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Cidadania em massa Projeto de capacitação cria milhares de parceiros da agroecologia entre produtores assentados e quilombolas Ano IV - N o 13 - Ago/Set 2003 Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva” Terra Justiça Cidadania Política Convênio destina R$ 36 mi para criação de assentamentos Proseando Sociólogo defende função social da reforma agrária Opinião Causa da exclusão no campo e da degradação ambiental é a mesma

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Page 1: Revista Fatos da Terra 13 - Fundação Instituto de Terras ... · PROSEANDO: José de Souza Martins Compreender a questão agária no Brasil nunca foi ta-refa das mais fáceis. Nos

Cidadania em massaProjeto de capacitação cria milhares de parceiros

da agroecologia entre produtores assentados equilombolas

Ano IV - No 13 - Ago/Set 2003

Fundação Instituto de Terrasdo Estado de São Paulo“José Gomes da Silva”

TerraJustiçaCidadania

PolíticaConvênio destina R$ 36 mi para

criação de assentamentos

ProseandoSociólogo defende função social

da reforma agrária

OpiniãoCausa da exclusão no campo e dadegradação ambiental é a mesma

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ÍNDICEEditorial ......................... 2Proseando ..................... 3Regional ........................ 5Cultura ........................... 9Reportagem de Capa..... 10Nacional ...................... 12Política......................... 13Ciência e Tecnologia ..... 14Opinião ........................ 15Curtas .......................... 16Agenda ......................... 18Destaque ..................... 19

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COMEÇO DE CONVERSA

Itesp - Fundação Instituto de Terras doEstado de São Paulo "José Gomes da Silva"

Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania

Fatos da Terra é a revista da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo "José Gomes da Silva" (Itesp), vinculada àSecretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania.Jornalista Responsável: Helton Lucinda Ribeiro - Mtb 27.002 - Colaboração: Murilo H. de Abreu, Thaís OrlandineDiagramação e Editoração Eletrônica: Renato Oliveira da Silva - Foto Capa: Dodora TeixeiraConselho Editorial: Jonas Villas Bôas, Luiz Roberto de Paula, José Augusto de Carvalho Mello, Jurandir Vieira Góis, Milton Ramosda Silva, Nilo Shirozono, Adilson Haroldo Piveta, Arthur Francisco Marques, Ivone Ferraz Anacleto e Murilo Hildebrand de Abreu

Av. Brigadeiro Luís Antônio, 554 - 7º andar - Bela Vista - CEP 01.318 000 - São Paulo - SP Telefone: (11) 3293-3393E-mail: [email protected] Visite nossa página: www.institutodeterras.sp.gov.brTiragem: 3.000 exemplares - Impressão: Imprensa Oficial do Estado de São PauloÉ permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

TerraJustiçaCidadania

EDITORIAL

Jonas Villas BôasDiretor-executivo do Itesp

Tire suas dúvidas, envie comentá-rios, críticas e sugestões para:

Fundação Instituto de Terras doEstado de São Paulo "JoséGomes da Silva" (Itesp)Av. Brigadeiro Luís Antônio, 554 Bela Vista CEP 01318-000São Paulo - BrasilFone/Fax: (11) 3293-3300E-mail:[email protected]

OuvidoriaFone: (11) 3293-3309e-mail: [email protected]

Visite nossa página e leia, diariamen-te, as principais notícias sobre a ques-tão agrária:www.institutodeterras.sp.gov.br

ste ano de 2003 tem sido particularmente difícil para a questão a-grária no Estado de São Paulo. As expectativas dos movimentossociais em relação ao Governo Federal e a perspectiva de arreca-

dação de terras no Pontal do Paranapanema geraram um grande afluxode trabalhadores sem-terra e desempregados urbanos para acampamen-tos montados em beiras de estrada. Por conta disso, proprietários rurais,prefeitos, a mídia em geral e outros setores da sociedade passaram a co-brar uma atitude firme por parte do governo, muitas vezes além do quepermite o Estado de Direito. O Governo do Estado, no entanto, teve se-renidade suficiente para tratar o problema como uma questão social, enão como caso de polícia.

Às demandas dos movimentos sociais, respondemos com ações comoas parcerias com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que possibi-litarão a arrecadação de terras no Pontal, com recursos da ordem deR$ 35 milhões, e vistorias em todo o Estado para a identificação de ter-ras improdutivas. Às demandas dos prefeitos, respondemos com negocia-ções nas secretarias de Saúde e Educação, que providenciaram, em cará-ter emergencial, um reforço na merenda escolar e na distribuição de medi-camentos aos municípios que possuem assentamentos rurais e acampa-mentos de trabalhadores sem-terra. Às demandas dos produtores rurais,respondemos com o projeto de lei de regularização de terras no Pontal,encaminhado à Assembléia Legislativa no dia 15 de agosto, que permiti-rá a regularização de cerca de 600 pequenas e médias propriedades. Comisso, esperamos criar um clima favorável a investimentos na região.

Essas ações firmes e seguras dão ao Itesp a tranqüilidade necessáriapara continuar com seu trabalho cotidiano. É com esse espírito que lan-çamos o Programa de Capacitação da Agricultura Familiar, tema da re-portagem de capa desta edição de Fatos da Terra. Com isso, damos maisum passo rumo à autonomia das famílias assentadas e quilombolas e aodesenvolvimento sustentável no campo, com paz e justiça social.

Serenidade e segurança

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PROSEANDO: José de Souza Martins

Compreender a questão agária no Brasil nunca foi ta-refa das mais fáceis. Nos últimos seis meses, a complexi-dade da questão só tem feito aumentar. Acampamentosde sem-terra crescem dia-a-dia, alimentados pela expec-tativa de uma reforma agrária ampla e maciça. O Gover-no Federal, por outro lado, se vê às voltas com restriçõesorçamentárias. Na mídia, predominam declarações sobreo problema que produzem mais calor do que luz.

Fiel à sua proposta de contribuir com o debate, Fatosda Terra entrevistou um dos maiores especialistas brasi-leiros no assunto: José de Souza Martins, Professor Titularde Sociologia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciênci-as Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Martinsé autor, dentre outros livros, de Reforma Agrária: o Im-possível Diálogo (Edusp), A Sociedade Vista do Abismo(Vozes), A Sociabilidade do Homem Simples (Hucitec)e co-autor de Travessias – A vivência da reforma agrárianos assentamentos (Editora da UFRGS).

A reforma agrária tem sido muito questionada do ponto de vistaeconômico, sempre em contraponto à participação do agrone-gócio na balança comercial brasileira. O sr. acha que a refor-ma agrária é uma política tanto econômica quanto social? Fazsentido esse tipo de questionamento de seu papel econômico?Obviamente, a reforma agrária não tem nem pode ter afunção de concorrer com o agronegócio e com a grandeeconomia agrícola de exportação. A economia familiar queresulta da reforma agrária opera numa outra escala do siste-ma econômico. O discurso da concorrência com o agro-negócio tem sido feito para desqualificar a reforma porquem pouco sabe a respeito da questão agrária que a mo-tiva. A reforma agrária é um programa social baseado empossibilidades e funções econômicas alternativas que nãosão atendidas pela grande propriedade. Ela se destina afortalecer a agricultura familiar, uma alternativa de conten-ção dos efeitos socialmente danosos da concentração fun-diária e do próprio agronegócio, por exemplo no desem-prego causado pela inovação tecnológica concorrente doemprego. É claro que tanto se pode medir a eficiência eco-nômica supostamente menor das unidades econômicas que

resultam da reforma quanto se pode, e se deve, medir aineficiência social do agronegócio e da grande propriedade

O sr. já chamou a atenção para uma renúncia ao diálogo porparte dos setores envolvidos na questão agrária. Isso teria ocorri-do no governo passado e, parece, ocorre também agora, ape-sar da afinidade entre o atual governo e os movimentos sociais deluta pela terra. O que vem impedindo o diálogo, na sua opinião?Se não distinguirmos movimentos sociais e organizaçõespolíticas de mediação da luta pela reforma agrária (comoa CPT e o MST), não conseguiremos compreender as cau-sas e desdobramentos dessa dificuldade. Os primeiros têmsido colocados sob tutela das segundas. As dificuldadesdo governo anterior e do atual foram e são com essas or-ganizações de mediação política. Falando recentementeaos jornais, em sentença curta, Dom Tomás Balduíno fezuma afirmação esclarecedora: no governo anterior as ocu-pações de terra ocorriam porque MST e CPT eram contrao governo; no governo atual, porque são a favor do gover-no. A motivação, portanto, tem a ver com um projetopolítico-partidário que essas organizações sabiam que não

“A reforma agrária não tema função de concorrer com oagronegócio”

Fotos: Andréa Iseki/Diário do Grande ABC

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seria viabilizado no governo do presidente FernandoHenrique Cardoso, mas acham que poderá ser via-bilizado no governo do presidente Luiz Inácio. Tra-ta-se, pois, de uma clara proposta de radicalizaçãodas opções do governo, através do aparelho de Es-tado. Uma espécie de foquismo político extempo-râneo. Nem lá nem cá a questão é a do diálogo. Poisdiálogo (e vínculos) eles tem: um assessor privile-giado do presidente é também assessor do MST. Etanto o ministro do Desenvolvimento Agrário quan-to o presidente do Incra [que, à época da entrevista,era Marcelo Resende] procedem de identificaçõescom o MST e a CPT. Se a reforma é apenas pretex-to e o objetivo é impor ao país uma revolução social epolítica que altere valores, normas, estruturas soci-ais, então a ação atual do Estado não é suficientenem apropriada, mesmo com diálogo. Se o governonão der imediatamente uma demonstração de au-toridade e não disser quem é que tem o mandato paragovernar, caminharemos para uma crise institucional.

