revista ingepro - outubro/2011
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Revista Ingepro - Outubro/2011TRANSCRIPT
Equipe Editorial
Editores CientíficosAlberto Souza Schmidt (UFSM)Neri dos Santos (UFSC)
Editores de SeçãoDaniel de Moraes Joao (UFSM)José Augusto Arnuti Aita (UFSM)Maurício Nunes Macedo de Carvalho (UFSM)
Comissão CientíficaAdemar Galelli (UCS)Adriano Rogério Bruno Tech (AFA/USP)Alcimar Chagas Ribeiro (UENF)Antonio José C. Pithon (CEFET-RJ)Antonio Carlos de Francisco (UTFPR)Carlos Eduardo Sanches da Silva (UNIFEI)Celso Rodrigues (UFPB)Elóide Teresa Pavoni (UCS)Everton Hillig (UNICENTRO)Fabiana Cunha Viana Leonelli (Embrapa) Fernando Gonçalves Amaral (UFRGS)Gisele Cristina Sena da Silva (UFPE)Guilherme Luís Roehe Vaccaro (UNISINOS)Ieda Kanashiro Makiya (UNIP)Janis Elisa Ruppenthal (UFSM)José Paulo Alves Fusco (UNESP)Junico Valle Antunes (UNISINOS)Leoni Pentiado Godoy (UFSM)Luiza Maria Bessa Rebelo (UFAM)
Nelson Casarotto Filho (UFSC)Paulo Mauricio Selig (UFSC)Rudimar Antunes da Rocha (UFSC)
Prezados leitores,
A Revista INGEPRO é uma publicaçãoeletrônica mensal, de caráter nacional,sediada na Incubadora Tecnológica de SantaMaria (Universidade Federal de Santa Maria -UFSM).
O foco da revista é trabalhoscientíficos inéditos na área de Engenharia deProdução e áreas correlatas, que contribuampara o avanço efetivo dos sistemasprodutivos. Como forma de estimular eaumentar a visibilidade de trabalhosrealizados nos Programas de Pós-Graduação,também serão publicadas dissertações eTeses, desde que defendidas e aprovadas nosseus cursos de origem.
É o primeiro periódico científicoeletrônico mensal da área indexado aoSistema Eletrônico de Editoração de Revistas,customizado pelo Instituto Brasileiro deInformação em Ciências e Tecnologia, doMinistério da Ciência e Tecnologia, baseadono software OJS, da Universidade BritishColumbia. Como forma de seguir sua índolede inovação, a Revista INGEPRO tambémdesenvolveu uma versão flip, de sua revistaoriginal do SEER.
A revista destina-se tanto àcomunidade científica (pesquisadores,professores, pós-graduandos e graduandos)como empresarial (diretores, gerentes eprofissionais). A língua oficial deste periódicoé a portuguesa.
Com isso, a Revista INGEPRO vem a serum veículo para a divulgação de pesquisas,cuja finalidade é contribuir para o avanço daciência e, desta forma, promover odesenvolvimento sócio-econômico nacional.
Equipe INGEPRO
Revista INGEPRO
Marcos Ricardo Rosa Georges (PUC)
INGEPRO – Inovação, Gestão e Produção
Outubro de 2011, vol. 03, no. 10
ISSN 1984-6193 www.ingepro.com.br
Sumário
Utilização do método Seis Sigma para melhoria do processo de atendimento de
uma empresa de serviços: Estudo de caso em uma empresa do setor alimentício.
001-011
Jadilson Astorino Marçola, Paulo Rogerio Politano, Celso Luiz Goncalves, Luciano Campanini
Reestruturação do sistema de controle da qualidade no processo de soldagem em
uma empresa do setor automotivo.
012-022
Daniel Fiorott Oliveira, Fernanda Siqueira Souza, Carla Schwengber ten Caten, Morgana
Pizzolato
A Gestão da Qualidade e suas Práticas: Estudo de Caso em Caruaru/PE. 023-034
Elane Karla Souza, Francisco Oliveira Machado
A Qualidade como estratégia empresarial: um estudo conceitual. 035-046
Joana Paula Correia da Silva, Francisco Oliveira Machado
Evolução da Gestão Empresarial Através do Programa Gaúcho de Qualidade e
Produtividade (PGQP).
047-055
Tatiane da Silva Dias, Flávio Régio Brambilla, Mare Rozeli Araujo Frois, Tiago Bagatini, Rafael
de Jesus Machado
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Utilização do método Seis Sigma para melhoria do processo de
atendimento de uma empresa de serviços: Estudo de caso em uma
empresa do setor alimentício.
Jadilson Astorino Marçola <[email protected]>
Paulo Rogerio Politano <[email protected]>
Celso Luiz Goncalves <[email protected]>
Luciano Campanini <[email protected]>
Resumo: O presente artigo analisa a aplicação e contribuição do método Seis Sigma para
reduzir o tempo de atendimento aos clientes de uma micro empresa do ramo de alimentação.
É apresentado estudo de caso e uma proposta de melhoria para os processos de atendimento
que influencia diretamente na imagem da empresa, na qualidade dos produtos e
conseqüentemente na satisfação do cliente.
Palavras-chaves: Seis Sigma; Melhoria Contínua da Qualidade; Serviços
Using the Six Sigma method to improve the process of caring for a
service business: A case study in a company in the food industry.
Abstract: This article reviews the application and contribution of the Six Sigma method to
reduce the time the customer service of a small company in the field of nutrition. It presented
a case study and a method for improving the processes for care that may influence the
company image, product quality and therefore customer satisfaction.
Keywords: Six Sigma; Continuous Quality Improvement; Services
1. Introdução
Cada vez mais as empresas estão inseridas num cenário competitivo. A
competitividade desse mercado faz com as empresas busquem estratégias e métodos de
melhoria dos processos e produtos com objetivo de catalisar vantagens competitivas que
atendam as expectativas de seus clientes e acionistas.
Um dos métodos de melhoria utilizados pelas empresas é o Seis Sigma. Seis Sigma é
um processo de negócio que permite às organizações incrementar seus lucros por meio da
otimização das operações, melhoria da qualidade e eliminação de defeitos, falhas e erros
(HARRY et al., 1998).
O Seis Sigma surgiu na Motorola sob influência de Joseph M. Juran e W. Edwards
Deming e foi desenvolvido pelo Engenheiro Bill Smith, em 1986, para eliminar a existência
de reclamações sobre falhas no produto dentro do período da garantia. O método padronizou
o método de contagem dos defeitos e também definiu um alvo, de como atingir a perfeição, o
qual foi denominado de Seis Sigma.
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A estratégia auxiliou a Motorola no alinhamento dos processos às necessidades do
cliente, na mensuração e aprimoramento do desempenho dos processos críticos e na
documentação desses, levando-a a triplicar a produtividade e obter economias da ordem de
US$ 11 bilhões até o ano de 1997, que resultou na obtenção do prêmio Malcolm Baldrige
National Quality Award (Prêmio Nacional da Qualidade dos EUA) em 1988.
Posteriormente, essa estratégia foi adotada por organizações como IBM, Xerox, Texas
Instruments, AlliedSignal (atualmente Honeywell) e GE,. O método de abordagem DMAIC
(Definir, Medir, Analisar, Melhorar, Controlar) foi utilizado como o principal método de
aprimoramento dos processos para atingir a qualidade Seis Sigma.
O método Seis Sigma é focado nas necessidades do cliente de forma estruturado,
sistemático, proativo e quantitativo, visando à melhoria contínua dos processos para assegurar
melhoria da qualidade, redução de custo, entrega rápida e orientada à redução de desperdícios
nos processos de negócio, utilizando ferramentas e técnicas estatísticas (MAHANTI E
ANTONY, 2005). Estas ferramentas e técnicas auxiliam no entendimento da flutuação ou
variação de um processo, propiciando previsões de resultados dos processos, porém se os
resultados não forem satisfatórios, há possibilidade de adicionar outras ferramentas para o
entendimento dos elementos que influenciam o processo (NAVE, 2002).
O Seis Sigma entende como “defeito” qualquer coisa que signifique o não atendimento a
uma necessidade do cliente. Para Peter Pande (2001, p.13) o Seis Sigma é um método abrangente
e flexível para alcançar, sustentar e maximizar o sucesso empresarial da organização.
De acordo com Thomas Pyzdek (2003), Seis Sigma não se ocupa da qualidade no
sentido tradicional, ou seja, a conformidade com as normas e requisitos internos e sim como
um programa que define a qualidade como um valor agregado por um esforço produtivo
focalizando a redução de defeitos e do desperdício nos processos.
Desta forma, este artigo irá analisar a aplicação do método Seis Sigma em uma
empresa de fast-food utilizando-se de diversas ferramentas como: Mapeamento de Processos,
Folha de Verificação, Gráfico de Pareto, Digrama de Causa e Efeito e Índices de
Capabilidade.
2. Metodologia de Pesquisa
Estaremos utilizando nesse artigo o método de Estudo de Caso e diversas pesquisas
descritivas, para identificar as prováveis oportunidades de melhoria. Essa pesquisa foi feita
através de questionários, entrevista com os proprietários e flagrantes de atendimento. Após
coleta dos dados, foi efetuada a compilação dos mesmos, bem como sua interpretação, para
que o pesquisador possa estudar o caso.
Estudo de Caso, para Yin (1994), é uma forma de pesquisa empírica, visando à
investigação de fenômenos contemporâneos que considera o contexto real do fenômeno
estudado. Normalmente ocorre quando as fronteiras entre o contexto e o fenômeno não são
bem definidas. O Estudo de Caso é utilizado como estratégia preferida quando os
pesquisadores procuram responder questões do tipo “como” e “por que” determinados
fenômenos ocorrem.
3. Seis Sigma
Segundo Oliveira (2001) a revisão de literatura não é uma simples transcrição de
pequenos trechos de livros e materiais científicos da internet, mas uma discussão sobre as
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idéias, fundamentos e problemas de vários autores, devidamente examinadas, combinadas e
criticadas.
Quando fala-se de Seis Sigma logo nos vem na mente o caso Motorola, e
posteriormente o caso GE nas décadas de 80 e 90 respectivamente, mas há relatos de estudos
desde o século XVII. Segundo Puga (2005) as raízes do Seis Sigma como fator de medição
pode ser acompanhada desde Carl Frederick Gauss (1777-1855) ao introduzir o conceito de
curva normal, porém Seis Sigma como padrão na medição de produtos pode ser estudada
desde a década de 20.
Segundo Perez, Wilson apud Puga (2005) os estudos realizados até a década de 20
concentravam-se na idéia de apenas 3 Sigma, posteriormente Walter A. Shewhart (1891-
1967) demonstrou que um processo maior ou igual a 3 Sigma merecia correção. Mais tarde
alguns outros experimentos tais como o CPK (índice de capabilidade) e o Zero Defeitos
entraram em cena, no entanto a utilização do termo “Seis Sigma” tanto quanto seu sucesso é
concedido a um engenheiro da Motorola chamado Bill Smith.
De acordo com Pysdek (2003) em meados de 1980, a Motorola, confrontada com uma
forte perda de competitividade dos seus produtos, decidiu levar a questão da qualidade a sério.
Ficando para trás em relação aos concorrentes estrangeiros que conseguiam vender produtos
de melhor qualidade e custos inferiores. Nessa época, a Motorola destinava cerca de 5% a
10% dos investimentos - às vezes até 20% - para corrigir defeitos em seus produtos, o que
equivalia cerca de US$ 900 milhões por ano.
O presidente da empresa na época encaminhou a companhia para a cultura Seis Sigma
e tornou-se um ícone na área empresarial, em grande parte devido ao que realizou em
qualidade na Motorola. Alguns anos mais tarde, em 1996, a empresa norte americana General
Eletric (GE) propôs a si mesma o desafio de atingir o nível de qualidade Seis Sigma em todos
os seus processos: do projeto à fabricação, prolongando-se até os serviços. Começava a nascer
então o caso mais famoso de aplicação sistemática e bem sucedida da ferramenta Seis Sigma,
sendo até hoje considerado modelo a ser seguido por todos. Sob a liderança de seu presidente
Jack Welch, os resultados foram tão rápidos quanto surpreendentes.
Em 1988, a Motorola recebeu o Prêmio Malcolm Baldrige de Qualidade e a introdução
do programa Seis Sigma passou a ser reconhecida como responsável pelo sucesso alcançado
pela organização.
Com o sucesso da implantação do método na Motorola, o Seis Sigma ganhou
reconhecimento mundial e várias outras empresas como: Texas Instruments , IBM , ABB -
Asea Brown Boveri, Allied Signal e Kodak , General Electric, BLACK & DECKER, Texaco ,
Arvin Industries, Johnson & Johnson, Toshiba adotaram seus métodos.
No Brasil, o Seis Sigma passou a ser disseminado a partir do ano de 1997, a primeira
empresa a utilizar o Seis Sigma no Brasil foi o Grupo Brasmotor, que após realizar a medição
dos resultados em 1999 observou que obteve ganhos de cerca de R$ 20 milhões (Werkema,
2002a), logo em seguida várias outras empresas como AmBev, Belgo Mineira, Votorantim,
Alcan e Johnson & Johnson implantaram o Seis Sigma em suas organizações para obter o
sucesso empresarial.
O sucesso empresarial pode ser traduzido pelos benefícios da método Seis Sigma,
como: redução de custos, melhoria de produtividade, crescimento da fatia de mercado,
retenção de clientes, redução de defeitos, mudança cultural, desenvolvimento de novos
produtos e serviços, conforme Pande (2001).
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Segundo Rath, Strong apud Scatolin (2005), o método Seis Sigma utiliza como
ferramenta o DMAIC (Definir, Medir, Analisar, Melhorar e Controlar) similar ao método de
TQM amplamente conhecido como PDCA (Planejar, Fazer, Controlar, Agir.
4. Estudo de caso
Constituída a mais de 20 anos, no interior do estado de São Paulo, a empresa iniciou
sua atividade primeiramente no ramo de padaria. Na época existiam poucas padarias na região
e os proprietários desenvolveram lanches diferenciados que não existiam na cidade e se
tornaram populares com o passar dos anos, fato esse que levou à mudança da atividade
principal da empresa. Atualmente a empresa possui quatro lojas trabalhando na área de
serviços na produção de lanches e pratos prontos no ramo de fast-food. Esse artigo se limita
em estudar o processo de produção do lanche em uma loja situada no Shopping Center da
cidade.
Segundo Kotler (2000) a segmentação de mercado é um esforço para aumentar a
precisão do marketing da empresa. Um segmento de mercado consiste em um grande grupo
que é identificado a partir de suas preferências, poder de compra, localização geográfica,
atitudes de compra e hábitos de compra similares. Existem quatro tipos de segmentação, são
elas: geográfica, demográfica, psicográfica e comportamental.
De acordo com Kotler (2000) segmentação geográfica requer a divisão do mercado em
diferentes unidades geográficas, como nações, estados, regiões, condados, cidades ou bairros.
A empresa pode atuar em uma, em algumas ou em todas as áreas geográficas, prestando
atenção nas variações locais.
Na segmentação demográfica, o mercado é dividido em grupos de variáveis básicas,
como idade, tamanho da família, ciclo de vida da família, sexo, rendimentos, ocupação, nível
de instrução, religião, raça, geração, nacionalidade e classe social. As variáveis demográficas
são as bases mais usadas para distinguir grupos de clientes. Uma das razões para isso é que as
necessidades, os desejos e os índices de utilização dos consumidores estão freqüentemente
associados a variáveis demográficas. Outra razão é que elas são mais fáceis de serem
medidas.
Na segmentação psicográfica, os compradores são divididos em diferentes grupos,
com base em seu estilo de vida, sua personalidade e seus valores. Pessoas do mesmo grupo
demográfico podem ter perfis psicográficos diferentes.
Na segmentação comportamental, os compradores são divididos em grupos com base
em seus conhecimentos de um produto, em sua atitude com relação a ele, no uso dele ou na
resposta a ele.
A empresa estudada se enquadra na segmentação demográfica, dividido em grupo de
variáveis como classe social (classe A e B) e idade (adolescente, estudantes e jovens).
4.1 Etapas do projeto
Como o projeto utiliza o método Seis Sigma, o mesmo foi dividido em etapas de
trabalho por meio da metodologia do DMAIC.
4.1.1 Definição
A empresa de fast-food possui garçons e seus clientes têm a opção de serem atendidos
na mesa ou fazer o pedido diretamente no balcão. Esse diferencial com relação à
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concorrência, que não possui garçons, faz com que a empresa avalie constantemente o tempo
de atendimento e será o estudo desse artigo
Através da pesquisa descritiva definiu-se que o tempo padrão de entrega de lanches
nas mesas é de aproximadamente 15 minutos com uma variação de 3 minutos para mais ou
menos.
4.1.2 Medição
Para a realização deste estudo, é necessário primeiramente definir a situação atual e
saber quais são os desejos e anseios, traçar metas e definir ações para alcançar o objetivo.
Deste modo, através de uma folha de verificação foi realizada uma coleta de dados para medir
em qual Sigma o atendimento da empresa se encontrava antes das melhorias.
Tabela 1: Folha de verificação medição de Sigma.
De acordo com o cálculo de conversão do sigma do processo, podemos observar
através da Tabela 1 que a empresa possui 0,9 Sigma, isto significa que a empresa comete
725.000 DPMO (Defeitos Por milhão de oportunidades), quando sua expectativa era de uma
média de 15 minutos.
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Gráfico 1: Gráfico do Tempo de Atendimento
De acordo com os limites pré-estabelecidos e demonstrados no Gráfico 1, sendo o
tempo esperado de 15 minutos com uma variação de ± 3 minutos, obteve-se um número de
amostras dentro dos limites igual a 9 (mesa) que corresponde a 18% das amostras e 14
(balcão) que corresponde a 28% das amostras, com base nesses dados observa-se que o
processo de solicitar o lanche na mesa pode ser classificado como tendo 0,6 Sigma e o
processo de solicitar o lanche no balcão pode ser classificado como tendo 0,9 Sigma.
Figura 1: Questionário de avaliação
Da mesma forma, segundo a Figura 1, o pesquisador mediu através de um questionário
a satisfação do cliente nos quesitos qualidade do produto, nível de atendimento e tempo de
entrega do lanche para depois comprovar e aferir os resultados.
Gráfico 2: Gráfico da Qualidade do Produto,.
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Foram realizados mais de 100 questionários e de acordo com o Gráfico 2 verificamos
que o item Tempo de Entrega do Lanche obteve uma média de 2,8 pontos, enquadrando o
tempo de entrega no nível entre Ruim e Regular. Com base nesse resultado o item Tempo de
Entrega do Lanche precisa ser melhorado, pois obteve a pior pontuação média em relação aos
processos pesquisados.
Gráfico 3: Gráfico do Tempo ideal de Atendimento.
Desta forma, considerando o Gráfico 3 podemos definir que o tempo médio de
atendimento esperado pelos clientes é de 15 minutos (90% dos dados coletados), com uma
margem de tolerância de ± 3 minutos.
4.1.3 Analisar
Ao analisar o processo é preciso ter muita cautela, pois nesta etapa é necessário
encontrar-se qual é a maior necessidade de mudança, para que sejam aplicadas suas devidas
melhorias.
