revista cultural carioca

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22 Dúvidas: Na edição anterior, tem uma matéria que faz críticas ao filme Juntos somos melhores. Lá, afirma-se que a produção errou ao tentar enaltecer a força do tra- balho em grupo na sociedade essencial- mente capitalista, como a dos EUA. Eu não entendi muito bem essa afirmação, já que, para mim, a equipe acertou ao levar essa questão a público e com a finalidade de mostrar que é possível, sim, vivermos em conjunto. Parabéns pela edição da re- vista!” (Vinícius Ramos, Petrópolis-RJ) Carioca: Vinícius, a revista se preocu- pou em dizer que, em diversas cenas, o filme foi contraditório. Por exemplo, no momento em que os dois amigos devem decidir o que é melhor para seu comércio, eles defendem o que melhor lhes convém, ou seja, não conseguem entrar em consen- so. No final, os dois desfazem a socieda- de e se dão muito bem sozinhos nos seus negócios, contradizendo a ideia inicial e o nome do filme. Enfim, para os críticos da revista, esse filme é um equívoco com “e” maiúsculo. Nasci em Recife e moro, atualmente, em São João do Meriti, onde conheci essa revista que mistura o tradicional e o ino- vador da cultura popular. Eu queria saber se vocês não pensam em estender mais o alcance de suas publicações para o país” (Carlos Vieira, São João de Meriti-RJ). Carioca: Carlos, como você já disse em partes, a revista nasceu com o objetivo de divulgar as novidades e tradições da cultura do estado do Rio de Janeiro. Por isso, temos o alcance apenas nas maiores cidades do estado fluminense. No entan- to, estamos pensando em mudar o alcance da revista daqui a cinco anos. Se tudo der certo, a revista passará a ter edições publi- cadas nas principais capitais do país. Críticas: Queria parabenizar a revista pela li- nha editorial escolhida na edição do mês de fevereiro deste ano. Todos os profis- sionais envolvidos conseguiram passar a magia e a força do carnaval carioca em suas páginas coloridas e nas matérias que reforçaram a importância dos cor- sos e dos bailes de máscaras. Continuem divulgando as tradições do povo carioca com muito amor e carinho” (Isabela Mar- tins, Niterói-RJ). “Não gosto da seção dedicada ao rádio. Para mim, esse instrumento é um inimi- go para a valorização da literatura brasi- leira. As pessoas ficarão cegas cultural- mente.” (João Carvalho, Parati-RJ) Sugestões: “Acho que a revista poderia se preocu- par em demonstrar mais as manifesta- ções culturais dos morros e do subúrbio carioca. Não nasci ou moro nessas regi- ões, mas frequento as festas e as rodas de samba de lá. Reconheço que são novos rumos que a cultura carioca está seguin- do. É preciso valorizar o novo também” (Luiz Fernandes Tavares, Rio de Janeiro- -RJ). A revista ficaria muito interessante se a edição passasse a ser quinzenal. A cidade do Rio de Janeiro está passando por um momento de grande crescimento cultural, com a emergência de novas ma- nifestações ou de antigas que eram des- valorizadas. Os teatros, cinemas e ruas estão fervendo! Por isso, acredito que a revista daria conta dos inúmeros aconte- cimentos e transformações, se divulgasse a cultura duas vezes ao mês” (Jéssica Pi- nheiro, Rio de Janeiro-RJ). Cartas dos leitores 3 A Revista Cultural Carioca é ven- dida apenas no Rio de Janeiro e busca informar o povo cario- ca sobre os acontecimentos mensais que circularam o país, além de falar, é claro, sobre a própria cultura do Rio . Todo mês a revista é dividida em seis seções. A Música e Dança sempre procu- ra trazer entrevistas com novos artistas, assim como também trará algumas recor- dações do passado e novidades sobre o assunto. Moda traz dicas para as mulheres fica- rem mais bonitas e elegantes e notícias sobre a moda atual, mostrando as mu- danças que vêm ocorrendo ao longo do tempo, até por que a moda nunca pára. Artes Plásticas contém entrevistas com artistas famosos, curiosidades e obras. Alguns novos artistas também podem ser revelados, porque a Revista Cultural Carioca é feita para pessoas comuns, para aqueles que só precisam de uma oportu- nidade, que querem se expressar e sem- pre busca encontrar novos talentos que andam escondidos pelas ruas. A Seção Literatura procura trazer no- vidades mensais sobre livros nacionais e internacionais, que fazem sucesso ou que caminham para ele, que já chegaram ou estão a caminho das livrarias, mas que são uma ótima dica de entretenimento, assim como notícias relacionadas à Literatura. Cinema e Teatro conta as novidades do cinema, diz o que há de bom na progra- mação do teatro, analisa e traz curiosida- des sobre alguns filmes, além de sugerir programas para o seu lazer. E, por fim, a seção Rádio possui a carta dos leitores no final e traz novidades so- bre a Nossa Rádio, que já está há um mês no ar, fazendo muito sucesso. Desde seu lançamento, a sua audiência só vem au- mentando e ela já conseguiu alguns prê- mios. Adelaide Reis Editorial

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Revista fictícia ambientada em 1926, feita em proposta da Professora Andréia Resende à turma de Comunicação Social 2012.2 da UFRJ. Realizadores desta revista: Anna Angélica Rodrigues, Daniel Walassy, Fernanda Beatriz, Maria de Fátima Tomaz, Natacha Matias, Nádia Oliveira; turma EC1. OBS.: Conteúdo baseado em pesquisas e mesclado com ficção e opiniões.

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Page 1: Revista Cultural Carioca

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Dúvidas:

“Na edição anterior, tem uma matéria que faz críticas ao fi lme Juntos somos melhores. Lá, afi rma-se que a produção errou ao tentar enaltecer a força do tra-balho em grupo na sociedade essencial-mente capitalista, como a dos EUA. Eu não entendi muito bem essa afi rmação, já que, para mim, a equipe acertou ao levar essa questão a público e com a fi nalidade de mostrar que é possível, sim, vivermos em conjunto. Parabéns pela edição da re-vista!” (Vinícius Ramos, Petrópolis-RJ)

Carioca: Vinícius, a revista se preocu-pou em dizer que, em diversas cenas, o fi lme foi contraditório. Por exemplo, no momento em que os dois amigos devem decidir o que é melhor para seu comércio, eles defendem o que melhor lhes convém, ou seja, não conseguem entrar em consen-so. No fi nal, os dois desfazem a socieda-de e se dão muito bem sozinhos nos seus negócios, contradizendo a ideia inicial e o nome do fi lme. Enfi m, para os críticos da revista, esse fi lme é um equívoco com “e” maiúsculo.

