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REVISTA EDUCAÇÃO & TECNOLOGIA Edição especial em comemoração aos 100 anos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. SUSTENTABILIDADE NA ACADEMIA: CONTRIBUIÇÕES DO GRUPO DE PESQUISA “TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE – TEMA”, DA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ - UTFPR Periódico Técnico-Científico do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná- UTFPR CURITIBA JUNHO / 2009 UTFPR

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REVISTA EDUCAÇÃO & TECNOLOGIA

Edição especial em comemoração aos 100 anos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

SUSTENTABILIDADE NA ACADEMIA: CONTRIBUIÇÕES DO GRUPO DE PESQUISA

“TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE – TEMA”, DA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO

PARANÁ - UTFPR

Periódico Técnico-Científico do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná-

UTFPR

CURITIBAJUNHO / 2009

UTFPR

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Fonte Indexadora NacionalSumários de Educação FEUSP – Faculdade de Educação de São Paulo-SP

Fonte Indexadora EstrangeiraÍndice Bibliográfico CLASSE – Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades. UNAM, México

REVISTA EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA. Periódico Técnico-Científico do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná-UTFPR – ano 01, Abril, 1997- Curitiba: Universidade Tecnológica Federal do Paraná (antigo CEFET-PR). Edição especial em comemoração aos 100 anos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Capa: Eloy Fassi Casagrande Jr. e Area41 DesignDiagramação: Area41 Design

ISSN 1516-280X1. Educação – Periódicos2. Tecnologia – Periódicos

1.Universidade Tecnológica Federal do Paraná

CDD 371.307805

CDU 37 + 6 (5)

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PREFÁCIO ................................................................................................................. 5

APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 7

SOBRE OS ARTIGOS .............................................................................................. 9

TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE NO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA NA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ - UTFPR - PEGADAS HISTÓRICASMaclovia Corrêa da Silva (1); Eloy Fassi Casagrande Junior (2) ............................. 11

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO MEDIADOR: AS DISSERTAÇÕES NA PÓS-GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁAlessandra Aparecida Pereira Chaves (1); Letícia Lopes Koehler (2); SamiraLeme (3); Maclovia Corrêa da Silva (4); Eloy Fassi Casagrande Jr. (5) ................... 17

A DISCUSSÃO DA SUSTENTABILIDADE NAS PRODUÇÕES ACADÊ-MICAS DE NÍVEL STRICTO SENSU DA UTFPR: ÊNFASE NA CONS-TRUÇÃO CIVIL Andressa Ferrari (1), Carina Zamberlan Flores (2), Eloy Fassi CasagrandeJunior (3) Maclovia Corrêa da Silva (4) ................................................................... 26

A ACADEMIA VAI A COMUNIDADE: DISCUTINDO AS RELAÇÕES ENTRE DISSERTAÇÕES DE MESTRADO E PROJETOS COMUNITÁRIOS Henry Belchior da Cunha (1); Maclovia Correa da Silva (2); Eloy FassiCasagrande Jr. (3) ..................................................................................................... 43

ENERGIA E O ENSINO DA ENGENHARIA NA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ-UTFPR: DESAFIOS PARA SE ALCANÇAR A SUSTENTABILIDADEAntonio Carlos Cassilha (1); Eloy F. Casagrande Jr. (2); Maclovia Corrêada Silva ...................................................................................................................... 50

SUMÁRIO

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A EXPERIÊNCIA DE UM PROCESSO DE INOVAÇÃO DE TECNOLOGIA PARA SANEAMENTO VOLTADO PARA O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁTamara Simone van Kaick (1); Eloy Fassi Casagrande Junior (2) ............................ 58

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS NA UTFPR-CAMPUS CURITIBA EM TRABALHOS ACADÊMICOS DO DAQBI Valma Martins Barbosa(1); Eloy Fassi Casagrande Júnior (2); GabrieleLohmann (3) .............................................................................................................. 66

A ABORDAGEM AMBIENTAL EM CURSOS DE GRADUAÇÃO EM DESIGN: AS CONSIDERAÇÕES DO MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO E CULTURA E OS MÉTODOS DE QUATRO ESCOLAS DO SUL DO BRASILCelso Luiz Podlasek (1); Libia Patricia Peralta Agudelo (2); RodrigoRibeiro da Silva (3); Eloy Fassi Casagrande Junior (4); Elaine Garcia deLima (5); Liliane Iten Chaves (6) .............................................................................. 77

IMPLANTANDO PRÁTICAS SUSTENTÁVIES NOS CAMPI UNIVERSITÁRIOS: A PROPOSTA DO “ESCRITÓRIO VERDE” DA UTFPREloy Fassi Casagrande Junior (1); Vania Deeke (2) .................................................. 93

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PREFÁCIO

O ano de 2009 reveste-se de importância impar na história da Universidade Tec-

nológica Federal do Paraná. Prestes a vivenciar o seu marco centenário, no mês de

setembro próximo, a Instituição, como Universidade desde 2005, procura caminhar a

passos largos na direção do cumprimento de sua função institucional maior, ancorada

no inter-relacionamento sinérgico entre ensino, pesquisa e extensão.

Pautada nos bons legados de um passado vitorioso, a UTFPR vem planejando con-

tinuamente o seu futuro, sem se esquecer de concentrar suas forças no enfrentamento

salutar dos inúmeros e mutantes desafios que assolam o mundo atual.

Ao longo de sua trajetória, notadamente de forma mais intensa nos últimos anos,

a Instituição não deixou de acompanhar e participar, mesmo que de forma tênue, dos

movimentos e das ações globais destinados a alertar e a preparar a população sobre a

necessidade da disseminação da educação ambiental e, por conseguinte, do respeito

aos preceitos que norteiam a conquista da tão sonhada sustentabilidade.

Concebida como uma Universidade especializada, por campo do saber, a primeira

Universidade Tecnológica brasileira experimenta a intrigante dicotomia entre incen-

tivar todas as formas de desenvolvimento tecnológico e, ao mesmo tempo, envidar

esforços no sentido de evitar, ou ao menos atenuar, os impactos deste desenvolvimento

sobre a qualidade de vida do homem no Município, no Estado, no País e no Planeta

como um todo.

Recentemente, o Campus Curitiba sediou o primeiro encontro alusivo à quarta edi-

ção dos “Círculos de Diálogo dos Oito Jeitos de Mudar o Mundo”, realizado em prol

dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Promovido em parceria com o

Serviço Social da Indústria (SESI), o “Movimento Nós Podemos Paraná” e o Conselho

Paranaense de Cidadania Empresarial do Sistema Federação das Indústrias do Estado

do Paraná (FIEP), além do United Nations Volunteers Programme (UNV), reuniu tra-

balhos que envolveram duas centenas de estudantes, que poderão receber certificação

da UNV ao desenvolverem trabalhos de conclusão de curso, estágios supervisionados,

projetos de extensão e todas as formas de atividades complementares, as quais impli-

quem projetos, práticos ou teóricos, que envolvam os Objetivos do Milênio.

Na esteira desta preocupação mundial, o Grupo de Pesquisa “Tecnologia e Meio

Ambiente - TEMA”, do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPGTE, do

Campus Curitiba da UTFPR, vem se destacando na liderança e na condução de dis-

cussões que visam à tomada de decisões e à busca incessante por soluções preditivas,

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preventivas e corretivas para o problema, seja no seu aspecto social, ambiental e/ou

econômico.

Ao assumirmos a Diretoria do Campus, no mês de setembro de 2008, fomos pro-

curados por um grupo de colegas liderados pelos Professores Eloy Fassi Casagrande

Junior e Maclovia Côrrea da Silva, coordenadores do TEMA e organizadores da co-

letânea de artigos em tela, com o objetivo de traçarmos uma política de trabalho a ser

desenvolvida em nosso meio e pelos entes da comunidade acadêmica. Como resultado,

consta em nosso Plano de Gestão 2008-2012 apoio para o projeto e implantação de

um Escritório Verde, o qual ficará responsável pelo fomento, coordenação e acom-

panhamento de todas as atividades concernentes à boa prática do desenvolvimento

sustentável.

Por fim, temos plena convicção de que o conjunto desses artigos, neste número

da Revista Educação & Tecnologia, muito contribuirá para o fortalecimento de uma

cultura interna cada vez mais voltada para as reais necessidades do cidadão moderno,

inseridas no contexto de uma sociedade mais verde e mais preocupada com o futuro

de todos.

Marcos Flávio de Oliveira Schiefler Filho

Diretor do Campus Curitiba da UTFPR

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A crise sócio-econômica e ambiental que o Planeta atravessa coloca em discussão

o nosso atual modelo de desenvolvimento e exige uma reflexão de todos os setores da

sociedade sobre a desejável sustentabilidade. Esta reflexão é demandada pela Agenda

21 – o documento resultado da ECO-92, ocorrida no Rio de Janeiro, em 1992, que es-

tabeleceu diretrizes para que governos, empresas, instituições de ensino e organizações

não-governamentais, pudessem cooperar no estudo de soluções globais e locais para os

problemas sócio-ambientais.

Neste cenário, o papel da educação formal praticada nas Instituições de Ensino

Superior (IES) deve ser avaliado, buscando estimular a implantação de instrumentos

que apoiem o desenvolvimento sustentável. No Paraná, vemos a Agenda 21 represen-

tada através de seu fórum permanente organizado pela Secretaria do Estado do Meio

Ambiente (SEMA), que também coordena o Pacto 21 das IES, unindo a comunidade

acadêmica nesta tarefa.

Já no início deste século, vimos a Organização das Nações Unidas – ONU, através

de suas representações voltadas para a educação, UNESCO e UNU, decretar de 2005

a 2014, a “Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável - DESD”, incen-

tivando ações para que se ampliem o escopo da sustentabilidade nos diversos níveis

de ensino.

Nesta coletânea de artigos que recuperam uma memória de discussões ambien-

tais nascidas no grupo de pesquisa Tecnologia e Meio Ambiente-TEMA, do Programa

de Pós-Graduação em Tecnologia-PPGTE, da Universidade Tecnológica Federal do

Paraná-UTFPR, queremos afirmar o compromisso da UTFPR para com os objetivos

da Agenda 21 e a DESD. Aqui se poderá apreciar levantamentos, avaliações e análises

criticam de como se discute, se pesquisa, se ensina e aprende sobre sustentabilidade

na UTFPR.

Também queremos prestar uma homenagem ao idealizador do PPGTE, professor

João Augusto Souza de Almeida Bastos e sua preocupação com os rumos da educação

e da inovação tecnológica no Brasil. O Professor João Augusto nos fez conscientes da

importância da interdisciplinaridade como ferramenta para compreender as relações

humanas para produzir e se apropriar dos saberes e do conhecimento científico. En-

quanto coordenador do PPGTE, ele sempre esteve pronto para nos atender, e incansa-

velmente disposto a nos incentivar nas atividades de ensino e pesquisa.

A sua idéia central para o Programa era elaborar um projeto “guarda-chuva” que

APRESENTAÇÃO

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abrangesse a apropriação do conhecimento em todas as “variedades” de interesses de

pesquisa dada as diferentes formações do corpo docente. Outra ação louvável e com-

plementar do seu trabalho foi a criação da Revista “Educação e Tecnologia” e de cole-

tâneas, nas quais publicou diversos artigos que nos ajudam a enriquecer as discussões

em sala de aula e nos grupos de pesquisa.

Na sua concepção de educação tecnológica, as instituições de ensino necessitam

aprofundar reflexões sobre conceitos e metodologias que permitam acompanhar o pro-

gresso técnico, e que eles possam ser introduzidos em conteúdos programáticos de

modo a formar profissionais qualificados que nas suas ações sejam capazes de analisar

suas práticas.

A construção do conhecimento, segundo o Prof. Dr. Ademar Heemann, um dos

idealizadores da criação do grupo Tecnologia e Meio Ambiente – TEMA, em 2001,

juntamente com a Profa Dra Libia Patricia Peralta Agudelo, faz parte do processo

ensino/aprendizagem. Pare ele, há vínculos muito próximos entre a aquisição do co-

nhecimento e a forma como ele acontece. A complexidade dele nos aponta para sua in-

completude e seu constante avanço. O lado racional e o lado individual deste processo

de apropriação tornaram-se também um controlador de ações sobre o meio ambiente.

Com a intenção de se pensar nesse movimento de forma crítico-reflexiva, os líderes

do grupo TEMA procuram, juntamente com os participantes, reunir, nesse número da

Revista Educação & Tecnologia, as produções da UTFPR que potencializaram discus-

sões sobre a racionalização da natureza, manipulada, transformada e em desordem.

Os trabalhos dissertativos relatam como as ferramentas tecnológicas e humanas foram

utilizadas para desvendar constatações reducionistas, e também procuram fazer refe-

rências e sugestões de olhares sobre aspectos novos ou desconhecidos delas.

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O artigo de abertura apresenta uma retrospectiva dos fatos que antecederam a cria-

ção do grupo de estudos Tecnologia e Meio Ambiente e o apoio teórico que continua

permeando os objetivos do TEMA. A interdisciplinaridade foi sempre parte integrante

das práticas de pesquisa, e fundamenta o intercâmbio entre ciência, tecnologia e am-

biente. No artigo que trata da Educação Ambiental como instrumento mediador, os

autores fizeram um levantamento das produções da Universidade Tecnológica Federal

do Paraná que abordam o tema. Verificou-se que em num período de um pouco mais

de dez anos, a produção é pequena, mas as sementes foram lançadas no sentido da

formação de valores socioambientais.

A discussão da sustentabilidade nas produções acadêmicas da Universidade Tec-

nológica Federal do Paraná é um trabalho de compilação que mostra o quanto a ins-

tituição precisa de uma política pedagógica a qual venha a favorecer debates sobre o

assunto nos seus diferentes cursos. Os autores concluíram que dentre 1.000 teses e

dissertações defendidas, somente 5% delas estão relacionadas à temática ambiental.

A análise de quatro dissertações sobre projetos comunitários e o trabalho produtivo

com o uso de recursos naturais de maneira branda é o assunto que lidera o artigo sobre

as relações entre academia e comunidades. O repasse de conhecimentos aliou-se ao

saber fazer e transformou-se em habilidades e competências para produção de objetos,

os quais passaram a fazer parte da complementação dos ganhos familiares de pessoas

com baixa renda.

As inovações tecnológicas para a área de saneamento ambiental é o tema do artigo

que gerou o projeto de uma estação de tratamento de esgoto por zona de raízes. O

processo foi aplicado e despertou interesse de uma comunidade do litoral paranaense.

Outro artigo que versa sobre a gestão ambiental é o que examina os conflitos provindos

dos resíduos gerados pelo Campus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do

Paraná. Os autores ressaltam que uma compreensão mais aprofundada sobre a implan-

tação de um Programa de Gerenciamento é necessária para seu sucesso.

Na perspectiva de avaliar as dificuldades que os cursos de graduação de engenharia

e de design da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e de outras instituições

possuem para inserir nos seus currículos as questões de sustentabilidade e de Educação

Ambiental, os autores de dois artigos levantaram as disciplinas dos cursos oferecidos

como material de análise. Eles concluíram que a interdisciplinaridade pode ser um

dos caminhos para desenvolver um novo perfil de formação, o qual é capaz de disse-

Sobre os artigos

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minar soluções e dar repostas para problemas sociais, tecnológicos e ambientais. As

formações que os cursos oferecem ainda não são relevantes no sentido de coerência de

conteúdos, reformulações de ementas e criação de oportunidades para novos tópicos

e olhares. Além disso, é preciso pensar sobre como os novos profissionais vão ser re-

cebidos pelas empresas e como eles podem usar, nas suas atividades, os princípios de

sustentabilidade.

No último artigo desta coletânea se aborda o conceito de greencampi – campi sus-

tentáveis, um movimento que vem crescendo em todo o mundo, onde as universidades

começam a refletir através de sua política interna administrativa e na sua infraestrutura

a preocupação com o meio ambiente. Se apresenta aqui a proposta de implantação de

um Green Office – Escritório Verde para o campus Curitiba da UTFPR, onde são suge-

ridos programas que vão desde a gestão adequada dos resíduos gerados pela instituição

até a intervenção nos projetos arquitetônicos dos novos edifícios a serem construídos,

orientando-os para os princípios da construção sustentável. O argumento é de que a

universidade é vista como formadora de opinião na sociedade, portanto deve dar o bom

exemplo para todos.

Uma sustentável leitura a todos.

Eloy Fassi Casagrande Jr. e Maclovia Côrrea da Silva

Coordenadores do Grupo de Pesquisa TEMA e organizadores da coletânea

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TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE NO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA NA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA

FEDERAL DO PARANÁ – UTFPR – PEGADAS HISTÓRICAS

Maclovia Corrêa da Silva (1); Eloy Fassi Casagrande Junior (2)

(1) Professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR, doutora em Planejamento Urbano e Regional pela FAUUSP;

(2) PhD em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente, Professor do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR.

RESUMONeste artigo apresenta-se e se discute a inserção de questões ambientais em um progra-ma de mestrado em tecnologia. O ambiente acadêmico, fundamentado na interdisci-plinaridade, que permitiu a criação do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná pelo Professor João Augusto Bastos, é o sustentáculo de atividades com a efetiva integração de pesquisas e formação de compe-tências. A convergência de horizontes no sentido de ampliar as relações de intercâmbio entre a tecnologia, o homem e a natureza trouxe para o Programa a inserção de debates sobre a criação humana. Com a organização do Grupo de Pesquisa Tecnologia e Meio Ambiente – TEMA no programa reforça-se práticas educativas interativas entre as realidades do mundo do trabalho e as conseqüências para o meio ambiente da produ-ção dos bens biológicos e culturais. Ao desenvolver a capacidade de pensar, de ler, de analisar temas que tratam da questão ambiental, os estudantes e professores passam a ter uma melhor compreensão da função ética e humana de seus atos enquanto cidadão do Planeta.

1. INTRODUÇÃOA multiplicação de modelos de comportamentos crítico-reflexivos nasce de temas,

de intenções de pesquisa, e do ambiente para o exercício do pensamento científico, in-tegrado com as realidades socioeconômica e ambiental. Docentes e discentes dispostos a superar limitações e prontos para abraçar o exercício e o aprendizado interdisciplinar resolveram desenvolver um espaço de pesquisa acadêmica em nível de pós-graduação, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, para preencher um vazio e construir coletivamente o conhecimento.

O Programa de Pós Graduação em Tecnologia, interdisciplinar, possui três linhas de pesquisa – Tecnologia e Trabalho, Tecnologia e Interação e Tecnologia e Desenvol-vimento, cujos eixos norteadores estão inseridos em dimensões teóricas, dentre elas a da Educação Ambiental, construções sustentáveis, e da Sustentabilidade. As propostas

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de trabalho para os estudos ambientais do Mestrado de Tecnologia, concentradas na linha de pesquisa Tecnologia e Desenvolvimento, têm sido um desafio de ensino já que a questão ambiental, na ordem hierárquica de prioridades, ainda fica aquém do racio-cínio da lucratividade das transações econômicas.

A tecnologia, se aliada à conservação e preservação do meio ambiente, provoca mudanças econômicas, socioambientais e políticas. Os obstáculos do desenvolvimento tecnológico e sustentável no País são requisitos para se investir no pesquisador, em ins-tituições, programas institucionais e grupos de pesquisadores. Nos cursos de mestrado interdisciplinares strictu-sensu, que garantem a permanência da continuidade da pes-quisa, e da criação de grupos de pesquisa, crescem os interesses pelos estudos ambien-tais, ainda que em pequena escala, se comparado com as outras áreas de pesquisa.

A cristalização do pensamento reflexivo sobre o grupo de pesquisa Tecnologia e Meio Ambiente – TEMA permitiu expandir as discussões sobre meio ambiente, ciên-cia e a tecnologia. Elas circulam pelas relações de interlocutores que interpretam, en-sinam, e aprendem saberes e conhecimentos. A inserção da linha ambiental nos cursos de pós-graduação fez parte dos objetivos do TEMA – Tecnologia e Meio Ambiente desde 2001 - quando a sigla incluía as questões éticas - TEEMA – Tecnologia, Éti-ca, Epistemologia e Meio Ambiente. O professor Ademar Heemann, idealizador do TEEMA, juntamente com a professora Libia Patricia Peralta Agudelo1 , conseguiram aglutinar pesquisadores que atuavam na área sócio-ambiental para fazer o diálogo com a tecnologia. Ambos ancoraram o grupo com suas posturas enquanto críticos e pensa-dores no sentido de desenvolver, junto com os participantes, o diálogo entre as áreas do saber e as diferentes interpretações da tecnologia enquanto elemento social das ações humanas sobre a natureza.

O pesquisador Ademar Heemann acredita que trabalhar com a consciência da inter-disciplinaridade, não obstante as limitações disciplinares, e do próprio conhecimento do educador, pode “imprimir uma nova dimensão ao seu trabalho, [possibilitando sua inserção] em um núcleo maior de compreensão da realidade” (1998, p. 16). O Grupo TEMA continuou sua trajetória nesta linha e hoje funciona como um elo condutor no desenvolvimento de pesquisas sobre o meio-ambiente e tecnologia. Ele contempla problemas referentes às necessidades urbanas de Curitiba e da Região Metropolitana, e investe na ciência, na tecnologia e na visão estratégica de políticas públicas educacio-nais de modo a aprofundar as interações entre educação, humanismo e natureza. Outra questão fundamental das ações do Grupo e que seus pesquisadores se preocupam em situar a tecnologia no contexto histórico valorizando a reflexão educacional e procu-rando transpor a perspectiva linear das relações entre o mercado e o desenvolvimento econômico. Trabalhar a inclusão social, o entendimento profundo dos atos humanos, a cidadania e a reflexão têm garantido a permanência e a continuidade da pesquisa interdisciplinar na Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

1. A professora Libia Patricia Peralta Agudelo, PhD é em Ecologia da Paisagem e Geoprocessamento, e professora da Unibrasil, e o professor Ademar Heemann é doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas e professor Sênior da Universidade Federal do Paraná. Ambos foram professores visitantes do PPGTE/UTFPR entre os anos 2001e 2004.

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2. PEGADAS HISTÓRICASNa década de 1990, o Professor Doutor João Augusto Bastos2 , preocupado e orien-

tado para realizar ações dentro das políticas de educação científica, vinculadas à tec-nologia, projetou a viabilidade de um curso para estabelecer relações entre educação, ciência e tecnologia. Naquele momento ele era funcionário do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ. Quando ele se debruçou sobre a empreitada, as primeiras iniciativas se voltaram para um levantamento das instituições federais, estaduais e locais que estavam promovendo pesquisas sobre o tema. A con-clusão foi que muitos programas nacionais de pós-graduação em educação investiam em pesquisas nessa área do conhecimento sem estabelecer diálogos freqüentes com a tecnologia, mas as redes de escolas técnicas, agrotécnicas, centros de educação tecno-lógica careciam de um espaço de discussão condutor de movimentos para desenvolver pesquisas que enfrentassem o desafio da interdisciplinaridade.

No CNPQ, o Centro de Política Científica e Tecnológica foi estruturado para im-pulsionar o fluxo das decisões de ordem estratégica e política. Parte da energia foi lançada para um campo pleno de fendas e segmentações, porém a força e a dedicação de pesquisadores trouxeram a cristalização dos investimentos na educação técnica, no trabalho e na educação tecnológica. Da manifestação do processo à realização houve a compreensão do que seria a trilogia Ciência, Educação e Tecnologia.

Era interesse do Professor João Augusto Bastos, enquanto pesquisador, estimular a dinâmica da troca de conhecimentos na educação tecnológica. Ele precisava escolher um espaço físico para colocar suas idéias em prática. Primeiramente, era preciso situar no país um Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET - avançado, o qual pu-desse implementar as políticas do CNPQ e os mecanismos de interrelação eficientes, os quais permitissem a pujança de novas experiências institucionais.

O CEFET-PR, hoje a primeira Universidade Tecnológica Federal do Paraná, situa-do na cidade de Curitiba, apresentava em 1994 um corpo docente e um discente dispos-tos a superar limitações, prontos para abraçar o exercício e o aprendizado interdisci-plinar, e desenvolver um ambiente de pesquisa acadêmica em nível de pós-graduação. Era preciso reconhecer que havia uma luta que se anunciava, mas os pesquisadores da Instituição portavam em suas mãos as ferramentas para construir coletivamente o conhecimento proposto e desejado. O professor João Augusto Bastos, na frente desse excepcional desafio, uma obra de arte, conseguiu reunir as forças externas e internas dos dirigentes da Instituição, dos representantes de órgãos governamentais, e dos pe-ritos de instituições de fomento, e dar formas e contornos para os desenhos e projetos de um programa de mestrado capaz de espelhar as relações entre educação, ciência, tecnologia, e inovação tecnológica.

3. TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE Ainda que as questões ambientais não apareçam explicitamente no corpo da orga-

2. O pesquisador e professor concluiu seu doutorado na França, no Institut Catholique de Paris, e o seu texto versou sobre o conhecimento como categoria analítica. Ele foi o fundador do Programa de Pós-Grad-uação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

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nização do PPGTE na década de 90, elas encontravam-se nas tramas da interdisciplina-ridade. Havia uma comunicação pensada entre as áreas. Uma composição hábil entre Inovação tecnológica, educação tecnológica e criatividade não se contrapuseram às no-vas formas de produzir, e nem às propostas de desenvolvimento do país que respeitam o meio ambiente. Explicitamente, essas idéias aconteceram de uma forma diferencia-da, e perdurou o espírito da integração de áreas para gerar novos conhecimentos.

Os esforços se reuniram na pesquisa e admitiu-se a livre circulação entre a edu-cação e a natureza. A vertente educacional estaria incumbida de apoiar os estudos científicos sobre sustentabilidade, e a construção de novos paradigmas alicerçaria as discussões entre professores e alunos. Assim pensou o professor João Augusto Bastos quando aceitou a participação do professor Eloy Fassi Casagrande Jr. e suas pesquisas na área ambiental, no PPGTE, em 1997. Concretizava-se o início da construção de pontes para atravessar mares dantes nunca navegados, reproduzindo as palavras do poeta Camões quando abordou as navegações portuguesas para os continentes ameri-canos no século XVI.

Antes mesmo do atual debate global sobre a possibilidade de um “desenvolvimento sustentável”, Schumacher (1973), autor de “Small is Beautifull”, defendia “uma tec-nologia com face humana”, que pudesse ser intermediária (intermediate technology), contrária a uma tecnologia automatizada de larga escala, controlada por grandes or-ganizações e de alto custo financeiro. Também chamada de “Tecnologia Apropriada”, esta apresenta uma mudança de enfoque do “serviço da ciência” para a sociedade, em que transformações culturais, sociais e políticas ocorrem para implantar-se condições para uma produção local, com recursos da mesma área, e participação direta de uma comunidade, sem a relação de hierarquia que caracteriza a chamada “tecnologia de ponta” (CASAGRANDE JR, 2004).

A educação, a inovação tecnológica, o desenvolvimento, a gestão, os processo pro-dutivos industriais apresentam outro lado da moeda: poluição, devastação, emissão de gases, contaminações, resíduos e alterações climáticas. No livro “Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, o geógrafo Jared Diamond nos re-lata com dados históricos e científicos como ocorreu o “eco-suicídio” de grandes ci-vilizações, isto é, as que exploraram em excesso os recursos naturais, movidos pela necessidade ou pela imprevidência, caminharam para o fracasso e sua total extinção. Ao contrário daquelas, que entenderam a tempo que a continuidade da vida estava inti-mamente associada às suas capacidades de se adaptarem às mudanças. Sociedades que souberam cuidar dos seus recursos naturais foram mais bem sucedidas ao se antecipa-rem quanto às alterações climáticas e ambientais de modo a conseguiram superá-las. (DIAMOND, 2006).

Foi a iniciativa de dinamizar as pesquisas no PPGTE que funcionou como uma alavanca para os desafios do intercâmbios entre as áreas de conhecimento. “O Progra-ma nasceu sob a égide da inovação” (BASTOS, 2006), destacando a modalidade da formação educacional. Então, é preciso preparar especialistas para trabalhar dentro dos princípios da sustentabilidade ambiental e empresarial.

