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Edição n° 2

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Page 1: Revista Fusão Cultural
Page 2: Revista Fusão Cultural
Page 3: Revista Fusão Cultural
Page 4: Revista Fusão Cultural

www.fusaocultural.com.br

Diretora executiva e jornalista responsável: Rafaela Silva – MTb: 48.363/SPDiretor comercial e financeiro: Gilberto Pessato Jr.Projeto gráfico e diagramação: Bruno Mateus da SilvaIlustração: Valdir Felipe Garcia de BritoRedação: Larissa Helena da Rocha MartinsRevisão: Priscila SalvaiaRepresentante comercial: Roberto Luis da SilvaColaboraram nesta edição:Camilo Irineu Quartarollo, José de Sousa Miguel Lopes, Érico San Juan, Oswaldo Cambiaghi Netto, Raul Rozados e Sunamita Silva de Oliveira.Imagem capa:Índio Intché Kehéakoãn, da etnia Xakriabá.Impressão: Gráfica Mundo – www.graficamundo.com.br

A Fusão Cultural é uma publicação mensal, local e gratuita da Bennu Editora Ltda ME (CNPJ: 11.476.103/0001-49), sediada na Av. Prof. Alberto Vollet Sachs, 3815 – Vl. Independência – Piracicaba/SP. Telefone: (19) 3375-1512 E-mail: [email protected]: www.fusaocultural.com.br

Os textos e imagens publicados na Fusão Cultural só poderão ser reproduzidos com a devida autorização da direção.

editorial

Cultura Indígena

Espaço de informação ou lugar informado?

Mais uma vez deparo-me com os conceitos espaço de informação e lugar informado, abordados por Lucrécia D’Alessio Ferrara no livro Olhar Periférico: informação, linguagem, percepção ambiental, me apresentado pelo

professor e amigo, Valdemar Siqueira Filho (Dhema).  A visão da população ocidental a respeito dos índios é uma visão de espaço de informação, na qual o senso comum e os fatos dados são aceitos como verdadeiros. O espaço de informação é aquele ambiente sobre o qual as informações de ordem política, econômica, social e cultural são vistas de forma homogênea. Tal homogeneidade criaria abstrações como “tribo”, ou “cultura indígena”, que, no entanto, seriam insuficientes para explicar as especificidades que envolvem o indigenismo.  Um indivíduo pode dizer que sabe como se dá a vida em uma tribo sem nunca ter estado em uma, contudo esse conhecimento é limitado e não dá conta de explicar todo o movimento que ocorre naquele espaço, nem permite o entendimento do código conciso utilizado pelos moradores. Em alguns momentos, como em uma conversa informal, a sabedoria generalizada sobre um ambiente é suficiente, porém, em outros, é preciso um conhecimento mais amplo. Com isso, quando há a necessidade de compreender as especificidades de uma área, é preciso transformá-la em lugar informado.  Para que esse espaço de informação, a tribo, passe a ser um lugar informado, a tribo de determinada etnia, é necessário ir até o espaço, verificar suas especificidades, olhar para ele com um olhar de curiosidade, de busca e de encontro. É necessário permitir-se surpreender. A Fusão Cultural ao tratar desse tema na matéria de capa desta edição, mês em que é comemorado o dia do índio, busca sair desse espaço de informação, em que o índio é visto como um ser folclórico, e entrar no lugar informado, do índio como ser humano contemporâneo merecedor de respeito. Não foi possível completar essa missão neste mês, visto ser necessário pisar em uma tribo. Mas falar com alguns indígenas, por telefone, e-mail e Orkut contribuiu para uma visão mais atual dessa população.  Uma ferramenta que contribui para que este objetivo seja atingido é a fragmentação. Segundo Lucrécia, “é necessário ultrapassar aquela totalidade homogênea do espaço para descobrir seus lugares nos quais a informação se concretiza, na medida em que produz aprendizado e comportamento traduzidos nos seus signos: usos e hábitos”. Por isso, a Fusão Cultural não fará uma reconstituição histórica da cultura indígena, mas focará o índio contemporâneo.

Culture-se!

por Rafaela Silvadiretora executiva

Page 5: Revista Fusão Cultural

Envie suas sugestões, críticas, elogios e opiniões para - Av. Prof. Alberto Vollet Sachs, 3815 – Vl. Independência – Piracicaba/SP. Telefone: (19) 3375-1512. E-mail: [email protected]

Participe: Apresente-nos o seu trabalho, amador ou profissional (fotografias, poesias/poemas/versos e caricaturas). Se selecionado, ele poderá integrar a próxima edição da Fusão Cultural. Para mais informações, os e-mails são: [email protected]@[email protected]

Fusão Cultural na Internet: Você tem várias opções para acompanhar as novidades desta publicação pela Internet ou falar conosco on-line: Site: www.fusaocultural.com.br. (A partir do dia 10 de cada mês, acesse a nova edição).Orkut: Revista Fusão CulturalTwitter: @fusaoculturalMSN: [email protected]

Anúncio: Para anunciar na Fusão Cultural entre em contato conosco. Telefones: (19) 3375-1512/3042-0915E-mail: [email protected]

RecebaPor ser gratuita, a distribuição da Fusão Cultural na porta de sua casa, por enquanto, é restrita a Piracicaba (SP), com exceção para empresas, instituições e algumas pessoas com cadastro aprovado. Se a sua cidade ainda não possui um ponto de distribuição, nos informe locais que podem vir a ser pontos de distribuição, assim poderemos levar a Fusão Cultural o mais próximo possível de você. O cadastro deve ser feito no site www.fusaocultural.com.br ou pelo telefone (19) 3375-1512. Veja também no site a lista dos pontos de distribuição.

Em nome de nossa diretoria, parabenizo vocês, Gilberto e Rafaela, e toda equipe pela 1ª edição da Fusão Cultural, principalmente pela proposta e qualidade do conteúdo. Determinação e persistência são condições fundamentais para o sucesso. Atenciosamente.

Sérgio Antonio Fortuoso Gerente executivo da Associação Comercial

e Industrial de Piracicaba (Acipi)

Gostaria de parabenizá-los pela primeira edição, de ótima qualidade em todos os sentidos. Longa vida e sucesso. Abração a todos.

Lívia Foltran Spada Auxiliar administrativo,

fonoaudióloga e artista amadora

Fiquei muito grata e feliz em receber o primeiro exemplar da revista Fusão Cultural na noite do dia 9 de março em minha residência. Devorei a revista numa "sentada". Confesso que gostei das matérias, estão leves e saborosas para ler. Piracicaba merece e precisa de uma revista especializada em cultura. Parabéns! É mais um veículo de comunicação para os moradores da Noiva da Colina!

Renata Perazoli Sommelier e jornalista

Não podia deixar de parabenizar pelo ótimo material que vocês lançaram! Parabéns mesmo. Estamos precisando de revista assim aqui em Piracicaba, articulada, sacada, verdadeira e CULTURAL! O que pra mim é a cereja do bolo! É isso, parabéns e precisando de uma ou duas mãos, as minhas estão à disposição!

Alana Reis Jornalista e assessora de eventos culturais

Parabéns a todos. Estou realmente contente pela qualidade do trabalho e matérias. Piracicaba estava precisando disso. Sucesso!!!

Eric Medeiros Artista amador

Que feio, trocamos tudo!

Diferente do publicado na seção fique ligado (pág.12), da edição nº 1, a Casa do Povoador fica na Av. Beira Rio 800, e o telefone de contato é o (19) 3434-8605. O endereço publicado como sendo da Casa do Povoador é do Centro Cultural Estação Paulista Antonio Pacheco, e o telefone é do Centro Cultural Martha Watts.  O telefone correto do Centro Cultural Estação Paulista Antonio Pacheco é o 3402-7373. O telefone informado como sendo desse centro pertence ao Centro Cultural Martha Watts.

Page 6: Revista Fusão Cultural

sumário

07 rapidinhas

08 up

08 ph0da

09 arte é...

10 fique ligado...

cultura piracicabana 16 Paixão de Cristo 18 Um certo falar caipira 19 Novos integrantes na Ceta

cultura regional 20 Cada nome tem sua história e valor cultural

só ria 30 Adeus Glauco...

body art 32 Tattoo que acende

simplesmente dance

35 Dança Cigana

cena teatral

36 Ópera x Musical

educação interculturalPor uma Educação Intercultural

22estiloJeito pin-up de ser

abril | edição 02 | ano 01

43

24 capaÍndio Contemporâneo

Ele adquiriu costumes do homem branco, mas não perdeu sua identidade étnica

nota musicalA importância da gestão no setor musical

32

ensaio fotográfico 38 Raul Rozados

cine fusão 42 Remakes nas telonas

sarau literário 43 Poesia Concreta

para curtir 44 Turismo a pé

artes plásticas 46 Arte Naïf

ângulo 48 Haru Xinã

articulando 50 Índios - 510 anos de resistência!

Page 7: Revista Fusão Cultural

7ABRIL 2010

Adeus a José MindlinJosé Mindlin, 95 anos, ex-secretário

de Cultura do Estado de São Paulo,

membro da Academia Brasileira

de Letras, empresário e bibliófilo,

morreu no dia 28 de fevereiro de

falência múltipla dos órgãos. Em

1999, Mindlin doou à Universidade

de São Paulo (USP) seu acervo

pessoal de livros, com 17 mil títulos

e 40 mil volumes. O prédio que

abrigará a biblioteca Brasiliana, onde

ficarão os livros, deve ficar pronta

dentro de pouco mais de um ano.

Morre Johnny Alf O pianista e compositor Johnny Alf, um dos precursores da bossa nova, morreu no dia 04 de março aos 80 anos. Ele estava internado em estado grave no hospital Mário Covas, em Santo André, na Grande São Paulo, em decorrência de um câncer de próstata.

Guerra ao Terror supera AvatarO filme Avatar, dirigido por James Cameron, era a grande promessa do Oscar 2010 (realizado no dia 07 de março) por conta do seu estrondoso sucesso de bilheteria. No entanto, Avatar conseguiu apenas três prêmios: melhores efeitos visuais, melhor cinematografia (fotografia) e melhor direção de arte. Enquanto Guerra ao terror, dirigido por Kathryn Bigelow (ex-mulher de James Cameron), ganhou seis prêmios: melhor filme, melhor direção, melhor edição (montagem), melhor mixagem de som, melhor edição de som e melhor roteiro original. And the Oscar goes to...Outros premiados da noite foram: Sandra Bullock, como melhor atriz por “Um sonho possível”; Jeff Bridges, como melhor ator por “Coração louco” ; “O segredo dos seus olhos” (Argentina) foi considerado o melhor filme estrangeiro; “The cove” ganhou prêmio de melhor documentário; o prêmio de melhor ator coadjuvante ficou para Christoph Waltz, de “Bastardos inglórios”; e o de melhor atriz coadjuvante ficou com Mo’Nique, de “Preciosa”.

Page 8: Revista Fusão Cultural

8 ABRIL 2010

“Todo o mundo que conhecemos se desmorona com o toque de um celular. Clayton Riddell está longe de sua cidade natal e sem celular, quando uma onda de celulares tocando faz com que todos que atendam se tornem zumbis violentos.” (Celular – site www.pt.shvoong.com)

O problema não é o celular, mas as pessoas que não sabem usá-lo. Tem coisa mais irritante do que estar no teatro, para atuar ou assistir a uma peça e ouvir aquele barulho do toque de

um celular? Pode até existir, mas o celular tocar em locais impróprios não é apenas pHoda, mas demonstra a total falta de educação de algumas pessoas.  De acordo com estudo realizado pela Harris Interactive, sob encomenda da Intel, 90% dos adultos norte-america-nos se incomodam com a falta de etiqueta no uso de ele-trônicos portáteis – caso de telefones celulares, notebooks e netbooks. Aqui no Brasil não é diferente. O uso do apa-relho inconvenientemente incomoda, e muito.  Você é tão importante assim que não pode ficar entre uma ou duas horas com o bendito aparelho desligado? Então não fre-quente lugares nos quais manter o aparelho ligado é proibido. ■

• As pessoas que estão no cinema ou teatro têm o direito de não serem incomodadas. Se você está esperando uma ligação muito importante, não vá aos ambientes em que deixar o aparelho ligado é proibido. • Se não tiver como desligar o celular e a ligação esperada for extremamente importante, deixe o aparelho no correio de voz (e no silencioso), e procure um local apropriado para retornar a ligação. •  Dirigir e falar ao telefone ao mesmo tempo, além de perigoso, é proibido por lei.• É muito chato estar com alguém e essa pessoa ficar enviando SMS a todo o momento e rindo sozinha. • O celular toca, toca, e ninguém atende. O que aconteceu? O sujeito deixou o celular sozinho e esse não para de tocar o hit do momento.

ligue-se

O que é pHoda? Envie sua opinião para [email protected] sobre o que é pHoda (irritante). Sua sugestão pode ser abordada na próxima edição da Fusão Cultural.

