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Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciárioe do Ministério Público da União no DF
Filiado à CUT/FENAJUFE
Ano XVIII - nº 67Junho/Julho de 2010
Em 1958 o Brasil vencia a sua primeira Copa do Mundosob a onda positiva de afirmação nacional que JK imprimiana infraestrutura, na postura democrática, no conjunto dasexpressões culturais e no esporte. Brasília era a meta e ain-da é a síntese da diversidade brasileira. O cronista NelsonRodrigues escreveu, na partida da seleção para a Suécia, acélebre Complexo de Vira Latas, onde conclamava o brasi-leiro a sair do seu derrotismo sem ousadia ante a falsasupremacia dos “desenvolvidos”. Nelson era um torcedormitológico do Fluminense e um reinventor dos comentári-os absurdamente geniais sobre um jogo que acontecia nacabeça dele. Mas, nessa crônica, ele se superava além doesporte para dizer que, mesmo sob o risco de um ufanismobarato, havia na cultura uma forma de se mostrar o Brasilalém da caricatura opressiva da inferioridade. Hoje, em novaCopa, nem vira latas, nem pitbul, nem poodle de madame.Se há um complexo que nos faz diferentes é o complexo dapluralidade que nos permite dizer: somos a soma de mui-tos e criamos muitos em um só projeto de nação.
TT CATALÃO
Vira latasnunca mais
Leia no pôster central:
Pra fonte, Brasil!
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Defasagem salarial de 80%
Salário menor que em outros Poderes
Perda de servidores para outros órgãos
Carreira desvalorizada
Repressão da greve
Governo que não negocia
120 mil trabalhadores
95% com nível superior
Atribuições complexas
Prestação jurisdicional aprimorada
Justiça mais perto da população
Metas de produtividade cumpridas
PCCR aprovado pelos presidentes
OPINIÃO
José Geraldo deSousa Junior
Reitor da Universidade deBrasília, professor da Faculdade
de Direito e coordenador doprojeto O Direito Achado na Rua
“O desafio paraos servidores é
construir políticasde antagonismo
que refinem suasformas de luta,
inclusive por meiode greves, semperder os seus
vínculos desolidariedade
com a sociedade”
e greve no serviço públicoAntagonismo sindical
O pró-labore de José Geraldopara este artigo é doado
mensalmente à campanha devoluntariado Eu Doo Talento
(veja em www.sindjusdf.org.br)
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mês de maio ainda não havia se encerrado e oano de 2010 já assistia a mais de uma dezena
de greves no Brasil. No Ministério do Meio Ambiente,da Educação, na Universidade de São Paulo e, comgrande impacto, na UnB, movimentos grevistas ganha-ram forte presença na mídia. No âmbito do Judiciárioe do Ministério Público, também seus servidores têmna greve uma estratégia limite para garantir negocia-ções que definam os seus planos de carreira, conquantoos PLs 6613 e 6697, que servem de instrumento paraultimá-los, esbarrem nos impasses entre Executivo eLegislativo para aprovação.
A greve, palavra que herdamos do francês gréve,por alusão à praça onde operários se reuniam em Pa-ris para suas manifestações, é fenômeno que se de-senvolve a reboque do capitalismo liberal onde querque este se tenha implantado. Isto ocorre porque atensão gerada pela assimetria de poder na relaçãopatrão–trabalhador precisa ter uma válvula de escapeque seja, por um lado, pacífica, como exige a civilida-de do liberalismo, e por outro lado capaz de interferirdiretamente na produção, a fim de satisfazer as ex-pectativas de restituição de valores econômicos e mo-rais reivindicados pelos trabalhadores.
No Brasil, uma das primeiras experiênciasde paralisação do trabalho com a configuração de grevese deu em 1917. Naquele ano, uma greve geral, quecomeçou em São Paulo e atingiu Santos, Rio de Janei-ro e Curitiba, totalizou mais de 70 mil operários para-lisados. Exigia aumento salarial, redução da jornada eregulamentação do trabalho de mulheres e crianças.
Pode-se dizer, com segurança, que esta paralisa-ção geral foi um acontecimento extraordinário numpaís que poucos anos antes sustentava um regime es-cravocrata. Mais do que isso, foi um sintoma da cor-porificação da identidade de povo pela população bra-sileira, ou seja, do momento em que deixavam os indi-víduos de se perceber apenas como coletividade hu-mana para se realizarem como sujeitos que confor-mam uma sociedade política e realizam direitos.
Desde então o direito trabalhista no Brasil sedesenvolveu com velocidade espantosa e provocou sig-nificativa mudança na percepção formal sobre a gre-ve. Da abordagem criminalizadora da primeira lei pe-nal republicana (o Decreto nº 847, de 11/10/1890, diziaque “causar ou provocar cessação ou suspensão de
trabalho, para impor aos patrões aumento ou dimi-nuição de serviço ou salários”, resultaria “pena deprisão celular de um a três meses”) e de uma ideolo-gia de repressão, configurando a questão social comocaso de polícia, pudemos constatar, menos de um sé-culo depois, ser a greve proclamada como direito egarantia fundamental. Os dados aqui colhidos (graçasà pesquisa conduzida pela estagiária Layla Jorge, cujotrabalho agradeço), demonstram como os movimen-tos trabalhistas passaram a ser percebidos cada vezmenos como ameaças e cada vez mais como protago-nistas de realização do interesse comum.
Essa transformação observada na trajetória dalegislação sobre o trabalho foi provocada pelo pro-cesso de autonomização da categoria trabalhista, pormeio de sua capacidade de organização, determinadasobretudo pela ação sindical e sua disposição paraconstituir políticas de antagonismo, notadamente nosanos que se seguiram e que levaram o movimento sin-dical a confrontar a lei do patrão, expressa sob a for-ma de punições dentro das fábricas. A ação protago-nista dos trabalhadores virá a inscrever na Constitui-ção de 1988 o direito de greve, resultante de sua pró-pria decisão de exercitá-lo e de estabelecer os interes-ses que devam por meio dele defender.
A Constituição de 1988 assegurou também aosservidores públicos civis os direitos de livre associaçãosindical e de greve. Contudo, nos anos de hegemoniado processo de acumulação capitalista neoliberal, as-sistiu-se a um claro esvaziamento das greves no setorpúblico, seja por endurecimento nas relações com gre-vistas do setor, seja por cooptação de instâncias dejulgamento para a avaliação de ocorrências de abusi-vidade. Por fim, contribuiu para acentuar a rigidez naadoção dessa estratégia de antagonismo sindical adecisão do Supremo Tribunal Federal, de atribuir, à fal-ta de regulamentação legal, equivalência do procedi-mento grevista de servidores públicos com as defini-ções estabelecidas na lei de greve que regulamentaesta ação para os trabalhadores urbanos e rurais.
O desafio atual para os servidores públicos e suaação sindical é o de construir políticas de antagonismopolítico que refinem suas formas de luta, inclusive pormeio de greves, mas sem perder os seus vínculos desolidariedade com a própria sociedade a que servem eda qual recebem a legitimidade organizacional.
ARTE EM BRASÍLIA
Edição:Usha Velasco (DRT-DF 954/99)
Reportagem:Fabíola GóisChristiane AbadThais AssunçãoValéria de Velasco
Colaboradores:André Luis MacedoJosé Geraldo de Sousa JuniorTT CatalãoYuri Matsumoto Macedo
Revisão: Ana Paula Barbosa Cusinato
Projeto gráfico e arte: Usha Velasco
Tiragem: 15.000 exemplares
Contato comercial: Julliane DouradoFones: (61) 8485-9959 - (61) 3037-9761SCS Q. 2, Ed. Goiás, s. 314 - Cep.: 70.302-000
Coordenadores-GeraisAna Paula Barbosa CusinatoBerilo José Leão Neto
Coordenadoresde Administraçãoe FinançasCledo de Oliveira VieiraJailton Mangueira AssisRaimundo Nonato da Silva
Coordenadores de AssuntosJurídicos e TrabalhistasJosé Oliveira Silva
Marília Guedes de AlbuquerqueNewton José Cunha Brum
Coordenadores de Formaçãoe Relações SindicaisJosé Joventino Pereira de SousaAntônio José Oliveira SilvaEliane do Socorro Alves da Silva
Coordenadores deComunicação, Cultura e LazerSheila Tinoco Oliveira FonsecaMaria Angélica PortelaValdir Nunes Ferreira
Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do MPU no DFSDS, Ed. Venâncio V, s. 108 a 114, Brasília-DF, 70393-900 • (61) 3212-2613
www.sindjusdf.org.br
RUBENS REBOUÇAS
Após quinze anos morando em Brasília, me afastei e fui pra longe. Agora, cada vezque venho aqui, venho com um olhar estrangeiro. Vejo Brasília de um outro modo, omodo de antes, de quando cheguei. Vejo novamente os espaços, os céus, os traços.‘ ‘ ‘ ‘Membro-fundador do coletivo de fotógrafos Ladrões de Alma, Rubens Rebouças divide
sua rotina entre Uberlândia e Brasília, onde tem uma clientela cativa em seus trabalhosde retratos, casamentos e arquitetura (veja em www.rubensreboucas.com).
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6 Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2010
greve da categoria foi iniciada no dia25 de maio para reivindicar, simples-
mente, o início de negociações efetivasentre Judiciário, Ministério Público, Execu-tivo e Legislativo para a aprovação dos no-vos planos de carreira do Judiciário e MPU.Os servidores estavam cansados de espe-rar: o processo de construção dos PCCRcomeçou há quase dois anos, e durantemais da metade desse tempo ficou para-do nas mãos dos dirigentes da Justiça. Fal-tou a famosa “vontade política” para cor-rigir perdas e equiparar salários.
Os PLs 6613 e 6697 (planos de carrei-ra do Judiciário e do MPU, respectivamen-te) foram desenhados ao longo de um pro-cesso amplo e participativo em todos osórgãos da Justiça no DF. A categoria deu alargada no projeto, em agosto de 2008,com uma série de seminários e debates queresultaram em onze pontos de consenso(veja na página ao lado). O plano não abriamão de pontos como a conceituação decarreira, cargo e classe, a definição das atri-buições dos cargos em lei para evitar des-vios de função e terceirizações, a paridade
entre ativos e aposentados, a carreira úni-ca, a definição de critérios objetivos e de-mocráticos para as FCs, entre outros.