“Nasci em Recife e moro, atualmente, em São João do Meriti, onde conheci essa revista que mistura o tradicional e o ino-vador da cultura popular. Eu queria saber se vocês não pensam em estender mais o alcance de suas publicações para o país” (Carlos Vieira, São João de Meriti-RJ).

Carioca: Carlos, como você já disse em partes, a revista nasceu com o objetivo de divulgar as novidades e tradições da cultura do estado do Rio de Janeiro. Por isso, temos o alcance apenas nas maiores cidades do estado fl uminense. No entan-to, estamos pensando em mudar o alcance da revista daqui a cinco anos. Se tudo der certo, a revista passará a ter edições publi-

cadas nas principais capitais do país.Críticas:

“Queria parabenizar a revista pela li-nha editorial escolhida na edição do mês de fevereiro deste ano. Todos os profi s-sionais envolvidos conseguiram passar a magia e a força do carnaval carioca em suas páginas coloridas e nas matérias que reforçaram a importância dos cor-sos e dos bailes de máscaras. Continuem divulgando as tradições do povo carioca com muito amor e carinho” (Isabela Mar-tins, Niterói-RJ).

“Não gosto da seção dedicada ao rádio. Para mim, esse instrumento é um inimi-go para a valorização da literatura brasi-leira. As pessoas fi carão cegas cultural-mente.” (João Carvalho, Parati-RJ)

Sugestões:

“Acho que a revista poderia se preocu-par em demonstrar mais as manifesta-ções culturais dos morros e do subúrbio carioca. Não nasci ou moro nessas regi-ões, mas frequento as festas e as rodas de samba de lá. Reconheço que são novos rumos que a cultura carioca está seguin-do. É preciso valorizar o novo também” (Luiz Fernandes Tavares, Rio de Janeiro--RJ).

“A revista fi caria muito interessante se a edição passasse a ser quinzenal. A cidade do Rio de Janeiro está passando por um momento de grande crescimento cultural, com a emergência de novas ma-nifestações ou de antigas que eram des-valorizadas. Os teatros, cinemas e ruas estão fervendo! Por isso, acredito que a revista daria conta dos inúmeros aconte-cimentos e transformações, se divulgasse a cultura duas vezes ao mês” (Jéssica Pi-nheiro, Rio de Janeiro-RJ).

Cartas dos leitores

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A Revista Cultural Carioca é ven-dida apenas no Rio de Janeiro e busca informar o povo cario-

ca sobre os acontecimentos mensais que circularam o país, além de falar, é claro, sobre a própria cultura do Rio .

Todo mês a revista é dividida em seis seções. A Música e Dança sempre procu-ra trazer entrevistas com novos artistas, assim como também trará algumas recor-dações do passado e novidades sobre o assunto.

Moda traz dicas para as mulheres fi ca-rem mais bonitas e elegantes e notícias sobre a moda atual, mostrando as mu-danças que vêm ocorrendo ao longo do tempo, até por que a moda nunca pára.

Artes Plásticas contém entrevistas com artistas famosos, curiosidades e obras. Alguns novos artistas também podem ser revelados, porque a Revista Cultural Carioca é feita para pessoas comuns, para aqueles que só precisam de uma oportu-

nidade, que querem se expressar e sem-pre busca encontrar novos talentos que andam escondidos pelas ruas.

A Seção Literatura procura trazer no-vidades mensais sobre livros nacionais e internacionais, que fazem sucesso ou que caminham para ele, que já chegaram ou estão a caminho das livrarias, mas que são uma ótima dica de entretenimento, assim como notícias relacionadas à Literatura.

Cinema e Teatro conta as novidades do cinema, diz o que há de bom na progra-mação do teatro, analisa e traz curiosida-des sobre alguns fi lmes, além de sugerir programas para o seu lazer.

E, por fi m, a seção Rádio possui a carta dos leitores no fi nal e traz novidades so-bre a Nossa Rádio, que já está há um mês no ar, fazendo muito sucesso. Desde seu lançamento, a sua audiência só vem au-mentando e ela já conseguiu alguns prê-mios.

Adelaide Reis

Editorial

Page 2: Revista Cultural Carioca

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Filho do operário Benjamim da Silva e da dona-de-casa Emília Corrêa Chaves, Isma-el Silva tem 20 anos, adora compor sambas

e participar das rodas. Natural de Niterói-RJ, atu-almente, mora no bairro Estácio de Sá, na capital federal. É um dos compositores da nova geração que vem conquistando espaço no mundo do sam-ba devido ao sucesso de Me faz carinhos, compo-sição própria gravada pelo pianista Antônio Tho-más Coelho no ano passado.

Sua história de vida começou de forma bem humilde. Qual sentimento você tem hoje por seu passado?

Pra mim, o meu passado foi difícil, sem muito luxo, mas digno e honroso. Meu pai morreu quando ainda era criança. Por isso, minha mãe deixou meus quatro irmãos mais velhos para nossos pa-rentes criarem em Niterói e me trouxe ao Rio de Janeiro para tentar a sorte como la-vadeira. Moramos em alguns bairros cariocas, mas passei a maior parte dos anos no Es-tácio de Sá onde moro atual-mente.

Você teve preocupação de estudar e aprender durante a infância e a adolescência. De-vido a isso, você se considera-va um aluno dedicado?

Com certeza. Sabe por quê? Aos sete anos, comecei a que-rer estudar. Como minha mãe era ocupada com seus serviços, não deu prioridade a meus estudos. Percebi, então, que deveria correr atrás de uma escola. Um dia, fui ao colégio, entrei na sala da diretora e falei que queria estudar. Isso foi tão di-ferente que, quando a diretora me apresentou à sala, as professoras fi caram impressionadas com a minha procura pelos estudos. Depois disso, sempre fui um aluno exemplar, com boas notas e me tornei monitor de turma.

