revista eletrônica do mestrado em engenharia de petróleo e...

58
REVISTA ELETRÔNICA DO MESTRADO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO E GÁS Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-6681

Upload: duongdang

Post on 12-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e gás

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-6681

Page 2: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado em Petróleo e Gás / Universidade Potiguar/Mestrado Profissional em Engenharia de Petróleo e Gás. – v.1, n.2. (maio/out. 2013-) – Natal: Edunp, 2013. 56p.: il.

Versão eletrônica. ISSN 2316-6681

1. Petróleo e Gás. 2. Hidroquímica. 3. Lodo. 4. Riscos ] ambientais. 5. Biogás.

RN/UnP/BCSF CDU 665.62

Copyleft EdUnP Editora Universidade Potiguar - EdunpAV. Senador Salgado Filho, nº1610. Prédio I, 3º andar, Sala 306. Lagoa Nova. Natal/RN. CEP: 59056-000.Tel.: (84) 3215-1222 Fax: (84) 3215-1251E-mail: [email protected]

EDITORA AFILIADA À

Milton CamargoPresidente

Profª. Msc. Sâmela Soraya Gomes de OliveiraReitora

Profª. Sandra Amaral de AraújoPró-Reitora Acadêmica

Profª. Msc. Valéria CredidioDiretora da Escola de Comunicação e Artes

Profª. Msc. Catarina de Sena Matos PinheiroDiretora da Escola de Engenharias e Ciências Exatas

Prof. Dr. Carlos Enrique de M. Jeronimo, Universidade PotiguarE-mail: [email protected]

Prof. Dr. Francisco Wendell Bezerra LopesE-mail: [email protected] Adjunto

Jucilância Braga Lopes Tomé Hugo Jose Medeiros de OliveiraRevisores

Patrícia GalloAdriana EvangelistaIsabel Cristine M. CarvalhoEditora Universidade Potiguar – EDUnP

SISTEMA INTEGRADO DE BIBLIOTECAS DA UnP - SIB/UnPApoio

Page 3: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 3

Conselho EditorialProf. Dr. José Mairton Figueiredo de FrançaDoutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa CatarinaE-mail: [email protected] da Universidade Potiguar

Prof. Dr. Franklin Silva MendesDoutor em Química pela Universidade Federal do Rio Grande do NorteE-mail: [email protected] da Universidade Potiguar

Profª. Msc. Catarina de Sena Matos PinheiroMestre em Administração pela Universidade PotiguarE-mail: [email protected] da Universidade Potiguar

Prof. Msc. Marcílio Pelicano RibeiroMestre em Ciência e Engenharia de Petróleo pela Universidade Federal do Rio Grande do NorteE-mail: [email protected] da Universidade Potiguar

Prof. Msc. Marcos Ferreira de LimaMestre em Mestrado em Ciências de Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio Grande do NorteE-mail: [email protected] da Universidade Potiguar

Conselho ConsultivoProf. Dr. Carlson Pereira de SouzaDoutor em Engenharia Química pela Université Claude Bernard - Lyon 1 (França)E-mail: [email protected] da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Prof. Dr. Manoel Firmino de Medeiros JuniorDoutor em Elektrotechnik pela Technische Hochschule Darmstadt (Alemanha)E-mail: [email protected] da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Prof. Dr. Carlos Enrique de Medeiros JerônimoDoutor em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio Grande do NorteE-mail: [email protected] da Universidade Potiguar

Prof. Dr. Max Chianca Pimentel FilhoDoutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio Grande do NorteE-mail: [email protected] da Universidade Potiguar

Prof. Dr. Francisco Wendell Bezerra LopesDoutor em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte / Université du Sud Toulon Var (França)E-mail: [email protected] da Universidade Potiguar

Prof. Dr. Gilson Garcia da SilvaDoutor em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do NorteE-mail: [email protected] da Universidade Potiguar

Profª. Drª. Érica Natasche de Medeiros Gurgel PintoDoutora em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do NorteE-mail: [email protected] da Universidade Potiguar

Page 4: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado
Page 5: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 5

Editorial .................................................................................................................................... 5

aNaliSE da EStiMatiVa dE iNCErtEZa Na MEdiÇÃo da MaSSa ESPECiFiCa EMBiodiESEl ..................................................................................................................................... 9aNalYSiS oF EStiMatE oF UNCErtaiNtY iN MEaSUrEMENt oF dENSitY iN BiodiESElCAMILA GISELE DAMASCENO PEIXOT - REGINA CÉLIA DE OLIVEIRA BRASIL DELGADO - ANA CATARINA FERNANDES CORIOLANO ANTONIO SOUZA DE ARAUJO - CLÓVIS JOSÉ FERNANDES - VALTER JOSÉ FERNANDES JUNIOR - AMANDA DUARTE GONDIM

rEMoÇÃo dE FENol dE EFlUENtES dE rEFiNariaS dE PEtrólEo ..................................15PHENol rEMoVal oF WaStEWatEr FroM oil rEFiNErYNCLAERTE M. BARROS JÚNIOR - LUCIANI PAOLA R. CRUZ BARROS - GORETE R. MACEDO - WILLIBALDO SCHIMIDELL NETTO

aValiaÇÃo HidroQUiMiCa QUalitatiVa daS áGUaS do BaiXo rio NEGro ............. 23HYdroCHEMiStrY QUalitatiVE EValUatioN oF tHE WatErS oF loW rio NEGroLEANDRO A. PINHEIRO - JOSE TITO BORGES

EStUdo dE CaSo dE tEStES ECotoXiColoGiCoS CoM CEriodaPHNia dUBia Norio NEGro: iMPaCtoS doS EFlUENtES dE UMa rEFiNaria dE PEtrólEo ................... 33CaSE StUdY oF tEStS WitH ECotoXiColoGiCal CEriodaPHNia dUBia iN rio NEGro: iMPaCtS oF WaStEWatEr FroM aN oil rEFiNErYMARCELO FIDELIS MARQUES MENDES

a iMPortâNCia doS CoNVErSorES CatalítiCoS EM MotoCiCloS E VEíCUloSSiMilarES ...................................................................................................................................41tHE iMPortaNCE oF CatalYtiC CoNVErtErS iN SiMilar VEHiClES aNd MotorCYClESEDUARDO CAMPELO SOEIRO

PoStoS dE rEVENda dE CoMBUStíVEiS: QUaliFiCaÇÃo daS atiVidadES E aBiorrEMEdiaÇÃo Na rEParaÇÃo doS PaSSiVoS aMBiENtaiS .................................... 47rESalE oF GaS FUElS: QUaliFiCatioN oF aCtiVitiES aNd rEPair oF BiorEMEdiatioN iN ENViroNMENtal liaBilitiESALBERICO T. CANÁRIO DE SOUZA - RAPHAEL VARELA FLOR

SUMário

Page 6: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado
Page 7: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 7

É com satisfação que ao longo de 2013 a Revista Eletrônica de Petróleo e Gás da Universidade Poti-guar teve um crescimento progressivo na procura de pesquisadores para divulgação de trabalhos acadêmicos desenvolvidos na própria instituição e de outras universidades atuantes no segmento.

A presente edição, segunda da história do periódico, nasce com uma seleção de 14 trabalhos aca-dêmicos. Bem como, anuncia uma mudança da equipe editorial que passará a ser chefiada pelo Prof. Carlos Enrique de Medeiros Jerônimo, que a partir da terceira edição assina pelo editorial e coordenação das ações relativas ao periódico. A equipe agradece ao Prof. Max Chianca pela grande contribuição na fundação e estruturação da Revista.

Os seis trabalhos envolvem pesquisas relacionadas a estudos de riscos industriais,critérios de incertezas analíticas, gerenciamento ambiental em postos decombustíveis, ecotoxicidade de ambientes e qualidade de águas afetadas pelaindústria de petróleo e áreas correlatas. Os artigos publicados são:

1 - ANALISE DA ESTIMATIVA DE INCERTEZA NA MEDIÇÃO DA MASSA ESPECIFICA EM BIODIESEL.

2 - REMOÇÃO DE FENOL DE EFLUENTES DE REFINARIAS DE PETROLEO.

3 - AVALIAÇÃO HIDROQUIMICA QUALITATIVA DAS AGUAS DO BAIXO RIO NEGRO.

4 - ESTUDO DE CASO DE TESTES ECOTOXICOLOGICOS COM CERIODAPHNIA DUBIA NO RIO NEGRO:IMPACTOS DOS EFLUENTES DE UMA REFINARIA DE PETROLEO.

5 - A IMPORTANCIA DOS CONVERSORES CATALITICOS EM MOTOCICLOS E VEICULOS SIMILARES.

6 - POSTOS DE REVENDA DE COMBUSTIVEIS: QUALIFICAÇAO DAS ATIVIDADES E ABIORREMEDIAÇÃO NA REPARAÇÃO DOS PASSIVOS AMBIENTAIS.

A equipe da RUnPetro espera que tenham uma excelente leitura.

Francisco Wendell LopesCarlos Enrique de M. Jeronimo

Editores

Editorial

Page 8: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado
Page 9: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 9

aNáliSE da EStiMatiVa dE iNCErtEZa Na MEdiÇÃo da MaSSa ESPECíFiCa EM BiodiESEl

aNalYSiS oF EStiMatE oF UNCErtaiNtY iN MEaSUrEMENt oF dENSitY iN BiodiESEl

Camila Gisele DamasCeno PeixotGraduação em Tecnologia em Controle Ambiental pelo IFRN, Graduação em Química pela UFRN. Gerente da Qualidade do Laboratório de Combustíveis e Lubrificantes da UFRN. E-mail: [email protected]

ReGina Célia De oliveiRa BRasil DelGaDoMestrado em Geociências e Doutorado em Química pela UFRN. Professor da Universidade Potiguar-UnP. E-mail: [email protected]

ana CataRina FeRnanDes CoRiolanoDoutorado em Geologia - Geodinâmica e Geofísica pela UFRN, Especialização em Direito Público-Direito Ambiental pela FAL e ESMAT/RN e Pós-Doutorado no Instituto de Química da UFRN. Professora da Universidade Potiguar - UnP. E-mail: [email protected]

antonio souza De aRaujoMestrado em Química pela UFPB, Doutorado em Química pela USP, Pós-Doutoramento em Kent State University (Ohio, Estados Unidos). Professor Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]

Clóvis josé FeRnanDesGraduação em Administração, Especialização em Marketing e Mestrado em Administração pela UFRN.Pesquisador em projetos de combustíveis e consultor em sistemas da gestão da qualidade. E-mail: [email protected]

valteR josé FeRnanDes junioRQuímico pela UFRN, Doutor em Química Analítica pela USP. Professor titular do Instituto de Química e Pró-Reitor de Pesquisa da UFRN. E-mail: [email protected]

amanDa DuaRte GonDimMestrado em Química pela UFPB e Doutorado em Química pela UFRN). Pós-doutoranda em Química da UFRN e atua como pesquisador no Laboratório de Catálise e Petroquímica da UFRN. E-mail: [email protected]

Page 10: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

10 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

envio em: Março de 2013aceite em: Agosto de 2013

RESUMOA incerteza, ao se analisar o resultado de uma medição, pode ser caracterizada pela falta de conhecimento exato do valor do mensurando, sendo uma indicação quantitativa da qualidade do resultado. Elevar o grau de certeza nas medições faz com que aqueles que utilizam os resultados possam avaliar e creditar confiabilidade aos métodos utilizados. A massa específica é um indicador importante de qualidade para combustíveis automotivos e biocombustíveis, afetando estocagem, manuseio e combustão. Este ensaio é executado de acordo com a norma ABNT NBR 7148, a qual tem sido aplicada para ensaios em biodiesel. O trabalho proposto apresenta o procedimento para avaliação da incerteza relacionada à determinação da massa específica em biodiesel pelo método do densímetro. Observou-se que o componente de incerteza dominante é o relacionado à repetitividade das medições.

Palavras-Chave: Incerteza de medição. Massa específica. Densímetro. Qualidade de combustíveis.

ABSTRACTThe uncertainty in analyzing the result of a measurement can be characterized by a lack of accurate knowledge of the value of the measurand, being a quantitative indication of the quality of the result. Raise the level of certainty in the measurements makes those who use the results to assess the reliability and crediting methods. The density is an important indicator of quality for automotive fuels and biofuels, affecting storage, handling and combustion. This test is performed in accordance with ABNT NBR 7148, which has been applied for testing biodiesel. The proposed work shows the procedure for evaluation of the uncertainty related to the determination of the specific mass in biodiesel by hydrometer method. It was observed that the repeatability is the dominant uncertainty component.

Keywords: Measurement uncertainty. Density. Hydrometer. Fuel quality.

Page 11: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 11

1 iNtrodUÇÃo

A incerteza do resultado é uma indicação quantita-tiva da qualidade do mesmo, de forma tal que aqueles que o utilizam possam avaliar sua confiabilidade. Para a sua avaliação, foi utilizado como referência o Guia para Expressão da Incerteza de Medição (INMETRO, 2003). A incerteza de medição é um parâmetro não negativo as-sociado ao resultado de uma medição que caracteriza a dispersão dos valores atribuídos a um mensurando (IN-METRO, 2012) e deve ser entendida como uma ferramen-ta para o aprimoramento de sistemas de medição.

O biodiesel é, quimicamente, definido como ésteres alquílicos de óleos vegetais e ou gordura animal, cuja utilização está associada à substituição de combustíveis fósseis em motores de ignição por compressão interna (TORRES, 2000; FERRARI et al., 2005; EVANGELISTA et al., 2012). Esse produto pode ser obtido através de uma re-ação de transesterificação de triglicerídeos, oriundos de óleos e ou gorduras vegetais ou animais, com um álcool de cadeia pequena, resultando em alquil éster e glicerol como amplamente já se tem sido reproduzido (KNOTHE et al.,2006; ALVES, et al. 2012; CORIOLANO, et al. 2012).

Comparados ao óleo diesel, os biocombustíveis oriun-dos de óleos vegetais apresentam menor calor de com-bustão e índice de cetano similar. A viscosidade, que é a medida da resistência interna ao escoamento de um lí-quido, constitui outra propriedade intrínseca dos óleos vegetais. É de considerável influência no mecanismo de atomização do jato de combustível, ou seja, no funciona-mento do sistema de injeção. Essa propriedade também se reflete no processo de combustão, de cuja eficiência dependerá a potência máxima desenvolvida pelo motor (LUKAS; ANDERSON, 1998).

A participação do biodiesel na matriz energética nacional tornou-se mais importante com a aprovação da Lei nº 11.097 de 2005, ficando introduzido o biodie-sel na matriz energética brasileira, sendo fixado em 5% (cinco por cento), em volume, o percentual mínimo obrigatório de adição de biodiesel ao óleo diesel co-mercializado ao consumidor final, em qualquer parte do território nacional. Como prevê a referida Lei, o pra-zo para aplicação dos 5% é de 8 (oito) anos após 2005 (data da publicação da Lei), sendo de 3 (três) anos o período, após a publicação, para se utilizar um percen-tual mínimo obrigatório intermediário de 2% (dois por cento), em volume. Atualmente, já se aplica o percen-tual de 5% de biodiesel no diesel, consolidando a par-ticipação do biodiesel na matriz energética brasileira.

Assim, tornam-se importantes diversos ensaios que venham a atestar sua conformidade com a legislação vi-gente, para garantir uma melhor qualidade do material a ser utilizado pelo consumidor e, consequentemente, tra-

zer benefícios ambientais que venham minimizar danos causados ao meio ambiente.

O desenvolvimento de um método analítico, a adap-tação ou a implementação de método conhecido envol-ve processo de avaliação que estime sua eficiência na ro-tina do laboratório. Determinado método é considerado validado se suas características estiverem de acordo com os pré-requisitos estabelecidos. O objetivo da validação consiste em demonstrar que o método analítico é ade-quado para o seu propósito (WALSH, 1999).

A precisão do método é o grau de concordância entre resultados de medidas independentes em torno de um valor central, efetuadas várias vezes em uma amostra ho-mogênea, sob condições pré-estabelecidas. A precisão é expressa em termos de desvio padrão e desvio padrão relativo (STUBBERUD; ASTROM, 1998), e pode ser consi-derada no nível de repetitividade e de reprodutibilidade (VALIDATION, 1995).

O ensaio da massa específica é um indicador impor-tante de qualidade para biodiesel, sendo executado de acordo com a norma ABNT NBR 7148, pelo método do densímetro de vidro. Foram realizados testes de repetiti-vidade e reprodutibilidade, envolvendo etapas específi-cas descritas no decorrer do trabalho.

2 MatEriaiS E MÉtodoS

O cálculo da incerteza de medição realizado neste tra-balho foi proveniente da análise da massa específica em biodiesel, utilizando como parâmetro de análise método do densímetro de vidro. A amostra de biodiesel utilizada foi proveniente da coleta realizada, periodicamente, pelo Programa de Monitoramento da Qualidade dos Com-bustíveis do Rio Grande do Norte, através de contrato firmado entre a ANP e a Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (FUNPEC/UFRN), com interveniência da UFRN, respeitado o processo público licitatório.

Para a medição, foi utilizado um densímetro calibrado com faixa de 0,800 – 0,900 g/cm3, e termômetro também calibrado. O ensaio para determinar a massa específi-ca do biodiesel foi realizado tendo como base a norma ABNT NBR 7148. Os estudos de repetitividade e reprodu-tibilidade foram realizados com 04 analistas, realizando 10 medições cada um.

O processo de estimativa utilizado envolveu 3 etapas, quais foram:

a) identificação das fontes de incerteza (diagrama de Ishikawa);b) quantificação das fontes de incerteza e,c) cálculo da incerteza de medição expandida associada a um fator de abrangência.

Page 12: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

12 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

A estimativa da incerteza foi calculada em uma pla-nilha com uma sequência de comandos e funções utili-zando o Microsoft EXCEL e, em seguida, feita a validação.

ETAPA I - Identificação das fontes de incerteza

Para o cálculo da incerteza na determinação da massa específica do biodiesel pelo método do densímetro, fo-ram consideradas dez fontes de erros ou fontes de incer-tezas. Estas fontes podem ser melhor observadas através do diagrama de Ishikawa (figura 1), no qual, estão correla-cionadas as contribuições para a incerteza final.