Com o reforço do consultor em ges-tão de cargos e carreiras Angelino Rabelo,a força-tarefa prosseguiu primavera aden-tro com novas séries de debates, seminá-rios e oficinas. As propostas chegavam pormeio de discussões, e-mails e grupos detrabalho. A campanha Quer um plano decarreira? Pergunte-me como! mostrou, emoutubro, que as lutas anteriores só foramvencidas com muita mobilização. Seguiu-se uma série de reuniões com as direçõesdos tribunais e do Ministério Público, e deencontros nacionais das categorias.
Em fevereiro de 2009, começaram osdebates com os delegados sindicais. Opasso seguinte, a distribuição aos direto-res e secretários-gerais dos órgãos da Jus-tiça, antecederia a remessa do projeto aoCongresso. Em outubro, o então presiden-te do STF, Gilmar Mendes, reconheceu queo tribunal perdeu 22% do seu quadro depessoal, atraído por melhores salários, edefendeu o PCCR. Mesmo assim o projeto
não saiu do lugar, o que levou os servido-res a uma greve de 22 dias. Em 11 de de-zembro, finalmente, o PCCR do Judiciáriochegou à Câmara dos Deputados, ondeganhou o nome de Projeto de Lei nº 6.613/09. Onze dias depois, foi a vez do projetodo MPU, o PL nº 6.697/09.
Porém, a luta apenas mudou de cená-rio. A arena para os diretores do Sindjusnegociarem e para os servidores exerce-rem pressão passou a ser o Congresso Na-cional – mais especificamente o corredordas comissões na Câmara, onde os doisPLs passaram quase todo o primeiro se-mestre parados, vítimas das manobras pro-telatórias dos deputados governistas.
O projeto do MPU foi aprovado naCTASP (Comissão de Trabalho, primeiroponto de parada do PL no Congresso) nodia 14 de maio, e o do Judiciário, em 16de junho. Ambos agora estão na Comis-são de Finanças, e ainda aguardam que opresidente do STF, Cezar Peluso, vá ao Pa-lácio do Planalto negociar com o presiden-te Lula a implantação dos novos planosde carreira ainda em 2010.
CARREIRA
Os PLs que estão noCongresso nasceram deum processo amplo eparticipativo; acompanhea Linha do Tempo
A
Categoriamobilizada:greve foi o
último recursonuma luta de
longa data
PCCRpasso a passo
JOSSO
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RITTO
6 Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2010
7Revista do Sindjus • Junho/Julho de 20106
20 a 31de outubro
Diretores do Sindjuspercorrem todos oslocais de trabalhocom a campanhaQuer um plano decarreira? Pergunte-
me como!
10 de outubroOficina de Deli-neamento dos
Cargos Efetivos,dirigida pelo
consultor Ange-lino Rabelo, é
direcionada aosanalistas.
30 e 31 deagosto
Reunião amplia-da da Fenajufeforma Grupo deTrabalho Nacio-nal sobre carrei-ra e define 11
pontos deconsenso:
27 de agostoReunião dosgrupos de
trabalho con-solida propos-tas dos servi-
dores paralevar à Reu-
nião ampliadada Fenajufe.
1º de agostoComeça o ciclo deseminários sobre oplano de carreira:
delegados sindicaisparticipam de oitohoras de debates,
palestras e oficinas.
13 a 22 de agostoSeminários sobre o novo PCCR
no STJ, TRF/JF, STF, STM, TST, TRT,TRE, TJDFT e TSE. Em cada órgãoformou-se um grupo de trabalho.
22 e 23 de agostoEncontro da Maturidade ouve osaposentados e encerra o ciclo de
seminários sobre o PCCR.
Conceituação decarreira, cargo eclasse na leiDefinir as atribuiçõesdos cargos em leipara evitar desvio defunção e terceirizaçãoGarantir que não hajaterceirização noscargos da carreiraDefinição de critériosobjetivos e democráticospara as FCsParidade entre ativose aposentadosDesvinculação doscursos aos cargos e FCspara concessão de AQsMelhor remuneraçãoDesenvolvimentona carreiraAumentos depercentuais de AQCarreira únicaQuadro único paramobilidade
11 de setembroSindjus contrata
consultor emgestão de carreira,Angelino Rabelo,
e envia umquestionário
sobre PCCR aosservidores.
17 a 25 desetembroSeminários
na PRR,PRDF e MPDFT
debatemo plano
de carreirado MPU.
20 de outubroPublicada no
Diário Oficial acriação da Comis-são Interdisciplinar
para elaborar oanteprojeto do
PCCR, com repre-sentantes dos
órgãos, entidades,Sindjus e Fenajufe.
24 de outubroOficina de Delineamentodos Cargos Efetivos, com
o consultor AngelinoRabelo, ouve a opinião
dos técnicos.
4 de novembroPrimeira reunião da
Comissão Interdisciplinar.
7 a 9 denovembroIII Encontro
Nacionalsobre o
Plano deCarreira
reúne 111membros
de 25entidades.
15 denovembro
No III EncontroNacional do
MPU, emSão Paulo,
Policarpo falasobre planode carreira ejornada detrabalho.
21 denovembro
Sindjus publicaprimeira versão
do PCCR doJudiciário paraavaliação dos
servidores.
24 de novembroEm chat como consultor
Angelino Rabelo,servidores
debatem on line aversão preliminar
do PCCR.
28 denovembro
Sindjus publicaprimeira versão
do PCCR doMPU para
avaliação dosservidores.
3 de dezembroServidores põema mão na massa:
em 12 dias oPCCR do Judiciário
recebe mais de450 mensagens
e sugestões.
12 de dezembroPolicarpo pede apoiodo presidente do STFna interlocução juntoao Legislativo e Exe-cutivo. Gilmar Men-
des reafirma compro-misso em ajudar.
2008
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2009
14 de maioReunião de dele-gados sindicaisdebate o PCCR.
3 defevereiro
Sindjus enviaaos diretores
do Judiciário aproposta dePCCR que foi
formatada comos servidores.
31 de agostoExpira o prazo legal da LDO, mas oPCCR não é enviado ao Congresso.
4 de setembroConselho de Delegados Sindicais define
estratégias de mobilização para pressionartribunais e MPU a enviar o PCCR.
23 a 28de setembro
Servidores apro-vam indicativode greve para7/10. Sindjus
protocola ofíciocom aviso prévio
de greve nosórgãos do Judi-ciário e MPU.
23 de outubroPresidente do STF defende publi-camente o PCCR e afirma que em2009 perdeu 22% do seu pessoal
para órgãos que pagam mais.
7 de outubroTribunais
aprovam PCCRe prometem
enviá-lo rapida-mente. Servido-res mantêm oindicativo degreve caso a
promessa nãose cumpra.
10 de novembroServidores param
por 48 horas.
27 de outubroSTF fixa 15 diasde prazo para
ajustes no PCCR.
19 denovembroSTF exigeo fim da
greve semo envio doPCCR ao
Congresso.Paralisaçãocontinua.
12 denovembro
Supremocontinua
segurandoo PCCR;
servidoresdecidem
que a grevecontinua.
2 de dezembroApós 22 dias de
greve, STF aprovao PCCR.
11 de dezembroAnteprojeto é entregue à
Câmara e batizado deProjeto de Lei nº 6613/09.
22 de dezembroPCCR do Ministério Público
chega à Câmara comoProjeto de Lei nº 6697/09.
17 de setembroSTF encaminha aostribunais a minuta
do PCCR do Judiciá-rio, fixa prazo para
que eles se manifes-tem sobre o texto
(30/9) e marca reu-nião para analisar as
sugestões (7/10).
28 de maioComissão Inter-
disciplinardecide que o
PCCR deve serentregue aos
diretores e secre-tários-gerais até
30 de junho,para tramitarno Congressono segundosemestre.
16 de junhoNova reunião da
Comissão com DGs eSGs, mas o antepro-jeto não é finalizado.
5 de junhoDGs e SGs discutem
com a ComissãoInterdisciplinar a
finalização do PCCR. 29 de junhoPrazo curtoe falta de
consenso sobrepontos polêmi-cos fazem comque Comissãoaprove uma
proposta alter-nativa de
PCCR, privile-giando o rea-juste salarial.
23 de julhoApós pressão do
Sindjus, STF defineprazo para DGs eSGs fecharem o
novo plano.Anteprojeto precisa
chegar aoCongresso até ofinal de agosto.
9 a 18 desetembroSindjus fazassembleias
em todosos órgãos doJudiciário e
MPU.
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ROD
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2010
31 de marçoPL 6697 entrana pauta daCTASP, mas
não é votado.
29 de abrilAssembleia geral aprova indicativo
de greve para 12 de maio.
7 a 12 de abrilParlamentarem
deixam claro que,sem um sinal verde
do governo, PL 6613não será votado.
Manobras protelató-rias continuam.
Governistas pedemaudiência pública
sobre o PCCR.
5 de maioCTASP ignora a promessa do dia
13/4 e não vota o PL 6613.
14 de abrilCTASP aprova o PL 6697,
que leva 13 dias para seguir paraa Comissão de Finanças.
10 de marçoSindjus publica
emails dosdeputados daCTASP, para
que servidoresescrevam pe-dindo rapidez.
13 de abrilDiretores do Sindjus negociam
com deputados até as 22h e obtêma promessa de que o PL 6613
será votado na semana seguinteà audiência pública.
19 de maioServidores fazem
passeata e atos naPGR e STF.
12 de maioAssembleia adiaa paralisação e
marca nova data-limite: 25/5.
4 a 11 demaio
Sindjus fazassembleiassetoriais nosórgãos doJudiciário edo MPU.
5 a 12 de maioPressão força o começo das negocia-ções. Presidente do TSE vai ao Con-
gresso e ao Ministério do Planejamen-to falar sobre o PCCR. Presidente do
STF conversa com líderes partidários edeputados da CTASP.
24 defevereiro
Policarpo reúne-se com o relatordos PLs na Co-
missão de Traba-lho, Administra-ção e Serviço
Público (CTASP)e pede rapidezna tramitação.
26 defevereiro
Sindjus reúnetodas as
entidades deservidores doJudiciário e
MPU para traçarestratégias deluta pela apro-vação dos PLs.
5 de marçoSindjus reúne todos osdelegados sindicais doJudiciário e MPU paratraçar estratégias de
luta pelos PCCR.
10 de março a12 de maioServidores se
manifestam todasas quartas-feirasnas comissões daCâmara. Diretoresdo Sindjus fazemintenso trabalho
político paraapressar os PLs.
17 de marçoDiretores do Sindjus fa-zem “blitz” na CTASP e
entregam cartas aosdeputados. Policarpo
cobra do diretor geral doSTF as negociações para
aprovar os PCCR.
