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Sumário 02-03

Editorial 04

HENRIQUE CASTRICIANO EM MARTINS (Manoel Onofre Jr.) 05

ELEIÇÕES E CRISE DE REPRESENTAÇÃO POLÍTICA (Homero

Costa)

07

O ESCRITOR POTIGUAR E “O HOMEM CORDIAL” (Thiago Gonza-

ga)

10

ENTREVISTA: OZANY GOMES — Presidenta da SPVA/RN 13

A QUE E A QUEM SERVE A MILITÂNCIA ACADÊMICA CONTRA O

MARXISMO E CONTRA A ANÁLISE DA IDEOLOGIA? (Alípio Sou-

sa)

19

RESENHA BIOGRÁFICA - Araújo, Breno (P.C. Palhares) 29

CASINHA NO MONTANHA (Weidde Andrino) 30

E O VENTO LEVOU... (UMA CRÔNICA CINÉFILA) (José de castro) 32

A RESPEITO DA OBRA “PIPA VOADA SOBRE BRANCAS DU-

NAS”, DE JÚNIOR DALBERTO (Chumbo Pinheiro)

34

O SILÊNCIO DO INOCENTE ( Sidy Batalha) 36

EDGAR MORIN E A NEGAÇÃO INGÊNUA DA COMPLEXIDADE PE-

LOS SEUS PRÓPRIOS ADEPTOS (Francisco Ramos)

38

ENSAIO SOBRE HOMOFOBIA (Rayane Dayse) 40

ÁGUAS DO SERTÃO E DA CIDADE (Ivam Pinheiro) 42

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A MULHER QUE FOI ESQUECIDA NO POSTO DE GASOLINA ( Ro-

sa Regis)

45

SARAU 48

PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS (ESPAÇO PARA PUBLI-

CAÇÕES DE MONOGRAFIAS, DISSERTAÇÕES, TESES, ETC)

54

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Revista de Circulação bimensal.

É uma publicação integrante do

site: WWW.VIRTUALCULT.COM.BR.

Envio de Artigos:

[email protected]

Redator/Editor

Alfredo Ramos Neves

José Antônio Aquino (Nenoca)

Sérgio Santos, Aluísio Azevedo Jr.

Thiago Gonzaga, Marcos Medeiros,

Marcos Guerra, Francisco Ramos,

João Cavalcante, Luiz Carlos Petroleiro,

Maurício Miranda, Valdecy Feliciano,

Fátima Maria de Oliveira Viana,

Márcio Dias, Herbert Martins,

Manoel Onofre Jr.

Getúlio Moura, José Araújo (Dedé Araújo)

Professor Manoel Nazareno da Silva,

Jardia Maia e Ozany Gomes.

A quentura do tempo não deixa dúvidas, estamos vivendo uma

das maiores secas de todos os tempos. Lembro-me que em

1985 e nos idos de 2005 a estiagem deu uma trégua e foram

anos de fenômenos meteorológicos favoráveis aos moradores da região

Nordeste. Não que em outras regiões do pais não tenham as suas estia-

gens, todavia, a parte nordeste brasileira tem vivido ao longo de nossa

história, e pela própria condição geográfica, períodos de chuvas escassas

que contribuem para que aumente a demanda atmosférica e dessa forma

esvaziem rios e açudes, causando danos irreparáveis a diversas produ-

ções de qualquer tipo de cultura de grãos.

Serve, no entanto, a seca, para realizarmos vários recortes da si-

tuação política e econômica brasileira, principalmente para resgatarmos

as condições adversas que tínhamos num passado distante na região

mais castigada pela estiagem. A nossa memória, que não nos permite

esquecer de tragédias naturais, relembra com tristeza das condições da

nossa gente. Além das parcas moradias, o que se via eram os ditos flage-

lados se martirizando nas grandes empreitadas de serviços duros chama-

dos de “Emergência”.

Este editorial tem o objetivo de absorver um pouco desse debate,

da importância de compreendermos as diferenças entre governos de on-

tem e o que mudou de 2002 até o início de 2016. Se nos atentarmos de

forma imparcial e sem sectarismos, termos como Agricultura familiar, bol-

sa família, luz para todos, água para todos e as milhões de cisternas

construídas para milhares de famílias carentes e que vivem no cinturão

da seca no semi-árido, muito se fez para amenizar tão miserável realida-

de causada por esse fenômeno que impõem por períodos sofrimento e

diversas agruras a esse povo. Não podemos esquecer, ainda, do Progra-

ma Fome Zero e, o mais cobiçado e importante projeto de solução para a

seca em diversas cidades: A Transposição do Rio São Francisco, iniciada

e rechaçada por opositores mesquinhos e propaladores do quanto pior

melhor para se esquecer uma história de conquistas.

Por fim, o país vem perdendo esse referencial. As últimas notícias

tem deixado a todos perplexos e urge a necessidade de resistirmos pelo

que foi construído. Logo, resistamos!

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* Manoel Onofre

de Souza Jr. Natu-

ral de Martins-RN , é

magistrado e escri-

tor, membro da Aca-

demia Norte-rio-

grandense de Letras

e sócio efetivo do

Instituto Histórico e

Geográfico do Rio

Grande do Norte.

S ituada no alto de

uma serra paradisía-

ca, Martins tornou-se

uma das principais

cidades turísticas do interior do

Estado. O seu potencial, como

estância climática, vem sendo

explorado, pouco a pouco. Mas,

não só o frio e belas paisagens

fazem o encanto

de Martins. Velha

cidade, outrora

denominada Im-

peratriz, ela tem

outras atrações,

de interesse his-

tórico e artístico,

como, por exem-

plo, o Museu De-

métrio Lemos,

com uma extra-

ordinária coleção

de bustos e esta-

tuetas em bronze, afora numero-

sas raridades bibliográficas doa-

das pelo coronel Demétrio, um

benfeitor da terra. Não menos

interessante, o Sobrado, constru-

ção de 1871, antiga residência

do senador Almino Afonso, abri-

gando atualmente o Museu His-

tórico e o Museu Arqueológico.

Pouca gente sabe que,

até as primeiras décadas do sé-

culo XX, Martins era tida e havi-

da como cidade-sanatório, “lugar

pra héticos” (tísicos), no dizer do

escritor Mário de Andrade, que a

visitou em janeiro de 1929.

Muitas pessoas acometi-

das de tuberculose iam para

Martins em busca de

cura nos ares serra-

nos. Uma destas pes-

soas, o poeta e escritor

Henrique Castriciano,

ainda jovem, esteve lá,

por volta de 1895. Em

sua temporada na ser-

ra, segundo seu bió-

grafo, Câmara Cascu-

do, passeou pelos ar-

redores a cavalo e a

pé. E, um dia, foi visitar

a famosa Gruta das

Trincheiras, no sopé da serra.

Percorrendo o seu interior, exta-

siou-se diante do fenômeno da

estalactite, “o filete d’água lendá-

rio, que todos admiram e de que

contam histórias fabulosas”. De

súbito, inspiradíssimo, escreveu

na própria pedra estes versos

antológicos:

Henrique Castriciano (Foto da

Internet)

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NA SOLIDÃO

A lágrima sem fim, a lágrima pesada,

Que eternamente cai do cimo desta gruta,

Representa alguma alma estranha e desolada,

Que mora a soluçar dentro da rocha bruta...

Esta alma quem será? Não sei! Mistério fundo...

Entretanto eu pressinto alguém, que se debruça,

E baixinho me diz, num gemido profundo:

Existe um coração na pedra que soluça...

No artigo intitulado “Um Panorama do

Nordeste”, de 1931, Castriciano deu o seguinte

depoimento:

“Estive no Mar-

tins há cerca de trinta

anos. Lá deixei ami-

gos, quantos desapa-

recidos na morte! De-

les me recordo com

saudade, quando a

memória m’os deixa

ver através a miragem

da longínqua juventu-

de. Os moços não me

conhecem, mas devem

ter ouvido falar no ra-

paz que deixou, na

Gruta da Trincheira ao

pé da serra, algumas

linhas rimadas, lem-

brando a sua efêmera

passagem”.

Vale salientar que a presença de Martins

na obra castriciana não se restringe ao poema

“Na Solidão”, mas estende-se pelo livro

“Ruínas” (1897), como bem atesta Rodrigues

de Carvalho, no prefácio ao referido livro.

Henrique Castriciano de Souza

(1874/1947) foi, além de poeta e ensaísta, um

pioneiro da luta pela educação da mulher, no

Brasil, tendo sido de sua iniciativa a fundação

da Escola Doméstica de Natal, estabelecimento

modelar. Irmão da poetisa Auta de Souza e do

Senador Eloy de Souza, não teve grande parti-

cipação na vida política do Estado, mas exer-

ceu o cargo de vice-governador. Foi o primeiro

presidente da Academia Norte-rio-grandense

de Letras.

Igreja de Martins-RN - Foto: joaquimtur.com

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* Homero de Oliveira

Costa, Prof. do De-

partamento de Ciên-

cias Sociais da

UFRN.

U m dos requisitos bá-

sicos da democracia

diz respeito à legiti-

midade das instituições políti-

cas, especialmente os partidos

políticos que, em princípio, têm

um papel fundamental no pro-

cesso de mediação entre a so-

ciedade e o Estado. Quando

nos referimos a existência de

uma crise de representação –

que não é específica do Brasil

– significa afirmar que estas

instituições (partidos políticos)

não funcionam como interlocu-

toras eficientes das demandas

da sociedade, com baixos índi-

ces de confiança social, com

todas as suas consequências,

inclusive para a democracia,

porque gera, entre outras coi-

sas, hostilidade aos partidos,

ampliando comportamentos de

antipolítica e o antipartidarismo

e os espaços para “salvadores

da pátria” e o crescimento da

direita, como verificado nas re-

centes eleições.

O resultado das eleições

municipais de 2016 revelou a

continuidade de uma crise de

representação política, expres-

sa, entre outros fatores, no nú-

mero muito expressivo de ap-

tos a votar que ou se abstive-

ram, votaram em branco ou

anularam os votos. De forma

agregada, houve um cresci-

mento em relação às eleições

anteriores. Segundo dados do

Tribunal Superior Eleitoral, a

soma das abstenções, votos

em brancos e nulos foi maior

do que o primeiro ou o segun-

do colocados na disputa para

prefeito em 22 das 27 capitais,

incluindo as maiores colégios

eleitorais do país, como São

Paulo, Rio de Janeiro, Belo Ho-

rizonte e Porto Alegre. Em

dez, os votos em brancos, nu-

los e abstenções foram maio-

res do que os primeiros coloca-

dos: Porto Velho (RO) , Belém

(PA), Aracajú (SE), Campo

Grande (MS), Cuiabá (MT), Be-

lo Horizonte (MG) Rio de Janei-

ro (RJ), São Paulo (SP), Curiti-

ba (PR) e Porto Alegre (RS) e

em 11 capitais foram maiores

do que os segundos coloca-

dos: Florianópolis (SC), Goiâ-

nia (GO), Palmas (TO), Maceió

(AL), Recife (PE), Natal (RN),

São Luis (MA), Fortaleza (CE),

Macapá (AP), Boa Vista (RR),

e Salvador (BA).

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No Rio de Janeiro e em Belo Hori-

zonte, superou os votos obtidos pelos dois pri-

meiros colocados juntos e em Rio Branco

(AC), Vitória (ES), João Pessoa (PB), Teresina

(PI) e Manaus (AM), a soma de abstenções,

nulos e brancos ficaria em terceiro lugar na

eleição para prefeito.

No caso de São Paulo, o maior co-

légio eleitoral do país, 1.155.850 eleitores vota-

ram em branco (367.471) e nulo (788.379), ou

seja, 5,29% e 11,35%, respectivamente, que

dá um total 16,64%

dos eleitores que

não votaram em ne-

nhum dos 11 candi-

datos, o índice mais

alto desde a rede-

mocratização. So-

mados a uma abs-

tenção de 12,84%

(1.940.454) supera-

ram os votos dados

ao candidato João Dória Jr. que foi eleito em

primeiro turno.

O número representa um aumento

de 30% em relação a 2012. A soma das abs-

tenções e votos nulos, por exemplo, com exce-

ção do primeiro colocado, foi maior do que a

soma de todos os outros candidatos.

Em relação às câmaras de vereado-

res, os índices de votos em brancos e nulos

também foram muito significativos, especial-

mente nas capitais.

O fato é que o resultado das urnas

revelou um grande descontentamento de par-

cela do eleitorado com os partidos e os políti-

cos (e candidatos) em geral.

Mas a questão importante é: o que

levou ao descontentamento? Certamente não

há uma única resposta e/ou fator explicativo. É

um conjunto de fatores estruturais e conjuntu-

rais. Há quem identifique a descrença nos par-

tidos como parte de um processo que come-

çou nos protestos de julho de 2013. Na realida-

de, começou bem

antes. Pesquisas

realizadas pelo Insti-

tuto Latinobarômetro

(Santiago/Chile) que

faz pesquisas siste-

máticas na América

Latina sobre os índi-

ces de confiança

nos partidos, con-

gressos etc, tem

constado isso pelo menos desde 1995, com

diferenças entre países e o Brasil ocupa os úl-

timos lugares. É certo que nas chamadas Jor-

nadas de Junho de 2013, uma das suas ban-

deiras era justamente a rejeição aos partidos,

ou seja, um movimento em que reivindicava a

política sem partidos. Há outras tentativas de

explicações. Para o cientista político Aldo For-

nazieri, por exemplo, a derrocada do PT tam-

bém contribuiu para o clima de descrença. "O

PT sempre foi o partido mais enraizado social-

mente, implantado em movimentos sociais e o

desencanto com o partido certamente provo-

cou frustração em parte dos eleitores".

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Mas há outros fatores: o mau funci-

onamento das instituições (partidos incluí-

dos), o desempenho dos respectivos parla-

mentos, tanto em termos de produção legis-

lativa como em termos de alternativas

(viáveis) para as distintas crises (econômica,

política e de representação). Não é por aca-

so, que os parlamentos, seja nacional, esta-

dual ou municipal, há muito tempo ocupam

as últimas posi-

ções em todas

as pesquisas

em relação aos

índices de con-

fiança social. O

descrédito,

comprovado

por várias pes-

quisas, tem

sua ressonân-

cia ampliada

com a cobertu-

ra midiática de

escândalos

(quase sempre de forma muito seletiva) co-

mo do chamado Mensalão e mais recente,

da Operação Lava Jato, que devem também

ter contribuído para o desalento dos eleitores

com os partidos e os políticos em geral.

Em relação à crise de representa-

ção política, um dos problemas que certa-

mente contribui (mas não explica totalmente)

está no sistema partidário e eleitoral. Vão

desde a forma como são realizadas as elei-

ções; a desigualdade na disputa (primado do

poder econômico); as distorções da repre-

sentação (candidatos mais votados podem

não ser eleitos em função do quociente elei-

toral); o sistema de listas abertas (que indi-

vidualiza as campanhas e leva à competição

entre candidatos do mesmo partido); a per-

missividade para criação de partidos e for-

mação das coligações (feitas sem qualquer

critério programático e/ou ideológico e des-

feitas logo após as eleições); partidos fisioló-

gicos (e legendas de aluguel) que não repre-

sentam o eleitorado, mas os financiadores

de campanhas, enfim, um conjunto de fato-

res que ampliam os problemas da represen-

tação e cujas tentativas de soluções, a co-

meçar por uma ampla (e necessária) reforma

política, tem sido sistematicamente adiada e

que, portanto, aponta para a continuidade da

crise.

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*Thiago Gonzaga é

escritor e pesquisador. Autor

de “Presença do Negro na

Literatura Potiguar & Outros

Ensaios”, “A Arte Poética de

Diógenes da Cunha Lima”,

dentre outros livros.

“A função do escritor? Ser testemunha do seu tempo e da sua sociedade.

Escrever por aqueles que não podem escrever.

Falar por aqueles que muitas vezes esperam ouvir da nossa boca

a palavra que gostariam de dizer.

Lygia Fagundes Telles

M ês passado, tivemos

uma notícia não mui-

to agradável no Es-

tado. Jornais e Tevês divulgaram

que a rede estadual de ensino do

Rio Grande do Norte teve o se-

gundo pior desempenho no IDEB

(Índice de Desenvolvimento da

Educação Básica) 2015, do país.

Resultado divulgado, nesta quin-

ta-feira, (8), pelo Instituto Nacio-

nal de Estudos e Pesquisas Edu-

cacionais Anísio Teixeira (Inep).

Má noticia à parte, resol-

vemos fazer uma reflexão a partir

desse fato, indagando sobre e a

relação que as escolas do Esta-

do têm com a nossa cultura lite-

rária. Sabemos que os livros es-

tão intimamente ligados à ques-

tão da educação, como também

sabemos que uma das causas

do índice baixíssimo no IDEB é a

falta de leitura de muitos alunos

e, pasmem, também de muitos

professores.

Outra questão importante

e atual, aliás, relacionada com a

anterior: a responsabilidade soci-

al do escritor. Importa saber que

nós mesmos podemos fazer mu-

danças na sociedade, sobretudo

quando trabalhamos com arte.

Essa é uma questão para refletir-

mos com bastante seriedade.

Mas, - atenção! - antes de votar

nos que pretendem mudar esse

quadro é bom separar a emoção

da razão. Infelizmente, aqui no

Estado, como em todo o país, a

amizade, ainda prevalece na ho-

ra de escolher quem vai nos re-

presentar.

Na obra “Raízes do Brasil”, do

historiador e sociólogo Sérgio

Buarque de Holanda (1902-

1982), há um capitulo muito inte-

ressante, que trata da cordialida-

de do povo brasileiro, porém,

cordialidade no sentido que re-

mete ao coração (cor, cordis), ou

seja, dar-se o jeitinho brasileiro

de fazer as coisas, baseado na

camaradagem, na amizade. Essa

cordialidade brasileira,

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que a principio seria algo positivo, torna-se ne-

gativa, pois sai do âmbito privado para o pú-

blico. Sempre queremos beneficiar os mais

próximos, “os de casa” mesmo que isso preju-

dique a coletividade. Segundo Sérgio Buarque

de Holanda tal proceder vicioso é uma heran-

ça portuguesa, mistura da com um pouco do

legado de outras culturas, negras e indígenas.

O tipo cordial é individualista, avesso à hierar-

quia, arredio à disciplina, desobediente a re-

gras sociais e afeito ao paternalismo e ao

compadrio. Evidentemente, não se trata de um

perfil adequado à vida civilizada numa socie-

dade democrática.

Devemos entender que a política e o

estado não podem nem devem ser uma ampli-

ação do círculo familiar ou das relações de

amizade.

Todos nós, escritores e amigos dos li-

vros precisamos compreender nosso papel

como cidadãos comprometidos em tornar uma

sociedade melhor. Lembremo-nos de que, as-

sim como todas as artes, a literatura está vin-

culada à sociedade em que se origina. Não

há escritor completamente indiferente à reali-

dade, pois, de alguma forma, todos participam

dos problemas da sociedade, apesar das dife-

renças de interesses e de classes sociais.

Partindo das suas experiências pesso-

ais, o escritor recria a realidade, dando origem

a uma realidade ficcional, e através dela con-

segue transmitir suas ideias ao mundo real.

Desta maneira entendemos a literatura como

um objeto vivo, uma relação dinâmica do es-

critor com o meio.

A função da literatura, segundo Antonio

Candido, está ligada à complexidade da sua

natureza, e ela é uma construção de objetos

autônomos com estrutura e significado, e é

também uma forma de expressão e de conhe-

cimento. Para Candido a literatura tem uma

função “formadora”, que, lhe confere um cará-

ter educativo, atuando na formação do leitor.

Para o estudioso existem na literatura

níveis de conhecimento planejados pelo escri-

tor e conscientemente assimilados pelo leitor.

E são nesses níveis que o autor injeta suas

intenções sejam ideológicas, de crença, ou

revolta. Neste caso , segundo Candido, a lite-

ratura satisfaz em outro nível, a necessidade

de conhecer os sentimentos e a sociedade,

ajudando o leitor a tomar posição em face de-

les.

O ponto de vista do artista, mesmo im-

plícito, defendido em sua obra, contribui para

novos olhares sobre a realidade, e com isso,

propaga novas ideologias, consequentemente

o leitor de algum modo terá uma nova postura.

Dessa forma, acreditamos, atuam duas fun-

ções da literatura, a função cognitiva, ou seja,

de passar conhecimento, e a função político-

social, que é a que interfere no senso crítico

do leitor, formando uma opinião.

Ferreira Gullar, no início dos anos 60 ,

já havia mencionado a importância da respon-

sabilidade social do poeta. Gullar criticou o ca-

ráter puramente estético da arte, defendendo

a arte engajada como instrumento de consci-

entização numa visão construtiva da socieda-

de.

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Nesta mesma linha de pensamento, o

escritor José Guilherme Merquior apresentou

tese em que defendeu a arte, vista de maneira

geral, como forma de conhecimento da realida-

de, que deve refletir a condição nacional, ou

seja o artista com seu trabalho, deve influenciar

direta ou indiretamente as pessoas.

Ainda segundo Merquior, a ideologia do

artista está, na maioria das vezes, em discor-

dância com a realidade que é apresentada e

cabe ao artista a responsabilidade social pelo

simples fato de fazer arte. Portanto ele deve

colaborar na formação de uma sociedade, de

modo cada vez mais crítico.

Devemos compreender a arte, segundo

a linha de pensamento de Merquior, como ten-

do uma função cognitiva, ou seja, aquela que

gera aquisição de conhecimento. Ainda com

base nas ideias de Merquior, acreditamos que é

exatamente a condição cognitiva da arte que

pode conferir ao artista condições para tratar de

assuntos sérios, importantes, tornando-se as-

sim um instrumento de transformação social.

Torna-se evidente que o artista engajado

usa seu talento a partir de diferentes linguagens

e meios, para transmitir seus pensamentos, sua

atitude para protestar ou apresentar denúncia

contra algo que considera errado.

Por fim, poderíamos dizer que a arte en-

gajada é aquela que perfila temas sociais e po-

líticos, que possui uma ideologia por trás dela.

Contrapõe-se à arte pela arte.

No dizer de Antonio Candido, a literatura

é um instrumento poderoso de mobilização so-

cial. O estudioso louva as produções literárias

nas quais o autor deseja passar uma posição

em face dos problemas. Mas ele também alerta

para o perigo de acharmos que a literatura só

se realiza quando tem essa função. Idêntico o

pensamento de Merquior quando diz que a arte

pode e deve ser participativa, mas não pode de

maneira alguma se rebaixar a uma mera indi-

cação de tarefas, ou seja, ser panfletária, parti-

dária.

Candido cita Castro Alves como modelo

de literatura de engajamento. O poeta dos es-

cravos , como ficou conhecido, soube como

poucos conciliar as ideias de reforma social

com procedimentos específicos da poesia, sem

permitir que a sua arte fosse um mero panfleto

politico. Poderíamos citar outros exemplos, co-

mo “Sentimento do Mundo” e “A Rosa do Povo”

de Carlos Drummond de Andrade, com uma

forte preocupação social. E vários outros auto-

res: Lima Barreto, João Cabral de Melo Neto,

Jorge Amado, Ferreira Gullar, Murilo Mendes...

que usaram sua arte para fazer denúncias de

natureza social.