Desta forma pode-se analisar todo processo do atendimento, desde o pedido até a sua
entrega. Depois de analisar o mapeamento do processo como um todo, é necessário medir os
tempos de cada atividade a fim de encontrar os principais fatores críticos de sucesso da
empresa. A Figura 3 representa um fluxograma detalhado de tempos/atividades cronometrado,
de todo o processo de atendimento da empresa.
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Figura 2: Fluxograma Cronometrado de Produção do Lanche no restaurante (13 minutos)
Na Figura 2 observa-se uma média de tempo de cada atividade, para preparação do
lanche dentro do restaurante. Cada cor representa diferentes etapas para análise individual.
Podem-se identificar dois pontos chaves que deverão ser analisados que são: atendimento e
produção do lanche.
Para definir quais os principais causas do atraso no atendimento aos clientes foi
utilizado
o Diagrama de Ishikawa (Causa e Efeito). Através de algumas observações foi constatado que
o problema a ser solucionado é o atraso na entrega dos lanches, o que causa grande
insatisfação aos clientes, uma vez que a empresa estudada tem característica de fast-food.
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Na Figura 3 foram colocados os fatores que prejudicam o atendimento:
Figura 3: Diagrama de causa e efeito.
Após uma análise com base em 50 eventos que podem ser considerados não conforme
e conseqüentemente geram atraso na entrega dos lanches foi possível fazer a seguinte
tabulação de dados:
Gráfico 4: Gráfico de Pareto.
Após a análise dos dados do Gráfico 4 foi possível verificar que dentre as causas que
levam ao atraso da entrega dos pedidos, é necessário uma atenção especial para as seguintes
ocorrências: Excesso de pedidos, erros no pedido, falta de materiais e erro de preparação, pois
esses quatro eventos são responsáveis por cerca de 80% (por cento) das causas de atraso nas
entregas.
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4.1.4 Melhorar
Com objetivo de reduzir o tempo do garçom nas retiradas de pedidos e também acabar
com o excesso de pedidos sobre o mesmo, o pesquisador sugere uma informatização com
Palmtops, onde o garçom em cada mesa pudesse transmitir o pedido para a cozinha e ao
mesmo tempo para o caixa. Essa implantação tem como objetivo diminuir o tempo de
locomoção do funcionário em minutos, para a agilidade da automação em segundos,
conforme demonstrado na Figura 4.
Figura 4: Antes e depois da implantação de melhoria.
Outro ponto importante é alterar o layout da cozinha para que os produtos mais
utilizados fiquem o mais próximo do cozinheiro economizando alguns minutos essenciais
para o objetivo do projeto. Também foi notado que seria importante que o ajudante de cozinha
reponha os ingredientes para o cozinheiro.
4.1.5 Controlar
É necessário que a empresa não só aplique as melhorias, mas que controle o processo
para depois de implantadas elas continuem sendo medidas e melhoradas.
Uma vez realizado DMAIC, deverá ser medido o nível em que o processo de
atendimento atingiu. Se seu patamar for satisfatório, significa que o objetivo foi cumprido,
caso contrário ou se desejar atingir um nível ainda maior, deverá voltar para a definição e
procurar outros pontos recomeçando assim todo o processo.
5. Conclusão
O artigo demonstrou que a método Seis Sigma pode ser aplicado em diversos ramos de
atividade com fins de geração de lucro, seja em fabricação, com diversas aplicações
conhecidas pelo mundo todo, seja em prestação de serviços, como foi o caso aqui estudado. A
sua eficácia pôde ser comprovada, guiando o desenvolvimento do artigo com ferramentas
adequadas, que foram pontos chaves para o desenvolvimento deste projeto.
Com a aplicação do DMAIC nos processos de atendimento, no tempo de espera das
mesas e no balcão do estabelecimento, tivemos condição de analisar os pontos elegíveis de
melhoria e demonstrar que os tempos nas mesas e a preparação dos lanches melhorando os
tempo de atendimento do lanche que diminuíram de 9 minutos para 2,5 minutos.
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Reestruturação do sistema de controle da qualidade no processo de
soldagem em uma empresa do setor automotivo
Daniel Fiorott Oliveira <[email protected]>
Fernanda Siqueira Souza <[email protected]>
Carla Schwengber ten Caten <[email protected]>
Morgana Pizzolato <[email protected]>
Resumo: A qualidade representa, hoje, uma das principais dimensões da produção. O
aumento acentuado da concorrência faz com que o aprimoramento dos processos seja
indispensável para que as empresas alcancem maiores fatias de mercado. Situado dentro do
campo de Controle da Qualidade, este artigo apresenta uma reestruturação no sistema de
controle de uma montadora automotiva dos seus processos de soldagem por resistência
elétrica ou solda ponto, visando rever as freqüências de inspeção, elevar o grau de
padronização dos testes realizados, e estabelecer um controle do processo que forneça
índices precisos da capacidade dos mesmos. Para tanto, faz uso da metodologia de solução
de problemas e de controle estatístico de processo (CEP). Foram implementados um mapa de
pontos de solda para orientar a realização de testes e o controle estatístico de processo
associado a utilização de um cartão de avaliação. Foi desenvolvido um aplicativo para
gerenciar as informações do controle de processo para comparar a capacidade dos
diferentes processos e auxiliar na tomada de decisão. Como resultados deste estudo
destacam-se a redução da incidência de problemas de solda em setores distantes da funilaria,
aumentando a eficácia do sistema de contenção.
Palavras-Chave: Controle de Qualidade; Solução de Problemas; Controle Estatístico de
Processo (CEP); setor automotivo; soldagem.
Restructuring the system of quality control in the process of
welding in an automotive company
Abstract: The quality today represents one of the major dimensions of production. The
increase of competition makes the improvement processes is essential for companies to
achieve higher market share. Situated within the field of Quality Control, this article presents
restructuring in the control system of a automotive assembly plant in its procedure for
resistance electrical or welding point, aiming to review the inspection frequencies, raise the
degree of standardization of tests, and establish control process that provides the precise
process capability indices. To Therefore, the methodology makes use of problem solving and
statistical process control (SPC). We implemented a map of points solder to guide the testing
and statistical control process associated with the use of a card evaluation. An application to
manage the information of process control to compare the ability of the different processes
and auxiliary in decision making was development. The results of this study highlight the
reduction incidence of problems in areas distant from the weld bodywork, increasing the
effectiveness of the containment system.
Keywords: Quality Control, Problem solution; Statistical Process Control (SPC); automotive;
welding.
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1. Introdução
Nos últimos anos observa-se que os consumidores apresentam um perfil mais
exigente, gerando uma maior competitividade entre as empresas de diferentes setores. O
aumento da concorrência leva as empresas a procurarem suas vantagens competitivas,
principalmente na área da qualidade (JUNIOR & OLIVEIRA, 2005). Com um mercado
aquecido, mais exigente e mais competitivo, as empresas têm de encontrar meios de reduzir
custos, aumentar sua produtividade, inovar e aprimorar a qualidade de seus produtos e
processos.
Segundo Slack et al. (2000), a administração da qualidade não é mais vista somente
como uma área operacional, mas sim, estratégica na empresa, devendo envolver todos os
funcionários e diretores para um bom controle e garantia, promovendo uma contínua
otimização dos processos e, consequentemente, um aumento dos lucros.
Uma forma de garantir a qualidade e garantir que um determinado trabalho foi
realizado da melhor maneira possível é a padronização das atividades (LIKER & MEIER,
2007). Esta padronização, aliada com as ferramentas do Controle Estatístico do Processo
(CEP) é uma excelente forma de direcionar ações visando o aumento da qualidade dentro da
empresa, servindo como um guia estratégico para garantir produtos em conformidades com as
especificações de projeto, aumento, assim, os índices de capacidade.
O objetivo do presente artigo é apresentar uma reestruturação no sistema de controle
de uma montadora automotiva dos seus processos de soldagem por resistência elétrica ou
solda ponto, visando rever as freqüências de inspeção, elevar o grau de padronização dos
testes realizados, e estabelecer um controle de processo que forneça índices precisos da
capacidade destes processos. A empresa encontrava dificuldades em conter de forma eficaz
problemas da qualidade, bem como estruturar uma sistemática de gerenciamento de
informação capaz de incentivar a melhoria contínua.
O artigo está estruturado em sete seções. Além desta introdução, a segunda seção
apresenta uma revisão bibliográfica que abrange o Controle Estatístico de Processo. A terceira
seção apresenta os procedimentos metodológicos utilizados para atingir os resultados deste
estudo. O detalhamento do processo produtivo em questão, bem como informações
pertinentes relacionadas a gestão da empresa e os procedimentos adotados na coleta e na
análise das informações, são apresentados na seção quatro. A quinta seção contempla a
aplicação das metodologias de solução de problemas e os resultados obtidos são apresentados
na sexta seção. A última seção resume as principais conclusões do trabalho.
2. Controle estatístico do processo
O Controle Estatístico de Processo (CEP) é uma técnica estatística desenvolvida para
medir e analisar a variabilidade dos processos. As ferramentas mais importantes desta técnica
são os gráficos de controle e os índices de capacidade, utilizados com objetivos diferentes.
Segundo Montgomery (2004), os gráficos de controle são as ferramentas fundamentais
para o monitoramento do processo, examinando a variabilidade dos dados ao longo do tempo.
Um processo é dito sob controle estatístico quando as causas especiais de variação são
eliminadas, e os pontos plotados do gráfico de controle permanecem dentro dos limites de
controle.
Os gráficos de controle propostos por Shewhart são classificados em: variáveis e
atributos. Uma característica de qualidade que é medida em uma escala numérica é chamada
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de variável, enquanto que uma classificação de produtos não-conformes ou não-
conformidades é chamada de atributos. A escolha do gráfico adequado, de acordo com o
conjunto de dados estudados, é muito importante para não obter conclusões errôneas sobre o
processo (SOUZA et al. 2009). Dentre os estudos da literatura, destacam-se os trabalhos de
Woodall (1997), Schissatti (1998) e Fiterman et al. (2004).
Os gráficos de controle são de grande utilidade para verificar a estabilidade do
processo, no entanto, é de extrema importância analisar a capacidade do mesmo, ou seja,
verificar se o processo está ou não atendendo as especificações. Assim os índices de
capacidade são ferramentas estatísticas utilizadas para este propósito. Observa-se que um
processo pode estar sob controle estatístico, mas caso apresente variabilidade maior do que a
amplitude das especificações será considerado como não capaz.
Os índices de capacidade mais utilizados e difundidos são o Cp (índice de capacidade
potendial) e o Cpk (índice de capacidade efetiva). O índice Cp e o índice Cpk para
características do tipo nominal-é-melhor, são obtidos através das equações (1) e (2),
respectivamente (MOTGOMERY, 2004).
(
(1)
(
(2)
Onde LSE e LIE representam, respectivamente, o limite superior de especificação e o
limite inferior de especificação do cliente, σ representa o desvio padrão e X, a média. Para
maiores detalhes sobre os índices de capacidade tradicionais, destacam-se os trabalhos de
Kotz e Jonhson (2002), Spiring et al. (2003) e Wu et al. (2009).
Se o processo for capaz, deve-se garantir que ele se mantenha capaz ou então se pode
diminuir a faixa de especificações. Esta decisão garante que se busque a melhoria contínua do
sistema (PAESE, 2000).
3. Procedimentos Metodológicos
Para reestruturar o sistema de controle de qualidade do processo de soldagem por
resistência elétrica foi realizado um estudo aprofundado, estruturado em quatro etapas: (i)
estudo do processo em análise; (ii) coleta de dados e informações; (iii) melhorias
identificadas; e (iv) resultados e discussões obtidas.
Após o estudo do processo de verificação da qualidade da soldagem por resistência
elétrica, realizou-se uma coleta de dados, onde se identificou as causas que levavam a
contenções retardadas dos defeitos de soldagem e também se buscou oportunidades de
melhoria para o tratamento dos problemas de qualidade. Inicialmente, cabe investigar o quão
adequado está à forma de trabalho do time de teste de soldagem por resistência elétrica
(principal responsável pela detecção de irregularidades no processo), frente à detecção e
contenção de problemas. Com isso, realizou-se três coletas: (i) tempo médio de realização de
um ciclo completo de testes; (ii) freqüência adequada de realização de testes; e (iii) forma de
condução das inspeções. Para estimar o tempo médio para cada uma das oito estações, foram
coletados três tempos distintos com operadores do time de teste escolhidos ao acaso, visto que
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um ciclo completo de testes ou rota compreende retirar a peça do varal (ou a unidade da
linha), transportá-la até a estação de teste, efetuar o teste, e recolocá-la no local de origem.
A definição da freqüência dos testes é importante para garantir que uma falha
localizada no processo seja contida ainda nas instalações da funilaria. Para obter essa
informação disparou-se um cronômetro no momento em que uma unidade estava passando
pela estação de teste, parando-o no momento em que a unidade chegava ao inicio do túnel que
conduz as unidades para fora do prédio da Funilaria. Após esta coleta, identificou-se as
estações de teste com freqüência inadequada, comparou-se, para cada rota, o tempo de ciclo
total com o período mínimo necessário para a freqüência de testes requerida pela velocidade
da linha. Além de verificar o procedimento padrão utilizado pela equipe de testes na Funilaria,
também se observou a forma como as inspeções eram conduzidas em outras plantas da
organização.
De acordo com os dados da primeira etapa, realizou-se uma análise para verificação
dos principais problemas e posteriormente, elaborou-se um plano de ação, a fim de permitir
um aumento na freqüência de testes das estações. Verificou-se também o procedimento
padrão utilizado e detectaram-se causas de variabilidade na realização dos testes. Para
avaliação das modificações na empresa, utilizou-se um sistema automatizado que computava
as discrepâncias entre as estações em um software no momento em que elas eram apontadas
pelos verificadores.
A principal limitação para mensurar a eficácia do trabalho reside no fato de a empresa
não possuir uma estimativa dos custos que são gerados pela necessidade de retrabalho. Desta
forma, o resultado do trabalho não será avaliado em termos financeiros.
Por fim, com bases nas implementações das melhorias identificadas na segunda etapa,
foi possível analisar os principais resultados deste trabalho.
4. Caracterização do processo de verificação da qualidade da soldagem por resistência
elétrica
O processo de montagem do veículo acontece em cinco atividades de manufatura:
estamparia, funilaria, pintura, pintura de pára-choques e montagem geral. A linha que conduz
o fluxo de uma unidade automotiva inicia na funilaria e termina na montagem.
O processo de soldagem por resistência elétrica (ou solda ponto) é realizado na
funilaria e consiste em unir chapas metálicas em um determinado ponto através do calor
provocado pela passagem de corrente elétrica na resistência formada por estas placas. A
transferência de corrente se dá com dois eletrodos que pressionam as chapas na região onde se
pretende formar um ponto. Ao cessar o pulso de corrente, os eletrodos permanecem na
posição de pressão, enquanto a região aquecida rapidamente é resfriada e se torna sólida. Na
seqüência, os eletrodos desfazem a posição de pressão e passam por um resfriamento.
Este processo é muito utilizado na indústria automobilística por ter alta produtividade
e qualidade, tendo como principais parâmetros, a intensidade da corrente aplicada, o tempo de
corrente aplicado e pressão imposta pelos eletrodos. Existem ainda outros fatores que
diferenciam as condições de soldagem, como por exemplo, a quantidade de chapas que estão
sendo soldadas, o alcance e o posicionamento que o braço do robô possui em relação ao ponto
requerido; a espessura das chapas (que influi diretamente no tamanho do diâmetro requerido
por norma para o botão de solda) e o revestimento de galvanização.
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Apesar de ser realizado na funilaria, é comum encontrar nas unidades de verificação
posicionadas ao final de processos subseqüentes (pintura e montagem), pontos de solda
defeituosos. Essa situação gera transtornos e perdas para a empresa, que tem de retrabalhar
unidades em locais inapropriados e gerenciar o deslocamento de mão-de-obra da linha para
atividades de reparo. Aliado a isso, há a necessidade de aprimorar a metodologia de controle
de informação existente, de forma a mapear a capacidade dos diversos equipamentos de solda
de uma forma mais exata, que oriente ações gerenciais no campo da qualidade. Também é
necessário considerar a amplitude da estrutura de verificação, e sua complexidade, uma vez
que a extensão do processo aplica aproximadamente quatro mil pontos de solda em cada
unidade produzida.
A verificação da qualidade do processo de soldagem por resistência elétrica é realizada
pelo time de teste. Este time é responsável por verificar se o conjunto de máquinas de solda da
funilaria está produzindo conforme a qualidade requerida, e faz uso, para tanto, de testes
destrutivos e não-destrutivos com talhadeiras. O time trabalha dividindo-se em oito rotas que
cobrem determinados pontos de teste (Figura 1). Cada rota é realizada por um operador e
possui um ciclo de pontos a ser testado. Este ciclo tem de ser percorrido dentro do período de
tempo suficiente para atender a freqüência de repetição pré-estipulada dos testes. Sempre que
um operador do time de teste de solda encontra algum ponto de solda defeituoso, é
responsabilidade sua acionar o facilitador do time de produção da respectiva área, que tem
que rastrear as unidades produzidas com defeito e garantir, por vezes junto à manutenção, a
resolução do problema de solda. Todas as células que são verificadas possuem um formulário
que descreve a peça, e em alguns casos, descreve também os pontos que devem ser testados.
Do registro deste formulário são construídas cartas de controle e calculados os índices de
capacidade, sendo que toda célula possui uma carta de controle própria.
Figura 1- Distribuição inicial das rotas do time de teste de solda ponto
5. Melhorias identificadas
De acordo com os dados coletados (tempo médio, freqüência e forma de condução das
inspeções), verificaram-se dois pontos de melhorias: transferências de responsabilidade e
padronização dos testes. Partiu-se para uma estratégia de transferir parte da responsabilidade
ESTR. II SEDAN
ESTR. II HATCH4
5
6
7
8
3
1
2
ASSOALHOS
LATERAIS SEDAN
ESTRUTURAÇÃO I SEDAN
ESTR. I HATCH
LATERAIS HATCH
Subconjuntos
5
PORTASTAMPAS
RESPOT’SMANUAIS
SAÍDA DA LINHA
ESTR. II SEDAN
ESTR. II HATCH4
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ASSOALHOS
LATERAIS SEDAN
ESTRUTURAÇÃO I SEDAN
ESTR. I HATCH
LATERAIS HATCH
Subconjuntos
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PORTASTAMPAS
RESPOT’SMANUAIS
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de execução de testes para alguns times de produção. O método para selecionar quais testes
poderiam ser repassados envolveu encontrar células onde houvesse ao menos uma estação de
trabalho que pudesse ser isolada do restante das operações, ao menos em tempo suficiente
para que o operador pudesse se ausentar e realizar o teste. Outro ponto de melhoria
contemplava a padronização e sistematização dos testes. Foram realizadas observações nas
áreas, acompanhado os operadores do time de teste de solda ponto no momento em que eram
efetuados os testes. Desta forma foi possível verificar quais documentos o operador possuía a
sua disposição, em quê ele se baseava para a realização de um ciclo, e quais eram suas
principais demandas de orientação. Alguns dos testes se mostravam bastante longos, sendo
que foram detectadas duas importantes oportunidades de melhoria : o mapa de pontos e o
controle estatístico de processo associado ao cartão de avaliação, implementados em um
software,
A primeira melhoria identificada foi o planejamento de um mapa de pontos, que serviu
como referência para a padronização dos testes. Este mapa baseou-se na experiência dos
operadores e nas necessidades encontradas, sendo construído com o objetivo de ser um
instrumento de gerenciamento visual, útil ao operador. Portanto, este mapa foi planejado para:
atuar como uma fonte de instrução, consulta e orientação sobre quais pontos devem ser
testados em um determinado ciclo de teste; promover informações que auxiliem na prevenção
de problemas; ser flexível para poder ser modificado pelo próprio time da área; e servir como
base de referência para estudos futuros de capacidade.