TermômetroDensímetro

Método Pessoal

CalibraçãoCalibração

Arredon

Resolução

Arredondamento da Temperatura

Arredondamento da Massa Específica

Repetitividade Reprodutibilidade

Resolução

Deriva

Calibração

Figura 1. Diagrama de Ishikawa (Correlação Causa – Efeito).

ETAPA II - Quantificação das fontes de incerteza

Para cada fonte de incerteza, foram atribuídos um va-lor, um divisor, um coeficiente de sensibilidade e os graus de liberdade. O cálculo da incerteza padrão para cada fonte foi determinado pela equação 1:

(1)

Em que: ui é a incerteza padrão da componente de incerteza “i”; Valori é a estimativa da componente de incerteza; Divisori é o valor atribuído conforme a distribuição de probabilidade assumida, ou fator de abrangência corres-pondente; e ci é o coeficiente de sensibilidade.Os divisores dependem, diretamente, da distribuição de probabilidades assumidas, conforme a tabela 1

u = ValoriDivisori

i * ci

Distribuição de Probabilidades Divisores

Normal (aprox. 68%)

Normal (aprox. 95%)

Normal (aprox. 99%)

Retangular

Triangular

Probabilidade U

1

2

3

3

6

2

* A distribuição normal tem esses valores de divisor somente quando possui infinitos graus de liberdade.

ETAPA III - Cálculo da Incerteza de Medição ExpandidaConsiderando que as várias incertezas padrão (ui) ob-

tidas na etapa II são estatisticamente independentes, ou seja, são variáveis não correlacionadas, a incerteza pa-

Page 13: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 13

drão combinada (uc) é obtida pela raiz quadrada positiva da soma quadrática das várias incertezas padrão (ui). A equação matemática é:

(2)

Os graus de liberdade efetivos são calculados a partir da equação 3:

(3)

Em que:uc é a incerteza padrão combinada;ui é a incerteza padrão de cada uma das componentes

de incerteza; evi são graus de liberdade de cada uma das componen-

tes de incerteza.A determinação do fator de abrangência foi realizada

em planilha Excel, através da função inversa de T, consi-derando probabilidade de 95,45% e o número de graus de liberdade efetivos (veff) calculados anteriormente. Por último, calculou-se a incerteza de medição expandida para o ensaio, através da equação 4:

(4)

Em que:uc é a incerteza padrão combinada, encontrada no

processo; ek é o fator de abrangência determinado.

3 rESUltadoS E diSCUSSÕES

Aplicando as equações de 1 a 4, os valores das incer-tezas padrão, incerteza padrão combinada, incerteza de medição expandida e o fator de abrangência foram cal-culados. A tabela 2 mostra todos os resultados referentes ao cálculo da incerteza de medição para o ensaio de mas-sa específica pelo método do densímetro em biodiesel.

u =c u + uuu + ... +

+ ... + 2122 2i

2n

ve ff = u 4c

ni = 1

u4i

vi

U95 = k . uc

Fonte Valori Divisori ci ui (g/cm3)

Calibração do densímetro 0,0005 g/cm3 3 1,00 0,000289

Deriva do densímetro 0,0005 g/cm3 3 1,00 0,000289

Resolução do densímetro 0,0005 g/cm3 3 1,00 0,000289

Calibração do termômetro 0,31 °C 2,00 0,0006 g/cm3 °C 0,000093

Deriva do termômetro 0,31 °C 0,0006 g/cm3 °C 0,000107

Resolução do termômetro 0,05 °C 0,0006 g/cm3 °C 0,000017

Arredondamento da temperatura 0,2 °C 0,0006 g/cm3 °C 0,000069

Arredondamento da tabela 0,0005 g/cm3 1,00 0,000289

Repetitividade 0,0003 g/cm3 1,00 0,000300

Reprodutibilidade 0,0002 g/cm3 1,00 0,000200

Incerteza de Medição Expandida

Incerteza Distribuição Incerteza

Incerteza Padrão Combinada (uc) Normal 0,0007 g/cm3

Incerteza de Medição Expandida (U95) Normal 0,001 g/cm3 (95%; k = 2,02; veff = 167)

Tabela 2. Resultados do Cálculo da Incerteza de Medição Expandida da Massa Específica pelo método do densímetro de vidro utilizando amostra de biodiesel.

A planilha de cálculo de incerteza mostrou-se bas-tante eficiente do ponto de vista técnico e operacional, sendo implementado com sucesso para o procedimento

descrito. O componente de incerteza dominante é o re-lacionado à repetitividade.

Page 14: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

14 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

4 CoNSidEraÇÕES FiNaiS

Analisando a planilha da estimativa da incerteza do ensaio de Determinação da Massa Específica em Biodie-sel, conclui-se que o fator preponderante da incerteza de medição desse ensaio é a incerteza proveniente da repe-titividade. Consequentemente, fica evidenciada a neces-sidade de treinamento e revisão do procedimento junto aos analistas, uma vez que são responsáveis diretos por essa fonte. Além disso, recomenda-se a adoção de uma

rotina de trabalho que evite desvios quanto ao procedi-mento analítico.

5 aGradECiMENtoS

Os autores agradecem ao Laboratório de Combustí-veis e Lubrificantes da Universidade Federal do Rio Gran-de do Norte (LCL-UFRN), por disponibilizar os dados das análises realizadas neste laboratório, CNPq, Fundação CERTI e FUNPEC.

rEFErÊNCiaS

ALVES, A. A. et al. Application of layered double hydroxides for transesterification of sunflower oil. In:VIII CONGRESSO BRASILEIRO E III PAN-AMERICANO DE ANÁLISE TÉRMICA E CALORIMETRIA, 2012, CAMPOS DO JORDÃO-SP. Anais do VIII CBRATEC, 2012. Disponível em: <http://abratec.com.br/>

AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS (ANP). Resolução nº. 14, de 11 de maio de 2012. Regulamento Técnico n.° 04, 2012. Diário Oficial da União, Brasília, 14 de maio de 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7148: Petróleo e produtos de petróleo – Determinação da massa específica, densidade relativa e °API – Método do densímetro. Rio de Janeiro (2001).

CORIOLANO, A. C. F. et al. Determination of thermal and oxidation stability of sunflower methanolic biodiesel and blens of diesel/biodiesel. Congresso Brasileiro e III Congresso Pan-Americano de Análise Térmica e Calorimetria, 8, 2012, Campos do Jordão-SP. Anais do VIII CBRATEC, 2012. Disponível em: <http://abratec.com.br/>.

EVANGELISTA, J. P. C. et al. Synthesis of alumina impregnated with potassium iodide catalyst for biodiesel production from rice bran oil. Fuel Processing Technology, v. 104, p. 90-95, 2012.

FERRARI, A. R.; OLIVEIRA, V. S.; SEABIO, A.; Química Nova, v.28, n.1, p. 19-23, 2005.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL (INMETRO). Guia para a Expressão da Incerteza de Medição, 3 ed., Rio de Janeiro, 2003.

______. Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM): Conceitos Fundamentais e Gerais e Termos Associados (VIM 2012). Edição Luso-Brasileira, 2012.

KNOTHE, G.; GERPEN, J. V.; KRAHL, J.; RAMOS, L. P. Manual de Biodiesel. 1 Ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2006.

LUKAS, M.; ANDERSON, D. P.; Lubrication Engineering, v.54, n.11, 1998, 19.

STUBBERUD, K. P.; ASTROM, O. Separation of ibuprofen, codeine phosphate, their degradation products and impurities by capillary electrophoresis: II Validation. J. Chromatogr. A., v. 826, p. 95-102, 1998.

TORRES, E. A. Avaliação de um motor ciclo diesel operando com óleo de dendê para suprimento energético em comunidades rurais. Encontro de Energia no meio Rural, 3, Centro de convenções UNICAMP, Campinas-SP, 6p. 12 a 15 de setembro de 2000.

VALIDATION of analytical procedures: metodology. London: ICH, 1996. 9 p. (ICH Harmonised Tripartite Guideline). CPMP/ICH/281/95.

WALSH, M. C. Moving from official to traceable methods. Trends in Analytical Chemistry, v.18, p.616-623, 1999.

Page 15: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 15

rEMoÇÃo dE FENol dE EFlUENtES dE rEFiNariaS dE PEtrólEo

PHENol rEMoVal oF WaStEWatEr FroM oil rEFiNErY

laeRte m. BaRRos júnioRDoutorado em Eng. Quimica. PETROBRÁS. E-mail: [email protected]

luCiani Paola R. CRuz BaRRosEng. Quimica. UFRN. E-mail: [email protected]

GoRete R. maCeDoDoutorado em Eng. Quimica. PETROBRÁS. E-mail: [email protected]

WilliBalDo sChimiDell nettoEng. Quimica. UFRN. E-mail: [email protected]

Page 16: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

16 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

envio em: Julho de 2013aceite em: Agosto de 2013

RESUMOA remoção de compostos orgânicos refratários aos processos biológicos tradicionais, presentes em efluentes de refinarias de petróleo, tem sido considerada um desafio para a indústria de petróleo, em virtude da demanda considerável de oxigênio no corpo receptor e a toxicidade à vida aquática. A respirometria, ou seja, a determinação da velocidade de respiração de uma biomassa ativa constitui-se em metodologia bastante adequada para a quantificação de atividade biológica aeróbia. No presente trabalho, propõe-se a utilização da respirometria para avaliar o efeito de inibição do fenol na capacidade de oxidação de um determinado lodo. O estudo da remoção de fenol empregando tratamento biológico e fotoquímico-biológico também foi objetivo deste trabalho. A respirometria foi realizada em ensaios conduzidos com efluente sintético, utilizando-se como inóculo lodo proveniente um sistema de tratamento biológico de resíduos de uma Refinaria de Petróleo. Os ensaios de degradação do fenol foram realizados em um sistema de lodos ativados e em um reator fotoquímico. Os resultados mostraram que o processo fotoquímico – biológico foi o mais eficiente na degradação do fenol, mostrando o potencial da utilização do tratamento combinado, fotoquímico – biológico, em relação ao processo biológico. A caracterização de biomassas utilizando a metodologia de respirometria mostrou que esta é uma ferramenta extremamente útil na avaliação da toxicidade do fenol ao tratamento biológico.

Palavras-chave: Tratamento Biológico. Fenol. Fotoquímico – Biológico. Respirometria.

ABSTRACTThe removal of organic refractory to traditional biological processes present in effluents of oil refineries has been considered a challenge to the oil industry because the considerable demand for oxygen in the receiving body and toxicity to aquatic life. The respirometry, namely the determination of the respiratory rate of a biomass is active in quite adequate methodology for quantification of biological aerobic activity. In this work, we propose the use of respirometry to evaluate the inhibition effect of phenol on the capacity of oxidation of a particular sludge. The study of phenol removal using biological treatment and photochemical-biological cases seems to be as usual. The respirometry was performed in tests conducted with synthetic wastewater using as inoculum sludge from a system of biological waste treatment of an oil refinery. The phenol degradation tests were performed in an activated sludge system and a photochemical reactor. The results showed that the chemical process was the most efficient biological degradation of phenol, demonstrating the potential of using the combined treatment, photochemical and biological cases, for the biological process. The characterization of biomass using respirometric method showed that this is an extremely useful tool in evaluating the toxicity of phenol to the biological treatment.

Keywords : Biological Treatment. Phenol. Photochemical - Biological. Respirometry.

Page 17: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 17

1 iNtrodUÇÃo

No decorrer deste século, vários tipos de tratamento de efluentes industriais foram desenvolvidos e aperfei-çoados, com a finalidade de atenuar a poluição causada pelo lançamento de águas residuárias industriais em cor-pos d’água receptores. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, os efluentes provenientes de indústrias vêm sofrendo constantes alterações em suas composições, através da inclusão de grande número de compostos quí-micos utilizados ou gerados na linha de processamento industrial (COSTA, 1999).

Sendo um dos setores industriais para o qual o enqua-dramento às normas ambientais se torna mais urgente, o processamento do petróleo tem, nos seus sistemas pro-dutivos, vários processos em que as correntes de efluen-tes hídricos contêm altas quantidades de compostos tó-xicos, as quais provocam danos claros ao meio ambiente. Devem-se buscar formas de reduzir a presença dessas substâncias nos efluentes da indústria de petróleo ou de-senvolver processos que permitam uma segura destrui-ção dessas moléculas nesses efluentes.

A respirometria, ou seja, a determinação da velocida-de de respiração de uma biomassa ativa constitui meto-dologia bastante adequada à quantificação da atividade biológica aeróbia, em particular na caracterização ciné-tica de uma cultura mista. Dados respirométricos têm sido utilizados, com sucesso, por diversos pesquisadores (ELLIS et al., 1996; SHISHIDO; TODA, 1996; WATANABE et al., 1996).

O presente trabalho tem por objetivo avaliar os parâ-metros dos modelos cinéticos de Monod e de Andrews (Equações 1 e 2, respectivamente), aplicados ao consumo de substrato, quantificando as possíveis mudanças que ocorrem na atividade de diferentes biomassas, através da medida da velocidade específica de consumo de oxigênio.

(2)

Também é objetivo deste trabalho avaliar o desempe-nho do processo biológico, com lodo não adaptado, com relação ao processo combinado: pré-tratamento fotoquí-mico com posterior tratamento biológico, para remoção de fenol presente em efluentes industriais.

O processo fotoquímico é aplicado como um processo de pré-tratamento para diminuir a toxicidade do efluente para posterior tratamento biológico. O processo foto-Fen-ton pode ser descrito como uma combinação de H2O2 com íons Fe2+, em presença de radiação UV. A primeira etapa do processo consiste na reação de Fenton (1). Os íons Fe3+ sofrem fotólise (2), pela ação da radiação UV, reduzindo-se ao seu número de oxidação inicial, os quais reagem, no-vamente, com o H2O2, conforme a reação 1, promovendo uma contínua fonte de radicais hidroxila. Os radicais hi-droxila formados reagem com as espécies orgânicas pre-sentes no meio (RH), promovendo a oxidação das mesmas (3), gerando substâncias menos tóxicas que possam ser degradadas por processos biológicos, que são as formas de tratamento mais baratas para remoção de compostos orgânicos.

Fe2+aq+ H2O2 g Fe3+

aq + OH- + OH• (1)

(2)

OH• + RH g H2O + R• (3)

2 MEtodoloGia

2.1 MiCrorGaNiSMo E MEio

O material biológico foi coletado de um Sistema de Lo-dos Ativados pertencente a uma Refinaria de Petróleo. O meio sintético básico que foi utilizado nesses experimen-tos está descrito na tabela 1 (XIONG et al., 1998).

SKSQOQO

S += max22

•+++ ++→+ OH H Fe OH Fe aq2h

2aq3 ν

KiSKsS

SQOQO 2max22

++=

Compostos Concentração (mg/L)

MgSO4. 7H2O 41,7

KH2PO4b 25.3

MnSO4 53,0

CaCl2 28,3

Tabela 1 - Meio sintético básico.

Page 18: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

18 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

2.2 rESPiroMEtria

Um erlenmeyer de 1 L foi adaptado para permitir a entrada de um eletrodo de pH e um eletrodo para a medida da concentração de oxigênio dissolvido e

temperatura. Esse erlenmeyer foi colocado sobre um agitador magnético com aquecimento, de forma a permitir trabalhar sob frequência de agitação de 300 rpm, temperatura de 30ºC e pH=7,0, conforme mos-trado na figura 1.

Figura 1 - Sistema experimental utilizado nos ensaios de respirometria.

Agitador e aquecedor

Pedra

Barra

Bomba

Medidor depHMedidor de Oxigênio

Tomou-se cerca de 1 Litro da suspensão de lodo, per-mitia-se a decantação dos sólidos e retirava-se o líquido sobrenadante. A seguir, esses sólidos foram suspensos em água destilada, a fim de eliminar a influência de subs-tâncias presentes no lodo, sendo essa operação repeti-da até se ter uma DQO nula. Suspendiam-se os sólidos lavados na solução de nutrientes (Tabela 1), de forma a se ter 1 L de suspensão, a qual era transferida para o er-lenmeyer. A suspensão foi aerada até próximo da satura-ção (7 mg O2/L), quando, então, eliminava-se a aeração, anotando a queda da concentração de oxigênio dissol-vido em função do tempo. O valor obtido chamou-se de respiração endógena, a qual foi subtraída de todos os valores obtidos posteriormente. Após a reaeração, efetuava-se um pulso com solução, contendo fenol e/ou glicose como fonte de carbono, permitindo-se 2 minutos de homogeneização, tomava-se amostra para dosagem, eliminava-se a aeração e determinava-se, novamente, a queda da concentração de oxigênio dissolvido. Esses pul-sos e o restante do procedimento foram repetidos até a concentração máxima ensaiada.

Nos ensaios cinéticos com o fenol, a glicose foi adicio-nada em uma faixa de concentração em que se imagina não existir variação significativa nos valores de QO2 devi-do à adição de glicose (BARROS JÚNIOR, 2004). A concen-tração de glicose adicionada variou de 200 a 4000 mg/L.

Os parâmetros cinéticos dos modelos de Andrews e Monod foram obtidos, utilizando o software STATISTICA 6.0, que possibilitou realizar a regressão não linear dos da-dos experimentais, pelo método iterativo Quasi-Newton.

2.3 dESCriÇÃo doS SiStEMaS

2.3.1 ProCESSo FotoQUíMiCo

O reator fotoquímico (figura 2) empregado é anular, com um volume líquido de 1 L. Uma potência média da lâmpada de vapor de mercúrio de 550W foi utilizada como fonte de luz. Uma jaqueta de vidro de borossilicato foi utilizada para recircular água, com a finalidade de res-friar a lâmpada. O reator fotoquímico foi conectado a um tanque de recirculação, com um volume de 1,5 L. Uma bomba centrífuga foi usada para recircular o meio reacio-nal, a uma vazão de cerca de 1,5 mL/min. A temperatura do tanque foi controlada por um banho termostático a 30oC, recirculando água na jaqueta. A bomba peristáltica foi usada para adicionar uma solução de peróxido de hi-drogênio no sistema a uma vazão fixa e desejada.