As questões ambientais passam a interferir nas formas de produzir, vender e com-

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prar. Hoje, fala-se em madeira certificada, em selo verde, em água limpa, em participa-ção em programas de responsabilidade social, e em formas de alcançarmos a cidada-nia. Dentro do difícil diálogo com a linha de pesquisa “tecnologia e desenvolvimento”, formada nos anos 1999/2000, pela sua natureza de trabalhar com exclusividade os processos do segmento industrial privilegiando a instrumentalidade, a funcionalidade, a técnica, foram introduzidos mais especialistas para reforçar a área do meio ambiente na produção social e industrial.

É impossível sonhar com um pensamento homogêneo que sustente as relações so-ciais. Por isso, vivemos a realidade de uma crise entre pensadores, responsável pela fragmentação das idéias do corpo docente na área do desenvolvimento do PPGTE. O desenvolvimento pode acontecer sem agredir a natureza e os seres humanos. “Não é produção para aumentar o capital, mas para promover a sociedade e a inclusão social” (BASTOS, 2006).

4. CONSIDERAÇÕES FINAISO risco de segmentar está presente na biologia da vida. Então como resgatar a

visão global das três linhas de pesquisa – trabalho, interação e desenvolvimento - do PPGTE? O grande corpo desses tentáculos é a educação, diz o professor João Augusto Bastos. O processo precisa ser reinventado. Precisamos acordar a “Bela Adormecida” para informá-la que já não podemos mais contemplar a natureza sem a tecnologia, e que nessa paisagem existem obras humanas que se interpõem na visão do horizonte.

Para Casagrande Jr. (2004), a interação entre inovação e educação tecnológica ajus-tada a nossa realidade e associada aos princípios do desenvolvimento sustentável, é o que poderíamos chamar de inovação tecnológica sustentável. Esta pode acontecer através de estratégias de transição construídas sob uma plataforma de práticas inter-disciplinares. Assim como, através de esforços inter-institucionais para que haja uma ecologização de orgãos públicos de educação, sociedade civil e iniciativa privada, para que as sirvam de agentes de transformação e implantação de processos sustentáveis.

Recuperar o tema da educação interativa, isto é, da inovação, da tecnologia e do meio ambiente, significa abandonar as discussões ambivalentes de progresso e do do-mínio da natureza. Ela se estende para os campos das pesquisas científicas e políticas que formam o cidadão pensante, capaz de mudar sem se ofender, nem sentir dor pelo que ele mesmo fez ao Planeta. O problema de pensar, de enfrentar a contradição, de perceber as transformações operadas hoje nas diferentes ciências da natureza e do ho-mem está na força da incerteza sobre a certeza. Uma comunidade científica que aspira ao saber, à verdade usufrui de uma liberdade capaz de incluir o ser humano, o sujeito individual, a cultura, a sociedade no sentido de mobilizar os princípios e as potencia-lidades construtoras do conhecimento considerando os antagonismos e os conflitos presentes nas práticas do pesquisador observador-conceptor.

5. REFERÊNCIASAGUDELO, P.& HEEMANN, A. Tecnologia, Sociedade e Meio Ambiente: instru-mentos para uma abordagem ambiental conceitual e operacional integrada. Publica-

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ção do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPGTE-CEFET-PR (Coletânea “Educação e Tecnologia CEFET-PR). Curitiba: Editora do CEFET-PR, 2001, 256p.BASTOS, J. A. O Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica CEFET-PR: história e perspectivas. In: Revista Educação & Tecnologia. Curitiba: CEFET-PR, 2003, n. 6, p. 11-52.CASAGRANDE JR, E. F. Inovação Tecnológica e Sustentabilidade: Possíveis Ferra-mentas para uma necessária interface. Revista Educação & Tecnologia. Tecnologia, Energia e Sustentabilidade. Centro Federal de Educação tecnológica do Paraná. n.8, 2004.DIAMOND, J. Colapso - Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso- São Paulo: Record, 2006ENTREVISTA com o Professor João Augusto Bastos cedida para Maclovia Corrêa da Silva no dia 17 de outubro de 2006 no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.HEEMANN, A. Natureza e Ética. Curitiba, Ed. da Universidade Federal do Paraná, 1998.PALESTRA realizada em 2001 no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPG-TE-CEFET-PR pelo coordenador e idealizador do PPGTE, professor João Augusto S.L.A. Bastos.REVISTA EDUCAÇÃO & TECNOLOGIA. Tecnologia, Energia e Sustentabilidade. Curitiba, Centro Federal de Educação tecnológica do Paraná, n.8, 2004.SCHUMACHER, E. F. Small is Beautifull. London: Blond & Bridges, 1973.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO MEDIADOR: AS DISSERTAÇÕES NA PÓS-GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE

TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

Alessandra Aparecida Pereira Chaves (1); Letícia Lopes Koehler (2); Samira Leme (3); Maclovia Corrêa da Silva (4); Eloy Fassi Casagrande Jr. (5)

(1) Pedagoga da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, aluna especial do Progra-ma de Pós-Graduação em Tecnologia - PPGTE/UTFPR

2) Jornalista, participante do Grupo de Pesquisa Tecnologia e Meio Ambiente-TEMA/PPGTE

(3) Bióloga, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPGTE/UTFPR

(4) Professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR, doutora em Planejamento Urbano e Regional pela FAUUSP;

(5) PhD em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente, Professor do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR

RESUMOA Educação Ambiental (EA) é vista como instrumento mediador para unir os esforços necessários à mudança de comportamento para a melhoria das condições ambientais do planeta e a manutenção da vida. O presente artigo pretende apresentar, a partir da produção acadêmica de programas de Pós-Graduação da UTFPR, como temas corre-lacionados à Educação Ambiental e ao meio ambiente assumem tendências de pensa-mento que circulam pela tecnologia, indústria, consumo e práticas culturais de forma sistêmica. Essas correlações resultam em diversas formas de interação nos mais varia-dos ambientes que compõe a comunidade acadêmica. Através das pesquisas e debates busca-se fomentar estudos no âmbito da pós-graduação no sentido de abranger a edu-cação ambiental, o meio urbano e a sustentabilidade. Nas produções dissertativas dos estudantes, pode-se observar a preocupação na formulação de procedimentos para o ser humano e o ambiente que o acolhe, dando à educação ambiental um papel relevante na resolução de conflitos.

1. INTRODUÇÃOAs novas tecnologias, disponíveis no cotidiano da humanidade exigem das pessoas

uma reciclagem constante de conhecimentos voltados para a incorporação de técnicas, criando assim uma dependência de produtos e serviços ofertados. Essas transforma-ções permeiam vários segmentos da sociedade, entre eles as instituições de ensino, desde a Educação Infantil até aos cursos de Pós-Graduação. As instituições de ensino procuram fazer ajustes aos cristalizados conceitos de disciplinas, grade curricular e

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conhecimentos registrados como basilares para a formação do ser social, embora estas transformações sejam lentas, ainda correm o risco de perder o foco de seus objetivos, como educar para a cidadania, a solidariedade, a cooperação, a criticidade, o diálogo, o respeito à pluralidade cultural e ao meio ambiente. É papel fundamental das institui-ções de ensino fazer com que o estudante perceba-se como parte integrante, dependen-te e agente transformador do ambiente (BRASIL, 2000).

No ensino superior, o estudante opta por uma carreira profissional, que poderá ou não seguir por toda sua vida e a instituição de ensino deve nortear sua prática pedagó-gica, de forma a estabelecer o estreitamento entre a sociedade, carreiras profissionais e os princípios da instituição. As disciplinas ofertadas precisam voltar-se para a for-mação do ser integralmente, fazendo-o perceber-se como transformador da realidade social, ambiental, econômica e tecnológica. Dessa forma pode ser necessário mudar paradigmas que estão enraizados nas ementas curriculares das instituições de ensino, para que as mesmas não fiquem alienadas às mudanças dos diversos segmentos da sociedade.

Para discutir temas que perpassam pelas aproximações entre as disciplinas e o meio ambiente, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR foi criado em 2001 um espaço de discussão representado por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Tecnologia & Meio Ambiente (TEMA), o qual é composto por docentes e discentes do Programa de Pós-graduação em Tecnologia, PPGTE, além de outros membros convi-dados. O CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico incentiva os programas de pós-graduação a criar grupos de pesquisa no sentido de fomentar atividades de descoberta de novos conhecimentos e saberes.

O objetivo do TEMA é examinar as questões ambientais com mais profundida-de, sintetizar idéias, reunir os conhecimentos de professores e estudantes sobre Meio Ambiente, além de questionar enfoques de temáticas conflitantes como as relações entre Tecnologia e Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável, Gestão Rural e Ur-bana, Educação Tecnológica e Ambiental, Sistemas de Gestão Ambiental, Métodos de Avaliação de Impacto Ambiental, Conflitos Sócio-Ambientais e Programas e Políticas Ambientais. Além disso, procura-se levar para a pesquisa de campo muitos debates, trabalhando com metodologias de levantamento de dados que permitem situar os pro-blemas locais que atingem as populações e apresentar soluções sustentáveis.

O Grupo TEMA participa de simpósios, seminários, congressos e debates sobre Educação Ambiental e Sustentabilidade e reestrutura idéias para produzir novos sabe-res e conhecimentos. A interação entre estudantes, professores e demais pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, facilita a compilação de informações e o surgimen-to de novos saberes.

1. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UTFPRReigota (2006, p.10) defende que a Educação Ambiental "deve ser entendida como

educação política, no sentido em que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza". O homem não está sozinho, não vive sozinho, ele é interdependente

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das outras espécies animais, vegetais e dos minerais e por isso precisa preservá-las.Este entendimento de inter-relacionamento homem-natureza foi abortado pelo pen-

samento cartesiano, base da ciência e do ensino até o momento atual. Apesar da crise ambiental ser percebida por grande parte da pela sociedade, observa-se que a Educação Ambiental ainda não acontece de forma transversal nos cursos de graduação e de pós-graduação da UTFPR. Geralmente, nos cursos de graduação que têm grande ênfase na tecnologia, a discussão ambiental é colocada em disciplinas isoladas que não abordam o contexto daquele curso na qual está inserida. Este é o caso, por exemplo, das “Ciên-cias do Ambiente” ministrado nos cursos de engenharias, não focando especificamente nos impactos sócio-ambientais relacionados as técnicas e tecnologias ensinadas na engenharia.

No caso da pós-graduação, se têm iniciativas de linhas de pesquisa que foram pro-postas por professores que atuam na área ambiental. E muitos casos, também acabam por trabalhar na sua linha sem ter uma interface com as outras linhas de pesquisa. Para se entender este processo, basta verificar na tabela 1 o baixo número de dissertações defendidas que tem uma relação direta e indireta com a educação ambiental, encontra-das exclusivamente num único programa.

A Educação Ambiental deve contribuir para a mudança de olhares sobre a natureza, sobretudo quando ela for uma ação educativa com enfoque sócio-ambiental. Nesse processo sucedem-se (re)significações de práticas, as quais concorrem para serem bem sucedidas quando voltadas para a consecução de objetivos e resultados que reduzam as contradições entre o real e o ideal (FLORIANI, 2007).

Os assuntos relacionados com Desenvolvimento Sustentável, Meio Ambiente, Pe-gada Ecológica e Preservação da Natureza, não precisam ser tratados numa discipli-na específica, mas podem ser abordados de forma interdisciplinar. Segundo Floriani (2004, p. 36):

[...] no campo socioambiental, os fundamentos teóricos da produção do conheci-mento estão associados com metodologias alternativas, como da interdisciplinaridade, que é entendida como a articulação de diferentes disciplinas para melhor compreender e administrar situações de acomodação, tensão ou conflito explícito entre as necessida-des humanas, as práticas sociais e as dinâmicas naturais.

Nos últimos anos, pós-graduandos da UTFPR fizeram suas pesquisas aliando as-suntos diversos ao meio ambiente, desenvolvimento sustentável, entre outros temas da área ambiental e tais pesquisas, frente à realidade, vêm motivar uma ampliação da discussão sobre essa temática.

2. CONTRIBUIÇÕES DOS PÓS-GRADUADOS DA UTFPR PARA AS DISCUSSÕES AMBIENTAIS

Falar sobre questões ambientais no senso comum pode parecer ser simples mas analisar a complexidade das soluções, exige a ajuda da ciência e da tecnologia. Quando adquirimos um produto ou usufruímos de um serviço, não contabilizamos nos seus valores os efeitos da poluição, a exploração de recursos naturais e ainda qual será o destino dos lixos gerados pelas indústrias e pelos seres vivos. Por isso a importância

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de se pesquisar e compartilhar informações confiáveis sobre os impactos ambientais das ações humanas para produzir artefatos.

Essa preocupação é o núcleo das recentes discussões na sociedade, e os pós-gra-duandos da UTFPR que se dedicaram a desenvolver as idéias de Educação Ambiental como instrumento mediador de soluções, focaram suas pesquisas em assuntos relacio-nados a esta problemática. Em pesquisa virtual realizada na Biblioteca de Pós-Gradu-ação da UTFPR, através do site3 (Busca: Livre - Ordenação: por título - Biblioteca de Pós-Graduação - Tipo de Obra: Dissertações), foram encontrados trabalhos que abordavam de forma ampla a questão ambiental, porém verificou-se que nove autores voltaram suas pesquisas mais categoricamente para os temas da Educação Ambiental, do Meio Ambiente e da Sustentabilidade, conforme mostra o gráfico a seguir:

Figura 1 - Resultados da pesquisa com três palavras-chave

Gráfico 1: Áreas das produções acadêmicas do PPGTE entre 1997 e abril/2009.Fonte: Elaborado pelos Autores

Fonte: http://biblioteca.utfpr.edu.br/pergamum/biblioteca/index.php Delimitado o tema de estudo à Educação Ambiental, das 21 dissertações, foram es-

colhidos nove textos cujos títulos contêm as palavras-chave “educação” e “ambiental”, usadas juntas ou separadamente. Para facilitar a análise dos conteúdos e a verificação dos enfoques escolhidos para exame, eles foram classificados em três categorias: a) educação formal e informal; b) energia e mudança de comportamento; e c) resíduos sólidos urbanos. Na Tabela 1 estão sintetizados os tópicos tratados pelos autores e a incidência de registros encontrados para cada categoria idealizada.

3. Site de busca da biblioteca consultado: http://biblioteca.utfpr.edu.br/pergamum/biblioteca/index.php

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Tabela 1 – Relação das dissertações da pós-graduação da UTFPR que tratam de educação ambiental

Fonte: http://biblioteca.utfpr.edu.br/pergamum/biblioteca/index.php

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As dissertações mencionadas na Tabela 1 configuram-se numa importante fonte de pesquisa para as pessoas que pretendem aprofundar seus conhecimentos na área ambiental. Outra forma de ampliar o conhecimento sobre o tema é verificar como os autores das dissertações fizeram uso dos conceitos, definições e teorias registrados nos livros, nos sites e na legislação. Nesse artigo se faz um sobrevôo sobre os pontos prin-cipais dos trabalhos a fim de estimular a curiosidade dos leitores e apresentar, de uma forma geral, as percepções e interpretações das questões ambientais.

Na dissertação “Abordagem ambiental: perspectivas e possibilidades, uma prática pedagógica integradora”, Carletto (1999) remete à adoção de metodologias que podem propiciar a aprendizagem ambiental no contexto da educação profissional e tecnológica. A autora entrevistou professores e alunos do antigo CEFET-PR e alunos paranaenses participantes do Fórum Infanto-Juvenil do Meio Ambiente do Mercosul. Os resultados apontam caminhos para a inserção da abordagem ambiental no processo educativo.

Moraes (2000) em seu estudo “Um espaço comunicativo entre a tecnologia am-biental, a engenharia química e a educação tecnológica” fundamenta conceitos de tec-nologia ambiental, engenharia química e educação tecnológica ao apontar para um ponto de interseção entre estes campos de conhecimento, sempre buscando o estado da arte no que lhes refere. O autor usa o pensamento habermasiano para definir um ponto de convergência entre eles, a fim de proporcionar-lhes uma base ética comunicativa. Por fim, o trabalho aponta para práticas determinantes na construção de disciplinas obrigatórias voltadas ao meio ambiente.

Erbe (2001) em sua dissertação “Resíduos dos serviços de saúde: riscos, gestão e soluções tecnológicas” relata que foi à Alemanha buscar soluções tecnológicas para a questão dos resíduos que pudessem ser aplicadas no Brasil. Ela realizou parte de sua pesquisa na cidade de Freiburg e a pesquisa de campo foi realizada no Brasil, abordan-do questões sobre a água potável e a falta de políticas públicas para o gerenciamento de recursos hídricos.

Mello (2001) em seu trabalho “A questão do formalismo no discurso oficial da educação ambiental”, relata que a elaboração e implementação dos Parâmetros Cur-riculares Nacionais - PCNs apresenta indícios de formalismo no discurso oficial da educação ambiental. (BRASIL, 2000). A autora destaca que a caracterização do for-malismo serve de alerta para que a inclusão do tema meio ambiente nos currículos seja vista com cautela, não só pelo conteúdo contraditório que possa apresentar, mas pela forma como a mesma é conduzida.

Segundo Souza (2002), em sua dissertação “Análise da aplicação da educação am-biental formal e informal em áreas de mananciais: um estudo de caso em um município da região metropolitana de Curitiba” há necessidade de que as diretrizes de educação se estendam para os educadores da Escola, passando também pelos alunos e as famílias envolvidas, fato este que pode melhorar as questões educacionais em relação ao meio ambiente, principalmente para se entender como valorizar os recursos hídricos.

Shafa (2003) em seu trabalho “Mudança de comportamento, elemento essencial na conservação de energia” fez uma pesquisa de campo que teve como objetivo verificar

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como o uso final de energia é gerenciado nos edifícios comerciais de Curitiba, para posteriormente “apresentar recomendações, inspiradas nos estudos bibliográficos, so-bre uma melhor valorização da energia e dos recursos naturais, com base em interação, cooperação e compromisso com o nosso futuro comum”.

A pesquisadora Fischer (2004) em sua dissertação “Energia elétrica: um indutor de mudanças na comunidade da vila da barra do Superagui – entorno do Parque Nacional do Superagui – Paraná”, constatou que os novos modelos de exploração da área da Serra do Mar, impostos pela atividade turística, são diferentes daqueles dos nativos daquela região, que eram marcados pelas relações com a natureza. Ela afirma em seu trabalho que “a existência da eletricidade e de artefatos tecnológicos, bem como a presença do turista, estão provocando tensões múltiplas em aspectos do cotidiano dos moradores”. Sua preocupação está fundamentada no fato de a Vila da Barra do Supera-güi ficar no entorno de uma unidade de conservação de proteção integral no bioma da Mata Atlântica, o Parque Nacional do Superagüi.

Gonzalez (2006) em sua dissertação “Educação pela ação ambiental: a coleta sele-tiva de resíduos em um departamento de instituição superior de ensino” contribui com modelos de questionários e levantamentos para aqueles pesquisadores que queiram enfatizar a importância de discutir as inter-relações entre pressupostos da Educação Ambiental e a coleta seletiva de resíduos sólidos. Também houve destaque para a Tec-nologia, que segundo o autor, é fator determinante na complexidade dos sistemas de coleta seletiva.

A autora da dissertação “Educação ambiental, arte e tecnologia: ações educativas de aproveitamento de resíduos sólidos urbanos”, Oliveira (2007), discorre sobre o de-senvolvimento de práticas para ações de Educação Ambiental que podem ser ideali-zadas por meio de oficinas, e aplicadas para grupos de pessoas da educação formal e informal, unindo saberes e conhecimentos de arte e tecnologia.

A pesquisadora Guelbert (2008), em sua dissertação denominada “Proposta de mo-delo de desenvolvimento socioambiental para municípios de pequeno porte a partir do gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos (GIRSUs)”, propôs um modelo de gerenciamento dos resíduos que visa à inclusão social, geração de emprego e renda e melhoria na qualidade de vida de pessoas que atuam na coleta de materiais reciclá-veis.

Essas pesquisas comentadas acima fundamentam discussões que estão sendo de-senvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, sob a orientação de pro-fessores interessados em articular a tecnologia com as questões ambientais. Mesmo que a semente ainda esteja germinando, o importante é alimentá-la para que haja um crescimento de interesse sobre o tema. O importante é pesquisar e divulgar como a Universidade Tecnológica Federal do Paraná está atenta às mudanças necessárias para preservar e conservar o meio ambiente e fazer uso de seu potencial educativo para colaborar com a vida de todos os habitantes do Planeta.

2. CONSIDERAÇÕESÉ essencial o desenvolvimento de pesquisas que envolvam questões relacionadas

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com meio ambiente, sustentabilidade e educação ambiental a fim de atualizar e procu-rar refazer os conceitos pré-formulados pela humanidade ainda presa ao extrativismo e abrir caminhos para construir novos conceitos e reflexões sobre as ações humanas.

O Grupo de Pesquisa TEMA ao apoiar o desenvolvimento de discussões na área ambiental colabora com os interesses de pesquisadores preocupados em contribuir para um mundo mais sustentável, e busca transformar e inserir diferentes olhares às pesquisas na UTFPR. As dissertações analisadas apontam para esforços, mesmo que espaçados no tempo, no sentido de refletir sobre um espectro de temas que se voltam para o comportamento, atitudes e hábitos dos seres humanos os quais requerem mu-danças e adaptações às necessidades das gerações presentes e futuras.

Em todo o mundo, nas mais distantes localizações, as escolas, sejam elas espaços de educação formal ou informal, práticas ou teóricas, têm tido papel fundamental na elaboração de projetos de pesquisa, no desenvolvimento das ações humanas, as quais podem se estender para resolução de conflitos e das contradições presentes na área ambiental. Através da Educação Ambiental, enquanto instrumento mediador torna-se possível disseminar ensinamentos que solidifiquem os saberes e conhecimentos das relações homem e natureza. O estímulo dos alunos para a mudança de hábitos condi-zentes com os princípios de sustentabilidade pode nascer na mais tenra idade, e seguir durante a construção e a formação de valores socioambientais.

3. REFERÊNCIAS

ATHENA: Revista Científica de Educação. Unidade de Ensino Superior Expoente. Curitiba: Editora e Gráfica Expoente, 2006.BRASIL. PCN’s. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transver-sais: ética. Secretaria de Educação Fundamental. Rio de Janeiro, 2000.CADERNOS DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE. N. 1. Interdiscipli-naridade, meio ambiente e desenvolvimento: desafios e avanços do ensino e da pesqui-sa. Curitiba: Editora UFPR, 2004.CARLETTO, M. R.. Abordagem ambiental: perspectivas e possibilidades de uma prá-tica pedagógica integradora. 1999. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) –. Progra-ma de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 1999.ERBE, M. C. L.. Resíduos dos serviços de saúde: riscos, gestão e soluções tecno-lógicas. Dissertação. 2001. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) –. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba: 2001. FISCHER, D. Energia elétrica: um indutor de mudanças na comunidade da vila da bar-ra do Superagüi - entorno do parque nacional do Superagüi - Paraná. 2004. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) –. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universida-de Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba: 2004. FLORIANI, D & KNECHTEL, M. Educação ambiental, epistemologia e metodolo-gias. Curitiba: Vicentina, 2003.GONZALEZ, C. E. F. Educação pela ação ambiental: a coleta seletiva de resíduos só-

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lidos em um departamento de instituição superior de ensino. 2006. Dissertação (Mes-trado em Tecnologia) –. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2006.GUELBERT, T. F. Proposta de modelo de desenvolvimento socioambiental para mu-nicípios de pequeno porte a partir do gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos (GIRSU’s). 2008. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) –. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2008.HAWKEN, P. LOVINS, A. LOVINS, H. Capitalismo Natural: criando a próxima revo-lução industrial. São Paulo: Cultrix, 2007.MELLO, L. M. de. A questão do formalismo no discurso oficial da educação ambien-tal. 2001. Dissertação. (Mestrado em Tecnologia) –. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba: 2001.MORAES. P. E. S. Um espaço comunicativo entre a tecnologia ambiental, a engenha-ria química e a educação tecnológica. 2000. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) –. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba: 2000 OLIVEIRA, M. V. de. Educação Ambiental, arte e tecnologia: ações educativas de aproveitamento de resíduos sólidos urbanos. 2007. Dissertação (Mestrado em Tecnolo-gia) –. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2007.REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2006.SHAFA, M. Mudança de comportamento: elemento essencial na conservação de ener-gia. 2003. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) –. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2003.SOUZA, L. A. de: Análise da aplicação da educação ambiental formal e informal em áreas de mananciais: um estudo de caso em um município da região metropolitana de Curitiba. 2002. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) –. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2002.UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca. Disponí-vel em: <www.ct.utfpr.edu.br/biblioteca> Acesso em 28 abr

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A DISCUSSÃO DA SUSTENTABILIDADE NAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS DE NÍVEL STRICTO SENSU DA UTFPR: ÊNFASE NA

CONSTRUÇÃO CIVIL

Andressa Ferrari (1), Carina Zamberlan Flores (2), Eloy Fassi Casagrande Junior (3) Maclovia Corrêa da Silva (4)

(1) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia-PPGTE, UTFPR;

(2) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil-PPGEC, UTFPR;

(3) PhD em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente, Prof. do Progra-ma de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR;

(4) Professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR, doutora em Planejamento Urbano e Regional pela FAUUSP.

RESUMOA sustentabilidade é um conceito global que traz a necessidade de um melhor aprovei-tamento de todos os recursos sem esgotá-los, garantindo as necessidades das gerações futuras. Dentro do contexto da problemática sócio-ambiental, cada vez mais são ne-cessárias ações individuais, coletivas, públicas e privadas para um crescimento cons-ciente, se fazendo necessário um maior incentivo a temática dentro das instituições de ensino. Este artigo trata do problema da inserção da discussão da sustentabilidade e de questões ambientais no que se refere à reflexão e aos problemas de pesquisa abordados por estudantes de pós-graduação (mestrado) na UTFPR. Através de um levantamento de dados sobre dissertações e teses, produzidos dentro da instituição, se faz uma ava-liação do crescimento ou decréscimo de trabalhos relacionados ao tema “sustentabi-lidade” e as áreas aos que se relacionam (tecnologia, construção civil, agronegócios, entre outros). A conclusão é que de mais de 1000 teses de dissertações defendidas em 08 programas analisados até 2009, somente cerca de 5% estão relacionadas a temática ambiental e a sustentabilidade. Se por um lado têm-se um avanço da discussão ambien-tal na sociedade, ainda se necessita de uma política pedagógica de ensino e pesquisa mais efetiva para que a sustentabilidade seja entendida como um tema transversal na pós-graduação da UTFPR.

1. INTRODUÇÃOA necessidade do homem de ocupar os espaços, construir cidades, o advento da

revolução industrial e também do capitalismo fez com que a preocupação com os re-cursos naturais e com a degradação ambiental não fosse um fator predominante a ser pensado até poucas décadas atrás. Muitos problemas decorrentes de um modelo ultra-

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passado de desenvolvimento refletem hoje conseqüências de uma ocupação e cresci-mento acelerados impossíveis de serem escondidas ou deixadas de lado. A observação de problemas de ordem social, econômica, política e ambiental junto a uma nova cons-cientização da humanidade vem trazendo um aumento nas discussões daquilo que é ou não é sustentável para o crescimento dos países e suas economias. Hoje o homem se encontra num momento de alto nível tecnológico, com tendências a um crescimento ainda maior, porém, esse desenvolvimento tecnológico requer recursos naturais, fi-nanceiros, humanos, e também precisa de limites incorporando valores ambientais de grande importância. O presente trabalho trata do problema da inserção desta discussão e do conceito de sustentabilidade nos programas de pós-graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) como forma de aumentar a conscientização da comunidade acadêmica sobre os efeitos de nossas ações e nosso modelo de con-sumo. Neste sentido, grupo de pesquisa da UTFPR em Tecnologia e Meio Ambiente (TEMA), ligado a um dos programas da pós-graduação da instituição, tem como obje-tivo estimular a reflexão sobre o modelo tecnológico adotado e seus impactos ambien-tais e sócio-econômicos, dentro da universidade e na sociedade como um todo.

2. SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVILO entendimento da sustentabilidade ainda é bastante recente nas atividades rela-

cionadas à construção civil, mas já ocupa um espaço nas preocupações globais sobre o meio ambiente. O setor é responsável por gerar grande quantidade de resíduos e ser grande consumidor de recursos naturais não renováveis, principalmente água e ener-gia, gerando graves impactos ambientais, tais como: uso descontrolado e até mesmo desnecessário de recursos; destino impróprio de efluentes e resíduos sólidos; uso de materiais tóxicos, impermeabilidade do solo, entre outros.

O setor hoje consome cerca de 40% de energia do mundo, colocando-o, portanto como um significativo contribuinte para o problema do aquecimento global. Conforme dados apresentados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas o setor é responsável por grande parte da emissão de gases do efeito estufa (CURCI e WEISS, 2008).

Somente o cimento é a terceira maior fonte de emissão de dióxido de carbono do planeta, atrás apenas da geração de energia elétrica e transporte, sendo responsável por 7 a 10% do total de emissões deste gás (CONPET, 2005).

A produção de materiais da construção civil também está associada as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE). Em uma das pesquisas realizada realizadas no Pro-grama de Pós-Graduação em Tecnologia-PPGTE da UTFPR, calculou-se a emissão de dióxido de carbono (CO2) resultante da construção de uma casa de interesse social de 40 m2, da COHAPAR - Companhia de Habitação do Paraná. Considerando algumas variáveis de processos e uso energia, o estudo analisou a emissão de CO2 associada a produção dos materiais convencionais utilizados em casa populares, como o cimento, cal, metal, areia, pedra brita, tijolo e telha cerâmica, ficando demonstrado que em mé-dia se tem cerca de nove toneladas de CO2 emitidos por casa construída. (STACHERA e CASAGRANDE JR., 2007).

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A proposta da construção sustentável (greenbuilding) é vista como uma solução para minimizar ou mesmo eliminar estes problemas. Conforme Stang (2005) uma construção sustentável é aquela que é projetada, construída, renovada, operada e até mesmo reusada de uma forma ecológica e eficiente, com o objetivo de proteção da saúde e bem estar do ocupante. Isso só é possível através do uso de fontes de energia mais eficientes e que reduzam o impacto sobre o meio ambiente.

Existe a necessidade de mudança no quadro que se apresenta, e ela se inicia com uma formação adequada dos profissionais que estão entrando no mercado de trabalho e atitudes práticas da construção civil, além de políticas de regulamentação e fiscali-zação de obras, técnicas construtivas e materiais, que começam a serem desenvolvidas com a exigência de um novo mercado.

Dentro desse contexto, o mercado internacional normalizou a temática da susten-tabilidade nas construções, através de vários tipos de certificações. Esses selos volun-tários, em geral trabalham dentro de critérios de avaliação de projetos e edificações contextualizados nas seguintes temáticas: Localização do empreendimento, gerencia-mento de água e resíduos, materiais e recursos, qualidade do ambiente interno, energia e atmosfera, manutenção predial, entre outros. O Brasil importou dois desses mode-los, que ainda estão em fase de adaptação, a saber: o certificado LEED (Leadership in Energy and Environment Design), de origem norte-americana emitido pelo World Green Building Council (WGBC), e o processo francês HQE (Haute Qualité Environ-nementale), AQUA em português. Como para os aparelhos eletrodomésticos onde o selo do PROCEL - Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica já estabe-lece parâmetros para a eficiência energética, está se apostando na certificação quanto à eficiência ecológica das construções. Apesar da restrição destes exemplos, eles são os primeiros passos que o setor começa a dar rumo a uma consciência ambiental.

O CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), constituído desde 2007, também trabalha na conscientização a respeito da sustentabilidade dentro do setor da construção civil, contemplando uma visão sistêmica da problemática envolvendo ques-tões sociais, econômicas, ambientais e da cadeia produtiva da indústria do setor e sua inter-relação com os setores financeiro, governamental, acadêmico e a sociedade.

3. PRODUÇÕES ACADÊMICAS NÍVEL STRICTO SENSU DEFENDIDAS NA UTFPRLevando em conta todos os setores do aprendizado e não apenas o setor da cons-

trução civil, verificamos em que aspectos surgem as discussões ambientais e o desen-volvimento sustentável nos trabalhos da UTFPR, em todos os seus campus. Na maio-ria destes trabalhos está a preocupação com o meio ambiente, não necessariamente incluindo o conceito de sustentabilidade, por isso foi feita uma análise mais restrita enumerando os trabalhos com as duas temáticas.

Dentro dos trabalhos levantados encontramos muitos estudos relacionados à ques-tão da eficiência energética dos edifícios, conforto ambiental, materiais, resíduos, e ciclo de vida de produtos. Todos estes temas se relacionam direta ou indiretamente à ocupação humana no que diz respeito ao setor de construção civil.

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O programa de pós-graduação nível stricto sensu possui hoje oito cursos em ati-vidade. O programa de pós-graduação em Engenharia Elétrica e Informática Indus-trial (CPGEI) foi o primeiro programa de mestrado da UTFPR, criado em 1991 com três áreas de concentração: Engenharia Biomédica, Informática Industrial, Telemática, contando atualmente com 502 dissertações defendidas. Em 1999, iniciou o doutorado e hoje tem 42 teses defendidas.

O Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE) teve seu mestrado iniciado em 1995 e tem sua área de concentração em Tecnologia e Sociedade. É o programa mais interdisciplinar da UTFPR, oferecendo três áreas de pesquisa: Tecnologia e De-senvolvimento, Tecnologia e Interação e Tecnologia e Trabalho, sendo que tema de meio ambiente é tratado mais diretamente por professores que compõem a linha de Tecnologia e Desenvolvimento. Até março de 2009, teve 282 dissertações defendidas, sendo que o doutorado iniciado em 2008 ainda não tem trabalhos defendidos.

Em 1999 se iniciou o programa de Engenharia Mecânica e Materiais (PPGEM) oferece quatro áreas de conhecimento para o desenvolvimento de pesquisas: Enge-nharia de Manufatura, Engenharia de Materiais, Engenharia Térmica e Mecânica de Fluídos. Até abril de 2009, teve 114 trabalhos concluídos.

O programa de Engenharia de Produção (PPGEP), foi iniciado em 2003 no campus de Ponta Grossa, com 110 trabalhos defendidos até março de 2009. Ao todo são 1.050 trabalhos defendidos na UTFPR até a presente data, maio de 2009.

Os programas de Pós-Graduação em Engenharia Civil (Campus de Curitiba), En-genharia Elétrica (Campus de Pato Branco), Agronomia (Campus Campo Mourão) e em Ensino de Ciência e Tecnologia (Campus Ponta Grossa), ainda não possuem tra-balhos acadêmicos, pois iniciaram suas aulas recentemente (2009, 2009, 2006 e 2008 respectivamente). O programa de Engenharia Civil (PPGEC) é o primeiro na UTFPR a ter uma linha de pesquisa diretamente relacionada ao tema, recebendo o nome de Sustentabilidade e Recursos Hídricos.

O programa de mestrado do PPGTE possui dissertações defendidas a partir de 1997, mas somente após o ano de 2001 surgem trabalhos que discutem a sustentabilidade e os problemas ambientais com maior ênfase. Entre 1997 e 2000 foram levantadas ape-nas quatro dissertações em que se começa a colocar determinadas preocupações, duas relacionadas à construção civil e duas relacionadas à educação. Após 2001 observa-se uma maior quantidade de trabalhos relacionados, porém, um número ainda pequeno comparando-se a produção anual de dissertações. São ao todo 47 trabalhos sob essa problemática, sendo 23 deles sobre sustentabilidade e 24 sobre questões ambientais em inúmeros aspectos. (ver gráficos 1 e 2).

Faz-se necessário ressaltar que o PPGTE tem um maior número de teses defendidas na área ambiental devido o objetivo de seu criador, Professor João Augusto Bastos, que visava estabelecer as relações entre educação, ciência e tecnologia numa perspectiva interdisciplinar. Sendo um crítico do modelo de educação tecnológica implantado no Brasil, comparado muitas vezes a um “adestramento tecnológico”, o Professor João Augusto viu no PPGTE a possibilidade de pesquisadores desenvolverem num ambien-te interdisciplinar a reflexão crítica de como ocorre a interação do ensino e da pesquisa

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com a educação e a inovação tecnológica. Em 1997, foi proposta a inclusão da dimen-são ambiental no programa pelo professor Eloy Fassi Casagrande Jr., trazendo para área posteriormente outros professores.

Gráfico 1: Áreas das produções acadêmicas do PPGTE entre 1997 e abril/2009.Fonte: Elaborado pelos Autores

Para Silva e Bastos (2008), as dimensões histórico-cultural, econômico-social, e ambiental das concepções de tecnologia ajudam a entender os significados do processo deconstrução do ensino. Assim chega-se à reflexão crítica, partindo da essência, até ruptura do simples saber-fazer. Os segmentos produtivos da sociedade relacionam-se com a tecnologia e com o ensino, e hoje, precisam também atrelar suas atividades às práticas de sustentabilidade.

Gráfico 2: Comparativo das pesquisas do PPGTE entre a área ambiental e sustentável e outros temas no período de 1998 à 2008.Fonte: Elaborado pelos Autores

O programa em Engenharia Mecânica e de Materiais possui cinco trabalhos, todos relacionados ao meio ambiente, abrangendo temas como o ciclo de vida dos materiais, impacto ambiental dos produtos e resíduos.

O programa de Engenharia de Produção conta com apenas seis trabalhos na área

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da sustentabilidade e meio ambiente, tratando de problemas como eco-eficiência, rea-proveitamento de resíduos, eficiência energética, ciclo de vida e outros; não havendo uma coesão de temas.

Conforme o gráfico 3, podemos observar qual a porcentagem da temática nos dife-rentes programas citados anteriormente.

Gráfico 3: Abordagem da sustentabilidade e questões ambientais nas pesquisas de stricto sensu da UTFPR.Fonte: Elaborado pelos Autoress

O programa de Engenharia Elétrica e Informática Industrial, em funcionamento desde 2005, não apresenta até o momento trabalhos diretamente voltados à sustenta-bilidade.

Em resumo, destes 1.050 trabalhos acadêmicos defendidos até a presente data (maio de 2009), sendo dissertações e teses, somente 58 abrangem questões voltadas ao meio ambiente ou sustentabilidade. Isso representa somente 5% do total (ver gráfico 4). Esses dados são preocupantes, tendo em vista que tivemos uma Agenda 21 em 1992 que preconizava uma conscientização da população e somente nove anos mais tarde começamos a pensar na temática dentro da universidade.

Gráfico 4: Dissertações e Teses defendidas na UTFPR.Fonte: Elaborado pelos Autores

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Também temos de considerar o não cumprimento da a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de Edu-cação Ambiental. Vê-se claramente as dificuldades para que as diretrizes da lei sejam inseridas em todos os níveis de ensino, do fundamental ao superior e, quando inserida, ainda não alcança o sucesso que almeja. Professores associam este fracasso ao fato de que as ‘pessoas ainda não estão conscientizadas do problema ambiental’. Para Sato (2007) o problema está em compreender a Educação Ambiental como um instrumento metodológico da gestão ambiental ao invés de ter sua essência ontoepistemológica, propriamente dita. A dimensão ambiental é percebida, mas não se inscreve em uma prática pedagógica transformadora.

A maior parte das dissertações que discute o conceito de sustentabilidade está no PPGTE, sendo que destas, a questão de resíduos é focada freqüentemente. Dentro des-ta abordagem encontramos uma grande diversidade de sub-temas, como a reciclagem nas indústrias de plásticos de Curitiba e região, o esgoto sendo tratado por meio de zonas de raízes, os riscos dos resíduos dos serviços de saúde, o óleo de frituras como biodiesel para a produção de energia, a emissão de CO2 no setor de construção civil e o aproveitamento de resíduos sólidos urbanos. Relacionados ao tema da informação estão discussões sobre o urbanismo e a lei de uso do solo, o design de produtos susten-táveis, design de móveis e as ferramentas para potencializar práticas inovativas. Outro tema bastante abordado foi o conforto ambiental, havendo inúmeros trabalhos relacio-nados com a verificação da eficiência energética de edificações, outros com a poluição sonora e também com características do clima e do paisagismo sobre a temperatura. Os demais trabalhos trazem questões sobre o consumo energético, o consumo de água e seu aproveitamento, agronegócios e produtos orgânicos, educação ambiental, entre outros.

O gráfico 5 apresenta o levantamento das diferentes áreas que são abordadas nas pesquisas de todos os programas anteriormente enumerados.

Gráfico 5: áreas das pesquisas abordadas nos programas do PPGTE, PPGEP e PP-GEM.Fonte: Elaborado pelos Autores

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Quatro temas diretamente relacionados à construção civil foram as pesquisas em torno de construções em terra crua visando a eficiência energética da edificação (2002), a quantificação da emissão de CO2 associada a materiais convencionais utilizados na construção de casas de interesse social (2006), formas inovadoras de gestão para a qualidade e a produtividade na construção civil (1998), e um estudo exploratório sobre um conjunto habitacional popular em Curitiba (1998). Poucos trabalhos falam de téc-nicas construtivas de menor impacto ambiental, faltando dissertações que explicitam tecnologias limpas, materiais, como a madeira, por exemplo, construções sustentáveis, entre outras proposições.

Pode-se pressupor que um dos motivos pela falta de interesse por pesquisas des-te gênero, estaria na falta de informação e questionamento provenientes das áreas de formação. Numa avaliação das grades curriculares dos cursos de engenharia, por exemplo, se encontra apenas disciplinas isoladas tratando da questão ambiental e do desenvolvimento sustentável de forma pontual, sem que haja uma transversalidade do tema. Devemos lembrar que os programas stricto sensu são em geral interdisciplinares, porém mesmo em outros campos do conhecimento a preocupação ambiental e os fato-res que daí decorrem não estão presentes na maioria das dissertações.

Uma das poucas iniciativas na área da graduação que procurou estimular a discus-são da sustentabilidade no Departamento Acadêmico de Construção Civil (DACOC), foi programa de intercâmbio de alunos do curso com universidades americanas, co-ordenado pelo Professor Dr. Eloy Fassi Casagrande Jr. Denominado de “Consórcio Sustentabilidade Brasil – Estados Unidos CAPES FIPSE”, deste faziam parte o curso de Engenharia de Produção Civil da UTFPR, o curso de arquitetura da PUCRS, e cur-sos afins da University of Texas, at Austin e Ball State University (BSU), no estado de Indiana, dos Estados Unidos. Com verbas da CAPES e FIPSE, o programa possibili-tou bolsa de estudos por um semestre para 23 estudantes brasileiros (14 da UTFPR e nove da PUCRS) e 11 americanos (mais o custo das passagens aéreas), que em média cursavam três a quatro disciplinas relacionadas a questões ambientais, assim como a participação em estágios, projetos de extensão e pesquisas.

Esta ação permitiu uma reflexão sobre o tema dentro do DACOC, surgindo no seu programa de mestrado (PPGEC), a linha de pesquisa Sustentabilidade e Recursos Hídricos.

4. CONCLUSÃOA partir da análise dos dados levantados, constata-se que apesar da temática da

sustentabilidade e dos problemas ambientais serem considerados importantes na atu-alidade, a produção acadêmica na UTFPR sobre o tema é pequena. Somente 5% dos trabalhos em nível stricto sensu trama de discussões sobre o meio ambiente. Nesta perspectiva, além disso, observa-se nas dissertações que o tema foi abordado de modo generalista mesclando conceitos de tecnologia e natureza. A preocupação ambiental, porém não deixou de ser o ponto de partida para o pensamento interdisciplinar na bus-ca de soluções para os problemas propostos.

Analisando mais especificamente o setor de construção civil, visão para a qual este

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trabalho está direcionado, constatou-se que apenas 7% das produções acadêmicas se referem mais diretamente ao tema, lembrando que o setor é grande responsável pela geração de impactos. Porém, outros temas estão indiretamente relacionados, como água e energia por exemplo. Seria importante fazer uma análise quantitativa dos alu-nos provenientes do setor construtivo, sejam arquitetos, engenheiros ou profissionais afins, para quantificar e qualificar as dissertações e teses que se relacionam ao assunto, além de verificar se as pessoas com esta formação estão inseridas nos programas de pós-graduação, direcionando suas pesquisas para esta área de conhecimento.

Compreendemos que há uma diferença fundamental entre o entendimento das de-finições de sustentabilidade e das questões ambientais. O conceito de sustentabilidade necessariamente inclui a preocupação ambiental, juntamente com os fatores econô-micos e humanos. A questão ambiental não necessariamente inclui conceitos de um desenvolvimento sustentável, sendo mais ampla e com uma visão mais aprofundada do meio ambiente.

Enfim, a importância da temática ambiental e sustentável é de suma relevância em toda e qualquer área da atividade humana. As exigências quanto ao respeito de parâ-metros de sustentabilidade na construção civil são maiores, em especial por ser uma atividade que faz parte das necessidades básicas dos indivíduos, seja moradia, ambien-te de trabalho, de lazer, seja pela sua amplitude e desdobramento quanto ao consumo de materiais da natureza. As nas cidades como um elemento macro das sociedades são construídas por profissionais que lidam no seu cotidiano com o conhecimento e os saberes. Questões como construção civil, uso sustentável dos recursos, recursos renováveis, constrangimentos das leis biofísicas fazem parte dos conhecimentos ne-cessários para resolver situações de uso de tecnologias e de ações sobre o ambiente natural. Vale lembrar que a universidade, é o espaço onde existe um ambiente voltado para a educação em excelência e isto a caracteriza como uma instituição responsável pelas mudanças de pensamento e de ações por meio de uma reorientação das grades curriculares e das ementas de disciplinas.

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Programa de pós-graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais.

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A ACADEMIA VAI A COMUNIDADE: DISCUTINDO AS RELAÇÕES ENTRE DISSERTAÇÕES DE MESTRADO E PROJETOS COMUNITÁRIOS

Henry Belchior da Cunha (1); Maclovia Correa da Silva (2); Eloy Fassi Ca-sagrande Jr. (3).

(1) Arquiteto, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Uni-versidade Tecnológica Federal do Paraná – Programa de Pós-Graduação em Tecnolo-

gia – PPGTE/UTFPR;(2) Professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR,

doutora em Planejamento Urbano e Regional pela FAUUSP;(3) PhD em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente, Professor do

Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR

RESUMOCom o agravamento dos problemas mundiais de ordem sócio-econômica e ambiental, as instituições universitárias vêm recebendo críticas pelo seu isolamento e pela falta de comprometimento com os resultados e resoluções para os conflitos e contradições que se apresentam na sociedade tecnológica. Na visão contemporânea, o papel das institui-ções superiores de ensino passa por uma transformação, e estas estão sendo apontadas como colaboradoras da inclusão e da formação de profissionais alicerçados na menta-lidade de cidadãos de cidades globais. O objetivo deste estudo é apresentar pesquisas realizadas por alunos orientados por professores da linha de pesquisa Tecnologia e De-senvolvimento, do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE), Universida-de Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) que abordam as questões sócio-ambientais relacionadas à problemática de capacitação profissional e inclusão social de grupos de pessoas caracterizados como “interessados” em participar de comunidades enquanto agentes com afinidade profissional. Nestas pesquisas foram observados casos de ações que buscaram promover a utilização de recursos naturais de maneira branda, na pers-pectiva de preservação e conservação do meio ambiente, com a finalidade de produção de objetos e de geração de renda. As quatro dissertações analisadas encontram-se ali-cerçadas na premissa de que a técnica e o saber-fazer, se aliados ao conhecimento da academia, podem produzir o aperfeiçoamento de habilidades e competências e auxiliar na redução dos impactos decorrentes da fabricação de produtos, tornando-os condizen-tes com os objetivos de sustentabilidade e qualidade de vida.

1. RELAÇÕES ENTRE ACADEMIA E COMUNIDADESA Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), dentro de seu Progra-

ma de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE), stricto sensu, promove a produção de trabalhos acadêmicos em diversas áreas do conhecimento seja na ciência aplicada ou na ciência pura. Enquanto esta discute as questões teóricas pertinentes a fundamentos

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da tecnologia e suas diversas perspectivas, aquela incentiva a relação de pesquisa de extensão da universidade com a sociedade.

No PPGTE, o grupo de pesquisa Tecnologia e Meio Ambiente (TEMA) estuda as relações entre os conhecimentos sobre a problemática ambiental e suas implicações no campo dos saberes em comunidades locais. A perspectiva volta-se para a orientação de trabalhos, pesquisa ação, envolvendo instituições acadêmicas, governamentais e ONG’s na direção de encontrar soluções apoiadas pela tecnologia para problemas de conservação e preservação da natureza e da cultura local.

As propostas das dissertações que trabalham com a cultura material convergem para o estudo de técnicas do saber fazer aliadas aos conhecimentos da academia. Na produção de novos usos para os materiais são criados artefatos que coadunam com a preservação dos recursos naturais e a demanda de mercado local. Os trabalhos dis-cutem as questões de preservação do meio ambiente, a exploração de temas como as fibras naturais, materiais recicláveis e a organização do trabalho no Estado do Paraná.

A primeira dissertação, da mestra em Tecnologia, Helena Akemi Umezawa, O uso potencial do bambu para o desenvolvimento sustentável local: Estudo de caso da Co-lônia Parque Verde, Fazenda Rio Grande – PR (2002) faz uma avaliação sócio-eco-nômica do potencial de uso do bambu encontrado na Colônia Parque Verde, uma área de 416,26 ha, dentro do município de Fazenda Rio Grande, Região Metropolitana de Curitiba (RMC). As diversas possibilidades do uso do bambu na região dentro de uma cadeia produtiva, que poderia, em tese, melhorar a renda de pessoas na Região, podem ser observadas na Figura 1.

Figura 1: Potencial econômico do uso do bambu na Fazenda Rio GrandeFonte: UMEZAWA (2002)

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Num trabalho de campo de amostragem e através de fotos aéreas foi levantada a quantidade de bambu de 10 propriedades, onde se constatou a existência de aproxima-damente 1,5 ha de bambu japonês tipo Mosso (Phyllostachys pubescens) plantados nos anos 60, quando da instalação das famílias. Nas visitas ao local também foi possível verificar o relevo dos terrenos, tipo de solo e possibilidade de eventual expansão das plantações que poderiam ocupar uma média de 20% da área cultivável das proprieda-des (UMEZAWA, 2002).

Dados da dissertação de mestrado de Umezawa que apontaram para a possibilidade de o bambu da região poder gerar produtos e renda as populações menos favorecidas economicamente e o resultado de quatro anos de pesquisa sobre o bambu na UTFPR, embasaram o projeto aprovado no IX Prêmio Banco Real / UNISOL 2004, coordenado pelo Professor Eloy Fassi Casagrande Jr., para propostas de Desenvolvimento Susten-tável, com ênfase em Geração de Renda´, tendo o mesmo recebido R$20.000,00 para sua implantação.

Com a verba foi possível viabilizar os insumos e mobilizar consultores para treina-mento na área específica. Uma equipe de acadêmicos da UTFPR recebeu treinamento sobre como produzir objetos de bambu, para que pudesse ensinar a comunidade a con-feccionar produtos com esta matéria prima. As oficinas foram realizadas em dois bair-ros do município de Fazenda Rio Grande, no Parque Verde e no bairro Gralha Azul.

A segunda dissertação que aborda a questão comunidade-universidade teve o Pro-jeto Bambu da Fazenda Rio Grande como objeto de estudo e foi desenvolvida pela mestre em Tecnologia Janete Lúcia Conci. Intitulada A Constituição de Grupos de Trabalho Alternativo e a Intermediação da Tecnologia no Município de Fazenda Rio Grande (2007), a pesquisadora analisa as questões do cotidiano de dois grupos de trabalho nos bairros “Parque Verde e Gralha Azul”, situados no município de Fazenda Rio Grande (RMC).

Esta iniciativa procurou trabalhar alternativas tecnológicas que viessem a contri-buir com a superação da dependência econômica de pessoas com baixa renda. As re-lações humanas e sócio-econômicas travadas por ocasião da participação da UTFPR neste processo sob a coordenação do Professor Eloy Fassi Casagrande Jr., desde a capacitação, articulação do grupo, escolha do produto, o propósito de formação de uma cooperativa, resultaram na formação de dois grupos de trabalho. A organização e apropriação do conhecimento provieram da equipe multidisciplinar composta por professores e alunos dos cursos de Engenharia e Tecnologia da Construção Civil, De-senho Industrial, Engenharia Mecânica, Química Ambiental da UTFPR. Também fo-ram realizadas parcerias com professores e alunos do curso de Agronomia da Pontifica Universidade Católica - PUC-PR e do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná - UFPR.

Além disso, a forma de organização dos saberes e a apropriação do conhecimento podem ser responsáveis pela melhoria do saber fazer. Segundo Bastos:

A organização artesanal está circunscrita ao entorno do trabalho, que se caracteriza pelo domínio da concepção vinculada à execução. Através de seu trabalho, o artesão liga-se ao mundo e à sociedade, pois o ato produtivo não é um momento isolado da

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existência. É a sua vida por inteiro, expressa por um conjunto de atividades (BASTOS, 1998, p.122).

Nos grupos de trabalho analisados no texto de Conci (2007) os artesãos acompa-nharam o processo inteiro da confecção das peças. As habilidades individuais são sina-lizadoras da hierarquia e das diferentes funções no processo de produção. Os vínculos de comprometimento dos componentes do grupo são por vezes imprescindíveis para a sua continuidade. O conhecimento tácito torna-se evidente na prática do fazer como cita Bastos:

O saber “tácito” não está em contradição com o saber formal, mas dele é distinto e demonstra certas peculiaridades. As mudanças organizacionais que vêm ocorrendo no campo do trabalho, em função de definição de novos paradigmas, são fontes inesgotá-veis de conhecimentos (BASTOS, 1998, p. 26).

Tanto as relações cotidianas, quanto as relações Universidade-Comunidade, e as in-terferências na tentativa de formação de um grupo de trabalho na manufatura do bambu como matéria prima renovável e preservação de recursos ambientais, acrescentaram idéias para as pessoas enfrentarem os desafios de coesão dos artesãos, do mercado de produtos, da padronização de acabamentos para comercialização em grande escala, e a regularidade de encomendas.

Esse tema também foi desenvolvido em dissertação com outros enfoques. O acesso ao conhecimento e a participação da academia, setores públicos e iniciativa privada é o palco do cenário da dissertação da pesquisadora Elisete Ferreira. Ela observou o trabalho de um grupo de catadores de papel de Curitiba durante o ano de 2007, que recebeu uma capacitação profissional, e estudou as Dinâmicas de Apropriação do Conhecimento por Famílias de Catadores de Material Reciclável: Políticas Públicas, Projetos e Tecnologias Sociais (2008).

O estudo abrangeu ações com catadores no “Projeto Papel Social”, de arte, técnica e tecnologia, voltadas para geração de emprego e renda, e coordenado pela Dra. Li-bia Patricia Peralta Agudelo, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) através do edital do Edital CT-AGRO/CT-HIDRO/MCT/CNPq, que busca estimular a execução de projetos de extensão. As desigualda-des sociais oriundas das incertezas no mercado de trabalho e economia globalizada geram passivos sociais que à margem do sistema produtivo esperam sua re-inserção no mercado formal de trabalho. A produção de bens e serviços conforme Paul Singer (1999) abriu as portas do pequeno negócio e pode ser uma forma de equilibrar o mer-cado de trabalho. A exclusão social é processo e não uma condição, segundo Castells (2003), que acredita que os excluídos podem romper esses limites e mudar sua posi-ção, no entanto isto depende de ações conjuntas interinstitucionais.