A delimitação da área piloto envolveu uma análise da quantidade de pontos de solda
considerados críticos pela Engenharia de Produto em cada uma das estações de teste. Foram
desenhadas sobre o macro-layout da Funilaria, as estações de trabalho que possuíam pontos
críticos, Delimitou-se as áreas prioritárias para mapeamento com base na quantidade de
operações (ou postos de trabalho) contendo pontos críticos, em cada célula. As rotas
escolhidas foram as rotas cinco e seis, que cobrem aproximadamente 40% dos pontos de solda
aplicados em uma carroceria, e possuíam os testes mais longos.
Outra melhoria identificada diz respeito ao Controle Estatístico de Processo (CEP)
praticado na empresa. Foi definida a implantação da carta de controle para indicadores do tipo
atributos que monitoram o número de peças não conforme às especificações.. Dada a falta de
mecanismos mais precisos de verificação de qualidade, muitas vezes tornava-se difícil a
correta classificação de um defeito, podendo este variar ainda conforme o operador e sua
experiência. Com isso optou-se por criar cartas que abrangiam todas as incidências, de forma
a calcular limites e estabelecer capacidades sem diferenciar os defeitos. A carta implantada foi
a carta p, que controla a fração de unidades não conformes, em relação ao total de unidades
inspecionadas (tamanho da amostra). Delimitou-se como área piloto para estas modificações a
mesma área em que estavam sendo promovidas ações de padronização dos testes, as rotas
cinco e seis, pois o mapeamento de pontos seria utilizado como base de referência para a
criação das cartas.
Juntamente com as modificações que dizem respeito ao CEP, foi implementado um
aplicativo dentro do software que a empresa utiliza para monitorar um “cartão de avaliação”
baseado na teoria de solução de problemas, para situações em que ocorressem problemas de
solda.
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6. Resultados e Discussões
Encontradas todas as potenciais células de repasse de testes para a responsabilidade da
produção, concluiu-se que seria possível retirar dois operadores do time de teste de solda, que
estavam alocados em rotas nos setores de subconjuntos. Estes operadores poderiam ser
colocados junto às rotas cinco e seis, para dividir a carga destes testes. Isto possibilitaria a
realização de testes adequados e dentro do tempo requerido, nas áreas até então cobertas por
estas duas rotas. Um dos operadores do time de teste de solda permaneceu no setor de
subconjuntos para garantir a realização daqueles testes que, por serem demasiados longos, não
puderam ser repassados à produção.
Parte das células que compunham a rota sete e oito também poderia ser repassada à
produção. Isto permitiu a diminuição das cargas destas rotas, bem como o aumento nas
freqüências de testes. Este aumento foi mais significativo para as células de portas, que
continham menores índices Cpk. Com as freqüências reajustadas às necessidades da
velocidade da linha, considerando ainda os índices de capacidade de processo disponíveis, foi
possível reduzir a incidência de problemas em outros setores à praticamente zero. A transição
das operações para operadores de produção se iniciou no mês de outubro e foi completada na
primeira quinzena de novembro. Pode-se observar na Figura 2 que, neste período, ocorreu a
queda da incidência de problemas que se mantinham elevados na Pintura, desde o início do
ano. Pode-se citar ainda outros benefícios trazidos pela migração de parte da responsabilidade
da verificação de qualidade à produção. Em longo prazo, os operadores estarão mais cientes
do nível de qualidade dos produtos que fabricam, o que pode alavancar mudanças culturais na
empresa, alinhando-se com os princípios da filosofia enxuta, que prega a detecção e resolução
de problemas o mais rápido possível.
0,14%
0,21%
0,02%
0,17%
0,23%
0,04%
0,11%
0,18%
0,15%
0,01%
0,12%
0,01%
0,00%
0,05%
0,10%
0,15%
0,20%
0,25%
0,30%
0,35%
0,40%
0,45%
5 meses
anteriores
setembro outubro novembro dezembro
Montagem
Pintura
Funilaria
Figura 2 - Acompanhamento mensal de incidência de problemas em outros setores
A primeira melhoria implementada foi a elaboração de seis mapas de pontos de solda.
Estes mapas trazem todos os pontos que devem ser averiguados num ciclo de teste desta
estação. Entretanto alguns mapas contemplam mais de trezentos pontos, em casos que o
operador dispõe de apenas uma hora para realizar o ciclo. Sendo assim, todos os pontos não
são testados em um único ciclo. Portanto, foi necessário desenvolver uma metodologia para
auxiliar na escolha dos pontos a serem testados. Embora seja interessante que o operador
exerça aleatoriedade nos pontos que testa, alguns pontos devem ter seu teste obrigatório.
Sabe-se que toda vez que o robô inicia o ciclo de soldagem, os primeiros pontos possuem uma
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maior probabilidade de falha. Esta maior incidência de falhas também ocorre toda vez que ele
muda o seu programa de soldagem, isto acontece sempre que alguma das condições se altera –
por exemplo, quando aumenta ou diminui a quantidade de chapas a serem soldadas, varia
alguma das espessuras destas chapas, ou então alguma destas chapas recebe revestimento por
galvanização. O mapa permite analisar os pontos para que se formem grupos cujas
características são as mesmas, ou seja, o mesmo programa de solda (mesmos parâmetros de
soldagem) é usado, e as condições não se alteram. Desta forma é possível sinalizar sobre o
mapa pontos obrigatórios de teste, que são aqueles aplicados no início e no fim da cada um
destes grupos. Quanto aos outros pontos existentes dentro do grupo, fica a critério do
operador escolher quais testar, a única regra imposta é a de que ele nunca avance mais do que
três pontos sem testar ao menos um deles.
Outro objetivo que o mapa traz é o de orientar o operador quando um ponto defeituoso
é encontrado. Foi criado um sistema de legenda, que combina os pontos de solda com os
robôs que os aplicam através de alfinetes coloridos. Visualizando todos os demais pontos da
mesma cor o operador tem à disposição a referência que necessita para saber que outros
pontos devem ser checados. A capacidade de resposta e solução do problema também é
melhorada, uma vez que o operador do time de teste de solda ponto já pode relatar aos
facilitadores de produção e manutenção exatamente qual é o robô que está apresentando
problemas, sem que estes tenham a necessidade de rastrear pelos diversos robôs existentes
qual é o responsável pelo ponto defeituoso. Por fim, todos os pontos foram numerados, para
servirem de referência para o CEP. Caso haja algum rebalanceamento na linha, o mapa pode
ser facilmente modificado com alterações nos alfinetes.
A segunda implementação diz respeito ao desenvolvimento de um modelo para um
aplicativo a ser implantado no software que a empresa utiliza para coordenar seus processos
de solução de problemas de qualidade. Este aplicativo se baseia nas informações dos cartões
de avaliação, bem no banco de dados gerado a partir do mapeamento de pontos de solda, e
possui, basicamente, quatro interfaces com o usuário: (i) input das informações; (ii) registro
dos cartões de avaliação; (iii) informações a respeito da capacidade do processo; e (iv) output
das informações.
A primeira interface destina-se ao input das informações que compõem a árvore
estrutural contida nos mapas de pontos de solda. Esta estrutura é organizada de forma
hierárquica e contém os seguintes níveis: Área/Time de trabalho/Célula; Operação;
Máquina/robô; Ponto de solda. Ou seja, cada número de ponto de solda específico é vinculado
a apenas uma máquina, que é vinculada a somente uma operação, que por sua vez pertence a
uma determinada célula de trabalho. Esta interface serve para que se construa e manipule a
hierarquia entre várias identidades, que servirão para flexibilizar as possibilidades de
construção de capacidades de processo.
A segunda interface serve para registrar os cartões de avaliações. Todos os três
campos que existem no cartão físico possuem correspondentes virtuais no aplicativo, e ao ser
registrado no sistema, cada cartão recebe um número, que o identifica, e também um campo
que fornece seu status: aberto, concluído, aguardando avaliação da produção, aguardando
avaliação da manutenção. Através da estrutura montada sobre o mapa de pontos, é possível
realizar filtros sobre o período que se deseja, visualizando todos os cartões por área, operação,
máquina, ponto, ou ainda criando algum grupo de pontos que contenham em comum as
características que se deseja. Ainda é possível obter gráficos sobre a incidência bruta de
defeitos, por região e no período desejado. O aplicativo fornece o Top 10 de incidência de
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defeitos, que pode ser filtrado por pontos, robôs, operações ou células (conforme desejado),
dentro dos limites de tempo requisitados pelo usuário.
Por fim, a terceira interface diz respeito às informações de capacidades de processo.
Da mesma forma que a interface de análise das informações dos cartões, a capacidade pode
ser calculada a partir dos diferentes níveis possíveis de leitura. A forma de utilizar a
capacidade é flexível ao agrupamento que for desejado. O modelo criado para o software
funciona da seguinte forma: é necessário configurar, para cada identidade de célula
cadastrada, a freqüência padrão de testes para um dia de trabalho – que compreende dois
turnos. Automaticamente, através da hierarquia, o programa atribui a respectiva freqüência de
teste para cada ponto de solda em particular. Outra configuração necessária diz respeito à
inserção de um calendário que informa quais são os dias programados para serem de trabalho,
ao longo do ano. Por fim, é necessário computar junto ao programa quais os testes que não
puderam ser realizados ao longo do mês, em função de problemas na linha. Normalmente isto
não ocorre com muita freqüência (cerca de 3 a 7 vezes ao mês), o input desta informação
ficará a cargo do facilitador do time de teste de solda ponto, que já possui as atribuições de
computar as informações dos cartões de avaliação. Estas informações formam a base de dados
necessária para que se possa calcular a capacidade a partir das incidências registradas nos
cartões de avaliação. Inseridas estas informações, a interface que realiza os cálculos junto ao
usuário parte das seguintes entradas: qual base de pontos se deseja usar para realizar a
capacidade. Aqui, pode-se calcular a capacidade considerando uma área inteira, uma
determinada operação, um robô específico, um ponto qualquer, ou um conjunto de pontos que
se escolha agrupar segundo os critérios desejados. Em qualquer uma das opções, o que se está
delimitando para o cálculo da capacidade – direta, ou indiretamente - é um conjunto de pontos
de solda.
Outras informações que constituem entradas para o usuário são a quantidade de
subgrupos que ele deseja levar em consideração, bem como o tamanho que estes subgrupos
devem possuir. Toda vez que se registra no sistema, a incidência de problema de solda através
de um cartão de avaliação, a ocorrência é relacionada obrigatoriamente a um determinado
número de pontos. O que o programa faz é regressar, da data atual, até o ponto no tempo onde
se completa a quantidade de testes realizados para que se atenda a quantidade de subgrupos e
seu tamanho. Nesta varredura em que os subgrupos vão sendo formados, toda vez que o
aplicativo encontra uma ocorrência em qualquer um dos pontos delimitados para a pesquisa,
esta ocorrência contribui para a contagem da fração de defeituosos daquele subgrupo.
Sendo assim, é possível determinar frações para todos os subgrupos e a partir disto
calcular a variabilidade que as amostras apresentam, através das fórmulas utilizadas pela carta
p de atributos. Essas informações constituem a quarta interface. Isto possibilita mapear e
comparar diferentes capacidades de processos, conforme desejado. Como saída o programa
oferece ao usuário o gráfico das frações de defeituosos, com os limites central, inferior e
superior, a plotagem dos pontos, e a capacidade determinada. Só é possível formar grupos de
pontos que sejam contemplados por um mesmo teste, e possuam a mesma freqüência de
inspeção. Ainda inclui-se no modelo o cálculo do pré-requisito sugerido por Ramos (2006),
para se considerar eficiente o tamanho dos subgrupos. Desta forma, têm-se dois casos: (i) se
np> 5: o programa emite uma mensagem que afirma que a capacidade é representativa; e (ii)
se np< 5, o programa emite o valor encontrado e avisa que o tamanho dos subgrupos deve ser
revisto.
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A quantidade de subgrupos aconselhada é sempre de 25, com um tamanho mínimo de
50 aferições em cada um, sugeridas por Juran & Grynam (1992). Estas serão as quantidades
utilizadas caso o usuário opte pelo padrão sugerido pelo software.
7. Conclusão
Cada vez mais as empresas precisam aprimorar sua competitividade no ambiente da
manufatura, tornando suas estruturas mais enxutas, aumentando a qualidade de seus processos
e reduzindo custos.
Este trabalho obteve êxito em readequar a estrutura de inspeção do processo de
soldagem por resistência elétrica, principal processo existente na Funilaria da montadora. A
nova disposição dos operadores foi orientada no sentido de não permitir que os defeitos
ultrapassem o limite do setor, e não sigam adiante no processo. Foi elaborada uma
metodologia de controle de processo, pautada em identificar oportunidades de melhoria e
diferenciar partes do processo que necessitam de intervenções sobre o projeto. A lógica desta
metodologia possui a vantagem de ser facilmente adaptável a mudanças na linha, decorrentes
de rebalanceamentos. Outra vantagem trata da flexibilidade que ela apresenta na comparação
entre diferentes equipamentos, ou regiões do produto
O mapa de pontos de solda foi planejado para atuar, portanto, como uma fonte de
instrução, consulta, e orientação sobre quais pontos devem ser testados nas inspeções.
Aumentando a sistematização dos testes é possível obter um ganho na eficácia da realização
dos mesmos. A princípio pode parecer controverso dedicar esforços a melhorar a forma como
a inspeção é realizada – uma vez que o correto seria gastar tempo na resolução de problemas
de qualidade. Entretanto num ambiente onde a inspeção do produto é longa e complexa,
aumentar a eficácia dos testes resulta em uma maior detecção de oportunidades de melhoria
do processo, desde que a empresa esteja devidamente preparada para aproveitá-las.
E por fim, foi implementado o controle estatístico de processo associado a um cartão
de avaliação. Foi desenvolvido um aplicativo para gestão das informações oriundas desse
sistema de controle, para possibilitar aos tomadores de decisão comparar a capacidade de
diferentes partes do processo a fim de encontrar as maiores possibilidades de melhoria.
Como resultados deste estudo destacam-se a redução da incidência de problemas de
solda em setores distantes da funilaria, aumentando a eficácia do processo de soldagem.
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A Gestão da Qualidade e suas Práticas: Estudo de Caso em
Caruaru/PE
Elane Karla Souza <[email protected]>
Francisco Oliveira Machado <[email protected]>
Resumo: Desenvolvendo um tema de grande valia para qualquer organização, o presente
trabalho tem por objetivo demonstratar como uma empresa do setor de nutrição animal
localizada na região agreste de Pernambuco define e viabiliza a qualidade em seus produtos.
Como ponto de partida para o estudo um referencial teórico foi desenvolvido em cima de
conceitos acerca dos termos qualidade e gestão da qualidade, apresentando as atividades
para o gerenciamento da qualidade, consonantes com a atuação da empresa analisada. A
pesquisa tem como estratégia estudo de caso, possuindo uma natureza qualitatitva. A coleta
dos dados foi realizada utilizando-se de entrevistas não estruturadas e de registros de
observações simples. A analise obtida no trabalho aponta que a empresa em questão apesar
de possuir um conjunto de atividades com foco na qualidade, não utilizam todo o seu
potencial, o que indica a necessidade de maior comprometimento da alta administração.
Palavras-chave: Qualidade; Gestão da Qualidade; Atividades da Gestão da Qualidade.
The Quality Management and its practices: Case Study in Caruaru/PE
Abstract: This paper aims to show us like a firm defines and makes possible the quality in its
products. The enterprise is situated in Agreste of Pernambuco region and in animal nutrition
sector. The theoretical background considers the quality and its management, especially
about the quality management activities according to the own characteristics’ firm. The
strategy research utilized was the qualitative case study. The data collection used the not
structured interviews and notes from simples observations about the firm’s assembly. The
data analyses shows to us that the firm has some activities aimed the quality principles, but it
did not use its all potential. This situation found out that the high administration of the firm
needs to be compromised with the quality practices.
Keywords: Quality; Quality Management; Quality Management Activities.
1 Introdução
A qualidade é hoje um diferencial para empresas de diferentes tamanhos, tipos e
localidades. Sendo assim, as empresas acabam por intermédio da qualidade atendendo
necessidades e desejos dos consumidores através seus produtos. O atendimento ocorre por
meio de um conjunto de características desejáveis pelo mercado consumidor que o produto
vem a possuir. Sendo assim, pode-se dizer que qualidade é o conjunto de características dos
produtos almejados pelo mercado? Supostamente sim. No entanto, definir quais seriam essas
características é uma tarefa complexa para qualquer empresa. Nesse sentido, Paladini (2008)
afirma que definir qualidade é um processo nada fácil, visto que o termo apresenta uma
multiplicidade e uma dinamicidade de conceitos que variaram muito ao longo tempo. O que
há de mais complexo à empresa é encontrar a acepção correta para o termo de modo a
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entender e atender as expectativas dos seus clientes. Nesse entendimento reside a garantia de
vantagem competitiva, pelo atendimento das necessidades do cliente.
Assim, o diferencial competitivo pode está nas práticas administrativas que
previlegiem processos de qualidade. As organizações necessitam, sobretudo, buscar a
definição do que seria qualidade para os seus produtos, tendo como entrada as demandas dos
clientes e desenvolver um complexo de atividades que a privilegie. Dessa maneira, ao tratar a
qualidade de maneira estratégica, toda a organização estará envolvida na sua gestão que
consiste no conjunto de atividades e procedimentos relacionados ao seu atingimento,
tornando-se uma filosofia de sobrevivência (PALADINI, 2008).
Tendo consciência da importância da qualidade dentro do mercado o presente trabalho
demonstrará um estudo de caso que investigará como uma empresa do setor de nutrição
animal que atua com uma filial no Agreste de Pernambuco. Mais especificamente, no
município de Caruaru. O intuito é investigar como a organização oferece a qualidade em seus
produtos. O trabalho teve como referencial teórico o conteúdo presente e discutido em
componente curricular “Administração da Qualidade” ministrada em um campus universitário
federal avançado. Esse viés teórico serviu de ponto de partida para a compreensão do que vem
a ser qualidade e de como ela pode ser gerenciada no cerne de uma organização industrial.
Contudo, outros referenciais foram consultados.