O roqueiro Raul Seixas escreveu, certa

vez, uma canção intitulada “Eu Sou Egoísta”,

onde proclama: “Minha espada é a guitarra na

mão”... Meu amigo escritor, leitor, não deixe de

usar a espada que você tem, sobretudo num

momento tão importante como o que vivemos.

Faça a diferença usando a razão e não a emo-

ção.

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Ozany Gomes é paraibana, radicada no Rio

Grande do Norte há 17 anos. Além de poetisa, desenvolve atividades na área literária e cultural

desde 2007. Atualmente, está ocupando o cargo de Presidente da Sociedade dos Poetas Vivos

e Afins do Rio Grande do Norte – SPVA/RN. É graduada em Pedagogia (UNIFACEX), Especial-

ista em Gestão Ambiental (IFRN) e Leitura e Produção de Textos (UFRN).

Por: P.C. Palhares

*Todoas as fotos são do acervo pessoal da entrevistada

KUKUKAYA – Quem é Ozany Gomes?

Mãe, Mulher, Militante, Aguerrida, Presidenta

e Poetisa...

OZANY GOMES - Nasci mulher, em uma

família de assembleianos e fui entregue para

adoção por minha avó à revelia da minha

mãe biológica, que na época havia se separa-

do do meu pai. Fui acolhida e muito bem cria-

da por um casal de

negros, os quais te-

nho muito orgulho de

dizer que sou filha.

Ser mãe, por duas

vezes, é motivo de

orgulho, esperei com

muita ansiedade para

ver o rostinho deles e

até hoje, sou apaixo-

nada pelos dois e te-

nho muito orgulho

dos homens íntegros

que se tornaram.

Ser militante poética/literária, aconteceu

quando conheci a SPVA/RN, em 2007, desde

então, meu caso de amor com essa entidade,

com a literatura poética e com a cultura só

cresce.

Ser aguerrida, sou por necessidade, pois se

assim não for, as coisas não acontecem, prin-

cipalmente quando meu trabalho, em algu-

mas situações, depende da ajuda e apoio das

pessoas. Na falta delas, arregaço as mangas

e faço acontecer da melhor maneira que con-

sigo.

Ter assumido a presidência da SPVA/RN, foi

difícil, aceitei por incentivo e apoio dos ami-

gos poetas, mas ainda há muito o que fazer

por essa impor-

tante entidade,

pois dois anos

na gestão é um

tempo muito

curto para se

concretizar ou

consolidar algu-

mas ações.

Ser poetisa...

bem, considerar

-se poeta é algo

sério e de muita

responsabilida-

de! Tenho bem

próximos a mim, poetas natos, de talentos

inquestionáveis, com os quais estou apren-

dendo muito. Estou me empenhando nos es-

tudos, com disciplina, para tentar dar minha

contribuição a tão importante gênero literário,

já que não nasci com a poesia em minha es-

sência, como tantos que estão na SPVA/RN.

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Quem me conhece sabe, sou uma mulher que

fala o que pensa, mas em muitas situações,

prefiro ouvir mais que falar. Muitas falácias me

irritam, valorizo sobremaneira as ações proati-

vas positivas. Gosto da ideia do coletivo, apesar

de ser muito difícil trabalhar em coletividade pe-

la diversidade de opiniões, que está diretamente

ligada à formação intelectual e de personalida-

de, o que torna essa tarefa desafiadora.

KUKUKAYA – Se eu lhe perguntasse um ali-

mento da alma o que você me responderia?

OZANY GOMES - Minha alma se alimenta

de muitas coisas! Posso de imediato dizer que,

ela se alimenta de toda poesia que está na na-

tureza, do amor mútuo e da generosidade das

pessoas, como também, fazer alguém que amo

feliz, esse último é um dos melhores alimentos

para minha alma.

KUKUKAYA – Os grandes nomes, se tornam

grandes nomes, porém antes de grandiosos,

por trás deles, existem uma trajetória. Qual a

trajetória de Ozany Gomes?

OZANY GOMES - A priori, eu diria que real-

mente existem grandes nomes, mas o meu, es-

tá longe de ser considerado grande. Quanto a

minha humilde trajetória, essa tem sido uma

busca constante por aprendizado, seja através

dos livros ou por meio das pessoas que estão

por perto. Aprender de forma empírica sempre

me encantou, apesar de ser a favor de que a

teoria e a prática devem sempre andar de mãos

dadas. Aprender com o outro olhando nos

olhos, te permitindo experienciar o processo de

aprendizagem, não tem preço. Por isso, tento

ouvir o outro, pedindo opinião, ajuda. Foi assim

na minha graduação em Pedagogia, foi assim

na especialização em Leitura e Produção de

Textos e Gestão Ambiental, na execução dos

meus projetos profissionais, bem como está

sendo, na gestão da SPVA/RN. Para mim, os

diálogos são imprescindíveis no processo de

aprendizagem. Não existe fim na trajetória da

aprendizagem, ela acontece até o dia de con-

cluirmos nosso ciclo de vida terrena.

KUKUKAYA – Se eu pedisse nomes aos

quais você se espelhou. Quais nomes você nos

daria?

OZANY GOMES - O nome que te citarei é o

de Pedro da Silva, meu pai. Com ele aprendi o

significado de dignidade, honestidade, generosi-

dade e de amor pela terra e pelos animais. Ele

é meu ídolo.

KUKUKAYA – Falando da Sociedade dos

Poetas Vivos e Afins do RN (SPVA/RN), gosta-

ria que você nos explicasse a história dessa en-

tidade a qual faz parte e preside.

OZANY GOMES - A SPVA/RN fará 20 anos

de existência, em junho de 2017. Nasceu da ne-

cessidade de agregar poetas, artistas e afins

marginalizados, aqueles que não tinham apoio

de nenhuma entidade ou poder público, mas

que precisavam ser identificados ou referencia-

dos a um grupo, e assim, pudessem difundir

sua literatura poética, artes ou simplesmente

participar como apreciadores. Através da Ata de

Fundação, datada de 12 de junho de 1997, re-

gistrada e microfilmada no 2º Ofício de Notas de

Natal, sob nº 005113, foi oficializada a existên-

cia da SPVA/RN, tendo como 1º Presidente, o

jornalista e poeta, Paulo Augusto. Os sócios

fundadores, segundo a mencionada Ata, são:

Tércia Maria Mauricio de Queiroz, Josean Ro-

drigues, Aucides Mariero, Paulo Augusto, Jania

Maria Souza da Silva, Servilio Queiroz de Sena,

Ana Cristina Cavalcanti Tinoco, Carlos Magnos

de Souza, Jairo Silvestre de Araújo, Mery Me-

deiros da Silva, Uênio Pinheiro Barbosa, Arlete

Santos, José Gonçalves da Silva, Pedro Grilo

Neto, Marione Medeiros, Cipriano Maribondo,

Antonio Carlos Coringa. Desses 17 sócios fun-

dadores, apenas Arlete Santos,

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Carlos Magno, Jania Souza e Pedro Grilo per-

manecem ativos. Os demais, com exceção de

José Gonçalves, já falecido, há muitos anos

que não aparecem, alguns há mais de uma dé-

cada.

No dia 28 de fevereiro de 2015, a SPVA/RN re-

alizou um recadastramento associativo, na Li-

vraria Nobel. Compareceram, entre antigos e

novos associados, 67 pessoas. Desses atuais

67 associados, apenas 37 estão sempre pre-

sentes nas atividades desenvolvidas pela enti-

dade.

Ao longo desses, quase 20 anos, muitas foram

as ações promo-

vidas pela SPVA/

RN. Atualmente,

estão sendo de-

senvolvidos, co-

mo proposta da

nova gestão, o

Encontro Lítero-

Musical, na Pina-

coteca Potiguar;

Mais Cultura com

a SPVA/RN, no

IFRN – Campus

Cidade Alta; Sa-

rau Mensal com a

SPVA/RN, na Li-

vraria Nobel; De-

bate Literário Vir-

tual, via WhatsApp ou Facebook; Poetas na Es-

cola e Sarauterapia (propostas antigas da enti-

dade e em parceria com o CRO – Conselho

Regional de Odontologia e SBDE – Sociedade

Brasileira de Dentistas Escritores). Fechamos,

no início do ano, parceria para publicações de

poemas dos associados na Revista Kukukaya

(bimestral), Revista Kukukaya Poesias – Edição

Especial (semestral) e Revista de Ouro

(Quinzenal).

O corpo diretivo estará se reunindo em breve

para oficializar novos projetos, que se somarão

a esses, sendo dois deles, a ativação do Selo

Editorial SPVA/RN e a Revista POESIATIVA.

Ambos estavam previstos para serem lançados

esse ano, porém, por questões financeiras e

alguns imprevistos, ficarão para 2017.

KUKUKAYA – Quais os principais desafios

dessa presidência?

OZANY GOMES - Os desafios são muitos!

Estimular novos ingressos ao corpo associativo

da SPVA/RN e promover a interação do corpo

associativo e diretivo nas decisões e ações da

entidade, enfatizando que a união faz a força,

são alguns deles. Parece clichê, mas nos unir-

mos será sempre a melhor solução para en-

frentarmos os desafios de se trabalhar com cul-

tura e literatura. Outro desafio, é a questão fi-

nanceira. Muitos dos projetos idealizados, dei-

xam de ser executados por falta de verba. Ad-

ministrar e ter que fazer acontecer sem dinhei-

ro, não tem sido fácil.

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KUKUKAYA – Algo que para mim sempre foi

muito curioso é entender como é está na lide-

rança de muitas mentes pensantes. Existe um

segredo para isso?

OZANY GOMES - Ainda estou tentando

descobrir esse segredo, amigo. Liderar é um

exercício árduo. Mas, não gosto de me sentir

líder, gosto de saber

que faço o trabalho

de forma coletiva,

com a ajuda intelec-

tual dos associados.

Sempre estimulo tra-

zerem suas ideias

para serem usadas

nas atividades. Gos-

to de agregar valo-

res. A única diferen-

ça de mim para os

associados, é que

sou obrigada a assi-

nar cheques, docu-

mentos e responder

judicial e extrajudici-

almente pela entida-

de, portanto, preciso

ser zelosa em rela-

ção as propostas que chegam, as que idealizo

e a forma de tratamento com quem faz a

SPVA/RN existir e ser atuante.

KUKUKAYA – Na sua ótica, nos fale a im-

portância social que a SPVA/RN gera em nos-

sa sociedade?

OZANY GOMES - A SPVA/RN tem realiza-

do, de forma voluntária, palestras, saraus e

doações de livros, nas escolas, bibliotecas pú-

blicas, asilos, entre outros. Esse trabalho é

muito significativo, no sentido de oportunizar,

para diversas pessoas, de diferentes faixas

etárias e realidades sociais e intelectuais, o

contato com a literatura poética, em especial a

potiguar, bem como o contato presencial com

o poeta/escritor. Acredite, na maioria dos luga-

res que realizamos essas vivências, as pesso-

as não têm o hábito de ouvir ou ler poemas,

muito menos, tiveram a chance de conversar

com um poeta, o que torna a ação muito im-

portante e gratificante.

KUKUKAYA – Em uma frase ou poema. Co-

mo você descreveria a SPVA/RN?

OZANY GOMES -

Sempre unidos

Poetizando a vida

Vivenciando a arte

Aprendendo e ensinando

Rimando e cantando

Nesse mar de poesia.

KUKUKAYA – Gostaríamos de saber mais

sobre a Ozany militante. Quais suas militân-

cias, quais as suas causas?

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OZANY GOMES - Atualmente, tenho me

dedicado a fazer com que a SPVA/RN ganhe

seu merecido lugar de destaque na área cultu-

ral e literária. Infelizmente, apesar de quase 20

anos de existência, nossa entidade ainda anda

a passos lentos. Mas, com a abertura oficial da

editoração literária, sua revista e outras ativida-

des que estamos planejando, ela ganhará uma

nova dimensão dentro do cenário municipal,

estadual e logo depois nacional, nas áreas em

que seu Estatuto a qualifica.

Sou, também, uma defensora das questões

ambientais e indígenas. Ter sido aceita no gru-

po de pesquisadores que se dedicam ao Sítio

Ecológico e Histórico Gamboa do Jaguaribe é

uma grande honra. Espero poder dar contribui-

ções significativas a essa proposta.

Trabalhar por causas culturais, educacionais e

ambientais não é fácil, mas não podemos nos

desestimular, a luta deve ser contínua.

KUKUKAYA – Conhecendo a sua batalha e

pessoa uma pergunta é: Ozany e a Causa/

Cultura Indígena, como vocês estão relaciona-

dos?

OZANY GOMES - Minha formação como

pedagoga, me fez escrever três projetos, com

base na Lei Nº 11.645, de 10 março de 2008,

que diz ser obrigatório em todas as escolas da

rede pública e privada, o estudo dos diversos

aspectos da história e da cultura que caracteri-

zam a formação da população brasileira, a par-

tir desses dois grupos étnicos: índios e negros.

Assim sendo, apresentei os três projetos ao

Programa do Governo Federal, Mais Cultura

nas Escolas, patrocinado pelo Minc/MEC. Dos

mais de 5 mil projetos aprovados, lá estavam

os três que escrevi. A partir de então, comecei

a pesquisar sobre adereços indígenas, como

cocar, brincos, vestimentas e pinturas corpo-

rais. Devo mencionar que, agreguei aos proje-

tos algumas ideias de Chico Canindé, Novenil

Barros, Israel Menezes, Xanana, Tupic, Túlio

Medeiros e Jeová Silva com quem trabalhei na

execução dos mesmos.

Na metade da execução dos três projetos, fui

agraciada pela visita do escritor Ricardo Dantas

e sua esposa, Yara Macuxi (índia da etnia Ma-

kuxi/RR), com quem tive longas conversas so-

bre sua cultura. Quando já havia concluído os

projetos, tive a grata satisfação de receber o

grande artista indígena, Jaider Esbell (da mes-

ma etnia de Yara) e organizar sua agenda de

compromissos, em terras potiguares. Com ele

passei 30 dias de intensas

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atividades e aprendizagens sobre a cultura in-

dígenas e sua arte. Nesse ínterim, conhece-

mos o Sítio Ecológico e Histórico Gamboa do

Jaguaribe, localizado dentro da Zona de Prote-

ção Ambiental -8 (ZPA-8), no município do Na-

tal/RN. O Gamboa do Jaguaribe desenvolve

um trabalho de estudos sobre a cultura indíge-

na potiguar, fazendo um resgate da língua tupi

e brobo, como também de artefatos indígenas,

fazendo ligação com a educação ambiental.

Recebe visita de alunos de várias escolas, on-

de realiza oficinas, palestras e passeios por

trilhas que levam até as margens do Rio Ja-

guaribe e manguezais, enfatizando o respeito

a natureza.

Outra rica vivência foi conhecermos a Escola

Municipal Indígena João Lino da Silva, única

escola indígena do Estado do Rio Grande do

Norte, localizada em Canguaretama, na Comu-

nidade Catu, onde fomos recepcionados pelo

cacique e gestor da escola, Luiz Catu.

Não posso mencionar o valor de tudo isso para

mim, pois tudo que vivenciei e aprendi, na

companhia de Jaider Esbell, não tem preço.

E assim aconteceu e está acontecendo minha

relação com a cultura indígena. Daqui para

frente, só tende a crescer.

KUKUKAYA – Falar sobre questões sociais

e políticas é algo de grande valor, principal-

mente para o fazer educacional e o fazer cultu-

ral. Para Ozany Gomes, como você vem ob-

servando o atual cenário político/social visto no

Brasil nos últimos meses?

OZANY GOMES - Infelizmente, deplorável.

O atual governo, que não me representa, não

tem nenhum interesse em beneficiar a educa-

ção, a cultura, muito menos as classes menos

favorecidas do nosso país. Foi preciso um jo-

vem morrer, para que Ana Júlia, a adolescente

de 16 anos, recebesse a autorização para ir

até os Deputados e falar o significado de cida-

dania e direito cidadão, através do movimento

de classe estudantil. E o resto da população e

classes trabalhadoras, o que irão fazer para

unir forças? Está agendada uma greve geral

para o dia 03/11/2016 em todo país, com cha-

mada para participação de todos os sindicatos,

entidades, trabalhadores e estudantes. Vamos

aguardar para ver se finalmente, o povo desco-

bre, na prática, o poder que tem.

KUKUKAYA – A poesia pode ajudar a me-

lhorar o nosso Brasil a cada dia? Por quê?

OZANY GOMES - A poesia está em tudo, a

poesia é movimento, a poesia faz parte da vida

de todos, mas apenas alguns conseguem senti

-la. Não posso afirmar que ela tenha o poder

de melhorar o Brasil, mas certamente, ela tem

o poder de tornar as pessoas melhores.

KUKUKAYA – Para última pergunta, antes

de tudo, gostaria em nome da Equipe Kukuka-

ya agradecer todo esse carinho e atenção que

nos foi dado e para fechar com Chave de Ou-

ro. Ozany Gomes, Mãe, Mulher, Militante,

Aguerrida, Presidenta e Poetisa qual mensa-

gem você nos deixaria?

OZANY GOMES - A vida precisa de mais

poesia. Permitam que a poesia seja um eterno

florescer na cultura, na educação, na arte e na

vida de cada um de vocês! Mais poesia, por

favor!

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*Alipio de Sousa

Filho- Cientista So-

cial e Professor da

UFRN. Doutor em

sociologia pela Sor-

bonne-Paris V.

A que e a quem serve a militância

acadêmica contra o marxismo e contra a

análise da ideologia?

I

O texto que segue tal-

vez seja considera-

do, por muitos, algo

longo para um espa-

ço em web como a Carta Poti-

guar. Mas talvez seja também

necessário quebrar a ideia cor-

rente que, “na internet, tudo tem

que ser curto, rápido”, o que, a

meu juízo, vem deixando muitas

pessoas preguiçosas para a lei-

tura, cada vez mais com suas

subjetividades colonizadas pela

ideia do fast-food do pensamen-

to, sem que queiram mais saber

dos textos longos, complexos,

que requerem a paciência do

pensar. Bem, escreve-se para

quem gosta de ler! E, de todo

modo, a web hoje já é também

espaço onde estão todos os tex-

tos que são publicados nos pe-

riódicos universitários… Aqui,

dentro também da proposta da

Carta Potiguar de promover a

reflexão e o debate teórico-

político-público das ideias, apre-

sento este meu com todo o jeito

de artigo acadêmico.

Não sou marxista. Hoje, engajo-

me na formulação da ideia de

uma teoria construcionista críti-

ca, propondo entendê-la como

uma teoria de base ou funda-

mento das ciências humanas,

que veio se constituindo pouco a

pouco, mas desde o nascimento

destas com seus primeiros estu-

diosos, no século XIX, e em

contínuo desenvolvimento e

aplicação até nossos dias. Uma

teoria ou um modo de teoriza-

ção sobre a realidade histórico-

social que proponho entender

como tendo constituído toda

uma vocação crítica nas ciên-

cias humanas, para além de to-

das as divisões teóricas, áreas,

correntes de pensamento. Igual-

mente, sugiro que, nessa consti-

tuição de uma teoria construcio-

nista crítica, foi também se

constituindo uma forte perspecti-

va desconstrucionista como um

olhar sobre a realidade, e, as-

sim, simultaneamente, vamos

ter o que se pode também con-

ceber como um desconstrucio-

nismo filosófico, antropológico e

sociológico, como efeito episte-

mológico e metodológico direta-

mente saído da visão construci-

onista crítica. Entre as corren-

tes Ide pensamento que des-

taco como constituintes dessa

teoria, em fecunda ação no

nosso campo, situo o materia-

lismo histórico ou marxismo.

Acabei de defender tese sobre

o assunto, como requisito para

ascensão à categoria de Titular

em sociologia na UFRN.

*Texto publicado na

Carta Potiguar e envia-

do pelo autor.

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o marxismo é uma teoria crítica que legou im-

portantes categorias e modos de análise a essa

disposição construcionista crítica nas ciências

humanas, tornando-se um dos pilares da ideia

que concebe a realidade como construto, coisa

construída, outros há, nas universidades, que

veem o marxismo como estorvo “estruturalista”,

essencialista, racionalista e inflexível em sua

pretensão a ser um pensamento crítico. Mas,

para isso, precisam transformar o marxismo no

que ele não é: um dogmatismo e uma visão

sectária e doutrinária por conceber a existência

do que o marxismo chamou ideologia, desde

Marx, descrita por este como um fenômeno so-

cial cuja propriedade

que lhe é mais intrínse-

ca é ser as “ideias da

dominação”, no sentido

de uma descrição da-

quelas ideias que se

tornam a naturalização

e eternização da reali-

dade social e histórica.

Para Marx, a ideologia

não é a opinião do adversário, mas um fenôme-

no social. E, quando o descreveu, apontou co-

mo algo capaz de produzir a autonomização da

realidade, relativamente à sociedade e aos

seus agentes, no sentido de tornar a realidade

construída e instituída como algo que não seria

os próprios seres humanos que a teriam produ-

zido, mas outras forças e agentes. Esse enten-

dimento de Marx em nada difere, por exemplo,

da concepção de Émile Durkheim, um dos cria-

dores da sociologia no século XIX, quando tam-

bém concebe a sociedade como eivada de um

simbolismo que faz que a realidade construída

pela ação humana apareça aos seres humanos

como independente de suas ações. Nem difere

do que o antropólogo Lévi-Strauss concebeu

como uma ordem dentro da ordem, como cha-

mou uma “ordem oculta” dentro de uma “ordem

visível”, nunca estando nenhuma delas no mes-

mo nível de inteligibilidade para os indivíduos

de uma dada sociedade.

Mas isso só pode enxergar os que não fazem

leitura de má-vontade dos autores, muitas ve-

zes colocados em oposição, pelo infeliz sesto

acadêmico denunciado por Edgar Morin como a

prática das “disjunções” teóricas ali onde se de-

veria buscar junção, ligação, síntese. Mas, nas

universidades, há muitos professores que prefe-

rem exercer o papel de ventríloquos de verda-

deiras seitas do pensamento, incapazes de mu-

dar o seu pensamento inquisitorial e divisor de

ideias e autores que, no sentido mais profundo

de seus modos de pensar, caminham juntos ou

que podemos pôr a caminhar

juntos. Exercício de criação

que deveria ser assumido

por todos nós, o de produzir

sínteses e junções onde pa-

rece só existir diferenças e

disparidades, mas que pou-

cos se arriscam, alguns por

colonizados pelo complexo

de vira-lata ou constituídos como sujeitos da

maldição de Malinche, sujeição ideológica que

os fazem acreditar que, sendo incapazes, inferi-

ores ou de “lugares improváveis”, não podem

ousar “filosofar”, pois, como vomita a ideologia

colonizadora, “só se pode filosofar em alemão”!

A esse propósito, ensino aos meus alunos, na

UFRN, bem no alto do Nordeste brasileiro, que

resistam a toda sujeição ideológica, a toda su-

jeição, enfim, e principalmente àquela que pre-

tender fazê-los acreditar que “o mal-assombro é

maior do que eles”. E que não aceitem o rebai-

xamento de si por nenhuma máquina coloniza-

dora, ainda quando apareçam com o verniz do

intelectual e do acadêmico, mas que mais não

são que puras reproduções de relações de po-

der, sujeição, para a “glória” dos mesmos e das

mesmas. E mesmo quando praticadas por ti-

pos que se apresentam como engajados na

“descolonização”.