Em entrevista concedida em 1998 (revista Plural, número 5) osr. disse que os resultados de uma reforma agráriaimplementada por um governo de esquerda não iriam além dosobtidos pelo governo anterior porque dificilmente um governode esquerda elegeria maioria no Congresso. O sr. considera quesua opinião esteja se confirmando? Há, ainda, alguma possi-bilidade do governo atual implementar uma política agráriamais abrangente que a de seu antecessor?O fato de que este governo tenha aumentado sua re-presentação na Câmara não significa que a esquerda sejamaioria, mesmo considerando que haja partidos de esquer-da na oposição. Além disso, este não é um governo deesquerda e se diferencia muito pouco do governo anteri-or, um governo social-democrata. É mais bem um gover-no de centro, de acordos que abrangem até o apoio degrupos claramente de direita, no sentido apropriado dotermo. Além disso, o PT tampouco é um partido propria-mente de esquerda. É mais bem um partido popular, nessesentido um partido inovador e interessante, que deve-ria assumir-se abertamente como tal. Os intelectuais éque acham que o PT é um partido de esquerda. Mesmoque no partido haja quem faça discursos invocando osocialismo (e basicamente o socialismo de Estado), os fa-tos já demonstravam, e demonstram agora mais clara-mente, que esse ideário não se confirma na prática. Estati-zação e corporativismos não são sinônimos de socialismo.Nestas eleições, dentro do PT venceu o partido popularrepresentado pelo presidente Luiz Inácio, mas não o su-posto partido socialista.

Portanto, a possibilidade do MST e da CPT, que expres-sam o que há de mais interessante no radicalismo místicoda tradição conservadora, viabilizarem um projeto de re-forma radical e massiva é nesse contexto muito pequena.As palavrosas promessas de campanha encolhem a cadadia e o governo cada vez mais se afasta dos númerosestratosféricos propostos. Além disso, os diferentes parti-dos da coalisão governamental tem diferentes concepçõesde socialismo e reforma agrária e alguns, como o PL dovice-presidente e sucessor eventual, não tem nenhuma.

Para o sr., os assentamentos rurais podem ser uma opção paraos desempregados urbanos ou a experiência com o trabalhorural é condição indispensável para que uma família possa re-ceber um lote agrícola?A questão não é, no meu modo de ver, a experiência agrí-cola anterior para que haja êxito no assentamento de umurbano. O trabalho agrícola é uma profissão qualificada ecomplexa dentre outras. Tem sido constatado em todo oBrasil que assentados e regularizados com essa origem temmais interesse em vender e alugar a terra recebida do pro-grama de reforma agrária do que de fazê-la produzir. Asrevendas de lotes, ainda que ilegais, e o aluguel de lotesconstituem um desastre, um comprometimento da refor-ma. É praticamente jogar dinheiro fora, o que desmoralizaa reforma agrária. É estranho que nem o governo, nem oMST nem a CPT nem os outros grupos que se dizem deesquerda estejam atentos ao fato de que por aí se regenerao que há de mais perverso no regime de propriedade que éa renda fundiária e o rentismo parasitário. Esses casos sãotão graves quanto o latifúndio improdutivo, pois a lógicaque os define é a mesma.

“Se o governonão der imedia-

tamente umademonstração

de autoridade enão disser

quem é quetem mandatopara governar,caminharemospara uma criseinstitucional.”

PROSEANDO: José de Souza Martins

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REGIONAL

pós passar pelo arroz, milho e mandioca, a famíliado agricultor Aparecido Pereira Ramos, do assen-tamento Monte Alegre, em Motuca, descobriu no

abacaxi um negócio promissor. Ele fez um plantio expe-rimental de cinco mil pés e o resultado foi tão satisfató-rio que já ampliou a área cultivada, alcançando perto de40 mil pés da fruta.

Foram investidos, inicialmente, R$ 400 na compra demudas, e o retorno foi de R$ 1.000. “Em uma área de me-nos de mil metros quadrados, nós tivemos resultado equi-valente ao do lote inteiro cultivado com milho”, explicaLeandro dos Reis Pereira Ramos, filho de Aparecido.

O resultado só não foi melhor porque a família aindanão dominava a técnica do cultivo de abacaxi. “Muitasfrutas ficaram queimadas pelo sol e tiveram que ser ven-didas abaixo de R$ 0,40. As frutas boas nós vendemos aR$ 1,00. Agora, vamos proteger as frutas com jornal”,explica Aparecido.

Várias famílias do assentamento aderiram ao cultivodo abacaxi. Muito difundido na região de Araraquara háalgumas décadas, a cultura acabou dando lugar a um mo-delo de agricultura altamente mecanizado, no qual nãose encaixava por exigir muita mão-de-obra.

Mercado favorávelCom a implantação dos assentamentos, onde predomi-

na a mão-de-obra familiar, a fruta voltou a ser uma alter-

nativa viávelpara a região.Isso tambémfoi reveladopor pesquisade mercadofeita pelo I-tesp. O técni-co de desen-volvimentoagrário Ru-bens Eliziárioexplica que afruta consu-mida na região era proveniente de outros Estados, comoTocantins e Minas Gerais. Com isso, o produto chegavaao consumidor final com preço bastante elevado.

O mercado local se revelou tão bom que, segundo Le-andro, a produção foi toda vendida em poucos dias. Eleconta que a família pretende chegar a 250 mil pés plan-tados até o ano que vem.

Até lá, ainda vão colher mais frutos dessa experiênciainicial, como mudas e abacaxi temporão, ou seja, produ-zido fora de época. “Por estar fora de época, a fruta podechegar a R$ 1,50”, comenta o técnico de desenvolvimen-to agrário da Fundação Instituto de Terras Luiz GonzagaFinamore.

Abacaxi é negócio promissor em Motuca

Itesp fomenta produção orgânica na região de Araraquararodutores dos assentamentos Monte Alegre 1, 5 e 6 eBela Vista do Chibarro estão trocando os insumos quí-

micos por técnicas alternativas e ecologicamente corretas.João Xavier é um dos assentados que aderiram à agri-

cultura orgânica na produção de hortaliças. Seu filho, LuísCarlos Domingues Xavier, conta que o resultado tem sido

até superior aoda agriculturaconvencional,atingindo custosignificativa-mente menor.

“A vanta-gem da gentenão usar vene-no é que nãotem perigo deprejudicar asaúde. Faz

bem pra gente e faz bem para os outros”, comenta. Deacordo com o técnico em desenvolvimento agrário Ru-bens Eliziário, a idéia é conseguir a certificação dos pro-dutores por meio da Fundação Mokiti Okada e abrir umponto de comercialização em Araraquara.

“Fazer agricultura orgânica é uma filosofia de vida”, ex-plica Eliziário. Segundo ele, o princípio da agricultura orgâ-nica é restabelecer o equilíbrio natural do meio ambiente.

Em um ambiente equilibrado, não existem pragas, masapenas a interação entre os diversos organismos. Entre astécnicas utilizadas na região estão a compostagem, a tor-ta de mamona e o Bokashi, utilizados como adubos na-turais.

A agricultura orgânica já apresentou bons resultadostambém no assentamento Conquista, em Tremembé, mu-nicípio da região do Vale do Paraíba, onde várias famíliasjá conseguiram o certificado de produção orgânica, emi-tido pela Apan (Associação dos Produtores de Agricul-tura Natural).

Horta orgânica no assentamento Mon-te Alegre: retorno econômico e saúde

Dodora Teixeira

Dodora Teixeira

Plantação de abacaxi: bom rendimento

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REGIONAL

Assentadas organizam Clube dos Saberesma sabia fazer ponto-cruz. Aoutra, crochê com barbante.Elas se uniram e passaram a

trocar seus conhecimentos. E assimnasceu o Clube dos Saberes, forma-do por mulheres assentadas da regiãoSudoeste do Estado.

O clube é um projeto que vem sen-do implemen-tado peloItesp desdemaio de 2002,com gruposde mulheresjá formadosou em forma-ção. O objeti-vo é valorizaros saberespresentes nascomunidades,aumentando aauto-estima dos participantes.

Além disso, o projeto ainda per-mite que as assentadas aprendamumas com as outras atividades que

possam incrementar a renda familiar,fomentando a autonomia dos assen-tamentos.

Inicialmente, são mapeados os sa-beres presentes na comunidade e,conforme o interesse das mulheres,uma começa a passar para as outraso que sabe. Dessa forma, todas ensi-

nam e apren-dem algumacoisa. O Itespfinancia os ma-teriais básicosnecessários aoaprendizado.

São quatrogrupos em fun-cionamento a-tualmente, noassentamentoPorto Feliz, nomunicípio de

mesmo nome, e no assentamento I-panema, no município de Iperó.Nesses grupos, já foram realizados cur-sos de crochê, crochê com barbante,

Mulheres trocam conhecimentos peloprojeto: aprendizagem coletiva

Gislayne Figueiredo

ostrar aos produtores assentadosdo Oeste do Estado o potencial

produtivo de variedades de mandio-ca para indústria foi o objetivo do Diade Campo realizado pelo Itesp no as-sentamento Arco-Íris, em Mirante doParanapanema.