O conceito de projeto social utilizado advém de Pampolini Jr. (2001) que visualiza as políticas de responsabilidades sociais com a finalidade de diminuir os déficits so-ciais por meio da “implementação de ações substanciadas e empreendimentos organi-zados e realizados a partir de um cronograma de ações, objetivando a minimização das carências apontadas” (PAMPOLINI JR., 2001, p. 75).

No Projeto, as vantagens das inovações tecnológicas refletiram na beleza, na esté-

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tica e no design presentes na modelagem da massa de papel maché, no aproveitamen-to de embalagens descartadas, no reuso de material catado, na aplicação de moldes, formas, tintas, colas, barbantes e fios. As práticas revelaram aspectos de apropriação do conhecimento em projetos sociais com a intermediação de organizações não gover-namentais.

Os Projetos Sociais não conseguem alcançar seus objetivos se forem pensados iso-ladamente, pois necessitam de políticas, leis, programas que caminhem em paralelo. A interação entre estruturas políticas e sociais permite que os projetos existam, possibili-tando a avaliação e criação de novas atuações das políticas públicas.

Na quarta dissertação analisada, a ênfase foi dada ao estudo da técnica e o saber-fazer aliados à produção industrial. Na pesquisa Arte e Técnica: na Fabricação de Mó-veis de Vime; saberes, práticas e ofício: um estudo de caso (2004), da Mestra Marina Ribas Lupion, a fabricação de produtos com o vime considerou a possibilidade de cres-cimento do setor de fibras e suas potencialidades. O uso dos materiais ecologicamente corretos seguiu não só uma tendência, mas manteve uma preocupação mais ampla com a sustentabilidade do planeta. Vê-se a busca por produtos duráveis e biodegradáveis para que não ocorra o impacto sobre o meio ambiente.

No que se refere à dissertação é relevante lembrar que a compreensão de arte e de técnica representam conceitos que possuem uma tênue linha em sua separação A proximidade nos conduz, por precaução, a mencionar um e naturalmente referenciar o outro. Segundo GAMA (1986), a palavra técnica teve sua origem no grego “techné” e significava arte, e posteriormente ela foi substituída pela palavra técnica.

Vale destacar a colocação, pois o ser humano na realização de sua arte precisa utili-zar-se da técnica assim como em todas as suas atividades de trabalho que se expressam também como arte. Segundo o autor, compreende-se que a técnica é

o conjunto de regras práticas para fazer coisas determinadas, envolvendo a habi-lidade do executor e transmitidas, verbalmente, pelo exemplo, no uso das mãos, dos instrumentos e ferramentas e das máquinas. Alarga-se freqüentemente o conceito para nele incluir o conjunto dos processos de uma ciência, arte ou ofício, para obtenção de um resultado determinado com o melhor rendimento possível (GAMA, p.30, 1986).

Esta formulação é sobremaneira central para que haja o entendimento de que o trançado do vime é a prática de um ofício, no sentido, do domínio de uma técnica e de uma arte que estão contidas na habilidade das mãos dos artesãos e que resultam nas tramas, nas formas e no segredo do saber fazer ressaltando-se ainda, seu domínio sobre os meios de produção. Com estes artesãos do vime encontramos a reminiscência dos ofícios coloniais, na mais pura expressão de uma arte advinda dos imigrantes italianos. Segundo LUPION (2005, p.133), “reitera-se assim, que a dimensão histórica da técni-ca torna-se imprescindível para alcançar a compreensão da essencialidade do trabalho humano, pois ela permite àqueles que buscam através do rigor científico, conhecer o substrato da atividade humana por excelência.” Há que se reconhecer nesta atividade, portanto a técnica presente em todos os estágios de produção, ou seja, no cultivo, no tratamento, e no beneficiamento.

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2. CONCLUSÃO Ao analisar o contexto de dissertações que tratam das relações entre a comunidade

e instituição de ensino superior, reconhece-se que a técnica é uma ação que colabo-ra para interar saberes e conhecimentos daqueles que estão voltados para o processo ensino-aprendizagem. A natureza e seus bens naturais, as pedras, o barro, madeira, a água, o ar e todos os materiais podem ser trabalhados e processados repetidamente. Os resíduos sólidos resultantes da produção de artefatos, ou aqueles a serem descar-tados por serem considerados como rejeitos, quando entendidos como matéria prima, transformam-se em produtos e geram renda.

As pessoas de baixa renda, se treinadas para mudar o olhar sobre materiais, acres-centam aos seus saberes, conhecimentos que os permitem avançar na escala social. Nos trabalhos analisados, verificou-se a potencialidade de recursos naturais, como o bambu, e os diferentes produtos que podem ser feitos a partir dele. Também foi verifi-cado que pessoas com pouca qualificação profissional podem aprender noções de arte e técnica necessárias para alcançar resultados surpreendentes na produção de artefatos.

Vale destacar que intervenções de profissionais na geração de arte, técnica e tec-nologia aproximam o saber da ciência e as práticas multidisciplinares, as quais con-tribuem para a formação de cidadãos. A Universidade, ao acatar projetos de uso dos materiais ecologicamente corretos, duráveis e biodegradáveis está colaborando com a diminuição do impacto sobre o meio ambiente e a sustentabilidade do planeta. As relações Universidade-Comunidade precisam se intensificar no sentido de elaboração de projetos e pesquisas que visem à formação de grupos de trabalho e capacitação profissional e inclusão social.

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ENERGIA E O ENSINO DA ENGENHARIA NA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ-UTFPR: DESAFIOS PARA SE

ALCANÇAR A SUSTENTABILIDADE

Antonio Carlos Cassilha (1); Eloy F. Casagrande Jr. (2); Maclovia Corrêa da Silva

(1) Arquiteto, Professor do Departamento Acadêmico de Engenharia Eletrotécni-ca-DAELT/UTFPR;

(2) PhD em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente, Professor do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR

(3) Professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR, doutora em Planejamento Urbano e Regional pela FAUUSP

RESUMOOs impactos sócio-ambientais decorrentes da produção de energia elétrica concentrada nos combustíveis fósseis se agravaram nas últimas trinta décadas. A humanidade en-frenta hoje sue maior desafio diante do aquecimento global e suas trágicas conseqüên-cias. A formação de engenheiros do futuro, que possam ter um conhecimento profundo de tecnologias que reduzam estes impactos deve ser prioridade no sistema de ensino atual para que se possa alcançar a sustentabilidade. Este artigo procura mostrar a difi-culdade da abordagem deste tema em algumas universidades onde persiste a concen-tração do ensino focado nas tecnologias e energias convencionais, analisando o caso do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica – DAELT, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR. Conclui-se que é preciso iniciar um movimento em dire-ção a mudanças pedagógicas e curriculares que possam modificar a forma de geração e distribuição da energia, integrar as antigas energias com as novas formas de pensar a estrutura econômica existente, acelerar a implantação dos programas de eficiência energética e disseminar as energias renováveis e produção mais limpa.

1. INTRODUÇÃOO Brasil possui forte base hidráulica na sua matriz energética e uma abundante ma-

téria prima para a geração de energias alternativas de fontes renováveis com moderna legislação que incentiva a diversificação. Mas necessita de um amplo debate conside-rando as implicações ambientais na escolha das formas de geração de energia (Banco Mundial, 2008). A produção e o consumo de energia são ambientalmente impactan-tes, e a formação ambiental é um “saber emergente” (LEFF, 1998), com instituições de ensino ainda formando profissionais incapacitados para lidar com os problemas sócio-ambientais. Casagrande Jr. (2001) afirma que a questão ambiental exige uma

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abordagem metodológica focado na capacitação de professores, revisão de grades cur-riculares e do conteúdo de ementas das disciplinas.

O Ministério de Educação e Cultura - MEC, desde 1992, enfatiza a necessidade do comprometimento das instituições no processo para a educação ambiental. A educação dos engenheiros do futuro tem sido objeto de estudos e preocupações internacionais (NAC, 2004) assim como da ABENGE - Associação Brasileira de Educação em En-genharia (1982), ao descrevê-lo como sólido em ciências básicas e na operação de sistemas complexos, mas com compreensão interdisciplinar dos problemas adminis-trativos, econômicos, sociais e do meio ambiente. É imperativo ir além dos aspectos legais e burocráticos. O contínuo desenvolvimento tecnológico e as mudanças da so-ciedade exigem do ensino, particularmente, em engenharia, mudanças além da simples alteração de grades curriculares, aquisição de equipamentos para laboratórios ou de bibliotecas atualizadas.

O debate internacional de um estilo sustentável de desenvolvimento que teve início em Estocolmo e consolidou-se no Rio, supera a ingênua visão da suficiência do conhe-cimento científico, na perspectiva tecnocrática, para tratamento da crise ambiental. O engenheiro a ser formado pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná deve estar preparado para discutir e propor soluções aos desafios contemporâneos na área de conversão, transporte e uso final das mais diversas formas de manifestação de energia, em uma perspectiva de sustentabilidade. A proposta central do presente artigo é carac-terizar que os moldes tradicionais das especialidades na graduação de engenharia da UTFPR, principalmente na área de eletrotécnica, precisam contribuir para a ampliação da consciência ambiental dos graduandos da instituição de ensino.

2. A TEMÁTICA AMBIENTALA dimensão ambiental não é ideologicamente neutra, nem está alheia, a interesses

econômicos e sociais. Os padrões de consumo influenciam a sustentabilidade energé-tica, como afirma Goldemberg (1998), bem como a organização espacial e urbana das nossas cidades contribui de forma decisiva para a ineficiência energética (COHEN, 2003). E, no mundo acadêmico as estratégias educativas, segundo Leff (1999), impli-cam na necessidade de reavaliar, e atualizar, os programas de educação que não tem encontrado soluções adequadas para a inserção de temas ambientais.

O engenheiro do futuro necessita de conhecimento profundo de uma tecnologia, de conhecer e relacionar conteúdos, métodos, teorias ou outros aspectos do conhecimento tecnológico. Mas, também, de um processo educativo orientado para a sustentabilida-de. Permanecer apenas na integração de vários temas seria manter a realidade atual não transformando o conhecimento tecnológico em uma perspectiva de mudança social. Os processos que podem economizar energia e recursos, diminuir poluição, aumen-tar produtividade com distribuição equitativa de renda e evitar desperdício de capital, passam pela educação e inovação tecnológica norteadas pela conservação ambiental (CASAGRANDE JR., 2001). Ela perpassa todas as disciplinas e todos os níveis do sistema educativo já que o cerne da questão é epistemológica (LEFF, 1998).

A prática educativa articulada com a problemática ambiental, não deve ser vista

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como um adjetivo, mas como filosofia pedagógica focada na conscientização, mu-dança de comportamento e atitudes, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação. O desafio dos futuros egressos será o de pensar novos conceitos de metrópoles auto-suficientes, e de um novo perfil energético dos produ-tos, das infra-estruturas, das edificações, dos equipamentos. Daqui a 25 anos, as edi-ficações terão que funcionar como fábricas de energia, além de abrigarem pessoas (RIFKTIN, 2009). Contudo, a prática de ensino nos programas dos cursos superiores, como constata Barbieri (2004), resumem-se a atividades típicas de controle de fim do processo. Enfatiza-se a discussão de normas e legislação relativas à gestão ambiental, a realização de atividades isoladas de coleta seletiva de lixo ou de comemorações do dia do meio ambiente. Muitas vezes, a simples transferência mecânica de experiências que tiveram êxito em locais com condições ambientais, econômicas, sociais e culturais diferentes. É importante ressaltar, que estas ações não auxiliam no desenvolvimento sustentável.

Nas recomendações sobre Educação Ambiental, da Conferência das Nações Uni-das para o Ambiente Humano (Estocolmo-Suécia, 1972), foi reconhecido o ensino como instrumento estratégico necessária à geração de conhecimentos interdisciplina-res e formação profissional. Os Seminários Nacionais sobre Universidade e Meio Am-biente, desde 1986, discutem métodos e mecanismos de ensino e pesquisa adequados à questão ambiental. Sem dúvida, é imperativo o incentivo à pesquisa e desenvolvimen-to para a disseminação de produção mais limpa e eficaz de energia. Neste sentido a educação e a informação através das instituições locais são componentes vitais para o sucesso de qualquer programa de sustentabilidade energética (EEA, 2001).

Imagina-se que o engenheiro na área eletrotécnica deve dominar todas as formas de energia que compõem a matriz energética brasileira - seja ela renovável, como hídrica, solar, eólica ou de biomassa, seja não renovável, obtida de petróleo, carvão, gás natural ou material radioativo. Deve ser um profissional voltado à pesquisa e estratégias para o setor energético visto que planeja, analisa e desenvolve sistemas de geração, transporte ou transmissão, distribuição e uso da energia. Entre suas atribuições está a avaliação de necessidades de uma região ou setor desenvolvendo projetos econômicos e socialmen-te viáveis, buscando soluções seguras e sustentáveis, que não agridam o meio ambien-te. Também deve poder coordenar programas de uso racional de energia.

3. A CADEIA DE VALOR DOS CONHECIMENTOSA transição entre a primeira revolução industrial e a segunda pode ser emblemati-

camente representada pela passagem do uso do vapor para o mundo novo da eletricida-de. Agora estamos próximos de dar inicio ao terceiro movimento, a revolução verde. O desafio da chamada terceira revolução industrial é o de superar o obstáculo de integrar as antigas energias com as novas formas de pensar a estrutura econômica existente. O desafio é converter as novas tecnologias em meios pelos quais seja possível dissociar o crescimento econômico da degradação ambiental.

A produção e distribuição de energia global irão duplicar a procura até 2050. Um dos grandes desafios é fazer com que este suprimento seja feito de forma sustentável a

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partir de fontes renováveis. No Paraná as próximas duas décadas sinalizam para uma demanda crescente de consumo de energia e a necessidade da melhoria na eficiência energética pelo lado da demanda ou, pelo lado da oferta, aumento da participação de fontes renováveis na matriz energética (MORAES, 2005). No Brasil ainda predomina a energia hidráulica na geração de energia elétrica em um cenário internacional em que a tendência mundial é de apoio às fontes de energias limpas.

O setor elétrico brasileiro, antes baseado no planejamento centralizado, foi privati-zado e dividido em quatro segmentos: geração, transmissão, distribuição e comercia-lização. A legislação brasileira passou a estimular iniciativas de absorção de fontes de energia renovável na matriz energética nacional. O PROCEL - Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica veio para promover ações de educação, etiquetagem, gestão energética municipal, iluminação pública, gestão de eletricidade na indústria e em edificações e saneamento ambiental. Na promoção de aumento das fontes de energia renováveis, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica - PROINFA, patrocinado pelo Ministério das Minas e Energia- MME, que objetiva au-mentar a participação da energia eólica, biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas - PCHS a serem incorporados ao Sistema Elétrico Integrado Nacional - SIN.

Neste ambiente, a educação na área energética, deve contribuir de forma decisiva para superar o dilema entre crescimento econômico e sustentabilidade ambiental. As propostas e práticas pedagógicas devem estar centradas na conscientização do educan-do, na mudança de atitude e comportamento, no desenvolvimento de competências, na capacidade de avaliação e participação, em um processo de novas leituras e interpreta-ções, voltado para mudanças e novas possibilidades de ação. A educação é componente vital para o sucesso de um programa energia renovável. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Engenharia, o Conselho Nacional de Edu-cação (2002), descreve como deve ser o perfil do formando. Ele precisa ter formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitada a absorver e desenvolver novas tecnologias e seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e humanística, para atender as demandas da sociedade.

Neste sentido existem alguns exemplos de formação profissional que fortalecem a compreensão deste futuro profissional. O Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo que se caracteriza por um esforço interdis-ciplinar do IEE, EP, FEA e IF no sentido de formar profissionais voltados às questões vinculadas à disponibilidade de energia, seus usos e seus impactos sobre a sociedade e sobre o meio ambiente. O programa propõe-se a fornecer os meios e as possibilidades de análise e avaliação dos sistemas energéticos existentes, das possíveis alternativas e as conseqüências sócio-econômicas e ambientais de sua produção e utilização.

O Laboratório de Eficiência Energética em Edificações, vinculado ao Núcleo de Pesquisa em Construção (Departamento de Engenharia Civil) da Universidade Federal de Santa Catarina, atua visando reduzir o consumo específico de energia em edifica-ções novas e existentes, através da implantação de novas tecnologias de iluminação, condicionamento de ar e isolamento térmico. O LabEEE encontra-se ligado aos Labo-ratórios de Conforto Ambiental (LABCON/Arquitetura), Meios Porosos e Proprieda-

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des Termofísicas dos Materiais (LMPT/Eng. Mecânica) e de Energia Solar (LABSO-LAR) através de projetos conjuntos.

Nesta linha colaborativa entre disciplinas ou setores de uma ciência, na busca por soluções que conciliem desenvolvimento econômico, proteção ambiental e redução das desigualdades globais, encontramos os exemplos da Universidade Federal do ABC, a primeira instituição de ensino superior do Brasil a adotar o bacharelado inter-disciplinar no curso de engenharia de emergia. Ainda, os cursos de graduação, em fun-cionamento a partir de 2007, da Universidade de Brasília, voltados para o suprimento e otimização energética, cuidando dos respectivos impactos ambientais; o bacharelado em Engenharia em Energia e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, que forma profissionais capazes de planejar, implementar, oti-mizar e manter sistemas de geração de energia, visando a seu melhor aproveitamento em processos industriais, com ênfase na sustentabilidade econômica e ambiental.

O curso da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais-PUC-MG, proposto para formar profissionais aptos a exercer as atividades referentes ao planejamento, à concepção, à análise, ao projeto, à implantação, à manutenção, à operação e à gestão de sistemas destinados ao suprimento energético e ao uso de energia em atividades sócio-econômicas, de forma técnica, econômica, social e ambientalmente sustentável, e o curso de Engenharia de Energia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, formando engenheiros para atuar na geração de energia com a preocupação com o meio ambiente.

É possível verificar que a formação do engenheiro do futuro, passa por um conheci-mento profundo de tecnologias que reduzam os impactos ambientais para que se possa alcançar a sustentabilidade. Vamos analisar agora o caso da Universidade Tecnológica Federal do Paraná onde apesar dos esforços de mudanças curriculares, ainda persiste a concentração do ensino focado nas tecnologias e energias convencionais.

4. O CASO DO DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ELETROTÉCNICA DA UTFPR

Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), instituição de educação tecnológica existente desde 1909, o curso de engenharia Industrial Elétrica é um dos primeiros cursos de graduação de engenharia plena ofertados pela instituição. Implan-tado em 19794 a partir da transformação do curso de Engenharia de Operação em Engenharia Industrial Elétrica, a preocupação maior nesta transição, conforme relata Porto Alegre (1997) foi a de criar uma grade curricular que além de aproveitar os pro-fessores do agora extinto curso, e que fosse voltado para as necessidades das indústrias locais, não havendo espaço, após a estruturação do currículo para as disciplinas cha-madas de cunho humanistas.

A segunda reformulação do currículo do curso aconteceu em 1987, e nasceu da instigação da coordenação e de um grupo de professores do curso. Porto Alegre (1997)

4. Para detalhada descrição do curso ver PORTO ALEGRE, Laize Marcia S. O currículo do curso de engenharia industrial elétrica - habilitação eletrotécnica, numa instituição de educação tecnológica. 1997, em http://www.ppgte.cefetpr.br/dissertacoes/1997/laize.pdf

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observa a falta de uma estratégia definida para trabalhar a orientação curricular, mas diferentemente do primeiro, com preocupação de compor um conjunto de disciplinas interligadas em vez de formadas por disciplinas isoladas como no currículo anterior. De novo não havia espaço para as disciplinas humanísticas. Desde a segunda reformu-lação em 1987 até 1993, somente pequenas alterações foram feitas nos conteúdos das disciplinas. Com o incentivo da direção geral e da direção de ensino, e em função de informações provenientes da indústria e da própria instituição, após visitar algumas universidades na área de engenharia no país, procurou-se enfocar uma nova revisão curricular em que fosse prioridade a preparação do aluno para o mundo futuro.

A ênfase deveria estar na formação técnica do aluno, procurando sanar as deficiên-cias na área gerencial e na área humanística. Desta vez estas deficiências foram cober-tas com a inclusão da disciplina de Filosofia da Ciência e da Tecnologia. As diferenças em relação ao currículo anterior eram mais de ordem qualitativa do que quantitativa. O conteúdo era colocado como mais moderno, geral e orientado para um tratamento sistêmico da engenharia.

Ao longo destes anos o curso de Engenharia Industrial Elétrica sofreu modificações curriculares, para atualização e adequação dos cursos as Diretrizes Curriculares Na-cionais atendendo as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Engenharia Mas, entre as justificativas dos diferenciais do curso elencados nenhum deles colocava a visão ou o desenvolvimento de uma consciência a respeito da sustentabilidade. O currículo atual, o quarto desde a criação do curso, procura adequar e aperfeiçoar o ensino às necessidades regionais e à nova realidade tecnológica com conteúdos que atendem a formação humanística.

A filosofia generalista do currículo fortalece a formação básica e procura através de disciplinas optativas atender questões de novas tecnologias e necessidades locais tra-duzidas em cinco áreas concentradas em eletrônica industrial, energia em edificações, sistemas elétricos, sistemas de potência e produção industrial. Espera-se, contudo, que uma visão multidisciplinar e interdisciplinar seja proporcionada pelos Trabalhos de Conclusão de Curso - TCC, os quais foram estruturados para integrar as atividades da engenharia no contexto social e ambiental. Enfatiza-se que será através da aplicação dos conhecimentos na área de informática, na área de gestão, economia e administra-ção que será possível fortalecer um profissional com as competências, habilidades e atitudes que o tornem apto a trabalhar em concessionárias de energia, de telefonia, na automação e controle, em projetos, manutenção e instalações industriais, comerciais e prediais.

Analisando os trabalhos apresentados sob a forma de TCC, publicados na página do Departamento, vê-se a maneira como a educação ambiental está inserida nas pre-ocupações dos egressos. Do ano de 2001 a 2004, estão relacionados 37 trabalhos de conclusão de curso; destes nove deles têm temas relacionados à eficiência energética ou manutenção. A orientação é feita por cinco diferentes professores, sendo que so-mente um deles é orientador de metade destes trabalhos. Esta visão resumida não fica distante da realidade nacional. O resultado pode ser medido no Catálogo Analítico de Teses e Dissertações sobre o Ensino de Ciências no Brasil, documento que contém os

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resumos de 572 dissertações e teses, defendidas entre 1972 e 1995. Constata-se que a Educação Ambiental foi estudada, em 36 trabalhos sendo que, somente dois deles, faz a relação com o ensino de graduação (MEGID-NETO, 1998).

Vale lembrar que o departamento de eletrotécnica possui ainda um grupo de pes-quisa na área de eficiência energética, originário de uma parceria com a COPEL – Companhia Paranaense de Energia que resultou na formação de duas turmas de espe-cialização. Ainda, existe, um grupo de professores que mantém atividades na área de manutenção. O curso procura manter convênios de troca de informações com univer-sidades tecnológicas européias, como o acordo de cooperação existente com a Uni-versidade de Oldenburg, Alemanha, firmado em 2007, na área de energias renováveis para países em desenvolvimento. Alguns alunos e professores já participaram deste convênio para trocar experiências.

5. CONCLUSÃOO objetivo deste artigo foi observar a inserções em trabalhos acadêmicos do pen-

samento ambiental em um curso de graduação na área de engenharia eletrotécnica na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. O desenvolvimento sustentável e os avanços que a moderna tecnologia possibilitam é um desafio para que se possa conver-ter as novas tecnologias em meios que seja possível dissociar o crescimento econômico da degradação ambiental. Fundamental é a temática ambiental inserida nos projetos pedagógicos. Contudo para se tornar efetiva a presença de questões ambientais nos currículos, é preciso que haja a adesão da idéia por docentes, graduandos, e gestores da instituição. O acesso a informação não implica em ações efetivas na temática am-biental, a não ser que haja uma inserção nas políticas didático-pedagógicas dos cursos e da Universidade. Pois a decisão pelos temas ambientais precisa da colaboração da interdisciplinaridade e dos setores heterogêneos; da troca de experiências, no sentido de que a soma delas venha a fortalecer um grupo interdisciplinar e interdepartamen-tal. Na base desta necessária mudança comportamental encontram-se os problemas de motivação política, de cunho legal, financeiro, de capacitação tecnológica que possam desenvolver um novo perfil de formação necessário à disseminação de tecnologias mais limpas, que promovam a eficiência energética.

6. REFERÊNCIASABENGE. Formação do Engenheiro Industrial, São Paulo: 1982.BM-BANCO MUNDIAL. Licenciamento Ambiental de Empreendimentos Hidrelétri-cos no Brasil: Uma Contribuição para o Debate. Volume II: Relatório Principal. 28 de março de 2008 Barbieri 2004CASAGRANDE JR, Eloy Fassi. Inovação tecnológica e sustentabilidade: integrando as partes para proteger o todo. Coletânea PPGTE, CEFET-PR, Curitiba: 2001.CME. CRIANDO UM NOVO IMPULSO. Declaração do Conselho Mundial de Ener-gia 2008COHEN, Claude. “Padrões de Consumo e Energia : Efeitos sobre o Meio Ambiente e

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o Desenvolvimento” in Economia do Meio-Ambiente. May, Peter et alli (orgs). Rio de Janeiro : Campus. p. 245-270, 2003.EEA-European Environment Agency. Renewable energies: success stories. Environ-mental Issue Report, n. 27, 2001.GOLDEMBERG, José. Energia, Meio Ambiente & Desenvolvimento. São Paulo: Edusp, 1998.LEFF, E. As Universidades e a Formação Ambiental na América Latina. In: ZANONI, M. e FERREIRA, A. Meio Ambiente e Desenvolvimento: a Universidade e a Demanda Social. Curitiba, PR: Cadernos de Desenvolvimento e Meio AmbienteLEFF, Henrique. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável. In REIGOTA, Marcos (org.). Verde cotidiano: o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A, 1999 (p.111-129).MEGID-NETO, J. O Ensino de Ciências no Brasil: catálogo analítico de teses e disser-tações: 1972-1995. Campinas, SP: UNICAMP/FE/CEDOC, 1998.MORAES, Gustavo Inácio de. Energia e sustentabilidade no paraná: cenários e pers-pectivas 2007 – 2023. Dissertação de mestrado. UFPR. 2005PORTO ALEGRE, Laize Marcia S. O currículo do curso de engenharia industrial elé-trica - habilitação eletrotécnica, numa instituição de educação tecnológica. 1997, dis-ponível em http://www.ppgte.cefetpr.br/dissertacoes/1997/laize.pdRIFKTIN, Jeremy. Edifícios do futuro vão gerar energia limpa, 2009. Disponível em http://info.abril.com.br/aberto/infonews/022009/10022009-40.shl. Acessado em 10 de fevereiro de 2009.SILVA, M. e BASTOS, J. A. Meio Ambiente e tecnologia na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. In: I Seminário Nacional de Educação Profissional e Tecnológica - SENEPT, 2008, Belo Horizonte. Anais do I Seminário Nacional de Educação Profis-sional e Tecnológica - SENEPT, 2008. v.1. p.1-10.UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Proposta de Revisão Curricu-lar do curso de Engenharia Industrial Elétrica ênfase Eletrotécnica. 2006

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A EXPERIÊNCIA DE UM PROCESSO DE INOVAÇÃO DE TECNOLOGIA PARA SANEAMENTO VOLTADO PARA O CONCEITO

DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

Tamara Simone van Kaick (1); Eloy Fassi Casagrande Junior (2)

(1) Bióloga, Drª em Meio Ambiente e Desenvolvimento, professora Adjunto 1 do Departamento Acadêmico de Química e Biologia da Universidade Tecnológica

Federal do Paraná-UTFPR; (2) PhD em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente, Professor do

Programa de Pós-Graduação em Tecnologia-PPGTE da UTFPR

RESUMOO presente artigo aborda a experiência do PPGTE/UTFPR, no desenvolvimento de pesquisa interdisciplinar voltada para a inovação de uma tecnologia para saneamento. A proposta de inovação de uma estação de tratamento de esgoto por zona de raízes, foi realizada dentro de um contexto específico, para atender às necessidades de comu-nidades da Ilha Rasa, município Guaraqueçaba/PR, inserido em uma área de proteção ambiental. O desenvolvimento da pesquisa, iniciado em 1999, com a construção de uma estação piloto utilizou metodologias sociais e técnico-científicas para analisar os resultados. O projeto gerou diversas outras propostas de pesquisa, devido às potencia-lidades observadas, que foram realizadas por outras universidades. A comunidade e instituições gestoras da região acompanharam os resultados até o ano de 2001, quando foi finalizado o projeto. Este processo indicou que a tecnologia desenvolvida mostrou-se apropriada para a localidade, no entanto, a mobilização para a replicação da tecno-logia para as comunidades não ocorreu. O mesmo processo foi aplicado pelo projeto de extensão da UFPR na Vila da Ilha das Peças à partir de 2005, e no decorrer do ano de 2009, observa-se uma mobilização da comunidade na busca de recursos e parcerias para a replicação e apropriação da tecnologia para toda a Vila.