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De volta ao assunto do marxismo e da ideolo-

gia, o antropólogo Roberto DaMatta, ao apre-

sentar a edição brasileira de “As formas ele-

mentares da vida religiosa”, de Émile Durkheim,

definiu o que ali o autor escreve como sendo

“um tratado sobre a natureza social da ideolo-

gia”. O que demonstra, para os que sabem ler,

que o assunto da ideologia não é exclusivo de

marxistas. Por que é importante tratar de ideo-

logia? E por que o assunto faz certa gente sal-

tar de seus assentos como se alguma brasa

acessa estivesse a lhes queimar?

Talvez o legado mais importante do materialis-

mo histórico para as ciências humanas tenha

sido exatamente a análise do fenômeno da ide-

ologia. Ao demonstrar como, pela ideologia, a

realidade aparece invertida para os sujeitos so-

ciais. Isto é, ali, onde está a história, aparece,

na ideologia, o eterno; onde está a cultura, apa-

rece a natureza; onde está o ser humano, apa-

rece o divino; ali, onde está o particular, apare-

ce o universal. Aquilo que Marx apontou, privi-

legiado a análise da sociedade capitalista, di-

versos estudiosos construcionistas em ciências

humanas vão reconhecer como constituindo o

modo de operar dos sistemas humanos de so-

ciedade, culturas, através das formas simbóli-

cas de representações, imaginários, mitos etc.

Pessoalmente, engajei-me na produção dessa

compreensão, quando, pela via da contribuição

da antropologia, tornou-se possível compreen-

der que a ideologia é a “ilusão fundacional”, co-

mo diz o antropólogo francês Georges Balandi-

er, que preside a relação de alienação do ser

humano com seus mundos, suas próprias vi-

das, ao desconhecerem o que funda a realida-

de por eles próprios construídas e desconhece-

rem o que lhes funda como sujeitos sociais. Co-

mo escreveu o sociólogo Pierre Bourdieu: “a

ideologia […] não aparece e não se assume

como tal, e é deste desconhecimento que lhe

vem a sua eficácia simbólica”. Esse é fenôme-

no comum a todas às culturas e sociedades,

em todas as épocas. O que, para os adeptos

do delírio irracionalista contemporâneo, é sinô-

nimo de essencialismo e universalização de

conceitos teóricos que não se poderia aplicar

senão para as sociedades às quais pertencem

seus formuladores.

II

Um incrível exemplo de como um delírio pode

ter, para sempre, o efeito cognitivo de fazer que

se perca a capacidade de entender o que é um

conceito teórico e seu uso para a análise da

realidade social. Acreditar que o conceito de

ideologia, por ter surgido no século XIX, em pa-

ís europeu, não pode ser aplicado à análise da

realidade social e histórica, como ferramenta de

compreensão de um fenômeno social, que, co-

mo tal, existe, independente que se tenha in-

ventado este ou aquele conceito, é confundir a

leitura da realidade que se pode fazer com a

existência da realidade em seu estatuto de ser,

ente, forma ôntica. Isso tem nome desde o sur-

gimento das montanhas: idealismo! A filósofa

Judith Butler o denuncia como “idealismo lin-

guístico”, “linguisticismo”: “onde tudo é sempre

exclusivamente linguagem”, que nunca vê a re-

alidade encarnada, materializada, a realidade

como sempre pura representação e nunca ma-

terialidade. Se não existe o conceito não existe

a realidade, se se muda os termos, a realidade

muda em seguida. Foi por ver sua teoria de gê-

nero distorcida por esse tipo de idealismo irraci-

onalista que Butler teve a preocupação de es-

clarecer que nunca pensou que o gênero seja

apenas linguagem, mas efetivamente corpos! E

que os corpos pesam, existem, são materiais!

Não são pura linguagem! Para os militontos

queers que não sabem, vale esclarecer que Bu-

tler é uma filósofa racionalista, hegeliana, her-

deira do pensamento moderno, que pratica a

ideia de um pensamento crítico, racional, cons-

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ciente, reflexivo! Ela é também kantiana e fou-

caultiana, e porque leva às últimas consequên-

cias um Foucault que também se declarou filia-

do à ideia moderna de “atitude crítica”, atitude

reflexiva, racional e consciente. Autor que nun-

ca cogitou qualquer irracionalismo como modo

de pensar.

A compreensão da realidade como constituída

de ideias que negam o seu caráter de coisa

construída, e que as ciências humanas cha-

mam por ideias ideo-

lógicas, não se torna

uma formulação ape-

nas do marxismo, ela

é – e, de fato, já esta-

va na compreensão

de pensadores antes

de Marx – um enten-

dimento de alcance

geral e de potência

heurística, constituin-

do-se naquilo mesmo

que rege a compre-

ensão das ciências

humanas no estudo

da sociedade e da

história. A distinção

entre o aparecer so-

cial e os processos e práticas que produzem e

conservam a realidade instituída não é algo

apenas do método marxista de análise, mas

concepção que atravessa todas as correntes

de pensamento das ciências humanas, que re-

solvi chamar de uma teorização construcionista

crítica. A ideia da realidade como um construto

humano, social e histórico, tornou-se nosso

verdadeiro more geométrico, isto é, nosso mo-

delo, nosso método de análise. E, por isso tam-

bém, nossa compreensão que a realidade

construída, de alto a baixo, é também inteira-

mente revogável pela ação humana, no curso

histórico, na atividade política, por delibera-

ções, práticas.

Se há aqueles que enxergam nesse modo de

proceder analítico apenas o marxismo – mas

pelo desejo de invalidação do marxismo, por

deliberada militância intelectual antimarxista –,

e que não foram capazes de reconhecer, em

outras concepções teóricas o mesmo modo de

conceber a realidade, temos aí um caso daque-

les que não conseguiram entender que não se

pode fazer qualquer ciência, qualquer trabalho

de análise da realidade social, sem que se pro-

cesse pela distinção entre a realidade tal como

aparece e aquilo que a

própria realidade instituí-

da procura, por todos os

meios, e a ideologia co-

mo mais significativo,

fazer que não apareça

como existindo, como

possível. Distinção que

se pode nomear como

entre a realidade e o re-

al, e este como uma di-

mensão foracluída da

realidade instituída, mas,

ao mesmo tempo, mais

ampla, como um conjun-

to de possibilidades ilimi-

tadas de outras realida-

des possíveis, mas que

a realidade instituída não deseja que seja reco-

nhecida como tal. O real tornando-se assim

uma ameaça à realidade instituída e à ideolo-

gia que a procura consagrar como única possi-

bilidade.

Aqui, não há espaço para a demonstração de

quantas teorias e autores procedem em suas

análises na consideração da distinção entre o

ser da realidade e os fenômenos de suas mani-

festações. Linguistas, sociólogos, antropólo-

gos, historiadores, filósofos, teorias em psicolo-

gia e psicanálise, entre outros exemplos, todos

trabalham na distinção (que não é disjunção!)

entre o que se manifesta à observação imedia-

ta

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e o que somente se torna inteligível (e apenas

em certa medida, todo cientista sabe disso!)

pelo trabalho do pensamento racional, consci-

ente, reflexivo. Isso que, deste Kant, chama-se

a Crítica. E, com esse modo de compreensão,

diversas correntes de pensamento (do funcio-

nalismo ao disposicionalismo, passando pelo

marxismo e pelo estruturalismo) produziram

análises sobre o que passaram a ser vistas co-

mo aquelas estruturas profundas, que, embora

constituindo a realidade, não se tornam visíveis

à observação imediata. Toda ciência, todo tra-

balho de pesquisa e todo o pensar, enfim, vol-

tam-se a isso. E para todos os assuntos, obje-

tos. Razão pela qual mantemos as universida-

des abertas para o treino, dos que por ela pas-

sam, na pesquisa científica, nos estudos filosó-

ficos, nos diversos modos de estudar a realida-

de. Curiosamente, existem aqueles que veem

nisso um racionalismo obtuso e autoritário, que

teria a pretensão de dizer “o que é a realidade”.

Para estes, valeria perguntar: o que estão fa-

zendo nas universidades? Se não creem que o

conhecimento da realidade seja possível ou

que todas as ideias se equivalem, não se po-

dendo fazer distinção entre as representações

imaginárias e simbólicas que todos temos da

vida, do mundo, da realidade, e àquelas que

produzimos no pensar teórico-filosófico-

científico, então, o que ensinam?

O marxismo, pois, nunca esteve sozinho quan-

do se trata, assim, de modos teórico-filosófico-

científicos de compreensão da realidade. Por

essa razão, pouco sentido há em se pensar

que o assunto da ideologia é exclusivo daque-

les que, marxistas, acreditam que podem dizer

o que é verdadeiro e o que é falso. E que se

arvorariam também a atribuir a si mesmos que

estão com a verdade e os demais na falsa

consciência ou na mentira. Essa é uma ridícula

caricatura do pensamento marxista e de todos

os demais pensadores que trabalham como a

análise de ideologia, incluindo os que, não sen-

do marxistas, sabem muito bem que o fenôme-

no da ideologia existe, como existem as clas-

ses, o poder, o Estado, as pessoas, as cadei-

ras, as chuvas e os ventos… Torna-se uma

falsificação de má-fé das teses marxistas rebai-

xar a teoria da ideologia a uma simples retórica

acusatória sobre a verdade e a mentira do en-

frentamento de interlocutores.

Coisa de quem parou em Napoleão, que enten-

deu que ideologia era as opiniões de uns con-

tra outros, coisa de quem não leu Marx, não

leu o filósofo francês Louis Althusser, nem leu

o sociólogo alemão Theodor Adorno, desco-

nhece as obras dos ingleses John Thompson e

Terry Eagleton, deixou de conhecer as refle-

xões do filósofo esloveno Slajov Zizek, não leu

a filósofa estadunidense Judith Butler e ignora

também o que escreveu sobre o assunto a filó-

sofa brasileira Marilena Chaui. Ignora também

a obra de Michel Foucault, um crítico do discur-

so ideológico, que ele chamou de “verdades”

epocais e “discursos”, cujos efeitos de poder

produzem sujeitos, isto é, indivíduos como su-

jeitos de alguma sujeição. Mas, também é fato,

há ditos foucaultianos que não foram capazes

de ver nisso uma análise do ideológico, da ide-

ologia, isso porque Foucault não usou a pala-

vra nos seus textos.

Aliás, é Zizek que tem uma ótima resposta pa-

ra aqueles que recusam a análise de ideologia:

lembra que, a pressa de alguns em renunciar à

noção de ideologia, mas tem a ver com o fato

que a análise crítica da ideologia, como a de-

núncia do fracasso da contingência em querer

aparecer como o necessário e o inevitável, é

também a revelação da escancarada denega-

ção dos compromissos com a sujeição e a do-

minação daqueles que, pretendendo aparecer

como isentos – ou críticos das “contradições”

do outro – carrega consigo a fantasia ideológi-

ca de agirem por um fim, quando, de fato,

agem por outro, bem sabendo o que

“perfeitamente fazem, e, no entanto, o fazem”.

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De fato, a análise da ideologia pode mesmo ser

bem reveladora não apenas de como a realida-

de construída é instituída, passando do contin-

gente ao “necessário”, do particular ao

“universal”, do humano ao “divino”, como pode

também ser bem reveladora das práticas e até

mesmo de como está constituído o caráter dos

indivíduos. Afinal, como compreendo, a partir da

ideia de subjetivação proposta pelo filósofo Mi-

chel Foucault, a ideologia é um poder de subje-

tivação como outros. É um poder de produção

de sujeitos, que, para Foucault, é sempre o su-

jeito da sujeição. Que se este, por seus próprios

movimentos sobre seu ser, pode buscar esca-

par à sujeição, resistir a modos de governo de

seu ser, produzindo ele próprio modos de subje-

tivação que sejam exercícios de sua liberdade,

em todo caso, haveria aí sempre o indivíduo co-

mo sujeito, pois, esse é, como escreveu Judith

Butler, “o preço a pagar pela existência social”,

que nos obriga a estar submetidos a normas e a

negociar com elas. Nesse sentido, erraram to-

dos aqueles, entre os quais Jürgen Habermas,

que acusaram Foucault de não ver outra coisa

senão poder e sujeição. Ora, as ideias do autor

em torno dos assuntos dos regimes éticos do

cuidado de si, estilizações da vida como práti-

cas de liberdade etc. dão conta que Foucault

pensou o assunto da sujeição simultaneamente

pensando como os sujeitos a esta podem resis-

tir, podem converter-se em agentes de resistên-

cia.

III

E a propósito de resistência, subversão da su-

jeição, todos aqueles que se ocupam da análise

de ideologia trataram de chamar atenção para o

fato que não se torna possível um sair da ideo-

logia, como um sair da sujeição, como se fosse

possível sair da linguagem com a qual somos

constituídos. O que se torna possível é buscar

sempre mais a desideologização de si e da rea-

lidade, como pensou assim o psicólogo espa-

nhol Martin-Baró, e posteriormente o psicólogo

estadunidense Tod Sloan, para os quais a desi-

deologização representaria exercícios críticos

de ultrapassagem no ser do indivíduo dos efei-

tos da sujeição ideológica. Para Tod Sloan, algo

que ele aproxima do que Paulo Freire chamou

de conscientização (o autor brasileiro é recupe-

rado por Martin-Baró e Tod Sloan ao teorizarem

sobre o tema). A desideologização torna-se um

trabalho crítico do indivíduo sobre si próprio,

com todos os traços do que, como assinalei aci-

ma, Michel Foucault traz como cuidado de si.

Muito curioso eu fico de ver a incapacidade de

certos ditos foucaultianos de não enxergarem

relações e sínteses possíveis entre perspecti-

vas teóricas que estão ocupadas com a reflexão

dos mesmos fenômenos e problemas da exis-

tência humana, da vida em sociedade. Certos

ditos foucaultianos que tremem horrorizados

cada vez que ouvem falar de ideologia ou de

desideologização, estes, sim, que somente con-

seguem enxergar o poder que Foucault dese-

nhou nos seus textos, que não conseguem ver

qualquer relação entre discurso e ideologia, pe-

lo único motivo que é o fato do autor

(transformado em sumo-sacerdote da Igreja

Universal do Reino de Foucault) ter um dia na

vida decidido escrever em dois únicos de seus

textos e em algumas entrevistas que “não gos-

tava do termo ideologia”, mas sem nunca ter

escrito um único pequeno texto para fundamen-

tar a sua recusa.

considerando-me um foucaultiano, mas ao meu

modo, pois não me filio a igrejas, nunca aceitei

essa recusa do autor como algo inevitável, ne-

cessário, universal para o pensamento, uma

verdade absoluta, irremovível, mas como uma

construção pessoal, dentro da contingência do

debate intelectual na França, nas brigas de

Foucault com o Partido Comunista Francês,

sem que exista qualquer razão

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para reproduzir suas escolhas como dogmas.

E não estou só quanto ao que digo, por exem-

plo, sobre as relações entre discurso e ideolo-

gia, no pensamento de Michel Foucault, po-

dendo mencionar aqui Louis Althusser, o lin-

guista francês Michel Pêcheux, o estudioso da

comunicação inglês Norman Fairclough. Mas,

adeptos de igrejas, em geral, leem apenas su-

as Bíblias!

E porque se torna possível separar o que é a

ideologia e o seu contrário, isto é, o trabalho da

razão reflexiva, racional, consciente, mas não

apenas!, mas, igualmente, das sensibilidades,

intuições, imaginações, que chamamos, numa

só palavra, crítica, é que se torna possível, do

ponto de vista cognitivo e epistemológico, defi-

nir um fora-da-ideologia, um pensamento-fora,

o pensamento da “indocilidade reflexiva” e da

“inservidão voluntária” (com estas palavras Mi-

chel Foucault definiu belamente o que é a críti-

ca, numa conferência, em 1978, na Sociedade

Francesa de Filosofia, na qual se filia à tradi-

ção kantiana, afirmando com todas as letras

que a crítica é uma atitude de modernidade,

uma atitude de Esclarecimento; isso deveria

servir para certos foucaultianos de igreja para-

rem de caricaturar Foucault como um crítico da

razão e da modernidade, fazendo dele um idio-

ta irracionalista, e dando margem a que mar-

xistas, em erro, o tomem por tal; o que não é o

caso!), então, porque se torna possível separar

ideologia e crítica, pensamento ideológico e

crítica à ideologia, que Zizek escreveu:

“embora nenhuma linha demarcatória clara se-

pare a ideologia e a realidade, embora a ideo-

logia já esteja em ação em tudo o que vivenci-

amos como ‘realidade’, devemos, ainda assim,

sustentar a tensão que mantém viva a crítica à

ideologia. […]: a ideologia não é tudo; é possí-

vel assumir um lugar que nos permita manter

distância em relação a ela, mas esse lugar de

onde se pode denunciar a ideologia tem que

permanecer vazio, não pode ser ocupado por

nenhuma realidade positivamente determina-

da; no momento em que cedemos a essa ten-

tação, voltamos à ideologia.” Isto é, o autor es-

tá dizendo: o ponto de vista extra-ideológico é

um exercício do pensar, é um trabalho de refle-

xão, não é uma verdade, um regime, nem mes-

mo um ponto de vista. Razão pela qual é lugar

vazio, lugar de uma atividade do pensamento

que, a cada vez, se constitui, que nunca cessa,

e que não pode se fixar em nenhum significan-

te ou significado instituído ou por vir.

Mas, por que tanta gente tem dificuldade em

compreender e aceitar a noção e a análise da

ideologia como fenômeno existente, o fenôme-

no das ideias que procuram negar o caráter

arbitrário/convencional da realidade instituída?

Aliás, para o filósofo turco Cornelius Castoria-

dis, só há realidade porque “instituída”, porque

nada há que exista antes de sua institucionali-

zação, a ideologia, também para ele!, tornando

-se o imaginário e o simbólico que a consa-

gram como natural, única, necessária e inevitá-

vel, negando seu caráter de coisa instituída,

coisa construída. O filósofo Castoriadis é bem

outro exemplo de pensador não marxista que,

fazendo reparos ao marxismo, não deixou de

reconhecer e incorporar ao seu pensamento os

contributos dessa corrente, sem, no entanto,

descuidar de incorporar outras contribuições

teóricas, a exemplo do interacionalismo simbó-

lico, do estruturalismo e da psicanálise.

A dificuldade de tanta gente com o termo pare-

ce estar no entendimento comum, ordinário,

cotidiano – que se pede a estudiosos e profes-

sores universitários que não façam de seus en-

tendimentos – que toma a ideologia como sinô-

nimo de opiniões, ideias. As ideias que se de-

fende para assegurar uma causa, sem distin-

ção da natureza dessa causa, que pode ser de

“direita” ou de “esquerda”, “progressista” ou

“conservadora”, ou avaliada como “boa” ou

má” etc.

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A ideologia concebida como podendo ser idei-

as de quaisquer sorte, bastando que se especi-

fique a “causa” que se advoga.

No meio acadêmico, é mais comum uma atra-

palhada concepção que define todo pensamen-

to e toda interpretação da realidade como ideo-

lógicos. Esse entendimento, sustentado por

autores como Karl Mannheim – para quem

“não é mais possível para um ponto-de-vista e

para uma interpretação refutar os demais por

serem ideológicos, sem ter que enfrentar essa

acusação”–, pode ser ele próprio visto como

um pensamento ideológico, que, facilitando o

trabalho da ideologia, a faz desaparecer como

aquilo que ela é, pois, ao se dizer que “tudo é

ideologia”, não se torna mais possível distinguir

o ideológico daquilo que é o seu contrário, o

não-ideológico. Mas, uma vez que o pressu-

posto inicial desse entendimento é que ideolo-

gia é toda “interpretação interessada” ou “todo

pensamento social e historicamente determina-

do (condicionado)”, nenhum escaparia de ser

ideológico. Para autores como Mannheim, os

atos de pensamento e conhecimento não seri-

am puramente teóricos, racionais, formais, mas

igualmente atravessados de influências prove-

nientes de vontade, interesses, conflitos da vi-

da social, valores culturais, ideias da época

etc., isto é, “influências externas ao pensamen-

to” e, portanto, “ideológicas”. Isso faria que ne-

nhum ponto de vista possa atribuir a outro ser

ideológico e não se reconhecer como também

da mesma natureza. Ora, o que define o ideo-

lógico não é ser “ideia socialmente determina-

da”, mas ser as ideias e as formas simbólicas e

imaginárias que procuram naturalizar e eterni-

zar a realidade social, cultural, humana e histó-

rica, que é sempre contingente, particular, tran-

sitória, revogável.

Por essa minha compreensão do fenômeno da

ideologia nas culturas e sociedades humanas,

é que, não sendo marxista, reconheço nas

análises marxistas uma contribuição sobre o

assunto, sem a qual toda a análise da ideologia

estaria sem seu importante ponto de partida

que foi a tese de Marx e Engels sobre um fenô-

meno que, se queira ou não, faz da vida em

sociedade o existir dentro de “redomas de ilu-

sória transparência” (a imagem é do historiador

Paul Veyne, definindo o que é o discurso em

Foucault), que os sujeitos sociais sequer se

dão conta que estão dentro delas e que elas

existem, mas dentro delas agem agidos pela

atmosfera que guardam e procuram perpetu-

ar. De minha parte, não ser marxista nunca

significou engajamento numa militância intelec-

tual contra o marxismo, nem menos ainda con-

tra a ideia de que há o que se pode chamar

ideologia e o que se pode definir como o seu

contrário, sem nunca ter entendido tal distin-

ção, proposta com muita clareza pelos autores

marxistas, como algo aberrante, fruto de um

racionalismo autoritário, dogmático e sectário.

Infelizmente, dentro e fora das universidades,

não cessam as ações daqueles que fazem do

combate ao marxismo e suas categorias de

análise uma verdadeira missão catequética.

Aliás, catequese que coincide inteiramente

com a ação daqueles que, a exemplo do caso

atual brasileiro, estão defendendo a “escola

sem partido”, por presumida prática de

“assédio ideológico”, nomeando de

“ideologia”

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o que é exatamente o seu contrário, o pensa-

mento reflexivo, científico e crítico, que não

querem ver ensinado nas escolas do país,

nem nas universidades. Numa retórica de hi-

pócritas que tentam fazer crer que o preten-

dem é livrar estudantes das “ideologias de es-

querda”, quando, de fato, o que querem é o

ensino puro e simples da ideologia como tal.

Não sem razão, o ataque à noção de ideolo-

gia, entre outras categorias marxistas impor-

tantes, é o ataque preferido dos antimarxistas

assumidos ou daqueles acadêmico-

envergonhados, é o alvo preferido desses

verdadeiros dom-quixotes que lutam contra

seus próprios fantasmas, psicológicos ou polí-

ticos. Atrapalhados em compreender o que

Marx e Engels escreveram sobre o fenômeno

da ideologia, transformam a crítica a um con-

ceito teórico na negação da existência do pró-

prio fenômeno da ideologia como tal. Alguns

deles, mais afeitos ao discurso acadêmico, os

que estão nas universidades, falam de “poder”

como existindo (e fazem do conceito o verda-

deiro Bombril de seus discursos), falam de

“religião”, “cultura”, “simbólico” etc. como fe-

nômenos sociais, mas o que nunca pode ser

um fenômeno a ser estudado é a ideologia.

