revista fundos de pensão 394

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Revista Fundos de Pensão 394. Direito Previdenciário.

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    ANNCIO REDE DE CREDENCIADOS

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    FUNDOS DE PENSORevista da ABRAPP / ICSS / SINDAPP

    EditoraFlvia Pereira da SilvaReg. Profissional n 0035080/RJ

    Programao visual e CapaVirgnia Carraca

    ColaboradoresDbora Diniz,Martha Elisabeth Corazza eRen Ruschel.

    [email protected]

    Publicidade: Abrapp Atende(11) 3043-8783 (Renata Tatiany), (11) 3043-8784 (Marco Antonio), (11) 3043-8785 (Valria), (11) 3043-8787 (Natlia), (11) 3043-8739E-mail: [email protected]

    Ncleo de Comercializao AbrappTelefone: (11) 3165-4440 / 4442

    EndereoAv. Naes Unidas, 12.551 20o andar World Trade Center - Brooklin NovoCEP 04578-903 So Paulo, Capital

    www.portaldosfundosdepensao.org.br

    Ano XXXIII - Nmero 394Setembro/Outubro 2014

    ImpressoIntergraf Ind. Grfica Eireli

    RESERVADO PARA SELO FSC

    07 Atuao proativa, efetiva e transparente Agora hora de implementarmos os vrios assuntos exaustiva e democraticamente de-batidos nos ltimos anos, entrevista com Carlos de Paula.

    15 Os sistemas europeus em transformaoGovernos buscam garantir a sustentabilidade via o aumento da cobertura, o prolongamen-to da vida laboral, novos desenhos de planos e promoo de diferentes fontes de renda de aposentadoria.

    91 Especialista da OCDE fala a autoridades e gestores brasileirosEm visita ao Brasil, Juan Yermo tratou das mu-danas do cenrio previdencirio europeu. Taxas de juros, longevidade e inscrio auto-mtica foram os principais assuntos da pauta.

    97 Os prs e contras da computao em nuvemArmazenamento remoto de dados ainda gera muitas dvidas entre os gestores das funda-es, que resistem novidade por receio de prejudicar a segurana das informaes.

    105 Novos fatores de influncia sobre os investimentos dos fundos de penso em private equityA Era da Austeridade e os retornos relativa-mente mais baixos dos ativos listados. Artigo de Nicolas J. Firzli e Vincent Bazi..

    113 Enfoque na fase de percepo do benefcioPreocupado com a rpida exausto dos re-cursos na aposentadoria, governo australiano discute tornar obrigatria a compra de anui-dades pelos participantes de planos CD.

    121 Comisso de arbitragem divide opiniesOs pontos de maior controvrsia dizem res-peito composio da Cmara e imparcia-lidade da Previc no processo de mediao de conflitos.

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    Presidente Nlia Maria de Campos Pozzi Vice-PresidenteJarbas Antonio de BiagiDiretoresCarlos Alberto PereiraJos Luiz Costa Taborda RauenMarcos MoreiraMaria Isolda Paur Jardelino da Costa

    Conselho FiscalPresidenteLuiz Celso Ferreira Lemos

    PresidenteVitor Paulo Camargo Gonalves

    DiretoresCarlos Frederico Aires DuqueLige Oliveira Ayub

    Diretor-PresidenteJos Ribeiro Pena NetoDiretor Vice-PresidenteCarlos Alberto CaserDiretores ExecutivosRegional Centro-NorteDante Daniel Giacomelli ScolariWilson Carlos Duarte DelfinoRegional LesteGuilherme Velloso LeoNairam Flix de BarrosRegional NordesteJussara Carvalho SalustianoLiane Cmara Matoso ChaconRegional SudesteLuiz Carlos CottaMilton Luis de Arajo LeobonsRegional SudoesteLuis Ricardo Marcondes Martins Luiz Paulo BrasizzaRegional SulCelso Ribeiro de SouzaLuis Alexandre Ribeiro Cure

    Conselho DeliberativoPresidenteDan Antnio Marinho ConradoVice-presidenteReginaldo Jos Camilo1 SecretrioDlson Joaquim de Morais2 SecretrioSilvio Renato Rangel Silveira

    Conselho FiscalPresidenteMauricio de Paula Soares Guimares

    Nesta edio, oferecemos ao leitor o resumo tcnico das palestras realizadas no seminrio internacional A Estrutura da Previdncia na Europa, organizado anualmente pela Abrapp. Em 2014, o evento, que contou com cooperao tcnica da OCDE, teve como enfoque no apenas o sistema previdencirio de um pas especfico, mas o conjunto de avanos e dificuldades enfrentados pelas economias da Unio Europeia no que tange ao provimento de benefcios. As palestras realizadas na ocasio abordaram temas como investimentos, desenho de planos, cobertura, longevidade, SBR e precificao de ativos e passivos, entre outros, compondo um material cuja leitura e releitura sero certamente muito proveitosas.

    Como j do conhecimento de todos, h pouco mais de dois meses o rgo de superviso dos fundos de penso (Previc) passou a ser chefiado por Carlos de Paula, cuja atuao nos setores de Previdncia Complementar Fechada e Aberta j soma vinte anos. Ao longo de sua carreira, o bacharel em direito foi Coordenador-Geral de Projetos Especiais e Fomento na Secretaria de Previdncia Complementar (SPC), perodo em que liderou a implantao da Previdncia Associativa no Brasil, alm de Diretor de Anlise Tcnica da SPC e Diretor da Superintendncia de Seguros Privados (SUSEP). Trata-se, portanto, de um profissional com profundo conhecimento do sistema e perfil de fomento, caractersticas que fazem com que sua gesto seja cercada de expectativas. Em entrevista exclusiva, De Paula revela algumas das medidas que pretende implantar nos prximos meses, entre elas a restruturao da autarquia, a criao de escritrios regionais de representao e a iminente publicao de instrues que visam desonerar as entidades e estimular o acesso ao sistema.

    Tambm chamamos a ateno do leitor para a matria sobre a computao em nuvem, tema que gera inmeras dvidas e consequente resistncia por parte dos gestores, aspectos que vm sendo debatidos com o auxlio da Comisso de Tecnologia de Informao da Abrapp.

    Tenham todos uma tima leitura!

    A editora

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    ANNCIO ABRAPP CONVITE ESTANDE

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    ANNCIO ABRAPP CONVITE ESTANDE

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    ANNCIO BB DTVM

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    CARLOS DE PAULA

    ATUAO PROATIVA, EFETIVA E

    TRANSPARENTE Agora hora de implementarmos, por meio de

    resolues e recomendaes, os vrios assuntos exaustiva e democraticamente debatidos nos ltimos anos

    Profissional respeitado do sistema, Carlos de Paula tomou posse como Dire-tor-Superintendente da Previc h pouco mais de dois meses, ciente dos desafios que tem pela frente e da grande ex-pectativa em torno de sua ges-to. As primeiras semanas no novo posto foram dedicadas a extensas reunies internas e com representantes do sistema a fim de que fosse feito um profundo diagnstico do rgo de super-

    viso e do ambiente em que se insere, indicando a necessida-de de ajustes. Esse diagnstico foi importante para que haja um cmbio na atuao da autarquia, sobretudo no que tange aplica-o da Superviso Baseada em Riscos. Nos prximos meses, sinaliza De Paula, tambm deve haver novidades no processo de autorizao de novos planos e na forma de comunicao com o participante, bem como a in-tensificao do relacionamento

    POR FLVIA PEREIRA DA SILVA

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    la com outras autarquias. A nossa inteno melhorar a relao da Previc com os en-tes fiscalizados, salienta o Superintenden-te, que recebeu a revista Fundos de Penso para uma entrevista em seu gabinete, em Braslia, no incio do ms de setembro.

    Recentemente o senhor promoveu uma reunio de natureza estratgica com os fundos de penso. A iniciativa foi muito bem recebida e, na ocasio, foram apresentadas algumas premissas fundamentais que orientaro a sua gesto. Quais so elas?

    Carlos de Paula - Entendo que, como rgo tcnico de superviso, devemos ter uma atuao proativa, efetiva e transpa-rente. Nossos atos devem ser previsveis, buscando contribuir para a segurana dos fundos de penso e para a execuo das polticas traadas pela SPPC (Secretaria de Polticas da Previdncia Complementar), agindo tambm com objetividade para que as normas emanadas pelo CNPC (Conse-lho Nacional de Previdncia Complemen-tar), discutidas democraticamente, tenham plena eficcia.

    A tnica da nossa gesto est lastreada num relacionamento muito intenso com o sistema. importante que a Previc interaja com os stakeholders, sejam eles participan-tes, entidades, patrocinadores, ou outros rgos do governo que se relacionam com o setor. Chamamos o encontro promovido de o encontro dos 100, no qual foi reuni-do um tero das entidades, representando aproximadamente 500 bilhes em patri-mnio. Foi muito importante ouvir o que se passa hoje na cabea dos dirigentes. Na minha opinio, esse um item importante

    para que o Estado possa desenvolver bem o seu papel. A Previc produto da expecta-tiva do setor e hoje, aps 5 anos de sua cria-o e estruturao, o momento rico para que tenhamos clareza sobre a leitura que o prprio sistema faz da autarquia.

    Nessa mesma reunio, vrios temas foram destacados. O senhor poderia nos dizer como pretende prioriz-los?

    Carlos de Paula - As discusses ocorri-das no encontro dos 100 giraram em torno de 3 temas: SBR, Desonerao e Habilita-o, e Certificao de Dirigentes. Levanta-mos 38 pontos que j esto sendo trabalha-dos internamente, e tambm em parceria com a Abrapp, com vistas a oferecermos solues que propiciem um ambiente mais estimulante para a atuao das entidades e mais interessante para os potenciais pa-trocinadores. Alm disso, iniciamos uma srie de aes pontuais, doze ao todo, que, acreditamos, devero corroborar para o fo-mento e desonerao do setor. Dentre elas gostaria de destacar o aperfeioamento da Instruo n 32, com a dispensa da impres-so do resumo do Relatrio Anual, o licen-ciamento automtico, a dispensa de avalia-o atuarial para planos CD, a otimizao do processo de anlise eletrnica com o fim da anlise prvia, e a responsabilidade de conselheiros quanto ao vazamento de in-formaes. Todas essas aes devem ser implementadas em at 90 dias.

    Penso que o sistema avanou bastan-te, estamos num estgio muito positivo em relao dcada passada. Mas, apesar de termos evoludo consideravelmente, chega-mos num estgio de inflexo muito impor-tante haja vista a transio demogrfica e os desafios que temos que enfrentar nos prxi-mos anos. Pretendemos somar SPPC, sob

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    a liderana do Dr. Jaime Mariz, em conjunto com a Abrapp e a Anapar, com o objetivo de aprimorar o sistema e avanar em diversos temas, entre eles o da tributao da pessoa fsica. Trata-se de uma agenda supraparti-dria, que no pertence a esse ou a aquele governo, mas sim aos interesses dos partici-pantes e da sociedade brasileira.