A solução sintética de fenol com diferentes concentra-ções (60 e 1000 mg/L) foi colocada no tanque de recircu-lação. O pH da solução foi ajustado para 3, pela adição de pequenas quantidades de ácido sulfúrico concentrado (H2SO4). A reação iniciou pela adição simultânea das solu-ções de FeSO4.7H2O (1mM) e H2O2 (100mM).

Duas amostras de 5 mL cada foram retiradas uma vez por dia e adicionado um agente inibidor em cada uma delas. Esse procedimento foi realizado para interromper uma possível degradação residual. Após a adição do ini-bidor, a amostra foi filtrada (0,22 μm Durapore membra-ne, Millipore) para remover íons ferro precipitados.

Page 19: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 19

Tanque derecirculação

Bomba derecirculação

Bomba deperistáltica

ReatorFotoquímico

Peroxido deHidrogênio

Lâmpada UVAgitador

Termômetro

Figura 2 - Reator fotoquímico.

2.3.2 ProCESSo BiolóGiCo

Um sistema de lodo ativado (figura 3), operando de modo contínuo, consistindo de um tanque aerado com um volume de 5 L conectado a um decantador de 3 L foi utilizado durante todo o período experimental. Uma bomba peristáltica foi utilizada para alimentação do rea-

tor e recirculação do lodo do decantador para o tanque aerado, caracterizando uma recirculação de 1:1. Ar foi for-necido através de pedras porosas do tipo utilizado em aquários. O afluente consistia de uma solução sintética de fenol. Um lodo não adaptado, cedido por uma Refinaria de Petróleo, foi utilizado como inóculo para o sistema de lodos ativados, conforme mencionado anteriormente.

Figura 3 - Sistema de lodo ativado.

2.4 dEtErMiNaÇÕES aNalítiCaS

O fenol foi determinado por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (APHA, 1992). A glicose foi determina-da pelo método que emprega do ácido dinitrossalicílico (DNS) (LIMA; LOBATO, 2003), efetuando-se a leitura em espectrofotômetro a 600 nm.

A concentração celular nas suspensões foi determina-da por massa seca, através de filtração em papel de filtro

e secagem em estufa a 105ºC, seguida de tratamento em mufla a 550ºC por 60 minutos.

3 rESUltadoS E diSCUSSÃo

3.1 ENSaioS CiNÉtiCoS CoM FENol

Estes experimentos foram realizados com o objetivo de determinar a toxicidade do fenol na presença de glicose

Page 20: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

20 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

para o lodo biológico não adaptado à presença de fenol.O efeito da concentração de fenol na velocidade de

respiração foi avaliado através de testes cinéticos por

respirometria. Na figura 4, encontram-se os dados expe-rimentais obtidos, assim como os ajustes do modelo de Andrews.

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

01 02 03 04 05 06 07 08 09 01 00 110

Fenol (mg/L)

QO

2 (m

gO2/

gSSV

min

) Experimentais

Andrews

Figura 4 - Resultado dos ensaios cinéticos obtidos pelos ensaios de respirometria e ajuste dos pontos experimentais ao modelo de Andrews.

Os resultados obtidos mostraram que o modelo de Andrews foi capaz de ajustar os dados experi-mentais de todos os ensaios com grande eficiência.

A tabela 2 mostra os parâmetros estimados pelo Modelo de Andrews nos ensaios cinéticos com o fenol.

Tabela 1 - Meio sintético básico.

Figura 5 - Inibição da biomassa em função da concentração de fenol e ajuste dos dados experimentais ao modelo de Monod.

Lodo QO2max(mg O2 g SSV-1. min-1) Ks (mg. L-1) Ki (mg. L-1) R2

Industrial 0,091 a 171,56 0,97a Os valores obtidos foram negativos, o que apenas tem significado para o ajuste do

modelo, mas não para se tentar entender o fenômeno.

Os resultados dos ensaios cinéticos de degradação do fe-nol mostram que o lodo foi inibido pela presença do compos-to tóxico, isto pode ser observado pelo baixo valor da cons-tante de inibição obtida nestes experimentos (Ki = 171,56).

Os parâmetros cinéticos de biodegradação do fenol obtidos neste trabalho [QO2max*X (0,172 ± 0,016) mgO2/L.min e Ks = (-3,2 ± 2,22 mg/L)] ficaram abaixo dos valores obtidos por Orupõld et al. (2001) [QO2max*X = (1,59 ± 0,37) mgO2/L.min e Ks = (0,78 – 1,59 mg/L)]. A diferença nos

valores dos parâmetros cinéticos obtidos neste trabalho, comparando com a literatura, deve-se às consideráveis diferenças existentes no metabolismo das diferentes bio-massas estudadas nos diferentes trabalhos.

A figura 5 mostra a porcentagem de inibição da bio-massa heterotrófica, em relação ao valor máximo obtido de QO2 dos experimentos de respirometria, em função da concentração de fenol utilizada, bem como o ajuste dos dados experimentais ao modelo de Monod.

0

10

20

30

40

50

60

70

02 04 06 08 01 00 120

Fenol (mg/L)

Inib

ição

(%)

Experimentais

Monod

Page 21: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 21

De acordo com os resultados obtidos, pode-se per-ceber que, com o aumento da concentração de fenol, a biomassa diminuiu a sua atividade metabólica, devido ao efeito tóxico da presença de fenol aplicado a um lodo não adaptado. Para uma concentração de fenol de 60 mg/L, foi observado uma inibição de, aproximadamente, 50% da capacidade de degradação do lodo.

3.2 ENSaioS dE dEGradaÇÃo do FENol

3.2.1 ProCESSo BiolóGiCo

A figura 6 apresenta a eficiência de remoção de fenol em função do período estudado. Nesses experimentos, foi aplicada uma vazão mássica (m) de 0,13 g de fenol/dia.

0

50

100

150

200

250

300

12345 6 789

Tempo (dias)

DQ

O (m

g/L)

20

25

30

35

40

45

50

Efic

iênc

ia d

e re

moç

ão d

a D

QO

(%

)Afluente

Efluente

Figura 6 - DQO afluente e efluente ao tanque de aeração e eficiência de remoção da DQO para o sistema de lodo ativado.

Os resultados obtidos mostram que a degrada-ção biológica de fenol utilizando um lodo não adap-tado apresentou um baixo rendimento. A eficiência máxima de remoção da DQO (Emax) foi de 49,61%, o que demonstra o efeito tóxico da utilização de 0,13 g de fenol/dia aplicado a um lodo não adaptado. No entanto, pode-se verificar que, até o quinto dia de operação, a eliminação do fenol foi realmente muito baixa. Porém, a partir deste dia, que corresponde a

uma DQO afluente de 272, 15 mg/L, a eficiência de remoção passou a ser ampliada, o que permite ima-ginar a possibilidade de alguma adaptação do lodo à presença do fenol.

3.2.2 ProCESSo FotoQUíMiCo – BiolóGiCo

A figura 7 apresenta a variação da eficiência de remo-ção do fenol em função do tipo de processo utilizado.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Fotoquímico + BiológicoB iológico

Tratamento

Efici

ênci

a de

Rem

oção

do

Feno

l (%

)

0,13 g fenol/dia 2,17 g fenol/dia

Figura 7 - Variação da eficiência de remoção do fenol em função do tipo de processo utilizado.

Page 22: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

22 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

Os resultados obtidos mostram que a utilização do processo combinado fotoquímico – biológico forneceu elevadas eficiências de degradação do fenol. Para uma vazão mássica de 0,13 gfenol/dia, o processo fotoquími-co-biológico foi responsável pela remoção de 95,63% do fenol utilizado inicialmente. Para uma vazão mássica de 2,17 gfenol/dia, o processo fotoquímico-biológico foi responsável pela remoção de 80,31% do fenol utilizado inicialmente.

4 CoNSidEraÇÕES FiNaiS

Ensaios em batelada são importantes ferramentas para a obtenção de valores cinéticos, tanto para compa-rar a atividade de um determinado lodo com as descritas pela literatura, quanto para descrever o seu potencial em realizar um determinado processo.

Os ensaios cinéticos de inibição pelo fenol mostraram que o lodo foi inibido pela presença de concentrações crescentes de fenol, chegando a 50% de inibição para concentração de fenol de cerca de 60 mg/L.

A caracterização de diferentes tipos de biomassas utilizando a metodologia de respirometria, empregada neste trabalho, mostra que esta é uma ferramenta ex-

tremamente útil, pois possibilita o emprego de modelos cinéticos que incluem o fenômeno de inibição, que reve-lam diferenças bastante significativas, que outros mode-los não seriam capazes de prever. É possível, dessa forma, efetuar a seleção de lodos para o start-up de instalações, através de ensaios simples e rápidos, os quais permitem predizer o comportamento futuro, pelo menos no início da operação.

Em relação aos ensaios de degradação de fenol, os re-sultados mostraram que o processo biológico utilizando um lodo não adaptado apresentou baixa eficiência na remoção do fenol, enquanto o processo combinado fo-toquímico – biológico apresentou elevada eficiência na degradação de fenol para as diferentes concentrações iniciais estudadas nesta etapa do trabalho. Dessa forma, entre estas duas estratégias adotadas, a combinação dos dois processos, fotoquímico e biológico, apresen-tou maior potencial para remoção de fenol presente em efluentes industriais.

5 aGradECiMENtoS

Os autores agradecem à Agência Nacional de Petróleo (ANP), pela bolsa concedida para a realização do trabalho.

rEFErÊNCiaS

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (APHA). Standard methods for examination of water and wastewater, 18 ed. Washington D.C., 1992.

BARROS JÚNIOR, L. M. et al. Determinação da Cinética de Inibição de Compostos Orgânicos Recalcitrantes por Respirometria. Congresso Brasileiro de Engenharia Química, 15, Curitiba, 2004.

COSTA, A. J. M. P. Estudo de tratabilidade de água residuária sintética simulando despejo líquido de coquerias. 1999. 207f. Tese (Doutorado em Engenharia)- Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária, Universidade de São Paulo. São Paulo.

ELLIS, T.G.; BARBEAU, D.S.; SMETS, B.F.; GRADY, C.P.L. Respirometric technique for determination of extant kinetic parameters describing biodegradation. Water Environmental Research, v. 68, n. 5, p. 917-926, 1996.

LIMA LOBATO, A. K. C. Estudo da Produção de Biosurfactantes por Microrganismos Isolados de Poços de Petróleo. 2003. Dissertação (Mestradoem Engenharia Química)- UFRN, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, Área de Atuação: Engenharia Bioquímica, Petróleo, Biotecnologia, Natal/RN – Brasil, 2003.

ORUPÕLD, K.; MASIRIN, A.; TENNO, T. Estimation of biodegration parameters of phenolic compounds on activated sludge by Respirometry. Chemosphere, v. 44, p. 1273-1280, 2001.

SHISHIDO, M.; TODA, M. Apparent zero-order kinetics of phenol biodegradation by substrate-inhibited microbes at low substrate concentrations. Biotechnol. Bioeng. v.50, p. 709-717, 1996.

WATANABE, K. et al. Diversity in kinetics of bacterial phenol-oxygenating activity. J. Ferment. Bioeng. v. 81, n. 6, p. 560-563, 1996.

XIONG, X., HIRATA, M., TAKANASHI, H., LEE, M., HANO, T. Analysis of acclimation behavior against nitrification inhibitors in Activated Sludge Process. Journal of Fermentation on Bioengineering, v. 86, n. 2, p. 207-214, 1998.

Page 23: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 23

aValiaÇÃo HidroQUíMiCa QUalitatiVa daS aGUaS do BaiXo rio NEGro

HYdroCHEMiStrY QUalitatiVE EValUatioN oF tHE WatErS oF loW rio NEGro

leanDRo a. PinheiRoMestrando em Geologia Ambiental. Universidade Federal da Bahia. E-mail: [email protected]

jose tito BoRGesPós-Doutorado. Eng. Químico. Fundação Centro de Análise Pesquisa e Inovação Tecnológica. Universidade Luterana do Brasil – Centro Universitário Luterano de Manaus (CEULM).E-mail: [email protected]

Page 24: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

24 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

envio em: Agosto de 2013aceite em: Agosto de 2013

RESUMOEste trabalho objetivou avaliar a qualidade das águas no baixo rio Negro, em pontos bem próximos à sua confluência com o rio Solimões, após a sua passagem pela cidade de Manaus. Esta cidade possui, aproximadamente, 1.700.000 habitantes, o que corresponde à principal fonte de poluição e contaminação do rio Negro por atividades domésticas e industriais. O Parque Industrial Manauara abriga cerca de 600 empresas dos ramos eletro-eletrônicos, duas rodas, químico, petroquímico e outros. As amostragens de águas do rio Negro foram realizadas em três pontos, durante os períodos de vazante e cheia, entre outubro de 2008 e novembro de 2009. As amostras foram analisadas nos laboratórios de uma empresa comercial de consultoria em análises químicas. Os parâmetros analisados correspondem aos previstos nas tabelas 14 e 15 da Resolução do CONAMA artigo 357 de 17 de Março de 2005. Os resultados apontam algumas variações entre as fases distintas do ciclo hidrológico, porém, essas variações não estão distribuídas uniformemente. Segundo a classificação do artigo 15 do CONAMA 357 de 17 de maio de 2005, o rio Negro apresenta desenquadramento para classe II, fica evidenciada a ausência de contaminantes provenientes de produção agrícola em todas as amostragens.

Palavras-Chave: Águas Superficiais. Rio Negro. Hidroquímica.

ABSTRACTThis study aimed to evaluate the water quality in the lower Rio Negro and at points near its confluence with the Solimões River, after passing through the city of Manaus. The city of Manaus has approximately 1.7 million inhabitants, which is the main source of pollution and contamination of the Black River for domestic and industrial activities. The Manauara Industrial Park is home to around 600 companies in the electronics areas, motorcycles, chemical, petrochemical and other. Samples of water from the Rio Negro were performed at three points during the periods of ebb and flow, between October 2008 and November 2009. The samples were analyzed in the laboratories of a commercial enterprise consulting chemical analyzes. The parameters analyzed are provided in Tables 14 and 15 of Article CONAMA Resolution 357 of March 17, 2005. The results show some variations between the different phases of the hydrological cycle, however, these variations are not evenly distributed. According to the classification of Article 15 of CONAMA 357, May 17, 2005, the Rio Negro presents noncompliance for class II, it is evident the absence of contaminants from agricultural production in all samplings.

Keywords: Surface Waters. Rio Negro. Hydrochemistry.

Page 25: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 25

1 iNtrodUÇÃo

O rio Negro é um grande representante do patrimô-nio fluvial brasileiro, considerado o mais extenso rio de água preta do mundo. Sua nascente principal situa-se na Colômbia; nessa região, surge o chamado rio Guai-nia e, após o seu agrupamento com o rio Branco e o rio Vaupés, incluindo, também, o rio Guaviare, ele drena a região leste dos Andes na Colômbia. O rio Negro é o principal de uma bacia, extremamente, extensa e vo-lumosa, sendo, relativamente, canalizado com poucos meandros e baixa declividade geral, com uma área de drenagem de 650.000 km2 e uma descarga média esti-mada em 3.000 m/s, da sua foz até a altura da Corredei-ra São Gabriel, cerca de 955 km rio acima (PETROBRAS, 2003 apud FUNDESPA, 2007).

A capital Manauara encontra-se entorno de 03º08’ S e 60º00’ W à altitude de 21m, à margem esquerda do rio Negro; abaixo da cidade, as águas dos rios Negro e Soli-mões se encontram e dão origem ao rio Amazonas; essa formação corresponde à maior bacia hidrográfica do pla-neta. Segundo Silva (1996), a cidade está situada sobre a formação geológica de Alter do Chão, de idade cretácea. Segundo a classificação de Köppen, o clima na região é do tipo quente úmido. A temperatura média anual é de 25,6ºC e o índice pluviométrico médio anual é de 2.300 mm, a umidade do ar é alta e os meses com maior (in-verno) e menor (verão) intensidade pluviométrica são novembro a abril e junho a outubro, respectivamente (PRANCE; LOVEJOY, 1985).

O rio apresenta características peculiares, aspectos, como altos níveis de acidez, cor intensamente escura e baixa produtividade. Alguns dos complexos orgânicos mais importantes que caracterizam a química das águas amazônicas são os ácidos húmicos e fúlvicos que acidifi-cam e escurecem a água. Os rios que apresentam gran-de concentração desses ácidos são denominados rios de água-preta e a sua origem está associada às áreas com vegetação baixa sobre solo arenoso, do tipo campina e campinarana.

As principais características das águas desse rio são o elevado grau de acidez (pH < 5,0), a baixa carga de sedi-mentos (argila) e a pobreza acentuada em elementos quí-micos (especialmente cátions), como atestam os baixos va-lores da condutividade elétrica (8 a 13 µS25/cm), refletindo as condições ecológicas extremas dos ambientes terres-tres dentro de sua área de captação (FITTKAU et al., 1975).

A avaliação da qualidade das águas na região do baixo rio Negro é bem representativa, porque a região estar à jusante de toda a extensão do rio. Nesse sentido, o regi-me de enchente e vazantes é determinante na avaliação da qualidade ambiental em períodos distintos do ano.

A cidade de Manaus é cortada por uma extensa malha de igarapés, esta compõe a principal via dos sistemas de drenagem de águas residuais e águas pluviais urbanas. O fluxo natural dessas águas é rumo ao rio Negro. São 04 as principais micro bacias urbanas de Manaus, contribuin-do com suas águas para o rio Negro, sendo estas, Tarumã (1), São Raimundo (2), Educandos (3) e Puraquequara (4) apresentadas na figura 1.

Figura 1 – Município de Manaus – confluência entre rio Negro e Solimões e micro bacias urbanas.

Page 26: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

26 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

O contexto social contribui, de forma determinante, para a má qualidade dos ecossistemas aquáticos da re-gião; o descarte de lixo, o esgotamento sanitário sem tratamento e os despejos de indústrias contribuem para a degradação ambiental das águas dos igarapés no mu-nicípio (BORGES 2006).