Como você entrou no mundo do samba?Quem nasce ou vive no morro, nasce ou vive

no samba, né? Comigo não foi diferente. Acho até que ele nasceu dentro de mim (risos). O samba e os batuques do terreiro começaram a me conquis-

tar desde a infância. Quando eu tinha 15 anos, fi z minha primeira composição que se chama Já desisti. Na minha adolescência, aprendi a tocar pandeiro que me aproximou mais ao samba e me inspirou a compor outras letras.

Você é muito jovem, porém muitas pessoas já o conhecem no mundo do samba. A quais moti-vos você atribui isso?

Um dos motivos é a minha frequência em vários bares no bairro do Estácio, principalmente no Bar e Café Apolo. Lá e em outras rodas de samba,

eu encontro vários sambistas conhecidos como Bide, meu irmão Rubem Barcelos, Bran-cura, Mano Edgar, Baiaco e Nilton Bastos. Outro motivo é a gravação da minha compo-sição Me faz carinhos por meu parceiro Cebola (Antônio Tho-más Coelho). Isso me trouxe muita visibilidade.

Me faz carinhos trouxe mu-danças signifi cativas para a sua vida musical. O que você pretende e espera fazer daqui pra frente?

Eu pretendo ajudar a criar uma nova era para o samba. Lá no Estácio, meus compa-nheiros de roda estão colo-cando outros instrumentos e acelerando um pouco mais o ritmo. É uma forma diferente que não foge muito dos pri-meiros sambas de terreiro.

Acredito que essa ideia vai dar certo, por isso estou pensando em criar um bloco baseado nes-se novo ritmo de samba pra daqui a dois ou três anos. E continuarei compondo outros sambas, pois espero que a gravação de Me faz carinhos seja um rumo para novas parcerias.

Como você defi niria o samba?

O samba é um ritmo envolvente, universal e sem preconceitos. Suas músicas defendem o amor e a amizade, falam sobre a vida de pessoas sim-ples dos morros e exaltam alguma atitude ou pes-soa especial. Na minha opinião, o samba é muito mais que música, é história. Por isso, se depender de mim, viverei sempre no mundo do samba ao lado dos meus companheiros de roda.

Ismael Silva: exemplo de vida da nova geração do samba

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De Segunda a Domingo até às 18h:6:30 - Orações matutinas.8:00 - Noticiário Aurora - Notícias e

comentários sobre a realidade brasileira.9:30 - Concerto Carioca - Grandes nomes do

cenário musical do Rio de Janeiro.10:30 - Anedotas - Crônicas e sátiras sobre o

cotidiano carioca com intervenções musicais.13:00 - Tempo do comércio com apresentação

dos nossos patrocinadores.14:00 - Ponto de encontro - Músicas nacionais

e internacionais interpretadas por músicos brasileiros.

16:30 - Tom Maior - Entrevista com ícone musical.

18:00 - Orações vespertinas.

Depois das 18h:

Segunda:19:00 - O folhetim “Fatalidade” de Oduvaldo

Vianna.21:00 - Noticiário espetacular - Notícias sobre

esportes.22:30 - Ao compasso - Óperas de Heitor Villa-

Lobos.

Terça:19:00 - O folhetim “Fatalidade” de Oduvaldo

Vianna.21:00 - La femme - Notícias sobre tendências

indumentárias.22:30 - Ao compasso - Óperas de Carlos

Gomes.

Quarta:19:00 - O folhetim “Fatalidade” de Oduvaldo

Vianna.21:00 - Noticiário espetacular - Notícias sobre

esportes.22:30 - Ao compasso - Óperas de Alberto

Nepomuceno.

Quinta:19:00 - O folhetim “Fatalidade” de Oduvaldo

Vianna.21:00 - La femme - Notícias sobre tendências

indumentárias.22:30 - Ao compasso - Operetas de Arthur

Azevedo, entre outros nomes.

Sexta:19:00 - O folhetim “Fatalidade” de Oduvaldo

Vianna.21:00 - Divin’arte - Poemas e poesias.22:30 - Ao compasso - Tango brasileiro de

Ernesto Nazareth, Patápio Silva, entre outros nomes.

Sábado:19:00 - O programa Teatro em Casa apresenta,

nos três primeiros sábados do mês, a peça “O noviço” escrita por Martins Pena em três atos em 1845 representada pela Companhia Ilustre.

No próximo sábado, apresentaremos “Mariana Pineda”, escrita pelo dramaturgo espanhol Federico García Lorca e representada pela Nouvelles Companhia.

21:00 - O programa Teatro em Casa conversa com os atores.

22:30 - Ao compasso - Valsas, Polcas, Tangos, modinhas, de Chiquinha Gonzaga.

Domingo:19:00 - Nossa Rádio acompanha Saraus - Nesse

mês, optamos por acompanhar os saraus que ocorrerão no Palácio do Catete organizadas pela Primeira-dama Nair de Tefé.

E ainda entrevistas confi rmadas para o Tom Maior:

De passagem pelo Brasil, entrevistaremos Romeu Silva, para saber de suas atividades musicais em Paris, onde está realizando uma temporada com a Jazz Band Sul Americana, e sobre seus grandes sucessos, como o samba Comidas Meu Santo, os foxtrotes Cock-tail, e Alda Garrido composta em homenagem à atriz com quem teve um breve romance.

Entrevistaremos também Eduardo Souto, autor de Tatu subiu no pau, marchinha de grande sucesso no carnaval de 23.

Os oito batutas nos ofereceram a primeira entrevista no seu retorno ao Brasil, após a gloriosa experiência nos palcos franceses.

E muito mais, exclusivamente para os ouvintes da Nossa Rádio!

Programação da Nossa Rádio

Page 3: Revista Cultural Carioca

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A Nossa Rádio copletou um mês no ar, com uma programação diária entre 6h30min e 24h, em todo território nacional. Para co-memorar esse primeiro mês que lhe rendeu alguns prê-mios, a rádio reuniu todos os seus servidores no luxuoso Café de La Musique na Ga-leria Cruzeiro (Avenida Rio Branco, 156 - Centro) para um sarau, con-ferido pela Revista Cultural Carioca.

Na ocasião, o co-mitê da Associação Brasileira de Críti-cos de Arte apro-veitou o propício momento do feste-jo para entregar ao Presidente da rá-dio, Paulo Fernan-do Marquez Souza, o prêmio Melhores da Rádio de 1926 na categoria Lança-mentos, na qual os jornalistas Hernes-to Silvino, Maria de Fátima Nogueira, Jo-anna Simões e Luís Magalla-nes foram os formadores do corpo do júri do supracitado gênero.