    O que viria a ser o Licenciamento Automtico?

    Carlos de Paula - Um ponto importan-te para fomentar o sistema facilitar o in-gresso da patrocinadora. Hoje o processo de criao de entidades e operacionalizao dos planos ainda muito burocrtico, podendo, de certa forma, ser bastante facilitado. O licenciamento automtico ser um meca-nismo importante. Para cada nova entidade criada no Brasil, a Previc dever atuar como rgo de orientao, acompanhamento e su-porte. Via de regra, a atuao da fiscalizao direta dever ocorrer a partir do trigsimo sexto ms. Vale destacar que j demos in-cio implementao desse modelo junto aos fundos de penso dos servidores pblicos. O Funpresp-Jud e o Funpresp-Exe devem funcionar como pilotos nesse projeto.

    A efetiva aplicao do modelo de Superviso Baseada em Riscos um desejo do sistema. Nesse sentido, o que os fundos devem esperar do rgo de superviso?

    Carlos de Paula - O processo de im-plantao da SBR compreende uma pro-funda mudana de paradigma e, portanto, deve ocorrer de forma gradual e paulatina. A Superviso Baseada em Risco implica num processo de conscientizao. Primeiro preciso haver uma mudana de mentali-dade para depois termos uma mudana de comportamento. O modelo precisa fazer

    parte da realidade de toda a autarquia. Vale ressaltar, porm, que assim como um de-safio para o rgo de superviso, a aplica-o da SBR tambm representa um desafio para os entes fiscalizados por envolver essa mudana de mentalidade e comportamen-to. Porque quando se fala em SBR, h, do outro lado, a gesto baseada em risco.

    No obstante, entendo que h espao para imprimirmos uma velocidade maior ao processo, com o cuidado para que no haja rupturas abruptas ou solavancos no sistema. Nos ltimos anos, realizamos dis-cusses com o setor, por meio de palestras ministradas pelos tcnicos da Previc, visitas com a equipe do Banco Mundial, a publica-o de seis guias de melhores prticas, e j demos incio alterao de algumas nor-mas com essa perspectiva. Temos realizado alguns encontros com o Banco Central, haja vista a sua experincia acumulada no pro-cesso de superviso dos bancos e das coo-perativas. Pretendemos intensificar a nossa parceria com o BACEN em relao ao tema, bem como em relao a outras aes pon-tuais inerentes ao processo de superviso. Considerando o novo contingente de ser-vidores da Previc (auditores, especialistas, analistas e tcnicos), estou certo de que as condies atuais so extremamente favo-rveis para aprofundarmos o modelo in-ternamente e interagirmos de forma mais clere e abrangente com a indstria. Como mencionei anteriormente, isso dever ocor-rer nos prximos 90 dias.

    O senhor pretende fazer algum ajuste na estrutura da autarquia?

    Carlos de Paula - Est em curso a dis-cusso sobre uma estrutura para a Previc que esteja alinhada s novas necessidades e aos novos tempos. Assim como o desenho da SPC (Secretaria de Previdncia Comple-

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    la mentar), l atrs, cumpriu o seu papel, ns entendemos que, aps cinco anos, o atual desenho da Previc tambm j cumpriu o seu papel. Tendo em vista o aumento da complexidade do setor, o rgo precisa es-tar alinhado a essas novas necessidades. preciso traduzir o aprofundamento da SBR, que uma questo fundamental, em medi-das objetivas que envolvam toda a Previc. A fim de que haja maior sinergia, buscamos algumas aes. Internamente, pretende-mos transformar toda a discusso da SBR em prtica, envolvendo efetivamente todas as diretorias da autarquia. Tambm deve-mos investir fortemente em sistemas para dar suporte a essa nova viso.

    Pretendemos utilizar o modelo uti-lizado pelo Banco Central como uma das principais referncias. Tambm estamos promovendo uma interao maior com a Comisso de Valores Mobilirios. Demos incio aos ajustes nos convnios existen-tes entre a Previc e a CVM de forma que possamos ter uma viso mais completa da dinmica de funcionamento do setor, um componente que trar uma musculatura melhor e mais interessante para o sistema sob o ponto de vista da superviso. Na condio de autarquia mais nova da Es-planada, podemos aproveitar as melhores prticas de nossos congneres. Pretende-mos tambm criar um novo desenho de escritrios regionais no Rio de Janeiro, So Paulo e Porto Alegre, que alm da fiscali-zao devero atuar como unidades de re-presentao da Previc. A ideia que essas unidades tenham maior autonomia para atuar regionalmente.

    Considero importante o incremento da interao entre os tcnicos da Previc e o sistema. A Previc, alm de guardi do sistema, mandataria para se pronunciar sobre a aplicao das regras de Previdncia

    Complementar no mbito do MPS. Tam-bm investiremos no treinamento dos nos-sos profissionais com o objetivo de manter a carreira atrativa com vistas a reter os ser-vidores com formao de alto nvel. Guar-dadas as devidas propores, o compor-tamento e o posicionamento da autarquia devem ser uniformes, independentemente da regio onde estejamos instalados.

    O senhor participou ativamente da criao da Previdncia Associativa e conhecido por todos como um homem de fomento. Em sua opinio, o que o sistema precisa para crescer?

    Carlos de Paula - Em 2003, tive o privi-lgio de fazer parte de uma equipe extrema-mente tcnica, que contou com total apoio do governo e dos respectivos ministros, que foram sete ao longo de oito anos. Esse foi um importante lastro para que pudssemos trabalhar com o foco correto com vistas a materializar a sedimentao das Leis Com-plementares 108 e 109. Houve um esforo conjunto do Estado e da Sociedade Civil nesse sentido. Diria que o resultado foi mui-to importante para o setor e para a socieda-de. Nos ltimos doze anos, o Brasil passou por profundas e positivas transformaes, e com isso surgiram novas demandas e os de-safios se ampliaram. importante entender-mos o perfil da chamada Gerao Y, que j comeou a ocupar espaos relevantes nas corporaes, assim como as polticas de ges-to de pessoas que tm sido aperfeioadas e at transformadas.

    Ao longo desses ltimos dez anos, dis-cutimos muito sobre possibilidades. Nesse sentido, acredito que agora seja o momen-to para implantarmos aes objetivas que viabilizem o acesso maior da populao ao sistema. Entendo que o CNPC tem avana-

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    do nas discusses no mbito das comisses temticas. Agora hora de implementarmos, por meio de resolues e recomendaes, os vrios assuntos exaustiva e democraticamen-te debatidos nos ltimos anos. Considerando os temas em pauta, estou certo de que a sua implementao efetiva ser uma importante contribuio para o fomento do sistema.

    O senhor mencionou anteriormente a questo da tributao da pessoa fsica. Poderia falar um pouco sobre o assunto?

    Carlos de Paula - Nos ltimos dez anos, mais de 40 milhes de pessoas ingressaram na chamada nova classe mdia brasileira. Considerando a forma pela qual est orga-nizado o nosso sistema de previdncia, ser inexorvel o ingresso de grande parte desse contingente tambm na Previdncia Com-plementar. Nesse sentido, entendo que seja bastante razovel possibilitar que as pessoas que hoje fazem a declarao simplificada de renda tenham o mesmo incentivo concedi-do quelas que fazem a declarao comple-ta em razo das contribuies de natureza previdenciria vertidas para os planos das entidades abertas (PGBL) ou fechadas. Em nossa avaliao, esse seria um passo extre-mamente importante haja vista a transio demogrfica que ocorrer no Brasil nas pr-ximas duas dcadas.

    A inscrio automtica pode vir a se tornar uma realidade? Qual a sua opinio sobre o mecanismo e sua aplicabilidade ao sistema brasileiro?

    Carlos de Paula - Conseguir avanar na inscrio automtica seria um grande salto. H discusses importantes em torno

    dessa questo por ocasio do ato de von-tade do participante, mas acho que so questes que podemos superar para que o participante, de fato, ao ingressar numa empresa, j esteja pr-inscrito no plano. Entendo que ainda h espao para fazer uma discusso jurdica nesse particular no mbito do CNPC. Esse um passo funda-mental que mudaria bastante o cenrio que temos hoje e que repercutiria muito bem no sistema como um todo e, em especial, nos planos de Previdncia Complementar dos servidores pblicos.

    O senhor acredita que a Previdncia Complementar pode voltar a ser prioridade de governo?

    Carlos de Paula - Eu acho que a Pre-vidncia Complementar nunca deixou de ser uma prioridade do governo. Em minha opinio, o grande desafio que temos hoje a necessidade de interao maior entre o Estado e a sociedade civil para que possa-mos aproveitar esse momento nico que ns vivemos, que o da transio demo-grfica. Ns no podemos perder a opor-tunidade de viabilizarmos as condies para que de fato o Brasil possa absorver a demanda de pessoas que precisa ingressar no sistema de Previdncia Complementar. Tal oportunidade passa por uma reviso do prprio modelo do sistema de superviso, das estruturas que ns temos, de ajustes que possamos vir a fazer no Regime Geral e de um forte processo de educao financei-ra e previdenciria. Essa conscincia exis-te no mbito do governo, o assunto nunca saiu da pauta. Em termos de governana, o Brasil est no estado da arte. Temos hoje uma estrutura que compreende a SPPC, um rgo de superviso, uma Cmara de Re-cursos. Temos representantes da sociedade civil no Conselho Nacional de Previdncia

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    Anncio Abrapp Atende

    Complementar, enfim, as condies de go-vernana para que o sistema se desenvolva foram dadas pelo Estado.

    Como aumentar o nvel de conhecimento do brasileiro sobre a Previdncia Complementar?

    Carlos de Paula - Apesar de todos os esforos realizados at o momento, en-tendo que o nvel de conscincia sobre a educao financeira e previdenciria ainda est muito aqum da nossa necessidade e da velocidade em que esto ocorrendo as transformaes na sociedade brasileira. A Estratgia Nacional de Educao Financei-ra (ENEF) foi um passo histrico importan-te para o Brasil. A estrutura de governana do sistema de previdncia brasileiro uma referncia internacional. O grande desafio agora promovermos um amplo proces-so de conscientizao de toda a socieda-de. Esse um trabalho que deve ser feito a quatro mos. Considero importante que haja uma maior compreenso sobre o per-fil dos novos potenciais participantes. Vale destacar, por exemplo, que no cenrio atu-al, suas relaes se do em ambientes como o Facebook e outras mdias sociais. Nesse sentido, no podemos continuar utilizando o mesmo modelo de atrao praticado nos ltimos quarenta anos.

    Qual a posio da Previc a respeito da reviso da Resoluo CMN 3792?

    Carlos de Paula - De modo geral, a atual Resoluo tem atendido ao sistema, inclusive quanto aos limite de aplicao previstos. No obstante, h espao para aperfeioamentos. Dentre eles podemos mencionar a incluso dos ETF (Fundos de ndice) de Renda Fixa dentre as opes de investimentos; a ampliao da lista de ati-

    vos de renda varivel elegveis para mar-gem de operaes de derivativos, e a ava-liao quanto composio e limites das operaes em fundos imobilirios e FIPs de natureza imobiliria.