A indústria manauara conta com o pólo de indústrias com benefícios fiscais provenientes da Superintendência da Zona Franca de Manaus, de competência política da SUFRAMA. Na microbacia hidrográfica Educandos, que inclui o igarapé do Quarenta, encontra-se o Distrito In-dustrial como principal exemplo da intensa atividade industrial e urbana sem uma política de gestão ambien-tal adequada para esses corpos hídricos. Segundo Silva (1996), Silva e Silva (2007) e Borges (2006), nos igarapés da cidade de Manaus é constatada, a partir de dezenas de trabalhos publicados, a contaminação de origem antró-pica, fazendo com que as águas apresentem baixo teor de oxigênio dissolvido e altas concentrações de ferro, manganês, zinco, cobre e nitrato, além da presença de coliformes fecais, impossibilitando o seu uso para recre-ação e consumo doméstico, consequência da ocupação desordenada nas margens dos igarapés. Não existem, ainda, estudos suficientes de depuração do rio Negro em relação a essa poluição urbana.

Este trabalho tem como objetivo apresentar os resul-tados de qualidade das águas do rio Negro, através de ensaios analíticos, identificando possíveis contribuições de contaminantes e relacionar com as diversas fontes de contaminação.

oBJEtiVoS

– Avaliar a presença de contaminantes indicadores da in-fluência de atividades provenientes da agricultura.– Avaliar a presença de contaminantes indicadores pro-venientes da poluição de origem urbana e Industrial.– Avaliar, a partir dos resultados obtidos, se o corpo d`água mantém a classificação como rio de classe II, de acordo com artigo 15 da Resolução CONAMA 357 de 17 de maio de 2005.– Avaliar a influência do regime de enchente e vazante do rio sobre parâmetros analíticos de controle.

MatEriaiS E MÉtodoS

O plano de monitoramento contemplou um amplo escopo de caracterização de parâmetros químicos. Se-rão discutidos os resultados encontrados em amostras de águas superficiais do rio Negro e comparados com os

valores permitidos em alguns momentos de enchente e vazante do rio.

Foram realizadas quatro campanhas bimestrais de amostragens, entre os meses de outubro de 2008 a abril de 2009, em 03 pontos de controle ambiental, de acordo com o plano de amostragem proposto; a localização dos pontos está determinada à montante da passagem do rio pela cidade, ao meio deste percurso e à jusante deste. Dois pontos foram considerados “controles”, localizados no rio Negro e denominados pontos 01 e 02 (03°08.625’S, 060°01.510’W e 03°09.252’S, 059°57.679’W, respectiva-mente); o ponto 03, localizado no rio Negro, fica à mon-tante da confluência do rio Guarita com o rio Negro, com coordenadas 03°08.571’S, 059°55.681’W, conforme figura 2. O procedimento de coleta foi baseado no Guia de Co-leta e Preservação de Amostras de Água (CETESB, 1988).

Os parâmetros analisados foram todos os previstos pelos artigos 14 e 15 da resolução 357 de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CO-NAMA. As análises foram realizadas conforme Standard Methods (APHA, 2000), em um Laboratório Comercial lo-calizado na cidade de São Paulo.

As resoluções CONAMA 357/05 (BRASIL, 2005) e 344/04 (BRASIL, 2004) visam a abranger os efluentes dos mais diversos tipos de fontes contaminadoras. Como consequência, a lista de parâmetros a serem monitora-dos é imensa (conforme anexo), porém, no presente tra-balho, destacaram-se, apenas, os parâmetros conside-rados críticos ou que apresentaram traços de detecção. Nas tabelas 1, 2, 3 e 4, são apresentados os parâmetros avaliados e discutidos.

rESUltadoS E diSCUSSÃo

Os resultados obtidos nas amostragens foram analisa-dos e comparados com os dados de distribuição das co-tas do rio, de acordo com as medições da Agência Nacio-nal de águas – ANA. De acordo com a figura 2, podemos observar os níveis de cota entre 1902 e 2009, o gráfico é traçado de acordo com índices de permanência, de 10%, 50% e 90% dos casos.

Os dados utilizados para elaboração deste boletim foram obtidos através do Sistema de Informações Hidro-lógicas – HidroWeb, disponível no síte da ANA. A cota de alerta de cheia é a Cota de Situação de Emergência defi-nida pelo órgão de Defesa Civil local, resultando igual a 1.150 cm em São Gabriel da Cachoeira. As cotas indica-das no gráfico são valores associados a uma referência de nível local e arbitrária, válida para a régua linimétrica da estação.

Page 27: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 27

Figura 2: Distribuição de cotas do Rio Negro (mês x cota)

Fonte: Agência Nacional de Águas.

Como as campanhas de amostragem foram realiza-das em regime bimestral, sendo uma (01) amostra para cada bimestre, serão avaliadas, também, as curvas en-voltórias que representam os valores máximos, míni-mos, e de 10% e 90% de permanência para os valores de cotas já ocorridos em cada dia do ano. Os valores asso-ciados à permanência de 10% ou 90% são os valores aci-ma dos quais as cotas observadas estiveram em 10% ou 90% do tempo do histórico de dados. A zona de atenção para o período de cheia corresponde à faixa entre 10% de permanência e o valor máximo já ocorrido. Para o

período de vazante, a zona de atenção corresponde à faixa entre 90% de permanência no histórico e o valor mínimo já ocorrido.

Na figura 2, são apresentados os 107 anos de obser-vação das cotas em Manaus, em 80 vezes o valor máxi-mo anual no mês de junho, 20 vezes em julho e seis em maio. Quanto aos valores mínimos anuais, 46 ocorreram em outubro, 37 em novembro, 10 nos meses de janeiro e dezembro e uma nos meses de fevereiro e setembro.

Na sequência, serão apresentados os resultados obtidos nas campanhas de amostragem, conforme tabelas 1 a 4.

PARÂMETROS UNIDADES L.M(1) L.M (2) L.D I II IIIAlumínio Solúvel mg Al/L 0,1 0,1 0,01 0,09 0,083 0,07Cloro Residual Total %Cl 0,01 0,01 0,01 n.d 0,02 n.dCloretos mg Cl/L 250 250 0,03 0,51 0,13 0,48Clorofila -a µg/L 10 30 0,53 n.d 3,21 0,53Cobre Solúvel mg Cu/L 0,009 0,009 0,001 0,0007 0,0008 0,002Col. Termotolerantes NMP/100 mL 200 1000 1,8 180 3300 780Cor verdadeira uH natural 75 1 109 109 108DBO 5 dias a 20C mg O2/L 3 5 1 8 5 5Fósforo total mg P/L i ii 0,09 0,035 0,025 n.dFenóis totais mg C6H5OH/L 0,003 0,003 0,001 n.d N.D 0,003Ferro Solúvel mg Fe/L 0,3 0,3 0,006 0,233 0,229 0,248Nitrogênio amoniacal mg N/L (III) (III) 0,03 0,49 0,36 0,29Nitratos mg N/L 10 10 0,003 0,058 0,017 0,07Nitritos mg N/L 1 1 0,002 0,017 n.d <0,002Oxigênio Dissolvido mg/L 0,1 5,4 4,1 4,8pH - água -- 6,0 a 9,1 6,0 a 9,1 -- 5,89 6,2 5,83Sulfatos mg SO4/L 250 250 0,009 0,761 0,187 0,891Sólidos diss totais mg/l 500 500 1 41 47 Turbidez UT 40 100 0,19 8.78 12,3 87

TABELA 1: Primeira amostragem (29.10.2009)

Page 28: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

28 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

Em que:1. L.M. (1) - Limites máximos permitidos, segundo Re-

solução CONAMA 357, Artigo 14, para águas doces de Classe 1, de 17/03/05.

2. L.M. (2) - Limites máximos permitidos, segundo Resolução CONAMA 357, Artigo 15, para águas doces de Classe 2, de 17/03/05

3. L.D. - Limite de detecção do método. 4. n.d. - não detectado.

5. (I) Fósforo total: - Em ambiente lêntico: até 0,20 mg P/L;

- Em ambientes intermediários, com tempo de resi-dência entre dois e quarenta dias, e tributário direto de

ambiente lêntico: até 0,025 mg P/L; - Em ambiente lótico e tributários de ambientes inter-

mediários: até 0,1 mg P/L 6. (II) Fósforo total: - até 0,030 mg/L, em ambientes lênticos; - até 0,050 mg/L, em ambientes intermediários, com

tempo de residência entre 2 e 40 dias, e tributários dire-tos de ambiente lêntico. 7. (III) N Amoniacal:

- Para pH < 7,5 : 3,7 mg N/L - Para 7,5 < pH < 8,0 : 2,0 mg N/L - Para 8,0 < pH < 8,5 : 1,0 mg N/L - Para pH > 8,5 : 0,5 mg N/L

PARÂMETROS UNIDADES L.M(1) L.M (2) L.D I II IIIAlumínio Solúvel mg Al/L 0,1 0,1 0,01 n.d n.d 0,09Cloro Total %Cl 0,01 0,01 0,01 n.d n.d 0,04Cloretos mg Cl/L 250 250 0,03 n.d n.d n.dclorofila –a µg/L 10 30 0,53 n.d n.d n.dCol. Term. NMP/100 mL 200 1000 1,8 >16000 >16000 >16000Cor verdadeira uH natural 75 1 145 152 167DBO 5 20C mg O2/L 3 5 1 3 21(1 e2) 3Fósforo total mg P/L i ii 0,09 0,016 0,022 0,019Fenóis totais mgC6H5OH/L 0,003 0,003 0,001 n.d n.d n.dFerro Solúvel mg Fe/L 0,3 0,3 0,006 0,12 n.d 0,295N Amoniacal mg N/L (III) (III) 0,03 0,033 n.d 0,03Nitratos mg N/L 10 10 0,003 n.d n.d n.dNitritos mg N/L 1 1 0,002 n.d 0,005 n.dOxigênio Dissolvido mg/L 0,1 4,1 3,94 3,88pH – água -- 6,0 / 9,1 6,0 / 9,1 -- 3,89 n.d 5,6Sulfatos mg SO4/L 250 250 0,009 n.d n.d n.dH2S mg/L 0,002 0,002 0,002 0,011 n.d 0,014Sol. dissolvidos tot. mg/l 500 500 1 n.d 15 27Turbidez UT 40 100 0,19 n.d 7,41 9,23

PARÂMETROS UNIDADES L.M(1) L.M (2) L.D I II IIIAlumínio Solúvel mg Al/L 0,1 0,1 0,01 0,15 0,121 0,12Cloro Residual Total %Cl 0,01 0,01 0,01 n.d n.d n.dCloretos mg Cl/L 250 250 0,03 n.d n.d n.dclorofila –a µg/L 10 30 0,53 n.d n.d 1,07Cobre Solúvel mg Cu/L 0,009 0,009 0,001 n.d n.d 0,002Col. Termotolerantes NMP/100 mL 200 1000 1,8 n.d 68 40Cor verdadeira uH natural 75 1 123 114 132DBO 5 dias a 20C mg O2/L 3 5 1 n.d 2 2Fósforo total mg P/L i ii 0,09 n.d 0,016 0,039Fenóis totais mg /L 0,003 0,003 0,001 n.d n.d n.dFerro Solúvel mg Fe/L 0,3 0,3 0,006 0,355 0,303 0,316Nitrogênio amoniacal mg N/L (III) (III) 0,03 Nitratos mg N/L 10 10 0,003 n.d n.d n.dNitritos mg N/L 1 1 0,002 n.d 0,011 n.dOxigênio Dissolvido mg/L 0,1 3,9 3,9 3,7pH – água -- 6,0 / 9,1 6,0 / 9,1 -- 6,02 6 5,64Sulfatos mg SO4/L 250 250 0,009 n.d n.d n.dsólidos diss totais mg/l 500 500 1 54 40 n.dTurbidez UT 40 100 0,19 4,75 8,17 11,5

TABELA 2: Segunda amostragem (16.12.2009)

TABELA 3: Terceira amostragem (10.02.2009)

Page 29: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 29

PARÂMETROS UNIDADES L.M(1) L.M (2) L.D I II IIIAlumínio Solúvel mg Al/L 0,1 0,1 0,01 0,114 0,108 0,112Cloro Residual Total %Cl 0,01 0,01 0,01 n.d n.d n.dCloretos mg Cl/L 250 250 0,03 n.d n.d n.dclorofila -a µg/L 10 30 0,53 n.d n.d n.dCobre Soluvel mg Cu/L 0,009 0,009 0,001 n.d n.d n.dCol. Termotolerantes NMP/100 mL 200 1000 1,8 330 790 17Cor verdadeira uH natural 75 1 129 129 120DBO 5 dias a 20C mg O2/L 3 5 1 3 3 4Fósforo total mg P/L i ii 0,09 n.d n.d n.dFenóis totais (baixa conc) mg C6H5OH/L 0,003 0,003 0,001 0,003 n.d 0,002Ferro Soluvel mg Fe/L 0,3 0,3 0,006 0,31 0,309 0,317N Amoniacal mg N/L (III) (III) 0,03 0,122 0,07 0,135Nitratos mg N/L 10 10 0,003 n.d 0,003 n.dNitritos mg N/L 1 1 0,002 0,051 n.d 0,009Oxigênio Dissolvido mg/L 0,1 4,5 4,7 6,5pH - água -- 6,0 a 9,1 6,0 a 9,1 -- 7,3 6,62 6,38sulfatos mg SO4/L 250 250 0,009 n.d n.d n.dsólidos diss. totais mg/l 500 500 1 57 37 32Turbidez UNT 40 100 0,19 3,44 3,39 2,77

TABELA 4: Quarta amostragem (14.04.2009)

Na figura 3, são representados os parâmetros físicos das águas analisadas no rio Negro durante as campanhas.

Em eixo secundário, encontram-se os níveis médios de cotas do rio nesses meses.

Figura 3: Parâmetros físicos (unidades de acordo com tabela de amostragem, eixo secundário referente ao nível de cota).

Conforme constado em análises e a representação gráfica dos resultados em relação às cotas aumentando de outubro a abril (Fig. 3), observa-se pouca variação de pH e cor, variação pequena da turbidez, sendo que, ape-nas, o ponto III, na primeira amostragem, apresenta uma variação expressiva. Em relação aos sólidos, também não há uma variação siginificativa, o que indica que os parâ-metros físicos das águas do rio são pouco alterados pela contribuição do município. Os parametros físicos influen-ciam, diretamente, no desenvolvimento desses microorga-

nismos; a refração da luz, a acidez do ambiente, os sólidos em suspensão podem estar, diretamente, relacionadas ao equilíbrio ecológico nesse nível trófico. Os parâmetros físi-cos não apresentam tendências influenciadas pelo regime hidrológico anual, o que pode sugerir que a variação des-ses parâmetros não esteja ligada a um fator de diluição.

Na figura 4, são representados os parâmetros relacio-nados à contaminação de origem fecal e orgânica; e, no eixo secundario, encontram-se os níveis médios de cotas do rio nesses meses.

Page 30: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

30 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

0

5

10

15

20

25

30

02000400060008000

1000 01200 01400 01600 01800 0

Média de coliformes

Média de DBO

Média de cota ANA (m)

Figura 4: Parâmetros relacionados à contaminação de origem fecal e orgânica e, no eixo secundario, encontram-se os níveis médios de cotas do rio nesses meses.

Figura 5: Parametros indicadores de contaminação de esgoto e nutrientes (unidades de acordo com tabela de amostragem, eixo secundário referente ao nível de cota).

Conforme resultados obtidos representados na figura 4, foi constatada a contribuição significativa de esgoto de origem doméstica, principlamente na época de vazante. Na época de cheia, pode haver uma maior diluição das águas, ocasionando uma redução proporcional desse indicador.

Em ambientes de água corrente, com dimensões de-masiadas e alto grau de complexidade, como encontra-dos no rio negro, existem poucas informações e pesqui-sas sobre o tema.

Para os coliformes termotolerantes, é observado um

aumento significativo entre outubro e dezembro, meses em que os níveis do rio estão mais baixos, o oxigênio dis-solvido e a clorofila mantiveram-se, relativamente, está-veis durante o período amostral, a DBO apresenta nível acentuado em um ponto isolado, porém, revela-se incon-clusivo pela quantidade amostral, contudo, ainda se faz necessária uma avaliação muito mais abrangente para um diagnóstico, efetivamente, representativo.

Na figura 5, são apresentados os parâmetros indicado-res de contaminação de esgoto e nutrientes.

0

5

10

15

20

25

30

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

Média de cloretos

Média de nitratos

Média de nitritos

Média de fosforo

Média de n amoniacal

Média de cota ANA (m)

Os parâmetros indicadores de contaminação por esgotamento doméstico e a presença de nutrientes se distibuem de forma aleatória, todavia, observa-se o decréscimo de dois importantes indicadores desse tipo de contaminação, em relação ao aumento do nível do rio, observado pelas curvas de cloretos e nitrogenio amoniacal. Os demais parâmetros apresentam tendên-

cia de aumento, na medida em que o nível do rio sobe, contrariando, também, o fator de diluição, que repre-sentaria a contaminação por fontes fixas de descarte de esgoto. Esse fenômeno pode estar relacionado à inundação de áreas de florestas, fazendo com que a matéria orgânica se decomponha debaixo d´àgua. Ad-mitindo as dimensões inundadas principalmente na

Page 31: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 31

última cheia de 2009, é possível afirmar que a interfe-rência seja de origem natural.

CoNSidEraÇÕES FiNaiS

Os valores apresentados para a qualidade de água não mostraram um padrão definido de contaminação.

As contaminações não foram constantes ao longo do espaço temporal ou geográfico, não ficando evidencia-da uma diminuição na qualidade da água, em relação ao regime hidrológico de enchente e vazante.

Os resultados apontam uma influência na qualida-de ambiental do corpo d´água, principalmente nos pe-riodos de seca; isso fica evidenciado por indicadores, como N. Amoniacal e Cloretos, contudo, os níveis não são muito significativos e, ainda assim, encontram-se muito abaixo do estabelecido pelo artigo 15 da resolu-ção 357 do CONAMA de 17 de março de 2005. Ao contrá-rio dos níveis de coliformes fecais, que se apresentaram muito além do estabelecido pela mesma resolução. Os demais parâmetros analisados não evidenciam valores significativos, que indiquem a contaminação por fontes industriais no rio Negro.