Desligue essa #@$%& de celular, @#%$#@$*&#$

por Rafaela Silva

Segue abaixo a lista dos três vídeos (com alguma relação artística) mais acessados no You Tube em março.

Acessos totais: 1.233.274Avaliações: 34.109Link: http://www.youtube.com/watch?v=3FUds2j3wPQ

3º Lugar: SHANE HATES ME!!Acessos totais: 1.054.958Avaliações: 31.391Link: http://www.youtube.com/watch?v=luoNvpiM8EQ

2º Lugar: QST? Qual é o seu talento 01/03/10 laura fontana. [mini Lady Gaga]Acessos totais: 1.112.924Avaliações: 1.711Link: http://www.youtube.com/watch?v=mHwvSEzXwKA

Lugar: Looping AroundMystery Guitar Man, que ocupou a segunda posição em fevereiro com o iFlip, ficou em primeiro em março com sua inusitada criação de sons. O vídeo Shane Hates Me, que ficou em terceiro lugar, também foi produzido pelo Mystery Guitar Man.

Page 9: Revista Fusão Cultural

9ABRIL 2010

“Desde criancinhas, somos gentilmente coagidos a respon-der aos mais velhos. Na escola, os mais espertos já sabiam responder o que era arte. Não por pensar no assunto, e sim depois de alguma molecagem, quando os estressados profes-sores ralhavam no ato: ‘Para de fazer arte, menino!’Para uns poucos aluninhos, ‘fazer arte’ era preencher folhas e folhas de papel com rabiscos abstratos, no estilo dos que alguns continuam fazendo quando adultos. Escolas e mais escolas, de arte ou não, já antecipam respostas a essa questão, colocando seus alunos em contato com mestres da pintura, de preferência já mortos. E dá-lhe pastiches de Portinari, Picasso e outros me-nos cotados na bolsa de estudos – ou bolsa de valores?Se o contato precoce com as artes ajuda a formar futuros artistas, ou alimenta uma formação humanista decente, é difícil medir com exatidão. Mas que dá emprego regular para muito profes-sor, ah, isso dá. Para esses cidadãos, arte é isso: um emprego.À revelia dos professores e pais corujas, a arte continua e as crianças crescem. E a internet chegou para democratizar a in-formação, ou quase. O aviso sobre a última mega exposição vanguardista em São Paulo, ou a respeito da recente vernissage da pintora de naturezas-mortas, continua nas mãos de meia dúzia de privilegiados. Estes fazem parte de uma elite que se comporta feito as multidões dependentes da Bolsa-Família, principalmente na hora de devorar os generosos coquetéis ofe-recidos pelos eventos. Para estes, arte é isso: um evento.E para este que vos escreve, qual é a resposta possível à ma-rota perguntinha? A arte pode ser informação, estética, traba-lho. Mas a resposta final é uma palavrinha tão comum a todos e tão inalcançável a alguns: prazer. Arte é prazer. E se puder ser um prazer não-solitário, melhor ainda.”

Érico San JuanCartunista e cronista

Page 10: Revista Fusão Cultural

10 ABRIL 2010

PiraCiCaBa

...nas inscrições para a Oficina de Pintura “Contextualização, Análise e Criação”, de 05 de abril a 03 de maio. Vagas: 30. Local: Pinacoteca Municipal “Miguel Dutra”. Rua Moraes Barros, 233.

...na abertura da Exposição “Apreços – Gravuras do Acervo Olho Latino”, no dia 09 de abril, às 20h00. Curadoria: Paulo Cheida Sans. Visitação: de 10 de abril a 02 de maio. Local: Pinacoteca Municipal “Miguel Dutra”. Rua Moraes Barros, 233.

...na abertura da exposição "20 por 90”, no dia 10 de abril, às 17h. A mostra do artista plástico Luciano Bortoletto apresenta trabalhos em técnica mista com recorte e colagem de papel de outdoor sobre MDF. Local: Casa do Salgot Sabores & Saberes - Rua Floriano Peixoto, 2.088 - Bairro Alto - Tel. (19) 3432-8647. Visitas: segunda a sexta-feira das 10h às 19h30 - sábado das 10h às 13h30. Período: até 07/05.

...pois entre os dias 17 e 18 de abril o Sesc Piracicaba, em parceria com a Semac e apoio da Apap, realizará o projeto Rio das Artes, que pretende abrir ateliês, criar espaço coletivo de exposição de artes plásticas e visuais e mapear todo setor, incluindo locais que apóiam e dão visibilidade à criação dos artistas, como galerias e fundições. Mais informações: (19) 3437-9252

...pois a exposição Berços da Vida – Ninhos de Aves Brasileiras pode ser vista até o dia 20 de abril, no Museu Histórico e Pedagógico “Prudente de Moraes”. Entrada gratuita. Mais informações: Rua Santo Antônio, 641 – Centro. Telefone: (19) 3422-3069.

...no fim das inscrições para a Bienal Naifs do Brasil 2010, no dia 23 de abril. As inscrições são gratuitas. Mais informações no site www.sescsp.org.br/inscricaonaifs2010, ou diretamente no Sesc Piracicaba, na rua Ipiranga, 155. O telefone de contato é (19) 3437-9292

...na abertura da exposição Artes sem limites, de Mercia Pereira e Caps II – Bela Vista (Centro de Atenção Psicossocial) no dia 9 de abril às 20h na Casa do Povoador.

...pois a Fractal Music Wear está cheia de novidades culturais neste mês: de 03 a 17/04 – Exposição de bonecos de personagens em quadrinho feitos em papel reciclado pelo artista Dimas Bonifácio. dia 10/04 - Banda acústica Rio Grande a partir das 15h nas dependências da loja.dia 10/04 – Brunch by Mascavo Doces a partir das 11h.Mais informações pelo fone (19) 3301-0176 ou pelo e-mail [email protected].

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11ABRIL 2010

Page 12: Revista Fusão Cultural

12 ABRIL 2010

... No roteiro Cultural de PiraCiCaBa

Informações fornecidas pelo Teatro Municipal. Mais informações pelo telefone: 3433-4952 ou pelo site: www.semac.piracicaba.sp.gov.br

...Na ProgramaÇÃo do teatro muNiCiPal dr. losso Netto

SALA 112: 10h e 14h – Teatro – “Mãe da Vida” Com Seiva Arte e Educação. Entrada gratuita: alunos da rede municipal de ensino. Classificação: Livre13 a 16: 8h30 e 14h – Teatro – “Mãe da Vida” Com Seiva Arte e Educação. Entrada gratuita: alunos da rede municipal de ensino. Classificação: livre17: 20h – Música – “Concerto Internacional com Gli Archi Ensemble” Itália. Entrada gratuita: retirar ingresso na bilheteria do Teatro. Classificação: livre19: 10h e 14h – Teatro – “Mãe da Vida” Com Seiva Arte e Educação. Entrada gratuita: alunos da rede municipal de ensino. Classificação: livre20: 8h30 e 14h – Teatro – “Mãe da Vida” Com Seiva Arte e Educação. Entrada gratuita: alunos da rede municipal de ensino. Classificação: livre22: 20h – Dança – “Abertura da Semana da Dança” CEDAN e Convidados. Ingressos: trocar por 1 (um) litro de leite longa vida na bilheteria do Teatro - Limite de retirada de ingressos: 5 por pessoa. Classificação: livre 23 a 25: 20h – Dança – “Mostra Semana da Dança 2010” Grupos e Academias de Piracicaba e Região. Ingressos: trocar por 1 (um) litro de leite longa vida na bilheteria do Teatro - Limite de retirada de ingressos: 5 por pessoa. Classificação: livre 28: 20h – Dança – Homenageados da Semana da Dança e CEDAN em noite de gala. Ingressos: trocar por 1 (um) litro de leite longa vida na bilheteria do Teatro - Limite de retirada de ingressos: 5 por pessoa. Classificação: livre

SALA 213: 19h30 – Sarau Literário – Tema: “Adoniran Barbosa”. Entrada gratuita: limite 100 lugares. Classificação: livre 16: 20h30 – Música – “Os Republicados”. Ingressos: inteira R$ 10; para estudante, idoso e professor do Estado, R$ 5. Classificação: livre22: 19h – Dança – “Estudo para UMA DANÇA” Com Cia.Nósláemcasa. Entrada gratuita: limite 100 lugares. Classificação: livre28: 19h - (horário sujeito a alteração) – Teatro – “E Agora, Nora?” Circuito TUSP de Teatro. Ingressos: retirar na seção de atividades culturais da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq – USP) e na bilheteria do Teatro. Classificação: livre

Informações disponibilizadas no site da Secretaria Municipal da Ação Cultural da Prefeitura de Piracicaba www.semac.piracicaba.sp.gov.br

Armazém da Cultura. Endereço: Av. Dr. Paulo de Moraes, 1580 – Paulista. Telefone: (19) 3436-0466. E-mail: [email protected]. Biblioteca Pública Municipal de Piracicaba. Endereço: Rua do Rosário, 833. Telefones: (19) 3433-3674 / (19) 3434-9032 / (19) 3432-9099. E-mail: [email protected].

Casa do Povoador. Endereço: Avenida Beira Rio, 800. Telefone: (19) 3434-8605.

Centro Cultural Nhô Serra. Endereço: Rua Antônio Ferraz de Arruda, 409 - Pq. 1º de Maio. Telefone: (19) 3411-1791. Email: [email protected].

Centro de Documentação, Cultura e Política Negra. Endereço: Rua Luiz de Queiroz, 1020 – Centro. Telefone: (19) 3435-5623.

Centro Nacional de Documentação, Pesquisa e Divulgação do Humor Gráfico. Endereço: Avenida Maurice Allain, 454 - Vila Rezende. Telefone: (19) 3403-2621/2623. E-mail: [email protected].

Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba – IHGP. Endereço: Rua do Rosário, 781 - 2º Piso, Centro. Telefone: (19) 3434-8811. Site: www.ihgp.org.br. E-mail: [email protected].

Museu da Água. Endereço: Av. Beira Rio, 448 Centro. Telefone:(19) 3432-8063.

Museu Histórico e Pedagógico "Prudente de Moraes". Endereço: Rua Santo Antônio, 641 – Centro. Telefone: (19) 3422-3069.

Parque Engenho Central. Endereço: Av. Maurice Allain, 454 - Vila Rezende. Telefone: (19) 3403-2600. E-mail: [email protected].

Pinacoteca Municipal. Endereço: Rua Moraes Barros, 233 – Centro. Telefone: (19) 3433-4930 / (19) 3402-9601. E-mail: [email protected].

Teatro Municipal "Dr Losso Netto". Endereço: Rua Gomes Carneiro, 1212 – Centro. Telefone: (19) 3433-4952 (PABX).

Page 13: Revista Fusão Cultural

Na regiÃo

LIMEIRA

...no 3º Festival de Circo de Limeira, que ocorre de 07 a 11 deste mês, na via Antonio Cruanes Filho (antiga Hípica). A entrada é gratuita. A programação completa do 3º Festival Paulista de Circo está disponível no site www.cultura.sp.gov.br.