    E quanto ao Decreto n 4942?Carlos de Paula - Com respeito ao

    Decreto 4942, que de 2003, tambm en-tendemos que cabe o seu aperfeioamento em alguns pontos relevantes. A incluso de mecanismos de superviso e de fiscaliza-o, tendo em vista que integram o proces-so administrativo sancionador, e aperfei-oamentos em alguns conceitos e prticas, como o contido no 2do Art. 22. Outro caso o tratamento a ser dispensado no caso de lavratura de mltiplos autos de infrao e uma melhor distribuio das penas e dos critrios de gradao. A assunto tem sido discutido com o sistema, particularmen-te na interlocuo com a Abrapp. Est em curso uma proposio a ser encaminhada Casa Civil da Presidncia da Repblica ainda neste ano de 2014.

    A Previc suspendeu a Instruo Normativa n 5 at 31/12/14. Como a autarquia pretende retomar este debate?

    Carlos de Paula - Voltaremos a essa discusso, s que numa leitura de que o desafio comunicar e conscientizar. Preci-samos fazer com que o participante tenha clareza e conscincia sobre o funcionamen-to do plano. No adianta oferecer uma s-rie de informaes se elas no fizerem sen-tido para ele. O relatrio no pode mais ser uma pea a ser recebida e descartada sem ser lida. H de se despertar no participan-te o interesse de buscar informao sobre o seu plano de benefcio, e o relatrio por si s no tem cumprido esse papel em sua

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    plenitude. A Instruo n 5 suscitou alguns debates em torno do custo e da sua com-plexidade. Pretendemos que ela volte at o final do ano, mas com aprimoramentos resultantes de conversas com o sistema.

    Como o senhor vislumbra o relacionamento entre os mercados de seguros e Previdncia Complementar daqui para frente?

    Carlos de Paula - Estudos e discusses no mbito da Previc apontam para uma necessidade de propiciarmos as condies no sentido de que as indstrias se aproxi-mem (mercado segurador e previdenci-rio). No h dvida de que o momento de avanarmos nessa direo. A partir de construes no mbito dos respectivos con-selhos (CNSP e CNPC), as Resolues 10 e 119 podem passar por pequenos aprimora-

    mentos, todavia de grande impacto para os dois setores. De igual modo, j iniciamos uma aproximao maior com a SUSEP. Acredito que, num futuro prximo, possa-mos ter resolues conjuntas entre o CNPC (Conselho Nacional de Previdncia Com-plementar) e o CNSP (Conselho Nacional de Seguros Privados) para determinadas matrias. Entendo que o maior beneficiado por esse alinhamento seria a sociedade. De igual modo, para a comunidade internacio-nal, essa seria uma demonstrao de forte sinergia. O Brasil est pronto para o movi-mento. Como mencionei, o nosso sistema j uma referncia de sucesso para vrios organismos internacionais. Em nossa ava-liao, arranjos dessa natureza podero ajudar a sedimentar esse entendimento.

    Anncio Abrapp Atende

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    ANNCIO BLOOMBERG

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    Sistemas europeus em

    transformao

    Os sistemaseuropeus

    em transformao

    Em maio deste ano, di-rigentes, autoridades e profissionais do sistema brasileiro de fundos de penso estiveram em Paris, na Frana, para acompanhar mais uma edio do seminrio A Estru-tura da Previdncia na Euro-pa, organizado anualmente pela Abrapp.

    O evento, que teve cinco dias de durao, reuniu alguns dos maiores especialistas mun-

    diais na rea de previdncia privada, entre eles representan-tes de instituies de renome como a Organizao para Co-operao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), Organiza-o Internacional de Supervi-sores Previdencirios (IOPS), Autoridade Europeia de Segu-ros e Previdncia Ocupacional (EIOPA), alm de rgos regu-ladores nacionais, consultorias e fundos de penso.

    Governos buscam garantir a sustentabilidade via o aumento da cobertura, o prolongamento da

    vida laboral, novos desenhos de planos e promoo de diferentes fontes de renda de aposentadoria

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    Na ocasio, foram discutidos temas relevantes do cenrio previdencirio in-ternacional, como a sustentabilidade dos sistemas, inovaes no desenhos de pla-nos, descobertas recentes na evoluo da longevidade, tendncias na rea de inves-timentos, gesto de riscos e mecanismos de aumento da cobertura dos planos pri-vados, como a adeso automtica, dentre muitos outros.

    Nas pginas que se seguem, a revista Fundos de Penso oferece a seus leitores um resumo tcnico das palestras a fim de que as discusses cheguem ao conhecimento de um nmero maior de profissionais que integram o sistema brasileiro de Previdncia Comple-mentar. A ideia disseminar conhecimen-to e fomentar um debate profcuo que resulte no aprimoramento das prticas adotadas por gestores, reguladores e supervisores brasileiros.

    A OIT E A SEGURIDADE SOCIAL - DADOS, NORMAS E DESENVOLVIMENTOS RECENTES

    Ao abrir o evento, o assessor snior da Organizao Internacional do Traba-lho (OIT), Helmut Schwarzer, frisou que o organismo internacional busca sempre apoiar polticas de desenvolvimento para a Previdncia Complementar, apesar da OIT no ter como enfoque principal os sistemas privados de aposentadoria.

    Em seguida, o especialista apresen-tou, em primeira mo, os resultados do mais recente Relatrio Mundial de Pre-

    vidncia Social (World Social Security Report), que rene dados de 178 pases. Desses, observa Schwarzer, apenas doze no possuem sistemas que garantam be-nefcios previdencirios regulares, em-bora onze deles tenham os chamados provident funds, que oferecem ao menos um pagamento nico no ato da aposenta-doria. Trata-se de um avano, uma situ-ao bastante diferente da observada h vinte ou trinta anos.

    Regimes legais de penses por idade com pagamentos regulares de benefcios166 pases | 93% Nenhum regime legal

    de penses que proporcione

    pagamento regulares de benefcios a idosos

    12 pases7%

    Fundos providentes(Provident Funds)proporcionando

    pagamentos nicos a assalariados e, s

    vezes, conta-prprias11 pases

    CO

    NTR

    IBU

    TIV

    O Apenas regime

    contributivo

    77 pases43%

    Regimecontributivo

    e no-contributivo

    Universal

    27 pases 15%

    Regimecontributivo

    e no-contributivo

    Assistencial

    50 pases 28%

    N

    O C

    ON

    TRIB

    UTI

    VO

    ApenasNo-contributivo

    assistencial

    3 pases 2%

    ApenasNo-contributivo

    Universal

    9 pases 5%

    Informao disponvel para 178 pases (100%)

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    Sistemas europeus em

    transformao

    Conforme ilustrado no quadro ao lado, o que se observa hoje um nmero maior de pases detentores de uma combi-nao de regimes contributivos e no con-tributivos (sociais ou assistenciais), cujo objetivo preencher quaisquer lacunas de cobertura, uma vez que nem todas as pes-soas tm capacidade para contribuir finan-ceiramente para o regime.

    Segundo a Organizao Internacional do Trabalho, o Brasil possui taxas de cobertu-ras elevadas em funo da sobreposio dos regimes contributivo e no contributivo, a exemplo da previdncia rural. Alis, no que-sito cobertura, a posio brasileira melhorou muito entre 2000 e 2010, ao contrrio de pa-ses como Grcia, Espanha e Estados Unidos (que foram mais afetados pela crise).

    No Brasil, assim como em Cabo Verde, China, Gana, ndia, Mxico, Moambique, frica do Sul e Tailndia, a extenso gradu-al da cobertura da previdncia social surtiu impacto significativo no bem estar da po-pulao, tendo contribudo, em conjunto com as polticas econmicas e trabalhistas, para estimular o crescimento e o desenvol-vimento econmico e social.

    O pas tambm acelerou a expanso da cobertura de proteo social e do sal-rio mnimo desde 2009. O maior programa social do mundo, em termos absolutos, o Bolsa Famlia, que abrange cerca de 11,3 mi-lhes de famlias ou 46 milhes de pessoas - um quarto da populao brasileira. O cus-to anual do programa segundo a Organiza-o Internacional do Trabalho de US$3,9 bilhes ou 0,4% do PIB. No entanto, salienta a OIT, um maior comprometimento da so-ciedade brasileira se faz necessrio a fim de amenizar as desigualdades sociais.

    Luzes e Sombras

    Publicado pela OIT no ano passado, o estudo intitulado Luzes e Sombras, relata que na Amrica Latina h luzes (progres-sos) e sombras (desafios) na rea de prote-o social. Entre as luzes est o importante aumento da cobertura, puxado pelo Brasil, de um ponto percentual por ano entre 2001 e 2012, bem como avanos significativos na reduo da pobreza (de 43,8% para 27,9% entre 1999-2013) e na desigualdade de renda (observados em 15 dos 18 pases avaliados).

    Amrica Latina e Caribe Contribuintes ativos como proporo da populao economicamente ativa (%)

    2009-2012

    Fonte: OIT/SSI, baseado em fontes nacionais (dados administrativos e pesquisas domiciliares), Banco Mundial e OECD.Nota: ltimo ano disponvel: Jamaica (2004), Aruba (2006), Antigua e Barbuda e S. Vicent & Gren (2007) e St. Lucia (2008)

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    No entanto, ainda h muitos desafios (sombras) a serem superados, a exemplo da m distribuio de renda observada na regio. Houve uma reduo significativa do ndice de Gini, utilizado para medir a concentrao de renda. Contudo, esse n-dice permanece elevado no Brasil, obser-va Schwarzer, acrescentando que a esses desafios soma-se o fato de muitos pases estarem enfrentando uma transio demo-grfica acelerada. Ainda no universo das sombras destacam-se nveis elevados de pobreza rural (48,6%) e indigncia urbana (7,1%) e rural (28,2%).

    H tambm baixos nveis de cobertura contributiva entre os desempregados e tra-balhadores rurais e domsticos. A contribui-o regular ao seguro social realizada por apenas 38% da Populao Economicamente Ativa (PEA). No mundo, apenas 41% dos trabalhadores contribuem para previdncia. Nesse sentido, o Brasil est na mdia global.

    A transio demogrfica

    Para a OIT, o processo de transio de-mogrfica irreversvel e afeta a todos os pases - industrializados e em desenvol-vimento - em todas as regies do mundo, mesmo que em propores e momentos di-ferentes. A maioria dos pases industrializa-dos enfrenta o envelhecimento e, em alguns casos, a reduo da populao. J os pases em desenvolvimento, em geral, lidam com o crescimento da populao, o aumento do nmero de jovens e, ao mesmo tempo, o r-pido envelhecimento de seus cidados.

    Embora haja uma tendncia global de reduo do crescimento populacional, es-tima-se que nas prximas quatro dcadas a populao mundial ir aumentar em dois bi-lhes de pessoas, chegando a 9 bilhes. Nes-se contexto, a faixa etria que mais cresce a das pessoas com 60 anos ou mais, deven-

    do triplicar de tamanho at 2050. At 2040, 21,8% da populao tero idade superior a 60 anos. Isso far com que a razo de dependn-cia seja significativamente elevada: se hoje h 9 pessoas em idade de trabalhar para cada in-divduo com 65 anos ou mais, em 2050 essa proporo ser de 4 para 1.

