revista dos bancários 28 - mar. 2013

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 1 Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br DOS Bancários Revista Ano III - Nº 28 - Março de 2013 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco Mulher não é mercadoria Mulher não é mercadoria Denunciar os abusos da mídia, que associa as mulheres à venda de produtos das formas mais grosseiras, não é atentar contra a liberdade de imprensa, como os donos da comunicação no país tentam fazer crer. A Revista dos Bancários mostra passos importantes nesta luta. E mostra, também, como a arte pode ser instrumento para se contrapor aos padrões.

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Março de 2013

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Page 1: Revista dos Bancários 28 - mar. 2013

REVISTA DOS BANCÁRIOS 1

Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br

DOS BancáriosRevista

Ano III - Nº 28 - Março de 2013 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Mulher nãoé mercadoriaMulher nãoé mercadoria

Denunciar os abusos da mídia, que associa asmulheres à venda deprodutos das formas mais grosseiras, não é atentar contra a liberdade deimprensa, como os donos da comunicação no país tentam fazer crer. ARevista dos Bancários mostra passos importantes nesta luta. E mostra,também, como a arte pode ser instrumento para se contrapor aos padrões.

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2 REVISTA DOS BANCÁRIOS

Opinião Editorial

>>Assim como se consome cerveja, também a mulher vira produto de consumo. Felizmente, boa parte consegue rasgar os rótulos e construir sua própria identidade.

O machismonosso de cada dia

DOS BancáriosRevista

Redação: Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00Fone: 3316.4233 / 3316.4221Correio eletrônico: [email protected]ítio na rede: www.bancariospe.org.br

Presidenta: Jaqueline MelloSecretária de Comunicação: Anabele SilvaJornalista responsável: Fábio Jammal MakhoulConselho editorial: Anabele Silva, Geraldo Times, Jaqueline Mello e João RufinoRedação: Fabiana Coelho, Fábio Jammal Makhoul e Sulamita EsteliamProjeto visual e diagramação: Libório Melo e Bruno LombardiFoto da capa: Montagem sobre foto de ©Depositphotos/Dimitris KolyrisImpressão: NGE GráficaTiragem: 11.000 exemplares

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

ÍndiceA imagem da mulher na mídia

Mulheres mostram força na arte

Entrevista: Ana Veloso

Sistema financeiro em xeque

História de Pernambuco em debate

Dicas de Cultura

Bancário artista

Conheça Pernambuco

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Você já deve ter escutado alguém dizer que “esse negócio de machismo não existe mais”. Pode até ter levado, por um momento, a declaração à sério. Afinal, mulheres agora tra-balham, votam, estão até na presidência do país.

Talvez você tenha chegado a pensar que o fato de recebe-rem pouco mais que 70% do salário dos homens seja apenas um detalhe. Talvez seja um detalhe que somente 12% dos municípios do país seja chefiado por mulheres. Ou que mais

de 40% dos homicídios femininos no Brasil em 2012 tenha ocorrido na residência das vítimas. E que os cuidados com o lar e com a educação dos filhos continuem sendo tarefas de mulher.

De detalhe em detalhe, o retrato do machismo no Brasil vai se de-senhando e mostrando sua força. E, entre estes, há um detalhe que não se pode esquecer. Trata-se da forma com que se constroem e reforçam os estereótipos do feminino.

As revistas femininas, as propagandas, as novelas... nos fazem acreditar que é preciso ser magra, alta, linda e sexy. Mas é preciso, também, ser independente, bem resolvida e inteligente. E, ao mesmo tempo, uma mãe perfeita, carinhosa, dedicada ao lar. E enquanto algumas mulheres se torturam em dietas, ginásticas e cirurgias para buscar o corpo padrão, outras lutam para escapar do estigma de mercadorias.

Um estigma diariamente reforçado pela publicidade e pela mídia de nosso país, que associam, sem restrições, o corpo da mulher à venda de produtos. E assim como se consome a cerveja, também a mulher vira produto de consumo.

Felizmente, boa parte das mulheres consegue rasgar os rótulos e construir sua própria identidade. Melhor ainda: algumas põem a boca no trombone e, a despeito dos empre-sários da mídia tentarem rotular seus atos como “atentado à liberdade de imprensa”, conseguem passos importantes na briga contra os donos da comunicação. Nesta edição, você vai conhecer alguns exemplos desta luta. Vai conhecer, também, algumas mulheres que usam a arte para se libertar e denunciar estas amarras. E vai saber o que pensa a representante de nosso estado no conselho curador da Empresa Brasileira de Comunicações – uma voz feminina a interferir na TV pública.

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Capa Mulher na mídia

Você, homem ou mulher, acha que a mídia trata bem as mu-lheres? O que passa na TV, é estampado nas páginas de

jornais e revistas, e abunda até nas redes sociais representa a média e a realidade da mulher brasileira? Ou reproduzem estereótipos e estimulam preconceitos mal-disfarçados neste nosso Brasil? Na publicidade, por exemplo, a imagem feminina, magra ou voluptuosa, linda e sexy, quase sempre, é usada para vender de um tudo: de cerveja, lingerie, carro, sabonetes, pasta de dente, bolachas, sabão em pó, preservativos, cartão de crédito a tábua de passar roupa e poma-dinha japonesa.