27 de abrilServidores e diretores
do Sindjus vão aoaeroporto receber osdeputados e protes-tar contra a demora.Audiência pública naCâmara confirma o
que todos já sabiam:aprovação do PL6613 é urgente.
25 de maioAssembleia geralaprova greve portempo indetermi-
nado, até quenegociações ga-
rantam aprovaçãodos PCCR.
VA
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FOTOS: VALCIR ARAÚJO
CARLOS ALVES
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10 Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2010
Valéria de Velasco
evando bandeiras vermelhas onde se liam os números dos pro-jetos de lei dos Planos de Cargos, Carreira e Remuneração do
Judiciário e do Ministério Público da União, milhares de trabalha-dores da Justiça fizeram o grito de guerra “PCCR já!” ecoar trêsvezes seguidas na Praça dos Tribunais, na abertura da assembleiaconvocada para as 14h do dia 25 de maio. Era a senha para aaprovação, por unanimidade, da paralisação dos tribunais e ór-gãos do MPU, por tempo indeterminado, “até a vitória final”.
Ao som de cornetas, apitos e palavras de ordem, a decisão dacategoria selou o compromisso de pressionar o andamento dasnegociações com o Executivo e o Legislativo pela aprovação dosPLs 6.613 e 6.697. Em ano eleitoral, o tempo corre movido a umjogo extra de interesses com prazo curto para cruzar a linha dechegada. Qualquer cochilo pode ser fatal. “Não dá para aceitaressa negociação em ritmo de tartaruga”, justificou o coordenadordo Sindjus, Roberto Policarpo, antes da votação, ao relatar a últi-ma conversa, na manhã do mesmo dia, com o ministro do Supre-mo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski, que preside o TribunalSuperior Eleitoral.
“O ministro disse que iria respeitar a decisão da assembleia,que não sai do processo de negociação e que será estabelecidoum diálogo durante todo o período da greve”, contou Policarpo. Amultidão atenta que se espremia na praça sob o sol forte do meioda tarde aplaudiu. “E vamos cobrar que a nossa greve tenha esseviés de acelerar a negociação e finalizá-la o quanto antes”, pros-seguiu ele. “Deixando claro”, ressaltou, “que o nosso objetivo, nessemomento, não é a sanção imediata do projeto. É a negociação arespeito do orçamento”. Como sempre, o pivô da queda-de-braço
Na corrida contra o tempo do ano eleitoral,categoria dá tudo de si para aprovar o plano de
carreira. Palavra de ordem é a vitória final
Assembleiageral no dia 25
de maio: “Ritmode tartaruga”
nas negociaçõesdo PCCR acaboulevando à greve
PCCR
lutaO diário da
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11Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2010
entre os três poderes nas rodadas denegociações é o mesmo: dinheiro paracobrir as defasagens salariais.
O encontro que encheu a Praça dosTribunais de som e cores acontecia 93anos após a primeira grande greve dopaís, que parou São Paulo em julhode 1917 por melhores salários e seestendeu por outros estados. Naque-le ano – que marcou também a his-tória do samba, com a gravação doantológico Pelo Telefone –, enquantoos trabalhadores paulistas enfrenta-
vam a repressão das tropas convoca-das para defender as indústrias, nooutro lado do mundo os revolucioná-rios russos derrubavam o regime cza-rista de Nicolau II, implantavam umarepública parlamentar e criavam asprimeiras assembleias que dariam vozpela primeira vez a operários, campo-neses e soldados.
Nove décadas depois, o que pon-tua a luta dos servidores da Justiça éa palavra mais repetida no movimen-to que mobiliza a categoria desde 1º
de agosto de 2008, quando os dele-gados sindicais abriram o ciclo de se-minários sobre o plano de carreira: ne-gociação. A Revista do Sindjus acom-panhou os principais momentos dassemanas que culminaram com a as-sembleia de 25 de maio, encerradacom a convocação de Policarpo ao me-gafone: “Nós precisamos construir amaior greve da história do Judiciário edo Ministério Público de Brasília. Ca-tegoria unida pela greve, já! Vamos àvitória! PCCR, já!”
12 Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2010
Na Câmara, a pressão dos servidores“São Paulo é uma cidade morta:
sua população está alarmada, os ros-tos denotam apreensão e pânico, por-que tudo está fechado, sem o menormovimento. Pelas ruas, afora algunstranseuntes apressados, só circulamveículos militares, requisitados pelaCia. Antártica e demais indústrias, comtropas armadas de fuzis e metralha-doras. Há ordem de atirar em quemfique parado na rua.”
O relato de Everardo Dias em His-tória das Lutas Sociais no Brasil sobrea greve de 1917, que entrou para ahistória como um marco na transfor-mação das relações trabalhistas nopaís, em nada lembra o clima de liber-dade de expressão e criatividade naintensa mobilização dos servidorespela aprovação do PCCR.
Na manhã de quarta-feira, 12 demaio, no amplo corredor da Câmarados Deputados que leva aos auditóri-os das comissões de Finanças e do Tra-balho, servidores do MPU e do Judici-ário do DF e Goiás apinhavam-se jun-to às portas para tentar acompanharas votações dos PLs 549 e 6.697. Ababel crescia com o intenso trânsitode pessoas em torno das discussõesque aconteciam na mesma ala, nas co-missões de Educação e Cultura e deRelações Exteriores. No início do cor-redor, a Comissão de Constituição eJustiça atraía outro grande número degrupos, interessados no debate do Es-tatuto das Famílias.
À medida que se aproximavam as11h, ficava mais difícil circular pelo cor-redor. De repente, surgem a passos rá-
pidos duas criaturas cobertas dos pésà cabeça com um niqab preto (a vestemuçulmana que deixa apenas os olhosà mostra). Todos vão se afastando paradar passagem, com ar de espanto ecuriosidade. Qual luta levaria mulhe-res tão reservadas ao Congresso? Omistério se desfazia à medida que adupla nada tímida e de olhar espertopassava: nas costas da vestimenta queabalava a rotina daquele corredor bri-lhavam adesivos “Lula, lá não!”, umprotesto inusitado do Grupo Estrutu-ração de Brasília contra a aproxima-ção do Brasil com o Irã, alvo de rea-ções mundiais pela política de desres-peito aos direitos humanos.
Mal os dois jovens manifestantescom as vestes femininas desaparece-ram, um grito de vitória tomou conta
13Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2010
Merecemos a aprovação do PCCRlogo, porque estamos lutando desde2008. O plano da Câmara jápassou, já está lá no Senado, o doTCU já passou, o dos juízes, damagistratura, rapidamente tambémforam aprovados. Se os três poderessão iguais, por que, então, com o doJudiciário tem tantas burocracias,tantas barreiras para enfrentar? Nósestamos defasados. Temos degarantir qualidade, para a própriasociedade ficar bem servida, e se agente não lutar por aquilo a quetem direito, ninguém vai fazer.Temos de batalhar e estamos aquipara isso. Eu gostaria que toda asociedade ficasse voltada para essacausa, que é uma causa justa,digna. Muitos jovens estão aílutando, fazendo concursos difíceispara entrar e construir uma carreira.A nossa carreira é bonita e o planoé um direito nosso.do corredor. Seguindo o voto do rela-
tor, Luiz Carlos Busato, os deputadosda Comissão de Trabalho rejeitaram,por unanimidade, o PLP 549/09, quelimita os gastos com o funcionalismopúblico até 2019. Os servidores quepressionavam pela não aprovação co-memoravam, aliviados, mais essa vi-tória. A luta contra o congelamentodos salários, no entanto, não acabou.De lá, o projeto vai para a Comissãode Finanças e Tributação, que na mes-ma manhã, no auditório ao lado, tirouda pauta a votação do PL 6.697, quetrata do plano de carreira do MPU.
O adiamento frustrou os servidoresque foram ao Congresso pedir pressana aprovação dos PLs 6.613 e 6.697. Amanifestação é na Câmara dos Depu-tados, mas o alvo é o Palácio do Pla-nalto. Como ali não vale a lei da físicaque aponta a linha reta como o meio
mais rápido para unir dois pontos, ocaminho para chegar ao companheiroLula é tortuoso. “Temos de fazer pres-são para que os deputados pressionemo governo a negociar e a aprovar a nos-sa reestruturação de carreira”, explicao técnico judiciário Renê Gandra, no Su-perior Tribunal de Justiça desde 1985.“Ficar dez anos sem reajuste faz o nos-so salário perder o poder aquisitivo ra-pidamente. A gente não recupera nun-ca mais”, reclama. E a perda crescente,
segundo ele, repercute na qua-lidade do trabalho.
“A nova cúpula do Judiciá-rio reconhece que tem de va-lorizar o seu servidor para me-lhorar o atendimento à popu-lação e tem se empenhado jun-to ao governo para resolver.Agora a nossa luta é no Con-gresso”, diz Gandra. As nego-ciações se arrastam desde de-zembro, quando os dois proje-tos chegaram à Câmara, e es-barraram na questão orçamen-tária, que envolve o Ministériodo Planejamento. É por isso
que o nó, segundo o servidor do STJ,está mesmo é no Executivo: “Só depen-de do presidente Lula. A sinalização deleé que desata o nó aqui no Congresso.Se não tiver o aval do presidente da Re-pública, aqui na Câmara fica emperra-do. Estamos aqui por isso.”
“O projeto está emperrado porqueo governo diz que não tem dinheiro,mas a gente sabe que tem. Diz que orepasse é alto, e a gente sabe que nãoé”, analisa o coordenador do SindjusBerilo Leão. “Foi assim com o projetode 2001, que foi aprovado em 2002sem provisão orçamentária, e com ode 2005, que entrou em vigor já em2006. Não tem diferença nenhuma”,compara, antes de chamar a catego-ria à luta mais uma vez: “Nós somosmais de cem mil servidores, temos con-dições de aprovar esse projeto de 2009e de exigir que comece a implementa-ção a partir de 2010, não de 2011.PCCR já! vamos à vitória”, convoca.
Os três poderes sãoiguais; por que barraro plano do Judiciário?
Dalila Figueiredo, analista do TRT-DF
FALA, TRABALHADOR
CTASP:protestos
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14 Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2010
“Olha lá vai passando a procissão/Se ar-rastando que nem cobra pelo chão/As pes-soas que nela vão passando/Acreditam nascoisas lá do céu...” Na tarde de 19 de maio,a multidão de servidores com suas bandei-ras vermelhas serpenteando entre as árvo-res no trajeto entre a Procuradoria-Geral daRepública e o STF fazia lembrar a música deGilberto Gil. Em busca de apoio do procura-dor-geral, Roberto Gurgel, nas negociaçõese de avanços em mais uma rodada de con-versa do Sindjus com os ministros do Supre-mo, as pessoas que seguiam atrás do carrode som repetindo o grito de guerra “PCCRjá!” acreditam na força da pressão.