Entre certos tipos acadêmicos engajados na

quixotesca luta contra o emprego da noção de

ideologia (que tomam como sinônimo de aná-

lise marxista), há aqueles que se comprazem

e gozam em buscar lançar frases de efeito,

como se fossem verdadeiros acendedores de

fogos de artifício, para acusar a análise de

ideologia de “ciência do strip-tease”, pela infe-

liz ideia que aqueles que fazem a análise de

ideologia estariam querendo “desnudar a rea-

lidade”, porque seriam obcecados pela com-

preensão que a ideologia “esconde a realida-

de”, o trabalho da crítica pretende “deixar a nu

as verdades escondidas” – e entendem isso

na ignorância que é a deles sobre uma ima-

gem que é da etnologia, quando pensa a des-

crição interpretativa das culturas na compara-

ção com as sociedades complexas: as socie-

dades indígenas, chamadas primitivas, tribais,

põem a nu, para o etnólogo, o que, nas nos-

sas sociedades, são estruturas mais ocultas.

Para quem não sabe, e treme com a palavra

“nu”, de prazer reprimido ou de horror ou por

tabu com a nudez, como a normalista de ou-

trora, a expressão é utilizada por Lévi-

Strauss! Mas, enfadonhos, certos devotos do

irracionalismo (que querem ser reconhecidos

como “pós-estruturalistas”; uma besteira sem

tamanho que não se sustenta a menor prova

de suas contradições no uso do conceito de

estrutura; assunto sobre o qual tratei também

recentemente em minha tese de Titular) repe-

tem ad nauseam um rosário de metáforas to-

las – mas acreditando que são o sucesso do

quarteirão intelectual no qual habitam e para o

qual arrastam alguns bajuladores ingênuos –

para acusar o pensamento marxista e análise

de ideologia de um racionalismo essencialista,

universalista, autoritário e, pasmem leitores!,

falocêntrico. Sim, encontram falocentrismo

peniano em mero uso de termos como pinça-

dos de seus contextos, ridicularmente força-

dos em seus significados. Veem o “falo” ma-

chista, masculinista e heterossexista onde

apenas está reflexão crítica, mas sem os delí-

rios irracionalistas dos quais se alimentam.

Aliás, que deixa a impressão que transferem a

própria vida sexual para uma fala sexualizada,

projetada sobre os outros, e repetida sem

qualquer criatividade em todas as ocasiões

possíveis! Há quem diga que já se tornou

mesmo – e revelado em ato falho público! – em

“onanismo acadêmico”! Utilizar de imagens se-

xuais para criticar teorias e autores somente me

faz pensar que, no caso desses dom-quixotes

do irracionalismo antimarxista e avessos

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à teoria da ideologia, somente pode existir al-

gum problema no gozo sexual, substituído pelo

sexo na fala. Falo, falo, falo, oh, eu falo sobre

sexo! Faço o discurso do sexual, vejo sexo em

tudo, já que o sexo falta em mim! Não foi Mi-

chel Foucault que denunciou que, no Ocidente,

à falta de uma arte erótica, inventou-se a ciên-

cia do sexual, para fazer falar o sexo, ao invés

de praticá-lo?

Os acusadores de falocentrismo nas metáforas

conceituais do marxismo e da análise de ideo-

logia – ao se falar de desvelamento, descorti-

nação, que a ideologia penetra à subjetividade

dos indivíduos, tornando-os sujeitos – deveri-

am recorrer a alguma análise, a algum cuidado

de si, a alguma hermenêutica de si, para não

sair por aí esparramando, sobre auditórios uni-

versitários e acadêmicos, o que deveriam guar-

dar par si como questões que só fazem apelo

às suas próprias subjetividades. Ora, quando,

depois de Lacan e Agamben, bem poderiam

ter apreendido que o falo não é o pênis, nesse

âmbito há o que se poderia chamar de potên-

cia, que, para homens e mulheres, torna possí-

vel as mil singularidades possíveis e vivíveis,

para o melhor e para o pior, mas sempre como

o que torna possível que o indivíduo não seja

tão somente sujeito, pura obediência à sujei-

ção, podendo, por sua potência, ser outro-

mais, mais-além, um mais-de-vida.

Puras tolices! A crítica ao racionalismo obtuso

já foi feita com muita consistência por vários

autores, por Michel Foucault, pelos teóricos

críticos de Frankfurt, por Michel Maffesoli, entre

outros. Mas, no marxismo, se há reparos a fa-

zer não é à sua adesão à ideia de razão, sua

teoria da ideologia. A crítica ao racionalismo

como produtor de “técnica de dominação” já foi

feita, e bem!, pelos autores da chamada Escola

de Frankfurt. Aliás, sobre cuja produção inte-

lectual, Michel Foucault declarou, em entrevis-

ta, “que se tivesse estudado como poderia ter

feito, não teria dito tanta bobagem”.

Bobagens como as que se pode escutar, em

certas ocasiões, proferidas com a pretensão de

“abalar Paris”, mas que se mostram tão so-

mente pobres considerações sobre o que não

se suporta ouvir, quando o que se diz é o des-

velamento de suas próprias imposturas, não

menos contribuintes com a manutenção do sta-

tus quo de grupos de poder, o status quo da

ordem social vigente, que a crítica à ideologia,

em todas as suas formas, não consagra nem

perpetua.

Pena que, no seio das próprias ciências huma-

nas, exista quem as procure demolir do seu

próprio interior, entregando-as aos seus adver-

sários, que, aliás, no Brasil, estão agindo à sol-

ta, em projetos de leis contra a sociologia e a

filosofia no ensino médio, chamando-as de ra-

cionalistas obtusas, autoritárias, sectárias, dog-

máticas, partidárias do que acreditam ser uma

partilha entre “verdade” e “mentira”, doutrinado-

ras de esquerda. Professores universitários,

presumidamente engajados em posições políti-

cas críticas, que se engajam contra o marxis-

mo, contra a teorização construcionista crítica

e contra a análise de ideologia, sem se darem

conta, estão contribuindo com uma invalidação

das ciências humanas, tal como já o fazem os

reacionários, em sua guerra aberta aos nossos

estudos, análises, teorias. Mas um efeito da

ideologia é esse mesmo: fazer que os sujeitos

da sujeição ideológica se tornem cúmplices de

sua própria sujeição e de outros!

Aqueles que vivem são aqueles que lutam

Victor Hugo

Iacta alea esto

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* Paulo César

Palhares, nascido

em 1989, Escritor de

literatura infanto juve-

nil com o primeiro livro

a publicar da Saga Lu-

mínios, mundo ao qual

inventou e esculpiu ca-

da forma, cultura e idi-

ossincrasias, primeiro

título da obra será “A

vitória dos Exilados”,

lançado pela Editora

CJA, professor de Geo-

grafia, Consultor de Po-

líticas Públicas Geopolí-

ticas, Resenhista Crítico

do Blog

www.pcpalhares.com,

no qual tem um traba-

lho desde 2015 e agora

da revista Digital Kuku-

kaya, , com mais de cem

títulos de livros já lidos,

no momento tem se

dedicado a autores lo-

cais e a conhecer me-

lhor as obras lançadas

dentro do Brasil e espe-

cialmente no Estado do

Rio Grande do Norte.

B reno D. R. C. Araújo ou

Breno Cinéfilo é um his-

toriador da cidade Natal/RN e um

grande crítico cinematográfico e

literário. Possui enfoque nas pro-

duções infantojuvenil, conhecedor

da nona arte e apaixonado pela

sétima, como seu nome artístico

sugere. Não basta esse repertório,

já citado, o autor de Os Labirintos

percorridos por um aluno Asper-

ger, produziu essa obra literária

que enquadro como uma raridade

no fazer literário potiguar.

Um livro de extrema sensi-

bilidade e de um valor pujante,

tem em sua narrativa a autobio-

grafia desse jovem crítico. O labi-

rinto que é um signo que o autor

utilizou com bela maestria para

explicar sua “diáspora pessoal”,

traz em seu conjunto as vivências

mais marcantes e curiosas na vida

do autor. Uma ótima indicação pa-

ra estudantes das áreas pedagó-

gicas, pois o texto vem em suas

palavras falar das dificuldades e

terrenos arenosos que um aluno

SA (Síndrome de Asperger) pode

vir a sofrer. Texto muito coeso e

um presente a leitores que gostem

de uma prosa linear e cadenciada,

Os Labirintos é uma conversa em

especial com o próprio autor.

Pessoalmente, a leitura foi

uma autoajuda, uma forma de fa-

lar com o Breno em suas lembran-

ças, fez com que reflexões ao

meu eu fossem feitas. Texto moti-

vador, inspirador e para mim, mui-

to especial. Infelizmente o livro se

encontra esgotado, o que para os

leitores é uma lástima, mas o Bre-

no Cinéfilo pode ser encontrado

em suas redes sociais e garanto

que conhecê-lo e ver o seu traba-

lho é algo também muito gratifi-

cante.

ARAÚJO, Breno D. R. C. Os Labirintos percorridos por

um aluno Asperger: do ensino infantil ao superior. São

Paulo: Scortecci, 2015.

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* Weidde Andrino - Estu-

dante de Língua Inglesa,

estudante universitário de

história, jovem escritor.

“Faço da Cultura e da Litera-

tura uma necessidade cons-

tante, um alimento importan-

te, fazendo com que nutra

minha alma e eu siga sem-

pre avante.”

N o extremo Oriente, em

uma bela montanha

transcendental e sobe-

rana só de olhar, existia uma ca-

sinha perto do cume com um

único morador. No meio daquela

natureza exuberante, bela, into-

cada, intocável, selvagem e tam-

bém dócil. Tão intocada que as

abelhas pareciam pássaros de

tão grandes que eram. A fauna

da montanha era sui generis

comparada a outros rincões do

mundo.

Lá vivia um homem. Um monge,

que se recusou a viver entre os

homens. Para ele a solidão não

era problema. Pois a solidão dos

homens da cidade, os portado-

res da dor interminável, era ruim,

porém a solidão que aquele

monge sentia, era uma solidão

Divina, pois estava em compa-

nhia de Deus. Seus amigos

eram a floresta, os animais, os

raios de sol mornos e serenos, o

ar puro que revigorava sua alma

e lhe dava uma vida de paz. A

água pura e cristalina que nascia

tímida de uma fonte singela no

pico da Montanha e ganhava for-

ça à medida que descia o preci-

pício e se convertia em grande

cachoeira. Aquela água que be-

bia purificava todo o seu corpo,

até a última célula.

Que solidão? Deus está na natu-

reza. Está a nossa volta. Porém

as paredes de concreto das ci-

dades encobrem tudo e impe-

dem a nossa conexão com a na-

tureza e desse modo, com Deus.

Nos sufoca. Aquela água que

nasce singela na fonte e ganha

força ao descer na Montanha, é

como a vida que fazemos de pe-

quenos problemas e coisas in-

significantes se avolumarem e

se tornarem enormes proble-

mas, por culpa nossa. Quando a

lei da gravidade pode tornar a

negatividade da vida um grande

problema, quando poderíamos

ignorar e relevar essas negativi-

dades. Para assim, vivermos em

paz. A natureza nos mostrando

em seus detalhes como deve-

mos viver, através de seus ele-

mentos e fenômenos naturais.

Basta observar. Contudo, o vi-

vente da cidade, distanciado da

natureza, sente dificuldade em

observa-la, se torna cego para

ela, e consequentemente, para

si.

Foi assim, que aquele monge,

decidiu mudar de vida...vivendo

no meio dos homens, percebeu

que estava prisioneiro. Prisionei-

ro dos outros e também de si.

Estava sufocado, precisava de

paz, de tempo. Para poder refle-

tir. Começou a se questionar so-

bre o real sentido da vida, se va-

leria a pena a vida que estava

vivenciando. E decidiu cuidar de

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si. Se redentorizar. Se rendendo para o seu

próprio bem. Para isto deixou de lado a teimo-

sia, a preguiça mental em recusar as mudan-

ças e o novo, a soberbia, a vaidade, a ambi-

ção, o orgulho e o egoísmo. Principalmente o

egoísmo para consigo mesmo, em não querer

o próprio bem. Quando decidiu pela reclusão

na natureza, não foi um egoísmo e sim um ato

de coragem, de cumprir um compromisso para

com a vida, em busca de se descobrir e cola-

borar para o Universo. Um ser, mais um ser,

em busca de evolução.

E humildemente, sabendo do preço que teria

que pagar pelo isolamento – pois no início não

seria fácil – até que passasse a fase da solidão

negativa, típica da tristeza da cidade, por não

entender o que estava fazendo. Até que enten-

desse finalmente e o real proposito da sua es-

colha...de construir uma casinha...na Monta-

nha...

Após um tempo junto de Deus...ele percebe

que precisava voltar para ver seus entes queri-

dos...depois de passar quase uma vida toda

isolado...pois Deus lhe disse que os humanos

precisam dos humanos, que os humanos preci-

sam ajudar uns aos outros...e que ele, o mon-

ge, precisava retornar para ajudar outros que

estavam sofrendo, como ele sofreu...contar co-

mo é conhecer Deus através da nature-

za...transmitir

tudo que Deus

lhe disse no si-

lencio da Mon-

tanha todo

aquele tem-

po...pois a casi-

nha da Monta-

nha...não era

só para ele...foi

feita para toda

a humanidade.

“Nenhum ho-

mem é uma

ilha, completo

em si próprio;

cada ser huma-

no é uma parte

do continente,

uma parte de

um todo.” John

Donne.

“Ninguém entra em um mesmo rio uma segun-

da vez, pois quando isso acontece já não se é

o mesmo, assim como as águas que já serão

outras.” Heráclito.

“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tu-

do se transforma.” Antoine Lavousier.

“Não tenho correntes nos meus pés, mas não

estou livre. ” Bob Marley.

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José de Castro, *José de

Castro, jornalista, escritor

e poeta. Autor de livros

infantis (A marreca de Re-

beca, O mundo em mi-

nhas mãos, Poemares,

Poetrix, A cozinha da Ma-

ria Farinha, Dicionário en-

graçado, Poemas brin-

cantes.) Publicou também

“Apenas palavras” e

“Quando chover estrelas”.

Membro da SPVA/RN e da

UBE/RN. Membro corres-

pondente da Academia de

Letras, Artes e Ciências

Brasil – ALACIB – Maria-

na/MG. Contato: josede-

[email protected]

“Era uma vez no oeste”, bem

longe de todas as “Luzes da ci-

dade”... Ali estávamos os dois

“Perdidos na noite”, “Cantando

na chuva”. Éramos “Um homem

e uma mulher” “Sem destino”.

Na verdade, o que a gente que-

ria mesmo era “Um lugar ao

sol” e vivenciar algumas

“Loucuras de verão”. Não havia

táxi e nem estávamos “No tem-

po das diligências”. Mesmo as-

sim conseguimos chegar a

“Uma rua chamada pecado”,

onde pudemos presenciar algu-

mas “Núpcias de escândalo”. Ou

seria “A primeira noite de um

homem”? “Minha bela dama”,

naquele momento, estava mais

parecendo “A noviça rebelde”.

Mesmo assim, éramos ainda

“Os bons companheiros” de

sempre e “O diabo a quatro”...

“O sexto sentido” me recomen-

dou prudência naquele mo-

mento. Afinal, tínhamos um

pacto de amor e também um

“Pacto de sangue”. Fazer o quê?

Nesses “Tempos modernos” as

coisas são mesmo assim: ”:

“Noivo neurótico, noiva nervo-

sa” . Resolvi não comentar na-

da. É sempre preferível “O silên-

cio dos inocentes”, pois de um

tudo “Aconteceu naquela noi-

te”. E eu

não era mes-

mo “O ho-

mem que

sabia de-

mais”. Ape-

nas “Duas ou

três coisas

que sei de-

la”. Sei tam-

bém que “A

mulher faz o

homem”,

mesmo os

mal-

educados,

pois “Os bru-

tos também

amam”. E

sabia mais:

“Os melho-

res anos de

nossas vi-

das” não po-

demos des-

perdiçá-los

colhendo “Morangos Silvestres”

ou comendo “Tomates verdes

fritos”. E nem podemos deixar

para trás “Rastros de ódio”.

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E ali estava eu, mais para “Uma aventura na África”

do que para uma “Sinfonia em Paris” . Eu me sentia

“O poderoso chefão” em pose de “Patton”, um ver-

dadeiro “Lawrence da Arábia” de mim mesmo.

Quem nunca teve uma “Psicose”? Na verdade,

mais parecia “O franco-atirador” ou “Um estranho

no ninho.” Ou quem sabe me via como “O mágico

de Oz” tentando cruzar “A ponte do rio Kway” (ou

seriam “As pontes de Madison”?). Pensei-me como

o “Último dos moicanos” querendo escalar “O mor-

ro dos ventos uivantes”. Com certeza, “Em busca do

ouro”, o tesouro do amor. Ou talvez estivesse ten-

tando ouvir “A canção da vitória” do meu “Amor,

sublime amor” entoada pelo coral de “Os sete sa-

murais”.

Meu coração se aquecia. “Paris está em chamas?”

“Quanto mais quente melhor...” Mas o vento apa-

gou tudo. “E o vento

levou...” para bem lon-

ge todos os meus dese-

jos e os meus sonhos

mais secretos ... “Meu

ódio será sua heran-

ça”? Nunca, pois

“Assim caminha a hu-

manidade...”, foi o que

pensei. Mas no fundo,

no fundo, eu ainda

tinha três certezas: “O

sol é para todos”... “A

felicidade não se com-

pra”... E “A vida é be-

la”.

“O resto é silêncio”,

como diria William

Shakespeare. Uma

“Bravura indômita”

calou fundo em meu

peito. Pura “Fantasia”!

“Esse mundo é dos lou-

cos”!!!

(Em itálico, nomes de clássicos do cinema, extraí-

dos do ranking do American Filme Institute – AFI,

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*Luís Pereira da Silva, que

também usa o pseudôni-

mo de Chumbo Pinheiro,

é graduado em História e

atualmente cursa Ciências

Sociais (UFRN). Poeta e

articulista é autor de “A

tua mão” (poesia) e

“Alguns livros poti-

guares” (resenhas).

A RESPEITO DA OBRA “PIPA VOADA SOBRE

BRANCAS DUNAS”, DE JÚNIOR DALBERTO.

U ma história com mui-

tas histórias ou mui-

tas histórias em uma

história só? Um romance. Uma

aventura? Realismo mágico?

Regionalismo? Drama? Tudo

isso em um livro só. Um turbi-

lhão de acontecimentos em

uma temporalidade estendida,

todavia muito bem demarcada.

Um início excessivamente des-

critivo, porém com a virtude de

despertar a curiosidade e a ex-

pectativa do leitor que vai au-

mentando a cada página e a

cada novo capitulo.

Com um olhar profunda-

mente perspicaz e uma escrita

envolvente o autor traz a tona

às vivências de toda uma soci-

edade naquilo que ela tem de

mais imperceptível: suas rela-

ções íntimas e seus segredos.

Atos e fatos que todos sabem

que se praticam mas não rom-

pem as fronteiras de suas vi-

das. E aqui se rompem e se

tornam públicos. Os hábitos e

costumes brancadunenses que

parecem acontecer num fim do

mundo, lá onde o vento faz a

curva. É um lugar onde se mis-

turam e se revelam

lendas, tradições,

modernida-

des, contempora-

neidades e povos

dos quatro cantos

do mundo, dotando

a pequena imagi-

nária cidade, de

um ar paradoxal-

mente cosmopolita.

A história

tem início com a

chegada de explo-

radores europeus,

atraídos pela ambi-

ção da riqueza e o

incandescente bri-

lho de pedras pre-

ciosas. Os aventu-

reiros desembar-

cam na praia e

avançam pelas du-

nas brancas, alhei-

os a quaisquer

sentimentos huma-

nos, cheios apenas de sua de-

senfreada ganância.

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A geografia brancadunense nos é fami-

liar; dunas móveis, praias muito belas, lagoas

exuberantes; chuvas torrenciais no verão ri-

valizando com a intensidade do sol, ventos

constantes, ora brandas brisas, ora tempes-

tuosos

venda-

vais.

O espa-

ço litorâ-

neo onde

ocorrem

os fatos,

foge da-

quele tra-

dicional

regiona-

lismo

sertanejo

que nos

acostu-

mamos a

ler em

alguns

clássicos

da litera-

tura bra-

sileiro,

bem co-

mo, da

natureza

exuberante das matas e do emaranhado

mundo urbano que se vai constituindo a partir

do final do século XIX até os dias de hoje,

onde são demonstradas as relações sociais

sejam no ambiente da casa ou da própria so-

ciedade.

Há um turbilhão, onde se encontra um

pouco de tudo. No entanto, com as peculiari-

dades providenciais das Brancas Dunas.

Neste sentido, a narrativa apesar de se referir

à história de uma pequena cidade, apresenta

uma lente ampliadora através da qual torna

possível enxergarem-se os sentimentos hu-

manos mais íntimos e fortes: amor, paixão,

ódio, desejo, ambição, ciúme... Além disso,

traz particularidades culturais e variações uni-

versais, que chamaram atenção para os estu-

dos de Levi Strauss um dos mais importantes

antropólogos do século XX; podemos desta

forma pensar em algumas curiosas compara-

ções tal como: se em outras paragens exis-

tem monstros em lagos, aqui existe a gigan-

tesca serpente; se em outros lugares os vam-

piros se apresentam, aqui aparece o lobiso-

mem; se por lá existem fadas, aqui brilham

os pirilampos. As lendas e as tradições se

entrelaçam em uma convivência ora harmôni-

ca, ora tumultuada, interagindo com os avan-

ços tecnológicos. Padres, ciganos, pai e mãe

de santo se conectam com o mundo digital

modernizando suas cerimônias e rituais. Jo-

vens e velhos, antigos e novos, o real e o

imaginário convivem em Brancas Dunas, que

tem cores, sabores e cheiros mergulhando o

leitor em fantásticos acontecimentos, excita-

ções e emoções do início ao fim.

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M eus pulsos doem. Os primeiros

raios de sol invadem o chão úmi-

do do banheiro. Grito ou perma-

neço em silêncio? A secura da

garganta e o medo me mantém muda. Meus bra-

ços formigam e a dor que começa no quadril e fin-

da nas costas é quase insuportável. Levanto deva-

garinho do vaso sanitário e tento, mais uma vez,

desatar os nós do pulso, mas é algo impossível,

pois Ele os amarrou a grade da janela com bastan-

te primor. Passei à noite lutando contra essa grade

e o choro que não cessava, só não lutei contra ele,

pois a última vez que tentei revidar acabei levando

uma paulada na cabeça. A tentativa de detê-lo é o

motivo de eu ter, perto da sobrancelha direita, uma

terrível cicatriz. Melhor mesmo é ficar calada en-

quanto ele me chuta e me soca. O silêncio o faz se

acalmar; já o choro e o grito o fazem ter ainda mais

sede de sangue.

A primeira agressão teve início logo após a

lua de mel. O motivo: os homens olhavam demais

para mim. Então ele me esbofeteou e mandou que

eu aumentasse o comprimento da saia. Depois ele

exigiu que eu jogasse fora as roupas com decote.

Eliminasse o batom vermelho e as saídas de casa

sozinha. O doce lar virou uma prisão perpétua e o

amor transformou-se em medo.

Recuei depressa quando a maçaneta da por-

ta começou a girar.

Ele disse: “Bom dia, menina” e o coração

disparou de pânico.

– Desculpe-me por ontem, mas você me

desobedeceu. Avisei que não era para sair de casa

– ele me beija.

- Desculpe-me – múrmuro.