Mas, e daí? É assim que tem que ser? A tal da liberdade de expressão, tão propalada, comporta tudo no mesmo balaio? Como é que funciona em outros cantos do Planeta? É essa reflexão que traz o livro A Imagem da Mulher na Mídia – Controle Social Comparado, Publisher, que a psicóloga e pesquisado-ra Rachel Moreno, do Observatório da Mulher e da Rede Mulher e Mídia, acaba de lançar, em São Paulo, no Sindicato dos Bancários. Naturalmente, sem co-bertura midiática, que não a de parcela dos veículos alternativos, sindicais e da blogosfera progressista.

O calendário de lançamento nas di-versas capitais inclui o Nordeste, em iniciativas do movimento de mulheres e de defesa da comunicação como direito

Controle social não é censuraNão só a imagem da mulher é distorcida pela mídia.O preconceito e a invisibilidade atingem todo o movimento social

CAMPAnHA DE OnG frAnCESA COntrA O uSO DA iMAGEM DA MuLHEr COMO MErCADOriA

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humano. Por exemplo, na última semana do mês, provavelmente dia 26, Rachel estará no Recife, na Universidade Cató-lica, presença articulada pela professora Ana Veloso (entrevista nas págs. 08, 09 e 10) com as secretarias de mulheres dos governo municipal e estadual – no mote da celebração do Mês da Mulher.

Rachel Moreno é feminista e ativista pela regulação da mídia no país, e deci-diu sair em campo para buscar exemplos de legislação e políticas públicas em diferentes países da América Latina, Europa e América do Norte. Um espécie de “cala-boca” nos barões da comuni-cação de massa no país – que se acham donos da mídia, quando são portadores de concessões públicas, portanto sob os ditames constitucionais. Os empre-sários do setor acusam o movimento de mulheres de “pedir censura”, de tentar “cercear o direito humano à liberdade de expressão”, quando vigia, aponta e re-corre contra os abusos da programação e das propagandas. “Quis mostrar que o controle social da mídia não é invenção de feministas. Eles se apropriaram das palavras de ordem do movimento social para defender a liberdade de expressão comercial, e nos deixar como vilões na história”, diz a autora.

O livro analisa a legislação da Argen-

tina, Chile, México, Nicarágua, Peru, Canadá, Estados Unidos, e também da Espanha, França, Inglaterra, Itália e Suécia, a maior do estudo. Raquel enumera os argumentos para justificar a regulação, acolá e alhures. 1) para co-meçar, a Constituição dos países citados reza que homens e mulheres são iguais, e há se viabilizar meios de se chegar a isso; 2) todos reconhecem a importância e o impacto da mídia na formação da cultura; 3) as mulheres são portadoras de direitos humanos, e estes têm que ser respeitados, já que o país implementa política de direitos humanos; 4) o país é signatário de acordos internacionais que

abordam a necessidade da mídía como auxiliar para se chegar à plenitude da igualdade de direitos.

“Chama a atenção que o Brasil tem Constituição similar, e que somos signatários dos mesmos acordos inter-nacionais”, observa Rachel Moreno. Entretanto, há caminhos diferentes para chegar à regulação – controle social, responsabilidade empresarial, autocon-trole. Os três conceitos, de acordo com ela, “muitíssimo mais elaborados do que aqui”. A intenção da autora é subsidiar o movimento para ações concretas em termos de reivindicações por políticas públicas. No mínimo, contemporiza, “podemos avançar pelas brechas, abrin-do um caminho que pode ser seguido ou ampliado pelos demais segmentos envolvidos nesta luta”.

O controle social da imagem da mulher na mídia, bem como da publicidade diri-gida às crianças, é reivindicação impor-tante do movimento, não só de mulheres, como dos movimentos sociais de modo geral. Mas as feministas têm sido prota-gonistas nesta luta, desde os anos 80-90. Não obstante , como lembra Raquel, em reportagem de Terezinha Vicente, da Ciranda.Net, “o inimigo é poderoso”, ainda que reduzido a uma dezena de famílias que controla a mídia no Brasil. E apesar de a Constituição de 1988, a

DEVASSA fOiOBriGADA A tirAr

DO Ar PrOPAGAnDA rACiStA E SExiStA

Capa Mulher na mídia

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Constituição-cidadã, possuir todos os pontos necessários para democratizar os meios de comunicação no país, tais arti-gos esperam regulamentação há 25 anos.

Em princípio, as mulheres atuavam pontualmente contra os excessos da publicidade, na música, nos programas de TV, que difundiam estereótipos, banalizavam ou faziam a apologia da violência. Com mais ou menos sucesso. Depois, organizadas, primeiro na AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras, e em seguida na Rede Mulher e Mídia – que reúne várias organizações femi-nistas – levaram a questão da imagem da mulher na mídia a outros movimen-tos, ao Ministério Público, instâncias governamentais, conferências, fóruns pela democracia na comunicação, até a Confecom, em 2009.

Iniciativas como as da ONG TVER, da Campanha pela Ética na TV, colocaram o Ministério Público Federal na jogada, acionado pelas organizações feministas, que encaminhavam as queixas mais frequentes dos telespectadores, ainda no final dos 90, início dos anos 2000.

CASOS ABSurDOSnA PuBLiCiDADE

As vitórias são poucas, mas significa-tivas. O caso do programa Tarde Quente,

apresentado por João Kleber, na Rede TV é emblemático. “Conseguimos um mês de direito de resposta no programa, dando voz aos segmentos por ele ridicu-larizados: mulheres, negros, homossexu-ais e outros. Com uma estrutura mínima que eles tiveram que bancar, pegamos o programa com um ponto de audiência e devolvemo-lo, ao fim, com o dobro. Provamos que o telespectador quer, sim, coisas inteligentes, que o façam pensar”, afirma Rachel. O programa saiu do ar em 2005, por decisão da Justiça.