As variedades testadas foram a Ia-par 5017, a IAC 14, Espeto e Fibra,com e sem adubação.

A intenção foi comparar o desem-penho da variedade Fibra, comumen-te utilizada pelos agricultores, comoutras variedades com possibilidadede serem utilizadas na região, nas con-dições de solo e manejo dos assenta-mentos.

Procurou-se também comparar odesempenho destas variedades emplantio adubado e não-adubado. A

Itesp faz Dia de Campo da mandioca para indústria

tear, sabão, sabonete, bordado, va-gonite, ponto-cruz, biscuit e cestariacom jornal, pintura em tecido e ma-cramê.

As assentadas têm fabricado rou-pas, acessórios e utensílios para o usopessoal e da família, além de conse-guirem incrementar a renda familiar.

Segundo a analista de desenvolvi-mento agrário do Itesp Gislayne Cris-tina Figueiredo, um grupo está ex-pondo o artesanato produzido na fei-ra realizada pelo Ibama (InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis) nafazenda Ipanema.

Outra iniciativa importante foi aparceria firmada com a organizaçãonão-governamental Lua Nova, queestá comprando flores em crochê pa-ra exportar para a Europa.

As reuniões do Clube dos Saberestambém têm oferecido boas oportu-nidades para a discussão dos proble-mas da comunidade, como Previdên-cia, Saúde e Educação.

característica principal da IAC 14 éser produtiva em solos de baixa ferti-lidade e ser colhida em dois ciclos(24 meses).

Já a Iapar 5017 se destaca em ter-mos produtivos quando colhida comum ciclo (12 meses).

A variedade Fibra tem como des-taque sua precocidade e raízes comboa qualidade para produção de fari-nha, porém é uma variedade cujas ra-mas estão muito contaminadas porbacteriose e virose.

Outra variedade demonstrada foia Espeto, com características da par-te aérea parecidas com a Fibra e boaprodutividade com um ciclo.

Apresentou, porém, em condiçõesde campo, muita susceptibilidade àantracnose, doença que provoca le-

sões foliares, cancros nas ramas emorte descendente dos ponteiros.

Alimentação animalAlém dos aspectos agronômicos,

demonstrou-se a possibilidade do usoda mandioca na alimentação animal,seja na forma de fornecimento diretoaos animais (a planta inteira é mur-cha e picada, sendo fornecida emmistura com volumoso), na forma desilagem ou farelo seco ao sol, tantoda raiz como da parte aérea, que po-de ser fornecido com volumoso ouainda entrando na composição derações concentradas.

Compareceram ao evento 60 pes-soas, entre produtores de assentamen-tos do município, técnicos do Itesp eoutros interessados.

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REGIONAL

Plantio de maná é a última novidade em Tremembé

Itesp e a prefeitura de Pirapo-zinho, município do Pontaldo Paranapanema, firmaram,

no início de 2003, convênio para legi-timação de posses em áreas devolutasurbanas e rurais municipais.

A área urbana corresponde a cincoquilômetros quadrados, dos quais a-proximadamente metade é devoluta.Já a área rural municipal abrange o3º, 4º e 5º perímetros de PresidentePrudente, que têm, respectivamente,áreas de 3.450, 2.430 e 500 hectares.

O convênio começou a ser discuti-do em 2001 e foi firmado oficialmen-te no começo de 2003. O processo delegitimação pelo município inicia-secom a convenção administrativa, queé a transferência das áreas contidasnum raio de 8 quilômetro partindo docentro do município. A seguir, proce-de-se ao cadastro, edição, mapeamen-to e elaboração de plantas e memori-

al descritivo de cada gleba e lote, pa-ra então legitimar as áreas medianteentrega de títulos de domínio.

No 4º perímetro, dentro da árearural municipal, existem 100 glebas,possibilitando a entrega de 100 títu-los de domínio.

Nem todas serão tituladas, apenasas que atenderem aos requisitos da leide legitimação, afirma o analista dedesenvolvimento fundiário DaniloRovira Pereira da Silva.

Durante o cadastro, é realizado le-vantamento topográfico de gleba porgleba e aplicação do LIF (Laudo deIdentificação Fundiária), na área ru-ral, ou BIC (Boletim de InformaçãoCadastral), na área urbana, quandose checa o nome do posseiro e docu-mentação.

O trabalho está sendo realizado pe-la equipe da Diretoria Adjunta de Re-cursos Fundiários do Itesp que atua

Pontal tem trabalho de legitimação de possesem Presi-dente Pru-dente, en-volvendoaproxima-damente20 profissi-onais, comoengenheiroscartógrafos,técnicos detopografia,edição, ad-vogado eauxiliar ju-rídico e ca-dastradores.

O térmi-no dos tra-balhos de legitimação de posses estáprevisto para o fim do 2004, sendoque para o final de 2003 está previs-ta a entrega parcial de títulos.

assentamento Conquista, emTremembé, não pára de produzir

novidades. Após ter sido o primeirodo Estado a obter certificados de pro-dução orgânica, em 2002, é pioneiro,agora, na produção de maná, umaplanta originária da Amazônia, dafamília do tomate.

O agricultor José Nicácio Pereira éo responsável pela primeira experiên-cia com o maná no assentamento. Eleficou conhecendo essa cultura graças auma reportagem a que assistiu na TV.

De alto valor nutritivo, o maná éutilizado na produção de suplemen-tos vitamínicos, além de poder serpreparado de diversas formas, comosalada ou suco. O principal mercadopara o produto é o externo, especial-mente o Japão.

Entusiasmado com a novidade, oprodutor assentado conseguiu as se-mentes para o primeiro plantio gra-

ças a um amigo. Seguindo a tendên-cia do assentamento Conquista, quejá é conhecido na região pelas técni-cas de produção orgânica, o maná foicultivado sem agrotóxicos.

José Nicácio ficou satisfeito com aprodutividade e a resistência da plan-ta. A única dificuldade foi observadana comercialização. Desconhecidona região, o ma-ná teve que servendido em SãoPaulo.

Na Amazô-nia, a comercia-lização é viabi-lizada por meiode cooperativas.Mas, para o pro-dutor assentado,as despesas deassociação auma cooperativa

exclusivamente para escoar a produ-ção do maná não seriam compensa-tórias.

Segundo o engenheiro agrônomodo Itesp Benedito Antônio Gomes, oproblema da comercialização poderiaser resolvido com o aumento do vo-lume de produção, caso outros pro-dutores adotem a cultura do maná, o

que despertariao interesse doscompradores.

Mesmo coma dificuldadena comercializa-ção, José Nicácionão teve prejuí-zo. Ele pretendecontinuar coma experiência,enquanto estu-da alternativasde mercado.

Dodora Teixeira

Da família do tomate, o maná é origi-nário da Amazônia

O

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Áreas urbana e ruralserão regularizadas

Arquivo Itesp

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8 I T E S P

om apenas alguns cliques no mouse do computador,produtores rurais assentados de Teodoro Sampaio,no Pontal do Paranapanema, estão conseguindo

encontrar os melhores preços para compra de produtos eserviços para seus lotes agrícolas.

Apoiados pela Fundação Instituto de Terras (Itesp),produtores que, em maio, conseguiram financiamento doBanco do Brasil para plantio de cana-de-açúcar estão secadastrando no Balcão de Agronegócios do site do banco.

O serviço para negócios on-line vem sendo utilizadopelos assentados para compra de insumos como adubo,calcário, mudas e para contratação de empresas de trans-porte e serviços para o trato cultural da plantação.

A novidade vem proporcionando economia aos produ-tores, que, comprando pela internet, conseguem preços

Assentados negociam pela internetcerca de 5%menores que osdo mercado con-vencional, infor-ma o técnicoem desenvolvi-mento agráriodo Itesp Wildede Lucca.

Até agosto,mais de 60 pro-dutores tinhamconseguido o financiamento, de R$ 14,5 mil para cada um.

O contrato prevê o plantio da cana em até 5,5 hectaresdos lotes (mais informações na edição número 12 da revista Fatos da Terra).

Jovens produtores conhecem agroindústria chilenaovens produtores rurais assentados em São Pauloforam ao Chile conhecer as novidades em agroin-

dústrias daquele país.A iniciativa foi do programa de capacitação de lide-

ranças rurais da Universidade de São Paulo, o Liderusp,que visa a fortalecer o empreendedorismo e desenvolvero associativismo no campo.

Foram feitas visitas a frigoríficos, vinícolas, a portos elotes de fruticultores em quatro municípios, distantes atémil quilômetros da capital chilena.

Além de novas técnicas agrícolas sustentáveis, os jo-vens conheceram ferramentas de desenvolvimento doturismo rural no Chile.

Entre os quatro jovens assentados que participaramdo intercâmbio estava Valcir Costa da Silva, do assenta-mento Reunidas, em Promissão, Noroeste do Estado.

“Os produtores chilenos têm condições de produçãobem próximas às nossas, mas aplicam melhor a tecnolo-gia e seu trabalho é mais valorizado”, conta Silva, hádois anos integrante do Liderusp.