A concepção da pesquisa surgiu após o término do curso “Administração da
Qualidade”, na qual foi solicitado aos discentes desenvolver atividades de imersão na
realidade empírica, do empresariado local, com o devido acompanhamento do docente foi
possibilitado. O acompanhamento foi possível devido ao fato de que a quantidade de alunos
matriculados e assíduos era de uma dúzia, na qual foi dividida em quatro grupos com três
componentes. Aos alunos foi dada a atividade de contrapor os conteúdos consolidados na
literatura da gestão da qualidade com a vivência prática, do contexto local na qual eles se
inserem, o Agreste de Pernambuco, por meio de pesquisas em equipes em organizações
locais. Esse artigo é fruto do trabalho de uma das equipes, que, findada a disciplina, foi
conduzida mais enfaticamente por uma integrante.
A relevância da pesquisa completa, desenvolvida também nas outras equipes, é
integrar as práticas de gestão, em particular a operacional e as de qualidade, consolidadas na
academia em um contexto do Agreste pernambucano. Contudo, é importante destacar o fato
de que alguns trabalhos estão sendo publicados sob essa mesma temática e sob a dinâmica de
contrapor teoria e prática na região. Sendo assim, o presente trabalho teve como metodologia
de pesquisa ao seu desenvolvimento o estudo de caso, por ser mais adequado para um estudo
inicial exploratório na qual o seu intuito é abordar como a qualidade é percebida pela
organização estudada através de detalhamento inicial das práticas utilizadas pela sua gestão e
por visitas iniciais ao seu setor produtivo.
Dessa forma, buscou-se com o estudo: (1) levantar as principais diretrizes de
qualidade presentes na organização; (2) entender as práticas da gestão da organização,
enquanto filial de um grupo maior, em especial, acerca do que vem a ser gestão da qualidade;
(3) propor soluções teóricas iniciais que otimizem as ações da empresa e que melhorem seu
desempenho e produtividade; e (4) consolidar uma oportunidade de estudos relacionando a
pesquisa à extensão na organização em foco e em similares no município na qual a
organização se encontra, Caruaru/PE.
Sendo assim, podemos mencionar como objetivo do trabalho, que emergiu da vivência
cotidiana nas aulas de graduação: “Aprofundar o conhecimento técnico / prático a cerca do
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tema gestão da qualidade, utilizando-se de um estudo de caso em uma empresa do setor de
nutrição animal que atua com uma filial no Agreste de Pernambuco”. O presente trabalho é
relevante, pois a bibliografia sobre o tema ainda não contempla as nuances locais de um
município interiorano como tantos outros presentes no Brasil. O trabalho, portanto, encontra-
se dividido, além da presente (1) Introdução, em (2) Referencial Teórico; (3) Procedimento
Metodológico; (4) Resultados e Análises; e (5) Conclusões. Por fim, apresentam-se as
Referências Bibliográficas que nortearam a confecção do estudo.
2 Referencial Teórico
A presente seção do trabalho encontra-se dividida nos seguintes tópicos: (1) A
Qualidade; (2) A Gestão da Qualidade; (3) Atividades; (4) O Contexto Local.
2.1 A Qualidade
Segundo Paladini (2008, p.16), qualidade é um conjunto de características,
propriedades, atributos, ou elementos que compõem bens e serviços. Para Miguel (2005, p.87)
qualidade é a habilidade de um conjunto de características de um produto, processo ou
sistema em atender aos requisitos dos clientes e outras partes interessadas. Ambos os
conceitos trazem uma visão geral e objetiva para o termo, porém a segunda definição
acrescenta uma vertente subjetiva, ou seja, a relação empresa e mercado que se torna
determinante para acepção do tema. Indo de encontro a esta idéia a Sociedade Americana para
o Controle da Qualidade (ASQC) estabelecia desde 1946 que a qualidade é um conjunto de
características de um produto ou serviço relacionado com a habilidade de satisfazer certas
necessidades SME (1987) apud Consalter (2010).
Estando cientes dessa importante relação, vários teóricos ao longo das eras evolutivas
da qualidade, apresentaram multidefinições para o tema, por exemplo: para Deming
“Qualidade é a satisfação das necessidades do cliente, em primeiro lugar”; Juran e sua famosa
frase “Qualidade é adequação ao uso”; segundo Ishikawa “Qualidade é satisfazer
radicalmente ao cliente, para ser agressivamente competitivo”; para Crosby “Qualidade é
conformidade às especificações” (CARVALHO, 2005).
Por fim, Garvin (1987) apud Carvalho (2005) apresenta uma das maiores
contribuições em termos de definições para qualidade, desenvolvendo cinco abordagens ou
enfoques que são utilizados de acordo com as razões que induzem os consumidores a adquirir
um produto, seja um bem ou um serviço, os enfoques são: (1) transcendental; (2) baseado no
produto; (3) baseado no usuário; (4) baseado na produção; e (5) baseado no valor. Portanto, a
partir dessas várias visões, pode-se designar qualidade como um conjunto de atributos ou
características pertencentes ao produto que vai determinar a relação, ou a não relação, da
empresa com o mercado a que se quer satisfazer. Ou seja, quando não se consegue satisfazer
as necessidades desse mercado não há qualidade nos seus produtos.
2.2 A Gestão da Qualidade
A gestão da qualidade se refere ao modo como a qualidade será viabilizada em todas
as atividades desenvolvidas pela empresa ao longo de sua cadeia produtiva. De acordo com
Miguel (2005, p.86) a gestão da qualidade consiste no conjunto de atividades coordenadas
para dirigir e controlar uma organização com relação à qualidade, englobando o
planejamento, controle, a garantia e a melhoria da qualidade. Já Juran (2004) apresenta apenas
três atividades para o gerenciamento da qualidade que são planejamento, controle e
melhoramento da qualidade, denominadas por ele de trilogia de Juran.
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Sejam três ou quatro, essas atividades, planejamento, controle, garantia e melhoria,
podem ser configuradas como subsistemas do sistema da gestão da qualidade. Ou seja, trata-
se de um conjunto de atividades inter-relacionadas que operam uma sobre a outra dentro de
um sistema maior, com objetivos e propósitos definidos. De acordo com Oliveira (2005, p.
16) os sistemas da qualidade podem ser apresentados como um conjunto de elementos
dinamicamente inter-relacionados. Eles formam uma atividade que opera sobre entradas e,
após processamento, transformam-nas em saídas, visando sempre ao objetivo de assegurar
que seus produtos e diversos processos satisfaçam às necessidades dos usuários e às
expectativas dos clientes internos e externos.
2.2.1 Planejamento da Qualidade
Para Oakland (2007, p. 71), o planejamento da qualidade é um requisito básico para o
gerenciamento eficaz da qualidade em todas as organizações. É por meio desse planejamento
que uma empresa definirá um programa da qualidade que conterá atividades, recursos e
objetivos que deverão ser alcançados. Juran (2004) alega que o planejamento da qualidade
trata da fixação de metas e do estabelecimento dos meios necessários para alcançá-las. O
autor menciona que o planejamento é a atividade de desenvolvimento dos produtos e
processos exigidos para a satisfação das necessidades dos clientes. Portanto, o planejamento
da qualidade é o ponto de partida para que uma empresa busque a qualidade em seus
produtos, porque nesta fase são norteadas as ações da empresa em busca da qualidade. São
estabelecidas não só metas, mas também meios e recursos necessários para a satisfação dos
clientes.
2.2.2 Controle da Qualidade
O controle da qualidade é relacionado ao cumprimento de todas as especificações do
programa de qualidade. Segundo Oakland (2007), é essencialmente o conjunto de atividades e
técnicas empregadas para obter e manter a qualidade de um produto, processo ou serviço.
Juran (2004, p. 15) destaca que este processo consiste dos seguintes passos: (1) Avaliar o
desempenho real de qualidade; (2) Comparar o desempenho real com as metas de qualidade; e
(3) Agir a respeito da diferença. Contudo, é importante salientar que o controle da qualidade
não trata apenas da monitoração das atividades, como também da identificação e eliminação
de causas de problemas. O controle deve acompanhar os requisitos dos clientes para que eles
sejam constantemente atendidos (OAKLAND, 2007).
2.2.3 Garantia da Qualidade
Nessa fase são observadas todas as especificações do programa de qualidade da
empresa para que as mesmas sejam cumpridas. Segundo Miguel (2005) a garantia da
qualidade vai prover a confiança para que os requisitos da qualidade sejam cumpridos. Sendo
assim, Oakland (2007) cita que essas atividades devem incluir o estabelecimento de um bom
sistema de gerenciamento da qualidade, a avaliação de sua adequação, a auditoria da operação
do sistema e a sua revisão.
2.2.4 Melhoria da Qualidade
A melhoria é o processo que garante o aprimoramento da qualidade, como afirma
Filho et al (2004). Por meio desse processo, busca-se todas as maneiras possíveis para o
aprimoramento das atividades e dos produtos. A finalidade é benificiar o público consumidor.
A melhoria se tornou importante na medida em que o mercado se torna cada vez mais
exigente e informado. Essa nova conjuntura atribue à qualidade uma visão estratégica na
organização. Na busca pela melhoria a empresa pode empregar diversas ferramentas, como:
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procedimentos gráficos, numéricos ou analíticos, formulações práticas, esquemas de
funcionamento, mecanismos de operação, enfim, métodos estruturados para viabilizar a
implantação de melhorias no processo (PALADINI, 2005).
Dessa forma, destaca-se que a Gestão da Qualidade é realmente um sistema, composto
de diversas atividades ou programas.. Ou seja, a Gestão da Qualidade acaba sendo o reflexo
do que é qualidade para a organização, englobando muitas de suas variáveis culturais. É
importante salientar que a escolha de um programa de qualidade deve ser condizente com a
natureza operacional da empresa e com os seus objetivos específicos. Os objetivos e a
natureza operacional devem atender os fatores do ambiente externos como econômicos,
sociais, ambientais, políticos, legais tecnológicos e culturais.
2.3 Atividades da Gestão da Qualidade
Como foi apresentada anteriormente, a gestão da qualidade é realizada por meio de um
conjunto de atividades que viabiliza a qualidade dentro da estrutura organizacional. As
atividades expostas no presente trabalho foram escolhidas por estarem em consonância com
as atividades desenvolvidas pela empresa adotada como caso de análise. Essas atividades
consideram a natureza operacional do setor de nutrição animal e fatores legais, como os
requisitos definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelo
Ministério da Agricultura. Portanto, as principais atividades evidenciadas no presente trabalho
são: o programa 5’S, programa Zero Defeito, Gerenciamento Visual, Instruções de Trabalho e
BPF(Boas Práticas de Fabricação).
2.3.1 Programa 5’S
De maneira geral o programa 5’S pode ser definido como uma reeducação para a
qualidade. Foi desenvolvido por Kaoru Ishikawa em 1950 no Japão (CARVALHO, 2006). O
intuito do progrma consistia em reorganizar o trabalho nas fábricas e motivar os trabalhadores
a alcançar altos índices de qualidade e produtividade, em um período conturbado do Japão
pós-guerra. Esse programa é composto por um conjunto de práticas com a função de
transformar o ambiente de trabalho e a atitude das pessoas. Por conseqüência, melhorar a
qualidade de vida dos funcionários, diminuir desperdícios, reduzir custos e aumentar a
produtividade das empresas (IPEM, 2010). A origem do seu nome vem das iniciais das cinco
palavras japonesas que representam cada uma das atividades que compõem o conjunto de
técnicas do programa, que são as seguintes:
SENSO SIGNIFICADO ATIVIDADES DESENVOLVIDA
Seiri Organização, utilização Otimizar a utilização de móveis, equipamentos e instalações.
Seiton Ordem, arrumação Ordenar móveis, equipamentos, material de uso, etc.
Seiso Limpeza Manter sempre limpos os recursos físicos.
Seiketsu Asseio, saúde Manter condições de trabalho favoráveis à saúde.
Shitsuke Disciplina, autodisciplina Educar e comprometer o trabalho com o programa
Fonte: Carvalho (2006)
Figura 1 – Os 5S e seus significados
2.3.2 Programa Zero Defeito
Foi um programa desenvolvido pelo americano Philip Crosby que tinha extrema
preocupação com os custos de qualidade. Esses custos foram definidos por este autor como a
conformação e, ou, a falta de conformação aos requisitos (PORTAL..., 2010). Todo trabalho
de Crosby se baseia na afirmativa de fazer certo desde a primeira vez e trabalhar com ações
preventivas, que possuem custos menores do que ações de avaliação por inspeção. Esse
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programa é uma filosofia que visa enraizar uma cultura organizacional para a melhoria
constante, onde o foco de ação está no comportamento humano. Portanto, assegura-se que a
qualidade será alcançada se todos dirigirem esforços para realizar seu trabalho corretamente
da primeira vez. Não existe um padrão de tolerância, a meta é exatamente zero defeito, a
origem do programa Zero Defeito está com a alta administração que deve demonstrar seu
comprometimento.
2.3.3 Gerenciamento Visual
O gerenciamento visual é comunicação visual através de placas, símbolos, figuras, etc,
que proporciona uma transparência e acessibilidade de informação a todos os funcionários na
organização. Partilhando desta idéia, Pinto (2003) apud Lazarin (2010) afirma que a gestão
visual é uma ferramenta capaz de transformar o local de trabalho em uma imagem
representativa da realidade, uma vez que o local onde existe a gestão visual comunica-se por
si mesmo. O site Team Work Spill Prevention (TEAMWORK..., 2010) acrescenta que o
gerenciamento visual é o estabelecimento de padrões visuais para eliminar os desperdícios e
aumentar a qualidade e a produtividade. As principais vantagens segundo Mestre et al (1999)
apud Lazarin (2010) são: (1) Assimilação: aumenta a facilidade por parte dos operadores em
assimilar informações, por estas agora estarem representadas por gráficos, símbolos e
desenhos; e (2) Exposição: todas as informações necessárias para se obter uma boa
comunicação estão expostas a todos, facilitando assim a integração.
O gerenciamento visual garantirá uma comunicação eficiente na empresa entre todos
os funcionários, estabelecendo uma integração entre todos, efetivando ações que priorizam a
qualidade ao longo de toda cadeia produtiva. Leahey (1993) apud Lazarin (2010) afirma que a
qualidade dos produtos está basicamente ligada à comunicação entre os funcionários.
2.3.4 BPF (Boas Práticas de Fabricação)
Segundo a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2010), as BPF
abrangem um conjunto de medidas que devem ser adotadas pelas indústrias de alimentos a
fim de garantir a qualidade sanitária e a conformidade de seus produtos com os regulamentos
técnicos. Ou seja, representam um conjunto de regras e normas direcionadas às indústrias
alimentícias, que estabelecem as práticas corretas para o processamento de suas atividades,
englobando desde a manipulação da matéria-prima até o produto final. Essa agência
(ANVISA, 2010) estabelece que a Legislação Sanitária Federal regulamente essas medidas
em caráter geral aplicável a todos os tipos de indústrias de alimentos específicos, voltadas às
indústrias que processam determinadas categorias de alimentos. De acordo com o site
Apiários Lambertucci (2010) o objetivo do programa é garantir a integridade do alimento e a
saúde do consumidor, portanto, as Boas Práticas de Fabricação estão divididas da seguinte
maneira: (1) Fábrica e imediações; (2) Pessoal; (3) Limpeza e sanitarização; (4)
Equipamentos e utensílios; (5) Processos e controles; e (6) Armazenação e distribuição.
2.3.5 Instruções de Trabalho
Também denominada como Procedimentos Operacionais, as Instruções de Trabalho
são representadas como um documento que estabelece a maneira correta de executar um
trabalho. Esta é a sua função, deixar clara as atividades exercidas durante um processo
produtivo, buscando a padronização e segurança dos procedimentos. De acordo com o site
Oficina da Net (2010), o conteúdo dessas instruções servirá de guia para o desenvolvimento
de treinamentos para os colaboradores envolvidos com as atividades e também para que se
tenha um processo claro diante de uma auditoria. A própria ANVISA (2010) estabelece por
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meio da Resolução – RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002, o controle contínuo das BPF e
Procedimentos Operacionais Padronizados como instruções. O Ministério do Trabalho e do
Emprego (2010) através da NR-5 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)
estabelece Normas Regulamentadoras com o objetivo de prevenção de acidentes e doenças
decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a
preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador.
Segundo o site da FAENQUIL (FAENQUIL, 2010) a utilização das instruções é
considerada fator indispensável em qualquer processo de certificação de uma entidade em
termos de qualidade, controle do meio ambiente ou segurança do trabalho. Sendo as
Instruções de Trabalho próprias para atividades técnicas e administrativas, rotineiras ou não,
representando a normalização junto ao executante de qualquer atividade.
2.4 O Contexto Local: A cidade de Caruaru/PE nos dias atuais
A Cidade de Caruaru/PE foi escolhida para pesquisa devido ao fato de que ela, nos
últimos anos, passou a contar com um campus universitário federal. Caruaru é uma das
cidades que mais crescem na Região Agreste de Pernambuco. Os setores de comércio,
indústria (principalmente, construção civil) e serviços são os que mais se destacam na geração
de emprego e renda na cidade. Além disso, Caruaru junto a Santa Cruz do Capibaribe e
Toritama formam o segundo maior pólo de confecções do país gerando uma receita média
anual de R$ 1,6 bilhão para a região (CARUARU..., 2007). Essas características, em
particular no que tange ao fato do município ser um pólo de confecções, possibilitou a
organização, embora do setor alimentício, instalar-se, produzir e vender seus produtos à
região.
Tendo por base o crescimento econômico em Caruaru/PE, a pesquisa se faz relevante
pela carência de estudos que enfoquem a qualidade na região. Primeiramente, o foco da
pesquisa, na qual esse trabalho é parte inicial de um projeto de pesquisa que emergiu em
atividades didáticas em aulas de graduação, é abordar a gestão da qualidade na organização
pesquisada. Como é parte de um trabalho de uma turma, outros trabalhos, que não cabem ao
escopo do presente artigo detalhar, estão sendo desenvolvidos em paralelo. Todavia, o
presente é um estudo que pode gerar interesse para empresas atuantes no município de
Caruaru/PE e seu entorno, além de contribuir a pesquisas da área de Administração da
Qualidade. Particularmente, o intuito maior já foi atingido, o de instigar as atividades de
pesquisa e extensão para melhor contribuir para a prática de ensino-aprendizagem em uma
sala de aula.
3 Método de Pesquisa
A Estratégia de Pesquisa utilizada, para o atendimento dos objetivos do trabalho foi o
Estudo de Caso. Essa estratégia é preferida quando surgem questões do tipo “como” e “por
que”, quando o enfoque do trabalho volta-se à análise de fenômenos contemporâneos em
contextos da vida real e quando o pesquisador não possui consistente controle sobre os
eventos (YIN, 2001). Segundo Merriam (1998), trata-se de estudo ancorado em situações da
vida real, sendo fruto de um rico e holístico relato do fenômeno estudado. Tem, portanto, um
importante papel no avanço da base do conhecimento de um determinado campo teórico que
investiga, sendo mais adequado para acessar uma realidade social.
O Estudo de Caso, um tipo de pesquisa qualitativa diferente das outras modalidades,
tem por característica ter por objeto uma unidade de análise ou um sistema bem delimitado,
que se analisa em profundidade, visando o detalhamento (MERRIAM, 1998; GODOY, 1995;
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STAKE, 1995). Dessa forma, foi abordada uma organização por meio de visitas a mesma que
possibilitaram entrevistas não estruturadas com membros de sua gestão. Não houve registro
de áudio para não inibir o livre relato dos entrevistados. As respostas eram registradas em
anotações que captavam o essencial à pesquisa. Também houve a realização do registro da
linha de produção em anotações e registros das observações simples.