O Comitê, representado por Di Cavalcanti, Cecília Meireles e Helena Caldas, entregou o prêmio, esclare-cendo aos presentes que a ABCA compreendeu a ideia revolucionária da Nossa Rá-dio de reservar espaço para as diversas vertentes mu-

sicais do país e concedeu o prêmio em virtude da pro-jeção que a música popular obteve por essa razão. Isto é, ainda que tenha pouco tempo, a Nossa Rádio atraiu a atenção da crítica especia-lizada e do grande públi-co. Com uma programação variada, incluindo nomes marcantes da música erudi-

ta, apresentou novidades de nossa música popular bra-sileira que se tornou única nesse sentido.

Em entrevista à correspon-dente Rosa Murtinho, Mar-quez Souza expôs as pers-pectivas de sua empresa ra-diofônica. Marquez garantiu que, se não fosse para inovar e fomentar novas formas de fazer artístico tipicamente brasileiro, principalmente

Nossa Rádio comemora com

a Revista Cultural Carioca!na música, não seria preciso fundar a Nossa Rádio. Caso não fosse para romper com ideias antiquadas, não teria essa repercussão social es-pantosa - seja boa ou ruim. Portanto, não haveria ne-nhum sucesso.

Segundo ele, também foi preciso entender que o brasi-leiro não quer ouvir somente

música nacional. Um homem des-prendido de con-cepções obsoletas, mas ávido por confrontar-se com as transformações de nossos dias, deve conhecer as músicas estran-geiras. É somente com esse parâ-metro que se re-conhece e se con-segue fazer uma música genuina-mente brasileira, que não necessa-riamente está em alguma região do

país ou nas mãos de poucos artistas. “Estamos aprendendo com os ouvin-tes o que é ter brasilidade na música... Exemplos disso são os trabalhos de Chiqui-nha Gonzaga, Pixinguinha e China, Heitor Villa-Lobos, Marcelo Tupinambá, José Garcia, entre outros nomes, que diversifi cam e, ao mes-mo tempo, convergem para a tendência de uma era que ainda está se delineando...”.

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Com o abandono dos espartilhos, uma nova dança fi cou famosa na França com seus movimentos rápidos e soltos. Ago-

ra, esse novo ritmo de dança, conhecido como Charleston, invadiu os cabarés cariocas. De ves-tidos curtos de cintura baixa e muitas franjas, com colares de cristais ou ondulados de plumas, as mulheres passam a mostrar mais a sua sensu-alidade ao usarem meias calças cor de pele que dão a impressão de pernas nuas.

Apesar de ter início nos cabarés, o Charleston também é muito praticado em clubes de dança e começa a inserir as mulheres nos locais que, antes, eram frequentados somente por homens. E nada mais sensual, para eles, do que mulhe-res que sabem dançar, que arriscam passos mais audaciosos, que os surpreendem nas pistas de dança.

É algo fácil de se aprender. Não é nada que exija muita técnica. Talvez algumas horas assis-tindo alguém dançar já lhe ajude. E o melhor é que não é uma dança somente feminina, mas masculina também e pode se dançar sozinho, em par ou até mesmo em grupo. O que vale é se divertir.

O principal formato do Charleston é um passo solo, que consiste em uma combinação de qua-tro movimentos de braços e pernas que se com-pletam e que estão descritos abaixo num passo

a passo, a fi m de lhe proporcionar um entendi-mento melhor sobre essa dança que mal apare-ceu e já é um sucesso no mundo.

Primeiro, tome um passo para trás com a per-na direita, mantenha seu tornozelo solto e balan-ce a perna esquerda para trás em um movimen-to de chute, depois, traga seu pé esquerdo para frente novamente, retornando à posição inicial.

Agora, pisando com a perna esquerda na fren-te, mantenha seu tornozelo solto e balance a perna direita para frente em um movimento de chute, depois traga seu pé direito para trás de novo, retornando à posição de início.

Em seguida, pise com a perna direita atrás, como feito no início, e repita o movimento da perna esquerda, depois, pise com a perna es-querda na frente e chute com a perna direita. Alterne os dois quantas vezes achar necessário.

Os movimentos dos braços, como já men-cionado, são complementares aos das pernas, então, assim como você anda, quando a perna esquerda vai para trás, o braço direito sobe e vice-versa.

Atenção: os movimentos devem ser exagera-dos com os braços estendidos no alto e moven-do-os em movimentos circulares para a direita ou para a esquerda quando for balançá-los.

Novidade nos Salões

Page 4: Revista Cultural Carioca

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O Instituto Nacional de Música promo-ve o II Encontro Musical do Rio de Ja-neiro que ocorrerá dia 14 deste mês no

Teatro Emiliano Aquino, no centro às 19h, com entrada franca. Neste evento, o convidado prin-cipal é o compositor José Garcia, porém existem outros músicos como Ismael Franco, Celina Ro-drigues Silva, Fernando Peixo� o, Isadora Mar-tínez, com acompanhamentos feitos por músi-cos companheiros desses nomes e amigos da boa música.

O compositor em destaque apresentará um repertório variado de interpretações da produ-ção popular nacional, tomando um empréstimo de belíssimas peças feitas por Chiquinha Gon-zaga, com quem teve a honra de se apresentar inúmeras vezes. Das canções de seu trabalho autoral, podemos evidenciar Menina Rosa, mú-sica bastante conhecida em nossa capital.

José Garcia, nascido em Minas Gerais, iniciou seus estudos no Conservatório Mineiro de Mú-sica em Diamantina, no entanto, mudou-se para o Rio de Janeiro aos dezessete anos, ocasião em

que ingressara na Escola de Música Cassiano Andrade. Anos depois, foi agraciado com uma bolsa de estudos na École Normale de Musique, na Sorbonne, onde se formou professor de mú-sica. Em 1922, logo que retornou ao Brasil, as-sumiu o corpo docente do Instituto Mineiro de Música em Belo Horizonte.