Itesp analisa regularização em mais três municípiosntre julho e agosto, a Fundação Instituto de Terras(Itesp) assinou protocolos de intenção para a reali-

zação de trabalhos de regularização fundiária em mais trêsmunicípios: Taquarivaí, no Sudoeste do Estado, Camposdo Jordão, no Vale do Paraíba, e Panorama, no Pontal doParanapanema.

A cerimônia de assinatura do protocolo em Taquarivaíocorreu no dia 10 de julho. Em agosto foram iniciados osestudos jurídicos que objetivam a regularização dominialde imóveis urbanos.

De acordo com a Prefeitura de Taquarivaí, existemcerca de 850 imóveis no perímetro urbano do município,cujos ocupantes não possuem documentação de domínio.Essa situação, conforme a administração municipal, atra-vanca o desenvolvimento socioeconômico.

Em Campos do Jordão, onde a assinatura do protocolo

realizou-se em 23 de julho, os trabalhos também já co-meçaram, com o início da pesquisa documental para arealização da regularização fundiária.

Estão sendo feitos estudos pelo Itesp em 13 loteamen-tos do município. A intenção da prefeitura é regularizaraproximadamente 1.500 imóveis. Feito o diagnósticopreliminar, serão selecionados dois ou três loteamentospara o início dos trabalhos.

Fazer estudos para a regularização de terras devolutasmunicipais é a meta do protocolo assinado no dia 11 deagosto entre Itesp e a prefeitura de Panorama.

As primeiras análises jurídicas para a realização demais esse trabalho da Fundação Instituto de Terras tam-bém começaram em agosto.

(Mais informações sobre as recentes assinaturas de protocolos de intençõesna edição número 12 da revista Fatos da Terra).

Produtores aprovaram a novidade

REGIONAL

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J

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Arquivo Itesp

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F A T O S D A T E R R A 13 9

CULT

URA

omo começou, ninguém se lembra. Mas é certoque já faz mais de cem anos que é realizada aFesta em Louvor a Santa Cruz, na comunidade

quilombola de Cafundó, município de Salto de Pirapora.Sempre depois do dia 13 de maio (este ano foi no dia 31),a comemoração atrai gente de toda a região, inclusive So-rocaba.

A festa começa com a celebração de uma missa, seguidade procissão. Na estrada de terra, são as velas dos fiéis queiluminam o caminho. Eles se dividem em dois grupos: asmulheres seguem por um lado e os homens, por outro.

Cantando e rezando, os dois grupos se comunicam pormeio de fogos de artifício. Em determinados trechos docaminho, o grupo das mulheres solta um rojão, que é logorespondido com outro pelo grupo dos homens. Por fim, osdois grupos se encontram e retornam, em uma única pro-cissão, ao centro da vila, onde fica o altar de Santa Cruz.

Diante do altar, é realizada uma última cerimônia, com anomeação do casal de festeiros responsável por organizar apróxima festa. Samuel Lins dos Santos, 29 anos, se emocio-

nou ao receber acruz que simbolizasua responsabili-dade como festeiro:“Nós vamos fazero melhor possívelpara que essa fes-ta continue cadavez melhor”, pro-meteu.

Após a cerimô-nia, tem início afesta, com música

ao vivo e barracas de comidas e bebidas. Este ano, a co-munidade de Cafundó montou uma barraca própria. “Agente montou um grupo e cada um ajudou como pôde”,explicou Judite Pires Machado.

“Língua secreta”Cafundó é a comunidade quilombola mais famosa do Es-

tado de São Paulo e objeto de inúmeras pesquisas acadêmi-cas. Quando começaram a surgir as primeiras reportagensna imprensa sobre a comunidade, no final da década de70, falava-se de uma “língua secreta” utilizada pelos qui-lombolas.

Mais tarde, constatou-se que a tal língua secreta eraum dialeto com palavras de origem africana, chamado cupó-pia, usado pelos moradores mais antigos da comunidade(veja quadro ao lado). A descoberta atraiu o interesse de vários

pesquisadores, entre eles, Carlos Vogt e Peter Fry, quepublicaram o livro Cafundó: A África no Brasil, em 1996,pela editora da Unicamp e Companhia das Letras.

Reconhecida como remanescente de quilombo peloItesp em 1999, a comunidade é formada por 18 famílias.Em setembro de 2002, elas organizaram uma associação,a Kimbundu, cujo presidente é Marcos Rosa de Almeida.

Fotos: Dodora Teixeira

Samuel dos Santos, o novo festeiro,com a cruz

Procissão ilumina estrada em Cafundó

C

anguta: mulherarambecá: cãocamanaco: meninocucuerar: casarcuiavo: riocupopiar: falargrivo: machadoimbuele: madeira, árvoreingombe: boi, vacajambi: santomaji: peixemoca: cafémucuá: cobramutombo: mandiocanhamanhara: homemorobimba: bom dia! tchau!panga: vilapungo: milhosengue: matotenhora: enxadavatumarado: parado, imóvelvitá: cachimbo

Quilombolas louvamSanta Cruz

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10 I T E S P

CAPA

Fundação Instituto de Terras(Itesp) está executando umprograma de formação e ca-

pacitação em desenvolvimento sus-tentável e agroecologia voltado aprodutores assentados e quilombo-las do Estado.

As atividades, que começaram emagosto, vão até setembro de 2004.Estão previstas 2,4 mil participaçõesde produtores e 280 de técnicos dafundação como alunos.

Para a realização desse projeto, oMinistério do Desenvolvimento Agrá-rio repassou, por meio da linha Capa-citação do Pronaf (Programa Nacio-nal de Fortalecimento da AgriculturaFamiliar), R$ 400 mil e, em contrapar-tida, o Itesp vai destinar R$ 138.390à iniciativa.

OrganizaçãoO programa é dividido em três

grandes temas: uso de tecnologiasapropriadas, atividades não-agrícolasno meio rural e agroecologia. Cadaum desses temas é subdividido em

vários núcleos, que, por sua vez, con-tam com diversas atividades.

A capacitação em uso de tecnolo-gias apropriadas conta com os núcle-os apiário-escola, ervas medicinais emanejo de recursos florestais.

Na capacitação em agroecologia,os núcleos são formação básica noassunto, fruticultura sustentável etransição de sistemas produtivos.

A capacitação em atividades não-agrícolas no meio rural é compostapor um núcleo, sobre ecoturismo.

As atividadesAs atividades sobre apiário-escola

visam fortalecer a organização de jo-vens agricultores pelo desenvolvi-mento da autonomia e geração derenda, com a implementação de 150colméias pelo Estado, em assentamen-tos e em comunidades remanescentesde quilombos.

A meta das atividades sobre ervasmedicinais é incentivar a produçãodoméstica desse tipo de planta, con-tribuindo para a prevenção de doen-ças e, a médio prazo, para a criaçãode mecanismos de comercializaçãodessa produção.

Em manejo de recursos florestais,produtores das comunidades rema-nescentes de quilombos e técnicossão capacitados para o manejo sus-tentado de espécies nativas de inte-resse econômico.

As atividades do núcleo de ecotu-rismo são feitas com a meta de capa-citar técnicos e quilombolas paraatuarem como monitores ambien-tais e agentes multiplicadores emeducação ambiental e ecoturismo,fomentando alternativas de rendasnão-agrícolas aliadas à conservaçãoda biodiversidade.

A formação básica em agroecolo-gia vai oferecer noções conceituais epráticas para subsidiar a discussão e

implementação de uma agriculturasustentável nos aspectos ambiental,econômico, social, político e cultural.

As atividades do núcleo de fruti-cultura sustentável têm o objetivo decapacitar técnicos do Itesp e produ-tores rurais a manejar a cultura docôco anão dentro dos princípios daagricultura orgânica.

Em transição de sistemas produ-tivos, os participantes desse núcleosão capacitados a iniciarem o proces-so de transição do sistema produtivoagrícola convencional para um debase agroecológica.

CronogramaNo mês de agosto foram feitos en-

contros e seminários para discutir de-talhes da organização das atividadesespecíficas de cada núcleo, que come-çaram em setembro.

As atividades são teóricas e práti-cas, contando com oficinas, visitastécnicas e encontros de avaliação deresultados.

Durante o programa, os capacitan-dos vão implementar campos de teste,como hortas, apiários e viveiros, cujo

Itesp oferece 2,6 mil vagas paraAtividades, que começam este ano e vão até 2004, visam a difundir teoria e prática em de

Murilo Hildebrand

Capacitação em ervas medicinaisvisa a produção doméstica

Serão implementadas 150 colméias pelo Estad

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desenvolvimento teráacompanhamento téc-nico dos professores.

Todas as atividadesutilizam uma meto-dologia participativa,o que incentiva a ex-pressão da criativida-de e senso crítico detodos os capacitandos.

Públicos específicosUm dos destaques

do programa é a ênfasedada à capacitação dospúblicos jovem, femi-nino e quilombola.

As atividades so-bre cultivo de ervas

medicinais beneficiam principalmenteprodutoras rurais, que irão implemen-tar 40 canteiros como forma de colo-car em prática aquilo que aprenderam.

Os jovens também são valorizadoscom uma série de atividades especial-mente voltadas a eles, as do núcleoapiário-escola. A intenção é incenti-var a autonomia e a organização en-tre eles.