“Sem mobilização não há revisão”, con-firmava uma das faixas dos manifestantes.“Servidores na rua até a vitória da revisãosalarial!”, repetia o coordenador geral doSindjus Berilo Leão, do alto do carro. “Estábonito, o ato está bonito, mas vamos mos-trar mais”, empolgava-se, já quase rouco.“Queremos tratamento igual ao das outrascategorias!”, bradava, numa referência aosreajustes no Executivo e Legislativo, enquan-to se aproximavam da Suprema Corte.
Lá dentro, o que estava em jogo, no do-cumento entregue pelo Sindjus ao presiden-te em exercício do STF, Ayres Brito, e ao mi-nistro Ricardo Lewandowski, era uma defa-sagem salarial de 80% e a pressa para libe-rar no Congresso o projeto que reestruturaas carreiras e assegura recomposição de
56,42% ao salá-rio base das cate-gorias, acrescidada Gratificaçãode Atividade Judi-ciária (GAJ) eGratificação deAtividade doMPU (GAMPU)de 50%. Lá fora,um foguetórioensurdecedor se-lava o recado deque o prazo esta-va se esgotando.
“Essa é a nos-
sa visibilidade, faz parte da negociação, da es-tratégia”, explicou o analista judiciário do TSELuís Valério Rodrigues Dias, ao apontar o showde foguetes. Chega-se à vitória, segundo ele,como no futebol. “É uma matemática política.Temos três entes importantes que definem anossa vida do ponto de vista salarial: o Execu-tivo, o Legislativo e o Judiciário, que é forte,mas sozinho não vira o jogo. Queremos queos presidentes do TSE e do Supremo tenhamuma ação concreta, a responsabilidade, juntocom a gente, de mudar a posição do Executi-vo. Hoje perdemos de 2 a 1. A greve empata,2 a 2. Mais do que isso. O que é o 3 a 2? Éexatamente o movimento de rua. Ganharemosde 3 a 2. Só depende da gente.”
No xadrez político que move o PCCR, osresultados da intensa pressão confirmam atese do analista judiciário. Logo após a ma-nifestação em frente à PGR, o procuradorgeral Roberto Gurgel reuniu-se com o depu-tado Aelton Freitas, relator do PL 6.697, parapedir o empenho da Casa. Freitas foi desig-nado para relatar o projeto depois que Poli-carpo e a coordenadora do Sindjus Ana Pau-la Cusinato procuraram o presidente da Co-missão de Finanças e Tributação, Pepe Var-gas, para agilizar a tramitação.
Ana Paula e Policarpo explicaram a im-portância do projeto para a categoria e ten-taram mover mais uma peça do jogo pedin-do a Vargas que abrisse um canal de negoci-ação com o Planejamento. No mesmo dia, oministro Lewandowski havia se reunido como líder do governo na Câmara, Cândido Vac-carezza, pedindo apoio na tramitação doPCCR. No dia seguinte, ele reforçou o apeloem visita ao presidente da Câmara, MichelTemer. A defesa do PCCR ganhou mais refor-ço na semana seguinte, com a visita do pre-sidente do STF, Cézar Peluso, a Temer.
Peluso também intercedeu, em reuniãono Supremo com o presidente da Comissãodo Trabalho, Alex Canziani, e um grupo deparlamentares da CTASP. Mas o PCCR con-tinua esbarrando em manobras protelatóri-as do Executivo, que convocou até audiên-cia pública para discutir o projeto que jáhavia sido debatido exaustivamente em todoo país. O apelo para fechar a negociaçãocom o Executivo foi repetido aos ministrosdo Supremo, na reunião do dia 19. Junto, oaviso: se a negociação não saísse até a ter-ça-feira seguinte, dia 25 de maio, a palavrade ordem seria a greve.
Xadrez político
Luís Valério:“Só dependeda gente”
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Passeata notrajeto entre aPGR e o STF:servidoresmobilizados
15Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2010
Às vezes, para a sociedade, podeficar que queremos é aumento. Maso que queremos é o plano de car-gos. É uma conquista de quem estátrabalhando, quer viver com salá-rios dignos e se aposentar com dig-nidade, sem depender de gratifica-ções que podem acabar a qualquermomento. Os planos de várias cate-gorias já passaram, o da Câmarapassou, o dos magistrados passourapidinho, e o nosso precisa passartambém. É claro que não desejamosa greve, mas queremos ter a certezade que vamos ser atendidos. Nãopodemos ficar preocupados em per-der a gratificação com a qual paga-mos o nosso aluguel, nossa faculda-de, temos nossos compromissos.Precisamos do plano de carreirapara qualificar o nosso trabalho,porque, se o servidor ganha umsalário bom, isso vai interferir noatendimento à população.
“Precisamos doPCCR para qualificaro nosso trabalho”
Ercília Rolim Guimarães,técnica do TRT-DF
FALA, TRABALHADOR
16 Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2010
“Levanta o megafone aí!Levanta o megafone!”“Pessoal, está dando para ouvir?”“Fala mais alto, companheiro!”
Num pequeno palanque improvisa-do no meio da Praça dos Tribunais, oscoordenadores gerais do Sindjus BeriloLeão, Policarpo e Ana Paula Cusinatorelataram o resultado da reunião dia 25.“Os ministros se comprometeram em
acelerar a negociação com o Planeja-mento e disseram que já pediram audi-ência com o presidente da Repúblicapara implementar o projeto”, contouPolicarpo. “Nós falamos que, se depen-der do governo, eles vão enrolar, vãodizer que só a partir do próximo ano,não vão acelerar a negociação que énecessária agora, que é a orçamentá-ria, como foi em 2002 e 2006.”
“E colocamos que o Judiciário é um
poder autônomo, independente, e nãopode aceitar a barganha que o gover-no quer fazer com os nossos salários.Eles fecharam nessa posição”, prosse-guiu. O documento entregue a Lewan-dowski e Aires Brito detalha os passosda mobilização e as propostas da ca-tegoria. Mas o prazo de seis dias parafechar a negociação acabou sem qual-quer avanço. Cansados de esperar, osservidores partiram para a greve.
Cansada de esperar, categoria decide pela greve
PCCR
17Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2010
REFORÇOS DE OUTROS ESTADOS
A exaustiva jornada pela constru-ção do PCCR explica o cansaço. Emagosto de 2008 os servidores come-çaram a delinear o novo plano de car-reira, numa série de seminários e de-bates, com ampla participação da ca-tegoria e intenso trabalho político dosdiretores do Sindjus junto às direçõesdos tribunais e do MPU. Esse proces-so se estendeu por todo o ano de2009 e culminou na greve de 22 diasque garantiu o envio dos PCCR doJudiciário e do Ministério Público ao
Congresso, respectivamente nos dias11 e 22 de dezembro (acompanhepasso a passo nas p. 7 a 9).
O técnico judiciário do TSE Orlan-do Noleto acredita que os dois proje-tos vão “mudar a vida” dos servido-res. “A luta pelo plano de carreira,cargos e salários existe porque nós,trabalhadores organizados, quere-mos sempre promover o melhor, aprestação de serviços mais qualifica-da, e a remuneração está atrelada aisso”, argumenta. “E o caminho que
temos para promover essa conquistatem sido, ao longo da história, a gre-ve, que é a última instância de umanegociação.”
Para Noleto, dizer que o projetorepresenta impacto financeiro é umagrande mentira. “Até porque o ajustede salário para servidor público ou paraqualquer trabalhador não é um gasto,mas um investimento. Você investenum cidadão” – como defendiam ostrabalhadores da indústria que para-ram São Paulo em 1917.
“Vim da Paraíba acompanhar anegociação porque os estados seespelham por Brasília, que está maisperto do governo federal.
A greve aqui vai fortalecer a negociação.Tudo emperra no governo, como o reajus-te dos aposentados. E não há razão.
Não tem dinheiro para daraos bancos? Então tem de tertambém para os servidores.E o que pedimos nem éreajuste, é a correçãopara enfrentar as perdascom a inflação.
Merecemos ser valorizados, somosservidores qualificados, de ponta, nosesforçamos buscando graduações.E reconhecimento é salário adequado.
O Judiciário está perdendo seusfuncionários mais qualificados, atraídospor salários de outros órgãos. De cadadez, saem três.”
Maria de Fátima de Moura, oficialde justiça do TRT 13, Paraíba
“A categoria achou importante estarmosaqui, com os servidores de Brasília, paraavançar nessa luta e conquistar o PCCR.
Assim como nas outrasmobilizações, nós sóconseguimos a vitória com aluta de toda a categoria.
A gente sabe da importância desse atoaqui em Brasília e dessa conversa comos representantes do Supremo.
Em Pernambuco, fizemos alguns atosque antecederam essa negociação, comoos que vêm desde o ano passadoocorrendo no Brasil inteiro.
Estamos tentando a adesão da JustiçaFederal e do TRF. A paralisação é parciale está crescendo. A proposta é parartotalmente, apesar das resoluções quelimitam a participação do TRT, colocandocomo essenciais vários serviços dentrode uma unidade, das varas trabalhistasprincipalmente. ”
Kátia Saraiva, técnica judiciáriado TRT 6, Pernambuco
Governo senega a dialogar;
aos gritos de“servidores na
rua: Bernardo, aculpa é sua!”,
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duas medidasDois pesos,
Em meio à luta pela aprovação do PCCR,representantes do governo revoltam servidores do
Judiciário e MPU ao afirmar publicamente queequiparação salarial com o Executivo e Legislativo nãose aplica porque tarefas seriam “menos complexas”
A Justiça injustiçada:defasagem salariam emrelação ao Legislativo eExecutivo chega a 80%
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Fabíola Góis
direito e a ciência política reconhe-cem que um dos pressupostos do
Estado democrático é a existência de trêspoderes independentes e harmônicos: oPoder Legislativo, o Poder Judiciário e oPoder Executivo. Nenhum deles se sobre-põe ao outro, nenhum tem mais importân-cia que o outro. E seus servidores são igual-mente servidores públicos.
Mas não é esse o tratamento que temsido dado pelo governo federal aos traba-lhadores dos órgãos do Judiciário e do Mi-nistério Público. No dia 29 de abril, duranteaudiência pública na Comissão de Traba-lho, de Administração e Serviço Público daCâmara dos Deputados, onde estavam emdiscussão os Projetos de Lei nº 6613/09 e6697/09 (Plano de Cargos, Carreira e Re-muneração dos trabalhadores do Poder Ju-diciário e do Ministério Público da União),
representantes do governo demonstraramo clima para a aprovação da matéria.