A resolução 357 do Conama estabelece o monitora-mento de uma série de compostos químicos utilizados como defensivos agrícolas, estes foram analisados e ne-nhum dos resultados indica a presença de algum tipo desses contaminantes; os parâmetros avaliados estão dispostos no anexo 1.

Pode-se sugerir que não há influência desse tipo de atividade no rio Negro, visto que essa atividade não é re-presentativa na bacia.

De acordo com a classificação II, estabelecida pelo artigo 15 da resolução 357 do CONAMA, o rio Negro apresenta desenquadramento em vários pontos geográ-ficos e temporais, contudo, em alguns casos, este é uma condição natural característica do próprio rio, como é caracterizado pelos níveis de pH, alguns metais, cor etc. De acordo com o estabelecido pela resolução, o rio não apresenta todas as condições necessárias para ser classi-ficado como classe II.

Avaliar a qualidade de um rio com as dimensões do rio Negro é uma tarefa bastante complexa. Para um estu-do conclusivo, é necessário avaliar o perfil do rio, realizar amostragens em vários pontos no sentido diagonal, ver-tical e lngitudinal no rio, nas épocas de vazante e cheia.

rEFErÊNCiaS

APHA. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 20Th Ed.. 2000.

BORGES, J. T. Saneamento e suas interfaces com igarapés de Manaus. Tevista T&C Amazônia, Manaus, 2006.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA N.º 375 de 29 de agosto de 2006. Brasília, 2006.

______. Resolução CONAMA N.º 357 de 17 de março de 2005. Brasília, 2005.

______. Resolução CONAMA N.º 274 de 29 de novembro 2000. Brasília, 2000.

COMPANHIA DE TECNOLOGIA EDE SANEAMENTO AMBIENTAL (CETESB) - ITCOL002; ITCOL008. Guia de coleta e preservação de amostras de água. 1 Ed. 1988.

FITTKAU, E.J; IRMLER, U; JUNK, W.J; REIS, SCHMIDT, F. Productivity, biomass and populations dy namics in Amazonian Water Bodies. In: GOLLEY, F.B; MEDINA, E, eds. Tropical Ecological Systems trends in terrestrial and aquatic research. Berlin, Springer-Verlar. 289-312p, 1975.

FUNDAÇÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS AQUÁTICAS (FUNDESPA). Estudo de definição de capacidade de suporte dos corpos receptores das unidades de negócio do abastecimento. Relatório Final – etapa 01, bloco 5 – REMAN, 2007.

INSTITUTO BRASIEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível em: <WWW.ibge.gov.br> Acessado em: 12 jan. 2009.

MELO, E.G.F. Estudo Físico-Químico nas Águas da Bacia do Rio Tarumã-Açu. Jornada de Iniciação Científica do INPA-CNPq, 10, Anais... Manaus/AM, 03 a 05 de Julho de 2002.

PRANCE, G. T. in Amazonia (eds Prance, G. T. & Lovejoy, T. E.) 146−165 (Pergamon, Oxford, 1985).

SILVA, M.S.R., Metais pesados em sedimentos de fundo de igarapés (Manaus-AM). 120p. 1996. Dissertação (Mestrado Geoquímica Ambiental)- Universidade Federal do Pará, 1996.

SILVA M.L; SILVA M.S.R, Perfil da qualidade das águas subterrâneas de Manaus. Holos enviroment, v.7, n.1, 2007.

Page 32: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado
Page 33: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 33

EStUdo dE CaSo dE tEStES ECotoXiColóGiCoS CoM CEriodaPHNia dUBia No rio NEGro: iMPaCtoS doS EFlUENtES dE UMa rEFiNaria dE PEtrólEo

CaSE StUdY oF tEStS WitH ECotoXiColoGiCal CEriodaPHNia dUBia iN rio NEGro: iMPaCtS oF WaStEWatEr FroM aN oil rEFiNErY

maRCelo FiDelis maRques menDesE-mail: [email protected]

Page 34: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

34 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

envio em: Agosto de 2013aceite em: Agosto de 2013

RESUMOOs testes de toxicidade são importantes para analisar o potencial de risco ambiental dos contaminantes, uma vez que somente as análises químicas não possibilitam esse tipo de avaliação. Entretanto, deve-se atentar para que, durante a escolha do organismo-teste, as facilidades do uso de espécies padronizadas não sejam priorizadas em detrimento de bases científicas para a aplicação dos ensaios, como o significado ambiental à área de estudo. Este artigo discute sobre a possibilidade de ensaios de toxicidade realizados com Ceriodaphnia dubia fornecerem resultados pouco confiáveis para amostras de águas do rio Negro.

Palavras-chave: Ecotoxicologia. Ceriodaphnia dúbia. Rio Negro. Análise biológica. Recursos hídricos.

ABSTRACTToxicity tests are important to consider the potential risk of environmental contamination since the chemical analyzes not only enable this type of evaluation. However, you should be aware that when choosing the test organism facilities the use of standardized species are not prioritized at the expense of the scientific basis for the application of tests, such as the environmental significance of the study area. This article discusses the possibility of toxicity tests conducted with Ceriodaphnia dubia provide unreliable results for water samples from the river Negro.

Keywords: Ecotoxicology. Ceriodaphnia dubia. Negro River’s. Biological analysis. Water resources.

Page 35: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 35

1 iNtrodUÇÃo

Durante grande parte da história da humanidade, os recursos naturais eram considerados inesgotáveis e sua utilização realizada de maneira pouco parcimoniosa. Entretanto, recentemente, essa exploração tornou-se realmente preocupante aos olhos do homem. O vertigi-noso crescimento econômico e populacional decorren-te da Revolução Industrial acelerou a insustentabilida-de advinda do avanço da civilização e um dos recursos mais afetados com isso foi um dos mais importantes à vida, a água (VILLIERS, 2002).

Essa relação predatória do homem para com os re-cursos hídricos elevou, nas últimas décadas, o nível de compostos xenobióticos nos ecossistemas aquáticos de forma alarmante, comprometendo a saúde dos se-res vivos que habitam esses ecossistemas e a qualidade ambiental de maneira genérica (MARQUES et al., 2007).

Atividades antrópicas, que se utilizam de recur-sos ambientais fornecidos pelos corpos d’água como transporte e diluição de resíduos lançados no ambien-te oriundos de diversas fontes de emissão (descarga de lixos domésticos e industriais, processos de drenagem agrícola e derrames acidentais de produtos perigosos) têm saturado o ambiente aquático com um grande nú-mero de substâncias tóxicas às quais a biota aquática está constantemente exposta (TUCCI, 2004).

A percepção da contaminação dos sistemas aquáti-cos proporcionada por essa crise ambiental impulsionou o monitoramento da qualidade da água. Essa qualifica-ção pode ser realizada, essencialmente, em dois níveis complementares entre si, para uma efetiva caracteri-zação. A qualificação mais difundida é proveniente das análises físico-químicas, responsáveis pela qualificação e quantificação das substâncias presentes na água. Já com aplicação em presente evolução estão as análises biológicas. Este último tipo de análises supre algumas das lacunas deixadas pela anterior, que, em muitos ca-sos, pode não ser capaz de detectar toxicidade oriunda da interação entre substâncias, dada a probabilidade de ocorrência de processos sinergéticos e antagônicos (AZEVEDO et al., 2003).

Inseridos nessa conjuntura, temos os biotestes, bio-tox ou testes de ecotoxicidade, alternativas eficazes como fontes de diagnóstico da qualidade dos manan-ciais hídricos. Os testes de ecotoxicidade são exames, utilizados com a finalidade de se estimar a toxicidade de substâncias, efluentes e amostras ambientais, realizados sob condições controladas em ambiente de laboratório. Durante estudos de ecotoxicidade, são quantificados os efeitos ocasionados às espécies-teste, por meio da exposição desses organismos às várias concentrações

de uma ou mais substâncias, por período determinado (AZEVEDO et al., 2003).

Assim, os ensaios de toxicidade são ferramentas apli-cáveis na avaliação da qualidade das águas ou da car-ga poluidora de determinado efluente, já que análises tradicionais de parâmetros físicos e químicos, tais como concentrações de metais, de substâncias orgânicas ou inorgânicas, sólidos suspensos, demanda química de oxigênio (DQO) ou demanda bioquímica de oxigênio (DBO), cujos limites estão instituídos em regulamenta-ções legais, não são aptas a distinguir substâncias iner-tes, no meio ambiente, daquelas que ocasionam risco ambiental e comprometem, efetivamente, sistemas bio-lógicos (GHERARDI-GOLDSTEIN, 1988).

Com essa percepção, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) passou a exigir análises de toxici-dade nos testes de padrões de lançamento de efluentes. O capítulo IV da Resolução número 357 de 2005 estabe-lece que o efluente não pode causar, ou possuir poten-cial para causar, efeitos tóxicos aos organismos aquáti-cos no corpo receptor e que os critérios de toxicidade devem se basear em resultados de ensaios ecotoxico-lógicos padronizados, utilizando organismos aquáticos.

Com a finalidade de monitoramento do efeito cau-sado por contaminantes em ecossistemas aquáticos em organismos, a ecotoxicologia aquática avalia fenô-menos relacionados ao transporte, distribuição, trans-formação e destino final das substâncias tóxicas em sistemas hídricos, que são os principais receptáculos de rejeito com potencialidade tóxica, recebendo descargas feitas diretamente em suas águas, precipitação de emis-sões atmosféricas ou de depósitos no solo carreados por enxurradas (AZEVEDO et al., 2003).

No entanto, os testes de toxicidade não podem ser utilizados como substitutos dos ensaios químicos tradi-cionais, uma vez que esses não possibilitam obtenção de uma resposta absoluta sobre o risco que uma espe-cífica amostra ocasiona aos seres humanos. O fato ad-vém da dificuldade de extrapolação dos resultados de toxicidade impetrados para os organismos em exames laboratoriais para humanos, visto que até mesmo a cor-relação de resultados de toxicidade entre espécies dis-tintas obtidos é complexo e pouco confiável (AZEVEDO et al., 2003).

Além disso, deve-se considerar que, a princípio, devido às diversas condições abióticas e bióticas presentes nos ecossistemas aquáticos, não há nenhum organismo nem comunidade ecológica que possa ser usado para avaliar todos os efeitos possíveis sobre esses ecossistemas.

Azevedo et al. (2003) afirmam que, a princípio, qual-quer espécie aquática é um potencial organismo-teste a ser aplicado nos testes de toxicidade. Porém, é fun-

Page 36: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

36 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

damental que as espécies sejam, biologicamente, bem conhecidas e apresentem algumas propriedades es-peciais, são elas: seletividade constante e elevada aos contaminantes, elevadas disponibilidade e abundância, uniformidade e estabilidade genética nas populações, ampla distribuição e importância comercial, facilidade de cultivo e de adaptação às condições de laboratório representatividade de seu nível trófico e significado am-biental em relação à área de estudo. Essa última condi-ção é muito importante dada a diversidade e complexi-dade existente no ambiente aquático, que abrange rios, oceanos, lagos e estuários de heterogeneidade influen-ciada por interações entre seu meio biótico com clima, relevo e geologia específicos de sua localização.

O impacto de substâncias químicas no ecossistema aquático pode ser acentuado ou amenizado por pro-priedades intrínsecas dos contaminantes e dos pro-dutos resultantes de sua transformação, de sua carga contaminante no ambiente, além da constância e regu-laridade da descarga. Ademais, existem características qualitativas que conferem ao ecossistema resistência a choques provenientes da presença de substâncias exó-genas, como a capacidade tamponante de seu meio aquoso e a concentração de compostos orgânicos nele dissolvidos.

Grande parte dessas características é atribuída ao am-biente foco do estudo deste artigo. O rio Negro é o mais importante afluente do norte do rio Amazonas, não só por banhar Manaus, o que lhe confere grande importân-cia econômica, mas, também, pelo tamanho de sua bacia (com uma área de drenagem de 620 mil km2 e descarga de 30 mil m3/s) e pelas peculiaridades que compõe seu meio biótico e abiótico (LEWIS et al, 1995).

Segundo a classificação óptica, proposta por Wallace (1983), o rio Negro é um rio de águas negras, caracteri-zado por baixa concentração de sólidos inorgânicos dis-solvidos e sólidos em suspensão (inferiores a 20mg/L, até dez vezes menos que rios de águas brancas da re-gião), além de ter uma marcante coloração acastanhada escura, conferida pela dissolução de matéria orgânica em suas águas (LEWIS et al.,1995).

O rio Negro tem seu pH (que varia de 3,6 a 5,8) afeta-do diretamente pela sua concentração de ácidos orgâni-cos. Esses ácidos têm um papel fundamental no balaço iônico nas águas pobres em nutrientes. A concentração de carbono orgânico dissolvido é de 9,0mg/L (bastan-te superior a rios de águas brancas que chegam a ter 3mg/L), efeito apontado à combinação de solo podzó-lico e extrema depleção de íons inorgânicos em asso-ciação à vegetação que habita a sua área de drenagem (KÜCHLER. et al., 2000; LEWIS, et al., 1995).

Essas propriedades químicas diferenciadas caracteri-zam as águas do rio Negro, um natural desvio em rela-

ção a alguns parâmetros dispostos nas classificações de corpos d’água propostas pela Resolução CONAMA 357. É o caso, por exemplo, do pH, que, para atendimento à legislação, deve ser superior a 6,0 e inferior a 9,0.

Esse desenquadramento incide mesmo em áreas a montante de qualquer interferência antrópica significa-tiva sobre as águas do rio Negro. É certo que tal ocor-rência se dá pela normatização ter sido elaborada por instituições localizadas em áreas regidas por condições ambientais bastante distintas, sem a cautela em englo-bar exceções, como é o caso do ambiente amazônico.

O mesmo vício sobrevém sobre os ensaios de eco-toxicidade. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) são os prin-cipais órgãos responsáveis pelo desenvolvimento de protocolos de testes de toxicidade do Brasil. A utilização de testes padronizados é conveniente, por favorecer a se-leção de um ou mais testes uniformes, o que permite a comparação dos dados e facilita a reprodução dos testes.

É o caso dos testes feitos com Ceriodaphnia dubia. Esses crustáceos de água doce da ordem Cladocera são um dos mais utilizados organismos em testes de toxici-dade, por sua importância na cadeia alimentar aquática. Ainda, oferecem facilidades técnicas, como um ciclo de vida curto, relativas facilidades de cultivo em laborató-rios, apresentam sensibilidade a vários contaminantes do ambiente aquático e possibilidade de produção de organismos geneticamente idênticos, por facultarem reprodução assexuada por partenogênese, o que garan-te a obtenção de organismos-teste com sensibilidade constante (AZEVEDO et al., 2003). A C. dubia é, compro-vadamente, um organismo-teste eficaz em testes para recursos hídricos de propriedades congruentes com a regulamentação CONAMA 357, contudo este artigo dis-cute o seu emprego em águas regionais.

Destarte, este trabalho buscou verificar a resposta a exames ecotoxicológicos padronizados (no caso com C. dubia) em grandes centros tecnológicos, baseados em suas respectivas condições ambientais predominantes, em águas de características químicas e biota distintas, como é o caso do rio Negro.

MatEriaiS E MÉtodoS

Foram realizados exames ecotoxicológicos em amos-tras de água coletadas em três pontos ao longo do rio Negro (RN1, RN2 e RN3), durante os meses de fevereiro, abril, junho, outubro e dezembro de 2009. No mês de outubro, o teste abordou amostras de água de esgoto sanitário, um poço artesiano (PA) e um ponto localizado nas águas do rio Solimões (RS). Os locais de coleta estão inseridos no mapa representado pela Figura 1.

Page 37: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 37

Figura 1: Pontos de coleta das amostras.

Os ensaios foram realizados segundo a padronização ditada pela norma ABNT NBR 13373 de 2005 e visa a esta-belecer a toxicidade crônica, fundamentados nos efeitos sobre a sobrevivência e reprodução de Ceriodaphnia du-bia por uma exposição durante um período de 7 dias. Os resultados são obtidos através da estimativa da concen-tração mais elevada da amostra, que não causa efeitos deletérios aos organismos (concentração de efeito não observado ou CENO) e da concentração mais baixa, que causa efeitos (concentração de efeito observado ou CEO), ou através da determinação da presença ou ausência de toxidade, no caso de amostras testadas in natura.

As condições de realização dos ensaios foram as se-guintes:

• Organismo teste: jovens de Ceriodaphnia dúbia, com idade entre 6 e 24 horas.

• Temperatura média da água: 24,6 ± 0,5 °C.• Água de diluição e controle: água natural.• Fotoperíodo: 16 horas de luz e 8 horas de escuro.

• Renovação do meio: cada 48 horas.• Número de organismos por concentração: 10.• Número de réplicas por concentração: 10.

O teste foi prorrogado em um dia, para obtenção do mínimo de 15 jovens / fêmea no Controle. Os valores ob-tidos apresentam-se dentro dos critérios aceitos para a validação do teste.

rESUltadoS E diSCUSSÃo

Todos os resultados obtidos, nos exames, com as solu-ções-teste indicam toxicidade crônica do meio aquático. Conforme as Tabelas 1 e 2, a exposição do crustáceo C. dubia apresentou respostas, estatisticamente, diferentes do obtido no grupo controle nas taxas de reprodução ou sobrevivência. Para os resultados apontados nas tabelas, apresentaram-se os dados de amostras em uma concen-tração de 100%, ou seja, sem nenhuma diluição.

fev-09 abr-09 jun-09 out-09 dez-09 controle 0 0 0 0 0 amostra (100%) 100 100 100 30 100 controle 0 0 0 0 0 amostra (100%) 100 100 0 60 80 controle 0 0 0 0 0 amostra (100%) 100 100 20 100 0 controle - - - 0 - amostra (100%) - - - 100 - controle - - - 0 - amostra (100%) - - - 20 - controle - - - 0 - amostra (100%) - - - 0 -

Rio Negro 1

Rio Negro 2

Rio Negro 3

Esgoto Sanitário

Rio Solimões

Poço Artesiano

Tabela 1: Resultados de ensaios de ecotoxicidade crônica em teste de mortalidade (valores dados em porcentagem).