1. INTRODUÇÃO O saneamento é uma condição primordial para a promoção de dois aspectos: a

saúde de uma população e a qualidade ambiental (WHO-UNEP, 2004). A qualidade da água consumida pela população e o tratamento adequado do esgoto são dois fatores que podem alterar significativamente o perfil de sustentabilidade de uma comunidade, tornando-os elementos chave na proposta de desenvolvimento (MACHADO e KLEIN, 2006; VAN KAICK, 2007).

O Brasil desenvolveu o Plano Nacional de Saúde e Ambiente no Desenvolvimento

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Sustentável em 1995, com o objetivo de garantir o direito de todos os cidadãos a saúde e ao ambiente equilibrado e saudável, no contexto do desenvolvimento sustentável baseado nos princípios da universalidade, eqüidade e integralidade (MS, 1995). Esta política deveria ter como prioridade o monitoramento da qualidade da água, do ar, do solo, a prevenção de desastres naturais e acidentes com produtos perigosos e, ainda, juntamente com a vigilância epidemiológica, a atuação sobre fatores de riscos bioló-gicos. A articulação entre a vigilância epidemiológica, sanitária e da saúde ambiental deveria interagir com as políticas e ações dos órgãos ambientais, de saneamento e gestores de recursos hídricos, visando à proteção de mananciais de abastecimento e sua bacia contribuinte, além de estar articulado com as políticas dos órgãos de defesa do consumidor (MS, 2006).

Os responsáveis pelo monitoramento deste processo, precisam de indicadores ade-quados para identificar tendências, de forma a poder sinalizar para o público, assim como para aqueles que são os responsáveis pelo direcionamento das políticas públi-cas, os aspectos fundamentais ou prioritários do processo de desenvolvimento, espe-cialmente as variáveis que afetam a sustentabilidade de tais dinâmicas (MARTÍNEZ, 2007; VAN KAICK, 2007).

Portanto, os indicadores de saneamento deveriam permitir avaliar de forma quanti-tativa e qualitativa os resultados relacionados às ações implementadas, para direcionar de forma adequada as políticas de desenvolvimento local. Esta avaliação também se refere á escolha de estruturas adequadas de saneamento que devem ser implantadas para atender as especificidades de cada região com o objetivo de identificar os efeitos qualitativos da ação. Atualmente, os indicadores de saneamento estão voltados para avaliar o aspecto quantitativo, ou seja, a amplitude da ação, mas não consegue indi-car o efeito qualitativo desta mesma ação, conforme indicado pelo Plano Nacional de Saúde e Ambiente no Desenvolvimento Sustentável (VAN KAICK; MACEDO e PRESZNHUK, 2005).

2. CENÁRIO ATUAL DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASILOs pesquisadores Rezende e Heller (2002), por meio da análise histórica da im-

plantação da política de saneamento no Brasil, concluíram que o governo consegue atender com condições básicas de saneamento uma parcela significativa da população urbana e mantêm o foco de suas ações neste setor. Com isto se excluí a parcela da po-pulação que está inserida em favelas e periferias urbanas, municípios menores dos Es-tados mais pobres e a população rural em geral, onde as condições estruturais diferem da concepção de implantação de sistemas convencionais e coletivos de saneamento.

Conforme demonstram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2006), obtidos por meio do censo de 2000, a população rural é composta por 31.355.208 habitantes (representam 18,62% da população total brasileira), sendo que cerca de 22,7% destes habitantes recebem água tratada; 3,7% são atendidos com rede coletora de esgoto e 12,3% possuem o seu esgoto tratado por meio de fossa séptica. Os números já indicam a fragilidade na qual esta população vive em relação ao sane-amento.

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Esta condição demonstrada pelo IBGE, talvez, se deva ao fato de não estar bem claro como direcionar as políticas de saneamento para atender esta população ain-da desassistida com soluções alternativas às convencionais, que sejam tecnicamente e economicamente sustentáveis, tanto no que se refere á implantação, ao monitoramento e manutenção destes sistemas (REZENDE E HELLER, 2002; VAN KAICK, 2007).

Da mesma forma, os atuais indicadores de saneamento podem conferir uma distor-ção do cenário de determinadas comunidades rurais, mantendo-as assim na inércia do desenvolvimento, pelo fato de não demonstrarem a degradação da saúde e da qualidade ambiental que as estruturas inadequadas de saneamento podem causar (VAN KAICK; MACEDO e PRESZNHUK, 2005).

A discussão sobre como prover com saneamento adequado à população rural dos países em desenvolvimento, já havia sido abordada em diversas conferências específi-cas sobre o tema, como a Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente de 1992, na cidade de Dublin (Irlanda), e a Conferência Internacional sobre Melhoramen-to da Sustentabilidade dos Projetos de Água e Saneamento na Área Rural, realizada em Cuzco (Peru), em 1999. Nestes dois eventos foi dada ênfase na importância da gestão dos serviços de saneamento a ser realizada nos níveis mais baixos, como, por exem-plo, no nível comunitário ou de família, denominado então de princípio com enfoque na demanda. Este princípio é considerado componente chave para a sustentabilidade destes sistemas na zona rural, independente do tipo de tecnologia a ser apropriada para garantir o resultado eficiente em saneamento básico (IWSC, 2004).

Durante a Conferência Mundial de Água Doce, realizada em 2001 em Bonn (Ale-manha), foi reconhecido oficialmente o princípio do enfoque baseado na demanda como a forma mais viável de implantar processos de gestão para sistemas descentrali-zados de saneamento para a zona rural. A adoção deste tipo de procedimento implica-ria na capacitação das comunidades para a administração e monitoramento, o que de certa forma influi nas estruturas de poder local pela descentralização dos serviços, e requer uma re-estruturação na forma convencional de investimentos, que até então são direcionados para sistemas coletivos (WSP, 2004).

3. A PESQUISA PARA A INOVAÇÃO E A SUA INTERFACE COM A INTERDISCIPLINARIDADE

Atentos ao objetivo das Instituições de Ensino Superior de desenvolver pesquisas conforme indicado na Agenda 21, especificamente no capítulo 31 intitulado “ A comu-nidade científica e tecnológica”, o Programa de Pós-graduação em Tecnologia – PPG-TE da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR difundem a abordagem multidisciplinar com a intenção de desenvolver uma comunidade científica e tecno-lógica atenta ao conceito de Sustentabilidade. Desta forma, as pesquisas realizadas neste programa estão focadas na integração entre a ciência e a tecnologia, buscando responder sempre a pergunta: para quê e para quem, independente da categorização da tecnologia a ser pesquisada.

Para a área de desenvolvimento de tecnologias ambientais e inovação tecnológica, a busca de determinadas pesquisas se deu no contexto das tecnologias apropriadas

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e suas formas de repasse de informação do conhecimento e capacitação para o uso, transformação, monitoramento e replicação desta tecnologia. Uma das experiências exitosas que foram realizadas com este enfoque e procurando atender a adequação de saneamento nas áreas rurais foi o caso da pesquisa com a estação de tratamento de es-goto por meio de zona de raízes. Esta pesquisa integrou as metodologias da pesquisa-ação com a técnico-científica clássica voltada para a inovação de uma tecnologia já concebida em países europeus.

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em es-treita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação - ou do problema - es-tão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLEN, 1994). A pesquisa técnico-científica clássica utilizou a análise dos parâmetros convencionais necessários para comprovar a eficiência no tratamento de esgoto, utilizando técnicas de coleta e métodos de análise aceitos pelo órgão ambiental do Estado, atendendo as exigências do mesmo.

Segundos os autores Darrow e Pam (1981) e Bastos (1998), a tecnologia é consi-derada como uma linguagem que provoca ações sociais, justamente porque a mesma estabelece um compromisso com resultados sociais, proporcionando benefícios para a população onde ela se desenvolve. Além do enfoque social e tecnológico, durante o desenvolvimento da pesquisa, ainda foi necessário criar uma rede de pesquisas inter-disciplinares, que desencadearam o processo de adaptação de uma tecnologia pré-exis-tente em um processo de inovação da tecnologia de zona de raízes, e a apresentação da mesma para os gestores públicos ligados aos órgãos ambientais.

Para tanto foram realizadas parcerias internas com os Departamentos Acadêmicos da Construção Civil (DACOC) e de Química e Biologia (DAQBI), e parcerias externas com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) por meio dos Departamentos de Far-mácia e Botânica; com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e Uni-versidade Positivo e seus respectivos cursos de Biologia; com a Fundação Nacional de Saúde de Paranaguá (FUNASA); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur-sos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Secretaria de Estado do Estadual do Meio Ambiente (SEMA) e a organização não governamental (ONG) Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).

4. TECNOLOGIA PARA QUÊ E PARA QUEM?O direcionamento da pesquisa-ação se dá na área de saneamento na zona rural que

está inserida uma área de proteção ambiental (APA) de Guaraqueçaba, mais precisa-mente na Ilha Rasa. Na Ilha Rasa, entre os anos de 1984 a 2003, vinha sendo realizado um Projeto de Saúde Comunitária coordenado pela ONG SPVS. Os objetivos deste projeto foram propiciar a melhoria da qualidade de vida da população de pescadores tradicionais que vivem em 4 comunidades, buscando recursos para implantação de um sistema de abastecimento de água potável, capacitação de agentes de saúde e mães para tratos de higiene e atendimentos básicos de saúde. Quando o sistema de abasteci-mento de água foi inaugurado em 1997 (parceria com a Companhia de Saneamento do

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Paraná - SANEPAR e SPVS), surge à questão: como tratar o esgoto produzido pelos banheiros que a FUNASA instalaria para cada residência? Algumas das residências encontravam-se tão próximas da linha de maré, que a influência das águas era uma constante e impedia a instalação de um sistema de tratamento de esgoto convencional que utiliza fossa séptica seguido de um sumidouro.

Conhecendo o problema da falta de tecnologia para atender 16% das residências que estavam localizadas em áreas que sofrem inundação diária pela maré (SPVS, 1999), foi realizada a parceria com a UTFPR/PPGTE com a FUNASA e SPVS para realizar a im-plantação de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) piloto por zona de raízes na linha de maré. Desta necessidade real, surgiu a oportunidade de pesquisa que resultou na inovação de uma tecnologia já conhecida na Alemanha (Pflanzenkläranlagen), para atender as condições climáticas, geográficas e sociais daquela localidade.

A pesquisa foi iniciada tendo como problema básico a definição da estrutura ex-terna da ETE, a busca de materiais para compor o filtro físico do filtro, assim como a identificação de uma planta nativa da ilha que pudesse atender as condições de trata-mento que deveriam configurar a zona de raízes, que faz parte da composição do filtro biológico da mesma. A adaptação da forma construtiva e dos filtros da ETE compõem a pesquisa técnico-científica, e envolvem diversas pesquisas na área biológica e de construção civil, que ao final indicam a viabilidade da ETE para o tratamento de esgoto (VAN KAICK, 2002).

Anterior à fase técnico-científica, havia sido iniciado o processo da pesquisa-ação, em que por meio da integração com a ONG SPVS, FUNASA, SANEPAR, IBAMA e SEMA, foram realizadas reuniões com a comunidade para discutir a forma de admi-nistração, monitoramento e manutenção do sistema de abastecimento de água potável. O problema indicado pela comunidade e pela FUNASA estava voltado na falta de estruturas alternativas daquelas que estavam sendo implantadas para o tratamento de esgoto. Nos fóruns de discussão ficou estabelecida, entre as instituições e a comunida-de, a necessidade de buscar alternativas para o tratamento de esgoto (SPVS, 1999).

Neste momento indicou-se a possibilidade de desenvolvimento de uma ETE por zona de raízes piloto na Ilha Rasa, com o objetivo de pesquisar e definir um protótipo capaz de suprir esta lacuna. A indicação da residência na qual seria realizada a pes-quisa, o comprometimento da comunidade e das instituições parceiras, ocorreu nestes fóruns de discussão, cujas definições e resultados foram registrados em atas das Asso-ciações de Moradores da Ilha Rasa (VAN KAICK, 2002).

Portanto, o desenvolvimento da pesquisa se dá em acordo e abrangendo uma ne-cessidade apresentada pela comunidade local, e pela falta de opção de tecnologias apropriadas para aquela situação, pelos órgãos competentes pelo saneamento daquela região. Como a tecnologia ainda não estava completamente definida e a ETE por zona de raízes teria a conotação de um sistema piloto, todo o processo de pesquisa e seus re-sultados deveriam ser repassados para todos os componentes interessados, sendo este realizado principalmente nas assembléias das associações de moradores. A parceria realizada com os professores das escolas municipais da Ilha Rasa e a SPVS, com os quais foi realizado um trabalho conjunto de educação ambiental voltado para o tema

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saneamento durante o período de 1999 até 2001, que foi o período compreendido pela pesquisa, também se mostrou um excelente meio de comunicação entre os pesquisa-dores e comunidade.

Os órgãos ambientais como o IBAMA, SEMA e IAP estabeleceram contato com a tecnologia e podem avaliar a sua aplicabilidade, a FUNASA como instituição que na época era responsável pelo atendimento da estrutura de esgotamento sanitário, também reconheceu a tecnologia como viável para a aplicação em diferentes localidades. A ONG SPVS assumiu a tecnologia como apropriada e utiliza a mesma em suas Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPNs como sistema de esgotamento sanitário. As universidades desenvolveram as suas pesquisas, durante o período vigente entre 1999 a 2001 na seguinte proporção: UTFPR/PPGTE – duas dissertações de mestrado em inovação tecnológica, DACOC dois trabalhos de pesquisa apresentados durante a expotec (1999 e 2000 – premiados); UFPR - uma dissertação de mestrado na Botânica; Universidades Católica e Positivo – duas monografias de final de curso da Biologia; e duas pesquisas de iniciação científica uma pela UTFPR/DAQBI e outra pela Universi-dade Católica, desenvolvida no curso de Biologia.

5. CONCLUSÃODurante o período de três anos do desenvolvimento da pesquisa da ETE por zona

de raízes na Ilha Rasa, o processo de pesquisa-ação se deu de forma conjunta e con-comitante à pesquisa técnico-científica, o que permitiu uma experiência da construção de uma tecnologia que integra o pensamento de Schumacher (1983), para o qual o po-tencial tecnológico e científico deveria estar inserido em uma estrutura organizacional e política, capaz de proporcionar um tal grau de intimidade com a tecnologia que a mesma pudesse resolver problemas básicos e reais, e realizar transformações sociais.

A interface com os órgãos gestores responsáveis pelo saneamento e controle da qualidade ambiental da região, a possibilidade de discutir a problemática do sanea-mento do ponto de vista da comunidade e o desenvolvimento de pesquisa voltada à inovação tecnológica, possibilitou uma gama de diversas experiências que tornaram o processo interdisciplinar em suas diversas faces (VAN KAICK, 2002).

Na comunidade beneficiada pela pesquisa foram geradas diversas atividades esco-lares com o tema, e a apresentação de um dos resultados no V Congresso Ibero Ame-ricano de Educação Ambiental, realizado em 2005 na cidade de Joinville/SC. Também foram construídas mais duas ETEs por zona de raízes na Ilha Rasa à partir de 2002, porém não foram monitoradas.

Apesar do esforço entre instituições e participação da comunidade, não se obteve êxito no sentido de realizar uma replicação mais ampla da tecnologia para atender to-das as residências da Ilha Rasa, e principalmente aquelas (16%) que estavam situadas na área da linha de maré. A experiência da Ilha Rasa indicou resultados positivos no sentido de demonstrar os benefícios da interdisciplinaridade, parcerias inter-institui-cionais e interface entre as metodologias da pesquisa social e técnico-científica no desenvolvimento e inovação de tecnologia, mas não se mostrou suficiente para propor uma mobilização de pudesse dar um alcance maior na aplicação da tecnologia.

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Porém, esta experiência está sendo replicada em outra ilha da APA de Guaraqueça-ba, a Ilha das Peças, pelo projeto de extensão da UFPR, por meio do Centro de Estudos do Mar com o Laboratório Sócio – Ambiental. Este projeto iniciou o processo em 2005 e atualmente, no ano de 2009, está observando uma mobilização da comunidade para a busca de recursos financeiros para a implantação de um projeto que possa atender toda a população da Vila da Ilha das Peças com o tratamento de esgoto por zona de raízes.

O que se observou por meio da comparação entre os projeto da Ilha Rasa com o projeto da Ilha das Peças, é que o fator ‘tempo’ é elemento fundamental para a forma-ção do conhecimento, adaptação e aceitação da tecnologia pela comunidade e institui-ções gestoras locais, para que a mesma possa internalizar e se apropriar da tecnologia fim de utilizá-la para benefício local.

6. REFERÊNCIASBASTOS, J. A. de S. L. de A. A educação tecnológica na sociedade do conhecimento. Coletânea “Educação & Tecnologia”, Curitiba: CEFET-PR, 1998.MS-Ministério da Saúde. Conferência Pan-Americana sobre Saúde e Ambiente no De-senvolvimento Humano Sustentável. Plano Nacional de Saúde e Ambiente no Desen-volvimento Sustentável – Diretrizes para Implementação. Ministério da Saúde, Bra-sília, 1995. Disponível em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Planonac.pdf> Acesso em: 15 abril 2007.MS-Ministério da Saúde. Projeto VIGISUS II – Subcomponente IV, Fortalecimento Institucional da Capacidade de Gestão em Vigilância em Saúde nos Estados e Municí-pios. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília, 2006. Dispo-nível em:<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/vigisusII.pdf Acesso em: 11 abril 2007.DARROW, K.; PAM, R. Appropriate Technology Sourcebook. Stanford, CA, USA: Volunteers in Asia, 1981.IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Resultados dos Censos Demo-gráficos 2000. Disponível em: <www.ibge.gov.br/censo2000/tabdata> Acesso em: 14 fev 2006.IWSC-INTERNATIONAL WATER AND SANITATION CENTER. Banco Mundial.Monitoreo de los Objetivos de Desarrollo del Milenio en Agua y Saneamiento.Una Revisión de experiencias y desafíos. 82 p. Lima, 2004.MACHADO, C. J. S.; KLEIN, H. E. A política nacional de recursos hídricos e o sistema único de saúde: Articulando os instrumentos de gestão. IN: III Encontro da ANPPAS. Brasília, 2006.MARTÍNEZ, R. Q. Indicadores de Sustentabilidade: Avanços e Desafios para a Amé-rica Latina. In: ROMEIRO, A. R. (org.) Avaliação e Contabilização de Impactos Am-bientais. Campinas: Editora da UNICAMP, 2007.REZENDE, S. C.; HELLER, L. O saneamento no Brasil: políticas e interfaces.Belo Horizonte: UFMG, 2002.SCHUMACHER, E. F. O negócio é ser pequeno. 4 ed. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1983.

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O PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS NA UTFPR-CAMPUS CURITIBA E A CONTRIBUIÇÃO DE TRABALHOS

ACADÊMICOS DO DAQBI

Valma Martins Barbosa(1); Eloy Fassi Casagrande Júnior (2); Gabriele Lohmann (3)

(1) Doutora em Química (Físico-Química), Professora efetiva do Departamento Acadêmico de Química e Biologia, DAQBI, UTFPR,

(2) PhD em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente, Prof. do Progra-ma de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE, UTFPR

(3) Graduada em Tecnologia em Química Ambiental. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, PPGEC, UTFPR.

RESUMOA gestão ambiental engloba diversos procedimentos obrigatórios, desde o atendimento da legislação ambiental até a fixação de políticas ambientais que visem a conscientiza-ção dos integrantes de uma organização. Dentre eles, há de se resolver o problema dos resíduos gerados em qualquer ambiente que haja atividade humana vinculada a produ-ção, comércio, serviços de atendimento ao público, educação, saúde, etc. Este artigo tem como objetivo principal apresentar o histórico, as ações e os desafios encontrados para a implantação do Programa de Gerenciamento de Resíduos do Campus Curitiba (PGRCC) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná-UTFPR. Também apresenta o caso dos resíduos gerados no Departamento Acadêmico de Química e Biologia da UTFPR- Campus Curitiba e os trabalhos de professores a alunos associados ao tema. Como conclusão se percebe que apesar do avanço na questão e do aumento da cons-cientização sobre o problema, há ainda um grande caminho a percorrer para se resolver de forma efetiva o problema da gestão de resíduos.

1. INTRODUÇÃOA gestão ambiental vem se destacando em diversos setores da sociedade como o

empresarial e, mais recentemente o da educação (TAUCHEN e BRANDLI, 2006). Aliada a gestão ambiental surge o gerenciamento de resíduos que segundo Tenório e Espinosa (2004) engloba o manejo, coleta, transporte, acondicionamento, tratamento e disposição final dos resíduos, e os aspectos relacionados ao planejamento, à fisca-lização e à regulamentação. Para Monteiro et al (2001) significa o envolvimento de diferentes órgãos da administração pública e da sociedade civil no propósito de realizar a limpeza urbana, a coleta, o tratamento e a disposição final de resíduos.

Gerir corretamente os resíduos além de facilitar a destinação final, significa também

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trabalhar na não geração, minimização, reuso, reciclagem e tratamentos que muitas vezes podem ser executados no próprio local de origem como, por exemplo, a bioesta-blização da parte orgânica, cuja disposição inadequada acarreta em diversos problemas como poluição do solo, da água e do ar e problemas de saúde pública (FRÉSCA, 2007; OLIVEIRA, 2007; LORA, 2002; PICHTEL, 2007).

Implantar um Plano de Gerenciamento de Resíduos (PGR) é um grande desafio para toda empresa, grandes departamentos comerciais, shopping centers, órgãos públi-cos, instituições de ensino, entre outros, tendo em vista a complexidade do tema que envolve o conhecimento sobre o impacto dos resíduos gerados e mudanças de atitudes e comportamentos.

Este artigo versa sobre a origem e execução do Programa de Gerenciamento de Resíduos do Campus Curitiba (PGRCC) da UTFPR a partir de trabalhos que já foram desenvolvidos até o presente momento os quais se referem à gestão e tratamento de resíduos gerados no próprio Campus. Sendo que se destacam o trabalho desenvolvido pelo Departamento Acadêmico de Química e Biologia (DAQBI) e o desenvolvimento de trabalhos e pesquisas nesta linha.

O ambiente para resgatar a história desta importante ação ocorre através do Grupo de Pesquisa em Tecnologia e Meio Ambiente (TEMA) vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE), que estimula a reflexão sobre as relações entre tecnologia e meio ambiente. Por tratar-se de um grupo interdisciplinar, este também tem integrantes de pesquisadores e professores de diversos departamentos da UTFPR, alguns dos quais estiveram envolvidos como o PGRCC.

O grupo TEMA apresenta, dentre seus objetivos, o de reunir discentes e docentes das três linhas de pesquisa do PPGTE e convidados para conhecer os interesses indivi-duais de cada participante, estabelecer metodologias de trabalho focalizadas no inter-cruzamento de interesses, estimular a interdisciplinaridade partindo de interesses co-muns e subsidiar os saberes e conhecimentos da academia e da comunidade externa.

2. O PAPEL DAS UNIVERSIDADES NO GERENCIAMENTO DOS SEUS RESÍDUOS

De acordo com Amaral et al (2001) “as Universidades, como instituições respon-sáveis pela formação profissional de seus estudantes e, consequentemente, pelo seu comportamento como cidadãos do mundo, devem também estar conscientes e preocu-padas com este problema”.

Jardim (1998) afirma que a universidade não pode ficar alheia a sua posição como geradora de resíduos visto que este fato pode afetar considerável sua imagem pois esta avalia (e geralmente acusa) os impactos causados por outros geradores externos a ela. Para o autor é o momento das instituições de ensino superior, considerando seu importante papel na sociedade, implementarem seus programas de gerenciamento de resíduos.

Estes fatos apontam para a necessidade do comprometimento das instituições de ensino com a gestão de seus resíduos, estas devendo buscar medidas para gerenciar adequadamente seus resíduos tornando-se modelo para a sociedade. Neste aspecto no

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Campus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) vários tra-balhos e ações já foram desenvolvidos no que refere ao gerenciamento de resíduos, sendo o Departamento de Química e Biologia (DAQBI) um destaque quanto ao desen-volvimento de projetos e pesquisas nesta linha.

2.1 O GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS NA UTFPRDesde 1988 diversas ações visando à minimização de resíduos foram adotadas,

dentre as quais o reaproveitamento de madeira para artesanatos como apagadores, cai-xa de giz, suporte de canetas e a confecção de blocos de rascunho com restos de papel. Em 2000, houve uma tentativa de implantação de um sistema de coleta seletiva e sen-sibilização quanto à utilização de boas práticas ambientais.

No ano de 2004, iniciava-se um movimento para propor um gerenciamento melhor dos resíduos, quando o antigo CEFET – Unidade Curitiba foi convocado pela Prefeitu-ra Municipal de Curitiba, através da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, a elabo-rar de um Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos conforme previsto no Art. 33 do Decreto Municipal 983/2004. Foi então criada uma comissão para a elaboração deste, formada pelos docentes Cássia Maria Lie Ugaya, Eloy Fassi Casagrande Junior , Fátima de Jesus Bassetti, Valma Martins Barbosa, pelos servidor técnico-administra-tivo Luiz Carlos Frangullys, presidida pela docente Maria Cristina da Silva. Na ocasião foi feita a quantificação e classificação dos resíduos gerados nos departamentos e seto-res da instituição, para isto estes foram orientados quanto ao preenchimento uma ficha a qual possibilitou inventariar os resíduos gerados. Estes pertencendo tanto a Classe I (perigosos) quanto Classe II A e Classe II B (não perigosos não inertes e inertes) po-dem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1- Quantificação e classificação de resíduos gerados diariamente na UTFPR-Campus Curitiba em 2004

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Fonte: Programa de Gerenciamento de Resíduos do Campus Curitiba (2004)

A implantação do plano iniciou-se em maio de 2005 com a instauração de uma comissão, com duração de um ano, formada pelos docentes: Maria Cristina da Silva, Marcelo Real Prado, pelos servidores técnico-administrativos Luiz Carlos Frangullys, Rui Carlos Filho, Rozana de Holanda Pinto, a estagiária Karen Pedrosa do Curso Su-perior de Tecnologia em Química Ambiental, presidida pela docente Valma Martins Barbosa.

