu canto é dedicado aos párias, aos filhosdaputa paridos pelo desprezo, aos filhos do pesadelo, aos que vivem no medo, aos que são não.

JOÃO ANDRADE

FARPAS

Tocas com asperezas o que na noite foi tua certeza.

De agulhas afiadas

essa couraça, e de homens nus

esses tempos crus.

De breu a toca que se fez verso na boca calma.

De asperezas a tua alma.

(In: Monte de Vênus)

SAGRADO

Se permitires que eu trace

em tua pele distraída pequenos cursos iluminados,

Se permitires que eu caminhe secretamente entre teus seios

como uma tênue labareda,

Se permitires, enfim, abrir terraços e alamedas no teu corpo

nu de estreitas paisagens

Se permitires, invocarei o silêncio das tardes e o vazio das capelas

e catarei poesia entre seus olhos e cantarei poemas em teu sacrário.

(In: Corpo Vadio)

Na beira do precipício - Imagem sem autoria identificada, disponível no sítio:

umanuvemdealgodao.files.wordpress.com

Capa do Livro “Corpo Vadio” de Jeanne Araújo, Penalux Editora:

São Paulo, 2015.

The Lament for Ícaro – Pintura de Herbert James Draper, 1898. Disponível no

sítio: uk.pinterest.com

Transfiguração – Desenho de Sócrates Magno Torres. Disponível no sítio: www.pinterest.com

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Kukukaya POESIAS

JOSÉ ACACI RODRIGUES

SE LAMPIÃO VOLTASSE

Se por ordem do Divino Lampião ressuscitasse, e novamente voltasse

para o solo nordestino, teria no seu destino tanto cabra mafioso

que ele, meio receoso, diria pro Pai Eterno:

─ Quero voltar pro inferno, lá é menos perigoso.

DESPEDIDA Perto do fim da viagem, na hora da despedida o homem revê seus passos na existência florida, e relembra as caminhadas pelas estradas da vida. Lembra do melhor amigo; a primeira namorada; seus projetos de trabalho; seus sonhos, sua morada; o abraço dos seus filhos; e sua mulher amada. Somando os prós e os contras que teve desde a raiz, ergue suas mãos pro céu, agradece a Deus e diz: ─ Ah, como é bom ser amado! ─ Ah, como é bom ser feliz!

FALAR DE MULHER, FALAR DE AMOR

Eu quero pra ti mulher dizer coisas importantes, sem palavras redundantes, nem rimas que ninguém quer. Que as palavras que eu disser não soem como eu previsse, e nem pareçam tolice de um poeta apaixonado, que mesmo estando inspirado diz coisas que alguém já disse. Tentei, juro que tentei. Virei um visionário, saí, mudei de cenário, fui às ruas, procurei; em todo canto busquei. o que me desse teor. Depois de tanto labor eu conclui sem mister: Quem quer falar de mulher, tem que falar de Amor.

JOSÉ ACACI RODRIGUES

JOSÉ DE CASTRO Pág. 36

TRÊS POETRIX

1. BRAILLE Em toques suaves tateio e leio cada página do teu corpo.

2. SAX SINFONIA Sustenidas saudades, solitários solfejos, sonoro silêncio. 3. FEITO JÓIAS No teu pescoço, meus beijos colar.

UMA ALDRAVIA mistérios segredos sussurros murmúrios loucos desejos

MIUDEZAS Num pequeno vaso plantei um uni_verso completo e toda a tristeza do mundo. Amor cabe? Silêncio, talvez.

JOSÉ DE CASTRO

Silhueta de Mulher na Água – Imagem

sem autoria identificada. Disponível no sítio: anjosemasas.xpg.uol.com.br

Terrário – Imagem sem autoria identificada, disponível

no sítio de Jesuila Bezerra: http://duila2003.blogspot.com

O Cangaceiro Lampião - Desenho de José Rosa Filho. Imagem disponível no

sítio: lampiaoaceso.blogspot.com

Livro Pássaro Poesia – Imagem sem autoria identificada. Disponível no sítio:

professordiegolucas.blogspot.com

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Kukukaya POESIAS

JOSÉ IVAM PINHEIRO

VOZ, CORAÇÃO E MENTE. A minha voz é o vibrar de poesias, na ousadia, que inspirado invento o captar lumiares de sentimentos, para mostrar felicidades nos dias. O meu coração é risco de chicote, que risca e trisca criando no mote, a liberdade do voar, a ave do amor beijando gerúndios e porvir na flor. Sou a persistência de um Quixote na peleja com moinhos de fulgor para ter o bem num reino de labor. Na mente trabalho réstias de luz, no embate de juntar o que seduz pra se fazer poema: vida sem dor.

LAPIDAR, TANTO AMAR

Vamos em paz lapidar a aura do viver, feito ajustes na beleza do bem-querer. Alegria de uvas em chuvas de vinhos, em bons tempos fluindo doce carinho no crível feitio da lúcida voz da paixão. Afã sutil do amor, joia rara do coração. Pulsação que venha e ampare manhã. Chão de nós e lúdico sentir tão incrível é linho ou seda em lençóis de mil tons, moinhos de desejos que beija a poesia. Ter amores tão pulsantes aqui no peito, reclamos que fazem nós em nós no ser.

DE LÍRIOS E DELÍRIOS

De lírios queira a surpresa na realeza dos sonhos ternos soprando delírios na aba do seu dono - eu, o teu amor. E na certeza, do que era o abandono, venha e camaleônica seja luz de flor para se jardinar corações entre sono, e se alvorar pássara suave no brilho. Trilho luar soprando éden da beleza.

JOSÉ IVAM PINHEIRO

JÚNIOR DALBERTO Pág. 37

UNDERGROUND

No esgoto das cavernas do metrô Ratos mastigam pedaços de dedos

De um menino que jaz com um tiro no olho O outro aberto às sombras

Nu e sujo de fuligem A boca aberta em um grito inaudível Mostra os dentes amarelos quebrados

Seu cheiro necrosado é disfarçado pela fumaça das locomotivas que passam

E passam O Mêtro passa

Tudo passa Todos passam Depois voltam Todos voltam

Carregando destinos Das janelas escuras rostos sem olhos

Observam o nada Bocas famintas

Dentro das cavernas Mastigam

Abaixo dos trilhos Acima dos trilhos.

MARINAS AO VENTO

Sentada em rochedo na praia Entre lágrimas salgadas Misturadas ao quebrar das ondas. Sofro por um amor traído Miro horizontes sem certezas Pensamentos escalam nuvens Buscando respostas pro meu desencanto Vontade louca de me jogar aos ventos Mergulhar naquele abismo de água e sal Nunca aprendi a nadar Doutrinada a amar, sofrer se dar. Queria morrer molhada, misturada às lágrimas Pra te deixar sofrendo remorsos Por abandono ou por tristeza De ser feliz com outro amado. E eu aqui só conversando com gaivotas. Rezando por sua volta Que jamais acontecerá. Feito barco numa Tormenta Leme quebrado, sem rota, nem salva vidas Alma atormentada sem gosto sem vida. De um amor que partiu e me deixou somente Um gosto triste de me lançar no ar.

JÚNIOR DALBERTO

Lírios e Pássaros – Imagem sem autoria identificada, colhida do sítio: http://juniorbonfim.blogspot.com.br

Dom Quixote e Sancho Pança retratados por Pablo Picasso –

Imagem disponível no sítio: http://chc.cienciahoje.uol.com.br

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Kukukaya POESIAS

LEDA MARINHO VARELA Pág. 38

A POESIA

LEDA MARINHO VARELA

ZILA E O MAR

Diante do mar, Zila se iluminava E dentro dessa intimidade quem em vivia,

Sabia descobrir os clamores do vento E entender os soluços da maré.

Eram momentos de deslumbramento Espargindo brilhos na sua poesia.

Quando a leveza das espumas Evolvia o seu corpo Se sentia abençoada

E, pela natureza, celebrada. A carícia das águas dava-lhe paz

E nas suas visões oceânicas Vislumbrava“conchas, rochedos e navios carregados de luar”.

Eram sonhos que se projetavam nos seus versos Porque o seu universo era o mar,

Que enriquecia sua poética, Ora sem rimas, ora se métrica.

Com olhos refletindo algas Sua face pousava sobre as águas E mirando-se no rosto das ondas

Fotografava-se por inteira E as oscilantes imagens

Navegando em cardumes de desejos, Faziam da sua inspiração uma maré cheia.

Uma tarde, na fria areia molhada, Transpondo marolas e sargaços,

De peito aberto deu um largo abraço No Atlântico e no Potengi,

E ao escutar os cantos do marulhar, Zila, nossa sereia poeta,

Num último suspiro de poesia Encantou-se numa Estrela do Mar.

MARIA

Era pesado aquele ferro de engomar, Brasas vermelhas espalhavam calor

E o rosto de Maria era o reflexo da dor. Face sofrida

E semblante embrutecido Anestesiavam seus sonhos

E adormeciam sua emoção, Ah, ferro a carvão! Queimava roupas,

Queimava a vida de Maria Sorriso calado, Corpo cansado

Quase sem forças para soprar aquele fogo Que não podia apagar,

Maria tinha que engomar. As fagulhas deixavam suas marcas

Nos caminhos que percorria, Com horizontes fechados para a sua vida.

Cadê saída? Lembro-me de você, Maria,

Quando me envolveu num cobertor Apagando o fogo que me consumia,

Fazendo voltar minha alegria. Dentro do seu jeito rude

Experimentei essa prova de amor, Que revelou sua essência

Com tão pouca transparência. Queria tanto revê-la, Maria,

Recordar coisas da minha infância, Quando você me benzia com raminhos,

Declamando orações, Recitando ladainhas...

A poesia é algo mágico, É calor em pleno ártico,

É imaginação, criação. É verdade inatingível

De uma beleza incrível, Um mundo de ilusão.

A poesia é uma crença, Uma doença de nascença, Sem remédio e sem cura,

Acompanha a minha vida E quando me sinto caída É ela quem me procura.

É um temporal de emoções, Que me eleva ao universo.

E entre astros e monções Me inspira a fazer meus versos.

Indefinível é a poesia, É mistério e fantasia, Faz do meu pranto, canção, E me acalma o coração. Convivo com utopias, Celebro minhas manias, Meus pés não tocam o chão, Vivo solta pelo céu, Como uma folha ao léu. Estou sempre a voar Nas asas dessa magia, Que se chama POESIA, Procurando meu lugar. E entre astros e monções Me inspira a fazer meus versos.

Zila e o Mar – Desenho do 1º Episódio do Seriado Zila & Memória. Disponível no sítio:

natocatem.wordpress.com

Ferro de engomar a carvão – imagem sem identificação da autoria. Disponível no sítio: sempreseminovos.blogspot.com.br

Flor da Simplicidade – imagem sem

identificação da autoria. Disponível no sítio: procrastineaqui.wordpress.com

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Kukukaya POESIAS

LEONAM CUNHA Pág. 39

poema de quasefim de carnaval

III Absorvo o sêmen da vida como quem - angélica-mente – sobrevoa os campos fartos de trigo Lembro que peco com muita consciência e sobretudo porque busco no dia o prazer A minha língua tem o poder de concretizar-se linguagem, assim como só pela linguagem concretiza-se deus.

LEONAM CUNHA LÍVIO OLIVEIRA

O QUE FINDA E O QUE BROTA

Ao atravessar pontes armada sem saber exatamente o quando e o que havia adiante dos dias todas as forças vieram ao corpo os ponteiros do relógio ditaram novo tempo novo tempo novo tempo fez-se assim o calendário rodado os ponteiros o encontro o desencontro repetidos luzes lá no alto dos postes e dos morros as cidades em movimento e em desejo a leveza aqui na mente: esperanças repartidas como os pães na mesa multiplicados santos em volta em torno da festa uma a que se inaugura a cada olhar redondo o que se firma e fixa em lâmpada solitária presa à cruz e exposta ao vento da noite e do dia azul em que o mundo acorda atento em paz na sala e nas telhas e nuvens e alturas sinceras todas onde o sonho se instala e resta presente e sensível e translúcido sem que a dor invada espaços que não lhe pertencem porque valem o voo da mente limpa e do que se fez por bem ao bem de todos e sempre .

LÍVIO OLIVEIRA

diagnosticamos que a verdade não basta que só a invenção nos é suficiente e que nos trópicos a saudade é muito maior saudade de qualquer desejo saudade de propensos detalhes o amor esse laço incurável já se vai despedindo com um frio aperto de mãos com um sublime aperto de peito tudo é muito rápido sobretudo aqui pelos trópicos e nós bebemos sem brindar virtudes e nós dançamos para agrupar as solidões

Despacho

Escrever por escrever. Sem edificar propósitos. Escrever com propósito

destrói o exercício da escrita. Quem escreve com propósito

é cientista, e que dor de barriga. Poeta descoroa sistemas postos.

Carnaval – Imagem sem identificação de

autoria estando disponível no sítio: barretepreto.blogspot.com

Tempo e Natureza – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: carmenarabela.wordpress.com

ABRI ABRIGOS

Abri portas abri corpos abri copos abri latas abri livros abri dias abri tuas pernas toda a história entra contada entreaberta entrecortes entre tantos tintos entredentes nessa estória recortada recontada errada que resvala no centro e nos tentos perdidos signos ostentados de uma dor partida em dois uma dor partida em dois e um só resto do que fui ontem amparado pelo sólido ar no nada rompido no nada estragado no nada que abrigo que abrigo que abrigo.