Não tiveram o mesmo sucesso em relação ao BBB, na representação feita contra a Globo, pela veiculação via satélite de “suposto estupro” na versão 2012 do reality show. Mas há outros sucessos: um programa de auditório colocava no palco uma criança que havia sido trocada na maternidade, e estimulava o público a “decidir” com quem deveria ficar. Foi penalizado com um TAC - Termo de Ajuste de Conduta. Sabrina Sato, hoje apresentadora, no iní-cio da carreira, era submetida a conviver com aranhas, escorpiões e outros bichos peçonhentos dentro de um caixão. O programa teve que por fim à tortura, e a emissora obrigada a migrá-lo na grade, por inadequação ao horário da tarde.

Na publicidade, igualmente, há êxitos

a contabilizar: a Kaiser, por exem-plo, com a campanha estampada em apoios para copos “Mulher e Cerveja – Especialidade da Casa”, teve que pagar cinco seminários sobre Mulher e Propaganda pelo país. O Instituto Patrícia Galvão (SP) moveu a causa. A Cervejaria Devassa, por seu lado, foi obrigada a bancar dois eventos, um em São Paulo, outro numa ca-pital do Nordeste, sobre imagem da mulher na publicidade. Foi o preço pela campanha da Devassa Negra, em 2010, que exibia desenho de uma mulher negra, em trajes insinuantes e, acima da imagem, a frase: “É pelo corpo que se reconhece a verdadeira

Negra”. O Conar, acionado pela Sep-pir – Secretaria de Políticas pela Igualda-de Racial, reconheceu o caráter “racista e sexista” da propaganda, e recomendou sua retirada do ar.

Para ficar apenas na cerveja – produto que, ao que tudo indica, a mulher mais ajuda a vender – o Observatório da Mu-lher, organização fundada por Rachel Moreno entrou, em 2006, com processo contra a Skol, por conta da campanha “A Musa do Verão” – uma loura linda, fabricada em série e entregue em domi-cílio aos consumidores, como brinde. A causa ainda está em andamento

Na verdade, não se trata, apenas, do estereótipo e da exploração da mulher--objeto. Na opinião de Rachel Moreno, o jeito como a mídia trata a mulher exem-plifica como ela trata os demais segmen-tos que lhe interessa submeter ou negar visibilidade .“As reivindicações das mulheres e dos movimentos organizados não aparece; a pluralidade, em termos de pensamento, não aparece. Uma categoria de trabalhadores em greve, quando apa-rece, é pelos problemas que provoca para outros segmentos da população, quase nunca pelo que reivindicam”, pontua. E assim é com o movimento social, os trabalhadores organizados, os negros, os homossexuais.

CAMPAnHA DA SkOL “MuSA DO VErãO”, COM CAuSA nA JuStiçA: “SE O CArA quE inVEntOu O BEBEDOurO BEBESSE SkOL, fAriA ASSiM”.

Capa Mulher na mídia

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Sandra, Margarida, Valdimarta, Suzana, Giselle... em cada uma destas mulheres, a arte traçou caminhos. Para cada

uma delas, abriu novas veredas. Todas presentes dia 13, na Noite Cultural pro-movida pelo Sindicato em homenagem à mulher. Umas descobriram o artesa-nato e a leitura e o espalham mundo afora. Outras fazem girar os poemas. Ou mostram a força feminina na batida das alfaias, da percussão.

Margarida e Valdimarta são duas guerreiras da comunidade do Coque. Valdimarta tem 21 anos, trabalha como manicure e se vira como pode para aju-dar o marido a criar as duas filhas pe-quenas. Margarida já tem netos e vende munguzá nas ruas do bairro. Quando a Biblioteca Popular do Coque anunciou a abertura de uma oficina de artesanato,

A arte comoprenúncio do vôoMulheres que usam a cultura como reafirmação de suas identidades

o que elas viram foi a possibilidade de um rendimento extra. Não sabiam que, junto com o artesanato, a leitura e poesia se instalariam em suas vidas.

Mas Sandra Barros, a monitora, sabia. Além de artesã, ela já era mediadora de leitura voluntária na Biblioteca. “Percebíamos que as crianças frequentavam o lugar, pegavam livros e até aprendiam a ler na Biblioteca. Mas até mesmo estes avanços esbarravam na ausência da família do mundo da leitura”, lembra a monitora.

O grupo de mulheres foi batizado como Fuxiqueiras do Coque, já que tra-balhavam bastante a técnica do fuxico. Hoje, além de criar peças artesanais, elas lêem, pegam livros emprestados, selecionam poemas para os cartões que acompanharão seus trabalhos e repetem a técnica do poema ao pé-do-ouvido, aprendida com a poeta Silvana Menezes, em passagem pela Biblioteca. “Eu era uma criança muito traquina. Nunca gostei de ir pra escola, muito menos de ler. Não lia nem queria saber de livro. Nunca pensei que um dia eu ia gostar de ler poema”, conta Margarida, que é fã do poeta Ascenso Ferreira.

O grupo Fuxiqueiras do Coque tem cerca de vinte mulheres. Parte delas se apresenta no Sindicato dia 13. Além de expor seus trabalhos, para soprar poemas nos ouvidos de quem estiver disposto a escutar.