As músicas de José Garcia, tanto quanto sua conduta como professor, recebem elogios e são reconhecidos nacionalmente. Jornais como Ágora, em sua seção sobre artes, tecem honras a esse grande músico. Por tais questões, por suas canções extraordinárias, pela história e pela im-pecável trajetória de José Garcia, foi escolhido como presença principal e, dessa forma, o II En-contro Nacional de Música será uma congrega-ção à luta dos artistas brasileiros.

Teatro Emiliano Aquino. Rua Azeredo Couti-nho, 35 – Centro, Rio de Janeiro.

Dalila Pereira Damasceno Serqueira

II Encontro Musical

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Como, podem competir com as produções estrangeiras, princi-palmente as norte-americanas, as

nossas produções? Nossas salas de cin-ema deveriam oferecer seus espaços para ambas, no entanto, o que encontramos a ser exibido com maior frequência é mui-to mais a do exterior. Diante disso, qual a postura que resta para nós, brasileiros, quanto à realização de nossas fi lmagens ou quanto ao que assistimos?

Nesse cenário, produtoras nacionais, como a Phebo Sul América, pretendem ser insubstituíveis no papel principal. Provido por capital particular de homens confi antes como Agenor Cortes de Bar-ros e gerido pelos companheiros de tra-balho Pedro Comello e Humberto Mauro - ambos de Cataguases, Minas Gerais -, a Phebo realizou fi lmagens que originaram o fi lme Na primavera da vida, sucesso de público e crítica na Zona da Mata e que, devido sua popularidade, alcançou as sa-las em âmbito nacional.

O fi lme é de Humberto Mauro, entusia-sta que participou de agrupamentos cult-urais como o Movimento Verde após a Se-mana de Arte Moderna, relacionando-se com ilustres pessoas da nossa literatura, entre elas, Mário de Andrade - poeta, ro-mancista, musicólogo, historiador, crítico de arte e fotógrafo - e Carlos Drummond de Andrade - poeta, contista e cronista.

A história relata o romance de uma moça que, sem saber, apaixona-se por um contrabandista, procurado pelo próprio pai dela, um vigia fi scal. Apesar da forte infl uência dos fi lmes norte-americanos, o cenário natural e a trama característica do passado do nosso país refl ete um cinema nacional que se insua verdadeiramente capaz de confrontar produções estrangei-ras.

Dai ao brasileiro o que é brasileiro

Eva Nil, fi lha do fundador e fotógrafo Comello, promete ser a sensação cine-matográfi ca lançada nesse fi lme pela Phe-bo Sul América. “Olhos marcantes, gestos graciosos e atuação impecável” foram al-guns termos que descreveram a atriz em periódicos da Zona da Mata.

O fi lme passará a ser exibido no Cine-Teatro Recreio em novembro em meio a fi lmes americanos, franceses e alemãs.

Será o começo do apoderamento de espaço nacional pela nossa arte? De que vale garantir a mostra de fi lmes es-trangeiros sem a devida e saudável com-petição e comparação com os nossos?

Eva Nil, Protagonista de Na Primavera da Vida

Page 5: Revista Cultural Carioca

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Neste mês, a co-média Os loucos de Copacabana es-

tará em cartaz, no Theatro Municipal, todas as terças, quintas e sábados. Diri-gida por Antonio Simão Pedrosa, a peça é estrela-da por Vítor Casablanca, que interpreta o papel de Pedro Fernandes, Gusta-vo de Sá, que interpreta Lucas Sobrinho, e Ricardo Bons Ares, que interpreta Diego Feitosa. Esses três personagens vivem diver-sas aventuras juntos no bairro de Copacabana. O dono de um rico bar des-se bairro percebe que os três são muito loucos e

decide apostar com eles um apartamento luxuoso próximo à praia para sa-ber quem é o mais doido. Porém, durante a aposta, os três aprontam tanto que irão parar na polícia e uti-lizarão a “malandragem” para poder escapar dela. O fi nal dessa história é im-perdível, porque tem uma grande lição de moral que pode ser assistida por toda a família.

Outra opção interessante é a estreia do drama mudo Prazer, meu nome é Você, na segunda sexta-feira do mês, no Cine Odeon. O fi l-me, dirigido pelo francês Jean Deret, narra a história

Sugestões para o mês de uma linda mulher pa-risiense, Clara Lispetour (interpretada por Loui-se Cherrier), que adora a própria beleza. Todos a consideravam muito bela, se não, a mais bela da cida-de. Certo dia, ela encontra um jovem rapaz, chamado Charles Libercoup (inter-pretado por Charles Jeane-ret) que nega a beleza dela. Isso cria uma paixão muito intensa na Clara Lispetour, que depois se torna obces-são. Com a ajuda de ótimas atuações dos atores princi-pais, a história é fascinante do início ao fi m. E tem um fi nal surpreendentemente inovador. Acompanhem.

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A ÚLTI MA MODA EM PARIS

A última moda em Paris é o título de nossa matéria sobre comportamento e moda dessa edição.

A elegância parisiense é indiscutível. Essa tendência vem chegando ao Brasil, graças à elegantíssima Coco Chanel que nos traz mo-delos mais simples e despojados.

Não podemos esquecer que, além de toda essa infl uência, contamos com a Semana de Arte Moderna que, há poucos anos, aconte-cia no Brasil. Porém, é nossa obrigação ad-vertimos que nem tudo comentado e falado naquela semana tão emocionante deve ser seguido pelas boas moças da sociedade bra-sileira.

Apesar de deixar os modelos com mais le-veza, como comentado no início dessa maté-ria, é sempre bom ressaltar que nos melhores ciclos dessa metrópole – Rio de Janeiro - ain-da preserva-se o belo e o bom senso. A vida carioca está agitada demais, devido às inau-gurações de teatros, cinemas e restaurantes que dão a possibilidade das mulheres eviden-ciarem essa agitação. Por isso, mais uma vez, tais modelos nos adequam.

É possível averiguar muitos modelos em várias casas de moda famosas no centro da cidade, através das echarpes, vestidos como apresentados na foto da matéria. Mas cuida-do, senhoras, para se adequarem, terão que deixar uma boa parcela de seus proventos.

Mais um ponto de vista importante a ressal-tar é que todos os cortes e modelos se baseiam no clima da cidade Luz - o que para nós em alguns momentos será árduo. Mais um bom motivo para usar a imaginação e o toque pes-soal.