- Está tudo bem agora, menina. – Ele come-

ça a me desamarrar.

Passo os dedos sobre os pulsos repletos de hema-

tomas. Ele segura as minhas mãos e beija-as.

- Menina, estou com fome. Já passou da

hora de você preparar o café da manhã.

Levanto com dificuldade. Meu quadril lateja.

Manco até a cozinha. Abro a geladeira e pego à

bandeja de ovos, preciso fazer uma deliciosa refei-

ção para o meu marido caso contrário ele irá me

agredir novamente.

Sentamos à mesa. Ele lê as notícias esportivas do

jornal em voz alta, pois adora reclamar do seu time

de futebol para mim. O tom de voz sereno, o olhar

terno o fazia parecer inofensivo. É um homem de

bem. Diziam

os vizinhos. É um santo. Diziam os colegas

de trabalho e a família. É o Diabo. Dizia eu. Mas

ninguém acreditava. Quem acreditaria na “puta”

que dormiu com ele antes do casamento? Nin-

guém! Nessa cidadezinha pequena ninguém dá

ouvido à conversinha de mulher. A palavra do ho-

mem é a que vale.

E esses hematomas? Perguntavam os ami-

gos. Desastrada demais, vive esbarrando nos mó-

veis. Dizia ele. E esse corte na testa? Perguntava

os meus pais. Acidente doméstico. Dizia eu repre-

endida por ele: “Se contar a verdade eu te mato!”.

Antes, juras de amor. Hoje, ameaças constantes.

Rezar era tudo o que eu fazia. Até hoje à noite.

Depois do jantar preparei-me toda. Entre os

travesseiros escondi a pequena faca. E o esperei.

* Sidy Batalha é professora e escritora. Natural de São Miguel-RN.

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Ele entrou no quarto moreno e viril, o dese-

jo crescendo entre as pernas. Primeiro toque. Re-

cusei. Palmada na bunda. Segundo toque. Recu-

sei. Puxão de cabelo. Terceiro toque. Recusei.

Soco na cara.

- Vai continuar me evitando?

Não respondi e ele perguntou de novo: “Vai conti-

nuar me evitando?!”. Sacudi a cabeça: “Vou! A

escravidão já acabou!”.

Minha mandíbula estalou quando ele furio-

so me estapeou.

Meus olhos se en-

cheram de lágri-

mas de fúria e ten-

tei retirar o corpo

dele de cima do

meu empurrando-

o com as mãos,

mas a minha força

em comparação à

dele era mínima.

- Você prometeu

que nunca mais

me bateria! Eu o

empurrava e chorava – por que você me bate?

Ele me penetrou – Porque eu amo você, menina.

O cheiro de álcool se espalhando pelo ar junto

aos sussurros dele... Eu amo você... Eu amo v-

você... meninaaa! E o orgasmo aflorou das pro-

fundezas.

O momento havia chegado. Procurei o pe-

daço de metal mortífero em baixo do travesseiro.

A mão esquerda agarrou e rápida perfurei a gar-

ganta dele, muitas e muitas vezes, o sangue jor-

rando como uma mina de ouro. O corpo sacudin-

do por causa da violenta dor da morte.

O sangue dele impregnado no meu corpo

tinha cheiro de liberdade. Eu sorria e rodopiava

feliz pelo jardim enquanto os vizinhos me olhavam

horrorizados. “Está louca” eles sussurravam uns

para os outros. “Estou livre!” eu sussurrava para

mim.

No outro dia ninguém se surpreendeu

quando os homens me jogaram no quartinho

branco. Penso, por vezes, que eles me observam

o dia inteiro, mas durante a noite é ele quem me

vigia. Ele pensa que eu não consigo vê-lo através

dessas paredes!

Não me espanto que

seja ele quem passa

a madrugada me

arranhando, dado

que ele sempre gos-

tou de deixar o meu

corpo marcado.

Maldito! – gritei alto,

varias vezes.

“Acalme-se” as pes-

soas de branco pedi-

am, mas eu não po-

dia, pois ele estava, mais uma vez, me violentan-

do.

Senti uma picada de abelha no meu corpo

e um pano grosso prendeu os meus braços contra

as costas.

“Eu amo você, menina” – gritou ele, mais alto e

mais alto como se estivesse dentro da minha ca-

beça.

“Por amor de Deus, me deixe em paz!” implorei,

mas, de certa forma, sabia que era um pedido em

vão... Ele viveria para sempre junto a mim, no

meu corpo, na minha alma e em minha mente...

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* Francisco Ramos Ne-ves Dr. em Filosofia - Pro-fessor de Filosofia – UERN [email protected]

EDGAR MORIN E A NEGAÇÃO INGÊNUA DA COMPLEXIDADE PELOS SEUS PRÓPRIOS ADEP-TOS.

Na noite do primeiro dia de no-vembro do ano de 2012, Natal pe-la quinta vez contou com a grandi-osa presença de um dos mais ilustres pensadores vivos da con-temporaneidade, o francês, Edgar Morin. Dessa vez veio para uma palestra de fechamento de um evento na UFRN promovido por um grupo de pesquisas sobre a complexidade. A noite de fato foi complexa: novos livros do pales-trante e de outros autores sobre o tema da complexidade foram lan-çados e vendidos em bancas; ine-briantes músicas pelo Quarteto de Violoncelos da Escola de Música da UFRN foram exaladas no ar; e a possibilidade do aconchego de uma boa cachaça envelhecida foi ofertada como degustação para os interessados em unir a aprecia-ção teórica ao debate com a vola-tilidade dos encantos notívagos da noite regada pela luz mágica do canto lunar que invadia o céu com a mais cheia e torpe das suas for-mas. Mas, infelizmente na terra contradições e inconsequências teórico-práticas conflitavam com o brilho da noite complexa. Chegan-do ao local do evento, na porta de entrada ao Auditório da Escola de Música, percebi que a complexi-dade não estava enraizada na consciência e prática dos organi-zadores; pois os mesmos estavam cerceando a entrada dos que não “possuíam crachá”, ou dos que “não pagaram” para terem livre acesso ao ambiente democrático do jogo de ideias e debates insta-lado. O conflito se inicia pela sim-ples negação constitucional da condição de ir e vir em uma insti-tuição pública de ensino, construí-da para dar acesso a todos como direito e dever do Estado. Além da

privatização do espaço público advém a negação ingênua da complexidade, por parte, o que é mais absurdo, de alguns dos seus próprios adeptos e defensores. Interessa-me nesse artigo discutir não a crítica escalada lenta e gra-dual da intenção de privatização da Universidade pública e gratuita, como está ocorrendo em diversos setores, mas a negação ingênua das principais teses da complexi-dade em um evento que se pro-pôs enaltecê-las e debatê-las. O termo “Complexo” vem de Com-plexus (o que tece em conjunto), que responde ao apelo do pensa-mento da solidariedade do verbo latino “complexere” (abraçar). A complexidade propõe combater a disciplinaridade e compartimentali-zação-separação do ensino como a ciência tradicional forjou. A cul-tura cientificista desagrega não apenas as diversas áreas de co-nhecimento, impedindo uma visão holística; mas, também reproduz sua estrutura para a vida social, isolando e excluindo os diferentes e enfraquecendo a capacidade de percepção e reflexão globais so-bre a vida em sociedade, o que remete à disseminação de uma cultura da elitização e fragmenta-ção social, diminuindo e até ne-gando a possibilidade de uma res-ponsabilidade social, cidadã e so-lidária entre os indivíduos. Em sua obra “A cabeça bem-

feita”, que além de outras obras

serve muito bem para nos ajudar

a esclarecer a ilusão de um erro e

desserviço contra a complexidade

vivida na noite citada, Morin nos

alerta para o perigo da continuida-

de na vida prática dos processos

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técnico-científicos de desagregação, que po-dem contribuir com uma grande regressão da democracia política e da exclusão da democra-cia cognitiva. Para o autor é preciso reformar o pensamento, e além do mais, reformar a edu-cação que reforma a sociedade e que tem so-bre essa um efeito retroativo. O que se aprende na educação e nos estudos sobre complexida-de precisa ser contextualizado e enraizado na vida. Para Morin, a cabeça bem-feita não é a cabeça cheia de informações acumuladas ou uma cabeça alienada e manipulada. Segundo o autor, uma cabeça bem-feita “significa que, em vez de acumular o saber, é mais importante dispor ao mesmo tempo de uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas – prin-cípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido”.

Ao impedirem a entrada de diver-sas pessoas “não credencia-das” (embora alguns “não credenciados” foram inseridos por um “jeitinho” dado por colegas e co-nhecidos dos organi-zadores, quebrando a aparente regra equivocada da orga-nização) alegavam que os mesmos po-deriam assistir à pa-lestra em um telão disposto na parede do salão externo ao Auditório. Foi uma verdadeira exclusão; pois, além dos problemas técnicos do serviço de som, somados à voz quase inaudível do palestrante, que, mesmo falando em português, tinha suas dificuldades inerentes à condição de um expositor formado em uma outra língua materna, também existiam os tumultos e diversos ruídos e barulhos prove-nientes do clima de comércio de livros, degus-tações, trânsito de outras pessoas, carros que lá fora passavam e vozes que não paravam, pois era um ambiente aberto. Percebendo que muitos ficaram de fora, mesmo tendo diversas cadeiras vazias no Auditório, logo de início, es-

tupefato, retruquei: - Mas, vocês não são adep-tos da complexidade? Por que a seleção e ex-clusão, sobretudo em um ambiente público, tu-do para seguir a lógica cega e sistematicamen-te fechada de uma ordem controladora e regu-ladora, própria à compreensão científica e se-gregadora da racionalidade cartesiana, que tan-to Morin combate? Apelei para a compreensão teórica dos porteiros, tal como o personagem Kafkiano que em vão apela para o guarda que o impede de adentrar o templo da lei, que con-traditoriamente é a casa do próprio povo. Imagi-nei que a invocação motivadora dos argumen-tos da complexidade fossem esclarecedores para os que guardavam a entrada, e isto lhes

trouxesse, como Morin bem fala, um pouco de lucidez. Como resposta, ob-tive a informação técnico-burocrática de que “- são or-dens”. Mais uma vez invoco Morin para dizer que a reforma do pensa-mento “é uma ne-cessidade demo-crática fundamen-tal”, para assim, evitar a expansão da “autoridade de experts, especialis-tas de toda a or-dem, que restringe progressivamente a competência dos cidadãos. Estes condenados à acei-tação ignorante das decisões daqueles

que se presumem sabedores, mas cuja inteli-gência é míope, porque fracionária e abstrata”.

Edgar Morin - Foto Internet

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*Rayane Dayse da Sil-

va Oliveira

Cientista Social pela

UFRN

Mestranda em Ciências

Sociais (PPGCS/UFRN)

Contato: raholiveirano-

[email protected]

D iariamente me deparo

com situações incômo-

das relacionadas à ho-

mofobia, algumas me

atingem diretamente, outras vejo atin-

gir amigos, conhecidos ou pessoas

que desconheço até então. Para mim,

que trabalho no campo dos estudos de

gênero e sexualidade e traço uma tra-

jetória pessoal e acadêmica de proxi-

midade com essas áreas, não é novi-

dade encontrar os mais diversos tipos

de violência homofóbica em meu coti-

diano, tampouco é tarefa fácil não

prestar atenção no que é dito ou feito,

como, por quem e por que o é.

A maioria das agressões que

tem a verbalidade como via de expres-

são tem o simbólico como alicerce

sustentador e se inicia com uma sen-

tença incômoda, porém não menos

batida: “não sou homofóbico, mas…”,

num geral, tudo o que procede a con-

junção adversativa “mas” anula com-

pletamente o que vem antes dela.

Quanto à violência de ordem física,

esta também vejo ocorrer com certa

frequência e, percebo também que, na

maioria da vezes, esse tipo de expres-

são é a única que é minimamente re-

conhecida como prática homofóbica

pela sociedade de maneira geral, mas

nem por isso vista como injustificável

no pensamento de boa parte dela.

Diante disso, cabe mencionar

que ainda que esse seja o pensamen-

to “comum” sobre estas práticas de

violência, a homofobia para além de

ser um tipo de violência que se ex-

pressa unicamente pelas vias verbal e

física, tem como formas de expressão,

assim como todas as demais violên-

cias, os mais diversos campos de

exercício, tais como: simbólico (que

possui um amplo leque de expressões

e é o que dá sustentação para que

todos os outros tipos de violência te-

nham lugar), psicológico e sexual.

Contudo, esta diversidade de modos

de violência homofóbica dificilmente é

percebida pela maioria das pessoas,

estas costumam encarar e reconhecer

como homofobia apenas os seus tipos

mais extremos.

Em termos de conscientização isso é

deveras complicado, uma vez que,

apesar dos sujeitos reproduzirem dis-

cursos e práticas homofóbicas cotidia-

namente, ainda assim não se reconhe-

cem como tal e, inclusive, agem com

vistas a deslegitimar discursos de víti-

mas, classificando-os, muitas vezes,

como exagero e vitimização e resu-

mindo muitas vivências no que deno-

minam de “mimimi”, conceito contem-

porâneo criado para tachar de vitimi-

zação a violência que ele é incapaz de

compreender, este conceito também,

por si só, escancara a falta de senso

crítico de sujeitos cada vez mais em-

brutecidos e vazios de empatia e com-

preensão mais ampla da vida social.

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A homofobia apesar de grave é um fenômeno

que está cada vez mais banalizado, parece que nos

habituamos a ela de tal modo que temos sérias difi-

culdades para identificá-la e admiti-la, nos surpreen-

demos apenas com fatos chocantes, como crimes

com características de extrema crueldade. Para pio-

rar a situação, além dessa falta de consciência do

que é a homofobia, existe também um profundo silên-

cio diante das violências homofóbicas, mesmo as re-

conhecidas socialmente como tal, são poucos os que

se manifestam diante dessa realidade, a maioria se

cala diante dessa violência.

Ainda pior que o silêncio, temos as figuras per-

versas que, formadoras de opinião, ajudam na manu-

tenção dessa trágica realidade de violência. Figuras

públicas, sobretudo, representantes políticos e religio-

sos reservam boa parte do seu tempo e do seu esfor-

ço para agredir diretamente pessoas LGBT e incitar o

ódio de seus seguidores a esse grupo, além de pla-

nejar e propor retrocessos e estagnação de direitos

alcançados pelos LGBT. Essas figuras também se

opõem à criminalização da homofobia, porque sabem

que se esta se tornar crime eles não poderão dar

continuidade aos seus discursos de ódio aos LGBT,

discursos que consideram, talvez, numa deturpação

total de quaisquer princípios religiosos, sua missão

na terra. Esses sujeitos, com suas supostas

“opiniões” (entre aspas porque existe uma linha divi-

sória entre opinião e discurso de ódio que deve ser

notada e respeitada, não é qualquer coisa que pode

ser dita sob a máscara de “opinião”) defendem que

possuem o direito de continuar proferindo-as.

O interessante é que a expressão do ódio aos

homossexuais, mascarada de “opinião pessoal”

quando na verdade não passa de uma manifestação

de um preconceito que é social, está tão banalizada

que é defendida e vista como aceitável, essa é, inclu-

sive, uma das particularidades da homofobia, acredita

-se que expressá-la é apenas uma “opinião” e que se

deve resguardar o direito a isto, por se tratar de uma

suposta liberdade de expressão. Se pararmos para

pensar sobre se esse mesmo tipo de “opinião” fosse

proferida contra qualquer outra minoria veremos não

só que o fato não seria aceito de modo algum, como

também que ele seria ligeiramente atacado e punido,

dá para imaginar alguém ir à TV aberta (ou qualquer

outra via de comunicação) dizer que negros e mulhe-

res, por exemplo, não devem ter direito ao casamen-

to, à doação de sangue, à adoção de crianças ou até

que não deveriam existir? E ainda justificar que os

considera sujeitos doentes, inferiores, condenados

por Deus, dentre outras coisa? Óbvio que não se to-

leraria isso, porque como sociedade avançamos

quanto aos direitos da maior parte das minorias, no

entanto, o ódio e a violência contra homossexuais

configuram a única forma de preconceito que ainda é

aceita socialmente, quanto se trata de homossexuais

não só se tolera a violência, como se defende a sua

manutenção.

A possibilidade de existir a difusão desse tipo

de discurso de ódio, que pode ser divulgado livre-

mente, ajuda a inculcar e perpetuar nos sujeitos cada

vez mais imagens negativas quanto à homossexuali-

dade, dando prosseguimento a esse ódio e posterior-

mente a práticas ainda mais violentas. É através do

discurso que se prepara o terreno para o crime, cabe

ressaltar que o discurso por si só configura um tipo

violência, mas além disso serve como base que origi-

nam expressões de outra natureza, como os espan-

camentos e assassinatos. O discurso de pessoas for-

madoras de opinião funciona como o que Baptista em

“A cidade dos sábios” chamou de “amolador de faca”,

segundo ele, “O fio da faca que esquarteja, ou o tiro

certeiro nos olhos, possui aliados, agentes sem ros-

tos que preparam o solo para esses sinistros atos

(BAPTISTA, 1999, p. 46)”.

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*José Ivam Pinheiro – Escri-

tor e Poeta integrante da Soci-

edade dos Poetas Livres e

Afins do Rio Grande do Norte

e da União Brasileira dos Es-

critores do Rio Grande do

Norte – UBE-RN.

E as águas se faziam

vida e morte.

Fluentes do teto ce-

leste e hidrodesejadas

pelos homens sertanejos seden-

tos, as chuvas se desprendiam

das pesadas nuvens e procura-

vam rios, açudes e barragens,

bem como as margens cotidia-

nas das inestruturadas cidades

urbanas, trazendo alento aos que

ansiavam por esse precioso líqui-

do da vida, mas também, impor-

tunando e causando alvoroço

aos desavisados e carentes se-

res que nas periferias urbanas

lutam pela sobrevivência em mo-

radas precárias de encostas e

barrancos de morros e em terre-

nos de fundos de bacias de dre-

nagem pluvial.

Já no sertão tão bem vin-

das traziam a poesia da alegria e

os festejos na ação. Ora, se

eram essenciais lenitivos para os

sertanejos e solução para saciar

sede de humanos e animais,

além de contribuir como fator

fundamental para a ocorrência

de boa safra de alimentos, princi-

palmente a produção familiar de

feijão, milho, verduras, frutas re-

gionais, mandioca e macaxeira

para a popular rural sertaneja, a

chuvarada também veio para

proporcionar líquido precioso e

vida, em açudes, poços, cacim-

bas, barreiros e barragens que

sangram transbordantemente,

diante da visão de alegria e felici-

dade do povo do sertão.

Os rios e riachos manan-

tes de água corrente, também se

prestam para a beleza da fartura

divina do viver, quando encami-

nham suas águas mensageiras

de bom tempo para o mar.

Agora, em bem pouco

tempo os peixes vão aparecer e

a mistura no prato vai refletir os

bons sabores do sertão, pois

também devido à chuva, o gado

no pasto verdejante e viçoso vai

poder engordar e nas feiras do

interior, junto ao barulho da grita-

ria de preços e qualificação publi-

cizada dos produtos, na compa-

nhia do murmúrio das conversas

da amizade, a boa carne de sol,

manteiga da terra sertaneja, nata

de leite, doces, alfenis, sequi-

lhos, tapiocas e beijus, gulosei-

mas deliciosas e queijos de coa-

lho e manteiga serão rendas fi-

nanceiras lucrativas no bolso dos

sitiantes, agricultores, vendedo-

res e fazendeiros, ocasionando

assim prazeres e delícias gastro-

nômicas na boca dos comprado-

res das cidades, regalo nas refei-

ções e café da manhã nas casas

e restaurantes.

Mas, a alegria no sertão

das águas, às vezes convive

com a tristeza das inundações e

alagamento de ruas nas sedes

dos municípios e perda de plan-

tações e animais nas zonas ru-

rais, quando açudes transbordam

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e rompem suas paredes, ocasionando deses-

pero e prejuízos financeiros e materiais, isso,

sem contar com trágicas perdas de vidas hu-

manas e desabrigo de gentes, principalmente

as mais carentes.

As mortes ocasionadas por afogamen-

tos, nos banhos em açudes e barragens infelici-

tam deveras também,

a alma humana de famílias que sofrem tão du-

ros golpes, que ocorrem, principalmente devido

à negligência e falta da consciência dos riscos,

em alguns casos,

da ingestão de

bebidas alcoóli-

cas que tiram a

mobilidade de

movimento das

pessoas.

Também

nas cidades

grandes as chu-

vas são bem vin-

das, pois servem

para alimentar e

reabastecer os

aquíferos subter-

râneos e os cor-

pos d’água de

superfície

(açudes, lagoas

e lagos) que fornecem a substância da vida – a

água de beber e para usar nos afazeres do-

mésticos, higiene pessoal, lazer do banho em

piscinas e chuveiros de clubes e casas públicas

ou privadas, bem como para o viver de ani-

mais, tais como pássaros, peixes e crustáceos,

dentre outros seres, inclusive viventes do mi-

crocosmo biológico, vegetal e geológico com

suas alquimias químicas e físicas.

A receita da água em união estável e

equilibrada com a luz solar, no espectro impla-

cável do tempo riscado nas folhas do calendá-

rio proporciona, nas condições adequadas, o

aparecimento singular e mágico da fotossíntese

com a produção da clorofila em vegetais e a

floração que redunda na germinação polinizada

de frutos feita por pequenos seres, tais como

pássaros e insetos dentre outras criaturas.

E a natureza lá do sertão ressurge linda

e cheia de vitalidade, em sons, sonhos, paz e

luz. Os arvoredos da jurema ao receber os pri-

meiros pingos d’água assimilam o golpe que

transmite vida e em pouco tempo se transmu-

tam de gravetos para

verdejantes folha-

gens, em galhos ver-

des que anunciam a

presença da vida ex-

pressa no inverno

sertanejo que se avi-

zinha.

Observando a cena

da caatinga sertane-

ja, o homem do cam-

po prediz que, se as

árvores conhecidas

como catingueiras

apresentarem flora-

ção, isso é um reca-

do divino de que logo

vai chover. De modo

análogo, as observações de um formigueiro,

com formigas operárias carregando pedaços de

folhas podem anunciar uma chuva que virá lo-

go, bem como contrariamente, se uma andori-

nha voar para distante do seu habitar e ninho,

não voltando em pouco tempo é porque vai ter

verão nessa ocasião.

Os segredos do sertão também anunci-

am que se estiver chovendo muito, e de repen-

te o gavião cantar, é porque vai estiar parando

a chuva e que haverá boa safra no chão da-

quele sertão nordestino.

Balde d’água na cabeça – Imagem sem identificação de autoria,

estando disponível no sítio: noticiasdatransposicao.blogspot.com.br

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A maravilha das águas do sertão propi-

ciam lindos espetáculos que glorificam o poder

de Deus na beleza da natureza, sejam no voar

da juriti, canários, sanhaçus, sábias, galos de

campina, golinhas, sibitis e pintassilgos, ou na

procriação de animais batráquios, repteis, que-

lônios, aves e mamíferos, e no congraçamento

e convívio festivo do povo campestre com as

populações urbanas de seus municípios e vizi-

nhanças.