META

Aos domingos: sobreviver sem saber se mais tarde haverá cinema ou pizza

ou o apocalíptico fantástico o show da vida-e-da-morte ou se a chuva leve chorou

na frente de casa pingando pingos nas folhinhas da acácia se guardei as lágrimas ou não

se as derramei na cama no quarto e se haverá ou não a segunda

e os próximos dias terão domingos entre eles e mim e alguém mais.

Tempo – Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: http://www.meuanjo.com.br

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Kukukaya POESIAS

LÚCIA HELENA PEREIRA Pág. 40

LÚCIA HELENA PEREIRA

A DOCE LÁGRIMA

-Ela escorria da ladeira d´alma Radiosa como o sol.

Vinha de um cântaro de perfumadas flores, Docemente deslizando dos meus olhos.

-Bem à frente daquela fonte de luz

A lágrima passa veloz Misturando-se à incansável simbiose das águas Que o segredo buliçoso do momento expandia!

-Havia na minha lágrima uma doçura imensa,

Canção distante no olhar querente Insatisfeito, magoado, espinho cravado na íris

Ferida ainda aberta, sangrando...

-A minha lágrima dorida É uma fonte imensa de tristeza

Caindo num lago azul, só de flores Onde anjos banham-se e cantam.

-Onde os meus sorrisos de infância?

Onde a felicidade de outrora? Onde recuperar o passado?

Onde não sofrer buscando explicações?

-Desce um véu de luz dos meus olhos, Inebriante estrela fulge ao longe,

Sinto-a escorregar entre os meus dedos... É a lágrima contente, a festejar!

BRINCANDO COM AS PALAVRAS

Quero brincar com as palavras dos seus versos úmidos E escorregar numa gangorra de lírios e flores.

Brincar com todas as exclamações escravas E rimas livres do recôncavo melhor de um poema!

Quero saltitar entre dunas de sonhos E gigantes de realidades bem azuis.

Aterrissar num lindo arrebol, iluminado, Sem poeira e sem saudades...

Quero brincar com a sinfonia dos seus versos

Numa nota bem alta, aguda, estridente... De sensações loucas, alucinadas,

Vazando de minha essencial melodia.

Quero, apenas, simplesmente, tocar Em sua macia e inconsútil pluma de emoções.

Escrever uma palavra pequena e bordar Em pena d´oiro, as flores dos teus versos.

SEM TEMA

Ouço canções de amor Na brisa fresca da hora,

Quando a lua despede-se da noite E o sol agonizando no horizonte

Explode em raios luminosos!

À minha frente, a estrada escura e longa, Onde moram anônimos poetas

E uma criança faminta Brinca de ser feliz!

Mais adiante o proletário

Adentra em seu modesto casebre, Está arfante, após o dia de trabalho

Na grande fábrica de suor e lágrimas.

E suas mãos mornas e molhadas Acariciam a magra esposa.

Depois, resignadamente, Come a pobre ceia.

Cansado sobe à velha rede para repousar

Enquanto a chuva, sem pedir licença, Vai molhando o seu barraco.

Esperando um milagre

Fecha os olhos e adormece Porque precisa sonhar,

Apenas sonhar!

Cascatas e Flores – Imagem sem autoria identificada na fonte pesquisada. Disponível no sítio: www.bancodeimagenesgratis.com

Pássaro e Rosas – Imagem sem autoria identificada, coletada a partir do Portal “Pinterest” – sítio: https://br.pinterest.com. Disponível e salvo do sítio: http://jmpcard.blogspot.com.br

Pássaros, Borboleta, Lua e Flores – Imagem sem autoria identificada na fonte pesquisada. Coletada e

disponível no sítio: www.pinterest.com

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Kukukaya POESIAS

MAÍRA DAL’MAZ PINHEIRO Pág. 41

MAÍRA DAL’MAZ PINHEIRO MARCOS MEDEIROS

MARCOS MEDEIROS

“essa canção não é mais que uma canção”

ato fora do comum é pegar carona em que não há narrações de historias trágicas vividas por todos ontem tinha iolanda, só uma senhora, que falou de seus ossos todos colados e frágeis como os de f. kahlo e ela tinha anéis iguais aos meus ela tinha brincos iguais aos meus e um tom de cabelo igual ao meu eternamente, iolanda

poema para h. e as imagens

diz-me ao ler que gosta de ter estado nas imagens

que boto no poema no momento em que as vi

então antecipas o verso me troca os ossos roídos

que eu rasgava aos bocadinhos por novos passeios

para que eu possa continuar a ver e a botar o que vimos

nestas letras

mas h., a surpresa onde fica? quando você é a imagem? ou quando são minhas respirações

e taquicardia noturnas e pernas bambas? as músicas de striptease?

onde fica a surpresa, h.,

e como ver sem ti?

depois de sílvia

sentir a permissão para alcançar uma emoção coisa há muito esquecida nas paixões e seus ímpetos de objetos quebrados, como os vasos lançados das janelas, acender o círio d'um santo e rezar longas preces a essas paixões descuidadas: o que entocam os poetas no cano que leva o fundo dos seus vasos de banheiros sujos depois de cervejas, cigarros e som? sentir a permissão de jogar o corpo na estrada, ir até... voltar a si e negar o arremesso mas só depois do desvario de quando sílvia me fala

Carona na estrada – Imagem sem autoria identificada na fonte pesquisada. Disponível

no sítio: cupom.com

Silhueta de Mulher – Imagem sem autoria

identificada na fonte pesquisada. Disponível no sítio: prosaserisos.blogspot.com

TODO DIA EU PERCEBO, DESDE CEDO, A PRESENÇA DO PAI DA CRIAÇÃO*

* (Um poema em vice-versa; de cima pra baixo e de baixo pra cima). No frescor duma brisa matutina, eu respiro a paz, sinto o teor, quando o sol vem raiar, com seu fulgor, espalhando no céu a luz divina. Descortina, assim, verde campina, refletindo toda iluminação, tendo sons, vindos da vegetação, musicando a copa do arvoredo, toda dia eu percebo, desde cedo, a presença do Pai da Criação.

A BELEZA E A POESIA Quando a beleza aparece vem vestida de alegria embora seu conteúdo seja a alma que irradia, por isso a pessoa bela também carrega com ela a beleza da poesia.

Amanhecer – Imagem sem autoria identificada na fonte pesquisada. Disponível no Blog de Álvaro dos Santos - sítio: http://www.espiritbook.com.br

Pássaros Cantando – Imagem sem autoria

identificada na fonte pesquisada. Disponível no sítio: http://www.edsonurubatan.com.br

A DIMENSÃO DOS MEUS VERSOS

Quem quiser mandar que mande. Eu não nasci pra mandar. Podem chamar-me de grande, mas grande não vou-me achar. Muito pequeno é meu verso, grande mesmo é o universo que inspira o meu poetar!

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Kukukaya POESIAS

MARCOS ANTONIO CAMPOS Pág. 42

MARCOS ANTONIO CAMPOS

FILHOS Filhos? Fi-los. Fi-lo Sófia. Fi-lo só. Fi-lo Sócrates. Filhos com amor, Fi-lo Eros. Filhos de bacante, Filhos diamante, Fi-los de amante. Filonegro, Filobranco, Filho brasileiro, Fi-lo lusitano.

MAIAKÓVSKY

Lutaste por uma arte original, Revolucionária.

Lutaste com a palavra. Foste combatente do verbo, Com poemas de exaltação.

Resististe à imposição, De escrever o vazio óbvio,

Mas tua poesia repleta de gritos. Não resistiu ao poder.

Não resististe a Molotov. Não resististe à revolução,

Da retórica implantada, Da merda petrificada,

Do ar fétido de Moscou, Morreste em vida,

Mas ficou o menestrel. Tua ausência nos deixou um vazio infinito

Que nem um verso gravado no granito Explicará o Cubo-Futurismo de tua morte.

Em tua morte há tanto de vil Quanto há tanto de belo.

No soneto final de tua vida, Deixaste-nos uma fratura

Sangrando tinta escarlate, Porem tuas rimas e versos

Não serão submersos Em tua sepultura.

Hoje executarei teus versos. Ressuscito-te porque te admiro. Há versos novos no teu velório,

No coração-pulmão de minha vida Respiro a tua poesia suicida,

Pois não há tiro que ponha um ponto final. Na beleza de teus versos.

Vladimir Maiakóvski (1893 – 1930) – Imagem sem

autoria identificada, colhida do sítio: http://acasadevidro.com

Pais e Filhos – Imagem sem autoria identificada. Disponível no sítio: temosquefalarsobreisso.files.wordpress.com

INFERNANDO Não importa se é De La Rua ou Collor, há sempre alguém infernando nossa vida. Fernando, o argentino, Que não é grego, mas cretino Fez uma tramoia Trouxe um Cavalo de Tróia E jogou o povo de La Rua. Não importa se é Collor ou Cardoso, há sempre alguém infernando nossa vida. Fernando, o moderno Logan, Armani o terno Fez com Zélia uma lambança Confiscou do povo a poupança E disse: não me deixem só Não importa se é Cardoso ou Alonso, há sempre alguém infernando a nossa vida. Fernando, o Sociólogo Ex-presidente, mas prólogo Da maconha. Fez um plano Real Conseguiu o equilíbrio fiscal E disse: para combater o apagão, temos que acender bituca Não importa se é Alonso ou Haddad, há sempre alguém infernando nossa vida. Fernando, o piloto Espanhol e maroto Fez com a equipe uma pilantragem Pediu pelo rádio uma ultrapassagem E disse: Massa está mais lento do que eu Não importa se Haddad ou outro qualquer, sempre haverá alguém infernando nossa vida. Fernando, o da magistratura. Que trocou o MEC por uma prefeitura Fez da educação uma pizza de ricota Estabeleceu um sistema de cotas E SISUdo disse à sociedade: tô ENEM aí.

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Kukukaya POESIAS

MANOEL CAVALCANTE Pág. 43

MANOEL CAVALCANTE

TRATADO DE UM AMOR MAL TRATADO

“Pra que mentir Fingir que perdoou

Tentar ficar amigos sem rancor”

Cazuza

Por ora trocamos insultos morais Com cada um mais certo das coisas que diz E as farpas deixadas em chãos virtuais São puro remorso de um sonho infeliz. Você finge muito... E eu finjo demais... Ninguém hoje nota qualquer cicatriz Na planta em que os galhos, doentes finais, Morreram, mas vivem reféns da raiz. Você sofre muito com sua carência E eu mato c’ aquelas que encontro excelência, Com calma... Com jeito... Mas nunca indo além... Você faz de mim um antigo colega, Prefere negar, mas o tempo não nega Que agora sozinhos, não somos ninguém.

DOR DE POETA Um poeta, um velhinho e um vil mendigo Se encontraram na rua, mano a mano, O mendigo falou: “Eu só consigo Ser este resto de farrapo humano”. O velhinho, sereno, em desengano, Disse: “Comigo eu vejo mais perigo A cada mês que passa, e a cada ano, Alongo os passos para meu jazigo”. O poeta chorou, e mesmo forte, Sem esconder no coração o corte, Falou também pra não sofrer depois: -Cada verso que eu faço um mal me afeta! E não há dor maior que a do poeta Sentir na dele a dor dos outros dois.

PAU DOS FERROS À SOMBRA DA OITICICA (Trecho)

Da Rota do São Francisco Ao nosso Rio Apodi, Vinham vaqueiros cortando Pernambuco e Piauí, Que cansados da viagem Paravam com a bagagem E descansavam aqui. Sob as copas de oiticicas, À margem de uma lagoa, Os vaqueiros viajantes, Pra não ficarem à toa, Aqui achavam descanso Perante a paz do remanso De uma sombra muito boa... Vinham com cavalos, gado, De variados locais Marcavam com ferro quente As letras iniciais Em toda e qualquer boiada, Etiqueta consagrada Do dono dos animais. E, além de marcar na pele De cada animal que havia, Ferravam numa Oiticica Que no lugar existia, Sem saber que o rude ato Faria surgir de fato, Uma terra de valia. Iam marcando no tronco De uma oiticica sofrida, Que de tanto ser marcada Quase dissipando a vida, Sofreu muito, mas sem berros, Pelo nome Pau dos Ferros Ela ficou conhecida. Justamente pelo fato De gravar com a ferradura No tronco da oiticica Deu este nome à altura -Pau dos Ferros- sem igual, Marca mais original De uma heráldica bravura.