    O Brasil, particularmente, tem pela frente duas dcadas do chamado bnus demogrfico, perodo em que a populao ativa ainda preponderante. Haver gente entrando no mercado de trabalho, ao mes-mo tempo em que aumentar o nmero de idosos. Sendo assim, daqui por diante, tan-to as autoridades quanto a sociedade te-ro que lidar com questes relacionadas ao mercado de trabalho e ao bem estar social da terceira idade. necessrio investir no ensino tcnico, no aumento da produtivi-dade, em recursos humanos e inovao, es-foros que j esto em curso e que so bem vindos, mas que precisam ser maiores, por-que essa produtividade que vai gerar a base de tributao para financiar as polti-cas de proteo social no futuro.

    Para assegurar condies dignas para as pessoas mais idosas, a OIT recomenda que sejam dadas garantias bsicas de se-guridade social. similarmente importan-te que se promova a sustentabilidade dos regimes de proteo social, invista-se na preveno de acidentes/doenas do tra-balho e outras causas de invalidez, e ten-te-se buscar o equilbrio dos sistemas de previdncia social, criando desincentivos s aposentadorias precoces, estimulando o prolongamento da vida laboral e gerindo adequadamente esses sistemas.

    No que tange ao mercado de traba-lho, as perspectivas so pouco animado-ras globalmente: em 2020, haver mais 420 milhes de pessoas no mercado, sendo que hoje j h aproximadamente 200 milhes

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    de desempregados. Logo, em duas dca-das, sero necessrias 600 milhes de no-vos postos de trabalho em todo o mundo. Nesse contexto, a OIT recomenda algumas iniciativas, como a formulao de polti-cas com a perspectiva do ciclo de vida, a formalizao do emprego, o combate ao desemprego juvenil, a maior incluso de mulheres e pessoas com mais idade ao mer-cado, alm de investimentos em sistemas educativos, produtividade e tecnologia.

    O sistema previdencirio brasileiro

    Sobre a Previdncia Social brasileira, Helmut Schwarzer, que foi Secretrio de Previdncia Social entre 2003 e 2010, teceu alguns comentrios especficos. Em sua opinio, as reformas dos regimes prprios, realizadas aps 2003, foram um avano em direo sustentabilidade do sistema. Todavia, h outras aspectos que precisam ser discutidos, como as penses, desenha-das na dcada de 50, e a idade mnima de aposentadoria. preciso ficar mais tempo no mercado de trabalho para repartir o fi-nanciamento dos ganhos na expectativa de vida entre toda a sociedade.

    Quanto introduo de um pilar ca-pitalizado na Previdncia Social brasileira, Schwarzer observa que nos anos 90 houve um ciclo de substituio parcial ou integral dos regimes pblicos pela capitalizao ge-rida por entes privados em diversos pases, embora alguns deles j estejam revendo es-sas reformas. A Argentina e a Hungria j as reverteram por completo, e a Polnia, parcialmente. A Repblica Tcheca passou um ano com fundos capitalizados de filia-o obrigatria, mas voltou atrs e agora a adeso optativa.

    Para o especialista, os resultados de tais reformas foram variados: no Chile, a mudana foi positiva para o mercado fi-nanceiro, mas o novo sistema de capitaliza-o deixa a desejar em termos de proteo social, tanto que h uma reforma em curso que provavelmente resultar no aumento da participao do pilar bsico. Na Costa Rica, a introduo do pilar capitalizado foi bem sucedida, mas ele representa apenas uma pequena parte do sistema, com reser-va limitada de capital.

    No Brasil, a substituio do modelo de repartio simples pelo capitalizado de-mandaria um esforo de capital conside-rvel porque a dvida implcita do sistema pblico muito grande. Clculos realiza-dos h alguns anos falavam de valores cor-respondentes a 200% do PIB, algo que para o Brasil seria um desafio at no que se re-fere a onde investir esse volume de capital, uma vez que o mercado financeiro no pos-sui tamanha capacidade de absoro.

    A portabilidade na Unio Europeia

    Ao ser questionado sobre o portabili-dade de direitos no mbito da Unio Euro-peia, Helmut Schwarzer explicou que h um acordo que regula os casos de imigrao de trabalhadores cobertos pelos sistemas previ-dencirios do continente. Um pas que ade-re Unio Europeia faz parte do pacote de adeso que define como lidar com a prote-o dos trabalhadores imigrantes, sublinha o especialista, acrescentando que no Merco-sul existe um acordo de seguridade social em padres similares, embora a Venezuela ainda no o tenha assinado. necessrio maior es-foro diplomtico nesse sentido.

    H, hoje, 27 pases diferentes na UE, cada qual com sistemas em diferentes est-

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    gios de desenvolvimento, bem como idades de aposentadoria e frmulas de clculo dos benefcios distintos (sistemas de pontos, m-dia salarial, benefcio bsico acrescido de par-cela contributiva, entre outros). Os pases no tm interesse em unificar essas frmu-las. O que se estabelece nesses acordos so regras para dar continuidade proteo em casos de migrao. Evita-se a bitributao, por exemplo, optando-se pelo recolhimento da contribuio apenas no pas de origem.

    Se a mudana for definitiva e o traba-lhador possuir um histrico contributivo no pas de origem, soma-se os perodos de filia-o aos sistemas de ambos os pases, e pos-teriormente, cada pas calcula um benefcio

    proporcional ao tempo trabalhado no mer-cado interno. Na Argentina e no Brasil fun-cionaria assim, com um s pedido, explica Schwarzer.

    H uma clearing house, em Bruxelas, que funciona apenas como um centro de coordenao de tais pedidos. No entanto, adverte o especialista, no mbito dos siste-mas de previdncia privada, a coordenao de benefcios ainda insipiente, diferente do que acontece com os sistemas de previ-dncia social. Esse, alis, um tema de in-teresse para o Brasil que, alm de ter cada vez mais pessoas interessadas em careiras internacionais, tambm recebe profissio-nais de vrios outros pases.

    ECONOMIA MUNDIAL, TENDNCIAS DEMOGRFICAS E BENEFCIOS PREVIDENCIRIOS

    Juan Yermo Assessor Snior da Se-cretaria Geral da OCDE (Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmi-co) e responsvel pela OECD Better Poli-cies Series, coletnea que fornece anlises e recomendaes sobre polticas nas mais diversas reas. O especialista afirma que a economia global continuar se expandindo em ritmo moderado pelos prximos dois anos, embora o desemprego e outros lega-dos deixados pela crise econmica mun-dial ainda sejam fonte de preocupao. O movimento de recuperao do crescimento global vem sendo liderado pelos pases de-senvolvidos, nos quais os investimentos - e sobretudo o comrcio - voltam lentamente normalidade.

    A despeito da melhora na conjuntu-ra econmica, o nvel de desemprego ain-da alto em pases como Espanha, Grcia,

    Portugal e Itlia, situao que no deve mudar no futuro prximo. Nos pases da OCDE, espera-se que aproximadamente 44 milhes de pessoas ainda estejam fora do mercado em 2015, 11,5 milhes a mais do que o nmero registrado antes da crise. H, inclusive, o risco de desemprego es-trutural, o que uma grande preocupao sob o ponto de vista econmico, observa Yermo. Por isso, necessrio que os pases invistam em polticas inclusivas, bem como na criao de novos postos de trabalho. Para a OCDE, o timing para as reformas ideal a fim de se garantir que os benefcios da atividade econmica sejam amplamente compartilhados.

    O crescimento do Produto Interno Bruto nos 34 pases membros da organiza-o deve ser de 2,2% em 2014 e 2,8% em 2015, segundo relatrio anual intitulado

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    OECD Economic Outlook. O crescimento mdio esperado da economia mundial de 3,4% em 2014 e 3,9% em 2015. Entre as economias desenvolvidas, o processo de recuperao econmica mais evidente nos Estados Unidos, que devem crescer 2,6% em 2014 e 3,5% em 2015.

    A expectativa que a zona do euro tambm volte a crescer aps trs anos de contrao: 1,2% em 2014 e 1,7% em 2015. A maior preocupao a defla-o. Os riscos de deflao ainda esto baixos, mas existem, j que os patama-res registrados no primeiro trimestre de 2014 esto bem abaixo da meta inflacio-nria do Banco Central Europeu, que de 2%, ressalta Yermo. O sistema ban-crio da regio ainda no se recuperou da crise financeira. Est em curso um processo de consolidao fiscal e redu-o da dvida pblica, que ainda alta, embora esse nveis devam se estabilizar nos prximos meses. A nica exceo, nesse caso, a Grcia.

    No Japo, o crescimento ser me-nor em funo da adoo de medidas de consolidao fiscal: 1,2% em 2014 e 2015. Recentemente, o Primeiro Mi-nistro japons anunciou medidas im-portantes para o pas - e para o mundo - que objetivavam uma maior flexibili-dade fiscal, o afrouxamento da polti-ca monetria e o aumento da inflao. Nesse contexto, o governo do Japo tem sido bem sucedido apenas no que tange ao afrouxamento da poltica mo-netria. Felizmente, para o Japo, a d-vida do pas, que chega a 230% do PIB, mantida internamente por bancos do-msticos e fundos de penso, entre eles o maior do mundo, administrado pelo governo, com 1,3 trilho de dlares sob gesto, explica Yermo

    Crescimento Real do PIB (em %)

    Fonte: OECD Economic Outlook/maio 2014

    No universo dos BRIICS (Brasil, China, ndia, Indonsia, Rssia e frica do Sul), o crescimento esperado do PIB de 5,3% em 2014 e 5,7% em 2015. A China, mais uma vez, deve apresentar o maior ritmo de cres-cimento dentre essas economias, com taxas pouco abaixo de 7,5% em 2014 e 2015.

    No entanto, o crdito vai lentamente deixando de ser uma atribuio das insti-tuies bancrias chinesas para cair nas mos de outros veculos e produtos de ges-to de recursos da iniciativa privada, sujei-tos a uma regulao mais flexvel, os quais recebem o nome de shadow banking system. Trata-se de um mercado monitorado osten-sivamente pelo Banco Central que hoje de-tm nada menos que 40% do PIB chins.

    Observa-se ainda, no pas asitico, um mercado imobilirio demasiadamente de-senvolvido com caractersticas similares s observadas na Espanha e nos EUA antes da crise financeira, gerando certa apreenso sobre como e em qual ritmo um movimen-to inevitvel de desacelerao dever acon-tecer. Contudo, a forte presena estatal no sistema financeiro deve ajudar a amenizar quaisquer impactos advindos do processo.

    Juan Yermo observa que possvel de-tectar algumas movimentos interessantes na China, como a introduo da aposenta-doria rural, a reforma do sistema pblico de sade e o crescimento da dvida pbli-

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    ca, que deixou de ser historicamente baixa para se assemelhar de pases da OCDE. Os sistemas de bem estar social e sade nacional esto sendo lentamente estrutu-rados, mas isso deve levar algum tempo, ressalta o especialista.