3.1 O Caso Estudado
Sobre a Organização em análise, ela é uma organização estrangeira do setor de
nutrição animal que atua no mercado há mais de 50 anos, porém só se tornaria especialista em
nutrição animal em 1994. Sua atuação engloba a produção das seguintes linhas de produtos:
rações balanceadas para aves, suínos, gado de leite e de corte, cavalos, frangos, carneiros e
avestruzes, peixes e camarões.
Em maio de 2004 em função de uma parceria com um grupo brasileiro também do
setor de nutrição animal a empresa se instala no Brasil, com uma fábrica especializada na
produção de rações de camarões, localizada no Estado da Paraíba na cidade de Guarabira e
com um escritório central em Campinas, no Estado de São Paulo. Posteriormente, em 13 de
maio de 2008, a empresa inaugura a unidade de produção em Caruaru/PE. Essa instalação tem
por finalidade tornar-se mais competitiva no mercado nordestino, aproveitando da localização
estratégica da cidade. O local facilita a distribuição da produção para os estados da Paraíba,
Rio Grande do Norte, Sergipe e Bahia. A empresa localizada em Caruaru produz, no
momento da pesquisa, rações para eqüinos, bovinos, caprinos, e ovinos e conta com 33
funcionários.
4 Análise das Práticas da Qualidade no Caso Selecionado
A qualidade dos produtos e processos da empresa em estudo foi estabelecida por meio
do cumprimento rígido aos padrões e normas nutricionais estabelecidos pelo Ministério da
Agricultura. Este órgão, além de determinar padrões nutricionais, técnicos e sanitários à
fabricação dos produtos, desempenha um forte papel fiscalizador no mercado de alimentação.
Esses padrões servirão de base para que a empresa determine um conjunto de normas e
padrões próprios de fabricação. Ou seja, eles apresentam um forte enfoque no processo
produtivo, onde as atividades desenvolvidas por ela estão ligadas pela engenharia e produção.
Nesse contexto, a qualidade nada mais é do que conformação às especificações, como citado
por Crosby (CARVALHO, 2005), e ao abordar a evolução da qualidade na empresa, esta está
alicerçada em, justamente, garantir que esses padrões sejam cumpridos ao longo do tempo.
Entretanto, quando a qualidade na empresa em questão é determinada como sendo
conformação às especificações, não quer dizer que seu foco está em apenas seguir padrões
pré-estabelecidos para tal. Na pesquisa de campo foi constatado o interesse em atender as
necessidades no mercado de rações animais.
Objetivando a Excelência em Nutrição, a empresa desenvolve um conjunto de
atividades condizentes com a sua natureza operacional, considerando os objetivos específicos
de cada programa e as demandas do ambiente externo em termos de qualidade. São cinco
programas de atividades coordenadas considerados pela literatura exposta e revisada no
trabalho: BPF - Boas Práticas de Fabricação, 5s, gerenciamento visual, instruções de trabalho
e zero defeito. Foi exposto, no referencial teórico, o fato de que um programa depende do
outro para ser realizado. Embora seja relevante esta interdependência, o único programa
dentre os cincos que está totalmente implementado na empresa, em concordância com a
pesquisa de campo, são as BPF. Os demais se encontram em fase de implementação.
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Como a qualidade na organização em questão é definida como conformidade às
especificações, pode-se dizer que o programa adotado na organização é o ponto de partida
para que a qualidade seja viabilizada. As orientações das BPF vão desde a aquisição das
matérias-primas até a distribuição do produto final. A empresa apresenta as suas Boas Práticas
de Fabricação da seguinte forma: (1) Qualificação de fornecedores e controle de matérias-
primas e de embalagens; (2) Limpeza/ higienização das instalações, equipamentos e
utensílios; (3) Higiene e saúde pessoal; (4) Potabilidade da água e higienização do
reservatório; (5) Prevenção de contaminação cruzada; (6) Manutenção e calibração de
equipamentos e instrumentos; (7) Controle integrado de pragas; (8) Controle de resíduos e
efluentes; (9) Programa de rastreabilidade e recolhimento do produto (recall).
Analisando cada uma das nove práticas acima, pode-se concluir que este programa não
se encontra totalmente implementado como a empresa apresenta. A limpeza e a higienização
das instalações, equipamentos e utensílios não estão de acordo com os padrões especificados
pelo programa em consonância com observações realizadas. As observações consistiam em
contrapor o que teorias e normas propagam com o evidenciado. Também observou-se que não
há um controle de pragas eficiente pelo mesmo critério. Não foi observado um controle de
resíduos e efluentes. Embora a empresa levante uma bandeira de desenvolvimento
sustentável, afirmando que norteia todo o seu trabalho no sentido de implementar atividades
de proteção ambiental e de otimizar a fórmula de suas rações. O intuito dessa prática é a
diminuição dos impactos ambientais resultantes de seu processo produtivo. Contudo, os
autores do trabalho estão cientes de que o tratamento de resíduos e efluentes pode se encontrar
em um local na organização que não se teve acesso.
Decompondo os 5’S no caso apresentado, pode-se afirmar que em princípio o primeiro
S, ou seja, o senso de utilização está sendo cumprido. Pôde-se comprovar que, tudo estava
sendo realmente utilizado: máquinas, equipamentos, móveis e instalações. No momento das
visitas a organização, não foram constatados recursos ociosos. Contudo, em pesquisas futuras,
pode-se verificar se a capacidade produtiva da organização encontra-se no limite, pois não foi
constatado folga no processo produtivo.
O senso de arrumação também estava sendo bem executado, cada um dos recursos,
máquinas, equipamentos, móveis e instalações, estavam em lugares destinados a eles. Já o
senso de limpeza era destoante do que prega o programa. A limpeza das instalações é um fator
que enseja cuidados futuros pela organização. No momento das visitas, existiam muita sujeira
e insetos, moscas especialmente, no chão de fábrica. Logicamente, se o fator limpeza
apresenta-se com problemas a serem sanados, pode-se inferir que o senso de saúde, ou seja, a
questão da saúde dos trabalhadores pode ser comprometida. Por fim, com relação ao senso de
disciplina evidenciou-se que os trabalhadores realmente cumprem o estabelecido, por meio
das normas e padrões estabelecidos, mas não por ser uma filosofia comum a todos. Pode-se
inferir que seja por receio de sanções administrativas.
Embora a empresa tenha um discurso de utilizar diversas placas para a gestão visual
das atividades, foi observado o uso efetivo de pouca comunicação visual em suas instalações.
Dentre todas as formas utilizadas para o gerenciamento visual, relatamos as seguintes formas
evidenciadas. A princípio chama à atenção de todos a existência de uma placa contendo três
círculos em diferentes cores, verde, vermelho e amarelo, que sinalizava o ritmo de trabalho a
cada dia. Quando o sinal está verde significa que o ritmo de produção do dia está sobre
controle, está normal. O amarelo representa o alerta, que será necessário aumentar o ritmo de
produção do dia. Por fim, o vermelho indica que a produção está operando em sua capacidade
máxima. Ou seja, o tipo de comunicação visual só servia para “acelerar” o ritmo de produção.
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Outras placas foram encontradas que mostram os locais de risco da empresa. Nelas há
uma classificação que vai desde os lugares seguros até as áreas de perigo de acidente. Na
entrada da organização há uma placa da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes)
apresentando o número de dias sem ocorrência de acidentes na empresa. São utilizadas
também placas indicando o controle de pragas urbanas. Finalizando, foi verificado um painel
indicando o número de dias sem devoluções ou reclamações sobre os produtos, evidenciando
assim, a qualidade dos seus produtos.
A redução da variabilidade é uma das maiores preocupações da organização estudada,
por isso as instruções de trabalho se tornam fundamentais no seu processo produtivo, já que
por meio destas será especificada a maneira correta de executar o trabalho. A empresa faz uso
de instruções de trabalho vindas da ANVISA representada pelas BPF, e também utilizam as
Normas Regulamentadoras do CIPA. Ao utilizar esses procedimentos operacionais, a empresa
espera adquirir melhorias em segurança e em qualidade, fundamentais a qualquer instituição.
A NR-5 CIPA (MINISTÉRIO..., 2010) é uma das práticas que a empresa mais ressalta utilizar
em suas instalações. A informação foi obtida por meio de entrevistas com gestores da
produção. Porém, só foi possível observar estas práticas superficialmente, pois o método
utilizado foi observação simples.
Em relação aos equipamentos de segurança utilizados, podemos constatar que todos os
trabalhadores estavam de posse dos seguintes: roupas apropriadas, botas e capacetes.
Contudo, apenas alguns funcionários dispunham de todo o equipamento necessário que inclui
máscaras, luvas e protetores auriculares. No entanto, julgamos que essa utilização distinta
deve ser em decorrência de que os trabalhadores que utilizam equipamentos específicos o
fazem por ir a setores da organização que se faz necessário.
A empresa também adota o programa Zero Defeito como medida de controle da não
qualidade em suas atividades e em seus produtos, bem como, em cima dos custos advindos de
todo o processo. A gestão da organização tem consciência do impacto dos defeitos em seus
produtos e dos custos de retrabalho que sejam utilizados. Portanto, a organização estabelece
padrões de fabricação ao longo de toda a cadeia produtiva que devem ser restritamente
seguidos por todos os envolvidos, em particular em termos de fornecedores que devem atentar
aos seus padrões estabelecidos. A variabilidade da qualidade dos seus produtos deve ser
minimamente controlada, visto que, o produto final é expressamente especificado por normas
e regulamentos. Porém, foi observado, que apesar de adotar este programa que tem um foco
extremamente preventivo com relação aos erros, a empresa desenvolve mais ações voltadas
para técnicas de inspeção da produção e dos produtos do que ações, propriamente ditas,
preventivas. Esse comportamento contradiz muitas das práticas de qualidade revisadas.
5 Considerações Finais
A empresa em questão define sua qualidade seguindo normas e padrões especificados
por Órgãos Governamentais. Com base nesta acepção de “Conformidade às Especificações”,
a empresa vai estabelecer a sua gestão da qualidade. Apesar de todo um empenho em
viabilizar a qualidade dentro do que é determinado, percebeu-se que a organização não possui
uma gestão da qualidade bem estruturada e definida. Uma gestão sendo representada por um
conjunto de atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização com relação à
qualidade. Sendo este conjunto composto por etapas ou fases, onde cada uma dessas etapas
desempenha uma atividade que servem de base para o início da próxima fase. Etapas que são:
de planejamento, de controle, de garantia e de melhoria da qualidade.
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Constatou-se que a organização faz uso de um conjunto de programas que considera
suas necessidades em termos da qualidade e da natureza operacional dos produtos que oferta.
Porém, desconsidera objetivos específicos de alguns programas e fatores externos,
principalmente, os ambientais, tecnológicos e sociais neste contexto. Apresenta, contudo,
preocupação externa em seguir padrões e normas.
Os cinco programas (BPF, 5s, gerenciamento visual, instruções de trabalho e zero
defeito) utilizados pela empresa desempenham um papel parcial, na medida em que os
mesmos são cumpridos também parcialmente. Nas BPF, as questões (1) de limpeza e
higienização dos equipamentos, instalações e utensílios; e (2) do controle de pragas e do
controle de resíduos e efluentes mostram-se com alguns problemas que devem ser atentados.
Esses problemas devem ir além do cumprimento de padrões sanitários, que são indispensáveis
em produtos alimentícios.
No Programa 5’S, o único senso com problemas evidentes foi o senso de limpeza no
ambiente de trabalho, que no curto prazo acaba influenciando diretamente o senso de saúde.
No programa Zero Defeito um dos seus principais fundamentos utilizados na organização é a
prevenção, devido a uma forte presença de técnicas de inspeção. A empresa possui um
laboratório em suas instalações com a função de inspecionar todo o processo produtivo. Essa
inspeção, que atende às normas de instituições de fiscalização governamental, pode acabar
sendo onerosa a organização. Talvez, uma sugestão que pode ser encaminhada à firma
analisada seria ela desenvolver outras formas de controle como controles estatísticos.
O gerenciamento visual é outra atividade em que não é utilizada em seu potencial
total. A disseminação de informação é muito pequena em comparação com o que seria o ideal,
para contribuir com os objetivos do programa. A disseminação de informações se restringe a
relatar algumas falhas que ocorram no processo produtivo. As Instruções de Trabalho
referem-se às BPF e NR-5 CIPA, no caso das normas do CIPA foram apresentadas
superficialmente, não possibilitando uma análise completa sobre a sua aplicação na empresa.
Entretanto é importante apresentar que a empresa em questão precisa de maior
empenho ao gerir a qualidade em suas instalações, particularmente, no sentido de integrar
todas as práticas da qualidade revisadas no trabalho. O que se constatou foram ações
estanques e sem serem integradas. Talvez isso ocorra devido ao fato de que as práticas de
qualidade na gestão da organização ocorrem em decorrência de normas que a empresa tem
que cumprir e não pelo fato de se adequar a uma filosofia gerencial à qualidade. Esse é o
principal fato que a organização deve desenvolver no futuro.
Portanto, o empenho desejado pela gestão da organização precisa ser combinado com
um conjunto de atividades que realmente contribuam para que a qualidade seja implementada
e viabilizada ao longo de toda a cadeia produtiva. Ou seja, precisa haver um
comprometimento total a partir da alta gerência com um programa de qualidade que obedeça
à natureza operacional da empresa, aos objetivos específicos que um programa promete
atender e aos fatores do ambiente externos como fatores econômicos, sociais, ambientais,
políticos, legais tecnológicos e culturais. Esse comprometimento da alta gerência fará com
que o conjunto de atividades sejam cumpridas totalmente e desempenhem o seu real papel na
busca da qualidade. Ações nesse caminho estão sendo desenvolvidas no campus federal
avançado em Caruaru/PE nos trabalhos desenvolvidos por turmas futuras.
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A Qualidade como estratégia empresarial: um estudo conceitual
Joana Paula Correia da Silva <[email protected]>
Francisco Oliveira Machado <[email protected]>
Resumo: O presente trabalho objetivou desenvolver o entendimento da qualidade como uma
ferramenta da estratégica empresarial para o aprimoramento crítico do seu gerenciamento.
Para tanto, foi desenvolvido um estudo exploratório e bibliográfico com base em obras de
divulgação científica que, de forma direta ou indireta, trata do objeto da pesquisa. O estudo
apresenta uma revisão histórica do movimento pela qualidade e seus principais atores, trata
da evolução do pensamento estratégico e suas principais vertentes e finalmente desenvolve o
entendimento da qualidade sob sua nova perspectiva: a visão estratégica. A partir da
interpretação e análise de textos da literatura acadêmica na área, conclui-se que entender a
qualidade como estratégia empresarial é fundamental para sua utilização como vantagem
competitiva.
Palavras-chave: Qualidade; Gerenciamento; Estratégia; Concorrência.
Quality as corporate strategy: a conceptual study
Abstract: The present paper intended to develop the knowledge about the Quality as an
instrument of the business strategy for the critical improvement of its management. For this
purpose, an exploratory and bibliographical study was developed based on scientific papers
that, in a direct or indirect way, deal with the object of this research. This study presents a
historical review on the Quality Movement and its principal proponent, exposes the evolution
of the Strategic Thought and its principal approaches, and at last develops the discernment of
the Quality under a new perspective: the strategic view. From the interpretation and analysis
of the academic literature on the subject, it is the conclusion that understanding the Quality
as a business strategy is extremely important for its utilization as a competitive advantage.
Keywords: Quality, Management, Strategic Thought, business strategy.
1. Introdução
A concepção de qualidade modificou-se ao longo do tempo acarretando mudanças
relevantes em sua forma de gestão. Essa evolução ocorreu em quatro eras: da inspeção, do
controle estatístico da qualidade, da garantia da qualidade e do gerenciamento estratégico da
qualidade. Nesse processo a qualidade deixa de ser vista como um problema a ser resolvido e
passa a ser considerada uma oportunidade de vantagem competitiva frente à concorrência.
(GARVIN, 2002; PALADINI, 2008).
Em seu processo evolutivo, contudo, a qualidade tornou-se um termo de uso comum,
sendo por isso, difícil de ser precisamente definido. Isso a torna passível de equívocos
conceituais e de erros em sua gestão. Desse modo, ela não pode ser definida aleatoriamente
sob o risco de perca de desempenho da organização no mercado (PALADINI, 2008). A
propósito, Garvin (2002) acrescenta que o problema de algumas empresas não é falta de
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interesse pela qualidade, mas a falta de um correto entendimento sobre ela. E, para ele, este
correto entendimento é fundamental para que ela possa assumir uma função estratégica.
Mediante o exposto, o presente trabalho se propôs a desenvolver o entendimento da
dimensão estratégica da qualidade a partir da combinação de um estudo exploratório e
bibliográfico. A migração da qualidade para o ambiente estratégico das organizações é
apresentada no texto a partir de uma breve exposição do seu panorama histórico, seus
principais teóricos, o desenvolvimento do pensamento estratégico e suas principais vertentes
teóricas e, por conseguinte, a qualidade é analisada sob o ponto de vista estratégico.
Em suma, a qualidade vem tornando-se um fator crucial para a sobrevivência das
empresas, sobretudo em ambientes altamente competitivos. Sendo assim, desenvolver um
correto entendimento de seus vários conceitos e de suas técnicas de gestão é extremamente
relevante para que ela seja aplicada estrategicamente.
2. Procedimentos metodológicos
Podemos dizer que o presente estudo é qualitativo. A categorização foi feita tendo por
base características da investigação qualitativa apontadas por Godoy (1995), Bogdan e Biklen
(1994) e Merriam (1998). No entanto, destaca-se o fato de que, entre os pontos postos por
estes autores, os pesquisadores qualitativos interessam-se mais pelo processo da pesquisa do
que simplesmente pelos seus resultados ou produto. Esse é o intuito principal do presente
artigo, entender melhor o que vem a ser a qualidade em termos estratégicos à organização.
Outra forma de categorizar metodologicamente o trabalho é a encontrada nas
definições, quanto ao tipo de pesquisa, presentes em Vergara (1997) e Gil (1999). Embasados
nesses autores, podemos classificar o presente trabalho quanto à sua finalidade como
exploratório, devido ao fato de seu intuito ter uma visão geral para a realidade teórica que se
delineia. Quanto aos meios de investigação, pesquisa bibliográfica, onde livros e artigos que
englobam os temas em estudo foram considerados. Assim, podemos classificar que os dados
coletados são secundários, oriundos de fontes diversas de informação, pois foram
confeccionados para sanar problemas distintos que não necessariamente diretamente ligados à
temática ou ao problema que o pesquisador está tentando clarificar (MALHOTRA, 2006).
Dessa forma, esses dados consomem menos recursos para a sua obtenção. Todavia, os
mesmos são uma fonte valiosa para identificar o problema de pesquisa e, conseqüentemente,
melhor defini-lo e fazer uma melhor abordagem da situação.