...nas oficinas de Canto Coral Gospel Spirit (Inscrições entre 05 de abril e 05 de maio) e de Voz e Criatividade (de 05 e 27 de abril). Mais informações: Largo da Boa Morte, 11. Fones: (19) 3442-9857 / 3495-1028. E-mail: [email protected].

...nas inscrições para as oficinas de Iniciação a Linguagem Fotográfica, de 05 a 23 de abril, de Fotografia Cultural, de 05 a 28 de abril, e de Teatro de Rua – Dramaturgia e Encenação, de 05 a 30 de abril. As vagas são limitadas. Mais informações: Largo da Boa Morte, 11. Fones: (19) 3442-9857 / 3495-1028. E-mail: [email protected].

...na inscrição para o Ciclo de Estudos “50 anos da Construção de Brasília”, de 05 de abril a 04 de maio. Vagas: 20. Mais informações: Largo da Boa Morte, 11. Fones: (19) 3442-9857 / 3495-1028. E-mail: [email protected].

...na inscrição para a Oficina de Iniciação ao Desenho Artístico, entre 05 de abril e 05 de maio. Mais informações: Largo da Boa Morte, 11. Fones: (19) 3442-9857 / 3495-1028. E-mail: [email protected].

...na inscrição para a Oficina de Toy Art, de 05 de abril a 14 de maio. Vagas: 20. Mais informações: Largo da Boa Morte, 11. Fones: (19) 3442-9857 / 3495-1028. E-mail: [email protected].

...na apresentação do lançamento do DVD de animação Sossega Leão, dia 24 de abril às 19h30. Inscrições de 05 a 23 deste mês. Mais informações: Largo da Boa Morte, 11. Fones: (19) 3442-9857 / 3495-1028. E-mail: [email protected].

ÁGUAS DE SÃO PEDRO...nas inscrições para a Oficina de Iniciação a Gravura – Xilogravura e Monotipia, entre 05 de abril e 07 de maio. Vagas: 20. Local: Centro Educacional e Cultural “Ângelo Franzin”. Rua Santina Martello Matarazzo, 15.

CHARQUEADA

...nas inscrições para a Oficina de “Contadores de História”, entre 05 de abril e 07 de maio. Vagas: 20. Local: Centro Cultural Vereador “Alfredo Guilherme Madeira Campos”. Rua Francisco Ferreira Alves, 121.

RIO CLARO

...nas inscrições para a Oficina de Iniciação a Dança Contemporânea, entre 05 de abril e 07 de maio. Vagas: 30. Local: Centro Cultural “Roberto Palmari”. Rua 3, 2280.

RIO DAS PEDRAS

...nas inscrições para a Oficina de Fotografia “Luz e Sombra no Preto e Branco”, de 05 a 16 de abril. Vagas: 30. Local: Centro Cultural “Antônio Costa Galvão”. Avenida Ademar de Barros, s/n.

SALTINHO

...nas inscrições para a Oficina de Dança Contemporânea Fundamentada nas Técnicas de Klauss Viana, entre os dias 05 e 30 de abril. Vagas: 20. Local: Centro Cultural e Recreativo “Deputado João Herrmann Neto”. Rua José Torrezan, 1535.

SÃO PEDRO

...nas inscrições para a Oficina de Confecção de Máscaras com Papel Reciclado, de 05 de abril a 04 de maio. Vagas: 20. Local: Espaço Cidadania. Avenida Ipiranga, 151.

Transmitindo EnergiaReforma e Comércio de TransformadoresAssistência Técnica para: Sítios – Fazendas – Indústrias

End: Rua Benedito Penteado, 600Bairro Verde – Piracicaba (SP)Fones/Fax: (19) 3422-4873 (19) 3433-2526E-mail: [email protected]

End: Rua Benedito Penteado, 600Bairro Verde – Piracicaba (SP)Fones/Fax: (19) 3422-4873 (19) 3433-2526E-mail: [email protected]

Page 14: Revista Fusão Cultural

14 ABRIL 2010

... Nos livros mais veNdidosMês de março – Fonte: www.veja.abril.com.br

FICÇÃO

O Símbolo Perdido, de Dan Brown, continuou no topo do ranking de ficção.

NÃO-FICÇÃO

Comer, Rezar, Amar, de Elizabeth Gilbert, também seguiu no topo da lista de março.

AUTOAJUDA E ESOTERISMO

Se abrindo pra vida, de Zibia Gasparetto (Espírito Lucius)Se abrindo pra vida narra a vida de Jacira, uma mulher que, entristecida e anulada de suas próprias vontades, descobre no amor próprio a chave para a superação. Uma história que nos leva a acreditar que quando nos abrimos para a vida, descobrimos que a felicidade é o destino de todos.

PiraCiCaBaFonte: Livraria Nobel Shopping Piracicaba

Ladrão de Raios, de Rick Riordan Percy Jackson é filho de um deus. Ele está prestes a ser expulso do colégio... de novo. Mas, aos doze anos, esse é apenas mais um de seus problemas: além do transtorno do déficit de atenção e da dislexia, parece que, ultimamente, criaturas fantásticas e deuses do Olimpo saltam dos livros de mitologia diretamente para a realidade. E ao que tudo indica estão aborrecidos. O raio-mestre de Zeus foi roubado, e é Percy quem deve resgatá-lo. Para restaurar a paz no Olimpo, ele e seus amigos heróis precisarão fazer mais que capturar o verdadeiro ladrão: Percy terá de encarar o pai, resolver o enigma do Oráculo e desvendar uma traição mais ameaçadora que a fúria dos deuses.

Mar de Monstros, de Rick RiordanMaldição dos Titãs, de Rick RiordanO Símbolo Perdido, de Dan BrownDiários do Vampiro - A Fúria, de L.J.Smith Crepúsculo, de Stephenie Meyer Lua Nova, de Stephenie Meyer O Monge e o Executivo, de James C. Hunter Comer, Rezar, Amar, de Elisabeth Gilbert A Cabana, de Willian P. Young

Page 15: Revista Fusão Cultural

15ABRIL 2010

... Nos Próximos filmes em Cartaz em PiraCiCaBa Fonte: www.cinearaujo.com.br

As Melhores Coisas do Mundo - 16/04Mano tem 15 anos, adora tocar guitarra, beijar na boca, rir com os amigos, andar de bike, curtir na balada. Um acontecimento na família faz com que ele perceba que virar adulto nem sempre é tarefa fácil: a popularidade na escola, a primeira transa, o relacionamento em casa, as inseguranças, os preconceitos e a descoberta do amor. Em meio a tantos desafios, Mano descobre e inventa As Melhores Coisas do Mundo.

Alice no País das Maravilhas 3D - 23/04Alice (Mia Wasikowska) é uma jovem de 17 anos que passa a seguir um coelho branco apressado, que sempre olha no relógio. Ela entra em um buraco que a leva ao País das Maravilhas, um local onde esteve há dez anos apesar de nada se lembrar dele. Lá ela é recepcionada pelo Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) e passa a lidar com seres fantásticos e mágicos, além da ira da poderosa Rainha de Copas (Helena Bonham Carter).

Chico Xavier - 02/04Atraídos Pelo Crime - 02/04 Sede de Sangue - 02/04Surpresa em Dobro - 02/04Caça às Bruxas - 09/04Homem de Ferro 2 - 30/04Tudo Pode Dar Certo - 30/04

Page 16: Revista Fusão Cultural

16 ABRIL 2010

PAIXÃO CRISTODE

DE PIRACICABA

Religiosidade, arte e sentimentos revividos

por Larissa Martins

Page 17: Revista Fusão Cultural

17ABRIL 2010

Na fila para a entrada no espetáculo a Paixão de Cristo de Piracicaba (SP), escutam-se comen-tários sobre novas surpresas no espetáculo e expectativa onde seria o local escolhido para o

grande momento da ressurreição. Ao entrar, você é conduzi-do a um retorno no tempo, pois em direção às arquibancadas é surpreendido por comerciantes e tecelãs vendendo os mais variados produtos da antiga Galiléia, e soldados romanos ex-pressando em suas faces a imponência do Império. Na arquibancada tem-se uma visão panorâmica. A pla-téia se compõe por pessoas de diferentes locais e faixas etárias, todos ansiosos para assistir a Paixão de Cristo, por-tando máquinas fotográficas e filmadoras, para registrar o momento além da memória. O começo do espetáculo pro-voca um silêncio que revela a importância da história. Olha-res se direcionam ao telão, onde se avista a frase “Eu faço parte desta história”, surgindo imagens dos rostos de todas as pessoas do elenco ritmadas a uma música gregoriana. Dentre o anjo premonitório e o início com os três reis ma-gos, é belíssimo notar a completude que o cenário tem com o solo e as plantas naturais do Engenho Central de Pira-cicaba. Em cenas que enfatizam sentimentos, muitas mães se veem reconhecidas na incondicionalidade do amor por um filho, como no desespero do decreto da morte dos filhos homens primogênitos e, na despedida de Jesus e Maria, quando este decide peregrinar pelo deserto. Quando Jesus se depara com Satanás, contextualizam-se momentos onde deparamos com situações desafiadoras pelas quais nos as-seguramos pela fé. Mais do que uma história, ali, os senti-mentos são possíveis de se tornarem unívocos. A cena na qual Jesus nomeia seus discípulos recebe uma ajuda da natureza. O personagem em pé, em um dos morros do Engenho, tem sua túnica branca envolvida pelo vento, provocando uma associação de candura e santida-de. Já, no momento em que Salomé pede a Herodes a ca-beça de João Batista, o cenário se traduz em efeitos visuais, movimentos e música, com a inserção de dançarinos e pi-

rofagistas, em uma sincronia contagiante. No desenvolvimento da história com as declarações e milagres de Jesus, a platéia é tomada por uma inquietude, diante do inevitável final. As mensagens bíblicas acabam originando sentimentos reflexivos, como nas cenas do Monte das Oliveiras, da Última Ceia, de Maria Madalena e de Lázaro – novidade na narrativa deste ano. A emoção é o sentimento predominante. Quando Jesus é condenado à crucificação, muitas cabeças na platéia balan-çam de um lado para o outro, manifestando incredulidade diante deste julgamento. Em sua procissão condenatória, é possível notar um maior envolvimento da platéia, pois quan-do Maria se aproxima, e o ator Silvio Kazza brilha (entre um aos demais outros momentos de interpretação), muitos se co-movem com lágrimas. No entanto, enquanto Jesus é erguido em sua cruz e Judas declara seu suicídio, ocasionam-se nada mais do que maiores franzimentos nas testas. Surpreendentemente a cena é tomada por alguns pingos de chuva, reforçando o momento em emoções e religiosida-de. Alguns minutos depois as gotas cessam, rendem-se aos encantos da Paixão de Cristo, diferentemente da platéia que permanece intacta. Na ressurreição, há uma colorida chuva de fogos. Todos os personagens se reúnem pelos montes do Engenho com velas, ocasionando uma bela imagem unindo estética teatral à representação religiosa e o telão retorna para o fechamento da 21ª Paixão de Cristo de Piracicaba.  Em Piracicaba, a dedicação de todos ao espetáculo é per-ceptível na qualidade cênica e na dramaticidade das encena-ções, assim como nos figurinos. Os cenários representaram muitos bem cada universo vivido por Jesus e, a sonoplastia, como condutora e realçadora às nossas emoções. Ainda que cronologicamente distante dos nossos dias, a Paixão de Cristo continua sendo retratada no mundo in-teiro com variadas adaptações cênicas, que permanecem constantes na transmissão de ensinamentos e sentimentos universais como a fé, a esperança e o altruísmo; todos pre-sentes nessa comovente e atemporal história.