Não há interesse do governo em dei-xar que o PCCR passe do jeito que está.Isso ficou bem claro quando o coordena-dor de gestão de riscos operacionais doMinistério da Fazenda, Márcio Coelho, dis-se que os servidores do Judiciário e MPUnão devem esperar equiparação salarialcom outras carreiras do Executivo e Legis-lativo, porque não teriam tanta complexi-dade no serviço como eles.
Na verdade, essa tem sido a visão dogoverno. Coelho apresentou dados que su-postamente favoreceriam os trabalhado-res dos órgãos do Judiciário em relação aoutros poderes e que teriam benefícios eprivilégios que outras carreiras não têm.Outra representante do governo, a secre-tária adjunta de recursos humanos do Mi-nistério do Planejamento, Maria do Socor-ro Mendes, demonstrou a preocupação do
governo com o impacto orçamentário ecom a disputa pela equiparação com ou-tras carreiras que não têm similaridade.
O Sindjus defende que servidores va-lorizados trabalham melhor, independen-temente de qual poder estão servindo. Ocoordenador-geral do sindicato, RobertoPolicarpo, defende ainda mais a valoriza-ção desses trabalhadores para garantirmelhor prestação de serviço à sociedade.“Não é só juiz que assegura o funciona-mento da Justiça; é cada um dos servido-res”, expôs, durante a audiência pública.
Atualmente há doze carreiras de Esta-do recebendo mais do que os servidores doPoder Judiciário e do MPU. Esse fato, por sisó, já justificaria a equiparação salarial. Arotatividade entre o quadro funcional tam-bém é alta; segundo dados do Supremo Tri-bunal Federal (STF), fica em torno de 25%.Exemplo disso foi o último concurso, reali-zado em meados de 2009. Para preencher
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as 44 vagas para técnico, o STF já convo-cou 148 concursados. Ou seja, mais de cemservidores não aceitaram o chamado ou dei-xaram o cargo recém-assumido em razãode carreiras mais atrativas.
“Os servidores do Poder Judiciário, deuma forma geral, são muito qualificadose desempenham uma tarefa das mais im-portantes no serviço público, muita vezessem as condições ideais para trabalhar”,afirma o secretário de Recursos Huma-nos do STF, Amarildo Vieira de Oliveira.“Apesar da criação do Adicional de Qua-lificação ter contribuído para valorizar osconhecimentos e incentivar a capacitação,o fato é que a remuneração de uma par-cela considerável de servidores está mui-to defasada em relação àquelas pagaspelos poderes Executivo e Legislativo. Éisso que provoca a alta rotatividade e jus-tifica a luta pela melhoria da carreira”,argumenta o secretário.
A pressão da categoria pela aprova-ção do PCCR tem obrigado dirigentes doJudiciário, como o presidente do TribunalSuperior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewando-wski, a pedir rapidez na tramitação da pro-
posta. Ele se reuniu no início de maio como líder do governo, deputado Cândido Vac-carezza, e demonstrou sua preocupaçãocom a aprovação da matéria.
Pouco depois Lewandowski e o presi-dente do Supremo Tribunal Federal (STF),ministro Cézar Peluso, se encontraram como presidente da Câmara dos Deputados,Michel Temer, para falar sobre o PL 6613.O ministro também esteve com o ministrodo Planejamento, Paulo Bernardo, e como advogado-geral da União, Luís InácioAdams. Essas reuniões sinalizaram o iní-cio das negociações para acelerar o anda-mento do PCCR, impulsionadas pela ame-aça da greve da categoria.
Nos encontros, Lewandowski explicouque o Supremo Tribunal Federal (STF) foimotivado a enviar o projeto à Câmara pelafrequente perda de servidores para os ou-tros Poderes: “Eles fazem concurso para oJudiciário e logo depois vão para os ou-tros Poderes, ou mesmo para empresas es-tatais ou autarquias, por conta do salário.Para corrigir essa distorção é que manda-mos o projeto de lei ao Congresso Nacio-nal”, disse o ministro à imprensa.
Um diferencial na carreira do Judiciá-rio e MPU é que 95% é composta por tra-balhadores com nível superior. É o caso doanalista judiciário Alexandre Dias Mesqui-ta, oficial de Justiça do TJDFT. A classifica-ção dos cargos por níveis de escolaridadese dá em razão de atividades com diferen-tes níveis de complexidade, não por acasoou por capricho dos servidores. “Quandoum representante do governo vem a pú-blico alegar que as atribuições no Judiciá-rio e MPU são menos complexas que asde servidores do Legislativo e Executivo,tenta fazer prevalecer uma inverdade como único objetivo de impedir o reajuste. Comisso, desrespeita e menospreza não só oservidor, mas o próprio Judiciário e o Mi-nistério Público”, afirmou Alexandre.
Para ele, as atividades da Justiça nãosão menos importantes ou menos com-
Quem faza máquinafuncionar
CARREIRA
Amarildo Oliveira:evasão no STF
Alexandre: vida em risco todo dia
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plexas. O oficial de justiça é taxativo aodefender a carreira: “Não se pode quererdiminuir a importância da atividade de-senvolvida por um servidor que produz di-ariamente dezenas de minutas de senten-ças e de outras decisões judiciais, asses-sora juízes, ministros ou procuradores.Muito menos se pode dizer que tem pou-ca relevância o trabalho diário de quemadministrar a máquina do Judiciário e doMPU, essenciais para diminuir as desigual-dades e o desrespeito ao cidadão. Ou ta-char como pouco importantes as açõesde servidores que concretizam a justiçapara o jurisdicionado, como os oficiais dejustiça que diariamente colocam sua vidaem risco e seu patrimônio a serviço doEstado”, dispara.
Alexandre Mesquita tem consciênciade que, como oficial de justiça federal, suaatuação em milhares de execuções fiscais,por exemplo, contribui diretamente paraampliar a arrecadação do Estado, assimcomo qualquer analista da Receita. “Ex-ponho diariamente minha vida para fa-zer cumprir as determinações do Judiciá-rio. Sem isso, o jurisdicionado não veria
gada e, em alguns gabinetes, receber ad-vogados e interessados nas ações.
Na avaliação do analista judiciárioFrancisco de Assis Lima, a remuneração dacarreira só é atrativa para quem está co-meçando carreira no serviço público. Cos-tuma-se dizer que o Judiciário é um tram-polim para se chegar a carreiras mais atra-tivas, como as correlatas dos Poderes Exe-cutivo e Legislativo, que pagam muito mais.“Daí a significativa evasão de servidoresdo Judiciário para os outros Poderes e atémesmo para a iniciativa privada. Isso de-manda a realização de repetitivos concur-sos com a finalidade de suprir as vagasque vão sendo deixadas”, afirmou.
Segundo ele, a evasão de servidoressuperou 20% do quadro somente no STF.Isso é sem dúvida alarmante, porque oservidor que sai está sempre mais bempreparado do que o servidor que chega,até pela experiência adquirida. “Isso épreocupante e exige que as autoridadesfaçam uma intervenção eficiente. Casocontrário, a eficiência da prestação juris-dicional ficará comprometida”, destacouFrancisco de Assis.
o seu direito concretizado. Pleitear a equi-paração salarial é apenas uma questãode justiça”, defende.
É comum dizer que o oficial de justiçaé a longa manus do magistrado, ou seja,as mãos do juiz. É ele quem executa asdeterminações que o juiz registra no pa-pel. Se esse servidor não cumpre bem asua função, o processo não ganha efetivi-dade. Tão importantes como os analistas,os técnicos judiciários põem a maquinapara funcionar, servem nas audiências, ela-boram pautas de publicação, certidões erelatórios, indexam documentos e atendemao público. O mesmo acontece com os qua-dros dos vários órgãos do MPU.
Os assessores dos ministros dos tribu-nais superiores têm como missão ativida-des de planejamento, organização, coor-denação, supervisão técnica, assessora-mento, estudo, pesquisa, elaboração delaudos e pareceres. São atribuições com-plexas cujo cumprimento requer preparona área jurídica. Eles são responsáveis porembasar as decisões dos ministros, acom-panhá-los nas sessões, prestar informaçõesa respeito da matéria que está sendo jul-
Francisco de Assis: eficiênciapode ficar comprometida
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A principal razão para a revisãosalarial proposta no PCCR é adefasagem salarial em relação aoExecutivo e Legislativo, que chegaa 80%, em carreiras e funçõessemelhantes. Durante audiênciapública sobre o PL 6613, naCâmara, representantes dogoverno chegaram a alegar queos trabalhadores do Judiciário edo Ministério Público não têmfunções tão importantes e detanta responsabilidade quanto osdo Legislativo e aqueles que eleschamam de “grupo de gestão”do Executivo. Você concorda?
Deveria haver umaequiparação salarial de
acordo com a natureza eresponsabilidade dafunção. O servidor do
Judiciário tem a mesmaimportância que os doLegislativo e Executivo.A atividade do servidor
público em geral precisa servalorizada; o governo Collor
desqualificou o servidor.
Simone Aguiar,analista do TJDFT
A nossa atividade émuito importante. Comoseriam as eleições sem osservidores do Judiciário?A prestação jurisdicional
é um serviço para apopulação. Estamos
ganhando menos, e isso éinjusto. Por isso, muitos
colegas já saíram dotribunal e fizeram concurso
para outros órgãos.
Jaber Lucas da Silva Melo,técnico do TJDFT
O Judiciário é tão importantequanto os outros poderes.
Merecemos ter saláriosdignos, como todos os
servidores públicos.É urgente a equiparação
salarial. Exercemos funçõesque exigem o mesmo grau
de responsabilidade eimportância. Nosso trabalhoé estressante e merecíamos
ser melhor remunerados.
Ana Gabriela AlvesBarreto, técnica do TJDFT
A função do Judiciárioé executar leis. Nossomaior cliente é o povo,
nosso interesse é igual, queé o bem público. Os
salários estão defasadosem relação ao Executivo eLegislativo. Enquanto umtécnico judiciário ganha
R$ 4 mil, um técnicolegislativo, por exemplo,
ganha R$ 15 mil.
Dalva Lima,técnica do TJDFT
justiçade
Uma questão
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Nossa tarefa é de granderesponsabilidade;
lidamos diretamente comas demandas da Justiça.Mas não temos estímulo
nos últimos anos. Vi várioscolegas saírem nos dez
anos em que estou aqui.O salário do Legislativo équase o dobro do nosso;
precisamos de equiparaçãosalarial urgente.