Os quilombolas são beneficiadosprincipalmente por dois núcleos: ma-nejo de recursos florestais e ecoturismo.As atividades em manejo de recursosflorestais dão ênfase ao trabalho com

espécies nativas como o palmito ju-çara, plantas ornamentais, medicinaise que podem servir para o artesanato,valorizando a cultura quilombola.

Ecoturismo é um núcleo que terágrande número de atividades. Entreelas está a de especialização em espe-leologia, que é o estudo e exploraçãode grutas e cavernas.

Temas inovadores“Esse programa inova não só pela

abrangência em número de capaci-tandos mas tam-bém pelos temasque enfoca”, diz odiretor-executivodo Itesp, JonasVillas Bôas.

Segundo ele, ofato de que essasatividades levamem conta a preo-cupação com odesenvolvimentosustentável “mos-tra que o Itespestá em sintoniacom o desejo dascomunidades a-tendidas, que é avontade de mos-trar para a sociedade que a agricultu-ra familiar tem um potencial enorme

como um canal de difusãode técnicas agrícolas maisadequadas à realidade na-cional”.

O Pronaf-Capacitaçãorepresenta também umaação pioneira do Ministé-rio do DesenvolvimentoAgrário na descentraliza-ção dos recursos públicos,segundo Marcelo ZontaMelani, consultor técnicoda Secretaria de Agricul-tura Familiar do MDA.

“A sociedade civil organizada é quemfaz a gestão dos recursos”, esclareceo consultor técnico.

Melani conta que o Pronaf-Capa-citação surgiu a partir da demandados movimentos sociais e entidadesrepresentantivas dos agricultores fa-miliares, com o objetivo de promo-ver a capacitação como política degoverno, fomentando a produção a-grícola e promovendo a geração deempregos e a permanência do ho-mem no campo.

Essa linha doPronaf, voltadaà capacitação, co-meçou a ser dis-cutida em 2000,inicialmente coma articulação dosConselhos Muni-cipais de Desen-volvimento Ru-ral Sustentável.Em 2001, foi pu-blicado o editalpara a liberaçãode recursos refe-rentes ao exercí-cio de 2002.

Cerca de 650projetos de todo

o país foram inscritos no programa,sendo que apenas 147 foram pré-se-lecionados. Desses, 98 receberam osrecursos, num total de R$ 23 milhõesliberados pelo MDA.

São atendidas duas frentes distin-tas: a capacitação dos conselheirosmunicipais de Desenvolvimento Ru-ral Sustentável e a capacitação dosprodutores rurais em um eixo temá-tico que inclui 11 temas.

O edital para o exercício de 2003foi publicado em agosto. As entida-des interessadas podem obter maisinformações no site do Pronaf(www.pronaf.gov.br).

a capacitação em agroecologiadesenvolvimento sustentável entre produtores assentados e quilombolas de todo o Estado

Dodora Teixeira

Metodologia une teoria e prática

do

Capacitandos implementarão vi-veiros

Murilo Hildebrand

Arquivo Itesp

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NACIONAL

Plano facilita crédito para assentadosGoverno Federal anunciou, nofinal de junho, o Plano Safrapara a Agricultura Familiar.

Além de um total de R$ 5,4 bilhõesdisponíveis a partir de julho, váriasmedidas foram implementadas no in-tuito de facilitar o acesso ao créditopor parte de agricultores familiares eprodutores assentados.

Uma das principais medidas é arenegociação de dívidas anteriores,possibilitando que os produtores a-tualmente inadimplentes voltem ater acesso a crédito. A estimativa éde que essa renegociação envolvaum total de R$ 2,4 bilhões.

Também foi bem recebida pelos pe-quenos produtores rurais a garantiade preço mínimo e comercialização,por meio da Compra Pública de Ali-mentos pela Companhia Nacional deAbastecimento (Conab).

A idéia é, num investimento de

R$ 400 milhões ainda em 2003, ad-quirir cinco produtos básicos: arroz,feijão, mandioca, milho e trigo. Essesalimentos atenderão parte da deman-da do Fome Zero.

Outra garantia é a ampliação da co-bertura do Proagro (Programa de Ga-rantia da Atividade Agropecuária),que passa a cobrir não só o financia-

mento, mas também a renda dos pro-dutores rurais, num percentual de15% do valor contratado.

PronafOs tetos das linhas do Pronaf (Pro-

grama Nacional de Fortalecimentoda Agricultura Familiar) foram eleva-dos em 20% em média. Além disso,foram lançadas novas linhas, comoPronaf Mulher, Pronaf Jovem Rurale Pronaf Máquinas e Equipamentos,com teto 50% superior.

A intenção do governo federal ésimplificar o acesso ao crédito. Umadas medidas nesse sentido é o lança-mento do Cartão Pronaf, que ofere-ce ao produtor a possibilidade de terseu crédito renovado automaticamen-te por um período de até seis anos.Basta aplicar corretamente os recur-sos e quitar o financiamento dentrodo prazo de vencimento.

Quilombo de SP vence concurso nacional de ecologiacomunidade quilombola de Iva-porunduva, no Vale do Ribeira,

foi uma das vencedoras do concursoSuper Ecologia 2003, promovido pe-la revista Super Interessante, da Edi-tora Abril. O projeto premiado é de-senvolvido pela associação de mora-dores do quilombo em parceria com oInstituto Socioambiental (ISA), uma

organização não-governamental dedefesa do meio ambiente.

Um dos principais resultados dotrabalho é a certificação de bananaorgânica produzida na comunidade.Emitido pelo Instituto Biodinâmico(IBD) de Botucatu, o certificado per-mite a inserção do produto em mer-cados diferenciados, alcançando me-lhores preços.

Além da produção de banana or-gânica, a comunidade também temtrabalhado pela reintrodução do pal-mito juçara na região, com o plantiode 200 hectares por meio de mutirõescomunitários. A idéia é viabilizar omanejo sustentável dessa espécie depalmito, de importância vital para oequilíbrio do bioma mata atlântica eque corre sério risco de extinção de-vido à exploração predatória.

Dodora Teixeira/Arquivo Itesp

Quilombo de Ivaporunduva, no Valedo Ribeira

Dividido em seis categorias (ar, á-gua, solo, fauna, flora e comunidades),o Prêmio Super Ecologia selecionaos melhores projetos de conservaçãoe recuperação ambiental no Brasil.Em cada categoria, são premiadostrês projetos: um governamental, umdesenvolvido por empresas e outrodesenvolvido por organizações não-governamentais. O projeto do qui-lombo de Ivaporunduva foi um dosvencedores na categoria comunidades.

Ivaporunduva foi uma das primei-ras comunidades do Vale do Ribeirareconhecidas como remanescente dequilombo pela Fundação Instituto deTerras (Itesp), em 1998. Localizadano município de Eldorado, possui 70famílias ocupando uma área de apro-ximadamente 2.800 hectares. (Com in-formações do ISA)

Lavoura de arroz em assentamento:produção para o Fome Zero

Arquivo ItespO

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POLÍTICA

governador Geraldo Alckmine o ministro Miguel Rossetto,do Desenvolvimento Agrário,

assinaram convênio no dia 17 de julhodestinando quase R$ 36 milhões àarrecadação de terras no Pontal doParanapanema. São R$ 29,4 milhõesdo Governo Federal, sendo 70% emTDAs (Títulos da Dívida Agrária) e30% em dinheiro, e R$ 5,88 milhõesdo Tesouro do Estado.

Durante a cerimônia de assinaturado convênio, Alckmin defendeu oinvestimento na reforma agrária lem-brando que existem exemplos de su-cesso na região do Pontal. “Poucossão os assentamentos rurais no paísque têm a infra-estrutura dos assen-tamentos de São Paulo”, disse.

O ministro Miguel Rossetto reafir-mou que Estado e União estão em-penhados em um modelo de reforma

agrária que garanta paz, justiça e cida-dania no campo. Ele elogiou o traba-lho do Governo do Estado, por meioda Fundação Instituto de Terras, edestacou a legislação fundiária de SãoPaulo, “que continua sendo uma dasmais modernas entre todos os Esta-dos da federação”.

Terras DevolutasCom a assinatura do convênio, se-

rá possível arrecadar terras já julga-das devolutas na região do Pontal ouem processo de discriminação, pormeio de negociação com fazendeiros.Por se tratarem de terras públicas es-taduais, ocupadas irregularmente nopassado, o Estado paga apenas a in-denização correspondente ao valordas benfeitorias existentes.

O governador de São Paulo expli-cou que a meta é assentar 1.400 fa-

Ministério libera verba para o Estado

mílias na região. Ele lembrou aindaque o Itesp, em parceria com o Incra(Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária), realizou vistoriasque identificaram cerca de 20 fazen-das improdutivas em outras regiõesdo Estado, que aguardam processode desapropriação por parte do Go-verno Federal para que mais famíliassem-terra possam ser assentadas.

s municípios do Pontal do Para-napanema que possuem acam-

pamentos de trabalhadores sem-terraestão recebendo um reforço na me-renda escolar e na distribuição demedicamentos.

A medida foi adotada após reu-

nião dos prefeitos da região com osecretário da Saúde, Luiz RobertoBarradas Barata, e o adjunto da E-ducação, Fábio Saba. Segundo osprefeitos, a vinda de famílias sem-terra para os seus municípios temgerado uma demanda extra por

serviços públicos. O governo aindaestuda medidas para resolver o pro-blema do transporte escolar e a am-pliação do Programa de Saúde daFamília (PSF/Qualis) nos municípioscom acampamentos e assentamentosrurais no Pontal.