Page 38: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

38 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

fev-09 abr-09 jun-09 out-09 dez-09 controle 18 15 17 17 31 amostra (100%) 1 0 0 3 0 controle 18 15 17 17 31 amostra (100%) 1 0 3 1 0 controle 18 15 17 17 31 amostra (100%) 0 0 2 0 7 controle - - - 16 - amostra (100%) - - - 0 - controle - - - 16 - amostra (100%) - - - 11 - controle - - - 16 - amostra (100%) - - - 4 -

Rio Negro 1

Rio Negro 2

Rio Negro 3

Esgoto Sanitário

Rio Solimões

Poço Artesiano

Tabela 2: Resultados de ensaios de ecotoxicidade crônica em teste de fertilidade (valores dados da razão de jovens por adulto).

Tabela 3: Médias das análises físico-químicas realizadas nas amostras do rio Negro e coluna com o limite de concentração estabelecido pela regulamentação.

Nota-se que há amostras que revelaram, em algum percentual, organismos sobreviventes ao teste de morta-lidade (Tabela 1), contudo, todos estes, durante o teste de reprodução (Tabela 2), evidenciaram, segundo a padro-nização dos ensaios, toxicidade crônica, diferenças esta-tísticas em relação às respostas apresentadas pelo grupo controle. Esse é o caso dos experimentos realizados nos pontos fora do rio Negro e considerados isentos de con-taminação por meio de ação antrópica (rio Solimões e poço artesiano). Isso sugere que, apesar da legislação de-mandar testes padronizados, esses podem ser inviáveis para determinados ambientes.

Tanto a atividade biológica como o impacto causado por agentes contaminantes no meio aquático podem ser

comprometidos ou abrandados pelas características físico--químicas de determinados ecossistemas aquáticos. Assim, o exame de ecotoxicidade padronização com C. dubia pode não ser ideal para o ambiente do rio Negro e até mes-mo para o restante da bacia Amazônica (conforme indicam os testes em RS e PA). Azevedo (2003) adverte que a esco-lha de espécies representativas na área de estudo é um dos mais importantes fatores na escolha do organismo-teste.

Análises físico-químicas também foram realizadas com as amostras do rio Negro que passaram por exames ecotoxicológicos; a Tabela 3 refere-se, apenas, às médias de concentração dos parâmetros que, em alguma das amostras, pelo menos, ultrapassaram o limite CONAMA 357 para a classe enquadrada do curso d’água.

Alumínio Solúvel (mg Al/L)Coliformes Termotolerantes (NMP/100 mL)Fósforo Total mg P/LpH - águaCloro Residual Total (%Cl)Cor verdadeira (uH)Ferro Solúvel (mg Fe/L)Oxigênio Dissolvido (mg/L)

Rio Negro 1 Rio Negro 2 Rio Negro 3 CONAMA 357 - classe 2 0,12* 0,10* 0,09 0,1 3300* 1890* 1689* 1000 0,05† 0,03 0,06* 0,05 6,138 5,970* 5,723* 6,0 - 9,0 0,06* 0,02* 0,06* 0,01 112* 110* 112* 75 0,30* 0,28† 0,29† 0,3 5,5† 5,6† 6,0† 5

*Média fora dos patamares estabelecidos pela CONAMA 357.†média dentro do limite estabelecido, mas alguma das amostras não se restringiu ao padrão determinado.

Nota-se que somente poucos são os parâmetros pro-blemáticos em relação à extensa lista proposta pela legis-lação pertinente (a CONAMA 357 lista aproximadamente 100 parâmetros a serem monitorados), sendo que, destes, destacam-se, aqui, o pH, a cor verdadeira, cloro residual total e coliformes termotolerantes. Apenas o último dos referidos indica ação antrópica, apesar dos mesmos tes-tes revelarem uma DBO baixa nas amostras (com média inferior a 2mg O2/L). O resultado indica provável contami-nação do recurso hídrico por esgoto sanitário.

Porém, apesar das três médias excederem o padrão,

os dados brutos apontam que apenas as amostras dos meses de outubro e dezembro estavam fora do padrão CONAMA, de forma que a toxicidade crônica apontada no ensaio de ecotoxicidade pelas amostras dos meses an-teriores não pode ser atribuída à contaminação sanitária apresentada pelo indicador coliforme termotolerante.

Especula-se que a toxicidade constatada pode ser, ainda, produto do pH do rio Negro, já que este é um parâmetro que, durante todos os meses, e em quase todas as amostras, apresentou-se fora do padrão CONAMA 357. Outra evidência é que a água de cultivo com a qual os organismos-teste são

Page 39: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 39

cultivados e à qual o grupo controle é exposto permanece sempre com seu pH entre 7,0 e 7,6, valores completamente discrepantes dos que ocorrem no rio Negro, ambiente, no qual, a toxicidade está sendo testada. Além desta, muitas outras diferenças físico-químicas devem ocorrer entre a água de cultivo e a proveniente do rio Negro.

Outro ponto a ser considerado é que, apesar da forte descarga de contaminantes realizada em pontos próxi-mos ao RN1 e RN2, processos de transporte e transferên-cia de fase e processos de transformação, facilitados no rio Negro por sua alta vazão, influência de sustâncias húmicas e pH possivelmente já contribuiriam para certa depuração no ponto RN3, e melhores resultados nos testes de ecoto-xicidade poderiam ser constatados, caso apropriado.

CoNSidEraÇÕES FiNaiS

O simples resultado de toxicidade gera incerteza

quanto aos constituintes da amostra que o provoca. Com a finalidade de identificar os contaminantes responsáveis pela toxicidade de corpos d’água, métodos conhecidos, como TIE (Toxicity Identification Evaluation), podem ser utilizados como parte complementar dos protocolos de toxicidade. Esse método busca isolar uma ou mais subs-tâncias e/ou classe de substâncias responsáveis pela to-xicidade total de uma amostra, através de manipulações, ajustes e tratamento, combinando a quantificação da toxicidade e inspeção isolada por técnicas analíticas dos contaminantes.

Postas as dúvidas a respeito da contaminação das amostras, a identificação de substâncias tóxicas ao orga-nismo-teste é um passo essencial para a compreensão do efeito das águas em análise, se realmente a toxicidade é fruto de ação antrópica ou de propriedades naturais das águas regionais e, consequente inaptidão do orga-nismo-teste ao ambiente.

rEFErÊNCiaS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13373. Ecotoxicologia aquática - toxicidade crônica - método de ensaio com Ceriodaphnia spp. (Crustacea, Cladocera). Rio de Janeiro RJ. ABNT. 2005.

AZEVEDO, F.A., CHASIN, A.A.M. As bases toxicológicas da ecotoxicologia. Rima, 2003. São Carlos SP, 2003.

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução No 357, de 17 de março de 2005: Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento,bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências, Gráfica e Editora Itamarati, Brasília DF, 2005.

COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL. Avaliacão de toxicidade crônica utilizando Ceriodaphnia dubia, Richard 1894 (Cladocera, Crustacea). São Paulo SP: CETESB, 1991.

GHERARDI-GOLDSTEIN, E. Testes de toxicidade de efluentes industriais. Ambiente, v. 2, n. 1, 1988.

KÜCHLER, I.L., MIEKELEY, N., FORSBERG, B.R. A contribution to the chemical characterization of rivers in the Rio Negro Basin, Brazil. Journal of the Brazilian Chemical Society, v. 11, n. 3, 2000.

LEWIS,W.M.JR., HAMILTON, S.K., SAUNDERS, J.F.III. Rivers of Northern South America. Ed. Cushings,C., Cummins, K., Minshall, G.W., River and Stream Ecosystems, University of California Press, Berkeley, California, 1995.

MARQUES, M.N.; COTRIM, M.B.; PIRES, M.A.F. Avaliação do impacto da agricultura em áreas de proteção ambiental, pertencentes à bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape, São Paulo. Química Nova, São Paulo, v. 30, n. 5, 2007.

TUCCI, C.E.M. Desenvolvimento dos recursos hídricos no Brasil. Global Water Partnership, Brazil, 2004.

VILLIERS, M. Água: como o uso desse precioso recurso natural poderá acarretar a mais séria crise do século XXI. Rio de Janeiro RJ: Ediouro, 2002.

Page 40: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado
Page 41: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 41

a iMPortâNCia doS CoNVErSorES CatalítiCoS EM MotoCiCloS E VEíCUloS SiMilarES

tHE iMPortaNCE oF CatalYtiC CoNVErtErS iN SiMilar VEHiClES aNd MotorCYClES

eDuaRDo CamPelo soeiRoInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RN. E-mail: [email protected]

Page 42: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

42 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

envio em: Agosto de 2013aceite em: Agosto de 2013

RESUMOApesar de serem mais leves e de consumirem uma quantidade menor de combustível, uma motocicleta emite mais gases tóxicos que um carro. Isso se deve às diferenças tecnológicas entre os dois veículos. Graças às atualizações sofridas pelo Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE), programa federal com mais de 20 anos, as fábricas de automóveis incorporaram dispositivos e tecnologias que possibilitaram a redução da emissão de gases tóxicos. O mesmo não aconteceu com as motocicletas e seus similares. Somente em 2003, foi lançado o Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares (PROMOT), programa federal que estipula limites de emissão para motocicletas e ciclomotores. Mesmo tardio, o programa obrigará as motos a incorporarem tecnologias e dispositivos, como a injeção eletrônica e os conversores catalíticos, que, há anos, são utilizados nos carros.

Palavras-chaves: Motocicletas. Poluição. PROCONVE. PROMOT. Catalisador.

ABSTRACTAlthough being lighter and consume a small amount of fuel, a motorcycle emits toxic gases more than a car. This occurs because the technology is different between the two vehicles. According to the updates suffered by PROCONVE (Program Control of Air Pollution of Motor Vehicles), the federal program with more than 20 years, the automobile factories incorporated devices and technologies that enabled the reduction of the emission of toxic gases. Motorcycles and their similar ones only in 2003 was launched PROMOT (Control Program Air Pollution Motorcycles and Similar Vehicles), a federal program that provides emission limits for motorcycles and mopeds. Even later, the program will obligate motorbikes to incorporate technologies and devices such as electronic injection and catalytic converters which for years are being used in cars.

Keywords: Motorcycles. Pollution. PROCONVE. PROMOT. Catalyzer.

Page 43: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 43

iNtrodUÇÃo

Ao se falar de motocicletas e seus similares, há uma grande chance de se iniciar um debate fervoroso. Algu-mas pessoas possuem total aversão a esse tipo de veí-culo e seus condutores, o que é justificado pelo perigo e imprudência de alguns motociclistas. Outras pesso-as possuem um posicionamento contrário: defendem como podem o veículo de duas rodas. Diante desse conflito, uma coisa parece unânime: as motos são bem mais econômicas que os carros; como o consumo de combustível é menor, aparentemente poluem menos. Essa afirmação, a princípio, parece óbvia, mas, por incrí-vel que pareça, essa “lógica” não se confirma na prática.

Segundo reportagem do Jornal Folha de São Paulo, de 23 de Janeiro de 2008, uma moto pode poluir até seis vezes mais que um carro. Em entrevista ao jornal, Home-ro Carvalho, gerente da CETESB, na época, afirma que uma moto nova emite, em média, 2,3 gramas de monó-xido de carbono por quilômetro rodado, enquanto um carro novo emite 0,34 gramas. Isso pode ser explicado pela grande diferença tecnológica entre o automóvel1 e a motocicleta. Ao compararmos uma moto popular fabricada em 2008 com um carro popular produzido no mesmo ano, percebemos a ausência, na moto, de dispositivos, como o sistema de injeção eletrônica, que promove uma melhor queima do combustível, e o con-versor catalítico. Esses dois dispositivos, há anos, estão presentes nos carros.

Tal fato se justifica pela diferença de idade entre o PROCONVE e o PROMOT, que são dois programas fe-

derais de controle de emissão de poluentes. O primei-ro surgiu na resolução do CONAMA 18/1986 e, durante anos, sofreu diversas atualizações, que obrigaram os au-tomóveis a adotarem diversas tecnologias para diminuir a emissão de poluentes, como a injeção eletrônica e os conversores catalíticos. Já o PROMOT é um programa bem mais recente, foi proposto na resolução do CONA-MA 342/2003. Essa demora retardou a inserção de apa-ratos tecnológicos que diminuem a produção de gases poluentes nas motocicletas e seus similares.

As motocicletas e seus similares, que não possuem sistemas de injeção eletrônica e conversor catalítico, po-dem emitir quantidades elevadas de gases tóxicos, como o monóxido de carbono (CO) e os óxidos nitrogenados (NOx). O CO se destaca por sua elevada toxidade; ele for-ma um complexo com a hemoglobina do sangue, com-plexo este mais estável que a oxihemoglobina. Isso impe-de que a hemoglobina das hemácias transporte oxigênio pelo corpo. A consequente deficiência de oxigênio leva à inconsciência e, finalmente, à morte (LEE, 1999).

o ProMot E SUaS FaSES

O PROMOT está completando dez anos e, durante esse período, sofreu algumas atualizações que, basica-mente, foram divididas em quatro fases denominadas, M-1 (fase1), M-2 (fase 2), M-3 (fase3) e M-4 (fase 4). Para se ter uma ideia da evolução, em M-1, a quantidade máxima de monóxido de carbono permitida para um motociclo (motocicleta) foi de 13 g/Km (CONAMA 297), já em M-3, esse valor cai para 2 g/Km (CONAMA 432). A tabela 01 mostra um resumo das atualizações no PROMOT.

1 É o veículo automotor com massa total máxima de 3.856 kg e massa do veículo em ordem de marcha de até 2.720 kg, projetado para o transporte de até 12 passageiros, ou seus derivados para o transporte de carga (IBAMA, 2011).2 Exceto triciclo e quadriciclo.

Inicio da vigência Motor (cm3) CO (g/Km) HC (g/Km) NOx (g/Km)

Jan./2003 (M-1) Todos 13 3,0 0,3

Jan./2005 (M-2)2 <150 5,5 1,2 0,3

≥150 5,5 1,0 0,3

Jan./2009 (M-3) <150 2,0 0,8 0,15

≥150 2,0 0,3 0,15

Tabela 1: Limites máximos de emissão permitida para motocicletas e seus similares

FONTE: CETESB, 2013.

A quarta fase do PROMOT ocorrerá em duas etapas. A primeira entra em vigor em janeiro de 2014 e mantém os mesmos índices de emissão aceitos pela fase 3. A se-

gunda parte altera os níveis de emissão em vigor para outros mais baixos – devendo vigorar a partir de 2016 (Tabela 02).

Page 44: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

44 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

Categoria Data de vigência Velocidade máxima CO (g/Km) HC (g/Km) NOx(g/Km)

Motociclos3 e similares 01/01/2014 <130Km/h 2,0 0,8 0,15

≥130Km/h 2,0 0,3 0,15

01/01/2016 <130Km/h 2,0 0,56 0,13

≥130Km/h 2,0 0,25 0,17

Ciclomotor4 01/01/2014 – 1,0 0,8 0,15

Tabela 2: Limite máximo para emissões no PROMOT 4

3 Veículo automotor de duas rodas e seus similares de três rodas (triciclo) ou quatro rodas (quadriciclo), dotado de motor de combustão interna com cilindrada superior a cinquenta centímetros cúbicos e cuja velocidade máxima ultrapasse cinquenta quilômetros por hora (CONAMA297/2002).4 Veículo de duas rodas e seus similares de três rodas (triciclo) ou quatro rodas (quadriciclo), provido de um motor de combustão interna, cuja cilindrada não exceda a cinquenta centímetros cúbicos e cuja velocidade máxima de fabricação não exceda a cinquenta quilômetros por hora (CONAMA 297/2002).5 Catalisadores são substâncias que aumentam a velocidade das reações químicas sem serem consumidos (BRADY, 2002).

Fonte: CONAMA 433/2011

Para atingir níveis aceitáveis de emissão, as novas mo-tocicletas e seus similares deverão incorporar tecnologias já utilizadas nos veículos leves, como o sistema de injeção eletrônica e conversor catalítico.

oS CoNVErSorES CatalítiCoS

Atualmente não há nenhuma resolução que obrigue os fabricantes de motocicletas e similares a colocarem catalisadores no escapamento das motos novas, mas, para atingir os níveis de emissão propostos pela fase 4 do PROMOT, será inevitável a utilização desse dispositivo.

O catalisador é um componente do sistema de exaus-tão de veículos, formado por um núcleo cerâmico ou metálico. Atua transformando gases altamente tóxicos, como monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos que não sofrem combustão (HC) e óxidos de nitrogênio (NOx), em gases não tóxicos, como o dióxido de carbono (CO2),

gás nitrogênio (N2) e vapor de água (H2O).O conversor catalítico de um automóvel é constitu-

ído por uma mistura de catalisadores5 (metais nobres, como platina, paládio e ródio) ligados a um suporte ce-râmico, tipo colmeia, poroso, por onde passam os ga-ses de escape (ATKINS, 1999). O formato de colmeia tem por objetivo fornecer uma grande superfície de contato para que os gases possam reagir mais rapidamente, esti-ma-se que a superfície total da colmeia de um conversor equivale à área de quatro campos de futebol (FONSECA, 2007). Os catalisadores que promovem a combustão de CO e dos hidrocarbonetos são, em geral, óxidos de metais de transição e metais nobres, como a platina. Os mesmos materiais podem ser usados para a redução de NOx em N2 e O2 (BROWN, 2007).