Porém, uma pesquisa de caráter qualitativo nada mais é do que um “guarda-chuva
conceitual” que abarca amplas formas de investigação para auxiliar o pesquisador no
entendimento dos significados do fenômeno social, sem interferir o mínimo sobre eles
(MERRIAM, 1998). Dentre essas formas de investigar, caminhos de condução da pesquisa
qualitativa, insere-se a pesquisa qualitativa básica na qual o ensaio teórico pode ser
classificado. Também, pode-se denominar o estudo como a pesquisa bibliográfica (GIL,
1999). A pesquisa qualitativa básica, segundo Merriam (1998), inclui descrições,
interpretação e entendimentos. Tenta, portanto, identificar padrões recorrentes na forma dos
temas ou categorias de estudo.
No entanto, ao se tratar de um corpus teórico, o problema da representatividade se faz
presente. Contudo, não é possível determinar como o corpus será determinado. Nesse sentido,
surge o conceito de que o corpus estará equilibrado quando o esforço de aumentar o conteúdo
acrescenta pouca variância dialética. O problema é determinar o quanto esse acréscimo será
de fato um acréscimo (BAUER; AARTS, 2002). Dessa forma, a “seleção arbitrária” de
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material teórico na qual o pesquisador irá alicerçar o seu trabalho está presente e será relatado
no referencial teórico do estudo. Também, a questão do corpus pode ser interpretada como
categorias a serem entendidas, daí a delimitação arbitrária de quem está conduzindo a
pesquisa, numa tentativa de o pesquisador compreender melhor o problema/fenômeno que
busca o entendimento. Assim, a necessidade de entrar no referencial teórico surge, pois os
conteúdos categorizados nele são inerentes à classificação de corpus de Bauer e Aarts (2002).
3. Panorama histórico da qualidade
O Código de Hamurabi , um conjunto de leis mesopotâmicas que datam do século
XVIII a.C, já apresentavam indícios de preocupação com a qualidade. Ou seja, não é um fato
novo em termos históricos da humanidade (GARVIN, 2002; OLIVEIRA et al, 2006).
Contudo, em termos atuais, para melhor compreendermos o processo evolutivo da qualidade
ao longo do tempo, podemos organizá-lo em quatro eras, segundo Garvin (2002): (1) a era da
inspeção; (2) a era do controle estatístico; (3) a era da garantia da qualidade; e (4) a era da
gestão estratégica da qualidade.
Na era da inspeção quase tudo era fabricado artesanalmente. Os artesões detinham o
controle de todo processo, desde a concepção ao pós-venda. As peças eram personalizadas e
manualmente ajustadas, conforme o cliente solicitasse. Antes de serem comercializadas, as
peças produzidas eram individualmente vistoriadas. Através da inspeção os artífices
procuravam garantir qualidade em seus produtos a fim de obterem boa reputação entre seus
clientes (GARVIN, 2002; OLIVEIRA et al, 2006; CARVALHO e PALADINI, 2005).
Com o advento das máquinas emerge o sistema de produção em massa. Os produtos
precisam ser produzidos em fluxo e em grandes quantidades a fim de atenderem uma
demanda cada vez mais crescente. O artesão deixa de ter controle sobre o processo e a
inspeção produto a produto torna-se inviável. Passa-se então à inspeção por amostragem e ao
controle estatístico do processo. As peças agora são inspecionadas também durante o processo
de fabricação. Assim, o próprio processo também passa a ser controlado e aperfeiçoado.
Surgem eficientes técnicas de amostragem e gráficos de controle do processo (GARVIN,
2002; CORRÊA, 2003; OLIVEIRA et al, 2004; CARVALHO e PALADINI, 2005).
A era da garantia da qualidade, apesar de manter o objetivo precípuo das eras
anteriores, acrescenta quatro elementos distintos ao gerenciamento da qualidade: a
quantificação dos custos da qualidade, o controle total da qualidade, a engenharia da
confiabilidade e o zero defeito (GARVIN, 2002). A relação entre qualidade e custo, até então,
era vista de forma negativa. Sendo assim, procurava-se evitar os defeitos porque
representavam custos para a organização. Para Carvalho e Paladini (2005), esses custos
podem ser classificados do ponto de vista do processo ou do ponto de vista do produto. Do
ponto de vista do processo, tem-se os custos de conformidade e da não-conformidade. Da
perspectiva do produto, tem-se os custos com prevenção, análise e falhas, sejam internas e/ou
externas.
Os custos de conformidade estão relacionados ao fornecimento de bens e serviços
dentro das especificações. Os de não-conformidade, por outro lado, resultam da ineficiência
do processo: refugos, desperdício de mão-de-obra, tempo de retrabalho, etc. Os custos de
prevenção abragem aqueles relacionados à observação e identificação de problemas antes da
matéria-prima ser posta em fabricação. Os custos de avaliação, por sua vez, envolvem aqueles
direcionados para a verificação do nível de qualidade alcançado pelos produtos. Os custos
com falhas internas e externas incluem aqueles custos decursivos de erros da fabricação de
peças defeituosas. Quando identificadas internamente na organização, os custos decorrem de
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falhas internas. Depois de postas no mercado acarretão custos por falhas externas.
(OLIVEIRA et al, 2006)
A era da garantia da qualidade promove também uma visão sistêmica do processo de
gestão da qualidade. Segundo Garvin (2002 p.16), “o sistema da qualidade passara a incluir
agora o desenvolvimento de novos produtos, a selecão de fornecedores e o atendimento aos
clientes, além do controle da fabricação”. O controle da qualidade agora é total. Não mais é
exercido apenas no processo produtivo, mas em todos os possíveis elementos que, direta ou
indiretamente, influem no nível de qualidade dos produtos. Dentro dessa perspectiva, todos na
organização passam a ser responsáveis pela garantia da qualidade e não mais um setor
específico.
A engenharia da confiabilidade emerge na era da garantia da qualidade como uma
teoria que considera, conforme Garvin (2002, p.17),”um desempenho aceitável do produto ao
longo do tempo”. De acordo com Oliveira et al (2006), o processo produtivo passa por uma
fase de adapção, de operação normal e de desgaste. Iniciamente, as taxas de falhas são altas,
gradativamente tornam-se constantes e baixas e, finalmente, essas taxas de falhas aumentam e
produto deteriora.
Apesar das consideráveis inovações conceituais e técnicas introduzidas na era da
garantia da qualidade (mensuração dos custos com a qualidade, controle total da qualidade,
engenharia da confiabilidade e zero defeito), a atitude empresarial diante da qualidade ainda
era defensiva. A qualidade continuou sendo encarada de forma negativa. De modo que ignorá-
la traria prejuízos para a empresa. Até então a qualidade não era percebida como uma possível
arma contra a concorrência (OLIVEIRA et al, 2006; GARVIN, 2002).
Do ponto de vista de Garvin (2002), mudanças nos níveis de exigências dos
consumidores e forças externas relacionadas a perca de rentabilidade e de participação no
mercado vêm conduzindo as organizações a uma nova perspectiva sobre a qualidade e sua
gestão. Paladini (2008) acrescenta que, sob a perspectiva estratégica, a qualidade é um fator
indispensável para a sobrevivência da empresa e um elemento básico na busca por liderança
no mercado.
Com a abordagem estratégica a qualidade passa a ser concebida do ponto de vista do
cliente e a ser associada a lucratividade devendo ser, portanto, inclusa no planejamento
estratégico. Dentro desta perspectiva, Paladini (2008) concebe a qualidade como uma relação
de consumo, onde os requisitos do cliente definem qualidade e determinam os níveis a serem
entregues. Essa definição, no entanto, é feita comparativamente em relação aos concorrentes.
Em seu processo evolutivo a qualidade foi definida e gerenciada de maneiras
diferentes. Garvin (2002), no entanto, categorizou seus múltiplos conceitos em cinco
abordagens principais: (1) a abordagem transcendental; (2) a abordagem baseada na
manufatura/processo; (3) a abordagem baseada no usuário; (4) a abordagem baseada no
produto; e (4) a abordagem baseada no valor.
Do ponto de vista de Paladini (2008) a abordagem baseada no usuário é mais completa
pois, de certa forma, inclui as demais. Os esforços voltados para (1) a otimização dos
processos (abordagem baseada nos processos); (2) a preocupação com a funcionalidade e
características dos produtos (abordagem baseada nos produtos); (3) os investimentos na
consolidação da marca (abordagem transcendental); (4) assim como os cuidados com os
custos de produção e o valor de venda do produto (abordagem baseada o valor) estão sob o
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mesmo objetivo: um eficiente atendimento do mercado, ou seja, a satisfação dos
consumidores.
A seguir apresentaremos os principais teóricos da qualidade e suas respectivas
contribuições para a construção e desenvolvimento do conceito e gestão da qualidade.
4. Os Gurus da Qualidade
Os conceitos a respeito da qualidade evoluíram mediante a contribuição de muitos
teóricos. No entanto, dentre estes, alguns merecem destaque em virtude da maior influência
que exerceram no desenvolvimento do campo da qualidade, sendo por isto, entitulados de
“gurus da qualidade”. De acordo com Carvalho e Paladini (2005), são estes os mais
mencionados na literatura acadêmica e profissional: Walter A. Shewhart, W. Edwards
Deming, Joseph M. Juran, Armand Feigenbaum, Philip B. Crosby, Kaoru Ishikawa, Genichi
Taguchi e David A. Garvin. Segue a apresentação desses teóricos e suas principais idéias e
aborgagens sobre a qualidade e seu gerenciamento.
Walter A. Shewhart nasceu nos Estados Unidos em 1891 e formou-se em engenharia,
com doutorado em física pela Universidade da Califórnia, em Berkeley. Foi atuando como
engenheiro no ambiente empresarial que Shewhart deu suas principais contribuições ao
campo da qualidade. A partir de várias observações percebeu que os processos apresentavam
variações aleatórias e variações intermitente. Aquelas eram consideradas inerentes ao
processo enquanto estas poderiam ser identificdas e sanadas proativamente. Para tanto,
desenvolveu métodos gráficos para serem utilizados pelo chão-de-fábrica no controle da
qualidade. Por isso ficou conhecido com o pai do controle estatístico da qualidade. Além
disso, propôs o ciclo PCDA (plan-do-check-act), metodologia altamente difundida por seu
discípulo Deming (CARVALHO e PALADINI, 2005).
William Edwards Deming, por sua vez, nasceu nos Estados Unidos em 14 de outubro
de 1900 e graduou-se em engenharia elétrica em 1921 e fez mestrado e Ph. D em matemática
e física. Além disso, estudou música e tocava vários instrumentos e compunha. Considerado o
pai do controle da qualidade no Japão, suas principais contribuições referem-se a formulação
de uma filosofia de gerencia baseada em 14 pontos de mudanças e ao desenvolvimento do
ciclo PDCA (plan-do-check-act), uma instrumento de melhoria contínua da qualidade
(CARVALHO e PALADINI, 2005; CORRÊA; CORRÊA, 2008; MOREIRA, 2009).
Joseph M. Juran Juran nasceu na Romênia em 1904 e, em 1912, migrou para os
Estados Unidos onde graduou-se em engenharia e direito. Com a publicação, em 1951, de seu
Quality control handbook (Manual de controle da qualidade), alcançou projeção mundial. Foi
o primeiro a propor uma abordagem dos custos da qualidade categorizando-os como custos de
falhas, externas e internas, de prevenção e avaliação. Além disso, Juran propôs a trilogia da
qualidade, um processo de planejamento da qualidade que se desenvolve em três fases:
planejamento, controle e melhoria (CARVALHO e PALADINI, 2005; CORRÊA; CORRÊA,
2008).
Armand Feigenbaum, por conseguinte, é natural dos Estados Unidos. Formou-se em
engenharia e cursou doutorado em ciências no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Foi pioneiro em trata da qualidade maneira sistêmica e em 1951, através do seu livro Total
Quality Control estabelece os princípios do controle total da qualidade (TQM). (CARVALHO
e PALADINI, 2005; CORRÊA; CORRÊA, 2008)
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Philip B. Crosby nasceu nos Estados Unidos, em 1962, e graduou-se em engenharia.
No ano de 1957 lançou o programa zero defeito e, à semelhança de Deming, divulgada 14
pontos prioritáriaos para a qualidade (CARVALHO e PALADINI, 2005).
Nascido no Japão em 1915, Kaoru Ishikawa graduou-se em química aplicada pela
Universidade de Tóquio e obteve o doutorado em 1950. iniciou o movimento CQWC –
Company Wide Quality Control (Controle Total da Qualidade para Toda Empresa) entre 1955
e 1960. Do modelo proposto por Ishikawa emerge dois importantes instrumentos para o
gerenciamento da qualidade: As sete ferramentas da qualidade (diagrama de causa e efeito,
estratificação, folhas de checagem, histogamas, diagrama de correlação e gráficos de controle
do processo) e os Cìrculos de Controle da Qualidade (CCQ).
Genichi Taguchi nasceu no Japão em 1924. É graduado em engenharia e estatística,
doutorousse em 1962. Tinha grande interesse no desenho de experimentos, publicando seu
primeiro livro sobre o tema em 1958. Taguchi analisou o impacto social da qualidade e
propôs a idéia da qualidade desde o projeto (CORRÊA, 2003; CORRÊA; CORRÊA, 2008;
PALADINI 2008).
Por fim, David A. Garvin nasceu nos Estados Unidos, tornou-se Ph.D. em economia
pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e lecionou em Havard Business School.
Em seu livro Managing Quality (Gerenciando a Qualidade), contribui significativamente para
o desenvolvimento e consolidação da dimensão estratégica da qualidade (CORREA;
CORRÊA, 2008).
As contribuições dos referidos teóricos foram, sem dúvida, fundamentais para o
desenvolvimento do campo da qualidade. Além do mais, muitas de suas abordagens
fundamentam as diferentes definições e formas de gerenciamento da qualidade concebidas e
aplicadas por muitas empresas atualmente.
5. Alguns conceitos sobre estratégia no mundo empresarial
O pesamento estratégico precede de longo tempo e está alicerçado em estudos
militares. De acordo com Mintzberg et. al. (2000, p.24), “o início dessa literatura [ocorreu]
em meados dos anos 60, [...] mas os escritos sobre estratégia militar vão muito mais longe: de
fato Sun Tzu escreveu The Art of War aproximadamente no século IV a.C”.
Ghemawat (2007) acredita que na Grécia antiga o termo strategos, da qual deriva a
palavra estratégia, era ultilizado para intitular o comandante-chefe. Conforme o autor, foi no
ambiente da Segunda Revolução Industrial, por volta do século XX nos Estados Unidos, que
o conceito de estratégia foi introduzido no ambiente de negócios. Na opinião do autor, esse
momento assistiu ao surgimento de grandes corporações que passaram a influenciar
consideravelmente o ambiente competitivo dos seus setores ou mesmo superar esses limites.
Dessa forma, naturalmente, “a necessidade de haver um pensamento explicitamente
estratégico foi articulada pela primeira vez, por administradores de alto escalão dessas
empresas” (GHEMAWAT, 2007 p. 17).
No entanto, a visão estratégica emergiu no ambiente empresarial ainda associda a
idéias de como vencer o inimigo e, de acordo com Fernandes e Berton (2005), para Carl Von
Clausewitz, pai da estratégia militar moderna, três são os alvos para vencê-los: a avaliação das
forças do inimigo, dos seus recursos e da sua disposição para lutar. Dessa forma, Clausewitz
enfatiza os fatores psicológicos da guerra, aos acidentais e ao caráter situacional das
estratégias (FERNANDES; BERTON, 2005).
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De acordo com Fernandes e Berton (2005), no pós-guerra, a concepção de estratégia
foi introduzida nos métodos de gestão ainda com enfoque em aspectos militares, com o intuito
de vencer na batalha por mercado. Porém, nesse novo cenário, essa concepção amplia-se no
sentido de ser também uma forma de concretizar uma situação futura desejada, considerando
tanto as oportunidades que o mercado oferece como os recursos que a organização dispõe.
O surgimento de grandes corporações, de escolas de administração e de consultorias
na área de estratégia contribuiu para a adaptação do termo ao ambiente empresarial e para a
ampliação dos estudos no campo.
Mintzberg et al. (2000) define estratégia com seus Cinco P’s: plano, padrão,
perspectiva, posição e truque (do inglês ploy). Admitindo que estratégia é posicionar-se em
um setor competitivo, ela pode ser interpretada pelo gestor como “desempenhar atividades
diferentes das exercidas pelos rivais ou desempenhar as mesmas atividades de maneira
diferente” (PORTER, 1999, p. 48). Estratégia pode ser definida como a melhor utilização de
recursos e capacidades internos da organização adequando-os aos riscos e tirando melhores
oportunidades fornecidas pelo ambiente (GRANT, 1991).
“Estratégia é buscar uma vantagem competitiva sobre os concorrentes e, ao mesmo
tempo, diminuir a erosão das vantagens atuais” (DAY, 1999, p. 59). Assim, podemos concluir
que para se ter evidenciado o conceito de estratégia, três elementos principais devem estar
envolvidos: a organização em questão, um ou mais oponentes, ora denominados de
concorrentes, e o diferencial ou vantagem competitiva.
No longo prazo, a vantagem competitiva é erodida através da depreciação da
vantagem dos recursos e capacidades da firma e da imitação dos rivais. A velocidade dessa
erosão depende das características desses recursos e capacidades, bem como, da forma como
os mesmos são gerenciados (GRANT, 1991). No entanto, vale destacar o questionado por
Ghemawat (1998) sobre duas vertentes: apontando às vantagens competitivas que tendem a
serem de fato sustentáveis e ao porquê delas serem. Nesse sentido, conclui que as vantagens
que se sustentam estão inclusas em três categorias: (1) porte da organização no mercado-alvo
em que atua; (2) acesso superior a clientes ou recursos; e (3) restrições nas opções dos
concorrentes.
Nesse sentido, Day (1999) aponta duas perspectivas que apontam às origens das
vantagens competitivas, elas são resultados: (1) da posição da organização na indústria em
que atua, por meio do entendimento do conjunto de forças estruturais, atuando por meio de
diferenciação ou de custos, retomando aos conceitos propostos por Porter (1999); ou (2) do
gerenciamento de seus recursos e capacidades de difícil imitação, identificação, entendimento
e imitação pela concorrência, que sejam de valor inestimado pelo mercado e que a
organização possua, o que é característica da Visão Baseada em Recursos (RBV – Resource-
Based View) (BARNEY, 1991).
Assim sendo, ao se ter por base esses conceitos apontados, podemos dizer que a
organização, para ter sucesso, dentre outras coisas, deve ter um leque, real e potencial, de
recursos, tangíveis e intangíveis, especialmente segundo Ray et al. (2004), a gerenciar. A
forma como a firma gerencia e processa esses recursos irá culminar com a vantagem
competitiva perante a sua concorrência. No entanto, para lidar com esses recursos, as
habilidades dos trabalhadores, bem como suas percepções, conflitos, interesses, são fatores
determinantes para a obtenção da competitividade da firma.