Page 18: Revista Fusão Cultural

18 ABRIL 2010

O dialeto caipira mostra bastante da experiência do homem do interior brasileiro. Experiência,

por vezes, marginalizada pelos cen-tros urbanos, devido ao aspecto for-mal da fala. Falam como falam. Não o fazem para irritar os ouvidos alheios ou serem cômicos. É uma pronúncia brasileira do idioma português im-posto no século XVIII, pela Reforma Pombalina, que obrigou o uso do português em todos os documentos públicos e instituições do nosso País. A reforma proibiu o uso da língua ge-ral e do nheengatu, falados na voz do povo e sistematizado em gramática pelo padre jesuíta José de Anchieta, no livro “Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil”, publi-cado em Portugal, no ano de 1595.  Essa língua falada pelos brasilei-ros desconhece infinitivos dos ver-bos (comer, falar, por exemplo) e as consoantes duplas do português (milho, palha, por exemplo), por isso o falar caipira não é a ignorância da língua, mas da colonização lingüista que ignorou a sua realidade cultu-ral, por razões político-econômicas. A pronúncia caipira perdura na voz do povo de todo o Brasil, de forma ora mais, ora menos acentuada, con-forme a região. Torna-se desaperce-

bida na boca que se acostumou com o gosto desse falar “maroto e sorto” até que alguém nos corrija “à forma Pombalina”, “correta”. O americano fala o inglês com o seu sotaque e di-verge em pronúncia com o britânico, está errado?! Será que os americanos lembram-se da sua língua nativa, de suas experiências primitivas de civi-lização, dos peles vermelhas, dos co-manches, dentre outros povos? Falar é experimentar a coisa que a palavra designa em nossa mente. A primeira palavra que conseguimos pronunciar é mãmã, mamãe, nascida do movimento bilabial de mamar. O bebê reconhece a mãe em quem mama. Há uma experiência que vai fluindo numa linguagem, numa comunicação. A mãe sabe que a criança quer o peito quando a chama, mexendo os braços e forçando as cordas vocais até que a pa-lavra alivia a ansiedade por esta neces-sidade básica, tornando desnecessário o choro. Ainda hoje, quando queremos chorar, gritamos pela mãe. Em todos os idiomas, essa figura que nos dá a luz e nos amamenta é designada com pala-vras de inicial eme, de mamar, como mother, madre, mama, etc.. Difícil é entender uma frase toda numa língua estrangeira, mais fácil é entender uma interjeição. Um grito, uma interpelação acompanhada de gestos.

 Para contar um causo, os caipiras fazem até o barulho do vento nas árvores. O caipira imita a fauna de sua região, sapos, grilos, pássaros; enquanto picam o fumo contam cau-sos ou cantam modas de viola, que vão de boca em boca e mantêm vivos seus sentimentos e suas experiências de dor, alegria, amor e devoção. Os causos, que carregam histórias de compadres ou fatos colhidos do ima-ginário, sobre a educação dos filhos, fatos hilários, anedotas em que o vi-lão não é desqualificado totalmente de sua humanidade e o ridículo pode ser o próprio contador, em sua inge-nuidade, que não teme o risível, mas a dispersão dos ouvintes. As mentiras são sabidamente mentiras e por isso são “verdades” que passam de boca em boca, contadas a um grupo ao pé do fogo, no estalar dos gravetos e no sono do tição guarda-fogo para acen-der outro (lá não tinham fósforos, nem energia elétrica!). Não nos deixemos levar pela baixa auto-estima, pelo sentimento de rejei-ção e de resistência cega “à pena de Pombal”. A língua é uma coisa viva e vai mudando, variando, adaptando-se, mas a essência dela é a experiência humana, que não podemos desprezar, por um falar diferente do nosso, um certo falar como o caipira. Ara!

Camilo Irineu Quartarollo é escrevente judiciário e escritor. www.camilocronicas.blogspot.com

por Camilo Irineu Quartarollo

Page 19: Revista Fusão Cultural

19ABRIL 2010

Imagens de Gilberto Pessato Jr., tiradas durante o ensaio do dia 28 de fevereiro.

A Companhia Estável de Teatro Amador de Pira-cicaba-SP (Ceta), dirigida por João Scarpa e Ricardo

Araújo, divulgou no dia 26 de março a lista dos novos integrantes. A seleção teve duas fases. Na primeira, os can-didatos fizeram redação e prova de palco (apresentação de cenas de até três minutos e improvisação). Nessa fase foram selecionados 30 candidatos para participarem da segunda fase, que consistiu em um estágio de três semanas (às segundas e terças-feiras).  Os trabalhados da Ceta em 2010 inicia-ram no dia 05 deste mês, com a inserção dos novos integrantes na peça “Beira Rio”, encenada desde 2009. Posterior-mente serão realizados estudos para uma nova montagem. Segue abaixo a lista dos selecionados em ordem alfabética.

Selecionados para compor o elencoAnágela CarvalhoBárbara Bruna Pereira VicenteGiovanni ScottonHeloisa Cordeiro PaschoaliniIolanda Carla Ferreira BarbosaLucas DiasNathalia Pezzato de OliveiraNayara Tosin RochaRafaela Cristina da SilvaRenan C. M. Da SilvaVanda de Jesus PereiraZen Endill Selecionados para operadores de som e luzBruno Parisoto LopesLuiz Guilherme Xavier Rodrigues

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Page 22: Revista Fusão Cultural

22 ABRIL 2010

A problemática da cultura está hoje no centro das atenções dos sistemas educacionais verdadeira-

mente comprometidos com a forma-ção dos educadores e de profissionais de diversas áreas, para o século XXI. Nenhum deles pode ignorar as difíceis questões do multiculturalismo, das di-ferenças de raça, gênero, etnia, sexuais, religiosas, de linguagem, de região, da ética. Essas questões exercem um papel importante na definição do significado e do propósito da escolarização, no que significa ensinar e na forma como os estudantes devem ser formados para viver em um mundo que será ampla-mente globalizado, com alta tecnologia e racialmente diverso que em qualquer outra época na história. O interculturalismo parte de um conceito de cultura dinâmico, que per-mite o intercâmbio e o diálogo entre os grupos culturais e seu mútuo enri-quecimento. Não considera nenhuma cultura como superior a outra e com direito a dominá-la, mas tampouco compartilha com os relativistas o fato de que todas as culturas têm igual valor. Coloca uma contínua reflexão crítica dos elementos culturais, co-meçando pelos de sua própria cultu-ra, para ir desterrando todos aqueles valores que entram em conflito sério com valores humanos universais que devem ser compartilhados por todas as culturas, pelo que se torna absolu-tamente necessário um diálogo con-tínuo sobre os valores interculturais.

Ao considerar a diversidade cultural como positiva, não a considerando como um problema, mas como um a expressão da riqueza da espécie hu-mana, não se exacerbam as diferen-ças, mas apenas se buscam elementos que possam unir os distintos grupos e que possibilitarão a comunicação e o entendimento intercultural. Daí que a educação intercultural não possa assumir toda a responsa-bilidade na implementação da justiça social necessária no mundo, mas pode sim, mediante os mecanismos peda-gógicos e escolares, propiciar esta in-teração dialógica entre culturas, num clima democrático que defenda o di-reito à diversidade no marco da igual-dade de oportunidades, flexibilizando os modelos culturais que se transmi-tem na escola. Ela possibilitaria aos alunos disporem de uma maior rique-za de conhecimentos e valores cultu-rais, próprios e alheios, enriquecendo crítica e reflexivamente não só no seu desenvolvimento integral enquanto pessoas, mas também propiciando sua conscientização e ação social solidária.  Como organizar conteúdos progra-máticos concretos em ordem ao inter-culturalismo e dispô-los no interior das matérias curriculares tradicionais? Será que poderemos falar de uma Didática do Interculturalismo a ser promovida-vigorosamente nas diversas instâncias da formação inicial e permanente de professores? O ensino da História e das Ciências Sociais não precisará ser glo-balmente repensado a esta luz? Será

por José de Sousa Miguel Lopes

José de Sousa Miguel Lopes possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1992), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995) e doutorado em História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2000). Atualmente é professor no Mestrado em Educação na Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e na Universidade Eduardo Mondlane (UEM) de Moçambique. Sócio fundador da Associação Internacional de Literaturas de Língua Portuguesa e Outras Linguagens (2004).

Page 23: Revista Fusão Cultural

23ABRIL 2010

difícil reconhecermos que, em larga me-dida, esse ensino continua impregnado de vozes ancestrais e é instrumento de profundos ressentimentos que opõem comunidades e culturas vizinhas? No momento de colocar em prática um modelo educativo intercultural e de uma proposta de programa edu-cativo para formar atitudes, estamos conscientes da essencialidade da fi-gura do professor como elemento chave para introduzir a educação in-tercultural e a formação de atitudes na escola. Por isso, acreditamos que não se devem oferecer propostas em termos acabados ou fechados, que se “vendem” aos docentes sem que estes tenham participado na sua ela-boração. Nossa ideia consiste em faci-litar a oportunidade e as ferramentas educativas para desenvolver modelos educativos e programas, teoricamente bem fundamentados e suficientemen-te flexíveis para serem adaptados ao contexto de cada escola. Tais modelos

teriam um enfoque e estratégias que se adequassem às necessidades e recur-sos dos professores e a uma perspec-tiva intercultural de formar atitudes e educar a partir e para a diversidade. Em termos de atitudes, um edu-cador intercultural deve ter com-promisso com a causa de seu povo, tolerância e respeito pelo diferente e abertura ao mundo (ao progresso e às inovações, que possibilitem a forma-ção das novas gerações com a capa-cidade de sobreviver adequadamente aos novos tempos, sem que por esse fato, possam ver-se obrigados a re-nunciar aos seus valores culturais). Quanto às aptidões, um educador intercultural deve possuir competên-cia profissional, com capacitação per-manente; capacidade de investigação e de aperfeiçoamento a partir de uma reflexão sobre sua própria experiên-cia; domínio da língua materna dos educandos e da segunda língua, lín-gua comum a todos os cidadãos.

A reconstrução do conhecimento por parte do docente e dos alunos organiza-se a partir das atividades, que são as que colocam de forma relacional o aluno, o professor e o conhecimento do currículo e estruturam dinamicamente a vida na aula. A partir de um enfoque intercultural, o professor se coloca no terreno dos conteúdos escolares que incluirão os processos de interação em sala de aula, gerando atividades que:• propiciem a participação ativa e a tomada de decisões dos alunos,• potenciem o enriquecimento intercultural,• se ajustem às distintas capacidades e interesses,• se possam aplicar a outros contextos,• permitam alcançar o êxito ou o fracasso,• favoreçam a crítica e o aperfeiçoamento progressivo,• potenciem a planificação e o desenvolvimento em cooperação,• comprometam pessoalmente os alunos na análise das próprias atitudes e valores, na busca de novas perspectivas compartilhadas.

Page 24: Revista Fusão Cultural

24 ABRIL 2010

por Rafaela Silva

Page 25: Revista Fusão Cultural

25ABRIL 2010

A vida do índio

O índio lutador,Tem sempre uma história pra contar.Coisas da sua vida,Que ele não há de negar.A vida é de sofrimento,E eu preciso recuperar.

Eu luto por minha terra,Por que ela me pertence.Ela é minha mãe,E faz feliz muita gente.Ela tudo nós dá, Se plantarmos a semente.

A minha luta é grande,Não sei quando vai terminar.Eu não desisto dos meus sonhos,

E sei quando vou encontrar.A felicidade de um povo,Que vive a sonhar.

Ser índio não é fácil,Mas eles têm que entender.Que somos índios guerreiros.E lutamos pra vencer.Temos que buscar a paz,E ver nosso povo crescer.

Orgulho-me de ser índio,E tenho cultura pra exibir.Luto por meus ideais,E nunca vou desistir.Sou Pataxó Hãhãhãe,E tenho muito que expandir.