    O relatrio OECD Economic Outlook tambm chama especial ateno para de-terminados riscos. Apesar das condies financeiras estarem melhorando nas eco-nomias mais desenvolvidas, o crdito mais restrito tm prejudicado o crescimento, so-bretudo nos pases emergentes. Tambm se fazem presentes os riscos geopolticos, ilustrados por Yermo por meio de trs ur-sos armados em referncia aos conflitos na Ucrnia, tenso no Mar do Sul da China envolvendo China e Japo, e s guerras no Oriente Mdio, em especial no Ir e na Sria.

    Implicaes para o Brasil A Economia brasileira perdeu um pou-

    co o ritmo de crescimento inicial e a inflao insiste em manter-se acima da meta do Banco Central. A poltica monetria menos flexvel, a menor demanda externa e as incertezas acar-retadas pelas eleies presidenciais devem prejudicar a atividade comercial em 2014.

    Em 2015, a expectativa pelo aumento do crescimento do PIB apesar das limitaes de oferta, do mercado de trabalho restrito e da necessidade de manuteno da rigidez da poltica monetria, fatores que inibem o au-mento da demanda interna. O Brasil tem um problema contrrio ao da China: h pouco in-vestimento, baixa poupana previdenciria e a recuperao da crise financeira mais lenta que a de outros pases.

    As taxas de investimento brasileiras (18%) so bem inferiores a de mercados do sudeste da sia, onde o patamar mdio de cerca de 28%. Em pases como a China, esse nvel consideravelmente maior.

    Taxa de investimento, % do PIB

    Fonte: OECD Economic Survey Brazil, 2013

    A produtividade brasileira tambm baixa em relao aos pases desenvolvi-dos e algumas naes latino-americanas. A lacuna de produtividade do pas tem au-mentado ao invs de diminuir, a exemplo do que se observa em outras economias da regio. preciso fazer com que o motor brasileiro mantenha-se em funcionamento por meio de reformas estruturais, tanto na educao quanto na rea previdenciria, recomenda Yermo.

    A falta de competitividade na inds-tria de servios, transportes, entre outras, bem como a elevada carga tributria e a re-gulao de diversos segmentos dificultam a inovao. Para diminuir a desigualda-de de renda no Brasil, o caminho no via tributao, mas educao, afirma o espe-cialista. Ao ser questionado sobre o papel da corrupo no lento desenvolvimento do pas, ele mais uma vez categrico: A cor-rupo pode ou no funcionar como um impedimento, vide o caso da China, que vem apresentando um ritmo acelerado de crescimento embora esse tambm seja um foco de preocupao para os chineses.Demografia

    A exemplo do que acontece no res-to do mundo, a longevidade do brasileiro aumenta e a taxa de fertilidade diminui. Como resultado, h o aumento da razo de dependncia do idoso. Juan Yermo, que j

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    foi Chefe da Unidade de Previdncia Pri-vada da OCDE, explica que a melhoria na expectativa de vida aos 65 anos vem ocor-rendo desde o incio do sculo XX. No en-tanto, o fenmeno mais acentuado entre os indivduos mais abonados, que vivem mais hoje e vivero ainda mais no futuro. Estudos sugerem que, nos EUA, a diferen-a na expectativa de vida dos mais ricos em relao aos mais pobres de aproximada-mente 5 anos. Trata-se de um aspecto que tende a ser esquecido nos debates que en-volvem as reformas previdencirias.

    No que tange s taxas de fertilidade, observa-se uma reduo em pases desen-volvidos e em desenvolvimento, como Brasil, China e at mesmo a ndia. O Bra-sil mantem-se perto ou ligeiramente abai-xo da taxa de reposio. Nesse contexto, h uma propenso convergncia das taxas de dependncia aqui e em outras reas do globo, conforme ilustra o grfico a seguir. Em 2050, o Brasil ter uma proporo at mais avanada que nos EUA. No futuro, os pases emergentes tero estruturas etrias parecidas com a de pases desenvolvidos.

    A previdncia brasileira

    Na opino de Juan Yermo, os desafios fiscais de longo prazo so significativos

    face ao envelhecimento rpido da popula-o, sobretudo tendo em vista que no Brasil os gastos com previdncia j so altssimos, devendo chegar a 16% do PIB em 2050 (um dos mais altos em comparao media da OCDE, que ser de 11,5%).

    A fim de lidar com o problema, a Or-ganizao para Cooperao e Desenvolvi-mento Econmico recomenda aumentos graduais na idade de aposentadoria. Nos pases que compem os quadros da orga-nizao, a tendncia que a idade mnima para se ter direito ao benefcio previdenci-rio seja de 65 anos ou mais nos prximos anos. Num futuro mais distante, o patamar mnimo ser de 67 anos.

    H, no entanto, outras formas de pro-mover a sustentabilidade dos regimes de aposentadoria. O fator previdencirio, que impe descontos ao benefcio no caso de aposentadoria precoce, j existente no Brasil, tambm adotado na Finlndia, Alemanha, Portugal e Espanha. A substituio de parte do regime de repartio simples estatal por contas CD nocionais foi a opo escolhida por Itlia, Polnia e Sucia, e a criao de sistemas de Contribuio Definida de ade-so obrigatria foi a alternativa empregada em pases como Austrlia e Holanda.

    Convergncia Global das Taxas de DependnciaProporo de pessoas em idade ativa versus indivduos com 65 anos ou mais

  • Anncio Atena Tecnologia

  • Anncio Atena Tecnologia

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    Os investimentos Ciclo de Vida (Life Cycle Investing) consistem na alocao di-nmica dos ativos que compem a rique-za de um determinado domiclio ou ncleo familiar ao longo da vida laboral e apo-sentadoria de seus membros. Os ativos abrangidos podem incluir aes, renda fixa e produtos ofertados por companhias se-guradoras, como seguro de vida e anuida-des, e os principais riscos envolvidos so os riscos de investimento, renda laboral, infla-o e longevidade.

    Segundo Raimond Maurer, Chefe de Investimentos, Gesto de Carteiras e Fi-nanas Previdencirias do Departamento de Finanas da Goethe University (Alema-nha), dois fatores cruciais influenciam as decises de investimento e poupana de ciclo de vida de uma determinada famlia: o mercado de trabalho e o status financei-ro. Isso porque as decises acerca das ho-ras trabalhadas e idades de aposentadoria so determinantes da renda laboral que, por sua vez, influenciam a forma como as pessoas gastam, poupam, investem e acu-mulam recursos para a aposentadoria nos sistemas previdencirios.

    Os salrios e o status familiar so aspectos incertos, que tendem a variar conforme a ocorrncia de casamento/di-vrcio, a chegada ou partida dos filhos e a morte do cnjuge. Cada um desses even-tos oferece riscos importantssimos para a situao financeira de uma determina-da famlia. A chegada de um filho, por exemplo, redefine os gastos e o padro de poupana familiar, assim como eventuais divrcios e as despesas com educao. As crianas influenciam as finanas direta e

    indiretamente medida que afetam a ca-pacidade dos membros da famlia, em es-pecial das mes, de trabalhar para gerar a renda essencial acumulao de ativos financeiros.

    A famlia e a poupana previdenciria

    Um estudo conduzido por Maurer, Olivia Mitchel (Wharton Business Scho-ol) e Andreas Hubener (Universidade de Frankfurt) com base nos parmetros do sistema norte americano, demonstra que o sistema previdencirio tambm tem um papel fundamental a desempenhar nas decises ciclo de vida. Afinal, trata-se de um programa de renda vitalcia de adeso obrigatria que envolve critrios de ele-gibilidade complexos e padres de renda que dependem da idade, histrico laboral e status familiar.

    Na maioria dos sistemas, os indivdu-os casados acumulam benefcios baseados no prprio histrico laboral, bem como na carreira profissional do cnjuge. Por essa razo, a anlise terica da influncia dos sistemas de aposentadoria na gesto da riqueza exige um profundo exame da es-trutura de otimizao de toda a famlia ao longo do seu ciclo de vida completo, um modelo que at ento era pouqussimo ex-plorado na literatura. Grande parte dos estudos voltados para a alocao de ati-vos ciclo de vida se limita a adotar a pers-pectiva do indivduo ao invs da familiar, desconsiderando seus tamanhos e compo-sies variados.

    AS ANUIDADES E A ALOCAO DE ATIVOS AO LONGO DO CICLO DE VIDA

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    O modelo desenvolvido por Maurer e seus colegas vai alm dos estudos realiza-dos at o momento por levar em conta os retornos estocsticos provenientes do mer-cado acionrio, a renda laboral, e o risco de mortalidade. O impacto das transies demogrficas sobre o oramento familiar tambm considerado. O mais importan-te a maneira mais realista com que formu-lamos os benefcios da previdncia social. Estudos anteriores partiam do princpio de que o valor dos benefcios resumia-se a uma porcentagem fixa do ltimo salrio da ativa em alguma data pr-estabelecida. Ns, em contrapartida, preferimos mode-lar os benefcios no apenas em funo da renda do trabalhador ao longo da vida e da idade de aposentadoria, mas em conjunto com as penses por morte tanto para viva quanto para os dependentes.

    Para Maurer, a previdncia de fun-damental importncia no contexto do life cycle investing, uma vez que representa uma grande parcela dos ativos familiares. O per-fil de risco e retorno desse importante ativo tem consequncias profundas sobre a forma

    como as famlias gerenciam sua riqueza tan-to ao longo da vida laboral quanto na apo-sentadoria. Em sua opinio, a deciso sobre quando se aposentar e comear a receber o benefcio uma das mais complexas e impor-tantes a serem tomadas pelo indivduo.

    O especialista em finanas prope al-guns exerccios para ilustrar a importncia da referida deciso, que guarda relao di-reta com a sada do mercado de trabalho. Ele salienta que aposentar-se aos 70 anos ao invs de 62, por exemplo, pode gerar uma renda vitalcia mensal at 76% supe-rior. Logo, o trabalhador tem a opo de parar de trabalhar aos 62, mas adiar a data de incio da percepo do benefcio at os 70 anos a fim de elevar o valor da renda mensal. Dessa maneira, ficaria possibilita-da a utilizao dos ativos financeiros para manuteno do padro de vida na velhi-ce. Outra alternativa comear a receber o benefcio o quanto antes (62 anos) em tro-ca de uma aposentadoria menor e conti-nuar trabalhando. Assim possvel fazer uso da renda do trabalho e do plano pre-videncirio ao mesmo tempo.