Pontal tem soluções emergenciais na saúde e educação

Divulgação

Alckmin: Pontal já tem exemplos desucesso na reforma agrária

Projeto de regularização de terras é enviado à ALgovernador Geraldo Alckmin en-viou, no dia 15 de agosto, pro-

projeto de lei que trata da regulariza-ção de posse em terras devolutas deaté 500 hectares no Pontal do Para-napanema. Pela proposta do Governo,os fazendeiros pagarão de 10 a 15% dovalor da terra nua (sem benfeitorias)para que sua posse seja regularizada.O pagamento poderá ser parceladoem até três anos.

O dinheiro arrecadado será desti-nado a um fundo de desenvolvimen-to da região, com aplicação de 50%

dos recursos no desenvolvimento dosassentamentos rurais e 50% no finan-ciamento de obras de infra-estrutura

nos municípios onde estão localiza-dos esses assentamentos.

A estimativa é de que o projetopossibilite a arrecadação de algo emtorno de R$ 20 milhões. Segundodados do Itesp, cerca de 600 peque-nos e médios produtores rurais de-vem ser beneficiados.

Com a regularização dessas áreas, oGoverno do Estado garante seguran-ça para a retomada de investimentosna região do Pontal. O projeto foiencaminhado à Assembléia em regi-me de urgência.

Cerimônia de assinatura do projetode lei, realizada em agosto

Dodora Teixeira

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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Replantio de mata ciliar é lançado em Sumarés assentamentos Sumaré 1 e 2, localizados no mu-nicípio de Sumaré, no Leste do Estado, tornaram-se palco de um projeto-piloto de restauração das

matas ciliares paulistas.Implementado em junho pela Secretaria do Meio Am-

biente, o projeto está proporcionando o replantio de 15hectares na microbacia do Córrego Taquara Branca, quecruza os assentamentos.

A microbacia é responsá-vel pelo abastecimento deágua de parte expressivados 202 mil habitantes domunicípio de Sumaré.

No entanto, apesar de suaimportância, as áreas margi-nais aos corpos d’água en-contram-se desprovidas devegetação, o que as tornavulneráveis ao assoreamentoe à poluição.

Haverá plantio de 30 milmudas no primeiro ano, uti-lizando 89 espécies arbóreasnativas diferentes, das quais13 se encontram sob ameaça de extinção.

A estratégia adotada é envolver os proprietários ru-rais, utilizando a mão-de-obra dos próprios agricultoresna manutenção das florestas em formação.

Levantamento da Secretaria do Meio Ambiente apon-ta a existência de 81 lotes rurais na área, sendo apenasum de grande porte, enquanto 17 se classificam comomédios e 63 como pequenos, sem capacidade de investi-mento na recuperação das matas ciliares. Dos 63 lotesmenores, 43 são de produtores assentados.

Renda adicionalO objetivo do projeto, além da recuperação ambiental,

é também de oferecer oportunidade de renda adicionale qualificação profis-sional aos pequenosagricultores, que po-derão atuar na produ-ção de mudas e pres-tação de serviços deimplantação de flo-restas.

A ação tem o a-poio do programa demicrobacias da Se-cretaria da Agricul-

tura e Abastecimento, da Fundação Instituto de Terras(Itesp), e é feita com recursos da compensação ambien-tal do prolongamento da rodovia dos Bandeirantes, novalor aproximado de R$ 85 mil.

A meta de longo prazo do programa é eliminar o défi-cit de matas ciliares de São Paulo, estimado em um mi-lhão de hectares. A recomposição de toda essa área de-

manda pelo menos 2 bilhõesde mudas.

“Parece pouco reflorestarum ou 15 hectares, diante danecessidade de um milhão,mas, por maior que seja a dis-tância, é preciso dar os pri-meiros passos”, disse o Secre-tário do Meio Ambiente, JoséGoldemberg.

O diretor-executivo doItesp, Jonas Villas Bôas, tam-bém acompanhou a cerimô-nia de lançamento do pro-jeto, realizada no último dia17 de junho.

Para ele, a escolha de pro-dutores assentados como uns dos primeiros beneficiadospela programa “é uma clara demonstração de confiançana força da agricultura familiar paulista e no grau deconscientização dos produtores em relação à preserva-ção ambiental”.

Multinacional compra mudasParalelamente ao reflorestamento da mata ciliar, seis

agricultores do assentamento Sumaré 2 foram contrata-dos pela filial de Paulínia de uma empresa multinacionalde distribuição de combustíveis para produzir 15 mil mu-das de plantas aromáticas.

O contrato, que prevê a entrega das mudas até janei-ro de 2004, foi assinado no dia 23 de agosto.

Com capacidade de produção de 35 mil mudas porano, o viveiro utilizado pelos produtores nessa parceriafoi fornecido pelo Itesp, que também dará assistênciatécnica, informa o analista de desenvolvimento agrárioReginaldo Toledo Ruiz. No total, o custo do viveiro foide R$ 11 mil.

Os produtores serão capacitados pelo professor Ricar-do Ribeiro Rodrigues, da Escola Superior de AgriculturaLuiz de Queiroz (Esalq). Além do fornecimento de mu-das para compradores, o viveiro abastece assentados e éum atrativo em turismo rural na região (Com informações da Se-cretaria do Meio Ambiente.)

As margens do córrego já estão sendo recuperadas

Fotos: Murilo Hildebrand

Villas Bôas: amostra de confian-ça nos assentados

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F A T O S D A T E R R A 13 15

OPINIÃO: Raul Silva Telles do Valle

m janeiro de 2002 o InstitutoSocioambiental organizou, du-rante o II Fórum Social Mun-

dial, uma oficina para discutir a interfa-ce entre o direito à reforma agrária e odireito ao meio ambiente ecologica-mente equilibrado. Tema palpitante,que alimenta emoções tanto por partedos ambientalistas quanto dos movi-mentos sociais envolvidos com a im-plementação da reforma agrária emnosso país, ele foi escolhido como fococentral dessa oficina por representarum real desafio à construção de umanova sociedade, onde a qualidade am-biental seja vista como uma condiçãonecessária à realização da justiça social.Os resultados dessa oficina foram tãointeressantes que entendemos que elesnão deveriam se estender apenas aosque ali estiveram presentes, e por essarazão resolvemos editar uma publicaçãoque reunisse não só as palestras ali pro-feridas, mas também artigos reflexivossobre o tema, o qual foi lançado no iní-cio desse ano com o título “ReformaAgrária e Meio Ambiente”.

As discussões ocorridas em PortoAlegre, e reproduzidas no livro, gira-ram em torno de uma questão funda-mental, que não fôra colocada explici-tamente para os presentes, mas queclaramente norteou o raciocínio de to-dos: existe alguma contradição inerenteentre o modelo de reforma agráriaimplementado em nosso país nos últi-mos anos e a conservação ambiental?Essa questão deriva do fato de que nosúltimos anos avolumaram-se as notí-cias divulgadas pela mídia impressa outelevisiva da existência de assentamen-tos, principalmente na região amazô-nica, mas não só lá, que se tornaramfocos de desmatamento, de tráfico deanimais e de outras formas de degrada-ção ambiental. Essas situações levaram,em uma certa época, a um acirramen-to dos ânimos entre o movimento am-

bientalista e os movimentos sociais li-gados à luta pela terra, o que fez trans-parecer uma suposta incongruênciaentre os direitos defendidos por ambos.

As posições expostas no livro, em-bora variem em seu foco, chegam àmesma conclusão: não há essa supostaincongruência, pelo contrário, tanto aexclusão no campo quanto a degrada-ção ambiental no meio rural são frutosde um mesmo modelo agrícola queprivilegia um conceito meramente fi-nanceiro de produtividade e que,conseqüentemente, incentiva a con-centração de terras e asfixia da agri-cultura camponesa. Ao analisar osignificado jurídico da reforma agrária,Carlos Frederico Marés afirma commuita propriedade que esta “só podeser entendida como uma reforma doconceito de propriedade privada(...)terminando com o caráter absoluto(...)em que existe um proprietário ca-paz de ter a propriedade como um bemtransferível, modificável e até destru-tível”, o que necessariamente deve re-fletir numa nova compreensão sobre oconceito de produtividade da terra.

Até hoje ela foi traduzida, tanto pe-la lei quanto pelas políticas públicas,como a mera possibilidade de fazer comque a terra produza dinheiro, o que sig-nifica dizer que, se uma determinadapropriedade está engordando o patri-mônio de seu titular então ela é pro-dutiva, não importando os custossociais e ambientais que isso acarrete.Essa visão desconsidera o conceitoconstitucional de função social da pro-priedade, que determina que ela sódeve ser protegida pelo Estado Demo-crático de Direito caso esteja produ-zindo riquezas, as quais não se esgotamna geração de renda individual, masabarcam também a produção de ali-mentos, de moradia, de bem-estar aotrabalhador e de serviços ambientaisusufruíveis por toda a sociedade. Uma

propriedade que não contribua com aprodução de água, com a conservaçãoda biodiversidade ou com a regulaçãoclimática, mesmo que produza tonela-das de soja para exportação, não podeser entendida como produtiva.