(Edmar Batista de Souza - Itohã Pataxó)

Corpos nus e pintados, oca, cocar, dança da chuva, caça, pesca, lança, arco e flecha. Essas são algumas das principais referências do imaginário de grande parte da população brasileira quando o assunto é a cultura indígena. O massacre dos índios pelos coloni-

zadores do Brasil também é lembrado, mas discutido de forma superficial. Mesmo na atualidade, esses povos são tratados como seres estranhos, dis-tantes do dito “cidadão civilizado”.  Os temas recorrentes em grande parte dos meios de comunicação, que poderiam atualizar essa imagem do indígena, são sobre violência de índios contra “homens brancos”, por conta de invasões territoriais de ambas as partes, e algumas vezes sobre algum grupo desconhecido que vive isolado em algum ponto da floresta amazônica.  Um país considerado democrático e economicamente em ascensão, como o Brasil, não pode ignorar as especificidades de seu povo, seja ele índio, branco, amarelo ou negro. Por isso, a Fusão Cultural, nesta matéria de capa, abordará a vida do índio, com foco na contemporaneidade. Em decor-rência de os povos indígenas estarem resgatando suas tradições, é possível, ao analisar a atualidade, entender um pouquinho melhor o passado. ►

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atual realidade iNdígeNa De acordo com dados disponíveis no site da Fundação Nacional do Índio (Funai - www.funai.gov.br), há no Brasil cerca de 460 mil índios atual-mente, distribuídos entre 225 socie-dades indígenas. Além desses, são estimados entre 100 e 190 mil índios fora das terras indígenas. A estima-tiva é que existam ainda hoje próxi-mo de 55 grupos de índios isolados. Quanto à língua, a estimativa é de 180 línguas, divididas em 30 famílias lin-guísticas diferentes, segundo a Funai. Muitos povos foram extermina-dos, há alguns grupos que continuam isolados, mas há, sobretudo, aqueles contatados. Os indígenas, após o con-tato com o “homem branco”, incorpo-ram características da cultura desses. Segundo informações da Funai, a mudança nos costumes indígenas aconteceria mesmo se não houvesse ocorrido o contato com as sociedades de origem européia e africana. Para a Funai, “as variadas culturas das sociedades indígenas modificam-se constantemente e reelaboram-se com o passar do tempo, como a cultura de qualquer outra sociedade humana”. A diferença, no caso indígena, é que esse povo não teve muitas escolhas.  Com a colonização do Brasil, os índios foram forçados a abrir mão de muitos elementos de sua cultura, como a terra e a própria língua an-cestral. Atualmente, diferentes etnias indígenas têm realizado muitos esfor-ços para resgatar suas tradições. De acordo com Clarice Novaes da Mota, no artigo Ser Indígena no Brasil Con-temporâneo: Novos Rumos para um Velho Dilema, pode-se perceber que os índios estão em busca da reconstrução de sua autoimagem identitária, por conside-rarem esses fatores primordiais para a retomada da terra e demais direitos.  Há muitos índios vivendo no meio urbano, inclusive em aldeias urbanas, como a aldeia Kakané Porã, primeira do gênero no Sul do Brasil. A aldeia

Kakané Porã, localizada no bairro do Caximba, em Curitiba (PR), ocupa uma área de 44 mil metros quadrados, no qual vivem trinta e cinco famílias dos povos caingangue, guarani e xetá.  Esse modelo de aldeia urbana asse-melha-se aos assentamentos de famí-lias não indígenas, que são tiradas de seu ambiente (por motivos diversos, como o local ser de terceiros ou im-próprio para moradia) e levadas para um espaço tido como “mais apropria-do” pelo Estado. Em ambos os as-sentamentos, o assentado não tem o direto de decidir o seu destino.  As “inclusões” do índio na socieda-de “civilizada” realizados atualmente diferem-se dos efetuados antigamen-te. No passado, ser índio era visto como algo negativo. Hoje, ao contrá-rio, ser índio é visto como positivo, pois há um imaginário sobre o indí-gena, visto como um ser muito sábio, com conhecimentos ilimitados sobre a natureza. Mas mesmo essa positivida-de em torno da imagem do indígena não garante o fim da discriminação so-frida, sobretudo, pelos descentes. Para

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ter a sua terra reconhecida, demarca-da, o mestiço deve provar que é índio.  Mas não é só do espaço urbano que o índio começou a participar. Com o desenvolvimento da tecnologia da informação, o índio entrou em uma nova aldeia, a aldeia global. Segundo o conceito de aldeia global, criado pelo sociólogo canadente Herbert Marshall McLuhan, a partir do progresso tecno-lógico, as pessoas do planeta estariam vivendo na mesma situação de uma aldeia, em que todos se conhecem. Mas para muitos esse conceito é utó-pico, o mundo estaria longe de viver em uma aldeia e muito menos global.  Conceitos a parte, é visível a utiliza-ção das tecnologias da informação pe-los indígenas. Ao acessar páginas de relacionamento na internet, é possível fazer contato com muitos índios que vivem em aldeias ou no meio urbano.  Adotar costumes (roupa, alimen-tação, tecnologia, etc) do “homem branco”, no entanto, não faz com que o índio perca sua identidade ética. Assim como o índio, mesmo sendo mestiço, não deixa de ser indígena.

artes iNdígeNasPode ser dito que os índios são os mais antigos artesãos do Brasil. Quando o “homem branco” chegou ao País, encontrou diferentes formas de arte, como a pintura e a cerâmica. Apesar das semelhanças entre o artesanato das tribos, cada grupo tem a sua maneira própria de expressar as obras.  Segundo dados do site da Casa das Culturas Indígenas (www.iande.art.br), após o contato com o homem branco, os índios passaram a ter acesso a alguns materiais industrializados, que acabaram por incorporar em seus adornos. Inclusi-ve, em urnas funerárias indígenas, do século XVII, desenterradas no norte do Pará, foram encontradas miçangas de vi-dro produzidas na Tchecoslováquia.  Os artefatos culturais produzidos an-tigamente tinham maior valor ritual, ou eram objetos de troca com outros povos. Atualmente, são bens simbólicos, alter-nativas de renda. De acordo com Pierre Bourdieu, um bem simbólico se configu-ra quando a um objeto artístico ou cultu-ral é atribuído valor mercantil, ganhando status de mercadoria. ► Tribo Enawene Nawe, Mato Grosso.

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sigNifiCado das artes iNdígeNas

Cerâmica Entre as sociedades indígenas brasileiras, a cerâmica é, geralmente, confeccionada pelas mulheres. Atualmente, já são utilizadas tintas e instrumentos industrializados na produção. Na época das secas, as índias recolhem o barro, nas margens dos rios, armazenando-o em cestos ou folhas de palmeiras, para evitar que o barro resseque ; depois retiram as impurezas, como pedaços de gravetos e pedras, amassando a argila com um pilão, para obte-rem um grão bem fino e homogêneo. Para um acabamen-to de boa qualidade e uma boa liga, as índias misturam alguns componentes orgânicos ou minerais como palha picada ou ossos moídos. Alguns objetos produzidos são cuias, pratos, panelas e cachumbos.

Arte em MadeiraA madeira é utilizada para produzir instrumentos musicais, máscaras, bonecos, banquinhos, reprodução de animais e homens, pequenas estatuetas, entre vários outros objetos. A demanda comercial de turistas por esse trabalho é grande.

Cestas e TrançadosOs cestos são, em sua maioria, feitos a partir de folhas de palmeiras e usados para guardar alimentos. O traçado, como esteiras, tem características muito específicas da tri-bo que o produziu. Sendo possível a um estudioso identi-ficar a tribo pela obra.

Dança, Música e TeatroOs índios compõem e cantam como passatempo ou em rituais religiosos. Para acompanhar o canto, utilizam flau-tas e chocalhos, produzidos com madeira. Tanto a música quanto a dança, varia de acordo com a tribo. A dança se difere da nossa por não dançarem em pares, a não ser por poucas exceções como acontece no alto Xingú. A dança pode ser realizada por um único indivíduo ou por grupos. Em várias tribos é possível observar algumas representa-ções semelhantes às teatrais, como partes de um rito. Mui-tas são representações sem palavras.

Pintura As pinturas corporais são feitas tanto para as festas quan-to para os rituais religiosos. A guerra já não é comum, mas quando vão debater assuntos políticos, também se pintam. Entre muitas tribos a pintura corporal é utiliza-da como uma forma de distinguir a divisão interna. Mas há grupos que utilizam a pintura corporal segundo suas preferências. Também há índios que pintam quadros, na atualidade. Os desenhos e as pinturas em geral são acom-panhados de outras formas de arte, como a cerâmica.

Arte PlumáriaAs plumas são utilizadas na produção de cocares e outros artefatos, como máscaras. A arte plumária é um símbolo usado em ritos e cerimônias. Pode representar mensagens sobre sexo, idade, filiação (clã), posição social, importân-cia cerimonial, cargo político e grau de prestígio dos seus portadores e possuidores. O uso dos objetos plumários é privativo aos homens. A confecção das peças também é ta-refa dos homens, que obedecem a um ritual de fabricação (caça, coleta, separação, tingimento, corte, amarração, etc.) da matéria-prima, a fim de dar uma forma específica a ela.

Arte em PedraA confecção de instrumentos de pedra (ex.: machadinhas) fora de extrema importância no passado indígena, mas nos dias atuais os índios não mais costumam produzir artefatos em pedra devido à inserção de instrumentos de ferro. Mas há tribos que ainda utilizam esses artefatos em ocasiões especiais.

Literatura IndígenaCom o aprendizado da escrita, o indígena passou a es-crever como forma de comunicação, mas principalmen-te como instrumento de transmissão da tradição, antes passada apenas oralmente. A literatura indígena ainda é recente, mas já existem vários autores com trabalhos pu-blicados em meios virtuais e impressos.

Índio guerreiro

Sou índio guerreiroSou forte e matreiroHabitamos as selvasDo rio Andirá

Ouvindo os gorjeiosDe pássaros que voamPor entre as folhagensSoltando as plumagens.

Distantes dos laçosPreconceituososMantendo os costumesDa tribo Satere-Mawe.(Brito Ferreira de Souza – Poesias Satere-Mawe.)

Fontes dos significados das artes indígenas: Informações disponíveis nos sites www.iande.art.brwww.museudoindio.org.brwww.desvendar.comwww.overmundo.com.br.

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um PouCo dos Paiaguás A relação de Piracicaba (SP) com os povos indígenas é muito forte. O nome da cidade é herança indígena (Piraci-caba – lugar onde o peixe para). Bair-ros do município também carregam o nome indígena. Tupi (pai supremo, o pai), Caiubi (folha azul, anil), Ibitiruna (nuvem preta), Piracicamirim (lugar pequeno de peixe parar), Jupiá (espi-nheiro), Itapuã (pedra erguida). De acordo com informações do tex-to Os Primeiros Habitantes (site www.limeiraonline.com.br), índios do tron-co Tupi-Guarani imigraram do Sul para Norte do País no século XVII, em busca do paequerê – a terra sem males. Um grupo, a tribo dos paiaguá (paín-guás), hoje extinta, chegou à região do Rio Piracicaba e espalhou suas aldeias pelas terras que hoje correspondem à Piracicaba, Limeira, Rio Claro, Piras-sununga, entre outras.

 Há alguns indícios da vida dos paiaguá em Piracicaba registrados em pedras no Cemitério dos Paiaguá, loca-lizado onde hoje se encontra o Parque Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz. Além de mostrar a vida desses povos, essas inscrições também mostram a arte dos paiaguá. Segundo Archimedes Dutra, pintor, escultor e professor pira-cicabano, na tese de doutorado A con-tribuição de Piracicaba na arte nacional, à sensibilidade artística do piracicabano teve origem na sua raiz indígena.

“...importantes peças trabalhadas em cerâmica e pedra, na feitura de objetos de uso comum, de utensílios e urnas funerárias (igaçabas), caprichosamente decoradas.”

(trecho da tese de doutorado de Dutra)

iguais, mas difereNtesQuando a expedição de Cristóvão Co-lombo chegou às Américas em 1492 e encontrou aquele povo chamou-os de índios, pois, segundo a história, Colombo acreditava ter chego à Ín-dia. Desde então, ficaram conhecidos assim. Mas ter recebido o nome por conta desse “equívoco” é o menor problema dos povos indígenas.  Apesar da diversidade de tribos, todas elas são vistas como iguais. Mas não são. Assim como negros, brancos e amarelos também não são iguais. Mas mesmo sendo diferentes, os di-reitos devem ser iguais. É importante que as diferenças sejam respeitadas, pois, como diz um velho ditado, nin-guém é melhor que ninguém, mas apenas diferente. É importante olhar para as diferenças, a fim de não come-ter mais equívocos.