O principal é sempre manter a elegância, descrição e conforto. Espero que, em alguns anos, também possamos exportar gênios da moda e estilo para o mundo. Por isso, deixo uma dica: sempre que possível, utilize algum acessório com cor ou forma de estilo brasilei-ro - algo vivo e com cores. Mais uma vez res-salto o uso do bom senso e a elegância. Use sempre com moderação para se tornar ele-gante e não esquisita.

Por Maria Antonia Coelho

Page 6: Revista Cultural Carioca

8

Segundo Rosseau, o olfato é o sentido da imaginação, e, sen-

do assim, começo a escre-ver sobre a nova fragrâ n-cia criada pelo perfumista Ernest Daltroff que leva a marca da jovem estilista em ascensão Coco Chanel.

Inspirado em Paris, na exposição de Artes Moder-nas, esse perfume instiga o movimento das paixões e o exotismo.

O novo perfume vem ganhando o coração, ou melhor, o colo de algumas celebridades do mundo, principalmente as do ci-nema. Atrizes como Glo-ria Swanson e Mary Pick-ford já aprovaram o estilo e a fragrância desse novo nome da marca Chanel.

O perfume tem notas de llang-llang, de Comores e madeira de sândalo.

Indiscutivelmente mar-cante, não há como negar ser um perfume de estilo, não só pelo toque amadei-rado, mas pelo aroma que deixa por todo o ambien-

A tendência para as musas do cinema é este olhar triste. Segundo os maquia-dores, as senhoritas que estão em bus-

ca de um grande amor poderão se maquiar sem parecer vulgar. A sociedade está mudando, as mulheres estão mudando, por isso, novas ten-dências serão afi rmadas.

Em nossos vizinhos do novo mundo, as cria-ções não estão somente no desenvolvimento, mas nas artes.

Senhoras mães podem fi car tranquilas, ven-do suas fi lhas com algum tipo de maquiagem, mas sempre as supervisione para não exagerar e causar constrangim entos às mulheres de res-peito da sociedade brasileira.

Este Olhar

O sentido da Imaginação

te. Bem pudera, só assim para agradar atrizes fortes, determinadas e ousadas como as citadas aqui que aprovaram sua essência.

O uso, no Brasil, deve ser moderado e recomendado para a noite.

A dica é: use bem e com moderação.

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Resgatando uma literatura do Brasil im-perial, a produção do fi lme O Guarani acompanha as tendências cinematográ-

fi cas mundiais ao apresentar exclusas atmosfe-ras brasileiras de maneira inovadora. Escrito, dirigido e produzido por Vittorio Capellaro, O Guarani é a versão cinematográfi ca do roman-ce homônimo de José de Alencar de 1857, ini-cialmente publicado em sua coluna no extinto Correio Mercantil. Os textos de Alencar fazem parte de um conjunto de obras que rompe com as estruturas temáticas e os moldes da literatura estrangeira para exaltar paisagens, personagens e atributos julgados como tipicamente brasilei-ros.

No romance O Guarani, a fi dalga Ceci e o ín-dio Peri se apaixonam no decorrer de uma fuga para o Rio de Janeiro. O jovem é incumbido de conduzi-la a salvo até a capital. Os índios perse-guem a família da moça em razão da morte de uma índia aimoré pela qual o pai de Ceci, Anto-nio de Mariz, foi assinalado como responsável.

O fi lme foi realizado em lugares não conven-cionais - como um aldeamento indígena em Itanhaém, Parque Jabaquara, a represa de San-to Amaro, Butantã, Bosque da Saúde - sem os quais não expressariam a história de maneira tão signifi cativa e realista, pois se trata de uma narrativa que insere a fi gura do índio com to-das as suas implicações. Dessa forma, Vittorio Capellaro diferenciou seu fi lme das demais re-presentações cinematográfi cas de O Guarani, de 1911, 1916 e 1920.

No entanto, essa ousadia no modo de produ-ção rendeu-lhe grandes inconveniên-cias. Podemos citar o incidente ocorri-do na locação da represa que pôs em risco o ator Tácito de Souza. Após o ocorrido, ele se negou a continuar com o trabalho. A fi lmagem fi cou suspen-sa por quase dois meses enquanto a produção - parcialmente fi nanciada pela companhia norte-americana Pa-ramount Pictures - negociou sua per-manência no longa-metragem de Ca-pellaro mediante revisão da quantia acordada em contrato.

A princípio, estava previsto que nes-se mês as salas de cinema exibiriam O Guarani. Contudo, em virtude disso, dentre outros contratempos, seu lan-

çamento foi adiado para novembro, ainda com Tácito de Souza no papel de Peri.

Além de Tácito e do próprio Vittorio, o elenco reúne grandes nomes do cinema nacional como Armanda Mauceri Mazza (Ceci), Luigi Pianco-ni (Dom Antonio de Mariz), Domênico Cesarini (Dom Álvaro de Sá), Ernesto Papini (Dom Dio-go de Mariz), Tina Montresor (Dona Laureana de Mariz), Margarida Collado (Dona Isabel), Armando Mauceri (Aires Gomes), Giuseppe Menichelli (Rui Soeiro), Mário Piazzi (Bento Si-mões), Giorgio Moro (Nunes), Giovanni Schiat-ti (Fernão Aires), entre outros.

Apesar de todos os obstáculos pelos quais a confecção do fi lme teve que atravessar, Capella-ro está confi ante no sucesso e afi rma que ven-cer essas adversidades melhorou a qualidade do fi lme porque aumentou seu engajamento na conclusão do projeto com alto nível de impeca-bilidade.

Ficha Técnica de O Guarani:

Lançamento (Brasil): Novembro de 1926.

Distribuição: Paramount Pictures.

Direção, Roteiro e Produção: Vittorio Ca-pellaro.

Co-produção: Vittorio Capellaro e Paramount Pictures.

Fotografi a: Vittorio Capellaro e Paulo Bene-detti.

Câmera: Vittorio Capellaro.

Assistente de câmera: Georgina N. Capellaro.

Letreiros: Paim.

“O Guarani” no cinema?

Armanda MauceriMazza (Ceci) e Vittorio Capellaro (Loredano e Frei Ângelo)O Guarani - Paramount Pictures.