Pau dos Ferros à Sombra da Oiticica -

Capa do Livro de Manoel Cavalcante. Edição do autor, 2013. Imagem disponível

no sítio: www.clistenescarlos.com.br

Sinais do Coração - Imagem sem autoria identificada. Disponível no sítio: fabianaleivas.blogspot.com

Pássaros e flores - Imagem sem autoria

identificada. Disponível no sítio: casapoeticadetagore.blogspot.com.br

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Kukukaya POESIAS

SONETO DO AMOR INÚTIL De tanta beleza e delicadeza tanta olho no olho, aperto de mãos eu de tão encantada e tonta fui guiada pelo coração Teu amor não é mais que fantasia que só o cego pode enxergar que só o surdo pode ouvir que só o bobo pode esperar Teu amor é só uma aventura desisto dele com ternura sem mágoa, sem desventura Amor inútil, como chuva no verão como a seca no sertão como gol contra em decisão

MARIA DALVA DUTRA

FELIZ FINAL Acabou... a tua forma de amar não tem conteúdo teu desejo é dissimulado nada entendes de amor tua palavra não tem mistério teu sentimento é escondido tua alma é difusa não sabes amar tua doçura é encardida teu espelho é fosco teu coração tem nódoa não queres amar teu olho tem fundo falso já era um amor fadado ao fim O MEU AMADO O meu amado veio de leve de jeito, aos poucos, chegando pela manhã, timidamente à noite, ferozmente O meu amado com o seu sorriso aberto tateando meu corpo, beijando meu pescoço O meu amado assim devagarinho me embriagando como um capitoso vinho O meu amado é louco, é atento, é puro zelo Meu muito amado, amigo e amante de um calmo amor prestante de um feroz amor constante

MARIA DALVA DUTRA

MARIA MARIA GOMES Pág. 44

SILÊNCIO: A POESIA DESCANSA

A poesia me pediu silêncio: nada de passarinhos pelo lado de cá nada de ventanias e muçambês nada de canto ensolarado de galos seridoenses -os galos daqui cantam ensolarados- nada de gotas escorregadas das folhas chororas nada de manhã com jeito de tarde nada de beldroega em flor bonina A poesia me pediu esse silêncio de luto para que ela se arrume -moça jovem de roupa florida- e volte ao seu lugar comum: o Seridó, que me orienta.

UM CANTO PARA A PARTIDA

Levou o que lhe pertencia: roupas, alguns sapatos, um relógio de algibeira -do avô rico-, o chapéu de palhinha, a caixa de lenços bordados, a coleção de chaves antigas, o baú de tachinhas da velha Currais, pedrinhas do chão das tardes azuis. Levou o que lhe pertencia! Quando me dei conta o meu coração também ia.

DEZEMBRO SECO EM DÍSTICOS

Não é dia de festa em mim nesse dezembro seco. Cá, espero a vizinhança dos meus períodos invernais. Enquanto a chuva não vem, parto (me) O recado? Postado no correio do vento: Não estou em casa hoje, fui repaginar a vida.

(In: Proposta de Chuva)

MARIA MARIA GOMES

Vaqueiros do Seridó – Imagem sem

identificação da autoria na fonte pesquisada. Disponível no sítio: tokdehistoria.files.wordpress.com

Olhos de Cais – Imagem disponível sem a identificação da autoria no

sítio: livroscompipoca.wordpress.com

Livro Vida – Imagem disponível sem a

identificação da autoria no sítio: atiliano.com.br

Relógio de algibeira – Imagem sem

identificação da autoria na fonte pesquisada. Disponível no sítio:

www.watchsystem.com.br

Flor bonina – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: www.mundodeflores.com

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Kukukaya POESIAS

A VOCÊ MULHER A você mulher que sabe o que quer Que tem um sonho a realizar, A você mulher que não desanima Que até nos ensina a perseverar, A você mulher que é toda emoção Que tem fé, fibra, determinação, A você mulher que não falha Que luta e batalha na edificação De um mundo mais justo e melhor, Receba com carinho esta mensagem Ela é a minha sincera homenagem, Posto que tu és muito querida: “Mulher do teu seio brota a essência da vida”!

MULHER (acróstico I) Mais do que merecida esta homenagem, de verdade! Um dia apenas não é capaz de retratar sua BELEZA! Lembranças de conquistas e lutas contra a iniquidade, Herança de muitas mulheres que tiveram a GRANDEZA, Em acalentar sonhos que um dia se tornaram realidade. Reverenciamos a todas nesta data pela sua NOBREZA.

MARIA DAS GRAÇAS BARBALHO B. TEIXEIRA Pág. 45

MARIA DAS GRAÇAS BARBALHO B. TEIXEIRA

MATIAS VERZUTTI

MATIAS VERZUTTI

NASCER Nasci em um dia de verão, Sol forte de cegar a retina, Vento sibilando a mata, E Bem-te-vis a dizer bem te viii! Nasci em um dia de inverno, Umedecido de chuva e frio, Com curiosas a atiçarem o fogo, E tanajuras a voarem perdendo as asas! Nasci em um dia de outono, Com brisa leve trazendo cheiros, De fruta escassa, mas suculenta, Suprindo falta, deixando sobras! Nasci em um dia de primavera, Com flores se abrindo e rindo, Nas janelas, nos jardins, na juventude, Nos umbrais da vida nascida! Nasci em um dia de festa, De todos os Santos e Santas, Do natal do menino Jesus, E da festa da padroeira! Nasci nas quatro estações, Nasci nas muitas festas do ano, Nasci abrindo o berreiro, Nasci mimosa e fagueira.

MORTE! MORRER! Imperceptível Mas real e cruel Alada, nos rouba a vida E a transforma em pó! Indesejada, Nos bate à porta E sem pedir licença Abre e se faz senhora e dona Passa por cima de tudo E de todos Inadiável, prepotente e torpe Deixa vazio um lugar, um espaço Um coração Sorrateira Invulnerável, silenciosa Invade a vida Nos deixa a morte Por que deves existir Ó malfadada morte? Sombra que não tem réstia Luz que não alumia Chuva ácida que sufoca Vento que congela o corpo Sol que queima a alma Água que não mata a sede Por onde passas Deixas sempre um pranto Um cheiro de podre Vidas ceifadas Corpos inertes Fim de caminho Incerteza e pranto Ultrapassas o tempo E vais além da vida.

MINHA ALMA Alma nua Alma sem alma Alma profana Sentenciada, Penada, Proscrita, Irrequieta, Piegas, macambúzia. Alma boa, sofredora, Atemporal e sôfrega, Devoradora de rezas, Prometida, intrometida, Favorecida dos deuses, Alma protetora, De cor violácea, Ou será púrpura? Alma falada, poderosa, Meiga e talentosa, Alma em desalinho, Caminhante débil, Sombra e silhueta, Mimetizas cores, dores, Odores, valores, horrores, Temores, estertores, VIDAS, AMORES...

Flor Xanana – Imagem disponível

sem identificação da autoria no sítio: papjerimum.blogspot.com

Árvore e folhas – Imagem disponível sem identificação

da autoria no sítio: semeandoxto.blogspot.com

MULHER (acróstico II) Menina, moça, mulher, mãe, maravilha... Uma grande Obra da Natureza, rebrilha: Linda, doce, meiga, forte e aguerrida; Humilde, terna companheira da vida. Estrela de luz radiosa, de brilho constante, Responsável, valorosa, amiga e amante.

Flor Mulher – Imagem sem autoria identificada. Disponível no sítio: http://www.geraldojr.com

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Kukukaya POESIAS

MÁRIO LÚCIO BARBOSA CAVALCANTI

GOLE Na espuma da cerveja, a vida é um gole Que a gente engole com a boca material Mas que atravessa o corpo e chega à alma Trazendo calma e paz celestial E a poesia, vem como se fosse Uma garapa doce a ser bebida Pra nos dizer que vemos tudo errado, vivemos tudo errado, Sentimos tudo errado, amamos tudo errado, Na embriaguez da vida

MURALHAS Urgente é à noite Infinito é o momento Tambores infernais Salpicam o pensamento Tudo em volta são muralhas De proteção, ou reclusão? Cadê o eu que estava aqui?

PRECISO Preciso De um olhar maldoso De um sorriso cúmplice De um murmúrio rouco e ininteligível Que seja sensível e se faça sentir, Que venha abolir as mensagens escravas das outras palavras que costumo ouvir Preciso De um vulto, de um rosto, de um corpo, um semblante, de uma mão ousada, atrevida, poética Que, sem freio de mão, na contramão da ética Venha perpetuar o infinito de um instante Qual ninfa frenética que a vida insinua Sonsa e seminua, qual lua minguante Preciso, enfim De um anjo querubim, um anjo canibal, que, com fome animal, num eterno festim, se alimente de mim, sem nunca se fartar Um anjo sem halo, sem asas e sem juízo Que seja da minha casa paredes teto e piso E fique até quando não for mais preciso Precisar

MÁRIO LÚCIO BARBOSA CAVALCANTI

NILDINHA FREITAS Pág. 46

OUTRA Revestida de outra, Não sou eu mesma. Outra indiferente, Outra vida, Outra casa, Outra janela, Outra rua. Outra vista de longe, Outra vista de perto. Outra que some, Outra que volta. Revestida de outra, Estou inerte. Acalmo-me, Agito-me. Reflito, Recito, Reescrevo, Ressuscito.

DÓI Dói ouvir o que não queremos, Dói sentir o que não sabemos. Dói aceitar o que desconhecemos, Dói reconhecer que perdemos, Dói não saber o que temos. Dói sorrir na dor, Dói amar sem amor. Dói não saber o que fazer, Dói fazer sem querer. Dói andar sem rumo, Dói ficar sem chão. Dói solidão, Solidão dói!

NILDINHA FREITAS

NÃO IMPORTA Não me importo, Não me interesso. Não sou, Não é. Não tenho, Não tem. Não posso, Não se pode. Não recebo, Não dou. Não tem direito, Não se tem direito. Não pode nada, Não toque.

Muralha da China – Imagem disponível sem identificação da autoria no sítio: visao.sapo.pt

Solidão em flor – Imagem sem identificação da autoria. Disponível no sítio:

zelmar.blogspot.com

Ninfa – Imagem sem identificação da autoria. Disponível no sítio:

palavrasberrantes.blogspot.com.br

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Kukukaya POESIAS

OZÓRIO FERREIRA DO LAGO

SONETO DA CORUJA Lá, pelos meus oito anos de menino, Meu pai fez para mim uma coruja, E olhando no meu braço tão franzino, Disse: segure bem prá que não fuja! Peguei a minha pipa e corri risonho, E na ansiedade que em mim havia, Colei nela os meus melhores sonhos, Para que fossem onde eu não podia! Foi subindo... subindo... e de repente, Veio o sopro de um vento sem destino, Para roubar meus sonhos, ferozmente! Espalhados pelo espaço sem fim, Meus sonhos - culpa daquele ladino - Já não conseguem mais voltar prá mim! FOLHAS CAÍDAS Com a fragilidade de instantâneas bolhas, tu pensaste em compartilhar as nossas vidas, entretanto, esse teu amor de caídas folhas, apodreceu, no chão, como folhas caídas! Com o desencanto dos anjos decaídos, que ouvem música de desafinados banjos, os sonhos que desenvolvi tão destruídos, eu percebi, tal qual, os decaídos anjos! Entrementes, somente eu sinto, tu não sentes, que a infecundidade dessas sementes mortas, transformou o viço teu, nessas mortas sementes! Tratando bem as chagas de certeiras setas, na vida, seguirás fechando certas portas, seguirei, na vida, fechando as portas certas! SONETO DOS RETRATOS Quando vejo meus retratos da infância e comparo com retratos de agora, sinto que existe, hoje, somente a ânsia de ser feliz, assim como eu fui outrora! Foram tão felizes aqueles anos... nos quais vivi tão descuidadamente, ninguém me preveniu que os desenganos viriam para visitar a gente! Chegaram e sem me pedir licença, numa madrugada chuvosa e fria E se impuseram à minha presença! Se já não sou mais aquele menino, Entretanto, ainda sou a moradia, Dos inquilinos desse meu destino!

OZÓRIO FERREIRA DO LAGO

PAULO CALDAS NETO Pág. 47

PROPAGANDA

Aplausos para o projeto!… Categoria, prêmio…

Eu, à venda.

Esperar: esperar fama? O tempo é breve e consome. Esperar é verbo e clama por ação, vontade, fome.

CANÇÃO PARA UMA PROVÍNCIA SUBMERSA

(Para o Escritor Otacílio Alecrim) Tua imagem morta assusta forasteiros. Diz quase nada do que foste um dia. Uma pintura espera incompleta A chegada de uma alma dileta, Dando cor aos retratos que vivia. Mostrou que no fundo sempre tinha Marcas de um tempo a rodar, Fatos no escuro a descer Até onde este lugar pode lutar, Dentro de nosso próprio entardecer, Pelo direito de, na memória, ficar. O meu povo guerreiro revira Todo o calor de sua ira À procura de histórias verdadeiras; Tampouco abandonam inteiras Gotas de lembranças pelo ar. Bate o pé no chão, Princesa do Sol, Ilumina o meu riso de criança E me faz acreditar em tuas danças, Erguidas depois de muitas andanças, Pois mais forte é o teu contar. No Cruzeiro do Sul, estarei, Cantando inesquecíveis canções Para assim ser, como a lei, A passagem de dois valentes corações. Já vai resplandecer bem distante, Já vai o sonhar delirante Para os lados do meu peito E me deixa crer de qualquer jeito Na inércia veloz diante do feito, No renascer de uma província, No elixir do vazio a todo preço.