Hélio de Andrade,analista do MPDFT
De acordo com oprincípio da tripartiçãodos poderes, todos têm
igual importância.Mas vários colegasdeixaram o tribunal
porque existem cargosmais atrativos em outros
órgãos. A carreira doJudiciário não é tão maisatrativa em relação às doExecutivo e Legislativo.
Williams Douglas Rufino,técnico do TJDFT
O Judiciário e o MinistérioPúblico são funções
essenciais. Somos nós quefiscalizamos a aplicação da
lei e a administraçãopública. Os órgãosprecisam estar bem
aparelhados para julgar.Isso pressupõe que os três
poderes estejam um aolado do outro. Deve haver
equiparação urgente.
Cristina Aparecida dos San-tos, analista do MPDFT
O que queremos éequiparação. O governoquer o congelamento desalário. Em mais de 20
estados há servidores emgreve. Todos estão
insatisfeitos. Pedimos avalorização profissional ea simples reposição das
perdas. Queremosreajuste salarial porque
temos direito a ele.
Eldo Luiz Pereira deAbreu, técnico do MPDFT
É um absurdo dizer quenão temos a mesma
importância. O Judiciárioresolve todos os conflitos
do povo. A sociedaderecorre a nós para resolver
suas questões. Masa defasagem salarial é
grande. É preciso haver umplano de cargos e salários
digno. Somos todosservidores públicos.
Flávia Matias Pereira,auxiliar judiciária do TJDFT
Nós ajudamos os juízes adecidir sobre a vida das
pessoas. Se falharmos, elestambém vão falhar. Temosmuita responsabilidade.Mas nosso salário está
muito defasado, precisamosde um plano de cargos e
salários que atenda nossasexpectativas. Tivemos
perdas e precisamos terrevisão salarial.
Marlon Carneiro,técnico do MPDFT
Nossa carreira estádesvalorizada, não é mais
atraente como era.Servidores do Legislativo e oExecutivo ganham mais do
que nós, o que é umainjustiça. Enquanto nãohouver reajuste teremos
uma defasagem de 40% emrelação aos outros poderes.
E nosso trabalho é tãoimportante quanto o deles.
Caleb Nunes Silva,técnico do MPDFT
Muitos colegas estãoestudando para passar em
outros cargos. O fatorprincipal é o salário baixo.Se continuar assim, penso
em estudar para outrascarreiras também. Temos asmesmas responsabilidades
que os servidores doExecutivo e Legislativo.Por isso, precisamos ter
equiparação salarial.
Andreza Chagas,analista do MPDFT
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Christiane Abad
uando se fala em assistente social, um preconceituoso senso co-mum remete a imagens de pessoas “boazinhas”, empenhadas
em ações para ajudar a população carente. Mas esses profissionaisestão muito além da visão superficial – ou antiquada – que o termopoderia sugerir aos desavisados. Eles elaboram, executam e avaliampolíticas sociais para os órgãos onde trabalham. Orientam indivíduose grupos sobre as formas de exercer seu direito ao bem-estar. Prestamassessoria a empresas, ONGs e movimentos sociais. Desenvolvem es-tudos socioeconômicos para criação e aplicação de benefícios sociaisaos cidadãos, entre várias outras atribuições.
São profissionais propositivos, que, para exercer sua função, preci-sam de uma sólida formação ética e de uma visão de mundo que faciliteo esclarecimento e a interação com o cidadão. Um trabalho que exigeuma boa dose de dedicação e de disponibilidade interna – e que, naopinião dos profissionais, é quase sempre muito gratificante.
É o que afirma Diogo Abe Ribeiro, assistente social do MinistérioPúblico do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) há um ano e meio: “Essetrabalho não é só realização profissional para mim, mas também pesso-al. O processo de transformação da realidade, que é um compromissoético fundamental do serviço social, também nos transforma enquantopessoas”, avalia o jovem de 28 anos. Ele não esconde a satisfação comas tarefas que a profissão exige: receber e analisar processos, visitar osenvolvidos, fazer entrevistas, estudar os casos para emitir pareceres.
Lotado na Secretaria Executiva Psicossocial (SEPS), Diogo acreditaque o serviço público tem sido alterado por novos procedimentos eferramentas, e o Judiciário vem absorvendo essas mudanças e ofere-cendo maior qualidade nos serviços ao cidadão. Ele também afirmaque os profissionais estão sendo mais valorizados: “O número de as-sistentes sociais no Ministério Público aumentou e hoje já é possível,em alguns casos, nós mesmos fazermos encaminhamentos, um papelque antes era apenas dos promotores.”
Ele conta que cotidianamente os assistentes se veem diante desituações que exigem repensar os valores pessoais, para não compro-meter a natureza técnica da intervenção profissional. “Somos media-
Com um amplo leque de atividades, assistentes sociais têm atuação cada vezmaior nos atendimentos multidisciplinares oferecidos pelo Judiciário e MPU
SERVIÇO SOCIAL
cidadaniaDefensores da
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dores para que as próprias pessoas en-volvidas nos casos encontrem a solu-ção”, afirma. A colega Cristina AguiarLara, 26 anos, concorda: “Nós nos de-paramos com as mais diversas situações,que exigem uma atuação diferenciada.Nosso trabalho não se limita a preen-cher um questionário, como muita gen-te pode pensar.”
Luciana de Castro Álvares, 39 anos,já trabalhou como assistente social nasesferas municipal e estadual. Ela está naSecretaria Executiva Psicossocial doMPDFT há um ano e meio e faz questãode declarar sua satisfação profissional:
“Percebo que a equipe procura a cadadia se aperfeiçoar e se capacitar paraprestar um serviço de qualidade. Nósdamos a nossa contribuição para cons-truir uma sociedade mais justa, maisigualitária”, afirma.
O MPDFT conta com dezoito assisten-tes sociais que se dividem em cinco seto-res, entre eles a SEPS, que assessora aspromotorias e procuradorias em matéri-as ligadas ao serviço social e à área depsicologia. A SETAPS faz ações educati-vas para membros, servidores e familia-res – como o projeto Despertar, que visaa prevenção de álcool e drogas.
O Setor Psicossocial Infanto-Juvenilé responsável pelo apoio aos promoto-res de Justiça da Infância e da Juventu-de, nas áreas de psicologia e serviço so-cial. Ali os profissionais avaliam as ques-tões ligadas às crianças, adolescentes eseus familiares. Os laudos e pareceresdão aos promotores os subsídios técni-cos e científicos necessários para emba-sar suas decisões.
Na Central de Medidas Alternativas,com unidades em todo o Distrito Federal,os assistentes sociais produzem informa-ções para garantir a aplicação e o acom-panhamento dessas medidas – sanções
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Nadja Maria (E),Diogo, Izis, Karolina e
Cristina: satisfaçãoprofissional
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que não envolvem a perda da liberdade,ou seja, substituem a prisão em casos depequenos delitos e contravenções penais.Os profissionais visitam as instituiçõesonde as penas são executadas, entrevis-tam as pessoas que as estão cumprindoe avaliam a eficácia das medidas.
Apesar do maior campo de atuaçãodo serviço social ser, tradicionalmente, aárea de saúde, o Judiciário e o MinistérioPúblico conta, cada vez mais, com a as-sessoria desses profissionais. No livro Aná-lise da Relação, Sistema de Justiça Crimi-nal e Violência Doméstica Contra a Mu-lher, lançado em 2009, as autoras Ales-sandra Campos Morato, Claudiene San-tos, Maria Eveline Cascardo Ramos e Su-zana Canez da Cruz Lima mostram o re-conhecimento de juízes e promotores emrelação à atuação dos assistentes sociaise psicólogos na análise de processos:“Quanto às equipes multidisciplinarespara o acompanhamento da vítima, doautor da agressão e dos familiares, os en-trevistados demonstraram valorizá-las eaté mesmo indicaram a ampliação des-ses serviços na estrutura jurídica.”
Se ainda existe preconceito rondan-do os profissionais de serviço social, essenão feriu o amor que eles nutrem peloofício. É o que conta Maria Cristina Vi-dal Cardoso, mestre em política social eespecialista em violência doméstica naárea da infância e da juventude. Há oitoanos ela trabalha no Tribunal de Justiçado Distrito Federal e Territórios (TJDFT) enão poupa palavras quando avalia o tra-balho que desenvolve na Sessão Psicos-social da Vara de Execuções Penais: “Vertantas pessoas com histórias de vidasofridas recebendo um tratamento hu-manizado é muito gratificante. Eu amoo que faço”, afirma.
Sua rotina inclui fiscalizar o cumpri-mento das penas para acompanhar epromover o retorno do sentenciado aoconvívio social. Segundo Vidal, como échamada pelos colegas, a resposta jurí-dica não basta se não houver um traba-
lho social; isso acaba gerando reincidên-cias. Ela aponta que, assim como emoutras profissões, há dois lados nessamoeda: “Trabalhamos com a recompen-sa de vê-los reconquistando um espaçona sociedade depois de cumprir umapena, mas também temos que lidar coma frustração da reincidência, por falta deestrutura”, lamenta.
Vidal mostra, orgulhosa, os trabalhosfeitos pelas pessoas que atendeu, ao lon-go de vários anos. Alguns ganharam lu-gar especial nas paredes das salas ondeos assistentes da Sessão Psicossocial fa-zem as entrevistas. Ela aponta um qua-dro pintado por um detento em 1984,quando ainda nem pensava em compora equipe do Tribunal: “Eu me emocionotoda vez que ganho presentes deles; paramim, isso representa o reconhecimentodo trabalho que nós desenvolvemos aqui,dia após dia”, relata.
Acima de tudo, muito amor pelo ofícioEm sua contribuição ao livro publi-
cado em 2010 (A aplicação da lei emuma perspectiva interprofissional: Direi-to, Psicologia, Psiquiatria, Serviço Sociale Ciências Sociais na prática jurisdicio-nal), Maria Cristina Vidal defende a am-pliação da área de atuação do assisten-te social. “O desafio da atuação dos pro-fissionais das sessões psicossociais vaialém das resoluções das questões apre-sentadas pelos jurisdicionados, uma vezque um dos seus pressupostos ético-pro-fissionais é a defesa da justiça social naperspectiva dos direitos humanos”, ar-gumenta o texto.
RELAÇÕES DE TRABALHO – Para cui-dar da “prata da casa”, os profissionaisde serviço social promovem ações edu-cativas nos órgãos em que trabalham,ligadas à recuperação, prevenção e pro-moção da saúde dos membros, servido-
Vidal emociona-se comos presentes dos detentos:“Reconhecimento”
SERVIÇO SOCIAL
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res, inativos, pensionistas e dependen-tes. Afinal, o bem-estar dos servidores éfundamental para o bom funcionamen-to da instituição.