Antes delas, uma outra voz declama poesias na Noite Cultural que acontece no Sindicato. Suzana Moraes é poeta cordelista, declamadora e bancária. Mulheres são, quase sempre, protagonistas de seus cordéis. Em meio à roda de conversa

Cultura Mulher

COnxitAS: A fOrçA PErCuSSiVA DAS nuLHErES

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sobre “A presença da mulher na cul-tura”, estas mulheres ganham vida pela voz de Suzana. “Recitar é, para mim, tão prazeroso quanto escrever. E eu digo a você: de umas dez pessoas que eu conheço e que recitam bem, metade são mulheres. As mulheres se emocionam mais, dão alma à poesia”, afirma Suzana.

Não por acaso, ela integrou o grupo de declamadoras Vozes Femininas, for-mado só por mulheres. E, atualmente, faz parte do grupo Bemditas, também só com mulheres. Integra, ainda, o gru-po Cordelândia, que leva música, his-tórias e poesia para a meninada. Mais um grupo exclusivamente feminino.

Se as mulheres são presença cons-tante na trajetória de Suzana como declamadora, nos escritos não é muito diferente. Entre os quase 60 títulos publicados, Suzana tem uma versão de Maria Bonita sobre o cangaço; um po-ema sobre a presença feminina na vida de Luiz Gonzaga; um cordel sobre a dor

de uma mãe que perde o filho: Maria, a mãe de Jesus. Tem também uma peleja entre as deusas gregas Atena e Afrodite, a história de uma nordestina que viaja ao Estados Unidos no dia 11 de setembro, um texto sobre o Dia Internacional da Mulher, entre vários outros protagonizados por mulheres.

Junto com o grupo Vozes Femini-nas, Suzana fez recitais na Biblioteca Popular do Coque. E ganhou, das “Fuxiqueiras”, caderninhos especiais – feitos com retalhos e fuxicos. Este mesmo projeto que as levou ao Coque, também as fez girar por outras comu-nidades, creches, escolas, associações. “Na Penitenciária do Bom Pastor, descobrimos o quanto as mulheres escrevem para driblar a solidão. Há pérolas literárias no presídio: cartas, contos, poemas... Foi inesquecível”, conta a poeta.

Se as Fuxiqueiras e Suzana trazem a poesia e o artesanato para os bancários na noite do dia13, o grupo Conxitas

mostra a força das mulheres no batu-que, na música, na dança. Criado há mais de sete anos, o grupo de mulheres cresceu. O que era apenas dança e per-cussão, ganhou melodia, cavaquinho, guitarra, voz, violão, arranjos. “Nos grupos mistos, as mulheres geralmente só participavam como corpo de baile ou em instrumentos de efeito. Mostramos que a gente tem força pra carregar uma alfaia e que podemos tocar qualquer instrumento”, afirma Giselle Feitosa, uma das coordenadoras do grupo.

Para ela, o Conxitas e outros grupos semelhantes ajudaram a impulsionar as mulheres a abrir espaço no mundo da percussão. Embora, nos grupos mistos, o batuque ainda seja predominante-mente masculino, Giselle acredita que aumentou o número de batuqueiras. Para ela, é preciso força maior, não para carregar o instrumento – que ela classifica como “gratificante”, mas para garantir recursos para botar o bloco na rua. Sem incentivo público nem privado, todo dinheiro é arreca-dado com apresentações, oficinas de percussão, venda de rifas, entre outras estratégias.

NOITE CULTURAL EM HOMENAGEM ÀS MULHERESOnde: Sindicato dos Bancários de Pernambucoquando: 13 de março, a partir das 19 horas

SErViçO:

Cultura Mulher

SAnDrA BArrOS E AS fuxiquEirAS DO COquE: ArtESAnAtO COMO POntE PArA LEiturA

SuzAnA MOrAES: VOz E ESCritA EM tOnS LiLáS

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Os princípios da radiodifusão pública no país são esta-belecidos pela Lei 11.652, de 07 de abril de 2008,

segundo governo Lula. A mesma lei autorizou o governo a criar a EBC – Empresa Brasileira de Comunicação, dentro do que preconiza o artigo 223 da Constituição Federal. Numa definição didática, cabe ao Sistema Público de Comunicação “levar educação, cultura, informação para toda a sociedade brasi-leira, a partir da não-discriminação re-ligiosa, político-partidária, filosófica, étnica, de gênero ou de opção sexual”.

Nesse mote, “a EBC deve prezar por sua autonomia frente ao gover-no e ao mercado, além de garantir a participação da sociedade civil na sua gestão”. É o que está inscrito em seus objetivos. As emissoras de rádio e TV e o portal de notícias regidos pela empresa – Rádio Nacional, TV Brasil e Agência Brasil – têm o papel de fomentar a cidadania e a democracia, garantir o direito à informação, à livre expressão do pensamento, à criação e à comunicação, como direitos humanos.

Para tanto, mantém um Conselho

Entrevista Ana Veloso

TV pública é cidadaniaRepresentante dasociedade civil e domovimento feminista no Conselho Curador da EBC, Ana Veloso fala sobre opapel do sistema público na comunicação comodireito humano

Curador e uma Ouvidoria, guardiães de tais direitos e canais de interlocução com a sociedade civil. Pernambuco tem presença no Conselho Curador: a professora de Comunicação da Unicap, doutora pela UFPE, Ana Veloso. Indicada pelo movimento social de mulheres, é a única que representa o movimento feminista nacional, dentre os 15 representantes da sociedade civil com assento no Conselho, quatro dos quais mulheres. “Um dos pilares para o exercício da democracia e da cidadania é a participação nas decisões. E as mulheres têm que se apropriar disso”, observa Ana.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Como é composto o Conselho Curador da EBC?