O grande desafio para a efetivaçãode uma verdadeira reforma agrária nopaís, que modifique não só a forma dedistribuição da terra, mas também aforma de como lidar com ela, está emsuperar o modelo derivado da revolu-ção verde, que foi apresentado ao pe-queno agricultor brasileiro como aúnica forma de sobreviver no campo.Esse é um dilema que faz com que opequeno agricultor se transforme, mui-tas vezes, num agente de degradaçãodo ambiente em que vive, o que, aofinal, acaba inclusive inviabilizando suapermanência na terra. Como muitobem ilustra Egídio Brunetto, “os cam-poneses foram ensinados a destruir aterra e tentam viver em função da cri-se permanente da agricultura (...) anossa sorte é que uma hora esse fato épercebido e então começamos a ten-tar ir no sentido inverso, contra a nos-sa cultura imediatista que prioriza olucro iminente. Temos que ir contra amercantilização da terra”.

Portanto, a reforma no modelo agrá-rio brasileiro deve se preocupar não sócom aspectos quantitativos (númerosde famílias assentadas, de pequenaspropriedades, de latifúndios, etc), mas,principalmente, qualitativos, onde a o-ferta de serviços ambientais pela pro-priedade rural, pequena ou grande, sejaentendida como elemento fundamental.

Raul Silva Telles do Valle, advogado,mestre em Direito pela USP e assessorjurídico do Instituto Socioambiental.

As interfaces entre a reformaagrária e a conservação ambientalE

Os artigos publicados nesta seção são de res-ponsabilidade de seus autores e não refletemnecessariamente a opinião da revista.

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CURTAS

Projeto Tempo de Aprenderé destaque em Congresso

projeto Tempo de Aprender, implementado peloItesp na região do Pontal do Paranapanema desde o

ano passado, foi um dos destaques do Congresso de Edu-cação para a Cidadania, realizado em Santos no períodode 18 a 22 de junho.

Desenvolvido para fortalecer a organização e partici-pação dos assentados, o projeto visa à permanência dotrabalhador rural na terra com índices favoráveis de de-senvolvimento econômico e social. Por meio de oficinaspedagógicas, busca proporcionar vivências baseadas naanálise crítica da realidade dos assentamentos, promoven-do uma educação para a cidadania.

De acordo com a analista de desenvolvimento agrárioEliane de Jesus Teixeira Mazzini, responsável pelo proje-to, o objetivo de fortalecer lideranças potenciais dos as-sentamentos foi alcançado, mas o que surpreendeu foi oresgate da auto-estima dos assentados que participaramdas oficinas. O Congresso de Educação para a Cidadaniafoi promovido pelo Sesc (Serviço Social do Comércio)com apoio da Universidade Católica de Santos.

Pregões geram economia deaté 60% em licitações

realização, pela Fundação Instituto de Terras (Itesp),de licitações pela modalidade de Pregão vem geran-

do grandes economias para a instituição. O primeiro, o-corrido no dia 28 de maio, possibilitou uma economia deaproximadamente 20% em relação ao valor estimado re-servado para a aquisição, correspondendo a um ganho deR$ 53 mil. No segundo, realizado no dia 11 de junho, aeconomia chegou a 60% do valor estimado, um ganhode cerca de R$ 92.300.

Instituído pela Lei Federal 10.520/02 e, em âmbito es-tadual, pelo Decreto 47.297/02, o pregão é uma modali-dade de licitação que, além da economia, possibilita maioragilidade e a desburocratização do processo. Para traba-lhar com essa nova modalidade, os funcionários do Itespresponsáveis pelo setor de licitações e contratos, EdgardAlves Netto de Araújo, André Luiz Monteiro Pasqualinie Sérgio Bernardes de Oliveira Filho, fizeram um cursooferecido pelo Governo do Estado. Dessa forma, se capa-citaram para o exercício das atribuições de pregoeiro, ob-servando os princípios e as normas jurídicas específicas.

Fundação Instituto de Terras (Itesp) integra oConselho Estadual de Segurança Alimentar eNutricional (Consea), cujos membros foram em-

possados no cargo pelo governa-dor Geraldo Alckmin no dia 25de junho. Os representantes doItesp no conselho são o gerentede Formação, Pesquisa e Acervoda Diretoria Adjunta de Forma-ção, Pesquisa e Promoção Insti-tucional, José Luiz Santos Sales,e o gerente de Produção e Ren-da da Diretoria Adjunta de Polí-ticas de Desenvolvimento, Glau-co Cugler de Carvalho. Tambémintegra o Consea Marta Fernan-des de Souza, vice-presidente daOmaquesp (Organização de Mu-lheres Assentadas e Quilombolas do Estado de São Paulo).

O conselho foi instituído pelo Decreto 47.763, de 11de abril de 2003, e é formado por 54 conselheiros, sendo18 do Governo do Estado e 36 da sociedade civil. Seuobjetivo é atuar como órgão de aconselhamento e asses-

Itesp tem representantes no Consea-SPsoramento do Governo na formulação de políticas públi-cas voltadas à segurança alimentar. Uma das atribuiçõesdo conselho é elaborar o Plano Estadual de Segurança

Alimentar e Nutricional.O órgão vai atender 850 mil

famílias no Estado que tenhamrenda igual ou inferior a um salá-rio mínimo, com a proposta deoferecer acesso aos alimentos bá-sicos. O Consea é a interface esta-dual com o programa Fome Zerodo Governo Federal, que orientouos 27 Estados, bem como os mu-nicípios, a criarem seus conselhospara que as famílias mais necessi-tadas sejam incluídas no progra-ma da União.

Para José Luiz Sales, o Conseaoferece possibilidades de ação mais articulada em bene-fício do público atendido pelo Itesp, uma vez que eletambém está presente no conselho na figura da vice-pre-sidente da Omaquesp, Marta Fernandes, que representaassentados e quilombolas.

A

AO

Posse do Conselho de Segurança Alimentarem São Paulo

Luiz Carlos Leite

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17F A T O S D A T E R R A 13

CURTAS

Itesp e Incra vão vistoriar 200 mil ha até 2007

Energia eólica garante economia em assentamentoalto consumo de água do lote de Maria Alves deOliveira Santana, no assentamento Monte Alegre,

em Motuca, tinha um impacto direto na conta de luz, jáque ela gastava energia elétrica para bombear a água dopoço artesiano. “Na primeira conta que eu recebi de R$612, quase tive um enfarte”, lembra. “No ano seguinte,veio o apagão. Eu não cheguei a pagar multa, mas tiveque recorrer três vezes”.

Após a instalação de um cata-vento para geração deenergia, essa média de R$ 600 na conta de luz caiu parapouco mais de R$ 100, uma economia de aproximada-mente 80%. Segundo o técnico em desenvolvimentoagrário Luiz Gonzaga Finamore, a idéia de instalar umsistema de energia eólica no lote surgiu a partir de um

dia de campo sobrefontes alternativasde energia promo-vido pelo Itesp em2001.

A dificuldadeinicial foi o custodo projeto, em tor-no de R$ 5 mil, quedona Maria conse-guiu parcelar em 15vezes. Ela explicaque, com a diferença na conta de luz, é possível ter o re-torno do investimento em pouco tempo.

Dodora Teixeira

onvênio assinado no dia 7 de agosto entre Itesp eIncra (Instituto Nacional de Colonização e ReformaAgrária) vai possibilitar vistorias em 200 mil hec-

tares de terras no Estado de São Paulo até 2007.Ainda em 2003, serão vistoriados entre 20 e 30 mil

hectares, com repasse de R$ 200 mil do governo federale contrapartida de R$ 40 mil doEstado. O investimento total du-rante a vigência da parceria seráde R$ 2 milhões.

Além das vistorias de fiscaliza-ção, o Itesp fará também vistoriasde avaliação em terras já declara-das improdutivas e que devem serdesapropriadas para fins de refor-ma agrária. O objetivo é determi-nar o valor dos imóveis para inde-nização por parte do Incra.

“Esse convênio, somado aoconvênio de arrecadação de ter-ras devolutas no Pontal do Paranapanema, vai possibili-tar um grande avanço na reforma agrária no Estado, coma criação de vários assentamentos ainda este ano”, disse

o secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania, Ale-xandre de Moraes, referindo-se ao convênio de R$ 35 mi-lhões firmado entre Estado e Ministério do Desenvolvi-mento Agrário no dia 17 de julho.

O superintendente estadual do Incra, RaimundoPires Silva, destacou o bom relacionamento entre Estado

e União em São Paulo, lembran-do que o diretor-executivo doItesp, Jonas Villas Bôas, tambémpreside a Associação Nacionaldos Órgãos Estaduais de Terras(Anoter), que mantém diálogoconstante com a Presidênciado Incra em Brasília.

Em parcerias anteriores, de2000 até agora, foram vistoriados280 mil hectares, dos quais 56mil apresentaram indícios de im-produtividade. Parte desse totaljá foi desapropriada, inclusive

com a implantação de assentamentos rurais. Atualmen-te, estão tramitando processos de desapropriação de 19fazendas.