A abrangência dessas ações vai des-de casos de dependência química ou al-coolismo no local de trabalho até situa-ções de conflitos interpessoais entre co-legas, ou casos onde, por exemplo, umservidor retorna à atividade após umalicença prolongada e encontra algumadificuldade de adaptação que possa pre-judicar seu desempenho.
Em todos esses casos, cabe ao assis-tente social adotar ou sugerir as medi-das adequadas para que a harmoniavolte a se estabelecer no local de traba-lho. Ao lado de profissionais de outrasáreas, os servidores de serviço socialacompanham e assessoram outras ati-vidades de gestão de pessoas, sempreque necessário, em todos os tipos de pro-blemas ligados às relações laborais.
Mudanças ao longo da história
O serviço social surgiu a partir dosanos 1930, quando se iniciou oprocesso de industrialização e urbani-zação no país. A emergência da pro-fissão relacionou-se à articulaçãodos poderes dominantes na época(burguesia industrial, oligarquiascafeeiras, igreja católica e Estadovarguista), com o objetivo decontrolar as insatisfações popularese frear qualquer possibilidade deavanço do comunismo no país.
O ensino de serviço social foi reco-nhecido em 1953 e a profissão foiregulamentada em 1957. Embora aprofissão tenha sido legalmente reco-nhecida, somente em maio de 1962 oDecreto 994 regulamentou a ativida-
de dos assistentes sociais e criou osconselhos federal e regionais.
A profissão manteve um viésconservador, de controle da classetrabalhadora, desde o seu surgimentoaté a década de 1970. Com a lutacontra a ditadura e os movimentospelo acesso da classe trabalhadora amelhores condições de vida, o serviçosocial ganhou novas influências nofinal dos anos 1970 e ao longo dadécada de 1980. A partir de então, aprofissão vem superando o históricode conservadorismo e atualmenteafirma um projeto profissionalcomprometido com a democracia ecom o acesso universal aos direitossociais, civis e políticos.
Fonte: ww
w.assistentesocial.com
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SAÚDE
Yuri Matsumoto Macedoformou-se em Medicina pelaUniversidade Federal do Pará, pós-graduou-se em Medicina doTrabalho pela UniversidadeEstadual do Pará e fez residênciaem Psiquiatria no Hospital de Basedo DF. Publicou o livro Louco équem me diz (2005), com casosverídicos de pacientes psiquiátricos.Também é membro da ABP e APBr.
André Luis Macedo, especialistaem Psiquiatria, formou-se em Medi-cina pela UnB e fez residência emPsiquiatria no Hospital de Base doDF. É psiquiatra do TJDFT, membroda Associação Brasileira de Psiquia-tria (ABP) e da Associação Psiquiá-trica de Brasília (APB).
Neste espaço, os psiquiatras André LuisMacedo e Yuri Matsumoto Macedopublicam mensalmente artigos sobresaúde mental. Para saber mais, acessewww.animaconsultorio.site.med.br
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distimia, também conhecida como “sín-drome do mau humor”, é na verdade um
tipo de depressão leve, porém crônica. Paraser assim diagnosticada deve ter durado nomínimo dois anos. Pode, porém, acompanharo paciente pelo resto da vida. Apesar dos sin-tomas serem mais leves, ela se inicia muitocedo, em geral na infância ou na adolescên-cia, e termina por se cronificar e comprometermuito a vida do portador.
Os indivíduos distímicos, ao contrário dosfrancamente deprimidos, conseguem realizarsuas tarefas rotineiras, como trabalhar, estu-dar e se relacionar. Porém, frequentemente sãotaxados de mau humorados ou arrogantes,estão eternamente insatisfeitos, têm dificulda-des nos relacionamentos sociais e amorosos,são negativistas, irritados, têm pouca motiva-ção, baixa autoestima e vários problemas físi-cos de saúde. Podem estar presentes tambémcansaço, dificuldades de sono e apetite, dimi-nuição de concentração, falta de esperança.
Imagine viver dessa forma durante doisanos... ou então a vida toda. Tudo isso sem con-tar que o distímico tem maiores chances de terum episódio depressivo maior e outras doençaspsiquiátricas em algum momento da vida. Es-
tudos epidemiológicos mostraram taxas de pre-valência entre 2,9% a 6,3% da população, oque já torna a distimia um problema de saúdepública, juntamente com todas as formas de de-pressão. Mas, como é considerada “dos maleso menor”, tanto pelos pacientes como por seusterapêutas e médicos, a distimia ainda é poucodiagnosticada e tratada.
Além do sofrimento individual, a distimianão tratada representa prejuízos para a socie-dade: baixa produtividade, intrigas familiares,aumento do abuso de substâncias químicas,maiores taxas de separação conjugal, excessode consultas e exames de clínica geral, para de-tecção de causas orgânicas de seus sintomas.
O tratamento da distimia pode curar e pre-venir danos irreparáveis na vida do portador,quanto mais precoce for. O médico psiquiatradeve ser procurado, pois é o que está melhorpreparado, evitando medicar com paliativos eremédios de ação imediata porém ineficazes,que acabam mascarando o quadro e aceleran-do sua cronificação. No tratamento, de acordocom cada caso, podem ser usados medicamen-tos antidepressivos em dose e duração ade-quadas ao paciente, associados ou não compsicoterapia para suporte e aconselhamento.
A DISTIMIA NO CINEMA
mau humorA síndrome do
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Pequena Miss SunshineComédia dramática, EUA, 2006,101 minutos. Direção: JonathanDayton e Valerie Faris.
Noivo Neurótico, Noiva NervosaComédia dramática, EUA, 1977,93 minutos. Direção: Woody Allen.
Ensina-me a viverComédia dramática, EUA, 1972,90 minutos. Direção: Hal Ashby.
Sideways – entre umas e outrasComédia dramática, EUA, 2004,123 minutos. Direção: Alexander Payne.
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INFELICIDADE PODE TER CURA • Depoimentos de pacientes
“Eu achava que o bem estar não existisse”Sempre fui taxado por meus famili-
ares e amigos mais próximos de “es-tressado”. Carreguei durante anos estapecha. Na verdade, sempre fui muito ir-ritadiço, me abalava com brincadeiras,não aceitava derrotas facilmente, eramuito insatisfeito com o que possuía e,além disso, minha autoestima era tãobaixa que me levava a não confiar emmim, fazendo com que eu não partici-passe de concursos públicos, recusassecargos que me eram oferecidos, deixas-se de investir em uma garota que meinteressava ou, pasmem, não participas-se de “peladas” de final de semana.Tudo por medo da derrota.
Eu temia demasiadamente o insu-cesso. Mesmo vivendo por anos comesse fardo nas costas, conseguia disfar-çar bem e levar uma vida aparentemen-
te normal, tanto que consegui amigos,empregos, namoradas, casamento e umfilho. Durante esse tempo, preferi sofrersozinho, inclusive acreditando que real-mente eu era “uma pessoa infeliz”, poistemia ouvir de meus familiares e ami-gos que esse meu sofrimento constanteera “frescura” e que uma hora isso iapassar. Com isso, os momentos de ale-gria foram ficando raros. Eu me afasteidos amigos, dos eventos sociais, fui metornando um verdadeiro ranzinza, cadavez mais fechado – com vinte e poucosanos de idade.
Eu sobrevivia levando uma vida apa-rentemente normal, até que um fatorexterno (o fim do meu casamento) abriuas portas para que a doença me nocau-teasse impiedosamente. Ela veio comtoda a sua força e me deixou prostrado
na cama. Juntei minhas últimas energi-as e procurei o serviço médico do meutrabalho. Lá fui encaminhado a um psi-quiatra, que, com medicação, tirou-mede uma situação desesperadora.
Eu estava no fundo do poço. Duranteos primeiros meses de tratamento, ex-perimentei uma melhora tão grande quetratava o medicamento como uma joiarara. Pela primeira vez, durante toda aminha vida, eu experimentava uma sen-sação de bem estar que, por ignorân-cia, achava que eu não merecia, ou quenem existisse. Consegui um grande e rá-pido equilíbrio que me possibilitou fa-zer viagens com amigos, voltar a prati-car exercícios físicos, estudar e planejaro futuro, entre outras coisas.
Mário, servidor público
Embora os últimos anos da minha vida sejam repletosde acontecimentos positivos e realizações pessoais, a sen-sação de desânimo e desesperança prevalece. A sensaçãopermanente é que nada é bom o suficiente para me fazersentir motivado. Depois de anos de terapia, alguma coisacomeçou a mudar lentamente. O tratamento psiquiátrico estáme fortalecendo e ajudando a olhar a vida de uma formapositiva, me dando energia na busca de novas conquistas;também estou aprendendo a usufruir dos resultados já atin-gidos, no decorrer da vida.
Francisco, administrador
“Nada é bom o suficiente”Procurei o tratamento por volta de 2004, quando tive
um processo depressivo mais intenso. De lá pra cá, conse-gui perceber, com o tratamento psiquiátrico e a psicotera-pia, que essa sensação de estar sempre meio desanimadoe desmotivado é uma constante na minha vida, desde ofinal da infância. Ainda estou em tratamento, que requeraltas doses de medicação, mas não tenho vergonha dissoe acho que esclarecer aos parentes e amigos sobre a dis-timia ajuda a aliviar a pressão social por um desempenhomelhor no cotidiano.
Robson, professor e bancário
“Não tenho vergonha disso”
LEITURA
Distimia: do mau humorao mal do humor(Ed. Artmed)
Neste livro os psiquiatras,pesquisadores e professoresRicardo Moreno, Táki Cordáse Antonio Egidio Nardidiscutem desde a perspectivahistórica da distimia atésuas formas de tratamento.A obra está na terceiraedição, ampliada eatualizada pelos autores.
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BRASÍLIA DO BEM
Usha Velasco
izem que as pessoas que trabalhampelo próximo têm um brilho diferente
no olhar, porque fazer o bem faz bem. Tal-vez isso explique os olhos brilhantes e osorriso sempre aberto da pedagoga Patrí-cia Braga. É como se cada criança quepassa pela sua vida aumente um poucomais esse sorriso. E são muitas: Patrícia jáacumula 21 anos dedicados aos meninose meninas do abrigo Nosso Lar.