    Homem, 62 anosBenefcios da previdncia social - US$ 15 mil ao anoPoupana de aposentadoria acumulada - US$ 200 mil

    Meta de consumo - US$ 25 mil anuais

    Idade de requerimento do

    benefcioInvestimentos

    Idade de esgotamento dos

    recursos

    Probabilidade de esgotar os recursos

    ainda em vida

    Alternativa 162 anos

    ttulos retorno de 2%

    Saque anual de US$ 10 mil +US$ 15 mil em benefcios

    previdencirios87 anos 32%

    Alternativa 266 anos

    ttulos retorno de 2%

    - 94 anos 8,9%

    Alternativa 366 anos

    aes (20%) e ttulos (60%)

    - - 4,5%

    Otimizao das idades de aposentadoria e dos investimentos - alguns exemplos

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    A dinmica familiar

    O padro de horas trabalhadas dos casais difere substancialmente do padro dos solteiros. Aos 20 anos, maridos e espo-sas trabalham at 50 horas por semana. Ao contrrio dos solteiros, os homens casados s reduzem o ritmo de trabalho (44 horas semanais) por volta dos 40 anos, superan-do a mdia semanal dos solteiros em cerca de cinco horas. As esposas, por sua vez, re-duzem o ritmo de trabalho para cerca de 30 horas semanais ao se aproximarem dos 40 anos. Dos 40 aos 55 anos, as mulheres vo gradualmente aumentando a sua jor-nada de trabalho para 34 horas por semana medida que as crianas ficam mais velhas e exigem menos cuidados.

    Apesar da carga de trabalho mais in-tensa na juventude, mulheres casadas tra-balham, em geral, trs horas a menos do que as solteiras ao longo de todo o ciclo de vida. As diferenas de horas trabalhadas dentro de uma mesma famlia se devem ao fato dos salrios femininos serem inferiores aos masculinos, decaindo ainda mais com a chegada dos filhos. Assim como os soltei-ros, indivduos casados tendem a diminuir o ritmo de trabalho a partir dos 60 anos.

    Casais com filhos investem menos em ativos mais arriscados e compram mais se-guro de vida do que os solteiros ou casais sem filhos. As mulheres casadas tendem a dar entrada no benefcio previdencirio muito mais cedo que as mulheres solteiras, ao passo que os chefes de famlia o fazem mais tardiamente que os sem filhos. Cerca de 57% das mulheres casadas requerem o benefcio na idade mnima de aposentado-ria (62 anos), embora a mdia de idade des-se universo seja de 64,6 anos, cerca de dois anos mais cedo que as mulheres solteiras.

    Em contrapartida, a idade mdia de requerimento do benefcio entre homens casados de 67,9 anos, sendo que 61% de-les prefere adiar a data de aposentadoria at completar 70 anos. Os solteiros costu-mam sair do mercado mais cedo. O in-teressante que as crianas parecem ter pouco impacto nas decises sobre a data de aposentadoria de homens e mulheres, sa-lienta Maurer.

    Entre aqueles que do entrada no be-nefcio entre 62 e 70 anos, as mulheres com menor grau de instruo so as que se apo-sentam mais cedo, em mdia aos 64,4 anos. A idade mdia de aposentadoria dos in-divduos do sexo feminino com diploma universitrio de 66,2 anos. J entre os ho-mens, o nvel de escolaridade parece ter pouca influncia: a idade mdia de aposen-tadoria de 67,3 anos. Os resultados justi-ficam-se pelo fato da taxa de reposio da previdncia social ser mais generosa para mulheres com renda mais baixa, ao passo que os homens e mulheres com formao universitria gozam de mais incentivos para permanecer no mercado de trabalho.

    O valor dos benefcios previdencirios tambm influencia fortemente a maneira como as famlias gerenciam seus recursos e vidas laborais. A reduo das penses leva os homens a comprar mais seguro de vida. Entre as mulheres, a perspectiva de dimi-nuio da renda resulta no adiamento da data de aposentadoria e a opo por mais horas de trabalho, com pouco impacto so-bre as alocaes em renda varivel, que carregam maior risco.

    A otimizao da renda de aposentadoria

    Para a maioria dos casais, a estrat-gia otimizada para maximizar a renda de

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    aposentadoria vitalcia consiste na esposa requerer os benefcios - relativamente mais baixos - mais cedo. Posteriormente que se deve dar entrada no benefcio do cnjuge, caso ele seja de valor mais alto. O marido deve requerer o benefcio por idade em es-tgio mais adiantado da vida, fazendo com que seu prprio benefcio aumente, elevan-do, tambm, a penso da mulher aps sua morte. Dada a alta probabilidade da mu-lher viver mais que o homem, a busca por uma penso melhor para a esposa impor-tante para maximizar a utilidade conjunta do casal, explica Raimond Maurer.

    O estudo de sua autoria tambm in-dica que as regras previdencirias surtem impacto importante sobre o comporta-mento financeiro da famlia; por isso, uma

    possvel mudana nas regras das penses faria com que as diferenas na data de re-querimento do benefcio entre homens e mulheres fossem severamente reduzidas, contribuindo, ainda, para o aumento da compra de produtos do mercado securit-rio por parte do universo masculino.

    imprescindvel que o planejamento financeiro moderno possa conjugar os be-nefcios providos pela previdncia privada e pelo regime estatal aos objetivos financei-ros das famlias. As descobertas permitem que os reguladores possam realizar mu-danas no sistema de forma mais conscien-te. No entanto, o que elas de fato deixam claro que quando o marido diz que vai discutir as finanas com a mulher, melhor que ele realmente o faa!, provoca Maurer.

    TENDNCIAS EM ALOCAO DE ATIVOS E O PROJETO DE INVESTIMENTOS DE LONGO PRAZO DA OCDE

    Os investidores institucionais, em es-pecial fundos de penso, companhias se-guradoras e fundos mtuos, que operam nos sistemas de aposentadoria, represen-tam uma grande fonte de financiamento de longo prazo para ativos ilquidos gra-as ao longo horizonte de suas obrigaes. O caso clssico o dos fundos de penso, que coletam contribuies hoje para pagar benefcios daqui a 30, 40 anos. Com o au-mento da longevidade, aumenta tambm o perodo em que as penses devero ser pagas, alongando ainda mais o passivo, observa Rafaelle Della Croce, gerente geral do Projeto de Investimento de Longo Prazo (Long Term Investment Project) da Organiza-o para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE).

    Na ltima dcada, esses investidores tm buscado novas oportunidades de re-

    tornos de longo prazo protegidos contra a inflao. Tendncias na alocao dos ativos incluem ainda a globalizao gradual dos portflios e maior interesse nos mercados emergentes, bem como a diversificao em novas classes de ativos.

    Os investidores institucionais pos-suem hoje aproximadamente 83 trilhes de dlares sob gesto, patrimnio que cresce de forma expressiva, informa Della Croce. Os investimentos dos fundos de penso ao redor do mundo dependem do tamanho da economia na qual se inserem, mas a mdia nos pases da organizao de 77% do PIB. Entre os pases no membros, esse patamar de 33%, e no Brasil, de apenas 14,7% do Produto Interno Bruto.

    As perspectivas de crescimento no vo-lume de ativos gerido pelos investidores institucionais indiscutvel, em especial nos

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    pases cujos sistemas previdencirios e mer-cados securitrios ainda so pequenos em relao economia. Os mercados emergen-tes tm um oportunidade ainda maior de desenvolver o segmento de investimentos institucionais, uma vez que seus sistemas financeiros, salvo raras excees, so am-plamente dependente dos bancos. O cres-cimento dos fundos de penso, nesses casos, ir depender de medidas adotadas pelos go-vernos como, por exemplo, a implantao de um componente contributivo robusto no sistema pblico, aspecto que j se faz pre-sente na maioria dos pases da OCDE.

    Ativos geridos por investidores institucionais em pases da OCDE,

    1995-2012

    Fonte: OCDE

    Mudanas no sistema financeiro

    O aumento da importncia dos inves-tidores institucionais no decorrer dos anos vem promovendo mudanas graduais no sistema financeiro mundial. Os investi-mentos de longo prazo estimulam a im-plantao de estratgias de investimento anticclicas, que oferecem maiores nveis de retorno lquido e estabilidade financei-ra. Esses investimentos tambm ajudam a reduzir a rotatividade dos ativos e, por consequncia, os custos de gesto. Isso particularmente relevante para as entida-des previdencirias, dado que uma taxa de

    1% ao longo de 40 anos pode reduzir o be-nefcio em cerca de 20%.

    O engajamento do acionista caracters-tico de alguns investidores de longo prazo, por sua vez, ajuda a promover polticas de voto mais proativas, acarretando em go-vernana corporativa de melhor qualida-de. E o capital produtivo oferece o suporte necessrio ao desenvolvimento da infra-estrutura, de projetos inofensivos ao meio ambiente, tecnologia, e financiamento de pequenas e mdias empresas, fatores que promovem o desenvolvimento sustentvel.

    Dificuldades para investir em longo prazo

    A crise financeira colocou em evidn-cia as limitaes dos bancos em prover fi-nanciamento. Desde ento, os governos procuram, de forma mais veemente, por outras fontes de financiamento para proje-tos de longo prazo essenciais ao sustento de uma economia dinmica. Mas a dispo-sio dos investidores institucionais - e do setor privado, como um todo - para finan-ciar grandes projetos num determinado pas depende muito da percepo sobre o ambiente de investimentos, bem como de um conjunto mais amplo de polticas e ins-tituies que do suporte aos processos po-lticos e econmicos.

    Os investimentos de longo prazo tam-bm enfrentam dificuldades em funo da cultura imediatista que se faz presente nos mercados de capitais, de barreiras es-truturais e regulatrias, da falta de vecu-los apropriados e transparncia, alm da expertise limitada na gesto de riscos e dos prprios investimentos, incluindo-se a a ausncia de benchmarks apropriados para os ativos ilquidos.

    Uma das consequncias da cultura de curto prazo a diminuio do perodo de

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    manuteno dos investimentos observada ao longo dos anos na maioria dos merca-dos acionrios de pases da OCDE. Nas l-timas duas dcadas, o perodo mdio de deteno de um ativo caiu entre um e trs anos. Estudos abrangendo dados mais an-tigos evidenciam uma reduo ainda mais acentuada. Nos anos 80, o perodo mdio de propriedade de uma ao na bolsa de Nova York era superior a 5 anos, hoje no passa de 5 meses.

    Estmulo aos investimentos de longo prazo

    Alm de reformas estruturais, os go-vernos precisam criar um ambiente de in-vestimento mais favorvel, argumenta a OCDE, de forma a gerar mais confiana por parte do setor privado e, ao mesmo tempo, garantir que a poupana mundial seja dire-cionada a investimentos produtivos.

    Similarmente, necessrio promover mudanas no comportamento do investi-dor. preciso haver mais dilogo. Uma abordagem coordenada entre investidores, a indstria financeira e o poder pblico essencial promoo de uma nova cultu-ra de investimento, argumenta Rafaelle Della Croce.

    O levantamento anual da OCDE

    O estudo intitulado Annual Survey of Large Pension Funds and Public Pension Re-serve Funds, conduzido anualmente pela OCDE, ilustra bem o papel que os grandes investidores institucionais podem desem-penhar no provimento de capital de longo prazo. O levantamento abrange as tendn-cias de seleo e alocao de ativos de 86 fundos de penso de grande porte e fun-dos de solvncia (os Public Pension Reserves Funds, que do suporte aos sistemas pbli-

    cos de aposentadoria), que juntos adminis-tram cerca de US$ 9,7 trilhes em ativos.