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Assim sendo, “os recursos humanos existentes na firma proporcionam tanto um
estímulo à sua expansão como um limite à taxa de seu crescimento”, segundo Penrose (2009,
p. 15) que defende a necessidade da coerência da organização ao fazer uso os insumos dos
recursos administrativos existentes. Nesse sentido, um paralelo com Mintzberg (1978) pode
ser traçado no que tange à manutenção de um padrão estratégico, em três forças básicas
(ambiente, liderança e burocracia) pelas organizações por ele estudadas para sustentação de
sua competitividade. Ou seja, para Mintzberg (1978), o padrão da formação estratégica deve
atentar para esses três fatores. No caso particular deste artigo, destaca-se a questão do
ambiente como fator preponderante no sentido em que ele determina as mudanças em termos
da adequação da qualidade em termos de gestão para atender a clientela da firma. No entanto,
o crescimento que a firma desenvolve deve se voltar para a sua história, na qual a expansão é
“essencialmente um processo evolucionário e está baseado no incremento cumulativo do
saber coletivo, dentro do contexto de uma firma dotada de propósitos” (PENROSE, 2009, p.
16).
Recursos podem ser entendidos como qualquer coisa que pode ser pensada em termos
de força ou fraqueza de uma firma, que deve olhar para o setor onde esteja e tirar melhor
proveito de seus recursos, ao longo do tempo. Mais precisamente, os recursos de uma firma
são definidos como aqueles ativos, tanto tangíveis e/ou intangíveis, que têm vínculos semi-
permanentemente à firma, que deve gerenciá-los para criar “barreiras” à concorrência. São
exemplos de recursos: marcas; conhecimento interno, em particular lealdade da clientela e
experiência de produção; habilidades pessoais; rede de contatos; maquinaria; capital. Dessa
forma, o que uma firma deve fazer, para competir, é criar uma situação onde sua posição, em
uma dada indústria, com seus recursos diretamente ou indiretamente são mais difíceis para os
outros alcançarem (WERNEFELT, 1984).
O gerenciamento eficaz dos recursos pode vir a se tornar a base para a sustentação de
vantagem competitiva sustentável. Barney (1991) distingue os conceitos de vantagem
competitiva, que é a criação de valor não simultaneamente aos concorrentes que a firma
possua, de vantagem competitiva sustentável, na qual a característica de não ser copiada pelo
concorrente é acrescida ao primeiro conceito. Nesse sentido, a firma que detém vantagem
competitiva com recursos que são homogêneos e móveis entre as organizações pode, em
qualquer tipo de indústria, não desfrutar de vantagem competitiva sustentável. Uma forma de
mantê-la sustentável não é apenas o fato da organização ser um first moving a um novo
mercado, pois, facilmente, os recursos serão copiados. Notadamente, as mudanças necessárias
ao atendimento das exigências dos clientes se faz fator chave, nessa questão pode-se
considerar a qualidade
Retornando ao entendimento dos recursos, segundo Barney (1991) eles devem possuir
quatro atributos: (1) devem ser valiosos; (2) ser raros; (3) imperfeitamente imitáveis; e (4) não
possuir um recurso que seja substituto. Dessa forma, para obter vantagem competitiva
sustentável, a organização deve ter recursos com essas quatro características sendo, portanto,
heterogêneos e imóveis. Barney (1991) ao apresentar seu modelo, alega o fato de que as
organizações, ao se prenderem ao planejamento formal, deixam possibilidades para outras,
concorrentes ou não, conhecerem e entenderem a dinâmica do uso dos recursos. Assim, a
possibilidade de se ter um processo de fazer estratégias informalmente pode acrescentar
raridade no processo de formação da estratégia, quando o processo formal não tem êxito.
Nesse caminho, pode-se dizer que o processo de acumulação e aprendizado sobre os
recursos e capacidades, aqueles que são valiosos, raros, de imitação dispendiosa, e de difícil
substituição (BARNEY, 1991), culminam com o surgimento de competências essenciais.
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Essas competências são o fruto da aprendizagem e do desenvolvimento coletivo da
organização, que coordena diversas habilidades produtivas e integra múltiplas correntes
tecnológicas (PRAHALAD; HAMEL, 1990).
Para Ghemawat (2007 p.15), revisar a história do pensamento estratégico é
interessante pelas seguintes razões: constitui uma abordagem menos arbitrária ao estudo do
tema, organiza os mutáveis conceitos sobre estratégia e desenvolve uma noção mais
informada dos rumos do campo no futuro.
6. As Principais escolas de estratégia
Mintzberg et al. (2000 p. 15) acreditam que “a literatura de administração estratégica é
vasta” e o termo requer muitas definições. Retornando aos conceitos destacados por estes
autores, temos que a estratégia pode ser definida como plano, padrão, posição, perspectiva ou
truque. A estratégia é um plano quando serve de direção, guia ou curso de ação para o futuro,
sendo por isso, chamada também de estratégia pretendida. É um padrão quando refere-se a
“consistência de um comportamento ao longo do tempo”, sendo também denominada de
estratégia realizada. A estratégia é vista como uma posição quando diz respeito a “localização
de determinados produtos em determinados mercados”. É definida como uma perspectiva ao
referir-se a “maneira fundamental de uma organização de fazer as coisas”. Por fim, a
estratégia é um truque quando consiste em uma forma específica de burlar o adversário
(MINTZBERG et al., 2000, p.17-20).
A partir dessas cinco definições os referidos autores apresentam dez escolas da
estratégia onde cada uma trata do seu processo de formulação sob diferentes perspectivas. São
elas: a Escola do Design, que considera a formulação da estratégia como um processo de
concepção; a Escola do Planejamento, onde a formulação da estratégia é vista como um
processo formal; a Escola do Posicionamento, que apresenta a formulação da estratégia como
um processo analítico; a Escola Empreendedora, que concebe a formulação da estratégia
como um processo visionário; a Escola Cognitiva, que tem a formulação da estratégia como
um processo mental; a Escola de Aprendizado, segundo a qual a formulação da estratégia é
como um processo emergente; a Escola do poder, que defende a formulação da estratégia
como sendo um processo de negociação; a Escola Cultural, que apresenta a formulação da
estratégia como um processo coletivo; a Escola Ambiental, que vislumbra a formulação da
estratégia como sendo um processo reativo; e, por fim, a Escola da Configuração cuja
formulação da estratégia é vista como um processo de transformação.
A apresentação das diferentes abordagens ao processo de formação de estratégia
mostrou-se importante para uma breve revisão do campo servindo para melhorar nossa
compreensão sobre o assunto e situar nosso entendimento e visão da qualidade nesse
processo. A partir de então, tratar sobre a qualidade como estratégia empresarial torna-se mais
pertinente.
7. A Qualidade como estratégia empresarial
De acordo com Garvin (2002), o surgimento da dimensão estratégica da qualidade não
foi marcado por nenhum evento em especial. Na verdade, algumas empresas ainda acreditam
que a garantia da qualidade continua sendo o último e mais significativo desenvolvimento da
área. Contudo, para o autor, a partir dos anos 70 e 80 essa visão vem se modificando. Paladini
(2008) ratifica, afirmando que as contínuas alterações nas expectativas dos consumidores bem
como o acirramento da concorrência tem conduzido a alta gerência a uma visão estratégica da
qualidade . Garvin (2002, p. 28) acrescenta que:
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Devido às grandes quantias envolvidas, essas forças externas tiveram o efeito
previsível de sensibilizar a alta gerência para a qualidade dos produtos. Com a
reputação no mercado e rentabilidade de suas companhias em risco, o assunto não
mais podia ser ignorado. Tampouco podia ser relegado aos níveis mais baixos da
organização, onde as lealdades funcionais poderiam interferir numa visão estratégia
mais ampla. O que surgiu disso tudo foi uma nova abordagem da qualidade,
fortemente influenciada pelas preocupações da gerência superior.
Para Garvin (2002), o primeiro passo para uma correta compreensão da dimensão
estratégica da qualidade é redefinir o termo. Dentro dessa nova perspectiva qualidade é
definida do ponto de vista do consumidor que a avalia comparativamente em relação a
concorrência. Isso implica dizer a qualidade agora está sob uma visão voltada para fora. Ela
deixa ser comparada com padrões fixos e internos passando a ser concebida a partir do olhar
do cliente. Dentro desta perspectiva, Paladini (2008) vê a qualidade como uma relação de
consumo. já que são os consumidores quem a define e a avaliam.
Nessa ocasião, Paladini (2008 p.3) considera que qualidade também deixa de ser um
“termo técnico exclusivo” e passa a ser “um termo de domínio público”. Isso conduz as
organizações a uma multiplicidade de conceitos de qualidade. Por isso, o referido autor (p.15)
sugere que “os esforços para criar uma definição específica que deve caracterizá-la
tecnicamente” e considera que qualquer conceito para a qualidade: (1) não deve entrar em
conflito com a noção intuitiva das pessoas; (2) não deve contrariar procedimentos
consagrados; e (3) deve observar se a inovação proposta de fato representa ganho de mercado.
Frente à necessidade de se traduzir corretamente a noção de qualidade dos
consumidores, a pesquisa de mercado torna-se, sem dúvida, um instrumento sobremodo
apropriado. Ela é também um indicador de como a empresa deve posicionar seus bens ou
serviços no mercado. Essa preocupação com a atitude da empresa no ambiente externo
envolve interesses estratégicos e competitivos da gêrencia. Dessa feita, a qualidade torna-se
um elemento do planejameto estratégico usufruindo, portanto, das habilidades conceituais dos
altos executivos. A qualidade passa a ser, então, uma função gerencial (GARVIN, 2002).
É interessante observar também que a dimensão estratégica da qualidade exige das
organizações uma contínua adequação às necessidades dos consumidores. Isso, naturalmente,
desencadeia um processo de melhoria contínua, que por sua vez, acirra a disputa
mercadológica. Contudo, é fundamental que os funcionários compreendam a importância
dessa contínua melhoria em qualidade como uma questão de sobrevivência da empresa e deles
mesmos. Para tanto, é preciso que haja uma internalização da ética da qualidade e que se
desenvolva uma cultura em que todos sintam-se responsáveis por ela. Todos devem estar
engajados na tarefa de garantir qualidade aos bens e serviços da organização a fim de que esta
possa utilizá-la como uma eficiente arma contra a concorrência (GARVIN, 2002; PALADINI,
2008).
8. Considerações finais – Algumas discussões
O conceito de qualidade é dinâmico. Muda conforme se altera o contexto em que as
pessoas e organizações estão inseridas. Dessa feita, o processo evolutivo da qualidade
promoveu sua expansão conceitual e popularização. Ela deixa de ser encarada como um
problema a ser resolvido através de inspeção, de controle e de coordenação proativa para ser
considerada uma possível arma contra a concorrência. Assim, emerge sua dimensão
estratégica, foco de estudo do presente trabalho. Dentro desta linha, Garvin (2002 p 45)
afirma que “[essa] nova abordagem incorpora importantes elementos das três primeiras eras
[...], mas dá um passo adiante, vinculando a qualidade ao sucesso na concorrência”.
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Nesse sentido, temos que o conceito de estratégia de Grant (1991), que a defini como a
melhor utilização de recursos e capacidades internos da organização, adequando-os aos riscos
e tirando melhores oportunidades fornecidas pelo ambiente, adequa-se ao entendimento da
qualidade como sendo de cunho estratégico à organização. Também, ao considerar estratégia
como sendo a busca de vantagem competitiva sobre a concorrência em paralelo com a busca
da organização em tentar diminuir a erosão das vantagens conquistadas e tratadas atualmente
(DAY, 1999), podemos considerar a qualidade no cerne do processo organizacional como
essa tentativa. Nesse sentido, pode-se concluir que a qualidade, enquanto aspecto de gestão ou
de processo produtivo é um dos principais recursos que a organização detém e faz seu
gerenciamento de modo a superar a concorrência (GRANT, 1991; BARNEY, 1991).
Como foi dito anteriormente, para Garvin (2002), o primeiro passo para uma correta
compreensão da dimensão estratégica da qualidade é redefinir o termo, passando a inserir a
acepção estratégica em seu cerne. Por isso, a qualidade, como nova perspectiva, é definida do
ponto de vista do consumidor que a avalia comparativamente em relação a concorrência. Isso
implica dizer a qualidade agora está sob uma visão voltada para o ambiente e contribui para o
posicionamento competitivo da empresa e à manutenção da vantagem competitiva (PORTER,
1990). A qualidade passa a ser um aspecto de dinâmica competitiva interna da empresa.
Dentro desta perspectiva, Paladini (2008) vê a qualidade como uma relação de consumo. já
que são os consumidores quem a define e a avalia. Dito de outra forma, a qualidade pode ser a
forma de “desempenhar as mesmas atividades de maneira diferente” (PORTER, 1999, p. 48)
que foi mencionada. Torna-se, portanto, um atributo de estratégia competitiva sem par.
Nessa ocasião, Paladini (2008 p.3) considera que qualidade também deixa de ser um
“termo técnico exclusivo” e passa a ser “um termo de domínio público”. Quando Paladini
(2008, p.15) sugere que “os esforços para criar uma definição específica que deve caracterizá-
la tecnicamente” devemos considerar que qualquer conceito para a qualidade: (1) não deve
entrar em conflito com a noção intuitiva das pessoas; (2) não deve contrariar procedimentos
consagrados; e (3) deve observar se a inovação proposta de fato representa ganho de mercado.
Contudo, esses mesmos preceitos, em relação ao crescimento da firma já foi tratado na
metada do século XX por Penrose (2009) quando alegava que o mais importante recurso em
firmas dotadas de próposito eram as pessoas. Para essa autora, as pessoas são as responsáveis
pela adoção do procedimento mais acertado à organização e que sua percepção acerca do que
aprendem com as rotinas e procedimentos gerenciais são fatores de êxito empresarial.
Dessa forma, finalizamos o estudo cientes de que não esgotamos as diversas
possibilidades de debates que envolve o tema “qualidade e estratégia”. Contudo, como
observado nos procedimentos metodológicos tendo por base Bauer e Aarts (2002), o viés do
nosso corpus teórico de estudo possibilitou os comentários postos nessa conclusão que
referenda sob nossa perspectiva a importância de se ter a qualidade como recurso chave à
estratégia empresarial. Nesse viés reside a contribuição acadêmica do estudo. No entanto,
críticas ao mesmo são inerentes e como sugestão a desenvolvimento de estudos futuros
podemos mencionar pesquisas empíricas que se voltem ao entendimento da gestão
empresarial para a qualidade como sendo o principal recurso a ser gerenciado.
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Evolução da Gestão Empresarial Através do Programa Gaúcho de
Qualidade e Produtividade (PGQP).
Tatiane da Silva Dias <[email protected]>
Flávio Régio Brambilla <[email protected]>
Mare Rozeli Araujo Frois <[email protected]>
Tiago Bagatini <[email protected]>
Rafael de Jesus Machado <[email protected]>
Resumo: A busca pela excelência na gestão é um objetivo almejado pelas empresas. O
Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP) tem como objetivo estimular,
articular e promover ações visando tornar competitivos os produtos e serviços das
organizações do Estado do Rio Grande do Sul, por meio da melhoria na qualidade e
produtividade. O Sistema de avaliação foi adotado com base nos critérios de excelência do
Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), criado a partir do modelo Malcolm Baldrige National
Quality Award (1987), dos Estados Unidos.
Palavras-Chave: Qualidade; Excelência; Evolução; Sistema de Avaliação.
1. Introdução
Buscar excelência na gestão é objetivo comumente mencionado pelas empresas. Esta
meta se complementa junto ao reconhecimento pelo trabalho, esforço e dedicação para que
esse objetivo se concretize.
Como forma de atingir este objetivo se faz necessária a implantação de um sistema de
gestão da qualidade focado na melhoria contínua e na excelência em produtos e serviços.
Segundo Paladini (2010), por estar fisicamente presente em sua geração, o cliente interfere na
produção do serviço, sendo um elemento que altera por inteiro o processo de gestão da
qualidade.
Esta implantação deve ser de entendimento de toda a empresa. Desde sua alta direção
e dos envolvidos na elaboração de relatórios de gestão, onde serão apresentadas as práticas
que a empresa executa buscando a sua excelência e melhoria contínua a cada ano de sua
gestão, até os processos e pessoal de fábrica.
O Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP) tem como um dos seus
principais produtos o Sistema de Avaliação. Trata-se de um instrumento para o diagnóstico
organizacional, que verifica o estágio de desenvolvimento gerencial das organizações,
identificando lacunas e possibilitando a elaboração do Plano de Ação do Sistema Gerencial
(PASG) (PGQP, 2010).
2. Qualidade
O processo de Gestão da Qualidade envolve um conjunto de referenciais que
direcionam todas as suas ações. Os mais relevantes, referem-se à forma como se entende
qualidade. Ou seja, como cada organização adota o conceito qualidade (PALADINI, 2010).
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Segundo Juran (1992) qualidade envolve todas as características do produto que
atendem as necessidades dos clientes e o satisfazem. O autor divide a gestão da qualidade em
três pontos fundamentais: planejamento, controle e melhoria.
Usando a definição de Juran (1992), se observa que o planejamento da qualidade é
necessário para inúmeros produtos, e não apenas para os bens e serviços que são vendidos aos
clientes. Também se aplica aos produtos internos da firma, como pedidos de compras,
relatórios e faturas. O planejamento é necessário também a outros processos internos da
empresa, como o recrutamento de funcionários, previsão de vendas e atividades variadas
(JURAN, 1992).
Conforme Juran (1992), o controle pode ser definido como a execução dos planos,
incluindo o monitoramento das operações e as ações para restauração de status se ocorrer
variâncias. A melhoria é exigida quando da existência de problemas crônicos, solicitando
diagnóstico para que sejam descobertas as causas e provendo soluções aos mesmos.
As organizações para a Gestão da Qualidade Total requerem a estruturação de um
departamento de administração da qualidade em tempo integral. É necessário também a
definição do nível de envolvimento de cada setor no processo de qualidade e a necessidade de
um fluxo de informações exclusivo para a qualidade. Sugere-se que seja criado um sistema de
avaliação de desempenho relacionado aos objetivos, e que possa permanentemente monitorar
as ações desenvolvidas (JURAN, GRYNA, 1992).
A definição de qualidade não se limita ao padrão, mas também inclui a sua utilização.
Padronização implica na execução do trabalho conforme os parâmetros e requer aprovação
dos usuários (CAMPOS, 2004). Qualidade pode ser baseada na experiência do cliente com o
produto ou serviço, com a mensuração da sua satisfação, representando um objetivo no
movimento do mercado competitivo.
A razão da existência da empresa é a satisfação das necessidades das pessoas.
Portanto, ela deve suprir essas necessidades com produtos e serviços esperados pelos clientes
e pelo mercado (SELEMER, STADLER, 2008). Os interesses dos acionistas e funcionários
também devem ser contemplados.
Qualidade, então, é a totalidade de características de alguém, ou de alguma coisa,
que lhe confere a capacidade de atender a necessidades explicitas ou implícitas.
(RODRIGUES, LEAL, HARGREAVES, 1999, p.15).
Na perspectiva de Barros (1992), o mecanismo da qualidade somente se completará
quando houver perfeita harmonia entre o desempenho do produto ou serviço, associada à
satisfação do consumidor. Se uma das partes não estiver nesse nível de consonância, a
qualidade estará prejudicada. Além do consumidor, o produtor também responde por certo
nível de satisfação como fator elementar à obtenção de qualidade.