E até nas adversida-

des e competição da luta da

vida a natureza brilha, tal

como no alçar do voo ma-

jestoso de falcões, gaviões

e carcarás na busca de su-

as caças, numa eterna luta

da sobrevivência, em que

as pequenas presas

(pássaros, coelhos, preás,

mócos, bezerros e lagartos)

correm e se escondem para

não morrer. As raposas,

gatos maracajá do mato,

onças, guaxinim procuram

pequenos roedores, gali-

nhas e aves para seus ban-

quetes.

O sertão é festa de

roçados verdes e plenitude

de vida animal, onde a flora

e a fauna convivem com o

homem e seus problemas cotidianos, às vezes

conflitantes, mas que o tempo se encarrega de

apresentar os contrapontos para as soluções

possíveis, ou até pioras que aumentam os con-

flitos.

As festas juninas de Santo Antonio, São

João e São Pedro oferecem junto com as flo-

res herdadas do mês de maio, a ornamentação

de mastros coloridos com bandeiras em home-

nagem ao santo padroeiro homenageado. No

pátio das casas se vê as fogueiras, e aí se sa-

boreiam as delícias das pamonhas, canjica,

bolos e milhos cozidos e assados na euforia

presente dos risos das crianças, pipocar de fo-

gos de artifícios e a felicidade adulta no rosto

de homens e mulheres.

E é na paz de tanto amor, que aparece

a sanfona acompanhada da zabumba e do tri-

angulo entoando o forró de pé de serra, das

músicas de Elino Julião,

Jackson do Pandeiro,

Jacinto Silva, João do

Vale, Luiz Vieira, Petrú-

cio Amorim, Domingui-

nhos, Maciel Melo, Jor-

ge de Altinho, Alcimar

Monteiro, Flávio José,

Genival Lacerda, San-

tanna e Geraldinho Lins,

bem como as vozes e

interpretações de Mari-

nês, Elba Ramalho e

Cremilda que se unem

ao mágico eco musical

das sanfonas de Sivuca,

Osvaldinho e Domingui-

nhos, com a soberana

magia da sanfona bran-

ca e as composições de

Luiz Gonzaga, o Rei do

Baião, que transmitem

nas “Vozes da Seca” o

anúncio de que neces-

sário é se buscar um novo tempo de alegrias

para que o sertão floresça anunciando “A Volta

da Asa Branca”.

É a certeza de que a fartura do trabalho

e da vida feliz chegou nas invernias que lindo

trazem pássaros, verdejar e frutificar para bem

alimentar gente e animais, isto em plena poe-

sia que contagia céu, ar e chão fazendo pulsar

os corações, quando das chuvas chegam as

águas para as cidades e o sertão.

Forró do bom – Pintura de Werner, coletada sem

restrição de autorização de uso e postagem no

Portal Pinterest - sítio: br.pinterest.com, e ainda

disponível no sítio: catracalivre.com.br

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FALE CONOSCO

[email protected]

V inham de Cam-

pina Grande-PB

para Natal-RN.

Voltavam de

uma visita ao filho. Tinha

sido um dia cansativo. O ho-

mem dirigia calado e a mu-

lher, sentada ao seu lado,

cochilava pois estava bas-

tante cansada. Parando

num posto de

gasolina para

abastecer, a

mulher levan-

ta-se, estica-

se um pouco

e diz que vai

dormir no

banco traseiro. Sem respon-

der, ele entra no carro liga-o

e dirige-se à parte de trás do

posto. Vai ao toalete. Em

seguida, desce a mulher.

Também vai ao banheiro.

Porém ao fazê-lo o marido

não viu e, voltando, entra no

carro, liga-o e vai embora.

Tudo isso em menos de 5

minutos. O suficiente para

que ocorra o que se segue:

Saindo a mulher do ba-

nheiro, não vendo o carro,

imagina que o marido fora

tomar um cafezinho para

fumar na lanchonete do pos-

to e dá a volta, tranquila-

mente, até a frente deste,

parando de chofre quando

não viu o carro! Boquiaberta

e trêmula, sem saber o que

pensar, sai perguntando a

todos que ali estavam se

não tinham

visto um carro

assim, as-

sim... Não ob-

tendo respos-

ta afirmativa,

pensa um

pouco e pas-

sa a ligar para quem podia

(a cobrar, já que estava sem

celular e sem dinheiro): para

casa, onde lhe atendeu seu

filho mais novo; para sua

cunhada, esposa do moto-

rista do táxi (o carro utilizado

por seu marido), que lhe deu

a ideia de que poderia ter

sido assalto e/ou sequestro,

e para a polícia local

(ligação gratuita) depois de

ter falado com a sua cunha-

da. Findo isto tudo

(Fato ocorrido em meados do ano de 2004)

* Rosa Ramos Regis da Silva

Cordelista, contista, poetisa e

professora de Filosofia.

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ficou, tranquilamente, terminando um trabalho

em Literatura de cordel que lhe haviam enco-

mendado, comendo uma pipoca e tomando um

refrigerante, o que dera para comprar com o

pouco dinheiro que tinha na bolsa.

Enquanto isso o homem, sem se dar conta

da ausência da esposa, dirigia em paz! Até

que, horas depois, um pneu do carro furou e

ele, tendo que parar para trocá-lo e necessitan-

do do auxílio da mulher, a chama. De início em

tom normal, porém como ela não responde, gri-

ta: Rosa! E Rosa, sua esposa, não responde.

Ele, já zangado, abre a porta e... Petrifica-se ao

ver que a esposa não está ali. Quase enlou-

quece. Pensa coisas inacreditáveis: que ela

suicidou-se, que caiu na estrada... Mas nunca

que pudesse tê-la deixado no dito posto de ga-

solina. Liga para casa (pelo celular de alguém

que parara para oferecer ajuda, já que o seu

descarregara) para comunicar o caso que não

sabe como explicar, e dão-lhe a notícia de que

sua esposa está no tal posto de gasolina. Vol-

ta. Duas horas e meia depois de tê-la deixado,

chegando lá a encontra, tranquilamente, termi-

nando o trabalho que lhe fora encomendado

para o dia seguinte. Ela o recebe com uma gar-

galhada e, ainda rindo, pergunta-lhe: Já pen-

sou se fosse você que estivesse em meu lu-

gar? Kkkkkk... E ele... nem sequer pede des-

culpas. Como um “dois de paus”, não se move

sequer para abrir-lhe a porta do carro, pois isso

lhe “diminuiria” diante dos outros, tiraria sua

pose de “macho”.

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A TAÇA

(Isabela Morais)*

Ele agora sabia que a vida era frágil.

- Mas logo agora? Por quê?

Não sabia,

Mexia a bebida na taça e

Observava que a vida era tão frágil quanto ela.

Se cair, quebra.

Fumava um pouco,

Bebia um pouco.

E pensava sobre a família.

- Que família, nunca liguei pra eles. Três alianças, três casas.

23 horas, era tarde.

Na verdade era tarde demais.

A vida é frágil,

derrubou a taça.

Tantos cacos, muitos.

Muito frágil,

amanhã alguém limpa.

* Isabela Morais é poeta. Natural de Florânia, estuda turismo na UFRN .

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RECEITA POÉTICA

(Aluizio Matias)

Quero dois dedos

de prosa,

uma mão de poesia,

braços sem monotonia,

corpo aberto de canção;

Peito ardente e marcado

pela forte sintonia

de poder respirar versos,

motes côncavos e convexos;

recital de cada dia...

LÁGRIMAS

(Clécia Santos)

As lágrimas

São salgadas,

Amargas

Solidões

Marés

Remoendo

Rumores

Ondas noturnas

Recobrindo

Algo relembrado.

As lágrimas

São quebras

Ondas quebradas

Olhos encharcados

Vacilo pecaminoso

Do pensamento

Distraído.

MENSAGEM DE AMOR

(Rosa Regis)

Vendo a imagem de Cristo coroado

Pelos espinhos da maldade humana

Percebendo em seus olhos que emana

O imenso Amor que foi a nós,doado,

Eu lembro com tristeza que o pecado

É algo muito ruim! E eu conclamo

A todos os irmãos, gritando. E clamo:

- Busquemos, ao invés de guerra, Paz!

- Façamos que o amor que ora jaz,

Ressurja! Ao irmão, diga-se: O AMO!!

TIRE OS SAPATOS

(Cecília Farias)

Hoje eu visitei meu jardim

Trouxe algumas flores

Cheiravam a esperança

Mas estava escuro, deixei pra lá

Mas a frente havia um trevo

De quatro folhas

Dizem que dá sorte

Senti alegria

Custou, mas o vento levou

Resolvi não voltar ao jardim

Nem procurar o trevo

Nem nada

Eu só tiro os meus sapatos aqui

E os imagino por lá

SON(H)OS

(Oreny Júnior)

com a alma herética

a morte curva-se

ao seu ceticismo

lavando o espelho

deito-o de bruços

num sonho eterno

SE MORRE DE TUDO

(Alfredo Neves)

Se morre de saudade,

Do abraço que demora,

Da distância que não se toca

E do olhar que se foi.

Se morre de aperreio,

Do desespero de não te ver

E do cheiro que se esvaiu.

Se morre de tudo.

Até da desilusão

Que destroçada

Deixaste em mim.

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DESCOMPLICANDO

(Mateus de Carvalho Costa)

Pingos caem ao chão

o mesmo chão que sumiu ao acaso

sumiu junto a ti.

Posso apagar a mancha

Seria tão simples

Deixar escorrer a mágoa

Deixar o olhar sangrar

Seria tão simples

Mas não.

Eu não te devo esse Perdão.

LIVRO

(Erilva Leite)

Eu sou poema-vivo

do teu livro-vida

chamado amor.

PARA LER DE MANHÃ E À NOITE

(Bertolt Brecht )

Aquele que amo

Disse-me

Que precisa de mim.

Por isso

Cuido de mim

Olho meu caminho

E receio ser morta

Por uma só gota de chuva.

MÁXIMA

(Leonam Cunha)

A poesia me deixa mentir à vontade.

Por tal permissão, no útero dela vivo.

Eis minha máxima liberdade.

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ESSÊNCIA

(Michelle Paulista)

Eu tenho o gosto do sal e o cheiro da maresia

O sal, que tempera e conserva

Que agride, excita as glândulas do palato e as obriga a chorar

O sal que conota valores

Que deu nome à recompensa da labuta

A maresia que cheira mal aos estranheiros da minha água

Que soa como perfume quando regressamos ao chão de sal de Gilberto

Desejo poesia carcomida e adornada

Esculpida pela maresia

Refinada como sal, que tempera a existência.

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O MAIS BELO E PARADOXAL DOS ENTES

(Roberto Noir)

Ó tenebroso anjo de asas negras

Demônio alvo, nobre e santificado

Vento frio que traz ardentes brasas

Incêndio que a tudo torna gelado!

Delicado mancebo, gentil rapaz.

Rude, agressiva e impulsiva dama

Um olhar que emana tanta paz

Uma palavra que machuca quem ama!

Amável receptáculo de agressividade

Repulsivo demonstrador de passividade

Que me faz ter visões angelicais

Exterminai minha angustiante dor

Preenchei minha alma de amor

Destruindo minhas lamúrias infernais!

É paixão!

Não sei se recém-nascida

Se existia

Se estava escondida

Se foi acordada

Se foi inventada…

Só sei que é paixão!

(Aldenira de Oliveira)

... Viajo quanto falas do AMADO, Me deixa encantada, com tanto amor; Em devaneio ... Navego, sufocando minha imensa dor. ...Admiro quando falas.

do amado, sinto as palavras, elas me deixam inebriada. Viajo em devaneio, encantada com tanto AMOR

.

(Zelia Gattai)

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AS COISAS

(Jorge Luis Borges)

A bengala, as moedas, o chaveiro,

A dócil fechadura, as tardias

Notas que não lerão os poucos dias

Que me restam, os naipes e o tabuleiro,

Um livro e em suas páginas a desvanecida

Violeta, monumento de uma tarde

Sem dúvida inesquecível e já esquecida,

O rubro espelho ocidental em que arde

Uma ilusória aurora. Quantas coisas,

Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,

Servem-nos, como tácitos escravos,

Cegas e estranhamente sigilosas!

Durarão para além de nosso esquecimento;

Nunca saberão que partimos em um momento.

AMIGO

(Weidde Andrino)

Cadê seu sorriso?

Cadê sua alegria?

Preciso dela

Ela me contagia

Contamina a todos

Ao redor

Com sua luz

Que conduz

Fagulhas de felicidade

Com sua amizade

Não chores

A sua tristeza

É a minha fraqueza

Tal qual as estrelas

Devemos brilhar

No escuro

Você, amigo

É o meu escudo

Dentro do coração

Te guardarei

Debaixo de sete chaves

Seremos amigos

Por toda eternidade

E por onde eu ande

Neste mundão

Lembrarei de você

Como um irmão

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POLÍTICAS PÚBLICAS E O DIREITO AO TRABALHO PARA PESSOAS

COM DEFICIÊNCIA NA CIDADE DE MOSSORÓ-RN Adson de Souza Queiroz

Lúcia de Fátima Rebouças de Souza

Pricila Barboza de Menezes 1

Thiago Fernando de Queiroz 2

Everkley Magno Freire Tavares 3

RESUMO

O artigo dispõe e explica as definições de políticas públicas e direitos sociais e prima pelas suas efetividades no âmbito da inclusão

social do deficiente ao mercado de trabalho no município de Mossoró-RN. Foram realizadas entrevistas com profissionais da área,

revisão de literatura e análise de conteúdo. Sabe-se que os direitos sociais é o meio definidor que estabelece o alvo das politicas

públicas e o foco do seu alcance. Para alcançar tal meta é necessária uma homogeneidade de competências entres os entes que com-

põem nossa República Federativa do Brasil. Assim, não só do Estado é a responsabilidade de efetivar políticas e ações públicas,

mas a começar dos municípios que é o ponto primário de contato entre os Entes federativos e a sociedade civil. Tendo como Social

o nosso respectivo Estado é imprescindível que suas ações sejam de cunho programático, ou seja, tenha uma espécie de comando-

valor e o defina como obrigatório e deverá ser erigido nas bases sólidas da democracia. Nesse sentido, é preciso uma maior adequa-

ção da legislação no plano dos fatos, sendo competente fazer maior divulgação das vagas designadas para as PCD’S pelos órgãos

competentes, além disso, se exige uma maior preparação para a inserção destes no mercado de trabalho. Assim, sobre a motivação

das empresas sobre tais políticas, é necessário que as mesmas possuam incentivos fiscais para que no tocante a essa inserção as em-

presas possam se estruturar e treinar os colaboradores nas aptidões que melhor os concerne.

Palavras-Chave: Inclusão, Mercado de Trabalho, Políticas Públicas, Direitos.

TITLE

Public Policies and the Right to Work for People with Disabilities in Mossoró-RN City

ABSTRACT

The article provides and explains the public policy settings and social rights and press for their effectiveness in the social inclusion

of the disabled to the labor market in the city of Mossoro-RN. Interviews with professionals, literature review and content analysis

were performed. It is known that social rights is the defining means establishing the target of public policies and the focus of their

reach. To achieve this goal a skills homogeneity is necessary entres the entities that make up our Federative Republic of Brazil.

Thus, not only the state's responsibility to carry out public policies and actions, but the start of the municipalities that is the primary

point of contact between the federative entities and civil society. With the Social our respective state is essential that their actions

are of programmatic nature, ie, has a kind of command value and set as mandatory and should be built on the solid foundations of

democracy. In this sense, it takes a greater adaptation of the legislation in terms of the facts, being competent to wider dissemina-

tion of vacancies designated for PWD'S by the competent bodies, in addition, it requires greater preparation for their insertion in the

labor market. Thus, on the motivation of companies on such policies, it is essential that they have tax incentives for with respect to

this insertion companies can be structured and train employees in the skills that best concerning them.

Key-words: Inclusion, Labor Market, Public Policies, Rights.

1 Graduanda do Curso de Direito da Universidade Potiguar – UNP. 2 Graduando do Curso de Direito da Universidade Potiguar – UNP e Graduando do Curso de Filosofia da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte - UERN.

3 Professor-Orientador, Cientista Social e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA/UERN.

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1 INTRODUÇÃO

O respectivo artigo aborda sobre o objetivo do Estado em promover as Políticas Públicas e os Di-

reitos Sociais com o âmbito de vislumbrar a efetivação da empregabilidade das pessoas com deficiência

no município de Mossoró – RN. De igual modo, atentar aos benefícios da contratação de pessoas com de-

ficiência e a visão dos empregadores nessa inserção.

O Estado surge com o objetivo do interesse coletivo de uma sociedade que buscam o mesmo fim,

garantindo a supremacia soberana e promovendo a dignidade da pessoa humana. Segundo Dallari (2013,

p. 109) “O Estado é sempre uma unidade de fim, ou seja, é uma unidade conseguida pelo desejo de reali-

zação de inúmeros fins particulares, sendo importante localizar os fins que conduzem à unificação”. O

Estado tem o poder de gerenciar legalmente de como será ditado sua organização, seu modelo de poder,

suas políticas públicas e os direitos sociais a serem consagrados, de um modo que garanta o bem-comum.

A República Federativa do Brasil é um Estado social, sendo assim, busca como interesse principal o bem-

estar social, intervindo diretamente nas políticas públicas e direitos sociais, buscando de um modo efici-

ente o desenvolvimento humano (DALLARI, 2013).

Para que o Estado atenda às necessidades da sociedade, usar-se administrativamente de Políticas

Públicas, elaborando planos de ação, com metas e ações que possibilite a erradicação dos déficits sociais.

No entanto, isso se torna possível se o Estado, os Entes Federados e o município abrangerem os mesmos

interesses, arraigando assim a perspectiva dos direitos sociais, promovendo o bem-comum e o bem-estar

(DALLARI, 2013).

O Estado adota de políticas publicas com o objetivo de organizar, administrar e criar metas que

possibilite que os direitos sociais sejam assegurados, sendo assim, a bilateralidade entre o Estado e seus

Entes é indispensável. Dependendo do modelo de Estado que é adotado, o Estado terá ou não a obrigatori-

edade de adotar politicas públicas sociais. No entanto, o Estado social busca como sua finalidade a supre-

macia do interesse coletivo, elencando também a inserção das pessoas com deficiência no mercado de tra-

balho, defendendo às premissas de que todos são iguais perante a lei, então, isso faz jus às pessoas com

deficiência (PCD’s) no âmbito trabalhista, social e em atividades que reforcem os princípios da cidadania.

Os Direitos Sociais são direitos fundamentais que permitem a dignidade da pessoa humana, pro-

movendo o desenvolvimento humano. A Constituição Federal de 1988 diz em seu Artigo 6º que “São di-

reitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança,

a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma des-

ta Constituição” (BRASIL, 2015). Sendo o Trabalho um direito social, é de total relevância que todos

possam ter esse direito, incluindo-se também as pessoas deficientes.

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Atualmente o Brasil tem em média a projeção de 205.014.184 habitantes, sendo desses, 698.768

(29,34%) de pessoas com deficiência. Seguindo essa expectativa, é de salientar a importância da inserção

das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. A Lei nº 8.213/91, que é conhecida como a Lei de

Cotas, vem por força de a lei garantir que esse direito seja assegurado. No entanto, percebe-se a existência

de muitos misticismos culturais, fincados em bases preconceituosas e leigas que taxa e estigmatiza como

incapaz as pessoas deficientes. Na realidade as pessoas com deficiência só necessitam apenas de meios

acessíveis, que as possibilitem cumprirem com seu papel social. A maioria (81%) dos empresários só con-

tratam pessoas com deficiência por força da lei e não por acreditarem no potencial das PCDs.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografias e Estatística – IBGE (2010), em Mossoró – RN havia

cerca de 67.326 habitantes (34,98%) com deficiência, sendo 25.565 habitantes (9,84%) com grau de defici-

ência de grande dificuldade. Avultando para essa perspectiva, faz-se necessário essa inserção das pessoas

com deficiência no mercado de trabalho. Primeiramente para que a pessoa com deficiência sinta-se útil;

não sendo mais um ônus para os cofres públicos e fomentando a economia local.

2 CARACTERIZAÇÃO DA REALIDADE:

Por estereótipos criados pela sociedade em relação aos PCD’s em afirmar que esses não têm capaci-

dade e que seriam apenas ônus às empresas, muitos empresários se sentem coagidos em contratar PCD’s,

pois, a lei os obriga a contratação, mas, o questionamento é como inseri-los dentro de suas organizações.

Os empresários refutam que teriam custos a mais ao contratar um PCD, porém, não avaliam os benefícios

que essa inserção pode ocasionar nas relações ao ambiente de trabalho nas relações interpessoais entre os

colaboradores de uma empresa.

É a Lei nº 8.213/91 que garante o direito aos PCD, s a inserção ao mercado de trabalho, no Artigo 93

diz que “a empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a

5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência,

habilitadas...”, No entanto, sabe-se que a maior parte das empresas tem esse déficit de funcionários com

deficiência, seja por ineficácia da empresa ou pela pouca procura das PCD’s.

Um dos motivos que impossibilita a inserção de PCD’s ao mercado de trabalho é o não cumprimen-

to da Lei 8742/93, que diz em seu Artigo 21 Parágrafo 1º:

§ 1º Extinta a relação trabalhista ou a atividade empreendedora de que trata o caput deste artigo e, quando for o caso, encerrado o

prazo de pagamento do seguro-desemprego e não tendo o beneficiário adquirido direito a qualquer benefício previdenciário, poderá

ser requerida a continuidade do pagamento do benefício suspenso, sem necessidade de realização de perícia médica ou reavaliação

da deficiência

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e do grau de incapacidade para esse fim, respeitado o período de revisão previsto no caput do art. 21.

(BRASIL, 1993)

Sendo assim, a realidade vivenciada pelos PCD’s é que ao serem despedidos ou por contra própria

se desligar da empresa onde a priori trabalhavam, ao requererem a Previdência Social o Benefício de

Prestação Continuada (BPC), são constrangidos a terem que passar pela junta médica; e, em alguns casos,

o benefício leva algum tempo a ser normalizado. Com isso, o receio e a insegurança causada pela ineficá-

cia do cumprimento da lei, ocasionam esse déficit da procura de PCD’s ao mercado de trabalho

Atualmente, programas estão sendo elaborados pelo Ministério Público, Justiça do Trabalho e Or-

ganizações Não-Governamentais que lutam pelos Direitos das Pessoas com Deficiência. No entanto, se

os PDC’s não tiverem a confiabilidade que estará assegurada pela lei, essa problemática continuará pros-

pectivamente. Há muitas perspectivas além dessas citadas, como fonte desmotivadora das PCD’s não

procurarem o mercado de Trabalho: a) Mobilidade urbana do município de Mossoró – RN; b) Acessibili-

dade arquitetônica dentro das empresas; c) Acessibilidade atitudinal; d) Acessibilidade de tecnologias

assistidas. Há muitas fontes desmotivadoras que implicam com que as pessoas com deficiência se sintam

retraídas ao tentar se inserirem no mercado de trabalho.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. Estado, políticas públicas e direitas sociais.

No que diz respeito às diferentes nomenclaturas é preciso entender e estabelecer definições e con-

ceitos para uma melhor compreensão no que se referem às aplicações, decisões, estratégias de implemen-

tação e modelos de avaliação por parte do governo em atingir determinada questão de interesse difuso.

Surge então, uma análise das terminologias de Estado, políticas públicas e direitas sociais.