ANA VELOSO – O Conselho tem 22 nomes, quatro indicados pelo governo, ministros e/ou ministras, e 15 da sociedade civil. Somos quatro mulheres repre-sentantes da sociedade civil, e eu sou a única do movimento feminista.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Recentemente, foram abertas duas vagas, e o movimento social pela comunicação como direito humano, incluindo o movimento de mulheres, indicou alguns nomes. Quais os critérios de indi-cação e em que pé está o processo de escolha?

ANA VELOSO – O Conselho examinou, cuidadosamente, todas as indicações das entidades dos movimentos sociais, originadas de consultas públicas, e fez uma lista de 10 nomes, sete dos quais são de mulheres. Só falta a presidenta Dilma escolher. Antes, a escolha se dava a partir de uma lista tríplice. Desta

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Entrevista Ana Veloso

vez, estabelecemos alguns critérios prioritários para dar mais plurali-dade: distribuição regional, raça e etnia, gênero. Infelizmente, não conseguimos preencher o critério da regionalidade, pois, mesmo prorrogando por 15 dias, não tive-mos indicações do Norte.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Há possibilidade de que as duas vagas sejam ocupadas por mulheres?

ANA VELOSO – Eu, particular-mente, defendo isso. O momento é de escolher uma mulher. Apesar de que todos os nomes da listas são de pessoas habilitadas, com história no movimento pela comunicação como direito humano. Ainda assim, continuaríamos minoria, embora com maior equilíbrio. Mas a escolha é da Dilma.

REVISTA DOS BANCÁRIOS - Por que as mulheres fariam diferen-ça para melhor?

ANA VELOSO – Para pautar as questões de gênero. É importante o olhar feminino na defesa da equidade e da diversidade.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Como é o funcionamento do Con-selho Curador? Ele influencia, por exemplo, na definição de conteúdo da programação? De que forma?

ANA VELOSO – O Conselho atua através de várias câmaras. Eu, por exemplo, estou na Câmara de Cidada-nia e Direitos Humanos. O Conselho ouve a sociedade, através de audiências públicas em diferentes regiões, e as su-gestões nos chegam, também, através da Ouvidoria da EBC. Sugere temas, abordagem que atenda a diversidade regional, étnica e de gênero - sobre a mulher, os negros, homoafetivos, pro-gramas que contemplem a pluralidade religiosa e as diferentes manifestações

culturais...

REVISTA DOS BANCÁRIOS – E essa relação se dá sem conflitos?

ANA VELOSO - Quase sempre. Temos uma coordenação afinada, e o Executivo da EBC, que é um jor-nalista competente e comprometido com a causa, tem contribuído muito. Conseguimos, por exemplo, incluir a abordagem de gênero no manual que direciona a produção. Na cobertura das últimas eleições, houve esse viés. Tenho usado meu mandato, que é de quatro anos (vai até 2014), para pautar, também, a acessibilidade; a TV Brasil aumentou a quantidade de horas da pro-gramação com legenda oculta, a trans-missão em libras. Eu, particularmente, cobro muito isso. É um absurdo que as pessoas surdas não possam ter acesso à programação de uma TV pública. Enfim, público e Conselho têm feito uma dobradinha muito interessante.

REVISTA DOS BANCÁRIOS - Em outras palavras, o papel do Conselho é fazer a ponte entre a sociedade civil e a emissora pública, que é muito

diferente de emissora de governo. ANA VELOSO – Exatamente: os

governos passam, o público fica. O Conselho, inclusive, tem feito debates com professores, universidades e estu-diosos da comunicação para subsidiar as demandas. Até porque, o conceito de emissora pública no Brasil é relativa-mente recente, ao contrário de países como a França e a Inglaterra, onde a comunicação começou pública. A Universidade do Ceará, por exemplo, realiza estudos sobre a programação de rádio da EBC. Trata-se de estudo de recepção das rádios, quer dizer: o que as pessoas fazem com o que recebem; como elas se apropriam do conteúdo, e como a informação veiculada serve ao exercício da cidadania. É pesquisa qualitativa, não só quantitativa. Claro que audiência é importante, mas o fundamental é saber de que forma o conteúdo influi na qualidade de vida do cidadão e da cidadã. E tem as au-diências públicas itinerantes, onde o movimento social, a sociedade civil pode se manifestar, sugerir, contribuir. Fizemos no Recife, em julho do ano passado; em Marabá/PA, em setembro

COnfErênCiA nACiOnAL DE COMuniCAçãO, EM 2009, ALiMEntOu DEBAtE SOBrE rEGuLAçãO DA MÍDiA

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Entrevista Ana Veloso

e em Porto Alegre/RS, em novembro.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – A audiência pública no Recife já colheu frutos, não é? A Empresa Pernambu-cana de Comunicação saiu do papel...

ANA VELOSO – Pois é. Fizemos um lobby para fortalecer a TV Univer-sitária e a TV PE, e isso ajudou a coisa acontecer. A TVU está se reestruturan-do, a TV PE já era decreto, mas a EPC é uma guinada muito importante.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Você considera que a sociedade, o público de modo geral, tem consciên-cia da importância da comunicação pública para a evolução da cidadania e da regulação da mídia para a de-mocracia?

ANA VELOSO – Estou otimista. Vivemos um momento em que a comu-nicação pública está se fortalecendo, apesar de que a cultura da TV privada é muito forte. É preciso dar autonomia financeira para o sistema público, como existe em outros países. E é preciso uma política de Estado, inclusive para

funcionários de carreira, concursados. A EBC tem muitos programas bons e jornalistas muito competentes, premia-dos, vários deles, na área de direitos humanos. O processo é lento, mas a sociedade brasileira tem evoluído nessa consciência, e o Estado também.