PAULO CALDAS NETO

Livro Província Submersa (capa) de Otacílio Alecrim – Ed. do Instituto Pró-Memória de Macaíba/RN e Senado Federal. Imagem disponível no sítio: 4.bp.blogspot.com

Foto de Otacílio Alecrim – Disponível sem a identificação da autoria no sítio:

nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com

Crianças soltando pipa (coruja) - Disponível sem a identificação da autoria no sítio: deniseludwig.blogspot.com

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Kukukaya POESIAS

RITA CRUZ

SONHO

Hoje acordei feliz Como sempre a sonhar Sonhei que era borboleta Pelas flores a bailar... Oh quanta felicidade Quantas flores eu beijei Só não posso beijar a flor Que na vida tanto amei. Mas um dia disse Deus E no sonho me falou Sua flor estará à espera Do beijo que aí ficou.

DOCE VENENO Suavemente pousei os lábios no rosto... Estavas tremulo... Não sei o certo... Mas eu senti o pulsar do sangue em tuas veias Uma veia latejante no pescoço, Fez-me arfar de desejos... Quis morder-te e sugar, o escarlate líquido quente. Foi um misto e prazer e loucura Um pouquinho mais eu chegaria aos teus lábios. Porém sonhas com meu beijo ardente. Tens fome e sede de mim. Fujas... Fujas te imploro. Não atormente essa infeliz criatura negra. Sou alma perversa. Trago um doce veneno nos lábios No corpo um líquido letal. Não se aproxime. Fujas ainda é tempo. Transfigurada pelo dor da carne dilacerada Ferida pela vontade de matar e morrer Vago noite adentro na escuridão.

IMAGINAÇÃO Chega de mansinho Na escuridão do quarto Tudo parado Uma leve brisa Um suave perfume penetra-me as narinas Fecho os olhos. Aí estás. Meu anjo. Anjo de luz! Veio me salvar? Abraça-me! Teu beijo, um leve roçar. Imaginação? Talvez! Encharcados de enganos.

RITA CRUZ

ROBERTO NOIR Pág. 48

ÀS NOSSAS CINZAS

Lembre-se de como costumávamos sofrer Acorrentados a apodrecidas carcaças amorosas De como os nossos discursos eram repetitivos E nossos olhos eram deprimidos e vazios Nossos lábios não são mais tão amargos Possuem um agradável sabor agridoce Não nos comportamos mais de forma infantil Embora ainda não sejamos iluminados Costumávamos fazer lamentações estúpidas Como se isso servisse para destruir o mal interior Mas não cometeremos novamente tal estupidez Que aprisionava e atrofiava nossas mentes Um dia nossas cinzas separadas estarão Assim como nossos sentidos estarão mortos Contudo, de uma maneira ilógica e/ou fúnebre Saberemos que nossos beijos ficaram mais doces!

EQUINÓCIO.

Aguarda-se uma igualdade que nunca virá A luz não iluminará de forma simétrica Tudo isso não passa de uma esperança excêntrica Já que há um solstício sem fim Talvez não haja mais hiperbólicas preocupações Nem esta melancolia travestida de incessante depressão Quiçá tamanho espaço desnecessário e inócuo Repleto de sofrimento e angústias para o coração! Porém o devir possui vontade própria E o curso das coisas naturais não se pode mudar Se os efeitos da luz deseja-se sentir É imperativo que o sujeito tenha que se deslocar! Contudo, persiste a inexorável dúvida Acerca da (im)possibilidade do movimento: Será que o indivíduo pode alcançar outro hemisfério Ou estará condenado a uma eterna noite polar?

O VINHO DA NOITE

O vinho da noite, o alucinógeno perfeito! Ao beber de seu infinito conteúdo Serei o ébrio mais sóbrio da existência Possuirei uma ínfima parte da onipotência Noturna, pois a ela estarei amalgamado Eu, um mortal, tornar-me-ei divino! Embriagar-me-ei com o vinho da noite Que álcool não possui; ao invés deste Está cheio de estrelas e constelações Alfas, Betas, Gamas, nebulosas e cometas Além dos gritos dos desesperados seres Que somente são ouvidos pela escuridão plena!

ROBERTO NOIR

Beija-flor – Imagem sem identificação de autoria, estando disponível no sítio: http://www.beijaflorfloricultura.com

Taça de Vinho e Lua Cheia – Imagem disponível no sítio: www.pinterest.com,

sem identificação de autoria.

Anjo de Luz – Imagem disponível no sítio: holisticocromocaio.blogspot.com

sem identificação de autoria.

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Kukukaya POESIAS

ROSA REGIS

O MAR

(Galope à Beira-Mar)

Num tom verde escuro que lembra a floresta, Tranquilo e sereno parece dormir,

Meu ser se embevece e me vejo a sorrir. Sorriso de leve que, bem sei, atesta

Minh'alma e a dele com a mesma vesta. E sigo "sonhando". Não quero acordar.

Curtindo a beleza que, a se espalhar, Molha a franja vermelha ao pé do horizonte, Não sem antes fazer, das ondas, um monte

Que irá desmanchar-se à beira do mar.

SE A MÉTRICA NÃO FOR BEM FEITA

O CORDEL NÃO FICA BOM

Se a métrica não for bem feita O cordel não fica bom E aí você sai do tom

Porque a rima rejeita. Porém se a métrica é perfeita

E o versejar bem rimado, O cordel, em resultado,

Faz o poeta feliz. Isso o meu coração diz,

E sei, não estou enganado.

NAS VOLTAS DO TEMPO...

Nas voltas do tempo..., perdi-me a vagar Buscando encontrar o que havia perdido, Não me apercebendo do quão sem sentido É ir contra as ondas, enfrentando o mar. O tempo é malvado, só faz machucar! Mas meu coração, um sujeito atrevido, Por muito que sofra não fica abatido Mas, fortificado pelo verbo amar. No barco da vida, cheia de esperança, Imagino o tempo um ser de bonança, Como uma criança que em tudo crê. Afinal me entrego, sem desconfiança, Ao imprevisível. Fazendo aliança Com o tempo que passa, e à sua mercê.

ROSA REGIS

SALIZETE FREIRE SOARES Pág. 49

FRAÇÃO DE SEGUNDOS

Em torno da meia noite A meia luz de um quarto Na meia volta do abraço Escutei em meia voz Você dizer só de meia Que em meia hora voltava Por suas meias verdades Há meio século estou.

MELHOREI A INSÔNIA

O vento trouxe notícias suas Puras imagens cruas e nuas O que me fez contar estrelas Ficar boba, falar besteiras, Acordar descoberta de luar Na nudez achar e não me achar Espumas de Sal, brisa de mar O sol me vestiu de luz Na sorte a pesada cruz.

.............................

Sou a pedra do seu único sapato O amargor da taça em louco ato De tornar a notícia um velho fato. O carrapicho preso a tua meia Arranhando como um pente de baleia Suas pernas fincadas na areia. Sou a bomba atômica explosiva Desfazendo-lhe inteiramente a vida Na jogada de uma única partida. Sou o falso profeta que lhe induz Creditar a mim guru de luz, Enquanto mais reforço a sua cruz. Vampiro vou sugando-lhe o sangue Cena bizarra de cruel instante Desfalecendo seu corpo ofegante. Sou o lamaçal no meio do caminho Encharcando de ponta de espinho Os seus pés em emaranhado ninho. Sou o que você nunca irá achar Sou sua única cartada no jogar Sua última carta no jogo de azar.

SALIZETE FREIRE SOARES

Noite e Sonho de Amor – Disponível sem

a identificação da autoria no sítio: http://cnfmpoesias.blogspot.com.br

Ondas de Cavalos – Disponível sem a identificação

da autoria no sítio: livrotriclopes.blogspot.com

O Barquinho – Disponível sem a identificação da autoria no sítio:

www.descortinandohorizontes.com

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Kukukaya POESIAS

SANDEMBERG OLIVEIRA

SONETO À CHUVA.

Noite tranquila e que acinzentada Me leva até a porta de meu pensar Nesse contexto me fazes clamar Por tua presença, noite nublada. Voa meu pensamento sem ter chegada Sem beijos, abraços, sofrer ou penar. Celebra comigo, vem ilustrar, A chuva que cai já acalentada. Teu destino por deveras incerto Não tem certeza de teu porvir Tu que preenches os corações desertos És água corrente, longe decerto. Leva contigo todo o meu torpor, Deixa comigo teus pingos eternos.

TANTAS TERESAS.

Terezinha qualquer Tanto lutas pelo pão Para acudir teus tantos filhos Ao relento e pelo chão O primeiro foi Joaquim O segundo foi João O terceiro ainda vive Mendigando com os irmãos Dá laranja que não é doce Do limão não tenho agrado Dessa vida dolorida Quero os sonhos realizados * Releitura do canto infantil “Terezinha de Jesus”

UM TODO Vê-de com que conclamas a dor, Tudo é nada e se faz e se refaz, E sentis e fingis a dor, Enganas a morte com palavras, Como enganas o mundo e a ti. Se tolo? Não sei! Se bobo? Não sei! Poeta talvez, Por amar ou fingir que é amor, Por ser um, quando posso ser mil. Por ser só, quando sou palavras A abrandar os corações doloridos Encharcados de enganos.

SANDEMBERG OLIVEIRA

ZÉ MARTINS Pág. 50

SONHO ESTRANHO Pensei naquele sonho que repetiu, era uma viagem, um sonho só meu imagem viva, vinha turva e sumiu alegre, tangenciando a cor do céu. Não vi como começou a história que refluía no ápice da memória, é um sonho que é só um sonho feliz, como uma peça sem tamanho No jogo da busca do mistério que o sonho arma, indecifrável, sem definir qualquer critério, Era como um espaço inflável, sem fuga no plano infalível, como se o estranho fosse belo.

ESPECTROS VIVOS

Enquanto, os espectros vejo

Fico louco de viva expectativa. No celebro malabarista, cultivas, Fragmentos do doentio desejo,

Masoquista do próprio momento Sofre sorrindo!... Desejo doente...

Espero no estacionamento, No quarto móvel... Ser decadente

Espectro, concreto nu visível,

Divisor de inúmero medo Pulando, foge do previsível.

Criador astuto de visões,

Feixe de flechas de folguedo, Espectro vivo clareia os vagões.

OUVINDO A VOZ

O que vem por trás dessa voz Tão meiga, no timbre sensual Deslocam fluidos dentro de mim Como se fosse um poema virtual. O que traz essa voz penetrável Tão suave, mexendo por dentro Misturando a voz e o sentimento Num instante tão pequeno. O que traz essa voz relampejante Que vai me deixando molhado Te imaginando no outro lado. O que vem por trás dessa voz Que traz a surdez excitante No vazio do imaginário sagaz.

ZÉ MARTINS

Chuva e crisântemos – Imagem disponível no sítio: es.anawalls.com, sem identificação de autoria.

Criança cantando – Imagem disponível no sítio:

https://catracalivre.com.br, sem identificação de autoria.

Sonhos ou pesadelos – Imagem sem autoria identificada. Disponível no sítio: dreamcatcherartedesign.wordpress.com

Filtro de Sonhos– Imagem sem autoria identificada. Disponível no sítio: dreamcatcherartedesign.wordpress.com

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Kukukaya POESIAS

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Pág. 51

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Kukukaya POESIAS

Pág. 52

Seleção de Poemas

POETAS ENCANTADOS DO RIO GRANDE DO NORTE

01 – Auta de Souza

02 – Ferreira Itajubá

03 – Henrique Castriciano

04 – João Bosco Campos

05 – Jorge Fernandes

06 – José Leão Ferreira Souto

07 – Juvenal Antunes

08 – Lourival Açucena

09 – Moysés Sesyom

10 – Nísia Floresta

11 – Pedro Simões Neto

Fortaleza dos Reis Magos, Natal - RN – Imagem de domínio público

(CC0 Public Domain). Disponível no sítio: pixabay.com

Seleção: José Ivam Pinheiro

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Kukukaya POESIAS

AUTA DE SOUZA (*12/09/1876; +07/02/1901) Pág. 53

AUTA DE SOUZA

FERREIRA ITAJUBÁ (*21/08/1876; +30/06/1912)

FERREIRA ITAJUBÁ

NOITES AMADAS Ó noites claras de lua cheia! Em vosso seio, noites chorosas, Minh’alma canta como a sereia, Vive cantando n’um mar de rosas; Noites queridas que Deus prateia Com a luz dos sonhos das nebulosas, Ó noites claras de lua cheia, Como eu vos amo, noites formosas! Vós sois um rio de luz sagrada Onde, sonhando, passa embalada Minha Esperança de mágoas nua... Ó noites claras de lua plena Que encheis a terra de paz serena, Como eu vos amo, noites de lua!

(Macaíba - Agosto de 1898).

CAMINHO DO SERTÃO

À meu irmão João Câncio. Tão longe a casa! Nem sequer alcanço Vê-la através da mata. Nos caminhos A sombra desce; e, sem achar descanso, Vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos! É noite já. Como em feliz remanso, Dormem as aves nos pequenos ninhos... Vamos mais devagar... de manso e manso, Para não assustar os passarinhos. Brilham estrelas. Todo o céu parece Rezar de joelhos a chorosa prece Que a Noite ensina ao desespero e a dor... Ao longe, a Lua vem dourando a treva... Turíbulo imenso para Deus eleva O incenso agreste da jurema em flor.