Algumas das reações que transformam os gases tóxi-cos CO, NO2 e NO em gases não-tóxicos são representa-das pelas equações (FONSECA, 2007)

2CO(g) + 2NO(g)g 2CO2(g) + N2(g) (1)2CO(g) + O2(g)g 2CO2(g) (2)2 C2H6(g) + 7 O2(g)g 4 CO2(g) + 6 H2O(v) (3)2 NO2(g) + 4 CO(g)g N2(g) + 4 CO2(g) (4)2NO2(g)gN2(g) + 2 O2(g) (5)2NO(g)gN2(g) + O2(g) (6)

Esses processos consistem em uma catálise heterogê-nea, pois o catalisador, sólido, encontra-se em um estado físico diferente dos gases tóxicos. O material cerâmico que compõe o conversor catalítico funciona por adsor-ção, processo, no qual, uma ou mais moléculas reagentes são retidas na superfície do catalisador, aumentando sua reatividade com a produção de espécies instáveis, como

o oxigênio atômico (BRADY, 2002).Segundo Brown (2007), os catalisadores funcionam,

primeiro adsorvendo gás oxigênio, também presente no gás expelido, enfraquecendo a ligação O=O, de tal forma que os átomos de oxigênio fiquem disponíveis para a reação com o CO adsorvido para formar CO2. A oxidação dos hidrocarbonetos, provavelmente, ocor-

Page 45: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 45

re de forma similar, com os hidrocarbonetos sendo adsorvidos primeiro pela quebra de uma ligação C–H (BROWN, 2007).

Os catalisadores dos conversores são desativados ou “envenenados” pela injeção do octano à base de chum-bo tetraetil [Pb(C2H5)4] e, por isso, a gasolina “chumba-da” não pode ser legalmente usada nos veículos (BRADY, 2002). O chumbo tetraetila começou a ser misturado à gasolina em 1922 e, somente a partir de 1970, começaram as discussões e o interesse em sua eliminação do com-bustível, devido às implicações que traz à saúde pública e ao meio ambiente, como a contaminação de ar, solo e água. Devido às dificuldades em se fazer uma transição rápida, as mudanças começaram a ocorrer, efetivamen-te, somente na década de 90. Em 1996, cerca de 80% de toda gasolina vendida no mundo já estava sem chumbo (UNEP, 1999). O Brasil foi um dos primeiros países a fazer essa mudança e, no decreto-lei 189/1999, a comercializa-ção da gasolina chumbada foi proibida.

CoNSidEraÇÕES FiNaiS

O controle da emissão dos gases gerados na combustão dos motores dos automóveis e motos é de extrema importân-cia para o meio-ambiente. O controle tardio das emissões das motocicletas e similares gera altos níveis de poluição, quan-do comparados a veículos de passeio. Uma moto, veículo de duas rodas que consome até quatro vezes menos combus-tível que um carro popular, chega a poluir mais. Isso se deve a não utilização de tecnologias, como a injeção eletrônica e o conversor catalítico que, há anos, são utilizados nos carros.

A quarta fase do PROMOT acarretará a adoção dessas tecnologias pelos fabricantes de motocicletas e ciclomo-tores. A M-4 não obriga, de forma direta, a adoção des-ses equipamentos, mas os índices exigidos, nessa fase do PROMOT, só serão atingidos com a utilização dos mes-mos. Algumas montadoras afirmam que a adoção desses dispositivos aumentará o custo de produção, que, prova-velmente, será repassado para o consumidor.

rEFErÊNCiaS

ATKINS, P; JONES, L. Princípios de Química: Questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Artmed, 1999.

BALAZINA, Afra.Folha. Motos novas poluem pelo menos seis vezes mais que carros, afirma a Cetesb. Folha de São Paulo, São Paulo, 23 jan. 2008. Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2301200813.htm>. Acesso em 25 jun. 2013.

BRADY, James E.; RUSSELL, Joel W.; HOLUM, John R. A matéria e suas transformações. Rio de Janeiro: LTC, 2002.

BRASIL. Decreto-lei nº 186/99. Disponível em: http://dre.pt/pdf1sdip/1999/05/126A00/31073109.pdf> Acesso em 15 jul.2013.

BROWN, Theodore L. Química, a ciência central. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. 1986. Resolução Conama nº 018. Disponível em:< www.mma.conama.gov.br/conama> Acesso em 25 jun.2013.

______. CONAMA. 2002. Resolução Conama nº 297. Disponível em: <www.mma.conama.gov.br/conama> Acesso em 25 jun.2013.

______. CONAMA. 2003. Resolução Conama nº 342. Disponível em:< www.mma.conama.gov.br/conama> Acesso em 25 jun.2013.

______. CONAMA. 2011. Resolução Conama nº 432. Disponível em:< www.mma.conama.gov.br/conama> Acesso em 25 jun.2013.

FONSECA, Martha Reis. Físico-Química: textos e atividades complementares. São Paulo: FTD, 2007.

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA). Programa de controle da poluição do ar por veículos automotores: Proconve/Promot. 3. ed. Brasília: Ibama, 2011. 584 p. (Coleção MeioAmbiente. Série Diretrizes – Gestão Ambiental, n.º 3).

LEE, J, J. Química Inorgânica não tão concisa. São Paulo: Edgard Blücher, 1999.

UNITED NATIONS ENVIRONMENTAL PROGRAM (UNEP). Phasing lead out of gasoline: An examination of policy

Page 46: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

46 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

approaches in different countries. 1999. p. 14. Disponível em: <http://www.unep.fr/energy/act/tp/ldgas/index.htm> Acesso em: 15jul.2007.

PETROBRAS. Disponível em: < ttp://www.petrobras.com.br/pt/quemsomos/perfil/atividades/producaobiocombustiveis/> Acesso em: 15 jul.2013.

Page 47: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 47

PoStoS dE rEVENda dE CoMBUStiVEiS: QUaliFiCaÇÃo daS atiVidadES E a BiorEMEdiaÇÃo Na rEParaÇÃo doS PaSSiVoS aMBiENtaiS

rESalE oF GaS FUElS: QUaliFiCatioN oF aCtiVitiES aNd rEPair oF BiorEMEdiatioN iN ENViroNMENtal liaBilitiES

alBeRiCo t. CanáRio De souza Professor de Matemática. IFRN. Universidade Potiguar. E-mail: [email protected]

RaPhael vaRela FloRMestrando do Programa de Pós-graduação do Mestrado Profissionalizante de Petróleo e Gás. Universidade Potiguar. E-mail: [email protected]

Page 48: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

48 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

envio em: Agosto de 2013aceite em: Agosto de 2013

RESUMOAs questões ambientais, relacionadas à comercialização de combustível, em especial as dos postos de abastecimento de combustíveis, são, cada vez mais, preocupantes, haja vista o potencial poluidor que tal atividade apresenta. Nesse contexto, as empresas começam a se mobilizar e adotar medidas que viabilizem a exploração dos seus negócios de formas sustentável e sem agressões ao meio ambiente. Nesse sentido, é extremamente importante, até para manutenção das licenças de operação, que os postos de revenda de combustíveis avaliem, de forma constante, a ocorrência de vazamento de hidrocarbonetos e efetivem, de forma correta, a recuperação do devido dano ambiental. Assim sendo, essa pesquisa objetiva identificar quais são os possíveis passivos ambientais decorrentes da atividade desenvolvida pelos postos de combustíveis e quais as devidas medidas a serem adotadas para neutralizar esse passivo. Utilizaram-se, como base de consulta e informação, dados secundários do Ministério Público do Rio Grande do Norte, da SEMURB e de uma pesquisa na bibliografia científica. Os resultados apontam para problemas advindos da contaminação em solos e águas subterrâneas, porém, qualificam os processos biotecnológicos como adequados à proposta de remediação destes cenários.

Palavras-chave: Revenda de combustível. Passivo ambiental. Neutralização de passivo ambiental.

ABSTRACTEnvironmental issues related to the commercialization of fuel, especially the gas fuel supply, are increasingly alarming, given the potential polluter of such activity. In this context, companies begin to mobilize and take steps to enable the operation of their businesses in sustainable ways and without damage to the environment. Therefore, it is extremely important, even for the maintenance of operating licenses, that the retail fuel stations evaluate constantly, the leakage of hydrocarbons and make the recovery of environmental damage. Thus, this research aims at identifying what are the possible environmental liabilities arising from the activities developed by gas stations and what the appropriate measures to be taken to counteract this liability. It was used as a basis for consultation and information, secondary data: the public ministry of Rio Grande do Norte, the SEMURB and research in the scientific literature. The results indicate problems arising from contamination in soils and groundwater, however, they qualify biotechnological processes as appropriate to the proposed remediation of these scenarios.

Keywords: Retail fuel. Environmental liabilities. Neutralization ofenvironmental liability

Page 49: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 49

1 iNtrodUÇÃo

A problemática ambiental vem se tornando, cada vez mais, abrangente, passando por meios que afetem o âmbito mundial. Devido ao crescimento populacional, há um aumento na produção e, consequentemente, no consumo de hidrocarbonetos e seus derivados. O con-sumo e a comercialização desses derivados de hidro-carbonetos são um verdadeiro desafio logístico para o mundo. Nesse contexto, os postos de abastecimento de combustível vêm tentando se ajustar às normativas ambientais para promover suas atividades comerciais de forma sustentável e sem agressões ao ambiente. (LO-RENZETE, 2010).

No Brasil, a legislação pertinente à atividade de arma-zenamento e distribuição de combustível data do ano 1997, com a edição da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº. 237/97, que cita a ati-vidade como sendo sujeita ao licenciamento ambiental. Mais recentemente, o CONAMA, publicou a Resolução nº. 273/2000, com a finalidade principal de padronizar os procedimentos e o licenciamento das atividades que possuem armazenagem de combustíveis, como os pos-tos de gasolina e Transportadores-Revendedores-Re-talhistas (TRR). Essas resoluções do CONAMA constitu-íram a base legal mais importante para o licenciamento ambiental da atividade. Entretanto, há que serem ob-servadas, também, as normas técnicas expedidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a le-gislação estadual específica de cada Estado.

A ocorrência de vazamentos em sistemas de abas-tecimentos subterrâneos (SASC’s) tem sido objeto cres-cente de preocupação, em função dos riscos associados a esses eventos, os quais se manifestam, tanto como contaminação superficial provocada por constantes e sucessivos derrames junto a bombas e bocais, como pe-los vazamentos em tanques e tubulações subterrâneas. Na sua grande maioria, tal passivo só é percebido após o afloramento em galerias de esgotos, em redes de dre-nagem de águas pluviais, no subsolo de edifícios, em túneis e poços de abastecimento de água.

Segundo levantamento apresentado pelo Ministério Público/RN (2011), citado por Jerônimo (2012), nos pos-tos revendedores de combustíveis de Natal/RN, apenas 3 deles estão em condições, ambientalmente, adequa-das para seu funcionamento, sem a geração de impac-tos ambientais significativos. Além disso, que 108 pos-tos apresentavam vazamentos nas tubulações, todos os postos que comercializam Gás Natural Veicular (GNV) apresentaram problemas de vazamentos, e 12 postos foram interditados por risco de explosão.

Diante desse cenário, neste trabalho, buscou-se le-vantar o cenário de impactos ambientais oriundos de

postos revendedores na cidade do Natal, qualifican-do os principais impactos e passivos ambientais, bem como estabelecendo as principais rotas de atenuação aplicáveis à remediação dessas áreas, utilizando os mé-todos biotecnológicos.

2 rEViSÃo BiBlioGráFiCa

O ramo de postos revendedores de combustíveis

É o ramo de atividade empresarial que trabalha, basi-camente, o comércio varejista de combustíveis fósseis e/ou bicombustíveis. Segundo Lorenzete (2010), os trans-portes no Brasil são, predominantemente, rodoviários, dependendo, basicamente, de combustíveis fósseis e bicombustíveis para manter o ciclo econômico da na-ção. Fica demonstrada, dessa forma, a importância da cadeia de postos revendedores de combustíveis, estra-tegicamente, disposta em todo território nacional.

Segundo o Ministério Público do estado do Rio Gran-de do Norte, devem ser entendidos por postos de reven-da de combustíveis os estabelecimentos que realizam a atividade varejista de combustíveis líquidos derivados de petróleo, álcool combustível e outros combustíveis automotivos, dispondo de equipamentos e sistemas para armazenamento de combustíveis automotivos e equipamentos medidores.

O órgão regulador das atividades que integram a indústria do petróleo e gás natural e a dos bicombus-tíveis no Brasil é a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustível (ANP), devendo quem desejar desenvolver essas atividades sujeitar-se às normas por ela impostas. É de competência do CONAMA legislar a atividade de comercialização de combustível. Cabendo às prefeituras municipais a questão da permissão para o funcionamento dos postos, ou seja, identificar os locais adequados ao desenvolvimento dessa atividade.

Segundo Santos (2005), os postos de combustíveis possuem, basicamente, as seguintes instalações: a uni-dade de abastecimento de veículos (bomba de gasolina), os tanques de combustíveis (geralmente enterrados), os pontos de descarga de combustíveis, onde os carros--tanques fazem o reabastecimento dos PRCs, o tanque para recolhimento e guarda de óleo lubrificante usado (geralmente enterrados), as tubulações enterradas que comunicam o ponto de descarga com o reservatório e este com as bombas de abastecimento, as edificações para escritório e arquivo morto, a loja de conveniência, o centro de lubrificação e o centro de lavagem, a unida-de de filtragem de diesel, o sistema de drenagens oleo-sas e fluviais e os equipamentos de proteção e controle de derrames e vazamentos de combustíveis, bem como

Page 50: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

50 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

de segurança quanto a incêndios e explosões.Ainda, segundo Santos (2005, p. 74), as atividades

mais frequentes em um posto de combustíveis são as seguintes:

A) Recebimento de produto via carros-tanques de combustíveis.

B) Armazenamento dos combustíveis em tanques enterrados.

C) Abastecimento dos veículos.D) Operação do sistema de drenagem oleosa

segregada da fluvial.E) Troca de óleo lubrificante dos motores dos veículos.F) Lavagens de veículos.G) Operação da loja de conveniência / escritórios /

arquivo morto.

Legislação ambiental aplicável aos postos de com-bustíveis

Desde a Lei Federal nº 6.938/81, regulamentada pelo Decreto Federal n.º 99.274/90, a atividade de comércio varejista de combustíveis (postos de gasolina) está sub-metida à legislação ambiental, sendo citada, também, como atividade sujeita ao licenciamento ambiental pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA nº 237/97 e mais recentemente pela resolução CONAMA nº 273/2000, que trata, especificamente, da padronização e licenciamento das atividades que pos-suem reservatórios e armazenamento de combustíveis, constituindo a mais abrangente e mais importante le-gislação referente à tratativa.

A resolução do CONAMA 273/2000 estabelece, ain-da, alguns documentos específicos para emissão de li-cenças ambientais, são eles:

• Licençaprevia&licençadeinstalação:A) Projeto básico, que deverá especificar os equipa-

mentos e sistemas de monitoramento, proteção, sistema de detecção de monitoramento, sistema de drenagem e tanques de armazenamento de derivados de petróleo.

B) Declaração da prefeitura municipal de que o local e o tipo de empreendimento / atividade estão em conformidade com o plano diretor;

C) Croqui de localização do empreendimento.D) Caracterização hidrogeológica, no raio de 100

metros do estabelecimento comercial.E) Caracterização geológica, no raio de 100 metros

do estabelecimento comercial.F) Classificação da área do entorno dos estabeleci-

mentos que utilizam o sistema de armazenamento subterrâneo de combustível-SASC e enquadramento

deste sistema, conforme NBR-13.786.G) Detalhamento do tipo de controle de efluentes

provenientes dos tanques, áreas de bomba e áreas sujeitas a vazamentos.

H) Previsão no projeto de dispositivos com neces- sidade de recolhimento e disposição adequada de óleo lubrificante usado.

• Licençadeoperação:A) Plano de manutenção de equipamentos / sistemas

e procedimentos operacionais.B) Plano de respostas a incidentes.C) Atestado de vistoria do corpo de bombeiros.D) Programa de treinamento de pessoal.E) Registro do pedido de autorização para funcio-

namento na Agência Nacional de Petróleo (ANP).F) Certificados expedidos pelo Instituto Nacional

de Metrologia, Normatização e Qualidade Ins- trumental (INMETRO), atestando a conformida de quanto à fabricação, montagem e comissio- namento dos equipamentos e sistemas.

G) Certificado expedido pelo INMETRO, atestando a inexistência de vazamentos.

Fica determinado pela Resolução do CONAMA nº 273/2000, em seu art. 1°, que todas as atividades referen-tes ao setor de armazenamento e distribuição de com-bustíveis deverão ser realizadas em conformidade com as normas técnicas expedidas pela ABNT ou pelo órgão ambiental competente. Nesse contexto, é importante citar que são, aproximadamente, 30 normas da ABNT e que toda construção, modificação ou ampliação dos em-preendimentos devem estar em conformidade com tais normas, as quais incluem requisitos relativos à fabricação, instalação, operação, manutenção e desativação dos vá-rios elementos e máquinas pertencentes ao sistema de armazenamento subterrâneo de combustíveis, logo, toda a sanidade vinculada às áreas isentas de contaminantes deve ser atestada nos ritos do licenciamento.

Contaminação de águas subterrâneas e do solo por vazamento de combustíveis

A contaminação de águas subterrâneas e solos por hidrocarbonetos provenientes de postos de abaste-cimento de combustível tem sido objeto de crescente preocupação dos organismos ambientais. Os compos-tos BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno), pre-sente nesses combustíveis, são extremamente tóxicos à saúde humana e podem inviabilizar a exploração de aquíferos por eles contaminados.

O Art. 8 da resolução 273 de 2000 diz que, em caso de acidentes ou vazamentos que representam situações

Page 51: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 51

de perigo ao meio ambiente ou às pessoas, os proprie-tários/responsáveis pelo estabelecimento responde-rão pela adoção de medidas para controle da situação emergencial.

Os vazamentos de combustíveis podem ocorrer pe-los seguintes motivos:

• Derramamentos superficiais constantes e suces-sivos junto às bombas e bocais, durante a opera-ção de transferência do produto para tanques ou abastecimento devido à infiltração nas rachadu-ras do piso dos postos.

• Vazamento nas próprias bombas de abastecimen-to, no sistema ou no tanque, devido à corrosão.

• Falhas estruturais ou das tubulações subterrâne-as conectadas ao tanque.

• Instalações inadequadas.