Avançamos na consciência da neces-sidade da democracia na comunicação, da liberdade de expressão, de uma regulação que assegure o cumprimen-to dos princípios constitucionais da pluraridade e diversidade regional, cultural, religiosa, de raça/etnia, de gênero. Alguns estados já criaram seus conselhos de Comunicação ...

REVISTA DOS BANCÁRIOS - Mas a legislação brasileira do setor é capenga e desatualizada. Outros países da América Latina estão mais avançados na regulação...

ANA VELOSO – De fato, o governo é muito tímido. Precisa ouvir a socie-dade. E a sociedade tem que chegar mais perto, se unir para fortalecer e cobrar. Como diz Franco de La Rua, passou da hora. Mas, repito, sou oti-

mista. A velocidade da comunicação via redes sociais, a TV pública, as universidades... há núcleos de estudos e observatórios de mídia por todo lado. A Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) alimentou essa chama, a discussão sobre os conselhos de comunicação nos estados. O próprio FNDC – Fórum Nacional de Defesa da Comunicação, que está com campanha na rua Para Expressar a Liberdade. Há o clima de debate, está na pauta dos movimentos sociais, dos sindicatos, do movimento de mulheres. Existe um olhar mais crítico sobre a mídia e seu papel, inegavelmente. O problema, a meu ver, não é só a timidez do governo, são os conglomerados de mídia e os grupos religiosos, que barram qualquer mudança no Congresso.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Então, o buraco é mais embaixo...

ANA VELOSO - Um eixo impor-tante da democratização é o fim das concessões de rádio e TV para políticos e religiosos. O movimento de mulheres defende isso.

CAMPAnHA DO fóruM nACiOnAL DE DEfESA DA COMuniCAçãO

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juros caíram um pouco. Por outro lado, o ganho com tarifas e prestação de serviços aumentou. No Banco do Brasil, por exemplo, tais receitas cresceram 15,5% no ano, atingindo R$ 21,1 bilhões.

Para o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, repensar o sistema financeiro é fundamental para a economia do país. Ele lembra que a participação do crédito na economia do país é baixa se comparada à de outros países.

Além disso, parte considerável deste crédito é utilizada em atividades especulativas. Junte-se a isso, o chamado spread bancário (diferença entre a taxa de juro cobrada de quem faz um empréstimo e a que é paga aos depositantes pelos bancos) que, no Brasil, é o maior do mundo. “Tudo isso é reforçado pela estrutura oligopolizada do mercado bancário brasileiro. Os seis maiores bancos possuem 81% do total de ativos do sistema e concentram 83% das operações de crédito”, diz o dirigente.

O clamor dos bancários pela regulamentação do sistema financeiro dialoga com as demandas dos trabalhadores, levadas à Brasília no dia 06. Contra a especulação e os abusos dos bancos, a Marcha cobra a retomada dos investimentos públicos, o incentivo à produção e garantia dos direitos, salários e empregos de qualidade. Confira alguns pontos da pauta unificada:

Está no artigo 192 da Constituição Federal Brasileira: “O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desen-

volvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclu-sive, sobre a participação do capital es-trangeiro nas instituições que o integram”.

Há anos, os bancários cobram esta regu-lação, que nunca saiu do papel. “Mesmo após a crise mundial, permaneceu intacta a liberdade dos bancos de se autorregula-rem, sem regras nem responsabilidades”, questiona a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello.

Mas, no início de fevereiro, uma conversa de representantes dos trabalha-dores com a presidenta Dilma acendeu uma centelha de esperança. A Marcha Nacional dos Trabalhadores, dia 06, é mais um momento propício para fazer da centelha, fogo.

Durante a reunião com os represen-tantes da CUT – Central Única dos Trabalhadores e Contraf – Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, Dilma se mostrou favorável à realização da Conferência Nacional sobre o Sistema Financeiro.

O que está em xeque é a tese neoliberal da autorregulação dos mercados. Recen-temente, o governo federal apostou na diminuição dos juros por parte dos bancos públicos para forçar os privados a segui--los na redução. A tática deu certo e os

Mais perto daregulamentaçãoPresidenta Dilma dá sinal verde para Conferência Nacional sobre Sistema Financeiro

• Redução da jornada para 40 horas semanais• Fim do fator previdenciário evalorização das aposentadorias• 10% do PIB para a educação

• Negociação coletiva no setor público• Reforma agrária• 10% do orçamento da União paraa saúde• Combate à demissão imotivada

Bancos Cidadania

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Miguel de Cervantes, escritor espanhol, escreveu que “a História é émula do tempo, repositório dos fatos, teste-

munha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro”. Já para o francês, também escritor, Jean Cocteau,“A História é a verdade que se deforma”. Seja qual for a visão filosófica da História, fato é que conhecê-la, omiti-la ou deformá-la interfere

Pernambuco de muitas histórias

no nível da consciência cidadã, com inegáveis repercussões políticas, e na vida das pessoas. Há de se concordar que o exercício da cidadania requer conhecimento - até para contrapô-

-los, fatos e versão, no presente. Por isso, o Sindicato dos Bancários de Pernambuco escolheu o 06 de Março, Data Magna de Pernambuco, para iniciar uma série de palestras e debates em torno de acontecimentos da rica história política do estado. O foco se dá em episódios em que o povo é protagonista.