Luar – Imagem de domínio público (CC0 Public Domain) sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: pixabay.com

A JANGADA

Dia pleno. Céu claro. A atrevida jangada Corta ao vento marinho a água salsuginosa… – Que coisa simboliza? Uma asa tremulosa De garça, a palpitar sobre a esteira anilada. Marés não perdem, até que um dia naufraga, Rola no bojo azul da vaga procelosa… É o mistério da vida efêmera, enganosa, Tudo vindo do pó, tudo voltando ao nada… Assim, da alma que suga o mel das utopias, A jangada parte veloz aos ventos de janeiro. Em busca de ilusões no mar das fantasias… E tanto às ondas vai que, sem bolina e pano, Voa com o temporal, deixando ao jangadeiro, Se escapa, uma saudade… um tédio… um desengano…

POR JANEIRO Noites ungidas de claros vinhos, Plenas de rosas, noites lavadas. Cheias de idílios pelas quebradas, De eflúvios raros pelos caminhos... Noites de insónias e desalinhes, De serenatas pelas calçadas... Noites de trovas abemoladas Como gorjeios de verdelinhos... Trazei-me sempre, noites de enfeite, Todas as coisas dessa redoma: Chuvas de incenso, marés de leite, Matando o gérmen do desengano Que me tortura, noites de goma, Primeiras noites claras do ano!

Vinho e Rosas – Imagem de domínio público (CC0 Public Domain) sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: pixabay.com

Jangada – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: www.isthmus.com.br

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Kukukaya POESIAS

O menino e a pipa – Imagem de Domínio Público (CC0 Public Domain), sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: pixabay.com

Agradecimentos: À família do Poeta, na pessoa de Marcos Antônio Campos que forneceu a autorização para publicação dos poemas. - Ao artista Daniel Campos, pela colaboração, concedendo a autorização do desenho “Pipa sozinha” que ilustra a publicação dos poemas.

HENRIQUE CASTRICIANO (*15/03/1874; +26/07/1947) Pág. 54

HENRIQUE CASTRICIANO

JOÃO BOSCO CAMPOS (*04/06/1949; +02/10/1996)

JOÃO BOSCO CAMPOS

MONOLOGO DE UM BISTURI “Primeiro o coração. Rasguemo-lo. Suponho Que esta mulher amou: tudo está indicando Que morreu por alguém este ser miserando, Misto de Treva e Sol, de Maldade e de Sonho. Isso não me comove: adiante! Risonho Fere, nevado gume! e ferindo e cortando, Aço, mostra que tudo é lama e nada, quando Sobre os homens desaba o Destino medonho... Fere este braço grego! E as pomas cor de neve! E as linhas senhoris que a pena não descreve! E as delicadas mãos que o pó vai dissolver! Mas poupa o ventre nu, onde um feto gerou-se Porque hás de macular o sono casto e doce Desse verme feliz que morreu sem nascer?”

FEBRE

Por toda parte rosas brancas vejo… Rosas na fímbria dos Altares, Coroadas de amor e de desejo… Rosas no céu e rosas nos pomares. Uma roseira o mês de Maio. Aos pares Surgem, da brisa ao tremulante arpejo, Estrelas que recordam, sobre os mares, Rosas envoltas n’um cerúleo beijo. E quando Rosa, em cujo nome chora Esta febre cruel que me devora, De si me fala, em gargalhadas francas, Muda-se em rosa a flor de meus martírios, O som de sua voz, a luz dos círios… O próprio Azul desfaz-se em rosas brancas.

Rosa Branca– Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: ventor.blogs.sapo.pt

PIPA Multicolor era a pipa Com seda no seu feitio Boa madeira em fina ripa E linha do melhor fio Era universo que vinha No voo da imaginação Ligando por fina linha O homem ao espaço - criação Lançá-la longe e ao alto E vê-la de volta é o intento Mas, de repente o sobressalto Partiu-se a linha e o intento Foi o cerol de outra pipa Ou ela s e rompeu com o vento?

Pipa sozinha – Arte gráfica da imagem de Daniel Campos. (acervo do autor do desenho– publicação autorizada)

Bisturí antigo – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: produto.mercadolivre.com.br

Fragmento 3 A vida é meu tablado Pois nela vivo meu personagem Que se modifica por ser inacabado...

Fragmento 5 ... me corta a carne o metal ou me destrói o fogo abrasador sou vida e minha falta é letal prorrogo gota a gota a minha dor...

Ilustração com Pintura de Salvador Dali. Disponível no sítio: www.balaiodenoticias.com.br

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Kukukaya POESIAS

Seca no Nordeste - Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: www.masterfestas.com

JORGE FERNANDES (*15/03/1874; + 26/07/1947) Pág. 55

JORGE FERNANDES

JOSÉ LEÃO FERREIRA SOUTO (*?/?/1850; +?/?/1904)

JOSÉ LEÃO FERREIRA SOUTO

AVIÕES 1 Novecentos e cinqüenta cavalos suspensos nos ares... - Besouro roncando: zum.. zum.. umumum... Aonde irá aquêle Rola-Titica parar? E os olhos dos caboclos querem ver os Marinheiros Os peitados vermelhos das Oropas... E a marmota vai: ron... ron... cevando o vento – Por cima dos coqueiros, varando as nuvens... Depois desce no Rio Grande numa pirueta danisca Desembestado, espalhando água... E fica batendo o papo, cansado de voar.

REDE

Emboladora do sono... Balanço dos alpendres e dos ranchos... Vai e vem nas modinhas langorosas... Vai e vem de embalos e canções... Professora de violões... Tipóia dos amores clandestinos... Grande... larga e forte... pra casais... Berço de grande raça. S A U S S N P E Guardadora de sonhos Pra madona ao meio-dia Grande... côncava... Lá no fundo dorme um bichinho... - Balança o punho da rede pro menino dormir.

Rede nordestina – Foto de Janeeyre Oliveira – Kasa das Redes Natal. Disponível em

página do Facebook como “Kasa das Redes” – sítio: www.facebook.com/Kasadasredesnatal

AO SOL POSTO Um raio do poente Batia-lhe no rosto Um raio do sol posto Na orla do ocidente. De longe aos meus olhares A estátua dessa moça Qual flor que se embalança Brilhava sobre os ares. Lembrava as borboletas Mais leves e douradas Que existem no sertão. As cândidas violetas Medrosas debruçadas Dos lábios da solidão.

Hidroavião no Rio Potengi - Fotos: Hart Preston.

Disponível no sítio:fotoseverbos.wordpress.com

AVES DE ARRIBAÇÃO

Voai ao puro céu da pátria minha, - Aves de arribação! Entrai pelo meu lar, pobre casinha Perdida no sertão... E a várzea que eu amei na forte calma Dos dias de verão Dizei adeus por mim do fundo d’alma. Adeus do coração.

Arribaçã - Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: faunaefloradorn.blogspot.com.br

In: Leão, José. Aves de arribação: lendas e canções sertanejas; Rio de Janeiro: Typ. Central de Brown & Evaristo, 1877. Disponível para download no sítio: www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/242755

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Kukukaya POESIAS

JUVENAL ANTUNES (*28/07/1883; +09/03/1932) Pág. 56

JUVENAL ANTUNES

LOURIVAL AÇUCENA (*17/10/1827; +28/03/1907)

LOURIVAL AÇUCENA

ELOGIO À PREGUIÇA Bendita sejas tu, Preguiça amada, Que não consentes que eu me ocupe em nada! Mas queiras tu, Preguiça, ou tu não queiras, Hei de dizer, em versos, quatro asneiras. Não permuto por toda a humana ciência Esta minha honestíssima indolência. Lá está, na Bíblia, esta doutrina sã: -Não te importes com o dia de amanhã. Para mim, já é grande sacrifício Ter de engolir o bolo alimentício. Ó sábios, dai à luz um novo invento: A nutrição ser feita pelo vento! Todo trabalho humano, em que se encerra? Em, na paz, preparar a luta, a guerra! Dos tratados, e leis, e ordenações, Zomba a jurisprudência dos canhões! Juristas, que queimais vossas pestanas, Tudo que legislais dá em pantanas. Plantas a terra, lavrador? Trabalhas Para atiçar o fogo das batalhas! Cresce o teu filho? É belo? É forte? É loiro? - Mas uma rês votada ao matadouro! Pois, se assim é, se os homens são chacais, Se preferem a guerra à doce paz... Que arda, depressa , a colossal fogueira E morra assada, a humanidade inteira!

Não seria melhor que toda gente, Em vez de trabalhar, fosse indolente? Não seria melhor viver à sorte, Se o fim de tudo é sempre o nada, a morte? Queres riquezas, glórias e poder? Para que, se amanhã tens de morrer? Qual mais feliz? O mísero sendeiro, Sob o chicote e as pragas do cocheiro... Ou seus antepassados que, selvagens, Viviam, livremente, nas pastagens?

Do Trabalho por serem tão amigas, Não sei se são felizes as formigas! Talvez o sejam mais, vivendo em larvas, As preguiçosas, pálidas cigarras! Ó Laura, tu te queixas que eu, farcista, Ontem faltei, à hora da entrevista, E, que ingrato, volúvel e traidor, Troquei o teu amor - por outro amor. Ou que, receando a fúria marital, Não quis pular o muro do quintal. Que me não faças mais essa injustiça, Se ontem não fui te ver, foi por preguiça. Mas, Juvenal, estás a trabalhar! Larga a caneta e vai dormir, sonhar.

A Preguiça na rede – Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: cleofas.com.br

MARÍLIA Meu amor, meu bem, Marília, Marília escuta os meus ais. Se percebes que eu te amo, Por que me atormentas mais? Já te dei em holocausto Alma, vida e coração, Tu me dás em recompensa Negra, feia ingratidão. Se sou culpado em amar-te, Crimina tua beleza; Não a mim, que inocente. Sigo a lei da natureza.

MOTE & GLOSA Mote

A estrela d’alva é bonita, Mas não é como o meu bem.

Glosa

I Quando o rebanho se agita Pela flauta do pastor, Quando o rocio enfeita a flor, A estrela d’alva é bonita. Seu nobre esplendor imita Ao da cândida cecém, Seu fulgor que fica além Do brilhante e da safira, É lindo, é bom, sem mentira, Mas não é como o meu bem.

Glosa

II Lusbel, o anjo sem dita, Que no céu fez rebeldia, Por Lúcifer se dizia A estrela d’alva é bonita. Por ser lindo, ele acredita, Não ser sujeito a ninguém Neste planeta também, De nome e beleza igual, Julga-se só, sem rival, Mas não é como o meu bem.

Namorados – Imagem sem

identificação de autoria. Disponível no sítio: sahsilva.com

Meia Lua - Imagem de Domínio Público (CC0 Public Domain) sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: pixabay.com

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Kukukaya POESIAS

NÍSIA FLORESTA (*12/10/1810; +24/04/1885) Pág. 57

NÍSIA FLORESTA

A LÁGRIMA DE UM CAETÉ (Trecho) Aqui, mais tarde trazendo. Na alma triste, acerba dor, Vim chorar as praias minhas Na posse de usurpador! Que de invadi-las Não satisfeito, Vinha nas matas Ferir-me o peito! Ferros nos trouxe, Fogo, trovões, E de cristãos Os corações. E sobre nós Tudo lançou! De nossa terra Nos despojou! Tudo roubou-nos, Esse tirano, Que povo diz-se Livre e humano! Filho se diz De Deus Potente De quem profana A obra ingente! Ó terra de meus pais, ó Pátria minha! Que seus restos guardando, viste de outros Longo tempo à bravura disputar Ao feroz estrangeiro a Pátria nossa, A nossa liberdade, os frutos seus!... Recolhe o pranto meu, quando dispersos Pelas vastas florestas tristes vagam Os poucos filhos teus à morte escapos, Ao jugo de tiranos opressores, Que em nome do piedoso céu vieram Tirar-nos estes bens que o céu nos dera! As esposas, a filha, a paz roubar-nos!... Trazendo d’além-mar as leis, os vícios, Nossas leis e costumes postergaram.

IMPROVISO

Ao distinto literato e grande poeta, Antônio Feliciano de Castilho Vate sublime, que os primeiros sonhos Da juventude minha hás embalado, Quando às margens do fresco Beberibe Os teus primores d’arte eu decorava Às ilusões entregue dessa idade, Em que os risos de amor tanto seduzem! Tu nos deixas enfim! e as plagas nossas Ao verem-te sair gemem saudosas; Gemem os corações dos brasileiros, Que como meu reter-te não puderam Nesta terra que ufana te incensara Se o gênio aqui tivesse um templo seu! Inclina triste a fronte, ó pão-de-açúcar, Ao poeta que passa! ao gênio deve A matéria imponente assim curvar-se. Embalde indiferente ela se ostente, A grande inteligência, que mar afora Lá se vai!... nos corações nossos deixando Da pungente saudade a dor acerba!

Família de Índios Caetés – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: http://portaldoprofessor.mec. gov.br

Índios Tapajós em igara (canoa) – Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: culturaidigena.blogspot.com

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Kukukaya POESIAS

SOLILÓQUIO 2

Triste que sou triste.

Não creiam no rosto posto pasto

de esperança que não sou sou apenas um rapaz sessentão exilado

de si sem ponte

norte ou azimute

que sou Ilha

- de Fato? Ou somente espaço fugaz

onde manobro nau frágil carregada

de promessas?

Agradecimentos: - Academia Cearaminense de Letras e Artes - ACLA Pedro Simões Neto e família do Escritor e Poeta que autorizaram a publicação destes poemas. - Ao Imortal da ACLA Pedro Simões Neto – Gibson Machado que autorizou a publicação das fotos que ilustram os poemas.