A comissão teve como primeiro objetivo atender a legislação vigente, capacitando os funcionários da Instituição quanto aos procedimentos corretos de gerenciamento dos resíduos e as implicações legais. Nesta etapa foi feita a regularização da documen-tação necessária para o PGRCC, como a licença de transporte de resíduos perigosos pelo IAP (5), elaboração e apresentação por escrito do PGRCC à Prefeitura Municipal de Curitiba, e os demais documentos apresentados pelas empresas contratadas para tratamento e disposição final dos resíduos do Campus. Foi também orientado quanto

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às formas de coleta e armazenamento de vários resíduos perigosos.Foram diretrizes da comissão de gestão:

racionalizar o consumo de material; •evitar desperdícios; •minimizar a quantidade de resíduos perigosos gerados; •prevenir e reduzir os riscos à saúde e/ou ao meio ambiente; •implantar o programa de coleta seletiva conscientizando as pessoas a aderirem •a este e aperfeiçoar a segregação dos resíduos).

Foi estipulada a forma de coleta seletiva de acordo com as características e pos-sibilidades do Campus no momento. Devido à diversidade dos resíduos e da grande quantidade de departamentos acadêmicos e administrativos, observou-se a inviabilida-de de aplicar a coleta seletiva de resíduos segundo CONAMA 275 para a Instituição como um todo. Por isso, foi adotado o critério das centrais de coleta seletiva em pontos estratégicos e, nos demais ambientes, foi implantada a separação dos resíduos ditos orgânicos e recicláveis através de recipientes diferenciados em marrom e bege, respec-tivamente, devidamente rotulados.

Dessa forma, foi realizada a identificação e a quantificação do número de lixeiras necessárias para implantação do plano de gerenciamento, num total de 662, sendo que 545 lixeiras de resíduos recicláveis, 117 de resíduos orgânicos e cinco conjuntos de cinco lixeiras coloridas para áreas de maior circulação de pessoas.

Foram elaboradas campanhas educativas envolvendo funcionários, servidores e corpo docente. A campanha “Unidos Separemos” foi a primeira a ser implantada com a participação efetiva dos alunos do curso de Comunicação Empresarial e Institucio-nal. A segunda campanha foi “Separe seu papel, ele não é lixo”. Os funcionários e os novos alunos participaram de treinamentos, com a orientação para o correto manejo dos resíduos na UTFPR. Buscou-se a interação de docentes e discentes de diferentes cursos para que houvesse um desenvolvimento maior da responsabilidade ambiental de cada gerador dentro da instituição.

No trabalho de conclusão de curso de Emerson Shigueo Sugimoto e Marcella Biei-tes Marinho da Silva (2007), sob orientação das professoras Valma e Maria Cristina, foi feito um diagnóstico do andamento do gerenciamento de resíduos do Campus. Este trabalho possibilitou a atualização e um maior detalhamento do inventário dos resíduos gerados nos diversos departamentos de acordo com as atividades desenvolvidas. Com base nesta problemática, o trabalho visou estabelecer rotinas quanto ao gerenciamento dos resíduos. Para tanto, foi elaborado um manual para a aplicação do Programa de Gerenciamento de Resíduos de Campus Curitiba (PGRCC) com o objetivo de facilitar o desempenho das atividades relacionadas aos resíduos, tornando simples a adaptação de qualquer novo servidor ou colaborador. Cada instrução foi confeccionada de acordo com os requisitos exigidos por normas e legislação vigentes e segundo as necessidades de adaptação, as quais foram verificadas através de análise da situação atual do pro-grama existente.

No segundo semestre de 2007 nova comissão anual foi criada tendo como presi-dente a docente Valma Martins Barbosa e demais integrantes: docentes Maria Cristina

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da Silva e Fátima de Jesus Bassetti, os servidores técnico-administrativos, Luiz Carlos Metz, Leila Milani e Carlos Wellington Tenório de Araújo e as estagiárias Gabriela Kirsch e Bárbara Vieira de Souza. Um dos principais objetivos desta fase foi o apri-moramento e ampliação do manual do Programa de Gerenciamento de Resíduos de Campus Curitiba (PGRCC).

Esta comissão elaborou nove documentos complementares e revisou os procedi-mentos específicos para cada tipo de resíduo e/ou ação, e criou mais seis procedimen-tos específicos para o estagiário do programa. Tais documentos/procedimentos têm como objetivo definir claramente as responsabilidades de cada área e também do pes-soal administrativo, servindo de suporte para a correta aplicação e gerenciamento do programa, conforme Tabela 02.

Tabela 02 – Listagem de Documentos e Procedimentos

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Para que o PGRCC tivesse êxito, foi renovada a campanha de educação ambiental para correto descarte do lixo, com a criação de novos rótulos referentes aos resíduos re-cicláveis e orgânicos e, um cartaz educativo/informativo acima de cada par de lixeiras, reciclável/orgânico, que foram distribuídos em locais estratégicos pelo campus.

Para estimular a conscientização de todos, instaurou-se uma campanha em alguns departamentos da instituição, com a rotulagem de ao menos duas lixeiras para tal. Os departamentos que já faziam a devida separação receberam os rótulos padrão do PGRCC utilizados no resto da instituição. Alguns departamentos não mostraram inte-resse, porém a maioria foi favorável.

Com o intuito de evitar incêndios nos cinzeiros criou-se a campanha “Cinzeiro não é lixo”, incentivando o correto descarte de restos de cigarros. Foram afixados cartazes acima de cada cinzeiro.

Durante as várias campanhas ambientais/educacionais promovidas, paralelamente foi realizado com os funcionários responsáveis pela limpeza, treinamento, onde abor-dou-se a coleta seletiva, o correto descarte de resíduos e principalmente a importância dos funcionários para a manutenção do programa. Após o treinamento observou-se maior entrosamento destes com o programa. Várias ações no sentido de divulgar o programa de modo mais satisfatório foram feitas: criou-se uma logomarca para o Pro-grama de gerenciamento de resíduos e também um e-mail institucional: [email protected].

A comissão teve participação efetiva na EXPO UT 2007 de 3 a 5 de outubro de 2007, dando explicações de caráter informativo sobre a coleta seletiva e correto des-carte dos resíduos dentro e fora da instituição abrangendo toda comunidade visitante. Ao final do mesmo ano, realizou-se uma pesagem dos resíduos recicláveis durante uma semana, cujos resultados foram quantificados para a atualização do inventário de resíduos sólidos.

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Diante da verificação da mistura de resíduos nos conjuntos da coleta seletiva (lixei-ras amarela, verde, azul, vermelha e marrom), rótulos com desenhos foram afixados abaixo de cada denominação: metal, vidro, papel, plástico e orgânico, promovendo uma acentuada melhora no descarte correto de resíduos nestes recipientes.

3. TRABALHOS DESENVOLVIDOS PELO DEPARTAMENTO DE QUIMICA E BIOLOGIA NA ÁREA DE GERENCIAMENTO

Ao longo deste período alunos e professores do DAQBI têm realizado trabalhos envolvendo tanto resíduos gerados no Campus, assim como também os específicos de suas atividades, oriundos de aulas práticas e de pesquisas.

No ano 2004, um grupo de professores (Sérgio Oldakoski e Valma Martins Barbo-sa) e os estagiários (Lucila Adriani Coral, Paula Broering Gomes e Christian deAssis Pereira) viram a necessidade de dar um destino correto aos resíduos químicos gera-dos nos laboratórios do DAQBI, que a muito vinham sendo coletados e simplesmente misturados e armazenados. Estes resíduos formam classificados na medida do possível de acordo com suas características físico-químicas e pesados totalizando aproximada-mente uma tonelada que foi encaminhada para um aterro industrial licenciado. Poste-riormente foi feito um levantamento dos resíduos rotineiramente gerados e verificou-se a possibilidade minimização. Tal atitude é uma realidade na disciplina de química ana-lítica, antes maior geradora, em que se opera atualmente em micro-escala. Os estágiá-rios Yara Jurema Barros e Juarez Falcato Vecina realizara levantamentos periódico dos resíduos, identificando-os e realizaram alguns testes de tratamentos e recuperação.

A partir daí surgiu o Programa de Gerenciamento de Resíduos Laboratoriais pro-posto por Barbosa, Fortunato e Lubachewski (2006), o qual visou a minimização, tra-tamento dos resíduos, segregação, armazenamento e rotulagem adequados. Verificou-se com isso que alguns resíduos depois de tratados poderiam ser reutilizados ao invés de simplesmente descartado. Aos resíduos de difícil tratamento foi recomendado o armazenamento a espera de envio para o aterro industrial. Caroline Zanello no trabalho de iniciação cientifica estudou outros processos de tratamento e recuperação de resídu-os, propôs melhorias às práticas laboratoriais e analisou custos referentes a estes.

No Laboratório de Microbiologia, do DAQBI, semestralmente são gerados volu-mes variáveis de resíduos de corantes (principalmente corantes de Gram) que são ar-mazenados em frascos de plásticos de polietileno de alta densidade (PEAD) dentro do próprio laboratório e periodicamente são encaminhados à destinação final. Ciente da grande quantidade gerada, dos custos para destinação e da necessidade de um pré-tratamento antes do descarte, Saldanha e Nozu (2007) deram início a estudos de tra-tabilidade destes corantes por meio da biodegradação fúngica e processos oxidativos avançados (POAs). Os resultados obtidos demonstraram que o processo combinado de cultivo submerso seguido de peroxidação com irradiação ultra-violeta foram eficientes na remoção de cor e degradação de aromáticos dos resíduos da coloração de Gram analisado.

Um estudo de tratamento para os resíduos líquidos da usinagem do DAMEC (De-partamento de Mecânica) foi proposto por Estrugala e Conceição (2008). O filtro lento

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de areia com carvão ativado mostrou-se o mais eficiente no tratamento do fluido de corte promovendo uma boa separação agua óleo num dispositivo simples de baixo custo.

Lohmann (2008) através do acompanhamento da coleta dos resíduos sólidos verifi-cou algumas não conformidades na coleta seletiva no Campus e percebeu a necessida-de de um programa de Educação Ambiental continuada que envolva toda comunidade. Neste mesmo trabalhou apresentou uma proposta de tratamento para os resíduos só-lidos orgânicos através da bioestabilização acelerada, a qual foi acompanhada e mo-nitorada por parâmetros como pH, temperatura, aeração e umidade. Foram realizadas duas bateladas as quais utilizaram dois reatores, ambos com sistema e injeção de ar. Os ensaios permitiram a obtenção de um produto com as características de um composto obtido por um processo completo de compostagem, sem a formação de chorume, exa-lação de odores e proliferação de larvas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Um programa de gerenciamento de resíduos deve ser constantemente revisado,

aprimorado e estar sempre sintonizado com as normas e legislações vigentes. Mas para efetiva concretização deste, assim como evitar problemas com a fiscalização dos ór-gãos ambientais e pela prefeitura local, é necessário que os procedimentos feitos pelo PGRCC sejam aprovados pela direção, sendo incluídos no regulamento da instituição para sua adequada funcionalidade e execução.

Um controle eficiente do fluxo de resíduos na UTFPR é essencial para uma gestão eficaz e para tal o envolvimento de toda comunidade da UTFPR é de estrema importân-cia, pois só desta forma o Programa de Gerenciamento pode ser realmente efetivado, criando indiretamente responsabilidades ao gerador (comunidade). Fora destas condi-ções, as ações do PGRCC correm o risco de ficarem isoladas e sem efeito.

Os trabalhos desenvolvidos pelo DAQBI comprovam que o gerenciamento dentro da universidade é um trabalho viável apesar da demanda de tempo e a princípio en-volver custos. Também demonstram a possibilidade de alguns tratamentos do que é gerado no Campus.

Com o aprimoramento e desenvolvimento de mais pesquisas neste segmento a UTFPR estará cumprindo com o seu papel perante a sociedade servindo de exemplo e contribuindo com a busca de tecnologias não somente direcionadas a produção e serviços, mas que também proporcionem melhor qualidade ambiental.

5. REFERÊNCIASAMARAL, S. T.; MACHADO, P. F. L.; PERALBA, M. do C. R.; CAMARA, M. R.; SANTOS, T. dos; BERLEZE, A. L.; FALCÃO, H. L.; MARTINELLI, M.; GON-ÇALVES, R. S.; OLIVEIRA, E. R. de; BRASIL, J. L.; ARAÚJO, M. A. de; BOR-GES, A. C. A. Relato de uma experiência: recuperação e cadastramento de resídu-os dos laboratórios de graduação do instituto de química da universidade federal do Rio Grande do Sul. Revista Química Nova, Vol. 24, n. 3, p. 419-423, maio/ju-

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A ABORDAGEM AMBIENTAL EM CURSOS DE GRADUAÇÃO EM DESIGN: AS CONSIDERAÇÕES DO MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO E

CULTURA E OS MÉTODOS DE QUATRO ESCOLAS DO SUL DO BRASIL

Celso Luiz Podlasek (1); Libia Patricia Peralta Agudelo (2); Rodrigo Ribei-ro da Silva (3); Eloy Fassi Casagrande Junior (4); Elaine Garcia de Lima (5);

Liliane Iten Chaves (6)

(1) Designer, Mestre em Tecnologia, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia-PPGTE, UTFPR, Coordenador do Curso de Design de Produto da

Universidade de Caxias do Sul(2) Designer, PhD em Ecologia da Paisagem, Profa do Curso de Design da UNI-

BRASIL(3) Designer, Mestrando Programa de Pós-Graduação em Tecnologia-PPGTE,

UTFPR, Professor do Curso de Design da Universidade Tuiuti(4) Designer, PhD em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente, Pro-

fessor do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia-PPGTE, UTFPR(5) Designer, Mestre pela UFPR, Professora do Curso de Design da UTFPR

(6) Designer, Mestre em Tecnologia, Dra em Desenho Industrial e Comunicação Multimedial, Professora do Curso de Desenho Industrial da UFPR

RESUMOO ensino de design no Brasil, nos cursos de graduação, ainda não está completamen-te adequado para a abordagem sistematizada dos diversos aspectos ambientais que permeiam a prática da profissão. Observa-se que, os projetos pedagógicos da maioria dos cursos superiores de design ofertados no país, quando fazem qualquer menção a respeito, deixam pouco explícito como estas questões irão ser desenvolvidas ao longo de todo período de aprendizado. Em geral, estas atribuições acabam ficando a cargo do corpo docente de cada instituição, que se bem intencionado muitas vezes possui falta de preparo específico para inserir a abordagem ambiental na prática projetual. Da mesma forma observa-se que, em alguns casos as precárias condições técnicas dos próprios cursos, os impedem de alcançar resultados ideais. No entanto, observa-se que algumas instituições têm revertido esta situação e que importantes avanços estão sendo conquistados no sentido de melhor introduzir as variáveis ambientais de forma sistematizada na prática projetual. Este artigo irá abordar como o Ministério de Edu-cação e Cultura - MEC faz a menção sobre as questões ambientais para os cursos de graduação em design no Brasil, bem como os resultados que alguns cursos da Região Sul do Brasil estão alcançando e seus métodos quando trabalham com os problemas ambientais no ensino de design.

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1. INTRODUÇÃOA partir dos anos de 1960 o design começou a sofrer severas críticas em sua pos-

tura de trabalho, quando ficou relacionado que os designers, especialmente nos países ricos, eram responsáveis por desenvolver produtos que estimulavam o consumismo e o desperdício. Nos anos de 1970, Viktor Papanek foi um dos críticos que mais apontou para este problema, e articulou diversas ações para que o design, ainda incipiente nos países em desenvolvimento, não sofresse a mesma sorte de influências.

No Brasil, o design teve sua primeira escola a partir da fundação da ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial), com o início de suas atividades no Rio de Janeiro em 1962. Seu modelo de ensino teve como influência o design europeu, especialmente pela linha alemã representada pelas escolas da Bauhaus e de Ulm. A ESDI surgiu em meio a grandes ondas de entusiasmo político de progresso e rivalidades entre pensa-mentos de direita e esquerda da política nacional da época (DENIS, 2004).

Com uma evolução tímida nas décadas seguintes, o design ganhou uma proporção maior de cursos e importância no cenário nacional, após a queda de barreiras protecio-nistas dos anos de 1990, as quais levaram diversos setores da economia brasileira à en-xergar o design como um elemento capaz de promover inovação e competitividade.

As discussões sobre o meio ambiente e design no Brasil possuem uma derivação da emergência que tornou-se evidente e publicada com mais ênfase nos últimos 20 anos. Já a presença de referenciais e orientações ambientais, em projetos pedagógicos, trilha um caminho de evolução tardia, mas que começa a ganhar destaque e importância com resultados que podem tornar-se promissores de acordo com o entendimento e a prepa-ração que as instituições de ensino e o corpo docente possuam para abordar o problema ambiental no design brasileiro.

2. ENSINO DE DESIGNAtualmente existem cerca de mais de 4855 cursos superiores no País, que possuem

formação nas modalidades de bacharelado e tecnólogo, em áreas específicas como pro-duto, gráfico, moda, interiores, entre outras, ou simplesmente em design. O Ministério da Educação e Cultura do Brasil dispõem de diretrizes e resoluções específicas para o ensino do design, orientando quanto a conteúdos e cargas horárias mínimas desejadas para este curso na graduação.

As diretrizes6 servem como uma orientação geral mínima deixando a critério de cada projeto pedagógico e instituição de ensino superior a modelagem pedagógica destes conteúdos. Já a última resolução7 do bacharelado estabelece uma carga horária mínima de 2400 horas e a resolução do tecnólogo8 uma carga horária de 1600 horas.

Especificamente sobre questões ambientais são encontradas menções somen-te nas diretrizes, e em dois momentos:

5. Fonte INEP: acesso em http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/busca_curso.stm em 18/04/2009.6. Nº 5, de 8 de Março de 2004.7. Nº 2, de 18 de Junho de 2007.8. CNE/CES 436/2001.

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Art. 4º O curso de graduação em Design deve possibilitar a for-mação profissional que revele competências e habilidades para:[…] VIII – visão histórica e prospectiva, centrada nos aspectos sócio-econômicos e culturais, revelando consciência das impli-cações econômicas, sociais, antropológicas, ambientais, estéti-cas e éticas de sua atividade. e Art. 5º O curso de graduação em design deverá contemplar, em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular con-teúdos e atividades que atendam aos seguintes eixos interligados de formação:I- conteúdos básicos: estudo da história e das teorias do Design em seus contextos sociológicos, antropológicos, psicológicos e artísticos, abrangendo métodos e técnicas de projetos, meios de representação, comunicação e informação, estudo de relações usuário/objeto/meio ambiente, estudo de materiais, processos, gestão e outras relações com a produção e mercado.

A íntegra desta diretriz, apesar de ampla e aberta, possui uma vocação mais ex-plícita na ligação do design com questões de produção e mercado, e a preocupação ambiental está imersa paralelamente a outros valores sem maiores destaques.

3. PROJETOS PEDAGÓGICOSMuitos profissionais de design estarão trabalhando no Brasil nos próximos anos a

partir do que apreenderam em cursos superiores nacionais descritos através de projetos pedagógicos redigidos atualmente. De acordo com a carga horária estipulada pelas Diretrizes, um aluno iniciando seu curso em 2010 terá encerrado esta etapa de sua for-mação entre 2013 e 2015, e necessitará de mais alguns anos para adquirir maturidade profissional. É possível arriscar que este profissional obtenha em 2020 uma capacidade completa de atuação.

Esta perspectiva merece uma atenção especial, pois basta tentarmos imaginar como estará o cenário nacional e mundial em relação aos problemas ambientais. Existe a possibilidade de estarmos em uma situação mais grave, exigindo alterações imediatas de postura, ou trabalhando para minimizar e recuperar danos passados e prevenindo os danos futuros.

Em qualquer situação, a necessidade de um profissional adequado que saiba lidar com as questões ambientais é um elemento decisivo em qualquer projeto pedagógico atual de design, pois o resultado de sua eficiência será medida nas gerações futuras desses profissionais.

Porém, um dos pontos mais observados na construção de um projeto pedagógico, especialmente em algumas instituições particulares, é apenas a carga horária mínima. Carga horária significa tempo de curso e investimento por parte do aluno. É sabido que diversas instituições oferecem cursos de graduação explicitando uma jornada de 2

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ou 2,5 anos9 . Quando esta prática toca em cursos de design, ao menos tempo implica em conteúdos reduzidos, e somado à pouca ênfase da diretriz, a questão ambiental torna-se uma abordagem superficial, sem importância e descontextualizada no projeto pedagógico.

Outro problema percorre a formação do corpo docente das instituições. A maioria dos professores atuais formaram-se nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Raros eram os cursos nestas épocas que faziam qualquer menção ao problema ambiental. Não que estes professores ignorarem o assunto por completo, porém não possuem formação capaz de apresentar conceitos, metodologias e técnicas capazes de abordar o assunto plenamente em sala de aula.

Com estas análises, a responsabilidade de tratar de assuntos ambientais em cursos de design cabe inteiramente às instituições de ensino, visto que as diretrizes e resolu-ções do MEC não conseguem uma indução direta. Como o pressuposto das diretrizes é deixar os conteúdos abertos para as instituições elaborarem seus projetos de curso, a inserção da variável ambiental nos cursos de design pode ocorrer através de dois modos básicos:

a) criação de disciplinas que tratem especificamente destes conteúdos; b) diluir o problema ao longo de toda a matriz curricular. A primeira opção pode sofrer dos mesmos efeitos que outros conteúdos es-

pecíficos apresentam em projetos pedagógicos: a falta de correspondência com os de-mais conhecimentos e competências do design. As disciplinas ambientais, quando são lecionadas separadamente, podem trazer a ilusão de que o problema ambiental não é uma preposição obrigatória. O ensino em condições isoladas, especialmente das dis-ciplinas de projeto, poderá fazer com que o aluno assuma que a variável ambiental não possui a mesma importância do que outros assuntos comuns em projetos de design, como a ergonomia, materiais, especificações técnicas, e outros.

Todavia, diluir as questões ambientais num projeto pedagógico requer, além de escrever estes pressupostos, ter um corpo docente conhecedor do projeto e com a pre-paração adequada para a função. Certamente que notícias e informações acerca do problema ambiental também atuam como agentes sensibilizadores, porém para poder atuar como profissional devidamente preparado para enfrentar este problema é neces-sário que exista um planejamento pedagógico anterior, em que assuntos demonstrem importâncias de correlações.

Deste modo, parece que as duas opções estão fadadas a poucos resultados concre-tos, porém, a opção de diluir o problema na matriz de ensino é a que está colhendo maiores resultados no momento, pois atua através de uma ação sistêmica que estende-se por toda formação acadêmica.

4. A ABORDAGEM EM ALGUMAS DAS ESCOLAS DE DESIGN DE CURITIBA

4.1 A abordagem do Curso de Design da Universidade de Caxias do Sul9. Especialmente em cursos de titulação de Tecnólogo, cuja carga horária mínima é de 1600 horas no design.

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O curso de Design de Produto da Universidade de Caxias do Sul oferece uma con-dição de comparação interessante entre estes dois modos básicos de implantar a dis-cussão ambiental em um projeto pedagógico.

Esta Instituição possui dois projetos com duas matrizes curriculares distintas, a 629F e a 629G, que respectivamente fizeram a abordagem por disciplina e diluição ao longo do projeto. A matriz 629F faz menção direta ao meio ambiente em seus capítulos de Referenciais Epistemológicos, Referenciais Técnico-Científicos e Perfil do Egresso, além de citar as diretrizes do MEC, cujos conteúdos foram mencionados anteriormen-te. Além disso, possui as disciplinas de Ecodesign e Sistemas de Gestão Ambiental.

No projeto pedagógico da matriz curricular 629G está explícito em seus “Referen-ciais Orientadores” o compromisso com o meio ambiente, ou melhor, com o desenvol-vimento sustentável. Porém, esta menção não se estende às nomenclaturas e ementas, surgindo nos conteúdos programáticos das disciplinas de Projeto. A idéia é que a sus-tentabilidade ou questões ambientais posicionem-se em igualdade de importância com outros elementos analíticos do design.

O curso 629F foi extinto em 2008 e formou 29 alunos. O 629G entrou em substitui-ção e começou a formar profissionais em 2008, com cerca de três formados e mais 46 no último ano de curso com seus projetos finais em andamento. A melhor comparação entre os alcances ambientais conseguidos pelos dois cursos pode ser medida pelos temas e resultados demonstrados nos projetos finais de curso. Da matriz 629F, apenas um dos 29 projetos fizeram menção direta ao meio ambiente e à sustentabilidade. Os demais tinham enfoques predominantemente econômicos.

Dos três egressos da matriz 629F, um tinha preocupação direta com o meio am-biente, e dos demais 46 com projetos em andamento, 14 utilizam o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável como principal enfoque de trabalho. Apenas deve-se ressaltar que o tema e as abordagens são livres e o aluno é que monta o escopo teórico para seu projeto. Estes dados demonstram um ganho quantitativo de projetos de design preocupados com o meio ambiente e com a adoção do modelo de diluição de conteúdo ao longo do projeto.

4.2 A abordagem do Curso de Design da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

A Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR possui um Departamento de Desenho Industrial - DADIN, no qual atualmente funcionam três cursos ligados a área, sendo dois de Tecnologia e um de Bacharelado. Os cursos de Tecnologia são os de Tecnologia em Design Gráfico e o de Tecnologia em Design de Móveis, que no pre-sente momento está em curso, mas não está sendo ofertado desde o segundo semestre de 2007, e o curso de Bacharelado em Design – um curso que abrange tanto a área visual, quanto a de produto, que iniciou sua primeira turma em 2007.

Os cursos de Tecnologia são cursos de 2400 horas, distribuídas em seis semestres, contando com Estágio Obrigatório e Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, com entradas de 22 alunos pela manhã e 22 alunos a noite, por semestre. Já o curso de bacharelado é um curso de 3405 horas, distribuídas em 8 semestres também incluindo

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o estágio e o TCC. No início eram ofertadas 25 vagas por semestre no período diur-no, mas a partir do primeiro semestre de 2009, passaram a ser ofertadas 44 vagas por semestre, devido às novas regras do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI.

De acordo com a grade curricular dos cursos, não existem disciplinas voltadas diretamente aos temas que tratam de desenvolvimento sustentável, meio-ambiente, sustentabilidade e afins. O que ocorre na realidade são direcionamentos em algumas disciplinas, pelos próprios professores que tem algum envolvimento com o tema, e principalmente nas disciplinas de Projeto. Por este motivo não é viável identificar o foco trabalhado, sem uma pesquisa mais aprofundada. Conforme o ementário dos cur-sos pode-se identificar que os cursos de tecnologia possuem uma disciplina – design, cultura e sociedade - ofertada no sexto período que tem como competências um dire-cionamento a sustentabilidade.

Competências Design, Cultura e Sociedade: “Situar no contexto histórico-cultural as diversas formas de manifestação da profis-são de design. Analisar de forma crítica as formas de desenvolvi-mento e sustentabilidade de culturas materiais diversas.

E o curso de Bacharelado possui uma disciplina – gestão do design - no quinto período que analisa os aspectos ambientais do produto e uma disciplina – teoria do design quatro – no oitavo período que enfoca a sustentabilidade e o ciclo de vida dos produtos.

Ementa Gestão do Design: design operacional: empreendedo-rismo, designer empresário, ferramentas de gestão de design; design estratégico: visão sistêmica do design na estratégica da empresa, formação focada na gestão de design, organizações de sucesso em gestão de design, princípios norteadores de gestão de design estratégico, modelo para gestão de design, design e competitividade, conhecimentos das conexões entre os fatores condicionantes do projeto: processos de fabricação, aspectos econômicos, ambientais, psicológicos e sociológicos do produ-to.Ementa Teoria do Design 4: teorias e conceitos de design e sus-tentabilidade; o desenvolvimento e a sustentabilidade de culturas materiais diversas; implicações de aspectos culturais e sociais no ciclo de vida dos produtos.

Contudo pode-se observar que estes temas são enfatizados de alguma forma, ve-rificando o resultado dos TCC, que no total de 228 trabalhos defendidos, 28 foram focados para esta área de interesse. Sendo que o Curso de Tecnologia em design de Móveis possui uma vertente mais forte, tendo num total de 98 trabalhos defendidos, 26 relacionados ao tema, sendo dois relativos ao uso de madeira reflorestada e certifica-da, 11 relativos ao incentivo e uso de materiais alternativos como fibras naturais, um de análise de impactos ambientais, cinco voltados para a utilização de resíduos, três focados no restauro de móveis, dois ligados diretamente ao tema de sustentabilidade, 1 ao design ecológico e um direcionado a população de baixa renda. Já o Curso de Tecnologia em Design Gráfico não parece ter um interesse maior na área, já que de 130

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trabalhos defendidos, somente dois possuem um direcionamento, através do projeto gráfico de alguma atividade focada na conservação da natureza e na sustentabilidade.