Estado, caracteriza como um conjunto de instituições estáveis, politicamente organizado com es-

trutura própria que possibilita a ação do governo no controle social, difere no contexto de governo, este

sendo um conjunto de ideias e metas que originam na sociedade e que conservar-se cumprindo sua fun-

ção de Estado por um determinado tempo (MATTOS, 2001).

As Políticas públicas são definidas como o agir do Estado, a ação e regras em relação entre o po-

der público e sociedade. TEIXEIRA (2002, p.2) cita as políticas públicas como sendo:

“são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e

sociedade, mediações entre atores da sociedade do Estado. São, nesse caso

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, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de finan-

ciamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos.”

No processo de elaboração de uma política pública solicita-se uma definição do assunto que se trata,

quem decide, quando será implementada, qual será a destinação desta e ainda conjecturar quais conse-

quências podem trazer em trâmite na sociedade. Ela como um todo tem grande importância nas questões

do interesse coletivo em serviço das políticas públicas, considerando que, todo cidadão é um ator político

desde que se congratulem as capacidades de decidir, discutir e deliberar assuntos palpitantes que represen-

ta a efetivação destas. Por esse motivo admite-se para tal ação das políticas publicas é preciso uma trans-

parência do Estado em sua elaboração.

Os desígnios das políticas públicas, no entanto é responder demandas de grupos minoritários, excluí-

dos da sociedade e ainda visam ampliar e efetivar direitos de cidadania e regular conflitos nos mais diver-

sos grupos sociais. (TEIXEIRA 2002, p. 3) identifica que:

“Os objetivos das políticas têm uma referência valorativa e exprimem as opções e visões de mundo

daqueles que controlam o poder, mesmo que, para sua legitimação, necessitem contemplar certos inte-

resses de segmentos sociais dominados, dependendo assim da sua capacidade de organização e negocia-

ção.”

Dentro do sistema jurídico brasileiro as Políticas Públicas devem ainda sofrer uma classificação,

diferenciando seus respectivos graus de efetividade. Esmiuçando o modelo de tal política. Como por

exemplo, políticas sociais de prestação de serviço são aquelas que viabilizam a garantia previdenciária

social, seguro desemprego, bem como aquelas políticas de reforma de base e estabilização social.

Alavancados sob esse prisma constata-se que essas garantias coletivas são Direitos Humanos Fun-

damentais de 2ª Dimensão, onde seu ideal inspirador é a igualdade e, portanto segue a promoção e assis-

tência social aos menos favorecidos, pois como na constituição assegura que “todos são iguais perante a

lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País

a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos se-

guintes”. (Constituição Federal 1988 Artigo 5º).” Diante disso, implica dizer que o tratamento isonômico

nessa garantia é tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualda-

des. Pra se obter uma maior efetividade das politicas públicas analisa. (MARTINS E KROLING, 2005.

P.154).

“Políticas devem ser” “Políticas Públicas” e não “Políticas de Poder” e, dentro desse prisma, de ser para

o povo, e não para a estratégia de politicagem, é que a cidadania, a participação da sociedade civil e o

espaço público tornam-se alavancas para o seu movimento e dinamismo, gerando a sua efetividade.

Em suma, as políticas públicas têm um papel regulador das relações econômico-sociais, levando em con-

sideração uma ótica analítica: a efetividade eficácia e sua eficiência. Assim esses parâmetros de

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análise leva o debate de muitas questões de caráter atual, já que estamos pré-moldados a globaliza-

ção que substancia nosso modo de pensar e agir, é imprescritível o manejo e a coparticipação do indiví-

duo em questões de caráter difuso.

O direito social, nesse contexto, são aqueles que visam conceder aos indivíduos o usufruto de di-

reitos fundamentais, em condições de igualdade, para que tenham uma vida digna, por meio da proteção e

garantias dadas pelo Estado Democrático de Direito.

A constituição de 1988 estabelece que são Direitos Sociais o acesso à educação, saúde, alimentação,

trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social e a proteção à maternidade, à infância e aos desam-

parados. Partindo desse pressuposto a promoção dos direitos sociais é arraigada sob tutela estatal pelo

poder público. Diante disso, é possível afirmar que a obrigação de garantir o estágio pleno da cidadania e

a preservação da dignidade da pessoa humana é a principal tarefa do Estado Democrático de Direito, mo-

tivo que promove um status de fazer acontecer sobre o Estado se revela como uma orientação desafiadora

para o Poder Público. (SANTOS e BITTENCOURT 2006).

3.2. Avaliação de políticas públicas e do direito ao trabalho para pessoas com deficiência.

Através de várias discussões promovidas por entidades que lutam pelo Direito das Pessoas com De-

ficiência, muitas ações têm sido programadas para atender o anseio deste grupo específico e garantir as-

sim o princípio da isonomia. Tendo em vista que várias Politicas Publicas são elaboradas constantemente,

há de salientar a aplicabilidade e a eficácia destas ações.

A formulação de políticas públicas voltadas para a garantia dos direitos fundamentais das pessoas com

deficiência está, por conseguinte, sendo progressivamente incorporado à agenda política e, consequen-

temente, o acesso a bens e serviços para todos, com equiparação de oportunidades, tornou-se uma de-

manda evidente para os agentes políticos. (SNPD. Pág., 21)

Para que a Pessoa com Deficiência entre no mercado de trabalho mais preparada, é necessária uma

capacitação profissional. Por isso, são necessárias as políticas que fomentaram as capacitações profissio-

nais de Pessoas com Deficiência. Nos últimos anos, alguns programas têm sido aplicado.

O Plano Viver sem Limite tem como meta oferecer 150 mil vagas da Bolsa-Formação para pessoas

com deficiência até 2014. Essa ação é desenvolvida por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensi-

no Técnico e Emprego – PRONATEC, que oferece cursos técnicos e de formação inicial e continuada.

Os cursos são presenciais e são realizados pela Rede Federal de Educação Profissional, Científica e

Tecnológica, por escolas estaduais e por unidades dos serviços nacionais de aprendizagem, como o

SENAC, SENAI e SENAR. Essa ação contribui para o cumprimento da Lei de Cotas, promovendo a

qualificação para o trabalho. Além disso, nas transferências de recursos do Fundo de Amparo ao Traba-

lhador (FAT) aos estados, municípios, organizações governamentais, não governamentais ou intergo-

vernamentais, com vistas à execução do Plano Nacional de Qualificação (PQN) é obrigatória a destina-

ção de 10% (dez por cento) das vagas nas modalidades no âmbito do PNQ para pessoas com deficiência

(Resolução CODEFAT nº 679, de 29 de setembro de 2011).

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3.2.1 Garantia ao Trabalho previsto em Lei

3.2.1.1 Constituição Federal de 1988

Na Constituição brasileira a pessoa com deficiência tem proteção especial, no artigo 5º assegura

com prioridade as mesmas a plena efetivação dos direitos referentes, ao trabalho, à previdência social, ha-

bilitação e reabilitação, dentre outros. (CF, art. 5º). No artigo 7º, proíbe qualquer tipo de discriminação no

tocante aos salários e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência.

A competência legislativa sobre regras de proteção e integração social das pessoas com deficiência

pertence a todos os Entes Federados (CF, art. 24, XIV), sendo que a lei reservará um percentual de cargos

e empregos públicos para essas. (CF art. 37, VIII).

3.2.1.2 Lei nº 7.853 de 24 de Outubro de 1989

Além das garantias previstas na própria Constituição Federal destinadas as pessoas com deficiência,

os órgãos e entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e

finalidade, de acordo com esta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo

de outras, as seguintes medidas no âmbito da formação profissional e do trabalho:

a) o apoio governamental à formação profissional, e a garantia de acesso aos serviços concernentes, in-

clusive aos cursos regulares voltados à formação profissional;

b) o empenho do Poder Público quanto ao surgimento e à manutenção de empregos, inclusive de tempo

parcial, destinados às pessoas portadoras de deficiência que não tenham acesso aos empregos comuns;

c) a promoção de ações eficazes que propiciem a inserção, nos setores públicos e privado, de pessoas

portadoras de deficiência;

d) a adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado de trabalho, em favor das pesso-

as portadoras de deficiência, nas entidades da Administração Pública e do setor privado, e que regula-

mente a organização de oficinas e congêneres integradas ao mercado de trabalho, e a situação, nelas, das

pessoas portadoras de deficiência. (Art. 2º, III da Lei nº 7.853)

3.2.1.3 Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) - Lei nº

13.146 de 6 de Julho de 2015

A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente aces-

sível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. (art. 34)

As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir

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ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos. (art. 34, § 1º) A pessoa com deficiência tem direito, em

igualdade de oportunidades com as demais pessoas, a condições justas e favoráveis de trabalho, incluindo

igual remuneração por trabalho de igual valor. (art. 34, § 2º) Sendo vedada qualquer discriminação em ra-

zão de sua condição, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames admissi-

onal e periódico, permanência no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional, bem como exi-

gência de aptidão plena. (art. 34, § 3º)

É garantida aos trabalhadores com deficiência acessibilidade em cursos de formação e de capacita-

ção (art. 34, § 5º), bem como à participação e ao acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, pla-

nos de carreira, promoções, bonificações e incentivos profissionais oferecidos pelo empregador, em igual-

dade de oportunidades com os demais empregados (art. 34, § 4º).

Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência no trabalho a colocação competitiva, em igual-

dade de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, na

qual devem ser atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento de recursos de tecnologia assistida e a

adaptação razoável no ambiente de trabalho. (art. 37)

Qualquer entidade contratada para a realização de processo seletivo público ou privado para cargo,

função ou emprego é obrigada cumprir o disposto nesta Lei e em outras normas de acessibilidade vigentes.

(art. 38)

3.2.1.4 Lei 8.213 de 24 de Julho de 1991

Conforme a Lei 8213 (BRASIL, 1991, art. 93) a empresa com 100 ou mais empregados deverá pre-

encher de 2% a 5% de seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência ha-

bilitadas na seguinte proporção:

I. Até 200 empregados - 2%;

II. De 201 a 500 empregados - 3%;

III. De 501 a 1.000 empregados - 4%;

IV. De 1.001 em diante - 5%.

A lei ainda determina que só poderá ocorrer a dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente ha-

bilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato

por prazo indeterminado, após a contratação de substituto de condição semelhante. (art. 93, § 1º). Além dis-

so, para a reserva de cargos será considerada somente a contratação direta de pessoa com deficiência, ex-

cluído o aprendiz com deficiência de que trata a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). (art. 93, § 3º)

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3.2.2 As Políticas Públicas Existentes para Pessoas com Deficiência

Historicamente, as políticas de atenção aos portadores com deficiência no Brasil apresentava cunho

não muito verbalizado, sem distinguir os verdadeiros direitos das PCD’s (pessoas com deficiência) como

cidadãs. Somente a partir da década de 1990, com o advento de movimentos de reconhecimento desses di-

reitos, que as políticas públicas voltadas a essa área passaram a saltar em novas estratégias e novos olhares.

(MANHÃES 2010)

Entender a empregabilidade destinadas as PCDS é um assunto de interesse palpitante nos dias atuais,

em questão das politicas publicas voltada a esse publico , considera-se em grande estima um importante

papel social e cultural no Brasil. CHIAVENATO (2003) diz que “a empregabilidade significa o conjunto

de competências e habilidades necessárias para a pessoa manter-se colocado em uma empresa”.

“Essas condições e competências se referem a um amplo espectro, que inclui, além dos tradicionais atri-

butos individuais, fatores ligados ao ambiente organizacional e às políticas públicas de emprego e renda.

É, portanto, na interface entre o organizacional, o individual e o estatal que se constroem estratégias sóli-

das para o favorecimento da empregabilidade da população”. (MANHÃES, 2010)

Diante a perceptiva das politicas publicas de empregabilidade as PCD’s no Brasil é de ampla menção

leis que fizeram diferença durante esse tempo respaldado de grandes e contrastantes conquistas, assim po-

demos destacar a lei de cotas (Lei 8.213/1991) que determina cota de vagas para a pessoa portadora de ne-

cessidades especiais; variando de 2 a 5%, junto às empresas privadas com mais de 100 funcionários. Im-

portante ressaltar também que a lei 10.097/2000, a Lei da Aprendizagem diz que, todas as empresas de mé-

dio e grande porte devem contratar um número de aprendizes equivalente a um mínimo de 5% e um máxi-

mo de 15% do seu quadro de funcionários cujas funções demandem formação na aprendizagem profissio-

nal exigida a idade entre 14 a 24 anos. Aprendiz no quesito portador de deficiência cumpre apenas cota de

aprendizagem, sendo que não existe uma idade limite segundo o Art. 2 paragrafo único do DECRETO Nº

5.598 DE 2005.

“E nesse contexto, as empresas cumprem tanto com a lei nº 10.097 de 2000 e o Decreto nº 5.598 de

2005, com qualificação de pessoas com deficiência, na condição de aprendizes, bem como o cumprimen-

to da lei nº 8.213 de 1991 e o Decreto de nº 3.298 de 1999, contratando-os ao afinal do período do con-

trato de aprendizagem como colaboradores efetivos de seu quadro de pessoal” (SILVA, p.38, 2013)

No Brasil, algumas políticas públicas como destaca a lei de cotas, existe para uma finalidade valora-

tiva e auxilia a inserção das PCD’s no marcado de trabalho, mas destaca-se que essa inclusão mediante tais

politicas não esta efetivamente concretizada. Essa inviabilidade da aplicação da lei de cotas, dentre muitos

fatores se repercute na escassez de mão de obra qualificada. (RIBEIRO, 2012) afirma que:

“Alguns segmentos empresariais encontram enormes dificuldades para cumprir a determinação legal

sobre pessoas portadoras de deficiência, pois em nenhum momento são levados em consideração a ativi-

dade exercida pela empresa e os riscos a que os deficientes ficarão expostos no exercício de determina-

das funções, posto que a maioria deles não tem qualificação e preparo para a inserção no mercado de

trabalho”

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A fim de que tais aspectos sejam desenvolvidos, é preciso que se promova a acessibilidade plena da

pessoa com deficiência ao mundo do trabalho, disseminando ações discriminatórias, preconceitos, inade-

quações físicas, legais e culturais.

“Acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos

espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de

comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida”. (Lei 10.098, Art. 2º,

Inciso I)

As políticas públicas são meios de acesso e cognição correspondentes aos Direitos sociais tidos por

disponíveis a todos. O Estado, ao viés programático de suas competências, fornece e produz políticas para

o amplo acesso social. Dentre inúmeras Políticas públicas existentes, a inclusão de pessoas com deficiên-

cia na sociedade se sublinha. Compreende-se assim imensurável o rol de ações que firme e viabilize os

direitos dos deficientes, vale salientar, muito embora, torna-se o escopo deste artigo as políticas públicas

alinhadas no âmbito da inclusão ao mercado de trabalho. (SEJUC, 2015. Pág., 01).

Na premissa Estadual, a Subcoordenadoria para Inclusão da Pessoa com Deficiência – (CORDE),

órgão este que está vinculado à Secretaria da Justiça e da Cidadania (SEJUC), criou um planejamento de

conscientização para firmar e promover a inclusão do deficiente no meio trabalhista. O indivíduo titular de

tal direito deve cadastrar-se no painel de acesso da CORDE. Tal instituição atuará, dentre outra funções,

como intermédio para viabilizar o pleno acesso ao mercado do trabalho, ampliando, assim, suas oportuni-

dades. Outra função primordial desta entidade seria a “Avaliação das Deficiências”, busca avaliar e certifi-

car todos os direitos fundamentais aos deficientes e introduzi-los o quanto antes na área trabalhista, em

base da lei de cotas 8.213/91. Também é característica da CORDE a parceria com instituições e programas

Federais, exemplo PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), e diversas

outras instituições, INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), DRT (Delegacia Regional do Trabalho),

na função de homologar suas deficiências e cumprir a lei, oferecendo todos os direitos que tais indivíduos

são suscetíveis, de acordo com Decreto 5.296/2004. (SEJUC, 2015. p. 1).

7 METODOLOGIA

Foi obtida uma revisão de literatura, com base na leitura de artigos científicos prontamente divul-

gados sobre o tema e subtema. Também fizemos uso de pesquisa relacionada ao tema pelo livro de Dalla-

ri, Teoria Geral do Estado, e pela Internet com artigos de periódicos e revistas científicas.

Revisão de literatura é um método de análise onde se faz um levantamento de informações do algo que já

foi publicado sobre um tema pertinente. É a fundamentação que irá se buscar para a teoria de um artigo

científico, baseando-se em publicações já existentes. No que diz respeito à Análise de Literatura

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(Bibliográfica), Ander-Egg, citado por Santos (2012, p. 210) conceitua como sendo “o procedimen-

to reflexivo sistemático controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos e dados, relações ou leis,

em qualquer campo do conhecimento”.

Também fizemos o uso da entrevista com profissionais da área, tanto da gestão como da “área

fim”. Colhendo resultados do ponto de vista experimentado no que se refere à efetividade dos Direitos So-

ciais no âmbito trabalhista para pessoas com deficiência no município de Mossoró/RN.

A Entrevista é o método de buscar informações de outra pessoa por meio de questionamentos, po-

dendo ser estruturada ou padronizada e não estruturada. No primeiro tipo as perguntas dirigidas para a en-

trevista são as mesmas para os todos, concebendo assim um maior controle nas respostas e consequente-

mente ajudará na coleta de dados conexos a pesquisa. No segundo método o aplicador da entrevista não é

obrigado a seguir um padrão de organização de roteiro, assim o entrevistado tem uma ampla liberdade de

estabelecer suas respostas, assim, como consequência acaba desfavorecendo e dificultando a organização

dos dados recolhidos. Ela, portanto é uma ferramenta de grande importância para o alcance de uma pro-

porção de dados e informações, vejamos como Santos (2012, p. 261) conceitua este tema como sendo “A

entrevista é um excelente instrumento de pesquisa e é largamente usada no mundo das organizações, com

múltiplas finalidades”.

Nesse aspecto o colhimento das informações foi padronizado procurando inteiramente uma análise

profunda sobre o tema. As respectivas entrevistas foram feitas na cidade de Mossoró RN, onde os entrevis-

tados compuseram duas pessoas de conhecimento proeminente sobre as politicas públicas destinadas a em-

pregabilidade da PCD’s. Contudo, o recurso empregado possibilitou uma ampla menção e reflexão sobre o

que reportar-se o tema proposto, já que a mesma catequisou um modelo amplo, porém dinâmico de ser

aplicado.

A entrevista teve como ponto guia um roteiro de entrevista com oito perguntas destinadas para atin-

gir as perspectivas da pesquisa, com a autorização prévia dos entrevistados, através de um Termo de Con-

sentimento Livre e Esclarecido – TCLE. As entrevistas foram registradas e transcritas conforme o padrão

de análise da opinião dos entrevistados por questão e, em seguida a análise de conteúdo.

Por fim, foi realizada a análise de conteúdo, fazendo um estudo sobre o tema posto para formular

os questionamentos acerca do que se destinava aos entrevistados.

Análise de conteúdo é uma técnica de investigação realizada em vários campos na pesquisa. É um

método em que se analisa, diagnostica os textos utilizados na investigação histórica dos dados oficiais so-

bre o tema, constituindo em bem mais do que uma simples técnica de análise de dados, mas uma ampla

abordagem metodológica com características e possibilidades que lhe são próprias. No que concerne a

Análise de Conteúdo veja como conceitua Roque Moraes (1999 p. 7-32,) sendo:

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A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conte-

údo de toda classe de documentos e textos. Essa análise, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitati-

vas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significa-

dos num nível que vai além de uma leitura comum.

Sobre a Análise de conteúdo, foi feita uma pesquisa de elementos qualitativos e quantitativos, inte-

pretação dos textos estudados e uma máxima compreensão do que se foi alcançado dos temas e da realida-

de local no que se refere à efetivação dos Direitos Sociais ao trabalho para Pessoas com deficiência na Ci-

dade de Mossoró/RN, analisando esses dados foram obtidos com precisão elementos conexos para a entre-

vista.

9 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Estado tem como dever através de políticas publica permitir a garantia do direito ao trabalho às

pessoas com deficiência, estabelecendo leis que possibilite essa inserção e a efetividade desse pressuposto.

Na Lei nº 9213/91 em seu artigo 93 informa o percentual de PCD’s que cada empresa deve contratar, sen-

do assim, as empresas têm por força da lei cumprir essa jurisdição, pautando nos direitos sociais e funda-

mentais da dignidade da pessoa humana.

Os paradigmas sociais é um dos fatos que implica ainda na inserção dos PCD’s ao mercado de traba-

lho, tendo em vista que 81% dos empresários contratam pessoas com deficiência somente pela força da lei;

e, não por verem que os PCD’s podem contribuir com a organização. Por mais que os PCD’s tenham sua

garantia assegurada pelo beneficio da Previdência Social e que por mais que um PCD entre no mercado de

trabalho, a Lei 8742/93 garante que esse não perde seu beneficio, mesmo assim, o sentimento que muitos

PCD’s têm é que essa segregação atitudinal que as empresas estão fazendo um favor implica em um fator

desmotivador nessa inserção.

Defrontando a perspectiva da inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho em Mos-

soró - RN, as ONG’s e Centros de Apoio às pessoas com deficiência instigam que os PCD’s que são assis-

tidos por elas se avultem aos estudos, pois, refutam que a inserção no mercado de trabalho no comercio de

Mossoró – RN os PCD’s sofrerão com a falta de acessibilidade atitudinal, arquitetônico, digital e de infor-

mação, sendo assim, no olhar dessas entidades é a estabilidade do concurso público.

Um dos fatos costumeiros é que as empresas de Mossoró – RN dizem que não há demanda de pesso-

as com deficiência para ocupar as vagas destinadas, mas, o que se percebe é que as empresas procuram por

PCD’s com grau de deficiência leve ou moderada. PCD’s com grau de deficiência severa praticamente são

menosprezadas, mesmo tendo uma formação técnica específica. Percebe-se então que há muitas realidades

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, que há um choque de contradições; as empresas alegam que não há a demanda e os PCD’s alegam que

não é viável trocar um benefício assistencial para trabalhar em uma empresa que dependendo do caso, só

as contratam por força da lei e não veem capacidade de contribuírem com a organização.

BOX 9.1

Pode-se observar que a eficácia das Políticas Públicas em detrimento a empregabilidade de Pessoas

com Deficiência se resume em uma construção ética não somente do município de Mossoró-RN, mas, de

todo o Estado. Todavia, por meio de lei o Ministério do Trabalho juntamente com as secretárias específi-

cas nessa amplitude fiscalizam para que essa efetividade seja atendida.

A participação assídua dos Órgãos que fiscalizam as empresas para constatarem se a Lei de Cotas

está sendo cumprida é que permite sua efetividade. Não se esquecendo do papel do Ministério Público

que quando acionado tem o dever de fomentar a aplicabilidade dessas Políticas Públicas.

1 – Em termos de Políticas Públicas, o que o senhor (a)

pode dizer do que está sendo feito por parte do municí-

pio de Mossoró, a respeito da inserção de deficientes

no mercado de trabalho?

Opinião dos Entrevistados Análise da Pesquisa

“Em nível de município sabemos que existe políticas pú-

blicas de orientação e encaminhamento ao mercado de

trabalho, que em sua maioria é realizado pela Secretária

do Trabalho e Desenvolvimento Econômico; e, atualmente

há um investimento do município em buscar novas inicia-

tivas e novas formas de trabalho, priorizando as cotas es-

tabelecidas as empresas para a contratação das Pessoas

com Deficiência no mercado de trabalho”

(Entrevistado 1. Entrevista concedida aos autores em 06

de abril de 2016).