Page 7: Revista Cultural Carioca

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Apesar de ainda ser algo relativamente recente, as mulheres estão ganhando cada

vez mais espaço na Literatura. Isso se deve ao fato do acesso à alfabetização nunca lhes ter sido negado e das leituras sempre terem feito parte do dia-a-dia de toda mulher, que não tinha o direito de trabalhar. O fato de serem leitoras constantes e de contarem histórias a seus fi lhos transformou-as em pessoas capazes de serem excelentes contadoras de histórias, já que sabiam adaptar perfeitamente o gosto do mercado às condições e à moral brasileiras.

Já existem academias feministas de letras que ensinam àquelas, que não fi zeram parte desta época de leitura constante no intervalo entre um bordado e outro, o processo de criação de romances incríveis, além de dicionários e antologias sobre escritoras e/ou vultos femininos “notáveis”, que costumam ser mais frequente. Essas práticas são importantes, pois, na medida em que combinam a refl exão sobre a

Literatura com o projeto de articulações de redes cujas funções e sentidos são completamente diversifi cados, tentam promover uma descrição de acontecimentos própria. As academias experimentam os limites das formas literárias, criando novos tipos de romances, novos gêneros literários e organizando circuitos de divulgação de trabalhos, de solidariedade ou de discussão e protesto sobre a condição feminina, que vem melhorando consideravelmente. Apesar da sensualidade da mulher já ser vista como algo natural, ela ainda precisa ser controlada.

Tive acesso no fi nal do mês passado a uma tese, intitulada A Mulher na Literatura, escrita por Maria Rita Soares de Andrade, que foi a primeira a falar sobre este assunto citado acima, que relata bem o que vem acontecendo. Por isso, gostaria de citar uma passagem da introdução que relata o fato de que, nos séculos passados – talvez mais intensamente no anterior –, várias mulheres desconhecidas escreveram muitas obras que, talvez, nunca teremos acesso: “Difícil é, entretanto, recolher toda a obra feminina, os nomes de suas autoras que, sempre, principalmente na sociedade que nos antecedeu, fi cavam incógnitas, como incógnitas fi caram muitas produções valiosas de cérebros femininos”.

Mulheres Escritoras

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A Velha Mulher“O conforto possui formas. O amor cores.

Uma saia é feita para se cruzar as pernas e uma manga para se cruzar os braços”.

Coco Chanel

Começo a escrever esta coluna com a frase acima de Coco Chanel a qual devo admitir minha grande

admiração por sua “arte” em criar moda, estilo. Esta frase representa muito do que quero deixar claro, que as mulheres devem ter mobili-dade e suavidade.

Ser mulher é mais do que gerar e dar a luz às crianças. É mais do que re-alizar serviços do-mésticos e passar longas tardes to-mando chá. A so-ciedade do mundo fervilha, muda. É só pararmos por alguns minutos para lermos o que ocorre em Paris, Nova York e Lon-dres. As mulheres estão mudando e nós brasileiras tam-bém.

Como mulheres brasileiras e mem-bros da sociedade, devemos ressaltar que podemos mu-dar sem nos remetermos a imagem vul-gar. Até poucos anos atrás, as mulheres usavam aqueles longos e pesados vesti-dos, com estruturas que difi cultam o mo-vimento, além dos grandes chapéus pom-posos e cheios de paetês e lumas. A nova mulher deve estar atualizada, mas nunca deixar que a grande cultura ou até mes-

mo a propaganda mudem seus valores. O belo nem sempre pode ser o correto.

Devemos buscar, como nosso direito, a simplicidade e a elegância. Gabrielle Cha-nel é um exemplo, pois vem demonstran-do, ao longo de sua carreira, que abando-nar os retrógrados e pesados ornamentos nos possibilita inovar e economizar. Para que tantas jóias?

Ainda encon-tramos, em boa parte da nossa so-ciedade, os costu-mes conservado-res que utilizam o luxo e a suntuosi-dade. Porém esse estilo não cabe mais na mulher dessa década.

Devemos nos li-vrar do retrógra-do e do brilhan-tismo sem nunca esquecermos que somos mulheres. Após anos de guerra, que tam-bém nos afeta-ram, o momento de desenvolver novas vertentes femininas é ago-ra.

Por isso, fi nalizo esse texto com uma frase de Descartes fi lósofo, físico e mate-mático francês: “Quando se tem demasiada

curiosidade acerca das coisas que se faziam

nos séculos passados, fi ca-se quase sempre na

grande ignorância das que têm lugar no pre-

sente”.

Page 8: Revista Cultural Carioca

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A Revista Cultural Carioca convi-dou um grupo de artistas para uma refl exão acerca da produ-

ção de artes plásticas em âmbito nacional. Após cem anos da fundação da Escola Na-cional de Belas Artes no Rio de Janeiro, o que é possível constatar, diante do debate, é que o Brasil ainda permanece em busca de sua identidade artística. A Semana de Arte Moderna, ocorrida em fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de nossos vizi-nhos paulistas - absolutamente um marco na nossa história - insufl ou a demarcação dessa identidade. “No entanto, as artes plásticas - e as artes como um todo - em nosso país caminham vagarosamente a parâmetros fora dos convencionais e se mantêm retidas em um conjunto de regras que impedem a exploração da arte e a in-vestigação de nossa identidade cultural”.

- Enquanto a academia (Escola Nacio-nal de Belas Artes) for gerida sob rema-nescências clássicas, isto é, sob os mol-des artísticos do passado, e não fomentar inovações e inspirações de nosso tempo, irá formar indivíduos com uma capa-cidade incrível para reproduzir, sabem somente a forma e a fórmula mas que desconhecem o cerne da arte. Serão tec-nicamente corretos, mas ocos. Não serão capazes de pensar e agir por si só, mas dentro de limites apreendidos nesse sis-tema de ensino. (Cândido Portinari).

Na Semana de Arte Moderna, diversos periódicos publicaram críticas a respeito do tipo de arte proposta nessa conferência com comparações que beiravam ao desa-cato para com os artistas, indicando que es-ses e sua arte provinham de uma loucura, não teriam lógica ou mesmo sentimento, seriam até, segundo eles, obras que faltam com a verdade, com a sinceridade. Em uma das publicações podemos ler: “Todas as artes são regidas por princípios imutáveis,

leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude. As medidas de proporção e equilíbrio, na forma ou na cor, decorrem do que chamamos sentir. Quando as sensações do mundo externo transformam-se em impressões cerebrais, nós sentimos”.