O foco na qualidade não é novo. Trata-se de uma filosofia gerencial dos últimos
séculos, que influencia na maneira de conduzir os negócios (BERK, BERK, 1997).
2.1 Evolução da Qualidade
Nos anos de 1917 e 1918 a qualidade era percebida unicamente como processo, com
vistas na inspeção final do produto ou serviço, onde surge o inspetor de equipamentos e os
departamentos de controle de qualidade. Nesta inspeção, o objetivo de descartar os produtos
não conformes, garantindo a qualidade do produto a ser entregue ao cliente. O mercado
focava apenas em produto (CARVALHO, 2005).
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Na década de 1930, o controle de qualidade evolui, a partir do desenvolvimento de um
sistema de medidas e ferramentas de controle estatístico para os processos e do surgimento de
normas técnicas específicas da área. Foi nesta década também que os experimentos da Escola
das Relações Humanas passam a questionar a alienação no trabalho e a participação da força
de trabalho. Durante as décadas seguintes, a motivação humana exerceu influência nos
programas de qualidade no período pós-guerra, especialmente na composição do modelo
japonês (CARVALHO, 2005).
A Qualidade firma-se na primeira onda da gestão de processos, tendo seu início entre
as décadas de 1950 e 1960. Neste momento iniciam-se os conceitos de administração
participativa com a implantação de novos programas de qualidade como a implantação do
Sistema 5Ss, dos Círculos de Controle de Qualidade (CCQs) e o Controle da Qualidade Total
(TQC). O foco era produzir quantidades maiores, com um custo menor (CARVALHO, 2005).
A partir da década de 1980, a gestão da qualidade ganhou força, e se tornou
praticamente obrigação das empresas com a divulgação das normas ISO (série 9000), dos
sistemas de gestão da qualidade, tanto regionais como nacionais. Neste contexto surge o
Gerenciamento da Qualidade Total (TQM) que enfatiza produtos confiáveis e preços atrativos
com entrega mais rápida (CARVALHO, 2005).
Nos anos 1990 o redesenho dos processos, a partir da análise das melhores práticas de
mercado, buscando visão multifuncional. O conceito de qualidade alinha-se ao conceito de
competitividade. Essas mudanças passaram a gerar impacto no negócio, e as empresas
buscaram estratégias para se tornar mais competitivas e utilizar novas ferramentas de gestão
da estratégia como o Balanced Scorecard (BSC) e 6 Sigma. O foco reside na superação dos
esforços e ações da concorrência (CARVALHO, 2005).
2.2 Gestão da Qualidade na Prestação de Serviços
Na área da prestação de serviços, ao contrário da área de produção industrial, não há
possibilidade de separar com precisão o processo da produção. No ambiente da prestação de
serviços, a Gestão da Qualidade está centrada na interação com o usuário. É nesse processo
que a qualidade aparece (PALADINI, 2010). O quadro de Paladini (2010) apresenta algumas
diferenças básicas entre a Gestão da qualidade no ambiente industrial e na prestação de
serviços.
QUADRO 1 – Diferenças Básicas nos Ambientes Industrial e Prestação de Serviços.
GESTÃO DA QUALIDADE EM AMBIENTES
INDUSTRIAIS
GESTÃO DA QUALIDADE EM AMBIENTES DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
O esforço pela qualidade aparece no produto.
O esforço pela qualidade aparece na interação com o
cliente.
Interação com cliente via produtos. Interação direta com os clientes.
Elevado suporte. Baixo suporte.
Baixa interação. Intensa interação.
Suporte ao produto (qualidade de produto). Suporte ao cliente (qualidade de serviço).
Cliente atua ao final do processo produtivo. Cliente presente ao longo do processo produtivo.
Produção e consumo em momentos bem distintos. Produção e consumo simultâneos.
Feedback (retorno do usuário sobre o produto
adquirido) pode demorar. Feedback imediato.
Expectativas menos sujeitas a mudanças abruptas. Expectativas dinâmicas.
Cliente tende a não influenciar no processo produtivo. Cliente participa do processo produtivo.
Resulta de um conjunto de elementos (como máquinas
e pessoas, por exemplo). Resulta mais do desempenho dos recursos humanos.
Condições favoráveis à padronização. Difícil padronizar.
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GESTÃO DA QUALIDADE EM AMBIENTES
INDUSTRIAIS
GESTÃO DA QUALIDADE EM AMBIENTES DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
Tende a uniformizar-se a médio prazo. Difícil ter um modelo uniforme de execução.
Bens tangíveis podem ser patenteados. Serviços e métodos não podem ser patenteados.
Bens tangíveis podem ser protegidos em relação a seus
processos de fabricação e à forma final como são
disponibilizados à comercialização. Serviços e métodos não podem ser protegidos.
FONTE: Paladini (2010, p.196).
Para o autor, dois elementos requerem atenção: [1] em ambientes de prestação de
serviços os conceitos de qualidade são os mesmos utilizados em ambientes industriais (o que
muda são as estratégias a serem utilizadas); [2] a entrega ou uso de produtos tangíveis podem
estar vinculados a um serviço (PALADINI, 2010).
3. Fundação Nacional da Qualidade
A Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) é uma entidade privada e sem fins
lucrativos que foi criada em outubro de 1991 por representantes de 39 organizações brasileiras
dos setores público e privado. Sua principal função era administrar o Prêmio Nacional da
Qualidade (PNQ) e as atividades decorrentes do processo de premiação em todo o território
nacional, bem como fazer a representação institucional externa do PNQ nos fóruns
internacionais (FNQ, 2010).
3.1 Fundamentos da Excelência
Os Fundamentos da Excelência conforme descritos pela FNQ (2009) expressam
conceitos reconhecidos internacionalmente e que são encontrados em organizações líderes de
Classe Mundial. Os conceitos de cada fundamento, acompanhados de uma explicação de
como são colocados em prática nas organizações de alto desempenho estão descritos abaixo
pela FNQ (2009):
a) Pensamento Sistêmico. Entendimento das relações de interdependência entre os diversos
componentes de uma organização, bem como entre a organização e o ambiente externo.
b) Aprendizado organizacional. Busca e alcance de um novo patamar de conhecimento para
a organização por meio da percepção, reflexão, avaliação e compartilhamento de
experiências.
c) Cultura da Inovação. Promoção de um ambiente favorável à criatividade, experimentação
e implementação de novas idéias que possam gerar um diferencial competitivo para
organização.
d) Liderança e constância de propósitos. Atuação de forma aberta, democrática, inspiradora
e motivadora das pessoas. Visa ao desenvolvimento da cultura da excelência, à promoção
de relações de qualidade e à proteção dos interesses das partes envolvidas.
e) Orientação por processos e informações. Compreensão e segmentação do conjunto das
atividades e processos da organização que agreguem valor para as partes interessadas. A
tomada de decisões e a execução das ações devem ter como base a medição e análise do
desempenho, levando em consideração as informações disponíveis, além dos riscos
identificados.
f) Visão de futuro. Compreensão dos fatores que afetam a organização, seu ecossistema e o
ambiente externo no curto e no longo prazo, visando sua perenização.
g) Geração de valor. Alcance de resultados consistentes, assegurando a perenidade da
organização pelo aumento de valor tangível e intangível de forma sustentada para todos os
stakeholders.
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h) Valorização das pessoas. Estabelecimento de relações com as pessoas, criando condições
para que elas se realizem nas esferas profissional e humana, maximizando seu desempenho
por meio de comprometimento, desenvolvimento de competências e espaço para
empreender.
i) Conhecimento sobre o cliente e o mercado. Conhecimento e entendimento do cliente e do
mercado, visando à criação de valor sustentável para o cliente, gerando maior
competitividade nos mercados.
j) Desenvolvimento de parcerias. Realização de atividades em conjunto com outras
organizações, a partir da plena utilização das competências essenciais de cada uma. O
objetivo são os benefícios gerados para ambas as partes.
k) Responsabilidade Social. Atuação que se define pela relação ética e transparente da
organização com todos os públicos com os quais ela se relaciona. É voltada para o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais
para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das
desigualdades sociais como parte integrante da estratégia organizacional.
3.2 Modelo de Excelência da Gestão
Segundo a FNQ (2009), o conceito Modelo de Excelência de Gestão (MEG) consiste
na ferramenta de gestão que permite diagnosticar o estágio de desenvolvimento gerencial, e
planejar ações visando à melhoria continua. O MEG é baseado em 11 fundamentos e 8
critérios, possibilitando a qualquer tipo de organização, de qualquer porte, setor e estágio de
gestão, avaliar o seu sistema gerencial e o desempenho em relação às melhores práticas
adotadas por organizações de alto desempenho.
A FNQ (2009) diz que as estratégias são formuladas pelos líderes para direcionar a
organização e o seu desempenho, determinando sua posição competitiva. São desdobradas em
todos os níveis da firma, com planos de ação de curto e longo prazo. Recursos são alocados
para assegurar sua implementação. A organização avalia permanentemente a implementação
das estratégias e monitora os respectivos planos. Objetiva-se que responda rapidamente às
mudanças nos ambientes interno e externo. As pessoas que compõem a força de trabalho
devem estar capacitadas e satisfeitas, atuando em um ambiente propício à consolidação da
cultura da excelência. Para atender aos clientes é importante que a força de trabalho esteja
satisfeita com o ambiente da empresa.
Com base nos preceitos supracitados se torna possível executar e gerenciar
adequadamente os processos, criando valor para os clientes e aperfeiçoando o relacionamento
com os fornecedores. A organização planeja e controla os seus custos e investimentos. Os
riscos financeiros são quantificados e também devem ser monitorados.
Para efetivar uma etapa de controle, os resultados devem ser mensurados em relação à
situação econômico-financeira, clientes e mercado, pessoas, sociedade, processos principais
do negócio e processos de apoio, além dos fornecedores. Os efeitos gerados pela
implementação sinérgica das práticas de gestão e pela dinâmica externa à organização podem
ser comparados às metas estabelecidas para eventuais correções de rumo ou reforços das
ações adotadas. Todos os resultados, apresentados sob a forma de informações e
conhecimento, retornam a organização, complementando o ciclo com a etapa de ação.
3.3 Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade
O Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP) foi lançado em outubro de
1992, tendo como objetivo estimular, articular e promover ações visando tornar competitivos
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os produtos e serviços das organizações do estado do Rio Grande do Sul. A crença é que esta
meta seja viável por meio da melhoria da qualidade e produtividade das organizações (PGQP,
2010).
Conforme o PGQP (2010), no Estado, a parceria entre o setor público e a iniciativa
privada permitiu a divulgação da filosofia e dos princípios da qualidade de forma
democrática, dando oportunidade para promoção de uma série de iniciativas voltadas ao
aprimoramento dos produtos e serviços das empresas gaúchas. As melhorias que o programa
ajudou a promover podem ser visualizadas na maior competitividade e qualificação nos
serviços públicos e privados. Com o comprometimento do governo, empresários,
trabalhadores e consumidores, os sistemas de gestão são aprimorados.
3.4 Sistema de Avaliação
O Sistema de Avaliação foi estruturado em 1993, e foram adotados como base os
critérios de excelência do Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), criado a partir do modelo
Malcolm Baldrige National Quality Award (1987), dos Estados Unidos. Ao longo de sua
história, desde o primeiro ciclo do Sistema de Avaliação, em 1994, foram realizadas mais de
7.500 avaliações e treinados mais de 26.500 avaliadores, demonstrando a consolidação dessa
metodologia de avaliação (PGQP, 2010).
Um dos principais produtos do PGQP é o Sistema de Avaliação. É um instrumento de
diagnóstico organizacional que verifica o estágio de desenvolvimento gerencial das
organizações, identificando lacunas e possibilitando a elaboração do Plano de Ação do
Sistema Gerencial (PASG) (PGQP, 2010).
3.4.1 Níveis de maturidade do Sistema de Avaliação
O Sistema de Avaliação do PGQP possui três níveis de maturidade, mantendo a
correlação com os critérios do Prêmio Nacional da Qualidade. Estes níveis seguem descritos
abaixo.
Compromisso com a Excelência. As organizações iniciantes adotam o Modelo de
Excelência da Gestão (MEG), como referência para conseguir mapear com clareza o negócio.
O primeiro passo é fazer uma avaliação da gestão e traçar um plano de melhoria do
desempenho, que significa quase sempre, assegurar a qualidade dos produtos e satisfação dos
clientes. Nessa fase os resultados não são tão significativos, mas a organização percebe
claramente uma melhoria na sua forma de atuação. O documento que a organização utiliza
nesse estágio, e que expressa uma orientação à gestão nesse nível, é denominado
Compromisso com a Excelência.
Rumo a Excelência. Quando em estágios intermediários, as organizações estão numa
fase de entusiasmo porque começam a obter os primeiros resultados decorrentes da
padronização. Os processos estão delineados, e a organização começa a sair de uma postura
reativa para outra pró-ativa. Buscam soluções para seus problemas mais agudos. Continuando
a aplicação do modelo, as organizações atingem níveis de desempenho em algumas áreas
superiores aos seus concorrentes. Nesse estágio, a organização utiliza o documento que
expressa uma orientação à gestão nesse nível, intitulado Rumo à Excelência.
Excelência. As organizações em estágios avançados no caminho da excelência têm
um sistema de gestão já delineado e implementado. Avaliam e melhoram de forma rotineira
seus resultados e suas práticas de gestão. Apresentam resultados acima dos concorrentes em
várias áreas, mas têm alguma dificuldade em alcançar os referenciais de excelência (FNQ,
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2010). Organizações nesse estágio utilizam uma orientação à gestão que se chama Critérios da
Excelência.
3.4.2 Critérios de Avaliação
Conforme descrito pela FNQ (2009) são oito os critérios de avaliação que se
caracterizam por não serem prescritivos, ou seja, não sugerem abordagens ou metodologias
específicas. Estes oito critérios serão tratados a seguir.
Liderança. Este critério examina a governança da organização, incluindo aspectos
relativos à transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.
Também examina como é exercida a liderança, incluindo temas como o controle dos padrões
de trabalho e aprendizado. Aborda ainda a análise do desempenho da organização,
enfatizando a comparação com outras organizações, e o atendimento aos requisitos das partes
interessadas (stakeholders).
Estratégias e Planos. O critério examina o processo de formulação das estratégias,
enfatizando a análise do mercado de atuação e do macroambiente. Também examina o
processo de implementação das estratégias, incluindo a definição de indicadores, o
desdobramento das metas e planos para as áreas da organização e o acompanhamento dos
ambientes internos e externos.
Clientes. Neste critério se examina como a organização segmenta o mercado,
identifica e trata as necessidades e expectativas dos clientes e dos mercados; divulga seus
produtos e marcas; e estreita seu relacionamento com os clientes. Também examina como a
organização avalia a satisfação e eventual insatisfação dos clientes.
Sociedade. Examina-se o cumprimento da responsabilidade socioambiental pela
organização, destacando ações voltadas para o desenvolvimento sustentável. Também é
realizada a averiguação de como a organização promove o desenvolvimento social, incluindo
a realização ou apoio a projetos sociais ou voltados para o desenvolvimento nacional,
regional, local ou mesmo setorial.
Informações e Conhecimento. Trata-se da análise na gestão das informações,
incluindo a obtenção de informações comparativas pertinentes. Também examina como a
organização identifica, desenvolve, mantém e protege ativos intangíveis.
Pessoas. Refere-se aos sistemas de trabalho da organização, incluindo a organização
do trabalho, os processos relativos à seleção e contratação, assim como o estímulo ao
desempenho das pessoas. Também examina os processos relativos a capacitação e
desenvolvimento e como a organização promove a construção do ambiente propício à
qualidade de vida das pessoas, interna e externamente ao ambiente de trabalho.
Processos. Verifica-se como a organização identifica, gerencia, analisa e melhora os
processos principais do negócio e os processos de apoio. Também examina como a
organização gerencia o processo de relacionamento com os fornecedores e conduz a gestão
dos processos econômico-financeiros, visando à sustentabilidade econômica do negócio.
Resultados. O critério examina os resultados relevantes da organização. Abrange os
econômico-financeiros e os relativos aos clientes e mercados, sociedade, pessoas, processos
principais do negócio e de apoio, assim como os de relacionamento com fornecedores.
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3.5 Prêmio Qualidade RS
O prêmio tem como objetivo avaliar o sistema de gestão através de avaliação externa e
imparcial. Os critérios utilizados são reconhecidos internacionalmente, proporcionando a
avaliação sistêmica da organização. O procedimento é realizado através do relatório de
avaliação, que contém os pontos fortes e oportunidades de melhoria, estruturando-se um plano
de ação para o aperfeiçoamento do sistema gerencial.
A premiação é provida através de examinadores capacitados em duas modalidades
(medalha e troféu). Esta avaliação é feita no ambiente da empresa, por meio da conferência
entre os relatórios de gestão, o plano de ação e atividades efetivamente cumpridas (realizado).
Basicamente os avaliadores conferem no ambiente da empresa o que é mencionado como real,
o que é desenvolvido no local e perceptível (por vezes entrevistando colaboradores). Para
avançar na premiação, a firma deve estar sempre um passo a frente de seu estágio anterior. A
etapa final é efetuada diretamente mediante intervenção analítica de uma banca de juízes, que
recebem dos examinadores todo o material referente ao ambiente da empresa em análise.
4. Considerações Finais
Através de análise na evolução da qualidade, se pode perceber a importância desta nos
processos e na gestão das empresas. Conforme Carvalho (2005), a qualidade evolui desde os
anos 1917, de forma a melhorar os processos das empresas. Mas no princípio, a gestão da
empresa não participa do processo de qualidade, o que começa a mudar no início dos anos 90.
O PGQP traz uma nova filosofia para a gestão das empresas visando a busca pela
excelência e a maturidade da gestão. Nesta idealização existem metodologias que permitem
uma avaliação sistêmica e estruturada por plano de ação.
O Sistema de Avaliação é a oportunidade que a empresa tem para testar seu grau de
maturidade. Isso se dá através dos critérios avaliados e seu atendimento no que foi proposto.
Este é um momento que oportuniza na identificação de lacunas, a elaboração do plano de
ação, assegurando que a prática será realizada trazendo assim melhorias provenientes de
outras melhorias.
A premiação surge como uma oportunidade para celebrar este aprendizado. A empresa
tem seus processos de gestão reconhecidos e valorizados por outras empresas, dos mais
diversos segmentos. Torna-se referencial de benchmarking, além do diferencial perante seus
concorrentes. No entanto, ainda há muitos gestores que, por motivos diversos, não visam a
qualidade como ganho e visibilidade para a empresa. Por sua vez, as empresas que
descobriram os benefícios com a adoção da qualidade na gestão, conseguem manter-se
diferenciados de seus concorrentes, e alcançam vantagens competitivas.
Referências
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São Paulo: Ibrasa, 1997.
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Paulo: Fundação Nacional da Qualidade, 2009.
JURAN, J. M. A Qualidade Desde o Projeto. São Paulo: Pioneira, 1992.
JURAN, J. M.; GRYNA, Frank M. Controle da Qualidade. São Paulo: Makron Books, 1992.
PALADINI, Edson Pacheco. Gestão da Qualidade: teoria e prática. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
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