São 70 moradores ao todo, de zero a17 anos. As vagas são abertas quando umadolescente completa 18 anos ou quandouma criança é adotada. O segundo caso,infelizmente, é raro. “A cultura do país emrelação à adoção é muito difícil”, avaliaPatrícia. “Por isso, as crianças vão fican-do. Muitos chegam ainda bebês e moramaqui até os 18 anos. Também temos gru-pos de três, quatro irmãos... Quem vai ado-tá-los juntos?”
A equipe do Nosso Lar faz um planode atendimento individual para cada cri-ança, para que ela fique o menor tempopossível no abrigo. A prioridade é devol-vê-la à família. Mas hoje a maioria é filha
de usuários de drogas e moradores de rua.“Infelizmente a perspectiva dessas famíli-as se reestruturarem é quase nula. Muitasabrem mão da criança e ela fica aqui paraadoção”, conta a pedagoga.
Mas a maior parte dos casais em bus-ca de um filho adotivo quer bebês meno-res de dois anos, de pele clara e do sexofeminino. Para as crianças que “sobram”,o abrigo temporário vira lar permanente.“Isso não é bom. Quanto maior o tempono abrigo, mais profundas se tornam asmarcas emocionais. Não que o abrigo sejaruim, mas é uma instituição onde não exis-tem raízes. As referências são frágeis”, dizPatrícia, ao explicar que ali não é o melhorlugar para as crianças, apesar de se tratarde uma instituição modelo, premiada pelaVara da Infância e da Juventude.
São cinco casas, cada uma com duasmães sociais e 14 meninos e meninas dezero a 17 anos. Junto com Patrícia traba-lham a psicóloga Ana Carla e a assistentesocial Glícia. As três contam com estagiári-os e voluntários – “sem eles não daríamosconta”, ri a pedagoga. O Nosso Lar foi cri-ado há 36 anos, e os quatro diretores, to-dos voluntários, estão lá há mais de trinta.
*Os nomes das crianças são fictícios.
Patrícia:“Aprendi quetudo de bompode aconte-cer, e aconte-ce mesmo”
“Toda criança que chega aqui é capaz de vencer osdesafios que vão aparecer”, afirma a pedagoga que há
mais de vinte anos acompanha menores abrigados
Liçõesda realidade
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“São essas pessoas que dão uma refe-rência de segurança às crianças, porqueestão aqui há muito tempo”, diz Patrícia.
Essa referência é fundamental para cri-anças que sofreram perdas, violências ouabusos – caso de quase todas as que es-tão abrigadas. Algumas histórias são es-pecialmente dramáticas. “É preciso ter es-trutura emocional para esse trabalho”, afir-ma a pedagoga. Prática, ela costuma di-zer às crianças: “Você é que vai criar a fa-mília com que você sonhou. Você vai criaro futuro que queria ter, não vai repetir oque aconteceu de ruim na sua vida.”
São lições que Patrícia aprendeu namarra. Em 21 anos no Nosso Lar, passoupor vários “choques de realidade”. Comoquando leu a ficha de um de seus alunos,Eduardo*, de oito anos, que não tinhasorelhas. Ela descobriu que ele não deviaessa deficiência à genética, mas ao aban-dono. A mãe costumava deixá-lo sozinhopor longas horas. Quando ainda era umbebê de menos de um ano, um cachorrofaminto entrou em casa e o atacou. “Cho-rei sem parar durante uma semana”,conta a pedagoga. “Depois percebi eletinha superado a história do cachorro,mas eu não. Ele não era nenhum coita-dinho. Hoje está adulto, casado e feliz,pai de duas meninas lindas.”
“Aqui ninguém é coitado”, diz.“Toda criança que chega ao abrigo é ca-paz de vencer os desafios que vão apa-recer. Não interessa o que fizeram comvocê, mas o que você vai fazer com a suavida. Quando comecei a pensar assim,tudo mudou. Aprendi que tudo de bompode acontecer, e acontece mesmo.”
Ela tem muitas histórias positivaspara comprovar isso. É o caso de Ber-nardo*, que chegou ao Nosso Lar aosquatro anos com um diagnóstico de au-tismo que acabou não se confirmando– foi “curado”pela equipe com carinho,
atenção e cuidados básicos. Aos dozeanos o menino começou a dar trabalho:escondia todo tipo de animais em casa,coisa proibida no abrigo. Aos quinze, al-guém teve uma ideia genial: “Se ele gos-ta tanto de bicho, devia trabalhar no zo-ológico...” Bernardo foi, gostou e reali-zou-se. Está se formando em Veteriná-ria e hoje monitora a programação es-pecial do programa de educação ambi-ental do zôo, como as visitas e acampa-mentos noturnos.
Outra história de superação é a deRenato*, que depois de deixar a insti-tuição foi pego na W3 Sul roubando umcelular e armado com um canivete. Pe-gou quase dois anos na Papuda. “Saiuda cadeia e veio direto para cá pedir aju-da. Nosso motorista conseguiu trabalhopara ele como frentista”, conta Patrícia.Renato foi morar com a irmã de 18 anos,recém-saída do Nosso Lar. Inteligente earticulada, ela estuda e trabalha comohostess num restaurante elegante. O ir-mão seguiu o exemplo, voltou à escola enão parou mais de trabalhar.
“A cadeia foi uma experiência horrí-vel que ele não quer repetir. O Renato*teve estrutura para se reerguer e eu meorgulho muito disso. E sei que nós ajuda-mos a formar essa estrutura, porque elemorou com a gente desde bebê”, afirmaPatrícia. “Mes-mo com todas asdificuldades, nóspodemos fazerdessas criançasuma pessoa fe-liz. Hoje toda aequipe acreditanisso. Nosso tra-balho é fazer ascrianças acredi-tarem também”,sintetiza.
À espera de adoção:muitos chegam bebêse ficam até os 18 anos
PARA AJUDAR
O Nosso Lar é mantidopor doações. Precisa
também de voluntáriospara brincar, conversarou desenhar com ascrianças. Para ajudar,
ligue 3301-1120.Mais informações:
www.nossolardf.org.br
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Patrícia:“Aprendique tudo debom podeacontecer,e acontecemesmo”
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Do alto dos seus 93 anos,o poeta Manoel de Barros
ensina que o ser humanoé incompleto, e que isso nãoé defeito; é qualidade.
Assim como ele, muitas outraspessoas precisam ser Outras.E são. Esta coluna publicará
mensalmente histórias de genteque concilia o serviço públicocom as mais diversas
atividades. São atletas, chefesde cozinha, professores,pintores, mágicos, mecânicos,
músicos... A lista não tem fim.
OUTROS EUS
A maior riqueza do homemé a sua incompletude.Nesse ponto sou abastado.Palavras que me aceitam comosou – eu não aceito.Não aguento ser apenas umsujeito que abreportas, que puxa válvulas,que olha o relógio, quecompra pão às 6 horas da tarde,que vai lá fora,que aponta lápis,que vê a uva etc. etc.PerdoaiMas eu preciso ser Outros.Eu penso renovar o homemusando borboletas.
Manoel de Barros
Thais Assunção
oi por influência da tia cantora e da mãe estudante demúsica que o técnico do TRT Bruno Sigilião de Arruda Pin-
to se aproximou da música. A mãe o matriculou na Escola deMúsica de Brasília quando o menino tinha dez anos. Lá elese aproximou de vários instrumentos, como o piano e a tuba.Mas o trompete, que Bruno conheceu aos treze anos, elenão largou até hoje.
Os outros instrumentos foram deixados de lado com opassar dos anos e o trompete foi eleito o companheiro inse-parável do adolescente. Esse instrumento de sopro da famíliados metais veio parar na vida de Bruno por acaso. “Eu nãoescolhi o trompete inicialmente, foi uma coisa que aconteceupor coincidência. Tinha um amigo que tocava e achei interes-sante. Então, resolvi experimentar e adorei”, conta.
Bruno explica que não basta ter fôlego para tocar trom-pete; é necessário ter vocação e se dedicar à música. Brunocomeçou a tocar na banda dos alunos do Colégio Militar deBrasília. Mais tarde apresentou-se algumas vezes com a Or-questra Sinfônica do Teatro Nacional. Ele ainda cursou cincosemestres de Licenciatura em Música na Universidade de Bra-sília e lá também teve a oportunidade de tocar na orquestra.
Hoje a grande paixão de Bruno é o quinteto de metaisFine Brass, que se apresenta regularmente em festas e even-tos. “Embora eu não me considere um profissional da música,o quinteto tem uma atividade bastante regular”, avalia.
Quando ainda era estudante na Escola de Música o trom-petista montou um quinteto chamado Metal Morfose. Comoera composto por estudantes que foram morar em outros es-tados, o grupo não durou muito tempo. Mas um amigo deBruno que já havia sido integrante do Fine Brass retornou deuma viagem e decidiu retomar o quinteto. “Foi quando euentrei, em 2006. O grupo tem uma rotatividade grande, mas,como Brasília é pequena, nós conhecemos muitos músicos esempre fazemos novas formações. Nunca deixamos de tocarpor falta de integrantes”, afirma.
O quinteto de metais é composto por dois trompetistas,uma trompa, um trombone e uma tuba. O técnico judiciário
Fôlegoe dedicação
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lamenta não conseguir viver somenteda música, uma paixão que o acom-panha desde criança. “Se eu conse-guisse ganhar o que eu ganho no tri-bunal, preferia trabalhar somente commúsica. Mas não é o caso... Então amúsica entra na minha vida como umaatividade secundária. No entanto, nãoé apenas um hobby”, diz Bruno.
Ele conta que banda Fine Brass temum espaço reservado, na Asa Norte,para os ensaios nos finais de semana:“A música é uma atividade que de-
manda tempo para criar arranjos epara ensaiar. Eu encaro o quinteto deuma maneira muito profissional, invis-to meu tempo, dinheiro e dedicação.”
Além de integrar o quinteto, Bru-no é o secretário-geral da AssociaçãoBrasileira de Trompetistas (ABT), enti-dade que promove encontros interna-cionais de músicos desde 2008. “Umavez por ano convidamos músicos in-ternacionais, que participam de mas-ter class e fazem outras apresentações.Geralmente os encontros duram qua-
tro dias. Este ano será em São Paulo,de 6 a 9 de outubro”, diz.
Bruno acredita que a música com-põe o dia a dia das pessoas, apesar demuitas vezes passar despercebida.“Para fazer coisas mais corriqueiras,você coloca um som. Música não ser-ve só para alegrar; para mim, a músi-ca é fundamental. E é muito gratifi-cante participar de momentos especi-ais da vida das pessoas, como quandotocamos em casamentos, homenagense festas”, conta o trompetista.
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Bruno (ao lado)e o quinteto demetais FineBrass: a músicanão é apenasum hobby