MOYSÉS SESYOM (*28/07/1883; +09/03/1932) Pág. 58

MOYSÉS SESYOM

PEDRO SIMÕES NETO (*14/04/1944; + 01/02/2013)

PEDRO SIMÕES NETO

Glosa

I

A morte mata o sultão, arcebispo cardeal,

presidente, marechal, ministro, conde e barão;

em tempos matou Roldão, como na história deu;

o próprio Jesus morreu; mata tudo ó morte ingrata, só não sei porquê não mata

um infeliz como eu.

II

Ela mata todo mundo, branco, preto, rico e pobre, mata o potentado, o nobre,

mata o triste e o vagabundo; matou Dom Pedro Segundo,

matou quem o sucedeu; capitalista e plebeu,

mata tudo, não tem jeito, mas não mata, por despeito,

um infeliz como eu.

Glosa

III

Não reserva o cientista, mata sem dó o profeta, tirana, mata o poeta,

mata o maior estadista; mata também o artista,

o cego, o mudo, o sandeu, mata o crente e o ateu,

diplomata e titular, mas poupa, não quer matar

um infeliz como eu.

IV

Ela mata no Senado, como matou Rui Barbosa, entra no Congresso airosa

aí mata um deputado; matou Pinheiro Machado,

dele não se condoeu, ela jamais atendeu,

mata gente, mata bicho, mas não mata, por capricho,

um infeliz como eu.

MOTE & GLOSA I

Mote

Um infeliz como eu.

MOTE & GLOSA II

Mote

Bebo, fumo, jogo e danço Sou perdido por mulher.

Glosa

Vida longa não alcanço Na orgia e no prazer,

Pois enquanto não morrer Bebo, fumo, jogo e danço.

Brinco, farreio e não canso Me censure quem quiser, Não falho um dia sequer

Cumprindo esta sina venho, Além dos vícios que tenho, Sou perdido por mulher.

QUEM SOU EU?

Esse sou o mais eu que posso ser,

além disso não posso. Esse cansaço

que me faz suspiroso, esse olhar

querendo adormecer sem sono para dormir,

a barba alvaiando a pele ainda veraneada.

Um corpo de muitos espantos nas noites sem sossego, as manhã florescendo

madrugada ainda, sonolenta e bêbada. O sonho na gaiola

sem vontade de cantar. O grito preso

numa garganta eviscerada.

Esse não sou eu Como queria ser.

Mas sou Como posso ser.

Céu Estrelado – Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: nananamida.blogspot.com

Praça Barão de Ceará-Mirim e Matriz de Nossa Senhora da Conceição - Ceará-Mirim/RN – Foto: Gibson Machado.

Disponível na página pessoal do autor no Facebook.

Árvore Soberba e o Infinito - Foto: Gibson Machado.

Disponível na página pessoal do autor no Facebook.

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Kukukaya POESIAS

Pintura: ABIGAIL DE ANDRADE (Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil, 1864 – Paris, França, 1890)

Disponível no Blog ARTECULTURA - Revista Virtual de Artes, com ênfase na pintura do século XIX – sítio: https://rceliamendonca.wordpress.com

Pág. 59

Seleção de Poemas

POETAS

ENCANTADOS DO BRASIL

Seleção: JOSÉ IVAM PINHEIRO.

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Kukukaya POESIAS

Pág. 60

SELEÇÃO DE POEMAS DE ENCANTADOS POETAS

BRASILEIROS

1 - Alphonsus de Guimaraens

2 - Augusto dos Anjos

3 - Castro Alves

4 - Catulo da Paixão Cearense

5 - Cassimiro de Abreu

6 - Fagundes Varela

7 - Gonçalves Dias

8 - Machado de Assis

9 - Mário de Andrade

10 - Olavo Bilac

11 - Raimundo Correia

Pôr do Sol em Cabaceiras - PB – Imagem de domínio público

(CC0 Public Domain). Disponível no sítio: pixabay.com

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Kukukaya POESIAS

Alphonsus de Guimaraens (*Ouro Preto - MG, 24/07/1870; +Mariana - MG, 15/07/1921)

ISMÁLIA Alphonsus de Guimaraens Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar… Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar… Queria subir ao céu, Queria descer ao mar… E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar… Estava perto do céu, Estava longe do mar… E como um anjo pendeu As asas para voar… Queria a lua do céu, Queria a lua do mar… As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par… Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar…

CANTEM OUTROS A CLARA COR VIRENTE

Alphonsus de Guimaraens

Cantem outros a clara cor virente Do bosque em flor e a luz do dia eterno...

Envoltos nos clarões fulvos do oriente, Cantem a primavera: eu canto o inverno.

Para muitos o imoto céu clemente

É um manto de carinho suave e terno: Cantam a vida, e nenhum deles sente

Que decantando vai o próprio inferno.

Cantem esta mansão, onde entre prantos Cada um espera o sepulcral punhado

De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos...

Cada um de nós é a bússola sem norte. Sempre o presente pior do que o passado. Cantem outros a vida: eu canto a morte...

Augusto dos Anjos Pág. 61 (*Cruz do Esp. Santo - PB; 20/04/1884, + Leopoldina - MG, 12/11/1914)

VERSOS ÍNTIMOS Augusto dos Anjos Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera - Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te a lama que te espera! O Homem que, nesta terra miserável, Mora entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo, acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa ainda pena a tua chaga Apedreja essa mão vil que te afaga. Escarra nessa boca de que beija!

AS CISMAS DO DESTINO Augusto dos Anjos Recife. Ponte Buarque de Macedo. Eu, indo em direção à casa do Agra, Assombrado com a minha sombra magra, Pensava no Destino, e tinha medo! Na austera abóbada alta o fósforo alvo Das estrelas luzia… O calçamento Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento, Copiava a polidez de um crânio calvo. Lembro-me bem. A ponte era comprida, E a minha sombra enorme enchia a ponte, Como uma pele de rinoceronte Estendida por toda a minha vida! A noite fecundava o ovo dos vícios Animais. Do carvão da treva imensa Caía um ar danado de doença Sobre a cara geral dos edifícios! Tal uma horda feroz de cães famintos, Atravessando uma estação deserta, Uivava dentro do eu, com a boca aberta, A matilha espantada dos instintos! Era como se, na alma da cidade, Profundamente lúbrica e revolta, Mostrando as carnes, uma besta solta Soltasse o berro da animalidade. E aprofundando o raciocínio obscuro, Eu vi, então, à luz de áureos reflexos, O trabalho genésico dos sexos, Fazendo à noite os homens do Futuro.

(Trecho de As Cismas do Destino, de Augusto dos Anjos)

Ismália, a lua e o mar – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: cenariodesentimentos.blogspot.com.br

Ponte Buarque de Macedo - Recife – Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio:zecostajr.blogspot.com.br

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Kukukaya POESIAS

CANÇÃO DO VIOLEIRO Castro Alves Passa, ó vento das campinas, Leva a canção do tropeiro. Meu coração 'stá deserto, 'Stá deserto o mundo inteiro. Quem viu a minha senhora Dona do meu coração? Chora, chora na viola, Violeiro do sertão. Ela foi-se ao pôr da tarde Como as gaivotas do rio. Como os orvalhos que descem Da noite num beijo frio, O cauã canta bem triste, Mais triste é meu coração. Chora, chora na viola, Violeiro do sertão. E eu disse: a senhora volta Com as flores da sapucaia. Veio o tempo, trouxe as flores, Foi o tempo, a flor desmaia. Colhereira, que além voas, Onde está meu coração? Chora, chora na viola, Violeiro do sertão. Não quero mais esta vida, Não quero mais esta terra. Vou procurá-la bem longe, Lá para as bandas da serra. Ai! triste que eu sou escravo! Que vale ter coração? Chora, chora na viola, Violeiro do sertão.

Castro Alves (*Curralinho - BA, 14/03/1847; +Salvador - BA, 06/07/1871) Pág. 62

AMAR E SER AMADO Castro Alves

Amar e ser amado! Com que anelo

Com quanto ardor este adorado sonho Acalentei em meu delírio ardente Por essas doces noites de desvelo!

Ser amado por ti, o teu alento

A bafejar-me a abrasadora frente! Em teus olhos mirar meu pensamento,

Sentir em mim tu’alma, ter só vida

P’ra tão puro e celeste sentimento Ver nossas vidas quais dois mansos rios, Juntos, juntos perderem-se no oceano,

Beijar teus labios em delírio insano

Nossas almas unidas, nosso alento, Confundido também, amante, amado Como um anjo feliz... que pensamento

Os Escravos – Pintura de Henry Chamberlain. Imagem de

reprodução do quadro. Disponível no sítio: lucinhapeixoto.blogspot.com.br

O SOL E O POVO Castro Alves

Le peuple a sa colére et le volcan sa lave. (Victor Hugo) Ya desatado El horrendo huracán silba contigo ¿ Qué muralla, qué abrigo Bastaran contra ti? (Mário Quintana)

O sol, do espaço Briaréu gigante, P’ra escalar a montanha do infinito, Banha em sangue as campinas do levante. Então em meio dos Saarás — o Egito Humilde curva a fronte e um grito errante Vai despertar a Esfinge de granito. O povo é como o sol! Da treva escura Rompe um dia co’a destra iluminada, Como o Lázaro, estala a sepultura!... Oh! temei-vos da turba esfarrapada, Que salva o berço à geração futura, Que vinga a campa à geração passada.

*Extraído da página na internet - Jornal da Poesia. Disponível no sítio: www.jornaldepoesia.jor.br

Estátua do Poeta Castro Alves – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no

sítio: vestibular.brasilescola.uol.com.br

Cartão com foto de Castro Alves - Imagem

sem identificação de autoria. Disponível no sítio: www.brasilcult.pro.br

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Kukukaya POESIAS

Catulo da Paixão Cearense (*São Luiz - MA, 08/10/1863; +Salvador - BA, 10/05/1946)

Cassimiro de Abreu Pág. 63 (*Barra de S. João - RJ, 04/01/1839; +Nova Friburgo - RJ, 18/10/1860)

O AZULÃO E OS TICO-TICOS Catulo da Paixão Cearense

Do começo ao fim do dia, Um belo azulão cantava, E o pomar que atento ouvia Os seus trilos de harmonia Cada vez mais se enflorava.

Se um tico-tico e outros bobos Vaiavam sua canção, Mais doce ainda se ouvia A flauta desse azulão.

Um papagaio, surpreso De ver o grande desprezo Do azulão, que os desprezava, Um dia em que ele cantava E um bando de tico-ticos Numa algazarra o vaiava, Lhe perguntou: "Azulão, Olha, diz-me a razão Por que, quando estás cantando E recebes uma vaia Desses garotos joviais, Tu continuas gorjeando, E cada vez cantas mais?!"

Numas volatas sonoras, O azulão lhe respondeu: "Meu amigo, eu prezo muito Esta garganta sublime, Este dom que Deus me deu!

Quando há pouco, eu descantava, Pensando não ser ouvido Nestes matos, por ninguém, Um sabiá que me escutava, Num capoeirão, escondido, Gritou de lá: "meu colega, Bravo!....Bravo!...Muito bem!"

“Queira agora me dizer: Quem foi um dia aplaudido Por um dos mestres do canto, Um dos cantores mais ricos Que caso pode fazer Das vaias dos tico-ticos?!”

Azulão e Tico-tico – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: speglich.blogspot.com.br

Sabiá laranjeira - R. von Ihering. O livrinho das aves. 1914. Coletado no Portal Pinterest.

Disponível no sítio: pinterest.com

CANÇÃO DO EXÍLIO Cassimiro de Abreu

Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro Respirando este ar; Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo Os gozos do meu lar! O país estrangeiro mais belezas Do que a pátria não tem; E este mundo não vale um só dos beijos Tão doces duma mãe! Dá-me os sítios gentis onde eu brincava Lá na quadra infantil; Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, O céu do meu Brasil! Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! não seja já! Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! Quero ver esse céu da minha terra Tão lindo e tão azul! E a nuvem cor-de-rosa que passava Correndo lá do sul! Quero dormir à sombra dos coqueiros, As folhas por dossel; E ver se apanho a borboleta branca, Que voa no vergel! Quero sentar-me à beira do riacho Das tardes ao cair, E sozinho cismando no crepúsculo Os sonhos do porvir! Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, A voz do sabiá! Quero morrer cercado dos perfumes Dum clima tropical, E sentir, expirando, as harmonias Do meu berço natal! Minha campa será entre as mangueiras, Banhada do luar, E eu contente dormirei tranqüilo À sombra do meu lar! As cachoeiras chorarão sentidas Porque cedo morri, E eu sonho no sepulcro os meus amores Na terra onde nasci! Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá!.

Caneta de Pluma – Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: mitologiasite.wordpress.com

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Kukukaya POESIAS

Fagundes Varella (*São João Marcos - RJ, 17/08/1841; +Niterói - RJ, 18/02/1875)

Gonçalves Dias Pág. 64 (*Caxias - MA, 10/08/1823; +Guimarães - MA, 03/11/1864)

* * * Fagundes Varella

Estrellas Singelas, Luzeiros

Fagueiros, Esplendidos orbes, que o mundo aclarais!

Desertos e mares, - florestas vivazes! Montanhas audazes que o céo topetais!

Abysmos Profundos! Cavernas Eternas! Extensos, Immensos Espaços Azues!