Assinatura do convênio

Dodora Teixeira

eciclagem de lixo foi sinônimo de diversão para cri-anças quilombolas do Vale do Ribeira durante o mês

de junho. Elas assistiram ao teatro de fantoches apresen-tado por funcionários da Fundação Instituto de Terras(Itesp) em 12 escolas da região. Durante a peça, as cri-anças ajudaram os personagens a separar os vários tiposde lixo reciclável e orgânico. Intitulada “O Caminho pa-

ra o Vale Verde”, a peça é uma adaptação do livro “OCaminho para o Vale Perdido”, de Patrícia Engel Secco,editado pela Secretaria do Meio Ambiente e Cetesb.

A história conta a vida de uma família de ratos que mo-ra em um lixão, chamando a atenção para o problema dolixo e importância da reciclagem, além de mostrar a riquezaque pode ser extraída do que costumamos chamar de ‘lixo’.

Teatro ensina reciclagem para crianças quilombolas

C

O

R

Energia é utilizada para bombe-ar água do poço

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AGENDA

ACONTECEU

O Itesp apresentou seu trabalhona área de comunicação no 3o Con-gresso Brasileiro de Comunicaçãono Serviço Público. A apresentação

20 e 21 de agosto

Simpósio de Educação Ambiental da Alta Noroeste Paulista

18 e 19 de julho

Encontro de Agricultura Familiar SustentávelO município de Registro sediou o

1o Encontro de Agricultura FamiliarSustentável no Vale do Ribeira. Pro-movido pelo Sintravale (Sindicato dosTrabalhadores na Agricultura Familiardo Vale do Ribeira e Litoral Sul), oevento contou com o apoio do Itesp.

Dentre as principais reivindicaçõesdos agricultores participantes do en-contro, esteve a regularização fundiá-ria na região, com a titulação de pe-quenos posseiros e de remanescentesde quilombos. Eles também aponta-

28 e 29 de agosto

3o Congresso Brasileiro de Comunicação no Serviço Público

O desenvolvimento sustentável ea utilização racional dos recursos na-turais foram discutidos por educado-res da região noroeste do Estado,em Andradina. A cidade sediou oII Simpósio de Educação Ambiental

ram a dificuldade de acessso ao cré-dito agrícola como problema a serenfrentado.

Técnicos do Itesp participaram dasmesas de discussão, falando do traba-lho da instituição no Vale do Ribeira.Também participou do evento o se-cretário da Agricultura Familiar doMinistério do Desenvolvimento A-grário, Valter Bianchini, que prestouinformações sobre o Plano Safra daAgricultura Familiar 2003/2004 (leiamais sobre o Plano na página 12).

Junho/Julho

Campanha do Agasalho2003 no Itesp

Funcionários da Fundação Ins-tituto de Terras (Itesp) mais umavez manifestaram sua solidariedadeaderindo à Campanha do Agasalho2003, promovida pelo Fundo Socialde Solidariedade do Estado de SãoPaulo (Fussesp).

Com o lema “Doe calor nesteinverno”, a campanha bateu recor-de, arrecadando mais de 7 milhõesde peças em todo o Estado, cercade três vezes mais do que o total co-letado no ano passado.

No Itesp, os agasalhos arrecada-dos na sede foram repassados dire-tamente ao Fussesp. No Interior,cada regional encaminhou seus do-nativos às prefeituras locais.

Na sede foram arrecadadas 395peças e a campanha foi encerradacom uma festa junina. Somando to-dos os órgãos vinculados e institui-ções parceiras, a Secretaria da Justi-ça e da Defesa da Cidadania arreca-dou 8,5 mil agasalhos.

8 a 13 de julho

2a Feira de Agronegócios de BatataisO Itesp participou da 2a Feria de A-

gronegóciosde Bata-tais, reali-zada de 8a 13 de ju-lho. Parti-ciparamdo eventomais de 40Estande do Itesp no evento

Janaína Lopes dos Santos

expositores ligados ao agronegócio eum público visitante de aproximada-mente 60 mil pessoas.

Além de exposições, a feira con-tou com extensa programação deshows e palestras. A Fundação Insti-tuto de Terras levou à feira produtosda reforma agrária e material infor-mativo. O evento foi promovido pelaprefeitura de Batatais.

da Alta Noroeste Paulista. Participa-ram estudantes, educadores, repre-sentantes de organizações não-gover-namentais, produtores rurais assen-tados, autoridades regionais e, peloItesp, o diretor-executivo, o diretor

de formação, o coordenador da regio-nal noroeste e técnicos. O evento épromovido pelo Itesp, Diretoria Re-gional de Ensino e DepartamentoMunicipal de Educação e Cultura deAndradina.

teve o tema “Planejamento, estraté-gia e suor - o uso integrado de estra-tégias de comunicação institucionalpara colocar a reforma agrária na

pauta do dia”, e ficou a cargo dos a-nalistas de gestão organizacional An-derson de Magalhães Hazenfratz eHelton Lucinda Ribeiro.

Produtoras rurais de todo o Estadoirão reunir-se no “6o Encontro Esta-dual de Mulheres Assentadas e Qui-lombolas”, que será realizado emAraras de 23 a 25 de outubro. O ob-

Outubro

6o Encontro de Mulheresjetivo é promover o intercâmbio deexperiências e chegar a uma pautaconjunta de reivindicações e propos-tas para a melhoria da qualidade devida nas comunidades. O evento é

realizado pela Comissão Estadual e pe-la Organização de Mulheres Assenta-das e Quilombolas, e tem o apoio daFundação Instituto de Terras, entreoutras instituições.

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19F A T O S D A T E R R A 13

DESTAQUE

Registro de terras é debatido na Esalqngenheiros agrimensores, car-tógrafos e topógrafos se reu-niram em Piracicaba no dia 5

de junho para discutir as implicaçõesda Lei 10.267/01 no seu trabalho. Elesparticiparam do I Ciclo de Palestrase Debates sobre a nova Legislação deRegistro de Imóveis Rurais na Esalq(Escola Superior de Agricultura Luizde Queiroz).

Entre as modificações introduzidaspela nova legislação, está a unificaçãodo cadastro de imóveis rurais, propi-ciando o cruzamento de informaçõesentre órgãos como Incra (InstitutoNacional de Colonização e ReformaAgrária), Ibama (Instituto Brasileirodo Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis), Receita Fe-deral, órgãos estaduais de terras ecartórios.

Uma das palestras foi dedicada aoCNIR (Cadastro Nacional de Imó-veis Rurais). O gerente de Regulari-zação e Cadastro da Diretoria Adjun-ta de Recursos Fundiários do Itesp,Adilson Haroldo Piveta, falou sobreo grupo de trabalho encarregado daestruturação do cadastro.

Esse sistema vai subsidiar projetosde desenvolvimento regional, dandosuporte a programas de fiscalização erecuperação ambiental, além de po-líticas de intervenção fundiária e re-gularização de áreas ocupadas porpequenos posseiros.

Regularização fundiária

Segundo Piveta, além do cadastrounificado de imóveis rurais, o proje-to prevê um amplo programa de re-gularização fundiária financiado peloBID (Banco Interamericano de De-senvolvimento). Serão repassadosrecursos da ordem de R$ 250 milhões,que, somados a igual contrapartidados Estados, totalizarão R$ 500 mi-lhões.

Na primeira etapa do programa,com duração prevista de cinco anos,

O trabalho do Itesp também foi destaque na palestra doprofessor Nicola Pacileo Neto, daEscola Politécnica da USP, sobrea rede geodésica do Estado de SãoPaulo. Ele falou sobre a Rede GPSItesp, que conta com 27 marcosgeodésicos nas regiões em que ainstituição atua. A rede foi im-plantada a partir da dissertação demestrado da analista de desenvol-vimento fundiário do Itesp Már-cia Cristina Marini.

Os marcos geodésicos orien-tam os receptores GPS, sigla eminglês para Sistema de Posiciona-mento Global. Por meio de sinaistransmitidos por satélites, essesreceptores podem determinar comprecisão a localização de qualquerponto na superfície da Terra. Atecnologia é utilizada principal-

Rede GPS Itesp é destaquemente nos trabalhos de regulari-zação fundiária executados pelaFundação Instituto de Terras.

O adensamento da rede geo-désica do Estado propiciado peloItesp já havia sido tema de repor-tagem da revista Fatos da Terranúmero 6, em setembro de 2001.Os marcos implantados a partirdo projeto de Márcia Cristina Ma-rini vão permitir levantamentoscom precisão milimétrica e pode-rão ser utilizados por outras insti-tuições.

Resta apenas a aprovação doIBGE (Instituto Brasileiro de Ge-ografia e Estatística) para que aRede GPS Itesp integre o SistemaGeodésico Brasileiro e possa serutilizada oficialmente para refe-renciar trabalhos geodésicos e to-pográficos no Estado.

serão cadastrados 2,2 milhões de imó-veis e regularizadas 600 mil posses.Na segunda fase, estão previstos ocadastro de 2,6 milhões de imóveis ea regularização de 700 mil posses. Ogrupo de trabalho conta com a parti-cipação do Itesp, representado pela

analista de desenvolvimento fundiá-rio Élcia Ferreira da Silva.

O I Ciclo de Palestras e Debatesfoi promovido pelo Itesp, Esalq e en-tidades de classe, com apoio do Incra,prefeitura de Piracicaba e Governodo Estado de São Paulo.

Um dos marcosgeodésicos

da Rede GPSItesp: precisão

milimétrica

Dodora TeixeiraE

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