O objetivo, de acordo com Jaqueline Melo, presidenta do Sindicato, “é jogar luz sobre a memória popular, trazendo ao debate episódios que, na verdade, são patrimônio do povo pernambucano; e com isso contribuir para enriquecer a cultura, sobretudo, de trabalhadores e estudantes, e estimular sua participação na política nos tempos atuais”.

tELA DE tErESA COStA rEGO

Memória Pernambuco

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A Literatura é o guia nesta jornada cívica, que acontece ao longo do ano, toda primeira quarta-feira de cada mês, no Auditório do Sindicato dos Bancários, sempre às 19:00 horas, com entrada franca. O projeto A His-tória Política de Pernambuco em Debate pelos Trabalhadores é uma parceria com a CUT PE e com o recém-criado grupo Typhis, que reúne escritores e jornalistas com traba-lhos publicados sobre fatos e personagens pernambucanos - e de quem partiu a ideia, abraçada pelo Sindicato e pela CUT. A agen-da para os próximos dois meses está definida.

Na estreia, o jornalista e escritor, Paulo Santos de Oliveira fala sobre a Revolução de 1817, que ensejou a criação da Data Magna e é, segundo o historiador Oliveira Lima, “a única que merece o nome de Revolução no Brasil”. Deu-se a partir do Recife, se propa-

gou para além das fronteiras do estado, das Alagoas ao Ceará, criou a bandeira-símbolo de Pernambuco, tal e qual é hoje conhecida; e deu ao país governo, constituição e exército próprios, e até embaixadores no exterior, cinco anos antes do 7 de setembro. Durou pouco mais de 70 dias, pois foi duramente reprimida pelo domínio português.

Apesar da importância para Pernambuco e para a autoestima do país, ao longo do tempo, este e outros fatos históricos, marcantemente libertários e democráticos, ficaram restritos aos meios acadêmicos, apagados da memó-ria popular. Assim foi com a República dos Palmares, no século XVII, movimento de resistência popular ímpar no Brasil. O mesmo se deu com a Guerra dos Mascates, no século XVIII, o primeiro ensaio de independência do colonialismo europeu empreendido nas Américas.

Há mais, enumera Paulo Santos: na pri-meira metade do século XIX, eclodiram quatro rebeliões sucessivas, em nome da independência, da democracia e, pasmem, do socialismo; a segunda metade, assistiu a grandes movimentos abolicionistas e republi-canos; já no século XX, as Ligas Camponesas (1950-60) colocaram a questão agrária na agenda da política nacional, com repercussão mundo afora.

Tudo isso está relegado aos compêndios, quando está: “Há um escritor francês, cha-mado Tocqueville, que afirmava: quando o passado não ilumina o futuro, o espírito vagueia nas trevas. Em Pernambuco, é como se toda a população tivesse nascido ontem. Temos orgulho de nossa terra, mas poucos sabem dizer o porquê”, observa o escritor.

No que depender dele, de outros escritores--jornalistas que tomam parte nesta empreita-da, do Sindicato dos Bancários e da CUT PE, o obscurantismo não se perpetuará. O roman-ce histórico A Noiva da Revolução, escrito por Paulo Santos, é prova disso. Resgata, de maneira singular, o episódio histórico de 1817. Editado pela Comunigraf/2008, o livro mistura jornalismo, história e ficção, está em sua quarta edição no Brasil e foi publicado, também, em Portugal e em Cuba.

AGEnDA DO PrOJEtOEm abril, quem chega é Urariano Mota,

jornalista e escritor – e também bancário aposentado do Banco do Brasil. Seu tema é o regime militar, de triste memória, e os desmandos da ditadura instalada no país durante 21 anos, a partir de 1964.

Urariano é autor de dois livros sobre o período, ambos romances: Os Corações Futuristas, Bargaço/1999 e Soledad no Re-cife, Boitempo/2009. E é partir da segunda história que se dará a conversa com o escritor na primeira quarta do próximo mês

Soledad, uma ativista paraguaia, estava no grupo de jovens militantes de esquerda, da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), sequestrado e assassinado, a partir da delação do próprio companheiro da personagem--título, que dele estava grávida. Veio a se descobrir depois, tratava-se do Cabo Ansel-mo, que atuava como agente duplo.

Em 02 de maio, será a vez de discutir a pre-sença norte-americana no Nordeste dos anos 60, assunto da palestra do jornalista e escritor, Vandeck Santiago, autor de premiado caderno especial a respeito, pelo Diário de Pernam-buco. Vandeck tem publicados, ainda, dois livros sobre o líder das Ligas Camponesas de Pernambuco: Francisco Julião – Vida, Paixão e Morte de Um Agitador, Assembleia Legis-lativa/2001 e Francisco Julião, as Ligas e o Golpe Militar de 64, Comunigraf/2004.

Memória Pernambuco

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Cultura Dicas

Pontes do recifePara lembrar a passagem do 476º aniversário

da cidade do Recife, a dica é a exposição Imagens do Recife - Pontes. São 30 fotografias, datadas do início do século 20 até os anos 1980. A mostra, que fica em cartaz até 9 de março, é produto da pesquisa do fotógrafo Josivan Rodrigues no acer-vo do Museu da Cidade.

recife década de 40Um passeio pela memória pode ser feito, tam-

bém, com a exposição Recife, década de 40, em car-taz no Museu da Cidade do Recife, Forte das Cinco Pontas. São 60 fotografias, além de documentos, plantas, objetos e vídeos.Um dos vídeos, por exem-plo, mostra depoimentos de Tereza Costa Rêgo, Fer-nando Spencer, Ariano Suassuna e outros artistas.