As políticas públicas existentes no munícipio de Mossoró, co-

mum a Secretária do Trabalho e Desenvolvimento Econômico,

orientam e encaminham para o mercado de trabalho. No que diz

respeito à priorização das cotas estabelecidas as empresas, há

investimento por parte do município de conquistar novas alter-

nativas de trabalho. O entrevistado afirmou que concretizando a

inserção de pessoas com deficiência física no mercado de traba-

lho baseado na Lei nº 8213/91, é realizada visita às empresas

através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Agricul-

tura e Turismo, principalmente Gerência de Intermediação de

Empregos.

“O município de Mossoró através da SEDAT – Secretaria

de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Turismo,

especialmente na Gerencia de Intermediação de Empregos

está sempre realizando visita a empresas objetivando a

colocação de pessoas portadoras de deficiência física no

mercado de trabalho com base na Lei nº 8213/91.”

(Entrevistado 2. Entrevista concedida aos autores em 14

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Não havendo a fiscalização e a obrigação efetiva dessas Políticas Públicas por meio do Poder Pública

essa garantia de direitos ficará somente em uma folha de papel, onde a lei permite o Direito, mas, a sua não

aplicabilidade torna essa finalidade como um fato na exequível.

Box 9.2

2 – As leis sobre a empregabilidade de Pessoas com Deficiência estão

sendo cumpridas?

Opinião dos Entrevistados Análise da Pesquisa

“Em sua totalidade, não. Mesmo porque se precisa está mais atento as

necessidades que as Pessoas com Deficiência têm. Trabalhar não só a

oferta, mas, também trabalhar individualmente os potenciais das Pessoas

com Deficiência. A gente tem que avançar muito no sentido de mostrar

para o empregador e para o empregado envolvidos na situação que se

está falando, que é possível Pessoa com Deficiência trabalhar; e, é possí-

vel que ele renda muito e muito bem. Então, em sua essência sabemos

que as leis não estão sendo cumpridas, existem vagas e as vezes não são

cumpridas, não há quem assuma. Existem diferentes situações e justifica-

tivas, mas, eu entendo que em sua totalidade a lei não está sendo cumpri-

da.”

(Entrevistado 1. Entrevista concedida aos autores em 06 de abril de

2016).

Ambos entrevistados estão em consenso que as leis não

estão sendo cumpridas em sua totalidade. O primeiro

entrevistado acredita que necessário atentar aos anseios

das pessoas com deficiência e não somente ofertar o

trabalho, mas estar ciente das potencialidades das mes-

mas e evidenciar isso para o empregador. Há a existên-

cia de vagas, mas que raramente são preenchidas e que

existem várias situações e justificativas do porque isso

ocorrer. O outro entrevistado afirma que apesar da Lei

nº 8.213/91 obrigar as empresas a preencher as cotas,

pouco está sendo cumprindo, com a justificativa os

deficientes não assumem as vagas por causa das condi-

“Em seu artigo 93 da Lei nº 8.213/91 de 24 de julho de 1991 cita a em-

presa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher de dois a

cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pesso-

as portadoras de deficiência, na seguinte proporção:

- até 200 funcionários 2%

- de 201 a 500 funcionários 3%

- de 501 a 1000 funcionários 4%

- de 1001 em diante funcionários 5%

Frisamos que nas empresas visitadas pela nossa secretaria raramente esta

parte legal está sendo cumpridas, ressalva-se que existem as vagas mais

os portadores de deficiência não aceitam o trabalho seja por condições de

locomoção, seja também por oferta salarial.”

(Entrevistado 2. Entrevista concedida aos autores em 14 de abril de

2016).

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A eficiência dessa Política Pública se resume na divulgação e na importância da inserção de Pessoas

com Deficiência no Mercado de Trabalho. No entanto, por questão cultural, essas pessoas são vistas co-

mo incapazes, muitas vezes são submetidas a preconceitos e o desrespeito por parte da Gestão Pública em

não viabilizar a mobilidade, seja ela no aspecto da pavimentação das vias públicas como na logística dos

transportes urbanos.

3 – O que o senhor (a) diz em que pode ser melhorado a curto e em

longo prazo?

Opinião dos Entrevistados Análise da Pesquisa

“Deve ser melhorado a divulgação, também a metodologia de ensino, o

município deve está ampliando as oportunidades de ensino as pessoas

que têm deficiência, estratégia de participação junto as empresas que

fazem recrutamento de pessoas e pessoas com deficiência. Precisa ser

divulgado que as Pessoas com Deficiência tem potenciais e habilidades

que podem ser respeitadas e aproveitadas em todo mercado de trabalho.

Entendo que deve haver mais discussão, mais divulgação, mais incenti-

vo, mais respeito e que pusesse ser divulgado bem mais as capacidades e

os resultados das Pessoas com Deficiência tem em cada um de seus as-

pectos. Quando se conhece de perto a responsabilidade e a dedicação

que os mesmos tem, a gente sabe eles tem igualdade e compromisso

com o trabalho. Precisamos divulgar, precisamos mostrar que as Pessoas

com Deficiência se trabalhadas, se incentivadas têm os mesmos poten-

ciais que os outros. A curto prazo, apenas há um investimento na divul-

gação e da ampliação das vagas para toas as pessoas; e, entre elas as

Pessoas com Deficiência. E a longo prazo não se sabe exatamente, po-

rém há um interesse do município em desempenhar esse trabalho, tendo

ciência que as Pessoas com Deficiência tem um grande potencial.”

(Entrevistado 1. Entrevista concedida aos autores em 06 de abril de

2016).

O primeiro entrevistado acredita que se deve melhorar

a divulgação, bem como a forma de ensino, expandindo

as oportunidades e junto com as empresas que recrutam

ressaltar as potencialidades e habilidade das Pessoas

com Deficiência. A divulgação a curto prazo, há um

investimento de estender as vagas para as pessoas com

deficiência. A longo prazo há disposição do município

em fazer algo a respeito. O outro entrevistado reconhe-

ce a dificuldade de melhora em curto prazo, aludindo a

cultura da população, sejam os deficientes que se inti-

midam por causa da sua deficiência, e as empresas por

causa da cultura de custos, como barreira para o avan-

“Entendemos ser muito difícil uma melhora neste sentido a curto prazo,

pois recai muito sobre a cultura da nossa população, tanto do portador de

deficiência física como também do empresariado, o PDC talvez por inti-

midação a sua deficiência seja qual for e o empresariado pela cultura de

custo.”

(Entrevistado 2. Entrevista concedida aos autores em 14 de abril de

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Outro fato específico que não viabiliza a eficiência desta Política Pública é o fato dos empresários

em sua maior parte verem as Pessoas com Deficiência como ônus a suas empresas. Os mesmo não anali-

sam o aspecto motivacional que os PCD’s podem elencam ao ambiente de trabalho.

Por mais que alguns Órgãos divulguem as vagas no Mercado de Trabalho para Pessoas com Defici-

ência, essas informações geralmente não alcançam que tem esse interesse. Contudo, vários fatores impli-

cam na eficiência dessa efetividade; e, se sabe que o principal fator é a cultura excludente que está arrai-

gada na população brasileira e em todos os países do Mundo.

Box 9.3

A relevância dessa Política Pública é que no município de Mossoró-RN existem vagas no Mercado

de Trabalho para Pessoas com Deficiência. Contudo, aspectos como a falta de capacitação de colaborado-

res e a faixa salarial implicam nos resultados positivos da efetividade desse direito ao trabalho.

4 – Como são divulgadas as informações?

Opinião dos Entrevistados Análise da Pesquisa

“A divulgação pelo que a gente acompanha em nível de município,

existe o site da Prefeitura, a mídia mossoroense sempre divulga muito.

A gente tem outros Órgãos que acompanham e dão apoio como o pró-

prio SINE, o CIEE que costuma divulgar, mas, com ênfase mesmo a

oferta e a oportunidade de trabalho para as Pessoas com Deficiência

nós sabemos que precisamos divulgar mais, precisamos ampliar mais.

Inclusive começando na base, na escola, nas comunidades. A gente

precisa despertar desde muito cedo que existe lei, existe obrigação que

as Pessoas com Deficiência tem condição, tem oportunidades de direi-

tos iguais que se refere ao mercado de trabalho. Então, em relações as

informações, eu entendo também que elas são incipientes, nós precisa-

mos todos compreender mais, divulgar mais e formar mais, despertar

mais a sociedade que as Pessoas com Deficiência tem direito e tem

condições de emprego e trabalho.”

(Entrevistado 1. Entrevista concedida aos autores em 06 de abril de

2016).

A divulgação é feita através do site da Prefeitura, bem

como se tem o apoio de órgãos como o SINE e o CIEE,

porém, se reconhece que não é o suficiente necessitan-

do ampliação. O entrevistado 1 sugere que é essencial

motivar desde de cedo que as pessoas com deficiência

têm condições e oportunidades de direitos iguais refe-

rente ao mercado de trabalho. O entrevistado 2 confir-

ma que as ações são divulgadas por meio da Secretaria

de Comunicação (SECOM) da Prefeitura bem como

através das visitas as empresas.

“Sempre divulgamos nossas ações através da Secretaria de Comunica-

ção SECOM da Prefeitura, como também em nossas visitas semanais

a empresas divulgando números de PDC encaminhados às empresas.”

(Entrevistado 2. Entrevista concedida aos autores em 14 de abril de

2016).

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Um dos fatores que também implica nessa inserção de Pessoas com Deficiência mp Mercado de

Trabalho e que geralmente essas pessoas recebem um beneficio financeiro do Governo (BPC) ou são apo-

sentadas; assim, muitas dessas pessoas alegam que se for para trocar o benefício por um salário igual, o

melhor

5 – O que as empresas geralmente alegam por não ter pessoas com

deficiência para ocupar as vagas disponibilizadas?

Opinião dos Entrevistados Analise da Pesquisa

“Eu vou está falando o que normalmente leio e que normalmente ouço

das pessoas que estão a frente de trabalhos como esse. A distância que

há hoje entre as ofertas de trabalho dentro das especialidades com rela-

ção ao grau de instrução, ao grau de conhecimento, ao grau de disponi-

bilidade, principalmente de autoestima das Pessoas com Deficiência.

Então, eu não tenho nenhum conhecimento técnico aprofundado a res-

peito da causa em si, mas, até pela menção, pelo trabalho e pelo senti-

mento e o respeito que tenho ao segmento de Pessoas com Deficiência,

conhecedora do que sou de que todos possui dentro de sua situação que

tem habilidades, nós observamos que ainda existem formatos de traba-

lho, de serviços que não são pensados e não são equipados para serem

desenvolvidos por Pessoas com Deficiência. Como também, nós enten-

demos que tem empresas que não divulga e que não se aperfeiçoa para

receber a Pessoa com Deficiência. Mas também, pela época que a gen-

te vive de muitas novas oportunidades, mas, nós temos uma geração e

meia, digamos de quinze anos a contar de hoje para anos atrás de pes-

soas que não viam dentro do mercado de trabalho, ainda existe uma

mentalidade e uma acomodação de todos nesse quesito, nessa questão

de entender, de conceber no mercado de trabalho para Pessoas com

Deficiência.”

(Entrevistado 1. Entrevista concedida aos autores em 06 de abril de

2016).

O primeiro entrevistado acredita ainda há formatos de

trabalho e de serviços que não são pensados e nem ofe-

recido estruturas para as pessoas com deficiência. Co-

mo também, algumas empresas não divulgam e nem se

aperfeiçoam. Já o outro entrevistado diz que o salário e

a dificuldade de adaptação à função, geralmente porque

o deficiente físico obtêm benefícios da Previdência

Social são justificativas das empresas que não têm defi-

cientes trabalhando nelas.

“Faixas salariais e dificuldades de adaptação ao emprego, até porque

normalmente o portador de deficiência física recebe benefícios da Pre-

vidência Social.”

(Entrevistado 2. Entrevista concedida aos autores em 14 de abril de

2016).

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é ficar com o benefício. Em detrimento à esse aspecto a Lei 13.146/15 em seu artigo 94 criou o auxílio-

inclusão que permite a Pessoa com Deficiência trabalhar e receber ainda uma parte do benefício.

Atualmente existem alguns benefícios para que as empresas empreguem Pessoas com Deficiência.

Entretanto, os empresários alegam que em sua maior parte não conseguem ter acesso a esses direitos; e,

que por mais que disponibilizem as vagas, quando não são ocupadas, são submetidos a multas por parte do

Poder Público. Essa uma questão que perdurará até que seja fomentado mais discussões sobre essa temáti-

ca.

Box 9.4

A efetividade da inserção no Mercado de Trabalho permite que as Pessoas com Deficiência tenha

6 – Existe algum incentivo da parte do Governo para que haja essa

inserção?

Opinião dos Entrevistados Análise da Pesquisa

“Sim, a começar do Governo Federal, então quando você faz a leitura das

políticas públicas, das ofertas de serviço, das orientações, dos critérios,

dos objetivos onde estão sendo estabelecidos cursos, formações, acessos

e inserção no mercado de trabalho, você sempre observa que existe a

orientação de que seja respeitado, de que seja criado situações para que

as pessoas realmente possam está ocupando as vagas disponibilizadas; e,

que elas possam ter acesso igual a inserção no mercado de trabalho. Da

mesma forma a nível de Estado e da mesma forma a nível de município.

Mas, é bem verdade que falando de governo Nação e Estado Brasil, ain-

da nós estamos distante de concretizar o que a lei já estabelece, que os

direitos já estabelece, no que a realidade de Pessoas com Deficiência

exige, igualdade, inserção, produção, aproveitamento do potencial de

cada um deles. Existe resumindo o incentivo de diferentes formas, queria

citar aqui o mais aproximado da Secretaria de Desenvolvimento Social, o

PRONATEC Brasil Sem Miséria, quando ele é pensado, quando ele é

desenvolvido e é para ser executado nesses moldes de inserção mesmo.

Que nós possamos todos criar condições que forem necessária para que

as pessoas sejam capacitadas para o mercado de trabalho. Mas, é bem

verdade que nem sempre consegue contribuí e seguir todas as normati-

vas.”

(Entrevistado 1. Entrevista concedida aos autores em 06 de abril de

2016).

Existe por parte do Governo Federal, do Estado e do

Município, porém ainda não é cumprido na totalidade o

que está estabelecido na lei. Há vários incentivos, o

PRONATEC Brasil Sem Miséria é um deles. Por outro

lado, para o empresariado falta incentivo, além da obri-

gação legal, punição e multa, para empregar pessoas

com deficientes.

“Em entrevistas aos empregadores (empresas) esta pergunta é recorrente

por parte deles: “que incentivo vou ter se empregar” – Entendemos que

as Associações de PDC devem disseminar / divulgar os inventivos que a

Lei permite não só a obrigação, punições e multas inseridas na Lei.”

(Entrevistado 2. Entrevista concedida aos autores em 14 de abril de

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uma participação ativa, elencando como maior beneficio a autoestima e o menor tempo de ociosidade.

7 – Quais os impactos que as inserções de Pessoas com Deficiência

podem trazer no Mercado de Trabalho em Mossoró?

Opinião dos Entrevistados Análise da Pesquisa

“Impactos positivos, eu só vejo como impacto positivo porquê, são pes-

soas, são cidadãos com capacidades iguais, com situações infinitas de

condições, eu acredito que de interesse para está realmente trabalhando.

Conhecendo as Pessoas com Deficiência, baseadas nas que conheço, se

Mossoró pudesse está inserindo o maior número de Pessoas com Defici-

ência no mercado de trabalho, eu acho que o trabalho seria mais humani-

zado, eu acho que a gente tinha mais condições de renovar forças de tra-

balho, a qualidade do trabalho, a qualificação dos serviços que são pres-

tados no mercado de trabalho. Mas, a gente sabe que existe um potencial

muito grande por trás dessas pessoas, que são pessoas que aproveitam

para desenvolver da melhor forma possível as vezes o único dom que ele

tem, a única capacidade que ela tem, a única possibilidade que ela tem.

Então, são seres humanos importantes que tem muito a nos oferecer. En-

tão acredito que para Mossoró seria um ganho valorativo na qualidade de

serviços, seria um ganho e um resultado muito positivo na geração do

emprego e da renda e seria um resultado mais positivo ainda porque terí-

amos certeza que as pessoas estariam se sentindo bem melhor, estariam

se sentindo valorizadas, estariam se sentindo úteis e importantes. Auto-

maticamente nós iriámos está diminuindo o índice de Pessoas com Defi-

ciência que estão fora do mercado de trabalho, com certeza essas pessoas

estariam envolvidas no processo de prestação de serviço de atender bem,

de trabalhar bem, de fazer um grandioso trabalho, de agradar as pessoas,

de agradar a sociedade. Automaticamente essas pessoas se sentiriam bem

melhor, e, implicaria além de resultados positivos, em felicidades, e prin-

cipalmente na efetivação de direitos. Hoje em Mossoró nós temos quase

5 mil pessoas que recebem o Benefício de Prestação Continuada, que já é

um beneficio e não uma aposentadoria, por está aquela pessoa por qual-

quer tipo incapaz de exercer um trabalho, ou que alguém que não possa

prover sua Sobrevivência. Já imaginou se conseguíssemos está incluindo

pelo menos 50% desse público com potencial no mercado de trabalho,

seria um verdadeiro impacto, seria um grande resultado e estaríamos

cumprindo por tabela a nossa responsabilidade e a funcionalidade no

processo de trabalho das pessoas, seria muito positivo.”

(Entrevistado 1. Entrevista concedida aos autores em 06 de abril de

2016).

O entrevistado 1 só vislumbra impactos positivos, acre-

dita que o trabalho ficaria mais humanizado, que o tra-

balho das pessoas com deficiência tem qualidade. Além

disso, a geração de emprego e renda. Atualmente, no

município, existe 5 mil pessoas que obtém o Benefício

de Prestação Continuada, se pelo menos 50% fosse

incluído no mercado de trabalho seria um grande resul-

tado. O entrevistado 2 acredita que mesmo não sendo

em grande quantidade, a inserção de pessoas com defi-

ciência física no mercado de trabalho, além da auto

“Estima-se que 30% da população da cidade possui algum tipo de defici-

ência física a inserção de parte deste número de pessoas no mercado de

trabalho por menor que seja acarretará na melhora do nosso combalido

mercado de trabalho com geração de renda e especialmente auto estima

pessoal desta parte de munícipes.”

(Entrevistado 2. Entrevista concedida aos autores em 14 de abril de

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Há de se ressaltar que onde tem uma Pessoa com Deficiência trabalhando em uma empresa a produ-

tividade é maior, pois, o fato da superação das dificuldades advindas da deficiência motivam os colabora-

dores a cooperarem com mais assiduidade. Um fato é que na atualidade muitas empresas gastam com pro-

fissionais Coaching para motivar seus colaboradores a alcançar metas. Todavia, quando uma Pessoa com

Deficiência atinge uma meta, isso comove de forma positiva em aspectos amplos os que estão ao redor

dos mesmos.

8 – De acordo com os objetivos alcançados até hoje, pode-se

dizer que as empresas têm boa aceitação de contratar Pessoas

com Deficiência?

Opinião dos Entrevistados Análise da Pesquisa

“Eu acredito que os objetivos alcançados ainda são poucos, nós

precisamos ter mais resultados positivos, nós precisamos contratar

mais, também capacitar mais, despertar mais nas pessoas, mesmos

já preparadas para o mercado de trabalho. As empresas inclusive

elas precisam abrir mais para cumprir com essa responsabilidade

social. Eu acredito que quando ela atinge o seu compromisso e sua

responsabilidade social, todos os objetivos propostos seriam alcan-

çados. Hoje as empresas precisam contribuí muito com seus objeti-

vos nesse sentido. Eu entendo que as empresas só contratam medi-

ante a uma obrigação, são poucas as empresas que assumem a capa-

cidade de preparar, de se equipar para dispor dos serviços de Pesso-

as com Deficiência, na grande maioria as empresas ver a contrata-

ção de Pessoas com Deficiência como um ônus, e não como um

bônus. Mas, existem aqueles que fazem questão de divulgar, fazem

questão de mostrar e respeitar as Pessoas com Deficiência. No cam-

po da Prefeitura precisa começar a trabalhar a ampliação na contra-

tação de Pessoas com Deficiência.

(Entrevistado 1. Entrevista concedida aos autores em 06 de abril de

2016).

Acredita que poucos objetivos foram alcançados e que é

necessário que as empresas se comprometam com a respon-

sabilidade social. Poucas se capacitam, preparam e equipam

para que as pessoas com deficiência possam trabalhar, sen-

do, as últimas, consideradas às vezes, como um ônus e não

sendo reconhecidas suas potencialidades. Porém, o entrevis-

tado 2 reconhece que as empresas não têm boa aceitação de

contratar Pessoas com Deficiência, pois acredita que carece-

mos modificar a cultura das empresas e dos deficientes, co-

mo já foi mencionado em outra questão.

“Não, no início das nossas respostas citamos e frisamos que preci-

samos mudar a cultura do empresariado (empresas) como também

dos deficientes muitos deles para aceitarem as suas condições. A

municipalidade está por último investindo no transporte público

todos acessibilidade no intuito de melhorar estas condições.”

(Entrevistado 2. Entrevista concedida aos autores em 14 de abril de

2016).

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Por mais que seja positivo ter uma Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho, os empresários

veem essa inserção apenas como ônus; e, esse aspecto se enfatiza no aspecto da cultura como foi enfatiza-

do várias vezes pelos entrevistados. O brasileiro ainda tem entronizado em seu inconsciente a perspectiva

de que se uma coisa está boa, para que melhorar? Com isso, aspectos como o desenvolvimento e a inova-

ção ficam comprometidas; pois, são as necessidades que criam novas políticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Realmente foi constatado que no Município de Mossoró-RN há várias vagas no Mercado de Traba-

lho para Pessoas com Deficiência. Todavia, fatores como a cultura arraigada de um “achismo” que os

PCD’s não têm capacidade é que implica na inserção dos mesmos. Entretanto o fator salarial é um do viés

que foi enfatizado como um dos motivos do não interesses de algumas Pessoas com Deficiência; pois, os

mesmos afirmam ser aposentados ou receberem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), sendo assim,

a argumentação é que a maior parte das empresas pagam 1 (um) salário mínimo e não proporciona boas

condições de trabalho, com isso os mesmos preferem receber o BPC ou a aposentadoria.

Já os empresários alegam não terem um incentivo fiscal do Governo na amplitude dos Três Entes

que seja conivente para atender a demanda prevista na Lei 8.123/91 Artigo 93. Todavia foi constatado

através da pesquisa que a inserção de PCD no Mercado de Trabalho melhora o ambiente e a produtividade

no âmbito do trabalho pelos colaboradores, pois, a Pessoa com Deficiência em tese é como fonte inspira-

dora.

Por mais que a Lei 13.146/15 aponte em seu artigo 6º que Pessoas com Deficiência são capazes, o

malefício do preconceito cultural é o fato que mais implica na inserção de PCD’s ao Mercado de Trabalho.

Todavia abordando o Município de Mossoró-RN a mobilidade urbana em detrimento a pavimentação das

ruas e a logística de acessibilidade de transporte urbano permite que as Pessoas com Deficiência continu-

em sendo segregadas.

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