    Os fundos de penso vo lentamente se voltando para os investimentos alterna-tivos, como hedge funds, private equity, im-veis, infraestrutura e commodities em busca de maior diversificao e retornos. Ape-sar de no ser uma tendncia nova, os de-safios impostos pelo atual ambiente de investimento tm feito com que as entida-des intensifiquem a procura por maior ren-tabilidade e diversificao fora das classes tradicionais de ativos, observa Della Cro-ce. Segundo o tcnico da OCDE, os inves-timentos alternativos tm menor liquidez, demandam o uso de estratgias pouco con-vencionais, so comercializveis em mer-cados menos eficientes e se ajustam bem alavancagem, alm de terem um horizonte de investimento mais prolongado do que as aes e ttulos pblicos.

    Contudo, o volume de investimen-tos em infraestrutura ainda baixo, o que evidencia a presena de certas barreiras e desincentivos. Se for considerado o total de ativos sob gesto de todos os 69 fundos de penso que responderam ao question-rio completo da pesquisa, os investimentos em infraestrutura via papis no listados e dvida somam US$ 72,1 bilhes (2012) ou apenas 0,9% desse montante. No final de 2012, 33 fundos de penso reportaram alo-caes em papis no listados de infraes-trutura que somavam US$ 64 bilhes ou 3% dos ativos sob gesto, um aumento nomi-nal de 16,5% em relao a 2011, quando o volume registrado foi US$ 55 bilhes.

    Alguns fundos elevaram as suas ex-posies diretas infraestrutura. O Future Fund australiano, por exemplo, aumentou a parcela da carteira em papis no listados em 0,8 pontos percentuais. No Brasil, a Funcef elevou sua alocao em infraestru-

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    tura em 2,3 pontos percentuais. O pro-blema que no h muitos dados sobre infraestrutura. Os projetos so muito arris-cados e os retornos esto acima de 20%, mas difcil saber como fazer o benchmark desses investimentos, ressalta o especialista.

    A pesquisa demonstra ainda que os investimentos de longo prazo - e em in-fraestrutura em especial - encontram-se amplamente disponveis. Entretanto, pri-mordial que as definies e metodologias utilizadas sejam padronizadas a fim de fa-cilitar seu monitoramento.

    A discusso no mbito do G20

    Em junho deste ano, o levantamento da OCDE serviu como base para uma mesa

    redonda organizada pelo grupo G20 com o apoio da organizao e do Ministrio da Fazenda de Cingapura.

    Na ocasio, autoridades e lderes em-presariais discutiram possveis medidas para estimular os investimentos em infra-estrutura, uma das prioridades do grupo que rene ministros da economia e pre-sidentes de bancos centrais dos 19 pases mais desenvolvidos do mundo, alm da Unio Europeia.

    Entre os assuntos em pauta estavam a facilitao do financiamento de projetos pela iniciativa privada, a governana dos investidores institucionais e o tratamento contbil para os investimentos de longo prazo.

    DIRETRIZES DA OCDE PARA O DESENHO DE PLANOS DE APOSENTADORIA

    Em anos recentes, observa-se uma for-te e inegvel tendncia no ambiente previ-dencirio mundial: a migrao dos planos de Benefcio Definido (BD) para Contribui-o Definida (CD). Na modalidade BD, o valor das penses pr-determinado e o patrocinador ou o Estado assume a maior parte dos riscos; no modelo CD, os bene-fcios dependem dos ativos acumulados e os riscos - de inflao, investimento, lon-gevidade - recaem primariamente sobre o indivduo. Essa transio tem sido acom-panhada por uma propenso a patamares contributivos mais modestos.

    Vantagens e desvantagens

    Os planos de Contribuio Definida tm como principal vantagem a associao direta entre benefcios e contribuies, co-

    laborando, assim, para a sustentabilidade dos sistemas. H, entretanto, questes bas-tante relevantes que podem afetar a renda de aposentadoria provida por esses pro-gramas, como os baixos nveis contributi-vos; a falta de educao previdenciria e compreenso sobre seu funcionamento; a incapacidade do participante em selecionar fundos apropriados; estratgias de investi-mento ineficazes; volatilidade, e opes de percepo de benefcio mal desenhadas.

    Atualmente, grande o nmero de pa-ses nos quais os planos CD desempenham papel relevante nos sistemas previdenci-rios. Em alguns casos, tais planos apenas complementam a renda de aposentadoria via sistemas privados (Estados Unidos, Reino Unido), enquanto em outros eles so a principal fonte de renda do aposentado

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    Coerncia, adequao, eficincia

    Em junho de 2012, o Working Party on Private Pensions (Grupo de Trabalho de Pre-vidncia Privada) da OCDE endossou um relatrio intitulado Roadmap for the Good Design of Retirement Saving Plans (Roteiro para o Bom Desenho de Planos de Aposen-tadoria), no qual elenca alguns cuidados e aes que podem ser tomados por gestores e reguladores a fim de garantir nveis ade-quados de benefcio. O documento assina-la trs caractersticas obrigatrias ao perfil dos planos de Contribuio Definida: ade-quao, coerncia e eficincia.

    Mas o que seria uma renda de aposen-tadoria adequada? A OCDE utiliza o con-ceito de taxa de reposio para avaliar tal adequao. Para Antolin, a abordagem no a ideal, embora seja a mais utilizada por ser amplamente compreendida. A taxa de reposio apropriada tambm motivo de controvrsias. Normalmente se utiliza como alvo 70% do salrio final presumin-do-se que um tero da renda na ativa era direcionada ao pagamento de prestaes da casa prpria, dvida que estaria plena-mente quitada no evento da aposentadoria.

    Outro aspecto relevante adequao dos planos CD a maneira como eles inte-ragem com o sistema previdencirio. Tais planos podero prover uma renda ade-quada ou no dependendo dos benefcios pagos pelo pilar estatal. Sendo assim, se a taxa de reposio almejada for de 70% e o sistema pblico garantir 45% do valor do salrio final, caberia ao plano CD prover os outros 25%. Nos pases em que o plano CD a nica fonte de renda de aposentadoria, necessrio que o programa pague bene-fcios que correspondam a 70% do salrio final do empregado, uma tarefa bem mais difcil de ser cumprida.

    (Austrlia, Chile, Nova Zelndia). O bem estar financeiro de milhes de indivduos depende dos resultados alcanados pelos planos CD. Da a preocupao das autori-dades em estudar medidas para proteger os participantes, explica Pablo Antolin, Economista Chefe da Unidade de Previ-dncia Privada da Diviso de Assuntos Fi-nanceiros da OCDE.

    Antolin observa que o resultado do plano de benefcios depende de diversos parmetros sobre os quais os reguladores e participantes podem ou no ter dom-nio. Entre os aspectos controlveis esto os nveis de contribuio e as idades de aposentadoria; j os parmetros de risco, como retornos dos investimentos, dinmi-ca do mercado de trabalho e a expectativa de vida, so incertos. Com a crise financei-ra, os fatores de risco ganharam ainda mais importncia, gerando preocupaes sobre a adequao e a segurana da renda de apo-sentadoria futura num tempo de crescente longevidade, baixos retornos e alta volati-lidade. Todos esses aspectos tm contribu-do para a reduo dos nveis de confiana do pblico na poupana previdenciria.Volatilidade da renda de aposentadoria

    em planos CD nos Estados Unidos, Reino Unido e Japo (1939-2011)*

    Fonte: OCDE* taxas de reposio hipotticas para planos CD hipotticos uti-lizando dados histricos de retornos sobre aes, ttulos pblicos de longo prazo e inflao. Participantes com 5% de contribuio sobre a renda durante 40 anos com base numa carteira composta por aes (60%) e ttulos (40%).

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    No quesito eficincia, os planos pre-cisam oferecer estratgias de investimento que reduzam o impacto de resultados ex-tremamente negativos. H muitas alter-nativas interessantes hoje no mercado. A eficincia tambm deve se fazer presente na fase de pagamento, quando os ativos tm que oferecer proteo contra o risco de longevidade.

    Tudo na economia uma questo de trade-off (troca), salienta Pablo Antolin. Os planos precisam ser coerentes, ou seja, eles tm que se ajustar ao sistema em que operam. Internamente, preciso haver um bom alinhamento entre as fases de capi-talizao e pagamento, incluindo a oferta de anuidades. Tambm necessria co-erncia no monitoramento dos riscos que afetam a renda de aposentadoria. Na opinio do especialista, os riscos mais re-levantes so os do mercado de trabalho (desemprego, evoluo salarial), financei-ros (retornos nos investimentos, inflao, taxa de juros) e demogrficos (expectati-va de vida), o que requer uma estrutura de governana robusta para identific-los e monitor-los.

    Pesquisas demonstram que, no uni-verso CD, os riscos financeiros e do mer-cado de trabalho so mais importantes do que os demogrficos e de taxas de juros. Os perodos em que o indivduo fica de-sempregado afetam substancialmente a sua renda de aposentadoria. Aqueles que perdem o emprego no comeo da carrei-ra tendem a sofrer um impacto maior no benefcio do que os que atravessam pero-dos de inatividade em estgio posterior da vida laboral em funo dos efeitos da taxa de juros no longo prazo, bem como do volume de ativos na carteira. H 60% de chances da taxa de reposio ser reduzida caso esses fatores de incerteza no sejam

    devidamente considerados, ressalta Pablo Antolin. A disperso das taxas de reposi-o bastante ampla em torno da mdia e, em situaes extremas, pode atingir pata-mares perigosamente baixos.

    No que se refere ao risco de longevi-dade, h opes disponveis no mercado que possibilitam a proteo ou transfe-rncia do risco. Sendo assim, importan-te que os fundos tenham acesso a esses instrumentos a fim de evitar que esse risco venha a se materializar. Os regu-ladores, por sua vez, devem estimular a adoo de tbuas biomtricas atualizadas que incluam melhorias futuras na expec-tativa de vida.

    Nveis contributivosA melhor maneira de reduzir as incer-

    tezas caractersticas dos planos CD via contribuies. Em outras palavras, pre-ciso contribuir mais e por mais tempo a fim de gerar uma renda mais alta a partir de um determinado patamar contributivo. Segundo especialistas, a forma mais efi-ciente de prolongar o perodo de con-tribuio ao plano e aumentar a renda adiando a data de aposentadoria.

    Proporo e perodo de

    contribuio

    Probabilidade (TR*30%)

    Probabilidade (TR*70%)

    5% contribuio 40 anos

    61,6 13,9

    10% contribuio 40 anos

    91,7 52,8

    5% contribuio 20 anos

    2,8 0,1

    10% contribuio 20 anos

    33,0 1,3

    *Taxa de reposio. Fonte: OCDE.