Recife, 476 anosr E C O M E n D A D O S

EM CENA

Neste mês de março, que tal levar as crianças para o teatro? O Marco Camarotti, que fica no SESC Santo Amaro, está com uma mostra especial pra garotada. A cada dia, tem um espetáculo diferente, de quinta a domingo. O homenageado é o grupo de teatro de animação Mão Molenga, que mostra cinco peças de seu repertório: Babau, O Fio Mágico, Era uma vez... (foto), Algodão Doce e A cartola Encantada. Além deles, tem outros seis espetáculos. Confira a programação em: http://www.sesc-pe.com.br.

teatro pra garotada

Música instrumental no Virtuosi sem fronteirasPara quem gosta de boa música, a dica é o II Virtuosi sem

fronteiras, que acontece de 14 a 17 de março, no Teatro Santa Isabel. O destaque da programação é o saxofonista Leo Gan-delman (foto) que durante 15 anos consecutivos foi escolhido “o Melhor Instrumentista Brasileiro” pelo concurso Diretas na Música, do Jornal do Brasil. Ele encerra a programação, junto com o pianista Edurado Farias, no dia 17. O Festival traz ainda o pianista e multiinstrumentista André Mehmari, na abertura; o violoncelista Dimos Goudaroulis e o percussio-nista Eduardo Contrera, no dia 15; e a harpista Cristina Bra-ga, no dia 16. As apresentações começam às 20 horas. Mais informações em: www.teatrosantaisabel.com.br/.

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Cultura Bancário Artista

Elaine Cavalcanti descobriu ainda criança que poderia vir a ser cantora. A mãe a ensinava a cantar hinos e a

estimulou a ingressar no coral infantil da igreja que frequentava. Não parou mais. O uso do talento a serviço da religiosidade, portanto, sempre marcou sua relação com a música.

Mas a “adoração” é embasada em conhecimento, que lapida a vocação. Estudou técnica vocal e teoria musical, com professora particular e também no Conservatório Pernambucano de Música. Formada em Administração pela Faculdade Boa Viagem, a bancária do Bradesco Paulista, desde agosto de 2005, está de volta à sala de aula, desta vez, para aprender um instrumento: contrabaixo acústico. Quer tocar em orquestra.

O impulso, certamente, vem da atu-ação na Orquestra Doce Harmonia, da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Ela canta como primeiro soprano do coro da orquestra, mas também em um quinteto feminino. As apresentações são, sempre, no fim de semana, o que permite conciliar bem com o trabalho como gerente de Contas Pessoa Física, na agência Paulista. “Nem a maratona de ensaios, às vezes diários, interfere na minha rotina no banco, uma vez que acontecem no horário da noite”, explica.

Elaine Cavalcanti nasceu no Recife, é solteira, sem filhos. Tem dois CDs

Música de mãos dadas com a féA bancária do Bradesco faz do talentomusical um instrumento da religiosidade

gravados, ambos com um grupo da Igreja, nos anos de 1999 a 2003 – Cântico Celeste e Missão Impossível. Os dois gravados pelo Studio Somax, com arranjos do produtor musical, Tovinho. Faz o back vocal, mas também solos. Já gravou, também, backs e jingles para rádio e TV.

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Turismo Conheça Pernambuco

tEJuCuPAPO

Terra de mulheres guerreirasEm 1646, Tejucupapo era pe-

quena vila com apenas uma rua larga, ladeada de casinhas simples, habitada por gente

simples, tendo ao fundo uma igrejinha dedicada a São Lourenço. Pois foi nesta vila praieira, encravada entre as praias Carne de Vaca e Ponta de Pedra, no município de Goiana, a 63 km do Recife, que um grupo de mulheres mar-cou encontro com a História ao ensejar, pela primeira vez, a resistência coletiva feminina contra o opressor – no caso, o invasor holandês. Há quatro séculos.

Era um domingo, e a maioria dos homens estava no Recife para comer-cializar o pescado. O inimigo, sitiado na Ilha de Itamaracá, sabia disso e quis se aproveitar da situação. Não contava com a coragem, e as artimanhas, das

Terra de mulheres guerreiras

mulheres de Tejucupapo. Lideradas por quatro Marias – Camarão, Quitéria, Clara e Joaquina –, elas usaram chuços, enxadas, pimenta e água quente contra as armas de 600 holandeses.

Foram duas horas de batalha. Ao final, restaram 300 cadáveres, a maior parte de invasores. A notícia correu mundo, estimulou outras batalhas, que acabaram resultando na expulsão definitiva dos flamengos das terras brasileiras.

A história, linda e trágica, virou lenda, filme, livro, peça de teatro. Todos os anos, desde 1993, o Clube de Mães do agora distrito de Goiana encena A Epopéia das Heroínas de Tejucupapo. O espetáculo ao ar livre (foto), nos terrenos da Fa-zenda Megaó, no Monte das Trincheiras, acontece, sempre, no último domingo de abril, e atrai milhares de turistas.

No local, onde teria se dado a batalha histórica, está fincado um obelisco em homenagem às guerreiras, ponto obrigatório de visita para quem vai àqueles sítios.

A igrejinha de São Lourenço, tombada pelo patrimônio histórico estadual, também está de pé, no lugar em que sempre esteve.

Em 10 de agosto, dia do martírio do santo queimado vivo no século IV da era cristã, acontece a Procissão do Carrego da Lenha. Os moradores saem de dois pontos diferentes da comunidade, acompanhados de banda musical tocando o acorda povo. Carregam feixes de lenha, que depositam em frente à igreja, mon-tando uma fogueira que arde por dois dias após a festa.