Altares e trhonos Humildes e sabios, soberbos e grandes! Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!

Só ella nos mostra da gloria o caminho, Só ella nos falla das leis de - Jesus!

*Mantida a escrita do português, que era o usual à

época, da criação do poema pelo Poeta.

Jesus Cristo, Misericordioso – Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: situado.net

SONETO Fagundes Varella Desponta a estrela d’alva, a noite morre. Pulam no mato alígeros cantores, E doce a brisa no arraial das flores Lânguidas queixas murmurando corre. Volúvel tribo a solidão percorre Das borboletas de brilhantes cores; Soluça o arroio; diz a rola amores Nas verdes balsas donde o orvalho escorre. Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma Às carícias da aurora, ao céu risonho, Ao flóreo bafo que o sertão perfuma! Porém minh’alma triste e sem um sonho Repete olhando o prado, o rio, a espuma: - Oh! mundo encantador, tu és medonho!

(In: Vozes da América, 1864)

CANÇÃO DO EXÍLIO Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar - sozinho, à noite - Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Palmeiras da Terra Brasilis – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: regifreitas.blogspot.com.br

SONETO Gonçalves Dias

Pensas tu, bela Anarda, que os poetas Vivem d'ar, de perfumes, d'ambrosia? Que vagando por mares d'harmonia São melhores que as próprias borboletas? Não creias que eles sejam tão patetas. Isso é bom, muito bom mas em poesia, São contos com que a velha o sono cria No menino que engorda a comer petas! Talvez mesmo que algum desses brejeiros Te diga que assim é, que os dessa gente Não são lá dos heróis mais verdadeiros. Eu que sou pecador, — que indiferente Não me julgo ao que toca aos meus parceiros, Julgo um beijo sem fim cousa excelente.

Rio de Janeiro, 1848.

Rio de Janeiro - 1848.

Céu e Borboletas – Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: mitologiasite.wordpress.com

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Kukukaya POESIAS

Machado de Assis (*São João Marcos - RJ, 17/08/1841; +Niterói - RJ, 18/02/1875)

Mário de Andrade Pág. 65 (*São João Marcos - RJ, 17/08/1841; +Niterói - RJ, 18/02/1875)

ODE AO BURGUÊS Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel o burguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! O homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Eu insulto as aristocracias cautelosas! Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros! Que vivem dentro de muros sem pulos, e gemem sangue de alguns mil-réis fracos para dizerem que as filhas da senhora falam o francês e tocam os "Printemps" com as unhas! Eu insulto o burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais o êxtase fará sempre Sol! Morte à gordura! Morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal! Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi! Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano! "- Ai, filha, que te darei pelos teus anos? - Um colar... - Conto e quinhentos!!! Más nós morremos de fome!" Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma! Oh! purée de batatas morais! Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas! Ódio aos temperamentos regulares! Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia! Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos, sempiternamente as mesmices convencionais! De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! Dois a dois! Primeira posição! Marcha! Todos para a Central do meu rancor inebriante! Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! Morte ao burguês de giolhos, cheirando religião e que não crê em Deus! Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! Ódio fundamento, sem perdão! Fora! Fu! Fora o bom burguês!...

LIVROS E FLORES Machado de Assis

Teus olhos são meus livros. Que livro há aí melhor, Em que melhor se leia A página do amor? Flores me são teus lábios. Onde há mais bela flor, Em que melhor se beba O bálsamo do amor?

CAROLINA

Machado de Assis Querida, ao pé do leito derradeiro Em que descansas dessa longa vida, Aqui venho e virei, pobre querida, Trazer-te o coração do companheiro. Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro Que, a despeito de toda a humana lida, Fez a nossa existência apetecida E num recanto pôs o mundo inteiro. Trago-te flores - restos arrancados Da terra que nos viu passar unidos E ora mortos nos deixa e separados. Que eu, se tenho nos olhos malferidos Pensamentos de vida formulados, São pensamentos idos e vividos.

SONETO DE NATAL Machado de Assis

Um homem, - era aquela noite amiga, Noite cristã, berço do Nazareno, - Ao relembrar os dias de pequeno, E a viva dança, e a lépida cantiga, Quis transportar ao verso doce e ameno As sensações da sua idade antiga, Naquela mesma velha noite amiga, Noite cristã, berço do Nazareno. Escolheu o soneto . . . A folha branca Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca, A pena não acode ao gesto seu. E, em vão lutando contra o metro adverso, Só lhe saiu este pequeno verso: "Mudaria o Natal ou mudei eu?"

Nascimento do Menino Jesus – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio:

imagensnet-imagensnet.blogspot.com

Livro e flores – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: www.imagensdeflores.net.br

Mário de Andrade por Tarcília do Amaral - Disponível no sítio: poemargens.blogspot.com.br

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Kukukaya POESIAS

Olavo Bilac (*São João Marcos - RJ, 17/08/1841; +Niterói - RJ, 18/02/1875)

Raimundo Correia Pág. 66 (*São João Marcos - RJ, 17/08/1841; +Niterói - RJ, 18/02/1875)

VIA LACTÉA Olavo Bilac “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto… E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

UM BEIJO Olavo Bilac Foste o beijo melhor da minha vida, Ou talvez o pior... Glória e tormento, Contigo à luz subi do firmamento, Contigo fui pela infernal descida! Morreste, e o meu desejo não te olvida: Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento, E do teu gosto amargo me alimento, E rolo-te na boca malferida. Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo, Batismo e extrema-unção, naquele instante Por que, feliz, eu não morri contigo? Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto, Beijo divino! e anseio, delirante, Na perpétua saudade de um minuto...

Ouvir Estrelas – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: fabuladequimera.blogspot.com

Beijo, Luar e Estrelas – Imagem sem

identificação de autoria. Disponível no sítio: fanfiction.com.br

AS POMBAS Raimundo Correia Vai-se a primeira pomba despertada… Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada. E à tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada. Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam, Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais.

MAL SECRETO Raimundo Correia

Se a cólera que espuma, a dor que mora Na alma, e destrói cada ilusão que nasce,

Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora Ver através da máscara da face,

Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo

Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,

Cuja a ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa!

Mal Secreto – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: www.mensagenscomamor.com

Coração de pássaros – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: porqueassimsequis.blogspot.com

As Pombas – Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: www.mensagenscomamor.com

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Kukukaya POESIAS

Pág. 67

Seleção de Poemas

POETAS ENCANTADOS

DO MUNDO

Organização e Seleção: JOSÉ IVAM PINHEIRO.

Livre Pássaro Livro – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no Blog CASA POÉTICA TAGORE – sítio: http://casapoeticadetagore.blogspot.com.br

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Kukukaya POESIAS

Pág. 68

SELEÇÃO DE POEMAS DE POETAS ENCANTADOS DO MUNDO

1 - BERTOLD BRECHT

2 - CÉSAR VALLEJO

3 - EDGAR ALLAN POE

4 - FEDERICO GARCIA LORCA

5 - FERNANDO PESSOA

6 - FLORBELA ESPANCA

7 - GABRIELA MISTRAL

8 - JOSE MARTI

9 – MAIAKÓVSKI

10 – MIGUEL HERNANDEZ

11 – PABLO NERUDA

Árvore na beira do caminho – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: www.melhoresdicas.net

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Kukukaya POESIAS

BERTOLD BRECHT (* Augsburgo, 10/02/1898; † Berlim Leste, 14/08/1956) Pág. 69

BERTOLD BRECHT CÉSAR VALLEJO (* Santiago de Chuco, 16/03/1892; † Paris, 15/04/1938)

CÉSAR VALLEJO

EU, QUE NADA MAIS AMO Tradução: Paulo César de Souza Eu, que nada mais amo Do que a insatisfação com o que se pode mudar Nada mais detesto Do que a profunda insatisfação com o que não pode ser mudado.

DA VIOLÊNCIA

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.

Mas ninguém diz violentas As margens que o comprimem.

QUEM É TEU INIMIGO?

O que tem fome e te rouba

o último pedaço de pão chama-o teu inimigo. Mas não saltas ao pescoço

de teu ladrão que nunca teve fome.

O PRIMEIRO OLHAR PELA JANELA DA MANHÃ

Tradução: Haroldo de Campos

O primeiro olhar pela janela de manhã. O velho livro redescoberto. Rostos entusiasmados. Neve, o câmbio das estações. O jornal. O cão. A dialética. Duchas, nadar. Música antiga. Sapatos cômodos. Compreender. Música nova. Escrever, plantar. Viajar, cantar. Ser cordial.

OS ARAUTOS NEGROS Tradução: Fernando Mendes Vianna

Há golpes na vida tão fortes... Eu nem sei! Golpes como do ódio de Deus; como se ante eles a ressaca de quanto foi sofrido se empoçara na alma... Eu nem sei!

São poucos, porém são... Abrem sulcos escuros no rosto mais feroz e no lombo mais forte. Serão talvez os potros de bárbaros átilas; ou os arautos negros que nos mandam a Morte.

São as caídas fundas dos Cristos da alma, de alguma fé adorável que o Destino blasfema. Esses golpes sangrentos são as crepitações de algum pão que na porta do forno se queima.

E o homem... Pobre... pobre! Volve os olhos, como quando por sobre os ombros nos chama uma palmada; volve os olhos loucos, e todo o vivido se empoça, como charco de culpa, na mirada.

Há golpes na vida tão fortes... Eu nem sei!

XIII (TRILCE) Tradução: Jorge Henrique Bastos Penso em teu sexo. Reduzido o coração, penso em teu sexo diante do raiar maduro do dia. Digito o botão da felicidade, está preparado. E desaparece o sentimento antigo degenerando com prudência. Penso em teu sexo, o sulco mais fecundo e harmonioso que o ventre da Sombra, embora a Morte possa conceber e gerar o próprio Deus. Oh, consciência penso, sim, no animal livre que copula onde quer, onde pode. Oh, escândalo de mel dos crepúsculos Oh, estrondo mudo odumodnortse!

Sol da manhã pela janela – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: castelosar.blogspot.com.br

Margens do rio – Imagem sem

identificação de autoria. Disponível no sítio: www.luizberto.com

Casal apaixonado – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: fernandabelem.com.br

Los heraldos negros (Os arautos negros) – Capa do primeiro livro do Poeta Peruano Cèsar Vallejo. Imagem de reprodução disponível no

sítio: site.adital.com.br

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EDGAR ALLAN POE (* Boston, 19/01/1809; † Baltimore, 07/10/1849) Pág. 70

EDGAR ALLAN POE

FEDERICO GARCIA LORCA (* Granada, 05/06/1898; † Granada, 18/08/1936)

FEDERICO GARCIA LORCA

ELDORADO Tradução: Ivan Justen Santana Trajado galhardamente, Um cavaleiro galante, Sob sombra e sol saturado, Viajara um estirão, A cantar uma canção, À procura do Eldorado. Porém ele envelheceu – Com orgulho todo seu – Seu coração conturbado Mergulhou em densa treva Por não ver traço de terra Semelhante ao Eldorado. Quase exausto em sua sina, Topou sombra peregrina Que estacou ao seu chamado – "Sombra," indaga o cavaleiro, "Como chego ao verdadeiro Território do Eldorado?" "Sobre as Montanhas da Lua, Que subir não se insinua, Descerás Vale Assombrado: Cavalga com ousadia," Disse a sombra fugidia,– "Se tu buscas o Eldorado!"

DESEJO Tradução: Jayme Ferreira Bueno Só, só, o teu coração ardente E nada mais. Meu paraíso, um campo Sem beija-flor Nem liras, Com um rio discreto E uma fontezinha. Sem a espora do vento Sobre a face Nem a estrela que quer Ser folha. Uma enorme luz Que foi Vaga-lume De outra, Em um campo de Olhadas rotas. Um repouso claro De beijos passados Enfeites sonoros Do eco Abrem-se afastados E o teu coração ardente E nada mais.

CANÇÃO DO GINETE Tradução: Jayme Ferreira Bueno Córdoba. Longínqua e só. Mula negra E azeitonas em meu alforge Ainda que eu saiba os caminhos Eu nunca chegarei a Córdoba. Pelo plano, pelo vento, Mula negra, lua rosa. A morte me está olhando Desde as torres de Córdoba. Ai que caminho tão longo! Ai minha mula valorosa! Ai, que a morte me espera Antes de chegar a Córdoba! Córdoba. Longínqua e só.

MINHA MENINA SE FOI AO MAR Tradução: Maria Teresa Almeida Pina.

Minha menina se foi ao mar a contar ondas e pedrinhas, porém se encontrou, de pronto, com o rio de Sevilha. Entre adelfas e sinos cinco barcos se mexiam, com os remos na água e as velas na brisa. Quem olha de dentro da torre adornada de Sevilha? Cinco vozes contestavam redondas como anéis. O céu monta elegante ao rio, de margem a margem. No ar cor-de-rosa, cinco anéis se mexiam.

IMITAÇÃO Tradução: Margarida Vale de Gato Uma maré negra, insondável, De orgulho interminável... A vida que eu tive outrora Seria mistério, ilusão... Um sonho que se infundia De loucas ideias da aurora Com os seres que antes havia, Que minha alma não veria, Deixasse-os eu transcorrer Com olhos de fantasia! Não guarde a terra o legado Daquilo que foi revelado Ao meu espírito: o pensamento Que o prendia... o encantamento... Pois tal ânsia luminosa Se findou, e o tempo vaporoso... E o meu repouso neste mundo Acabou com um suspiro fundo; Pouco importa! morra embora Com uma ideia que amei outrora... In: Obra Poética Completa – Edgar Allan Poe. Tradução: Margarida Vale de Gato. Edições tinta-da-china: Lisboa, 2009.