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Adeus Glauco...

O dia mundial do desenhista, comemorado no dia 15 de abril, será triste neste ano, por conta da perda do grande cartunista Glauco Villas Boas, 53. Glauco, como era conhecido, foi assassinado em sua residência na madrugada do dia 12 de março, juntamente com

seu filho, Raoni, 25. Conhecido por personagens como Dona Marta e Geral-dão, Glauco ingressou no jornalismo em 1970, no jornal Diário da Manhã. Em 1976,o cartunista foi premiado no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, o que lhe abriu as portas para a grande imprensa. Em 1977, ganhou espaço para publicar suas tirinhas no jornal A Folha de S. Paulo, meio que publicou seus trabalhos inéditos diariamente desde 1986, até o dia da sua morte.

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Sim. Há tatuagens que “acen-dem”, no entanto, apenas sob luz negra. As blacklight tattoos, ou tatuagens fotôni-

cas (feitas com tinta ultravioleta - UV), ainda são pouco conhecidas no Brasil, então a Fusão Cultural entrevistou o body artist Richie Streat, morador do estado do Colorado (EUA) e pioneiro nessa arte, para conhecê-la melhor.  Essa moda conquistou primeiramente os jovens norte-americanos da subcultu-ra raver. Em 2009, as blacklight tattoos popularizaram-se com a aderência de pessoas famosas a arte, como a atriz nor-te americana, Lindsay Lohan, 22 anos, que marcou a palavra breath (respire), no pulso direito. A modelo inglesa, Kate Moss, 34 anos, também entrou na moda, ao tatuar um par de corações no torso.

 Alguns chamam essa tatuagem de invisível, pois ela não precisa ser co-lorida, mas o nome é incorreto, pois a cicatriz do desenho é visível à luz do dia e também à luz branca. Além disso, já existem opções de cores, em que a tatuagem fica visível na luz na-tural, e brilha na luz UV.

Fusão Cultural: Como surgiram as blacklight tattoos? Richie Streat: As blacklight tattoos surgiram, primeiramente, em meados dos anos 80. Naquela época, no entan-to, os produtos químicos usados eram conhecidos por causar câncer. Ao con-trário da tinta disponível hoje.

Fusão Cultural: A técnica utilizada nes-se estilo de tatuagem difere da tradicional?

por Rafaela Silva

Richie Streat, pioneiro na blacklight tattoo

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Richie: Não. A tinta ultravioleta (UV) é aplicada da mesma forma da tatu-agem normal. Mas requer alguma habilidade e técnica para fazê-la corre-tamente. Especialmente quando você vai trabalhar com a tinta invisível. Pois você não consegue ver nenhuma cor, para ver o que você está fazendo. Isto requer alguma experiência.

Fusão Cultural: Qual a tinta utiliza-da para fazer a blacklight tattoo?Richie: A única tinta para blacklight tattoo que eu uso é uma feita pela Newest Technologie, nos Estados Unidos, que foi originalmente de-senvolvida para o monitoramento de animais e teve de passar por apro-vação do Food and Drug Administra-tion dos Estados Unidos (USFDA). Essa tinta é completamente segura para as pessoas. Há 13 anos, essa tin-ta é utilizada nos Estados Unidos em tatuagens, mas nunca foi registrado um caso de qualquer tipo de reação por conta da mesma.

Fusão Cultural: Não há licença para uso dessa tinta em seres humanos? Richie: Lamento dizer que não. Mas penso que deveria haver.

Fusão Cultural: Então, ao contrário do que muitos acreditam, não há ris-co dessa tinta causar alergias ou do-enças mais sérias, como câncer? Richie: Não. Essa pode, muito possivel-mente, ser a tinta mais segura do mundo.

Fusão Cultural: No Brasil, a bla-cklight tattoo ainda não é muito comum. Como é a aceitação dela ai nos Estados Unidos? Richie: Ainda há muitos body ar-tists aqui nos Estados Unidos que, como os antigos, acreditam que a tinta utilizada nessa tatuagem faz mal, e ficam com medo de usar. Mas não faz mal. As demais pessoas já amam essa arte, e há muito tempo a estão exibindo por aqui. A ima-gem dessa tatuagem ainda está se recuperando. Eu acredito que nos próximos anos, nós veremos mais e mais blacklight tattoos sendo fei-tas. Se os leitores da Fusão Cultural quiserem mais informações, po-dem acessar os sites:www.thedungeoninc.com www.tattooartists.org.

Imagens cedidas por Richie Streat

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O aclamado sucesso ou o reconhecimento sem-pre são desejados tanto pelas bandas iniciantes quanto pelas de nível profissional. Entretanto, o que poucos sabem é que para chegar ao topo

é necessária a gestão da carreira, que consiste em traçar exatamente qual o caminho seguir: planejamento.  Existem ações administrativas que auxiliam no de-senvolvimento da carreira musical. Apesar de elas não levarem a fama instantânea, apresentarão novas percep-ções, servindo de alerta, principalmente, aos mais des-lumbrados, de que o caminho para atingir o sonhado objetivo é longo e árduo, mas pode ser organizado e en-curtado com ações certas, baseadas em um planejamen-to estratégico bem definido. Quando uma banda almeja o profissionalismo e se en-volve com o mercado musical, o trabalho executado deve ser encarado da mesma forma que uma empresa faz ao desenvolver um novo produto, agregando conhecimen-tos em propaganda, marketing, contabilidade, logística, recursos humanos, entre outras questões que muitos na ânsia de fazerem fama acabam vendo-as como desneces-sárias, mas definitivamente, não são. Entendendo que todas as ações da banda devem ser pla-nejadas, você começa a focar suas atitudes, evitando as-sim, gastos desnecessários ou até mesmo tempo perdido. Um bom item que deve ser analisado é seu público-alvo. Conhecê-lo detalhadamente fará com que você tenha as diretrizes certas para uma boa campanha de divulgação, incluindo o mapeamento dos lugares ideais para apre-sentações, evitando assim tocar em ambientes que não acrescentarão nada em sua carreira, pois seu público não frequenta todos os bares e casas de shows da região. A seguir, alguns departamentos presentes em empresas

e o que eles podem fazer pela sua carreira:  Propaganda e Marketing: irá lhe auxiliar no desenvol-vimento do nome, e até mesmo mostrar qual o posicio-namento da sua banda no mercado musical: Como você deseja que sua banda seja lembrada? A Propaganda aliada ao marketing é capaz de trazer soluções criativas e sólidas para a melhor divulgação de sua carreira. Financeiro: irá reunir informações de custos, valores e despesas como aluguel de estúdio, transporte, próximos investimentos, compra de novos instrumentos entre outras diretrizes. É muito importante que a banda tenha um caixa, onde todos os integrantes possam avaliar os lucros e prejuí-zos e discutirem quanto será cobrado pelos shows, lembran-do que o valor não pode ser único, havendo flexibilidade diante das análises de todos os gastos envolvidos no mesmo. Vendas: Os músicos, em sua grande maioria, exercem sua profissão com muito amor e prazer, muitas vezes nem julgam o ato de tocar totalmente profissional, com esse pensamento não conseguem valorizar o seu produto, fa-zendo com que as vendas dos shows acarretem em gran-des prejuízos. Os bares e casas de shows sabendo desta fragilidade de negociação de muitos, normalmente ofer-tam um preço baixo pela apresentação, o músico aceita, contribuindo para a desvalorização do profissional.  Existem outros departamentos tão necessários quanto esses, e que devem ser igualmente avaliados. Com as infor-mações passadas já dá para por algumas idéias em prática, certo? Recicle seus conhecimentos, descubra outros estilos musicais além do seu, busque conhecer novas pessoas, par-ticipe de eventos, shows, palestras, ampliando, assim, seu networking. Foque os seus objetivos. Agindo dessa forma, seu futuro promissor já está sendo traçado. Do resto, é subir no palco e fazer o que você mais entende: música!

Oswaldo Cambiaghi Netto é bacharel em Publicidade e Propaganda, músico e professor de bateria e gaita há mais de 10 anos e atualmente é coordenador do departamento de Propaganda e Marketing e Supervisor

do Atendimento Online da Frias Neto Consultoria de Imóveis. Blog: www.blogtresm.blogspot.com

E-mail: [email protected] Oswaldo Cambiaghi Netto

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Durante as festas comemorativas (nas quais é sempre feita uma roda em que todos se dão as mãos para representar a força e união da família), são utiliza-dos cestos com flores, pétalas de ro-sas, moedas, tachos de pétalas, véus, lenços, pandeiros redondos com fitas coloridas. A dança é composta por xales, leques e incensos, expressando alegrias, encontros e lembranças; gi-ros coloridos, o ritmado bater de pés e mãos e os movimentos de quadris.  A força da dança cigana, no entanto, está no olhar. Através do olhar, os ciganos acreditam poder expressar o magnetismo dos sentimentos do coração e da alma. Regiris, que conviveu com os ciga-nos dos clãs Matchayas e Lovara desde sua infância, afirma “foi com os ciga-nos que aprendi a superar as dificul-dades, ver o lado bonito e positivo que todas as pessoas e situações oferecem. Valorizando potenciais e virtudes que todos possuem, na oportunidade de estabelecer a paz em nós e para o mun-do. Demonstrar isso através da dançar cigana é esplêndido! Não é preciso di-zer, basta apenas sentir a liberdade de ser movimento, de ser vida, de trans-mitir e receber amor e energia”

Em um bailado colorido, alegre e envolvente, avistam-se co-res, risos e cantorias. Por entre muitos caminhos do mundo,

são tidos como os “filhos do vento”. A cultura cigana possui princípios que visam à liberdade. Conhecidos como nômades, e, atualmente, em sua maioria, seminômades, têm na dança uma forma de expressar seus senti-mentos e emoções, celebrando unidos e reverenciando os elementos da na-tureza (fogo, terra, água e ar), que em harmonia atingem a grandeza da sen-sibilidade no quinto elemento: a alma. A dança cigana se desenvolveu através desse caráter de nomadismo, pois a cada país visitado, incorporam características das demais culturas na dança. Esta se caracteriza por sua li-berdade de movimentos, e é tida como expressão da alma, o que desenvolve simbologias místicas, passadas de ge-ração a geração oralmente. A improvi-sação é priorizada na dança.  Regiris Barake, afilhada de ciganos, como um resgate às suas origens e em homenagem aos seus ancestrais, tor-nou-se professora bailarina e dança-rina divulgadora da cultura e da arte cigana a partir de 1989. Segundo Regiris, “a dança cigana agrega vários ritmos e movimentos de

outras danças, como os dos estilos tur-cos, gregos e folclóricos do Leste Euro-peu, apresentando a força do flamenco nos gestos, expressão e passos. Essa dança apresenta muito encanto tam-bém por ter inserido em seu estilo todo o mistério das danças do Oriente, como a dança do ventre e das ghawazee (dançarinas ciganas do antigo Egito)”.  Uma das características da dança ci-gana está na incorporação de adereços que variam conforme a influência re-cebida por determinado grupo cigano.