- Essa declaração, a mim, parece con-traditória vista por outro ângulo. Se a produção de uma obra necessariamente depende, de acordo com essa afi rmação, do sentir, claro, e não é do sentir senão daquele que constrói a obra artística, esta se apresentará tal e qual as impressões que o artista teve do mundo externo. O equilíbrio e a proporção serão estabeleci-dos de outro modo, a forma e a cor serão utilizadas ao bel prazer do artista como e quanto lhe convier, de maneira que o resultado fi nal, assim como as obras di-dáticas desses intelectuais da arte, terá de ser interpretado pelo público, atribuindo o signifi cado que desejar. A obra pas-sa a não pertencer ao artista, para ser de quem a aprecia. Aliás, assim também é possível romper as fronteiras geográfi cas e temporal. (Tarsila do Amaral).

- De todo jeito, seria preciso que a clas-se artística brasileira parasse de se pre-ocupar com essa dicotomia a respeito da aceitação da infl uência estrangeira e sobre padrões no processo artístico para discutir o material estrangeiro como obra a ser vista de forma crítica mas aproveitá-vel no sentido de estimular novas formas de fazer arte no nosso país, elevando-o ao nível dos demais sem deixar a brasilida-de e a espontaneidade à margem. Acredi-to que associações de artistas auxiliariam na descoberta da nossa identidade artís-tica, pois promoveria maior produção e exibição de obras. (Ismael Nery).

Retrocesso ou Inércia?

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Hall da Fama

O romance policial “O assassinato de Roger Ackroyd” de Agatha Chris-tie vem ganhando destaque a cada

dia e já é considerado uma obra-prima. Ape-sar de partir de três mortes misteriosas que são respectivamente um assassinato, um suicídio e um segundo assassinato, como acontece em todos os romances da autora, essa trama surpreen-de e se diferencia de qualquer outra do mesmo gênero.

O livro está para ser lançado no Bra-sil em alguns meses, mas eu já tive a opor-tunidade de lê-lo e posso garantir que vai muito além das expectativas. Ape-sar de alguns críti-cos alegarem que há certo desprezo pelas convenções de um romance policial, o fi nal inesperado é, sem dúvida, o moti-vo de seu sucesso.

A história se pas-sa na sossegada vila britânica de Kings About, onde o prin-cipal passatempo de seus moradores é a famosa fofoca e a maior vítima disso tudo é Roger Ackroyd, um fi dalgo rural. É dele que as pessoas gos-tam de falar. A moradora mais atenta ao que acontece ao seu redor é Caroline Sheepard, irmã do prestigiado doutor James Sheepard, que, por sua vez, nos conta sobre esse mis-tério que é investigado pelo detetive belga Hercule Poirot.

Tudo começa com o assassinato de um ho-mem seguido do suicídio de sua mulher. O que se sabe é que a viúva, Miss Ferraz, pare-cera se aproximar bastante de Roger Ackroyd

depois da morte do marido e, segundo Ca-roline, ela teria matado o marido para fi car com Acroyd, porém se arrependeu e acabou se suicidando. Logo depois, Mr. Acroyd re-cebe uma carta de Miss Ferraz que parecia contar o motivo de seu suicídio: chantagem. No entanto, não muito tempo depois, James Sheepard recebe uma ligação do sobrinho

de Acroyd, Ralph Paton, dizendo que seu tio havia sido assassinado.

O principal sus-peito era o chanta-gista, mas apenas James Sheepard sa-bia da chantagem. Fora apenas para ele que Roger Ackroyd havia contado a verdade. Pena ele não ter dito quem a chantageava. Tal-vez nem tivesse tido tempo de ler... O problema maior é que Ralph Paton de-sapareceu. Fugiu. E, é exatamente para evitar que acabas-sem pondo a culpa nele que a sua pri-ma, Flora Ackroyd, resolve pedir ajuda ao famoso detetive particular Hercu-

le Poirot – que havia ido morar em Kings About para se afastar um pouco do seu tra-balho – para solucionar esse caso.

Entretanto, cada nova pista aponta para uma pessoa diferente, cada fofoca cria no-vos suspeitos e o caso vai se tornando cada vez mais complicado e confuso. E se percebe que todos os funcionários da casa, familiares e amigos tinham algum motivo para matar Ackroyd e que, além de tudo, todos eles ti-veram a oportunidade perfeita de matá-lo na noite de seu assassinato.

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Nada me prende a nada. Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo. Anseio com uma angústia de fome de carne O que não sei que seja - Defi nidamente pelo indefi nido... Durmo irrequieto, e vivo num sonhar

irrequieto De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.

Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.

Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.

Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.

Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.

Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos; Escrevo por lapsos de cansaço; E um tédio que é até do tédio arroja-me à

praia. Não sei que destino ou futuro compete à

minha angústia sem leme; Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-

me naufrago; ou que palmares de literatura me darão ao

menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...

E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,

Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa

(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),

Nas estradas e atalhos das fl orestas longínquas Onde supus o meu ser, Fogem desmantelados, últimos restos Da ilusão fi nal,

Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,

As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo, Cidade da minha infância pavorosamente

perdida... Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui... Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui

voltei, E aqui tornei a voltar, e a voltar. E aqui de novo tornei a voltar? Ou somos todos os Eu que estive aqui ou

estiveram, Uma série de contas-entes ligados por um fi o-

memória, Uma série de sonhos de mim de alguém de

fora de mim? Outra vez te revejo, Com o coração mais longínquo, a alma menos

minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -, Transeunte inútil de ti e de mim, Estrangeiro aqui como em toda a parte, Casual na vida como na alma, Fantasma a errar em salas de recordações, Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo, Sombra que passa através das sombras, e

brilha Um momento a uma luz fúnebre desconhecida, E entra na noite como um rastro de barco se

perde Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo, Mas, ai, a mim não me revejo! Partiu-se o espelho mágico em que me revia

idêntico, E em cada fragmento fatídico vejo só um

bocado de mim - Um bocado de ti e de mim!...

(Álvaro de Campos)

Poesia do mêsLisbon Revisited

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A maioria das obras de Anita Malfa" i era inspirada em anônimos, vistos ao acaso pela rua, mas que chamavam a sua atenção. A obra acima, Chanson de Montmartre, produzida este ano, é uma delas.

Obra do mês

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Curiosidades

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