O Combustível, quando derramado em subsuperfí-cie, tende a migrar verticalmente, infiltrando-se na zona não saturada até atingir a zona saturada. Após o episó-dio de vazamento, os hidrocarbonetos se infiltram no solo e interagem com o mesmo, manifestando-se de várias formas. Os compostos dos hidrocarbonetos de petróleo podem se particionar em cinco fases em sub-superfície:

• Vapor (no gás do solo).• Residual (retido por ação de capilaridade).• Adsorvido (na superfície das partículas sólidas).• Dissolvido (dissolvido na água).• Fase livre (hidrocarboneto líquido, móvel).

Enquanto a fonte de vazamento continuar fornecen-do produto, o solo vai se tornando mais saturado de hidrocarbonetos e o centro de massa de pluma vai mi-grando descendentemente. Se o volume de hidrocarbo-neto que vaza é pequeno em relação à capilaridade no solo, a massa total de contaminante ficará imobilizada. A remediação de solos e águas subterrâneas e dos solos é, normalmente, uma tarefa complexa, que exige o co-nhecimento das tecnologias de remediação, suas limi-tações, relações custo benefício, e suas devidas aplica-bilidades. Processos como extração de vapores do solo (SVE), extração multifásica (MPE), recuperação de pro-dutos livre, bioventilação, airsparging in situ, extração com solventes, incineração, barreiras reativas, adsorção em carvão ativado, bombeamento e tratamento, bior-remediação no local, entre outros têm sido usados para remover contaminantes orgânicos da água subterrânea e sistemas de solo subsuperficial.

Na grande maioria, os processos utilizados para a re-

mediação das áreas contaminadas são de longos prazos e altos custos. Por outro lado, a biorremediação no local é um processo economicamente mais viável (WEBER; CORSEUIL, 1994; CORSEUIL; ALVAREZ, 1996).

Os principais processos biológicos para reparação de passivo ambiental de águas subterrâneas e do solo

Bioventilação: a abordagem é usada para estimular os processos de degradação aeróbica acima de lençol freático, pela ação de bombas de vácuo que extraem o ar através da zona insaturada. A técnica de bioventi-lação é aplicável a sítios em que os contaminantes são pouco ou não voláteis como o diesel; limitado a sítios com média à elevada permeabilidade. Não promove o tratamento da zona saturada, isto é não aquífero (NO-BRE et al., 2003 ; FURTADO, 2005).

Bioslurping: o sistema de extração Bioslurping combina as técnicas de bioventilação e remoção de massa a vácuo, possibilitando a extração da fase livre, fase vapor, fase dissolvida na matriz do solo e estimu-lando o processo de biodegradação natural na zona não saturada (NOBRE et al., 2003; FURTADO, 2005). A extração Bioslurping ocorre por meio da instalação de um sistema de ventilação de alto vácuo em poços de extração distribuídos na área de interesse, visando a criar uma zona de influência do sistema de toda a extensão da pluma de contaminação com o estímulo à biodegradação através do aumento do fluxo de ar (oxigênio) no solo.

Barreiras biológicas: este termo refere-se às zonas biológicas ativas, que são colocadas no caminho das plumas estreitas de BTEX, frequentemente incorpo-rando aspersores de ar ou componentes que liberam oxigênio para intensificar os processos de biodegrada-çãooxidativa. Controles físicos ou hidráulicos nos movi-mentos das águas subterrâneas podem ser necessários para assegurar que os BTEX passem através das barrei-ras (MOERI, 2004).

Biodegradação Oxidativas: o princípio básico do pro-cesso de degradação oxidativa consiste na passagem de elétrons de um reagente para um aceptor de elétrons, geralmente oxigênio, produzindo radicais oxidativos. O exemplo clássico de uma degradação oxidativa é a quei-ma de combustíveis fósseis, em que os elétrons oriun-dos da quebra do combustível são transferidos para o oxigênio (SARON, 2006). Dessa forma, sem o aceptor fi-nal de elétrons não ocorre a degradação oxidativa. Em alguns contextos, quando essa degradação é acelerada pela presença de enzimas produzidas por seres vivos, é chamada de biodegradação oxidativa. Abaixo, segue uma ilustração:

Page 52: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

52 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

Figura1 – Formação do radical oxidativo no processo de degradação oxidativa. Adaptado de Saron, 2006.

3 MEtodoloGia da PESQUiSa

3.1 CaraCtEriZaÇÃo da PESQUiSa

O estudo constitui-se de uma pesquisa aplicada, visto que “objetiva gerar conhecimentos para aplicação prá-tica e dirigidos à solução de problemas específicos”. Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, é uma pesquisa qualitativa. Do ponto de vista de seus ob-jetivos, é exploratória: “visa proporcionar maior familiari-dade com o problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográ-fico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exem-plos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso”. Em relação ao enquadramento técnico, é vista como uma pesquisa experimental: “quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto”.

A hipótese pauta-se na possibilidade de haver apli-cabilidade das técnicas biotecnológicas para o trata-mento de solos contaminados, com o diferencial eco-nômico no processo.

Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, o es-tudo foi complementado com uma pesquisa bibliográfi-ca, por sua elaboração partir do levantamento e análise de material já publicado, como artigos científicos, livros, relatórios técnicos, etc. (SILVA; MENEZES, 2000) e como estudo de caso devido à utilização de dados de campo. A estrutura da pesquisa consiste em:

− Formulação do problema, englobando a justificati-va do estudo, a determinação dos objetivos, a contextua-lização da problemática e definição da metodologia.

− Realização do levantamento teórico, que orienta a caracterização do objeto de estudo, as definições e con-ceitos a serem utilizados em análise e correntes de pensa-

mentos que norteiam a hipótese da pesquisa.− Levantamento de dados na base de consulta e infor-

mação do Ministério Público do Rio Grande do Norte, nas bases de dados da SEMURB, e em livros e artigos cientí-ficos.

− Estudo criterioso sobre o cumprimento dos requi-sitos atribuídos pelas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), instruções nor-mativas do Ministério do Meio Ambiente e resoluções do CONAMA.

Os dados coletados em campo foram organizados de acordo com a necessidade de utilização na pesquisa e utili-zados para elaboração do levantamento da parametrização.

3.2 ESPaÇo aMoStral

O contexto idealizado para a aplicação dos conceitos foi desenvolvido para os postos revendedores de com-bustíveis do município de Natal/RN.

4 rESUltadoS E diSCUSSÕES

Percebemos, no levantamento realizado, que a ativi-dade de revenda de combustíveis é potencialmente po-luidora. A atividade é regida por resoluções do CONAMA e todos os equipamentos presentes nos postos de abas-tecimento de combustível devem estar em conformida-de com as normas técnicas expedidas pela ABNT.

Quanto aos processos de licenciamentos, estes são obtidos após uma rigorosa vistoria nas áreas onde exis-tem possibilidades de poluição ou degradação ao meio ambiente (CATUNDA, 2010).

Houve avanços na legislação e regulamentação que são aplicadas no setor de revenda de postos de combustí-veis, com isso, nos casos de acidentes ou vazamentos, que representam situações de perigo ao meio ambiente ou às pessoas, os proprietários e (ou) responsáveis pelo estabe-

Page 53: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 53

lecimento comercial passaram a responder pela adoção de medidas para controle da situação emergencial. Nesse contexto, as medidas para reparação do passivo ambien-tal são de grande importância, principalmente a biorre-mediação no local, que é um processo economicamente mais viável. Conseguimos, também, fazer uma análise dos principais processos biológicos para reparação de passivo ambiental de águas subterrâneas e do solo, entendendo como cada um desses processos se conduz.

Ficou claro que a bioventilação, é uma técnica de bio-estimulação que se caracteriza pela adição de oxigênio, através do solo, para estimular o crescimento dos orga-nismos naturais e/ou introduzidos pela bioaumentação. Entretanto, para a aplicação da técnica de bioventilação com eficiência, é necessário o estudo de parâmetros, como o tempo de aplicação da técnica e vazão de ar a ser adicionada na área contaminada frente a cada tipo de solo (KARAMALIDIS, 2012).

Já Bioslurping é uma tecnologia que é mais eficiente para solos de média à baixa permeabilidade (NYER et. al., 1996), em que pressões de vácuo eficientes podem ser aplicadas. Entretanto, existem exemplos na literatura em que o ‘bioslurping’ se mostrou eficiente em meio poro-so mais permeável (MILLER, 1996; MILLETTE et. al., 2001). O solo deve se caracterizar por condutividade hidráulica entre 10-5 a 10-7 m/s para atingir as condições ideais de operação do sistema (NYER et. al., 1996). Além do meio poroso, o tipo de contaminante também deve ser consi-derado. Essa técnica é particularmente bem adequada à

remoção de contaminantes menos densos do que a água subterrânea (MILLER, 1996). Além disso, ele favorece a biodegradação de compostos na zona não saturada.

As Barreiras biológicas são, conforme citado na revi-são bibliográfica, zonas biológicas ativas que são coloca-das no caminho das plumas estreitas de BTEX, frequente-mente incorporando aspersores de ar ou componentes que liberam oxigênio para intensificar os processos de biodegradação oxidativa.

5 CoNSidEraÇÕES FiNaiS

Atualmente, vive-se uma fase em que a questão am-biental está ganhando força, os órgãos ambientais estão mais atuantes e a legislação, cada vez mais, rigorosa. Este trabalho realizou um levantamento do estado da arte à qualificação da atividade dos postos de revenda de com-bustíveis e a bioremediação dos passivos ambientais de-correntes da atividade.

As práticas biológicas na redução de uma contamina-ção ainda são pouco utilizadas, todavia, a biotecnologia vem contribuindo na descoberta de agentes biológicos que possam ser utilizados na recuperação de áreas con-taminadas.

No decorrer deste levantamento, comprovamos a importância dessa atividade e, principalmente, que sem prevenção e remediação dos passivos, provenientes dela, não só a atividade estará ameaçada, mas, também, toda a manutenção da vida como a humanidade a conduz.

rEFErÊNCiaS

BRASIL. Senado Federal. A constituição de 1988: interpretações. Brasília: Sanado Federal, 1990.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução do CONAMA 237, de 19 de dezembro de 1997.

______. Resolução do CONAMA 273, de 29 de novembro de 2000.

CATUNDA, Ana Clea M. Miranda; PINTO, Carlos Henrique Catunda; et al. O licenciamento ambiental dos postos revendedores de combustíveis no município de Parnamirim-RN. GEPROS – Gestão da Produção, Operações e Sistemas. Ano 6, n. 2. p. 11-32, 2011.

DIAS, Gilka da Mata. Adequação Ambiental dos postos de combustíveis de Natal e recuperação da área degradada. 1. ed. Natal: Ministério Público do Rio Grande do Norte, 2012.

LORENZETE, Daniel Benitti. A gestão de resíduos emposto de combustível. SEMINÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO XIII SEMEAD, 2010, Universidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul.

MACHADO, Frederico Henrique. Postos de combustíveis: Quantificação e qualificação da atividade no Município de Goiania. SCIELO.

SANTOS, Ricardo José Shamá dos. A gestão ambiental em posto revendedor decombustíveis como instrumento de prevenção de passivos ambientais. 2005. 217f. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão do Meio Ambiente) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.

SARON, Clodoaldo; Felisberti, Maria Isabel. Ação de colorantes na degradação e estabilização de polímeros. Química Nova. v.29, n. 1. p. 124-128. Instituto de Química. Universidade Estadual de Campinas. 2006.

Page 54: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

54 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

SOUZA, Daniela Boanares de; BRITO, Gabriela Cristina Barbosa de; et al. Estudo de microrganismos presentes em uma área contaminada por gasolina comercial. Revista de Estudos Ambientais. v.12, nº 2. p. 38-46 Jul/dez 2012.

JERONIMO, C.. Percepção ambiental do consumidor quanto a implantação do selo verde nos postos revendedores de combustíveis de natal-rn. Revista AIDIS, Norteamérica, 5, dec. 2012. Disponível em: <http://132.247.146.34/index.php/aidis/article/view/34729>. Acesso em: 15 Ago. 2013.

KARAMALIDIS, A. K.; EVANGELOU A. C.; KARABIKA E.; KOUKKOU,A. I.; DRAINAS, C.; VOUDRIAS, E. A. Laboratoryscalebioremediation55 Revista Ciências Exatas e Naturais, Vol.14, n. 1, Jan/Jun 2012.

Nyer, E.K., Kidd, D.F., Palmer, P.L., Crossman, T.L., Fam, S., John II, F.J., Boettcher, G., Suthersan, S.S. 1996. In situ treatment technology - CRC Press Inc.: Boca Raton, FL; 344 pp.

Miller, R.R. 1996. Bioslurping; TO-96-05; Ground-Water Technologies Analysis CenterGWRTAC, 14 pp.

Millette, D., Delisle, S., Sanschagrin, S., Greer, C.W. 2000. Étude de faisabilité de labioventilation à l’Aéroport de Sept-Îles - Projet de démonstrationtechnologique; Institut de rechercheenbiotechnologie.

Millette, D., Thibault, R., Charlebois, S., Samson, R., Orban, H.J. 1997.Bioslurping pilot test in a silty low-permeability soil; In Sixth Symposium and Exhibition on Groundwater and Soil Remediation; Palais des Congrès de Montréal, March 18-21, 83-103.

Millette, D., D. Bourbeau, and P. Blackburn. 2001. Mise en place d’un projet de bioaspiration pour la restauration d’un déversementd’huile à chauffagesurvenu en terrain sableuxperméable. in Americana - Contaminated Sites Technical Sessions. Montreal Convention Centre, March 28-30.

Page 55: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813 55

NORMAS DE PUBLICAÇÃO

ARTIGOSOs artigos submetidos à apreciação da RUnPetro devem ser inéditos e não devem estar em processo de avaliação em nenhuma outra publicação.

Os textos devem ser apresentados observando-se as seguintes características técnicas:g A ordem de apresentação dos itens deverá observar a NBR 6022 de 2003 (título, autoria, resumo, palavras chaves, texto, referências, apêndice, anexo, tradução do resumo).g Formatação: Papel: A-4 (21,0 cm x 29,7 cm);g Formato de texto: Word (DOC) ou RTF;g Margens: superior e esquerda de 3 cm, inferior e direita de 2 cm;g Fonte: Times New Roman;g Tamanho: 12;g Parágrafo: espaçamento anterior: 0, posterior: 0 pontos, entre linhas: 1,5, justificado;g Número total de páginas do texto: 12 páginas incluindo texto, ilustrações e referências;g Título do artigo com até 10 palavras, centralizado, em letras maiúsculas e negrito, nos idiomas português e inglês ou inglês e português ou espanhol e português;g Resumo e abstract: Entre 100 e 250 palavras. Deverá ressaltar o objetivo, a metodologia, os resultados e as conclusões.g Palavras chaves em português e inglês/espanhol: de três a cinco;g Citações: seguir NBR 10520 de 2002 da ABNT e adotar o sistema autor/data;g Diagramas, quadros e tabelas devem ser apresentados com títulos e fontes completas;g Referências: apenas aquelas citadas no corpo do trabalho e deverão ser apresentadas no final do texto, em ordem alfabética, observando-se a NBR 6023 de 2002 da ABNT;g Notas de rodapé devem ser de natureza explicativa e reduzidas ao máximo;g Informações complementares: em arquivo separado.g O texto não deve conter o nome dos autores e co-autores, instituições de vínculo e e-mail. Essas informações serão inseridas apenas no Sistema do Repositório Científico UnP, em virtude da avaliação adotar o sistema blind review (avaliação a cegas).

DIREITOS AUTORAISNão haverá pagamento a título de direitos autorais ou qualquer outra remuneração emespécie pela publicação de trabalhos na Revista.

APRECIAÇÃO DOS TEXTOSOs artigos enviados aos Editores da Revista serão submetidos à apreciação do Conselho de Consultores, a quem cabe o parecer recomendando ou não a publicação. Os artigos não aceitos para publicação serão notificados aos respec-tivos autores.

PROCESSO DE AVALIAÇÃOOs textos são avaliados em duas etapas, segundo os critérios de originalidade, relevância do tema, consistência teóri-ca/metodológica e contribuição para o conhecimento na área.

1 – Realização de uma análise prévia pelo editor da revista para verificar se o texto se enquadra dentro das linhas editoriais da mesma.2 – Envio do texto para, no mínimo, dois avaliadores que, utilizando o sistema blind review, procederão à análise. Depois de aprovado, o texto passará por aconselhamento editorial, normalização, revisão ortográfica e gramatical.

Page 56: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado

56 Ano I, n. 2 - maio/out. 2013 - ISSN 2316-66813

ENDEREÇO DA REVISTAO email para contato é [email protected], não sendo este o endereço de submissão de textos para a revista.

SUBMISSÃO DE ARTIGOSOs artigos devem ser submetidos por meio do Repositório Científico da UnP pelo endereço http://www.repositorio.unp.br.Para isso, o autor deve se cadastrar na revista e seguir os 5 passos da submissão.

DISPONIBILIZAÇÃO DOS TEXTOS NO REPOSITÓRIO CIENTÍFICO DA UNIVERSIDADE POTIGUAROs artigos selecionados e publicados na Revista serão disponibilizados no Repositório Científico da Universidade Potiguar, dando acesso à produção da informação publicada pelos pesquisadores aos membros da comunidade aca-dêmica interna e externa para a gestão e disseminação da sua produção técnico-científica em meio digital.Ao submeterem seus textos, os autores concedem a todos os usuários do Repositório UnP o acesso livre a sua obra e autoriza a Revista a disponibilizar gratuitamente, sem ressarcimento dos direitos autorais e permite a cópia, uso, dis-tribuição, transmissão e exibição pública, e ainda de produzir e distribuir trabalhos dele derivados, em qualquer meio digital, para produção de uma pequena quantidade de cópias impressas para seu uso pessoal e com fins acadêmicos, desde que citado a fonte.

Page 57: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado
Page 58: Revista eletRônica do MestRado eM engenhaRia de PetRóleo e …portal.unp.br/arquivos/pdf/institucional/edunp/runpetro_a1n2.pdf · C743 RunPetro - Revista Eletrônica do Mestrado