Foto de Regiris Barake, que atualmente divulga a dança cigana no Projeto Bailare. www.mandalacigana.com.br.

por Larissa Martins

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No teatro dell’Opera, em Roma (Itália), ou nos teatros da Broadway, em Nova Iorque (Esta-dos Unidos), a arte é apresentada de forma completa: música, dança, teatro, além das ar-

tes plásticas. Semelhantes, mas diferentes, a ópera e o mu-sical têm características que os aproximam e os afastam.  A ópera é uma peça teatral cantada. Além do acompa-nhamento de orquestra, pode incluir danças e diálogos falados. Surgiu em Florença (Itália), no século XVI, mas passou a ter as características completas de uma ópera ape-nas em 1607 com Orfeu, de Cláudio Monteverdi.  O musical tem teatro, música, dança, diálogo falado e até orquestra. No entanto, a apresentação é realizada por atores que também cantam, e não por cantores, como na ópera. O musical teria começado com o alemão Richard Wagner, que decidiu nomear assim suas obras, libertan-do suas composições da ópera italiana. O musical também tem raízes em outras variadas formas teatrais, como a ope-reta, o cabaret e o burlesco.  Apesar de o musical ter surgido a partir da ópera, o musi-cal não é uma evolução dessa, pois a ópera continua existin-do, e teve sua própria evolução, que não a descaracterizou. 5

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Óperas de destaqueAída Carmen Flauta Mágica Guilherme Tell La GiocondaO Barbeiro de Sevilha

Musicais de destaqueAmor, sublime amorCatsMinha bela damaRentO fantasma da óperaOklahoma

por Rafaela Silva

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Ao ler sobre remakes cine-matográficos, me recordei do texto de Walter Benja-min, A obra de arte na era

de sua reprodutibilidade técnica (1955), no qual discute o modo de produção capitalista dentro das tendências de evolução da arte enquanto condição produtiva, como também a auten-ticidade na arte (aura), nas quais as modificações sempre partem da obra original, expondo que “a reprodução da obra de arte e a arte cinematográ-fica – repercutem uma sobre a outra”. Sou suspeita a falar sobre remakes por ser apaixonada por clássicos do cinema, fascinada por detalhes que acabam expressando condições de produção cinematográfica da época, assim como cenários, roupas, músi-cas e atores insubstituíveis. Adoro um preto e branco, apesar de também me render à curiosidade sobre cinema 3D (Tridimensional). Afinal, um remake se-ria a falta de imaginação na criação de roteiros, ou uma forma de retomar fil-mes clássicos através de adaptações às novas contextualizações e tecnologias?  Um remake é um filme clássico

com direitos autorais acessíveis que é transformado por uma releitura do original, podendo ter modificações totais ou parciais, ou visto como uma homenagem, ou como uma crítica. Não se pode ignorar, no entanto, que os filmes são investimentos, os quais a estudiosa Isabel Regina Augusto em sua dissertação de mestrado (Remake cinematográfico, uma análise de trans-formações, UnB-1999) define como um produto estético no mercado cultural.  Um remake, que estreou no mês de março deste ano, merece destaque, o filme O Lobisomen (The Wolf Man). Clássico do cinema em 1941, dirigido por George Waggner, teve a direção do remake por conta de Joe Johnston (Juras-sic Park III), contando com Benicio Del Toro e Anthony Hopkins no elenco. Tido segundo o diretor como uma ho-menagem ao clássico, apesar de manter o ambiente original da Inglaterra Vito-riana e a essência do horror, tem mo-dificações significativas na narrativa e é adaptado às novas tecnologias enfa-tizadas pelos efeitos especiais nas mi-núcias da transformação homem-lobo e também em algumas cenas de ação.

 O cinegrafista e editor de vídeo, Naan Silva, comenta que esta dis-cussão sobre os prós e contras dos remakes já é de longa data, diante da qual prefere acreditar que esteja re-lacionada às adaptações aos avan-ços tecnológicos devido à expansão do mercado cinematográfico, “Nada mais justo que em meio a tanta tec-nologia e superproduções milionárias ainda lembrem-se de grandes clássi-cos que fizeram e ainda fazem parte da nossa história. Tenho certeza que muitas pessoas conheceram grandes películas como King Kong, Planeta dos Macacos e A Fantástica Fábrica de Cho-colate, a partir de seus remakes, que sendo bem feitos ou não, consegui-ram trazer de volta produções já de sucesso em décadas passadas”. Para quem gosta de cinema e tem curiosidade quanto aos remakes, ain-da para o mês de maio estreará no Brasil o filme A hora do pesadelo, para o segundo semestre o lendário Karate Kid, e no mês de novembro, nos Esta-dos Unidos, mas com expectativa de exibição também em território brasi-leiro, Poltergeist – O Fenômeno.

por Larissa Martins

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Era necessário aguçar todos os sentidos, trabalhar formas de arte articuladamente. In-corporar à arte, que estava

morrendo, a visão do design, na qual o processo criativo passara a atuar na construção de mensagens como bens simbólicos, segundo Décio Pignatare – um dos membros da tríade concreti-vista composta juntamente com os po-etas Augusto de Campos e Haroldo de Campos. Desenvolver todos os aspec-tos da palavra: som, imagem e sentido.  A poesia, então, extrapola o espaço literário, ganha materialidade a par-tir de 1950. É criada assim uma arte geral da palavra, chamada poesia concreta. Composta pelas seguintes carac-terísticas: Ideograma (comunicação não verbal), atomização (desmanchar as palavras para criar outras significações), metacomunicação (articulação entre o verbal e o não verbal), polissemia (uso de trocadilhos, justaposições de subs-tantivos e verbos) e estrutura verbi-vocovisual (valorização do aspecto gráfico da letra).

Décio Pignatari, Um movimento, 1956Fonte: www.poesiaconcreta.com.br

por Rafaela Silva

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Não, não é de avião, não é de carro, não é de ôni-bus, e nem de trem. Isso mesmo, você leu direito

o título: Turismo a pé. A cidade de Limeira (SP) proporcionou esta nova idéia de conhecer os principais pon-tos turísticos, históricos e culturais da cidade através de uma caminhada com a duração de três horas.  Desde 1999, esse projeto tem atra-ído muitos visitantes, afinal, a pé, você tem mais tranquilidade para observar, pode fotografar despreocu-padamente, e ainda é acompanhado por um guia turístico para ao mesmo tempo ir caminhando e conhecendo um pouco da história da cidade. Segundo a Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Turismo e Eventos da cidade de Limeira, o projeto já recebeu mais de mil visitantes no ano passado. As caminhadas históricas ante-riores tinham como destino fixo visitas ao Palacete Levy, à Igreja da Boa Morte, ao Centro Cultural Municipal, à Praça Toledo de Barros, ao Museu Major José Levy Sobrino e ao Zoológico Municipal, dentre estes locais, ainda havia a opção de conhecer no trajeto o Centro Cultural Afro-Brasileiro da cidade.  Todo ano algo no projeto é inovado, a fim de atrair um maior número de visi-tantes. Em 2010, a Secretaria Municipal de Turismo e Eventos elaborou dois novos ro-teiros como opções para a caminhada. 

Roteiro 1Praça Luciano Esteves (Marco Zero e Altar da Pátria).Catedral Nossa Senhora das DoresIgreja Nossa Senhora da Boa Morte e AssumpçãoPalacete Levy.Praça Toledo Barros (Obelisco, Gruta e Teatro Vitória).Centro Cultural Municipal.Zoológico Municipal.

Roteiro 2Prefeitura Municipal (Edifício Prada);Cemitério Saudades;Asilo João Kühl Filho; Casa das Crianças Santa Terezinha;Igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus;Parque Cidade de Limeira (Museu da Jóia/Circuito da Ciência).

Fonte: Dados da Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Turismo e Eventos de Limeira, 26/03/2010

O Turismo a pé é gratuito e pode ser realizado de segunda a sexta-feira, optando pelo o período da manhã ou o da tarde, sendo a única exigência um agendamento de grupos de no mínimo 15 pessoas. Uma boa opção para curtir com a família ou amigos, e co-nhecer um pouco mais da cultura e da história de uma das cidades do interior paulista.Mais informações e agendamentos pelos telefones (19) 3444-4464 e (19) 3413-3185. ■

por Larissa Martins

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Logo que se conhece Carmela Pereira, com seus 73 anos, per-cebe-se sua força, humildade, inteligência e criatividade. Ela

participa da Bienal Naïf do Sesc Piraci-caba (SP) desde o ano de 1992. Ao desco-brir seu envolvimento apaixonante com a arte naïf, procurei contatá-la. Ao chegar à casa de dona Carmela, avistam-se muitas flores. Quando me reconhece no portão devido ao nosso encontro marcado por telefone, adiado há alguns dias por seus problemas de saúde, abre um sorriso e me convida para entrar. Logo ao entrar no interior da casa, contemplo o visual de artes naïf: são telas, guardanapos, camisetas e ímãs de geladeira. Um colorido con-tagiante. A arte está em tudo, desde a decoração, aos mínimos detalhes. A história de vida de dona Carme-la, resume-se em uma frase pronun-ciada pela mesma em conversa sobre crenças e conquistas, “a gente é o que acreditamos ser”. Seu envolvimento com a arte teve início com o primei-ro prêmio de pintura conquistado aos nove anos de idade, no Lar Escola

Coração de Maria Nossa Mãe (anti-go Asilo de Órfãs Coração de Maria Nossa Mãe), local onde viveu até seus quinze anos por se tornar órfã aos sete. Carmela narrou a história com um saudoso carinho, “Quando a irmã Maria da Glória me falou que o prê-mio seria somente para quem fizesse o melhor quadro, logo respondi ‘mas eu sou pintora! ’”. O prêmio para o melhor quadro era um saquinho de balas, “Para nós, crianças, que não tí-nhamos nada, aquilo era muita coisa. Bem diferente da época de hoje.”  Na maturidade reforçou-se sua identificação com a arte naïf. Ao con-versarmos sobre este estilo artístico a artista plástica enfatiza, “a arte naïf vem de dentro da gente, como um estilo próprio, uma coisa muito da pessoa. A arte naïf reflete um dom”. Apesar de ser uma grande represen-tante na cidade de Piracicaba desta arte, suas obras chegaram a ser recu-sadas por alguns espaços, por serem consideradas “pinturas de criança”, preconceito comum aos que não (re)conhecem a significância desta arte.

 Os pintores naïfs são autodida-tas, se destacam por não seguirem tendências. Suas obras remetem a uma arte tida como livre, pura, na-turalmente surgida, identificada pela simplicidade nos traços do pincel, com um colorido vivo (geralmente predominante em cores primárias), sem grandes nuanças e nem muita simetria. Expressam a liberdade e a imaginação. Por sua independência estética, simplicidade e desprendi-mento temático, podem se aproximar à arte popular e à arte folclórica. Na arte naïf ocorre a fusão entre memória e coração com a liberdade de pincelar, “o artista naïf se perde no desenho”, complementa dona Carme-la enquanto mostra seu ateliê e conta a história de cada obra, uma demonstra-ção pura de envolvimento e sintonia com o que faz. Carmela Pereira reflete a essência da arte naïf, pois a simplici-dade de vivência e a intensidade pelos sentimentos com a vida através da arte compõem um quadro de muitas cores e lembranças que servem de motiva-ção diante da realidade.