Com relação ao curso de Bacharelado em Design, ainda não é possível fazer este tipo de verificação, pois a primeira turma ainda está no quinto período e não houve defesa de TCC. Observando os cursos de design da UTFPR, é possível observar que existe uma preocupação com a sustentabilidade e suas vertentes, mas caso existissem disciplinas mais focadas no assunto os resultados poderiam será ainda melhores do que os encontrados no momento.

4.3 A abordagem do Curso de Design da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)

A UTP possui no departamento de Ciências Exatas e Tecnologia, três cursos de Design nas habilitações de Design Gráfico, Design de Produto e Design de Moda. Segundo o seu projeto pedagógico a grade curricular tem como objetivo:

(...) objetivo dos cursos de Design da Universidade Tuiuti do Paraná é formar profissionais com amplo conhecimento acerca dos meios, materiais e linguagem do design. Que estejam aptos a criar produtos que atendam às necessidades da sociedade; possi-bilidades de produção e melhoria da qualidade de vida.(...).10

Nas grades curriculares atuais os Cursos de bacharelado em Design constituem-se de seis semestres sendo ofertadas 50 vagas para cada uma das habilitações. Até 2007 o currículo dos cursos de Design era de oito semestres, porém uma proposta foi aprova-da, por seu colegiado para a redução de oito para seis semestres dos cursos com enxu-gamento nos conteúdos de disciplinas que apóiam a prática projetual. Houve, também, o enxugamento na quantidade de horas para as disciplinas de Metodologia Projetual de 72 horas semestrais para 54 horas semestrais. Atualmente os cursos possuem um total de 2412 horas.

Tendo em vista a diminuição no número de horas totais do curso, algumas discipli-nas que até então possuíam um número mínimo de horas de estudo como: Semiótica e Representações de Produtos, entre outras, foram reduzidas a um semestre ou a um nú-mero de horas insuficiente para que se tenha pleno domínio das técnicas de trabalho.

Com relação a disciplinas que tratem de temas como o desenvolvimento sustentá-vel, meio-ambiente, sustentabilidade e agenda 21, os mesmos concentram-se quando ocorrem em temas de projetos na disciplina de Metodologia de Projeto, sendo aplica-dos de forma isolada e por iniciativa própria dos professores da disciplina, não permi-tindo, assim, a relação dos conteúdos por parte dos discentes com as outras disciplinas apresentadas.

Não há um efetivo planejamento e/ou desenvolvimento de práticas de educação ambiental, tampouco uma discussão sobre assuntos pertinentes a produtos sustentá-veis, ciclo de vida de produtos, considerações sobre o descarte e as conseqüências em decorrência do não desenvolvimento de tais produtos.

10. Fonte:http://www.utp.br/cursos/facet/DM/Estrut%20curric%20DM%202008.pdf. Acesso em 19/04/2009

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O curso de Design Gráfico desenvolve aplicativos digitais e impressos tais como embalagens, catálogos, livros, revistas folhetos etc., sem que haja uma preocupação com as matérias-primas utilizadas, processos de produção e descarte destes produtos, assim como as conseqüências do desenvolvimento de tais produtos e a sua decompo-sição no meio-ambiente.

O curso de Design de Produto desenvolve produtos de produção em massa que possuem grande impacto ambiental quando descartados. São estes: eletrodomésticos, móveis e máquinas, dentre outros. A grande maioria deles é desenvolvida sem que haja preocupação com relação à sustentabilidade tanto no seu processo de fabricação, com materiais recicláveis, matérias-primas de baixo impacto ambiental quanto no seu uso e descarte.

O curso de Design de Moda desenvolve produtos de moda que utilizam materiais diferenciados, inovação no uso desses produtos e no desenvolvimento de coleções de trajes para fins diversos, além de acessórios. Porém, com pouca ou nenhuma preocupa-ção em relação aos tecidos, ao uso de produtos orgânicos no desenvolvimento de seus materiais e principalmente na formação da mentalidade dos futuros profissionais do mercado de moda, onde este, por si só, é incompatível com a questão da sustentabili-dade, por ter a obsolescência como ponto de partida para as coleções.

Não existe uma disciplina de eco-design na grade curricular que permeia e discute assuntos referentes à educação ambiental, LCD (Life-Cycle Design) e processos sus-tentáveis. Em decorrência desse vácuo de conhecimento existente, a academia, que é o principal meio de formação de profissionais para a sociedade, forma “analfabetos ecológicos”, colocando no mercado profissionais despreparados para atuar em projetos com a visão sistêmica, onde a questão sócio-ambiental deve ser inserida.

Recentemente em 2009, foi feita uma proposta à coordenação do Curso de design de Moda para a implementação de uma disciplina que possa discutir a questão de moda e sustentabilidade, assim como as questões referentes ao consumismo e suas aplica-ções nas práticas profissionais do curso.

Desde 2007, a Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) é signatária do Pacto 21 Uni-versitário11, que através de seu conselho busca promover atividades que visam educar, conscientizar e promover a construção de ações sócio-ambientais de acordo com os propósitos da Agenda 21. Apesar da iniciativa louvável, a falta de disciplinas que possam discutir e permear tais pontos faz com que os esforços e o comprometimento da Universidade com o Pacto 21 Universitário sejam minimizados dificultando sobre-maneira a plena consolidação das atividades propostas.

4.4 A abordagem do Curso de Design da UniBrasil (Faculdades Integradas do Brasil)

A Unibrasil- Faculdades Integradas do Brasil iniciou o seu curso de Design com a proposta inovadora de habilitar de forma conjunta os alunos em Design de Produto e Design Gráfico. A maior parte dos cursos de Design existentes na atualidade, separam

11. O Pacto 21 Universitário é uma iniciativa da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Paraná (SEMA) para unir as Instituições de Ensino Superior do estado em torno dos objetivos da Agenda 21.

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estas duas habilitações por considerar o seu foco pouco interligado. No entanto, o ide-alizar do Curso da Unibrasil, Professor Marcio Brasil, acredita que na realidade, a atual demanda do mercado de design exige que o profissional integre de forma equilibrada as duas competências de design. Mesmo que, depois, no decorrer da sua atuação pro-fissional, o aluno venha a optar por um destes dois aspectos, acredita-se que esta for-mação integrada venha a fortalecer e abrir maiores perspectivas de trabalho aos jovens designers sem restringir desde o início da sua carreira a sua atuação profissional.

O Curso foi fundado em 2003 e conta atualmente disciplinas distribuídos em oito períodos e durante dois turnos, o matutino e o vespertino. O Curso conta hoje com aproximadamente 300 alunos distribuídos da seguinte forma: 110 alunos (37%) no período da manhã e 190 (63%) no período noturno. Esta distribuição reflete de forma generalizada um perfil de aluno que já se encontra inserido no mercado de trabalho e/ou alunos que realizam diversas atividades e estudam no contra-turno disponível. O Curso de Design da Unibrasil está, portanto, ainda em formação, sendo que apenas em setembro de 2008 o mesmo foi avaliado durante dois dias consecutivos por uma Comissão do MEC para efetivar o seu reconhecimento tendo obtido o Conceito quatro. Esta mesma comissão avaliadora disse que o curso de Design da Unibrasil apresenta estrutura condizente com as diretrizes curriculares em Design e em consonância com as demandas do mercado local (Unibrasil, 2008). 12

De forma similar ao observado em outras universidades, existe na Unibrasil a prá-tica de inserir conceitos ambientais diluídos em outras disciplinas por iniciativa dos próprios docentes. No entanto, existe um diferencial fundamental, já que durante o 5º período existe na grade obrigatória a disciplina de Meio Ambiente e Design. Esta dis-ciplina é ofertada no momento em que os alunos já se encontram maduros no processo de aprendizado e depois de terem tido estímulos anteriores não específicos nas outras disciplinas como ilustrado a seguir.

O corpo docente do Curso de Design da Unibrasil conta atualmente com 23 pro-fessores, sendo que pelo menos oito abordam de foram sistemática assuntos de cunho ambiental nos seus conteúdos e problemas propostos. Isto significa que quase 35% do corpo docente introduz a questão na sua prática de ensino. Considera-se que, o reflexo disto é maior do que esta percentagem, já que um mesmo professor costuma lecionar de duas a quatro disciplinas aproximadamente distribuídas ao longo dos vários perío-dos do Curso. Num primeiro levantamento foi verificado que conceitos de cunho am-biental como fractais, sustentabilidade, reciclagem, uso de materiais mais ecológicos, etc., são abordados em disciplinas que usualmente não tratariam estes aspectos tais como Percepção Visual (Professor MA. Jorge Luiz Kimieck), Projeto I (Professor Ciro Andrade), Ergonomia (Professora MA. Adriana Laufer), Modelaria (Professor Fabio Fontoura), Projeto Gráfico (Professora MA. Sieglinde Piper) e Tipografia (Professor MA. Manoel Schroeder).

12 Noticia do site da Unibrasil obtida em http://www.unibrasil.com.br/noticias/detalhes.asp?id_noti-cia=3703. Acesso Maio de 2009. “O Projeto Pedagógico do Curso (PPC) apresenta-se em acordo com a missão da Instituição e fundamenta-se em dois eixos destinados à capacitação intelectual e profissional do aluno”.

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Observa-se ainda, que a questão ambiental é sistematicamente introduzida nas ma-térias de Projeto de Produto tais como Metodologia do Projeto de Produto I e II , ministradas pela Profa. Debora Jordão e ainda mais especificamente, na disciplina de Metodologia do Projeto III, conduzida pela Profa. Dra. Líbia Patrícia Peralta Agudelo, Designer e Ph.D em Ecologia da Paisagem e Recursos Naturais, portanto experiente em design para a sustentabilidade. A professora tem abordado a questão de ecológica complementada-a com a inserção sistemática de preocupações sociais baseadas em problemas reais. Buscou-se com isto inserir o aluno em uma problemática real, tiran-do-o do contexto único de sala de aula teórica e confrontando-o com necessidades so-ciais básicas às quais freqüentemente se encontram associados aspectos ambientais.

Um caso ilustrativo aconteceu com a Turma do quarto período do segundo semes-tre de 2008, onde o tema base seria o redesign da cultura material dos imigrantes que compõem o Estado do Paraná. Durante a pesquisa, ficou muito claro para o aluno, que muitos dos materiais utilizados pelos imigrantes de inicio de século para a fabricação de móveis e acessórios utilitários encontram-se hoje em extinção como são os casos da madeira do Pinheiro do Paraná (Araucária angustifólia) e da Imbuia (Ocotea porosa). Esta sensibilização levou os alunos a efetuarem o redesign destas peças utilizando conceitos de ciclo de vida ou LCD (Life Cycle Design) escolhendo madeiras que não tivessem o seu corte legalmente restrito e que, ao mesmo tempo se assemelhassem em acabamento, cor e textura às originais. No caso, optou-se pelo uso de Pinus certificado FSC ou mesmo eucalipto com selo de certificação de Manejo fornecido pelo IBAMA com tingimento apropriado, entre várias outras.

Figura 01. Mesa em madeira certificada FSC lembrando os bordados da etnia ucra-niana. 13

13. Trabalho apresentado pelas alunas Pámela, Renata, Emanuella do 4º período de 2008.

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Figura 02. Cadeira em madeira recuperada lembrando o tramado de enxamel da etnia alemã. 14

Já durante o 5º período, a professora Agudelo, assume a disciplina obrigatória e específica relativa ao tema em questão, intitulada Meio Ambiente & Design. Neste caso se considera que é oferecida uma grande vantagem competitiva ao aluno, no sen-tido de possibilitar a introdução sistemática dos conceitos ambientais, econômicos e sociais na sua prática projetual. Também a Professora. Agudelo assume durante o 6º período a disciplina de Projeto do Produto II o que possibilita a continuidade da inser-ção e fundamentação destes conceitos no processo de ensino e durante o preparo das propostas de TCC.

4.4.1 Conteúdos abordados na Disciplina de Meio Ambiente & Design Os conceitos ambientais são, portanto, formalmente e de forma sistemática intro-

duzidos no Curso através da Disciplina de Meio Ambiente & Design. Esta disciplina aborda os aspectos gerais das principais questões ambientais, fazendo uma retrospec-tiva histórica, alertando sobre o relativo curto espaço temporal em que as questões ambientais foram introduzidas formalmente na agenda global, isto é somente a partir da década de 1980.

A disciplina avança introduzindo os conceitos de biônica ilustrando as suas apli-cações desde a Escola Alemã de Ulm até as atuais possibilidades do uso de biônica no design de produtos e processos industriais. Esta aula é reforçada com a presença viva de animais, plantas e insetos em sala de aula e a presença de um especialista em comportamento adaptativo animal.

14. Trabalho apresentado pelos alunos Anselmo, Guilherme e Jefferson do 4º período de 2008.

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Figura 03. Estudo inicial de sistemas biônicos do escorpião (Tityus serralatus) e adap-tação em produto de design15

Busca-se aqui estabelecer o vínculo claro entre a função e o mecanismo, levando o aluno a pensar de forma mais funcional os mecanismos naturais e não somente na mera transferência estético-formal de objetos da natureza em produtos de design biônico.

1- Observação mecanismos de equilíbrio do opilião 2- Definição de Produto usando mecanismos biônicos observados no opilião 3- Produto Final renderizado para aplicação de Análise de Ciclo de Vida

Figura 04. Projeto finalizado de cadeira para auditórios e/ou salas de espera com me-canismos de equilíbrio e suspensão biônicos.16

15. Trabalho dos alunos Diego Freitas, Leonardo Neto, Thiago Kolodge e Ayres Landal do 5º período ori-entados pela Profa. Dra. Líbia Patrícia Peralta Agudelo na disciplina específica Meio Ambiente & Design.16. Trabalho dos alunos Anselmo da Silva, Guilherme Valadares Paixão, Jefferson e Everton Dias do 5º período orientados pela Profa. Dra. Líbia Patrícia Peralta Agudelo na disciplina específica Meio Ambiente & Design.

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A seguir, abordam-se os princípios de Design e Ciclo de Vida, como propostos pelos designers Ezio Manzini e Carlo Vezzoli em seu livro” O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis”. Aqui o aluno deve conceber um produto sustentável no sentido de considerar a minimização dos seus potencias impactos negativos no meio ambiente e a sociedade, sendo ao mesmo tempo viáveis economicamente. Isto é, inclui a con-sideração do seu Ciclo de Vida, desde a extração (Pré-produção) e processamento das matérias primas escolhidas, o seu processamento industrial (Produção), o seu trans-porte e logística (Distribuição) e a sua vida útil (Uso) até a seu descarte (Disposição Final) procurando com que os componentes possam ser reciclados, reutilizados ou mesmo descartados mas minimizando os seus potenciais impactos sociais, econômicos e ambientais ( MANZINI E VEZZOLI, 2002).

4.4.2 Resultados preliminaresEstas práticas dentro do Curso de design da Unibrasil, acredita-se tenham surtido

os efeitos de educar novos designers sobre a importância e necessidade de se pensar a produção industrial de uma forma mais consciente, eficiente e viável. Um indicador positivo a este respeito pode ser prematuramente comemorado ao se avaliar as propos-tas de TCCs desenvolvidas atualmente pela 1ª Turma de prospectos formados do Curso de design da Unibrasil. De 20 propostas de TCC atualmente em desenvolvimento, qua-tro (20%) abordam integralmente um tema de conteúdo sobre design sustentável sendo que um (5%) aborda a questão ambiental parcialmente e cinco (25%) não abordam a questão especificamente mas têm orientações para a escolha de processos e matérias menos impactantes nos meios ambiental e social. Isto no dá um panorama de 50% dos trabalhos de TCC da Unibrasil tratando ou abordando de forma correta as questões ambientais inerentes ao designer.

4.5 A questão ambiental no curso de Design, área de produto da UFPRNo caso do curso de design, área de produto, da Universidade Federal do Paraná

(UFPR), optou-se em apresentar aqui dados sobre o tema do design para a sustentabili-dade ao invés da questão ambiental, por ser esta mais abrangente. A análise que segue foi construída através da observação das grades horárias, das ementas de disciplinas e relação de títulos de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). Os dados levantados não refletem a profundidade com que o tema do design para a sustentabilidade é trata-do no curso, na área de produto, porém são os dados numéricos à disposição. Para um resultado mais denso seria necessária uma pesquisa qualitativa de maior cunho.

Na grade horária atual do curso encontra-se a disciplina de Design Sustentável. Esta disciplina é ofertada desde 2006, quando ocorreu a implantação do novo currí-culo. Antes disto, não existia na grade curricular da área de produto uma disciplina diretamente relacionada ao tema. A disciplina de Design Sustentável é optativa, isto é, não obrigatória, contemplando 60 horas17 aulas e representando três créditos (Depar-tamento de Design da UFPR, 2009). O professor responsável da cadeira é professor

17.É preciso esclarecer que o aluno do curso de design, área de produto, deve cumprir 240 horas em disci-plinas optativas, durante os quatro anos de curso.

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Aguinaldo dos Santos, PhD. Tal disciplina é oferecida uma vez por ano, sendo de caráter semestral. Ela é freqüentada por alunos cursando qualquer dos quatro anos, constando, porém, na grade horária do quarto ano. Na ementa da disciplina fica claro que a abordagem dada é a de contemplação de todo o ciclo de vida do produto para a inserção de requisitos ambientais no desenvolvimento de um produto. Nas outras dis-ciplinas o tema do design para a sustentabilidade, quando abordado, é feito a partir de iniciativa própria do professores responsáveis.

Para compreender a motivação dos alunos quanto a este tema foram consultados os títulos de 629 Trabalhos de Conclusão do Curso (TCC), a partir do ano de 1978. Este total representa a soma dos trabalhos das áreas de produto e gráfico, porém os títulos aqui selecionados são da área de produto. Apenas quatro (quatro) TCCs da área de produto apresentam no título as palavras design para a sustentabilidade ou sustentabili-dade. Além destes, que focalizam declaradamente a preocupação no tema do trabalho, 20 (vinte) TCCs apresentam no título algum argumento relacionado ao tema do design para a sustentabilidade:

um com título do produto com prefixo eco;•cinco tratam da reutilização de material;•nove tratam do uso de material de baixo impacto;•um trata do da perspectiva social do desenho industrial;•dois tratam da coleta seletiva;•um desenvolve uma bicicleta como alternativa para a mobilidade dos centros •urbanos;um desenvolve um Sistema Produto-Serviço.•

É preciso sublinhar que estes 24 (vinte e quatro) trabalhos foram selecionados a partir do título e que, certamente, outros TCCs tiveram alguma preocupação em relação ao design para a sustentabilidade, porém esta não está explicitada no título. Observou-se um aumento dos títulos de TCCs que incorporam temas afins ao design para a sustentabilidade, a partir do ano de 1999. Esta temática tem sido motivo de reflexão em muitos dos projetos dos estudantes, não sendo, porém, item obrigatório a ser considerado nos TCCs.

Um grande avanço em relação à importância do tema no curso aconteceu em 2003, quando foi fundado o Núcleo de Design e Sustentabilidade, alocado no mesmo de-partamento acima citado, com recursos do projeto aprovado no edital Verde-Amarelo/TIB FINEP 01/2002. Tal Núcleo, coordenado pelo ProfessorAguinaldo dos Santos, tem desenvolvido inúmeros projetos relacionados ao tema do design para a susten-tabilidade, ampliando seu campo de ação para as dimensões sociais e econômicas da sustentabilidade, além da dimensão ambiental. O núcleo faz pesquisas aplicadas, tendo como parceiros diversas empresas e instituições18 (Núcleo de Design e Sustentabilida-de, 2009). O núcleo exerce uma forte influência nos alunos, seja graduandos quanto pós-graduandos, possibilitando a prática real quanto a esta temática.

Um levantamento do quadro docente permite constatar que na graduação do curso

18. Para maiores informações sobre parceiros e projetos do Núcleo de Design Sustentável favor consultor o site: http://www.design.ufpr.br/nucleo

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de Design da Universidade Federal do Paraná, dois são os professores que possuem suas pesquisas diretamente relacionadas com o tema do design para a sustentabilidade: professor Aguinaldo dos Santos, PhD e professora Liliane Iten Chaves, PhD. O primei-ro realizou sua pesquisa de pós-doutorado e a segunda sua pesquisa de doutorado junto à unidade de pesquisa DIS – Design e Inovação de Sistemas para a Sustentabilidade – com professor Carlo Vezzoli, da faculdade de design do Politécnico di Milano, Itália. Além destes professores que exercem pesquisas com temas diretamente relacionados à questão da sustentabilidade nas suas diversas dimensões, outros professores desenvol-vem pesquisas em suas áreas, tendo como tema transversal as questões do design para a sustentabilidade, dentre estes os professora Dulce Fernandes, Dra.; professora Dulce Albach, Msc; professor Dalton Razera, Dr.; professor Antonio Fontoura, Dr.; professor Naotake Fukushima (Especialista).

Os dados acima apresentados não representam a profundidade com que o tema é tratado no curso de Design – área produto – da UFPR. Porém, a vivência no ambiente permite constatar que existe uma grande sensibilidade ao tema, seja por parte dos alunos, dos professores e da própria instituição. A importância do design para a sus-tentabilidade no curso pode ser evidenciada pela forte presença do núcleo de Design e Sustentabilidade em âmbito nacional, sendo este referência em todo Brasil e com visibilidade internacional. O tema é, sem dúvida, urgente e relevante para o curso de design da UFPR.

5. CONCLUSÃOA inserção do problema ambiental no ensino de design necessita de uma aborda-

gem sistêmica ao longo dos cursos de graduação. Esta abordagem exige que o projeto pedagógico esteja preparado para discutir estas questões, aliado a um corpo docente que esteja habilitado para lidar com estes conteúdos.

Com certeza estas articulações só poderão prevalecer quando a própria instituição de ensino reconhecer a importância do tema em suas ações. O modelo atual de ensino de design assemelha-se ao encontrado em outras áreas da economia ou da sociedade, que parecem aguardar um acontecimento mais agudo para promover mudanças, no en-tanto observam-se iniciativas concretas neste sentido em algumas poucas instituições.

O ensino, como um elemento de mercado, transmitido por professores desconec-tados de uma visão sistêmica do curso, mostra muita semelhança com os diversos produtos e objetos prejudiciais à sociedade e ao meio ambiente. A educação e o ensi-no, mesmo que pagos e sendo fonte de lucro para alguns setores, é uma das melhores construções de cenários promissores para o futuro.

Deixar de lado as discussões dos problemas ambientais em qualquer curso de de-sign é uma possibilidade que não pode mais ser apreciada em nenhuma escola, espe-cialmente quando prevemos que este profissional estará atuando num cenário cujas exigências da emergência ambiental serão mais evidentes e contundentes que as atuais. Os resultados preliminares observados nos cursos de Design, que introduzem a ques-tão ambiental de forma sistemática, mostram projetos robustos e mais conectados com

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as realidades sociais, ambientais e de mercado. Isto, além de capacitar melhor os novos profissionais os torna mais aptos para fornecer uma melhor reposta para as atuais e futuras demandas do mercado.

6. REFERÊNCIASDENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. 2.ed. rev. ampl. São Paulo: Edgard Blücher, 2004.MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL. Projeto Pedagógico do Curso de Design de Produto: Grade 629F. Bento Gonçalves, 2000.___________. Projeto Pedagógico do Curso de Design de Produto: Grade 629G. Ben-to Gonçalves, 2007.___________. Projeto Pedagógico do Curso de Design Gráfico: Grade 662G. Bento Gonçalves, 2008.

Web Sites consultadosNúcleo de Design e Sustentabilidade. Disponível em http://www.design.ufpr.br/nu-cleo/index.php?site=nucleo.htm . Acesso 08/05/2009PPGDesign UFPR . Disponível em http://www.design.ufpr.br/mestrado/ Acesso em 08/05/2009.Departamento de Design da UFPR. Disponível em http://www.design.ufpr.br/. Acesso em 08/05/2009UNIBRASIL – Universidades Integradas do Brasil. Curso de Design da UniBrasil obtém bons resultados junto ao MEC. Disponível em http://www.unibrasil.com.br/no-ticias/detalhes.asp?id_noticia=3703 Acesso em 19/05/2009UTP - Universidade Tuiuti do Paraná. Curso de Design de moda- Grade Curricular - http://www.utp.br/cursos/facet/DM/Estrut%20curric%20DM%202008.pdf. Acesso em 19/04/2009UTP - Universidade Tuiuti do Paraná. UTP assina “Pacto 21 Universitário - http://www.utp.br/noticias.asp?codnoticia=5535. Acesso em 19/04/2009

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IMPLANTANDO PRÁTICAS SUSTENTÁVIES NOS CAMPI UNIVERSI-TÁRIOS: A PROPOSTA DO “ESCRITÓRIO VERDE” DA UTFPR

Eloy Fassi Casagrande Júnior (1); Vania Deeke (2)

(1) Phd Em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente, Professor do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPGTE, Universidade Tecnológica

Federal do Paraná.(2) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação Em Tecnologia - PPG-

TE, Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

RESUMOFace ao aumento dos impactos sócio-ambientais derivados do aquecimento global

e demais problemas causados pelo homem e o atual modelo de desenvolvimento, as Instituições de Ensino Superior (IES) tem um importante papel a cumprir para dar-se um rumo seguro ao desenvolvimento sustentável. Para servi como exemplo a toda a so-ciedade, esta preocupação da IES deve refletir na sua infra-estrutura física, administra-ção e linha pedagógica. A sustentabilidade pode ser ensinada pelo método tradicional de professor e sala de aula, pela pesquisa e extensão. A inserção de temas ambientais transversas nas disciplinas de graduação é uma das formas a se adotar, mas também pode ser transmitida pelo conhecimento tácito, pois estudos demonstram que retemos apenas de 10% a 20% do que ouvimos ou lemos, contra 80% do que experimentamos. A estrutura física e administrativa, considerando o planejamento dos campi e de seus edifícios dentro do conceito de “greenbuilding”, tem sido uma prática adotada por IES no exterior e algumas no Brasil. Além de seu currículo explícito, toda IES possui outro, implícito, que consiste em seus terrenos, edifícios e operações que precisam se adequar a esta realidade. Este artigo apresenta a proposta de implantação de um “Green Office” (Escritório Verde) na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus de Curitiba, para implantar uma política ambiental universitária que vão desde projetos pedagógicos e administrativos até diretrizes de arquitetura e construção sus-tentável para estruturas existentes e novas. Acredita-se que estas medidas, por sua vez, demandarão novos produtos, comportamentos e processos, exigirão novas pesquisas e contribuirão para formar uma “cultura sustentável”.

1. INTRODUÇÃOO alerta sobre o aquecimento global e as conseqüências das mudanças climáticas,

a possibilidade de aumento de refugiados ambientais, os impactos sócio-econômicos negativos vinculados à globalização, levam os profissionais de diversos setores da so-ciedade a discutir a adoção de parâmetros sustentáveis globais e locais para gestão,

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produção, consumo.Como exemplo, podemos citar a indústria de construção civil que está entre os mo-

delos de produção e consumo mais ineficientes. Globalmente, o setor consome de 12 a 16% da água; 25% da madeira florestal; de 30% a 40% da energia e 40% da produção de matéria-prima extrativa. Também é responsável por 20% a 30% da produção de gases do efeito estufa; 40% do total dos resíduos, dos quais de 15% a 30% são depo-sitados em aterros sanitários. Além de que 15% dos materiais são transformados em resíduos durante a execução da obra. (CIB/CSIR, 2002).