Eldorado, A Cidade de Ouro – Imagem sem identificação de

autoria. Disponível no sítio: estudiorealidade.blogspot.com

Cavaleiro Errante – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: www.pimentanamuqueca.com.br

Mulher no mar – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: docecomoachuva.blogspot.com.br

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Kukukaya POESIAS

HORAS RUBRAS Horas profundas, lentas e caladas Feitas de beijos sensuais e ardentes, De noites de volúpia, noites quentes Onde há risos de virgens desmaiadas… Ouço as olaias rindo desgrenhadas… Tombam astros em fogo, astros dementes. E do luar os beijos languescentes São pedaços de prata p’las estradas… Os meus lábios são brancos como lagos… Os meus braços são leves como afagos, Vestiu-os o luar de sedas puras… Sou chama e neve branca misteriosa… E sou talvez, na noite voluptuosa, Ó meu Poeta, o beijo que procuras! (In: Antologia de Poetas Alentejanos)

FERNANDO PESSOA (* Lisboa, 13/06/1888; † Lisboa, 30/11/1935) Pág. 71

FERNANDO PESSOA

FLORBELA ESPANCA (* Vila Viçosa, 08/12/1894; † Matosinhos, 08/12/1930)

FLORBELA ESPANCA

CANCIONEIRO

Dá a surpresa de ser. É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro. Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada. E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relêvo tapado. Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO...*

Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive. * Ricardo Reis (heterônimo de FERNANDO PESSOA)

A TUA VOZ NA PRIMAVERA Manto de seda azul, o céu reflete Quanta alegria na minha alma vai! Tenho os meus lábios úmidos: tomai A flor e o mel que a vida nos promete! Sinfonia de luz meu corpo não repete O ritmo e a cor dum mesmo beijo… olhai! Iguala o sol que sempre às ondas cai, Sem que a visão dos poentes se complete! Meus pequeninos seios cor-de-rosa, Se os roça ou prende a tua mão nervosa, Têm a firmeza elástica dos gamos… Para os teus beijos, sensual, flori! E amendoeira em flor, só ofereço os ramos, Só me exalto e sou linda para ti!

AUTOPSICOGRAFIA O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.

Fernando Pessoa e frase poética – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio:

brasilescola.uol.com.br

Voz da Primavera – Imagem sem identificação de autoria Disponível no sítio: poemas-rh.blogspot.com

Horas rubras – Imagem sem identificação de autoria

Disponível no sítio: sonheicontigo.wordpress.com

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Kukukaya POESIAS

GABRIELA MISTRAL (* Vicuña, 07/04/1889; † Nova Iorque, 10/01/1957) Pág. 72

GABRIELA MISTRAL JOSE MARTI (* Vila Viçosa, 08/12/1894; † Matosinhos, 08/12/1930)

JOSE MARTI

ACHADO Tradução: Henriqueta Lisboa Encontrei este anjo num passeio ao campo: dormia tranquilo sobre umas espigas. Talvez tenha sido cruzando o vinhedo: ao bulir nas ramas toquei suas faces. Por isso receio ao estar dormida se evapore como a geada nas vinhas.

RIQUEZA Tradução: Adriano Nunes Tenho a fortuna fiel E a fortuna perdida: Aquela como rosa, A outra como espinho. Do quanto me roubaram Não fui despossuída: Tenho a fortuna fiel E a fortuna perdida, E estou rica de púrpura E de melancolia. Ai, que amante é a rosa E quão amado o espinho! Como o duplo contorno De frutas parecidas, Tenho a fortuna fiel E a fortuna perdida…

DÁ-ME TUA MÃO

Dá-me tua mão, e dançaremos; dá-me tua mão e me amarás. Como uma só flor nós seremos, como uma flora, e nada mais. O mesmo verso cantaremos, no mesmo passo bailarás. Como uma espiga ondularemos, como uma espiga, e nada mais. Chamas-te Rosa e eu Esperança; Porém teu nome esquecerás, Porque seremos uma dança sobre a colina, e nada mais.

Extraídos de GABRIELA MISTRAL & CECÍLIA MEIRELES; GABRIELA MISTRAL Y CECÍLIA MEIRELES. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; Santiago de Chile: Academia Chilena de La Lengua, 2003

DO TIRANO Tradução: Portal Vermelho (Disponível no sítio: vermelho.org.br)

Do tirano? Do tirano Denuncia tudo. E crava Com fúria de mão escrava A ignomínia do tirano. Dos erros? De cada erro Mostra o quanto possas, A trilha obscura, as poças, Do tirano e do erro. Da mulher? Pois pode ser Que morras de sua mordida, Mas não entortes tua vida Falando mal de mulher!

CULTIVO UMA ROSA BRANCA

Tradução: José Ivam Pinheiro

Cultivo uma rosa branca Em junho como em janeiro,

Para o amigo sincero Que me dá sua mão franca.

E para o cruel que me arranca

O coração com que vivo, Não cultivo cardo nem urtiga:

Cultivo uma rosa branca.

DUAS PÁTRIAS Tradução: Portal Vermelho (Disponível no sítio: vermelho.org.br)

Duas pátrias eu tenho: Cuba e a noite. Ou as duas são uma? Nem bem retira sua majestade o sol, com grandes véus e um cravo à mão, silenciosa Cuba qual viúva triste me aparece. Eu sei qual é esse cravo sangrento que na mão lhe estremece! Está vazio meu peito, destruído está e vazio onde estava o coração. Já é hora de começar a morrer. A noite é boa para dizer adeus. A luz estorva e a palavra humana. O universo fala melhor que o homem. Qual bandeira que convida a batalhar, a chama rubra das velas flameja. As janelas abro, já encolhido em mim. Muda, rompendo as folhas do cravo, como uma nuvem que obscurece o céu, Cuba, viúva, passa. . .

Rosas Brancas e Mãos - Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: www.gamedesire.com

Rosas Brancas e a Mulher - Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio:

www.gamedesire.com

Arte Mulher – Quadro sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no

sítio: riodasletrasitb.blogspot.com.br

Riqueza do Viver – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: rceliamendonca.wordpress.com

Gabriela Mistral – Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: gabrielamistralfoundation.org

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Kukukaya POESIAS

MAIAKÓVSKI (* Baghdati, 19/07/1893; † Moscou, 14/04/1930) Pág. 73

MAIAKÓVSKI

A FLAUTA-VÉRTEBRA (prólogo) Tradução: Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman

A todas vós que já fostes ou que sois amadas como um ícone guardado na gruta da alma qual uma copa de vinho à mesa de um banquete ergo meu crânio repleto de versos. Frequentemente me indago: talvez fosse melhor dar à minha vida o ponto final de um balaço. Todavia hoje dou meu concerto de despedida. Memória! Junta na sala do cérebro as fileiras das inumeráveis bem-amadas. Derrama o riso em todos os olhos! Que de passadas núpcias a noite se paramente! Derrama alegria em todos os corpos! Que ninguém possa esquecer esta noite. Hoje tocarei a flauta de minha própria coluna vertebral.

BLUSA FÁTUA Tradução: Augusto de Campos. Costurarei calças pretas com o veludo da minha garganta e uma blusa amarela com três metros de poente. Pela Niévski do mundo, como criança grande, andarei donjuan, com ar de dândi. Que a terra gema em sua mole indolência: “Não viole o verde de as minhas primaveras!” Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência: “No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!” Não sei se é porque o céu é azul celeste e a terra, amante, me estende as mãos ardentes que eu faço versos alegres como marionetes e afiados e precisos como palitar dentes! Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta garota que me olha com amor de gêmea, cubram-me de sorrisos, que eu, poeta, com flores os bordarei na blusa cor de gema!

E ENTÃO, QUE QUEREIS? Tradução: E. Carrera Guerra. Fiz ranger as folhas de jornal abrindo-lhes as pálpebras piscantes. E logo de cada fronteira distante subiu um cheiro de pólvora perseguindo-me até em casa. Nestes últimos vinte anos nada de novo há no rugir das tempestades. Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas.

DEDUÇÃO Tradução: E. Carrera Guerra.

Não acabarão com o amor,

nem as rusgas, nem a distância. Está provado,

pensado, verificado.

Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos

e faço o juramento: Amo

firme, fiel

e verdadeiramente.

Flor para o dia - Imagem sem identificação de autoria.

Disponível no sítio: poemaurgente.wordpress.com

Amor de pai e filho - Imagem sem identificação de

autoria. Disponível no sítio: www.pinterest.com

Barquinho no (m)ar - Imagem sem

identificação de autoria. Disponível no sítio: www.memoriadaspedras.blogspot.com

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Kukukaya POESIAS

MIGUEL HERNÁNDEZ (* Orihuela, 30/10/1910; † Alicante, 28/03/1942) Pág. 74

MIGUEL HERNÁNDEZ PABLO NERUDA (* Parral, 12/07/1904; † Santiago, 23/09/1973)

PABLO NERUDA

O SOL, A ROSA E O MENINO Tradução: Maria Teresa Almeida Pina. O sol, a rosa e o menino flores de um dia nasceram. Os de cada dia são Sois, flores, meninos novos. Amanhã não serei eu: outro será o verdadeiro. E não serei mais além de quem queira sua lembrança. Flor de um dia é a maior ao pé do mais pequeno. Flor da luz relâmpago, e flor do instante o tempo. Entre as flores te fostes. Entre as flores fico.

A MINHA JOSEFINA Tradução: Maria Teresa Almeida Pina. Tuas cartas são um vinho que me transtorna e são o único alimento para meu coração. Desde que estou ausente não sei senão sonhar, igual que o mar teu corpo, amargo igual que o mar. Tuas cartas apaziguo metido em um canto e por redil e pasto Dou-lhe meu coração. Ainda que baixo a terra meu amante corpo esteja, escreve-me, pomba que eu te escreverei.

TALVEZ Tradução: Carlos Nejar

Talvez não ser, é ser sem que tu sejas, sem que vás cortando o meio dia com uma flor azul, sem que caminhes mais tarde pela névoa e pelos tijolos, sem essa luz que levas na mão que, talvez, outros não verão dourada, que talvez ninguém soube que crescia como a origem vermelha da rosa, sem que sejas, enfim, sem que viesses brusca, incitante conhecer a minha vida, rajada de roseira, trigo do vento, E desde então, sou porque tu és E desde então és sou e somos… E por amor Serei… Serás… Seremos…

SONETO XLIII Tradução: Carlos Nejar

Um sinal teu busco em todas as outras, no brusco, ondulante rio das mulheres, tranças, olhos apenas submergidos, pés claros que resvalam navegando na espuma. De repente me parece que diviso tuas unhas oblongas, fugitivas, sobrinhas de uma cerejeira, e outra vez é teu pelo que passa e me parece ver arder na água teu retrato de fogueira. Olhei, mas nenhuma levava teu latejo, tua luz, a greda escura que trouxeste do bosque, nenhuma teve tuas mínimas orelhas. Tu és total e breve, de todas és uma, e assim contigo vou percorrendo e amando um amplo Mississipi de estuário feminino.

SE CADA DIA CAI Tradução: Luiz de Miranda.

Se cada dia cai,

dentro de cada noite, há um poço

onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar luz caída

com paciência.

Pássaros no Alvorecer à beira-mar - Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: www.pinterest.com

Livro e folha - Imagem sem identificação de

autoria. Disponível no sítio: blogsonhoselivros.blogspot.com

Dona da Tinta (desenho) - Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: pixabay.com

Grávida no Amanhecer - Imagem sem identificação

de autoria. Disponível no sítio: www.pixabay.com

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Kukukaya POESIAS

Artigo V

Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI

Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII

Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Bônus Especial Pág. 75

90 ANOS DO POETA Thiago

de Mello

Nascimento: Barreirinha – AM em 30 de março de 1926

Artigo II

OS ESTATUTOS DO HOMEM Colagem de quadros apanhados na internet.

Disponíveis em: youtube.com; pt.slideshare.net; arteemimagensepoesias.blogspot.com; www.pousadadascores.com.br; e, jornaldepoesia.jor.br

Parágrafo único:

O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX

Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

. . . (Ausentes aqui Artigos X, XI, XII). Leia em: www.jornaldepoesia.jor.br . . .

Poeta Thiago de Mello – Imagem sem identificação de autoria. Disponível no sítio: ujs.org.br

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Kukukaya POESIAS

MÃE

Maternidade - Pintura de Henrique Bernadelli

(* Valparaíso - Chile, 15/07/1858; + Rio de Janeiro - Brasil, 06/04/1936)

No sertão de meu Nordeste Ninguém procura doutores

Quando a enxada corta os dedos Dos pés dos agricultores,

Porque lá não sobra tempo Pra chorar pequenas dores.

A mãe, pelo filho amado,

Sofre um milênio num dia… A dor dos pregos da cruz

Que o Nazareno sofria Doía menos que a dor Do coração de Maria.

José Lucas de Barros (* Condado, PB - Brasil, 12/03/1934; + Natal, RN - Brasil, 04/12/2015)