A simplicidade no amor pelos pincéis

por Larissa Martins

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O glamour das estrelas de cinema de épocas passadas em uma sensualida-de não vulgarizada. Neste encontro entre estilo e retrô (roupas antigas que

retornam na moda atual), reaparecem as pin-ups. As pin-ups repercutiram na década de 40. Eram as “garotas de calendário”, fotografadas ou dese-nhadas, e que apareciam em revistas, jornais e car-tões-postais, incendiando o imaginário masculino. A origem do nome pin-up vem de sua tradução do inglês “pendurado”, justamente por estes calendá-rios e imagens ficarem pendurados em paredes e armários de estabelecimentos como borracharias.  Eternizada pela modelo Bettie Page, pela atriz Mari-lyn Monroe e pela personagem de desenhos animados Betty Boop, a pin-up está em roupas retrôs, estampas entre xadrez e bolinhas, vestidos rodados, saias godês, corset, calças capri justas, muita cintura alta e tudo com um bom salto alto para valorizar as curvas.  O visual tradicional da pin-up tem como evidên-cia nos cabelos os cachos marcantes ou coques, e na maquiagem, um bom batom vermelho, um pó compacto que deixe a pele uniforme, delineador preto no qual o traço no final dos olhos seja um pouco estendido (estilo “gatinho”, anos 60) e cílios bem realçados por rímel ou por cílios postiços. A pin-up passou a ter uma grande influência na cultura pop na atualidade. Anteriormente tida como somente personagem fotográfica por caras e bocas, esta hoje passou a fazer parte na composição do estilo. Reapareceu, inclusive, como tendência na Paris Fashion Week 2010 na coleção Louis Vuitton, que pegou o retrô e as be-las pin-ups dos anos 50 como inspiração. Além

do mundo fashion, mesclando moda, inocência e provocação, as pin-ups reviveram na mídia em nomes como o da modelo e atriz Rita Von Teese.  A pin-up contemporânea ainda mantém a risca a maquiagem da época de 40, no entanto hoje en-contramos as “pin-ups modificadas”. Elas mantive-ram o estilo retrô, mas inseriram à estética pin-up tatuagens, piercings, alargadores, sapatos colori-dos de salto alto “peep-toes” ou sapatilhas, presi-lhas de flores, laços e estampas divertidas, sendo a mais em evidência a estampa de cerejas.  A cabeleireira Iracema Xavier, 35, mais conhe-cida como Ira Pin-Up, descobriu-se pin-up há três anos através de sua sobrinha, “Sempre usei roupas dos anos 50 e 60, adoro a Marilyn Monroe e a Rita Von Teese. Minha marca registrada está em sempre usar um laço no cabelo, batom vermelho e aquele puxadinho nos olhos! Descobri depois o que era uma pin-up e me identifiquei em tudo.” Ira acredi-ta que a pin-up moderna aderiu além da tatuagem, à franja e à estampa de oncinha, ressaltando que “a verdadeira pin-up está em uma maquiagem forte, um cabelo bem arrumado, um decote insinuante, num jogo de “mostra-esconde” feito pelas roupas, uma mulher sexy sem ser vulgar”.  A pin-up modificada expressa a sedução e a deli-cadeza da era retrô, apesar de no passado ter sido ligada à imagem da “sex symbol-mulher bobinha” que fazia todas as vontades dos homens, hoje as pin-ups através de seu estilo representam a femi-nilidade alicerçada à sensualidade, deixando bem distante uma visão machista da mulher enquanto mero objeto, transformando-se em um ícone de in-dependência sexual, elegância e glamour.

por Larissa Martins

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Haru Xynã é um índio da aldeia Kuntamanã, locali-zada no rio tejo, afluente do rio juruá, reserva ex-

trativista do Alto Juruá, em Marechal Taumaturgo (AC). Apesar da pouca idade, 28 anos, a luta e sabedoria de Haru são imensas e ganharam o mun-do, lhe rendendo o diploma de Embai-xador da Paz da Federação para a Paz Universal (UPF) na Holanda em 2009.  Simples em suas palavras, mas muito firme em seus propósitos, Haru atendeu prontamente ao meu telefonema e, após conhecer a Fusão Cultural, aceitou de imediato partici-par da edição. Na primeira pergunta, busquei entender o significado do seu nome. Ele relutou em dizer, mas falou, Haru Xynã significa em portu-guês o espirito verdadeiro. No entan-to, não importa o significado de um nome, visto que a pessoa é o que é, como diz o mantra sânscrito: Ham Sah (Eu sou isso). Haru também tem um nome em português, mas ele prefere usar o nome indígena. Então limitar-me-ei a chamá-lo Haru.

Fusão Cultural: Quantos são os Kunta-nawa atualmente? Haru Xynã: Atualmente, vivem cerca de 380 pessoas na tribo. Mas também há perto de 50 vivendo na cidade.

Fusão Cultural: A aldeia é legalmente dos Kuntanawa? A área é demarcada? Haru: Não, ainda está em processo de demarcação. Vivemos em uma área extrativista, criada por nós. Hoje são 600 mil hectares, divididos entre os Kuntanawa e outras pessoas não in-dígenas. O processo de demarcação é para uma área de 100 mil hectares, em que viverão apenas os Kuntanawa.

Fusão Cultural: Qual a língua falada por seu povo? Haru: Falamos o português. Você sabe o que aconteceu na história indígena, quando os brancos chegaram aqui, acabaram com tudo, inclusive a nossa própria língua. Mas estamos em pro-cesso de resgate do nosso idioma.

Fusão Cultural: Atualmente, a cultura indígena ainda é explorada? Haru: Há exploração das questões indí-genas. Falta atenção. A Funai (Fundação Nacional do Índio) praticamente não corresponde à realidade dos povos indí-genas. Comercializamos produtos como pulseiras, brincos e anéis. Mas há pessoas que querem se aproveitar. Não comercia-lizamos cocares, pois esses são sagrados; as penas são de pássaros sagrados.

Fusão Cultural: Você tem filhos? Haru: Tenho três.

Fusão Cultural: Como é a educação na aldeia? Como é passar a tradição ancestral para os seus filhos, para as futuras gerações?Haru: Nós temos que preparar os fi-lhos para viverem nos dois mundos, o ocidental e o tradicional. Eles devem aprender a fazer interações. Hoje, a re-lação com a sociedade é diferente. Te-mos que estar preparados para tudo. Mas há educação formal e também tra-dicional nas escolas dentro da aldeia. Também há aqueles que vão estudar na cidade. Há índios formados na faculda-de. Hoje tem até índio doutor.

Fusão Cultural: Entramos em contato com você pelo orkut e por telefone. Como é a relação da sua aldeia com a tecnologia? Haru: A tecnologia é a forma mais fácil de nos comunicarmos com a ci-dade. Podemos receber as notícias aqui mesmo, estando na nossa terra. Devemos usá-la porque é importante, tem muita utilidade, só não podemos deixar esse contato prejudicar a nos-sa cultura. Ainda não temos telefone na aldeia, o celular não funciona, mas temos telefone próximo. Também te-mos ponto de internet.

Fusão Cultural: Você participou da Cerimônia do Fogo Sagrado na Gro-enlândia em julho de 2009, evento que reuniu milhares de representantes de

por Rafaela Silva

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todo o planeta em um alerta sobre as consequências do aquecimento global. Como foi essa experiência? Haru: Essa viagem para a Groenlân-dia me chamou a atenção para várias coisas. Lá é a maior ilha do mundo, tem muito gelo, mas o gelo está der-retendo. Há rios de gelo. A impor-tância de olhar para a Groenlândia é a mesma de olhar para a Amazônia. As duas são como balanças que me-dem o equilíbrio da Terra. Vi que a humanidade deve se preparar, pois o mundo está passando por mudanças muito grandes, e se continuar assim, o planeta deve estar destruído em cin-quenta anos. A água do derretimento das geleiras inundará as cidades. E isso afetará tudo, inclusive nós aqui da Amazônia. E isso já é observado no Brasil; enchentes, secas.

Fusão Cultural: Você tem viajado a Bra-sília, não apenas para conseguir a de-marcação das terras, mas também para debater questões ambientais. Como o go-verno tem tratado esse último tema? Haru: O governo não tem dado tanta atenção à questão ambiental, ele não tem, de fato, discutido a respeito. Além de tudo, querem tirar cláusu-las do código florestal, para desma-tar ainda mais áreas, sobretudo às indígenas, pois são terras boas, que

produzem, pois nós cuidamos. É ne-cessário criar ações concretas, debater nas escolas formais a questão ecológi-ca, o saneamento, o reflorestamento. E nós da aldeia podemos ajudar, pois sabemos mudar essa realidade.

Fusão Cultural: Você quer deixar alguma mensagem para os leitores da Fusão Cultural?Haru: Gostaria de tirar essa visão de que os índios são pessoas que vi-vem na floresta sem conhecimento. Nós temos conhecimento da terra, da vida. Queremos que as pessoas tenham respeito. Os acadêmicos de-vem tratar os saberes tradicionais indígenas com respeito. Não que-remos ser melhores, queremos que haja troca de conhecimento entre nós e as pessoas ocidentais. Para um mundo melhor, é necessário uma aliança entre toda a sociedade, e a partir de agora. Falta civilização. Assim, precisamos também de mais amor, mais respeito, e não apenas com o povo indígena, mas com toda a vida, inclusive toda a natureza. A terra está doente e precisa de cui-dados especiais. A Terra é uma só e todos nós devemos cuidar. A terra é sagrada. Ela é o bem mais sagrado, mais precioso. A terra é onde vive-mos, é a nossa vida, é a nossa mãe, e deveria ser assim para todos.

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Disse certa vez a um amigo que “aceito o fato de algu-mas pessoas não acredita-rem que o homem foi à lua,

todavia, considero criminoso aquele que nega o massacre dos povos indígenas”. Essa história é conhecida por boa parte dos brasileiros, a despeito dos malefí-cios impostos aos indígenas, do período da colonização até os dias de hoje. Em todo país, a mídia tem divulga-do, mesmo que de forma “tímida” e su-cinta, as batalhas que têm sido travadas entre os povos indígenas e os fazen-deiros invasores de suas terras, grilei-ros, posseiros, arrozeiros e políticos truculentos, no que concerne ao reco-nhecimento das terras, legitimamente indígenas desde a sua existência! Todavia, em meio aos conflitos, se sobrepõe a força, a organização, a de-terminação e resistência de povos, al-guns até considerados extintos ou até mesmo, confundidos com a massa da população não-indígena de algumas localidades, tendo seus direitos rene-gados, como aconteceu com a Nação Xukuru do Ororubá, aqui em Pernam-buco, que conseguiu de forma surpre-endente retomar sua terra e o direito de vivenciar plenamente sua cultura, como o Toré, antes proibido, conside-rado uma prática maléfica. Uma grande conquista desta década para a questão indígena no Brasil, sem dúvida, foi a Lei 11.645/08, que refor-ma a Lei 11.639/03, tornando obriga-

tório também o ensino da história e cultura indígena em todas as escolas do país, além da cultura afro-brasileira e, “embora careça de maiores defini-ções, objetiva a superação dessa lacu-na na formação escolar. Contribuindo para o reconhecimento e a inclusão das diferenças étnicas dos povos indí-genas, para se repensar em um novo desenho do Brasil em sua diversidade e da pluralidade culturais”, como dito pelo professor e pesquisador da UFR-PE, Edson Hely Silva. Alguns julgam a lei desnecessária, ou de difícil aplicabilidade, no entanto, já temos noticias de diversas escolas que, não apenas implementaram em sua grade curricular esta disciplina, como estão proporcionando diversos mo-mentos de interação e aprendizagem entre os alunos e os povos indígenas de seus estados, sem que essa presen-ça dos indígenas nas escolas adquira caráter folclórico, o que já podemos contar como ponto positivo, embora, é claro, tenhamos consciência de que este é apenas um pequeno passo no longo percurso que precisa ser trilhado. É inegável que a falta de informa-ção conduz ao desrespeito e posterior discriminação para com os povos indígenas. O desconhecimento é res-ponsável por atitudes preconceitu-osas, como por exemplo, quando informei aos pais de meus alunos que iríamos visitar uma aldeia indígena ano passado. Alguns retrucaram que

seria perigoso. Felizmente, a edu-cação tem o poder de transformar vidas, em todos os segmentos e clas-ses sociais. Realizamos a atividade, e nossos alunos esclareceram os pais acerca do que viram e ouviram. Essas visões deturpadas sobre os ín-dios vêm mudando nos últimos anos. E essa mudança ocorre em razão da visibilidade política conquistada pelos próprios índios, desde a elaboração da Constituição de 1988 vigente no País, que contou com a participação de di-versas lideranças indígenas do Brasil, e além de garantir o inicio da demarcação de suas terras, direito à saúde e educa-ção diferenciadas, contribuiu para que o Brasil redescobrisse os nativos – índios. Especialmente através da internet, e veículos de comunicação, “nossos índios” estão conhecendo objetos que facilitam algumas tarefas do dia-a-dia, como os transportes, além de vestuários da moda, alimentação va-riada. No entanto, cabe ressaltar que, sua identidade se sobrepõe aos atra-tivos da “civilização”. Como todos os seres humanos, eles tem direito a fazer suas escolhas, mantendo-se fiéis às suas raízes e história, construída ao longo de milhares de anos.

Índios - 510 anos de resistência!

por Sunamita Silva de Oliveira Sunami ta S i lva de Ol ive i r a , indigenista de coração, é professora de escola pública municipal há 10 anos, em Gravatá (PE), estudante de Pedagogia na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e de História na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Blog:www.educarencantando.blogspot.com

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