Segundo Sachs (1986), para um desenvolvimento com qualidade de vida e gestão racional do ambiente seria necessário eliminar a poluição resultante da pobreza, e, ao mesmo tempo, adotar medidas para evitar que o crescimento econômico e o desenvol-vimento industrial tenham repercussões desfavoráveis na sociedade e no ambiente.

Desde a Conferência das Nações Unidas em Estocolmo (1972), o Relatório da Co-missão Brundtland, em 1987, e principalmente após a Agenda 21 lançada na Eco 92, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, o parâmetro “sustentabilidade” vem crescendo em relevância na avaliação de processos econômicos, de tecnologias e de assentamen-tos humanos.

O movimento pela sustentabilidade contém um apelo intrínseco pela racionaliza-ção, e sua apropriação pelo capitalismo globalizado faz com que a criação de “negócios verdes” seja uma manifestação que busca se adaptar aos novos tempos. Tudo pode ser reconstruído, replanejado, redefinido, redimensionado, racionalizado, e isso representa mercados novos para novos serviços, produtos e métodos. A partir da década de 80, se viu um aumento de metodologias no campo da gestão ambiental, assim como nas leis que protegem o meio ambiente.

Termos como Biocidades, Arquitetura Bioclimática, Biomimetismo, Construções Sustentáveis, ecodesign e outras tendências da procuram rever conceitos que se con-solidaram, principalmente ao longo do Século XX, e propõem visões sistêmicas da edificação, focadas na interação desta com o ambiente, com usuário, com a cidade e a cultura local.

Os princípios da sustentabilidade aplicados pela arquitetura à construção civil estão sustentados em teorias como a do Capitalismo Natural (HAWKEN, 1999), TNS - The Natural Step (ROBERT, 2000), Gerenciamento Ecológico (CAPRA e al.1993), Me-todologia ZERI – Zero Emission Research Initiatives (PAULI, 1998), apontadas por Casagrande Jr (2004) como orientação ao desenvolvimento da arquitetura e da cons-trução sustentável. O conceito cradle-to-cradle (múltiplos ciclos de vida) diferente do cradle-to-grave (ciclo de vida único) e a responsabilidade social corporativa são relevantes para a empreitada. Tal fundamento objetiva formar uma nova mentalidade, em que a sustentabilidade deixe de ser vista como aspecto negativo: quer por questão de custo, quer por qualidade, e passe a constituir valor agregado.

Nos Centros Universitários Sustentáveis, se vê os chamados greencampi (campi sustentáveis), que já se constituem uma realidade nos Estados Unidos, Europa, Austrá-lia e Nova Zelândia. Principalmente nos Estados Unidos, os campi universitários as-sumem função ainda mais relevante, por se tratarem de verdadeiras vilas, uma vez que

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englobam também as moradias dos estudantes. A grande maioria dessas universidades possui um Green Oficce, escritório voltado à administração de práticas sustentáveis nos campus, onde manutenção, economia de energia, redução de consumo de água, reciclagem, são temas enfocados, entre outros.

Pode-se observar a existência de ações que vão da separação e reciclagem de resí-duos até a construção de novos prédios ou retrofits (reformas) que contemplem as reco-mendações do LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), certificação voluntária coordenada pelo WGBC (World Green Building Council) para construções sustentáveis presentes em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão, Mé-xico e Índia. Na mesma linha há orientações para greencampi da Association for the Advancement of Sustainability in Higher Education (AASHE), a Higher Education Associations Sustainability Consortium (HEASC), e a University Leaders for a Sus-tainable Future (ULSF). (HEASC, 2007).

Atualmente, no Brasil, um comitê de especialistas discute a adaptação do sistema de certificação LEED, que através do Green Building Council Brasil (GBCB), busca parâmetros para um selo que respeite as características do setor da construção civil no país. Em 2007, tivemos a criação do CBCS – Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, de caráter mais institucional e que tem como missão “disseminar o desen-volvimento e a implementação de conceitos e práticas mais sustentáveis e que contem-plem as dimensões social, econômico e ambiental da cadeia produtiva da indústria da construção civil”.

De acordo com CBCS (2007), o setor da construção civil, com a participação de 15% do PIB, apresenta os maiores e mais diversos impactos ambientais. A construção e a manutenção da infra-estrutura do país consomem até 75% dos recursos naturais extraídos, sendo a cadeia produtiva do setor a maior consumidora desses recursos. A quantidade de resíduos da construção e demolição é estimada em torno de 450 kg/hab/ano ou cerca de 80 milhões de toneladas por ano, o que impacta o ambiente urbano e as finanças municipais. A operação dos edifícios no Brasil é responsável por aproxi-madamente 18% do consumo total de energia do país e 50% do consumo de energia elétrica, e 21% do consumo da água.

2. O EDIFÍCIO COMO PEDAGOGIA E ÍCONE DA SUSTENTABILIDADE

A Carta Copernicus -- Carta Patente da Universidade para o Desenvolvimento Sus-tentável – está ancorada nas Estratégias do Programa Copernicus (Cooperation Pro-gramm for Environmental Resaerch in Nature and Industry trought Cooerdinated Uni-versity Studies ) e no documento Campus Blueprint for a Sustainable Future (1994), e foi redigida no primeiro encontro Campus Earth Summit, realizado na Universidade de Yale, EUA, em abril de 1994. (KRAEMER, 2005). Durante o evento, mais de 500 estudantes, docentes e administradores de faculdades de 120 universidades americanas e de 29 internacionais discutiram e partilharam informações sobre a forma de redese-nhar a educação e as práticas ambientais dos Campi.

Na Carta Copernicus, há várias recomendações, reforçando a idéia de promover o

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uso do campus como laboratório experimental e modelo de desenvolvimento susten-tável. Esse ato coletivo leva a concluir que em um país em desenvolvimento, o enga-jamento de universidades tecnológicas é ainda mais significativo, uma vez que suas próprias edificações podem propiciar projetos de pesquisa que contribuam para gerar novas tecnologias e para criar um novo modelo de desenvolvimento socioeconômico.

Para David Orr (2004), toda escola, colégio ou universidade, além de seu currículo explícito descrito em seu catálogo, possui outro, que poderíamos chamar de currículo implícito e que consiste em seus edifícios, terrenos e operações. De acordo com edu-cadores e psicólogos, nós, humanos, retemos de 10 a 20 % do que ouvimos ou lemos, e aproximadamente 80% do que experimentamos (CORTESE, 2000). Assim, como a infra-estrutura urbana repercute na sociedade em seu conjunto, a infra-estrutura que os estudantes observam nos campi, como eles se movem (transporte), o que eles comem, como eles se relacionam uns com os outros, como eles “vivenciam” determinados espaços, a noção de tempo e espaço que constroem são aspectos que influenciam sua capacidade de imaginar melhores alternativas.

O processo de construção do Adam Lewis Center no Oberlin College, nos Estados Unidos, dos arquitetos William McDonough e John Todd --- o primeiro “green buil-ding” a ser construído em um campus e que recebeu a certificação Gold do LEED --- é descrito por Orr (2006) em seu livro Design on the Edge - The making of a High-Per-formance Building. Além dos aspectos técnicos do projeto, é destacado a perseverança do grupo idealizador do projeto e a conquista do envolvimento de toda a instituição, relatando sucessos e obstáculos, desde a aprovação da instituição até a obtenção de recursos. Ilustra a quebra de paradigmas – o processo de uma mudança institucional – por meio de um aprendizado coletivo e uma política econômica do design, descreven-do como a idéia do Adam Lewis Center se originou e como se tornou realidade.

Para Lundvall (2001), indivíduos e organizações que solucionam conjuntamente problemas, ao final de um projeto específico, terão partilhado o conhecimento original do parceiro, do mesmo modo que terão partilhado o novo conhecimento tácito gerado pelo trabalho conjunto. Portanto, é imperativa a assimilação de práticas sustentáveis por meio dos edifícios e operações dos campi universitários, utilizando seu design e sua rotina de operação como ferramenta educacional.

3. O DESAFIO DE SE IMPLANTAR CAMPI SUSTENTÁVEIS NO BRASIL

A sociedade e o mercado demandam profissionais capazes de superar os atuais desafios. Uma universidade comprometida com desenvolvimento sustentável, ao ar-ticular políticas de inovação na área socioambiental, desenvolve pesquisas científicas baseadas em novas tecnologias num contexto sistêmico e passa a exercer efeitos de polarização regional e nacional, tornando-se referência.

Pode-se afirmar que esta preocupação é refletida por alguns arquitetos pioneiros, como se observa na obra do arquiteto Severiano Porto, que defendia uma arquitetura utilizando baixa tecnologia (lowtech sustainable architecture), acrescida de novos pro-dutos e conhecimentos tecnológicos e científicos.

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Profissional à frente do seu tempo, há trinta anos, quando ainda não se falava em sustentabilidade na arquitetura, Porto idealizou projetos com conceitos e estratégias bioclimáticas, com uma arquitetura de forte feição regionalizada, destacando o uso da madeira em sua permanente busca da relação construção e natureza, sem descartar o concreto, o aço e a alvenaria. Um dos maiores exemplos, é seu projeto para o Campus da Universidade Federal de Manaus (UFAM), construída no começo dos anos 70, onde utilizou como estratégias de projeto soluções passivas de conforto térmico como o efeito chaminé, ventilação cruzada, coberturas duplas e independentes (colchão de ar), dentre outras idéias. (FINESTRA, 2008).

Infelizmente, temos poucos exemplos como estes no Brasil, onde a grande maioria dos campi projetados não adota a arquitetura e construções sustentáveis. Como ainda estamos num processo de convencimento da importância destas práticas para aqueles que dirigem IES públicas e privadas, se têm apenas algumas IES que começam a pen-sar nesta direção.

Segundo Tauchen e Brandli (2006), os casos de gestão ambiental em âmbito uni-versitário, encontrados no Brasil e no mundo, na maioria das vezes constituem práticas isoladas em situações que a instituição já está implementada e funcionando. Esses autores identificaram a iniciativa de quatro universidades brasileiras voltadas à gestão ambiental:

a) Universidade Vale do Rio dos Sinos (Unisinos); por meio do Projeto Verde Campus, é a primeira universidade da América Latina a ser certificada segundo a ISO 14001;

b) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) criou uma coordenadoria de Gestão Ambiental para promover uma política de gestão ambiental responsável e pri-vilegiou o ensino como busca contínua para melhorar a relação entre o homem e o ambiente, trazendo a comunidade como parceira desta proposta (Projeto Sala Verde). Também se destaca o Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE), que atua visando reduzir o consumo específico de energia em edificações novas e exis-tentes, através da implantação de novas tecnologias de iluminação, condicionamento de ar e isolamento térmico. O LabEEE em parceria com a Eletrosul, é responsável pela construção da “Casa Eficiente” -- um centro de demonstração de estratégias constru-tivas utilizadas de acordo com o padrão de uso da edificação, funcionando como uma vitrine de tecnologias de ponta em eficiência energética e conforto ambiental para residências.

c) Fundação Universitária Regional de Blumenau (FURB), cujo Sistema de Gestão Ambiental implica uma estrutura organizacional com a responsabilidade de implemen-tar seus objetivos;

d) Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que se empenha para implementar um SGA.

Tais iniciativas fazem constatar a busca de intervenções para fazer frente à preocu-pação crescente das universidades em busca de um desenvolvimento sustentável, não apenas no ensino como também em práticas corretas, contribuindo para o desenvolvi-mento de uma consciência ambiental e abrindo portas para construções sustentáveis.

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Tauchen e Brandli (2006) também apontam ações a serem incorporadas a um SGA, dentre as quais se destacam:

a) assessoria ambiental, com levantamento de aspectos e impactos ambientais; b) gestão de recursos: ambientais, envolvendo energia, água, qualidade e conforto

térmico; c) gestão de resíduos e prevenção da poluição; d) construção sustentável e plano diretor definindo todos os prédios a serem im-

plantados; e) compras de materiais e equipamentos considerando critérios ambientais; f) educação integrada a aspectos ambientais, por meio da sensibilização ambiental,

formação, informação de currículo e projetos de investigação sobre temas SGA; g) declarações e relatórios ambientais para uma fase posterior ao SGA. Entre os

muitos benefícios de um SGA, tais autores salientam a verificação de uma economia real pelo melhoramento da produtividade e da redução do consumo de energia, água e materiais de expediente.

Ainda, é fator de economia o cumprimento às exigências estabelecidas pela legis-lação ambiental, o que implica redução de riscos de incorrer em penalidades ou gerar passivos ambientais, além da melhora da imagem externa da instituição, pela evidência de práticas sustentáveis e geração de oportunidades de pesquisa.

Nos últimos dois anos, também houve iniciativas em outras universidades brasilei-ras: a Universidade Federal de São Carlos (UFScar) tem o seu novo campus Sorocaba, que está pautado pelo desenvolvimento sustentável desde o planejamento da ocupação do terreno, passando pelos métodos construtivos empregados, chegando até aos pro-jetos pedagógicos dos cursos e aos temas de pesquisa. Concluída sua primeira fase de implantação em março de 2008, provavelmente tornar-se-á o primeiro Greencampus brasileiro. Em uma área de 700 mil metros, abrangerá sete cursos, com mais de 700 vagas. Nessa primeira fase, foram concluídos quatro edifícios de salas de aula que abrigam os cursos de Ciência da Computação e Ciências Econômicas.

Por sua vez, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) promoveu em 2005 o concurso para o projeto arquitetônico de seu campus a ser instalado na APA da Represa Billings - São Paulo, cujo edital exigia que o projeto contemplasse sustentabilidade. Uma equipe formada por jovens arquitetos paranaenses venceu o concurso.

Além dessas, a Universidade de Passo Fundo (UPF) está implantando o SGA, com o desenvolvimento de práticas sustentáveis, dentre as quais se destacam: eficiência energética, pela geração própria de energia nos horários de pico e interrupção de for-necimento, substituição de equipamentos de iluminação por modelos mais eficientes, controles de efluentes em sua estação de resíduos líquidos ETE anaeróbico, controle de consumo e reuso da água, programa de reciclagem de resíduos, uso de papel reciclado entre outros. (FRANDOLOSO, 2007).

A Universidade de Campinas (UNICAMP) também está ocupada com questões de sustentabilidade, de maneira que institui seu Plano Diretor que visa à ordenação e ocupação do uso do solo para integrar ações que proporcionem qualidade de vida no campus, mitigando problemas derivados de uma ocupação desordenada ao longo de

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quarenta anos. Também há iniciativas como o projeto de ampliação do Centro de Pesquisas e De-

senvolvimento da Petrobrás (CENPES), no Rio de Janeiro, que terá 23 novos laborató-rios totalizando cerca de 150 mil metros quadrados de construção a serem concluídos em 2009. De acordo com Abreu (2008), gerente de Projetos e Suprimentos da Enge-nharia da Petrobrás, esses novos edifícios do Centro “incorporam conceitos de ecoe-ficiência e utilização de materiais de menor impacto no meio ambiente, tendo como referência de construção verde (origem do material, distância de transporte, modo de aplicação, entre outros) o padrão americano e europeu”.

A criação dos centros universitários sustentáveis se justifica por dois motivos prin-cipais: a real redução dos impactos ambientais causados por sua construção e uso (di-minuição da pegada ecológica) e pela importância do edifício sustentável em si, como agente catalisador no processo de educação para um modo de vida mais sustentável, ética, social e ambientalmente mais responsável. Pelo modo como usam o espaço, os estudantes passarão a conhecer novas tecnologias, materiais e práticas, tornando-se replicadores da sustentabilidade.

Desse modo, arquitetos, designers e engenheiros são agentes transformadores da sociedade em que vivem. Como organizadores do espaço construído ao homem, muito podem contribuir para minimizar o impacto socioambiental. Tecnicamente capacitados para desenvolver projetos sustentáveis e conscientes de sua importância, poderão trans-mitir esses conceitos tanto a empreendedores da construção civil quanto a gestores de instituições de ensino ou cidadãos comuns, que talvez ainda não tenham despertado para essas prementes questões.

4. A PROPOSTA DO “ESCRITÓRIO VERDE” DO CAMPUS CURITIBA DA UTFPR

No Campus Curitiba da UTFPR tem-se um histórico de iniciativas de programas que lidam com questão ambiental, a saber, o Programa de Pesquisa em Tecnologias Sustentáveis (TecSus), criado em 2002, numa iniciativa do Grupo de Pesquisa TEMA – Tecnologia e Meio Ambiente (PPGTE); o núcleo de meio ambiente que agrega pro-fessores do Departamento Acadêmico de Construção Civil (DACOC), assim como grupos semelhantes que podem ser encontrados nos Departamento Acadêmico de Quí-mica e Biologia (DAQBI), de Mecânica (DAMEC), de Economia e Gestão (DAEGE), além de programas em andamento como o PGRCC – Programa de Gerenciamento de Resíduos do Campus Curitiba.

Também se pode destacar o sucesso dos eventos TECSUS – Ciclo de Palestras e Oficinas em Tecnologias Sustentáveis, realizados em 2002 e 2008, como mais de 250 participantes em cada um19. Assim como o “Consórcio Sustentabilidade Brasil-Esta-dos Unidos CAPES/FIPSE”, ocorrido de 2004 a 2007, coordenado pelo professor Dr. Eloy F. Casagrande Jr., do DACOC. Um programa de intercâmbio que envolveu alu-nos do curso de Engenharia de Construção Civil com duas universidades americanas, (University of Texas, em Austin e Ball State University, em Indiana) permitindo que

19 Em 2009, se realizará o III TECSUS em parceria com a Embrapa Florestas

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14 estudantes tivessem bolsa de estudos para durante seis meses cursarem disciplinas e projetos extra-classes que envolviam a construção sustentável nos Estados Unidos. Hoje, alguns destes estudantes se tornaram professores na UTFPR e outro desenvol-vem mestrados no tema (CASAGRANDE et al, 2008).

Todos estes apresentam resultados positivos, porém vem acontecendo de forma isolada, sem que haja uma integração de ações e de departamentos. Isto dificulta tanto a pesquisa interdisciplinar, como a implantação de programas internos. Um dos pro-blemas detectados para a continuidade dos programas está na forma como são implan-tados os programas através de comissões temporárias de professores e técnicos admi-nistrativos, que após atingir seus objetivos voltam as suas atividades profissionais.

O mesmo se pode dizer dos resultados de pesquisas desenvolvidas na graduação (Trabalhos de Conclusão de Curso-TCCs e bolsas de Iniciação Científica) e na pós-graduação (especialização e mestrado), que contribuem para diretrizes de eficiência energética, economia de água, tratamento adequado de resíduos, etc, no campus Curi-tiba, que apenas ficam em forma de diagnóstico sem aplicação direta na instituição.

Um dos desafios da instituição será o compromisso que assumirá a partir de 2009, com a assinatura do Pacto 21 Universitário, que juntamente com várias univer-sidades paranaenses, estabelece uma parceria com a Secretaria do Estado do Meio Ambiente do Paraná (SEMA), para que se implantem ações contempladas na Agenda 21, tanto a nível interno, como externo.

Diante deste quadro, é proposto por professores que atuam na área ambiental do campus de Curitiba da UTFPR, a implantação do “Escritório Verde”. Este integraria todas as ações acima descritas sob um programa permanente – Tecnologia com Sus-tentabilidade - TECSUS, que responderia diretamente a diretoria do Campus Curitiba, tendo poderes institucionais para o desenvolvimento e a implantação da política am-biental da instituição.

O Campus Curitiba da UTFPR, hoje em expansão da sua infra-estrutura para o Bairro de Campo Cumprido – Campus Ecoville, poderia inovar o modelo de campus universitário no Paraná, implantando uma política de gestão coerente com os princí-pios da sustentabilidade (eco-eficiência), inclusive nas suas novas edificações (constru-ções sustentáveis). De imediato o “Escritório Verde” tem como proposta desenvolver os seguintes programas, a médio e longo prazo:

• CAZA - Carbono Zero na Academia - Visa estabelecer diretrizes para susten-tabilidade nas edificações já existentes e novas construções que vão deste a substituição de materiais para redução do impacto ambiental, passando pela eficiência energética, o uso racional da água e gestão de resíduos em reformas e obras internas.

• REZTO – Resíduo Zero: Tecnológico e Orgânico - Uma continuidade do PGRCC que avaliou os resíduos gerados pelos departamentos da UTFPR e agora deve implantar os procedimentos para sua coleta, armazenamento, re-uso, reciclagem e tra-tamento adequado.

• TRECO – Tratando Resíduos Eletrônicos e da Computação - Estudar solu-ções para reaproveitamento e tratamento apropriado de computadores e equipamen-tos periféricos defasados e sem uso que ocupam espaço na instituição (diretrizes do

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governo federal e leis estaduais já abordam a questão - Lei Estadual 15.851/2008). Possibilidade de trabalho com a comunidade/cooperativas em projeto de extensão uni-versitária.

COMPRA VERDE• – Implantar políticas de compras sustentáveis para a ins-tituição, incluindo nos editais requisitos ambientais específicos dependendo de cada material e equipamento.SELO VERDE UTFPR• – Desenvolver projeto que estabeleça diretrizes para “emissão de certidões de procedimentos ecologicamente corretos” para produ-tos, equipamentos, etc, testados e aprovados por profissionais da UTFPR.

5. O “ESCRITÓRIO VERDE” COMO UM ESTIMULADOR DE CAMPI SUSTENTÁVEIS

A principal diferença entre um edifício sustentável e um edifício convencional está na visão sistêmica inerente à própria sustentabilidade. Convencionalmente, há o modelo de projeto linear. Até este momento, a UTFPR tem desenvolvido projetos convencionais para seus campi, dentro do modelo linear. Seria proposta do “Escritório Verde” trabalhar junto ao Departamento de Projetos (DEPRO), da instituição para o desenvolvimento de edificações sustentáveis, dentro do Programa CAZA.

Neste caso, é preciso que os todos os profissionais envolvidos compreendam a edificação com um pensamento sistêmico, como projeto integrado, em que as etapas deixam de ser lineares (Figura 01) e os diversos profissionais interagem em todo o processo. No projeto integrado(Figura 02), os responsáveis pelos projetos complemen-tares devem ser consultados durante a criação, e não somente após a conclusão do projeto executivo, como habitualmente ocorre.

Figura 1 - Modelo de projeto linear

Como o projeto é o ponto de partida do ciclo de vida do edifício, presume-se que surjam dos arquitetos soluções mitigadoras de seus impactos; pois as definições dessa primeira fase implicarão nas conseqüências das fases seguintes. Quanto maior a intera-ção dos especialistas, melhor será o produto final. O “Escritório Verde” seria o regente de um conjunto de ações, envolvendo o conhecimento de cada especialista para criar um novo saber, coletivo e interdisciplinar – o projeto sustentável.

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Figura 2 - Visão Sistêmica: Projeto Integrado

O Campus Curitiba, espaço principal da Universidade Tecnológica Federal do Pa-raná (UTFPR), localizado no centro de Curitiba, cujas instalações ocupam toda a área física do terreno, já não consegue atender às necessidades de seus departamentos. As-sim, a instituição poderá ter alguns de seus departamentos e a própria reitoria transferi-da para o Campus Ecoville, em um novo terreno na região Oeste da cidade.

Localizada num setor estrutural da cidade, a cinco quilômetros do centro histórico, a área é dividida pela via expressa, que contém uma canaleta exclusiva para os ônibus do transporte público e duas vias laterais ao transporte privado. Em um dos terrenos, no lote 01, já existe um bloco de salas e laboratórios, desenvolvido ainda com métodos convencionais, e outro está em fase de implantação.

Concentramo-nos no lote 01(31.360,00 m²), pois o lote 02, (27.029,00 m²) está destinado à futura Reitoria e a área de pesquisa. A instituição chegou ao consenso de que serão transferidos para o novo Campus os Departamentos Acadêmicos da Constru-ção Civil e de Química e Biologia, com salas de aula e laboratórios específicos, cujas atividades geram grandes quantidades de resíduos.

Para este propósito, foi formada uma comissão de professores dos dois departa-mentos que elaboraram o modelo de infraestrutura que gostariam que os abrigasse no futuro, sendo a arquitetura sustentável, um dos critérios a serem adotados.

A topografia do local permite que seja criada facilmente uma estação de tratamento de resíduos químicos oriundos dos laboratórios e também tratamento dos efluentes sanitários. Essas estações de tratamento dos resíduos no próprio local contribuirão de maneira efetiva para tratar efluentes, promovendo a qualidade ambiental, como tam-bém serão recursos didáticos “vivos”, in-locco, para as atividades acadêmicas perti-nentes aos cursos que ali serão ministrados.

Outro aspecto relevante é a redução do consumo de água, o reuso e o aproveita-mento da água da chuva na irrigação do próprio campus. As tubulações seriam de polipropileno (sistema de termo-fusão). Foram previstos locais adequados para o lixo orgânico e reciclável, resíduos tóxicos, óleo de cozinha e resíduos da construção civil (laboratórios e canteiro de obras). Também está considerada a coleta seletiva e uma unidade de compostagem para os resíduos orgânicos, procedimentos fundamentais para aumentar a vida útil do aterro sanitário da cidade e manter a higiene e saúde do local e do meio ambiente.

A tipologia arquitetônica e os materiais utilizados seriam especificadas conforme os critérios de gestão de ciclo de vida, do processo de fabricação aos impactos ambien-tais por eles gerados, incluindo o consumo energético e as emissões de CO2 gerada pelo seu transporte.

Um dos desafios encontrados na implantação de um campus universitário sustentá-

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vel no sul do Brasil, relativo à arquitetura, é o fato de que a edificação deverá propiciar conforto térmico tanto para baixas quanto para altas temperaturas. De fato, a variação térmica diária atinge grandes amplitudes, o que levou ao desenvolvimento de estraté-gias projetuais sustentáveis, com técnicas passivas de conforto térmico e valorização da iluminação natural, que possibilitam a melhora da qualidade do ar interno e externo. Assim, seriam considerados: o aquecimento solar passivo, a vegetação e paisagismo, sempre com o objetivo da eficiência energética, como o uso de placas solares para aquecer a água.

6. CONSIDERAÇÕES FINAISAs justificativas para se implantar o “Escritório Verde”, do campus de Curitiba da

UTFPR está na necessidade da universidade se renovar e atender a novas demandas da sociedade. Não se trata somente de uma “moda ecológica”, mas sim do exemplo que as instituições de ensino devem dar como formadores de opinião que são.

Consideramos que os benefícios ao ambiente decorrentes de uma proposta susten-tável e a melhora da qualidade de vida dos usuários não devem ser precificados, pois seu valor ultrapassa o aspecto monetário. Ainda assim, estimamos que esse investi-mento “extra” pagar-se-á, uma vez que estratégias adotadas para reduzir o consumo de água, energia e outras práticas darão retorno do investimento em pouco tempo.

Entendemos que devemos romper paradigmas e também ultrapassar barreiras im-postas pelos sistemas de licitações e pregões impostos para a administração pública. É preciso ressaltar os benefícios econômicos que a administração sustentável traz com o tempo, na economia de recursos garantidos por este processo. Estes fatos são compro-vados por estudos e pesquisas desenvolvidas dentro da própria instituição.

Devemos saber defender melhor estas idéias diante daqueles que ditam regras ad-ministrativas já ultrapassadas para o Século 21, demonstrando que uma gestão ambien-tal coerente dentro de instituições públicas pode ser economicamente viável, onde o dinheiro dos contribuintes são gastos com inteligência.

Os programa propostos pelo “Escritório Verde”, assim como as diretrizes susten-táveis de projeto apresentadas para o Campus Ecoville de Curitiba, poderão servir de modelo para o desenvolvimento dos projetos dos outros 10 campi da UTFPR no interior do Paraná, promovendo a disseminação da gestão ambiental universitária e da construção sustentável no Brasil. A disseminação do conceito de sustentabilidade aplicado na instituição poderá contribuir, ainda, para a formação de uma consciência mais elevada, através de uma postura de como estar no mundo, pois pode evidenciar as bases da valorização da vida para as atuais e futuras gerações.

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