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    Os mecanismos que estimulam a poupana previdenciria - como a adeso automtica e a contrapartida da patroci-nadora - so fundamentais ao alcance de uma renda adequada na aposentadoria. Os incentivos tributrios tambm so im-portantes, embora sejam mais eficazes para os trabalhadores de baixa e mdia renda. J os planos de baixo custo que vm sendo implantados no Reino Unido (NEST) no seriam a opo mais indica-da na opinio de Antolin, uma vez que a ideia buscar, acima de tudo, um bom desenho de programa.

    A Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico defende o aumento das contribuies medida que o participante envelhece, j que que os mais jovens, alm de salrio menor, cos-tumam ter mais despesas com moradia e educao dos filhos. O indicado que os aportes aos planos aumentem subs-tancialmente com a idade, o que d espa-o questo da inconsistncia temporal: As pessoas estariam dispostas a elevar consideravelmente suas contribuies medida que se aproximam da data de aposentadoria? Num mundo perfeito, o participante contribuiria com 15% do seu salrio por no mnimo 40 anos, resume o economista.

    Opes de investimentoMuitos planos CD foram criados

    para dar diversas opes de investimento ao participante. Por outro lado, precisa-mos lembrar que a maioria das pessoas no tem conhecimentos suficientes para fazer escolhas bem embasadas. De fato, 80% a 85% dos participantes acabam no fazendo escolha alguma.

    As estratgias ciclo de vida, que re-duzem gradualmente a exposio da car-

    teira a ativos de alto risco, em linha com o avano da idade do participante, so fceis de entender, alm de oferecerem proteo adequada contra eventuais cho-ques mercadolgicos em datas prximas aposentadoria. A abordagem tambm mostra-se eficiente para proteger partici-pantes com perodos contributivos mais curtos. Entretanto, ela no elimina a vola-tilidade, tampouco lida com a questo da adequao de renda. Os planos ciclo de vida no resolvem todos os problemas. Eles apenas protegem o participante em cenrios muito negativos.

    Educao previdenciria e comunicao

    A educao previdenciria e a co-municao com o participante parti-cularmente relevante no universo de Contribuio Definida. Os participantes devem receber demonstrativos financei-ros regularmente, incluindo projees de benefcios baseadas em pressupostos pru-dentes. O participante tambm precisa ter livre acesso a dados comparativos a res-peito dos custos e desempenho dos pla-nos. importante aprender a lngua do participante e adot-la ao invs de esperar que ele entenda a linguagem previdenci-ria, advoga Antolin.

    A educao financeira deve come-ar o mais cedo possvel, de preferncia como uma disciplina do currculo esco-lar. Faz-se necessrio que o estudante aprenda, desde cedo, a importncia da poupana e a urgncia de comear a eco-nomizar o quanto antes. O Chile e a Aus-trlia possuem programas de educao financeira e previdenciria interessantes que podem servir como modelo para os demais pases.

  • Anncio Cetip

  • Anncio Cetip

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    SUPERVISO BASEADA EM RISCOS

    A Regulao Baseada em Riscos pode ser definida como a aplicao de uma estrutura sistemtica que prioriza as ati-vidades reguladoras e a utilizao dos re-cursos dos rgos responsveis com base em anlises de riscos. A abordagem par-te integrante de um movimento de distan-ciamento da regulao prescritiva, baseada em controles, que busca a aproximao com um modelo focado em resultados e desempenho. Foi a partir dessa definio que Dariusz Stanko, economista da Secre-taria Geral da Organizao Internacional de Supervisores Previdencirios (IOPS), comeou a exposio em que tratou da abordagem de Superviso Baseada em Ris-cos (SBR), suas principais caractersticas e desafios.

    facultado aos governos o uso de po-deres para gerenciar riscos, ex ante, via o desenho, implantao, monitoramento e cumprimento da regulao. As diferen-tes abordagens de regulao e superviso no so necessariamente excludentes, mas complementares, salienta Stanko. Os n-veis aceitveis de riscos so definidos pelo regulador a partir de estratgias de gesto de riscos, um processo que enfrenta desa-fios e que no deve - nem pode - ter como objetivo final a completa reduo dos ris-cos em funo dos custos envolvidos e do atual contexto mercadolgico.

    A gesto do risco um processo din-mico, e sua probabilidade e impacto (per-das) podem mudar ao longo do tempo devido a diversos fatores. Isso significa que precisamos constantemente ajustar a regulao e a superviso. Os entes fiscaliza-dos, por sua vez, necessitam estar atentos

    para adaptar seus mecanismos aos novos parmetros que possam surgir.

    Origens da Superviso Baseada em Riscos

    A Superviso Baseada em Riscos (SBR) teve sua origem no setor bancrio, passan-do a ser adotada no mercado securitrio posteriormente. Nesses segmentos, a SBR definida como o processo pelo qual o su-pervisor garante que o ente supervisionado alinhe capital, gerenciamento e mitigao de riscos de forma que se um risco vier a se materializar, a organizao tem condies para absorver seu impacto.

    A abordagem baseada em trs pilares:1. Exigncias de capital (ou colches

    de solvncia) que permitam ao ente fiscalizado absorver os riscos aos quais est exposto;

    2. Anlise de superviso: avaliao da adequao dos pressupostos, con-troles e parmetros utilizados pelas organizaes supervisionadas; e,

    3. Disciplina de mercado, que en-contra-se basicamente associada divulgao de informaes e transparncia em relao aos riscos tomados de forma consciente ou in-voluntria.

    A SBR no contexto previdencirio A Superviso Baseada em Riscos preci-

    sou ser ajustada ao universo dos fundos de penso, uma vez que os riscos sociais so maiores nesse contexto, alm de haver um nmero mais elevado de agentes envolvi-dos (conselheiros, patrocinadores, partici-pantes, governos, gestores de ativos, etc.).

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    H de se considerar tambm que mui-tas entidades previdencirias no tm fins lucrativos, o que pode resultar em certa es-cassez de recursos, maior necessidade de assistncia no processo de gesto de riscos e cuidados adicionais no que tange capa-cidade dos conselheiros para desempenhar suas funes adequadamente. O risco de outsourcing (terceirizao), por sua vez, mais elevado no ambiente previdencirio, dado que os fundos de penso - sobretu-do os de menor porte - dependem mais de provedores externos se comparados a ou-tras instituies financeiras.

    O grande nmero de fundos pode vir a ser um problema, salienta Stanko. A maioria das agncias supervisoras de bancos e seguradoras realizam visitas anu-ais s organizaes, tarefa impossvel de ser cumprida por alguns supervisores pre-videncirios, a exemplo do britnico, que possui milhares de planos sob sua respon-sabilidade. Nesse caso, a abordagem mais comum a de amostragem.

    Similarmente, o tratamento de gran-des volumes de dados constitui um desa-fio para certos supervisores. Os sistemas previdencirios requerem um maior nvel de proteo devido magnitude e perfil de seu pblico-alvo, o qual costuma integrar tambm o regime de previdncia social, ge-rando grande impacto miditico, alm do risco de imagem para o governo caso algo d errado.

    BD x CDNo que se refere a questes de fundea-

    mento e solvncia de planos BD, diferentes clculos podem se fazer necessrios, j que o capital envolvido nem sempre tem ori-gem no fundo de penso, mas na empresa patrocinadora, cuja anlise financeira mais detalhada foge da competncia do fiscal

    previdencirio. No caso dos planos CD, a superviso um pouco mais fcil porque a garantia de capital no entra na pauta e os participantes so os principais tomadores de risco.

    A SBR dos planos de Benefcio Defi-nido tem como enfoque o patrocinador e a solvncia do fundo. A proposta avaliar se o plano poder cumprir com suas obriga-es no futuro. Nos planos de Contribuio Definida, os riscos individuais dos partici-pantes so pea fundamental do processo. O monitoramento dos riscos adquire ain-da maior relevncia em funo da capaci-dade limitada das pessoas de entender e gerenciar os riscos aos quais esto expostas, sobretudo quando o plano lhes d a opo de tomar decises acerca dos investimen-tos. No universo CD, o supervisor preci-sa dar um enfoque maior divulgao de informaes aos participantes, ao seu nvel de compreenso sobre os retornos, aos cus-tos envolvidos nas aplicaes financeiras e aos instrumentos disponveis na fase de percepo do benefcio.

    O que realmente importa?

    A alocao de recursos da agncia de superviso tem como base o perfil de risco da entidade fiscalizada. O enfoque da SBR sempre no futuro, ou seja, ocasionais violaes de regras, no passado, passam a ter pouca relevncia. Cabe ao supervisor definir uma meta e identificar os princi-pais riscos ao alcance do objetivo traado antes de pensar em solues e abordagens para mitigar esse risco.

    Tendo em vista os escassos recursos das agncias de superviso, preciso ter critrios para o seu direcionamento, e esse justamente a essncia da SBR: explicitar o que de fato importante para o fiscali-

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    zador e estabelecer critrios formais e uni-formes para o processo de superviso.

    Logo, o cumprimento das exigncias constantes na regulao, embora necess-rio, pode no ser suficiente para manter os riscos em nveis satisfatrios. A SBR no se resume a verificar se as entidades esto cumprindo as regras, mas avaliar se a for-ma como o esto fazendo suficiente para mitigar os riscos no presente e no futuro, mesmo em circunstncias adversas, ex-plica Dariusz Stanko.

    Arquitetura bsica de gesto de riscos

    Para a entidadePara a agncia de

    superviso

    Estratgias de gesto de riscos

    Comits de riscos nos conselhos

    Funes de gesto de riscos na estrutura da organizao

    Controles internos

    Responsabilidades relativas divulgao de informaes (disclosure)

    Regulaes, incluindo padres mnimos de gesto de riscos

    Regras de solvncia baseada em riscos

    Modelos de classificao de riscos para pautar as aes da superviso

    Organizao interna com unidades de risco especificas

    Disciplina de mercadoContribuies do aturio, auditor, participantes, agncias de classificao de risco e analistas de mercado para a gesto adequada dos riscos.

    Diferentes estgios de desenvolvimento

    Um estudo do Banco Mundial demons-trou que as primeiras agncias a adotar a SBR possuam uma arquitetura bastante si-milar. Hoje em dia, a situao bastante dis-tinta daquela observada h alguns anos.

    A Holanda o pas cujas regras de sol-vncia baseadas em risco so as mais de-senvolvidas. A Dinamarca possui um regra

    hbrida parcialmente baseada em margens de solvncia e parcialmente fundamenta-das num sistema de sinalizao. Austrlia e Mxico possuem regras baseadas em risco apenas para os planos de Benefcio Defini-do. A APRA australiana define o colcho de solvncia por meio do sistema PAIRS (Pro-bability & Impact Rating System) e suas aes seguem o que determina o sistema SOARS (Supervisory Oversight & Response System).

    Os modelos de classificao de riscos mais desenvolvidos esto justamente na Austrlia e na Holanda, onde se aplicam a todas as instituies. Na Dinamarca, e so-bretudo no Mxico, ainda so utilizados mecanismos de VaR (Value at Risk).

    Motivos para adotar a SBRA SBR possibilita que as instituies

    fi